Juracy Marques (org.)
ATUREZA TUREZA N A S A AGR GRAD ADA A Ensaios de Ecologia Humana
2012
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SUMÁRIO N ATUREZA SAGRADA: ENSAIOS DE ECOLOGIA HUMANA........................................... 05 POVOS INDÍGEN NDÍGENAS AS 01. Natureza Tuxá: Povo e Seu Rio Sagrado......................................................................... 09 Ely Estrela | Juracy Marques | Ricardo Dantas Borges 02. A Conexão de Plantas Medicinais no Ritual Sagrado do Povo Indígena Tuxá de Rodelas - Bahia - Brasil.............................................................................................................. 39 Nilma Carvalho Pereira| Alzení de Freitas Tomáz | Fábio Pedro Souza de Ferr erreira eira Bandeira 03. Os Com Comple plexos xos Sis Sistem temas as da Ju Jurem rema a Pre Preta: ta: Esp Espéci écie e Bot Botâni ânica ca e Rep Repres resent entaçõ ações es do Sagrado na Cultura do Povo Indígena Pankararé, Raso da Catarina - Glória - Bahia Brasil........................................ ...................................................................................... ............................................................................................ ........................................................ .......... 53 Aline Franco Sampaio Brito | Alzení de Freitas Tomáz | Paulo Wataru Morimitsu|Juracy Marques 04. O Sa Sagrado do do Po Povo Tu Tumbalalá no no Ri Ritual do do To Toré......................................................... 67 Maria José Marinheiro |Alzení de Freitas Tomáz | Juracy Marques 05. Concepções do Sagrado: “Reflexões Sobre a Religiosidade dos Usuários do Coqueiro Ou Ouricuri no no Se Semiárido de de Al Alagoas” ..................................................................... 77 Ulysses Uly sses Gom Gomes es Cort Cortez ez Lop Lopes es 06. O Po 06. Pode derr da Ca Cabo bocl cla a Ju Jure rema ma e a Na Natu tura raliz lizaç ação ão do Sag Sagra rado do na Di Dime mens nsão ão Ecológica do Candomblé no Sertão: A Significação do Encanto nos Segredos da Natureza.......................................... ........................................................................................ ........................................................................................... ................................................. 85 Alzení de Freitas Tomáz |Paulo Wataru Morimitsu |Aline Franco Sampaio Brito 07. Em Busca do Sagrado Perdido: Os Registros Rupestres como Representação de Rituais Xamânicos.................................................................................................................... 107 Elis Rejane Santana | José Ivaldo de Brito | Juracy Marques | Cleonice Vergne
POV OVOS OS NEG EGRO ROS S 08. N at atureza N eg egra: O Sagrado n as as R el eligiões A fr frobrasileiras ...................................... 123 Antônio André Valécio Jesus| Juracy Marques 09. O Sagra Sagrado do nas Man Manife ifesta staçõe çõess Rel Religi igiosa osass da Com Comuni unidad dade e Qui Quilom lombol bola a de Conceição das Crioulas........................................................................................................... 137 Emanuel Andrade | Juracy Marques
10. Apicultura e Meliponicultura na Região da APA Serra Branca, Raso da Catarina – .......................................................................................................................... 147 Jeremoabo/BA Jeremoa bo/BA .......................................................................................................................... Antão de Siqueira Neto
POVO CIGANO 11. Mitos e Representações Simbólicas nos Rituais Sagrados do Povo Cigano ......... 153 Joelma Conceição Reis | Cosme Batista
ATINGIDOS DE B ARRAGENS ARRAGENS 12. Depois da Barragem: A Religiosidade na Agrovila 8 - Município de .............................................................................................................................. 175 Rodelas/BA ................................................................................................................................ Macilene Severina da Silva | Marcelo Rodrigues 13. A Religiosidade nas suas Diferentes Dimensões no Assentamento Rural São Francisco - Petrolina/PE...................................................................................................... 183 Adriana Soely Melo | Josemar da Silva Martins (Pinzoh) Martins (Pinzoh) 14. A Concepção do Sagrado e a Relação com a Natureza no Povoado Salgado dos ............................................................................................................... 189 Benícios - Glória/BA ................................................................................................................. Adeliomar Maia Almeida
OUTRAS V ISÕES ISÕES DO S AGRADO AGRADO 15. Os Animais e sua Representação Simbólica Simbólica do Sagrado Sag rado .......................................... 195 Jucilene Souza Santos 16. A Eco-sacralidade Eco-sacralidade na Infância: Religião ou Religiosidade?.................................... 199 Glaide Pereira da Silva| Juracy Marques 17. A Concepção do Sagrado e dos Sonhos no Universo das Internas no Presídio ............................................................................................... 211 Regional de Paulo Afonso/BA ............................................................................................... Hellen Juliana Nunes Rodrigues | Rodrigues | Reuber Rosendo Costa Macedo dos Santos 18. Religião e Natureza na Malhada Grande: O Olhar de uma Líder Espiritual ....... 221 Madilson Araújo da Silva 19. ...e Agora esta Debaixo de Sete Palmos: Cemitérios Urbanos e Produção Simbólica do Sagrado.............................................................................................................. 227 Dorival Pereira | Fábio Pedro Souza de Ferreira Bandeira 20. In Umbra Mortis: Um Esboço para uma Ecologia da Morte .................................. 239 Salomão David Vergne
APRESENTAÇÃO N A ATUREZA TUREZA SAGR AGRADA ADA ENSAIOS DE ECOLOGIA HUMANA
Porque “Natureza Sagrada” e não “Natureza Sangrada”? Estes, são dois modelos clássicos de como pensamos a Ecologia na contemporaneidade: o que restou (sagr (s agrado ado)) e o qu quee fo foii de dest struí ruído do (s (san angra grado do).). O primeiro nos remete a inúmeras situações que promovem a conservação da biodiversidade planetária e, destacamos como tese, está associada a uma lógica de sacralização da Ecologia vivenciada pelos grupos humanos desde os primórdios da humanidade human idade,, particu particularmente larmenteos os pov povos os e comu comunidade nidadess tradic tradicionai ionais. s. A segunda, nos devolve a sensação de uma banalização dos sistemas ecológicos da Terra, T erra, usados como objetos, como bens de usos descartáveis, como recursos a serviçodeumprojetocivilizacionaletnoeecocída. “Natur “Nat ureza eza Sa Sagra grada da”” é fi filh lhoo de um umaa ex expe peri riên ênci ciaa vi vive venc ncia iada da na oc ocas asiã iãoo do ofereci ofe recimen mento to da dis discip ciplin linaa “Su “Subje bjetitivid vidade adess Con Contem tempor porâne âneas as e Eco Ecolog logia” ia”,, do mestrado em Ecologia Humana e Gestão Socioambiental (PPGEcoH), da UNEBCampus VIII. Trata-se de uma elaboração “nova” na Academia, que buscou busc ou analisar como os grupos tradicionais pesquisados no PPGEcoH (indígenas, quilombolas, pescado pes cadores res arte artesan sanais ais,, ciga ciganos nos,, fund fundoo de past pastoo, pov povos os de terre terreiro iros, s, alu alunos nos,, professores profess ores,, presid presidiárias iárias,, melei meleiros ros,, ating atingidos idos de barragens barragens,, reassent reassentados ados,, entre outros) elaboram a noção de “sagrado” e em que medida estas representações, simbolizações, significações, ligam-se a uma noção de natureza e forjam novos sentidosparaaEcologiaHumananacontemporaneide. OS PR PRIM IMEI EIR ROS EC ECÓL ÓLOG OGOS OS HU HUMA MANO NOSS FO FORM RMAD ADOS OS NO BR BRAS ASIL, IL, embarcaram nessa fascinante aventura e produziram as preciosidades que podemos ver neste livro livro,, que fala-nos de um “segredo sagrado”, cujos cujos fragmentos compõem a espinha dorsal da “Ecologia da Alma”, descrito pelos elementos da “Alma da Ecologia”.
