ISAIAS ENVIA-ME A MIM
EIS-ME AQUI,
EIS-ME AQUI, ISAIAS
ENVIA-ME A MIM
Claiton Ivan Pommerening Ia edição
C94D Rio de Janeiro
Todos os direitos reservad os. Copyright © 2016 par a a língua portuguesa da Casa Publicadora das Assembleias de Deus. Aprovado pelo C onselho de Doutrina . Preparação dos srcinais : Miquéias Nascimento Capa: Wagner Almeida Editoração: Oséas F. Maciel CDD: 220 - Com entário Bíblico ISBN: 978-85-263-1323-1 As citações bíblicas foram extraídas da versão Almeida Revista e Corrigida, edição de 1995, da Sociedade Bíblica do Brasil, salvo indicação em contrário. Para maiores informações sobre livros, revistas, periódicos e os últimos lançamentos da CPAD, visite nosso site: http://www.cpad.com.br SAC — Serviço de Atendimento ao Cliente: 0800-021 -7373 Casa Publicadora das Assembleias de Deus
Av. Brasil, 34.401 - Bangu - Rio de Janeiro - RJ CEP 21.852-002 Ia edição: Abril/2016
Tiragem 8.000
P refácio
Sinto-me honrado em ser convidado pelo pastor Clai ton Ivan Pommerening, para prefaciar o seu livro intitulado Isaías, eis-me aqui, envia-me a mim. A ideia que o escritor procurou passar para os leitores, movido pela inspiração divina, que recebeu da parte de Deus, para a interpretação do livro do profeta Isaías, onde o mesmo avaliou minuciosamente o contexto de Isaías, vendo e comen tando o lado literário, histórico, profético e escatológico do livro, foi destacar a profundidade espiritual e salientar os valores dos textos proféticos contidos no livro e citados no Nov o Testamento, especialm ente nos evangelhos. Ao ler a presen te obr a fiquei feli z ao ver a clareza da visão pentecostal que tem o escritor, visto ser um pastor destacado na nossa igreja, atuando como diretor do Colégio Evangélic o Pastor Manoel Germ ano de Miranda, da Facul dade Refi dim e do CEED UC — Associação Centr o Evangél ico de Educação Cultura e Assistência Social. O pastor Claiton é um exímio professor, doutor em teologia, tendo ainda outras formações acadêmicas, cuja capacidade des tacada de um educador e escrit or o credencia para fala r com m uita segurança sobre o assunto abordado. Creio que este livro será um manual para a classe universitária, umde tesouro de conhecimento para os professores de teologia e uma ferramenta uso constante para os líderes e mestres da Escola Bíblica Dominical. Deixo aqui minh a palavra de apoio e i ncentivo a esse servo de Deus, e como pastor presidente da Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Joinville me co loco a inteira disposição . Pr. Sérgio Melfíor
Presidente da AD em Joinville (SC)
1 ° Secretári o da CIADESCP
S umário
Prefácio................................................................................................................5
Capítulo 1 Conhecendo o Livro de Isaías.........................................................................9
Capítulo 2 O Contexto da Profecia de Isaías (1.1-31)..................................................21
Capítulo 3
O Dia do Se nh or (2 .1-2 2)................................................................................33
Capítulo 4 O Juízo de Ju dá e de Je rusa lém (3 .1-4 .1)....................................................45
Capítulo 5 Predições de Juízo e Glória (4.2-6)
............................................................... 55
Capítulo 6 Parábola do Castigo e Exílio de Judá (5.1-30)
........................................... 65
Capítulo 7 A Chamada e Purifi caçã o do Profeta (6.1 -13 ) ........................................... 77
Capítulo 8 Primeiras Profecias Messiânicas (7.1-12.6).................................................89
8
IS AI AS: E is-me aqui, E nvia-me a mim
Capítulo 9 O Sinal do Emanuel (7.1-25)......................................................................101
Capítulo 10
O M essias Davídico e seu Rei no (11 .1-12.6) ............................................ 113
Capítulo 11 Profecias da Consum ação da História (24.1-27.13)
................................ 125
Capítulo 12 Profecias de Salvação e Esperança (40.1-66.24)
.................................... 137
Capítulo 13 Promessas a Respei to do Messias como Servo Sofredor (49.1-53 Referências
.12)... 149 159
C a p ít u l o
1
C onhecendo o L ivro de I saías
O s escritos d o pro feta I saías sã o uma d as ma is gr andiosas p rod uç õe s teológicas do Antigo Testamento. Sua mensagem é profunda e parte de alguém que conhecia o ambiente onde estava inserido, de modo que, to mado pela inspiração divina, foi muito assertivo nas suas profecias, espe cialmente as que predisseram a vinda messiânica de Jesus Crist o. Nenhum outro profeta se referiu a esse fato com tantos detalhes quanto ele. Sua pregaç ão foi marca da por um a paixão sacerdotal, descrevendo Cristo, seu serviço e sacrif ício com m uita cl areza, sendo por isso mesm o cham ado de o evangelista do Antigo Testamento ou ainda o “Evangelho de Isaías”. Seu livro também é chamado de “O livro da Salvação”, sendo uma das mais importantes obras da literatura bíblica hebraica depois do Pentateuco. O próprio Jesus leu Isaías: “E, ch egando a Naz aré, onde fora criado, entrou num dia de sábado, segundo o seu costume, na sinagoga e levantou-se para ler. E foi-lhe dado o livro do profeta Isaías; e, quando abriu o livro, achou o lugar em que estava escrito” (Lc 4.16-17). Ao ler alguns versículos de Isaías capítulo 61, Jesus disse que essa profecia se cumpria nEle, se auto-declarando o Mãshiah (Messias em hebraico), o que causou grande alvo roço entre os presentes (Lc 4.28-30). Outra citação importante de Isaías no Novo Testa mento está registrada em Atos 8.26 -35. Assim sendo, tanto o conteúdo do livro quanto sua autoria são ratificados e confirmados no Novo Testamento. O profeta tem uma beleza poética e riqueza literária ao escrever que encanta qualquer lei tor. Por isso, ele é também chamado de “Rei dos Pro
fetas”. Muitas expressões e palavras utilizadas não se encontram em ne-
ISAIAS: E is- me
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aqui ,
E nvia - me
a mim
nhum outro lugar do Antigo Testamento. Dentre as mais importantes, des tacam-se o “Renovo do Senhor” (Is 4.2), “Emanuel” (Is 7.14), “O povo que andava em trevas viu uma grande luz” (Is 9.2), “todos se alegrarão perante ti” (Is 9.3), “ seu nom e se rá M ara vilhoso Conselh eiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz” (Is 9.6), “rebento do tronco de Jessé” (Is 11.1), “anunciado r de boas-no vas” (Is 41.27), “m eu servo ” (Is 42.1), “o m eu Eleit o, em quem se compraz a minh a alma” (Is 42.1), e “o casti go que nos traz a paz estava sob re ele , e, pelas suas pisaduras, fomo s sarado s” (I s 53.5). Um dos ápices das profecias de Isaías se dá nos capítulos 52 e 53, quando ele compõe o Cântico do Servo Sofredor, cujo conteúdo salvífíco aponta para o sofrimento, padecimento, morte e ressurreição do Messias. escritos decom Isaías enchem esperanças e, comsendo isso,possível nos posuma sibilOs itam sonhar umnosmundo m de elhor e mais justo, antecipação do Reino de Deus com todas as su as benesses entre os hom ens aqui e agora. Seus escritos mostram também que, apesar de enfrentarmos nesta vida situações difíceis e até mesmo aparentemente irreversíveis, como no caso da quase destruição do povo de Deus, ainda assi m, a miseri córdi a, a bondade e o am or de Deus vão além do pecado humano, do caos situaci onal, do pod er dos inimigos e das circunstâncias desesperadoras.
I - I nformações A utorais 1. T ema Seu tema principal está relacionado às previsões da vinda do Messias, enfatizando a salvação recebida somente pela graça. O livro mostra ainda que Deus não permitirá a desobediência do povo da promessa, e essa será tratada com a devida purificação através do sofrimento, primeiramente do próprio povo e, vic aria m ente , atra vés de Cristo. O povo se rá levad o para o cativei ro, porém Deu s intervirá m ilagrosamen te e lhe trará li bertação, qua se como que num segund o êxodo, agora não mais saindo do Egito, e si m da Babilónia. Entretanto, o cativeiro será um período difícil e desesperador; porém , as prom essas não fa lharã o. Esta profeci a, que na sua époc a ainda era coisa do futuro, bem co mo seu poste rio r cu mprim ento , serv em de fundo histó rico e aponta m profe tica mente para o est ado degradante que a desobediência e o pecado causam na humanidade, bem como suas terríveis consequências, mas apontam tam bém para o gra nde êx odo de to do o p ovo de D eus em to da a terra, que seria liberto do poder do pecado e das algemas do cativeiro de Satanás, através do sacrifício vicári o de Cristo, aguardand o um Reino eterno de paz, justiça
e amor, onde Deus reinaria para todo o sempre. Assim, pode
-se afirma r que
CONHECENDO O LIVRO DE ISAÍAS
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0 tema central de Isaías é o amor de Deus demonstrado no socorro ao seu povo através do sacrifício do Servo Sofredor, ou seja, a grande salvação de Deus. 2. D ata
As descobertas dos rolos do Mar Morto1lançaram muitas luzes sobre Isaías, cuj os textos prov avelm ente foram copiados en tre 150 a.C. a 50 a .C. Sua impor tância se dá pelo fato de ser o manus crito m ais inteiro e ant igo já descoberto do Antigo Testamento, atestando sua veracidade, fidedignidade e semelhança com os demais manu scritos posteri ores preservados. Porém, a citação mais antiga de Isaías está presente no Eclesiástico (livro apócrifo), cuja cópia é datada aproximadamente entre 280 a.C. a 180 a.C.1 2 livrotendo de Isaías ser ano escrito antesque do corresano de 740Oa.C., sido começou terminadoa no 701provavelmente a.C., período esse ponde ao tempo de ministério do profeta, conform e descrito em Isaías 1.1. Essas datas são aproxim adas e levam em conta a morte do rei Uzias. En tretanto, outra possibilida de é que, com o o livro possu i três partes, a prim eira delas tenha sido escrita de 740 a 698 a.C., e a segunda e terceira partes de 697 a 680 a.C., terminando no reinado de Manassés. 3 . A utoria
Aslivro,3mas correntes teológicas têm consenso de quea Isaías o autor deste pesquisas ortodoxas recentes apontam, especialmente críticaétextual, para o fato de que o p rofeta não pod eria ter previsto com tanta clarez a eventos futuros como, citar o nome de Ciro, o persa, além de detalhes do exílio e da volta do exíli o, a não ser po r alguém que estivesse passan do po r aqueles momentos. No entanto, essas suposições não podem ser aceitas porque tiram o caráter preditivo da inspiração profética e enfraquecem a proem inência de Deus sobre as demais divindades cultuadas na época, que eram divindades falsas. O testemunho das escrituras e da história é que os profetas de fato fizeram predições que apenas Deus sabia de antemão. Logo, foram inspirados milagrosamente a dizer o que disseram. Além dis1 Os rolos do Mar Morto foram copiado s e preservados pela comunidade dos E ssêni os. Ele s eram um grupo apocalíptico, ascético e celibatário. Algumas tradições cristãs afirmam que João Batista viveu na comunidade dos essênios, mas não existem provas concretas dessas afirmações. 2 RID DE RB OS , Jan. Isaí as. São Paulo: Vida Nova, 1995. p. 17, 51. 3 ORTLUN D JR., R aymo nd C. Isa ías: Deu s sa lv a os pe ca do res . Rio de Janeiro: CPAD,
2015. p.23.
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ISAIAS: E is-me aqui, E nvia-me a mim
so, o profe ta Isaías , em especial , era um profund o conheced or da polít ica, economia, sociedade e religião de sua época, pois vivia no palácio real, po den do, de ssa form a, fazer disce rn im entos inspirados por Deus como pouco s pro fetas fizeram . Por isso, seus escritos são considerados como dos mais importantes do Antigo Test ament o. Alguns dos quais nem foram proferidos oralm ente, ap enas escrito s (Is 8.16; 30.8). Ele poderia também ter se utilizado de amanuenses para alguns de seus escritos. Tem-se afirmado que existem duas ou três grandes porções distintas em Isaías, diferentes entre si no estilo literário e nas abordagens, embora estejam em unid ade entre si. Um a que vai do capítulo 1 ao 39, outra do 40 ao 55 e outra do 56 ao 66, organizadas em épocas diferentes, chegando alguns a dizer que poderiam terem sidoJerusalém.4 escritas durante exílio, ou seja, npode-se a Babilónia e no pós-exílico, Contrao essa afirmação, dizer queperíodo a mu dança de estilo pode ser resultado da variação de propósito do aut or, m udança do destinatário, estado de ânimo, a idade, ou mesmo outra influência sobre o autor que, necessariamente, não indica que este seja outra pessoa.5 Ao ler o livro, ficam claras pelo menos duas ou três divisões. Elas caracterizam os mom entos e problemas difere ntes que o livro de Is aías cobre na história do povo israeli ta. Existe um a mud ança a partir do capítulo 40. O esti lo se tom a mais poético e teóri co. O tom tom a-se concili atório em vez de conde nador . Os oráculos de acusaçã o e juízo - que com punham a maior parte dos prim eiro s 39 capítu los - tom am -s e bem mais raros. A visão pro fética de um novo tempo qu e viria sobre Israel ganha mais vida e vigor.6 Essa divisão tem dado m argem a que a segund a e a terceira porções do livro sejam atribuídas a um Dêu tero-Isaías, ou, ai nda, a terceira por ção a um Trito-Is aías.7 Co ntra essa argu m entação , temos o fat o de a tradição rabínica judaica e histórica da igreja sempre afirmar que foi Isaías, de fato, o autor, bem como as várias citaçõ es de Isaías, inclusive da segunda e terceira porções, no Novo Testamento. Tal é a importân cia e a veracidade de Isaías que o Novo Testamento faz mais de 400 citações diretas e indiretas do livro, citando o profeta nominalmente mais de 20 vezes, muito mais do que qualquer outro profeta.8As des4 HORT ON, Stanley M. Isaí as: o pr of eta messiân ico. Rio de Janeiro: CPAD, 2002. p. 19. 5 LASOR, 1999, p. 306. 6 HIL L, E. Andrew . Pano ram a d o Antigo Testamento. São Paulo: Vida, 2007, p. 460. 7 SCHÒK EL, Luís Alo nso. Pro feta s I: Isaías, Je remia s. São Paulo: Paulus, 1988. p. 91-94. 8 SCH ULT Z, Samuel J. A his tóri a de Is ra el no Anti go Testamento. São Paulo: Vida Nova,
2008. p. 187.
CONHECENDO O LIVRO DE ISAÍAS
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cobertas dos rolos do Mar Morto, datadas do século II a.C., podem ser outra prova da unidade do livro de Isaías e de seu autor único, visto que um dos manuscritos contém todos os capítulos de Isaías como os conhecem os ho je,9 apontando, dessa forma, p ara um só autor e um a só obra. Essa mesma afirmação vale para os que defendem uma escrita poste rio r de Isaías, colo cando-a no século II a.C. Se assim fo sse, os manuscritos do Mar Morto seriam cópias muito recentes ou mesmo os srcinais, mas esta hipótese não se sustenta di ante dos fat os. Nem m es mo a Septuaginta, escrita no século III a.C., fornece qualquer pista de que Isaías ti vesse tido m ais de um aut or, nem m esmo um a divisão entr e o “Prim eiro” I saías (capít ulos 1 a 39) ou o Dêu tero-Isaías (capítulos 3 9 e 40) ou ainda escrito em datas muito distantes entre as três partes prin cipais do livro. Dessa forma, Isaías deve ser lido como um único livro, apesar de haver inúmeras m aneiras de ser anali sado e di vidido, além do necessário respeito para com estudiosos do assunto, tendo o cuidado para não negar seu caráter profético e divino. Há uma tradição que afirma que Isaías era sobrinho do rei Amasias; logo, el e era de linhagem no bre e certamente v ivia na cort e real, desfru tando de alguns privilégios que lhe serviram de base e capacitação para ter o amplo ministério que teve. Era casado com uma profetiza (Is 8.3) e teve dois filhos com ela, Sear-Jasube (“um resto volverá”) (7.3), cujo nome evoca as conquistas assírias que deixariam somente um remanes cente de sobreviventes, e Maer-Salal-Hás-Baz (“pronto ao saque, r ápido aos despojos”) (8.3b), referindo-se aos assírios saqueando o Reino do Norte (Israel) que havia se aliançado com outras nações para am eaçarem o Reino do Sul (Judá). Dando esses nomes aos filhos, ele se compara ao pro feta Oseias, que levou seu ministério tão a sério que envolveu sua família e o nome dos filhos. Certa vez, quando foi advertir o rei Acaz, levou seu filho Sear-Jasube junto, para que este fosse um testemunho profético vivo (7.3) diante da incredulidade do rei. O final de sua vida foi trágico, segundo a tradição rabínica: ele foi serrado ao meio durante o rei nado de Manassés. Antes de ser profeta, Isaías era o cronista que escrev ia as histórias re ais do rei U zias: “Q uanto ao mais dos atos de Uzias, tanto os prim eiros com o os derradeiros, o pro feta Isaías, fil ho de Amoz, o escreveu. (2 Cr 26.22). 9 Este rolo tem a design ação técnica de lQ Isa e contém todos os 66 cap ítulos de Isaías completos, escrito cerca de 150 a.C. RIDDERBOS, 1995, p. 52. ARCHER JÚNIOR,
2012, p. 630.
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ISAIAS: E is- me aqui, E nvia- me a mim
Portanto, esse texto bíblico confirma o fato de ele ter vivido por um lon go tempo no palácio real e desfrutado de privilégios reais. Essa informa ção aponta que o profeta, para ser cronista, era um erudito escritor que provavelm ente teve uma form ação esco lar muito avançada em relação àquela época, demonstrando que o profeta de Deus, nos tempos bíblicos e muito mais hoje, p ode perfeitamente c oncili ar est udos acadêm icos com unção divina, desfazendo a compreensão errónea de que os estudos ou a teologia esfriam a fé e a devoção. O leitor poderá argum entar que esta re alidade é do passado, mas a prova de que é presente é o fato de as igrejas pentecostais no Brasil não possuírem universidades (apen as faculdades) e não t erem nenhum programa str icto se ns u (mestrado e doutorado) para fomentar estudos e pesquisas sobre a teologia pentecostal, em boa parte, dependente das teologias das igrejas históricas, sendo muitasesta, das quais negam a experiência com o Espírito Santo nos moldes das igrejas pentecostais. A absorção de teologias cessacionistas tem ocasionado es friamento espiritual das igrejas pentecostais na questão da liberdade à operação do Espírito Santo e desvios em relação à compreensão da atu ação deste por falta de teologias pentecostais, afastando algumas igrejas desta nova maneira de ser igreja que os pentecostais trouxeram para o mundo evangélico. 4. A
MISSÃO DO PROFETA
A missão que Isaías recebeu foi bastante difícil, tendo em vista a de sob ediênc ia e rebeldia que o povo se encontrava. P ortanto, num contexto imediato, suas profecias cairiam no vazio da estupidez e surdez de um povo pecador e afastado de Deus (Is 6.9-10), muito em bora, num contex to de longo prazo, suas profecias se cumpririam. Deus precisava mostrar para o povo que eles eram rebeldes e que, mesmo ouvindo sua Palavra, não se converteriam. N esse sentido, Isaías não teve tempo em vida de ver o cumprimento de suas predições, pois, dada a grandeza de suas revela ções, elas se cum pririam na história da hum anidade em tempo s vindouros distantes, tanto as que se referiam a Israel, quanto as que se referiam a toda raça humana. Israel seria levado ao exílio, experimentaria um novo êxodo, um rem anescente vo ltaria para a Terra Prometida, viria um grande rei, um Messias que cumpriria todas as promessas de Deus em relação a Israel, mas este Messias teria que padecer grandes dores para remir o povo escolhido; entretanto, o povo escolhido rejeitaria o Messias, e isso pro porcionaria a salvação dos gentios que viviam em densas trevas. Num
futuro ainda mais distante, o povo escolhido seria resgatado novamente;
CONHECENDO O LIVRO DE ISA1AS
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então, aí si m, seria estabelecido um reinado perpétuo de paz, prospe rida de e jus tiça n a terra que alcançaria todos os pov os, tribos, raças e naçõe s. Assim sendo, suas profecias apontam para o dia em que todos os povos da terra, judeus e gentios, estarão sob o reinado do Reino de Cristo. Todos esses fatos apontam para a grandiosidade das profecias de Isaías e atestam para sua veracidade histórica e profética, contrariando algu mas correntes teológi cas que tentam tirar do profeta seu caráter predit ivo. Quand o Deus disse ao profeta que seu chamado causaria surdez - realidade esta que era para Isra el - talvez , isso ainda hoje seja verdadeiro para ouvi dos céticos. II
- O bjetivos de I saías
O profeta Isaí as teve mu ita ousadia em sua atuação pública; suas profe cias eram majestosas e repletas de nobreza e beleza poética; por isso, ele é um dos profetas mais lidos e celebrados do Antigo Testamento e também um dos que mais falou a respeit o da vinda do M essias . Isso revela a impor tância que deve ser dada ao mesmo para perceberem-se as implicações que esse profeta tem para os dias atuais. Diante disso, Isaías tem os seguintes objetivos ao escrever: 1. A nunciar o juízo de D eus diante do pecado
Israe l e as nações vizi nhas estavam em desacordo com os preceitos ju s tos de Deus, ofendendo gravemente a santidade dEle. Porém, era neces sário que Deus, diante de sua justiça e misericórdia, fizesse o povo saber com clareza quais eram seus pecados e quais as consequências dessa de sobediência. 2. F alar contra a idolatria e a falsa religião
O povo de Israel estava sendo governado por alguns reis que despreza ram. A eles se aliaram alguns sacerdotes cujo compromisso era apenas man terem a religião institucional. Isso se fez refletir numa religiosidade vazia, hipócrita, ritualística e sem sentido espiritual para o povo, levando-os a se desviarem dos caminhos do Senho r. Além da falsa religiosidade, hav ia a adoração a ídol os. Em bora o ídolo nada seja, pois é fabricado pelo hom em (Is 2.8), ninguém se aproxim a e o adora sem que seja afetado por ele, mesmo que este não tenha poder para fazer mal ou bem; fica afetado porque é instal ada um a cegueira espiritual em seu coração e mente (Is 44.18), de modo que passa a adorar o falso como verdadeiro sem se dar conta do grave erro (Is 44.20) e se tom a igual
ao ídolo (SI 115.8; Os 9.10) em estultícia e ignorância. O profeta é inci-
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ISAI AS: E is- me aqui, E nvia -me a mim
sivo ao advertir contra a adoração de ídolos, destacando a necessidade de adorar Jeová, pois somente Ele pode predizer e fazer acontecer (Is 44.7) e é o Senhor da história (Is 40.22-25; 43.14-15). Portanto, ídolo é tudo aquilo que exige um a lealdade que só é devida a Deus. No Novo Testamento, a idolatria é usada no sentido metafórico , sen do considerado tudo aquilo que ocupa o coração da pessoa, que toma as forças e a primazia, aquilo a que ela se dedica, o lugar para onde a pessoa vai para se satisfazer, ao invés de Cristo ocupar este lugar primeiro. Nesse sentido, pode-se colocar a cobiça (Ef 5.5), as riquezas (Mt 6.21), o poder (M t 20.25-28), ou qu alquer coisa que ocu pe o lugar de Deus. A idolatria fo i cham ada de ob ra da carne (G 1 5.19-20) e deve-se fu gir dela ( 1 Co 10.14).
3. D enunciar
a injustiça social
O povo de Deus havia se tomado orgulhoso e egoísta como as demais nações. Isso fez com que os pobres dentre o povo fossem humilhados e explorados pelos ricos e pelos governantes (Is 10.2; 26.6; 32.7; 41.17); mas, em contrapart ida, o Deus justo e misericordioso faria jus tiça ao pobre (Is 11.4), daria alimen tação e descanso a eles (I s 14.30), serviria de refugio para eles (Is 25.4) e seria portad or de boas notícias (Is 61.1). Ainda hoje , a voz do profeta ecoa para denunciar esquemas de corrup ção, injustiça e infidelidade nas várias esferas sociais (política, económica e religiosa), advertindo que Deus está atento e sempre virá em socorro dos desvalidos, desamparados, injustiçados e marginalizados.
4. A nunciar
a vinda do
M essias
Esse é o objetivo mais importante de Isaías, porque diante da deso bediê ncia , aliada ao fato de que as pessoas não conseguia m encontr ar o caminho certo para Deus, a única solução possível seria a vinda do Messias que, através do seu sofrimento, faria com que o povo se voltas se para Deus, “porque as iniquidades deles levará sobre si.” (Is 53.11). A vinda do Messias aponta para o caráter misericordioso e redentor de Deus, mesmo Israel sendo um povo rebelde. Por mais de dez vezes, o profeta aponta para Jeová com o o Redento r. O auto r cita pelo m en os dezessete profecias que se referem ao Messias vindouro. III
- C onteúdo
de I saías
De modo geral, os conteúdos proféti cos bíblicos apresentam as seguin tes temáticas, que também estão presentes em Isaías: (1) profecia como instrução e orientação ao povo; (2) discernimento e interpretação de fato-
CONHECENDO O LIVRO DE ISAIAS
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res sociais, económicos, políticos e religiosos, presentes ou iminentes; (3) acusação, condenação e juízo; e (4) esperança e promessa de restauração com base nas alianças e na misericórdia de Deus. Isaías é veem ente con tra a corrupção, a aliança política duvidosa, a ido latria, os excessos, a opulência, a ostentação, o orgulho, a opressão e toda sorte de injustiças. Levanta-se contra reis, autoridades, juízes, políticos, com erciantes, agricultor es poderos os e toda sorte de exploradores do p ovo, sempre em defesa dos mais fracos, dos pobres, das crianças e das viúvas. Algumas profecias de Isaías são breves e frequentemente mudam a temá tica abordada (entre os capítulos 4 e 5, por exemplo), enquanto outras são densas e exploram exaustivamente o assunto (capítulos 52 e 53). Os conteúdos de Isaías são bastante citados no Novo Testamento, espe cialmente os capítulos 40 a 55. Certamente isso ocorre porque esse bloco de pro fecias ap onta para o Servo Sofredor, Cristo, aparecend o 21 vezes a palavra ‘ebed (servidor, servo), que algumas vezes se referem ao povo de Deu s, m as que, n a maioria das vezes, fazem referên cia ao Messias, q ue deu sua vida para salvar a humanidade. Nesse mesmo bloco de profecias, são enc ontr ado s os quatro cânticos do Servo do Senhor (42.1-4; 49.1-6; 50. 4-9; 52.13-53.12).
1. C onteúdo
social , político e religioso
N o asp ecto expo sto neste item, pod em os dividir sua mensagem em duas grandes partes: social e política. Todas elas, porém, são permeadas pelo conteúdo religioso. Assim, no prim eiro pe ríodo de suas profecias, sua preocupação é m ais social que religiosa, fazend o coro ao profeta Amós do Rein o do N orte, tecendo críti cas à clas se dom inante pela opulênci a, vai da de e luxo estonteante que os levam a com eter injus tiças , embora prof essem suas crenças e suas atitudes em nome da religião. Isaías apela para o terrí vel “D ia do Senh or” , no qual Ele visitará tod a maldade social, política e re ligio sa, ca so o povo não acei te o conv ite do profe ta para o ar rependimento: “C ess ai d e praticar o mal aprendei a fazer o bem .” (Is 1.17). N a questão político-religiosa, Isaías ev oca as pro messas davídicas as quais Deus jurou que cumpriria, não apenas com respeito à dinastia de Davi, mas também em relação à Jerusalém como cidade escolhida. Neste sen tido , o pro feta tem esperança de que Deus, ao final , salvari a seu p ovo. Mesmo assim, ele denuncia os pecados destes, especialmente a falta de fé e confiança, demonstradas quando são feitos conchavos políticos, alianças com nações pagãs e confiança em exércitos estrangeiros, ao invés de con fiarem unicamente em Deus e em sua salvação. A grande esperança que
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ISAIAS: E is- me aqui, E nvia- me a mim
garante a salvação em Isaías é o Messias davídico que implantará a paz, a ju stiça e o direito perpetuam ente. 2. O D eus de I saías
O profeta descreve o caráter de Deus (Javé) de m aneira bril hante, ch a mando-o de Santo de Israel 25 vezes; Ele é o Salvador, relacionando essa palavra à redenção e livramento, pois seria sem sentido apregoar ju stiça e ju ízo sem prover um grande livramento no final; Ele é o R edentor e o Ú ni co e Supremo Governante, em contraste com outros deuses que nada são (Is 37.19); é Ele quem carrega e cuida do seu povo (Is 46.1-9) e faz novos céus e nova terra (Is 65.17; 66.22). 3. O E spírito de D eus
Isaías é o profeta que mais fala sobre o Espírito de Deus, m ais que qua l quer outro profeta do Antigo Testamento. A referência mais importante é quando ele afirma que o Espírito do Senhor (Javé) repousará sobre o “re bento de Jessé” (Cristo) com “o espírito de sabedoria e de entendim ento, o espírito de conselho e de fortaleza, o espírito de conhecimento e de temor do Senhor.” (Is 11.1-2). Há promessa de um derramamento tal do Espírito que “o deserto se tomará em campo fértil ” (Is 32.15) e a Palavra do Senhor não se desviará dos convertidos nem de seus filhos (Is 59.20-21); o Espí rito sobre Cristo justiç a às nações (Is 42.1) de e o coração”, “ungiu p ara pregar ar boasnovas aos“trará mansos” , “restaurar os ”contritos “proclam liberdade aos cativos e a abertura de prisão aos presos” (Is 61.1); e o Espí rito do Senhor trará descanso ao seu povo (Is 63.14). 4. O M essias
O profeta afirma que Jesus, o Messias, é o verdadeiro herdeiro do trono de Davi (Is 9. 7; cf. Lc 1.32-33) e Ele m anifestar á seu papel como Messias ao realizar milagres (Is 29.18; 35.5-6; cf. Mt 11.3-5; Lc 7.22). Ele t ambé m estabe lecerá a Nov a Alian ça (Is 55.3-4; cf . Lc 22.20) e um dia estabelecerá um Re ino Messiân ico, reinará e será adorado (Is 9.7; 66 .22-23; cf. Lc 1.3233; 22.18,29-30; Jo 18.36). 5. A
E scatologia
e a glória
do
R eino
futuro
Isaías é um livro escatológico, pois aponta para várias características so mente possíveis no Reino messiânico, onde o descendente de Davi se assen tará perpetuam ente no trono. A glória do Sen hor invadirá toda terra (Is 62.2), toda a terra desejará ver essa glória (Is 66.18-19), e a glória do Senhor será manifestada em todo o seu povo (Is 61.3). Essa glória futura será um evento
escatol ógico ainda por acontecer, mas também já é present e através do Reino
19
CONHECENDO O LIVRO DE ISAÍAS
de Deus que já está entre nós pela obra redentora de Crist o, tendo com o um dos seus sinais a Igreja de Cristo e todas as iniciat ivas que man ifestam a gló ria de Deus através da luta pela justiç a, equ idade e paz . Se investirm os tempo em nossa comunhão com Deus e nosso relaci onamento com nosso próxi mo, servindo-o em amor, teremos a oportunidade de viver um pouco, enquanto ainda estivermos n a terra, do que será a glória fut ura. 6. E sboço do conteúdo
d o livro de
I saías
O livro de Isaías, como já mencionado anteriormente, é composto por coleções de escritos, como a m aio ria dos livros proféticos. Porta n to, são profecias registradas durante um período de tempo e agrupadas conforme um determinado assunto, ou ainda, demonstram um amadu recimen to do próprio profeta a o esc rever . Assim, do capít ulo 1 ao 3 9, o enfoque de Isaías é o juízo divino sobre Judá e Jerusalém e sobre as nações vizinhas através da Assíria, especialmente os capítulos 13 ao 23 que tratam exclusivamente das nações pagãs. Na segunda e terceira metade do livro, do capítulo 40 ao 55 e do capítulo 56 ao 66, respectivamente, Isaías se volta para a salvação do povo, depois da punição pelo pecad o ao retorn arem do cativeiro babilónico. Ele escreve sobre a glória futura do povo de Deus através do Servo do Senhor, que é Cristo, que salvará seu povo através de seu próprio padecimento e triunfo. Segue adiante um esboço de Isaías: I.V I. II. III. IV. V. VI.
Profecias de repreen são e pro messas (1.1-6.13); Prim eira coleção de profe cias sobre o Messias (7.1-12.6); Profecias contra as nações estrang eiras (13.1-23.18); Primeira coleção de julgam ento e prom essa ( 24.1-27. 13); Profecias e ais contra os infiéis de Israel (28.1-33.24); Segunda coleção de julgam ento e prom essa (34.1- 35.10);
VII. Conteúdo histórico: Ezequias (36.1-39.8). VI II. Segunda coleção de profecias sobre o Messia s: anúncio da paz (40.1-55.13): a) Prólogo sobre a grandeza e o cuidado do Senho r (40.1- 31); b) A libertação da Babilónia e retomo à Terra Prometida (41.1 -48.22); c) O Servo Sofredor e o projeto de reconstrução de Jerusalém (49.153.12); d) 0 consol o do Prínc ipe da Paz (54. 1-55 .5);
e) Epílogo de exortação e consolo na Palavra do Senhor (55. 6-13).
20
ISAIAS! E is- me aqui , E nvia-me a mim
IX. Profecias diversas: ape sar da deprav ação e do sofrim ento, a esp e rança do Reino é anun ciada com g lória (56. 1-66.24) : a) para os de gentios e iniquidade e perdão de Israel (56.1-57 .21);1b) Graça Depravação Israel e restauração na intervenção divina (58 60.22); c) Promessas de libertação e a grandiosidade do Reino (61.1-66.24).
C a p ít u l o
2
O C ontexto
P rofecia ( 1. 1- 31 )
da
de
I saías
T A oda mensagem da Bíbl
ia é revel ada e i nspir ada por De us. No entanto, a revelação de Deus se dá em momentos históricos precisos, com linguagem e símbolos próprios ao ambiente que recebe sua revelação, a fim de que sua mensagem seja perfeitamente compreendida. No caso dos textos bíblicos, a inspiração dos autores veio de Deus, mas a escrita e a transmissão dessa revelação feitatomar por ahomens, na linguagem de homens, com símbolos de homens,foipara mensagem revelada perfeitamente compreendida pelos homens. É nossa responsabilidade conhecer o que realmente a Palavra nos fala, pois assim ouviremos a voz de Deus tal como Ele deseja falar aos nossos corações. Assim, podemos definir contexto como sendo o ambiente cultural, as questões políticas, as questões sociais, o cenário religioso, a vida de quem recebe a re velação e a escreve, a cosmovisão de um povo e também as condições em que se encontrava o escritor de um livro bíblico. Esses aspectos formam o que chamamos de contexto. Por isso, este segundo capítulo é reservado a entender o contexto do livro de Isaías, as questões históricas e políticas que estavam acontecendo nos dias em que o profeta realizou seu ministério, as crises da fé que o povo enfrentava e os problemas sociais e económ icos que Israel estava atravess ando. O profeta Isaías é muito rico em sua mensagem. Porém, seu ministéri o está inteiramente interligado com alguns acontecimentos chaves da história de Israel que, inclusive, definiram o início de seu trabalho profético. Antes de entendermos a mensagem do livro inteiro, precisamos perceber
os bastidores desse grande profeta. Tal esforço em nada reduz a ação do
22
ISAI AS: E is- me aqui, E nvia-me a
mim
Espírito Santo na interpretação que devemos ter do livro. Pelo contrário, nos dá uma leitura mais apurada e mais clara do livro, o que nos permite conhecer melhor a ação de Deus na vida do Profeta e do povo de Israel nesse período. O resultado disso será a facilidade que podemos alcançar em perceber a voz do Espírito Santo nos orientando, ensinando, corrigi ndo e inspirando a partir do livro de Isaías. A imponên cia da linguagem dram ática de Isa ías, a profundidad e de seus temas teológicos e o vigor da sua leitura sobre a história do povo israelita ju stific am o fato de pregad ore s, teólogos e poe tas descrev erem que os 66 capít ulos do livro co nstit uem um a peça fun damen tal dos livros profét icos do Antigo Testamento.1Apesar de existirem outros profetas importantes, Isaías inaugura a tradição dos profetas literários. Sendo assim, todo o contexto a ser analisado compreende o cenário político, social e religioso desse período de tempo. O profeta ganhou um senso de missão por meio de seu encontro com Deus descrito no capítulo 6 do livro. Esse fato grandioso não foi, provavelmente, o chamado inic ial, e sim um a reconvocação para um a tarefa espec ífica de an unciar julg am ento e p ro mes sa na no va situação do povo. Ao lermos a chamada do profeta, não devem os nos e squecer de que Isaías viu as glórias e o esplen dor da corte terrena do rei Uzias. L ogo após a morte do Rei, Isaías se depara com a visão do trono de Deus, indicando a novidade na sua missão profética: a glória de Deus será maior que a glória do reinado humano (Uzias). Nesse sentido, a m ensa gem de Deus era que a a tenção do pro fe ta dev eria se direcionar unicamente ao que o Senhor lhe ordenasse, pois o resultado da obediência do profeta implicaria numa visão gloriosa da ação de Deus sobre o povo. Portanto, a vida de Isaías foi radicalmente m udad a no instante em que ele assumiu a chamada de Deus para o novo momento da história de seu povo. Sua vida familiar e seu conhecimento da corte real foram utilizados por Deus para uma melhor compreensão de sua mensagem diante do povo. Com o ele era escriba ou cronista oficial do rei Uzias, fato este que pode ju stificar o co nhecim en to que o pro fe ta tem do ce nário político do mundo de sua época, Isaías transitava com facilidade em círculos oficiais do governo de Israel. Enquanto Amós e Oseias atuaram no Reino do Norte, Isaías é o primeiro profeta literário que atua no Reino do Sul. No entanto, 1 LASOR, S. Wi llia m; HU BBA RD , A. David; BUS H, W . Frederic. Intro dução ao An tigo
Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1999. p. 299.
O CONTEXTO DA PROFECIA DE ISAÍAS (1.1-31)
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sua mensag em se dir ige às duas casas de Israel (cf. Is. 8 .14).2 O min isté rio do profeta foi marcado também por profundas angústias. Parte de seu desafio, paradoxa lmen te, era tornar im possível ao povo ver e ouvir a ver dade divina, poi s o julgam ento de Deus já era um a reali dade quase certa. Havia, no entant o, um rema nescente do qual Isaías fa /ia parte. Diante disso, fica agora a questão sobre o cenário político, económico e social em que o profeta estava inserido no momento de seu oficio pro fético. Com o auxílio do Espírito Santo, o conhecimento dessas questões tom am muito m ais clara e signifi cativa a mensagem de Is aías . I
- C
ontexto
H
istórico
- P olítico
DIVISÃO DO REINO 1. A A partir do oitavo século a.C., já não havia uma nação unificada em Israel. As questões políticas resultantes das desavenças na sucessão polí tica de Israel após o período do Rei Salomão geraram divisões na nação. Surgiu o Reino do Norte sob a liderança de Jeroboão e o Reino do Sul sob a liderança de Roboão. Esse fato aconteceu em 922 a.C. A falta de amor e misericórdia entre as tribos irmãs foi a causa do cism a de toda um a naçã o. A consequência dessa divisão foi sentida de modo agudo durante os anos posteriores, por exem plo, a partir dos anos 800 a.C. A separação entre o Norte e o Sul cortou também as relações de auxílio político que tinham um do outro. Foi nesse período que entraram em cen a a Síri a e a Assír ia.
2. Os REIS DO PROFETA ISAÍAS
Além de Uzias, que reinou em Judá de 791 a 740 a.C., reinou também Jotão, que era filho de Uzias e que o sucedeu no trono de 740 até 732 a.C. Acredita-se que ele tenha sido corregente com seu pai, após este ter adquirido lepra (2 Rs 15.5) por ter oferecido sa crifício indevido no altar; foi, no entanto, um bom rei, embor a tenha permiti do alguns locai s de idolatria em Judá . O terceiro rei nessa lista foi Acaz. Foi filho de Jotão e tomou-se rei logo após o falecimento do seu pai, reinando de 735 a.C. a 715 a.C.. Esse foi o rei que, ao ter seu país invadido por tropas de Israel e da Síria, fez aliança com a Assíria (2 Cr 28.16), o que denotou falta de confiança em Deus e trouxe sérias consequências para Judá. O profeta Isaías interferiu diretamente no reinado de Acaz, entregando-lhe u ma profecia da parte de Deus (Is 7.1ss). A decisão de confiar na Assíria começou a enfraquecer o 2 SC HM ID T, H. We mer. Introdu ção ao Anti go Testamento. Trad. Annmarie Hõhn. São
Leopoldo, RS: Sinodal, 1994. p. 205.
24
ISAIAS: E is -me aqui, E nvia- me a mim
reino de Judá, tr azendo consequ ências econó micas para o povo, dev ido ao pagam ento de tributos para a Assíria. Acaz, um rei bastante idólatra (2 Cr 28.19,24), principalmente no culto a Baal, chegou a queimar um de seus filhos em oferta aos deuses (2 Rs 16.3-4; 2 Cr 28.2-4), e ainda quebrou utensílios do templo e fechou locais de adoração a Deus (2 Cr 28.23-25). Depois de Acaz, surgiu Ezequias, seu filho, que reinou de 715 a.C. a 686 a.C.. Porém, provavelmente tenha sido corregente com seu pai a partir de 729 a.C.. Foi durante seu reinado, graças a sua confiança em Deus, que aconteceu o grande livramento de Judá da invasão da Assíria, quando m orrera m 185 mil soldados po r uma peste (2 Rs 19.35), no ano de 70 1 a.C.; em bora mu itas cida des de Judá (Reino do Sul) tenham sido saqueadas nessa invasão, Jerusalém foi milagrosamente poupada. Isaías animou o rei Ezequias durante a invasão do exército assírio (Is 37.5-7) e lhe trouxe uma mensagem de morte e outra de cura diante de seu arrependimento (2 Rs 20), quando esteve doente. Embora esse rei tenha procurado honrar e adorar a Deus (2 Rs 18.5,6; 2 Cr 31.20,21), permitiu, também, determinados cultos aos deuses dos in vasores assírios. No início de seu reinado, ele tez uma reforma religio sa, reinstituindo algumas celebrações que haviam sido abandonadas (2 Cr 29.2-36) pelo povo de Deus, tomando-se, assim, um dos melhores reis de Judá após a divisão do reino (2 Rs 18.5). reinou696 de 686 642registros a.C., mas ter sidotenha corregente comManassés seu pai desde a.C..a.C. Nãoa há de deve que Isaías profeti zado durante o reinado desse rei, mas provavelmente foi no início desse reinado que o profeta foi martirizado, sendo serrado ao meio, segundo a tradição, pois esse rei era perversamente idólatra. Além das implicações espiri tuais que estiveram na base da decadência do povo israelita no período do ministério de Isaías, outros motivos con tribuíram para o cenário político que o povo vivenciava: tirania e inapti dão no governo, irresponsabilidade na política fiscal, falta de sabedoria nas relações internacionais e nas alianças várias vezes estabelecidas, lutas de classes, crimes, violência e outras calamidades que adoeceram Israel e Judá em todos os seus segm entos.3 3. A ASCENSÃO DOS IMPÉRIOS MUNDIAIS E A POLÍTICA EXTERNA O profeta Isaías inicia seu ministério na segunda metade do século VIII a.C.. Nesse período, o Império Neo-Assírio assumia seu lugar de princiMERRIL, H. Eugene. Histó ria de Is rae l no Antigo Testamento: o reino de sacerdotes que Deus colocou entre as nações. Trad. Romell S. Carneiro. Rio de Janeiro: CPAD, 2001, p.
414.
