Resumo de capítulo 2 do Espetáculo das Raças de Lilia Schwarcz Notas de Cecilia McCallum para a Aula de 2/4 sobre "A invenção de ‗raça‘.
Teorias
raciais
no
século
19"
Balanço das diferentes teorias raciais sec.XIX. Marcadas pela noção de evolução social – mas havia diferentes escolas de pensamento. Não havia um conceito de ‗raça‘ no séc. XVIII. Falavam de ‗povos‘ e ‗nações‘. No entanto, distintas formas de pensar a diferença no Sec. XVIII – bases para duas posturas
distintas
no
Sec.
– – ‗defesa da humanidade Humanismo Rousseau Buffon, De Pauw e outros – diferenças essenciais entre os homens.
XIX. una‘.
1 ENTRE EDENIZAÇÃO E DETRAÇÃO Sec. XVIII povos selvagens – começarem a ser vistos como ‗primitivos‘. Para Rousseau, os seres humanos – aperfeiçoaveis. A perfectibilidade era marca da humanidade una. Mas o ‗estado de civilização‘ deixava o ser humano cheio de vicios, infeliz. Levava a desigualdade entre homens. A liberdade e a igualdade – naturais.
Os bons selvagens mais do que nada = um modelo lógico – são contrapostos aos homens ocidentais. Moralmente superiores. superiores. Contra esta visão – Segunda metade do Sec XVIII – maior conhecimento das Américas. Teorias sobre inferioridade. Anti-americanismo. Infantilidade, Carência, Carência, debilidade dos animais e a terra e os homens - Buffon (1707-88) Degeneração, espécies inferiores, os americanos não só imaturos mas decaídos, corrompidos - Cornelius de Pauw. "Portanto, no contexto intelectual do século XVIII, novas perspectivas se destacam. De um lado, a visão humanista herdeira da evolução Francesa, que naturalizava a igualdade humana; de outro, uma reflexão, ainda tímida, sobre as diferenças básicas existentes entre os homens. A partir do século XIX, será a Segunda postura a mais influente, estabelecendo-se correlações rígidas entre patrimônio genético, aptidões intelectuais e inclinações morais " (Schwarcz 1993:46-47) 2 NATURALIZANDO AS DIFERENÇAS A emergência da "raça" - A noção de "raça" emergiu nos finais do Sec XVIII / começo do Séc. XIX. Para Schwarcz, citando Stocking, quem introduziu o termo foi Georges Cuvier. Más S.J. Gould menciona Lineu (fundador do moderno sistema de classificação cientifica das espécies: " Na primeira definição formal das raças humanas, em termos taxonômicas modernos, Lineu mesclou traços do caráter com anatomia (Sistema Naturae, 1758). O Homo sapiens afer (o negro africano), afirmava ele, é "comandado pelo capricho"; o Homo sapiens europaeus é "comandado pelos costumes ". (Gould 2003:21)] O importante é que surgiu uma nova atitude à diferença – não – não mais o de ‗narrar‘ – agora de "classificar, ordenar" – e hierarquizar. ESSENCIALISMO: Embora Schwarcz atribui a Cuvier a invenção " da idéia da existência de heranças físicas permanentes entre os vários grupos humanos " (p.47).,
outros veiem essa idéia como bem mais antiga. Gould cita Plato e Socrates como articuladores da noção de que diferentes grupos humanos ( no caso, classes na Grécia antiga – aristocratas, auxiliares, artesãs) tem essências distintas. "Raça" – a noção fazia parte dos debates sobe o igualitarianismo. Representava uma noção chave para os que se opunhavam às revoluções. PENSANDO NA ORIGEM: MONOGENISMO X POLIGENISMO – Debate modelo igualitário contra doutrinas raciais Pensado em termos de: a origem da humanidade e o problema da relação entre cultura (civilização) e natureza (meninos-lobos)
A visão monogenista – dominante até meados do Séc. XIX – humanidade una Gradiente – humanos desde os mais próximos ao Eden, aos menos próximos e mais degenerados. A visão poligenista – contestava o dogma monogenista da Igreja. Dominava a partir dos meados do Sec.XIX. Crescente sofisticação das ciências biológicas. Crença em vários centros de criação, correspondentes às diferenças raciais observadas. Raças humanas = "espécies diferentes". O selvagem não podia ser aperfeiçoado. Igualdade era impossível. Frenologia – estudo dos traços fisionómicas – teoria ligava estes a capacidades intelectuais e qualidades morais. Antropometria tomando medidas do corpo. Craniologia – estudos quantitativos sobre o crânio. Determinismo biológico destas novas ciências como nova e poderosa "base" (suposta) na metodologia e rigor da ciência, dos estudos aparentemente empíricos. Ligação – comportamentos humanos – resultado de leis biológicas e naturais. Cesare Lombroso – Antropologia Criminal. O comportamento criminoso – resultado de aspectos biológicos dos criminosos. Criminialidade – um fenômeno físico e hereditário (1876) Nina Rodrigues - a antropologia brasileira – estrita ligação com a criminologia e a medicina legal. Problema do Brasil (esp. Bahia) a miscigenação. Raças não eram iguais – a mistura levava a piores problemas. O criminoso era sobretudo um doente – até curável for medidas fisiológicas. A lei tinha que ser aplicada de forma diferente dependendo da raça do criminis. Deveria focar o criminoso e não a crime. Suas publicações: As raças humanas e o responsabilidade penal no Brasil. 1894 . Africanos no Brasil.1933. Antropologia física desse tipo (poligenista) X. etnologia (monogenista) Guerra entre etnologia e antropologia – sociedades rivais e instituições distintas. "Imutabilidade dos tipos humanos" x "aprimoramento evolutivo das raças". Paul Broca – Societé Anthropologique de Paris (1859) – Paul Broca – anatomista e craniologista. Procurava identif icar ‗raças puras‘ através estudo dos cranios. Tese da imutabilidade das raças. Samuel George Morton - - American School of Poligeny – Crania Americana – 1839; e Crania Aegypta – 1844.
Sociedades etnologicas de Londres, Paris, Nova Yok. Monogenistas, files a Rousseau. A EVOLUÇÃO ENQUANTO PARADIGMA 1859 – A Origem das Especies – Darwin- Resultou na diluição das disputas. Evolucionismo ganhou. Origem comum da humanidade. Mas os poligenistas afirmavam que a divisão entre tipos muito antigo. Heranças e aptidões diversas entre raças... Social-darwinismo cresceu. Interpretações que divergem da intenção do próprio autor. Muitos exemplos do uso de conceitos para fins próprios (geografia, psicologia, lingüística etc.) Os darwinistas sociais ressuscitaram as perspectivas poligenistas do inicio do século. Vínculos do modelo poligenista com o imperialismo europeu – "seleção natural" explicava o domínio ocidental – e o justificava. (Schwarcz 1993:56) Mistura de raças- Para poligenistas - entre os quais biólogos, médicos, antropologos fisicos etc. – era um fenômeno recente. Mestiços = degeneração – Broca argumentou que a mula é estéril, e o mulato também. Gobineau – argumentou o oposto – lamentava a extrema fertilidade dos misturados. Para os poligenistas, a Seleção Natural = Degeneração Social. Deveria se opor ao hibiidismo, manter as raças separadas. Minimizaram a importância da origen comum. Enfatizaram as "leis da natureza" como determinantes (idéia presentes em Darwin, mas não no sentido social e cultural dado pelos novos poligenistas com a sua teoria de ‗raças‘).
Determinismo biológico central, portanto, às suas idéias. "Uma só teoria fundamentava, desta forma, as diferentes interpretações das escolas, que disputavam a hegemonia na representação de sua época " Schwarcz 1993:57 ANTROPOLOGIA CULTURAL: A DESIGUALDADE EXPLICA A HIERARQUIA Etnologia ou antropologia cultural – (o que já estudamos nas mais recentes aulas) civilização e progresso – modelos universais, não específicos a uma só sociedade. – Estágios de evolução método comparativo. Princípio otimista – uma só humanidade, progresso ao alcance de todos. O DARWINISMO SOCIAL: A HUMANIDADE CINDIDA Seção mais desenvolvida. 2 grandes escolas deterministas: Determinismo geográfico – Ratzel e Buckle "o desenvolvimento cultural de uma nação totalmente condicionada pelo meio – condições físicas do país. Determinismo racial – Também conhecido como ‗darwinismo social‘ e ‗teoria das raças‘. prezava a preservação dos ‗tipos puros‘ – compreendia a mestiçagem como causa de
degeneração racial e social. Os teóricos de raça ensinavam uma antropologia biológica respaldada em 3 proposições básicas: Realidade das raças. (distintas, como Cavalos vs. Jegues)
Continuidade entre carateres fisicas e carateres morais - A divisão entre raças correspondia a uma divisão entre culturas O grupo ‗racio-cultural‘ determina o comportamento do sujeito. Levou a um ‗ideal político‘ – a submissão ou até eliminação das ‗raças inferiores‘.