Prof. Dr. Juracy Marques Organizador
NASS POVOS INDÍGENA
Ritual do Praiá do Povo Indígena Pankararu/PE Fonte: NECTAS, 2012
01 N A ATUREZA TUREZA TUXÁ: POVO E SEU RIO SAGR AGRADO ADO
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Aruá quá! Januá qui quáru [o rio vinha inundar o local onde viviam].
(Fala do Pajé Armando, in, SAMPAIO-SILVA, 1997).
Tuxá em retomada da Terra Terra Tradicional de Surubabel (MARQUES, (MARQUES, 2010).
Muito antes de tornaram Muito tornaram-se -se atingidos atingidos pela Barragem de Itaparica (inaugurada (inaugurada em 1987) e de vivenciarem a experiência do deslocamento compulsório, os indígenas Tuxá, ‘‘originalmente’’ habitantes do município baiano de Rodelas, tiveram sua históriamarcadapelaexpropriaçãoepelaresistência. Os Tux uxáá tê têm m um lo long ngoo hi hist stór óric icoo de co cont ntat atoo co com m a so soci cied edad adee in incl clus usiiva. Denominavam-se e ainda são denominados de caboclos pelos regionais. Vivendo 1
Autores: Ely Estrela (in memoriam ) - Professora Adjunta da Universidade do Estado da Bahia/CampusVIII; e Doutora em Universidadedo do Estado da Bahia/Campus VIII e da FA FACAPE; CAPE; Doutor História Histór ia Soc Social ial . Juracy Marques - Professor adjunto da Universidade em Cultura e Sociedade; Pós-doutor em Antropologia; e Pós-doutorando em Ecologia Humana. Ricardo Dantas Borges Doutorando em Antropologia pela Universidade Federal Fluminense/UFF. Texto apresentado para compor a Enciclopédia dos Povos Indígenas do Brasil. Esta é uma homenagem a Ely Estrela, por sua dedicação à vida acadêmica e à nossa Univer Uni versid sidade ade.. Hoj Hoje,certame e,certamenteela nteela est estáá ond ondee est estão ão toda todass asEstrelas!
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entreasedemunicipaldeRodelaseaIlhadaViúva(principalespaçodeprodução),os Tuxá se tornaram indivíduos altamente qualificados, tendo em vista o contexto regiona regi onal.l. Des Desfruta frutava vam m dos dosservi serviços ços dis dispon ponív íveis eisnum numaa peq pequena uenacid cidade ade san sanfran francis ciscan canaa e suas crianças tiveram acesso à escola. Alfabetizados passaram a “exportar” professores, técnicos agrícolas e chefes de postos da Fundação Nacional do Índio (Funai) para aldeias de outras comunidades indígenas. São reconhecidos pelos demais indígenas como os responsáveis pelos primeiros “levantamentos de aldeia” no estado da Bahia e pela “instrução” de vários Povos indígenas do Nordeste na buscapordireitos,reconhecimentoétnicoepelaretomadada “tradição”. A presença dos Tuxá no Vale do São Francisco é comprovada desde o final do século XVII. Tudo indica que compunha a nação dos indígenas rodeleiros, aldeados pelos capuchinhos franceses na Missão de São João Batista de Rodelas, recebendo, pelos Alvarás Régios de 1700 e 1703, área correspondente a uma légua em quadra. Este território, segundo estudiosos, corresponderia as 30 ilhas existentes no rio São Francisco, localizadas próximas à margem esquerda do referido rio, na altura do municípiobaianodeRodelas,dasquaisforamexpropriadosaolongodosanos. Na atualidade, a experiência dos Tuxá Tuxá é marcada por uma tríade perversa que tem descaracterizadoasduasprincipaisAldeiasnasquaisvivemestePovo:aociosidade,o sedentarismoeo faccionalismo. LOCALIZAÇÃO
Deslocamento dos Tuxá depois da Represa de Itaparica-Bahia2: Migração de parte do grupo TUXÁ na década de 1980. Atual localização dos grupos. gr upos.
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Fonte:SEI – SuperintendênciadeEstudosEconômicoseSociaisdaBahia.MapaadaptadoporElyEstrelaeSinthiaBatista.
