CENTRO DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL DO PORTO
Saúde Mental Infantil
Formadora: Sílvia Valente Módulo: Saúde Mental Infantil – 3267 Curso: Técnicas Acção Educativa Local: Aprender e Saber
Objectivos: 21
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- Identificar os conceitos básicos da Saúde Mental Infantil - Desenvolver acções adequadas à promoção da Saúde Mental Infantil
1- Fundamentos da Saúde Mental Infantil:
Definição;
Conceitos básicos de Saúde Mental;
2- Perspectivas Preventivas em Saúde Mental: Normal
e Patológico;
Modelos Preventivos – factores de equilíbrio e de risco;
Crises
de desenvolvimento;
3 – Saúde Mental na Família Criança A
e Família
importância da abordagem da família
4 – Criança Vulnerável e em Risco Desenvolvimento
e vulnerabilidade
Algumas Situações de Risco: - Carência afectiva materna - Criança prematura - Criança hospitalizada - Síndrome da criança negligenciada e batida 1
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- Criança Psicossomática
1- Fundamentos da Saúde Mental Infantil Definição Saúde Mental 1
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1- O conceito de saúde mental deve envolver o homem no seu todo biopsicossocial,
o
contexto
social
em
que
está
inserido
assim como a fase de desenvolvimento em que se encontra. Neste sentido, podemos considerar a saúde mental como um equilíbrio dinâmico que resulta da interacção do indivíduo com os seus vários ecossistemas: o seu meio interno e externo; as suas características orgânicas e os seus antecedentes pessoais e familiares (Fonseca, 1985). 2- A saúde mental (ou sanidade mental) é um termo usado para
descrever
um
nível
de qualidade
de
vida cognitiva ou emocional ou a ausência de uma doença mental. 3- Saúde Mental é estar de bem consigo e com os outros. Aceitar as exigências da vida. Saber lidar com as boas emoções e também com as desagradáveis: alegria/tristeza; coragem/medo; amor/ódio; serenidade/raiva; ciúmes; culpa; frustrações. Reconhecer os seus limites e buscar ajuda quando necessário. 4- A saúde mental é definida como sendo o estado de equilíbrio entre uma pessoa e o seu meio sociocultural. Este estado garante ao indivíduo a sua participação laboral, intelectual e social para alcançar um bem-estar e alguma qualidade de vida. Ainda que o conceito de saúde mental surja por analogia à saúde física, trata de fenómenos mais complexos. Em todo o caso, pode-se dizer que a saúde mental é um estado de bem-estar emocional e psicológico, mediante o qual o indivíduo é capaz de fazer uso das suas habilidades emocionais e cognitivas, funções sociais e de responder às solicitações ordinárias da vida quotidiana. Convém destacar que a ausência de uma doença mental não implica
que
o
indivíduo
goze
de
boa
saúde
mental.
O
acompanhamento do comportamento diário de uma pessoa é a melhor forma de conhecer o estado da sua saúde mental. Também há que ter em conta que a saúde mental não é uma dimensão que se possa dissociar da saúde física, tal como nos 1
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relembra a famosa expressão latina “mens sana in corpore sano” (uma mente sã num corpo são). Existem evidentes ligações entre as patologias mentais e as biológicas. Os psicólogos defendem que a saúde mental deve ser promovida a nível individual (com a motivação dos recursos próprios da pessoa através de estímulos na auto-estima), a nível comunitário (com uma coesa inclusão social) e a nível oficial (com planos estatais e o acesso à saúde pública). 5- A saúde mental é definida pela OMS como “o estado de bemestar no qual o indivíduo realiza as suas capacidades, pode fazer face ao stress normal da vida, trabalhar de forma produtiva e frutífera e contribuir para a comunidade em que se insere” (OMS, 2001). A Organização Mundial de Saúde entende a saúde como "um estado de bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença ou dor". Nesta definição, a "saúde mental" é entendida como um aspecto vinculado ao bem-estar, à qualidade de vida, à capacidade de amar, trabalhar e de se relacionar
com
os
outros.
Ao
defini-la
nesta
perspectiva
positiva, a OMS convida a pensar na saúde mental “muito para além” das doenças e das deficiências mentais. Apesar de se tratar de áreas distintas, alguns problemas relacionados com a saúde mental têm sido tradicionalmente vinculados de forma automática à deficiência, resultando num reforço
da
exclusão
que
costuma
acompanhar
ambas
condições. Quando alguns problemas de saúde mental tais como o autismo, a esquizofrenia, a depressão ou as diferentes variantes do atraso mental são abordados exclusivamente a partir de uma perspectiva médico-assistencialista, tendem a ser reforçadas as dinâmicas de segregação e de dependência da
pessoa,
em
detrimento
das
suas
possibilidades
de
desenvolvimento e do exercício da sua condição de pessoa. 1
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A abordagem do desenvolvimento inclusivo no âmbito da saúde mental procura alternativas que protejam os direitos humanos, sociais e económicos das pessoas com problemas de saúde mental ou deficiência intelectual, fortalecendo a sua capacidade de auto-cuidado e autonomia pessoal para uma vida independente.