Eugenia: O que é? Fundador Francis Galton – 1869 – Hereditary Genius. – Tese central: que a capacidade humana é função da hereditariedade e não da educação. Tornou-se um movimento social e cientifico vigoroso a partir dos anos 1880. Fundou políticas sociais: Intervenções administrativas dos estados – não mais seleção natural, agora seleção social, direcionado por estados. Oposição entre: O ocidente – da raça ariana – o progresso e civilização. X As terras onde ocorria a miscenigação – a degeneração e a ausência de cultura/civilização. A perfectabildade – privilégio apenas das ‗raças civilizadas‘ (não mais de toda humanidade‘) As diferenças – irreparáveis e definitivas – a igualdade, portanto, um problema ilusório. Os darwinistas sociais filiados aos centros de antropologia (biológia) – pensavam que não havia uma humanidade – senão raças humans distintas – especies diferentes.
Ela então trabalha com 4 desses autores poligenistas: O conde Gobineau (1816-1882) talvez o mais citado "sacerdote do racismo" : Essai sur l‘ínegalité des races humaines 1853. Pp. 63- 64. O resultado da mistura sempre um dano. Sub-raças não civilizaveis. Os mestiços sub-racas Decadentes e degeneradas... Que
papel
jogava
a
miscigenação,
portanto,
na
‗teoria
das
raças‘?
...."grande divisor entre as concepções monogenistas das escolas etnológicas e as interpretações poligenistas...[da] antropologia da época " (p.64.) O modelo racial fez sucesso no Brasil – até os anos 30 do Século XX. Más foi bastante adaptado para um pais mestiço. Referência Gould, Stephen Jay. ‗Introdução‘ In A Falsa Medida do Homem. SP: Martins Fontes, 2003. Pp. 3-14 Schwarcz, L.‗Uma história de diferenças e desigualdades: as doutrinas
Raça e História — Claude Lévi-Strauss Posted on 03/07/2011 | Deixe um comentário Resenha do texto “Raça e História”, de Claude Lévi -Strauss Lévi-Strauss inicia o texto procurando por um lado refutar a ideia de existirem diferenças psicológicas e de aptidões entre os diferentes grupos étnicos humanos (―raças‖ biológicas), ideia igualmente contestada pela genética moderna; e por outro lado ressaltar que existem grandes diferenças entre as sociedades humanas, isto é, há uma grande diversidade cultural . O objetivo dessa abordagem é impedir que os preconceitos racistas sejam apenas retirados de sua base biológica, ressurgindo no âmbito sócio-cultural.
