SIMEON EDMUNDS
PODER PSÍQUICO DA
Instrumento de saúde e autoconhecimento
SIMEON EDMUNDS
SIMEON EDMUNDS
PODER PSÍQUICO DA
HIPNOSE Instrumento de saúde e autoconhecimento
Supervisão da Série MAXIM BEHAR NORBERTO DE PAULA LIMA
iv s é zn v /ij-
SIMEON EDMUNDS
PODER PSÍQUICO DA
HIPNOSE Instrumento de saúde e autoconhecimento
Supervisão da Série MAXIM BEHAR NORBERTO DE PAULA LIMA
iv s é zn v /ij-
Tradução: Lindbergh Caldas de Oliveira
Composi posição, ção, Revisão Revisão e Arte: Arte: Estúdio Behar
Títu Títullo orig origina inal: l: THE PSYCHIC POWER OF HYPNOSIS © Copyright 1 982 by The Aquar Aquarian ian Pres Presss ISBN 0 85030 291 9 © Copyright 1983 by Hemus Editora Editora Ltda Ltda.. Mediante contrato firmado com The Aquarian Press
Todos Todos os direi direittos adquir adquiriidos dos para para a língua línguaport portuguesa uguesa e reserva reservada apropri proprieda edade de literá literária ria desta desta publi publicação cação pela pela O
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índice
1 Os principais fenômenos do hipnotismo
Os principais fenômenos do hipnotismo
9
2 Hipnotismo e hipnose
O estado hipnótico — Técnicas de indução — Alucinações e regressão —Auto -h ip nose...............................................................
12
3 Fenomenologja e pesquisa psíquica
A Sociedade para a Pesquisa Psíquica — Terminologia — Telepatia espontânea - Clarividência através de sonhos —Psicometria e psicografia —Poderes mediúnicos —Pesquisa psí quica exp erim enta l.........................................................................
19
4 Breve resumo histórico
Sir William Barrett - Exteriorização da sensibilidade ...............
28
5 Hipnose e paranormalidade
Dr. Bjorkhem - Jarl Fahler - A “senhorita B” - Prof. Vasilyev —Dr. Ryzl —As experiências do Dr. E isenbud..........................
33
6 Pseudoclarividência e reencamação
Memórias psíquicas e lembranças nítidas —“Brídey Murphy” .
48
7 Hipnose e curas paranormais
Hipnose e diagnóstico —Edgar Cayce —Sugestionabilidade
..
56
Estimulação emocional da PES —“Flashes” psíquicos —Difi culdade de classificação dos fenômenos psíquicos ....................
62
8 Situação atual e perspectivas futuras
1/
Os principais fenômenos do hipnotismo
' r um incêndio, juro! As chamas estão queimando tudo!” Sflo palavras quase gritadas. Então, deitada confortavelmente Md divã do consultório de um psicanalista —em meio à quietude peculiar do ambiente - um a mulher continua a descrever um incên dio que está ocorrendo a mais de cento e cinqüenta quilômetros dali. Um senhor idoso sai para um passeio e não mais retorna. Todas as buscas para encontrá-lo resultam malogradas. Um hipnólogo mostra uma jovem um cachecol que pertencera a um homem desaparecido c esta, sem pestanejar, afirma que o mesmo está morto. Passa, a '.rKuir, a descrever o que lhe ocorrera e o local onde seu corpo poderá ser encontrado. Uma jovem hipnotizada toca uma mancha de sangue num casaco pertencente a um homem agora morto. “Foi assassinado”, diz, e passa a descrever o criminoso e as cenas do crime. Um adolescente sob hipnose relata as ações de seu próprio pai. Outro lê a manchete que certo jornal publicará no dia seguinte. Um homem queixa-se de uma estranha dor que deixa os médicos aturdidos. Hipnotizado por um d e s c o n h e c id o s e m quaisquer conhecimentos médicos, faz um diagnóstico preciso e descreve seu próprio tratam ento, findo o qual recupera-se totalmente. lissas histórias não constituem — de forma alguma — obras de imaginação fértil de escritores de novelas sensacionalistas. Muito pelo contrário, são fatos reais e sua veracidade foi corroborada por pessoas de conduta ilibada após submetidas a uma análise fria e desapaixonada. É, por exemplo, o caso do Prof. Pierre Janet, famoso neurologista e psicólogo francês, que disse a uma jovem hipnotizada, durante uma sessão, estar enviando-a ao que chamava de “excursão psíquica”, na qual ela iria introjetar-se cada vez mais “em sua mente”, e dessa forma seria capaz de ver o que seu amigo Charles Richet fazia àquele momento. O laboratório de Richet ficava em Paris, a cerca de duzentos e poucos quilômetros do Havre, local em que o professor realizava sua experiência. De alguma forma ainda intrigante para a ciência, l.eonie, sua paciente, venceu mentalmente essa distância, pois após seu grito excitado “É um incêndio”, forneceu uma descrição minu ciosa do incêndio que causou sérios danos ao laboratório de Richet .1
naquele dia. Richet confirmou a veracidade do caso, segundo seu colega Dr. Eugene Osty, que por muitos anos foi diretor do Instituto Metafísico Internacional de Paris. Um homem idoso, chamado Lerasle, saiu para um passeio no campo e não mais voltou para casa. Após duas semanas de buscas inúteis, um cachecol que lhe pertencera foi enviado ao Dr. Osty a fim de verificar se algum paciente sob estado hipnótico poderia fornecer alguma pista de seu paradeiro. Osty mostrou-o a um deles, Madame Morei, sem lhe revelar nenhum detalhe do caso. Esta, sob hipnose, descreveu minuciosamente a aparência do hom em, a manei ra como estava vestido, locai onde morava, e o passeio que dera no dia em que desapareceu de casa, acrescentando que seu corpo jazia estendido num bosque em meio aos galhos de uma árvore, num local próximo a um riacho. Disse ainda que o velho sentiu-se mal, deitou-se para descansar um pouco, vindo a falecer. Novas buscas foram levadas a efeito logo após essa descrição e o corpo de Lerasle foi encontrado no exato local descrito por Madame Morei. Quase todos os detalhes que fornecera em estado de transe conferiam. A jovem que tocou a mancha de sangue e descreveu o assassinato foi a Senhora Reyes de Zierold, paciente do Dr. Gustav Pagenstecher, do México. 0 Dr. Prince, um pesquisador, mostrou-lhe um casaco que um fazendeiro usava ao ser morto. Apesar de várias tentativas feitas, sua única impressão era a de que tinha em mãos apenas uma peça comum de vestuário, até que seus dedos tocaram a mancha de sangue. Ato contínuo, começou a descrever as circunstâncias dramá ticas que envolveram o crime. Nenhum dos dois pesquisadores sabia qualquer detalhe sobre o crime, mas as investigações subseqüentes provaram a veracidade' dos relatos da Sra. Reyes. Um conhecido hipnotizador, Alexander Erskine, revelou as sessões a que submeteu certa vez o filho adolescente de um famoso diplomata, tendo este contado tudo que seu pai —ausente —fazia naquele momento. O diplomata em questão, que realmente se envol vera numa situação muito comprometedora, ficou tão embaraçado ao tomar conhecimento do fato que fez Erskine prometer-lhe nunca mais fazer qualquer experiência envolvendo-o. 0 homem leu a manchete no jornal do dia seguinte reconhecendo haver sido colocado em estado de hipnose, sendo sua afirmação feita na presença de vários dos mais eminentes médicos da Inglaterra. Por razões éticas, estes não permitiram que seus nomes fossem aqui incluídos, mas seus testemunhos foram devidamente registrados e
serio —como esperamos —eventualmente publicados. E o homem que foi “milagrosamente” curado por um desconhe cido e incompetente hipnotizador foi o americano Edgar Cayce, conhecido posteriormente como “o doutor adormecido”. Nascido cm 1876, no Kentucky, perdeu completamente a voz aos vinte e um anos devido a uma forte crise de laringite. A despeito de um prolongado tratamento médico a que se subme teu, permaneceu incapacitado de falar até o dia em que um homem que fazia exibições ambulantes de hipnotismo tentou curá-lo. Este fê-lo realmente falar, só que em estados de transe. Todas as tenta tivas para uma cura permanente em Cayce fracassaram. Depois que o mágico ambulante se foi, um outro hipnotizador amador, chamado Layne, sugeriu que, se Cayce podia falar em estado de transe, poderia talvez descrever a natureza do problema que o afligia e, quem sabe, receitar algum remédio para sua cura. Cayce concordou e submeteu-se a uma sessão de hipnose. Nesta, Layne perguntou-lhe por que perdera a voz e de que maneira poderia curarse permanentemente. Ficou estupefato quando Cayce lhe respondeu: “Sim, podemos ver o corpo. No estado físico normal seu corpo acha-se incapacitado de falar devido a uma paralisia parcial das cordas vocais, produzida por tensão nervosa. É uma condição psico lógica produzindo um efeito físico. Pode-se remover a causa aumen tando-se a circulação sangüínea na região afetada, através de sugestão, enquanto o mesmo se encontra em estado inconsciente”. Layne fez as sugestões necessárias, a garganta de Cayce mudou de cor e, após alguns minutos, ele disse: “Tudo bem agora. A condi ção já foi eliminada. Faça a sugestão necessária à normalização da circulação e após isso desperte o corpo”. Layne assim fez e daí em diante Cayce voltou a falar tão bem como antes. Layne e Cayce concluíram então que poderiam auxiliar outras pessoas dessa form a, e decidiram dedicar suas vidas a esse trabalho. Descobriu-se posteriormente que Cayce podia diagnosticar pacientes à distância, estimando-se em cerca de trinta mil as ‘leitu ras” - como as chamava —que deu em vida, muitas das quais a pedido de médi cos. A maioria delas, segundo registros existentes, foi muito precisa. Os casos aqui relatados representam apenas alguns dos inúmeros exemplos em arquivo daquilo que conhecemos como “fenômenos maiores” do hipnotismo — assim chamado porque parece envolver algum fator paranormal ou “psíquico” - em oposição à fenomenologia hipnótica geralmente considerada normal atualmente. Vários tipos de fenômenos “psíquicos” - telepatia, por exemplo — são fenômenos que ocorrem sem que a hipnose esteja envolvida. Tais ocorrências são em sua maioria espontâneas, imprevisíveis e
pouco dignas de crédito. É no intuito de desvendar seus mistérios, bem como produzi-los sob rigoroso controle científico que centenas de estudiosos dedicam-se cada vez mais ao assunto. Entretanto, antes de nos aprofundarmos no estudo da fenomenologia paranormal, ou no aumento da percepção extra-sensorial, anali semos primeiramente a hipnose - o que é, do que é capaz - para passarmos, então, aos fenômenos psíquicos e à ciência que se encar rega de seu estudo: a pesquisa psíquica.
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Hipnotismo e hipnose
Velhas superstições demoram a morrer. Para muitas pessoas, o hipnotismo ainda é algum tipo de magia negra: o hipnólogo seria - para essas pessoas —um tipo sinistro que usaria seus poderes malé ficos para impor sua vontade às suas pobres vítimas. E para aqueles que já presenciaram os fenômenos notáveis produzidos pelo hipno tismo, ou já leram relatos acerca de sua quase-miraculosa influência, quer para o bem quer para o mal, não representa surpresa o fato de muitas pessoas ainda acreditarem em tal tipo de crendices. Os homens de ciência sempre se defrontaram com esse problema e, embora ainda não se saiba qual a verdadeira natureza da hipnose — pois estamos numa fase mais de descrição que de explicação —já há atualmente um consenso geral sobre a inexistência de fatores paranormais, psíquicos ou ocultos, no hipnotismo em si. O estado hipnótico A palavra hipnotismo trata do assunto de uma forma abrangente, bem com o das técnicas adotadas para induzir indivíduos ao estado de hipnose , apesar do termo ser usado indistintamente tanto para designar a hipnose propriamente dita quanto para o hipnotismo propriamente dito. A palavra “hypnos” (do grego, significando, em português, sono) foi utilizada pela primeira vez pelo médico hipno tizador Dr. James Braid, pioneiro experimentador, como alternativa para os termos “mesmerismo” e “magnetismo animal” , segundo a crença errônea de que a hipnose seria uma forma particular de sono. É verdade que certos estados hipnóticos apresentam semelhanças superficiais com o sono normal e que determinadas sugestões de sonolência são dadas freqüentemente quando da indução ao estado hipnótico. Há, entretanto, grande diferença entre os dois estados,
lora o fato de um indivíduo adormecido não responder quando inter rogado sobre algo, ao passo que outro sob estado hipnótico reage às sugestões do hipnólogo, diferença esta mostrada por grande número de testes científicos e observações. Os reflexos, por exemplo, apresentam-se geralmente imutáveis sob hipnose (exceto quando se dá sugestões ao contrário), mas diminuem consideravelmente durante o sono. A resistência elétrica do corpo também não é afetada pela hipnose, embora aumente cerca de dez vezes durante o sono. Experiências recentes para medir as “ondas cerebrais” por meio de encefalogramas demonstram essa diferença de forma conclusiva. O estado de hipnose é um tanto difícil de ser descrito. Pode variar na forma, desde o alerta obediente até a inconsciência aparente, e em graus de profundidade, de um estado de leve dissociação ao pro fundo transe do sonâmbulo. Tem sido definido como ura estado no qual a mente está peculiarmente suscetível à sugestão, mas embora tal assertiva seja verdadeira, é apenas uma parte da história toda. É totalmente impossível descrever a hipnose de forma breve, menos ainda com poucas palavras. Talvez a melhor maneira de se adquirir uma visão mais clara a respeito da mesma seja olhar alguns fatos a ela pertinentes — sua indução, fenomenologia, potenciais e limitações - e considerar alguns conceitos errados sobre ela. Inicialmente, o contato direto que a maioria das pessoas tinha com o hipnotismo consistia provavelmente em participai de shows teatrais ou simplesmente assisti-los. Não obstante a publicidade c alegorias feitas em torno dos mesmos, eles eram, sem dúvida, demonstrações reais. Os voluntários que bebiam água e embriagavamse, transpiravam enquanto venciam competições esportivas imagi nárias, comiam cebolas com prazer pensando serem frutas doces, e assim por diante, estavam realmente hipnotizados. Mesmo come diantes utilizados para tais finalidades demonstravam ser bons discípulos quando sob hipnose. Pode-se acrescentar, à guisa de exemplo, que vários shows dessa natureza foram considerados ilegais, pois neles muitos voluntários feriram-se em conseqüência de sugestões feitas aleatoriamente. O potencial de dano derivado do uso incorreto do hipnotismo tornar-se-á mais claro à medida que avançarmos no texto. Diversamente à crença popular, não é uma questão de “força de vontade” obter-se um bom condicionamento para a hipnose. Já se provou que as pessoas mais inteligentes e imaginativas são as mais fáceis de serem hipnotizadas e isso nada tem a ver com uma força de vontade “fraca”, ou qualquer outro fator indicando apenas
normalidade. As pessoas loucas e mentalmente deficientes são as mais difíceis de serem hipnotizadas. A maioria das pessoas pode ser hipnotizada. Concorda-se em que apenas cinco a dez por cento das pessoas são virtualmente não-hipnotizáveis. Vinte e cinco por cento entram rapidamente em leve transe, outra porcentagem semelhante em sonambulismo profundo, e o restante atinge graus intermediários de hipnose. Certos indivíduos entram em transe profundo na primeira tenta tiva; já outros exigem um aprofundamento progressivo do grau de hipnose nas sessões subseqüentes. É errado dizer-se que um indiví duo não pode ser hipnotizado. Há registros de um caso em que um médico teve de tentar setecentas vezes com um paciente antes de obter êxito. As sensações e reações de um indivíduo hipnotizado não são fáceis de serem descritas e as tentativas nesse sentido só podem ser generalizadas, mas, de maneira geral, os vários graus de hipnose podem ser assim classificados: Leve: sensação de leveza e entorpecimento geral dos olhos e
membros, alto grau de relaxação e inibição de movimentos volun tários. Sugestões simples — mantenha os olhos fechados, não se mexa, etc. - são aceitas prontam ente. O paciente geralmente sen te que poderia desobedecer às sugestões, mas não o faz. Intermediário: sensação de leveza aumentada. Sugestões de cata lepsia —rigidez completa de alguns dos membros ou mesmo do corpo todo —são aceitas. Posturas normalmente impossíveis de serem mantidas durante longos períodos podem ser sugeridas sem qualquer desconforto. Daí em diante, a amnésia —referente a fatos ocorridos durante a hipnose —pode ser conseguida com sucesso, na maioria das vezes. As sensações (dor, paladar, olfato, etc.) podem ser inibidas. Geralmente são aceitas as sugestões póshipnóticas (aplicadas ao final da hipnose). Profundo: observa-se o estado de sonambulismo. Ocorre amnésia total após o término da sessão, mesmo que não tenha sido suge rida. Sugestões altamente complicadas são aceitas e prontamente executadas e ocorre um intercâmbio íntimo entre hipnotizador e paciente. É nessa fase que o indivíduo exterioriza suas emoções e são obtidas façanhas impossíveis de serem realizadas em estado normal de vigília. Sensações como alucinações vividas e bizarras, podem ser induzidas registrando-se ainda sensível alargamento da memória e a ocorrência —se bem que eventual —dos assim cha mados “fenômenos maiores”, como, por exemplo, clarividência, telecinese, etc.
Técnicas de indução A indução à hipnose é um processo fundamentalmente subjetivo em que o paciente exterioriza seu inconsciente, 0 hipnotizador, basicamente, adota o procedimento normal para o caso. Todas as técnicas de hipnotismo são, por conseguinte, planejadas de forma a concentrar a mente do paciente num único objetivo: ser hipnotizado. _ t , À pergunta “Quem pode hipnotizar?” não se pode dar uma res posta simples. Já foi dito que, em princípio, qualquer pessoa pode hipnotizar outra. É óbvio que, quanto melhor sua técnica, melhores serão os resultados obtidos bem como o número e variedade de pes soas que poderá influenciar. Há casos, entretanto, em que um pacien te não reagirá positivamente às sugestões de um hipnólogo, muito embora possa fazê-lo prontamente no caso de outro. As qualidades básicas necessárias para um bom hipnotizador são sem dúvida a capacidade de inspirar confiança, uma atitude simpáti ca e modo de tratar o paciente, semelhante ao do médico quando atende ao leito. Acima de tudo, naturalmente, estão a confiança em si mesmo além de sólido conhecimento, não só das técnicas hipnóti cas, mas também da psicologia humana. Há também a necessidade de se ter uma espécie de sexto sentido, indefinível, para decidir qual o método mais adequado para estabelecer um íntimo relacionamento, conduzindo-se o paciente com êxito. De maneira oposta à crença geral, o hipnotizador de palco não 6, normalmente, um bom profissional. Seu sucesso deve-se à divul gação de seu nome associado ao fato de que, num grupo numeroso de pessoas, todas tensas e em expectativa, pode-se encontrar um número razoável de indivíduos que reajam satisfatoriamente aos seus métodos. Todas as técnicas de hipnotismo baseiam-se inicialmente em l ixar a atenção do paciente e, a seguir, apresentar-lhe sugestões que aumentem seu grau de suscetibilidade. São mínimas as diferenças existentes entre os diversos métodos e sua eficácia. A escolha é mais uma questão de empregar aquele que melhor se adapte à personali dade do próprio paciente. Às vezes, pode acontecer que um paciente seja contra determinada técnica, ou esta pode ser infrutífera para o mesmo; neste caso, cabe ao hipnotizador adotar aquela que será mais adequada em tais situações. Antigamente os hipnotizadores acreditavam que alguma espécie de fluido magnético era transmitido por eles a seus pacientes, e devido a essa crença faziam passes elaborados; às vezes “de pele”, nos quais tocavam o paciente, às vezes aproximavam-se sem entre tanto tocar o paciente. 0 efeito dos passes é visto hoje em dia como inteiramente psicológico.