O CONTEXTO DA PROFECIA DE ISAÍAS (1.1-31)
25
pal potência mundial.4 A Assíria mantinha uma política imperial baseada principalmente nos interesses económicos e sociais. Desde os anos de 875 a.C. aproximadam ente, esse império passou a d esenvolver um a política de expansão territorial para Oeste até a porção superior do rio Eufrates, cul minando na dominação de todos os estados arameus da região.5Por esse período, Israel e Judá começaram também a sentir as pressões políticas vindas das nações vizinhas, particularmen te dos assíri os. A partir de 780 a.C. em diante, a Palestina e todo o M editerrâneo esta vam sendo conquistados pela poderosa Assíria. Comandada por Tiglatepileser III, teve uma imbatível máquina de guerra. Por cerca de 130 anos, aterrorizar am não apenas os habitantes de Israel e J udá, mas tam bém todo o Oriente Médio até o surgimento do Império da Babilónia. As cidades de Ascalom, Gaza e G ezer foram atacadas pelo rei Tiglate- Pileser em 734 a.C . Nesse mesmo ano, o rei assírio levantou um cerco em Jerusalém e, em 732 a.C., atacou o rei de Damasco, Rezim, destruindo a cidade de forma que nun ca mais se t om ou signifícante nos tempos do Antigo Testamento.6 Aproximadamente em 735 a.C., Rezim, rei da Síria, e Peca, rei de Is rael, formaram um a coligação para guerrearem con tra o re i da Assír ia, Ti glate-Pileser. A coligação entre a Síria e Israel pressionava o reino de Judá para que se unissem a eles contra a Assíria. Entretanto, Judá recusou a aliança. trouxe a indignação dasconquistado duas naçõesum que destronarAo recusa rei e estabelecer sobre o reino reicombinaram títere. Acaz, rei de Judá, preocupado, busca auxílio no reino Assírio, mas o Senhor or dena a Isaías, com seu filho, Sear-Jasube, que fosse ao encontro de Acaz (Is 7.3 ), ordenando-lhe que confiasse em Deu s e não na Assíria, porque os “dois pedaços de tições fum egantes” (Is 7.4) seriam destruí dos. O sucessor de Tiglate-Pileser foi o rei Salmaneser V que reinou entre 727 a.C. a 722 a.C. Um de seus principais feitos foi a tomada de Samaria em 722 a.C.. Apesar de ter tomado Samaria, deixou Judá sem conflitos por um tempo. Tal atitude se deve principalmente pelos acordos anteriores entre o rei Acaz de Judá e os reis assírios. A condição desse acordo polí tico entre Acaz e o rei assírio, Tiglate-Pileser, foi estabelecida mediante uma desobediência direta ao Senhor da Aliança. Salmaneser foi um dos reis mais guerreiros da Assíria e, durante os 5 anos de seu reinado, seu império teve boa consolidação política. Esse rei não considerou algumas 4 H1LL, E. And rew . Pa nor am a d o Antigo Testamento. São Paulo: Vida, 2007. p. 461. 5 MER RIL, 2001, p . 37 0.
6 M ERRIL, 20 01 , p. 430.
26
ISAIAS: E is-me aqui , E nvia- me a mim
pre rrogativas dos acordos entre os dois reinos no passado. Um a das lições que pode ficar par a nós ao analisar esse fato é que t oda alian ça feita fora da vontade de Deus sempre acaba tendo consequências não muito boas para o seu povo. Os Assírios tinham um programa de deportação dos povos conquista dos que foi criado para destruir o senso de nacionalismo ou identidade política.7 O objetiv o era a mistura dos povo s estran geiros em um grande império étnica e poli ticamente genérico, para ev itar revoltas.8E isso acon teceu com o Norte de Israel , também chamado de Samar ia. Se a política externa estivesse direcionada ao domínio da Assíria, no espaço interno de Israel, seriam os profetas que apresentariam um ponto de vista mais crítico diante das alianças que os reis vinham fazendo e o abandono que o povo experimentava da Aliança com Deus. Durante esse período, a atividade do pro fe ta Isaías já era am plamen te co nhecida e tinha por contemporâneo o p ro fe ta Oseias, que p rofe tizava no Norte. Logo após a queda de Sam aria em 722 a.C., alguns rei s de Judá, como Ezequias, tentaram reno var suas posições po líti cas m ediante o retom o aos princípios da fé israelita. O projeto de Ezequias teve sucesso den tro de Judá, resultando, no entanto, em desavenças com o rei Sargão II, sucessor de Tiglate-Pileser, pois, até então, as alianças entre Acaz e Tiglate-Pileser envolviam os judeus com os cultos pagãos da Assíria. Com a reforma de Ezequias, a pri ncipal con sequência foi a queb ra das relações polít icas com o rei que gov ernava naq uele período, Sargão II.9 Ne sse períod o, as relações entre os dois rei nos ficaram cada vez mais melindrosas, as tensões internas aumentavam devido a instabilidade e ameaças exteriores, e o medo de que o mesmo que aconteceu no Norte pudesse acontecer era cada vez mais evidente. Foi no reinado de Senaqueribe (705 a.C. a 681 a.C.) que aconteceu a independência da Babilónia diante da Assíri a. Em bora essa indepen dência tenha sido por breve tempo, deu-se o iníci o de um a nova força política que viria dominar o Mediterrâneo, inclusive causar o exílio de Judá, dando fim ao projeto e aos esforços do rei Ezequias. Foi no reinado de Manassés que Judá entrou em declínio total sendo subjugada pela Babilónia. Se no prim eiro mom ento foram dep ortados os irmão s do Norte, a pre ocu paç ão de Isaía s se dá em alertar ao seu povo que o mesm o sucederia com eles no 7 HILL , 2011, p. 462. 8 HORT ON, 2002, p . 11.
9 ME RRIL, 2 0 0 f p . 4 48 .
O CONTEXTO DA PROFECIA DE ISAÍAS (1.1-31)
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Sul, pois estavam indo pelo mesm o caminho de abandono da Aliança com Jeová, tal como os irmãos do Norte. O profeta, além de exortar, profetiza sobre um futuro tenebroso que viria, mas também vaticina que haveria esperança. Assim, dois acontecimentos importantes servem de foco para os capí tulos 1 a 39 do livro de Isaías: a invasão a Israel pelo rei assírio Tiglatepileser III, que serve de pano de fundo para a leitura, principalmente dos capítulos 7 a 12, sendo a destruição de Damasco o principal acontecimen to. O segundo acontecimento foi a tentativa de invasão de Senaqueribe ao reino de Judá, em 701 a.C., que resultou no envolvimento de Ezequias na coligação antiassíria. Isso causou a destruição de várias cidades fortifica das de Jud á e, finalmente, o cerco de Je rusa lém .10 A leitura e a análise do cenário político do livro indicam a organiza ção do mesmo em dois mom entos políti cos diferencia dos. O pri meiro, que compreende o capítulo 7 a 37, destaca a Assíria como principal potência contra Israel. Nesses capítulos, tomam-se frequentes as sinalizações de fal ta de confiança do povo diante do Senhor, os oráculos contra as nações e as maldições reg istradas no s capítulos 28 a 33, e os capítulos 36 e 3 7 regis tram o fim da crise com a Assíria. O segundo m om ento, d escrito a partir do capítulo 40 a 5 5 é direcionado ao babilónico. Nesses nas capítulos, o profeta previu o exílio oe fato dirigiu suaexílio mensagem aos exilados terras da Babilónia. Destaca-se de que o profeta se toma a voz que, diante das questões políticas e históricas do povo, era orientado por Deus para revelar suas palavras e prever o fu turo do Reino do Sul. Assim, o livro de Isaías cobre profeticamente dois tempos políticos: o tempo do domínio da Assíria e, depois, o domínio da Babilónia. De modo didático, podemos dividir os oráculos de Isaías direcionados em três período s diferentes: inicialm ente, os oráculos foram para o período dos reis de Jerusalém, dentro do contexto em que ele vive (Is 1-39), com reis que foram t emen tes a Deus, como Ezequias, mas tamb ém com reis que incentivaram a idolatria como Acaz. O segundo mo men to é direcionado ao anúncio de consolo e esperança par a superarem as dificuldades e aguarda rem o retomo com confiança em Deus (Is 40-55); e um terceiro momento é quando o povo v oltaria do cati veiro para Jerusal ém, predizendo um perí odo de glória para Israel sob o reinado m essiânico (Is 56-66).
10 HILL, 2011, p. 462.
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ISAIAS: E is-me aqui, E nvia- me a mim
4. P olítica interna
Quanto à política interna do Reino do Sul, o livro de Isaías está situado num percurso sucessivo de diferentes reis, com diferentes estratégias políticas e diferentes posiçõ es quanto à obediência à voz de Deus. As his tórias de cada um desses reis, que também estão narradas nos livros de 1 e 2 Crónicas e 1 e 2 Reis, n os revelam a rel ação muito próxim a que Is rael tinha entre o reinado político e a Aliança com Deus. As duas coisas cam inhavam juntas, estavam diretamente ligadas uma a outr a, pois uma afeta va diretamente a outra. Portanto: Israel e Judá divididos, questões sociais não resolvidas desde o reinado de Uzias até Manassés e a ampliação dos interesses políticos das nações estrangeiras como a Assíria e Babilónia sobre o Oriente Médio configuraram o cenário polí tico e histórico que abrange a pro fecia de Isaí as. II
- C ontexto E conómico e S ocial
No início do m inistério pro fético de Isaías, Judá, sob o re inado de Uzias, desfrutava de grande prosperidade. O reinado de Uzias pode ser descrito como o mais próspero que Judá conhecera desde a divisão da monarquia. Entretant o, a próspera situaçã o eco nóm ica da nação foi acom panhada por um a série de vícios sociais. Ness e período, a deso nestidad e na vida pública e o abismo que se estabeleceu entre os ricos e os pobres eram os problemas soci ais e económicos predom inantes . A rel ativa pro speridade alcançada , principalm en te no re in ado de Eze quias, possib ilitou certa reestruturação social e econó mica em Judá. A reab ertura do Templo, a regularização das contribuições do povo para o sustento dos sacerdotes e levitas, a celebração da Páscoa, as ofertas e dízimos voltaram a ser depositadas no Templo. Conforme a narrativa de 2 Crónicas 31.5, “logo que se divulgou esta ordem, os filhos de Israel trouxeram em abundância dízimo do cereal, do vinho, do azeit e, do mel e de todo prod uto do campo. Também os dízimos de tudo trouxeram em abundância” (ARA). Esse relato indica a prosperidade económica e social no período de Ezequias. Os outros reis de Judá, como Manassés, não possibilitaram uma situação económica e social estabilizada; pelo contrário, trouxeram instabilidade. Sem pre que o si stema político não funcionava, a econom ia do povo de Judá sofria, pois os rendimentos baixavam, as relações sociais entravam em conflito e os mais pobres, os sacerdotes e levitas, e as crianças eram sempre os mais afetados do ponto de vista social.
O CONTEXTO DA PROFECIA DE ISAÍAS (1.1-31)
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A partir da leitura do cenário político do início do século VIII a.C., principalmente no espaço entre 783 a.C., a aproxim adam ente 560 a.C., fica claro um princípio teológico que percebemos em quase toda a Teolo gia do Antigo Testamento: a estabilidade política, económica e social de Israel estava sem pre associada à vida religi osa. A fé assumia implicações concretas na vida política, económ ica e soc ial. Não havia um a dissociação dualista entre política, fé e espaço social. Tudo estava interligado, e a base comu m era a fé em Deus. Por isso, os profetas sem pre analisaram o cenári o político, económico e social a partir da visão da Torá, da fé em Deus e do legado da Aliança com Ele. II I
- C
ontexto
R
eligioso
Israel e Judá, a partir do século VIII a.C., experimentaram mo mentos de decadência religiosa seguidas sucessivamente po r inconstâncias políti cas. Com o afirm a Eugene H. M erril,11 os profetas deixaram clar o que Israel e Judá semearam vento, e, por isso, colheram tempestade. Afastaram-se dos compro missos estabelec idos com a lei, passando a sofrer a s maldições que ali estão registradas. Alguns reis desse período foram extremamente idólatras. Isso levou o povo a apostatar da fé e da confiança em Deus. Nos tempos de Isaías, espe cialmente no reinado de Jotão e Acaz, a idolatria fo i frequentemente utili zada pelos judeu s, o que agravou a situação do povo diant e de Deus. Além disso, esse ambiente idólatra ajudou a incrementar as injustiças que eram praticadas na época. Uma das principais divindades adorada pelos judeus era Baal, deus da fertilidade e do fogo. Por algumas vezes, chegaram até mesmo a oferecer seus filhos em sacrifício aos deuses. A queda de Sam aria cert amente foi um golpe não só polí tico, mas tam bém teve implicações na fé dos israelitas. Teve o impacto na confiança da Aliança e, nesse sentido, surgiram questionamentos importantes na vida tant o dos que foram para o cati veiro quanto dos que ficaram. Apesar de o Templo estar em Jerusalém e não ter sido destruído no prim eiro momento, os impactos da deportação do Norte foram sentidos em Jerusalém. Os povos trazidos para Samaria, devido à política de mis tura dos po vos conquistados realizada pela Assír ia, vieram de lugares tais como Babilónia, Cutá, Ava e Sefarvaim. Esses povos traziam suas práticas religiosas e seus deuses. O resultado disso foi um sincretismo religioso e a corrupção do sistema de adoração dos israelitas que haviam ficado.
11 MERRI L, 2001 , p. 414.
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ISAIAS: E is- me aqui, E nvia- me a mim
Com a queda do Reino do Norte em 722 a.C., período que compre ende também a ação profética de Isaías, existiu um sincretismo religioso em Sam aria,12 resultado da m istura anteriormente m encionada, associada à instrução dos sacerdotes enviados por Sargão III em Betei para ensinar o pov o a adora r a Deus (2 Rs 17.27-28). Enq uanto o povo adorava e servia o Senhor apenas com os lábios, continuavam a servir outros deuses nos altares idólatras. Com a mistura praticada pelo povo na adoração a Deus e aos deuses dos povos que vinham, instalou-se uma falsa religiosidade, com alguns pec ados graves. Os sacerdotes de ixaram de ser honestos; criou-se um a re ligiosi dade con fusa e misturada com as prát icas do culto a Baal e m ultipli caram-se os pecados morais e sociais. Entretanto, no reinado de Ezequias, deu-se uma importante reforma religiosa. Apesar de não durar por muito tempo, E zequias t entou um retom o aos princípios da Tor á, mas seus esfor ços te rminaram com o fim de seu rei nado. Nesse mesmo temp o, o profeta Isaías foi usado por Deus para profetizar a morte do rei, após este ter sido acometido de uma enfermidade mortal, e depois profetizar mais 15 anos de vida (Is 38.1-8). Portanto, Isaías participou do momento em que o rei Ezequias realizou al gumas reformas em Judá, sendo um de seus principais ajudantes. O cenário religioso de sincretismo, aparências e rituais vazios, ao que parec e persistiu até aproxim ad am en te 560 a.C., e talvez tenha continuad o até o período das narrativas de Esdras e Neemias, no tempo pós-exílico. Diante do cenário político de opressão da Assíria, dada sua força bélica, deu-se também a fragili dade do sistema religioso do Norte, que influenciou o Sul na corrupção dos Sacerdotes e do sistema de culto. Desse modo, o profeta Isaías realizou, a partir de 740 a.C., um dos mi nistér ios mais com plexos da Bíblia . Isaías estava envolvido entre o ju lg a mento ao povo pelo abandono dos caminhos do Senhor e, ao mesmo tempo, ministrar a esperança d e um novo começo d iante da opressão, deportação, humilhação e escravização que o Norte sofreu e que, posteriormente, o Sul sofreria. Ele teria a difícil missão de profetizar a dura condenação que Deus estava real izando na história do povo e, ao mesmo tem po, profetizar que, após a condenação, viria a restauração. Na verdade, o profeta, assim como Moisés, não viu a restauração de Judá e a volta do exílio da Bab iló nia; mesm o assim, seu esf orço em fazer a vontade de Deus e corajosamen te anunciar sua palavra ficou de exemplo aos demais profetas que vieram
12 MERRI L, 2001 , p. 424.
O CONTEXTO DA PROFECIA DE ISAÍAS (1.1-31)
31
depois dele. O povo de Israel, em m uitos mom entos, quis imitar as nações pagãs a sua volta. Para obter favores políticos, aliançou-se com pessoas e nações idólat ras e, para ter uma religião (como se a do Senhor não lhe fos se suficiente), envolveu-se com adoração a ídolos. Isso tudo levou a uma grande apo stasia e fal sidade no culto a Deus. Ness e senti do, para os nossos dias, a cruz de Cristo é a perspectiva de uma constante inversão de val ores vigentes na socieda de. A lógica da cruz é a opção em favo r daquele que é fraco, pequeno e rejeitado, estabelecendo a justiça e a obediência a Deus na terra. É importante ao povo de Deus exercer um ministério profético transformador para tomada de posição diante de estruturas pecaminosas, opressoras, diabólicas e exploradoras que perm eiam a socieda de, a política e o comércio. Essa é a lição de Isaías para hoje.
C
apítulo
3
O D ia do S enhor ( 2 . 1- 22 )
N
esta seçã o, observam os que a pr eocupação central do profeta Isaí as é a santidade de Deus; assim, ele condena a idolatria e a altivez presentes na sociedade e aponta para o dia do S enhor . Mas o que exatamente é o dia do S enhor ? De acordo com Soares, o termo hebraico para “dia” é yom, que pode significar “dia” literalmente (Jó 3.3) ou até período de tempo (Gn 2.4). Assim, segundo ele, o dia do S enhor indica o período reservado por Deus para o “acerto de contas” com todos os moradores da terra.1 Gerh ard von Rad, estudioso do An tigo Testamento, analisa as imagens que acompanham esse dia escatológico e conclui que o mesmo remonta às guerras santas do Senhor, ou seja, esse dia se refere à ocasião em que Jeová aparecerá pessoalmen te para aniquilar s eus inimigos.1 2 Convém registrarmos que não é apenas Isaí as que utiliza esta expressão “dia do S enhor ” com suas trágicas consequências, pois há muitas ideias nos escrit os proféticos sobre a natureza desse tremendo dia ( como se pode verificar na tabela que está na próxim a página ).
1 SOARES, Ezequias. Os doze pr ofet as menores. Liç ões bíblica s. Rio de Janeiro: CPAD, 4oTrimestre, 2012. p. 72. 2 RAD, Ge rhard von. Teologia do Antigo Testamento. 2. ed. São Paulo: ASTE/Targumim,
2006. p. 553-557.
ISAIAS:
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Profetas O b a d ia s Joel
E is -me
aqui ,
E nvia - me
a mim
Significado da expressão “dia do S enhor ” nos profetas3 Um te mp o d e j u l g a me n t o e re ta liaç ão. Dia de destruição na vinda do S enhor (1.15; 2.1,11,31; 3.14).
Amós
Dia de grande escuridão para o mundo, mas também para Israel (5.18,20).
Isaías
Dia de ajuste de contas para os soberbos e também um dia de destruição cruel vindo do Altíssimo (2.12; 13,6,9).
Sofonias
Dia de grande ira da parte do S enhor, aproxima muito ra pida mente (1.7 ,14).
Ezequiel
Dia em que as nações se lamentaram, quando Nabucodonosor empunhou a “espada do S enhor” ao
o
qual se
conquistar o Ocidente (13.5; 30,3).
Zacarias
Malaquias
Dia da ardente defesa de Jerusalém pelo S enhor, quando todas as nações estarão reunidas contra ela (14.1). 0 di a e m qu e o S enhor esmagará os perversos e os destrui rá como refugo, precedido p elo m inistério de restauração de Elias (4.5).
Portanto, não existe uma única definição da natureza do dia do Senhor na literatura profética, e sim diversos aspectos e imagens bíblicas que descrevem esse dia. Contudo, a principal ideia está relacionada ao grande julgam ento e restauração do Reino do Senhor. Também podemos observar em Sofonias 1.15,16 um a das mais completas descrições do dia do S enhor . Assim, lem os que o dia de Jeová é :
3 Cf. ELLISEN, Stanley A. Conheça melhor o Antigo Testamento: esboços e gráficos interpretativos. São Paulo: Vida, 1991. p. 284.
O DIA DO SENHOR (2.1-22)
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a) Um dia de ira; b) Um dia de aflição e angústia; c) U m dia de ruína e devast ação; d) Um dia de trevas e escuridão; e) Um dia de trombeta e grito de guerra. Muitas dessas características desse terrível dia, mencionadas no livro de Sofonias, também estão presentes no livro de Isaías. Entretanto, em Isaías, o dia do S enhor se refere principalmente à intervenção divina contra a altivez humana, expressadas no apego excessivo às riqueza s e a desvios morais que culminaram em corrupção e idolat ria, mas também diz re speito às históri as de proezas e grandes feitos de Deus intervindo milagrosamente na história do seu povo, Israel (Is 2.6-9, 17-18). N esse ca so de Isaía s, o dia do S enhor prim eiram ente alude à Judá e Jerusalém, mas também se aplica aos últimos dias, pois a maioria das profe cia s bíb lica s tem um cum prim ento im ed iato e um cum prim ento re moto, ou seja, aplicam-se num período de tempo próximo, mas também são aplicáveis há tempos mais distantes e escatológicos. Isso é possível, porq ue Deus, conhece dor de to das as co isas, ao in spirar su a Palav ra , ti nha propósitos muito mais amplos do que aquilo que o profeta entendia para se us dias. Estamos agora no dia do hom em, m as esse dia não vai durar para sem pre. N aquele gra nde dia, o M essia s irá finalizar o dia do hom em e realizar na história o dia do S enhor . Abaixo, veremos algumas características dessa intervenção divina, com co nsequências para Israel nos dias do pro feta Isaías, mas que se estende até ao período descrito escatologicamente como a grande tribulação (Ap 7.14). I - A A ltivez O riunda da P rosperidade
No período profético de Isaías, Israel experim entou m uita riqueza e pros peridade, talvez como em nenhum outro período depois do rei Salomão. O profeta escreveu: “E a sua terra está cheia de prata e ouro, e não têm fim os seus tesouros [...]” (Is 2.7). Por outro lado, esse desenvolvimento económico acabou não sendo visto como bênção de Deus ; na realidade, acabou se tornando em p edra de tropeço para o povo, uma vez que os induziu a cometer uma série de pecados: corrupção, mentira, arrogância, idolatria, enriquecimento ilícito, injustiças sociais e toda sorte de perversão advinda de uma má
ISAIAS: E is- me aqui, Envia-me a mim
36 compreensão da prosperidade, que result ma (Is 2.8-12).
ou numa m á util ização da m es
1. R iqueza e prosperidade
Primeiramente, é necessário esclarecer que a Palavra de Deus não co n dena a rique za ou o enrique cimen to (Gn 13.2; 1 Rs 10.23; Ec 5.19). Mu itas vezes, as interpretações sobre as riquezas na Bíblia acabam despertando postura s radicais: de um lado, tem aqueles que, por co nta do discurso pie doso, afirmam que as riquezas são um mal em si, e, portanto, o povo de Deus não deveria ter posses. Já outros incorrem em outro extremo: Deus enriquece todos que tem fé para receber essa bênção. Como exemplo, po demos mencionar a conhecida teologia da prosperidade, que cresce verti ginosamente dentro de muitas igrejas, inclusive de algumas que outrora a condenavam. Após considerarmos esses dois polos, devemos analisar o fato de que a orient ação divina com relação à riqueza é no toca nte ao acúm ulo desneces sário, aos perigos que a cercam, bem como as ações ilícitas para obtenção desta riqueza (Mt 19.23; 1 Tm 6.9). E aqui onde está nossa base de discer nimento para sabermos a vontade do Senhor, pertinente a esse assunto. O que sucedeu com o povo de Israel é que os reis e suas mais altas autori dades acumularam para si riquezas desnecessárias, mediante a prática de injustiça s, indo contra o mandam ento de Deus, o que fez com que seus co rações se corrompessem. Frequentemente, as riquezas excessivas apartam o coração humano da confiança em Deus (cf. Lc 12.13-21; 34). 2. A CORRUPÇÃO A corrupção diz respeito ao ato ou efeito de corromper. O profeta é ca tegórico sobre a corrupção do pov o de Deus em seus di as. Senão, vejamos: “Os teus príncipes são rebeldes e companheiros de ladrões; cada um deles ama os subornos e corre após salários; não fazem justiça ao órfão, e não chega perante eles a causa da s viú vas” (Is 1.23). A corrupç ão é coisa antiga e estava presente nos d ias de Isaí as. Na verd ade, a corrup ção vem desde os primórdios da humanidade, pois, de acordo com a Bíblia, ela já se manifes ta na queda da humanidade no pecado (Gn 3). Nesse episódio, aprendemos que a corrupção está rel acionada não apenas com deixar de ser puro ou ir contra o certo; ela também está ligada com a cobiça, ou seja, a corrupção diz respeito a não satisfação com o que se tem e, portanto, resulta em todo tipo de ação (ainda que desonesta) para obter o que se não tem. Devemos considerar as formas de corrupção e o modo como elas en
venenam nossas relações e dificultam todas as possibilidades de uma vi-
O DIA DO SENHOR (2.1-22)
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vência sadia c om D eus e com o próximo. P rimeiramente, a corrupção pode assumir quaisquer formas diferentes, dependendo do lugar. Por exemplo, existe a corrupção política, a ideológica, a corrupção dos valores de uma família, a corrupção do evangelho, e por aí em diante. Em segundo lugar, é necessário também dizer que quando a corrupção é descoberta, ela já corrompeu todo um conjunto de barreiras éti cas e morais . Isso pode ser ex plic ado, por exem plo, com o fato de que a corrupç ão política desco berta no Bras il - motivo de debat e hoje em dia - já est á em vári as áre as da socieda de brasileira, e a política é apenas um reflexo do estado interno da própria sociedade que escolheu fazer da corrupção e do “jeitinho brasileiro” um forte aspecto da sua constituição cultural. Por outro lado, a oposição à corrupção é vista como símbolo de fraqueza, de caretice e medo ante a esperteza dos que, engodados pela cobiça, estão dispostos a passar por cima de tudo e de todos. Felizmente, a coragem do profeta Isaías para denunciar os pecados de Israel, assim como anunciar o ju íz o divino, be m como o exemplo de Jesus Cristo, nosso Senhor, são fontes de inspiração no enfrentamento da corrupção. Lemos nos Evangelhos que, por diversas vezes, Jesus foi tentado pelo Diabo a se corromper, por meio da ganância, da fam a e da celebração do pode r. M esmo assim, Jesus não “se desviou com os assuntos deste mundo ”, permanecendo fiel à missão recebi da do Pai cele stial (M t 4.1-11). Dessa maneira, Jesus tomo u-se m odelo para todos aqueles que pretendem fazer a diferença no m undo, não se permiti ndo, assim, ser moldados pela corrupção do mund o (Rm 12.1-2). 3. AIDOLATRIA
Jesus afirmou que onde estivesse o tesouro de alguém, ali estaria o seu coração (Mt 6.21), ou seja, o coração pode seguir as ações de alguém e vi ce-versa. O povo de Israel dem onstrou isso ao perm itir que a ri queza e a prosperidade começassem a desviar seus corações do Senhor, e isso os levou a adorarem falsos deuses e ídolos (Is 2.6-8). Qualquer coisa que tome o lugar do Senhor como prioridade última em nossa vida toma-se um ídolo. Este sempre é opaco, ou seja, ofusca aqu ilo que se quer busca r, passa ndo a aponta r para si mesmo. O ídolo se rv e co mo um su bstituto muito fútil para Deus. Inclusive a religiosidade e denominações religio sas podem se tomar um ídolo quando passam a manipular o povo para obter vantagens próprias e adquirir poder (não do Espírito Santo, mas de forças humanas), ou, quando elas se tomam um fim em si mesmas. O povo havia se dobrado diante da loucura dos povos pagãos e se ajo
elharam diante de ídolos feitos por mãos humanas. Assim, a arrogância
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IS AI AS: E is- me aqui, E nvia- me a mim
fez com que se instalasse a degradação moral, social e religiosa, muito semelhante aos dias atuais (Is 2.8). II - O D ia do S enhor para I srael
A expressão dia do S enhor no livro do profeta Isaías simboliza eventos futuros e escatológicos e também quer expressar o sentido de iminência e de gerar expectativa. Para Israel, era símbolo de que Deus viria destruir o mal e os pecadores (Is 13.9; J1 1.15; Sf 1.7), mas também como símbolo de estabelecimento de paz e prosperidade. Assim, o povo de Deus seria fínalmente vingado por todos os sofrimentos im postos pelas nações pagãs que o dominaram, resultando em más cond ições económicas, sociais e po líticas (Is 2.4). Sen do assim , esse dia p ossui tan to aspectos po líticos quanto espirituais. Na realidade, na perspectiva profética do Antigo Testamento, não se separa política e vida religiosa, ambas se encontram entrelaçadas. Contudo, o Senhor Deus é justo e não poupa inclusive ao seu próprio povo de Israel, qua nd o este se en vo lve em pec ad os (cf. Is 2.6-10). Assim sendo, podem os constatar que os aspect os conden atórios do dia do Senhor que Israel acreditava se referir apenas aos seus inimigos acabaram por ter um cumprimento imediato e recair sobre si mesmo. Isso ocorreu quando o povo de Deus foi levado para os cativeiros assírio e babilónico, tendo as consequências que verem
os adiante .
1. O ABATIMENTO DO ORGULHO
No dia do S enhor , a prior idade é dada aos pecados de Isra el. No capítu lo 2 de Isaías, o Senhor dirige a palavra de julgamento à Judá e Jerusalém. Israel é declarado culpado de muitos pecados, sendo a falta de autenticida de nos cultos, o orgulho, bem como a idolatria, os maiores exemplos. No capítulo 1, o Senh or diz que a adoração de Israel não é autêntica. O Senhor não tem prazer nos animais que eles sacri ficam. Quando o rit o externo da religi ão não vem acom panhado de atit ude sincera e verdadeira do coraçã o, o resultado só pode ser o descontentamento divino (Is 1.13-15). Tal atitude displicente do povo para com Deus revela um coração or gulhoso, de quem se vê de modo distorcido, maior e melhor do que de fato é. Com isso se despreza o culto ao Senhor, incorrendo em falta de dependência de Deus (Is 1.4). Por isso, a demonstração da ira do Senhor contra os obstinados de Israel será violenta, de acordo com a estupide z que o orgulho traz consigo (Is 1.20; 2.12). Deus não perm itirá que o fraco sej a espoliad o para sempre , conform e a profe cia de Isaías (Is 1.26; 3.15). O dia
do
S enhor
será tão pesado para Israel diante do pecado do orgulho que o
O DIA DO SENHOR (2.1-22)
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profeta aconselha o povo a entrar nas rochas e se esconder no pó (Is 2.10). O pó era sinónimo de extrema humilhação. Nos tempos antigos, quando alguém queria demonstrar humilhação diante de uma atitude errada, sentava-se literalmente no pó, por vontade própria; aqui, porém, o profeta está dizendo ao povo que, como eles não o fizeram por vontade própria, eles seriam forçados a fazê-lo diante da calamidad e que viria . 2. A DESTRUIÇÃO DA IDOLATRIA O profeta denuncia a idolatria de Israel, em que a criatura é servida como se fosse Deus (Is 2.8-9 ). Ain da hoje, muitos entre a hum anidade ado ram obras feitas por mãos humanas, em explícita ofensa ao Criador, o úni co digno de adoração. Essa descrição profética de acusação de Israel pode ser relacionada ao materialismo atual, onde o ser humano atribui grande valor aos objetos materiais, em detrimento das pessoas. Também, em nossos dias, o valor das pessoas é medido pela quan tidade de bens que conseguem angariar; dessa forma, os pobres e mar ginalizados são desprezados e desvalorizados. Há apreço apenas pelos ricos e afamados, e, assim, a soberba humana é cultivada enquanto Deus é desprezado. Mas chegará o dia do S enhor , em que a glória da sua m a jestade afugentará os pecadores. Nesse dia, os soberbos serão abatidos e hum ilhados. o S enhor Deus (Is 9.(Is2-12) . Então, haveráApenas um reconhecimento de será que aexaltado idolatrianaq parauele nadadia serve 2.20); quando perceberem que toda inclinação aos ídolos lhes colocou em mais apuros, eles os lançarão todos ao chão (I s 2.18,20), dem onstra n S enhor para do que fmalmente reconhecem que não têm valor. O dia do eles será tão angustiante que eles se meterão nas cavernas das rochas e nos buracos da terra (Is 2.19, 21). Nesse dia, eles reconhecerão que há somente um Deus verdadeir o. PAZ COMPLETA 3.Quando O ESTABELECIMENTO Israel reconhecerDA o senhorio do Senhor e receber o Messias como o enviado de Deus para restaurar a nação, então se estabelecerá a verdadeira paz e prosperidade. Será um período tão esplendoroso para Is rael que as nações d e toda terra afluirão para Jerusalém para apren der sobre os caminho s do Senho r e haverá ju stiç a em toda terra (Is 2.1- 4). Nesse dia, quando Jesus Cristo reinar sobre todos, haverá um a grande mudança no rumo das nações: os orçamentos militares serão utilizados para o desenvolvimento agrícola; espadas e lanças (armas) serão conver
tidas em enxadões e foices. E fmalmente, o mundo estará em paz, viven-
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ISAIAS: E is- me aqui, E nvia- me a mim
ciando o shalom de Deus: “Não levantará espada nação co ntra n ação, nem aprenderão mais a guerrear” (Is 2.4; 60.18; Ap 21.3-4). Trata-se, sem dú vida, de uma grande prome ssa para o nosso mundo, um a vez que, todos os anos se gastam milhões de dólares na fabricação de armas de guerra em todo o planet a. As mais poderosas nações estão continuamente reforçando seu aparato mil itar. Há em todo o mund o um clima de guerra iminente no ar, especialmente com o cresci men to da tensão entre o Oriente e o O ciden te, devido aos crescentes atentados por parte de grupos extremistas islâmi cos, etc. Portanto, o medo está por toda parte, não há paz no mundo. Mas no futuro prometido pelo Senhor, ninguém m ais precisará t emer a guerra. Não serão mais investi dos recursos económ icos em ferra mentas que fomentam a morte e o medo, porque reinará o príncipe da paz, Jesus Cristo. III - O D ia do S enhor para a I greja
As imagens de Isaías concernentes ao dia do S enhor nos concedem um a base muito rica par a a leitura do dia do juízo , de acordo com o Novo Testamento. Porém, precisamos considerá-lo não apenas teoricamente, como algo distante de nossa realidade presente, mas também devemos aplicar a ameaça e promessa inerentes ao dia do S enhor para a realidade eclesiástica. Não basta sermos cristãos apenas nominais, que conhecem as pro fecias bíblicas, mas que não anda m em conform idad e com a ju stiça. Portanto, quando a justiça na comunidade não é o objetivo do povo de Deus, quando guerras, pobreza, preconceito e outros pecados são aceitos como inevitáveis e a segurança é baseada em condição étnica, eclesiástica ou socioeconômica privilegiada, então, o dia do S enhor , que é essencial mente fúturístico, tem algo a nos dizer no presente. Sua mensagem nos confronta no dia de hoje. Nesse sentido, o livro de Isaías nã o deve ser interpretado fora do seu contexto no que diz respeito a sua mensagem, mas podemos extrair dele princípios que p odem se r ampliados para a Igreja. Lem brando também que a palavra profética p ode ser subdividida em pelo m enos três grupos: 1. Profecias sob re o pov o d e Israel; 2. Profecias sobre a obra futura do Messias; 3. E, po r fim, profecias sobre a sequên cia dos últimos acon tecim entos .4
4 BERGSTÉN, Eurico. Teologia sistemática. 4. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2005. p. 295.
O DIA DO SENHOR (2.1-22)
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Esse terceiro grupo não está relacionado unicamente ao povo de Israel ou à comunidade cristã p rimiti va, apesar de elas serem anunciadas no con texto desses dois momentos históricos. As profecias do terceiro grupo se am pliam para cum prir a a ção de Deus sobre a história final da hum anidade, onde se jun tarã o todos os povos e se dará o fim histórico d essa era. Decert o, devemos te r em m ente que, apesar de Deus transmitir sua men sagem em tempos diferentes e de modos específicos, sua intenção com a sua criação per manece a mesma: chamar a humanidade para a reconcil iação com Ele (Is 55.1-3; Hb 1.1-2). Esse objetivo divino permite a compreensão da m ensagem de Isaías, ou seja, o sentido das suas palavras para nossos dias. Isso ocorre a partir do momento em que entendemos que existe um “elo” entre a ação de D eus sobre Israel e a ação de Deus sobre a Ig reja: o cuidado e o interesse salvífico de Deus sobre o seu povo. P or outro lado, é necessário entender que a Igreja é a ampliaçã o do projeto de Deus pa ra com Israel, que, na verdade, era um projeto que deveria se am pliar para a hum anidade toda (cf. Rm 11). Deus anuncia o seu dia porque deseja, antes de tudo, restaurar a criação e levá-la ao estado perfeito de seu projeto original. JESUS 1. A PREPARAÇÃO PARA A VINDA DE O dia do S enhor para a Igreja expressa também a ideia de julgamento, juízo e condenação. No Novo Testamento, Mateus 25.31-46 descreve o dis curso escatológico de Jesus, que termin a assinalando a separação que haverá S enhor convida a Igreja a entre os salvos e os não-salvos. Assim, o dia do atentar para a Palavra de Deus em obediência para que estejamos incluíd os no grupo dos salvos. “Sejam praticantes da palavra, e não apenas ouvintes, enganand o-se a si mesm os” (Tg 1.22 —versão NVI). A vinda de Cristo será precedida por uma grande proliferação de abandono das leis do Senhor, que rendo a hum anidade estabelecer substitutos para o culto a Deus (2 Ts 2.3-4). Algumas criações que a humanidade realizou ao longo da história, tais
como o consumismo, a confiança excessiva na parafernália tecnológica a centralização excessiva na capacidade de governar a vida podem ser mae neiras de expressar o abandono da dependên cia que devemos ter do Sen hor. Dessa forma, resulta no mesmo caminho de perdição que os israelit as per correram. A autossuficiência, o orgulho e a arrogância também são con siderados problemas que nos seduzem a retirar Deus do centro de nossas histórias. Por conseguinte, tal como Isaías chamou o povo a voltar para os cam inhos do Senhor, o Espírito Santo nos convida o tempo inteiro para u m retom o à dependência de Deus e também concedermos a Ele a centraliz a
ção em nossa história de vida. A promessa do dia do Senhor para a Igreja
42
ISAIAS: E is- me aqui , E nvia- me a mim
é o lembrete de que o dia do homem (tempo histórico) que o dia do
S enhor
é passageiro, mas
(eterno) se estabelecerá de forma definitiva e perene.
2. C omo será este di a ?
Ao longo da tradição cris tã, o dia do Senhor é frequentemen te associa do à segunda vinda de Cristo. Existem várias correntes que tentam inter pretar como será o grand e dia do Senhor. Como fruto disso, surgiram al gumas interpretações como milenistas: pré, pós e amilenistas; e também as concepções tribulaci onistas: pré-tribulacionismo e pós-tri bulacionism o.5 A princip al perspe ctiva cristã é a pré-tribu lacionista, o u seja, a que acre dita na obra de C rist o que rem overá a sua Igreja do m undo antes da Grande Tribulpara ação.com A Tribulaç ão será das formas decom m anifestação do juízo de Deus aqueles que nãouma viveram de acordo a sua Palavra. A Bíblia se refere a esse período como um dos mais terríveis dias da história da humanidade, considerando os acontecimentos que vivenciarão os que ficarem na vinda do Senhor. Mas para os salvos, será o encontro com o seu Senhor e Salvador, um evento de grande celebração (1 Pe 4.13), pois culminará na redenção final. Para esses, Jesus voltará do mesmo modo que partiu, ou seja, ascend erá dos céus (A t 1.11; Ap 1.7). O a póstolo Paulo dá-nos uma ideia de como será: “Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor” (1 Ts 4.1617). Cabe, aqui, um alerta: não devemos tentar decifrar como exatamente esses eventos ocorrerão, pois o importante é que o Senhor nos transmitiu a mensagem de que será um tempo novo na história, onde se manifestará a plenitude do Reino de Deus: o seu grand e dia. 3. A titudes diante do dia do S enhor
O futuro é preocupação de todo ser humano, pois a incerteza gera, na maior parte dos casos, angústia e desconforto. Talvez o povo de Israel e a Igreja Primitiva tenham passad o po r essa experiência de ter que lidar com as incertezas do futuro. Por isso, o Espírito de Deus revela alguns sinais para sua Ig reja mediante a Esc ritura de como será o dia do S enhor . Mas devem os entender que são apenas sinai s que nos aux iliam na percepção da 5 ERICKSON, Mi lla rd J. Introd ução à teo log ia s iste má tica . São Paulo: Vida Nova, 1997.
p. 509.
O DIA DO SENHOR (2.1-22)
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experiência gloriosa do Reino, não devendo ser tidos como únicos e últi mos. Além disso, não devem os nos esquecer també m de respeitar a li ngua gem do gênero lite rário apocalíptico para nos ajudar a entender de maneira S enhor . Precisamos ter cuidado adequada a mensagem do grande dia do para não ficarmos focados no quando e no como será o dia do S enhor , a ponto de nos esquecermos de quem está voltando. A atitude deve ser de grande expectativa para com o amado das nossas almas, aquEle que por nós deu sua vida para nos resgatar da morte e do Inferno. Jamais a riqueza, a prosperidade ou o trabalho devem servir de impedimento para a expec tativa da vinda do Senhor Jesus (1 Ts 4. 13-18). Não pode haver a fuga do presente, um descaso com tudo como desculpa de Sua vinda, nem viver ignorando a vo lta dEleecomo El el nun ca fosse tar. que No vai entant o, a pro messa de restauração triunfosefina da glória do Rvoleino restaurar a justiça, acabar com o choro e destruir o poder da morte e de Satanás precisa nos con vidar a ir a o encontro desse cum primento final. O Senh or nosso Deus, em sua gra ça, não deseja que seja mos u ma Igreja que foge dos desafios da realidade social, económica, política e pecami nosa de nossos tempos. N ossa missão não se desti na a esperar unicamente a concretização do dia do S enhor . Pelo contrário, por existir a certeza de que Jesus Cristo virá, então devemos nos lançar no mundo, anunciar essa restauração futura e mostrar o que Deus tem preparado a partir de sinais presentes em nossa realidade. Noutras palavras, a Igreja é desafiada a: en xug ar o choro dos que choram, porqu e no Reino futuro não ha verá chor o; pregar o evangelho para os aprisionados, porque o Reino de Deus é de liberdade; restaurar famílias, porque o Reino de Deus é de restauração; e a pregar e viver a justiça, porque o Reino de Deus é de Justiça. O Dia do S enhor é o mom ento histórico aguardado pela Igreja de Deus com expectativa e esperança. É o momento em que finalmente o projeto de Deus se tom ará pleno e sua glória ser á m anifesta a todos e sob todas as formas. Nessa esperança é que deve residir a força que nutre a Igreja de continuar a pregar a justiça e a salvação a todos os povos (Mt 28.19-20; Rm 8.18-25; Ap 21.1-7).
