sore o mor
Goethe retratado por Johann Heinrich Wilhelm T ischbein durante sua estada na Itália de 1786 a 1788.
Goethe retratado por Johann Heinrich Wilhelm T ischbein durante sua estada na Itália de 1786 a 1788.
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sobre o amor
Lendro Konder
Copyright © Leandro Konder, 2007 Copyright © Boitempo Editorial, 2007 Coordenação editorial: Editores: Revisão: Diagramação: Tratamento de imagens: Capa:
Ivana Jinkings Mariana Echalar Ana Paula Castellani João Alexandre Peschanski Marcela Vieira Isabel Junqueira Daniela Di Giovanni Silvana Panzoldo Daniela Di Giovanni David Amiel sobre Leitura interessante (Érdekes olvasmány ), 1891, de Gyula Kardos Galeria Nacional Húngara
Produção:
Ana Lotuo Valverde e Marcel Iha
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ. K85s Konder, Leandro, 1936 Sobre o amor / Leandro Konder. São Paulo : Boitempo, 2007. Il. (Marxismo e literatura) Contém dados biográfcos Inclui bibliografa ISBN 9788575590942 1. Amor. 2. Erotismo. I. Título. II. Série. 071540.
CDD: 177.7 CDU: 177.6
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou reproduzida sem a expressa autorização da editora. Este livro atende às normas do novo acordo ortográfco. 1ª edição: maio de 2007 1ª edição revista: dezembro de 2009 1ª reimpressão: setembro de 2011 BOITEMPO EDITORIAL Jinkings Editores Associados Ltda. Rua Pereira Leite, 373 05442000 São Paulo SP Tel./ax: (11) 38757250 / 38726869
[email protected] www.boitempoeditorial.com.br
Sumái
Introdução – o e o mor?......................................................................................... Sócrtes, O bnete e o mor pltônico ................................................ 13 Mrx: os revolcionários tmm mm ...................................................19 Goethe: vender lm, ms não entregál ............................................. 27 Cmões e plrlidde d elez feminin............................................... 35 Forier: trções cósmics mito hmns ............................................ 41 Ovídio: poet sem dinheiro só dá plvrs ............................................... 47 Simone de bevoir: o essencil e o contingente ................................53 borges e o mor à litertr .............................................................................59 Hegel, pixão se enloecid..............................................................63 Fred, tesão e ternr ...........................................................................................69 Jco boehme, o spteiro místico ................................................................. 75 Emily Dickinson: minh cs, me niverso ............................................. 81 Ros Lxemrgo, militnte e eri ser feliz .............................87 Heine: poesi contr o exílio e doenç ............................................... 93 Flert e mr montnte d rrice ...................................................... 99 Gimrães Ros, o mor, o sertão e o dio ..........................................103 Cervntes: Sncho e o ftro d cvlri ...........................................109 Shkespere e s trlêncis do mor ....................................................115 Stendhl: escreve, mo, vive ....................................................................121 blzc e o direito ds lzins o mor .......................................127 Dostoivski, mldde e o mor ...................................................................135 Thoms Mnn: mr vid sem ignorr morte ...............................143 Drmmond: “So e não so, ms so” ..........................................................149
Concluindo, reabrindo ...................................................................................................... Biograas sucintas ................................................................................................................... Leituras sugeridas .................................................................................................................... Bibliograa .............................................................................................................................. Obras do autor ........................................................................................................................ Nota biográca .....................................................................................................................175
Induç O quE é O aMOR?
Ese liv cmeça cm um ex “clássic”, O Banquete de Pla. Nele Sócaes cnvesa cm amigs sbe am. É uma expeiência que nós pvavelmene já vivems. Numa escala mdesa, sem banquee, quem é que nunca baeu um pap lsóc cm amigs num ba, mand um chpinh? Supnh ambém que, nessas casies, s amigs alem de aes, de ames. P que n? Pde se aé que alguém n gup enha bsevad que em “am” pssui, anal, uma elasicidade impessinane. o que esams queend dize quand amams a nss inelcu que deeminada pessa ama ua? Esams ns eeind a ascíni eóic u à enua depuada? alams de um am aen de velhs amigs, d cainh ene ims, ene pais e lhs, ene avós e neinhs? ou alams d aebaamen ds namads, da aaç iesisível que senem um pel u (u uma pela ua) dis (u duas) hmssexuais? Qualque inensicaç n “quee bem” a ua pessa signica que a amams? Quand exaamene am passa a se paix? o que as pessas senem p seus animais de esimaç é am? Exise uma elaç eeiva ene a pundidade d senimen ams e a ça da aaç sexual? Ainda hje a palava “am” se beneicia de um clima que lhe é avável. Muia gene a usa cm cea malícia; alguns a empegam paa aegimena adeps na dinâmica de paids u Igejas; e há quem a uilize na publicidade paa seduzi cnsumides. Cnud, peig da banalizaç é pemanene. Ele ns espeia, aguadand uma ba casi paa lança uma “canada” em esil caajese: “Queida, vams aze um amzinh legal?”. também é uma palava a que se ece paa encbi pclamaçes cas, demagógicas.
Vale a pena ecdams um episódi ciad pel hisiad rbe Dann. Em 7 de julh de 1792, n auge da revluç ancesa, um bscu depuad cnsevad chamad Adien Lamuee ez um discus veemene, n qual cnclamava seus clegas a ama uns as us. Cnciu-s a se abaça e se beija. o eei imedia de sua ala i supeendene. tds cnaenizavam e chavam de emç. As cnadiçes paeciam supeadas. As divises haviam sid anuladas. Lg, pém, s anagnisms enaam, e as discódias essugiam. E cni nu a pega g 1. tal cm a ajeóia da humanidade, as caminhadas que azems, as expeiências que vivems e cada um de nós sms sempe mais cnadi óis d que csumams ecnhece. Nsss senimens, sbeud s mais es, n pdeiam ugi à ega. Sabems que n é pecis e diplma de ilsa paa lsa. td mund já passu p siuaçes nas quais pensu e disse cisas lsócas. Alguns cnceis, sbeud s mais absas, pesam-se mui a discusses lsócas. Ese liv gia em n de um cncei vas e um an vag: cncei de am. É cla que am, pela ça e pela inensidade cm que “invade” a alma ( psiquê , em geg) d sujei apaixnad, jamais pdeia se cnsidead “um an vag”. Aqui, pém, n esams ns eeind a senimen vivid e sim a cncei, à ideia d am. o am, a que ud indica, é senimen mais e de que é capaz a psiquê . Ele csuma apela e aasa us senimens cm ele em seu caminh. As sensaçes que pvca pdem se delicisas, mas ambém pdem se dlsas, assusadas. Cm ele, caminham meds e espeanças. Cm ele, caminha ambém um pesisene ceicism. ou, que é pi, um slee cinism. o esci alem Jhannes Mai Simmel lançu há algumas décadas um liv de escass val lieái iniulad Amor é apenas uma palavra 2. P casi d lançamen, um cliene que lheava vlume na livaia – mas n cmpu – cmenu: “o que eu gsaia de sabe é p que essa palava – pecisamene ela – gea anas cnvésias”. 1
2
rbe Dann, O beijo de Lamourette (ad. Denise Bmann, S Paul, Cmpanhia das Leas, 1990). Jhannes Mai Simmel, Amor é apenas uma palavra (ad. Ai Blausein, S Paul, Nva neia, 1993).
É a idenicams am em esad pu; apaenemene ele peee aua misuad. Cada misua é um cas, e cada cas em suas singula idades. os apaixnads, s aebaads pela paix, s levads a ce que es send cnduzids p uma ça iesisível. Há eóics que chegam a ala n am cm uma ça cósmica. o pea Dane Alighiei, n úlim ves de sua Divina comédia , aibui a am pde de mve Sl e “as uas eselas” (“L’am che muve il sle e l’ale selle”). E uie, um ds aues cmenads nese liv, susenava que am vivid na escala humana ea a mesma aaç que equilibava s ass em suas óbias, cncaenand seus mvimens. Essa gacisa cncepç “cósmica” d am, cnud, em seus pblemas. Uma das diculdades que ela az paa seus adeps esá n agavamen das cndiçes desaváveis a ecnhecimen de seus limies. Se eu me idenica cm uma ça cósmica, meus limies passa a se s limies dela (u minha ala de limies passaá a se a ala de limies dela). A ça cósmica, p sua pópia naueza, é ilimiada, que dize, seus limies só pdeiam se esabelecids p ua ça cósmica. o csm abange e disslve em si as vicissiudes humanas, as cningências hisóicas. A pega cana nele, mais e ds nsss senimens esaá culivand uma anasia de nipência que na inviável paa nós qualque dimensinamen cnvincene de nssa aculdade de ama. o discus péic sbe am n é pejudicad p essa ênase, p essa desmesua. o pea espanhl Anni Machad já disse que um puc de exage az bem às palavas de am (“A las palabas de am les siena bien su pqui de exageación”). Enean, quand pevalece a pecupaç cíica e lsóca, dependend da dieç em que se encaminha a cnsuç d cnhecimen, exage da cncepç cósmica d am pde causa ansns em nssa cmpeens de nós mesms. De a, nssas ajeóias humanas n s calculáveis, pevisíveis, cm deslcamen ds ass em suas óbias: s mvimens ds hmens passam p mmens em que se mam decises, se azem esclhas e se assumem iscs. os sees humans se denam cm cicunsâncias ca suais, em que s çads a impvisa. E am pde lhes inspia pçes bas u más, lúcidas u equivcadas.
As nmas usuais nesses cass ambém n eecem gaanias de ace. Um pecei cis, p exempl, ecmenda: “Ama póxim cm a i mesm”. Enean, mesm mais cnvic ds ciss encna diculdades imensas paa segui esse pecei. oganizada em n d mecad, a sciedade hegemnizada pela buguesia impe às pessas que se nem cmpeiivas; cada indivídu é levad a suspeia d “póxim”, a enxega nele um cncene, uma ameaça em pencial. A ecmendaç d am a póxim na-se absaa: cninua a se pclamada n discus, mas é esvaziada de senid n plan da vida. Declaaçes de am pdem se alseadas, insinceas e, mesm quand eias de caç, pdem dece de mal-enendids. Em O mundo como vontade e representação 3, Schpenhaue se cnape a esse pecei e susena que am ( eros ) é “am-pópi”. N basa ama, seni am, paa cnhecê-l sucienemene – quem seia ingênu a pn de peende cnhece sucienemene am? A inensidade d am é impane, mas n deve se cnundida cm slidez e pundidade. tds cnhecems cass de pessas, em geal jvens, que se apaixnam “pedidamene” e dizem que encnaam “am een”, n enan aa-se de um senimen que dua puc. Em que cnsise essa paix que aebaa sujei e pde dua mui u puc, e pde se mais u mens punda? A cnus aumena quand, na enaiva de explica que se passa (u se passu) cm ele, sujei ece a um esquema eóic de ip “deeminisa” e ende a ve desencadeamen das empesades de uma paix cm uma “aalidade”. P mais aebaada que seja, a paix jamais elimina cmpleamene a paicipaç da vnade d sujei. Há mmens de “libedade” n inei d pcess que se ealizam sb e pess de um senimen vivid cm “necessidade”. N pdems alimena a ilus “iluminisa” de que uma ba agu menaç, desenvlvida cm s pdess ecuss da az, mdica panama da cnsciência de pessas aebaadas pela paix. Nem p iss devems cnclui pela al inuilidade d esç cíic, acinal. Anni Gamsci, 3
Ahu Schpenhaue, O mundo como vontade e representação (ad. Ahu M. . Sá Ceia, ri de Janei, Cnapn, 2001).
numa caa enviada a sua cunhada tânia em 5 de dezemb de 1932, dá a ela um cnselh que ambém seve paa nós: “Mesm n ‘ae’ é pecis se ‘ineligene’” (“Anche nell’afe bisgna essee ‘inelligene’”) 4. N exise, cnud, nenhuma eceia paa se “ineligene” n am. A pópia milgia gega, que Max e eud equenaam cm nói enusiasm, n paece dispsa a ns nece indicaçes pecisas sbe esse ema. o menin que alveja s caçes humans cm suas seinhas n ns evela seus ciéis. teicamene am viia paa msa as sees humans cm equiliba a psiquê, cm lida cm a ida a ou ( alter ) sem se alea demais, a pn de pede sua idenidade. Muia gene eme a “avenua” d am e peee enuncia a ela. o pejuíz é gande: cnhecimen da cndiç humana se cm a peda da pssibilidade de vive uma expeiência humana undamenal. N enan, a “aceiaç” da “avenua” ns pe diane de pblemas e iscs cnsideáveis. Cm “aceia” s senimens sem se descaa deles, sem subesima esu de signicaçes que eles ns azem, an quand s vivems pel u cm quand u s vive p nós? E, a mesm emp, cm evia a ilus de se insala numa desmesuada exalaç desses senimens – numa embiaguez u num êxase – que esul aia n abandn das queses que envlvem a ciaç de vales n inei mesm ds aes, quand pensads hisicamene? Sabems que s vales s ciads pela cmunidade. os indivídus s inepeam e lhes d vialidade. Quand s senimens mais inensamene vivids desaam a eex, eles inepelam as pessas, exigind que cmpeen dam melh que esá se passand cm elas e quais esclhas elas pdem aze. N plan da hisóia plíic-culual e n plan juídic, enean, pdems ecnhece u l paa as bsevaçes que ns dispms a aze a espei d am: pdems ecnhece que am desempenha um papel suil a incia s sees humans à busca de um mund melh e mais jus. Se paa s indivídus, n plan subjeiv, am, lh de Ps e Penia, acena cm a pssibilidade de se siua cnscienemene ene excess e a caência, num plan mais abangene (hisóic-scial), segund juisa 4
Anni Gamsci, Cartas do cárcere (g. e ad. Nêni Spinla, 4. ed., ri de Janei, Civilizaç Basileia, 1991), p. 322.
ábi Knde Cmpaa, am desempenha um papel cucial: cabe a ele aua cm a pemanene de apeeiçamen das leis, ds pincípis, ds vales univesais. Cm a de pemanene apeeiçamen da jusiça 5. *** NotA: N pude esisi à enaç de queba um puc ce m pessal que ende a apaece ns exs que abdam emas e queses lsócas. Paa na a leiua mais pazesa, clquei na abeua de cada capíul uma epígae exaída de aues desacads da música ppula basileia. Cm iss, peend hmenagea cmpsies que admi e, a mesm emp, a ece a imagens e ideias, ppcina as leies agmens de uma culua nável pela iqueza (a da MPB), cheia de sugeses, pvcaçes e hum. Suspei aé que em alguns cass há cnexes cuisas ene as epígaes e algum pensamen u maniesaç da sensibilidade ds aues evisiads.
5
ábi Knde Cmpaa, Ética: direito, moral e religião no mundo moderno (S Paul, Cmpanhia das Leas, 2006).
SÓCRaTES, O baNquETE E O aMOR PLaTÔNICO
Levana, sacde a peia e dá a vla p cima. Paulo Vanzolini
Pla esceveu O Banquete 1 pssivelmene n an 385 a.C. D que aa liv? Aga ca eliz p e sid pemiad n cncus de peças de ea selecinadas paa encenaç. Chama alguns inelecuais paa um “ban quee”: uma eeiç cmemaiva, na qual as pessas, eclinadas, cmiam e bebiam cisas nas, cm sábia lenid, e cnvesavam cisas ineligenes, esclhidas cm anecedência. Ene s pesenes, além d ani Aga, es um pess de eóica chamad ed, um médic chamad Eixímac, pea e agedióga Aisóanes e cnvidad mais iluse, que já ea uma celebidade, Sócaes. Sócaes n é nenhum apeciad das bas de Aga, limia-se a admia a beleza d apaz. Quand seu amig Apld encnu de banh mad e sandálias calçadas – cisas que só lhe acneciam mui aamene – e pegunu ande ia, Sócaes esclaeceu: “A jana em casa de Aga” 2. E apveiu paa aasa Apld paa a “bca live”, cm “penea”. P ppsa de Eixímac, s cnvidads decidem que ema d “simpósi” (essa é a palava em geg) seá amor. ed diz que deus d am – Es – é mais anig ds deuses, anig que n em pai. É mais anig d que Cns, deus d emp. Pausânias advee que n se deve cnundi am em sua ves “celesial” 1
2
Pla, O Banquete (ad. Jsé Cavalcane de Suza, 3. ed., S Paul, Abil Culual, 1983, Cleç os Pensades). Ibidem, p. 8.
e em sua ves “ppula”. o Es “ppula” cncena-se mais n desej d cp d que n encan pela alma. Em d cas, ala-lhe cnsância. Acesss de enua, cm acesss de exciaç, quand caecem da dimens “celesial”, duam puc. Aisóanes induz um que humísic na ca de ideias. Sua explicaç da igem d am é iginal e divee mui Sócaes. Segund Aisóanes, exisiam ês gênes: masculin, eminin e andógin. oiginalmene ds s sees humans pssuíam uma só cabeça, mas cm duas aces, qua baçs cm qua ms e qua penas cm qua pés. E inham as “paes pudendas” duplicadas. Enusiasmads cm seus pdees, eles cmeçaam a pepaa uma ebeli cna s deuses. Zeus já havia epi mid uma evla anei e exin a aça ds giganes; n queia epei dásic casig. Paiu, en, s sees humans pela meade. Insegus cm sua nva siuaç, agilizads, s indivídus se abaçaam, caam emblads. Queiam se na um só se. E iss ea impssível. o am em esse caáe: ele az as sees humans a nsalgia de um emp exemamene lngínqu. Dividids, s indivídus desejam se uni. o que eles desejam uns ds us? Aga espnde: desejam que já cnhecem, que já em. Sócaes iniza: su al, desej alua. Su mag, desej mageza. É assim? Aga ecnhece que disse uma lice e ecua. Nesse mmen, Sócaes elaa as demais uma cnvesa que eve cm uma mça chamada Diima, sacedisa de Manineia, que ele chama de “a esangeia”. Ela acha que am desempenha na vida unçes de media ç ene a cnsciência ignane, pimiiva, e pensamen aiculad, cnhecimen sólid. P iss, em alg de demníac. Cm inemediái, am pecisa se espe, e busca que é een e imal na pecáia cndiç humana. tems de hmenageá-l. Ele é mais d que a beleza: é a beleza que cia beleza, que lua, an quan pssível, pela imalidade. Sócaes valiza depimen da “esangeia”, “encenand” sua ala. De epene, um nv glpe eaal: um gup eunid na pa da casa gia que que ve Aga. N cmand ds ecém-chegads esá belíssim Alcibíades, que avisa as cicunsanes que esá cmpleamene bêbad, pém peende cninua bebend em cmpanhia d pea Aga, a quem uxe uma ca de lus paa pô na cabeça “d mais sábi e d mais
bel”3 ds hmens. Só quand esá cand Aga, Alcibíades se dá cna de que cupu luga de Sócaes a lad d ani. Msa-se claamene cnsangid, e desagadavelmene supeendid p encná-l ali. Eixí mac explica a ele que esá acnecend e diz que, end ds cmbinad segui a dem ds leis, ele, Alcibíades, pel luga nde se insalaa, seia póxim a ala sbe am (se cncdasse). Sócaes alaia n nal. Alcibíades cncdu, mas essalvu que cnn ea desigual, pque n âmbi da palava Sócaes vencia d mund. E ea desigual ambém, pque ele esava de pileque, a pass que Sócaes se maninha n eeiv cnle de suas aculdades menais: “[...] quan se lhe manda, an ele bebeá, sem que p iss jamais se embiague” 4. Acei desa, cabe a Alcibíades aze elgi d am e, paa se el à vedade, ceamene deveá ala de Sócaes. N cmeç de sua ala, ele cmena ascíni que Sócaes exece sbe as pessas, emba sua apaência n seja ppiamene a de um sedu (ele paece um “silen”, um daqueles hmenzinhs caecas e de cavanhaque que, d ângul d sécul XXI, pdeiam se cnundids cm diabinhs). Em seguida, az uma naaiva paéica a espei de seu envlvimen ams cm Sócaes. Apendeu a admiá-l n camp de baalha, pela bavua e pela disciç que demnsu na dea sida pels aenienses cna s ebans em Deli, n an 424 a.C. A admiaç cesceu quand viu despendimen cm que Sócaes encau a cncess eia a ele, Alcibíades, de uma medalha da qual ea mais meeced. Cm alegia, cnsau que lós ea sensível à sua beleza. Pecebeu que ese desejava. equenemene cmiam juns, pém, n iníci d cnvívi, Alcibíades eviava siuaçes nas quais s dis pudessem se na amanes. Cm públic uvine na casa de Aga havia cmid bem e bebid mui, a endência nas eaçes ea is. riam quand Alcibíades cnu que enu de váias maneias envlve Sócaes num clima eóic, aaiu- paa sua casa, dmiam juns – e nada! Alcibíades, vaidsíssim Alcibíades, eclamava de Sócaes: “[...] ese hmem cesceu e desdenhu 3 4
Ibidem, p. 43. Ibidem, p. 45.
minha juvenude”5. Ele seia, a seu ve, “um amane dign”6 dele, n enan esava cla que ele hesiava em lhe aze uma declaaç. A hipóese de Alcibíades paa explica a cndua de Sócaes ea a de que lós n amava, n pssuía as caaceísicas de um amane: ele sabia – iss, sim! – aze-se amad. A pai da enada em cena de Alcibíades, ex deixa seus leies “embasbacads” (cm esceveu Lacan a aa da anseência 7). Alcibíades subvee as leis da cidade, vai além delas, mve-se num plan que subdina ud a seu desej individual. Quem é exaamene Alcibíades? Quand passu p Espaa, ele engavidu a ainha, que havia mais de dez meses n dmia cm maid, ei Ágis. Assumiu publicamene seu papel na hisóia, e explicu a oeses que lhe paecea dign dele assegua um n paa sua descendência. N ela que se encna em O Banquete , Sócaes n chega a espnde a Alcibíades, pque uas pessas chegam a lcal e psseguimen d “simpósi” na-se inviável. Quaze ans após sua me, Sócaes havia se ansmad numa espécie de “heói” ds escis de Pla. Cm Sócaes n escevia – peeia cmunica-se almene –, é impssível cmpaa as ideias expsas p um deles cm as ideias expsas pel u. Análises cíicas cuidadsas sugeem, pém, que em seus pimeis livs Pla pemanecia bem mais póxim da pespeciva de Sócaes d que em seus livs mais adis. Sbe O Banquete , ainda há muias dúvidas. Em que medida, a inepea pensamen de Sócaes sbe am, Pla nu-se au de uma cncepç pópia, peculia? A exp s agumens cm que seus pesnagens susenam seus dieenes pns de visa, qual a psiç cm que ele mais se idenica em elaç a am, adand a pespeciva scáica? Qual inelcu ele pivilegiaia? De a, a ada a ideia de que a beleza n se human em alg de sagad, Pla susena que vedadei am é que mbiliza a alma paa
5 6 7
Ibidem, p. 50. Ibidem, p. 49. Jacques Lacan, O seminário: livro 8 – a transerência (ri de Janei, Zaha, 1992).
que ela se deve à pua cnemplaç da beleza, sem se enega à sensualidade cpal. Essa “leiua” esulu n us genealizad da expess “am plaônic”. P u lad, em ambienes mais esis, vem send empegada a expess “am scáic” cm sinônim de “pedeasia” e “páicas hmssexuais”. Essa ambiguidade n legad d Banquete n é casual. Mas ambém n se pde dize que s elemens ambígus diminuam a impância da ba. taa-se de um clássic. É um mac hisóic que n pde se bem cmpeendid se n cnexualizad, is é, se n levams em cna a cise gega, a dissluç das insiuiçes ciadas pela “demcacia” na pólis aeniense. A ideia d gven cleiv, da paicipaç ampliada, deslcava camp de baalha: n se execia mais a cidadania, n se auava pliicamene. Aavam, en, s pblemas ds sees humans na vida pivada. O Banquete , um clássic, esá viv ceca de 2400 ans depis de e sid esci. Pla maca iníci da hisóia da eex sbe am cm um abalh que ns dá um exempl magníc de plualism. Ele eece uma ibuna paa eóics que deendem eias divesas, sem descimina quaisque endências. o súbi apaecimen de Alcibíades chama nssa aenç paa a, bsevad pel esci, de que am, p sua ça, n se deixa insei pacicamene na ama ds cnceis. Alg nele exige sempe sua ealizaç na aç. Alg nele se cncena – se “cndensa” – num senimen bem denid. E alg nele se expande, cesce, envlvend us e divess senimens. É que veems ns aues evcads a segui.
Jenny Marx por volta de 1851. Instituto Internacional de História Social de Amsterdã.
MaRX: OS REVOLuCIONÁRIOS TaMbéM aMaM
N pei d desanad ambém bae um caç. om Jobim e Newton Mendonça
Max e am s duas palavas que dicilmene encnams junas, uma a lad da ua. o que s ligaia, anal? o que eiam a ve, um cm u, eóic miliane da lua de classes e senimen sublime canad pels peas? Que impess pduziiam, eunids num mesm quad, enégic lós babud e deus menin Es, lh de Adie? Só nss emp, ascinad p audácias anicnvencinais e quesinamens (evises) dilaceanes, pdeia descbi ineesse nessa esanha apximaç. Em 1847, Max iiu-se basane quand encnu ecs da eóica cis sbe am em escis de euebach. Paa ele, euebach idealizava e supeesimava s impulss aeivs d se human, inha uma vis cnemplaiva da sensibilidade e n levava sucienemene em cna a aividade ciada de que hmem é capaz, seu pde de ansma-se e ansma mund. Max acusava s “pincípis sciais d cisianism” de pjea n céu a cmpensaç de das as inâmias sidas na ea. Cnsideava essa pespeciva inaceiável, pque enaquecia a cmbaividade, num peíd em que s luades pecisavam ava gandes cmbaes. Quand i da Alemanha paa Pais, cnvenceu-se de que pad maeial da causa da libeaç da humanidade ea pleaiad. A ades d inelecual Max à causa da classe peáia n i uma ades iamene pensada. A paicipa de uma euni clandesina de abalhades, Max emcinu-se cm a sinmia ds peáis scialisas: “[...] a aenidade ds hmens n é nenhuma ase, mas sim vedade paa eles, e a
nbeza da humanidade ns ilumina a pai d[ess]as guas enduecidas pel abalh”1. E iss i esci em 1844, bem anes de O capital . Uma das causas mais pundas da epulsa que Max senia pel capialism esava jusamene em sua cnvicç de que md de pduç capialisa n só induz uma gave “alienaç” na elaç ene sujei-abalhad e u d seu abalh, cm cia um eível “esanhamen” na elaç ds hmens uns cm s us que s na exemamene insegus, hipecmpeiivs, e slapa as bases da slidaiedade humana. Sucada pela eseieza ds hiznes classisas, a cnsciência ds hmens expeimena enme diculdade em cmpeende s pblemas univesalmene, que dize, d ângul d gêne human. A alienaç em suas aízes n abalh, pém abange, cm gande vaiedade de mas, das as aividades d hmem. Ela clca se human em dls cni cm ele mesm, cm seus semelhanes e cm a naueza (inclusive cm que exise nele de ieduivelmene naual). A ppiedade pivada dema ud, leva-ns a ce que hmem ic é aquele que pssui cisas, quand na ealidade hmem “naualmene” ic é aquele que sene cm mais inensidade a necessidade inei de se ealiza aavés de múliplas maniesaçes viais, is é, aquele cuja aividade essencial sensível esá caegada de paix. Essa paix, n senid que Max aibui a em, n se cnunde cm a palava usada cm equência paa designa sus enusiásics, aebaadamene adlescenes, que n enan n ulapassam as neias ds hiznes d individualism. o au de Manuscritos econômico-losócos de 1844 esceveu: “A dminaç da essência bjeiva em mim, a iupç sensível da minha aividade essencial é a paixão”2. Clcada em nssa aividade essencial sensível, univesal e humana, a paix em uma signicaç especial nas elaçes ene hmens e mulhees. A elaç imediaa, naual, necessáia, d hmem cm hmem é a relação d homem com a mulher . Nesa elaç genéica natural a elaç d hmem cm a nau-
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Kal Max, Manuscritos econômico-losócos (ad. Jesus raniei, S Paul, Biemp, 2005), p. 146. Ibidem, p. 113.
eza é imediaamene a sua elaç cm hmem, assim cm a elaç cm hmem é imediaamene a sua elaç cm a naueza, a sua pópia deeminaç natural . Nesa elaç ca sensivelmente claro pan, e eduzid a um actum inuível, aé que pn a essência humana vei a se paa hmem naueza u a naueza [vei a se] essência humana d hmem. A pai desa elaç pde-se julga, pan, cmple nível de maç (die ganze Bildungsstue ) d hmem.3
A elaç d hmem cm a mulhe pe a nu a degadaç a que chegam s sees humans em sciedades macadas pela divis scial d abalh, pela ppiedade pivada. E Max insise: na elaç d hmem cm a mulhe vê-se “aé que pn a caência d se human se nu caência humana paa ele”, que dize, “aé que pn ele, em sua exisência mais individual, é a mesm emp cleividade ( Gemeinwesen)”4. Em ua passagem de Manuscritos econômico-losócos de 1844, Max advee lei: “Pessupnd homem enquan homem e seu cmpamen cm mund enquan um [cmpamen] human, u só pdes ca am p am, cnança p cnança ec.” 5. Nas cndiçes da alienaç, davia, dinhei – a “capacidade exeiizada (entäusserte ) da humanidade ”6 – quanica e elaiviza ud, subvee ds s vales, “ansma a delidade em indelidade, am em ódi, ódi em am, a viude em víci, víci em viude”7. o ex em que Max esclaeceu pela pimeia vez alguns aspecs decisivs de sua pespeciva lsóca já deixava ve em seu pensamen uma cncepç anplógica d am. o am é uma “maneia univesal” que se human em de se appia d seu se cm “um hmem al”, agind e eeind, senind e pensand, descbind-se, ecnhecend-se e invenand-se. A ppiedade pivada cmplica as cisas, dicula an a cmpeens cm a expeiência vivida d am: “o luga de todos s senids ísics e espiiuais passu a se cupad, pan, pel simples esanhamen de 3 4 5 6 7
Ibidem, p. 104-5. Ibidem, p. 105. Ibidem, p. 161. Ibidem, p. 159. Ibidem, p. 160.
ds esses senids, pel senid d ter ”8. E capialism na pblema ainda mais agud. Depis de 1844, Max n vlu a dedica aenç a ema, pque uas queses lhe paeceam e implicaçes mais dieas e mais pundas ns cnis plíics em que se achu envlvid. Quand am apaecia ns escis que esava lend, lós macava psiç. Em A sagrada amília , ele idiculaizu Edga Baue, epesenane da chamada “Cíica cíica”, pque ese se eeia a am cm uma “ciancice” 9. Max usigu a absaividade e inelecualism d u: “o que a Cíica cíica que cmbae cm iss n é apenas am, mas ud aquil que é viv, ud que é imedia, da expeiência sensual, da expeiência real ”10. Max ambém i sacásic em elaç a Max Sine e a u campe da “Cíica cíica” de nme Szeliga. Disse que Szeliga eduzia “ vedadei am sensual à secei seminis [seceç seminal] mecânica ”11. E amu que a elaç ene as eias mui especulaivas de Max Sine e esud d mund eal ea uma elaç análga àquela que exisia ene nanism e am sexual. Max n inha nenhuma endência a uua n plan da eia cm num limb: ele vivia que pensava. A lua plíica, s esuds, as dívidas e as pecupaçes nanceias, nada diss absvia an a pn de azê-l esquece am que inha p sua mulhe, Jenny. Sua cncepç d am cm um ds meis de ealizaç d “hmem al”, cm um ds mds de se human appia-se univesalmene d seu se, n pde se desligada de seu engajamen ams exisencial, que dize, de sua elaç amsa cm Jenny. o jnalisa ancês Piee Duand esceveu um liv ineessane a espei dessa elaç 12. Nele es ecnsiuídas das as pincipais peipécias
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Ibidem, p. 108. Idem, A sagrada amília (ad. Macel Backes, S Paul, Biemp, 2003), p. 31. Ibidem, p. 34. Ibidem, p. 80-1. Piee Duand, La vie amoureuse de Karl Marx (Pais, Julliad, 1970).
e vicissiudes de um gande am, cuja hisóia aavessa numesas cises a lng de mais de 45 ans. Em 1836, as dezi ans de idade, Max apaixnu-se p Jenny, que ea qua ans mais velha d que ele. Pediu-a em casamen, ela aceiu. Cm peendene n inha cndiçes de se casa, s dis ainda am bigads a espea i ans. Jenny azia mui sucess na cidade de tie, ea admiada nas esas e n eia diculdade paa despsa algum peendene ic; ela ea a lha dilea d pimei cnselhei, ba Ludwig vn Mesphallen. Quand aceiu se casa cm jvem lh d cis-nv Hischel Max, a siuaç nu-se insólia que de iníci nivad pemaneceu em seged. Kal Max, niv, i paa Belim. De lá, enviava à niva pemas ansbdanes de cainh, saudade e má lieaua. Vland a tie de éias, cia lizu nivad. Peendia na-se pess de lsa, chegu a dua-se, pém clima plíic na Pússia piu e lós só cnseguiu aanja abalh cm jnalisa. o casamen só se ealizu em junh de 1843. A vida d casal, cm se sabe, i aibuladíssima. Insalaam-se em Pais, nde Max i die de uma evisa que eve um únic núme e acassu. Em dad mmen, acusad de desenvlve aividades plíicas “subvesivas”, i mandad paa a Bélgica. regessu à Alemanha, ediu um jnal em Clônia e acabu se xand em Lndes, cm exilad, p mais de ina ans. Max e Jenny iveam muis lhs: a lha mais velha nasceu em Pais, em 1844, an em que s Manuscritos am escis. A segunda lha, Laua, nasceu em Buxelas, em 1845. Edga ambém nasceu em Buxelas, em 1846, e meu i ans e mei mais ade. Já Guid nasceu em Lndes, em 1849, e viveu smene um an. ancisca, nascida igualmene em Lndes, em 1851, eve mesm desin ágic d im: meu cm um an de idade. Elean, a caçula a quem ds chamavam de tussy, eve mais se: nasceu em 1855 e sbeviveu. Ds seis lhs nascids, anal, sbeviveam apenas as ês mulhees. E das ês – evidenemene macadas pela damáica vida ds pais –, duas (Elean e Laua) viiam mais ade a se suicida.
