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Roberto Assagioli
Esta importante obra devolve a vontade humana ao centro da psicologia, da educação e da vida cotidiana. Cuidadosa e atentamente, Roberto Assagioli define o apogeu e o descrédito de uma concepção mais antiga de vontade humana: uma "força de vontade" autoritária, áspera e repressiva. Em contrapartida, elabora uma noção abrangente da vontade que não é simplesmente "forte" e sim - o que é mais importante - "hábil". Em O Ato da Vontade, Assagioli vai, além da mera filosofia, aos pormenores de uma compreensão prática da vontade e, inclusive, aos meios que a podem treinar, sugerindo um programa completo de exercícios com os quais mostra ao leitor de que modo a vontade pode adquirir habilidade para agir com um mínimo de esforço, sem perder a eficiência. Intensamente otimista, a concepção Assagioli não está desligada da completa seu desenvolvimento terá como recompensa um relacionamento humano correto e uma evolução da humanidade e do cosmos.
da vontade segundo realização pessoal, e a harmonia pessoal, perfeita adaptação à
Roberto Assagioli é um dos mestres da psicologia moderna, na linha que procede de Freud, passando por Jung e Maslow. Com o passar do tempo, ele desenvolveu uma psicologia mais abrangente, a psicossíntese, em que sua visão é claramente integrada com todas as técnicas psicológicas disponíveis, numa abordagem única para cada indivíduo. A visão da psicossíntese considera que o homem tende naturalmente à força e à harmonia, tanto interior como com o mundo que o circun.9J. A nova compreensão da vontade, segundo Assagioli, é o centro dessa visão e da realidade que ela assume perante o mun-do.
ROBERTO
ASSAGIOLI
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ATO DA VONTADE
Tradução YOLANDA
STEIDEL
DE TOLEDO
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São Paulo
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Título original: The Act of wtn
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SUMÁRIO
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(0 : 1973,
Psychosynthesis
Research
Foundation
Primeira Parte A NATUREZA DA VONTADE l. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10.
In trodução, 7 A Experiência Ex.istencial da Von tade, 10 As Qualidades da Von tade, 19 A Vontade Forte, 32 A Vontade Hábil: Suas Leis Psicológicas, 40 Aplicações Práticas da Vontade Hábil, 55 A Vontade Boa, 70 Amor e Vontade, 75 A Vontade Transpessoal, 87 A Vontade Universal, 100
Segunda Parte OS ESTÁGIOS DA VONTADE u Da Intenção à Realização, 109 12. Propósito, Avaliação, Motivação, Intenção, 113 13. Deliberação, Escolha e Decisão, 121 14. Afirmação, 135 15. Planejar e Programar, 141 16. Como Dirigir a Execução, 150 Terceira Parte EP[LOGO 17. A Alegria da Vontade, 159 O Projeto-Vontade, 162 Ano
Edição
85-86- 87·88·89-90-91-92-93.
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Direitos autorais de tradução reservados para os parses de lingua portuguesa com exceção de Portugal EDITORA Rua Or. Mário Vicente, Impresso
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374 - 04270 São Paulo, SP . Fone: 63-3141
nas oficinas gráficas da Editora Pensamento.
APENDICES 1. Exercício de Auto-identificação, 169 2. Pensamento e Meditação, 175 3. Questionário Sobre a Vontade, 187 4. Perspectiva Histórica, 189 5. Psicologia Diferencial, 200 Notas de Referência, 213
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PREFÁCIO
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Todos podem ter, ou tiveram, a experiência existencial de "querer" mas nem sempre com plena consciência e completa compreensão. Este livro foi escrito como introdução, guia ou manual de treinamento para tal experiência. Aspira a ser um instrumento de exploração, desenvolvimento e utilização da vontade. Considera não só como funciona habitualmente a vontade, mas como ela pode funcionar melhor. Descreve as qualidades da von tade e seus vários aspectos; os estágios do ato de querer e os propósitos a que é dirigido. Trata-se de uma exploração fenomenol6gica baseada na minha própria experiência e nas declarações e relatos feitos por meus clientes, alunos e colegas, ao longo dos anos. A quantidade de dados empíricos assim coligidos oferece fundamento seguro para descrever vários métodos, técnicas e exercícios, para treinamento prático da vontade e para sua perfeita utilização, em todos os níveis da existência - desde o pessoal até o transpessoal, até atingir o domínio em que a vontade individual se funde com a universal. Este volume é também um mapa preliminar do ato de querer, do ponto de vista dos mais novos desenvolvimentos da psicologia - isto é, na psicologia existencial, humanística e transpessoal - embora tenha raizes em várias contribuições mais antigas. Por ser o assunto tão desafiador, tornei o estilo tão simples quanto possível. Mas há ocasiões em que tal simplicidade é enganadora. Na minha opinião, este é um volume não só para sei lido corno informação interessante, mas para ser estudado em profundidade, praticando e aplicando suas
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técnicas na vida cotidiana. Os capítulos sobre o Amor e a Vontade, a Vontade Transpessoal e a Vontade Universal deveriam ser especialmente considerados, visto tratarem de assuntos novos para muitos dos leitores. Eu lembraria também que certas repetições são deliberadas, pois se destinam a dar ênfase, e que as referências cruzadas, em vários trechos do texto, podem ajudar na compreensão da natureza multiforme do assunto e, ao mesmo tempo, de sua subjacente unidade. Quanto à linguagem, o leitor encontrará a palavra querer utilizada como substantivo em todo o texto - o que foi feito com vistas à sua simplificação. Todavia, desde o início, devo precisar que nada reivindico de metafísico, pró ou contra a proposição de que a "vontade" existe. Como trata de "pessoas que querem" e de "atos de vontade", minha abordagem é empírica e fenomenológica. Fundamenta-se na psicossíntese, a pessoal e a transpessoa\, que é um processo do crescimento, baseado na integração harmônica de todos os aspectos da personalidade, em torno do self, _ cen tro da consciência e da von tade. Este livro pode ser considerado como uma seqüência do livro anterior, Psicossintese, no qual o tema da vontade foi brevemente introduzido. Espero e confio que será útil companheiro para quem desejar desenvolver a própria vontade e dela fazer bom uso. Muito resta para fazer e para isto proponho, no Projeto- Vontade (Terceira Parte), um plano geral para continuação dos trabalhos de estudo e pesquisa, individuais e para grupos. Atualmente, esse plano é muito necessário, dado o desapreço ou a má utilização da vontade e dado o enorme potencial inerente ao seu uso adequado, no sentido de alcançar a auto-realização e a descoberta do sel], e para solucionar problemas humanos fundamentais. Desejo agora expressar a minha gratidão pelos que me assistiram na produção deste livro. Primeiro, aos meus muitos alunos, clientes e colaboradores, que leram trechos do manuscrito e várias vezes me ofereceram seus comentários e sugestões. Deste grande grupo, gostaria de destacar e mencionar particularmente Stuart Miller , editor da série EsalenfViking, pelos seus sagazes comentários, sugestões e acréscimos; James Vargiu, que estudou atent.amente o manuscrito, ofereceu várias sugestões e acrescentou exemplos; e Susan Vargiu, que me auxiliou no trabalho, pondo em ordem o texto original. Sou também muito grato ao Dr. Frank Haronian , a Betsie Carter , ao Dr. Steven Kull c ao Dr. Piero Ferrucci. De leia Palornbi, Vice-Presiden te do lnsti tu to de Psicossin tese de Florença, e de meu amigo Kene th Leslic-Smith, também recebi preciosa colaboração.
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Com boa vontade e confiando que o desenvolvimento da vontade pode ter um papel importante na inauguração de uma nova época de cooperação humana, deixo ao leitor a tarefa de dar os próximos passos.
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Florença, Itália Setembro, 1972
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PRIMEIRA A NATUREZA
PARTE DA VO~TADE
INTRODUÇÃO
Se um Antigüidade, humanos do uma raça de Aurélio e se criadas pela mais cuidado, ternação.
homem de urna civilização anterior à nossa - um grego da digamos, ou um romano - aparecesse de súbito entre os seres presen te, suas primeiras impressões o levariam a considerá-Ios mágicos, de sernideuses. Mas fosse um Platão ou um Marco recusasse a ficar deslumbrado ante as maravilhas materiais tecnologia avançada e examinasse a condição humana com suas primeiras impressões dariam lugar a uma grande cons-
Notaria logo que o homem, não obstante o imponente grau de domínio sobre a natureza, possui um controle muito limitado sobre o seu interior. Perceberia que esse mágico moderno, capaz de descer ao fundo do oceano e de projetar-se até a lua, é, em larga medida, ignorante do que se passa nas profundezas do próprio inconsciente e incapaz de se elevar aos luminosos níveis da supraconsciência, tornando-se cônscio de seu próprio self . Verificar-se-ia que esse pretenso semideus que controla grandes forças elétricas com o mover de um dedo e inunda o ar de sons e imagens para clivertimento de milhões de pessoas - é incapaz de lidar com as próprias emoções, impulsos e desejos. Conforme indicaram diversos autores, entre os quais Toynbec , este abismo que se interpõe entre as forças internas e externas do homem é uma das causas mais importan tes e profundas dos males individuais e coletivos que afligem nossa civilização e tão gravemente lhe ameaçam o futuro. O homem teve de pagar caro por suas realizações materiais. Sua vida ter-
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nau-se mais ampla, mais rica e mais estimulante mas, ao mesmo te mpc , mais complicada e extenuante. Seu ritmo acelerado. as oportunidades oferecidas para gratificação dos desejos. a maquinaria social e econômica onde se emaranhou - tu do isso exige cada vez mais de suas funções men tais, de suas emoções e de sua von tadc. Se fosse necessária uma prova convincen te deste fato, bastaria observar dia de um homem de negócios. de um político, de uma mulher que tem uma carreira ou de uma dona-ele-casa. Não raro faltam ao indivíduo recursos para enfrentar as dificuldades e ciladas deste tipo de existência. Sua resistência pode ruir, em face das exigências, confusões e estímulos que ela propõe. Segue-se a isto um distúrbio que leva ao desânimo, à frustração - e mesmo ao desespero. O remédio para tais males - para esse estreitamento e eventual fechamento do abismo fatal entre as forças externas e internas do homemtem sido e deve ser buscado em duas direções: na simplificação da vida interior e no desenvolvimento das forças exteriores. Examinemos de que modo e em que extensão estes dois processos podem proporcionar os necessários remédios.
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A Simplificação da Vida Exterior A tendência para a simplicidade iniciou-se antes mesmo da ascensão e expansão da moderna tecnologia, como uma reação contra as crescen tes complicações e artificialida des, da vida "civilizada". Seus maiores expoentes foram Jean-Jacques Rousscau , que apelou para o retorno à natureza, e Thoreau, que renunciou aos benefícios da civilização e retirou-se para uma vida solitária e "simples", que tão talentosamente descreveu em walden, Recen temente, explodiu a desilusão quanto às "bênçãos" das realizações tecnológicas - e explodiu em acusações cada vez mais rancorosas contra toda a estrutura da civilização moderna, chegando a uma rejeição total de nosso atual "modo de vida". Até certo ponto, a simplificação da vida é exeqüível e desejável. Em certa extensão, todos podemos resistir às atrações do mundo e do ritmo da vida moderna, eliminar mui ta complicação desnecessária e restabelecer um contacto mais íntimo com a natureza, praticando a arte de descontração e, nos intervalos, descansando. Além de um certo ponto, porém, encontramos dificuldades. São deveres de todo tipo, laços familiares e obrigaçõcs profissionais que nos man têm amarrados às rodas da vida moderna compelindo-nos à conformidade com seu ritmo apressado. ' Todavia, ainda que as circunstâncias permitissem um alto grau de 8
simplificação, e que o puséssemos em prática, o problema estaria solucionado apenas parcialmente. O homem moderno certamente não poderia abdicar da posição pre dominan te c da conseqüente responsabilidade que adquiriu no planeta - nem teria razões para isso. O mal não está nas forças tecnológicas em si, mas na utilização que delas faz o homem e no fato de ele haver permitido que elas o superassem e escravizassem. A resistência às prevalecentes tendências negativas da vida moderna requer muita resolução, muita firmeza, persistência, clarividência e sabedoria. Ora, são precisamente as qualidades interiores que faltam ao homem moderno. Somos, pois, induzidos a recorrer a um segundo processo: O Desenvolvimento
das Forças interiores do Homem
Só o desenvolvimento das forças interiores do homem pode con trapor-se à perda do controle sobre as tremendas forças naturais de que ele dispõe e à possibilidade de tornar-se ele próprio uma vítima daquilo querealizou. A compreensão plena de que isto é necessário para a conservação da saúde mental e até para a própria sobrevivência humana - de que só assim o homem poderá consumar sua verdadeira natureza - deverá instiga-lo a cumprir sua tarefa com uma resolução e um desejo tão intensos quanto aquele antes consagrado às realizações externas. Entre essas forças interiores é fundamental aquela à qual deve ser dada prioridade: a do tremendo e não realizado potencial da vontade humana. O treinamento e a utilização dessa vontade constituem o fundamento de todos os esforços. Para isso existem duas razões: a primeira é a posição central da vontade na personalidade do homem e sua íntima conexão com o âmago do ser humano. A segunda situa-se na função da vontade no decidir o que deve ser feito, na aplicação dos meios necessários para a realização do que se propõe e na persistência nessa tarefa, a despeito de todos os obstáculos e dificuldades. Mas, ao decidir-se por uma tarefa como esta, o homem pode tomar-se confuso e perplexo. Um exame histórico dos problemas relacionados com a von tade demonstra que as tentativas de resolver o problema dentro de uma linha teórica e intelectual não s6 deixam de conduzir a qualquer solução, mas a nada levam, a não ser à contradição, à confusão e à perplexidade. (Ver Apêndice 4, pág. 190). Creio, portanto, que o procedimento certo é adiar todas as discussões e teorias intelectuais sobre o assun to e começar por descobrir a realidade e a natureza da vontade, através de sua experiência existencial e direta. 9
2 A EXPERltNCIA EXISTEl\ DA VO~TADE
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A experiência da vontade constitui, ao mesmo tempo, um alicerce firme e um forte incentivo para o in ício da exigente, porém extremamente cornpensadora tarefa de seu treinamento. Esta Ocorre em três fases: a primeira é o reconhecimento de que a vontade existe; a segunda refere-se à constatação de ter uma vontade. A terceira fase da descoberta, e que a torna completa e efetiva, é a de ser UI1U1 vontade (e isto é diferente de "ter" uma vontade). A descoberta da vontade é difícil de descrever; como acontece com qualquer outra experiência, não se pode comunicá-Ia totalmente por meio de palavras, mas pode-se indicar os caminhos que conduzem a ela e a favorecem. A analogia da descoberta da beleza, do despertar do senso estético pode ser elucidativa: ocorre uma revelação, um "despertar", que pode acontecer enquanto a pessoa contempla os matizes do céu ao pôr-do-sol, ou uma cordilheira de majestosas montanhas com picos cobertos de neve, ou dentro dos olhos de uma criança. Pode acontecer enquanto se contempla o sorriso enigmático da "Cioconda" de Leonardo, ao ouvir a música de Bach ou de Beethoven, ou ao ler os inspirados versos dos grandes poetas. O senso de beleza, uma vez desperto, embora a princípio tênue e indistinto, elucída-se e se desenvolve no decorrer de repetidas experiências de natureza estética e pode igualmente ser cultivado e refinado por meio do estudo da estética e da história da arte. Mas não há consideração intelectual ou estudo que possa, por si só, tomar o lugar da revelação inicial. 10
o despertar pode ser facilitado e não raro Pi()VOC~Jo pela criação de uma atmosfera favorável, por exemplo, pela contemplação tranqüila e repetida de um ceruirio natural, ou de obras de arte, ou ainda, por abrirse para o encan to da música. O mesmo é válido em se tratando da vontade. Em dado momento, talvez durante uma crise, pode-se ter uma vívida e inequívoca experiência da realidade e da natureza da vontade. Quando um perigo ameaça paralisar-nos, surge repentinamente das rnistcriosas profundezas do ser uma força insuspcitada que nos dã condições de firmar o pé na beira do precipício ou de confrontar calma e resolutamente o agrcssor. Diante da atitude ameaçadora de um superior Lnjusto ou ao defrontar uma turba agitada, quando razões pessoais nos induziriam aceder, é a von tade que nos dá forças para dizer resolutamente: "Não! Custe o que custar, sustentarei minhas convicções; farei o que julgo ser correto!". De igual modo, quando assaltados por uma tentação sedutora e insinuante, a vontade nos reanima, arrancando-nos da nossa aquiescência e libertando-nos da cilada. A experiência interior dc "querer" pode também manifestar-se de outros modos mais tranqüilos e sutis. Durante as horas de meditação e silêncio; enquanto examinamos com atenção nossas motivações; nos momentos de deliberação e decisão refletida, às vezes uma "voz" sutil mas inteligível se faz ouvir e incita-nos a determinada linha de ação; trata-se de um estímulo diverso dos nossos impulsos e motivos cotidianos. Sentimos que ele provém do âmago, do cen tro do ser. Ou ainda urna iluminação interior nos toma conscientes da realidade da vontade, por meio de uma convicção tão forte que se afirma de um modo irresistíveJ. Todavia, o modo mais simples e freqüente de descobrirmos nossa própria vontade é através da ação e da luta determinada. Ao realizarmos um esforço físico ou mental, ou em ocasiões dc luta ativa contra um obstáculo, ou de confrontação com forças opostas, sentimos que dentro de nós surge uma força: é a energia interior que nos proporciona a experiência de "querer". Tornemos plenamente consciência do significado total e do imenso valor da descoberta da vontade. Aconteça do modo que acontecer, espontaneamente ou pela ação consciente, numa crise ou na quietude ele recordações íntimas, essa descoberta constitui um evento dos mais importantes e decisivos dc nossas vidas. A descoberta da vontade em nós próprios e. mais ainda, a tomada de consciência de que o self e a vontade estão intimamente ligados, pode 11
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acontecer como uma genuína revelação e pode modificar. não raro radicalmente, a autoconsciéncia de um indivíduo e toda a sua atitude em relação a si mesmo, a outras pessoas e ao mundo. Ele percebe que é um "sujeito vivo", dotado do poder de escolher, de relacionar, de suscitar modificações em sua própria personalidade, nos outros e nas circunstâncias. Esta tomada de consciência, este "despertar", esta visão de novas e ilimitadas potencialidades de expansão i.nterior e de ação exterior proporciona um sentimento de confiança, de segurança, de alegria - e um senso de "integridade". Mas esta revelação inicial, esta luz interior, posto que vívida e inspiradora, no momento em que ocorre, pode empalidecer, tremular e apagarse ou brilhar apenas in termiten temen le. A nova tomada de consciência do self e da vonlade facilmente submerge nas constantes vagas dos impulsos, desejos, emoções e idéias. Ela é empurrada pela incessante onda de impressões do mundo exterior. Toma-se, portanto, evidente a necessidade de proteger, de cultivar e de fortalecer o que foi inicialmente adquirido, a fim de que se consolide sua conquista e sejam utilizadas suas grandes possibilidades. Mas quando uma pessoa se entrega a essa tarefa, depara com dificuldades e resistências. A primeira resistência provém frequentemente dos mal-entendidos correntes, com respeito à natureza da vontade. Prevalece ainda hoje a concepção vitoriana da vontade como algo de severo e proibitivo , que condena e reprime a maioria dos outros aspectos da natureza humana. Porém, tal noção falsa pode ser chamada de caricatura da vontade. A verdadeira função da vontade não é atuar contra os impulsos da personalidade e forçar a realização de propósitos. A vontade tem função diretriz e reguladora; equilibra e utiliza construtivamente todas as demais energias do ser humano sem nunca reprimir nenhuma delas. A função da vontade é semelhante à do timoneiro de um navio. Ele sabe qual deve ser o rumo e mantém firmemente o braço na direção certa. apesar dos desvios causados pelo vento c pela correnteza. A força de que necessita para segurar o leme é inteiramente diferente da que propulsiona o navio pelo mar afora, seja ela proveniente dos geradores, dos ventos nas velas ou do esforço de remadores. Ou tra forma de resistência provém da tendência geral à inércia, geralmente presente, que permite que o lado "comodista" da natureza assuma o controle e deixe que os impulsos internos ou as influências externas dominem a personalidade. Essa tendência pode ser resumida corno "uma relu12
táncia de se dar ao trabalho" u de pagar o preço exigido por um ernprccndirncnto cornpensador Isso quase sempre é verdade no tocante ao desenvolvimento da vontade. mas não se pode razoavelmente esperar que o treinarncn to da von rade possa ser realizado sem dispêndio de esforços e a pcrsisténcia requeridos para o desenvolvimento bem sucedido de qualquer qualidade, seja f isica ou men tal. Tal esforço seria mais que compensador, visto que a utilização da vontade está na base de toda atividade. Eis por que uma von ta de mais desenvolvida há de melhorar a eficácia de todos os empreendimentos fu iros. Adquirindo-se a convicção, a certeza de que a vontade existe e de que possuímos uma vontade, haverá a compreensão de como é próxima e íntima a relação entre vontade e self e esta compreensão culmina com a experiência ex.istencial da pura au toconsciência, da percepção dire ta do self - a descoberta do "Eu". Na realidade, esta experiência está implícita na consciência humana. E o que a distingue da dos animais, que são conscientes mas não conscientes de si próprios. Os animais têm percepção: eles demonstram isto claramen te, por meio de suas reações emocionais às si tuações e de suas relações efetivas com os seres humanos. Os seres humanos, porém, ultrapassam a mera percepção e sabem que percebem. Mas geralmente essa autoconsciência é, na verdade, mais implícita que explícita. experimentada de modo um tanto nebuloso e dislorcido, visto que habitualmente mesclada e encoberta pelos conteúdos da consciência (sensações, impulsos, emoções, pensamentos etc.). Esse impacto constante turva a clareza da consciência e produz uma iden tificação espúria do self com esses conteúdos rnutávcis e transitórios. Portanto, se queremos tornar explícita, clara e viva a consciência, é preciso desidentificar-nos de todos estes conteúdos e nos identificarmos com o setf . É possível a.lcançar essa realização por meio de certos tipos de meditação, mas particularmente por meio da utílízação do Exercício de Identificação do sel], do meu livro Psicossintese, que vai aqui citado no Apêndice I (pág. 169) para conveniência do lei tor. A consciência de si ou a percepção do self tem duas características: uma introspectiva , outra dinâmica. Isso pode ser expresso de vários modos. Por exemplo: "Tenho consciência de ser c de querer"; ou "Se sou, posso querer". Esse intenso relacionamento entre o "Eu" e a vontade, entre o ser e o querer, foi claramente definido pelo Prof. Calõ , em seu artigo sobre a von tadc , na Enciclopédia Italiana: v-
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A atividade volitiva esui intimamente ligada à consciência do Eu, como centro ativo c u nificador de todos os elementos da vida psíquica. O Eu, a princípio obscura subjetividade, ponto de referência de toda experiência psíquica, afirma-se gradualmente à medida que se distingue, como fonte de atividade, de cada um dos seus elementos cspcc Ificos (sentimentos, tendências, instintos, idéias). A vontade é precisamente essa atividade do Eu, que é uma unidade situada acima da multiplicidade de seus conteúdos e que substitui a ação prévia impulsiva, fracionária e centrífuga daqueies conteúdos. Eu e vontade são termos correlatos; o Eu existe na medida em que tem sua capacidade específica de ação, que é a vontade: e a vontade só existe como atividade distinta c autô1 noma do Eu .
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do qual O Eu é um reflexo ou projeção. Esse relacionamento está configuraclo no diagrama abaixo, que se refere à constituição psicológica do homem. O Eu é indicado pelo pon to situado no cen tro do campo da consciência, ao passo que o self Transpessoal é representado por uma estrela, no ápice do supraconsciente. Não me alongarei mais aqui sobre este assunto, pois tratarei dele no capítulo sobre a Vontade Transpessoal, que é função do Self Transpessoal.
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por um lado, dos relacionamentos entre e, por outro lado, da várias outras funções psicológicas. O diagrama abaixo pode esclarecer esta tomada de consciência. A vontade foi colocada no centro do diagrama, em contacto direto com o Eu consciente, ou selfpessoal, a fim de evidenciar a íntima conexão existente entre eles. Através da vontade, o Eu age sobre as demais funções psicológicas, regulando-as e clirigindo-as. O diagrama foi ultr a-sirnplificado, como aliás todos os diagramas, mas servirá para ressaltar a posição cen trai da von tade. G
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1. O Inconsciente Inferior 2. O Inconsciente Médio 3. O Inconsciente Superior ou Supraconscien te 4. O Campo da Consciência 5. O Conscicn te ou "Eu" 6. O Sei! Transpessoal 7. O Inconsciente Coletivo
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1. Sensação 2. Emoção - Sentimento 3. Impulso - Desejo 4. imaginação 5. 6. 7. 8.
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Pensamento Intuição Vontade O Ponto Central: O Eu, ou sei! pessoal
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Resta ainda um passo a ser dado, no sentido de uma descoberta que pode ser realizada - a do relacionamento entre o Eu e o SelfTranspessoal, i.
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Ver Notas de Referência,
a partir da pág.
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Para dar inicie à discussão sobre o treinamento da vontade é necessário um trabalho de fundamentação conceitual. Por causa da riqueza do assunto, eu espero que o leitor seja indulgente comigo na elaboração das categorias na descrição da vontade. Existem categorias que são necessárias para a configuração do quadro completo da vontade plenamente desenvolvida e - o que é mais importante - para assegurar o treinamento de um atributo humano de tão grande valor. Utilizarei três categorias - ou dimensões - para descrever a vontade: aspectos, qualidades e estágios. A primeira categoria, a dos aspectos, é a mais básica e representa as facetas que se pode reconhecer na vontade ple15
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narne nte desenvolvida. A segunda categoria, J das qualidades, refere-se à expressão da VaIOtade : são os modos de expressão da von tade-e m-ação. Finalmente, os estágios da vontade reportam-se especificamente aos processos do querer, ao ato de vontade, tal como se desenrola, desde seu início até o seu fim. A von tade plenamen te desenvolvida pode ser considerada como tendo vários aspectos principais diferentes; estes deveriam ser vistos como as principais facetas de nosso tema central. os elementos mais importantes do perfil da vontade. Cada um desses aspectos pode ser treinado de modo específico e apropriado. Uma vez que o núcleo da Primeira Parte deste volume diz respeito a estes importan tes aspectos, melhor será delineá-Ias imediatamente. Os aspectos da vontade humana plenamente desenvolvida são a vontade forte, a vontade hábil, a boa vontade e a Vontade Transpessoal. Descreverei brevemen te esses aspectos da von tade , que são os principais, para que o leitor possa tê-los em mente, enquanto continuamos a esboçar a fenomenologia da vontade nas outras categorias. J. A Vontade Forte. Conforme já registramos, para treinar a vontade é preciso começar pelo reconhecimento de que ela existe; depois, que temos uma' von tade ; e, finalmen te, que somos essa von tade ou essencialmente, um "ego que sabe querer". É preciso depois desenvolver essa vontade, torná-Ia suficientemente forte para que se adapte às suas múltiplas utilizações, em todos os domínios da vida. A maioria dos mal-entendidos e equívocos a respeito da vontade advêm da concepção, tão errônea quanto freqüente, de que a vontade forte constitui a totalidade da vontade. Ora, a força é apenas WI1 dos aspec os da von tade e, dissocíada dos demais pode ser, e não raro realmente é, ineficaz e prejudicial à própria pessoa ~ aos outros. 2. A Vontade Hábil. Como aspecto da vontade, a habilidade consiste na capacidade de obter os resultados desejados com o menor dispêndio possível de energia. Quem quer chegar a um lugar não atravessa um carnoo aberto em linha reta, nem escala edifícios. Estuda antes um mapa rodoviário, utiliza as estradas existentes, as quais, embora não sejam desenhadas em linha reta, podem conduzir ao almejado destino com um m ínirno de esforço. Aproveitamos os meios de transportes ao nosso alcance, ou seja os veículos que se dirigem ao lugar que escolhemos. Do mesmo modo, a fim de usar mais eficazmente a vontade, devemos compreender nossa própria constituição interna e tomar conhecimento de nossas diferentes [unções, impulsos, desejos, hábitos padronizados e
das relações entre eles, de modo que a qualquer tempo possamos ativar e utilizar estes aspectos em nós mesmos. pois a qualquer momento já tendem a produzir a ação específica ou a condição que buscamos. 3_ A Boa Vontade, i\'!eSI11Oquando a vontade é dotada de força e habilidade, nem sempre é satisfatória. De fato, ela pode até ser uma arma bastante nociva, pois se essa vontade for dirigida para fins maldosos, torna-se um grave perigo para a sociedade. Um homem de von ta de forte e hábil, capaz de utilizar ao máximo seus talentos naturais, pode subjugar ou corromper a vontade dos outros; alguém que tudo ouse, nada tema e não tenha as próprias ações restritas por considerações éticas, pelo sentimento do amor ou da compaixão, pode influenciar desastrosamente uma comunidade e até uma nação in teira. Existem duas grandes leis que operam no mundo físico e no psicológico: a Lei da ação e da reação e a Lei do ritmo c do equihbrio, Sua operação determina que os causadores do mal atraiam sobre si o mal; que os violentos e i.rnpiedosos terminem por suscitar violência e crueldade contra si próprios. A I-listória oferece rnui tos exemplos, desde Cal ígula , passando por Rasputin , até Hitler. Devido à operação destas leis, a vontade, para realizar-se, deve ser boa. A boa von tade , portanto, além de desejável, é fundamentalmente inevitável. Pode-se afirmar, portanto, que aprender a escolher o objetivo certo é aspecto essencial do treinamento da von tade. E necessário, para o bem-estar geral e para o nosso, que a vontade seja boa, ao mesmo tempo que forte e hábil. Tudo isso situa-se no campo específico da psicossíntese interpessoal, grupal e social. 4. A Vontade Transpessoal. Os três aspectos da vontade até aqui mencionados parecem constituir a totalidade das características da vontade. Isso pode ser verdadeiro para o ser humano "normal", no qual tais características podem ser suficientes para a auto-realização e para levar uma vida intensa e útil. Isso, aliás, representa o objetivo da psicossíntese pessoal e interpessoal . Mas existe no homem outra dimensão. Embora muitos não tenham consciência dela e cheguem a negar-lhe a existência - existe ou tra espécie de percepção, cuja realidade foi testemunhada pela experiência direta de grande número de indivíduos, através da História. A dimensão em que funciona essa consciência pode ser chamada "vertical". No passado, era geralmente considerada corno pertencendo ao domínio da experiência religiosa ou "espiritual", mas hoje vai ganhando cada vez maior reconhecirnen to, como campo válido de investigação cien tífica.
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Trata-se do domínio específico da psicologia transpessoal, que lida com aquilo que Maslow, pioneiro neste campo, chamou de "necessidades superiores". Nas palavras da "Declaração de Propósitos" do Journal of Transpersonal Psychology [lomal de Psicologia Transpessoal], há uma referência a "rnetanecessidades, valores supremos, consciência unitiva, experiências culminantes, êxtases, experiências místicas, relativas ao ser, valores, essência, bem-aven turança, reverência, assombro, auto-realização, significação última, transcendência do Eu, espírito, sacralização da vida cotidiana, unicidade, consciência cósmica, jogo cósmico, sinergia individual e extensiva à espécie, máximo encontro interpessoal, fenômenos transcendentais, máxima percepção sensorial, responsividade e expressão; e conceitos, experiências e atividades relacionadas". Este é o domínio ou dimensão da Vontade Transpessoal , que é a vontade do Self Transpessoal. igualmente o campo do relacionamento interno de cada indivíduo, entre a vontade do selfpessoal, ou Eu, e a vontade do Self Transpessoal. Este relacionamento conduz à maior interação entre eles e, eventualmente, à fusão do pessoal com o transpessoal e desta ao relacionamento corn.a realidade última, o SelfUniversal, que incorpora e demonstra a Vontade Universal e Transcendente.
3 AS QUALIDADES DA VONTADE
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Antes de embarcar num exame pormenorizado dos quatro aspectos mais importantes da vontade e de como eles podem ser desenvolvidos pelo treinamento, será útil passar em revista as qualidades da vontade. Ao estudar a fenomenologia da vontade-em-ação, isto é, das características apresentadas pelos que "querem", encontramos grande número de qualidades notáveis naqueles que sabem querer, qualidades que existem também, em certa medida, embora pequena, em cada um de nós e que, se necessário, podem ser despertadas e passar da latência à manifestação. Tais qualidades, provavelmente, são mais conhecidas dos leitores do que os aspectos. As qualidades da vontade são as seguintes: I. Energia - Força Dinâmica - Intensidade 2. Comando - Controle - Disciplina 3. Concentração - Direcionalidade - Atenção - Foco 4. Determinação segura - Decisão - Resolução - Prontidão 5. Persistência - Resistência - Paciência 6. Iniciativa - Coragem - Arrojo 7. Organização - Integração - Síntese .00 ponto de vista do treinamento da vontade, é necessário, antes de tudo, ter clararnene em vista essas diversas qualidades, conhecê-Ias e compreendê-Ias totalmente. Poderão mais tarde ser evocadas, nas proporções certas e de modo apropriado à situação que as exigir. Diferentes qualidades associam-se mais proximamente com aspectos específicos e com os 19
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pesquisa experimental, Aveling e outros observaram que "a volição que pode resultar até numa ação clifícil pode ser absolutamente isenta de esforço ... " Podemos afirmar que, em especial, os estágios de intenção, avaliação e escolha estão isen tos de esforço. Além clisso, existe outra condição mais alta, na qual inexiste esforço de vontade pessoal; esta ocorre quando o sujeito que quer está de tal modo identificado com a Vontade Transpessoal - ou, em nível ainda mais alto e inclusivo, com a Vontade Universal - que suas a tividades se realizam com espon taneidade e liberdade· um estado no qual a pessoa se sen te como "canal" que quer, no qual e através do qual fluem e operam poderosas energias. Trata-se do wu-wei, ou "estado taoísta", mencionado por Maslow em The Farther Reaches of Human Nature [As Conquistas Mais Avançadas da Natureza Humana]. Quem compreende a existência dos dois "pólos" da vontade pode lidar, sem resistência nem mal-entenclidos, com seu elemento de "força". Esta é uma experiência direta e existencial que, conforme já mencionamos, se realiza quando há conflito ou esforço, devido a condições ou forças opostas, que se quer sobrepujar. Nesse caso, a pessoa tem clara consciência pode até sentir a meclida de intensidade da vontade necessária para supera: as forças opostas. Isso pode ser comparado ao modo como um atleta sente o grau de esforço muscular que deve fazer a fun de saltar sobre um obstáculo muito alto.
estágios da von tade I . Vamos discu ti-los à medida que avançarmos. É preciso recordar também que algumas das qualidades relacionam-se e, até certo ponto, coincidem. t o caso, por exemplo, das qualidades de Comando, Concentração, Determinação e iniciativa. Há outras qualidades que possuem características opostas. A vontade plenamente desenvolvida usará alternativamente das diferentes qualidades, conforme as circunstâncias, e as utilizará também para realizar entre elas um equilíbrio, segundo um sábio meio-termo. Por exemplo: para completar um ato de vontade é necessário às vezes equilibrar Determinação e Arrojo, de um lado, e Disciplina e Persistência, de outro. 1. Energia - Força Dinâmica - Intensidade Esta qualidade é a mais forte característica natural da vontade forte [ou força de vontade]. B a única geralmente atribuída à vontade e com a qual esta quase sempre se identifica. Mas ela não é a única qualidade da vontade e, se não está associada a outras e equilibrada pela ação das outras funções psicológicas, tende a frustrar suas próprias metas. Esta é uma qualidade que, por si s6, pode ter efeitos prejudiciais e até desastrosos, tanto no sujeito que quer quanto nas suas metas "intencionais". Tais efeitos ocorrem quando a vontade é utilizada tirânica, opressiva e proibitivamente; esse tipo de vontade foi chamado "vitoriano", pois foi largamente utilizado nessa época, particularmente no campo da educação. O mau uso que dela se fez é que trouxe má fama à vontade, produzindo contra ela violen ta reação, que levou a um outro extremo, isto é, à tendência à recusa de qualquer espécie de controle ou disciplina dos impulsos, exigências, desejos e caprichos, iniciando, ao mesmo tempo, um culto à "espontaneidade" desenfreada. Uma adequada compreensão da vontade incluiria, portanto, uma apreciação clara e equilibrada de sua natureza dupla: existem dois pólos diferentes mas não contraclitórios. De um lado, o "elemento do poder", que deve ser reconhecido, avaliado e, se necessário, reforçado e depois sabiamente aplicado. Ao mesmo tempo, é preciso reconhecer que existem atos volitivos que não exigem obrigatoriamente esforço. Na base da 1. Os estágios do ato de vontade são: Propósito, Planejamento e Direção da Execução. A discussão Segunda Parte deste volu me.
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2. Comando - Controle - Disciplina Esta qualidade da vontade está intimamente ligada à primeira, porque comando e controle exigem energia e esforço e porque um dos principais u.sos da energia da vontade é exercer controle sobre outras funções psicológicas, Controle e disciplina são qualidades que, atualmente, costumam despertar acanhamento e antagonismo. Isso é ainda devido a uma reação extrema contra o excessivo e errôneo reforço que antigamente lhes foi dado. Controle não significa repressão ou supressão. A repressão implica numa condenação inconsciente ou em medo (ou em arnbost) e o esforço conseqüente de impedir o afloramento do material reprimido do inconsciente para a consciência. Supressão é a consciente e violenta eliminação do material percebido indesejável, impedindo assim sua expressão. O controle correto, no entanto, significa a regulamentação da expressão, visando a urna LI tilização dirigi da e constru tiva das energias biol6gicas e psicol6gi-
Deliberação, Decisão, Afirmaçâo , completa desses estágios é feita na
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caso Na prática, portanto, o controle sensato é quase sempre o oposto absoluto da repressão e da supressão. O mesmo se pode dizer da inibição. Aqui também o antagonismo geral pela palavra deve-se à má compreensão do seu significado real e da sua função. Inibição não é supressão; é um entrave temporário das ações reflexas. Isso é claramente reconhecido no campo da neurofisiologia. A resposta imedia ta aos estímulos é função dos cen tros nervosos da espinha, ao passo que uma das principais funções do cérebro é a de inibir tais reações temporariamente. Isso habilita o estímulo a propagar-se para outras áreas do cérebro, onde ele cria associações, freqUentemente múltiplas e complexas, as quais por sua vez possibilitam um tipo de resposta mais elevado - inteligente, adaptado, útil. Isso não se aplica só às respostas fisiológicas; aplica-se também às ações psicológicas. Este assunto foi bem explicado por Maslow: Um erro que se comete facilmente aqui é pensar que espontaneidade e exprcssividadc são sempre boas e que um controle, de qualquer espécie, é sempre mau e indesejável. Isso não é assim ... Há diversos significados para o autocontrole, ou inibição, e alguns deles são absolutamente desejáveis e saudáveis, mesmo independentemente do que é necessário para lidar com o mundo exterior. Controle não precisa significar frustração ou renúncia a uma necessidade ou gratificação básica. Aquilo a que chamo de "controles apolonizantes" não colocam, absolutamente, em questão a gratificação das necessidades; eles as tornam mais, e não menos, agradáveis por meio de, por exemplo, esperas apropriadas (como no caso do sexo), pela graciosidade (como na dança e natação), pela estetização (como no caso dos alimentos e bebidas), pela estilização (como nos sonetos), pelo cerimonial, pela sacralização , pela digniiicação, enfim, por fazer uma coisa bem feita em vez de simplesmente fazê-Ia. Além disso, o que deve ser muitas vezes repetido, é que a pessoa saudável não é apenas expressiva. Ela deve ser capaz de expressão, se o desejar. Deve poder soltar-se, estar apta a desligar os controles, inibições, defesas - sempre que isso lhe parecer desejável. Deve igualmente possuir a capacidade de centrolar-se, de prolongar seus prazeres e de ser polida, quando se trata de não magoar os semelhantes; e deve também estar apta a refrear seus impulsos. Ela precisa ser apolínea, dionisíaca, estóica ou epicurista , expressiva ou reservada, controlada ou descontrolada, auto-revcladora ou auto-ocultadora, disposta a divertir-se ou a desistir de divertir-se, a pensar no futuro sem esquecer o presente. A pessoa saudável e que se realiza é essencialmente versátil - ela perdeu menos das suas capacidades humanas que as que se perdem habirualrncnre , Ela tem um arsenal maior de reações e tende para a plena hurnanidade , como sendo o seu limite; isto é; ela tem o comando de todas as aptidões humanas.
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Há necessidade de con trole e de disciplina em toda espécie de treinamento, tanto para o aprendizado de especializações e técnicas como para a realização de uma ilimitada soma de potencial humano. Isto significa, em primeiro lugar, o desenvolvimento de insuficientes faculdades psicológicas até o nível normal e, depois, a elevação das aptidões normais a um grau mais alto de eficiência. Esta é uma questão óbvia e mais ou menos conscientemente aceita, ou tida como certa, em todos os tipos de esporte, bem como no desenvolvimen to das especializações técnicas destinadas à expressão artística. O reconhecimento e a aceitação da necessidade de disciplina foi expresso por um grande violinista - Kubelic, creio eu - nas seguintes frases: "Se não exercitar-me por um dia, eu sinto a diferença; se não praticar por dois dias, meus amigos percebem a diferença; se não tocar durante três dias, é o público que vai notá-Ia." O uso do controle e da disciplina é, naturalmente, fundamental, também para o treinamento da vontade, como se depreenderá dos capítulos seguintes. O resul tado de todo esse controle, disciplina e treinarnen to é a conquista do comando, que significa o máximo de eficiência e o mais intenso e duradouro senso de segurança, sa tisfação e alegria. 3. Concentração - Direcionalidade - Atenção - Foco Concentração: eis lima qualidade essencial da vontade, cuja falta pode tornar ineficaz uma von tade forte, ao passo que sua aplicação pode compensar ricamente uma relativa debilidade de "voltagem" ou poder da vontade. Essa qualidade atua exatamente como uma lente que enfeixa os raios do sol, concentrando-os e intensificando o seu calor. A concentração é conseqüência da atenção - cuja função relativamente ao ato da vontade foi bastante enfatizada por William James. A atenção pode ser "involuntária", no sentido de produzir-se às vezes por uma necessidade ou interesse prevalecente. Mas se o objeto da atenção não é atraente ou "interessante" por si mesmo, a atenção precisa de uma concen tração firme e in tencional, além de um esforço persis ten te. Uma história interessante que pode ilustrar essa questão é relatada no livro de Rarnacharaka, Raja Yoga. Refere-se ao famoso naturalista Agassiz e ao método que usava para treinar seus discípulos: Seus alunos tornaram-se renomados pelos seus penetrantes poderes de observação, percepção e conseqüente aptidão para "pensar" sobre as coisas
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que haviam visto. Muitos deles alçaram-se a posições eminentes e declararam que o haviam feito, em larga medida, por meio da razão e dum esmerado treinamento. Diz o conto que um dia apresentou-se um novo aluno ao mestre Agassiz , solicitando que lhe desse trabalho. O naturalista apanhou num vaso um peixe que lá estava sendo conservado e colocou-o diante do jovem aluno, mandando que ele o observasse atentamente e estivesse pronto a relatar o que notara em relação ao tal peixe. Ora, nacla havia de particularmente interessante quanto ao tal peixe: era igual a muitos outros que o rapaz vira antes. Ele notou, porém, que o peixe possuía barbatanas e escamas, boca, olhos e - sim um rabo. Depois de meia hora, estava certo de que havia observado perfeitamente tudo o que havia para ser observado sobre o peixe. Mas o naturalista não voltava. Decorria tranqüilamente o tempo e o rapaz, não tendo nada mais a fazer, começou a sentir-se inquieto e entcdiado , Saiu em busca do mestre, não o encontrou e teve de voltar. Mergulhou novamente na contemplação do abortecido peixe. Passaram-se algumas horas e pouco mais ficara sabendo sobre o peixe do que sabia a princípio. Saiu para o almoço e na volta percebeu que o caso era mesmo observar o peixe. Sentiu-se enojado e desanimado, e começou a achar que nunca deveria ter procurado Agassiz; parecia-lhe que, feitas as contas, era um velho tolo muito atrasado em relação aos tempos. Foi então que, para matar o tempo, pôs-se a contar as escamas. Terminada essa contagem e, ainda para matar o
A atenção concentrada pode ser exercitada em três campos ou esferas da realidade. Pode ser dirigida para fora, como ao observarmos um objeto natural - como é o caso do peixe -, ao estudar um assunto ou realizar urna ação. Pode ser também dirigi da para dentro, quando a utilizamos para adquirir consciência e analisar estados psicológicos subjetivos: os pensamentos, fantasias ou impulsos. Pode também ser dirigida para o alto, quando o centro da consciência, o "Eu" dirige sua contemplação interior para os processos mais elevados e su praconscien tes do Sei! Transpessoal. Essa última espécie de concentração é necessária para levar a efeito a atividade interior da meditação e para manter o estado de contemplação. Embora a concentração, de modo geral e especialmente no princípio, exija um ato de vontade bem definido, depois de algum tempo ela poderá chegar a persistir por si mesma, sem esforço ou tensão da própria vontade. E isto o que acon tece quando uma pessoa fica absorta na contemplação da beleza de algum cenário ou objeto natural, ou entra no estado a que os místicos chamam de "contemplação passiva" ou "oração da tranqüilidade". Um costume importante e prático na efetivação de atos voluntários de concentração, combinados com controle, consiste em manter clara e constantemente no campo da consciência as imagens e idéias das ações que se quer realizar. Isso implica na utilização voluntária do potencial motor inerente às imagens e idéias, conforme são expressas na lei psicológica: "As imagens ou quadros mentais tendem a produzir as condições físicas e os a tos ex ternos que Ihes correspondem". O modo pelo qual esta lei opera e o modo em que melhor pode ser utilizada são discutidos no capítulo referente à Vontade Hábil. A concentração, como todas as demais qualidades e funções, pode ser desenvolvida por meio de exercícios apropriados e mantida num nível eficaz por meio do uso constante. Poderia mencionar muitos exercícios para o desenvolvimen to da concen tração, mas creio que isto não é necessário pois todos os exercícios descritos no capítulo sobre a Vontade Forte exigem concentração e servem para treinar e desenvolver esta qualidade.
tempo, contou as espinhas e barbatanas. Começou depois um desenho do peixe e enquanto desenhava notou que o peixe não tinha pálpebras. Descobriu então que, conforme a expressão usada pelo mestre, "o lápis é o melhor dos olhos". Logo depois, retomando o mestre, este conferiu as observações do rapaz e foi-se embora decepcionado, dizendo-lhe que continuasse olhando e talvez viesse a enxergar alguma coisa. Com isso o rapaz ficou envergonhado e começou a trabalhar com seu lápis, registrando pormenores Ínfimos que lhe haviam escapado antes mas que agora via perfeitamente. Pouco a pouco, foi trazendo à luz pontos de interesse relativos ao peixe. Mas nem isto foi suficiente para o professor, que o fez trabalhar sobre o mesmo peixe durante três dias. Ao fim desse tempo, o estudante realmente sabia alguma coisa sobre o tal peixe e, melhor que tudo, adquirira o 'jeito' e o hábito da observação minuciosa e da atenção aos pormenores. Muitos anos depois, contava-se que o discípulo de Agassiz, tendo já atingido fama, dizia: "Foi a melhor lição de zoologia que jamais tive e sua influência estendeu-se a todos os meus estudos subseqüentes e aos seus pormenores; foi um legado de inestimável valor que o professor nos deixou (a mim e aos outros), que jamais poderíamos comprar e do qual jamais nos pode-
4. Determinação
remos separar".
Segura - Decisão - Resolução - Prontidão
Esta qualidade da vontade é demonstrável principalmente no estágio de Deliberação 2. A falta de decisão e resolução é uma das fraquezas dos 2. O estágio da Deliberação
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no a to de von tade será discu tido no cap Ítulo 13.
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sistemas democráticos, nos quais a deliberação tende a ser um processo sem fim. Sabemos o quanto é difícil induzir uma grande assembléia e chegar, se não à unanimidade, pelos menos a uma decisão majoritária. Existem exemplos históricos conhecidos da ineficácia das assembléias; um deles refere-se ao Senado Romano: dizia-se que "Dum Romae consulitur, Seguntum expugnator" ("Enquanto os Senadores romanos estragavam-se às consultas, o inimigo conquistava a cidade de Seguntum"). Outro exemplo engraçado é o dos cardeais reunidos para eleger um papa, em Viterbo. Discutiram e contenderam durante meses, até que finalmente o povo se irnpacientou e, irritado, destelhou a sala onde estavam reunidos os cardeais. Depois disso, eles chegaram logo a uma decisão. É preciso, porém, ter o cuidado de não confundir prontidão e rapidez com impulsividade. Esta não delibera coisa alguma; pula, por assim dizer, o estágio da deliberação, às vezes com conseqüências fatais. Deliberar, portanto, é importante, mas sem muita demora; não decidir é também uma decisão e pode se revelar a pior delas. A determinação, a decisão e a resolução são também imprescindíveis no estágio da Execução do ato da vontade. Alguém já disse que uma das razões do êxito de Napoleão era a rapidez de suas decisões. Diz o filósofo italiano Niccolõ Tornmaseo que a resolução é um componente essencial da vontade forte. A resolução é parente próxima de outras qualidades da vontade que consideraremos mais tarde: iniciativa, coragem, arrojo. S. Persistência - Resistência - Paciência Para certas tarefas de longo prazo são indispensáveis a persistência e um propósito inabalável, mais ainda do que a energia. De fato, essas qualidades poderão substituir adequadamente a energia no caso de pessoas desprovidas de força física. Aliás, neste caso, pode-se usar eficientemente a técnica do "pouco e sempre". Isto é: realizar o trabalho em suaves prestações, interrompendo-o com períodos curtos e freqüentes de repouso ao primeiro sinal de fadiga. Desse modo completou Darwin sua monumental Origem das Espécies, compensando assim o fato de ter a energia tão reduzida que habitualmente não podia trabalhar mais que uma hora por dia. Outra espécie de persistência é a que se exerce a despeito de repetidos malogros. Eis o segredo de tantos inventores e cientistas. Dizem que Edison experimentou duas mil substâncias, antes de encontrar o arame de carbono para sua lâmpada elétrica. Lembremo-nos, pois, do muito que lhe
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devemos, pela sua extraordinária persistência. Ele estaria plenamente justificado se tivesse desistido de fazer mais tentativas por ocasião da miJésima qüingentésirna vez. Essa espécie de persistência pode ser chamada tenacidade. Ou tros exemplos de tenacidade nos dão os autores que continuam a oferecer manuscritos aos editores, a despeito de repetidas recusas. Caso típico e divertido é o de Júlio Verne, o pioneiro da ficção científica. Na idade de vinte e cinco anos, ao terminar o seu primeiro romance, foi batendo à porta de quatorze editores, sucessivamente, e todos eles riram-lhe na cara. O décimo quinto, finalmente, que se chamava Hetzel, ficou com o manuscrito para ler. Daí a dez dias, esse Hetzel não só prometeu publicar o romance como ofereceu a Verne um contrato de vinte anos, para um livro por ano. Estava feita a fortuna de Verne e também a de Hetzel, No mundo natural, percebe-se igualmente a persistência, a tenacidade e a repetição. Existe um provérbio latino, segundo o qual "a gota d'água fura a pedra, não pela força mas pela queda constante". Eis um princípio perfeitamente compreendido por conselheiros e ditadores. Do mesmo modo que a tantas qualidades da vontade, pode-se dar à persistência um uso bom ou mau. Ela é utilizada com êxito, e bem, numa técnica usada na psicossín tese: a repetição. Há outra forma de persistência: é a resistência. A resistência às provações físicas já foi fartamente demonstrada, de modo geral, no esporte e especialmente no alpinismo, além de ter-se tomado evidente nos últimos tempos - e de modo admirável - no caso dos astronautas. Trata-se de uma qualidade salvadora para quem se encontra em condições penosas e inevitáveis. Notável exemplo de resistência é a sobrevivência de Viktor Frankl , que, por força de vontade, sobreviveu aos campos de concentração nazistas - o que ele próprio descreveu vigorosamente em seu livro From Death Camp to Existentialism [Do Campo de Concentração ao Existencialismo J. São casos heróicos que nos podem auxiliar a superar a tendência para resmungar ou para nos entregar à autopiedade e desistir de nossos propósitos quando em face de privações e condições adversas de menor importância. Do ponto de vista existencial, essa atitude pode ser chamada de "disposiÇãO para aceitar o sofrimento". Verificou-se que a recusa em aceitar sofrimentos pode, não raro, criar condições neuróticas, ao passo que a generosa aceitação ele sofrimentos inevitáveis leva ao discernimento, ao amadurecimento e ao progresso. A paciência é outra forma ele persistência. É uma qualidade que, de 27
modo geral, não associamos à vontade, em vista da limitada compreensão do que significa a vontade; mas a paciência é parte de uma vontade plenamente desenvolvida. Não poucos au tores escreveram e reescreveram trechos de suas obras até se convencerem de que eles estavam tão bons quanto possível. Hermann Keyserling, que escrevia muito e com facilidade, revendo geralmente por alto ou quase nada, dizia que, à medida que escrevia o que ele próprio com razão considerava seu trabalho mais importante, Meditations sud-américaines, refez diversos capítulos seis ou sete vezes. Também Herningway, que habi tualmen te escrevia fluen temen te, refundiu um de seus contos dúzias de vezes. 6. Iniciativa - Coragem - Arrojo São qualidades de raiz dupla: uma delas é o reconhecimento de que a plena e duradoura segurança é fundamentalmente uma ilusão. Não existe segurança completa na vida, nem física, nem financeira, nem de qualquer outro tipo. Portanto, o anseio pela segurança a qualquer preço frustra-se a si próprio. Trata-se de uma atitude burguesa contra a qual existe atualmente uma saudável reação, particularmente entre os jovens. Outro incentivo à coragem é o realce e o estímulo proporcionados pelo perigo, o qual freqüentemente traz consigo um sentimento de clareza e de vida intensa, capaz de criar verdadeira expansão da consciência e mesmo um estado de êxtase. Experiências desse tipo foram descritas por alpinistas, pãra-que distas, mergulhadores e astronautas. O risco, é claro, não deve ser temerário e imprudente; também aqui existe o perigo do excesso e do risco desnecessário que não teria propósito, a não ser pela excitação emocional que proporciona. O risco aceito com coragem se justifica e só convém quando tem uma finalidade bem pensada e de alto valor - mas nunca como um fim em si mesmo. 7. Organização - Integração - Síntese Essas qualidades da vontade são, em certo sentido, as mais importantes; habilitam-na a preencher sua única e especifica função. Essa função e seu modo de operar, podem ser esclarecidos por meio de uma analogia com o corpo em estado saudável. Existe no corpo uma extraordinária coordenação das funções de todas as células, órgãos e grupos de órgãos, cujas funções e objetivos consistem em manter a vida e a atividade. O corpo eviden-
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cia a cooperação inteligente de cada elemento, desde as células até os zrano des sistemas funcionais, tais corno o respiratório, o digestivo, e assim por diante. Existe urna interação complexa e um equilíbrio mútuo da atividade das glândulas endócrinas, reguladas pelo sistema nervoso, a fim de criar condições de equilíbrio e mantê-Ias, a despeito de todos os impactos perturbadores do mundo externo. O corpo é, portanto, um organismo unificado, uma unidade funcional de partes diversas incontáveis - e uma demonstração perfeita da unidade na diversidade. Qual é o princípio unificador que torna isso possível? Sua natureza real nos escapa; só podemos chamá-Ia de vida; mas algo pode-se dizer quanto às suas qualidades e modos de operar. Elas têm recebido vários nomes: coordenação, interação ou sintese orgânica. Segundo o matemático Luigi Fantappie: esse pr.incípio é uma das manifestações da lei geral de sintropia, ou entropia negativa, da qual deu urna formação matemática precisa, verificada pelas observações. A sin tropia começa a ser reconhecida como o princípio fundamental da natureza, com implicações universais de longo alcance. Declara Buckminster Fuller: "Minha constante filosofia baseia-se em primeiro lugar, na suposição de que, contrabalançando o universo ern expansão de entropicamente crescente desordem e acaso, deve haver um padrão universal de omnicontração, convergência e ordem progressiva, sendo que o homem é essa função antien trópica de reordenação ... " Teilhard de Chardin apresenta uma ampla evidência dessa lei, citada na base de toda a evolução - biológica, psicológica e espiritual - e que produz o que ele chama de "complexificaçâo" e "convergência". Ele descreve os vários estágios desse processo de síntese - que na humanidade se torna crescente - no sentido da inclusão de um centro cósmico e superindividual J, que ele chama de ponto-ômega, Se considerarmos esse processo "de dentro", perceberemos que podemos ter uma experiência existencial dele. Podemos experimentá-l o corno energia inteligente, dirigida para um alvo definido e tendo um propósito. São estas também as características específicas da vontade, como expres3. Faz-se aqui necessário . ,
e rnal-cnt en di-I para descrever os mais altos aspectos do ser humano a serem atingidos através do que eles chamam de um processo de "individualiz ação ", Teilhard de Chardin , adotando a terminologia geralmente usada pelos escritores cristãos, usa as palavras "personalidade" e o prece _ so de "personalização ", pa.ra descrever as altas finalidades acima e além do "ind ~_ " I IVI d uo .
dos. E.nquanto
um esclarecimento
a fim de evitar confusões
psicólogos como Jung usam o termo "individualidade"
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são sintetizadora do sel]: Não há necessidade de discutir agora o modo pelo qual a força sinergética unificada opera no nível biológico. O que importa é compreender que podemos ter consciência de suas elevadas manifestações no ser humano consciente, bem como em níveis transpessoais. Esta qualidade da vontade opera de vários modos. Primeiro, como sinergia interior, coordenando as várias funções psicológicas; ela é a força unificadora que tende para a psicoss íntese pessoal e nos habilita para a sua realização. Ela também age no nível transpessoal e funciona no sentido da unificação do centro pessoal da consciência ou do "Eu", ou ego, com o Self Transpessoal, conduzindo à correspondente cooperação harmônica da vontade pessoal com a Von tade Transpessoal (psicossín tese transpessoal ou espiri tual). A vontade também demonstra sinergia nas atividades exteriores do indivíduo, em seus atos volitivos, tanto na coordenação e na organização dessas atividades, pelo Planejamento e a Programação (o quinto estágio da vontade em ação), como pela Direção e Regulamentação das fases sucessivas de sua Execução (sexto estágio). A operação das leis de cooperação e síntese é eviden te, não só no reino intrapessoal como também no largo campo das relações interpessoais, desde o casal até os demais grupos sociais e, finalmente, a toda a humanidade. Suas expressões têm sido chamadas de vários modos: empatia, identificação, amor, vontade social. Ela tende a transcender a oposição entre o indivíduo e a sociedade e entre a polaridade egoísmo/abnegação. Maslow chamava a transcendência dessa dicotornia "a criação de uma unidade superordenada" . Existe, finalmente, a sinergia planetária e cósmica que - por analogia - pode ser conjeturada como sendo a expressão da ação deliberada da vontade de corresponder aos princípios ou entidades transumanos conforme assegura Teilhard de Chardin. Portanto, segundo o que ele diz, esta é a meta necessária e lógica de todo o processo evolucionário. Eu havia chegado à mesma conclusão antes de conhecer os escritos de Teilhard de Chardin e a registrei na minha tese "Psicanálise e Psicossm tese ", publicada em 1934 no The Hibbert Joumal , mais tarde inclu ída no meu livro Psicologia Dinâmica e Psicossintese:
ou energia cósmica - o Espírito que labora sobre e no interior de toda a criação está lhe dando uma forma ordenada, harmonia e beleza, unindo todos os seres (alguns de boa vontade, mas a maioria ainda cega e rebelde) uns aos outros, por meio de laços de amor e - de forma lenta e silenciosa, mas forte e irresistível - dando realidade à Suprema Sintese.
