Angela Vorcaro Ciframentos O sujeito – essa insistência exterior ao saber por que imprevista e ao mesmo tempo repetitiva – O domínio intelectual do mundo implica ditar universalidades organizadoras do caos. en!menos residuais "son#o$ atos fal#os$ sintomas...% &esíduos cintilantes que testemun#am presen'a e insistência i nsistência subjetivas. (írios dos campos$ corpo entregue ao gozo) sensa'*o sem forma+ gozo de planta a que nada escapa e scapa "(acan Avesso Avesso da psican,lise%. -ada sabemos sobre o gozo porque faltando signicante$ n*o #, distancia entre o gozo e o corpo. -a busca de gozo ele repete seu tra'o que nunca / o mesmo$ por que nunca est, s0) o tra'o s0 comparece escandido pelo signicante. 1un2er – 3ntrodu'*o 4uadros clínicos) tela de pintura. 5 preciso introduzir um terceiro nível psicopatol0gico entre sintoma e a estrutura para lidar com tais quadros) nível do funcionamento psíquico$ ou mel#or$ no'*o de gozo e de varia'6es possíveis de seu c,lculo. O gozo / a referência para o c,lculo do do valor e de que este calculo est, exposto a certos paradoxos que tornam imperfeitamente realiz,vel. Certos sintomas neur0ticos podem ser compreendidos como modula'6es deste c,lculo. Coube a reud mostrar que os sintomas n*o s*o mero desajuste$ nem excesso que pode impunemente ser abreviado. 1ecorretemente$ a psican,lise n*o / apenas uma pr,tica de elimina'*o de sintomas. 1e fato$ estes representam um obst,culo ao amor$ ao trabal#o e uma fonte a mais de infelicidade$ al/m daquelas que a existência$ por si s0$ imp6e. -ada toma mais tempo e / mais oneroso ao neur0tico do que sua dedica'*o aos sintomas. Os sintomas possuem sentido e fun'*o. O sintoma como efeito de um laborioso trabal#o de constru'*o psíquica e$ uma esp/cie de 7forma de vida8. O sintoma n*o /$ portanto$ apenas um problema$ mas uma solu'*o$ uma resposta$ por vezes prec,ria$ para con9itos que contituem o pr0prio sujeito e localizam o ser em sua ex:sitência. ;intoma) obra de arte que perdeu sua fun'*o social. O sintoma n*o / propriamente falando curado em psican,lise$ ele cai$ entra em desuso$ / encostado ou perde sua import
1issolu'*o deste fragmento petricado de gozo que se encontra em seu interior. Assim como a obra de arte$ o sintoma tem um destinat,rio$ constituindo em seu incomum arranjo de linguagem um enigma capaz de estran#ar a seu pr0prio autor. Assim como o sintoma$ a obra de arte / algo completamente sem sentido$ in=til do ponto de vista da raz*o calculante$ instrumental e funcional #egem!nica em nossa /poca. 4ual o valor do sintoma> Ciframentos) os representantes daquilo que se pretende representar. Como reud mostrou vivamente$ o sintoma possui um valor do qual o neur0tico n*o quer se livrar. ?m valor do qual se descon#ece o percurso de produ'*o e as regras de seu ciframento. A ideia de algo que resite a inscrever:se plenamente na raz*o regida pelo c,lculo n*o / nova. Como mostrou @auman$ uma contradi'*o constitutiva da modernidade reside na pretens*o de discrimina'*o$ c,lculo e organiza'*o que se impuseram s sociedades ocidentais. Bas o sucesso de tal projeto #istoricamente se associou produ'*o de mais ambiguidade$ indiscrimina'*o e barb,rie. A ambiguidade como sintoma$ e o sintoma como um mal a ser erradicado que nos tornamos 7infelizmente saud,veis8. xcesso de precis*o que certos grupos sintom,ticos s*o desencadeados no interior da neurose. 4uanto mais se luta contra algo$ mais isso se acirra e insiste. O sintoma pode e deve ser escutado como a realiza'*o inconsciente deste c,lculo paradoxal pr0prio neurose "quanto mais se cifra$ menos valor este tem. 3nversamente$ quanto maior seu valor menos sua possibilidade de inscri'*o%. Darte 3 Eozo e a teoria do valor O primeiro resultado da nova ciência "cartesiana% foi o de cortar o real em duas metades$ quantidade e qualidade$ das quais uma foi entregue aos corpos e outra s almas. "bergson% Críticas leitura lacaniana) pouco peso aos afetos "ao que reud c#amava de ponto vista econ!mico%. A imagem freudiana da libido como um rio caudaloso$ de fonte constante$ procurando camin#os por onde escoar e encontrando resistências e transbordamentos em sua trajet0ria$ / uma imagem que valoriza a for'a$ a exigência$ o impulso$ n*o apenas qualidade diferencias neutras. isicalismo biologista de reud) no'6es quantitativas como for'a$ intensidade$ press*o$ investimento$ solicita'*o som,tica.