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Antes da represa, a Aldeia Indígena Tuxá, Tuxá,formada formada por 211 famílias, famílias,encontrava-se encontrava-se na sede municipal municipal de Rodel Rodelas/Bahia. as/Bahia. Depois da Represa, a Aldeia se dividiu em três grupos distintos: 90 famílias ficaram na sede da Nova Rodelas (cidade reconstruída reconstr uída pela CHESF) e 97 foram transferidos para a Fazenda Morrinhos e Oiteiros, (município de Ibotirama/Bahia) e 9 famílias se deslocaram para a Fazenda do Funil (município de Inajá/Pernambuco). Quinze famílias tomaram destinos diversos (GONDIM, s/d, p. 7). Os municípios de Nova Rodelas e Inajá estão localizados no Baixo-Médio São Francisco, Francis co, ambos situados situados no polígono das secas e recobertos pela Caatinga, área onde a ecofisionomia destaca-se de algumas regiões semiáridas, haja vista, sua proximidade com o São Francisco. Rodelas fica próximo ao Raso da Catarina, Bahia, uma das regiões mais inst in stiga igant ntes es do Bi Bioma oma Caa Caati tinga nga,, de um umaa bi biodi odive versi rsida dade de exu exuber berant antee com ocorrência ocorrênc ia de espécies raras de plantas e animais, dos quais destacam-se a araraazul-de-lear. Esta região é área sagrada do Povo indígena Pankararé. Dista de Salvador 540 km e mantém ligação mais estreita com o município de Paulo Afonso, Afo nso, loc local al ond ondee se enc encont ontra ra a Sup Superi erinte ntendê ndênci nciaa Regi Regiona onall da Fun Fundaç dação ão Nacional do Índio (FUNAI). Inajá, Pernambuco, é cortado pelo Rio Moxotó, afluente do Rio São Fran cisco de curso intermitente. intermitente. Dista de Recife Recife 396 km. Ambos os municípios municípios têm na agricultura e na pecuária as principais princ ipais atividades econômicas. O município de Ibotirama fica situado no Médio São Francisco, também no polílígon po gonoo da dass se seca cass e é re reco cobe berto rto po porr um umaa ve veget getaç ação ão co comp mple lexa xa,, co com m predominância de Caatinga e Cerrado. Dista de Salvador 668 km. A economia do município está ancorada na agricultura e a pecuária extensiva. Alé m dess Além d esses es loc locais, ais, enc encont ontram ram-se -se ag agrr upa upamen mentos tos de fam famíli ílias as Tuxá em Jati Jatinã nã e Coité, município de Itacuruba -PE, nas agrovilas de reassentamento rea ssentamento da CHESF em Pedr edraa Bra Branca nca,, per perto to do Pamb ambu, u, to todos dos pró próxi ximo moss do São Fr Fran ancis cisco co.. Atualm Atu alment ente, e, reg regist istrara-se se a pre presen sença ça Tuxá tam também bém em Ban Banzaê zaê,, mun municí icípio pio localizado na região Nordeste do estado da Bahia. NOME
Hohentall (196 Hohenta (1960) 0) dist disting ingue ue os Tuxá dos Arod Aroderas eras (R (Rodel odelas, as, Ro Rodele deleiros iros)) afirmando ser uma tribo “tapuya ” que viveu no São Francisco no século XVII. Para ele, os Tuxá Tuxá foram indígenas indígena s encontrados no século sécu lo XVIII nas mediações da vila Rodelas. Para os atuais Tuxá, os Rodelas são seus antepassado antepassados. s. 11
Há várias versões para a origem do nome “ Rodelas ” . Segundo Sandro (2006), Tuxá “ é porque existia um bravo índio Rodelas que lutou ao lado dos portugueses e voltou para nossa tribo como o grande herói” . As pesquisas realizadas sobre esta etnia descrevem a recorrência ao Índio Francisco Rodela (LEITE, 1945; FONSECA, 1996; SAMPAIO, 1997, SALOMÃO,, 2007). SALOMÃO 2007 ). Pajé Armando (2006) fala que “ antes de ser mos Tuxá, nós éramos índios rudeleiros ” . Fonseca (1996), ao descrever a origem do nome “ rodelas” , diz-nos diz-nos ser recorrente as informações de que Francisco Rodelas Rod elas usava usava as rótulas rótulas do joelho dos seus inimigos inimigos para fazer colares colares para serem usados pelos indígena s. É de 1646 o primeiro registro oficial sobr e Rodelas. Trata-se da solicitação de uma sesmaria no local onde estava situada Rodelas, feita por Garcia D’ Avila Avil a e Anto An toni nioo Perei Per eira ra,, reiv re ivin indi dica cand ndoo sua su a desc de scob ober erta ta,, quan qu ando do de d e suas su as ime i mers rsõe õess para pa ra a expansão de seus currais curr ais nos Sertões (SAMOLÃO, 2007). Por um te temp mpoo, os Tux uxáá se au auto tode deno nomi mina navvam caboclos e ai aind ndaa as assi sim m sã sãoo deno de nomi mina nado doss pe pelo loss de dema mais is ha habi bita tant ntes es de Rod odel elas as.. Caboclo er eraa o no nome me da dado do pelos portugueses portugu eses aos seus aliados indígenas que viviam nas proximidades da 3 costa . Posteriormente, o termo passou a designar os ‘‘ mestiços de brancos e índi ín dios os ’’ , independentemente do grupo étnico ou tronco linguístico ao qual pertenciam perten ciam.. Ent Entre re os Tu Tuxá, xá, o termo caboclo designa designa o índi índioo que que,, “sob o impacto da interação sociocultural com a sociedade maior ” (CABRAL E NASSER, 1988: 133), mantém algumas das práticas de seus antepassados, se reconhecendo e sendo reconhecido pelos demais membros da sociedade como “ diferente”. Ho Hoje je se af afirm irmam am ident identit itar aria iame ment ntee co com m o no nome me de ÍNDIOS TUXÁ, NAÇÃO PROCÁ, DE ARCO FLECHA E MARACÁ, ou simplesmente POV POVO O TUXÁ. HISTÓRICO HIST ÓRICO DE OCUPAÇÃO OCUPAÇÃO DA ÁREA TRADICIONAL TRADIC IONAL
Os povos indígenas do Nordeste foram os primeiros a terem contatos com o branco colonizador, do qual decorrem complexas e equivocadas leituras sobre pertencimentos étnicos e fenotípicos, discussão bastante superada na atua at ualilida dade de.. Na Nass ma mais is de tr três ês co comu muni nida dade dess em qu quee vi vive vem m os Tux uxá, á, encontramos um Povo “ separadamente-ligado” que, apesar dos sequencia sequenciados dos movimentos de violências reais e simbólicas de que foram vítimas, com influências influênc ias diretas sobre seus processo processoss identitários e territor territoriais, iais, se afirmam, cada vez mais, como Nação Indígena das mar gens do São Francisco. Francisc o. 3
A partir daí, os índios mais próximos da costa, aliados dos portugueses, passaram a ser chamados de “caboclo” (Em Tupi significaretiradodamata).EntrevistadoantropólogoJoséAugustoLaranjeiraSampaio.TRIBUNADABAHIA,18/4/1988.
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Sabemos do encontro dos Tuxá e de outros grupos indígenas do Nordeste com povosdedescendênciaafricana.Emboraofatonãoseconstituanovidade,sobretudo em se tratando de indígenas do Nordeste brasileiro, revela, uma vez mais, a complexidade que envolve as questões identitárias e a pertinência per tinência das discussões em torno das “fronteiras étnicas’’ (BARTH, 2003), da auto-definição ou do autoreconhecimento. Vários estudos socioantropológicos realizados sobre o Povo Tuxá (BRASILEIRO (BRASILEIRO, 1998; NASSER, 1995) indicam que esta etnia constitui uma síntese de vários grupos g rupos provenientes da “nação” Proká, que foram submetidos a intensos processos de desterri des territor torial ializa ização ção,, dec decorren orrentes tesdas das açõ ações es col coloni onizad zadora orass da regi região ão do São SãoFra Franci ncisco sco.. Segundo Hohenthal (1960) Segundo (1960) em 1789, os Tuxá4 local localizav izavam-se am-se na aldeia de Nossa Senhora do Ó, na ilha de Surubabel, Sur ubabel, a 10 km da antiga Rodelas, juntamente com os ProcáeosPankararu.ComocontaAntonioVieira(2006): Quando a enchente veio e devorou a ilha, ia acabar com tudo, eles trevessaram em ajojo de bananeira, de mamoeiro, aquelas árvore verde que aboiava. Eram índios primitivos que vinheram procurando chão alto, chegaram aqui encontraram esse chão, isso aqui era uma areia. Acharam isso aqui e aqui ficaram.
