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Quem é esta que surge como a aurora, bela como a lua, brilhante como o sol, temível como um exército em ordem de batalha? Cântico dos Cânticos 6,10
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Índice Apresentação Apresentação
1. Maria, Mãe de Deus e nossa 2. Maria, a mulher que fez a vontade de Deus 3. Maria, mulher solidária 4. Maria, mulher de coração puro 5. Maria e a contemplação dos mistérios de Deus 6. Maria nos mostra o caminho para sermos elevados ao céu 7. Maria, rainha do céu 8. O nascimento de Maria 9. Maria, mãe que alivia as dores 10. Maria que aponta o caminho da vitória 11. Maria, aquela que apareceu sem nunca ter querido aparecer 12. Maria, mulher que se apresenta diante de Deus 13. Maria, mulher sem pecado 14. Maria e o advento de 15. Maria de todas as raças e etnias 16. Maria, a mulher mais poderosa do mundo 17. Salve Rainha, mãe de misericórdia 18. Maria, a cheia de graça Considerações Considerações finais finai s
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Apresentação
E
ste é um livro sobre Maria, a mulher mais poderosa do mundo, a mulher que ajudou e continua a ajudar o Céu e a Terra a se tocarem; a mulher que, humana, tocou o divino, e que se revela a nós por meio de muitas faces, muitos rostos, muitas imagens, muitos nomes, mas com uma única missão: fazer com que o mundo conheça a Deus. Nisso consiste um dos seus maiores poderes, pois não são poucos os que chegam a Deus por sua intercessão; a mulher, Mãe de Deus, que, devido às suas aparições, de ontem e de hoje, consegue arrastar multidões em vários cantos e recantos do mundo. É assim em Aparecida (no Brasil), em Fátima (em Portugal), em Lourdes (na França), em Medjugorje (uma vila da Bósnia e Herzegovina) e na Cidade do México. É assim, também, em tantos outros lugares menos visíveis, mas nem por isso com menor poder de atração dos que a ela ela recorrem. São inúmeras inúmeras as suas formas de aparição aparição e de apresentação, e em cada uma delas revelando seus poderes, seja por meio de milagres a ela atribuídos, ou, simplesmente, por se manifestar diante de grandes multidões. Por essa razão, no lugar de uma introdução deste livro, que trata dos poderes de Maria, gostaria de fazer uma apresentação, porque uma das características de Maria é a sua apresentação, mais conhecida como aparição. Tanto é assim que, no Brasil, recebeu o nome de Aparecida, pois ela apareceu ou se apresentou ao país e ao mundo de modo inusitado, mas não menos poderoso. Prova disso é a Basílica a ela dedicada, que é uma das maiores do mundo, o que evidencia o seu poder. Portanto, esta apresentação inicial não é do conteúdo do livro, mas de Maria, a mulher que se apresentou diante de Deus e do mundo, e que agora se apresenta a você, leitor. A Igreja dedica um dia do seu calendário litúrgico à memória da Apresentação de ossa Senhora – 21 de novembro. Talvez alguns desavisados possam perguntar: onde ela se apresentou, ou vai se apresentar? Além de ela ter sido apresentada a Deus por seus pais – fato comemorado nessa data –, e, mais tarde, Deus, por intermédio intermédio do anjo, ter se apresentado a ela, Maria Maria também vai se apresentar aí, na sua comunidade, na sua família, na sua vida, no seu trabalho, se você permitir. Havendo a permissão, você não só verá, mas participará de um espetáculo. Sim, é um espetáculo, e esse espetáculo é um clássico! 8
Ele esteve em cartaz algumas vezes, no início da era cristã, e fez a diferença no mundo e na história, e, agora, ele volta em cartaz e espera que você não perca essa oportunidade de participar das cenas mais comoventes que a História da Salvação já apresentou à humanidade. humanidade. Não foi em um show qualquer que ela se apresentou. Ela se apresentou no show da vida! – "Que fantástico!" – Al Algu guns ns podem exclamar. exclamar. Fantástico mesmo! Merece ser aplaudido de pé! Antes de entrar em cena, quando foi convidada para ser protagonista desse espetáculo, ela titubeou, pois se surpreendeu com o convite. Sentiu aquele friozinho na barrig barriga, ou medo mesmo, como qualquer qualquer pessoa sente quando se vê diante diante de alg algum convite grandioso. Figurante que era, foi surpreendida com o convite para ser protagoni protagonista. sta. Quem não iria iria assustar? Ela era iniciante, e Deus, acreditando em seu potencial, em seu poder de atuação, deu-lhe logo o papel principal do espetáculo. Ela foi convidada a ser protagonista e não apenas coadjuvante nesse empreendimento espetacular. E ela, apesar de se achar limitada, cumpriu sua missão. Ainda na coxia, sentiu aquilo que qualquer artista, até mesmo o mais veterano, sente. Havia uma grande plateia à sua espera, e ela não podia decepcioná-la. Tinha de dar o melhor de si, com todos os seus esforços, empenho e dedicação. Seu "sim" ao diretor do espetáculo não poderia ser o "sim" de uma pessoa insegura e medrosa, mas o de uma pessoa segura que, apesar da aparente fragilidade, era poderosa. E ela se apresentou diante de Deus e da humanidade, confirmando o seu "sim", seu poder, poder, e fez bonito. bonito. A plateia plateia aplaudi aplaudiuu e aplaude aplaude de pé cada vez que ela ela se apresenta, mesmo que já tenham visto o espetáculo inúmeras vezes. Seu poder de persuasão é tanto que, cada vez que ela se apresenta, arrasta e comove multidões. Antes de ela ter dito o seu "sim", ela refletiu, pensou bem, questionou o emissário de Deus – o anjo Gabriel –, mas ele a convenceu a aceitar o papel. Ele lhe disse: "não tenha medo, você é capaz! O diretor sabe o que faz, e não foi por acaso que ele a escolheu. Ele sabia sabia do seu potencial. Portanto P ortanto,, acredite ac redite nele e em si própria. Você Você não nã o estará sozinha nesse palco. O espetáculo é grandioso e desafiador, mas você vencerá porque o diretor acreditou em você!" E ela disse SIM! 9
Confirmou o seu sim e se apresentou diante dele: "Eis aqui a serva do Senhor. Façase em mim segundo a tua palavra". Aqui está o grande diferencial: ela se apresentou, e não apenas representou um papel, como fazem os artistas de espetáculos teatrais deste mundo. Ela se apresentou e assumiu o papel de tal modo que fez dele mais que um papel, fez-lhe uma missão, a missão de gerar o Filho de Deus. E não só representou, mas se apresentou ao mundo. Assim, sua apresentação não foi um mero espetáculo teatral. Foi o maior de todos os eventos. Em cena, ela fez com que o divino e o humano se tocassem, e seu poder vem de Deus. Todo o seu sucesso é devido ao diretor do espetáculo, Deus. Cada vez que celebramos sua apresentação, as luzes voltam a brilhar no palco da nossa vida, como se o Natal fosse todos os dias. Essa luz dissipa escuridões, coloca por terra outros poderes e forças, desbanca os arrogantes e orgulhosos de seus tronos; ensina-nos como chegar ao diretor desse espetáculo e receber dele grandes graças. Mostra-nos, com esse espetáculo, que todos nós somos chamados por Deus a participar desse show, mas nem todos respondem ao diretor como deveria. Muitos são os convidados. Uns ignoram o convite, mesmo tendo-o como cortesia e em lugares de destaque; outros respondem, mas não conseguem desempenhar bem o papel e passam a vida vida como coadjuvantes, ou, até mesmo, como fig figurantes, não porque o diretor não lhes tenha dado chance, mas porque essas pessoas se acomodaram; outros, porém, a exemplo exemplo de Maria, Maria, respondem com soli solicitude citude e interpretam muito bem o papel, dando um verdadeiro espetáculo nesse palco da vida. Estes fazem a diferença no mundo; fazem-nos acreditar que a vida vale a pena e que ela é um verdadeiro espetáculo. E, quando o show termina, choramos, pois gostaríamos que ele continuasse. Choramos quando pessoas fazem a nossa vida e o mundo serem um espetáculo à parte. São os que seguem seguem o exemplo exemplo dessa grande personagem personagem da Históri Históriaa da Salvação. Eles são solícitos, solidários, prontos para ajudar, mesmo que tenham suas limitações, pois, pois, para Deus, nada é impossível. impossível. Aliás, esse diretor e produtor do espetáculo da vida, que é Deus, prioriza os pequenos, os humildes, humildes, dando-lhes a chance de brilhar brilhar nesse e em outros palcos. Quando o grande dá oportunidade ao pequeno, o pequeno cresce e aparece. Deus mostrou isso a Maria, e pode mostrar também a você, desde que diga seu sim e se apresente diante dele. Você também tam bém é chamado ch amado a se s e apresentar. apres entar. Qual está sendo a sua resposta? 10
Que papel lhe foi confiado? Que desempenho você está tendo nesse palco? Qual a reação dos outros em relação ao seu papel? Que satisfação você sente em desempenhá-lo? Pense nessas e em outras questões ao refletir sobre a apresentação de Maria, antes que as cortinas do palco de sua vida se fechem e o espetáculo saia definitivamente de cartaz. E não se esqueça: só será um grande artista diante de Deus aquele que ouvir e colocar em prática o roteiro que Ele escreveu. Por isso, o filho do diretor, Jesus, disse: "Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos Céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos Céus" (Mt 7,21). Fazer a vontade do diretor é fundamental para o bom êxito do espetáculo e todo bom artista sabe disso. Portanto, não basta gritar o nome dele; é preciso fazer o que Ele pede. Não basta gostar ou ter simpatia pelo diretor – isso qualquer um pode ter –; é preciso obedecer às suas ordens. Afinal, é Ele quem dirige o espetáculo. Os palcos estão cheios de artistas medianos, que dizem gostar do diretor, mas não seguem suas orientações, ou ficam chateados quando ele chama a sua atenção. Dessa forma, as Igrejas estão cheias de pessoas que dizem dizem gostar de Deus, mas não são todas as que colocam colocam em prática prática os mandamentos dele. Só os bons é que fazem isso, e Maria é mestra na escola da obediência. Jesus disse mais: "Todo aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos Céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe" (Mt 12,50); em outras palavras, destaca-se nesse espetáculo e passa a fazer parte de sua Companhia aquele que cumpre bem o seu papel, o papel que o diretor escreveu para que o espetáculo continue. Maria é modelo nessa Companhia. Sigamos seu exemplo e desempenhemos bem nosso papel. A vida não é apenas um teatro, embora haja muitas representações, mas o mundo de Deus é uma espécie de grande palco e só será bem-sucedido nele quem desempenha bem o seu papel, sendo obediente às ordens do diretor do universo. O show que nesse palco se desenrola depende de nós, artistas convidados a participar dessa festa, desse banquete, desse show maravilhoso, embora nem sempre sejamos dignos ou estejamos hábeis ou capacitados. Contudo, Ele nem sempre chama os capacitados, mas capacita os que Ele chama. Foi assim com Maria e pode ser assim com qualquer um de nós, por mais medíocre que seja nosso potencial artístico. 11
No entanto, se nesse palco palco o show for de horrores, não culpe o diretor. Culpe os que estão em cena, fazendo com que esses horrores aconteçam, e veja se você não está particip participando, ando, de alguma alguma forma, desse espetáculo dantesco. Brilhe na sua apresentação. O mundo irá aplaudir – ou não –, mas Deus, com certeza, reconhecerá o seu talento, como reconheceu o de Maria, concedendo a ela o título de Rainha e fazendo poderosa sua intercessão. Participemos, portanto, da apresentação de Maria e aprendamos com ela como nos apresentar diante de Deus. Vejamos, agora, uma mulher que, com o poder de sua intercessão, fez Céus e Terra se aproximarem. Vamos abrir as cortinas e deixar que o espetáculo da vida aconteça, tendo Maria no seu papel principal. Ficam aqui alguns avisos, antes de o espetáculo começar: evite chegar atrasado, pois você vai perder cenas importantes. Se, porventura, ou em razão de algum contratempo, você chegar atrasado, entre em silêncio e esforce-se para entender e participar das cenas; não saia no meio do espetáculo, mesmo que você não goste ou não entenda algumas cenas. O conjunto do espetáculo, ou da obra, é que dará sentido a cada parte. preste muita atenção na apresentação e não se distraia durante o espetáculo. As cenas não se repetem e você pode perder algo essencial. Além disso, você poderá atrapalhar os outros que estão atentos e interessados na apresentação. desligue seus celulares, pois eles interferem na apresentação e na concentração dos atores e dos espectadores, além de prejudicar o seu entendimento do enredo. Desligue-se de muita coisa que venha a impedir você de viver esse espetáculo como ele deve ser vivido; faça de tudo para que, no final, valha a pena aplaudir de pé esse espetáculo, uma vez que ele é único; recomende a outros que vejam esse espetáculo, pois coisas boas precisam ser propagadas. propagadas. Agora, já soou o último sinal. As luzes já se ofuscaram e é hora de se concentrar e mergulhar na trama.
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Boa leitura!
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1. Maria,
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Mãe de Deus e nossa primeiro dia dia do ano no Brasil Brasil é dia dia de ação de graças, diferentemente diferentemente dos Estados O primeiro Unidos, por exemplo. É dia de agradecer a Deus pela missão cumprida no ano que se foi e de pedir que Ele nos ajude, encoraje-nos, dê-nos força para continuarmos no seu caminho no novo ano. A Igreja Católica faz menção a Maria na primeira celebração do ano, dando-nos, assim, três motivos para começarmos o ano bem: o primeiro é que, nesse dia, celebra-se a solenidade de Maria, Mãe de Deus; o segundo é porque é o Dia Mundial da Paz; e o terceiro é porque, sendo o primeiro dia do ano, abraçamos aqueles que estão ao nosso lado e desejamos-lhes um feliz ano novo, um bom começo de ano, ou, uma boa passagem passagem de ano. É muito bom começar um novo ano, uma nova etapa da vida tendo como modelo aquela que, mesmo humana, ao assumir a maternidade do Filho de Deus, aproximou-se da divindade de Deus. Assim, somos convidados, no primeiro dia do ano, a seguirmos o exemplo dos pastores de Belém e encontrarmo-nos com Maria, Maria, Mãe de Deus, aprendendo com ela a cultivar no coração os mistérios e desígnios de Deus, coisas que não entendemos, mas que só podem vir de Deus. Aquela que tão bem soube promover a paz, a Rainha da Paz, introduz-nos no novo ano, abençoa-nos e ajuda para que o nosso ano seja abençoado. Nada melhor melhor do que inici niciar ar o ano com uma bênção. Essa bênção, dada no primeiro primeiro dia do ano, com Maria à frente, guiando nossos caminhos, nós encontramos no Livro dos Números (cf. Nm 6,22-27). Essa é a bênção que o Senhor ensinou a Moisés, para que, com ela, fossem abençoados os israelitas, que, por meio dela, seriam fortificados para segui seguirr na missão. missão. Quando somos abençoados, somos fortalecid fortalecidos, os, encorajados, estimulados a seguir adiante. Nada como ter um estímulo como esse para iniciar o ano, em busca de realizar sonhos e projetos. É importante lembrar que a bênção não é algo mágico; que basta recebê-la para que tudo dê certo. Sermos abençoados não significa que estaremos isentos dos males, dos 15
obstáculos. Maria foi abençoada por Deus e, mesmo assim, passou por muitas dificuldades e sofrimentos, mas teve forças para suportar todos eles e para seguir em frente, coerente com o seu "sim". Dessa forma, receber uma bênção significa que receberemos mais força para enfrentar todos os obstáculos e adversidades da vida. Quem recebe uma bênção recebe a força vinda de Deus e reconhece o quanto depende dele. Tudo o que vencemos no ano que terminou não foi apenas pelos nossos méritos, mas pela graça de Deus, cuja bênção, na nossa vida, vida, foi determinante determinante para que vencêssemos os desafios. Não há dúvida dúvida de que a bênção nos ajuda, mas precisamos precisamos fazer a nossa parte. Ela Ela não nos isenta de responsabilidades, ao contrário, dá-nos força para cumprirmos com os nossos deveres, com a nossa missão. Uma pessoa abençoada é aquela que, apesar das dificuldades, não esmorece e segue adiante. Nisso Maria é um grande exemplo, porque ela foi abençoada, agraciada por Deus, e, por isso, enfrentou horrores sem se abater, sem sucumbir diante das dificuldades. Outro texto que nos ajuda a fundamentar a fortaleza presente na vida de Maria, a mulher que revela o rosto materno de Deus, é da Carta de São Paulo aos Gálatas (cf. Gl 4,4-7). Esse texto nos lembra mais uma vez o quanto Deus nos ama. Se Ele amou Maria e a escolheu para ser a Mãe de seu Filho, seu amor por nós é tanto que esse Filho é a prova grandiosa grandiosa de que Ele Ele nos quer livres, como c omo filhos filhos dele. Assim, Assim, o envio de seu Filho Filho foi para nos libertar da escravidão do pecado e nos dar vida plena. São Paulo destaca o nascimento de Jesus a partir de uma mulher, sujeito à lei, para nos filiar a Deus. Deus Filho nasceu de um ser humano, uma mulher, Maria, para que renascêssemos de Deus, o Pai. A humanidade de Jesus é para nos divinizar, e é prova do infinito amor de Deus por nós. Com o nascimento de Jesus e a nossa filiação a Deus, afirma São Paulo na Carta aos Gálatas, Deus enviou aos nossos corações o seu Espírito e, agora, podemos, com toda confiança, chamar a Deus de Pai, na forma mais carinhosa, pela expressão "Abá" (Papai ou papaizinho). Ter a certeza de que Deus é nosso Pai querido, de que somos seus filhos amados e herdeiros desse mundo são razões suficientes para termos um ano bom, de paz. Quem tem consciência consciência disso promove a paz. O grande apelo teológico que nós encontramos nessas manifestações de Deus é para que não ajamos como escravos, mas como filhos e herdeiros de Deus, e quem nos ajuda nesse empreendimento é Maria, a Mãe de Deus e nossa. Encontramos no texto do Evangelho de Lucas (cf. Lc 2,16-21) um destaque para a alegria de Maria ao receber a primeira visita logo após o nascimento de Jesus: a visita dos 16
pastores. No trecho, evidenci evidencia-se a-se uma atitude atitude que deve ser a de todos nós diante diante dos mistérios de Deus: meditar no coração. Isso significa, entre outras coisas, colocar nas mãos de Deus tudo aquilo que foge ao nosso alcance; é entregar-se totalmente; é confiar, como filhos, em um Deus Pai que ampara, acolhe e faz com que as coisas se encaminhem da melhor maneira, no tempo e na hora certos. A reação dos pastores nada mais é do que ação de graças, um gesto de agradecimento a Deus por revelar primeiramente primeiramente a eles, os mais humil humildes, a boa notícia notícia do nascimento nascimento do Salvador. Salvador. Aprendemos com os pastores, nesse texto, a agradecer a Deus pelas infinitas graças em nossas vidas, pelas revelações que Ele nos tem feito e pela vida. Aprendemos – ou deveríamos aprender – a levar adiante essa boa notícia, comprometendo-nos com a vida e a defesa dos irmãos mais necessitados. Assim sendo, se nós queremos um ano e um mundo de paz, nós devemos ser promotores da paz, comprometermo-nos com ela ela e pedir pedir, como vimos vimos na bênção do Livro dos Números, que o Senhor nos abençoe e nos guarde de todos os males; que Ele faça com que as pessoas, principalmente as que têm poder, como os dirigentes das nações, promovam a paz; que o seu rosto brilhe sobre nós, como brilhou na vida de Maria, e ilumine nossas ações para que elas visem, de fato, a essa paz tão almejada; que sintamos a sua compaixão diante das nossas quedas, fracassos e erros, e, assim, não desanimemos se as coisas não saírem como o planejado; que o seu rosto esteja sempre voltado para nós, apesar das nossas fraquezas, como esteve voltado para Maria; enfim, que Ele nos dê a paz que todas as pessoas de bem desejam, essa paz tão sonhada pela humanidade. Que Maria, a Mãe de Deus e nossa, acompanhe-nos e interceda junto a Deus por nós em todos os dias de nossa vida, ensinando-nos a dizermos "sim" a Ele, o Criador de todas as coisas.
