As Imagens do outro sobre a Cultura Surda Lembrei-me da menina de grandes olhos azuis que, ao ingressar na vida acadêmica, no Curso de Pedagogia, buscava romper as barreiras lingüísticas que o português, sua língua de fronteira, impunha entre ela e os conhecimentos teóricos, os quais buscava se apropriar, avidamente (Strobel.2008).
A autora busca em seu livro trazer a tona uma reflexão a cerca da cultura surda e suas especificidades. Abordando os aspectos preconceituosos e ditatoriais dominantes na cultura secular dos ouvintes. Como sita a autora: ³Para a comunidade ouvinte reconhecer a existência da cultura surda não é fácil´, mostrando a necessidade de haver mudança conceitual e quebra de paradigmas e aceitação da comunidade surda como ser igual por parte dos ouvintes. Militante das causas da comunidade surda, a autora escreve este livro no intuito de: ³desconstruir o estranho do outro e construir outros olhares sobre o ser surdo´. No capitulo um, aborda o conceito de cultura, através de questionamentos levantados por hipóteses que abrangem o conhecimento, a existência e por fim a construção ou produção da mesma pela comunidade surda , buscando bases teóricas para fundamentar e esclarecer as indagações acima mencionadas. Encontrando entre os autores consultados divergências quanto ao conceito, porém para esclarecimento traçou fases da história e suas transformações. No segundo adentra a cultura surda, onde o questionamento gira em torno do que vem a ser a cultura surda e se ela existe de fato. A visão errônea do tema a ser tratado, leva a constatação da ignorância do ouvinte quanto à realidade da comunidade surda, onde para haver relacionamento necessita ouvir, falar ou ver, significando o quanto equivocados estão os o uvintes. Como descreve a pesquisadora: Cultura surda é o jeito de o sujeito surdo entender o mundo e de modificá-lo a fim de se torná-lo acessível e habitável ajustando-os com as suas percepções visuais, que contribuem contri buem para a def inição das identidades surdas surdas e das ³almas´ das comunidades surdas. Isto significa que abrange a língua, as idéias, as crenças, os costumes e os hábi tos de povo surdo.
No terceiro traz questionamentos sobre as diferenças entre povo e/ou comunidade surda. Na busca pelas diferenças segundo a autora existem pontos a serem observados tais como: na comunidade surda agrupam-se ouvintes, interpretes, familiares, professores, amigos dentre outros, já o povo surdo refere -se ao povo que estão ligados por uma origem, um código, uma ética. No quarto trata dos artefatos culturais, mas o que seriam esses artefatos? Conforme a autora ³são peculiaridades da cultura surda´ tais como: materiais, vestuário, comportamento, tradições costumes, valores, normas dentre outras. A mesma aborda os oito mais significativos ilustrando assim a cultura de seu povo, sendo eles: Artefato Cultural experiência visual; Artefato Cultural Lingüístico Artefato Cultural Familiar; Artefato Cultural Literatura Surda; Artefato Cultural Vida Social e Esportiva; Artefato Cultural Artes Visuais; Artefato Cultura Política; Artefato Cultural Materiais. Dissertando sobre cada um respectivamente, mencionando os aspectos inerentes a cultura surda. No quinto adentra o imaginário dos ouvintes sobre a cultura surda, onde trata das especificidades que o tema requer com uma abordagem comparativa entre a realidade e a necessidade de se entender e aceitar o mundo dos surdos. No sexto aborda a historia cultural através do olhar da história das pessoas com surdes, sendo que a mesma foi construída por ouvintes em busca da ³cura´ de pessoas ³surdas´, portanto pergunta-se: É necessário ter audição para se ouvir? A cura da surdes está na readaptação do ouvido ou na reconstrução da audição, ou seja, do ser? A história cultural surda está repleta da soberania da comunidade ouvinte, onde está com o intuito de contribuir pra minimizar os ³problemas´, vem sufocando a identidade dos surdos, havendo a neces sidade de recuo por parte dos ouvintes caridosos em prol da fundamentação dessa identidade, valorizada pelas habilidades conquistadas pelos surdos. No capitulo sete discute sobre a inclusão nos espaços sociais, onde a existência dos mesmos, bem como suas habilidades e capacidades estão visíveis a cada momento em que procuram os espaços necessários a sua formação educacional, trabalhista e social.
No sétimo e último a autora apresenta caminhos que conduzem a compreensão da cultura surda Este livro, esta composto por diversas histórias reais de pessoas surdas que vivenciaram o preconceito, a descriminação e as limi tações impostas pelos ouvintes, da indignação da autora mediante os embates empreendidos pela mesma na busca de qualidade de vida e reconhecimento das habilidades dos surdos. Apresentando através de questionamentos e reflexões a visão da sociedade em relação ao individuo surdo. Trata a pontos que dizem respeito à cultura e à existência de um ³povo surdo´ ou de uma ³comunidade surda´. Logo a frente a autora afirma: ³A cultura surda exprime valores, crenças que, muitas vezes, se originaram e foram transmitidas pelos sujeitos surdos de gerações passadas ou de seus líderes bem sucedidos, através das associações de surdos´. Portanto chega-se a conclusão da necessidade urgente da valorização dessa sociedade e as adequações necessárias, proporcionando interação e comunicação entre os dois universos.