Doença Mental/ Deficiência Mental A deficiência mental não é, em si mesma uma doença, ela pode resultar de uma afecção orgânica ou uma alteração genética que ocorre
à
nascença
ou
na
infância.
É
caracterizada
por
um
funcionamento intelectual abaixo da média e por incapacidades de adaptação às exigências culturais da sociedade. Apesar de ser possível aumentar as competências da pessoa com deficiência mental através da reabilitação, nunca será possível atingir um funcionamento intelectual e social completo. A doença mental abrange um leque variado de perturbações que afectam
o
comportamento
emocional,
social
e
intelectual,
manifestando-se em determinado momento ao longo da vida, antes do qual não existem alterações ou perda de capacidades. Pode, portanto, em muitos casos ser curada. Doença mental é um distúrbio que causa distúrbios brandos ou graves no pensamento, percepção, humor ou comportamento. Se estes distúrbios afectarem significativamente a capacidade de uma pessoa enfrentar as exigências e rotinas da vida, então essa pessoa deve procurar tratamento com um profissional de saúde mental imediatamente. Com cuidado e tratamento adequados, a pessoa pode se recuperar e voltar às suas actividades normais.
Saúde Mental Infantil A infância implica um crescimento e mudanças rápidas. As crianças desenvolvem-se física, intelectual, emocional e socialmente. Crianças 1
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saudáveis desenvolvem a capacidade de responder à mudança e recuperar dos desafios da vida. Sentem-se bem com elas mesmas, dão-se bem com a família, com seus amigos e com a sua comunidade, e gostam da escola e de actividades após a escola. Tipicamente, as crianças enfrentam problemas. A maioria das dificuldades é de curto prazo e não requerem tratamento de saúde mental. Entretanto, se os problemas são graves e persistentes os pais devem procurar auxílio profissional.
Tipos de Distúrbios Mentais em Crianças As crianças podem experimentar um único distúrbio, ou mais de que um ao mesmo tempo. Os distúrbios mais comuns são: - Perturbações disruptivas do comportamento; - Hiperactividade/ Défice de atenção; - Dificuldades de aprendizagem; - Perturbações de ansiedade; - Perturbações de humor; - Recusa escolar; - Tentativas de suicídio; - Perturbações de expressão somática: perturbações do sono, perturbações alimentares, enurese e encoprese; - Perturbações psicóticas; - Perturbações do espectro do autismo.
Causa das Doenças Mentais nas crianças: A causa precisa da maioria dos distúrbios mentais não é completamente compreendida. De modo geral, os distúrbios mentais 1
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resultam de uma combinação de factores genéticos, outros factores biológicos e ambientais. A influência entre a biologia e o ambiente é complicada. O cérebro influencia o comportamento, e a experiência afecta o desenvolvimento do cérebro.
Quando é que as crianças necessitam de ajuda ? É típico que as crianças se comportem mal e se sintam ansiosas ou tristes. Crianças de dois anos de idade dizem "NÃO." Adolescentes às vezes questionam a autoridade. Portanto, é importante distinguir entre mudanças típicas de comportamento, e sinais de problemas mais sérios. Problemas merecem mais atenção quando são graves, persistentes, e têm impacto nas actividades diárias das crianças
2- Perspectivas Preventivas em Saúde Mental 2.1 Normal e Patológico Em saúde mental da infância e da adolescência é por vezes difícil traçar uma fronteira entre o normal e o patológico. Por si só um sintoma não implica necessariamente a existência de psicopatologia (diversos sintomas podem aparecer ao longo do desenvolvimento normal de uma criança, sendo geralmente transitórios e sem evolução patológica). Por outro lado, o mesmo sintoma pode estar presente nos mais variados quadros psicopatológicos. Os sintomas adquirem significado no contexto sócio-familiar e no momento evolutivo da criança. Deste modo, na presença de um ambiente familiar tolerante e tranquilizador, existe uma maior probabilidade de os sintomas diminuírem e até desaparecerem.
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Já num meio intolerante, agressivo ou angustiante, as perturbações que
a
criança
apresenta
podem
perdurar
e
afectar
o
seu
desenvolvimento. Sabe-se
muitas
vezes
que
pais
impacientes
ou
ansiosos
concentram a sua atenção num dado acontecimento ou sintoma, dando-lhe uma importância excessiva, fortalecendo-o, até se tornar um problema, sem que na maioria das vezes os pais tenham a noção deste seu papel. Os seus esforços para combater determinada situação problemática acabam por criar um estado de tensão na criança, reforçando o sintoma. Apresentam-se de seguida alguns indicadores que ajudam a efectuar a distinção entre normal e patológico. Sintomas Normais (inerentes ao desenvolvimento) Surgem no decurso de conflitos inevitáveis e necessários ao desenvolvimento psicológico da criança. Características:
Transitórios. Pouco intensos. Restritos a uma área da vida da criança. Sem repercussão sobre o desenvolvimento. A criança fala neles com facilidade. Sem disfunção familiar evidente. Sintomas Patológicos Características:
Intensos e frequentes. Persistem ao longo do desenvolvimento. Causam grave restrição em diferentes áreas da vida da criança.
