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Resenha “Social “Social forces, states and world world orders: order s: beyond international relations rel ations theory” (Robert Cox), por Gills Lopes
O texto ora em tela, do professor Robert W. Cox, da Universidade de York (Canadá), apresenta-se em seu idioma original (inglês) e faz parte de obra maior que reúne outras compilações internacionalistas, International Relations: Relations: critical critical concepts in in Political S cience cience, cujo editor é Andrew Linklater.
COX, COX, Robert Robert W . Social forces, st ates and world orders: beyon d international relations relations theory. theo ry. critical concepts in political science. vol. IV. Londres e Nova Iorque: Routledge, 2000. 35 p.
In: LINKLATER, Andrew (Ed.). Internationa Internationall relations rel ations :
Basicamente, as 35 páginas da obra aqui resenhada se dividem em dez seções, as quais se interligam: introdução; perspectivas e propósitos; propósitos; reali realismo, smo, marx marxiismo smo e um uma abordagem abordagem para um uma teoria teoria críti crítica ca da ordem mundial ndial;; ambi ambient entes es para ação: estrut estrutur uras as hi históri stóricas; hegemonia e ordens mundiais; forças sociais, hegemonia e imperialismo; a internacionalização do Estado; a internacionalização da produção; produção; produção produção int intern ernaci acional onal e estru estrutura tura de classes; classes; forças sociai sociais, s, estru estrutu turas ras do Estado Estado e perspecti perspectivas vas da ordem mundi undial al futur utura; a; e notas.
O autor introduz seu texto, demonstrando que uma abordagem teórica, como a que ele pretende fazer, deve se pautar em aspectos práticos práticos e que que sejam nada mais ais do que que a constr construção ução hi históri stórica de fatos fatos (sobret (sobretudo, udo, das relações relações hum humanas anas/soci /sociai ais) s) que que leva levaram ram o objeto de estudo da teoria crítica ao que ele é hoje, ou seja, que todo processo historicamente construído deve ser analisado com suas peculi peculiaridades, aridades, não não soment somentee a reali realidade como como um todo. Isso Isso também também se encai encaixa xa às Rel Relações ações Intern Internaci acionai onaiss (RI), (RI), que, que, segun segundo do o autor, autor, é uma área de estudo que envolve atores estatais e não-estatais em constantes relações que, por sua vez, definirão a paz e a guerra, em dados momentos. Cox também informa que a Teoria de Relações Internacionais atual, ao contrário da tradicional, não mais separa a sociedade civil do Estado em esferas distintas, as quais são fatores imprescindíveis para entender o campo das RI. Porém, os conceitos abordados nessas duas esferas são puramente analíticos e muito vagamente e imprecisamente indicativos de distintas esferas de atividade. Nisso, informa ainda que um grupo liderado por Immanuel Wallerstein e inspirado por Braudel propôs uma Teoria dos Sistemas-Mundo definida essencialmente em termos de relações sociais – a qual Cox passa a analisar com foco nas relações de
mudança de exploração entre um centro desenvolvido e uma periferia subdesenvolvida, para a qual correspondem diferentes formas de controle do trabalho. Apesar da ênfase nesse sistema-mundo, Cox informa que tal teoria tem sido criticada por duas razões: (i) sua tendência de subvalorizar o Estado, considerado-o como meramente derivado de sua posição no sistema mundial; e (ii) sua alegada preferência na preservação do status quo internacional.