C apítulo
4
O JUÍ ZO DE JU DÁ E DE JERUSA LÉM
( 3 . 1- 4 . 1)
A
profecia de Isaías foi escrita pa ra en sinar que o b em -e star adq uirido à custa da exploração do pobre desencadeia a opulência e a ganância, que são pecados que confrontam a santidade de Deus. O cerne de todos esses pec ados diz resp eito ao se ntim ento de orgulho, que desafia a soberania e a vontade de Deus. O resultado do orgulho é o total descaso para com a Palavra de Deus e os valores espirituais nela contidos. As implicações dessa atit ude são viver como se Deus não exis tiss e, em co mpleta ignorân cia intencional em relação a sua Palavra e propósitos. Isso feito, o ser em rebelião dá vazão ao próprio ego, a fim de concentrar todas as atenções em si mesmo. Quando o homem desviado de Deus vive para alimentar seus desejos, empreende opressão aos que estão à sua volta. Diante disso, a mensagem do profeta traz às claras os enganos da visão humana rebelada contra a vontade de Deus. I - A I n ju s tiç a e a O pressão de um P o v o Atualmente, a palavra justiç a signific a o cum primento de uma lei moral que leva em conta a equidade e a igualdade entre todas as pessoas. Para o judeu, justiça era sinónimo de seguir as exigências da Lei de Deus. O colapso da nação era iminente para Isaías, por haverem pervertido o juízo ou trocado o que seria justo pelo injusto. Situações como essa sempre aca bam prejudican do aque les que não têm como se defender, como o fraco, o pobre, o órfão e a viúva (Is 1.17, 23). Os líderes privaram os pobres e
oprim idos da jus tiça e ainda rou baram o órfão e a viúva (Is 3.14; 10.2). Os
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IS AIAS:
E is- me
aqui ,
E nvia - me
a mim
dois reinos de Israel (Norte e Sul) tinham saído da situação de pobreza para uma ascensão económica só comparável ao tempo do rei Salomão. Mas, como geralmente acontece ainda hoje, o desenvolvimento da agricultura e de outros bens só foi consegu ido à custa dos injusti çados. 1. A OPRESSÃO OFICIALIZADA Os tempos de prosperidade de Judá trazem junto sua apostasia, embora a prosperidade não seja necessariamente má. Parece soar estranho ser essa a denúncia do profeta Isaías às autoridades e ao povo de ssa nação. Se con siderarmos que a prosperidade era vista como bênção de Deus (SI 35.27), como entender essa profecia de juízo? Em outras palavras, tais denúncias não tinham nenhum fundamento. Qual a srcem dessa suposta prosperida de? Pelo exposto na citação do salmista, os benefícios do Senhor são para aqueles que amam a justiça. Assim, existe um aspecto que não pode ser esquecido, o de que não pode haver prosperidade do Senhor sem a obedi ência à sua justiça. Em decorrência desse enfoque, pode-se considerar, diante das injusti ças em todos os níveis da sociedade de Judá denunciadas pelo profeta, que essa prosperidade não vinha do Senhor, mas sim a partir da exploração do pobre. No tocante a esse contexto, nos dias da profecia, as autoridades de Judá viviam uma anarquia no governo (Is 3.4); os governantes agiam de forma imprudente, corrupta e leviana (Is 3.12); quem tinha chances de oprim ir alguém, o fazia deliberadam ente (Is 3.5a); e fo i instalado o desre s peito contra o idoso (Is 3.5b). As autoridades, de acordo com Paulo, são constituídas por Deus (Rm 13.1) para promover o bem, sendo ministros de Deus para fazer justiça e para exercer a ira contra aquele que pratica o mal (Rm 13.4). Todavia, as autoridades de Judá promoviam a injustiça e, consequentemente, a desigualdade social. Sempre existiram desigualdades em Israel; mas no tempo dos profe tas, elas adquiriram grandes proporções. Houve um crescim ento acentuado de distanciamento social, político, religioso e económico entre os ricos e os pobres. Nesta linha de pensamento, Deus está para tirar de Judá seu cuidado e proteção.1Afinal, os governadores e sacerdotes tinham grandes responsa bilidades de guiar o povo de acordo com a Palavra de Deus. Neste sentido, quando Deus confere privilégios a pessoas ou grupos específicos, proporcionalm ente os cham a a grandes responsabilidades, em decorrência
1 HENRY, Matthew. Comentário Bíblico de Matthew Henry. Rio de Janeiro: CPAD, 2002. p. 562 . ■
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O JUÍZO DE JUDÁ E DE JERUSALÉM (3.1-4.1)
do favor recebido. A partir de então, esses escolhidos e separados devem servir e cuidar dos interesses dos mais necessitados. A esse respeito, Jesus ensinou que “o maior entre vós sej a como o m enor; e quem governa como quem serve” (Lc 22.26). Porém, as autoridades de Judá não obedeciam a esse princípio; antes, exploravam os pobres numa opressão oficializada. 2. A INJUSTIÇA COMO INSTRUMENTO DE TRIUNFO As autoridades e líderes de Judá tiravam proveito de sua posição pri vilegiada para se enriquecer. Estabeleceram-se, então, práticas contrárias à justiça de Deus. Contudo, usavam o nome do Senhor para enfatizar a prosperidade de Judá. A respeito disso, tomavam o nom e do Senhor em vão (Êx 20.7). Diante disso, o mandamento ensina que os representantes de Deus e o povo não podiam tom ar alguma coisa sagrada e empregá-la de form a indevida. Po r essa razão, as autoridad es e os líderes de Jud á estavam desobedecendo ao mandam ento. Afi nal, est avam tom ando o nom e santo de Deus com o objetivo de camuflar e ocultar suas injustiças. Por isso, muito cuidado com o que fazemos em nome de Deus, pois o engano do coração pode levar a cometer até mesmo erros graves em nom e de Deus. A partir desse contexto, percebe-se a inversão de valores sintetizada nas decisões e atitudes dos líderes de Judá. Ao tratar dos direitos e deveres do povo, esses líderes legislavam em causa própria e, consequentemente, estavam enganando os cidadãos de Judá, mostrando o caminho errado (Is 3.12). Assim, o profeta acusava as autoridades e os líderes de Judá, por intermédio da profecia, que eles estavam roubando, esmagando e explo rando os pobres (Is 3.14-15). A esse respeito, Deus ordena a seu povo que faça valer a justiça em benefício daqueles que não têm v oz (Pv 31.9), visto que o Senhor se levanta de seu trono devido a opressão do necessitado e do gem ido do pobre, para traze r seguran ça aos que o anseiam (SI 12.5 ). Os pobres também pertencem ao povo de Deus. Por esse motivo, Ele defende a causa dos necessitados e castiga aquel da extorsão.
es que defraud am o povo p or meio
3. A INJUSTIÇA NO MUNDO ATUAL Hoje, vivemos dias parecidos com os de Isaías, a exemplo daquele contexto de Judá, em um a sociedade alta mente corrom pida e com elevada desigualdade social, pecados esses denunciados pelo profeta. Paulo nos adverte a respeito de “tempos trabalhosos” dos últimos dias (2 Tm 3.1). Essa expressão traz a ideia do surgimento de extremo desvio da Palavra
de Deus, quando os falsos mestres parecem se multiplicar. O apóstolo dos
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ISAIAS: E is- me aqui, E nvia -me a mim
gentios descreve as principais características destes homens sem Deus, que tem aparência de piedade, mas negam a eficácia dela (2 Tm 3.5). Em ou tras palavras, esses mestres apresentam uma falsa aparência. A partir de então, p assa-se a perceber que algum as pessoas na atualidade se encontra m enganadas, contaminadas, alienadas e influenciadas por ensinos de falsos mestres, que rejeitam a verdade do evangelho, ensinando mentiras, visto serem homens amantes de si mesmos (2 Tm 3.2), que, em suas atitudes, exaltam a injustiça. Deus reprova em sua palavra privar alguém de algo que lhe pe rtence ou a que tem direito por meio da exploração (Lv 25.36). A Bíblia condena a preguiça e incentiva as pessoas a trabalharem (Pv 6.6). Esse aspecto evide ncia o prop ósito de Deus co m o trabalho. Toda pes soa tem direito de desfrutar os resultados de seu serviço, visto ser dádiva de Deus (Ec 3.13). Portanto, o trabalho denota a bênção de Deus e sempre teve um papel fundamental na cidadania e na dignidade do homem. Por isso, nos dias atuais, os governantes, por meio de leis, precisam proteger e defender os direitos e deveres dos trabalhadores. A Constituição Federal garante a todos os cidadãos brasileiros o acesso ao trabalho justo e digno, que permita a integração social e a distribuição de renda, coibindo a espo liação e exploração e, consequentemente, punindo aquele s que praticam a injustiça.2 Diante disso, a Igreja tem a capacidade e a responsabilidade dadas pelo Espírito Santo, sendo ela a representante do Reino de Deus e uma das respostas de Deus ao mundo que sofre, de profetizar contra as injustiças nas esferas sociais, políticas, religiosas e económicas. Os mecanismos de denúncias podem ser efetivados em decorrência da política e da denúncia pro fética , como fez Isaías, como também por meio de ações sociais que combatam as injustiças, os problemas e os sofrimentos do povo em sua srcem. Todo esse mal deve ser combatido pela prática do bem. Isso se confirma no discurso de Paulo, que orientou os membros da Igreja de Tessalônica, em seus relacionamentos, a nunca pagar ao outro mal por mal. Antes, procurar sempre praticar o bem entre eles e para com todos (1 Ts 5.15). Nesse sentido, o testemunho toma-se o ponto chave do ministério cristão (Mt 5.16). A capacidade para testemunhar vem por mediação do Espírito Santo, que capacita o cristão a ser de acordo com a imagem e se melha nça de Cris to. “Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o E spírito Santo e 2 BRASIL. Presid ência da Repúb lica . Decreto n . 5.452, de 1 de maio de 1943 . Disponí vel em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm
>. A ce ss o em: 18 mar.
2016.
O JUÍZO DE JUDÁ E DE JERUSALÉM (3.1-4.1)
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com virtude; o qual andou fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com ele.” (At 10.38). C om base nessa verdade, a Igreja foi ungida para ser o instr umento da justiç a divina num mun do caído e corrompido pelo pecado. II - A A rrogância
que
C eg a
A principal característica da arrogância é a cegueira. A arrogância só consegue pensar em si mesma e é desprovida de todas as informações ao redor. A superioridade é o sentimento do indivíduo arrogante. Sua vaidade impede de ver as outras pessoas como igua is. Não considera Deus em seus caminhos justamente por só conseguir enxergar a si mesmo como alvo de atenções. O arrogante estabelece suas próprias leis que o beneficiam em detrimento do bem-estar coletivo. Para essa pessoa, Deus é seu rival. Por isso, o Sen hor condena a arrogância (Pv 8.13). Só os hum ildes e quebran tados podem desfrutar da presença plena de Deus (Mt 5. 8). 1. A DESCRIÇÃO DE ARROGÂNCIA PELO PROFETA O profeta descreve de forma clara que os atos de Jerusalém e Judá eram praticados em rebelião contra Deus. Mesmo os líderes sabendo que o Senhor estava contemplando seus atos, o desafiavam em público. Con forme a denúncia do profeta: “Porque Jerusalém está arruinada, e Judá, S enhor , para caída; porquanto a sua língua e as suas obras são contra o desafiarem a su a gloriosa presença . O aspecto do seu rosto test ifica contr a eles; e, como Sodoma, publicam o seu pecado e não o encobrem” (Is 3.89 - ARA). As lideranças políti cas de Jud á e Jerusalém chegaram à certe za de que poderiam viver tranquilamente sem o senhorio de Deus. A elite da religião e os anciãos , que eram ti dos com o pessoas de respeito, achavam -se em conluio com o pod er polí tico. E, estando ensoberbecidos, agiam como se Deus não existisse e, se pelo menos Ele existisse, era uma pessoa des prezível de ser zombada,dessa estando presente contemplar os atos e palavrase passível de escárnio. O resultado arrogância é oa desprezo pelas pessoas mais fracas, explorando-as como se não fossem a imagem e sem e lhança de Deu s. O roubo aos pobres é denunciado pelo profeta de maneira veemente, delatando a prática de ti rar o alimento da m esa dos necessit ados (Is 3.14-15). Da mesm a forma, a disciplina de Deus alcançaria a s mulheres da classe mais abastada de Jerusalém. O profe ta descreve o contraste que será obser vado entre o est ado atual e o vindo uro na vida delas . Em vez dos perfum es,
sentiriam o cheiro da podridão dos mortos. Os vestidos preciosos seriam
ISAIAS: E is- me aqui, E nvia - me a mim
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trocados po r roupas de escr avos. A beleza daria lugar às cicatrizes prov in das do período de angústia e privações do cerco de Jerusal ém. Acreditavase que várias das joias e perfumes descritos pelo profeta continham pode res mágicos de atrair bons fluídos e espantar o s espírit os m aus.3Esse mod o de agir vinha das crendices populares resultantes da prostituição cultual. 2. Um pecado abominável
A arrogância ou orgulho é um pecado tão antigo e, ao mesmo tempo, tão atual que infecta a alma de cada geração de seres humanos. É um atra tivo castelo de pedras que resiste à idade do homem. Trata-se de um a forta leza invencível para qualquer indivíduo que tem a petulância de escalá-la. A principal arma do orgulho é o poder. Desde Adão, todos os seres humano s possuem em si mesm os uma voz que lhes impulsionam a desej ar o poder, não se importando quais sejam os meios, pois só assim será feliz e realizado. A voz ao ouvido de Eva ainda soa a suposta traição de Deus ao esconder o poder da vista do Homem. O desejo de pod er foi o ce rne da tentação no Éden.4 A violação do poder consiste em pensar que se sabe ou que se pode mais do que Deus. O poder que Deus confere ao homem na criação é a capacidade de cuidar e gerir a natureza. Mas o homem em pecado viola esse princípio quando quer estender seu domínio aos outros homens, ao ponto de c ontrolar e explorar seus semelhantes . Assim, quem busca o poder de maneira descontrolada supõe que pode fazer os rumos de uma insti tuiçã o se desenrolar conform e sua vontade eg o ísta, seja esta organização religiosa ou não. Quando o desejo de ter mais poder toma o coração do hom em, ele começa articular em força e astúcia, com o objetivo de alcan çar e deter mais poder. Há do is tipos de arrogantes: os zombadores de Deus e os aliados dEle. O desprezo por Deus é evidente na vida de alguns que buscam o poder, po r saberem que Ele detém sua gló ria que não será dividida com a cri atura . Po r outr o lado, num m undo famin to de poder , há hom ens que dizem ser ali ados de Deus p or almejarem o que Ele tem: todo o poder. Os aliados de Deus geralmente se concentram nas esferas da religião, que é o espaço mais propício para se alcançar o poder a partir d a verdadeira font e. Em nome de Deus, adquire-se com facil idade o domínio dos corpos e consciências de outros indivíduos. Depois de ter o 3CHAMPLIN, Russel Norman.
O Antigo Testamento Interpretado: versículo por versículo.
Volume 5o. São Paulo: Hagnos, 2000. p. 2801. 4 DORTCH, W. Richard. Orgulho Fatal: um ousado desafio a es te mundo fam into de poder .
Rio de Janeiro: CPAD , 1996. p. 23.
O JUÍZO DE JUDÁ E DE JERUSALÉM (3.1-4.1)
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coração embriagad o pelo poder, o indi víduo não o devolve mais. É preci so que isso seja tirado dele. 3.
OS MALES
DO ORGULHO
A idolatria é um pecado resultado do orgulho não só a partir da vene ração aos outros deuses, mas reside também no fato de criar um deus que atenda as paixões e desejos humanos. Assim, criar um deus que atenda todas as expectativas humanas é o desejo do indivíduo em pecado, pois, em rebeldia ao senhorio de D eus, a fantasia pelo desejo de independên cia o impele aos ídolos, que figuram a fonte dos caprichos pecaminosos do homem. Tem-se um deus passível de ser controlado e que atende todos os desejos egoístas da humanidade. Esse deus se toma como nós. Essa é a procura humana pelos ídolos que nada são (1 Co 8.4), com objetivo de se tom ar igual a Deus. O indiví duo intoxicado pelo orgulho tem dificuldades para empatia até mesmo com a própria família. Todos os seus desejos são ocupados pela necessidade de autopromoção, de manter e conquistar mais espaço. Es sas pessoas sacrificam relacionamen tos fam iliares e fraternos para dedicar tempo e consciência na escada do “reconhecim ento” . A perda da sensibili dade em relação aos sentimentos das pessoas é inevit ável. Indivíduos em briagados de poder e orgulho transform am pessoas de nomes para sim ples números. O orgulho tende ao acúmulo de poder e tira proveito, explora e usa pessoas com o objetos.5 Pode-se cham ar is so de cultura na rcis ista. O narcisista fantasia um conceito elevado dele mesmo, imagina-se com ilimitado poder, inteligência, beleza, amor e sucesso. O exibicionismo, a autoglorificação, o egoísmo, a divinização do ser, são sentimentos que ali mentam carências e fanta sias de indivíduos orgu lhosos.6 O desprezo pela mudança é outro sintoma de que nada vai bem com o coração orgulhoso. As velhas estruturas devem ser substituídas a partir de quando se tomam pesadas demais para responder as demandas da so ciedade atual.7 O narcisista tem aversão a m udanças, prin cipalm ente se a sugestão não partir dele, pois receia perder o controle. A cegueira do poder desencadeia o sentim ento de prepotência em relação ao seu depósito de conhecimentos, mesmo que ultrapassados. Esse é um dos motivos de 5 DOR TC H, 19 96 , p. 209-210 . 6 SO UZ A, Ricardo Barbosa. A Espir itua lida de, o E vangelho e a Igreja. Viçosa: Ultimato,
2013. p. 30-31 7 DORTCH , 1996, p. 210 -21 1.
ISAIAS: E is- me aqui, E nvia- me a mim
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falência das empresas e da irrelevância das instituições religiosas, quando engodadas por orgulho e poder, nada tem a oferecer e nada tem a dizer à sociedade.
III - A
M
isericórdia
e a
J
ustiça de
D eus
O profeta tem a mente iluminada por Deus, que lhe possibilita uma tomada de consciência e discernimento, um forte senso de justiça e o co nhecimento dos grandes dilemas do seu povo e do seu tempo. Isaías prediz a ruína de Judá e Jerusalém (Is 3.8). No entanto, tam bém pro fetiza a futura felici dade de Jerusalém (Is 4.2) . A restauração acontece p or meio do juízo, castigo e purificação da cidade pelo Senhor, onde toda a impureza e os crimes de morte serão exterminados (Is 4.4). Deste modo, a glória de Deus cobre e protege o seu povo (Is 4.5). Diante desse cenário, os cidadãos de Jerusalém ex alta m a soberania de Deus e, consequentem ente, a sua justiça, que traz justificação, redenção e santidade a todos aqueles que se arrepen dem dos seus maus caminhos. 1. O PROFETA PREDIZ A RUÍNA
Ruína significa “aquilo que está quebrado e destruído” (Lc 6.49; At 15.16).8 A partir dessa definição, pod e-se ima ginar a dificuldade do pro feta de anunciar o juízo de Deus, tendo em vista a prosperidade de Judá e Je rusalém. Essa vida próspera era demonstrada na infraestrutura da cidade, belos edifícios e belas residências, um esplêndido comércio com as mais variadas mercadorias e o poder público oferecendo segurança para os c ida dãos. As mulheres ricas andavam pelas ruas da cidade com seus enfeites, colares, brincos, vestidos luxuosos e perfumes caros (Is 3.19-24). Diante desse cenári o de opulência, como pensar em ruína e destr uição? No entan to, o povo de Judá, com suas palavras e ações, estava desafiando a Deus e ofendendo sua gloriosa presença (Is 3.8). A prosperidade da elite domi nante de Judá dessa custouatitude um alto a espoliação e aJudá opressã o do pobre. A consequência daspreço, autoridades e líderes de se estabelecia no juízo iminente de Deus . Independentemen te da situa ção de prosperidade ou calamidade, o justo sairia bem.9Todavia, o ímpio iria mal. Deus chama seu povo para prestar conta dos talentos que recebeu (Mt 25.19). Todo abuso, omissão e injus8 VINE , W.E.; UNG ER, Merril F.; WHITE, William Jr . Dic ion ári o Vine: o signif icado exe-
gé tic o e exp osit ivo da s pa la vr as do Antig o e Nov o Testamento. Rio de Janeiro: CPAD,
1985. p.959. " III .NKY, 2Ò02, p. 562.
O JUÍZO DE JUDÁ E DE JERUSALÉM (3.1-4.1)
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tiça cometidos, teriam que ser punidos m ediante a jus tiça de Deus. Tod os aqueles que prosperaram po r meio da opressão e espoliação, não se impor tando com as necessidades dos pobres, estavam debaixo da ira do Senhor (Is 3.14). Eles traziam sobre si mesmos o castigo da sua própria maldade (Is 3.9). Outro dado importante remete à semeadura. Quem semeou o que era mal colherá o mal. Consequentemente, o mal que fizeram aos outros será feito contra eles (Is 3. 11). Contu do, par a os jus tos , hav ia promes sas de dias felizes, de sonhos realizados e satisfação com o fruto do trabalho (Is 3.10). A parti r do juízo , percebe-se a importância da jus tiça de D eus, a qual determina o presente e o futuro de todo ser humano. 2. H umildade : símbolo da dependência de D eus
A soberba fez com que as autoridades e líderes de Judá se esquecessem de Deus. U ma das caracter ísti cas deste estado de espírit o se m ostra na au tossuficiência. O am or às riquezas é a raiz de todos os males (1 Tm 6.10) e tem levado muitas pessoas à independência de Deus, formatando indivídu os narcisi stas e egocêntr icos. No encontro de Jesus com o jove m rico, ape sar do belo currículo apresentando pelo rapaz, Crist o den unciou, po r meio de seu olhar amoroso e perceptí vel, um vazio no coração d aquele homem. A denúncia foi clara: “falta-te uma coisa”. O que faltava então? Vender tudo eleDepois, possuíadeveria e dar ovirdinheiro pobres, que teria umemteficou souroonoque céu. e seguiraos a Jes us.visto Contudo, o jov abatido e afastou-se triste, porque tinha muitas riquezas (Mc 10.17-31). A grande dificuldade desse jov em estava na so berba e autossuficiê ncia, vist o que Jesus cham ou a atenção que ninguém pode servir a dois senhores; pois odiará a um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. O cristão não pode servir a Deus e as riquezas (Mt 6.24). Esse aspecto evi dencia onde se localizam as prioridades e os valores das pessoas, já que onde estiver o nosso tesouro, aí também estará o nosso coração (M t 6.21). A hum ildade nada mais é do que nossa hum anidade reconhecida; querer ser humano é ser hum ilde, querer ser como Deus é do m aligno. A pr incipal característi ca de Jesus era a sua hum ildade como servo , evidentes em dois aspectos importantes: a rejeição e o desprezo pelo seu povo (Is 53.1 -2) .10 No tocante a esse ponto, Paulo destaca a atitude de Jesus com o exemplo de proceder de todos os seus segui dores. Ele com enta que , “emb ora Jesu s sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tomando-se
10 OLS ON, Lawren ce N. O servo de Jeo vá. Rio de Janeiro: CPAD, 1983, p. 43.
ISAI AS: E is- me aqui, E nvia- me a mim
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semelhante aos homens. E, sendo encontrado em forma humana, humi lhou-se a si mesmo e foi obediente até à morte, e morte de cruz!” (Fp 2.68 - NVI). Desse mod o, Jesus conseguiu expressar toda a su a humanidade basea da na hu mild ade, pois Ele é m anso e h umilde de coração (M t 11.28). A humildade é símbolo da dependência de Deus. A partir desse conceito, pod e-se en tender o discurso de Jesus sobre quem é o maior no Reino dos céus. Ele disse: “portanto, quem se faz humilde como esta criança, este é o m aior no Reino dos céus.” (Mt 18.4 - NVI). Assi m, quem não se tomar humilde e depend ente do pai como um a criança não poderá entrar no Reino de Deus (Mt 18.3). 3. A
justiça
de
D eu s
Deus reage co ntra a injusti ça, já que a jus tiça faz part e da natureza de Deus (SI 145.17). A respeito disso, no co ntexto das escrituras vetero e neotestamentárias, o que é creditado como justiça não são as obras, mas sim a fé (Gn 15.6 - NVI). Essa jus tiça pela fé produz obras na vida do justo em decorrência da graça de Deus. Esse conceito é evidenciado pelo profeta Habacuque (Hb 2.4) e na teologia paulina (Rm 1.17). O justo viverá da fé. Dessa maneira, a srcem da verdadeira justiça se determina em Deus. Ele é o criador, doador e sustentador da retidão, que estabelece princípios fundamentais dessa justiça. Nesse sentido, os governantes e sacerdotes de Judá tinham todas as condições dadas por Deus para estabelecer a justiça divina. Eles, no entanto, provocaram o juízo do Senhor, ignorando seus prece itos ju sto s e estabelecendo a injustiça como instrumento de triunfo dos abastados de Judá. Deus se utiliza da boca do profeta para transmitir sua sentença ou seu juízo. No contexto dos profetas, ju íz o diz resp eito à execuç ão da justiç a de Deus num cenário social corrompido e injusto. Esse aspecto evidencia o tempo em que Deus se manifesta numa sociedade judaica totalmente corrompida e desviada de sua vontade, que, por meio de seus pecados, mostra a verdadeira face das ilusões carnais. Alguns profetas como Joel (2.1,11) utilizam o termo “dia do S enhor ” como sendo esse encontro dos pec adores com o D eus santo em execuçã o do seu juízo. A função pro fética sempre esteve jun to com questões sociais e políti cas. O profeta de Deus é também porta-voz de um a mensag em que anuncia, den uncia e alert a dia nte de situações presentes e conhecidas e, neste capítulo, o profeta denunciou a injustiça e a arrogância. Que nossos corações sejam humildes diante de
Deus para reconhecer precisamos de arrependimento. Que nossa dependência de Deus quando seja evidente em atitudes, palavras e pensamentos.
C a p ít u l o
5
P redições de J uízo e G lória ( 4 . 2 - 6)
TT
V - / m grande de safi o do ponto de vista humano é c ompreender c omo Deus pode, ao mesmo tempo, executar um juízo que traga choro, dor e lamento, e também um amor imensurável e, em grande misericórdia, pro videnciar renovo e abrir o caminho para a redenção, a proteção e a glória. Nos dias atuais, tomado por tanto caos e injustiças, essa é uma questão cada vez mais latente. As pessoas se perguntam: onde está Deus? Por que Deus perm ite isso ou aquilo? Enfim, não só o ju ízo de Deus faz parte desse enredo, mas também uma sucessão de consequências de escolhas erradas feitas ao longo dos tempos. O homem, ao rejeitar o amor de Deus, abre os braços a escolhas que tem consequências nos tempos presente e futuro. A cada dia, as escolhas humanas são reflexos de suas concepções de mundo. Fazem o mal, porque o mal está dentro dos seus corações. Fazem o bem, porque o bem, de igual forma, está dentro do coração. Parece uma questão simples , mas n ão é tão simples assi m. As pessoas teimam em não querer aceitar as consequências das suas escolhas: fazem escolhas más, frutos de pensamentos maus, que se srcinaram em homens que já esque ceram o que é o amor de Deus e estão completamente absorvidos pelo sistema do mundo. É nesse contexto que o juízo de Deus se faz necessário, mas há, no tempo atual, assim como nos dias de Isaías, uma importante missão a ser cumprida. Naqueles dias, o profeta foi a voz que clamava. Nos dias atuais,
cabe à Igreja ser a voz profética que e restauração.
anuncia que é preciso arrependi mento
ISAIAS: E is- me aqui , E nvia- me a mim
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Em seu livro, o profeta Isaías quer mostrar que, apesar de Deus ter de executar juízo contra seu povo, como consequência das escolhas erradas feitas por eles, depois de claras e severas advertências, o que prevalece é seu imenso amor, misericórdia e cuidado para com eles, demonstrado em dois momentos: Primeiramente, na proteção, conforto e consolo disponibiliza dos por Deus e simbolizados na nu vem pro tetora de dia e no resplendor de fogo cham ejante duran te a noite (Is 4.5 ). E, por fim, no envio do Messias que, a princípio, fora rejeitado, mas finalmente aceito, e que também foi chamado de Renovo do S enhor, cheio de b eleza e de glória. 0 profeta busca deixar claro que o Deus executor de juízo age com justiça e equidade, porém jamais deixará seu povo entregue ao sofrimento, demone strando, assi prometendo m, a grandezaque dEle purifi muito cando,abençoados. salvando e curando seu povo ainda lhes seriam Qual deve ser nossa posiçã o frent e ao que nos revela o profeta? A m en sagem das Boas-Novas é clara, e o chamado é para todos. O amor e a misericórdia de Deus nos alcançam de form a plena ao contem plar o juízo, promovendo a restauração e a redenção em Cristo, cham ando-nos para a comunhão e gozo etemo. Enfim, destacamos a concordância do autor de Hebreus com Isaías quando esc reve : “Como e scaparemos nós, se negligen ciarmos tã o grande salvação?” (Hb 2.3 - ARA). 1-
O
Juízode D eus
O juízo de Deus é um ato de am or que tem por objeti vo: separar o bem do mal e o verdadeiro do que é falso. Talvez pareça um pouco antagónico: Com o afirmar que o juízo de Deus, com todo o seu enredo já conhecido, é um ato de amor? Para entendermo s essa questão, é necessári o nos rem eter mos até os primeiros dias onde o homem foi c riado por Elohim. H avia u m propósito para o homem que envolvia um relacionam ento muito especial e íntimo com Deus, mas o homem escolheu pecar, interrompendo toda essa bela história. A continuidade dessa tram a já é bastante conhecida, assim como suas consequências . Log o, haveria um juízo; porém, m ais do que um ju ízo, havia um Deus amoroso e misericordioso. Aos olhos humanos, era chegada a hora da sentença e da morte. Aos olhos de Deus, era a hora do juízo, da restauração e da glorificação. 1.
ASCAUSAS DO JUÍZO DE DEUS
Antes de enviar seu juízo, o Senhor havia mostrado claramente ao povo que Ele não deveria agir de form a co ntrária ao seu amor. E assim
tem sido desde o início. Antes mesmo da queda de Adão e Eva, Deus já
PREDIÇÕES DE JUÍZO E GLÓRIA (4.2-6)
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os havia instruído acerca do que deveriam evitar, a fim de manterem a comunhão com Ele. E assim foi durante toda a história da humanidade até os tempos do profeta Isaías. Deus, sempre movido por amor e mi sericórdia, buscou estabelecer alianças com o seu povo, levantou vozes para que trouxessem palavras de retidão , realizou maravilhas e supriu as necessidades. A lista de intervenções é imensa, desde pão vindo do céu, o mar se abrindo, as muralhas indo ao chão, até palavras proféticas de homens ungidos. Porém, nada disso conseguiu manter o povo de Israel longe do pecado. Bastou o tempo passar e os milagres “esfriarem” para que o povo começasse a abandonar seus princípios e imergisse numa série de abominações. Por causa disso, Deus alertou, por intermédio do p rofeta, contra a cor rupção dos go vernantes e a violênci a. Alert ou tamb ém sobre questões eco nómicas e sociais que promoviam a injustiça. Foram denunciadas e ad vertidas as seguintes práticas: a substituição do Senhor pelas riquezas; a ganância; o suborno recebido pelo juiz; a exploração dos trabalhadores para a manutenção do luxo no palácio, do rei, da corte e do templo; a con centração de riquezas nas mãos de poucos; o empobrecimento da popula ção; a administração fraudulenta; a impunidade e a opressão. Tudo isso é característica do afastamento sistemático do amor e do cuidado de Deus, dando as costas a Ele, e, na prática, afirmar quevi não dEle nem de suas ordenanças p araquerendo organizarem suas das.precisariam 2 . C omo um D eus bom pode agir com juízo
Está aí, possivelmente, um dos maiores antagonismos levantados por muitos que, em um primeiro momento, não conseguem compreender as dimensões da justiça e do amor de Deus. Nos tempos antigos, e também nos dias atuais, ao olhar para tant as consequências de ações humanas, não conseguem p erceber que elas são sim plesmente decorrências das própria s escolhas. Essas pessoas que não as compreendem como Deus de podeachar agir em juíz o e alegam duas coisas são an um tagónicas e amor preferem que Ele é complacente com situações que ferem sua santidade, como no caso do povo de Judá e Jerusalém. Mas é preciso afirmar a verdade de que o juízo de Deus se manifesta sempre que se viola o princípio de justiça estabelecido por Ele, e assim se viola seu próprio amor, ou seja, a própria criatura humana se expõe ao ju ízo de Deus ao rejeitar o seu am or que é oferecido gratuitamente. Desta forma, o juíz o é um ato de amor que abandon a o ser que res iste ao amor de
Deus à autodestruição.
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IS AI AS: E is- me aqui, E nvia-me a mim
No caso de Israel, esse am or foi rejeitado ao agirem com arrogância e autossufi ciência , desp rezando a provisão de Deus e ao praticarem a injus tiça de uns para com os outros, oprimindo e explorando os pobres, os ór fãos e as viúvas. Enfim, o povo que reivindicava para si uma atribuição de reli giosidade havia esquecido o real sentido do am or que deveria ser para eles uma inspiração, servindo de padrão em todos os momentos. O amor e a misericórdia de Deus, que, em outros momentos, já os havia alcança do e salvado das mãos de tantos inimigos, deveria motivá-los a praticar a justiça, fazer o bem e amparar os que precisam. Mas a realidade que se apresentava era completamente diferente. Não importava quantas vezes o povo foi alvo da misericórdia de Deus. Em todas elas, o que se seguiu foi o desvio moral, espiritual, político e social do povo. Já havia um a distância incalculável entre o lugar que o povo de Israel deveria ocupar e onde eles realmente estavam por causa do pecado. O Criador, em seu infinito amor, deseja que todos sejam alcançados pela graça e salvação. Porém, também é verdade que Deus é santo e, em sua santidade, há a necessidade de uma restauração. E esse processo é o que viri a a acontecer atra vés da promessa do “Renov o” . 3. A JUSTIÇA ESTABELECIDA COM JUÍZO As palavras do profeta eram prenúncios de tempos
de jus tiça e purifica
ção nã o sóospara aquel , mas os também entos uito dposterio res, como nossos diasese,diasainda, dias quepara vir mom ão. Não h ámcomo esfrutar da presença de Deus sem justiç a e santidade , e é nesse contexto que o juízo começa a ser aplicado. Para que houvesse o retomo da just iça no meio do po vo de Deus, era preci so que o juízo fosse fei to com r igor pelo justo juiz. O Senhor lavari a e purifica ria toda a sujeira e limparia Jerusalém da culpa de sangue inocente derramado e das injustiças praticadas até mesmo em nome dEle. Para isso, Ele enviaria seu Espírito de justiç a e seu Espírito purificador (Is 4. 4 - ARA). Assim como em qualquer processo de justificação, muitos não estavam dispostos a pagar o preço necessário, pois o arrependimento e a restauração são etapas árduas, caras e trabalhosas, porém necessárias. Quando o juízo fosse completado, a glória e a proteção do Senhor seriam e stendidas sobre seu povo. Nos dias atuais, a injustiça, a falta de amor, o individualism o, a corrup ção, a violência e toda uma série de iniquidades se multiplicam. Multidões estão cada vez mais se afastando de Deus e, iludidos por teorias e tendên cias que surgiram com a modern idade, vão se distanciando da fé e cada vez
mais buscando a satisfação apenas de si próprios. Multidões são vítimas
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dessas condições em que o coletivo cada vez tem menos importância e o individualismo é a palavra de ordem que lança um contra os outros sem piedade em uma realidade de dor e solidão. Essa é a plataform a ideal para que se estabeleçam injustiças e s e viole o direito e a dign idade do pró ximo , ou seja, são as condições para a prática de todo pecado, que está latente no coração humano esperando apenas a oportunidade de se mostr ar. Nesse cenário, a Igreja tem um importante papel e não pode se esquivar dessa grande responsabilidade. A Igr eja é o povo do Senhor na terra e atua como u m arauto de justiça e um inibidor do juízo contra o pecado e todas as formas de injustiça. Dessa forma, em todas estas frentes, deve haver um posicionamento para que a justiça deva ser proclamada. Ao anunciar as Boas-Novas, proclama-se uma mensagem de amor, acolhimento, justi ça, amparo e éti ca, enfi m, um a coerência com os ensinam entos do M estre Amado. E ssa proclamação precisa encon trar amparo nas atitudes da Igreja frente à realidade onde estamos inseridos. Essas atitudes vão além de uma série de ações dentro de nossas igrejas, pois elas transcendem esse espaço, levando essa voz a todos os espaços e exercendo um a abrangên cia int egral , cuidando do ser hum ano em todas as suas esferas. Ao ouvir falar de amor, se sentirá amado; ao ouvir falar de justiça, se sentirá justificado; ao ouvir falar de acolhimento e cuidado, se sentirá abraçado em sua totalidade. Vamos exemplificar essa questão, no caso de a proclam ação do evangelho não vir acompanhado dela: seri a com plicado falar do “pão da vida” a alguém que está com o estômago vazio e sente dor de fome, assim como seria difícil explicar o amor de Deus a al guém que é rejei tado por todos e não tem nem um teto para do rmir à noi te. A Igreja é um arauto de jus tiça e, com o tal, precisa ta mb ém ser pr esente no espaço da “ p o l i s Por isso, ela não deve se omitir dos meios públicos, políticos e da justiça social, mas também não pode compactuar com po líticas injustas e corruptas. Deve, sim, ocupar o espaço na sociedade que lhe compete. Nessa posição, h á comoa autoridade aceitar trocaprofética de favores poderes constituídos, pois não compromete dacom Igreja.osA Igreja, quando se fizer presente no meio público, precisa ser referência de étic a, com promisso com a jus tiça e a verdade, além de sem pre posici onar-se de form a profética e justa, mostrando ao mun do que há um Deus que é justo, santo e amoroso! - A G lória do R enovo do S enhor Um período de grande glória e beleza será estabele II
cido após o juízo di
vino sobre o povo, segundo a profecia de Isaías. Porém, essa bênção seria
ISAIAS: E is -me aqui, E nvia- me a mim
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apenas para aqueles que forem salvos da destruição causada pela invasão dos inimigos de Israel , que seria a executora do juízo de Deus. E sse juízo seria tão avassalador que os salvos seriam chamados de santos diante da purifica çã o que se estabelecerá. 1. O renovo do S enhor para israel
Nesse ponto da profecia, há um a re fe rê ncia tanto à época em que ela fora proferida quanto a um temp o mu ito post erior, em um tempo já esca tológico. Para os estudiosos do texto bíblico, ao falar do Renovo do Senhor, Isaías está se referindo ao Messias que seria rejeitado pelo povo de Israel, porém aceito ao fina l de muito aperto. Ao apontar para o contexto imediato, faz-se referência à invasão ba bilónica que, durante muitas dé cadas, asso lou todo o mundo co nh ecido de então, promovendo a destruição de reinos e cidades e ampliando o seu poder. Talvez, nesse momento, quando eram lev ados cativos, muitos dos que choravam começaram a repensar seus atos1e como estavam fora dos pro pó sitos estabelecidos por Deus, mas j á era tarde demais. Em um contexto remoto, faz referência ao fim dos tempos, quando Is rael estará novamente sitiada e será liberta milagrosamente quando reco nhecer e aceitar a Cristo como o enviado de Deus. Esse tem po será após o pe ríodo da Grande Tribulação, que durará sete anos, e o an ticristo que brará o pacto feito com Israel, e muitas nações d a terra se volt arão contra o povo de Deus. Nesse mom ento, o socorro do Senhor virá através da int ervenção divina encabeçada por C rist o em favor de seu povo. 2. O renovo do S enhor para a igreja
A promessa de renovo é para toda a Igreja, e não mais apenas para Is rael. C om a rejeição de Cristo por Israel, seu povo, abriu-se a grande porta da graça de Deus para todos os povos da terra. A promessa agora estaria acessíve l a todo aquele que aceitar viver esse processo de restauração, in dependentemente de etnia, classe social ou qualquer outra classificação. Bastaria dizer sim para viver essa resta uração. E nfim, todos os que aceit am a Crist o como salvador ness e tempo d a graça serão espirit ualmente reves tidos de beleza e glória através de Cristo nas suas vidas. Com isso, todos os que estão em Cristo são chamad os de santos (I s 4.3; 1 Co 1.2). Esse processo de santificação se dá não por iniciativa do cristão, mas a partir do fato de ele estar em Cristo, que é sant o. E em Jesus Cristo que o renovo se concretiza ao nos dar vida plena.
