INTRODUÇÃO
À
PSICOLOGIA FENOMENOLOGICA
Emest Keen Bu B u c k n e il U n ive iv e rsit rs ityy
INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA FENOMENOLÓGICA Tradução: HELIANA DE BARROS CONDE RODRIGUES Professora do curso de Psicologia da Universidade Sattfa Ursüla
Capa: NANCI MONTEIRO
ISBN 85-201-0093-7 (Editor (Edi tor original original:: ISBN 0-03-012841-2 Holt, Rinehart and Winston, Inc., New York) Esta I a edição em português é tradução e adaptação da l.a edição do original A Prime Pri merr in Phen Ph enom omen enolo ologic gicat at Psyc Ps ycho ho log y, by Emest Keen Copyright© 1975, by Holt, Rinehart and Winston, Inc. Este Es te livro livr o não p od e se r repr r eprodu odu zido, zid o, to tal ta l ou o u p arc ialme ial ment nte, e, sem au toriza tor iza ção çã o escr es crita ita do editor edi tor
A De D e e j e Chris Ch rista ta
PREFÁCIO Há muitas maneiras de praticar a psicologia. Este livro descreve como fazê-lo fenomenologicamente. É dirigido ao aluno principiante, mas espero que os colegas que desejam aprender algo sobre psicologia fenomenológica possam possam também também achar o livro livro provei proveitoso toso.. Praticar Praticar psic psicol olog ogia ia fenom fenomen enol olog ogi; i; camente é, paradoxalmente, extremamente fácil e incrivelmente difícil. É fácil porque somos todos fenomenólogos inatos; todos nós temos experiên cias, refletimos sobre elas e as interpretamos, e, ao fazê-lo, vivemos nossas vidas com maior ou menor proveito. Freqüentemente deixamos de perce ber a quantidade extraordinária extraord inária de discernimento empírico envolvido no simples fato de viver; um peixe é o último a descobrir a água. Nossa com preensão já j á está es tá aí implicitamente, implicitamente, pronta pron ta pa para ra ser analisada, articulada e desenvolvida pela sofisticação psicológica. As dificuldades da psicologia fenomenológica surgem das complexida des que emergem quando abordamos seriamente a investigação da expe riência. Talvez os psicólogos (ao menos nos Estados Unidos) ainda não tenham desenvolvido com muito vigor a psicologia fenomenológica porque sabemos quão complexas são, realmente, a textura e a estrutura da expe riência humana. Se é verdade que os pobres de espírito entram a tropel onde os anjos têm medo de pisar, podemos estar sendo tolos ao fazer esta tentativa. Comprometemo-nos, assim, com o que pode parecer uma tarefa impossível: explorar a experiência humana conforme ela é vivida todos os dias. Alguns psicólogos americanos têm feito investidas notáveis no terreno da experiência subjetiva cotidiana. Para os familiarizados com a psicologia, incluí incluí um apêndice, apên dice, relativo à posição pos ição da d a fenomenologia fenomenologia na psicologia psicologia ame ricana, explicando como a abordagem deste livro se relaciona com as tenta tivas bem conhecidas de escrever uma psicologia da experiência. Este uma psicologia fenomenológica e não a aborda livro, portanto, apresenta uma gem fenomenológica em psicologia. Este manual tem quatro partes. Na Parte I, abordamos o assunto dire
viii
PREFÁCIO
desenvolvidos em uma tradição da filosofia européia. Estes conceitos tam bém nos oferecem acesso aos problemas filosóficos filosóficos mais mais profundos de todos os tempos. Isto não precisa amedrontar-nos. Mesmo se desejássemos explorar os gigantescos problemas da ontologia, não poderíamos fazer nada melhor do que começar no ponto onde estamos — como psicólogos um tanto xlesajei xlesajeitado tadoss e atrevidos, a trevidos, tentando compreender a experiência. Os Caps. 1 e 2 nos engajam engajam numa análise e descrição minuciosas de experiências ordinárias e muito comuns. O que mais nos interessa são jus tamente o cotidiano e o lugar-comum na experiência — as maneiras de ver, comportar-se e ser, tão profundamente admitidas como certas, que rara mente são questionadas. Não temos de nos voltar para experiências culmi nantes ou de êxtase para descobrir algo complicado o suficiente para nos interessar. Uma percepção simples e habitual de qualquer coisa concretiza os desafios mais complexos e intrigantes que a psicologia pode enfrentar. Não compreendemos, por exemplo, exemplo, como uma cadeira que está e stá lá pode ter t er uma presença visual para nós aqui, e como ela está lá enquanto o nosso conhecimento dela está aqui, e como podemos dispor da lembrança dela a qualquer momento. Apesar disso, temos efetivamente uma compreensão destes fenômenos, e tal compreensão é o modo pelo qual os fenômenos são possíveis. Carecemos de uma compreensão científica, mas presumimos uma compreensão comum. A nossa tentativa neste livro será pensar cienti ficamente (no sentido amplo do termo) sobre as nossas vidas diárias. No Cap. 2, tentamos estabelecer estabelece r alguns alguns instrumentos conceituais, por pouco sofisticado sofisticadoss que possam ser no momento. momento. Estes Este s conceitos podem capacitar-nos a descrever a experiência conforme ela é vivida, sem distorcê-la neste processo. A finalidade deste capítulo é descrever alguns aspec tos básicos da experiência humana, chegando por nossos próprios esforços de ascensão (ou de aprofundamento) à forma básica de todo o nosso experiènciar: o fato fa to de que que ele sempre sempre envolve envolve um mund mundo. o. Este desenvolvi mento, a partir de alguns aspectos básicos até a forma básica, é recapitulado, em maiores detalhes, nas Partes III e IV. Na Parte II, interrompemos este desenvolvimento desenvolvimento teórico com quatro capítulos acerca das feições críticas do método. O meu objetivo, aqui, é convencê-lo de que é possível praticar psicologia fenomenologicamente. Algumas abordagens, mais uma vez oriundas dos filósofos, são descritas no Cap. 3, que lida com os temas gerais da compreensão e da comunicação. *Ao formular estas perspectivas, meramente enunciamos aquilo que todos nós fazemos mais ou menos automaticamente em nossa compreensão coti diana de nós mesmos e dos outros. Como psicólogos, a nossa finalidade é sempre tomar a experiência diária, na qual a psicologia inevitavelmente está baseada, e tomá-la tão rigorosa, sistemática e frutífera quanto possí
PREFÁCIO
k
vantagens e dificuldades de perguntar às pessoas o que desejamos saber delas, em lugar de usar a metodologia mais tradicional de meramente ob servar o seu comportamento. No Cap. 6, ampliamos algumas sugestões para par a o método clínico. clínico. Assim Assim como o Cap. 4, este capítulo é seletivo. Es pero ter oferecido uma amostra amo stra representativ repre sentativaa de técnicas e abordagens. Na Parte III, III , fornecemos uma visão mais mais detalhada de alguns alguns dos pas sos, cobertos no Cap. 2, a respeito do desenvolvimento de conceitos. Os Caps. 7, 8 e 9 lidam, respectivamente, com um aspecto da experiência — um contexto de significação que é parte da totalidade de toda a experiência vivida. A seqüência destes capítulos não é importante. O espaço físico e a sua aparência fisionômica, com relação aos quais nos orientamos corpo ralmente, fornecem uma camada de significação para toda a experiência humana (Cap. 7). Uma identidade pessoal, com um passado e um futuro, é um segundo contexto implícito do qual a experiência sempre recebe signifi cação (Cap. 8). Um terceiro aspecto é a nossa rede de acordos interpes soais; freqüentemente sutil, mas poderoso, este contexto nunca está au sente da nossa experiência vivida (Cap. 9). Afirmar que a experiência é sempre física, pessoal e social tem pouca possibilidade de ser surpreen dente. Dizer que vamos desmembrar estas sutilezas e relacioná-las aos dados da experiência vivida pode não apenas ser surpreendente, como também, talvez, demasiado ambicioso. Mas vamos correr o risco. Os três capítulos da Parte III podem ser lidos com maior proveito “ex periencialmente” periencialmente ” . Ou seja, cada afirmação, cada conceito e cada proposi ção devem apontar para a experiência vivida. Os melhores conceitos reali zarão isto automaticamente; outros podem requerer que o leitor dirija a própria atenção pa para ra a sua experiência, exp eriência, a fim de tentar ten tar fazer faze r a conexão. co nexão. A melhor maneira de entender a fenomenologia é começar agora mesmo a ser um fenomenologista. Para cada exemplo que eu lhe apresenta-, pense em outros relativos a você mesmo, e pergunte a si mesmo se o meu ponto de vista descreve a sua experiência conforme ela é vivida por você. Cada capí tulo deve sugerir-lhe uma série de possíveis análises fenomenológicas. Ex perimente-as; teste os seus limites; limites; frustre-se e permita que a frustração frustr ação o impulsione na direção de uma maior clareza a respeito da experiência. Este livro está escrito para ser superado. O leitor sério realizará este objetivo. A Parte IV conclui o desenvolvimento da Parte III com o conceito de “ mundo” mundo ” , assim como o Cap. 2 encerra-se, encerra-s e, numa forma mais mais preliminar, com o mesmo conceito. Embora a noção de “mundo” seja a nossa conclu são, talvez seja melhor vê-la como ponto de partida. Quando compreende mos o que significa explorar o mundo vivido, estamos prontos para come çar a fazer psicologia fenomenológica de modo rigoroso e sistemático, uma vez que o mundo vivido é também o começo da experiência — sua base e
x
PREFÁCIO
numa percepção fundamental do mundo e do como estamos nele. É difícil ver a experiência desta maneira maneira porque não estamos acostumados acostumados a fazer o escrutínio das nossas experiências de maneira tão crítica e reflexiva. Mui tos aspectos das nossas vidas cotidianas são construídos sobre suposições inquestionadas (alguns dizem inquestionáveis). Geralmente, o que as expe riências significam para nós é tão óbvio que não sentimos a necessidade de entender as fontes e as formas destas significações. Mesmo a ciência natu ral, uma das mais impressionantes realizações humanas, não questiona a experiência (na qual também ela está baseada) com rigor sistemático. A tentativa da fenomenologia de fazer exatamente isto promete ser uma con tribuição não apenas à psicologia, mas também a toda a ciência. Neste livro, entretanto, concentramo-nos na psicologia. Este manual é também escrito de tal modo que pode ser lido em dois níveis distintos. Os textos apresentados nos capítulos contêm tão poucas referências quanto possível a outros autores e a suas divergências, a fim de desenvolver as idéias que utilizo. Os alunos principiantes podem ler o livro ignorando totalmente as notas de rodapé. As únicas desvantagens deste procedimento são, em primeiro lugar, que as idéias que não são original original mente minhas possam parecer sê-lo e, em segundo lugar, que os problemas mais amplos e questões adicionais que o leitor crítico possa colocar não são considerados. Há notas, ao final do livro, para o leitor que deseje superar estas desvantagens. É mencionada a posição histórica dos principais con ceitos, são resumidas brevemente as principais contribuições da fenomeno logia e fornecidas numerosas referências. Finalmente, foram consideradas nas notas as questões que o leitor mais crítico possa formular. Lewisburg Lewisburg, Pennsy Pennsylva lvania nia Outubro I974
E.K.
SUMÁRIO PREFÁCIO .................................................................................................................... vii
PA R T E I INTRODUÇÃO INTRODUÇÃO .................. .......................... .............. .............. ............... ............... .............. ............. .............. ............... .......... 1. Uma menina de cinco anos muda mu da de idéia 2. Comportamento e ser-no-mundo
............................................ ..................................... .......
3
..........................................................
16
PARTE II MÉTODO ............................................................................................ .......................................... .................................................. 3. Compreen Com preensão são e comunicação comun icação 4. Técnicas de pesquisa 6. Método Mét odoss clínicos
.............. ...................... .............. ............. .............. .............. .............. ............. ......... ...
................................................................................ ........................................ ........................................
5. Desenvolvime Desenvo lvimento nto metodológico
PARTE IO ALGUN ALGUNS S HORIZONTES HORIZO NTES UNIVERSAIS UNIVERSAIS
........................................
..............................................................................
8. O self no tempo tem po ........................................................................................ ........................................ ................................................ 9. Acordos interpessoais PARTE IV CONCLUSÃO 10.. O mundo 10 mun do
..............................................................................
.............................................. ..................................... ......... ................................... ...................................... ...
27 34 34
50 59 61
67 75
81
............................................................................................. ......................................... ........................................................... ....... 83
11.. Comentá 11 Com entário rioss finais .................................................................................... ..................................... ............................................... APÊNDICE
25
*................... ...................................... 42
...................................................................................... ......................................... .............................................
7. Fisionomia do campo
1
....... ............................................................................................
.
91 95
xii
SUMÀRIo
ÍNDICE ONOMÁSTICO ....................................................................... ......................................................................................... .................. 141 ÍNDICE REMISSIVO ........................................................................... .............................................................................................. ................... 143
PARTE
I
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO 1
UMA MENINA DE CINCO ANOS MUDA DE IDÉIA* Observemos minha filha de cinco anos. Ela está pondo cuidadosamente, numa grande sacola de papel, seu pijama, sua escova de cabelo e sua boneca predileta. Depois Depois de terminar essa arrumação, arruma ção, espera impacientemente imp acientemente pelo telefonema de sua amiga para dizer que terminou o jantar e que podem agora começar a passar a noite junt ju ntas as.. Chega o telefone tele fonema. ma. Ela El a está es tá impaciente impac iente e alegre qua quando ndo põe o casaco cas aco.. Em seguida apossa-se da sacola com um dos braços e de minha mão com o outro, a fim de caminhar até a casa da amiga, situada duas casas abaixo na rua. As duas meni nas dão risadinhas quando se vêem, e juntas correm para o quarto de dormir. Três quartos de hora mais tarde recebemos uma chamada telefônica da mãe da amiga. Minha filha esteve chorando incontrolavelmente durante meia hora e quer voltar para casa. Não há razão aparente para tal comportamento; tudo o que ela é capaz de dizer é que quer voltar para casa. Quando a trago de volta suas lágrimas diminuem, e quando cruzamos a porta da frente, sorri largamente. Está satisfeita de estar em casa mesmo que a mandemos direto para a cama, e não chora mais, nem exige um lanche ou uma estória. Vai dormir. Estas são as grandes linhas do episódio que nos ocupará neste capítulo, e deve remos voltar a ele muitas vezes no decorrer do livro. Compreendemos o que acon teceu aqui? O comportamento de minha filha me confundiu; não esperava que isto acontecesse. Vamos percorrer novamente os acontecimentos, complementando al guns detalhes e tentando reduzir nossa confusão. Como podemos entender este episódio? O cuidado de minha filha ao arrumar suas coisas parece ter estado ligado a uma certa atitude, disposição e expectativa. A colocação dos objetos na sacola pode ter sido acompanhada pela imagem de que logo iria retirá-los na casa da amiga. Pode também ter sido uma imitação do ato de empacotar que tinha assistido os pais realizarem. Ou talvez estivesse pensando em manter as coisas arrumadas, conforme a mãe lhe tinha ensinado a fazer com sua cômoda. Qualquer que fosse a coisa específica em que pudesse ter pensado en quanto colocava as coisas na sacola — e podem ter sido todas essas coisas — a primeira primei ra parte par te da noite teve um cert c ertoo sabor, sab or, um gosto gost o de anteci ant ecipaç pação, ão, de examinar exami nar com impaciência um futuro de diversão e prazer.