A vida pivada de Max n i mens agiada d que sua vida pública. Um episódi em paicula i culad duane mui emp e só mais de um sécul depis é que i pssível ecnsiuí-l. Em 1962, hisiad alem Wene Blumenbeg 13 cmpvu que em 1851 Helene Demuh, ciada de Jenny e i ans mais nva d que ela, eve um lh de Max. Engels, el amig, assumiu a paenidade da ciança paa ajuda apavad Kal. o menin iedich Demuh i enegue a uma amília n Eas End de Lndes que cuidu dele às cusas de Engels. iedich viveu aé 1929. Elean, a mais jvem das lhas de Max, chegu a sabe da vedade. o pópi Engels, n m da vida, impssibiliad de ala, abiscu a inmaç numa lusa. Elean chu mui. Depis, esabeleceu cna cm seu mei-im e apeciu mui suas qualidades humanas. Elean maninha cm Edwad Aveling uma elaç amsa mui sida. Um mês anes de se suicida, ela esceveu uma caa a iedich, em que lhe dizia: “Cnside- um ds maies e melhes hmens que já cnheci” 14. Mesm que m da declaaç paeça um an exagead, alvez uncinand incnscienemene cm uma cmpensaç pelas decepçes sidas cm pai e cm amane, a admiaç da meia-im depe em av d enjeiad iedich. Em mei a das as empesades, enenand aguas, ugind ds cedes, pecupad cm as lhas, Max luu a vida ineia pel ae de sua mulhe, Jenny. Há numess esemunhs, divesas caas que cmpvam. Uma caa de Max a Jenny, escia em 21 de junh de 1856, quand ele esava em Manchese, é paiculamene expessiva. Ela ns az alg d viç e da impeusidade de vine ans anes. Max cmeça dizend: “Amadinha d meu caç, n a e esceve pque esu szinh e pque me cansa ca dialgand na minha cabeça emp d, sem que mes cnhecimen diss, sem que pssas me uvi e espnde” 15. Em seguida, ele cna que beija sempe ea dela e snha cm ela. “Beij-e ds pés à cabeça, cai de jelhs diane de i e gem: am-a, minha 13 14
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Wene Blumenbeg, Karl Marx (Lndes, New Le Bks, 1972). olga Meie e Sheila rwbham, Te daughters o Karl Marx, Letters 1866-1869 (Lndes, Penguin, 1982), p. 298. Wlgang Schwebck, Karl Max Privat (Munique, Lis, 1962), p. 26-7.
senha. De a, e am. E e am mais d que mu de Veneza jamais amu”16. (A cmpaaç cm oel se deve a a de que apelid de Max na amília ea “mu”.) Adiane, ele esceve: “Quem, ene s meus numess caluniades, quem, ene s meus inimigs maledicenes, já me acusu de e vcaç paa desempenha papel de apaixnad num ea de segunda caegia? Nenhum. N enan, essa acusaç seia vedadeia” 17. E pssegue: “Ceamene sis, meu bem, e pegunas p que de epene eu venh cm da essa eóica. Se eu pudesse, cnud, apea eu caç dce cna meu caç, en me calaia, n diia mais nada” 18. A exisência de uas mulhees, aé bnias, é ecnhecida p Max, pém elas n lhe ineessam: “Na ealidade, exisem muias uas mulhees e algumas delas s belas. Mas nde eu encnaia de nv um s n qual cada aç – e mesm cada uga – seja capaz de evca as lembanças mais es e delicisas da minha vida” 19. Em u ech, pensad evlucinái vla, mais uma vez, a disce em ems geais sbe am. N az em ems lsócs, cm ns Manuscritos de 1844, mas em unç de sua expeiência de hmem apaixnad. Diz ele: Basa que esejas lnge e meu am p i apaece al cm ele é, cm um gigane n qual se acham eunidas da a enegia d meu espíi e da a vialidade d meu caç. Sin-me ua vez um hmem, na medida em que me sin vivend uma gande paix. A cmplexidade na qual sms envlvids pels esuds e pela educaç mdens, bem cm ceicism cm que necessaiamene elaivizams das as impesses subjeivas e bjeivas, ud iss ns leva mui ecazmene a ns senims acs, pequens, indeciss e iubeanes. Pém am – n am euebachian pel se, n am mleschian pela ansmaç da maéia, n am pel pleaiad, mas am pela amada (n cas, p i) – na a aze d hmem um hmem. 20
16 17 18 19 20
Ibidem. Ibidem. Ibidem. Ibidem. Ibidem.
Um ds eeis peniciss da alienaç maniesa-se na cis da pesnalidade, n abism ciad ene a vida pública e a vida pivada. A paix que Jenny inspia a Max esimula- a eagi cna a exageada sepaaç ene as duas eseas e alece n inei de sua alma as endências cmpmeidas cm a unidade. É cla que alecimen da unidade é sempe pecái, equilíbi pecisa se cnsanemene ecnquisad em mei a gandes umuls. o lós sabia diss. Ele cnhecia e apeciava uma ase de Shakespeae – e a cia n pimei vlume de O capital – que diz: “o cus d vedadei am nunca é seen”21. Max n i só um deens d am n plan eóic, mas i ambém um paicane adical d am em sua elaç cm Jenny. Quand ela meu, em 1 de dezemb de 1881, Engels peviu, desanimad: “o ‘mu’ n vai sbevive”. De a, Max cu aasad. Numa caa a amig, em 1 de maç de 1882, ele esceveu: “Vcê sabe que há pucas pessas mais avessas a paéic-demnsaiv d que eu. Seia, cnud, uma menia n cnessa que gande pae d meu pensamen esá absvida pela ecdaç da minha mulhe, ba pae da melh pae da minha vida” 22. Em seus escis, núme de lapss de linguagem aumena. Sua saúde pia a cada semana. os gens – Laague e Lngue – despeam-lhe cescene iiaç. Um an e qua meses após a me de sua mulhe, ambém ele, anal, se exingue.
Kal Max, O capital (ad. regis Babsa e lávi r. Khe, 2. ed., S Paul, Nva Culual, 1985), p. 96. N iginal: “Te cuse ue lve neve did un smh” (William Shakespeae, A midsummer night’s dream , a 1, cena 1). 22 Kal Max e iedich Engels, Werke (Belim, Diez, 1963). 21
GOETHE: VENDER a aLMa, MaS NÃO ENTREGÁ-La
Queix-me às sas, Que bbagem, as sas n alam, Simplesmene as sas exalam o peume que ubam de i. Cartola
Jhann Wlgang vn Gehe nasceu na cidade de anku-am-Main, em 1749. É “clássic” mais ams da lieaua alem e um ds mais admiads aues da “lieaua mundial” ( Weltliteratur ), cncei elabad p ele. As cndiçes de seu nascimen n penunciavam sua glóia: na épca, sua cidade naal cnava apenas cm 30 mil habianes. E a Alemanha n inha unidade plíica, esava esilhaçada em mais de duzenas áeas adminisaivamene auônmas. Cmpaada à Inglaea e à ança, a siuaç da Alemanha ea de aas, de peieia. Gehe eagia cna a “pvincianizaç” bsevand aenamene que esava acnecend n mund. Sem abi m de seu enaizamen na culua alem, acmpanhava cm imens ineesse que se passava na Eupa e n mund em geal ( que abangia ambém oiene). Em um de seus pemas, pde-se le: Quem de si mesm é bem cnsciene e esende as us seus cuidads sabe que oiene e ocidene n pdem mais se sepaads. 1
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Jhann Wlgang vn Gehe, Gedichte (Augsbug, Gldmann, 1962, Cleç Gelbe taschenbüche).
A pai de um de seus pimeis livs – Os sorimentos do jovem Werther 2, de 1774 –, Gehe nu-se uma celebidade. o liv i publicad annimamene, pém seu au i idenicad e admiad (u aspeamene ciicad) p um gande núme de leies. Ene s cíics esava um ds campees d Iluminism, alem Ghld Ephaim Lessing. Pedminu n públic lei alem, enean, a pini avável à ba. N liv, p mei de uma cespndência cícia, Gehe ecnsiui dama d jvem Wehe, que esá apaixnad p Cala, uma mulhe casada (e mui bem casada) cm Albe. Depis de se mui, Wehe pede uma pisla empesada a Albe e se maa. (Lessing lamenu a “aqueza” decene da educaç cis: um jvem geg u man, cnsciene de seus cmpmisss cm a sciedade, jamais se suicidaia p am.) o mance i inepead p algumas pessas cm uma ilusaç d cni ene senimen exacebad da paix e a acinalidade que deveia pevalece na vida páica. Na ealidade, pblema n é de uma paix mai u men; a ques esá na aiculaç (exemamene diculada pela sciedade buguesa) ene a “az” da busca apaixnada da elicidade individual e a “az” d cálcul necessái paa iena a inseç de cada um na cleividade. Quais s s limies da busca individual? Quais s s limies da inseç na cleividade? o dama de Wehe, cm sua paix desmedida, cmveu muis leies pque cava numa indagaç que ea vivida p muia gene: cm ama na sciedade buguesa? o lós e cíic Geg Lukács, num liv iniulad Goethe e sua época 3, chamu nssa aenç paa a impância d ema d am na ba d au de Werther . o am, na esea da vida pivada, é uma maniesaç excepcinalmene pdesa da necessidade da dimens cmuniáia na vida ds indivídus. Sem am, a exisência de uma pessa se maném damaicamene incmplea.
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Idem, Os sorimentos do jovem Werther (ad. Main leische, S Paul, Mains nes, 2002). Geg Lukács, Goethe und seine Zeit (Belim, Aubau, 1950).
A peeiç da pesnalidade é impensável sem am am,, que dize dize,, sem uma punda camaadagem espiiual e sensual. Cada se human pecisa n só se desenvlve p si mesm, execiand sua aunmia, cm ambém ealiza vales da cmunidade a que peence. o am é a ma mais adical de “i a u”, de se ecnhece inimamene num se human dieene. E é nesse senid que pea Gehe quesina cnselh scáic: “Cnhece a i mesm”. Quem ama (e Gehe apaixnu-se váias vezes) n em a peens de se insala n au cnhecimen, pque vive inensamene a avenua de sai de si e megulha na aleidade. Nesse senid, vale a pena lembams dis vess ns quais pea diz: Cnhece a i mesm! Paa que me seve iss, enm? Se pudesse cnhece-me, lg eu saía de mim. 4
N basa, cnud, sai de si mesm. Supeads s bsáculs que a ganizaç buguesa pe em nss caminh, cabe-ns desenvlve nssa capacidade de unda vales. Na medida em que gia em n d mecad, a sciedade impe às ideias, às imagens, as senimens em geal, ciéis quanicades, a mensuabilidade que caaceiza a mvimenaç das meca dias, dias, cm seus peçs, suas cias, sua aduç em dinhei. o pópi am passa a se medid, avaliad em pcenagens (alg cm: “Esu 40% apaixnad...”). E quand ímpe da paix é vigs que ula passa passa a pssibilidade d cálcul, as cnsequências s caasócas, cm se viu n cas de Wehe. Já ams, Gehe assumiu um cag impane na ce d duque de Weima W eima.. Cmbinava, en, aiudes espeisas de ces, sempe macadas p uma evidene cauela plíica (uma cnsane pecupaç cm a “pesevaç da dem”), e um cmpamen espnâne, às vezes bincalh e inmal. Nessa épca, pea chegu a esceve:
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Jhann Wlgang Wlgang vn Gehe, Gedichte , ci.
Quem az acd cm s píncipes mais ced u mais ade eá sucess. Quem pcua se enende cm a plebe pedeá seu emp.5
Anes de mulams nssa avaliaç a espei dessa linha de cndua, devems lemba que a censua alem ea implacável e a pduç culual sia s eeis de um seve cnle e de uma dua epess. o pópi Gehe diia mais ade que se esci na Alemanha é se um mái. o esci inha muias habilidades paa enee as cianças, equilibava-se sbe penas de pau, cava aua e vilncel, ea ceamisa, desenhava, azia gavuas, paicava equiaç, dançava bem, alava ancês, inglês e ialia n, n, inha cnhecimens de laim, hebaic e áabe. Além diss, alimenu algumas peenses na esea cieníca, esudu diei, química, aquieua, enmlgia, anamia, minealgia, óica, acúsica e bânica. N ulapas sava, enean, as neias de um ce amadism. Sabia que sua áea de plena ealizaç pssinal ea, sem dúvida, a da lieaua em língua alem. Sua cuisidade inelecual ea insaciável. Lia ud, desde a Bíblia e C aé Byn, Kan e Vic Hug, passand p Shakespeae, Gidan Bun e Espinsa. teve encns e maneve-se em cna cm s lóss Schelling, iche, Schpenhaue e Hegel. Maneve cespndência duane nze ans cm pea Schille. Cnheceu pessalmene Beehven, cu caas cm Wale Sc, Calyle e Tackeay. É diícil encna naquela épca, ene s inelecuais eupeus, alguém que enha id um quad de eeências ampl e ic. Sua iginalidade, cnud, n esava em sua eudiç e sim n que ele exaía da vida e de seus cnhecimens paa apveia em sua vasa ba lieáia. Sua cnvicç vei a se mulada cm um pincípi: suas ciaçes lieáias deveiam, segund ele, cnibui paa nssa cmpeens de cm se aiculam na hisóia humana a libedade e a necessidade, individual e cleiv. Deveiam, en, em suas palavas, cnibui paa a busca d “pn n qual que é pópi d nss eu e que é live na nssa vnade se encnam cm mvimen necessái d d” 6. 5 6
Ibidem. Hans Jügen Geeds, Johann Wolgang von Goethe (Leipzig, reclam, 1974), p. 221.
Se as pessas buscaem pn n qual supem encna a libedade independenemene da necessidade u a necessidade de d alheia à libedade, esa cmeend um equívc gave. A peça mais amsa de Gehe – Fausto7 – msa pecus d pagnisa na busca desse pn. o ened da peça é basane cnhecid. Depis de e dedicad paicamene da a sua vida à ciência, d. aus em a sensaç de e despediçad sua exisência e se dispe a enega sua alma a Demôni em ca de um mmen de uma elicidade inensa que aça dize: gsaia que esse mmen se eenizasse, que ele duasse paa sempe. Mes, agene d Píncipe das tevas, dispe-se a aende a pedid. tava-se, en, uma espécie de duel ene aus e Mes. o sevid d Diab, bilhane agumenad, expla a decepç de seu inelcu cm caáe absa da eia, adveind- de que “da eia é cinzena,/ e vede é a esplendsa áve da vida” 8. o cienisa desiludid, enean, n paece ca mui impessinad cm a supeiidade eséica d vede da áve da vida sbe cinzen da eia. Em d cas, ambém n se enusiasma cm a absaividade das cnsuçes eóicas, declaand que peee s as às palavas. P iss dispe-se a cigi a Bíblia. Em vez de “n pincípi ea Veb”, susena que “n pincípi ea a Aç”. aus pede a Meis que use seus pdees paa seduzi Magaida (Gechen), uma mça linda e hnesa. Cnsumada a seduç, suge uma siuaç cnusa e aus cninua suas andanças pel mund, deixand cla que, paa ele, Magaida ainda n ea pn de chegada. Já velh e ceg, ca c a sabend que uma deeminada cmunidade cmu nidade queia se insala numa áea panansa, mas caecia de ecuss paa dena pânan. aus imagina as pessas vivend elizes n lcal, gaças a ele, que acaia cm s cuss da denagem. Sene-se imensamene eliz. E pnuncia as palavas d cna: ele gsaia que aquele insane duasse paa sempe.
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Jhann Wlgang vn Gehe, Faust (Augsbug, Gldmann, 1962, Cleç Gelbe taschenbüche). Ibidem.
Mes n enende que se passu na cabeça de seu pacei ceg. Havia lhe ppcinad ans pazees e ele pemanecea um an enediad; e aga, numa siuaç la, desejava que mmen peduasse. aus havia supead s hiznes de seu individualism, e se ine gad a um mvimen que envlvia uas ciauas. Magaida, que nunca deixaa de amá-l, pede a Deus que live sua alma das cnsequências eíveis d pac cm Demôni. E Deus, paa desespe de Mes, ece a uma abulice, a uma malandagem advcaícia: n cna assinad, emp d veb (cndicinal) indicava que aus “enegaia” sua alma a Saanás. icava subenendid que “enegaia” se quisesse. o ema d am esá pesene, decisivamene, n só em Fausto e em Werther , cm ambém em Wilhelm Meister , Estela , Anidades eletivas e uas bas. Wilhelm Meise é amad p Mignn e casa-se cm Naalie. Esela esça-se paa enende melh as mulhees, is é, paa enende melh s hmens. (A pesnagem Cecília bseva: “os hmens se enganam quand se apaixnam. Cm pdeiam não ns engana?” 9.) Um cíic cnsevad esceveu que essa peça ea uma “escla de pligamia”. Em Anidades eletivas , denam-ns cm a cise d casal Eduad e Chale. Vems Eduad apaixna-se pela sbinha de sua mulhe e Chale, p um capi, amig de seu maid. Esse am n é, em si mesm, evlucinái. N em cmpmiss cm a plíica u cm a cíica scial, mas é um pdes gead de enegia e de inquieaç. Sua ça é esiamene eena. o que há nele de anscendene, de divin, é igsamene human. Gehe é um cis que – cm bsevu Jsé Guilheme Mequi 10 – n acedia, de md algum, n pecad iginal. Quand a alma de aus sbe a céu, em mei a uma paaenália celesial, s anjs que pvam a cena n impedem que lei/expecad pe-
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Idem, Estela (S Paul, Melhamens, 1949). Jsé Guilheme Mequi, Formalismo e tradição moderna (ri de Janei/S Paul, ense Univesiáia/Edusp, 1974). Ve ambém Saudades do carnaval (ri de Janei, ense Univesiáia, 1972).
ceba que cienisa escapu d inen p ça de um am ineiamene een: am de Magaida. tanscev aqui um ech de Lukács, que é um excelene lei de Gehe: A paix amsa individual, pecisamene pque é a mais elemena, a mais naual de das as paixes, e ambém pque, em sua ma aual individualizada, epesena u mais al e mais enad da culua, cnsiui a mais auênica ealizaç da pessa humana, na medida, pecisamene, em que sua evluç deve se cnsideada “miccsmicamene”, que dize, cm um m em si mesma.11
Independenemene da inenç ds apaixnads, a paix pde sempe cia pblemas paa s códigs de cndua e peceis ganizaivs, an aiscáics cm bugueses. o am impe nas pessas de maneia incnlável. Ameaça a esabilidade da amília, abala as hieaquias, pde desui epuaçes. Gehe nunca deixu de deende, na lieaua e na vida, a legiimidade d am. Em Weima, ele namava uma mça de igem humilde, Chisianne Vulpius, que azia es de pan paa ganha a vida. Enquan eam amanes, a ce n via nada de mais na ligaç. Cnud, após sua viagem à Iália, de 1786 a 1788, Gehe passu a vive maialmene cm Chisianne e anal, em 1808, casu-se cm ela. Iss lhe valeu s incômds de uma suda campanha p pae de sees aiscáics, que n pedavam p sua “lascívia”, p sua “luxúia”, p sua “libeinagem” u p seu “mau gs”. Mais ade, já viúv e cm 74 ans, Gehe apaixnu-se p Ulike vn Lewezv, uma jvem de 18 ans. Sem se deixa inimida pela pess da pini pública u pel esigma d “idícul”, sem aze cncesses a cnvençes aiscáicas u buguesas, sem mlda seu cmpamen de acd cm a “cmpsua” que se cbava de um “velh esci cnsagad”, de um “mnumen nacinal”, Gehe pediu Ulike em casamen. E quand ela, plidamene, ecusu, esci, usad em seu am, seu mui e esceveu magnícs pemas.
11
Geg Lukács, Goethe und seine Zeit , ci.
Aé sua me, em 22 de maç de 1832, Gehe jamais se cansu de pesegui a elicidade, cncebida cm ealizaç pessal e, simulaneamene, inseç aiva e cnsciene n mvimen da cmunidade humana. Cm sua pemanene dispsiç paa assumi am, em suas peculiaes desme suas, eve divess ais cm expesses idelógicas d cnsevadism mânic, da esignaç punisa e da enega cínica à lógica d mecad. Pagu, p sua pç, um peç al. A um cíic que esanhava sua dispsiç paa biga p aquil em que acediava, depis de anas deas, Gehe eplicu cm vess que diziam: Queias, p acas, que eu diasse a vida e sse paa dese pque nem ds s snhs em deam ce?12
12
Jhann Wlgang vn Gehe, Gedichte , ci.
CaMÕES E a PLuRaLIDaDE Da bELEZa FEMININa
Cvade sei que me pdem chama Pque n cal n pei essa d. Aie a pimeia peda, ai-ai-ai, Aquele que n seu p am. Ataulo Alves e Mário Lago
Luís de Cames, puguês, dalg pbe, viveu dezesseis ans na Áica e na Ásia. Em geal sabems puc sbe s hmens que se desacaam n sécul XVI, em Pugal. equenemene inmaçes puc cnáveis se misuam a que i invenad p aqueles que Henani Cidade chamu de “paióics jades de lendas” 1. Sbe Cames, n sabems a ce nem luga nem an de seu nascimen. Pde e sid 1517 u, mais pvavelmene, 1524, em Lisba u alvez em Cimba. Em d cas, ceca de dis séculs e mei sepaam seu nascimen ds de uie e de Gehe, e ceca de ês séculs sepaam seu nascimen d de Max. Que dize: Cames viveu numa épca basane dieene da nssa. E basane dieene da vida ds hmens d sécul XVIII. Esudu em Cimba, nde adquiiu uma culua lieáia nada despezível. também inha maç milia. Luu cm sldad na baalha de Ceua e pedeu um lh. Ea bêmi, big e inha pavi cu. Mas cm as mulhees ea sempe galanead. Uma dama achu que a ala de um ds lhs pejudicava cm pea e ele espndeu cm um peminha, que 1
Henani Cidade, Luís de Camões, o lírico (Lisba, Beand, 1987).
eminava dizend: “De lhs n aç mens,/ pis queeis que lhs n sejam;/ vend-vs, lhs sbejam,/ n vs vend, lhs n s” 2. tenu sem êxi inla-se na ce. Seus vess alam de uma ala dama (uma cea Caaina, que ele chama pel anagama de Naécia) p quem pea se enamu. A elaç, cnud, se é que huve alguma, n deu ce. N plan de suas amizades, n ea um humanisa leane. Em Os Lusíadas ele assumia seu pecncei cna s muçulmans, a “ malina gene que segue pe Mahamede ”3. Em 1553, paiu paa Ga (Índia), Macau (China) e Mçambique (Áica), a seviç d ei. Quase pedeu a vida n nauági de uma embacaç puguesa, n dela d i Mekng, n Vien. Quem meu agada na casi i, nas palavas de Dig d Cu, “uma mça china que azia mui emsa”4. Paa a mça chinesa, ele esceveu um de seus snes mais bels e mais amss. Aquele que cmeça: Alma minha genil, que e paise ced desa vida, descnene, epusa lá n céu eenamene, e viva eu cá na ea sempe ise. 5
Cames i disce na sua elaç cm as mulhees. A elas, enean, deve a inspiaç que levu a esceve aqueles que hje vêm send cnsideads seus pemas mais geniais 6. Ninguém pde se mesquinh em elaç a uma ba cm Os Lusíadas . É um pema magníc, cm alguns echs insupeáveis. o episódi d velh d resel é maavilhs, assim cm de Inês de Cas. Cnud, a despei das qualidades d pema épic, ele em mmens ns quais a dimens da eppeia é mens cnvincene d que pea desejaia. o p blema n esá em qualque alha da genialidade de Cames: esá na cmunidade puguesa da avenua de Vasc da Gama e seus cmpanheis, que n 2 3 4 5 6
Luís de Cames, Lírica (Bel Hizne/S Paul, Iaiaia/Edusp, 1982), caniga 98, p. 118. Idem, Os Lusíadas (P, P Edia, 1977), can I, ese 99, p. 93. Dig d Cu, Década manuscrita da Biblieca Puense. Luís de Cames, Lírica , ci., sne 80, p. 193. Anóni Jsé Saaiva, Luís de Camões (Lisba, Eupa-Améica, 1959).
inha as caaeísicas da sciedade gega aniga, n inha – nem pdia e – a ça da milgia, pque pecisava e a cmpeência mecanil de um espíi buguês nascene. Mesm anes da vla a Pugal e da decepç que eve, Cames já vinha pessenind alguns aspecs lamenáveis na “Páia” de seus “heóis”. N can X de Os Lusíadas , ele diz que a Páia “esá meida/ N gs da cbiça e na udeza/ Dhuã ausea, apagada e vil iseza” 7. Pugal esava mal. N úlim an de vida de Cames, a independência nacinal – cnquisada n sécul XIV cna s espanhóis – i pedida, dand iníci a um peíd hisóic que duu sessena ans e clcu Pugal e suas clônias sb pde da Espanha. alava, en, as Lusíadas um sujei cleiv capaz de susena cm suciene meza a saga ds navegades luss. Cm a líica, a siuaç ea dieene. o pea, ascinad pelas mulhees, alava n da avenua ds mainheis lusians, mas d encan que senia ds s dias em que inha cna cm sex eminin (especialmene quand se aava de mulhees bnias). A auenicidade n pecisava se buscada: esava dada. Cames é mui mais pesuasiv quand cana em sne a mça chinesa cuja beleza impessinu Dig d Cu d que quand pcua da cna da hedindez d gigane Adamas. É mui mais cnvincene quand se declaa “escav” da escava Bábaa, nega linda, d que quand n cnsegue escapa ineiamene a uma eóica um an pmpsa. Sabems ds que na Áica eam cmuns as elaçes sexuais ene s pugueses e as mulhees negas. o que ea mais a, e que se veica cm Cames, é a de que a elaç ínima sse assumida cm espei e delica deza, e pea hmenageasse sua musa num bel pema. Em “Endechas a Bábaa, escava” pdem se encnads vess de uma simplicidade admiável: Nem n camp es, nem n céu eselas, me paecem belas cm s meus ames. [...] 7
Luís de Cames, Os Lusíadas , ci., can X, ese 145, p. 351.
Peid de Am, dce a gua, que a neve lhe jua que caa a c.8
Cada mulhe ea uma mulhe dieene; e das elas eam a mulhe. o pea msa-se sempe pedisps a cana esse mulime se admiável, p mei d qual am invade sua vida e sua alma. o am expande-se em sua vis d mund e – ambiguamene – enusiasma e angusia. Pde lhe aze clímax da elicidade u máxim da desgaça. Pecebe-se n pea uma pecupaç alimenada p ideias de Pla, lós geg que ele cnhece e inepea a seu md: am pu, ee n, ideal, que peence a mund d espíi, da ma, cnvive cm am cpal, maeial, eême, mas ineliminável, às vezes iesisível: “E viv e pu am de que su ei,/ cm a maéia simples busca a ma” 9. “Am é um band ae/ que Deus pôs n mund” 10 e que paicipa decisivamene da ema da ealidade maeial, esimula n pensamen human que ele em de elevad, de divin, e que ulapassa a “baixeza” d sensível. Send s sees humans cm s, a “baixeza” d sensível n pde se supimida e am n em cm não aavessá-la. Aqui, lend Cames, lei se az duas pegunas: os ames de Cames eam eais u idealizads, imaginads, cm peexs paa uma pesia eóica de eiç peaquiana? E am, nessa cncepç, é alg que acnece cm a pessa independenemene da vnade dela, u é alg que acnece na vnade dela? A pimeia dessas pegunas i chamada de “ques espinhsa” p o Maia Capeaux. o pópi Capeaux espndeu n senid de que s ames de Cames eam maeialmene eais 11. Quan à segunda peguna, há um sne n qual pea abda ema e espnde a essa ques cm ua ques. Cm? Ele ala das cnadiçes 8 9 10 11
Idem, Lírica , ci., vas 106, p. 122-3. Ibidem, sne 20, p. 163. Ibidem, éclga VII, p. 414. o Maia Capeaux, História da literatura ocidental (ri de Janei, o Cuzei, 1962).
d am: “Am é um g que ade sem se ve;/ é eida que dói, e n se sene” 12. Insinua que exise cea cumplicidade da víima cm am (cea vnade de apiá-l), paa em seguida cnclui, indagand: cm pdeia esse mvimen causa “ns caçes humans amizade,/ se cnái a si é mesm Am”13? Cm suas caaceísicas cnadióias, mulimes, s “mais caçes” pdem sup que ímpe diminui cm a pecepç das “causas de se mens”. Iss, pém, n acnece, pque “Am cm seus cnáis se acescena” 14. o acass na vida amsa pde e um eei eanimad. o a de se ve çad a desisi pde mbiliza nvas e supeendenes enegias que esulam num esisi que é ambém um insisi. Basa lemba sne dedicad a Jacó, que abalhu de gaça paa Lab duane see ans paa pde se casa cm raquel e i miseavelmene ludibiad pel pai da mça, que lhe impingiu ua lha, Lia. o que ez Jacó? Cmeça de sevi us see ans, dizend: – Mais sevia, se n a paa lng am cua a vida. 15
Em dis vess cnhecidíssims, pea diz sbe am alg que seus leies mais assídus ecdam cm enlev: “um n sei quê, que nasce n sei nde,/ vem n sei cm, e dói n sei p quê” 16. Um ce umul é ineene a am, segund Cames. Essa ideia esaá pesene em Shakespeae, n iníci d sécul XVI, e em Max, n sécul XIX. Numa éclga que cmeça cm “A lng d seen”, lê-se a adveência: N é Am am se n vie cm dudices, desnas, dissenses, pazes, gueas, paze e despaze, peigs, línguas más, mumuaçes [...].17
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Luís de Cames, Lírica , ci., sne 5, p. 155. Ibidem, sne 5, p. 155. Ibidem, sne 32, p. 169. Ibidem, sne 30, p. 168. Ibidem, sne 3, p. 154. Ibidem, éclga II, p. 369-70.
N há n am, qualque que seja senid que lhe aibuims, pssibilidade de enxegams nele elemens que desempenhem uma unç esa bilizada. Quem ama lg se dá cna de que, cm seu ímpe desesabilizad, am desaa quem ele cnquisa, sb pena de se um mb ievesível. o am n em nada a ve cm a capacidade u a incapacidade de uma pessa se equiliba e/u se eequiliba. Essa capacidade u incapacidade em a ve cm a de vivems num mund que exise em pemanene ansmaç. Cames inha uma pecepç aguda dessa mudança cnsane: Mudam-se s emps, mudam-se as vnades, muda-se se, muda-se a cnança; d mund é cmps de mudança, mand sempe nvas qualidades.18
Cames, cm seu vigs espíi dialéic e sua pespicácia aucíica, evia culpa a má se p suas desgaças; peee culpa a si mesm. E declaa, cm uma admiável mdésia: “Eei d discus de meus ans” 19. o sne d qual exaí ves que acab de cia cmeça dizend: Es meus, má una, am adene em minha pediç se cnjuaam; s es e a una sbejaam, que paa mim basava am smene. 20
o pde que am em de desui é imens. o que pea pdeia espea seia, numa hipóese demasiad imisa, que am – seu desin inexável, seu ema p excelência – capichsamene pupasse. Cnud, n pupu. N pupava seque s deuses d olimp. Na éclga “As dces canilenas”, pea indagava plemicamene: “Pis lá n olimp, a quans caivu/ Cupid e malau?” 21. Cames pesa hmenagem a am, que desuiu e que, paa desuí-l, n pecisava ds es que ele admiia e cmeid, nem da má se.
18 19 20 21
Ibidem, sne 92, p. 199. Ibidem, sne 108, p. 207. Ibidem. Ibidem, éclga VII, p. 415.
FOuRIER: aTRaÇÕES CÓSMICaS MuITO HuMaNaS
Eu vu lhe da a decis. Bei na balança, vcê n pesu, Bei na peneia, vcê n passu. Ma na lsa: pa que ima am e d? Monsueto e Arnaldo Passos
Há ceca de duzens ans, em Lyn, na ança, um clabad d Bulletin de Lyon chamad Chales uie cmeçu a exp p esci suas ideias sbe unives e a sciedade humana. uie ea um hmem sid. Queia se engenhei, pém a escla de engenhaia, naquela épca, ea esevada as nbes. Deesava cméci, p ss d pai, n enan i a única pss que lhe ensinaam. Anipa izava cm calicism, mas eviava qualque cni cm a me, que ea mui caólica. Segund uie, s ass n mamen eam sexuads e cpulavam cnsanemene uns cm s us p mei de “jas amáics”. tan s ass cm s hmens eam egids pela lei da Aaç Univesal. Eses úlims, mais especicamene, eam mvids p eze “paixes adicais”. N uu, das essas paixes seiam libeadas e umas se equilibaiam cm as uas. o uu (a “Hamnia”) esava ameaçad pel aual sisema (a “Civilizaç”), que se ecusa a sai de cena. Cm supea a “Civilizaç”? uie descaava caminh evlucinái. tinha id expeiências desagadáveis cm s cnaevlucináis, que cnscaam mecadias que ele esava anspand numa diligência. Depis, já sb cnle ds evlucináis, enu ecupea suas mecadias e veicu que a bualidade, desespei e a desuividade cninuavam a se a nma geal, a linha de cndua esúpida adada pels dis lads.
Ciu-se, en, uma siuaç mui cuisa: au mais evlucinái da pimeia meade d sécul XIX, aquele que encaminhava a ppsa mais adical de ansmaç da sciedade, ejeiava, enaicamene, a evluç 1. Qual ea ealmene a ppsa de uie? Ele ppunha, em vez de uma evluç, uma expeiência dieene: juna 1620 pessas selecinadas, cnsiuind uma nva cmunidade ( “alanséi”), que seia embi de uma nva sciedade. eia a ansiç, d mund imiaia nv sisema. Após quinze geaçes, s sees humans eiam se mdicad aé sicamene: enxegaiam n escu, espiaiam debaix da água e eiam uma vigsa cauda n plngamen d cóccix. uie enviu um exempla de seu pimei liv a impead Naple. A plícia inecepu e pendeu au, mas lg slu, p cnsideá-l um “maluc inensiv”. Hje, mais d que nunca, a imagem pedminane de uie é aquela que i mulada pela plícia ancesa, duzens ans aás. Muia gene, inuenciada pel clima espiiual d pós-mdenism, pessinada pel nelibe alism, impegnada de uiliaism, eduz uie à “piaç” pua e simples. É cla que n se pde ema snh de uie e ansmá-l num pgama plíic. N enan, seu pensamen – p mais anásica e supeendene que seja paa nós sua bizaice – cném pevises, denúncias e ppsas ascinanes. Há duzens ans, ele denunciava s gaves esags que a especulaç imbiliáia esava causand às cidades. recmendava, cm genuín espíi eclógic, que s hmens n se dispusessem apenas a dmina a naueza, mas que zessem uma aliança cm ela. Pevia a cnsuç de saélies aiciais paa a tea. E insisia em que n se bigasse jamais um se human a ealiza a mesma aividade duane mais de duas has seguidas, pque iss cnaiaia uma das paixes adicais: a paix de vaia, de “bbleea”.
1
Jnahan Beeche, Charles Fourier, the visionary and his world (Bekeley, Univesiy Calinia Pess, 1986).
