RESENHA Bibliografia: Mindfulness e ciência: da tradição à modernidade / Ausiàs Cebolla i Martí, Javier García-Campayo, Marcelo Demarzo, (organizadores; tradução de Denise Sanematsu Kato. – São Paulo : Palas Athenas, 2016.
Marcio Alves Belo Especialização em Mindfulness UNIFESP - Universidade Federal de São Paulo
CAPÍTULO 8
MINDFULNESS E PSICOLOGIA POSITIVA. UMA UNIÃO PARA POTENCIAR O BEM-ESTAR David Alvear
RESUMO O capitulo 8 analisa as possibilidades oferecidas pela integração de duas áreas de pesquisas cientificas emergentes: Mindfulness e Psicologia Positiva.
Introdução a Psicologia Positiva A psicologia p ositiva é entendida como “o estudo científico sobre o qu e faz com que a vida valha a pena ser vivida” (Peterson, 2006). A amplitude desta definição leva -nos a entender a psicologia positiva como um termo abrangente e integrador de múltiplas áreas de estudo e pesquisa da conduta humana , no que se refere ao bem-estar e funcionamento ótimo, tanto individual como coletivo. (Sheldon, Fredrickson, Rathunde, Csikszentmihalyi e Haidt,2000). A psicologia positiva interessa-se por temas variados sobre a felicidade e bem-estar subjetivo, emoções positivas e inteligência emocional, otimismo e esperança, resiliência e crescimento pós-traumático, condutas saldáveis como mindfulness ou exercício físico, gestão positiva do tempo, forças pessoais, desfrute, humor, capacidade de fluir ou manter o fluxo de consciência, gratidão, o sentido da vida, crescimento pessoal, a
conquista de objetivos e metas, o envelhecer positivo e o morrer positivo, entre outros (Grenville-Cleave, 2012). A psicologia positiva entende que o fato de um indivíduo estar livre de doenças mentais não implica, necessariamente, que está crescendo como pessoa (Seligman, 2011). A saúde mental positiva é entendida como uma presença: presença de emoção positiva, presença de entrega, presença de encontrar sentido na vida, presença de relações pessoais satisfatórias e presença de realizações. Estes cinco elementos mensuráveis são os componentes da teoria do bem-estar de Seligman (2011), cujo o objetivo é o crescimento pessoal.
Qual a contribuição de Mindfulness à Psicologia Positiva? A psicologia positiva entende mindfulness como uma prática saudável adicional, que pode ser útil para crescer como pessoa (Hefferon e Boniwell,2011). Diversas autoridades da psicologia positiva propõem a prática da atenção plena como uma ferramenta útil para o aumento do bem-estar. A prática constante de mindfulness pode levar ao desenvolvimento de vários traços ou estados mentais associados a psicologia positiva (Niemec, Rashid e Spinella, 2012). Muitos destes traços ou estados mentais positivos enquadram-se na teoria do bem-estar de Seligman (2011) exposta acima. As práticas de mindfulness oferece uma oportunidade de florescer, autorrealizar-se e crescer como pessoa e comunidade.
Emoções positivas e Mindfulness: Quando a atenção plena nos faz florescer Atualmente há evidências que a prática de mindfulness gera nas pessoas emoções positivas de diversas naturezas (Easterlin e Cardena, 1998; Geschwind, Peeters, Drukker, Van Os, e Wichers, 2011). Seguindo a classificação de Barbara Fredrickson (2009) sobre as dez emoções positivas mais representativas, poderíamos dizer que grande parte delas pode ser geradas pelas práticas de mindfulness. Talvez as mais evidentes sejam a alegria (Kraus e Sears, 2009), a serenidade (Kreitzer, Gross, On-anong, Reilly-Spong e Byrd,2009) e o amor (Hofman, Grossman e Hinton, 2011). Sobre este último, a própria Fredrickson e outros pesquisadores realizaram estudos com a meditação de bondade amorosa em contextos bem variados. Embora possam se expressar de forma mais sutil, existem outros tipos de emoções positivas que também podem ser desenvolvidas de maneira indireta com a prática de mindfulness. Neste grupo estão a gratidão, o interesse e a absorção. Gratidão significa “dar -se conta” e sentir -se “agradecido” por coisas boas que
acontecem na vida e dedicar tempo para expressar tal agradecimento (Niemec, 2014). Trata-se de uma emoção positiva relacionada à satisfação com a vida, otimismo,
conduta pró-social, longevidade, abertura a experiência e baixos níveis de ansiedade, neuroticismo e depressão (Peterson e Seligman, 2004). Quando a prática de mindfulness integra-se a vida, costumam surgir também o interesse e a curiosidade por eventos privados (pensamentos, emoções e sensações corporais). Uma vez integrada tanto a prática formal como a informal, o praticante de mindfulness está pronto para se converter em um mapeador dos processos físicos e mentais que ocorrem na experiência, observando com interesse e curiosidade como os fenômenos se sucedem e dando espaço ao que Shunryu Suzuki (1970) denominou “mente de principiante”.