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I De um ponto de vista mais amplo e abrangente,.a vida universal nos parece uma luta entre multiplicidade e unidade - um trabalho e uma aspiração de união. Aparentemente, sentimos que - quer o concebamos como ser divino
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EXERCICIOS PARA O DESENVOLVIMENTO DA VONTADE I. Compreensão do Valor da Vontade Acomode-se numa posição confortável, com os músculos relaxados, A. Configure, tão nitidamente quanto possível, a perda das oportunidades, os prejuízos, a dor, que você sentiu e fez outras pessoas sen tirem, coisas que realmen te ocorreram e poderiam voltar a ocorrer, como conseqüência de sua atual falta de força de vontade. Faça um exame de tais ocasiões, formule-as claramente: depois faça U17W lista por escrito de todas elas, Registre todos os sentimentos que essas lembranças e antevisões despertam em você, pois elas o comovem profundamente. Deixe que elas suscitem um forte ímpeto no sentido de mudar a situação. B. Configure na imaginação, o mais vividamente possível, as vantagens que lhe adviriam do uso efetivo da vontade; todos os benefícios, oportunidades e satisfações que isso proporcionaria a você e aos outros. Examine-os um por um, Formule-os com clareza. Escreva-os. Deixe-se invadir pelos sentimentos despertados por essas antecipações: a alegria das grandes possibilidades que se abrem dian te de você; o desejo in tenso de lhes dar realidade; a forte vontade de começar imediatamente. C. Imagine, com a maior vivacidade possível, que você está de posse de uma vontade forte; imagine-se caminhando com passo firme e resoluto, agindo com decisão, atenção concentrada e persistência, em todas as situações; imagine como resistiria a tentativas de intimidação e sedução; visualize-se tal como você há de ser quando atingir maestria interior e exterior1 .
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A VONTADE FORTE
Como vimos, a vontade forte é, em certo sentido, o mais fundamen-
tal e também o mais íntimo aspecto da vontade. Na força da vontade resi-
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de o seu poder, o seu ímpeto, a sua energia. Ao desenvolver a força da vontade, certificamo-nos de que um ato de vontade contém suficiente intensidade, suficiente "fogo", para levar avante seu projeto. Do mesmo modo que as demais funções, a força de vontade pode ser desenvolvida e aumentada por meio da prática e do exercício. Todavia, sublinharei novamente que a força, embora sendo um importante aspecto da vontade, é apenas um de seus aspectos; portanto, ao mesmo tempo que tentamos aumentar a força da vontade, devemos trabalhar para o desenvolvimento de todos os seus demais aspectos: a vontade hábil, a boa vontade e a Vontade Transpessoal. Uma vez que já nos familiarizamos com a vontade forte, principiarei, sem mais descrições, a discu tir alguns dos métodos práticos e dos exercícios que podem ser utilizados no seu desenvolvimento. A fim de assegurar o êxito do treinarnen to geral da von tade, torna-se oportuna uma preparação adequada, que desperte a exigência e o ímpeto iniciais; essa preparaçao deve produzir um vivo, um ardente e intenso desejo de desenvolver a vontade, desejo esse que deverá conduzir a uma firme decisão de fazer tudo que for proveitoso para atingir tal escopo. Isto, só por si, requer uma certa dose de vontade; mas, felizmen te, todos temos pelo menos alguma vontade e, embora talvez ela exista apenas em estado embrionário, bastará para o começo. A resolução firme pode ser conseqüência de uma exigência inicial, do ímpeto de um forte desejo de desenvolver a vontade.
Il. Evocação de Sentimentos Relativos à Vontade Este exercício consiste no uso de material de leitura especialmente adequado ao cultivo e ao reforço dos sentimentos e resoluções desper1. Essa é técnica do "Modelo Ideal". O exercício como um todo é baseado na técnica da visualização, devido ao seu valor e eficácia no processo criativo. Ver a discussão sobre o Modelo Ideal e a Visualizução no meu livro Psic OSS (li tese , págs. 177 ·88 c 157·
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tados pelo exerc ício preceden te. O material deve ter cará ter animador, positivo dinâmico e, além disso, estar apto a despertar autoconfiança e induzir à 'ação. São recomendáveis para este fim biografias de personalidades notáveis dotadas de grande von ta de , ou livros e artigos apropriados para despertar as energias internas. Contudo, para extrair todo o benefício de tais leituras é preciso que elas sejam feitas de modo especial. É preciso ler devagar, sem dividir a atenção, marcando as passagens que mais impressionam e copiando as que parecerem mais notáveis ou adaptadas ao caso particular do leitor. Eis uma citação de Self-Reliance [Autoconfiança], de Emerson, que tem sido útil a muitas pessoas: Há um momento na educação do homem em que ele atinge a convicção de que inveja é ignorância, de que imitação é suicídio e de que ele se deve contentar, para o bem ou para o mal, com o quinhão que U1e coube; que, embora o universo esteja repleto de bens, nenhum nutritivo grão de milho lhe tocará a não ser pelo trabalho aplicado na terra que U1e compete lavrar. A força que 'reside nele é' nova na natureza, e ninguém, senã_o ele próprio sabe o que ele poderá fazer; e nem ele mesmo o sabe enquanto nao expenmentar.
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Vale a pena ler muitas vezes esse trecho a fim de assimilar plenamente seu significado. Esses exercícios criam as condições internas ou o fervor, indispensáveis para a decisão de consagrar o tempo, a energia e os meios indispensáveis para o desenvolvimen to da vontade. Uma palavra de advertência: Não se deve conversar com o~ tras pessoas sobre esse assunto, nem mesmo com a intenção louvável de induzi-Ias a seguir o exemplo. A conversa tende a dispersar as energias necessárias e acumuladas para agir. Além disso, quem conta aos outros seus projetos pode provocar observações cépticas ou cínicas, que talvez susci tem dúvidas e desânimo. Trabalhe em silêncio. Essa preparação lançará as bases para os exercícios seguintes, dirigidos diretamente ao fortalecimento da vontade. A Ginástica da Vontade Ill. Exercicios "Inúteis" As bases do método são simples. Cada órgão e função do corpo pode ser desenvolvido por meio de exercício. Os músculos tornam-se mais fortes 34
por meio de uma série de contrações. Para fortalecer especificamente um músculo, ou um grupo de músculos, como no caso de um membro enfraquecido, existem exercícios projetados de tal modo que podem colocar em movimento apenas a parte enfraquecida do corpo. De igual modo, para fortalecer a vontade, melhor será exercê-Ia independentemente de qualquer outra função psicológica. Pode-se conseguir isso por meio de atos deliberados que não têm outro f1Jl1 que não o de treinar a vontade. A aplicação desses exercícios, aparen temente "inúteis", foi entusiasticamen te preconnizada por William James, nos seguintes termos: t preciso manter viva a faculdade de fazer esforços mediante pequenos exercícios inúteis, cada dia, isto é, ser sistematicamente heróico todos os dias, em pequenas coisas desnecessárias; dia sim dia não, faça alguma coisa pela única e simples razão de que é difícil e você preferiria não fazê-Ia; assim, quando bater a hora cruel do perigo, você não se sentirá desalentado e desprcparado. Uma auto disciplina desse tipo é semelhante ao seguro que se paga pela casa e pelos bens. O pagamento das prestações não é agradável e, possivelmente, jamais nos venha- a servir; mas se OCorrer um incêndio em nossa casa, esse pagamento nos salvará da ru ína. De igual modo, o homem que se habituou, constantemente, dia após dia, a concentrar a atenção, a suscitar a própria energia por um ato de vontade, para, por exemplo, não gastar dinheiro em coisas desnecessárias, será bem recompensado por seus esforços. Quando acontecer um desastre, ele estará firme como uma rocha, embora se defronte com ruínas por todos os lados, enquanto os companheiros de angústia serão varridos como a palha que cai da peneira. Mais tarde, Boyd Barrett baseou um método de treinamento de vontade em exercícios desse tipo. Esse método consiste em levar a efeito grande número de tarefas simples e fáceis, com precisão, regularidade e persistência. Trata-se de exercícios fáceis de fazer por qualquer pessoa, não sendo requeridas condições especiais. Será suficiente estar só e tranqüilo, durante cinco ou dez minutos por dia. Cada exercício ou tarefa deve ser praticado durante alguns dias, quase sempre uma semana, e depois substituído por outro, a fim de evitar a monotonia e a formação de um hábito que o tornaria automático. Eis um exercício desse tipo, citado no livro de Boyd Barrett, Strength of Will and How to Develop It [A força de vontade e COlIJO desenvolvê-Ia J: Resolução: "Todos sobre uma cadeira,
os dias, durante os próximos sete dias, ficarei de pé aqui em meu quarto, durante dez minutos consecutivos, e
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I, tentarei Iazê-lo de bom humor". Ao fim desses dez minu tos, escreva as sensações e estados mentais que experimentou durante esse tempo. Faça-o em cada um desses sete dias ...
Os seguintes trechos são de narrativas do livro citado: Primeiro dia: Exercício um tanto estranho e sorrir ou de cruzar os braços ou de colocar as mãos contente. Foi difícil para mim manter uma atitude sem fazer nada. Na turalmcnte , distra íram -me vários pio: "No que vai dar esta experiência?" etc.
fora do natural. Tive de na cintura para me sentir de satisfação voluntária pensarnen tos, por e xern-
Segundo dia: O tempo do exercício passou fácil e agradavelmente. Tive uma sensação de satisfação, de orgulho e de virilidade. Senti-me "revigorado", mental e fisicamente, pelo simples fato de exercer a minha vontade e manter a minha resolução. Terceiro dia: Experimentei um sentimento de força ao executar o exercício que me impus. Sente-se alegria e júbilo no ato de vontade. Este exercício "me revigora" moralmente, desperta-me um sentimento de nobreza e de virilidade. Mantenho uma atitude, não de submissão ou de resignação, mas de querer ativamente o que faço, e isto é o que me proporciona satisfação.
Boyd Barrett propõe vários outros exercícios do mesmo tipo: 1. Repita baixinho e em voz alta: "Quero fazer isto", ao mesmo tempo que marca tempo com uma bengala ou uma régua, durante cinco minu tos. 2. Ande de um lado para outro numa sala, dando um toque, digamos, no relógio da comija da lareira e num certo vidro da janela, durante cinco rninu tos. 3. Escute o tique-taque de um relógio, fazendo algum movimento definido a cada quinta batida. 4. Sente-se e levante-se de uma cadeira trinta vezes por dia. S. Coloque numa caixinha, muito lenta e deliberadamente, cem palitos de fósforo ou cem pedacinhos de papel (este exercício é particularmente apropriado para combater a impulsividade).
Pode-se inventar técnicas similares ad libitum. O importan te não é executar este exercício ou aquele, mas o modo como você o faz. Ele deve ser executado com boa vontade, interesse, precisão e estilo. Procure melhorar constantemente a qualidade da execução, a clareza da introspecção, a fidelidade do relatório escrito e, acima de tudo, procure desenvolver a consciência e a energia da vontade. É bom competir consigo mesmo; em ou tras palavras, é bom assumir uma "a ti tu de esportiva", no melhor sen tido da palavra. 36
IV, ExerClÓOS Fisicos Para Fortalecer a Vontade
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Estes exercícios constituem uma técnica eficaz quando utilizados com a intenção e o propósito específicos de desenvolver a vontade. Conforme a expressão do escritor francês Gillet: "A ginástica é a escola elementar da vontade ... e serve de modelo para a escola da mente". Na realidade, cada movimento físico é um ato de vontade, um comando dado ao corpo; e a deliberada repetição desses atos - com atenção, esforço e resistência exercita e revigora a vontade. Despertam-se desse modo sensações orgânicas: todos eles produzem um sentimento de força íntima, de decisão e de maestria, que suscita o tônus da vontade e desenvolve sua energia. Todavia, para extrair desses exercícios o mais amplo benefício, é necessário que sejam executados com o objetivo exclusivo, ou pelo menos com o objetivo principal, de treinar a von tade. Tais exercícios devem ser executados com precisão medida e atenção. Não devem ser fatigantes nem violentos, mas cada movimento ou grupo de movimentos deve ser executado com desembaraço e decisão. Os exercícios e esportes mais apropriados para este fim não são os de natureza arrebatada e emocionante, mas os que requerem resistência, calma, destreza e coragem e que permitem interrupções e variedade de movimentos. Muitos esportes feitos ao ar livre - tais como o golfe, o tênis, a patinação, o andar a pé, o alpinismo - são particularmente apropriados para o treinamento da von tade ; onde estes não forem possíveis, sempre se pode fazer exercícios na intimidade do próprio quarto. Existem muitos livros e manuais que tratam das técnicas dos movimen tos corporais.
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V. Exercicios da Vontade na Vida Diária A vida diária, com suas muitas tarefas e ocupações, apresenta oportunidades sem conta para o desenvolvimento da vontade. A maioria de nossas atividades pode nos auxiliar neste caso, uma vez que, por meio de nossos propósitos, de nossa atitude interior e do modo pelo qual as executamos, podem tornar-se verdadeiros exercícios de vontade. Por exemplo, o mero fato de levantar-nos de manhã à hora certa pode valer, especialmente se conseguirmos despertar dez ou quinze minu tos an tes da hora de costume. Também o ato de nos vestirmos para começar o dia pode oferecer oportunidade para executarmos os vários movimentos com precisão e sem pressa. "Calma com rapidez" pode ser uma divisa muito útil. Ter pressa deva-
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gar, se não é fácil, é possível; e pode levar à maior eficácia , a um prazer maior e a uma cria tividade desprovida de tensão e de exaustão. Isso não é fácil; requer uma atitude de percepção dupla: a daquele que age e a daquele que contempla como observador. Durante o resto do dia, podemos fazer grande número de exercícios para o desenvolvimento da vontade, exercícios que, ao mesmo tempo, nos tornam aptos a expandir outras qualidades úteis. Por exemplo: manter a serenidade durante o trabalho cotidiano, por mais tediosa que seja a tarefa; ou controlar os movimentos de impaciência, no confronto com dificuldades insignificantes ou aborrecidas, tais como dirigir em meio a um trânsito engarrafado, esperar ou notar erros ou falhas num subordinado, ou ser tratado injustamente por um superior. Do mesmo modo, ao voltar para casa, temos a oportunidade de fazer exercícios importantes e, ao mesmo tempo, simples: o controle do impulso de dar rédeas ao mau humor causado pelas afrontas, preocupações ou cuidados com os negócios; lidar serenamente com o que se nos deparar; tentar compor as desarmonias do lar. À mesa do jantar, devemos exercitar-nos de um modo não menos útil para a saúde e para a vontade, controlando o desejo de comer depressa, ao mesmo tempo em que se pensa em negócios etc., treinando assim o hábito de mastigar bem e de saborear a refeição com calma e relaxamento. À noite, temos outras ocasiões de treinar, tais como as de resistir à sedução de pessoas e coisas que nos fariam perder tempo e energia. Tanto fora de casa, no trabalho, quanto em casa, podemos perfeitamente interromper nossas tarefas quando cansados, controlando a pressa de terminar o serviço. Podemos conceder-nos um pouco de repouso e de recreação, com sabedoria; um curto período de descanso, aos primeiros sinais de fadiga, é mais benéfico que um longo repouso forçado pela exaustão. Durante esses períodos de repouso, seriam suficientes alguns exercícios musculares ou de relaxamento, de poucos minutos de duração, com os olhos fechados. Para a fadiga mental, os exercícios físicos são geralmente os mais benéficos e, com a prática, cada pessoa pode procurar os mais apropriados para o seu caso. Uma das vantagens das interrupções curtas é que não se perde o interesse ou o ímpeto do trabalho que se tem à mão e, ao mesmo tempo, supera-se a fadiga e a tensão nervosa. A atividade de ritmo ordenado gera harmonia no ser humano e a harmonia é a lei universal da vida. 38
Uma das principais dificuldades no desenvolvimen to de uma von tade fraca é a falta de "vontade" com que se trabalha! Nessa situação, ajuda muito engajar ternporariamen te o auxílio dos impulsos pessoais, tais como o orgulho ou ambição, que podem proporcionar um incentivo mais forte que a vontade pura. Um dos melhores incentivos é o instinto lúdico - a atitude esportiva da competição consigo mesmo cria um tal ímpeto, por ser interessante e divertida, que não suscita a resistência ou a rebeldia, que surgiriam de uma imposição coercitiva da vontade. Uma palavra de advertência: não é indispensável e nem mesmo desejável, realizar todos esses exercícios de uma só vez. O aconselhãvel é começar com uns poucos por dia a largos intervalos, principiando com os mais fáceis. Alcançando-se algum êxito com estes, pode-se aumentar gradualmente o seu número, variando-os, alternando-os e executando-os com alegria e interesse, marcando pontos e falhas, propondo-se recordes e tentando quebrá-Ias, com espírito prazenteiro e esportivo. Evita-se assim o perigo de tornar a vida por demais rígida e mecânica, dando cor e interesse ao que, de outro modo, seriam deveres tediosos. Todas as pessoas com quem nos associamos podem tornar-se colaboradores nossos (sem o saber). Por exemplo, um chefe domina dor ou um sócio exigente tornam-se, por assim dizer, barras paralelas mentais em que nossa vontade - a vontade das boas relações humanas - poderá desenvolver sua [orça e proficiência. As delongas, quando esperamos por uma refeição, nos dão oportunidade para exercer a paciência e a serenidade, bem como o ensejo de ler um bom Livro enquanto esperamos. Antigos tagarelas ou pessoas que nos fazem perder tempo, proporcionam-nos ensejo de con trolar nossa loquacidade; eles nos ensinam a arte da recusa cortês mas fume de nos metermos em conversas desnecessárias. Saber dizer "não" é disciplina difícil mas muito importante. Como diz o ditado budista: "Um inimigo é tão útil como um Buda",
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5 A VONTADE HÁBIL: SUAS LEIS PSICOLÓGICAS
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A psicologia moderna evidenciou que a vontade, quando se opõe diretamente às demais forças psicológicas, tais como a imaginação, a emoção e os impulsos, é freqüentemente derrotada. Todavia, a limitada concepção vitoriana da vontade como força pura, nos induz a usá-Ia precisamente desse modo direto, que não raro é desastrado e mesmo brutal. Ou a reagir a isto, balançando o pêndulo para o extremo oposto de não usá-Ia de modo algum. Em outras palavras, conforme já dissemos, existem dois erros causados pelas atitudes extremas no que diz respeito à vontade e às suas relações com as demais funções psicológicas. Um deles é a tradicional tentativa de forçar essas funções a operar por meio da pura força e da imposição direta. O outro erro, que hoje em dia prevalece, é o de abdicar da vontade, deixando que os anseies, impulsos e desejos simplesmente "aconteçam", sem os regular nem dirigir de uma forma consistente. Em tal situação, a função que no momento é a mais forte poderá capturar a atenção da pessoa e expressar-se - inibindo e reprimindo desse modo todas as demais funções, menos poderosas. Isso causará um conflito interno e uma tensão, reduzindo a eficácia, através da dispersão das energias e das reações interiores, potencialmente prejudiciais à própria pessoa e aos outros. Podemos evitar esses erros, compreendendo e lembrando que a vontade é capaz de realizar seus desígnios, contanto que não conte somente com sua força mas igualmente com sua habilidade. A função essencial da vontade hábil, que precisamos cultivar, é a ha40
bilidade para desenvolver essa estratégia, que é a mais eficaz e a que envolve maior economia de recursos, de preferência a qualquer outra, mais direta e óbvia. Por exemplo, se queremos dar partida no nosso carro e nos colocarmos atrás dele, empurrando-o com todas as nossas forças - estaremos empregando um tipo de vontade apenas forte. Mas se nos sentarmos atrás da direção, ligarmos a ignição e dirigirmos o carro, estaremos empregando uma vontade hábil. No primeiro caso, teremos boas probabilidades de malogro e, mesmo com êxito, teremos dispendido desnecessariamente uma enorme soma de energia. Teremos feito um desagradável esforço, que poderá deixar-nos temporariamente exauridos e, certamente, haveremos de fazer o possível para que tal experiência não se repita no futuro. No segundo caso, o êxito é garantido - com um mínimo de esforço - contanto que, an tes, nos tenhamos informado acerca do funcionamento do carro e tenhamos suficiente habilidade para lidar com ele. O papel mais eficiente e satisfatório da vontade não é de ser fonte direta de energia e poder, mas o de ser a função que temos à nossa disposição para estimular, regular e dirigir todas as demais funções e forças de nosso ser, a fim de que elas nos possam conduzir a um objetivo predeterminado. Como no caso do carro, porém, precisamos compreender o mundo psicológico dentro do qual e no qual a vontade opera. Compreendendo isto, podemos escolher os meios e estratégias mais práticos e eficientes, que mais esforços economizam, para seguir nosso caminho. Precisamos conhecer os elementos básicos desse mundo psicológico, as forças que nele agem e as leis que regulam o ato de vontade. Este conhecimento nos leva a dirigir habilmente a atividade que a vontade tenciona realizar e nos capacita a efetivar inúmeras aplicações práticas dessas leis psicológicas, sob a direção da vontade. No restante deste capítulo, trataremos desses elementos, forças e leis psicológicas. No próximo, apresentaremos algumas técnicas específicas e sua explicação lógica para o emprego da vontade hábil. Essas técnicas, que podem ser consideradas exemplos ilustrativos dos princípios gerais que examinamos, nós as escolhemos pela sua eficácia, em relação a um amplo leque de situações da vida de todos os dias. Assim, além de representar uWizações lípicas dos conceitos básicos e dos métodos da vontade hábil, elas oferecem ao leitor meios práticos e exercícios para desenvolver sua von tade hábil e apreciar seu valor como experiência pessoal. À medida que se adquire maior proficiência e familiaridade, pode-se ir aos poucos modificando essas técnicas, adaptando-as às necessidades individuais e inventando novas. 41
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Elementos
Psicológicos
A estrutura psicológica geral do ser humano, o relacionamento entre o Eu pessoal e o SeI! Transpessoal, bem como o relacionamento entre a área da consciência e o inconscien te circundan te foram brevcrnen te indicados no Capítulo 2 (ver diagrama na pag. 15) I . Mas é necessário conhecer também as várias funções psicológicas e o relacionamento entre elas. Têm sido feitas muitas classificações das funções, mas considero a seguinte a mais abrangente. 1. Sensação; 2. Emoção-Sentimento; 3. Impulso-Desejo; 4. Imaginação; 5. Pensamento; 6. Intuição; 7. Vontade. Elas são representadas no diagrama a seguir, no qual é indicada a posição central e específica da von tade. 6
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do". Na psicanálise clássica, a ênfase recai no último: seus objetivos principais são a defecção das repressões, complexos e conflitos e a tentativa de eliminá-I os. Grande parte do inconscien te, porém, não e condicionada desse modo; é plástica, sendo que é tal a sua susce tibilidade às influências que ele se toma como que um amontoado inexaurível de filmes fotográficos virgens. O inconsciente condicionado, por outro lado, pode ser comparado a uma quan tidade de filmes já expostos. Neste particular, somos semelhantes a câmaras de filmar que funcionam ininterruptamente, de modo que, a cada momento, uma nova parte do filme sensível está recebendo as impressões e imagens que surgem diante da lente. Mas as novas impressões assim recebidas não permanecem em condição estática. Elas agem em nós; são forças vivas que estimulam e evocam outras, de acordo com as leis psicológicas que serão enumeradas no próximo trecho. Isso pode ser considerado de um ângulo diferente, pelo uso de outra analogia. Assim como nosso corpo absorve continuamente elementos vitais do mundo exterior - do ar, da luz, da água e de vários alimentos - e esses elemen tos exercem influências variadas, segundo sua natureza benéfica ou maléfica, saudável ou perniciosa -, assim também nosso inconsciente absorve continuamente elementos do ambiente psicológico. Assimila e, por assim dizer, respira substâncias psicológicas cuja natureza determina se seus efeitos serão para nós benéficos ou prejudiciais. Segundo os hindus:
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Os relacionamentos entre essas funções são complexos, mas existem duas espécies de interação: primeiro, a que Ocorre espontaneamente, podese dizer até mecanicamente; segundo, as que são influenciacills, governadas e dirigidas pela vontade. Forças Psicológicas Isso nos leva a considerar a diferença entre o que se pode chamar de inconsciente "plástico" e o inconsciente "estruturado ' ou "coridiciona-
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1. Parece desnecessário repetir aqui a discussão trada em Psicossintese, págs. 30-{Í.
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desses assuntos,
que pode ser encon-
Sarvan annam , tudo é alimento. Alimentamo-nos não só de comidas, vegetarianas ou não, mas de todas as vibrações sonoras e visuais, de toda espécie de impressões: de proporções arquitetônícas, de conjunções de formas e cores, ele harmonias, ritmos e de música, e de toda idéia com a qual entramos em contato. Tudo isso, mecanicamente absorvido e sem que lhe tenhamos dado uma atenção real durante o dia todo, perfaz o nosso ser de um modo contínuo. i·
Mas é possível aprender a usar habilmente essas influências, construindo em nós aquilo que preferimos. A dinâmica da assimilação é regulada por leis tão definidas quan to as que governam energias físicas. As várias funções psicológicas interagem e interpenetrarn-se, mas a vontade está em condições de dirigir essa interação, essa interpenetração. A posição central da vontade proporciona-lhe supremacia por meio de seu poder regulamentador, mas esse poder, por sua vez, é governado por leis psicológicas. Ignorar essas leis significa esperdiçar ou arriscar-se a empregar maio poder inerente à vontade, por sua posição central. O 43
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conhecimento dessas leis, portanto, e o emprego das técnicas em que se baseiam, é de fundamental importância. Enumeraremos aqui as que têm relação prática com o uso da vontade. Acredito que o conhecimento dessas leis e de algumas de suas aplicações práticas, que examinaremos no próximo capítulo, oferece uma base fume para quem desejar treinar a sua vontade para agir com habilidade. O leitor talvez prefira estudar logo as leis e mais tarde voltar a esse estudo a fim de dar maior consistência aos seus conhecimen tos. Lei I: As imagens ou idéias e quadros mentais tendem a produzir as condições [isicas e os atos exteriores que lhes correspondem. Essa lei foi formulada também do seguinte modo: "Toda imagem traz em si um elemento motor. " Toda idéia é um ato, em seu estado inicial. William Jarnes foi um dos primeiros a chamar a atenção para a ação "Ideo-motora ", na qual a idéia central liberta, dispara e dá vida ao sistema . muscular em expectativa. A existência desta lei, ou processo, tem sido fartamente evidenciada pelos efeitos da influência h.ipnótica e, durante a vigflia, pela sugestão e auto-sugestão. À objeção de que nem sempre se tem consciência de que as imagens e idéias se transformam em atos, pode-se responder que tal não acontece porque habitualmente muitas imagens e quadros acorrem à nossa mente ao mesmo tempo ou sucedem-se rapidamente, entrando em conflito uns com os outros ou se atrapalhando mutuamente. Esta lei situa-se na base de todas as influências psicossomáticas, quer patológicas quer terapêuticas, constituindo um dos fatores que explicam a sugestão das massas - tão inteligentemente explorada pelos publicitários e demais "persuasores", incluindo os Iíderes políticos. A vontade localizada no centro mobiliza as energias da imaginação e do pensamento e utiliza essas energias no interior do indivíduo para efetivar seu plano. Portanto, a vontade pode ser consciente e intencionalmente empregada pelo indivíduo, para escolher, evocar e concen trar as idéias que o podem auxiliar e produzir as ações que deseja. Por exemplo, as imagens ou idéias de coragem ou de altos propósitos, se habilmente utilizadas, tendem a evocar coragem e a produzir atos corajosos. Lei JI: As atitudes, movimentos e ações tendem a evocar imagens e idéias correspondentes; e estas, por sua vez (segundo a lei seguinte) evocam ou intensificam emoções e sentimentos correspondentes. O fato acima fica clararnen te provado pelas experiências seguin tes: se fecharmos o punho de uma pessoa sensível, hipnotizada, ela própria 44
gradualmen te fechará o ou tro punho, levan tarã o braço. fechará firrncmen te a boca e franzirá as sobrancelhas, sugerindo em todo o seu aspecto um crescente estado de ira. Sabemos que, na vida, "desempenhar um papel" tende a despertar as idéias e sentimentos correspondentes; assim, quem fala grosso e comporta-se como se estivesse zangado tende a despertar uma irritação real. Isso pode ser freqüentemente observado em crianças que principiam uma briga por brincadeira e gradualmente se envolvem de tal modo que acabam brigando a sério. Esta lei fornece a base do método que certas pessoas usam para compreender e penetrar nas condições psicológicas dos outros. Elas imitam artificialmente a postura corporal e a expressão facial da pessoa que observam e, ao fazé-l o , despertam em si próprios as condições psicológicas corresponden teso A von tade, portan to, pode mover o corpo e, assim, evocar as imagens e idéias correspondentes que deseja fortalecer. Em outras palavras: por meio de movimentos conscientes e intencionais, pode-se evocar e fortalecer estados interiores positivos ou desejados. O uso de movimentos de dança apropriados e a técnica oriental do mudra são aplicações típicas desta lei. O uso habilidoso do corpo, sob a Lei Il pode fortalecer ainda mais a força motora (Lei I) das imagens e idéias. Por exemplo: a pessoa que trabalha para desenvolver e expressar coragem mediante o uso de sua imaginação e de seus pensamentos, segundo a Lei I, pode também usar o corpo intencionalmente, assumindo a atitude física correspondente à coragem. Deste modo, seu corpo intensificará e reforçará sua imaginação e seus pensamentos, segundo a Lei II - o que, por sua vez, evocará e intensificará a própria coragem, criando um fluxo de energias reforçador, um círculo positivo de feedback, ou realimentação, que o conduzirá a realizar constantemente ações corajosas. Esta lei e sua aplicação serão ampliadas quando examinarmos a técnica de "agir como se", no capítulo seguinte. Lei fI!: As idéias e imagens tendem a despertar emoções e sentimentos que lhes correspondem. Isto relaciona-se ele perto com a Lei l. Idéias e imagens tendem a produzir atos, de acordo com a primeira lei, e emoções, de acordo com esta. Saber se as emoções ou os atos foram primeiramente despertados por uma idéia ou imagem específica é algo que depende da natureza da própria idéia ou imagem e do tipo psicológico do indivíduo. Ou antes, por meio de uma hábil aplicação desta lei, a vontade centralmente localizada mobilizará a 45
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energia das emoções e sen limen tos median te o uso de idéias e de imagens apropriadas. A técnica das "palavras evocativas", longarnente descrita no próximo capítulo, é uma aplicação sistemática desta lei; mas não faltam exemplos dela na clínica prática, na história e em muitos outros campos de ação. Um jovem morfinõrnano desejava seriamente livrar-se de sua escravidão. Aconselharam-no a escrever vinte vezes por dia um versículo de um certo salmo, o que ele fez escrupulosamente até que, tendo-o feito sete mil vezes, sentiu que se livrara da sua compulsão e dela permaneceu livre. Sete mil pode parecer um número muito alto, mas corresponde a menos que o tempo decorrido durante um ano. Há outra história famosa que se refere à filha de um almirante inglês a qual, tendo lido um panfleto de Gandhi, de tal modo se entusiasmou com as idéias dele que embarcou para a India, dando um desgosto ao pai. Lá tornou-se ativa colaboradora e secretária de Gandhi, durante muitos anos. Pode-se dizer que as idéias de Gandhi despertaram profundos sentimen tos e estes, por sua vez, segundo a Lei rx e a Lei X, que examinaremos a seguir, levaram-na à ação. Lei IV: As emoções e impressões tendem a despertar e a intensificor idéias e imagens que lhes correspondem ou que lhes estão associadas. As emoções evocadas por meio de idéias e de imagens (Lei III), podem por sua vez despertar e intensificar idéias associadas. Aqui, também, temos um processo de feedback, ou de realimentação, que pode operar para o bem ou para o mal. Freqüentemente, ele funciona de modo negativo; por exemplo, o medo de adoecer cria uma espécie de imagens de enfermidade que são prejudiciais, tanto por serem depressivas como, e ainda mais, pelas imagens mentais assim evoca das , que tendem a produzir condições físicas correspondentes, i. e., perturbações psicossomáticas (pela ação da Lei I). Somos, assim, apanhados num círculo vicioso, onde uma emoção cria uma imagem que, por sua vez, afeta as condições físicas, produzindo mais emoções. Podemos quebrar este círculo em muitos lugares, de acordo com as leis que ora consideramos. Se desejamos começar lidando com as emoções, a técnica mais útil é a da auto-identificação, descrita no Apêndice 1 (pág. 169). Lei V: As necessidades, impetos, impulsos e desejos tendem a despertar idéias e emoções correspondentes. As imagens e idéias, por sua vez (segundo a lei I), estimulam ações correspondentes. Um dos exemplos desta lei que mais freqüentemente ocorre é o que, em psicanálise, se chama "racionalização". Quando existe um forte desejo
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ou anseio, ele influencia a inteligência no.sentido de encontrar razões, ou antes, pseudo-razões, para se realizar. Este processo encontra-se também na origem da tendência geral de racionalizar desejos. Uma vez conscientes desta lei, somos alerta dos para a possibilidade de haver ilusões men tais e emocionais produzidas pela racionalização. Podemos aprender a tomar consciência de nossos impulsos, anseios e desejos, e do que eles nos compeliriam a fazer. Em vez de sermos arrastados por eles ou iludidos, até crermos que se trata de razões justas e válidas, poderemos examinar estas pseudo-razões e decidir lucidamente, a partir da posição central e vantajosa de nossa vontade, quer as queiramos seguir ou não. Se, por exemplo, no ato de pronunciar uma conferência diante de grande audiência, me acudir repentinamente uma "boa" razão para deixar o palco e ir para a casa, posso me lembrar desta lei e tomar consciência de que há uma compulsão interior imperiosa agindo dentro de mim. Nesse caso, eu poderia optar pelo uso de uma das ou tras leis psicológicas e imaginar que estou pronunciando uma conferência muito seguro de mim; assim acalmarei a agitação emocional e também me mobilizo para realizar um ato de vontade. Se a vontade for habilmente utilizada, não haverá necessidade de reprimir sentimentos negativos ou dominã-los com severidade. Tais processos são ineficazes e exigem um preço al to demais. Lei VI: A atenção, o interesse, as afirmações e repetições reforçam as
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idéias, imagens e formações psicológicas nas quais elas estão centradas. A atenção torna as imagens e idéias mais claras e mais exatas, possibilitando o descobrimento de novos elementos e pormenores. Ela pode ser comparada a uma lente através da qual observamos um objeto. A imagem torna-se maior, mais clara e mais nítida. A que fica no centro da atenção é bem definida, ao passo que a circunferência permanece indistinta. (Esta última pode ser chamada de "consciência marginal"; ela pertence a uma esfera semiconsciente, zona intermediária entre o consciente e o inconsciente.) O interesse aumenta a proeminência das idéias e imagens. Em virtude dele, elas passam a ocupar um espaço maior no campo da consciência e nele permanecem por mais tempo. O interesse realça e reforça a atenção. Inversamente, a atenção tende a aumentar o interesse (este é também um processo de realimen tação). Afirmar imagens e idéias aumen ta-lhes a força e a eficácia. A repetição age como um martelo que bate num prego e promove a penetração e a fixação de uma idéia ou imagem, até que esta se torne 47
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domi.na~ t~ ou mesmo obsessiva, Trata-se de uma técnica muito usada pelos publicitários; as enormes somas gastas com proveito a fim de colocar sempre o mesmo anúncio sob os olhos do público provam de modo convincen te a eficácia da repe tição. Mas a repetição pode ser utilizada de modo oposto a este. Podemos retir~r, deliberadamente , a atenção e o interesse de uma imagem que não desejamos ver, ou de uma idéia ou formação psicol6gica, e assim, gradualmente desenergizá-la, reduzindo-lhe a atividade. Neste caso, ela cessará de ser um fator de perturbação ou de influir prejudicialmente. Várias aplicações deste princípio e, particularmente, da técnica da substituição, serão encontradas no pr6ximo capítulo, no trecho sobre a "Respiração e Alimentação Psicológica". Lei VII: A repetição das ações intensifica a compulsão de prosseguir com a reiteração delas e toma sua execução mais fácil e perfeita, até que elas passam a ser executadas inconscientemente É assim que se formam os hábitos, que podem ser comparados a ruas e veredas; é mui to mais fácil e convenien te andar por uma rua do que abrir caminho através da vegetação rasteira das terras incultas. Os atos repetidos que se tornam habituais passam para o inconscien te, libertando o consciente para atividades mais altas. Trata-se de um fato estabelecido no caso das funções biológicas. Em seu livro La Psychologie de I 'Educatio n , Gustave Le Bon chega a afirmar que "educação é a arte de fazer o consciente passar para o inconsciente". Se tal afirmação é verdadeira para o aprendizado e as especializações, não é, por certo, o objetivo da educação como um todo. Poder-se-ia dizer exatamente o contrário, no que toca a seus aspectos mais elevados. A etimologia da palavra "educação" (e-ducere) expressa seu verdadeiro objetivo e função: "extrair" do inconsciente as possibilidades latentes, ativar as energias nele adormecidas e, particularmente, em sua mais alta esfera, no supraconsciente. Os hábitos tendem a limitar-nos, a obrigar-nos a seguir apenas a trilha batida. Mas, como disse muito acertadamen te William James: "A vontade e o intelecto podem formar hábitos de pensamento e de vontade, Somos responsáveis pela formação dos hábitos, e mesmo quando agimos de acordo com eles, agimos livremente". Lei VII!: Todas as várias funções, e suas múltiplas combinações em complexos e subpersonalidades, adotam meios de realizar seus objetivos sem que disso tomemos consciência, independentemente de e até contra a nossa vontade consciente.
A esta lei l3audoin deu o nome de "Lei do Finalismo Subconsciente" e descreveu-lhe pormenorizadamente o funcionamento, explicando o modo de u tilizã-la na terapia e na educação, em sua obra Suggestion and Autosuggestion. Ela é de fundamental importância. Devemos compreender que raramente temos consciência dos mecanismos psicológicos e psicofisiol6gicos que produzem modificações físicas e atos exteriores. Eis aqui o verdadeiro mistério do relacionamento e in teração entre os fatos psicológicos e os físicos, mistério que, a despeito de todas as nossas tentativas, não foi ainda satisfatoriamente solucionado e explicado. A mais simples e clara evidência é oferecida pelos movimen tos musculares, quaisquer que eles sejam. Digamos que um homem queira movimentar um braço, ou que lhe venha a idéia de fazê-Ia. Trata-se de algo que ele pode fazer com facilidade, embora ignore completamente o mecanismo complexo e admiravelmente coordenado que converte a idéia em ato. A idéia ou quadro mental do braço em movimento produz um estímulo das células rnotoras do córtex do hemisfério oposto do cérebro. Nessas células motoras inicia-se um impulso, aparentemente de natureza elétrica que flui através das fibras até, finalmente, atingir os músculos envolvidos no movimento. Esse estímulo produz uma contração das fibras musculares que ativam o movimento. Um homem de músculos fortes pode movimentar-se com mais eficiência que um erudito anatomista ou fisiologista que tenha um corpo Frágil. O mesmo é verdade não só no que toca às reações psicofísicas, mas quanto a todas as atividades que se passam no próprio psiquismo. Processos mais complexos e extensos seguem o mesmo padrão: o quadro mental do objetivo a ser atingido dá início a uma atividade inconscien te dirigida à realização desse obje tivo. Mas permanecemos ignorantes do que se refere ao seu funcionamento. É o caso da criatividade, quer artística, quer científica ou técnica. Ela requer, não raro, um período de elaboração ou de incubação, durante o qual é aconselhável deixar trabalhar o inconsciente, sem maiores interferências da vontade consciente. Paradoxalmente, a atenção consciente ou a preocupação emocional com os processos criativos é para eles fator de perturbação. O que então acontece pode comparar-se a um executivo que incumbisse um trabalhador de executar determinada tarefa. Desde que o trabalhador tenha compreendido o que deve fazer, o executivo deve permitir que ele o faça, sem mais interferência ou incentivo. , Eis a natureza da espontaneidade. De um certo ponto de vista, podese dizer que a atividade inconsciente é espontânea, isto é, que funciona
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cspon tancarnen te, do nosso pon to de vista, e sem nossa cooperação consciente. Muitos artistas criativos e pesquisadores experimentaram na prática o funcionamento desta lei. Eles dão o impulso inicial e depois deixam que a elaboração conseqüente ocorra de um modo natural e espontâneo. Mas esta questão é muito diferente da do "culto da espontaneidade", expresso na anuência não-controlada a qualquer emoção, impulso ou capricho. Lei IX: Anseias, impulsos, desejos e emoções tendem a exigir expressão e precisam manifestar-se. Os anseios e desejos constituem o aspecto ativo e dinâmico de nossa vida psicológica. São as molas propulsoras de todas as ações humanas. Sua origem, natureza, valor e efeitos, porém, diferem em larga medida: devem, pois, ser reconhecidos e examinados com a mesma objetividade com que se estuda um objeto natural. Este processo exige uma desidentificação do objeto, pelo menos temporária; e isto, por sua vez, significa a aquisição da percepção do ego, do "Eu" consciente, como algo distinto desses elementos e forças psicológicas; e desse ponto central devemos observar seu funcionamento. Aqui é imprescindível um ato de vontade, e a vontade, como vimos, é a mais imediata e direta função do "Ego". À observação deve seguir-se a valoração, A ciência, particularmente a ciência psicológica, não pode evitar a valoração. A. H. Maslow apresentou de forma competente e convincente as razões deste fato, em seus livros The Psychology of Science e Motivation and Personality [A Psicologia da Ciência e Motivação e Personalidade]. O problema prático, questão que se nos depara a todo instante, é o seguinte: de que modo dar expressão adequada e construtiva, ou pelo menos inofensiva, a cada um desses anseios, ímpetos, emoções etc.? Dar-lhes expressão é indispensável. Caso contrário, ou se o medo, a condenação ou outros motivos nos induzirem a renegã-los e reprimi-los, eles produzirão tensão psicológica e nervosa e, afetando o corpo, serão capazes de criar perturbações psicossornãticas. Este fato já foi vigorosamente enfatizado pela psicanálise e nele se baseia a esperança de eliminar todas as inibições e entraves ao Livre curso das energias enfeixadas de modo geral sob o termo libido. Todavia, essa expressão incontrolada nem sempre é desejável, em vista das conseqüências nocivas que pode ocasionar à própria pessoa e aos demais e, em muitos casos, isso nem mesmo é possível. Existe, porém, uma série de métodos que podem dar expressão inofensiva e construtiva a muitos anseios compulsivos. Seu valor, rnultiplicidade e diversidade irn-
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põem que sejam pormenorizadamente examinados, cuidadosamente s~lecionados e apropriadamente aplicados, segundo as situações existenciais específicas com que continuamente nos deparamos na vida. A lei que se segue trata desses métodos. _ . Lei X: As energias psicológicas encontram expressao: 1) diretamente (descarga, catarse]; 2) indiretamente, por meio de atos simbólicos; 3) por meio de um processo de transmutação. 1. À primeira vista, os modos de expressão direta não parecem exigir muitos comentários. São simplesmente os meios pelos quais se obtém a natural e saudável gratificação das necessidades e tendências fundamentais. Na realidade, porém, as coisas não são tão singelas. Freqüentemente desenvolvem-se conflitos entre essas necessidades e tendências - conflitos que impõem prioridades e limites à sua gratificaç~o ~ chegam a negar. a sua realização. Além disso, nem todas essas tendências podem ser satisfeitas ao mesmo tempo; é forçoso regular-lhes a expressão, na base de critérios de possibilidade e conveniência. E esse fato, por sua vez, reclama deliberação, escolha e decisão, em suma, atos de vontade. Certas restrições impõem-se inevitavelmente baseadas nas circunstâncias físicas e psicológicas e nos obstáculos criados pelas nossas relações com outras pessoas e pelas condições ambientais e sociais, de modo geral. Tais problemas de controle e regulamentação, no entanto, não são insolúveis. Quando, e na medida que a expressão direta deve ser adiada, modificada ou mesmo inteiramente proibida, apresentam-se meios e modos de expressão indireta, que oferecem satisfação adequada e podem, muitas vezes, ser preferíveis. 2. O ato simbólico é, não raro, tão satisfatório e tão liberado quanto a expressão direta. Por exemplo: se a raiva nos impele a atacar uma pessoa que acreditamos nos tenha tratado mal, a expressão direta nos envolvena em agressão física ou verbal. Essa mesma hostilidade, porém, pode ser descarregada pelo espancamento de um objeto que simbolize o nosso adversário. Ou tro modo de descarregar a hostilidade é escrever uma carta cheia de vitupérios, que dê ampla vazão ao nosso rancor e ao nosso ressentimento - mas sem a colocar no correio! O mero ato de exprimir a fúria e a mdignação no papel é suficiente para liberar a energia ou voltagem psicológica. 3. Transformação e sublimação. São processos de especial importância, visto que reconhecem e u tilizarn a solução melhor e mais duradoura 51
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para os problemas humanos básicos. Este fato justifica sua ampla investigação e larga aplicação. A extensão do assunto não permite que dele tratemos adequadamente no presente contexto, mas apresentamos aqui alguns pon tos essenciais. A transformação das energias é um processo natural que funciona em qualquer tempo, tanto "horizontalmente", dentro de cada nível físico, biológico e psicológico - quanto "verticalmente", entre todos os níveis, onde pode ser considerado sublimação ou degradação, conforme a energia seja conduzida a um nível mais alto ou mais baixo. Essas transformações ocorrem freqüen temen te e com espon taneidade, mas podem ser induzi das por atos deliberados de vontade. No nível físico, o calor pode ser convertido em movimento (a máquina a vapor), ou eletricidade (o gerador termoelétrico). A eletricidade, por sua vez, pode ser convertida em calor (o aquecedor elétrico) e movimento (o motor). O conhecimento e o uso destas e de muitas outras transformações constitui a base da tecnologia. Combinações químicas de substâncias produzem outras substâncias com propriedades diferentes das de seus componentes e, em certos casos, provocam libertação simultânea de calor e energia. Nas ciências físicas existe um processo chamado sublimação, por meio do qual uma substância química passa do estado sólido diretamente para o estado gasoso e, depois de resfriada, para a cristalização final. É interessante notar que a sublimação dos elementos químicos é particularmente valiosa como meio de purificação. No nível biológico, transformações sem conta OCOrrem constantemente, ou podem ser induzidas, sempre reguladas na maneira maravilhosa que torna possível a vida. Também no nível psicológico verificam-se transformações a todo momento. Grande parte dos fenômenos governados pelas leis acima mencionadas devem-se à interação e transformação das energias psicológicas. Muito importantes - embora seus mecanismos sejam ainda um mistério para nós - são as transformações e interações que ocorrem verticalmente, isto é, entre as energias dos vários níveis. As modificações biológicas e físicas produzidas pela ação das energias mentais e psicológicas são de interesse imediato. O estudo e utilização delas constitui o largo campo da medicina psicossomática. Existem ainda todos os atos externos determinados por fatores psicológicos. Uma idéia conjugada com um desejo ou um sen timento desperta 52
um impulso que põe em movimento as atividades físicas correspondentes. Por exemplo, o desejo da fortuna conjugado a um plano para adquiri-Ia pode instigar urna pessoa a fazer uma viagem, iniciar um empreendimento ou construir um edifício. Há casos em que o amor por uma mulher, aliado à avaliação das condições para o casamento transforma-se no incentivo para um homem dedicar-se aos estudos, ou na resolução de obter um emprego especial. Todos os instintos e impulsos básicos passam por essas transformações, o que se torna particularmente evidente no caso de: ALI to-afirmação e agressividade. Sexualidade e amor. A transformação dos impulsos agressivos e combativos tem uma importância fundamental por constituir um dos mais eficazes e talvez o mais eficaz dos meios de eliminar conflitos interpessoais e de evitar a guerra. Quanto à sexualidade e ao amor, decerto não há necessidade de enfatizar o fato de que os modos de lidar com esses dois poderosos impulsos constituem um problema existencial que todos os seres humanos têm de enfrentar. Esse assunto já foi tratado em Psicossintese (Capítulo VIII) e no meu panfleto A Transformação e Sublimação das Energias Sexuais. Os meios e modos da transformação psicológica podem ser resumidos do seguinte modo: A. Elevação; B. Purificação; C. Interiorização; D. Extensão; E. Expressão ex terior. A. Por meio ela elevação, o impulso sexual meramente físico pode ser transformado em amor emocional; o amor possessivo, em amor oblativo; o anseio pelo prazer sensual, em aspiração pela experiência estética, intelectual e pelas alegrias espirituais. B. A purificação diz respeito principalmente à natureza dos motivos e intenções. C. A interiorização transforma a vaidade e o orgulho em senso de dignidade in terior ; a afirmação pessoal, em afirmação espiritual; os impulsos agressivos, em instrumentos para lidar com os "inimigos" internos. Esse uso da interiorização foi apropriadamente descrito por Frances Wickes: " ... uma das grandes tarefas dos dias atuais - [ é 1 introverter a guerra." D. A extensão suscita a transformação do amor egoísta em círculos sucessivos e mais largos de amor à família, aos companheiros de trabalho e à humanidade. O amor paterno e materno ao qual foi negada a expressão pela fal ta de fil hos pode ser concedido aos filhos dos ou tros ou às pessoas 53
carentes de amor e de auxílio. E. A expressão exterior corresponde à cristalização das substâncias químicas sublimadas. Assim, a compaixão se expressa em atos humanitários; as tendências agressivas, em luta contra os males sociais. Todavia, é importan te compreender que há pseudo-su blirnações, que devem ser identificadas e contra as quais nos devemos acautelar. São substituições ou contrafações do artigo genuíno; podem ser um disfarce sob o qual encontraremos impulsos e atividades que nada têm de sublimados. Na sublimação, a intenção sincera é que conta. A pseudo-sublimação está presente onde há hipocrisia, evidente ou não. O processo da criatividade artística merece uma menção especial. É considerado uma forma de sublimação e freqüente mente o é, mas nem sempre. O escritor, compositor ou pintor, em sua atividade criativa, muitas vezes expressa seus impulsos, anseias e desejos, bem como suas aspirações. Para ele, a arte é, portanto, um meio de catarse. Da natureza e do nível dessa expressão depende a qualidade da transformação das energias envolvidas.