Repercussão no desenvolvimento psicológico normal. Meio envolvente patológico.
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Desadequados em relação à idade. Associação de múltiplos sintomas.
Leitura e análise do texto O Nariz Luís Fernando Veríssimo (O Analista de Bagé)
Era um dentista, respeitadíssimo. Com seus quarenta e poucos anos, uma filha quase na faculdade. Um homem sério, sóbrio, sem opiniões surpreendentes mas uma sólida reputação como profissional e cidadão. Um dia, apareceu em casa com um nariz postiço. Passado o susto, a mulher e a filha sorriram com fingida tolerância. Era um daqueles
narizes
de
borracha
com
óculos
de
aros
pretos,
sombrancelhas e bigodes que fazem a pessoa ficar parecida com o Groucho Marx. Mas o nosso dentista não estava imitando o Groucho Marx. Sentou-se à mesa do almoço – sempre almoçava em casa – com a retidão costumeira, quieto e algo distraído. Mas com um nariz postiço. - O que é isso? – perguntou a mulher depois da salada, sorrindo menos. - Isso o quê? - Esse nariz. 1
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- Ah. Vi numa vitrina, entrei e comprei. - Logo você, papai… Depois do almoço, ele foi recostar-se no sofá da sala, como fazia todos os dias. A mulher impacientou-se. -Tire esse negócio. -Por quê? -Brincadeira tem hora. - Mas isto não é brincadeira. Sesteou com o nariz de borracha para o alto. Depois de meia hora, levantou-se e dirigiu-se para a porta. A mulher o interpelou. - Aonde é que você vai? - Como, aonde é que eu vou? Vou voltar para o consultório. - Mas com esse nariz?
- Eu não compreendo você – disse ele, olhando-a com censura através dos aros sem lentes. - Se fosse uma gravata nova você não diria nada. Só porque é um nariz… - Pense nos vizinhos. Pense nos clientes.Os clientes, realmente, não compreenderam o nariz de borracha. Deram risadas (“Logo o senhor, doutor…”) fizeram perguntas, mas terminaram a consulta intrigados e saíram do consultório com dúvidas. - Ele enlouqueceu? - Não sei – respondia a recepcionista, que trabalhava com ele há 15 anos. – Nunca vi ele assim. Naquela noite ele tomou seu chuveiro, como fazia sempre antes de dormir. Depois vestiu o pijama e o nariz postiço e foi se deitar. - Você vai usar esse nariz na cama? – perguntou a mulher. - Vou. Aliás, não vou mais tirar esse nariz. - Mas, por quê? - Por quê não? Dormiu logo. A mulher passou metade da noite olhando para o nariz de borracha. De madrugada começou a chorar baixinho. Ele enlouquecera. Era isto. Tudo estava acabado. Uma carreira brilhante, 1
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uma reputação, um nome, uma família perfeita, tudo trocado por um nariz postiço. - Papá… - Sim, minha filha. - Podemos conversar? - Claro que podemos. - É sobre esse nariz… - O meu nariz outra vez? Mas vocês só pensam nisso? - Papai, como é que nós não vamos pensar? De uma hora para outra um homem como você resolve andar de nariz postiço e não quer que ninguém note? - O nariz é meu e vou continuar a usar. - Mas, por que, papai? Você não se dá conta de que se transformou no palhaço do prédio? Eu não posso mais encarar os vizinhos, de vergonha. A mamã não tem mais vida social. - Não tem porque não quer… - Como é que ela vai sair na rua com um homem de nariz postiço? - Mas não sou “um homem”. Sou eu. O marido dela. O seu pai. Continuo o mesmo homem. Um nariz de borracha não faz nenhuma diferença. - Se não faz nenhuma diferença, então por que usar? - Se não faz diferença, porque não usar? - Mas, mas… - Minha filha… -Chega! Não quero mais conversar. Você não é mais meu pai! A mulher e a filha saíram de casa. Ele perdeu todos os clientes. A recepcionista, que trabalhava com ele há 15 anos, pediu demissão. Não sabia o que esperar de um homem que usava nariz postiço. Evitava aproximar-se dele. Mandou o pedido de demissão pelo correio. Os amigos mais chegados, numa última tentativa de salvar sua reputação, o convenceram a consultar um psiquiatra. - Você vai concordar – disse o psiquiatra, depois de concluir que não havia nada de errado com ele – que seu comportamento é um pouco estranho… - Estranho é o comportamento dos outros! – disse ele. – Eu continuo o mesmo. Noventa e dois por cento de meu corpo continua o que era 1
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antes. Não mudei a maneira de vestir, nem de pensar, nem de me comportar, Continuo sendo um óptimo dentista, um bom marido, bom pai, contribuinte, sócio do clube, tudo como era antes. - Mas as pessoas repudiam todo o resto por causa deste nariz. Um simples nariz de borracha. Quer dizer que eu não sou eu, eu sou o meu nariz? - É… – disse o psiquiatra. – Talvez você tenha razão…
O que é que você acha? Ele tem razão? Seja como for, não se entregou. Continua a usar nariz postiço. Porque agora não é mais uma questão de nariz. Agora é uma questão de princípios.
