NOVA REVOLUÇÃO HUMANA VOL. 2 - Capítulo O Bailar da Coragem (págs. 111 À 171) O novo portal fora aberto! A viagem em prol da paz que Shin-iti Yamamoto realizou pelas duas Américas, do Norte e do Sul, lançou raios de esperança no coração dos companheiros da Gakkai, inflamando neles as chamas de novas decisões. Países como os Estados Unidos e o Brasil, distantes do Japão e do outro lado do Oceano Pacífico, eram até então vistos como nações sem nenhuma relação com os companheiros da Gakkai. Porém, com a viagem de Shin-iti, surgiram com tanta intimidade diante de seus olhos que pareciam um paraíso muito próximo. Logo após o retorno para o Japão, uma reunião geral de dirigentes teve lugar no Ginásio de Esportes de Tóquio, em Sendagaya, no dia 31 de outubro de 1960. Nesse encontro todos sentiram-se inspirados para concretizarem concretizarem o Kossen-rufu mundial. Nessa ocasião foi anunciada oficialmente a nomeação dos dirigentes do Distrito Geral das Américas, cuja proposta havia sido estudada pela comitiva de Shin-iti no decorrer da viagem. O Distrito Geral das Américas tornou-se então o primeiro a ser fundado fora do Japão. Kiyoshi Jujo foi nomeado chefe de distrito geral e Katsu Kiyohara para chefe da Divisão das Senhoras. Assumiram como secretários Sussumu Aota e Nagayasu Masaki, dirigentes da Divisão dos Rapazes. Foi formado o distrito geral América, englobando o Distrito Brasil e o Distrito Los Angeles e mais dezessete comunidades. Paralelamente à fundação, foi instalada na sede central o Departamento do Exterior a fim de aprimorar o contato com os membros residentes em outros países, efetuar o controle estatístico e para enviar os impressos da Gakkai. Além disso, esse departamento iria encarregar-se de traduzir e editar jornais e livros para os membros do exterior. Joji Kanda e mais nove pessoas foram designados respectivamente como chefe e membros desse departamento. A reunião de dirigentes prosseguiu com as palavras de Eisuke Akizuki que apresentou o relatório da viagem, e Kiyoshi Jujo proferiu suas perspectivas com relação ao Distrito Geral América. Em suas palavras, contudo, Shin-iti quase não se referiu à sua viagem. Ele focalizava preocupações mais imediatas e em solidificar cada passo daquele progresso. Após elogiar e agradecer a todos pelo empenho durante a sua ausência, disse: - Nitiren Daishonin afirma em suas escrituras que ―O leão, o rei dos animais, avança três passos e recua um para saltar, dispendendo a mesma força quando ataca uma diminuta formiga ou ataca ferozes animais.‖ Eu penso que esse princípio é aplicável também em nossas atividades em prol do Kossen-rufu. Por essa razão, vamos empreender todas as forças nas atividades de propagação nos meses de novembro e dezembro, e em janeiro nos dedicar ao máximo nas orientações sobre a prática da fé para os novos companheiros. As visitas familiares e as orientações individuais são atividades modestas e invisíveis aos olhos de outros, mas são um importante trabalho que visa cultivar as raízes da fé. Os troncos crescem frondosos e os ramos e as folhas tornam-se exuberantes quando as raízes estendem-se profundamente no solo. Da mesma maneira, a fonte de todo o progresso encontra-se na prática da fé desenvolvida com alegria, esperança e convicção. Para isso, precisamos compartilhar dos problemas de cada companheiro, oferecendo-lhes respostas claras e objetivas para as suas dúvidas. As palavras de Shin-iti Yamamoto concentravam-se em um ponto: penetrar nos corações dos companheiros. - O objetivo de se converter uma pessoa é justamente torná-la feliz. Portanto, a assistência após a conversão na forma de orientação individual é muito importante. Quantas pessoas da comunidade, do bloco ou da unidade, que estão sob o encargo dos senhores, ergueram-se firmemente na prática da fé e estão comprovando os benefícios do Gohonzon - este é o tema mais importante que deve ocupar o centro de nossas preocupações. Gostaria de encerrar minhas palavras anunciando que até dezembro deste ano vamos nos empenhar nas atividades de conversão para em janeiro dedicarmo-nos na criação de valores humanos denominando-o denominando- o de ―mês da orientação individual‖. Quanto mais se amplia a propagação do budismo, mais se deve estender o apoio com orientações sobre a prática da fé. Uma conversão pode ser considerada concretizada quando o novo membro começar a caminhar por si próprio sustentando sustentando com autonomia o empenho na prática da fé.
A maior preocupação de Shin-iti na grande jornada visando a concretização de 3 milhões de famílias era a de que os princípios fundamentais fossem esquecidos e que a organização se tornasse como um castelo de areia. Mesmo que se falasse sobre o Kossen-rufu do mundo, esse era apenas o primeiro passo, como se se acendesse uma pequena chama na imensidão de um campo inexplorado. Se essa chama aumentaria em grandes labaredas para atingir todo o campo ou se apagaria em uma noite sob a chuva, isso dependeria unicamente da forma como iriam direcionar as atividades daquele momento em diante. Não havia outra forma a não ser estender as orientações sobre a prática da fé a fim de se criar autênticos valores humanos que pudessem encarregar-se do Kossen-rufu mundial. A conversão e a criação de valores são como as rodas de um carro. Quando giram em movimento uniforme ocorre o avanço do Kossen-rufu. No dia seguinte, 1º de novembro, o presidente Shin-iti Yamamoto participou da reunião de fundação do Distrito Tiba realizada no Ginásio de Esportes da Província de Tiba. Essa reunião marcou o início da fundação de uma série de novos distritos. O coração de Shin-iti estava eufórico por ser a fundação do primeiro distrito em Tiba, terra natal de Nitiren Daishonin. Já havia se passado 707 anos desde que Nitiren Daishonin declarara pela primeira vez o Nam-myoho-rengue-kyo em 28 de abril de 1253, ao meio-dia, no templo Seityoji, como o único e verdadeiro ensino para a salvação dos povos da era dos Últimos Dias da Lei. No decorrer desses sete séculos, o alvorecer do verdadeiro ensino de Nitiren Daishonin foi obscurecido por nuvens sombrias, sem que pudesse iluminar as terras de Tiba. Contudo, finalmente chegara o momento. Pensando dessa maneira, Shin-iti tinha a impressão de que as plantações, o mar e as paisagens que ele observava pela janela do carro estavam vibrando de incontida alegria. O carro já estava passando pelos arredores da cidade de Makuhari. Extensos campos de hortaliças ocupavam toda a região. Essa cidade despertou no coração de Shin-iti as lembranças de sua juventude. Seus pensamentos o transportaram ao mês de setembro do ano em que o Japão perdera a guerra, quando tinha 17 anos. Num certo dia daquele mês, ele desembarcou na estação ferroviária de Makuhari carregando uma enorme mochila nas costas. Na cidade de Tóquio, completamente devastada pelos bombardeios, não era possível encontrar alimentos. Por essa razão, Shin-iti fora até Makuhari em busca de provisões nas casas dos agricultores para poder sustentar sua família. Por sofrer de tuberculose, Shin-iti sentiu vertigens ao saltar do trem, completamente lotado de compradores de alimentos. Embora pretendesse comprar provisões, ele não tinha para onde ir ou a quem procurar. Andando sem rumo pelos caminhos entre as plantações, encontrou muitos compradores negociando com os agricultores. Shin-iti colocou um chapéu de palha na cabeça e aproximou-se de uma senhora que parecia ser de uma família de lavradores. Aquela senhora estava conversando com um outro comprador: - Infelizmente, hoje eu não tenho nada para vender. Estou recusando a todos desde a manhã. Desculpeme, não tenho nada mesmo. Dizendo essas palavras, ela deu as costas e continuou o seu trabalho na lavoura. Shin-iti ficou por alguns instantes admirando os campos verdes que se estendiam diante de seus olhos. Aquele panorama transmitia-lhe a paz e a tranqüilidade que não mais existiam em Tóquio, transformada em ruínas pela guerra. Após algum tempo, aquela lavradora notou a presença de Shin-iti. - De onde você veio? Foram palavras simples e curtas, mas sua voz transmitia certo calor humano. A presença de Shin-iti havia despertado sua atenção por ser ele ainda muito jovem para comprar alimentos. - Vim de Kamata, em Tóquio. - É mesmo? Você não parece estar muito bem. Está cansado?
A maior preocupação de Shin-iti na grande jornada visando a concretização de 3 milhões de famílias era a de que os princípios fundamentais fossem esquecidos e que a organização se tornasse como um castelo de areia. Mesmo que se falasse sobre o Kossen-rufu do mundo, esse era apenas o primeiro passo, como se se acendesse uma pequena chama na imensidão de um campo inexplorado. Se essa chama aumentaria em grandes labaredas para atingir todo o campo ou se apagaria em uma noite sob a chuva, isso dependeria unicamente da forma como iriam direcionar as atividades daquele momento em diante. Não havia outra forma a não ser estender as orientações sobre a prática da fé a fim de se criar autênticos valores humanos que pudessem encarregar-se do Kossen-rufu mundial. A conversão e a criação de valores são como as rodas de um carro. Quando giram em movimento uniforme ocorre o avanço do Kossen-rufu. No dia seguinte, 1º de novembro, o presidente Shin-iti Yamamoto participou da reunião de fundação do Distrito Tiba realizada no Ginásio de Esportes da Província de Tiba. Essa reunião marcou o início da fundação de uma série de novos distritos. O coração de Shin-iti estava eufórico por ser a fundação do primeiro distrito em Tiba, terra natal de Nitiren Daishonin. Já havia se passado 707 anos desde que Nitiren Daishonin declarara pela primeira vez o Nam-myoho-rengue-kyo em 28 de abril de 1253, ao meio-dia, no templo Seityoji, como o único e verdadeiro ensino para a salvação dos povos da era dos Últimos Dias da Lei. No decorrer desses sete séculos, o alvorecer do verdadeiro ensino de Nitiren Daishonin foi obscurecido por nuvens sombrias, sem que pudesse iluminar as terras de Tiba. Contudo, finalmente chegara o momento. Pensando dessa maneira, Shin-iti tinha a impressão de que as plantações, o mar e as paisagens que ele observava pela janela do carro estavam vibrando de incontida alegria. O carro já estava passando pelos arredores da cidade de Makuhari. Extensos campos de hortaliças ocupavam toda a região. Essa cidade despertou no coração de Shin-iti as lembranças de sua juventude. Seus pensamentos o transportaram ao mês de setembro do ano em que o Japão perdera a guerra, quando tinha 17 anos. Num certo dia daquele mês, ele desembarcou na estação ferroviária de Makuhari carregando uma enorme mochila nas costas. Na cidade de Tóquio, completamente devastada pelos bombardeios, não era possível encontrar alimentos. Por essa razão, Shin-iti fora até Makuhari em busca de provisões nas casas dos agricultores para poder sustentar sua família. Por sofrer de tuberculose, Shin-iti sentiu vertigens ao saltar do trem, completamente lotado de compradores de alimentos. Embora pretendesse comprar provisões, ele não tinha para onde ir ou a quem procurar. Andando sem rumo pelos caminhos entre as plantações, encontrou muitos compradores negociando com os agricultores. Shin-iti colocou um chapéu de palha na cabeça e aproximou-se de uma senhora que parecia ser de uma família de lavradores. Aquela senhora estava conversando com um outro comprador: - Infelizmente, hoje eu não tenho nada para vender. Estou recusando a todos desde a manhã. Desculpeme, não tenho nada mesmo. Dizendo essas palavras, ela deu as costas e continuou o seu trabalho na lavoura. Shin-iti ficou por alguns instantes admirando os campos verdes que se estendiam diante de seus olhos. Aquele panorama transmitia-lhe a paz e a tranqüilidade que não mais existiam em Tóquio, transformada em ruínas pela guerra. Após algum tempo, aquela lavradora notou a presença de Shin-iti. - De onde você veio? Foram palavras simples e curtas, mas sua voz transmitia certo calor humano. A presença de Shin-iti havia despertado sua atenção por ser ele ainda muito jovem para comprar alimentos. - Vim de Kamata, em Tóquio. - É mesmo? Você não parece estar muito bem. Está cansado?