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6 APLICAÇÕES
PRÃ TlCAS DA VONTADE
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O número destas aplicações é praticamente infinito. Uma extensa série de técnicas psicológicas específicas, baseadas nas leis apresentadas no capítulo anterior, foram desenvolvidas e testadas em campo e podem ser agora implementadas 1, ao passo que leis novas estão sendo continuamente estudadas. Poder-se-ia dizer que essas técnicas abrangem todo o campo da psicossíntesse aplicada. Embora a exposição delas se afaste do objetivo deste livro, serão aqui descritas algumas, com alguns detalhes, como exemplos típicos e por sua extraordinária utilidade em várias situações cotidianas. I. Compreensão
do Valor da Vontade
Este exercício, estudado na pág. 33 como uma preliminar para a "Ginástica da Vontade", é baseado, ele também, no uso habilidoso ela vontade. Ao executá-lo, aplicamos a força existente em nossa vontade, por pequena que ela seja, a fim de que ela possa atuar em nossa imaginação, utilizando essa força para chegar à compreensão do grande privilégio de ter uma von tade eficaz. Essa compreensão, por sua vez, desperta anseios, desejos e emoções, todos eles alinhados com nossa intenção inicial, ou antes, com a direção original de nossa von tade. Este processo de imaginar vivamente as limitações e falhas de uma condição existente que desejamos 1. Descritas na segunda parte do meu livro Psicossintese,
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modificar, e também as vantagens de a modificar, é muito valioso para gerar o momentum que antecede o início de qualquer espécie de atividade, externa ou interna. É psicologicamente análogo à capacidade de dirigir ou de frear um automóvel, ou aos muitos outros dispositivos que, mediante uma vantagem mecânica, permitem que o homem aumente sua força física em praticamente qualquer proporção desejada.
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li. Técnica de Substituição
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Muitas pessoas já passaram, numa ou noutra ocasião, pela experiência de ter a atenção captada por algum pensamento, verso ou melodia, durante longo espaço de tempo, às vezes horas, a despeito dos esforços feitos para se ver livre deles. Nas suas formas externas, essa experiência pode tornar-se até patológica. Se, na tentativa de não pensar em determinada coisa, nos concentrarmos intensamente em "não pensar nessa coisa", ela tenderá perversamente a tomar-se ainda mais dominante e viva em nossa consciência. Não obstante, se escolhermos outro assunto qualquer e dirigirmos para ele a nossa atenção, veremos que o pensamento indesejado se tornará gradualmente mais periférico e tênue para, afinal, desaparecer por completo. Eis aí uma aplicação simples da técnica de substituição. Ela se baseia na lei IV, pág. 46, segundo a qual a atenção, concentrada num objeto, empresta-lhe energia e o toma mais importante para a consciência. A atenção contínua tende a aumentar o interesse, e este, por sua vez, reforça a atenção, criando assim um círculo positivo de realimentação. O pensamento ou imagem índesejados, ao atrair a nossa consciência tornam-se como que um ímã que capta a nossa atenção e dela extrai energia incessantemente. Se, portan to, lhes contrapusermos diretamente a força de vontade, é possível que malogremos. Mas se usarmos uma abordagem mais hábil, menos direta e menos "agressiva", construindo deliberadarnente outro centro de atenção, podemos usá-lo para libertar nOSSa atenção cativa. Alguém pode objetar que isso nada mais é que deslocar a atenção de uma imagem para outra. E certamente o caso é este, mas a questão é que a segunda imagem é uma imagem de nossa escolha, e podemos achar que ela é muito mais útil que a primeira. Eis por que essa técnica tem aplicação prática contra toda espécie de imagens e pensamentos recorrentes, desagradáveis, perturba dores, negativos, bem como contra influências indesejáveis ou prejudiciais. S6
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Naturalmente, é preciso dar aqui uma palavra de cautela. Como acontece com toda técnica, essa substituição pode ser mal utilizada ou aplicada sem uma clara percepção da situação existencial do indivíduo, ou sem um sentido adequado de oportunidade. Certas imagens e pensamentos que se repetem periodicamente, embora negativos e perturbadores, são pistas que indicam a existência de um bloqueio emocional - e nesses casos, se a substituição for usada antes que a dificuldade seja suficientemente explorada, compreendida e examinada, ela pode suprimir o material que está tentando emergir para a consciência. Por outro lado, mesmo quando o problema aflora à superfície, é estudado e em grande parte resolvido, as irnagens perduram, mas num nível relativamente baixo de energia, como uma velha melodia ou um veU10 hábito. Nesse caso, a substituição é especialmente apropriada e eficaz, podendo ajudar a varrer os detritos e a abrir espaço na consciência. Grande parte da confusão interior dentro da qual nos esforçamos tanto por viver e trabalhar pode ser tratada por meio dessa técnica de substituição. Ela pode ser útil também para regular e contrabalançar tendências excessivamente unilaterais do nosso íntimo. Esta é uma aplicação mais sutil da vontade hábil. A técnica da substituição é utilizada também no método mais geral da respiração e alimentação psicológica, que descreveremos a seguir. Ill. Respiração
e Alimentação
Psicológica
Mais que uma técnica específica, a respiração e a alirnen tação psicológica constituem uma abordagem geral de nossa vida cotidiana que pode ser eficazmente implernentada por meio da aplicação da vontade hábil. As necessidades psicológicas assemelham-se, de muitos modos, às fisiológicas. Sabemos que nossa saúde física depende de certo número de fatores básicos, tais como uma dieta equilibrada, a ingestão e assimilação regular de alimentos e a respiração de ar limpo e puro. Adquirimos considerável habilidade no que se refere aos princípios básicos da higiene pessoal e à identificação e evitação - ou cuidado em nos proteger - de condições ambientais passíveis de produzir infecção, de comunicar doenças contagiosas ou de causar algum prejuízo físico. Muitas das mais promissoras e recentes atividades no campo da ecologia podem ser consideradas como uma extensão dessa atitude - e igualmente do senso pessoal de responsabilidade - e visam incluir toda a humanidade e todo o nosso planeta. 57
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Por outro lado, 110 campo da psicologia, a consciência humana se atrasou muito. Falta ainda um reconhecimento geral da poderosa influência psicol6gica do ambiente, ao qual estamos todos sujeitos, embora os problemas mais importantes da atualidade, tais como a guerra, o aumento de uma nociva atitude competitiva e as condições, que prevalecem em larga medida, de medo e de depressão, pertençam ou tenham suas causas no domínio psicol6gico. Ainda assim, há pelo menos um início de trabalho neste sentido; uma pequena minoria, que aumenta rapidamente, está desenvolvendo o que pode ser chamado de consciência psico-ecológica. Um indício dessa percepção emergente é o uso da palavra "vibração" pelos jovens. Os termos "boas vibrações" e "más vibrações" estão sendo cada vez mais usados para descrever o que se considera favorável ou desfavorável no ambiente ou nas condições psicológicas. Parece, portanto, muito oportuno indicar alguns dos mais comuns fatores prejudiciais que poluem o ambiente psicol6gico, e apresentar os métodos da von tade hábil por meio dos quais podemos lidar mais eficazmente com eles. Os principais fatores negativos são a agressividade e a violência; o medo; a depressão e o desalento; a voracidade e todas as formas de desejo egoista . Estes são verdadeiros "venenos psicológicos" que permeiam a atmosfera psíquica, e um exame cuidadoso os encontrará na raiz da maioria das dificuldades, quer no íntimo do indivíduo, quer no interior da sociedade. Para lidar positivamente com esses venenos psicológicos, devemos lembrar que eles não existem apenas no meio ambiente externo mas também, em maior ou menor medida, em todos nós. Devemos, portanto, elimínã-los também dentro de nós mesmos, ou reduzi-los a um mínimo. Eis uma tarefa específica da psicossíntese individual, tarefa que requer diferentes técnicas entre as que servem para obter proteção contra os venen os ex ternos. Para maior eficácia, essas operações devem ser realizadas paralelamente. A razão disto é que, por um lado, é praticamente impossível atingir tal grau de liberdade em relação aos venenos internos, a ponto de tornar-nos completamente imunes influência dos que vêm do mundo externo. Por outro lado. os venenos externos tendem a alimentar e a intensificar os que lhes correspondern dentro de n6s. Assim surge um círculo vicioso: os venenos internos abrem a porta à influência dos externos, enquanto estes intensificam aqueles. O modo mais eficaz de quebrar esse à
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círculo VlCIOSO é afastar deliberadamente a atenção desses venenos psíquicos. Isso liberará energia para que a atenção se Iixe em outra parte, onde será mais benéfica. O ato de desviar a atenção é um ato definitivo da vontade hábil e, por sua vez, contribui para fortalecer a própria vontade. 1. Agressão e Violência A agressão e a violência, hoje tão disseminadas, são por demais evidentes para que seja preciso chamar a atenção para elas. O primeiro passo no sen tido de lhes dar remédio é deixar de intensificá-Ias focalizando sem necessidade, a atenção e o interesse sobre elas. Ainda assim os jornais, revistas e programas de televisão competem para apresentar relatos vívidos e dramáticos de acontecimentos e cenas de agressão e violência. Toda essa ênfase só serve para intensificar a agressividade, mediante a intervenção do que .foi chamado de "o poder de alimentação da atenção". Seria, pois, medida elementar de higiene psicológica, de proteção saúde mental, evitar ou pelo menos limitar grandemente a exposição a esses relatos sensacionalistas e às ilustrações do mesmo tipo. Isto não significa fechar os olhos à agressão e à violência, ou ignorar a sua existência. Uma coisa é lidar com informações objetivas sobre essas situações com um objetivo útil, e outra, muito diferente, é submeter-se desnessária e indiscriminadamente a urna enxurrada de descrições e quadros sensacionalistas. ã
2. Medo Eis .outro veneno largamente difundido. Além dos medos e angústias pessoais, invadem-nos a atmosfera psíquica ondas de medo e pânico coletivos. O medo da guerra global e da conseqüente destruição em larga escala da vida humana suscita uma dessas ondas. Difunde-se também largamente a apreensão a respeito das crises econômicas, do desemprego, das epidemias, da violência civil, e assim por diante. Também neste caso, a primeira e a mais urgente coisa a fazer é evitar a exacerbação e a alimentação de tais medos, por meio de profecias infundadas de catástrofes, e voltar a atenção firme e propositadarnen te para áreas positivas e constru tivas. Só na medida em que nos libertarmos do esmagador ritmo do pânico coletivo no tocante a todos esses assuntos fatais é que nos tornaremos real59
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mente aptos a fazer algo nesse sentido. Assim, paradoxalmente, a pessoa que se preocupar profunda e sinceramente com a rnelhoria das condições econômicas, com o fim das guerras e com assuntos semelhantes, será tanto mais eficaz quanto menos se abrir - mesmo em nome da compaixão - a todas essas influências, e quanto mais for capaz de, com calma e concentração, manter-se atenta a questões específicas, de modo que possa ver claramente o que é preciso fazer.
Pode-se fazer um excelente paralelo entre isso c a atitude dessas ncssoas (au to-atualizadas) em relação ao alimento. O alimento é apreciado embora seja considerado relativamente pouco importante no esquema total da vida pelas pessoas auto-atualiz adas. Se o apreciam, podem fazê-Io de todo o coração, sem o mais leve contágio de más atitudes no tocante à animalidade e coisas afins. Assim mesmo, a alimentação toma um lugar relativamente sem importância no quadro geral. Essas pessoas não precisam da sensualidade; elas simplesmente a desfrutam quando ela ocorre.
3_Depressão e Desalento São reações ao que há de injusto, de "obscuro", de negativo e insatisfat6rio na vida humana, como coletividade. Se tais condições sempre existiram, a época atual testemunha um aumento significativo delas - enfatizado, exagerado e distorcido pelos meios de comunicação de massas. A resposta de certas pessoas a esses males é a agressividade e o ardente desejo de destruir o antigo sistema mediante uma ação violenta. Outras pessoas, ao contrário, reagem com depressão ou mesmo com desespero, suscitados por um sentimento de frustração e de futilidade.
4. Ganância Há um certo tipo de veneno psicológico que pode ser intítulado de "ganância". A ganância é a expressão do desejo egoista que, segundo os ensinamentos de Buda, constitui a raiz do sofrimento e da desgraça. Esse sofrimento não ocorre apenas pelo fato de muitos desejos serem irreais, não podendo portanto ser gratificados, mas, em mais larga medida, por causa da própria natureza da ganância, para a qual não há satisfação que dure muito tempo. A ganância es.tá sempre a exigir mais. Há muitos tipos de desejos; um, é o impulso para uma afirmação pessoal desenfreada e excessiva - a maior causa da agressividade e da violência. Outro, é a excessiva sensualidade, ou, num sentido mais amplo, um anseio desmedido por prazeres físicos de toda espécie. Entre estes, a glutonaria - para usar um termo antigo mas expressivo - é a expressão mais t pica. Absorver alimentos e bebidas em quantidade muito maior do que a necessária ao corpo, ou impróprios à constituição do indivíduo, é uma causa freqüente da má saúde e da prematura perda da vida. A analogia entre absorção de alimento e atividade sexual foi indicada por Maslow nos seguin tes termos: í-
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Sejamos claros: nem o alimento nem a atividade sexual são "venenosos" por si mesmos. Trata-se de funções naturais, inerentemente necessárias para a preservação da verdadeira vida, do indivíduo e da humanidade. O prazer proveniente dessa satisfação saudável é bom e pode ser desfrutado de todo o coração, sem nenhum sentimento de culpa. Ao falar em "veneno" quero referir-me ao apego que leva ao excesso e, sobretudo, à exploração, promovida com fins comerciais, que leva a esse excesso. Somos atingidos de todos os lados por um bombardeio incessante de exaustivas sugestões para comprar bebidas e alimentos, todas elas com ênfase na sexualidade - o ingredicn te supremo dos modernos livros das ilustrações, da televisão e da pseudo-arte. Cria-se desse modo um estimulo exagerado e artificial para o impulso sexual, o qual pode tornar-se totalmente diferente do saudável e espontâneo instinto natural. Eis uma diferença que deve ser claramen te reconhecida. Outro fator ligado à sexualidade é sua atual dissociação em relação ao resto da personalidade humana, particularmente no que toca a seu aspecto afe tivo. Essa dissociação sexual manifesta o erro geralmen te cometido, que é o de não reconhecer nem de levar em conta as conexões vitais existentes entre os vários aspectos e níveis do ser humano. Desse modo, as atividades físicas, emocionais e mentais são separadas umas das outras e passam a funcionar de forma isolada, causando conflitos e discórdias internas. É essencial deixar bem claro que não há impulso, emoção ou desejo que deva ser reprimido ou condenado por si mesmo; mas é indispensável regular-lhe habilmente o uso e as manifestações. Todo remédio, se administrado de forma imprópria ou utilizado em doses excessivas pode tornar-se um veneno; por outro lado, alguns tóxicos fortes, quando ministrados, em determinados casos, em doses mínimas, podem ser curativos. É precisamente neste ponto que a função reguladora da vontade hábil encontra um dos seus campos de ação de maior utilidade. 61
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A boa higiene psicológica exige que, tanto quanto possível, tais venenos sejam evitados mediante o uso da vontade hábil e da ação coletiva, que os pode eliminar. Há necessidade urgente de iniciar-se uma campanha contra as origens do nevoeiro e da poluição psicológicos, paralelarnen te à presente campanha ecológica. Pode-se objetar que, vivendo neste mundo, ninguém fica completamente fora do raio dessas influências, o que é verdade - mas isso pode ser feito dentro de certos limites. Na maioria dos casos, podemos negar-lhes atenção e interesse. Além disso, quem se expõe a tais influências pode agir contra elas por meio de medidas "desinfetantes", aplicadas durante e depois. Os médicos e enfermeiras que trabalham nos departamentos de doenças infecciosas não temem o contágio mas tomam medidas de precaução (usam luvas, máscaras, desinfetantes etc.). Podemos, de igual modo, recorrer a desinfetantes e precauções contra os venenos psicológicos. Que métodos devem ser usados pela vontade hábil a fim de realizar uma higiene psicológica? O método fundamental, conforme já foi dito aqui, é retirar a atenção e o interesse. A maioria das pessoas o consegue, em larga medida, quando chega a compreender as vantagens que pode auferir agindo dessa forma. Uma coisa que pode ajudar muito é prever, em termos claros, as conseqüências prejudiciais causadas pela absorção desses venenos. Outra abordagem ainda mais eficiente é o já mencionado método da substituição: o cultivo de outros in teresses melhores, e a sistemática concentração da atenção em coisas construtivas. Isso tende a imunizar contra influências negativas, prejudiciais e venenosas. Um método extremamente eficaz, apresentado por Pantanjali em seu livro Yoga Sutras, é a neutralizaçâo que envolve o desenvolvimento de qualidades que são a antítese das prejudiciais: mansidão e não-violência em face da violência; coragem, em lugar do medo; alegria em prazeres saudáveis, em lugar da depressão e do desalento; moderação, em vez de voracidade. No tocante ênfase exagerada na sexualidade, o antídoto mais eficaz é o amor verdadeiro. A questão não será, portanto, a de não amar ou amar menos, mas de amar melhor. ã
IV. A Técnica (1.1sPalavras Evocativas Que certas palavras, tais como serenidade, alegria, compaixão, produzem efeitos em nossos estados de ânimo e idéias é fato que não requer demonstração. Toda palavra é um símbolo, que não só indica ou aponta me-
tas ou fa tos psicológicos, como também possui o poder de estimular e despertar atividades que se lhes associam. Elas "evocam" e tomam operativas o significado e as idéias-força que elas significam, Este processo está de acordo principalmente com três das leis a que nos referimos no último capítulo (as leis I, VI e VIII, págs. 44, 47 e 48). Segundo essas leis, toda idéia ou imagem tende a produzir um estado de espírito, um estado físico, e os atos que lhes correspondern; a atenção e a repetição reforçam a eficácia da idéia ou da imagem; os efeitos da idéia ou da imagem, ou melhor, a ativação daquilo que significa, são produzidos sem que disso tomemos consciência, Usando a técnica das palavras evocativas, podemos aplicar essas leis sob a direção da vontade hábil. O primeiro passo no uso das palavras evoca tivas é escolher aquela que expressa a qualidade que desejamos evocar e desenvolver. Poderemos escrever a palavra desejada num cartão e colocã-lo num lugar em que será facilmente notado, por exemplo, à cabeceira da cama, na escrivaninha, numa mesa ou numa parede. Mesmo que não lhe prestemos uma atenção consciente, sua imagem visual produzirá uma impressão no nosso psiquismo ou, mais precisamente, no nosso inconsciente plástico e receptivo, no qual gradualmente irá trabalhando, Podemos obter um efeito cumulativo mais forte colocando diversos cartões com a mesma palavra em diferen tes lugares e aposentos - o que podemos chamar de "obsessão benéfica", Um método mais eficiente ainda consiste em levar a palavra atenção consciente, o que pode ser feito de diversos modos:
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I
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à
1. Entre em estado de relaxamento e, então, observe atentamente a palavra durante o espaço de um ou dois minutos. Se emergirem do inconsciente palavras e idéias associadas com essa palavra, deixe-as vir e registre-as por escrito. 2, Reflita sobre o significado da palavra e, depois, escreva os resultados, 3. Tente "sentir" a qualidade psicológica que a palavra evoca, deixando-a permear sua personalidade, se possível, até o ponto de identificar-se com ela, 4. Observe a palavra, pronunciando-a em voz alta ou num murmúrio, S. Escreva a palavra mui tas vezes, Esses métodos combinam imagens visuais, auditivas e motoras, aurnen tando assim a eficácia do exercício. A escolha da palavra a ser utilizada pode ser feita de duas maneiras: ou pela escolha deliberada de uma palavra que corresponda qualidade à
I II. ! 1
62
63
!
.
II
sem o saber, mas continuamente
que se deseja despertar e desenvolver, ou pela escolha de uma palavra ao acaso, tirando-a de um grupo de outras e adotando-a como "senha" por um dia, ou para o período que se desejar. O ritmo a ser seguido pode ser ou o uso contínuo ou mais -
da mesma seguido
palavra por algum tempo - uma semana,
de sua repetição
após um intervalo,
e prejuízo vontade
de
palavras, isto é: o uso de uma palavra diferen te a cada dia. A preferência depende
aconselhável,
,I
I
adotar
concedida
não só do objetivo uma
portanto, delas,
a um ou outro da pessoa
experimentar
a mais afinada
quanto certo
destes diferentes
número
de palavras
com a personalidade
É
e depois
hábil mas nem sempre
das para a melhoria
de cada um, ou
aquela que lhe parecer mais com pensadora. A lista que se segue inclui algumas das palavras mais evocativas
- a agir de modo a dar lucro para outros Este é um notável acompanhada
exemplo
da aplicação
de boa vontade.
da
Essas técni-
psicoterapeuta ou um professor, para auxiliar as pessoas sob sua orientação, e podem, também, eventualmente conduzir à organização e à execução de amplas e intensas campanhas de publicidade eupsíquicas, dirigi-
métodos
de seu tipo psicológico.
nós mesmos.
cas, no entanto, podem ser empregadas com a mesma eficácia e de modo igualmente sistemático para fins mais elevados e construtivos. Podem ser utilizadas por qualquer indivíduo para seu próprio crescimento, por um
um mês,
ou o rodízio
para
do indivíduo
e da coletividade
e para o soerguimento
de toda a humanidade. Faz-se necessária
que
aqui uma palavra de advertência.
As palavras, às ve-
podem ser utilizadas. Outras poderão ser acrescentadas, conforme a necessidade de cada um: admiração - afirmação - alegria - amizade - amor -
zes, podem despertar reações nega tivas. Certas pessoas ficam indignadas à simples vista de um cartão com uma palavra agradável, tal como CON-
apreciação - atenção - beleza - bem-aventurança - boa vontade - bom humor - bondade - calma - compaixão - compreensão - cooperação coragem - criatividade - decisão - desprendimento - determinação discernimento - disciplina - energia - entusiasmo - eternidade - fé força - fraternidade - generosidade - gratidão - harmonia - infinidade - iniciativa - integraçõo - inteireza - liberação - liberdade - luz ordem - ousadia - paciência - paz - persistência - prestatividade - presteza - realidade - renovação - resignação - resolução - sabedoria - serenidade - silêncio - simplicidade - sintese - tenacidade - tranqüilidade universidade - verdade - vitalidade - vontade. 2
FIANÇA, SERENIDADE ou CORAGEM. Elas acham que as palavras estariam acusando-as, ou talvez fazendo com que tomem consciência, de uma forma dolorosa, da própria carência dessas qualidades, e isto as irrita. Em outras ocasiões, os cartões provocam uma reação ao mesmo tempo positiva e negativa (ambivalência). Conscientemente, predominaria a impressão negativa, enquanto o inconsciente ficaria impressionado favoravelmen te; ou, vice-versa, a palavra seria apreciada pelo ego consciente, mas
O uso destas palavras represen ta a aplicação
provocaria
v. A Técnica
e frases; e movimentos,
expressem
simbolicamente
gestos e danças rítmicas
de "Proceder
Esta técnica
to humano. Algumas das técnicas apropriadas para alcançar este objetivo são: a exibição de cartazes de grandes proporções; frases sugestivas e slogans; quadros "persuasivos", convincen tes; temas ou trechos musicais a palavras
ou o an tagonismo
dos fa tores
inconscien teso ~
ambivalentes
e que
mais simples e elemen tar
de um método geral, por meio do qual são empregadas energias psicológicas para modificar e dar direção aos estados de espírito e ao comportamen-
associados
a resistência
recomendável que se tome consciência dessas reações elas sejam tratadas com habilidade, de modo adequado.
sentimento enqua.nto
Como Se" em proceder como se, realmente,
consiste
do desejado a vontade
clima
pode
interior 3 . Ela se baseia
exercer
sobre as emoções e os sentimentos, ela age de modo muito mais direto
que
uma mensagem.
um controle
se tivesse o
no fato
de que,
direto limitado
apenas
e freqüentemente nenhum controle, e pleno sobre as atitudes físicas e os
Este é o método de sugestão ou, como hoje é chamado eufernisticamente, de "persuasão" - que em tão larga escala e com tamanha eficácia é usado para fins comerciais e por meio do qual somos levados - não raro
atos externos. Se, por exemplo, nos sentimos tristes ou desa.lentados, é difícil, senão impossível, estarmos alegres ou termos o pensamento sereno
2. Frases evocativas
J. O
S50
encontradas
no fim do capitulo
sobre a afirmação,
mediante
pág. 140.
64
um ato direto da vontade.
mais extensamente
Por outro
a propriedade
lado, está em nós levantar
de utiliz ar esta técnica
nas
65
»
a cabeça, sorrir, dizer palavras de harmonia, otimismo, confiança e alegria. Ou melhor: somos capazes de nos comportar "como se" estivéssemos alegres e confiantes. Fazer isto nos dá, a princípio, um sentimento de liberdade, e confirma que não somos escravos de nossas inconstantes emoções e de nossas condições fisiológicas e psicológicas, que reagem a tantas causas externas - a circunstâncias arnbientais, à influência pessoal de outros, a dificuldades e incertezas de uma dada situação. Podemos assim, em larga medida, agir, nos comportar e realmente ser na prática aquilo que desejariamos ser, se possuíssemos as qualidades e estivéssemos gozando do estado de espírito que almejamos. Mas isto não é tudo. O mais importante é que 0_ uso desta técnica realmente transformará nosso estado emocional. Às vezes, gradualmente; ou tras vezes, rapidamente, o estado emocional segue, adapta-se e se iguala à atitude e ao comportamento externo. Tommaso Carnpanella costumava imitar as expressões faciais e os gestos das pessoas, quando queria saber o que estavam sentindo. Ele havia descoberto que esse era um modo de provocar em si mesmo os sentimentos correspondentes. Neste caso, a lei operativa é a segunda (ver pág. 44): "Atitudes, movimentos e atos tendem a evocar imagens e idéias correspondentes; e estas, por sua vez [segundo a próxima lei), evocam ou intensificam as emoções e sentimentos correspondentes." O mecanismo psicofisiológico deste fenômeno pode ser explicado do seguinte modo: todo ato externo deve ser antes imaginado ou visualizado, mesmo inconscientemente. Durante seu desempenho, porém, a auto-observação concomitante cria uma imagem a qual, por sua vez, produz efeito de reforço, um processo positivo de realimentação. Poder-se-ia dizer que a técnica do "como se" faz uso do mesmo poder dinâmico das imagens que a sugestão, só que na direção contrária. Na sugestão, as imagens provocam os sentimen tos e emoções e depois as ações correspondentes. Ao agir "como se", pelo contrário, a pessoa passa do ato externo, determinado pela ação direta da vontade, à imagem do próprio ato, e desta imagem ao estado emocional correspondente. Com freqüência, esta técnica é usada espontaneamente. É do conhecimento de todos que assobiar ajuda a manter a coragem num lugar solitário, à noite. Cantar e fazer com que os outros cantem é um conhecido estímulo à ação. Machiavelli e Buffon costumavam vestir-se a rigor para escrever, pois acreditavam que seu estilo refletia a atitude e estado de espírito criado pelo traje. Há exemplos da implcmentação desta técnica por meio de de terrni-
66
1
nados atos de vontade. com resultados tão bem sucedidos quanto surpreendentes. Turenne, um general francês, é um exemplo histórico. Ele costumava marchar resolutamente na dianteira da tropa, nas batalhas, o que lhe granjeou reputação de grande bravura. (Assim fazia-se a guerra, antigamente.) Ao ser cumprimentado por sua coragem, Turenne replicava: "Claro que me comporto como um bravo, mas sinto medo constantemente. Naturalmente, nada concedo ao medo, e digo ao corpo: 'Treme, velha carcaça, mas marcha!' E o corpo marcha". O comportamento de Turenne demonstra que a mais alta forma de coragem não consiste em não sentir medo, mas em agir "como se" ele não existisse. Exemplo ainda mais admirável da eficácia desta técnica foi apresen tado por Goethe e merece ser relatado com suas próprias palavras: Eu me encontrava num estado de saúde que me favorecia suficientemente em tudo o que eu desejava e devia empreender; sobrava apenas uma certa irritabilidade que nem sempre me permitia sentir-me equilibrado. Um som alto era-me desagradável, assuntos relacionados com doenças despertavamme repugnância e horror. Mas perturbava-me especialmente uma tontura que me vinha cada vez que, de um ponto alto, eu olhava para baixo. Todas essas fraquezas tentei remediar e, na verdade, o fiz de um modo violento, pois não desejava perder tempo. À noite, quando soava o toque de recolher, eu me aproximava daquela multidão de tambores cujo poderoso tocar e rufar poderia fazer explodir o coração no peito. Sozinho, subi ao mais alto pináculo da torre de Minster e sentei-me no que chamam de pescoço, debaixo do telhado ou coroa, durante um quarto de hora, antes de me aventurar a sair de novo ao ar livre, onde, de pé numa plataforma que escassamente media uma vara ao quadrado, sem qualquer ponto de apoio, vê-se à frente uma perspectiva infinita, enquanto os ornamentos e objetos mais próximos escondem a igreja e tudo o que existe acima e abaixo do lugar onde eu estava. Era exatamente como se eu estivesse sendo carregado para o ar por um balão. Repeti essas dolorosas e pcrturbadoras sensações até que essa impressão se me tornou indiferente e daí em diante, extraí grande vantagem desse treinamento, nas viagens pelas' montanhas, nos estudos geológicos e em grandes edifícios, onde porfiei com os carpinteiros em andar pelas vigas desguarnecidas e pelas cornijas dos edifícios e isso até em Roma, onde é preciso correr riscos semelhantes para ver de perto importantes obras de arte. A anatomia, igualmente, foi-me duplamente valiosa, pois ensinou -rne a tolerar os quadros mais repulsivos, enquanto eu saciava minha sede de conhecimentos. Assim foi que freqüentei também o curso de clínica do Doutor Ehrmann , bem como as conferências de seu filho sobre obstetrícia, com o duplo objetivo de tomar conhecimento de todas as condições e de me libertar de qualquer medo em relação a coisas repugnantes. E fui tão bcrn-sucedido que nada disso me poderá jamais tirar o sangue-frio. Mas eu procurei encouraçar-me, não só contra essas impressões dos sentidos como também
67
! contra
Os drásticos métodos de Goethe , no entanto, não estão dentro da capacidade de qualquer um, visto que pressupõem a posse ou o prévio desenvolvimento
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de uma vontade
forte
e resoluta.
Mas a técnica
do "agir co-
li pOllCOS
dessa aversão inibidora:
ou de andar,
quando
tante é habituar lhe causa medo; ato razoável também
por exemplo,
no caso de um banho de mar,
se trata de uma criança muito pequena
ele. O impor-
gradualmente a criança pequena e familiarizá-Ia depois disto, ela poderá ser persuadida
sem o perigo
para adultos,
de repressão.
se dominados
Esta abordagem
por alguma emoção
com o que
a realizar qualquer é recomendável intensa
e indese-
jável - quando existem os meios e tempo para aplicá-Ia. Mas nos casos de urgência, em que surgem situações imprevistas e súbitas e não há tempo para tal - pode-se dar ao corpo o "comando" de "agir como se" não sentisse essa emoção. Chamemos a este método de "método de Turenne ".
mo se" pode ser aplicada gradualmente e facilitada pelo auxílio de outras técnicas. Há uma orientação veementemente recomendada e com freqüência aplicada na psicossíntese. Quando uma determinada técnica, sozinha, malogra na obtenção de um determinado resultado, várias outras técnicas combinadas podem ser bem sucedidas. De fato, a arte de usar um "time" selecionado de técnicas para um mesmo refa específica da vontade hábil e sábia.
propósito,
pode-se dizer que é ta-
Quando é indispensável ou quando se quer dominar fortes tendências ou emoções adversas, por exemplo, o medo, é freqüentemente proveitoso exercitar antes da técnica do "agir como se" a técnica do "modelo ideal". Este implica em visualizar-nos tal como gostaríamos de ser, vendo-nos na imaginação agindo como gostaríamos de agir na realidade. Este método do autotreinamento é semelhante aos ensaios de um ator, só ou acompanhado, no papel que mais tarde apresentará em público. Mas quando a realização de uma ação é deveras carregada de medo agudo ou reprimido - pode acontecer frequentemente que essa evocação imaginária resul te no fortalecimento desse medo a pon to de induzir uma severa crise de angústia. Nesses casos, pode-se mudar a si tuação se prelirninarrnen te utilizarmos uma técnica diferen te, tal como a do "treinarnen to imaginário" ou a técnica da "desscnsibilização". Há uma outra técnica que se pode utilizar independentemente de ou depois do "treinamento imaginário": é a do treinamento externo. Se nos habituarmos gradualmente a fazer uma coisa que a princípio nos causa aversão, essa relutância diminuirá aos poucos, até desaparecer. Este fato tem uma aplicação ampla e importante no campo da educação. Os pais devem abster-se cuidadosamente de obrigar uma criança a fazer qualquer coisa que Lhe cause
pavor.
Em vez disso,
podem
ensiná-Ia
a livrar-se
aos
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7 A VONTADE BOA
Nas considerações anteriores acerca do desenvolvimento da von tade, tornamos o indivíduo como uma unidade isolada, dotada de uma vontade como um instrumento de realização pessoal. Na realidade, porém, o homem isolado não existe: ele está em constante interação com a família, com os companheiros de trabalho e com a sociedade em geral. Seus relacionamentos são muitos e diversos. Por mais forte e capaz que ela seja, a pessoa que não leva a sério esses relacionamentos inevitavelmente suscita reações e conflitos que muitas vezes lhe frustram os objetivos. Embora isso pareça óbvio, a vida moderna apresenta o espetáculo de um entrechoque geral de vontades por parte daqueles que entram na competição pelo domínio em todos os campos. Classe colide contra classe, partido contra partido, nação contra nação, enquanto no próprio interior da unidade familiar surgem disputas freqüentes entre marido e mulher, entre pais e nUlOS e entre os parentes. incalculável a perda de energias físicas e psicológicas, de tempo, de dinheiro e de energia voJitiva; incalculável, igualmente, é a soma de sofrimento humano que nasce dessas lutas. Na verdade, a civilização vem adotando um modo de vida que não é apenas imprevidente, mas contrário ao verdadeiro bem, de todos e de cada um. Eis um grave motivo de preocupação para as pessoas de sentimentos humanitários e para todos os que são "práticos", no sen tido mais profundo e amplo do termo. Tenta-se de muitos modos substituir competição por cooperação, conflito por arbitragem e acordo, baseados na compreensão É
70
das relações entre grupos, classes e nações. Tudo isto é, essencialmente, uma questão de querer. O êxito dessas tentativas depende da harmonização gradual das vontades envolvidas. Trata-se de uma harmonização difícil, mas possível; os diferentes objetivos inclividuais podem ajustar-se ao círculo de uma solidariedade humana mais ampla. Esta abordagem mais abrangente introduz um novo aspecto no treinamento da vontade. Vimos como a vontade individual tem o poder de fortalecer a si mesma e de dirigir habilmente a atividade das demais funções psicológicas. Agora a vontade individual enfrenta outra tarefa mais elevada: a de disciplinar-se e de escolher objetivos que se harmonizem com a felicidade dos outros e com o bem comum da humanidade. Existem dois métodos de realizar esta tarefa: A eliminação dos obstáculos. O ininterrupto desenvolvimento e expressões de uma boa vontade. I. O Egoismo constitui o obstáculo fundamental. O egoísmo nasce do desejo de possuir e dominar - que é uma expressão dos impulsos básicos de autopreservação e de auto-afirmação. Inevitavelmente, entra em choque com tudo o que obstrui a sua satisfação, despertando assim agressividade , violência, e a vontade será empregada para destruir tudo quanto interfere com a consecução dos objetivos desejados. O egoísmo é inerente ao homem e sempre existiu; nos tempos atuais, todavia, ele assume formas mais acen tuadas e perigosas, pois a vida moderna proporciona estímulos mais fortes e menos restrições além de instrumentos mais poderosos de destruição. O controle do egoísmo, portanto, não é apenas uma exigência ética; é uma necessidade para a salvaguarda da humanidade. O uso habilidoso da vontade pode ajudar muito para esse refreamento do egoísmo. Não faltam técnicas; certo número delas estão no capítulo VIII do meu livro Psicossintese e podem ser aplicadas para refrear e transformar os ímpetos agressivos. O problema apresentado por uma dificuldade tão fundamental como esta da eliminação do egoísmo não é o da falta de técnicas, pois mui tas delas estão à disposição e podem ser desenvolvidas por uma pessoa inteligente. O problema é, antes, o de mobilizar a vontade para fazer o bem e o de consagrar a necessária energia a este obje tivo tão essencial. 2. Egocentrismo. Embora menos óbvio e tosco que o egoísmo, é também um sério entrave, visto que tende a referir tudo quanto existe ao eu pessoal e a considerar todas as coisas a partir do ângulo de visão da personalidade de cada um, concen trando-se apenas nas próprias idéias e 71
reações emocionais. O egocentrismo pode ficar escondido, uma vez que pode coexistir COIll um sincero amor pelo próximo e com a tos de sacrif ício. O indiv íduo egocên trico pode não ser, e Ireqüen tcmen te não é, egoista . Pode até ser altruísta e de todo o coração desejar fazer o bem. Mas há de fazê-lo a seu jeito. Tenderá, portanto, a ser dominador e fanático. Tentará converter todo mundo às suas próprias convicções, impor seus métodos, ver a salvação apenas nos remédios que ele oferece. Tal atitude origina-se num erro fundamental de perspectiva, num modo de ver mais "ptolernaico" que "copernicano". Com a melhor das intenções, um indivíduo destes poderá fazer muito mal, à semelhança daquele macaco bonzinho da anedota que, vendo um peixe na água, se precipitou para o salvar do afogamento e levou-o para um galho de árvore. 3. Falta de compreensão para com o próximo. Somos inclinados a compreender mal as pessoas de raça diferen te, de diferen tes nacionalidades ou classes sociais ou pertencentes a uma religião diversa, ou a um diverso partido político etc. Mas falta-nos também compreensão para com as pessoas mais chegadas a nós ou para com aqueles a quem amamos. infelizmente, o amor, por si só, não cria compreensão mútua, ao contrário do que pensa a maioria. Observamos com freqüência o espetáculo entristecedor de pessoas que muito se aman1 sem se compreender e sem saber avaliar as necessidades vitais umas das outras, causando assim grandes sofrimentos umas às ou tras. Para elimi.nar o egocentrismo e a fal ta de compreensão - que geralmente estão associados - é i.nclispensável uma abordagem hábil e complexa. Primeiramente, é necessária a vontade de compreender. Esta, por sua vez, requer a intenção de compreender e de renunciar ao egocentrismo, que impede a compreensão de outras pessoas. Os meios de ati.ngir tal compreensão são sempre oferecidos - embora não ainda adequadamente pela psicologia humanistica, Eles são os seguintes: L Conhecimento da constituição geral do ser humano (delincada no Capítulo 2). 11. Conhecimento da psicologia diferencial, ou investigação das diferenças psicológicas existentes entre os indivíduos e entre grupos de indivíduos. Um exame deste assunto encontra-se no Apêndice 5 (pág. 201). Ill. Empana. Apesar da compreensão intelectual do inclivíduo, uma compreensão ex.istencial genuína não é possível sem a empatia , ou melhor, sem a projeção da consciência de uma pessoa na de ou tro ser humano. O desenvolvimento e utilização da ernpatia ex.igem uma atitude impessoal, 72
abnegada, e pode ser conseguida pelo ativo despertar de um envolven te interesse humano para com a pessoa que se deseja entender ou por deixarse perrncar inteiramente por esse interesse. Significa aprox.imar-se dele, ou dela, com simpatia, respeito, com admiração até, tendo-o como o "Outro" ["17IOU "] com quem se quer estabelecer um relacionamento mais profundo. Esta abordagem poderá aprofundar-se, até transformar-se num vivo contato humano e numa identificação momentânea ou temporária. A pessoa poderá imaginar que se tornou - que é - a outra. Tenta compreenderU1e os pensamentos, os sentimentos e, por meio da imaginação, vê-se em diversas condições e circunstâncias em que evoca as reações mentais e emocionais da outra. Esta empatia torna-se possível essencialmente pela unidade da natureza humana subjacente a todos nós, a despeito das diversidades individuais e de grupo. Existem potencialmente em todos nós os elementos e qualidades de todo ser humano, os germes de todas as virtudes e de todos os vícios. Em cada um de nós, existe o crimi.noso em potencial e o santo ou o herói em potencial. É uma questão de diferença de desenvolvimentos, de valores, de escolhas, de controles e de expressões. O trei.namento da ernpatia ajuda, não só a adquirir uma verdadeira compreensão dos outros, como a alcançar mais ampla humanidade. Ela proporciona uma visão interior do mistério e da maravilha da natureza humana, na qual se encontram, lado a lado, tantos e tão contrastantes elementos; o âmago de bondade e as possibilidades de mudança existentes no crimi.noso, bem como os pontos fracos, imperfeições e impulsos primitivos que se pode encontrar em todos os grandes homens. Tomamos consciência dos conflitos que se travam em ambos os extremos da tipologia humana, bem como nos pontos intermediários - e dos conseqüentes sofrimen tos; reconhecemos sua semelhança com os nossos. Somos, pois, induzidos a abandonar a atitude comum, de julgar o próximo. Em vez clisso, permeia nosso espírito um sentimento de compaixão, compan..heirismo e solidariedade. Pelo que foi dito, torna-se evidente que a compreensão mais ampla do próximo é um elemento imprescindível para o exercício da boa vontade. Com a compreensão vem o abandono dessa inclinação para a crítica, o julgamento, a condenação. Com ela nasce a aceitação de que o indivíduo "é como ele é" e, de certo modo, tem o direito de ser o que ele é. Não é ele o produto de enorme quan tidade de elementos coletivos e individuais, enraizados no passado e no presente, bem como de toda espécie de condi73
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cionamenlos, que não pôde con trolar? Por outro lado, o indivíduo não- é fL'\O nem imutável; ele está em constante vir a ser. Todos podem dirigir e regular o seu processo de "vir a ser" até certo ponto; assim entra em jogo a responsabilidade do homem pela influência benéfica ou nociva que possa ter sobre o seu próximo. Estamos constantemente influenciando o próximo. conscientes ou não de o fazer e quer a gen te queira quer não. E quan to mais cedo tomarmos consciência desse fato, mais poderemos tentar influenciar os outros construtivamente, para o bem. Tudo gira em torno da nossa intenção. A "intencionalidade ", conforme enfatiza Rolio May , é uma característica da vontade. A boa vontade é uma vontade de fazer o bem; é uma vontade que escolhe e quer o bem. Pode-se dizer que ela é uma expressão do amor - o que suscita a grande questão do relacionamen to en tre amor e von ta de .
8 AMOR E VONTADE
II
I • A União do Amor e da Vontade O perigo da von tade desenfreada é sua carência de coração. Observamos ainda hoje algo que era notável já nos tempos vitorianos: a ação de uma vontade fria, severa e mesmo cruel. Por outro lado, o amor destituído de vontade pode tornar a pessoa débil, sentimental, excessivamente emocional, além de ineficaz. Uma das principais causas das desordens de nossos dias é a fal ta de amor por parte dos que têm vontade e a falta de vontade por parte dos que são bons e carinhosos. Isto, inquestionavelmente, impõe a urgente necessidade de integração e unificação do amor e da vontade. Todavia, examinar a questão do amor de forma tão completa como o fizemos com a vontade exigiria outro livro. Mas é necessária uma breve consideração sobre alguns dos significados mais importantes do termo, se desejarmos compreender o relacionamento entre amor e vontade. Tipos de Amor O primeiro amor é o amor a si mesmo. A declaração deste Ia to pode causar alguma surpresa, pois o amor que se volta para a própria pessoa é geralmente considerado sinônimo de egoísmo ou de narcisismo. Esta espécie de amor-próprio, naturalmente, existe, mas não é a única; e neste caso, como sempre aliás, devemos levar em conta a complexidade e a multipli-
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cidade do ser humano. No caso do amor que se volta para a própria pessoa, tudo depende do que amamos em nós mesmos e de que modo o fazemos. Tratar-se-a, certamente, de egoísmo se o amor voltar-se para os aspectos egocéntricos e separatistas da pessoa: à ânsia de prazer, de posse, de domínio. Mas se este amor voltar-se para o que em nós é mais elevado e melhor, para o que somos essencialmente, se está dirigido para as potencialidades de progresso, de desenvolvimento e para a capacidade criativa e de comunhão com o próximo - então esse amor isento de egoísmo nos estimulará a viver uma vida de uma qualidade mais elevada. Esse amor não só não constituirá obstáculo para o amor aos outros, como há de ser um poderoso estímulo em direção a esse amor. O amor a si mesmo, como sucede aos demais tipos de amor, pode ser auxiliado pela von tade a fim de se au to-regular e dirigir. O amor dirigido aos outros seres humanos é qualificado segundo seu objeto. O amor materno 1 pode ser considerado como a primeira e fundamental relação humana. Esse amor, desde sua forma inicial, possui uma qualidade oblativa , que se manifesta na pronta consagração da mãe aos cuidados, à criação e à proteção do filho - consagração esta em que a abnegação requerida é aceita com alegria. Todavia, o crescimento da criança é simultâneo ao desenvolvimento de uma saudável independência, que constitui severa provação para o aspecto puramente maternal desse amor. A devoção e o sacrifício maternos dos primeiros tempos do relacionamento pode transformar-se, nessa ocasião, num exacerbado sentimento de posse e apego. O filho ou filha o compreenderá, mesmo que inconscientemente, e há de ressentir-se disso. Quanto mais possessivo o amor materno, tanto mais vigorosa será a rebeldia filial. E, inversamente, quanto mais oblativo esse amor, tanto mais durável e profunda a relação amorosa. Na verdade, também neste caso, o sábio uso da vontade pode determinar toda a diferença. O amor paterno apresenta um processo paralelo, embora com certas diferenças. Também neste caso, o amor básico do pai pelos filhos tem qualidade oblativa. Mas esse zelo inicial de lhes proporcionar ajuda, tan to material como de outro tipo, costuma dar lugar, com o tempo, a uma insistência na afirmação de sua autoridade e a uma exigência de submissão. 1. Os termos "materno" e "paterno" são aqui empregados a fim de indicar tipos específicos de amor. Em muitos casos, ambos os tipos de amor serão proporcionados tanto pelo pai como pela mãe, embora em diferentes proporções.
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Ou ele pode, também, identificar-se de tal modo com um filho a ponto de tentar moldá-lo à própria imagem - a qual, freqüentemente, 1l(10 é particularrncn te recomendável 1 Em ou tros casos, o pai pode pressionar o filho para que este realize o que ele próprio deixou de realizar - o que constitui uma exigência injusta, além de irrealizável. Isso tudo, na maioria dos casos, vai dar em rebeldia; e nos casos em que o filho, em vez de se rebelar, se submete, ele o faz de má vontade e seus sentimentos de frustração não só prejudicam o seu desenvolvirnen to como a té podem danificar ou até destruir o antigo relacionamento amoroso. O amor entre homem e mulher é outra área na qual prevalece muita confusão semântica. Ele é a causa freqüente, eu diria mesmo incessante, de mal-entendidos com os subseqüentes conflitos. Alguns autores chamam de "erótico" o amor para com pessoa do sexo oposto, mas os diferentes significados atribuídos à palavra "erótico" acabam por torná-Io ambíguo. Na linguagem comum, bem como em grande parte da linguagem literária relativa a este assunto, o erotismo é visto num sentido puramente sexual e assim, às vezes, é empregado virtualmente como sinônimo de pornografia. Por outro lado, alguns filósofos e psicólogos, remon tando ao mito de Eras e aos significados em que os gregos entendiam esse termo, consideram-no como símbolo da atração de um sexo pelo outro, gerado pelo desejo de união e fusão com outra pessoa, em todos os níveis, particularmente no emocional. Na realidade, o amor entre o homem e a mulher é feito por uma mescla de atrações físicas, emocionais, mentais e espirituais, em proporções que diferem substancialmente de relacionamento para relacionamento, além de se transformarem com o tempo. Isto explica a grande dificuldade que existe entre dois seres humanos, quanto à compreensão, união e integração harmoniosa. Eis a razão de tantos sofrimentos e conflitos. Os aspectos mais familiares e generalizados desse amor são o amor passional, o sentimental e o idealista. Não menos importante, mas tradicionalmente desconsiderado na escolha do parceiro, é o amor baseado na compreensão intelectual e o amor nascido da comunhão espiritual. Examinemos agora uma classe de relacionamento amoroso diferente da que acon tece entre pessoas de sexos opostos. Referimo-nos ao amor fraternal, altruista e humanitário. Embora possa ser despertado e intensificado por um sentimento de compaixão pelo sofrimento humano, esse amor origina-se fundamentalmente num sentimento da unidade essencial de todos os homens, irmãos na humanidade, Em certos casos, como o do 77
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"amor franciscano ", ele abarca todas as criaturas vivas. No livro de P. A. Sorkin, The Ways and Power of Lave [Os Caminhos e o Poder do Amor] e no de Martin Lu ther King, The Strength o] Lave (A Força do Amor], são examinados todos os relacionamentos desse amor. Existe tam bém o amor impessoal, que se volta para as idéias ou ideais, no qual estão igualmen te presentes vários componen tes e aspectos. A fascinação por um ideal ou pela beleza de uma idéia suscita freqüenternen te dedicações e sacrifícios pessoais de ordem mui to elevada. Mas pode também conduzir ao fanatismo e à idéia fixa: uma pessoa pode tornar-se de tal modo obcecada por uma idéia ou por um ideal que ficará cega para tudo o mais e incapaz de compreender os demais, além de cruel para com os que não compartilham de seus ideais ou a eles se opõem. Há também um outro amor, mas de tal modo distorcido que mais parece uma caricatura desse sentimento. Trata-se do amor idólatra, que toma a forma de uma admiração cega e fanática pelos ídolos do dia, tais como estrelas de cinema ou teatro, campeões de esporte, ditadores e outros líderes. E há finalmente o amor a Deus, ou seja qual for a designação preferida para se referir ao Ser Universal ou simplesmente Ser: Valor Supremo, Mente Cósmica, Realidade Suprema, Transcendente e Irnanente. O sentimento de reverência, de espanto, admiração e veneração, acompanhado pelo ímpeto de unir-se a essa Realidade, é inato no homem. Presente em todas as épocas e lugares, ele deu origem a uma grande variedade de tradições espirituais e religiosas, bem como a formas de culto, segundo as condições culturais e psicológicas reinantes. Seu f1orescimento máximo ocorreu com os místicos que atingiram uma viva experiência de união pelo Amor. Relacionamento
Entre Amor e Vontade
Todas essas espécies de amor têm um relacionamento especifico com a vontade e com seus diferentes aspectos. Saber como operam esses vários relacionamentos, nas circunstâncias especiais em que se encontra um indivíduo, é, naturalmente, uma das tarefas básicas de cada um de nós. Ainda resta muita coisa a ser descoberta, tanto no geral como em cada caso individual. Serão feitas aqui somente algumas observações a respeito da natureza geral dos relacionamentos mais importantes entre amor e vontade. O amor e a von tade estão, quase sempre, presen tes no indivíduo em 78
proporção inversa. Ou melhor: as pessoas nas quais predomina o amor, tendem a possuir menos vontade e estão pouco inclinadas a usá-Ia, ao passo que as dotadas de vontade forte não raro carecem de amor ou mostram sentimentos que se opõem ao amor. Mas o desequilíbrio de uma pessoa, entre amor e vontade, pode acentuar-se ainda mais pelas diferenças de qualidade, natureza e direção existentes entre esses dois sentimentos. O amor, sendo atrativo, magnético e extrovertido, tende a ligar, a unir. A vontade, por outro lado, sendo "dinâmica", tende a ser afirmativa, separativa, dorninadora, bem como a estabelecer relacionamentos de dependência. É claro que tais diferenças podem conduzir a uma real oposição. Normalmente, o amor é considerado como algo espontâneo e independente da vontade, algo que, na realidade, "acontece" até mesmo contra a nossa vontade. Por mais verdadeiro que isto seja no início de um relacionamento afetivo, cultivar um amor humano gratificante, duradouro e criativo é uma verdadeira arte. O amor humano não é simplesmente uma questão de sentimento, uma condição ou disposição afetiva. O amar bem exige tudo o que é necessário para a prática de qualquer arte, ou mesmo de qualquer atividade humana, isto é, uma adequada medida de disciplina, paciência e persistência. Todas essas qualidades, como vimos, pertencem à vontade. Se, como todos reconhecem, elas são indispensáveis para o domínio de uma arte seja a de tocar um instrumento, a da pintura ou a do canto, ou qualquer outra atividade criativa - quem desejar aperfeiçoar-se no campo de sua preferência deverá, é claro, estar disposto a consagrar todo o tempo e energia necessários à indispensável prática. Todavia, a necessidade de aplicar-se na esfera do :111101', em igual grau, tem sido, se não negada, pelo menos ignorada ou reconhecida com relu tância. A grande incidência de mal-entendidos e conflitos entre pessoas que se relacionam afetivamente oferece ampla evidência de que "apaixonar-se" ou meramente sentir-se atraído sexual e emocionalmente não é o bastante para ser bem-sucedido no amor. Conseguir um relacionarnen to afetivo bem-sucedido envolve a posse, ou aquisição, de uma soma razoável de conhecimentos físicos, psicológicos e espirituais paralelos e, em larga medida, iguais aos necessários para bem-querer. Deste modo, o bem-amar e o bemquerer estão in tirnarnen te relacionados. Do mesmo modo que os conhecimen tos relevan tes para o bem-querer, os conhecimentos relevan tes para o bem-amar têm a ver com a estrutura do ser humano, com suas várias funções e com as leis que o governam; e com uma psicologia geral diferencial,
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em todos os seus aspectos (ver Apêndice 5, pãg, 20 I ). Depois desta peroraçãc, poderemos realizar com segurança as tarefas específicas que levam à harmonização e à unificação do amor e da vontade. Existem três métodos adequados para esse fim: - O primeiro consiste no desenvolvimento do mais fraco dos dois, a fim de tornar igualmente viáveis o amor e a vontade. - O segundo consiste em despertar, e depois expressar, os aspectos mais elevados tanto do amar como do querer. - O terceiro consiste em colocar em funcionamento o amor e a vontade, de tal modo que ambos se estimulem e reforcem mutuamente. 1. A primeira tarefa consiste em equilibrar a combinação amor-vontade, aumentando a proporção da função mais fraca com respeito à mais forte. Os tipos emotivos nos quais predomina o amor, devem tratar de desenvolver progressivamente a vontade e de usá-Ia cada vez mais intensamente. De modo inverso, os tipos volítivos, para os quais o exercício da vontade representa a linha do menor esforço, devem cuidar especialmente para que a qualidade do amor tempere e contrabalance o uso da vontade tornando-a inofensiva e construtiva. No caso da vontade, o objetivo do treinamento é o cultivo dos aspectos nos quais ela pode ser deficiente. Esse cultivo exige a eliminação da má vontade na efetivação do treinamento ativo. A origem principal dessa má vontade reside na inércia básica que existe em todos nós; mas uma atitude antagônica com respeito à vontade pode também ser causada por uma reação exagerada contra a imposição irnpiedosa e imoderada desta qualidade no passado. Esse antagonismo, todavia, pode ser anulado, conforme já mencionei, por meio do reconhecimento e da apreciação do valor e da necessidade de um uso apropriado da von ta de , O mesmo pode-se dizer do amor. Muitas pessoas o temem, apavoram-se com a perspectiva de abrirse para outro ser humano, para um grupo ou para um ideal. O meio para descobrir, desmascarar e, depois, livrar-se dessas resistências e temores é o auto-exame e a auto-análise sincera e correta; ou mesmo uma análise conduzida com a ajuda de outra pessoa. 2. O segundo método, que é o de despertar e de expressar os aspectos mais elevados tanto do amor como da vontade, suscita uma questão importante de natureza geral. Muitas das limitações e erros da moderna psicologia científica devem sua origem a uma falha (poder-se-ia dizer má vontade) de reconhecer que existem, tanto no amor quanto na vontade, diferenças qualitativas de nível, grau e valor. Todavia, a psicologia cientí-
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fica, ainda que reclame a eliminação das avaliações, tem freqüentemente (e até quase inevitavelmente) formulado avaliações, sem o perceber. Como disse Maslow, "A ciência é baseada em valores humanos e é, ela própria, um sistema de valores". A existência de diferentes níveis de ser com valores diversos é uma manifestação evidente e inegável da grande lei da evolução, que vai progredindo dos estágios mais simples e grosseiros aos mais requin tados e altamente organizados. Ao aplicar isto à esfera do amor - e desconsiderando aqui a questão do relacionamento entre sexualidade e amor - é evidente que um amor irresistível, possessivo, ciumento e cego está em nível inferior ao de um amor terno, interessado na pessoa do ser amado e que busca o seu bem-estar e deseja a união dos melhores aspectos de ambas as personalidades. Encontramos em outro nível o amor altruísta, com sua ampla perspectiva humanitária, animado pela compaixão e pelo anseio de mitigar os sofrimentos e desgraças que afligem a humanidade - é o amor chamado cantas ou ágape. Como ignorar, pois, as diferenças de evolução, nível e valor entre essas várias espécies de amor? O mesmo é eviden te e igualmen te claro no que toca à vontade, a qual - como vimos - pode ser, em seu nível mais baixo, dura, egoísta, voltada para o poder e o domínio, impiedosa e cruel. Por outro lado, em seus níveis mais elevados, a vontade volta-se para propósitos e metas despojados do egoísmo e da satisfação egocêntrica. O indivíduo animado por uma vontade desse tipo tende a estabelecer relações íntimas com outros seres humanos e estará sempre pronto a aliar sua vontade à dos demais tendo em vista fins construtivos. À medida que se vão satisfazendo as necessidades básicas do ser humano, o apelo do que Maslow chamava de necessidades mais elevadas aflora gradualmente à consciência e afirmase, trazendo-nos à consciência maior expansão e maiores realizações. Isto não ocorre apenas nas esferas do amor e da vontade, mas também no caso dc funções tais como o desejo, a imaginação ou a atividade mental. Podemos deliberadamente preferir estimular e promover esse processo natural de desenvolvimento e de crescimento mediante hábil aplicação de diversas técnicas usadas na psicossíntese - tais como a visualização, a imaginação criativa, a meditação, o "modelo ideal", a transmutação e a sublimação. 3. O terceiro método visa a uma fusão gradual do amor e da vontade e à sinergia resultante. Ele constitui uma parte essencial da psicossín tese, processo através do qual a multiplicidade das tendências e os elementos autônomos, não raro conflítantes, entram numa interação progressivamen81
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te harmônica, para culminar, em sua fusão final, no ser humano integrado. Tudo isto, intencionalmente apresentado em termos simples. parece elementar e óbvio; embora, quem se abalançar a colocar isso em prática logo perceberá como é difícil. Ao tratar deste assunto, portanto - assim como de ou tros no decorrer deste es tudo - o uso de expressões simples, facilmente compreensíveis e tão pouco técnicas quanto possível, não deve induzir o leitor a acreclitar que eu considero estas questões simples e fáceis de serem postas em prática. A fusão gradual do amor e da vontade caracteriza-se freqüentemente por períodos de duração variável, nos quais as circunstâncias externas e os impulsos internos podem ocasionar a predominância temporária da função normalmente mais fraca ou menos desenvolvida. Um caso simples e ilustrativo é o do sujeito "de tipo volitivo" que se apaixona; outra ilustração é o modo pelo qual um desastre, tal como uma inundação ou terremoto, pode suscitar sentimentos humanitários e um senso de solidariedade humana em pessoas comumen te egocên tricas e insensíveis. Num tipo amoroso, a ânsia de realizar seus desejos pode despertar a vontade a ponto de focalizar temporariamente suas energias nos meios que poderiam levá-lo ao objetivo desejado.
o Princípio
Serenidade
e a Técnica da Síntese
Se levarmos em conta, como é preciso, os vários estágios, qualidades a níveis da vontade, bem como os do amor, e a complexa interação entre todos eles, tornar-se-a evidente que o bem-sucedido esforço para conseguir uma síntese entre o amor e a vontade exige grande habilidade de ação, além de uma vigilância contínua e de uma consciência permanente, a todo instante. Vários movimentos e abordagens espirituais contemporâneos sublinham adequadamente essa atitude que vem sendo amplamente adotada no Oriente. Essa consciência, todavia, ou essa atitude de "presença" interior consciente, não cessa com a observação do que "acontece" no íntimo da pessoa e no mundo exterior. Ela possibilita a intervenção ativa e o engajamento , por parte do ego, o qual não é apenas observador, mas também um agente dotado de vontade, um agente que dirige o jogo das várias funções e energias. Isso pode ser feito mediante o emprego do princípio de auto-identificação (ver o exercício de identificação no Apêndice I, pág. ló9). Da posição vantajosa do ego, procura-se não um acordo entre amor e
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vontade mas uma sintese. Os dois elementos seriam, neste caso, absorvidos numa unidade mais elevada dotada de qualidades que transcendem às de ambos. A diferença entre essa síntese e um mero acordo é fundamental. Ela é indicada para uma série de situações diferentes nos cliagramas triangulares desta página e da seguin te). A síntese entre estágios, qualidades e níveis do amor e da vontade precisa ser realizada dessa maneira. As futuras pesquisas, esboçadas no Projeto da Vontade (ver a Terceira Parte), devem visar à verificação, através de experiências, do melhor modo de realizar essas sínteses. Uma verdadeira vigilância e um direcionamento desse tipo requerem a aplicação da sabedoria.