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2. Maria,
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a mulher que fez a vontade de Deus
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uando rezamos a oração do Pai-Nosso, dizemos "seja feita a vossa vontade, assim na Terra como no Céu". Nem sempre nos damos conta do que pedimos. Primeiro porque, muitas vezes, rezamos mecanicamente; segundo porque quase sempre queremos que a nossa vontade prevaleça e, se Deus não faz a nossa vontade, ficamos aborrecidos e até brigamos com Ele; terceiro porque nem sempre sabemos qual é a vontade de Deus. E, nesse último aspecto, Maria tem muito a nos ensinar. Pegando um gancho da Solenidade da Anunciação do Senhor, que a Igreja celebra no dia 25 de março, faço aqui uma reflexão sobre Maria, a mulher que soube fazer a vontade de Deus e que pode nos ensinar muito sobre esse dado tão importante da nossa relação com Ele. Essa data marca a concepção virginal de Maria, o dia em que ela disse "sim" a Deus e à humanidade, concebendo, em seu ventre, aquele que seria um sinal para o mundo, vindo das profundezas da Terra e das alturas dos Céus, como profetizou Isaías (cf. Is 7, 10-14; 8,10). Foi o próprio Deus quem nos deu esse sinal: uma virgem concebeu e deu à luz um Filho, o qual recebeu o nome de Emanuel, em uma das confirmações mais contundentes de que Deus está conosco. Com todos esses significados, essa solenidade nos coloca diante do mistério pascal contido na encarnação de Deus, na pessoa de Jesus, tendo como receptáculo o seio virginal de Maria. Maria se dispôs a fazer a vontade de Deus e, por conseguinte, ela concebeu aquele que veio para fazer a vontade do Pai, como se afirma na carta aos Hebreus (cf. Hb 10,410). Jesus entra no mundo, por meio de Maria, para nos redimir do pecado e abolir todas as formas de sacrifícios até então existentes. Ele se sacrificaria ao Pai por nós, fazendo a sua vontade, para que nós, também, a exemplo de Maria e, sobretudo, tendo-o como exemplo, colocássemo-nos diante de Deus para que a vontade dele se faça na nossa vida. É isso que afirmamos quando rezamos a oração do Pai-Nosso ("...seja feita a tua vontade..."). Entretanto, como disse no início, na prática, nem sempre isso funciona, porque, muitas muitas vezes, queremos mesmo é que a nossa vontade seja feita. feita. Deix Deixar que a 19
vontade de Deus se faça em nós é seguir o exemplo de Maria, como vemos no Evangelho de Lucas (cf. Lc 1,26-38). Maria, prometida em casamento a José, um descendente de Davi, recebe a visita do anjo Gabriel. O primeiro anúncio do Anjo é o da alegria. Ele pede que Maria se alegre, pois pois Deus está com ela. ela. Não exi existe maior maior motivo motivo de alegri alegriaa do que saber que Deus está conosco. Quem tem essa certeza em sua vida não tem motivos para se entristecer ou se amedrontar. Um anúncio tão bom como esse deixa Maria um tanto quanto perturbada e confusa, a se questionar: qual seria o significado dessa saudação? Todos os sinais que Deus coloca na nossa vida não são por acaso, mas têm um significado. Sabendo disso ela questiona e, naturalmente, assusta-se, pois se acha pequena demais para merecer a visita do enviado de Deus, o anjo Gabriel. Este, porém, trata logo de tranquilizá-la, dizendo a ela que não tenha medo. Às vezes, Deus nos coloca diante de situações que, por mais maravilhosas que sejam, assustam-nos. Com Maria, não foi diferente. Ela se assusta com essa presença divina, pressentindo que algo grandioso estava para acontecer. O anjo faz, então, outro anúncio: ela encontrou graça diante de Deus; foi a escolhida, dentre tantas mulheres, para ser a Mãe do Filho de Deus, em quem deveria colocar o nome de Jesus. Esse grandioso anúncio vem seguido de outros anúncios igualmente esplêndidos: esse Filho "será grande e será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi; e reinará eternamente na casa de Jacó, e o seu reino não terá fim" (cf. Lc 1, 32-33). Em poucas palavras, o anjo descreve a grandeza da missão confiada a ela. Tudo isso seria assustador se não fosse o primeiro anúncio: Deus está contigo. Mesmo assim, Maria questiona o anjo e quer saber como tudo isso aconteceria, já que ela não conhecia homem algum, ou seja, ela nunca tinha tido contato íntimo com algum homem. Mais uma vez, o anjo trata de acalmá-la, explicando como tudo aconteceria. Ele citou o exemplo de Isabel, parenta de Maria, que, na velhice, esperava um filho, pela graça de Deus, o que significa que, por mais impossível que a proposta pudesse lhe parecer, para Deus, nada é impossível. Depois dessa explicação, Maria, com toda a humildade, colocase diante de Deus e diz o seu "sim". Ela se assume como serva e deixa que Deus faça nela a sua vontade. É uma entrega total, sem restrições ou limites. Tudo o que esses textos bíblicos nos trazem é para nos ensinar que precisamos deixar que a vontade de Deus seja feita na nossa vida. Foi pelo "sim" de Maria que o verbo se fez carne e habitou entre nós. É pelo nosso sim que Deus continuará habitando entre nós e dando-nos vida plena. Que saibamos receber com humildade e fé os anúncios que Deus continua fazendo em nossa vida e que possamos, como sugere o Salmo 39(40), dizer a Deus: "Eis que venho fazer, com prazer, a vossa vontade, Senhor". Ou, então, 20
como Maria, dizermos: "Eis aqui a serva (ou o servo) do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra". Portanto, para fazermos a vontade de Deus, temos de nos colocar em uma postura de escuta atenta, que se dá por meio de uma vida de oração e de contemplação. Essa atitude vai nos conduzindo por caminhos que nos levam a entender o que Deus quer para nós. E uma coisa é certa: Deus quer sempre o melhor para nós, mesmo que, em algum momento, nós possamos achar que aquilo não é o melhor. Confie e deixe que Deus faça em você a vontade dele.
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3. Maria,
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mulher solidária
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empre associamos o mês de maio a Maria. Durante esse mês, ganham destaque duas festas atribuídas a ela: o dia 13, dia de Nossa Senhora de Fátima; e o dia 31, em que celebramos a festa da Visitação de Nossa Senhora. Desse modo, embora todo o mês de maio seja dedicado a Maria, o último dia é coroado pela festa daquela que soube ser solidária com a parenta em um momento difícil de sua vida, revelando-se, assim, uma mulher solidária com os sofredores e necessitados. Por isso, dedicamos essa reflexão a Maria, a mulher que soube ser solidária.
O Evangelho de Lucas (cf. Lc 1,39-56) trata da Visitação de Nossa Senhora a Isabel, um encontro epifânico, pois nele ocorre a manifestação de Deus, por meio da criança que estremece no ventre de Isabel quando a saudação de Maria chega aos ouvidos desta. É um encontro que revela Deus presente no ventre de Maria, e Maria que o leva a Isabel e a todos os excluídos. Lucas narra nesse trecho do Evangelho que Maria partiu apressadamente para a região montanhosa, onde residiam Isabel e Zacarias. Isabel estava grávida de João Batista e precisava de auxílio. Esse casal representa não apenas um casal, mas uma categoria de pessoas: aqueles aqueles que, por alguma alguma situação, situação, são excluídos excluídos e vão residi residirr nas "regi "regiões montanhosas" dos nossos tempos. Vale lembrar que, na Bíblia, a palavra 'monte' e seus derivados significam 'lugar de desafios e de encontro com Deus'. Isabel e Zacarias tinham idade avançada e, até então, não tinham gerado filhos. Além disso, Isabel era estéril. Àquela época, não gerar filhos significava estar privado das graças de Deus, isto é, ser uma pessoa "desgraçada", castigada, punida por Deus, e quem vivia uma situação dessas não era bem visto pela comunidade, ficando excluído. Foi o que ocorreu com Zacarias e Isabel. Restou, então, para eles morar na região montanhosa, lugar de dificuldades, o lugar onde os pobres moram. Assim, começamos a entender por que Maria se dirige apressadamente para essa região. O auxílio aos pobres e necessitados não pode esperar. É algo urgente, que carece de uma atitude imediata. A pressa de Maria deveria ser a pressa de todos nós, inclusive das autoridades, em solucionar os problemas que atingem os que são excluídos. Ao se 23
dirigir apressadamente para essa região, Maria tem um objetivo claro: vai auxiliar a parenta que está grávida grávida e passa por privações. Ela está precisando precisando de ajuda. Quando chega, cumprimenta Isabel. Esse gesto é carregado de significados. Cumprimentar também significa estender a mão. Estender a mão significa ser solidário. Ser solidário significa amar. Quem ama é portador de Deus. Nesse gesto, Maria revela todas essas coisas, que, por sua vez, revelam-se no estremecimento da criança no ventre de Isabel. É o gesto de reconhecimento de que Maria era, literalmente, portadora de Deus. Em seu ventre, estava sendo gestado o Menino Deus, aquele que fez estremecer a criança que Isabel trazia no seu ventre; que fez estremecerem os poderosos; e que nos estremece com o seu estupendo amor, que fez com que nos desse sua própria vida. Essa manifestação epifânica do encontro entre as duas mulheres fez com que Isabel reconhecesse Maria como portadora de Deus. Por isso, Isabel ficou cheia do Espírito Santo e reconheceu Maria como a Mãe do Salvador. Assim, confirma Maria como bendita bendita entre todas as mulheres mulheres e reconhece como bendito bendito o fruto de seu ventre. Sempre que rezamos a oração da Ave-Maria, repetimos as palavras de Isabel e reconhecemos Maria como portadora de Deus, o sacrário vivo, aquela que, na humildade, ensina-nos a trazer Cristo dentro de nós, a sermos solidários com os necessitados, a não esperarmos para lutar pela pela promoção da vida. vida. Maria Maria é grande, grande, é Rainha Rainha porque soube ser pequena e singela. Isabel reconhece essa grandeza e se acha indigna de merecer tão ilustre visita. essa atitude de acolhimento e escuta, profetiza que Maria é bem-aventurada porque acreditou. Com isso, afirma que bem-aventurados serão todos os que acreditarem e forem solidários, como Maria foi solidária. Nesse reconhecimento reconhecimento teológ teológiico, temos o cântico cântico entoado por Maria, Maria, que resume bem quem é essa mulher, mulher, a quem nenhum adjetivo consegue consegue atribuir atribuir todo o valor que ela tem. Porém, a sua dimensão profética é a que mais se evidencia nesse cântico. Maria agradece a Deus; reconhece sua pequenez diante da grandeza dele e das graças que Ele concedeu a ela, tão grandes que foram capazes de agraciar aqueles que eram tidos como privados privados da graça: Isabel e Zacarias. Zacarias. Maria Maria agracia agracia também todos aqueles aqueles que a têm como a Mãe do Salvador. Ao reconhecer que Deus olhou para a sua humildade, ela reconhece também que Deus olha para todos os seus servos humildes e socorre-os em suas necessidades; que as gerações futuras a conhecerão; que Deus fez e fará grandes coisas em seu favor e em favor de todos os humildes. Com Maria, aprendemos a expressão que proferimos na oração do Pai-Nosso: "santificado seja o vosso nome". Maria, melhor do que ninguém, soube santificar o nome de Deus com o seu "sim". A 24
visitação é um gesto de santificação do nome de Deus, pois Ele é santificado em cada gesto de amor e solidariedade. Maria reconhece que Deus tem poder para transformar as situações de morte em vida plena, e seu Filho será instrumento dessa transformação. Deus derrubará dos tronos os poderosos e opressores; e levantará os humildes, os que vivem prostrados mendigando o próprio pão; os que são excluídos pela miséria, pelo preconceito e por tantas outras formas de violência. Ele saciará os famintos e cumulá-los-á de bens, despedindo, de mãos vazias, os ricos, aqueles que acumulam à custa do empobrecimento de outros. É um forte anúncio profético que estremece os poderosos e os que praticam a injustiça. Desse modo, a visita de Maria a Isabel ganha um contorno transformador do mundo, manifestando o poder de Deus. Assim, poderemos cantar com alegria, como a filha de Sião, conforme exorta o livro do profeta Sofonias (cf. Sf 3,14-18). É o Deus da vida que se revela na festa da visitação de Nossa Senhora, bem como em nossa vida, cada vez que acolhemos e celebramos a Mãe do Salvador. Somos convidados a nos rejubilarmos de alegria e a abrirmos as portas do nosso coração para recebermos a visita de Nossa Senhora, que vem trazendo Jesus. Não temos o que temer, Deus está conosco, conforme nos garante a profecia de Sofonias e a profecia profecia de Maria, no cântico cântico do Magnifi cat . Essa solidariedade de Maria nos ensina, também, a sermos solidários. Há tantas pessoas vivendo nas regi regiões montanhosas de nossos tempos, precisando precisando da nossa ajuda, a juda, e nem sempre temos pressa em ajudá-las. Tudo isso porque temos outras "urgências" na nossa vida. Será que estas são, de fato, urgências? Será que não estamos anestesiados por coisas, coisas, pessoas e situações situações que desviam desviam nosso olhar olhar daqueles daqueles que realmente realmente precisam? precisam? Será que nos tornamos tão insensívei insensíveiss a ponto de não mais mais nos compadecermos do sofrimento alheio e das necessidades de nossos irmãos? Aprendamos com Maria a enxergarmos as verdadeiras urgências e irmos apressadamente ao encontro dos que precisam. Somente assim seremos portadores de Deus e capazes de gestos epifânicos, gestos nos quais Deus realmente se manifeste e se revele aos irmãos.
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4. Maria,
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mulher de coração puro
T
rato nesta reflexão do coração de Maria. Um coração grandioso, capaz de comportar o infinito de Deus, grandioso no amor e na misericórdia, na bondade e na capacidade de fazer o infinito caber dentro do finito. Finito era o seu coração humano e infinito é o Deus que se fez homem e veio habitar entre nós, encontrando morada no seio de Maria e, sobretudo, no seu coração imaculado, preservado da mancha do pecado, purificado pela presença de Deus. Fazer memória do Imaculado Coração de Maria nos ensina a termos atitudes corretas diante de Deus e de seus desígnios, os quais Maria soube tão bem cumprir. Boa parte das angústias humanas se dá pelo fato de querermos entender os mistérios de Deus a partir da razão, e não da fé, e, como isso não é possível, o nosso coração acaba por se encher de angústia e por ficar desassossegado. Maria, a Mãe de Jesus e nossa Mãe de coração, ensina-nos a como proceder diante dos mistérios insondáveis de Deus. Por isso, encontramos a expressão "Maria guardava tudo em seu coração". Dessa forma, um dos seus primeiros ensinamentos para as coisas de Deus é "guardar no coração", o que tem vários significados. Dentre eles, o da contemplação, da meditação, da oração. Além disso, daquilo que guardamos no coração nós não nos esquecemos jamais, porque só guardamos nele aquilo que diz algo para a nossa vida, por exemplo, as pessoas que amamos; e, por mais que elas estejam distantes, ou já tenham partido desta vida, nós nos lembraremos delas enquanto existirmos, ou enquanto tivermos boa memória. Maria nos ensina com a expressão "guardar no coração" a vivermos os mistérios de Deus na nossa vida. Quando não entendemos alguma situação, mas percebemos que ali há algo de mistério de Deus, o mais correto a fazermos é rezar, colocando-a nas mãos de Deus e guardando-a em nosso coração. No tempo certo, de acordo com a vontade de Deus, ela vai se esclarecendo. Maria teve muitos momentos em sua vida em que não entendeu o que Deus queria dela; porém, sua confiança nele a fez agir com serenidade, mesmo que a situação fosse desesperadora.
