Universidade Federal da Paraíba Centro de Tecnologia Coordenação de Arquitetura e Urbanismo
Estágio Supervisionado
PARQUES URBANOS: Sua evolução histórica e importância para cidade
André Baltazar de Lima – 11111256 Orientadora: Prof.ª Marília Dieb
João Pessoa Julho/2014
SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .................................................. ....................................................................................... ............................................................ .......................
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2. EVOLUÇÃO DOS PARQUES URBANOS .................................................... ................................................................... ...............
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2.1. Antecedentes ............................................................................. ........................................................................................................... ..............................
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2.2. Contexto Internacional ............................................................................ ............................................................................................ ................
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2.3. Contexto Nacional ........................................................................ ................................................................................................... ...........................
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2.4. Contexto Local ......................................................................... ...................................................................................................... .................................
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3. TIPOLOGIA DOS PARQUES URBANOS ................................................................... ...................................................................
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3.1. Parques Contemplativos ................................................................................. .......................................................................................... .........
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3.2. Parques Recreativos ........................................................................ ................................................................................................ ........................
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3.3. Parques Ecológicos ................................................................... ................................................................................................. ..............................
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3.4. Parques Patrimoniais .......................................................................... ............................................................................................... .....................
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4. IMPORTÂNCIA DOS PARQUES URBANOS ................................................. ............................................................. ............
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. .......................................................................................... .........
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REFERÊNCIAS .............................................. .................................................................................... .................................................................... ..............................
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1. INTRODUÇÃO Os parques urbanos são espaços públicos destinados à recreação e preservação de meios naturais e/ou culturais, com dimensões significativas e predominância de elementos naturais, especialmente a cobertura vegetal, não sendo diretamente influenciados em suas configurações por nenhuma estrutura construída em seu entorno, conforme conceituam KLIASS (1993, p. 19) e MACEDO; SAKATA (2002, p. 14). Com o reconhecimento de sua importância para salubridade urbana e para qualidade de vida da população, além de seu papel fundamental nas questões de preservação ambiental e patrimonial, os parques urbanos tornaram-se objeto de interesse dos órgãos administrativos e de estudos acadêmicos, podendo-se observar sua difusão em diversos locais do mundo, como na Europa e nos Estados Unidos. Com o objetivo de embasar teoricamente uma futura proposta de parque urbano para cidade de João Pessoa, a ser desenvolvida nas disciplinas TFG I e II durante os períodos 2015.1 e 2015.2, o presente trabalho apresenta um breve histórico dos parques urbanos nos contextos internacional, nacional e local, identifica as principais tipologias e destaca a sua importância para os centros urbanos e, especialmente, para população.
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2. EVOLUÇÃO DOS PARQUES URBANOS 2.1. Antecedentes Na Antiguidade Clássica, a ágora (Figura 1), praça grega, foi o primeiro local público de reunião, debate e lazer (LOBODA; DE ANGELIS, 2005, p. 127). Em Roma, conforme explica DIEB (1999, p. 22), os grandes espaços abertos presentes na malha urbana eram centros políticos e comerciais, como o Fórum Romano (Figura 2), ou eram destinados a competições esportivas e manifestações artísticas: os estádios e anfiteatros.
Figura 1: Gravura da Ágora de Atenas Fonte: http://greekworldhistory.blogspot.com
Figura 2: Gravura do Fórum Romano Fonte: http://www.fotosimagenes.org/antigua-roma
Após a queda do Império Romano, o excedente populacional que não conseguiu se estabelecer no campo formou, sobre as ruínas romanas, as cidades medievais (Figura 3), cercadas por muralhas como estratégia de defesa (DIEB, 1999, p. 22-23). Devido às suas altas densidades populacionais, os espaços livres eram exíguos e resultavam do encontro e prolongamento das ruas estreitas e tortuosas, enquanto os jardins eram privados, localizados no interior de edificações, principalmente templos religiosos e residências das classes mais abastadas, conforme explicam DIEB (1999, p. 23) e FLORES; GONZÁLEZ (2007, p. 917).
Figura 3: Gravura de cidade medieval, com suas muralhas e poucos espaços livres Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Nuremberg_chronicles_-_Nuremberga.png
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Apenas no Século XV, com a derrubada das muralhas, as cidades europeias expandiram-se por áreas planas e amplas, onde foram construídos jardins e praças com fontes esculturais, estátuas, colunas e obeliscos (DIEB, 1999, p. 28), adornando principalmente os palácios reais, para usufruto apenas da nobreza. De acordo com LOBODA; DE ANGELIS (2005, p. 128), com o Renascimento, no Século XVI, os jardins, especialmente na França, buscaram a concepção cenográfica em grande escala, destacando-se aspectos como a perspectiva, a uniformidade simétrica e o refinamento estético. A partir do Século XVIII, principalmente na Inglaterra, os jardins abandonam o rigor geométrico do Classicismo (Figura 4) e buscam maior semelhança com a natureza (Figura 5), assumindo assim a configuração de parques, conforme explicam DIEB (1999, p. 30) e FERREIRA (2005, p. 22).