Nesse período, que aparece com muita força na tradição oral dos Tuxá, os indígenas que saíram da Ilha de Surubabel, migraram para a localidade de Tapera Vermelha e depois para Rodelas, que também era uma Missão na época, sob o comando de Franci Fra ncisco scoRo Rodel delas as,, fund fundado adorr da Ald Aldeia eia.. Os processos colonizadores da Casa da Torre, sobretudo, foram responsáveis pela disper dis persão são dos ant antigos igos Po Povos vos Indí Indígena genass do Nor Nordest deste. e. Ess Esses es grupos refu refugia giaram ram-se -se nas áreas das missões católicas ou áreas de difícil acesso dos grupos gr upos colonizadores, parte significativadelasnasmargensdoRioSãoFrancisco. O Povo Povo Tuxá é um dos grupos indígenas ocupantes tradicionais das margens do Rio SãoFrancisco.EmmeadosdoséculoXIX,conformedocumentação 5 ,osíndiosTuxá 4
Tuxá (tuchá, tushá). Estes índios foram fora m encontrados encontrad os juntamente juntament e com os Periá, em 1759, no Rio São Sã o Francisco, na região regi ão imediatamente oposta à confluência do Rio Pajeú, o que os coloca nas redondezas de Rodelas. A Residência do Rio de São Francisco, de 1692 a 1694, parece ter sido dividida em duas missões, Aldeia de Rodelas e Al deia de Oacarás. Com as constantes intervençõesdaCasadaTorre,amissãodeRodelasexistiupacificamenteapenasduranteumameiadúziadeanos,e,em1696,os padres jesuítas foram expulsos por essa poderosa família de latifundiários. Contudo, os índios ficaram, e Rodelas era regula reg ularment rmentee pov povoad oadaa porvoltade 1702 1702,, qua quandotinhacerca ndotinhacerca de 600almas 600almas.. Em 1852haviano loc local al 132índios 132índios,, com compre preende endendo ndo 33 famí famílias lias,, cuj cujaa eco econom nomia ia se base baseavana avana pes pesca ca e no cul cultiv tivoo da mand mandioca ioca.. Em 1952exist 1952existiamcerca iamcerca de 200 Tuxáno Po Postoindígen stoindígenaa de Alfabetiz Alfabetização ação e Tr Tratamento atamento “Rodelas”. A economia é ainda essencialmente baseada na pesca e na agricultura, mas a popula pop ulaçãoflutuadevidoao çãoflutuadevidoao fatodos hom homensprocu ensprocurare rarem m freq frequen uenteme tementetrabal ntetrabalhosem hosem out outroslocai roslocaiss (HO (HOHEN HENTHA THAL L , 1960 1960).). 5 O “Mapa” das Aldeias da Bahia, apenso à fala do Presidente da Província, de 01/03/1861, registra que o patrimônio Tuxá compre com preendi endiaa de fatocerca de trin trinta ta ilha ilhass (BR (BRASIL ASILEIR EIRO O, 1998 1998).). Aro Aroder deras as (R (Rodel odelas,Rode as,Rodeleir leiros) os).. Uma trib triboo“tapuia”, qu quee vi vive veuu ao lon longo go do RioSão Fra Franci nciscono scono séc séculoXVII, uloXVII, seg segund undoo PISOe MAR MARCGR CGRAF AF.. Marti Martins ns com coment entaa em seu seuss Bei Beitraeque traeque ess essaa tri tribo bo
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possuíam mais de trinta ilhas na região, que foram perdidas durante o processo de ocupação. Apenas uma dessas áreas (a Ilha da Viúva) foi reconquistada na década déca da de trin tr inta ta,, do sé sécul culoo pas passa sado do,, vi vind ndoo a ser sub subme mersa rsa,, co com m a co cons nstru trução ção da hi hidro droel elét étri rica ca de Itapari Ita parica ca pel pelaa CHE CHESF SF.. Essa Ilh Ilha, a, refe referid ridaa pel pelos os Tuxá atu atuais ais com comoo uma das pri princi ncipai pais, s, eraondefaziamsuaspráticasagrícolasetambémritualísticas. ESPAÇODEPRODUÇÃOEATIVIDADESECONÔMICAS
A Ilha da Viúva possuía área agricutável bastante exígua e, segundo Orlando Sampaio-Silva (1988) em que pese o plantio irrigado numa parte dela, a agricultura estava voltada para atender o consumo da própria comunidade 6. Cultivavam a mandioca, o feijão, feijão, a batata-doce, o arroz, a cana-de-açúcar, a melancia, entre outros. Também coletavam coletavam mel e frutos fr utos silvestres, além de praticarem a caça e a pesca. As mulheres, até a década de sessenta, praticavam a fiação usada no consumo da tribo e paraomercado.Acebolaeraoprincipalprodutovoltadoparaocomércioexterno.O produto era cultivado em regime de parceria com produtores pr odutores ou comerciantes (não índios), consistindo no financiamento de insumos agrícolas, ag rícolas, gêneros alimentícios e instrumentos de trabalho. De acordo com Sampaio-Silva, a parceria submetia os trabalhadoresindígenasaumasituaçãodeexploração. Os Tuxá são, originalmente, indígenas das canoas, ou sejam, viviam das águas do Velho V elho Chico. Eram e ainda são bons pescadores e dominam, como ninguém, complexas técnicas de pesca: são sábios na ecologia das águas e de diversas espécies de peixes. Portanto, Portanto, além da agricultura, os indígenas praticavam e ainda praticam a pesca, a caça e o artesanato. Hoje, participam de diversas atividades comerciais em escalas nacionais, como a venda do coco e outros produtos de demanda nacional, alémdeatuarememdiversosórgãospúblicoscomorepresentantesdediversospovos indígenas do Nordeste, a exemplo da Coordenação da Associação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espíritos Santo (APOINME), FUNAI, Secreta Secr etaria riass de Edu Educaçã caçãoo, ent entre re out outros ros.. Esquecidos das inúmeras contendas e dos esbulhos de que seus ancestrais foram vítimas, a memória dos Tuxá tem se fixado na perda da Ilha da Viúva, tornando-a um espaço cercado de rico imaginário. Assim, seus 108 (GONDIM, s/d, p. 1) hectares são lembrados como a terra da prosperi prosperidade dade e da abundância, abundância, conflitante conflitante com as informações acima apresentadas; um espaço mitificado, que, além da garantia da não poderia ser identificada por seu nome, desde que rodela signif ica simplesmente um ornamento labial em português, por tuguês, mas Barbos Bar bosaa Lim Limaa Sob Sobrin rinho ho sug sugereque ereque ess essee nom nomee ve vem m de um peq pequen uenoo esc escudode udode form formaa cir circul cular ar queusav queusavamos amos índ índiosdessaregiã iosdessaregião. o. De acordo com Accioli de Cerqueira, os Rodeleiros foram, durante algum tempo, aliados dos Acroás, reduzidos pelos Jesuítas, em 1751. Os Acroás em outros tempos chegaram até a Comarca do Rio de São Francisco. PINTO classifica os Rodelas como Cariri,masnãoapresentajustificativaparaessaclassificação(HOHENTHALJR.,1960). 6 A produção de gêneros alimentícios na ilha da Viúva apenas atingia um patamar, que permitia suprir, ainda que “ A deficientemente,oconsumoalimentardapopulaçãoaldeada”.(SILVA,1997,p.133).