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Uma das primeiras situações humanamente ininteligíveis para Maria foi a do anúncio do anjo Gabriel de que ela seria a Mãe do Salvador. Ela questionou o anjo, pois não conhecia homem algum. Nesse diálogo do humano com o divino, cheio de interrogações e mistérios que afligiam o seu coração humano, o anjo tratou logo de lhe esclarecer que se tratava dos mistérios de Deus. Maria, com seu imaculado coração, mesmo sem entender, guardou aquele anúncio e, na confiança, disse o seu "sim". O Evangelho de Lucas (cf. Lc 2, 41-51) traz outra situação de difícil entendimento ao coração humano: a perda e o reencontro do Menino Jesus no templo, entre os doutores, agindo como um deles, sem, porém, nunca ter ido formalmente a escola. São dois momentos que carecem de fé para serem entendidos, e Maria se porta como aquela que é mestra no entendimento acerca das coisas divinas. Quão desesperado deve ficar o coração de uma mãe que perde seu filho. Procurá-lo por três dias deve ter sido algo algo muito doloroso, doloroso, tanto que isso isso é considerado uma das sete dores de Nossa Senhora. Depois, ao encontrá-lo, a surpresa de vê-lo muito bem, agindo de forma surpreendente e misteriosa, como se fosse um dos doutores da lei, demonstrando tamanha sabedoria diante das perguntas, em suas respostas e nos argumentos. Maria se limitou a falar da sua angústia, mas não compreendeu as respostas dadas pelo Filho. Sabia que vinham de Deus e guardou-as no coração. Assim deve ser o agir humano diante dos acontecimentos divinos, que não cabem em nosso entendimento. Maria também nos ensina sobre a grandeza de Deus, que olha para os pequenos e protege-os. protege-os. Como ela se sentiu sentiu protegi protegida nos braços de Deus! Um trecho do livro do profeta Isaías (Is 61,10-11) faz um paralelo paralelo com o cântico cântico do Magnifi cat , atribuído a Maria, quando diz: "com grande alegria eu me rejubilarei no Senhor e meu coração exultará de alegria". O cântico de Maria diz: "minha alma proclama a grandeza do Senhor e meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador". Depois, Isaías diz: "Ele me fez vestir as vestimentas da salvação. Envolveu-me com o manto da justiça, como um neo-esposo cinge o turbante, como uma jovem esposa se enfeita com suas joias"; Maria proclama: "porque olhou para a humilhação de sua serva". Maria foi adornada com as joias da graça de Deus, que a elevaram como Rainha na concepção divina. Há, portanto, um paralel paraleloo entre esses dois dois textos, textos, que mostram o quanto Deus enx enxerg ergaa os de coração humilde e os eleva e dignifica, a exemplo de Maria, que foi elevada da sua humildade de serva para a graça de ser a Mãe de Jesus e da humanidade, a "nova Eva". É preciso ter um coração Imaculado para receber e conceber os desígnios de Deus. Maria mostra que é possível fazer o nosso coração semelhante ao dela. Basta colocarmo28
nos à disposição de Deus, pondo em prática seus ensinamentos e dizendo sempre "sim" ao que Ele coloca na nossa vida. Deus sempre quer o melhor para nós. Quando confiamos nisso, vemos as maravilhas dele acontecerem. A exemplo de Maria, vamos anunciá-las e também anunciar que seu nome é santo. Se surgirem situações e acontecimentos que fogem ao nosso entendimento, guardemos no coração, pois, na hora certa, tudo se encaminhará, conforme a vontade de Deus. Basta confiarmos nele, que vai apontando os caminhos, os rumos e a direção, e tudo irá se resolver da melhor maneira possível. possível.
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5. Maria
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ea contemplação dos mistérios de Deus o dia 16 de julho, a Igreja faz memória a Nossa Senhora do Carmo, um dos inúmeros títulos atribuídos a Maria, mulher de oração e contemplação dos mistérios de Deus. Ao celebrarmos esse título de Maria, recordamos a herança espiritual do profeta Elias, que tão bem soube contemplar os mistérios de Deus e que foi, a partir disso, um defensor incansável do único Deus de Israel, como se afirma no Missal Romano (p. 616) na introdução dessa festa. Sempre que celebramos um título de Nossa Senhora, ela nos ensina algo diferente, uma particularidade dessa Mãe de muitas faces, todas elas revelando a face de Deus. Com Nossa Senhora do Carmo, recordamos a Mãe de Deus que contemplava tudo o que Ele punha na sua vida, no seu caminho, como pudemos ver. Ela guardava em silêncio os acontecimentos. O silêncio de Maria nos ensina a silenciarmos, a nos acalmarmos. O profeta Zacarias (cf. Zc 2,14-17) pede que a cidade de Sião se rejubile e se alegre porque Deus veio veio habitar habitar no meio meio de seu povo. Ele Ele vem habitar habitar entre nós na pessoa de Jesus, gerado no seio de Maria. Ela foi a portadora de Deus, aquela que trouxe Jesus ao mundo; daí a sua importância na Liturgia católica. A alegria da filha de Sião é também a nossa alegria. Zacarias fala da aproximação dos povos ocasionada pela presença de Deus. Jesus no meio de nós é motivo de união, de comunidade, de comunhão. Recordamos isso cada vez que celebramos a Eucaristia. Conforme o profeta Zacarias, no texto supracitado, foi o Senhor dos exércitos quem enviou o seu Filho para junto de nós, a fim de que pudéssemos conhecê-lo. Com esse sublime gesto de amor, Deus nos redimiu de nossos pecados e nos recebeu de volta ao seu meio. Por isso, podemos dizer como Maria que a nossa alma engrandece o Senhor e o nosso espírito se eleva em Deus nosso Salvador, porque Ele olha para todos os humildes, como olhou para a humildade de Maria. Ele torna grande todos os pequenos, e Maria nos mostrou isso com muita propriedade. propriedade. Vemos isso no Cântico Cântico do Magnifi cat (cf. Lc 1,46-55), sobretudo nos exemplos que Maria deu à humanidade a partir do momento em que disse o seu "sim" a 31
Deus, e foi coerente até o fim, exercendo com valentia sua missão profética de anunciar e denunciar. Não dá para duvidar duvidar de que Maria Maria é parte importante da família família de Deus, a Sagrada Sagrada Família. Jesus mostrou que todos nós podemos fazer parte de sua família; basta apenas fazer a vontade de Deus. Vemos isso no Evangelho de Mateus (cf. Mt 12,46-50). Maria fez a vontade de Deus ao dizer "sim" à proposta de ser a Mãe de Jesus, e foi até o fim. Jesus ensina, nesse trecho do Evangelho citado, que todo aquele que faz a vontade de Deus é seu irmão, sua irmã e sua mãe, ou seja, integrante de sua família. Fazer a vontade do Pai é critério fundamental para participar dessa família. Como encontrado em outro texto do Evangelho, "nem todo aquele que diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos Céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos Céus" (Mt 7, 21). Maria é mestra nisso, e podemos aprender muito com ela, sobretudo a contemplar os mistérios de Deus. Que, na contemplação dos mistérios de Deus, possamos encontrar luzes que iluminem nossos caminhos e descobrir qual é a vontade de Deus na nossa vida e, assim, fazê-la de modo que esse gesto nos conduza ao seio de sua família. Rezemos por todos aqueles que, a exemplo do profeta Elias e de Maria, dedicam sua vida à contemplação dos mistérios de Deus. De um modo especial, rezemos pelos membros da Ordem dos Carmelitas, nas suas diversas ramificações, tanto masculinas quanto femininas. Nossa Senhora do Carmo, a Mãe de Deus, que se revelou no Monte Carmelo, Carmelo, continue continue revelando aos corações os mistérios mistérios da bondade de Deus.
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6. Maria
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nos mostra o caminho caminho para sermos elevados ao céu Católica proclama que Maria foi assunta, isto é, elevada ao céu de corpo e AIgreja alma. Esse é um dogma, uma verdade de fé. Isso nos faz enxergar em Maria a mulher que nos ensina a chegar mais perto de Deus e, assim, fazer com que o céu chegue mais perto de nós; ou ver em Maria aquela que nos ensina a ser, também, elevados aos céus. Quando a Igreja celebra a solenidade da Assunção de Nossa Senhora, está celebrando o término do curso da vida terrena de Maria, que é elevada de corpo e alma à glória celestial. Nisto consiste, portanto, o dogma de fé referido, instituído pelo Papa Pio XII em 1950, mas é uma celebração bem mais antiga que essa data. Antes, era celebrada como a Dormição de Nossa Senhora, referindo-se à transferência do corpo e da alma de ossa Senhora para o paraíso. Conhecida no Oriente como a Dormiti o Virgini Virgini s, foi e ainda é uma das mais importantes e antigas festas marianas, conforme indica o Missal Romano (p. 637). Em nosso calendário religioso, também é a mais importante festa dedicada a Maria. Por essa razão, no Brasil, quando o dia 15 de agosto cai durante a semana, a solenidade é transferida para o domingo seguinte. Para esse tema, os textos bíblicos propostos referem-se a Maria como a nova Eva, isto é, a Mãe da nova humanidade, e coloca-a como partícipe na História da Salvação, concedendo-lhe um lugar de honra junto a Deus. No livro livro do Apocalip Apocalipse se (cf. Ap 11,19a; 11,19a; 12.3-6a.10), 12. 3-6a.10), a figura figura da mul m ulher her vestida de sol, tendo a lua debaixo dos seus pés e, na cabeça, uma coroa de doze estrelas é equiparada a Maria. Esta, por sua vez, é associada à imagem da Igreja, na sua missão de gerar um mundo novo. É apresentada como o "grande sinal" vindo do céu, que se abre. É a Arca da Aliança, o sacrário vivo, a portadora de Deus, porque trouxe em seu ventre aquele que veio para governar todas as nações.
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Por que a Igreja é comparada a Maria? Porque, a exemplo de Maria, a Igreja gera, na dor e nos desafios, um mundo novo. Com Maria, a Igreja também participa da vitória de Cristo, que vence o mal. O dragão está diante dela, pronto para devorar o seu Filho logo que nasça. O desafio missionário da Igreja é lutar contra os dragões que continuam a existir e a ameaçar as iniciativas de vida que são gestadas. Maria é aquela que está junto de Deus, que foi escolhida por Ele e preparada para a missão, para o enfrentamento do dragão, e seu Filho veio de junto de Deus e para Ele voltou, prometendo aos homens que retornaria, em sua segunda vinda. A mulher foge para o deserto, onde Deus lhe tinha preparado um lug ugar. ar. Também na Assunção, Assunção, ou elevação aos céus, Deus lhe havia havia preparado um lug ugar, ar, desde o seu "sim". "sim". É a realização realização da força de Deus anunciada anunciada no Cântico a ela atribuído (o Magnifi cat ), ), do Evangelho proclamado no dia dessa celebração. Um Deus que mostra a força do seu braço, elevando os humildes e derrubando os arrogantes e poderosos, isto é, os dragões. É o poder que vem de Cristo, mencionado na Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios (cf. 1Cor 15,20-27). Nesse trecho da carta de Paul P aulo, o, a ênfase é dada à figura figura de Cristo, Cristo, o novo Adão, que trouxe a salvação ao gênero humano, este condenado pela ação do primeiro Adão. Se Jesus é o novo Adão, Ele faz de Maria a nova Eva, ou seja, a nova mãe da humanidade, como hoje a concebemos, tendo-a como bem-aventurada, bendita entre todas as mulheres, conforme a constatação de Isabel. Nossa Senhora é, portanto, a esperança para toda a humanidade. humanidade. P aulo aulo não cita cita nessa leitura eitura o nome de Maria, Maria, mas nos leva a reconhecer, por Jesus, o eminente lugar que ela tem no grande movimento pascal e na salvação da humanidade. Maria traz ao mundo aquele que reina sobre o mundo, colocando, assim, todos os inimigos debaixo de seus próprios pés, como podemos ver em algumas imagens de Nossa Senhora em que ela pisa a cabeça da serpente ou do dragão. O último inimigo a ser vencido é a morte, mostra-nos essa leitura da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios. Com a ressurreição de Cristo, a morte foi definitivamente vencida, e Deus colocou tudo debaixo de seus pés. Estas são, portanto, palavras de esperança e de encorajamento, semelhantes às que encontramos no Evangelho de Lucas (cf. Lc 1,39-56), a partir do encontro epifânico entre Maria e Isabel. A Assunção de Maria aos Céus teve início desde o momento em que deu seu "sim" a Deus. A cada atitude de Maria, coerente com o seu "sim", ela se aproximava mais e mais de Deus, como vemos nesse trecho do Evangelho de Lucas, rico em elementos teológicos. Lucas a coloca se dirigindo apressadamente para a região montanhosa onde vivia Isabel, que, naquele momento, precisava muito da ajuda de Maria. Isabel e Zacarias 35
representam todos os excluídos que carecem de solidariedade. A ajuda ao próximo que necessita é algo urgente, que não dá para esperar, porque a vida nem sempre espera. Isso ustifica a pressa de Maria em se dirigir até lá. Ela nos ensina, com esse gesto, que é preciso preciso ir ao encontro dos necessitados necessitados urgentemente, urgentemente, com muita muita pressa, pois pois as vidas vidas dos pobres e excluídos correm risco. O encontro dessas duas mulheres é algo a ser destacado, porque é um encontro epifânico, isto é, que manifesta Deus. Maria entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel. Entrar na casa de Zacarias significa entrar na vida dos pequenos e excluídos e fazer parte dela. É pôr-se em seus lugares, compadecer-se deles e ser solidário. Maria faz o que Jesus, posteriormente, viria a fazer e ensinar. Ela entra na casa de Isabel e saúda-a, e esse gesto é revelador. Tão logo a saudação de Maria chegou aos ouvidos de Isabel, a criança que esta trazia no ventre estremeceu de alegria, e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. Maria era portadora de Deus, e esse Deus, trazido no seu ventre, entrou na vida de Isabel, trazendo a sintonia, a identificação dessa visita divina. A visita de Maria não significou apenas uma visita entre parentas, mas a visita de Deus a Isabel e Zacarias. Por essa razão, Isabel ficou cheia do Espírito Santo. Foi o Espírito Santo que a fez reconhecer Maria como sendo a bendita entre todas as mulheres, e também como bendito bendito o fruto que esta trazia no seu ventre. Todas as vezes que rezamos a oração da Ave-Maria, nós fazemos nossas as palavras de Isabel e afirmamos, também, reconhecer Maria como bendita entre todas as mulheres. É o que dizemos ao celebrarmos a Assunção de Nossa Senhora aos Céus. O grito de Isabel é o clamor de todos os que creem; os que reconhecem em Maria a Mãe de Jesus e a colocam como partícipe na História da Salvação. Maria é bem-aventurada porque acreditou, diz Isabel. São bemaventurados todos os que, a exemplo de Maria, acreditam e confirmam seu "sim" a Deus. Diante dessa manifestação de reconhecimento, Maria proclama sua profecia, dizendo o quanto sua alma engrandece a Deus e o seu espírito exulta de alegria pela graça de ter sido escolhida, percebida em sua humildade. Ela mostra, assim, que Deus olha para todos os pequenos e engrandece-os. Profetiza que as gerações, em virtude disso, chamála-ão de bem-aventurada. E, na celebração dessa Solenidade, é isso que a Igreja faz: reconhece a bem-aventurança de Maria e coloca-a em lugar de destaque em sua Liturgia, porque ela ela foi elevada elevada a Deus de corpo e alma alma devido, devido, à sua santidade santidade como Mãe de Jesus. Só poderia estar do lado de Deus aquela que gerou seu Filho. Ela merece, portanto, nossas homenagens e nossa devoção.
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Que possamos continuar a confiar nesse Deus poderoso e misericordioso, revelado por Maria. Maria. Um Deus que mostra a força de seu braço contra as injusti injustiças; ças; que dispersa dispersa os soberbos de coração; que derruba dos seus tronos os poderosos e eleva os humildes; que enche de bens os famintos e despede de mãos vazias os que se enriquecem à custa do empobrecimento e da miséria alheios; que socorre os seus filhos e que se lembra de sua misericórdia; um Deus fiel às promessas feitas aos antepassados; o Deus de ontem, hoje e sempre. A presença de Maria junto a Isabel foi mais que solidária: representou a presença de Deus na sua vida. Isso tudo nos mostra que, cada vez que somos solidários com nossos irmãos, ou que ajudamos o próximo, Deus se manifesta nesses atos e enche a nossa vida e a vida de quem ajudamos com o seu Espírito.
