Ano lectivo 2008/2009 Escola de Economia e Gestão Universidade do Minho
Trabalho realizado por: Cláudio Francisco Pereira Lourenço nº49510 Stephanie Leonor Garcia Ribeiro nº49516
ÍNDICE
Introdução………………………………………………………………………………………………………………3,4
Identificação do texto
Tema do livro analisado
Ideia-mestra dos capítulos analisados
Público-alvo:
Tese central da Obra
Biografia: Michel Crozier……………………………………………………………………………………….…….5
Teoria da burocracia………………………………..………………………………………………………………….6
Análise crozeriana…………………………………………………………………………………………………….7,8
Fontes de poder legitimado ………………………………………………………………………………………8,9
Poder e zonas de incerteza……………………………………………………………………………...10,11,12
Análise estratégica: a noção do jogo…………………………………………………………………………13
Conclusão……………………………………………………………………………………………………………..14,15
Bibliografia…………………………………………………………………………………………………………………16
Análise Sociológica das Organizações
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INTRODUÇÃO
Identificação do texto:
Michel Crozier “Le phénomène bureaucratique”.Paris: Edição do Seuil, 1963, capítulo 6 “Interesses, Conflitos e Poder” – As Organizações Vistas como Sistemas Políticos.
Tema do livro por nós analisado:
O livro é a promulgação dos resultados de dois estudos conduzidos pelo autor em duas empresas francesas e a consequente enunciação duma nova teoria relativa ao elemento poder no âmbito organizacional.
Ideia-mestra dos capítulos analisados:
O autor pretende demonstrar à forma como as organizações onde as regras são rígidas e burocráticas eliminam ao máximo à possível intervenção humana na organização e, com isso, qualquer forma de discrepância que pode surgir nos jogos de poder dentro das mesmas organizações derivado de interesses pessoais e organizacionais (controlo dos recursos humanos, margens de incertezas, etc.) fazendo com que alguns indivíduos estejam sempre numa posição privilegiada e outros devam aceitar a situação.
Público-alvo:
A obra é considerado como sendo um dos livros mais importante acerca deste tema – Teoria das Organizações . “Le phénomène bureaucratique” de Michel Crozier insere -se definitivamente no debate em torno das questões organizacionais, que se tinha desenvolvido com as contribuições de Selznick e Gouldner, entre os outros, após as primeiras teorizações de Taylor e Mayo. Esta obra é portanto um guia não apenas nas teorias sociologico-organizacionais mas também no panorama da ciência política, dada a grande importância que irá assumir a teoria pluralista do poder por ele desenvolvida.
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Tese central da Obra:
Ao longo da sua obra, Michel Crozier tenta demonstrar como as teorias propostas por Taylor e Mayo não são suficientes para analisar como objectividade e rigor a situação de uma determinada organização. O autor refere que “o homem não é apenas um braço” como diz Taylor nem “apenas um coração” como diz Mayo. Crozier sugere na
sua obra uma visão do ambiente que uma organização poderá ter a nível político onde surgem jogos de interesses, confrontos que originam jogos de poder.
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MICHEL CROZIER
BIOGRAFIA:
Conhecido como o pai da Sociologia das Organizações na França, Michel Crozier, especialista no estudo das organizações, iniciou o seu percurso estudando Gestão (HEC Paris, 1943) e Direito no intuito de conhecer detalhadamente a sociedade como um todo.
Em 1953, realizou sua primeira pesquisa sobre os trabalhadores de colarinho branco no French Postal Bank. Foi a publicação dos resultados desta pesquisa (Petits Fonctionnaires au travail), que estabeleceu sua reputação como um sociólogo do trabalho. Em 1959, foi convidado ao centro para estudo avançado nas ciências comportáveis em Palo Alto (E.U.A). Foi neste local onde começou a elaboração e a preparação do que eventualmente se transformou em O Fenómeno Burocrático. Neste livro, Crozier estabeleceu a Sociologia das Organizações como uma disciplina na França. O sucesso internacional do Fenómeno Burocrático deu ao autor a reputação e os recursos necessários para fundar o Centro para a Sociologia das Organizações. Neste centro empreendeu um programa de investigação novo na administração e levou-o a elaboração teórica e metodológica de sua aproximação ao estudo das organizações. Em 1977, junto com Erhard Friedberg, p ublicou “L'acteur e le systéme” , elaborou um ensaio científico que se tornou muito influente na França e na Europa Continental como um todo. Nele, os autores desenvolveram uma aproximação entre o estudo das organizações e outros sistemas menos formais de acção, detalhando às suposições teóricas e metodológicas que se encontram atrás dele. As maneiras como as organizações e seus sistemas funcionam são conceituadas como originárias das estruturas do jogo. São elas que canalizam e estabilizam o poder e as relações de negociação. Resumindo, a estruturação é vista como um jogo de actores estrategicamente interdependentes. Michel Crozier nunca considerou a Sociologia e as teorias sociológicas como um fim em si mesmo. Nunca separou seu trabalho sociológico de seu compromisso com a reforma administrativa e social.