isicalismo biologista de reud F perspectiva epistemol0gica formalista em (acan. (acan procura reler reud de a modo a desbiologizar seus conceitos. &eal e seu correlato clínico o gozo. orma'*o$ fracasso e deslocamente de sintomas especícos "esquecidos por tr,s da no'*o de met,fora paterna%. ;atisfa'*o insatisfat0ria$ desprazer prazeroso$ avers*o desejante ) gozo. conomia do sintoma. Onde o ponto de vista econ!mico parece possuir primazia na determina'*o do quadro. Como vimos anteriormente$ a no'*o de gozo em (acan vem a ocupar$ parcialmente$ o campo energ/tico e quantitativo denotado por reud. -o entanto$ #, nesta passagem uma recusa metodol0gica em substancializar a no'*o de libido. Acento psíquico a que uma representa'*o est, sujeita. m outras palavras$ porque uma representa'*o$ complexo ou instancia possuiria mais ou menos valor dentro do aparel#o psíquico$ reunindo sobre si uma soma de excita'*o tornando:se$ ent*o$ investida "@ezetzung%. A solu'*o para o biologismo sicalisca n*o est, na prolifera'*o de met,foras e analogias que tornem mais palat,vel uma certa metafísica da energia ou da experiência$ mas em uma teoria mais s0lida ou ecaz para o problema da diferen'a de valores psíquicos. -ossa #ip0tese / que a teoria do gozo em (acan cumpre justamente este papel. Conceito de gozo) teoria do valor. O gozo exige portanto esta media'*o da linguagem para se realizar. Compreende:se assim por que$ s vezes$ ele / referido como uma forma de 7satisfa'*o inconsciente8$ isto /$ uma forma de satisfa'*o realizada por interm/dio do processo prim,rio$ que atua como uma regra de composi'*o ou articula'*o entre representa'6es. 3sso permite falar do gozo como um afeto inconsciente$ no duplo sentido de afeto$ ou seja$ 1 ?BA ;-;AGHO -O CO&DO "encore% e de uma afeta'*o ou apassiva'*o do sujeito. O inconsciente$ no sentido t0pico$ estaria s voltas com a tarefa de tramitar o gozo+ de inscrevê:lo ou organiz,:lo$ de conferir a ele algum valor psíquico. 1upla passagem) do inconsciente ao gozo e do gozo ao inconsciente. Droibi'*o do incesto) interdi'*o do excesso$ ou seja$ de uma limita'*o do uso de modo que este n*o se transforme em abuso. A castra'*o signica que / preciso que o gozo seja recusado$ para que possa ser atingido na escala invertida da lei do desejo. O falo como operador dessa recusa.
(acan arma que a letra / um litoral entre gozo e saber$ o resultado do com/rcio$ ou ainda um efeito do discurso$ que apreende o tra'o como uma forma'*o de sentido onde antes #avia apenas rasura. A imagem de um aluvi*o$ de um dep0sito ou precipitado deixado pelo escoamento do signicante / muito utilizada para designar este litoral formado pela letra ou car,ter. Ora$ esse resto semilinguistico$ que n*o cessa de n*o se escrever no simb0lico$ ocupa um lugar fronteiri'o entre o saber$ onde vigora o regime de trocas pr0prio ao campo do Outro$ e o gozo$ onde vigora o regime do ?;O. O falo passa a ser pensado ent*o como uma fun'*o$ a fun'*o f,lica$ a partir da qual o gozo gan#a forma e pode ser inscrito. As duas no'6es acabam se combinando na ideia de 7gozo f,lico8 ou gozo na e pela linguagem. Assim$ toda realiza'*o de signica'*o se vê acompan#ada de um traço de gozo. O falo e suas no'6es derivadas jamais recobrem perfeitamente o campo delimitado pelo objeto a. 1iversas no'6es freudianas podem nos fazer pensar no gozo como uma esp/cie de experiência individual de frui'*o$ da qual o auto:erotismo seria um modelo e a tendência descarga$ pr0pria ao princípio do prazer$ seria o correlato. -o entanto$ desde textos seminais$ (acan insiste na ideia de que o gozo / algo que se imagina e se antecipa como realizado no Outro. Ao comentar o Drojeto (acan critica a compreens*o deste texto no quadro do sicalismo associativo do nal do s/culo F3F. O que est, al/m do princípio do prazer:realidade$ ou seja$ o gozo$ passa a condi'*o de mal. Drincípio da utilidade na era moderna. Crítica sistem,tica paridade entre desejo$ prazer e bem:estar. O desejo nem sempre se faz acompan#ar do prazer$ assim como a satisfa'*o / amplamente suspeita se a colocamos como equivalente do bem:estar. O gozo / uma esp/cie de anomalia da experiência de prazer o gozo se caracteriza pela intensidade excessiva "al/m da satisfa'*o%$ de dura'*o repetitiva$ com uma certeza antecipada "imaginariamente eterniz,vel%. (embremos de que at/ o s/culo FV333 o excesso / considerado como uma das faces mais consistentes do mal. A virtude est, na equidist A tarefa de @et#am$ mas tamb/m de ;tuart Bill e Adam ;mit# foi introduzir um agente auto:regulador na ideia de consumo por interm/dio do princípio da utilidade. As trocas e os valores morais encontrariam 7naturalmente8 seu limite na medida em que se encontrasse um universo fec#ado onde nen#um outro agente ou fundamento gerisse o sistema.