INTRODUÇÃO
4
E então as coisas mudaram. Talvez, enquanto desarrumava a sacola, tenha pen sando nos pais, distantes duas casas, passando alegremente sem ela. Talvez a dis tância entre as casas se tenha avultado como assustadoramente grande. De qual quer forma, a antecipação de alguns minutos atrás estava morta, e sua experiência pres pr esen ente te era er a muito diferen dife rente. te. Ela pode ter-se lembrado de sua rotina usual da hora de dormir: um lanche, uma história, o beijo de boa noite da mãe, em seguida o aconchego sob as cobertas de uma cama quente e familiar. Estar com sua boa amiga de algum modo não era tão seguro nem tão confortável quanto a lembrança da própria cama. Tudo que pôde exprimir das lágrimas foi que queria ir para casa. E então, en tão, depois depois de voltar para casa, uma terceira disposição disposição ou atitude diferente diferente pare pa rece ce ter te r tido lugar. Ela El a olhou rapida rap idame mente nte pa para ra de dent ntro ro do seu qu quar arto to,, a seguir correu para pa ra a cama e desapareceu de maneira agradecida agradecida sob as cobertas, sem pedir pedir qualquer coisa mais, e satisfeita por estar em casa. Foi dormir rápida e facilmente. Parece que não lhe ocorreram nem antecipações do que aconteceria depois, nem lembranças do que costumava acontecer. Estava apreciando o momento presente just ju stam amen ente te con conform formee era. era . Esta Es tava va bom. Sua solidão solid ão de há alguns minutos min utos an antes tes não vigorava mais. Não Nã o co conh nhec ecemo emos, s, é claro cla ro,, os detalh det alhes es precis pre cisos os da ex expe periê riênc ncia ia de dela la du dura rante nte os três estágios da noite. Tudo que temos realmente para ir adiante é seu comporta mento, nos momentos em que nos deu a conhecer seus desejos através da lingua gem e da ação. Entretanto, se pudéssemos conhecer tais detalhes, não acharíamos seu comportamento misterioso ou intrigante. Por mais perplexos que pudéssemos estar no início, todos os movimentos e todas as palavras fariam sentido para nós caso pudéssemos conhecer os pensamentos e sentimentos que os acompanhavam. Como podemos conhecer tais pensamentos e sentimentos? Como podemos chegar a entender seu comportamento? Se não fôssemos psicólogos, simplesmente estabeleceríamos como explicação que ela mudou de idéia. Porém, porque somos psicólogos, solicitamos de nós mes mos e da nossa psicologia que sejamos capazes de compreender o que estava en volvido em sua mudança de idéia. O que mais devemos poder conjecturar a respeito da experiência, de forma a poder compreendê-la melhor? TEMPO Durante a operação de arrumar os objetos na sacola, sacola, minha minha filha filha estava cheia de antecipação quanto ao pernoite. Colocar os objetos cuidadosamente na sacola tinha uma certa significação para ela, e podemos perceber em seu comportamento alguma coisa dessa significação. Ela perguntava a si mesma de maneira audível quando a amiga telefonaria. Queria estar pronta a tempo. Tudo que experienciou aconteceu contra o pano de fundo de sua antecipação. E o pano de fundo das expectativas de um pernoite agradável fez com que as coisas significassem o que positivamente significaram para ela. Estava vivendo a antecipação, mesmo enquanto arrumava a sacola; estava estav a vivendo no futuro, voltada para par a esse rumo e o futuro, penetrou penetro u o pres pr esen ente te,, dand dando-lh o-lhee direçã dir eçãoo e significado.
uma
MENINA MENINA DE CINCO ANOS MUDA DE IDÉIA
5
sabor à sua experiência depois que mudou de idéia; ao contrário, pareceu ter sido o passad pas sado. o. Sua Su a casa. cas a. Lembro Lem brou-s u-see de dela la e quis esta es tarr lá. A segura seg urança nça e a familiaridade familiaridad e parec pa receram eram chamácha má-la la de volta. volt a. Olhou pa para ra a amiga, pa para ra o qua q uarto rto,, pa para ra sua su a sacola, saco la, e significaram mais para ela um pernoite agradável; ao invés disso, significa eles não significaram mais ram uma versão inferior inferior da maneira como ela geralmente ia dormir. dormir. Parece que seus pais, que não estava est avam m fisicamente fisicam ente prese pre sente ntes, s, estiver esti veram am todavi tod aviaa psicologicam psico logicamente ente prese pre sente ntes. s. A lem l embra brança nça deles dele s tomou tom ou a au ausên sência cia física f ísica intoleráv into lerável. el. O pass p assad ado, o, não o futuro, forneceu o pano de fundo para a experiência dos acontecimentos e estes assumiram uma significação muito diferente. Realmente, a estrutura de sua expe riência foi muito diferente nesse estágio. Estava vivendo suas recordações; estava vivendo de novo no passado e era esta a direção para a qual estava voltada. De maneira muito eficiente, produziu o comportamento que conseguiria uma aproxi mação de tal passado. Ambas as experiências, viver no futuro e viver no passado, foram perceptivelmente diferentes daquela ligada ao modo como experienciou seu quarto e sua cama depois de voltar para casa. O presente, em sua presença imediata, não é penetrado nem pelo futuro nem pelo passado, mas é completo em si mesmo, conforme ele é, e ela foi absorvida nele. Uma série de perguntas continua sem resposta acerca do episódio com minha filha, como o porquê de sua experiência ter mudado conforme mudou. Por que ela mudou de idéia? Antes de mencionar essa questão, entretanto, devemos realmente compreender, tão bem quanto pudermos, o que eia estava experienciando. O que realmente mudou foi a qualidade de sua experiência, a significação da mesma. E uma boa quantidade de trabalho descritivo tem de ser feita antes que possamos discernir o que as coisas significavam para ela, à medida que atravessava as fases da noite. Um problema crítico para os psicólogos, quando tentam fazer tal trabalho des critivo, é que não existe uma linguagem bem desenvolvida em termos da qual se possa po ssa tom to m ar clara cla ra a de descri scrição ção.. Sabemos Sabe mos que os aconte aco ntecim ciment entos os significam coisas cois as para pa ra as pessoa pes soass e sabemos sabe mos que aquilo que os aconteci acon tecime mento ntoss significam determin dete rminaa suas reações. Mas não sabemos muito acerca da origem ou produção da própria significação.1 Em nossas tentativas descritivas esforçamo-nos por mostrar como os aconteci mentos da noite foram significativos em virtude dos panos de fundo contra os quais apareceram. Além disso, tentamos mostrar como diversas regiões temporais — passa pa ssado do,, presen pre sente te e futu f uturo ro — forn f ornece eceram ram tais pan panos os de fundo. fun do. An Antes tes de minha minh a filha sair de casa, a sacola (por exemplo) era experienciada contra o pano de fundo de significava uma noite agradável. Depois da menina suas antecipações impacientes e significava uma estar na outra casa por algum tempo, a mesma sacola foi experienciada contra o Significou uma versão desagra pano pan o de fundo fund o de suas recor rec orda daçõ ções es afetivas afeti vas do lar. Significou uma davelmente inferior da maneira como usualmente ia dormir. Viver no futuro é uma avaliação da significação do presente em termos de nos sas antecipações. Viver no passado é uma avaliação da significação significação do presente em termos de nossas recordações. Em tais experiências, o passado e o futuro permeiam
6
INTRODUÇÀO
que já descrevemos. A antecipação de minha filha de um pernoite agradável foi basead bas eadaa em recor re corda daçõ ções, es, tais como os bon bonss moment mo mentos os em que q ue tinha tin ha esta e stado do com sua amiga e aquilo de que se lembrava quanto ao quarto dela, no qual antecipava dor mir. O que ela estava antecipando apareceu em sua experiência contra o pano de fundo daquilo que ela relembrava: acontecimentos contra o pano de fundo de antecipações e antecipações contra o pano de fundo de recordações — uma estru tura complexa mas inteiramente relevante para nossa tarefa de compreender seu comportamento no primeiro primeiro estágio estágio da noite (ver Fig. l). Quando ela estava chorando, querendo voltar para casa, sua recordação do lar fez com que a sacola, a cama e o quarto parecessem solitários, estranhos, inoportu nos. Mas a recordação de casa emergiu apenas em virtude de um pano de fundo adicional de antecipação — ir dormir em tal quarto estranho. Ela tinha estado no quarto muitas vezes, antes e não o achara insuportável. Mas saber que deveria ir para pa ra a cama cam a ali fez com que o qua quarto rto aparec apa recess essee como um lugar luga r vazio, vaz io, um lugar frio, em contraste com a lembrança de sua própria cama quente em casa. Ela não teria recordado a própria cama senão em função da antecipação prévia de dormir
UMA MENINA DE CINCO ANOS MUDA DE IDÉIA
7
nesta outra. Acontecimentos contra o pano de fujido de recordações e recordações contra o pano de fundo de antecipações também fornecem uma estrutura complexa, esquematizada na Fig. 2. É difícil dizer o que veio primeiro, o que começou tudo — o passado enquanto recordado ou o futuro enquanto antecipado. Em verdade, na experiência, em con traste com a seqüência de eventos físicos no tempo físico computado por relógios, o futuro (enquanto antecipado) pode preceder o passado (enquanto recordado). Eis uma das diferenças entre o mundo da experiência e o mundo conforme interpretado segundo as tradições das ciências físicas. Como se esses fatos de experiência não fossem já assuntos suficientemente complicados, devemos mencionar que algumas recordações são antecipadas (“ sempre me lembrarei lembrarei de minha minha cama na volta a casa ca sa”” ) e que algumas algumas antecipa ções são recordadas (“lembro-me de como esperei ansiosamente por isto”). Como podemos pode mos de desc scob obrir rir uma maneira man eira de coloca col ocarr ordem nas complexi com plexidade dadess ap apare arente nte mente intermináveis da experiência humana? Por agora vamos tomar como estabe lecido que a significação de acontecimentos conforme aparecem em nossa expe-
8
INTRODUÇÃO
riência é profundamente influenciada pelo contexto temporal no qual ocorrem. A expressão “panos de fimdo” de antecipação e recordação é meramente uma ma neira de indicar como esses contextos temporais penetram na estrutura de significa ção — não como pontos focais, mas como um campo contra o qual figuras apare cem, como ocorre na percepção visual. ESPAÇO Vamos Vamos novamente observar obser var a noite de minha filha, filha, desta vez em termos term os do pano experiencial. Vejamos se podemos descobrir mais a respeito do de fundo do espaço experiencial. Vejamos que os acontecimentos significaram para ela. Enquanto concentrada na colocação dos objetos na sacola, estava calmamente falando consigo mesma. Sua fisionomia foi passando por uma série de expressões, como se participasse de uma conversa. Subitamente, percebeu que eu a observava, sua “conversa” parou e ela me deu um grande sorriso — apenas um pouco embaraçada pelo fato de que eu a tivesse estado observando. Aqui podemos perceber dois espaços distintos, dentro dos quais ela “encenou” sua experiência, um após o outro. Em primeiro lugar, a colocação de
UMA MENINA DE CINCO CINCO ANOS MUDA DE IDÉIA
9
objetos na sacola ocorreu dentro de um espaço ocupado por ela mesma, pela tarefa e por po r pelo menos uma um a ou outr traa pessoa pes soa,, presen pre sente te pa para ra ela, ela , mas não pa para ra mim. O “ outro out ro em fantasia” pode ter sido sua amiga, sua mãe, ou até seu futuro marido. Não saberíamos quem era ele a não ser que ela nos dissesse, mas é claro que estava social, um espaço estruturado construindo suas ações de acordo com um campo social, por (1.) ela e la mesma mes ma enq e nquan uanto to desemp dese mpenh enhand andoo uma tarefa tar efa,, (2.) a própr pró pria ia taref tar efaa como um espetáculo para outro, e (3.) o outro como uma audiência e um comentarista em fantasia de seu desempenho. Estava muito envolvida na dinâmica deste espaço quando subitamente notou que eu a observava (ver Fig. 3). Ela era pequena demais para estar autoconsciente da fantasia como nós esta mos, mas, logo que me percebeu observando-a, o contexto especial dos aconteci mentos, e em decorrência a significação deles, mudaram abruptamente. Estava um pouco pou co embar em baraça açada da — porque por que a vi tendo ten do a fantasia fan tasia.. Tomei-m Tom ei-mee um ou outr troo em sua experiência, e o espaço estava agora ocupado por (l.) ela como aquela que há pouco pouc o tinha tin ha sido ob obser serva vada da sem o saber, sab er, (2.) os aconte aco ntecim ciment entos, os, incluindo incluin do tanto tan to as ações como a fantasia, e (3.) eu mesmo, o observador (ver Fig. 4). Ela pode ter pensad pen sadoo que eu con conhec hecia ia o con conteú teúdo do de seu ou outro tro espaç esp aço, o, ou pode po possu ssuir ir um
10
INTRODUÇÃO
sentido Sólido da própria privacidade de pensamento e saber que é capaz de es conder coisas de mim. Mas isto não importa muito porque confia em mim e não aprendeu ainda a envergonhar-se de sua imaginação. Esses dois espaços muniram os acontecimentos da experiência dela com algu mas das significações que eles tiveram para ela. Foram como contextos ou cenas nos quais os acontecimentos tiveram lugar. Esses espaços foram temporários, no entanto, e apareceram contra um último plano mais amplo, o do espaço delimitado geograficamente pelas duas casas e ocupado por dois grupos: sua família em seu lar, e a amiga e a família da mesma na outra casa. Se não fosse em função desse espaço mais amplo ou de algo semelhante, teria sido totalmente sem significação colocar coisas na sacola, esperar o telefonema, e assim por diante. Enquanto esperava o telefonema, as duas casas ergueram-se como pólos opos tos num campo bipolar. Sua própria casa representava a rotina comum, desinteres sante, e a perspectiva de lá permanecer por mais um minuto parecia desagradável. Duas portas distantes, em contraste, estavam os aposentos reluzentes da casa da amiga, onde a diversão teria lugar. Ela pôde sentir a atração pela outra casa en quanto permanecia na própria, olhando para a porta e para o telefone, depois va gando ao redor inutilmente, manuseando as coisas familiares (ver Fig. 5).