Ele ciicu sisema educacinal, acusand- de induzi s menins – e sbeud as meninas – à bediência passiva e à dcilidade. Susenava que n “alanséi” s pesses ineeiiam mínim pssível e deixaiam as cianças mais enegues a si mesmas, as mais jvens imiand as mais velhas. Além diss, uie quesinu incisivamene a insiuiç d casamen mngâmic, que sancinava a pess e a explaç das mulhees pels hmens. Slidái cm as víimas, aplaudia seus as de ebeldia, jusi cand aé a chamada aiç cnjugal. Paa jusica aduléi, ele esceveu um ex hilaiane, em que desceve 76 espécies de cns. Esse ech da ba de uie é, a meu ve, uma das passagens mais espansas da Hisóia da ilsa em geal. o pensad saiu em deesa das mulhees, invesind cna s maids. Ele debcha d cn deninh, d cn que viaja mui, d cn plíic (que az aliança cm um ds amanes da mulhe cna s us), d cn disaíd ec. É um ech que n acescena nada à agumenaç cna casamen, pém msa n velh uie a paix “cabalisa” (a paix p excelência pela lua plíica), paix cnspiaiva, desencadeada em da a sua veemência, em da a ça d seu sacasm. o que diia plicial que classicu de “maluc inensiv” se subesse que em mai de 1968 s esudanes anceses sacudiam as univesidades em nme de uie? Imagin uie, que acediava na eencanaç, eencanad num daqueles agiades d Quaie Lain, denand-se cm um guada e giand paa a auidade: “Maluc, alvez. Inensiv, nunca!”. Uma das eze paixes adicais – aquela a que eóic dava mai impância – é am. As cinc pimeias paixes cespndiam as ógs ds senids: a paix de ve, de uvi, de cheia, de seni e de degusa. Seguiam-se as paixes d am, d senimen de amília, da amizade e da ambiç. Além delas, havia a paix “cabalisa” (ípica ds pequens gups n inei d alanséi), a “cmpósia” (sevi a uma causa, lua p algum pincípi que sujei ecnhece esa acima dele) e a “bblea” (a necessidade de vaia, que ajuda a evia s excesss da “cmpósia”). P m, a paix de euni das as uas paixes numa unidade.
o am, de das as paixes, ea a mais cmplexa, a mais pdesa den d esquema de uie. Ea a mais dieamene elacinada cm a Aaç Passinal, que ege mund. Ea a expess da vnade de Deus. uie agumena: Deus pdeia cia pliciais giganescs paa cnla s sees humans e bigá-ls a aze bem. Mas esse n seia méd adequad a Deus. Deus insiuiu, en, a Aaç. A invés de gasa Suas enegias, Deus ez hmem gasa as dele. os ass s aaíds em suas óbias uns pels us e p iss n caem, nem clidem uns cm s us. E esse mesm pincípi da Aaç, sem ia nem pô, seve paa s sees humans. o am guia s indivídus cm a mesma eciência cm que a Aaç Passinal diige mvimen ds ass. os “civilizads” êm med de que as paixes acabem p expldi e ciem mnss. Mas s mnss s ciads pel desenvlvimen de uma u de umas pucas paixes, em deimen das demais. “Quan mais s pazees em numess e equenemene vaiads, mens se pdeia abusa deles.”2 “Nss e n é – cm se acedia – de deseja demais; é de deseja de mens.” 3 Paa uie, am pssui duas dimenses: a d cp e a da alma. os civilizads endem sempe a sacica uma dessas duas dimenses: u ceceiam a sensualidade, u cmbaem gsseiamene s senimens delicads. Ele legiima das as mas da sensualidade amsa, desde hmssexualism aé “vyeuism”. N alanséi, haveia aé mesm assessia paa quem quisesse paicipa de gias. Nenhuma “mania lúbica” lhe paece despezível u meamene idícula. Exaind expliciamene das as cnsequências de suas psiçes de pincípi, cm é de seu esil, uie pclama: Quand uma mulhe esive bem pvida de d necessái ams, dispnd de plena libedade, cnand cm a assisência de uma ba libedade de aleas
2
3
Apud Leand Knde, Fourier, o socialismo do prazer (ri de Janei, Civilizaç Basileia, 1998). Ibidem.
maeiais em gias e bacanais, an simples cm cmpsas, en ela pdeá encna em sua alma uma ampla eseva paa as iluses senimenais. 4
P u lad, uie cnsidea necessái que s hmens n sejam envlvids pela bualidade, pel mediaism, pel “maeialism” ds “civilizads”, e ecmendava culiv de uma linguagem elegane e ssicada – aiudes que ele chamava de “celadnism” (em deivad de Céladn, heói d liv L’Astrée , publicad n sécul XVII p Hné d’Ué). uie chega mesm a ciica Cevanes, pque gande esci espanhl idiculaizu senimens “celadônics” de dm Quixe p Dulcinea. Hje, chegams a um cnsens a espei da inviabilidade ds caminhs ppss p uie. Sua ingenuidade plíica é evidene. N enan, a ma bizaa de suas anasias n impede que suas ideias a espei d am ns pnham, muias vezes, diane de queses que pecisam se epen sadas. Sempe que pssível, despecnceiusamene.
4
Ibidem.
OVÍDIO: POETa SEM DINHEIRO SÓ DÁ PaLaVRaS
Eu su seesei, pea e can. o meu emp inei, só zmb d am. Chico Buarque de Holanda
o pea Públi ovídi Nas, nascid em 43 a.C. e alecid em 17 d.C., ea um exími vesejad, espiiualmene supecial, mas alens. Ele mesm dizia que a pesia lhe vinha espnaneamene n im adequad e que ele queia dize uía em vess (“Spne sua camen numes venieba ad aps e qud enabam scivee vesus ean” 1). Segund s cíics, na geaç que pecedeu a de ovídi, a pesia mana alcançu cm Vigíli (70-19 a.C.) e Háci (65-8 a.C.) seu pn mais elevad, lieaiamene. ovídi ea admiad p seu bilhanism, pém ea despezad p sua ivlidade. Pcuava vive cm um paasia, apveiand-se da beleza das mulhees e da vaidade ds hmens de uma aiscacia cmpida. o Maia Capeaux e Jsé Guilheme Mequi, apesa de adaem ciéis dieenes, cncdam a lamena que as aquezas éicas d pea enham pejudicad sua pesia. Ns vess de ovídi, enean, há da uma cônica – às vezes basane espiiusa – ds csumes da sciedade mana, da vida ns palácis e ns bdéis. As mulhees em geal, em ambs s ambienes, eam dispuadas e cnsumidas p hmens hednisas, cm pea de quem esams aland. ovídi ea ceamene um libein; cnsideava legíima a “ama viil” que impulsinava s hmens e s levava a se imp às mulhees. Mas, cm sabems, nem d pea libein é ovídi. 1
ovide, ristes (Pais, Belles Lees, s.d.), liv IV, elegia X.
Vale a pena ns dee numa ecnsideaç de sua líica e de sua cncepç d am. De sua ba, desacaems aqui ês livs, que s aqueles que êm ligaç mais diea cm nss ema: Os amores , A arte de amar e Os remédios de amor 2. o pimei subdividia-se em ês paes. Emba anipaizasse cm s “dns” de algumas mulhees (p ele às vezes designads de md abangene cm “maids”), pea msava que cncebia a elaç hmem– mulhe cm uma guea ínima, da qual ea pssível exai muis pazees. E n deixava dúvida quan à sua ades a paid ds hmens. Sugeia as epesenanes d sex masculin que cnlassem suas especivas amanes, diminuind-lhes a auesima: se ela sse mena, devia chamá-la de pea; se sse esbela, devia chamá-la de magicela; se sse “e”, devia chamá-la de gda. o cnle das mulhees pels hmens abia caminh paa a ebeldia eminina. E pde masculin ameaçad ecia a açes “disciplinaes”. ovídi cnessa, de passagem, que agediu uma namada p divegências sem impância e depis, vend-a cha, aependeu-se. N mudu, enean, sua linha de cndua 3. A seu ve, s hmens nunca deviam deixa de descna das mulhees, pque elas sempe aem. o aduléi é ineviável. o pea diz: se a mulhe manida numa casa igsamene echada, aduléi já esaá den (“mnibus cclusus, inus adule ei”4). Paa ele, é naual que s hmens peam s ames pibids as ames pemiids. recmenda-lhes apenas que sejam usads, mas n impudenes. o exempl que lhe ce é d sedu que se sene aaíd pela beleza da ciada da mça que peende seduzi. Acnselha- a n ce isc de um escândal e a cnslida a cnquisa da paa. Em seguida acescena: a seva viá depis. A arte de amar ambém se divide em ês paes: as duas pimeias s dedicadas a apeeiçamen ds sedues masculins, cm ensinamens
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Idem, Les amours, L’art d’aimer, Les remèdes d’amour (ed. bilíngue, Pais, Ganie, s.d.). o Maia Capeaux, História da literatura ocidental (ri de Janei, o Cuzei, 1962). ovide, Les amours , em Les amours ..., ci., liv III, elegia IV.
basane pagmáics; e a eceia e úlima pae esá ienada n senid de uma inelcuç cm as seduzidas emininas. Aqui, ovídi insise cm seu lei paa que ele aça pmessas às mulhees: que e cusa pmee? (“quid enim pmiee laedi?” 5). o pópi Júpie – deus ds deuses – azia pmessas enganadas quand queia seduzi uma mulhe. Em pincípi, das as amas s válidas num pcess de cnquisa. o exage é um ecus que pde epecui emene na sensibilidade eminina (p exempl, “és mais bela d que a deusa Vênus”). Paa emcina a mça, é mui ecaz ecus a pan (eal u simulad). Cm lágimas – declaa pea, ienand sedu – pdeás amlece diamanes (“lacimas adamana mvebis” 6). o hmem deve apveia as pssibilidades de paze, mas cm espíi ealisa. Já que s ames pibids s peeíveis as ames pemiids, sedu pecisa se cauels, disce. Inelizmene – lamena pea – a audácia, em seu emp, n ea acmpanhada de elegância. A cnái: que incmdava em ces ambienes ea cescimen da babáie, da vulgaidade e d exibicinism. E iss inuía n md de ama das pessas (“babaia nse abunda am” 7). Cm exempl da vulgaidade bábaa, ovídi mencina csume ds hmens que, a cnvesa ene eles, bsevam as mulhees e dizem: essa eu já auei (“haec quque nsa ui” 8). regis insuspei de que a caajesice já escia há 2 mil ans... ovídi divege desse cmpamen, pém n é impacial em sua bsevaç das elaçes ene hmens e mulhees. E que aiícis pea se dispe a ensina às mulhees? Em geal, ele limia-se a lhes da cnselhs de beleza. Disce sbe a impância ds peneads, que devem cmbina cm ma d s e cm as ces de cada mça. recmenda-lhes cuidads especiais cm vesuái e dedica especial aenç as calçads: quem em pés eis deve usa sapas bancs.
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Idem, L’art d’aimer , em Les amours ..., ci., liv I, ves 443. Ibidem, liv I, ves 659. Ibidem, liv II, ves 552. Ibidem, liv II, ves 628.
Paa se educa e pde cnvesa cm s hmens, as mças devem e acess à leiua. Que livs elas devem le? ovídi, habilmene, evia exagea na ppaganda de sua pópia ba e mencina de maneia elgisa pea Ppéci, seu cnempâne, que ambém culivava a pesia eóica. o eism ea, sem dúvida, eiói n qual ovídi se senia em casa. Ele senia um ascíni, uma sensaç de aebaamen, quand via cp de sua namada, Cina. As que lhe cbavam mai ampliude emáica, e achavam que deveia evca as gandes pesnalidades d passad, ele espndia que, de a, pdeia cana tebas e tia, s gandes eis hisóics de Júli Césa, mas “i só Cina que me inciu à pesia” (“ingenium mvi sla Cinna meum”9). E enusiasma-se cm cp da mça, cm seus seis, seu vene, suas cxas. Admia-a pels muis beijs que ela lhe dá e iia-se quand ela n bedece às suas dens. Esceveu: “tua cndua pvca ódi. teu s inspia am” (“aca mven dium; acies exa amem” 10). Seu ideal seia pde se cncena na vida de pazees, um an simpl iamene chamads de ames, sem envlvimen em cnadiçes sciais, em enses plíicas e cnis hisóics. Cnud, as cnadiçes sciais n se deixavam elimina e insisiam em apaece n “pequen mund” de indiví dus sliáis, esignads, que culivavam um eism caene de pespeciva. o pblema que invadia quidian d pea ea dinhei. Sua pesia ea excelene, ele sabia diss, pém a épca n ea ba paa a pesia. A desigualdade scial aingia. Cm cmpei cm s ics, end eles a pdesa ama que é dinhei? Um idia endinheiad cnsegue se ecnhecid cm um vedadei hmem de espíi. Apesa de um puc lng, anscev a segui um ech de um pema da segunda pae de A arte de amar , paa que lei pssa apecia a inia da linguagem uilizada: N é as ics que venh ensina a ama. Aquele que diz quand que: “aceie esse pesene” Seá sempe um hmem de espíi. Ced-lhe meu luga. Ele agada mais d que das as minhas ciaçes.
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Idem, Les amours , em Les amours..., ci., liv III, elegia XII. Ibidem, liv III, elegia XIb.
Su um pea paa s pbes, pque ui um amane pbe. Cm n pdia da pesenes cas, dava palavas. 11
É vedade que as palavas que ele dava eam peicamene mais impanes d que s beneícis que pudesse ecebe em ca. As “mças”, enean, n sabiam diss. ovídi cnhecia s pazees e s limies d que chamava de “am”. N iníci de A arte de amar , pea agumena que a ae diige s bacs ápids, à vela u a em. A ae diige s cas velzes. “A ae deve ege am” (“ae egendus am” 12). As cndiçes de vida d pea, pém, seam uma busca mudança. P azes que nunca am bem esclaecidas, ovídi caiu em desgaça n an 8 d.C., e i ceciivamene insalad pel es de sua vida num lugaej às magens d ma Neg, nde hje se acha a cidade de Cnsana, na rmênia 13. Exilad, viveu seus úlims nve ans de vida lnge de ud que lhe dava paze, de ud que inciava a esceve, lnge das mças ( puellae ) que ele “amava”.
Idem, L’art d’aimer , em Les amours..., ci., liv II, vess 161-6. N iginal: “Nn eg diviibus veni paecep amandi./ Nil pus es illi, qui dabi, ae mea./ Secum haben ingenium, quii, cm libe, “accipe” dixi./ Cedimus; invenis plus place ille meis./ Paupeibus vaes eg sum, quia paupe amavi;/ Cum dae nn pssem munea, veba dabam”. 12 Ibidem, liv I, ves 4. 13 Jsé Guilheme Mequi, Razão do poema (ri de Janei, Civilizaç Basileia, 1965). 11
Boulevard des Italiens , Paris, de Henri-Alexandre Saffrey.
Palais des Beaux-Arts, Lille.
SIMONE DE bEauVOIR: O ESSENCIaL E O CONTINGENTE
Se vcê n me queia, N devia me pcua, N devia me iludi, Nem deixa eu me apaixna. Monsueto e Airton Amorim
o que dize de uma elaç amsa que uniu a lng de 51 ans uma escia e um esci impanes? Cm eia sid a vida de Simne de Beauvi se ela n ivesse encnad Sae, em 1929, na Escla Nmal Supei? A pópia Simne espnde: “N sei. o a é que encnei e esse i acnecimen capial de minha exisência” 1. Simne publicu seu pimei mance, A convidada , em 1943, e sua pimeia peça de ea, As bocas inúteis , em 1945. Seu ensai sbe O se gundo sexo, lançad em 1945, nu-a amsa: ela passu a se cen da mai pae das discusses susciadas em n d eminism na Eupa d pós-guea. A ppulaidade mai, cnud, ea a que lhe vinha d pac que havia ei cm Sae. Eles n dissimulaiam nada e seiam sempe vedadeis n diálg ene eles. Sae agumenava: am que s unia ea am “essencial”. Cnvinha, n enan, que ambs esivessem abes paa ames “cningenes”, que n se cnundiam cm avenuas passageias, despvidas de impância.
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Claude ancis e enande Gnie, Simone de Beauvoir (Pais, Pein, 1985).
o gande públic, incluind pessas que n haviam lid nada ds dis escies, queia sabe se pac seia espeiad, se aquele ip de elaç ea viável, e se cabeças inelecualizadas esisiiam a ciúme. Sae cu enusiasmad cm Simne. Disse dela: “o que é maavilhs em Simne de Beauvi é que ela em uma ineligência de hmem e uma sensibilidade de mulhe”2. os pincípis em que pac se baseava n am adads em decência de uma pess de Sae sbe Simne, já que cespndiam plenamene a cnvicçes que ela já pssuía. Simne ecusava liminamene casamen cm insiuiç e insugia-se cna a impsiç da mngamia. Ns ans que se seguiam, cu cla que Sae apveiu bem mais d que Simne a libedade de culiva ames cningenes. Uma lisa incmplea desses ames incluiu a aiz Simne Jlive, Maia Giadi, Dles Vanei (aiz e ex-amane de Andé Ben), Wanda (im de Simne de Beauvi e que se nu aiz cm nme de Maie olivie), a ussa olga Ksakievicz, renée Balln (ex-amane de Andé Malaux), Luise Vedine, Michelle, Évelyne e Alee El-Kaimk (que inha apenas dezessee ans de idade na épca). os ames cningenes de Sae eam lealmene cmenads p ele cm Simne. Ela n pevia que de a lhe acneceu: seniu-se mui mal, angusiada, depimida, assusada cm a dimens de seu ciúme. Nunca anes lhe havia passad pela cabeça que pdeia seni ciúmes incnláveis. o mance de Sae cm Simne Jlive abalu sua auesima. Ela n cnseguia seque esceve. Sae vei em seu auxíli, azend-lhe cainh d am “essencial”. Puc a puc, ela se ecupeu. E, alguns ans mais ade, chegu a declaa: “N ineesse d meu pac cm Sae, eu inha a mesma libedade que ele. E a usei” 3.
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Ibidem. Ibidem.
De a a usu. Simne ambém eve ames cningenes. Mais discea d que au de O ser e o nada , a aua de O segundo sexo equenu bem mens assiduamene camp da cningência. Sabe-se de suas elaçes amsas cm dis cmpanheis de dieç da evisa emps Modernes : Jacques-Lauen Bs e Claude Lanzmann (dezessee ans mais jvem d que ela). E é cnhecida a paix que sugiu em sua elaç cm esci ne-ameican Nelsn Algen. Claude ancis e enande Gnie, em sua bigaa de Simne de Beauvi, lançaam luz sbe esse episódi. N iníci de 1947, Simne visiu s Esads Unids. Cm queia cnhece submund das gandes cidades ne-ameicanas, apesenaam-na a Nelsn Algen, cujs livs eam escis a pai de avenuas vividas n mei da maginalidade. Simne gsu mui ds livs e de seu au, que inha 1,85 me de alua, ea lu e basane viil. A elaç de Simne cm Nelsn Algen nu-se mais e d que qualque das elaçes de Sae cm seus ames cningenes. A escia ancesa e esci ne-ameican apaixnaam-se; ela i visiá-l algumas vezes ns Esads Unids e ele i visiá-la na Eupa. Passeaam juns, maniveam inensa cespndência (Simne lhe esceveu ceca de 1800 páginas). Nelsn Algen a chama de sua vedadeia espsa e ela espnde: “É que eu su, de a”4. Huve cnis ineviáveis: Algen n enendia pac cm Sae e n aceiava a classicaç ds ames cm “essenciais” e “cningenes”. Quem vive de ames cningenes – agumenava – em uma vida cningene. Simne senia-se abalada: “o am me dá med, me na bua” 5. Um dia, depis de uma discuss, Simne lhe disse: “Se a nssa elaç amsa se mpesse, eu gsaia de ca a mens cm a sua amizade” 6. E ele eucu: “Jamais eu pdeia lhe da mens d que meu am” 7.
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Ibidem. Ibidem. Ibidem. Ibidem.
Desespead, ele insise na ppsa de casamen que ela, n enan, ecusa. As ancs e baancs, a elaç ainda duu aé iníci ds ans 1950. Ele n cnseguiia vive em Pais e ela n cnseguiia vive a de Pais. Esse ea pblema páic inslúvel que esava p ás das usaçes subjeivas. Nelsn Algen nunca pedu Simne. Em 1981, a cncede uma enevisa, iiu-se vilenamene quand epóe lhe pegunu de Simne. Ene insuls, deixu anspaece quan a ausência dela mlesava. E n dia seguine meu, ulminad p um ina. Simne de Beauvi desenvlveu inensa aividade lieáia em Pais. Emba nunca enha se liad a nenhum paid plíic, paicipu de numesas baalhas memáveis a lad de Sae. Chegu a pesidi tibunal russell, que cndenu a invas d Vien pelas pas ne-ameicanas. Em 1952 publicu ensai “É pecis queima Sade?”. Em 1954 lançu mance Os mandarins , n qual, cm nmes mdicads, pdiam se ecnhecids divess pesnagens eais (ene s quais, Nelsn Algen). Ainda esceveu qua vlumes de memóias: Memórias de uma moça bemcomportada (1958), A orça da idade (1960), A orça das coisas (1963) e Balanço nal (1972). Publicu ambém um ensai iniulad A velhice (1970), mui bem esci e qual o Laa resende disse sempe ele. Sem a peens de ala da a pduç lieáia de Simne de Beauvi, n pss deixa de dize alg sbe A cerimônia do adeus 8 (1981). É um liv peubad, cm as ecdaçes pessais de Simne a espei ds úlims dez ans da vida de Sae. Paa escevê-l, ela valeu-se de um diái em que anava ud que acnecia e pdia se signicaiv. A imagem de Sae n liv é melancólica; em váis mmens chega a se depimene. Vems um Sae dene, chei de des, que se de incninência uináia, quase ineiamene ceg e eduzid à humildade da esignaç. Simne peguna cm ele, pudic, vive a siuaç de ala de cnle silógic. Ele espnde: “É pecis se mdes quand se é velh” 9.
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Simne de Beauvi, A cerimônia do adeus (ad. ria Baga, 3. ed., ri de Janei, Nva neia, 1983). Ibidem.
A publicaç de A cerimônia do adeus causu impac. Muis epvaam Simne p sua desciç cuel da decadência de Sae. Sua aiude é inepeada cm uma vingança – alvez incnsciene – cna s simens que lhe am inigids n âmbi de sua elaç cm seu “am essencial”. ous, pém, viam na aiude da escia uma úlima e ceene hmenagem. Pel pac que zeam em 1929, ambs n haviam assumid cmpmiss de n dissimula nada, de dize sempe ud, cm da a anqueza? Ci nvamene o Laa resende, que bsevu, num aig paa jnal O Globo: “Se a Beauvi ivesse mid pimei, Sae n a pupaia”. E: “[...] ês ans mais velh, Sae cmeeu a cesia de me pimei”. Cube a ela ala sbe ele, n m em que ambs se diziam as cisas. Se cejams que diziam cm que aziam, as palavas cm as açes, veicaems que eles am éis a pac. Mais d que iss: am assusadamene éis a si mesms. Paa desgaça de Nelsn Algen.
Vênus (1859), de James Whistler.
National Gallery of Art, Washington.
bORGES E O aMOR À LITERaTuRa
Ele dá muia se, É um men e, É mesm um alea, Mas em um gande deei: Ele diz que é pea. Wilson Batista e Germano Augusto
I onde se pdeia lcaliza am na vida e na ba de Jge Luis Bges (1899-1986)? A palava am apaece em divesas passagens de seus escis. o egis d em, pém, n é suciene paa que lei que sabend de que ip de am se aa. A bigaa de Bges, escia pel inglês James Wdall, enaiza a inseguança eóica d esci. Wdall cna que, as dezi ans, na Suíça, Bges i a encn de uma psiua (que seu pai havia cnaad) e seu desempenh sexual eia sid desass 1. Bges i amig de Esela Can, mça ineligene e libeada; pediu-a em casamen e ela cndicinu sua aceiaç a uma expeiência: que eles dmissem juns. Bges n cncdu. Casu-se cm ua mça, chamada Elza, mas casamen duu só ês ans e eminu cm maid ugid de casa, sem uas explicaçes. Passu a ma gande pae d emp cm sua me, Len Aceved, que, anal, duane ceca de seena ans, cuidu d lh, pepau sua cmida e lavu sua upa. o bióga agenin Alejand Vacca esceveu 1
James Wdall, Borges: a lie (Nva Yk, Basic Bks, 1997).
que, mesm sem qualque cnaç incesusa, plngad cnvívi d esci cm sua me assemelhava-se a um casamen 2. Len Aceved ciu cndiçes que navam pssível a dedicaç inegal de Bges à lieaua. Ns úlims ans de vida, ó (a me mea em 1975), casu-se cm sua ex-aluna Maia Kdama. Vlams, en, à peguna inicial: nde lcaliza a cncenaç d am em Bges? o am esaia n ae dedicad pel pea cgenái à sua úlima musa? Esaia na gaid senida pel api ecebid de sua me? N há, na ba, nenhuma maca punda e inequívca de que am p dna Len, esse senimen d lh ga, enha sid m da ba péica de Bges. E n há – nem pdeia have – aebaamen nas eeências aeusas eias à sua jvem cmpanheia, Maia Kdama, que vei pailha da sua vida quand a mai pae da sua pduç péica já esava eia e pucs ans de vida lhe esavam. rdl Knde, meu im, pund cnheced da pesia bgiana, lemba ua expess amsa: cainh que Bges senia p sua cidade, Buens Aies. Mesm quand já esava quase cmpleamene ceg, ele avenuava-se szinh pelas uas paa eaviva sua inimidade cm s lugaes que amava. Cnud, é evidene que, se sua pesia se esingisse as pemas dedicads a Buens Aies, ela n eia a impância que em. oua hipóese: am esava cncenad na elaç cm idima caselhan, que Bges sube culiva cm mui pucs. Mais exaamene, e cm mai abangência, a lng de da a sua ba, Bges nunca deixu de se um apaixnad pela linguagem. Vale a pena epduzims seu enusiasm cm suas pópias palavas: Nada sabems sbe sua igem [da linguagem]. Sabems smene que se amica em idimas e que cada um deles cnsa de um vcabulái indenid e muável, e de uma qualidade impecisa de pssibilidades sináicas. 3
Cm ceeza, Bges é um mese d idima e seu am pela linguagem é inegável. Ainda assim, pdems disp de uma espsa mais cnvincene.
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Alejand Vacca, Borges, vida y literatura (Buens Aies, Edhasa, 2006). James Wdall, Borges: a lie , ci.
A mai paix que mve n é an a linguagem, mas que ele az dela. A paix de Bges é a lieaua. II A dedicaç inegal à lieaua sbepe-se a us d em am. Quand invca belas mulhees, ele segue a ilha abea pels peas líics, sem cmpmiss cm a ealidade acual. Iss vale paa vess cm “uma mulhe me dói n cp inei”4 e “que me lemba daquele beij/ cm que me beijavas na Islândia” 5. Invadid p uma nda d passad, Bges evê cenas hisóicas e declaa a si mesm: “Essas cisas anigas acnecem/ só pque uma mulhe e beiju” 6. Esses mmens pdem e acnecid, pém é bem pssível que sejam invençes lieáias, cçes. E as mulhees pdem e sid de cane e ss, mas – cnvenienemene anônimas – paece pvável que enham sid anasias lieáias. A impância das imagens n esá ppiamene n a de seem ecdaçes de siuaçes de a vividas, u imaginadas, mas n papel que desempenham na anspsiç lieáia. A delidade à lieaua levu Bges a esclaece as limiaçes d am n seu unives pessal: “É am,/ cm suas milgias,/ cm suas pequenas magias/ inúeis”7. III É em unç da lieaua que Bges az sua avaliaç da cnjunua plíica e das cenes lsócas 8. os melhes esulads na anspsiç d que ele sene, vê e uve paa a ciaç lieáia s alcançads na abdagem d que se passa n plan exisencial. Exisencial, nesse cas, n signica necessaiamene naad na pimeia pessa d singula. Se ns sevisse “cua” sua expeiência vivida, Bges n esaia send el a cmpmiss implíci
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Ibidem. Ibidem. Ibidem. Ibidem. Beaiz Sal, Jorge Luis Borges, un escritor en las orillas (Buens Aies, Aiel, 1995).
que assumiu cm a dedicaç adical à lieaua 9. o exisencial de que se alimena a melh cç bgiana passa p uma eciaç lieáia que cm equência dispensa “eu”. Dis exempls desse pcedimen bem-sucedid encnam-se em dis cns que s duas pequenas bas-pimas: “o milage sece” e “os eólgs”10. N pimei, esci Jami Hladik esá send uzilad pels nazisas e pede a Deus mais um an de vida paa que ele pssa emina uma agédia que esá escevend. Deus aende a pedid p uma imbilizaç da cena. Duane um an, s sldads pemanecem cm seus uzis apnads paa cndenad, cmandane cninua cm gi de “g!” enalad na gagana e Jami cnsegue emina sua peça. P m, uve-se a dem d cmandane, pel aia e pisinei me. N segund cn, ava-se um duel elógic ene Auelian, campe da dxia, e Juan de Pannia, um heéic. N cnex medieval d cni, heéic é cndenad à me e queimad na gueia. Ans mais ade, numa empesade, Auelian é ulminad p um ai. Me queimad, assim cm seu advesái, e sua alma se apesena n Além. Pcuand sabe que cnsava de sua cha n u mund, Auelian descbe que, as lhs de Deus, ele e Juan de Pannia eam uma só e a mesma pessa. N pimei cn, pn de paida paa a sensibilizaç exisencial de Bges esá n a de Jami se um esci e de pedi um an mais paa – ah, a paix pela lieaua! – ... esceve. N segund, ele inha uma e mivaç paa ecusa discusses bizaninas e pvavelmene emia que se ciasse n mund uma siuaç de pess genealizada, e que, em al siuaç, ele viesse a e desin de Juan de Pannia.
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Emi rdiguez Mnegal, Borges, a literary biography (Nva Yk, Paagn Huse, 1978). Jge Luis Bges, “o milage sece”, em Ficções (ad. Cals Neja, 6. ed., S Paul, Glb, 1995) e “os eólgs”, em O Aleph (ad. lávi Jsé Cadz, 6. ed., S Paul, Glb, 1986).
HEGEL, a PaIXÃO quaSE ENLOuquECIDa
Na vida, a gene ama vine vezes: Uma p inexpeiência, Dezenve p casig. Antonio Maria
I Geg Wilhelm iedich Hegel (1770-1831) nu-se amig d pea Höldelin e d jvem lós Schelling quand s ês cusavam Si, um enmad seminái de elgia pesane em tübingen. i lá que alguns aluns, ene s quais s ês amigs, paicipaam da celebaç clandesina de um acnecimen da hisóia ancesa que macu da a hisóia d ocidene: a mada da Basilha. Mais ade, Schelling nu-se um cíic áspe da revluç ancesa, Höldelin maniesu simpaia pel adicalism jacbin (e viveu s quaena ans nais de sua vida num manicômi) e Hegel – que inha um med danad de enluquece – pcuava cmpeende signicad da revluç, cndenand a plíica ds “bespieisas” (jacbins), pém acediand sempe que a mudança scial a necessáia. A lsa clássica alem eve seu mmen de glóia cm Kan, mas n iníci d sécul XIX a pespeciva de Kan i ciicada p iche. Schelling discdu de Kan e iche, e Hegel usu divegi de Kan, iche e Schelling. Em n de que giavam as divegências lsócas desses aues? Cei que um ds pns cenais das divegências ea a az. Schelling, empenhad em deende a eligi, desqualicava a az, e deendia que chamava de “inuiç sensível”. Hegel n abia m da deesa da az, pém susen ava que a az dava cna de uma ealidade cnsiuída, e denava-se cm diculdades damáicas quand se via desaada a explica dialeicamene
sugimen d “nv” (cm alg que n exisia passu a exisi?) e desapaecimen d que exisia e de epene deixu de exisi. Naquele mmen, pevalecia na abdagem desse ema uma vis de ip “psiivisa”, n senid ampl d em. o “nv” ea uma apaiç em cena de alg que já exisia anes, pém n ea nad, p ça de suas dimenses ínmas. E que envelhece, me e sai de cena cninua, de a, a exisi subeaneamene. N há espaç paa se pensa iníci e m cm “upuas”. A eduç de ambs a ansiçes desdamaizadas, a deslcamens emene cmpmeids cm a cninuidade, descnsidea a ça da descninuidade e a iesisibilidade da hisóia. Num ex esci quand esava abalhand cm pecep em casa de um cmeciane ic, em anku, Hegel caaceizu sua nva cncepç de az cm a busca da ligaç da ligaç e da n ligaç (u cnex da cnex e da n cnex). A az, p sua pópia naueza, cneca cisas, az ligaçes. o gande desa que a az enena esá em da cna d que lhe vem da esea d n cnecad, d “iacinal”. Se eal é inesgável, inni, ieduível a sabe, n há cm pensamen encasela-se numa cncepç ingênua de az, que se ppe, pua e simplesmene, a amplia seus dmínis já cnslidads, abangend de md “naual”, sem aumas, s nvs dmínis, que v send anexads de maneia a cnma sempe pde da az. Essa az, que nunca pecisa quesina a si mesma em nada de essencial, mve-se cm se dispusesse d pde de slucina, em pincípi, das as queses, mesm aquelas que ainda n am muladas (nem seque pessenidas). Paa enena a peens dessa cncepç, Hegel elabu um cncei de az ainda mais peensis: dispôs-se a pensa n mvimen hisóic ds sees humans simulaneamene à necessidade e à libedade. Pcuu cmpeende cndicinamen bjeiv das açes humanas a pai de uma aenç especial devida à capacidade que s hmens êm de ma iniciaivas, de inevi na hisóia, subjeivamene. “A naueza, paa hmem, é apenas pn de paida, que ele deve mdica.” 1
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Geg Wilhelm iedich Hegel, Encyclopedia das sciencias philosophicas (ad. pineia de Livi Xavie, ri de Janei, Impessa Cmmecial, 1936, v. 1).
o se human pede a iqueza de sua espiiualidade se ca eduzid a aividades “nauais”. Hegel advee, enean, que a dimens “naual” d vivid deve se supeada, mas n eliminada; sua maeialidade pde cnibui paa que Espíi n se ne demasiad absa em sua elaç cm Abslu e Inni. o Abslu abange ud, inclusive elaiv. Ele n em p que e pessa u impaciência, p iss cnvive anquilamene cm as cningências e casualidades. o Inni, p sua vez, é ilimiad, n pssui limies a seem espeiads. Em seu se naual, hmem é elaiv, limiad, cningene; n enan, pela capacidade de cnhece, é inni. o Espíi abalha cm mediaçes, n se saisaz cm cnhecimen imedia. A ma limiada da az ( chamad “enendimen”) esigna-se à niude, ecnhece-a – equivcadamene – cm insupeável. Hegel ciica essa ideia: “o ignane só é limiad pque n cnhece seu limie” 2. Cnhece um limie já é um indíci de que ele esá send supead. A az dialéica supea as limiaçes da az cnemplaiva, discenimen (Verstand ). E a supeaç se pcessa dialeicamene, is é, desói alg paa pde viabiliza a ansmaç, cnseva alg paa n pede cisas já cnquisadas n passad e eleva cnhecimen desse alg a um nível supei. Hegel undamena e demnsa esse méd em seu pimei liv: A enomenologia do espírito 3. o mvimen da cnsciência passa p váias “guas”: “sabe imedia”, a pecepç, discenimen, a cnsciência de si, a az e Espíi. É uma viagem sem m. o que huve de vedade em cada “gua” supeada seá esgaad na gua que a supea. o pcess d cnhecimen ecnhece e incpa ds s elemens das mais divesas pveniências, pém Hegel az d cncei ( Begri ) seu “heói”. o cncei é gande pm da linguagem da az, mas n cmanda dieamene pcess.
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Apud Leand Knde, Hegel, a razão quase enlouquecida (ri de Janei, Campus, 1989). Geg Wilhelm iedich Hegel, A enomenologia do espírito (ad. Paul Meneses, Peóplis, Vzes, 1992).