Entusiasmo
Calma
Dignidade
Au todcpreciação (Com plexo ele Inferioridade)
Depressão
Espiritual
Valores Corretos
(Complexo
Arrogância de Superioridade)
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Clara Visão da Realidade
Otimismo
Cego
Realismo
Compreensão
Prático
Pessimismo
Apavorado
Do mesmo modo que a vontade, a sabedoria hoje não está muito em voga. A maioria das pessoas faz do sábio uma idéia estática, imaginam uma pessoa desligada e distan te da, assim chamada, "realidade" da vida. Uma das tarefas da psicologia deveria ser a reabilitação da sabedoria, por meio da apresentação de uma concepção mais verdadeira de sua natureza vital, dinâmica e criativa. Essa imagem da sabedoria foi apresentada, de uma forma impressionante por Hermann Keyserling no seu livro The Recovery of Truth [A
Reconquista da Verdade):
Os chineses, que entendem de sabedoria mais que qualquer outra raça, designam o sábio por meio dos ideogramas combinados do vento e do raio;
Espiritual
para eles, o sábio não é o tranqüilo velhinho destituído de qualquer ilusão, e sim alguém que, como o vento, abre caminho com ímpeto irresistivel, sem que ninguém lhe possa pôr as mãos em cima ou fazer estacar n 'algum ponto de sua carreira; é aquele que purifica o ar, como o raio, que golpeia onde é preciso golpear. Dúvida
Senso Comum
l Transmutação
Licenciosidade
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e Sublimação
Temperança
Energia
Fraqueza
Dogmatismo
F orça equilibrada
Repressão
Espiritual
da Personalidade
Violência
Por paradoxal que possa parecer, o ego precisa usar a vaI'!tade sábia, a fim de sintetizar os vários estágios do amor e da vontade. Esse processo s6 pode ser levado a efeito porque um atributo essencial da sabedoria é o poder de "jogar com opostos", para regular a interação de forças e funções antípodas, estabelecendo assim um equilíbrio dinâmico e uma síntese, sem recorrer a transigências e sim por meio de um regularnen to vindo de alto nivel, Esse processo geral é descrito num artigo que escrevi, "The Balancing and Synthesis of lhe Opposites" ["O Equilíbrio e a Síntese dos Opostos"). Alguns exemplos podem servir aqui para demonstrar de que modo a von tade sábia opera em várias situações, ajudando a indicar como realizar a união da vontade e do amor. A polaridade entre "inteligência" e "coração", entre razão e sentimen to (Lagos e Eras), regula-se, primeiro pelo reconhecimen to de suas respectivas funções e do legítimo campo de ação que cabe a cada uma dessas funções, para que uma não domine a outra. A isto pode seguir-se um aumento da mútua cooperação e interpenetração entre elas, para finalmente alcançar a síntese tão bem expressa por Dante nas palavras "luz intelectual cheia de amor". A polaridade entre sensibilidade e reccptividade (Pathos), entre dinamismo e afirmação (Ethos), a qual, num sentido mais amplo, corresporide J polaridade psicossexual - pois o desempenho do primeiro papel é a modalidade "Ieminina" e o do segundo, a "masculina" - também pode, 85
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a princípio, ser con trolada por um ajustamento equilibrado, a ser superado por uma síntese criativa. A polaridade fundamental entre a personalidade humana como um todo e o SelfTranspessoal também pode ser solucionada por uma unidade. Este é o objetivo de um longo processo de transrnutação, que envolve uma prolongada série de conflitos, abordagens e contatos, cada qual produzindo uma fusão parcial ou mais expandida: em resumo. um processo de psicossíntese transpessoal. Isso constitui o elevado esforço e o drama central do homem que, consciente ou inconscientemente, aspira atingir sua meta ou para ela é empurrado por sua incapacidade de encontrar uma satisfação duradoura ou uma paz verdadeira até que a tenha alcançado. As fases e métodos dessa fusão e síntese foram descritos, preliminarmente, em meu livro Psicoss in tese . Estes vários modos de equil íbrio, ajustamentos e integrações podem ser realizados de modos diferentes. Em grande número de casos, são precedidos de crises intensas e de conflitos. Em outros casos, são atingidos de modo mais harmonioso, por meio de um decréscimo gradual nas oscilações do "pêndulo" que balança entre os dois extremos. A pessoa que compreender claramente o processo da psicossíntese estará habilitada a cooperar com ele de uma forma ativa, e a levá-Io a efeito de um modo mais rápido e fácil. A exigência essencial, conforme mencionamos anteriormente, é evitar a identificação com qualquer dos pólos opostos, e controlar, transmudar e dirigir suas energias para um centro unificador mais elevado de consciência e poder.
9 A VONTADE TRANSPESSOAL
Os recen tes desenvolvimentos no campo da psicologia transpessoal oferecem um bom fundamento e um conveniente quadro de referências para tratar da questão da Vontade Transpessoal. Maslow descreveu a "hierarquia das necessidades" em Motivação e Personalidade, Ele fala, em primeiro lugar, das necessidades psicológicas básicas; passa, a seguir, a falar das necessidades pessoais, como a necessidade de amor, de estima, de auto-atualização; e também de um terceiro grupo, as Necessidades Transpessoais ou Metanecessidades. Satisfazer as necessidades dos dois primeiros grupos não gera, paradoxalmente, um sentimento de tédio, de aborrecimento, de vazio e de insignificância. Isso leva à busca, mais ou menos às cegas, de "alguma outra coisa" ou de algo mais. Percebe-se isto em muitas pessoas que, satisfeitas e muito bem-sucedidas sob um ponto de vista mundano, tornam-se cada vez mais inquietas, rebeldes ou deprimidas. Viktor Frankl tratou exaustivamente dessas condições, que ele apropriadamente chama de "vazio existencial": Os clientes se queixam cada vez mais daquilo que chamam de "vazio interior", e esta é a razão da escolha do termo "vazio existencial". Em contradição com a experiência culminante, tão bem descrita por Maslow, poder-se-ia conceber o vazio existencial como paroxismo da "experiência-abismo" .
Mas esse estado de coisas não deve, necessariamente, ser considerado patológico. Frankl chega a dizer: "O vazio existencial não é nenhuma neu-
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rase; ou, se for, é uma neurose sociogênica, ou mesmo iatrogênica - isto é, uma neurose causada pelo médico que a pretende curar". Exemplo notável de um in tenso vazio existencial (que coexiste com uma saúde física e mental perfeita) encontra-se nas Confissões de Leon Tolstoi. Vale a pena citar o trecho completo: Assim vivia eu; mas há cinco anos algo de muito estranho começou a acontecer. Experimentei, primeiro, momentos de perplexidade e de parada da vida, como se não soubesse o que fazer nem como viver, e sentia-me perdido e me enchi de desalento. Isso, porém, passou e continuei a viver como antes. Então, esses momentos de perplexidade começaram a voltar sempre com maior freqüência e sempre do mesmo modo. Expressavam-se sempre pelas perguntas: Para que serve isto? Isto leva a quê? A princípio, essas perguntas pareceram-me carecer de objetivo ou de relevância. Pensei que se tratava de um assunto conhecido, e que se um dia eu quisesse soluciona-to, não me custaria muito esforço: naquele momento preciso, eu não tinha. tempo para isso, mas quando desejasse poderia encontrar as repostas. As perguntas, todavia, puseram-se a repetir-se com freqüência e a exigir respostas, com urna insistência cada vez maior; e como gotas de tinta a cair no mesmo lugar, formaram juntas uma grande nódoa. Sucedeu, então, o que sempre acontece a quem adoece de enfermidade mortal, interna. Surgem primeiro sinais triviais de indisposição aos quais o doente não dá atenção; esses sinais começam depois a reaparecer cada vez com maior freqüência e a fundir-se num único período de sofrimentos ininterruptos. O sofrimento aumenta e, antes que o doente possa lançar um olhar à volta de si, aquilo que tomou por mera indisposição já se tornou para ele mais importante que qualquer outra coisa, no mundo - é a mortel Eis o que aconteceu comigo. Compreendi que não se tratava de uma indisposição casual, mas de algo muito importante e que, se as tais perguntas se repetiam constantemente, teriam que ser respondidas. E eu tentei respondêIas. Eram perguntas, aparentemente tão tolas, simples e infantis; mas assim que me aproximei delas para tentar solucioná-Ias, imediatamente me convenci, primeiro, de que não eram infantis nem tolas. e sim as mais importantes e profundas perguntas desta vida; e, em segundo lugar, que, por mais que tentasse, eu não conseguiria resolvê-Ias. Antes de me ocupar com minha propriedade de Sarnara, antes de cuidar da educação de meu filho, ou de escrever um livro, eu precisava saber por que faria tais coisas. Enquanto não soubesse por quê, eu nada poderia fazer, eu não poderia viver. Entre os pensamentos sobre a administração da propriedade, que muito me preocupavam naquele tempo, subitamente, me ocorreria a pergunta: "Bom, terás 6.000 dessiatins de terra na província de Sarnara e 300 cavalos - e daí?" ... E ficava completamente dcsconcortado, sem saber o que pensar. Ou quando fazia planos para a educação de meus filhos, eu dizia para mim próprio: "Para quê?" Ou quando imaginava o modo de tornar prósperos os cornponcses, eu subitamente dizia: "Mas que im-
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porta isto a mim?" Ou, ao pensar na rama que me proporcionariam minhas obras, perguntava-me: "Muito bem, serás mais famoso do que Gogol, do que Pushkin, do que Shakespcare ou do que Ioliêre , ou do que todos os escritores do mundo - e da í?" Eu não encontrava absolutamente nenhuma resposta. As perguntas não podiam esperar, precisavam ser respondidas irncdia tamen tc e, se eu não as respondesse, seria impossível viver. Mas não havia resposta. Senti que desmoronava o chão sob meus pés e que nada me restava debaixo deles. As coisas de que vivera já não existiam e nada mais restava. Minha vida parou. Eu ainda podia respirar, comer, beber e dormir e não podia deixar de fazer estas coisas; mas vida, não havia, pois não existiam desejos cuja realização eu pudesse considerar razoável. Se algo desejava, sabia de antemão que, satisfizesse ou não meu desejo, nada me adiantaria. Se aparecesse uma fada oferecendo-me a realização de meus desejos, eu não saberia o que pedir. Se, nos momentos de embriaguez, sentia qualquer coisa que, embora não um desejo, era um hábito deixado por desejos antigos, nos momentos de sobriedade eu sabia que aquilo era uma ilusão e que nada havia que eu pudesse desejar . A coisa chegara a tal ponto que eu, homem saudável, de fortuna, senti que não poderia mais viver: um poder irresist ível impelia-me a livrar-me da vida, de qualquer modo. Não digo que desejasse me matar. A força que me afastava da vida era mais poderosa, mais total e mais difusa do que um mero desejo. Era uma força semelhante à da antiga luta pela vida, mas em direção contrária. Todas as minhas forças me afastavam da vida. Vinham-me, agora, pensamentos de autodestruição tão naturalmente quanto antigamente as idéias para melhorar de vida. E tudo isso aconteceu numa época em que eu tinha em tomo de mim tudo o que é considerado boa sorte completa. Eu ainda não chegara aos cinqüenta; tinha uma boa esposa que me amava e a quem eu amava. bons filhos e uma grande propriedade que, sem muito esforço de minha parte, melhorava e crescia. Eu era mais rcspci tado pelos parentes e conhecidos do que antes, em qualquer tempo. Era louvado por todos e, sem muita auto-sugestão, podia considerar que tinha um nome famoso. E longe de estar louco ou mentalmente enfermo, gozava, ao contrário, de uma força mental e física como poucas vezes encontrei entre as pessoas de minha classe; fisicamente, eu não ficava atrás dos camponeses durante a ceifa e. mentalmente, era capaz ele trabalhar de oito a dez horas esforço.
sem parar
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conseqüências
desfavoráveis
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A declaração de Tolstoi é significativa por mostrar a importância fundamental da necessidade de compreender o sentido da vida. Frankl, em seu livro Man 's Search for Meaning [O Homem e a Busca de um Sentido l, dá amplo testemunho disso. Enquanto prisioneiro num campo de concentração nazista, notou que aqueles que viam na vida um sentido, ou aqueles que lhe davam um significado demonstravam um grau surpreendente de
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força e resistência. Está provado que encontrar esse significado é fator decisivo para a sobrevivência, assim como muitos que perderam esse incen tivo desanimaram e morreram. Existe, também, um tipo de crise algo diferente: o sentido da própria insígnificância, Neste caso, a pessoa sente-se inútil, acha que a sua vida não tem objetivo ou valor, e a nada pode levar. Isso, na minha opinião, é uma ilusão, pois toda forma de existência tem o seu lugar no todo. A velha história dos três britadores de pedras ilustra o valor da compreensão deste ponto de vista. Na Idade Média, durante a construção de uma catedral, perguntaram separadamente a três britadores de pedras: "O que você está fazendo?" O primeiro replicou, zangado: "Como vê, estou britando pedras". O segundo respondeu: "Assim ganho a vida para mim e para minha família". E o terceiro respondeu alegremente: "Estou construindo uma grande catedral". Todos faziam exatamente a mesma coisa mas, enquanto o primeiro tinha o senso da própria insignificância, que provinha da na~ureza monótona e humilde do seu trabalho, e o segundo encontrava nele Iügar para um pequeno objetivo pessoal, o terceiro percebia o verdadeiro propósito de sua função. Ele compreendia que, sem o seu trabalho, a catedral não poderia ser construída e estava inspirado pela alegria de sentir-se parte de um objetivo significativo. A fim de auxiliar a compreensão da insatisfação com a vida "normal", podemos examinar de novo o diagrama da constituição psicológica do homem, na pág. 15. As necessidades básicas pessoais referem-se aos níveis da vida psicológica inferior e média, tanto conscientes como inconscientes. Existe, todavia, um terceiro nível, mais elevado - a área do supraconsciente, que culmina no SelfTranspessoal. . Nisso está o drama e a glória do ser humano: no fato de este n ível mais elevado - latente na maioria dos casos - mais cedo ou mais tarde exigir satisfação. exigir que o levemos em conta e que o vivamos. Há uma admirável afirmação de Jung a respeito: . Ser "normal" é uma idéia esplêndida para os fracassados, para os que ainda não encontraram uma adaptação. Mas para as pessoas mais hábeis que a média, para as quais nunca foi difícil ser bem-sucedido e realiz ar sua quota de trabalho no mundo - para elas a limitação ao normal significa a cama de Procusto um tédio ínsurportavel, uma esterilidade infernal e sem esperanças. Como conscqüéncin, existem muitas pessoas que se tomam neuróticas por serem apenas normais, bem como existem outras que são neuróticas porque não conseguem
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ser normais.
Todas as necessidades suscitam impulsos correspondentes dirigidos à própria satisfação. Os impulsos relativos às necessidades básicas elementares são mais ou menos cegos, instintivos e inconscientes. Quanto às necessidades mais pessoais, porém, os impulsos levam gradualmente aos atos conscientes e volitivos, que visam à sua satisfação. Portanto, toda necessidade suscita, mais cedo ou mais tarde, uma vontade correspondente. Poder-se-ia dizer que o mais elevado e completo exemplo da vontade de significação é encontrado na vida de Gautama Buda. Quando compreendeu o sofrimento que havia em toda vida humana, não teve mais paz; deu início à busca intensiva sobre as causas dos sofrimentos e o modo de os eliminar. Durante muitos anos, tentou diferentes métodos, inclusive o do ascetismo estrito, mas sem êxito. Finalmente, persistindo na meditação, conseguiu certa noite a iluminação sob a famosa árvore Bodi. Ele "viu", num relâmpago de luz, todos os mecanismos e toda a corren te das causas que produzem o sofrimento e a servidão humana; a isto chamou de "roda da causalidade". Viu também o modo de quebrar essa corrente e conseguir a libertação. Encontrara o sentido e a solução dos problemas da vida através da iluminação. Abrira um caminho e rompera a trilha que poderia ser seguida por seus semelhantes, Essa iluminação, porém, era a recompensa de seu esforço de vontade. Segundo a descrição de D. T. Suzuki: o fato mais importante subjacente à experiência da Iluminação, portanto, é o de Buda ter feito a mais esforçada das tentativas para solucionar o problema da ignorância e exercido sua mais extrema força de vontade no sentido de obter um resultado positivo para sua luta ... A iluminação, portanto, deve envolver tanto a vontade como o intelecto. E um ato de intuição nascido da vontade ... Buda atingiu seu objetivo no momento em que teve uma nova visão interior no término de seu raciocínio sempre circulante que ia da decadência à morte ... Ele possuía, porém, uma vontade indomável;ele queria, com o maior dos esforços de sua vontade, chegar à verdade absoluta; bateu e tomou a bater até que as portas da Ignorância cederam e se escancarararn para uma nova perspectiva nunca dantes apresentada à sua visão intelectual. A básica necessidade de significado foi descrita de uma forma concisa e vigorosa por Albert Einstein: "O homem que acha a própria vida sem sen tido não é apenas um infeliz, mas é quase indigno de viver". O resultado da insatisfação com aquilo que é sentido como falta de
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Uma boa descrição desse "chamado" foi feita, mais uma vez, por Jung:
de um Princípio Mais Elevado
Em última análise, o que induz uma pessoa a escolher seu próprio caminho e elevar-se acima ela identidade com as massas inconscientes, como quem emerge de uma nuvem de neblina ... E o que se chama "vocação" ... Quem tem vocação ouve uma voz interior; ele é chamado ... Caso histórico rf o daimon de Sócrates ... Ter vocação significa, num sentido original, ouvir lima voz que nos é dirigido. Os mais claros exemplos deste fato podem encontrar-se nas Confissões dos Profetas do Antigo Testamento. Não se trata aqui simplesmente de um modo de falar à antiga, como é mostrado pelas confissões de personalidades históricas tais como Goethe e Napoleão, para mencionar dois exemplos Iarniliarcs, que não faziam segredo de seu sentimento de vocação. Ora, vocação, ou o sentimento da vocação, não é decerto uma prerrogativa de grandes personalidades, mas pertence também às pequenas ...
Deve-se notar, não obstante, que quando a Vontade Transpessoal se torna ativa, muitos efeitos diferentes podem resultar da interação entre ela e a vontade, não raro rebelde, do Eu. Já discuti os estágios da crise resultante dessa ínteração e os modos de lidar com eles, no segundo capítulo de
Psicossintese. As aspirações e a von tade do eu pessoal, bem como a a tração do Sei! Transpessoal no sentido de transcender as limitações da consciência "normal" e da vida, não se manifestam apenas na busca e na vontade de encontrar significado e iluminação. Existem ou tros tipos de transcendência que são experimentados pelos tipos de ser humano que lhes corresponde: 1. Transcendência através de amor transpessoal. 2. Transcendência através de ação transpessoal. 3. Transcendência através da beleza. 4. Transcendência através da realização do SELF. Esses modos de transcendência podem ser expressos também em termos de vontade, da vontade fundamental de transcender as limitações da personalidade através da união com alguém ou com algo maior e mais ele-
à névoa das lágrimas I Escondi-me dele sob o fluir do riso. I Escalei sedutoras esperanças i E, abatido. fui precipitado, I Em titânicas trevas e abismais pavores, I Por aqueles poderosos Pés, que me seguiam, e me seguiam, Numa caçada sem pressa, / Num passo impcr turbrivcl, I Deliberada rapidez, majestosa insistência, I Eles me derrotaram - c uma Voz me venceu I Mais rapidamente que os Pés - I "Todas as coisas
vado. Mais exatamente: amor e da vontade. 1. Transcendência
em todos esses modos, encontramos
a união do
Através do Amor Pessoal
No amor humano em plenitude há um aspecto transpessoal. Ele pode ser definido como o relacionamento entre os níveis supraconscientes em ambas as pessoas - uma realização conjunta da Realidade Transpessoal. Pode ser combinada com o amor em todos os níveis da personalidade; pode haver, portanto, às vezes, uma combinação de amor sexual, emocional e transpessoal. O perfeito amor pode ser considerado uma união em todos os níveis. A vontade correspondente pode chamar-se vontade de união através do amor. Uma das mais completas descrições desse tipo de amor foi apresentada por Richard Wagner em Tristão e Isolda. As duas personalidades se incluem e se transcendem, e existe uma unificação com a Realidade Transcendeu te através da união en tre elas. O segundo tipo de transcendência por amor é o do amor altrutsta, Existe aqui uma diferença entre a boa vontade pessoal, que já mencionei, e a Vontade Transpessoal, da qual o amor altruísta é uma expressão, também chamada caritas ou ágape; sua expressão mais elevada é a compaixão. O amor altruísta não se limita aos membros da família humana. Pode abarcar também tudo o que vive, no reino animal e no vegetal, numa abrangência que é expressa no amor budista por todas as criaturas vivas e por São Francisco de Assis no seu "Hino das Criaturas". Poder-se-ia dizer que, subjacente à essa tendência consciente e crescente da fraternidade universal, existe a de cultivar uma harmoniosa relação com O' ambiente. Este é o mais amplo e elevado aspecto da ecologia. O terceiro tipo de transcendência através do amor é a aspiração à unidade com o Ser Supremo, geralmente designado como "Deus" ou Realidade Universal. t o caminho do amor mistico, As declarações dos grandes místicos contêm muitas referências apaixonadas a esse anseio de união com Deus. E os grandes místicos demonstram possuir uma vontade forte e desenvolvida. lI. Transcendéncia Através da Ação Transpessoal As mais altas formas de ação social e humanitária têm caráter transpessoal. Elas são motivadas pela Vontade Transpessoal, que é independente
traem aquele que me abandona."
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I
I significado em nosso atual modo de vida - tanto pessoal, como social - é que muitas pessoas sentem-se fortemente compeli das a fugir dele. Ao obedecer a esse impulso, podem tentar lançar-se além das limitações comuns da consciência e atingir estados de maior expansão e in tensidade da consciência. Infelizmente, não poucas pessoas, embora com as melhores intenções, tentam atingir esses estados através de meios prejudiciais e até destrutivos. t. necessário, portanto, compreender claramente que existem dois modos diferentes e, de certo modo, opostos, de lidar com a angústia existencial. Um deles é a tentativa de escapar por meio do retorno a um estado primitivo de consciência, ser reabsorvido na "mãe", no estado pré-natal, perder-se na vida coletiva. Este é o caminho da regressão. O outro é o caminho da transcendência de que falamos acima, o de "elevar-se acima" da consciência comum. Maslow deu a estas duas condições o nome de "baixo nirvana" e "alto nirvana", O primeiro, embora possa dar temporariamente um senso de libertação e possa mostrar que existem estados mais amplos de consciência, não pode proporcionar uma satisfação permanente, nem oferece uma solução real e duradoura, adiando apenas a crise, que eventualmente ressurgirá de forma exacerbada. Devemos, portanto, enfrentar corajosamente e de boa vontade os requisitos para transcender as limitações da consciência pessoal, sem perder o centro de percepção individual. Isso é possível porque a individualidade e a universalidade não são mutuamente exclusivas; elas podem ser unidas numa realização bem-aventurada e sintética. Pode caber, neste ponto, a objeção de que têm acontecido muitos exemplos de iluminação espontânea, súbita e inesperada, sem nenhuma luta prévia ou exercício consciente. A iniciativa, nestes casos, cabe ao Self Transpessoal, que exerce uma "atração" do alto. Pode-se compreender esse fato por meio da consideração da consti tuição psicológica dos seres humanos. Como vimos, a vontade é a função mais intimamente relacionada com o self , ou a mais direta expressão desse self. Isso é verdadeiro tanto no que se refere ao self pessoa, ou "Eu", quanto ao SelfTranspessoal. Assim como existe a vontade pessoal - que vimos examinando até aqui existe também a Vontade Transpessoal, expressão do Self Transpessoal, que opera nos níveis supraconscientes da psique. Sua ação é que é sentida pelo self pessoal, ou "Eu", como uma "atração" ou "chamado". A existência e a "presença" desta Realidade ou SelfTranscendental foi afirmada de modo muito interessa.nte por Jung, na inscrição que mandou pôr sobre sua porta, na casa de Kussnacht: "Vocatus, sive 11011 vocatus, Deus aderit " ("Deus estará presente, quer seja ou não chamado"). E essa 92
experiência tem sido relatada por muitas pessoas, não raro in terprctada como um chamado de Deus ou de algum ser mais elevado. Não discu tirei aqui essa in terpre tação, mas é preciso reconhecer a realidade e a natureza desse processo. As muitas experiências de iluminação espontânea foram relatadas por várias pessoas, e muitas dessas experiências foram examinadas porrnenorizadamen te por R. M. Bucke em Cosmic Consciousness [Consciência Cósmica 1 e por William J ames em The Varieties of Religious Experience [As Variedades da Experiência Religiosa 1- Nestes dois livros pioneiros está contido muito material precioso e as interpretações dadas por esses dois au tores são ainda pertinentes, em larga medida. No livro de Winslow Hall, Observed Illuminates, foram coligidas de primeira mão narrativas sobre iluminações espontâneas, acontecidas com pessoas "comuns". As histórias de experiências religiosas freqüentemente mencionam um "chamado" divino, ou uma "atração" exercida por algum Poder mais Alto; isso às vezes dá início a um "diálogo" entre o homem e a "Fonte mais Alta", durante o qual, alternativamente, um invoca e evoca o outro. Em outros casos, o chamado do "alto" toma a forma de uma exigência imperativa, que pode até ser temporariamente sentida como uma perseguição. Isso foi brilhantemente expresso por Francis Thompson em seu poema "The Hound of Heaven" ["O Caçador Celeste "] cujos versos de abertura passo a ci tar: I fled Hirn , down thc nights and down the days; [ flcd Him, down the arches of the years; [ Iled Him, down the labyrinthine ways or my own mind, and in the mist of tcars I hid from Him, and under running laughter.
Up vistaed hopes [ sped ; And shot, precipitated, Adown Titanic glooms and chasrncd fears, Frorn those strong Fect that followed, followed Bu t with unhurrying chasc , And unperturbed pace, Delibera te spccd , rnajcstic instancy , They beat - and a Voice beat More instant than thc Feet "AlI things betray thee, who betrayest me".'
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'Dele fugi através dos e das noites; / Dele fugi através das arcadas do tempo: / Dele fugi através dos labirínticos meandros / De minha própria mente e, em meio
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e às vezes con trá ria à von tade pessoal, ao instin to pessoal de au topreserV;ÇãOe à ~eccssidade de aflrrnação pessoal. Trata-se de atos que envolvem coragem, provações, sacrifícios e riscos. Podem ser inspirados pela devoção e consagração a um ideal 0\1 causa, e também podem atingir os cimos do verdadeiro heroísmo.
vontade pessoal estava afinada com sua Vontade mais elevada. Becthoven, surdo durante os últimos anos de vida, obedeceu à ânsia de compor e escreveu algumas de suas composições mais belas quando já não as podia ouvir. Não faltam exemplos desses artistas incapacitados, mas bem-sucedidos em suas criações em virtude de sua vontade indomável.
m. Transcendência
IV. Transcendência Através da Realização do SELF
Através da Beleza
A realização transpessoal por meio da beleza pode ser chamada de caminho estético. A beleza é sentida como uma necessidade por muita gente e o impulso correspondente para a beleza produz, por conseguinte, essa vontade de beleza. Existem dois aspectos dessa vontade: o da contemplação da beleza e o da criação de coisas belas. Todavia, é na criação da beleza que a vontade mais se manifesta. Compreende-se com freqüência que o artista seja impelido pela ânsia de criar, que sua personalidade é impelida por essa ânsia que, às vezes, pode ser dócil e alegre e que, com maior freqüência, é difícil e até dolorosa. A personalidade, não raro, rebela-se ou tenta fugir dessa compulsão elevada. Ainda assim, o artista é obrigado a criar; ele não conhecerá a paz enquanto desobedecer a essa ânsia de criar o que foi preparado no reino do seu subconsciente. Goe the parece referir-se a si mesmo e à sua necessidade interna de criação quando, no Tasso, escreve: "Lutei dia e noite contra essa necessidade' , estou cansado de tentar trancar o peito. t. inú til I Eu tenho de cantar: Se não, a vida não é vida." Há, portanto, uma conexão direta entre vontade e beleza. fato nem sempre compreendido, visto que em muitos casos no nível da personalidade, os artistas podem ter uma vontade escassamente desenvolvida, e os sentimentos, emoções e imaginação mais altamente desenvolvidos. Neles, é quase sempre o seu Eu Transpessoal que exerce a Vontade e compele a personalidade a expressar beleza. Ainda assim, existiram e existem artistas que também demonstraram claramente sua vontade pessoal. Um exemplo notável de consciente e persistente vontade de criar que persistiu até a velhice é o de Michelangelo. As privações a que sc submeteu quando pintava a Capela Sistina são prova suficiente desse fato. Exemplo mais moderno da vontade de criar, que toca as raias do heroísmo é o do pintor francês Renoir. Durante seus últimos anos de vida, ele teve as mãos paralisadas pela artrite. Ainda assim, mandou que lhe atassem às mãos o pincel e com dificuldade e muitas dores conseguiu pintar até o fim da sua vida. Sua É
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Seguir este caminho rumo à transcendência poder-se-ia dizer que é o resultado da cornpulsão e da vontade deliberada de dar realidade a todas as possibilidades humanas, especialmente às transcendentes. Isso significa atribuir valor especial às potencialidades emergentes que pertencem à esfera do supraconsciente e que têm origem no SelfTranspessoal. necessário, portanto, que seja clara a concepção da diferença entre realização do SELF e auto-atualização. Maslow mostrou essa diferença em seu trabalho "Teoria Z". Diz ele que, além dos "meramente saudáveis autoatualízadores", existem tam bérn os "au to-a tualizadores transcenden tes"; os auto-atualizadores transcendentes são mais auto-atualizantes que os auto-atualizadores normais, por estarem mais profundamente envolvidos com valores do Ser - com a realização do SELF. Não se trata, aqui, da atualização das potencialidadcs laten tes na personalidade humana "normal", mas da progressiva manifestação das potencialidades transpessoais e transcendentes, que culminam com a experiência direta da consciência do Sei! Transpessoal. A personalidade completa, integrada e auto-atualizada, pode ser absolutamente egoísta ou pelo menos, cgocêntrica. A auto-atualização não implica nenhuma motivação mais elevada; pode não haver nada mais que um impulso em direção ao êxito e à exibição dos poderes individuais. Uma pessoa auto-atualizada pode não só estar satisfeita consigo mesma como ser an tagônica a qualquer progresso futuro. Este caso foi bem examinado por Frank Haronian, em seu trabalho "Repressão do Sublime". Pergunta ele: "Por que fugimos .... ao desafio do progresso pessoal? Tememos o progresso, pois ele significa o abandono do conhecido pelo desconhecido, o que sempre envolve risco". Haronian cita Angyal e Maslow, que trataram do mesmo assunto. Maslow refere-se ao "complexo de J onas": É
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Em minhas notas, eu primeiro rotulara esta defesa corno "medo da própria grandeza" ou "fuga do próprio destino", ou ainda "uma fuga de nosso melhor talento" ... 12decerto possível que os homens, em sua grande maioria, sejam mais grandiosos do que o são na realidade. Todos ternos potcncialidadcs sem uso, ou não plenamente desenvolvidas. Sem dúvida, é verdade que muitos de nós fugimos das vocações constitucionalmente sugeridas ... Com freqüência fugimos das responsabilidades ditadas (ou sugcridas) pela natureza, pelo destino, até mesmo por acidente, assim como lonas tentou, em vão, fugir ao seu fado.
Maslow apresen tou uma progressão esclarecedora dos cinco estágios do desenvolvimento evolutivo. Os tipos pertencentes aos dois primeiros estágios estão inclu ídos na Teoria X. São determinados, em primeiro lugar, por necessidades provocadas por deficiências. Os tipos terceiro e quarto estão incluídos na Teoria Y. São os determinados principalmente por impulsos de auto-atualização. O quinto tipo está incluído na teoria a que ele dá o nome de Z, Trata-se, aqui, da pessoa que ordena a sua vida de acordo com valores transcendentes. Enquan to enfatiza os valores da esfera da realização transpessoal, Maslcw sabiamente adverte contra o perigo de transformá-Ia em algo sobrenatural, separado dos outros níveis de atualização:
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Transccndência significa também tornar-se divino ou semelhante a Deus, ir além do meramente humano. Mas é preciso ter aqui o cuidado de não transformar esta espécie de afirmação em algo de extra-humano ou sobrenarural. Estou pensando em empregar a palavra "meta-humano" ou "B-humano", a fim de sublinhar que isto constitui parte da natureza humana, embora raramente possa ser verificado de fato. Trata-se de uma potencialidadc da natureza humana, ainda.
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de transcendência em muitas pessoas diferentes das auto-atualizadas", Na terminologia da psicossíntese, auto-atualização corresponde à psicossíntese pessoal. Isso inclui o desenvolvimento e a harrnonização de todas as funções e potencialidades humanas em todos os níveis, desde a área inferior e méctia do diagrama da constituição do homem. A realização do SELF, ao contrário, refere-se ao terceiro e mais elevado nível, a do supraconsciente, e pertence à psicossíntese transpessoal ou espiritual. A própria realização do SELF tem três estágios diferen teso O primeiro refere-se à ativação e expressão das potencialidades que residem no supraconscien te, e inclui os vários tipos de transcendência já mencionados. Leonardo da Vinci ou Goethe seriam bons exemplos do que se quer dizer com isso. O segundo estágio da realização do SELF é a percepção direta do SELF, que culmina com a unificação da consciência do sei! pessoal, ou do "Eu", com a do Sei! Transpessoal. Poderíamos mencionar aqui as pessoas que, com sacrifício, prestam serviços a uma causa beneficente, em qualquer campo. Os grandes humanitários que se têm entregado a uma causa são bons exemplos ctisso: Candhi, Florence Nightingale, Martin Luther King, Schweitzer. Este último é um exemplo típico, por ter desistido até de seus mais elevados interesses, a música e a cultura, a fim de entregar-se a um trabalho humanitário. Em termos de vontade, isto é a unificação da vontade pessoal com a Vontade Transpessoal. O terceiro estágio da realização do SELF é a comunhão do Sei! Transpessoal com o Universal e, de modo correspondente, da vontade individual com a Vontade Universal. Neste ponto encontramos os mais elevados místicos de todos os tempos.
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Que fique bem claro que "distinguir" não é "separar". Todos esses níveis de desenvolvimento são ctistintos; todavia, desde que existem indivíduos em que o aspecto transpessoal, ainda que presente, é de tal modo latente que, na prática, deixa de existir, existem também muitos outros em quem os diferentes níveis de realização pessoal e transpessoal podem ser ativos em várias proporções e, também, em vários graus, de acordo com o momento. Pode-se, assim, conseguir certa medida de genuína AUTO-realização transpessoal do SELF ao mesmo tempo em que não se consegue uma completa au to-atualização. Isso está de acordo com o que diz Maslow no segundo parágrafo da "Teoria Z": "Parece-me que encontrei certo grau
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A VONTADE UNIVERSAL
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E fundamental a questão da existência de uma Von tade Universal e de sua relação com as vontades individuais, visto que está muito ligada ao problema mais amplo da relação entre o homem e a suprema Realidade Universal. O fato de, até tempos muito recentes, este relacionamento ter sido concebido e expresso principalmente em termos religiosos constitui uma dificuldade para tratar desta questão. Atualmente, tal abordagem empolga poucas pessoas e tem sido até absolu tamen te contestada. Poder-se-ia dizer, em termos irreverentes, que atualmente Deus não é bem acolhido pela imprensa. Algumas pessoas afirmam, de modo sensacional, que "Deus está morto"; mas, além disso, para muitos, Deus é apenas uma abstração, um conceito, um símbolo, uma questão de fé, no sentido de uma crença mais ou menos cega ou, quando muito, uma questão de esperança - jamais uma Realidade viva. Isso não afeta os sentimentos e atos de ninguém. Na prática, vive-se como se Deus não existisse. Tal atitude, em larga medida, pode ser compreendida como uma reação contra as imagens' antropomórficas de Deus e con tra as teologias que tentaram dar uma concepção teórica a uma Realidade que transcende quaisquer formulações desse tipo. O homem criou um deus à sua semelhança, atribuindo-lhe suas próprias qualidades humanas e, não raro, emprestando-lhe, mais ou menos explicitamente, suas próprias limitações e imperfeições. São essas imagens e os vários modelos teológicos de Deus que estão sendo recusados e estão "morrendo". 100
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Existem, no entanto, outras abordagens da Realidade última, que são mais satisfatórias e férteis. Uma delas é a abordagem intuitiva. A intuição já foi reconhecida, por muitos, no Oriente e no Ocidente, como um meio de conhecimento verdadeiro e mais elevado. Jung e outros consideramna como uma fu nção psicológica, em seu sentido próprio, tão real e legítima quanto qualquer outra. A diferença, pode-se dizer, consiste nas tentativas de "provar" a existência de Deus através de meios intelectuais e racionais - como fizeram várias escolas de teologia - e a experiência intuitiva e direta de comunhão com a Realidade última. Existe, porém, outra distinção que convém esclarecer: a palavra "razão" tem sido utilizada pelos filósofos de dois modos. De um lado, emprega-se "razão" para designar o conceito mental e analítico da razão, Este modo pode ser chamado de aristotélico. adotado, mais ou menos conscientemente, pela ciência moderna e pelos filósofos "racionalistas", O outro conceito da razão corresponde ao Logos de Pia tão e à Razão Transcendental de Kant e de outros. A segunda abordagem da Realidade faz-se por meio da percepção das analogias 1. A abordagem da analogia é baseada na unidade essencial de todos os aspectos da Realidade, desde o menor até o maior. Existe, pois, uma íntima correspondência entre o microcosrno e o macrocosmo, em geral e, especificamente, entre o homem e o universo. Mas esta identidade básica da natureza não significa que o homem, em seu estado normal de consciência, pode mentalmente entender, "compreender", o imenso raio de ação e significado da Realidade última. A analogia que se segue, entre uma gota de água e todas as águas existentes no planeta pode auxiliar a esclarecer a questão: se uma gota tivesse inteligência, poderia asseverar que sua natureza é a mesma das restantes águas do planeta; ou melhor, que sua composição química é a mesma - dois átomos de hidrogênío e um de oxigênio, ligados segundo um certo padrão. Todas as águas do planeta têm essa mesma composição química. Mas entre elas existe uma série de diferenças: de localização (oceanos, lagos, rios), de condições (líquida, sólida, gasosa), de junções (a água pode fazer parte de um vegetal, de um animal, ou do organismo humano), e de relacionamento com outras substâncias (soluções). Uma ínfima gota, se dotada de inteligência, não É
1. A existência das analogias na natureza é conhecida da ciência, resultando em diversos desenvolvimentos tccnológicos importantes, entre os quais o computador analógico.
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No segundo diagrama, a atenção e atividade do SELF são apresentadas como uniformemente distri buídas en tre a direção descendente, para a personalidade, e a direção ascendente, para a Realidade transcendente. Em tais condições, alcança das por meio de muitos estágios de expansão
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entre o homem e Deus. Outros sublinharam que a Vida é Una só Uma Vida. Mas isso não significa que a mente humana pos-
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num estado um aguçado mesmo".
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A irradiação da estrela do terceiro diagrama indica o mais aIto estado de transcendéncia, no qual o senso de identidade individual é atenuado e pode até parecer ternporiamcnte perdido. São os estados chamados, diIeren temente, de samadhi, prajna, satori, êxtase, consciência cósmica etc. Até mesmo nestes estados, porém, o senso de identidade não é totalmente perdido. isto foi claramente formulado pelo Lama Anagarika Govinda, do seguinte modo: A individualidade não é somente o necessário e complementar oposto da universalidade, mas o único ponto de enfoque através do qual a universalidade pode ser vivcnciada. A supressão da individualidade, a negação filosófica e religiosa de seu valor ou importância, só pode levar a um estado de completa indiferença e dissolução, que pode ser uma libertação do sofrimento, mas uma libertação apenas negativa, visto que nos priva da mais elevada experiência, que parece ser o objetivo do processo de individuação: a experiência da perfeita iluminação, de ser iluda, na qual a universalidade de nosso verdadeiro ser é alcançada. Meramente "fundir-se no todo" como "a gota no oceano", sem ter alcançado essa plenitude, é apenas um modo poético de aceitar a aniquilação e de fugir do problema colocado diante de nós pela nossa individualidade. Por que haveria o universo de desenvolver formas individualizadas de vida e consciência, se isso não fosse condizente natureza do universo?
com ou inerente
ao próprio
espírito
ou
Segundo Radhakrishnan: o privilégio peculiar ao ser humano é poder conscientemente reunirse ao todo e trabalhar para ele, encarnando na sua própria vida o propósito do todo ... Os dois elementos do ego: a singularidade (imparidade) e a universalidade (totalidade) progridem juntamente até que, afinal, o que é mais único torna-se o mais universal. Maslow descreve essa experiência of Transcendence", do seguinte modo:
Trata-se
em seu artigo "Various
Seria também útil o emprego dado por Bucke à consciência de um estado fenomcnológíco especial, no qual a pessoa,
Meanirigs
cósmica. de algum
modo, percebe a totalidade do cosmos, ou pelo menos a unidade e integração no cosmos de tudo quanto ele contém, inclusive o próprio Eu. A pessoa sentirá então que pertence ao cosmos por direito. Torna-se um membro da Iarnília, e não um órfão. Entra no cosmos, não permanece do lado de fora, a olhar para dentro. Sente-se simultaneamente pequena, em contraste com a vastidão do universo, mas, ao mesmo tempo, um ser importante, por ali estar por direito absoluto. Ela é parte do universo e não um estranho ou um intruso:
A existência da uma mente universal, de urna racionalidade inerente ao Universo, tem sido afirmada por muitas pessoas de vários modos, tanto filosóficos quanto científicos. Não podemos discutir aqui a validade dessas concepções, pois isso levaria demasiado longe. De modo geral, porém, podemos apresentar uma analogia semelhante entre todas as funções humanas. Todo amor humano, mesmo em seu mais elevado aspecto transpessoal, pode ser considerado como a expressão parcial do princípio universal do AJ\.10R. Os místicos de todos os tempos e lugares testemunharam quan to à própria experiência da realidade desse amor. A manifestação física do amor oferece evidente analogia com, e pode ser considerada como o reflexo da polaridade universal, da interação entre o que tem sido, de vários modos, chamado espírito-matéria, Yang-Yin, Shiva-Shakti etc.2 O mesmo relacionamento existe entre a vontade individual e a Universal. Ele se baseia na relação íntima existente, como vimos, entre o self e a vontade, em todos os níveis. Afirma-se que este relacionamento é uma realidade existencial e quem o diz são os que o experimentaram. Neste ponto, novamente, devemos reconhecer que, se não houvesse Vontade Universal, o homem possuiria algo não existente no universo e, portanto, o microcosmo seria superior ao macrocosmo - conceito, aliás dos mais ridículos: A harmonização, comunhão, unificação e fusão das duas vontades sempre foi - e ainda é - a profunda aspiração e, poder-se-ia dizer, a mais elevada, embora nem sempre realizada, necessidade da humanidade. As 2. Tudo o que foi dito concerne apenas à Realidade em manifestação, ou ao processo de manifestar-se, no qual existem graus de transcendência. Da realidade não manifesIa ou transcendente, em sentido absoluto, nada se pode dizer. Pode-se indicar ou insinuar, a rcspei to dela apenas por meio de negações: não-isto, não-aquilo, não-coisa, o "Vácuo". Este aspecto da realidade foi sublinhado por algumas escolas de Budismo do Norte e, no Ocidente, por Mcistcr Eckhart. Um exaustivo exame desta questão, sob seus diferentes ângulos e por vários autores, foi publicado no jornal Hermes , nO 6, "Le Viúe", editado por Matsui , Min,ud, Paris, 1969.
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104
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pessoas sentem-na e dão-lhe expressão de vários modos, segundo os vários conceitos da Realidade, como são entendidos pelos diferentes tipos do ser humano. Essencialmen te, isso significa participar de boa VOIl tade e afinarse segundo os ritmos da Vida Universal. Na filosofia indiana, isto chama-se sattva , o guna do ritmo e da resposta harmoniosa ao apelo divino. Os chineses dão a esta atitude o nome de \vu-wei, ou identificação com o tao. Para os estóicos e para Spinoza, é a aceitação de boa vontade do nosso "destino". Para as pessoas de natureza devota ou que têm uma concepção religiosa da fé, é o relacionamento e eventual unificação da vontade do homem com a de Deus. Encontram-se nos escritos dos grandes místicos do Oriente e do Ocidente muitas descrições e testemunhos deste relacionamento e das vicissitudes de sua interação, bem como dos conflitos e do ponto culminante das duas vontades. Citarei aqui apenas a expressão poética que lhe foi dada por Dan te, nos versos finais da Divina Comédia: But , rolling like a whccl tha t ncvcr jars, My will and wish werc now by lave impeUed, The leve tha t moves lhe sun and all lhe o thcr stars ."
A mais direta e elevada declaração da vontade de unificação foi feita por Cristo: "Que seja fei ta a Tua von tade e não a minha" e sua realização está contida na Sua afirmação triunfante: "Eu e o Pai somos um".