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7. Maria,
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rainha do céu
U
ma das imagens mais evidentes de Maria é a de Rainha. Embora, na Terra, ela não tenha tido esse título, e nem se vestido ou portado como rainha aos moldes humanos, foi essa a imagem que se eternizou, pois, no conceito divino e no imaginário das pessoas, ela se tornou verdadeiramente Rainha. Ao falar de Maria como tal, é importante resgatar um pouco da história dessa titularidade que a Igreja a ela atribuiu. A memória de Nossa Senhora Rainha foi instituída pelo Papa Pio XII, em 1954, e sua celebração segue na esteira das maiores solenidades marianas, seguidamente à Solenidade da Assunção de Nossa Senhora. Nessa ocasião, a Igreja memora sua grandeza e sua realeza junto de Deus. Sua realeza se justifica por ela ter participado diretamente da realeza de Cristo, gerando-o em seu ventre e acompanhando sua missão entre os reinos deste mundo e no Reino dos Céus. As leituras que fundamentam essa reflexão discorrem sobre o nascimento de Jesus e as transformações que ela trouxe ao mundo. Maria não é apenas coadjuvante; ela é corredentora, e seu papel é fundamental na História da Salvação e na construção do Reino de Deus, pois foi por intermédio dela que conhecemos a realeza de Cristo e particip participamos amos do seu reinado. reinado. Maria, ao dar à luz Jesus, trouxe luz ao mundo, afirma o profeta Isaías (Is 9,1-6): "O povo que andava na escuri e scuridão dão viu viu uma grande luz; para os que habitavam na sombra da morte, uma luz resplandeceu". Ao dar à luz Jesus, Maria, sem saber, iluminou a esperança do povo, da humanidade que jazia no sofrimento e na falta de esperança, isto é, nas sombras da morte. Com essa luz radiante, cresceu a alegria e aumentou a felicidade, diz o profeta Isaías. Ele veio para pôr fim à opressão e à miséria, aos reinos deste mundo, fundamentados na opressão e na morte; veio para tirar o jugo que oprimia o povo; para erradicar o orgulho dos fiscais, o orgulho dos vaidosos. Maria foi quem trouxe o Rei em seu ventre, mas não se portou como tal. Agiu na humildade e na simplicidade, mostrando que gestava um novo modelo de rei. Esse Rei baniria todo sinal de morte e poria fim, com a sua Paixão, morte e ressurreição, à própria morte. Ele 39
nasceu com a marca da realeza, afirma Isaías, e Maria, sua Mãe, recebeu dele essa marca, e isso a tornou Rainha. O Salmo 44(45) canta a realeza de uma mulher, que podemos atribuir a Nossa Senhora: revestida com "veste esplendente de ouro de Ofir". E o Apocalipse (cf. Ap 12,1-2) a coloca como "uma mulher vestida de sol", trazendo consigo sinais teofânicos (o céu que se abre; a lua debaixo dos pés e a coroa de doze estrelas na cabeça). Isaías a concebe, assim, Rainha, por meio da realeza do Filho de Deus. O Evangelho de Lucas (cf. Lc 1, 26-38) nos apresenta uma nova figura de rainha. ão aquela clássica do nosso imaginário, encontrada nos sistemas monárquicos, mas uma rainha que inverte os valores das realezas da história humana. Em vez de ser servida, é ela quem serve, isto é, coloca-se como serva do Senhor e permite que Deus faça nela a sua vontade. Com esse gesto, ela nos dá um grande exemplo, que derruba por terra todo orgulho e arrogância humanos, como anunciou o profeta Isaías no texto referido: "o orgulho dos fiscais, tu o abatestes como na jornada de Madiã". A virgem prometida em casamento, a jovem simples de Nazaré da Galileia recebeu um grandioso convite de Deus que a deixou perturbada e amedrontada. Contudo, na humildade, aceitou a proposta e encontrou graça diante de Deus, sendo encorajada por Ele: a graça de ser a Mãe do Salvador, do Rei dos reis. Portanto, ela se tornou Rainha: Mãe do Rei; Rainha dos Apóstolos; Rainha pela sua prontidão em servir, como vemos no Evangelho de Lucas (cf. Lc 1,39). O conceito de Rainha atribuído a Maria é semelhante ao de Jesus: um reinado de serviço, de doação total; o reinado dos que não medem esforços para ajudar o próximo; o reinado do amor, da solidariedade e do compromisso com a vida. A conclusão do Evangelho citado resume bem que tipo de Rainha que Maria, de fato, é: "Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra!". É um colocar-se à disposição de Deus para servir. Quem o faz, serve sempre aos seus irmãos. Foi, também, o exemplo dado por seu Filho Jesus, Mestre e Senhor, Rei que desceu do seu trono, tirou o manto e lavou os pés dos seus discípulos. É desse reinado que Maria particip participa, a, e é o que ela ensina ensina a cada um de nós se quisermos dele dele participar. participar. Com esses gestos, descritos no Evangelho citado, Maria nos ensina a como participar do Reinado de Cristo, do seu sacerdócio e da sua missão profética, como proferido na fórmula do nosso Batismo. Maria é Rainha no Reino dos Céus e quer que cada um de nós possa dele participar já aqui na Terra. Por isso, rezamos "Salve, Rainha, Mãe de misericórdia, vida, doçura e esperança nossa, salve". Há, no início dessa oração, um 40
reconhecimento de quem é realmente essa Rainha. Ela é uma mãe de misericórdia. O Papa Francisco lembrou, no Ano da Misericórdia, muitos aspectos de Maria como Mãe de Misericórdia. Ela é vida porque trouxe no seu ventre Aquele que nos deu a vida. Ela é doçura porque respondeu com docilidade ao chamado de Deus e se fez dócil ao longo de sua vida; porém, é firme na sua ação profética. Ela é a esperança nossa porque é, também, a Mãe da Santa Esperança, um dos seus inúmeros títulos. A ela recorremos humildemente, buscando seu auxílio e sua proteção. Por isso, dizemos "a vós bradamos, os degredados filhos de Eva, a vós suspiramos, gemendo e chorando, neste vale de lágrimas". Bradar a ela significa pedir sua intercessão junto a Deus, de onde ela pode, sem dúvida, interceder por nós, pecadores. Pedimos sua intercessão na oração, com suspiros, gemidos e lágrimas, pois é assim que muitos a ela recorrem na hora da dor. E, como Mãe de Misericórdia, Maria prontamente atende aos que a ela recorrem. Que mãe ignora o pedido de seus filhos? A Mãe de Deus jamais ignorará o clamor dos seus filhos. Em nossas súplicas, pedimos a Nossa Senhora: "eia, pois, Advogada nossa, esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei". Ela se coloca como advogada nossa e nos defende. Essa Mãe de Misericórdia tem olhos misericordiosos que se voltam para nós, e nos socorre nas nossas tribulações. É ela quem, "depois deste desterro", mostra-nos Jesus, bendito fruto de seu ventre. Diante dela, curvamo-nos para dizer: "ó clemente, ó piedosa, piedosa, ó doce e sempre Virgem rgem Maria". Maria". É uma forma de reconhecimento reconhecimento e agradecimento por sermos atendidos por essa Rainha, que se tornou grande e tão próxi próxima a Deus por se fazer tão pequena, tão humil humilde.
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8.
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O nascimento de
C
Maria
omo falar do nascimento de alguém que, aos olhos humanos, não era tida como importante quando isso aconteceu? Isso dificultou registros históricos, mas não impediu que ela se tornasse visível ainda muito cedo, no alvorecer de sua vida.
Podemos dizer que o nascimento teológico de Maria se dá com o anúncio do anjo Gabriel de que ela seria a Mãe do Salvador, mas a Igreja também celebra seu nascimento natalício, assim como a sua Assunção aos Céus. Nossa reflexão, agora, volta-se para a atividade, ou Nascimento, de Maria. A festa da Natividade de Maria foi instituída pelo Papa Sérgio I, no século VII, seguindo a tradição vinda do Oriente. Como todas as festas e solenidades dedicadas a Nossa Senhora, esta também tem muito a nos ensinar. Dentre os ensinamentos, destaca-se a participação que Maria teve na História da Salvação. Essa festa está "estreitamente ligada à vinda do Messias, como promessa, preparação e fruto da salvação", salvação", afirma-se no Missal Romano (p. 653). Assim, Maria é importante colaboradora, porque gerou no seu ventre e deu à luz aquele que salva. Se gerou aquele que é a Luz do mundo, não temos dúvidas de que ela também é uma personagem iluminada, tanto que, no livro do Apocalipse, o autor menciona "uma mulher vestida de sol" (cf. Ap 12,1), que traz em si os sinais de Deus. O grande sinal, de fato, está em seu ventre, e a sua luz não ofusca a luz do Filho de Deus. Ela sabe do seu papel e permanece como coadjuvante nessa História, colocando em cena seu ator principal, Jesus. A luz de Maria é como a luz da aurora: anuncia a grande luz do dia. Ela é a "aurora que precede o Sol de justiça", aquela que "preanuncia ao mundo toda a alegria do Salvador", segundo o Missal Romano (p. 653). Alguns textos bíblicos não discorrem diretamente sobre Ela, nem sobre o seu nascimento, mas discorrem sobre aquele que ela trouxe ao mundo, o Emanuel, o Deus Conosco. Assim, os textos bíblicos (como Mt 1,1-16.18-23) seguem os passos de Maria e apresentam Jesus ao mundo sem, contudo, evidenciá-la diretamente. Entretanto, não 43
seria possível ocultar alguém cujo papel na História da Salvação foi tão relevante. Ela aparece exatamente porque se recolhe e deixa que Jesus apareça. Aqui está a grandeza de Maria, que soube ser grande sendo pequena, por isso, foi elevada ao grau de maior grandeza: o de Mãe do Salvador. Maria é partícipe da iluminação dos povos que viviam nas trevas, não apenas de Belém, mas de todo o mundo. É a estrela fulgurante da manhã, que anuncia a chegada do dia. O Evangelista Mateus nos mostra a origem davídica de Jesus, apresentando sua genealogia, desde Abraão até José (cf. Mt 1,1-17). Em seguida, mostra como foi a origem de Jesus Cristo, a partir de Maria e José. O texto do Evangelho de Mateus (cf. Mt 1, 1-16.18-23) mostra a declaração do anjo a José, que estava surpreso pelo fato de sua noiva estar grávida sem ter tido contato com ele. Por ser um homem justo, não quis fazer nenhum escândalo ou expor Maria. Por essa razão, pretendia abandoná-la em segredo. Mas o Anjo do Senhor interveio e declarou a José: "ela concebeu pela ação do Espírito Santo". Pede, então, ao noivo de Maria que não tenha medo e que assuma com ela esse "sim". É o cumprimento daquilo que o Senhor havia dito pelo profeta: "Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um filho, que se chamará Emanuel, que significa: Deus está conosco" (Mt 1,23). Portanto, Maria é aquela que trouxe Deus para junto de nós, o Deus Conosco. Por seu "sim", ela se tornou bendita perante toda a humanidade. Por essa razão, celebramos com festa seu nascimento. Celebrar a vida de Maria é celebrar a vida das comunidades que se esforçam para trazer luz ao mundo por meio de suas ações missionárias, seu compromisso pastoral, sua vivência cristã. Assim, o nascimento de Maria é o nascimento da esperança, pois ela é portadora da esperança de novos tempos, da Nova Aliança, liança, figurada figurada em Jesus. Com ela ela nasce um novo tempo, concretizado pelo nascimento de seu Filho. Que Deus permaneça sempre conosco e nos fortaleça nesta missão, tendo Maria como modelo de perseverança e de fidelidade a Deus e ao seu projeto de amor.
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9. Maria,
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mãe que alivia as dores
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aria, como mãe, passou por dores terríveis, como a de presenciar, aos pés da cruz, a morte de seu Filho. Por tais dores, foi-lhe atribuído o título de Nossa Senhora das Dores, que a Igreja celebra no dia 15 de setembro.
A memória de Nossa Senhora das Dores nos leva a refletir sobre os sofrimentos, de modo geral, mas especialmente os das mães que veem seus filhos sofrerem ou serem mortos barbaramente. Assim, o comprometimento para dirimi-lo ou, ao menos diminuílo, é a proposta da Palavra de Deus na Liturgia dessa celebração.
Na Carta aos Hebreus (cf. Hb 5,7-9), encontramos o relato relato do sofrimento sofrimento de Cristo, Cristo, que dirige preces e súplicas, com forte clamor e lágrimas, a Deus Pai, o único capaz de salvá-lo da dor da morte. As súplicas de Cristo não são para que Deus o livre da cruz, mas para que a humanidade seja libertada de suas cruzes, de suas dores, e das mais variadas variadas formas de sofrimento. Ao sofrer na cruz, Cristo atraiu para si todo o sofrimento da humanidade. Deus atendeu às súplicas de Jesus, conforme a Carta aos Hebreus, e seu sofrimento representa a libertação do nosso próprio sofrimento. Quando olhamos para a cruz, devemos nos lembrar do seu significado redentor e saber que foi por nós que Ele deu a vida, a fim de que tenhamos vida plena, e vida em plenitude, sem opressão, ou sem tantos sofrimentos, em que as pessoas possam amar e respeitar umas às outras, amparando-se mutuamente na hora da dor, como Jesus mesmo pediu na hora da cruz à sua Mãe e ao discípulo amado. No Evangelho Evangelho de João (cf. Jo 19,25-27), 19, 25-27), encontramos Maria aos pés da cruz. É uma das imagens mais chocantes que podemos imaginar: uma mãe que assiste à execução de seu Filho sem nada poder fazer para livrá-lo da dor. Ao olhar para baixo e ver ali sua Mãe e o discípulo que Ele amava, Jesus sentiu-se confortado. Isso nos faz lembrar do quanto é importante termos ao nosso lado, nos momentos de dor, alguém que amamos, que segure nossa mão ou que, simplesmente, esteja por perto. ossa Senhora é essa presença na hora da dor. Quem a ela recorre nos momentos de dor 46
sente sua amável presença confortando-o e amparando-o, mesmo que seja nos últimos momentos de vida. Por outro lado, nada mais triste que sofrer na solidão ou distante de quem se ama. Aos pés da cruz, Maria parece nada poder fazer; mas faz muito. Sua presença naquele momento já é um extremo conforto. Quem não gostaria de ter ao seu lado, na hora do momento mais doloroso de sua vida, a pessoa que mais se ama? A presença da Mãe naquele momento foi extremamente confortadora. Ela ofereceu seu olhar, mesmo sem poder tocá-lo, e sua compaixão, fazendo do sofrimento de seu Filho o seu próprio sofrimento. Ao mesmo tempo em que ela confortava, foi confortada e amparada. Há quem diga que não há dor maior do que a dor de uma mãe que perde um filho. Jesus, ao vê-la ao lado do discípulo que Ele amava, entrega-lhe Maria como Mãe. O discípulo amado teria a missão de amenizar a dor e ocupar o espaço vazio deixado por Jesus. Maria o adota como filho, a pedido do próprio Filho. Ao aceitar, Maria assume toda a humanidade como seus filhos e filhas amados por Jesus. O discípulo amado representa cada um de nós, que fomos adotados por Maria como filhos e filhas. Encontramos o aconchego de mãe em seu coração transpassado pelas espadas da dor, que causam um sofrimento incomensurável. Ao receber o discípulo amado como filho, este recebe Maria como Mãe: "Eis aí a tua mãe", diz Jesus àquele. "Daquela hora em diante, o discípulo a acolheu como mãe". A partir partir daquele daquele momento, fomos impeli mpelidos, convocados por Jesus a assumirmos assumirmos sua Mãe como nossa Mãe. Dali em diante, evidenciou-se que Maria passou a ser a Mãe da nova humanidade, a nova Eva. Assumir Maria como a nossa Mãe é assumir com ela as dores da humanidade. As dores das mães que veem seus filhos serem brutalmente assassinados; das mães que têm seus filhos no mundo das drogas, da prostituição e do roubo; de todos os que, de uma forma ou de outra, são, ainda hoje, crucificados. Fazer memória de Maria, Mãe das Dores, não é apenas recordar uma dor descontextualizada, mas encarnar o seu sofrimento no sofrimento do mundo, enxergar nela a Mãe que alivia todas as formas de dor. É o que recordamos também quando rezamos os mistérios dolorosos do terço, ou quando vivemos a Semana Santa, ou, ainda, quando passamos por, ou presenciamos, momentos de sofrimento. Que Maria, Mãe das Dores, interceda por todos os que sofrem e faça como fez aos pés da cruz: compadeça-se do sofrimento sofrimento da humanidade humanidade e aliv aliviie-o com seu amor de Mãe. 47
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10. Maria
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que aponta o caminho caminho da vitória
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uando falamos do Rosário, logo nos lembramos de Maria, a Maria do Rosário. Essa palavra deriva de "rosa". Assim, cada conta do terço rezada, é uma rosa oferecida a Nossa Senhora. Desse modo, ao rezarmos o Santo Rosário, ou o Terço do Rosário, oferecemos a ela uma coroa de rosas, e também nos propomos a nos conectarmos com essa Mãe, que prepara para nós um caminho de rosas, apesar dos espinhos. Maria está ali, pronta para nos ajudar a suportar os espinhos e alegrarmo-nos com a beleza das rosas. A Igreja celebra a memória de Nossa Senhora do Rosário no dia 7 de outubro e, diariamente, o Terço do Rosário é rezado pelo mundo afora, infinitas vezes. Milhares e milhares de mãos dedilham as contas do Rosário, pedindo a intercessão e a ajuda de Maria, e que ela volte seu olhar a nós nos nossos desterros. Milhões de pensamentos e vozes dizem incansavelmente "Ave-Maria, cheia de graça, (...) bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus. (...)". Contudo, rezar o Rosário não é um mero ato de repetição, mas uma forma de conexão eficaz com Nossa Senhora e, por conseguinte, conseguinte, com Deus. A devoção a Nossa Senhora do Rosário surgiu há muito tempo na Igreja, mas se consolidou a partir do século IV, com a Batalha Naval de Lepanto (1571), em que os cristãos saíram vitoriosos, interrompendo a grande expansão do império turco. Devido à vitória nesse episódio, a devoção era chamada, no início, de Santa Maria da Vitória, pois celebrava a vitória dos cristãos nessa batalha, atribuída à intercessão de Nossa Senhora. O Papa Pio V, que, naquela época, havia reunido a esquadra da "Liga Santa", formada por vários Estados do Mediterrâneo para combater e dissolver o domínio dos turcos otomanos sobre o Mediterrâneo Oriental, após vencer a batalha, oficializou essa devoção, atribuindo essa vitória histórica à oração que o povo cristão dirigia a Nossa Senhora, rezando o Rosário. Naquele período, era costume os vassalos oferecerem aos seus soberanos coroas de flores, em um gesto de reconhecimento de sua grandeza e de seu poder. Nas batalhas de Lepanto, os cristãos adotaram esse costume, oferecendo a 50
ossa Senhora a tríplice "coroa de rosas", isto é, a oração do Rosário, como forma de pedido pedido de ajuda, de devoção e, mais mais tarde, após a vitóri vitória, a, de agradecimento. agradecimento. Essa "coroa de rosas" consistia nos mistérios do terço, que relembram as alegrias, as dores e a glória de Maria. No final do século XX, o Papa João Paulo II acrescentou mais uma rosa nessa coroa – os mistérios da luz –, reconhecendo a Mãe de Jesus como aquele que ajuda a iluminar nossos caminhos por sua intercessão junto a Deus. Ao celebrarmos Nossa Senhora do Rosário, lembramos da Mãe protetora e intercessora, que nos ajuda a vencer as batalhas da vida, os momentos de dificuldades e sofrimento, estando do nosso lado, como uma mãe que permanece ao lado dos filhos nas horas difíceis. É um pouco do que vemos no primeiro capítulo do livro dos Atos dos Apóstolos (cf. At 1,12-14). Após a morte, ressurreição e Ascensão de Jesus, com tudo o que isso significou na vida dos apóstolos, eles retornam ao lugar onde costumavam orar. E a mãe de Jesus estava com eles. Nossa Senhora estava ali, amparando-os e sendo amparada. Apesar da dor, perseverou na oração e ensinou os seus filhos a perseverarem também. É exatamente isso o que apresenta o primeiro capítulo do livro dos Atos dos Apóstolos: "Todos perseveravam na oração em comum junto com algumas mulheres, entre as quais Maria, Mãe de Jesus". Nasce ali uma comunidade unida pela dor, mas cheia de esperança de vitória e de glórias. Mesmo após a morte de seu Filho, Maria permaneceu firme e fiel ao seu "sim" dado a Deus. A partir desse evento, ela passou a ser a Mãe da humanidade, a nova Eva, gloriosa no seu esplendor. Isso recordamos nos mistérios gloriosos, sendo Maria coroada como Rainha de todos os anjos e santos. O Evangelho de Lucas (cf. Lc 1,26-38) narra o anúncio do anjo Gabriel a Maria. É a força de Deus que penetra em sua vida, fortalecendo a mulher frágil de Nazaré da Galileia e ajudando-a a não ter medo da grandiosa missão que lhe fora anunciada: conceber e dar à luz o Filho de Deus. O anjo comunica-lhe que ela encontrou graça diante de Deus: "Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo". Não era motivo para medo ou incertezas, mas, sim, motivo de júbilo. Não existe alegria maior quando temos a certeza que Deus está conosco, pois tudo se torna possível, inclusive vencer batalhas aparentemente impossíveis, como as de Lepanto, e tantas outras batalhas da vida. Por essa razão, ao rezarmos as dezenas do Terço do Rosário, dizemos: "Ave-Maria, cheia de graça...". Recordamos as palavras do anjo Gabriel e confirmamos a sua alegria nos mistérios gozosos. 51
Nossa Senhora do Rosário nos ensina a sermos perseverantes na oração, firmes firmes na fé e corajosos nas batalhas da vida. Com a sua proteção, seremos sempre vitoriosos. Ela continua a interceder por todos os que empreendem grandes batalhas em defesa da vida, como ensinou seu Filho Jesus. Outubro é, portanto, o mês dedicado ao Rosário. Por isso, todos são convidados a fazer da oração do Rosário, ou do Terço do Rosário, o alimento espiritual para a fé. Junto com Nossa Senhora do Rosário e Santa Teresinha das Rosas, padroeira das missões, celebrada no dia primeiro de outubro, sejamos perseverantes na missão que Deus nos confiou e verdadeiros discípulos missionários de Jesus Cristo, e teremos sempre a proteção de sua e nossa Mãe, que aponta o caminho da vitória. Com ela adiante, venceremos sempre.