Isto porque seria inútil conseguir que o homem do povo renuncie a atribuir um significado intelectual ou moral ao fato de ter a pele negra ou branca, o cabelo liso ou crespo, para ficar em silêncio diante de outra questão à qual a experiência prova que êle se agarra imediatamente: se não existem aptidões raciais inatas, como explicar que a civilização desenvolvida pelo homem branco tenha cumprido os imensos progressos que conhecemos ao passo que as dos povos de côr tenham ficado para trás, umas a meio caminho, outras atingidas por um atraso que se conta em milhares ou dezenas de anos? (LÉVI-STRAUSS,1970:p 233) Lévi-Strauss desenvolve o conceito de diversidade cultural , ressaltando que devemos levar em conta as diferenças entre as culturas contemporâneas, que coexistem num determinado período de tempo; bem como entre as culturas que ocupam momentos históricos diversos, salientando que no caso dessas últimas não temos acesso ao seu conhecimento pela experiência direta, o que sem dúvida prejudica a observação de toda sua riqueza e complexidade. Ainda, destaca a existência de povos que não adotaram a escrita, fato que inviabiliza o conhecimento preciso de suas formas anteriores. Portanto, não é possível elaborarmos um inventário completo das culturas no espaço e no tempo; jamais seremos capazes de conhecer toda a riqueza cultural que esteve (e está) presente neste planeta. Feitas essas considerações, o autor questiona no que consistem culturas diferentes. Tal questionamento conduz à constatação de que sociedades que ―derivam de uma mesma raiz‖ não apresentam tantas diferenças quanto sociedades que apresentam
origens completamente diferentes, embora se constituam em sociedades distintas. é constatado também que em alguns casos observa- se uma ―convergência cultural‖, isto é, um processo de aproximação entre duas culturas, mesmo quando essas apresentam ―origens distintas‖. Por trás dessas constatações revela-se uma tensão observada dentro das sociedades humanas, entre uma força que trabalha no sentido de manter as tradições culturais, e outra força que atua no sentido de promover a aproximação com outras culturas. Tal revelação leva à conclusão de que a diversidade cultural não se apresenta de maneira estática e é antes produto do contato entre culturas do que do isolamento. Conseqüentemente, a diversidade de culturas humanas não nos deve convidar a uma observação fragmentadora ou fragmentada. Ela é menos função do isolamento dos grupos que das relações que as unem.” (LÉVI -STRAUSS,1970:p 236) Lévi-Strauss observa que o etnocentrismo, qual seja uma postura de rejeição e de menosprezo perante formas culturais diferentes, é paradoxalmente um traço cultural comum entre a maioria das culturas. O autor fornece uma série de exemplos de posturas etnocêntricas adotadas por diferentes sociedades, no tempo e no espaço: na Antiguidade, os povos que não compartilhavam da cultura greco-romana eram considerados ―bárbaros‖; da mesma forma a civilização ocidental costuma se refer ir aos povos que não adotam seus valores como ―selvagens‖. Nesse contexto, a cultura
ocidental, marcada pelo advento das revoluções industrial e científica, tomando como base especulações filosóficas, estabelece um sistema ―evolutivo‖ que procura abarcar
toda a diversidade cultural do planeta, como se fosse uma manifestação de diferentes ―estágios de desenvolvimento‖: toda a humanidade estaria destinada a atingir, em seu ápice, o mesmo ―nível‖ do Ocidente. Este é o conceito de evolucionismo social ,
criticado pelo texto. Dada a diversidade cultural no tempo e no espaço, e os vários aspectos que apresentam cada civilização, Lévi-Strauss pondera que a tentativa de estabelecer analogias entre diferentes culturas a partir de um de seus aspectos pode nos levar a conclusões equivocadas. Para tanto, menciona como exemplo o paralelo que muitas vezes é estabelecido entre sociedades paleolíticas e sociedades indígenas contemporâneas, que por apresentarem como traço comum a utilização de instrumentos de pedra talhada, conduzem a afirmações errôneas de que ambas se constituem em
culturas semelhantes, quando na verdade não existem subsídios concretos — principalmente em relação às sociedades paleolíticas, cujo comportamento não pode ser precisamente reproduzido — para se estabelecer tal relação. A partir dessas constatações, critica a concepção de que existem ―povos sem história‖, em que nada