Uma das técnicas mais comuns consiste em se fazer o hipnotizan do olhar fixamente para um objeto que poderá ser uma lâmpada ou pêndulo em movimento. Neste caso o objetivo é cansar a vista e simultaneamente concentrar a atenção para que as sugestões de sono lência sejam mais rapidamente aceitas. Um som monótono, repeti tivo, tal como o bater de um m etrônomo, é utilizado e diz-se apresen tar ótimos resultados principalmente se associado a “flashes” de luz. Todos esses artifícios são simples expedientes que apenas ajudam a obter o objetivo principal, e muitos hipnólogos experientes prefe rem dispensá-los. O método preferido pelo autor desta obra, por exemplo, consiste em pedir ao paciente para sentar-se e fechar os olhos. Feito isso, o mesmo é levado gradativamente à hipnose por meio de palavras. Essa técnica raramente requer variações. Tirar uma pessoa do estado de hipnose não é difícil. Quando se lida com alguém inexperiente deve-se fazê-lo progressivamente, tal como se contando de forma decrescente de dez a zero, sugerindo entre cada número que o indivíduo está acordando. No caso de indi víduos já habituados à hipnose, pode-se estalar simplesmente os dedos e dizer: “acorde”. É possível eliminar de um paciente sob hipnose profunda todas as sensações relativas a todo seu corpo ou parte dele por meio de suges tões. Este fenômeno representa um teste bastante útil para medir o grau de profundidade do transe e é, naturalmente, o motivo para o uso cada vez mais generalizado da hipnose em odontologia. Antes do advendo do clorofórmio, a hipnose foi muito utilizada como anestésico geral e inúmeras operações mais complexas foram feitas com seu auxílio. Um paciente sob hipnose profunda pode ser levado à catalepsia na qual seus membros permanecerão fixos em qualquer posição sugerida. Uma prática comum dos hipnotizadores de casas de espetá culos consistia em colocar a cabeça de um indivíduo sob estado cataléptico, numa cadeira, enquanto seus pés eram colocados em outra. O demonstrador então ajoelhava ou ficava de pé sobre seu corpo. Após a demonstração, o indivíduo não sentia dores ou quaisquer outros efeitos. Alucinações e regressão O detalhe mais impressionante na hipnose é o fato do paciente vivenciar alucinações sugestionadas. Diga-lhe que um enorme cão preto encontra-se no local e ele prontamente o verá. Diga-lhe que uma cebola é uma maçã doce e ele sentirá exatamente o sabor pre tendido. Sugira-lhe que está tocando um violino e ele fará os gestos do violinista e dirá o nome da música que está executando. Com uma
palavra, um pedaço de cartolina em branco torna-se um quadro, e um vaso vazio, cheio de flores de aroma forte, inebriante. Ainda mais impressionantes são as alucinações negativas, aceitas prontamente. Uma pessoa desapareceu da sala, um móvel desma iei ializou-se, a voz de alguém presente já não é mais ouvida, sente-se o cheiro de uma substância forte e penetrante: tudo isso como resullado de simples sugestões do hipnotizador. Por meio de sugestões póshipnóticas - dadas durante a hipnose r exteriorizadas em estado de vigília —todos os fenômenos citados podem ser produzidos em ocasiões futuras, talvez horas, dias, meses, ou mesmo anos distantes. Apesar de —conforme o caso - externar sugestões pós-hipnóticas por escrito, o paciente raramente se recor dará de ter sido sugestionado. Esse processo tem valor extraordinário cm terapia hipnótica. Um paciente sob hipnose pode ser induzido a lembrar-se de expetiéncias passadas que, consciente, já teria esquecido completamente. ( crtos pacientes relembram apenas as circunstâncias que envolveram is experiências, outros, por sua vez, parecem revivê-las e mostram Iodas as reações e sensações sentidas originalmente. Por meio deste ultimo processo, conhecido como regressão no tempo, um paciente pode ser conduzido, através de retrocesso progressivo, a um estágio As vezes anterior à própria infância. Na regressão no tempo parece estar envolvido algum outro fator além do aumento da percepção da memória. Um indivíduo levado de volta à sua infância, por exemplo, irá escrever de maneira infantil, icsponderá a testes de inteligência da maneira própria a uma criança ilr idade correspondente, além de apresentar reflexos fisiológicos l>eculiares a essa faixa etária. O processo de regressão no tempo é de grande valia na psiquiatria, sondo conhecido como hipnoanálise.Quando um distúrbio de ordem emocional passado vem a ser a causa da desordem'psíquica, verificaso geralmente que o fato de reviver essa experiência libera os senti mentos reprimidos e dessa forma produz-se um grande alívio emocio nal. Este processo, que podemos chamar de “fase de abertura”, é geralmente muito dramático. I)e vez em quando o hipnotizador defronta-se com um caso de icgressão falsa no qual o paciente “revive” uma experiência imaginária ou episódio fictício. A habilidade que alguns indivíduos possuem de “representar” as emoções próprias do sugestionamento, de forma bem convincente, é bem conhecida, tomando-se assim necessário verificar cuidadosamente os dados obtidos a fim de checar sua veraci dade e só a partir daí aceitar qualquer processo de regressão no tempo como sendo verdadeiro.
Auto-hipnose Um outro aspecto do hipnotismo que deve ser levado em consi deração é aquele que abrange o processo da auto-hipnose. Conforme já mencionado, a técnica de indução à hipnose consiste basicamente de um processo subjetivo no qual o hipnólogo conduz e estimula o paciente. É possível, entretanto , atingir estados hipnóticos sem a ajuda do hipnólogo. Já foi observado que certas pessoas entram espontaneamente num processo característico de ligeira auto-hipnose enquanto outras são capazes de consegui-lo usando apenas a força de vontade. O estado hipnótico conhecido como “meditação profunda” é um exemplo bem comum da leve auto-hipnose espontânea e, ao longo dos séculos, muitos poetas famosos, escritores e músicos compuse ram suas obras-primas quando se encontravam em condições de transe semelhantes. Dentre outros, podemos citar Goethe, Coleridge, Hoffman e Mozart, alguns dos gênios a quem Paul Richter referiu-se ao escrever: “O gênio é, em muitos aspectos, um verdadeiro sonâm bulo. Em seu sonho lúcido vê mais longe que quando desperto e alcança os píncaros da verdade”. É possível, embora não tão fácil, aprender como induzir a autohipnose através de auto-sugestão. Uma técnica que freqüentemente surte efeito consiste em sentar-se e permanecer relaxado de maneira idêntica àquela em que se fica quando se está sendo hipnotizado por outra pessoa. Em seguida formula-se auto-sugestões apropriadas quer mentalmente quer em voz alta, tal como um hipnólogo faria. Com a prática pode-se alcançar um estado profundo de hipnose. Na maioria dos casos é melhor sentar-se confortavelmente que se deitar: isso ajuda a evitar a sonolência natural causada pela postura, causa freqüente de falhas na tentativa de se auto-hipnotizar. Certamente, a maneira mais rápida e correta de auto-hipnotismo consiste em deixar-se hipnotizar da maneira normal e durante a sessão receber sugestões pós-hipnóticas de que a auto-hipnose poderá ocorrer em qualquer data futura que se deseje. É comum ao hipnó logo sugerir que para realizá-la será necessário repetir apenas uma simples “fónnula-gatilho” para a obtenção dos resultados almejados. Tal fórmula pode constituir-se apenas das palavras “agora entrarei em estado de hipnose durante X minutos”. Na maioria das vezes, basta apenas um a sessão com um hipnólogo, mas, para que os resul tados sejam permanentes e realmente eficazes, são necessárias várias sessões nas quais a sugestão pós-hipnótica é repetida e reforçada. 0 hipnotism o — como o leitor já deve ter percebido —é, em si, um vasto e complexo assunto e neste espaço resumido é possível somente traçar-lhe os contornos gerais. Achamos, contudo, que essas
linhas gerais são suficientes para a finalidade a que nos propomos no momento.
3/
Fenomenologia e pesquisa psíquica
Ao longo da história persiste a crença naquilo que chamamos comumente de sobrenatural: fantasmas e assombrações, clarividência, magia de feiticeiras, profecias de cartomantes, telepatia, telecinese, cura milagrosa de enfermos, comunicação com o além, e muitos outros fenômenos estranhos que parecem desafiar as leis naturais. Conquanto as pessoas cultas hoje em dia tentem desmistificar tais crendices tachando-as de tolas superstições, permanece uma incóg nita acerca do imponderável. Referimo-nos a inumeráveis registros de ocorrências dessa natureza, feitos por homens eminentemente ilustres e íntegros cujo testemunho em assuntos de caráter científico é profundamente respeitado. Nenhum exame sério dessas ocorrências foi tentado até meados do século dezenove e, mesmo então, poucos homens com respaldo científico acharam válido analisá-los e os cientistas representantes da ciência ortodoxa da época - cuja atitude muito se assemelha à de muitos cientistas atuais - recusaram-se a considerar qualquer coi sa que não estivesse de acordo com suas próprias e limitadas teorias. O interesse por fatos sobrenaturais ou paranormais (o primeiro não é usado correntemente pelos estudiosos do assunto) foi desper tado por duas razões: (a) os primeiros hipnotizadores ou magnetiza ilores (segundo o jargão da época) mencionavam a ocorrência de po deres clarividentes, demonstrados por alguns de seus pacientes sob estado de transe, e (b) devido ao rápido crescimento do espiritismo e aos extraordinários feitos de seus “médiuns” . Em conseqüência disso, grande número de cientistas e estudiosos do assunto, incluindo alguns dos mais eminentes pensadores da época, passou a dedicar-se ao estudo do que um deles, Sir William Itarret, descrevia como “aquela fronteira discutível existente entre o território já conquistado pela ciência e os escuros domínios da superstição e ignorância” . Esses fenômenos passaram a ser chamados de psíquicos e sua investigação de pesquisa psíquica. A Sociedade para a Pesquisa Psíquica Em 1882, um grupo de pesquisadores, dentre eles o Prof. Henry
Sidgwick, de Cambridge, e os famosos médicos SirWilliam Crookes, Sir William Barret e Lord Rayleigh, formaram a Sociedade para a Pesquisa Psíquica com o objetivo de investigar, segundo afirmaram, “aquele vasto conjunto de fenômenos discutíveis denominados hipnóticos, psíquicos ou espíritas”. A finalidade da sociedade recémcriada era “abordar esses fatos sem quaisquer preconceitos ou pré julgamentos e com o mesmo espírito de pesquisa científica e imparcial que permitiu à ciência resolver inúmeros problemas que não eram assim tão imponderáveis nem debatidos com tamanha ênfase”. Como era de se esperai de homens desse quilate, determina ram metas elevadas para as provas que aceitarrm como satisfatórias e suas atitudes foram críticas e isentas de sectarismo. Essa linha de conduta ainda hoje norteia as pesquisas da Sociedade para a Pesquisa Psíquica. Desde sua criação, a SPR {Society fo r Psychical Research), como é geralmente conhecida, tem atraído muitos pensadores ilustres; o filósofo americano William James declarou certa feita que em nenhum outro local poder-se-ia encontrar reunidos nomes tão ilus tres como na SPR. A lista de pensadores que já haviam exercido o cargo de presidente incluía nomes respeitados, como, por exemplo, o Prof. Henry Sidgwick, o Conde de Balfour, o Prof. William James, Sir. William Crookes, Sir Oliver Lodge, o Prof. Charles Richet, Lord Rayleigh, o Prof. Gilbert Murray, a Sra. Alfred Lyttleton e, mais recentemente, o Prof. H. H. Price, Prof. C. D. Broad, o Dr. Donald West e Sir Alister Hardy. Convenhamos que é um pouco leviano, senão apressado de nossa parte, afirmar que todos esses ilustres pensadores - membros dessa sociedade —são pessoas crédulas, desonestas ou embusteiras. E mais, em seus Boletins e Atas, há centenas de registros, devidamente docu mentados, de fatos paranormais e demonstrações de poderes psíquicos. Devemos admitir que seria uma atitude impensada e parcial considerar tais documentos como meros registros de um passado menos crítico. O trabalho da SPR continua profícuo e agre miações semelhantes são criadas em vários países do mundo. Devemos afirmar, entretanto, que nem todos os casos investigados evidenciam-se como fenômenos paranormais autênticos, é claro. Muito pelo contrário, grande parte do trabalho desenvolvido pelo pesquisador consiste justam ente na desmistificação de fraudes, apontando erros de observação e demonstrando que muitas ocorrên cias, a princípio consideradas como psíquicas, são realmente devidas a causas perfeitamente naturais. De forma semelhante, os resultados de experiências laboratoriais efetuadas pelo conhecido Dr. Rhine nos Estados Unidos e pelo Dr. Soai, na Inglaterra, tendem freqüente
mente a ser contraproducentes. Há, entretanto, um detalhe que não pode ser enquadrado em explicações de causas naturais e os exem plos mencionados mais à frente incluem-se nessa categoria. Inicialmente, contudo, veremos a terminologia específica adotada para os mesmos. Terminologia Embora haja um grande número de opiniões divergentes com rela ção ao material mvestigado através da pesquisa psíquica, existem duas classes de fenômenos que, segundo o autor, tiveram todas as suas dúvidas dirimidas. Esses fenômenos são a telepatia, ou trans ferência de pensamentos, como é geralmente conhecida, e a clari vidência, ou, como é mais popularmente conhecida, “terceira visão”. A telepatia pode ser definida como “a comunicação de idéias de uma mente para outra, independente dos canais de sentidos que se conhecem”. A clarividência, segundo a definição adotada pelos pesquisadores psíquicos, é “a percepção extra-sensorial de eventos objetivos de forma bem distinta das idéias originadas na mente de uma outra pessoa”. Tanto a telepatia quanto a clarividência estão incluídas entre os fenômenos PÉS (Percepção Extra-Sensorial), e usa-se freqüentemente esta terminologia porque na prática é geral mente difícil distinguir entre os dois. Por exemplo, se percebo que um amigo está à porta do meu quarto, poderia ser perfeitamente possível que eu tivesse captado uma espécie de transmissão de sinal de sua mente, o que seria telepatia, ou poderia, por outro lado, ocorrer deste amigo ter sido “visto” diretamente, o que seria clari vidência. De forma semelhante, o indivíduo que em experiências de labora tório utiliza seus poderes PES para “identificar” grande número de, digamos, cartões manuseados pelo experimentador em sala contígua, pode estar “vendo” tais cartões diretamente, o que seria clarividên cia, ou pode estar obtendo as respostas corretas da mente do experi mentador, o que seria um caso de telepatia, ou seja, um destes fenô menos pode estar envolvido. Se em casos excepcionais envolvendo PES houver necessidade de excluir a possibilidade da telepatia de forma que a ocorrência de clarividência seja testada, ou vice-versa, então deve-se tomar medidas especiais de precaução. Também inclui-se entre os fenômenos PES a precognição ou conhecimento antecipado de um fato a ocorrer no futuro que não poderia ter sido conseguido utilizando-se meios normais. Pode-se citar ainda a retrocognição ou póscognição, que é a percepção extrasensorial de um fato ocorrido no passado. As evidências tanto da precognição como da retrocognição são quase tão boas quanto as
da telepatia e clarividência. Parece existir também alguma evidência laboratorial da psicoci nese, a influência direta da mente sobre objetos, como, por exemplo, quando se usa a vontade para fazer com que um dado caia sempre com a face que se deseja voltada para cima. Inúmeros pesquisadores que aceitam a ocorrência das várias formas de PES, não acreditam, contudo, em fenômenos “físicos”, tal coino a psicocinese. Telepatia espontânea Grosso modo, pode-se dividir a pesquisa psíquica em duas cate gorias: a verificação e investigação de relatos de ocorrências espontâ neas e a realização de experiências que visam produzir tais fenômenos sob condições cientificamente controladas. São comuns relatos de casos do que parece ser telepatia espontânea entre pessoas que têm fortes laços afetivos entre si. Quem já não ouviu falar de casos de pessoas que souberam, de alguma forma inexplicável, da doença de um parente ou do acidente sofrido por algum ente querido? Os regis tros da SPR incluem muitos casos dessa natureza. Um soldado, o general-de-divisão Richardson, foi gravemente feri do em batalha, e pensando estar à beira da morte pediu a um ajudantede-ordens para tirar um anel de seu dedo e mandá-lo à esposa que naquele momento achava-se a muitos quilômetros de distância. Quase ao mesmo tempo sua esposa teve esta estranha experiência. Foram estas suas palavras:
“Estava deitada em minha cama, semi-adormecida, quando vi perfeitamente meu marido sendo retirado do campo de batalha, gravemente ferido, e depois dizer: ‘Tire este anel do meu dedo e mande-o à minha mulher’. Durante todo o dia seguinte não pude esquecer a experiência um só momento. Certo tempo depois eu soube, é claro, que meu marido fora gravemente ferido em batalha. Conseguiu sobreviver, entretanto. Posteriormente o ajudante-de-ordens contou-me pessoalmente o fato e as mesmas palavras que eu ouvira a muitos quilômetros de distância no exato instante em que foram ditas por meu marido”. Observe que a esposa do oficial afirmou estar “deitada em sua cama num estado de semiconsciência”. Este estado, chamado de condição hipnagógica, é muito parecido com a auto-hipnose na qual as experiências psíquicas parecem ocorrer com certa facilidade. Clarividência através de sonhos As experiências psíquicas também podem assumir a forma de sonhos que ocorrem durante o período de sono normal. A seguir
l ilamos alguns casos notáveis de clarividência através de sonhos. A 28 de junho de 1928, o Sr. Dudley Walker, de Guildford, leve, em sonho, a nítida visão de um grave acidente ferroviário. Na manhã seguinte descreveu-o em detalhes para a sua família e seu patrão. No sonho ele via dois trens, sendo um deles um expresso, colidirem em uma estação; viu uma das locomotivas tombar e diver sos vagões destruídos, o que causou muitas vítimas fatais, em sua maioria mulheres e adolescentes. Afirmou ainda que pôde ver o corpo de um homem inerte sobre um dos vagões. Também fez um desenho ilustrando o acidente. Posteriormente, naquele dia, soube que, no momento de seu sonho, havia ocorrido um acidente ferro viário em Darlington, a mais de quatrocentos quilômetros de dis tância. Cada detalhe do sonho conferia quase exatamente com os detalhes reais. “Causou”, disse o Sr. Walker, “profunda impressão em minha mente, e apesar de nunca ter dado muita atenção ao assunto, agora tenho plena certeza de que não foi um sonho comum. Era tão real que pareceu-me ser mais que uma simples visão de fatos que ocorrem normalmente em sonhos normais”. Sem perder sua fleuma, pergun tou: “Por que logo eu, dentre todos os ingleses adormecidos àquela hora, deveria ser escolhido para presenciar essa horrenda visão?” Em março de 1903, um homem caiu no rio Severn, em Kidderminster, e foi arrastado pela correnteza antes que alguma tentativa fosse feita para salvá-lo. Todas as buscas posteriores falharam. Muitos dias depois, um certo Sr. Thomas Butler afirmou que vira em sonho o corpo de um homem preso entre os juncos de uma represa, a cerca de dez quilômetros do local onde aquele caíra no rio. Organizou-se uma busca e o corpo foi encontrado exatamente corno o Sr. Butler vira em sonho. As reportagens de vários jornais tratando do assunto e a declaração de um representante da SPR —que procedeu a investi gações minuciosas sobre o caso —atestaram que o corpo foi encon trado em local que descarta a possibilidade de o Sr.. Butler ter feito apenas um palpite afortunado. Em 1947, um holandês teve sonhos recorrentes nos quais o mesmo número, 3684, aparecia sempre de forma destacada. Acabou com prando um bilhete de número 3684, da loteria holandesa. O número foi sorteado e ele ganhou um grande prêmio em dinheiro. O uso de bolas de cristal por videntes constitui-se noutro método que certamente funciona para algumas pessoas. O exemplo clássico 6 um caso de precognição citado pelo Prof. Charles Richet. Em 1876, um jovem corretor chamado Maurice Berteaux consul tou uma conhecida clarividente. Esta predisse que ele obteria fama e sucesso e tomar-se-ia um dos comandantes do exército francês e que
no exercício deste cargo viria a falecer em virtude de acidente com uma “carruagem voadora”. Berteaux achou tais predições ridículas. Uma carreira militar estava fora de suas cogitações e, é claro, naquela época, aviões de qualquer tipo não passavam de sonho. Ingressou na política, con tudo, e veio a desempenhar o cargo de Ministro da Guerra, função esta que o tomou virtualmente “comandante do exército”, sob determinado ponto de vista. Em 1907, Berteaux, então Ministro da Guerra, durante uma exibi ção aeronáutica, foi decapitado ao ser atingido por uma aeronave. Estes são apenas alguns das centenas de casos registrados. Psicometria e psicografia Qualquer que seja o tipo de PES, se telepatia, clarividência, precognição, etc., a maneira de perceber os eventos varia de uma pessoa para outra e segundo as circunstâncias de cada caso em particular. Além dos sonhos, visões hipnagógicas e leitura de bola de cristal, como nos exemplos dados, as outras formas mais comuns são a psicometria, ou leitura de objetos, e a psicografia. Certas pessoas, ao segurar um objeto, são capazes de descrever eventos e pessoas ligadas ao mesmo. Algumas vezes uma fotografia ou uma carta selada é submetida à psicometria, da mesma maneira. Parece haver duas formas mais ou menos distintas de psicometria, uma das quais consiste do “sensitivo” perceber fatos diretamente associados ao objeto e outra na qual o objeto parece formar um elo telepático entre a mente do sensitivo e a mente da pessoa ligada a ele. Neste caso, parece que o objeto —uma vez estabelecido o encadeamento —perde sua utilidade. Certas pessoas crêem que se pegarem caneta e papel e direciona rem seus pensamentos, conscientemente, para alguma outra ativi dade, a caneta começará a escrever sozinha, algumas vezes rabiscos totalmente desprovidos de sentido, e outras, frases perfeitamente inteligíveis. Isso não envolve, é claro, nenhum fator psíquico ou paranormal. Na verdade, a psicografia é usada freqüentem ente em psiquiatria como meio de se chegar a lembranças de eventos que repousam em áreas do inconsciente. Uma vez ou outra, entretanto, essa escrita revela conhecimentos que não poderiam ter sido obtidos por meios normais, e há casos até surpreendentes em que várias psicografias feitas em locais diversos apresentavam material ininteligível separadamente, mas que, em con ju nto , tomavam-se perfeitamente coerentes. As adivinhações com o copo e o tabuleiro Ouija são apenas algu mas variações da mesma forma de automatismo.