• Mas, a rolar como roda que não range'; Minha vontade e desejo eram agora impelidos pelo amor / O amor que move o sol e todas as demais estrelas,
106
SEGUNDA PARTE OS ESTÁGIOS DA VONTADE
11
DA INTENÇÃO À REALIZAÇÃO
O verdadeiro ápice de nossa jornada é o mais alto nível da vontade, sua fusão com a Própria Vontade Universal: já vislumbramos a culminância e a perfeição da vontade. Mas, para melhor iniciar o treinamento efetivo da vontade, para sua ascensão progressiva através da consecução da força, da habilidade, da bondade e da universalidade, devemos agora continuar a examinar o ato da von tade em si. O ato da vontade consiste em seis fases ou estágios em seqüência, que são: 1. O Propósito, Objetivo, ou Meta, Baseados na A valiação, Motivação e Intenção. 2. Deliberação. J. Escolha e Decisão. 4. Afirmação: o Comando ou "Fiat" da Vontade. S. Planejamento e Elaboração de um Programa. 6. Direção da Execução. Estes seis estágios são iguais aos elos de uma corrcn te; portan to, a própria corrente - isto é, o ato de vontade - é tão forte quanto seu elo mais fraco. Eis por que o desempenho de um ato de vontade será mais ou menos bem-sucedido e eficaz segundo o êxito e eficácia de cada um dos estágios de sua execução. Observaremos, todavia, que tratamos aqui do ato de vontade em seu estado ideal e completo, e não do Iac-símile de cada ato de querer, mas sim de um guia para uma ação completa e determinada. Enquanto importantes atos de vontade justificam uma minuciosa conside109
, I I I
I I
I I
passo a passo, de cada estágio,
ração e a execução,
em muitos
casos práti-
cos às vezes um estágio, às vezes outro, será central, exigindo mais tempo e mais esforço. Outros estágios podem realizar-se com satisfação completa com um mínimo de esforço e atenção. Digamos, por exemplo, que o presidente de uma fundação dispõe de dinheiro, que lhe foi concedido, a fim de que o distribua a causas dignas; este homem pode gastar muito tempo e energia para se esclarecer quanto
aos próprios
objetivos. Ele então deliberaria laboriosamente
as muitas possibilidades, ponderando as vantagens postas que recebeu. Escolherá eventualmente-urna forço quando decidir a entrega do muitas vezes, fará planos para solicitar bedor
e instruirá para
meiros
dois estágios;
que lhe mande a decisão,
menos;
perceber, ao passo que o planejamento com os serviços do secretário; quanto da à ordem para que o secretário
financiamento. ao secretário um cheque. a afinnação
sobre
e desvantagens das proe despenderá pouco esDepois, como fez que notifique o receRessaltam poderá
aqui os priser difícil
de
consistiu simplesmente em contar à direção da execução, ficou limita-
notificasse
e pagasse o recebedor.
lherá um entre os muitos
restaurantes das proximidades e decidirá ir para lá. Poderá encontrar um amigo e parar para bater um papo. Daí a pouco, se o seu conhecido for embora, ele poderá lembrar-se de que, antes de se
desviar naquela prosa, ele havia decidido ir ao restaurante. Assim, ele afirmará a si mesmo que agora prosseguirá em seu caminho, sem se permitir mais interrupções. E planejará rapidamente qual a rua a seguir, e pór-se-ã a caminho. Nessa noite, ele poderá ter convidados para jantar e (digamos que ele seja um cozinheiro, um gourmetj talvez queira fazer ele próprio o jantar. a si mesmo
ele delibera e decide que espécie de refeição que cozinhará
o melhor
nas diferentes
fácil de
confirmar
-
circunstâncias. a principal
Segundo
causa
tenho
do malogro
observado no com pie
- e isto é
tar
um a to
de vontade é sentirem as pessoas dificuldade em levar a efeito um ou outro estágio específico; em outras palavras, elas se atrapalham num certo ponto da seqüência. Eis por que o estudo dos diversos estágios e de suas funções é importante para descobrir o ponto ou os pontos fracos nos quais é preciso tomar-se mais proficientes, para selecionar as abordagens e técnicas mais adequadas, e, o que é mais importante, para compreender os benefícios de longo alcance que podem advir de um tal trabalho. Assim como na psicossíntese pessoal a harrncnização das funções da personalidade requer o fortalecimento daquelas que estão subdesenvolvidas, assim também, para adquirir uma vontade plenarnen te eficaz, precisamos saber como querer completamente, como desempenhar o ato da vontade com êxito, desde seu início até a sua culminância, sem perdê-Io pelo caminho. A fim de apresentar um panorama geral do assunto, aqui vai uma breve
descrição
de cada um dos seis estágios
funcionais
da vontade
em
ação.
Ao meio-dia', o objetivo desse mesmo homem pode mudar: ele quer ir almoçar. Ele deliberará rapidamente sobre as várias possibilidades, esco-
Sem demora
eficácia
preparar,
afirma
que puder e depois passará muito
tem-
l. O objetivo ou meta: a principal característica do ato da vontade é a existência de um propósito a ser alcançado, a visão clara de um objetivo ou meta
a ser alcançado.
Mas essa característica,
apesar
de indispensável,
não é, só por si, suficiente. De fato, enquanto essa visão do objetivo permanecer no campo da imaginação, ou na contemplação, não é ainda uma von tade em ação. O alvo primeiro deve ser avaliado e determinado ; precisa, além disso, despertar motivações, que engendram o impulso, a intenção de o atingir. A própria palavra "motivo" indica algo de ativo e dinâmico. Os motivos
são despertados
perseguimos. 2. Mas apenas veis. Certamente muito
menos
pelos valores que emprestamos
isto não é o bastante.
não podemos todos
atingí-los
eles ao mesmo
às metas
Existem
muitos
a todos,
cada um por sua vez e
tempo.
objetivos
que
Tem que ser feita,
possí-
portanto,
po planejando o modo de preparar os ingredientes escolhidos e cozinhar os vários pratos. Mais tarde, procederá à real execução, extraindo muita coisa
uma escolha. Para fazer essa escolha, devemos tas possíveis é a preferive!. Essa determinação
de hábitos padronizados e memórias de suas experiências anteriores, ao mesmo tempo que se conserva vigilante, para que sua atividade, em grande parte au tomá tica , siga minuciosamente os planos, no tocan te à seqüência,
qual os diversos alvos, nossas possibilidades de os realizar, a questão de saber se são aconselháveis e quais as conseqüências que deles advirtam, e todos os outros fatores relevantes precisam ser mantidos na lembrança e exa-
exatidão das receitas etc. Portanto, se num ato de vontade
da vontade
minados. 3. A deliberação
de agir com
são. Isto significa a escolha
são importantes,
devemos
ser proficientes
nem todos
os estágios
em todos eles, a
fim
descarte
110
deve ser seguida
determinar qual entre as meé função da deliberação, na
da escolha e da conseqüente
de um objetivo
determinado,
e o abandono
deciou
dos demais. II 1
I
I.
4. A escolha e a decisão devem ser confirmadas pela afirmação, que ativa e estimula as energias dinâmicas e criativas que devem assegurar a consecução do obje tivo. 5. Depois disso, é preciso elaborar cuidadosamente um plano e um programa. Estes baseiam-se na consideração e seleção dos vários meios e fases da execução do plano no tempo, segundo as circunstâncias, condições e possibilidades. 6. Finalmente, chega o momento de dirigir a execução. Esta é urna tarefa específica da vontade, cuja função própria não é levar a efeito a execução diretamente, como comumente se supõe. A vontade pode e deve fazer um uso habilidoso das outras funções e energias corporais e psicológicas da personalidade: do pensamento e da imaginação, da percepção e da intuição, dos sentimentos e dos impulsos, bem como dos órgãos físicos da ação. Para usar uma analogia tirada do teatro, a vontade é o diretor de toda a produção, mas normalmente ela não está incluída entre os atores. Essa direção deve incluir igualmente uma constan te supervisão da execução. A vontade, a princípio, convoca ou coriclama as várias funções necessárias para a realização de seu propósi [o e lhes dá instruções, ordens e comandos definidos. Mas a vontade deve também supervisionar as atividades das várias funções, observar o desenvolvimento do programa e verificar se está seguindo a direção certa. Isso envolve, como ·.'<:'remos, uma firme su bordinação dos vários meios para se alcançar o propósi to su bjacen te e uma constante adaptação deles às mudanças de circunstâncias e condições.
112
12 PROPOSITO,
AVALIAÇÃO,
MOTIVAÇÃO,
INTENÇÃO
No título deste capítulo, foram agrupados quatro elementos, por serem de tal modo inter-relacionados que não devem ser tratados como estágios diferentes. De fato, o propósito é a vontade de atingir uma meta, um objetivo; mas a meta deixa de ser meta se não for considerada valiosa. Do mesmo modo, o motivo deixa de ser motivo se não "mover", se não impelir para o objetivo. E o que dá direção ao motivo é a intenção. Além disso, estes aspectos nem sempre se sucedem numa ordem fixa, Às vezes o motivo ou intenção surge primeiro na consciência, por exemplo, o estímulo rumo a um ideal ainda não esclarecido ou definido. Ou a pessoa adquire a percepção de um valor moral, social, estético ou religioso, o qual só mais tarde se liga a um objetivo, a uma meta específica a ser alcançada. Outras vezes, a visão surge primeiro, o relâmpago intuitivo, a iluminação que revela a meta ou a tarefa, à qual só então é atribuído um valor; e isso suscita os motivos que impelem à realização e à intenção de realizar a meta. Podem, portanto, surgir diversos relacionamentos dinâmicos ente o propósito, a avaliação, o motivo e a intenção. Ou tro modo de indicar estes relacionarnen tos é o seguin te: os motivos e intenções são baseados em avaliações; as avaliações baseiam-se no significado atribuído à vida. Mas este significado, por sua vez, é dado pelo alvo ou propósito da própria vida, e por sua realização. Portanto, uma coisa que ajuda muito a pôr a vontade em funcionamento é ter uma concepção positiva do significado e propósito da vida; admitir, antes de mais nada, que a vida tem um propósito e que este é significativo; depois, que tal propósito é positivo, construtivo, valioso - em uma palavra, que é bom. 113
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Pode-se perceber isto por meio da auto-observação ou in trospccção. Mas ao estudar mais minuciosamente a motivação, as coisas tornam-se muito mais complicadas. A psicanálise enfatizou grandemente o fato de que as motivações inconscien tes existem e que não raro agimos na crença de que o fazemos por motivo consciente, quando na realidade somos impelidos, principalmente, por impulsos dos quais não temos consciência. Esses impulsos subjugam a censura do ego por meio da racionalização. Mesmo antes da psicanálise, porém, prestou-se atenção à tendência humana de encontrar justificativas aparentemente boas para atos que nada tinham de bons; justificativas para nós mesmos e para os outros. Pode-se comparar essa tendência aos argumentos de um advogado Íntimo que pleiteasse a causa dos mais intensos impulsos que operam no inconsciente. Quanto a isso, podemos observar uma das reações ou oscilações extremas qu(! surgem freqüentemente na vida. A psicologia clássica levou em conta apenas as motivações conscientes. E a psicanálise, em contrapartida, preocupou-se só, ou quase só, com motivações inconscientes e impulsos, chegando assim, para todos os fins práticos, à negação da vontade. Pode-se dizer aqui, como em muitos outros casos, que a verdade está no meio-termo. Existem motivações conscien tes e motivações inconscientes; ou an tes, pode-se dizer com mais exatidão que há quase sempre uma combinação destas duas em proporções muito variáveis. Assim é que se faz necessária uma análise precisa para o uso da função da von tade com verdadeira consciência; ou uma au to-análise, ou uma análise fei ta por um terapeuta ou por um educador, conforme o caso. A ocasião não é propícia para o exame detido das técnicas desta análise. Indicarei simplesmente um erro em que freqüentemente caímos ao tomar consciência dos nossos motivos íntimos. No Capítulo 6, "Aplicações Práticas da Vontade Hábil", recomendei a técnica de "agir como se"; isto é, de agir como se existisse em nós uma atitude psicológica, e não o contrário. Algumas pessoas sentem-se chocadas com o uso deste método, por considerá-Io hipócrita. Com efeito, elas dizem: "Se estou zangado e ressentido com alguém, por qualquer motivo, bom ou mau, e trato esse alguém com sorrisos e gentilezas, não estou sendo autêntico ou correto para comigo mesmo". Na realidade, não se trata aqui de hipocrisia. Isto se deve à multiplicidade psicológica que existe em cada um de nós. "Agir como se" seria h.ipocrisia se assim procedêssemos com a finalidade de enganar os ou tros com fins ego ístas; ou se enganássemos a nós mesmos e crêssemos que nossos motivos inferiores não existem. Mas se, ao surgir em nós 114
um movimento de hostilidade e de ressentimento contra alguém, nosso eu verdadeiro e genuíno não o aprovasse e recusasse identificar-se com tais sentimentos, então nossa vontade real será a de escolher o motivo mais elevado e agir benevolentemente, a despeito do impulso que nos levaria a tratar mal a outra pessoa. Somos livres para escolher o motivo ao qual daremos livre curso. Geralmente, nossos motivos e impulsos internos tendem a neutralizar-se e nossa tarefa consiste em intensificar o "potencial" das energias de boa vontade e compreensão, para que elas não só anulem os impulsos hostis mas se tomem mais fortes que eles. Deve-se, todavia, fazer aqui uma reserva, a fim de não cair na cilada vitoriana e nos tornarmos repressivos, sofrendo por isso as reações das energias suprimidas ou reprimidas. Se, por exemplo, forem demasiado intensas as tendências hostis, "agir como se" não bastará e esta técnica, se usada prematuramente, pode provocar resultados indesejáveis. Em tais casos, o método da "descarga" (catarse) inofensiva e da transmutação e sublimação devem ser usados em primeiro lugar. Ao dizer isto, não estou recomendando que as pessoas nunca sejam agressivas e nunca entrem numa briga; o que quero dizer é que temos a liberdade de escolher se e em que medida havemos de dar expressão direta aos impulsos ou motivações, sejam eles de ira profunda ou de ressentimento. Além disso, quem escolhe desse modo ou toma essa decisão pode usar os recursos de seu claro entendimento, bem como os da direção do Ego Transpessoal. O importan te é saber que escolhas e decisões são possíveis. O ato de vontade, intencional, envolverá, portanto, a decisão de aceitar ou não um impulso. A autenticidade não consiste em ceder às motivações erradas, simplesmente porque se fazem sentir. Considerado sob esta luz, o comportamen to benevolen te, a despei to da ira que se possa sentir ou de nossos impulsos de ira, pode ser a mais alta forma de sinceridade, visto que corresponde ao que desejar/amos realmente ser e ao que desde já somos, parcialmente. Este tipo de consideração elimina o mal-entendido a respeito da autenticidade. De fato, muitas pessoas comportam-se mal e se desculpam invocando a autenticidade. Ora, essa autenticidade é, quase sempre, a do homem das cavernas. O método de "agir como se" sentíssemos as emoções que desejaríamos sentir não é fingimento nem hipocrisia. É um modo eficaz de nos tornarmos aquilo que desejaríamos ser constantemente. Nós somos, essencial e genuinamente, aquilo que desejamos ser, não obstante deixemos, freqüentemente, de manifestá-Io. 115
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I
I
I
Ao considerar as motivações, portanto, muito auxilia distingui-Ias em duas classes, que se podem designar, respectivamente, como a dos impulsos e anseias e a das razões. Os impulsos e anseias podem ser conscientes ou inconscientes, e geralmente são considerados como tendências espontâneas, que "movem" ou tendem a mover. As razões, por outro lado, para serem realmen te razões, devem ser conscientes e ter aspecto men tal e cognitivo. Elas pressupõem uma visão clara do objetivo, a admissão de seu valor e da intenção de o alcançar. Toma-se um impulso ou ânsia, que é verificado racionalrnen te e transformado em razão. Se olharmos mais de perto para a avaliação dos motivos, verificaremos que eles freqüen temen te não podem ser rotulados como "bons" ou "maus". Apenas a correta observação de nós mesmos e dos outros revela quase sempre que os motivos e razões que determinam os nossos atos são múltiplos e de vários tipos; há sempre uma mistura de motivações egoístas e altruístas. Aqueles cuja abordagem é exclusivamente psicanalítica sustentam que os "verdadeiros" motivos são os instintivos e inferiores, sendo os demais simples disfarces ou racionalizações deles. No outro extremo, os idealistas rígidos e in transigentes exigem para si mesmos e para os demais o reconhecimento da pureza absoluta das intenções e condenam todas as motivações que não alcançam tal critério. Mas a existência de motivos inferiores (que se rão assim designados apenas tendo em vista a simplicidade da linguagem), não excluem a coexistência e autenticidade dos motivos mais elevados. A multiplicidade fundamental do ser humano, e de seu ser consciente - que age em diferentes níveis e a partir de diferentes níveis - garante a mul tiplicidade de motivos, todos igualmen te "reais", genu í!1OS e autênticos. A natureza dos conflitos psicológicos pode ser explicada nos seguintes termos: muitos deles podem ser definidos como conflitos entre os vários níveis de in tenções e motivos. Mas existe ainda um fato interessante: as razões e motivos dos diferentes níveis nem sempre entram em conflito. Não só, com freqüência, eles coexistem pacificamente, como também convergem em direção ao mesmo alvo, participando do mesmo ato vo!itivo, cooperando com ele e executando-o. Torna-se assim possível uma interpretação da paradoxal sentença talmúdica, que ordena: "Serve a teu Deus com teus maus e bons impulsos". Na moderna linguagem da psicologia, poderíamos dizer que um serviço dessa espécie equivale a todas as tendências biopsicológicas para propósitos mais elevados e para atividades criativas. Tal propósito apresentaria uma série de vantagens. Primeira, evitaría116
mos condenar e reprimir para o inconsciente os impulsos "inferiores", ou a prevenção de um sen timento desalentado; de culpa, ou ainda as conseqüências que disso pudessem advir. Saber que existem em nós elementos "inferiores" deste tipo não deve nos causar surpresa nem depressão: eles existem em todo ser humano: Todos nós somos um pequeno mundo, um rnicrocosmo, onde estão representados todos os reinos da natureza: o mineral, nos ossos etc.; temos nossa vida vegetativa, nossos instintos animais e, portanto, as "condições humanas" desde o homem primitivo até as mais altas possibilidades humanas. Presentemente, representamos a soma de toda a evolução do passado, a partir do reino mineral; a evolução, porém, não pára no chamado 110mo sapiens; a evolução é contínua e nossa tarefa é levá-Ia adiante, estimulando esse grande impulso evolucionário, mas sem repudiar os estágios precedentes! Aceitar a multiplicidade de nossas motivações não só auxilia a evitar a repressão, como a leva à utilização, de modo social e individualmente produtivo, de poderosas energias que de outro modo poderiam entrar em erupção em direções destrutivas e prejudiciais. Trata-se de um caso análogo ao das canalizações de águas torrenciais para servir uma usina de eletricidade. E quando a tendência é excessiva, ela pode ser regulada pela mobilização da tendência contrária, que agirá contra ela conforme o exigirem a ocasião e os objetivos: por exemplo, lançando contra a preguiça a ambição e o desejo de possuir bens, ou, inversamente, equilibrando a tendência para a atividade excessiva com o desejo de uma vida tranqüila. Eis aqui uma das mais sutis e eficazes artes da ação volitiva: não se opor diretamente, nem lançar ataques frontais, mas manobrar com habilidade, o que pode ser alcançado primordialmente por meio do "poder alimentador da atenção", conforme foi exposto nos capítulos sobre a Vontade Hábil. A terceira vantagem, a de dirigir todas as tendências psicológicas para propósitos criativos, é conseqüência do modo pelo qual essas tendências, ou as próprias energias, são transmutadas e sublimadas mediante uma nova direção no sentido de objetivos mais elevados. Este processo de transrnutação das energias psicológicas tem grande importância e larga aplicação. Merece ser muito mais conhecido e praticado muito mais amplamente, pois consti tui o mais eficaz e constru tive dos mé todos de lidar com as duas maiores e mais poderosas fontes de energia - o sexo e a agressividade. Isso foi discutido pormenorizadamente no Capítulo 6, pág. 55. Quan to à combinação ou convergência dos motivos que determinam as decisões e as atividades que delas provem, observamos qua-
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se sempre que, ao lado dos motivos humanitários, surgem outros, tais como a ambição, a vaidade, o desejo de ser louvado, a solicitação da aprovação alheia, a auto-afirmação etc. Não será, portanto, apropriado emitir julgamentos "bons" ou "maus", "elevados" ou "inferiores" em sentido absoluto. Tudo é relativo ao indivíduo, ao seu estágio de evolução, às suas circunstâncias arnbientais, além de outros muitos fatores. Para dizer isso de modo simplificado, o que pode ser "bom" para um pode ser "mau" para outro. O grande filósofo renascentista, Tomaso CampaneUa, observou: "Em Deus, veremos quem fez ou disse as melhores coisas." A sabedoria aconselha, portanto, que seja acatada a recomendação de Cristo: "Não julgueis". Poder-se-ia objetar que cada ato volitivo envolve uma avaliação, uma estimativa, isto é, um "juízo de valor". Ainda que isso seja verdade, não deveríamos confundir os dois significados diferentes da palavra "juizo" e os dois diferentes modos de a empregar. Ao mencionar julgamento, habitualmente pensa-se em julgamento moral: em encômios, em aprovação ou, mais freqüentemente, em censura e condenação, palavras que, incidentalmente, dão a quem as emprega um senso de superioridade. Em vez disto, os julgamentos do ato volitivo necessários no primeiro e no segundo estágio ou estágio deliberativo são, como veremos, avaliações objetivas e racionais elaboradas na base de muitos e diversos elementos. A palavra mais exata neste caso é a clara "discriminação". Ao examinar os motivos, portanto, devemos reconhecer que os "inferiores" constituem uma imperfeição ética subjetiva, e não um obstáculo objetivo; de fato, podem promover a realização das a tividades mais elevadas. No campo das artes, por exemplo, a criatividade, além de provir de uma inspiração mais elevada e de um impulso espontâneo, criativo, pode ser estimulada e intensificada pelo aguilhão da necessidade prática. Dois exemplos notáveis disso foram Balzac e Dostoievsky. Eram ambos esporeados pela necessidade econômica: Dostoievsky por causa de sua paixão pelo jogo, I3alzac pelas dívidas que con traía para man ter seu luxuoso estilo de vida, além de ter o hábito imprevidente de reescrever diversas vezes seus romances, depois de eles terem alcançado o estágio das provas. A conseqüência no entanto, ou antes aquela espécie de aguilhão, fez com que ambos produzissem maior número de obras do que o teriam feito sem ele. Todavia, a ansiedade produzida pela estreiteza financeira aparentemente não influenciou a qualidade do produto literário. Isso é evidente no caso de Balzac, pelo fato de uma de suas mais pesadas despesas ser atribuída di118
retamente aos seus escrúpulos artísticos, que o induziam a burilar incansavelmente suas obras. O compositor Rossini oferece exemplo contrastante que constitui uma confirmação por via negativa. Tornando-se rico, famoso, cortejado e adorado por "Paris inteira", sentiu que carecia de incentivo para superar sua preguiça e epicurismo naturais e parou de produzir óperas de alta qualidade. Fosse mais ambicioso e propenso a ganhar cada vez mais, teríamos provavelmente mais algumas obras-primas. Os mais elevados motivos podem ser, não só proveitosamente u tilizados mas também, às vezes, deliberadamen te suscitados: por exemplo, podemos tomar compromissos públicos e produzir para evi tar a vergonha de não os cumprir, ou prometer a nós mesmos recompensa de muitos tipos (é o "método da cenoura'T). Recorrer a esses meios pode ser considerado um ato de humildade, visto que envolve a admissão de que existem em nós tais elementos inferiores ou simplesmente pessoais. O importante é certificar-se de que os motivos inferiores alinham-se com os superiores e que são estes que controlam e determinam a ação. Eu especifiquei uma supremacia bem definida, mas ta.lvez fosse possível contentar-se apenas com um pouco de supremacia. Quando um grupo possui cinqüenta e um por cento das ações de uma companhia, esse grupo determina-lhe a política. Analogarnente , na ação volitiva, até uma pequena supremacia dos motivos mais elevados é suficiente para assegurar que os motivos inferiores, embora fortes, não tenham voz nas decisões e atos e que permaneçam inofensivos e até úteis, pois são os acionistas minori tários que trazem o capital. Por outro lado, é bom estar ciente de que tudo isso pode ser acompanhado de desvantagens e perigos. A vontade deve manter-se vigilante, para que os motivos inferiores não se fortaleçam nem prevaleçam, conduzindo à ilusão, às transigências e desvios da meta inicial, ou do propósito predeterminado. Além disso, essas coisas têm a ver com a realização de objetivos externos. Quando, em vez disso, trata-se do desenvolvimento interno, da realização do alvo transpessoal , (cornparativamen te) os impulsos e energias inferiores devem ser sublimados e transformados por meio da ação dos motivos mais elevados e da "atração" exercida por objetivos mais elevados. Deixem-me resumir este cap ítulo, aplicando as observações acima à pessoa que deseja levar a efeito o primeiro estágio do ato de vontade, a fim de que possa iniciar seu a to de vontade com a máxima perspectiva de êxito. Essa pessoa deve ter claramente em vista seus objetivos e propósitos. 119
Avaliará, depois, esses objetivos e, no processo da avaliação, examinará suas motivações, ten tando tomar consciência das que permaneceram inconscientes. Trata-se da verificação da vantagem do que é considerado corno objetivo. Contudo, a principal questão deste capítulo é a que toca a natureza dos motivos. Os motivos, depois de examinados, devem ser despertados e usados. De outro modo, a escolha dos motivos e a análise do self permaneceriam apenas acadêmicas. As energias psicológicas devem ser postas em movimento e utilizadas com a intenção clara de servir um bem maior; devem ser passadas em revista e combinadas, a fim de que a vontade possa efetivamente prosseguir com a ação que levará do objetivo à realização. Com este zest (sabor) inicial, a pessoa poderá examinar dcliberadamente os meios pelos quais pode, na realidade, alcançar um determinado objetivo. Sem o dinamismo das motivações, não importa quão claros e proveitosos sejam esses objetivos, o indivíduo pode carecer de ímpeto, e continuar a ser um sonhador, em vez de o autor de um ato de vontade.
120
13 DELIBERAÇÃO,
ESCOLHA E DECISÃO
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Habitualmente, há uma série de objetivos que temos vontade de atingir. Mas não é prático nem possível querer atingir todos eles. Pelo menos, não de uma só vez. Devemos, portanto, escolher en tre as muitas possibilidades a única que vale a pena realizar, a única que preferimos - e depois decidir alcançá-Ia, renunciando às demais, ou adiando-as. Aqui é que entra em cena a deliberação. O objetivo de toda deliberação, de toda consideração de uma ou mais possibilidades, é levar à melhor decisão possível. Uma decisão tomada sem deliberação, sem exame e avaliação de todos os aspectos da questão ou da escolha com que nos defrontamos pode conduzir a atos inconsiderados, desaconselháveis, Isso nos pode envolver em equívocos que podem nos prejudicar, a nós e aos outros. O significado das palavras "inconsiderado" e "desaconselhãvel" é digno de nota. O primeiro refere-se a algo que não foi devidamente considerado; o segundo, a algo que não se aconselha, O número enorme de atos realizados impulsivamente, por pessoas que não dão nenhuma consideração às conseqüências é apavoran te. Devese isto, na realidade, ao fato de que poucos "pensam". Pensar causa desconforto e cansaço; exige concentração, e a concentração ex.ige o uso persistente da vontade. Além disso, o resultado dos pensamentos pode en trar em confli to desagradável com nossas inclinações e impulsos. Daí a importância fundamental, ou antes, a necessidade, de aprender a pensar corretamente, a refletir e a meditar (ver o Apêndice 2, pág. 176).
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As técnicas mente
estão
para
entre
o controle
as mais
e a utilização
preciosas
mais eficaz
da psicossíntese.
da própria
Constituem
uma
preparação básica para a deliberação - e para o trabalho de consideração e reflexão que deve preceder uma decisão bem tomada. Mas, para conseguir a tranqüilidade indispensável para pensar, meditar e depois
decidir,
dências
que impelem
tempo,
pelo
menos
temos
de deixar
à ação imediata, o necessário
para
temporariamente o que significa examinar
inativas conseguir
a situação
ângulos e refletir sobre ela. Portanto, o requisito - e deliberar - é um ato de restrição, de inibição.
as tenbastante
de todos
preliminar
a inibição, usada corretamente, inibir a expressão de um impulso conhecemos o impulso, podemos gi-lo ou transrnutá-lo, ou mesmo ocasião mais apropriada. Se ele daquilo que negamos; dele e o dominamos. Quanto
os
para pensar
mas se usarmos
ao que diz o professor
sabiamente
a inibição,
Calo, é preciso
notar
libertamo-nos que a inibição,
per se, não é um estágio da vontade. :f uma qualidade necessária, não só para o preparo do ato de vontade como também por ser condição necessária em todos os estágios
Como Inibir a Função
pode ser um sinal de sabedoria. Podemos prejudicial ou tolo, sem "reprimi-Ia". Reanalisá-lo e examiná-lo, para depois diridar-lhe expressão por meio de atos, numa for reprimido, nós nos tornamos vítimas
da vontade.
da Vontade Deliberação
o
professor
mente paradoxal
Cal à indicou
muito
a propósito
um aspecto
.1
aparen teNo capítulo precedente, já ficou dito que um dos principais requisitos para um verdadeiro a to da vontade é trazer luz e examinarrnoüvos
da vontade:
1
à
o
ato de vontade, de um ponto de vista muito importante, é substancialmente inibição. Não se trata, todavia, de uma inibição automática, como a que pode ser e xercida por uma tendência ou pela energia inerente a uma idéia contra outra tendência ou idéia. Mas é uma inibição que se quer, de início, de todas elas, a Ilrn de tornar possível a própria deliberação e, depois, na decisão, uma inibição de todos esses impulsos que ainda estivessem em competição com o objetivo escolhido. Esta espécie de inibição pode ser mais ou menos notável. Em certos casos, todo o esforço de querer parece consistir apenas (mas a coisa nunca é assim) no esforço de inibir certas tendências e ser reduzido a não querer; ao passo que, em outros casos, a decisão é feita tão rapidamente e com tamanha facilidade que parece ter sido tomada sem intervenção da von tade.
A palavra traz à lembrança
"inibição" a repressão
soa desagradavelmente e suas lamentáveis
zer que hoje em dia há uma verdadeira pena, por esse motivo,
esclarecer
a ouvidos conseqüências.
entre
"repressão"
O conhecido tenções" intenções manecem
Vale a
e controle
conscien te. Reprimir um impulso é condenã-lo, tentar obliterá-lo ou "engarrafá10" no inconsciente, fazendo de conta que não existe. O que for reprimido, porém, vol tará mais tarde e não raro disfarçadamen te, a fim de reivindicar o que lhe é devido. A inibição, por outro lado, consiste em abafar resolutamente um impulso ou tendência, ao mesmo tempo deliberando como se há de lidar com ele da melhor maneira. A repressão, portanto, é tolice. Mas
ditado:
pode ser tomado
fere-se à inércia
"O caminho
do inferno
em dois sentidos.
e à debilidade
madas
está calçado
O primeiro
de boas in-
e o mais óbvio re-
de grande parte das pessoas boas. Suas boas
não são seguidas de decisões, de afirmações, de atos, e assim perineficazes. O outro significado refere-se às más conseqüências
que podem advir de atos bem intencionados aos quais, de fato, às vezes falta o bom senso.
modernos; Pode-se di-
fobia quan to à repressão.
a diferença
inconscientes. Feito isto, podemos cuidar para que tenhamos bons motivos conscientes que envolvam atos construtjvos e proveitosos, para nós e para os demais. Mas isso não é suficiente. E bom ser expl ícito nesta questão, pois não falta quem acredite que bastam as boas intenções.
mas pouco
sábios. São atos
Um bom exemplo deste tipo de ato equivocado são as decisões topelos pais e impostas aos filhos na crença sincera de que é "para
o bem deles".
Pais como estes podem,
por exemplo,
empurrar
seus filhos
para uma carreira bem remunerada ou prestigiosa, ou talvez protegê-los excessivamente e, assim, impedir que adquiram a experiência indispensável para a vida por sua própria conta (embora isto possa envolver privações e urna razoável porcen tagem de risco). Assim, os primeiros passos no processo da deliberação consistem em ver claramente, em propor plenamente o problema e em formular as alternativas que se nos defrontam, em considerar o caminho a trilhar e o resultado que advirá da opção de cada uma das alternativas. Esta abordagem
123
I:
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I \ I,
aplica-se à deliberação sobre um ou mais objetivos. No último caso, as alternativas podem pertencer a diferentes possibilidades de realizar esse objetivo, ou simplesmente à questão de persegui-I o ou não. Parece óbvio que se deve propor claramente as alternativas, mas nem sempre isto é feito. A seguir vem a apreciação, a partir de um ponto de vista realista, da possibilidade de realizar o propósito, ou propósitos, e da ocasião apropriada para a ação. Neste estágio, deve-se estabelecer a seqüência natural dos vários passos a serem dados, e da ocasião em que devem passar do proje to inicial, através do programa, para a realização do objetivo. Alguém já disse que a "política é a arte do possível"; mas poderíamos acrescentar que a sabedoria, pelo menos a de cunho prático, consiste em averiguar o que é possível e quando é possível. Eis onde os idealistas erram, sempre nobremente, mas com resultados infelizes. Tanto fixam os olhos no pico luminoso da montanha que deixam de ver onde põem os pés, com o risco de levar um trambolhão e cair. Ou eles tentam subir pela encosta íngreme da montanha por um caminho tão direto quanto impraticável, em vez de seguir as curvas de outro, mais acessível. t, preciso considerar as conseqüências do ato que nos propomos. Trata-se de um exercicio de previsão, e exige uma reflexão cuidadosa e discernimento psicológico, em especial quando há o envolvimen to e a cooperação de ou tras pessoas. Não tomando esses cuidados, nossas palavras e atos podem muito bem produzir efeitos muito diferentes dos que esperávamos e desejávamos. Um dos exemplos mais simples deste fato está nas ocasiões em que nossas insistências e modos apressados despertam reações negativas nos outros. Nesses casos, não basta a mera reflexão in te\ectual; o que se precisa é de empatia, isto é, de capacidade de, por assim dizer, entrar na pele do próximo e, por meio da imaginação intuitiva, tomar consciência do efeito que podem produzir nossas palavras e atos. Inspiração e Intuição Examinemos ou tro modo de tomar decisões, especialmen te as determinadas por motivos que se originam no inconsciente ou que dele emergem, pelo caminho do supraconsciente sob a forma de iluminações, inspirações e ímpetos de agir (tanto fora como dentro). De um modo geral, tais motivos podem ser considerados transpcssoais, pelo seu caráter: criatividade artística, impulsos altruístas e humanitários, busca da verdade etc. Sua origem nem sempre pode ser identificada com certeza; pode tratar-se de 124
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atividade do supraconseiente, podem provir do Self Transpessoal, ou de outras fontes. Mas não é necessário apurar o lugar de sua origem. O importante é reconhecer tais incentivos, tais inspirações, abrir-se a eles e dar-lhes as boas-vindas. Eu disse boas-vindas porque nem sempre o recebemos bem. Essas inspirações podem, às vezes, causar-nos perplexidade ou mesmo reações negativas, ou da parte do eu consciente ou da dos elementos do inconscien te inferior. O fato é que essas inspirações e ímpetos, não raro, tornam o indivíduo inquieto, pois incitam-no a assumir responsabilidades e ações que exigem espírito de sacrifício, renúncia ou risco. Por outro lado, essas "inspirações" e impulsos internos não devem ser aceitos e obedecidos sem que os sujeitemos a uma atenta investigação. Antes de tudo, é preciso apurar se se trata de intuições ou de inspirações genuinas, Em outras palavras, esses estímulos para a ação vieram realmente do nível do supraconsciente? Precisamos distingui-Ios de impulsos vindos de outros níveis do inconsciente ou de influências externas. A diferença às vezes é eviden te, mas rnui tas vezes não o é - e a sua iden tificação pode ser muito difícil. Vivemos írnersos num oceano psíquico, envoltos numa atmosfera psíquica; estamos continuamente sujeitos a influências de todo tipo e proveniência. Eis a razão que torna essencial uma atitude permanentemente discriminatória, particularmente no caso de indivíduos dotados de grande sensibilidade psíquica. Além disso, mesmo se uma inspiração emana de fonte realmente elevada e a intuição é genuína, pode-se cometer erros graves de interpretação e, portanto, de execução. São erros que ocorrem com freqüência. Para quem deseja compreender corretamente essas inspirações e estímulos, é indispensável um adequado desenvolvimento mental. Do mesmo modo, é imprescindível um firme autocontrole, a fim de evitar reações emocionais excessivas, que tocam as raias da exaltação, eíou comportamentos impulsivos e fanáticos. Aquilo que mencionamos sobre as demais motivações, aplica-se igualmente neste caso: é conveniente não admitir imediatamente o impulso à ação e, por um ato de von tade, exercer a inibição, que poderá dar mais tempo para um exame completo da inspiração, permitindo determinar se ela é genuína e se é aconselhável adotá-Ia. Contudo, se não se pode dispensar um discernimento cuidadoso, é forçoso, igualmente, afastar as atitudes excessivamente críticas, a fim de não abafar a inspiração. Algumas pessoas tendem a questionar excessivamente, produzindo dúvidas e lançando a confusão, embora a experiência 125
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demonstre que, em muitos casos, a iluminação intuitiva original, o primeiro incentivo, estava certo. Aqui também é imprescindível o equilíbrio ou, em outras palavras, o uso da sabedoria. Tais dificuldades não nos devem desviar do uso da abordagem que nos conduzirá às escolhas corretas e da obediência aos estímulos mais elevados. Em contrapartida, os que não sentem inspirações e intuições espontâneas podem fazer uso dos métodos disponíveis destinados a ativar o supraconscicnte e ligá-Io à personalidade consciente. Os mais confiáveis são os vários processos de meditação reflexiva e receptiva. Estas e outras técnicas são descritas no Apêndice 2 (ver pág. 176). Em todos os casos de deliberação, visamos utilizar práticas já testadas, para aliciar as forças mentais mais elevadas no processo de deliberação e escolha. Essas forças podem estender-se desde o pensamento realmente concentrado até a abertura da mente à inspiração em estado de silêncio interior. O lei tor poderá experimen tar estas e outras técnicas de medi tação, tais como as mencionadas em Psicossintese, mas aquela que tem aplicação direta no estágio da deliberação é a de "consultar o SeI! Transpessoal". Ela exige, naturalmente, alguma prática e pode ser gradualmente apurada, mas consiste essencialmente em perguntar, em voz alta, ou em silêncio, ou por escrito, qual o conselho do SeI! Transpessoal sobre uma questão em especial. surpreendente constatar com que freqüência a resposta a um problema difícil provém mais cedo ou mais tarde, de uma fonte que está den tro de nós ou da parte mais elevada de nós mesmos. É
Consulta a Outras Pessoas Eis outro método de tomar decisões e um método que, incidentalmente, tem sua utilidade para checar a validade de qualquer inspiração interna. Este método pode ser de grande ajuda mas, como qualquer outra técnica tomada singularmente, muitas vezes dá origem a problemas c enganos. O êxito, neste caso, depende tanto da atitude adotada, do método empregado pela pessoa que solicita o conselho, como daquela que o concede. Todavia, em muitas situações, a pessoa pode beneficiar-se com este método, particularmente quando sua decisão envolve outras pessoas. Ele é o mais aconselhável, aliás, quando não estamos certos de nossa capacidade para julgar corretamente, ou por falta de informações ou por falta de competência num assunto em particular. Nem sempre são reconhecidas as muitas vantagens deste método. Em 126
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primeiro lugar, o próprio processo de contar o problema para outra pessoa nos ajuda a fonnulá-lo claramente, a "sermos objetivos" e, assim, a relatá10 e, conseqüentemente, a entendê-lo melhor: Muitas vezes, o simples ato de relatar em termos claros um problema traz à tona a SOlUÇãOe nos capacita a determinar o caminho a seguir, mesmo antes da resposta da pessoa consultada. independentemente disto, as perguntas da pessoa consultada, o modo como ela considera a questão, não raro colocam o problema sob urna luz diferente e nos torna conscientes de outros pontos de vista. A expressão verbal, aliás, pode servir para descarregar as emoções suscitadas pelo problema e, desse modo, reduzir ou eliminar uma grande fon te de confusão e de equívocos. O ato de formular com precisão um problema também nos ajuda a atenuar a atividade, freqüentemente excessiva, da mente, compelindo-a a pôr em ordem os pensamentos. Finalmente, há o sutil e irrdefiruvel mas genuíno efeito da mera presença, compreensiva e voluntária, da pessoa que ouve. Pode-se dizer que tal presença é "catalísadora", pois seu papel é análogo ao da substância que por si não faz parte de um composto químico, mas cuja presença torna possível e acelera uma reação química. Essa reação química não foi ainda plenamente cxplicada, mas é de grande eficiência. Também neste caso, assim como não somos obrigados a compreender a natureza exata da catálise para utilizá-Ia, podemos aproveitar o efeito substancial de uma pessoa que ouve com simpatia para melhorar nossa tomada de decisões, mesmo que não estejamos aptos a definir claramente o processo. As dificuldades na consulta às outras pessoas surgem quando o motivo de quem pergunta é evadir-se das próprias responsabilidades e ceder à tendência - presente em muitas pessoas - de confiar nos outros e de crer indiscriminadamente naquilo que ouvem, sempre cegas, ou pelo menos fortemen te influenciadas, por seu prest ígio ou presumida au toridade. Grande parte do recente culto aos terapeutas, líderes políticos e gurus deriva dessa propensão para eximir-se da responsabilidade e da liberdade. Isso pode ser considerado como manifestação da inclinação geral a confiar em autoridades externas - o que tem acontecido reiteradamente, contra a vontade dos verdadeiros sábios e mestres. Isso faz recordar os romanos discípulos de Pitágoras que usavam como argumento final o lpse dixit ("Ele o disse!"). Outro exemplo é a autoridade concedida a Aristóteles, que teve efeito constrangedor no pensamento da Idade Média e suscitou, na Renascença, ataques rancorosos contra os que a Ousavam questionar. Ou tra desvan tagern pode ocorrer quando nos voltamos para mui ta 127
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gente a pedir conselho: as opiniões das pessoas consultadas, muitas vezes contrastantes, talvez nos aumentem a incerteza. Ainda mais que aquele que pede conselho se expõe a outra cilada: se é verdade que pode receber conselhos bem definidos e pertinentes, priva-se, por isso mesmo, de chegar a uma decisão por si mesmo, adquirindo experiência ú til e desenvolvendo este aspecto da vontade. Por outro lado, a interferência excessiva por parte de pessoas a quem não foi pedida opinião pode ter sido responsável pela reação expressa nesta resposta já sobejamente conhecida: " ão me digam o que devo fazer. Sei errar sozinho." Conselhos
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Há, contudo, uma técnica correta de dar conselhos, digna de ser aprendida. Uma escolha cuidadosa dos termos a serem usados é de grande valor para determinar a atitude que será tomada e o modo de proceder a ser adotado, por ambas as partes. Em vez de falar em termos de "pedir conselhos", melhor seria dizer "consultar". Deste modo, a pessoa a quem nos dirigimos, em vez de pon ti ficar C0l110 "conselhcira", assumirá o papel de "consultada", de pessoa que oferece informação e opinião. Há muitos modos de um "consultor" auxiliar: 1. Ajudando a pessoa a formular claramente o problema sobre o qual se deliberará - a questão a ser resolvida - reunindo e trabalhando com todos os dados e informações úteis e relevantes e, depois, coordenando-as de tal modo que o material possa ser apresentado nos termos mais claros possíveis. 2. Se o problema tem a ver com o relacionamento com outras pessoas (por exemplo com os filhos, com o cônjuge, com os pais, empregados e subordinados), é preciso auxiliar o consulente a dar a devida consideração aos problemas deles. Mesmo pessoas inteligentes e sensíveis podem ter na vista manchas escuras, que são responsáveis pelas exigências injustas e excessivas que fazem aos ou tros. Elas se surpreendem sinceramen te quando suas expectativas provocam reações hostis e violentas. 3. Dirigindo a atenção para as conseqüências inevitáveis das várias escolhas possíveis e ilustrando corno a lei de causa e efeito há de, certarnen te, reagir às ações da pessoa. O consulen te pode apresen tar não apenas as conseqüências de uma ação ex terior, em particular, mas igualmente as conseqüências reais de um ato interno, psicológico. Esquecemos facilmente que as decisões psicológicas apresentam efeitos também psicológicos. 128
4. Auxiliando o consulente a encontrar as interpretações corretas das impressões e indicações que recebeu do inconsciente e, especialmente, das in tuições e irn pulsos su praconscien teso O método da consulta pode ser usado muito simplesmente sob a forma de diálogo. O método do diálogo não é novo; o exemplo mais famoso é o de Sócrates, tal como foi registrado por Platão. O que impressiona é a habilidade e a argúcia do processo socrático e a artística sutileza com a qual ele conduz o interlocutor a descobrir pessoalmente a verdade e a adotar um modo claro de pensar. O método do diálogo foi recentemente revalorizado, particularmente por Martin Buber e Ira Progoff e encontra crescente aplicação na psicoterapia. Várias formas de diálogo têm sido consideradas por Paul Toumier e seus companheiros, no movimento chamado "Medicina da Personalidade", A reunião deste grupo em Zurich, em 1967, foi dedica da aos vários aspectos do diálogo: o diálogo do cl ínico geral, o diálogo dos casais; a parapsicologia e o diálogo; o diálogo do psiquiatra; o diálogo com Deus; e o diálogo na meditação. Meditar juntamente com outras pessoas é muito proveitoso e o indivíduo experiente pode ensinar essa técnica e dirigir eficazmente um grupo. Além CÜSSO, man ter-se em silêncio na companhia de outros promove uma ação catalítica e facilita a "descida" de intuições e aspirações. Deliberação Coletiva Eis um método de deliberar que nunca deixou de ser empregado (para o bem ou para o mal). O mundo moderno emprega-o cada vez mais, assistido pela rapidez das comunicações. Tem vantagens específicas, mas não destituídas de imperfeições. Seu proveito mais evidente é dar oportunidade para a revelação e a definição das diferentes facetas da situação de um problema que deve ser resolvido, permitindo que ele seja considerado a partir de vários pontos de vista, apresentados pelas diversas especializações dos diferentes membros do grupo. Este processo, por reunir e equilibrar as qualidades de cada um dos membros de um grupo, oferece uma probabilidade maior de que suas decisões, unânimes ou majoritárias, sejam ao mesmo tempo justas e adequadas. Trata-se de um método democrático, no melhor sentido da palavra; mas para que alcance bons resultados é preciso que todos os que cornpartilham da deliberação adotem uma abordagem objetiva e imparcial e uma intenção sincera de chegar à melhor das soluções possíveis. Seria ingênuo 129
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esperar que isso sempre acontecesse. Não faltam casos em que os preconceitos, individuais ou de grupo, e, ainda mais, a obstinação e o ressentimento despertados pelo orgulho, induzem alguns participan tes a impor suas opiniões pessoais sem realmente ouvir as dos outros. Além disso, com freqüência, os prós e contras que afloram dos vários aspectos de Uma discussão parecem contrabalançar-se e bloquear uma decisão definida, o que cria incertezas e leva à decisão de adiar a decisão. Os exemplos deste fato são abundantes e, quanto maior o número dos consulentes, tanto maior a probabilidade de isto vir a acontecer. Como observou o humorista P. Lafitte, "Um administrador administra; três administradores estudam o melhor modo de administrar; cinco administradores discu tem programas confli tan tes; sete administradores batem papo". Todavia, a despeito dos graves defeitos deste método de consulta, o sistema ditatorial, ou autoritário, cujo poder de decisão reside nas mãos de um único indivíduo, é mais perigoso e abre a porta ao desastre. Carnilo Cavour, o Primeiro-ministro italiano do reino do Piernonte , disse o seguinte: "É preferível a pior Câmara de Deputados à melhor Antecâmara real". Além disso, não faltam casos em que a deliberação coletiva e a decisão em conjun to são inevi táveis. Vejamos, pois, como podemos regulamentar este assunto e limitar seus defeitos, utilizando as vantagens que oferece. A primeira regra é reduzir a um m inirno o número dos que tomam parte nas decisões. Isto não exclui a participação de peritos no exame da questão, mas limita-os a um papel consultivo. Outra regra é limitar o tempo, tanto das discussões quando das decisões. A terceira - uma regra importan te - exige que aqueles que tomam decisões assumam toda a responsabilidade quanto a elas, tanto como grupo como na qualidade de indivíduos. Acresce que, além destas regras gerais para o método de deliberação coletiva, existem outras, que devem ser aplicadas segundo as diferentes situações que carecem de decisão. Não é possível tratar delas neste livro, a não ser para recomendar que as decisões que tivermos que tomar com o auxílio de outros sejam conduzidas, tanto qua.nto possível, na base da igualdade. A atitude adequada resume esta fórmula prática e simples: "Não vamos discu tir e sim procurar jun tos a melhor solução". Isto exige de cada um a preparação recomendada para a deliberação individual, ou antes: o exame dos motivos e razões pessoais.
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Diferenças Individuais Neste ponto, parece-me apropriado discutir o fator das "diferenças caracterológicas". Até aqui a questão da deliberação e da decisão foi tratada de modo geral. Também aqui, como em todas as questões psicológicas, existem quase sempre diferenças pessoais marcantes, que devem ser levadas em conta. Os métodos devem ser adaptados para cada um dos tipos psicológicos. Para aplicar isto à questão que ora examinamos, devemos antes de tudo distinguir dois tipos humanos opostos: o "impulsivo" e o "indeciso". Tudo o que eu disse até aqui aplica-se particularmente aos impulsivos. As pessoas impulsivas necessitam da prática freqüente de todas as técnicas de calma deliberação, inibição e meditação. Os indecisos, que são minoria, requerem uma abordagem diversa. Eles devem encarar a necessidade de tomar decisões. E devem aprender a tomar essas decisões apanhando as oportunidades "no vôo", no momen to exato. Há uma significativa máxima oriental, para ambos os tipos: "Não se pode montar num camelo que não chegou ainda, nem num camelo que já se foi embora". Podemos distinguir duas causas, ou grupos de causas, diferentes, para a indecisão. Um deles, que pode ser considerado "constitucional", ocorre com tipos introvertidos, que se entregam a uma excessiva e estéril autoanálise. Eles têm, freqüentemente, um intenso senso de inferioridade. É indispensável fazer aqui uma distinção importante entre o sentimento de inferioridade ou de superioridade e o complexo de inferioridade ou de superioridade. A palavra "complexo" é empregada de um modo um tanto i.mpreciso, ao passo que deveria ser reservada para os casos sérios ou mesmo patológicos. Todo mundo tem um senso de superioridade ou inferioridade, o que não significa "complexo", e sim apenas uma atitude interior quase sempre dentro dos limites da normalidade. Somos todos superiores em algumas coisas e inferiores em outras. Mas o sentimento geral de inferioridade do introvertido, ou mesmo o seu complexo de inferioridade, nem sempre é justificado, visto ele ser, na maioria dos casos, dotado de sensibilidade moral ou estética. Outras causas da indecisão são os conflitos entre motivos inconscientes e conscientes, medo de errar e indisposição para assumir responsabilidades. (Esta úl tima pode ser devida ao arrependimento por erros cometidos no passado.) Assistência psicoterápica ou autopsicoterapia podem auxiliar a revelar essas causas e a eliminá-Ias. 131
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'! Os indecisos devem reconhecer com clareza que decidir é inevitável. Como já mencionamos aqui, não decidir é também uma decisão, e pode bem ser a pior delas: E preciso ter coragem de errar. Os indecisos devem admitir que os erros são raramente irremediáveis e não raro revelam-se produtivos como fontes de experiência. A ciência e a tecnoiogia empregam continuamente o método de tentativa-e-erro. Os indecisos são freqüentemente reduzidos a um estado de trepidante incerteza, diante de escolhas sem importância. Nessas ocasiões, a ordem é decidir por cara ou coroa. Existem dois outros tipos psicológicos que devem ser tidos como distintos daqueles que acabamos de mencionar. São os obstinados e os volúveis. O indeciso, quando, laboriosamente, chega a decidir-se, apega-se tenazrnen te à própria decisão, ao passo que o impulsivo pode ser facilmen te influenciado, sem crítica nem autocontrole, por impulsos alternativos à ação. Por outro lado, a obstinação pode ter efeito igual ao do orgulho ou da mentalidade rígida, que restringe o campo de suas perspectivas a um só aspecto de uma realidade mutável e multifacetada. É possível ajudar tais pessoas a ver claramente a diferença entre obstinação e vontade - a qual pode ser confundida, a um nível superficial de observação. Muitos acreditam possuir, e sustentam que possuem, uma vontade forte, quando na realidade não passam de teimosos: Quanto à mutabilidade, ela pode surgir numa mente demasiado aberta e plástica, que vê certa validade em cada alternativa e reconhece a renovação contínua da vida em suas formas incessantemente mutáveis. As pessoas que mudam muito precisam compreender que existem leis imutáveis a governar a evolução da vida, e que nossas decisões podem ser tomadas e defendidas em harmonia com elas. Todos os tipos psicológicos podem empreender ajustamento de excessos e limitações de caráter trazendo a vontade ao jogo, de modos diferentes e às vezes opostos, mas sempre com visão clara, decisão e sabedoria. Para atos de deliberação e decisão, é indispensável o alerta mental, a preparação adequada, a vigilância e o autocontrole;em síntese, uma resoluta e incessante aplicação da vontade.
uma coisa, um ato, um caminho, necessariamente exige que descartemos outros, isto é, que renunciemos. Isto é óbvio, ou deveria ser, assim corno facilmente aceito. Ora, na prática isso desperta resistências vigorosas, relutâncias e, não raro, rebelião violenta. As próprias palavras "renúncia" e "sacrifício" 1 suscitam extrema aversão. Na raiz dessas reações, existem várias causas: 1. I-Iedonismo, isto é, desejo intenso de prazer e de evitar o sofrimento, o qual é inato à natureza humana. 2. Enfase exagerada que no passado foi colocada no dever e no sacrifício, insistência excessiva nos valores do sofrimento, não raro por motivos desnecessários e errôneos. 3. Concepção errada da liberdade, interpretada como o direito de obedecer a todos os impulsos e satisfazer a todos os desejos, sem importarse com as conseqüências para os demais e para nós mesmos, tudo isso sem nenhuma restrição e sem nenhum senso de responsabilidade. Surge de tudo isto uma "recusa de escolher", mais ou menos consciente, sempre que uma escolha claramente se impõe. Essa recusa significa uma tentativa de "querer guardar o bolo e querer cornê-lo todo". (Isso é causa de frustração, de fingimento, de conflitos íntimos, de perda de oportunidade, além de causar precisamente aquele sofrimento que se queria, desde o princípio, cvitarr)
Escolha
Como já dissemos, um importante critério para escolher é prever, do modo mais lúcido possível, quais os efeitos da escolha; e não só os imediatos mas os efeitos a longo prazo, pois estes podem vir a ser diferentes, ou até opostos, aos primeiros. Algo de satisfatório, em termos imediatos, mais tarde pode vir a ser prejudicial. A capacidade de selecionar alternativas e a sabedoria de o fazer Corretamente podem, como todas as demais funções, ser desenvolvidas por meio de um treinamento metódico e da incorporação de exercícios adequados. O melhor modo de principiar esse treinamento é com a tomada de decisões c a escolha de coisas de pouca ou de nenhuma importância em si mesmas. Eliminando-se, no momento, todo elemento de interesse pessoal ou de gratificação egoísta, o puro ato interior pelo qual é tomada uma decisão pode ser isolado, pode ser exercitado por meio da escolha de uma
Há um fato fundamental, para o qual temos de-ficar atentos: para "decidir" é preciso, quase sempre, escolher; isto é, a seleção precisa ser feita entre várias possibilidades. Escolher significa preferir; e preferir, seja
1. Interessante e clucida tivo é compreender que a palavra "sacrifício", longe de significar doloroso asce tisrno auto-infligido, significa apenas "tornar santo", "tornar sagrado" (StlCIU!II [acerev.