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TEORIA DA BUROCRACIA
“…Toda a estrutura de acção colectiva se constitui como um sistema de poder…”
Michel Crozier
Michel Crozier mostra na sua análise sobre poder e burocracia nas organizações como se estruturam as relações entre os grupos, reforçando a impessoalidade na organização. Dentro desta perspectiva, a burocracia é uma solução organizacional que tentaria evitar a injustiça, o confronto entre os indivíduos e grupos e os abusos de poder. Nos seus estudos sobre poder e burocracia, o sociólogo francês Michel Crozier mostra como as regras unipessoais, a centralização do poder de decisão, a distribuição dos indivíduos em grupos homogéneos e fechados aliciam comportamentos nos grupos organizacionais que reforçam ainda mais estas mesmas regras e estruturas levando à criação de um ciclo vicioso. Tal fato ocorre independentemente da vontade dos grupos de mudar ou não o sistema. (Crozier, 1964). Crozier reforça ainda uma outra função da burocracia nomeadamente a tentativa de evitar as relações pessoais e espontâneas, capazes de produzir conflitos. A regra estrutura as relações entre os grupos, reforçando a impessoalidade na organização. Desta forma, mesmo se a regra provoca inúmeras disputas dentro de uma organização, a falta de espontaneidade nas relações humanas e a formalização das relações asseguram o funcionamento do sistema evitando esses mesmos conflitos. A burocracia é uma solução organizacional que procura evitar a arbitrariedade, o confronto entre os indivíduos e grupos e os abusos de poder. Michel Crozier foca a organização como “ um sistema que estrutura jogos de poder entre os actores sociais ”.
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ANÁLISE CROZERIANA
Para Michel Crozier, à acção do grupo organizacional não é um fenómeno natural e interpreta a organização como sendo uma estrutura que contempla diversas acções colectivas que visam oferecer soluções específicas para a concretização de inúmeros objectivos do grupo social. As regras burocráticas correspondem a soluções criadas por actores sociais relativamente independentes, que buscam regular e instituir a cooperação a fim de atingir objectivos e metas comuns ao grupo social. As soluções organizacionais são contingentes, indeterminadas e arbitrárias, mudam com o tempo e são relativas a cada grupo organizacional. A corrente crozeriana propõe que deve-se sempre observar as regras, características culturais e os jogos de poder de cada sistema organizacional. Os efeitos inesperados da acção colectiva dentro da perspectiva crozeriana correspondem à descrição das disfunções burocráticas feitas por outros autores clássicos como Merton, Gouldner, Selznick (Merton, 1957; Gouldner, 1954; Selznick, 1955). Eles devem-se ao facto de que existem, nas organizações, indivíduos com interesses múltiplos e divergentes. Desta forma, no sistema organizacional, constantemente, os actores sociais tomam inúmeras decisões de acordo com seus interesses específicos. Cada decisão, dentro de sua esfera, é perfeitamente racional e atende a interesses específicos do indivíduo ou grupo que decidiu. O conjunto de decisões, no entanto, produz incoerências e incertezas no sistema organizacional. Para Crozier, a obtenção da cooperação entre diferentes actores sociais é um dos principais problemas da organização.
A integração dos indivíduos e grupos à organização se faz normalmente de três formas:
A coerção – quando os atores sociais submetem-se às regras organizacionais por serem obrigados a tanto ou por submeter-se às pressões do sistema organizacional.
A manipulação afectiva ou ideológica, através do discurso (Crozier, 1979) (Faria, Meneguetti, 2001)
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A negociação entre os grupos organizacionais.