Ao morrer na cruz, Ele levou sobre si nossa culpa e cumpriu o juízo nos
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dando acesso à vida etema. É o Reno vo do Senhor produzindo vida! Jesus se referiu a si mesm o com o o do ador da vida (Mt 20.28; Jo 3.15-16; 5.24), dizendo que “quem beb er da água que eu lhe der nu nca mais terá sede. Ao contrário, a água que eu der-seNVI). tom ará nele um a fonte de águ a a jorrar para a vida etema.” (Jolhe 4.14 3. C risto , o provedor
de bênçãos para os salvos
Em Cristo, os salvos são alvos de muitas bênçãos. Essas bênçãos são especi ais; porém, aos olhos daqueles que ainda não conhecem a mensagem da cruz, elas podem parecer irreais. Quem ainda não conhece a Cristo está tão preso ao pecado e oprimido pelas injustiças e corrupção do mundo que não consegue mensu rar o quão precioso é a verdadeira vida que é oferta da porAtravés Jesus. de Cristo, há abundante provisão para todos nós, os salvos. E através de sua Palavra que Ele prom ete cura para o corpo físic o (Mt 4.2 3), libertação do pecado e de situações de aflição e angústia (Rm 8.21), sal vação do esta do de morte e afastamento de Deus (Lc 3.6) , renovação para a mente e no modo de pensar (Rm 12.2; 4.23), perdão completo para a culpa (Mt 26.28; Lc 24.47), e sobre nós repousa sua glória tr ansformadora. Com o disse Paul o: “E todos nós, que com a fac e descoberta contemplamos a glória do Senhor, segundo a sua imagem estamos sendo transformados com glória cada vez maior, a qual vem do Senhor, que é o Espírito.” (2 Co 3.18-NVI). Em Cristo, somos novas criaturas e podemos desfrutar de uma intimi dade ímpar com o Senhor , o que nos permite a cada dia vi vermos um p ro cesso de santificação até que venha a ser dia perfeito. E cabe a nós, Igreja, anunciarmos ao mundo que em Cristo há um caminho para a salvação e para a vida abundante. Essa compreensão impele a Igreja a um despertamento da necessidade de “sair para fora” e anunciar que há um juízo, m as que também há um a salvação em Crist o. III - A P roteção do S enhor Como é precioso o sentimento de proteção. Já no Jardim do Éden, en contramos Deus cuidando de Adão e Eva, demonstrando o quanto essa ação é significativa e importante. Até em uma célula familiar, o bebê, quando está inquieto, se conforta ao receber o afetuoso abraço da mãe. Um dos pil ares que un e as pessoas é a necessidade de proteção, como pô de ser obser vado no surgimento das primeiras civil izações : buscava-se água,
comida e proteção. Enfim, a proteção é uma necessidade natural do ser
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ISAIAS: Eis -me aqui, E nvia- me a mim
hum ano. No entant o, a proteção que necessitamos da parte de Deus é muito diferent e, pois envolve o nosso ser como u m todo. O profeta Isaías evoca a proteção do Senhor sobre seu povo lembrando-os da nuvem de dia e da coluna de fogo durante a noite que os acom pan hou durante os 40 anos no deserto. Tendo isso em mente, o profeta afirma: “Criará o S enhor sobre toda a habitação do monte de Sião e sobre as suas congregações uma nuvem de dia, e uma fumaça, e um resplendor de fogo chamejante de noite; porque sobre toda a glória haverá proteção. E hav erá um tabernáculo pa ra som bra contra o calor do dia, e para re fúgio e esconderijo contra a tempestade e contra a chuva” (Is 4.5). Trata-se de um a recordação agradável para o povo de Deus, pois evoca o cuidado dEle durante o calor do sol diári o para não qu eimar o povo e da escuridão e do frio da noite trazendo proteção e calor respectivamente. 1. A proteção do S enhor para israel O profeta Isa ías tr ouxe ao povo a lem brança do cuidado de Deus qu an do, na travessia do deserto, com a finalidade de afirmar que, de forma mais gloriosa ainda , a m esma proteção será present e para o povo de Deus . As históri as dos tempos antigos ainda m exiam com o coração do povo. A forma como Deus libertou o povo do Egito, a travessia do Mar Verme lho, a condução pelo deserto, todos os eventos aos pés do Monte Sinai, bem como a história da c onquista da Terra Prometida, além da form a com o foi provido alimento e água, a nuvem e a coluna de fogo; enfim, elementos que revelam o quanto Deus pelejou e cuidou do seu povo, demonstrando um a relação verdadeiramente impressionante. Essas expressões trazidas pelo profeta estão, obviamente, em sentido figurado e remetem para um tempo futur o, no reinado m essiâni co, em que Deus protegerá seu povo de forma miraculosa contra todos os inconve nientes, tanto da natureza quanto de seus inimigos. Todavia, além dessa pro teção, forn ec erá “um tabernáculo para so mbra co ntra o ca lor do dia, e para refúg io e esc on de rijo co ntra a tempestade e contra a c huv a (Is 4.6). Ou seja, o povo se sentirá confortável co mo nun ca em outro tempo estev e, pois a plenit ude do reino M essiâni co será de um a glória indescrití vel (Is 4. 5). 2. A proteção do S enhor para os salvos As promessas de Deus para Israel quanto ao reino Messiânico também se aplicam aos salvos . A partir do mom ento em q ue Cristo veio ao mun do e foi rejeitado pelos seus, uma po rta foi aberta estend endo a possibilida de de salvação a todo aquele que passa a crer em Jesus. O “Ide” da Grande Co-
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missão (M t 28) tem um imperativo que revela a vontade de Deus em salva r toda a humanidade e, assim, permitir que todo o que crê na mensagem da cruz seja salvo. Aos que aceitam essa mensagem , Jesus faz um a promessa: E le afirmou que aqueles que vivessem em seu Reino (Lc 8.1; 16.16; 17.20-21), que se estabelece nos corações, experimentariam antecipadamente as realidades deste Rein o: “Pois o Reino de Deus não é com ida nem bebida, m as justiça, paz e alegria no Espírito Santo” (Rm 14.17 - NVI). Essa já é a dimensão presente do Reino de Deus que se apresenta a todo aquele que segue a Cristo. Mas será que essa verdade significa que não m ais teremos lutas e afli ções? Não, não, muito pelo contrár io. Estamo s em um a verdadeira batal ha em que somos arautos do Rei e precisamos promover o seu Reino. Para cumprir essa missão, há um preço a ser pago, pois a mensagem que leva mos aos que tem sede é muito preciosa, e é natural que tenhamos resistên cias do sistema do mundo atual; mesmo assim, devemos ter bom ânimo porque não estamos sozinhos nessa caminhada! O próprio Jesus não prome teu um a vida fácil e liv re de tribul ações. Ele mesmo disse: “neste mundo vocês terão aflições; contudo, tenham ânimo! Eu venci o mu ndo ” (Jo 16.33 - NVI). Temos, na fala de J esus, a cer teza d e que a caminhada de fé do cristão é repleta de desafios, ainda mais porque vivemos num momento de grandes injustiças, corrupções, violência e es friamento do amor. O individualismo e a falta de amor alcançaram níveis alarmantes, levando multidões ao desespero. Mas é nesse contexto que a Igreja precisa cum prir o seu papel profético e anunciar que há um caminh o. Em meio a tantas dificuldades, Cristo nos mostra que a provisão para o seu povo é a companhia, o consolo e o conforto do seu Espírito Santo, que atua como uma nuvem sobre seu povo, guardando cada um do calor escaldante das aflições da vida, e o fogo do Espírito, que protege contra a frieza deste mundo e lhes provê sustento espiritual. O resplen dor de fogo so bre o povo e o seu Espírito pur ificado r (Is 4.4-5) são alusões ao batismo com o Espírito Santo e com fogo (Mt 3.11), que se cump riu no Dia de Pentecostes e que ainda se cumpre n a vida de cada cren te ao ser batizado no E spírit o Santo , promov endo purificaçã o e queimando interiormente aquilo que fere a santidade de Deus, permitindo vivermos em seu Reino de justiça, paz e amor. E é mediante o batismo no Espírito Santo que o cristão recebe as condições pa ra exercer o seu chamado de for
ma plena conforme a vocação de Deus p
ara a sua vida de forma destemida
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ISAIAS: E is- me aqui, E nvia- me a mim
e triunfante . C oncluindo, podem os afirmar que Deus deseja para nós, o seu povo escolhido, os sa lvos em Cristo, que vivam os uma vida de plenitude desfrutando das m uitas coisas boas disponíveis em seu Reino, e stabeleci do em nossos corações. Ele tem o melhor para nós e, ao usufruirmos desse melhor, estamos também glorificando a Deus, pois foi com essa intenção que Ele nos criou: para, em intimidade com o Pai no cotidiano, vivamos intensamente essa relação cum prindo o prop ósito dEle em nossas vidas . Mas, infelizmente, muitos aind a não desfrutam dessa int imidade. A re je iç ão dessa oferta gratu ita é um a afro nta ao seu am or e misericórd ia e entris tece muito ao Pa i. Com o pode o hom em dizer não a tão grande amor? E há tanto s que r enunciam esse pres ente. Talve z a resposta a essa questão seja encontrada no fato de que ainda não tenha sido re velado de forma cla ra o quanto D eus pode trazer vida a essa pessoa que agora diz não. Quem poderá re velar a essa pesso a tão grande ve rdad e? Talvez essa seja uma tarefa para você, leitor. Pense nisso. Doe-se nessa linda missão. Vamos, então, nos esforçar para permitir que o Espírito Santo implante em nos sos corações o R eino de Deus, a fi m de trazer a li bertação das forças opressoras do mal e da miséria humana. E tocados por essa causa, vamos conscientes da visão profética da Igreja, avança r na missão de anu nciar ao mundo que há um Deus que é justiça, m as que também é amor , misericór dia e que tem para os seus um renovo em glória.
C a pít u l o
6
P arábola
do
C astigo e E xílio ( 5 . 1- 30 )
de
J udá
este capítulo, o profeta descreve a parábola da vinha e nos apresenta um dos capítulos mais d eprim entes de Isaías. Ele prevê toda sorte de infor túnios aos filhos desobedientes de Deus e com isto nos alerta sobre o fim que cairá sobre o infiel. Aqui, o profeta se usa do recurso parabólico para transmitir de forma ímpar a mensagem profética de repreensão e ameaça da parte do Senhor. As parábolas eram um método de linguagem larga mente usado pelos escritores do Antigo Testamento, e isso atesta o poder de sua eficácia. As parábolas eram o mais perfeito exemplo de linguagem figurada para m ostrar e reforçar as verdades divi nas. De acordo com Herbert Lockyer, “as parábolas eram usadas para pre dizer acontecimentos da história”.1Quando se aproximava o c umpriment o da profecia, o significado, até então pouco nítido, se tomava mais claro, até que o pleno desenrolar do que havia sido profetizado possibilitasse en tender, com clareza, aquilo que vinha revestido em roupagem parabólica. 0 ensino por parábolas é, sem dúvida, muito produt ivo. Quan do completa men te com preen dida, a paráb ola é mais fácil de ser lembrada por se u esti lo literário ser mais atraente. Nesta parábola de Isaías, a vinh a, ap esa r de todo o seu espetáculo e pretensão, era inútil. O capítulo em questão ap rese nta os cuidados de Deus pela vinha (v.3-6), mas o esforço divino em favor da vinha não vingam. 1 LOCKYER, Herbert. Todas as pa rá bo las da Bíb lia: uma análise de todas as /hii abolas
da Bíblia. São Paulo: Vida, 1999. p. 27.
ISAIAS:
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E is- me
aqui,
E nvia - me
a mim
Por isso, o julgam ento seria irrevogável (v. 7). A vinha é identificada com a casa de Israel, que aqui é sinónimo da tribo de Judá, que representava toda a nação de Israel. A fim de que o povo ouvisse a voz de Deus, o profeta Isaías não somente fala, como também emprega, em suas profecias, sinais que declaravam a desgraça que estava por vir. Esses sinais eram advertên cias proféticas aos lares e a os corações de um pov o que, em m eio a muitos, foi esc olhido, mas não com preendeu o seu chamado. O juízo divino estava às portas da cidade culpada, as palavras de Deus tinham sido pronunciadas em vão, e o profeta, a partir da parábola da vinha, transm ite mais um a vez o alerta de iminente condenação. Entretanto, apesar da situação trágica do povo, o profeta Isaías nos apresenta também o amor e o carinho de Deus pela sua vinha; amor e ca rinho que não podem ter como contrapartida frutos de egoísmo e de injus tiça. O povo de Deus precisa deixar-se transformar pelo amor sempre fiel de Deus e produzir frutos bons como a justiça, o direito, o respeito pelos mandamentos e a fidelidade à Aliança. A imagem da vinha de Deus fala desse povo que aceita o desafio do amor de Deus e que se coloca ao seu serviço, porém Deus exige frutos de amor, de paz, de justiça, de bondade e de misericórdia. I - A P arábola
da
V inha
1. D eus cultivou sua vinha
Para os judeus do Antigo Testamento, a terra e a fé eram elementos inseparáveis e, como a maioria da população era agrícola, parábolas que falavam sobre árvores, frutos e plantas eram facilmente assimiladas pelos ouvintes.2Nenhum profeta do Antigo Testamento aliou tão perfeitamente quanto Isaías visão e sagacidade, coragem e convicção, diversidade de ta lentos e unida de de prop ósitos, de um lado e, po r outro, am or pela retidão e um aguçado entendimento da santidade e da majestade do Senhor. 3 Nesta parábola re tratad a por Isaías, a vinha repre senta o pov o de Is rael e mais especificamente o reino de Judá e a cidade de Jerusalém. A forma como o profeta retrata o cultivo da vinha evoca técnicas agrícolas primorosas e intenso trabalho. Todas as providên cias foram tomad as pe lo vinhateiro para assegurar que surgiria uma vinha de primeira qualidade com produção de uvas de alta qualidade. 2 COLEMAN, William L., Herbert. Manual do s te mpos e costum es bíblico s. Belo Horizonte: Betânia, 1991. p. 37.
3 LOCKEYER , 1999, p. 09.
PARÁBOLA DO CASTIGO E EXÍLIO DE JUDÁ (5.1-30)
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Todos os esforços foram investidos para que a vide produzisse bons frutos . No entanto, o que ela produ ziu foram uv as bravas. Israel era grande em número, mas a fé que professavam não refletia a jus tiça que verd adeira mente engrandeceria a nação. Israel até podia estar visivelmente saudável como uma vide em toda a sua pujança, porém não havia nenhuma vida interior de piedade, não havia amor nem fé genuína, os frutos produzidos eram amargos como o fel e não ofereciam vida espiritual para quem destes frutos se alimentava. 2. A ESCOLHA DO LOCAL O vinhateiro escolheu um outeiro para plantar sua vinha, num lugar de terras muito férteis (Is 5.1). Outeiro é um terreno com uma pequena eleva ção de terra que faz com que de longe se aviste a beleza do lugar, ou seja, Deus escolheu um lugar privil egiado pa ra a vinha, querendo que ela fos se reconhecida pelo capricho do vinhateiro, pela beleza de sua organização e, consequentemente, pelas abundantes colheitas. Com isso, ele esperava colher frutos de qualidade. Os bons resultados alm ejados pelo vinhateiro eram j ustificáveis. Deus era o próprio lavrador, e a terra escolhida er a fértil. Som ente um a grande e inesperada anom alia da natureza poderia fazer seus projet os fracassa rem. A vinha teria que se voltar contra o exím io agricu ltor e ignorar a fertili dade da terra na qual foi plantada, e foi exatamente isso que aconteceu. Ju dá era o Israel remanescente e levaria adiante não apenas a história de uma nação inteira, mas tam bém a promessa feit a pelo Deus que se revelou a ela . A vi nha era indubitavelmente m agnífic a, foi cultivada pelo próprio Deus, mas seus fr utos não dignificaram qu em a cult ivou, ou seja, o povo não era nem santo, nem justo , nem leal a Deus e muito menos tinha amo r ao próx imo. Ele se fundam entava num a religiosi dade sem um a genuína vida espiri tual. No atual contexto religioso, existe um sem número de igrejas nas quais se destacam os números e a influência; contudo, a fé, oSanto amornão e a santidade não foram mantidos, gerando igrejas onde o Espírito está mais presente. Ele as deixou à exibição vã de uma fé que produz uvas bravas e azedas; são igrejas institucionalmente organizadas, mas que, na verdade, estão m ortas e toma ram -se cada vez mais deca dentes . Q uando o ser huma no rejeit a a graça m aravilhosa de Deus, a igrej a pode ter um considerável número de pessoas para ouvir a Palavra e até um grupo abundante que confessa conversão autentica, mas nenhuma igreja pode gerar vida se o Espírito de vida não estiver em seu meio. Pod em até mesmo obter grandes
ofertas, além de muitos esforços exteriores; ainda assim, sem o espírito da
ISAIAS: E is-me aqui, E nvia- me a mim
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oração, da fé, da graça e da consagração, qualqu vida de verdadeiros valores espirituais. 3.
er bo a intenção é despro
D eus plantou as melhores mudas
As uvas que a vide produziu foram de qualidade ruim. Embora o agricultor tivesse plantado as melhores mudas, produziu apenas uvas bravas (Is 5.2-4 ). A lg uns estu dio sos afirm am que a vid e brava se ria uma muda inútil da videira, a qual, como é claro, se parecia muito com uma videira cultivada, mas os frutos produzidos foram pequenos, áci dos e inúteis.4 Israel era um povo escolhido entre as nações, era o povo eleito pelo Senhor, que os preservou da fome, da aniquilação, que os libertou da escravidão do Egito, que os guiou pelo deserto, providenciando-lhes maná do céu, estabelecendo-lhes numa boa terra de abundâncias, que os guiou na escolha de reis e governadores, livrando-lhes de inimigos poderosos e fazendo-lh es prom essas grandio sas (Dt 8.2-3 ; SI 107). As prom essas, no enta nto , esta vam condic io nadas a uma atitu de de obedi ência e devoção que não aconteceu por parte de Israel; antes, a nação desprezou a dádiva da eleição que lhe foi confiada e abandonou todos os cuidados e amor do agricultor que a cultivou com carinho. Nos Evangelh os, Jesu s reto m a a im agem da vin ha e, a partir dela, critica severamente os líderes judaicos que se apropriaram, em bene fício próprio, da vinha de Deus e se recusaram a oferecer a Deus os frutos que lhe eram devidos. Jesus anuncia que a vinha (Mt 21.33) vai ser retirada deles e será confiada a trabalhadores que produzam e que entreguem a Deus os frutos que Ele espera. Paulo também exorta os cristãos da cidade grega de Filipos e todos os que fazem parte da vi nha de Deus a viverem na alegria e na serenidade, respeitando o que é verdadeiro, nobre, justo e digno (Fp 4.8). São esses os frutos que Deus espera da sua vinha. As pessoas podem fazer uma confissão de fé com altos brados, mas podem deix ar de exib ir a j u stiça que exalt a a Deu s. As nações podem ostentar, como a vide de Isaías, elementos que a definam como uma grande civilização, tais como o progresso, a tecnologia de ponta, o su cesso nas relações internacionais, porém se não houver nenhuma vida interior d e piedade e nenhum frut o p ara a ret idão, pod erão até ficar e m pé por alg um te m po, m as depois serã o destruíd as.
4t
I1AMPLIN, 1991, p. 652.
PARÁBOLA DO CASTIGO E EXÍLIO DE JUDÁ (5.1 -30)
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II - D eus C uidou e E sperou C oisas B oas da V inha 1.
E le afofou a terra e tirou as pedras
Mesmo opara soloreceber da vinhaassendo adequado cultivo, era prepará-lo mudas tenras. para Isso osignifica quenecessário Deus trabalhou no sentido de mo ldar o coração do povo para receber sua Pala vra. Ele criou as condições propícias para que tudo que Ele lhes dissesse desse resulta do positivo. Deus tirou desse solo as pedras que poderiam fazer morrer as plantas da vinha. Jesus diz, na parábola do semeador (M t 13.21), que as pedras significam a superficialidade da raiz. Quando algo é plantado em solo pedregoso, não consegue se aprofundar e, vindo o sol, mata a planta. Ou seja, as pedras eram os inimigos de Israel, seus perseguidores, que Deus removeu daquela boa terra para que seu povo se estabelecesse num bom lugar. Quando Israel entrou em Canaã, Josué recebeu a ordem divina de, junto com todo o povo, tom ar posse da terra que Ele havia prometido a Moisés (Js 1.2-3). Depo is de 40 anos de pereg rinação pelo deserto, a terra de Canaã foi a pátria de Israel durante cerc a de 1.500 anos até a destruição do tem plo no ano 70 d.C. Muitos eram os povos que hab itavam essa t erra - cananeus, jebuseus, amorreus, girgaseus, heveus, arqueus, sineus, arvadeus, zemareus, ham ateus - , mas o Sen hor prometeu que os livraria de todos ele s. Bastaria a Israel obedecer e confiar no seu Deus para que este os livrasse de todos os seus inimigos tanto internos como externos.5Mesmo assim, Israel não obedeceu a Deus; ao invés de se livrar dos povos que habitavam a terra de Canaã (Js 6.21), o povo tomou-os como escravos e, com isso, toda sorte de influências culturais e principalmente religiosas destes povos foi absorvida pelo povo de Israel. Além de não destruírem os inimigos de Deus, ainda concediam legali dade para que suas i deologias e valore s profanos se disse minassem entr e o povo esco lhido. Outra falha grave d e Israel foram as ali anças estabelecidas com nações pagãs na intenção de assegurar proteção à nação, favores políticos e outros benefícios. A proteção de que Israel necessitava não viria de suas alianças, mas, sim, do pacto que tinham estabelecido com Deus (Ex 19.5), depois de tantos milagres e livramentos, deveriam crer que Deus é a fonte sufi ciente de ajuda e proteç ão a todos os seus filhos, crer que YAH WE H nunca dorme e que está sempre guardando Israel de todo dano e perigo, crer que Ele nunca se mostra indiferent e e que está sempre de prontidão a qualquer
5 SCHMI DT, 1994, p. 87.
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ISAÍAS: Eis -me aqui, E nvia- me a mim
tempo em que um ser h umano eleva suas orações ao c éu.6 Seu cuidado não se baseia apenas em seu p oder, mas primeiramen te em seu amor divino que protege os seus filhos. Ele su stenta o ser human o e não os deixa tropeçar (SI 121.3 - NVI). D eus prom eteu ao seu povo proteção contra t odos os seus inimigos e, em contrapartida, Israel teria que obedecer e confiar em seu Deus, apesar dos m uitos perigos potenciai s. 2.
E dificou uma torre e construiu um lagar
A torre remete à vigilância constante que Deus tinha de sua vinha. Na antiguidade, as torres eram d ivididas de acordo co m a função de cada uma: uma para guardar seus conteúdos (Is 5.2), e outra torre para defesa. Mais uma afirmação do profeta que remete ao cuidado absoluto de Deus para com aqueles que Ele escolheu para ser seu povo. Ninguém invadiria Israel se Deus assim não o permitisse, pois Ele estava sempre olhando tudo à volta do seu povo. Nos dias do Antigo Testamento, era comum a invasão de sa queadores para rou bar ou destruir as plantações. Isso trazia muito so frim en to para os morad ores das cidades que, sem comida, e nfrentavam tempos de privação ou eram obrigados a deixa r sua terra em busca de outra que lhes oferecesse as condições básicas para sobrevivência, e esse êxodo poderia trazer alegria ou muita trist eza, com o no c aso de Noem i e sua famíli a. A qualquer sinal de aproximação amigável ou hostil, o vigia da torre de vigia tinha a função de avisar toda a cidade, e era extremam ente necessário m anter vigilâ ncia sobre as plantaç ões para que todo o povo não foss e alvo de saqueadores . O êxito da plantação significava a sobrevivência não ape nas de uma família, mas também de cidades inteiras.7 O próprio Deus era o vigia de sua vinha. Ele não dorme nem se cansa. Está sempre alert a para proteger e guardar o seu povo. A inva são de povos inimigos que destruíram o Reino do Norte e, dentro em breve, destruiriam o Reino do Sul não aconteceram por falta de atenção do vigia, e sim por perm issão dEle, que se usou dessas nações como vara de sua ira para ensinar ao seu povo o que eles não foram capazes de aprender, apesar de todas as demonstrações de amo r do seu Deus em ensinar seu povo. O lagar era o local onde as uvas eram espre midas, geralm ente com os pés (Is 63.3), depois da colheita; era o lugar de processamento da safra, que de pois resultava em suco de uva ou vinho. Construir um laga r antecipadamente é sinónimo de muita esperança para com a colheita. 6 SCHÒK EL, 1 988, p. 129.
7COLEMAN, 1991, p. 113.
PARÁBOLA DO CASTIGO E EXÍLIO DE JUDÁ (5.1-30)
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3 . A ESPERANÇA DE DEUS
O profeta afirma que o S enhor esperava que sua vinha desse uvas de excelente qualidade. Depois de todo o cuidado e capricho de Deus ao cultivar a vinha, era justam ente essa a consequ ência óbvia. Se o fracas so do empreendimento não foi por falha do agricultor, resta então saber que anomalia de fato aconteceu com a videira, pois, de alguma forma, ela se virou contra a própria natureza e corrompeu a si mesma. Prova disso são as uvas bravas e inúte is que produziu. D eus não con dena a vide por seu próprio capricho, mas a condena, sim , com base nos frutos que ela mesma produziu. Da mesma forma, Israel seria condenado com base nos frutos que eles próprios haviam pro duzido (ver Dt 32. 6; Jó 15.6; Lc 19.22; Rm 3.4). Deus esperava de seu povo obediência a sua Lei e ordenanças, a prá tica da justiça e submissão ao seu senhorio, mas tudo o que ele colheu foram roubos, injustiças, corrupção, idolatria, opressão e toda sorte de males. Sendo desobediente e insubordinado, o povo agora luta contra a Lei de Deus que uma vez fora estabelecida, dando lugar às leis de seu coração corrompido pelo pecado. A rebeldia do povo se revestiu de uma violência que foi capaz de cegá-los, tornando-o s insensíveis à percepção do bem e do mal. A maioria das acusações pecamino sas que Deus faz ao povo se refere aos relacionamentos interpessoais, pois Ele busca, através de seu traba lho de amor, que o povo respeite e ame seu próximo, mas isso não estava mais acontecendo. A única forma de ter a fé justificada diante de Deus é produzindo belos e bons frutos em honra e gratidão a todo o trabalho árduo e amoroso de Deus pelos seus filhos. Uma confissão de fé divor ciada de uma vida cristã que produza frutos de santidade é uma menti ra, uma abominação a Deus e aos homens, um ultraje contra a verdade, um a desonra à rel igião e um a porta aberta para uma vida de maldição. O nom e de santo prec isa ser justificado pela vida de santi dade; a aparência de santidade, desprovida dos frutos que ela naturalmente produz, é uma ofensa a pessoas honestas, e muito mais que isso, é uma ofensa à santi dade abso luta de Deus. III - O C astigo e o E xílio da V inha
1. A FRUSTRAÇÃO DIVINA
Deus se aborreceu com seu povo, pois, diante de tantos cuidados, so
mente pod eria haver boas colheitas. Ele mesm
o disse que fez de tudo pela
I SAIAS: E is- me aqui, E nvia - me a mim
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vinha (Is 5.4), mas, como os resultados foram frustrantes, Ele elegeu o pró prio pov o para ju lg ar (Is 5.3), e o resu lta do do julg am ento se ria óbvio. Suas palavras dem onstra m o que aconteceria : “Agora, pois, vos farei saber o que eu hei de fazer à minha vinha: tirarei a sua sebe, para que sirva de pasto; derribarei a sua parede , para que seja pisada ; e a tomarei em deserto; não será podada, nem cavada; m as crescerão nela sarças e espinhe iros; e à s nuvens darei ordem que não derramem chuva sobre ela” (Is 5.5,6). Deus a abandonaria a seu próprio destino, afastaria dela seu amor e cuidado, ela viraria pasto, seria pisada, se tom aria des ertificada, cresceriam ne la plantas que a sufocariam, faltaria chuva para ela, ou seja, tudo isso era o destino natural daqueles que se rebelaram contra o cuidado de Deus. A vinha de uvas azedas tinha perdido a razão de exi stir. E la não mere cia continuar ocupando a terra. Todas as obras protetoras seriam removidas, as cercas ou as muralhas seriam deitadas abaixo. Dessa maneira, qualquer saque ador, animal ou hum ano facil mente atacaria m a propriedade, e os ba bilónios cu idariam para que isso ac ontecesse (SI 80.12-13). Judá precisa va cair. O exílio era iminente. Nenhuma força terrena poderia impedi-lo, e nenhu ma força di vina queria impedi- lo. Deus rem overia sua glória do mei o deles, suas casas e santuários seriam derrubad os e se tom ariam despo jo nas mãos dos inimigos. Deus não poupou esforços no cuidado com sua vinha. Assim, é mais do que justo que se aproxime à procura de frutos dignos de seu cuidado. Ele perscm ta nosso caráter em busca de fé genuína e amor verdadeiro. Ele busc a esperança, alegria, paciência, abneg ação e outros frutos que caracterizem a presença do Espírito Santo no homem e, caso não encontre tais coisas, não ficará satisfeito, e medidas severas podem ser tomadas diante do descaso para com o seu grande amor . 2.
Os
“ ais” aos desobedientes
Deus profere seis “ais” contra o povo de Israel, divididos em sete clas ses, cujo foco central é a inversão de valores que era praticada, su bvertendo a ordem natural das coisas, afirmando que eles estavam chamando o mal de bem e vice-v ersa, transformando treva s em luz e vice-versa e chamando o amargo de doce e vice-versa (Is 5.20). Essas três afirmações colocam palavras negativas na frente das positivas. Estas últimas é que eram as es perad as por Deus, mostrando que a cegueira espiritual, a falta de disce rn i mento das coisas corre tas e a falência da moral e d a ética levaram o povo a confund ir e a trocar a obediência pelo pecado, sem nem p erceberem o que
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estavam faz endo. O povo havia perdido o senso de moralidade e tom ou-se especialista em perverter as coisas. A Lei mosaica era o guia dos homens, mas aquele povo há muito já tinha abandonado a Lei. Tomaram -se cínic os quanto que realmente Parameles, queDeus funcionava bom. Em suasaovidas, havia lugarera parbom. a tudo, enosopara e suas era orient ações. Suas consciências estavam longe da influencia divina. O profeta, usando um a forte i roni a, os chama de “heróis para b eber vinho” (v.22 -23 - ARA). Eram homens fortes e entendidos, não em assuntos de fé e obediência, mas sim em aceitarem suborno, em seus juízes e príncipes viverem em festas e bebedeiras, em seus governantes fazerem parte da classe dos alcoólatras, sem condição alguma de governar com justiça. De povo escolhido toma ram-se um a vergonha entre as nações, pois ti nham recebido a revelação de Deus, que, em tese, os faria diferentes dos outros povos e com isso atrai riam o mundo para o Deus que havia se revelado a eles8. Eles se achavam privilegiados, no sentido de estar em vantagem com Deus, devido à eleição. Contudo, ser o povo escolhido de Deus não signi fica ter privilégios acima dos demais. A eleição, na verdade, mais do que privilégios, acarreta responsabilidades seriíssimas para Israel. Sim, Deus estava no meio deles, e isso era um privilégio, mas a responsabilidade de Israel se tomara muito maior que o privilégio, visto que essa nação tinha agora o encargo refletir para o resto seu do chamado, mundo o Deus que a eles se revelou. Se Israelde tivesse compreendido teria experimenta do abundância de vida e comunhão íntima com Deus. Porém, como não foram capazes de compreender, sofreram mais do que todos os povos as consequências de trat arem a ele ição com irresponsabil idade, de modo que, durante a sua história, foram sempre subjugados por outras nações, a tal ponto de, após a destruição do templo em 70 d.C., serem expulsos de vez de suas terras e viverem espalhados pelas outras nações por quase 2 mil anos.9 Apenas em 1948, sete anos após terem sobrevivido ao holocausto, eles voltaram no vam ente à sua terra com a criaç ão do Estado de Israe l. Deus é pai, mas Ele não age baseado em sentimentos paternalistas e parciais. Sua natureza não perm ite que seja injusto. O Senhor sempre ju l gará e agirá em retidão. P or is so, Ele não poup a nem m esmo seus filhos se este s se tom arem rebeldes e indiferent es ao seu amor e c uidad o. Deus ama sem medida, mas seu comprom isso não é pri meiram ente com seus filh os, e sim com sua Palavra e com a prom essa de vida para esses fi lhos (Is 55 .11). 8SCHMIDT, 1994, p. 87.
9 SCHÒKEL, 1988, p. 191.
C a pít u l o
7
A C hamada e P urificação do P rofeta ( 6 . 1- 13)
A
1 V chamada do profet a tem uma conexã o di ret a com o s atributos divinos que são a santidade de Deus acompanhada de sua glória. São esses atributos que dão a essa passagem histórica na vida do profeta um destaque especial. Sem o impacto da revelação divina, não haveria a reação intensa do profeta. Ele tem um vislumbre da glória e santidade que lhe toca assombrosa e m agnificamente alterando por com pleto o seu modo de pe nsar. Suas emoções e sua razão são afetadas positivamente pela visão, de tal forma que ele se entrega totalmente a partir desse evento. Isaías não é mais o mesmo. Ele não tem mais medo de reis nem se preocupa com sua posição de destaque no reino; com o dedo em rist e, porém educadamente, expõe as entranhas pecam inosas do povo de Deus e de se us governantes, não temendo o perigo (ali ás, ele te rmina seu minist ério serrado ao meio, conforme a tradição). Essa passagem bíblica é um a das mais celebradas de seu li vro. Certamente, t odos já ouviram a lgum a pregação a respei to dela nas mais variadas formas de interpretação. O atrativo do texto se dá pela manifestação da glória e da santidade de Deus de uma maneira extraordinária, viva e transformadora para o profeta. Diante da experiência que ele tem com Deus, tudo se transforma em sua vida; ele não somente vê, sente, ouve e age dentro da visão, mas também tem uma nova perspectiva de vida a partir da v isão ; os seus valo re s, vonta des, desejo s e a c onsa graç ão a D eus são renovados. Agora ele está totalmente entregue e absorto à vontade
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I SAIAS: E is- me aqui, E nvia- me a mim
de Deus, independentem ente dos result ados alcançados. É bem prov ável que ele tenha começado a profetizar a partir dessa experiência com Deus, situando-se os c apítulos d e 1 a 5 em data posterior a e ssa experi ência, mas não há como confirmar essa hipótese, podendo também ser uma reconvocação da parte de Deus . O que chama atenção do texto é a manifestação da glória do Senhor vista por Isaías, ao mesmo tempo visível e ocultada pela fumaça que enchia o templo. A glória denota o ser e a presença de Deus, que se torna man ifesta em aviltante contrast e com a situação do ser hum ano; p or iss o, ela causa tantas reações espirituais, psíqu icas, emo cionais e físicas, como no caso do profeta Isaías. Só é possível v er a glória de Deus p orque Este resolve se revelar, pois Ele deseja habitar entre os homens e quer que estes habitem com Ele; só que, para isso, é preciso que a revelação da glória modifique a santidade dos que se aproximam dEle e, em obediência e fé, se entreguem a Ele. Portanto, é inici ativa dEle querer ser experimentado p elos hom ens, mas a estes cabe se entregar ao desejo de Deus. A glória do Se nho r tem a função de revelar-se ao seu povo no sentido de que Deus seja de alguma forma conhecido, embora nenhum ser humano tenha acesso completo a essa glória. Aos seres humanos, cabe a obrigação de retribuir a manifestação da glóriadecom reverente (Rm (At 4.20), e os que deliberadamente deixam fazê-lo corremadoração sério perigo 12.23). No Antigo Testamento, essa gló ria é man ifesta a Moisés na sarça ar dente (Êx 3.2-4); na nuvem que os guiava no deserto e na coluna de fogo durante a noite (Êx 16.7,10); no monte Sinai, lugar onde Moisés viu a glória do Senh or face a face (Êx 24.15-18 ; 33.20; 3 4.5-8); no t abernác ulo onde se manifestou a glória ( Êx 40.34-35 ); nos sacrifí cios (Lv 9 .22-23) ; no templo (1 Rs 8.11; 2 Cr 7.1-3); e também é revelada aos profetas Isa ías (Is 6) e Ezequiel (Ez 1.28) e descrita nos Salmos 18 e 29. No Novo Testamen to, ela é vista pelo s pasto res (Lc 2.9,14), pelos discípu los de C risto (Jo 1.14); nos sinais e milagres de C risto (Jo 2. 11); na transfiguração (Mt 17.1-8); na demonstração de sua própria gló ria (Jo 7.39; Hb 1.3); e será revelada na sua vinda (Mc 8.38). Essa glória deve ser refletida pela Igreja (2 Co 4.3-6) enquanto proclama o evangelho de Cristo (1 Pe 4.14). “E vimos a sua glória, como a glória do Unigénito do Pai.” (Jo 1.14). Essa glória que a tudo preenche será plenam ente revelada ao s seres humanos quando estiverm os na cidade celestial (Ap 15.8; 21.23).
A CHAMADA E PURIFICAÇÃO DO PROFETA (6.1-13)
I- A
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V isão S anta
1. A CRISE DO PRO FETA Isaías provavelmente era um parente próximo do rei Uzias (sobrinho); assim, ele desfrutava de privilégios junto ao palácio real, era cronista ofi cial do rei, o que escrevia a história real. Portanto, a história deveria ser escrita seguindo o desejo real, ou seja, ele deveria ser conivente com os acertos e com as injustiças do reino. Isaías não poderia falar mal do rei nem confrontá-lo. Caso contrário, ele perderia seu “em prego” . Ele pertencia aos oficiais remunerados, com estabilidade, segurança e demais benefícios do favor r eal. Po r isso, sua psique é a fetada com a morte do rei . Como se não bastasse a instabilidade no palácio real, que arranca sua segurança, percebe não está bem entretinham ele e seu Deus. Algu mas contasele tinham queque ser algo ajustadas, confissões de ser feitas. O confronto com a visão da glória e a sinfonia angelical cantando sua san tidade expunham sua situação num contraste inigualável e incomparável. Nenhum ser humano suporta essa visão sem que seu interior perceba sua real situação; tudo isso fazia brotar arrepen dimento sincero de seu coração. Suas intenções mais secretas foram expostas diante da santidade do Senhor que tudo vê, suas conversas tolas e maldizentes vieram à tona, seu estado calamitoso lhe foi exposto vergonhosamente. Afinal, ele andava com os poderosos, alinhava-se e era conivente com suas práticas, e isso era into lerável para o Senhor diante da grandeza do ministério que Ele queria lhe dar. Isaías não poderia continu ar com suas velhas práticas se quisesse ser o grande profeta do Antigo Testamento. Ele entendeu o desígnio do Senhor como poucos em sua época eram capazes. A santidade da glória o impac tou, o santificou e o purificou de seus pecados. Agora, sim, ele estava pron to para ser quem o Senhor queria que ele fosse. Uma conversão genuína ao Santo se operou nele. Ele teria que ser separado (qãdhôsh em hebraico) para o chamado. Não seria mais cooptado mentira pela idolatria do povo, pelas injustiças dos poderosos. Ele sepela tomaria uma real, voz profética a confrontar todos os ti pos de pecados, aind a que seus autores fossem pe s soas de alta posição social e rel igiosa. A vida do profeta é um exem plo para “muitos que recusam o seu ensino ético e, consequentemente, se inclinam a seguir a tril ha da com odidade e de favorecerem a si próprios; e os poucos que aceita m a verdad e em busca da segurança etema, a cima de tudo, sem se importar com o preço.” 1
1 LOCKYER, Her bert. Todas as pa ráb olas da Bíblia. São Paulo: Vida, 200 6. p. 190.
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ISAIAS: E is- me aqui, E nvia-me a mim
2. O ASSOMBRO E O TERROR MAJESTOSO
Os símbolos de sua santidade são majestade e glória, como vistos por Isaías. O que o profeta vê lhe causa terror e assombro, diante da grandeza da majestade que se revela a ele. Isaías vê o trono de glória (do hebraico kabod: carga, energia), de onde todas as coisas materiais e espirituais to mam vida, fôlego e forças, e vê também a fumaça que esconde, envolve e pe rm ite descobrir em partes o todo majestoso. Ele tem a visão dos serafins (do hebraico “incandescente”), seres que assistem e adoram diante do Tro no de Deus, e ouve a suprema adoração desses seres: “Santo, Santo, Santo é o Senhor dos E xércitos; tod a a terra está cheia da sua glória” (Is 6. 3). A revelação de Deus para nós, embora completa em Cristo, ainda per manece cercada de mistérios e inacessível (1 Tm 6.16). Nesse sentido, Deus não pode se tom ar objeto de nos so conhecimento. Deus é Santo não somente na qualidade moral, mas principalmente no fato de ser inacessí vel. Isaías se espanta pelo fato de o Senhor se tomar acessível a um pe cador como ele, demonstrando que é possível Deus se esvaziar (Fp 2.7) pa rcialm en te de su a glória para se re velar ao hom em mortal e transform ar a sua realidade. O sentimento de criatura e nulidade é um efeito colateral do sentimento de receio e assombro que leva a uma dependência total de Deus, que se revela na teofania e “pressupõe uma sensação de ‘superioridade (e inaces sibi lidade) absoluta’”2 de Deus (Hb 12.21). Portanto, o ser humano como um todo, composto de emoções, sentimentos, desejos, volição, raciocínio, intelecto e corpo são tomados pela presença do Todo-Poderoso nessa ex periência. O ser humano sente-se como que u m p ro fano ante a augu sta pre sença. Esses sentimentos podem estar presentes cada vez que o sujeito se abre a essa experi ência com Deus, seja na conversão, no batismo no Espíri to Santo ou em mom entos de comunhão. Quem é atingido pelo milagr e ou prodígio da pre se nça de Deus fica boquiabe rto, estupe fato e assombrado (no sentido de espanto) diante da estranheza absoluta, do totalmente outro, daquEle que foge ao entendimento. Apesar disso, o assombro produz também a constatação da beleza do Eterno, que traz admiração e é algo atraente, cativante, arrebatador, encan tador e fascinante pelo perfeito caráter divino, demonstrados através do amor, da mis ericórdi a, da co mpaixão e do consol o. Ning uém que tenha um 2O “sentimento de criatura que afunda e desvanece em sua nulidade perante o que está acima de toda cria tura.” OTTO, R udolf. O sagrado. São Leopoldo: Sinodal/EST; Petrópolis:
Vozes, 2007. p. 41,43.