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rua de preferência a outra ou, de modo semelhante, pela escolha de um prato com a exclusão dos outros, num restaurante. Todos podemos inventar muitos exercícios desta espécie. Tais exercícios podem ser seguidos de escolhas entre alternativas de crescente importância, tendo sempre em mente que escolha é preferência - o que implica a eliminação e a desistência de ou tras al terna tivas. t importante compreender também que, se desejarmos alcançar um objetivo, ao qual atribuímos um valor, devemos também querer os meios de persegui10, por mais desagradáveis e penosos que sejam. Uma ajuda simples e eficaz para isto é ter em mente e reiterar a afirmação de que "vale o esforço". Assim, a escolha e as renúncias que nela estão implicadas podem ser feitas, de boa vontade e até com alegria. Na questão das escolhas, é essencial reconhecer que existem habitualmente algumas escolhas básicas que entram em muitas escolhas específicas. Uma escolha fundamen tal e específica é a que decide entre passado e futuro. Vivemos hoje um período de transformações drásticas e de rápida renovação. Muitas velhas normas deixaram de funcionar. Os velhos modos de vida provaram que são cada vez mais inadequados para enfrentar as necessidades atuais. inútil, portanto, apegar-se a eles e iludir-se com o pensamento de que os podemos preservar intatos. Por outro lado, não se deve escolher apressadamente e sem discernimento um modo de vida novo. Presenciamos, hoje em dia, tentativas violentas, excessivas e inconsideradas de mudar tudo de uma só vez. A renovação pode e deve ser regulada por escolhas adequadas, decisões sábias e vontade firme. Não devemos abandonar o que já está esta belecido sem ter encon trado coisas melhores e mais novas. Tendo-as encontrado, porém, devemos ter a coragem e a força de vontade de nos entregarmos arrojada e alegremente à aventura do futuro. É
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14 AFIRMAÇÃO
Pelo que até aqui foi dito, poderia parecer que o ato de vontade é um processo complexo, que toma muito tempo - o que é exato, mas apenas no que se refere ao ato completo e autoconsciente. Aliás, quando uma pessoa projeta mudanças importantes na própria vida, certamente há de se esforçar para elaborar todos os seis estágios. Tais ocasiões, porém, são raras e nem sempre é indispensável mergulhar em motivações, envolver consultores e traçar roteiros de causa e efeito, a fim de simplesmente dar início ao dia. Ainda assim, é importante compreender que não falta quem malogre em atos de importância média, por encontrar dificuldades num dos estágios específicos da vontade. Talvez não tenhamos examinado os motivos, ou tenhamos ficado indecisos, ou não tenhamos aprendido a deliberar conscientemente. Por meio do. estudo e da compreensão dos seis estágios podemos aprender como usar nossa vontade, saber onde costumamos falhar e quais os exercícios recomendáveis para praticá-Ia, a fim de superar nossas deficiências. Podemos depois passar a corrigi-Ias, de modo geral - o que automaticamente melhorara cada um dos pequenos atos de vontade do dia-a-dia. Deste modo, viveremos mais livremente e em maior harmonia com a vida e com nossos verdadeiros objetivos. A afirmação é um dos mais importantes estágios do ato de vontade. Uma vez levados a efeito todos os estágios da deliberação, da escolha e da decisão, surge a fase da realização - para que aquilo que quisermos aconteça e se manifeste. O primeiro passo ou ato desta fase consiste na 135
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I~ I.
Sem esta, a decisão permanece latente. carente de força dinâmica que a ponha em movimento. A afirmação é, portanto, um "momento" ou estágio essencial da vontade. É este o significado da observação de Spinoza: "A Vontade é o poder de afirmar ou de negar". Note-se que a palavra "poder" tem dois significados: o de "poder", no sentido de capacidade e o de "poder" no sentido de força ou energia. Precisamos compreender o que está implícito na afirmação da vontade, ou na vontade afirmativa, e o que ela requer. Fundamentalmente, é um senso, ou estado de espírito, de certeza. Ela tem dois aspec· tos, ou antes, é a síntese de duas atitudes do interior do homem: a fé e a convicção. A verdadeira fé por natureza é intuitiva; ela percebe a realidade do que não é evidente ou manifesto, e a aceita. Segundo a definição de São Paulo, ela é "a substância das coisas que esperamos e a evidência das que não vemos". A fé que leva a um senso de certeza requer, antes de tudo, a fé em si mesmo, isto é, no self real, naquilo que "Somos essencialmente. Keyserling diz isso de uma forma muito apropriada: "Só essa afiro mação in terior, chamada fé, pode criar a decisão que 'torna real' o sei! na existência fenomenal. .. Este espírito vivo ... - afirma Keyserlíng - o âmago metafísico do ser humano, não é nem o entenc1imento nem a razão, ou qualquer outra função especial; é a substância ... No sentido mais verdadeiro da palavra, é o que há de mais substantivo no homem .. Eis por que a fé tem qualidades mas não é, por si mesma, urna qualidade." . afirmação,
A convicção é, por na tureza, men tal; ela é alcançada tan to por via da razão como através da aceitação intelectual de uma inruição recon ..hecida como algo que está em harmonia com a verdade. Na experiência viva, a fé e a convicção coexistem e mesclam-se em proporções variadas. De sua com binação resul ta a certeza. Para ser efetiva, a afirmação tem de ser vigorosa; deve possuir forte potencial dinâmico ou intensidade. Para usar uma analogia tirada da eletricidade, ela pode ser chamada alta "voltagem" psicológica. A afirmação pode ser considerada um comando, dado por uma autoridade, Tal autoridade pode provir de uma posição de responsabilidade ou de alguma função exterior no mundo, mas é essencial e especialmente uma qualidade interior, urna realidade interna, psicológica ou espiritual. Quem quer que a exerça sente, verdadeiramente, ou sabe, que a possui, e também aqueles aos quais é dirigida o percebem imediatamente. Essa autoridade pode e deve ser exercida particularmente sobre as energias e funções psicológicas 136
do nosso interior, energias e funções que devemos utilizar a fim de conseguir nosso propósito. Técnicas da Afirmação A afirmação torna-se efetiva através do uso de técnicas precisas. 1. O LISO de "palavras de força". Uma afirmação verbal, para ser eficaz, deve ser expressa de um modo claro e preciso. Não raro basta uma só palavra, mas muitas vezes ela será melhor expressa por meio de uma frase curta, ou de uma fórmula. Tais palavras ou frases podem ser pronunciadas apenas interiormente, mas terão mais efeitos se pronunciadas em voz alta - isto é, com a força adicional do som - ou, se escritas ou impressas, devem ser observadas intensamente. As pessoas reconhecem coletivamente o poder das palavras e frases lembrando-se delas, mesmo quando o contexto em que foram pronunciadas foi esquecido. Este poder, aparentemente má. gico, é que podemos mobilizar ao usar esta técnica. As palavras' ou frases a serem usadas serão na turalmen te diferen tes e devem ser escolhidas de acordo com o objetivo que se tem em vista e de acordo com o que desejamos evocar e desenvolver em nós mesmos. Uma lista de palavras que têm alguma aplicação geral figura no fim deste capítulo. 2. O uso de imagem. As imagens constituem um meio pelo qual podemos colocar em foco as afirmações; sua força dinâmica é sobejamen te conhecida. Pode-se usar a imagem ou visão daquilo que se deseja como se tivesse sido realizado (exemplos disto são o "modelo ideal" de personalidade c a técnica de "agir como se", usados na psicossíntese). Ou podemos usar uma imagem que seja o simbolo do que queremos realizar. Para afiro mar esta decisão de tornar hábil a vontade, pode-se, por exemplo, visualízar uma orquestra com seu maestro. Neste caso, é preciso ter também em mente o propósito original do qual a imagem é o símbolo. As imagens podem ou ser mentalmente visualizadas, ou uma imagem externa, um desenho ou um quadro etc., podem ser selecionados e observados com atenção. Uma imagem destas colocada perto do nosso lugar de trabalho, por exemplo, pode dar vida a uma afirmação durante as horas de serviço. 3. Assumir atitudes [isicas, Isto é, fazer gestos, realizar atos que, direta ou simbolicamente expressam o que desejamos realizar. O antigo uso da mudra é um exemplo do poder de afirmação do gesto. 4. Repetição. Também esta é uma técnica importante e muitas vezes necessária. Aquilo que queremos realizar pode precisar ser reafirmado mui137
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'II , I {.
I
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I: .1
tas vezes, como uma ordem. O mesmo se aplica ao uso de imagens e atos externos. O número de repetições depende da importância do objetivo, da dificuldade de o a tingir e do tempo necessário para o processo de rnanifestação. Se este for adiado, as repetições devem ser a expressão de uma atitude interna persistente. A técnica da repetição pode ser usada de vários modos: a. Repetição em horas definidas das mesmas palavras ou frases, ou uso repetido das mesmas imagens; por exemplo, em certos momentos do dia (andando a pé, ou antes de dormir). b. Repetições em série, com intervalos mais ou menos longos. c. Repetição com variação de forma. Este método evita a desvantagem de tornar as repetições mecânicas e rotineiras. As variações fazem reviver o interesse e estimulam a imaginação. Critérios diferentes, segundo a situação específica e o objetivo, devem determinar a escolha entre esses vários modos de repetição, mas será principalmente a experiência que poderá determinar de que modo ou combinação de modos ela será mais eficiente. Sobre a repetição, muito se pode aprender da observação de três grupos de pessoas que diferem muito entre si: compositores, ditadores e publicitários. Os compositores empregarão repetidamente um motivo musical ou variações desse motivo, durante uma sonata ou sinfonia, o que foi adotado para criar uma forma musical específica, da qual um exemplo famoso são as trinta e duas variações de Bee thoven sobre um tema. Outro exemplo de repetição invariável e insistente temos no tema de "Bolero" de Ravel. Os ditadores, porém, usam a técnica da repetição até seu grau mais extremo. Eles adotam o processo de "martelar" uma idéia na cabeça dos ouvintes, o que hoje chamamos de lavagem cerebral. Mas fazem-no conscientemente; Hitler candidamente declarou no Mein Kampf [Minha luta] que era isto o que fazia. Creio que foi ele quem disse que se pode fazer com que o povo creia em qualquer mentira, contanto que esta seja repetida suflcienterncnte: Este é o método usado pela propaganda sistemática. Os publicitários são, provavelmente, os mais argutos no uso da repetição e, em geral, na arte de influenciar pessoas por meio da afirmação. Eles usam durante muito tempo o mesmo anúncio e depois modificam-no ou trocam-no por outro. Recentemente, uma grande empresa petrolífera perguntou ao público se devia continuar a usar certo slogan associado a certa imagem ou modificá-Ia. Tendo deste modo despertado uma renovação do interesse pelo anúncio, continuaram a fazer uso dele. Suas fórmulas 138
e imagens. muitas vezes, segundo o conselho de peritos em psicologia, são escolhidas a fim de apelar para as motivações humanas básicas. O estudo desses métodos pode sugerir modos in teressan tes de os empregar, tendo em vista objetivos mais elevados do que a venda da goma de mascar. O uso das afirmações exige especial cau tela. Neste estágio, é preciso ter a certeza de que foi verificado se o motivo predominante é correto, bom e inofensivo. Outra questão que exige cautela, na questão das afirmações, é a de evitar, tanto quanto possível, despertar reações da parte de outrem. As afirmações serão tanto mais eficazes quanto mais calmo, tranqüilo e não agressivo for o modo de as fazer. No que se refere a isto, todavia, é preciso uma palavra de advertência: a reação da mente consciente e a da mente inconsciente podem muitas vezes ser diversas e até opostas. Não raro, reagimos nega tivarnen te a certas repe tições rei teradas e insistentes - o que não impede que o inconsciente "se impressione" e nos induza a agir de acordo com a sugestão ou afirmação. A publicidade da TV é um exemplo deste fato. No nível consciente, ela pode suscitar reações de cansaço e de an tagonismo, mas não é raro as pessoas darem consigo a comprar o produ to tão insisten temen te anunciado. Isso acon tece por preguiça mental durante as compras ou como uma reação automática enquanto estamos pensando em outras coisas. Confirma-se deste modo a coexistência em nós de diferentes tendências, ou mesmo de subpersonalidade, às vezes opostas umas às outras. Ao usar a técnica da afirmação, é preciso evitar toda impaciência e pressa de ver os resultados. As afirmações, freqüentemente, não só não dão resultados imediatos e evidentes, como podem produzir efeitos contrários, trazendo à luz forças ocultas e opostas. Isso não é motivo para desânimo, pois pode estar tendo uma função útil. bom que se revele tal oposição, visto que nos dá a perceber a existência dela e nos permite confrontá-Ia abertamente e dominá-Ia. Como é sabido, a principal técnica da psicanálise consiste em trazer à luz as "resistências" do paciente e em eliminá-Ias. Um ponto importante no uso das afirmações interiores, isto é, no dar ordens às várias funções psicológicas (pensamento, imaginação etc.) é, por assim dizer, Iazê-lo de uma certa "distância interior", ou do "alto", sem identificar-se com elas. Em vez disto, dado o íntimo relacionamento entre o "Eu", centro da autoconsciência e a vontade (como foi indicado no diagrama das funções psicológicas da pág. 14), podemos, muito bem identificar-nos com a vontade. Antes e além de usar várias afirmações para difeÉ
139
rentes atos de vontade, é mais eficaz usar o que poderíamos chamar de afirmação básica e essencial: EU SOU UMA VONTADE; SOU UMA VONTADE CONSCiENTE FORTE E DINÂ.MICA. ' Podemos também enfatizar a íntima relação existente entre a vontade, o self e o amor, pela afirmação: SOU UM SELF QUE VIVE, AMA E SABE QUERER. Deveria ser evidente que muito do que é afirmado neste livro tem dupla finalidade: uma dirigi da ao LISO da vontade a fim de realizar propósitos vários; outra dirigida à própria vontade, com o fim de treiná-Ia, como uma atividade anterior ou simultânea. Felizmente, a tendência é haver uma constante interação - todo ato de vontade treina a vontade e cada pequeno treinamento propicia outros atos de vontade. Se tivermos em mente esse fato, a vontade estará presente em nosso consciente enquanto agimos. Esta técnica, só por si, é uma boa técnica para o desenvolvimento da vontade. Palavras e Frases Carregadas
de Força
Há uma variedade ilimitada de palavras e frases entre as quais cada leitor pode escolher a que mais se enquadra às suas necessidades. Uma lista de "palavras evocativas", que podem com vantagem ser utilizadas como "palavras de força", pode ser encontrada na página 64. Aqui sugerimos apenas algumas frases extraídas de inscrições de brasões de algumas famílias nobres: Ad sidera vultus - Encare as estrelas. Pensa al fine - Pense no objetivo. Bien faire et laisser dire - Faça o bem e deixe que as pessoas falem. Semper vigilans - Sempre alerta. 1/1tutto annonia - Em tudo, harmonia.
140
15 PLANEJAR
E PROGRAMAR
Quem observa a vida contemporânea se depara com uma curiosa contradição. Muito se fala em programar e em planejar, e são muitos os planos nas áreas econômica, social e técnica. Em con trapartida, as pessoas quase sempre vivem sem um plano pessoal bem definido e sem ter um programa claro e conscien te de vida. Todavia, uma condição fundamental para um planejamento de que espécie for é o plano e o programa da vida pessoal, em primeiro lugar, no sentido psicológico, ou antes, no sentido de realizar a psicossíntese individual e as várias psicossín teses in terpessoais e sociais. Esse planejamento pessoal deve ser feito de acordo com as regras gerais e técnicas apropriadas para um planejamento de qualquer outra espécie. Examinemos pois, brevemen te .essas regras e técnicas. A regra mais im portan te consiste em formular, clara e precísamen te, o objetivo a ser alcançado e depois retê-Ia com firmeza na mente, durante todos os estágios, não raro longos e complexos, da execução. Não é fácil I Pode-se até dizer que essa resolução apresenta grandes dificuldades, visto que no homem existe uma tendência constante a dar atenção excessiva aos meios que deve empregar para alcançar seu objetivo, a ponto de o fazer perdê-lo de vista. Os meios tendem a tornar-se fins em si mesmos e, quando isso acontece, o homem toma-se escravo dos meios que preferiu empregar. Em parte nenhuma isso pode ser visto de modo tão claro como no problema, hoje tão debatido, da interação entre o homem e a máquina. 141
Em seus termos pode
essenciais,
ser formulado
este problema,
do seguinte
modo:
ou an tes, esse relacionamento, o homem
projeta
e constrói
má-
nante, como todos sabemos por experiência. O mundo tas e sonhadores que concebem ou, mais precisamente,
pulula de idealisque são domina-
quinas a fim de que elas aurnen tem seu poder e capacidade de realizar os atos que devem conduzi-Io ao seu objetivo. A pretendida função e valor da máquina, portanto, são puramente instrumentais e relativos ao
dos por programas tão belos quanto impraticáveis. Ao compreender que um plano é ambicioso demais, precisamos estar dispostos a reconhecer esse fato, embora já se tenha dado inicio ao programa. O procedimento contrá-
propósito para o qual ela foi constru ida. O homem, porém, quase sempre deixa-se enfeitiçar por suas máquinas e lhes empresta um valor excessivo; em vez de possuí-Ias, acaba sendo possuído por elas.
rio só pode terminar em frustração e terá outros efeitos piores. Nosso organismo rebela-se ante o impossível e não faltam vítimas da vontade compulsiva dos tempos da rainha Vitória. Precisamos estar preparados - depois
O automóvel constitui uma impressionante evidência deste fato. O verdadeiro e adequado propósito de se ter um carro é conseguir um meio
e programas
de verificações
e considerações
adequadas
ao que é racional
- para ajustar nossas aspirações
e a aceitar
alegremente
as possibilidades
mais rápido e confortável de chegar ao lugar que desejamos. Todavia, pouco a pouco e inadvertidamente, o homem transformou o automóvel num objeto de prestígio, em símbolo de status e num meio de auto-afirmação, além de uma válvula para as tendências reprimidas de sua vida. Os resultados chegaram ao grotesco. Em vez de utilizar a capacidade da tecnologia para aumentar a segurança e reduzir a poluição causada pelo automóvel, o homem tem aumentado desnecessariamente o tamanho, a velocidade e o consumo de combustível de seu carro. Nada disso trouxe-lhe benefícios, pelo contrário, ajudou a aumentar o congestionamento do tráfego e
reais.
das áreas de estacionamento
de nossos projetos, e depois cooperar ou talvez nos associar realizando ou se propõem a realizar a mesma coisa.
e a transformar
ça ao ambiente que seu valor original, como transporte, está desaparecendo rapidamente. da tecnologia e sim do uso que dela fazemos, pósito ou objetivo original.
o automóvel
numa
tal amea-
rápido e confortável meio de claro que a culpa não é quando
esquecemos
seu pro-
apenas aqueles que servem realmente às finalidades que temos em vista e na medida em que servem a essas finalidades. Eis a regra fundamental de um bom programa. consideração
básica, que diz respeito à possibilidade de se palavras, sua praticabili-
realizar um deterrninado programa - em outras dade.
Um erro freqüente
exige capacidades, alcance. 142
é conceber
circunstâncias
A construção
de planos
planos
e programas
cuja magnitude
e recursos
situados
muito
grandiosos
é muito
agradável
além de nosso e até fasci-
da cooperação adequada. Razão freqüente
do malo-
o que outros já estão fazendo, às vezes com muito mais recursos e possibilidades. O que faz fal ta num caso destes é a sabedoria e a humildade de reconhecer
o que já foi feito ou está sendo preparado
Neste contexto, psicológicos a construção
pregar utilmente, como o fizeram os usurários em todas as épocas. Repito, portanto, que é indispensável uma vontade vigilante e enérgica, que mantenha "em seu lugar" os meios, dominando-os como convém e utilizando
a uma outra regra de planejamento: o estabelecimento,
que possível,
gro de tantos planos é o fato de que as pessoas querem levá-Ias a efeito sozinhas; elas mesmas querem ser o centro da organização que planejaram. Incorrem, portanto, na duplicação das atividades, pela tentativa de fazer
É
Fenômeno semelhante ocorre com aquele outro "meio" chamado dinheiro, que tende fatalmente a torna-se um fim em si, pelo apego que suscita. Isto é, ele desperta a tendência de acumular dinheiro, sem o em-
Há outra
Isso leva-nos sempre
interessan
relatarei
uma ocorrência
teso Na segunda
de carros-dormitórios,
na mesma
direção
aos que estão
que contém
vários aspectos
do século
XIX iniciou-se
metade
nas estradas
de ferro da América
do
Norte. Estavam em campo duas firmas rivais, a Carnegie e a Westinghouse. A competição entre ambas fez com que a Carnegie reconhecesse que seria mais provei toso unir-se à concorrente, em vez de brigar com ela. A Westinghouse, a princípio, manteve-se um tanto rígida e desconfiada quando
a Carnegie
convidou-a
para um encontro
em que discutiriam
a
questão; contudo, pouco a pouco, foi-se entusiasmando com a idéia de juntar as duas firmas. Mas subitamente estacou e quis saber: "Qual será o nome
da nova firma?"
E a Carnegie
mente!". Ouvindo isso, a Westinghouse que qualquer comen tário é dispensável. tão do amor-próprio e do nome;
respondeu: concordou, A Carnegie
considerou
"Westinghouse
, natural-
imediatamente. Penso não ligou para a ques-
apenas o resul tac1o, a utilidade
e o interesse comum. A ambição do outro foi gratificada e assim chegaram a um acordo. Se a regra da cooperação foi utilizada com êxi to pelos homens de negócios,
para finalidades
materiais,
devemos
I
I
todos estar dispos143
j I ~
I
-,I
tos a empregá-Ia para ou tras finalidades, especialmen te as mais elevadas: A possibilidade e os benefícios da cooperação são freqüentemente desprezados por pessoas movidas por al tas motivações: quem serve zelosamente o mundo possui, não raro, o desejo de ver a si mesmo no ato de fazê-Io. Observa-se, portanto, uma competição desnecessária a respeito de questões secundárias entre as escolas de pensamento sobre a educacão psicologia e outras disciplinas úteis. Muito mais produtiva seria a boa ~on: tade de servir e cooperar e a síntese prática, implementada pela concentração nas semelhanças, e não nas diferenças. A quarta regra de planejamento consiste em reconhecer, distinguir e dar seqüência adequada às suas várias fases, que são, respectivamente: a formulação, a programação, a estruturaçdo , a realização de projetos, o modelo ou projeto-piloto. Boa ilustração destes estágios ofereceu-me um de meus alunos que desejava desenvolver a capacidade de agir, movido por ou tros motivos que não os materiais (segurança, estabilidade, status, riquezas), que o estavam levando compulsivamente à depressão. Seu objetivo era abranger em suas ações valores mais elevados, mas temia que isso o levasse à perda do conforto material. Depois de deliberar, decidimos planejar uma estratégia que o pusesse em contato com valores mais elevados e, gradualmente, lhe permitisse abraçá-los. Esta formulação geral foi o primeiro estágio do planejamento. O próximo estágio era o da programação. O programa previa um início lento, nada ameaçador, reduzindo-se gradualmente o tempo gasto em coisas materiais. Isso foi feito durante um certo número de etapas. Primeiro, o estudante foi convidado a tomar consciência plena de quanto seus impulsos materialistas o influenciavam; depois, a escolher qual deles gostaria de reduzir. O planejarnen to efetivo exigia essa aproximação gradual e uma boa estruturação exigia que a consciência fosse seguida da escolha, e não que a escolha fosse feita nos primeiros estágios do processo. O projeto requeria, entre outras coisas, modos de desenvolver a consciência dos impulsos materialistas. Concordamos em imaginar um projeto-piloto experimental, que consistia num exame feito à noite pelo estudante, antes de deitar-se, do domínio que os pensamentos, sentimentos e atos materialistas haviam exercido sobre ele, durante o dia. Uma vez reconhecida a extensão de sua influência prejudicial, essa percepção tornou-se um motivo mais que suficiente para irnplernen tar a intenção de a reduzir. Deste modo, ele foi capaz de, gradualmente, criar algum espaço em 144
sua vida e assim estávamos pron tos para lidar com o obje tivo principal, que ele sempre tivera em mente: o de en trar em con ta to com a parte de sua personalidade que realmente professava valores elevados. O projeto foi en tão ampliado de forma a incluir modos pelos quais ele poderia trazer tais valores cada vez mais ativamente para sua vida. Neste ponto é que ele teve a compreensão de que o fato de agir a partir do ponto mais elevado de sua consciência não o obrigava a (enunciar a todos os confortos materiais. Por este caso, vemos que a formuiação situa-se, de modo geral, no estágio inicial da concepção de um plano em suas linhas principais. O programa representa uma precisão maior e um desenvolvimento mais concreto do plano, particularmente nas primeiras fases de sua execução. A diferença, pode-se dizer que corresponde à que existe en tre planos estratégicos e planos táticos. Depois de formular um programa bem definido e estruturado, podemos passar à realização de um projeto definido, com todos os dados práticos que se lhe relacionam. Ao projeto convenientemen te desenvolvido pode seguir-se um projeto-piloto experimen tal. Seu objetivo central é testar o projeto c, como tal, pode ser muito instrutivo, visto que a experiência prática com freqüência .dá resultados diferentes dos esperados. Como esses estágios implicam num processo gradual, passo a passo, precisamos tê-Ias sempre em mente. O alpinismo ilustra bem o caso. f preciso primeiro escolher o pico a ser escalado, depois a melhor estrada para lá chegar - a qual pode ser circular, para se desviar de obstáculos; e quando a subida começa, é preciso escolher pontos de apoio, que podem determinar a diferença entre a segurança e a queda. Pode-se dizer que é preciso uma "visão trifocal", isto é, a percepção e fixação mental do alvo e propósito distantes; o exame dos estágios intermediários que se estendem desde o ponto de partida até o da chegada; e a consciência do próximo passo a ser dado. Esta perspectiva do todo, graduada ao mesmo tempo nos seus diversos estágios, pode ser aplicada para toda espécie de tarefa e considerada como concepão "espacial", tan to no sentido objetivo quanto no simbólico. De igual, senão de maior importância, é porém o fator "temporal", isto é, a consideração do senso de oportunidade e da duração de cada estágio. Como sabemos, tempo e espaço relacionam-se intimamente, como dois aspectos do mesmo continuum . A questão, portanto, está em implernentar cada estágio no momento oportuno e pelo tempo necessário. Cada fase tem seu 145
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momento de execução mais favorável que até pode ser o único possível _ e que pode ser expresso na frase paradoxal: "O impossível de hoje é o possível de amanhã; o possível de hoje é o impossível de amanhã". Outro requisito a ser considerado é a flexibilidade do plano, ou melhor, a capacidade que ele tem de se modificar à medida que ocorram novos desenvolvimentos. A vida é cheia de imprevistos e, por mais previdentes que sejamos, algo que não previmos sempre pode ocorrer. Por isso, temos de estar prontos para modificar e adaptar nossos planos. A flexibilidade pode ser verificada em sua forma mais simples e acessível no jogo de xadrez, no qual o jogador, embora tendo planejado uma série de movimentos para dar xeque-mate ao adversário, deve estar sempre alerta e pronto para mudar de plano, em resposta à ofensiva do adversário, que tem um plano semelhante. Para realizar tudo isso precisamos de reflexão, de um fino senso de proporção e de um bom ju ízo das coisas, qualidades que podem ser resumidas numa simples palavra: sabedoria. São igualmente inclispensáveis uma atenção inquebrantável, vigilância, paciência, persistência - que são qualidades da vontade; o que demonstra que o planejamento desempenha parte integrante do processo de querer, na volição efetiva. Todas essas regras podem e devem ser aplicadas na psicossíntese. Pode-se dizer que a psicossíntese individual consiste essencialmente na atualização do nosso modelo ideal. O papel do planejamento, tanto na descoberta, como na atualização do modelo ideal, é plenamente examinado na
Psicossintese (págs. 177-88). O minucioso
planejamento e a paciente execução de um plano, bem como de subplanos de vida, são necessários se quisermos realizar nossa existência pessoal e nos tomarmos tudo o que podemos ser. f desnecessário dizer que o planejamento tem seu lugar também na fase espiritual ou transpessoal da psicossíntese. Ao levar a efeito um programa psicossintético, devemos aplicar as regras gerais do planejamento, mas igualmente ter o cuidado de incluir no processo as fases de elaboração e de gestação, dando-lhes o tempo que lhes é indispensável, sem in terferência. Além disso, o plano da vida individual deve ser coordenado, integrado e harmonizado com planos que incluem outras pessoas. A psicoss íntese individual não é nem pode ser um fim em si mesma, uma vez que cada um de nós vive intimamente ligado com outras pessoas ou grupos. Podemos começar esse processo formulando e levando a efeito planos e programas que nos habilitam a desempenhar vários papéis nas relações humanas 146
e a preencher as várias funções que eles exigem. A vida de uma família, considerada como entidade psicológica, por exemplo, pode ser conscientemente planejada e organizada. Naturalmente, a afeição e a boa vontade constituem a sua base, mas não são suficientes. Existem também os papéis associados ao trabalho, os quais freqüentemen te envolvem relações com superiores, colegas e subordinados. Há também os papéis comunitários, que provêm da associação com certos grupos sociais e da participação em suas atividades específicas - políticas, culturais, econômicas e humanitárias. Algumas das técnicas da psicossíntese individual podem ser aplicadas com proveito no planejamento e efetivação da psicossíntese de grupo e interpessoal. Entre as técnicas mais úteis, o autor poderá mencionar as destinadas à transformação de energias, as da utilização metódica das imagens e a do treinamento imaginativo. Em contrapartida, podem ser utilizadas as relações interpessoais e de grupo, bem como as atividades externas, como ocasiões e instrumentos para o desenvolvimento e atualização interiores. Uma Nota Sobre a Psiccssíntese
Social
A psicossíntese social suscita um problema hoje muito discutido, que é o das relações entre o indivíduo e a sociedade. A maioria dos autores que se ocuparam deste assunto o fizeram de um modo polêmico, constrastando aqueles dois relacionamentos e considerando que vivem necessariamente em conflito. Nesse caso, todavia, como em muitos outros, trata-se antes de examinar uma polaridade. Os princípios expostos no meu panfleto Balancing and Synthesis of Opposites [Equilíbrio e síntese dos opostos 1 (Nova York, 1972), podem encontrar aqui uma aplicação útil. Eu usei então um diagrama demonstrativo do relacionarnen to en tre cada um dos pares situados em pólos opostos e dos modos de seu equilíbrio. Com referência ao problema do indivíduo versus sociedade, temos os scguin tes relacionamen tos triangulares:
I'
i ;
,
Transformações
Conformidade
6
Rebelião
Adaptação
147
!
I I
!
Nas extremidades da base do triângulo situam-se dois pólos opostos, a conformidade e a rebelião ; o ponto central da base pode ser considerado como o rcpresen tan te de uma posição de transigência, que dá ensejo a certo grau de manobra, mas limitadora e pouco satisfatória como solução final. Existe, no entanto, um ponto acima, eqüidistante de ambos os pólos e num n il/C/ mais a/to, através do qual se pode ser membro integral e efe tivo da sociedade, ainda que mantendo sua completa independência. Essa posição significa ação na sociedade e sobre a sociedade, a fim de a transformar. A fórmula sintética para a solução deste problema está na Bíblia: "Dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus." Em termos psicológicos modernos, isso poderia ser expresso assim: "Concede à sociedade o que é necessário e apropriado, mas age na sociedade como força construtiva, que a torne melhor." Isso pode ser feito se, em primeiro lugar, reservarmos nossa integridade e independência "cultivando o nosso jardim interior". Não se trata, portanto, de passiva submissão ao condicionamento social, mas de proteger-se contra ele, sem recorrer nem rebelião violenta nem ao isolamento, mas procurando por todos os meios melhorar a vida social do presente, por todos os modos possíveis. O importante, não só para o bem da sociedade mas para a satisfação do indivíduo, é que ele experimente sua independência interior. A liberdade à qual todo indivíduo aspira mais ou menos conscien temen te é, sobretudo, a liberdade espiritual e psicológica; alcançá-Ia depende, todavia, em larga me dida , da própria pessoa. Os grupos e a sociedade podem obstruir essa liberdade de vários modos, por meio de suas pressões, mas não a podem realmente impedir. A pessoa pode ser interiormente livre, embora concorde em desempenhar suas funções e seu papel, na Iarnflia e na sociedade, de acordo com a situação na qual se encontra. Aqui também as técnicas da psicossíntese podem auxiliar muito, especialmente as de "identificação" e as de "agir como se". Com o uso de técnicas como essas, o inctivíduo pode ter sempre "espaço interior", ou melhor, deixar lugar para a consciência e para um "espaço temporal", ou ter algum tempo livre, durante o qual poderá viver sua vida independentemente. Nada disto exige longos períodos de tempo ou condições especiais. Trata-se de uma questão de utilizar a "dimensão da intensidade": meia hora vivida intensarnen te e num nível elevado pode dar valor, significado e sentido para o dia todo. Existe, finalmente, um tipo de planejamento mais elevado e mais amplo que, na realidade, é o mais irnportan te; é o que in tegra o plano indlvidual no Plano Universal, a que o autor se referiu acima. Ainda que
não nos seja possível perceber o raio de ação desse Plano, em seu grande mistério, podemos pelo menos conhecer algo sobre ele e vislumbrar suas linhas gerais, cspecialrnen te o rumo de sua evolução, e deste modo reconhecer que essa é a direção do maior bem. Isso é o que conta: Nosso primeiro objetivo não é díscernir o ponto de chegada, mas o de nos colocar na corrente certa, na estrada certa. Aqui também, e acima de tudo, a sabedoria é indispensável para o entrelaçamento harmonioso do plano individual no Plano Universal; e a vontade é imprescindível para rnan ter um firme controle do leme e prosseguir na rota certa.
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'I I ~ I ~
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16 COMO DI RlGIR A EXECUÇÃO
1 Um exame deste estágio final do ato volitivo revelará o erro fundamental geralmente cometido no uso da vontade - erro baseado numa enganosa concepção de sua natureza e modo de funcionar. Consiste ele na tentativa de agir impondo o poder da vontade aos órgãos de ação. Em vez disso, a verdadeira e natural função da vontade, neste estágio, é dirigir a execução e pôr em ação os meios apropriados e convenientes para alcançar o objetivo proposto. E ela o faz tomando o comando e dirigindo as várias funções psicológicas. Isso ficará mais claro se examinarmos pormenorizadamente a analogia entre a atividade de querer e a de dirigir um automóvel. O esforço direto da vontade assemelha-se ao que o motorista põe em movimento ao empurrar o carro por trás, à força de braço. Esse comportamento é manifestamente absurdo; mas igualmente mal dirigido é o esforço de empregar diretamente a vontade para agir, em vez de o fazer por meio das outras funções psicológicas. Examinemos o que realmente faz um motorista de automóvel. Começa por atos que correspondern aos estágios previamente descritos. Primeiro ele escolhe o lugar para onde quer ir; depois decide que vai mesmo e quando partirá. Isso leva a um estudo do roteiro e a um planejamento da viagem. Chega então o estágio da direção da execução, o qual divide-se em duas partes. A primeira consiste em preparar o carro, o que sign ifica enchê10 de gasolina e água, verificar o óleo e a pressão dos pneus, e assim por 150
diante. Tudo isso corresponde ao trabalho preparatório da psicossíntese, ao desenvolvimento e cultivo das várias funções psicológicas e da função da vontade do ego. Agora, o carro está pronto para partir. O motorista instala-se confortavelmente no assento, dá partida e faz funcionar os controles apropriados para pôr o carro em movimento na direção escolhida. Durante a viagem, o motorista desvia o carro dos obstáculos, julga quando é possível e seguro ultrapassar outros veículos e decide qual a estrada que lhe convém, quando chega às interseções. Quando estava aprendendo a dirigir, estas operações exigiam-lhe muita atenção consciente e esforço, mas à medida que foi ficando cada vez mais proficiente, ele desempenha as funções mecânicas de dirigir um automóvel usando cada vez menos a intervenção da consciência. Esse controle subconsciente é descrito habitualmente como um processo automático. Mas, se o termo "automático" for considerado como indicador de algo fixo e rígido, estaremos incorrendo num equívoco pois, ao contrário, temos neste caso uma ação inteligente continuamente modificada de acordo com informações recebidas pela visão, pelos ouvidos, pelos dados cinéticos. E uma ação plenamente consciente pode ser reassumida a qualquer momento, se necessário. A série de atos descritos acima corresponde ao pôr em movimento diversas funções psicológicas e a dirigir sua operação. Aqui também ocorre uma gradual transferência do foco da atenção consciente na tarefa para uma delegação de responsabilidade para o inconsciente, sem intervenção direta do "eu" consciente. Esse processo torna-se evidente na aquisição de alguma proficiência técnica, tal como a de aprender a tocar um instrumento musical. A princípio, são essenciais a atenção total e a direção consciente da execução. Depois aparece, pouco a pouco, a formação daquilo que poderíamos chamar de mecanismos de ação, ou melhor, de novos padrões neuromusculares. O pianista, por exemplo, atinge um ponto no qual não precisa mais dar atenção consciente ao mecanismo da execução, ou antes, não precisa mais levar os dedos aos lugares desejados. Ele pode aplicar toda a sua atenção consciente à qualidade da execução, à expressão do conteúdo emocional e estético da música que interpreta. Examinemos brevemente como, através da vontade, podemos empregar várias funções psicológicas para alcançar as metas que escolhemos. Os métodos para fazê-lo variam grandemente de função para função, segundo suas características específicas. Consideremos primeiro o uso das sensações, das percepções sensoriais. Independentemente do fato de que as li151
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II ,
rnitaçõcs inerentes aos órgãos físicos dos sentidos permitem a percepção apenas de pequena parte das impressões e vibrações que vêm do mundo externo, o uso que fazemos de tais órgãos é habitualmente muito impero feito e parcial: se uma percepção sensorial deve tornar-se verdadeiramente consciente, ou melhor, "percebida", ela deve permanccr no campo da consciência tempo suficien te para ser assimilada pelo "Eu" conscien te; mas este campo frequentemente está atravancado por outros conteúdos psicológicos (sensações de outra espécie, emoções, pensamentos e tc.). Além disso, as percepções sensoriais induzem imediatamente reações emocionais, positivas ou negativas,. as quais quase sempre impedem uma percepção acurada e não raro podem até apresentar de forma distorcida o objeto da percepção. A psicologia dos depoimentos fornece uma prova irrefutável deste fato. Acontece frequentemente que as testemunhas depõem a respeito de um determinado fato de uma forma incompleta, ou capciosa, ou de ambos esses modos. Isto sucede até quando os depoimen tos são feitos de boa fé e sem uma intenção consciente de falsificar. O assunto é grave e pode ter conseqüências sérias, tais como a condenação de pessoas inocentes. Portanto, quando é necessário um exame baseado em observações exatas, a vontade deve intervir a fim de dirigir, de regular, usando as funções sensoriais do modo mais vantajoso. Para realizar isso, precisamos man ter a consciência concen trada na tarefa de receber, assimilar e integrar as mensagens fornecidas pelos sentidos. b forçoso, também, que a consciência se recuse a tomar conhecimento, pelo tempo que for necessário, de outras impressões sensoriais, emoções e atividades mentais que possam interferir com a tarefa então escolhida. Isso exige o treinamento do poder de observação, por meio de exercícios de observação tais como os descritos na Psicossintese. Como vimos na estória de Agassiz e do peixe, os maiores cientistas e, entre eles, os naturalistas, possuem e desenvolvem ainda mais, por meio da prática, esse poder de observação promovido e sustentado pela vontade. Os modos pelos quais a von tade pode fazer uso de emoções e de sentimentos como um meio de realizar seus propósitos são mais complexos. Antes de tudo, a atenção e a concentração, funções específicas da vontade, devem ser exercidas e fortalecidas. A natureza e a intensidade de energias emocionais específicas sugerem quais os melhores métodos de as utilizar. Fundamentalmente, trata-se de ligar e relacionar essas energias com o objetivo a ser atingido, ou melhor, trata-se de orientar e canalizar o fluxo 152
das emoções e sentimentos para um alvo predeterminado. Isso, não raro, requer uma transmutação ou sublimação dessas energias, que por sua vez envolve a capacidade da vontade para engajar e dirigir tais energias na direção de atividades futuras e de objetivos mais elevados e construtivos. Eu já discuti a questão da transmutação e sublimação das energias sexuais e cornbativas. Aqui eu acrescentarei que esse processo baseia-se na ação estreitamente recíproca entre emoções e sentimentos, de um lado, e desejos e impulsos, de outro. Todas as emoções e sentimentos dolorosos despertam o desejo ou ímpeto de eliminar-lhes a causa. Em contrapartida, as emoções agradáveis e felizes suscitam desejos' de perpetuar o que as produziu. A vontade pode aproveitar esse estado de coisas para orientar, dirigir e transrnutar desejos e impulsos. Tudo isso, entretanto, só é válido para os casos em que as emoções, impulsos e desejos não são excessivamente intensos e respondem com maior ou menor rapidez e facilidade à ação da vontade. Há momentos, porém, em que é tal a sua in tensidade que provocam resistência, ou mesmo um estado de violenta rebelião, contra a direção que a vontade tenta lhes imprimir. Nesses casos, a vontade deve usar outros métodos, visto que, ao se colocar em oposição direta a essas energias, ela costuma malograr. E mesmo quando bem-sucedida, controlando-as mediante um ato de imposição, ela desperta conflitos que desbaratam energias e podem ter conseqüências prejudiciais. A primeira tarefa da vontade, em tais casos, consiste em descarregar as tensões profundas e excessivas das energias emocionais e propulsivas, o que pode ser fei to por meio de várias técnicas de ventilação (catarse), de satisfação simbólica e, se oportuna, mediante uma gratificação rea1. Deste modo, a vontade poderá conseguir eliminar a oposição ou reduzi-Ia a um baixo nível de intensidade para que as energias possam ser utilizadas do modo acima mencionado. Naturalmente, não existe instrumento nem "vol tõrnetro psíquico" para medir o potencial das cargas emocionais e impulsivas, mas a introspecção e a observação das manifestações espontâneas podem dar uma idéia aproximada de sua in tensidade. preciso também levar em conta a "carga energé tica" da própria vontade. Para uma vontade débil, é difícil dirigir as emoções, embora de baixa ou média intensidade, enquanto que uma vontade forte pode fazê-lo com êxito. O relacionamento energético entre a vontade e a resistência oferecida pelo material psicológico deve ser controlado, dirigido e transÉ
153
formado pelos atos volitivos c deve receber consideração adequada. Neste caso, a experimentação é útil. A força da vontade pode ser determinada por meio da prática de técnicas de direção, transmu taçâo e sublimação. Outra função psicológica que tem íntima conexão com as que mencionamos acima é a imaginação. Também aqui existem relacionamentos de ação e reação recíprocas. Emoções e desejos evocam imagens que lhes correspondem. E as atividades da imaginação, por sua vez, despertam emoções, desejos e ansiedades. Grande é o poder das imagens e pode-se dizer que elas são as intermediárias indispensáveis entre a vontade e as demais funções psicológicas. As relações dinâmicas en tre essas funções têm sido formuladas em algumas das leis descritas no capítulo relativo à vontade hábil. A vontade pode aprender a dar direção à imaginação, e isso em grande extensão; mas para consegui-lo são de grande auxílio os exercícios e o treinamento sistemático. Em primeiro lugar estão os exercícios de imaginação reprodutiva, que utilizam a visualização, a evocação de sons e a memória das impressões sensoriais, e ou tras modalidades relativas aos sentidos. Prossegue-se, então, aprendendo exercícios de imaginação criativa autodirigida, começando com um símbolo ou com uma situação escolhida apropriadamente. Nesses exercícios, é a vontade do paciente que toma o lugar do terapeuta, o qual normalmente conduziria esses exercícios, à moda do sonho acordado e dirigido de Desoille, e das imagens afetivas dirigidas, de Leuner. Nada disso é fácil, mas pode ser feito. As técnicas do modelo ideal e do treinamento da imaginação, descritas em Psicossintese, não são úteis apenas para seu fim específico, mas também para colocar a imaginação sob a direção e sob as ordens da von tade. Vejamos agora de que modo a vontade pode utilizar a mente para orientar a execução. Nos estágios precedentes, a vontade já fez uso da mente como um órgão de pensamen to, reflexão, previdência e programação adequada. Neste estágio, que é o da direção da execução, ela pode e deve utilizar a mente de outros modos. Havendo um problema a ser resolvido, para o qual a vontade decidiu dar solução, ela focaliza a atenção da mente no problema, examina-o, reflete sobre ele e formula hipóteses relativas à possível solução. Essas hipóteses podem, subseqüentemente, ser testadas por meio da experimentação. Tudo isso pode ser chamado de "pensamento profundo" ou de "meditação reflexiva" (ver Apêndice 2, "Pensamento e Meditação", pág. 176) Outra função da mente, que pode e deve ser dirigiria pela vontade, é 154
a intuição. Isto nos leva ao exame das relações entre a vontade e a intuição, Parece eviden te que a von tadc não possui um poder direto sobre a função in tui tiva ; ela pode até en travar o seu funcionarnen to. M<1saqui tarn bé m a vontade pode desempenhar uma função indireta, que ajuda muito: ela pode criar e manter desimpedido o canal da comunicação ao longo do qual passam as impressões intuitivas. E pode fazer isso por meio da imposição de um en trave temporário às atividades de outras funções psicológicas que desviam a sua atenção. A vontade pode encorajar - encorajar e jamais coagir, repito - a operação intuitiva, formulando perguntas dirigi das à esfera supraconsciente, que é a sede da intuição. Estas perguntas devem ser constituídas de forma clara e precisa. As réplicas podem vir prontamente, mas é mais freqüente virem depois de decorrido um lapso de tempo e quando menos se espera (ver Apêndice 2, pág. 176).
155
formado pelos atos volitivos c deve receber consideração adequada. Neste caso, a experimentação é útil. A força da vontade pode ser determinada por meio da prática de técnicas de direção, transmu taçâo e sublimação. Outra função psicológica que tem íntima conexão com as que mencionamos acima é a imaginação. Também aqui existem relacionamentos de ação e reação recíprocas. Emoções e desejos evocam imagens que lhes correspondem. E as atividades da imaginação, por sua vez, despertam emoções, desejos e ansiedades. Grande é o poder das imagens e pode-se dizer que elas são as intermediárias indispensáveis entre a vontade e as demais funções psicológicas. As relações dinâmicas en tre essas funções têm sido formuladas em algumas das leis descritas no capítulo relativo à vontade hábil. A vontade pode aprender a dar direção à imaginação, e isso em grande extensão; mas para consegui-lo são de grande auxílio os exercícios e o treinamento sistemático. Em primeiro lugar estão os exercícios de imaginação reprodutiva, que utilizam a visualização, a evocação de sons e a memória das impressões sensoriais, e ou tras modalidades relativas aos sentidos. Prossegue-se, então, aprendendo exercícios de imaginação criativa autodirigida, começando com um símbolo ou com uma situação escolhida apropriadamente. Nesses exercícios, é a vontade do paciente que toma o lugar do terapeuta, o qual normalmente conduziria esses exercícios, à moda do sonho acordado e dirigido de Desoille, e das imagens afetivas dirigidas, de Leuner. Nada disso é fácil, mas pode ser feito. As técnicas do modelo ideal e do treinamento da imaginação, descritas em Psicossintese, não são úteis apenas para seu fim específico, mas também para colocar a imaginação sob a direção e sob as ordens da von tade. Vejamos agora de que modo a vontade pode utilizar a mente para orientar a execução. Nos estágios precedentes, a vontade já fez uso da mente como um órgão de pensamen to, reflexão, previdência e programação adequada. Neste estágio, que é o da direção da execução, ela pode e deve utilizar a mente de outros modos. Havendo um problema a ser resolvido, para o qual a vontade decidiu dar solução, ela focaliza a atenção da mente no problema, examina-o, reflete sobre ele e formula hipóteses relativas à possível solução. Essas hipóteses podem, subseqüentemente, ser testadas por meio da experimentação. Tudo isso pode ser chamado de "pensamento profundo" ou de "meditação reflexiva" (ver Apêndice 2, "Pensamento e Meditação", pág. 176) Outra função da mente, que pode e deve ser dirigiria pela vontade, é 154
a intuição. Isto nos leva ao exame das relações entre a vontade e a intuição, Parece eviden te que a von tadc não possui um poder direto sobre a função in tui tiva ; ela pode até en travar o seu funcionarnen to. M<1saqui tarn bé m a vontade pode desempenhar uma função indireta, que ajuda muito: ela pode criar e manter desimpedido o canal da comunicação ao longo do qual passam as impressões intuitivas. E pode fazer isso por meio da imposição de um en trave temporário às atividades de outras funções psicológicas que desviam a sua atenção. A vontade pode encorajar - encorajar e jamais coagir, repito - a operação intuitiva, formulando perguntas dirigi das à esfera supraconsciente, que é a sede da intuição. Estas perguntas devem ser constituídas de forma clara e precisa. As réplicas podem vir prontamente, mas é mais freqüente virem depois de decorrido um lapso de tempo e quando menos se espera (ver Apêndice 2, pág. 176).
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TERCEIRA
PARTE
EP(LOGO
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17 A ALEGRlA
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A associação visto que a vontade
bitiva e negadora, No entanto,
DA VONTADE
da vontade com a alegria pode parecer surpreendente, tem sido geralmente considerada exigente, severa, proiparticularmente desde o período vitoriano. o "ato de vontade" pode ser, e muitas vezes é, intrinse-
alegre. Para compreender isto, é necessário ter concepção clara da e das várias manifestações da alegria. Mas não existe uma psicologia coerente da alegria, pois s6 agora está em processo de emergir uma psicamente natureza
cologia científica - do que Maslow adequadamente mais elevados da natureza humana" - dos valores verdadeira saúde.
chama de os "níveis do Ser, ou mesmo da
A "busca da felicidade" é considerada e proclamada na Constituição norte-americana como um direito, mas raramente encontra-se uma definição clara do que significa "felicidade". Ela é compreendida de forma vária e divergente por diferentes indivíduos e grupos. Valeria
a pena
desenvolver
uma técnica,
uma
ciência
do "prazer".
Maslow insinua isso ao falar nos valores do Ser: "Por que não uma iecnologia da alegria e da felicidade?" De outra feita, ele apresen tou uma lista dos valores do Ser, entre de humor. Embora podemos preensão
os quais apareciam
divertimento,
aqui não seja possível
fazer justiça
oferecer um esclarecimento da "alegria da von tade".
preliminar
a alegria e o senso
à "psicologia para
uma
da alegria", melhor
com-
159 I
I
e
Poder-se-ia
dizer que o "prazer"
ção de uma necessidade
- de qualquer
é concomitante e advém da satisfanecessidade. Assim, para cada um
dos níveis de necessidades descritos por Maslow, há uma espécie corresponden te de prazer. Ao resultado da sa tisfação da necessidade básica chamamos prazer. O estado subjetivo geral de uma pessoa cujas necessidades "normais" e desejes são - pelo menos temporariamente - satisfeitos, pode ser chamado de felicidade.
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Da satisfação de necessidades mais elevadas provém a alegria. A boa vontade é alegre! Ela cria uma atmosfera harmoniosa, feliz, e os atos de boa vontade apresentam resultados ricos e às vezes surpreendentes. Atividades altruístas e humanitárias proporcionam uma profunda satisfação e o sentimento de ter cumprido o propósito para o qual viemos ao mundo. Nas palavras de um sábio oriental: "As tarefas deste mundo são como fogos de júbilo". Finalmente a plena Auto-realização Transpessoal ou, até mais, a comunhão e identificação com a Realidade transcendente universal têm sido chamadas de bem-aventurança. A esta altura, é importante compreender que não há incompatibilidade fundamen tal entre a satisfação de todas essas necessidades e sua conseqüente "fruição ". O prazer proporcionado pelas necessidades elevadas não deve excluir o de ou tros n íveis. Conflitos, crises de ajustamento e de crescimento podem existir e ex.istem mesmo. Mas são estágios temporários no processo do crescimento, da auto-atualização e Auto-realização. Por ser a natureza humana tão multifacetada, por existirem em nós várias e não raro conf1itantes subpersonalidades, a alegria de um certo nível pode coex.istir com o sofrimento em outros níveis. Pode haver, por exemplo, a alegria de dominar uma su bpersonalid.ade desregrada, embora ela própria possa sentir este fato como doloroso. Também a vívida antevisão de uma realização ou satisfação futura da vontade pode causar alegria, mesmo enquanto se sente dor. Dizia São Francisco: "Tão grande é o bem que espero, que para mim toda dor é júbilo". um nível menos exaltado, o mesmo é verdade a respeito dos atletas e particularrnen te dos alpinistas, para quem a perspectiva do grande júbilo do ato de vontade "que tencionam realizar" é mais irnportan te que as privações físicas e o sof rimento que enfrentam. Uma vez que o efeito de querer com êxito é a satisfação das necessidades pessoais, compreende-se que o ato de vontade é essencialmente alegre. Além disso, a realização do self ou, mais exatamente, a de ser um self lGO
(cuja função intrínseca é a de querer, como vimos), dá um sentido de liberdade, de poder, de domínio, que é profundamente alegre. O mesmo é verdade no nível do self pessoal; mas a realização da Vontade Transpcssoal, a expressão do Self Transpessoal, são tão intensamente jubilosas que podem ser chamadas de bern-aventurança. Temos aqui a alegria da união harmônica entre a Vontade pessoal e a Transpessoal; a alegria e a harmonia entre a nossa Vontade Transpessoal e a das outras pessoas; e, o que é mais elevado e importante, a bem-aventurança da identificação com a Vontade Universal. Os místicos de todos os tempos e lugares têm compreendido e expressado a alegria e a bern-aventurança inerentes à união da vontade individual com a Universal. Segundo Underhill: A vontade rcalçada e entregue aos interesses do que é Transcendente recebe novos mundos para conquistar, novas forças que lhe completam o exaltado destino. Também o coração, neste caso, ingressa numa nova ordem e começa a viver em "níveis mais elevados de alegria; isto é, no mar de delícias c no fluxo de influências divinas.
Esta é uma consumação vivamente descrita no ditado sânserito Sat: "A bem-aventurada percepção da Realidade". E, finalmente, na triunfante afirmação: Aham eJlam param Brahman: "Sou realmente o Brama supremo." Chit-Ananda
161
se de uma base para futuros pensas. como
Está se formando ponto de enfoque
trabalhos
gradualmente e pilra reunir
que podem
render
enormes
recom-
um grupo internacional num fundo
comum
para agir as respostas e
experiências de todos os que desejarem tomar parte ativa do Projeto da Vontade. Essa informação será utilizada subseqüentemente num outro livro planejado áreas diferentes,
o PROJETO- VONTADE
Enquanto
para tratar das aplicações práticas da vontade especialmente na psicologia e na educação. este grupo se organiza,
as respostas
Apêndice 3, pág. 188) e relatórios de experiências tes de todos os países, podem ser endereçados ao
INTRODUÇÃO
Como notei
no Prefácio,
este volume
ço, não um fim. São imensosos deste projeto
é ajudar
. Istituto
AO PROJETO-VONTADE
recursos
deve ser considerado
da vontade
humana,
um come-
e o propósito
em muitas
aos questionários e trabalhos
(ver
provenien'
di I'sicosintesi,
Vi", San Dornenico , 16, 50133, Firenze, Itália.
a convertê-I os em realidade.