Todas essas “técnicas” de percepção psíquica são, segundo o autor —e talvez para a grande maioria dos pesquisadores atuais — processos subjetivos, não-paranormais em si mesmos, através dos quais o conhecimento adquirido de forma paranormal toma-se com preensível ao sensitivo. A matéria-prima PES aflora diretamente, a princípio, como se estivesse a nível inconsciente. Alguns sensitivos chegam mesmo a dispensar tais objetos: expli cam apenas que sabem e só. Poderes mediúnicos Os espíritas acreditam, é claro, que através de todos esses métodos pode-se estabelecer comunicação com os espíritos de pessoas já falecidas. A história, contexto e psicologia do espiritismo são muito complexos para permitirem uma abordagem sucinta neste ponto; diríamos apenas que o tipo de evidência produzida na grande maioria das sessões espíritas teria valor praticamente nulo para pesquisadores psíquicos realmente sérios e que as provas concretas da ocorrência desses fenômenos provêm não do espiritismo em si, mas do trabalho desenvolvido pela pesquisa psíquica. Não é objetivo deste livro questionar o fato de que alguns médiuns possuem poderes psíquicos genuínos, mas o sucesso da maioria deles prende-se mais freqüentem ente à grande credulidade que despertam e à crença daqueles que os procuram. Talvez seja oportuno observar que poucos médiuns se dispõem a submeter-se a investigação cientí fica feita por pesquisadores sérios. É reduzido o número de médiuns de renome que têm colaborado com os pesquisadores psíquicos e demonstrado evidências incontes táveis de algum tipo de faculdade psíquica, muito embora a comuni cação com os mortos seja, no mínim o, uma questão em aberto. Um dos mais famosos sensitivos desse quilate na Inglaterra foi indubitavelmente Douglas Johnson, que além de suas atividades profissionais normais como médium, submetia-se voluntariamente a experiências científicas realizadas com o uso ou não da hipnose. Muitos hão de lembrar-se de suas demonstrações convincentes de psicometria no programa “Linha da Vida” , da BBC de Londres. Deve-se notar que Johnson acreditava realmente estar em contato com pessoas já falecidas. Referimo-nos aqui aos médiuns “mentais”, ou seja, àqueles que fornecem informação falada ou escrita, caso estejam ou não em estado de transe. O chamado transe mediúnico, segundo já demons trado claramente, trata-se de um estado de auto-hipnose, e a maioria dos pesquisadores é de opinião que as entidades que presumivel mente baixam (guias) são simplesmente personalidades secundárias
dos próprios médiuns. Praticamente todos os assim chamados médiuns “físicos” — aqueles que dizem materializar objetos, fazer levitação, sons de bati das, fotografias de espíritos e outros efeitos psicocinéticos —foram devidamente investigados e provou-se serem embusteiros e nenhum deles mostrou de forma convincente haver produzido manifestações psíquicas verdadeiras. Na verdade, a maioria de suas atuações cons titui uma tapeação tão descarada que o pesquisador Archie Jarman descreveu-os certa vez como “o tipo de mediunidade fraudulenta que concorre para espalhar a má reputação até mesmo entre os médiuns charlatães”. Pesquisa psíquica experimental Nos primeiros anos foram feitas algumas tentativas para demons trar em condições laboratoriais —com certa porcentagem de sucesso - a percepção psíquica, mas foi só em 1934, quando o Dr. Rhine publicou seus primeiros relatórios, que este campo de pesquisa tomou-se realmente alvo de interesse. O trabalho de Rhine era dife rente do de seus predecessores num aspecto importante. Era o pri meiro programa em larga escala com experiências quantitativas nas quais podia-se chegar aos resultados matematicamente. Na maioria dos seus testes, Rhine utilizou maços especiais de cartas “Zener”, cada um deles composto de cinco conjuntos de cinco cartões apresentando um dos cinco padrões seguintes: um círculo, uma cruz, um quadrado, uma estrela, ou três linhas ondu ladas. O indivíduo testado tentaria acertar cada carta à medida que estas fossem retiradas de um maço embaralhado. Se nenhum outro fator a não ser a casualidade estivesse envolvido, poder-se-ia esperar uma média de cinco palpites corretos para cada conjunto, de maneira que seria fácil detectar a presença de algum outro fator além da pura casualidade, caso o indivíduo continuasse a perfazer uma soma de pontos substancialmente maior (ou menor) que cinco após uma longa série de tentativas. Rhine observou que alguns elementos mantinham, após milhares de palpites, uma média de pontos positivos acima do dobro do valor passível de ser atribuído à simples sorte ou casualidade, e com um número menor de indivíduos pôde observar que a disparidade rela tiva à obtenção de resultados devidos simplesmente à sorte era literalmente astronômica. Ê claro que muitos outros pesquisadores tentaram repetir os resul tados obtidos por Rhine, citando-se dentre estes o famoso Dr. S. G. Soai, matemático e destacado membro da SPR. Durante um período de cinco anos, testou mais de cento e cinqüenta indivíduos, tendo
registrado mais de cento e vinte mil palpites —todos, infelizmente, com resultados negativos, segundo ele. Desde então, Soai tomou-se uma pessoa desanimada e totalmente céptica. Arquivou todos os registros de suas experiências na SPR, e começou a especular sobre a natureza do fator mágico que possibili tava à PES demonstrar seus efeitos apenas na América, enquanto na Inglaterra isso não ocorria. Deu-se então uma reviravolta. Outro pesquisador britânico, Whately Carington, disse a Soai que este, em suas experiências, havia verificado apenas o que ele convenciona denominar de efeito de deslocamento apresentado por alguns elementos submetidos ao teste, não sobre a pergunta feita naquele exato instante, mas acerca de alguma questão que viria a seguir. Instou Soai a verificar novamente seus registros quanto a esse detalhe, e quando o mesmo procedeu a um exame mais acurado desse pormenor, observou que dois indiví duos obtiveram uma soma de pontos bem acima da média da simples casualidade. Um deles, Basil Shackleton, foi submetido a novos testes e neles conseguiu acertar as cartas com uma regularidade tama nha que, literalmente, a possibilidade de mera casualidade apresentou uma proporção de dez milhões de milhões de milhões para uma. A partir daí, outros pesquisadores incorporam outros refina mentos aos testes e muitos deles, embora não todos, têm obtido bons resultados. A maior dificuldade, não só com relação às experiências quantita tivas como estas, mas também em todas as áreas da pesquisa psí quica, deve-se ao fato de tais fenômenos ocorrerem raramente e de forma imprevisível. Em vista disso, os estudiosos do assunto tentam desenvolver constantemente novos métodos de estimulação dessas faculdades, ou seja lá v que forem, esperando dessa forma produzir fenômenos PES sob condições cientificamente controladas e que permitam sua repetição. Grande variedade de drogas foi utilizada na realização de testes, embora sem muito sucesso. Pode-se citar apenas um caso positivo verificado na Holanda no qual um indivíduo conseguiu melhorar seus resultados ao ingerir brometo, e ainda obteve resultados melho res sob o efeito do álcool. Havia grande expectativa acerca das novas drogas alucinógenas, tais como a mescalina e o LSD-25, mas parece que não se obtiveram resultados realmente significativos. Resultados mais promissores foram conseguidos com o uso recente da hipnose, que parece oferecer uma série de vantagens experimentais. Antes, porém, de abordarmos esses modernos aperfeiçoamentos, talvez seja oportuno fazer uma retrospectiva histórica. Nos primeiros capítulos deste livro mencionamos as afirmações dos antigos magne-
tizadores (mesmeristas) de que alguns indivíduos em estado de transe apresentavam notáveis poderes psíquicos. Examinemos alguns desses casos.
Breve resumo histórico Nos No s prim pr imei eiro ross an anos os do h ipn ip n o tism ti sm o , o u m esm es m eris er ism m o, co com m o era então chamado, o tema era considerado geralmente como algo paranormal. Os transes, alucinações, estados de catalepsia, e assim suces sivamente, eram considerados como coisas induzidas por alguma espé espécie cie de estranho fluido fluido magnético, enq uan to o próprio m agn agneti etizazador acreditava-se dotado de poderes que os simples mortais não poss po ssuí uíam am.. Atualmente, poucas pessoas sustentam esse ponto de vista, muito embora a verdadeira natureza da hipnose ainda seja algo não com pre p reee nd ndid idoo em sua tota to tali lidd ad adee . Desde Des de o tem te m p o de Mesmer, Mesm er, c o n tud tu d o , afirmaram-se vezes sem conta que alguns indivíduos sob estado hipnótico possuíam realmente poderes psíquicos tais como clarivi dência, telepatia, precognição, etc. Já dissemos que o interesse pela pesq pe squis uisaa psíq ps íquu ica ic a foi esti es tim m u lado la do inic in icia ialm lmen ente te p o r afir af irm m açõe aç õess de dest staa natureza e também pela difusão crescente do espiritismo. É interes sante notar que muitos dos mais conhecidos médiuns do século passa pa ssado do co com m eçar eç aram am suas carrei car reira rass co com m o indi in diví vídu duos os m esm es m éric ér icos os da escola Mesmer. F. A. Mesme Mesmerr (1733-1815 (1733 -1815)) parece ter travado con conhecim hecim ento com pessoa pe ssoass do dota tada dass de po pode dere ress psíq ps íqui uico cos. s. E m bo bora ra n ã o ten te n h a de deix ixad adoo documentos que corroborem tais afirmativas, pode-se deduzir isso — de maneira mane ira bem clara — de seu seuss escritos. escritos. Num deles, refere-se, refere-se, por exemplo, à humanidade como seres “dotados de uma sensibilidade que os capacita a estar em sintonia mental com aqueles que estão em volta, e mesmo a distâncias maiores”, e acrescenta que “às vezes, uma pessoa em estado sonambúlico pode perceber fatos passados e futuros através da percepção interior”. O mais antigo relato confiável sobre a intensificação de poderes psíq ps íqui uico coss atravé atr avéss da hipn hi pnos osee pa pare rece ce ter te r sido sid o feit fe itoo pe pelo lo Marquê Mar quêss de Puysegur, discípulo de Mesmer que em 1807 publicou o livro Do magnetismo animal, contendo muitos exemplos. Um destes casos é sobre um indivíduo, jovem agricultor ignorante, que sob mesmerização demonstrou não só aumento de sua inteligência mas também notáveis poderes de clarividência. De Puysegur observou que diversos indivíduos sem qualquer conhecimento médico eram capazes de
lazer diagnósticos exatos de doenças. Notou, outrossim, que ocasio nalmente uma outra personalidade parecia vir à tona, demonstrando mais faculdades e visão visão mais clara das coisas que a origina original. l. Afirmações semelhantes foram feitas por Alexandre Bertrand, notável médico francês, em sua obra Tratado sobre o sonambulismo, publ pu blic icad adoo em 18 1823 23.. B ertr er tran andd ve veri rifi fico couu tam ta m b ém que alguns alg uns indi in diví ví duos podiam obedecer a comandos ordenados “mentalmente”, ao passo qu quee o u tro tr o s teri te riam am e x p e rim ri m e n tad ta d o algo co com m o um a espéci esp éciee de “comunidade de sensação” com ele. Quase ao mesmo tempo, o Barão Du Potet, um dos primeiros a reconhecer o valor da hipnose como anestésico, demonstrou o “mesmerismo à distância” para os mem bros da A cade ca dem m ia de M ed edici icina na da Fran Fr ança ça.. Em 1840, o Rev. C. H. Townsend registrou a mesmerização de uma adolescente numa residência distante do local em que se encontrava. Afirm Afir m ou ainda a inda que caso sentisse sentisse alguma dor, a jovem, jovem , enquanto mesmerizada, sentiria também a mesma coisa e na mes ma parte do corpo. Ao provar várias substâncias, ela era capaz de identificá-las. O Dr. James Esdaile, pioneiro no uso da hipnose em cirurgias antes do advento dos anestésicos, menciona, em 1846, que um jovem indiano, mesmerizado, era capaz de dizer a ordem correta em que um seu assistente colocava sal, gomo de lima, uma folha de genciana e um pouco de conhaque na boca de Esdaile. Também afir mava haver hipnotizado um cego, diversas vezes, fitando-o fixa mente de uma distância de aproximadamente vinte metros. Para certificar-se de não estar transmitindo impressões sensoriais ao homem, Esdaile colocou-se algumas vezes sobre um muro, segundo ele “em horas incertas, para que o mesmo não suspeitasse de minha prese pre senç nçaa e sempre sem pre co com m bo bons ns resu re sult ltad ados os”” . Em 1850, o Dr. Herbert Mayo, F. R. S., Prof. de Fisiologia do Real Colégio de Cirurgiões, registrou também ter obtido êxito nesse tipo de com unidade de sensação, sensação, afirmando: A pessoa em transe, não possuindo nessa condição qualquer sensação de gosto ou cheiro por si mesma, prova e cheira tudo aquilo que o condutor da experiência experimenta. Caso uma pessoa pes soa em tal ta l esta es tado do prove pro ve po porr ex exem empl ploo m osta os tard rdaa ou açúc aç úcar, ar, dará a impressão de desconhecer tais substâncias: se entretanto a mostarda for colocada na língua do experimentador, o ele mento em transe demonstrará grande repugnância e tentará cus pi-la. Oc Ocorr orree o mesm me smoo co com m qu qual alqu quer er do dorr qu quee o pe pesq squi uisad sador or venha a sentir. Por exemplo, se se puxasse o cabelo do pesqui sador, o paciente em transe sentiria o mesmo desconforto físico causado por tal gesto, como se fosse nele próprio.