Figura 4: Jardim Francês Renascentista, marcado pelo rigor geométrico Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/fb/Chateau-Villandry-JardinsEtChateau.jpg
Figura 5: Pintura de Jardim Inglês do Século XVIII, marcado pela paisagem bucólica Fonte: http://charlesrangeleywilson.com/2014/02/23/the-rocks-beneath-us/hannan/
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2.2. Contexto Internacional A principal fonte inspiração do parque urbano foi o modelo paisagístico dos jardins ingleses, que no Século XVIII, com a progressiva ascensão da burguesia, foram abertos paulatinamente ao público e incorporados à malha urbana (Figura 6), tornando-se locais de reunião social, conforme explicam KLIASS (1993, p. 20), DIEB (1999, p. 30) e MELO (2013, p. 25). Além da abertura dos jardins da Corte, os primeiros parques ingleses também surgiram com empreendimentos imobiliários promovidos pela iniciativa privada (Figura 7) (KLIASS, 1993, p. 20).
Figura 6: Saint James Park, antigo jardim real londrino Fonte: http://www.grahamclarke.org.uk
Figura 7: Buxton Pavillion Gardens, parque inglês construído pela iniciativa privada Fonte: http://commons.wikimedia.org
A partir de meados do Século XIX, especialmente na Europa, os efeitos negativos da industrialização no espaço urbano (Figura 8), como a poluição do ar e dos rios, associados às péssimas condições de higiene das cidades (Figura 9), atingiram um ponto crítico, com grandes epidemias e inúmeras mortes, conforme explicam DIEB (1999, p. 34) e FLORES; GONZÁLEZ (2007, p. 917).
Figura 8: Gravura de Londres durante a Revolução Industrial, destacando-se a intensa poluição Fonte: http://www.studyblue.com
Figura 9: Gravura de bairro operário em Londres, marcado pela insalubridade e doenças Fonte: http://www.studyblue.com
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Estudos da época, conforme explica VIGARELLO (1996, p. 172), apontaram a vida no campo como uma referência de saúde, devido ao baixo índice de mortalidade e à longevidade de sua população, sendo sua “atmosfera purificada” o principal diferencial em relação à vida urbana. Dessa forma, por intermédio da corrente dos médicos higienistas, atribuiu-se à cobertura vegetal o papel saneador, purificador e amenizador do clima nas cidades, destacando o papel de praças e parques como “pulmões urbanos” (DIEB, 1999, p. 35; FERREIRA, 2005, p. 22; MELO, 2013, p. 33). Na Inglaterra, essa preocupação com a salubridade das cidades, originou as Leis Sanitárias, primeiros instrumentos práticos do urbanismo moderno (OTTONI, 2002, p. 25), que fomentaram novos padrões de planejamento urbano. Dentre os modelos desenvolvidos nessa época, destaca-se o movimento Garden City, liderado por Ebenezer Howard, que popôs cidades providas de amplos espaços verdes, as Cidades-Jardim (Figura 10) (FLORES; GONZÁLEZ, 2007, p. 918). Foram construídas incialmente duas cidades inglesas conforme esse modelo, Letchworth, de 1904 (Figura 11), e Welvyn, de 1920 (Figuras 12 e 13), que influenciaram o urbanismo por todo o mundo (OTTONI, 2002, p. 56).
Figura 10: Diagrama para Cidade-Jardim, por Howard Fonte: http://www.city-analysis.net
Figura 11: Vista aérea de Letchworth, Inglaterra, marcada pelas extensas áreas verdes Fonte: http://www.letchworth.com
Figura 12: Vista aérea de Welvyn, Inglaterra, marcada por sua arborização e áreas verdes Fonte: http://stock.jasonhawkes.com
Figura 13: Área verde pública em Welvyn Garden City, Inglaterra Fonte: http://www.homesandproperty.co.uk
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Na França, Haussmann, com sua intervenção na cidade de Paris entre 1853 e 1870 (Figura 14), aproveitou as grandes florestas que pertenceram à Coroa e estabeleceu um sistema de parques urbanos (Figura 15) interligados por grandes avenidas, as Boulevards, conforme explicam KLIASS (1993, p. 22) e DIEB (1999, p. 33).