teria acontecido ao longo dos milênios que essas sociedades ocupam o planeta. Durante dezenas e mesmo centenas de milhares de anos também ali houve homens que amaram, odiaram, sofreram, inventaram, combateram. Na verdade, não existem povos infantis; todos são adultos, mesmo os que não conservaram o diário de sua infância e de sua adolescência. (LÉVI-STRAUSS,1970:p 243) Desse modo, o autor propõe a distinção entre dois tipos de história: uma cumulativa, capaz de acumular conhecimentos e engendrar grandes civilizações; e outra estacionária, que não apresenta uma capacidade de síntese capaz de permitir a acumulação e desenvolvimento dos conhecimentos adquiridos. Nesse sentido, a ideia de progresso é questionada, mediante as evidências de que não há uma direção única na manifestação do gênio humano, seja no campo da técnica, das artes, da organização social, etc. Para tanto, Lévi-Strauss se vale da metáfora do movimento do cavalo no jogo de xadrez , movimento que se processa com várias mudanças de direção, mas permitem alcançar diversos espaços no tabuleiro; analogamente, os progressos da humanidade não seguem uma trajetória em linha reta, mas atravessam caminhos tortuosos até se consolidarem em efetiva mudança de patamar. Retomando a discussão sobre história cumulativa e estacionária, somos colocados diante do problema referente ao critério que nos permitiria enquadrar uma determinada sociedade num modelo ou noutro de história. Dessa forma, é formulada a ideia de que um determinado observador tende a considerar cumulativa toda a cultura que se desenvolve na mesma direção que a sua — um conceito relativo, portanto. Para ilustrar a situação, uma nova metáfora é apresentada: a de um observador que se desloca em um trem, cruzando com outros trens a medida em que se movimenta; ao contrário do observado sob o aspecto físico, ao observador parece que os trens (culturas) que se movem na mesma direção do seu se deslocam mais rapidamente, ao passo que aqueles que andam por direções e sentidos diferentes dão a impressão de se moverem com lentidão. Por outro lado, Lévi-Strauss propõe que todas as civilizações reconhecem a superioridade do Ocidente, uma vez que seria observável uma tendência de difusão de vários traços culturais ocidentais entre os mais diferentes povos, a se destacar a técnica, a ciência, os modos de vida, etc. Nesse sentido, constata que a adoção de tais valores por outras culturas nem sempre se dá de modo consensual, tendo contado a civilização ocidental, não raro, com seu aparato militar, econômico e ideológico para impor sua ―dominação‖. Sobre esse movimento de caráter ―global‖, cujo estopim foi a Revolução
Industrial, o autor traça um paralelo com a outra única revolução dotada dessa mesma característica, a Revolução Neolítica, que marcou a descoberta da agricultura, mudando definitivamente as feições dos grupos sociais humanos por toda a Terra. Essas revoluções são caracterizadas como grand es ―saltos quânticos‖ na história da humanidade. Lévi-Strauss ressalta que os progressos tecnológicos adquiridos ao longo do tempo pelas sociedades humanas — alterando sua relação com a natureza e dentro dos próprios grupos sociais — de forma alguma podem ser consideradas como obras do acaso, embora houvesse uma clara inclinação para tal interpretação, principalmente em relação às descobertas mais antigas. Ora, se não houvesse uma pré-disposição, um desejo subjacente, jamais ocorreria uma descoberta acidental. Mesmo essas
circunstâncias acidentais devem ser raras, contribuindo pouco para os novos progressos; antes, os avanços são fruto de intenso trabalho dos inventores. Outra constatação importante do autor é de que os progressos realizados pelas sociedades humanas são tanto maiores quanto maior é a diversidade, a quantidade e a intensidade do contato entre culturas. Menciona como exemplo a Europa na época do Renascimento, que num território limitado abarcava uma miríade de povos, com as mais diferentes tradições culturais. Isso porque diferentes conhecimentos podem estabelecer ―diálogos‖, engendrando novos conhecimentos. Nesse ponto é apresentada a metáfora
do jogador, que procura aumentar suas possibilidades de ganho num jogo de roleta: se optar por jogar sozinho, dificilmente conseguirá formar uma série consecutiva longa, por outro lado, se estabelecer coligações com jogadores de outras mesas, que fazem apostas diferentes, a possibilidade de estabelecer uma sequência longa se ampliam. Vem daí a grande importância de a humanidade preservar sua diversidade cultural. Contudo, Lévi-Strauss observa em curso um processo de gestação de uma ―civilização mundial‖, um processo de homogeneização cultural, fato que seria