Dentre outros pioneiros do hipnotismo, autores de depoimentos que comprovaram de fato a comunidade de sensação, podem-se incluir John Elliotson, médico-chefe do University-College Hospital de Londres; James Braid que, conforme já vimos, criou os termos hipnose e hipnotismo, e William Gregory, professor de química na Universidade de Edinburgo. Relatos semelhantes foram apresentados subseqüentemente por Sir William Barrett e Edmund Gurney e foram fator relevante para a fundação da Sociedade para a Pesquisa Psíquica, sendo grande parte do trabalho inicial da SPR devotado ao estudo da conexão entre a hipnose e a telepatia e outras formas de fenômenos psíquicos. O Prof. Gregory —que escreveu: “Tenho visto e comprovado ser a comunidade de sensação algo firmemente estabelecido em grande número de casos” —registrou também um dos mais convincentes exemplos de viagem astral e clarividência. Em 1851, Gregory, que morava em Edinburgo, visitou um amigo mesmerista residente a cerca de 50 quilômetros de distância de sua casa. Este amigo fazia-se acompanhar de uma jovem conhecida por seus poderes psíquicos. Esta acedeu em submeter-se a um teste, e, mesmerizada, começou a descrever detalhadamente a casa de Gregory e a de seu irmão. Gregory continua seu relato: Então pedi-lhe que fosse a Greenock, distante cerca de 70 quilômetros de onde nos encontrávamos, para visitar meu filho que lá reside com um amigo. Encontrou-o logo e passou a descre vê-l vê -loo porm po rmenoriza enorizadam damente, ente, interessando-se interessando-se sobremodo sobremo do pelo rapaz, a quem nunca vira nem ouvira falar. Ela o viu —disse —brincando num campo ao lado de um pequeno jardim onde há um chaié, a certa distância da cidade num terreno elevado. Ele estava brin cando com um cão. Eu sabia que meu irmão tinha um cão, mas não tinha a mínima idéia de como ele era, por isso pedi-lhe para descrevê-lo. Ela falou que era um cão enorme da raça Terra-nova, pre p reto to,, co com m um a ou duas manc ma ncha hass branca bra ncas. s. E ra m uito ui to apega ape gado do ao rapaz e os dois brincavam brincavam naquele m omento. om ento. “Oh! — gritou subitamente —o cão saltou e tirou o gorro dele”. Nesse momento viu no jardim um senhor de idade que antes lia um livro e agora proc pr ocura urava va algo em to rn o de si. Nã Nãoo era m u ito it o velho vel ho mas ma s seus cabelos eram grisalhos e tinha suíças e sobrancelhas pretas. Achou que fosse um pastor, salientando entretanto não ser o mesmo per p erte tenc ncen ente te à Igreja Igre ja Católi Cat ólica ca ou Episc Ep iscopa opal,l, mas ma s um disside diss idente nte (na verdade era um pastor de uma seita adjunta à igreja presbi teriana). Convidada a entrar na casa, ela o fez e passou então a descrever a sala de estar. Na cozinha —prosseguiu —havia uma criada preparando o jantar que consistia de pernil, o qual estava
assando na brasa e podia ver claramente que este ainda não estava no ponto. Viu também uma senhora de idade. Procurando nova mente pelo rapaz, viu-o brincando com o cachorro à frente da porta enquanto o cavalheiro permanecia de pé no alpendre. Viu então quando o rapaz correu escada acima para a cozinha que ficava no andar superior do chalé (e é de fato) e a cozinheira deulhe algo para comer, o que julgou ser uma batata. Anotei imediatamente todos os pormenores e os transmiti ao senhor, o qual respondeu-me serem todos eles exatos, exceto pelo alimento que a cozinheira dera ao rapaz, que era na verdade um pequeno biscoito. O cão correspondia perfeitamente à descrição feita; também conferia o detalhe do gorro que o cão tirou do rapaz quanto à hora e local em que ocorreu; ele mesmo encon trava-se no jardim lendo um livro; havia um pernil assando na brasa e não estava pronto ainda; também se achava presente naquele momento, na cozinha, uma senhora de idade que não pertencia ao senhorio. Todos estes fatos eram totalm ente desco nhecidos para mim e não poderia ter havido nenhuma espécie de leitura mental, apesar de que, se tivesse ocorrido algo desse tipo, como já afirmei anteriormente, não seria menos extraordinário, mas apenas um fenômeno diferente. Sir William Barrett A partir de 1870, Sir William Barrett realizou uma série de expe riências com indivíduos hipnotizados acerca da comunidade de sen sação, clarividência, viagem astral e transmissão de pensamento. Consi derou a evidência de todos esses fenômenos tão conclusivamente que em 1876 apresentou um documento à Sociedade Britânica para o De senvolvimento da Ciência, sugerindo a formação de um comitê a fim de investigar e preparar relatórios sobre o assunto. Sir William ficou desapontado. Seu pedido foi, como disse, “recebido com escárnio” . Sir William Barrett também tomou parte de algumas das impressivas experiências feitas em 1883, um ano após a criação da Sociedade para a Pesquisa Psíquica, por Edm und Gurney uma autoridade em hipnotismo e destacado membro fundador da SPR. Tais experiências envolviam a transferência de várias sensações, incluindo dor do hipnólogo ao paciente. Um hipnotizador famoso, G. A. Smith, tomou parte nas mesmas, e rígidas precauções foram tomadas para evitar comunicações através dos sentidos normais. O indivíduo em estado de transe permanecia de olhos vendados e o hipnotizador de pé atrás dele. Um dos experimentadores belis cava ou batia em várias partes do corpo do hipnotizador, sendo as únicas palavras pronunciadas perguntas sobre o que sentia o paciente
naquele exato momento. Em vinte e quatro testes o indivíduo acer tava vinte vezes o local exato em que o hipnotizador fora atingido. Os testes relativos à transferência de sabor também tiveram êxito, com os indivíduos testados descrevendo corretamente, na maioria dos testes, as substâncias colocadas na boca do hipnólogo. Logo depois disso, Rerre Janet, psicólogo francês, realizou pes quisas quase idênticas obtendo sucesso semelhante. O principal paciente de Janet foi a extraordinária “ Léonie” , cuja notável “excur são psíquica” do Havre a Paris foi descrita no Capítulo 1. Em 1885, Léonie participou de uma série clássica de experiências nas quais um colega de Janet, Dr. Gilbert, hipnotizou-a telepatica mente quando se encontrava numa residência a certa distância dali, e a fez caminhar em transe profundo pelas ruas do Havre até sua casa. Estas experiências que, num total de vinte e cinco, dezenove apresentavam pleno êxito, foram presenciadas não só pelo Prof. Janet, mas também pelos famosos pesquisadores psíquicos, F. W. H. Myers, A. T. Myers e pelo Prof. Julian Ochorowicz. Exteriorização da sensibilidade Outro fenômeno que de tão freqüente não pode ser ignorado é a exteriorização da sensibilidade, na qual todos os sentidos do paciente são transferidos para objetos inanimados. Em 1892, Albert de Rochas relatou haver feito uma paciente sentir calor e frio conforme as mudanças de temperaturas ocorridas num copo de vidro que ela mesma tocava com as mãos; essa paciente também sentiu dor quando uma boneca que trazia ao colo foi-lhe retirada e picada com uma agulha. Outros mesmeristas contemporâneos, notadamente Dupony e de Luys, afirmaram ter obtido resultados semelhantes com o uso de fotografias. Alguns pacientes conseguiram ótimos resultados em psicometria, ou leitura de objetos, da qual dois exemplos de fenômenos foram incluídos no Capítulo 1. O Dr. Herbert Mayo —que mencionei ante riormente como tendo experimentado a comunidade de sensação —en viou certa feita um cacho de cabelos de uma paciente para um amigo americano residente em Paris. Este deu-o a um paciente hipnotizado, tendo o mesmo afirmado que a pessoa de quem haviam retirado aquele cacho de cabelos sofria de paralisia dos membros inferiores, além de outro mal, e também usava um aparelho ortopédico. Suas afirmações foram comprovadas na íntegra. Nossa pesquisa cobriu principalmente os anos pioneiros do século passado. Não é de se estranhar que fenômenos tais como “magne tismo animal”, “fluidos etéricos”, etc., fossem aceitos quase sem críticas àquela época, já que mesmo atualmente os mesmos ainda são
amplamente aceitos. Verifiquemos agora de que maneira esses relatórios, juntamente com outros mais recentes, são encarados à luz da análise crítica e científica do presente século.
Hipnose e paranormalidade Até o final do século passado a hipnose era geralmente vista com reservas pela classe médica —o que não é de todo surpreendente em virtude dos inúmeros charlatães e profissionais de fama duvidosa que afirmavam curar toda e qualquer doença imaginável com seu recurso e devido às duvidosas práticas dos hipnotizadores de salão. Em 1892, entretanto, uma comissão criada pela Associação Médi ca Britânica aceitou unanimente a hipnose como valioso e real méto do terapêutico, e no ano de 1900 em Paris um Congresso Internacio nal de Hipnotismo endossou estes pareceres. Como resultado, a pesquisa no começo deste século concentrou-se principalmente na área da hipnose médica, particularmente durante a Primeira Guerra Mundial, quando foi amplamente utilizada no tratamento da neurose de guerra. Os progressos atingidos paralela mente pela psicologia demonstraram que muitos dos fenômenos hipnóticos tidos como paranormais poderiam ser perfeitamente explicados em termos normais e a tendência conseqüente foi explicar todos os “fenômenos superiores” desta forma. Nem todos os cientistas tinham a mente tã o estreita assim. Na França, por exemplo, Richet, Osty e Janet continuaram a utilizar a hipnose em pesquisas psíquicas e foram imitados por outros renomados expoentes do conhecimento científico. Embora os relatórios indicando experiências bem-sucedidas fossem raros, a evidência por eles apresentada era irrefutável. Durante a Primeira Guerra Mundial, o Dr. William Brown, famoso psicólogo, foi um pioneiro na utilização da hipnose para o trata mento das desordens psicopatológicas, descobrindo que muitos de seus pacientes adquiriam poderes telepáticos sob hipnose enquanto outros experimentavam notáveis feitos de viagem astral e clarividência. Nessa mesma época, o Dr. Gustav Pagenstecher realizava experiên cias extraordinárias com a Sra. Reyes de Zierold, no México. Esta, como já dissemos no Capítulo 1, era dotada de notáveis poderes de psicometria, ou leitura de objetos. Um pedaço de mármore romano,
por exemplo, foi tudo o que precisou para descrever minuciosa e exatamente o Fórum Romano e templos circunvizinhos. Com um bloco de papel de cartas descrevia o local e os processos de fabrica ção utilizados. Uma carta escrita no mesmo papel permitiu-lhe afirmar que o indivíduo que a havia escrito sofria de apoplexia e descreveu seu estado. Através do cinto de um soldado morto descre veu sua aparência e a maneira com o ocorreu sua morte. Dr. Bjorkhem No intervalo entre as duas grandes guerras o psicólogo sueco Dr. John Bjorkhem realizou grande número de experiências nas quais foram testados mais de três mil indivíduos. Chegou então à conclu são de que a maioria deles desenvolvia poderes extra-sensoriais quando hipnotizados. Uma paciente exepcional, adolescente nativa da Lapônia, descreveu certa vez o que se passava em sua residência que ficava a centenas de quilômetros de distância. Disse tudo que seus familiares faziam àquele momento e forneceu detalhes do artigo de um jornal que seu pai estava lendo naquele exato ínterim. Logo depois seus pais lhe telefonaram. Ficaram preocupados quan do, segundo eles, sua “aparição” materializou-se à frente deles, e temeram que lhe tivesse acontecido algo de grave. Em outra experiência, o Dr. Bjorkhem hipnotizou uma jovem e disse-lhe para “ir mentalmente” do apartamento onde estava até outro no mesmo prédio cujo interior jamais vira. Após alguns minutos, ela afirmou encontrar-se no referido apartamento, passando então a descrevê-lo. Entre outras coisas, descreveu minuciosamente a configuração dos aposentos e muitos objetos existentes no interior dos mesmos, as medidas de um espelho afixado à porta de um deles, o forro diferente de um sofá e a cor de alguns tapetes e capachos. Disse ainda haver um grosso álbum de fotografias de capa de couro escuro sobre a mesa (na verdade tratava-se de uma bíblia da família contendo uma seção para fotografias), descreveu algumas das foto grafias nele existentes e o nome de algumas das pessoas fotografadas. Jarl Fahler Êxitos mais recentes com experiências de clarividência com indi víduos submetidos à hipnose foram registrados por outro psicólogo, Jarl Fahler, ex-presidente da Sociedade para a Pesquisa Psíquica da Finlândia. À maior parte do trabalho de Fahler baseou-se em experiências com uma paciente extraordinária, chamada simples mente de “Sra. S”. Em certa oportunidade, perguntou-lhe se um certo “Sr. X”, a quem ela conhecia apenas de vista e cujas atividades pessoais e
comerciais ignorava completamente, viajaria para o exterior, e a “Sra. S” respondeu que pessoas em várias partes do mundo aguar davam uma oportunidade para vê-lo. Prosseguiu descrevendo um italiano que o estava aguardando num hotel de Londres, afirmando ainda ser Piovene o nome do homem e que podia ver esse nome impresso num dos cantos do bloco de papel em que estava escre vendo. Embora o italiano estivesse usando uma caneta-tinteiro naquele instante, estava escrevendo com letras de fôrma. Falou ainda sobre suas maneiras irrequietas e de tê-lo visto brincando com um pino e tamborilando os dedos à mesa. Descrevendo sua aparência, disse que, embora parecesse uma “boa pessoa”, o “Sr. X” deveria ter muita cautela ao manter qualquer tipo de transação com ele. Quando foi verificar os dados obtidos, Fahler descobriu que o “Sr. X” conhecia realmente um italiano de nome Piovene e que sua aparência e hábitos nervosos, bem como a maneira de escrever, correspondiam exatamente àquelas descritas pela “Sra. S”. Este homem estivera aguardando o “Sr. X” na data mencionada, hospeda do no Savoy Hotel em Londres. Posteriormente o “Sr. X” queixou-se com Fahler de não ter tomado as devidas precauções, já que agora ti nha motivos de sobra para evitar qualquer negócio com Piovene. Á “Sra. S” também foi submetida com sucesso a testes de “exte riorização da sensibilidade” conduzidos por Fahler. Este colocou um copo de vidro em suas mãos e sugeriu-lhe sob hipnose que “todas as suas sensações” estavam sendo transferidas para a água do copo que estava segurando. Verificou-se então que, quando seus braços ou mãos eram picados com uma agulha, não havia qualquer reação, mas quando se mergulhava a agulha na água do copo ela reagia imediatamente. O mesmo resultado foi obtido colocando-se o copo d’água em outro recinto. Fahler perfurou a água dez vezes, a garota deu dez saltos. Apresentou reações idênticas quando outro experimentador realizou um teste colocando-se atrás de uma porta hermeticamente fechada. Fahler também realizou testes quantitativos com as cartas Zener, e descobriu que os resultados melhoravam significativamente quando os indivíduos sumetidos ao teste eram hipnotizados. Alguns dos testes foram realizados na Finlândia e os demais no laboratório de parapsicologia do Dr. Rhine na Universidade de Duke, EUA*. * Certa vez, ao final de uma palestra em que descrevi o teste, uma amável senhora procurou-me e perguntou: “Sr. Edmunds, eu não quis falar nada na quele momento, pareceu-me bobagem, mas o que acha que aconteceria se ao invés de ser picada com a agulha ela tivesse bebido a água?” Realmente não me parecia uma tolice. Quisera saber a resposta também.
A “senhorita B” É digno de nota que o “Sr. X” de Fahler, assim como outros mencionados anteriormente, experimentaram a perfeita sensação de estarem presentes no local em que ocorreram todos os fatos descritos em suas “excursões psíquicas” e tiveram, além disso, a perfeita sensação de “voltarem ao corpo” ao final das mesmas. Os indivíduos que participaram das experiências mais bem-sucedidas, realizadas pelo autor desta obra, também disseram haver experi mentado essa sensação de retomo ao corpo. Um deles, a “Srta. B”, poderia fazer comentários completos sobre seus “movimentos” não só nos locais da excursão propriamente dita, mas também sobre aqueles experimentados durante seu “deslocamento” de e para esses locais. A “Srta. B” é uma pessoa extremamente dócil e é capaz de per manecer sob hipnose profunda durante longos períodos, nos quais pode realmente executar as mais diversas tarefas, tais como preparar um café ou drinque, ligar um gravador. Apresenta amnésia total após cumprir todas as ordens recebidas, a não ser que lhe seja ordenado, durante a hipnose, para recordar certas ocorrências específicas. Submeteu-se voluntariamente a alguns testes de PES, com a finali dade de verificar a diferença existente entre os pontos obtidos nas cartas Zener, sob hipnose e em vigília. O resultado final foi negativo. Para quebrar a monotonia dos palpites sobre as cartas Zener, foi sugerido à Srta. B durante a hipnose que ela era uma médium e estava prestes a dirigir urna sessão (A Srta. B era espírita e já havia comparecido a muitas sessões). Sentamo-nos todos com as mãos devidamente entrelaçadas à maneira tradicional (três pesquisadores e a paciente) e a Srta. B entrou em transe dentro do transe mediúnico. Transmitiu diversas mensagens de pretensas “entidades”, algu mas delas de caráter geral que poderiam destinar-se a qualquer pessoa, outras mais específicas, incluindo nomes e datas, jamais verificados. Como a paciente parecia reagir mais satisfatoriamente a este teste do que ao teste com as cartas Zener, tentou-se uma variação numa sessão realizada uma semana depois. Antes de hipnotizar a Srta. B, o autor repetiu-lhe a estória da paciente do Prof. Janet e o fogo no laboratório de Richet. Foi hipnotizada, e então foi-lhe dito que poderia sair em “excursões psíquicas” exatam ente como a paciente de Janet havia feito e que iria “sair de sua mente”, descobrir onde o Sr. C, um dos pesquisadores, morava, e descrever sua casa para os presentes. Tínhamos quase absoluta certeza de que a Srta. B não tinha a menor idéia de onde o Sr. C vivia e muito menos como era sua casa.
Após dizer que estava atravessando um rio, a Srta. B afirmou estar em frente à casa, passando então a descrever certas “curvas ou arcos” que segundo ela existiam acima das janelas. Ao ser-lhe orde nado para “entrar” na residência, “dirigiu-se” aos fundos da mesma afirmando ser a única maneira possível de fazê-lo. Passou então a descrever o interior da casa, de maneira geral; parte do seu relato estava errada e o resto poderia corresponder a quase qualquer casa. Comentou entretanto sobre um quadro enorme onde se viam homens a cavalo combatendo com armas que lhe pareciam ser hastes de ferro. “Não, não são exatamente isso.” Sugeri serem lanças, e ela replicou: “Sim, é essa a palavra certa”, e prosseguiu descrevendo alguns livros arrumados em estantes, fazendo o seguinte comentário: “Ali (apon tado), mas não quero vê-los” . Ao referir-se a eles, deu a exata impres são de que sentira repulsão. Não foi capaz de dar maiores detalhes e por isso foi-lhe ordenado que “voltasse novamente ao seu corpo aqui presente”. Feito isso, despertou. O Sr. C confirmou que sua casa localizava-se depois do rio e que a descrição da fachada fora notavelmente precisa, com relação às janelas arqueadas, num estilo bem incomum. Na verdade não era necessário entrar pelos fundos da casa, mas poder-se-ia entrar daquela maneira. Mais interessante, entretanto, foi sua descrição do interior da casa. 0 Sr. C possuía realmente um quadro grande representando a batalha de Waterloo, no qual homens a cavalo lutavam exatamente como a Srta. B descrevera. Também confirmou possuir uma coleção de livros um tanto mórbidos sobre a história da pena de morte, e a Srta. B apresentou a reação típica que se poderia esperar de uma mulher sensível. Eu deveria supor que haveria chances mínimas para alguém hipnotizado descobrir através de palpites tal combinação de coisas tão incomuns. O fato de o Sr. C encontrar-se presente nos fez suspeitar da exis tência de alguma espécie de envolvimento telepático durante o transcurso da experiência. Para eliminar essa possibilidade, outra sessão foi marcada sem sua presença. A hora marcada, apanhei a Srta. B, conforme o combinado, e a levei à casa de uma amiga, a Srta. F, local onde outro pesquisador, o Sr. N, já nos aguardava. A Srta. B nunca tinha visto antes nem a Srta. F nem tampouco o Sr. N, e nunca estivera antes naquela resi dência. Quando lá chegamos, ela foi conduzida por minha amiga, a Srta. F, a um dos aposentos da casa, enquanto eu, o autor deste livro, e o Sr. N fomos para outro, no qual seria realizada a experiên cia, a fim de verificar se todos os detalhes estavam em ordem. Pouco antes de minha chegada e da Srta. B, o Sr. N foi até os
fu ndos da casa na direção de uma estante de livros existente na sala
que seria usada para a experiência e, às apalpadelas, retirou um livro ao acaso. Levou-o sem olhar sua capa para um dormitório vizinho que se encontrava às escuras e colocou-o debaixo de uma almofada em uma poltrona. Saiu então do aposento e fechou a porta, mantendo-a sob observação. Ninguém entrou no aposento novamente antes do início da experiência. Durante todo o transcorrer dessa operação o Sr. N não chegou a ver o livro. A Srta. F levou então a paciente para a sala de experiências (não havia mais ninguém na casa) e o teste foi iniciado. Hipnotizei a Srta. B e após certificar-me de que estava em estado de transe pro fundo, contei-lhe detalhadamente o que o Sr. N fizera. Pedi-lhe então para ir “mentalmente” até o local onde o livro estava escon dido e dizer-nos tudo o que pudesse acerca dele. Após alguns minutos de silêncio, disse que podia ver o livro. Era grande, porém “fino para seu tamanho; era marrom e tinha algumas faixas ou linhas vermelhas”. Na primeira capa viam-se as letras L e G que representavam segundo ela os nomes “Leveson Gower”. Não pôde dar nenhuma outra informação e achamos conveniente encerrar a experiência. O Sr. N foi buscar o livro. Era, como a Srta. B dissera, um volume grande, porém de pouca espessura e a encadernação era de fato marrom, embora essa cor não pudesse ser vista a não ser que se remo vesse primeiro a sobrecapa cinzenta. Na primeira página em branco do livro havia algumas palavras escritas à mão, dentre as quais desta cavam-se as letras maiúsculas Le G. Entretanto, nada havia que lem brasse o nome Leveson Gower. Não havia grifos ou linhas vermelhas nem no livro nem na sobrecapa e eu já estava a ponto de guardá-lo novamente na estante quando, folheando a esmo suas páginas, descobri várias seções grifadas com tinta vermelha e podia-se ver perfeitamente tais observações. Infelizmente, as circunstâncias impediram a realização de novos testes e, conseqüentemente, o valor evidente dos resultados obtidos não é muito importante. Entrementes, dois pontos são dignos de nota. O primeiro deles consiste no fato de que o indivíduo hipno tizado nem sempre parece “ver” as coisas que descreve, mas de algu ma maneira toma conhecimento delas, como por exemplo no caso dos grifos existentes no livro fechado. O segundo trata-se de ter acrescentado não só nomes aparentemente fictícios às iniciais, mas pronunciar e,ssas palavras enfatizando sua fonética. Uma mulher inglesa culta, a Srta. B, em circunstâncias normais, pronunciaria os nomes sentidos telepaticamente da forma correntemente adotada em seu país, ou seja, “Leweson Gaw”.