uma
MENINA MENINA DE CINCO ANOS MUDA DE IDÉIA
11
Sabemos que depois que estava na outra casa por algum tempo, os valores dos pólos nesse campo bipolar bipola r se inverteram. inverter am. A casa cas a da amiga tomou-s tom ou-see estra est ranh nhaa e a próp pr ópria ria casa ca sa foi “ o lar” la r” . A atraç at ração ão exerce exe rceu-s u-see na direçã dir eçãoo op opost osta. a. Qua Quando ndo pergun per gun tamos por que ela “ mudou de idéia” , devemos especificar o que mudou em em sua '‘idéia” antes que possamos aprofundar a questão. Uma das coisas que se modifi caram foi a estrutura do espaço que incluía as duas casas. A atraente tomou-se sem atrativo, e a sem atrativo tomou-se atraente. A experiência da casa da amiga, logo que chegou lá, deu-se contra o pano de fundo do espaço conforme originalmente estruturado. Mais tarde, sua experiência da mesma casa foi completamente trans formada. Os aposentos reluzentes brilharam de modo diverso; pateceram diferen tes, produziram sensação diferente e tiveram uma significação diferente. Tal dife rença foi possível porque a estrutura do espaço contra o qual foram experienciados tinha sido invertida. Os aposentos que haviam sido notáveis promessas de diversão tomaram-se território estranho. Não pareceram diferentes para mim, mas tiveram, na experiência dela, dela, uma presença que foi o que foi apenas em razão da estrutura do espaço inteiro se ter modificado. Ou a estrutura do espaço mais amplo mudou porqu por quee os cômodos da casa da amiga chegaram a parecer diferentes? Isto não é, penso eu, uma questão de causali dade, na qual uma mudança tenha tenh a causado a outra. A mudança de sua “ idéia” foi foi uma mudança de todas essas coisas de uma só vez. O decisivo é que acontecimen tos, objetos e pessoas chegaram a significar algo diferente para ela ; a origem da signifi significaçã caçãoo na experiência experiên cia é o contexto con texto em cujos limites limites aparecem acontecimentos, objetos e pessoas: é o pano de fundo que permite que eles se destaquem e sejam experienciados. Ao compreender a mudança de idéia dela, estamos, portanto, pro curando compreender a mudança de significações, e, ao compreender a mudança de significações, procuramos articular os contextos experienciais de acontecimentos, dos quais as significações emergem. Estamos ainda a certa distância da compreensão do porquê da mudança de idéia, mas certamente estamos mais próximos do que estávamos quando, a princí pio, ficamos ficam os confuso conf usoss acerc ac ercaa da qu quest estão ão,, po porqu rquee sabemos sabe mos algo a respei res peito to do que mudou. Mudaram significações e mudaram junto com a mudança da estrutura in teira da experiência, e em razão dela. Podemos dizer, em particular, que a menina substituiu uma orientação pelo futuro por uma orientação pelo passado e, final mente, pelo presente, e podemos dizer que os valores de atração e repulsão num espaço bipolar se inverteram. A fim de atingir uma compreensão do porquê da mudança de idéia, é freqüente mente útil indagar por que propomos tal questão. A pergunta nos parece importante porqu por quee o compo com porta rtame mento nto de minha min ha filha filh a foi difer d iferente ente da maneira man eira como com o nos vemos vem os a nos mesmos nos comportando. Eu não faria planos com outras pessoas e depois, por po r razões raz ões que sei que perma per manec neceri eriam am misterio mis teriosas sas pa para ra elas, ela s, mudkria mudkr ia de idéia e as desapontaria. Tal comportamento não é polido. Parte da importância da pergunta vem de uma impressão de uma diferença entre minha filha e eu mesmo. De modo geral, minha atenção não se prende ao comportamento dos outros quando ele é
12
INTRODUÇÃO
antecipações de diversão teriam feito a experiência mais divertida do que foi para ela. Minhas antecipações recordadas (“lembro-me de como esperei por isto”) te riam colorido minha visão dos aposentos esperados, munindo minha experiência de mais lastro do que aquele que foi acessível a ela. Além disso, eu ficaria “envergo nhado de mim mesmo” por mudar de idéia, o que obviamente não ocorreu com ela. Antecipar o fato de que eu relembraria o incidente (recordações antecipadas) e con tinuaria a me envergonhar dele me teria desencorajado de comportar-me conforme ela o fez. Logo, tanto em relação às recordações antecipadas como às antecipações recordadas, as significações em minha experiência teriam sido mais estáveis. Essas complexidades adicionais — a relevância das recordações antecipadas e das anteci pações paç ões recor rec orda dada dass — pod podem em ser se r prod pr oduto utoss da matur ma turaçã açãoo natural natu ral ou ser se r devidas devi das à aprendizagem, e podem representar uma diferença crítica entre as estruturas experienciai rienciaiss de uma criança de cinco anos e as de um adulto2 adu lto2 (ver Fig. 6). 6). Entretanto, mesmo que eu me tivesse permitido a mudança de significações significações que minha filha experienciou, provavelmente não teria agido agido como ela. Teria sido mais Sensível à descortesia do ato e ao desapontamento que causaria nos outros. Eu me
UMA MENINA DE CINCO ANOs ANOs MUDA DE IDÉIA
13
teria “envergonhado de mim mesmo” e a vergonha emerge de um campo interpes soal. A segunda diferença entre a minha própria estrutu estr utura ra experiencial e a de minha filha é, pois, espacial. A vergonha, vergonha, conforme usualmente compreendida, requer reque r um outro a cujos olhos olhos nos sentimos julgados. Tal experiência nos engaja necessariamente em um espaço que é, de alguma maneira, diferente daquele de minha filha. Na vergonha, o espaço no qual a experiência ocorre e o contexto que lhe permite significar o que significa são intensamente interpessoais. Os acontecimentos dos quais nos envergonhamos acontecem num espaço no qual há pelo menos uma outra pessoa, cujo julgamento é levado em conta — caso contrário, não os experienciaríamos como vergonhosos.3 Não Nã o é que minha filha, na idade de cinco cinc o ano anos, s, seja incapaz inca paz de se envergon enve rgonhar. har. Alguns anos atrás ela era incapaz disso, mas agora é capaz do embaraço suave que percebi perc ebi qua quando ndo me descob des cobriu riu espiand esp iandoo sua su a fantasia fan tasia;; esse ess e embar em baraço aço envo envolve lve um contexto espacial semelhante ao da vergonha (ver Fig. 4). Mas ela não estava envergonhada enve rgonhada de ter te r mudado de idéia como o fez. fez. Tal espaço não era um contexto relevante relevan te para sua decisão de mudar de idéia e não determinou determinou a significação da mesma. Por conseguinte, conseguinte, não é a ausência e sim a relativa relativa fraqueza dessa des sa estrutura estrutu ra expe riencial que faz minha filha diferente de mim e da maioria dos outros adultos. Sob circunstâncias especiais, se tivéssemos tentado, por exemplo, fazê-la envergonharse do que havia feito, teria experienciado vergonha. Mas naquela ocasião isto não ocorreu. Talvez o aspecto marcante a aprender desse episódio não esteja tão ligado à experiência dela quanto à nossa própria experiência de adultos. Não existe prati camente nada na experiência adulta diária que não derive algumas de suas significa ções de um contexto de espaço interpessoal. Intimamente todo o nosso comporta mento ocorre dentro de um contrato ou acordo, acordo , explícito ou implícito, e estamos constantemente cientes de tal contexto à margem de nossa experiência. Na ver-* dade, os acontecimentos significam para nós, como adultos, aquilo que significam, em grande parte por causa desse pano de fundo interpessoal contra o qual eles se sobressaem como acontecimentos, experiências etc.4 A experiência de crianças de cinco anos não tem verdadeiramente tal caráter, e perceb per cebem emos os en então tão como a “ mudanç mud ançaa de idéia” idé ia” de minha filha foi possí p ossível, vel, pa para ra ela, de um modo como não o seria para nós, adultos. Sua experiência não tem nem a estabilidade da experiência adulta, emprestada pelas complexidades das antecipa ções recordadas e das recordações antecipadas, nem a estabilidade fornecida por um contexto mais ou menos constante, de contratos e acordos interpessoais, no qual o ponto de vista do outro é parte daquilo que os acontecimentos significam para par a nós e no qual supomos que o pon ponto to de vista vist a do outro outr o é estável. está vel. Podemos, entretanto, ser mais específicos ao dizer alguma coisa sobre o porquê da mudança de idéia de minha filha, se formos capazes de perceber a mudança dentro do contexto de como ela estrutura sua experiência em geral. Sabemos, a parti pa rtirr de outro outr o compor com portam tament ento, o, que ela se compre com preend endee a si mesma mes ma como uma jovem jov em versão ver são da mãe (ela brinca bri nca com bon bonec ecas, as, louças lou ças,, e assim po porr diante) d iante).. Embor Em boraa essa perspectiva seja importante do ponto de vista da abusiva onipresença do trei
14
INTRODUÇÃO
possui poss ui tais estru est rutu tura rass experien expe rienciais ciais de susten sus tentaç tação ão.. Possui, Pos sui, todavi tod avia, a, um conh conheci eci mento de criança de cinco anos sobre o que é tal planejamento e, da mesma forma como imita ao brincar de boneca e de comidinha, procura ser como a mãe ao fazer planos. plano s. Tal imitação imitação é antecipação em sua s ua mais mais ampla escala. H á uma orientação para pa ra o futuro fu futuro fund ndam am en enta talm lmen ente te integrada inte grada na compreensão que minha filha tem de si mesma como uma jovem versão da mãe. Tal viver-no-futuro de modo geral forne ceu um pano de fundo temporal básico, contra o qual o episódio inteiro foi experienciado por minha filha e foi significativo para ela. Foi um contexto que esteve por po r trás trá s daqu daquele ele con contex texto to original de viver-no vive r-no-futu -futuro ro ligado ao momento mom ento em que esperava o telefonema. Um contexto que envolve nossa própria definição de nós mesmos é, realmente, um contexto básico. Portanto, parte da significação de seu plano inteiro intei ro era er a que se estav es tavaa tom to m an ando do uma menina men ina cres cr escid cidaa ou, ainda ain da de maneira man eira mais séria, um adulto como seus pais (ver Fig. 7).
Figura 7. Estrutura mais Ampla da Experiência do Episódio como um Todo. Todo. Este diagrama simplesmente coloca a Fig l xto mais amplo, amplo, o qual nos habili
UMA MENINA DE CINCO ANOS MUDA DE IDÉIA
15
No momento mom ento em que minha filha mudou de idéia, ficou claro clar o que que,, qu quan anto to a todos os aspectos envolvidos, ela se havia superestimado. Em sua substituição temporal da orientação pelo futuro pela orientação pelo passado e em sua substitui ção espacial das atrações centrífugas pelas centrípetas, o contexto subjacente de significações, tomar-se adulta, passou a ser irrelevante. Em seu lugar o passado surgiu como o determinante das significações e, na verdade, como outra parte da compreensão compreen são implícita implícita que ela possuía de si mesma: mesma: “ Eu sou uma criança.” crian ça.” Tal Tal mudança ocorreu, e ela mudou de idéia, podemos agora dizer, porque se havia superestimado. Felizmente, o “tornar-se adulta” não é a única forma de autocom preens pre ensão ão disponível disponí vel pa para ra ela. Quando Quan do a exp experi eriênc ência ia não pôd pôdee suste su stent ntar ar a an antec tecipa ipa ção de um pernoite agradável, ela não ficou oprimida e obliterada pelo fracasso. Estava bastante contente por ser uma meninazinha. Como todas as crianças estava à frente de si mesma, mas não totalmente empenhada no avanço. Ao menos na época não estava. Numa ocasião futura quando o crescimento se tiver tomado ainda mais importante do que apenas como pano de fundo para de terminar a significação dos acontecimentos e quando o espaço interpessoal da ver gonha se tiver tornado um contexto mais constante em sua experiência, um maior número de coisas pode entrar em jogo. O fracasso será mais custoso, porém o sucesso mais provável, depois que o senso contratual se tiver tornado uma parte mais estável de sua experiência, depois que as complexidades das antecipações recordadas e das recordações antecipadas a tiverem suprido de mais lastro para a estabilidade das significações e depois que sua autodefinição como uma menina zinha se tornar menos disponível como uma ordem de significação dentro da qual possa po ssa compre com preend enderer-se se a si mesma. É interessante notar que, embora nossa análise fenomenológica nos tenha dado uma noção bastante boa do motivo por que que minha filha mudou de idéia e daquilo que mudou quando ela o fez, não descobrimos realmente nada que já não soubés semos. No entanto, no início do estudo estávamos confusos de uma forma que não é a que se apresenta agora. O fato de que eu já “ soubes sou besse” se” tudo que está escrito aqui revela-se em meu impulso de tentar corrigir a situação embaraçosa criada pelo incidente incidente:: o impulso impulso de dizer coisas coisas tais como “ que irão pensar os vizinhos?” vizinh os?” ; “como você fez sua amiga se sentir?” (o contexto social do comportamento e da experiência); “você vai lamentá-lo amanhã!” (recordações antecipadas); “uma hora atrás você mal podia esperar!” (antecipações recordadas); “você não quer ser uma menina menina crescida? cresc ida?”” ; “ não seja um beb bebê!” ê!” (autodefinições (autodefinições como contextos produto res de significação). Este impulso visava a fazê-la ver a questão da mesma maneira que eu, sabendo implicitamente que ela a experienciava de maneira diferente. Sa bíamos tudo tud o isso, isso , mas não sabíamos sabíam os o que sabíamos, que sabíamos, nem que o sabíamos. Por essa razão estávamos confusos.5 A fenomenologi fenomenologiaa não fomece fomec e novas informações de maneira idêntica àquela pela qual a ciência faz recuar as fronteiras do conhecimento. Sua tarefa é menos dar-nos novas idéias do que tomar explícitas aquelas idéias, suposições e pressuposições implícitas com base nas quais sempre nos comportamos e experienciamos a vida.