- Tenho tuberculose. - Oh... Venha então descansar um pouco em minha casa. Shin-iti foi conduzido para dentro da casa. Era uma velha e humilde moradia. Do fundo ouvia-se uma voz de homem, provavelmente o marido daquela senhora. Quando a mulher tirou seu chapéu de palha, Shin-iti pôde ver melhor o seu rosto redondo; ela tinha aproximadamente quarenta anos. - Você tem irmãos? - Sim. Sou o quinto entre oito irmãos, mas os mais velhos ainda não retornaram da guerra. - Ah, por isso que você está aqui para fazer as compras... - Sim. A propósito, e a sua família? A senhora tem filhos? O rosto dela turvou-se repentinamente. Com um olhar de tristeza, ela moveu sua cabeça em silêncio para os lados. Parecia haver algum motivo por trás daquele gesto, mas Shin-iti achou melhor não tocar mais no assunto. A mulher perguntou então a Shin-iti sobre a situação de sua família. Ele respondeu às questões e explicou que sua família fora desalojada e sua casa derrubada por ordem do governo para evitar a propagação de incêndios num ataque aéreo.1 Ela ficou a pensar por alguns instantes, e então levantou-se e disse: - No momento, eu não tenho nada para lhe oferecer, mas leve um pouco de batata-doce. - Verdade? A senhora pode vender-me um pouco? - Claro. Sei que é um momento difícil para você, mas esforce-se, está bem? Ela foi até os fundos da casa e trouxe as batatas. - Venha até aqui quando quiser. Irei me lembrar de você. Ela mostrou um sorriso meigo e cheio de ternura. O preço da batata na época era aproximadamente de 2,70 ienes o quilo. Shin-iti comprou pouco mais de 20 quilos pagando 3,20 ienes o quilo em agradecimento à gentileza daquela senhora. Naquele mesmo mês Shin-iti retornou mais uma vez a Makuhari. A senhora o recebeu calorosamente como havia prometido e vendeu-lhe um saco cheio de batatas-doce. Naquela época em que a falta de alimentos transformava mesmo os sentimentos mais humanos de solidariedade entre as pessoas, aquele gesto simples porém sincero daquela senhora tocou profundamente o coração de Shin-iti. Desde então, ele não mais precisou voltar a Makuhari para comprar mantimentos nem teve oportunidade de encontrar-se com aquela senhora. Passaram-se 15 anos. Contudo, a cada ano, sempre que chegava a época de batatas-doce, Shin-iti não deixava de se recordar do sorriso meigo daquela senhora. Ao chegar no Ginásio de Esportes de Tiba onde aconteceria a reunião de fundação, Shin-iti Yamamoto foi recepcionado pelos dirigentes de distrito. Logo que desceu do carro, dirigiu as palavras para Teruyo Ishiyama, chefe da Divisão das Senhoras, e disse-lhe sorrindo: - Finalmente chegou a hora da partida! Entretanto, Ishiyama parecia abatida, desviando os olhos e curvando-se para cumprimentá-lo em silêncio. Ela havia se convertido quatro anos antes e tinha pouca experiência para ocupar o novo cargo. Na ocasião do estudo do quadro de dirigentes do Distrito Tiba, o mais difícil foi a definição do nome para ocupar o cargo de chefe da Divisão das Senhoras. O primeiro sugerido fora o de uma chefe de comunidade que possuía muito mais experiência e tempo de prática. No entanto, na opinião da maioria, havia certa preocupação em indicá-la para o cargo pois faltava-lhe senso de imparcialidade. Numa análise final, chegou-se ao consenso de se propor o nome de Teruyo Ishiyama, embora menos experiente, sendo depositada muitas expectativas pelo seu desenvolvimento. Contudo, após a nomeação ocorrida na Reunião de Dirigentes do mês de setembro, foram recebidas muitas cartas na sede da Gakkai contendo rigorosas críticas à Teruyo Ishiyama. Os remetentes contestavam a
nomeação e declaravam que não poderiam seguir a liderança de uma pessoa de fraca fé e sem comprovação dos méritos nas atividades. Quando Shin-iti retornou da viagem pelo exterior, foi informado dessa situação e leu as cartas. Embora tivessem um contexto claro e objetivo, Shin-iti sentiu que havia uma certa manipulação para que fosse criada aquela polêmica. Ele acatou as manifestação com seriedade e procurou obter melhores informações junto aos dirigentes locais. Verificou-se então que a insatisfação surgira inicialmente por parte das pessoas ligadas à chefe de comunidade cujo nome foi estudado nas propostas para o cargo de chefe da Divisão das Senhoras do Distrito Tiba. Soube-se ainda que ela, usando sua aparência serena, incitou seus membros mais íntimos a provocar críticas contra Ishiyama. Era um ato lamentável e extremamente tolo. Um cargo na Soka Gakkai é exclusivamente uma responsabilidade e não uma posição de honra. A maior incumbência de um cargo é servir aos membros compenetrando-se em cumprir a responsabilidade pelo Kossen-rufu. Portanto, quanto maior a posição de responsabilidade, maior deverá ser a determinação de servir ao budismo, ao Kossen-rufu e aos companheiros, esquecendo-se até de si mesmo. Caso contrário, não há como corresponder a esse encargo. O fato de se armar um círculo de críticas contra uma pessoa, movida pela insatisfação de não ter sido nomeada para o cargo em questão, colocava em evidência que aquela senhora preocupava-se muito mais com sua posição do que com o Kossen-rufu. Era uma prova de que não estava apta a ser dirigente da Gakkai. Ela abraçara o budismo após um longo período de sofrimentos provocados por sua doença e conseguiu comprovar o poder da prática da fé recuperando a saúde. Com isso, empenhou-se na conversão de muitas pessoas, chamando a atenção de todos os companheiros por certo período. Shin-iti preocupava-se pelo futuro daquela senhora. Caso não se empenhasse unindo seu coração ao da dirigente nomeada, ela se isolaria cada vez mais e acabaria perdendo o entusiasmo pela prática da fé. Além disso, por não conseguir acompanhar sua nova chefe, lançaria sua insatisfação contra a organização e terminaria por abandonar o mundo da Soka Gakkai. Seu ato implicava em provocar a destruição da união harmoniosa de uma organização emergida conforme a vontade e a ordem do Buda. Embora não tivesse percebido essa gravidade, ela estava criando sozinha as causas para a sua própria infelicidade, apagando inclusive a boa sorte acumulada até então. Qualquer que seja o motivo, o ato de invejar, odiar ou desprezar os companheiros que vivem em prol da missão pelo Kossen-rufu é extremamente grave. Por essa razão, Nitiren Daishonin adverte em suas escrituras: ―Os crentes no Sutra de Lótus nunca devem ofender uns aos outros.‖1 Não existe nada mais instável do que a mente humana. Ela atua tanto para o bem como para o mal; pode também ser realizadora de grandiosos empreendimentos ou tornar-se destruidora, ou então agir como um buda ou até como o Demônio do Sexto Céu. O que conduz a mente humana para o bem, para a construção e para a felicidade é a correta prática da fé do supremo budismo. Shin-iti não pôde deixar de analisar com seriedade o problema gerado por aquela senhora: por que uma pessoa que possui a experiência de ter vencido uma grave doença com a prática da fé chega a comportar-se de tal forma a ponto de destruir a união harmoniosa envolvendo também os outros? Era evidente que seu coração fora corroído pela arrogância, fama e vaidade. Mas, por que ela não conseguia perceber isso? O que teria causado essa distorção em sua mente? Nitiren Daishonin declarou: ―Se pensa que o estado de Buda existe fora de seu coração, isto já não é mais a Lei Mística.‖2 Essa frase explica que cada indivíduo é a própria entidade do Itinen Sanzen e que a prática do budismo inicia-se com a conscientização de que a causa da felicidade e da infelicidade encontra-se na própria vida. A atitude de invejar alguém nada mais é que um ato de buscar a Lei Mística ―fora de seu coração‖, transferindo a causa da própria felicidade ou da infelicidade para uma outra pessoa. Quando se mantém esse tipo de pensamento, o indivíduo fica totalmente vulnerável às transformações exteriores, alegrando-se ou sentindo-se infeliz conforme as condições circunstanciais de sua vida. E quando depara com problemas ou sofrimentos maiores, acaba culpando e odiando as pessoas a sua volta. Nessa situação, não consegue analisar
seu comportamento ou fazer uma auto-reflexão. Não existe portanto nenhum desenvolvimento nem revolução humana. O que se cria no final é somente a própria infelicidade. Por outro lado, mesmo que sejam dirigentes da organização, eles possuem tanto as boas qualidades como também as falhas comuns aos seres humanos. Muitas vezes, as falhas podem ficar mais evidentes aos olhos das pessoas. O que fazer nessa hora? Criticar ou prestar apoio para reparar os erros? Uma pessoa que pratica a fé com base no Itai Doshin é capaz de apoiar e proteger seu dirigente, mesmo atuando nos bastidores. Qualquer que seja a situação, cada um deve fazer sua auto-análise à luz dos sagrados ensinamentos do budismo, pois o caminho da revolução humana encontra-se no ato de aprimorar a si próprio hoje mais do que ontem, amanhã mais do que hoje. Somente dessa forma é possível obter os imensuráveis benefícios como também acumular a boa sorte. Aquela senhora, apesar de ter se esforçado na prática da fé, não criara em última análise uma compreensão exata sobre a essência do budismo. Shin-iti solicitou a uma dirigente da Divisão das Senhoras que a orientasse com cordialidade e paciência sobre os pontos básicos da prática da fé para que ela pudesse caminhar, sem erros, rumo à felicidade. O que mais lhe preocupava era a respeito de Teruyo Ishiyama, que teria de lutar como chefe da Divisão das Senhoras de distrito a partir daquele dia. Na verdade, ela nem sequer imaginara que seria nomeada para o cargo. Embora tivesse aceitado, sentia-se muito insegura quanto a se seria capaz de cumprir aquela responsabilidade. Sob aquelas circunstâncias, tinha ouvido diversas críticas: ―É incrível que uma pessoa tão inexperiente como dirigente e que não possui tanta fé tenha sido nomeada chefe da Divisão das Senhoras.‖ Além disso, suas companheiras responderam com frieza ao seu convite de iniciar os preparativos para a reunião de fundação do distrito. Dessa forma, ela perdera completamente a confiança em si própria. Após sofrer muito, pensou em pedir ao presidente Yamamoto a transferência do cargo para uma outra pessoa. Enquanto Shin-iti encontrava-se numa sala aguardando o início da reunião, Teruyo Ishiyama aproximouse com um rosto muito triste. - Eu preciso muito falar com o senhor... Shin-iti convidou-a a sentar-se num sofá. - O que aconteceu? Está com algum problema? - Sim... Eu acho que não tenho capacidade para assumir uma responsabilidade tão grande como chefe da Divisão das Senhoras do meu distrito. Empenhei-me até agora nos preparativos para a fundação, mas ninguém deu ouvidos às minhas palavras. Todos estão me criticando pelas costas e inclusive dizem na minha frente que não tenho nehuma condiçãopara exercer o cargo. Eu sei que não tenho forças, mas... Ela exteriorizava todas as mágoas que sufocavam o seu coração, e as lágrimas surgiram incontidamente em seus olhos. Olhando fixamente, Shin-iti disse num tom mais forte: - Eu sei. Eu estou sabendo de tudo. Sei também quem está falando mal de você. Mas uma pessoa que está determinada a lutar pela missão do Kossen-rufu não pode ser tão fraca assim. Deixe os outros criticarem-na à vontade, pois eu a protegerei sempre! Ela surpreendeu-se e olhou para o rosto de Shin-iti. - A partir do momento em que foi nomeada chefe da Divisão das Senhoras, a senhora assumiu a missão de conduzir todas as companheiras rumo à felicidade. Isso não é de modo algum uma mera coincidência. Tanto a prática da fé como a revolução humana iniciam-se a partir do momento em que tomamos a iniciativa de lutar conscientes da missão pelo Kossen-rufu. Por isso, a senhora não deve retroceder agora por mais difícil que seja a situação. O budismo é vitória ou derrota. É uma constante luta contra os obstáculos e as maldades cujo objetivo é obstruir o avanço do Kossen-rufu usando todos os meios possíveis para destruir a união harmoniosa da Gakkai. Ishiyama ouvia com profunda atenção as orientações de Shin-iti. - As maldades absorvem a energia vital e tentam desanimar as pessoas que desejam lutar. Às vezes,
impensadas de um dirigente veterano, ou então na forma de um ataque ao líder da organização por meio de uma doença. Se ficarmos temerosos sem firmar a nossa determinação, as maldades tendem a se fortalecer cada vez mais. Não há como destruir as maldades senão com o Daimoku embasado em uma inabalável determinação e fervorosa prática da fé. Este é o momento propício para a senhora iniciar a verdadeira luta pelo Kossen-rufu, ampliando seu nível de vida através da recitação do Daimoku. Espero que desafie a situação com seriedade em seu coração, envolva suas companheiras calorosamente e avance alegre e radiantemente espantando tudo com o seu sorriso. A Gakkai está agora iniciando um grande progresso. Quando um avião levanta vôo, enfrenta turbulências e muita resistência do ar. Da mesma forma, o Distrito Tiba está para assinalar sua nova partida. É natural que ocorram inúmeros problemas. Contudo, se a senhora desenvolver brilhantemente as atividades como chefe da Divisão das Senhoras, conquistando ao mesmo tempo a confiança de suas companheiras, as críticas infundadas desaparecerão rapidamente. Isto é comparável ao avião que atinge uma certa altitude e inicia um vôo estável e sem turbulências. Por outro lado, as pessoas que tentaram constrangê-la com críticas criando inclusive estorvos na união de nossa organização, que existe pela ordem e vontade do Buda, acabarão encontrando infalivelmente algum impasse em suas vidas. A lei de causa e efeito exposta no budismo é extremamente rigorosa. Chegará o dia em que essas pessoas lamentarão amargamente seus atos. Todos os esforços e sofrimentos que enfrentamos em prol do Kossen-rufu se converterão em valorosos tesouros de nossa própria vida. Por isso, devemos labutar ao máximo dentro da Soka Gakkai. Quando a senhora sentir algo muito penoso, pense: ―Que bom, estou transformando e eliminando mais uma causa negativa do meu passado‖, e assim avance com toda a alegria. Se conseguir solidificar esta organização, que se encontra numa situação problemática, a senhora acumulará uma grande boa sorte que perdurará pelas três existências da vida. Com certeza, na próxima existência a senhora alcançará uma condição de vida como a de uma rainha, em que nada lhe faltará. Teruyo Ishiyama sentia que a espessa névoa que encobria o seu coração havia se dissipado num piscar de olhos. Seu rosto já estava mais corado. Aquela senhora que havia tumultuado a organização chegou a atuar por um certo tempo como dirigente após receber orientações dos veteranos. Mais tarde, porém, ela e seu marido acabaram afastando-se da prática da fé, revoltaram-se contra a Soka Gakkai e afastaram-se das atividades. No fato de pessoas de coração insincero criarem por si próprias situações constrangedoras, gerando uma seleção natural que as afasta da organização, encontra-se a prova da rigorosidade da lei budista e da pureza e da justiça da Soka Gakkai. A Reunião de Fundação do Distrito Tiba teve início às 18h15. Em sua palestra, Shin-iti Yamamoto rebateu de maneira veemente os artigos difamatórios publicados em alguns jornais, que feriam a imagem da Soka Gakkai ao qualificá-la falsamente como uma ―religião violenta‖. - Como de costume, a Soka Gakkai está sendo criticada. Alegam ser uma ―religião violenta‖. Mas será que existe alguém entre os senhores que se converteu à Gakkai por meio da violência? Eu declaro categoricamente que jamais, em ocasião alguma, a Soka Gakkai usou da violência em suas atividades de conversão. Ao contrário, somos nós que viemos enfrentando as mais variadas formas de violência até agora. Como exemplo, eu cito a questão dos cemitérios. Embora não exista impedimento de ordem jurídica, certas seitas estão ameaçando seus adeptos dizendo que não permitirão o sepultamento de seus familiares em seus cemitérios caso venham a fazer parte da Soka Gakkai. Da mesma forma, apesar de não existir nenhuma denúncia formal de violência, os jornais escrevem que somos uma ―religião violenta‖. Essa sim é uma violência da imprensa. A sociedade japonesa sofre atualmente uma onda de violências como, por exemplo, o atentado contra o primeiro-ministro, o assassinato do presidente do Partido Socialista do Japão, ou o confronto entre policiais e manifestantes que resultou em inúmeros feridos. Nesse meio social, o movimento da Gakkai visa criar, por meio do diálogo, uma sociedade em que prevaleça o absoluto respeito à dignidade da vida humana. A expressão Chakubuku, isto é, o ato de converter uma pessoa para a prática do budismo, pode soar de forma muito forte. Entretanto, no verdadeiro diálogo em que se discute o modo de vida do ser humano existe uma batalha de argumentos de ambas as partes. Ainda mais, quando se trata do diálogo de benevolência para se salvar um amigo, é preciso discutir as causas reais da infelicidade, o que está correto e o que está errado. Com uma conversa arbitrária e desleal não há como se criar um novo desenvolvimento. O único caminho para se construir a paz e a felicidade do Japão é o budismo de Nitiren Daishonin. Quero declarar que as críticas e tentativas para derrubarem a Soka Gakkai, que propaga esse grandioso ensino, equivalem ao ato de tombar o pilar do Japão.
Diante das críticas infundadas contra a Soka Gakkai, Shin-iti assumiu a liderança e as rechaçou resolutamente. Ele não permitia que aquelas calúnias atingissem, de forma irresponsável, os companheiros que lutavam conscientes da missão e com toda a boa vontade pelo bem-estar de outras pessoas. Por mais mentirosa que seja uma crítica, se se mantiver calado diante dela, acabam admitindo-a como verdadeira. Sem combate, a justiça será derrotada. É preciso que se saiba que em certas situações o silêncio é entendido como submissão. Após a reunião de fundação do Distrito Tiba, Shin-iti Yamamoto viajou para a Província de Gunma, no dia 4 de novembro, onde participou da fundação do Distrito Maebashi. No dia seguinte já estava de volta a Tóquio e no dia 6 compareceu à 9ª Convenção da Divisão dos Rapazes, realizada no Estádio de Atletismo de Mitsuzawa, em Yokahama. Naquele mesmo estádio, em 8 de setembro de 1957, Jossei Toda proferiu a histórica ―Declaração pela Abolição das Armas Nucleares‖. Por essa razão, aquele local encerrava um profundo significado por haver sido o palco da lição eterna deixada por Toda. Naquela ocasião, embasado na defesa do direito à vida de todos os seres humanos, ele declarou que qualquer país que utilizasse a bomba atômica poderia ser qualificado como demoníaco. Ele delegou aos jovens a missão de propagarem aquela ideologia para o mundo inteiro. Nos três anos que decorreram desde então, os jovens leram e releram a ―Declaração pela Abolição das Armas Nucleares‖, estudando e discutindo por inúmeras vezes a missão contida em seu teor. Por meio desse empenho, compreenderam que o pronunciamento de Toda representava a conclusão lógica do modo de vida de todos os budistas, e tomaram a consciência de que o budismo revela os princípios de solução dos mais difíceis problemas que preocupam a humanidade. Por exemplo, sabiam que o budismo expõe que todas as pessoas possuem a natureza de Buda inerentemente em suas vidas. Contudo, não conseguiam dimensionar a amplitude de seu significado quando aplicado à sociedade moderna. Percebiam que as palavras de Toda, ―Nós, cidadãos do mundo, temos o direito à vida‖, afirmadas na declaração, eram uma aplicação do princípio budista de natureza de buda nos conceitos filosóficos do mundo atual. Idéias como ―direito à vida‖ já eram propostas na ―Declaração Universal dos Direitos Humanos‖, porém Toda oferecia um conteúdo mais consistente fundamentando-se nos princípios filosóficos do budismo. Os jovens começaram a sentir gradativamente que o estabelecimento de um mundo de paz e felicidade da humanidade somente se tornaria possível quando a filosofia budista estivesse bem enraizada na sociedade atual. E fortaleceram cada vez mais a consciência da missão de propagar o budismo para o mundo. O movimento de propagação promovido pelos jovens tomou um impulso maior a partir da posse de Shiniti Yamamoto como presidente. Além disso, o agravamento nas relações entre as duas grandes potências do Ocidente e do Oriente, num momento em que se esperava a chegada de um período de ―degelo‖, e a viagem do presidente Yamamoto pela primeira vez ao exterior motivaram a paixão e o juramento dos jovens na luta pela paz perene do mundo. Ao meio-dia a Banda Musical Masculina executou majestosamente um hino da Gakkai e no campo iniciou-se a marcha dos 14 mil representantes de várias localidades do Japão. Era a abertura da 9ª Convenção da Divisão dos Rapazes. O desfile dos jovens prosseguiu por quase uma hora. Na parte alta da arquibancada foram instalados dois grandes painéis de dez metros de altura e largura com a inscrição dos ideogramas Yaku e Shin que compunham o tema do ano seguinte (1961) significando ―Avanço Dinâmico‖. Na verdade, os passos dados pela Divisão dos Rapazes naquele ano assinalaram realmente um grandioso avanço dinâmico. No início do ano, essa divisão partiu com o objetivo de concretizar 170 mil membros. Porém, no final de outubro já contava com mais de 200 mil rapazes. Naquela convenção, a meta de reunir 50 mil membros foi ultrapassada amplamente e viu-se a presença de 66 mil pessoas lotando todo o estádio. Quando foi informado do comparecimento, Shin-iti lembrou-se de uma passagem do poema ―Jovens, sejam patriotas!‖, que Toda dedicara aos jovens: Ó jovem, levanta-te só!