Em perspectivas e propósitos, o autor demonstra a função da teoria que pode servir a dois propósitos diferentes: (i) ser uma espécie de bússola na resolução de problemas causados dentre de uma perspectiva particular; e (ii) se tornar claramente aceita para teorizar, e, assim, se tornar uma (ou talvez a única) via para um mundo alternativo. Com isso, chega-se ao conceito geral do que seria uma teoria para resolver problemas (problem-solving theory), que seria aquela capaz de "fazer essas relações e instituições de trabalho ‘delinear’ com fontes particulares do problema". Portanto, o segundo propósito (ser claramente aceita) é o que vai alavancar a teoria crítica, que é diferente das teorias de resolver problema, uma vez que ela não toma instituições e relações de poder sociais, mas as chama para dentro da questão por considerar elas mesmas com suas origens e como e onde elas deveriam se situar dentro do processo de mudança. Com isso, o autor conclui que a teoria crítica é a teoria da história, no sentido de ser concebida não apenas com o passado, mas com um processo contínuo da mudança e que, apesar de não estar “interessada” com o problema do mundo real, contém um elemento utópico. Isso se fundamenta na explicação de Cox de que, ao contrário da teoria de resolver problema (que busca sustentar a ordem internacional atual) , a teoria crítica busca levar a uma ordem alternativa. E com os eventos da década de 1970 (“fluidez e poder”), a teoria crítica teve uma grande oportunidade para se introduzir nos debates.
Feito isso, o autor, nas seções Realismo, Marxismo e uma abordagem para uma teoria crítica da ordem mundial, informa sobre a transformação do realismo para o neorrealismo e de como este último se tornou uma teoria de resolver problema. Tal foto só foi possível graças ao fato de que o neorrealismo procurou fornecer uma visão naturalizada da realidade pela: natureza humana, natureza dos Estados e natureza do sistema de Estado (balança de poder). Com isso, os neorrealistas não se utilizam da História para fornecer alternativas, e sim meios para perpetuar a ordem mundial (o anarquismo do sistema internacional), como visto também no debate Neo Neo. Já para o Marxismo, Cox visualiza perspectivas melhores para a teoria crítica. Entretanto, alerta a existência de dois marxismos: 1. o materialismo histórico: que busca explicar, bem como promover, mudanças nas relações sociais, encabeçado por Hobsbawm, Gramsci e franceses da École dos Annales; e 2. o marxismo estrutural: o qual analisa o Estado e a sociedade capitalista, resgatando seu passado no conhecimento histórico em favor de uma conceituação mais abstrata e estática do modo de produção. Seus representantes são Althusser e Poulantzas. Para Cox, o Marxismo Estrutural está mais próximo do Neorrealismo (como teoria de resolver prob lema) por que compartilha algumas características como sua “não-história” e epistemologia essencial que não levam a uma aplicabilidade prática para problemas concretos. Já o primeiro (Materialismo Histórico), o autor informa que é uma fonte melhor de teoria crítica e que corrige o Neorrealismo em quatro pontos específicos: i) dialético: vê no conflito o processo de uma refilmagem contínua da natureza humana e a criação de novas maneiras de relações sociais que mudam as regras do jogos; ii) foca o imperialismo: cuja dimensão é a dominação e subordinação da metrópole sobre a colônia – centro sobre a periferia – em uma economia política mundial; iii) relação entre Estado e sociedade civil: que, de uma perspectiva gramsciana, considera sociedades e Estados complexos como entidades constituídas de uma ordem mundial; e iv) materialismo histórico: examina as relações entre poder na produção, no Estado e nas RI.
Feito isso, é possível vislumbrar algumas premissas básicas para tal teoria crítica: ela começa com uma apreciação histórica da experiência humana (estrutura) que dá origem à necessidade de uma teoria; está consciente da sua própria relatividade e se torna menos do que a resolução de problemas relativos; na mudança de longa duração do quadro de ação, busca compreender essa mudança; esse quadro tem a forma de uma estrutura histórica, uma combinação específica de pensamento, material condicional humano e instituições. Essas estruturas não determinam ações do povo, mas o contexto de hábito, expectativas e constrangimentos dentro do qual se realiza a ação; e 5. o quadro ou estrutura dentro do(a) qual se realiza a ação é para ser visto(a) a partir do exterior em termos de conflitos que surgem dentro dele e abrir a possibilidade da sua transformação. 1. 2. 3. 4.