Figura 14: Plano de Paris, por Haussmann, destacando-se os parques urbanos interligados pelas Boulevards Fonte: http://www.flickr.com
Figura 15: Bois de Boulogne, parque parisiense projetado por Haussmann Fonte: http://www.explorerparis.com/wp-content/uploads/2012/11/Bois-de-Boulogne.jpg
Também em meados do Século XIX, desenvolveu-se nos Estados Unidos o Movimento dos Parques Americanos,
cujo principal personagem foi Frederick Law Olmsted,
que influenciou fortemente o desenho das cidades americanas com a inserção de seus parques urbanos, como em Nova York (Figuras 16 e 17), Chicago (Figura 18) e Boston (Figura 19) (KLIASS, 1993, p. 22).
Figura 16: Planta do Central Park, Nova York, por Olmsted Fonte: http://www.geographicus.com
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Figura 17: Central Park, Nova York Fonte: http://commons.wikimedia.org
Figura 18: Jackson Park, Chicago Fonte: http://www.vimbly.com/chicago/
Figura 19: Boston Public Garden Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Boston_Public_Garden_panorama.jpg
Nesse período, segundo FERREIRA (2005, p. 23) e FLORES; GONZÁLEZ (2007, p. 918-919), os parques urbanos desempenharam um importante papel social, buscando simultaneamente melhorar a qualidade de vida da população e prover espaços para recreação, descanso e contemplação da natureza, demandas necessárias com o novo ritmo acelerado de vida e trabalho da cidade industrial. De acordo com KLIASS (1993, p. 24), após a Segunda Guerra Mundial, com a crescente importância das questões ambientais e de preservação dos patrimônios culturais e paisagísticos, introduziu-se um novo conceito mundial de urbanização, baseado na maior valorização e conservação das áreas verdes dos centros urbanos, revigorando a necessidade e o valor dos parques urbanos para as cidades.
2.3. Contexto Nacional No Brasil, diferentemente da Europa, os parques urbanos não surgiram como uma necessidade das massas urbanas da cidade industrial do Século XIX, mas como uma figura complementar ao cenário urbano sendo desenvolvido pelas elites emergentes, com inspirações internacionais, especialmente inglesas e francesas (MACEDO; SAKATA, 2002, p. 16).
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Porém, assim como na Europa e em outros países americanos, boa parte dos primeiros parques brasileiros também promoveu expansão urbana, ocupando áreas anteriormente alagadas e infectas, impróprias à ocupação humana (DIEB, 1999, p. 31). Um desses primeiros exemplares brasileiros é o Passeio Público da cidade do Rio de Janeiro, criado em 1783, por ordem do vice-rei Luís de Vasconcelos de Souza, aproveitando uma área alagadiça, que permitiu a expansão da capital colonial na direção sul, conforme explica DIEB (1999, p. 31). Foi projetado por Mestre Valentim, com um traçado geométrico inspirado nos clássicos jardins franceses (Figura 20) (MACEDO; SAKATA, 2002, p. 18), sendo inicialmente aberto apenas às elites.
Figura 20: Planta original do Passeio Público do Rio de Janeiro por Mestre Valentim Fonte: http://ashistoriasdosmonumentosdorio.blogspot.com.br/2011/12/o-passeio-publico-do-rio-de-janeiro.html
Com a chegada da Família Real Portuguesa em 1808, são realizadas reestruturações e modernizações em diversas cidades brasileiras, principalmente o Rio de Janeiro, sede da Coroa na época, para atender às novas funções administrativas, conforme explicam MACEDO; SAKATA (2002, p. 16) e FERREIRA (2005, p. 24). Nesse contexto, é implantado no Rio de Janeiro um novo parque, o Campo de Santana, em 1873, de acordo com o novo padrão europeu, de inspiração na natureza (Figura 21) (MELO, 2013, p. 43). Na mesma época o Passeio Público é totalmente reformado, perdendo o traçado neoclássico para um projeto moderno, com água serpenteante e caminhos orgânicos (Figuras 22 e 23) (MACEDO; SAKATA, 2002, p. 19).