Sem inevi nas cnadiçes cm auidade, disciplinada, a az é “asucisa” (nu-se amsa essa cncepç hegeliana da “asúcia da az”, u List der Vernunt ). A az n cmpee cm s senimens, cm a sensibilidade, cm ambém n se cmpmee cm s cnis ene ineesses paiculaes. Ela aclhe sensível em sua caóica divesidade e pega cana ns ineesses paiculaes, pcuand ediecina ud paa a univesalidade. Paa evia que pcess p ela mniad se esseque e seja alsead pela absaç abusiva, cm a impsiç da univesalidade (u d que se supe pssa se a univesalidade), a az deve claba de md eeiv cm a sensibilidade. E é aqui que ena nss ema ppiamene di: am. Mais especicamene: am em Hegel. II N é casual que as cnsideaçes induóias enham se alngad. Quase ds s pesses de lsa que v ala sbe Hegel hesiam e emem exp de ma simplisa as ideias – muias vezes bscuas – que lós expôs em seus livs e em seus cuss. os escis ns quais Hegel disce mais lngamene sbe am só vieam a se publicads em 1907, p Nll, cm íul de eologische Jugendschriten4 (Escritos teológicos juvenis ). Eles giam em n d cncei de “vida”, e s cmenaisas cnsideam basane bscu. taa-se da “vida” em nssa sciedade, cmpmeida cm a aunmia ds indivídus, cm a cis, cm a sepaaç das pessas, que s ineviavelmene levadas a peseva sua independência, suas ppiedades. Essa siuaç acenua s cnis, enaiza as dieenças. o am, de algum md, pecebe as cnsequências desse quad, eage cna elas. E expla que lhe paece se ua maneia de exisi. o am n dispe d pde de alea quad, pém az a vida eencna a si mesma. A cis cnseva sua pópia ealidade, mas am maniesa sua psiç a ela. os amanes anseiam pela uni. Cnud, am enena um bsácul cuja supeaç esá além de seu alcance: s amanes s mais, nis. Hegel se peguna: e am, é ni 4
Apud Leand Knde, Hegel, a razão quase enloquecida , ci.
u inni? E chega à cnclus de que am é um senimen, mas n é um senimen paicula. Se cmpaams pde d am a pde da az, pecebeems que a az sempe pevalece, pque ege a alidade d eal, abalhand das as cnadiçes e psiçes inenas, deeminand s limies de ds s sees limiads. “o am n limia nada. N é limiad, n é ni.”5 “o am é senimen da igualdade da vida” 6, esceve jvem Hegel. N é um senimen paicula pque se eee à “vida al” e n a uma vida pacial. os amanes s mais, limiads; am, n. o am eduz a cis e cm iss eduz med. “o am é mais e d que med.” 7 A abdagem que Hegel az da paix é dieene de sua abdagem d am. Quand esceveu sbe am, ele dava s pimeis passs na cnsuç d seu sisema lsóc. A ala da paix, lós msava-se plenamene amaduecid. o que n que dize que suas bsevaçes a espei d am e da paix enham se nad claas. Paa que s indivídus saiam de uma cea inécia, mem iniciaivas e ajam, nas cndiçes de ceicism e descnança que se diundiam na épca cnempânea, eles pecisam ecnhece e assumi esluamene seus ineesses. E em mais: quand um deeminad ineesse paicula se sbepe as demais, é pecis que nele se cncene da a enegia d sujei, e s us ineesses cedem espaç a ineesse pincipal, que se caaceiza, en, cm paix. ica cla que n se aa d am ene duas pessas, mas da exaspeaç de um senimen necessái à benç de alg. Esse empenh adical de uma mivaç paicula n cnaia univesal, já que univesal se pupa, deixand que as paixes paiculaes sam s desgases da guea que elas avam ene si. A az usa as paixes. os indivídus, pess à esea d paicula, s sacicads. Cnud, a az pecisa da paix. Hegel dizia: “Nada de gande se ealizu n mund sem paix” 8.
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Ibidem. Ibidem. Ibidem. Ibidem.
E acescenava: “o ineesse paicula da paix é insepaável da aividade d univesal”9. Uns pucs indivídus desacam-se a agi (Hegel s chama de “heóis”), pque subeam bebe numa ne cuj cneúd ea cul e puseam da a sua enegia a seviç d “Espíi d Mund”, is é, a univesalidade. A pespeciva da univesalidade pevalece, cm equência, de maneia vilena, às vezes inescupulsa, mas é impsa p uma dinâmica cuel, sem alenaivas. Cmenand essa dinâmica e sua “acinalidade”, au dese liv esceveu e publicu um esud sbe lós que se iniula Hegel, a razão quase enlouquecida . Aga, diane da cncepç hegeliana da paix, e cnsideand a dispsiç cm que ela se esigna a aze seviç suj que a az espea que ela aça, eslvi iniula ex que lei acaba de le: Hegel, a paixão quase enlouquecida .
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Ibidem.
FREuD, TESÃO E TERNuRa
Hje eu enh apenas uma peda n meu pei, Exij espei, n su mais um snhad. Cheg a muda de calçada Quand apaece uma E du isada d gande am. Menia. Chico Buarque de Holanda
Ideias de Sigmund eud am penunciadas p aues que viveam anes dele. N sécul XVIII, p exempl, Dide já adveia: “N und ds senimens mais sublimes e da enua mais depuada, há um puc de esícul”1. Deixand de lad a limiaç “machisa” (cm a libid eduzida a esícul), ems na bsevaç eia p Dide uma bava anecipaç da pespeciva de eud. N enan, esse víncul na-se mais cmplicad quand, em ua passagem, lós ancês, a se dena cm ideias maeialisas vulgaes, que eduziam se human a animal que cmandava, pesu: “N supaei que se clque hmem de qua paas” 2. E essa eduç d hmem a animal vei a se núcle da gande acusaç cna ciad da psicanálise. Sigmund eud é alvez au mais alad d sécul XX. Mesm pessas que nunca leam nenhum de seus livs, u aé nenhum de seus aigs, alam dele cm desenvlua. taand-se de cmenáis eis cm base 1
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Chaly Guy, Diderot par lui-même (Pais, Seuil, 1978, Cleç Écivains de tujus), p. 37. Ibidem.
n que se “uve dize”, é naual que as cisas que s dias cm equência caeçam de undamen. A diu dius s de pecnc pecnceis eis cn cnaa a psic psicanáli análise se big bigu u eud a ava divesas baalhas em n da necessidade de leva a séi as exigências d cnhecimen cieníc. Esse cmbae às cncesses eias a mds de pensa esaicads, de eiç iacinalisa, apximava eud d Iluminism. os iluminisas, pém, n enenavam s pblemas d sécul XIX cm a mesma desenvlua e ecundidade que haviam demnsad n sécul XVIII. XVII I. Susen Susenavam avam que cnhec cnhece e ea libe libeaa-se, se, pém subd subdinavam inavam cnhecimen a cnle execid p uma cncepç eseia de az. Escegavam, Esc egavam, cm equência, num acinalism mal que se nava me cnapn inócu a iacinalism de seus cnadies. eud admiava s avançs d cnhecimen, mas n queia se iludi, paa depis n se desiludi. Segund ele, ea necessái que s médics – s cienisas, em geal – chegassem a ve hmem n peíd inicial de sua exisência cm um animalzinh. De qua paas. i assim que eud abiu caminh paa esud da sexualidade inanil. i assim ambém que ele abiu caminh paa que a hisóia ds hmens sse pensada cm uma supeaç, necessaiamene incmplea, cnadióia, pnilhada de ecesss, macada p avançs e ecus, ziguezagueane, mas eeiva: a supeaç de ces aspecs de uma cua animalidade. o que nós sms n pn de paida n pegua, n deemina peviamene que seems n pn de chegada. N nal d sécul XIX, em A interpr interpretação etação dos sonhos 3, eud elabu pincipal pin cipal cncei d seu asenal eóic: cncei de inconsciente . Mais ade, ele cmpaaia sua descbea a um ude glpe n nacisism da humanidade. o se human, habiane da tea, tea, pecisu apende cm c m Cpénic que nss pequen planea giava em n d Sl. tmu cnhecimen de sua igem e descbiu cm Dawin que ems ascendenes em cmum cm s macacs. E cm eud cu sabend que sua alma n ea dna seque da casa dela: um mad enigmáic, miseis, invisível – incns ciene – passeia sempe pels cedes d casel.
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Sigmund eud, A interpretação Waldeed Ismael de oliveia, ri de Janei, interpretação dos sonhos sonhos (ad. Waldeed Imag, 1999).
eud nunca se cnsideu um lós. Evenualmene azia eexes e cnsideaçes lsócas. Leu s gegs, russeau, Dide (alvez devesse e lid mais Dide), Schpenhaue, Niezsche e Gusave Le Bn. i inuenciad pels iluminisas e pels mânics, p acinalisas e p iacinalisas. obsevava aenamene que s us médics deixavam de lad: s snhs, s lapss de linguagem, as piadas, s cacees e ds s pssíveis sinais d incnsciene4. Assumiu uma psiç esluamene cíica em ace das peenses e da pepência da az. Pagu ca pela audácia de seus quesinamens: s cnsevades aacaam cm uma veemência que hje nós ems diculdade de cmpeeende. tis de Aaíde, que mais ade cmbaeu cm demcaa a diadua milia, em seu peíd de miliância dieiisa caaceizu eud cm “ psicólg d ine-hmem, anípda d u desvaiad, psicólg d supe-hmem, Niezsche” Niezsche” 5. o ialian Givanni Papini Papini i ainda mais cnundene: chamu eud de abid das sajeas da alma. Cm a enua pdeia ba das sajeas? A ça d abalh ealizad p eud n plan da eia esá em sua cmpeens punda das cnadiçes e das ambiguidades d se human. o mvimen analisad pel ciad da psicanálise, an n âmbi paiculaíssim da exisência de cada indivídu cm n plan geal da evluç da humanidade, em a mesm emp cninuidade e upua. D a de que bebê az cnsig, a nasce, sua sexualidade, n se inee que sujei, a cesce, peseve uma sexualidade de bebê. tds mudams. Cnud, eud ns ppcina insumens cnceiuais paa examinams cm espíi cíic algumas pesisências necessáias e uas basane incnvenienes de mds de seni, de eagi, que aelam sujei a um passad malsupead 6. Dis pincípis auam n uncinamen da psique: d paze e da ealidade. os sees humans buscam que desejam e aam de evia que s ameaça, s incmda e lhes causa simen. A educaç alece pin-
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Ségi Paul ruane, eoria crítica e psicanálise (ri de Janei, temp Basilei, 1983). A. A. Lima, Freud (ri de Janei, Dm Vial, 1929), p. 9. Jel Biman, Ensaios de teoria psicanalítica (ri de Janei, Zaha Zaha,, 1993).
cípi da ealidade e pcua cnla pincípi d paze. A ae, p sua vez, empenha-se em cncilia s dis pincípis. A psicanálise ajuda cnhecimen a se debuça sbe si mesm, auciicamene. N i paa iss, n enan, que ela i ciada. eud, que ea médic, ciu-a paa, cm suas écnicas psiclógicas, cua as neuses. E, uma vez alcançad esse bjeiv, devem exisi, em pincípi, cndiçes melhes paa que s indivídus enem se mais elizes em sua vida amsa. Juandi eie eie Csa advee que “ “ am i invenad”: invenad”: nada nele é x p naueza 7. Nss md de ama – e de vive uma expeiência de am-paix – n segue as egas de nenhum pgama. o indivídu pde expeimena cisas que paecem amalucadas e, n enan, cnvivem cm a suavidade da puls ena. A paix amsa cespndida cia a sensaç de plena elicidade, uma sensaç de nipência nacísica esau ada. Duane um emp basane limiad, sujei vive n “ud u nada”. Depis, pede. eud n dua a pílula. Em O uturo de uma ilusão , esceve: “[...] a peplexidade e desampa da aça humana n pdiam se emediads” 8. Jel Bima Bimann adve advee e que desam desampa pa n se cn cnunde unde cm desal desalen en e n esula necessaiamene em esignaç e peda da cmbaividade. A pespec pespeciva iva de eud, enean enean, , n pdems nega, esá impegn impegnada ada de pessimism: ele n em nenhuma cnança na humanidade, em med de upias e de evluçes. o que é ascinane nele é md cm é capaz de escapa das cnsequências de seu cnsevadism lsóc, dibland as implicaçes plíicas de alguns peceis eóics desanimades, desmbilizades, p ele mesm adads. o ciad da psicanálise n abandna jamais suas suspeias, nem mesm quand se apia em cnvicçes psiivas, a empeende suas pesquisas. Iss anspaece em sua cncepç d am. Am, bsevu bsevu eud em 1921, é um em mui abangene. Ele ecnhece a impância da palava pel que ela designa. É uma u ma palava que inclui inúmes senimens, váias emçes, divesas sensaçes. Cnud, núcle 7 8
Juandi eie eie Csa, Nem raude nem avor (ri de Janei, rcc, 1998). Sigmund eud, O uturo de uma ilusão e Sexualidade Feminina (ad. Jsé ocávi de Aguia Abeu, ri de Janei, Janei, Imag, 1974), p. 29.
dessa muliplicidade de enômens, a mivaç básica, as aspiaçes, ud apna na dieç da elaç sexual, da uni genial. Quem igna as dieenças e as inedependências desses enômens, n cmpeendeá am. eud achava que as peças eaais de Gege Benad Shaw inciam nesse e; susenava que eaólg inglês n enendia que ea am. Idealiza am é uma maneia de miicá-l e n cmpeendê-l. o am em sempe um subsa ísic, cpal, libi dinal. N supa ve hmem clcad de qua paas, anal, é ecusa-se a vê-l n pn de paida de sua humanizaç. É disp-se a igna a animalidade que subsise em nós. N enan, eud se inquiea. Ele sabe que, apesa dessa dimens de cninuidade hisóica, s sees humans auais s mui dieenes de seus anepassads ems. As divesas culuas vêm invenand mas suis e delicadas de ama e maniesa am. o ciad da psicanálise n ignava essa mudança. Cm a hnesidade inelecual que caaceiza, ele enena a ques da elaç da enua cm es. As pulses “enas” s, paa eud, aquelas cuj bjeiv eóic pimái n i alcançad, cuj m i inibid. Insaiseia cm a espsa de eud, Ana Lila Lejaaga 9 levana dúvidas cm elaç a essa explicaç e se peguna: de nde vem a enua d bebê? Se ns emeems à siuaç de um bebê anei à “casaç”, quand n havia miv nenhum paa a inibiç e n se pde sabe qual m eia sid inibid, é cmpeensível que se cnsidee insuciene a explicaç de eud. A mesm emp, cumpe ecnhecems que a psicanálise em cise em cescid e amaduecid ns debaes que ava cnsig mesma e cm a culua d nss emp em geal.
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Ana Lila Lejaaga, Paixão e ternura, um estudo sobre a noção de amor na obra reudiana (ese de duad, Univesidade d Esad d ri de Janei, ri de Janei, 1999).
JaCOb bOEHME, O SaPaTEIRO MÍSTICO
Meu caç, N sei p quê, Bae eliz Quand e vê. Pixinguinha e Braguinha
I Jacb Behme nasceu em 1575, na aldeia de Alseidenbeg, n mui lnge de Paga. Ea um peíd smbi, de inensicaç da epess em da a Eupa. o cisianism, dividid ene caólics e pesanes, endia a elimina sicamene seus dissidenes. Enegava-s a “baç secula” paa “meem sem deamamen de sangue” 1. Jacb Behme ea anzin, n se habiuu à dueza d abalh na ça, nem se msu mui eciene n a d pequen ebanh de seu pai. i encaminhad a apendizad da pss de sapaei, abicane e emend de calçads, que lhe ppcinu susen a lng de ba pae de sua vida. N se sabe de que md, mas Behme apendeu a le e a esceve. Cm, apesa da invenç da máquina impessa, s livs eam mui cas, ele s pegava empesads. Em 1599, casu-se cm Kahaina Kunschman, a lha d açuguei da cidade. Ele ea uma pessa esanha, inha vises, uvia Deus lhe aland. N enendia p que, send nipene, Deus pemiia que exisisse mal. Em 1600, eve um snh em que se viu caind num espaç cmpleamene 1
Hans Gunsky, Jacob Boehme (Suga, mmanns, 1956).
escu. Pecebeu uma pequena luz que se apximava e cmpeendeu, en, que a luzinha ea Deus, e que Ele exisia se expandind, p iss esava pesene, de maneia mais incisiva, naquil que acabaa de nasce d que naquil que envelhecia. A eva ea mal, que p cnase ns pemie enxega Deus, a ma abslua d bem. Deus engenda a si mesm, sem paa. Behme cnu esse snh em seu pimei liv, Morgenröte ( Aurora ), e, sbe ele, disse: “Apendi mais em um qua de ha d que eia apendid em alguns ans de univesidade” 2. Alguns eólgs pesanes cnsevades inegaam duane váis dias. Indagavam dele se n ea peens demais acha que Deus esclhea paa se Seu pa-vz. Sem malícia, Behme espndeu que ambém achava pblemáica a esclha de Deus, mas n se dispunha a discui-la: “Supeende-me que Deus pssa se evela plenamene a um hmem simples, quand exisem hmens sábis, que aiam bem melh d que eu”3. os eólgs lueans impuseam-lhe pagamen de uma mula, cnscaam seus manuscis e aancaam dele cmpmiss de nunca mais vla a esceve. De a, de 1613 a 1619, Behme pau de esceve e dedicu-se exclusivamene a cnse e à venda de sapas. Mas seus escis n se pedeam: Kal Ende vn Secha, um aiscaa das vizinhanças, sube das pecupaçes lsócas d sapaei e mandu aze cópias de seus exs. o cícul de amizades de Behme se ampliava, mbilizand pessas inuenes, cm médic tbias Kbe, que ez le escis alquímics e lós Balhaza Walhe, que levu à Cabala, cm seus ensinamens seces aibuíds a Misés. Hans Gunsky, na bigaa que esceveu sbe Jacb Behme, dá inmaçes a espei de sua ba e ala d api que lós ecebeu de Augusin Cöppe, rudl vn Gesd, Michael Kuz, Kaspa vn üsenau, Hans Siegismund vn Schweinichen e David vn Schweinichen 4. Geg riche, eólg cnsevad que havia aancad dele cmpmiss de nunca mais esceve, sube que sapaei havia mpid 2 3 4
Ibidem. Ibidem. Ibidem.
sua pmessa. Diane das nvas cndiçes, cnud, ea pecis pensa duas vezes anes de pendê-l, pis hmem se naa cnhecid e inha muis amigs. uis, riche esceveu que s escis de Behme inham anas linhas quanas ensas a Deus e ediam a chulé, cm s sapas que ele cnseava. Já zems menç, em us capíuls dese liv, às enses da passagem d sécul XVI paa sécul XVII. Ea a épca de Shakespeae e de Cevanes, de ancis Bacn e de Descaes, de Gidan Bun e de Tmas Hbbes. Uma épca de muia inseguança e med. Na medida em que s de “baix” se punham em mvimen e invadiam as eseas da aiscacia, eles incmdavam s de “cima”. A lsa ea um camp de cnhecimens esevad as hmens ics, u a mens dispensads de pecupaçes maeiais cm a sbevivência. É sinmáic, en, que nesse peíd umuluad espaç da lsa enha sid invadid p plebeus, cm mlei Dmenic Scandella, vulg Mencchi, gua cenal d liv O queijo e os vermes , d hisiad Cal Ginzbug 5. ou cm nss Jacb Behme. N sabems cm Behme apendeu a le, pém sabems que seus escis expem ideias séias, bem cncaenadas, bem desenvlvidas. Sua pespeciva mísica n impedia de exp cm claeza e acinalidade s undamens das eias que adava. Cm mísic, enean, endia a despeza aiculaçes inelecualmene mui ssicadas e mediaçes cmplexas, subsiuind-as p bsevaçes dieas muias vezes piescas e um an supeendenes. Empenhad em deende a ideia cis da Saníssima tindade, p exempl, ele az da lea “E” um símbl especial, p aze cm ela ês acinhs hiznais. Em d cas, mais impane d que a lea “E” na lsa de Behme é cncei de Auswickelung , em que pdems aduzi p “desenvlvimen”; adveims, pém, que a palava que usualmene aduz desenvlvimen em alem é Entwicklung ; Auswickelung sublinha a de que se aa de um desenvlvimen de den paa a.
5
Cal Ginzbug, O queijo e os vermes (S Paul, Cmpanhia das Leas, 1987).
Inicialmene em designava a maneia de exisi de Deus, depis passu a indica ambém a maneia de exisi d sujei human. o mvimen pel qual s hmens exisem é impulsinad p uma vnade ( Wille ) de auamaç, que depende das cnadiçes paa exisi. Se as cnadiçes n exisissem, a humanidade seia um maasm, exisiia de ma esagnada. ou n exisiia: “o que n em vnade é idênic a nada”6. Paa Behme, que havia de mais ascinane na humanidade ea a exema divesidade ds mvimens subjeivs das pessas, que a seni, pensa, agi, eam mvidas p essa vnade que exise den delas. os sees humans se guiam p essa vnade, mas cumpe pegun ams que guia a vnade? o que guia a vnade é am. o am em pde de educa a vnade, elevand a alma a Deus. A educaç d am pela vnade, n mísic, n se pende a peceis eóics xs, a duinas inquesináveis. Ela se dá n vivid. Na induç que esceveu paa a ediç d liv de Mese Eckha, Lenad Bf bseva que mísic se sene em cna die cm Deus e peza mais essa expeiência d que s ciéis esabelecids pela hieaquia da Igeja e pelas auidades eligisas. Paa mísic Behme, s indivídus êm uma ligaç libeada cm Deus e equenemene é vis cm suspeiç pels deenes d sabe eclesiásic cnsiuíd. Bf esceve: “A mísica em si mesma é libeada. Ela mpe cm s esquemas mnads pela vnade de pde e de ganizaç, seja da eligi, seja da sciedade” 7. As nmas de cndua e s pincípis adads na eligi e na sciedade n êm a mesma capacidade de se azeem ama que encnams em Deus e nas pessas. Esse am que ns na mais cmpeensivs e mais leanes nas elaçes que ems uns cm s us. Ele é decisiv ns dis plans simulaneamene: n plan da nssa elaç ene sees humans e n plan da nssa elaç cm Deus. o que azems uns as us é a Deus que esams azend. “Aquele que busca e encna seu im u sua im buscu e encnu Deus.”8
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8
Ibidem. Mese Eckha, O livro da Divina Consolação (in. Lenad Bf, Peóplis, Vzes, 1999), p. 43. Hans Gunsky, Jacob Boehme , ci.
Em uma de suas ases mais cnhecidas, Behme assegua: “o am é venen paa Diab”9. A amaç em ênase e pde de impac. Pde se que subesime a ecácia ds cnavenens d Demôni, mas seu pde de mbilizaç é inegável. II o casamen cm Kahaina lhe deu qua lhs. E ele se seniu mui eliz pque, cm dissems, sua cnvicç ea a de que ud que nasce e cesce esá mais pe de Deus d que aquil que envelhece e denha. Ea um pai ams, aen às expesses de lucidez e de enua das cianças. “As cianças pdem ns ajuda mui”, dizia, “cm d nss sabe e a nssa espeeza, as lhs delas sms uns ls” 10. Pcuand se elacina cm s vizinhs e cm pv de Alseidenbeg, lós nu que havia uma diusa hsilidade cna ele. A que ud indica, s cnseva des vinham inciand s campneses cna sapaei-lós. A campanha aingiu seu auge quand Jacb Behme viu que seus lhs eam hsilizads, insulads, agedids. Ele n pdia mais pemanece na aldeia. i çad a se exila cm a amília. Insalu-se em Desden, mas vei a decepç e a mága. Behme n se adapu, senia ala da gene que lhe eibuía genileza cm agesses e adeceu gavemene. Meu passads uns pucs meses, em 1624. Deixu uma liç luminsa: “Sms aquil que sms capazes de aze de nós mesms” 11.
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Ibidem. Ibidem. Ibidem.
Leitura sob a lâmpada (1858), de James Whistler.
New York Public Library, Nova York.
EMILY DICKINSON: MINHa CaSa, MEu uNIVERSO
os uxinóis, ene as es, Pcuam seus ames. Lamartine Babo
Emily Dickinsn (1830-1886) vivia islada n inei ds Esads Unids, em Amhes, n esad de Massachuses, n luga nde nasceu. Seu pai, advgad e plíic, meu ced e deixu a amília em cndiçes nanceias anquilas. Emily e sua im mais mça, Lavinia, mavam num casa hedad, a lad da casa de seu im, William. Escevia pemas desde mui jvem, mas n cnava cm api decidid ds amigs da amília, em geal. Dialgava cm eveend Chales Wadwh, mas a vasa cespndência ene s dis se pedeu. Alguns cíics acham que eveend ea apaixnad p ela, us acediam que ele se pecupava cm suas inquieaçes e cm isc de ela vi a pede sua alma. ous amigs da “casa”, cm Tmas Higginsn, Samuel Bwles e Jhn Hlland, ecebeam pemas de pesene, caam sensibilizads, agadeceam, pém deixaam anspaece que, na pini deles, aqueles exs n eam ppiamene pesia. Susan, cunhada de Emily e mulhe de William, ecebeu dela ceca de ezens pemas. Cmveu-se cm cainh, mas n se senia capaciada paa avaliá-ls. o islamen de Emily msa-se ambém n a de ela e saíd de Massachusses uma única vez, cm sua im, paa visia pai em Washingn quand ele i elei depuad. Pdems dize, assim, que Emily Dickinsn nasceu, viveu e meu em Amhes, sempe na Main See, núme 280, segund inmaç bida num ex d pea Amand eias ilh.
Cm a me dene, Lavinia e Emily se dedicaam a cuida da anci. i nessa épca que Emily passu a se vesi sempe de banc. Se alguém dissesse a um habiane de Amhes que aquela que ele designaia cm uma “velha piesca” ea a mai peisa ne-ameicana d sécul XIX, ele cm ceeza n acediaia. A lng de sua vida, Emily publicu smene see pemas. Quand meu, n enan, sua im enegu a um edi uma caixa cm mais de duzens pemas de auia da alecida. E eles eam, na vedade, smene uma pequena amsa da pduç péica de Emily, que, segund cnsa, chega a 1800 pemas 1. Ela escevia em qualque ip de papel, aé em papel de embulha p. Depis que i “descbea”, diundiu-se um ce ascíni p sua pesia. E, cm a ama pósuma, cmeçaam a cicula hisóias a espei de sua vida amsa. teia havid um mance ene ela e eveend Wadwh? E esse mance eia sid plaônic? Um amig da amília, que n escndia sua admiaç pela escia e pela mulhe Emily, ea ois P. Ld Salem, ambém chamad “Judge Ld”. Váias esemunhas inmaam que, depis de enviuva, “Judge Ld”, que nunca deixu de equena a casa, acenuu suas expesses de cainh p Emily. Ele a eia pedid em casamen? É inúil pcuams em sua pesia indícis de elemens que pdeiam ns ppcina espsas a esse ip de ques. Emily ea uma mulhe ímida, echada, esluamene mbilizada na deesa de sua inimidade. Mas iss n impede que cada lei especule, p sua cna e isc, a espei de algum víncul (incnsciene) ene um pema e uma expeiência vivida. Pessalmene, cness que gs de imagina que pema “Pessenimen” se diige a ela mesma e em a ve cm pedid de casamen que alvez nunca enha sid ei. Pessenimen é a Smba – lnga – n gamad, Sinal de sóis a descamba;
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Emily Dickinsn, Te complete poems o Emily Dickinson (ed. Tmas H. Jhnsn, Lndes/ Bsn, abe and abe, 1975).
Nícia à elva em sbessal – A Escuid vai chega.2
também n n pema “A campina camp ina”” (“Paiie”), (“Paii e”), enh a impess impess de enxega uma declaaç de aucnança da escia em sua capacidade de devanea. A cnsuç da campina depende da se ( ev), d abalh (as abelhas), mas depende sbeud de nssa anasia ciada ( devanei). P’a se aze uma campina e só um ev e única abelha, Únic ev e uma abelha E a anasia. A anasia basa, Se a abelha se aasa.3
taa-se, bviamene, de uma leiua abiáia, uma vez que nada pde cmpvá-la, nas cndiçes auais da pesquisa. Nada, pém, a desauiza. os desas que a pesia de Emily ns apesena s muis. Sem cmee e – impedável – de eduzi a ba a uma dcumenaç sbe a vida da escia, é naual que, a lê-la, sejams levads a aena paa as macas singulaes de sua bigaa paicula na univesalidade de seus vess. Emily impessina pel vig de seu liism, a mesm emp ansbdane e dens. Seu discus é cmpac, mas uid e agadável. Ela ea uma mulhe que inha mui am paa da, emba sse sliáia e descnada. Sem dúvida, msu ae pel pai, pela me, pela im Lavinia, pel im William, pela cunhada Susan, pel eveend Wadwh e p “Judge Ld”. Enean, em cada um desses cass, a esabilidade de um “quee bem” ceamene adminisad pevalecia sbe qualque aebaa men men passinal. Sua ineligência e sua enua eam undamenais. Quem, pém, a imaginaia ugind de casa paa vive uma ligaç óida cm um cowboy ? Quem a imaginaia eicamene enegue ns baçs de um índi? N há nenhuma
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Emily Dickinsn, Uma centena de poemas (ad. Aíla de oliveia Gmes, S Paul, t. A. Queiz, 1985), p. 111. N iginal: “Pesenimen “Pesenimen – is ha lng Shadw – n he Lawn –/ Indicaive ha Suns g dwn –/ Te nice he saled Gass/ Ta dakness – is abu pass”. Ibidem, p. 145. N iginal: “t make a paiie i akes a clve and a bee,/ one clve, and a bee,/ And evey./ Te evey alne will d,/ I bees ae ew”.
indicaç em sua pesia de que esse caminh pudesse se ilhad. Avenuas, mances e nams n eam a sua vcaç. Cnud, n âmbi d am, pde d devanei sugee que nada lhe paecia absluamene impensável. Em um de seus pemas, Emily deslca pblema da libedade das pçes amsas d plan individual, exisencial, paa plan da capacidade de cmpeende (que s hmens demnsam n e) em sciedade. o que devems dize as us? Paa nssa peç pessal, u mesm paa peseva a humanidade, ems diei de selecina que achams cnveniene s us sabeem? ou devems sempe dize ud, a vedade ineia? Em um de seus pemas, Emily ns dá uma espsa péica e éica que – alvez sem que subesse diss – ea ambém uma espsa plíica. Paa ela, a humanidade ecnhece a inedependência ds indivídus e das culuas, pém ende a ve ns us uma ameaça. Dize da a Vedade – em md blíqu – N Cicunlóqui, êxi: Bilha demais p’ p’a a nss enem gz seu sublime sus. Cm a menins se explica elâmpag De md a sssegá-ls – A Vedade Vedade há de deslumba desl umba as pucs os hmens – p’a p’a n cegá-ls. c egá-ls.4
o am à humanidade n excluía a descnança e pauava-se pela dispsiç pemanene de enende melh s us. Pensa na dieença. Paa cmpeende que há de esanh, de mei luc em meus inelcues, su bigad a encaa desa de ena cmpeende que há de esanh, de mei luc den de mim. A suave senha eve a audácia de se peguna cm eagiia se vlasse paa casa depis de uma ausência de muis ans. Imagina-se hesiane, cm a chave da casa na m. A abi a pa, uma pessa descnhecida indaga que vem aze ali e ela espnde
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Ibidem, p. 135. N iginal: “tell all he tuh bu ell i slan –/ Success in Cicui lies/ t bigh u inm Deligh/ Te tuh tuh’’s supeb supise/ As Lighning he Childen eased/ Wih explanain kind/ Te tuh tuh mus dazzle gadually/ o evey man be blind”.
que é assun dela: “é só uma vida que deixei aqui” (“jus a lie I le”). Nesse pesadel, ndas d passad, cm um cean, vêm queba em seus uvids. E ela acaba p laga a echadua, apa s uvids e sai cend cm um lad (“like a hie”) 5. o e de Emily anecipa a expeiência d esci tm Wle, que, a egessa a sua ea naal depis de uma plngada ausência, pecebeu que ud havia mudad e ea impssível vla paa casa. Emily Dickinsn n pecisu vive a expeiência que Wle eve n sécul XX; já n sécul XIX ela bsevava cm apeens a maé mnane das gandes agiaçes, das gandes mudanças que macaiam a hisóia que se ez depis. Ela sabia que pecisava mui da esabilidade que só um auênic la pdeia lhe ppcina. A siuaç em que tm Wle viia a se encna mais ade ea impensável paa ela. A peisa pcuava la em casa s sns d mund.
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Idem, Te complete poems ..., ..., ci. N iginal: “I yeas had been m m hme,/ And nw, bee he d,/ I daed n pen, les a ace/ I neve saw bee./ Sae vacan in mine/ And ask my business hee./ My business,—jus a lie I le,/ Was Was such sill dwelling hee?/ [...] I mved my nges f/ As cauiusly as glass,/ And held my eas, and like a hie/ led gasping m he huse”.
Dois amores, escola italiana. Musée du Louvre, Paris.
ROSa LuXEMbuRGO, a MILITaNTE quE quERIa SER FELIZ
Um dia, encnei rsa Maia, Na beia da paia, a sluça. Eu pegunei que acneceu, rsa Maia me espndeu: o nss am meu. Aníbal Silva e Eden Silva
A revluç é exigene, n aceia qualque ades. Quem que se dedica a ela passa a se pesses múliplas, padece de váias limiaçes, esá pemanenemene sujei a se aingid p as de epess u cíicas de cmpanheis. N que depende dela, a revluç cba ds evlucináis uma devç quase ilimiada à Causa. Esse enômen é ácil de se bsevad, sbeud ns peíds hisóics em que se muliplicam s ebeldes enusiasmads, e ene eles “eve” a paix plíica. Na épca da revluç russa de 1917, ampls sees de massa esavam pundamene insaiseis e muia gene adeiu a mvimen cmunisa, n só na rússia, mas ambém na Alemanha. Sb cmand de Lenin, s blcheviques deubaam gven de Keensky e assumiam cnle d apaelh de Esad hedad d zaism. Lenin, pém, esava cnvencid de que, assim que s evlucináis alemes massem pde, cen d mvimen cmunisa em escala mundial deixaia de se a rússia aasada e passaia a se a Alemanha. Huve, de a, insueiçes na Alemanha. Em Bemen s evlucináis maam pde e gvenaam a cidade duane 26 dias. Em Munique, na Baviea, ambém huve, em 1919, um gven evlucinái.