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A CHAMADA E PURIFICAÇÃO DO PROFETA (6.1-13)
encontro verdadeiro com Deus sai dessa presença brincando ou indiferen te. Sempre que alguém disse ter tido um encontro desses, esse alguém é tomado de um santo temor, por uma mistura de inadequação, não mereci mento e peq uenez, ao mesmo tempo em que é tomado por uma admiração, um desejo de adoração, uma vontade de entregar-se. Enfim, fascinação e assombro ao mesmo tempo, uma m istura d e sentimentos que ao fin al pro duzem novas estruturas de compreensão mentais e emocionais, mas que também constroem um novo sujeito. Este novo sujeito fica li vre do med o de Deus, mas tamb ém sabe que não pode viver levianam ente diante do santo. Um santo temor se instala, pois “o perfeito amor lança fora o medo. Ora, o medo produz tormento; logo, aquele que tem m edo não é aperfeiçoad o no amor.” ( 1 Jo 4.18 - ARA ). As sim, a compreensão do amor de Deus, presente em sua glória, produz nele um alívio pela culpa do pecado, a certeza do livramento da condenação etema, uma libertação de neuroses religiosas, além de trazer esperanças concretas de um cu idado paterno que só Deu s pode dar . Esse am or produz também a grande responsabilidade da luta pela pureza e pela inte gridade, pois, diante do Santo, nenhum a leviandade, lassidão ou flerte com o peca do são desculpáveis. Assim sendo, o santo temor daquEle que é Santo se instala na alma do sujeito, levando-o a ser como Cristo. “Porque os que dantes conheceu , também de seu Filho .” (Rm 8.29). os pre destinou para serem conformes
à imagem
3. A CONSTATAÇÃO ASSUSTADORA Diante da santidade de Deus que se revela ao profeta, com a fuma ça enchendo o templo, as portas com seus umbrais e batentes rangendo e estralando (Is 6.4) e os querubins cantando, todos os sentidos do profeta experimentam sensações intensas, não havendo outra coisa a fazer senão ficar assombrado, pois fica muito claro o contraste entre o Santo e o pe cador;lhe entretanto, Ele não se revela parapara condenar, perdoar. A visão dá a constatação mais difícil qualquermas serpara humano, a sua pecam inosidade e miséria, levando-o a um a confissão que sai do profundo do coração: “ ai de mim , que vou perec endo !” (Is 6. 5). Entretanto, a constatação da n ecessidade de sa ntidade que Deus dá leva em conta a humanidade com a qual Deus criou os seres humanos. Caso contrário, sua presença aniquilaria o pecador. Dessa forma, a santidade que Deus espera de qualquer cristão é humanizada na humanidade tentada e sofredora de Cristo, ou seja, ninguém é chamado a ser um super-herói
cristão; antes, essa santidade é aprimorada pelas tentações, sofrimentos,
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ISAIAS: E is- me aqui, E nvia -me a mim
quedas e tropeços comuns tação da g raça de Deus.
a qualquer ser humano. É u ma grande m anifes
II - A P urificação do P rofeta
1. A MISERICÓRDIA QU E LEV A AO ARREPEND IMENTO
Uma profunda tristeza tomou conta do profeta diante da constatação de pecador. Ele permanece perto do Santo por um tempo suficiente para constatar a impureza. Depois, recebe dEle a brasa viva purificadora. Se o profeta não tivesse passado tempo com Deus, teria vivido em trágica ig norância de qu em Deus era e de seus caminhos para ele e para o povo. So mente a presença do Santo pode detectar em nós aquilo que ainda precisa purificado. Por conta e vontade própria, esse processo será superficial eserincapaz de produ zir transformações v erdadeiras e duradouras. É o entrar no Santo dos Santos, que nos foi pos sibilitado pelo sacrifício de Cristo (Hb 10.20), que nos permite constatar quem realmente somos e o que Deus espera de nós. Deus estende a ele sua grande m isericór dia, man ifestada primeiramente na capacidade de se ar repe nder . O Senhor não deixa o profeta abandonado quando este se a rrepende, pois Ele nã o tolera o pecado, mas vem ao encon tro de um coração contri to. O próprio p rofeta revela iss o m ais adiante em seu livro, como que numa explicação da experiência que teve com Deus. “Pois assim diz o Alto e Sublime, que vive para sempre, e cujo nome é santo: ‘Habito num lugar alto e santo, mas habito também com o contrito e humilde de espírito, para dar novo ânimo ao espírito do humilde e novo alento ao cor ação do con trito.’ ” (Is 57.1 5 - versão NV I).3 2 . A BRASA PUR IFICA DORA A manifestação da glória e da santidade de Deus produz um contraste absoluto entre criatura e criador. A teofania mostra a transcendência de
Deus, infini tamente acima da criação, impossível de ser comparada ou a s simil ada; porém, o Senhor faz a s coisas se tom arem m ais fáceis ao , ju nta mente com sua glória e sant idade, mostrar t am bém sua misericórdia, graça e amo r incondicionais. Som ente por esses atributos é que a com unicaç ão se estabel ece, o entendimento vem com clareza e a compreensão da situação pecadora do profeta não destrói sua estm tura humana. Deus lhe estende a mão através da tenaz do anjo e da brasa tirada do altar. Mas o fato de o Senhor descer ao encontro do ser humano não tira a majestade dEle, muito
3 Veja, ainda,„o salmo 51.17 e Isaías 66. 2.
A CHAMADA E PURIFICAÇÃO DO PROFETA (6.1-13)
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menos o diminui; antes, salienta seu caráter majestoso de amor. En tretanto, ao se aproximar do ser humano, Deus o traz para perto dEle, expande as virtudes do ser human o, toma ndo- o santo como Ele é santo (Hb 12.10). Deus não deixa o profeta em desespero. Se Deus não interviesse com a brasa, o profeta seria destruído. Mais uma vez, a misericórdia e a graça de Deus se manifestam, pois, diante da culpa e incapacidade humana de alcançar êxito no esforço de santificação, Ele mesmo intervém bondosa e amorosamente, produzindo aquilo que para o profeta seria impossível de alcanç ar, ou seja, a possibilidade de ele ser santo diante de sua próp ria pe caminosidade e propensão a pecar, bem como o fato de ele viver no meio de pessoas pecadoras e que lhe servem de tropeço e incentivo ao mal. 3. C ulpa
removida e pecado perdoado
Um alívio toma conta do profeta pecador quando este ouve a voz pro clamando que está tudo perdoado. E o grito que ecoa do Calvário anun ciando: “Pai, perdo a-lhes, porque não sabem o que fazem ” (Lc 23. 34). Ao aceitarmos e crermos que Jesus tem poder para perdoar nossos pecados e aliviar nossa culpa, somos imediatamente aceitos como filhos, e todo peso é retirado, o fardo se toma leve e suave (Mt 11.30). Santificação (ou perfeição) não s ignifica ausência abso luta de pecados, pois isso somente será possível no céu; antes, significa desenvolver ma turidade na consciência, na liberdade, nos relacionamentos e na transcen dência, de tal forma que, entre escolh er um pra zer mom entâneo ilícito ou a felicidade e alegria constante do Esp írito, optar-se-á por este último, pois é este que traz descanso e paz à alma humana. Assim sendo, o encontro com o Santo produz o equilíbrio necessário en tre um ascetismo religioso empo brecedor que o leva a vive r ansiosamente e o imposs ibilita de fazer escol has sábias, bem com o da liberdade desintegradora que o leva a lançar- se em situações confusas que conduz em a caminhos de morte. O evangelho nos conclama a viver o equilíbrio da liberdade interior onde tudo é líci to, inversam ente ao comprom isso de viver sem que nada fira a consciên cia ou entristeça o Espírito Santo (E f 4.30). Essa liberdade é fruto da vontade do ser unificada pelo Espírito Santo, onde a luta interior entre bem e mal é apaziguada e direcionada à vontade de Cristo. II I - A
C hamada
1. U ma
mudança radical
do
P rofeta
A santidade de Deus incutida no profeta não é limitada a uma experi
ência em ocional ou de vocional para se sentir espirit ual. Ela traz jun to um a
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ISAIAS: E is-me
aqui ,
E nvia - me
a mim
voz de comando, uma ordem a ser obedecida, que ele fará com prazer. A santi dade é um co nvite para trabalhar com Deus do jeito dele para imp ac tar o mundo. O chamado do profeta não lhe é imposto. Deus lhe faz uma pergunta e lhe convida a uma resposta. A pessoa tem liberdade de dizer sim ou não; porém, diante da grandeza e da santidade de Deus, sua vontade é se sujeitar inteiramente. O chamado de Deus nunca é imposto. E, antes de mais nada, um convite a ser respondido em amor diante da grandeza do amor que nos constrange (2 Co 5.14). Só consegue obedecer com toda a sinceridade quem é completamente livre. Mas a verdadeira liberdade só é possível quando se cultiva a liberda de interior, que brota do nú cleo do ser, do interio r mais invisível, po is é al i que Deu s habita; só s e é livre quando se atinge esse lug ar mais íntimo, onde não existem apenas ap arências , hipocrisias ou faz de conta, mas é também onde Deus tudo vê e discer ne. Esse é o lugar onde ninguém co nsegue nos manter presos a nada, nem à religiosidade, nem a normas ou dogmas reli giosos. Embora em Cristo estejamos sujeitos a todos, em Cristo estamos também livres de tudo e de todos. Portanto, é no coração que se resolve esta paradoxal situação: ser completamente livre para obedecer. É nesse lugar onde cultivamos a sensibilidade pela vida e pelo belo e nos abrimos totalmente a desfrutar e viver essa realidade livre de amarras alienadoras, onde, de f ato, nos tomam os hum anos e, sendo humanos, realizamos plena mente a vontade de Deus para a qual Ele nos criou. Entretanto, a liberdade tem um preço. As consequências da liberdade são reféns das escolhas. Se forem escolhas sábias e prudentes, elas nos levarão a lugares de sensatez e honra; agora, se forem escolhas estúpi das, elas nos levarão a lugares de amarga derrota e consequências fugazes. Como disse o poeta Pablo Neruda: “Você é livre para fazer escolhas, mas é prisioneiro das consequências”. É no coração que se fazem as melhores escolhas. Elas podem matá-lo ou fazê-lo viver, mediocrizá-lo ou fazê-lo voar alto, fazê-lo pecar ou embelezá-lo de santidade. Escolhas podem ser discutidas e afirmadas com a boca, mas é apenas no coração que elas são decididas. Essas duas escolhas geralmente têm a ver com a luta consigo mesmo, com venc er a si próprio. Foi por isso que Jesus disse: “tom e cada dia a sua cruz, e siga-me.” (Lc 9.23). Portanto, é uma luta e escolha diária vencer o egoísmo de qu erer se satisf azer e dar lugar aos desejos próprios, aos p ensa mentos de orgulho, à jus tiça própria, aos pecados de que gostamos, ao no s
so planejamento de vida e a nossa vontade. Jesus nos convida à voluntária
A CHAMADA E PURIFICAÇÃO DO PROFETA(6.1-13)
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e total liberdade de sujeitarmos tudo a Ele. São escolhas de vida ou de mor te. Cada um é livre, mas as consequências estão claras, assim como elas foram claramente explicadas ao povo ao qual o profeta Isaías foi enviado. 2 . P ronto para o envio
Isaías vê o Santo, ouve a adoração ao Santo, seu pecado é confronta do, é purificado pelo Santo e se vê chamado a um trabalho santo. Diante da majestade do que se revelou, sua livre escolha é obedecer. Isaías diz por que sua convicção interior não lhe perm ite fugir da nobre tarefa que lhe é confiada. Ele é convencido de que aquEle que diz: “quem há de ir por nós?” está lhe dando um a tarefa muito nobre, irrecusável: advertir seu povo para que se arrependa. Uma paixão sacerdotal toma conta do profeta, e este se coloca a dispo sição ao ouvir a voz do Senho r, a voz irrecus ável. Ele é infor mado de que não ter á bons result ados - será um pregador fracassado. Terá mu ita autoridade e santidade, mas não será ouvido (Is 6. 910). O resultado será mais rebeld ia e desobediência e, como consequência, o país seria destruído e devastado (Is 6.11). O povo já está com o coração duro, mas a mensagem de Isaías o endurecerá ainda mais, como num claro gesto de recusa, pois, sem a palavra do profeta, a recusa poderia parecer superficial e a consciência ficaria tranquila, mas assim as máscaras caem e aparece a verdade da falsa religiosidade e da rebeldia que precisa ser re chaçada por palavras que cairão no vazio de ouvidos moucos. 3. A santa semente Deus lhe avisa para que não fique frustrad o. Até que tudo ficasse d eso lado e desabitado, sua mensagem não seria ouvida, mas depois ela produ ziria resultados, e suas profecias se cumpririam. Essa advertência da parte do S enhor é a motiva ção pa ra que o profeta não desista, pois foram 40 anos de grandes mens agens rejeitadas até que, finalmente, o tronco com eçaria a brotar na volta exílio (Isé 6.13). Paradoxalmente, a frutificação a partir de troncos feios edoqueimados um contraste humilhante diante da grande za e da glória do Deus que se revelou a Isaías. Assim, a fumaça da glória é um contraste com a fumaça das florestas queimadas; a beleza dos seres angelicais é um contraste com a feiura dos troncos chamuscados; a completude da santidade que a tudo envolve é um contraste com a pequenez dos troncos decepados. Sobraria uma floresta de troncos decepados, um a nação de tr oncos; mas desses troncos, brotaria um a semente que faria toda a diferença, Cristo, que
purificaria e salvaria não somente o povo de Israel, mas também todo o
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IS AI AS: E is- me aqui, E nvia -me
a mim
mundo (Jo 3.16). O resultado do ministério do profeta mostra que o ativismo e a busca desenfreada por sucesso em tudo que se faz nem sempre é o desejo de Deus . H istóri as deslumbrantes e testemunhos arrebatadores nem sempre estão de acordo com a santidade de Deus. São a s tentações do mu n do, da carne e do Diabo (1 Jo 2.16), com prom essas de gratificação , muitas vezes imediatas, que nos levam a ter desejos de um a vida melh or que não levam em conta aquilo que o Santo pensa e quer, pois é do tronco feio e queimado que brotará a vida abundante, pois o Sant o não é negociável . Os frut os do trabalho pod em demorar sécul os, com o no caso de Isaía s. A tenta ção do imediatismo m inister ial te m sido um grande mal para a Igreja, pois tem feit o m uitos t rocarem os métodos de Deus, algumas v ezes demorados, por método s hu man os fáceis e rápidos, mas que não co rrespondem com a santidade daquEle que chamou nem produzem frutos duradouros. O tronco que brotará indica que, em qualquer trabalho no Reino de Deus, o esforço humano nem sempre é recompensado a curto ou médio prazo, como n a vid a do p rofeta. Diligên cia e compro misso nem sempre ga rantem a frutificação imediata, mas onde existe a vida de Deus, aí existem condições plenas de brotar a semente. O próprio profeta disse: “Porque, assim como descem a chuva e a neve dos céus e para lá não tomam, mas regam a terra e a fazem produzir, e brot ar, e dar sem ente ao semeador, e pão ao que come, assim será a palavra que sair da m inha boca; ela não voltará para mim vazia; antes, fará o que me apraz e p rosp era rá naquilo para que a enviei” (Is 55.10-11). Cedo ou tarde, a Palavra produzirá o que é neces sário, pois é Ele quem dá o crescimento. A nós basta plantar e regar, mas nenhum esforço para fazer crescer dará resultados. (1 Co 3.6). O inverso também pode ser verdadeiro. A diligência e o compromisso em qu erer fazer brotar aquilo que é fals o, ou ainda a presença de milagres extraordinários nem sempre é sinal de que a vida de Deus está ali. Jesus advertiu contra os falsos profetas, que reivindicavam estarem fazendo a vontade plena de Deus quando, na verdade, estavam enganando a si mes mos e todos os que os seguiam, pois seus méto dos e intenções eram torpes, embora eles aparentassem ser possuidores da verdade. Falsos profetas não aceit am ser chamados de fals os, nem dizem isso de si mesm os; m uito pel o contrário, eles apregoam a verdade, porém poluída pela mentira de suas intenções. São praticantes de iniquidade. Eles são conhecidos pela fama que querem ter , pelo dinheiro que pedem ou pelo pod er que co nstroem de forma t orpe, gananciosa - tudo isso à custa de pessoas m anipuláveis. Eles
podem ser med idos pe lo caráter, pelo ensino e pelo resultad o, embora nem
A CHAMADA E PURIFICAÇÃO DO PROFETA (6.1-13)
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sempre isso esteja claro. Jesus disse a respeito destes, numa versão para frasea da: “Tudo que fizeram foi me us ar para virar celebridade. Você s não me impressionam nem u m pouco, fora daqui !” (Mt 7.23 ). Jesus sempre acolheu pecadores, comia com eles e tratava-os com dig nidade. Porém, quem Ele mais criticou em seu ministério eram os falsos profetas, falsos líderes, falsos professores e falsos pastores (Mt 23.1-7), pois se travestiam de santos, mas por dentro eram totalm ente falsos, “se pulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas interior mente estão cheios de ossos de mortos e de toda imundícia” (Mt 23.27). “Nunca vos conheci” (Mt 7.23). De ssa forma, convém que, diante do chamad o pessoal de cada um, este jam os subm e obedientes quever o Santo querimplica de cadaemumolhar , com um coração livreissos para atender ao seuàquilo ide, pois o Senhor para cima, olhar para si m esmo e olhar para os outros com compaixão.
C a p ítu l o
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P rimeiras P rofecias M essiânicas ( 7 . 1- 12. 6)
O capítulo 7 do l ivro de Isaías dá início a uma seq uênci a de pro fecias que seguem até o capítulo 12. Esse bloco de sequências pode ser chamado de “O livro do Emannuel”,1pois esses capítulos narram as primeiras profe cias que Isaías, impelido pelo Espírito Santo, proclam ou acerca do Messias. Sendo assim, é importante destacar alguns aspectos do contexto em que o profeta Isaías estava inserido, durante o tempo em que ele anunciava a vinda do M essias . Após passar por um a forte e gloriosa experiência que impactou comple tamente a sua vida ministerial (Is 6.1-13), Isaías, o profeta do julgamen to e da esperança, decidiu obedecer ao chamado que recebera de Deus e passou a an unciar a su a palavra co m ousa dia e temor. E com esse ímpeto que vemos o profeta atuando a partir do capítulo 7. Nesse trecho, Isaías é mandado p or Deus p ara falar com Acaz, atual rei de Judá d aquela época e sucessor de seu pai Jotão e neto de Uzias. Esses dois foram bons reis para Judá (2 Cr 26.1-4; 2 Rs 15.33-34), porém Acaz não tinha confiança no Senh or, chegando a oferecer vários sacrifícios para deuses pagãos. Dentre os tais, deu os seus próprios filhos para serem queimados como oferta (2 Cr 28.3; 2 Rs 16.3).
RIDDERBOS, 1986, p. 96.
IS AI AS: E is- me aqui, E nvia- me a mim
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I
- C onsolo ao P ovo S ofredor
Conforme Deus ordenara, Isaías foi encontrar -se com o rei Acaz, levan do consigo o seu fd ho Sear-Ja sube, cujo signific ado é “um resto voltará”. 2 De acordo com o texto, o cenário político de Judá, a essa altura, não era dos melhores, pois a cidade estava prestes a ser tomada pelas forças alia das de Rezim, rei da Síria, e Peca, rei de Israel. Esses líderes tinham como objetivo principal forjar uma aliança com Judá para combater as forças assírias que estavam se expandindo rapidamente e ameaçavam se tomar um império. Portanto, seria necessár io, primeiramente, destronar Acaz, rei de Judá, e colocar um rei “fantoche”3 que favorecesse a aliança que aqueles reis tanto desejavam. Conforme se encontram registradas nas narrativas de 2 Crónicas 28, Judá já havia sofrido baixas que geraram medo no seio dos habitantes, e era assim que Acaz também se encontrava, conforme a narrativa bíblica: “moveu o seu coração, e o coração do seu povo, como se m ovem as árvores do bosque com o vento” (Is 7. 2). Apesar de ter conhecimento dos cultos idólatras do rei de Judá, Deus, num ato de misericór dia, o rdenou ao profeta Isaías dizer a Acaz que ele não estre mecesse o seu cor ação com p avor dos inimigos que os cercavam. Pelo contrário, o rei só precisaria aquietar-se e confiar em Deus, pois Ele não deixaria o mal cair sobre o seu re inado. E com o prov a de que tai s prom es sas vinham da parte do Senhor, foi dada a chance a Acaz de pe dir um sinal que comprovasse a veracidade da palavra, conforme veremos no próximo capítulo deste comentário. Com indignação, o profeta Isaías advertiu a casa de Davi, ou seja, não apenas ao rei Acaz, mas tam bém toda a casa real, que esg otou a paciência de Deus. Assim, seguiu-se uma men sagem de julgam ento, n a qual o Senhor deixaria um sinal, ainda que fosse contra a vontade de Acaz. Trata-se do sinal de Emanuel, que significa “Deus conosco” ou “conosco-está-Deus” (7.14). Esse sinal serve para refutar a incredulidade de Acaz, que o fazia pensa r que Deus não mais se im portaria co m o seu povo. Somente sob a inspiração do Espírito Santo para ser feita uma decla ração como a que fo i feita por Is aías! Ao dizer conos co está Deus , o profe ta não mais incluía o rei A caz, porque este já fez a sua esco lha diante de Deus . Porém, a inclusã o que Isaías apontou ap ontava ao “remanescente 2 CROA TTO, 1989, p. 63. Esse nome carre gava con sigo um conteúdo profético, pois
sug e-
ria tanto a chegada de um castigo sobre o povo, quanto a esperança de que Deus preservaria um remanescente.
3 PFEIFF ER, C. F. Comentário Bíblico Moody. São Paulo: IBR, 2001. p. 17.
PRIMEIRAS PROFECIAS MESSIÂNICAS (7.1-12.6)
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que voltaria”, ou seja, Deus estava com o profeta e com o povo que volta ria do cativeiro. Foi nesse contexto em que Isaías, inspirado pelo Espírito Santo, começou, então, a “desen har” a figura do Messias com o símbolo de uma nova ordem, sem aparência de rei, mas com a dignidade de monarca, sem palácios, sem exércitos. C ontudo, Ele e nsinará e será ju iz das nações , reinará c om justiç a, e as nações virão até Jerusa lém pa ra o co nhecer.45 Apesar de o sinal profético de Isaías deixar claro que as promessas se cumpririam muito em breve, ou seja, durante o período de vida do rei Aca z (7. 16), observarem os que a profe cia não s e aplicaria apenas no tem po daquele rei, mas seu cumprimento final aponta para Jesus Cristo, nos so Sen hor. De acordo com M ateus (1.23) e Lucas (1 .27-3 3), um a criança nasceu e encarnou o mesmo sinal que Isaías anunciou a aproximadamente sete séculos atrás. Essa criança, porém, não anunciaria apenas que o Senhor estava somente com o povo de Judá, mas o Emanuel é dado agora por Deus como sinal para todo o mundo no tempo presente e no vindouro. Jesus Cristo é o Emanuel, o sinal de Deus para o mundo, pois veio para trazer a salvação e a libertação, paz para os aflitos e descanso aos abatidos. Ele veio trazer uma nova ordem ao mundo, um paradigma baseado no amor. Veio também anunciar a chegada do Reino de Deus a todos os seres humanos. A característica que articula Reino é a Tudo constante e eter na presença de Deus.primordial Na da sucede sem aesse sua presença. acontece nEle e por Ele. Portanto, Jesus Cristo é o eterno sinal de que Deus está e estará sempre conosco em todas as situações. 1. O INSTRUMENTO DE DEUS PARA CORRIGIR E LIVRAR O SEU POVO
Para melhor compreensão do anúncio messiânico que se encontra no capítulo 9, será necessária uma leitura breve e geral dos acontecimentos que antecederam aquele text o. Assim, após o anúncio da destruição dos ini migos de Judá (7.4-9), Deus orden ou a Isaías que fosse ter com sua espo sa, que se enco ntrava grávida, prestes a dar à luz . E ela gerou um filho. Então, o Senhor falou ao profeta que este cham asse o menino de Maer-Salal-Hás-Bazs (“pronto ao saque, rápido aos despojos”).6 Esse nome, portanto, sinaCARVALHO, José M.; CARVALHO, Natália de Resend e.
/ experiência de Deus no
pr im eir o livro de I saías. Rhema, v. 15, n° 48/49/50, p. 75-90, jan./dez. 2011, p. 80. 5 De acordo com Pfeiffer (2001, p . 18), esse nome tem re laçã o com o ass alto vitorios o da Assíria em Damasco e Samaria. Tal assalto esmagaria ambos os reinos antes mesmo que o menino tivesse idade suficiente para dizer “mamãe” ou “papai”.
6 CROATTO, 198 9, p. 68.
ISAIAS: E is- me aqui, E nvia - me a mim
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lizava que a promessa não tardaria e seria cumprida logo (8.1^4), quando os assírios invadiram o Reino do Norte. Mas o Reino do Sul também teria seu tempo de exílio ao ser feito cativo pela Babilónia. Em seguida, assistimos uma série de advertências que o profeta de clarou contra Judá, pois o seu povo e a casa de Davi subestimaram a ação de Deus e depositar am confiança na Assíria (8.6-8 ). Não bastasse essa falsa confiança, o profeta advertiu também acerca da vã esperan ça que muitos deles depositavam ao consultarem adivinhos e espíritos familiares (8.19) quando deveriam viver sob o seguinte lema: “à lei e ao testemunho”. Essa frase, embora curta, será de extrema importância para os que assim desejam viver, pois, assim como luz, ilum inará os seus caminhos. Iss o porque o profeta estava pre vendo tem pos de es cu ridão, de fome e de opressão àqueles que decidissem se afastar da fé (8.22) e, em resposta, eles amaldiçoarão ao rei e ao Senhor, o que prova mais uma vez que seus corações estariam endurecidos. 2 . A ARROGÂNCIA DO INSTRUMENTO DE DEUS
Os Assírios eram um povo arroga nte. Em bora naquele mom ento es tivessem sendo instrumento de Deus, não reconheceram essa verdade e diziam que tinham muita força própria, sabedoria, inteligência; que tinham o poder de mover as nações e remover seus limites, de roubar riquezas e destron ar reis (I s 10.13- 14). O pro feta afirma que jam ais um instrumento poderá se gloriar contra aquele que o utiliza, como se o machado pudesse mover a mão do lenhador (Is 10.15). 3 . D eus
destruirá
o inimigo
cruel
Angústia, escuridão e sombras de ansiedades. Esses eram os senti mentos que habitariam (e habitaram) no povo de Judá e os fariam mer gulhar completamente nas trevas. Em meio ao caos, e após proferir o julg am ento do povo, o profe ta, sob as in struções do Senhor, anunciou, enfim, a esperança para os povos cansados e oprimidos e a destrui ção tanto da Assíria quanto da Babilónia. Assim, as terras de Zebulom, N aftali e a Galileia, que ju ntas serão mais tard e chamadas apenas de Galileia,7tornam-se o primeiro alvo do profeta Isaías para lhes anun ciar o fim da escuridão, do medo e das trevas. Essa escolha deve-se possiv elm ente pelo fato de as terras da Galileia terem sido destruídas de maneira mais severa durante as guerras sírias e também quando os assírios invadiram Efraim (Is 8.4), sendo a primeira a ser tomada. Nes-
RIDDP.RBOS, 1986, p. 115.
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sa investida, Tiglate-Pileser, rei assírio, deportou a sua população para a Assíria (2 Rs 15.29). Mas a intervenção de Deus chegou na hora exata para o povo de Jerusalém e, como um lenhador, o Senhor destruirá as forças assírias, pois essa é aqui colocada como uma vasta floresta de árvores im po nentes que caíram em todo seu esplendor (10.18); serão derrubados, em primeiro lugar, os ramos com violência; e os de alta estatura serão cortados, e os elevados serão abatidos, conforme anuncia o profeta. Essa trama faz-nos lembrar de que não existem reinos ou reinados que excederão o grande governo do Senhor. Assim, todos os reinos que se exaltam e soberbamente se enchem de orgulho serão certamente ani quilados pelo Senhor. Não importa quão altas sejam as suas árvores ou quão fortes os seus caules. Deus sempre abaterá todos os que se exaltam e elevará os que procuram a humildade que não é fingida ou disfarçada de hipocrisia. Isaías diz que o Sen hor dos Exércitos fará definh ar a Assíria. O pró prio Deus em um dia consumiria parte de seus exércitos (Is 10.16-19). Isso aconteceu quando, de uma só vez, morreram 185 mil soldados di zimado s por uma peste ( 2 Rs 19.35), quando esse ex ército est ava a cam pado ao redor de Jeru salém para a destruir, depois de já te r destruído todas as cidades em volta. Mas a destruição final da Assíria viria com a invasão dos Medos e dos Babilónios em 612 a.C.. A magnífica civili zação de ilimitada ambição e conquistas violentas e cruéis terminaria, conforme descrito por Isaías (10.24-25). II - O P oder do M essias
O Messias p ara Israel seria o grande libertado r que finalmente tiraria do seu povo a vergonha de ser escravizado e subjugado por outros po vos, como no caso da Assíria e da Babilónia. Somente Ele teria poder para tra zer libertação total e completa. Todos os demais reis frustraram a esperança do povo, mas esse seria vencedor. Essa mesma importância Jesus assumiu para o povo da nova aliança, a Igreja. 1. A grande luz do menino que nasceu O povo que andou em trevas viu finalmente uma luz! Por fim, encerrava-se uma era trágica marcada pela morte. O profeta antevê todos esses acontecimentos e certamente se regozija pelo fato de saber que Deus não abandonaria o seu povo. Ainda que esse povo mergulhas
se nas mais terríveis trevas, haveria sempre uma saída no Senhor. Tal
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ISAIAS: E is- me aqui , E nvia- me a mim
como o sinal (Is 7.14) era para sinalizar trilhos de esperança, a luz, aqui, indica o término do pesado sofrimento, que a opressão política externa teria o s eu fim, que a libert ação estaria à vista,8 que há uma direção a ser seguida, pois agora não se anda mais sobre o que não se vê, porque os caminhos estão iluminados; é anunciado mais uma vez um futuro excelso, e as terras da Galileia, que muito sofreram, seriam testemun has de que essa luz veio ao mun do e nunc a mais se apagará . A importância da luz na Bíblia se dá pelo fato de simbolizar e estar ligad a à vida e à fe licidade. Por isso, Deus é comp arado à luz (Tg 1.17), pois dEle em ana a vida e a felici dade. Nenh um a vida seria possível na Terra se não h ouvesse abun dância de luz. Nen hum a vida espiritual te ria as pessoas que conhecem a Deus se Ele não as alimentasse com sua luz poderosa. Dessa forma se diz do Messias que virá, que Ele irradiará uma grande luz, iluminando os que andavam n a escuridão (Is 9. 2). Ag ora não ha verá mais desorientação, nem confusão, pois o Messias, o Cristo, já proporcionou abundante luz para os seus filhos, pois, diante dessa luz, há clareza no caminho (Jo 14.6). Aqueles que m oravam em regiões de morte têm agora lugar permanente na vida abundante (Jo 5.2 4). 2. A IMENSA ALEGRIA (Is 9.3) Isaías previu que essa luz traria uma grande alegria ao povo remanescente, porém um a alegria superior a todas as experiências boas que o povo já ha via vivido. Sendo assim , o pro feta tenta faze r ap roximaçõe s co mpara tivas dessa alegria com os melhores momentos que o povo já experimentou, com o os dias em que o povo saía para c elebra r as colheitas feitas (9.3 ); ou então nos dias em que repartiam os despojos; e até mesmo como nos dias em que Deus usou Gideão e o seu pequeno exército para derrotar os midianitas, quando nem chegaram a lutar contra os midianitas e, mesmo assim, venceram (Jz 7). Mas, ainda assim, esses exemplos não chegavam perto da qu ilo que o p ro fe ta Isaías co ntemplou por meio do Espírito Santo. A alegria era t aman ha que essa pal avra aparece registrada p or mais de tr ês vezes em apenas dois versículos (9.3,4). Antes que perguntassem qual a razão de tamanha alegria, o profeta Isaí as nos responde imediatamente: “porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu!” Esse menino não é apenas uma criança comum. Pelo contrário, nEle repousam grandes atributos de equidade e justiça, como afirma
8 C R O A T T O , 1989, p . 74.
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Ridderbos.9O profeta Isaías certamente não tinha em mente um príncipe terreno (pois alguns estudiosos comparam o nascimento da criança com o rei Ezequias), mas estava se referindo ao Grande Rei do futuro que seria chamado também de Messias, Cristo ou Ungi do. Isaí as com para a alegria que o Messias traria à mesm a alegria que ha via na época das colheitas (dia de pagamento com aumento de salário) ou como num despojo de guerra em que conseguissem muitas riquezas. A vinda de Crist o a terr a representa uma boa-nov a expressa nos Evangelhos , tão extraordinária que o anjo que apareceu aos pastores em muita glória, a ponto de eles ficarem aterrorizados, disse: “[...] vos trago novas de grande alegria, que será para todo o povo” (Lc 2.10). A alegria de Cristo consis te no fato de Ele ter poder para perdoar pecados, salvar, curar e batizar no Espírito Santo. Mas, além disso, estar com Cristo é estar com a fonte perm anente de alegria. Assim, mesmo em meio às tribulações e angústias, podemos experimentar sua alegria em nossa alma. 3. A QUEBRA DO JUGO (Is 9.4)
Jugo é designado na Bíblia como um a peça de ferro ou madeira que era colocada no pescoço do boi para controlá-lo, ou seja, um instrumento de opressão e submissão. Não existe nada pior para o ser humano do que ser aprisionado por algum jugo. Existem m uitas pessoas aprisionadas pelo pe cado, por outras pessoas, ou mesmo por situações da vida que as oprimem e as subjugam. M as Cristo, o Messias, veio para estraçalhar qualquer jugo e para tomar completam ente livres todos os que o reconhecem como Cristo.II III - Os
N omes do M essias
O Messias libertador do povo seria o contraponto de todos os reis e reinos que fracassaram e fracassariam. Conforme descrito por Isaías, esse rei teria que ter qualificativos que nenhum outro rei, em qualquer tempo ou lugar teve, pois somente Ele é o Rei dos reis e o Senhor dos senhores (Ap 19.16). Ele é Jesus Cristo, aquEle que foi enviado por Deus como o Messias. 1. M aravilhoso C onselheiro
Maravilhoso é a prov a clara de que o Messias iria transcen der os limi
tes da compreensão e existência humanas comuns. Por exemplo, os mila gres que os Evangelhos relatam acerca de Jesus, o Messias, d eixaram claro que Ele era extraordinário, ou seja, não é comum aos seres humanos ca minharem sobre as águas (Mc 6.45-52; Mt 14.22-36; Jo 6.15-21), ou que
9 RIDDERBOS, 1986, p. 116.
ISAIAS: E is- me aqui , E nvia-me a mim
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simplesmente ordenem aos mortos para que voltem à vida (Jo 11.1-46). E o que dizer da sua morte e ressurreição? A característica de Conselheiro é indispensável aos reis, especialmente quando se trata do Rei dos reis e Senhor dos senhores, que governará eter namente. Desde o Antigo Testamento ao Novo Testamento, observamos que Deus sempre deixou claro que o Messias seria amante da sabedoria (e.g. Pv 8; Is 11.2). Essa sabed oria é notável ao perce berm os que, até m es mo quando criança, antes de dar início ao seu ministério, Jesus já se sen tava para gast ar tempo com os doutores, ou vindo-os e interrogando-os (Lc 2.41-52). 2. D eus F orte
Poder que não é acompanhado por conselhos sábios ou conselhos sem poder para agir são am bos infrutíferos. Portanto, essa característica atribu ída ao Messi as é com plementar à sabedor ia. Foi com po der e sabedoria que fomos salvos. Paulo faz uma excelente comparação ao dizer que Cristo é a cabeça sobre todo principado e potestade, sejam hum anas ou espir ituai s (Cl 2.8-13), pois nEle “habita corporalmente toda a plenitude da divinda de” (v.9), ou seja, não há e nunca haverá nenhuma criatura e situação que possa nos arrancar de Cristo (Rm 8.31-39), pois todos os seres viventes estão sob o seu governo, que dos é eterno e poderoso. Contrapondo a fraqueza governantes que oprimiram os fracos e desvalidos (Is 10.1-2), mas também se sobrepondo aos países que oprimi ram Israe l, como Assíria e B abil ónia, agora o D eus Forte assum e o con tro le. Ele tem todo o pod er e pode governar. Ele é infinitamen te mais forte que todos os inimigos e vai dar descanso ao seu povo. Além disso, é na força de,Deus que o Messias, também sendo Deus, imporá a justiça e o direito. Ninguém mais oprimirá seu próximo, pois a equidade será estabelecida. Ele é forte o suficiente para estabelecer a tão esperada paz. 3 . P ai da E ternidade
O governo e o cuidado que o Messias tem pelo seu povo serão et ernos . Sendo assim, desde a et ernidade, Deu s vem prepar ando esse evento futuro. É pensando desse modo que o apóstolo João descreveu que, no princípio, Ele era e sempre será. Essa característica extrapola toda a compreensão humana, mas o fato é que, por transitar de eternidades a eternidades, o Senhor É o que É, e nEle são todas as coisas. Todas as coisas se perdem diante dEle, e é Ele que nos aponta o futuro e nos convida a sermos parte
dEle e a partici parmos da alegria etem a que, já desde Isaías , está nos con-
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vidando e continuará nos convida ndo até que o tempo por Ele estabelecido se cumpra. Porém, uma coisa é certa: em Deus, há um futuro maravilhoso sem trevas e sem medo. Esse tempo pode ser aproveitado nos nossos dias, pois basta lembrar que o Senhor “conosco-está” e opera maravilhas em nossas vidas, conduzindo-nos sabiamente como um pastor conduz as suas ovelhas e nos protege com segurança e destreza contra todos os inimigos que nos tentam no dia a dia . E o mais importante: é Ele quem nos guia em caminhos de paz. Deus co ntrapõe a efem eridade de tudo o que é humano. “ Ele é ant es de todas as coisas, e t odas as coisas subsistem por ele” (Cl 1.17). Exatamente por ser eterno, sem com eço nem fim, é que Ele é o Deus Forte que controla e mantém todas as coisas em seu devido lugar, com todas as leis da natu reza por Ele criadas e sustentadas. Antes que houvessem sido criados céus e terra, Ele já existia (Jo 1.1), pois Ele criou a própria eternidade. Além disso, Ele existirá para todo o sempre, numa perpetuidade de poder, glória e majestade. Pod emo s dizer ainda que não há rugas na fronte do altíssi mo, pois Ele é perpetuamente jovem! 4 . P ríncipe da P az
Essa é a utopia de todos os tempo s e lugares. Tod o o mundo p rocura um instante de paz. Até os mais sanguinários líderes, em algum momento de suas carreiras, sonharam com a paz. A paz para o povo que vivia em trevas significava finalmente o cessar dos conflitos armados, repouso e bem-es tar. Porém, essa paz não deve ser compreendida apenas sob esse ponto de vista, pois a paz tem sua srcem na expressão hebraica shalom, que pode ser compre endida també m como toda a salvação, bênção e f elicidad e.10 Mas a palavra também sugere prosperidade, espaço, riqueza, saúde, bem-estar, felicidade e contentamento. Enfim, é uma paz muito abrangente. Aquele a quem o profeta Isaías chamou de Príncipe da Paz, cujos atri butos foram analisados anteriormente, culminam , de maneira simples, nes ta grande revelação: o menino que carrega em seus ombros o principado será conhecido como Maravilhoso por causa das ações extraordinárias que realizaria. Será também conhecido como Conselheiro, pois sua sabedoria excederá inúmeras vezes mais do que a sabedoria do rei Salomão. NEle se encontra toda a plenitude divina. Logo, é D eus forte, que conhece e dita o tempo antes que o tempo se cumpra. Antes que o mundo existisse, Ele já existia. Isso porque Ele é o Pai da eternidade e, por isso mesmo, somente Ele pode trazer a paz completa para os seres humanos e no ser humano
10 RIDDERBOS, 1986, p. 117.
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ISAI AS: E is- me aqui, E nvia- me a mim
todo, com o escreveu o salmista: “Porque ele livrará ao necessit ado quando clamar, como também ao afl ito e a o que não tem quem o ajude. Com padecer-se-á do pobre e do aflito e salvará a alma dos necessitados. Libertará a sua alma do engano e da violência, e precioso será o seu sangue aos olhos dele” (SI 72.12-14). IV - A C erteza da V inda do M essias
A consequência de todos os atributos do Messias que Isaías previu seria certamente o do reinado sem fím e também de sua multiplicação por to da a terra. Ess a visão é semelhan te àquela que o profe ta Dan iel interpretou acerca do sonho do Rei Nabucodonosor (Dn 2.35). A pro messa feita a Davi sobre o reinado eterno finalmente se cumprirá nesse Rei (Jesus). Esse reinado certamente não conhecerá guerra nem trevas, pois o que es tará assentado so bre o trono rein ará sob a vontade co m ple ta de Deus. Atualmente, muitas pessoas que ouvem essas promessas não conseguem acredi tar, pelo fato de soarem com o boas dem ais para se tor narem reais. Mas o fato é que elas se cumprirão completamente com a segunda vinda de Cristo. Isso quer dizer que boa parte do que o profeta profe tizou já se cumpriu, prim eiram ente em se u te m po ou logo ap ós. Por fim, e acima de tudo, já se cumpriu e será ainda cumprido por meio de Jesus Cristo. Como garantia de que a palavra vem do Senhor, o próprio profeta Isaías deixou claro que “o ze lo do S enhor dos Exércitos fará iss o” (9.7b -N V I). Através dos eventos históricos, podem os observar que o profeta Isaía s falava rea lmente sob inspiração divi na, pois, ao analisarmos o Novo Tes tamento, observaremos que o povo da Galileia contem plou a m aravilhosa luz (Mt 4.12 -17 ) quando Jes us deixou a cida de de Nazaré para começar sua atividade ministerial e, de lá, passou a anunciar a chegada do Reino de Deus. Outro aspecto tam bém se deve ao fato de o anjo Gab riel des cre ver Jesus com os m esmos atri butos que o profeta Isaías previu acerca do Messias (Lc 1.31-33); enfim, poderíamos citar aqui inúmeros trechos do Novo Testam ento que ap ontam que as pro fe cias de Isaías se cumpre m em Jesus. Porém, o que importa para nós é saber, mediante a fé e as Escritu ras, que Jesus já está sentado em seu trono de glória ao lado do Pai, pois ven ceu o príncipe das trevas (M t 12.29; 1 Jo 3.8) e, um dia, fará raia r a alvorad a de um R eino de pa z que abrangerá céus e terr a.11 11 RIDDER BOS, 1986, p. 118.
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Após as extraordinárias visões que Isaías teve acerca do M essias, só lhe restou se encher de esperanças e entoar um salmo de ações de graça ao Se nho r (Is 12). A nós também nos resta apenas d izer como o profeta: “E is que Deus é a m inha salvaçã o” (v.2). Pois o que Isaías escreveu, apesar de estar inserido num outro contexto, afeta a cada um diretamente, pois sabemos, mediante a fé e as escrituras, que as profecias discorridas sobre o Messias se cumpriram parcialmente e ainda se cumprirão por completo. Hoje, sa bem os que Jesus Cristo é o Messias, o Príncipe da Paz, o Emanuel, o nosso Salvad or. O futuro anu nciado por Isaías será executado por Ele, Jesus, que etem am ente gov ernará e libertará a terra da opressão e da morte . Ca be-nos, portanto, estarmos confiantes nessa fé no Senhor acerca do tempo que nos conduzirá triunfantemente a um futuro melhor, a dias incontáveis sem dor e de paz eterna.
C a p ítu l o
9 O S inal
do
E manuel
( 7 . 1- 25 )
A
..
i V import ânci a de Isa ías para a compree nsão a respe ito do Mess ias e inquestionável. Prova disso são as frequentes citações de seus oráculos no Novo Testamento. Pode-se dizer também que os seus textos messiâni cos foram tomados teologicamente pelo cristi anismo primitivo como um dos principais fundamentos para a compreensão da natureza e atuação de Jesus de Nazaré na condição de Messias prometido, particularmente em comunidades do primeiro século, formadas, em sua maioria, por judeus cristãos, pois era necessário aprofundar a dimensão cristológica com o objetivo de diminuir a possibilidade de se negar o caráter messiânico de Jesus. Entre os títulos messiânicos da tradição veterotestamentária, interpre tados com o sendo de Jesus de Nazaré, um em particular recebeu destaque: “Emanuel”, que, no hebraico, é a junção de dois termos immánu, que significa “conosco” e EI, que significa “Deus” ou “Senhor”, literalmente “conosco [está] Deus”. O título foi uma apropriação teológica do livro atribuído ao profeta Isaías, já que a expressão aparece em dois versículos e, indiretamente, em um versículo. Seguem os versículos: 2 1 1) “Portanto, o mesmo Senhor vos dará um sinal: eis que uma virgem conceberá, e d ará à l uz um filho, e será o seu nome Emanuel” (Is 7.14). 2) “ [...] e pass ará a Judá, inu ndando-o, e irá passando po r ele, e chegará até ao pescoço; e a ex tensão de suas asas ench erá a largura da tua terra, ó
Emanuel (Is 8.8)”.
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ISAIAS: E is- me aqui, E nvia -me a mim
3) “Tomai juntam ente conselho, e ele será dissipado; dizei a palavra, e ela não subsistirá, porque Deus é conosco” (Is 8.10). Para saber um pouco mais sobre o tí tulo messiânico Em anuel, é neces sári o apresentar algum as con siderações a partir do seguinte questionamento: E m que co ntexto históri co-teológico, tanto no Antigo quanto no N ovo Testament o, surge o concei to de “Em anuel”? O questionam ento se mostra relevante diant e do percurso histórico de, a proximadam ente, 800 anos en tre o surgimento do termo e sua inserção no Evangelho de Mateus. Além disso, qual a importância do conceito de Emanuel para os cristãos em ge ral? Essas são questões que serão trabalhadas ao longo deste capítulo. I - O C ontexto I mediato da P rofecia M essiânica
Em bora já se tenha discuti do alguns aspectos introdutórios do livro de Isaías no primeiro e segundo capítulos, é preciso retomar algumas ques tões, particularmente em relação ao contexto históri co em que surge o con ceito de Emanuel, já que a esperança que dele decorre se dá em meio a diversas crises institucionais. Do pon to de vista histórico, Isaías exerce seu ministério profético em um momento de crise política em Judá e Israel, com desdobramentos na vida religiosa e cultural das tribos envolvidas.1 Desse modo, a percepção histórica e a reflexão teológica tecem a narrat iva a respeito do Emanuel. 1. E manuel : contexto histórico - social
O capítulo que versa sobre o Emanuel está inserido numa intensa rela ção diplomática envolvendo Acaz (735 - 716 a.C),2rei de Judá, Resim, re i da Síri a, e Peca (73 9 - 732 a.C),1 2 3rei de Israel. Os dois últimos pressiona vam Acaz p ara participar de um a coligação contra Tiglate-Pil eser III (745 - 727 a.C) , rei da Assíri a. A recusa de Acaz em form ar um bloco con trári o à política de expa nsão da Ass íria fez com que Dam asco e Israel se articu las sem para derrubá-lo, poi s o objeti vo seria criar um cisma em Judá e inseri r um governante vassalo fiel à coligação sírio-israelita, conforme informa o texto de Isaías: “Porquanto a Síria teve contra ti maligno conselho, com Efraim e com o filho de Remalias, dizendo: Vamos subir contra Judá, e atormentemo-lo, e repart amo -lo entre nós, e façamos reinar no meio dele o 1A unidade política de Israe l, presente nos reinados de Saul, Da vi e Salomão, já não existia mais no contexto estudado, pois o reino está dividido entre Norte e Sul. 2 A respeito de Ac az, conferir as informaç ões apresent adas em 2 Rs 16.1-20.
3A respeito de Peca, conferir as informações apresentadas em 2 Rs 15.27-31.
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filho de Tabeal” (Is 7.5,6). Houve um ataque sem êxito contra Jerusalém. A Síria, porém, anexou aos seus domínios o território de Elate. O texto de 2 Reis descreve resumidamente esse episódio: “Então, subiu Rezim, rei da Síria, com Peca, filho de Remalias, rei de Israel, a Jerusalém, à peleja; e cercaram Acaz, porém não o puderam vencer. Naquele mesmo tempo, Rezim, rei da Síria, restituiu Elate à Síria e lançou fora de Elate os judeus; e os siros vieram a Elate e hab itaram a li até a o dia de hoje (2 Rs 16.5,6).”4 Ainda que a coligação siro-israeli ta não tenha logrado êxit o em relação à tomad a de Jerusalém, a anexação de Elate certamente impôs temor entre as autoridades e à população em geral, como fica claro no texto de Isaías: “E deram aviso à casa de Davi, dizendo: A Síria fez aliança com Efraim. Então, se moveu o seu coração, e o coração do seu povo, como se movem as árvores do bosque com o vento” (Is 7.2). Não obstante às claras adver tências do profeta Isaías, Acaz se sentia pressionado a bus car um a aliança com a Assíria para defender as fronteiras de seus inimigos. Algo que o fez no mom ento oportuno ,5 segundo o livr o de 2 Re is: “E Acaz enviou m en sageiros a Tiglate-Pileser, rei da Assíria, dizendo: Eu sou teu servo e teu filho; sobe e livra-me das mãos do rei da Síria e das mãos do rei de Israel, que se levantam contra mim. E tomo u Acaz a prata e o ouro que se achou na Casa do S enhor e nos tesouros da casa do rei e m andou u m presente ao rei da Assíria. E o rei da Assíria lhe deu o uvidos; po is o rei da Ass íria subiu contra Damasco, e tomou-a, e levou o povo para Quir, e matou a Rezim. Então, o rei Acaz foi a Damasco, a encontrar-se com Tiglate-Pileser, rei da Assíria [...]” (2 Rs 16.7-10a). A ajuda da Assíria não saiu barato para Acaz, pois certamente se livrou da opressão siro-i sraeli ta, porém não conseguiu se livrar do s tentáculos da dom inação política de seu al iado, um a vez que Judá passo u à condição de vassalo da Assí ria. Acrescenta-s e ainda aos problemas políticos de Jud á a relativização religiosa e cultural, bem como a questão da ética nas relações sociais. Nesse sentido, há informações de que o rei Acaz cometeu muitos atos contrários à Lei de Deus. Por exemplo, 2 Reis narra que Acaz “[...] não fez o que era reto aos olhos do S enhor , seu Deus, como Davi, seu pai. Porqu e ando u no cam inho dos reis de Israel e at é a seu fil ho fez passar pelo fogo, segundo as abominações dos gentios, que o S enhor lançara fora de diante dos filhos de Israel . Tam bém sacrificou e queim ou incenso nos altos e nos outeiros, como também debaixo de todo arvoredo” (2 Rs 16.2-4). 4 Outra pers pectiva dos e ven tos citado s encontra-se em 2 C rónicas 28. 1-27.