A organização é vista nesta corrente como um sistema de jogos estruturados no qual as regras e estruturas organizacionais não determinam o comportamento dos actores sociais, mas induzem certos tipos de jogos de poder e comportamentos entre os mesmos. Os actores sociais podem colaborar ou não colaborar, buscando negociar melhores condições de inserção no sistema e obter um maior controlo de recursos, atendendo aos seus objectivos e interesses pessoais. No entanto, ao lutar pela realização de seus interesses pessoais, os atores sociais devem jogar a partir das opções fornecidas pelo sistema e, desta forma, estarão cumprindo em parte os objectivos organizacionais.
FONTES DE PODER LEGITIMADO
Michel Crozier remete para quatro fontes de poder dentro das organizações de forma a responder a questões tais como “Por que razões o superior obtêm a confiança dos seus subordinados? e porquê que o poder deste é reconhecido como legítimo?”. As
quatro fontes de poder enumerados por Crozier são:
Competência: é “a que diz respeito a posse de uma competê ncia ou de uma especialização funcional dificilmente substituída. No entanto esta fonte esta condicionado por dois factores nomeadamente o que se entende por resolução de problemas cruciais e a adesão do grupo às conclusões do especialista.
Domínio das relações com o meio: esta segunda fonte concreta de poder das organizações insere-se melhor no tecido das relações habituais que fazem o quotidiano da organização. O acesso a informação é poder uma vez que permite melhorar o domínio das incertezas que afectam à organização.
Comunicação: nada é mais difícil que organizar uma boa rede de comunicações, pois uma decisão pode falhar não em detrimento que a preparam mas sim porque as suas informações eram previamente insuficientes ou porque a decisão foi mal transmitida e logo obtêm uma execução inadequada. A
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comunicação de informação tem, por este motivo, enorme peso na estratégia da organização.
Utilização das regras organizacionais: os meios de uma organização são tanto mais ganhadores numa relação de poder quanto mais dominarem o conhecimento das regras e o seu uso. As grandes organizações familiarizarem os seus membros e utilizadores com a ideia de que não se desenrascam bem, e por isso, não podem exercer uma pressão eficaz a não ser na medida que as regras são devidamente conhecidas.
As quatro fontes de poder remetem todas para o domínio duma incerteza.
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O PODER E AS ZONAS DE INCERTEZA
“…O poder é simples e universal mas o conceito de poder é fugidio e uniforme…”
Michel Crozier “…O poder é capacidade de certos indivíduos ou grupos agirem sobre outros indivíduos ou grupos...”
Michel Crozier
O poder é um tema bastante disperso que desperta uma grande atenção na sua análise respectivamente ao seu uso dentro das organizações e nas mesmas sociedades onde elas estão inseridas. O Poder é uma “variável” utilizada para atingir determinados
objectivos nomeadamente à eficiência e eficácia (respectivamente as organizações) mesmo sendo emprega numa perspectiva coerciva ou democrática. Para definir o conceito de poder, Michel Crozier parte da definição clássica elaborada pelo americano Dahl: “A tem poder sobre B na medida que A pode levar B a fazer algo
que B de outra maneira não faria se m a intervenção de A” . Esta definição mostra claramente a dependência de B relativamente a A e o facto de que A dispõe de recursos superiores aos de B. No entanto, esta definição operacional tem um inconveniente nomeadamente à não distinção entre o poder exercido e influência involuntária. A reformulação desta definição realizada por Crozier tenta eliminar este inconveniente caracterizando-a de ser uma relação entre dois actores (A e B) onde existe entre eles uma ligação de troca e de negociação interdependentes, ou seja, tanto um como o outro tem à necessidade do outro para atingir objectivos pessoais como organizacionais. Crozier também classifica o poder sendo uma relação específica, não transitiva, entre os participantes na medida que A obtêm de B uma acção X e B obtêm de C a mesma acção, mas tal não implica que A possa obtê-la de C. Finalmente Michel Crozier rotula o poder sendo também uma relação recíproca na qual cada interveniente tem algo a trocar mas de uma forma desequilibrada. Podemos então arrematar que, segundo Crozier, o poder será então uma relação de força que A pode tirar mais vantagens do que B mas em que este não está totalmente “preso” na medida que esta também pode tirar partido desta situação. O poder
residiria então na margem de manobra que A tem sobre B. Análise Sociológica das Organizações
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“O poder de A sobre B corresponde à capacidade de A em obter que, na sua negociação com B, os termos de troca lhe sejam favoráveis”
Michel Crozier