CAPÍTULO 2
COMPORTAMENTO E SER-NO-MUNDO A partir da análise realizada realizad a no Cap. 1, é evidente que a psicologia fenomenoló gica procura elucidar nossa experiência. A experiência consciente é uma parte crí tica da psicol psicologia ogia de seres huma h umanos.1 nos.1 Uma maneira de clarificar clarificar a experiência é procu pro cura rarr o que os acontec aco ntecime imentos ntos significam significam para nós. Ao responder a essa ques tão, descobrimos que a experiência consciente tem uma certa estrutura. estrutura. Na ver dade, poderíamos dizer que a “estruturação” da experiência é a significação da experiência. experiência. Uma experiência carente de estrutura estru tura seria uma experiência sem signi signi ficação. A estrutura da experiência é mais ou menos implícita, mas é absolütamente decisiva quanto às significações que os acontecimentos têm para nós. Ou falando de maneira mais acurada, já que significação é estrutura, devemos dizer que a signifi cação cação está mais ou menos implícita na experiência. A psicologia fenomenológica procu pro cura ra articul arti cular ar explicitam expli citamente ente a estru es trutu tura ra e a significação implícitas da exp experi eriên ên cia humana. A fim de pôr tal tarefa em prática, devemos descrever a a experiência.2 Qualquer Qualquer descrição focaliza apenas aquilo que seus termos permitem, e, portanto, a escolha de termos descritivos é crítica para nossa tarefa. No Cap. 1 foi usada uma série de termos e relações. Vamos examiná-los primeiro e, em seguida, introduzir outros termos que podem ajudar a cumprir cumprir nossa tarefa. tarefa. Como podemos podemos descrever desc rever a estru estru tura da experiência? No Cap. l dissemos dissem os que os aconteci acon tecimen mentos tos aparec apa recem em na exp experi eriênc ência ia co cont ntra ra um pano de fundo. Os fenomenolog fenome nologistas istas chamam cham am tal pano de fundo fund o de horizonte.3 horizonte.3 Esse pano pan o de fundo, fund o, ou horizon hor izonte, te, não é, em geral, ger al, o foco fo co de no nossa ssa atenç ate nção, ão, embora em bora seja claramente decisivo quanto àquilo que as coisas significam para nós. Minha filha não teria esperado o telefonema da amiga tão impacientemente impacientemente se ele já não tivesse adquirido alguma significação. A significação que tinha estava baseada na antecipa ção dela de um pernoite agradável. Estamos, por conseguinte, dizendo que as ante cipações podem (sempre?) fornecer significação como pano de fundo ou horizonte. Também as recordações podem ser vistas (sempre?) como um horizonte que dá significação a eventos correntes, como quando chegamos a entender a segunda
COMPORTAM COMPORTAMENTO ENTO E SERSER-NO-MUNDO NO-MUNDO
17
Quando prestamos atenção a nossa experiência diária, percebemos que algumas vezes ela tem um foco muito nítido, como ocorre quando estamos lendo um livro. Há outros momentos de divagação não disciplinada, em que captamos negligente mente isto e aquilo no ambiente auditivo e visual, e em seguida passeamos por recordações e antecipações — aparentemente de modo aleatório. A maior parte de nossa experiência situa-se em algum lugar entre esses dois extremos. Qualquer que seja o grau de focalização, nosso experienciar é um processo de dar significação a acontecimentos — às vezes acontecimentos do ambiente, às vezes de nossas pró prias mentes. men tes. Se pud puderm ermos os co comp mpre reend ender er como com o isso acon ac ontec tece, e, pod podere eremo moss co coloc locar ar em ordem os acontecimentos acontecimentos aparentemente aleatórios aleatórios da consciência. consciência. N a verdade, a experiência é ordenada, mas a estrutura e a ordem da experiência são difíceis de descrever. No trabalho descritivo que fizemos anteriormente, usamos o termo pano pan o de fundo fund o ou horizonte , e dissemos que há pelo menos duas espécies de horizonte: o temporal e o espacial. Existem certamente outros, e a totalidade deles opera simul taneamente. Os acontecimentos sempre significam muitas coisas ao mesmo tempo para pa ra nós, nós , tal como com o a visita vis ita de minha minh a filha à casa ca sa da amiga significou um pernoit per noitee agradável, uma recapitulação de experiências prévias de diversão, uma obediência às atrações e repulsões do espaço ambiental, e o ser uma “menina crescida” que poderia pod eria faze fa zerr planos plan os e levá-los levá-lo s a cabo ca bo tal como seus pais — par p araa mencio men cionar nar apenas ape nas algumas. Como estão relacionados uns com os outros os vários horizontes, as diversas signifi significaçõe caçõess de nossa experiência? No Cap. 1 a estrutura estr uturação ção temporal da experiên cia parecia existir lado a lado com a espacial. Além disso, um horizonte espacial que emergia das atrações e repulsões do ambiente parecia existir lado a lado com o horizonte espacial estruturado por contratos, obrigações, expectativas interpes soais, e assim por diante. Finalmente, havia o horizonte que refletia como minha filha compreendia a si mesma como uma pessoa: primeiramente como uma jovem versão de adultos que fazem planos e os põem em prática, e posteriormente como uma menina satisfeita por ser criança. Todas essas significações estão organizadas de alguma maneira. Qual é o princí pio des d essa sa organiza orga nização ção?? Qual é a est e stru rutu tura ra global da d a expe e xperiên riência cia?? Podemos Pode mos co coloc locar ar a questão de outra forma, perguntando quais são as relações entre os horizontes. Se todo horizonte tem um horizonte, onde termina tudo isto? Qual é o horizonte último último do ser humano, contra o qual todos os outros estão organizados, e em cujo contexto todos os acontecimentos fazem sentido para nós?4 Os filósofos de linha fenomenológica escreveram freqüentemente sobre o solo de significação. Presumivelmente, se estivesse claro o solo de significação, o princípio de organização dos horizontes seria mais fácil de apreender. Ao tentar descrever a estrutura global da experiência devemos prestar atenção na própria experiência. Como parece ser a experiência em si mesma? Quando me sento à escrivaninha, o espaço à minha frente está cheio de objetos familiares. O aposento se expande à minha frente de modo ordenado. Isto é, o livro sobre a escrivaninha é o livro que tenho tentado entender há dois dias. Jaz ali, cheio de significações para mim — tais como a recordação de seu conteúdo, o sentido que
18
INTRODUÇÃO
zonte espacial do tampo da escrivaninha no qual se situam para formar um todo significativo. Alguns lápis, com os quais antecipo escrever Sobre o livro que deverei ler, dispõem-se temporal e espacialmente à minha frente. A experiência inteira é um todo ordenado, cujos horizontes temporal e espacial são aspectos analiticamente diferenciáveis. diferenciáveis. A experiência conforme vivida absorve vivida absorve todos os horizontes que dis cutimos na unidade de de meu ser-em-meu-escritório.5 Nos diagramas de de horizontes, isolamos analiticamente analiticamente alguns para exame. A experiência vivida sintetiza6 sintetiza 6 tod odos os na minha presença concreta no aposento e na presença dele para mim. Tal experiência vivida deve vivida deve ser nosso guia na compreensão de outras pessoas e daquilo que as coisas significam para elas. Embora possamos analiticamente isolar horizontes e diagramá-los em camadas, todas as camadas estavam integradas, por exemplo, na experiência de minha filha do interior de sua casa durante a primeira parte pa rte da noite. O apo apose sento nto se exp expand andia ia à fren f rente te de dela la en entã tão, o, conforme conf orme se exp expan ande de à minha frente agora. Significou tudo aquilo que dissemos que significou, mas não apareceu à maneira de camadas ou diagramas e sim como o interior de sua própria casa. A experiência é criativa; sintetizou todos os horizontes que mencionamos, mais a presença objetiva de mesas, cadeiras, telefones e pessoas, num campo signi ficat fic ativ ivoo estendido à frente de minha filha, dentro do qual ela se moveu de acordo com o propósito ou a intenção que tinha dentro do campo. Um campo é campo é um espaço perce pe rceptu ptual, al, imediata ime diatament mentee prese pre sente nte,, sempre semp re significativo, significati vo, com camada cam adass de signifi signifi cação, que integra horizontes múltiplos em um momento presente coerente de serem-um-campo. Mas devemos procurar um pouco além por horizontes mais básicos se desejar mos perceber por que o ser-em-um-campo de minha filha foi o que foi naquela noite. Descobrimos que a noção implícita que tinha de si mesma mesma foi um horizonte mais fundamental do que suas recordações e antecipações específicas. Tal hori zonte forneceu às antecipações e recordações as significações delas. Ele foi, com certeza, um horizonte mais implícito, implícito , no qual ela, por si mesma, não pensaria. Do mesmo modo, para mim, uma camada de significação ao escrever estas frases é o sentido implícito de quem sou eu e de onde estou situado em minha história de vida. Escrever estas frases não significaria a mesma coisa que significa para mim se eu me compreendesse como um adolescente ou como um advogado. Podemos dizer que somos capazes de Compreender o que algo significa para alguém somente se podemo pod emoss pe perc rceb eber er o entend ent endime imento nto implícito da pessoa quanto pessoa quanto a quem é ela, enten dimento que é um horizonte crítico contra o qual os acontecimentos aparecem a essa pessoa e recebem suas significações. Portanto, Portanto , o horizonte ao qual minha filha filha pensa pertenc per tencer er também deu sua signi signi ficação à experiência dela do seu próprio seu próprio campo. Quando pensamos a respeito dos campos dentro dos quais nosso comportamento ocorre e para os quais está direcio nado, notamos que a vida diária é uma seqüência de campos contemporâneos. Nós nos movemos de aposento para aposento, do interior para o exterior, de um grupo de pessoas a outro, deste à situação de estarmos sozinhos. Esses campos são espa ciais, mas seus espaços estão organizados em nossa experiência parcialmente de
COMPORTAM COMPORTAMENTO ENTO E SER-NOSER-NO-MUNDO MUNDO
19
atrações e repulsões definidas. Parece inoportuno sentar na cadeira dele; se ele está censurando você, a porta de saída atrai. Você pode sentir a atração fisicamente. MUNDO O fato de ser quem se pensa ser num campo deve receber esclarecimentos adi cionais. A Fig. Fig. 5 do do Cap. 1 mapeia geograficamente geograficamente o campo de minha filha; filha; as Figs. 3 e 4 mapeiam o aspecto interpessoal dos campos, e podemos ainda descrever o senso que minha filha tem de si mesma como uma menina pequena que esta crescendo, como uma espécie de campo temporal. Tais campos são horizontes, mas estão também organizados de alguma maneira na experiência. Não nos tomamos pesso pe ssoas as totalm tot almen ente te difere dif erentes ntes qu quand andoo no noss movemo mov emoss de um ambient amb ientee pa para ra ou outro tro,, de um contexto interpessoal para outro ou de um entendimento de nós próprios como pesso pes soas as em cresci cre scime ment ntoo p ara ar a ou outro tro.. Um ho horiz rizon onte te mais básico bás ico do que qua qualqu lquer er campo particular é este nível mais elevado de organização dos campos em um mundo. Ou melhor, o mundo é onde somos de maneira mais fundamental. Minha orientação para o mundo é o horizonte mais básico do qual derivo significações para pa ra minha min ha exp experi eriênc ência. ia. Quem sou eu no mundo mun do de deter termi mina na quais campos cam pos serão ser ão relevantes, o que significarão para mim e como influenciarão as significações dos acontecimentos em minha experiência.7 Minha orientação para o mundo está implícita em minha experiência, assim como outros horizontes, e ainda mais do que eles. Embora seja o horizonte mais bási bá sico co de m inha inh a vida vi da,, rara ra ram m en ente te é po post stoo em qu ques estã tãoo , foca fo caliz lizad adoo ou de desc scri rito to.. Quem-eu-sou-no-mundo é a gigantesca pressuposição sobre a qual repouso, no sen tido de que minha experiência seja de alguma maneira significat significativa iva para mim.8 Mesmo quando questiono quem sou eu no mundo, ainda sustento a identidade de uma pessoa-no-mundo que está procurando o próprio lugar. O mundo está sempre aí; se fosse embora de alguma maneira, a experiência naufragaria numa desordem sem significação e se tomaria caótica. Isso raramente acontece à maioria de nós.9 Voltemos ao episódio ocorrido com minha filha e vejamos como a noção de longe na compreensão do mesmo. Ao final do Cap. i mundo nos pode levar mais longe pudemo pud emoss pe perc rceb eber er que todas tod as as significações signifi cações ineren ine rentes tes a suas an antec tecipa ipaçõ ções es e reco re cor r dações e a seus campos espaciais estavam baseadas numa autocompreensão implí cita dela mesma como como uma menina pequena que estava crescendo. A primeira parte da noite, na qual ela estava cheia de antecipação de divertimento, foi também uma determinação de crescimento segundo a maneira pela qual ela entendia isso. A se gunda parte da noite, na qual estava cheia de recordações de casa, foi uma determi determi nação de ser uma menina pequena.10 Ambas essas determinações foram postas em funcionamento num contexto mais amplo, e ainda mais implícito, de sua auto compreensão como nossa filha, amiga de sua amiga, residente em uma casa, visi tante em outra, irmã de seu irmão, filha do vizinho de seus vizinhos e assim por diante. Ou melhor, seus pais, sua amiga, sua casa, a outra casa, seus irmãos, os
20
INTRODUÇÃO
depende; compreender suas percepções e ações no contexto de ser-no-mundo é compreender o episódio em seu sentido mais básico, humano e vital. Se recebo um livro e desejo entender o que está acontecendo em minha percep ção, devo olhar para essa percepção e tentar ten tar compreender as signif significa icaçõe çõess inerentes a ela. Não percebo cor, forma e assim por diante numa desordem sem significação. Experiencio o livro que descansa sobre a mesa a um metro de distância, ao meu alcance e “ chamando-me” chaman do-me” a abri-lo, abri-lo, o que é possível porque minhas mãos estão livres e estou confortavelmente instalado numa cadeira, situada em frente à escri vaninha, ao lado da janela, no andar de cima de minha casa, um quarteirão abaixo do meu local de trabalho e assim por diante. Todos esses aspectos são relevantes, e mesmo realmente essenciais para a percepção do livro. Não poderia percebê-lo num espaço vazio, divorciado de mim mesmo e de meus propósitos — de meu ser-nomundo. Todo esses elementos são aspectos do horizonte do mundo, e é na verdade impensável para mim o fato de ter uma experiência consciente do livro sem ter também um mundo em que o situar, dentro do qual ele seja um acontecimento significativo. Embora eu o construa, a estrutura de meu mundo particular, minhas tarefas e propósitos são necessários para que de algum modo haja um livro. Não há livro sem-mundo. De maneira similar, quando minha filha erigiu seu mundo na fei tura de planos, o pijama e a escova de cabelo apareceram em seu campo perceptual. Não Nã o estava est avam m “ apenas ape nas lá” lá ” ; ao co contr ntrár ário, io, eram era m pa part rtee de seu mundo mun do de an antec tecipa ipaçã çãoo conforme o tinha estruturado no tempo. Tinham significação. Não há também pi jam ja m a sem-mundo. sem -mundo. Devemos compreender minha filha, suas percepções e suas ações nesse sentido porque porq ue ela compre com preend endee a si mesma mes ma nesse nes se sentido. senti do. N a ve verd rdad ade, e, ex expe perie rienci nciar ar um acontecimento em alguma relação com o mundo que conhecemos é o que geral mente queremos dizer, de alguma alguma maneira, quando falamos falamos em “ compreen com preensão” são” . É claro que a compreensão de minha filha é, para ela, implícita. Podemos fazê-la explícita para nós e dizer que realmente a compreendemos, mas nós mesmos já a compreendíamos implicitamente antes de começar a análise. Já sabíamos algo do que estava acontecendo logo que ouvimos a estória pela primeira vez. Compreen demos seu desejo de visitar, seu desejo de voltar, porque também nós, como minha filha, temos um senso implícito de ser-no-mundo. Porém ao tomar explícita a com preens pre ensão ão qu quee esta es tava va implícita, implíc ita, libertam libe rtamo-nos o-nos de uma um a sensaç sen sação ão de con confus fusão, ão, despra des pra-zer ou o que mais possa ter motivado nossa exploração. COMPORTAMENTO Se compreendemos o mundo como um horizonte fundamental e entendemos que minha filha compreende a si mesma como ser-no-mundo, que podemos dizer agora sobre seu comportamento? Tanto as percepções como as ações dela foram ser-no-mu ndo.111 Compreendê-la desta maneira é compreendê-la expressões de seu ser-no-mundo.1 naqueles modos em que ela é essencialmente semelhante a qualquer outra pessoa.