- Através do texto complementar O Nariz discuta como se definem as questões do normal e patológico.
Referenciação à consulta de saúde Mental Infantil 1º Estar atento a eventuais sinais de alerta para referenciação. Na primeira infância:
Dificuldades na relação mãe-bebé. Dificuldade do bebé em se auto-regular e mostrar interesse no mundo.
Dificuldade do bebé em envolver-se na relação com o outro e em estabelecer relações diferenciadas
Ausência de reciprocidade interactiva e de capacidade de iniciar interacção.
Perturbações alimentares graves com cruzamento de percentis e sem causa orgânica aparente.
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Insónia grave. Na idade escolar:
Dificuldades de aprendizagem sem défice cognitivo e na ausência de factores pedagógicos adversos.
Recusa escolar. Hiperactividade / agitação (excessiva ou para além da idade normal).
Ansiedade, preocupações ou medos excessivos. Dificuldades em adormecer, pesadelos muito frequentes. Agressividade,
violência,
oposição
persistentes,
birras
inexplicáveis e desadequadas para a idade.
Dificuldades
na
socialização,
com
isolamento
ou
relacionamento desadequado com pares ou adultos.
Somatizações múltiplas ou persistentes. Na adolescência:
Incapacidade
para
lidar
com
problemas
e
actividades
quotidianas.
Somatizações múltiplas ou persistentes. Humor depressivo, ideação suicida, tentativas de suicídio, isolamento relacional.
Ansiedade excessiva. Alterações do pensamento e da percepção. Sintomatologia obsessivo-compulsiva. Insónia grave, persistente. Restrição
alimentar,
preocupação
com
o
peso,
comportamentos purgativos.
Passagens ao acto impulsivas (agressivas ou sexuais), comportamentos auto-agressivos, fugas. 1
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Comportamentos anti-sociais repetidos. Nos casos com sintomas patológicos de gravidade ligeira a moderada deverão ser implementadas estratégias de intervenção comunitária, nomeadamente ao nível familiar, escolar e social, antes de sinalizar à equipa de Saúde Mental.
2.2 Modelos Preventivos- factores de equilíbrio e de risco
Factores de risco Os factores de risco são condições ou variáveis associadas à alta probabilidade de ocorrência de resultados negativos ou indesejáveis. Dentre tais factores encontram-se os comportamentos que podem comprometer a saúde, o bem-estar ou o desempenho social do indivíduo. Crianças portadoras de determinados atributos biológicos e/ou sob efeito de determinadas variáveis ambientais têm maior probabilidade de apresentar distúrbio ou atraso no seu desenvolvimento, quando comparadas com crianças que não sofreram efeitos de tais variáveis. Estas variáveis são denominadas factores de risco. Os factores de risco são aqueles que, se presentes, aumentam a probabilidade de a criança desenvolver uma desordem emocional ou comportamental. Tais factores podem incluir atributos biológicos e genéticos da criança e/ou da família, bem como factores da comunidade que influenciam, tanto o ambiente da criança quanto de sua respectiva família. Cabe salientar que os factores de risco por si só não constituem uma causa específica, mas indicam um processo complexo que pode justificar a consequência de uma psicopatologia na criança. Exemplos de factores de risco ao desenvolvimento infantil: 1
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1- Os eventos stressantes da vida, considerados como quaisquer mudanças no ambiente que normalmente induzem a um alto grau de tensão e interferem nos padrões normais de resposta do indivíduo, têm sido associados a uma grande variedade de distúrbios físicos e mentais. 2- A temática da violência intrafamiliar está cada vez mais presente no cenário actual. Entendem-se como factores de risco ao desenvolvimento
infantil
todas
as
modalidades
de
violência
doméstica: a violência física, a negligência e a violência psicológica, sendo que a última inclui a exposição à violência conjugal. 3- A violência sexual compreende toda situação na qual um ou mais adultos, do mesmo sexo ou não, utilizam a criança ou adolescente com a finalidade de obter prazer sexual. Tal acto pode incluir desde conversas ou telefonemas obscenos, passando por exibição dos órgãos sexuais, até relações sexuais impostas (vaginais, anais ou orais). 4- No que se refere à personalidade dos pais, Barnett (1997) afirma que a maioria dos pais possui características que podem prejudicar os seus filhos, no entanto, grande parte não permite que tais características interfiram no cuidado destinado a eles. O autor destaca
também,
egocentrismo
e
que a
as
pesquisas
imaturidade
de
têm pais
apontado que
para
o
maltratam,
particularmente no que diz respeito ao entendimento de seus papéis de cuidadores. Finalmente, no que se refere às habilidades dos pais, Barnett (1997) destaca que os pais que maltratam são menos positivos e dão menos suporte na educação de suas crianças, sendo mais negativos, hostis e punitivos do que pais que não maltratam. Tais pais tendem a reagir mais negativamente do que outros pais a desafios como o choro de uma criança. 5- Ainda dentro da noção de risco, Guralnick (1998) aponta ainda como factores de risco para o desenvolvimento da criança: 1
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A) Características interpessoais dos pais - grau de depressão, nível de instrução, experiências intergeracionais aprendidas sobre habilidades parentais, incluindo expectativas culturais. B) Características não directamente relacionadas a alguma deficiência da criança, como a qualidade do relacionamento conjugal, o temperamento da criança, e fontes de apoio disponíveis, incluindo recursos e rede de apoio social da família. 6- Adicionalmente, outros factores de risco ao desenvolvimento psicológico e social são: pais portadores de deficiência mental, baixa escolaridade dos pais, famílias numerosas, ausência de um dos pais, depressão
materna,
abuso
de
drogas.