Forças pessoais e mindfulness: Desenvolvendo o melhor de cada pessoa Forças pessoais são capacidade cognitivas, afetivas, volitivas e de conduta consideradas ingredientes psicológicos necessários ao desenvolvimento das virtudes humanas (Niemiec, 2014). É possível fazer uma aproximação entre mindfulness e as forças pessoais a partir de duas vertentes: a. Pode-se entender mindfulness como um elemento chave e essencial no momento de detectar, diagnosticar, implementar e desenvolver forças pessoais. b. Pode-se conceber que a prática de mindfulness já supõe um desenvolvimento implícito, sutil e gradativo de várias forças pessoais. Alguns exemplos de aumento das forças pessoais com as práticas de mindfulness são os trabalhos de Dobkin e Zhao (2011) com a coragem, o de Hefner e Felver-Gant (2005) com a honestidade, o de Reibel (Reibel, Freeson, Brainard e Rosenzweig, 2001) com a vitalidade, o de Kashdan (Kashdan et al.,2011) com a curiosidade, o de Masicampo e Baumeister (2007) com a autorregulação, e o de Sears e Kraus (2009) com a esperança.
Psicologia Positiva do Tempo e Mindfulness: Viver o presente a partir da funcionalidade O estudo e as pesquisas do tempo subjetivo renasceram com toda força a partir das contribuições de Phil Zimbardo (Zimbardo e Boyd,2008) à chamada psicologia do tempo. Na teoria da psicologia do tempo, Zimbardo destaca sua divisão e diferenciação daquilo que denomina “Perspectivas Temporais” e que poderiam ser tratadas como cinco
constructos independentes: i. ii. iii. iv. v.
Passado negativo (atitudes pessimistas em relação ao passado); Passado positivo (visão positiva e nostálgica do passado pessoal); Presente hedonista (satisfação de desejos de maneira espontânea, sem considerar riscos futuros); Presente fatalista (convicção de que as experiências não podem ser consideradas por causas externas); Futuro (que destaca as recompensas esperadas por eventos que ocorrem como resultados de conquistas especificas a longo prazo).
O questionário ZTPI – Zimbardo Time Perspective Inventory (Zimbardo e Boyd, 1999) foi criado para medir todas estas características temporais. A pratica de mindfulness pode contribuir para restabelecer um equilíbrio funcional das diferentes perspectivas temporais, levando o meditador a gerenciar de maneira positiva suas vivências relacionadas ao passado, ao presente e ao futuro. O estado de consciência atingido com a prática da atenção plena está relacionado ao presente holístico na teoria de Zimbardo (Zimbardo e Boyd, 2008). Seria uma maneira de viver o presente – diferente do presente hedonista e do presente fatalista – renunciando ao desejo de possibilidades futuras e ao arrependimento e às obrigações do passado. O presente holístico pode ser relacionado ao cultivo do “modo ser” da mente, utilizado
em grande parte das intervenções baseadas em mindfulness (Williams e Penman, 2011).
Considerações Finais Ao tentar compreender os movimentos de mindfulness e a psicologia positiva a partir de uma evolução em espiral do desenvolvimento (Beck, 1996), poderíamos entender que o que estamos vivendo seria um retorno ao movimento do potencial humano e ao crescimento pessoal (Seligman, 2011), desta vez revestido de métodos científicos eficazes. Existem cada vez mais evidencias que nos fazem ver que a aplicação conjunta da psicologia positiva e mindfulness tem a capacidade de potenciar o aumento do bemestar, tanto subjetivo quanto comunitário, podendo conduzir o praticante a uma espiral ascendente de florescimento e crescimento pessoal.
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