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sobrevivênc sobrevi vência ia e da prod produção ução de ex excede cedente ntes, s, pos possibi sibilit litav avaa a man manuten utenção ção de prát práticas icas simbólicas que lhes serviam de elementos identitários diferenciados, em relação aos demais sertanejos/acaboclados ser tanejos/acaboclados que habitavam o Médio São Francisco. Francisc o. Era na Ilha da Viúva que os indígenas praticavam seus rituais, especialmente aqueles vinculados vincul ados à “ciência”,conformeseráobservadoemseguida. A decan de cantad tadaa abund ab undânc ância ia que q ue vig v igora orava va na Ilh Ilhaa da Viú Viúva va é reit r eitera erada da tamb t ambém ém por p or um agente pastoral que conviveu com os indígenas um pouco antes da submersão de suas terras. Eu tive a felicidade de chegar à região do Vale do São Francisco antes da Barragem de Itaparica Itaparica e vivi de perto toda a cultur culturaa do homem ribeirinho e de seu relacionamento com o rio. Lá em Rodelas, eu convivi de per to com a Tribo Tuxá, os índios Tuxá, com os agricultores e com os pequenos proprietários da margem do Rio São Francisco e digo a você que foi uma das experiências melhores que eu tive na vida — quando cheguei do Sul e entrei em contato com a comunidade sem ninguém de fora (Nós não viemos em equipe) (...) . Então, eu sei, porque conheço de perto a afinidade do homem com o rio. Várias vezes, eu acompanhei os agricultores na travessia do rio para a gente ir à ilha pegar capim, ver uma vaquinha que ele tinha, tomar o leite de manhã cedo (misturado com farinh a). Enfim, todo o relacionamento do homem com o rio. Quando eu cheguei, dava a impressão impre ssão que o povo não tinha nada, mas o que eu vivi for foram am doi doiss anos de far fartur tura. a. Não tin tinha ha din dinhei heiro, ro, mas tinh tinhaa manga, mandioca, o peixe, tinha tudo. Então, eu conheci em Rodelas a fartura. O pessoal dava a impressão de não ter nada, mas tinha uma vida feliz e farta. 7
Na maior parte das narrativas nar rativas do Povo Povo Tuxá, a Ilha da Viúva Viúva aparece como lugar luga r 8 de riqueza e de fartura, em suma: “uma mãe”. Destacamos, quão complexo foi a desterritorialização do Povo Tuxá das áreas férteis das ilhas e margens do São Francisco para áreas com solos poucos produtivos e até estéreis, e mesmo, regiões mais urbanas, urban as, sem possibilidade de envolvimento da comunidade nas atividades ligadas à terra, como o grupo que ficou em Rodelas Nova. Assim, parte dos Tuxá, reassentados em exíguos lotes situados na sede do município de Rodelas (a Nova), tornaram-se “totalmente urbanos”. As condições impostas pelo barramento do Rio São Francisco para a construção de Itaparica, I taparica, obrigam-nos aosedentarismoeaodistanciamentodaspráticasagrícolas. 7
Entrevista concedida a Ely Estrela em Sobradinho, 26/7/2000. Celito Kisternig , convém ressaltar, ressaltar, é catarinense e aportou em Ro Rodel delaa com comoo ass assess essor or da Dio Dioces cesee de Pa PauloAfons uloAfonso.Seu o.Seu tra trabal balho ho vis visav avaa jus justam tament ente,assess e,assessora orarr os atin atingid gidos os de Ita Itapar paricapara icapara evitara tara rep repetiç etiçãodo ãodo des desast astreque reque foiSobra foiSobradin dinho ho”’,conformesalientounaentrevistaacimareferida. “evi 8 EntrevistaconcedidaElyEstrela porCecíliaPadias.AldeiaTuxádeMorrinhos(Itotirama),em16/10/1999.
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Alguns poucos Alguns poucos realizam realizam a condição condição campon camponesa esa através através do arrendament arrendamentoo de terras terras de regi re gion onai aiss e a ma maio iori riaa vi vive ve na ma mais is co comp mple leta ta oc ocio iosi sida dade de.. De mo modo do ger geral al,, so sobr brev eviv ivem em do Pagamento de Compensação Financeira Provisória (antiga Verba de Manutenção Provisória - VMT), situação que perdura por mais de 20 anos. Os Tuxá de Ibotirama, que também reclamam da dificuldade de acesso à água e continuem cobrando da CompanhiaHidroelétricadoSãoFrancisco(CHESF)oprometidoprojetodeirrigação, desfrutamdapossedaterraepotencialmentepodemserealizarenquantocamponeses. HISTÓRICO DO CONTATO E O ESTABELECIMENTO DE MISSÕES NAREGIÃODERODELAS
Quando os colonizadores adentraram o Vale do São Francisco, implantando ali as fazend faz endas as de degado gado,, enc encont ontrar raram amten tenaz azres resist istênc ência iades desses sesind indígen ígenas as.. Pa Para raapl aplaca acarr o esp espíri írito to de lut lutaa das agu aguerri erridas das tri tribos bos,, for foram am sol solici icitad tados os os pré présti stimos mos das mi missõ ssões es rel religi igiosa osas. s.Ela Elass foram criadas a partir do século XVII, sobretudo nas áreas mais férteis e nas ilhas. Na área das Corredeiras do São Francisco, as primeiras Missões Católicas eram jesuítas. Mais tarde esses missionários foram substituídos pelos capuchinhos franceses e italianos. Além dessas ordens, atuaram também no São Francisco missionários carmelitas e franciscanos. As sucessivas mudanças de ordens missionárias eram motivadas,emgeral,pordesavençasentreosreligiososeospotentadosdaCasadaTorre (família D Avila ’Avila),), cujo morgadio morgadio se esten estendia, dia, grosso modo, modo, do litoral norte da Bahia (passando pelo sertão setentrional do mesmo estado) ao sul do Piauí. Como afirma Gabriela Martin (1998), “a história dessas missões e de suas lutas contra as poderosas casas da Torre (Garcia D Avila) ’Avila) e da Ponte Ponte (Guedes (Guedes de Brito) Brito) são, são, possivelmen possivelmente, te, os capítulosmaisdramáticosdahistóriadovaledorioSãoFrancisco”. Para a Missão de Rodelas foram diferentes grupos gr upos indígenas, portanto, na região das corredeiras do São Sã o Francisco, este agrupamento caracterizava-se pelas inter-relações estabe est abelec lecida idass por dif diferen erentes tes grupos tri tribai baiss rem remane anescen scentes tes,, com a pred predomi ominân nância cia dos Tuxá.Hohenthal Tuxá. Hohenthal (1960) diz que os indígenas Tuxá de Rodelas “temtradiçõesquenos levamapensarteremelesvivido,emoutrostempos,nasilhasondeasantigasmissões de Assunção e Santa Maria foram fundadas”. Ainda hoje os Truká, após um intenso processo de retomada de seu território, vivem vivem na área que estabelece e stabelece relações com a IlhadaAssunção. Como dito anteriormente, a presença dos Tuxá no Vale do São Francisco é comprovada desde o final do século XVII. Tudo indica que compunha a nação dos indígenas dos rodeleiros, aldeados pelos capuchinhos franceses na Missão de São João Batista de Rodelas, recebendo, pelos Alvarás Régios de 1700 e 1703, área corre co rresp spon onde dent ntee a um umaa lé légu guaa em qu quad adra ra.. Es Esta ta ár área ea,, se segu gund ndoo es estu tudi dios osos os,, corresponderia as 30 ilhas existentes no rio São Francisco, localizadas próximas à margem esquerda esquerd a do referido rio, na altura do município baiano de Rodelas. 16