Tais
práticas
poderão
desenvolver tanto comportamentos pró-sociais como anti-sociais, dependendo da frequência e intensidade que o casal parental utiliza determinadas estratégias educativas. Em seu estudo sobre estilos parentais
Gomide
(2003),
seleccionou
variáveis
vinculadas
ao
desenvolvimento do comportamento anti-social, sendo as práticas educativas negativas: a) negligência - ausência de atenção e afecto; b) abuso físico e psicológico - disciplina por meio de práticas corporais
negativas,
ameaça
ou
chantagem
de
abandono
ou
humilhação do filho; c) disciplina relaxada - relaxamento das regras estabelecidas; d) punição inconsistente - pais que se orientam pelo seu humor para punir ou reforçar e não pelo ato praticado; 7- Factores de risco referentes à família: a) famílias baseadas numa distribuição desigual de autoridade e poder;
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b) famílias nas quais não há uma diferenciação de papéis, levando ao apagamento de limites entre os membros; c) famílias com nível de tensão permanente, manifestado por dificuldades de diálogo e descontrole da agressividade; d) famílias nas quais não há abertura para contactos externos; e) famílias nas quais há ausência ou pouca manifestação positiva de afecto entre pai/mãe/filho; f) famílias que se encontram em situação de crise, perdas (separação do casal, desemprego, morte, etc). 8- Como factores de risco referentes à criança: crianças com falta de vínculo parental nos primeiros anos de vida, distúrbios evolutivos, crianças separadas da mãe ao nascer por doença ou prematuridade, crianças nascidas com mal-formações congénitas ou doenças
crónicas
(retardo
mental,
anormalidades
físicas,
hiperactividade), baixo desempenho escolar. Factores de protecção Exemplos
de
factores
de
protecção
do
desenvolvimento
infantil: 1- Os factores ou processos protectores são vistos como influências que melhoram ou alteram a resposta dos indivíduos a ambientes hostis, que predispõem a consequências mal adaptativas. Tais factores são compreendidos como condições ou variáveis que diminuem a probabilidade de o indivíduo desenvolver problemas de externalização, tais como: agressão, uso de álcool ou drogas, raiva, desordem de conduta, crueldade para com animais, entre outros. 2- Garmezy (1985) classifica os factores de protecção em três categorias:
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a) atributos disposicionais da criança - actividades, autonomia, orientação social positiva, auto-estima, preferências; b) características da família - coesão, afectividade e ausência de discórdia e negligência; c) fontes de apoio individual ou institucional disponíveis para a criança e a família d) relacionamento da criança com pares e pessoas de fora da família, suporte cultural, atendimento individual como atendimento médico ou psicológico, instituições religiosas, etc. 3) Segundo Bee (1995), a família pode ser destacada como responsável pelo processo de socialização da criança, sendo que, por meio dessa, a criança adquire comportamentos, habilidades e valores apropriados
e
desejáveis
à
sua
cultura.