Uma importante e urgente aplicação do uso da vontade é a que se refere à grande questão da paz ou da guerra. Do meu ponto de vista, não há acordo político nem tratado nem manipulação externa que possa, por si, assegurar uma paz duradoura. Muitos desses acordos políticos e tratados provaram que de nada valem. Como vem declarado tão apropriadamente no preâmbulo da constituição na que as guerras se iniciam,
I II
da UNESCO, "Visto que é na mente humana mente humana é que devem ser construí-
das as defesas da paz". O meio eficaz de modificar
a atitude
homem,
da boa vontade.
varinha
é a constante de condão.
tomaticamente
aplicação
A boa vontade,
conflitos
violentos
quando
interior,
individual
expressa
e guerras.
e coletiva
Ela teria o efeito Seria
e aplicada,
exclui au-
recomendável
com-
preender perfeitamente esta questão estratégica e fazer urna campanha boa vontade, nas escolas e em toda parte, como um empreenclimento grandes proporções. Existem, naturalmente,
usos mais elevados
do
de uma
ainda da vontade.
de de
A Von-
tade Transpessoal e a unificação com a Vontade Universal podem acresceutar incentivo e meios mais eficazes ainda para realizar uma paz verdadeira. O programa que se segue pretende ser um mapa preliminar para uma ulterior
exploração
da vontade.
Ele pode ser ampliado
e modificado.
Trata-
162 163
PROJETO-VO
TA DE
Programa de Pesquisa Sobre a Vontade
e Suas Aplicações.
Esquema
I. História das Teotias, Crenças e Doutrinas Sobre a Vontade 11. A Vontade na Psicologia Moderna 1lI.Natureza e Aspectos da Vontade 1. A Vontade Forte 2. A Vontade Hábil 3. A Vontade Boa 4. A Vontade Transpessoal 5. A Vontade Individual ldentificada com a Universal. IV. Qualidades da Vontade 1. Energia - Força Dinâmica - In tensidade 2. Comando - Controle - Disciplina 3. Concentração - Atenção - Direcionalidade - Foco 4. Determinação - Decisão - Resolução - Prontidão 5. Persistência - Resistência - Paciência 6. iniciativa - Coragem - Arrojo 7. Organização - lntegração - Síntese V. Estágios do A to Volitivo 1. Propósito - Objetivo - Alvo - Motivação - Intenção 2. Deliberação 3. Escolha - Decisão 4. Afirmação - Comando 5. Planejamento e Programação 6. Direção da Execução VI. Relacionamento da Vontade com Outras Funções Psicológicas Sensoriais e Motoras - impulsos - ímpetos e Desejos Emoções e Sentimentos - Imaginação - Pensamento -intuição VII. Métodos Para Desenvolvimento e Treinamento da Vontade 1. Atividades Físicas: Trabalho Manual - Ginástica - Movimentos Rítmicos - Esporte 2. Exercícios "Inúteis" 3. Treinamento da Vontade na Vida Cotidiana
4. Uso de Auxilios Externos: Palavras e Frases - Imagens - Música 5. Concentração - Meditação -invocação 6. Afirmação - Comando 7. Atividades Criativas VIII. Campos de Aplicação da Vontade 1. individual: a. Psicoterapia b. Educação c. Auto-atualização (Psicossíntesc Pessoal) d. Au to-realização e Psicossíntese Espiritual 2. Relacionamen tos In terpessoais e Sociais a. Entre duas pessoas b. Grupo familiar c. Comunidade e grupos sociais de várias espécies d. Grupos sociais e. Grupos religiosos f. Grupos nacionais g. Grupos internacionais 3. Relacionamentos Planetários (ecologia); Entre os Quatro Reinos da Natureza: Mineral - Vegetal - Animal - Humano 4. Relacionamento entre a Vontade Humana e a Vontade Universal
IX. Experimentação Por indivíduos e grupos - relat6rios de resultados X. Coleções de Exemplos do Uso da Vontade e de Seus Resultados 1. Figuras his t6ricas 2. Indivíduos a. Auto-atualização b. Au to-realização c. Clientes d. AJunos XI. Bibliografia Sobre a Vontade Em várias línguas XlI. Projetos Especificos 1. Por indivíduos 2. Por grupos
.................................................. 164
165
Organização e Execução do Programa por Meio de:
r. Fundações - Institutos - Centros - Grupos 1. Para o programa todo 2. Para pesquisa especializada, experimentação e aplicação. Localização e campos de trabalho: local - nacionalidade - de acordo com as áreas de linguagem
I L Comunicação e Difusão Por meio de: Conferências - Publicações (artigos - panfletos livros - jornais internacionais) - Simpósios - Associações Ill. Coordenação e Utilização AP:tNDICES
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APBNDICE
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EXERCICIO
DE AUTO-IDENTIFICAÇÃO
~
DESIDENTIFICAÇÃO
E AUTO-IDENTIFICAÇÃO
Somos dominados por tudo aquilo com que o nosso ego se identifica. Podemos dominar, dirigir e utilizar tudo aquilo de que nos desidentificamos.
A experiência central, fundamental da autoconsciência, a descoberta do "Eu", está implícita na nossa consciência humana. 1 isso que distingue nossa consciência da dos animais, que são conscientes mas não autoconscientes. De modo geral, porém, essa autoconsciência está "implícita" e não explícita. Ela é vivenciada de modo nebuloso e distorcido, por estar habitualmente mesclada aos conteúdos da consciência e por eles velada. Essa constante entrada de influências oculta a claridade da consciência e produz identificações espúrias do ego com o conteúdo da consciência, e não com a própria consciência. Se é para tornarmos explícita, clara e viva a au toconsciência, devemos primeiro desiden tificar-nos em relação ao conteúdo de nossa consciência. Mais especificamente: o estado habitual da maioria das pessoas é o de identificação com aquilo que, em dado momento, parece nos proporcionar o maior senso de estarmos vivos, e que nos parece mais real ou mais intenso. Essa identificação com uma parte de nós mesmos relaciona-se habitualmente com a função predominante ou com o foco de nossa consciência e com o papel predominante que desempenhamos na vida. Ela pode
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1. O termo "autoconsciência" é utilizado aqui no sentido puramente psicológico de percepção de si mesmo como indivíduo distinto dos demais, e não no sentido costumeiro de um "egoccntrismo" egoísta e até neurótico. 169
ter muitas formas .. Algumas pessoas identificam-se com seus corpos. Têm uma experiência de si, da qual freqüen temente falam, relacionada principalmente com a sensação; em outras palavras, funcionam como se fossem os próprios corpos. Outros se identificam com seus sen timen tos; experimentam e descrevem seu estado de ser em termos afetuosos e crêem que seus sentimentos constituem a parte central e mais íntima de si mesmas, enquanto os pensamentos e sensações são percebidos como mais distantes, talvez até um tanto separados. Os que se identificam com a própria inteligência são propensos a se descrever como estruturas intelectuais, mesmo quando peguntados como se sentem. Estes não raro consideram os sentimentos e sensações como periféricos, ou não tomam conhecimen to deles. Não poucos identificam-se com um papel que desempenham, e vivem, funcionam e vivenciam a si mesmos em termos desse papel, tal como a "mãe", "o marido", "a esposa", "o estudante", o "homem de negócios", a "professora" etc. Essa identificação com apenas uma parte da personalidade pode ser temporariamente satisfatória, mas tem desvantagens muitos graves. Impede-nos de compreender a experiência do "Eu", o profundo senso-de autoidentificação que provém do fato de sabermos quem somos. Ela exclui, ou faz decrescer grandemente, a capacidade de identificação com todas as demais partes da personalidade e com a capacidade de usufruí-Ias, utilizáIas em toda a sua extensão. Assim, a nossa expressão "normal" no mundo fica limitada a apenas. uma fração do que poderia ser. A compreensão consciente - ou mesmo inconsciente - de que, sem saber por que, não temos acesso a muito do que está em nós pode nos causar frustração e sentimentos dolorosos de inaptidão e insucesso. Finalmente, uma prolongada identificação com um papel ou com uma função predominante leva com freqüência, de modo quase inevitável, a uma situação precária de vida, que mais cedo ou mais tarde resultará num senso de perda ou até de desespero, tal como o do atleta que envelhece e perde sua força física; ou o da atriz cuja beleza física se esvai; ou o da mãe de filhos crescidos que a deixaram; ou o do estudan te que deixa a escola para enfrentar uma nova série de responsabilidades. Tais situações podem produzir crises graves e não raro dolorosas. Podem ser consideradas como "mortes" psicológicas mais ou menos parciais. Não adiantará apegar-se frcnetícamen te à antiga "identidade". A verdadeira solução só pode ser um "renascimento", ou melhor, a aceitação de uma identidade nova, mais ampla, o que às vezes envolve toda a personalidade e requer um despertar 170
ou "nascimento" num estado de ser novo e mais elevado, ao qual somos conduzidos. O processo da morte e do renascimento tem sido representado simbolicamente em vários ritos de mistérios, além de ter sido vivido e descrito em termos religiosos pelos místicos. Atualmente, está sendo redescoberto em termos de experiências transpessoais e de realizações. Esse processo freqüenternen te ocorre sem que haja uma compreensão clara de seu significado e não raro con tra a von tade e o desejo da pessoa nele envolvida. Entretanto, uma cooperação consciente, deliberada e resoluta pode facilitá-Ia, incrernentá-lo e apressá-Ia grandemente. Ele poderá ser mais bem realizado por meio de um processo deliberado de desidentificação e de auto-identificação. Através dele ganhamos a liberdade e a faculdade de escolha para nos identificarmos com ou nos desiden tificarrnos de qualquer aspecto de nossa personalidade segundo o que nos parecer mais apropriado em cada situação. Podemos assim aprender a dominar, a dirigir e a utilizar todos os elementos e aspectos da nossa personalidade , numa síntese abrangentc e harmônica. Eis por que esse exercício é considerado básico na psicossíntese. EXERCfclO
DE IDENTIFICAÇÃO
Este exercício destina-se a ser um instrumento para a realização da consciência do ego e da capacidade de focalizar nossa atenção de modo seqüencial em cada um dos aspectos principais de nossa personalidade, dos nossos papéis etc. Desse modo, tornamo-nos claramente conscientes de suas qualidades e podemos examiná-Ias, ao mesmo tempo mantendo o ponto de vista do observador e sabendo que o observador não é aquilo que observa. Do modo que se segue, a primeira fase do exercício - a desidentificação - consiste de três partes que tratam dos aspectos físicos, emocionais e mentais da consciência, o que nos leva à fase de auto-identificação. Uma vez que alguma experiência foi incorporada, o exercício pode expandir-se ou modificar-se, de acordo com as necessidades, como indicaremos adiante. Procedimen to Deixe o corpo em posição relaxada e confortável e respire algumas vezes len tarncn te (os exercícios preliminares de relaxamen to podem ser 171
úteis).
Depois,
devagar e pon deradamen
pensamentos, reconheço e afirmo que eu sou um centro de {Jura autoconsciéncia, Sou um centro de vontade, capaz de observar, de
te, afirme o seguin te:
Eu tenho um corpo, mas eu não sou o meu corpo. Meu corpo pode estar em diferentes condições de saúde ou de enfermidade, pode estar descansado ou exausto, mas nada disso tem que ver com o meu ego, com o verdadeiro "Eu". Dou valor ao meu corpo como precioso
instrumento
de experiência
mas ele é
apenas um instrumento.
com saúde,
mas ele não é "eu".
e de ação no mundo Trato-o
bem,
procuro
Eu tenho um corpo,
exterior, mantê-lo
mas eu não
sou o meu corpo.
ceito
central:
acima e então
Eu tenho
novamente
focalize
um corpo,
â
consciência
gradualmente
a substância
a atenção
mas eu não sou o meu corpo.
no conTanto
quanto possível, tente compreender isso como um fato vivenciado pela sua consciência. Abra os olhos e proceda do mesmo 'modo com os dois seguintes: Eu tenho emoções, mas eu não sou as minhas emoções. Minhas emoções são diversificadas, rnutáveis e às vezes contraditórias. Po-
temporariamente, sei que há de passar com o tempo; portanto, eu não sou essa raiva. Já que posso observar e compreender minhas emoções e depois aprender gradualmente a dirigi-Ias, a utilizá-Ias e a integrá-Ias harmoniosamente, é claro que elas MO são "eu". Eu tenho emoções, mas eu não sou as minhas emoções. Eu tenho uma mente, mas eu não sou minha mente. Minha mente é um precioso instrumento para descobertas e para me expressar, mas não é a essência de meu ser. Seu conteúdo está constantemente experiências.
mudando e abraçando novas idéias, conhecimentos e Às vezes ela se recusa a me obedecer, Portanto, ela não
pode ser o meu self. Ela é um órgão de conhecimento, com respeito ao mundo externo e ao interno, mas não é o meu self. Eu tenho uma mente,
mas não sou a minha mente.
Vem depois
cia específico,
Depois
da desidentificação
ção aos conteúdos 172
Afirme,
lenta e pensativamente:
de mim mesmo, do "eu",
da consciência,
como
das sensações,
em relaemoções,
os meus
uma vez apreendido
do processo
processos
psicológicos
e todo o
podem
esse propósito,
ser dispensados.
grande
parte dos por-
Portan to, depois de algum
tempo de prática - e algumas pessoas conseguem fazê-lo desde o início pode-se modificar o exercício passando-se rápida e dinamicamente por todos os estágios de desidentificação, empregando apenas a afirmação central de cada um dos estágios e concentrando-se na realização de sua expe-
riência: Eu tenho um corpo, mas eu não sou o meu corpo. Eu tenho emoções, mas eu não sou as minhas emoções. Eu tenho uma mente, mas eu não sou a minha mente. -Neste ponto, é válido considerar profundamente o estágio de autoidentificação usando as seguintes palavras: Que sou eu, então? Depois de eu me ter desidentificado do meu corpo,
de minhas
sensações,
de meus sentimentos,
de meus de-
sejos, de minha inteligência, de minhas ações, o que é que resta? Resta a essência do "eu" - um centro de pura autoconsciência. E este o fator
permanente
no sempre
variável
fluxo da minha vida pessoal.
Isso é o que me dá o senso de ser, o senso da permanência, do equilíbrio interior. Afirmo minha identidade com este centro, e compreendo
a sua permanência
e energia.
(pausa) Reconheço e afirmo que sou um centro de pura autoconsciência e de energia criativa e dinâmica. Compreendo que a partir deste centro
de real identidade,
posso
aprender
a observar,
a dirigir
e a
harmonizar todos os processos psicológicos e o corpo físico. Quero ter consciência constante deste fato, em meio à minha vida cotidiana e empregá-Ia para me ajudar a dar um significado cente e uma direção à minha vida. I
a fase de identificação.
todos
na compreensão cen trai: "Sou um centro de pura autoconsciência e de vontade ". Tente, tanto quanto possível, entender isso corno um fato vivenciado na sua consciência. Dado que o propósi to do exercício é realizar um estado de consciên-
estágios
dem oscilar do amor ao ódio, da calma à ira, da alegria à tristeza e, entretanto, minha essência - minha verdadeira natureza - não muda. "Eu" permaneço. Ainda que uma onda de raiva me submerja
e de utilizar
meu corpo físico. Focalize a atenção
menores
Agora feche os olhos e chame geral da afirmação
dirigir
sempre
cres-
Ao conduzir a atenção, cada vez mais, para o estado de consciência, pode-se abreviar também o estágio de iden tificação. O objetivo é adquirir facilidade suficiente na realização do exercício, para que se possa passar
173
por todos os estágios de desidentificação com rapidez e dinamismo em pouco tempo e, depois, permanecer na consciência do "Eu ". tan to quan to possível. Pode-se então - à vontade e a qualquer momento - realizar a desidentificação de qualquer emoção que nos subjugue, de pensamentos aborrecidos, do desempenho de papéis não-apropriados ctc., a partir do ponto vantajoso de um observador de fora e obter uma compreensão mais clara da situação, de seu significado, de suas causas e do melhor modo de lidar com ela. Este exercício revela-se muito mais eficaz se praticado diariamente, de preferência durante as primeiras horas do dia. Sempre que possível, ele deve ser realizado logo depois do despertar e deve ser considerado simbolicamente como um segundo despertar. É bom também repetí-lo em sua forma abreviada diversas vezes durante o dia, voltando assim ao estado de desiden tificação da consciência do "Eu". Este exercício pode ser modificado adequadamente segundo o propósito e as necessidades existenciais de cada um, com o acréscimo de estágios de desidentificação para incluir outras funções além das três fundamentais (a física, a emocional e a mental), bem como subpersonalidades, papéis a desempenhar etc. Pode-se igualmente começar pela desidentificação dos bens materiais. Eis alguns exemplos: Eu tenho desejos, mas eu não sou os meus desejos. Os desejos são suscitados por impulsos físicos ou emocionais e por outras influências. Eles muitas vezes podem ser mutáveis e contraditórios, podem alternar da atração repulsão; portanto, eles não são o meu self. Eu tenho desejos, mas não sou os meus desejos. (O melhor lugar para este exercfcio é entre os estágios mental e emocional.) Realizo diversas atividades e desempenho diversos papéis na vida. Tenho de desempenhar esses papéis e o faço de boa vontade e tão bem quanto possível, trate-se do papel de filho, de pai, de esposa ou de esposo, de professor ou de estudante, de artista ou de executivo. Mas eu sou mais que filho, pai, artista. Estes são papéis, específicos mas parciais, os quais eu, a minha pessoa, estou desempenhando, concordo em desempenhar e posso me ver e me observar enquanto o faço. Portanto, eu não sou nenhum desses papéis. Eu estou autoidentificado e não sou apenas ator, mas diretor da representação. Este exercício pode ser, e de fato é realizado eficazmente em grupos. O líder do grupo dá voz às afirmações e os membros do grupo ouvem de olhos fechados, deixando que o significado das palavras pene tre profundamen te neles. ã
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11
174
APBNDICE 2 PENSAMENTO
E MEDITAÇÃO
Do mesmo modo que no caso de tantas outras palavras usadas em psicologia (por exemplo, "mente", "personalidade':' "alma") tambén: à palavra "meditação" são atribuídos diferentes sentidos. Em seu. s~n:ldo mais restrito, ela pode ser considerada sinônimo de pensamento disciplinado ou de reflexão sobre uma idéia, Mais amplamente, abrange outros tipos de ação interior para os quais o pensamento .disciplinado é requisito preliminar. Na psicossíntese, a meditação é considerada e praticada com essa conotação mais ampla. Indicaremos, pois, com a terminologia própri~, os tipos de meditação que desejamos discutir, medida que forem surgindo as oportunidades. São os seguintes os principais tipos de meditação: a reflexiva, a receptiva e a criativa. . Para ser eficaz, a medi tação deve ser preparada adequadamen te. Trata-se de passar da vida normal, voltada para o exterior - vida cujo interesse e atenção são moriopolizados por negócios, planos e atividades - para êt "ação interior" da meditação. Esta preparação é tríplice: física, emocional e mental. 1. Relaxamento fisico - a mais completa eliminação possível de qualquer tensão muscular e nervosa. 2. Serenidade emocional - o esforço para conseguir um estado de tranqüilidado. 3. Recolhimento mental - o direcionarnento do interesse da mente e da atenção para o interior. à
175
L Meditação
Reflexiva
ma idéia ou tarefa é que a mente, na realidade, "pensa", e podemos dizer que reflete e medita. Existem, pois, aqueles que meditam sem dar este nome à sua atividade mental; é o caso do cientista à procura de uma solução para um problema; do homem de negócios a elaborar um programa para suas empresas. Esse é emprego regular e organizado da função do pensamento. Com respeito a isto, deveríamos admitir uma verdade um tanto humilhante: essa gente não raro pensa e medita com maior eficiência do que aqueles que o tentam fazer com propósitos psicológicos ou espirituais. Se quisermos aprender a meditar, teremos de compreender que a mente é, na realidade, um "instrumento", uma ferramenta que temos no íntimo, da qual nos devemos desidentificar, se queremos fazer uso dela segundo nossa vontade. Se nos identificamos de forma total com a mente, não a poderemos controlar. Precisamos de uma certa "distância psicológica", de um certo desligamento em relação a ela.
Sua definição mais simples é pensar, o que não deixa de ser uma definição limitada, visto que as idéias claras sobre a função de pensar não são propriedade cornurn. Alguém já declarou que "nossa mente nos pensa", em vez de serrnos nós que formulamos os pensamentos. O certo é que O funcionamento de nossas mentes opera de forma espontânea e um tanto desorganizada, quando sob a ação de estímulos e interesses de várias espécies. A mente opera independentemente da vontade e, não raro, em oposição a ela. Essa falta de domínio sobre a mente foi bem descrita por Swami Vivekananda: Como é difícil controlar a mente! A comparação com o macaco enlouquecido cabe-lhe muito bem. Havia um macaco, inquieto por natureza como todos os de sua espécie. Como se isso não bastasse, alguém deu-lhe a beber vinho em abundância e assim ele tornou-se ainda mais inquieto. Então, foi picado por um escorpião. Quando um homem é picado por um escorpião, passa o dia aos pulos; assim também o macaco, que ficou em piores condições que as de costume. Para completar-lhe a desgraça, entrou nele um demônio. Em que língua poder-se-ia descrever a inquietude incontrolável do macaco? Pois a mente humana assemelha-se a esse macaco; é incessantemente ativa, por natureza; e, quando embriagada pelo vinho do desejo, aumenta sua turbulência. Depois que o desejo toma posse, vem a picada de escorpião do ciúme do êxito alheio e, por último, entra o demônio do orgulho na mente, que faz com que ela pense em si mesma como algo muito importante. Como é difícil controlar essa mentel
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O primeiro passo é a prática da concentração; o seguinte consiste em dirigir a atividade mental ao longo da linha que determinamos, para que ela cumpra a tarefa que lhe designamos. Neste sentido, "pensar" significa refletir profundamente e examinar um assunto em todas as suas implicações, ramificações e significados. Uma tentativa de nossa parte neste sentido revelará sem demora quão superficial e inadequado é o nosso modo normal de "pensar". Habituamo-nos a tirar conclusões apressadas e a generalizar arbitrariamente, considerando apenas um aspecto da questão, vendo e acentuando apenas o que corresponde aos nossos preconceitos ou preferências. O requisito preliminar para desenvolver a arte de pensar é observar atentamente o processo do próprio pensamento, tomando consciência instantaneamente quando ocorre algum desvio. O segundo envolve persistência, tenacidade, numa sondagem profunda da questão. Neste ponto ocorre um fenômeno curioso: alguns minutos de reflexão parecem ter esgotado as possibilidades do assunto; nada mais resta a ser dito. Mas neste ponto a persistência na reflexão conduzirá à descoberta de outros e insuspeitados aspectos, revelando uma riqueza de desenvolvimento a que não é possível atribuir limites. Um exemplo servirá para esclarecer esta questão. Tomemos como tema da meditação a sentença "Procuro amar, não odiar". À primeira vista, tudo parece simples e evidente, até banal, fazendo pensar: "Natural-
A primeira lição, portanto, é ficar sentado por algum tempo, deixando que a mente se espraie. Ela fervilha o tempo todo. I: igual ao tal macaco que vivia aos pulos. Pois que pule quanto quiser; você fica à espera, observando. Saber é poder, diz o provérbio; e o provérbio está certo. Enquanto não souber o que a mente está fazendo, você não a poderá controlar. Dê-lhe rédea; podem vir pensamentos medonhos; você ficará perplexo ante a possibilidade de estar pensando tais coisas. Mas verá que, dia a dia, as extravagâncias da mente vão perdendo a violência, que ela aos poucos vai se acalmando. Durante os primeiros meses, parecer-lhe-a que são muitos os pensamentos de sua mente; mais tarde você verá que decresceram e, da a mais alguns meses, haverá menos e cada vez menos pensamentos, até que, afinal, a mente estará sob perfeito controlc. Mas precisamos praticar pacientemente todos os dias. í
Muito de nossa atividade mental comum, portanto, nem merece o nome de "pensamento". Só quando um interesse dominante, respaldado por uma vontade firme e resoluta, consegue concentrar o pensamento nu176
\
177
mente, sendo boa pessoa e bem-intencionada, tento amar e não odiar; é tão óbvio que nada mais encontro para acrescentar." Mas se fizermos a nós mesmos - e tentarmos responder - as seguintes perguntas, compreenderemos que o assunto não é tão simples. "O que significa realmente o amor? - Que é o amor? - Quantas e quais espécies de amor existem? De que modos eu sou capaz de amar? - Como devo procurar amar') - A quem amo e a quem consigo amar? - Terei eu sempre conseguido amar como desejaria? - Se não, por quê? - Quais foram e quais são os obstáculos, e como posso eliminá-I os? - Qual a porção do meu amor que depende das pessoas às quais é endereçada e qual depende da minha própria natureza?" Podemos depois examinar a palavra "ódio" e fazer pergun tas tais como: "Atrás de que camuflagem pode o ódio esconder-se? - Estarei livre de qualquer tipo de ódio? - Tenho ódio aos que me injuriam? - Aos que me são hostis? - Serão justos tais sentimentos? - Se não são, como poderão ser corrigidos? - Que atitude adotar contra o mal, de modo geral? - Qual o significado do ditado: 'um inimigo é tão útil quanto um Buda '?" 1 E óbvio que não podemos examinar todos esses quesitos numa medi tação. Eles oferecem possibilidades de reflexão para uma série extensa de meditações. Descobrimos, assim, que riqueza de possíveis elaborações, quantos significados estão ocultos numa sentença simples como aquela. Quais são os objetivos da meditação? f preciso esclarecê-Ias, pois determinam o terna a ser escolhido e o processo a ser adotado. Um dos objetivos da meditação reflexiva é conceitual, ou melhor, consiste em 1. Cabe aqui uma palavra de advertência quanto à meditação sobre questões negativas. Um aspecto fundamental da meditação consiste em focalizar intensamente o pensamento sobre o assunto escolhido para ser meditado. Isso lhe transmite energias e o amplia, pelo "poder realirnentador da atenção" (ver Aplicações Práticas ela Vontade Hábil, Respiração e Alimentação Psicológica, pag. 57). Deve, pois, ser objetivamente evitada a meditação sobre temas negativos. Todavia, a meditação sobre um assunto negativo pode ser segura e útil, contanto que seja feita de um modo positivo, isto é, que o propósito de focalizar a atenção e o interesse sobre um assunto
°
negativo seja de melhorar-lhe as condições e reduzir-lhe ou anular-lhe a ncgatividade, A abordagem do "ódio" descrita acima é um exemplo de abordagem positiva. Essa meditação, entretanto, é um empreendimento relativamente avançado, que só deve ser posto em prática depois de a pessoa ter desenvolvido suficientemente a proficiência e o controle, e só quando surgir uma necessidade específica e definida.
178
adquirir uma idéia clara sobre determinado assunto ou problema. A clareza de conceitos é muito mais rara do que supomos, e também aqui o primeiro passo a ser dado é o de tomar consciência de que não temos idéias tão claras assim. Há um outro objetivo, ain.da mais importante, que é o de adquirir conhecimentos a respeito de nós mesmos (trataremos disto mais adian te). Eis alguns temas para meditação: 1. As várias qualidades espirituais e psicológicas que desejaríamos despertar ou reforçar em nós: coragem, fé, serenidade, alegria, vontade etc. 2. Símbolos. (Ver, em Psicossintese, o extenso exame sobre os símbolos e sua utilização.) 3. Uma sentença que expressa um pensamento - à qual foi dado o nome de "pensamento-semente" - e das quais existem duas categorias principais: a. Sentenças simples e óbvias, como a que comentamos ("Eu quero amar. .. "). b. Sentenças que, ao contrário, são formuladas de um modo tão paradoxal que a princípio parecem desconcertantes. Elas são constru (das sobre contradições aparentes, que só podem ser reconciliadas se se encon trar uma sín tese num nível mais elevado e abrangen te. Os koans do Zen-budisrno são os tipos extremos desses pensamentossemente paradoxais. Eis alguns exemplos de paradoxos que podem ser chamados de enigmas psico-espirituais: "Agir com interesse e com desin teresse " - "Sofrer com alegria" (o que não significa gostar de sofrer) - "Terpressa devagar" - "Viver a eternidade e o momento" - "Ver ação na inação e inação na ação" (é este o tema de um dos livros do Bhagavad Cita), 4. O mais importante e, na realidade, o mais indispensável assunto de meditação, para quem busca a psicossíntese pessoal, é a meditação reflexiva sobre o próprio self, Por meio dela é possível distinguir entre autoconsciência pura ou percepção do se!f e os elementos ou partes psicológicas de nossa personalidade em diferentes níveis. Já mencionamos esta distinção mas, se voltamos a atenção para ela agora é porque se trata de um requisito fundamental para a aquisição da consciência do SELF. Esta percepção, esta possibilidade de observar a própria personalidade "do alto" e "de uma distância interior", não deve ser confundida com egocentrismo ou preocupação consigo mesmo. Estas, na realidade, 179
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111 I
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refletem precisamente o oposto, pois constituem a identificação com os elernen tos da personalidade e estão ligadas à preocupação com os defeitos pessoais e as opiniões e julgamen tos dos ou tros sobre nós, o que não raro desperta um agudo sentimento de angústia. Finalmente, a meditação reflexiva sobre nós mesmos não deve ser considerada simplesmente um processo passivo de observação, como um inventário de fatos. Ela visa a compreender, a interpretar e a avaliar aquilo que descobrimos em nós próprios 2. Il, Meditação Receptiva Pode-se adquirir mais facilmente uma clara compreensão da diferença entre meditação reflexiva e meditação receptiva se considerarmos a mente como um "olho interno". Na meditação reflexiva, o olhar da mente é dirigido, por assim dizer, em sentido horizontal. Ele observa o objeto, o tema da meditação, o pensamento-semente ou os vários aspectos da personalidade. Na meditação receptiva, por outro lado, o olhar da mente voltase para o alto, buscando descobrir o que há para ser descoberto num nível mais elevado que o da consciência comum e o da própria mente. O primeiro estágio é o do silêncio. Receber do supraconsciente uma intuição, uma inspiração, uma mensagem ou um estímulo para agir exige a eliminação de tudo o que poderia impedir a sua descida para a esfera da consciência. Eis por que o silêncio é necessário. Com respeito a este particular, uma pessoa habituada a meditar relatou a seguinte experiência: Imerso em profunda meditação, percebi que alcançara um estado límpido e radiante, quando cruzou-me a mente seguinte pensamento: "Eu sei que estou neste nível e ainda assim estou surdo e cego e não posso ver nem ouvir coisa alguma." Passado um momento, veio-me uma resposta humorística: "Se
°
você tivesse ficado calado,
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poderia
ver e ouvir."
2. Faz-se aqui necessária outra advertência. A meditação sobre a própria pessoa pode às vezes causar o afloramento à superfície da consciência de elementos perturbadores da personalidade ou de uma maior presença de emoções negativas. Se isso acontecer, é sinal de que a meditação foi feita de modo incorreto, ou antes, que não partiu de um ponto suficientemente objetivo e desidentificado. Mas manter esse ponto de equihbrio na consciência é particularmente difícil quando meditamos sobre nós mesmos e, à primeira vista, pode parecer difícil demais ou mesmo impossível para algumas pessoas, principalmente as do tipo mais introspectivo e imaginativo. Se for este ca-
°
so é aconselhável adiar uma meditação deste tipo, e procurar, durante algum tempo, ternas mais impessoais, além de colocar mais ênfase na prática da desidentificação.
180
Conseguir ficar em silêncio, manter-se em silêncio envolve um esforço constante; a mente não está habituada a tal disciplina; ela esperneía, dá alfinetadas e ten ta fugir. Existem vários modos de obter domínio sobre a mente. Os primei. ros, indicados por Vivekananda, consistem em o observador manter uma atitude equilibrada e paciente durante algum tempo, até que a mente se canse de sua atividade irrequieta. Isso pode ser praticado pacientemente, durante algum tempo, todos os dias. Outro método consiste em repetir persisten temen te uma palavra ou frase, murmurando c1aramen te as palavras. Um terceiro modo consiste em evocar quadros mentais. As palavras e quadros mais eficazes são aqueles que induzem um estado de serenidade, de paz e de silêncio. Há uma frase apropriada, extra ida de um hino dos Mistérios gregos: "Fiquem em silêncio, ó sons, para que uma nova melodia possa me inundar." Os quadros mais eficazes incluem um lago tranqüilo a espelhar o azul do céu; um majestoso cimo de montanha; e, especialmente, o céu estrelado no silêncio da noite. Há casos em que surge a dificuldade oposta: abate-se um sentimento de peso e sonolência sobre nós. A isto devemos resistir energicamente, visto que tal sentimento poderá levar a um estado de passividade no qual irrompem elementos do inconsciente, particularmente do inconsciente inferior e coletivo, ou de energias psíquicas estranhas. Assim que se tem consciência de que acontece, deve-se interromper o processo e suspender a meditação, pelo menos durante algum tempo. Em geral, a meditação receptiva apresenta maiores dificuldades que a reflexiva, e sua prática deve ser conduzida sob vigilância, a fim de evitar efeitos nocivos. De que modo e sob que formas surgem as "mensagens", isto é, o material que "rcce bernos"? O modo mais comum é o surgimen to de uma visão ou iluminação. Como já dissemos, simbolicamente, a mente é um "OUlO interior" que, portanto, pode "ver", no sentido de compreender. Esse OUlO torna conhecimento do significado dos fatos e acontecimentos, pode "ver" a solução de um problema e ter uma idéia "luminosa". A intuição é uma forma mais elevada de visão. Etimologicamente, está relacionada com a visão e significa "ver in teriormen te" (in-tueri). Em sua forma mais elevada, pode ser igualada à compreensão supra-racional direta da natureza da realidade e de sua essência. Ela difere, portanto, do que é cornurnente chamado de "intuição" (palpites, impressões psíquicas, 181
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pressentimentos a respeito de pessoas e acontecimentos). A ação interior de uma pessoa, que está se esforçando no sentido de perceber a realidade in terior é chamada de "contemplação" ou de "estado de contemplação". A mais elevada forma de visão interior é a iluminação, CJle pode ser definida como revelação da divindade ineren te a todas as coisas e seres da na tureza, O segundo efeito da meditação receptiva talvez seja a "audição interior"; mas também aqui precisamos usar de cautela para discriminar entre percepção psíquica de vozes e sons e uma verdadeira audição transpessoal. A informação vinda dos níveis mais elevados tem, em sua maior parte, um caráter impessoal; as mensagens são breves mas cheias de significado. Freqüenternente, elas têm uma qualidade simbólica, ainda que pareçam transmitir um significado concreto. Um exemplo bem conhecido é o da mensagem recebida por São Francisco: "Vai e restaura a minha Igreja." lnicialmen te, ele in terpretou esta mensagem como uma ordem para restaurar uma igrejinha arruinada. Mais tarde ele compreendeu que o que lhe havia sido solicitado era algo muito diferente: Francisco devia restaurar a própria Igreja, então em decl ínio. Muitas inspirações literárias, musicais e artísticas pertencem a esta categoria de audição interior. Ocorre, às vezes, um verdadeiro diálogo entre o "Eu" pessoal e o self'. A mente, recolhida na meditação, faz perguntas e recebe respostas em seu interior, de uma forma rápida e clara. Quem tentar um diálogo deste tipo, todavia, deve usar de grande prudência e discriminação. Com certa freqüência, ouvimos "vozes" e recebemos "mensagens" que provêm do inconsciente pessoal ou coletivo, ou são por ele trasrnitidas, cujos elementos não conferem com a verdade. Podem ser enganosos e capazes de dominar e de causar preocupações. Ex.iste uma terceira forma de receptividade que pode ser chamada de "contato", visto que possui certa semelhança com o sentido do tato, ou com a "sensação por meio do contato". Ela transmite um sentido semelhante ao do conteúdo das frases "para estabelecer contato com alguém" ou "estar en rapport com alguém". Trata-se de um contato interior, com o self , contato que indica um relacionamento, uma ligação ou alinhamento com o sel], que nos torna receptivos no que toca às suas qualidades, habilitando-nos a nos identificar ou a nos unir conscientemente, ainda que só por um momento, com essa realidade espiritual. Essa prox.imidade interior, esse "contato" com o self , harmoniza, vivifica e recarrega nossas energias. 182
O quarto modo de receber uma impressão vinda do sei! mais elevado toma a forma de um estimulo para agir; quando a percebemos, sentimos um impulso para realizar determinada coisa, para empreender uma certa atividade ou para assumir certos deveres e tarefas.
A uma tal recepção segue-se o estado de registro, ou melhor, segue-se uma fase na qual se alcança uma clara consciência do que recebemos e na qual essa consciência é mantida, aconselhável registrar imediatamente por escrito tudo o que foi percebido. As impressões de origem elevada são com freqüência vívidas e claras no momento, mas tendem a se esvaecer com rapidez do campo da consciência; e quando não são captadas e registradas imediatamente, quase sempre se perdem. Além disso, o mero fato de fixá-Ias por escrito contribui para melhor compreendê-Ias e, mais ainda, a impressão às vezes pode desenvolver-se enquanto é posta no papel, e assim, de certo modo, continuamos a "recebê-Ia". Outro tipo interessante de recepção é a recepção prolongada. Sucede freqüentemente que, durante a meditação receptiva, nada parece estar ocorrendo e permanecemos num estado de "trevas". Nada de novo aflora à superfície da consciência, exceto um senso de calma e de repouso. Isso não significa necessariamente que a meditação deixou de produzir seus fru tos. Quase sempre é duran te esse mesmo dia, ou nos dias seguin tes, que se apresenta inesperadamente uma impressão ou inspiração, que pode surgir a qualquer momento, enquanto a pessoa está ocupada em atividades completamente diferentes, ou em momentos de repouso, ou ao despertar pela manhã, Pode-se às vezes reconstituir o relacionamento entre a meditação aparentemente sem êxito e a inspiração subseqüente. Portanto, depois de terminada a meditação, devemos manter uma atitude interior de vigilância e espera, que pode ser definida como "atitude meditativa", a qual, uma vez desenvolvida pelo exercício, podemos continuar por quase o dia todo. Através desse treinamento, podemos manter um estado de percepção dupla, o que envolve a capacidade de concentração normal em outras atividades e o direcionarnerito de parte da atenção para o mundo in terior. É
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Eu poderia oferecer também algumas sugestões técnicas com respeito à meditação: Deve-se fazer cessar a meditação sempre que ocorrerem sintomas de superest ímulo como, por exemplo, tensão nervosa, excitação emocional, 183
atividade febril. O espaço de tempo a ser dedicado meditação pode variar mas, para começar, não deve exceder a dez ou quinze minutos; o que é mais que suficiente. O período durante o qual se usa um assunto como tema também varia, mas não deve ser de menos de uma semana e, depois de alguma prática, um mês parecerá muito pouco. Há assuntos que parecem praticamente inesgotáveis! Um bom método é meditar sobre uma série de temas, rotativamente, utilizando um tema por semana até terminar a série e recomeçar. Finalmente, há um modo de praticar a meditação receptiva que oferece muitas vantagens: a meditação em grupo ajuda a concentração (são poucas as exceções) e confere integração e proteção mútua, além de possibilitar uma verificação recíproca dos resultados de cada um dos membros. â
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Ili. Meditação Criativa A meditação pode ser criativa por ser uma "ação interior". Contrasta-se, às vezes, a medi tação com a ação - o que é errado. O domínio e a aplicação das energias psicológicas e espirituais são ações, visto que requerem vontade, treinamento e o uso de técnicas apropriadas; e acima de tudo - por serem tão eficazes - produzem resultados. Podemos usar a meditação criativa para muitas finalidades. A primeira, e mais importante, é a autocriação. Por meio da meditação, podemos modificar, transformar e regenerar nossa personalidade. Um meio eficaz de fazê-Ia é empregar a técnica do "modelo ideal" (ver Psicossintese). Ela pode ser considerada o "modelo" de meditação criativa. Estamos usando o poder criativo do pensamento e de todas as outras forças psicológicas continuamente, espontaneamente e, eu diria, inevitavelmente. Mas habitualmente o fazemos sem ter disso consciência, ao acaso e, portanto, com pouco efeito criativo ou, o que é pior, com reais prejuízos para nós mesmos e para os demais. Uma aplicação benéfica exige que, acima de tudo, apuremos quais os motivos que nos animam e que concedamos direito de trânsito apenas aos motivos bons, ou melhor, aos que são a expressão da "vontade boa". E necessário, portanto, determinar com precisão nossos próprios objetivos. No atual período de reconstrução, estão sendo constru ídas novas "formas" em todas as esferas da vida e podemos cooperar, auxiliando a criação e a manifestação de idéias que informem, animem e modelem essas novas formas. 184
I.
São os seguintes os estágios da meditação criativa: 1. Concepção clara e formulação da idéia; 2. Uso da imaginação, que "revestirá" a idéia de quadros e símbolos "sugestivos" ; 3. Vivificar a idéia com o calor dos sentimentos e a força propulsora do desejo. Daremos abaixo um extenso esquema da meditação sobre a vontade. O mesmo padrão, com as modificações adequadas, pode ser utilizado para outros assuntos e pode também ser adaptado segundo o objetivo específico, bem como segundo o tipo psicológico da pessoa que meclita. ESQUEMA
r.
DA MEDITAÇÃO
SOIlRE A VONTADE
Preparação 1. Relaxamento Psiquico, Serenidade Mental 2. Concentração Contactar a pura autoconsciência 3. Elevação
Emocional,
Recolhimento
Direção da aspiração do coração e da atenção da mente para o SELF 4. Identificação Identificação afirmativa e imaginativa com o SELF li. Meditação Reflexiva Temas sugeridos: 1. Um dos Estágios do Ato Volitivo Propósito - Objetivo - Meta - Motivação - Intenção Deliberação Escolha - Decisão Afirmação - Comando Planejamen to e Programação Direção da Execução 2. Uma das Qualidades da Vontade Energia - Força Dinâmica - Intensidade Comando - Controle - Disciplina Concentração - Atenção - DirecionaUdade - Foco Determinação - Decisão - Resolução - Prontidão 185
•,
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Persistência - Resistência - Paciência Iniciativa - Coragem - Anojo Organização - ln tegração - S ín tese m. Uso de Simbolos 1. Visualização Visualizar vívida e regularmente um símbolo da Vontade . Imagens sugeridas: a) Uma tocha chamejante b) Moisés (de Michelangelo) _ c) O condutor de urna carruagem segurando as rédeas de três cavalos (Krishna no Bhagavad Cita) d) Um homem ao leme de um navio e) Um maestro regendo uma orquestra 2. Sim bolos Auditivos Sugestão de um som: o Tema de Siegfried (de Wagner) IV. Meditação Receptiva 1. Apelo . ." "Que a Vontade do SELF dirija e guie a minha VIda. 2. Recepção . Compreensão silenciosa da energia que flui d~ Vont
e celebro
a Vontade,
em pensamento,
palavras e
obras." VI. Expressão 1. Diga em voz alta: "A Vontade-de-fazer-o-bem, do EGO, expressase em mim com boa vontade". 2. Escolha e formule algum uso definido para a Vontade a ser expresso na vida cotidiana.
APeNDICE QUESTIONÁRlO
3
SOBRE A VONTADE
O capítulo sobre Avaliação Geral, na Psicosstntese; contém um questionário para auto-avaliação e autoconhecimento às págs. 78-84. Embora tenha sido escrito principalmente tendo em vista objetivos terapêuticos, ele pode ser usado, com algumas modificações, para a auto-atualização e psicossíntese educacional. O Questionário Sobre a Vontade que se segue é destinado, em primeiro lugar, ao auto-exame, que deve ser feito após a leitura deste livro e pode ser de igual valor na psicoterapia e para fins educacionais. Constitui parte importan te da avaliação geral, que é necessária como estágio preliminar da psicossíntese individual. Tem valor específico e vem ao encontro de uma necessidade real - a de verificar a força, a fraqueza e as complexidades da função da vontade. Pode servir como base sólida para o estabelecimento de um programa equilibrado e eficaz para o treinamento da vontade, que é tarefa para toda uma vida e exige persistência, paciência, firmeza de intenção e consciência do fim que se tem em vista. O benefício proporcionado por um programa conscien temen te aplicado compensa generosamente o esforço e faz com que o trabalho progrida com facilidade. É útil, de vários modos, que se escreva as respostas ao questionário, que podem ser, com proveito, renovadas a intervalos determinados, como verificação do progresso e estímulo para a ação.
186
í
187
f
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I
QUESTIONÁRIO
SOBRE A VONTADE
L Aspectos da Vontade (Forte, Hábil, Boa, Transpessoal) Quais são, no seu caso, os mais desenvolvidos e ativos? Quais são os pouco desenvolvidos ou su bdesenvolvidos? lI. Qualidade da Vontade (Energia - Força Dinâmica - Intensidade; Comando - Con trole - Disciplina; Concen tração - Atenção - Direcionalidade - Foco; Determinação - Decisão - Resolução - Prontidão; Persistência - Resistência - Paciência; Iniciativa - Coragem - Arrojo; Organização - Integração - Síntese) Quais são desenvolvidos e ativos 1. fracamen te? 2. de maneira positivamente equilibrada? 3. relativamente em demasia (em comparação com os outros)? m. Estágios da Vontade (propósito - Objetivo - Meta - Motivação Intenção; Deliberação; Decisão - Escolha; Afirmação - Comando; Planejamento e Programação; Direção da Execução) 1. Quais os estágios da von tade que mais se desenvolveram e funcionam em você? 2. Quais os subdesenvolvidos? 3. Quais os relativamente superdesenvolvidos
(em comparação
com
outros)? IV. Treinamento e Desenvolvimento Ativo da Vontade 1. Fez exercícios de treinamento da vontade? Quais? Com que resultados? 2. Quais os exercícios que atualmente pratica? Quais tenciona praticar no futuro? V. Que influências (externas ou internas) o ajudaram no desenvolvimento do uso da von ta de ? Que influências (externas ou internas) o impediram de desenvolver e dc utilizar a von tade? VI. Tem alguma sugestão, fato ou observação para comunicar sobre a vontade? Pode citar exemplos ou experiências (históricas ou particulares) do uso e desenvolvimento da vontade? 1 VII. Tem algum outro comentário ou pergunta a fazer sobre a vontade? 1. Ver introdução
188
ao Projeto-Vontade,
pág. 159.
••
I,
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II
APeNDICE4 PERSPECTIVA
II
HISTÓRICA
I Ao abordar a questão da vontade deparamo-nos com uma situação peculiar, e mesmo paradoxal. Descobrimos que, no passado, e aproximadamente até o início deste século, a vontade vem sendo objeto de interesse geral entre filósofos, teólogos, educadores e alguns psicólogos com mentalidade filosófica. Uma exposição e discussão histórica dos muitos e não raro contrastantes conceitos da vontade foge aos objetivos deste estudo. Esses conceitos constituem um dos alvos da pesquisa recomendada no Projeto-Vontade, cujo esquema apresentamos acima. . Todavia, parece apropriado que, no interesse de oferecer uma perspe~tlv~ e um quadro de referências, indiquemos brevemente alguns dos m31s, significativos pontos de vista dos que trataram da questão da vontade. Na ~ndia, o méto.do Raja Yoga do desenvolvimento psicológico e espiritual sublinha a necessidade de se utilizar a vontade. Nas Yoga Sutras de Patanjali, encontramos: O controle destas modificações da mente de um esforço infatigável c do desapego.
deve ser efetivado
por meio
Quando é suficientemente valorizado o objetivo a ser conseguido e os esforços destinados a atingi-to são persistentemente levados a efeito sem interrupção, então o cquilíbrio da mente está assegurado. ' _ Â consecução deste estágio que tem urna vontade intensamente
(da consciência viva.
Divergirão, de igual modo, os que empregam ção pode ser intensa, moderada ou branda.
espiritual) a vontade,
é rapida para os pois sua utiliza-
189
Segundo Pa tanj ali, "um dos siddis, ou poderes psíquicos, que os Yogin têm de desenvolver é O da vontade irresistivel (prakamya)". A grande importância atribuída pelo Zen-budismo à vontade refletese nas seguintes declarações de D. T. Suzuki: ..• o [ato mais importante subjacente à experiência da iluminação, portanto, é que o Buda fez o mais ardoroso esforço para resolver o problema da Ignorância e sua mais extrema força de vontade foi aplicada no sentido de conseguir uma solução bem-sucedida para essa luta ... A iluminação, portanto, deve envolver tanto a vontade quanto o intelecto. A Vontade é o próprio homem e Zen apela para ela.
A Europa tem tido suas escolas voluntaristas de pensamento, que atribuíram à vontade uma posição central no homem. 4gostinho declarou que o homem e Deus nada mais são do que vontade (Nihil aliud quam voluntates sunt). Duns Scotus, o notável representante da escola voluntarista de pensamento, asseverava que "a natureza da alma é a vontade". Leibnitz pode ser considerado um dos pioneiros na profissão de uma concepção dinâmica da vida psicológica. Ele enfatizou a característica básica da vontade e sustentou que o propósito e a atividade constituem a base da vida mental (Quod non agit non existit). Mais tarde, as concepções voluntaristas foram aceitas e expostas por filósofos tais como Fichte, Schelling, Von Hartmann e Nietzsche. Mas suas muito amplas concepções da "vontade" incluíam toda espécie de "volição", bem como uma "vontade inconsciente", não reconhecendo, portanto, a característica específica da vontade humana, isto é, a escolha consciente. Na França, diversos filósofos pesquisaram a vontade. Notabilizou-se entre eles Maine de Biran, segundo o qual a vontade se manifesta como um esforço para superar resistências, principalmente as criadas pelo corpo e pelos desejos, e constitui a expressão direta do eu (moi). Outros que reconheceram a primazia da vontade foram Sécretant, Ravaisson e, particularmente, Blondel, que sublinhou seu aspecto dinâmico (ação). Na Polõnia, dois filósofos sustentaram enfaticamente a concepção voluntarista. Um deles, Cieskowski, opunha-se a Descartes e à sua sentença "Penso,logo existo" com a sua "Quero, portanto penso e existo". O outro, W. Lutoslawski, foi o autor de um livro em alemão, Seelenmacltt [O poder da almal, e de um em inglês, The World ot Souls [O Mundo das Almas]. O russo Ouspensky, em seu livro The Fourth Way [O Quarto Cami190
nho], acentua a importância da vontade e dá instruções para o seu treinamento. Igualmente importante foi a contribuição de Séren Kierkegaard. Ao longo de uma_linha-existencialistLsemelhan.te situa-se o conceito de vontade de Heidegger, competentemente descrito por J. Macquarrie , em sua colaboração em Concepts of willing, "Will and Existence" [Conceitos de Querer, "Vontade e Existência "l. Em acentuado contraste com essas várias concepções voluntaristas, não só a moderna psicologia científica em geral se absteve de tratar do problema da vontade, mas grande número de psicólogos até negaram sua existéncial Este fato surpreendente pode ser atribuído a várias causas. Uma é o predomínio de uma concepção tacanha do método científico, que tem sido identificado com técnicas quantitativas objetivas (medições, estatísticas etc.), tais como as utilizadas nas ciências naturais. Como resultado, a vontade passou a ser considerada um assunto não suscetível de investigação científica. Essa atitude contribuiu para a ampla aceitação do ponto de vista estritamente determinista assumido pelo behaviorismo e pela psicanálise freudiana. Outra causa da negação da existência da vontade é a reação às concepções, puramente teóricas, com freqüência, metafísicas da vontade, preferida por filósofos e teólogos, e às conseqüentes discussões intermináveis sobre o "livre-arbítrio". A terceira é a reação contra a concepção equívoca da von tade aceita por moralistas e educadores do século XVIII que a consideravam uma função repressiva e coercitiva, sistematicamante oposta e adversa aos impulsos naturais do ser humano. Além disso, há o fato da existência de uma conexão íntima entre a vontade e o ego. Até tempos bem recentes, a psicologia científica vinha concedendo uma atenção apenas limitada ao estudo do ego. E, conseqüentemente, a vontade passou a ser desconsiderada. O fato de que, para os psicólogos "acadêmicos", a questão da vontade se afigurou ao mesmo tempo intrincada e constrangedora foi expresso de modo inconscientemente humorístico na seguinte declaração do Dictionary of Psychological and Psychoanalytic Terms[Dicionário de Termos. de Psicologia e Psicanálise] de H. B. e A. C. English, trabalho compilado com louvável precisão e objetividade: ... a psicologia popular tem uma doutrina bastante completa acerca da vontade e da atividade voluntária. A psicologia clentíflca mal chega ao ponto de definir como os termos devem ser utilizados. f. provável que bom número
191
I
, de séries de fatos absolutamente distintos tenham sido reunidos sob um só termo. Todavia, aparentemente, não é possível prescindir do conceito de uma classe de comportamentos que devem ser classificados como voluntários e que diferem de outros comportamentos que são definidos de várias maneiras incorretamente. Apesar de não ser fácil dizer como, o movimento voluntário reaJmente parece ser crnpiricamcnte diferente do movimento involuntário .
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I
S. Hitner observou, numa declaração mais drástica: "Embora, por motivos diferentes, a psicologia e a teologia tenham se ocupado de questões que tornaram o conceito da vontade desnecessário e até afrontoso ... é chegado o tempo de reconsiderar se, como dizem que Mark Twain dizia sobre as notícias de sua própria morte, 'o desaparecimento da von tade não foi exagerado'." A atual confusão e diversidade de opiniões referentes à vontade pode ser atribuída a diversos fatores. Muitas pessoas vinham lhe atribuindo um significado demasiado amplo e geral, nele incluindo até uma "vontade inconsciente", embora a percepção clara e a escolha deliberada de um objetivo ou propósito a ser atingido seja característica essencial da vontade humana. Além disso, diversos escritores têm tratado da questão de modo descuidado e popular, dando ênfase apenas à "força" da vontade e fazendo exageradas afirmações sobre suas maravilhas. Adicionalmente, outros autores usaram a palavra "vontade" quando na realidade se referiam a outras funções psicológicas. Dois exemplos podem servir de ilustração: P. E. Levy, em seu livro L 'Education rationnelle de Ia volonté [A Educação Racional da Vontade J, limita-se quase que inteiramente a falar sobre a técnica da sugestão. Duchâtel e WarcoUier enfatizam apenas o poder da imaginação em Les Miracles de Ia volonté [Os Milagres da Vontade). O Dr. W. H. Sheldon, em Psychology and the Promethean Will [Psicologia e a Vontade Promotéicas, expõe habilmente a natureza e o significado do conflito, mas menciona a vontade apenas incidentalmente e de passagem. Por outro lado, alguns autores trataram da vontade sem de fato lhe dar esse nome; neste caso está o excelente livro de Mathurin, Self-Knowledge and Se/i-Discipline [Autocon.hecimento e Au todisciplina J. Embora não se possa dizer que a moderna psicologia acadêmica deixou de tomar conhecimento da vontade, deve-se assinalar que a maioria dos que lhe deram atenção, pelos menos parcial, esqueceram-se de reconhecer a central importância de sua posição na vida psíquica do ser humano.