Prof. Vasilyev Durante muitos anos, até a sua morte em 1966, o Prof. Leonid Vasilyev, Chefe do Departamento de Fisiologia da Universidade de Leningrado, realizou experiências utilizando a hipnose na pro dução de fenômenos de telepatia e clarividência. Apesar de seu trabalho ter sido divulgado só recentemente fora dos países da cor tina de ferro, sabe-se pelos relatórios agora disponíveis que obteve pleno êxito. Uma característica do trabalho desenvolvido pelo Prof. Vasilyev, era o cuidado meticuloso que tomava em cada fase de suas expe riências a fim de evitar qualquer possibilidade de erros, distorção dos fatos ou fraudes. Em muitas de suas experiências foi assistido por dois membros do famoso Instituto do Cérebro Bekhterev, os Drs. I. F. Tomashevsky e A. V. Dubrovsky. A grande maioria das experiências de Vasilyev abordou a sugestão à distância, particularmente a indução e supressão de estados hipnóticos por meio da telepatia. Em uma de suas séries composta de duzentas e sessenta tentativas de hipnose à distância obteve cerca de noventa por cento de êxito. Em alguns dos ensaios feitos para testar a teoria, de que esta seria uma forma de “rádio mental”, Vasilyev alojou seus pupilos em gabinetes hermeticamente fechados (gabinetes metálicos Faraday) a fim dt evitar a ação de ondas eletromagnéticas e manteve-se tam bém em gabinetes semelhantes em recinto anexo. A blindagem utilizada não alterou em nada o total de resultados positivos obtidos. Vasilyev também confirmou o que muitos outros já haviam obser vado: a distância apresenta efeito desprezível ou nulo em telepatia. Era capaz de hipnotizar sensitivos a distâncias que iam desde 20, 50, 500, 4.500, até 7.700 metros, e até mesmo de Leningrado a Sebastopol, cidades que distam entre si cerca de 1.700 quilômetros. Isso demonstra mais uma vez que a telepatia não se realiza através de qualquer forma de onda hertziana ou eletromagnética que se conheça, já que devido à distância forçosamente teria sua intensi dade reduzida. Segundo os pesquisadores russos, as sugestões hipnóticas jamais devem ser dadas através de palavras. Um colega de Vasilyev, o Prof. K. I. Platinov, afirmou: É importante notar que em todas as ocasiões que tentei hipno tizar sensitivos através de ordens mentais do tipo ‘durma, durma’, o resultado foi nulo. Mas quando criei mentalmente o rosto e a figura de uma paciente adormecida (ou despertada), sempre obtive o resultado desejado.
A partir disso, Vasilyev concluiu que o termo “transmissão de pensamento” não sintetiza perfeitamente o processo envolvido. Escreveu: “Para aquilo que é transmitido telepaticamente não há conceitos, opiniões ou deduções; resumindo, nada que no sentido preciso e estrito da palavra possa ser definido como ‘pensam ento’. Podemos afirmar, portanto, serem transmitidas, sempre, apenas sensações, imagens, emoções e estímulos à ação. . Embora tenha usado de extrema cautela em suas declarações, afirmando serem suas descobertas “consistentes ideologicamente” com o “materialismo científico” marxista, concluiu entretanto que a “sugestão à distância irá assumir uma importância imprevista, talvez até imprevisível, caso seja provado — e nossas experiências levam a crer nessa possibilidade —que a telepatia envolve algum tipo de energia ou fator ainda desconhecido para nós, presente apenas na expressão mais elevada da matéria, elemento este desenvolvido no processo evolucionista — a substância e a estrutura do cérebro. A descoberta dessa energia ou fator eqüivaleria à descoberta da energia nuclear”. Dr. Ryzl Os ensaios do Dr. Milan Ryzl envolveram um total de 226 sensi tivos dos quais 73 eram do sexo masculino enquanto 153 do sexo feminino e suas idades oscilavam entre dezesseis e trinta e cinco anos. Nenhum deles, ao que sabe com certeza, demonstrou previa mente qualquer sinal de faculdade psíquica, e não se utilizou nenhum método especial de seleção para os ensaios. Deste total, registrou-se certo grau de clarividência em cinqüenta e seis indiví duos (25%) e destes, três homens e vinte e quatro mulheres obtive ram “clarividência em nível relativamente bom”. Trinta mulheres conseguiram resultados surpreendentes comparáveis àqueles obtidos pela principal sensitiva do Dr. Ryzl, a Srta. “J. K.” , a quem me referirei mais tarde. Não obstante alguns indivíduos terem conseguido apresentar faculdades de clarividência na primeira sessão de hipnose a que foram submetidos, o Dr. Ryzl deixa bem claro que este método não é de forma alguma o mais fácil e rápido. Geralmente requer repetidas sessões de hipnose durante um período considerável. 0 primeiro passo, é claro, consiste no aprofundamento do transe e intensificação da sugestionabilidade, após o que vem o “aproveitamento dessa sugestionabilidade intensificada para obter a necessária inibição da ati vidade cerebral e persuadir o indivíduo sobre a possibilidade de adquirir PES, e de que vai realmente obtê-la”. O paciente recebe então sugestões de alucinações progressiva
mente mais complexas, a princípio sobre coisas bem familiares e subseqüentemente de pessoas, objetos ou cenas fictícios. Esta técni ca é mantida até que as “imagens” vistas pela pessoa em experiência sejam tão claras e nítidas quanto aquelas vistas através da percepção visual comum e possam ser conservadas pelo tempo que o hipnólogo achar necessário. Só quando se atinge essa fase é que começa o treinamento da PES propriamente dito. Neste ponto, às vezes basta controlar o paciente para detectar a presença de clarividência no sentido de obter resultados simples. Nenhum controle é acrescentado nesta fase sendo o indivíduo instruído para fechar os olhos e distinguir objetos colocados numa bandeja à sua frente apenas. É útil, na maioria das vezes, a sugestão dada pelo hipnólogo de que a “imagem” do objeto está-se tomando gradualmente mais nítida. Outro método consiste em fazer com que o hipnotizado “veja”, por meio da clarividência, os detalhes de um “sonho” sugerido pelo hipnotizador. Uma vez detectada a presença de PES em estado rudimentar, pode-se adotar três caminhos para realizar um treinamento mais avançado. Segundo o Dr. Ryzl, são os seguintes: 1. Desenvolvimento de novas habilidades através de sugestão de tarefas cada vez mais difíceis e complicadas. Primeiro trans fere-se algo para algum ponto no espaço. Talvez atrás do paciente; para outro aposento, e assim por diante. Caso se obtenha êxito, passa-se então à clarividência em épocas diferentes; primeiro vai-se ao passado, daí ao futuro. Devem ser tomadas precauções ainda mais rígidas. Tenta-se descobrir se o indivíduo hipnotizado é capaz de perceber tanto impressões auditivas quanto visuais. Deve-se também verificar se é capaz de captar pensamentos de outras pessoas (telepatia), e também desenvolver outras formas de PES, tais como formas táteis: apalpadelas à distância. Deve-se habituar o indivíduo a mudar seu ponto de observação conforme necessário. 2. Procura-se eliminar as causas dos erros de cognição clarividente. A princípio, a recém-desenvolvida faculdade de clarivi dência é bastante imperfeita, sujeita a grande número de erros. Nosso paciente precisa aprender agora a evitá-los. Certos erros originam-se de sugestões erradas dadas pelo próprio hipnotizador. Quanto mais sugestionável o indivíduo, maior o número de erros que poderá cometer. É necessário infundir-lhe uma boa dose de autoconfiança, ensinando-o a controlar de forma crítica tanto suas percepções como as palavras do experimentador. Outra causa de erros é a influência da auto-sugestão e as suposições do próprio hipnotizado. Experiências passadas, desejos, apreensões, pres-
suposiçoes, bem como pensamentos surgidos aleatoriamente em sua mente, influenciam-no. Em princípio, a tarefa mais importante consiste em ensaiar o indivíduo a estabelecer de forma confiável a diferença entre alucinações verdadeiras e falsas. Ele deve aprender a fazer isso por si mesmo. As vezes as visões verdadeiras caracterizam-se pela nitidez e luminosidade que apresentam. Com mais freqüência, o indivíduo deve tentar descobrir por si mesmo critérios subjetivos que o ajudarão a reconhecer, por experiência própria, as visões verdadeiras. Pode-se conseguir isso submetendo-o a muitas experências de clarividência preliminares nas quais tudo aquilo que expressar poderá ser confrontado com a realidade informando-se-o imediatamente sobre seus erres e acertos. 3. Treina-se o indivíduo a usar suas habilidades clarividentes por si mesmo. Enquanto nas fases iniciais do treinamento o men tor esforça-se para intensificar a sugestionabilidade às suas pala vras, agora deve concentrar seus esforços sentido de reduzi-la e ensinar-lhe a entrar em estado de transe hipnótico, além de saber controlá-lo a fim de evitar erros na interpretação de suas próprias impressões clarividentes. Este parece ser método mais adequado ao desenvolvimento da PES. É melhor que a técnica de realizar experiências estando o paciente no mais profundo estado sonambúlico possível, no qual, é verdade, o hipnotizado é mais submisso à vontade do experimentador, mas onde sua própria atividade é bastante redu zida, sendo este fator de fundamental importância na eliminação de erros. Este procedimento, entretanto, acarreta certos perigos para a verdadeira natureza do estado hipnótico, já que o atenua sobremaneira. Caso se dê prematuramente uma excessiva liber dade ao hipnotizado, seu sono hipnótico tomar-se-á demasiada mente superficial e as faculdades de PES podem desvanecer-se à medida que o mesmo vai despertando. Corre-se, além disso, risco de fracassar ao tentar hipnotizá-lo na tentativa seguinte. Por esses motivos, torna-se necessário aqui um cuidadoso pro cesso gradual até que se consiga educar o indivíduo no sentido de fazê-lo controlar a profundidade do seu sono por si mesmo. É absolutamente imprescindível treiná-lo a fim de que o mesmo adquira a necessária experiência no uso de suas faculdades paranormais, encarando-o como um sentido adicional análogo aos outros sentidos funcionando em estreito relacionamento com estes. 1 1 0
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O Dr. Ryzl observou que certos indivíduos podem ser treinados a reconhecerem a diferença entre impressões verdadeiras e não-verda-
deiras, consistindo o seu método em sugerir ao paciente que as alucinações não-verdadeiras ser2o “geralmente indistintas, fugazes e mais resplandecentes”. Alguns desses indivíduos haviam perdido sua PES, às vezes de forma definitiva, após períodos de tempo diversos. 0 Dr. Ryzl atribui isso a várias influências incidentais e fatores especialmente de fundo psicológico e não considera tais perdas como inerentes a essas faculdades em si mesmas, desde que desenvolvidas por estes métodos. A Srta. J. K., com quem o Dr. Ryzl realizou suas mais bem-sucedidas experiências, era uma jovem inteligente em pleno esplendor dos seus vinte anos. Ele a descrevia como uma pessoa honesta, segura de si e cheia de energia, ao mesmo tempo gentil e sensível, com enorme força de vontade. Não fumava nem era dada a vícios de qual quer natureza. Ninguém diria, ao vê-la, que se tratava de alguém que já vivenciara experiências paranormais. Foi hipnotizada pela primeira vez em 1958 e após certa dificuldade inicial demonstrou ser extrema mente útil. Após os métodos de treinamento delineados acima, a Srta. J. K. logo demonstrou evidências de uma extraordinária faculdade de clarividência. No espaço de um mês, foi capaz de descrever com sucesso cenas ocorridas a muitos quilômetros de distância, localizar objetos perdidos, predizer atos de desconhecidos, ler pensamentos de outras pessoas. 0 Dr. Ryzl realizou então um a série de experiên cias quantitativas com as cartas Zener, obtendo resultados também igualmente impressivos. Após considerável dificuldade, a Srta. J. K. aprendeu finalmente a se auto-hipnotizar e cerca de nove meses depois seu treinamento atingiu uma fase em que podia aplicar sua faculdade mais ou menos à vontade e com razoável independência do Dr. Ryzl. Transcrevemos a seguir o relato de um caso em que usou sua faculdade: Em junho de 1959, em seu escritório de trabalho, vários de seus documentos importantes foram extraviados. Sem nenhuma ajuda do autor, encontrou — fazendo uso de seus poderes para normais - todos os documentos que havia perdido num local até então desconhecido para ela. Estavam numa escrivaninha em um escritório que visitara pela última vez muitos meses antes. Deve-se salientar que neste ínterim tanto a disposição dos móveis foi alterada como o próprio prédio passou por várias reformas. Este escritório ficava a muitos quilômetros do local onde fez sua autoexperiência. 0 Dr. Ryzl relaciona a seguir as causas principais de erros em PES desenvolvidas por seus métodos:
1. Sugestão do experimentador. Esta é uma causa freqüente de erros, já que a sugestionabilidade do paciente é grandeme.ite intensificada no estado hipnótico. 2. Auto-sugestão do próprio indivíduo, pela influência de suas pressuposições, temores ou pensamentos esporádicos. 3. Ilusões e alucinações análogas às ilusões experimentadas em percepção sen .tiva normal. 4. As impressões causadas pela percepção de objetos são indis tintas. 5. Influência da falta de atenção do paciente, caso sinta-se cansado ou temporariamente indisposto. 6. Erros de interpretação quando o paciente vê corretamente a realidade extra-sensorial percebida, mas interpreta erradamente o sentido da mesma. 7. Erros de exteriorização em que o indivíduo hipnotizado fala quase ininteligivelmente das impressões sentidas, fazendo com que o experimentador não as compreenda perfeitamente. 8. Influência telepática sobre o indivíduo sob hipnose, exer cida por pessoas presentes no recinto da experiência. 9. Coalescência de percepções, quando duas ou mais percep ções corretas referentes a eventos algo semelhantes entre si, situados próximos um do outro no tempo e no espaço, fundem-se numa única impressão constituída de percepções que, embora corretas parcialmente, são erradas em seu todo. Além das dificuldades já mencionadas, o Dr. Ryzl tem observado retrocessos causados pelo que chama de fatores sociológicos. O pri meiro deles, é claro, consiste na apreensão demonstrada por muitas pessoas ante a idéia de serem submetidaS à hipnose, mas um obstá culo ainda maior apresenta-se mais tarde quando a PES começa a ser desenvolvida. Contrariamente ao que se poderia esperar, muitas pessoas, longe de sentirem prazer ao ganharem novos poderes que, digamos assim, as coloca acima da média das pessoas normais, pare cem sentir medo de algo que as torna diferentes das demais. Todos os pacientes do Dr. Ryzl opuseram-se terminantemente a toda e qualquer divulgação que viesse a tomá-los conhecidos por seus poderes extra-sensoriais. Alguns ficaram preocupados pelo temor de que suas faculdades viessem a lhes causar problemas e, nos casos de precognição, mostravam-se receosos ante a possibilidade de recebe rem avisos nada agradáveis sobre si mesmos. Não obstante todas essas dificuldades, o Dr. Ryzl acha que seus métodos, “caso sejam aperfeiçoados e eliminados os erros, seriam de grande utilidade no treinamento da PES, e para seu desenvolvimento em grau menor ou maior talvez para a maioria absoluta das pessoas”.