Nesse
contexto,
a
internalização de normas e regras possibilitarão à criança um desempenho social mais adaptado e aquisição de autonomia. 4) Um bom funcionamento familiar, a existência de vínculo afectivo, o apoio e monotorização parental são indicativos de factores protectores . 5) Gomide (2003) sobre estilos parentais, destaca práticas educativas positivas que envolvem: a) uso adequado da atenção e distribuição de privilégios, o adequado estabelecimento de regras, a distribuição contínua e segura de afecto, o acompanhamento e supervisão das actividades escolares e de lazer; b) comportamento moral que implica no desenvolvimento da empatia, do senso de justiça, da responsabilidade, do trabalho, da generosidade e no conhecimento do certo e do errado quanto ao uso de drogas, álcool e sexo seguro. 1
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6) Guralnick (1998) assinalou três padrões que podem ser identificados como essenciais na interacção da família: a qualidade da interacção dos pais com a criança; a medida em que a família fornece à criança experiências diversas e apropriadas com o ambiente físico e social ao seu redor; e o modo pelo qual a família garante a saúde e a segurança da criança, como, por exemplo, levando a mesma para ser vacinada e dando-lhe nutrição adequada. 7) A oportunidade de a criança interagir com os pares e com outras pessoas fora da família, o grau de escolaridade materna e seu baixonível de depressão, estilos parentais adequados, uma qualidade de interacção boa com a comunidade e uma rede social fortemente estabelecida, podem ser destacados como exemplos de factores positivos à protecção da criança, que podem diminuir a expectativa de consequências negativas. Cabe, também, ressaltar que dentro do contexto familiar a criança não é simplesmente um recipiente passivo que recebe as influências familiares, sendo ela agente no sentido de participar das transacções familiares. 8) Rae-Grant, Thomas, Offord e Boyle (1989) identificam como factores de protecção da criança: o temperamento positivo, a inteligência acima da média e a competência social (realização académica, participação e competência em actividades, habilidade de se relacionar facilmente, alta auto-estima e senso de eficácia). Como factores familiares favoráveis, os autores destacam o suporte dos pais, a proximidade da família e um ambiente de regras adequado. Finalmente, como factores da comunidade, os autores destacam: os relacionamentos que a criança apresenta com os seus pares (fora da família), com outros adultos significativos e com instituições com as quais ela mantenha contacto. 9) Werner (1998) assinala algumas características de crianças que conseguem lidar de forma adequada com as adversidades. Tais indivíduos possuem senso de eficácia e autocompetência, são 1
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socialmente mais perceptivos do que os seus pares que não conseguem lidar com as adversidades, são capazes de despertar atenção positiva das outras pessoas, possuem habilidades de resolução de problemas, possuem a habilidade de solicitar ajuda de outras pessoas quando necessário e possuem a crença de que podem influenciar positivamente o seu ambiente. A mesma autora aponta, ainda, como factor de protecção o vínculo afectivo com um cuidador alternativo, tal como os avós ou irmãos. Tal pessoa pode se tornar um suporte importante nos momentos de stressantes promovendo, também, a competência, a autonomia e a confiança da criança. Werner (1998) destaca, também, a importância da segurança e da coerência na vida dessa criança, afirmando que crenças religiosas (independente da religião) oferecem a convicção de que suas vidas possuem um sentido e um senso de enraizamento e de coerência. Os amigos e a escola, também, são citados como factores de protecção importantes no sentido de fornecerem suporte emocional, e os professores podem vir a ser um modelo positivo de identificação pessoal para uma criança de risco (Werner, 1998). 10) A Associação Americana de Psicologia (APA) destaca factores que podem ajudar a proteger pessoas jovens de problemas no desenvolvimento, vivendo até mesmo em condições adversas, tais como
a
pobreza.
Neste
contexto
a
Associação
destaca
a
"resiliência" para se referir à ocorrência de bons resultados apesar de sérias ameaças ao desenvolvimento saudável (Rutter, 1985). A Associação exemplifica como factores associados a resiliência: a)
o
relacionamento
positivo
com
ao
menos
um
adulto
significativo (parente ou não); b) a existência de uma âncora religiosa ou espiritual (fornece senso de significado);
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c) expectativa académica alta e realista, e suporte adequado; d) ambiente familiar positivo (limites claros, respeito pela autonomia do adolescente etc); e) inteligência emocional; f) habilidade para lidar com o stresse. 11) Uma revisão realizada por Kumpfer e Alvarado (2003), sobre os programas de treinamento de habilidades familiares e de terapia familiar breve em programas de prevenção para adolescentes de alto risco e seus jovens pares, concluiu serem tais métodos eficazes na redução de problemas adolescentes, com base na promoção da supervisão
familiar
e
no
monitoramento,
na
facilitação
da
comunicação efectiva de expectativas, normas e valores familiares, e na promoção do tempo que a família permanece junto para aumentar o vínculo e reduzir a influência inadequada dos pares.
2.3 Crises de Desenvolvimento A definição clássica de crise centra-se numa mudança do estado de equilíbrio da pessoa, provocada quando um indivíduo encontra um obstáculo nos principais objectivos da sua vida. Estes obstáculos parecem intransponíveis, pelo menos por um período de tempo. As
Crises
de
desenvolvimento: são
transições
entre
os
diferentes estádios da vida que nós todos atravessamos. As crises podem ser encaradas como períodos de grande e prolongado stress. A crise é um período de transição na vida da familiar, individual ou em grupal, apresentando para os indivíduos um ponto de viragem nas suas vidas, o que pode ser visto como um desafio ou uma ameaça, um "fazer ou quebrar" nova possibilidade ou risco, um ganho ou uma perda, ou ambos simultaneamente. A maioria das crises são parte da faixa normal de experiências de vida que a maioria das pessoas pode esperar, e a maioria das pessoas vai se recuperar da crise sem a 1
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intervenção de um profissional. No entanto, existem crises fora dos limites da experiência quotidiana de uma pessoa ou recursos para a ultrapassar que podem requerer ajuda especializada para conseguir a recuperação.
Tipos de crises: - Crises situacionais; - Crises complexas: .Trauma grave; .Crises associadas a uma doença mental grave.