assim também, três te seguirão. Quando houver cem mil patriotas, o povo será salvo de sua infelicidade. Isso é tão claro quanto ver o fogo. A expressão poderia oferecer uma conotação antiquada, mas Toda a havia usado para descrever as pessoas que poderiam salvar não apenas o Japão mas todo o mundo. Em conformidade com essas palavras, já estava muito próximo o dia em que os 100 mil membros da Divisão dos Rapazes reunir-se-iam para salvar as pessoas do Japão e do mundo. Shin-iti pôde sentir realmente que a Soka Gakkai estava conduzindo seus passos concretos rumo à concretização dos ideais traçados por Toda. O poema do presidente Toda ―Jovens, Sejam Patriotas‖ também foi lido durante o evento como uma expressão do juramento da Divisão dos Rapazes de reunir 100 mil membros. Num canto do estádio encontrava-se um grupo de rapazes trajados com camisas de cores vivas, tais como o vermelho e o amarelo, além de outras cores. Eram os membros americanos que tinham vindo da base militar americana de Missawa, situada na Província de Aomori, viajando um dia e uma noite de trem. Logo no início, ficaram surpresos ao assistirem ao majestoso desfile. Vendo os rapazes surgirem sem interrupção na pista de atletismo, um deles falou exaltado: - Wonderful! (Maravilhoso!) É como se estivessem emergindo da Terra. Estou vendo o emergir dos Bodhisattvas da Terra! Eles sentiam naquele desfile o aspecto do surgimento dos Bodhisattvas da Terra que haviam aprendido por meio dos veteranos da Gakkai. Ao ouvirem a leitura do poema, um deles perguntou para um dirigente que estava ao seu lado: - O que significa kokushi (patriota)? - Indica uma pessoa nobre que age pelo bem do país. — Qual é então esse país? Seria o Japão? Era uma pergunta de muita seriedade. O dirigente da Divisão dos Jovens respondeu com um certo embaraço. — O presidente Toda referiu-se a princípio ao Japão porque foi uma orientação que ele dirigiu para os jovens do Japão. Para os senhores que são americanos, significa a paz e a prosperidade do seu país natal, os Estados Unidos da América. Além disso, como o budismo considera todas as pessoas do mundo como compatriotas, acredito que possamos dizer que patriotas são as pessoas que vêem o mundo como um único país, agem e se empenham pensando na felicidade de toda a humanidade. O jovem americano insistiu: — Então, nós também fazemos parte desses patriotas, não é? Very good! (Muito bom!) A fronte daquele dirigente estava cheia de gotas de suor, pois não esperava tais perguntas e também porque jamais as havia imaginado. Eram questões que o fizeram sentir a amplitude do movimento da Divisão dos Rapazes que zarpava para além das fronteiras rumo ao Kossen-rufu mundial juntamente com o presidente Yamamoto. Subindo ao palanque para proferir suas palavras, Shin-iti expressou com franqueza seus pensamentos encerrados em seu coração. — Como um ex-integrante da Divisão dos Jovens, congratulo-os pela realização desta convenção com os meus mais sinceros votos de felicitações. Entretanto, o motivo de minha satisfação por esta nova partida não se deve à expectativa de que, pelos esforços dos senhores, a Soka Gakkai terá um crescimento maior e se tornará ainda mais forte como uma organização religiosa. O que vejo no vigoroso desenvolvimento dos senhores como jovens Bodhisattvas da Terra, que se empenham em ser felizes e em conduzir os outros rumo à felicidade com base no budismo de Nitiren Daishonin, é a possibilidade, cada vez mais segura, da concretização da paz e da felicidade dos povos do Japão, do Oriente e de todo o mundo. A expectativa que o presidente Toda depositava
na Divisão dos Jovens era imensurável e indescritível. Da mesma forma, sinto-me muito fortalecido e tranqüilo ao ver o surgimento de milhares de excelentes jovens. Após declarar que a correnteza do Kossen-rufu tornara-se um curso da própria época, que não mais poderia ser interrompida, prosseguiu dizendo: — Embora esteja no posto de presidente da Soka Gakkai, jamais considerei-me uma pessoa superior ou em uma posição mais elevada que os outros. Estou determinado a lutar em prol do Kossen-rufu até o último instante de minha vida compartilhando as alegrias e tristezas dos senhores como um irmão e membro da mesma família, fazendo de seus sentimentos os do meu coração. No final concluiu: — Sejam jovens exemplares, confiáveis e respeitados por todas as pessoas tanto na família, como no trabalho ou na sociedade. Sejam bravos heróis que lutam em prol da justiça humana. Na convenção estava presente, como convidado, um professor que ministrava um curso sobre religiões numa universidade americana do Estado de Iowa. Ele comentou posteriormente, com muita emoção, sua impressão sobre aquela convenção da Divisão dos Rapazes: — Fiquei profundamente impressionado pelo aspecto transbordante de energia dos jovens. Foi a imagem mais marcante entre tudo que vi no mundo até agora. Sinto-me imensamente honrado por ter presenciado a atividade de hoje. Nos Estados Unidos, uma quantidade tão grande de pessoas só se reúne numa partida de futebol americano, e não há um encontro como esse em que se promove um objetivo específico. Além disso, os vigorosos pronunciamentos feitos do palanque atingiram com força o meu coração. Foi uma demonstração de pura energia vital. Percebi pelas palavras do presidente Yamamoto que ele é uma pessoa com uma admirável humildade. ―Foi extraordinária também a perfeita ordem e disciplina no desfile de abertura. Comoveu -me ainda o fato de saber que esses jovens não eram religiosos profissionais, mas que cada um possuía sua ocupação e trabalho e que pertenciam aos mais variados setores da sociedade. Isso eu percebi pelos seus trajes, muitos com ternos e outros com uniformes universitários.‖ Esse professor estava visitando o Japão a fim de desenvolver sua pesquisa a respeito de ―religiões vivas do Japão‖. Foi com esse propósito que ele conhecera a sede da Soka Gakkai. O budismo era considerado como uma religião contemplativa e meditativa tanto na América como nos países europeus, onde predominava a forte idéia de que o budismo não serviria para prestar uma contribuição positiva para a sociedade real. O filósofo francês Henri-Louis Bergson qualificou o budismo como uma religião que dava demasiada ênfase na extinção da vontade de viver, e o filósofo alemão Karl Jaspers e outros relegavam o budismo ao nível de um misticismo que servia somente para a transcendência da realidade. A verdade é que a maioria das seitas budistas estabelecidas no Japão acabou transformando-se ao longo do tempo, apenas num ―budismo de funeral‖, perdendo totalmente a força de revitalizar as pessoas e de construir uma nova era e uma nova sociedade. O aspecto da Soka Gakkai que aquele professor vira na convenção da Divisão dos Rapazes causou-lhe uma completa reviravolta na visão que tinha formado até então sobre o budismo. Os membros reunidos não eram clérigos trajados com vestes sacerdotais. Eram pessoas do povo, jovens que atuavam nas mais variadas áreas da sociedade. Transbordavam de paixão fazendo pulsar um vigoroso dinamismo em busca da paz e da felicidade para a humanidade. Não eram jovens que se entregavam a meras contemplações, passando os dias em meditações sem propósitos. Eles encaravam diretamente os infortúnios e sofrimentos da realidade social e marchavam alegres e radiantes para o grande ideal unidos em um só coração. O professor ficara extremamente satisfeito por haver descoberto a existência de uma verdadeira religião viva, de um budismo vivo. A partir dessa época, a Soka Gakkai começou a ser alvo da atenção de pesquisadores e estudiosos de religiões de vários países. Isso representava a corrente da época, do mundo que ansiava por uma ―religião para o ser humano‖.
No capítulo Juryo do Sutra de Lótus há um termo que significa que o buda jamais poupou sua vida para expor a Lei (mi zo zan pai)1. Jossei Toda comentava esse termo constantemente com Shin-iti em meio à liderança do Kossen-rufu desafiando seu próprio esgotamento físico: — Como o buda disse que ―jamais poupou sua vida para expor a Lei‖, eu também não me permito descansar. Da mesma forma, Shin-iti empenhava-se sem descanso e trabalhava ativamente em prol da Lei. Em 7 de novembro, no dia seguinte à convenção da Divisão dos Rapazes, Shin-iti foi para Numazu a fim de participar da fundação do distrito daquela localidade. Logo após desembarcar na estação ferroviária de Numazu, onde chegou por volta das 16 horas, Shin-iti visitou a residência do chefe de distrito Takeshi Motihara. Sua esposa, Ritsuko, havia se convertido juntamente com ele seis anos antes, mas manteve certa objeção contra à prática da fé por algum tempo. Porém, após receber os incentivos de Shin-iti, ela começou a empenharse firmemente nas atividades dois ou três anos antes. Logo que cumprimentou Ritsuko de forma muito polida, Shin-iti disse respeitosamente: — Nesta oportunidade, temos o prazer de indicar o seu marido para ocupar o cargo de chefe do Distrito Numazu. Ele terá de se empenhar como líder de 14 mil famílias. Desejo, portanto, solicitar o apoio e o consentimento da senhora. Motihara se surpreendeu com aquelas palavras e olhou para o rosto de Shin-iti. Tinha um motivo para isso. Ele trabalhava no ramo de decoração de interiores. Tanto no serviço como em qualquer outro assunto, quando tomava uma decisão, agia muitas vezes precipitadamente sem ouvir sequer a opinião de sua esposa. Isso o levou a cometer alguns fracassos e ele estava consciente de que causava preocupação à sua esposa. Apesar de se sentir responsável diante daquelas situações, não conseguia ser franco em externar suas desculpas a ela. Da mesma forma, ele nunca a consultou sobre questões da prática da fé e das atividades. Porém, as conseqüências de seus atos impensados acabavam atingindo-a também. Essa era a origem da insatisfação de Ritsuko. Shin-iti havia percebido essa situação entre os dois, por isso viera ouvir a opinião de Ritsuko. Ela respondeu: — Meu marido é uma pessoa que quando está decidido a fazer alguma coisa, ninguém consegue convencê-lo a desistir, mesmo que eu seja contra e fale para parar. É uma pessoa que faz tudo exatamente conforme as orientações da Gakkai. Eram palavras ríspidas e de desabafo. Seu marido fez uma cara de desaprovação. Shin-iti, no entanto, respondeu com um sorriso. — É mesmo. Então a senhora concorda com a nossa proposta? Uma inesperada e reconfortante resposta veio dela: — Sim, apoiarei o meu marido no que for possível. Era uma consulta muito simples, porém criou uma grande mudança nos sentimentos de Ritsuko. Motihara percebeu que o que lhe faltava era essa consideração para com sua esposa, e ficou profundamente agradecido pela atenção de Shin-iti. A Reunião de Fundação do Distrito Numazu teve início às 18 horas, no Auditório Municipal de Numazu, situado na área conhecida como Hatimantyo. O novo chefe do distrito, Takeshi Motihara, estava muito entusiasmado e decidido a assinalar uma histórica partida convocando o ânimo de todos por meio do vigor de suas palavras de posse. Ele empenhara-se dois dias na redação de seu texto, concentrando toda a sua dedicação. A reunião de fundação seguiu conforme programada, após um relato de experiência e a apresentação dos novos dirigentes. Era chegado o grande momento de Motihara proferir suas palavras. Ele levantou seu corpo esguio e dirigiu-se para a tribuna inflando seu peito. Após cumprimentar solenemente os membros presentes, pôs a mão no bolso interno de seu paletó. Repentinamente assustou-se.