O trabalho missionário sempre esteve na mira dos colonizadores coloniz adores e sua situação tornou-se ainda mais mais grave, grave, quando quando o Marquês de Pombal Pombal passou a perseguir os missionários e tentar a extinção dos aldeamentos indígenas, indígenas, usando como estratégia o estímulo aos processos ‘‘ assimilacionistas ’’ dos grupos indígenas à população não-indígena. Ape sar das cri Apesar crises ses que se seg seguir uirão ão a es este te per períod íodo, o, Rode Rodelas las ain ainda da per man manece ecerá rá como aldeamento, passando pela direção de vários missionários. Durante a primeira metade do século XIX até sua su a extinção, a Missão de Rodelas alternará longos períodos sob a égide de missionários e cur tos períodos sem a presença de religiosos. O golpe de morte às missões missõe s do São Francisco, ocorreu no século XIX, quando o governo imperial resolveu estabelecer uma reestruturação reestruturaçã o fundiária no Brasil, que culminoucomapromulgaçãodaLeideTerrasde1850. Além de coloc colocar ar a ter terra ra sob a égide do capita capital,l, a Lei 601 de 1850 estab estabelecia elecia critérios para a definição do que seriam as terras devolutas e suas variadas formas de comercialização, a problemática das ocupações irregulares, incluindo-se os processos de estabelecimento de reservas indígenas e possíveis definições de novos povoamentos. Todo esse processo foi muito conflitivo, marcado pelas disputasdepoderecapacidadedeinfluenciarpoliticamentedaseliteslocais. Começa, então, um longo processo de disputa pela posse das terras entre municípios, províncias e governo central, provocando indefinições e abrindo espaço para o açambarcamento de terras, através, sobretudo, do artifício da grilagem gril agem.. Inau Inaugura gura-se -se,, a parti partirr daí, um sis sistem temáti ático co proc processo esso de desq desqual ualifi ificaçã caçãoo dos territórios indígenas e da afir mação identitária desses Povos. Povos. É neste período que se torna forte a caracterização dos indígenas como “misturados” e “mestiços”, levando o Império a ser “convencido” da inexistência de povos indígenas na região regi ão,, acarr acarreta etando ndo na ext extinç inção ão de mu muito itoss ald aldeame eamento ntos, s, sobr sobretu etudo do os que esta estavam vam locali loc alizado zadoss nas mar margens gens do Rio São Fra Franci ncisco sco.. Essa situação deflagrou um intenso processo de tensão entre os indígenas. Objetivando diminuir o estado de conflito, em 1857, o Governador da Província resolveu encaminhar para Rodelas o Frei Luiz Giávoli (REGNI, 1988). Esse Frei terá um papel decisivo decisivo nas ações políticas políticas voltadas para os povos indígenas do Nordest Nor deste, e, espe especia cialme lmente nte,, do São Fra Franci ncisco sco.. Após cin cinco co anos ten tentan tando do reor reorgani ganizar zar o Aldeamento, retorna ao Convento da Piedade em 1862 e, após relatar a existência de “apenas” 130 indígenas, diz serem desnecessários esforços para continuar o trabalho missionário na região, propondo que os indígenas sejam incorporados à sociedade. Essa posição reforçou a decisão do Governo de implementar imple mentar uma polít política ica assimil assimilacionis acionista. ta. 17
O Decreto 3348 de 1857 dá às Câmaras Municipais o direito e o poder de venderem vender em as terr terras as das aldei aldeias as extint extintas, as, poden podendo do utiliz utilizá-las á-las para funda fundarr vilas, povoações, ou mesmo logradouros públicos. Em 1887, a lei 338 transfere o domínio das terras das aldeias extintas para as províncias e as Câmaras Municipais, que pode podem m afor aforá-l á-las as.. Com a proclam proclamação ação da Repúb República, lica, a constituição constituição de 1891 transfere a posse das terras de aldeias extintas para os estados federativos (SALOMÃO, 2007). Todo esse cenário intensificou um violento processo de expulsão dos indígenas de seus territórios, começando, então, uma nova diáspora dos povos indígenas do São Francisco. Foi, Foi, portanto, esse processo, proce sso, o responsável pelas novas configurações conf igurações terri te rrito tori riai aiss do doss po povo voss in indí dígen genas as do No Nord rdest este, e, en entre tre os qu quai aiss do doss Tux uxá. á. AFIRMAÇÕES AFIRMA ÇÕES IDENTI IDENTITÁRIAS TÁRIAS E NOVAS TERRITORI TERRITORIALIDADES ALIDADES
Desse modo, algumas das áreas hoje ocupadas ou reivindicadas pelos grupos indígenas, como é o caso dos Tumbalalá, certamente, formavam, no período anterior à conquista, uma unidade territorial ter ritorial que foi, ao longo dos anos, solapada pelo esbulho e pelo roubo puro e simples. É bem provável que as várias etnogêneses que se desenvolveram no sertão do São Francisco, tanto no período denominado de primeira “emergência étnica”, quanto em tempos mais recentes (a partir dos “levantamentos verificados em 1970” ), resul resultem tem da intera interação ção e do contato entre os vários grupos indígenas aldeados em diferentes momentos da ocupação do Vale do São Francisco, formando algo próximo de uma “babel étnica”,parausarexpressãocunhadaporAndrade(2002). Convém salientar que os diversos grupos grup os indígenas que vivem no São Francisco mantêm entre si rede de relações de reciprocidade. Em geral, os Tumbalálá, Tuxá e Truká Tr uká reme r emetem tem sua s ua ance a ncestr strali alidad dadee a uma um a nação na ção comum c omum,, denomi den ominad nadaa de Procá, daí repetirem, frequentemente, o bordão “somos todos parentes” (ANDRADE, (ANDRA DE, 2002, p. 3). Essess in Esse indí díge gena nass fo fora ram m ma marc rcad ados os po porr du duas as im impo porta rtant ntes es ex expe peri riên ênci cias as:: a expropriação e a resistência. E todos os grupos gr upos indígenas que habitavam o BaixoMédio São Francisco foram sempre muito aguerridos. Nos inúmeros confrontos, foi arrancada aos indígenas indígena s uma grande parcela de suas terras9 . Por volta de 1910, os indígenas que viviam na Ilha da Assunção (localizada no rio São Francisco, 9
A medida me dida que eram er am escorra e scorraçados çados de suas su as terras, te rras, os índios í ndios se juntavam ju ntavam aos bandos que perambula pe rambulavam vam pelas p elas fazend fazendas, as, à procura de um lugar onde pudessem se fixar. No começo do século, vários desses magotes de índios desajustados eram vistos nas marge margens ns do São Francis Francisco. co. Alimentava Ali mentavam-se m-se de peixes ou do d o produto p roduto de minúscul minúsculas as roças planta plantadas das nas ilhas inundáveis – únicas cuja posse não lhes era disputada – e trabalhavam como remeiros e como peões das fazendas vizinhas (RIBEIRO (RIBEI RO,, 1986,p. 56).