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11. Maria,
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aquela que apareceu sem nunca ter querido aparecer
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uando falamos de Maria como Padroeira do Brasil, nós nos lembramos de Nossa Senhora Aparecida. parecida. Apesar desse título, título, Maria Maria nunca quis aparecer. Pel Pe lo contrário, sempre se manteve na sua simplicidade e no seu recato de mulher simples. Mas como não aparecer sendo a Mãe do Filho de Deus? Como não brilhar trazendo no ventre a Luz das luzes? Contudo, não é com esse sentido que queremos tratar a palavra "aparecer" neste texto. Aqui, referimo-nos a um dos títulos de Maria, dado no Brasil, pelo fato de uma imagem ter sido encontrada por pescadores no rio Paraíba (SP), e esse evento ter sido considerado uma forma de aparição de Nossa Senhora. E foi uma aparição simples, como ela é, porém, de uma singeleza bela, capaz de transformar os corações mais endurecidos. endurecidos. No dia 12 de outubro, o Brasil celebra a sua padroeira, a Mãe de Deus e nossa, sob o título de Nossa Senhora Aparecida. Ter uma padroeira significa ter uma intercessora unto a Deus. A imagem de nossa padroeira foi encontrada em um momento turbulento da História de nosso país, quando aqui predominava a escravidão dos negros. A Mãe surge do meio das águas desse rio para interceder pelo povo negro, que sofria as dores da servidão, ou seja, por aqueles que mais eram desrespeitados na sua dignidade de seres humanos. Assim, ela vem ao nosso encontro como negra, em uma identificação com os negros escravizados. Esse fato revela a verdadeira compaixão da Mãe de Deus pelos seus filhos. Compaixão é aquele sentimento pelo qual o sofrimento do outro passa a ser o sofrimento daqueles que a têm. É, portanto, sentir a dor do outro. Ao sentir a dor dos escravos, ela chega até eles (e a cada um de nós, nos nossos mais diferentes tipos de escravidão) igualmente negra. É a Mãe que assumiu as dores de seus filhos e que se estampa na imagem de Nossa Senhora Aparecida, a Mãe intercessora.
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Podemos fazer uma analogia entre Nossa Senhora e a rainha Ester. No livro de Ester (Est 5,1-2; 7,2-3), a rainha de mesmo nome intercede pelo seu povo, que corre risco de morte, podendo ser exterminado a qualquer momento. Ester, mesmo estando no palácio real, não esquece o seu povo. Ela continua sendo uma do meio dele, e a dor desse povo é também a sua dor; ela age como uma mãe que vê seus filhos correrem perigo e arrisca a própria vida para que eles sobrevivam. Ester ousou aproximar-se do rei da Pérsia sem ser chamada, o que poderia ter ocasionado a sua morte. Mesmo assim, por compaixão pelo pelo seu povo, o fez, e pediu a ele que poupasse a sua vida vida e a vida de seu povo. O rei se encantou com a sua beleza, diz o Salmo 44(45). Esse encantamento foi a mão de Deus estendida sobre Ester, simbolizada pelo cetro que o rei lhe estendeu. Encantado, este promete dar-lhe o que ela pedisse, até mesmo a metade do seu reino, se assim ela quisesse. Mas Ester não quer bens materiais, apenas a vida de seu povo. É a mãe defensora da vida, característica que também se destaca em Nossa Senhora. Assim, ela pede ao rei: "Se ganhei as tuas boas graças, ó rei, e se for do teu agrado, concede-me a vida – eis o meu pedido! – e a vida do meu povo – eis o meu desejo!". É um pedido feito humildemente, porém, de uma imensa grandeza. Ao poupar a vida de Ester, o rei pouparia pouparia também a vida vida do seu povo. Não há exp expressão ressão de amor maior maior que essa, diz diz Jesus: "ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos". Ester intercedeu pelo seu povo, para que ele tivesse vida, e a tivesse em plenitude. Se não tivesse amor no seu coração, ela se acomodaria no luxo do palácio e deixaria que o povo fosse dizimado. Mas ela teve uma nobre atitude, que a tornou visível, embora nunca tenha querido isso. Dessa maneira, Ester age como uma Mãe intercessora, que sente o sofrimento de seus filhos e percebe imediatamente quando algo lhe falta, tal como vemos Maria no Evangelho de João (cf. Jo 2,1-11). Em uma passagem desse Evangelho, há a narrativa das Bodas de Caná, em que foi realizado o primeiro milagre de Jesus. É a festa de casamento de Deus com a humanidade e o símbolo da aliança que Deus faz com seu povo. A vida é apresentada como um banquete, uma festa nupcial. O vinho representa a alegria e, no banquete da vida, não pode faltar alegria. Porém, em um dado momento, nota-se que acabou o vinho, ou seja, que a alegria do povo está por acabar. Quais são os motivos, hoje, que tiram a alegria do povo? Poder-se-ia fazer uma lista infinda de motivos. Todos eles podem ser resumidos, simbolicamente, na expressão "falta-lhes vinho". E quem percebe que eles não têm mais vinho? Maria, a Mãe de Jesus. É a mãe quem percebe primeiro quando seus filhos não estão bem; quando falta algo em casa; quando alguma coisa não caminha 55
bem. Maria Maria é quem constata primei primeiro: ro: "Eles não têm mais vinho". Se faltar faltar o vinho vinho da alegria, da esperança, do amor, a festa acaba. É preciso fazer algo imediatamente para que isso seja resolvido. E qual foi a atitude de Maria? Recorrer ao Filho. Ela sabia quem Ele era, embora ninguém ainda soubesse. A mãe é a primeira a saber quem são seus filhos e do que eles são capazes, mesmo antes de qualquer manifestação deles. Por essa razão, Maria, como mãe que conhece o Filho, age com firmeza e não titubeia em dizer aos serventes: "Fazei o que Ele [o Filho] vos disser". Aqui está a chave para solucionar todos os problemas: obedecer a Jesus, fazer o que Ele diz; colocar em prática suas Palavras; viver os mandamentos de Deus. Talvez seja isso o que falta para que a humanidade encontre a alegria de viver, o vinho da vida plena. Se ainda há tantas faltas, tantas carências, tantas coisas que nos entristecem, é sinal de que ainda há muita gente que não está fazendo o que Ele manda. Os mestres-salas obedeceram, e o milagre aconteceu. As talhas em que foi colocada água ficaram cheias de vinho. E não foi de um vinho qualquer, mas do melhor, o que surpreendeu a todos. O vinho que tinham antes não era tão bom. Esse vinho melhor simboliza o próprio Jesus e a sua novidade. Quem desse vinho provar nunca mais vai querer outro. A responsável por apontar esse caminho foi Maria. Nossa Senhora é aquela que indica o procedimento correto para se chegar até seu Filho. Assim, ela continua sendo aquela que, além de interceder, luta para nos defender, como vemos na leitura do livro Apocalipse (cf. Ap 12, 1.5.13.15-16): a mulher que aparece no céu, como um grande sinal, e que luta contra o dragão, representante das forças da morte. O dragão quer devorar seus filhos, mas essa Mãe, portadora de Deus, enfrenta as forças da morte e sai vencedora. Ela vence porque tem Deus junto de si. Sem Ele, nada somos. Maria nos ensina, assim, a ter sintonia com Deus e como agir para superar as dificuldades e os sofrimentos. Que saibamos reconhecer esse amor de Mãe e aprender com ela a defender a vida. O livro do Apocalipse traz Maria com muita visibilidade, aparecida mesmo, no sentido de ela aparecer com brilho e força total. Todo esse brilho e toda essa força dãose pelo fato de Deus nela habitar. Maria, portadora de Deus, tem mais é que aparecer, como precisam aparecer todas as pessoas que portam Deus no seu coração e nas suas ações. Ela nos ensina a aparecer não para engrandecer a si, mas para mostrar a grandeza de Deus e seu poder. Tudo isso nos ensina Maria, Nossa Senhora Aparecida.
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12. Maria,
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mulher que se apresenta diante de Deus
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uando temos de nos apresentar diante de alguém importante, ou em uma ocasião importante, ficamos um pouco preocupados, por mais acostumados que estejamos a essas situações. Com Maria, não foi diferente. Imagine uma jovem, quase adolescente, simples, de um lugarejo de Nazaré da Galileia, apresentar-se diante de Deus para assumir tamanha responsabilidade! É, de fato, algo preocupante. Neste texto, fazemos uma reflexão sobre a Apresentação de Nossa Senhora, que a Igreja celebra no dia 21 de novembro. Em primeiro lugar, deve-se lembrar que Maria, com a sua apresentação a Deus, mostra que somos convidados a rever de que forma nós também nos apresentamos a Ele e quais são os procedimentos que nos tornam apresentáveis a Deus. Encontramos isso no Evangelho de Mateus (cf. Mt 12,46-50) e no livro de Zacarias (cf. Zc 2,14-17). A festa da Apresentação de Maria é muito importante no Oriente, onde é celebrada desde o século VI. Entre nós, católicos do Ocidente, ela chegou por volta do século XIV, e celebra a entrega de Maria a Deus, para que Ele fizesse nela a sua vontade. Maria se apresenta diante de Deus, na confiança de que Ele faria o melhor para ela e para a humanidade. Essa confiança de Maria nos ajuda a sermos também mais confiantes, sem termos medo de nos apresentarmos a Deus, em uma entrega total, para que Ele faça também em nós a sua vontade. É isso que dizemos quando rezamos a oração do Paiosso: "Seja feita a vossa vontade, assim na Terra como no Céu". Afirmamos para Deus que desejamos que a vontade dele se faça em todos os lugares. Será que é isso mesmo que, na prática, nós queremos? Confiamos nisso plenamente? Quantas vezes nós queremos que as nossas vontades se sobreponham às dele? Cabe fazermos esses questionamentos, pois, muitas vezes, rezamos essa oração tão mecanicamente que não nos damos conta daquilo que dizemos para Deus por meio dela e, na prática diária, não temos a confiança que deveríamos ter em Deus, ficando aborrecidos quando nossas vontades não são satisfeitas. Maria, ao contrário, permitiu que Deus fizesse nela a sua 59
vontade. Por essa razão, o profeta Zacarias profetiza a alegria e o júbilo de Sião, porque, por intermédio ntermédio de Maria, Maria, a portadora de Jesus, Deus veio veio habitar habitar entre os homens. Esse fato uniu os povos, aproximou os afastados e fez com que o povo se tornasse o povo de Deus. A presença de Jesus foi, portanto, a presença de Deus, diz a profecia, e essa presença, possibi possibillitada por Maria, Maria, que se apresentou a Deus com o seu "sim", "sim", fez com que muitos se emudecessem diante do Senhor. Zacarias, esposo de Isabel foi um deles. Ficou mudo durante a gravidez de Isabel por, de certa forma, ter duvidado de tão grande maravilha. O poderoso fez grandes maravilhas como esta, mas fez e fará muitas outras, diz Maria em um Cântico a ela atribuído, o Magnifi cat , que recitamos muitas vezes em uma espécie de Salmo (Lc 1,46-55). Nesse cântico, cântico, Maria Maria manifesta manifesta sua grande alegri alegriaa por ter se apresentado a Deus e permiti permitido do que Ele Ele fizesse fizesse nela nela tais tais maravilh maravilhas. as. Ela Ela afirma que, com essa apresentação, com o seu "sim", sua alma engrandeceu ao Senhor. Deus também olha para os pequenos e torna-os grandes, colocando-os no trono e destronando os que nele estavam. Assim, esses pequenos, engrandecidos e agradecidos, louvariam seu santo nome de geração em geração. Maria pede que façamos o mesmo, pois Deus continua a engrandecer os pequenos deste mundo, os pobres de espírito, espírito, os que agem agem com humil humildade. Nós seremos, também, engrandecidos se assim procedermos e se assim nos apresentarmos diante dele. No Evangel Evangelho ho de Mateus (cf. Mt 12, 46-50), Maria Maria se apresenta diante diante de Jesus. O critério fundamental para se apresentar diante dele e ser por Ele reconhecido e inserido no seu trono, na sua família, é fazer a vontade de Deus. Remetemo-nos mais uma vez à petição petição do P ai-Nosso ai-Nosso em que pedimos pedimos que seja feita feita a vontade dele, dele, Assim ssim na Terra como no Céu. Maria nos deu o exemplo. Cabe a nós segui-lo. Jesus é muito claro no Evangelho: "Pois todo aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe". Sem fazer a vontade de Deus, não é possível pertencer à famíli família de Jesus. P or isso, Maria Maria disse: disse: "Eis "Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a vossa vontade". Que a apresentação de Maria diante de Deus sirva de exemplo para todos nós, para que possamos renovar todos os dias o nosso compromisso de permitir que Ele faça em nós a sua vontade. Para isso, é preciso dar abertura a Ele, nos achegarmos até Ele e isso só é possível ouvindo e colocando em prática a sua Palavra, isto é, fazendo a sua vontade.