5Cf. PRICE, 2005, p.47, 48.
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Não é possível identificar por meio da narrativa acim a até que ponto o comportamento do rei Acaz se fazia presente também na população. Entre tanto, não é exagero sugerir que suas atitudes morais exerciam influência na vida dos habitantes de Judá. Assim, o contexto histórico-social aponta para o fato de que a confiança na proteção de Deus estava em baixa, para dizer o mínimo, já que se busca va o socorro da potênc ia política da época, a Assíria. Com isso, demonstrava-se a ineficácia ou inexistência da me mória libertadora do Êxodo, pois, mesmo diante do poderio do império egípcio, houve uma inequívoca ação libertadora de Deus na história. 2. E manuel : contexto histórico - teológico
O contexto histórico-social apresentado anteriormente ilumina a ação profética de Isaías, pois sua leitura teológica fundam enta-se no fato de que as ações de Acaz, particularmente a aliança estabelecida com a Assíria, estavam mais alicerçadas em pressupostos da lógica política e diplomática do que numa real e sincera busca pelas orientações de Deus. A interven ção do profeta procura inicialmente tranquilizar o aterrorizado rei Acaz. A orientação de Deus era: “E dize-lhe: Acautela-te e aquieta-te; não temas, nem se desanime o teu coração por causa destes dois pedaços de tições fumegantes, por causa do ardor da ira de Rezim, e da Síria, e do filho de Rem alias” (Is 7. 4). O que garante a existência do povo de Deus não são as articulações políticas, já que, em bora necessárias, não dão conta da complexidade que envolve a existência de Judá. Desse modo, Deus, por intermédio do pro feta, esclarece de modo ininteligível: “Entretanto, a cabeça de Efraim será Samaria, e a cabeça de Samaria, o filho de Remalias; se o não crerdes, certamente, não ficareis firmes” (Is 7.9). Na concepção teológica do pro feta Isaías, a falta de confiança em Deus era o principal entrave para a superação daquela situação, pois o mesmo Deus que agiu na travessia do deserto em política direção que à Canaã traria salvação a nação Judá. Diante da situação se desenhava, tendo,para por um lado,de a coligação siro-israelita, e, por outro, os assírios, era necessário entregar a situação ao conselho de D eus, pois Ele é o fiel cuida dor do seu povo! I II - O S inal do “E manuel ”
Quanto ao receio de que a coligação siro-israelita obteria êxito no seu intento de desestruturar Judá, inclusive tentando de por o seu rei, a resposta dada por Deus a Acaz, por intermédio do profeta Isaías, foi a seguinte: S enhor
“Assim diz o
Deus: Isto não subsist irá, nem tampou co ac ontecerá”
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(Is 7.7). Em outras palavras, não se justificavam as atitudes de desespero e de alianças que trariam mais prejuízo à nação. Tamanha era a convicção do arauto que procurou novamente Acaz para lhe desafiar: “E continuou S enhor, teu Deus, o S enhor a falar com Acaz, dizendo: Pede para ti ao um sinal; pede-o ou embaixo nas profundezas ou em cima nas alturas” (vv. 10,11). A resposta de Acaz d eno tava su a inca pacidade par a assum ir de safios diante de Deus: “Acaz, porém, disse: Não o pedirei, nem tentarei ao S enhor ” ( v .12). Conform e escreveu Raym ond C . Ortl und: “Deus entregara um cheque em b ranco a Acaz, mas ele s e recusou a descontá-lo. Por quê? Porque não queria confiar e m Deus. E verdade que disse isso com palavras mais piedosas (Dt 6.16). Mas tudo não passou de um rápido pensamento, de uma hipo crisia diplom ática”. 6 Porém, a resposta de Deus, por intermédio do profeta, é direta: “Portan to, o mesmo Senhor vos dará um sinal: eis que uma virgem conceberá, e dará à luz um filho, e será o seu nome Emanuel. Manteiga e mel comerá, até que ele saiba rejeitar o mal e escolhe r o bem. N a verdade, antes que este men ino saiba rejeitar o mal e escolher o bem, a terra de que te enfadas será desamparada dos seus dois reis” (Is 7.14-16). A análise mais ampla de Isaías sugere o cumprimento da profecia na quele contexto, podendo ser um filho do rei Acaz ou do próprio profeta
Isaías. O que se deduz dos versículos 15 e 16 do capítulo 7, em conexão com os versículos 3 e 4 do capítulo 8, que diz: “E fui ter com a profetisa; e ela concebeu e deu à luz um filho; e o S enhor me disse: Põe-lhe o nom e de Maer-Salal-Hás-Baz. Porque, antes que o menino saiba dizer meu pai ou minha mãe, se levarão as riquezas de Damasco e os despojos de Samaria, diante do rei da Assíria” (Is 8.3,4). Um texto de Isaías pode estar se refe rindo à pro fecia sobre o filho de Acaz: “ [...] e passará a Judá, inundando-o, e irá passando por ele, e chegará até ao pescoço; e a extensão de suas asas encherá a largura da tua terra, ó Emanuel” (Is 8.8). Por outro lado, pode-se dizer também que as profecias se projetam para um futuro mais distant e. O que pode ser constata do nos versículos de 1 a 7 do capítulo 9 de Isaías: “Mas a terra que foi angustiada não será entenebrecida. Ele envileceu, nos primeiros tempos, a terra de Zebulom e a terra de Naftali; mas, nos últimos, a enobreceu junto ao caminho do mar, além do Jordão, a Galileia dos gent ios. O povo que andava em trevas viu um a grande luz ,
6 ORTLUND, 2015, p. 106.
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ISAIAS:
E is - me
aqui ,
E nvia - me
a mim
e sobre os que habitavam na região da sombra de morte resplandeceu a luz. Tu multiplicaste este povo e a alegria lhe aumentaste; todos se alegrar ão perante ti , como se alegram na ceifa e como exultam quando se repartem os despojos. Porque tu quebraste o jugo que pesava sobre ele, a vara que lhe feria os ombros e o cetro do seu opressor, como no dia dos midianitas. Porque toda a armadura daqueles que pelejavam com ruído e as vestes que rolavam no sangue serão queim adas, servirão de pasto ao fogo. Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; e o principado está sobre os seus ombros; e o seu nome será Maravi lhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz. Do incremento deste pri ncipado e da paz, não haverá fim, sobre o trono de Davi no seu rei no, para oofirmar e o fortificar juíz o e emfará justiça, desdeeagora e para sempre; zelo do S enhor em dos Exércitos isto” (Is 9.1-7). Seria difícil investigar todo o percurso histórico-linguístico do título Emanuel. Porém, certamente o termo passa a fazer parte do vocabulário religioso judaico, sendo acessado principalmente nos momentos de crises sociais e religiosas, como foi, por exemplo, o cativeiro babilónico. A cons trução histórico-teológica da expectativa messiânica no cativeiro babiló nico impôs aos teólogos do período a necessidade de buscar na tradição fundamen tos que ancorassem a esperança do povo. D esse modo, o Sinal d o Emanuel extrapolaria a dimensão histórico-social dos condicionamentos conceituai s, inserindo-se na tr adição veterotestamentária como um concei to que se aplicaria a esperança messiânica. Entretanto, o título Emanuel também seria utilizado pelos cristãos, em particular quando se percebeu a necessidade de se apresentar um funda mento histórico-teológico do caráter messiânico de Jesus de Nazaré. É nesse senti do que se deve entender , por exemplo, o empreg o do term o pelo autor do Evangelho de Mateus.7 Após a destruição de Jerusalém no ano 70 pelo general romano Tito, muitos judeus migraram para várias regiões da Palestina, sendo provável que judeus convertidos a Cristo passaram a dividir o mesmo espaço geo gráfico com judeus de estrutura religiosa farisaica, cujo centro religioso, na ausência do templo, era a sinagoga. A expressão religiosa sinagogal sinalizava para a necessidade de se preservar a identidade judaica, pois o momento de crise político-social demandava ações de fortalecimento do
7 HORT ON, 2015, p. 114, 115 .
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vínculo identi tári o. É nesse contexto em que o Evangelho de M ateus se in sere, pois há o perigo de que jude us que se converteram a Cristo sucumbam diant e das políticas culturais de fortalecimento da identidade judaica. Des se modo, a produção teológico-pastoral do autor do Ev angelho de M ateus se insere em um a comu nidade cristã que procura se desprender do vínculo ao judaísm o, particularmente de sua i ncredulidade m essiânica, conservan do, porém, a continuidade histórico-teológica do Antigo T estamento, sen do uma das questões-chave o fundam ento veterotestamentário que atesta o caráter messiânico de Jesus de Nazaré. Ao contrário do que a sinagoga ensinava - de que o messias ainda er a um a espera - o evangelista insist e que as escrit uras se cumpriram em Jes us. Sendo assim, já não é mais espera, e sim realidade presente que anima a comu nidade. É nes se sentido que o evan gelista cita o sinal do Emanu el: “E ela dará à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus , porque ele salvará o seu povo dos seus pecados. Tudo isso aconteceu para que se cumprisse o que foi dito da parte do Sen hor pelo profeta, que diz: Eis que a virgem con ceberá e dará à luz um filho, e ele será chamado pelo nome de E manuel . (E manuel traduzido é: Deus conosco)” (Mt 1.21-23). Ainda que o Evangelho de Mateus seja o único a apresentar uma rela ção histórica e teológ ica entre o sinal do Eman uel de Isaías e a prese nça de Deus por intermédio do nascimento de Jesus de Nazaré, o conceito teoló gico da presencialidade de Deus em Cristo perpassa os escritos do Novo Testamento. Um dos textos mais antigos sobre a habitação de Deus entre os homens é o hino cristológico que aparece na carta escrita aos Filipenses por Paulo, provavelmente na segunda metade da década de 50 d.C. Segue o texto: “De sort e que haja em vós o mesmo senti mento que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usu rpação ser igual a Deus. Mas aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte e morte de cruz. Pelo que também Deus o exaltou soberanamente e lhe deu um nome que é sobre todo o nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelh o dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai” (F1 2.5-11). Do mesmo modo, o Evangelho atribuído ao apóstolo João descreve o lógos pré-existente (Jo 1.14) que é confirmado em sua epístola, quando procura discernir as compreensões sobre Jesus: “Nisto conhecereis o E sp í
rito de Deus: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é
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ISAIAS: E is- me aqui, E nvia- me a
mim
de Deus; e todo espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus; mas este é o espírito do anticristo, do qual já ouvistes que há de vir, e ei s que es tá já no m und o” (1 Jo 4.2,3). III - O D eus E ternamente C onosco
Embora se esteja trabalhando a ideia de “Deus conosco” (Emanuel) a partir da situação histórica de Judá, é preciso levar em conta que as sagradas escrituras apresentam a presença de Deus em toda a história humana. Por exemplo, a narrativa do Jardim do Éden descreve a presença de Deus entre a criação, particularmen te em sua relação harmo niosa com o homem e a mulhe r. Deu s passeava pelo Jardim (Gn 3.8), o que sugere assiduidade na tratativa com o homem e a mulher, indicando, também, uma relação de confiança e a mizade. O pecado abalaria o relacionam en to com Deus. A proximidade e a confiança cederam lugar ao medo (Gn 3.10), manchando para sempre o relacionamento entre Deus e o ser hu mano. A graça de Deu s, no entanto, foi ofe recida ao prim eiro casal, pois, se o pecado conduziria à morte (Gn 3.3), a permissão para qu e vivessem com qualidade de vida seria um a dem onstração inequívoca da misericór dia e da generosidade de Deus. Mesmo com a relação abalada por causa do pecado, Deus jam ais d eixou de desejar ardente mente estar conosco. É o que mostra o relacionamento de Deus com os grandes personagens da Bíblia Sagrada. 1.
E le esteve com israel
Um dos personagens a quem Deus se revelou na antiguidade foi Abrão. E não somente isso, ele seria o início de um projeto de nação desenvolvida e executada pelo próprio Deus. Conforme a narrativa de Génesis: “Ora, o S enhor disse a Abrão: Sai-te da tua terra, e da tua parentela, e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei. E far-te-ei uma grande nação, e abençoar- te-ei , e eng randecerei o teu nome, e tu serás uma bênção. E aben çoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão bend itas todas as fam ílias da terra” (Gn 12.1-3). A partir de Abrão e de sua descendênc ia, Isaque e Jacó, s urgiria a nação de Israel que desfrutaria da presença de Deus. O Senhor faz uma aliança com o povo de Israel . Porém, a garantia da presença dEle estava cond icio nada à fé, ou s eja, na e ntrega irrestrita do povo aos seus desígnio s. O Novo Testa mento reconhece o va lor da fé de homens e mulheres que, apesar de suas dificuldades, peregrinaram fundamentados na fé em Deus (Hb 11.1-
40). Foram homens e mulheres que experimentaram o “Deus conosco”.
O SINAL DO EMANUEL (7.1-25)
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É correto afirmar que, apesar de todos os problemas que o povo de Deus teve para permanecer fiel à aliança, com tantas oportunidades que tiveram de experimentar sempre de novo a misericórdia e a bondade de Deus, e apesar de reiteradamente optarem pela desobediência, o Senhor perm aneceu fiel à aliança com Israel, mesmo quando estavam no cativeiro. O povo quase foi dizimado, mas Ele prometeu um resto (Is 10.19), um remanescente (Is 1.9; Sf 3.13) e finalmente, um que “brotará um rebento do tronco de Jessé, e das suas raízes um renovo frutificará” (Is 11.1), sim bolizando o M essias, o Emanuel, que sobreviveriam a todas as destruições e catástrofes. Portanto, apesar de não merecerem, Ele cuidou e esteve com seu povo por am or a toda humanidade (Jo 3.16). Esse Emanuel seria a concentração espiritual e santa de Israel, de tal forma que o próprio Cristo foi a realiza ção do pacto de Deus com Israel. “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; e o principado está sobre os seus om bros [...]” (Is 9.6) . 2. E le está conosco
Com o já foi dit o, em Jesus de Nazaré se cumpriram todas as profecias bíblicas sobre a vinda do Messias. Ele é o Cristo enviado de Deus para sal var a humanidade sofredora. O Emanuel é a garantia de que, assim como foi com o povo de Israel , Ele também está conosco, como E le mesmo p ro meteu: “[...] eis que eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos” (Mt 28.20) . Assim se cumpre em nós a prom essa messiânica de que Ele, de fato, estaria conosco. O apó stolo João escreveu: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do Unigénito do Pai, cheio de graça e de verdade” (Jo 1.14). O verbo “habi tar” utilizado por João tem o mesmo sentido que o Emanuel utilizado por Isaías. Ou seja, Deus agora habita definitivamente entre seu povo através de Cristo e de seu sacrifício na cr uz. “E, se o Espírito daqu ele que dos mo r tos ressuscitou Jesus habita em vós, aquele que pelo dos seu Espírito mortos ressuscitou Cristo também avivificará o vosso corpo mortal, que em a vós habita” (Rm 8.11). A presença de Deus ocorre em dimensões trinit árias, tendo em vista que o Pai, o Filho e o Espírito Santo atuam harmoniosamente entre nós, dando-nos sentido e direção existencial. Imbuídos da presença trinitária de Deus, homens e mulheres ousaram romper barreiras étnico-culturais para levar o evangelho a todas as nações, cumprindo, assim, a expansão do evangelho determinada por Jesus: “Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há
de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas tanto em Jerusalém como em
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ISAIAS: E is- me aqui, E nvia- me a
mim
toda a Judeia e Sam aria e at é aos confins da terra” (A t 1.8). Eles enfrentaram perseguições, resistiram aos falsos mestres, desafiaram os poderosos deste mundo, pois se entendiam como portadores da fé no “Deus Con osco” . Do mesmo modo n a contemporaneidade, em bora o mundo se apresen te de modo diferente do vivenciado pelos pais fundadores, a presencialidade de Deus ainda é manifesta de forma inequívoca, principalmente no vínculo comunitário da comunhão. O mesmo Senhor que foi “Deus conosco” por ocasião da angústia de Judá, será “Deus conosco” nos mo mentos de crise da Igreja, já que: “[...] onde estiverem dois ou três reu nidos em m eu nome, aí est ou eu no m eio d eles” (Mt 18.20) . A presença do Emanuel transcende a existência e a história. Ele não apenas esteve com Israel, mas também com toda a humanidade. Ele sempre esteve, está e estará conosco provend o salvação, cura e cuidado de tudo e de to dos. Convém estarmos atentos à presença do Emanuel em nossas vidas, manifestando-a a outros que também precisam dela para sobreviver aos conflitos, injustiças e percalços da vida. 3. E le estará conosco
O conceito do “Deus cono sco” também é revesti do de con cepções escatológicas, pois o conceito do Emanuel não aponta somente para o passado ou presente, mas também é a garantia de que, também no futuro, o Senhor estará entre seu povo, não apenas espiritualmente e de forma limitada pelas contingências humanas, mas também com toda a sua força e esplendor na plenitude do Reino de Deus. No entanto, o Reino de Deus que se concreti zará plenamente no mundo vindouro é também uma dimensão que invade o presente. Jesus disse: “Mas se é pelo dedo de Deus que eu expu lso demónios, então chegou a vocês o Reino de Deus” (Lc 11.20 -N V I) . O “Deus con osco” nos convida a participarmos em seu Reino de justiça e paz, tendo em vista que a presença do Reino de Deus im plica em destronar o império do mal . O Reino de Deus caminha para o seu desfecho tendo a Igreja como prota gonis ta da presença ju sta de D eus no mundo. A ssim , nós não so mos apenas portadores da bênção do “Deus conosco”, somos também sinais da presença de Deus no mundo. Desse modo, a presença do Rei no de Deus impõe à Igreja a responsabilidade de vivenciar e testemu nhar os seus valores, algo explícito nos capítulos 5 a 7 do Evangelho de Mateus. O Em anuel faria parte, então, da esperança cristã da pres enç a de Cris to na comunidade, m otivo de grande celebra ção, pois ressoa a prom essa: “Eis
que eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos” (Mt
O SINAL DO EMANUEL (7.1-25)
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28.20). Essa promessa não pode ser motivo para uma fé paralisada. Pelo contrário, o derramamento do Espírito Santo tinha como propósito capa citar homens e mulheres para serem “testemunhas” (At 1.8). Do mesmo modo hoje, celebremos a presença do Senhor em todas as dimensões da vida, testemunhando ao mundo os valores inefáveis do Reino de Deus, aguardando ativamente o desfecho do Sen hor. C onforme diz e m apocalip se: “E ouvi uma grande voz do céu, que dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o seu povo, e o mesmo Deus estará com eles e será o seu Deus” (Ap 21.3).
C a p ít u l o
10
O M essias D avídico
( 11.1 -
e seu
R eino
12.6)
X
saías tem em vista nesta profecia a vinda do Messias (Cristo) como o Rei, prevendo que da dinastia de Davi e da linhagem de Jessé viria a sal va ção de Israel. Ele seria o ápice dos reis do pacto dav ídico e o surgim ento do majestoso Reino de Deus e a futura glória d esse Reino. O profeta contem plou um Rei e um reinad o perfeitam en te restaurado onde, além de Israel, o Reino de Deus abraçaria todas as nações da terra e subsistiria sobre todos os reinos do mundo, estabelecendo um tempo áureo de justiça, alegria e paz. Po rtanto, se ria um reino sem fomes, gue rras, conflito s, doenças ou qualquer coisa que tivesse conotação de maldade. A esperança do futuro não consiste de coisas terrenas, nem se levanta da terra. Ela é de natureza espirit ual e tem srcem no Senhor. D eus, med iante sua graça, perm itiu qu e o profeta Isaías espreitasse o futuro com maiores d etal hes com o não tinha visto até então. As profecias de Isaías sobre o Messias e seu Reino estão em harmon ia com várias profecias bíblicas. Dentre elas, Gn 3.15, que demonstra que, quando os seres humanos perde ram o dom ínio sobre a criaçã o e caíram em desgraça, Deus lhes prom eteu um salvador, aque le que esm agaria a ca beça da serpente e a paz que hav ia no paraíso seria rest aurada; M oisés, o gran de líder de Israel, foi um profeta que apontou para o Messias (Dt 18.1519); Davi, como grande rei, é o precursor da dinastia eterna de Cristo (SI 132.12), e seu reino serve de referencial humano, embora falho, para o reino me ssiânico (2 Sm 7.16); o pro feta Ezequ iel falou deste rei (Ez 21. 27;
34.23); bem co mo vário s salm os se referem ao Rei e seu Reino (SI 2; 11.4;
114
I S A IA S :
E is- me AQ UI, E nvia-me
21; 45; 63; 72; 89.18-37; 101; 132.11-12). Assim sendo, a promessa mes siânica perpassa todo o Antigo Testamento, com p redições exatas quanto sua glória, majestade, justiça e abrangência.
a mim
à
I - O M essias e seu R eino 1. Q uem é o M essias A pro fecia de Isaías com relação ao Reino m essiânico e Cristo como seu Rei são confirmad as várias vezes no No vo Testamento (M t 1.18; 16.16,20; 26.63; 27.22; Mc 8.29; 14.61; Lc 2.11,26; 9.20; 22.67; Jo 4.29; 7.26; 9.22; 10.24; At 2.36; 3.20; 4.26; 5.42; 9.22; 17.3; 18.28; 26.23). Assim, o Mes sias é Jesus de Nazaré, que foi ungido no dia de seu batismo (Mt 3.16; Jo 1.32). Os discípu los con firm aram ess a realidade e, po r ocasião de sua acu sação perante as autoridades, foi-lhe imputada culpa por blasfêmia, mas Deus ressuscitou o inocente dentre os mortos “fazendo-o assentar à sua direi ta, nas regiões celest iais” (E f 1.20 - N V I ) . Dessa forma, seu Reino de estabelece entre os salvos, pois ele “nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus” (E f 2.6).
2. A tributos do M essias No Novo Testam ento, há u m a lista que e numera os vários dons do Espí rito, que são divididos em dons de manifestação, de serviço e ministérios. Esses dons são muito valiosos ao cristianismo, especialmente ao pentecostalismo. Mas Isaías 11.2-3 nos informa sobre uma importante lista de dons, que, na verdade, são atributos do Espírito Santo que estiveram sobre Crist o, m as que t ambém estão disponíveis para todos e tom am a vida mais plena e bela. Os atributos do M essias são descrito s pe lo pro feta, tendo Ele todas as qualidades que um rei perfeito poderia possuir, que são: • O dom da sabedoria, que é a capacidade de julg ar todas as coisas e to mar as decisões mais acertadas, penetrando de todas as coisas, sabendo a maneira corretano deâmago reagir. da compreensão • O dom do entendimento, que é a capacidade de captar e discernir inte lectualmente as circunstâncias, relacionamentos e realidades divinas e humanas, abrindo, também, a mente à com preensão das escrituras. • O dom do conhecimento, que é a capacidade de argumentar, da r razões e organizar provas científicas; está relacionado à sabedoria e ao enten dimento, mas também se refere ao conhecimento do Senhor, ou seja, experimentar quem Ele é e saber sua vontade e seus caminhos, tendo
srcem na comunhão
de amor e de confiança para com Ele
.
O MESSIAS DAVÍDICO E SEU REINO (11.1- 12.6)
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• O dom do conselho, que é a capacidade de discernir e consultar a si mesmo e aos outros para saber a perfeit a vontade de Deus. • O dom de fortaleza é dado para não se desfalecer no combate da fé, vivendo bem o cotidia no, apesar das dificuldades e obstácul os. • O dom da piedade,' que faz ter a exp eriência da relação filial com o Pai, perm itindo perceber a sacralidade de Deus, das pessoas e da natureza. Tem a ver mais com o coração do que com o intelecto, pois inclina a pessoa a fazer sua vontade. • O dom do temor de Deus, que é a docilidade que move a reverenciar e submeter-se a Deus.1 2 E o alicerce e o princípio da sabed oria, co nforme Provérbios 1.7. Os atributos designados a Ele esclarecem a perfeição de suas ações, e todos os tesouros de sabed oria estão com Ele. Ele tem todo o entendimen to para se ajustar a todas as ocasiões. A capacidade de saber resolver proble mas e dar conselhos está sobre Ele. Seu conhecimento lhe possibilita ava liar o estado das coisas para agir coerentemente. O Messias, em contraste com outros reis, terá seu deleite no temor do Senhor, que é a descrição padronizada do Antigo Testam ento para espiritualidade. 3. O R
ei da justiça
Ele julgará com retidão baseado no que é sensato. Sua beleza está em sua capacidade de estabelecer perpétua e p lenamente a justiça, cumprindo todas as expectativas colocadas sobre Ele (Ap 22.3). Além disso, o Rei no de Deus também consiste na retidão a nós atribuída por intermédio de Crist o, com o cam inho de jus tiça (Rm 3.21) mediante um a correta posi ção diante de Deus (de pecadores a purificados) através de Cristo. O Messias não terá apenas o conhecimento equilibrado para garantir a justiça soci al, mas também terá a força para colocar em vigor o que Ele sabe estar corre to. Ninguém o engana com julgam entos falsos, e nem frus tra sua capacidade de discernimento, pois sua sabedoria e conhecimento não são meram ente humanas, acumuladas com a exper iência, mas elas ul trapassam os anos e a eternidade. Justiça e fidelidade são partes integrais 1As versões bíblicas mais usuais utilizam seis dons, mas na tradução dos LXX (Septuaginta), no início do versíc ulo 3, é utilizada a pa lavra “piedade” ao invé s de “temor”, fazendo a tradição posterior aceitar sete dons. CROATTO, José Severino.
Isaí as: a p a la vr a prof é-
tica e sua releitura hermenêutica. São Paulo: Vozes/Sinodal, 1989. p. 88-89.
2 LIBANIO, Jo ão B atista. Deus Esp írito Santo. São Paulo: Paulinas, 2000. p. 108-114.
ISAIAS: E is -me
116
aqui ,
E nvia-me
a mim
de suas vestes, o cinturão seg urav a todas as peças do vestuár io (Is 11.5), e sua fidelidade aos homens e a Deus esboçam a nobreza de Seu caráter. Ele não é limitado como os simples mortais ao que os olhos veem e os ouvidos ouvem, nem é enganado pela lisonja. Ele conhece o coração das pessoas, as intenções, os desejos mais secretos; as aparências não o conseguem en ganar, não existem segredos ocultos a Ele; Ele sabe diferenciar entre culpa e inocência com total assertividade. O Messias terá sabedoria para desprezar acusações falsas e julgará es pec ialm ente a cau sa do oprimido, sa bendo o que é c orreto; além disso, suas sent enças levarã o em conta a justiça em favo r dos pobres da terra. Portan to, o trabalho prioritário do Messias será reverter situações calamitosas ocasionadas pelos corruptos, opressores, espoliadores, gananciosos contra todos os fracos e indefesos, os que, embora tendo direitos, não os podem fazer valer por si mesmos. Ele lutará em favor daqueles que não puderam se defender, daqueles aos quais nunca foi dado oportunidades na vida, os que foram desprezados por não se encaixarem nos padrões de força, beleza e produtividade de uma sociedade consumista, alienada e gananciosa. A ju stiça será a marca registrad a desse Reino , e por isso será glorioso. So mente Ele é capaz de proteg er os fracos contra a violência dos poderosos. II - A
F utura R estauração de I srael
1. P romessas de restauração Isaías novamente utiliza, ao se referir à vinda do Messias, à figura do tronco decepad o, mas com vida (Is 6.13; 11.1,10 ; 60.21), representa ndo um recomeço, um rem anescente; enfatizando que, ainda que a destruição seja grande, com muitas perdas e danos, todavia , aquilo que bro taria do tronco assumiria dimensões gigantescas e restauraria todas as coisas, melhores ainda do que eram antes da destruição e dispersão do povo. No capítulo 6 (Is 6.13), o profeta é específico ao se referir que viria do tronco de Jessé, ou seja , o pai de Davi. Portanto, ele está se referin do ao m aior descend ente de Jessé, que é Cristo, o M essias. Além disso, Deus prometeu a Abraão que, através de sua linhagem, todos os povos da terra seriam abençoados (Gn 12.3). Em consequência dessa promessa, na teologia dispensacionalista, Israel tem um lugar espe cial no projeto de Deus, por causa das promessas divinas feitas a Abraão. Mas antes da restauração de Israel, o profeta prevê a conversão dos gen tios, cumprindo, assim, a profecia (G1 3.28). Entretanto, seu governo será
universal, e Deus se tom ará tudo em todo s (1 C o 15.28), Cristo será glori fi-
O MESSIAS DAVIDICO E SEU REINO (11.1 - 12.6)
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cado ( E f 1.10), e todas as coisas estarão incluídas no seu po der restaurador. Ele será tudo em todos. A restauração indica que o Reino de Deus sobre pujará qualquer reino da história, nem podendo ser co mparável a qualquer outro, onde todas as áreas de atuação hum ana serão potencializadas para o bem, tanto a p olítica, social, cultu ral, económica e religiosa. 2 . C aracterísticas do R eino restaurado O profeta descreve o que alguns intérpretes supõem ser característi cas do Milénio e ilustra as condições ideais de vida sobre a Terra com o Messias. Quando todo o conflito universal chegar ao fim, o lobo e o cordeiro não serão mais inimigos, crianças viverão em segu rança no meio dos leões e terão como companheiros o urso e a serpente, e nenhum ser
humano explorará o outro. Um quadro de verdadeira paz e harmonia en tre os povos e nações, que reflete as relações de justiça entre os homens. Ness e Reino, os seres human os viverão em paz en tre si e principalmen te com Deus, o seu criador. Portanto, os animais ferozes poderão conviver tranquilamente com ani mais pacíficos, pois a maldição do pecado, que afetou toda a natureza, será tirada. Até mesmo crianças poderão conviver com animais ferozes e peço nhentos, os animais serão tão dóceis quem uma criança poderá guiá-los. A terra será inte iramente renovada como era srcinal mente e haverá abun dân cia de colheitas para que todos tenham satisfeitas suas necessidades básicas. Essa expressão de Isaías pode tam bém ser um simbolismo, onde o leão, que representa força e violência, caracteriza o império assírio e babilónico e todos os impérios m undiais que oprimem pessoas, bem com o a serpent e com sua astúcia que engana, ilude e mata. O lobo pode ser os chefes de es tado e líderes maldosos que controlam pessoas e instituições para arrancar deles o melhor . O boi e o cordeiro representam na Bíblia o povo qu e sofre, sendo o boi um animal de carga e força e o cordeiro o que se submete sem esboçar reação. A maldade será completamente extirpada deste Reino. Tant o a bravura dos animais será amansada, quanto a maldade dos homens será aplacada. O que antes era completamente impossível, dada a rivalidade e a dispo sição para a guerra, agora será perfeitamente possível, pois o Rei da Paz governará sobre t udo e todos . Nem mesmo crimes, seja d e que ordem for, haverá neste Reino. Os mansos da terra que o profeta se refere são os que vivem em situação de opressão e suportam a injustiça com bondade, sem retaliações, confiando em Deus. Portanto, o profeta pressupõe que a vio
lência será totalmen te extirpada, estab elecend o-se a justiç a, pois o Rei fará
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ISAIAS: E is-me
aqui,
E nvia - me
a mim
a justiça triunfar para todo sempre . Além disso, h averá um conhecimento de Deus em todas as pessoas, ou seja, toda ignorância, adoração a ídolos, corrupção política, líderes religiosos espoliadores, tudo isso será coisa do passado, pois Cristo esclarecerá a mente de todos, quanto aquilo que é servi r a Deus e adorá-l o “em Espírito e em verd ade.” Será um c onh eci mento tão grande que o profeta o com para à profundidade do mar, dad as as suas dimensões e abrangência. A Bíblia afirma que neste Reino tudo será novo (Is 65.17; 66.22; Ap 21.1,5) , não hav erá morte, nem choro, nem clamor (Is 65.19; Ap 21.4), será um lugar de alegri a e renovo (Is 65.18-19,24; Ap 21.2-3), haverá prospe ri dade, paz e feli cidade (Is 65.21-25; Ap 22.5), um lugar que acolhe todo s (Is 66.18-20; Ap 21.3-4) e ninguém será excluído do culto (Is 56.7; 66.21-23; Ap 21.6,22-23) . Mas a característica principal do Reino é que o Senhor habitará nele (Is 65.24; Ap 22.5). Isaías descreve essa habitação como o Senhor que faz coisas grandiosas que são anunciadas em toda a terra (Is 12.5; 65.21-25), diz que o Santo é grande em favo r da nov a terra (I s 12.6), que culm ina com a profecia do apóstolo João: “E ouvi uma grande voz do céu, que dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o seu povo, e o mesmo Deus estará com eles e será o seu Deus. E Deus limpará de seus olhos toda lágrima, e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor, porque já as primeiras coisas são passadas. E o que estava assentado sobre o trono disse: Eis que faço novas todas as coi sas” (Ap 21.3-5). 3. O novo êxodo : os habitantes do R eino
Da mesm a forma que uma bandeira é colocada no alt
o dum m onte para
atrair as pessoas, assim o Messias atrairá todos a si e se tomará em ponto de convergência. Não há como negar que a volta do cativeiro babilónico em 539 a. C. é um a pequena amostra do que a contecerá futuramente, porém em escala de grandes proporções. Cristo atrairá todos a si com su a beleza de car áter. A igrej a comp rada com a morte do M essias será reunida ao Is rael restaurado (Hb 12.22), porque de ambos os povos fez um (Jo 11.52) e assim congregar a si todas as coisas (Ef 1.10). O M ess ias vai chamar e cong regar os fi lhos de Israel que foram espa lhados pelas nações opressoras dos vários impérios que destruíram seu
po vo . Além do ca tiveiro assírio e babilónic o, houve o ro man o, iniciado
O MESSIAS DAVÍDICO ESEU REINO (11.1 - 12.6)
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no ano 70 d.C., e que só foi revertido em parte, em nossos dias, com a fundação do estado de Israel em 1948. Nas palavras da profecia, Deus chama pelos quatro cantos da terra para ajuntar os que estão perdidos. Essa chamada seria para todos adentrarem para o Reino de Deus (v.10). A profecia de Isaías, a princípio, fala sobre o remanescente como sendo os desterrados de Israel (Is 11.12). No entanto, vemos nos Evangelhos a pregação do Reino como um tema central. Israel, bem como os discíp u los de Jesus, pensaram que o Reino seria estabelecido na terra como um reino político. No entanto, como não entenderam a plenitude do Reino, a oferta foi rejeitada por Israel, sendo, então, apresentada aos gentios na era da graça (Jo 1.11), que se findará quando tudo estiver sob o domínio de Cristo. Em bora houvesse um retom o do povo de Isra el do cativei ro babilónico e, recentemente, o reagrupamento de Israel na Palestina, o agrupamento que acontecerá durante este Reino de Cristo é incomparável (Is 11.11). Nos atuais regressos do povo de Israel, foram instalados conflitos, pois alguns povo s foram expulsos para que este pudesse toma r a terra. Mas sob o reinado do Messias, haverá lugar para todo mundo. A volta do povo da promessa não será motivo de guerras e violência, mas todos viverão em paz. A promessa é de que o Messias será o atrativo para todos os povos, e este promoverá um reagrupamento justo e reinará glorioso em todo uni verso. (Is 11.10). III
- Os
1. O
C rentes
lugar do
e o
R eino
R eino (L c 17.21)
A Igreja é uma das exp ressões do Reino na qual estão as esperanças hu manas de participação no futuro Reino celestial (Cl 1.13). Assim, sempre que a Igreja exp ressa a vida de Cristo, está express ando o Reino. Isso acon tece quando Deus neles governa corações humanos de seu Espírito Santo, infundindo os os valores do Reino. Masatravés não podemos esquecer que a Igreja é ambígua. Ela tanto revela quanto oculta o Reino de Deus, pois é perfeita e também é falha. Sendo perfeita, ela reflete o caráter de Cristo no Reino. Sendo falível, reflete o espírito do Anticristo. O espírito do Anticristo (1 Jo 2.18) quer impedir que este Reino flua no coração das pessoas e no mundo. Sendo assim, a Igreja tem a tarefa de, com Cristo, o seu Rei, lutar contra as potestades do mal que querem impedir a instalação do Reino, tanto agora, quanto no futuro perfeito. Para isso ela combate o
pecado, tanto individuais quanto coletivos, em suas mais variadas formas,
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ISAIAS:
E is - me
aqui ,
E nvia - me
a mim
que afeta a relação do hom em com Deus, com o próximo e com a criaç ão. Assim, a missão da igreja como sinal d o Reino de Deus, se concretiza “com todo seu comprom isso integral com o mund o [e] dá seu t estemu nho em pa lavra e ação, na forma de serva.”3A atuação do Espírito Santo, na correta interpret ação da Palavra de Deus, levará todas as instânci as que a adotarem para a comun idade do Reino, inclusive a Igreja, que, por isso, é co nstitu ída como anunciadora e procl amadora da Palavra no mundo. E no mundo onde acontece a vida, a concretude das histórias pessoais e universais, é onde acontece a realidade histórica, cultural, social, política e ecológica, onde está inserida a Igreja. Assim sendo, ela faz parte do mundo, mesmo não sendo do mundo. Não sendo do mund o, não pode se m ancom unar com polític a, econo mia, religiosidad e e sociedade co rrompidas e injustas, e sim estar inserida nela como voz profética. O cristão não se envolve com a polític a, a economia e a sociedade com interesses eg oístas, desejos ilícitos ou para promo ver a si próprio; antes, envolve-se para prom over os valores e a antecipação do Reino de Deus na terra. As características do Reino de Deus são justiça e liberdade. Assim, a Igreja, como comunidade do Reino, é uma comunidade de justiça e de li be rdade, além de eficaz pro clam adora dessas virtud es nobres. Po rtanto, a Igreja é um sinal escatológico do Reino que está por vir, ao antecipar a concretude desse Reino com suas ações no mundo que refletem as virtudes desse Reino. Ela, de posse e prática da Palavra de Deus, tem a utoridade para implantar antecipadamente o Reino, ainda que de forma precária diante da perfeição do Reino por vir. A Igreja vislum bra, já e agora, o Reino futuro. Entretanto, o Reino vai muito além dos limites da Igreja, e sua plenitu de está profetizada para o futuro. No Evangelho de Mateus, esse Reino é chamado o “Reino dos Céus” porque o céu é habitação de Deus. Porém, quando o Reino fmalm ente se estabel ecer, a autoridade de Jesus Cristo será exercida até nos lugares onde hoje não é aceita. A rejeição ao Reino é a rejeição à nova ordem que ele estabelece. Quando não há sujeição ao Rei no de Deus, domina a “injustiça que é contrária à justiça, o egoísmo que é contrário ao amor e a morte que contrapõe a vida que ele oferece.”4 Assim, o Reino de Deus se resume em esperança futura glori osa, mas tamb ém em ações concretas aqui e agora. Caso contrário, as realidades do R eino foram 3 BOSC H, D avid. Apu d: G ABY, Wagn er. A missã o integral da Ig reja. Liç ões bíb lic as -
Adu ltos - Mestre. Rio de Janeiro: CPAD, 3°Trimestre 2011. p. 16. 4 SANCH ES, Regina. A me diaç ão teol óg ica do Reino de D eus. Aula ministrada na Facul
dade Refidim.
O MESSIAS DAVÍDICO E SEU REINO (11.1 - 12.6)
121
mal compreendidas. Dessa forma, a Igreja é cooperadora com Deus para antecipar o Reino no mundo, porém aguarda, de forma não alienada do mundo, o tempo em que o próprio Deus instalará seu Reino para todo o sempre. A prese nça do Reino mostra-se m odesta, sem alarde, pois ainda nã o é completa, nem todos foram curados, libertos, perdoados e socialmente compensados. Jesus compara a limitação desse Reino entre os homens ao grão de mostarda (Mt 13.31-32), muito pequeno no início, mas que depois assume proporções gigantescas. O Reino de Deus é um anseio humano p rofundo e até mesmo angusti ante de espera (Rm 8.22- 23), de desejo por salvação e liber tação, numa tensão pa radoxal de estar a um só tempo apontando para o futuro (Lc 21.31), porém já realizado (2 Pe 1.4), intervenção de Deus e trabalhar humano, transcendente e concretamente histórico realizado e realizando-se (imanente). O Reino se manifesta como graça libertadora, mudando a visão de Deus, não mais como juiz, mas como pai amoroso. Isso traz libertação, embora provoque hostilidades das forças do mal sempre que o Reino se instala. Assim, a libertação traz consigo os seguintes embates: a) luta contra o reino de satanás, manifesto através da autoridade de Jesus sobre os demónios e a libertação dos mesmos, abolindo a invocação a outros deuses; de carências e sofrimentos, dem onstrada através das curas b) libertação e das bem-aventuranças; c) libertação da culpa e do pecado. Jesus perdoou todos os pecadores, atraindo-os para si e restaurando-os; d) libertação de estruturas religiosas opressoras e alienadoras. O pró prio Jesus promoveu reinterpretações da Lei, em bora Ele não tenha sido um n ovo legi slador, mas a próp ria essência da nova Lei do amor, para que promovesse a vida. “Vocês ouviram o que foi dito [...] mas eu lhes digo [...]” (Mt 5.21, 22; 27,28; 31,32; 33, 34; 38,39; 43, 44 -N V I) . 2. O R eino
como virtudes cristãs
(1 Co 4.20)
O Reino de De us é dádiva, é graça, é disposição e trabalho divino. Mas, para que ele aconteça, é preciso seguir algumas orientações: a) que ele seja aceito no coraç ão (Lc 17.20 -21); b) quem o recebe experim enta arrependimento, “m etanoia”, mudança
de pe no nsamento, um novo dado caráter tem de Cristo ; rumo
de vid a, um novo comportamento mo
l
ISAIAS:
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E is- me
aqui ,
E nvia - me
a mim
c) quem o aceita prec isa seguir a Jesus através do discipu lado e repetir suas obras, e, com a ajuda de C risto, renun ciar a vont ade próp ria e tomar a cruz diariamente (Lc 9.23). O Reino de Deus abrange todas as coisas sobre as quais Deus exerce poder, a vida dos homens, o mundo e tudo que nele existe; j á está estabe lecido aqui e agora par a os crentes cujas vidas Crist o é o Rei . M as ele será também um Reino político futuro. Portanto, o que se vive agora são sinais imperfeitos do perfeito Reino futuro. O Reino messiânico que os cren tes atualmente vivem não faz parte da dimensão material e objetiva; sua dimensão transcende a matéria, incluindo todas as coisas (Lc 17.21). No Evangelho de João, o Reino equivale à salvação e à vida eterna (Jo 3.3-5) que um homem não pode possuir sem o novo nasc imento. No evangelho de Mateus, as virtudes do Reino são demonstradas no Sermão do Monte (Mt 5-7) através da nova ética de princípios eternos do Reino de Deus.5 Portanto, em essência, o Reino de Deus é a conversão do coração ao amor, à confiança, à certeza da provisão de Deus, à misericórdia, à justiça , à paz, ao perdão, ao des canso, à certeza do am or de Deus, enquanto E le vai pa cifica ndo o coração, expandindo a consc iência da vida dEle em nós, pro movendo a tom ada de decisão interior d e descansar nEle . M as esses privi légios do Reino trazem consigo responsabilidades, pois os participantes do Reino são um grupo em missão de Deus, são sal da terra e luz do mundo (Mt 5.13,14). Tem como função salvar almas, mas também denunciar as injust iças que tentam ameaçar o Reino. Dev em p rom over a justiç a6 e a vida com todas as suas nuances, variedades e possibilidades. Assim, anunciar o Reino significa que o Ev angelho seja pregado em todos os lugares , a todas as pessoas, em todas as circunstâncias e ao ser humano como um todo. 3. O R eino de
D eus é
paz e alegria
(Rm 14.20; Gl 5.22-23)
Paz e alegria são aspectos do Reino e também características do Fruto do Espírito, que é desenvolvido por Deus na alma do crente; essa paz faz parte do ap erfeiçoa mento moral do homem . Ela permite que o homem viva em tranquilidade tanto com Deus quanto com o próximo e também com 5 GABY, Wa gner. A mis são integral da Igre ja. Liç ões bíb lica s - Adu ltos - Mestre. Rio de Janeiro: CPAD , 3o Trimestre 20 11 . p. 14. 6 Justiç a, algumas vez es, assume uma conotação erra da, sendo entendida como vingança, mas seu correto sentido é a promoção da equidade e libertação da opressão, do jugo e da
exploração por parte dos fracos e oprimidos.