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próxima ao estado de Pernambuco) sofreram sofr eram novo e duro golpe quando esta foi reivindicada reivin dicada por um “coronel” local10. Se o esbulho esbulho,, num primeiro momento, momento, desno de snorte rteou ou os in indí dígen genas as,, no mo mome mento nto seg segui uint nte, e, le levo vouu par parcel celaa de deles les a empreender resistência, buscando junto ao Serviço de Proteção ao Índio (SPI), dire di reit itos os e pr prot oteç eção ão.. Ugo Ma Maia ia An Andr drad adee re regi gist stra ra qu quee a re resi sist stên ênci ciaa fo foii empreendida, dentre outros, pelos Truká e tudo indica que ela teria dado ensejo ao processo também conhecido de etnogênese desse grupo, reconhecidos pelo SPI em princípios de 1950 (2002, p. 148). Par araa os in indí díge gena nass, es esse sess pr proc oces esso soss sã sãoo vi vive venc ncia iado doss co como mo resistência étnica , tr trad aduz uzid idos os,, na atualidade, nas lutas políticas desses grupos, conhecidas como “retomadas”. Na região do submédio e baixo São Francisco, estão em processo de lutas pelos territórios os Tuxá, Tumbalalá, Truká, Koiupanká, Kalankó, entre outros. Esses processos político-organizativos evidenciam o quanto é complexa a territorialidade indígenas indí genas na contem contemporanei poraneidade. dade. RECONHECIMENTOÉTNICO
OsTuxáéosegundogrupoindígenareconhecidopeloEstadobrasileironaBahiaeo terceiro no Nordeste. Esta comunidade tem uma importância muito grande para os outr ou tros os po povo voss in indí dígen genas as do No Nord rdes este te,, ha haja ja vi vist sta, a, te terr si sido do a et etni niaa qu quee oc ocup upou ou um pa papel pel destacado num processo que ficou conhecido como “levantar a aldeia”, onde mestres, lideranças e pajés Tuxá tiveram um papel estratégico na afirmação e no reconh rec onheci ecimen mento to étn étnico ico,, em mea meados dos do sécu século lo pass passado ado,, de out outros ros pov povos os ind indígen ígenas as do sertão sert ão nor nordes destin tinoo com comoo os Kir Kiriri iri,, Truká, ruká,Ati Atikum kum,, Pa Panka nkará rá e Tumb umbala alalá lá (SA (SALOM LOMÃO ÃO,, 2007). 200 7).Ele Eless gaba gabam-s m-see de ter terem em ens ensina inado do,, tam também bém,, aos Kir Kiriri iride de Mir Mirand andela ela,, mun municí icípio pio deBanzaê(Bahia),apráticadotoré,fatoconfirmadoporinúmerospesquisadores. Segundo informações do Pajé Armando (2006) os Tuxá falavam o trocá. Assim, de acordo aco rdo com pes pesqui quisas sas de Sam Sampai paio-S o-Silv ilvaa (19 (1997) 97) “Pr Procá ocá,, Troc rocáá e Truká ser seria iam m te termo rmoss cognat cog natos os e refe referir rir-se -se-ia -iam m a con contex textos tos lin lingüí güísti sticos cos e soci sociais ais soc sociol iologi ogicam cament entee identificadosentresi ”. Como a maioria dos grupos indígenas do Nordeste, os Tuxá estabelecem releções complexas com a língua de seus ancestrais, supostamente “perdida”, como em seus rituais. Parte Parte da língua falada pelos antigos Tuxá está sistematizada em uma Cartilha, recentemente encontrada pelos indígenas em um Museu localizado em um pais da 10
“Consistiu em obter dos índios licença para construção de uma capela consagrada a Nossa Senhora de Assunção. Essa congregação, registrada posteriormente em cartório, como doação, serviria de base para a expedição de títulos de propriedade em que o vendedor era a Santa Padroeira, representada pelo bispo de Pesqueira, na Bahia (sic), e o comprador, um potentado local. Este fez sentir aos índios a força de seu título possessório, obrigando-os a se colocarem a seu serviço, pagar foros pela ocupaçãodasterras,ouabandonaremasilhascomointrusos ” (RIBEIRO,1986,p.55-56).
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Europa . Trata-se de um Povo Povo que se orgulha de seus costumes e da prática pr ática de seus rituais, tais como: o oculto , a mesa ou par titicular , a ceia , o quartinho , o toré , culto dos Mestres, o Gentio, os Caboclos, (CABRAL E NASSER, 1988: 133; PEREIRA, 1988:142; MARQUES, 2008:327,328). De acordo com a professora Tuxá Aldenora Vieira Almeida (2000), em Rodelas, existiam manifestações de preconceito contra os indígenas. No entanto, outros entrevistados fazem questã o de minimizá-lo, ressaltand ressaltandoo que os indígenas encontravam-se integrados à vida socioeconômica e políticocultural do Município, possuindo representação na Câmara Municipal e mantendo, inclusive, estreitos vínculos com express ivos políticos da região e do estado da Bahia. Podemos afirmar que a maior discriminação sofrida pelos Tuxá evidenciou-se quando da construção da Represa de Itaparica. Se não bastasse o violento processo de fragmentação, de desterr desterritorialização itorialização e reterritorialização reterritorializaçã o sofridos, há mais 20, ainda amargam um tenso processo de negociação com a CHESF para a garantia de seus direitos. PRÁTIC PRÁ TICAS AS RITU RITUAIS AIS E FES FEST TAS
O Universo simbólico do povo Tuxá é, essencialmente, constituído pelo culto aos encantados/mestres, santos, caboclos e gentios. Essa dimensão simbólica está intimamente relacionada às águas do São Francisco, particularmente as cachoeiras, morada dos encantados e de outras forças espirituais que fazem parte da cosmovisão dos Tuxá. Essas cachoeiras, assim como as ilhas, lugares sagradoss para os indígenas, foram destruídas pelas barragens. sagrado Em relação ao simbolismo e aos rituais dos Tuxá, sobressaem-se o toré, a mesa ou o particular , conforme já assinalado. O primeiro é uma das práticas rituais utilizada por todos os indígenas do Nordeste e tem se colocado como importante meio de afirmação diacrítica. Ele corresponde a uma espécie de folguedo, “brincadei brincadeira ra de índio”, que tem função lúdica e de interação social (ANDRADE, 2002, p. 221). Em geral, é “brincado ” ou “dançado ” nos momentos de “levantamento”, em dias festivos, bem como de demonstração de força política, assumindo, muitas vezes, caráter pluriétnico e multicultural – na expressão de Rodrigo Grunewald (2005). Trata -se de uma Trata-se um a manifes mani festaç tação ão celebr cel ebrativa ativa de carát ca ráter er cultur cul tural al e também tamb ém religi rel igioso. oso. Em muitas aldeias franciscanas o Toré é realizada como uma “dança circular”. Os Tuxá, porém, realizam esse ritual a partir par tir de duas filas paralelas. para lelas. Assim, como o “particular ”, os Tuxá, antes da Barragem, Barr agem, sempre praticavam p raticavam o Toré, Toré, de 15 em 20
15 dias, alternadamente com o particular, particu lar, sempre aos sábados. A partir do Toré, Toré, fortaleciam sua identidade enquanto Povo Indígena, celebravam, brincavam. Hoje, entretanto, em virtude do processo de desorganização provocado pela nã o tem sido constante como antes. “chegada do estranho”, essa frequência não Nosso Toré não é só uma dança, mas também um ritual religioso. Uma parte dele é de preparação espiritual para enfrentar uma situação conflituosa conflit uosa(UIL (UILTON TON TUXÁ, TUXÁ,2008) 2008).. No Toré tem um segmen segmento to do ritual onde os guerreir guerreiros os masculinos ficam fic am ao red redor or de um tac tacho ho da jur jurema ema e as mul mulher heres es dan dançan çando do ao red redor or (SANDROTUXÁ,2008).