O Prof. C. J. Ducasse, filósofo e parapsicólogo americano, defen de métodos semelhantes aos do Dr. Ryzl afirmando ser o hipnotismo apenas uma forma especial e conhecida de fenômeno psicológico e o estado hipnótico, por seu tumo, simplesmente a experimentação de um grau temporário porém excepcionalmente elevado da con dição psicológica normal, sendo essa percepção alterada algo per feitamente normal. O processo de indução da hipnose consiste da sugestão da sugestionabilidade, e conseqüente produção de hiper sugestionabilidade. A sugestão, diferentemente da persuasão, con siste na “apresentação de uma idéia à mente, de maneira tal que esse procedimento anula seu julgamento crítico”. Com relação à natureza do transe hipnótico, o Prof. Ducasse deixa bem claro a diferença existente entre o sono hipnótico e o natural e toma em consideração seu relacionamento com o sonam bulismo espontâneo. Também discorre longamente sobre a aludida impossibilidade de se fazer uma pessoa hipnotizada praticar atos imorais ou ilegais que normalmente não faria. Após concordar que alguém sob hipnose normalmente não aceita sugestões que entrem em conflito flagrante com profundas convicções morais ou religiosas que tenha, acrescenta: W. R. Wells, entretanto, não só sustenta como também demonstrou experimentalmente que é possível ordenar a um indivíduo hipnotizado que cometa crimes, desde que se dissi mule a verdadeira natureza dos atos que deverão ser praticados. Isso é contestado por Erikson e também por Schilder e Kauders. E L. W. Rowland provou também experimentalmente que pessoas hipnotizadas podem ser levadas a ferir a si próprias ou a outros. Uma excelente revisão e resumo de toda a controvérsia é feita por Paul C.Youngque, à luz dos argumentos e evidências apresentados por ambas as partes, concluiu que “há fortes evidências de que um hipnotizador realmente experiente pode induzir alguém a ter um comportamento anti-social por meio da hipnose”. O Prof. Ducasse passa então a fazer uma consideração sobre o hipnotismo e as faculdades paranormais e faz um breve resumo dos procedimentos adotados usuám ente ao lidar com um elemento hipnotizado. Por exemplo, ao tentar produzir faculdades paranormais num indivíduo, clarividência, por exemplo, deve-se dizer a ele que todos os seres humanos possuem um órgão que, embora desco nhecido, é parte integrante da nossa psique, que tal órgão acha-se adonnecido, que pode ser estimulado e, utilizando o grande poder proporcionado por um ritual, que esse órgão receberá o estím ulo
necessário a seu funcionamento quando certo ponto de sua cabeça —digamos, entre as sobrancelhas —for pressionado pelo hipnotizador durante algum tempo. Após efetuar todo esse proce dimento, deve-se então pedir ao elemento para executar uma tarefa simples de clarividência —por exemplo, dizer qual o naipe a que pertence uma carta de baralho colocada numa mesa com sua face voltada para baixo. Caso acerte esse primeiro palpite, pode-se pedir a ele para identificar a carta; caso acerte novamente, deve-se tentar então tarefas de clarividência mais complexas, tomando-se rígidas precauções a fim de evitar o uso de estrata gemas de qualquer natureza. Se, por outro lado, o indivíduo não foi bem-sucedido apesar das tentativas feitas, deve-se repetir o procedimento usado para a estimulação, devendo ser-lhe ministrada uma sugestão póshipnótica na qual procura-se infundir no mesmo a certeza de que após a estimulação o órgão permanecerá desperto e se manifestará no momento oportuno, e que na próxima vez que fizer o teste obterá sucesso. Procedimentos desse tipo para o desenvolvimento de faculdades tais como a clarividência, psicometria, telepatia ou outras formas de PES são, segundo o Prof. Ducasse, os que apresentam maiores pers pectivas de êxito. As expeiiências do Dr. Eisenbud Tentativas bem-sucedidas de sugestão à distância foram registra das em 1962 por um psiquiatra americano, o Dr. Jule Eisenbud. Certa vez estava ele de férias num local distante cerca de cem quilô metros de sua clínica de Nova Iorque quando resolveu concentrar-se para “sugestionar” um de seus pacientes à distância, ordenando-lhe que lhe fizesse uma ligação telefônica interurbana. Ao terminar sua concentração, deu-se conta de que não havia telefone algum na casa em que se hospedara. Regressando a Nova Iorque, encontrou-se novamente com seu cliente mas não mencionou sua tentativa. Durante a sessão hipnótica daquele dia, deu-lhe um comando mental para que lhe telefonasse impreterivelmente naquela mesma tarde. Tal sugestão entretanto não surtiu nenhum efeito. Mais ou menos na metade da semana seguinte, contudo, enviou a Eisenbud três cartões-postais — algo sem prece dentes — enquanto estava ausente de Nova Iorque, e fez ainda um telefonema interurbano sob um pretexto aparentemente fútil. Algum tempo depois contou a Eisenbud ter ficado “obcecado” com uma idéia relativa a ele durante várias semanas. Eisenbud hipnotizou-o explicando-lhe a seguir sua tentativa banal, a “sugestão telepática”
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feita para que telefonasse, e após isso sua obsessão desapareceu. O Dr. Eisenbud aventa a seguinte explicação psicoanalítica: Lembrei-me do cartão-postal que me enviara. Tudo que escre vera foi: “Alô, doutor. Acabei de encontrar uma gatinha tão devagar que o tempo que perdeu pra falar: Acho que não sou aquele tipo de garota, ela já era”. Isso fez-me cogitar na possibili dade de Harry ter estado todo o tempo debatendo-se contra a compulsão importuna de telefonar-me e, por fim, antes que pu desse explicar que não era um certo tipo de paciente sob hipnose, que ele inconscientemente deveria ter relacionado à natureza feminina, ele, de fato, era. Procurei me lembrar da “ordem” dada originalmente quando havia total impossibilidade de resposta e verificar se alguma ordem subseqüente teria de aguardar até que a primeira fosse cumprida. A verdade é que apenas a muitos quilô metros de distância de mim Harry foi capaz de executar a ordem que recebera inicialmente, e o cartão-postal que provavelmente fora enviado para substituir a ligação interurbana não realizada (para não dizer muita coisa de um total de três cartões enviados em apenas uma semana) pode perfeitamente significar a luta íntima travada por Harry para não dar vazão a uma atitude total mente contrária ao seu comportamento normal. Pareceu-me ser o tipo de coisa que gera confusões quando se trata de comandos pós-hipnóticos dados verbalmente. O indivíduo tenta realmente uma fusão, uma concessão às suas convicções pessoais, só que tal tentativa é feita em local que lhe pareça totalmente exeqüível. Ambas as minhas ordens, tanto a primeira quanto a segunda, foram dadas à hora do almoço. A chamada interurbana de Harry ocorreu às 12:45, num dia de semana. Havia uma dúvida em minha mente: Será que havia protelado a execução dos comandos dados mentalmente? Para verificar se teria sucesso com sugestões à distância, Eisenbud começou a concentrar-se em um de seus pacientes. Interrompeu, entretanto, sua concentração, julgando ser sua atitude um pouco deselegante, já que se tratava de paciente que começara suas expe riências há pouco tempo. Não obstante, no espaço de uma hora este lhe telefonou perguntando-lhe sobre a possibilidade de alterar a data da próxima sessão. No dia seguinte Eisenbud concentrou-se alguns minutos para receber uma chamada de uma amiga que morava no Connecticut, e de quem não recebia notícias há um ano e meio. Dentro de uma hora a jovem lhe telefonou dizendo que sentira uma vontade simples mente irresistível de falar com ele.
Em suas crônicas fascinantes descrevendo estas experiências (Jornal Hindu de Parapsicologia, vol. IV, n? 3, 1962-3), o Dr. Eisenbud enumera de forma convincente as razões que o levam a crer ser a sugestão à distância um dos mais antigos “fatos da nature za” conhecidos pelo homem, algo ainda não estudado de forma plena. Salienta, outrossim, o detalhe de que nenhum dos primeiros pesquisadores continuou ou aprofundou suas experiências, embo ra algumas delas merecessem maior atenção e, na verdade, pesqui sas posteriores. Confessando haver falhado quanto à persistência no prosseguimento de suas experiências bem-sucedidas, o Dr. Eisen bud observa que, de forma oposta à crença popular, ninguém é capaz de «manter perm anentemente e m uito menos achar agradá vel o conhecimento e exercício proporcionados por tal poder. Suspeita ainda que “a perturbadora estimulação de uma das mais profundas e narcisistas inclinações mágicas” , representada pela prá tica da sugestão à distância, “parece ser a raiz do problema causado pela inibição generalizada, característica aparente da atitude atual com relação ao indivíduo”. O Dr. Eisenbud concorda, é claro, com a necessidade de mais pesquisas nesse campo.
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/ Pseudoclarividência e / reencarnação
Pode parecer, pelo que se viu até aqui, que tudo que se precisa para despertar a clarividência ou outros poderes psíquicos seja hipno tizar alguém e ordenar que descreva fatos que ocorreram em local distante ou relacionados ao passado de algum objeto. Infelizmente não é assim tão simples. É verdadeiro: diga a uma pessoa que ela possui faculdades clarividentes e ela descreverá algo —e o fará de maneira tão convincente que será quase impossível duvidar de sua boa fé. Entretanto, quando se realiza uma investigação minuciosa dos fatos, verifica-se a ocor rência freqüente de desapontamentos. O indivíduo não está agindo de má-fé. Se as sugestões são dadas da forma apropriada, ele acredita piamente estar realmente vendo tudo que vê naquele momento através de sua clarividência, ou rece bendo mensagens telepáticas, ou qualquer coisa que lhe tenha sido ordenado. Entretanto, apesar da consideração que temos para com sua integridade, apesar de acharmos convincente aquilo que diz e também o assunto tratado, é imprescindível que se faça duas per
guntas fundamentais a toda e qualquer pesquisa psíquica. Primeira, precisamos questionar se estes fenômenos podem ser englobados na classificação dos fenômenos perfeitamente normais sem recorrer a justificativas paranormais, e segunda, se achamos realmente que só algo paranormal explicaria os fenômenos. Resumindo, é preciso comprovar-se a existência ou não de evidências confiáveis para a explicação paranormal dada pelo indivíduo. Memórias psíquicas e lembranças nítidas Muitos dos fenômenos que se julgam paranormais perdem essa co notação à primeira daquelas perguntas. Cito a seguir um exemplo de experiência própria. Uma jovem paciente que eu já havia hipnotizado muitas vezes demonstrava em certas ocasiões notável faculdade de clarividência e viagem astral. Em determinada sessão, sob hipnose, manifestou ter “memórias psíquicas” de uma existência anterior. Disse lembrar-se de ter vivido em Sevilha no século XVII como uma “princesinha” chamada Inêz. Eu também teria supostamente encarnado àquela mesma época; ela me conhecera sendo eu um bispo de Sevilha, chamado Rodriguez. Aparentemente eu teria sido um opressor implacável, daqueles que se opunham aos caprichos da Igreja, mas um dia mudei de comportamento, passando a aconselhar a princesa Inêz a dar liberdade de expressão às pessoas para que estas agissem como desejassem. Ela, completamente inocente, relatou à Corte o que eu dissera. Fui traído, preso numa armadilha e morto por afogamento. Era uma história bonita, mas quando verifiquei sua autenticidade histórica, descobri que Sevilha nunca tivera um bispo e sim arce bispo, e não houve nenhum arcebispo cham ado Rodriguez no século XVII e não se tem notícia de qualquer arcebispo morto por afoga mento em Sevilha. A despeito da aparentemente autêntica “cor local”, estava mais do que cláro que minha paciente inventara toda a estória tomando por base fatos curiosos de detalhes históricos gravados em sua mente, e não havia nenhum elemento psíquico envolvido. A riqueza e clareza de detalhes que forneceu poderia ser classificada na mesma categoria da “exteriorização” extraordinariamente convincente apresentada pelas pessoas submetidas à hipnose em locais públicos, nos quais entre outras çoisas remam barcos imaginários, embriagamse com água, e acreditam serem Napoleão ou qualquer um que lhes seja sugerido. Outro atributo apresentado por indivíduos hipnotizados sem envolvimento de nenhum elemento psíquico é a fantástica “lem brança to tal” de eventos de há m uito esquecidos completamente
da memória consciente; e isso pode explicar também alguns fenô menos que à primeira vista parecem paranormais. Experiências triviais da primeira infância, detalhes de experiências significativas guardadas a nível subconsciente, ou de cenas e fatos jamais obser vados a nível consciente podem ser evocados perfeitamente através de sugestões do hipnotizador. Um extraordinário exemplo recente de recuperação de memó ria através da hipnose é-nos dado pelo escritor de contos alemão Heinrich Gerlach, autor de O exército desamparado. Gerlach escre veu o livro originariamente enquanto era prisioneiro de guerra na Rússia, mas teve seus manuscritos confiscados e jamais devolvidos. Quando voltou à Alemanha após a guerra, Gerlach tentou reescrever o livro de memória, porém não o conseguiu. Em 1951, Gerlach recorreu à ajuda do Dr. Karl Schmitz,psicotera peuta especializado em hipnose. Este acedeu em ajudá-lo e ao cabo de vinte e três sessões de hipnose fê-lo lembrar-se o suficiente para permitir-lhe refazer totalm ente seu trabalho original. Este caso foi devidamente documentado em vista do não-acordo que ocorreu sobre os honorários do hipnólogo resultando em litígio na justiça. A Corte do Distrito de Oldenburg examinou todos os detalhes do caso e pronunciou-se a favor do Dr. Schmitz, que recebeu 9.500 marcos. Gerlach, é claro, lembrou-se de detalhes que lhe eram completa mente esquecidos. Eis aqui um exemplo de recordação de coisas nunca vivenciadas a nível consciente. Um paciente hipnotizado na Escola Hopkins de Medicina, em Toronto, começou a falar numa estranha língua desconhecida por todos os presentes. Quando soli citado a anotar suas palavras, escreveu-as com muito cuidado. Descobriu-se que as palavras eram uma série de imprecações mágicas em Oscan, uma linguagem corrente na Itália durante o século III a.C. O paciente não tinha sequer noções de latim e jamais ouvira falar de Oscan. Ao ser acordado não recordou nada do que havia dito ou escrito. O Dr. Harold Rosen, que registrou o caso, tentou dar esta explicação para o fenômeno. São suas palavras: Descobrimos que certa tarde ele havia estado na biblioteca da Universidade da Pensilvânia fazendo pesquisas preparando-se para uma prova de economia marcada para o dia seguinte. Começou a devanear sobre sua namorada e ao invés de prestar atenção ao texto diante de si, olhava para outro livro também à mesa, aberto na página 243... No meio da página, em inglês, lia-se a frase “As maldições de Víbia”. Víbia era um nome semelhante ao apelido de sua garota. Sem se dar conta de que olhara este livro, imprimiu fotograficamente na memória a maldição Oscana impressa logo
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abaixo do título inglês. Pacientes fazem isso com certa freqüên cia, embora em sua honestidade, quando não-hipnotizados, possam jurar que não sabem absolutamente nada sobre os fatos ou a linguagem em questão. Há registros de muitos casos semelhantes. O Dr. Lewis Wolberg menciona o caso de uma mulher hipnotizada que subitamente come çou a recitar poemas em grego. Jamais estudara essa língua antes, e pelo que sabia, nunca tivera qualquer contato com a mesma. A investigação revelou, entretanto, que quando tinha cerca de dois anos de idade sua mãe trabalhara como governanta para um profes sor de grego que costumava caminhar em volta da casa recitando poesias gregas ou treinando suas conferências. Nessas ocasiões a criança poderia estar brincando pela casa enquanto sua mãe tra balhava. Há outro caso também sobre uma senhora de pouca instrução que não-hipnotizada começou a falar alemão fluentemente, embora por mais que se esforçasse não recordava haver tido qualquer contato com essa língua. A hipnose revelou que alguns anos antes ela fora faxineira do consulado alemão e de vez em quando ouvia conversas em alemão. Conscientemente não se recordava de ter ouvido nenhu ma palavra nesse idioma. As lembranças inconscientes de algo que tenham lido ou ouvido, ou simplesmente uma imaginação muito fértil, são seguramente a origem de muitos fatos aparentemente paranormais ocorridos com pessoas hipnotizadas, como o caso da minha paciente, que criou a história do “Bispo de Sevilha”. Isto é particularmente verdadeiro na maioria dos casos citados como evidências de reencarnações. O exemplo clássico, analisado por Theodore Flournoy, psicólogo suíço, é descrito em seu famoso livro, Da índia ao Planeta Marte. O Prof. Flournoy passou vários anos estudando a “mediunidade” de uma jovem a quem deu o pseudônimo de “Hélène Smith”. Espí rita, Hélène acreditava serem seus transes controlados pelos “guias” e não aceitava o fato de estar sendo hipnotizada apesar de, como Flournoy dizia, “não perceber que mesmo evitando essa palavra está aceitando a realidade, pois seus exercícios espíritas consistem real mente de auto-hipnose, já que se originam da influência especial de determinadas entidades”. Além das ilustres figuras do passado, tais como Maria Antonieta (cuja “assinatura” feita pelo seu espírito era bastante diferente da verdadeira), Hélène afirmava também m anter contato com um jovem recentemente falecido e que reencamara em Marte. Costumava tam bém “abandonar o corp o” flutuando através de nuvens densas e profusamente coloridas em direção a Marte.
Hélène descrevia a vida no planeta vermelho reforçando sua descrição com esboços feitos de memória após as sessões, incluindo “carruagens sem cavalos ou rodas, emitindo centelhas à medida que passavam; casas com fontes nos telhados” e “uma espécie de arma ção tendo por cortinas um anjo feito de ferro com suas asas abertas”. Os marcianos teriam aparência exatamente igual à dos habitantes da Terra, exceto que ambos os sexos trajavam-se de forma bem seme lhante, com calças e longas blusas. Hélène escreveu também longas mensagens em uma estranha língua que dizia ser marciana. Isso impressionou grande número de pessoas, nem tanto pelo conteúdo apresentado, antes porém pela forma da linguagem e uso consistente de vários termos. Flournoy provou, porém, ser a referida língua baseada estruturalmente no francês e concluiu que Hélène a teria inventado subconscientemente, embora isso fosse uma façanha notável para uma mulher pratica mente ignorante. Em sua análise, Flournoy demonstrou que embora Hélène não tivesse apresentado evidências de poderes psíquicos verdadeiros, não havia dúvidas a respeito de qualquer imaginação consciente ou simulação. Era tudo conseqüência de processos mentais inconscien tes, baseados em suas próprias inclinações latentes, experiências, temperamentos e padrões comportamentais. “Bridey Murphy” O famoso caso “Bridey Murphy”, que há alguns anos causou sen sação internacionalmente, parece ter explicação semelhante. Morey Bemstein, hipnotizador amador do Colorado, Estados Unidos, interessou-se pela reencamação. Lera sobre tentativas de demonstra ção de reencamação feitas através de regressão hipnótica até que o paciente hipnotizado “revivesse” vidas anteriores e decidiu ele próprio fazer tentativas semelhantes. Sua paciente era Virginia Tighe (“Ruth Simmons”, no livro de Bemstein), jovem casada e já hipnotizada várias vezes, capaz de entrar rapidamente em transe profundo. A experiência constava de seis sessões, nas quais Virginia regressou hipnoticamente à sua primeira infância e foi-lhe ordenado então retroceder mais ainda até uma vida anterior. O caso, principalmente na forma de respostas às perguntas de Bemstein, apresentava Virginia como tendo sido em outra vida Bridget Kathleen Murphy, nascida em 1798, em Cork. O pai chama va-se Duncan Murphy, era advogado e ela tinha um irmão chamado Duncan Blaine Murphy; outro irmão seu morrera ao nascer. Ela afirmava ter morado num lugar chamado “The Meadows” (os prados) e a diretora da escola em que estudara chamava-se Sra.