192
Wundt, por exemplo, é considerado "voluntarista ", mas sua concepção da vontade é limitada e unilateral. Ele a reduz a uma série de processos emocionais. A previsão do fim a ser atingido é por ele omitida como nãoessencial. William James, em diferentes períodos de sua atividade científica, apresen tou contribuição valiosa à psicologia da von tade, reconhecendo plenamente a realidade e a importância da função de querer. Seu livro Principies of Psychology [Principios da Psicologia) contém uma análise dos vários tipos de tomadas de decisão que enfatizam o elemento motor, ou impulso das representações e imagens mentais. Ele se refere também ao "poder da atenção volun tãria", evidenciando a importância do estágio de afirmação, do "fiat" , embora não formule um conceito coerente e abrangente da vontade. A liberdade da vontade, conclui ele, é um mistério; mas o "ponto de vista de terrninista jamais conseguirá uma prova objetiva"; e assevera: "Por mim, fico com os que admitem o 'livre-arb ítrio'." E declarou também: "Darei mais um passo à frente com minha vontade, não só agindo por meio dela, mas acreditando nela, acreditando na minha realidade individual e no meu poder criador." Edouard Claparéde , psicólogo suíço, admitia que um ato, para ser voluntário, deve ser intencional e envolver uma escolha e uma preparação para o futuro. Mas afirmava que "todo ato voluntário é a expressão de um conflito, de uma luta ... e que a função da vontade é precisamente a de resolver esse conflito". Esta última declaração, todavia, não é compatível com o fato de que alguns atos voluntários são isentos de esforço; por exemplo, os atos aos quais o ego, de boa vontade, dá seu assentimento a um ímpeto ou impulso, por ele considerados justificados e bons. Além disso, a direção da execução, que é o último estágio do ato de vontade, habitualmente não provoca conflito, visto constituir-se fundamentalmente da supervisão de atividades executadas por outras funções psicológicas. Outro psicólogo suíço, Jean Piaget, também sustenta que o querer pressupõe sempre um conflito de tendências, mas sua análise do processo do querer não inclui um reconhecimento de sua natureza específica, que ele reduz a uma interação entre a cognição e o afeto. Os vários defensores da psicologia profunda sustentam vários pontos de vista divergentes e diversos sobre as funções da vontade. Freud e os psicanalistas "ortodoxos" desconsideram e até chegam a negar a existência da vontade, com base em sua filosofia determinista. (O determinismo deve ser considerado filosofia, pois carece de prova científica, conforme decla193
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I
I
I , I b
rou William James e como o demonstraram cada vez mais os desenvolvimentos da ciência moderna.) Jung, na parte final de seu livro Psychological Types [Tipos Psicológicos], escreve: "Considero von tade a soma das energias psíquicas clispon íveis à consciência. Segundo esta concepção, o processo da vontade seria um processo energético, desfechado pela motivação consciente. Um processo psíquico, portanto, conclicionado pela motivação inconsciente, eu não incluiria sob o conceito de vontade." Todavia, ainda que reconhecesse e até enfatizasse a realidade e a função dinâmica dos objetivos, alvos e propósitos, ele não investigou os vários aspectos e estágios da von tade e tampouco incluiu o uso da von ta de em seus processos terapêu ticos. Alfred Adler considerava a vontade principalmente como o empenho inconsciente no sentido de superar inferioridades físicas e psicológicas, como se tivesse uma "função compcnsadora". O psicólogo francês, Edgar Forti, discípulo independente da "psicologia individual" de Adler, estudou pormenorizadamente a conexão entre a doutrina e q prática de Adler e a "psicologia da vontade", bem como a que existe entre os pontos de vista de Adler e a "caracteriologia", conce bida como investigação e classificação de diferentes tendências e comportamentos. Charles Baudoin, que fundou e dirigiu durante muitos anos o Institutut de Psychologie et de Psychothérapie de Genebra, analisou com grande penetração a função do querer, concedendo importância primorclial ao estágio da decisão, que, em sua opinião, envolve sacrifício e renúncia. Além disso, ele observa que a palavra "decisão" é derivada do verbo latino caedere, que significa "cortar". Não estendeu, todavia, para além deste ponto suas sutis e valiosas investigações sobre o conceito da vontade; nem empregou técnicas do ato de vontade em seu trabalho de psicoterapeuta. Entre os adeptos da psicologia profunda, Otto Rank é dos que concede especial realce à função da vontade, tendo elaborado um sistema teórico que nela se baseia. A natureza complicada de sua teoria não permite que se faça aqui uma breve descrição do mesmo. Rank, além disso, costumava mudar de parecer a ponto de adotar opiniões contraditórias durante a elaboração de sua teoria. Ira Progoff, em sua engenhosa exposição das idéias de Rank, afirma: "Ele se interessava principalmente em dar realce ao grau de liberdade que o indivíduo possui, contrastando-o com o deterrninismo biológico implícito na teoria dos instintos de Freud." "O ser humano", escreve Rank , "expcrimen ta a sua individualidade em termos de sua vontade, e isto significa que sua existência pessoal identifica-se com sua 194
capacidade de expressar sua vontade no mundo. Mas Rank, que fora fortemente influenciado por Nietzsche , não distinguia entre instinto, desejo e vontade, ou entre a vontade agressiva, egoísta do ego e a vontade "como principal instrumento de experiência criativa e religiosa" - a "vontade de imortalidade". Acresce que ele fazia uma acentuada diferença entre suas teorias sobre a vontade e o uso que fazia da vontade consciente como um agente terapêutico, sustentando que as duas sempre devem ser separadas. Simultaneamente a esses desenvolvimentos, ou anteriores a eles, em sua maioria, vários pesquisadores dedicavam-se à investigação experimental sobre o modo pelo qual a função da vontade opera. Narciss Ach e Albert Michotte podem ser considerados como pioneiros neste campo, seguidos por Aveling, l3artlett e outros. Estes são mencionados por Aveling em Personality and Will (Personalidade e Vontade), livro no qual ele resume e examina habilmente seus métodos e resultados. A abordagem deles era experimental, baseada nas medições de tempo de reação de certo número de parârnetros elétricos do organismo e em outras variáveis psicológicas. Muitos resultados interessantes foram observados, entre os quais a importância da atenção (o que confirma a intuição de Williarn James) e a distinção entre vontade, volição e esforço. "Entre o verdadeiro querer e o esforçar-se, ou o levar a efeito um ato que se quer, há diferença no tipo de processo mental ... A volição que se segue ao ato, embora difícil, pode ser absolutamente isenta de esforço. A vontade em si não é esforço, embora possa dar início a um esforço, e esforço de uma espécie extraordinária." Ao mesmo tempo que realizavam seus experimentos, Ach e Aveling fizeram profundas análises introspectivas de várias fases do ato da vontade. Suas descrições são demasiado longas para relatá-Ias aqui; mencionarei apenas que uma das mais importantes fases por eles descritas é a experiência de um elemento "real" ou "vivido" expresso como "eu realmente quero". Segundo Ach , "tal experiência é essencial para todas as decisões voluntárias ... quando não experimentado ... o processo consciente não é voluntário". Outras investigações experimentais, levadas a efeito por Webb e Lankes, demonstram a diferença entre perseverança, persistência e vontade. Mas esta linha inicial de investigações experimentais não foi continuada com energia 1. Só nos úl timos anos é que a questão da vontade 1. Recentemente, têm sido levadas a efeito importantes séries de pesquisas que evidenciam experimentalmente a ação da vontade na produção de ondas elétricas espe-
195
II I
\
11, atraiu a atenção
de alguns psicólogos,
psicanalistas
e de outros
autores.
Nesse contexto,
L. I-l. Faerber publicou um livro polêmico e provocativo: The Ways 01 lhe Will [Os Caminhos da Vontade]. Como postulado, apresenta os "dois
domínios
da vontade":
cia, é, portanto,
inconsciente;
conscientemente
dirigido
não se justifique
considerar
numa certa direção" Faerber nota
de uma
o autor
o primeiro, o segundo,
rumo
psicológicos
"vontade"
domínio),
como
que "tendemos
nossos sistemas
vivenciado
a um objetivo.
como
(primeiro
"vontade,
não sendo questão
segundo
o inconsciente
responsável"
a introduzir sob outros
como o presente,
Embora,
a clara e explícita
motor
de experiêné
"movimento concepção
é válida.
clandestinamente
Recentemente
parece, de
Sem ela,
a vontade
em
nomes".
Uma importante contribuição com respeito posição central da vontade na estrutura do ser humano e na psicoterapia foi apresentada por Wolfgang Kretschrner. Seguindo a direção do psiquiatra Ernst Kretscluner - o qual, em suas investigações sobre as várias estruturas biológicas do homem e sobre a fisiologia do cérebro, recomenda a terapia ocupacional a seus pacientes mentalmente perturbados - ele afirma que a vontade é a base, o "alicerce" do conhecimento, visto que, como tudo o mais no hoã
mem, ela pressupõe Kretschmer considera funcionamento
(dynamis)
e exige energia os "arquétipos"
e chama
a atenção
e movimento. Wolfgang como formas básicas da vontade em
para o relacionamento
entre
conheci-
mento e vontade. Segundo ele, a principal tarefa da psicoterapia é restabelecer a união entre essas duas faculdades, criando assim a síntese da perso-
I
da questão transpessoal. mesmo
dois progressos
da vontade
foi o rápido Outro
tempo,
meio
de um modo
crescimento
para o tratamento
mais compreensivo
científico.
da semântica
e aberta
e produtivo.
existencial,
de um conceito
do método
das idéias original
caminho
da psicologia
mais requintado
da análise
abriram
foi a emergência
ção veio à luz através por
Um
human ística e
mais amplo
e, ao
Essa nova concep-
'geral e, mais diretamente,
do método
científico
de A. H.
Maslow.
e louvor
o conceito
e a prática da
de significação"
como um
um importante e valioso livro de Rollo May, Love and Will [Amor e Vontade]. O autor reconhece com clareza e faz enérgicos comentários sobre a atual falta da capacidade de querer que se verifica na humanidade e sobre a necessidade de redescobrir o uso da vontade. Escreve ele: "A base herdada de nossa capacidade de querer e de-
foi editado
cidir foi irrevogavelmente
destruída.
De modo irônico,
senão trágico, justa-
mente nesta época portentosa, em que o poder tem crescido de um modo tão tremendo e as decisões se tornaram tão necessárias e fatídicas, é que tomamos consciência de que nos falta qualquer base nova para a vontade". Nessa análise xõcs entre
da função
do querer é que May, habilmente,
desejo e vontade,
das quais emergem
algumas
assinala as conedas características
essenciais da vontade. Em sua opinião, porém, a base ou raiz da vontade é aquilo a que ele dá o nome de "intencionalidade". "Na experiência humana, a intencionalidade está subjacente à decisão e à vontade. Ela não só é anterior vontade e à decisão, como torna-as possíveis". Essa mesma afiro à
mação foi formulada no Capítulo 12 deste livro. A intencionalidadc é parte essencial do primeiro estágio do ato da vontade. Deve preceder e possibilitar todos
os estágios
É inerente
subseqüentes.
ao objetivo,
motivação, envolvendo avaliação e significado, aspectos do primeiro estágio do "querer".
ao propósito
os quais,
apreciação
sobre
e à
como vimos, são a íntima
conexão
entre intencionalidade e identidade. "Na intencionalidade e na vontade é que o ser humano vivencia a sua identidade. O 'eu' é o 'eu' de 'eu posso' ... O que acontece quero
-
essencial
na experiência
eu sou'.
O 'eu posso'
da identidade."
Cieskowsky
humana
é 'eu concebo
e o 'eu quero'
O que está de pleno acordo
e de Aveling, já mencionadas.
Outra
- eu posso - eu
constituem
a experiência
com as afirmações
importante
de
contribuição
de RoUo May é seu capítulo sobre a "Relação entre o Amor e a Vontade". "A tarefa do homem", escreve ele, "é unir amor e vontade. Eles não são unidos
c íficas no cérebro, ao mesmo tempo que produzem efeitos fisiológicos e psicológicos. Tais pesquisas têm sido realizadas principalmente nos Estados Unidos c no Japão. Deve-se mencionar particularmente a obra de Elmer E. Green, Diretor do Laboratório Psicofisiológico da fundação Me nningcr , C de sua esposa, Alyce M. Grcen. Eles resumiram suas descobertas num artigo: "Voluntary Con trol of lntcrnal States: Psychological and Physiological ", no Joumal of Transpersonal Psychology , 1970, nC?1.
196
menção
RoUo May faz uma importante
nalidade. Recentemente, deles
merecem
logoterapia de Frankl. Ele dá ênfase à "busca Impulso, uma necessidade fundamental.
pelo
crescimento
senvolvimento a maturidade,
biológico,
mas devem compartilhar
de nosso de-
consciente ... a relação entre amor e vontade ... tende para a integração, a perfeição". Rollo May associa igualmente a
von tade com "erigajamen to" e "desvelo". Mas neste pon to faz-se necessária uma reserva, pois existe a "vontade egoísta", a qual poderia ser considerada como
o oposto
de "desvelo"
e da "comunhão
de consciências"
que -
197
I I, I ,I
I i
I [
I
segundo Rollo May - caracteriza a von tade mais elevada. No livro de May há ainda um ponto que requer certas restrições; é a grande ênfase que ele dá ao "dernon íaco ", sem distinguir claramen te entre _~,!as.várias r.9.~as. O daimon de Sócrates, por exemplo, está mais próximo do Eu Transpessoal do que das formas obscuras e instintivas das forças "demoníacas". Se a psicologia transpessoal não tratou ainda especificamente da questão da vontade, Maslow já fez uma breve mas deliberada referência ao uso deliberado da vontade no sentido transpessoal. "Em princípio é possível, por meio de uma compreensão adequada ... ver a voluntariedade sob o aspecto da eternidade, ver o sagrado e simbólico nos casos pessoais e através deles, do aqui e do agora." A psicossíntese - na qual se combinam conceitos e métodos ernpíricos, existenciais, humanísticos e transpessoais - concede à vontade uma posição preeminen te, considerando-a um elemento central e a expressão díreta do "eu", ou do self. Á psícossfntese , conforme sua abordagem empírica, dá mais atenção, não ao "conceito" da vontade, mas à análise do "ato de querer" em seus vários estágios, e aos aspectos específicos e às qualidades da vontade, bem como às técnicas práticas para o desenvolvimento e o uso ótimo da função da vontade. A quantidade considerável de pesquisas e estudos sobre a vontade - examinados às pressas neste artigo - não é incompatível com a declaração anterior sobre o desapreço e até a negação da vontade pelos psicólogos. As mencionadas pesquisas têm sido, de modo geral, ignoradas pela principal corrente moderna da psicologia acadêmica e, de qualquer modo, não lhe produziram o menor impacto. Pode-se dizer que formaram um ribeirão independente que pennaneceu dissociado da corrente principal. Dois livros recentes oferecem um nítido quadro da confusão, dos equívocos e do choque de opiniões que ainda cercam a questão da vontade. Num deles, The Concept of Willing [O Conceito da Vontade], alguns psicólogos e teólogos fizeram uma tentativa tão recomendável quanto importante no sentido de definir o conceito. Embora a maioria das colaborações apresentem informações e pontos de vista interessantes, o editor do livro, Dr. James N. Lapsley, admite honestamente em seu lúcido e objetivo sumário (reveladoramente intitulado "O Conceito da Vontade - Vive?") que, "assim como não havia consenso sobre o modo de atingir os fenômenos da função do querer, também não houve nenhum consenso com respeito ãquilo que se encontra quando neles se chega". Pruyser termina sua engenhosa pesquisa histórica, na mesma coleção, chamando a atenção para as impropriedades
198
das concepções da vontade, tanto passadas quanto presentes, para chegar depois à conclusão de que "o problema da vontade continua a ser um desafio difícil para psicólogos, teólogos, filósofos, moralistas e todos os que se in teressam pela von tade". O outro livro, Quest-ce que c'est vouloir [O que é querer?], inclui uma série de palestras de um grupo de médicos e teólogos pronunciadas durante um congresso em Bonneval, na França, na clínica psicológica do Dr. Henry Ey. Ele apresenta pontos de vista variados, divergentes e até contraditórios, que vão desde Santo Tomás de Aquino com seu conceito tradicional de vontade, até a posição extrema professada pelo DI. S. Leclair, o qual confessa sua perplexidade sobre o que se há de fazer com o conceito de vontade, que realmente constitui um problema ainda "não formulado no campo analítico". Ele chega ao ponto de negar o conceito da libido, de. Freud, como uma energia; relegando-a ao status de expressão metafísica: não admira que, no sumário introdutório às várias teses, o Pe, L. Beirnaert admita que eles, em vez de resolver, criam problemas. Além de nove teses teóricas, o livro contém dois preciosos ensaios sobre os métodos para treinamento da vontade. Este é um assunto a que muitos educadores (Payot, Eyrnieu, Dwelshauvers etc.) se têm dedicado. O que de mais notável se conclui desses estudos históricos é que as tentativas de solucionar teoricamente o problema da vontade conduziram não só à carência de qualquer conclusão como também à contradição, à confusão e à perplexidade. Sendo assim, a saída do impasse deve ser buscada noutra direção, ou melhor, numa direção que possa levar a resultados práticos e úteis. Esse caminho existe; seu ponto de partida é a experiência direta, existencial de querer, livre de noções preconcebidas; prossegue descrevendo os dados que conseguiu coletar e a instituição de experiências nos vários estágios, características e nos usos da ação de querer. O presente livro foi escrito com o propósito específico de criar referenciais que indiquem essa direção, além de um programa abrangente de pesquisas e aplicações em campo dessa realidade tão desprezada, mas tão importante e essencial à vida humana.
199
II
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I APfNDICE 5 ri) PSICOLOGIA DIFERENCIAL
,L{) ri1
\J' <, O
te:::(
O-
2:
Tipologia
lLJ
Segundo o Dictionary of Psychological and Psychoanalytical Tem1S, a psicologia diferencial é um "ramo da psicologia que investiga todo tipo, quantidade, causa e efeito das diferenças individuais ou de grupo quanto às características psicológicas". Embora a psicologia diferencial possa ser considerada de diversos ângulos, dependendo dos muitos pontos de vista e quadros de referência, é possível distinguir dentro dela três ramos principais:
L Psicologia dos Traços ou Fatores lI. Tipologia Ill. Psicologia dos Individuos
ou Psicologia
~
:J-
u O O lLJ
O -l Q) Q)
Ideográfica.
~
O-
Psicologia dos Traços ou Fatores
:> a::
lLJ CJ)
Esta psicologia consiste no exame analítico dos traços ou elementos característicos que servem para descrever a constituição da pessoa. Na prática, essa abordagem descritiva, objeto de muita pesquisa, revelou-se inadequada como processo de compreensão do ser humano. Em primeiro lugar, a maioria desses traços causa confusão. Gordon Allport declara que a língua inglesa tem quase dezoito mil designações para diferentes formas de comportamento pessoal e que esse número aumenta muito quando aparecem em combinações. Além disso, encontram-se com freqüência traços contraditórios na mesma pessoa. Gordon Allport cita um caso que ilustra claramente esta questão: 200
Consideremos o caso do DI. D., sempre cuidadoso com sua pessoa e com sua escrivaninha, suas notas, resumos e fichas; suas coisas de uso pessoal não só estão sempre em ordem, como cuidadosamente trancadas debaixo de chaves. O Dr , D. é o encarregado da.bibliotecado departamento. Mas não é cuidadoso quanto aos seus deveres: deixa aberta a porta da biblioteca, deixa que se percam os livros e que a poeira se acumule - o que não o perturba. Essa contradição de comportamento significará, acaso, que o Dr. D. carece de aptidões pessoais? De modo algum. Ele possui duas aptidões que se opõem: uma ordeira, outra desordeira. Situações diferentes despertam neleaptidões diferentes. Para levar o assunto ainda mais longe, dir-se-ia que essa dualídade explicase, pelo menos em parte, pelo fato de o De, D. ter uma aptidão (ou:motivação) principal, da qual procedem dois estilos contrastantes. O fato mais notável, com respeito à sua personalidade, é ser ele um egoísta egocêntrico que jamais age no interesse de seu semelhante, mas sempre no próprio. Esse egocentrísmo cardeal (abundantemente comprovado) exige ordem para si mesmo, mas não para os outros.
~
Desde os tempos antigos até hoje têm sido elaborados vãríos sistemas para a classificação dos tipos humanos. Sua descrição e exame ocuparia um livro inteiro e, para serem úteis, deveriam ser seguidos de um exame dos métodos psicossintéticos específicos para cada tipo. Lírnitar-me-eí, aqui, a enumerar os tipos principais. Sua multiplicidade e diversidade refletem-se nas diferentes classificações em que são colocados, desde a binária e ternária até as que incluem grupos maiores, que chegam a doze. Nas classificações binárias, a dicotomia primária e fundamental está entre os tipos "masculino" e "feminino". Correspondem estes a- dois aspectos fundamentais da realidade da vida, chamados pelos chineses Yang e Yin e, pelos indianos, Purusha e Prakriti. Neste contexto, todavia, o autor refere-se apenas a dois tipos psicológicos: o masculino e o feminino, com suas características e qualidades. Eis algumas outras classificações binárias: 1. Nominalista - Realista 2. Classicista - Romântico 3. Filistino - Boêmio 4. Apolíneo - Dionisíaco (Nietzsche) 5. Coração mole - Cabeça dura (Jarnes) 6. Empírico - Racionalista 7. Função primária - Função secundária 8. Ativo - Reflexivo (Gross)
201
lógicas; e, mais ainda, à inclinação de pregar r6tulos em seres humanos. Os que se sentem atraídos por esses "catálogos" quase sempre se condicionam prejudicialmente ou são limitados por eles, enquanto outros se rebelam com razão contra essa catalogação. As impropriedades e limitações resultantes de rígidas e estáticas classificações tipol6gicas têm sido claramente indicadas c criticadas, tanto por Allport como por Maslow. Com essas reservas, as descrições tipológicas baseadas nas diferenças mais fundamentais, e portanto, suscetíveis de, o mais amplamente possível, levar em conta a complexidade e fluidez da vida psicológica do indivíduo podem, se sabiamente empregadas, oferecer urna ajuda substancial para uma compreensão mais profunda e mais exala. Elas requercm, porém, maiores requintes e uma consideração adequada elas diversas dimensões psicológicas. Mais do que tudo, é preciso que sejam sutis e flexíveis, abertas às nuances dos coloridos individuais, às imbricações e interpenctrações. Não devem ser simplistas, nem pretender ser definitivas, mas dar lugar às modificações contínuas e ao ilimitado potencial de crescirnen to de todo indivíduo. Um exemplo de desenvolvimento construtivo é a divisão tipológica fundamental entre introvertido e extrovertido. Que existem pessoas predominantemente introvertidas ou extrovertidas, não há dúvida. Essa distinção pode ajudar na aquisição do conhecimento de um indivíduo à primeira vista, mas só por si é insuficiente. Ao falar em introvcrtidos ou extrovertidos, estamos nos referindo, na verdade, a uma tendência ou direção do interesse vital, o qual, como sustenta Allport, e com razão, é urna disposição do indivíduo. Quando essa disposição ou orien tação do in teresse vital predomina numa pessoa, pode-se dizer dela que é introvertida ou ex troverti da. Como exemplo de introversão, o autor citará lmrnanuel Kant , o filósofo de Kõnigsberg. Kant, que com todo o seu interesse centrado no estudo da mente, da consciência intelectual e de suas leis, chegou ao ponto de preferir jamais deixar sua cidade natal. Tipo ainda mais introvertido era o romancista francês Marcel Proust, cuja in troversão pode ser considerada patológica. Tinha ódio à luz do dia e às atividades humanas comuns e passou a maior parte da vida dentro de um quarto forrado de cortiça, a descrever com grande suti.lcza os processos mentais couscien tes e inconscientes das personagens de seus romances. Os tipos extremamente extrovertidos são representados por grandes homens de ação, sempre orientados para a conquista do inundo exterior.
204
Podemos mencionar Júlio César e Napoleão, e, na esfera da técnica, grandes inventores como Edison e Marconi. Mas um exame mais atento revelará que as coisas não são tão simples. Verifica-se, a princípio, uma diferença importante entre o caráter ativo e o passivo, tanto na extroversão como na introversão. Homens de habilidade fora do comum, tais como os mencionados acima, podem ter sido introvertidos ou extrovertidos ativos. Mas existem os passivos - ou, mais precisamente, os reativos - extrovertidos que apresentam um quadro muito diverso. Sensíveis e impressionáveis, sua atenção é atraída, eu diria monopolizada, por influências externas, às quais são hipersensíveis. A acentuada susceptibilidade do extrovertido passivo tende a aceitar o modo de ver das outras pessoas e a reagir às influências psíquicas delas recebidas. A pessoa hipnotizada apresenta um caso extremo de extroversão passiva. Aliás, todos exibimos um estado temporário de extroversão passiva ao ler um jornal ou um livro, ou ao ver um filme ou ao assistir à televisão. Um excessivo in teresse pelo próprio estado físico e psicológico é um traço de introversão passiva, que pode levar a uma excessiva solicitude pelas condições físicas, ao medo da enfermidade e à hipocondria , A fase depressiva da psicose rnan íaco-depressiva é caracterizada por uma introversão passiva mórbida, contrastando com a fase maníaca, na qual a pessoa exibe uma excessiva e mórbida extroversão. Deixando de lado casos extremos e voltando a atenção para a grande maioria das pessoas, verificamos que a disposição ou tendência para a extroversão ou in troversão é, com freqüência, pouco marcan te; e que esses estados se alternam na mesma pessoa, como resposta a diferentes condições. Antes de tudo, existe a questão da idade. No caso de um nenê nos primeiros anos de vida, pode-se falar em introversão, no sentido de estar a criança inteiramente absorvida nas sensações do próprio corpo. Pouco a pouco, ela volta a atenção para o mundo exterior e para outros seres, passando assim para uma fase de crescente extroversão, que culmina na infância e na puberdade, cujo ativisrno, auto-afirmação e atitude rebelde para com os demais então se manifestam. Com o despertar dos novos e não raros conllitantes elementos da adolescência, a atenção se volta mais uma vez para o interior; o adolescente é invadido por sentimentos, ímpetos e problemas pessoais. Passada a crise da adolescência, o indivíduo jovem e, mais tarde, a pessoa amadurecida tende para a cxtroversão, para a auto-afirmação no mundo exterior e em relação às outras pessoas ou até, com freqüência, con tra elas. 205
{
!
.i
I,
Por outro
lado,
nos tempos
da maturidade
e da velhice,
verifica-se
do na composição
um retorno à introversão. O interesse pelo mundo exterior e pelas suas realizações declina gradualmente, e é substituído, segundo as circunstâncias, por uma retirada para o egocentrismo e para a preocupação saúde física, ou por um modo de ver sereno e desligado do mundo, gado a um interesse pelas realidades espirituais e por seus valores.
com a conju-
Mas outras diferenças devem ser levadas em consideração. A disposição para a introversão ou a extroversão combinam-se em outras variações
individuais:
uma
das mais importantes
ou outra das principais mente,
funções
Jung classificava
é a predominância
psicológicas.
Conforme
esse tipos segundo
mencionei
as quatro funções fundamentais do homem, sensorial, o tipo sentimental, o tipo reflexivo
de seus olhos contemplaria
geológica
do solo e nas conseqüências
observador
um aspecto a natureza
discerniria
da radiante
glória
onde a criação
da manifestação
se manifesta,
alegria como que de êxtase. Se cada um destes "observadores"
de uma
que dela pode-
na cena que se desenrola
registrasse
é provável que, nas quatro versões, houvesse comum. Outra pessoa que as lesse mal poderia
diante
divina. Ele
entregando-se
a uma
no papel suas emoções,
muito poucas palavras em acredi tar que todas descre-
viam o mesmo "objeto". A compreensão do fato de que seres humanos, que externamente vivem lado a lado, na realidade habitam mundos diversos tem grande valor
anterior-
aquilo que considerava
riam advir. O quarto
como
distinguindo assim o tipo e o tipo intuitivo. Quando
psicológico
e educacional.
Ele revela a verdadeira
causa de muita incem-
um artista: "Sou uma pessoa para quem o mundo exterior existe." Quando predomina a função de sentir, a pessoa será descrita como alguém que vive no mundo das emoções e dos sentimentos, de relacionamentos sentimentais, atrações, amizades e aversões. O tipo intelectual, ou mental, é
preensão, de muita crítica rancorosa e dos antagonismos que complicam a vida e suscitam sofrimentos incalculáveis e desnecessários. Outra distinção importante manifesta-se tanto na introversão como na extroversão e em várias funções psicológicas. Existem muitas pessoas de quem jamais se poderia dizer que possuem uma única habilidade predominante. Uma pessoa pode ter duas tendências, manifestando extroversão num nivel e introversão no outro. Por exemplo: poderá ser extrovertida no nível dos sentimentos e emoções e introvertida no nível mental, e vice-
facilmente reconhecível casos em que predomina
versa. Isso também é óbvio no caso dos grupos humanos. Pode-se dizer, portanto, que os ingleses são, em geral, extrovertidos no nível físico (ativi-
predomina
a função
sensorial,
o interesse
dirigir-se-á
talvez para as sensa-
ções corporais ou para as impressões sensoriais que nos chegam do mundo exterior. Essa disposição caracteriza-se perfeitamente pelo que observou
e dispensa comentários. Menos comuns são os a função intuitiva, e o interessante é que esses
tipos estão aumen tando. ~ importante compreender
dade prática) quão profundamente
os indivíduos
per-
tencentes a esses vários tipos diferem uns dos outros; pode-se dizer que eles virtualmente moram em mundos diferentes que raramente entram em contato. Um exemplo simples será suficiente para esclarecer este fato. Imaginemos que quatro indivíduos, cada qual pertencente a um tipo diverso, contemplam uma paisagem. O interesse do tipo sensorial-prático focalizar-se-á nas áreas dos campos que tem diante de si, na sua produtividade e no valor da terra. O tipo sentimental pode estar mais atento ao fato de que essa cena de paz lhe evoca uma sensação de serenidade, de harmonia, de calma
e de suavidade.
nhas e cores,
Se for um artista,
na luz e na sombra,
notando
concentrará os diferentes
a atenção
nas li-
tons de verde,
o
contraste entre as manchas escuras dos grupos de árvores e os matizes delicados dos prados. Os valores estéticos da cena constituiriam seu maior prazer e interesse. O terceiro membro deste quarteto estaria pensando nos aspectos naturais da paisagem, no clima, no tipo de vegetação, interessa-
206
e introvertidos
Podemos trastantes
no nível da emoção
encon trar exemplos
ligadas à religião.
em personalidades
na de Siena e São Domingos, introversão
mística
que os induziu a exercer rina pode,
por exemplo,
com uma extroversão
a fundar
uma influência
combinavam
pois, ser classificada
na história
como
e tendências
con-
Santa Teresa, Santa Catari-
prática,
grandes organizações marcante
e do sentimento.
de tais disposições
uma pronunciada
que deles fez "ativistas",
e, no caso de Santa Catarina, de seu tempo.
introvertida
Santa Cata-
no nível emocional
intuitiva e extrovertida no nível físico. _. O in teresse vi tal pode seguir, além destas, duas ou tras direções
e
opos-
tas, que é preciso reconhecer e considerar devidamente. Uma delas leva "para baixo", e pode ser chamada de infraversão , enquanto a outra, que leva "para o alto", chamaremos de supraversão . Na infraversão, o objetivo é sondar
o inconsciente
em seus aspectos
inferiores.
Esta é a grande preo-
cupação da psicanálise, e já foi comparada à "descida aos infernos", ou a um mergulho em águas profundas. Na supraversão, ao contrário, o inte-
207
I
I
resse vital e a investigação
!:
elevados do psiquismo, supraversão é comparável
psicológica
são dirigidos
ou melhor, para ao alpinismo.
para os aspectos
mais
e o sel], A
o supraconsciente
O que ficou dito não deve ser interpretado como uma depreciação da infraversâo ou uma supervalorização da supraversão. Aqui também ocorrem manifestações de valor diferente. Há uma infraversão de alta qualidade,
a investigação
e exploração
científica
do inconsciente
inferior,
que poderia ser chamada de geologia ou arqueologia psicológica. Porém, uma excessiva supraversão pode ser utilizada para fugir dos problemas da vida. O objetivo psicossintético é adquirir a capacidade de dirigir as energias à vontade - isto é, através da função dire tiva da vontade - para qual-
quer direção
e segundo
modos,
propósitos,
intenções,
Eis o que se pode chamar
gências específicas
necessidades
e exi-
de poliversdo .
Há, finalmente, uma diferença básica, ou antes um contraste, entre duas direções do interesse vital no tempo: entre a orientação voltada para ou progressista - e a orientação voltada para o passado, ou retroversiva. Essa oposição entre progressão e regressão está em atividade contínua no indivíduo, e a regressão tem sido apontada com razão, como o futuro
-
causa de muitas tivamente,
perturbações
o conflito
psicológicas
e de sintomas
entre os que pertencem
neuróticos.
a esses tipos opostos
Cole- o ino-
vador e revolucionário, de um lado, e o conservador, apegado ao passado, de outro - chegou a um nível agudo da luta crucial que permeia atualmen te o cenário mundial.
o Indivíduo
Único - Psicologia
Ideográfica
Por mais útil que seja a tipologia
I
I, I
I,
para compreender
e tratar
com os
diferentes seres humanos, ela não chega a apresentar um panorama completo ou um relato abrangente com respeito a um individuo . Todo indivíduo
constitui
uma
combinação
mesmo as combinações dedos da mão diferem
única
de fatores
diversos
sem conta.
Se
en tre elemen tos tão simples como as linhas dos entre si, de tal modo que a impressão digital é su-
ficiente para identificar as pessoas, torna-se meridianamente claro que as combinações do alto número de características biológicas e psicológicas de cada ser humano, em particular, faz.em de nós indivíduos extremamente complexos, diferentes e genuinamente únicos. Mais ainda: esses fatores incontáveis, e suas combinações, ge de ser estáticos
208
e fixos, como
acontece
com as impressões
estão londigitais. Eles
se modificam constantemente, e ao crescimento do írrdivíduo
tanto devido ao desenvolvimento interno quanto ao impacto constante e à absorção
de influências ex ternas e de ou tros seres humanos. Por mais importante que seja, a compreensão desse fato não nos deve levar a crer que não haja a esperança de estabelecer uma "psicologia científica do indivíduo". Essa psicologia é possível e está no início Levando em consideração todas as con tribuições que poderiam descritiva" -
de seu desenvolvimento. mencionadas até aqui -
ser encaixadas numa divisão, sob o termo de "psicologia o método principal é o da psicologia compreensiva (verste-
hende, em alemão). O meio de atingir tal compreensão ou, por assim dizer, a compreensão que vem de dentro, tem sido indicado de diferentes modos, e existe ainda muita confusão quanto à terminologia. Allport realizou um sofisticado empatia,
estudo
simpatia,
e assim por diante.
crítico
dos métodos
identificação, Não poderei
indicados
intuição, discutir
sob termos
conhecimento,
tais como
participação,
aqui todos eles, mas tentarei
escla-
recer algumas questões básicas. O contraste entre "adquirir conhecimento" e "saber" foi assinalado, com o talento de costume, por William Jarnes, na seguinte anedota citada por Allport. Dois pescadores do Maine estavam batendo um papo. Falavam sobre um professor universitário que lá residia durante o verão. Dizia um deles ao companheiro: "Ele sabe tudo". E o outro resmungou a seguinte resposta: "Sim, mas não compreende nada." O segundo pescador, na verdade, dizia que ao professor não faltavam conhecimen tos sobre o mundo, mas que não os conseguira assimilar. "WiILiam Jarnes", afirma Allport,. "do mesmo modo que o pescador, chamou a atenção para a diferença entre dois tipos de cognição: saber e estar ciente de. Pode-se saber muita coisa sobre Pedro e ainda assim não 'compreender' o padrão de sua vida. "Conhecer modo,
pensar
suas premissas.
realmente dentro
uma pessoa significa
de seu quadro
O conhecimento
analisou
a simpatia,
ver as coisas a seu
raciocinar
nos leva a compreender
do outro possui uma consistência racional, desconjuntada que possa nos parecer." Scheler
poder
de referências,
a partir
de
que a existência
de seu ponto
sob seus vários aspectos,
de vista,
por
em seu livro
The Nature of Sympathy [A Natureza da Simpatia], e W. A. SadJer fez dele um resumo em Existence and Lave [Existência e Amor]. Sadler cita longamenle coração roso".
com
Binswanger a cabeça,
e conclui chamada
que tal compreensão por Binswanger
requer
a união
de "pensamento
do
amo-
209
Portanto, uma ciência holística e sintética do ser humano deve levar adequadamente em conta o elemento básico comum existente em todos os indivíduos e as diferenças que fazem de cada um deles um indivíduo único. Isso foi tão bem expresso por Maslow que o autor o citará por extenso: Pode-se até transcender as diferenças individuais num sentido muito específico. A atitude mais elevada para com as diferenças individuais é ter consciência delas, aceitá-Ias, mas também ter prazer nelas e ser, afinal, profundamente grato por existirem, pois constituem um belo exemplo de engenhosidade do cosmos - reconhecer seu valor e admirar as diferenças individuais. Mas também - e absolutamente diferente dessa suprema gratidão pelas diferenças individuais - há uma outra atitude: a de nos elevar acima delas pelo reconhecimento de sua essencial universalidade e do fato de se pertencerem e de se identificarem mutuamente, nos identificar com toda espécie de pessoas quanto a sermos ou pertencermos à mesma espécie, no sentido de que todos somos irmãos e irmãs. Então as diferenças individuais e mesmo as que existem entre os sexos terão sido transcendidas de modo muito especial. Isto é, em detenninadas ocasiões podemos ter uma acentuada consciência das diferenças entre os indivíduos; mas em outras, podemos pôr de lado as diferenças individuais como relativamente sem importância nesse momento, em contraste com a dimensão universal e as semelhanças entre os seres humanos.
Grande parte do que foi dito até aqui pertence ao campo da assim chamada "psicologia normal" ou (veja o diagrama da pág. 15) área "inferior" e "média" (consciente e inconsciente) da personalidade humana. Mas existe também o nível ou domínio do supraconsciente, do SeI! Transpessoal. Aqui também, e num sentido mais essencial, encontramos a paradoxal união ou in tegração e coexistência do indivíduo e do universal. Este assunto foi estudado no Capítulo 10, onde foi posto em evidência nos diagramas da pág. 103. O SeI! Transpessoal de cada pessoa está em íntima união com o Sei! Transpessoal de todos os outros indivíduos, embora eles possam não ter consciência disto. Todos os Selves Transpessoais podem ser considerados como "pontos" no interior do Sei! Universal. Uma interessante corroboração deste fato nos é oferecido .pelo psicólogo francês Gaston Berger: à
I '
porque não só evoca algumas modificações objetivas, mas indica urna consciência que vivencia tais sentimentos. Os relacionamentos existentes entre os seres humanos, e sobre os quais nos referimos no que toca às situações, também apontam para subjetividades transcendentais. A descoberta desse tema transcendental é o momento conclusivo da reflexão
psicológica.
Pode-se descobrir
a realidade
transccndental
por diferentes
meios. Descartes consegue-o e usa o seu "cogito", num enérgico esforço para formular a proposição a cujo respeito, segundo ele, seria impossível lançar dúvidas. Husserl faz o mesmo median te o que ele chama de "redução fenorncnológica". "A verdade é uma, mas todo filósofo a busca por seus próprios caminhos."
Deixem-me concluir com este penetrante pensamento de Berger: Serei capaz de responder agora à pergunta que formulei no início do meu estudo? Posso dizer quem sou? Nada seria menos seguro. Aprendi a identificar na personalidade níveis mais ou menos profundos. Levei as propriedades de volta aos seus princ ípios. Mas os níveis cobrem um centro e as propriedades têm um dono. Levei minhas investigações tão longe quanto possível, sem jamais poder atingir algo mais que aquilo que me é próprio. Reconhecê-Ias como minhas significa diferenciar-me delas. Eu certamente não sou este corpo através do qual me vêm as sensações e que eu uso para agir, nem tampouco essas tendências, boas ou más, que se manifestam através dele. Posso mesmo ver, à luz da experiência, que eu não posso ser um corpo, ou um agregado de corpos, ou uma característica derivada de certa forma particular de corpos. As hipóteses que ora refu to não são proposições falsas, mas afirmações sem significado. Todavia, mesmo não podendo, de modo nenhum, apreenderme, ainda assim sei que sou e eu não posso duvidar disso ... Se eu quisesse falar mais rigorosamente, eu diria que eu sou eu, expressando desse modo incornum o fato de que o eu é sempre o sujeito. Se prefiro usar um termo que pertence tanto ao uso comum como à linguagem dos filósofos, eu não direi, como às vezes se diz, que tenho uma alma (o que, para ser exato, é contraditório), mas que eu sou uma alma.
O que desejo enfatizar é que toda a nossa análise anterior nos "remete", constantemente para a questão transcendental. Todas as minhas deduções, que tentei manter dentro de um quadro mental positivo, implicam num fim que, por si, não está incluído na série dos acontecimentos naturais. Tenho me referido, por exemplo, às emoções. Mas essa palavra, se significa algo, é
210
211
Il
NOTAS
PRlMEIRA
DE REFERI:NCIA
PARTE: A NATUREZA
DA VONTADE
Capítulo
2. A Experiência
da Vontade
P. 14.
Professor Calo, Enciclopedia italiana de scienze, (Roma, 1929-1939, VoI35), p. 559.
Capítulo
3. As Qualidades
/ettere ed ar ti
da Vontade
P.21.
Para descrição mais pormenorizada da volição isenta de esforço ver Apêndice 4, Perspectiva Histórica, p. 185, e Francis Avelíng, Personality and Will (Londres, 1931), p. 83 ss. P.21. A. H. Maslow, The Farther Reaehes of Human Nature (Nova York, 1971), p. 68. P.22. A H. Maslow, Motivation and Personality (Nova York, 1970), pp. 136-37. Pp. 234. Rarnachá, Raja Yoga (Bombaim, 1966), pp. 125-27. P. 29. Luigi Fantappiê , Principi di uma teoria unitaria dei mondo fisico e biologieo (Roma, 1944). P.29. R. Buckminster Fuller , No More Second Hand Gad? P.29. R. Buckminster Fuller , No More Second Hand God & Other Writings (Carbondale, IUinois, 1963), p. V. P.30. Maslow, The Farther Reaehes o] Human Nature , p. 210. P.30. Roberto Assagioli, Psicosintese CEdo Cultrix). 213
Capítulo
4. A Vontade
Forte
P.78. P.79.
P.35. Williarn Jarnes, Talks to Teachers (Nova York, 1912), pp. 75-6. Pp. 35-6. Boyd Barret, Strength of will and How to Develop It (. ova York,1931). P.81. Capítulo
5. A Vontade
Hábil: Suas Leis Psicológicas P.85.
Pp. 43-4. Arnaud Dejardins, Les chemins de Ia sagesse, Vol. II (paris, 1971),p.35. P.48. Gustave Le Bon, La psychologie de I 'éducation (Paris, 1989). P.49. Charles Baudoin , Suggestion and Autosuggestion (Londres, 1922). P.53. Roberto Assagioli, The Transformatton and Sublimination o] Sesual Energies (Nova York, Psychosynthesis Research Foundation 1963). ' P.53. Frances Wickes, Inner Worls of Choice (Nova York, 1963), p. 34. Capítulo
6. Aplicações
Práticas da Vontade
Hábil
Pp. 60-1. A. H. Maslow, Motivation and Personality (Nova York, 1970), pp.187-88. P.62. O método da neutralização foi explicado por Patanjali em seu Yoga Sutras , 33, Livro lI: "Para obstruir pensamentos contrários à Yoga, devem-se procurar pensamentos contrários". (Tradução de Vivekananda, Alrnora , 1915.) Pp. 67·8. 771eAutobiography of Coethe, traduzido por John Oxen (Londres, 1891), pp. 320-3. Capítulo
7. A Vontade
Boa
Pp. 72-3. Sobre a empatia, ver Laura Hux.1ey e sua receita "Jurnp in the other persori's place ", em You are Not lhe Target (Nova York, 1965), pp. 56-60. Capítulo
8. Amor e Vontade
P.78.
Petrirn Sorokin,
214 'I '1
"--
T71e Ways and Power
of Love (Boston , 1959).
P.85.
Capítulo
Martin Luther King, Tlie Strength of Lave (Nova York, 1963). Entre os vários autores que chamaram a atenção para o fato de o amor ser uma arte, Erich Fromm contribuiu com um estudo singularmente claro e penetran te, em seu livro The Art of Loving (Nova York, 1956). A. H. Maslow, Motivation and Personality ( ova York , 1970), p.21. Hcrmann Keyserling, The Recovery of Truth (Nova York, 1929), p. 103. Roberto Assagioli, "The Balance and Sunthesis of the Opposites" (Nova York, Psychosyn thesis Research Foundation, 1972). 9. A Vontade Transpessoal
P.87.
Este senso de descontentamento foi brevemente descrito em Psychosynthesis, p. 41. P.87. "Os pacientes ... experiência-abismo": Viktor E. Frank1, The Will to Meaning (Nova York, 1969), p. 83. P.87. "'O vazio existencial' ... curar": ibid., p. 86. Pp. 88-9. Leon Tolstoi, A Confession (Londres, 1940), pp. 15-9. P.90. C. G. Jung, Modern Man in Search of a Sou! (Nova York, 1933), p.32. P. 91. "O mais importante ... visão": Daisetz Taitaro Suzuki, Essays in Zen Buddhism (Nova York, 1949), p. 126. Pp. 91-2. "O homem ... vive": citado por Viktor Frankl, op. cit., p. 50. P.93. William Jarnes, The Varieties of Religious Experience (Nova York,
!,
1902).
P.93. Winslow Hall, Observed Illuminates (Londres, 1926). Pp. 93-4. Francis Thompson, in lmmortal Poems of the English Language (Nova York, 1960), p. 476. P.94. C. G. Jung, The Integration of the Personality (Londres, 1940), pp.291-6. P. 97. A. H. Maslow, "Theory Z" .Journal of Transpersonal Psychology , 1:2, pp. 31-47. Rcimpresso em A. Maslow, The Farther Reaches of Human Nature (Nova York, 1971), pp. 280-95. P.97. F. Haronian, "Repressíon of the Sublime", in James Fadirnan (org.), The Proper Study of Man (Nova York , 197/), p. 240; reimpresso pela Psychosyn thesis Research Foundation, Nova York, 1972. 215
;
I"
o]
P.98.
"Em minhas ... fado": citado por Haronian, reirnpresso
in Mason,
Capítulo
16. Como Dirigir a Execução
P. 154.
Roberi Desoille, "The Guided Daydream" (Nova York, Psychosynthesis Research Foundation , 1966). Leuner , American Journal of Psychotherapy , 32: 1,1969, pp. 422.
op. cit., p. 35.
P.98.
"Transcendéncia
Capítulo
10. A Vontade
... humana,
ainda": op. cit., pp. 274-5.
Universal
P.154.
P.98.
Lama Anagarika Govinda, The Way of lhe white Clouds (Berkeley, 1970), pp. 124-5. P. 104. Servepallí Raclhakrishnan, "Hurnan Personality", in Clark Moustakas, (org.), 17JeSelf (Nova York, 1956), p. 118. Pp. 104-05. A. H. Maslow, The Farther Reaches of Human Nature (Nova York, 1971), p. 277. P. 106. A citação de Dante foi adaptada da tradução de Geoffrey Bickersteth (Cambridge, Inglaterra, 1932). SEGUNDA Capítulo
12. Propósito,
PARTE:
OS ESTÁGIOS
Avaliação, Motivação,
DA VONTADE
13. Deliberação,
Escolha e Decisão
14. Afirmação
P. 136.
Hermann Keyserling, 1938), pp. III, 184-5.
P.160. P.160. P.161.
From Suffering
P. 146. Para o correto tratamento das fases psicológicas da gestação, ver meu estudo "Medes and Rhythms of Psychological Forrnation " (em italiano) (Florença, Itália, instituto Psicosintesi, 1968). 216
EPÍLOGO
"Por que não ... a felicidade": A. H. Maslow, The Farther Reaches of Human Nature (NovaYork, 1971).p.176. "Níveis de necessidade": A. H. Maslow, Toward a Psychology of Being (Nova York, 1962), p. 83. Evelyn Underhill,Mysticisrl1 (Nova York, 1961), p. 437. APfNDICES
Apêndice P. 176.
P. 189.
to Fulfilment (Londres,
Cap ítulo 15. Planejar e Programar
PARTE:
17. A Alegria da Vontade
2. Pensamento
P.190.
P.190. P.190. P.190. P. 191.
e Meditação
Swami Vivekananda, The Complete Works of Vivekananda , Mayavatl Memorial Edition (Almora, 1915).
Apêndice 4. Perspectiva
Pp. 122-23. O prof. Calo, em seu artigo sobre a von tade na Enciclopedia italiana di scienze, lettere ed arti, Vol. 35 (Roma, 1929-1939), p.17. Capítulo
Capítulo
Intenção
Pp, 116-17. Piem Teilhard de Chardin, em The Phenomenon of Man (Nova York, 1964), apresenta idéias inspiradoras sobre o futuro da evolução psicológica, baseadas no desenvolvimento biofísico passado e presente. Capítulo
TERCEIRA
Histórica
Outros pontos de vista, omitidos no estudo introdutório do Apêndice 4, podem ser encontrados no explícito "Panorama Histórico Seletivo", de Paul W. Pruyser, contido no 17Je Concept of Willing, editado por J. N. Lapsley (Nashville , Tenn., 1967). A exposição dos profundos modos de ver a vontade de Kierkegaard é particularmen te valiosa. " ... o fato mais importante ... apela para ela". Daisetz Taitaro Suzuki, Essays in Zen Buddhism (Nova York, 1949), pp. 107, 115. W. Lutoslawsky, Seelenmacht (Leipzig, 1899). W. Lu toslawsky , The wortd of Souls (Londres, 1924). P. D. Ouspensky , The Fourtn Way (Londres, 1959). J. Macquarrie, "Will and Existence ", in Lapsley, op. cit., pp. 41 ss. 217
I
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,
P.191.
H. B. e A. C. English. Dictionary of Psychological and Psychoanalutic Terms (Nova York , J 958), p. 587. P.192. S. Hiltner. in Lapsley , op. cit., p. 18. P.l92. P. E. Levy, The Rational Education of lhe Wil/ (Londres, 19 J8). P.l92. Edrnond Duchâtel e René Warcollier, Les miracles de Ia volonté (Paris, J9 J4). P. 192. W. H. Sheldon, Psyehology and the Promethean Will (Nova York, 1936). P. 192. Mathurin, Self-knowledge and Self-discipline (Aberdeen, 1926). P. 193. Uma boa exposição e exame das idéias de Windt foi realizada por Francis Aveling, emPersanalityand Will(Londres, 1931),pp. 70·8. P.193. Williarn James, Principies of Psychology (Nova York, 1950), pp. 524·25. Pp. 193·94. Citação de William James em Talks to Teachers (Nova York, 1912),pp.189,191. C. G. Jung,Psychological Types (Nova York, 1933),pp.616-17. P. 194. Edgar For ti, L 'émotion, Ia volonté et le eourage (Paris, 1952). P. 194. P. 194. "Ele se interessava ... de Freud": Ira Progoff, The Death and Rebirth of Psychology (Nova York), p. 210. P.195. " ... vontade de imortalidade"; ibid ; p. 26l. P.195. Narciss Ach, Uber die WilIenstiitigkeit un das Denken (Gottingen, 1905). P.195. Albcrt Michotte, Etude experimental sur le choix volontaire (Louvain, 1910). P.195.
"Entre ... extraordinária"; Francis Aveling, Personality and Will (Londres, 1931),pp.9J,93. P. 195. " ... tal ... voluntários"; ibid., p. 87. P. 195. "Outras investigações ... vontade": ibid., p. 101 (Webb, "Character and Intelligence ", British lournal of Psychology , Monografia, 1915, e Lankcs, "Perseveratíon", British lournal ot Psychology , Monografia, 1915). P. 196. L. H. Farber, The Ways of the Will (Nova York, 1966). P.196. "Arquétipos"; Wolfgang Kretschrner , Selbsterkenntnis und Wil· lensbildung im arztlichen Raume (Stuttgart, 1958); p. 66. P.l96. Semântica geral; uma clara exposição pode ser encontrada em W. J ohnson 's, People in Quandaries (Nova York, 1946). P. 196. A. H. Maslow, Psychology of Science (Nova York , 1966). P. 197. Victor Frankl, The Wil/ to Meaning (Nova York, 1969). Pp. 197-98. Rollo May , Lave and will (Nova York , 1969), pp. 182,223, 201,243,283,286. 218
P. 198. P. 198. P. 199.
A. H. Maslow, R e ligions, Values, and Peak-Ex periences (Nova York,1970). James N. Lapsley (org.), Tlie Concept of willing (Nashville, Tenn., 1967), pp. 55, 60. Henry Ey , Qu 'est ee que c 'est vouloir (Paris, 1958).
Apêndice 5. Psicologia Diferencial P.200.
H. B. e A. C. English, Dictionary of Psyehologieal and Psychoana/ytie Ter171s(Nova York , 1958), p. 152. P. 200. The object of much research :Anne Anastasi, Differential Psychology (Nova York, 1958). Pp. 200·0!. Traços contraditórios: Gordon Allport, Pattern and Growth in Personality ( ova York, 1961), pp. 353-55. P.201. "Consideremos o ... outros"; ibid ., p. 363. P. 202. Heymans et al., ver Gaston Berger, Caractêre et personalité (Paris, 1962), pp. 13 ss. P.202. Adolphe Ferriére , Vers une classification naturelle des types psychologique (Nice, 1943). P. 209. G. Allport, Pattern and Crowth in Personality (Nova York , 1961). P.209. W. A. Sadler , Existence and Love (Nova York, 1969). P. 210. A. H. Maslow, "Various Meanings of Transcendence", Journal of Transpersonal Psychology , I; 1, reimpresso em Maslow, The Farther Reaehes of Human Nature . p. 278. Pp. 210·11. "O que ... transcendentais": Gaston Berger, Caractêrc et personalité (Paris, 1962), p. 106. P.211. "A verdade caminhos"; ibid., p. 105. P. 211. "Serei capaz uma alma"; ibid ., p. 108. O termo belonging foi empregado por Husserl para designar aquilo que parece ao sujeito pripriedade tão imediata que parece fazer parte do próprio sujei(o. Ver Edmund HusserJ, Méditations Cartésiennes (Haia, 1960), e Caston Berger, Le Cognito dans Ia philosophie de Husscrl (Paris, 1941).
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