preocupante na medida em que significaria a redução drástica da diversidade de culturas, diminuindo a possibilidade de estabelecer ―diálogos culturais‖ e consequente
geração de novos conhecimentos. Retomando a metáfora do jogador, é como se todos os jogadores passassem a fazer as mesmas apostas, diminuindo as chances de se obter uma sequência longa. Com o objetivo de preservar a diversidade cultural, o autor destaca o papel a ser desempenhado pelas instituições internacionais. Referências
Raça e História - Lévi-Strauss Raça Claude
e
História Lévi-Strauss
Capítulo 1. Raça e Cultura 1. O assunto de contribuições das raças humanas para a civilização mundial. Não se trata de trabalhar as contribuições dos grandes grupos étnicos para a civilização mundial. 2. Isso seria um racismo ao contrário. Ao caracterizar raças biológicas mediante propriedades psicológicas, afastamo-nos da verdade cientifica, mesmo que sejam caracterizadas de maneira negativa ou positiva. Gobineau via a miscigenação entre raças como um problema. O pecado original da antropologia fora a confusão entre a noção puramente biológica de raça e as produções psicológicas e sociológicas das culturas humanas, legitimando, involuntariamente, todas as tentativas de discriminação e exploração. 3. A originalidade dos diferentes continentes não se deve à sua habitação por troncos raciais distintos, mas antes pelas circunstancias geográficas históricas e sociológicas (e não as fisiológicas). O desenvolvimento diferenciado das sociedades, esta diversidade intelectual, estética e sociológica, não se liga às relações de causa e efeito presentes na biologia (é paralela em outro terreno). Cultura e raça, distinções: a) Existem muito mais culturas do que raças (pode haver dentro de uma raça culturas muito diferentes entre si, às vezes mais próximas até de culturas de outras raças); b) A cultura possui diversas subdivisões. 4. Em que consiste a diversidade? (risco de ver os preconceitos racistas transferidos da biologia para um novo campo). Como explicar os imensos progressos dos brancos se não existem aptidões raciais inatas? Resolver o problema negativo das desigualdades raciais e o das desigualdades (ou diversidades) culturais, relacionado no espírito público. Capítulo 2. Diversidade das Culturas
1. Culturas humanas não diferem entre si do mesmo modo nem no mesmo plano. As sociedades estão justapostas no espaço, próximas ou longe, são contemporâneas. As atuais sociedades sem escrita (que chamamos de primitivas, selvagens) foram precedidas por outras formas: a diversidade da cultura é de fato no presente, de direito no passado, muito maior e mais rica do que estamos destinados a dela conhecer. 2. Que devemos entender por culturas diferentes? Sociedades que tiveram um contato íntimo parecem ser de uma mesma civilização, mas na verdade tem origens bem distintas. Operam simultaneamente, nas sociedades humanas, forcas que atuam em direções opostas, umas tendendo para a manutenção e mesmo para a acentuação dos particularismos, outras agindo no sentido da convergência e da afinidade. 3. A diversidade encontra-se não só na relação entre as sociedades, mas na diversidade interna dos grupos que a constituem. 4. Diversidade das culturas humanas: não deve ser concebida de maneira estática. Indubitável a elaboração de culturas diferentes por afastamento geográfico, propriedades particulares do meio, e ignorância dos que se encontravam no resto do mundo. Isso só seria rigorosamente verdadeiro se cada cultura tivesse desenvolvido em isolado de outras. Isso nunca ocorreu. Mesmo na América, houve isolamento de milhares de anos com o resto do mundo, mas um contato interno intenso. Há também as diferenças devidas a proximidade, não só ao isolamento, ex: desejo de distinção. A diversidade não é menos função do isolamento dos grupos, que das relações que os unem. Capítulo 3. O Etnocentrismo 1. Diversidade cultural raramente surgiu como um fenômeno natural, sempre se viu, nela, um escândalo. 2. Atitude mais antiga, que possui fundamentos psicológicos sólidos: repudiar as formas culturais, morais, religiosas, sociais e estéticas mais afastadas daquelas com que nos identificamos. Ex: Bárbaro (para os greco-romanos) e Selvagem (na civilização ocidental). Recusa a admitir a diversidade cultural, prefere repetir a cultura que esteja conforme à norma sob a qual se vive. 3. Paradoxo na recusa: rejeitar o selvagem para fora da comunidade é a atitude mais marcante e distintiva desses mesmos selvagens. A noção de humanidade, englobando toda a espécie humana, teve aparecimento tardio e limitado. Tal noção esteve totalmente ausente durante dezenas de milênios, tanto que diversas populações se autodenominam os ―homens‖, renegando as outras tribos ou grupos os ―maus‖, os ―perversos‖, ou até da realidade: os ―fantasmas‖. mesmo privando-os