Figura 21: Campo de Santana, Rio de Janeiro, parque urbano de caráter contemplativo Fonte: http://travelexperiencesreginahelena.blogspot.com.br/2010/12/rio-de-janeiro-16-parte.html
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Figura 22: Planta da reforma do Passeio Público do Rio de Janeiro por Glaziou Fonte: http://ashistoriasdosmonumentosdorio.blogspot.com.br/2011/12/o-passeio-publico-do-rio-de-janeiro.html
Figura 23: Passeio Público do Rio de Janeiro, marcado pelo traçado orgânico Fonte: http://travelexperiencesreginahelena.blogspot.com.br/2010/12/rio-de-janeiro-16-parte.html
A partir de meados do Século XVIII, foram instalados em diversos centros urbanos brasileiros, como Belém, Rio de Janeiro, Olinda, Ouro Preto e São Paulo, os Jardins Botânicos, inicialmente com a finalidade de investigar cientificamente a flora e conhecer suas propriedades, qualidades e potencialidades (DIEB, 1999, p. 37). Porém, durante o Século XIX, com a redução do interesse na pesquisa, muitos deixaram de existir, enquanto outros se tornaram, parcial ou totalmente, passeios públicos, como o Jardim Botânico do Rio de Janeiro (Figura 24), conforme explicam DIEB (1999, p. 38) e MACEDO; SAKATA (2002, p. 22-23).
Figura 24: Jardim Botânico do Rio de Janeiro Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Jardim_Bot%C3%A2nico,_Rio_de_Janeiro
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O parque urbano brasileiro durante o Século XIX é um grande cenário importado, alheio às necessidades da população urbana da época, que usufruía dos vazios urbanos, como terreiros e várzeas de rios, os quais foram “(...) por mais de cem anos, os verdadeiros antecessores das áreas de lazer urbano formais” (MACEDO; SAKATA, 2002, p. 24). Segundo MACEDO; SAKATA (2002, p. 24) e MELO (2013, p. 50), apenas com a redução e desaparecimento desses vazios urbanos durante o Século XX, os equipamentos voltados ao lazer urbano público tornaram-se uma necessidade social. Nos anos 1950, o programa dos parques urbanos é ampliado, com uma maior valorização dos esportes e do lazer cultural, sendo então gradativamente abandonados a composição romântica e os objetos pitorescos (MACEDO; SAKATA, 2002, p. 35). Nessa época, conforme narra MELO (2013, p. 49), são inauguradas duas grandes referências para os parques urbanos nacionais: o Parque do Ibirapuera (Figura 25), em 1954, em São Paulo, e o Parque do Flamengo (Figura 26), em 1962, no Rio de Janeiro.
Figura 25: Parque do Ibirapuera, São Paulo Fonte: http://www.jornalcorrida.com.br/runbrasil/wp-content/uploads/2013/09/ibira.png
Figura 26: Parque do Flamengo, Rio de Janeiro Fonte: http://www.institutolotta.org/o_parque.html
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No entanto, de acordo com MACEDO; SAKATA (2002, p. 37) e MELO (2013, p. 50), a multiplicação dos parques urbanos pelo Brasil foi desencadeada apenas a partir do final dos anos 1960, quando diversos municípios estruturaram parte de seu marketing na criação de áreas verdes públicas, não mais voltadas apenas para as elites. A partir da década de 1980, conforme explicam MACEDO; SAKATA (2002, p. 43) e FERREIRA (2005, p. 25), a questão da preservação ambiental é institucionalizada no Brasil, sendo criados diversos órgãos públicos municipais a fim de gerenciar parques e praças. Por outro lado, os projetos de parques públicos tornaram-se gradativamente mais simples, em contraste com o requinte de seus antecessores, tanto devido à política de contenção de custos públicos como pela diversidade do público atendido, “muito maior e menos exigente que as elites do Império e da Primeira República.” (MACEDO; SAKATA, 2002, p. 46). Segundo MACEDO; SAKATA (2002, p. 48), atualmente, a maioria dos parques urbanos resulta de adaptações modestas de áreas abandonadas, jardins anteriormente privados ou até mesmo parques antigos, sendo poucos os novos parques com projetos requintados e programas que realmente considerem as necessidades da população.
2.4. Contexto Local Em João Pessoa, o processo de urbanização ocorreu a partir da região central em direção ao litoral, gerando uma redução considerável das áreas vegetadas em decorrência da ocupação residencial e da realização de obras de infraestrutura (SEMAM, 2012, p. 27). Embora haja legislação ambiental nos âmbitos municipal, estadual e federal, o patrimônio natural da cidade, que deveria estar sendo protegido, permanece sendo apropriado por ocupações ilegais de grupos de baixa e de alta renda, principalmente em fundos de vale e encostas, e pela expansão urbana promovida pela especulação imobiliária, com suas edificações de alto padrão, especialmente no litoral Sul, a exemplo do Altiplano Cabo Branco (SILVA, 2012, p. 6). Além da ameaça a flora e fauna locais, o avanço da ocupação dessas áreas vegetadas também prejudica a qualidade de vida urbana, visto que reduz os benefícios do verde urbano para a cidade e sua população. Para tentar conter essa situação, foram e permanecem sendo criados parques e unidades de conservação em João Pessoa. Atualmente, segundo levantamento realizado pela SEMAM (Figura 27), há dez parques municipais e dois parques estaduais em João Pessoa, porém a maioria ainda não está efetivamente implantada.