Na Hungia s evlucináis se maniveam n pde duane cinc meses, de 1 de maç de 1919 a 1 de ags de 1919. Em Belim levane seu uma epess bual: rsa Luxembug, que discdava da insueiç, i assassinada p um gup de paamiliaes que em seguida se ez gaa, n sagu d hel nde esava insalad, paa cmema cime. Uma das guas mais emblemáicas da esqueda evlucináia daquele emp i Eugène Leviné (1883-1919), líde d levane báva. Pes, pcessad e cndenad à me, cm ea pevisível, declau as juízes: “Nós, cmunisas, sms ms de éias. tenh cnsciência diss”. Explicu-lhes seenamene que paa ele impane ea me de ma ceene, e n se apega às “éias”. A pç de rsa Luxembug cnasava singulamene cm a de Leviné. A Causa a que seviam ea apaenemene a mesma, pém md de sevi ea dieene que indicava dis mdels disins de mvimen e de sciedade, ambs cm mesm nme de “cmunism”. rsa Luxembug, cuj nme n egis de nascimen ea rsalia Löwensein Luxembug, n cespnde de md algum a essa imagem apesenada p Leviné. Emba seja um ds vuls mais náveis da hisóia das evluçes n sécul XX, sua gua e sua pesnalidade n pssuíam caaceísicas semelhanes às de um m de éias. Paa cmeç de cnvesa, aava-se de uma mulhe. E ainda p cima, uma mulhe anzina, delicada, inequivcamene eminina. N lhe alava valenia, cm demnsu a lng de da a sua vida, mas inha h à vilência. Lia mui, adava música, uvia enlevada Mza e Beehven. Apeciava a pinua de remband, gsava de desenha, e saia-se bem nessa ae, mas ambém se diveia cm caicauas. Ela apeciava s gess eleganes. N Cngess Scialisa Inenacinal de 1904, ealizad em Amsed, rsa eve discusses veemenes cm líde scialisa ancês Jean Jauès. Quand ese pecisu ala em plenái, n havia inépees pesenes. rsa, deixand de lad as divegências, imediaamene assumiu ps e aduziu na ha discus de Jauès. Além de ala ancês e alem cm uência, ela dminava uss e plnês, já que nascea em Zamsc, na Plônia, que en se achava sb
dmíni da rússia czaisa. N enan, rsa ea discea. Quand as cicunsâncias a çavam a msa as cisas que cnhecia, sempe achava um jei de advei seus inelcues das lacunas exisenes em sua maç culual. Diane daqueles que ecnhecia cm mais culs que ela, rsa se msava sempe dispsa a apende. icu ascinada cm a vasid ds cnhecimens de Plekhanv*. Mas espei n paalisava seu sens cíic, nem impedia que lhe viessem à cabeça diveidas anasias adlescenes. Cea vez, a acmpanha uma explicaç um an pessal d velh Plekhanv, rsa eve uma eaç que nós, basileis, n pdems deixa de asscia à Emília, pesnagem das hisóias inanis de Mnei Lba: “Gsaia mui de encaá-l e de msa-lhe a língua” 1. Decididamene, esse sens de hum n cmbina cm eseeóip de um evlucinái. Cnud, aç da pesnalidade de rsa que mais a aasa da imagem usual d evlucinái acha-se pvavelmene em sua elaç cm am. rsa ecusava-se a admii qualque “asceism”. Insisia n diei de cada se human vive plenamene sua pópia vida, de “vive cada mmen da vida em humana pleniude”2, cm esceveu à sua amiga Mahilde Wum. É cla que, megulhada na lua plíica desde a adlescência, jamais lhe passaia pela mene a ideia de busca na vida pivada uma espécie de “eúgi” cna as empesades públicas da hisóia. Mas ambém n ea aceiável paa ela saciíci da dimens esiamene pessal e ínima da exisência n ala da evluç. rsa clcava-se da, apaixnadamene, ns divess plans de sua vida: n esud ds pblemas eóics, na miliância plíica e, n mens, na elaç amsa. Seu espíi se mbilizava na ganizaç d mvimen * Guegui Valeninvich Plekhanv (1856-1918), scialisa uss. Em 1883, undu em Geneba gup Libeaç d tabalh; nu-se um gande divulgad das ideias maxisas e, em 1895, esceveu sua pincipal ba: Ensaio sobre o desenvolvimento da concepção monista da história (Lisba, Esampa, 1976). (N. E.) 1 Elzbiea Einge, Camarada e amante: cartas de Rosa Luxemburgo (ad. Nma de Abeu telles, ri de Janei, Paz e tea, 1983). 2 Ibidem.
peái, n cmbae pela ganizaç da sciedade e – igualmene – na busca da elicidade pessal. N lhe basava pesa sua (impane) cnibuiç as esçs emancipades da humanidade; ela senia que pecisava da cna de suas necessidades aeivas mais pundas cm indivídu. E as assume cm a mesma cagem e cm a mesma lucidez que evelu em seu engajamen plíic. Uma excelene dcumenaç a espei dessa dispsiç que rsa demnsu pssui se acha em suas caas a Le Jgiches, hmem que ela amava. S a d ceca de mil caas. Inelizmene as caas de Le Jgiches paa ela se pedeam. Eles se cnheceam em Zuique. Paa ugi da plícia plnesa, rsa aavessu a neia escndida numa caça caegada de en. Ela n ea bnia e mancava um puc a anda. Divess hmens, n enan, seniam-se aaíds p ela. Há uma ase de Shakespeae, que Max cia n pimei vlume de O capital e já i lembada nese liv, que diz: “o cus d vedadei am nunca i seen”. Cuisamene Max a cia n emp pesene: “[...] nunca é seen”3. N cas dessas duas almas exemamene cmplexas que eam rsa Luxembug e Le Jgiches, alvez di shakespeaian ainda pudesse se adicaliza: cus d vedadei am jamais pdeia se seen. Emba macada p sucessivs cnis, a elaç maneve-se p quinze ans. rsa snhava cm dia em que pudessem vive juns uma vida “nmal” e e um lh. Jgiches esquivava-se, alegand que as exigências da clandesinidade eam impeisas, e n lhe deixavam espaç paa acede a desej da cmpanheia. Em uma caa de 17 de dezemb de 1899, rsa cmenu: “É cnsane a necessidade que eu sin de uma ciança – algumas vezes iss se na insupável. Mas pvavelmene você nunca pdeá cmpeende”4.
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Kal Max, O capital (ad. regis Babsa e lávi r. Khe, 2. ed., S Paul, Nva Culual, 1985), p. 96. N iginal: “Te cuse ue lve neve did un smh” (William Shakespeae, A midsummer night’s dream , a 1, cena 1). Elzbiea Einge, Camarada e amante , ci.
rsa n se cncebia cm uma lea. Em 17 de mai de 1898, esceveu: “Su apenas um gainh cmum, que gsa de acaicia e de se acaiciad, que nna quand esá eliz e mia quand esá ineliz. [...] E, cm vcê n me deixa mia, n me esa u emédi sen esceve” 5. Ela azia invesimens cnsanes e maciçs em seu am. Um dia, pém, a cda se mpeu: ela cmunicu a Jgiches que havia decidid emina ud. Eles deveiam aua juns na plíica, cninua bns amigs, mas a aniga inimidade n pdia exisi, pque ela gsava de u. Jgiches n se cnmu, e ez esçs desespeads paa ecupeá-la. A sabe que rsa esava vivend cm jvem Knsanin Zekin, lh de sua amiga Claa Zekin e quinze ans mais mç que ela, Jgiches cu uis, ameaçand maá-ls. Puc a puc, n enan, a siuaç se acalmu. o mance cm Knsanin duu apenas ês ans. rsa desez a ligaç, cu szinha, e sempe se ecusand a eaa cm Jgiches. Ns ans que pecedeam iníci da Pimeia Guea Mundial, dedicu-se a abalh. Já ea uma aua cnsagada, desde sucess de seu liv Reorma social ou revolução? (plêmica cm Bensein, 1899). Esceveu, en, Introdução à economia política e A acumulação do capital , bem cm divess aigs bilhanes, bas-pimas d jnalism plíic. P casi de sua úlima pis, em 1917, ela sube que sua amiga Luise Kausky esava depimida e lhe esceveu uma caa em que dizia que, se alguma cisa acnecia cm uma pessa amiga, ela, rsa, abecia-se mui, sia, chava; se, pém, mund esava desaband, desaiculand-se, pcuava enende que esava acnecend e senia-se mais aliviada. recmendava a Luise, en, a seenidade de Gehe: “N espe que escevas pesia, cm ele, mas pde ada a aiude dele paa cm a vida, sua univesalidade de ineesses, sua hamnia inei” 6. Em Belim, n nal de 1918, numess sublevads zeam baicadas nas uas, a república i pclamada, e a evluç scialisa paecia iminene. Mas levane i dead e uma nda de epess desencadeu-se
5 6
Ibidem. Nman Geas, Te Legacy o Rosa Luxemburg (Lndes, New Le Bks, 1976).
cm exema ecidade. rsa n pde ada a aiude que ecmendaa à amiga: i assassinada p milianes (paamiliaes) de uma ganizaç de exema-dieia ( Freikorps ) em 15 de janei de 19197. Le Jgiches, que eseve a lad de rsa nas luas belinenses, empenhuse na idenicaç de seus assassins, mas acabu send ele mesm assassinad dis meses depis.
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Gilbe Badia, Rosa Luxemburg, journaliste, polémiste, révolutionnaire (Pais, Édiins Sciales, 1973).
HEINE: a POESIa CONTRa O EXÍLIO E a DOENÇa
Aé Jesus, que i Jesus, P um beij i vendid. Eu ambém já ui beijad p alguém, Eu ambém já ui aíd. Wilson Batista e Ataulo Alves
Se aga sua ppulaidade n é gande, devems lemba que, a lng ds séculs XIX e XX, pea alem Heinich Heine eve muis admiades e leies qualicads. Em 1844, iedich Engels, amig de Max, apnava- cm “ mais nável ds escies alemes cnempânes”1. Chales Baudelaie, pea ancês, lamenava em 1865: “Nssa pbe ança em mui pucs peas e nenhum que pssa se cnap a Heinich Heine”2. E Niezsche, em 1888, declau: “Heine e eu ms de lnge s maies aisas da língua alem” 3. E n sécul XX, mais pecisamene em 1948, Hannah Aend esceveu: “P n e usad mnócul de uma idelgia, e sim um elescópi, beneciu-se da mai disância e da mai niidez e pde se cnsidead ainda hje cm um ds avaliades mais bem undamenads ds acnecimens plíics d seu emp” 4. Heinich (na vedade, Hay) Heine nasceu em Dusseld em 1797 e meu em Pais em 1856. Segund seus biógas, ele “i pimei gande esci alem de igem judaica” 5. Seu pai, Samsn, ea cmeciane e s1 2 3 4 5
Michael Wene e Jean-Chisph Hauschild, Heinrich Heine (Pais, Seuil, 1988). Ibidem. Ibidem. Ibidem. Ibidem.
nhava em aze d lh um banquei. o i paen, Salmn, inha qua lhas e a eceia, Amália, que em casa ea chamada de Mlly, ea a peeida de Hay. Ese snhava em se casa cm ela, mas enenava a pdesa psiç d i. E sia p causa das pibiçes impsas an pel pai cm pela lha. taava, pém, de eagi. A pesia ajudava: “Das gandes des aç pequens cans” 6. Na vedade, seus pemas de juvenude n eam denss u punds, mas gaciss e equenemene misuavam liism deamad e hum. tanscev aqui, em aduç live, um deles: Snhei de nv um velh snh. Senads à smba cams beijs E ene iss, caícias, desejs Eu, animad, me dispnh A jua delidade eena. teu caç, cnud, descna Que n vu espeia a jua, P iss mdes minha m. Minha amada de beleza eena É da luz, enua e valenia. receb seus cainhs cm s, Mas a mdida eu dispensaia.7
Além ds cans, enu a psa, ea: esceveu a peça Almansor 8, que i encenada, pém n ez sucess. o ema ea usad: “um gup miniái” de epesenanes d Isl é cada vez mais pimid p uma maiia cis. Heine insceveu-se na Univesidade de Belim e de 1822 a 1823 acm panhu um cus de lsa da hisóia dad p Hegel. o i banquei, Salmn, emba impedisse de nama Mlly, deu-lhe uma blsa de esuds.
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8
Ibidem. Heinich Heine, Buch der Lieder (Munique, DtV, 1997). N iginal: “Mi äume wiede de ale taum:/ Es wa eine Nach im Maie,/ Wi sassen une dem Lindenbaum,/ Und schwuen uns ewige teue./ Das wa eine Schwöen und Schwöen aus neu/ Ein Kichen, ein Ksen, ein Küssen;/ Dass ich gedenk des Schwues sei,/ Has du in die Hand mich gebissen./ o Liebchen mi den Äuglein kla!/ o Liebchen schön und bissig!/ Das Schwöen in de odnung wa,/ Das Beissen wa übeüssig”. Idem, Almansor (Hambug, Hfmann und Campe, 1994).
As pucs, Heine nu-se cnhecid, mas suas cíicas iiavam s sees cnsevades da Alemanha e ele acabu se mudand paa Pais, nde viveu algum emp de dieis auais e clabaçes jnalísicas. Em palavas muias vezes mdazes, dizia que seu casamen cm a Alemanha n dea ce. Enusiasmu-se cm a revluç de 1830 e p iss apximu-se ds scialisas, ds seguides de Sain-Simn, de Pspe Enanin e ambém de uie. E cu amig de Kal Max. Suas pecupaçes, n enan, às vezes dieiam das d au de O capital . icava apeensiv quand pensava na bualidade da classe ds abalhades, na vulgaidade ds cmunisas, ns dans e cnsangimens ineviáveis que a beleza aísica seia cm a evluç. Suas pecáias cndiçes de saúde causavam-lhe inseguança: ele aceiu uma pens d gven ancês de 400 ancs mensais, paga pel Miniséi das relaçes Exeies p mei de um und sece. o ecebimen dessa pens e sua cnves a pesanism cnibuíam paa islamen que ele senia, sbeud ene s judeus e s scialisas. A slid e a dença de Heine se agavaam. Sua eaç a ambas i macada pela pesença a seu lad de uma mulhe, seu nv am. A mça abalhava cm apendiz numa lja nde Heine havia cmpad sapas. Chamava-se Cescenia; lg pea lhe impôs uma mudança de nme, de Cescenia paa Mahilde. o casamen ds dis ea vis cm um casamen ineliz. Eles bigavam mui, e ela admiia que n inha “nenhum aucnle”. Ele, p sua vez, mesm send pl “sensa” da elaç, azia cisas mui esanhas. P exempl: Mahilde inha um papagai que ela adava; Heine, p ciúme, envenenu-. É ineessane, pém, que em sua cespndência Hay Heine, apesa de admii s chques e s cnis, sempe jusique u a mens aenue as alhas de sua mulhe. P sua bigaa e p sua acilidade de veseja, Heine lemba u pea já abdad nese liv: ovídi. Ambs am çads a sai de seus países e meam n exíli, e ambs eam assumidamene ascinads pelas mulhees e equenavam bdéis. Heine, aliás, meu de sílis e seu simen, sem
alívi da mna, ea insupável. Mas ele n queia que s us ivessem cmpaix p ele e nunca pedeu sens de hum. A mais gave acusaç eia a Heine p seus cmpaias ea a de que ele havia aíd a páia. Suas análises da hisóia da Alemanha eam mui cíicas, mas esse ea seu md de assumi um cmpmiss ams cm a ea que via nasce. Num de seus pemas, ele diz: Quand escu ala alem, Sin uma emç dieene. Me paece que meu caç Sanga delicisamene.
Cm emp, n enan, n só sm da ala em alem, cm sm de da e qualque ala sangava- cm vilência cescene, à medida que ia pedend a vz; às vezes ele n cnseguia seque dia seus pemas. Seu liv Romancero i lançad na Alemanha e chegu a vende 8 mil exemplaes, pém i apeendid e queimad p dem d tibunal Cecinal de Belim. Nesse liv, pea maniesava desej de e uma lia em seus baçs, e desej se ealizu. Em junh de 1855, uma jvem senha de ceca de 30 ans, de nme Elise Kiniz, pedia-lhe auizaç p caa paa visiá-l. Ela ea lia e i imediaamene cnaada cm seceáia. Heine passu a chamá-la de Muche, p causa d desenh de um bche que paecia uma msca as lhs casigads d pea. A paix que Heine senia p Muche cespndia às suas necessidades aeivas e às suas anasias eóicas e nu-se cen de sua vida ns i meses que anecedeam sua me. Em seu esamen, Heine deixava bens capazes de assegua bem-esa de Mahilde. Quand se eeia a ela em seus vess, senimen que expessava n ea, é cla, de aebaamen passinal. Lamenava – cm um pai – que cm sua me ela casse simulaneamene na cndiç de viúva e de ó. Mas, a que paece, Mahilde cnseguiu mane audmíni. Ela e Muche cavam cm dene em has dieenes e n se encnavam. Viam-se uma única vez: Muche cumpimenu Mahilde, que n espndeu. Muche, úlim am de Heine, ea cula, inelecualizada, e publicu váis livs sb pseudônim de Camille Selden. i amane d cíic e
lós Hipplye taine n peíd de 1858 a 1869. Seus maies sucesss am Os últimos dias de Heinrich Heine e Memórias da Mouche . Neles se veica que, emba lhe alasse bilh d pea, ela apendeu cm ele a sala, evenualmene, p cima ds limies ene cmpmiss d ela ds acnecimens cm máxim de bjeividade pssível e execíci ds dieis da cç, a libedade da imaginaç e da anasia. Pucs escies susciaam an ódi cm Heine. Seu hum deixu eidas que duane muis ans n cicaizavam. Em um liv didáic iniulad Literaturas estrangeiras , esci p pades – e que ainda ea usad ns ans 1930 –, Heine é acusad de e “vilipendiad a Igeja, a Sciedade, a Páia e a Viude”. Mas adveem: “Acabu ceg, paalíic, desgss”. E eminam cm a cnclus iunal: “oi ans de agnia” 9.
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Ims Maisas, “Heine”, em Literaturas estrangeiras (S Paul, tD, 1930).
FLaubERT E a MaRé MONTaNTE Da buRRICE
Pvei D am d amag que ele em, En juei Nunca mais ama ninguém. Noel Rosa e Vadico
o menin Gusave, lh de um cnceiuad ciugi, ea bel, al, e, li e de lhs azuis. Cusu a ala, an que a amília chegu a suspeia que ele sse eadad menal. N ea. Enean, a cesce, cu ei e abualhad. Sae, que esceveu um exens liv sbe a pimeia pae da vida de laube, insise na ideia de que menin cmeçu a esceve pque inha diculdades paa ala1. N escevia cm acilidade, ex n uía, mas ele supeava as diculdades. Na escla, s clegas debchavam da maneia cm alava. Ele demnsu uma incível pesisência. As 15 ans cmeçu a esceve Memórias de um louco, sb pess, e ex msu qualidades, anal. Gusave inegava-se a espei de sua vida sexual. E azia uma amaç supeendene: dizia que esava pepaad paa am, mas n paa a inimidade canal. tendia a passa mais emp cnvesand cm amigs d que cm amigas, quand n esava escevend. Luise Cle, uma amiga eze ans mais velha, mudu essa siuaç. Eles namaam, caam caas e maniveam elaçes ínimas duane nve ans. Mas ela nunca equenu a casa de laube. 1
Jean-Paul Sae, L’idiot de la amille (Pais, Gallimad, 1971).
ouas mulhees inspiaam senimens amss a esci: Jeanne de tubey e Aplnie Sabaie. Huve, enean, um segund peíd cm Luise Cle, que anes havia sid amane d lós Vic Cusin (amig de Hegel, cujas ideias ele decididamene n enendeu). Mas laube achava Luise Cle um an escandalsa. Ela eve um mance cm esci Alphnse Ka e enu-lhe um ac de czinha nas csas. Ele sbeviveu. laube islava-se paa esceve, mas ecebia e visiava s amigs, e aé ez viagens em cmpanhia de alguns deles. Esceveu A tentação de santo Antão (1849), Madame Bovary (1851-1856), Salambô (1858-1862), Educação sentimental (1863-1869) e rês contos (1877), ene uas bas. Sua cncepç d am esava ligada às suas descnadas bsevaçes a espei das mulhees. Emma Bvay é um bm exempl diss. laube cnsegue cmpeendê-la, idenica-se cm ela, mas n pede nenhuma punidade de assinala suas ambiguidades. Emma é casada cm Chales, hmem de ba vnade, pém len e puc pespicaz. Ela chega a pensa que sabe que é am, mas cm que sene n é acmpanhad ds mmens de êxase e de aebaamen que encna ns livs (cíica de laube a manism), ela cnclui que n é de a am. Sene-se sucada n ambiene da pvíncia e supa mal a ina. Duane um baile ealizad num casel, ela descbe d encan ds ambienes aiscáics. Chales e Emma mudam-se paa Ynville, mas a eseieza da ina cninua. Penuncia-se um mance ene Emma e um jvem escevene chamad Lén, mas mç é ímid e se eai. Suge, en, bel, audacis e cínic rdlphe Bulange, que assedia Emma duane uma esividade cívica. laube mna cm gande habilidade um cnapn ene a ala ds ades bucáics da esividade cívica e discus ams de rdlphe, menis e ineessei. Ese, pém, é um sedu hábil, expeiene, e só vla a pcua Emma seis semanas depis, deixand-a basane inquiea. A áica dá ce: eles se nam amanes. Madame Bvay snha em ugi cm seu am, mas rdlphe vai emba szinh, deixand-lhe uma caa de despedida. o chque é vilen. Emma adece. Paa se ecmp, busca api na eligi, mas iss n eslve p
blema. “Quand se ajelhava n genuexói góic, diigia a Senh as mesmas palavas de suavidade que mumuava ua a amane nas euses d aduléi.”2 o maid, paa animá-la, leva-a a ea em ruen e lá eles encnam jvem escevene. Emma maca nvs encns cm Lén e eles se nam amanes. N enan, um vizinh de nme Lheeux s vê juns e az chanagem, ma dinhei de Emma. o escândal amaduece. o escevene Lén é demiid e Emma encna “n aduléi das as amlaçes d casamen” 3. Ela pecisa desespeadamene de dinhei, de mui dinhei, mas Lén n pde ajudá-la. Guillaumin, abeli, ena “pssuí-la”, assim cm amacêuic Hmais, cvade, chala, inven de uma pmada “anigísica” que sempe se guia pela pecupaç de n se envlve em nada que pssa lhe acaea algum pejuíz e de exai vanagens de das as cicunsâncias que pssam ppciná-las. o desespe de Emma chega a pn de levá-la a pcua ex-amane paa lhe pedi dinhei. rdlphe diz que n em. Ela en esceve uma caa a maid, ingee venen e me, após se des azes. Emma Bvay é uma pesnagem cncebida paa pvca plêmicas. Leies chcads enaam pibi liv, cnsideand- imal, mas a Jusiça auizu a ciculaç da ba. Alguns cuiss quiseam sabe em que mulhees se baseaa paa cia Madame Bvay. laube espndeu: “Madame Bvay su eu”. édéic Meau, pagnisa de Educação sentimental 4, ea um jvem mui bni que se nu amig d marchand Jacques Anux e se apaixnu p sua mulhe. Madame Anux é adada p édéic. Sinmaicamene há inmaçes sbe sua pele (mena), sua vz (cnal), mas é diícil encna alguma menç a seu penme. édéic, na épca, n cnsegue cnquisá-la.
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Gusave laube, Madame Bovary (ad. úlvia M. L. Me, S Paul, Nva Alexandia, 1993), p. 228. Ibidem, p. 305. Idem, Educação sentimental (Lisba, Eupa-Améica, 2000).
Cm bsevu cíic Piee Budieu5, édéic acassu na lua pels dis gandes ideais que inha: am e dinhei. ez negócis desasads, pedeu 60 mil ancs e nunca cnseguiu leva Madame Anux a ulapassa s limies das elaçes “ceas” que se pemiia a uma mulhe casada mane cm um apaz slei. Send assim, édéic passu a culiva us vínculs amss. Diveia-se cm rsanee, gaa de pgama que se apaixnu p ele; cu niv da menina Luise, que mava n camp, a de Pais; e casu-se cm a iquíssima viúva Dambeuse. Depis se sepau da viúva, mpeu cm a gaa de pgama e quis se casa cm Luise, mas ela havia se casad cm seu invejs amig Deslauies. Mais ade, Madame Anux pcuu- paa lhe dize que a apaixnada p ele, mas esava cm s cabels bancs e maid inha alid. o liv emina melanclicamene, cm édéic e Deslauies elemband melh emp que viveam, de uma passagem ápida p um bdel. Emma acassu, e édéic ambém. o am desempenhu um papel decisiv – e dieene! – em ambs s cass. Enquan Madame Bvay assumiu suas cnvicçes e i à lua, empenhada em vive seu am, édéic eduziu suas iniciaivas, eviu esclhas damáicas, enu se desvia da exaspeaç das paixes na vida. Budieu em az, laube jamais diia: “édéic Meau su eu”. Gusave laube pecupava-se cm cescimen da imbecilidade, iiava-se mui cm a maé mnane da buice. Essa cnvicç diculava uma cmpeens eóica capaz de ecnhece a ça d am. o am, mesm em suas expesses es, cia mal-enendids, incia as ciauas a aze beseias. Pcuand eagi cna a nda de ceinices que julgava enxega, laube dispôs-se a esceve um liv saíic, que cu inacabad: Bouvard e Pécuchet . Algumas pegunas caam n a: se ivesse eminad liv, além de siss ds leies agus, laube eia bid algum esulad na lua cna a buice? o caminh desse cmbae é ecund? tem alguma ecácia plíica?
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Piee Budieu, As regras da arte (ad. Maia Lúcia Machad, S Paul, Cmpanhia das Leas, 1996).
GuIMaRÃES ROSa, O aMOR, O SERTÃO E O DIabO
Mas a vida é eal e de viés E vê só a cilada que am me amu: Eu e que, n quees cm su, N e que e n quees cm és. Caetano Veloso
J Guimaes rsa nasceu em Cdisbug, Minas Geais. Seu liv Grande sertão: veredas 1, já n íul, ala de uma cndiç humana que se eleva à univesalidade pels caminhs que lhe s pssibiliads p uma culua mui especial. o “se”, paa esci, n se deixa eduzi a uma egi em paicula. Seu pesnagem pincipal – ribald taaana – em claa cnsciência de que se esá den das pessas. o se, ealidade gegáca, liga-se a uma culua. A vasid das eas cmpmee-se cm um md de seni e de pensa que se abe paa uma cea inniude, pvada de inquieaçes. Essa caaceísica se eee na culua mineia. ribald, que i cangacei, cna sua hisóia paa alguém que uve sem ala, que ele chama de du e pde se pópi esci, Guimaes rsa. ribald é um sbevivene, esá esabelecid numa azenda de sua ppiedade, é casad e leva uma vida “nmal”. reee cm muia lucidez sbe a cmunidade a que peence, mas assume sua slid cm cnse quência naual de seu amaduecimen. “Hmem i ei paa szinh? i. Mas eu n sabia.”2 Apendeu às cusas de simen.
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J Guimaes rsa, Grande sertão: veredas (15. ed., ri de Janei, Jsé olympi, 1982). Ibidem, p. 143.
P um lad, ele i capaz de sbevive a uma exisência pauada p uma exema udeza e vilência, cnvivend cm pessas que cm aces esculpiam seus pópis denes, nand-s pniaguds, paa evenualmene amedna s “inimigs”. P u lad, n ela que az d que viu, msa às vezes uma supeendene lucidez, que levava a se mane inegad n gup e, a mesm emp, ca aen à pesevaç de sua independência inelecual. Cm maneve sua aunmia, na vida de cangacei? ribald explica, em sua linguagem piesca: “Su peixe de g. Quand gs, é sem az descbea, quand desgs, ambém. Ninguém, cm dádivas e gabs, n me ansma” 3. Lamena n e a eudiç d esci que uve, ecnhece sua ignância, pém, quand se aa de “pensa lnge”, ele se cmpaa a um óim c aejad. Em alguns mmens, lsa: “tds es lucs, nese mund? Pque a cabeça da gene é uma só e as cisas que há e es paa have s demais de muias [...], e a gene em de necessia de aumena a cabeça, paa al”4. Cm ana divesidade e ana mudança n mund, cm pdeíams ns seni segus na disinç ene as cisas que s e as que n s? “tud é e n é...”5 A eligi em uma unç essencial, eciand espeanças. Mesm que n exisisse, Deus exisiia: “Deus exise mesm quand n há” 6. Cnud, n há gaanias. P iss, ribald diz: “Cei e n cei” 7. ou aspec psiiv da eligi: ela ns pemie cnhece e imia, den de nssas limiaçes, s pcedimens de Deus. Ele em uma paciência innia e pde espea d emp d mund paa agi: “Deus aaca bni, se diveind”8. Deus age cm muia suileza, “aiçeiamene”, enquan Demôni age às buas. Apesa diss, Diab n descansa e – que é pi – em vencid numesas baalhas.
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Ibidem, p. 144. Ibidem, p. 236. Ibidem, p. 12. Ibidem, p. 49. Ibidem, p. 27. Ibidem, p. 21.
Pecupad, ribald cnsaa (e epee a ase divesas vezes): “Vive é mui peigs”9. Ene s peigs de quem vive, esá de se apaixna. E mui especialmene esá isc de se ve envlvid numa elaç amsa inadmissível. ribald taaana cna a hisóia de um am inadmissível que n ea ecnhecid nem mesm quand se msava cm mai evidência. tud cmeçu quand ribald eencnu um jvem chamad reinald, que ele havia cnhecid ainda menin, à beia d i S ancisc. reinald ea um apaz mui bni, cm gandes lhs vedes que impessinavam as pessas. Ea valene, luava bem e inha excelene pnaia. alava puc, quase n ia e ea exemamene disce. tmava banh de madugada, szinh, n escu. Quand s cangaceis iam a algum bdel, reinald se absinha de paicipa da aa, alegand que pupava enegia paa s cmbaes. ribald e reinald passaam a anda sempe juns. os cangaceis se acsumaam e já nem esanhavam. os dis eam mui espeiads, e a amizade deles ea visa cm “naual”. reinald evelu a ribald que seu vedadei nme ea Diadim. Diadim inha uma ideia xa: maa Hemógenes, aid que a lad de us chees cangaceis havia amad a me de Jca rami. ribald sube mais ade que Jca rami ea pai d seu amig e en cmpeendeu empenh dese na caçada as Judas. Cnud, puc a puc, cmeçaam a sugi e a se muliplica sinais de que havia na elaç ene eles uma enua, um cainh, que vinham de uma peubada aaç ísica. ribald cmena: “o cp n aslada, mas mui sabe, adivinha se n enende” 10. A hnesidade inelecual d naad é exadináia. Ele mene paa si mesm, mas admie que mene e n cnsegue eslve pblema. Diadim senia ciúmes dele. o víncul ene s dis n se eduzia a cngaçamen das almas. ribald ena cmpeende, bseva-se cm espíi aucíic e admie que há nele alg esanh, que se pesa paa
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Ibidem, p. 16. Ibidem, p. 26.
explicaçes diadas pela sem-vegnhice. Mas essalva: “[...] pnh minha iança: hmem mui hmem que ui, e hmem p mulhees! – nunca ive inclinaç pa as vícis desencnads” 11. E da pae de Diadim ambém ea impssível be algum esclaecimen. Diadim ea paa ribald “a neblina” de sua vida. ribald cnessa que, a pai de um ce pn, senia ala d chei de Diadim. “Meu cp gsava de Diadim.” 12 N dava mais paa cnsidea aquil amizade. Ea am mesm, “mal encbe em amizade” 13. Em umas pucas ases, de uma nável agudeza dialéica, ribald ecda: “Ea ele esa pe de mim, e nada me alava. Ea ele echa a caa e esa isnh, e eu pedia meu ssseg. Ea ele esa p lnge, e eu só pensava nele. E eu mesm n enendia en que aquil ea? Sei que sim. Mas n” 14. ribald ala da vnade que senia de esa pe, de seni que das ms de Diadim em seu s, cm quand u lhe cava s cabels. Um am assim n seia cisa d Demôni? Essa ea a peguna que ribald azia, em silênci, a si mesm. Uma indagaç, pém, levava a ua, anei: Diab, anal, exise? Cm cangacei, hmem da vilência, au de muias mes, ribald senia-se às vezes cm alguém que ivesse vendid a alma a Malign. N se, a pesença d Camu é pecepível na muliplicidade ds nmes que s usads paa designá-l. Paadxalmene a plieaç de nvs apelids, enand evia s nmes adicinais, alece a suspeia de que ele esá p pe. E ribald se pemie uma inia: “Quem mui se evia, se cnvive”15. o Diab é uma ameaça pemanene, pém alvez n passe de uma supesiç. E ribald muda a peguna: é pssível vende a alma a quem n exise? Se Saanás n em exisência eal, se Lúcie é pesnagem de cç, en n há cmpad paa as almas eecidas n mecad?
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Ibidem, p. 114. Ibidem, p. 140. Ibidem, p. 220. Ibidem, p. 114. Ibidem, p. 9.
o nal da naaiva é basane cnhecid. Numa baalha avada ene s seguides de Hemógenes e band de ribald – aga ansmad em chee cm nme de Uuu Banc –, Hemógenes me e Diadim ambém16. Quand limpam cp paa eneá-l, descbem que Diadim ea uma mulhe. ribald taaana, sb impac da evelaç, cna que beiju s lhs, as aces e a bca de Diadim: “E eu n sabia p que nme chama; eu exclamei me dend: ‘Meu am!’. [...] E ds meus jagunçs decidids chavam”17. A descbea de que Diadim ea uma mulhe de ce md “legiimu” especivamene a paix que ribald senia. A “legiimaç”, pém, deu-se nas cndiçes ágicas da me de Diadim, e a “vióia d am” acabu send uma vióia de Pi. resulu num ecess. Vencida a baalha, pedeu-se a guea. Pevaleceu uma pç cnsevada. Diadim, cuj nme vedadei ea Maia Dedina, chegu a pesseni desech um an melancólic daquele am empesus, cndenad à clandesinidade. Ela chegu a aneve a vida que ribald passaia a e quand se casasse, n cm ela, mas cm oacília, a lha de um gande azendei, seu Amadeu. A pevis evelu-se plenamene aceada: ribald casu-se, sem gande enusiasm, cm oacília. o lei vê, n nal d liv, na cndiç de azendei, ppieái, cm esava sugeid n iníci da naaiva, exaland s vales d casamen, hmem da dem e d espei as vales cnsiuíds. Da vida que inha anes, pesevu as ecdaçes e hábi de eina i a alv, paa mane a ba pnaia.
Vale a pena lembams de passagem que, já n cn de Guimaes rsa “A ha e a vez de Augus Maaga”, pagnisa e seu amig/inimig se maam muuamene. 17 J Guimaes rsa, Grande sertão: veredas , ci., p. 454. 16
Dom Quixote, ilustração de Dalziel para edição inglesa de 1892.
CERVaNTES: SaNCHO E O FuTuRO Da CaVaLaRIa
Ese pbe navegane, Meu caç amane Enenu a empesade N ma da paix e da lucua Em busca da elicidade. Paulinho da Viola
I Depis da me de Cames, em 1580, sugiam na Espanha e na Inglaea dis escies que lg viiam a se ecnhecids cm expenes daquil que Gehe chamaia de “lieaua mundial” ( Weltliteratur ). re-me a Cevanes (1547-1616) e Shakespeae (1564-1616). oi ans após a me de Cames, a “Invencível Amada” ds espanhóis enu invadi a Inglaea, mas i seveamene danicada p uma empesade. Na casi, Cevanes inha 41 ans e Shakespeae, 24. Sabems puc a espei deles. Cevanes nasceu em Alcalá de Henaes, Shakespeae em Sad-n-Avn. Ese casu-se cm Anna Hahaway as 18 ans de idade e aquele, cm Caalina de Salaza y Palacis, em 1584. E n an mesm em que se casava cm esa, eve cm Ana anca uma “lha naual”, chamada Isabel. Cevanes, al cm Cames, ea big. P e machucad um ce Anni de Sigua, i paa a Iália. Engajad na Mainha espanhla, paicipu da baalha de Lepan, em 1571. eiu-se, pedeu us da m esqueda, mas ecupeu-se e cninuu na Mainha. i capuad p piaas saacens e pemaneceu cinc ans na Agélia cm escav. tenu ugi váias vezes, em v. Eseve ameaçad de se m p empalamen. Uma
de suas ims, Andéa, que ea psiua, ajudu a paga esgae que lhe pssibiliu vla à Espanha. Mava em Valladlid cm a mulhe, Caalina, a “lha naual”, Isabel, e as ims Andéa e Magdalena. também mava cm eles uma “lha naual” de Magdalena, chamada Cnsanza. o pv da cidade apelidu as cinc mulhees de “as Cevanas”. Miguel de Cevanes nu-se cmissái de abasecimen, um uncinái da adminisaç encaegad das pvises miliaes. i pes qua vezes, acusad de iegulaidades. Um ds cass, segund cnsa, envlvia um cni cm a Igeja – que ea, cm ceeza, mui incnveniene na épca, em viude da inensicaç das aividades d tibunal da Sana Inquisiç e d clima culual ciad a pai d Cncíli de ten e da Cnaema, especialmene sensível na Espanha. Cncenu-se, en, na edaç de sua ba-pima: Dom Quixote 1. o liv i publicad em 1605. E sucess i imedia. Cevanes esava abalhand n segund m de seu liv, cm as nvas avenuas de seus pesnagens amsíssims, quand viu numa viine uma ba ecém-lançada que ea uma cninuaç d Quixote , assinada p um sujei n ideniicad cuj pseudônim ea Avellaneda. A auênica cninuaç, escia p Cevanes, só apaeceu em 1615, um an anes de sua me. II A impância de Dom Quixote n em cm se exageada. A naaiva das apalhadas d inempesiv cavalei andane e de seu biza escudei desencadeu mvimen de um nv gêne na lieaua: mance. Dm Quixe é um dalg elaivamene pbe, que se enega bsessivamene à leiua de nvelas de cavalaia e enluquece. Lg n iníci de seu mance, Cevanes deixa mui cla que dm Quixe é maluc: “[...] del pc dmi y del much lee, se le secó el ceeb de manea que vin a pede el juici”2.