COMPORTAMENTO E SER-NO-MUNDO
21
expressões de nosso ser-no-mundo é compreender sas percepções e ações como expressões percepçõe perce pçõess e ações aç ões conforme confo rme elas são — em seu estado est ado pe perm rmane anente nteme mente nte significa significa tivo. Em meio à rica complexidade do comportamento, especialmente do comporta mento humano, a tarefa da compreensão é monumental. De fato parece impra ticável até o momento em que nos damos conta de que, mesmo sem disciplina e treino, o mais ingênuo de nós já compreende em grande medida. Incontáveis com portamentos portam entos são por mim observ obs ervado adoss a cada ca da minuto em que estou est ou com pessoa pes soas, s, e esses comportamentos são imediatamente inteligíveis para mim. Sentir que não compreendo é um fato suficientemente raro para provocar uma atitude consciente de tentativa de solução de problemas, uma intenção de fazer-me retornar à com preensão. Quando iniciamos nossa análise, tanto compreendíamos como não. Compreen díamos que minha filha é um ser-no-mundo particular (embora não a tivéssemos chamado assim) — isto é, compreendíamos que ela compartilha conosco um am biente comum e o inter in terpre preta ta de modo semelhante seme lhante a nós mesmos. mesmo s. Sabíamos que aqueles acontecimentos significavam algo para ela — embora não estivéssemos exa tamente seguros quanto àquilo que então significavam. Sabíamos que ela organiza suas percepções do momento num campo perceptual com muitas significações — embora não estivéssemos seguros a respeito de como como suas percepções estavam or ganizadas. Sabíamos que ela organiza tais significações numa definição coerente de si própria enquanto alguma parte do mundo — embora não estivéssemos exata mente certos a respeito de como precisamente tudo isso parecia a ela, ou pelo menos não pensávamos nisto explicitamente. Sabíamos, em geral, que ela é uma e compartilha conosco todas essas coisas porque todas as pessoas o fazem. pessoa, pess oa, e É nisto que as pessoas são semelhantes. Sabíamos que ela é um ser-no-mundo. Mas estávamos também confusos em função de seu comportamento específico. Mesmo eu estava um pouco surpreso. Não sabia exatamente como ela interpretava os acontecimentos, caso contrário não teria ficado intrigado. A investigação do Cap. Cap. 1 visava a aguçar a precisão precisão de nossa compreensão já existente. Intencionava tomar as expressões comportamentais de seu ser-no-mundo e compreendê-las em termos de seu ser-no-mundo parti ser-no-mundo particular cular,, e compreender seu ser-no-mundo particular em termos de suas expressões. Quando estamos compreendendo outras pessoas, aquilo que compreendemos é seu ser-no-mundo. Ver o comportamento alheio de alguma outra maneira é dar-lhe uma significação que ele não possui. Vê-lo no contexto errado é compreender mal. Se aceno em sua direção chamando-o e você me compreende como fazendo um gesto de deboche, verá meu gesto como sendo de deboche e me compreenderá mal.
22
INTRODUÇÃO
COMPORTAMENTO COMPORTAMENTO INCONSCIENTE Algumas vezes meu próprio comportamento me surpreende. Ocasionalmente o campo operante que ele expressa é diferente da maneira pela qual me represento, pela qual repre re prese sento nto meu ser-no-mundo ser-n o-mundo pa para ra mim mesmo. Oc Ocorre orre com maior maio r ou menor freqüência que aquilo que estamos fazendo e aquilo que pensamos estar fazendo sejam diferentes. O paciente histérico que vomita qualquer comida prepa rada por sua mãe, embora não o faça com a comida preparada por qualquer outra pesso pe ssoa, a, pode não saber sab er que está es tá exp expres ressa sando ndo algo acer ac erca ca do campo cam po relativo rela tivo à pró pró pria. Na verdad ver dadee sua intençã inte nçãoo conscie cons ciente nte pode ser se r amar am ar totalme tota lmente nte a mãe; ofendêla pode ser a última coisa que deseja. O menino pré-adolescente que molha a cama pode esta es tarr bem pou pouco co ciente cien te do campo ope operan rante te den dentro tro do qual esse ess e compor com porta ta mento é inteligível, e ele e o urologista podem concordar com o fato de que haja algo errado com seu aparelho urinário. Dado que tal comportamento “incons ciente” é onipresente, a experiência experiência para a qual devemos apelar a fim de compreendê-lo pode facilmente não ser aquela do nível mais superficial de idéias altamente articuladas que possuímos a respeito de nós mesmos. Na verdade, a ex periênc per iência ia é matizad mati zada, a, com muitos horizon hor izontes tes ope operan rando do simultan sim ultaneam eamente ente.. No Noss ssaa re re presen pre sentaç tação ão verbal verba l ou explícita explíc ita pode ser se r algo inexat ine xataa ou grosse gro sseiram iramente ente enganosa; enga nosa; não obstante, o campo implícito, mas operante, controlará nossas percepções e açõe aç ões. s.112 O comportamento de minha filh filhaa provavelmente a surpreendeu surpreende u — embora ela se recordasse fracamente de suas antecipações enternecedoras depòis que mudou de idéia. No episódio vemos uma seqüência de campos, em lugar da presença simultâ nea de dois campos opostos, conforme ocorre na situação do menino que vomita a comida preparada pela mãe (amor pela mãe/òdio pela mãe). Suponha que minha filha fosse mais velha, recordasse suas antecipações, necessitasse sair-se a contento no contrato interpessoal e fizesse um grande investimento em sua identidade en quanto “ em crescimento” crescim ento” — mesmo mesmo que que ainda houvesse a irresistível urgência urgência de de voltar para casa naquela noite. Também ela teria achado necessário “ficar doente” (desenvolver vômitos, dor de estômago ou algo dessa ordem) a fim de ir para casa. Tal manobra, comum em pessoas mais velhas, teria facultado a ela mesma e aos outros o reconhecimento de sua representação repres entação “ oficial” oficial” de si mesma, mesma, permiti permitindo ndo-lhe simultaneamente expressar seu ser-no-mundo como ele realmente era.13
QUE É FAZER PSICOLOGIA FENOMENOLOGICAMENTE Vamos resumir o que dissemos a respeito do comportamento. Afirmamos que o comportamento é uma expressão do ser-no-mundo. Com isto quisemos dizer que o modo como cada um está-no-mundo controla o seu comportamento, que o serno-mundo é aquilo que é revelado no comportamento, que aquilo que compreende mos quando entendemos o comportamento é o ser-no-mundo que ele expressa, e que é apenas no contexto do ser-no-mundo que o comportamento é inteligível para nós. Essas quatro proposições descrevem alguma coisa da abordagem global da
COMPORT COMPORTAM AMENTO ENTO E SER-NO-MUNDO SER-NO-MUNDO
23
explícito, o que já fazemos na experiência diária. Estamos usando nossas interpre tações espontâneas de forma mais disciplinada. Que instrumental interpretativo adicional adquirimos ao longo do percurso? Uma análise análise fenomenológi fenomenológica ca de qualquer segmento de comportamento comportame nto pode ser realizada por qua qualqu lquer er pe pess ssoa oa que estej es tejaa desejando dese jando tenta ten tarr co comp mpree reende nder. r. Podemos Pode mos pergunta per guntar, r, em primeiro lugar , pela estrutura da experiência do tempo tempo do indivíduo. O pano de fundo imediato daquilo que os eventos significam para ele são as antecipações ou as recordações? Está ele, em seu comportamento, vivendo primariamente no futuro ou no passado? Seja qual for o pano de fundo imediato, possui uma significação para o indivíduo em função de horizontes adicionais de natureza temporal — recordações e antecipações. Entender esses horizontes e a maneira como estão inter-relacionados é uma parte essencial da compreensão do comportamento de alguém. Podemos perguntar, em segundo lugar, sobre as atrações e repulsões fisionômi cas do ambiente imediato do indivíduo. Como é seu campo perceptual campo perceptual e comportamental, dentro do qual suas ações estão orientadas, estruturadas? Onde estão as atrações e repulsões? Em termos do espaço comportamental concreto de uma ação particu par ticular, lar, tal pergun per gunta ta fornece forn ece apenas ape nas uma descr des criçã içãoo do compor com portam tament ento. o. Mas o comportamento se torna revelador naquilo que o movimento físico expressa. Tam bém temos de formular form ular o que que está sendo expresso e este empreendimento nos en gaja numa investigação relativa a quem o indivíduo pensa que é dentro desse campo, quanto o campo concreto tem de influência sobre quem ele pensa que é e quanto quem ele pensa que é influencia a aparência do campo concreto. O mapeamento espacial do campo comportamental não é, na verdade, indepen dente de nossa primeira indagação quanto à experiência do indivíduo relativa ao tempo. Seu espaço comportamental será interpretado em termos de uma antecipa ção de um lugar futuro nesse espaço, de uma recordação de um lugar passado, ou de ambas. Ou seu comportamento pode estar visando a uma reestruturação do es paço: o indivíduo pode mover mov er fisicamente fisica mente as coisas coi sas de um lado pa para ra outro, out ro, er guendo barreiras e abrindo canais de comunicação visuais ou auditivos com outros elementos nesse espaço. Também podemos usar a noção de um campo comportamental de modo menos concreto conc reto e mais mais metafórico. Minha filha filha pode ter te r desejado dese jado mover-se “ para mais mais pert pe rto” o” de sua amiga não apenas ape nas fisicamente fisica mente como ainda aind a emociona emoc ionalmen lmente. te. O fato fa to de se mover para perto da amiga fisicamente pode ter sido uma maneira de mover-se emocionalmente em direção a sua mãe — se, por exemplo, esta a tivesse levado a crer que ela (mãe) a amaria mais, se ela (filha) fosse passar toda a noite com a amiga. Pensar espacialmente, portanto, também não é independente de uma terceira terceira via de questionamento: acerca de contratos interpessoais, acordos, conflitos, desejos de ajudar ou ser ajudado e de ferir ou ser ferido por outros. Podemos perceber com maior clareza estes horizontes em nosso próprio comportamento, mas se prestar mos atenção também o veremos no comportamento de outrem. Vemos tais horizon tes automática e implicitamente, é claro; é de grande utilidade na compreensão do do de dis de alguns ceit sejam
24
INTRODUÇÃO
existe sempre algum acordo, sobre o que certo comportamento significará e sobre a maneira como certas ações confirmarão o anonimato já existente, enquanto certas outras o modificarão criando simpatia, atração sexual, competição e assim porj diante. Tendo perguntado sobre os horizontes temporais, espaciais e interpessoais que controlam as percepções e ações de uma pessoa particular numa situação particu-. lar, fizemos já alguns julgamentos interpretativos a respeito do como esse indivíduo vê o mundo e o seu lugar nele. Teremos necessitado supor uma série de coisas a respeito de seu ser-no-mundo. Quanto melhor o conhecemos, menos temos de pres supor e mais mais podemos dizer dizer que que “ sabemos” . Todas as as nossas interpretações resul tarão num pad num padrã rãoo que é uma variante singular de nossa compreensão já existente daquilo em que consiste o fato de ser uma pessoa. A finalidade de nossa análise é perce pe rcebe berr esse pad padrão rão tão claram cla rament entee qu quant antoo possíve pos sível.l. O co comp mport ortam amen ento to do indiví duo é nosso dado; sua significação, nossa busca. Seu padrão é para nós inteligível se e somente se estamos capacitados a reunir tudo no conjunto coerente de seu ser-no-mundo. O comportamento nos diz como o indivíduo vive vive em seu mundo. Revela-nos a estrutura de seu mundo na própria experiência dele. Toma público o que é teoricamente privado: sua experiência. Expressa essa rede de significações que o mundo é para ele. Já é inteligível em certa extensão; uma análise fenomeno lógica pode tomá-lo mais inteligível. Em síntese, para compreender um segmento de comportamento, em primeiro lugar devemos ver esse comportamento no contexto do campo perceptual imediato da pessoa. Podemos analisar esse campo descrevendo uma série de horizontes que esta experiência experiência do campo sintetiza. Em segundo lugar devemos ver esse campo no contexto do mundo da pessoa: como ela o constrói e qual o seu lugar nele. Quanto mais dados tivermos, mais pessoal se poderá tornar nossa compreensão do indivíduo — em maior grau o poderemos conhecer em sua singularidade. Final mente, esse processo de compreensão é uma articulação do que já compreendemos implicitamente. O comportamento pessoal do indivíduo, nos fala, e nós o com preend pre endemo emoss como com o uma fala sua — como com o uma ex expr pres essã sãoo de seu ser-no-mu ser-n o-mundo ndo.. O objetivo da psicologia fenomenológica é abrir à nossa compreensão tantas camadas dessa expressão quantas pudermos.