4. Paradoxo do relativismo cultural: Ao discriminar culturas e costumes que nos identificamos àqueles que tentamos negar, copiar-lhes as suas atitudes típicas. O bárbaro é em primeiro lugar o homem que crê na barbárie. 5. Mas a simples proclamação de igualdade, sem distinção de raças ou de culturas, soa como algo de enganador para o espírito, por negligencia uma diversidade de fato, que se impõe à observação. 6. Grandes declarações de direito do homem tem essa forca e fraqueza de enunciar um ideal muitas vezes esquecido: o homem realiza sua natureza nas culturas tradicionais, não numa humanidade abstrata. Mesmo com as mais diversas revoluções as culturas mantêm aspectos intactos. O homem tende a não perceber a diversidade das culturas procurando suprimir o escandaloso e chocante. 7. Falso evolucionismo: suprimir a diversidade das culturas em diferentes estágios de um desenvolvimento único. A humanidade torna-se una e idêntica, variando em estágios. 8. Proximidade com o darwinismo, mas é muito diferente o evolucionismo biológico do pseudo-evolucionismo supramencionado. 9. Noção de evolução biológica: hipótese dotada de grande probabilidade nas ciências
naturais, já na evolução social ou cultural, um processo sedutor, perigosamente cômodo de apresentação dos fatos. 10. Anterior ao evolucionismo biológico, o evolucionismo social não é mais que uma maquiagem falsamente cientifica de um velho problema filosófico, no qual o processo de indução não possui qualquer certeza de um dia fornecer a chave. Capítulo 4. Culturas Arcaicas e Culturas Primitivas 1. Qualquer sociedade pode sobre seu ponto de vista repartir as culturas em 3 categorias: a) as que são suas contemporâneas, mas estão em outro lugar do globo; b) as que se manifestaram aproximadamente no mesmo lugar, mas a perderam no tempo; c) existiram num tempo anterior ao seu, e em lugar diferente. 2. Desigualmente cognoscíveis. Culturas sem escrita, arquitetura e técnicas rudimentares (metade do planeta) tudo o que tentamos apresentar a seu respeito se reduz a hipóteses gratuitas. 3. Pelo contrario, tentador estabelecer entre as diversa s culturas de ―a‖ relações que correspondem a uma ordem de sucessão no tempo. O falso evolucionismo se deu livre curso – extraordinariamente pernicioso. O processo: tomar a parte pelo todo, em concluir o fato de duas civilizações (a atual e a desaparecida), oferecerem em alguns aspectos uma analogia em todos aspectos – geralmente desmentida pelos fatos. 4. Há semelhanças entre sociedades paleolíticas e indígenas contemporâneas. Como poderiam então ensinar-nos alguma coisa sobre a linguagem, as instituições sociais ou as crenças religiosas. 5. Ex: pinturas pré-históricas tidas como ritos de caça sem grandes análises. 6. Ex: A América pré-colombiana na véspera de sua descoberta evoca o período neolítico europeu. América: utensilagem licita perpetua-se em economia agrícola (Europa: o fazia no inicio da metalurgia). 7. Tentativas de reduzir as culturas humanas em réplicas desigualmente atrasadas da civilização ocidental chocam-se com outra dificuldade. Para admitir uma sociedade como ―etapa‖ do desenvolvimento de outras, seria preciso que com as últimas acontecesse muitas coisas, enquanto nas outras nada, ou quase nada. Não há povos crianças, todos são adultos, mesmo os que não tiveram diários de infância. 8. Dois tipos de sociedades utilizando diferentemente o tempo: umas metiam o acelerador enquanto outras divagavam, duas espécies de história: Uma progressista, mas sem o dom, como a outra, sintético de acrescentar em cada inovação as anteriores. Capítulo 5. A idéia do progresso 1. Considerando o segundo grupo, que precederam historicamente a cultura, estamos diante de uma complicada situação. Difícil contestação da hierarquização entre sociedades passadas, pelos fatos. Se há realmente um progresso nas formas sucessivas, dando tom de uma evolução, como isso não influenciaria a forma como tratamos as diferentes sociedades hoje? 2. Em primeiro lugar, não é tão fácil como se pensa ordenar os sociedades passadas em uma série regular e contínua. 3. Os períodos podem ter coexistido, não sendo etapas de um processo em sentido único, mas aspectos de uma realidade não estática, submetida a variações e transformações muito complexas. 4. Tudo o que é verdade para cultura é para as raças: o homem de neanderthal foi contemporâneo ao Homo Sapiens, ou este até mesmo precedeu aquele. 5. Não se trata de negar o progresso da humanidade, mas analisá-lo de maneira prudente. Recentes descobertas espalharam no espaço civilizações que eram escalonadas no tempo. Significa duas coisas: a) Progresso nem é necessário nem continuo, mas gerado por saltos, que nem sempre são ir mais longe na mesma direção, mas como cavalos de xadrez, varias progressões, nunca no mesmo sentido; b) a humanidade em progresso nunca se assemelha a uma pessoa que sobe uma escada, mas