O manuscrito de seu discurso não estava no bolso. Colocou então a mão nos bolsos externos do paletó, porém estavam vazios. Motihara entrou em desespero. Colocou a mão em todos os bolsos sem nada encontrar. À medida que sua face ficava corada, seu raciocínio ficava cada vez mais encoberto pelo branco de sua mente. Estava em pânico mas precisava falar alguma coisa. — Boa noite — disse, mas logo emudeceu. Seu coração batia tão rápido como se estivesse numa corrida e o suor banhava seu rosto. — O fato de estar fundando um distrito aqui em Numazu... é na verdade um problema... Todos riram. Era uma gargalhada contínua. — Porque... recebendo o presidente Yamamoto aqui em Numazu, temos de desenvolver como nunca uma grande onda de conversão. E hoje é o dia dessa partida. Eu aguardei ansiosamente este dia como se esperasse dez anos em um só dia, ou melhor, mil outonos em um dia só. Ele estava completamente atrapalhado em suas palavras e não sabia mais o que falava. Motihara pegou então a moringa de água e encheu o copo numa tentativa de restabelecer o fôlego. Tremia tanto que o copo e a moringa tilintaram em suas mãos. Nesse momento Shin-iti tentou tranqüilizá-lo dizendo, em voz baixa, por trás: — Fique calmo. Fale normalmente da mesma forma como sempre. Essas palavras o acalmaram um pouco. Ele bebeu um gole de água, respirou fundo e recomeçou a falar com melhor compostura. — Eu sou um homem muito teimoso e não tenho capacidade alguma. Entretanto, consegui transformar o problema de minha doença por meio da prática da fé. Em todo caso, estou disposto a empenhar-me inteiramente com todas as minhas forças. Não recuarei um passo sequer. Desafiarei quaisquer problemas derrubando-os com o meu corpo. Por favor, tornem-se todos muito felizes. O único caminho para isso é lutar até o fim com harmonia e união. Vamos fazer do nosso Distrito Numazu o melhor do Japão. Estava longe de ser um discurso polido, mas o sentimento de Motihara ecoava nos corações dos presentes. O primeiro a bater palmas foi o presidente Yamamoto. Então, seguiu-se uma grande salva de palmas como uma tempestade. O presidente Shin-iti Yamamoto dirigiu-se então à tribuna após as palavras dos dirigentes. — O senhor Motihara que hoje está assumindo o cargo de chefe de distrito é uma pessoa que eu sempre admirei por sua franqueza. Não se pode avaliar uma pessoa pela eloqüência ao falar diante das pessoas. Se as pessoas que falam eloqüentemente fossem extraordinárias, os políticos seriam todos brilhantes. Contudo, existem muitos políticos que, apesar de fazerem excelentes promessas publicamente nos comícios em épocas de eleição, simplesmente esquecem-se delas após serem eleitos e não realizam nada pelo bem das pessoas. O mais importante em um ser humano não é a eloqüência, mas a honestidade e a sinceridade em se preocupar com as pessoas. Os dirigentes centrais da Soka Gakkai sabem falar muito bem, cada qual fazendo o melhor uso de suas características, mas nenhum deles era bom orador desde o começo. Todos enfrentaram situações em que tiveram de falar sobre o budismo, como nas reuniões de palestra ou então para incentivar os companheiros. A única forma que sabiam era falar com sinceridade. Com isso, ao se passarem dez ou vinte anos, conseguiram alcançar uma desenvoltura natural para falar diante das pessoas. Não tenho dúvidas de que o senhor Motihara virá a proferir maravilhosas orientações impressionando a todos pelo seu contexto claro e conciso. Por isso, solicito a todos que não o censurem pela sua fraca eloqüência, mas que o protejam e o apoiem em suas dificuldades, buscando sempre o aprimoramento mútuo. Espero que, com essa postura, construam aqui em Numazu um distrito repleto de benefícios. Diante daquele fracasso no dia de sua estréia como chefe de distrito, Motihara estava profundamente desolado. Mesmo sentado em sua cadeira no palco era doloroso erguer a cabeça diante de seus companheiros. Estava tão envergonhado que, podendo, se esconderia num buraco. As palavras de Shin-iti envolviam calorosamente todo o sentimento que transcorria no coração de Motihara. Em lágrimas, ele pensou: ―O presidente Yamamoto está me protegendo até neste ponto. É dessa maneira que um líder deve proteger seus companheiros. Eu também vou proteger inteiramente os membros do
distrito. Mesmo que tenha de rolar pelo chão, vou lutar pelo bem de todas as pessoas. Esse é o caminho para corresponder ao sentimento do presidente Yamamoto.‖ Após isso, citando exemplos reais de pessoas que se afastaram da Soka Gakkai temendo perseguições, Shin-iti enfatizou que a verdadeira prática da fé encontra-se no ato de perseverar por toda a vida. Sem poder conter as lágrimas de emoção, Motihara cerrou os lábios e decidiu: ―Jamais permitirei que um único membro venha a se afastar da prática da fé!‖ No dia 9 de novembro Shin-iti viajou para a Província de Yamanashi, a fim de participar da fundação do distrito Kofu na cidade do mesmo nome. Ele partiu de Tóquio de trem e à medida que se aproximava de Kofu a natureza ao redor da estrada de ferro tingia-se cada vez mais com as cores do outono. Após a fundação do Distrito Kofu, Shin-iti iria visitar as cidades de Matsumoto, Nagano, Toyama e Kanazawa, respectivamente nos dias 10, 11, 12 e 13, quando teria lugar a fundação dos distritos nessas localidades. A reunião do Distrito Kofu teve início às 17h40 no Centro Comunitário da Província de Yamanashi. Durante o decorrer, o relato de experiência de uma jovem da Divisão das Moças envolveu todos os presentes numa profunda emoção. — Com o fim da guerra, voltei da Coréia para o Japão. Naquele país, meu pai ocupava um alto posto numa grande empresa de minérios e tínhamos uma vida bastante confortável. Nada nos faltava. Mas, pouco tempo depois do retorno para o Japão, meu pai caiu enfermo atingido por uma tuberculose muito grave. Minha mãe começou então a trabalhar na mineração desde o raiar da manhã até tarde da noite, cobrindo-se toda de pó preto para poder nos sustentar... Ela contou que os sofrimentos da família aumentaram ainda mais quando seu irmão mais velho começou a enveredar por uma vida de delinqüência. Sem sua família saber, ele pegava o pouco dinheiro do apertado orçamento e o gastava. Chegou mesmo a roubar. Embora fosse advertido pelo pai, que sofria em seu leito, seu irmão piorava cada vez mais em sua revolta. Ela e sua mãe andavam de religião em religião à procura de uma solução. Porém, seu irmão, em vez de corrigir-se, marginalizou-se ainda mais e foi preso e levado a um reformatório. Nessas circunstâncias, ela ouviu falar do budismo por meio de um amigo de seu pai. Converteu-se e entrou na Soka Gakkai como sua última esperança. Apesar de a vida continuar difícil e dura, ela encontrou uma nova perspectiva e esforçava-se nas atividades. Pouco tempo depois, o estado de saúde de seu pai piorou e ele entrou em coma. As duas, mãe e filha, desdobraram-se na recitação de um intenso Daimoku. Após cinco dias, o pai recuperou os sentidos e depois de algum tempo já andava, promovendo atividades de propagação. Seu irmão saiu do reformatório e parecia estar regenerado. Contudo, a alegria durou muito pouco. Ele voltou para a marginalidade e acabou cometendo um crime que o levou para a penitenciária. Para aumentar sua desgraça, seu pai teve uma recaída e precisou ser hospitalizado. A situação financeira da família agravou-se, piorando com a falência da empresa onde sua família trabalhava. Elas tiveram de dividir a refeição de seu pai, fornecida pelo hospital, entre os três por muitos dias. ―Gohonzon, por que nós temos de sofrer tanto?‖ — as vozes que recitavam o Daimoku, de mãe e filha, já se transformavam em choro. Porém, um caloroso e sincero incentivo de um dirigente veterano encorajou-as naquele momento difícil. Ele dissera: — Quanto mais profundo o pântano, maior será a flor de lótus. Jamais sejam derrotadas! Após algum tempo, seu pai veio a falecer serenamente no hospital. Foi uma morte tranqüila. A tristeza da moça era muito grande, mas a fé no budismo deu-lhe forças para continuar vivendo com coragem. Ela prometeu a si mesma que lutaria pela felicidade de seu pai. Procurando conter suas lágrimas, prosseguiu seu relato no palco da reunião de fundação. — Meu irmão, que ainda está preso, mudou sua conduta a partir da morte de meu pai. Por outro lado, minha mãe encontrou um serviço com um ótimo salário e fui admitida para trabalhar no escritório de uma empresa, cujo ambiente de trabalho é maravilhoso. Além disso, conseguimos sair de nossa casa, que parecia um
barraco, e mudar para uma casa recém-construída. Estamos comprovando a felicidade a cada dia, ao mesmo tempo em que eu e minha mãe, repletas de esperança, empenhamo-nos alegremente nas atividades da Gakkai desejando a mesma felicidade para todas as pessoas. Ao terminar o relato, uma intensa salva de palmas envolveu todo o ambiente. O relato narrado era um drama da revivescência das pessoas simples que se reerguiam admiravelmente do abismo da infelicidade com base na prática da fé. Shin-iti Yamamoto subiu ao palco após as palavras de orientações dos dirigentes. Nessa ocasião, ele enalteceu a dedicação dos dirigentes centrais do novo distrito, solicitou uma forte união em torno deles e enfatizou: — Existem pessoas que tecem inúmeras críticas contra a Soka Gakkai. Quem, então, além da Gakkai, possui uma sólida filosofia e é capaz de salvar o povo do Japão? É muito simples dizer palavras brilhantes. Porém, não existe um único indivíduo ou organização que de fato tenha salvado inúmeras pessoas e não há ninguém que esteja pensando seriamente na felicidade do povo. Esta é a realidade. A Gakkai possui a suprema filosofia chamada budismo. Somente ela penetrou no seio do povo abandonado e estendeu-lhes as mãos para conduzi-lo realmente rumo ao caminho da felicidade, proporcionando-lhe coragem e esperança. Este é um fato real por ninguém realizado antes. Existem falsos líderes que, temendo que o povo se levante contra eles, acobertam-se sobre o manto da justiça e tentam dissolver a Gakkai. Eles nada mais são que destruidores da felicidade do povo. Com toda a certeza, a natureza maligna desses elementos que tentam ludibriar e manipular o povo de maneira engenhosa, usando-o para o interesse de suas ambições, será desvendada e julgada com todo o rigor pelo povo que eles acreditaram ter enganado facilmente. Shin-iti prosseguiu: — Quero declarar que os senhores que se empenham na linha de frente dessa luta são os mais dignos mensageiros do Buda e líderes mais nobres que qualquer pessoa que ostente títulos e posições. Desejo profundamente que, com essa convicção, os senhores sejam modelos tanto no trabalho como em suas famílias. A prosperidade de uma sociedade tem sua base na felicidade do povo. A meta da luta de Shin-iti também se encontrava nesse ponto. Ao participar das atividades de cada localidade, Shin-iti Yamamoto utilizava todo o tempo disponível para dialogar com os dirigentes e ouvir suas perguntas. Na cidade de Kofu, após a reunião de fundação, ele convidou os dirigentes de comunidade para uma conversa num recinto reservado. No diálogo franco e aberto, em que todos podem perguntar tudo o que querem saber expondo livremente suas opiniões, existe o verdadeiro relacionamento e o estímulo mútuo entre as pessoas. Um dirigente de comunidade levantou seu braço e perguntou: — Refletindo sobre minha personalidade, sinto que sou ainda muito limitado para atuar como um líder. Como poderei ampliar a minha capacidade e corresponder aos meus membros? — A limitação de si próprio é uma questão de nível de vida. Se o senhor, como dirigente da Gakkai, orar e desejar sinceramente a felicidade de todos os membros, poderá elevar o seu nível de vida e conseqüentemente ampliar sua capacidade. Contudo, se agir apenas por uma questão de amor próprio, não conseguirá ampliar suas limitações nem desenvolver a si próprio. O importante é estar sempre atento para descobrir seus próprios defeitos, procurar corrigi-los um por um, cultivando ao mesmo tempo suas boas qualidades. Não há necessidade nenhuma de se ter pressa ou de se ficar desesperado por essa questão. Em seguida, uma dirigente da Divisão das Moças perguntou: — Quando volto para minha casa e encontro minha mãe, sinto-me desanimada por ela não ser praticante. O que devo fazer? — Estamos nos dedicando na prática da fé para criar um ambiente familiar agradável. Se você se fecha e fica desanimada, que sentido terá a prática da fé? Se deseja realmente que ela pratique, você, antes de mais nada, deve mudar. Mesmo que fale eloqüentemente sobre o budismo, ela não a ouvirá, pois filhos são sempre crianças aos olhos da mãe. Ao invés disso, o mais importante é tornar-se uma filha atenciosa e gentil que seja motivo de admiração e orgulho pela sua mãe. Por exemplo, quando for para Tóquio para participar de uma
reunião de dirigentes, compre-lhe um presente como lembrança. Outro ponto importante é se você é capaz de agradecer-lhe sinceramente quando voltar de viagem: ―Mamãe, estou de volta. Muito obrigada por tudo.‖ A prática da fé não é algo de todo especial. O seu comportamento na vida diária é a prática da fé. Se você conseguir tornar-se o orgulho de sua mãe a ponto de ela sentir-se muito feliz pelo brilhante desenvolvimento de sua filha, ela certamente virá a praticar. A questão é como você se projeta no coração de sua mãe. Esse comportamento relaciona-se diretamente com a conversão. Shin-iti expressava todo o seu sentimento em suas palavras, desejando que ela tivesse pleno sucesso na realização de seu objetivo. Shin-iti Yamamoto passou a noite do dia 9 de novembro na cidade de Kofu. Na manhã seguinte, ao ler o jornal da hospedaria, soube que o candidato do Partido Democrata, John Fitzgerald Kennedy, vencera a eleição para presidente dos Estados Unidos realizada no dia 8. Para quem delegar a liderança da nova era? Essa era a questão maior que se desenvolvera nas acirradas campanhas eleitorais. A vitória de Kennedy pôs fim ao domínio do Partido Republicano após dois mandatos que duraram oito anos, passando o poder para os democratas. O partido de Kennedy sagrara-se também vitorioso nas eleições para o Senado e para a Câmara dos Deputados. Na manhã do dia 10, todos os jornais destacavam o nascimento da ―nova face‖ da política americana. Kennedy nascera no dia 29 de maio de 1917 no Estado de Massachusetts, na região leste dos Estados Unidos. Em meados do século XIX, seus bisavós emigraram da Irlanda para os EUA. Seu pai, Joseph, fora um homem muito influente no mundo dos negócios e das finanças, tornando-se uma eminente figura, chegando a ocupar o cargo de embaixador americano na Grã-Bretanha (1937 – 40). John Fitzgerald Kennedy crescera sob as excelências da educação ministrada por seu pai. Durante a Segunda Guerra Mundial, Kennedy alistou-se na Marinha e combateu as tropas japonesas no Pacífico Sul. Quando o torpedeiro que comandava fora destruído pelo destroyer japonês ―Amaguiri‖, Kennedy, mesmo ferido, nadou pelo mar escuro para salvar seus subordinados, o que o tornou, de um dia para outro, um herói americano. Após a guerra, Kennedy estreou no mundo da política aos 29 anos. Depois de exercer os mandatos de deputado federal e de senador, chegava à presidência dos Estados Unidos aos 43 anos, derrotando e então vicepresidente Richard Nixon, do Partido Republicano. Shin-iti pôde confirmar que aquela sensação de mudanças que sentira a cerca de um mês por ocasião de sua visita aos Estados Unidos estava tornando-se realidade então. Kennedy transmitia um novo e refrescante alento que parecia capturar o jovem espírito pioneiro da América. Em muitos aspectos, era um presidente com características inéditas na história dos EUA. Aos 43 anos, tornou-se o mais jovem presidente surgido de um pleito eleitoral e também o primeiro nascido no século XX. Foi também o primeiro presidente católico e descendente de irlandeses, poucos em número na América. Desde o estabelecimento da América até aquela época, os líderes políticos americanos haviam sido até então protestantes, do tipo que os grupos étnicos europeus algumas vezes se referi am pelo termo ―Wasp‖ — ―W‖ de white (branco) pela raça, ―A‖ e ―S‖ de Anglo -Saxon (anglo-saxão) pela etnia, e ―P‖ de protestant (protestante) pela religião. Naquela época, os católicos representavam 25% da população adulta, enquanto os protestantes somavam quase 70%. Era portanto muito difícil um representante não-Wasp eleger-se presidente dos Estados Unidos. O mundo está em movimento constante e a época também muda a todo instante. Da mesma forma, a mente das pessoas está em movimento. Não há nada imutável; tudo está em contínua transformação a todo momento. O verdadeiro líder é aquele que percebe a natureza real dessas mudanças e indica os caminhos de uma nova construção antecipando-se à própria época.
Kennedy candidatou-se à presidência lançando-se como líder de uma era de mudanças. Ele denominou seu plano de governo de ―Nova Fronteira‖1 e o divulgou oficialmente na ocasião da Convenção Nacional do Partido Democrático, que o elegeu candidato à presidência. Kennedy clamava por uma revolução que desbravasse os campos ainda inexplorados, declarando que o mundo, a época e a sociedade americana estavam diante de uma nova fronteira. Ele declarava: ―Além dessa fronteira existem muitas questões que não constam em nossos mapas tais como os campos desconhecidos da ciência e do universo, os problemas sem solução pertinentes à guerra e à paz, as lacunas de ignorância e preconceitos a serem sobrepostos e questões ainda sem respostas sobre pobreza e superpopulação. ―Seria mais fácil recuar dessa fronteira e ficar s ob a proteção do manto da mediocridade do passado que não oferece qualquer perigo, deleitando-se apenas na boa vontade passiva e nas retóricas idealísticas. Porém, acredito que a época está exigindo inovações e reformas, criatividade e resoluções. Estou pedindo a cada um dos senhores que se tornem os pioneiros dessa nova fronteira.‖ Suas palavras eram eloqüentes e irradiavam um ideal elevado, a esperança e o pulsar do espírito americano. Kennedy revelou também a sua intenção de desafiar as barreiras da discriminação racial. Quando Martin Luther King, líder do movimento pelos direitos civis, foi preso na fase final da campanha eleitoral, Kennedy telefonou imediatamente para a esposa de King para oferecer seu apoio e fez o máximo para conseguir a sua libertação. A agilidade de Kennedy diante desse fato cativou a simpatia de inúmeros americanos de ascendência africana. Um outro fator que chamou a atenção do público foi o fato de Kennedy ter reunido excelentes jovens intelectuais a sua volta, sendo a maioria colegas da Universidade de Harvard. Os americanos optaram pelas ―novas mudanças‖. Contudo, o resultado final da eleição revelou que fora uma disputa muito acirrada e sem precedentes na história norte-americana. Kennedy venceu com 303 votos, enquanto Richard Nixon obteve 219, na votação entre os delegados. Em termos de votos populares, Kennedy venceu com uma pequena margem de pouco mais de 110 mil votos do total de 69 milhões. Essa vantagem representava apenas 0,1%. Isso demonstrava que a opção pela estabilidade, mantendo a situação, ou pela mudança com profundas reformas era ainda alvo de muitas discussões entre os americanos. Na época, os Estados Unidos da América e todo o mundo enfrentavam tumultuadas situações que não poderiam ser mais geridas pelas formas vigentes. O ano de 1960, que havia iniciado com a esperança de um descongelamento nas relações entre os Estados Unidos e a União Soviética, viu novamente o estado de rigoroso inverno após o incidente do jato espião U2. A desconfiança mútua que se assentou profundamente entre o Ocidente e o Oriente colocou o mundo sob a ameaça de um perigo iminente que poderia fazer eclodir a qualquer momento uma guerra nuclear. Cada uma das duas grandes potências considerava de forma hostil a outra como um monstro sedento de ambição pelo domínio do mundo, e agia descontroladamente na corrida armamentista na mesma medida de suas suspeitas mútuas. Essa era a situação da Guerra Fria. Não significava por outro lado que todas as possibilidades de um diálogo entre as partes estivessem totalmente descartadas. De fato, no momento em que se confirmou a vitória de Kennedy na eleição, o primeiroministro soviético Nikita Krushev enviou imediatamente um telegrama de congratulações. Não teria sido esse ato uma intenção de se criar um novo fio da meada para um entendimento amistoso tendo em vista o surgimento de um novo governo americano? De toda forma, inúmeros problemas eram previsíveis nessa conjuntura mundial. Por exemplo, a disputa pelo poder em Berlim pelos blocos Ocidental e Oriental continuava sob forte tensão, e também as influências da Guerra Fria atingiam Cuba, onde o socialismo ganhava terreno após a revolução ocorrida em 1959. Além disso, ouviam-se também rumores que contestavam a queda do prestígio internacional americano pelo seu atraso na corrida armamentista e na exploração do espaço em relação aos soviéticos.