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Miguel de Cevanes, Don Quijote de la Mancha (Madi, real Academia Espanhla, 2004). Ibidem, p. 29-30.
Idenicand-se cm s pincípis da cavalaia andane, dm Quixe dispe-se a sai pel mund paa cigi as injusiças, pege as dnzelas, deende s humilhads e endids. recua um lavad que abalha em suas eas paa acmpanhá-l cm escudei: Sanch Pança. E Cevanes ambém inma a seus leies, desde pimei apaecimen de Sanch, que ese ea mui bu e mui ignane (“muy pca sal en la mllea” 3). Na medida em que as avenuas v se sucedend, e as cisas v acnecend, s leies endem a elaiviza a lucua d pa e a buice d empegad. Cevanes, cnud, n acilia paa s leies uma avaliaç ápida desse pcess. De a, ele evia que sejam sepaads heic e idícul, sublime e gesc. Sanch é sucienemene idia paa sai de casa, deixand mulhe e lha, e segui dm Quixe em ca da pmessa de que um dia se naia gvenad de uma ilha. Mas nem p iss deixa de peguna pel salái. N vai ecebe nenhum salái? o pa explica que, na leiua das nvelas de cavalaia, jamais encnaa algum escudei que ecebesse salái. Cmunica-lhe, enean, que incluiu em seu esamen. Valeá cm cmpensaç? o escudei cia um pvébi que n msa mui cnvencid: “[...] más vale un toma que ds te daré ”4. De vez em quand, dm Quixe se iia cm as apalhadas de seu escudei, chama- de “velhac”, “cvade”. Sanch ecnhece suas limiaçes, mens n plan mal que n plan inelecual: “Sy un asn” 5. tena, pém, cnvence dm Quixe a desisi de alguns de seus empeendimens delianes. Pcua, em v, advei-l de que s giganes cna s quais ele invese n s giganes, mas mes minhs de ven. Esça-se inuilmene p dissuadi-l de libea dze delinquenes peigss que esavam send anspads de uma pis paa ua. Sanch ez apels a dm Quixe paa que desisisse da exibiç de cagem que dea cavalei andane quand enu na jaula de um casal de lees
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Ibidem, p. 72. Ibidem, p. 827. Ibidem, p. 244.
de cic – uma avenua que, anal, n eve cnsequências caasócas, dada a indieença ds elins. Em u mmen, dm Quixe ineeiu cm bas azes numa siuaç cm que subiamene se denu: impediu um pa que esava chiceand um jvem empegad de pssegui n casig bual. E, diane da esisência d espancad, espancu-. Inelizmene essa inevenç jusicada d jusicei eve, anal, uma cnsequência uim: pa vilen espeu que dm Quixe se aasasse e emu a sua n jvem, cm u edbad. Dm Quixe é galanead, educad, genil, mas n é enusiasmad pel sex eminin. Mag, cinquen, um an desajeiad, ele ainda despea cainh em algumas mulhees, pém n cna nelas. Esá cnvencid de que as mulhees azem sempe as pies esclhas: “Ésa es naual cndición de mujees [...] desdeña a quien las quiee y ama a quien las abece” 6. td cavalei andane, n enan, em de se pedidamene apaixnad p uma dama e deve dedica-lhe suas açanhas. Dm Quixe, en, declaa-se apaixnad p uma campnesa da egi em que vivia, a lavada Aldnza Lenz, cm a qual n inha nenhum cna. Idealiza a mça, muda-lhe nme paa Dulcinea del tbs e pesa-lhe hmenagens. Sanch vê ud iss cm saudável descnança. Cm pdeia leva a séi esse am psiç? Sanch msa hum e espeeza na psiç que az a essa devç de dm Quixe pela campnesa. Quand cavalei andane eslve envia uma caa de am à “esela da sua se”, cabe a escudei levá-la. De vla, emissái, que vinha send aguadad cm ansiedade pel pa, deve aze um elaói sbe que acneceu. E Sanch explica que a mça ecebeu a caa, cu sabend que ea uma caa de am, pém n pôde lê-la pque ea analabea. taand-se de cespndência ínima, n pdia pedi a ninguém que a lesse paa ela. P iss, ambém, n pdia espndê-la. E cm dm Quixe queia que escudei alasse da beleza e da elegância de Dulcinea, Sanch acescenu uma impess que iiu pundamene seu pa: disse-lhe que ela devia esa abalhand mui na lavua, pis seniu nela bdum d su...
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Ibidem, p. 179.
Em suas andanças, s dis chegaam a um luga que peencia a um duque pdes. o duque e a duquesa diveiam-se an cm a dupla insólia que eslveam aze uma expeiência, enegand gven da ilha de Baaaia a Sanch. Supeendenemene, cumpia-se a pmessa eia a Sanch p dm Quixe. Desapaecia pincipal indíci de que a excessiva cedulidade d lavad ea uma cnsequência de sua ceinice. N mínim, Sanch ea um cein que inha dad ce. De a, deu ce pque n ea cein. Seu desempenh n gven da ilha, de es, pvu – a cnái – que ele ea mui ineligene. Minisand a jusiça na ilha, nv gvenad lg cu ams pel md cm encaminhu um cas que paecia inslúvel. Dis hmens se apesenaam: um dizia que havia empesad dez medas de u a u e u, um velhe, ecnhecend que as ecebea, declaava que as havia devlvid e que esava disps a jua. o gvenad mandu que se zesse juamen. o velhe passu sua bengala a eclamane e juu p ud que lhe ea mais sagad que havia enegue as medas a u. Sanch pensu um puc e pediu que velhe lhe empesasse um insane a bengala. Examinu-a e em seguida a quebu. De den da bengala quebada laam as dez medas. III Cm gven de Sanch acabu? Inimigs d duque dispunham-se a invadi e cupa a ilha de Baaaia. Admiind que n inha nenhuma cmpeência milia, Sanch enunciu a cag. Dm Quixe e seu escudei vlaam paa casa. É ineessane bsevams quan ambs haviam mudad. Dm Quixe vai abandnand sua cença de que miseiss mags pevess e eiiceis demníacs ineeiam cnsanemene em sua vida. os leies que acmpanhaam suas pezas deam-se cna de que, mesm send maluc, cavalei andane, cm seus ideais e sua genesidade, inha em seu caç um núcle indesuível de dignidade humana que idícul n cnseguia aingi. E em Sanch a ansmaç é mais evidene. Quand dm Quixe adece e “ecupea juíz”, é ps num lei, nde ca aguadand a me.
Sanch, campnês paca, lavad ignane, que a seviç d pa havia descbe mund, apaece n qua e lhe az um apel: pede-lhe que saia da cama, que n ma, e que paa paa nvas avenuas. N capíul LXXIV da segunda pae d liv, Sanch diz: “Mie, n sea peezs, sin levánese de esa cama, y vámns al camp” 7. ica cla que am que ealmene cna na hisóia de dm Quixe n é a devç d cavalei andane a Aldnza, que ele n cnhece, u a Dulcinea, que ele invenu paa pva aquil que seu delíi inha de mais abiái, is é, islamen a que ele mesm se cndenu. Quem ajudu a vence a slid, quem lhe pemiiu supea islamen, i Sanch Pança. Mesm que caeça de sensualidade, mesm que n enha dimens hmssexual visível, ae que une dm Quixe e Sanch é de naueza amsa, e bem mais vedadei d que a devç a Dulcinea. o apel de Sanch a dm Quixe, enean, cai n vazi. Dene, dead num cmbae amad cna ele, mibund, pa é cnciad p seu ciad a sai pel mund aa, paa cigi injusiças e desaze pesses. Dm Quixe já n esava mais lá, em seu luga se achava sensa Alns Quijan: “Y ui lc y ya sy cued; ui dn Quije de la Mancha y sy aha, cm he dich, Alns Quijan el Buen”8. E acescena: “Ya me sn disas das las hisias panas de la andane caballeía” 9. Se n ivesse enegad aquil que ascinaa duane ans ans, pdeia e pecebid que, a mens uma pessa – Sanch – havia assimilad (a seu md, é cla) s vales e s pincípis da cavalaia andane. É vedade que, alvez sem quee u sem e plena cnsciência d que azia (?), Cevanes ciu um cenái n qual s ideais da cavalaia andane eam desmalizads p um dalg de mil mle e msavam se hisicamene inadequads a pesene em seu aiscaism visceal, mas pdeiam vi a causa uma cnus ainda mai n uu, quand passassem a se misua cm s ideais demcáics n discus demagógic de plíics ecléics, ambiciss e punisas, cm muis daqueles que a buguesia viia a pacina ns séculs seguines. 7 8 9
Ibidem, p. 1102. Ibidem, p. 1103. Ibidem, p. 1100.
SHaKESPEaRE E aS TuRbuLÊNCIaS DO aMOR
td aquele que sabe Sepaa am da paix tem seged da vida E da me n seu caç. Paulinho da Viola
William Shakespeae (1564-1616) esceveu 37 peças de ea e 154 snes. N peíd em que viveu e abalhu, a Inglaea ea gvenada p uma mulhe, a ainha Elizabeh I, lha d ei Henique VIII, undad d anglicanism. Em 1603, após 45 ans de execíci d pde, a ainha meu e quem a sucedeu n n i Jaime I. Eam gandes as diculdades ciadas pelas ças cnsevadas paa impedi mudanças signicaivas n plan das insiuiçes plíicas, das elaçes sciecnômicas, da culua e ds csumes. Paa desgaça de Cames e de Cevanes, essas diculdades eam ainda maies na península ibéica. o aas que pdia se nad ns palcs ingleses maniesava-se, ene uas egas, na ecmendaç de que s papéis eminins ssem desempenhads p hmens. As mulhees eam pejudicadas p mecanisms de exclus que uncinavam em divess níveis. Espezinhad, sex eminin eagia caicamene. Váis cass pdeiam se lembads. P exempl: a cndessa de Shewbuy, chamada de “Bess Hadwick”, enviuvu ês vezes e, nvamene casada, bigu cm qua maid; ances Hwad, lha d cnde de Suflk, apaixnu-se p rbe Ca, divciu-se d maid, enu em cni cm pea Tmas ovebuy, que se punha a casamen dela cm Ca, e cnseguiu que ele icasse pes na te de Lndes, nde meu envenenad. S cenas e
pesnagens que acilmene pdeiam esa na ba eaal de Shakespeae (cm, p exempl, em A megera domada ). Na épca, ea ea mui ppula. As peças de Shakespeae, que abdavam queses mui amplas, eam exemamene vaiadas na ma e n cneúd. o eaólg esceveu damas, cmédias, peças cm emas hisóics ec. Em muias de suas bas, ele (u algum de seus pesnagens) ala d am. Cm em Romeu e Julieta : “E que am pde aze, ele pecisa usa azê-l” 1. ou em Vênus e Adônis : “Vai, apende; a liç é ácil./ E uma vez apendida, ela nunca se esquece” 2. E em Henrique V : “Ame um sldad, cm eu, e vcê esaá amand um ei. Diga cm anqueza, que vcê acha desse meu am?” 3. ou ainda em rabalhos de amor perdidos : “o am é chei de capichs exavaganes; é aei cm uma ciança” 4. E ambém em Sonho de uma noite de verão : “Hemia: Quan mais eu dees, mais ele me pesegue. Helena: Quan mais eu am, mais ele me deesa” 5. E, p m, Como quiserem: “N am, sangue enluquece, a vnade az cncesses” e “Pss lhe gaani: am é pua lucua. Meece, cm s lucs em geal, chice e a sliáia” 6. Em ases cm essas, salpicadas n unives shakespeaian, apaecem an ineesse geal pel ema d am cm a divesidade de pecupaçes, de vales e de ciéis que se pdiam na nas abdagens d assun. De md mais densamene signicaiv, s pblemas da vida amsa ganham uma expess mais e nas peças que êm sid apnadas cm as
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William Shakespeae, Romeo and Juliet , em Te complete works (oxd, Claendn Pess, 1988), p. 345. N iginal: “And wha lve can d, ha daes lve aemp”. Idem, Venus and Adonis , em Te complete works , ci., p. 228. N iginal: “o, lean lve! Te lessn is bu plain,/ And, nce made peec, neve ls again”. Idem, Henry V , em Te complete works , ci., p. 595. N iginal: “[...] ake me, ake a sldie; ake a sldie, ake a king. And wha says hu hen my lve?”. Idem, Love’s labour’s lost , em Te complete works , ci., p. 305. N iginal: “As lve is ull unbeing sains,/ All wann as a child”. Idem, A midsummer nights’s dream, em Te complete works , ci., p. 314. N iginal: “Hemia: Te me I hae, he me he llws me. Helena: Te me I lve, he me he haeh me”. Idem, As you like it , em Te complete works , ci., p. 642. N iginal: “Lve is meely a madness, and, I ell yu, deseves as well a dak huse and a whip as madmen d”.
gandes bas-pimas d damaug inglês. Nelas, s especades senem-se muias vezes pessalmene inepelads a pai das pçes e das iniciaivas ds pesnagens. Em Hamlet 7, p exempl, pagnisa hesia ene vinga ei, seu pai, que i assassinad p sua me, a ainha, cm a cumplicidade de um im de seu pai, u en, ps que nada esava pvad, igna s umes, aasa as suspeias e se acmda a uma vida “nmal” cm hedei d n. Quand pessinad pel anasma de seu pai, decide i à lua e nge-se de luc paa ganha emp. Pcuad p sua niva, oélia, aa-a gsseiamene, e a mça, amaguada, suicida-se. o a de sua me e alegad que se apaixnaa pel cunhad (Cláudi) leva Hamle a um nível quase incnlável de exalaç. Ele diz à me que na idade dela sangue ca aqus, al, p iss n susena am, n em mais a capacidade de alimena uma paix e, pan, ela n pde invcá-la cm desculpa paa um cime hedind. o ei-i – usupad – manda que dis nbes levem Hamle à Inglaea e maem, pém Hamle descbe plan, anecipa-se e maa s dis. P acidene, ele maa Plôni, pai de oélia, que esava escndid aás de uma cina, e ainda az piada às cusas d alecid quase sg. Laees, lh de Plôni e im de oélia, é inciad p Cláudi a maa Hamle. Mas Hamle maa anes. A peça emina cm um micíni genealizad, que inclui a me d pópi Hamle. rmeu e Juliea apaixnam-se à pimeia visa e em seguida descbem que peencem a amílias inimigas. ei Luenç casa s dis seceamene e ecmenda a rmeu: “Pazees vilens êm nais vilens [...]. P iss, ame mdeadamene” 8. tybal, pim de Juliea, n sabend d paenesc, maa Mecui, amig de rmeu. E rmeu maa tybal. o pai de Juliea que bigá-la a se casa cm cnde Pais, mas Juliea bebe uma pç dada p ei Luenç e admece cm se ivesse mid.
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Idem, Hamlet , em Te complete works , ci. Idem, Romeo and Juliet , em Te complete works , ci., p. 350. N iginal: “Tese vilen delighs have vilen ends [...]. Teee lve mdeaely”.
tds pensam que ela meu de a. Pais e rmeu baem-se em duel. rmeu maa Pais e depis se maa. Juliea despea e, sabend que rmeu meu, ambém se suicida. oel9 é um milia cmpeeníssim, que pesu elevanes seviçs a Veneza. Ele e Desdêmna, lha d senad Babânci, apaixnam-se e casam-se. Babânci e s invejss Iag e rdig apveiam-se da exema ingenuidade de oel (que chega a se palógica!) e as pucs desem seu casamen cm Desdêmna. Envlvid pel alens e inigane Iag, oel maa a mulhe e, aependid, se maa. Macbeh é, a lad de Banqu, um ds dis geneais de Duncan, ei da Escócia. Numa casi em que hspedava ei, Macbeh – sempe sb a pess da espsa – maa-. Depis, manda maa Banqu. Malclm, lh d ei Duncan, cnsegue escapa e vla à Escócia à ene das pas inglesas. Macbeh sene-se mui mal e diz a ase que se nu amsa: A vida é uma esóia Cnada p um idia Cheia de baulh e úia Signicand... nada.10
o velh ei Lea11 inha ês lhas: Gneil, regan e Cdélia. reslvid a ganiza sua vida, du seus bens e anseiu ds s seus pdees paa as lhas que lisnjeavam. rmpeu elaçes cm a lha sincea, Cdélia, e cu na dependência das uas duas – regan e Gneil –, que passaam a aá-l mui mal. Cdélia casu-se cm ei da ança. A siuaç piu quand regan e Gneil, as ims más, se desenendeam e s anceses invadiam a G-Beanha. Cdélia, que esava cm s anceses, esgau pai. Huve muia alegia n eencn, mas ele esava luc (e únic que lhe dizia iss ea bb da ce). Após a invas
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Idem, Othello, em Te complete works , ci. Idem, Macbeth, em Te complete works , ci., p. 998. N iginal: “[Lie] is a ale,/ ld by an idi/ ull sund and uy/ signiying nhing”. Idem, King Lear , em Te complete works , ci.
ancesa, vei uma guea civil e Cdélia, capuada, i execuada. o ei Lea meu de desgs. ouas peças de Shakespeae pem n palc s ames e s aes ds sees humans. Na cmédia A megera domada 12, cnand cm a bem-humada cumplicidade da plaeia masculina, Shakespeae exibe seu cnenamen cm a vióia de ideias e aiudes “machisas”. Em imão de Atenas , pagnisa é um hmem ic mui genes e slidái, que vai à alência e ds gem dele. E lavius cmena: “Esanhs sees humans, esses. o mai ds males que sujei ez i e paicad bem demais” 13. Shakespeae inha um lha mui agud, que devassava a ealidade. Nem p iss cnava demais em sua capacidade de enxega que ea quase invisível nas mivaçes ds sees humans. Em ito Andrônico, um ds lhs d pagnisa diz uma ase que Shakespeae pvavelmene subsceveia: “Meu caç suspeia mais d que meus lhs cnseguem ve” 14. Essa ase se liga à pecepç de que esavam send ciadas nvas cndiçes hisóicas, nas quais a abeua paa diálg n pdia ca limiada a alg visível e inha de admii a legiimidade da suspeia d caç na elaç cm s us, n cnn da minha subjeividade cm a subjeividade deles. Nem s que amavam, nem s que queiam enende que ea am pdiam ece a esquemas “aalisas”. o am, em especial, passava a exigi a paicipaç eeiva ds sujeis dieenes, mvend-se ds dis lads; ele passava a exigi espaç necessái paa que cada sujei pudesse aze suas pçes, ma suas iniciaivas. A lósa húngaa Agnes Helle, em sua ecunda ase lukacsiana, lemba cm ea a elaç amsa d pea Dane cm Beaiz, u ainda cm ea a elaç amsa d pea Peaca cm Laua. os peas viam as mças e
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Idem, Te taming o the shrew , em Te complete works , ci. Idem, imon o Athens , em Te complete works , ci., p. 899. N iginal: “Sange, unusual bld/ When man’s ws sin is he des much gd!”. Idem, itus Andronicus , em Te complete works , ci., p. 135. N iginal: “My hea suspecs me han mine eye can see”.
seniam “am à pimeia visa”. Viveam ames ipicamene medievais, sem hisóia. Sem ecipcidade15. Em Shakespeae, a siuaç é ua. rmeu e Juliea amam-se à pimeia visa, mas ambs se envlvem na busca de desdbamens. Agnes Helle esceveu: “Em da a ba de Shakespeae n exise um únic exempl de am n cespndid” 16.
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Agnes Helle, O homem do Renascimento (Lisba, Pesença, 1972). Ibidem, p. 217.
STENDHaL: ESCREVEu, aMOu, VIVEu
A mulhe é um jg diícil de acea E hmem, cm bb, nunca deixa de jga. o que eu pss aze é, se vcê jua, Me aisca a pede (u dessa vez en ganha). Ismael Silva
I Quem visia cemiéi de Mnmae, em Pais, pdeá ve uma sepulua em cuja lápide se lê a seguine insciç: “Aig Beyle, milanese”. Uma ápida aveiguaç, enean, levaá à cnsaaç de que aquele cujs ess mais ali am depsiads n se chamava Aig e sim Heni, e n ea milanês, seque ialian, mas ancês de Genble. Heni Beyle (1783-1842) cu ams cm pseudônim de Sendhal. Esceveu e publicu váis livs. o cíic Claude ry esceveu que dis de seus mances, O vermelho e o negro e A cartuxa de Parma , es ene as aíssimas bas absolutamente pereitas da lieaua 1. ous cíics discdam e apnam lapss e invessimilhanças neles. o cuis é que, mesm que se pssa admii alguma alha, nem p iss alíssim nível da qualidade lieáia dessas bas se um abal gave. Sendhal é um esci apaixnad demais paa peende alcança uma peeiç abslua, e essa peeiç esulaia, anal, numa aceiaç deva ds cânnes vigenes, numa capiulaç diane ds ciéis esabelecids, u numa deseç, que dize, n abandn d camp de baalha da vedadeia ciaç lieáia. 1
Claude ry, Stendhal par lui-même (Pais, Seuil, 1951).
Cmpa-se de maneia “cnveniene” é alg que enpece a imaginaç. A ae exise paa inceniva s sees humans n caminh d apeeiçamen (que nunca cessa) deles mesms e da humanidade em geal. Cm há muis punisas que cnundem ud, s muias as luas a seem avadas. Cm essa plaama, ea pevisível que cíic Sendhal causasse basane desagad. E causu: Vic Hug, Chaeaubiand, Aled de Vigny, Lamaine, Madame de Sael e us, aingids pelas apas de Sendhal, msaam-se iiads. Vic Hug disse que enaa le A cartuxa de Parma , pém n cnseguia passa da página quaena. E ançis Guiz, minis de Esad, eeiu-se uma vez a ele cm “um mleque” (un polisson). o au de A cartuxa cnava cm iss e só espeava se eeivamene cmpeendid cinquena ans após a sua me. Desde jvem, apesa da ajuda d avô Gagnn, Sendhal enenu diiculdades ecnômicas. Sua vida pissinal i cnusa: n peíd sb Naple, ele i milia, mas ambém abalhu cm caixei-viajane. E sua vida amsa ea mvimenadíssima: apaixnu-se p Wilhelmine de Giesheim, ilha de um geneal pussian e n i cespndid; e ambém pelas aizes Melanie Luasn, Angelina Baeye e Angelina Pieagua, em Mil, e i cespndid pelas ês. Além delas, apaixnu-se pela cndessa Alexandine Dau, que n cespndeu, e pela cndessa Clemenine Cuial, que cespndeu; e ambém p Albee de rubempé e p Meilde Viscnini. A e pesença de anas mulhees em sua vida elee-se na impância das pesnagens emininas em sua ba. E ambém na mais ineligível sua pecupaç cm ema d am. Sendhal debuçu-se sbe am em divess mmens de dieenes livs seus. Aqui, vams ns limia a elemba s dis mances mais amss d au (e “absluamene peeis”?) e ensai Do amor 2, que ele cnsideava mais impane de seus escis. Cmecems pel ensai, que expe as cnvicçes d au a espei d am e das mulhees. Emba aça uma denúncia veemene da educaç pecnceiusa que é impingida às mulhees, Sendhal cnsidea ineliminável isc assumid p
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Sendhal, Do amor (ad. rbe Leal eeia, S Paul, Mains nes, 1993).
quem ama. Esceve: “o am é uma delicisa, mas é pecis e a cagem de i clhê-la à beia de um hend pecipíci” 3. A supeiidade das mulhees, enean, maniesa-se em siuaçes de cise aguda, quand s hmens pedem a cabeça: “A cagem delas dispe de uma reserva que ala à de seus amanes” 4. As mulhees usam a az, mas n se pendem a ela; adquiem, en, uma capacidade nável de cmpeende eal cm base na sensibilidade. Na medida em que a educaç que lhes é impsa ia delas a pssibilidade de amplia e apunda seus cnhecimens an quan gsaiam, as mulhees cam eduzidas a deeminadas mas d sabe que n s as essenciais. As mas d sabe que implicam execíci d pde e cnle da iqueza s mnplizadas pela meade masculina da humanidade. Essa siuaç ns pe diane de um quad de gande pejuíz paa a humanidade. A incpaç das mulhees à cnsuç d cnhecimen duplicaia núme de cabeças mbilizadas e ciaia cndiçes exemamene mais av áveis d que as auais paa avançs cienícs capazes de ameniza nsss simens e eanima nssas espeanças, que andam sidas e desanimadas. Às vezes s pesquisades aceam na idenicaç da dieç em que se ealizaá avanç, pém se aapalham na caaceizaç d quad pblemáic aual. Iss, a nss ve, se passa cm Sendhal. Em seu esç paa ecnsiui as mas das disçes idelógicas que cnibuem paa camua sisema da desigualdade e da exclus, Sendhal endssa – inadveidamene – ideias das quais vinha azend um balanç cíic. A analisa am que a espsa dedica a maid, em nssa sciedade, esci endssa uma claa subesimaç da mulhe, encbind, cm um gacej, a seiedade da siuaç e a pssibilidade de supeá-la. Vale a pena ansceve ech piesc ineliz: N am u n casamen, qual é hmem que em a elicidade de pde cmunica seus pensamens, ais cm se apesenam a ele, à mulhe cm quem passa a vida? Ele encna um bm caç, que pailha s seus simens, mas é sempe bigad a cnvee seus pensamens em cad miúd se quise se enendid.5 3 4 5
Ibidem, p. 109. Ibidem, p. 60. Ibidem, p. 169.
II o ened de O vermelho e o negro 6 é simples. Madame de renal, espsa d peei de Veièes, cnaa um pecep, um pess especial paa seus lhs. o pecep, Julien Sel, é bni, ambicis e ineligene, e seduz a paa. Cm n pde mais pemanece na casa, vai paa um seminái em Besançn. Vencend med, Julien esclhe cm cness pade Piad, mais seve da insiuiç. Quand emina cus, Julien sai d seminái e, cm já caiu nas bas gaças d pade Piad, é ecmendad e encaminhad paa se seceái d pdes maquês de La Mle. Acaba end um óid mance cm Mahilde, a lha d maquês. Pessinad pela lha, maquês, uis, dispe-se a aanja um íul de nbeza paa que Julien se case cm Mahilde. Mas Madame de renal, aependida da ligaç que ivea e sb pess de seu cness, esceve uma caa cnand ud a maquês. o pje de casamen é imediaamene inviabilizad. Julien vla a Veièe e na Igeja, n mei da missa, aia em Madame renal. Ela n me, pém ele é pes e julgad pel tibunal d Júi. Duane julgamen, ele enena seus julgades, cúmplices da desigualdade scial: “N enh a hna de peence à sua classe, veem em mim um campnês que se evlu cna a baixeza de sua se” 7. Julien é cndenad à me e guilhinad. E Mahilde eclhe sua cabeça. o ened de A cartuxa de Parma 8 é um puc mais cmplicad, mas pde se esumid. Quand as pas d impead expulsaam s ausíacs d ne da Iália, enene rbe cnheceu a maquesa Del Dng ( maquês havia ugid). A maquesa engavidu de rbe e deu à luz abizi Del Dng. abizi, já adul, nu-se um admiad exemad de Naple e, a sabe que impead havia escapad da pis, adeiu imedia amene a mvimen paa ecnduzi-l a pde. Paicipu en da baalha de Wael – apesa de n enende nada d que esava acnecend.
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Idem, O vermelho e o negro (ad. raquel Pad, 2. ed., S Paul, Csac Naiy, 2006). Ibidem, p. 518. Idem, A cartuxa de Parma (S Paul, Glb Edia, 2004).
tia Gina ea sua pea. Ela acumulava íuls de nbeza: casu-se cm cnde Pieanea e enviuvu; a cnselh de seu amane, cnde Msca, casu-se cm duque de Sanseveina, cm a cndiç de que ele nunca ineeisse em sua vida. o cnde Msca cava enciumad a pecebe quan Gina e abizi se amavam. Cnvenceu-a en a iena jvem na caeia eclesiásica. abizi esava mui inquie e já havia lhe cid aé mesm a ideia de emiga paa s Esads Unids; send assim, aceiu a suges da ia. Duane qua ans, abizi equenu um cen de maç de als uncináis da Igeja. N enan, cninuu a se um bêmi. Enquan namava uma jvem de nme Maiea, i aacad p um ce Gilei e, a enená-l, mau-. ugiu, depis i pes e encacead numa aleza. o die d pesídi ea geneal e inha uma lha chamada Clélia. abizi e Clélia apaixnaam-se. Apesa ds ciúmes que inham uma da ua, Clélia e Gina ajudaam-n a ugi. E liv emina cm ela ds pblemas que sugiam quand abizi e Clélia enaam vive um casamen eliz. Essa ea uma gande pecupaç de Sendhal: cm se eliz n am? Sua ba em linhas de ceência inegáveis. As guas emininas em seus mances s esplêndidas, e há nelas uma busca de elicidade n am cm a qual mancisa se idenicava. Gsaia, aga, de cmplea a inmaç que esá n iníci dese capíul. Um puc abaix da insciç que se lê n cemiéi de Mnmae (“Aig Beyle, milanese”), há um cmplemen, ambém em ialian, n qual inquie esci az uma magníca sínese de sua vida: “Scisse, am, visse” (“Esceveu, amu, viveu”).
baLZaC E O DIREITO DaS baLZaquIaNaS aO aMOR
Papai Balzac já dizia, Pais ineia epeia, Balzac iu na pina: Mulhe só depis ds ina. Antônio Nássara e Wilson Batista
Hné de Balzac nasceu em tus, em 1799. Seu pai, Benad-ançis, inha 51 ans quand se casu. Sua me chamava-se Laue e inha 18 ans. A aea que cabia a ela cnsisia em educa s lhs, impnd-lhes puniçes. Hné ea lh mais velh; indisciplinad, mau alun, cu macad pela ieza de sua me. o senimen da ejeiç maena e a necessidade de se seni amad e pegid levaam-n a se apaixna p Madame de Beny, que ea 25 ans mais velha que ele. Esse i pimei nme de uma lisa da qual ainda cnsavam Zulma Caaud, a maquesa de Casies, a cndessa Viscni e a duquesa de Abanes. Em 1832, Balzac apaixnu-se p uma plnesa, a cndessa Eveline Hanska. Duane ans ele n a cnheceu pessalmene, apenas p caas, mas pemaneceu el a ela aé se casaem, em 1850. Hné de Balzac n ea bni, nem elegane. Ns ambienes mais ssicads, seus mds eam cnsideads vulgaes. Sua cnvesa, segund Gege Sand, ea “agadável, mas um puc cansaiva” 1. N ea cnsidead um mdel de viudes. Seus escis cnêm indícis de ivlidade, mas cuisamene algumas dessas ivlidades agadavam as leies. N aig “teia d anda” 2, p exempl, esci explica que as mças séias, a 1
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Gaham rbb, Balzac, uma biograa (ad. Hildegad eis, S Paul, Cmpanhia das Leas, 1995), p. 213. Ibidem, p. 185.
caminha, mvimenam as penas e s pés de maneia que mam linhas eas, a pass que aquelas que já cnhecem s pazees inedis ealizam deliciss mvimens aedndads. Sabia-se, além diss, que jvem au planava aigs em jnais ns quais, sb um pseudônim, elgiava s escis publicads em seu nme. E sabia-se ambém que azia apalhadas cm dinhei que cnseguia be. os leies, cnud, n se escandalizavam; aceiavam-n al cm ea, pque pssuía um alen que ecnheciam cm de um naad genial. A cuisidade de Balzac ea inesgável. Ele se ineessava ecleicamene p pseudciências, cm a “signmnia” (ae de cnhece caáe de uma pessa pela sinmia), a “enlgia” (esud da pesnalidade humana pel ma ds sss d câni) e “mesmeism” (eeis cuaivs da enegia ansmiida pela pna ds deds). também se ineessava pela upia scialisa de uie, elembada em u capíul dese liv. Num dad mmen, em 1838, Balzac disse só e ceeza de sua cagem e de seu abalh invencível. De a, pje de abalh que ele se ppunha a ealiza exigia uma cagem de le. o cnjun de seus escis de cç – que só em 1842 vei a se iniulad A comédia humana 3 – pevia 137 mances, cns e nvelas. Balzac cnseguiu cnclui a edaç de 86. Paa chega a esse núme, i necessáia uma enme paix. E, cm dizia pópi Balzac: “As gandes paixes s aas cm as bas-pimas” 4. Cea vez aimu que azia cncência a regis Civil. Pvu A comédia humana cm ceca de 2500 a 3000 pesnagens. E mais de 500 deles eapaecem em us mances. o públic lei adu. A idenicaç d au cm s pesnagens ea gande que nunca pecisu ece a um caálg paa evia cnuses. N ea necessái: mancisa, p assim dize, cnhecia pessalmene d mund. Balzac ea niamene um cnsevad. É amsa a sua ase: “Escev à luz de duas vedades sagadas e eenas: a eligi e a mnaquia” 5. Max e Engels n se deixaam impessina pela declaaç e disseam que
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Hné de Balzac, A comédia humana (ed. Paul rónai, P Alege, Glb, 1958). Idem, A história dos treze , em A comédia humana , ci., v. 8, p. 36. Idem, Induç de A comédia humana , ci., v. 1, p. 16.
apendiam mais cm ele d que cm s cienisas sciais, s lóss e s ecnmisas de seu emp. o cnsevad Balzac msava cm imensa claeza a invas ds senimens ínims das pessas pel dinhei. E apnava as cnsequências da dissluç das amílias pel individualism. Em Úrsula Mirouët , há um mmen em que jvem viscnde Savinian de Penduèe, niv de Úsula, é pes em Pais p dívidas e, paa desespe de sua me, n é ajudad p ninguém da amília. Ele explica signicad dessa miss: “N há mais amília hje em dia, minha me, [...] há indivídus apenas”6. Em O pai Goriot 7, pesnagem que dá íul a vlume vive numa pens dináia, depis de e gas da a sua una n de de suas duas lhas, asseguand a ascens scial de ambas. E me na slid, pque as mças n pdiam pede uma esa que lhes dava punidade de apaece em sciedade. A amília vai send minada pel descédi, an veical cm hiznalmene: pais e lhs se esanham, ims ignam ims. Em As ilusões perdidas 8, velh Séchad é um avaen inesquecível, que expla d mund, alegand sempe que pecisava aanca dinhei ds us paa ajuda seu lh, pea David. Quand David lhe cmunica que vai se casa, velh avaen, que nunca ajudu ninguém, e n sabe enuncia a luc, expla pópi lh, azend- assina pmissóias que cmpmeem pel es da vida. Cm descédi da amília, casamen ambém passa a se de um cescene despesígi. o pesnagem Henique de Masay, sabend que seu amig Paul de Maneville ia se casa, enu agumena cna a decis: “Quem se casa, aualmene? Cmecianes, n ineesse d seu capial. Campneses, paa seem dis a empua aad. Agenes de câmbi u abelies, que s bigads a paga p seus cags. E eis inelizes, paa cninua dinasias desgaçadas” 9. E, quand Paul de Maneville
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Idem, Úrsula Mirouët , em A comédia humana , ci., v. 5, p. 116. Idem, O pai Goriot , em A comédia humana , ci., v. 4. Idem, As ilusões perdidas , em A comédia humana , ci., v. 7. Idem, O contrato de casamento , em A comédia humana , ci., v. 4, p. 394.
ala em am, u advee: “o am é apenas uma cença cm a da imaculada cncepç da Sana Vigem” 10. Júlia d’Aiglemn, pagnisa de A mulher de trinta anos , desabaa cm um pade: “Nós, as mulhees, sms mais malaadas pela civilizaç d que pela naueza [...]. tal cm hje exise na páica, casamen me paece se uma psiuiç legal”11. E rasignac, em A casa Nucingen, explica a Malvina, lha d ba Aldigge, que “ casamen é uma sciedade cmecial insiuída paa supa a vida” 12. É ineessane na que a deesa das mulhees e a cíica a casamen evelam alguns pns impanes de anidades ene scialisa uie, já elembad nese liv, e cnsevad Balzac. De a, Balzac achava gaça ns “uieisas”, diveia-se às cusas deles, cm se pde ve em Os comediantes sem o saber 13, pém apveiava suas ideias cna a buguesia, classe que ele cnsideava desiuída de gandeza. A buguesia pvcu uma cmecializaç genealizada da vida. os pequen-bugueses pdem se aess da malandagem, cm mleque Gaudissa, vended menis, que impingiu um véu a uma cmpada inglesa cm se huvesse peencid à impeaiz Jsena, mulhe de Naple (O ilustre Gaudissart e Gaudissart II 14). Mas a ansmaç mesm se cnsuma p ba ds “pess pesads” da buguesia: s ppieáis ds gandes meis de pduç, s gandes indusiais e s banqueis. Em Melmoth apaziguado , há uma eeência as “csáis que eneiams cm nme de banqueis” 15. E Balzac deixa claa sua cnvicç de que, “desde 1815, pincípi da hna i subsiuíd pel pincípi d dinhei”16. o an é sinmáic: em 1815 viam-se m da ea napleônica e iníci da esauaç mnáquica. Mas Balzac viu mais: ele viu a buguesia desencadea a ensiva que viia a pduzi eeis punds na sciedade.