3- Saúde Mental Infantil na Família
3.1. A criança e a família O aparecimento da doença mental é avassalador para a relação familiar,
em
especial
quando
se
manifesta
em
crianças
e
adolescentes. Frequentemente ocasiona mudanças na dinâmica da família e gera perturbações que podem atingir o vínculo do casal, o desempenho dos papéis de pai e mãe e o relacionamento entre os irmãos, colocando o grupo num confronto de situações adversas. Contudo, a família constitui o primeiro universo de relações sociais da criança, podendo proporcionar-lhe um ambiente de crescimento e desenvolvimento, especialmente quando se trata de crianças com 1
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algum tipo de perturbação, as quais requerem atenção e cuidados específicos. A influência da família e o desenvolvimento das suas crianças dá-se, primordialmente, através das relações estabelecidas por meio de uma via fundamental: a comunicação, tanto verbal como não verbal. A gama de interacções e relações desenvolvidas entre os membros familiares mostra que o desenvolvimento do indivíduo não pode ser isolado do desenvolvimento da familiar. A família constitui um grupo com dinâmicas de relação muito diversificadas, cujo funcionamento muda em decorrência de qualquer alteração que venha a ocorrer num dos seus membros ou no grupo como um todo. Para Kreppner (1992), a rede de relações da família possui características específicas de unicidade e complexidade, constituindo um contexto em desenvolvimento. Segundo este autor, a complexidade das relações familiares pode, também, ser entendida por meio da perspectiva da família como um ambiente não compartilhado, onde as relações desenvolvidas entre seus membros geram experiências diferenciadas para cada um. Portanto, cada membro da família vivencia, de maneira particular, a chegada de uma criança com deficiência. O impacto sentido pela família com a chegada de uma criança com algum tipo de deficiência é intenso. Esse momento é traumático, podendo causar uma forte destruturação na estabilidade familiar. O momento inicial é sentido como o mais difícil para a família, a qual tem que buscar a sua reorganização interna que, por sua vez, depende da sua estrutura e funcionamento enquanto grupo e, também, de seus membros, individualmente. A família passa, então, por um longo processo de superação até chegar à aceitação da sua criança com deficiência: do choque, da negação,
da
raiva,
da
revolta
e
da
rejeição,
dentre
outros
sentimentos, até a construção de um ambiente familiar mais preparado para incluir essa criança como um membro integrante da família. Segundo Casarin (1999), a reorganização familiar fica mais 1
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fácil quando há apoio mútuo entre o casal. Nesse caso, o ambiente familiar pode contribuir para o desenvolvimento e crescimento da criança com deficiência. As famílias restabelecem o seu equilíbrio de maneira variada, dependendo dos recursos psicológicos utilizados para tal fim. Em todas as idades, a adaptação da família está relacionada às características da criança, as quais exercem um impacto directo na rotina diária dos membros familiares. Os sentimentos dos progenitores em relação à sua criança com deficiência constituem factores preponderantes para a adaptação e o bem-estar
da
família.
Os
progenitores
começam
por
se
responsabilizarem pela deficiência das suas crianças. Em geral, as pressões vindas do meio social geram sentimentos desagradáveis, levando os progenitores a limitarem as actividades culturais dos seus filhos deficientes, bem como os contactos com amigos, parentes e vizinhos. Identificam-se
vários
factores
que
poderiam
constituir
uma
sobrecarga para os progenitores, como: (a) o tempo – os progenitores gastam muito tempo no cuidado e atenção às suas crianças deficientes, reduzindo seus contactos sociais e culturais; (b)
os
recursos
financeiros
–
os
progenitores
arcam
financeiramente com a maioria dos atendimentos à sua criança; (c) os limites sociais e psicológicos – as atitudes da sociedade em relação às pessoas com deficiência, geralmente, não são positivas. Nem sempre os progenitores adoptam uma forma adequada para lidar com as situações advindas de se ter uma criança deficiente na família, mostrando-se ora condescendentes, ora impacientes e, às vezes, revelando atitudes de depreciação em relação ao próprio filho. As estratégias que os pais adoptam para encarar a deficiência dos filhos são diversificadas. As mais utilizadas, são a procura de informações sobre a deficiência e as fantasias de satisfação de 1
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desejos, de como eles poderiam lidar com as situações difíceis e de como seria o progresso no desenvolvimento de sua criança.