PARTE
n
MÉTODO
c a pít u l o
3
COMPREENSÃO E COMUNICAÇÃO Ao considerar a metodologia da investigação psicológica, o fato singular mais importante é que tanto nós, os investigadores, como aqueles que investigamos somos seres-no-mundo. Somos* experienciadores que dão e recebem significação. Os processos e estruturas que investigamos na experiência alheia são essencial mente os mesmos processos e estruturas que constituem a própria investigação.1 Aspiramos a compreender algo, o que significa que visamos a tomar sua significa ção evidente para nós. Depois de compreender algo, procuramos comunicar aos outros o que compreendemos. Essa é a essência da ciência em seu sentido mais amplo. O problema metodológico é: Como podemos fazer com que um acontecimento se revele em sua significação constituída de múltiplas camadas?2A fim de revelar as inúmeras significações de um acontecimento, devemos chegar a perceber clara mente as experiências dos participantes, cujas intenções e percepções são as são as signi ficações dos eventos. Neste caso, compreendemos. Uma vez que o acontecimento e sua significação sejam entendidos, desejamos tomá-los claros para alguém mais. Devemos ser capazes, por conseguinte, de expor nossa experiência de forma que possa po ssa ser clarame clar amente nte perceb per cebida ida po porr esse alguém. Em ambos ambo s os pa passos ssos deste des te pro pro cesso, a mesma tarefa se apresenta. Na compreensão quero recriar re criar a experiência de minha filha filha na minha própria experiência, e na comunicação desejo que você recrie minha experiência (da experiência dela) na sua experiência. Como podemos atingir uma comunicação sistemática e rigorosa? Sabemos que este processo não é impossível, já que diariamente compreende mos outras pessoas e nos comunicamos com elas de modo a sermos entendidos. O não compreensão e a ausência difícil é sermos sistemáticos e rigorosos, superar a não de comunicação, corrigir os mal-entendidos mal-entendidos e a comunicação equívoca. equívoca. Mesmo sendo a ciência uma extensão dos processos mais naturais do homem, não basta à apenas o experienciar comum. O experienciar usual é um acon psicologia ab abar arca carr apenas o tecimento miraculoso, e devemos ter nele nossos fundamentos, mas está também sujeito ao erro, à mentalidade estreita, à tendenciosidade e aos preconceitos. A apenas o uso do senso comum, é um refinamento psicologia fenomenológ fenome nológica ica não é apenas o
28
MÉTODO
Quando vejo minha vizinha, a Sra. Smith, dirigir-se raivosamente a outra pessoa, não necessito descobrir que ela está irritada por procedimento metódico. Sei disto imediatamente.3 Posteriormente, ao observar, prestar atenção e fazer perguntas à Sra. Smith, posso descobrir alguma coisa acerca do motivo por que está zangada. Ela me diz seu ponto de vista, como o mundo lhe parece e de que modo a pessoa a quem se dirigiu raivosamente aparecera dentro desse mundo. Também esta narra tiva não requer intervenção metodológica; acontece espontaneamente e o rigor é a única única coisa que a metodologia metodologia pode acrescentar. acre scentar. Um conhecimento prolongado com com a Sra. Smith tomar-me-ia inclusive capaz de compreender como o esquema de mundo que engendrou sua raiva chegou a ser conforme é. Ao comunicar a você o que compreendo a respeito da Sra. Smith, falo-lhe dela da mesma maneira como qualquer um de nós falaria a uma outra pessoa de uma terceira: como ela se comporta, o que pensa e sente e como vê o mundo. Quanto mais sistemáticas e detalhadas forem as observações dela para mim e as minhas para par a você, você , menos meno s deverem deve remos os pree pr eenc nche herr lacunas lacu nas com adivinh adi vinhaçõ ações, es, inferência infer ênciass e generalizações, sejam nossas ou de outras pessoas. Há muitos indícios metodológicos importantes nesta descrição. Primeiramente, enquanto investigador , tenho de aprender como ajudá-la a falar e devo aprender como ouvir. A recriação da experiência dela na minha ocorre quando ela faia e eu escuto. Em segundo lugar, na qualidade de comunicador , tenho de aprender como falar e como ajudar você a ouvir. A recriação da minha experiência na sua ocorre quando falo falo (ou (ou escrevo) e você escuta esc uta (ou lê). lê). Todos estes processos process os são elementa res, são o estofo de nossa compreensão habitual uns dos outros do modo como a atingimos na vida diária com maior ou menor sucesso. Mas estes processos podem ser realizados bem ou mal, sistemática ou casualmente, com rigor ou de forma tendenciosa. Quando digo que sei algo sei algo sobre a sobre a Sra. Smith, isto significa que ela está presente em meu campo de consciência. Quando digo que a conheço, conheço, estou afirmando que minha relação com ela está estruturada de acordo com certos padrões socialmente d.efinidos como conhecimento, conhecimento , que são diferentes de padrões tais como medo, amor e ignorância. No entanto, todos estes padrões são aspectos de meu ser-no-mundo. Aquilo a que em geral chamamos de conhecimento conhecimento é uma parte bastante especiali zada de meu ser-no-mundo. Ocorre dentro do contexto mais amplo de minha rela ção total com minha vizinha, relação que por sua vez ocorre dentro do contexto mais amplo do meu e do nosso ser-no-mundo.4 Visto que meu conhecimento da Sra. Smith tem um contexto especial e único, não posso posso comunicar comunica r a você o que sei sem sem expor, também, outros o utros contextos co ntextos — meu ser-no-mundo, meu campo e minha relação total com ela. Divorciar o que sei de seus contextos empobreceria tal conhecimento e o tomaria falso. Produziria uma comunicação errônea e conduziria a uma má compreensão. A fim de evitar a comu nicação errônea, eu teria de deixar que você conhecesse também meu afeto, medo ou simpatia quanto a ela. Neste caso, o que eu dissesse a respeito da Sra. Smith
COMPREENSÃO E COMUNICAÇÃO COMUNICAÇÃO
29
sobre ela sem, simultaneamente, dizer algo sobre mim mesmo e sobre minha pers pectiva. No discurs disc ursoo diário, diári o, compre com preend endem emos os este es te pon ponto to espo es ponta ntane neam ament ente, e, embo em bora ra de maneira não formalizada. Não há, por exemplo, narração que narração que não seja motivada, e a motivação é comunicada juntamente com o conteúdo oficial. E inevitável tal acompanhamento; não há conhecimento isento de perspectiva. Um dos aspectos verdadeiramente surpreendentes de nossa experiência usual é o fato de podermos compreender as perspectivas alheias sem qualquer esforço ex plícito. plícito. Todavi Tod aviaa algumas ve veze zes, s, é claro, cla ro, também tam bém compre com preend endem emos os mal, em virtude virtu de da perspectiva não ter sido tomada clara pelo locutor ou não ter sido apreendida pelo ouvi o uvinte nte.5 .5 Porta Po rtanto nto,, uma pa parte rte crític cr íticaa da compre com preens ensão ão usual usua l e uma pa parte rte ainda aind a mais crítica da psicologia fenomenológica, que visa a aperfeiçoá-la, é ser capaz de estar atento às perspectivas e de tomá-las claras para os outros. O fato de que você possa possa transcender transcen der os limite limitess de sua própria perspectiva e compreender a minha é a base de toda tod a comunic com unicaçã açãoo de conh conheci ecime mento nto e compre com preens ensão. ão. Qua Quanto nto mais cada ca da um de nós o fizer, mais seremos capazes de compreender. Aqueles que não podem transcender esses limites são tão raros que os colocamos em instituições sob os rótulos de “psicopatas” e “retardados mentais”. Estivemos falando sobre conversas, conversas, narrativas e escuta como escuta como se fôssemos limi tados à conversação e à expressão verbal. Embora na verdade escutemos o que uma pessoa diz, também prestamos atenção no que ela não diz, e de algum modo “escutamos” seus gestos, posturas e tom de voz. Embora certamente usemos palavras que expressam o que pretendemos, tam bém falamos atrav atr avés és do que excluímo exclu ímos, s, dizendo dize ndo coisas cois as em cert ce rtos os momentos mom entos ao invés de em outros e através de nossa expressão facial geral. A comunicação se inicia e é compreendida em muitos níveis ao mesmo tempo. Freqüentemente é útil, quando queremos descobrir o que algum comportamento significa, perguntar à pes soa que se comporta o que ela pretende com seu comportamento. Porém nem sempre é necessário perguntar para compreender, nem o que a pessoa diz é a única coisa que compreendemos depois de conversar com ela. Voltando Voltando outra vez ao exemplo do Cap. 1, tenho uma perspectiva perspec tiva da perspectiva de minha filha quanto a ela mesma e ao mundo. Você tem uma perspectiva de minha perspectiva da perspectiva de minha filha. Parece que em cada um destes elos da cadeia alguma coisa se deve perder. Você não compreende o comporta mento mento de de minha filha filha tão bem quanto q uanto eu porque não estava es tava lá e não viveu junto jun to com ela como eu vivi. vivi. Não compreendo compreend o minha filha filha tão bem quanto qua nto ela compreende compreend e a si própria porque por que,, não impor im porta ta qua quanto nto tempo tem po e esforç esf orçoo eu empregue empre gue ne nesta sta compre com preen en são, não posso ser minha filha, logo nunca apreenderei realmente sua experiência na minha própria. Este fracasso é sem dúvida um problema: o caráter perspectivo do conhecimento, uma vez que reconheçamos sua ocorrência inevitável, deve-nos manter modestos. No entanto, com base no que eu disse, você compreende algo Sobre minha filha e preenche as lacunas com as idéias usuais que possui sobre como devem dev em ser as meninas pequenas. E eu compreendo com preendo algo da experiência experiênc ia dela daquela daquela
30
MÉTODO
garotas mimadas que sempre conseguem o que querem; logo, terá de reformular tal pers pe rspe pecti ctiva va restr re strit itaa ao ler este es te livro. Ajusto Ajus to minha minh a próp pr ópria ria pe pers rspe pecti ctiva va sabend sab endoo o que pensa minha mulher; minha filha ajusta a dela sabendo o que pensamos todos nós. Compartilhamos nossas perspectivas distintas e chegamos a ter algo de pers pectiv pec tivaa comum, comu m, ou, pa para ra ser se r mais precis pre ciso, o, nosso nos so mundo mund o comum comu m se tom to m a cada ca da vez mais comum e claro quando conversamos uns com os outros.6 Um grande auxílio para ser capaz de compreender é aumentar o número de pontos pon tos de vista vis ta que posso pos so ado adotar tar.. Cada Ca da um deles, del es, cada ca da con conjun junto to de idéias preest pre estaa belecidas belec idas sobre sob re como com o são meninas menin as pe pequ quen enas, as, e cada ca da teor te oria ia psicológi psic ológica, ca, atrai atra i alguns aspectos do acontecimento para o foco e obscurece outros. Um psicólogo de linha fenomenológica tenta perceber um acontecimento de tantas maneiras diferentes quanto possível, aspira a tomar explícitas tantas significações diversas quanto pos síveis e visa a organizar uma compreensão em tomo do contexto de significação mais básico: o ser-no-mundo.7 Há três estratégias gerais que podemos adotar como auxílio na tarefa: a redução fenomenológica, a variação imaginária e a interpretação. Vamos explicá-las em termos de um exemplo simples. Suponha que você esteja em meio a um grupo de pessoa pe ssoass saindo saind o de um cinema cine ma e ouve a seguinte co conv nver ersa sa bem a seu lado:
Rapaz Ra paz:: Gostou do filme? Moça: Moç a: Foi bom; gostei. Rapaz Ra paz:: Isto é ótimo... Da última vez que levei uma garota ao cinema ela não gostou do filme e passei por maus momentos. Moça: Puxa, isso é ruim à beça. Rapaz Rap az:: É mesmo; imagino que ela pensou que eu era um completo idiota para levá-la àquele filme. Você cê pe pens nsaa assim ssim?? Moça: Moça : Não se i. . . Hm m. . . Vo Rapaz Ra paz:: Ela nem mesmo deixou que lhe desse um beijo de boa noite. Moça: Moça : Oh! (Pausa) Sabe de uma coisa? Não gostei do filme. Talvez a moça seja uma boa fenomenologista, embora provavelmente não muito rigorosa. À medida que a conversa progride, os comentários do rapaz revelam cada vez mais plenamente a significação verdadeira da pergunta inicial. Está pergun tando ostensivamente se a moça gostou ou não do filme. Enquanto ela entende que isso é o que ele deseja saber, responde à pergunta inicial em termos de sua signifi cação mais óbvia. Porém em seguida presta atenção ao que mais ele diz e descobre que a primeira pergunta não significa apenas o que pensava a princípio. Estava realmente indagando se ela gostava ou não dele, tomando-se evidente que a razão da pergunta não se ligava ao bem-estar dela e sim à questão de ser ele ou não um idiota a seus olhos. Um momento mais tarde, a moça descobre que a razão pela quai o rapaz quer saber se ela pensa ser ele um idiota é devido ao desejo real de perg pe rgunt untar ar se será se rá afetuo afe tuosa sa com ele. À luz da no nova va informa info rmação ção sobre sob re as várias vár ias signi signi
COMPREENSÃO E COMUNICAÇÃO
31