O MESSIAS DAVÍDICOESEU REINO (11.1 - 12.6)
123
sua própria alma. Uma pessoa alegre possui uma qualidade de bem-estar que envolve não apenas as sensações mentais, corporais e as circunstan ciais, mas também a próp ria alma que se sent e segura em Cristo por ter en contrado a verdadeira vida. O Reino de Deus é este lugar onde não apenas encontramos, mas também desfrutamos constantemente de paz e alegria, independentemente do que estamos passando ou vivendo, pois é uma paz que não depende das circunstâncias, e sim da comunhão entre o homem e Deus (1 Co 4.20), “Pois o Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo” (Rm 14.17 - N V I). 4 . O PROMOTOR DO REINO
O Espírito Santo é quem promove no mundo os efeitos do Reino atra vés de sua atuação naquelas pessoas e instituições que aceitam o Reino. O Espírito opera : a) através da fé que vê além do efém ero e aponta para a tr anscendência da reali dade do Reino con tra as potest ades (h umanas e diabóli cas) do mal no “já-ago ra”; b) essa fé é libertadora de leis e pretensões hum anas injustas e opressoras; c) Ele promove a liberdade; d) e o amor, no qual toda realidade da Lei e do Evangelho se concen tram, simbolizando que algo novo surge no meio onde imperava o ódio e o desespero. A fé sem esse am or é morta, porque esse amor desem boca em ações concretas de vida (Tg 2.26). A materialização da fé se dá para com o próximo, não apenas emocional, mas também compartilhando a vida e tendo ações proativas de amor. Não há verdadeira manifestação do Reino de Deus se este não for acom panhado do am or de Deus derramado nos corações (Rm 5.5). Todos os que estão em Crist o (Rm 8.1 ;E f2 .1 3;3 .6 ) m anifest am essa nova vida c uj o parâ metro p rincipal é o amor. Portanto, C risto é a nov a Lei do amor, e todos que se unem a Ele vivem a realidade desta Lei através da atuação do Espírito Santo. Promover o Reino de Deus em um mundo onde prevalecem a falta de amor, a ingratidão e a desonestidade, acaba se tomando tarefa crucial para os cristãos, pois é Deus que, através do Espírito Santo, cultiva no ser humano qualidades espirituais que caracterizam um ser espiritual. Quando o Reino de Deus passa a habitar o coração do homem, o mesmo conhece a verdad eira vida e desfruta intensamente de sua posição em Cristo. “Venha o
teu Reino. Seja feit a a tua vontade, tanto na terra como no
céu” (M t 6.10 ).
C a pít u l o
11
P rofecias da C onsumação da H istória ( 24 . 1- 27 . 13)
O livro de Isaías, por sua ampl itude , insere-se no q ua dro das pe ças fundam entais da lit eratura profética, oferecendo um valioso conteúdo his tórico-teológico que nos permite fazer uma tríplice aplicação, ao mesmo tempo em que exige de nós um posicionam ento a re speito da rela ção com Deus, com o próximo e com a natureza que nos circunda. Essa tríplice aplicação baseia-se no seguinte: a) Apesa r de não ser um livro histórico propriam ente dito, permite-nos conhecer, de maneira simplificada, uma parte da história dos Israelitas com Deus e com outros povos. O texto fala resumidamente do contexto religioso, histórico, político e soci al. Nessa breve h istória, o livr o nos po s sibilita enxergar a graça, a misericórdia, a justiça e a soberania de Deus, que se traduz no amo r de Deus por Israe l e/ou pela humanidade com o um todo. b) A pesar de no s re m eter a um período muito antigo (do séc. VIII ao séc. IV a.C.), a voz de Isaías ecoa de modo significativo nos ouvidos da igreja de hoje. Ele direciona a nossa atenção para nossa história do dia a dia, chamando-nos a repensar nossa prática cristã não só dentro das igrejas ou comunidades a que pertencemos, mas também a irmos além, a entender que Deus nos chama para for a, para o mundo, para proclamar o Reino dentro de nossas teias sociais, para apontar que existe um Deus sobera no em m eio à plural idade religiosa e proclamar justiç a num mundo
onde a injustiça é o que dita a s normas.
126
ISAIAS: E is-me aqui, E nvia-me a mim
c) Por ser também um livro de caráter apocalípti co, ao lê-lo, somos levados a viajar no tempo e perceber que tudo ao nosso redor é refém da fmitude. Por mais magn ífico e importante que seja, t udo algum dia deixará de se tomará pó; tal como alguns houve questionamentos um começo, também fim.existir, Sob esse olhar apocalíptico, sobrehaverá o fim um nos são impostos. Nesse quesito e sob esse ponto de vista se desenvolve esse capítulo de Isaías, oferecendo-nos algumas respostas que veremos mais adiante. Os capítulos 24 a 27 compõem uma parte do chamado “apocalipse de Isaías”.1Tal como Daniel e Apocalipse, essa seção de Isaías não é fácil de ser compreendida por conta do gênero literário apocalíptico que a consti tui. O gênero apocalípti co é “uma narrativa na qual uma visão reveladora é concedida a um ser humano, na m aioria da s vezes por meio da int ervenção [...] sobrenatural ou acima da realidade humana”.* 2 Essa narrativa geral mente termina com o anúncio do julgamento divino ou com uma mensa gem de esp erança de um m undo melhor, no qual o mal não existe. Os text os apocalípticos comum ente são marcados por sofrimentos, per seguições, domínio de um povo sobre o outro, extrema decadência moral, um forte desc aso religi oso ou apostasia (abandono das ordenanças divinas que tem, como con que sequência, o sofrimento povo). Geralmente, o profeta dirige-se “àqueles vivem em tempos dedo perseguição e sofrimento de sesperado que chega a ser visto como a corporifi cação do mal supremo ”.3 Às vezes, confunde-se o apocaliptismo ou apocalipcismo com a escatologia (tradicionalmente definida como o estudo das últimas coisas).4 Por serem tão próximos e, de certa for ma, and arem en trel açados, a razão dessa confusão é, de certa forma, coerente, porque o que as difere é extrema mente tênue. Pode-se pensar que um (o apocalipse) está contido na outra (escatologia). Enquanto o gênero apocalíptico em meio aos sofrimentos do povo propõe-se a revelar a promessa de livramento por meio da inter venção divina, a escatologia se propõe a mostrar uma nova era após esse livr amento. Por isso, vale voltar maior atenção ao ap ocalipcismo, que é o gênero literário que dá embasamento aos capítulos desta seção. ' CROATTO, 1988, p. 147. 2 BROW N, 201 2, p. 1007 . 3BROWN, 2012, p. 1008. 4 ERICKSON, M. J.; Introdu ção a Teologia Siste mátic a. São Paulo: Vida Nova, 1997. p.
479.
PROFECIAS DA CONSUMAÇÃO DA HISTÓRIA (24.1-27.13)
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Apesar de esses capítulos serem conhecidos como uma parte do “apo cali pse de Isaías”, el es não são comp ostos unicamente do gênero apo calíp tico; eles reúnem “profecias, cânticos e orações. Cada um desses gêneros tem sua própria força e sua combinação que fazem do texto uma sinfonia querigm ática”5muito m ais valiosa porque o profeta é usado por Deus para se referir ao julgam ento de Deus para com Judá, mas também se refere ao fim dos tempos apocalípticos e escatológicos. Portanto, trata-se de uma profecia que vai muito além dos dias subsequentes a Isaías. É sob essa herm enêutica dupla que este capít ulo se desenvolverá . I - O J ulgamento e a S alvação
Isaías faz anúncio da destruição de Tiro por causa do mal que os seus habitantes praticavam, por serem arrogantes e por se exaltarem em rela ções a outros povos (Is 23.8-9). O profeta anuncia que o mesmo sucederá com todos os povos da terra por causa da maldade que fizeram e “da de sapro vação de D eus em relação a esse m al.”6 O capítulo 24 po de se r visto como o capítul o d a proclamação dos cast igos, dos anúncios da devastação e do prepar o do pov o para o sofrim ento que vai asso lar a terra; t al como em Génesis (Gn 6.11-13), onde Deus anuncia à Noé a destruição da terra c om o Dilúvio por causa da maldade do ser humano que havia se multiplicado sobre a terra . A terra, nesse trecho, não é a terra como um todo. O texto faz menção de Israel que era o Reino do Norte e de Judá que era o Reino do Sul. Porém, num contexto futuro, aplica-se também a toda a terra. 1. C ausas do julgamento divino
O povo que é conhecido com o povo de Deus estava vivendo em grande desobediên cia. Num período em que os seus reis er am dado s à idolatria , es tabeleciam alianças com outros povos sem o consentimento de Deus e não davam ouvidos a orientações que Deus lhes dava por meio dos seus ser vos, os profetas, como nos mostra o capítulo 7 de Isaías. Viviam também um período de grande sincretismo por conta das alianças ou mistura com outros povos. Deus, sendo p lenamente justo e zeloso nas suas ordenanças , dá a conhecer ao povo que, por conta de todas essas práticas, eles serão devastados e dispersados, serão levados a servir como escravos em outras terras, serão subjugados pelos assírios (Reino do Norte) e pelos babilónios (Reino do Sul). 5CROATTO, 1988, p.148. 6 RYK EN, Leland; RYKE N, Philip e WILHOIT, James. Manual Bí bli co: um guia para o
entendimento da Bíblia. Rio de Janeiro: Central Gospel, 2013. p. 324.
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ISAIAS: E is-me aqui, E nvia-me a mim
O profeta Isaía s ensina que a re lação entre Deus e a humanidad e não se estabelece pela via de favoriti smos. N ão existem os privilegiados de Deus, no que diz respeito ao juízo. Para Ele, existem apenas seres humanos que, de acordo com a tradição cristã, são divididos entre criaturas (toda a raça humana) e filhos (os que, além de serem criaturas, receberam Cristo como senhor e salvador conforme João 1.12). “As distinções sociais não forne cem nen hum escape do ju ízo divin o” .7 Po r isso, o profe ta afir ma: “E o que suceder ao povo sucederá ao sacerdote; ao servo, como ao seu senhor; à serva, como à sua senhora; ao comprador, como ao vendedor; ao que em presta, como ao que to ma em prestado [...]” (Is 24.2). A corrupção havia se expandido por todas as camadas sociais. As dis tinções sociais diante de Deus tomam-se irrelevantes. Ninguém é melhor que o outro por conta da sua posição social ou cargo religioso. No juízo divino, as riquezas e o poder não fazem diferença, não tomam ninguém mais ou menos humano, não fazem de ninguém pessoas boas ou más. Por isso, Deus j ulga todos com a mesma m edi da, e cada um pag ará conforme os seus atos.8 Como crist ãos, entendemo s que as ordenanças e os juízo s de Deus são verdadeiros e imutáveis. Em Deus, não há contradição, não há mudança nem sombra de variação (Tg 1.17). Por isso, Isaías (24.3) afirma clara mente que a destmição da terra era iminente e certeira porque foi Deus quem falou. Ao d izer que a destmição seria verdadeira, ele queria cham ar a atenção de um povo para o qual os desígnios não eram tão relevantes, um pov o que pratica mente hav ia escolhido viv er um a vid a longe da prese nça de Deus. Interes sante notar que, apesar do grande desinteresse pelas q uestões re ligiosas, num momento em que as orientações divinas não eram tomadas como relevantes (como neste caso), Isaías escolheu ir por um caminho diferente, falar o que o povo não gostaria de ouvir, pois, tal como nós, nin guém go staria de receber um av iso de que haveria de ser destmído. Isaías, porém, em obed iência a D eus, age assim . Podemo s tentar im aginar o estado de ânimo do povo. A maioria, talvez , por desco nsiderar as palav ra s que estavam sendo proferidas, co ntinuav a vivendo as suas vidas sem preocupação nenhuma. Outros, por entende7BARKER, Kennet h (ORG). Bí blia d e es tud o : N ov a vers ão internacional. São Paulo : Vida, 2003. p. 1173. 8RAD MACHE R, E. D.; ALLE N, R. B e HOUSE , H. Way ne. O Novo Comentário Bíb lico:
Antigo Testamento. Rio de Janeiro: Central Gospel, 2010. p.1054.
PROFECIAS DA CONSUMAÇÃO DAHISTÓRIA (24.1-27.13)
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rem que essas palavras eram verdadeiras, possivelmente estavam afoitos e desani mados. Talvez olhassem um p ara o outro e perguntasse m: “O que faremos?”, “O que será de nós?”, “O que será de nossos bens?”, “O que faremos com no ssas fazendas, nossos carr os, nossos animais, nossos plan tios?”. Outros, tal vez, que houvessem acumulado tantas riquezas, pergun tassem: “E agora? De que me servirá tudo isso se o fim é iminente?”. A Bíblia afirma que a terra estava murcha, sem forças (Is 24.4 ). Aqueles que eram príncipes e nobres, que se autopromoviam, achandose melhores que outros eram acom etidos de trist eza e chegavam a adoecer as suas almas, porque percebiam que não tinham como fugir das mãos do Altíssimo. Podemos perceber que a descrição ultrapassa qualquer coisa que jam ais acontece u. Fazend o um a similaridade com o livr o de Apo calip se, somos levados a apontar para o temível futuro do m undo, um a pre visão do que sucederá antes do R eino de D eus ser plenamente esta belec ido. Deus, sendo u m justo juiz, ao estabelecer o seu juízo , m ostra as razões pelas quais somos e serem os julgados, pois Ele não é um Deus sádico, não castiga a humanidade por prazer. Ele o faz pedagogicamente. Por isso, o texto faz menção de que o povo será cast igado por transgressão aos estatu tos, por violação das leis e por quebra das alianças perpétuas. Esse castigo pode ser comparado a um reto mo ao caos, onde desvanece a alegria; assim, osons vinho, símbolo, odapovo alegria, falta, as vinhas não hájá não de alegria não está temem m ais razões para murcharam, festejar, o prazer se fa z presente na cidad e. Tudo o que hav ia de bom, que servia de estímu los para a vida, que gerava esperança foi desolado, conforme a profecia predisse. 2. C omo será o julgamento
A desolaçã o da te rra, segundo o profeta, tom ar-se-á dram ática e com pletam ente assustadora. O terror assolaria os moradores da terra e não ha veria escapar,dapois tentar terrorNão cairá na cova, e do quem como tentar escapar covaquemcairá no escapar laço (I s do 24.18). há qu em fuja castigo de Deus. Ninguém consegue se esconder da sua face. Sua onisciência se sobrepõe a toda e qualquer artimanha do ser humano. Todo esfor ço empreendido para escapar das mãos de Deus, por mais engenhoso que seja, é completamente falho e insignificante e será reduzido a nada. Até os fund amen tos‘da terra tremem. F endas e rachaduras transform am a terra em pedaços. A Lu a e o Sol tamb ém são sujei tos à destruiçã o po r causa da tamanha corrupção do povo. Isso mais uma vez toma evidente que nada
está isento da desolação.
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ISAIAS: E is- me aqui, E nvia- me
a mim
Diante das palavras tão vivas do profeta Isaías, o povo vê-se comple tamente entregue à destruição. Vê também que não há como justificar-se diante de Deus, pois seu juíz o é reto. Em tal caso, rest ou ao povo a possibi lidade de otomar consciência de seusencontrar maus atosescape , assumem ir ameio responsabilidade e buscar caminho da esperança, um ao caos que se havia instaurado, tentar achar o caminho do perdão, porque, apesar de Deus ser justo, também é perdoador, e o salmista diz: “[...] a um cora ção quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus” (SI 51.17b). É isso que também se destaca no texto, um cântico de louvor como expressão de clamor po r m iser icórdi a. A pal avra julgame nto no grego ( krinein ) quer dizer separa r (M t 13.2430), ou seja, será a separação do bem e do mal daquilo que é verdadeiro do que é fal so. Será o at o final de Deus, tanto na histó ria de Israel quanto nos dias futuros, onde se preservará apenas aquilo que não foi contami nado pela maldade e pelo pecado. Esse período de julgamento se refere ao Juízo Final , na co nsumação de todas as cois as, quando todo s os povos e nações co mp arecerão diante do t rono de Deus para serem julga do s por seus atos (Mt 25.31-33). O início do Juízo Final acontecerá logo após o Milénio, os mil anos de paz do governo mundial em que Cristo será o Rei e Satanás ficará preso. Porém, Satanás será solto logo após o fim do Milénio até ser julgado. Assim, o Juízo Final servirá para destruir a personificação do mal (M t 25.41), conform e escrito no A pocalipse: “E o diabo, que os enganava, foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde está a bes ta e o falso profeta; e de dia e de noite serão atorm entado s para todo o sempre” (Ap 20.10). 3. O
DESTINO DOS MAUS
Para o Juízo Final , acontecerá a ressurreição dos maus de todos os tem pos (Ap 20.5); os salvos já terão ressuscitado para estarem no Milénio com Cristo (I s 26.19; Ap 20.4) . Nin guém escapará da desolação e do julga men to que sobrevirá, sejam ricos, pobres, sacerdotes, leigos (Is 24.2) e reis (Is 24.21) . A terra , outrora abençoada, agora é m aldita por causa da injusti ça (Is 24.5) e será abalada, provavelmente num grande terremoto (Is 24.1820), e o Sol e a Lua deixarão de brilhar (Is 24.23; Lc 21.25). Deus destrui rá todo o mal, bem como todos os grandes poderes e impérios mundiais representados pelo leviatã, pela serpente sinuosa e pelo dragão (Is 27.1). Aqueles que forem julgados como maus serão separados definitivamente de Deus, a fonte da vi da. Serã o, juntam ente com o Diabo e seus anjos, lan
çados no lago de fogo que arderá etemamente. Jesus disse que ali haverá
PROFECIAS DA CONSUMAÇÃO DAHISTÓRIA (24.1-27.13)
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choro e ranger de dentes (Mt 13.50), ou seja, um sofrimento intermitente, ilimitado e eterno. 4. O
DESTINO DOS BONS
Aqueles que forem julgados como bons e forem justificados pelo sacri fício de Cristo serão levados para o Reino eterno, conforme Jesus mesmo afirmou: “Então, dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o Reino que vos está preparado desde a fundação do mundo; porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me; estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e fostes ver-me” (Mt 25.34-36) . O Reino de Deus será um eterno desfrutar de alegrias, delícias e bem-estar, na presença de todos os salvos de todos os tempos. Todavia, o mais importante é que para sempre estaremos com nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, cuja presença encherá a terra com sua glória e majestade, conforme a visão de João: “E a cidade não necessita de sol nem de lua, para que nela resplandeçam , porque a glória de Deus a tem alumiado, e o Cordeiro é a sua lâm pada” (Ap 21.23). II - C
risto, o
C entro da H istória
A Bíblia afirma que “nele foram criada s todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades; tudo foi criado por ele e para ele” (Cl 1.16). Portanto, toda a história da hum anidade tem C rist o com o seu precursor (Jo 1.1; Ap 13.8b), seu executor (Mt 28.18; Cl 1.17) e o seu fim (Fp 3.21). A criaç ão, a redenção da raça hum ana e o futuro estão nas m ãos dEle. Assim, Cristo é o centro da hist ória human a, e qualquer ser humano somente se re aliza plenam ente nEle,epois Ele é opermitindo centro da história da salvação executor, proclamador mediador, a reconciliação comcom Deus o seu através de sua m orte na cruz.1 1. O INÍCIO DA HISTÓRIA HUMANA
Cristo esteve presente no início da criação de todas as coisas, nos tem pos eternos com o Pai. A ssim, a história da humanidade pode ser tematizada em: criação, queda, redenção em Cristo e final dos tempos com Cristo. Isso porque Ele é o que permeia a história humana com sua pre sença . Ele
é o centro da história porque o povo escolhido entre a humanidade, Isra-
ISAIAS: E is- me aqui , E nvia -me
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a mim
el, não foi fiel à aliança feita com Deus e, com isso, um remanescente (a semente, o tronco) restante, que se concentra em Cristo na sua morte e ress urrei ção, tomo u-se precursor de um grande povo composto por todas as tribos e nações, que confessam a Cristo como salvador. 2. A REDENÇÃO
DA HISTÓRIA HUMANA
O profeta Isaías, além de prever destruição, traz paradoxalmente um olhar de espera nça, prevendo que o povo encontraria novo sentido de vida e renascer ia, e aquel es que não tinham ânimo n enhum encontrariam po ssi bilidades de experim entar o outro lado da face de Deus, sua face bondosa e misericordiosa. As pessoas que verdadeiramente creem que Deus vai agir e realizar os seus propósitos na história, como o profeta nesse caso, podem, de modo antecipado, c elebra r os feitos de Deus em su as vidas pelo s olhos da fé, pois o inimigo do povo de Deus já foi arr uinado e derrotado. No texto, o inimi go do povo são os assírios, pois estes oprimiam o povo de Deus e os sub ju gav am à escravidão. Por isso, aqui eles são descritos como pobres e ne cessitados; e os opressores são descritos como os estrangeiros. O povo, na voz de Isaía s, expressa cânticos de louvor e adoração a Deus, na esperança de que este cativeiro não é eterno, pois Deus lhes enviaria um Libertador. Da mesm a forma que Deus pr ovidenciaria um escape para Israel, toda a história da salvaçã o está virtualmente con tida num único even to: no fato de que todo o passado da história da salvação tende para essa intervenção de Crist o n a história atr avés d a cru z. D ela brota todo o presente e representa a garantia de todo o futuro da redenção. Entre a cruz de Cristo e a consu mação final da história, dá-se a tensão e a hostilidade entre a instalação de seu Reino na terra “ já-a go ra” e no “ainda não” do Reino que está por vi r. A batalha decisiva e vitoriosa já foi travada na cruz do Calvário. Nesse mo mento, vive-se em hostilidade com o adversário, Satanás, que quer tentar destruir a obra redentora emvitória nós, embora vencido. Estamos da apenas aguardando o dia da fina ljáemtenha que sido se dará o arrebatamento Igreja , que desencadeará o fina l da h istória humana. 3. E le é para todo o sempre
Ele é antes do início, foi crucificado ontem, reina agora de forma invi sível e voltará no fim dos séculos para es tabelecer seu Reino eterno, onde a ju stiça e a paz reinarão perpetuam ente. Algumas vezes, o fim dos tem pos é entendido como um tem po caótico e terrí vel. Para alguns, poderá ser mes
mo. Já para os que forem do
Senho r, será um tempo em que as quali dades
PROFECIAS DA CONSUMAÇÃO DA HISTÓRIA (24.1-27.13)
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humanas serão potencializadas e nossa fidelidade ao Senhor não sofrerá mais os percalços que temos hoje, pois Ele mesmo vai destruir toda infi delidade (I s 5.1-6), numa revelação com pleta da b ondade e da grandeza de Deus, tirando a cegueira que nos impedia de enxergá-lo (Is 25.7). I I I - O F im da H istória
O Fim da História, em term os seculares, foi in iciada po r Friedrich Hegel (1770-1831) que ensinava que, quando a humanidade alcançasse um pon to de equilíbrio com a ascensão do liberalismo e da igualdade, a história chegaria ao fi m. Es sa ideia f oi retomad a em tempos m odernos po r Francis Fukuyama, o qual defendia que, com o avanço do Capitalismo e o fim de regimes fasci stas e do Com unismo, anunciava-se o Fim d a Hist ória. A evo lução económica, a democracia e a igualdade de oportunidades levariam todos a atingirem seus objetivos de vida, e a sociedade supriria todas as necessidades humanas. Portanto, não seria o fim cronológico da história, mas o fim de governos e regimes que não conseguem suprir as necessi dades hum anas ou que estão em desaco rdo com os valores ocid entais.9 E óbvio que a humanidade está longe desse ideal, porque tal ideal somente será atingível no governo ou no Reino de Cristo. Quando se fala em consumação da história, fala-se do fim dela; e fim significa término e também alvo, ou seja, os esforçam (Mt 11.12) para atualmente estabelecerem seufilhos ReinodenaDeus terrase(alvo). Po rém, e sse esforço só terá fim qua ndo os céus e a terra passarem (2 Pe 3.1 0). Entretanto, o seu Reino será concretizad o em plenitude som ente no fim dos tempos, no térm ino da história humana. 1. O FIM DO SOFRIMENTO PARA O POVO ISRAELITA
E interessante notar o paralelismo que há entre Is 25.8 e Ap 21.4. Após um período de grande sofrimento, de dor profunda e de grande desespe ro, Jerusalém, sim bolizad a pelo “m onte Sião” 10 em Isaías, entra em ce na. Em Jerusalém, de acordo com Isaías, será feito um grande banquete com uma grande quantidade de comida e de vinhos magníficos. Porém, a si milaridade toma-se mais evidente quando o profeta anuncia que Deus en9 KA NA AN , Hanen Sarkis. O fim da histó ria e o último homem. Disponível em: < http:// www.periodicos.udesc.br/index.php/percursos/article/viewFile/1451/1224
>. Acesso em:
29 mar. 2016. 10B R UC E F. F. Comentário Bí blico NVI: Antigo e Novo Testamento. São Paulo: Vida, 2008.
p. 1021.
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ISAIAS:
E is- me
aqui,
E nvia- me
a mim
xugará as lágrimas de todos os rostos e aniquilará a morte do meio do seu povo. A derrota final da morte simboliza salvação definitiva do povo de Deus. Esse paralelismo entre os dois textos corrobora a ideia de que essa seção faz parte dos textos que constituem o “apocalipse de Isaías”. Em sua profeci a, Isaías tem em m ente o cativeiro babilónico, pelo qual Judá haveria de ser subjugada. Num primeiro momento, Isaías é usado por Deus sob uma perspectiva pastoral, no sentido de oferecer consolo ao povo. Nos capítulos anteriores, o trabalho do profeta está mais voltado p ara anun ciar o juízo divino ou a destruição do povo. Agora, em meio às dores do cativeiro, o profeta preocupa-se em restaurar a confiança do povo na proteção divina. “Em nenhum outr o lugar, as Escrit uras apresentam um exemplo m elhor de consolo para d ias difíceis” 11do q ue n esta profe cia de Isaías. povo, outrorahumilha desprezado e oprimido, é chamado a confiar A emo Deus, poisOEle é quem os altivos, referindo-se aos inimigos. respon derem a esse chamado, eles desfrutariam da perfeita paz, que é a dádiva dEle de bem-estar e completude, pois, em m eio à sit uação em que o povo se encontrar ia, receber o anúncio de um a vida de paz é muito m ais satisf a tório do que qualquer outra coi sa. Esse chamado a uma con fiança perpétua tem sua lógica fundamentada na fidelidade de Deus, pois Ele nunca aban donou o seu povo. A ida deles ao cativeiro foi por conta da permissão de Deus, como um bom Pai que cria meios ou possibilidades de redirecionar o seu povo para a pro posta de vida que Ele ofer ece. Depois de o povo ter experimentado o juíz o divi no, o lado de Deus que nenhum ser humano gostaria de experimentar, chegaria o momento em que a ira d e Deus c ontra os israelit as abrand aria. A ira de Deus não estaria mais contra os israelitas, que são simbolizados pela “vinha frutífera” ou “vinha aprazível”. Ou seja, Deus estaria mostrando seu agrado para com eles; porém, se o seu povo voltar a quebrar os estatutos e quebrar a aliança perpétua, que são simbolizados no texto pela erva daninha e p or espinhos, então Deus os p isoteará e os destruirá por completo.
2. A HISTÓRIA HUMANA TERÁ FIM, A DE DEUS NÃO
Deus está acima da história. Ele é um ser a-histórico, pois é eterno, porém seu Reino se estabelece na história humana. Por isso, tem início, mas nunca terá fi m. N o tempo determinado po r Deus, a história hum ana e a vida na terra dei xarão de ex isti r e serão tomados pelos novos céus e pela nov a terra (2 Pe 3.10-13). E ntretanto, esse não será o fim da história daque11 BRUCE, 2 008 , p.1023.
PROFECIAS DA CONSUMAÇÃO DA HISTÓRIA (24.1 -27.13)
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les que forem salvos, mas será a entrada destes na eternidade, a transição daquilo que é temporal para o que é eterno, a qual Jesus chamou de “vida eterna” (Jo 5.24). Na consumação da história, aquilo que é temporal terá o seu fim, será sugado pela eternidade como desnecessário; inclusive a Lei e a moralidade não precisarão mais existir. Viver-se-á o amor perfeito, que é o cumprimento da Lei, pois o amor cumpre a Lei antes que ela o exija, apontando para o caráter temporal e necessário da Lei enquanto estivermos na terra. No Apocalipse de João, está escrito que não haverá templo na Jerusa lém celestial, porque Deus habita nela; isso aponta para o fim da religião, pois esta nada mais é que a tentativa de se chegar (religare ) a Deus, sendo totalmente desnecessária no estado perfeito da Vi da Eterna em que Deus é tudo em todos. 3. A N ova J erusalém é o início da nova história humana O exílio ou cativeiro não está distante de nós. Ele po de se r traduzido em coisas simples que nos aprisionam e nos impedem de viver uma vida em que a dignidade hu man a é respei tada, um a vida onde há rel ações saudávei s com Deus, com o próximo e com a natureza, pois esse é o plano de Deus para o mundo. Assim sendo, é necessário que aconteça a consumação da história e que o R eino de Deu s se estab eleça defini ti vamen te. E sse Reino aponta para a nova Jerusalém, o lugar que Deus preparou para os salvos em Cristo, para passarem com Ele por toda a eternidade, na casa do Pai (Jo 14.1-4), desfrutando etemamente de seu amor. Ela será de uma beleza, de uma majestade e de uma glória indescritível (Ap 21.9-15). Mas a melhor coisa não é a magnífica cidade, e sim quem estará nela: nosso Senhor e Salvador Jesus C risto. Ansiemo s po r esse te mpo.
C a p ít u l o
12
P rofecias de S alvação e E sperança ( 40.1 - 66 . 24 )
i N Í o capí tulo 40, começ am as prof eci as qu e se ref ere m ao e xílio e pós -exílio. Isaías tem objetivos muito claros nessa segunda parte de suas pro fecias. Ele anuncia ao povo que o tempo de sofrimento estaria chegando ao fi m, que o castigo divino estava para terminar e que bênçãos e salvação estavam a caminho. Elas enfatizam o livramento (40-48), a redenção (4957) e a glória (58-66) do povo de Deus. Logo, dizem respeito à salvação e à esperança, servindo de contrapeso às profecias iniciais que previam catástrofes e miséria devido à desobediência do povo, mostrando também que a misericórdia e o amor de Deus são infinitamente maiores que sua correção e juízo. As profecias se referem a dois períodos históricos. O primeiro é o do cativei ro babilónico que logo aconteceria e o povo p recisaria ter esperança em Deus para ver Jerusalém e o templo completamente destruídos (veja Lamentações de Jeremias) e sobreviver em Babilónia, um lugar de sofri mentos, saud ades (SI 137) e perdas; alguns deles serviriam no palácio real, como Daniel e seus amigos, porém muitos seriam escravos maltratados e fariam trabalhos desprezíveis. Aliás, os maltratados eram maioria. Por isso, o profeta anima-os com suas palavras preparando-lhes para este tem po; o segundo é o período em que eles voltariam do cativeiro e, dadas as condições precárias da longa viagem, em bo a part e pelo deserto, bem como a própria situação de Jerusalém devastada, a qual encontrariam quando chegassem, era preciso palavras de encorajamento para que o remanescen
te não desfalecesse. Todas essas profecias de Isaías, no entanto, têm um
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ISAIAS:
E is- me
aqui ,
E nvia -me
a mim
horizonte mu ito maior , que é a salvação que D eus daria ao povo atra vés de Cristo; por isso, o profeta é chamado de anunciador de Boas-Novas, pois ele prevê que Deus traria grande salvação ao seu p ovo, para além do tempo de cativeiro e ret omo . I - O P rofeta E vangelista
A destruição estava em toda parte (Lm 2.2), o templo foi profanado, e todos foram humilhados (Lm 1.10; 2.15; 3.45-46), a autoestima foi aba lada (Lm 2.1), a esperança esvaiu-se por completo (Lm 5.2), o povo foi levado escrav o (Lm 1.3; 5.5), instalou-se um a crise de identidade (Lm 1.6; 2.9; 5.6) e a fome devorava todos (Lm 4.4-5). É nesse contexto futuro de destruiç ão que o profeta constrói um a das passagens mais lindas de Isaí as. Primeiramente que Deus agiria trazendo libertação ao povo, mas também traria a certeza de que o Messias viria como ungido divino e restauraria todas as coisa s. É importante notar uma inferência à trindade no texto do capítulo 61, pois o profeta se refere ao “Espírito”, ao “Senhor Jeová” e a “mim ” (Is 61.1),1demonstrando que toda a trindade e poder divinos estavam agindo a favor de Isra el e da humanidade perdida, no sentido de lhes trazer salva ção e r edenção co mpletas através das Boas-Nov as do evangelho. Teologi as do método argu mentam o profeta refere a “mim” , estáhistórico-críti se r eferindo aco si mesm o ou aoque, povoquando de Israel, porémse essa t ese é desfeita quan do Jesus tom a o livro de Isaías na sinag oga de Na zaré e diz: “Hoje se cumpriu e sta Escrit ura em vossos ouvido s” (Lc 4. 21) 1. A SITUAÇÃO DO POVO NO CATIVEIRO Aconteceram três deportações para a Babilónia; a prime ira em 605 a.C. , sendo um dos cativos o profeta Daniel; a segunda em 597 a.C., quando foram levados todos os nobres e ricos da cidade, em tom o de 10 mil pes soas; e a terceira, como ummorrido golpe final sobreeJemsalém, aconteceu no ano 586 a.C.. Alguns haviam de forme nas guerras, e somente os mais pobres dentre o povo ficara m n a cidade. Nessa conquista, a cidade foi devastada, o templo queimado e as riquezas saqueadas. Somente no ano de 539 a.C. os jud eus começaram a voltar para Jerusal ém e a reconstruí-la ju ntamente com o templo. O povo de Deus, vivendo fora de sua próp ria t erra, estaria nu ma situa ção muito lastimável. Eram escravos, sem templo, sem sacerdote, sem rei, sem orientação cla ra, em total desespero. Isaías nos dá um a ideia de como *
PRICE, 2005, p. 190.
PROFECIAS DE SALVAÇÃO E ESPERANÇA (40.1 - 66.24)
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seria: “Essa s duas coisas te aconteceram ; que m terá com paixão de ti? A as solação, e o queb rantam ento, e a fome, e a espa da! Com o te conso larei? Já os te us filhos desmaiaram , jaze m nas entradas de todos os caminhos, como S enhor e da repreensão do teu o antílope na rede; cheios estão do furor do Deu s” (Is 51 .19-20) . Eles seriam tão humilhados que o profeta lhes chama de “bic hinho [out ras versões escrevem vermezinho] de Jacó, povozinho de Israel” (Is 41.14). M as ao mesmo tem po, ele lhes dá esperan ça de qu e Deus os ajudaria, seria seu Redentor. A escrav idão a qual o povo foi subm etido é descrita po r Isaías como hum ilhante e exaustiva a ponto de aniquilar as for ças (Is 44.12; 49.4). Eles estavam indefesos diante do poder do opressor. Além disso, quando o povo de Jerusalém chegasse à Babilónia, have ria um acontraste inquietante: a falsa deuses que deram vitória aos opressores, e o grandeza aparente dos fracasso do babilónios, Deus israelita, que não livrou seu povo. Diante disso, eles precisavam ser animados e encorajados para continuarem crendo e esperando que Deus lhes traria o li vramento, quando o casti go pela desobediência passasse . O pro feta deveria dar uma m ensagem de esperança para qu e o povo não caísse na armadilha de achar que havia uma disputa entre os deuses babilónios e o Deus de Is rael. Em bora temporariamen te os babilónios te nham sido vencedores, essa reali dade não duraria para sempre. Sendo assi m, o profeta estava enviando Boas-Novas de salvação para num mo mento em que a confiança e m Deus ficaria muito tênue, diante da realidade do opressor. 2. A SITUAÇÃO DO POVO QUE FICOU EM JERUSALÉM Nas primeiras deportações, o rei da Babilónia levou as pessoas mais nobres, ricas e as pertencentes à corte real (2 Rs 24.12-17; Jr 52.28-32). Na última deportação, foram levadas pessoas mais simples, como os funcio nários da corte, sacerdotes, levitas, ajudantes, serventes, artesãos, alguns agricultores e vinhateiros (2 Rs 25.9-12). Ficaram somente os extrema mente pobres na p eriferia d e Jerusalém. O profeta Jeremias descreve a si tuação dos que ficaram da seguinte maneira: “A nossa herdade passou a estranhos, e as nossas casas, a forasteiros. Órfãos somos sem pai, nossas mães são como viúvas. [...] Os nossos perseguidores estão sobre os nossos pescoços; estamos cansados e não temos descanso. [...] Servos dominam sobre nós; ninguém há que nos arranque da sua mão. [...] Nossa pele se enegreceu como um fom o, por causa do ardor da fome . Forçaram [estupra ram] as mulheres em Sião; as virgens, nas cidades de Judá” (Lm 5.2-3, 5, 8, 10-11). Chegou-se até a afirmar que eram mais felizes os que morreram
pela espada do que pela fome (Lm 4.9).
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ISAIAS: E is- me aqui, E nvia-me a mim
3 . O SIGNIFICADO DE BOAS-NOVAS
Diante desse quadro desolador , o profeta anun cia a s Boas-No vas de sal vação através do Servo Sofredor, que tomaria o lugar miserável do povo. De form a contextual izada, é justam ente nesse estado que se encontram to dos aqueles que estão afastados de Deus, cuja situação é caótica e somente a graça de Deus anunciada nas Boas-Novas é que pode trazer libertação e redenção. A expressão Boas-Novas vem da palavra hebraica basar, que no grego é euangelizo, de onde provém a palavra “evangelh o” . Sendo assim, quando anunciamos o evangelho, estamos cooperando com Deus e dando prosse guimento ao que o profeta iniciou, proclamando que o Deus libertador e perdoador está aooalcance todos. É justamente evan gelho que permite acessodeao evangelho; por isso, aoproclamação imperativo idedo (Mt 22.9; 28.19), que possibilita aos ouvintes libertação, de acordo com o que Paulo escreveu: “Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem não ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregu e?” (Rm 10.14). 4. O ANUNCIADOR DE BOAS-NOVAS
Por quatro vezes em seu liv ro, o profeta faz menção ao anúncio de B o as-Novas (40.9; 52.7; com 61.1). Oa salvação que aconteceria norcativeiro não po deria ser 41.27; comparável que vir aoia,povo e é po isso que el e anuncia Boas-Novas. Portanto, quando o profeta pronuncia Boas-Novas, está dizendo que, apesar das circunstâncias difíceis do cativeiro, Deus es taria agindo. Para provar isso, ele evoca na sua profecia, diversas vezes, a obra da criação (e.g., Is 40.12-17, 21-31 dentre outros), como se, no mo mento do exíl io, estives se tudo “sem fo rma e vazio” , mas D eus estar ia se movendo sobre a face das águas (Gn 1.2) e, em breve, traria livramento para seu povo. Da mesma forma, os cristãos no mundo todo são chamados a procla marem o evangelho de Cristo aos que estão no cativeiro do pecado, do desprezo e da opressão, de tal for ma que todos alcancem a quilo para o qual Cristo veio: “[...] restaurar os contritos de coração, a proclamar liberdade aos cativos e a abertura de prisão aos presos” (Is 61.1). Isso porque, como afirma René Padilha, “a comunicação oral do evangelho realmente é uma tarefa que o s crist ãos não podem esquece r.”2 Somos convo cados po r Deus 2 PADI LLA, R ené. Apud: GAB Y, Wagner. A missã o integral da Igr eja. Liç ões bíb lica s -
Adu ltos - Mestre. Rio de Janeiro: CPAD, 3o Trimestre 2011. p. 14.
PROFECIAS DE SALVAÇÃO E ESPERANÇA (40.1 - 66.24)
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para tal tarefa ao recebermos o seu Espírito Santo: “M as recebereis a vir tude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas tanto em Jerusalém com o em toda a Judeia e Sam aria e a té aos confins da terra” (At 1.8). Assim sendo, porque Cristo foi ungido pelo Espírito San to, todos nós, seus discípulos, também o somos com o objetivo de tomar conhecidas as Boas-Novas do evangelho. O profeta deixa claro que, para fazer a obra de Deus d essa form a extraordinária, é necess ário que, antes de tudo, haja unção do E spírito Santo (A t 1.8). Depois é que se segue o enviar (ide), o proclamar (pregar), o consolar e o ordenar (serviços) (Is 61.1). - As B oas- N ovas do E vangelho Apesar de Isaías prever muito juízo divino como consequência da de sobediência à Palavra de Deus, de descrever catástrofe s bélicas e de apri sionamento do povo de Deus, o profeta faz irromper, com todo ímpeto, a salvação de Deus em seu livro. É algo extraordinário e belo observar a inspiração profética de Deus vindo em socorro do povo, a começar pelo nome de Isaías, que significa “o Senhor salva”. O verbo hebraico ysha ’, de cuja raiz vem o nome de Isaías, significa ajudar, salvar, resgatar, auxiliar quem está em dificuldades,3e é justamente isso que Deus faz com Israel. Por isso, vários textos de Isaías mostram o Senhor Deus como o salvador. Outra palavra utili zada por Isaías que d enota Boas-Nov as é “R edentor”, do hebraico go ’el, que é o que redime dívidas impagáveis, assumindo as penalidades do que deveria ser castigado. Assim, Deus se coloca no lugar do pecador (Israel e gentios) impenitente e lhe provê o perdão e o livra padah, que também mento do castigo. Isaías ainda usa a palavra hebraica significa “remir” ou “resgatar”, ou seja, é Deus pagando o preço pela li bertação.4 Essas são as grandes Boas-Novas que Isaías anuncia, sem nem mesm o com preendê-las plenamente, pois se cump ririam por comp leto ape nas em Cristo. Elas se resumem neste texto do profeta: “Por um pequeno II
mo men to, te dei xei, mas com grande misericórdia te re colherei; em grande ira, escondi a face de ti por um m omento; m as com benignidade eterna me comp adecerei de ti, diz o S enhor , o teu Redentor” (Is 54.7-8). 1. O EVANGELHO É UMA PESSOA
O Evang elho é a própria pesso a de Crist o. Nele se concentra toda a boanova de Deus para o resgate do ser humano. Foi Ele que, com sua morte e ressurreição, tomou a mensagem do Evangelho inconfundível. Quando 3 HORT ON, 2003, p . 550.