Nos dias de hoje, onde à globalização é intensa, o poder nas organizações é utilizado para atingir vários objectivos nomeadamente criar vantagem competitiva, abordagem proeminente nas organizações actuais. Para tal, é necessário possuir os recursos que suportam e possibilitam que as organizações criam as estruturas necessárias para tais objectivos. Derivado à importância que os recursos têm numa organização, o detentor deste mesmo recurso obtêm um poder nessa mesma organização. O controlo dos recursos organizacionais é distribuído de modo desigual. As organizações dependem de recursos materiais, tecnológicos e de certos tipos de competência técnica no intuito de atingir metas formais. Alguns destes recursos são fundamentais para o funcionamento do sistema. Estes recursos constituem, na perspectiva crozeriana, “zonas de incerteza pertinentes” e os actores sociais que controlam estas mesmas zonas de incerteza pertinentes, ou seja, que possuem as competências fundamentais para o funcionamento da organização, podem decidir colaborar ou não, disponibilizar estes recursos ou não existindo constantemente a ameaça velada destes profissionais não colaborarem e privarem o sistema dos seus recursos fundamentais. Os actores sociais que controlam os recursos fundamentais para a organização poderão se impor aos outros, influenciando os rumos do sistema organizacional, ganhando maior poder. No entanto, as situações são contingentes e mudam, ou seja, as zonas de incerteza acima referenciadas não são sempre as mesmas podendo consequentemente modificar o pertencente das mesmas. Um exemplo desta mudança poderá ocorrer quando ocorre a mudança organizacional. Neste caso, será então necessário um novo sistema de regras e novas normas serão criadas o que exigirá novas competências para a organização e este novo sistema de regras deverá conferir maior poder aos indivíduos que detém os recursos essenciais para o funcionamento da organização. Sintetizando, a mudança organizacional redistribui as zonas de incerteza pertinentes e o controlo de recursos, provocando naturalmente resistências dos que se vêem privados dos mesmos. A direcção da organização deve então gerir a mudança com cuidado, negociando soluções com os actores organizacionais que continuam detendo poder no sistema.
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Estas soluções são sempre contingentes e específicas, porque os cenários e a distribuição de poder mudam. O impacto da resistência à mudança dos actores sociais será proporcional à sua importância para o funcionamento do sistema como um todo. ( Crozier e Friedberg, 1977)
Qualquer organização está sujeita a múltiplas incertezas. As mais visíveis são as turbulências que provem do meio. Mas essas incertezas não podem em algum caso ser tomadas como dados que os actores deveriam suportar passivamente. Qualquer incerteza desse tipo deve ser olhada como um elemento que será integrado pelos actores na estratégia da organização. Qualquer sistema conhece portanto incertezas, mas nenhuma constrange à organização de forma mecânica. Todas entram no jogo dos actores aos quais reforçam ou diminuem autonomia e poder. A incerteza situa-se por isso sempre em relação o poder. Na análise estratégica, a incerteza defina-se relativamente o esforço do jogo do actor, isto é, como uma autonomia. Qualquer situação organizacional contém sempre uma margem de incerteza sobre a qual à análise estratégica incide o projector. Ela fá-lo porque a domínio desta incerteza confere poder àquele que a detêm. O recurso do poder é portanto uma margem de liberdade dos indivíduos ou dos grupos uns face os outros. Concretamente, reside na possibilidade que tem o indivíduo de recusar ou negociar o que o outro lhe pede, ou procurar qualquer coisa dele, ou então fazer-lhe pagar caro este pedido. Ora esta possibilidade existe na medida em que o indivíduo conseguiu preservar uma zona que o outro não domina e em que o primeiro pode tornar o seu comportamento imprevisível. Não baste gozar de uma autonomia para possuir poder. É preciso ainda que o uso desta autonomia não seja previsível. Mas a imprevisibilidade não depende só da capacidade dos actores em esconder o seu jogo.
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ANALISE ESTRATEGICA: A NOÇÃO DO JOGO
Michel Crozier denominou “instinto estratégico” na medida que as suas condutas não
têm a ver exclusivamente com a sua socialização passada, mas também com a percepção que têm das oportunidades e dos constrangimentos do seu contexto de acção, com a antecipações que formulam intuitivamente sobre as condutas dos seus parceiros no jogo e com os seus cálculos que se baseiam na visão que uns e outros tenham os seus interesses respectivos a prazos com média e longa duração. A análise estratégica avança com três conceitos principais para dar conta do funcionamento real das organizações. Apoiando-se na análise do poder e nas zonas de incerteza, construindo os sistemas e subsistemas concretos de acção, qualquer membro de uma organização pode compreender-lhe o funcionamento e portanto agir ultimamente sobre ele. Estes três conceitos parecem-nos fundamentais para compreender o funcionamento das organizações. A análise estratégica não se contenta contudo em dar conta do funcionamento interno de uma organização. Estuda também a incerteza – e o jogo do poder – como tendo a sua origem no meio. Qualquer organização, e particularmente a empresa, está sujeita aos constrangimentos do meio e sem dúvida em especial as flutuações desta. Em certos aspectos, podemos afirmar que ela depende disso.