Dercebe:se assim por que (acan arma em v,rias passagens que o gozo n*o serve para nada$ ele não é um meio para alcanças um fm $ como o prazer que procura a extin'*o da tens*o. A quest*o /tica do gozo implica sempre coloniza'*o$ submiss*o ou assujeitamento do outro. Jegel a quem se pode atribuir a extra'*o jurídica da no'*o de gozo em (acan. O gozo para al/m da no'*o de usufruto e a situa justamente como nega'*o ou ultrapassamento do uso. O gozo / a realiza'*o da demanda do Outro$ que ele / uma exigência do ;upereu ou de que o gozo jamais se satisfaz no nível do sujeito. 3sso porque ali onde o gozo se realiza ele se realiza como puls*o de morte e neste ponto #, sempre afanise do sujeito. A rela'*o entre desejo e gozo / uma rela'*o n*o dialetiz,vel. O equivalente ao valor de troca produzido pelo trabal#ador n*o l#e / restituído inteiramente$ uma parte deste / acumulada sob forma de capital. sta parte recebe o nome de mais valia$ ou seja$ o excedente produzido pela explora'*o do trabal#o$ que tende a se reproduzir gerando acumula'*o. A produ'*o de uma insaci,vel falta de gozo / o que mostra como efeito do mais:de:gozar. "semin,rio FF% Eozo f,lico) entre o simb0lico e o real+ gozo do Outro) entre simb0lico e imagin,rio. O falo est, predestinado a dar corpo ao gozo na dial/tica do desejo. Ieoria da suplência) desenvolvida da esfera do amor e depois da teoria do ;int#ome. Eozo f,lico) situado entre simb0lico e ore al+ Eozo do Outro) entre o real e o imagin,rio O sentido "ou gozo do sentido%) entre o simb0lico e o imagin,rio. nfatizar aspectos clínicos bem como circunscrever situa'6es onde a apreens*o meramente estrutural mostra:se insuciente para compreender a complexidade e o curso das transforma'6es vividas pelo sujeito. Como efeito secund,rio deste desejo de cortar rela'6es e mostrar que pode passar muito bem sozin#a para o ol#ar do outro$ assim como o medo relativo fantasia de permanecer o resto da vida sozin#a$ ela realizava um trabal#o ativo para recusar, neutralizar ou anular ideias que remetessem ao casal rec/m:formado. Ial esfor'o passa pelo evitamento de lugares$ pessoas e situa'6es que pudessem evocar sua lembrança . Quanto mais ela agia nesta direção, mais sutis e engenhosas eram as ormas como um detalhe trazia tudo à tona . Apesar disso a imagem
da elicidade vivida pelo casal retornava $ e com ela a gura'*o de um gozo da qual estava excluída . O trabal#o neur0tico em que se encontrava correspondia assim ao trabal#o de invers*o desta exclus*o. m vez de excluída$ ela se excluía. m vez de trocada ela se fazia agente da troca. A quest*o que a induz a uma crise nesta forma de c,lculo do gozo se desencadeia quando ela constata que est, a mais frente ao casal formado por sua agora ex:amiga e seu ex:marido. Aparentemente isso deveria representar apenas uma repeti'*o conrmat0ria da fantasia. Bas / justamente nesta conrma'*o que a antasia racassa. fracassa na medida em que ela se d, conta de que n*o / 7para ela8 que este casal se forma. -*o se juntaram simplesmente para #umil#,:la$ situa'*o que teria sido bem menos difícil de enfrentar$ como ela recon#ece. les n*o se uniram por causa dela$ ou contra ela. Ali onde amo n*o desejo e ali onde desejo n*o amo. Crise de gozo "p,gina KL%
A justi'a$ tornava:se uma gura'*o de seu c,lculo neur0tico do gozo) a completa paridade entre sacrifício e restitui'*o. &ecusava qualquer proximidade com tra'os$ imagens ou situa'6es que a fariam recon#ecer:se na lin#agem paterna. Cena lembrada M encontro infantil com o &eal. A recorda'*o infantil passa a l#e despertar ang=stia. la n*o sofre apenas pela #umil#a'*o in9igida na rela'*o com o ex:marido$ com a amiga$ com o pai ou em seus percal'os prossionais. la se viu lan'ada em uma crise de quando o antasma$ que fazia desta #umil#a'*o passiva uma forma de masoquista de satisfa'*o$ se viu abalado. m