4 HORTON , 20 03 , p. 550.
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IS A IA S :
E ts- me
aqui,
E nvia- me
a mim
Jesus morreu na cruz, nEle concentrou-se todo o mal e toda a culpa hum a na, como um ralo gigantesco que absorveu tudo aquilo que é contrário à plenitude da natureza humana para a qual Deus nos criou. Cristo nos liber tou da m aldição da Lei , da conden ação do pecado e da separação de Deus, permitindo-nos estar unidos em comunhão com Ele, a fonte da vida. Deus agora não olha mais para nosso passado como parâmetro para nos aceitar e encaminhar nosso destino; porém, através da len te do evangelho, Ele nos vê como sua delícia (“Hefzibá” conforme Is 62.4) e somos procura dos por Ele (Is 62.12) para uma vida de com unhão e inti midade. Marcos é o evangelista que nom eia o Evangelho como sendo o próprio Cristo (Mc 1.1), bem como anuncia que o tempo do Evangelho chegou com Cristo (Mc Mateus anuncia que as4.12-17; várias profecias Isaías se cumpriram em1.15) Cristoe (Mt 1.22-23; 2.15,23; 12.17-21;de 21.4-5). Ele abriria os olhos dos cegos e tiraria de prisões aqueles que estavam em trevas. Po r isso, Jesus é chamado em Isaías de luz dos gentios (Is 9.2; 42.67), que os tirariam das trevas e lhes iluminariam o acesso a Deus. 2. O EVANGELHO É UMA MENSAGEM
O evangelho é o pod er de Deus operando p ara a salvação de todo aquele que crê (Rm 1.16). A aceitação do evangelho em atitude de fé é a garantia da libertação de pecados, medos e culpas, e também é a porta de entrada para a vida de liberdade que Deus preparou para os seus filhos. “O Messias continuará a usar a pregação do evangelho, para levar emb ora as cinza s da tristeza que os nossos obscuros pensamentos amontoaram sobre a nossa cabeça, e a derramar sobre nós o óleo de go zo.”5 O profeta salienta que Deus, contrastando com os ídolos, é aquEle que trabalha para os que nEle esperam (Is 64.4). Na história da humanidade, nunca se viu ou se verá um Deus assim, simplesmente porque não existe outro Deus. O trabalhar de Deus em prol da humanidade perdida foi tão inte nso estendeu-se que não poupo u nem esmo seu único fi lho. Dessa tra de balhar para alémmde qualquer expectativa humforma, ana, aseu ponto entregar-se a si mesmo em Cristo, provando seu grande amor incondicio nal e seu cuidado intensivo para com a situação deplorável da hum anidade, trazendo-lhes salvação, apesar de ninguém ser merecedor de tão grande salvação, pois todos pecamos, “somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo da imundícia” (Is 64.5-6). Imundícia, aqui, está relacionada à peça de vestuário suja de sangue de menstruação, que contaminava cerimonialmente a mulher e também o
5ORTLUND, 2012, p. 517.
PROFECIAS DE SALVAÇÃO E ESPERANÇA (40.1 - 66.24)
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hom em que nela tocasse no Antigo Testamento.6 Mesm o quando achamos que podemos estar agi ndo religiosamente da m elhor maneira, iss o pode ser totalmente sem valor, pois quem nos justifica é somente Cristo, ou seja, o evangelho é a garantia de que todas as nossas impurezas, imperfeições, pecados e misérias são lavados pelo sangue do Cordeiro e, assim, somos aceitávei s e queridos por Deus. O apóstolo Paulo faz coro ao profeta quan do afirma: “[...] As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem são as que Deus preparou para os que o amam. Mas Deu s no-las re velou pelo seu Espírit o; porqu e o Espírito pene tra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus” (1 Co 2.9-10). 3. O EVANGELHO É UM ESTILO DE VIDA
O estilo de vida propostoempelo evangelho nãoverdade, tem muito a ver de com a cultura gospel impregnada nosso país. E, na um estilo vida que im ita Jesus em todas as coisas, num a atit ude radicalmen te contrária aos valores observad os ou impo stos at é mesm o pela r eligiosi dade. Seguir Jes us é dizer sim a atitudes de am or e de esperança para um mun do sofredor. Mas seguir a Jesus também é ansiar pela presença e intervenção de Deu s no mu ndo pa ra que haja salvação. Por isso, o profe ta faz uma série de anseios, lamentos e apel os proféticos apaixonados, que também devem ser nosso alvo , divididos da seguinte forma:7 A1. Anseio: Pelo amor de Deus (63.15-16); B 1. Lam ento: N osso coração endurecido (63.17-19); A2. Anseio: Desejo intenso pela presença e ação de Deus (64.1-5a); B2. Lamento: Nossos pecados permanentes (64.5b-7); C. Anseio: Desejo pelo toque perdoador de Deus (64.8-9); Apelo: Que o Deus ilimitado intervenha (64.10-12). Assim, viv er o evangelho é ansiar profundamente (SI 42; 84) pela pre sença e manifestação de Deus como única solução purificadora e regene radora do ser humano. E bem verdade que o pecado e o sofrimento nos acompanharão por toda a vida terrena; mas em Cristo, sempre de novo e infinitamente, experimentaremos o poder libertador, curador, restaurador e transformad or do evangelho. Algum as pessoas são carre gadas de vícios a s erem abandonados, culpas do passado, precisam de restauração de suas ruínas emocionais de sofri6 HORTO N, 20 02 , p. 521.
7ORTLUND, 2012, p. 540.
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ISAIAS: E is- me aqui, E nvia- me a
mim
mento e dor, pois o pecado e o sofrimento criam correntes de prisão da alma humana. Muitos não encontram saída para tanta desolação e tris teza. Os mecanismos human os não dão con ta de reconstruir o que se perdeu, ou entrou em ruínas. É nesse momento de caos, assim como com Israel, que o profeta levanta a voz e diz: “E edificarão os lugares antigamente assola dos, e restaurarão os de antes destruídos, e renovarão as cidade s assoladas, destruídas de geração em geração” (Is 61.4). Tudo isso é possível porque o Espírito do Senhor, assim como no Messias, é sobre nós. Logo, a restau ração da situação de miséria humana é um milagre divino que ecoa e age porque Cristo toma isso possível. Foi por isso que Paulo escreveu: “Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego” (Rm 1.16). Portanto, os que vivem no evangelho vivem um novo estilo de vida não mais condicionado ou aprisionado ao pecado e ao sofrimento humano, mas livre, liberto e pleno de vida, porque Cristo permite a todos que o ace itam e vivem a mensagem do evangelho que ex perimentem o seu poder transformador. III
- S alvação e E sperança
1. D eus ampara seu povo no cativeiro
O profet a, descrevendo a situaçã o do p ovo no cativeir o e prevendo sal vação, afirma que o livramento do Senhor virá em meio ao deserto e que este se tomará em caminho reto. Passarão por vales e montanhas, porém estes se tomarão planos. Aquilo que no momento está torto será endirei tado, e o que é áspero se tomará liso (Is 40.3-4). Ele faz a promessa de que aqueles que, em meio à tribulação, ficarem cansados e afadigados, se esperarem no Senhor, suas forças seriam renovadas para uma caminhada sem fadiga e uma corrida sem se cansar (Is 40.29-31). No exílio, o povo se sentiria muito longe de Deus, com muita sede dEle, mas Ele os ouviria e lhes saciaria; Deus lhes promete que lugares desertos se transformariam em m ananciai s de águas pelo seu pod er miraculoso (Is 41.17-18). Isso sig nifica que Deus proverá para o seu povo as coisas essenciais em muita abundância. O profeta descreve o amor de Deus semelhante ao amor materno (Is 49.15), não tendo outra comparação que chegue mais perto desse amor, pois é a expressão de am or humano mais gratuito que existe. Ainda assim, o amor materno pode falhar, mas o de Deus nunca falha. Assim, Deus é
descrito como amigo e interessado em livrar, perdoar, libertar, curar e cui-
PROFECIAS DE SALVAÇÃO E ESPERANÇA (40.1- 66.24)
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dar. Ne sse sentido, o profeta Isaías descrev e o am or de Deu s sendo: con so lador (40.1; 51.12), que dá vigor ao cansado (40.29; 41.10), o compassivo (49.13; 52.9),8 o pastor (40.11) , o perdo ador (55.7) e um Deus próximo (45.3; 49.1,16). Dessa forma, o profeta desfaz uma imagem de um Deus vingativo e irado, muito comum no Antigo Testamento, e mostra quem Ele realmente é. Uma figura próxima do ser materno, a fim de expressar o amor de Deus ao povo, é usada quando o profeta o chama de pastor (Is 40.11; 56.8; 57.18; 58.11). Ele assim o faz para mostrar que Deus cuida, guia, toma em seus braços de amor e lhes traz descanso. 2.
D eus livra o seu povo do cativeiro
A divindade cultuada na Babilónia era Marduk que, aparentemente, enquanto o povo estava debaixo da escravidão, levava vantagem. Marduk, na mitologia babilónica, era o deus que hav ia vencido o m onstro marinho e criado o mundo; logo, era o mais poderoso. Por esse motivo, a profecia salienta a grandeza do Todo-poderoso Deus de Israel, atribuindo a vit ória sobre o monstro a Jeová (Is 45.5; 51.9) e salientando várias vezes que Ele é o criador de todas as coisas (Is 43.7,15; 45.12), o único Salvador (Is 44.8; 45.5,6,18,21; 46.9), o Redentor e o Santo de Israel (Is 41.14; 44.22; 54.5,8). Certamente, a dúvida pairava na cabeça de muitos israelitas se, de fato, essa divindade não seria mais poderosa que o Deus Jeová. Entretanto, quem te m condiç ões de entender a histór ia - e o profet a é um deles prevê que, ao final das contas, existe apenas um Deus que é verdadeiro, sendo os demais mui medíocres (Is 46.1), pelo simples fato de terem sido criados pelas mãos dos homens, o que nem é parâmetro de comparação com o Deus de Israel. Pouco a pouco, o povo percebe que são seus pró prios pecados e desobediência que os trouxeram ao cativeiro (Is 43.27-28) e que o opressor nada mais foi que um instrumento do único Deus verda deiro para corrigir e dar vida novamente a seu povo . Na pro fecia de Isaías, Deus chama Ciro, rei da Pérsia, de “ungido” (Is 45.1), sendo ele o instrumento para consolar e libertar seu povo do cativeiro no ano 539 a.C., apontando, desse modo, para o próprio Messias que, então sim, traria a libertação completa (Jo 8.36). Para reacender a fé do povo quando estivesse no cativeiro, o profeta lembra a eles o triunfo do êxodo, quando Deus interviu milagrosamente para libertar o povo (Is 8 Em hebraico, raham é compadecer, da mesma raiz da palavra útero. Portanto, é como se
ele amasse das suas entranhas.
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ISAIAS: E is- me aqui , E nvia- me
a mim
40.3-4; 43.19-21) . Deus sab ia que seu povo ficaria confuso e com dúvidas no cativeiro. Por isso, o profeta antecipa-se aos fatos com palavras de con solo e esperança (Is 49.8-10) . 3. Um derramar abundante do seu E spírito
Em todo o Antigo Testamento, o Espírito Santo é mostrado como o ser divino bastante ativo e colocando tudo e todos em movimento, criando (Gn 1.2; SI 33.6), organizando a caminhada do povo (Jz 3.10), inspirando e ungindo reis, profetas e sacerdotes (1 Sm 19.21; Mq 3.8; Nm 3.3), e dando sabedoria (Êx 35.31); mas é em Isaías que o Espírito Santo tem uma abrangência muito maior. Ele repousaria sobre o Mes sias (11.2); seria derramado (32.15); faria cumprir a Palavra do Senhor (34.16); está em todos os lugares (38.16); é autónomo (40.13); seria o prote tor (59.19); daria resta uração e liberd ade (61.1); faria um concerto eterno (61.8) e daria descanso (63.14). O profeta prevê que Ele derra m aria água sobr e todos os que tiverem sede de Deus e transformaria em rios onde houvesse uma terra seca. “E a terra seca se transformará em tanques, e a terra sedenta, em m ananc iais de águas; e nas habitaçõ es em que jaziam os chacais haverá erva com canas e jun co s” (I s 35.7 ). E ain da: “Abrirei rios em lugares altos e fontes, no meio dos vales; tornarei o deser to em tanques de águas e ate rra seca, em man anciais” (Is 41.18) . Esse mesm o Esp írito agiu sobre a vida de Jesus (Mc 1.10; Lc 4.14,18) para curar, libertar, transform ar, operar milagres, consolar, ressuscitar mortos e realizar as obras de Deus; e esse mesmo Espírito opera na vida da Igreja para fazer obras maiores ainda (Jo 14.12); e é o Espírito Santo quem dá acesso ao Reino de Deus: “Jesus respondeu: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nas cer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de D eus” (Jo 3.5 ). Portanto, o Esp írito Santo age hoje de maneira muito mais intensa que nos tempos de Isaías, pois foi ele quem previu ondetodas houvesse sequidão (Is 35.7). Alémumdederramar o Espíritoabundante Santo colocar as coisas em movimento, atuar sobre reis e profetas e ungir a Jesus de Nazaré, seu agir se dá no meio do seu povo e na vida de cada crente em particular, levan do ao ar rependimento. Quando alguém olha para dentro de si e percebe quantas coisas exist em que não agradam a Deus e se esforça para abando ná-las, isso pode levar a um co lapso m ental e espiri tual, pois ninguém conse gue agradar a Deus plenamente. Porém, ao reconhecer as falhas e pro curar abandoná-las - o que o profeta chama de arrependim ento ou estar
de cor ação contrito (I s 57.15) - , Deus im ediatamente se aproxim
a num
PROFECIAS DE SALVAÇÃO E ESPERANÇA (40.1 - 66.24)
acolhimento de amor, provendo sua presença curadora e restauradora. Caso contrário, ninguém suportaria a dor de suas próprias debilidades humanas. A isso o evangelho chama de graça divina. Aqueles cujo co ração é contrito, com estes o “Deus conosco” habita (Is 7.14; Mt 1.23) e produz vivificação, ou seja, o que era sinal de morte passa a ser a essência da vida.
147
C a p ít u l o
13 P romessas como
a
R espeito
do
M essias
S ervo S ofredor
A expressão
“Servo do Senhor” ou “S ervo Sofredor” pode ser uma referência a homens piedosos como Moisés (Êx 14.31), Josué (Jz 2.8), Davi (SI 89.3) e outros (Jó 1.8; Ag 2.23; 1 Rs 14.18; 1 Rs 18.36; 2 Rs 14.25), bem como ao próprio Isaías (Is 20.3). Entretanto, o contexto des sas profecias refere-se à nação de Israel, mas especialmente ao Messias, ao Crist o enviado de Deus para s alvar a nação de Israel e o mundo pe rdi do. Cristo representa o remanescente santo de Israel. Portanto, nesse sen tido, Israel se toma como uma nação qualquer dependendo do sacrifício de Cristo para sua salvação. Essa profecia está dividida nos quatro cânticos do Servo em Isaías 42.1-9; 49.1-7; 50.4-9; 52.13-53.12. A maioria dos escritores do Novo Testamento entendeu, nesses cânticos proféticos, principalmente em Isa ías 53, detalhes da crucificação do Servo Sofredor: o sofrimento, a humi lhação, o silêncio diante de seus acusadores, o cordeiro de Deus levado à £
matança, os açoites impiedosos, o julgamento diante de Pilatos e Caifás, a morte, o aba ndono da parte de Deus, ou seja, em Jesus se cumpriu cada detalhe do Servo Sofred or. Ele era ao mesm o tempo Deus e homem , mas padeceu com o servo, abrindo mão de sua divindade para nossa salvação, para que nós reinássemos com Ele. O capítulo 53 de Isaías reaparece total mente (com exceção de um versículo) no Novo Testamento, tomando-se um dos poemas mais importantes e influentes do Antigo Testamento nas Boas-Novas do Evangelho. O profeta retrata com detalhes o sofrimento vicári o, expiatório e subs
titutivo sofreu tantoque a ponto presenciaram cena de de suaCristo, morteque cmel acharem a ira de de todos Deus que estava sobre Ele. aE
150
ISAIAS: E is- me aqui, E nvia- me a
nesse sentido estava mesm cada um de nós. I - As Q ualidades 1. P romulgador
do
mim
o, pois represen tava o juíz o sobre a maldade de
S ervo
de justiça
Jesus é perfeito quanto a aplicar a justiça. Ele nunca se equivoca e con segue discernir todas as coisas com clareza e dar a retribuição exata aos que sofrem injustiças, pois a “justiça será o cinto dos seus lombos” (Is 11.5). No cântico do servo, de Isaías 42, três vezes ocorre uma de suas missões, que é promover a justiça, porém sempre o fazendo com leveza, gentileza e carinho, cuidando dos que estão prestes a se desmantelar pelas agruras da vi da, mantendo a chama que pode ria se apagar acesa a t odo cus to, e promulgando a equidade e igualdade entre todos (Is 42.1-4). Portanto, o Servo do Senhor não se imporia pela força (Is 42.2), e sim pelo amor. Sua justiça também tem implica ções sobre aqueles que são regener ados, que passam do esta do de alienação pelo pecado à nov a vida com Cristo e , ju stificad os, to ma o homem unido àquilo que ele está se parado , ou seja, a Crist o, o justo ; tom and o aceitáveis aqueles que são inaceit áveis. Essa obra não depende do ser humano, é graciosamente imputada sobre nós através de Cristo. Isso toma os seres humanos, conforme afirmou Lutero, simul taneamente justos e simultaneamente pecadores. Essa compreensão livra os salvos da culpa do pecado, pois tira o olhar da miserabilidade humana e a coloca no Cristo justo e em seu ato justificador. Por esse motivo, não pode haver mérito pró prio no ser humano. Que m assim pro cede aumenta sua culpa e sua angústia e desespero no pecado. Nesse sentido, o único trabalho que compete ao ser humano, quanto à obtenção da salvação, é confiar nos méritos de Cristo pela fé . D essa forma, cabe aos seres humanos deixarem-se presentear pela graça divina, ou aceitar que se é aceito. 2. LuzNAS TREVA S
Luz na Bíblia tem o sentido de alegria, bênção e vida, bem como de prese nça e favor de Deus. Mas tem também o sentid o de rev elar o grande amor de Deus àqueles que não poderiam ter acesso ou compreender esse amor. Por isso, Jesus disse: “Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8.12; 9.5). Paulo refere-se à luz como a capaci dade que o ser h umano recebeu de andar de form a corre ta, porque tem esta presença de Deus em fo rma de luz, da seguinte forma : “Porque Deus, que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem res plandec eu em no ssos corações, p ara iluminação do conhecimen to da glória de Deus, na face de Jesus Cristo” (2 Co 4.6). O Servo do Senhor permite aos povos que vivem em trevas a terem
acesso à luz provinda do Calvário (Is 42.6; 49.6), de modo que todos os
PROMESSAS A RESPEITO DO MESSIAS COMO SERVO SOFREDOR (49.1-53.12)
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povo s e extrem idad es da te rra tenham ac esso à salvaç ão de Deus. Ele tem poder para libertar da prisã o do pecado e da escu ridão espiritual os que estão presos (Is 42.7). Portanto, é uma obra da graça de Deus permitir o ser humano andar na sua luz, ainda que sejam nos lugares mais remotos do universo. 3. P oderoso em palavras
Apesar de sua aparente fraqueza, como descrita pelo profeta, o Servo do Senhor teria habilidade com palavras (Jo 8.51). Elas têm poder trans formador no ser humano e nas estruturas pecaminosas, ocultas, obscuras e rebeldes (Is 49.2; Mt 7.28-29; Hb 4.12). Suas palavras trazem alívio ao cansado (Is 50.4), pois brotam diretamen te de sua depen dência do Pai (Jo 15.15). Suas palavras presentes nós, vitoriosa, seus discípulos, certeza de tem respostas de or ação (Jo 15.7) eem de vida porquesãoa asua Palavra poder. Teve poder para criar todas as coisas (“ [...] disse Deus” Gn 1.3) e tem poder de sustentar todas as coisas, como escreveu Paulo: “Ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por ele” (Cl 1.17). Logo, suas palavras em nós fazem tod a a diferença para um a vida tri unfante. A Palavra de Deus refere-se àquilo que se ouve de Deus: quer através do estudo e meditação na Bíblia, que é a fonte principal de sua voz, quer através do ensino e pregação de outros, da voz interior do Espírito Santo, de amigos e inimigos, das circunstâncias, dos sofrimentos, etc. Basta ape nas estar atento à Palavra com o um presente a todos . 4. C risto , o S ervo S ofredor
Haveria incredulidade acerca daquilo que Jesus de fato seria; Ele teria uma srcem humilde, e as circunstâncias seriam desfavoráveis. Ele, no entanto, experim entaria tristezas, inj ustiça, desprezo e morte. Seria consi derado transgressor; contudo, suas dores teriam caráter expiatório. Ele fi caria manso, calado e mudo e, assim como a ovelha, aceitaria seu destino ao morrer voluntariamente, sua alma seria uma oferta pelo pecado; mas, ao final, Deus o aceitaria com alegria, Ele seria muito exaltado, e os reis se submeteriam a Ele, e Ele t eria um R eino eterno. Ele não veio para ser servido, mas para servir (Mc 10.45). Esse é um dos melho res exemp los que Ele deixou para nós, poi s a característ ica prin cipal de um servo é não ser nem querer ser Deus (Fp 2.6), não estar no comando de nada, não tomar decisões, mas em tudo obedecer ao Senhor que está sobre tudo e todos. Foi assim que Jesus fez, voluntariamente se entregou, “humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte e morte de cruz” (Fp 2.8), a cruz, que era a mais terrível, humilhante e vil m aneira de morrer, destina da aos crim inosos m ais cruéis e perigosos. A agonia e o
sofrimento do supliciado à cruz é uma das mais horrendas. Mas foi justa-
ISAIAS: E is- me aqui, Envia-me a mim
152
mente com essa morte que Ele pagou o preço de nossa eleição, redenção e justificação. II - O
nosso
P ecado L evou sobre si
1. A VILEZA DO PECADO “Ele foi feri do pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniqui dades” (Is 53.5). Sobre Ele caiu a iniquidade de todos nós (v.6). Foi do agrado de Deus que ele sofresse pela expiação do pecado (v.10). As iniqui dades dos injustos Ele levou sobre si (v.l 1). Lev ou o pecado de mu itos, foi equiparad o aos transgress ores em bo ra nunc a hou vesse transg redido (v. 12). Tudo isso para que os desgarrados, que, assim como ovelhas, estavam se desviando do c aminho (v.6) , pudessem encontrar o perdão, a reconciliação, a redenção, a cura e a salvação. Foi por isso que João Batista exclamou: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29). Mas para e ntend er o que é o pecado e a grandeza do sacrifício de Cristo, é preciso conceituá-lo corretamente. Na igreja cristã, pecado normalmen te é concebido como falha moral e ética, como errar o alvo proposto por Deus, mas seu conceito vai muito além disso. Pecado é o estado de aliena ção (separação) entre Deus e a criatura, presentes na expulsão do paraíso, na hostili dade entre o ser humano e a nat ureza, na con stant e perversão da imagem de Deus no ser humano (Rm 1.22 -25) , transformand o-a em ídolos, na procura de desejos distorci e autop rejudiciais.1 O pecado, portanto, é o ato pessoal de afastamento dedos Deus, trazendo angústia e uma propensão à tragédia sobr e o ser humano, sem que ele nem m esmo tenha con sciência clara desse estado. Ele precisará da “luz dos gentios” (Cristo, conforme Is 9.2; 42.6; 49.6) iluminando sua mente para discernir sua condição, e confiando em C risto para resolver essa sit uação (Rm 1.17) e encontrar paz (E f 2.1 6). O que caracteriza o pecado não é meramen te a desobediência à Lei, mas 0 fato de os atos pecaminosos expressarem a alienação (inimizade, confor me Ef 2.1 6) do ser hum ano em relação a Deus ( 2 Co 5.18) , ao próxim o (Mt 5.24) e a si mesmo. A única forma de vencer a alienação é aplicar a Lei do amor em tudo, a qual, conforme Jesus disse, é o resumo da Lei. Assim, o pe cado é ven cido aplic ando-se co ntra ele as palav ras de Jesus; e a an gústia é vencida no amor, como escreveu João: “No amor, não há temor [medo, angústia]; antes, o perfeito amor lança fora o temor; porque o temor tem consigo a pena, e o que t eme não é perf eito em amo r” (1 Jo 4.18). Portanto, para resolver a questão da separação e da inimizade (aliena ção) contra Deus, é que Cristo padeceu “havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, [e qu e] po r meio dele reconciliasse consigo m esmo to-
1 TILLICH, Paul. Teologia sistemática. 5a ed. São Leopoldo: Sinodal, 2005. p. 458.
PROMESSAS A RESPEITO DO MESSIAS COMO SERVO SOFREDOR (49.1-53.12)
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das as coisas, tanto as que estão na terra com o as que estão nos céus. A vós também , que noutro te mpo érei s estranhos e ini migos no entendimen to pe las vossas obras más, agora, contudo, vos reconciliou no corpo da sua car ne, pela morte, perante Dessa ele, vos apresentar e inculpáveis” (Clpara, 1.20-22). forma, o que santos, reata o eserirrepreensíveis, hum ano pecado r com o Deus santo é a reconciliação efetuada por Cristo na cruz, conforme escreveu Paul o: “Porque, se nós, sendo inimigos, fomos reconcil iados com Deus pela morte de seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, sere mos salvos pela sua vida” (Rm 5.10; Cl 1.21). Há um aparente e falso senso de injustiça na graça divina, pois Deus resolveu justificar o ímpio pecador através da morte de seu filho, tomando todos iguais e merecedores em Cristo. Deus é um Deus de milagres, e todos ficam contentes com os milagres dEle que invertem a ordem da natureza, por exemplo: quando cura o câncer, ressuscita os mortos ou anda sobre as águas; mas parece que todos se chocam quando se afirma que Deus perd oa e justifica o pecador, o injusto, o indigno, a escória. Mas não só isso, Ele per mite que tal tipo de pessoas sejam abençoadas e prósperas espiritualmente quando reconhecem sua soberania e aceitam a sua salvação. Desse modo, parece que Ele está desorganizando aquilo que é natural, de que Ele castiga os desobedientes e recomp ensa as pessoas boas. M as pela graça, Ele trata as pessoas más como se fossem boas.2 Por isso, Paulo escreveu que o advento da cruz e suas consequências são um escândalo para mentes supostamente santas e puritanas, “nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo” (1 Co 1.23; G1 5.11). Todavia, essa inversão divina é um grande milagre ope rado por Jesus na cruz. E o maior deles, que se chama a graça do evangelho, um favor imerecido em favor de todos nós. Sendo justos ou injustos , santos ou pecadores, todos são alcançados, desde que se arrependam. 2. O SACRIFÍCIO SUBSTITUTIVO
Deus instituiu a substituição pela culpa do pecado no Éden, ao matar um animal para cobrir a nudez do homem. Ele determinou que Cristo es mag aria a cabeça da serpente, apontando para sua morte substi tutiva. Todo o ritual religi oso do An tigo Testa mento u tilizava animais para expiar a cu l pa, ou seja, o inocente morria pelo pecador; todo esse sistem a apontava profeticamente para o sacrifício perfeito e completo de Cristo (Jo 1.29). Dessa forma, Ele foi o perfeito cumpridor da Lei, pois sua morte atendeu todos os seus requisitos, com o nunca hav ia sido fe ito até então. Seu sangue foi derramado de uma vez por todas como sacrifício eterno. Ninguém po deria resolver a questão da maldade do pecado se não foss e um ser perfeit o, separado e incontaminado do pe cado.
2 ORTLUND, 201 2, p. 439 -440 .
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ISAIAS:
E is- mf. aqui, E nvia- me a
mim
Portanto, o sacrifíc io previsto no Antigo Testamento era o oferecimento de uma vida inocente em lugar de uma v ida culpada, uma morte não m ere cida, porém aceita diante de Deus. O sacrifício de Cristo teve esse mesmo sentique do,merecidamente um grande fav deveriam or imerecido da Mas parte de Deus para com os pecad res sofrer. Cristo, o Servo Sofredor, fez o essa substituição, o santo pelos pecado res, o ju sto p elos injustos. Assim, os sacrif ícios do Antigo Testamento tinham sua transitori edade temporal, m as o de Cristo teve validade etema, como está escrito em Hebreus: “mas este, havendo oferecido um único sacrifício pelos pecados, está assentado para sempre à destra de Deu s” (Hb 10.12). Vários versículos de Isaías 53 apontam para o caráter substitutivo do sacrifício de Cristo, os quais são: “tomou sobre si as nossasenfermida des”; “nossas dores levou sobre si”; “foi ferido pelas nossas transgres sões; “moído pelas nossas iniquid ades” ; “o castigo [...] estava sobre Ele”; “pelas suas pisadura s” ; “levou sobre si o pecado de muitos”. Todas essas afirmações apontam para o fato da inocência do Servo Sofredor, de seu não merecimento de tamanho sofrimento, de sua voluntariedade, de sua liberali dade, mas especialmente que aquilo que era nossa identidade e des tino cai u com pletamente sobre Ele . A culpa que o M essias carregou sobre si, que o feriu e o esmagou, não era dEle. Ele foi dilacerado por nossos pecados. Nós pecam os, mas foi Ele que m receb eu o ca stigo, e isso nos restaurou diante de Deus. Enquanto Ele foi ferido, nós recebemos cura. Assi m, Jesus tom ou-se separado (alienado) de Deus para que nós fossemos reconciliados (desalienados dEle) com Ele. Paradoxalmente, aquEle que é o Supremo Senhor e Juiz foi levado a um tribunal e condenado; aquEle que é o Deus Vivo e a fonte da vida foi levado à morte; aquEle que criou o mundo e deu vida a todas as criaturas foi morto por essas criaturas; aquEle completo em majestade e glória e objeto do amor e adoração dos an jos foi escarnecido e desprezado; aquEle que é perfei tamente bom e é amor sofreu a mo rte mais cruel ; aq uEle que é infinitamente amado pelo Pai foi deixado em agonia indizível sob a ira de seu próprio Pai; aquEle que é o Rei dos céus, que tem os céus po r seu trono e a terra por estrado de seus pés, foi encerrado n a prisão de um sepulcro.3 Mas justame nte esse meio substitutivo foi o que Deus usou para a salvaçã o de todos nós pecadores. Somente um sistema divino de substituição poderia remover as con sequências e a culpa do pecado no ser humano. Com base nisso, Ortlund afirma: “Toda nossa culpa deve ir para Cristo, e toda a no ssa jus tiça deve 3EDWARDS, Jonathan. A Sa bedo ria d e Deu s na Mor te Sub stitu tiva d e Cristo. Disponível em:
Morte Substitutiva de Cristo >. Acesso em: 27 mar. 2016.
PROMESSAS A RESPEITO DO MESSIAS COMO SERVO SOFREDOR (49.1-53.12)
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vir de Cristo.”4 Num a via de m ão dupla, nós temos a oferecer nossas misé rias, Ele oferece per dão, graça e a mor. Po r isso, “a cruz não tradu z um ideal religi oso imaginário; ela representa o poder, ela funciona.” Ela dá a v itóri a porque levouPor o autor da vida, levando-o, trazos consigo toda acomo vida para a humanidade. isso, Ele salva epecadores, trata transgressores seus amigos, coloca-se diante do Pai intercedendo pelos que os levaram à morte (inclusive eu e você). Portanto, Ele é o único que tem o direito de justificar os ím pios.5“Levando ele m esmo em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro, para que, mortos para os pecados, pudéssem os viver para a justiça ; e pelas su as feridas fostes sarado s” (1 P e 2.24 ). III - S eu Sofrimento , nossaCura 1. Osofrimentos SOFRIMENTO Os do NECESSÁRIO Servo Sofredor foram indescritíveis. Entretanto, foi necessário que Ele sofresse assim para curar todas as e nfermidades e doen ças do corpo, mas especialmente as feridas da alma humana, ocasionadas pelos pecados individuais e pela agressividade, violência e maldade de uns para com os outros, situações estas que ferem e causam dores, angústias e desesp ero horrendo s. Ele sofreu ferim entos lancinantes nas costas e na face e suportou afrontas e cuspes malvados em seu rosto (Is 50.6; Jo 19.1; Mc 15.17; Mt 27.26); Ele foi feri do de Deus e oprim ido (Is 53.4) . Os so frime n
tos suportou rost o a ficou pontoquieto, de as pessoas ficar em pa s masque diante dEle desfiguraram (Is 52.14); ao serseu oprimido, ao ser ameaçado de morte como um cordeiro, permaneceu indefeso (Is 53.7). Seu silêncio atesta para o fato de que, em seu coração, não havia maquinação de vin gança nem q ualquer maldade, confirmando sua i nocênci a. As palavras por Ele proferidas foram apenas as necessárias para confirm ar sua divinda de: “tu o dizes ” (Mt 27.11), “Pai, perdoa- lhes, porqu e não sabem o que fazem ” (Lc 23.34) e as de cuidado para com sua mãe e para com o discípulo amado João (Jo 19.26,27). Certamente, a morte do Servo não era a vontade do Deus da vida; mas sua vontade de que seus servos não fossem mais dom inados pelo poder da morte e do pecado é o motivo pelo qual Ele permitiu sua morte para gerar vida. A morte é a lógica que opera no mundo sem Deus. Para inverter essa lógica, o Servo morre para trazer a vida. O sofrimento não era dEle. Ele não o merecia, porque eram nossos pecados. Ele nos substituiu na cruz. Deus havia transferido toda a nos sa culpa e iniquidade para Ele, que morreu pelos nossos pecados. Assim, 4 OR TLUND , 201 2, p. 442.
5 ORT LUND , 2012, p . 452 .
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ISAIAS: E is-me aqui, E nvia- me a mim
não há como construir justiça-própria, ainda que imaginária. Achar que a superioridade moral nos salvará, que somos melhores do que os outros pecadores, isso não consegue nos compensar ou trazer méritos diante de Deus, apenas piora nossa condição (Is 64.6), porque todos pecaram (Rm 3.23) e continuam ente pecam (Rm 7).6 Portan to, a salvação é receb ida de mãos vazias, apenas com fé. Quem traz algo na sua mão corre o risco de afrontar o sacrifício perfeito. Quem não aceita essa condição, achando-se moralm ente superior e, portanto, merecedor, invalida o extenuante , im ere cido e completo sacrifício de Cristo, sacrifício este que ninguém pode ou poderia pagar, somente Ele. O sofrimento de Jesus tem a ver com sua capacidade de tomar “sobre si nossas enfermidades e as nossas dores” e “pelas suas pisaduras [sermos] sarados”, fato este que aponta para a completude da salvação que há em Cristo, que não apenas nos salva de nossos pecados e nos perdoa, mas também que nos assegura saúde física e emocional. Não necessariamente deixamos de sofrer ou de ter enfermidades, dores e fraquezas , mas há um a cura substancial dessa situação de precariedade humana, há uma restaura ção da mente e do corpo em Cristo, logicamente alcançável em sua com pletude e plenitude somente na vida eterna.
2. H omem de tristezas e sem formosura O profeta diz que não havia form osura nEle, ou sej a, nada nEle ch am a va atenção, a não ser o fato de Ele sempre agir com amor e misericórdia, fato este que cau sou inveja e ciúmes das autoridades, despertou o pio r do ser hum ano e o levou à morte . Em contraste com sua grandeza e capacidade de gerar vida, o profeta se ref ere a Ele como “raiz de uma terra seca” (Is 53.2), fazendo m enção ao lugar de onde Ele viria, ou seja , Israel não tinha m ais condições nen humas de ser uma referência positiva para o plano salvífico de Deus, mas a raiz de Jessé, a santa semen te (Is 11.10; 6.13), tinha vida e era a pró pria vida de Deus que aniquilaria o pod er da morte e do pecad o.
IV - S ua M orte, nossa S alvação 1. S u a rejeição, nossa aceitação O profeta descreve o Servo Sofredor empregando linguagem que ca bia aos leprosos excluídos do convívio da c om unidade e abandonados, que ficavam a mercê da sorte. Jesus, assim como os leprosos, sofreu uma das mais terríveis e amargas dores, a dor da solidão e do abandono, de alguém que foi rejeitado e de quem os homens escondiam o rosto. Ele não estava enfermo, mas o mundo estava e, enquanto todos o viam como desprezí-
6ORTLUND, 2012, p. 447, 453.
PROMESSAS A RESPEITO DO MESSIAS COMO SERVO SOFREDOR (49.1-53.12)
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vel, Ele levava sobre si nossas dores e tudo que há de errado em nós. Ou seja, Ele não se baseava nas atitudes do ser humano para com Ele, mas se fundamentava na m issão que Ele tinha a cumprir e no am or imerecido que tem po r todos nós . ADeus, humanidade o tratou compecado d esprequzo enaestava cruz esobre sent Eiule. o abandon o do próprio po r causa do nosso A sua pregação não teve muito crédito entre os seus conterrâneos (Is 53.1) , pois foi contrária à hipocrisia e à falsidade dele s. P or isso, tomou -se desprezível pelas autoridades religiosas, levando-o a ser injustamente in sult ado, açoitado, cmcificado e, consequentemente, morto. A rejei ção que Israel lhe deu não seria suficiente para ofuscar o brilho de sua glória. Sua missão messiânica, tanto no início de seu minist ério terreno quanto no fu turo, era reconciliar Deus e o hom em e levar Israel (e toda a humanidade) de volta para a casa do P ai, ou seja , reconciliar t odos em todo o mund o com Deus e, assim, providen ciar uma tão grande salvação (Hb 2.3). Não se esperava muito dEle. Ele era o Jesus de Nazaré. Todos o conhe ciam com o “o filho do carpinteiro [José]” (Mt 13.55). Q uem daria credito ao que Ele diria? (Is 53.1), um a pergunta retórica que se re sponde com um “ninguém”. Se estivéssemos lá, provavelmente também o desprezaríamos e, ainda hoje, o desprezamos quando nossas atitudes, palavras e pensa mentos não se alinham com os de Cristo, ou quando desprezamos seus cuidados para conosco e confiamos em algum ídolo que criamos para nos trazer segurança. 2. A ABRANGÊNCIA DE SUA MORTE Nessa admirável profecia, o profeta prevê o extraordinário alcance da mensagem messiânica que seria absolutamente universal e poderosa. Por tanto, pelo caráter extraordinário desse poder, o castigo que nos traz a paz estava sobre Ele (Is 53.5); pela transgressão do seu povo, Ele foi morto (v.8); Ele derramou sua alma na morte (v.12) e, ao ver o fim do seu tra balho, ficou satisfeito com tantos resgatados da sombra da morte (v .ll). Sua morte foi tão completa e perfeita que o profeta afirma que, ao final de todo o seu sofrimento, olhará para o que foi feito e ficará satisfeito, pois conqu istou a sal vação e a reconcili ação da hum anidade perdida com Deus. Cristo sofreu toda a dor que a humanidade deveria sofrer por causa do pecado, mas, ao experimen tar a totali dade desse sofrimento, o Messias destruiu o poder que o pecado tinha sobre o hom em e reconduziu todas as pessoas novam ente a Deus. É im ensurável e extraordinário o alcance dos sofrimentos e da morte do Servo Sofredor. Essa é a garantia de nossa cura, transformação, libertação, salvação e de que, um dia, estaremos para sem pre com Ele. Portanto, a morte de Cristo é motivo de jú bilo para aqueles que compreendem sua abrangência. Estes se tomam como crianças (Mt
18.4) - entusiasmados e feli zes - e começam a cantar em grati dão por tã o
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ISAIAS:
E is- me
aqui,
E nvia-me
a mim
grande salvação (Hb 1.1-2; 2.3). Tendo em vista essa grande alegria dos salvos, o profeta afirma por duas vezes esta realidade em seu livro: “As sim, voltarã o os resgatados do S enhor e virão a Sião com júbilo, e perpétua alegria haverá sobre a sua cabeça; gozo e alegria alcançarão, a tristeza e o gemido fugirão” (Is 35.10; 51.11) O grande valor e a abrangência da morte de Cristo foram celebrados por Pedro nesta magnífica passagem: “Sabendo que não foi com coisas cor ruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver que, por tradição, recebestes dos vossos pais, mas com o precio so sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado, o qual , na verdade, em outro te mpo, foi c onhecido, ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado, nestes últi mos tempos, por am or de vós ; e por ele credes em Deus, que o ressu scitou dos m ortos e lhe deu glória, para que a vos sa fé e espe rança estivessem em D eus ” (1 Pe 1.18- 21). A mais extraordinári a possibilidade para o ser humano com a m orte de Crist o é que agora todos, atravé s dEle, têm acesso a Deus, podendo expe rimentar não somente seu amor e cuidado, mas também uma comunhão e intimidade restauradora e curadora, conforme afirmou o autor aos He breus: “Tendo, pois, irmãos, ousadia para en trar no Santuário, pelo sangue de Jesus, pelo nov o e vivo caminho que ele nos consagro u, pelo véu, isto é, pela sua carne, e tendo um grand e sa cerdote sobre a c asa de Deus, ch eg ue mo-nos com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé” (Hb 10.19-22). Esse acesso e essa proximidade a Deus expulsam o desprezo pela vida e permitem a retomad a do am or por e la,7 apaziguando a c onsciência culpad a pelo pecado, traz endo alívio e paz à alma conturbad a co m as inqu ietude s da vida e permitindo consolo e conforto aos que sofrem marginalizados com falta de acesso a bens extremamente necessários à vida. Além do benefício que a humanidade teve com a morte de Cristo, que agora tem acesso livre a Deus, a natureza também, afetada e prejudicada pelo pecado, teve a sua reden çã o ga rantida pela m orte de Cristo. Certamen te que a natureza, da forma como a vemos hoje, será completamente ani quilada (2 Pe 3.12), sendo destruída pelo homPorém em, , ela ge anto me pelo mom ento de esua, por redejánçestar ão (Is 33.9; Rm 8.22-23). enqu isso não acontece, cabe a nós unirmo-nos ao Espírito Santo que renova a face da terra ( SI 104.30) e cuidarmos d a criação (Gn 1.28-29) , assim com o Deus ordenou d esde o princí pio, pois cada gesto de agressão contra a natu reza é um a agressão co ntra o Espírito Santo que a man tém viv a e habit ável.
7 MOLTMANN, Jurgen. O Espírito da vida: u mapne umatologia integral. 2a ed. Petrópolis:
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ISAIAS EIS-ME AQUI,
ENVIA-ME A MIM
Isaías foi um dos profetas mais celebrados devido a sua profundid ade teológica. Por seu texto ter com o tema principal as previsões da vinda do Messias e enfatizar a Salvação pela Graça, é consid erado o evangelista do Antigo do Testam ento. Falar sobre esse profeta palaciano não é uma tarefa fácil, já que tinha um vasto conteúdo literário, porém o Pr. Claiton Ivan Pommerening, tomando o cuidado de equilibrar fé e razão, consegue trazer um estudo rico, abrangente e edificante, contextualizando os textos escritos há mais de 2700 anos aos dias atuais. São 13 capítulos que lhe farão entender um pouco mais a vida e obra desse grande profeta de Deus e, com certeza, edificarão sua vida.
Claiton Ivan Pommerening é graduado em Ciências Contábeis pela Fundação Universidade Regional de Blumenau e em Teologia pela Faculdade Evangélica de Teologia de Belo Horizonte. Possui especialização em Teologia e Bíblia pela Faculdade Luterana de Teologia e é Doutor e Mestre em Teologia pela Faculdades EST. Atualm ente é diretor da Faculdade Refidim e do C olégio Evangélico Pr. Manoel G. Miranda; vice-presidente da CEEDUC - Ass ociação C entro Evangéli co de Educação Cu ltura e Ass istência S ocial em J oinville (SC); e ed itor da A zusa R evista de Estudos Pentecostais da Faculdade Refidim de Joinville (SC). Ministro do Evangelho, co ngreg a na Asse m bleia de Deu s de J oiville (SC). IS BN
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