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13. Maria,
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mulher sem pecado palavra imaculada significa "sem mácula", "sem mancha", ou seja, sem pecado. Essa A palavra é uma das características fundamentais de Maria: Maria imaculada, Maria sem pecado, ou Maria Maria sem a mancha do pecado orig original, nal, dog dogma ma da Igreja Igreja que gera muita muita discussão e polêmica entre algumas correntes teológicas e denominações religiosas não católicas. A proposta deste texto é refletir sobre Maria imaculada, ou, mais especificamente, sobre a Imaculada Concepção (Conceição) de Maria, sem entrar no mérito de questões racionais do conceito humano de virgindade e de outras questões pautadas apenas pela razão. A questão aqui é estritamente estritamente teológi teológica. Tratar da imaculada Conceição de Maria é tratar da presença de Deus entre nós e ter, com isso, a certeza de que, para Ele, nada é impossível, até mesmo o fato de uma virgem prometida em casamento ficar grávida sem ter conhecido homem algum. A Igreja celebra a Imaculada Conceição de Maria em pleno Tempo do Advento, tempo de esperança, tempo de preparação para o Natal do Senhor. Vemos que, nesse contexto, Maria se coloca à disposição de Deus e espera que, nela, seja feita a vontade dele, dando-nos o exemplo de como nos deixar guiar por Ele. Com o "sim" dado ao Anjo, Maria redime a humanidade do pecado, como é afirmado no Livro do Gênesis (cf. Gn 3,9-15.20). Esse livro mostra, entre outras coisas, que o pecado entrou no mundo por uma mulher, Eva, a mãe de todos os viventes, tentada pela serpente, o mal. Em Eva mostrouse a infidelidade da humanidade ao projeto de Deus; mas Ele, infinitamente misericordioso, não abandona sua criação ao pecado. Sempre nos concede uma nova chance. Fez-nos unir a Cristo para apagar os nossos pecados e tornar-nos santos e irrepreensíveis. Essa santidade se dá na vivência do amor fraterno, colocando-se em prática prática seus ensinamentos. O Evangelho de Lucas (cf. Lc 1, 26-38) apresenta o anjo Gabriel, enviado por Deus para fazer um anúncio anúncio a uma virg virgem, em, prometida prometida em casamento, de que ela ela seria seria a mãe do Filho de Deus. Embora esse seja um motivo de grande alegria, é também algo 63
assustador, e não se estranharia a confusão e o medo sentidos por Maria, considerandose as circunstâncias em que vivia (mulher, adolescente, virgem, prometida em casamento etc.). O primeiro anúncio do anjo é um pedido: para que ela se alegre. Deus quer não apenas a alegria de Maria, mas de todos os seus filhos e filhas. Quer a alegria da humanidade, ou da nova humanidade, representada nela. A partir desse fato teológico, nós somos convidados a perceber quais são os motivos pelos pelos quais quais Deus, por intermédio ntermédio dos seus inúmeros anjos (pessoas, situações situações etc.) continua pedindo que nos alegremos. Quais são os motivos de alegria que temos? Cada um poderia fazer o seu levantamento e apontá-los, na sua vida. Descobriremos, assim, muitos motivos para nos alegrarmos, mais do que para temermos. O anjo disse a Maria que se alegrasse, porque Deus estava com Ela. Portanto, se Deus está com Maria, mulher mulher,, humana, Ele Ele também está conosco. Com o anúncio, Maria ficou perturbada. Quais são as nossas perturbações, hoje? Elas têm fundamento ou nós nos perturbamos por qualquer coisa? Mesmo que haja motivos para perturbações em nossa vida, elas logo se dissiparão se confiarmos plenamente plenamente que Deus está conosco. Elas Elas servem para fazermos questionamentos, questionamentos, reflexões sobre determinada situação, e procurarmos uma solução, uma resposta. Foi o que Maria fez. Ela indagou, questionou o anjo, e a resposta que ela ouve é: "não tenhas medo". O novo, as mudanças, os acontecimentos da nossa vida não devem nos amedrontar. Precisamos enxergar em cada situação, por mais surpreendente que seja, a graça de Deus. A explicação do anjo não é totalmente compreendida por Maria, mas ela sente no coração que é vontade de Deus, e isso basta. Quando conseguimos perceber a vontade de Deus na nossa vida, nada nos amedronta ou nos detém. Maria percebeu isso e se colocou à disposição de Deus, dando a Ele seu "sim", em uma entrega total. A partir daquele momento, não foi mais a vontade dela que contou, mas a vontade de Deus. Dizemos isso todos os dias, quando rezamos a oração do Pai-Nosso ("seja feita a vossa vontade"), mas ainda temos muita dificuldade em permitir que a vontade de Deus seja feita na nossa vida. Maria, mais uma vez, ensina-nos a dizermos sempre "sim" a Deus e a sermos mais coerentes com Ele, como ela foi; e a fazer de nossa vida uma entrega total a Deus. Que Maria, a mulher imaculada, livre-nos do pecado e de todas as situações que possam nos levar a pecar. pecar. O caminho caminho da santidade santidade é tril trilhado evitando-se evitando-se o pecado. P or isso, rezamos: "não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal". Livra-nos, Senhor, dos males e ensina-nos, a exemplo de Maria, a vivermos uma vida de santidade. 64
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14. Maria
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e o advento advento de Deus dvento significa, entre outras coisas, "chegada", "surgimento", "vinda". É
também começo, início de algo, seja um tempo ou uma situação. No Tempo do Advento, começa o ano litúrgico, com seus outros tempos, com celebrações, festas, solenidades, enfim, toda a atividade litúrgica da Igreja. Porém, o que mais se destaca nesse tempo é a preparação para o Natal de Jesus, isto é, o seu nascimento. Portanto, não é por acaso que a Igreja tem no seu calendário esse tempo inicial, no qual o destaque é a espera do nascimento de Cristo. A figura de Maria é fundamental no Advento, porque ela foi a escolhida para gestar em seu ventre o Menino Deus, ensinando-nos a preparar a chegada de Jesus. A beleza desse tempo é indescritível. Maria é humana. Há quem pense e diga, por pura desinformação ou carência de formação teológica, que os católicos adoram Maria e a colocam no lugar de Deus. Maria não é vista pelos católicos como uma deusa, mas como uma mulher que, por ter carregado no seu ventre o Filho de Deus, tem uma parcela de divindade, pois, além de ter sido criada à imagem e semelhança de Deus, como qualquer outro ser humano, gestou o Filho de Deus no seu ventre – por isso rezamos na Ave-Maria: "bendito é o fruto do seu ventre, Jesus". Além disso, ela cuidou de seu Filho com todos os cuidados de uma mãe, tudo dentro dos procedimentos humanos, pois Deus não quis ser diferente, mas semelhante a nós, exceto no pecado. Maria participou desse processo, sendo agraciada pela pureza, sem a mancha do pecado original, à qual todo ser humano está sujeito. Essa graça de Deus se tornou dogma da Igreja, o dogma da Imaculada Conceição, ou concepção, como a palavra significa. Desse modo, Maria é humana com uma acentuada parcela divina, mas ela não é Deus, nem uma deusa; é a Mãe de Jesus, e isso é suficiente para que tenhamos por ela veneração (não adoração). Por ser humana, ela passou por situações difíceis, como qualquer ser humano. Ela teve inseguranças, medos, dúvidas, dores, enfim, tudo pelo qual uma pessoa, uma mãe passa ao long longoo de sua vida. vida. P or isso, Maria Maria se parece com muitos muitos de nós, e isso nos faz mais próximos dela, exceto no pecado, que nos diferencia dela, bem como de Deus. Você já teve te ve medo de alguma alguma situação, acontecimento aconte cimento ou pressentimento? press entimento? E quem que m não tem? Mas não tenha medo, pois você não está sozinho; até Maria, a Mãe de Jesus, 67
teve medo, dada a sua humanidade. Deus nos ensina a superar o medo, mostrando-nos que Ele está conosco. Por isso Jesus é chamado também de "Emanuel". Esse nome significa exatamente isso: "Deus Conosco". Deus nos quer santos e irrepreensíveis, como nos afirma São Paulo em sua Carta aos Efésios (cf. Ef 1, 4), ou seja, Ele nos quer imaculados, sem máculas, sem machas, sem pecados, pois, pois, para Deus, nada é impossível. mpossível. Essa afirmação foi feita pelo pelo próprio próprio anjo de Deus, Gabriel, a Maria, quando ele cita a graça concedida a Isabel, que estava no sexto mês de gravidez, mesmo tendo sido considerada estéril e tendo idade avançada – fatores que, humanamente, tornariam impossíveis a gravidez de Isabel. Se para Deus nada é impossível, então, é possível que pessoas tão limitadas e pecadoras como nós alcancem, alcancem, diante diante dele, dele, a graça. Conhecer o Deus do impossível é bom em qualquer qualquer tempo, em qualquer dia e hora. Mas é no Advento que Deus nos pede mais acentuadamente que nos sintamos como Maria, ou seja, como pessoas que estão gestando o Menino Deus dentro do coração. Quem o faz demonstra com pensamentos, atos e palavras. É conversão, da qual tanto nos fala a Liturgia do tempo do Advento. E você, também se sente gestante de Jesus? Se sim, você já está no clima do Advento. Se não, você ainda precisa ouvir e sentir a voz do anjo lhe dizendo: "alegra-te, Deus está com você". Se não confiarmos que Deus está conosco, tudo fica mais difícil, e o medo toma conta de nós. O medo de Maria foi um medo passageiro, tanto que ela confiou no Anjo e disse sim, colocando-se à disposição de Deus para que Ele realizasse nela a sua Palavra, ou seja, que o verbo dele nela fizesse carne. E, assim, tivemos Jesus, Filho Unigênito de Deus, cujo nascimento nós celebramos no Natal. Esse é motivo de alegria, Evangelii Gaudium , ou seja, alegria do Evangelho, como disse o Papa Francisco em uma de suas Encíclicas. Alegremo-nos e nele exultemos: o Senhor está conosco! Que Maria, Imaculada, nos ajude a sermos menos indignos de termos o seu Filho em nossa morada, em nosso coração, como proferimos na missa, logo antes do momento da comunhão: "Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma palavra palavra e serei salvo". salvo". Bastou uma palavra palavra dele dele e Maria Maria se tornou imaculada! maculada! Uma palavra palavra dele nos torna imaculados. imaculados. Uma P alavra alavra de Deus nos basta.
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15. Maria
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de todas as raças e etnia e tniass de títulos atribuídos a Maria é muito grande. São inúmeras denominações, Ariqueza sempre relacionadas a uma característica, uma identidade, uma raça ou etnia, sobretudo quando ela surge em determinadas culturas, de acordo com suas aparições. É assim assim em Ap Aparecida arecida (Brasil (Brasil), em Fátima (Portug (P ortugal), al), em Lourdes (França), dentre outros. A imagem de Maria como Nossa Senhora de Guadalupe nos faz vermos uma mulher com traços indígenas e grávida; uma mulher solidária para com os necessitados e que mostra que a vinda de Jesus ao mundo, pelo seu ventre, transformará as estruturas opressoras e mudará os rumos do mundo, sempre combatendo a opressão. A Carta aos Gálatas (cf. Gl 4, 4-7) destaca que a vinda do Filho de Deus é a pleni plenitude tude dos tempos. Cumpriu-se Cumpriu-se a promessa e, ago agora, ra, Deus está entre e ntre nós, por meio do seu Filho. Uma vinda surpreendente: Deus, para se igualar a nós, exceto no pecado, nasce de uma mulher e é submetido à lei. Não vem como um "diferente", pois não teríamos acesso a Ele, não o reconheceríamos. Ele se submeteu à lei para resgatar todos os que assim também estavam. Não veio, portanto, para legitimar uma lei opressora, mas para libertar libertar da opressão desta e fazer com que toda lei seja para favorecer a vida, vida, e não o contrário, como até então se via. Com isso, recebemos a filiação divina, somos adotados como filhos e filhas de Deus. Essa filiação se dá pelo Espírito de Jesus que, pelo pelo Batismo, Batismo, entra em nossa vida, vida, em nosso coração. Assim ssim sendo, Deus quer de cada um de nós um comportamento de filho, e não de escravo. Quantos ainda continuam agindo como escravos! Quantos são os que veem em Deus mais um patrão, um senhor, no sentido feudal do termo, e assim se relaciona com Ele. Fazem trocas com Deus, esperam que Ele os recompense pelos seus atos e, dificilmente, agem na gratuidade. Quando praticamos uma religião de troca com Deus, agimos como escravos. Nossa relação com Deus deve se dar no amor e na gratuidade, como fez Maria no Evangelho de Lucas (Lc 1, 39-47). Maria, quando sabe que sua parenta, Isabel, está precisando dela, vai apressadamente ao seu encontro. Isabel representa não apenas uma mulher, mas uma categoria de 70
necessitados. Quando alguém ou um grupo precisa de nós, não podemos protelar essa ajuda ou esperar que as coisas melhorem. É preciso agir rápido. É o que Maria faz. Ela se dirige apressadamente para a região montanhosa onde se encontra Isabel. Região montanhosa significa, além de lugar de encontro com Deus, lugar de dificuldades. Na montanha dar-se-á o encontro de Deus com seu povo por meio do encontro dessas duas mulheres. Quando Maria entra na casa de Zacarias e cumprimenta Isabel, ocorre um momento epifânico: Deus se manifesta e Isabel reage e expressa o que sentiu: a criança se agitou no seu ventre e ela ficou cheia do Espírito Santo. A partir de então, tudo o que ela faz e diz não é por ela mesma, mas pela ação do Espírito Santo. Guiada por Ele, Isabel reconhece Maria como portadora de Deus e exclama categoricamente que esta é bendita entre todas as mulheres e que é bendito o fruto que ela traz no ventre. Há, portanto, o reconhecimento de que no ventre de Maria está o Filho de Deus. Essa sensibilidade divina só poderia ter sido obra do Espírito Santo. Isabel se acha indigna de receber tão importante visita: "como posso merecer que a Mãe do meu Senhor me venha visitar? Isabel é merecedora da visita de Maria, é merecedora da visita de Deus, como são merecedores todos os pobres e excluídos. excluídos. Com o gesto de Maria, aprendemos que, todas as vezes que somos solidários com os necessitados, todas as vezes que estendemos a nossa mão a quem precisa, levamos Deus com esse gesto. Os gestos de amor e solidariedade são, portanto, gestos epifânicos. São gestos nos quais Deus se manifesta. Maria acreditou, e sua crença se revela em gestos, palavras e ações. Com Ela, aprendemos que acreditar não é apenas louvar o Senhor com os lábios, mas é, também, e, sobretudo, comprometer-se com todos os que sofrem, com os que precisam de nós. ossa alma, a exemplo de Maria, engrandece Deus quando somos coerentes com nosso sim a Ele, quando somos solidários. Ao ver Maria, no rosto indígena da Virgem de Guadalupe, vemos Deus que se compadece de todos os que sofrem, principalmente os povos indígenas. Vemos, também, essa Mãe, que intercede junto a Deus por nós, para que possamos também manter nossa fidelidade a Deus e aos nossos irmãos sofredores. Enfim, Maria de vários nomes, de várias raças e etnias, mostra um desdobramento de Deus para que a graça concedida a ela se estenda a todos os povos, raças e línguas, mostrando que sua bondade se estende de geração em geração, até o fim dos tempos.
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16. Maria,
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a mulher mais poderosa do mundo
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aria se tornou, ao longo da História, a mulher mais poderosa do mundo, cumprindo a sua própria profecia, descrita no início do Evangelho de Lucas (cf. Lc 1,48), quando ela diz que, daquele momento em diante, todas as gerações lhe felicitariam. Ou seja, que todas as gerações a reconheceriam na sua grandeza, na sua importância. Claro que ela não disse propriamente essas palavras, mas elas estão contidas de forma velada nessa profecia do Magnifi cat , atribuída a Maria. Podemos nos perguntar por que uma mulher simples de Nazaré da Galileia, lugar de gente humilde, tornar-se-ia a mulher mais importante do mundo? A resposta não é difícil de ser encontrada: porque ela foi escolhida para ser a Mãe do Filho de Deus. No entanto, a importância dela não está, de modo algum, relacionada ao conceito de importância mundano. Este passa por outros critérios, como, por exemplo, de dinheiro, de posses, de origem nobre, de fama midiática ou outras formas de fama. A importância e o poder de Maria são teológicos, e seus critérios não são deste mundo, como o seu próprio Filho disse: "o meu Reino não é deste mundo" (Jo 18, 36). Ainda assim, ela se tornou a mulher mais importante do mundo.