Quanto à mesa ou ao particular , vale aqui rep eprroduzir o que escreve Andrade sobre a prática entre os Tumbalalá: “consiste num trabalho ritual dirigido aos encantos real re aliz izad adoo em am ambi bien ente te fe fech chad adoo e qu quee goz gozaa de pr prerr errog ogat atiiva de se serr ma mais is concentrado e estabelecer comunicação mais intensa com o sobrenatural sobr enatural” (2002, p. 220). 220). Dur Durant antee o ritual, ritual, pode assoma assomarr o encantado – entidade sobrenatural – através de um “cavalo” ou aparelho, manifestando-se à audiência; fazendo revelações revel ações,, assertivas assertivas e prelações. prelações. Essa dinâmica varia varia entre os povos. povos. Para os Tuxá, os mestres podem estar es tar relaciona rel acionados dos tanto a índios ín dios “encantados”, lideranças espirituais, curandeiros e pajés, como indígenas ainda vivos que, de alguma forma, fo rma, se rel relaci acion onam am com os en encan canta tado doss no noss ri ritu tuai aiss. Nessa dimensão dos “encantamentos”, os Tuxá incluem os ancestrais que viveram nos seus antigos territórios e estão enterrados nos cemitérios sagrados na região onde ficavam as velhas aldeias. É a partir dessa “simbolização” que os Tuxá também narr na rramso amsobr bree o Gentio, pa part rtee do doss cu cult ltosdo osdoss ind ndíg ígen enasTu asTuxáde xáde Rod odel elas as.. Não há registro da ocor ocorrência rência da manifestação do gentio entre outras etnias indígen ind ígenas as do São Fr Franc ancisc iscoo. Os cab cabocl oclos os são ent entida idades des esp espiri iritu tuais ais,, indígenas encantados, que “ vi vive vera ram m” nas antigas terras imemoriais das aldeias no São Francisc o. No ritual dos Ocultos, realizado na Casa de Oração, também conhecido como acon onte tece ce de qu quin inze ze em qu quin inze ze di dias as en entr tree os Tux uxá, á, ao aoss sáb sábad ados os.. In Inic icia ia-s -see “particular”, ac à mei meia-n a-noit oite, e, termi terminan nando do,, gera geralme lmente nte,, ao ama amanhe nhecer cer do dia dia,, pod podend endoo eve eventu ntualm alment entee seestenderatémaistarde,oumesmodurantediasseguidos(SALOMÃO,2007). Neste ritual destaca-se a importância do malaco, m alaco, por que a fumaça tem uma importância muito grande no nosso ritual. Usamos para isso o fumo com várias ervas como a umburana, alecrim, jatobá, amescla, entreoutros(SANDROTUXÁ,2008).
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Os ocultos é enramar, receber a força dos nossos antepassados índios antigosquevoltamparaorientaraaldeia(UILTONTUXÁ,2008).
Durante o ritual, os indígenas ingerem a jurema, uma bebida feita com a raiz e entrecasca da juremeira, planta sagrada para a maioria dos povos indígenas do Nordeste. Dentro da “ciência do índio”, a Ceia é um ritual muito pouco comentado. Está relacionada aos oferecimentos de alimentos para os encantados nos processos de agradecimentoporgraçasalcançadasepelarealizaçãodenovaspromessas. O “Quartinho” é um espaço “individualizado” das famílias Tuxá, construídos geralmente nas próprias casas e que serve como espaço de oração e culto aos “mestresencantados”. Entre os indígenas do Nordeste – fortemente marcados pelo contato interétnico e pela interação social – estes rituais são importantes sinais identitários, portanto, dominá-los e praticá-los é um imperativo. Suas práticas marcam o “ser índio”; evid ev iden enci ciam am o uso da “tradição” e do “regime” de um umaa me memó móri riaa co cole letitiva va qu quee de deve ve ser vivenciada. Deixar de praticar os rituais e a “ciência” é sinal de enfraquecimento, de que a aldeia se encontra “aberta”, correndo perigo, portanto, de ser atingida pelas “impurezas”. Entretanto,tantoosTuxáquantoosdemaispovosindígenasdoNordeste,nãofazem do “purismo” étnico seu modo de afirmação identitária. Saíram e compreenderam a crueldade da “ossifi ossificação cação étnica”. Suas identidades são, antes, estabelecidas, no campo político-organizativo político-organizativo.. Além das práticas culturais acima elencadas, os Tuxá, de acordo com os entrevistados, tinham e ainda têm marcante participação na mais tradicional festa de Rodelas – a festa de São João. A festa do padroeiro da cidade compreende um ciclo quevaide15a24dejunho.Osfestejosdecadanoiteficamacargodeumapessoade prestígiodacidadeoudeumgruposocial:os ‘‘caboclos’’ eosmorenos. Tradiciona lmente, a primeira Tradicionalmente, prime ira noite é patrocina pat rocinada da pelos índios índ ios caboclos cabo clos (os Tuxá). Tudo indica que a devoção dos caboc caboclos los a São João remon remonta ta ao perío período do da presença dos missionários no Vale Vale do São Francisco. São João Batista foi o orago da aldeia de Rodelas. Rodelas. Contam os mais velhos que a devoção teve início quando os índios encontrar enco ntraram am na mata um “neném” (a imagem de São João). Intrigados com a presença deste “neném” no local, entoaram cânticos para que ele atendesse aos seus reclamos e viesse até o local onde se encontravam. Em seguida, pegaram a imagem - o neném - e levaram-na para a igreja de Rodelas, onde ainda hoje se encontr enco ntraa (em Nov Novaa Ro Rodel delas) as).. 22