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Ibidem, p. 495. Idem, A mulher de trinta anos , em A comédia humana , ci., v. 3, p. 579. Idem, A casa Nucingen, em A comédia humana , ci., v. 8, p. 640. Idem, Os comediantes sem o saber , em A comédia humana , ci., v. 11. Idem, O ilustre Gaudissart e Gaudissant II , em A comédia humana , ci., v. 6 e 11. Idem, Melmoth apaziguado, em A comédia humana , ci., v. 15, p. 268. Ibidem, p. 269.
Balzac ciu, en, seus pesnagens banqueis, cm Nucingen, ba Aldigge e Gbseck. Segund Paul rónai, Gbseck vai além da avaeza insiniva e em da uma lsa da usua baseada na nipência d dinhei. “Gbseck é avaen desenvlvid pela sciedade capialisa.” 17 Gbseck ensina a jvem advgad Deville: “P da pae exise a lua ene pbe e ic; em da pae ela é ineviável; nessas cndiçes mais vale se explad d que explad” 18. Ene s “explades”, a cmpeiç é bual, pém há pns de cnsens: n se deve emexe mui n passad. Em A estalagem vermelha , niv de Viina taillee cnsula amigs duane um almç: seu pssível uu sg eia ubad 100 mil ancs em u e diamanes, assassinad a víima e escapad, deixand que um amig sse pes, cndenad e execuad pel cime. Peguna se deve apua que eeivamene acneceu. E um amig advgad pesa: “onde esaíams ds se sse pecis pesquisa a igem das unas!” 19. Balzac queia eniquece, e de a ganhu mui dinhei, mas gasava demais e azia maus negócis. Em deeminada casi, esceveu numa caa à cndessa Hanska: “Esu chegand a exem da minha esignaç. Ach que vu deixa a ança e leva minha cacaça paa Basil, em algum empeendimen maluc”20. Sua esignaç, cnud, ea mai d que ele pensava. Cninuu vivend na ança, viajand, abalhand, escevend. E cmpnd pesnagens. Muis cíics já bsevaam que Balzac ea um mese na cmpsiç de pesnagens eminins. As mulhees que pvam seus livs s muias vezes ciauas ascinanes. o mancisa enxega nelas a valene eaç cna a subdinaç da vida amsa a mivaçes uiliáias, a ciéis mecenáis. o am – senimen nbe p excelência – só cnsegue espaç na sciedade buguesa quand assume mas mais u mens degadadas. As iguas de mulhees ágeis, mas cajsas, ciadas p Balzac n se cnmam cm iss.
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Paul rónai, Induç de Gobseck , em A comédia humana , ci., v. 3, p. 456. Hné de Balzac, Gobseck , em A comédia humana , ci., v. 3, p. 465. Idem, A estalagem vermelha , em A comédia humana , ci., v. 16, p. 333. Gaham rbb, Balzac, uma biograa , ci., p. 213.
Hnine peee me a cninua casada cm oávi de Bauvan, apesa de ele se cnsidead um maid azável. Veônica casa-se cm velh banquei Gaslin, que na vedade só esava ineessad em seu de; ela en apaixna-se pel peái taschen. os amanes queem i paa a Améica, pém n êm dinhei. taschen ena aze um assal, mas p acidene maa uma pessa. É pes, cndenad e execuad. Veônica, aependida, eslve se peniencia, ajudand a quem pecisa. Sua genesidade a embeleza e ela na-se linda, digna d pincel de raael. A mais ascinane de das as pesnagens de Balzac é pvavelmene Valéia Manefe, de A prima Bette 21. Valéia é casada cm um uncinái dene e devass que a usa paa cnsegui pmçes em seu empeg. Mas ela decididamene n é uma mainee nas ms d maid. Cm seu nável alen paa a seduç, ela em qua amanes seces e cmunica a eles que esá gávida, asseguand a cada um que é ele pai da ciança. tds acediam. Valéia em numess e pdess inimigs. A plpuda mesada que ecebe d banquei Cevel, seu amane, n lhe gaane uma peç peeia – e nem ela que se cnlada. os cnas que ba Hul, u de seus amanes, em cm pessas inuenes n lhe sevem de nada nesse cas. Mas Valéia em um ecei amane, sucienemene l paa que s inimigs dela pensem em se apveia dele: azendei basilei Mnes de Mnejans (sic), men, mui bni, ppieái de uma azenda cm mais de cem escavs n inei de S Paul. Sabend que Valéia esava num hel cm seu qua amane, escul plnês Wenceslas Seinbck, s inimigs da mça cnvenceam basilei a acmpanhá-ls. Eles subnaam s sevenes d hel, abiam a pa d qua, invadiam ninh de am e puseam na m d “selvagem” uma pisla, paa que ele cmeesse um cime passinal. Ea uma amadilha peeia, n pdia alha. Mas alhu. Valéia inepelu basilei anes que ese alasse e lhe ez váias acusaçes. Acusu- de n amá-la, de n cna nela, de lhe pega menias ec. Depis
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Hné de Balzac, A prima Bette , em A comédia humana , ci., v. 10.
ez um ges paa plnês paa que lhe uxesse seu casac. En ela vesiu e saiu, cm seu pe de ainha, deixand ds peplexs. A mai visibilidade da inuência de Balzac, enean, n lhe vei de Valéia, mas de Júlia d’Aiglemn, a pagnisa de A mulher de trinta anos 22. Júlia é casada cm cnel Ví e é amane de Cals Vandenesse, cm quem em váis lhs. Quand uma lha eslve se casa cm um inegane da amília Vandenesse, Júlia pe-se veemenemene que engasga e me. Essa me gesca eabe a ques da libedade eminina: que uma mulhe em diei de aze, em qualque idade? Devems lemba que, na épca, as mulhees se casavam ced, e uma mça cm mais de 25 ans ea cnsideada “encalhada”. i Balzac que, na lieaua, cnsagu a mulhe de ina ans, a “balzaquiana”. Numa cena de seduç, ele chega a chama a aenç ds leies paa s encans de Diana de Uxelles, duquesa de Mauigneuse, pincesa de Cadignan, uma quaenna que lia mui duane dia paa à nie puxa assun cm esci De Ahez, um inelecual ímid p quem se apaixnaa. E a quem ela indaga, cm da a candua: “Encaminh-me paa s quaena ans; é pssível ama uma mulhe velha?” 23.
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Idem, A mulher de trinta anos , em A comédia humana , ci. Idem, Os segredos da princesa de Cadignan, em A comédia humana , ci., v. 9, p. 529-30.
DOSTOIéVSKI, a MaLDaDE E O aMOR
tie seu sis d caminh, Que eu que passa cm a minha d. Nelson Cavaquinho
iód Dsiévski nasceu em 30 de uub de 1821. Seu pai, Michel, ea médic e pssuía eas; em 1838 i assassinad p seus sevs. iód, que n gsava d pai, nu-se esci e cmeçu a ca ams a pai de 1846. Cm equenava gup de scialisas mad em n de Peachévski*, i pes em 1849 e submeid a uma simulaç de uzilamen; depis i mandad paa a Sibéia, nde passu qua ans num camp de abalhs çads. A épca de Dsiévski, na rússia, i um peíd de inensas pecupaçes éic-plíicas ene s inelecuais. Havia uma cene e que depsiava gandes espeanças na cmpsiç énica e na paix eligisa d pv uss; eam s chamads “eslavóls”. Depis de e maniesad simpaias pels “cidenalisas”, Dsiévski apximu-se ds “eslavóls”. Apesa de e deixad cla que n ea scialisa, esci só i auizad a vla da Sibéia e a se insala em S Peesbug n nal de 1859. Ali pemaneceu sb vigilância plicial aé a sua me, que ceu em 27 de janei de 1881. É diícil encna na hisóia da lieaua um au em cuja ba exisam ans mances impanes. Desde O idiota , que eve nve veses anes da
* Mikhail Peachévski ea demcaa, scialisa e adep ds ideais de Chales uie. Em 1849, s inelecuais que se euniam em n dele am pess e cndenads à me, acusads de aquiea assasina d cza Niclau I. (N. E.)
deniiva (e cuj pagnisa, píncipe Myshkin, i inspiad em dm Quixe), aé Os irmãos Karamazov , que se senem culpads quand dis paiaca da amília é assassinad, passand pel genial Crime e castigo e pel plêmic e bilhane Os demônios , a cç dsievskiana impôs-se à admiaç da cíica e d públic 1. os mances de Dsiévski s muias vezes supeendenes; seus diálgs e mnólgs pdem se na peubadas pvcaçes as leies; e suas cenas pdem se assusadamene ensas. recdems apidamene Memórias do subsolo 2, que é alvez liv mais esanh desse esanh e magníc esci que i Dsiévski. taa-se d mnólg de um pequen uncinái que ma há quaena ans n subsl de um pédi de S Peesbug, “a cidade mais absaa e mediaiva de d glb eese” 3. os acnecimens elaads pel pesnagem-naad s de puca impância, que cna mesm s s senimens que ele expessa e as eexes que ns cmunica, um an caicamene. Quand publicu liv, em 1864, Dsiévski esava cm 43 ans inensamene vivids e sids. Puc emp anes de publica essas “memóias”, Dsiévski havia passad nze ans n exíli. Enquan escevia amag mnólg, sua pimeia mulhe agnizava a seu lad e lg meia víima de ubeculse, a mesma dença que maaa a me d esci. Lg nas pimeias palavas d liv, lcaái d subsl diz: “Su um hmem dene... Um hmem mau. Um hmem desagadável” 4. Dsiévski caaceiza cm um se peves, insalube, incnsequene, pém az dele – cm bseva excelene adu Bis Schnaideman – seu pa-vz n “aaque a acinalism e à menalidade psiivisa” 5.
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A ediç das Obras completas e ilustradas de Dsiévski (ri de Janei, Jsé olympi, 1952), cm gavuas de Geldi, é cnsideada “clássica”. iód Dsiévski, Memórias do subsolo (ad. Bis Schnaideman, 5. ed., ri de Janei, Edia 34, 2004). Ibidem, p. 18. Ibidem, p. 15. Ibidem, p. 7-8.
Andé Gide, que cnsideu liv a “viga mesa” da ba de Dsiévski, dizia que cm bns senimens se az má lieaua. Em 1863, Niklai tchenichévski havia publicad seu Que azer? , liv esci, inequivcamene, cm bns senimens. Dsiévski iiu-se cm a ba e msu que pdia aze ba lieaua cm senimens mui maus. Niezsche alegu-se a uvi na nvela que lhe paeceu se “a vz d sangue”6. Mikhail Bakhin pecebeu, enean, que pesnagem cenal, em seu mnólg, dá sinais de que esá sempe na expecaiva de pvca a ala de alguém que lhe espnda 7. o lcaái d subsl é um desespead que pcua s pazees d desespe. Dsiévski alu de sua nvela cm uma descida a inen d cnhecimen de si mesm. Paa ele, esava cla que a ala de seu pesnagem mexe cnsc pque há nela alg da nssa elaç cm subsl da nssa cnsciência. Se ns deivems na cnemplaç cnável das nssas qualidades, n eems nenhuma pssibilidade de analisa nss lad “nun” e n apendeems a lida humanamene cm ele. Decepcinad cm s ideais d iluminism e d scialism, Dsiévski dena-se damaicamene cm desa de enende a igem d Mal. E, p mei de seu pesnagem, idiculaiza quem invenu a paanha segund a qual aqueles que se cnhecem e cmpeendem seus vedadeis ineesses agem sempe da maneia cea. recdand passad e sua elaç cm Liza, naad elemba em pmenes aspecs cnsangedes de seu cmpamen indesculpável cm elaç à mça, usand seu pópi cas cm maéia paa uma eex mei dlsa e mei cínica. o lcaái d subsl – “hmem d subeâne” – peguna-se que é que discus d humanism e s ciéis da acinalidade êm a ve cm suas angúsias. De que me seve sabe que dis e dis s qua? Em que cnhecimen impede que alguém cmea ignmínias? o se human é um 6 7
Ibidem, p. 9. Mikhail Bakhin, Problemas da poética de Dostoiévski (ri de Janei, ense Univesiáia, 1981).
“bípede inga”, que se de “pemanene imalidade” 8. E é cmplicad que nele há cisas que ele eme evela aé a si mesm. Pela bca de seu “ani-heói”, paece-ns uvi a vz de Dsiévski cnessand: “Seni vegnha d emp em que escevi esa novela ”9. E acescenand: “[...] é que is n é mais lieaua, mas um casig cecinal” 10. Niss eside a esanheza d ex: nele esci se ecnhece em gande medida n seu pesnagem, mas a mesm emp que lhe dá vz usiga- impiedsamene. o “hmem d subeâne” sene despez pela humanidade e, ceenemene, p si mesm. N deixa de se cuis que, em sua evla cna a ceência impsa pela acinalidade, cáusic iacinalisa seja, anal, ceene. Cm lida cm sees humans pevess, degeneads? Crime e castigo11 abe caminh paa uma espeança humilde e pecisa. É, cm ceeza, liv mais cis de Dsiévski. rdin rasklnikv é um esudane pbe que se vê bigad a abandna s esuds p ala de dinhei. É uma dlsa decepç paa sua me e sua im, que depsiavam nele suas espeanças. o ex-esudane, en, planeja e execua assassina de uma vizinha chamada Alina, uma velha usuáia, dna de uma pequena casa de penhes. P acas, enean, a im da velha apaece n apaamen e ele ambém a maa. Na apuaç da auia d cime, nada apna em sua dieç. Mas a vida de rasklnikv se cmplica. A me e a im vêm visiá-l. E ele se apaixna p Sônia, a lha d bêbad Mameladv, que ele cnhecea na ua e que me apelad. o juiz de insuç Pi pcua cada vez mais rasklnikv paa cnvesa sbe cime. o ex-esudane de diei n cnsegue disaça suas ideias, seu despez p ciauas cm a velha usuáia, que ele cmpaa a um pilh. As gueas d sécul XIX eliminaam muia gene inúil. Pi acaba acusand rasklnikv de se assassin da usuáia. E ex-esudane acaba send cndenad à pis na Sibéia. Mas Sônia vai cm ele.
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iód Dsiévski, Memórias do subsolo, ci., p. 42. Ibidem, p. 145. Ibidem. Idem, Crime e castigo (ad. Paul Bezea, 4. ed., S Paul, Edia 34, 2004).
tal cm píncipe Mishkin, Sônia é uma pesnagem “psiiva”, uma gua dsievskiana que deveia, em pincípi, abi caminh paa am à humanidade. Mas, além de seem pucs, s pesnagens “psiivs” d au, apesa de suas excepcinais qualidades humanas, agem n mund de maneia a desencadea desgaças, eveland-se impenes diane d Mal. Dsiévski cnhece bem “lad nun” ds sees humans. E, sem dúvida, gsaia de pde amá-ls. Mas, lhand à nssa vla, analisand panama eecid pela canalhice, pel egísm, pela mesquinhaia, n pdems cndená-l p se eai e p cia s pesnagens que ciu. O idiota 12 é píncipe Mishkin, aiscaa empbecid que eapaece em S Peesbug depis de e esad inenad duane qua ans paa aa de sua epilepsia. Apesena-se em casa d geneal Epânchin. N é ecebid de baçs abes, mas acaba despeand uma paix em Aglaia, ilha caçula d geneal. também sensibiliza a esneane Nasásia ilipvna, que i vilenada as dezesseis ans pel epugnane tsky. Quem é apaixnad p ela é uculen rgzin, que Mishkin cnheceu n em, a chega à rússia. ou apaixnad p ela é Aanassi Ivanvich, que a pede em casamen. Dsiévski cia en uma siuaç damáica: rgzin heda uma una e a enega a Nasásia, paa que ela aça cm dinhei que quise. Na sala cheia de gene, Nasásia assume uma aiude supeendene: ela inepela Aanassi Ivanvich (que a pedia em casamen) e diz que ele é ineessei. Paa demnsa iss, jga dinhei na laeia paa se cnsumid pel g. E aiça candida a niv, dizend-lhe paa enena as chamas, pque ud que ele cnseguisse pega seia dele. A ens é gande que Aanassi desmaia. Cm bjeiv de ajuda rgzin a se cnla (e ambém cm bjeiv de pege Nasásia ilipvna), píncipe Mishkin pcua, pém, quand lcaliza, pecebe que chegu ade. rgzin havia assassinad Nasásia ilipvna.
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Idem, O idiota (ad. Paul Bezea, S Paul, Edia 34, 2002).
Os endemoniados (u, cm se csuma aduzi, Os demônios 13) é um excelene mance, que, n enan, deixa anspaece uma inequívca hsilidade às ideias e as ideais ds scialisas (ene eles uie). Veiica-se que a pini d esci a espei d scialism mudu basane desde emp em que ele equenava cícul de Peachévski. o am as sees humans impeeis, pecades, limiads, muias vezes pevess e mesquinhs, depende cada vez mais d am a Deus. o espeácul da cueldade impede am de se cndensa e, p cnase, apna-lhe caminh da é paa se expandi. Iss n impede impevisível Dsiévski de cia pesnagens ines quecíveis, cm bel Savguin, que, cnvidad paa uma ceimônia de casamen, beija a niva mui eusivamene ês vezes na bca a cumpimená-la, escandalizand espeiável públic pesene à celebaç da bda. Seu úlim liv i Os irmãos Karamazov . Dmii, Ivan e Alexei (Alicha) s lhs de um hmem mui ic, cínic, ineligene e vlunais: iód. Ivan é inelecualizad, au de um aig n qual susena que, se n exisisse a imalidade da alma (e cm ela um sl paa plani das viudes), “ud seia pemiid” 14. ou, em ua passagem: “Se Deus n exisisse, seia pecis invená-l” 15. Alicha é pundamene eligis, pensa em se na mnge, que ingessa n msei d saes Zssima. Dmii dispua uma mulhe – Guchenka – cm pai. iód escandaliza a ppulaç d lcal. Ele em um lh adulein que n é ecnhecid p ele e é aad cm ciad: Smediakv. Ivan lê paa Alicha seu cn “o gande inquisid”, que elaa a discea vla de Cis a nss mund e a ecmendaç que lhe az Gande Inquisid: que Ele vá emba e n vle nunca mais. o velh Kaamazv é assassinad p... N vu dize aqui, paa n esaga a supesa ds leies.
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Idem, Os demônios (ad. Paul Bezea, S Paul, Edia 34, 2004). Idem, Os irmãos Karamazov (ad. Bis Slmnv, 3. ed., ri de Janei, Vecchi, 1968), v. 2, p. 167. Ibidem, v. 1, p. 184.
Vams dieamene a um ech de Os irmãos Karamazov que abda ema d am16. Numa passagem sinmáica d liv, uma senha cnessa a um mnge que em uma enme diculdade na eligi, quand enam pesuadi-la de cisas que ecnhecidamene n pdem se pvadas. Cm pdeia ela seni esse pde de pesuas? Cm pdeia ela cnvence-se p mei de uma é que n em? o mnge espnde: pel am. E acescena: esce-se p ama cada dia mais inensamene a seu póxim e vcê pgediá n am a Deus. Essa senha, que esá se cnessand, eage à suges d mnge, deixand cla que caminh da inensicaç d am a levaá a uma siuaç paadxal: am as indivídus n esisiá à pva e quan mais ela deesava as pessas an mais amava a humanidade. Esse am à humanidade – que se desdba n desam pelas pessas – é um am que se expande num espaç esaséic, pque espaç een, que deveia se cupad “cndensadamene” pel ae as indivídus, cu vazi.
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Ibidem, v. 1, p. 47-49.
San Biagio, Veneza (1879-1880), de James Whistler.
Hunterian Art Galley, Glasgow.
THOMaS MaNN: aMaR a VIDa SEM IGNORaR a MORTE
Caç De een ee, Ad ve-e. Caetano Veloso
thmas Mann (1875-1955), esci alem, lei e admiad de Dsiévski, ea um humanisa cnvic. N acediava na lieaua de “bns mds” e cmpmeida cm um ideal de dius de “bns senimens”. recnhecia na ae uma ça culual que pdia inui pdesamene nas cnvicçes humanas, mas n acediava na “ae educaiva”. Um mund que exise em pemanene ansmaç e um emp que paece alea ud, em ims veiginss, n deixam magem paa s inelec uais e s aisas abalhaem cm um quad de eeências ineiamene esável, e cm vales peensamene inabaláveis. Um ds açs mais cuiss d enigmáic Tmas Mann esá em sua dispsiç paa eei sempe sbe a cninuidade e a descninuidade na hisóia. Depis de eiea seu espei pela mudança, ele insise em busca a pemanência. Quand vej sua expess nas gaas, depis de lê-l, enh a impess de que há um cnase ene, de um lad, a psua mal d hmem, seu esi códig de cndua, seu lha i, seu audmíni, ibuái daquil que se csuma chama de mdel pussian e, de u, md cm aquele hmem, n que escevia, se pemiia idenica-se cm pesnagens que ele mesm havia ciad e que eam mui – mui mesm! – dieenes dele. Um beve egis d diái que esci, exilad ns Esads Unids, esceveu duane a edaç de uma de suas bas-pimas – Doutor Fausto –
dá cna d nível a que pdia chega sua audisciplina. N mesm dia em que deu p eminad seu damáic ela d enluquecimen d cmpsi Adian Levekühn, paalelamene a “enluquecimen” da pópia Alemanha, que se via envlvida pel nazism, Tmas Mann egisu a de e iniciad a edaç de u vlume – O eleito – cm a bem-humada naaiva da vida de um papa. A passagem d dama à cmédia se ez apaenemene sem aumas. Quan mais cnsisene ea a unidade da pesnalidade d esci (sua idenidade), an mais usadas eam suas avenuas lieáias n camp da aleidade. Suas pesnagens pdeiam acilmene se na caicaas. A caicaua daia a esci a anquilidade de explicia seu pn de visa, impnd as seus leies a cndenaç das pesnagens. N enan, mesm ns cass em que deixa claa sua discdância em elaç a que es azend, Tmas Mann espeia, an quan lhe é pssível, s sees humans cujas hisóias esá naand. Na ealgia José e seus irmãos 1, naad elemba a paix de Jacó p raquel, já mencinada nese liv, n capíul sbe Cames. Jacó espeu quaze ans paa e que queia. Anal, casu-se cm raquel e ela vei a se me de Jsé. Jacó eve uma pç de lhs, pém n escndia de ninguém que Jsé ea seu peeid e p iss seus ims inham mui ciúme dele. Duane uma viagem, eles vendeam cm escav e, na vla, disseam a pai que ele havia mid, aacad p uma ea. A evla de Jacó i impessinane: ele asgu suas upas, cu nu e esegu sua pele cm cacs de ceâmica. Acusu Deus de se desmemiad, de e esquecid s seviçs que ele, Jacó, lhe havia pesad a lng de ans ans. E disse mais: sabed da imensa d pvcada pela peda de um lh, Deus n pdia deixa de ê-l a mens pevenid. Deus – cncluiu – ainda é “um bába”. o am paen expldia nas invecivas cna Deus – paa escândal d ciad Elieze. Anes de me, cnud, Jacó sube da vedade. reencnu lh Jsé, que n mea e se naa al uncinái d gven egípci, subdinad a uma espécie de minis chamad Peepé, Puia. Jsé ea mui espeiad p sua habilidade na inepeaç de snhs. 1
Tmas Mann, José e seus irmãos (ad. Agen Saes de Mua, 2. ed., ri de Janei, Nva neia, 2000).
A mulhe d Puia, Mu-em-ene, u “a d baç de líi”, ea uma mulhe msa e dispôs-se a seduzi Jsé. o assédi duu alguns ans, mas Jsé esisiu bavamene às invesidas da nbe senha que se apaixnaa p ele. E é ineessane na que sua paix p ele, al cm é abdada em José e seus irmãos , é cnsideada inaceiável, é ciicada, cndenada, mas aada cm espei. Diane da paix desencadeada, peguna-se: “Ela pde se espnsabilizada p iss, se ud em igem nas suas bas ínimas?” 2. Mu-em-ene n se dava cna d que ea am pque am a dminava. o am ea uma “enemidade s”, cmpaável às des d pa. Em pincípi, a dença n send gave, sujei pde aalhá-la, impedi-la de cesce, mas deve pecave-se nas avenuas amsas. Segund músic Seenus Zeiblm, naad de Doutor Fausto3, i a ala de pecauç que aceleu m d genial cmpsi Adian Levekühn. Seenus ea um an cnsevad e cu chcad quand sube que seu amig Adian a a um bdel e caa impessinad cm uma meeiz. Adian vlu a pcuá-la e, emba ela ivesse adveid de que cia isc de se cnaminad p uma dença venéea, ele enegu-se a ela p um mmen. Ele deu-lhe nme de Esmealda e apeciava sua bca gande, seu naiz aebiad e seus lhs amendads. o bióga de Adian cna ainda que célebe cmpsi ez peças que aziam elemens que, indicads p leas, cmpunham as palavas Hetaera esmeralda . Além de Esmealda, a vida amsa de Adian passa cnusamene pela decada Maie Gdeau. o cmpsi pede a seu amig rudi que a peça em casamen em seu nme, mas rudi apaixna-se p Maie e a pede em casamen paa ele pópi. Dene, Adian Levekühn queixa-se de des de cabeça e vai enluquecend paalelamene à Alemanha, que naquele mmen se mbilizava paa a Segunda Guea Mundial, desencadeada pel nazism. Sua ambiç mai ea aze uma sinnia que supeasse as nve de Beehven. En Demôni lhe apaeceu e avu cm ele um diálg inesquecível, que meeceia se lid na
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Ibidem. Idem, Doutor Fausto (ad. Hebe Ca, ri de Janei, Nva neia, 1994).
ínega. Cm n pss anscevê-l d, pemi-me emee lei a liv de Tmas Mann. Enean, da cnvesa cm Dem – pesnagem anas vezes mencinad nese liv sbe am –, há uma cisa que n pde deixa de se dia. o Diab evela que esava p ás d encn de Esmealda cm Adian. E lhe diz: vcê cnseguiá que deseja, eu lhe gaan. Só n pde ama. E az uma pvcaç: peç n é al paa vcê; mesm ns esuds de elgia, que empeendeu p cna pópia, Adian só se ineessava de a p ele, Demôni. “o aisa é im d cimins e d luc [...]. Sem a enemidade, a vida n seia cmplea.” 4 Na ba lieáia de Tmas Mann, n há dúvida de que am é vida. Mas, paadxalmene, am ambém é dença e me. N cu mance A morte em Veneza 5, de 1912 – magisalmene ansps paa cinema p Luchin Viscni –, um inelecual acadêmic de gande pesígi, Gusav vn Aschenbach, sene-se enediad e vai passa éias na Iália, mais pecisamene em Veneza. Lá, apaixna-se p um adlescene plnês de nme tadzi. Limia-se a cnemplá-l, eneiiçad p sua beleza. Lg uma pese assusa e augena s uisas, mas Aschenbach pemanece na cidade empeseada paa n pede a punidade de ve tadzi. N babei, deixa escapa um suspi melancólic, incnmad cm seus cabels bancs. o pesims babei lhe assegua: senh em diei de ecupea a c naual de seus cabels. o eecimen é acei, e s cabels s pinads. Puc depis, enean, Aschenbach é aingid pela pese e me na paia, senad numa espeguiçadeia. A “c naual” de seus cabels deee-se e esce-lhe pela caa – essa é uma das imagens mais náveis d lme de Viscni. A assciaç da vida cm a dença e a me n se eduz a um me mvimen cna a vida. Ela é, dialeicamene, mvimen em que a vida pecisa assumi seus limies paa supea aquil que a nega e pde busca nvas mas. o anc ecnhecimen ds limies az pae da caminhada um a abslu.
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Ibidem. Idem, A morte em Veneza (ad. Maia Deling, S Paul, Abil Culual, 1979).
Em Sua alteza real , píncipe Niclas Heny nasce cm uma m aada. A amília cnsula um médic que lhe diz que “há muias pessas assim, cm deciências gaves, que n enan abalham e sbevivem” 6. N mance A montanha mágica 7, a paix de Hans Casp p Cláudia em cm cenái – sinmaicamene – sanaói nde eles es inenads. Ali, exubeane ialian Seembini discue cm smbi jesuía Napha. Ele agumena a av da demcacia, mas sua agumenaç é eóica, ca, supecial. As discusses s vencidas pel ascisa Napha. Que dize, aé pliicamene a pespeciva ascisa, belicisa, epesenane da me, vinha bend impanes vióias. Em Conssões do impostor Felix Krull , a mça Suzana (Zuzu) ala cna am e diz que ele é a “aquinagem secea de menininhs malciads” 8. o am se seve de menias (em geal masculinas) paa leva um hmem e uma mulhe as beijs (bca cna bca), “um espiand a espiaç d u [...] cisa epulsiva e indecsa, ansmada em paze pela sensua lidade”9. A cíica de Zuzu a am, cnud, pede sua cedibilidade quand ela se evela apaixnada pel maquês de Vensa – que na ealidade é pilana elix Kull. Em As cabeças trocadas 10, a mça Sia casa-se na Índia cm Schidaman, um inelecual sensível, mas sene uma e aaç p Nanda, aléic amig de seu maid. Es s ês num empl da deusa Duga Devi, Me da tea, quand s dis amigs se suicidam, cand a pópia cabeça. A bela Sia em auizaç da deusa paa lhes cla as cabeças e azê-ls essuscia, mas, numa sinmáica cnus, ela cla as cabeças ns cps cads. Apaenemene Sia ciu paa si uma siuaç ideal, pis passa a disp d bel cp de Nanda cm a cabeça pivilegiada de Schidaman. Cm emp, pém, quad se cmplica. Schidaman cninua dedicad a esuds e seu cp lg ca um an “eneujad”; já Nanda cninua a se acinad p ginásica e execícis e melha sua cmpleiç ísica.
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Idem, Sua alteza real (ad. Lya Lu, ri de Janei, Nva neia, 1985). Idem, A montanha mágica (ad. Hebe Ca, ri de Janei, Nva neia, 2006). Idem, Conssões do impostor Felix Krull (ad. Lya Lu, ri de Janei, Nva neia, 2000). Ibidem. Idem, As cabeças trocadas (ad. Hebe Ca, 2. ed., ri de Janei, Nva neia, 2000).
Tmas Mann divee-se cnand essa hisóia hindu e ns az pensa sbe a elaç ene cp e a “alma”. A mesm emp, supeende-ns cm a imagem d dupl suicídi ds amigs que se deglam. o gesc sugee uma caaceísica d au que já chamu a aenç de váis cíics: a aenç que ele dedica à me. talvez liv que expesse mais expliciamene, e aé cm mais uculência, a assciaç da vida e d am cm a me e a dença seja Die Betrogene ( A iludida ), que em Pugal i iniulad O cisne negro. Nele esci cna a hisóia de uma mulhe de cinquena e pucs ans que vive em cmpanhia da lha, uma jvem bnia, cheia de vida, pém pejudicada p um deei na pena que a biga a manca. Em cnase cm a me, de exubeane sensualidade, a lha pcua bani de seu cp e de seus mvimens ud que pssa enseja uma elaç amsa. Um apaz aaene, que se apxima das duas, é envlvid pela me e eles iniciam um óid mance. N auge d enusiasm cm sua “pemance”, a me, que já havia alcançad a menpausa, vê enaem suas egas e inepea iss cm um sinal de ejuvenescimen. o enômen, cnud, inha ua signicaç: a hemagia ea causada p um cânce. o que leva um esci cnsagad, n m de sua vida, a insisi de md insóli, e bual, na pesença da me insalada n caç da vida, n núcle mesm d am? Cm se disse n iníci dese capíul, Tmas Mann ea um humanisa cnvic. Mas seu humanism pssuía peculiaidades que meecem eex de nssa pae. Uma vez, pegunad sbe que gsaia que pevalecesse na avaliaç de sua ba pela pseidade, espndeu que gsaia que se dissesse que sua lieaua ea amiga da vida, mas n ignava a me 11. o am à vida, sempe eiead, cmpaia en, n caç d esci, mmens que pdeiam se caaceizads cm indelidades?
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Idem, Altes und Neues (anku am Main, S. ische, 1953).