A situação interna dos Estados Unidos encontrava-se estagnada pela recessão econômica e o índice de desemprego aumentava cada vez mais. Em várias partes do país surgiam conflitos de questão racial. Kennedy estava para zarpar rumo a um mar de tormentas, de crises e dificuldades. Shin-iti Yamamoto deteve-se olhando fixamente o jornal. Embora ele e Kennedy se encontrassem em diferentes posições, os problemas do presidente norte-americano eram iguais aos seus. As aflições de Kennedy eram no sentido de defender a paz e a segurança do mundo como chefe do governo americano que representava os países do bloco ocidental. Shin-iti, por sua vez, como líder budista, afligia-se em resolver a questão da infelicidade do mundo e de toda a humanidade pela dimensão espiritual, isto é, pela dimensão da vida do ser humano, a qual é a raiz fundamental que gera todas as situações. Ele estava com 32 anos e Kennedy com 43. Além disso, Shin-iti não possuía recursos financeiros nem uma equipe de intelectuais de alto nível. Ele mesmo teria de juntar-se às pessoas sem renome para aí descobrir, criar e desenvolver novos valores humanos. O mundo buscava um novo líder e estava prestes a partir para uma nova era. Shin-iti considerava como missão pessoal preparar um solo fértil de humanismo, arando a grande terra da vida do povo para possibilitar o desbravamento dessa nova era. Shin-iti Yamamoto dirigiu-se de Kofu para Matsumoto no dia 10 de novembro. Durante a viagem pôde desfrutar a paisagem outonal que se estendia pela janela do trem. Os dirigentes desse distrito o aguardavam na estação ferroviária de Matsumoto. — Obrigado por terem vindo! — disse Shin-iti sorrindo. Ao ver a dirigente central da Divisão das Moças, ele a cumprimentou: — Parabéns pelos seus esforços! Ela chamava-se Kimiko Takemoto. Shin-iti a tinha incentivado dois anos antes, no dia 16 de agosto de 1958, quando ocupava o cargo de diretor administrativo e estava em visita a Suwa. Naquela ocasião, Shin-iti participou de uma reunião geral da região de Nanshin1, realizada no Auditório Público de Suwa, a qual tinha o Distrito Bunkyo como organização principal. Logo após o encerramento, foi realizada uma reunião de orientação de dirigentes no salão de uma hospedaria da proximidade. A jovem Kimiko atuava na época como chefe de unidade da Divisão das Moças e morava em Ina. Um dia antes daquela reunião, ela recebeu uma carta enviada por uma dirigente de Tóquio recomendando-lhe que levasse seus membros para se encontrarem com Shin-iti na reunião em Suwa. Ela sabia através das dirigentes de sua divisão que Shin-iti era uma pessoa que dirigia de fato toda a Soka Gakkai. Com certeza seria muito difícil recebê-lo em Suwa numa outra oportunidade. Pensando dessa maneira, viajou para Suwa levando seis membros de sua organização. Ela estava muito feliz e animada. Entre as seis moças havia uma companheira deficiente devido à paralisia infantil e uma outra que sofria de tuberculose. Nenhuma delas possuía uma condição satisfatória de vida e a maioria praticava sozinha na família. A viagem levou pouco mais de uma hora, incluindo a baldeação. Apesar de curta fora uma viagem cansativa para Kimiko, pois havia uma grande preocupação pela saúde de sua companheira doente. Ela teve de ajudar também na locomoção da jovem com deficiência física. Mesmo cansada, ficou muito feliz ao ouvir as orientações de Shin-iti no Auditório Público de Suwa. Seu desejo de fazer com que seus membros pudessem encontrar-se com Shin-iti tornou-se ainda mais forte. Logo após o término, ela correu até uma sala reservada para Shin-iti mas não o encontrou. Perguntando para alguns dirigentes, soube que ele fora para uma hospedaria da vizinhança administrada por um membro da Gakkai, onde seria realizada uma reunião de orientação. Quando viu o relógio, já passava das 21 horas. Considerando a situação familiar de cada uma de suas companheiras, ela causaria um grande incômodo e preocupação se perdesse o trem para retornar na mesma noite.
No entanto, pensava ela, se perdesse aquela chance, não haveria mais uma outra oportunidade de seus membros encontrarem-se com Shin-iti. Resolveu então que não poderia deixar de levá-las até a hospedaria. Lá chegando, todas subiram até o segundo andar onde a reunião de orientação já havia iniciado. No salão repleto de pessoas, ouviram a voz de Shin-iti. Ele estava terminando de responder a uma pergunta. Quando houve um intervalo para a próxima pergunta, uma voz pôde ser ouvida do fundo do salão. — Senhor Yamamoto! Mesmo sem saber quem era, Shin-iti sentiu que era uma voz com um forte apelo. — O que houve? — perguntou Shin-iti. — Eu gostaria que o senhor se encontrasse com os meus membros. — Terei grande prazer em conhecê-las. Traga-as aqui. Por favor, abram espaço para elas! A jovem Kimiko Takemoto e suas companheiras aproximaram-se de Shin-iti, auxiliando a que tinha dificuldade em locomover-se. — Sejam bem-vindas. De onde vocês vieram? — Viemos de Ina. Somos em sete pessoas. — Você é a chefe de unidade da Divisão das Moças de lá, não é? — Sim! — Então, peço-lhe que me apresente suas companheiras. — Sim! Eu sou a chefe de unidade e me chamo Kimiko Takemoto. Esta é a minha irmã mais nova Tatsue. Ao seu lado está... Ela não conseguia mais falar. Seus olhos estavam cheios de lágrimas. Uma forte emoção e alegria tomava conta de seu coração por ter conseguido realizar seu único desejo naquela viagem de fazer com que seus membros se encontrassem com Shin-iti. — Bem, acho que ela não vai conseguir continuar... Por favor, peço às outras que se apresentem por si mesmas. Contudo, as demais jovens também estavam tão emocionadas que não conseguiam pronunciar as palavras. Olhando carinhosamente para Kimiko Takemoto, Shin-iti falou: — Não chore tanto. Você não é uma líder da Divisão das Moças? Além disso, eu sou como seu irmão mais velho e o de todas vocês. E esse irmão já está aqui. Fiquem tranqüilas e perguntem o que quiserem. Diante dessas palavras, elas ficaram ainda mais emocionadas e choraram, estremecendo seus corpos. Shin-iti olhou para Kayo Takada, uma dirigente da Divisão das Moças que estava ao seu lado, e disse: — Tenho uma idéia! Vamos presenteá-las com a canção ―Alameda da Vida‖ (Jinsei no Namikimiti). A jovem Takada era estudante de canto. ―Alameda da Vida‖ era uma canção que todas as participantes cantaram muitas vezes no curso de verão daquele ano. Takada começou a cantar com uma voz sonora e ressoante. Não chore irmãzinha. Irmãzinha, não chore. Se chorar, não terá sentido termos abandonado ainda pequenos a nossa terra natal. Quando Kayo Takada terminou de cantar a primeira estrofe, Shin-iti Yamamoto convidou a todos: — Vamos cantar juntos!
Shin-iti também cantou. O grupo de Kimiko tentou acompanhar, mas algumas não conseguiram emitir suas vozes tomadas pela emoção. No caminho longo e triste do entardecer, nosso irmão nos repreendeu em lágrimas... No entoar da canção, a voz de Shin-iti destacou-se envolvendo as jovens com vigor e carinho. Vamos viver, ardendo em esperanças, assobiando altivamente a melodia do amor pela alameda da vida. Kimiko e suas companheiras continuavam chorando mesmo após a canção. O incentivo de Shin-iti com esse canto havia penetrado com ardor no coração daquelas jovens que vinham suportando as tristezas diante dos sofrimentos e infortúnios de suas vidas. Apontando Kayo Takada, Shin-iti falou para Kimiko: — Ela canta muito bem, não é? Vamos fundar brevemente um coral na Divisão das Moças e estou pensando em indicá-la como responsável. Vamos cantar mais uma vez sem chorar desta vez, está bem? Iniciou-se, novamente em coro, a canção ―Alameda da Vida‖. As jovens, em torno de Kimiko, cantaram juntas com os olhos inchados e vermelhos. Era um canto que glorificava a rara beleza da vida. — Vamos cantar agora a canção ―Libélula Vermelha‖. Várias canções se sucederam conforme as sugestões de Shin-iti. O caloroso sentimento pelas suas companheiras, enaltecido no entoar das canções, inflamava cada vez mais a chama de esperança no coração das jovens. Seus olhos úmidos começaram a reluzir com vivacidade e um sorriso apareceu em seus lábios. Olhando para os sete membros da Divisão das Moças, Shin-iti falou carinhosamente: — A primavera certamente chegará em suas vidas. Mesmo que agora as tristezas e os sofrimentos sejam grandes, esforcem-se sem jamais serem derrotadas. Estarei orando continuamente pelo desenvolvimento de vocês e as protegerei sempre. Como está ficando tarde, acho melhor vocês voltarem para suas casas. Tomem o máximo de cuidado... Kimiko e suas companheiras sentiram-se como se estivessem flutuando nas nuvens ao deixarem o local da reunião. Na viagem de retorno para suas casas, elas juntaram suas mãos e dialogaram sobre as esperanças que acalentavam em suas vidas. No dia seguinte ao da atividade em Suwa, Shin-iti visitou pela primeira vez as colinas de Kirigamine. As flores de Matsumushiso de cor lilás dançavam ao vento nos campos verdes e as montanhas ao Norte mostravam sua cadeia de picos no horizonte. Shin-iti passeou e dialogou com os jovens, chegando a cavalgar. — É um ótimo lugar. Gostaria de estar em companhia do presidente Toda — disse em voz baixa. Já se passava pouco mais de quatro meses desde a morte de Jossei Toda. Naquele época Shin-iti estava iniciando a luta com a forte determinação de um jovem leão a sucedê-lo. Desejou também que muitos jovens tivessem a oportunidade de conhecer aquele local. Sabia que o contato com aquela majestosa e bela paisagem instilaria uma nova coragem e disposição no desenvolvimento dos jovens rumo ao futuro. Esse sentimento concretizou-se em julho do ano seguinte ao de sua posse quando foi realizado o treinamento ao ar livre dos Grupos Suiko e Kayo, tendo como local as colinas de Kirigamine. Além disso, 28 anos mais tarde, em agosto de 1989, foi inaugurado nesse local o Centro de Treinamento dos Jovens de Nagano. Desde então inúmeros rapazes e moças reúnem-se todos os anos para receber treinamentos e cultivar saudavelmente o corpo e a mente em meio à exuberante natureza. Naquela primeira visita a Kirigamine Shin-iti promoveu uma oportunidade de confraternização e diálogo:
— O romance ―Antes do Alvorecer‖, de Tosson Shimazaki1, é uma alusão ao alvorecer da Era Meiji do Japão. O que nós estamos tentando descortinar agora é o alvorecer do Oriente e do mundo. O Kossen-rufu é um empreendimento promovido por pessoas anônimas que irá desbravar uma nova página na história da humanidade. Dizendo isso, Shin-iti escreveu algumas dedicatórias e as ofereceu para os companheiros presentes. Para um deles, que re presentou os demais, escreveu: ―Avance infinitamente para edificar a felicidade dos companheiros que brincam nestas colinas‖. Para um chefe de comunidade dedicou as seguntes palavras: ―Lidere o grande exército como uma onda bravia, pois é o seu o palco do Kossen- rufu‖. Depois daquele diálogo, ele dirigiu-se à cidade de Matsumoto, onde promoveu uma reunião de palestra. Dois anos após esses acontecimentos, Shin-iti retornava a Matsumoto. Ele sentia-se muito feliz porque a jovem Kimiko, que fora ao seu encontro em Suwa, tornara-se a dirigente central da Divisão das Moças do Distrito Matsumoto. O dirigente central da Divisão dos Rapazes que o recepcionou na estação ferroviária chamava-se Genji Katsuta. Shin-iti o conheceu na visita a Matsumoto dois anos antes. Era um rapaz dedicado e muito franco. Naquela ocasião, Shin-iti expressou sua expectativa em seu desenvolvimento escrevendo-lhe a palavra ―coragem‖. Esse rapaz também o recepcionou com um aspecto de amplo desenvolvimento. Os jovens que se desenvolvem são belos e admiráveis, pois neles existe o forte esplendor da esperança. A Reunião de Fundação do Distrito Matsumoto teve lugar no dia 10, com início às 17 horas, num auditório localizado no subúrbio de Matsumoto. O local ficou completamente tomado por cerca de 10 mil membros provenientes de diversas localidades e que atravessaram as montanhas de Shinano cobertas pelas cores do outono. O vento estava gelado e batia no rosto dos membros, no entanto, todos estavam radiantes e repletos de entusiasmo. O jovem Kenji Katsuta, representando a Divisão dos Rapazes, proferiu sua decisão em breves palavras, porém sem deixar de transmitir o pulsar de uma vigorosa determinação. Ele disse: — Nós, da Divisão dos Rapazes, realizaremos uma grandiosa luta de coragem e convicção erguendo a gloriosa bandeira do Kossen-rufu! No curto espaço de dois anos, Kenji havia se desenvolvido como um admirável e jovem líder. Olhando o seu perfil de vigor, Shin-iti pôde acalentar a certeza no progresso do Distrito Matsumoto. Em suas palavras, Shin-iti declarou que a Soka Gakkai tinha o Gohonzon como base fundamental e que uma vida repleta de benefícios é a prova real que supera quaisquer teorias e comprova a veracidade do budismo. Quando Shin-iti chegou ao hotel, após a fundação e depois de haver participado de uma reunião de orientação para dirigentes de comunidade, recebeu a visita de dirigentes de distrito. Kenji e Kimiko encontravam-se entre eles. Shin-iti perguntou a Kimiko a respeito de sua família. Ela disse que seu pai fracassara nos negócios e que havia iniciado a prática da fé um ano antes, porém estava morando longe da família. — Deve ser muito difícil para você. Da próxima vez, quero encontrar-me com seu pai. Afinal, estou contando com o apoio de sua preciosa filha. Kimiko duvidou de seus próprios ouvidos. Apesar de haver se convertido, seu pai sequer fazia o Gongyo. Ela jamais imaginara que ele viesse a se encontrar com o presidente Yamamoto. — É verdade!? Por favor, então! Para desenvolver-se como um valor humano, não se deve preocupar-se apenas com cada indivíduo, mas também com as circunstâncias de sua vida para poder estender-lhes apoio e incentivos. Essa é uma das responsabilidades de um líder. Shin-iti dirigiu-se a Kenji e disse-lhe:
— Os três meses iniciais são decisivos. Uma vez que você assumiu a bandeira da Lei como líder da Divisão dos Rapazes, deve ter a determinação de empreender a maior luta de todo o Japão. Faça com que seu nome seja conhecido por toda a Divisão dos Rapazes de tal forma que todos possam diz er: ―Nagano pode contar com Kenji.‖ — Sim! — respondeu ele com toda a determinação. Naquela noite, Kenji colocou a bandeira da Divisão dos Rapazes ao lado do oratório e orou com toda seriedade pela sua determinação de ―levantar -se só‖. Três meses depois, ele realizou a Convenção da Divisão dos Rapazes do Distrito Matsumoto reunindo mil companheiros e concretizou nesse período mais de 200 conversões. Kenji não era uma pessoa com ideais que ficavam apenas em meras promessas. Era um líder de ação efetiva. No dia seguinte, Shin-iti Yamamoto deslocou-se de Matsumoto para Nagano a fim de participar da reunião de fundação do Distrito Nagano. Na Estação Ferroviária de Matsumoto, cerca de dez representantes vieram despedir-se de Shin-iti. Dentre eles estavam Kimiko Takemoto e seu pai. Ao aproximar-se de Shin-iti, Kimiko apresentou-lhe o pai. — Sua filha tem-me ajudado muito. Eu atuo como presidente e me chamo Shin-iti Yamamoto. Ao se apresentar, Shin-iti estendeu sua mão e ambos trocaram um forte aperto. Poucos segundos depois, o trem adentrou a estação. — O senhor não gostaria de nos acompanhar até Nagano? Eu tenho as passagens. A viagem tornara-se uma oportunidade propícia para o diálogo entre eles. Kimiko sentia-se como se estivesse sonhando. — Sua filha é uma jovem muito brilhante. Doravante, nós nos encarregaremos de toda a responsabilidade pelo desenvolvimento dela como líder da Divisão das Moças da Soka Gakkai. Ouvindo essas palavras, Kimiko sentiu um forte ardor em seu coração. Seu pai estava tenso mas respondeu: — Ela é uma filha muito imprudente, mas conto com o apoio do senhor. O seu modo de falar parecia o de um pai que dava a mão da filha em casamento. Shin-iti ofereceu-lhe frutas e refrigerantes e perguntou sobre a situação de seu trabalho e sobre sua saúde, ao mesmo tempo em que lhe explicava a questão da prática da fé. — Mesmo que o senhor tenha fracassado nos negócios, não significa que tenha sido derrotado na vida. Se levar avante a prática da fé, se tornará certamente vitorioso no final. Cultive a sua fé de forma concreta e sem precipitações. O rosto do pai de Kimiko ia assumindo uma cor mais viva à medida que conversava com Shin-iti. As lágrimas turvavam seus os olhos que presenciava a cena com muita emoção. A partir daquele dia, o pai de Kimiko começou a recitar o Gongyo e não mediu esforços para apoiar a filha em suas atividades. ―É minha promessa para com o presidente Yamamoto!‖ — dizia ele freqüentemente. Ao chegar à estação de Nagano, Shin-iti despediu-se de Kimiko e de seu pai. Logo depois, dirigiu-se à sala do chefe da estação para cumprimentá-lo e solicitar-lhe apoio no atendimento de um grande número de pessoas que congestionaria a estação naquele dia, pois estava prevista a participação de mais de 10 mil membros na reunião de fundação. Além disso, a estação de Nagano já recebia normalmente muitos peregrinos em visita ao templo Zenkoji. Com a fundação do distrito nessa cidade, aumentaria consideravelmente o número de usuários entre os membros da Gakkai. Como responsável da Soka Gakkai, Shin-iti foi respeitosamente cumprimentar o chefe da estação. Uma boa diplomacia inicia-se com o encontro entre as pessoas, e esse encontro começa com a troca de cumprimentos que nada mais é do que o portal que abre o intercâmbio entre corações para se zarpar rumo ao vasto oceano das amizades.