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Figura 27: Levantamento de Parques no Município de João Pessoa Fonte: SEMAM, 2012
O Parque Zoobotânico Arruda Câmara (Figura 28), o mais antigo da cidade, possui extensão de aproximadamente 26,8 hectares e insere-se num resíduo de Mata Atlântica no bairro de Tambiá, conforme explicam SILVA (2012, p. 8) e SEMAM (2012, p. 61). No Século XIX, essa área foi desapropriada, sendo então implantada em João Pessoa a primeira experiência para preservação de uma nascente, a Bica de Tambiá, que na época era responsável pelo abastecimento de água na parte alta da cidade (SILVA, 2012, p. 8). O parque foi inaugurado em 1922, nomeado em homenagem ao frade carmelita e naturalista Manuel Arruda Câmara, sendo oficialmente registrado pelo IBAMA como Parque Zoobotânico apenas em 1999 (SEMAM, 2012, p. 61). Atualmente, é bastante visitado pela população, apresentando remanescentes florestais significativos, além de animais nativos e exóticos, que podem ser observados em seu zoológico (SILVA, 2012, p. 8).
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Figura 28: Parque Arruda Câmara, João Pessoa Fonte: http://www.joaopessoa.pb.gov.br
O Parque Sólon de Lucena (Figuras 29 e 30) encontra-se no entorno da lagoa de mesmo nome, no Centro de João Pessoa, ocupando uma área de 150.000 m². Conforme narra SILVEIRA (2004, p. 147), a lagoa era um charco envolvido por mata fechada e foco de malária até o início da década de 1920, quando foi realizado o saneamento dessa área, permitindo sua urbanização e também a expansão da cidade em direção ao litoral.
Figura 29: Vista aérea do Parque Sólon de Lucena, João Pessoa Fonte: http://felipegesteira.com
Figura 30: Vista do Parque Sólon de Lucena, em João Pessoa, com seus ipês floridos Fonte: http://www.joaopessoa.pb.gov.br
Em 1924, o parque foi implantado, com nome em homenagem o governador da época, Sólon Barbosa de Lucena (SILVEIRA, 2004, p. 152). No entorno da lagoa, foram plantadas palmeiras imperiais, além dos ipês, que se tornaram símbolo da cidade de João Pessoa. Em 1980, o parque foi tombado pelo IPHAEP, servindo atualmente como anel viário central da cidade (SILVA, 2012, p. 8), o que compromete sua integridade e função. Os outros dez parques levantados pela SEMAM permanecem ainda em fase de implantação. O Parque Cabo Branco, no Altiplano Cabo Branco (Figura 31), por exemplo, foi delimitado em 2005 com objetivo de recuperar e preservar suas fauna e flora, além de desenvolver atividades de pesquisa científica e educação ambiental (SEMAM, 2012, p. 60).
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A ideia de sua implantação surgiu com a construção da Estação Cabo Branco, obra assinada por Oscar Niemeyer, que além de ter desmatado parte da vegetação existente, estimulou a expansão imobiliária para o setor sul da cidade, onde há grandes porções de Mata Atlântica (SILVA, 2012, p. 8).