3.2. A importância da abordagem familiar A importância do envolvimento da família é muito importante durante o tratamento, prática relativamente recente em saúde mental. Em trabalhos realizados, verificou-se que a implementação de programas de intervenção familiar ajuda a reduzir o número de recaídas, melhorando ainda a adesão à terapêutica. Geralmente, as famílias de pessoas com doenças mentais não sabem ou tem dificuldades de lidar com a sintomatologia e comportamentos dos seus familiares doentes. Ex: alucinações, alterações de humor, comportamentos violentos, apatia, descuido com a higiene pessoal, etc. O aparecimento de uma doença mental no seio de uma família vem com certeza abalar o funcionamento e toda a dinâmica familiar, tendo todo o estigma ainda existente em relação à doença mental. A partir do século XX, surge profissionalmente o objectivo de ajudar a família a encontrar soluções novas para os seus problemas internos e, assim,
diminuir
manifestações
de
sofrimento
psicológico
e
responder as suas principais necessidades. Segundo a Associação de Psiquiatria Americana, “os componentes específicos
do
tratamento
em
pessoas
como
por
exemplo
a
esquizofrenia incluem: estabelecimento e manutenção de uma aliança terapêutica; monitorização do estado psiquiátrico do paciente, transmissão de educação com relação à doença ao seu tratamento farmacológico e terapias específicas; desenvolvimento de um plano geral de tratamento; melhora na adesão do tema proposto; aumento do entendimento e adaptação aos efeitos psicossociais da doença: identificação e início precoce do tratamento de novos episódios; abordagem dos factores que precipitam e/ou perpetuam os episódios; 1
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abordagem familiar tanto para aliviar o sofrimento como melhorar o funcionamento familiar; facilitação do acesso a serviços e a recursos de saúde mental e outros sistemas relacionados”. Para que esses objectivos possam ser atingidos é fundamental que as pessoas doentes adiram ao plano de tratamento. É comum que os mesmos deixem de tomar a medicação e faltar as consultas, uma vez que, associado a este aspecto, se encontra a tal falta de insight destas pessoas face a sua doença mental. O verdadeiro desafio na prestação de cuidados às pessoas que sofrem de doença mental está na necessidade de organizar serviços que garantam uma acção contínua, desde a identificação precoce até o tratamento regular e a reabilitação. As metas dos cuidados consistem em identificar a doença o mais cedo possível, tratar os sintomas, conferir aptidões às pessoas doentes e aos seus familiares, manter a melhoria durante certo período de tempo, evitar recaídas e reintegrar as pessoas com doença mental na comunidade para que possam levar uma vida normal. A doença mental representa a principal causa de internamento. Por isso, considera-se importante aperfeiçoar, adequar e desenvolver metodologias de intervenção específicas durante a hospitalização. As estruturas de internamento psiquiátrico – aquelas em que as condições de um bom ambiente terapêutico devem ser o mais acolhedor possível de maneira que a pessoa doente se sinta apoiada. Do mesmo modo, considera fundamental oferecer os cuidados de saúde
necessários,
que
visem
ir
ao
encontro
das
principais
necessidades do paciente, e que dessa forma possam contribuir eficazmente para uma recuperação favorável que facilite o retorno ao ambiente familiar e social do sujeito, o mais depressa possível.
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É fundamental promover o fortalecimento das pessoas doentes mesmo durante a hospitalização, de forma a facilitar a participação activa na definição e implementação de medidas que favoreçam a sua autonomização. O fortalecimento corresponde a um conjunto de estratégias de poder, da autonomia e da auto-organização e é visto como um processo através do qual as pessoas ou as comunidades adquirem maior controle sobre as decisões e acções que afectam sua saúde. Assim, o compromisso por parte da pessoa doente com o tratamento e com a equipa de saúde que a acompanha, representa um factor fundamental para o seu melhor prognóstico se participar activamente. Pretende-se, a partir do reconhecimento do que se passa consigo, possa promover a qualidade de vida do paciente, através do desenvolvimento de novas aprendizagens que possibilitem uma cooperação activa, através do desenvolvimento das capacidades inatas, possibilitando a aquisição de novos comportamentos que tenham um impacto positivo nas queixas, sinais, sintomas e incapacidades apresentadas pelo paciente, de forma que se realize um trabalho entre ele e a equipe terapêutica. Sem essa associação e objectivo em comum, nenhum tratamento é realmente eficaz. Esse processo de reconhecimento e aceitação deverá possibilitar uma compreensão mais aprofundada acerca da realidade interna e externa que envolve cada sujeito, permitindo que se vá ao encontro das suas resistências, necessidades e capacidades, possibilitando a plena integração desses factores. Isto porque, cada vez mais é fundamental
destacar
a
importância
do
ponto-de-vista
e
das
representações que cada paciente faz sobre sua realidade.
4- Criança Vulnerável e em risco
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Desenvolvimento e vulnerabilidade A vulnerabilidade das crianças tem sido reconhecida em termos das suas necessidades de desenvolvimento e da importância de proteger a saúde física. A extensão, severidade e impacto dos seus problemas de saúde mental, incluindo as vulnerabilidades específicas associadas com esses problemas na infância e até a vida adulta, foram uma das prioridades de saúde pública.
Vulnerabilidades que
podem vir de várias formas, todos que possam ter impacto sobre a saúde mental e o bem-estar das crianças e pode fazê-lo de forma complexa. Estes incluem a diversidade de estruturas familiares, das culturas, das práticas de educação, a influência das trajectórias de desenvolvimento, as experiências da doença e da deficiência no filho ou pai e forças múltiplas, resiliência e factores de protecção.
Algumas Situações de Risco: Carência Afectiva Materna: Criança Prematura Síndroma da Criança Negligenciada e Batida Criança Psicossomática
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