As flores da alegria desabrocharam no final de outono em Nagano e a esperança espalhava-se por todos os cantos. A Reunião de Fundação do Distrito Nagano, realizada no dia 11, contou com a participação de cerca de doze mil membros, tornando-a um encontro onde pulsava uma vibrante energia de avanço. Shin-iti estava muito feliz pelo grandioso sucesso nas reuniões de fundação dos distritos Matsumoto e Nagano e pela nova partida assinalada. A Província de Nagano não era apenas um lugar que trazia à lembrança as recordações do último verão vivido por Jossei Toda, era também uma localidade marcada pelo profundo relacionamento com o primeiro presidente Tsunessaburo Makiguti devido às suas visitas para promover a propagação do budismo. Em especial, na visita que fez em fevereiro de 1936 acompanhado de três membros, ele permaneceu por uma semana visitando as cidades de Shimossuwa, Kamissuwa, Ina, Matsumoto, Nagano e Ueda. O local utilizado para a reunião de palestra naquela visita de Makiguti a Nagano foi o salão da hospedaria Saihokukan, o mesmo onde Shin-iti estava hospedado. Ao retornar à hospedaria após a reunião de fundação, Shin-iti sentiu-se muito cansado. Era mais do que natural estar exausto, pois não parara um instante sequer para se restabelecer do desgaste da viagem que fizera ao exterior. Contudo, ao pensar que há cerca de vinte anos o presidente Makiguti havia realizado ali uma reunião de palestra para salvar as pessoas da infelicidade, Shin-iti envolveu- se numa profunda reflexão: ―Em fevereiro de 1936, o presidente Makiguti contava com 64 anos, exatamente o dobro de minha idade. Com certeza, os caminhos para Nagano estavam na ocasião cobertos por uma espessa camada de neve. O presidente Makiguti deve ter andado por esses caminhos para promover a atividade de conversão. Pensando nisso, eu, que sou ainda jovem, não posso reclamar do cansaço.‖ Shin -iti sentiu uma forte coragem emergindo de seu interior. A cerimônia pelo 17º aniversário de falecimento de Makiguti seria realizada na semana seguinte. Passado certo tempo, os dirigentes do distrito recém-fundado vieram ao seu encontro. Iniciou-se então em seu quarto uma reunião de diálogo em torno de um aquecedor a carvão coberto por um acolchoado. Um dirigente da Divisão dos Rapazes perguntou-lhe: — Eu trabalho atualmente numa oficina de automóveis e tenho apenas o curso primário. Estou inseguro quanto a se terei capacidade de liderança como dirigente da Divisão dos Rapazes. Shin-iti fitou-o com rigor e seriedade. — O valor do ser humano é medido pela sua capacidade real. Nada tem a ver com o grau de escolaridade! Como mecânico, torne-se um modelo para todos em seu serviço, trabalhando ao máximo sem se importar em ficar todo sujo de graxa. Mesmo que as profissões sejam diferentes, a experiência da vitória na sociedade obtida com base na prática da fé penetra no coração de todas as pessoas. Os companheiros seguem o bom exemplo da prática da fé dos dirigentes, como também se simpatizam com o seu digno caráter. Não existe necessidade alguma de tentar atrair a admiração dos outros mostrando ser o que na realidade não se é. Desenvolver o líder do povo a partir do povo e desbravar uma era democrática em que o povo é o protagonista da sociedade — eis o caminho da reforma pelo qual a humanidade deve avançar. Inclinando-se mais para a frente, Shin-iti Yamamoto disse para o jovem: — Em vez de ficar complexado por não ter escolaridade, seja você mesmo e esforce-se no seu campo de atuação. Esse é o caminho para a vitória na vida. Eu precisei abandonar o curso noturno para acompanhar o meu mestre Jossei Toda. Não ter grau de escolaridade não é vergonha alguma. Contudo, não estudar é ser ordinário e isso é uma vergonha. Eu estudo diariamente. Procure ler e estudar vinte ou trinta minutos por dia para não gastar o tempo em vão. Essa continuidade gerará uma grande força. Espero que você cultive uma capacidade real e cresça como um vigoroso líder do povo. Hoje, vou cantar em homenagem à sua partida para um glorioso futuro. Shin-iti começou então a cantar ―Subida de Tabaru‖: A chuva não pára. O homem e o seu cavalo se molham...
Ao terminar de cantar a primeira estrofe, disse: — Vamos cantar todos juntos! Todos então uniram suas vozes. Jamais deixarei meu precioso corpo ser ferido nem mesmo pelas pulgas antes que consiga conquistar o mundo. Ao terminar de cantar, Shin-iti olhou fixamente para o jovem que havia feito a pergunta. — Você é uma pessoa muito preciosa pois possui uma grandiosa missão. Seu corpo também é muito importante. Cuide de sua saúde e fortaleça o corpo para não ficar doente. Não machuque a si mesmo envolvendo-se em problemas fúteis como dinheiro, bebida ou sexo. Viva com a determinação de ―jamais ser ferido pelas pulgas!‖ O jovem concordou com a cabeça mostrando-se muito emocionado. Em seguida, Shin-iti sugeriu: — Vamos cantar também para as moças! E todos cantaram as canções ―Terra Natal‖ e ―Folhas de Momiji‖. O grande desejo de Shin-iti era o desenvolvimento e a vitória dos companheiros que estavam reunidos com ele. Lá fora era noite de final de outono e fazia um frio cortante. Porém, dentro do quarto havia um calor aconchegante e familiar e o ecoar do canto da alegria. A viagem de Shin-iti para a fundação de vários distritos revestiu-se de um colorido de incentivos. Foi uma viagem em que ele agiu simplesmente como um ser humano ensinando o resplandecente caminho da felicidade através de estímulos sinceros que aqueciam o coração congelado das pessoas. A grandiosa batalha de uma existência nada mais é do que o acúmulo de lutas promovidas em cada momento da vida. A antena do coração de Shin-iti Yamamoto captava sem descanso e com precisão esse momento da vida e reagia com aguçada sensibilidade. Pode-se dizer que toda a mudança concentra-se em captar o momento exato. No dia 12, Shin-iti deixou a cidade de Nagano e viajou para Toyama. No mesmo dia participou da reunião de fundação do Distrito Toyama, realizada no auditório municipal. Momentos antes do início da reunião, o chefe de distrito Toshiharu Takamatsu e demais dirigentes mostravam-se bastante nervosos. Ao pensarem que deveriam ficar diante de milhares de participantes, os rostos de todos estavam tensos e seus movimentos não eram naturais. Entre eles havia um dirigente que demonstrava tremor nos joelhos. Se os líderes que sobem a um palco estão nervosos, acabam transmitindo essa tensão para os participantes e a reunião torna-se pesada e sem vida. Shin-iti compreendeu que deveria dissolver aquele clima tenso nos dirigentes. — Vocês estão com cara de irados. Se fizerem uma cara mais engraçada, prometo pagar o que quiserem comer. Bem, deixem-me ver quanto tenho no bolso... Ele colocou a mão no bolso do paletó, tirou-a fechada e a abriu num gesto rápido. Na palma de sua mão apareceu apenas uma moeda de 10 ienes (aproximadamente R$ 0,09). — Ah!, só tenho 10 ienes. Com isso dá para comprar apenas um pãozinho, não é mesmo? Todos os dirigentes riram animadamente. Esse riso espalhou-se pelo ambiente e o clima sério e tenso de então transformou-se completamente. — Agora vamos subir ao palco. Vamos fazer uma atividade alegre. Fiquem à vontade, como se fosse uma reunião normal. Seria uma falta de respeito para com as pessoas que tiveram o trabalho de vir de tão longe se os
Os dirigentes de Toyama aprenderam com isso a importância da atitude do líder em prestar atenção a tudo. O que mais preocupava Shin-iti em relação à fundação do Distrito Toyama era a Divisão das Moças, composta por pouco mais de 500 membros. A única dirigente confirmada era Rumiko Tanigawa, que iria ocupar o cargo de chefe da Divisão das Moças do distrito. Não haviam conseguido nomear nenhuma chefe de comunidade para desenvolver diretamente as atividades em torno da chefe de distrito, conseqüentemente, Rumiko teria de promover as atividades entrando em contato direto com as chefes de mais de vinte blocos. Não seria nada fácil liderar as atividades da mesma maneira que os demais distritos. Contudo, justamente por ser um distrito com uma composição adversa ele desejava que Rumiko fosse vitoriosa. A vitória da Divisão das Moças de Toyama se iniciaria com a decisão de levantar-se só e do empenho sério de Rumiko. Outro ponto importante seria a estima com que as chefes de bloco teriam por ela como uma irmã, depositando-lhe uma sincera confiança. Além disso, um ponto chave do sucesso ou insucesso estaria no fato de os adultos e as senhoras apoiarem ou não com toda a alegria cooperando com a Divisão das Moças. Rumiko tinha um forte senso de responsabilidade e não gostava de ser derrotada. Por isso mesmo, ela aparentava um ar de superioridade, o que causava a impressão de arrogância aos outros. Não se poderia ter certeza de que todos iriam apoiá-la com prazer. Isso seria negativo para ela e acabaria atrasando o desenvolvimento da Divisão das Moças. Shin-iti ponderou que deveria treiná-la com rigorosidade para que ela pudesse tornar-se uma líder querida e estimada por todas as pessoas. A reunião de fundação do distrito foi coroada com total sucesso. Após o encerramento, na sessão de perguntas e respostas com os dirigentes de comunidade realizada na sala de espera do auditório, Rumiko fez uma pergunta: — No caso da Divisão das Moças do Distrito Toyama, não temos nenhuma chefe de comunidade. Como devo proceder para promover as atividades nessas circunstâncias? Como posso fazer para que os membros correspondam? Shin-iti sentiu que era o momento certo para orientá-la. — Fazer com que os membros correspondam? Por que você gostaria que eles a atendessem? Isso é que os clientes numa casa de chá esperam quando querem ser servidos. Dizendo isso, Shin-iti começou a bater na mesa imitando um cliente insafisfeito. — Se alguém surgir em resposta, o que você vai fazer? Vai pedir que lhe sirva algum doce? Rumiko percebeu que as palavras de sua pergunta não foram adequadas e logo reformulou a questão. — ...Como pessoa central, como devo proceder para ―puxar‖ as pessoas? — Você vai ―puxar‖ as pessoas? Se for uma subida será um problema, não é? É impossível puxar todo mundo numa subida muito aguda. Precisará que alguém a ajude empurrando por trás. Rumiko ficou confusa. Tentando compreender onde estava seu erro, voltou a perguntar: — Ou seja, gostaria de saber o que devo fazer para movimentar as pessoas. — Ora, você quer fazer todos se movimentarem? Então não é você que vai se movimentar em prol de todos? Nunca ouvi falar de um dirigente desse tipo dentro da Soka Gakkai. Ela considerou a resposta irônica e áspera. Os olhos de Rumiko encheram-se de lágrimas embora fosse uma pessoa de gênio forte. Rumiko perguntou com o rosto transtornado: — Como devo então formular a minha pergunta? O sentimento de Shin-iti era o de ensinar-lhe uma postura digna como dirigente para que ela pudesse ter um glorioso futuro. Ele respondeu com certo rigor em sua voz: — Jamais pense que você é uma pessoa capacitada. Nunca tente movimentar as pessoas como máquinas só porque está num posto superior pelo seu cargo. Seja uma jovem que se empenha em tudo com a seriedade e a
humildade de se curvar diante dos outros e dizer: ―Sou uma pessoa simples e sem qualidades. Por favor, solicito o apoio dos senhores. Irei me esforçar em tudo o que for para o bem de todos‖. Com o coração tocado por essa sinceridade, as pessoas irão se levantar e cooperar com você. Ninguém segue uma pessoa quando percebe que ela é arrogante. Não é uma questão de tática ou de métodos, mas sim de seriedade e de sinceridade. O fator determinante é se está ou não disposta a lançar-se resolutamente na luta pela felicidade de todas as pessoas com base na firme recitação do Daimoku. Rumiko sentiu um choque. A palavra ―humildade‖ atravessou o seu coração. Isso estava realmente faltando nela, refletiu. O ser humano não admite facilmente seus próprios defeitos. Se não forem corrigidos a tempo, acabará encontrando um impasse na vida mesmo que tenha uma excelente capacidade. Por essa razão, Shin-iti procurou adverti-la rigorosamente para cortar o seu mal pela raiz. Rumiko sentiu seu ponto fraco sendo revelado à luz do dia e ficou completamente sem reação. Sentiu-se também miserável e envergonhada por ver pela primeira vez os seus defeitos sendo apontados explicitamente. Shin-iti fitou profundamente os olhos de Rumiko e depois dirigiu-se ao chefe de distrito Toshiharu Takamatsu dizendo-lhe: — A Divisão das Moças está seriamente preocupada em como edificar o Distrito Toyama. Não é algo admirável? Isso podemos notar na seriedade demonstrada por Rumiko. A partir de agora, considere-a como minha irmã e preste-lhe seu apoio. Conto com o senhor, por favor. Shin-iti abaixou então a sua cabeça diante de Takamatsu. Rumiko foi surpreendida por essa cena. O sentimento de Shin-iti havia tocado profundamente o seu coração fazendo-a romper-se em prantos. — Uma jovem líder não deve chorar, está bem? Procure sempre envolver as pessoas com um sorriso estampado no rosto. Agora é o momento decisivo de sua vida. É a hora de sua revolução humana. Eu vou aguardar com muita expectativa o futuro da Divisão das Moças de Toyama. Está bem? Nas viagens de Shin-iti sempre havia o desabrochar de flores despertando as pessoas para a vida. A maioria dos dirigentes dos distritos recém-fundados não sabia qual deveria ser a sua primeira preocupação como dirigentes centrais nem como lutar nessa nova responsabilidade. Contudo, a atuação e a conduta de Shin-iti nas visitas que realizava a várias localidades demonstravam claramente esses pontos. Proteger os companheiros e os membros, incentivando-os calorosamente — tudo se resumia nisso. Na tarde do dia 13, logo depois do término da reunião de fundação do Distrito Kanazawa, Shin-iti saiu do local e olhou para o céu. Espessas nuvens cobriam-no. Dentro do carro que se dirigia para o hotel, ele começou a recitar Daimoku em voz baixa. Entre os dirigentes que o acompanhavam, encontrava-se Sakae Hamada, chefe da Divisão das Senhoras do Distrito Kanazawa. Ela não soube de imediato a razão de Shin-iti iniciar a recitação do Daimoku. Após algum tempo, uma forte chuva começou a cair. — Já começou a chover... Espero que ninguém se molhe... — disse Shin-iti. Olhando para o seu relógio, Hamada respondeu: — Acredito que todos estejam bem. As pessoas que moram na cidade já devem ter chegado a suas casas. — As que moram mais longe, também? — Sim. Esta chuva começou provavelmente após terem retornado para suas casas. — E as pessoas que vieram de Noto? — Elas devem estar agora dentro dos ônibus fretados. As pessoas de outras localidades já devem estar no trem. Acredito que ninguém tenha se molhado. — Que bom. Já estou mais tranqüilo. Mas os membros da Divisão dos Rapazes e das Moças que estão arrumando o local vão acabar se molhando. Espero que não peguem nenhuma gripe... Shin-iti voltou então a recitar o Daimoku em voz baixa. Hamada finalmente percebeu que Shin-iti orava para que ninguém se molhasse na chuva. ―É isso o que vem a ser um líder do Kossen -rufu. Este é o sentimento
do presidente Yamamoto‖ — pensou ela sentindo uma ardente emoção em seu peito. Ao mesmo tempo, renovou a decisão de aproximar-se cada vez mais do sentimento do presidente Yamamoto em sua atuação como dirigente das companheiras de seu distrito. A viagem de seis dias iniciada em 9 de novembro para participar das reuniões de fundação dos distritos das regiões de Koshin e do norte do Japão ampliou o panorama de alegria e dinamismo em todas as localidades e assinalou um marco para o grandioso desenvolvimento no futuro. Nesse período, o número de participantes que ouviu suas orientações ultrapassou 35 mil pessoas e a maioria o tinha visto pela primeira vez. Foram esses companheiros que constituíram a força motriz da concretização do objetivo de 3 milhões de famílias. As atividades de Shin-iti Yamamoto intensificavam-se cada vez mais com o passar dos dias. Durante a viagem que fizera para as regiões de Koshin e do norte do Japão, mesmo retornando para o hotel após um dia de atividades, uma pilha de documentos o aguardava para serem apreciados e aprovados. Além disso, as reuniões de acertos constantemente prolongavam-se até tarde da noite. Shin-iti usava até mesmo o tempo do traslado de um local para o outro para fazer orientações dentro do carro. Entretanto, Shin-iti foi se fortalecendo e tornando-se ainda mais vigoroso no decorrer dessas intensas atividades. Os dirigentes próximos a eles ficavam atônitos com essa surpreendente energida. Principalmente os que fizeram parte da comitiva na viagem ao exterior haviam presenciado a luta de Shin-iti contra a sua doença tendo de extrair a força já esgotada para continuar incentivando os membros com quem se encontrara durante a viagem. Analisando o programa cumprido por ele no período que se seguiu após o retorno, o esgotamento físico de Shin-iti deveria ser muito mais acentuado. Por isso mesmo, eles não conseguiam entender o seu vigor. Era algo inexplicável. Depois que retornou de Koshin e da região norte, Shin-iti reuniu-se logo no dia seguinte com os dirigentes centrais na sede da Soka Gakkai. Nessa ocasião, um deles perguntou-lhe: — Eu acompanhei com muito espanto a sua intensa luta no exterior. Porém, as suas atividades após o retorno superam largamente em intensidade. Apesar disso, ao invés de mostrar-se cansado, vejo que está cada vez mais forte e vigoroso. De onde é que surge essa força? Explique-me, por favor. Shin-iti respondeu sorrindo: — Eu servi ao presidente Toda por mais de dez anos. Foi realmente um período de árduas lutas. Foram dias e dias de contínua tensão. Além de ter de lutar contra o meu corpo fraco, assumi todas as responsabilidades pelos negócios do presidente Toda. Nesse meio acabei sendo treinado integralmente tanto na condição física como na espiritual. Isso é o que se chama energia vital. O importante é o ato de conscientizar-se da própria responsabilidade e missão. Quando essa conscientização ou determinação gera a oração e se liga ao Gohonzon, a energia vital começa a fluir incessantemente como uma fonte. Por isso eu sempre procuro recitar o Daimoku seja no avião ou no carro. — Ah... — respondeu o dirigente um tanto vacilante. Shin-iti prosseguiu: — A energia vital não é apenas uma questão de resistência física. Ela engloba também a sabedoria. Por isso, não há como cometer fracassos nas horas importantes ou esquecer-se de questões fundamentais. Quando uma pessoa falha ou não consegue dispor de força nos momentos necessários, é sinal de falta de seriedade. Se comprometer-se a fazer tudo por si próprio, não há como errar nem deixar escapar os itens importantes. Essas palavras certamente penetraram nos ouvidos dos dirigentes que lá estavam. Uma mesma coisa pode ser realizada com entusiasmo e prazer ou então com insatisfação e por mera obrigação. Daí surge a grande diferença no resultado. O ponto essencial da prática budista está no espírito de devotar-se com impetuosa coragem. Isto significa que a sabedoria e o dinamismo da vida surgem do desafio corajoso, originando-se também desse ato a alegria, a satisfação e a esperança. Não ocorrem também desgastes inúteis. Shin-iti disse olhando para o rosto de todos os presentes: — Eu vou ficar cada vez mais forte. Será que todos vão conseguir acompanhar-me?