Strayne, cuja filha desposara o irmão de Bridey* . O fato mais antigo recordado foi a surra que levou ao arranhar a tinta da armação de sua cama. Aos vinte anos casou-se com Sean Joseph McCarthy, professor de direito da Universidade de Queen, em Belfast. 0 casa mento realizou-se numa igreja protestante. Mudaram-se para Belfast em 1828, onde casou-se pela segunda vez, cerimônia esta presidida por um padre católico, John Joseph Gorman e realizada na Igreja de Santa Teresa, afastada da estrada de Dooley. Morreu sem filhos em 1864, sendo enterrada em Belfast. “Bridey” citou o nome de suas amigas e pessoas de sua relação, suas preferências acerca de trajes, comidas, livros, música, e descre veu lugares, casas, ruas e navios. Falava num dialeto nativo usando expressões raramente ouvidas fora da Irlanda. Nem Virginia nem Morey conheciam esse país. Bernstein publicou um relatório textual dos fatos obtidos juntamente com suas sindicâncias e observações subseqüentes, em seu livro Em busca de Bridey M urphy. Foi também editado um disco a partir do material gravado em fita durante as sessões. Seguiu-se muita controvérsia à publicação do livro, e muitos pretensos expertos no assunto criticaram-se entre si através de publicações. Dos comentários consistentes e sérios, os mais impor tantes são os do Dr. E. J. Dingwall, um dos mais capazes e expe rientes pesquisadores britânicos, e do Prof. C. J. Ducasse, filósofo e parapsicólogo americano. O Dr. Dingwall realizou uma meticulosa pesquisa de campo —e seu relatório foi devastador. Não conseguiu localizar nenhuma das pessoas citadas por “Bridey” . Não encontrou em documentos histó ricos nenhum advogado chamado Duncan Murphy, nenhum profes sor da Universidade Queen chamado Sean McCarthy, nem reverendo John Gorman, ou qualquer Sra. Strayne. Jamais alguém ouvira falar da estrada de Dooley em Belfast e não existiu nenhuma Igreja de Santa Teresa lá até o ano de 1910, cerca de cinqüenta anos após a data em que “ Bridey” afirmou ter morrido. A primeira comprovação histórica da venda de camas de ferro detectada pelo Dr. Dingwall na Irlanda datava do ano de 1830, e é extremamente improvável que algumas delas estivessem sendo normalmente usadas já no ano de 1802. Não foi encontrado nada que indicasse a existência de algum lugar chamado “The Meadows”. Um mapa de Cork, do ano de 1801, apresenta uma parte da cidade denominada Mardike Meadows, um distrito conhecido por suas desordens aos domingos de manhã, e como afirma Dingwall, “tivesse * Apelido inglês de Bridget. (NT)
Bridey dado o nome Mardike, sua afirmação seria considerada seria mente. Mas não o fez”. Não há citação em qualquer registro sobre uma escola com o nome de Escola Diurna Sra. Strayne ou qualquer escola com nome remotamente parecido. O Dr. Dingwall considera esse fator de espe cial importância, uma vez que as relações de escolas eram incluídas nas primeiras publicações de catálogos e a imprensa freqüentemente fazia publicidade de seus nomes. Todos os esforços para encontrar pistas de outros mestres da Universidade de Queen, mencionados por “Bridey” , incluindo William McGlone, Fitzhugh e Fitzmaurice, foram inúteis. Comprovou-se que grande número de palavras era do dialeto gaélico e algumas expressões que afirmava serem de uso comum na Irlanda eram, na verdade, erradas ou nunca se ouvira falar delas. O nome Baia Verde fora mencionado por “Bridey”, e a respeito dele Bemstein afirmava terem sido publicados vários livros com esse título na Irlanda durante o século XIX. Dingwall nota que todas as tentativas feitas para se encontrar ao menos uma obra com tal título na Irlanda e Inglaterra foram infrutíferas. Resumindo, o Dr. Dingwall diz que “o caso não deixa de apresen tar interesse ao lado de outros semelhantes em que se pode verificar o processo de elaboração de novas personalidades sob ação de hipnose”. Concluiu seu relatório, adequadamente intitulado “A mulher que jamais existiu” ( Tomorrow , verão de 1956), com o seguinte comentário: “É possível que, sob hipnose, caso a Sra. Simmons fosse solicitada a fornecer onde obteve a história de Bridey Murphy, poder-se-ia talvez descobrir a fonte de todo o caso. E curioso que isso não tenha sido tentado na oportunidade”. O Prof. Ducasse analisou as declarações de muitos expertos que expressavam suas opiniões sobre o caso — em particular certos psiquiatras e outros sem qualquer conhecimento de pesquisa psíqui ca que se arvoraram a escrever “relatórios científicos”. O grande valor deste trabalho é a constatação de que as opiniões de homens que são autoridades em seu campo de atividade podem tomar-se quase inúteis em um outro, e em seu afã de demonstrar algo que “pontifica em nome da Ciência” ignoram ou distorcem fatos que lhes parecem não estar de acordo com suas próprias teorias. O Prof. Ducasse também destaca que mesmo não tendo sido estabelecida a veracidade da reencamação, isso não descarta a possibilidade de Virginia Tighe ter obtido suas informações por meios paranormais. O caso Bridey Murphy originou muitos imitadores, principal mente nos Estados Unidos, onde registravam-se relatórios sobre regressões bem-sucedidas, de costa a costa. Um indivíduo afirmava
ter sido uma jovem que em outra vida fora queimada numa estaca “por um grupo de desordeiros com turbantes à cabeça”. Outro dizia lembrar-se de ter sido uma raposa vermelha, outro ainda um cavalo. Um jornaleiro de Shawnee, Oklahoma, não se satisfez apenas com a regressão a que fora submetido. Matou-se com um tiro, deixando um bilhete: “Dizem que a curiosidade matou o gato. Bem, eu não sou um gato, mas sou muito curioso. Estou muito curioso sobre essa tal história de Bridey Murphy e por isso vou investigar a teoria pessoal mente”. Àquele que pesquisa o paranormal, senão ao estudante de psico patologia, tais casos podem parecer uma leitura deprimente. Mas se procuramos realmente a verdade, e não apenas fundamentos para crenças cegas, precisamos ter alguma idéia do que existe no reverso da medalha. A suposição de que, pelo fato de eventualmente ocor rerem fenômenos psíquicos, todos os fenômenos que parecem psíquicos são necessariamente psíquicos, é uma armadilha fatal para muitos. Em nenhum outro campo de atividade tanto quanto no da investigação de fatos psíquicos é tão importante lembrar a “lei científica da parcimônia” —em que se aceita a explicação para todos os fatos. Nos casos em que se alega regressão hipnótica a uma vida anterior - supondo-se total ausência de fraude —só se deve utilizar uma explicação paranormal quando se está plenamente convicto de que nenhuma outra explicação, como por exemplo dramatização de lembranças inconscientes, é mais adequada. Caso julguemos neces sária uma explicação paranormal, deve-se então verificar se não há possibilidade de explicar os fatos através de alguma forma conhecida de experiência psíquica, tal como a clarividência, ou se há alguma evidência que apóie a afirmação do indivíduo que diz estar revivendo uma encarnação anterior. Em alguns dos exemplos que encontrei ou dos que li a respeito, parece-me necessário aceitar a ocorrência de algo paranormal; mas em todos esses exemplos, a reencarnação exigiria mais hipóteses não verificadas que uma das outras explica ções (ou combinação delas). Adotando-se a ‘lei da parcimônia”, esta explicação, por conseguinte, deve ser rejeitada. Tudo isso não representa que a reencarnação não possa ser um fato; na verdade muitos intelectuais são adeptos convictos dessa teoria. O objetivo deste livro não é abordar o mérito da questão. Eu creio porém - e é isso que tenho tentado demonstrar - ser a reencarnação algo ainda não demonstrado nem pela regressão hipnó tica nem por qualquer outro processo associado ao hipnotismo.
Hipnose e curas paranormais Relatos de curas aparentemente milagrosas são tão velhos quanto a própria história. Tais curas assumem muitas formas, sendo atribuí das a um sem-número de causas que variam do vodu de feiticeiros aos milagres atribuídos a Cristo. A Igreja Católica Apostólica Roma na e outras derivadas dela, a Igreja da Ciência Cristã, espíritas, e muitos outros credos afirmam serem estes casos de cura paranormal verdadeiros, e muitos deles através de processos semelhantes, apesar da divergência apresentada no relato dos mesmos. Tais explicações são na verdade tão divergentes entre si que, embora admitindo a ocorrência desses fatos, caso qualquer deles seja verdadeiro, os outros devem quase com certeza ser inverídicos —embora possamos aventar a hipótese da não-autenticidade de todos eles e o fato de que até hoje não se encontrou uma explicação satisfatória para tais fenômenos. Eu tenho motivos particulares para acreditar na possibilidade da cura paranormal, já que através do uso da hipnose realizei várias curas que certamente não teriam explicação médica. É importante enfatizar, entretanto, que a aceitação da hipótese da cura paranormal não implica de maneira alguma a aceitação das explicações geral mente aventadas para as ocorrências dessa natureza. Muitas pessoas são incapazes de aceitar qualquer uma delas, e tal incapacidade associada às afirmações extravagantes feitas por certos “curandeiros” parece-me ser a causa de um dos dois erros principais com relação ao assunto, ou seja, “jogar fora o bebê juntamente com a água do banho” e rejeitar todos os casos paranormais só porque alguns de seus ângulos são questionáveis. Pode-se estabelecer aqui um paralelo lembrando a atitude de desprezo assumida por muitos médicos que rejeitam o hipnotismo ao longo dos anos, embora seja irrefutável o seu valor terapêutico. Não é de estranhar, portanto, que a cura para normal, muito mais difícil de ser demonstrada, sofra rejeição seme lhante. Felizmente, entretanto, há indícios recentes de que os pro fissionais médicos detêm-se muito mais a considerar os méritos de cada caso e dedicam-se a investigá-los com mais atenção. A atitude oposta e que ocasiona um comportamento errôneo na consideração das curas paranormais consiste em sua aceitação sem as críticas necessárias. Muitos “curandeiros” são, é claro, completa mente honestos e sinceros, e fazem seu trabalho com o único escopo
de prestarem um serviço à humanidade. Mesmo os mais sensaciona listas — que se dizem capazes de realizar “operações psíquicas” durante o transe ou sono, por exemplo - acreditam freqüentemente na verdade implícita de suas ilusões. É oportuno considerar aqui três qualidades inerentes a um bom curandeiro paranormal: 1. Crença verdadeira em sua capacidade de curar. 2. Condições efetivas para fazê-lo. 3. Compreensão exata dos métodos através dos quais realiza tais curas. Um curador paranormal pode não ter nenhuma dessas qualidades; pode ter apenas um a delas; pode ter duas delas (que na prática são usualmente a primeira e a segunda); ou pode presumivelmente possuir todas as três. Nen hu ma destas qualidades implica a existência de outras. Não se pode deduzir a capacidade da sinceridade, nem tampouco a qualidade indica compreensão do processo envolvido. Alguns “médicos paranormais” demonstram certa irritabilidade com relação à atitude de investigadores que suspeitam de sua integridade colocando em dúvida sua boa fé. Há uma lamentável dose de inse gurança em indivíduos desse tipo. Aqueles realmente dotados só teriam a ganhar com uma análise mais crítica de suas atuações, enquanto os charlatães seriam talvez levados a mudar de ramo em suas tentativas de vida fácil. Nada pode depreciar os esforços de inúmeras pessoas honestas que acreditam verdadeiramente ter o poder de curar, algumas das quais conheço pessoalmente, e admito que possam realmente fazer curas paranormais, embora não se possa dizer que preencham total mente os itens delineados há pouco. É oportuno lembrar que há risco real de uma pessoa doente sofrer graves danos em conseqüên cia do tratamento feito por um “curador paranormal” ao invés dè procurar cuidados médicos adequados, tendo já ocorrido muitos casos dessa natureza. Hipnose e diagnóstico Diz-se ser a hipnose utilizada não apenas no tratamento de doenças, mas também em seu diagnóstico. Certos indivíduos hipno tizados são capazes de adquirir uma faculdade de clarividência que lhes permite determinar a doença de certo paciente. O primeiro a fazer tal coisa parece ter sido o Marquês de Puysegur, aluno de Mesmer, que citou a experiência realizada com um jovem agricultor ignorante que em estado de transe profundo apresentava nítidos poderes de clarividência, através dos quais era capaz de diagnosticar
doenças de pessoas enfermas. O Prof. Charles Richet e o Dr. Herbert Mayo, F. R. S., ambos eminentes fisiologistas, incluem-se entre aqueles que realizaram tal tipo de experiências. O segundo deles enviou certa vez um cacho de cabelos retirado de um de seus pacien tes para um amigo seu em Paris. Este entregou-o a um indivíduo hipnotizado, tendo o mesmo afirmado que seu possuidor sofria de paralisia parcial dos membros inferiores e usava habitualmente um aparelho cirúrgico, além de padecer de outro mal. A veracidade des sas afirmações foi comprovada pelo Dr. Mayo. Edgar Cayce O mais famoso “diagnosticador psíquico”, dentre todos os que se conhecem, foi sem dúvida Edgar Cayce (1876-1944) que, con forme já vimos, foi curado de grave enfermidade na garganta por um hipnotizador. Convencido a fazer “leituras clínicas” em estado hipnótico, Cayce descobriu ser capaz de fazer diagnósticos de pacientes que se encon travam a muitos quilômetros de distância. Não precisava de nenhum detalhe dos sintomas; apenas endereço e nome do paciente a seu devido tempo. Deitava-se, então, e lentamente entrava em estado de transe enquanto seu assistente Layne repetia a fórmula invariavel mente usada: Você terá agora diante de si (nome do paciente), que está neste momento em (endereço). Vai aproximar-se cuidadosamente desse corpo, fazer-lhe um exame geral e dizer-me seu estado atual e causas de sua enfermidade; indicará também sugestões para sua cura. Responderá às minhas perguntas à medida que eu for formulando. Caso o paciente não estivesse àquele momento em sua casa con forme o combinado, Cayce dizia: “Não temos o corpo - não o encontramos”. Normalmente, porém, começaria dessa forma: ‘Temos o corpo”, e daria a seguir uma descrição do paciente à qual freqüentemente acrescentava a descrição de sua residência, arredores e atividades das pessoas presentes na casa. Faria então um diagnósti co e prescreveria tratamento fazendo uso de terminologia médica aitamente especializada. Durante sua vida, fez mais de 30.000 “leituras clínicas” e veio a ser conhecido como o “médico adormecido”. Nem todas essas “leituras” foram corretas, mas a maioria era espantosamente precisa. Quando se tornou muito conhecido, inúmeros médicos recorreram a ele a fim de solicitar sua ajuda para diagnosticar casos particular mente difíceis e um deles garantiu ter Cayce obtido uma precisão
maior que 90% nas “leituras” de casos que lhe foram submetidos dessa maneira. Um notável exemplo de “leitura” bem-sucedida foi aquela feita para uma jovem que recebera atestado de insanidade mental. Cayce diagnosticou que o problema fora causado pela compressão de um dente do siso com incidência sobre determinado nervo do cérebro e sua extração permitiria a cura completa. Um exame da situação dos dentes da paciente e a conseqüente extração do dente em ques tão provaram a exatidão do diagnóstico de Cayce, e a jovem recuperou-se completamente. Sugestionabilidade Tem-se observado freqüentemente que o grau de sugestionabili dade do indivíduo exerce grande influência nos resultados obtidos, e este princípio parece sem dúvida atuar nas curas realizadas por membros da Ciência Cristã e pelos curandeiros “espirituais”, bem como nos “milagres” dos santuários, tais como o de Lourdes. As condições associadas - tensa atmosfera religiosa, expectativa,etc. — são tamanhas que se tornam capazes de aumentar a sugestionabilidade do paciente, elevando-o a nível bem alto e as enfermidades que pare cem ser curadas sob tais circunstâncias são quase invariavelmente aquelas do tipo curável através de sugestão hipnótica. Grande número de curas têm sido feitas de forma aparentemente paranormal através do hipnotismo, mas a maioria delas, infelizmente, sem provas confiáveis. Um caso registrado por alguém não menos autorizado que o Dr. A. A. Mason, Diretor Geral do Queen Victoria Hospital, East Grinstead; publicado em 1952, despertou grande interesse nos círculos médicos e parapsicológicos. Relatava um caso de cura nessas condições. O paciente, um jovem de dezesseis anos, sofria de ictiose congê nita, conhecida também como xerodermia, doença hereditária normalmente tida como incurável. Uma camada negra, calosa, reco bria to do seu corpo, exceto o tórax, pescoço e rosto. Seguem-se as palavras do Dr. Mason: A pele apresentava-se papilífera, as papilas projetando-se 2,6 mm acima da superfície e separadas entre si por um espaço de aproximadamente 1 mm. Suas dimensões variavam desde as menores, protuberâncias de forma semelhante a roscas, localiza das no abdômen, até as enormes excrescências que mediam cerca de 5 mm, espalhadas pelos pés, coxas e palmas das mãos. As pequenas aberturas que permitiam vislumbrar áreas diminutas da pele entre as papilas também apresentavam-se negras, escamosas
e cheias de fissuras. Era tão dura ao toque quanto a unha normal dos dedos e tão ressecada que qualquer tentativa para dobrá-la provocava rachaduras em sua superfície das quais eventualmente escorriam gotas de um soro de sangue. Nas dobras da pele, aber tas pelos movimentos do paciente, havia fissuras doloridas e cronicamente infeccionadas. A camada escamosa, quando seccionada, apresentava consistência de cartilagem e era indolor até uma profundidade de vários milímetros. A gravidade da condição do paciente variava nas diferentes áres do corpo, apresentando-se pior nas mãos, pés, coxas e panturrilhas e menos graves nos antebraços, abdômen e costas. A pele da face, pescoço e tórax era aparentemente normal, embora, confor me demonstrado mais tarde, se tornasse escamosa quando trans plantada para as palmas das mãos. O paciente foi tratado em diversos hospitais sem sucesso, e os enxertos de pele não apresentaram resultados positivos. O Dr. Mason decidiu então tentar um tratatamento baseado na ação da hipnose, limitando suas sugestões inicialmente ao braço esquerdo, de forma a excluir a possibilidade de resolução espontânea. “Cerca de cinco dias depois”, declarou o Dr. Mason, “a camada escamosa amoleceu, tornou-se friável e caiu. A derme apresentava-se ligeiramente eritematosa, mas sua textura e cor eram normais. De um envoltório negro semelhante a uma couraça, a pele tornou-se cor-de-rosa e macia em poucos dias. As melhoras foram observadas inicialmente nas dobras e áreas de fricção e posteriormente nas demais áreas do braço. O eritema desapareceu em poucos dias. Ao fim de dez dias o braço apresentava-se completamente são do ombro ao pulso”. O Dr. Mason estendeu então o tratamento ao resto do corpo do jovem obtendo sucesso quase idêntico, conforme ilustra a tabela abaixo: Região
A nte s do tratamento
Ap ós o tratamento
Mãos
Completamente recobertas
Braços Costas
80% recobertos Apenas levemente recobertas Revestimento espesso Revestimento espesso e completo Revestimento espesso e completo
Palmas curadas. Ligeiras melhoras nos dedos 95% de cura
Nádegas Coxas Pernas e pés
90% de cura 60% de cura 70% de cura 50% de cura
Durante as primeiras semanas de tratamento hipnótico observa ram-se melhoras “rápidas e dramáticas”, após o que não se constatou mudança apreciável num período de vários meses. Após um ano, contudo, não se registrou nenhuma recidiva nas áreas que apresenta ram melhoras. O poder da sugestão vem obtendo amplo reconhecimento médico nos anos recentes, a tal ponto que brevemente não mais poderá ser considerado como algo “paranormal”. Essa experiência bemsucedida é anuviada por um relatório (publicado em 1956, alguns anos após a publicação do documento do Dr. Mason) por uma comissão designada pela Associação Médica Britânica para averiguar declarações de curandeiros espirituais. Seu relatório inclui as seguin tes declarações: No que concerne às nossas averiguações e observações, não encontramos nenhuma evidência que comprove que qualquer tipo de doença curada unicamente por tratamento espiritual não poderia também tê-lo sido com o uso de recursos médicos comuns que não envolvem tal tipo de técnica. Os casos citados como exemplos de curas de natureza milagrosa não apresentam quais quer características únicas ou imprevistas que não sejam do conhecimento de qualquer médico ou psiquiatra experiente.. . Achamos que, enquanto pacientes portadores de distúrbios psicogênicos podem ser “curados” por vários métodos de cura espiritual exatamente como o são através de métodos de suges tão e outras formas de tratamento psicológico utilizado por médicos, não vemos então qualquer evidência comprobatória que ateste serem as doenças orgânicas passíveis de cura com o simples uso de tais meios. A evidência sugere serem muitos desses casos considerados como de cura, provavelmente exemplos de diagnósticos ou prognósticos errados, remissão ou possibilidade de cura espontânea. Continuando o relatório do Dr. Mason sobre o caso de cura de ictiose, a hipnose tem sido empregada desde então com não menos sucesso no tratamento de quadros clínicos semelhantes por outros médicos, particularmente o Dr. C. A. S. Wink, de Oxford, que relatou o bem-sucedido tratamento de dois casos de eritrodermia ictiosiforme congênita em 1961. As pacientes do Dr. Wink eram irmãs, com oito e seis anos de idade respectivamente, e haviam sido tratadas anteriormente por métodos ortodoxos, sem êxito. Seu dossiê é particularmente valioso pelo fato de esclarecer o modus operandi do tratam ento hipnótico em tais casos. Outras experiências no campo da cura paranormal foram realiza
das em projeto comum pelo Allen Memorial Institute, Universidade McGill, de Montreal, e pelo Departamento de Fisiologia da Universi dade de Manitoba. Esses testes caracterizaram-se pelo afastamento do uso da suges tão, usualmente sob hipnose, representando a maior parte do traba lho recentemente desenvolvido sobre o assunto. As conclusões pare cem demonstar de forma definitiva que determinado curador era capaz de causar aceleração significativa do processo de cura das feri das provocadas na pele de um grupo cuidadosamente controlado de ratos.