Figura 31: Estação Cabo Branco e o Parque Cabo Branco, João Pessoa Fonte: http://g1.globo.com/pb/paraiba
O Parque Lauro Pires Xavier, com aproximadamente 22,3 hectares, foi criado em 2002, na confluência do bairro Jardim Treze de Maio com o bairro de Tambiá, próximo ao Parque Arruda Câmara, com objetivo de preservar a nascente do Rio das Bombas, além de sua vegetação exuberante e suas encostas íngremes (SEMAM, 2012, p. 60). Atualmente, é uma área degradada pelo depósito de lixo e pela poluição de seu rio, além de seu entorno está totalmente ocupado por residências, comércios e edifícios públicos (SILVA, 2012, p. 9). O Parque Ecológico Augusto dos Anjos, no bairro de Gramame, com 1,42 hectares foi criado em 2006, e embora esteja cercado, não houve ainda um projeto urbano implantado, servindo apenas de campo de futebol (SILVA, 2012, p. 9; SEMAM, 2012, p. 60). Já o Parque Ecológico Jaguaribe, criado em 2007, está localizado entre duas importantes avenidas da cidade, a Beira Rio e a Epitácio Pessoa, sendo uma área atualmente utilizada para depósito de entulho e queima de lixo (SILVA, 2012, p. 9). Outros parques municipais ainda em fase de projeto são o Parque Municipal Bosque das Águas, na nascente do Rio Cabelo, em Mangabeira, criado em 2008; o Parque Linear Parahyba, de 2010; e o Parque Natural do Cuiá, de 2011. Também ainda não estão efetivamente implantados os Parques Estaduais do Aratú e do Jacarapé. Portanto, as iniciativas recentes do poder público em João Pessoa tratam apenas de delimitar e, em alguns casos, cercar áreas destinadas a parques, porém sem realmente prover espaços de lazer e convívio social para população, de forma que, conforme explica SILVA (2012, p. 12), essas áreas verdes não cumprem sua função social e ambiental e permanecem sendo apropriadas ilegalmente.
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3. TIPOLOGIA DOS PARQUES URBANOS 3.1. Parques Contemplativos Os primeiros parques urbanos, que surgiram em meados do Século XIX como resposta aos efeitos negativos da urbanização e industrialização, eram contemplativos. Segundo CRANZ (2000), apresentavam uma vasta paisagem de árvores, colinas onduladas, cursos de água sinuosos e amplas lagoas, ou seja, um cenário agrário idealizado, normalmente localizado na periferia das cidades, onde a terra era mais barata, além de ser a implantação mais adequada para se distanciar da vida urbana. Nos Estados Unidos, o principal designer desse tipo de parque foi Frederick Law Olmsted, sendo sua obra de destaque o Central Park (Figura 32), de 1858, em Nova York, primeiro parque urbano norte-americano, cujo estilo de paisagem pastoral serviu de modelo para outros grandes parques na América (FERREIRA, 2005, p. 23; MELO, 2013, p. 28).
Figura 32: Central Park, Nova York Fonte: http://talent.natgeocreative.com/assets/resources/michael-yamashita-landscape-travel-10.jpg
De acordo com CRANZ (2000), um dos elementos mais marcantes desse modelo de parque urbano são suas vias de circulação sinuosas, em oposição às ruas retas e ortogonais da cidade. No Central Park, Olmsted separou o tráfego de pedestres do de veículos para que uma criança pudesse usufruir do parque sem precisar prestar atenção aos carros, “inovação que se tornou parte do planejamento urbano” (CRANZ, 2000). No Brasil, os primeiros parques urbanos, como o Campo de Santa (Figura 21) e o Passeio Público na cidade do Rio de Janeiro (Figura 23), também surgiram no decorrer do Século XIX, influenciados pelos parques europeus, apresentando o mesmo caráter contemplativo, com uma paisagem romântica e bucólica que perdurou na maioria dos parques brasileiros até o final do Século XX (MACEDO; SAKATA, 2002, p. 64).
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3.2. Parques Recreativos No Século XX, a recreação ativa torna-se uma necessidade em destaque, provocando grandes mudanças, tanto funcionais como morfológicas, na estrutura dos parques urbanos, conforme explicam CRANZ (2000) e MACEDO; SAKATA (2002, p. 65). Nos Estados Unidos e na Europa, surgem nesse período os parques de bairro (Figura 33) e complexos recreativos (Figura 34), onde se destacam os playgrounds, as quadras esportivas e as piscinas (CRANZ, 2000).
Figura 33: O’Connor Neighborhood Park, parque de bairro norte-americano Fonte: http://www.dillondesignassociates.com/Oconnor2.jpg
Figura 34: Park Spoor Noord, parque recreativo europeu Fonte: http://nieuwslijn.be/wp-content/uploads/2014/06/Cargo-zomerbar.jpg
Já no Brasil, o cenário bucólico e o lazer contemplativo permanecem, porém a valorização das atividades recreativas diversifica o uso dos parques, não apenas com a introdução do lazer esportivo (Figura 35), com quadras e playgrounds, mas também o lazer cultural e educativo (Figura 36), com museus, anfiteatros, bibliotecas e teatros (MACEDO; SAKATA, 2002, p. 65), a exemplo do Parque do Flamengo, no Rio de Janeiro e o Parque do Ibirapuera, em São Paulo.