DRuMMOND: “SOu E NÃO SOu, MaS SOu”
É, meu amig, só esa uma ceeza: É pecis acaba cm essa iseza, É pecis invena de nv am. Vinicius de Moraes e oquinho
As aízes de Cals Dummnd de Andade s pundas. A “mineiidade” enanhada na alma d pea, al cm se explicia em alguns de seus pemas, é acilmene pecepível. Pdeíams dize aé que há um espíi minei pesene a lng de da a sua ba. E esse espíi minei peculia é pn de paida paicula de um mvimen que leva a pesia dummndiana a um nível de acenuada univesalidade. Só uma expess culual assumidamene paicula cnsegue na-se univesal. Dummnd nasceu em Iabia, em Minas Geais; lá i ciad e viveu a expeiência de uma hisóia “cheia de eias de aanha” 2, em mei a uma paisagem nde acaic se mdenizava, pém mden pdia nasce velh. N espana que pea enha maniesad desde iníci uma pesisene descnança n só p aquil que via na culua mineia, mas pel espeácul que lhe ea ppcinad pela admiaç embasbacada d Basil que se dispunha a imia a Eupa. A cmunidade humana, eeência essencial paa a univesalidade, na-se indieamene acessível pelas mediaçes ppcinadas pela comunidade na1
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Cals Dummnd de Andade, “Camp de es”, em Claro enigma (16. ed., ri de Janei, recd, 2006). Idem, “Lanena mágica”, em Alguma poesia (7. ed., ri de Janei, recd, 2005).
cinal ( Basil), pela comunidade Minas Geais e ambém pela comunidade amília. As cnadiçes que se deslcam d espaç mai paa men (e vice-vesa) pesam-se cm equência a inepeaçes anômalas. o jvem Dummnd descnava mineiamene da mineiidade. E descnava basileiamene ds aubs paióics. Cei que pdems dize mais: pópi gêne human lhe paecia ambígu e apesenava caaceísicas que n lhe inspiavam mui imism. Essa caegia – a comunidade – é impane pque, em alguns aspecs, a dimens cleiva pecede a dimens individual nas açes da humanidade. E am é de cea ma uma ealizaç da cmunidade humana n plan d encn de duas pessas. N pema “Hin Nacinal”, Dummnd alava d Basil cm “ majess, sem limies, desppsiad” 3, e dizia que ea pecis educa Basil, abind dancings e subvencinand as elies, de md que cada basilei viesse a e sua casa, cm piscina e “sal paa cneências cienícas”4. A inia acmpanhava esç d pea paa encna caminh que pudesse levá-l a cnibui paa um mund melh, inseid num mvimen cleiv. N pema “Elegia 1938”, ele esceve que a elicidade cleiva em de se adiada paa u sécul, “pque n pdes, szinh, dinamia a ilha de Manhaan”5. o u sécul, is é, sécul XXI, chegu cm a eível desuiç das es d Wld tade Cene, que levu váis cmenaisas a se eei a ves cm um “pessenimen” d pea. A lng ds ans 1930, pea adicalizu seu mvimen de ebeldia individual, buscand sempe a pa de sua inseç num mvimen hisóic cleiv, capaz de alece seu pde de cnesaç pessal sem suca sua libedade cm indivídu. Anipaizava malmene cm capia lism e ns ans 1940 pmeia “ajuda a desuí-l/ cm uma pedeia, uma esa,/ um veme”6.
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Idem, “Hin Nacinal”, em Brejo das almas (ri de Janei, recd, 2001). Ibidem. Idem, “Elegia 1938”, em Sentimento do mundo (ri de Janei, recd, 2001). Idem, “Nss emp”, em A rosa do povo (23. ed., ri de Janei, recd, 2001).
Desencadeu-se a Segunda Guea Mundial. A Uni Sviéica enenava nazism, Salingad esisia à invas das pas alems e Dummnd saudava emcinad essa esisência e apximava-se ds cmunisas. iel à sua velha descnança, enean, n se liu a paid, pemaneceu um simpaizane. Lg clima da “guea ia” msu que as libedades esavam send desespeiadas de ambs s lads. o pea seniu-se envlvid num cni que cnapunha dis paids, ns quais ele, cm pessa, n se ecnhecia 7. Nenhum paid cespndia à sua expecaiva na esea da ealizaç da cmunidade humana na plíica. Sua inevenç na lua plíica esulu em alguns pemas belíssims, mas ambém em muia amagua. Disps a se cmpeende melh, Dummnd vlu-se paa si mesm, paa sua inância, sua adlescência, sua amília. Ns pemas mais anigs, publicads ns livs ds ans 1930 ( Alguma poesia , Brejo das almas ), quidian minei ainda é sacasicamene cmenad (“Ea, vida besa!” 8) e a amília – u, melh, “a esanha ideia de amília/ viajand aavés da cane”9 – ainda é bsevada de um ângul mui “exen”, mui cíic. Supead impac da decepç plíica, ele apunda a cmpeens a espei das pessas que azem pae de sua amília. o pai, ípic “cnel” azendei, é diigene indiscuível da cmunidade amilia. É auiái, ala puc e em “ dmíni al sbe ims, is, pims, camaadas, caixeis, scais d gven, beaas, pades, médics, mendigs, lucs manss, lucs agiads, animais, cisas” 10. Apunda-se ambém senid cíic e aucíic de sua pecepç da ealidade. o l da inia cede um espaç mai à cmpeens mais densa de seus limies e das limiaçes ds us. Anal, é pel u ( alter , em laim) que eu me “ale”, me mdic, cend isc de me ve dminad pel u, ansmad em subalterno . “A vedade essencial/ é descnhe-
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Anni Candid, “Inquieude na pesia de Dummnd”, em Vários escritos (S Paul, Duas Cidades, 1987). Cals Dummnd de Andade, “Cidadezinha qualque”, em Alguma poesia , ci. Idem, “rea de amília”, em A rosa do povo, ci. Idem, “Cm um pesene”, em A rosa do povo, ci.
cid que me habia/ e a cada amanhece me dá um sc”, é que se lê n pema sinmaicamene iniulad “o u” 11. Em “A mesa” a siuaç é a de uma euni de amília que cmema anivesái d pai já alecid, cm um beve balanç da ajeóia ds lhs d hmenagead. o pema eee-se à cnadiç da amília, cm sua esuua paiacal, e às cnadiçes especícas de cada im, desde “bachael” (“ma nele a nsalgia/ ciadin, d a agese/ e, campnês, d lead”) aé slei (“só n que que seu am/ seja uma pis de dis,/ um cna ene bcejs/ e qua pés de chinel”). Ene s lhs d paiaca apaece pópi pea, que lhe diz: “ali, a can da mesa,/ n p humilde, alvez/ p se ei ds vaidss/ e se pela p incômdas/ psiçes de ip gauche ,/ ali me vês u”. Na pae nal, há ambém uma exalaç da me (“incnese vcaç de saciíci”). Dummnd apveia a ambiguidade da signicaç d uu d peéi, que em puguês às vezes é subsiuíd pel impeei. A ansciç de alguns vess cnids em um pequen ech evela eciene aiíci: “Ai, gande jana minei/ que seia esse.../ Cmíams, e cme abia a me”. Gamaicalmene “seia” é uu d peéi, “cmíams” é impeei e “abia” é impeei. A naaiva, que cmeça de ma claamene hipéica (“que esa gande/ hje e aria a gene...”), dand cna de um jana n ealizad, desliza paa a damaizaç de um encn, al cm se ivesse acnecid. o m desse pema é sinmáic. A e sensaç de ealidade acnecida na mais usane impac da evelaç nal: a amília esaia (esava?) eunida “jun da mesa v a z i a”12. A dispsiç gáca d adjeiv islad – cnme queia pea – alece a ideia de que a ma de cmunidade ppcinada pela amília paiacal, na ausência d paiaca, caece de qualque ecácia em escala humana. Dummnd n peendia pmve um ajuse de cnas demasiad desuiv cm senimens, imagens, emçes u ideias que peenciam a seu passad, mas que esavam vivs, e mexiam cm ele. Sua vis cíica da auidade d pai n impedia de pecebe que, em sua secua e aui-
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Idem, “o u”, em Corpo (ri de Janei, recd, 2002). Idem, “A mesa”, em Claro enigma , ci.
aism, havia ambém eciência e genesidade. Seus deeis n impediam lh de amá-l. Sabe ama é alg que se leva emp paa apende. Cm se lê n íul de um liv que pea publicu em 1985, Amar se aprende amando 13. o am ns vess de Dummnd, assim cm nas peças de Shakespeae, pece caminhs umuluads. É incmpaível cm a inécia e n pde se bigad a cnvive cm uma seguança abslua. taz cm ele a pssibilidade da exema elicidade e a da al desgaça. N pema “A um va que acaba de nasce”, lê-se: “Nss am se muila a cada insane. A cada insane/ agnizams u agniza alguém/ sb cainh nss” 14. Um ds pemas de Dummnd que ns emcina mais emene a lida cm unives d am é um pema que emaiza uma paix pibida: “o pade, a mça”. o pema abe-se cm um ves exadinaiamene sinéic: “o pade uu a mça, ugiu”. A palava “uu” evca escândal da sciedade, a úia da mulid. Quan mai ascíni, mais dásica deve se a epvaç pública. A mulid apedeja pade e a mça, cnud as pedas esvalam. o pade leva n alje Cis e cime. o pópi Demôni apaece e dena-se cm pade. Ese, pém, cm a mça den dele, já n pde se enad. “o Píncipe desinega-se n a.” o pade e a mça n sabem mais se sepaa. Ninguém sabe a ce “nde Deus acaba e ecmeça”. o pade e a mça gem de sua pópia uga, v sempe “paa mais lnge, ande n chegue a ambiç de chega” 15. “o pade, a mça” é um pema que ecia um mi e abe-se na dieç d inni. N em m. Mais damáica, cnud, é a siuaç d sujei que vive um am inni cm a pecepç de que sua pópia niude esá se acecand. Essa é a siuaç pesene n pema “Camp de es” 16. A ecepç a am que chega é saudada, sem que se aba m da lúcida cmpeens das diculdades que chegam cm ele.
Idem, Amar se aprende amando (13. ed., ri de Janei, recd, 1992). 14 Idem, “A um va que acaba de nasce”, em Claro enigma , ci. 15 Idem, “o pade, a mça”, em Lição de coisas (2. ed., ri de Janei, Jsé oympi, 1965). Jaquim Ped de Andade ez um lme basead nesse pema. 16 Idem, “Camp de es”, em Claro enigma , ci. Ve ambém J Luís Laeá, “Leiua de ‘Camp de es’”, em Revista do Instituto de Estudos Brasileiros , n. 11, 1972. 13
A pecupaç de Dummnd n leva a eme essas diculdades: leva- a ecei de n cespnde de md adequad às exigências d “am cepuscula”17. Em sua nva cndiç, ele lamena que alvez a inia enha dilacead sua capacidade de enega. E ecmenda a si mesm: “de uma gave paciência/ ladilha minhas ms” 18. o pea é ga a am, n eclama da ha da sua chegada: Deus me deu um am n emp de madueza Quand s us u n s clhids u sabem a veme Deus – u i alvez Diab – deu-me ese am madu E a um e u agadeç, pis que enh um am. 19
o am é invulneável a ds s agumens. E n se deixa abala pela passagem implacável d emp. Paa se pege, am cna cm sua capacidade de esabelece mis peéis. E pea se sene, ele mesm, um mi: Eis que eu mesm me n mi mais adis E, alhad em penumba, su e n su, mas su. 20
Vale a pena lembams, de passagem, que dizia pagnisa de Grande sertão: veredas , ciaç de u nável esci minei, J Guimaes rsa: “tud é e n é” 21. Seá mui diícil encna alguém que enha cmpeendid, an quan Cals Dummnd de Andade, as cnadiçes d am. P iss é ascinane vê-l ecmenda, n peminha “o seu san nme”, de 1980: N acilie cm a palava am [...] N cmea a lucua sem emiss de espalha as qua vens d mund essa palava que é da sigil e nudez, peeiç e exíli na tea. N a pnuncie.22
17 18 19 20 21
22
Ibidem. Ibidem. Ibidem. Ibidem. J Guimaes rsa, Grande sertão: veredas (15. ed., ri de Janei, Jsé olympi, 1982), p. 12. Cals Dumnd de Andade, “o seu san nme”, em Corpo, ci.
Cncluind, eabind
elizmene exisem pesses que n deixam de se, ambém, aluns. Queem apende sempe mais. E sabem que cnhece n é acumula inmaçes. os nvs cnhecimens que cei e adquiid enaam em chque cm us cnhecimens que já esavam insalads em minha cabeça. Pecisei aze alguns eajuses, depis ive de mdica cnvicçes anigas, que já haviam ciad aízes. am mudanças dlsas. Ach que sens de hum uncinu cm um anesésic, mas n eviu almene simen. Cm diz pv: vivend e apendend. Pessas amigas me deam ça paa que eu me manivesse na lua p uma sciedade mais live e mais jusa. Clegas e esudanes me ajudaam a pecebe que, na sciedade que queems cnsui, é essencial que nós apendams, de a, a ama. Mas n há cnsens n us das palavas amar u amor . iz uma pesquisa e usei a leiua de 23 aues na pepaaç dese liv. Pcuei esceve cm claeza e às vezes me pemii maniesa um puc de sens de hum. o que dizem sbe am lóss cm Sócaes, Max, Hegel, uie e Jacb Behme? Peas cm Cames, ovídi, Emily Dickinsn, Gehe e Cals Dummnd de Andade? Ensaísas cm eud e Simne de Beauvi? iccinisas cm Jge Luis Bges, Tmas Mann, Dsiévski, Balzac, Sendhal, laube, Shakespeae, Cevanes e Guimaes rsa? ou evlucináis cm rsa Luxembug? Minha abdagem desses 23 aues espeiu a divesidade das pesnalidades e das cndiçes especícas de cada um, cm cuidad paa n igna as dieenças. o ex peende se úil a esudanes de Leas, de Educaç, de Hisóia, de ilsa e de Jnalism, ene us. Espe que s esudanes de Leas apeciem mais s “clássics” evisiads; que s esudanes de Educaç pensem a espei das dieenças exisenes
ene s ideais ds eóics que inuenciavam s educades; que s esudanes de Hisóia eiam sbe enaizamen de algumas (e n de uas) cnsuçes culuais bem-sucedidas; que s esudanes de ilsa se animem a ele Pla u dialga cm Max u eud sbe am; e que s esudanes de Jnalism se pegunem p que az, em cada cas, as cenes de vanguada, a ena peve uu, acabem p “peve” passad (que dize, azem pevises – equivcadas – sbe a aualizaç daquelas cenes que cnsideam suas pecusas). Cm n se aa de uma “hisóia das cncepçes de am”, peei n me apia na dem cnlógica paa a expsiç de minhas bsevaçes a espei desses 23 aues. A “desdem” cnlógica e as epígaes exaídas na maiia da música ppula basileia cneem a ese cnjun de ensais um aspec um an “biza”. Essa caaceísica, enean, pde cnibui paa que s leies vivam um mmen de dúvida: seá que exise uma ligaç ene a cncepç de am de Simne de Beauvi, sua disinç ene am essencial e cningene, e a epígae iada d samba de Mnsue e Ain Amim? o lei pecebeá que exise, sim, indieamene, aavés de Nelsn Algen. Em us cass a ligaç é claa, cm a de Cevanes cm a epígae de Paulinh da Vila; a de Emily Dickinsn cm a epígae de Lamaine Bab ec. Na maiia ds cass, cnud, a ligaç depende da inepeaç d lei e pde se inexisene. o que impa nessa abdagem “leve” de um ema ampl e cmplex, que pde se na “pesad”, é cnvie implíci, insigane, as esudanes, as leies jvens em geal, paa que se apximem ds gandes aues cm nvs ineesses, um nv quad de eeências e uma nva cuisidade.
Bigaas sucinas
Balzac, Hné de (tus 1799 – Pais 1850), esci ancês, mudu-se cm a amília paa a capial em 1814. Decepcinad cm a caeia lieáia, lançu-se ns ams ediial, ipgác e, p m, na undiç de caacees ipgács, mas a empesa exinguiu-se em 1828, aundada em dívidas. o acass ns negócis levu- de vla à lieaua. Em 1832, Balzac ppôs-se a esceve uma hisóia da sciedade ancesa cnempânea e paa iss dividiu seus escis passads e uus ene Estudos de costumes (ds quais az pae O pai Goriot ), Estudos losócos (cm A pele de onagro) e Estudos analíticos (cm A siologia do casamento). Em 1834 eve a ideia de ema alguns de seus pesnagens em us mances. Casu-se cm Eveline Hanska em 1850, em Bedichev, mas já esava gavemene dene e meu alguns meses depis, em Pais. Beauvi, Simne de (Pais 1908 – idem 1986), escia ancesa, de igem pequen-buguesa, mu-se em ilsa pela Sbnne. Esceveu ensais, mances e peças de ea. i cmpanheia de Jean-Paul Sae e uma das pincipais pesnalidades d exisencialism. Em 1954 publicu aquela que seia sua ba-pima: Os mandarins . eminisa cmbaiva, dedicu ba pae de seus esuds à cndiç da mulhe, ds quais esulaia O segundo sexo, publicad em 1949. Na década de 1970, esudu s pblemas ísics e sciais ds velhs e ez uma dua cíica a aamen que lhes é esevad em A velhice . De sua ba, desaca-se ainda ela cnundene ds úlims dias de Sae. Behme, Jacb (Alseidenbeg 1575 – Göliz 1624), sapaei, lós audidaa e mísic, lh de campneses. N se sabe cm, apendeu a le e a esceve. Ineessa va-se sbeud p queses elógicas. Paa ele, md de exisi de Deus cnsisia num engenda incessane de si mesm, num desenvlvimen de den paa a ( Auswickelung ). i çad a abandna cm mulhe e lhs a aldeia nde mavam pque a ppulaç, insigada pels eólgs pesanes ciais, s hsilizavam. redescbe, execeu gande inuência sbe s peas mânics. Bges, Jge Luis (Buens Aies 1899 – Geneba 1986), esci agenin. Esudu na Suíça, viveu alguns ans na Espanha, nde equenu cículs vanguadisas, e viaju mui. Na lieaua, cmbinu a expeiência csmplia cm aízes ncadas
em Buens Aies. Ea pund cnheced da cabala e das lieauas angl-sax, alem e escandinava. Em 1922 induziu na Agenina ulaísm, mvimen de vanguada da pesia espanhla e hispan-ameicana, e em 1924 undu a evisa lieáia Martin Fierro . tnu-se mundialmene cnhecid sbeud p seus cns anásics, cm História universal da inâmia , O Aleph e O livro de areia . Suas psiçes uladieiisas de api as miliaes duane a diadua agenina pvcaam gandes discusses. Cames, Luís Vaz de (Lisba u Cimba 1517, 1524 u 1525 – Lisba 1580), pea puguês de amília nbe empbecida. Puc se sabe de sua bigaa, mas acedia-se que enha esudad aes n clégi d msei de Sana Cuz, em Cimba. i paa Lisba p vla de 1542, inegand-se as meis palacians. P vla de 1549 u 1550, envlveu-se numa biga cm um cavalaiç d ei e i pes. Cm alenaiva à pis, paiu paa a Índia a seviç da Ca. Passu ans em Ga, Macau, Angla e Mçambique, nde seu amig Dig d Cu encnu- na miséia. Em 1571, de vla a Pugal, beve licença da Inquisiç paa publica Os Lusíadas . Cm sua genialidade já amplamene ecnhecida, espeava se aclhid pela Ce, sen cm gaid, a mens sem mesquinhez. Meu pbe e, a que ud indica, i enead em vala cmum. Cevanes Saaveda, Miguel de (Alcalá de Henaes 1547 – Madi 1616), esci espanhl, lh de um médic pbe. Engaju-se duas vezes n seviç milia e, da segunda vez, viaju p da a Iália. Esava em Chipe em 1570, quand a ilha i mada pels ucs, e paicipu da baalha de Lepan. i eid em cmbae e pedeu us da m esqueda. i dispensad em 1575 e capuad p piaas saacens na viagem de vla. Passu cinc ans eid em Agel e só i sl mediane esgae. tnu-se cmissái de abasecimen duane a pepaaç da Invencível Amada e em 1589 i acusad de exaç cm bens da Igeja, send pes e excmungad. Eseve mais de uma vez na pis, acusad aé de assassina, mas nesse cas cnseguiu eximi-se. Esceveu nvelas magnícas, mas sua ba-pima é, sem dúvida, Dom Quixote , que deu iníci à hisóia de um nv gêne lieái: mance. Dickinsn, Emily (Amhes 1830 – idem 1886), pea ne-ameicana, viveu da a sua vida islada em sua cidade naal, num casa hedad d pai. Em vida, publicu apenas see pemas, emba escevesse mui, aé em papel de p. É cnsideada, a lad de Wal Whiman, a mai pea ne-ameicana d sécul XIX, mas a ça e a iginalidade de sua pesia só am vedadeiamene apeciadas n sécul XX. Vem send edescbea nas úlimas décadas, e mais de mil pemas de sua auia já am publicads.
Dsiévski, iód Mikhailvich (Mscu 1821 – S Peesbug 1881), esci uss, lh de um ppieái ual. Ingessu ns meis pgessisas pelas ms d cíic Vissain Belinski, a quem deve seus pimeis sucesss. Desceveu sua expeiência num camp de abalhs çads na Sibéia em Recordações da casa dos mortos , publicad em 1862. Váias de suas bas, cm Crime e castigo, O idiota e Os irmãos Karamazov , s cnsideadas vedadeias bas-pimas. Viveu sempe cm muia diculdade, e sb a vigilância cnsane da plícia. Dummnd de Andade, Cals (Iabia 1902 – ri de Janei 1987), pea e psad basilei. Paa aende a desej d pai, mu-se em amácia, mas nunca execeu a pss. Peenceu a gup mdenisa minei e cm ele undu, em 1925, A Revista , que apesa da puca duaç i impane paa deni as psiçes e a eséica d mvimen. i eda da Revista do ensino, da Seceaia de Educaç de Minas Geais, e clabad d Diário de Minas e d Jornal do Brasil , ene us. Mudu-se paa ri de Janei em 1934 paa cupa cag de chee de gabinee n Miniséi da Educaç. Sua eseia em liv deu-se em 1930, cm a publicaç de Alguma poesia . aleceu em 1987, alguns dias após a me de sua única lha, a escia Maia Juliea Dummnd de Andade. laube, Gusav (ruen 1821 – Cisse 1880), esci ancês, lh de um ciugi de enme. Iniciu esuds de Diei em Pais, mas eve de inempê-ls em 1844 p miv de saúde e vlu paa camp, que sempe peeiu à enéica agiaç da cidade. ez váias viagens a esangei: Iália, Egi, tuquia, Agélia e tunísia. Em 1856 cmeçu a publica Madame Bovary pela Revue de Paris e causu escândal cm algumas cenas. i pcessad e abslvid. A publicaç inegal d mance, em 1857, beve um gande sucess. Sua ba impessina pel ig da escia e é cnsideada um mac d ealism. Emba ambém enha esci paa ea, laube é ecnhecid cm um mese ds mances e ds cns (e nvelas). Deixu inacabad Bouvard e Pécuchet , publicad em 1881. uie, ançis Maie Chales (Besançn 1772 – Pais 1837), scialisa uópic ancês, lh de um ic abicane de ecids. Pedeu sua una em 1793 e nu-se empegad de cméci. Achava que, se a humanidade n supeasse a “civilizaç” ( esad de cisas aual), ela meia em puc mais de dis séculs. Mas a mudança necessáia n se aia p mei de uma evluç: a expeiência ancesa de 1789 msava que evluçes s esúpidas e inúeis. uie ppôs en que se zesse a expeiência da mudança pel exempl, ganizand-se um “alanséi”, u seja, uma cmunidade na qual s sees humans viveiam de acd cm nvas egas e nvs pincípis. A upia de uie inuenciu muis escies anceses e ne-ameicans.
eud, Sigmund (eibeg, Áusia 1856 – Lndes 1939), neulgisa ausíac e ciad da psicanálise, lh de judeus pequen-bugueses. Mu em Viena desde s seus qua ans de idade aé a invas nazisa, em 1938. Esudu seis meses em Pais cm Chac e duane algum emp usu a hipnse n aamen de seus pacienes hiséics, mas subsiuiu a páica pela live assciaç de ideias. Em 1895, em clabaç cm Beue, esceveu Estudos sobre a histeria, n qual expe cnceis básics da psicanálise. A pimeia ba ppiamene psicanalíica que esceveu é A interpretação dos sonhos , de 1900. Sua eia d incnsciene execeu e impac sbe a culua d sécul XX. A pai ds ans 1920, passu a esuda s gandes pblemas da civilizaç segund uma pespeciva psicanalíica. Gehe, Jhann Wlgang vn (anku 1749 – Weima 1832), mais ams esci alem, nasceu em uma amília buguesa. Em 1765 ingessu n cus de Diei da Univesidade de Leipzig, mas ineessava-se sbeud p lieaua e cmeçu a esceve pesias. Iniciu sua caeia juídica em 1772, em Wezla, nde se apaixnu pela niva de um amig. Dessa expeiência sugiu Os sorimentos do jovem Werther , uma das bas mais inuenes d rmanism, publicada cm gande sucess em 1774. Sua ama cesceu ainda mais a se nmead cnselhei plíic e ecnômic pel g-duque de Weima, em 1775. A viagem que ez à Iália, de 1786 a 1788, macu um mpimen em seu pensamen: Gehe nu-se um cíic das psiçes mânicas e evluiu paa um neclassicism. Sua ba cnsideada mais nável é Fausto, que ele levu cinquena ans paa esceve. Hegel, Geg Wilhelm iedich (Suga 1770 – Belim 1831), lós alem. i pess da Univesidade de Iena, nde se ligu a aues mânics, ene eles s ims Schlegel. Cm eda-chee de um jnal em Bambeg, ele ampliu sua expeiência plíica. Daa dessa épca seu pimei liv, A enomenologia do espírito . o pn de paida de sua lsa é: aavés de múliplas mediaçes, ud se cneca a ud, ud exise se ansmand naquil que ainda n ea. De 1808 a 1816, Hegel i die d ginási de Nuembegue e evelu gande alen paa a pedaggia. Em 1818, a se chamad paa lecina lsa na Univesidade de Belim, uviu a adveência d impead de que n gsava de vê-l cecad de aluns libeais – s “subvesivs” da épca. Hegel meu de cólea. Heine, Heinich (Düsseld 1797 – Pais 1856), pea alem, de igem judia. Sacásic, ieveene, exilu-se em Pais depis que Reisebilder (Imagens de viagem), publicad ene 1827 e 1830, i censuad em váis esads alemes p seu libealism. tnu-se amig de Max e simpaizane d mvimen peái e das ideias scialisas. Ea, n enan, um esea, que se aeava a ideais de beleza e de
ssicaç que pdeiam vi a se pejudicads pela vilência das evlas ppulaes. Sua inuência n unives lieái deve-se sbeud as pemas de am, sempe iônics; cnud, a cíica mdena peee seus pemas saíics e lsócs, caegads de pessimism. Em seus úlims ans de vida, Heine seu mui: cu ceg e quase n saía da cama. Luxembug, rsa (Zamsc 1870 – Belim 1919), evlucináia alem de igem plnesa, nascida em uma amília judia. ilu-se mui jvem a paid scialisa e paicipu da evluç ussa de 1905. i pesa váias vezes de 1913 a 1918 p aze ppaganda pacisa; d peíd de encaceamen sugiu Briee ans dem Geängnis (Cartas da prisão), publicad em 1921. Em sua miliância paidáia, divegiu da linha plíica adada p Kal Kausky, seu amig pessal, que após a evluç alem de 1918 se ecnciliu cm s scial-demcaas. Emba sse adical de esqueda, rsa ambém divegiu de Lenin p cnsidea que ele subesimava val da demcacia. Mann, Tmas (Lübeck 1875 – Zuique 1955), esci alem, lh de um póspe cmeciane e de uma basileia que, emba ics, já se pecupavam cm uu e viviam sb a smba da alência. Em 1901 publicu seu pimei mance, Os Buddenbrooks – que lhe valeu pêmi Nbel de Lieaua, em 1929 –, n qual aa d anagnism ene a vida buguesa e a vida d aisa. remu assun em ônio Kroeger , publicad em 1914, e mais adiane, em 1924, n pund e invad A montanha mágica . Cm a subida d nazism, seus livs am pibids e sua cidadania, cassada. Exilu-se cm a amília pimei na Suíça e depis ns Esads Unids, nde esceveu s qua vlumes de José e seus irmãos . Ea pai d esci Klaus Mann, cnhecid p seu mance Mesto, e im de Heinich Mann, cuj mance saíic Proessor Unrat inspiu lme O anjo azul , de Jse vn Senbeg. Max, Kal Heinich (tie 1818 – Lndes 1883), lós, ecnmisa e plíic scialisa alem, passu a mai pae de sua vida exilad em Lndes. Duu-se em 1841 pela Univesidade de Belim, cm uma ese sbe Epicu. Junu-se à esqueda hegeliana, de cnvicçes plíicas e eligisas adicais, mas aasu-se em seguida; nessa épca ea adep d maeialism de euebach. Em 1844 cnheceu iedich Engels, que apesenu à ealidade d pleaiad indusial e em 1848 edigiu cm ele O Maniesto Comunista , pgama plíic e lsóc da Liga ds Juss. Desenvlveu uma cncepç d cmunism ligada à sua cncepç da hisóia (maeialism hisóic) e a uma eslua inevenç na lua plíica, slidáia cm mvimen peái. Sua ba mais amsa é O capital , na qual az uma cíica a md de pduç capialisa.
ovídi (Sulmna, Abuzs 43 a.C. – aual Cnsana, rmênia 17 u 18 d.C.), pea lain. Mudu-se paa rma paa esuda; ea bêmi e dad de uma exadináia acilidade paa aze vess. N demu a na-se pea avi ds meis mundans. Vivia assediand as mulhees. Caiu em desgaça p azes descnhecidas e i exilad, p dem d impead, n lcal hje cnhecid p Cnsana, na rmênia. Ali passu ans islad, escevend caas paa pedi explicaçes e deende-se de acusaçes nunca muladas. i um ds peas lains mais lids duane a Idade Média. Pla (Aenas 428 u 427 – idem 387 u 347 a.C.), lós geg, peencia a uma amília aiscáica. i discípul de Sócaes, esceveu numess diálgs, ns quais seu pensamen se idenica a al pn cm d mese que às vezes é impssível sabe que é de um e que é d u. Ineessad n pblema das elaçes ene Esad e indivídu, empeendeu váias viagens a esangei: sul da Iália, Sicília, ne da Áica. Enenu a cise de seu emp escevend livs e enand inuencia pensamen plíic de dis ians, Dinísi I e Dinísi II; segund alguns hisiades, nessas duas casies ele eia enad aplica na páica s ideais que pegava em A República . rsa, J Guimaes (Cdisbug 1908 – ri de Janei 1967), esci e diplmaa basilei. mu-se em Medicina em 1930 pela Univesidade de Minas Geais, clinicu duane dis ans em Iaguaa e seviu cm médic vlunái na lua cna mvimen cnsiucinalisa de 1932. Ingessu na caeia diplmáica dis ans depis, mas sempe eve cnsciência de que sua pincipal aividade ea a lieaua. Eseu em 1937 cm a cleânea de cns Sagarana e beve enme sucess de cíica e de públic. Supeu-se, enean, cm a publicaç de Grande sertão: veredas , em 1956. Cm diplmaa, viveu em Hambug, Baden-Baden, Bgá e Pais. i elei paa a Academia Basileia de Leas em 1963, mas smene mu psse de sua cadeia em 17 de nvemb de 1967, ês dias anes de sua me. Shakespeae (Sad-n-Avn 1564 – idem 1616), pea e damaug inglês, lh de pequens ppieáis. Sabe-se puc de sua vida, mas pvavelmene ecebeu ba educaç secundáia. Mudu-se paa Lndes, nde execeu sem sucess a pss de a. Quand s eas lndins am echads p causa da pese (1592-1594), Shakespeae já havia esci algumas peças de sucess. P essa épca lançu-se cm pea e, cm s dis lngs pemas que dedicu a cnde de Suhampn, beve dinhei suciene paa na-se sóci da cmpanhia eaal Ld Chambelain’s Men. renu ced paa sua cidade naal e ali viveu cm um abasad ppieái. Suas bas cmpleas am publicadas see ans após a sua me p dis anigs clegas de palc.
Sócaes (Alópece c. 470 – Aenas 399 a.C.), lós geg, lh d escul Snisc e da paeia enaea. i pecep de Alcebíades, a lad de quem paicipu de váis cmbaes. N esceveu livs pque peeia dialga cm seus inelcues nas uas de Aenas; seu méd cnsisia em desui s pecnceis p mei da inia, ajudand cada pessa a desenvlve suas pópias ideias, a acinalidade den dela. Dizia e se inspiad na ae de paeja paa cia seu méd – a maiêuica – e ve as pessas daem à luz ideias jusas. Acusad de cmpe a juvenude, numa épca de descédi das insiuiçes dias demcáicas, i cndenad à me e bebeu cicua. Meu seenamene, enquan cnvesava cm seus discípuls. Sendhal, Heni Beyle, di Aig Beyle (Genble 1783 – Pais 1842), esci ancês, ebelu-se ced cna a amília e a vida pvinciana. tnu-se milia sb egime de Naple e seviu na Iália, na Alemanha e na rússia. Apaixnad pela Iália, esceveu uma Histoire de la peinture en Italie (História da pintura na Itália ), Promenades en Rome (Passeios em Roma ) e Rome, Naples et Florence ; em Racine et Shakespeare , ele deende a supeiidade d damaug inglês. Viveu em Mil de 1814 a 1821 e dizia-se milanês, aé que a plícia ausíaca descnu de sua elaç cm evlucináis ialians e expulsu. os cíics cnsideam O vermelho e o negro e A cartuxa de Parma s pns culminanes de sua cç.
Leiuas sugeidas
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Na bigáca
Leand Knde nasceu em 1936, em Peóplis (rJ), lh de Yne e Valéi Knde (médic e líde cmunisa). mu-se em Diei em 1958 pela Univesidade edeal d ri de Janei e i advgad abalhisa aé glpe milia de 1964. Pes e uad em 1970, Knde exilu-se em 1972, pimei na Alemanha e depis na ança; egessu a Basil em 1978. Duu-se em ilsa em 1987 n Insiu de ilsa e Ciências Sciais da UrJ. É pess n Depaamen de Educaç da PUC/rJ e ex-pess d Depaamen de Hisóia da U. tem vasa pduç inelecual cm cneencisa, aiculisa de jnais, ensaísa e ccinisa. Em 2002 i elei Inelecual d An pel óum d ri de Janei, da Uej. É um ds maies esudiss d maxism n país.
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A visão em paralaxe * P Slavoj Žižek
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Às portas da revolução: escritos de Lenin de 1917 * P Slavoj Žižek
Bem-vindo ao deserto do Real! (ã ) * P Slavoj Žižek
Caio Prado Jr. * PDF Lincoln Secco
Cidade de quartzo * PDF Mike Davis
Cinismo e alência da crítica * PDF Vladimir Safatle
Crítica à razão dualista/O ornitorrinco * PDF Francisco de Oliveira
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Em deesa das causas perdidas * P PDF Slavoj Žižek
Em torno de Marx * PDF Leandro Konder
Estado de exceção * PDF Giorgio Agamben
Extinção * PDF Paulo Arantes
Hegemonia às avessas: economia, política e cultura na era da servidão fnanceira * PDF Francisco de Oliveira, Ruy Braga e Cibele Rizek (orgs.)
Inoproletários * PDF Ruy Braga e Ricardo Antunes (orgs.)
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Memórias * PDF Gregório Bezerra
Meu velho Centro * PDF Heródoto Barbeiro
O continente do labor * PDF Ricardo Antunes
O desafo e o ardo do tempo histórico * PDF István Mészáros
O enigma do capital * PDF David Harvey
O poder das barricadas * PDF Tariq Ali
O que resta da ditadura: a exceção brasileira * PDF Edson Teles e Vladimir Safatle (orgs.)
O que resta de Auschwtiz * PDF Giorgio Agamben
O tempo e o cão: a atualidade das depressões * PDF Maria Rita Kehl
O reino e a glória * P Giorgio Agamben
Os cangaceiros: ensaio de interpretação histórica * PDF Luiz Bernardo Pericás
Os sentidos do trabalho * PDF Ricardo Antunes
Para além do capital * PDF István Mészáros
Planeta avela * PDF Mike Davis
Primeiro como tragédia, depois como arsa * PDF Slavoj Žižek
Proanações * PDF Giorgio Agamben
Saídas de emergência: ganhar/perder a vida na perieria de São Paulo * P Robert Cabanes, Isabel Georges, Cibele Rizek e Vera Telles (orgs.)
Sobre o amor * PDF Leandro Konder