chamou chamou “ atitude natural” natur al” — preconcepções preconcep ções acerca ace rca daquilo daquilo que o acontecimento acontecimento significa__e de nos abrir ao acontecimento tão plenamente quanto possível. A redução fenomenológica é uma abertura consciente e ativa de nós mesmos ao fe fe n ô m en enoo . Dizer que queremos vê-lo enq enquant uantoo fenômen fenô menoo é afir nômeno e n q u a n t o fen mar que desejamos divorciá-lo de nossas idéias acerca da mudança de opinião das N ão queremos ver o aconteci mulheres ou do fato dos rapazes falarem demais. Não mento como um exemplo desta ou daquela teoria que possuímos; queremos vê-lo como um fenômeno por si mesmo, com sua própria significação e estrutura. Qual quer pessoa poderia ouvir as palavras que foram ditas; ter prestado atenção nas significações conforme emergiram eventualmente do acontecimento como um todo é ter assumido uma atitude de abertura ao.fenômeno em sua significação inerente. É ter “ colocado colocado entre parênteses” parên teses” nossas respostas às partes isolada isoladass da conversação e ter permitido que o acontecimento emergisse como um todo significativo.8 Ter reconhecido o ponto característico do acontecimento também é ter prati imaginária. Isto é, há muitas maneiras de ver o acontecimento e cado a variação imaginária. tivemos de vê-lo do ponto de vista da moça e do ponto de vista do rapaz, a fim de atingir, de algum modo, o ponto principal. Cada ponto de vista é um horizonte possível — o ser-no-mu ser-n o-mundo ndo dele enq enquan uanto to orient ori entado ado pa para ra o b ter te r algo dela e o serno-mundo dela enquanto chegando a reconhecer esse fato. Não estava inicialmente claro o que ele estava pretendendo, nem mesmo que ele estava pretendendo alguma coisa. Poderia estar sugerindo que ficassem para ver o filme novamente ou que conversassem sobre filmes que ambos tivessem visto — ou mesmo preenchendo o tempo vago com um bate-papo a fim de evitar um silêncio embaraçoso enquanto aguardavam para sair do cinema. Todas essas possibilidades refletem maneiras de presta pre starr atenç ate nção; ão; em no noss ssaa imaginação imagin ação pod podemo emoss faz f azer er var v ariar iar os diferen dif erentes tes ho horizo rizonte ntess até que “o ponto” se tome claro. É mesmo possível que um ou ambos os membros do casal casal estivessem operando op erando num espaço que incluísse você — que eles eles quisessem que você escutasse. Alguns desses horizontes são reveladores, outros não. A varia ção imaginária consiste em imaginar a aparência do fenômeno contra o pano de fundo de horizontes variados na tentativa de apreender o que significa o fenômeno total. po ntoo princi pri ncipal pal envolvia Noss No ssaa análise anális e cond conduziu uziu à con conclu clusão são de que o pont envolvia um mo interpretação : Uma interpre tivo de sedução do adolescente. Tal conclusão é uma interpretação: tação é uma articulação de significações conforme emergem no fenômeno quando considerado considerado como um fenômeno. Ela é de tão boa b oa qualidade quanto o são as sign signif ifi i cações disponíveis para o intérprete enquanto experiencia o fenômeno. Cada teoria psicológica é um esquem esq uemaa interpr inte rpretat etativo ivo:: um con conjunt juntoo de con concei ceitos tos usados usa dos pelos observadores a fim de tomar inteligível o que observam. Algumas teorias são mais ricas em possibilidades interpretativas do que outras, más nenhuma teoria é isenta de limitações. Ao ver um fenômeno de uma maneira, impedimo-nos de vê-lo de outra forma.9 O que distingue uma interpretação fenomenológica são suas suposições, assim
32
MÉTODO
Esta discussão nos conduz a um problema. É essencial o requisito de sermos sistemáticos: deve haver alguma rotina que nos capacite a tomar uma investigação fenomenológica semelhante a outra investigação fenomenológica. Interpretar todo acontecimento em termos das espécies de horizonte descritas ao final do Cap. 2, por po r exem ex emplo, plo, do dotar taria ia a investiga inve stigação ção fenomenol fenom enológic ógicaa de um proce pro cedim dimen ento to orden ord enad adoo visando a garantir que nenhum aspecto decisivo fosse deixado de fora. No entanto, se tal procedimento fosse adotado, estaríamos forçando o acontecimento a se en quadrar em categorias já existentes e negando sua presença e significação singula res; tal procedimento nos fecharia os olhos à constelação de significações conforme estas são sintetizadas, na realidade, em nossa experiência. Por vezes um ou outro horizonte predomina absolutamente sobre os outros. A redução fenomenológica se toma importante nesse contexto, pois é um procedimento planejado para nos fazer retomar à experiência conforme ela é experienciada; é uma postura a partir da qual apreendemos a experiência vivida conforme ela é vivenciada. A psicologia fenomenológica tem de produzir interpretações sistemáticas em lugar das informais e causais, mas tem também de permanecer abertas ao aconteci mento em sua estrutura e presença únicas, evitando enquadrá-lo segundo alguma teoria que exclua outras perspectivas. A redução fenomenológica e a variação ima ginária são estratégias planejadas para nos assegurar de que nossa interpretação é fiel ao acontecimento em sua própria presença em nossa experiência. A experiência vivida, em sua abertura plena, é o critério de adequação de uma interpretação. Não pode ha have verr outro. out ro. Finalmente, existe a tarefa de comunicar nossa interpretação dentro de sua perspe per specti ctiva va própria próp ria.. Devemos Devem os ter te r em mente ment e que na comuni com unicaç cação ão com os ou outro tross estamos sempre transmitindo nossa compreensão e que esta está sempre baseada em uma perspectiva. Não há fa to s que não sejam vistos através de uma perspectiva e de uma compreensão interpretativa daquilo que está sendo descrito. A fim de tomar rigoroso o processo de comunicação, a ciência invariavelmente insistiu na necessidade do comunicador descrever não apenas o acontecimento, como também os procedimentos que o conduziram a uma interpretação particular. Numa investi gação psicológica formalizada, há em primeiro lugar uma descrição cuidadosa do método, assim como do trabalho prévio que sugeriu as principais categorias inter pretat pre tativa ivass subja su bjacen centes tes ao estud es tudo. o. N a tradiçã trad içãoo científi cie ntífica ca a qu ques estã tãoo da pe persp rspec ectiv tivaa é levada a sério. Diferentemente das ciências físicas, no entanto, a psicologia lida com significa ções, intenções, sentimentos e idéias — o estofo da experiência, que não pode ser quantificado sob pena de distorção. Ao medir objetos físicos posso confrontar muito facilmente minhas observações com as de outras pessoas. Na interpretação do comportamento a situação é diferente. Como posso saber, quando recrio a expe riência da Sra. Smith na minha própria, que o estou fazendo corretamente? Não posso poss o saber; sabe r; na verda ver dade, de, posso pos so esta es tarr mais ou menos men os certo ce rto,, visto vis to que não sou a Sra. Smith, de que não recriei a experiência dela completamente. Mas experiencio o
COMPREENSÃO E COMUNICAÇÃO
33
foi compreendido. Quando algo é compreendido apenas de forma interpretativa, como na psicologia, devem ser expostos os fundamentos dessa interpretação, os contornos de significação na experiência do investigador. A redução fenomenoló gica, a variação imaginária e a interpretação são formas de tornar claras para o investigador as suas próprias significações. O fato de descrever a operação das mesmas no próprio projeto de pesquisa toma-as claras para o leitor ou ouvinte. Portanto, escrever fenomenologicamente é bastante árduo, e toda análise fenome nológica é uma auto-análise em certo sentido. Tal é o preço (e a recompensa) do rigor.
CAPÍTULO 4
TÉCNICAS DE PESQUISA Qualquer discussão sobre técnicas de pesquisa em psicologia fenomenológica deve ser necessariamente inacabada e sugestiva, ao invés de definitiva. Há diversas razões para isto. Primeiramente, a psicologia fenomenológica se encontra num está gio inicial de desenvolvimento. A fenomenologia como uma filosofia tem apenas uma centena de anos; como um movimento cultural, é ainda mais jovem, e bastante limitada à Europa. No cenário psicológico americano, há fenomenologistas há cerca de uma ou duas décadas somente.1Em segundo lugar, ao contrário de outras meto dologias, a fenomenologia não pode ser reduzida a um conjunto de instruções do tipo tipo “ livro livro de de receitas rece itas”” . Ela é antes uma abordagem, uma atitude, uma postura postu ra de de investigação com certo conjunto de objetivos. A amplitude das técnicas que podem ser usadas para desenvolver essa atitude é, na verdade, muito grande, e até o mo mento apenas poucas delas foram experimentadas. Em terceiro lugar, o método utilizado em um projeto de pesquisa não é necessariamente apropriado para outro. Cada projeto apresenta seus próprios problemas, objetivos e limitações. Por defini ção, praticamente, o uso do mesmo método em dois problemas diferentes viola a atitude fenomenológica — atitude que visa a ir ao encontro dos fenômenos em seus próprios próp rios termo ter mos, s, e não a comprimi-los comprim i-los no molde das pressu pre ssupos posiç ições ões.. O objetivo de qualquer técnica é ajudar o fenômeno a revelar-se de forma mais completa do completa do que o faz na experiência usual. Este objetivo pode ser formulado como constituindo a tentativa de revelar tantas significações quanto possível, e suas rela ções mútuas, no momento em que o fenômeno se apresenta na experiência. A frase revelar-se de forma mais completa completa significa revelar camadas de significação. No aparecimento usual de um acontecimento, suas significações estão presentes em nosso ato de experienciar este aparecimento, mas estão implícitas e obscuras. Dividiremos nossa discussão segundo três espécies de problemas de pesquisa que um psicólogo deveria procurar compreender: interpretação do acontecimento único, singular; interpretação do indivíduo único, singular; e interpretação de um process proc essoo psicológico psicológi co geral ou repetit rep etitivo ivo.. H av averá erá po porr certo ce rto ou outra trass espéci esp écies es de pro pro blemas blem as que os psicólogos pode poderiam riam enfren enf rentar tar fenomenolog fenome nologicam icamente ente envolv env olvend endoo
TÉCNICAS TÉCNICAS DE PESQUISA
35
cia do Nazismo na Alemanha. Esta categoria consiste em acontecimentos- tais que cada um deles ocorre apenas uma vez, num certo contexto especial, temporal e pessoal, pessoa l, e não pode acon ac onte tece cerr nov novam ament ente. e. A compre com preen ensão são de aconte aco ntecim ciment entos os pa pas s sados pode ser útil na de eventos similares atualmente presentes, mas tal investiga ção não é explicitamente comparativa, pois a comparação necessariamente reduz um fenômeno àqueles aspectos que apresenta em comum com outros fenômenos e fracassa em revelar reve lar a singularidade.3 O Cap. 1 oferece um exemplo de análise análise não comparativa. O episódio entre o rapaz e a moça no Cap. 3 é outro exemplo. Um acontecimento semelhante pode ocorrer novamente, mas investigar esse evento em sua similaridade similaridade com outros acontecimentos requer que escolhamos aqueles a que se assemelha, o que por sua vez exige uma análise prévia do acontecimento em sua unicitiade.4 É verdade, no entanto, que a análise de acontecimentos únicos, singulares, pode-nos ajudar aju dar a compre com preen ende derr ou outro tross aconte aco ntecim ciment entos. os. N a análise análi se do compor com porta ta mento de minha filha descobrimos alguns horizontes e estruturas que são univer sais. Posteriormente, descobrimos alguns horizontes que estão sempre presentes sob certas circunstâncias (como a infância), e não sob outras. A lógica desta espécie de compreensão não é a mesma empregada na generalização a partir de um exemplo; mais precisamente, haverá certos horizontes que estarão sempre aí na experiência humana e os descobrimos para onde quer que nos voltemos. A noção de que não existe experiência humana que não esteja envolvida em contextos espa ciais, temporais e interpessoais dificilmente é idêntica à afirmação, por exemplo, de que crianças de cinco anos de idade sempre mudarão de idéia como fez minha filha. Esta última é uma generalização duvidosa; a primeira, não. Todo psicólogo profissional está familiarizado com pelo menos um exemplo se melhante de obtenção de conhecimento. O Committee on Scientific and Professio nal Ethics and Conduct of the American Psychological Association foi encarregado da tarefa de formular princípios a fim de dirigir a ética da prática profissional (A.P.A., 1967). Já existia algum algum “ senso ético éti co”” compartilhad comp artilhado; o; a tarefa taref a foi codificácodificálo para referência futura. A abordagem da comissão foi descrita como “uma abor dagem de análise de conteúdo, empírica, indutiva, utilizando os incidentes críti cos” , que tornaria possível, possível, com base em experiência acumulada, “ extrair extra ir do có digo original um conjunto de princípios mais gerais” (p. vii). Os incidentes críticos, por si mesmos únicos úni cos,, têm propri pro prieda edades des estru es trutur turais ais que são universa univ ersais. is. Os univer uni ver sais surgirão invariavelmente, mas apenas se permitirmos que o incidente se revele plenamente. Este Es te trabal tra balho ho difícil difícil não é, em princípio, princí pio, metodolog metod ologicam icamente ente distinto distint o da investigação fenomenológica de acontecimentos únicos, singulares. Ao nos depararmos com um acontecimento único, singular, com o propósito de compreendê-lo, nossa primeira tarefa é permitir que o fenômeno apareça como um fenômeno (redução fenomenológica). Há duas modificações de atitude quase opos tas nesta espécie de observação: precisamos despir o acontecimento das significa
36
MÉTODO
Se você passeia na sala antes da aula e vê o professor escrevendo no quadro um esquema da exposição que vai fazer, apreende o acontecimento imediatamente em muitos níveis simultâneos: identificando a sala como sala de aula e identificando a sala de aula como possuindo certo papel em sua educação, a qual tem certo papel em sua vida; identificando o homem como um professor, a quem você conhece em diversos contextos — pessoal, profissional, assim como pela reputação e pela úl operandi dele, na tima exposição que fez; identificando o ato como parte do modus operandi dele, antecipação de algo que todos esperam que aconteça em um minuto ou dois; identi ficando o contexto do que ele escreve como aquilo sobre o que ele havia dito que falaria hoje. Todos esses horizontes são parte de sua experiência vivida do aconte cimento. Contudo, há outros. Os movimentos do professor expressam uma certa confiança, uma certa atitude displicente quanto ao tema, diferente das incertezas em que você se encontra quanto à possibil possibilidade idade de de obter o bter uma boa nota no ta nessa maté ria; o movimento de um lado para outro que ele executa é uma sinfonia de contra ção e relaxamento muscular, dotado de um certo tempo e de um certo andamento, que expressam a atitude dele quanto a você, ao trabalho, à confusão em que você se encontra quanto a essa matéria — uma atitude ou estilo que algum dia pode ser a sua, caso você deseje que assim Seja ou caso isso esteja sob seu controle. Outros alunos entram na sala e exibem múltiplos indícios da própria experiência: um olhar intrigado de um que faltou à última aula; outro do aluno que sempre parece con fuso; um gesto de “já vamos nós outra vez” da parte de um amigo cuja discussão recente com o professor o levou a detestar tudo que este faz; uma garota pegando um espelho e olhando os dentes — ela é negligente porque já se tomou perita no assunto, não tem preocupações, ou está agindo assim justamente para ocultar a própri pró priaa con confusã fusão? o? Em seguida seguid a a atividad ativ idadee co coleti letiva va da sala muda, mu da, pa passa ssand ndoo de mo vimentos desorganizados, aleatórios, individuais, a uma atenção grupai coletiva e organizada, anunciando que algo ocorrerá em conjunto. Você percebe que este pa drão é uma parte da rotina mais ampla, entendida por todos; é uma tradição não apenas desta universidade como daquelas de todo o mundo, que estão estruturadas pelos pelo s papéis papé is de prof pr ofes esso sorr e aluno, alun o, co confe nferen rencis cista ta e ouv ouvinte inte — uma um a matriz mat riz de dent ntro ro da qual você mesmo se identifica agora, recordando o quanto desejou ser parte dela e antecipando que não mais o será logo que se formar ou se desligar. Ao refletir-se na poeira poe ira da jane ja nela la,, o sol ilumina aqu aquele ele lado da sala e raios de luz pe pene netra tram m até a pared pa redee op opos osta; ta; alguns alcançam alca nçam o ombro omb ro do profes pro fessor sor po porr um instan ins tante, te, como se ele fosse atingido por fogo cruzado. Ele não jpercebe isto e a analogia não seria estabe lecida por ele, que nunca pensa em termos militares. Os sons do giz no quadro-negro são entrecortados por outros sons de cadeiras rangendo, fragmentos de con versa; os sons do giz continuam enquanto os outros cessam, anunciando que o grupo volta a atuar coletivamente. Assim é o material da experiência vivida. Os horizontes temporal, espacial, sócio-cultural, interpessoal, corporal e ideativo operam todos simultaneamente para produ pro duzir zir a ex exper periên iência cia vivida vivid a conforme confo rme voc vocêê a vivência vivên cia Toda To da ela j á é compre com preen en