— Sim! — responderam em uma só voz. — Está certo. Vamos lutar então com toda a coragem. Todos ouviram essas palavras com uma expressão decidida e tensa no rosto. — Não precisam fazer essa cara séria e dura. Mesmo na seriedade, é preciso ter brandura no coração. Isso também é energia vital. Dito isso, Shin-iti pegou um embrulho e colocou-o sobre a mesa. — Eu trouxe algumas mudas de orquídea como presente. Elas se multiplicaram tanto desde que eu comprei o primeiro vaso por 180 ienes, que resolvi trazê-las hoje. Quando Shin-iti abriu o embrulho, a chefe da Divisão das Senhoras Kiyohara disse: — Como são graciosas! — Por mais atarefados que estejam, jamais percam a sensibilidade de apreciar a beleza das flores, de louvar os mistérios da vida, com a serenidade de espírito de deleitarem-se com a beleza da natureza. Tenham também a disposição para ouvir uma boa música, apreciar a literatura e de escrever poemas. Se ficarmos apenas atarefados com as atividades, a Soka Gakkai se tornará uma organização sem vida. O ideograma que representa ―atarefado‖ é composto pelos ideogramas ―sentimento‖ e ―ruína‖. Portanto, se deixarmos nossos sentimentos se arruinarem, não poderemos desenvolver nenhum tipo de cultura. Existe um ditado que diz que ―o prazer existe na extrema ocupação‖. Da mesma forma, é dito que o silêncio existe também nos movimentos. Para tudo é necessário equilíbrio, ritmo e mudanças. Com isso, podemos renovar nosso espírito como também criar uma nova vitalidade. Mesmo que se esforce ao máximo, se tornar-se como um elástico que se esticou e perdeu a elasticidade, não terá mais valor nem criatividade. O budismo é propriamente um modo de vida. Uma das fontes de energia que fazia com que Shin-iti se revigorasse a cada dia apesar da árdua programação, era o domínio sobre o ritmo dinâmico de vida mantendo perfeito equilíbrio entre ―movimento‖ e ―calma‖. Mais do que qualquer coisa, ele possuía a disposição de promover o ―bailar da coragem‖ percorrendo impetuosamente os campos do Kossen-rufu. O Monte Fuji estava coberto de neve e mostrava serenamente sua imponência. No dia 16 de novembro Shin-iti Yamamoto dirigiu-se para o Templo Principal juntamente com 200 dirigentes para participar do 1º aniversário de falecimento de Nitijun Shonin, o 65º sumo prelado, cuja cerimônia aconteceria nos dias 16 e 17. Enquanto recitava Daimoku durante a cerimônia, Shin-iti relembrou com saudade o seu último diálogo com Nitijun Shonin. Isso acontecera exatamente um ano antes, no dia 16 de novembro de 1959. Naquele dia, atendendo ao chamado de Nitijun Shonin, Shin-iti e o diretor-geral Takeo Konishi foram ao seu encontro no bairro de Ota, em Tóquio, onde ele se restabelecia. Nitijun Shonin estava com a saúde debilitada desde o verão daquele ano. Por um certo período, seu estado de saúde parecia caminhar para o restabelecimento. Porém, não pôde participar da 21ª Convenção da Soka Gakkai realizada no dia 8 de novembro. Do seu leito, teve de enviar uma mensagem para aquela convenção. Por volta do dia 10, o seu estado voltou a se agravar. No dia 15 de novembro, Nitijun Shonin chamou o superintendente geral Seido Hossoi, que exercia também o cargo de prior do templo Jozaiji (e tornou-se posteriormente o sumo prelado Nittatsu Shonin), para realizar a cerimônia formal de transmissão dos ensinos que se iniciou pouco depois da meia-noite do dia 16. Ele já pressentia a chegada de sua morte. Foi na tarde desse dia que Shin-iti recebeu o chamado urgente de Nitijun Shonin. Ele repousava serenamente o seu corpo extenuado pela doença. Ao perceber a presença de Shin-iti, sorriu e com um gesto chamou-o para próximo de si. Aproximando-se da cabeceira do leito, Shin-iti inclinou seu corpo para ouvi-lo. — Transferi todo o encargo para o Jozaiji. Por favor, conto com o seu apoio...
A primeira coisa que proferiu foi sobre a transmissão dos ensinos. Jozaiji indicava Nittatsu Shonin. Quando Shin-iti manifestou seu consentimento, Nitijun Shonin mostrou-se mais tranqüilo e começou a falar sobre o presidente Jossei Toda. — Eu queria que o presidente Toda tivesse vivido mais do que eu. Lamentavelmente acabou acontecendo o inverso... Preocupado com o seu estado de saúde, Shin-iti tentou aconselhá-lo a repousar para não se cansar. Mas vendo seu derradeiro esforço ao prosseguir suas palavras, não ousou interrompê-lo. No instante seguinte, o sorriso desapareceu do rosto de Nitijun Shonin e seus olhos começaram a emitir um brilho agudo. — Eu tenho uma profunda gratidão pelo presidente Toda e pela Soka Gakkai..., pela iniciativa de promover a peregrinação. Graças a isso, não fomos obrigados a transformar o Templo Principal numa atração turística. Essas palavras extraídas de seu âmago penetraram profundamente no coração de Shin-iti. Após o término da guerra, o clero perdera grande parte de suas terras em virtude da reforma agrária, como também passara a viver uma grave crise financeira. Como um meio para transpor essa situação, havia surgido a idéia de transformar o Templo Principal Taissekiji num ponto turístico. Apesar de não ser uma boa alternativa, os bonzos se movimentaram ativamente para viabilizar esse projeto alegando que a sobrevivência era prioritária. Dessa forma, foi realizada uma reunião de planejamento com representantes da administração pública e de agências privadas no Templo Principal a fim de elaborar o projeto turístico na região norte do Monte Fuji em torno do Taissekiji. Isso ocorrera em novembro de 1950 e o plano já estava praticamente em seus acertos finais. Essa reunião contou também com a presença de Nitijun Shonin, que na época exercia o cargo de superintendente do clero. Embora ele tivesse manifestado sua concordância com o projeto, seu sentimento real era de profunda angústia. O professor Toda, ao ouvir a respeito desse plano, opôs- se imediatamente dizendo que ―jamais permitiria a transformação do Templo Principal num local de turismo‖. Ele não poderia concordar com aquela proposta pois feria frontalmente um dos artigos de advertência deixados por Nikko Shonin: ―Jamais aceite oferecimentos de caluniadores da Lei.‖ Nas outras seitas era freqüente exporem o objeto de adoração para visitação pública cobrando uma taxa dos turistas. Contudo, o Dai-Gohonzon deveria ser respeitado em qualquer circunstância como o supremo objeto de adoração e a base fundamental da fé. Caso o colocassem como objeto de atração turística com o único propósito de ganhar dinheiro por meio dos turistas que o visitassem sem um mínimo de fé, este seria um grave ato de caluniar o espírito de Nitiren Daishonin. Isso seria repetir o mesmo erro do incidente do talismã xintoísta ocorrido antes da guerra. ―Eu, Toda, hei de proteger a grande Lei do verdadeiro ensino‖ — assim bradando com indignação, ele levantou-se com a resolução de prestar sua integral proteção. A partir dessa postura, teve início em outubro de 1952 a atividade de peregrinação, que algum tempo depois tornou-se uma atividade tradicional da Soka Gakkai. Se não houvesse a forte determinação de Toda e a fiel proteção da Soka Gakkai, não haveria o restabelecimento do Templo Principal sustentado pela mais pura fé. Nitijun Shonin conhecia perfeitamente o desenrolar dessa questão. Por isso mesmo, quando recordava esses fatos deitado enfermo em seu leito, seus olhos enchiam-se de lágrimas. — Graças ao presidente Toda e à Soka Gakkai, a pureza da grande Lei pôde ser mantida até os dias de hoje. Este ensino jamais haverá de se esquecer da gratidão eterna que deve ao presidente Toda e à Soka Gakkai. Isto eu fiz questão de recomendar a Hossoi. Shin-iti Yamamoto ouviu essas palavras com um sentimento muito solene, abaixando profundamente a sua cabeça.
— As palavras e o espírito do presidente Toda devem ser preservados eternamente para as futuras gerações. Por essa razão, quero que os escritos e os registros das orientações do presidente Toda sejam guardados no Templo dos Tesouros1. Shin-iti Yamamoto pôde sentir profundamente a admiração e o respeito que o sumo prelado tinha pela pessoa de Jossei Toda, que dedicara sua vida à propagação do Verdadeiro Budismo. O encontro durou cerca de vinte minutos. Ao terminar suas palavras, Nitijun Shonin mostrou-se muito satisfeito e cerrou os olhos serenamente. Shin-iti agradeceu-lhe respeitosamente e retirou-se do recinto. Ele estava preocupado em não prolongar-se por mais tempo para não desgastar a saúde do sumo prelado. Esse foi o último encontro entre ambos. As palavras ditas por ele tornaram-se nada mais do que seu derradeiro testamento. No dia seguinte, às 5h55, Nitijun Shonin falecia serenamente. Estava com 61 anos. Nitijun Shonin nascera em 1898 na cidade de Inamati, Província de Nagano. Entrou para o sacerdócio após concluir o curso primário e foi para o Templo Principal. Posteriormente, formou-se no curso de Filosofia Oriental da Faculdade de Literatura da Universidade de Wasseda e prosseguiu seus estudos no curso de mestrado no Centro de Pesquisas da Universidade Ryukoku, em Kyoto. Por ser jovem e um estudante devotado, seu futuro promissor era aguardado com muita expectativa. Ao chegar a Era Showa, o governo militar começou a exercer um maior poder no plano de unificação das seitas religiosas. A Soka Gakkai e o clero acabaram também envolvidos por essa arbitrariedade. Nitijun Shonin sofreu muito para encontrar um meio de preservar o Templo Principal daquela situação, principalmente por ocupar cargos de confiança no clero como o de chefe do Departamento de Assuntos Extraordinários. Em especial, no caso da unificação da Nitiren Shoshu com a seita Minobu1, arquitetada pela ação maligna do bonzo Jiko Kassahara que se aliara ao poder militar, Nitijun Shonin levantou-se como um escudo e defendeu a posição do Templo Principal junto à Secretaria de Assuntos Religiosos do Ministério da Educação. Fora realmente uma luta contra o pior dos Três Poderosos Inimigos, o Sensho Zojoman (indivíduos arrogantes e presunçosos que fingem ser sábios e gozam do respeito do público), falsos líderes e religiosos que, demonstrando uma aparência de virtuosa personalidade, manipulam seu poder de autoridade movidos pela avareza, ira e estupidez. Enquadram-se obviamente nessa categoria também os bonzos no alto posto da hierarquia do clero. Eles utilizavam falsas denúncias com o intento de fazer com que o governo perseguisse os praticantes do verdadeiro ensino. Na luta contra esses inimigos houve uma profunda preocupação por parte de Nitijun Shonin. Apesar disso, o clero acabou aceitando o talismã xintoísta com o consentimento do sumo prelado da época, uniu-se ao militarismo e expôs sua vergonhosa postura de autoproteção. Por outro lado, a Soka Gakkai escolheu o nobre caminho do martírio para preservar intacto o pulsar vivo do verdadeiro ensino de Nitiren Daishonin. Foi por esse propósito que o primeiro presidente da Soka Gakkai, professor Tsunessaburo Makiguti, veio a falecer na prisão. Enquanto existir o avanço do Kossen-rufu, a perseguição ao Verdadeiro Budismo, arquitetada pela união de falsos religiosos e das autoridades no poder, continuará ocorrendo por todo o futuro. Jossei Toda saiu da prisão no dia 3 de julho de 1945. Dois dias após ele foi ao encontro de Nitijun Shonin no templo Kankiryo, em Nakano, para expor e reconfirmar a sua decisão de reconstruir o Templo Principal e o Kossen-rufu. Nitijun Shonin sempre manteve uma profunda compreensão da missão Soka Gakkai e respeitou-a com muita admiração. Quando era convidado para alguma convenção, fazia questão de comparecer prazerosamente deixando de lado quaisquer outros compromissos. Mais do que qualquer outro fator, Nitijun Shonin possuia um profundo discernimento da missão e do significado da Soka Gakkai sob o ponto de vista do budismo. Na ocasião da 18ª Convenção da Soka Gakkai realizada em 1958 — um mês após a morte de Toda, ele proferiu as seguintes palavras:
―Consta no Sutra de Lótus que um número incontável de pessoas, equivalente aos grãos de areia de sessenta mil rios Ganges, reuniram-se na Cerimônia do Ar seguindo os quatro grandes bodhisattvas1 encabeçados por Jogyo e juraram propagar o Nam-myoho-rengue-kyo nos Últimos Dias da Lei. Eu acredito que o presidente Toda tenha se colocado na liderança dessa multidão para fazer com que ela surgisse nesta era, e daí aparecendo a Soka Gakkai. O presidente Toda transformou os cinco e sete caracteres do Myoho-rengue-kyo no objetivo de 750 mil conversões, chamando aquela multidão para a superfície da Terra.‖ Com a lúcida e penetrante visão de fé, o sumo prelado via na Soka Gakkai o encontro dos Bodhisattvas da Terra que surgiram para salvar a humanidade na era dos Últimos Dias da Lei em exata conformidade com a promessa feita na Cerimônia do Ar ocorrida no remoto passado. Qual era então a base fundamental da Soka Gakkai? Nitijun Shonin respondia claramente que era o caminho de mestre e discípulo. Por ocasião da 2ª Convenção de Kyushu realizada em Fukuoka no dia 1º de junho de 1958, Nitijun Shonin louvou em suas palavras a fé do primeiro presidente Tsunessaburo Makiguti e enalteceu o caminho de mestre e discípulo seguido pelo presidente Toda. — Falando sobre o presidente Toda do meu ponto de vista, ele compenetrou-se inteiramente no caminho de mestre e discípulo, e fez desta relação a diretriz de sua vida. Foi com essa compenetração que conseguiu atingir a percepção daquele profundo caminho do estado de Buda. Após comentar que a relação de mestre e discípulo compõe a base do verdadeiro ensino do Sutra de Lótus, prosseguiu dizendo: — Em que se sustenta a fé da Soka Gakkai? A respeito desta questão, digo que o ponto essencial está na clara conscientização da relação de mestre e discípulo, do qual se cria o fortalecimento da fé. É desse ponto que se formou a fervorosa fé da Soka Gakkai dos dias de hoje. Acredito que esse é o ponto-chave ensinado pelo presidente Toda. Acreditar no mestre e conduzir os discípulos — não há dúvida de que no aprofundamento dessa relação pode-se obter certamente a perfeita compreensão do budismo. Em novembro de 1958, quando participou da 19ª Convenção da Soka Gakkai, o sumo prelado discursou novamente sobre o tema ―O Relacionamento de Mestre e Discípulo‖. Embora discursasse sem utilizar o texto preparado previamente, uma cópia do discurso original para aquela reunião ainda existe hoje. Mesmo diferindo um pouco do discurso que realmente proferira na ocasião, o texto preparado demonstra sua intenção um pouco mais acuradamente. Como um registro para a posteridade, segue-se um trecho do discurso escrito de próprio punho por Nitijun Shonin. O sumo prelado ressalta a importância do relacionamento de mestre e discípulo como um aspecto vital da fé no Sutra de Lótus: ―Daishonin disse que seu ensino representa a terceira doutrina1. O presidente Toda realmente abraçou esse ensino com a própria vida. Acredito que o caminho de mestre e discípulo que se originou do DaiGohonzon flui agora para a Soka Gakkai. Por essa razão, os benefícios e a boa sorte surgem por toda a organização.‖ A clara afirmação de que o caminho de mestre e discípulo da Soka Gakkai deriva-se do Dai-Gohonzon é de vital importância. O laço de mestre e discípulo existente dentro da Soka Gakkai surgiu de sua missão de abraçar o Dai-Gohonzon e de propagar os ensinos de Daishonin. Há, portanto, um profundo significado no incansável empenho da Soka Gakkai em cumprir o testamento de Nitiren Daishonin, ou seja, a promoção do Kossen-rufu. Daishonin qualificou a si próprio como devoto do Sutra de Lótus, colocando especial importância na efetiva atuação. Ele fez do Sutra de Lótus a base de sua fé, promoveu a luta conforme esse ensino e leu-o com a sua própria vida enquanto enfrentava várias perseguições. Nas escrituras, Nitiren Daishonin afirma: ―Aqueles que se tornarem discípulos e seguidores de Nitiren devem compreender a profunda relação cármica que compartilham com ele e propagar o Sutra de Lótus com o mesmo espírito.‖1 Declara também: ―Todos aqueles que se autodenominam meus discípulos e praticam o Sutra de Lótus devem praticar assim como e u o faço.‖2 Estas duas passagens indicam que os discípulos são as pessoas que criam o movimento e agem em prol do Kossen-rufu com o mesmo espírito de Daishonin. Numa outra passagem ele afirma: ―Todos os crentes e discípulos de Nitiren devem recitar o Nam -myohorengue-kyo transcendendo todas as diferenças entre si, em Itai Doshin. Aqui está o laço de união entre a nossa