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Figura 35: Quadras Esportivas no Parque do Flamengo, de 1962 Fonte: http://www.sportspace.eu/en/project/parque-do-flamengo/
Figura 36: Museu de Arte Moderna, de 1948, no Parque do Flamengo Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:MAM_-_Museu_de_Arte_Moderna_do_Rio_de_Janeiro_02.jpg
3.3. Parques Ecológicos O parque ecológico possui como principal objetivo a conservação de um recurso ambiental específico, normalmente um bosque e/ou curso d’água, sendo constituído por algumas áreas voltadas à recreação ativa, como playgrounds, e áreas maiores voltadas ao lazer contemplativo e à educação ambiental, com trilhas para caminhadas (MACEDO; SAKATA, 2002, p. 13). Destacam-se os Parques Lineares, instrumento de planejamento e gestão das margens urbanas dos cursos d’água, cuja função de destaque, além da preservação ambiental, é garantir a permeabilidade do solo dessas áreas, auxiliando na drenagem urbana (FRIEDRICH, 2007, p. 58). Um dos primeiros parques lineares é o Emerald Necklace (Figuras 37 e 38), conjunto de parques urbanos interligados, implantado por Frederick Law Olmsted em Boston, entre 1887 e 1895, às margens do Rio Muddy, desaguando no Rio Charles (FRIEDRICH, 2007, p. 47).
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Figura 37: Mapa do Emerald Necklace, em Boston Fonte: http://www.hike4life.org/emerald-necklace-tours
Figura 38: Vista aérea de trecho do Emerald Necklace, em Boston Fonte: http://www.hike4life.org/emerald-necklace-tours
Atualmente, em diversos países, como Estados Unidos, Canadá e Espanha (Figura 39), a implantação de parques lineares busca recuperar rios e córregos urbanos degradados e/ou canalizados, reintegrando-os à malha urbana através dos novos espaços públicos de convívio e lazer (FRIEDRICH, 2007, p. 60).
Figura 39: Parque Linear do Rio Turia, Valencia, Espanha Fonte: http://www.feetuphostelsblog.com/2012/03/river-turia-feetup-hostels.html
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3.4. Parques Patrimoniais Segundo SABATÉ; LISTA (2001, p. 79), o Parque Patrimonial (Figuras 40 e 41) é uma identidade complexa, com três fundamentos principais: desenvolvimento econômico, interesse social e conservação ambiental. Os primeiros parques patrimoniais surgiram nos Estados Unidos e na Europa durante a década de 1970 (MARTINS; COSTA, 2009, p. 55), tendo como objetivo recuperar áreas em crise econômica a partir da revalorização de seu patrimônio cultural e ambiental.
Figura 40: Parc Riu Llobregat, Barcelona, Espanha Fonte: http://www.parcriullobregat.cat/imatges/Carrussel_HOME/1338551378.jpg
Figura 41: Parc Riu Llobregat, Barcelona, Espanha Fonte: http://www.parcriullobregat.cat/imatges/Carrussel_HOME/1338559914.jpg
Nesse tipo de parque urbano, as atividades recreativas estão vinculadas à identidade cultural do local, sendo fundamentais para recuperação e diversificação econômica da região em crise (SABATÉ; LISTA, p. 55). Conforme explicam SABATÉ; LISTA (2001, p. 79) e MARTINS; COSTA (2009, p. 65), são realizadas atividades como excursões educativas e turísticas, passeios de bicicleta e de barco, eventos artísticos e festivais folclóricos e gastronômicos, promovendo assim um contato com a paisagem natural e com o cotidiano e a cultural locais.
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4. IMPORTÂNCIA DOS PARQUES URBANOS Os parques urbanos apresentam duas funções em destaque: a ambiental e a social. No aspecto ambiental, os parques tornam-se um símbolo de preservação das áreas verdes urbanas e contribuem significativamente para amenizar a degradação ambiental decorrente da urbanização acelerada, conforme explicam LOBODA; DE ANGELIS (2005, p. 129) e SILVA (2012, p. 5). Além da preservação ambiental, os parques urbanos também desempenham um importante papel como antídotos aos males urbanos, auxiliando a regular o clima, reduzir a poluição do ar, prevenir desastres ambientais, como enchentes e deslizamentos de terra, além de se contraporem ao excesso de aridez das massas edificadas (SILVA, 2012, p. 5; MELO, 2013, p. 45), de forma que, dentro das cidades, constituem-se os espaços mais semelhantes ao ambiente natural (LOBODA; DE ANGELIS, 2005, p. 134). Já a função social dos parques urbanos está diretamente relacionada à oferta de espaços de lazer para toda população (LOBODA; DE ANGELIS, 2005, p. 134), demanda decorrente da intensificação da expansão urbana e principalmente do ritmo acelerado da sociedade atual, conforme explicam KLIASS (1993, p. 19) e MELO (2013, p. 28). Portanto, os parques urbanos são importantes espaços amenizadores da vida urbana cotidiana, pois são ambientes propícios a uma maior socialização e um maior contato com a natureza (MELO, 2013, p. 54), influenciando diretamente na saúde física e mental de seus usuários, de forma que se constituem elementos essenciais para melhorar a qualidade de vida da população (LOBODA; DE ANGELIS, 2005, p. 131).