Situação atual / e perspectivas futuras 1
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No texto deste livro foram abordadas rapidamente algumas expe riências de PES utilizando as cartas Zener. Já que considerável par cela da pesquisa psíquica foi baseada nelas, parece-me que a atenção a elas dispensada foi demasiadamente pequena, embora eu considere seu valor relativo. É claro que admito sua importância: representam o único tipo de evidência aceitável para muitos céticos do meio científico. Mas, quando uma pessoa descreve em detalhes um fato que está ocorrendo a quilômetros de distância, ou que irá acontecer futuramente, isso para mim é algo muito mais importante —e certa mente de maior interesse —que simplesmente obter uma somatória maior ou menor de pontos em experiências com as cartas Zener. Em que pese o fato de ter participado de tais experiências, e eventualmente utilizar as cartas Zener como parte dos testes mais gerais na avaliação de PES, realizei apenas um amplo teste desse tipo e duvido realmente que ainda me preocupe em fazer outro. O resul tado foi negativo, mas vou descrevê-lo resumidamente, não só para ilustrar os detalhes da experiência, mas também seus interessantes “efeitos secundários”. Essa experiência, realizada em colaboração com David Jolliffe, amigo e membro da Sociedade para a Pesquisa Psíquica, tinha como objetivo a obtenção de resultados semelhantes aos do Dr. Milan Ryzl. Um relatório contendo a íntegra da experiência foi publicado no Journal da SPR de dezembro de 1965. Foram testadas quatro garotas que afirmaram nunca terem parti cipado de experiências paranormais ou de PES antes. Foi-lhes expli cada a natureza da experiência e todas foram hipnotizadas diversas
vezes durante um período de condicionamento de dois meses que antecedeu o teste. Receberam intensivas sugestões de estarem desen volvendo suas faculdades de PES. Foram usadas as cartas Zener e a técnica geral descrita no Capí tulo 3 na íntegra, de forma que os resultados obtidos podem ser comparados aos de outros pesquisadores. O arranjo e procedimento adotados foram os seguintes: Utilizaram-se dois cômodos adjacentes; estes não se comunica vam diretamente entre si, mas suas portas davam para um corredor comum. As paredes divisórias eram grossas. Havia pesadas cortinas nas portas e a conversação mantida num deles era completamente inaudível no outro. O quarto A foi ocupado pelo agente (o “trans missor”) e nele instalou-se uma campainha elétrica que eu acionava através de teclas, do quarto B. Sentei-me no quarto B com uma das jovens sob hipnose e, para dar início à primeira série de tentativas, premi quatro vezes a campa inha em toques curtos, conforme fora combinado. O agente no quarto A escolheu então um dos maços de cartas Zener previa mente embaralhados. Então dei um toque breve de campainha, o agente olhou a primeira carta do maço que tinha em suas mãos e a jovem hipnotizada deu seu palpite na tentativa de acertar o nome da mesma e eu anotei o que dissera numa folha de papel destinada à marcação dos pontos, dei novo sinal para a tentativa seguinte, e assim sucessivamente até o final da primeira série de palpites. Após cada série de tentativas eu ia ao quarto A para verificar as “cartasalvo” antes de serem novamente embaralhadas e anotava seus nomes inversamente às tentativas feitas na folha de marcação de pontos. Havia, é claro, testemunhas presentes a cada sessão. Cada jovem foi submetida a dez sessões semanais compostas de oito séries de tentativas, perfazendo por conseguinte um total de dois mil palpites. Os resultados eram comparados com relação a escqres pré ou pós-cognitivos, bem como para “palpites” diretos. Não se verificou nenhum caso significativamente diferente daquilo que se poderia esperar como decorrente da pura casualidade, nem se observou qualquer aumento do total de acertos durante todo o período em que se realizou a experiência. Ocorreram, entretanto, alguns efeitos incidentais curiosos. Uma das jovens, durante um teste informal subseqüente a uma das sessões, descreveu minuciosamente a pessoa com quem eu estivera na noite anterior e o que essa pessoa fizera. É quase certo que não obteve essas informações por qualquer um dos meios que se conhece. Duas vezes, sentada no quarto A , após sessões diferentes, entrou em hipnose profunda quando eu, sentado no quarto B, “sugestionei-a”
mentalmente para fazê-lo. Em ambas as ocasiões ela declarou ter ouvido minha voz dizendo: “Durma”, e chamando-a pelo nome, As duas tentativas subseqüentes falharam e infelizmente a jovem não mais pôde comparecer para novos testes e ao final de experiência. É interessante notar, entretanto, ser ela sabidamente uma pessoa que jamais entrara em estado de hipnose espontaneamente, e que as tentativas feitas por outros para hipnotizá-la foram inúteis. Outra jovem chegou numa das sessões visivelmente angustiada, explicando que sua vida sentimental atravessava péssima fase. Pronti fiquei-me a cancelar a sessão, mas percebendo que isso poderia arruinar todo o trabalho feito, insistiu resolutamente para que pros seguíssemos. Hipnotizei-a da forma costumeira, e teve início a série de tenta tivas. Na metade da quarta sessão tocou o telefone da mesa do corre dor. Ignoramos o fato, prosseguindo com a experiência. Alguém presente no apartamento o atendeu. Como de costume, eu havia sugerido à jovem que esta não ouviria nenhum som exceto minha voz, e ela não esboçou qualquer reação visível quando o telefone tocou. Ao ser acordada para um intervalo após a sessão, disse: “Oh Simeon, se ‘X’ telefonar, diga que não estou aqui. Não quero que apareça e estrague toda a experiência”. Na verdade a chamada tele fônica nada tinha a ver com ela. O detalhe interessante, entretanto, foi observado ao se estabelecer uma comparação entre seus palpites e as cartas-alvo, descobrindo-se ter ela acertado cinco palpites con secutivos enquanto o telefone tocava — único momento em que obteve tal escore durante o desenrolar de todas as sessões. Estimulação emocional da PES Reconhece-se amplamente que qualquer tipo de excitação emo cional pode estimular a telepatia. Fato semelhante parece ter ocorri do durante uma experiência realizada em 1964 por outro membro da SPR, Antony Cornell, na qual eu era o hipnotizador. Nessa expe riência, dois agentes, um hipnotizado e outro desperto, tentaram enviar impressões de um avião que fazia um vôo entre Londres e Glasgow, para indivíduos sensitivos de várias partes da Inglaterra. As impressões eram baseadas em cartas Zener, imagens e sugestões verbais. Foi observado um cronograma rígido, sendo todos os reló gios acertados pelo sinal da BBC. Devido ao atraso no embarque, o primeiro teste teve de ser realizado sob um frio gélido no terminal do aeroporto de Londres ante as vistas das pessoas que lotavam um ônibus de passageiros e de uma aeromoça suspeita. Nesse caso, parece-me que a tensão emo
cional dos agentes, e não a dos sensitivos, concorreu para o sucesso do teste. Este constituía-se de uma série de palpites com as cartas Zener e a verificação dos escores obtidos pelos sensitivos registrou a disparidade de mil e seiscentas chances para um contra a pura casua lidade. Os demais testes foram realizados conforme o planejado, a bordo da aeronave, e em nenhum deles foram conseguidos resultados signi ficativos, embora em certas imagens-alvo que iam desde gatos e poltronas a garrafas e abelhas, os resultados obtidos tenham sido até certo ponto notáveis. Vários sensitivos (todos desconhecidos para mim) imaginaram-me um homem barbudo; eu sou realmente barbudo. Em resposta a uma imagem-alvo de um carro, um sensitivo esboça em linhas gerais um objeto com a forma vagamente similar captado como “uma arma dilha para pássaros”. “Mandrake”, do Sunday Telegraph, que orga nizou o teste, sugere a possibilidade de ter ocorrido aqui algum tipo de influência freudiana, bem como telepatia. “Flashes” psíquicos Tive uma paciente a quem submeti freqüentemente a sessões de hipnose durante algumas experiências de psicologia. Os testes ocasio nais de PES com ela geralmente apresentavam resultados negativos, mas às vezes parecia-me que ela tinha lampejos clarividentes de uma precisão extraordinária. Diversas vezes descreveu coisas que ocorriam em minha casa na Dha de Wight, a qual jamais visitara. Uma carac terística singular de sua faculdade de clarividência consistia em rara mente dar respostas imediatas às perguntas do teste, mas apresentar voluntariamente essas respostas algum tempo depois, usualmente quase ao final de uma sessão hipnótica. Certa vez perguntei a ela o que havia em um embrulho fechado em um recipiente dentro do porta-malas do meu carro que se achava também trancado. Eu não tinha a mínima idéia do que havia dentro do embrulho que eu prometera não abrir até o dia seguinte; sabia somente que era um presente de aniversário. Em resposta à minha pergunta, a moça disse apenas “não sei” , porém, meia hora depois, quando eu estava a ponto de acordá-la, observou: “Há um livro no embrulho; um livro vermelho e grande”. No dia seguinte, quando abri o pacote, encontrei um livro grande com a capa vermelha e brilhante. Quando ia visitá-la, viajava geralmente de trem. Ao chegar à estação freqüentemente a encontrava esperando-me, muito embora eu nunca lhe dissesse quando aguardar-me. “Alguma coisa me disse”, explicava ela, “que você estava a caminho”, e assegurou-me que
sempre que se sentia impelida a ir até lá e me encontrar eu chegava. Devo adiantar que jamais tentei enviar-lhe qualquer mensagem tele pática avisando-a da m inha chegada. Tive outra paciente, Nora, que apresentava ocasionalmente esses “flashes” psíquicos enquanto hipnotizada. A maioria das minhas sessões com ela constituía-se de longas conversas com o suposto espírito de um jovem soldado, morto na Coréia, que presumivel mente falava através da garota em transe. Embora nunca tenha forne cido qualquer evidência passível de ser verificada, suas declarações e descrições eram realmente dramáticas e impressivas. Demonstravam um conhecimento e uso lingüístico que Nora, uma empregada doméstica de educação limitada, dificilmente teria, e acredito plena mente que muitas pessoas aceitariam tais comunicações como verda deiramente vindas do além. Pelo que pude observar, Nora não tinha qualquer conhecimento ou experiência com relação ao espiritismo. As “comunicações” começavam quando, hipnotizada, era-lhe ordenado para permanecer sentada quieta, por meia hora, e para descrever qualquer coisa que estivesse vendo ou ouvindo. Este caso, entretanto, é uma digressão. Mencionei Nora por sua clarividência espontânea. Eis um exemplo: Nora estava sentada quieta, profundamente hipnotizada, quando disse subitamente: “Posso ver seu carro. Está na estrada, e dentro dele há uma grande cobra”. Quando indagada, disse ser bege a cor do carro e “leu” o número da placa. O carro que eu usava estava estacionado “estrada abaixo”, a certa distância da casa em que Nora trabalhava e onde nos encontrávamos. Era de um a cor bege não muito comum. Quando a deixei e me dirigi novamente ao carro, descobri que havia dado os números e letras corretos da placa, só que em ordem inversa. Nora certamente não pôde ver-me chegar e estacionar o carro, que no local em que estava não podia ser visto da casa. Eu havia emprestado esse carro e o vira pela primeira vez há menos de meia hora antes de chegar. Não o dirigi por nenhuma rua próxima nem passei em frente à casa antes de estacionar. E eu realmente não havia notado anteriormente que no banco traseiro achava-se, toscamente enrolada, uma mangueira de aspirador de pó que à primeira vista dava a alarmante impressão de ser uma enorme cobra. Nora também predisse a maneira como terminariam nossas expe riências. Previu a morte de seu patrão, a venda da casa, a conse qüente perda de seu emprego e os atritos surgidos no seio da família em conseqüência disso. Todos esses fatos pareciam completamente inverossímeis à época em que ela os predisse, e escapavam total mente ao seu controle ou influência.
Dificuldade de classificação dos fenômenos psíquicos Os-exemplos citados nos capítulos anteriores sobre fatos ocorri dos com pessoas que vivenciaram experiências tais como telepatia, clarividência, etc., fazem-me crer na indubitável existência dos fenômenos psíquicos. Os exemplos de minha experiência própria reforçam essa conclusão, mas também ilustram a extrema dificuldade existente para sua classificação bem como a total imprevisibilidade com que ocorrem usualmente. É inevitável que os êxitos obtidos sejam registrados; ninguém se interessaria em saber dos resultados conseguidos após horas de tentativas com as cartas Zener, que apre sentam apenas um total de pontos previsíveis pelas leis da probabili dade, ou sobre a voz secreta que “preconiza” a vitória de um cavalo sem chances e que concorre ao primeiro prêmio de uma corrida anual de cavalos, ou ainda sobre o tipo de “clarividência” que poderia ser apenas um a dedução inteligente (se inconsciente) de fa tos já conhecidos pelo indivíduo. Qualquer pesquisador poderia dar exemplos como estes considerando-os como aparentemente bem-sucedidos. É somente comparando-se com o total de resultados negati vos que se pode avaliar a significação dos êxitos obtidos. Pode-se estabelecer um paralelo com os médiuns espíritas real mente capazes que às vezes, como tenho afirmado, demonstram inequivocamente poderes psíquicos, não importa se aceitamos ou não o fato por eles alegado de entrarem em contato com o além. O médium, em seu transe hipnótico auto-indutivo, produz muita coisa duvidosa e também que não é absolutamente paranormal, mas consegue às vezes lampejos de algo verdadeiramente psíquico. Somente um reduzido número deles, como Douglas Johnson e outros do mesmo calibre, podem invocar seus poderes psíquicos quase à vontade e mesmo assim admitem terem-seus dias negativos. E através da história do espiritismo o número de médiuns geral mente aceito pelos pesquisadores sérios, passível de ser enquadrado nessa categoria, dificilmente chegaria a algumas poucas dezenas. De forma semelhante, somente um pequeno número de clarivi dentes, como Janet Léonie, Madame Morei de Osty e a Sra. Reyes de Zierold de Pagenstecher, parecem-me capazes de usar seus poderes psíquicos mais ou menos espontaneamente. Descendo-se na escala e considerando-se apenas aqueles que aspiram à “mediunidade”, não obtendo de forma plena os poderes psíquicos, pode-se afirmar que a maioria das tentativas para obter tais poderes através da hipnose falhou. Esta assertiva é particularmente verdadeira no que se refere às experiências quantitativas com as cartas Zener e não há a menor dúvida que milhares de tentativas feitas por hipnotiza
dores, e jamais registradas, para a obtenção de viagem astral, clarivi dência e outros, foram infrutíferas. Parece-me que a causa da falha em ambos os exemplos seja prova velmente a abordagem errada feita por inúmeros pesquisadores. A maioria deles está empenhada em experiências quantitativas com as cartas Zener e experiências semelhantes que procuram detectar a PES em geral. Têm tentado a hipnose apenas de passagem, da mesma forma como tentaram experiências com drogas, estimulantes e outras variações de condições experimentais simplesmente para observar se tinham ou não efeito imediato. Os pesquisadores que concentraram sua atenção em experiências quantitativas de hipnose, usaram como pacientes pessoas prontamente disponíveis, sem aten tar para o fato de terem ou não alguma faculdade psíquica latente. Quanto às tentativas individuais para a produção de viagem astral clarividente sob hipnose, etc., parece-me que a maioria dos que se aventuraram a realizar essas experiências eram mais hipnólogos que pesquisadores psíquicos. Seu principal interesse foi talvez o hipno tismo em si, e todo o conhecimento que possuíam sobre os “fenô menos maiores” baseava-se na literatura existente sobre o próprio hipnotismo e não na literatura referente à pesquisa psíquica. Geral mente, por conseguinte, consideravam a viagem astral, a comunidade de sensações e os fenômenos similares que foram associados à hipnose como verdadeiramente causados pela hipnose propriamente dita: que estes são fenômenos hipnóticos. A possibilidade do indiví duo possuir alguma faculdade — de determinada natureza - passível de ser estimulada através da hipnose, ou que poderia ser desenvol vida após um certo período de sessões hipnóticas, em muitos casos não foi considerada. É possível, como afirma o Dr. Ryzl, que a faculdade psíquica possa ser desenvolvida em praticamente qualquer pessoa, mas eu particularmente não acredito nessa possibilidade. Sou inclinado a pensar que um número relativamente bem reduzido de pessoas possui faculdades de PES mesmo latentes. Em algumas dessas pessoas tais faculdades desenvolvem-se espontaneamente e então em casos excepcionais temos uma Eileen Garret ou um Douglas Johnson. Em outras, essas faculdades permanecem latentes, a menos que um hipnólogo faça-as aflorar, quando novamente só em casos excepcio nais surge uma Madame Morei ou uma Léonie ou uma Sra. Reyes de Zierold. Em minha opinião, as faculdades psíquicas podem ser comparadas ao talento musical. Se alguém possui um “bom ouvido”, esta facul dade pode ser desenvolvida e ter-se-á como resultado um músico — em casos raros, um virtuose —mas se o indivíduo é surdo ou quase
isso, então nenhum tipo de exercício surtirá qualquer efeito. Da mesma maneira, parece-me, todo o treinamento do mundo não surtirá nenhum efeito a menos que o indivíduo em questão traga esse dom do berço. Parece-me improdutivo realizar testes com cartas Zener, tentar fazer viagens astrais ou ainda desenvolver poderes psíquicos utili zando essa maneira aleatória de experimentar indivíduos. A impos sibilidade de encontrar alguém sensitivo dotado de faculdades psíquicas notáveis, usando essa abordagem, parece altamente remota. A descoberta de sensitivos não é a razão e fim das experiências, é claro. Seu objetivo primordial é obter uma compreensão melhor não só da hipnose e fenomenologia psíquica, mas também descobrir um modo de introduzir tais conhecimentos em nossos conceitos pré-existentes sobre ocorrências dessa natureza. Contudo, nosso objetivo fundamental é a obtenção de resultados: não se pode teorizar de maneira producente a menos que se tenha um farto dossiê de fatos. Podemos resumir nossas conclusões presentes da seguinte forma: certas pessoas possuem realmente poderes psíquicos. Esse dom parece ser usualmente latente, embora suija quase espontaneamente talvez num contexto trivial e por uma razão ainda desconhecida para nós, quem sabe em conseqüência de algum estímulo emocional. A hipnose geralmente não é envolvida em tais ocorrências espontâneas. Além disso há fortes indícios de que essa faculdade latente possa ser desenvolvida e cultivada através da hipnose. Os “médiuns” (os verdadeiros) podem exercitar esse poder, embora somente um peque no número deles dotado de poderes notáveis tenha sido capaz de fazê-lo praticamente à vontade; e o estado de auto-hipnose induzida (transe mediúnico) é característica da mediunidade. Com os não-médiuns não resta dúvida de que a hipnose indu zida por um hipnólogo — a “hetero-hipnose” para diferençar da “auto-hipnose” — auxilia freqüentemente o desenvolvimento e funcionamento dos poderes psíquicos. Segundo declara o Prof. Charles Richet: “É evidente que a clarividência pode existir fora do estado hipnótico; mas não é menos verídico afirmar que a hipnose aumenta a clarividência. Várias pessoas quase incapazes de quais quer manifestações transcendentais em estado de vigília tomam-se lúcidas quando hipnotizadas”. Em resumo, se tais poderes psíquicos existem realmente latentes, ou sob os véus da mente, a nível inconsciente talvez, então a hipnose é a chave para liberá-los.