Contudo, sendo humana, e sua importância e poderio se devam ao fato de ela ter sido escolhida para ser a mãe de Jesus, o Filho de Deus, como ficamos nós diante dessa modalidade de poder e de importância? Ficamos cheios de esperança, porque também nós podemos ser poderosos e importantes diante de Deus, porque Maria é a prova mais cabal de que Deus olha para os fracos, os desimportantes e os sem poderes deste mundo e os torna fortes, importantes e poderosos (Lc 1,48). E nós o somos, diz a primeira epístola de João (3,1). Ali nós encontramos a indicação da maior prova de amor que o Pai nos deu, a de "sermos chamados filhos de Deus", e o texto sagrado é categórico ao afirmar que, de fato, nós somos filhos de Deus. Portanto, quem é filho de Deus é importante, é forte e poderoso. Há uma expressão que diz, "eu não sou o dono do mundo, mas sou o filho do dono". E os filhos de alguém tão importante e poderoso só podem ser seres importantes e poderosos. Mas que nunca nos iludamos, ou 74
confundamos a importância que Ele nos confere com o conceito de importância deste mundo. Por isso também Maria é tão poderosa e importante. Ao assumir a maternidade do Filho de Deus, ela nos possibilitou sermos, também, Filhos de Deus, irmãos de Jesus, e o próprio próprio Jesus diri diriaa isso isso mais mais tarde: "todo aquele aquele que faz a vontade de meu P ai que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe" (Mt 12, 50). Assim, não basta ser Filho de Deus, pois todos nós o somos, e existem muitos filhos de Deus agindo de forma errada. Para ser importante e poderoso diante de Deus, é preciso seguir o exemplo de Maria: ouvir e colocar em prática a Palavra dele. Isso fê-la brilhar na Terra e no Céu, tornando-a uma mulher revestida com os adornos de Deus, as vestes da justiça e a coroa da glória dos imortais. Como passar despercebida, longe dos holofotes a mulher que gerou no seu ventre a Luz das luzes? Estar vestida de sol implica que ela não passaria despercebida; brilharia de maneira grandiosa, e seu poder, vinculado ao poder de Deus, passaria de geração em geração, pela pela eternidade, e entraria para a História. História. Ter a lua debaixo debaixo dos pés e estar vestida vestida de sol mostra que ela é maior que os astros mais visíveis. Ela seria, então, a Rainha dos tempos, dos dias e das noites, com domínio total sobre eles e sobre a humanidade, que a respeita e venera como a Mãe das mães, a Mãe da humanidade, a nova Eva, redimida pela pela misericórdi misericórdiaa de Deus. A coroa de doze estrelas lembra as doze tribos de Israel. Tê-las na cabeça lembra não apenas a figura poderosa de uma rainha, mas também o seu poder sobre os povos, pois doze, na bíblia, representa totalidade. Além disso, no livro do Apocalipse, afirma-se que essa mulher poderosa deu à luz aquele que seria o Rei dos reis, que governaria todas as nações com cetro de ferro. Desse modo, o poder de Maria emana do seu Filho, Filho do todo-poderoso, e ela é poderosa a ponto de lutar contra as forças da morte (cf. Ap 12, 13) que a perseguiam, a fim de devorar seu Filho. Esse embate contra as forças do mal e o fato de ela ser portadora de sinais teofânicos fizeram com que Maria se transformasse na mulher mais poderosa do mundo. Tem o poder de arrastar multi multidões dões aos seus santuários, santuários, aos seus locais ocais de aparição, na devoção de milhões de pessoas pelo mundo; de comover e converter corações; enfim, a mulher que se tornou tão grande porque revelou o rosto materno de Deus. Ela tem o poder da humildade – mesmo tendo recebido tamanha missão, não se sentiu melhor do que ninguém; ao contrário, reconheceu sua pequenez, sua humildade e 75
se surpreendeu pelo fato de Deus ter olhado para ela sob essas condições. Ela se curvou diante de Deus, e Ele a elevou ao mais alto dos Céus. Ela tem o poder da obediência, sendo, desde o início, obediente a Deus. Acatou sua proposta, deix deixando que Ele Ele realizasse realizasse nela nela a sua P alavra; alavra; que cumprisse cumprisse por meio dela o seu projeto. Ao dizer "eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua Palavra" (Lc 1,38), Maria disse a Deus e ao mundo que deixaria sua vida ser conduzida pela pela mão de Deus e, de fato, Ele Ele a guiou, uiou, de tal modo que ela ela se tornou a mais importante de todas as mulheres do mundo. Ela tem o poder do serviço, o mesmo instaurado, mais tarde, por seu Filho, sendo, por isso, medular. medular. Disse Jesus que quem quisesse quisesse ser grande diante diante de Deus, deveria deveria ser aquele que se colocasse entre os últimos, isto é entre os pequenos, mas que fosse o primeiro primeiro a servir (cf. Mt 20, 27). Maria Maria mostrou m ostrou esse poder com maestria maestria quando segui seguiuu apressadamente ao encontro de Isabel, no momento em que esta passava por dificuldades. Com esses três principais tipos de poder, Maria se firmou como a mulher mais poderosa do mundo, abrindo abrindo caminho caminho para que outras pessoas, homens e mulheres, mulheres, possam seguir seguir seus exemplos exemplos e obtenham também poderes diante de Deus.
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17.
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Salve Rainha Rainha,, mãe mãe de misericórdia misericó rdia
A
o invocarmos Maria em nossas orações, nós a invocamos como a "Rainha, Mãe de misericórdia". Essa primeira identificação de Maria já nos dá a tônica da sua importância na nossa vida. A Mãe de misericórdia é aquela que intercede junto a Deus para que Ele tenha misericórdia de nós, pecadores, pois é assim que a ela recorremos em uma outra oração, a Ave-Maria, quando dizemos "rogai por nós, pecadores". Outro reconhecimento confortante vem logo a seguir, quando dizemos, "vida, doçura e esperança nossa, salve!". Ela é a nossa vida, e recordamos aqui a mãe que dá a vida. Uma vida de doçura de mãe. A imagem de mãe é sempre uma imagem terna, dócil, confortante. Essa mãe que dá a vida também protege-a com doçura; por isso ela é a esperança nossa de conforto, de alento, de segurança. Como é confortante saber que temos uma mãe no céu que nos protege na Terra! Se, na oração do Pai-Nosso, dirigida ao Pai, nós dizemos, "Pai nosso, que estais nos céus", podemos também dizer à Mãe de Deus e nossa "mãe nossa, que estais no céu", pois nossa fé não nos deixa duvidar de que ela está, de fato, no céu, junto de Deus, sendo essa esperança nossa de mediadora da nossa salvação. Se Jesus salva, a Mãe de Jesus é mediadora e intercessora nessa salvação. salvação. Por essa razão, concluímos concluímos essa petição petição dizendo "salve!". "salve!". A ela nós nos dirigimos como "degredados filhos de Eva", ou seja, é um reconhecimento de nossa origem pecadora, ao mesmo tempo em que reconhecemos a origem imaculada de Maria. Se por Eva nós fomos maculados e, por isso, degradados, por Maria Maria fomos perdoados e reconcil reconciliados com Deus, por meio do seu Fil Filho Jesus. Assim, ao dizermos "a vós bradamos os degradados filhos de Eva", nós estamos a dizer que apesar de nosso degredo, nossa exclusão, ou banimento, somos resgatados por essa Mãe que assumiu a maternidade divina e tornou-se mediadora entre o Céu e a Terra. Ela ouve nosso brado, nossos clamores, nossos pedidos de socorro. Que mãe não ouve os gritos de seus filhos? Se as mães deste mundo sentem quando um filho seu sofre, ou clama por ela, quanto mais a Mãe de Deus. Ela ouve e prontamente vem em nosso socorro quando por ela suspiramos, gememos e choramos nos nossos vales de lágrimas, nas nossas dores, nos nossos sofrimentos. 78
Ao dizer "a vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas", dizemos quão importante ela é em nossa vida e quão grande é a nossa fé, nosso amor a ela. Que bom sentir sentir essa mãe que vem ao nosso encontro quando nos vemos em um vale vale de lágrimas. Vale de lágrimas é a mais contundente expressão de dor. Estar em um vale de lágrimas significa estar sofrendo muito e que se está dirigindo a ela no meio de muita dor, de muito sofrimento, muito pranto. Porém, o mais importante vem em seguida: a constatação de que ela ouve e vem em nosso auxílio. Neste momento vislumbramos o rosto da Mãe das Dores, da Mãe da Esperança, da Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, enfim, das inúmeras nomenclaturas a ela atribuídas. Todas revelando que a vemos com os seus olhos misericordiosos voltados para nós, nos envolvendo e nos consolando. Assim dizemos na oração: "eia pois, advogada nossa, esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei". Uma mãe que se apresenta como advogada nossa, aquela que nos defende como uma mãe defende o seu filho, por pior que ele seja. Esse instinto materno está presente também na Mãe de Deus porque ela é mãe de misericórdia, e ela tem misericórdia de seus filhos, sobretudo quando estes estão em um vale de lágrimas, seja pela dor, seja pelos pecados, seja por essas ou quaisquer outras situações que os façam sofrer. Mãe nenhuma se acomoda quando vê um filho sofrer, e com a mãe de misericórdia não é diferente. Ela defende, ela volta os seus olhos misericordiosos e nos envolve de tal modo que nos sentimos imediatamente amparados, socorridos, defendidos e protegidos. Assim, depois desse desterro, ao voltar seu olhar, ela revela Deus, revela seu Filho Jesus, pois todo o seu amparo, seu socorro e sua misericórdia vêm dele, o Filho Jesus. Por isso dizemos "e depois deste desterro, mostrai-nos Jesus, o bendito fruto do teu ventre". Assim estamos exclamando: "Maria, Mãe de misericórdia, mostra-nos Jesus". Essa é a razão da sua existência. Se ela não nos mostrasse Jesus, ela não teria razão de ser e de existir. É isso que muita gente não entende, achando que os devotos de Maria a adoram como se ela fosse um deus. Não, Maria não é Deus; ela mostra Deus, ela mostra Jesus, o bendito fruto do seu ventre. Quem não entendeu isso não entendeu a teologia mariana, não entendeu a missão de Maria como mãe de misericórdia. Por isso, clamamos: "ó clemente, ó piedosa, ó sempre doce Virgem Maria". Clemente porque ouve e atende nossos clamores; clamores; piedosa piedosa porque sabe se compadecer, sabe ter piedade, piedade, sabe ter misericórd misericórdiia; sempre doce porque ela ela é Mãe e Mãe de Deus, porque mostra Jesus, porque ama como uma mãe ama seus filhos. Sempre doce quer dizer doce eternamente. A doçura eterna dessa mãe de misericórdia. 79
Ela, como Mãe de Deus, roga por nós, pecadores. É a intercessora junto de Deus, o que nos faz lembrar de muitas mães que intercedem junto ao esposo pelos seus filhos quando ele os quer punir com mais severidade as suas faltas; a mãe que afaga, releva, sofre pelos nossos sofrimentos e pelas nossas travessuras; sofre quando desviamos do caminho de Deus e merecemos a punição dele pelas nossas faltas, mas ela está sempre lá, intercedendo junto a Ele por nós porque é Mãe de misericórdia. Assim, ela nos faz também conhecer o rosto misericordioso de Deus. Essa Santa Mãe de Deus roga por nós todos os dias, aumentando ainda mais a sua santidade e nos querendo santos como nosso Pai celeste é Santo; querendo que sejamos dignos das promessas de Cristo, pois ser digno das promessas de Cristo já é um passo para a santidade. Por essa razão, concluímos a oração dizendo "rogai por nós, Santa Mãe de Deus, para que sejamos dignos das promessas de Cristo". Que a exemplo de Maria, essa Mãe de misericórdia, sejamos, de fato, dignos das promessas de Cristo, pois é isso que pedimos nesta oração, e é isso que ela quer de todos os filhos seus. Para isso, basta uma Palavra dele, como dizemos antes do momento da comunhão na missa, para sermos salvos: "Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma palavra e serei salvo". Maria roga pelos pecadores; ela é a Mãe de misericórdia; e nós a reconhecemos desse modo ao dizermos "Salve Rainha, Mãe de misericórdia". Ela é a esperança nossa.
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18. Maria,
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a cheia de graça
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ma das orações mais conhecidas e mais recitadas é a oração da Ave-Maria, porém nem todos sabem que essa oração, semelhante semelhante à oração do Pai P ai-Nosso, -Nosso, é uma oração bíblica, sobretudo a sua primeira parte (cf. Lc 1,39-45), embora ela não esteja disposta na Bíblia como uma oração, como está o Pai-Nosso (cf. Mt 6,9-13). A constatação de Isabel não deixa de ser uma constatação orante, ou seja, é também uma oração. Isabel rezou ao se encontrar com Maria e reconhecer que ela era portadora de Deus. Desse modo, falar de Maria, a mulher cheia de graça, é falar dessa oração colocada na boca de Isabel no momento em que se deu o encontro entre ambas, o encontro epifânico, da manifestação de Deus, em que o filho que Isabel trazia do seu ventre, João, estremece porque reconhece que Maria portava no seu ventre o Filho de Deus e por isso, estava cheia da graça de Deus. Toda vez que rezamos o Rosário, ou o Terço do Rosário, ou, simplesmente, a oração da Ave-Maria, nós também reconhecemos Maria como a mulher cheia de graça, a mulher que foi agraciada por Deus. Por isso, começamos a oração dizendo "Ave-Maria, cheia de graça". É a primeira expressão que brota dos lábios de Isabel quando ela recebe os cumprimentos de Maria. Ambas estavam, naquele momento, cheias de graça. Segundo o texto, nesse encontro Isabel ficou cheia do Espírito Santo (cf. Lc 1, 41). Por isso, exclama com um grande grito que Maria é bendita entre todas as mulheres. Esse grito reforça a sua surpresa, o seu espanto, e revela um Deus que nos surpreende constantemente. Quantas vezes já sentimos vontade de gritar as maravilhas de Deus na nossa vida quando Ele nos surpreende! E Ele o faz todos os dias; basta prestarmos atenção. Quem percebe a graça de Deus na sua vida tem motivos suficientes para exclamar, gritar ao mundo essa maravilha. Maria se destaca como bendita entre todas as mulheres porque no seu ventre estava a maior graça de Deus, o seu Filho. Então, ao rezarmos "Ave-Maria, cheia de graça" nós emprestamos os lábios de Isabel e nos colocamos no seu lugar, recepcionando Maria em nossa vida e reconhecendo que ela está repleta da graça de Deus. 82
Muitas vezes, nosso reconhecimento de Maria, cheia de graça, e do próprio Jesus, que ela carrega em seu ser, não se dá diretamente, mas por meio de pessoas, situações, acontecimentos; enfim, Deus tem muitas maneiras de se revelar a nós, e de revelar seu Filho a nós. Por isso, ao rezarmos a oração da Ave-Maria, nós nos colocamos diante de Deus como Isabel se colocou diante de Maria, prontos para que Ele possibilite esse reconhecimento dele e de sua graça em nós. Ao reconhecer que Maria era portadora do Filho de Deus, Isabel reconheceu que Deus estava com Ela, por essa razão, disse que não merecia que a mãe de Deus a fosse visitar. São muitas as vezes em que também nos achamos indignos da presença de Deus em nós, e exclamamos como Isabel exclamou: "como posso merecer que a Mãe do meu Senhor venha me visitar?". Esse é um gesto de humildade, de reconhecimento de quão indignos somos diante do infinito amor de Deus e de sua misericórdia, e a própria Maria vai tratar de dizer isso mais adiante a Isabel, mostrando que Deus olhou para a sua humilhação e retirou-a dessa situação. Temos, portanto, o encontro de duas mulheres, antes humilhadas e, agora, agraciadas por Deus. Maria é bendita entre todas as mulheres porque, pela presença do seu Filho Jesus, ela pode tornar benditas benditas todas as outras mulheres, mulheres, como tornou Isabel, Isabel, antes "maldita", "maldita", pois, de idade avançada e estéril, não tinha gerado filhos e, naquele tempo, toda mulher que não gerasse filhos era malvista, malfalada, isto é, maldita entre as mulheres. No entanto, a bendita entre todas as mulheres, Maria, tornou bendita essa mulher, antes sem a graça de Deus, Isabel. Essa é a causa de sua surpresa pelo fato de a Mãe do seu Senhor ter ido visitá-la. Às vezes, a surpresa de Isabel nos passa despercebida, mas ela é fundamental para entendermos a miseri misericórdi córdiaa de Deus na vida vida dela dela e na nossa vida. vida. Permi Pe rmiti tirr que Maria visite a nossa casa é permitir que Deus nos venha visitar, porque Maria representa aquela que traz Deus consigo, isto é, a Mãe do Nosso Senhor. Cada vez que nós nos reunimos para rezar o terço, para receber a capelinha de Nossa Senhora em nossa casa, ou a imagem da Mãe Peregrina, nós estamos relembrando o encontro memorável de Isabel com Maria, e permitindo que a Mãe de Nosso Senhor nos venha visitar. Podemos fazer isso de muitas maneiras, inclusive rezando a oração da Ave-Maria, que é tão simples, tão singela, mas que contém o cerne desse encontro espiritual e teológico, que mostra que todos nós podemos ser portadores de Deus e leválo para nossos irmãos e irmãs, sobretudo os que vivem às margens, os excluídos, e os tidos como "malditos" neste mundo. Maria pode torná-los benditos, e nós podemos possibi possibillitar esse encontro. 83
A segunda parte da oração não está formulada na Bíblia, da maneira que nós a rezamos, mas ela não deixa de ser bíblica, porque há o reconhecimento de Maria como Mãe de Deus, o mesmo reconhecimento que Isabel teve ao exclamar sobre a visita da Mãe do seu Senhor. Ao dizermos "Santa Maria, Mãe de Deus", nós estamos também fazendo esse reconhecimento, confirmando que ela é, de fato, a Mãe de Deus, e, por conseguinte, santa, porque alguém que é Mãe de Deus só pode ser Santa. Assim, Maria, além de ser Nossa Senhora, é também santa, sem que tenha precisado passar pelo processo de canonização canonização que a Igreja Igreja dispõe dispõe aos santos para declará-lo declará-loss santos. Tanto Maria quanto José não precisaram passar por esse processo para terem a santidade reconhecida oficialmente, pois o fato de serem mãe e pai (putativo) de Jesus concedeulhes essa graça. Ao reconhecermos Maria como santa e Mãe de Deus, nós pedimos que ela rogue por nós, pecadores. Ela pode fazer isso porque, além de cheia de graça e desse poder que Deus lhe conferiu, ela está muito perto de Deus e pode rogar, interceder, pedir por aqueles que, pelos seus pecados, estão afastados, distanciados de Deus. Por isso, ao dizermos na oração da Ave-Maria, "rogai por nós, pecadores", nós estamos pedindo, implorando a sua intercessão. Esse pedido é para o momento em que estamos rezando e para a hora da nossa morte. É muito muito confortante saber que, na hora da morte, teremos alguém que rogue por nós para que a nossa alma vá para junto de Deus, apesar dos pecados cometidos cometidos durante esta vida. vida. Estamos pedindo pedindo a sua intercessão hoje e sempre, enquanto existirmos, mas, sobretudo, para a hora da nossa morte. Maria, a cheia de graça, vem sempre em nosso socorro, vem nos visitar quando permiti permitimos, mos, vem na hora da dor e na hora da morte. Assi Assim, m, encerramos a oração dizendo "amém", que é uma concordância, uma confirmação da nossa fé. Ao dizermos amém, nós estamos dizendo que concordamos com tudo o que acabamos de dizer, de rezar na oração da Ave-Maria. A beleza dessa oração não pode ser diluída na rotina ou nas formas mecânicas com que, muitas vezes, rezamos o terço. ela precisa ser meditada, refletida, aprofundada na sua riqueza, e essa reflexão tem, também, esse objetivo, que é o de enxergar a oração da Ave-Maria como uma oração que nos coloca em conexão com Deus e com a Mãe de Deus. Por isso, eu convido você a fazer, neste momento, a oração da Ave-Maria, de modo meditado. "Ave Maria, cheia de graça...".