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os parques urbanos desde seu surgimento, embora a maioria fosse voltada apenas às elites, desempenham um papel fundamental para melhorar a qualidade de vida de toda a população urbana, reduzindo as consequências negativas da industrialização e urbanização, como a poluição, a insalubridade e degradação ambiental. No decorrer de sua evolução histórica, especialmente durante o Século XX, tornaram-se efetivamente espaços públicos de convívio social, lazer e descanso, diversificando suas funções e usos, como a implantação de atividades recreativas. Atualmente, independente de seu principal objetivo, seja recreação, preservação de recursos naturais e/ou patrimoniais ou simplesmente contemplação da natureza, os parques urbanos permanecem exercendo importantes funções ambientais e sociais na malha urbana, amenizando os efeitos negativos de sua expansão e seu ritmo de vida acelerados. Portanto, no contexto de João Pessoa, é importante efetivar a implantação dos parques urbanos já criados pelo poder público e requalificar os existentes, especialmente o Parque Sólon de Lucena, cuja função de anel viário atualmente se sobressai à de parque público, a fim de que melhor desempenhem seu papel na cidade, reduzindo e contendo a degradação ambiental e, principalmente, melhorando a qualidade de vida da população com a maior oferta de espaços de convivência, lazer, descanso e contato com a natureza.
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REFERÊNCIAS CRANZ, Galen. Changing Roles of Urban Parks: From Pleasure Garden to Open Space. San Francisco: SPUR, 2000. Disponível em: http://www.spur.org/publications/article/2000-0601/changing-roles-urban-parks DIEB, Marília de Azevedo. Áreas Verdes Públicas da Cidade de João Pessoa: Diagnóstico e Perspectiva. João Pessoa: Universidade Federal da Paraíba, 1999. FERREIRA, Adjalme Dias. Efeitos positivos gerados pelos parques urbanos: o caso do passeio público da cidade do Rio de Janeiro. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2005. FLORES, Ramiro; GONZÁLEZ, Manuel de Jesús. Consideraciones Sociales en el Diseño y Planificación de Parques Urbanos. Cidade do México: El Colegio Mexiquense, A.C., 2007. FRIEDRICH, Daniela. O parque linear como instrumento de planejamento e gestão das áreas de fundo de vale urbanas. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2007. KLIASS, Rosa Grena. Parques Urbanos de São Paulo. São Paulo: Editora Pini, 1993. LOBODA, Carlos Roberto; DE ANGELIS, Bruno Luiz Domingos. Áreas Verdes Públicas: Conceitos, Usos e Funções. Guarapuava: Editora Unicentro, 2005. MACEDO, Silvio Soares; SAKATA, Francine Gramacho. Parques Urbanos no Brasil. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2002. MARTINS, Nuno; COSTA, Cláudia. Património, paisagens culturais, turismo, lazer e desenvolvimento sustentável: Parques temáticos vs parques patrimoniais. Coimbra: Escola Superior de Educação de Coimbra, 2009. MELO, Mariana Inocêncio Oliveira. Parques Urbanos: A Natureza na Cidade - Práticas de Lazer e Turismo Cidadão. Brasília: Universidade de Brasília, 2013. OTTONI, Dacio Araújo Benedicto. Cidades-Jardim de Amanhã. São Paulo: Editora Hucitec Ltda., 2002. SABATÉ, Joaquim; LISTA, Antoni. Designing the Llobregat Corridor: Cultural Landscape and Regional Development. Barcelona: Impressiones Generales, S.A., 2001. SEMAM. Plano Municipal de Conservação e Recuperação da Mata Atlântica. João Pessoa: F&A Gráfica e Editora, 2012. SILVA, Ligia Maria Tavares da. Espaços Verdes em João Pessoa: Planejamento e Realidade. João Pessoa: Universidade Federal da Paraíba, 2012. SILVEIRA, José Augusto R. da. Percursos e Processo de Evolução Urbana: O Caso da Avenida Epitácio Pessoa na Cidade de João Pessoa-PB. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 2004. VIGARELLO, Georges. O Limpo e o Sujo. São Paulo: Martins Fontes, 1996.