um jogo de dados, em que arriscamos ganhar ou perder, só raramente a historia é cumulativa (somas se adicionam para formar uma combinação favorável). 6. Esta história cumulativa não é privilégio de uma civilização ou período, ex: América e formações culturais grandes e diversas. Capítulo 6. História Estacionária e História Cumulativa 1. Distinção entre as duas formas de historia depende da natureza intrínseca das culturas que esta se aplica, ou resulta de uma perspectiva etnocêntrica quando avaliamos uma cultura alheia? Consideramos assim como cumulativa uma cultura que se desenvolva num sentido análogo ao nosso, já outras parecem estacionárias, pois não é mensurável no sistema de referencia que utilizamos. 2. Também fazemos isso no seio de nossa própria sociedade. Ex: velhos e políticos – a historicidade, ou factualidade de uma cultura é função não de suas propriedades intrínsecas, mas da situação em que nos encontramos em relação a ela, do numero e da diversidade dos nossos interesses nela postulados 3. Diferença entre culturas progressivas e inertes é de localização. Analogia do trem. Deslocamo-nos com este sistema de referencias, realidades culturais de fora só são observáveis através das deformações por ele impostas. 4. Diferença entre ―culturas que se movem‖ e que ―não se movem‖ em analogia com o viajante que perceba um comboio se mover ou não. Culturas (contrário da fiísica): mais ativas se se deslocam no sentido da nossa, e estacionárias quanto mais divergente for sua orientação. Velocidade: valor metafórico, substituída por informação e significação. Os trens em direção ou velocidades diferentes aos nossos são vistos de maneira confusa, resumindo-se a uma perturbação em nosso campo visual, já não significa nada. M suma, a quantidade de informação suscetível de ―passar‖ entre duas culturas está em função de sua maior ou menor diversidade. 5. Sempre que encaramos uma cultura como estacionária devemos atentar para se não estamos iludidos por nossa ignorância, por utilizarmos nossos próprios critérios. 6. Ex: sob o critério dos meios mecânicos os EUA apareceriam no topo, seguido dos europeus, e tendo os asiáticos e africanos como uma imensidão indistinguível atrás. De acordo com o ponto de vista escolhido chegaríamos a classificações diferentes. 7. Critério poderia ser o de aptidão para triunfar sob os meios geográficos. O ocidente, dono das máquinas, possui conhecimentos elementares sobre a utilização dos recursos do corpo. 8. Contribuições de outras culturas ao ocidente: famílias australianas; 9. Mais contribuições. 10. Não devemos reter nossa atenção nesses contributivos fragmentados, formando a errônea idéia de uma civilização mundial a moda de um fato de arlequim. Mais importante é a maneira como a cultura os retém ou exclui. Há uma originalidade em cada sociedade resolver seus problemas, mas podem ser aproximados, pois todos os homens possuem técnicas, arte, conhecimentos, crenças, organização social e política. A dosagem não é a mesma em cada cultura, etnologia: desvendar as origens destas opções do que traçar inventário de características diferentes. Capítulo 7. Lugar da Civilização Ocidental 1.Civilizações reconhecem a superioridade de uma delas, a ocidental: países não reclamam o fato da ocidentalização, mas o fato de não terem os meios para ocidentalizarem-se rapidamente. 2. Dificuldades do estudo da universalização da civilização ocidental: a)fato único na história (precedentes estão na pré-história longínqua da qual pouco sabemos); b) incerteza sobre a inconstância do fenômeno: enquanto a civilização ocidental tende a expandir-se, as outras culturas tendem a manter sua herança tradicional. Processo a ser avaliado deve ter em mente que somos agentes, conscientes ou inconscientemente, auxiliares, ou vítimas.
3. Adesão ao gênero de vida ocidental: longe de ser tão espontâneo quanto pretendia-se. 4. Não seria a maior energia que levou-a a forçar o consentimento? 5. Valores mais manifestados na T