vida e a herança da Lei última.‖3 A frase ―recitar o Nam -myoho-rengue-kyo‖ indica a recitação do Daimoku em termos de prática individual e prática altruística. Daishonin ensina que a transmissão da herança da Lei última da vida e da morte, o sangue vital da fé, pulsa e flui dentro da sólida união daqueles que agem conjuntamente com o único propósito do Kossen-rufu. Mais do que ninguém, Nitijun Shonin estava profundamente consciente do fato de que a Soka Gakkai era a única organização de seguidores que praticava de acordo com o espírito ensinado por Nitiren Daishonin. A determinação embasada na fé surge infalivelmente na forma de ação e prática. O fato de Nikko Shonin ter-se qualificado como verdadeiro discípulo que herdou o sangue vital de Nitiren Daishonin deve-se ao ato de tê-lo servido a todo o momento, de ter compartilhado as perseguições e de ter promovido com bravura a propagação do budismo em exato acordo com as instruções de seu mestre. A condição essencial do verdadeiro sucessor encontra-se na fé que corresponde perfeitamente aos ensinamentos do mestre e na atuação com o espírito de jamais poupar a própria vida. Sem essas qualificações, mesmo um sumo prelado ou superintendente do Templo Principal não passam de meros administradores da política interna do clero que agem totalmente distantes da doutrina básica do budismo. É inteiramente inconcebível que algum vestígio da herança da fé seja encontrado nessas circunstâncias. Passados mais de 600 anos após a morte de Nitiren Daishonin, o clero acabou se sujeitando à opressão do governo militarista. Foi nessa ocasião que o primeiro presidente Tsunessaburo Makiguti ergueu-se resolutamente pela propagação do verdadeiro ensino seguindo fielmente as palavras do Buda Original. Ele sempre baseou-se nas escrituras de Nitiren Daishonin. Por isso mesmo, foi impossível para ele encontrar a figura de um mestre dentro de um clero que havia tomado a covarde atitude de se juntar ao poder, que alterou as orientações silenciosas do Gongyo, que suprimiu parte das escrituras e que ordenou à Soka Gakkai que aceitasse o talismã xintoísta simplesmente por temer a perseguição do governo. Makiguti levantou-se com base na fé diretamente ligada a Nitiren Daishonin e iniciou a luta de combater o mal e de exaltar a justiça, invocando de dentro de si próprio o imenso poder da fé. Makiguti foi detido e confinado à prisão, onde veio a falecer encerrando sua vida como um mártir. Foi uma vida em que, como discípulo de Daishonin, praticou, literalmente, o contexto exposto nas escrituras. A prática da fé manifesta-se na forma de ações concretas em prol do movimento pelo Kossen-rufu. De acordo com os ensinos de Daishonin, essas ações provocam inevitavelmente a sucessiva ocorrência de perseguições. Conseqüentemente, o quanto se empenha na luta e provoca as perseguições no decorrer da propagação da Lei é o teste que comprova a veracidade da fé. Nitijun Shonin não poupava louvores a Makiguti. Ele o qualificou como uma pessoa que incorporou o espírito do Sutra de Lótus desde o seu nascimento e que nasceu para ser um emissário do Buda por toda a sua vida. Ao considerar o fato de que Makiguti enfrentou a grande perseguição fazendo das escrituras o seu mestre, criando inclusive a revivescência do budismo numa época em que a Lei corria perigo de extinção, ele foi realmente um raro profeta e extraordinário desbravador. Tsunessaburo Makiguti, o primeiro presidente da Soka Gakkai, foi sem dúvida alguma o genuíno mestre do budismo dos tempos modernos. E quem o escolheu como mestre e se juntou a ele na luta contra as perseguições foi Jossei Toda. Seguindo seu mestre, Toda gravou o budismo de Nitiren Daishonin em sua vida. Durante seu período na prisão, obteve a profunda percepção de que era um Bodhisattva da Terra. Foi então que compreendeu a missão básica de sua vida. Logo que saiu do presídio, Toda levantou-se sozinho diante dos campos devastados pela guerra para promover o testamento de Daishonin chamado Kossen-rufu, sucedendo efetivamente o ideal de seu venerado mestre. Ao tomar posse como segundo presidente da Soka Gakkai, Jossei Toda estabeleceu o objetivo de concretizar 750 mil famílias como o empreendimento maior de sua vida.
Na época, a quantidade de membros não passava de 3 mil. Era um objetivo praticamente utópico, impossível de se concretizar aos olhos de qualquer pessoa, como também um teste inédito na história da humanidade. Toda apostou a vida nesse empreendimento. Ele estava consciente de que sua vida existia para esse fim. Nas escrituras de Daishonin consta: ―O ensino não se propaga por si próprio. Por propagarem-no, tanto as pessoas como o ensino tornam-se dignos de respeito.‖1 O diálogo somente é possível quando existem pessoas, e a grande estrada do Kossen-rufu somente pode ser aberta quando existem pessoas que devotam suas próprias vidas na propagação dos ensinos. Portanto, a existência de pessoas tem um significado extremamente importante e isto nada mais é do que um princípio lógico. No espaço de aproximadamente seis anos e meio, Jossei Toda concretizou seu grande objetivo. Pela primeira vez, nos 700 anos de história do budismo de Nitiren Daishonin, ele foi o único a assentar a base concreta do Kossen-rufu de um país, tornando o testamento de Daishonin um fato real. Jossei Toda foi realmente o grande mestre do Kossen-rufu que delineou a história da humanidade. Entretanto, se não houvesse existido o mestre Makiguti, Toda não teria provavelmente encontrado o budismo nem percebido sua missão original e tampouco trilhado o verdadeiro e correto caminho. Nikko Shonin, sucessor de Daishonin, escreveu numa carta aos seguidores que viviam na Ilha de Sado: ―Neste ensino, a iluminação se obtém através da prática correta do caminho de mestre e discípulo.‖ Portanto, a relação de mestre e discípulo é de fato a base fundamental do budismo. Tudo se determina pela escolha do mestre da vida, e o futuro é determinado pela qualidade de seus discípulos. Toda viu em vida a concretização do objetivo de 750 mil famílias e concluiu sua existência de devoção ao Kossen-rufu. Tanto ele quanto seu mestre Makiguti viveram o contexto das escrituras com suas próprias vidas através de uma devoção sem paralelos. Nessa magnitude de ações pulsa a verdadeira herança da fé de Nitiren Daishonin e o caminho Soka de mestre e discípulo. Shin-iti Yamamoto, por sua vez, serviu a Jossei Toda tomando-o como seu mestre. Ele lutou como seu braço direito enfrentando toda a sorte de adversidades em prol do Kossen-rufu. Ele percebeu que Toda era o único líder da presente era que incorporava os ensinamentos budistas em sua vida e que seu modo de viver era um modelo de fé. Porém, Toda já havia falecido e a responsabilidade pelo Kossen-rufu estava sobre os ombros do jovem presidente de 32 anos chamado Shin-iti Yamamoto. Enquanto oferecia Daimoku em memória de Nitijun Shonin, durante a cerimônia de 1º aniversário de seu falecimento, Shin-iti sentia vibrar uma forte alegria em seu peito por estar trilhando o mesmo caminho de mestre e discípulo da Soka Gakkai, cujo contexto fora enaltecido no discurso do falecido sumo prelado. Logo após aquela cerimônia, foi realizada no dia 18 de novembro a cerimônia pelo 17º aniversário do falecimento do primeiro presidente Tsunessaburo Makiguti, no templo Jozaiji, em Ikebukuro, Tóquio. Era a primeira cerimônia em memória a Makiguti que Shin-iti Yamamoto iria participar desde que tomara posse como terceiro presidente da Soka Gakkai. Ele conduziu solenemente a recitação do sutra e do Daimoku com o profundo sentimento de devoção ao Kossen-rufu. Shin-iti não teve a oportunidade de conhecer pessoalmente o presidente Makiguti, mas aprendeu com Jossei Toda a totalidade de seu modo de vida, seus ideais, filosofia e convicção. Por esse motivo, a imagem desse mestre estava claramente gravada em seu coração, embora não o tivesse conhecido. Quando Toda contava sobre o momento em que soubera da morte de Makiguti, seus olhos ardiam como chamas e sua voz vibrava de indignação: ―O presidente Makiguti faleceu numa gélida cela de prisão em 18 de novembro de 1944, pouco antes da chegada do inverno. Sua morte deveu-se à desnutrição e à senilidade. ―Desde que nos despedimos de delegacia de polícia, no outono do ano anterior, nunca mais pudemos nos encontrar por estarmos confinados em solitárias.
―Eu orava dia após dia: ‗Meu mestre já estava com idade avançada. Por favor, faça com que toda a culpa recaia sobre mim e que ele possa retornar o quanto antes para sua casa.‘ ―Entretanto o meu mestre faleceu. F ui informado sobre isso cerca de 50 dias após sua morte, no dia 8 de janeiro, quando respondia ao interrogatório de um julgamento preliminar. ―Makiguti morreu — quando ouvi essas palavras, meu coração ficou despedaçado. Eu chorei e chorei quando retornei à solitária. Cravei minhas unhas na parede de concreto e nela bati a minha cabeça por várias vezes. ―Não tenho dúvidas de que o mestre deve ter encerrado sua vida de martírio de maneira serena. Contudo, ele foi assassinado! Pelas mãos do governo militar, da nação xintoísta e da corja que se uniu aos militares para salvar a própria pele... ―Que crime bárbaro cometeu meu mestre?! Ele foi assassinado por ter defendido a liberdade religiosa. ―Soube posteriormente que o corpo do presidente Makiguti saiu da pr isão carregado por um rapaz que trabalhava na casa de um parente próximo. Como era um período de guerra, não fora possível sequer conseguir um carro para transladá-lo. ―Sua esposa o recebeu triste e solitariamente em sua casa. Pôde -se contar nos dedos as pessoas que compareceram ao seu funeral. Provavelmente pelo medo de serem vistas pelos vizinhos ou pelas autoridades. ―O Japão recompensou o grande educador, o grande estudioso, o grande idealista e o líder budista que se ergueu pela felicidade do povo com a morte numa prisão!‖ Shin-iti jamais poderia esquecer a imagem furiosa de Toda que esbravejava e tremia de indignação quando falava sobre esse fato. Quando falava sobre a morte de Tsunessaburo Makiguti, Jossei Toda sempre acabava ficando muito revoltado. — Eu vingarei a morte de meu mestre! Não serei derrotado jamais! Realizarei infalivelmente a vontade do professor Makiguti que é o Kossen-rufu, e edificarei um mundo de paz perene. Com isso, vou comprovar a grandiosidade do meu mestre para o mundo inteiro. Shin-iti, esta é uma luta de discípulo! Toda jamais deixou de lado a sua revolta e o combate contra a natureza maligna do poder que arrebatara a vida de seu venerado mestre. A justiça não pode prevalecer quando não se combate as ações injustas da maldade. Além disso, alegar justiça sem combater o mal é uma hipocrisia,o mesmo que acobertar a maldade com panos quentes. No decorrer da cerimônia pelo 17º aniversário de falecimento do presidente Makiguti, Shin-iti procurava sentir a profundeza dos sentimentos com que Toda viera participando das cerimônias anteriores em memória a Makiguti. Após o oferecimento de incenso, seguiram-se as palavras do representante da família Makiguti e as de Shin-iti Yamamoto. Ele começou a falar serenamente: — Se considerarmos o presidente Toda como nosso pai, então o presidente Makiguti foi nosso avô. Portanto, os discípulos de Toda são ―discípulos -netos‖. Eu, como um discípulo-neto, não tive a oportunidade de conhecer o presidente Makiguti pessoalmente. No entanto, o presidente Toda me contava incansavelmente a respeito da grandiosidade e nobreza de sua pessoa e sobre o admirável espírito com que se levantou para o bemestar da sociedade. Com a morte do professor Makiguti, o presidente Toda herdou integralmente o grandioso espírito de dedicar a própria vida na propagação do budismo e somou todos os esforços em prol do país, em prol da doutrina e em prol da felicidade das pessoas e construiu para nós a Soka Gakkai de hoje. Embora tenha sucedido os grandes mestres Makiguti e Toda como terceiro presidente da Soka Gakkai, sou ainda muito imaturo. Contudo, venho empenhando todos os dias o máximo de minha lealdade com o único intento de corresponder-me a ambos. Dentro da Soka Gakkai pulsa fortemente o grandioso espírito do primeiro presidente. Ele referiu-se no passado sobre a dificuldade de promover uma reforma religiosa. Porém, vemos agora diante de nós o desabrochar exuberante das flores do Kossen-rufu anunciando uma efetiva revolução religiosa. Apesar de não possuir capacidade, aproveito a cerimônia de hoje para renovar a minha determinação e dizer que estou decidido a concretizar os ideais do presidente Makiguti sem jamais temer as adversidades.