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CONCLUSÃO
Para Michel Crozier que estuda as relações de poder no seio de organizações hierarquizadas, o poder é igualmente concebido como uma relação recíproca, ou mesmo desequilibrada, entre indivíduos ou grupos: é «capacidade de A conseguir que, nas suas negociações com B, os termos de troca que lhes sejam favoráveis». Esta abordagem de poder tem duas implicações. Por um lado se a relação é assimétrica, nenhum indivíduo está completamento desprovido de alguma possibilidade de acção face o outro: o poder não se define em termos de tudo ou nada mas de mais ou menos. Por outro lado a relação de poder só pode existir com o consentimento de aqueles que a suportam. Caso contrário, encontrámo-nos numa situação de pura coacção e não de poder. Mais precisamente, o poder é então concebido como a margem de liberdade de que alguém dispõe, no quadro da sua relação com o outro, de recusar o que o outro lhe pede. Estudar as relações de poder no seio de uma organização supõe portanto identificar em simultâneo os mecanismos pertinentes para a organização e os recursos de cada actor. O poder depende assim da «zona de incerteza» controlada por cada um no seio da organização. Quanto mais esta zona de incerteza for vital para o funcionamento da organização, mais o individuo ou o grupo terá poder. Michel Crozier identifica assim, em ligação com as zonas de incertezas pertinentes para a organização, quatros grandes fontes de poder: a posse de competência de peritagem, a ligação entre a organização e o seu meio ambiental, o controlo das organizações e da comunicação e a matriz das regras organizacionais Com a realização deste trabalho, deparámo-nos com a necessidade e achamos interessante pesquisar e analisar com mais rigor e especificidade a teoria proposta por Michel Crozier. No âmbito deste trabalho não nos deparámos com muitas dificuldades pois todos os elementos do grupo que elaboraram este mesmo trabalho dominavam à língua materna do próprio autor (francês). No que diz respeito a elaboração do trabalho, tivemos algumas dificuldades na análise de toda a informação recolhida em diversas fontes e seleccionar a informação relevante para o mesmo. Em relação aos restantes objectivos deste trabalho, na nossa opinião, estes foram atingidos com sucesso, tanto á nível de trabalho em equipa como a nível de aquisição de conhecimento em relação a teoria elaborada por Michel Crozier. Análise Sociológica das Organizações
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Numa primeira estância descrevemos qual o percurso do considerado pai da Sociologia das Organizações, quais os seus passos no mundo da perspectiva sociológica das organizações, quais as suas obras realizadas e quais os seus conceitos chaves que o levaram ao sucesso e a obter o derradeiro nome de “Pai da Sociologia das Organizações.” De seguida focamos o nosso estudo na teoria burocrática de Michel Crozier. Esta análise reflecte como o poder e a burocracia nas organizações e a forma como se estruturam as relações entre os grupos, reforçam a impessoalidade nas organizações. Mostra também como as regras unipessoais, a centralização do poder de decisão, a distribuição dos indivíduos em grupos homogéneos e fechados aliciam comportamentos nos grupos organizacionais que reforçam ainda mais estas mesmas regras e estruturas levando à criação de um ciclo vicioso. Numa terceira parte abordamos a análise crozeriana e vimos que este associa uma organização como um sistema de jogos estruturados no qual as regras e estruturas organizacionais não determinam o comportamento dos actores sociais, mas induzem certos tipos de jogos de poder e comportamentos entre os mesmos. Concluímos então que à informação recolhida para a elaboração deste trabalho será relevante para o nosso futuro principalmente no que preza às relações humanas existentes entre os indivíduos numa organização e todo o tipo de situações que poderão aparecer neste âmbito.
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BIBLIOGRAFIA
CROZIER, M., FRIEDBERG, E. L’acteur et le systeme , Paris: Seuil.1977
CROZIER, M. Le phénomène bureaucratique, Paris: Seuil.1964
CROZIER, M. On ne change pas la société par décret, Paris: Grasset.1979
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