outras palavras$ a posi'*o do sujeito no fantasma – como mais ou menos mul#er ou l#a – foi insuciente para lidar com o &eal. 3sso exigiu uma mudan'a na variante fantasm,tica que / correlativa de uma alteração na economia de gozo$ o que explica o estado de crise $ de colapso dos sintomas e emergncia de novas ormas de sorimento que a trazem an,lise. Antes disso$ deixar:se #umil#ar ou diminuir pelo Outro$ articulava uma rede de sintomas, mas não um dese!uilíbrio do c"lculo do gozo . O trabal#o analítico para contornar$ mas tamb/m aproveitar$ esta crise de gozo como um momento ecundo do tratamento ... 4uando ela poe quest*o tanto a causa "o em nome do que% quanto os ns "o para que% que regem este sacrifício$ ela se vê lan'ada em uma crise de gozo e em um aprofundamento de sua divis*o subjetiva. Corpo fantasm,tico &uptura da estabilidade do c,lculo do gozo$ característica da primeira fase do sintoma$ e a crise de gozo$ característica da segunda fase do sintoma. ;ob os auspícios da transferência seria possível produzir uma esp/cie de 7crise articial do gozo8 necess,ria ao tratamento.
Clínica contempor
Crise de gozo ) o falo deixa de ser uma unidade de medida ecaz para o
c,lculo do valor de gozo do objeto. Dodemos supor que na situa'*o de crise de gozo ocorre que o falo torna:se insuciente para cifrar o gozo. reud considera dois polos$ duas possibilidades$ compreendidos entre sintoma e as forma'6es de substitui'*o. Bas o que dizer ent*o das situa'6es clínicas onde o que se constata / um fracasso das forma'6es de sintomas e de substitutos> A situa'*o de neurose traum,tica e as c#amadas neuroses ou transtornos narcísicos re9etem muito bem esta possibilidade. Dresen'a de um excesso$ do mais al/m do sintoma. ;*o todos casos de sintomas na borda da estrutura "neuroses atuais$ neurose de car,ter$ neurose de destino%. ;intomas para os quais reud usava a express*o neurose$ no sentido fraco do termo. -a mesma dire'*o podemos incluir as ormaç$es substitutivas, ormaç$es reativas e as ormaç$es de car"ter. Iodas elas modula'6es do sofrimento psíquico que não se inscrevem plenamente na descrição metapsicol%gica da ormação de sintomas. sta zona nebulosa formada pelo que extrapola o nível do sintoma mas n*o c#ega a estabelecer:se como uma estrutura$ pode ser
abordada pelo
aparel#amento pelo discurso$ torna:se inconsistente. A causa precipitante surge assim como uma fra'*o de gozo que n*o se calcula. O falo funcionando como elemento de cifragem$ de contagem e de fracassada inscri'*o do segundo. -esta lin#a poder:se:ia pensar o desencadeamento da neurose nos termos da articulação e desarticulação do alo ao ob&eto a.
L tipos de desencadeamento proposto por reud tendo em vista uma primeira aproxima'*o com o tema do gozo) a% 3ndisponibilidade do objeto real "disjun'*o entre falo e objeto a% b% 3mpossibilidade de trocar uma satisfa'*o por outra "conjun'*o entre falo e objeto a% c% 3nibi'*o da puls*o "paralisa'*o do objeto a% d% 3nsuciência psíquica em face das exigências pulsionais "paralisa'*o da fun'*o f,lica%. sse retorno sobre pr0prio discurso$ assinalado pela deten'*o do saber pelo indiciamento do sujeito no sintoma faziam supor a presen'a de uma estrutura neur0tica. A castra'*o signica que / preciso que o gozo seja recusado$ para que possa ser atingido na escala invertida da (ei do desejo. -este sentido a quest*o da quantidade / muito mais ampla que a do gozo. O gozo / apenas essa parcela da quantidade que / percebida como demasiada$ excessiva ou em transbordamento. O gozo / quantidade fora de lugar$ / quantidade indecifr,vel. Dor isso$ tanto o prazer !uanto a satisação e ainda a dor podem ser consideradas barreiras ao gozo$ formas prim,rias de conferir ao gozo alguma qualidade. ;*o formas de retomar ou de deter$ no corpo$ aquilo que aparece sempre como uma exterioridade "#ors corps%.