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Considerações finais
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ratamos até agora sobre Maria, destacando as várias facetas dessa mulher, humilde e poderosa que ajudou o Céu a tocar a Terra com seus gestos de amor. Encerro essas abordagens com uma reflexão sobre a Maria de Aparecida, ou simplesmente, Aparecida, a nossa Maria, cuja identidade nós conhecemos muito bem. Embora já tenha dedicado um texto a ela neste livro, por ocasião de sua festa, em 12 de outubro, trago-a novamente, para destacar sua importância entre nós e para mostrar o quanto essa Mãe de Deus e nossa tem ajudado o Céu a se pôr mais perto da Terra para muita gente que a ela recorre em busca de milagres. Aparecida, aquela que apareceu entre nós, não vestida de sol, como diz o livro do Apocalipse (cf. Ap 12, 1), mas que se revestiu de sol pela sua grandeza. Ela apareceu humilde para nos ensinar a humildade. Somente os humildes revelam Deus, e esse é um dos primeiros ensinamentos da Mãe Aparecida. Na cor negra, ela apareceu para se solidari solidarizar zar com o povo da raça negra que, naquele naquele momento da história, era escravizado. Ensinou-nos, com isso, a sermos solidários com todos, sobretudo com os que mais sofrem, sejam eles negros ou brancos.
Infelizmente, ainda não aprendemos essa lição da Mãe Aparecida, porque, neste país de tantas desigualdades, tantos continuam a ser escravizados. Escravos em liberdade, escravos da liberdade; escravos do dinheiro, do medo e do trabalho; escravo de tantas situações e condições. Quem se solidariza com os que sofrem é malvisto neste país. Quem defende os pobres e faz alg algo por eles eles é tachado de paternali paternalista. Quem cria leis que favorecem os pobres, neg negros, ros, indígenas ndígenas ou qualquer qualquer outra categori categoriaa margi marginalizada nalizada é duramente criticado e caluniado. Quem defende os direitos humanos é classificado como defensor de bandidos. Quem apoia minorias é tido como subversivo ou pervertido. Enfim, quem vive os ensinamentos do Evangelho é duramente caluniado, perseguido e, às vezes, até morto. Não entendemos ainda ainda este apelo apelo bíbli bíblico: "todas as vezes que fizerdes fizerdes isso a um desses pequeninos é a mim que o fizeste". A mãe Aparecida nos ensina também isso. Ensinou-nos a perceber as necessidades do mundo. Quando faltou vinho nas Bodas de
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Caná, foi ela quem percebeu primeiro ("Eles não têm mais vinho") e fez um apelo contundente: "fazei o que Ele vos disser". Todavia, o que Jesus disse ainda não está sendo feito, e muitos não sabem o porquê de o vinho continuar em falta (= vida): falta água, falta comida, falta emprego, falta saúde, falta moradia, falta educação, falta compromisso, falta amor, falta solidariedade e tantas outras coisas básicas para a vida estão faltando. Ou seja, o vinho continua faltando, sinal de que não ouvimos o apelo da Mãe; sinal de que não estamos fazendo o que Ele mandou. A Mãe Aparecida nos ensina a estarmos unidos a Cristo, pois esse é o caminho que leva ao Pai. A imagem da Mãe Aparecida, ao ser encontrada no Rio Paraíba, em 1717, por humil humildes pescadores, estava divi dividi dida da em duas partes: cabeça e corpo. P rimeiro, rimeiro, encontraram uma parte; depois, a outra; eles uniram corpo e cabeça, completando a imagem, e deram-lhe o nome de Aparecida, porque ela apareceu. A cabeça lembra Cristo e o corpo lembra a Igreja. Ao unir cabeça e corpo, esses humildes homens mostraram, pelo pelo ensinamento ensinamento da Mãe Aparecida, parecida, que é preciso preciso que a Igreja Igreja corpo, esteja unida unida à cabeça, que é o Cristo. Esse profundo ensinamento teológico e eclesiológico nos mostra que devemos permanecer unidos no Corpo místico místico de Cristo. Cristo. Ao aparecer dessa forma, Nossa Senhora nos ensinou que somente os humildes encontram a Deus. Sem humildade, fechamos os canais de comunicação com Deus, bloqueamos bloqueamos os seus contatos e nos distanciamos distanciamos dele. dele. Assi Assim, m, ela ela nos ensina a como nos aproximarmos de Deus e a interceder junto a Ele, como fez a Rainha Ester (cf. Est 7,3), que intercedeu junto ao rei pela vida de seu povo. Intercedemos pelo nosso povo quando lutamos pelos seus direitos; quando defendemos os pequenos, os que sofrem e os marginalizados; quando apoiamos as suas lutas; e quando escolhemos bem os governantes de nosso país, olhando o que eles fizeram ou fazem pelo povo. Esses são alguns dos ensinamentos que aprendemos com a Mãe Aparecida. Que ela interceda junto a Deus por nós e pelos nossos governantes, para que nunca falte vinho nestas Bodas de Caná do nosso país. Faça, você também, valer a sua fé. Interceda pelo povo. Faça o Céu tocar a Terra, ou a Terra tocar o Céu. Costumo dizer que o infinito é lá onde o Céu e a Terra se encontram. É onde as ações que fazemos na Terra tocam o Céu. E são muitas as ações que fazemos que podem tocar o Céu, como vimos vimos nos gestos e procedimentos procedimentos de Maria, Maria, e essas ações podem ser bem simpl simples es e estar ao alcance de qualquer pessoa; basta querer. 87
Por exemplo: toca o Céu a ajuda que damos ao semelhante sem esperar nada em troca; toca o Céu a mão que se estende para levantar alguém que está caído à margem da vida, ou para guiar alguém para o bom caminho; toca o Céu os sentimentos de compaixão, aquele sentimento divino em que a dor do outro passa a ser a nossa dor e que, por isso, fazemos qualquer coisa para diminuí-l diminuí-laa ou dirimi dirimi-la; -la; toca o Céu quem acolhe e defende os pequenos, os indefesos, os que não têm como retribuir tal gesto; toca o Céu quem defende e protege os animais, a natureza e toda a obra da criação, respeitando a vida em todas as suas formas e instâncias; enfim, tocam o Céu todos os gestos de amor e de bondade que praticamos. Por isso, Deus nos deu o livre arbítrio para ligarmos ou desligarmos as coisas entre o Céu e a Terra. Tudo o que ligamos na Terra será ligado no Céu. Tudo o que desligamos na Terra, será desligado no Céu (cf. Mt 18, 18). Os gestos citados e os de Maria são maneiras de ligarmos o Céu e a Terra o finito e o infinito, e eles são tão simples... Exigem muito pouco de nós, e quem é beneficiado por esses gestos sente, ainda neste mundo, um pouco do Céu. Quanto mais gestos de bondade na humanidade houver, mais o Céu se aproxima da Terra, mais os infinitos se tocam. Assim, quando olhares para o horizonte e tiveres a impressão de que o céu está se encontrando com a terra, saiba que isso é possível, e que esse horizonte pode estar bem mais perto do que você imagina. Ele pode estar em suas mãos, em seu olhar, em seu coração, e não é apenas uma ilusão de ótica. Então, não perca mais tempo. Faça hoje mesmo o Céu e a Terra se encontrarem, revelando o céu que existe dentro de você. Ele não pode ficar oculto, ou distante, além do horizonte dos seus semelhantes. A hora é essa, não espere mais, pois amanhã esse
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horizonte pode estar mais distante, ou realmente inatingível, e você perdeu a chance de alcançar alcançar o céu.
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© 2017 by Editora Ave-Maria. All rights reserved. Rua Martim Francisco, 636 – 01226-000 – São Paulo, SP – Brasil Tel.: (11) 3823-1060 • Televendas: 0800 7730 456
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Capa: Michel Seysuke 1. ed. – 2017 1ª ed. digital – 2017 Todas as citações de trechos bíblicos foram retiradas da Bíblia Sagrada Ave-Maria , da Editora Ave-Maria. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Angélica Ilacqua CRB-8/7057 Pereira, José Carlos Maria, a mulher mais humilde e poderosa do mundo / José Carlos Pereira. -- São Paulo : Editora Ave-Maria, 2017. 112 p. ISBN: ISBN: 978-85-276-1616-44 978-85-276- 1616-44 1. Maria, Virgem, Santa I. Título 17-1032
CDD 232.91 Índices para catálogo sistemático: 1. Maria, Virgem, Santa
Todos os direitos direitos reservados e p e protegidos rotegidos pela Lei 9.610, 9.610, de 19/02/1998. É expressamente proibida a reprodução total ou parcial deste livro, por quaisquer meios (eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação e outros), sem prévia autorização, autorização, por escrito, esc rito, da Editora Editora Ave-Mari Ave-Maria. a.
Diretor Geral: Marcos Antônio Mendes, CMF Diretor Editorial: Luís Erlin Gomes Gordo, CMF Gerente Editorial: Áliston Henrique Monte Editor Ass istente : Isaias Silva Pinto Revisão: Ana Lúcia dos Santos e Lígia Pezzuto Diagramação: Ideia Impressa Produção do arquivo ePub: Booknando Livros
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Bíblia Sagrada Ave-Maria Edição Claretiana - Editora Ave-Maria 9788527613842 1696 páginas
Compre agora e leia A Bíblia mais querida do Brasil agora também está disponível em eBook. Com o texto tradicional da Bíblia Sagrada Ave-Maria, no formato digital com índice de busca por capítulos e versículos, você poderá ler e manusear as Sagradas Escrituras de um modo mais confortável e agradável. Além disso, a Bíblia Ave-Maria traz as orações diárias do cristão, visão geral do novo catecismo, mapas, leituras litúrgicas e índice doutrinal. Traduzida dos originais hebraico, grego e aramaico pelos monges beneditinos de Maredsous (Bélgica), a Bíblia Ave-Maria foi editada pela primeira vez em 1959 pelos missionários do Imaculado Coração de Maria, sendo a primeira Bíblia católica publicada no Brasil. Com sua linguagem acessível, conquistou os lares brasileiros e, até hoje, é a Bíblia mais popular e querida entre os católicos, com mais de 200 edições. Compre agora e leia
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3 meses com São José CMF, Padre Luís Erlin 9788527616003 112 páginas
Compre agora e leia Após o grande sucesso do livro 9 meses com Maria, Pe. Luís Erlin apresenta sua continuação: 3 meses com São José, uma obra que nos convida a mergulhar na vida e espiritualidade de José, homem revestido pela simplicidade, de espírito dedicado e coração puro, que acolheu a vontade de Deus no seio de sua família, a Sagrada Família, colaborando com o Pai em seu maravilhoso projeto de salvação da humanidade. Nesta obra, você seguirá os passos de José, fiel esposo de Maria e pai adotivo de Jesus. Serão três meses de profunda oração guiada pelo coração castíssimo de São José. Os relatos de suas angústias, alegrias e esperanças se tornarão um guia espiritual, que o levará a percorrer o mesmo me smo caminho outrora pisado pisado por este que é considerado pela pela Igreja como modelo de santidade a ser seguido. Que a Palavra de Deus e a vida de São José possam iluminar seus passos e abençoar a sua família. Compre agora e leia
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Bíblia de Estudos Ave-Maria Editora Ave-Maria, Edição Claretiana 9788527616256 2160 páginas
Compre agora e leia Preparada por uma renomada equipe de biblistas, a edição de estudos da Bíblia AveMaria em eBook traz notas explicativas aprofundadas, atualizadas e de grande rigor exegético, além de referências bíblicas paralelas e um abundante índice doutrinal. Apresenta também introduções para cada livro bíblico, que contextualizam informações relativas a autores, estrutura, mensagem teológica e data. Com linguagem clara e acessível, a Bíblia de estudos constitui um verdadeiro curso bíblico para leigos e para os estudiosos da Sagrada Escritura. No formato digital, conta com índice de busca por capítulos e versículos, fazendo com que você possa ler e manusear as Sagradas Escrituras de um modo mais fácil, confortável e agradável. O texto bíblico da edição de estudos da Bíblia Ave-Maria foi traduzido dos originais hebraico, grego e aramaico pelos monges beneditinos de Maredsous (Bélgica). Com sua linguagem acessível, conquistou os lares brasileiros e é hoje uma das bíblias mais populares e queridas entre os brasileiros. Compre agora e leia
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Por que e como rezar a Liturgia das Horas? Clayton, Helber Helber 9788527616195 104 páginas
Compre agora e leia Este livro é destinado a todos os que têm descoberto, nos últimos tempos, a beleza da Oração da Igreja. Não é um tratado sobre a Liturgia das Horas, mas, antes de tudo, apresenta-se como querigma, um humilde anúncio de um menino a quem sua mãe mostrou uma pérola preciosíssima e que, logo que viu, quis correr para contar aos seus irmãos sobre o tesouro que tinham em casa. É destinado, também, a mostrar a importância da Liturgia das Horas para todos, principalmente para os leigos, cada vez mais interessados em se unir mais intimamente à Igreja e em viver mais intensamente o mistério salvífico, celebrado ao longo do ciclo litúrgico, que a Liturgia das Horas proporciona. proporciona. A obra procura responder a uma das mais frequentes perguntas feitas feitas pelos internautas que encontram no site liturgiadashoras.org o Ofício Divino, que, apesar de ser a oração oficial da Igreja, passados mais de dois milênios, continua sendo um ilustre desconhecido para grande parte dos católicos. Compre agora e leia
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mulher que tocou em Jesus Erlin, Luís 9788527616157 120 páginas
Compre agora e leia Do mesmo autor do best-seller "9 meses com Maria", o livro "A mulher que tocou em Jesus - Em Deus não existem acasos, existe providência" é uma obra de ficção em prosa, baseada na passagem bíblica bíblica do evangel evangelho ho de Marcos, o qual relata relata a históri históriaa da mulher que por doze anos padecia de um fluxo de sangue e que, ao tocar na orla do manto de Jesus, foi curada. Com o intuito de aproximar essa mulher "misteriosa" à nossa vida, apresentando uma mulher que nos aponte o caminho de uma vida em Cristo, Pe. Luís Erlin nos narra a história em primeira pessoa, para que os leitores consigam "sentir" as dores dessa mulher, dores essas que se parecem com dores de tantas mulheres e homens que adoecem no corpo ou nos afetos. O romance nos levará a muitas reflexões e nos mostrará o olhar misericordioso de Deus, que não hesita em curar, em acolher, em amar a quem quer que seja. Compre agora e leia
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Índice Folha de rosto Epígrafe Índice Apresentação 1. Maria, Mãe de Deus e nossa 2. Maria, a mulher que fez a vontade de Deus 3. Maria, mulher solidária 4. Maria, mulher de coração puro 5. Maria e a contemplação dos mistérios de Deus 6. Maria nos mostra o caminho para sermos elevados ao céu 7. Maria, rainha do céu 8. O nascimento de Maria 9. Maria, mãe que alivia as dores 10. Maria que aponta o caminho da vitória 11. Mar Mariia, aq aquuela ela qu que ap aparec areceu eu sem sem nunca ter queri erido ap aparec arecer er 12. Maria, mulher que se apresenta diante de Deus 13. Maria, mulher sem pecado 14. Maria e o advento de 15. Maria de todas as raças e etnias 16. Maria, a mulher mais poderosa do mundo 17. Salve Rainha, mãe de misericórdia 18. Maria, a cheia de graça Considerações finais Créditos
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