Porém, em Ambientes para ação: e struturas históricas , o autor informa que indivíduos e grupos podem deslocar-se com as pressões, resistir e opô-las, mas não podem ignorá-las, e que há três categorias de forças que interagem numa estrutura: capacidades materiais (recursos que foram acumulados) ; ideias (imagens do meio coletivo acerca da ordem mundial) ; e instituições (que seriam o amálgama entre os
dois primeiros). Neste ponto, o conceito de hegemonia se faz imprescindível para demonstrar que há uma estreita relação entre ela e as
instituições, uma vez que as últimas podem se tornar a “âncora” para uma estratégia hegemônica desde que se prestem com diversos interesses e com a universalização da política. Porém, Cox é categórico ao informar que a hegemonia pode não ser reduzida a uma dimensão institucional e que as instituições podem ser uma manifestação de hegemonia, mas não podem ser tomadas como idênticas à hegemonia.
Em Hegemonia e ordem mundial, o professor afirma que a hegemonia se baseia em um conjunto coerente de configuração ou ajuste do poder material, onde prevalece o intuito da imagem coletiva do mundo e onde um conjunto de instituições administra a ordem mundial com uma certa aparência de universalidade. Por isso, ele também afirma que a estabilidade da ordem internacional pode ser entendida se o conceito de hegemonia (como um ajuste entre potências, ideias e instituições) também for entendido. O autor, neste ponto, demonstra de que forma o modo dominante de produção é sustentado a nível global.
Interligada à questão da hegemonia, está a de internacionalização do Estado. Essa internacionalização seria a forma encontrada pelos Estados para, através da queda de fronteiras (em suas várias acepções, sobretudo a comercial) , manterem sua hegemonia. Para tal explicação, Cox se utiliza dos exemplos da pax americana e das Instituições de Bretton Woods (Banco Mundial, FMI etc.), além da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Em seguida, tem-se a internacionalização da produção, que está associada à do Estado e que busca integrar processos de produção em uma escala internacional e com diversas fases de um processo único para diferentes países.
Essa internacionalização da produção gera uma relação entre a produção internacional e a estrutura de classe . As barreiras nacionalistas caem, formando assim uma única classe: a classe mundial. Ela se torna objeto de políticas dos órgãos já mencionados para manter a hegemonia e a estabilidade da ordem mundial.
Na penúltima parte (a última – Notas – não será tratada nesta resenha) , Forças sociais, estruturas do Estado e perspectivas da ordem mundial, o autor apresenta as forças sociais como fatores sine qua non para a concepção de uma mudança na ordem mundial. Para isso, segundo ele, é preciso pensar no futuro sob o ponto de vista de uma teoria crítica. Eis alguns desses pontos de partida para a indagação crítica: 1. a perspectiva de uma nova hegemonia que se baseia na estrutura glocal de poder social gerada pela internacionalização da produção; 2. uma estrutura de poder não-hegemônico mundial de centros conflitantes; e 3. Desenvolvimento de uma contra-hegemonia baseada numa coalização contra a dominação do centro pelos países de Terceiro Mundo e visando o desenvolvimento autônomo dos países periféricos e à ruptura do relacionamento centro-periferia.
Tendo em vista essas perspectivas, a solução apresentada por Cox para que essa mudança na ordem mundial seja alcançada dependerá mais da atuação dos países periféricos do que a dos centrais, uma vez que os últimos constituem a hegemonia, a qual é sustentada por instituições e políticas comuns. Seguindo esse raciocínio de Cox, crê-se que tal mudança só será possível via ação social (das s ociedades civis) e não de instituições internacionais criadas num contexto mundial ultrapassado. Logo, não estaria nas relações sociais internacionais, mas sim nas relações sociais nacionais a chave para se compreender o processo histórico que levou a realidade a se constituir como ela é (estrutura) e, por conseguinte, modificá-la.
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Tags: cox, estrutura, hegemonia, marxismo Este artigo foi pu blicado em 28/02/10 às 15:00 e está arquivado s ob Democracia e Sociedade , Resenhas, Teoria das Relações Internacionais . Você pode acompanhar todas as respo stas a est e artigo através da alimentação por RSS 2.0. Você pode deixar uma respos ta , ou criar um trackback do s eu próprio site.
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