TÉCNICAS DE PESQUISA
37
riência vivida, mesmo em sua forma mais trivial e de lugar-comum, e operar nela com a redução fenomenológica, a variação imaginária e a interpretação é ingressar numa aventura excitante, na conclusão da qual estamos mais conscientes, harmoni zados de modo mais perspicaz com a vida, mais compreensivos quanto a nós mes mos e aos outros, menos limitados por convenções e menos atormentados por esta dos de humor inexplicáveis. Ö INDIVÍDUO ÚNICO, SINGULAR A interpretação de um indivíduo único, singular, pode perfeitamente começar com a análise de uma experiência única, singular, desse indivíduo. Quando chega mos a conhecer uma pessoa, aglutinamos nossas experiências dela e permitimos que os diversos contextos nos quais a experienciamos se desvaneçam no esqueci mento. É uma atitude sábia, portanto, entrecortar a análise de um indivíduo com análises de episódios singulares ocorridos com ele a fim de manter claramente em mente o material contextual. Os psicólogos clínicos fazem isto implicitamente se percebem perc ebem,, e qua quand ndoo pe perce rcebe bem, m, que vêem seus clientes clie ntes apenas ape nas no co conte ntexto xto muito especial de seus consultórios — um contexto que condiciona tanto as experiências dos psicológos como as de seus clientes. Em outras palavras, embora a descrição de um indivíduo tenda a focalizar a experiência vivida dele, dele , é essencial que nos própria experiência, através da qual o mantenhamos mantenhamos em contato con tato íntimo íntimo com com a nossa própria experiência, conhecemos. Muitas técnicas de entrevista têm sido descritas de forma detalhada. Qualquer uma delas pode-se tomar fenomenológica, dependendo de como atentamos para uma pessoa. Em geral, desejamos estar atentos a horizontes, perceber os panos de fundo que fazem com que a experiência signifique para alguém o que significa. A atenção aos horizontes pode pod e ser se r comparada comp arada a uma inferência inferência do tipo tipo “ para ver ve r X desta maneira, ele deve ver Y dessa out o utra ra”” . Essa forma de inferência lógica lógica não é um mau modelo de escuta por horizontes, na medida em que se mantenha próxima da experiência vivida e evite a extrapolação de um retrato organizado em tomo da lógica, em vez de em tomo da experiência com todos os seus paralogismos e apa rência ilógica absoluta. O apoio organizacional da escuta fenomenológica é sempre o como alguém é-no-mundo. significam para um indivíduo, em Se pudermos ver o que e por que as coisas significam termos de seu estilo e experiência estruturada, então por certo estaremos vendo uma pessoa em sua unicidade. Novamente é aconselhável notar que de todas as maneiras fazemos isto automaticamente, embora de modo informal e casual. Nossa tarefa é sermos rigorosos. Como o indivíduo indivíduo “ teúiporaliza” teúiporaliza” ? Há um certo andamento, um tempo de sua vida que se retarda ou acelera de acordo com seus próprios interesses e desejos.
38
MÉTODO
ele ele diz ou emite emite uma mensagem com palavras e outra ou tra com o corpo? corpo ? Qual é o padrão de suas mensagens corporais? Qual é o conteúdo das mesmas e para que parte do mundo do indivíduo estão orientadas? Que acordos interpessoais o constrangem? Quais o liberam? Ele é fiel a tais acor dos? Suspeita deles? Sente-se solitário sem eles? Como se move na matriz de acor dos culturalmente determinados a fim de chegar a acordos pessoais com você? Com os amigos? Com estranhos? Por que tais acordos são importantes para ele? Todas essas indagações podem ser feitas separadamente, mas as respostas ne cessitam ser integradas, do mesmo modo como o indivíduo as integra num estilo coerente de ser-no-mundo. Algumas perguntas revelarão temas mais importantes do que outras; não basta percorrer a lista mecanicamente. As respostas integram-se num padrão que é o do indivíduo. Queremos descrevê-lo em sua unicidade. Vale a pena notar que todas estas perguntas podem ser formuladas — e respon didas — sem que se tenha necessariamente de falar com a pessoa que desejamos compreender. É claro que a conversa é a melhor maneira de descobrir o que que remos saber, e é por meio dela que entendemos nossa família, nossos amigos e conhecidos. Nem sempre, entretanto, é possível conversar, e neste caso temos de descobrir como como a observação do comportamento, a leitura de documentos, e assim por po r diante dia nte,, pod podem em igualmente igualmen te forn fo rnec ecer er co comp mpree reens nsão. ão. Jean Je an Piaget Piage t (195 (1954) 4) relat re lataa que uma criança, no primeiro ano de vida, seguirá com os olhos um objeto que façamos lentamente girar em torno dela. Até uma certa idade, permanecerá procurando pelo õbjeto que tenha passado para trás dela na direção em que este tiver desaparecido; mais tarde, ela se voltará e antecipará o aparecimento do objeto do outro lado. Piaget interpreta tal mudança no comportamento através da aquisição, por parte da criança, de uma orientação espacial de 360 graus. É uma inferência fácil de fazer, do comportamento para a experiência, e nós a fazemos diariamente. Seu franzir a testa expressa sua dúvida, o fato de distender os músculos denuncia a sua fadiga, o fato de constantemente olhar para a porta revela que está esperando pela chegada de alguém (ver Allport e Vemon, 1933). Agora, é claro, que também os erros e rros são bastante bastan te comuns com uns neste ne ste tipo de inferên cia, mas são em geral descobertos, o que atesta o quão bem compreendemos, afinal de contas. Na N a vida diária, estas “ inferências” dificilme dificilmente nte são mesmo inferências inferências em sentido estrito. À medida em que se acumulam dados de vários tipos, estes formam um padrão que começa a tomar forma. Como os indivíduos constantemente têm um comportamento e uma experiência padronizados, e como os padrões experienciais e comportamentais são inevitavelmente congruentes, a impressão que temos de estilo ou orientação em relação ao mundo de outras pessoas conforme aparece em suas experiências, obtida pela mera observação do comportamento, tem grande possibilidade de ser correta— se nos tivermos mantido receptivos aos dados comportamentais conforme nos são oferecidos, evitando classificar antes do tempo aquilo que poderiam indicar sobre uma pessoa.
TÉCNICAS DE PESQUISA
39
foram não diretivas e visavam a uma descrição o mais completa possível por parte do Sujeito. Uma vez transcritas as entrevistas, seus dados foram condensados e sumariados sumariados pelo pelo investigador, cuja pergunta reiterada reitera da era: “ Que tipo tipo de comporta mento é para você a raiva?” Emergiu uma descrição sumária da raiva para cada sujeito, a qual incluía as propriedades situacionais ou de campo da experiência, a resposta corporal, a tendência comportamental e o propósito desta tendência con forme experienciado.5 O investigador seguiu então uma rotina sugerida por P. R. Colaizzi (1973), a fim de submeter a uma verificação os resultados do primeiro procedimento. Tal rotina incluía seis etapas. A primeira foi a avaliação de cada afirmação de cada protocolo em termos de sua significação para a descrição da experiência da raiva. A segunda, gravar todas as afirmações relevantes. A terceira etapa consistiu em interpretar reflexivamente estas afirmações a fim de determinar-lhes a significação, visando a listar cada expressão não repetitiva. O quarto passo foi relacionar e agrupar ex pressões pres sões de significação. significaç ão. O quin q uinto, to, sintet sin tetiza izarr as ex expr pres essõ sões es de significação significaç ão de todos todo s os protocolos em uma única descrição ampla da raiva. O sexto, refletir sobre esta descrição fundamental, com o propósito de atingir a estrutura fundamental. É óbvio que este procedimento requer uma grande dose de julgamento por parte do investi gador a cada momento. O critério de tais julgamentos é, como tem de ser, a expe riência vivida do investigador, a qual, como estabelecemos antes, é sempre uma compreensão da experiência alheia, se bem que implícita. Naturalmente a rotina não inclui salvaguardas seguras contra as tendenciosidades: também isto deve ser julgado julgad o pelo tribuna trib unall da exp experi eriênc ência ia vivida. E. L. Stevick Ste vick con convida vida-nos -nos a co comp mpara ararr nossas experiências vividas com a descrição que se segue. A raiva é a experiência de ser puxado para o mundo por um outro importante, mas irracional e inflexível, que impede minha ação, posse ou relação com algo de relevância pess pessoa oal.l. O corpo, na raiva, é um corpo querendo-explodir-para-fora, um corpo capturado pelo desejo de mudar o mundo que não atende a seus pedidos. Este desejo de mudar o mundo pod podee realm realmen ente te expl explod odir ir para para fora fora em em com compo porta rtam men ento to obse observ rváv ável, el, atípi atípico co,, ou pode pode estár estár prese presente nte sob sob a form formaa de de um de dese sejo jo dess dessee tipo tipo de com compo porta rtam men ento to.. O comportamento é um empuxo para a frente, com freqüência um comportamento ineficaz e sem direção, mas que é a tentativa do corpo para mover o mundo e o outro. O outro, na raiva, transforma-se num outro despersonalizado, não “minha mãe, meu pai pai ou amig amigo1 o1', mas simpl simples esm men ente te o ou outro tro qu quee está no cam caminho inho.. Do mesm esmo modo o próp própri rioo agen agente te da raiva raiva fic ficaa até certo certo ponto ponto não não realiz realizad ado; o; é um “ não não-eu -eu”” qu quee se põe põe a caminho para realizar um projeto “necessário". Tal transformação do self e do outro, ou da relação, nunca é completa, e na medida em que a relação real no mundo permanece prese presente nte à co cons nsciê ciênc ncia ia junto co com m o mun undo do mág ágic icoo, trans transfo form rmad ado, o, o co com mpo porta rtam men ento to retém racionalidade e restrições. A consciência das rupturas do self no modo e na realização da raiva começa a tirar afguém dessa forma de presença afetiva. A raiva pode ser diferenciada do medo por seus efeitos mobilizadores no comporta
40
MÉTODO
período de uma a duas horas hor as cada cad a um. A entre ent revi vista sta seguiu-se a uma tarefa tar efa,, na qual os sujeitos ordenaram por postos aqueles que mais gostariam de ajudar dentre uma série de oito famílias de grupos minoritários que estavam com alguma espécie de problema. problema . Cada Cad a uma dessas dess as famílias foi desc d escrit ritaa em um breve brev e parágrafo pará grafo;; os sujeitos as ordenaram e, a seguir, o pesquisador envolveu cada um dos participantes numa conversa acerca de sua experiência da tarefa, de suas razões para atribuição de posições posiçõ es e de como essas ess as razões raz ões eram justif jus tifica icadas das em seu mundo de opinião. opiniã o. As entrevistas foram gravadas. Em seguida, seguida, o investigador escuto esc utouu muitas muitas vezes cada cad a entrevista entrevist a e tentou formu lar uma apreciação compreensiva da estrutura do mundo de cada sujeito. Foram construídos diagramas do espaço de vida, aplicaram-se vários instrumentos conceptuais a fim de discriminar tipos e foram devidamente anotadas as impressões ime diatas do próprio investigador sobre os sujeitos, incluindo uma ordenação intuitiva inicial dos mesmos conforme o quanto pareciam ser empáticos e as espécies de empatia que pareceram surgir nos dados. O resultado mais notável do estudo está na natureza da captação intuitiva da empatia por parte do investigador conforme esta se tornou manifesta pelo exame dos dados. dados. A que estava o investigador investigador respondendo? respondendo? Como “ conhecemos” conhec emos” a em patia? Como nós, nós , de alguma maneira, mane ira, sabemos sabem os algo a respei res peito to dos ou outro tros, s, respo res pon n demos a eles e ficamos impressionados por eles na experiência diária? Pela reflexãò, tornou-se claro que o aspecto crítico de uma pessoa empática é sua habilidade para exp experi erienci enciar ar os pon pontos tos de vista vist a dos outro out ros. s. Isto Ist o atende ate nde em grande grand e pa parte rte à nossa definição comum. Entretanto, foi descoberto, além disso, que alguém é rela tivamente capaz ou incapaz de fazê-lo, dependendo da estrutura de seu mundo. O ser-no-mundo empático pode ser descrito como multicentrado, possuindo outros centros de significação e origem de motivação que são quase tão vividos quanto os do próprio self. Algumas pessoas vivem num mundo cuja estrutura é antes como um espaço com uma única fonte luminosa no centro. Todos os acontecimentos são visíveis apenas à luz desse centro e tudo o mais está numa escuridão sombria. Uma pessoa pess oa empátic emp ática, a, po porr outro out ro lado, vive num espaço esp aço com muitas muita s lâmpada lâm padas, s, cada cad a uma das *quais ilumina um setor um pouco diferente de cada objeto e fornece uma pers pectiva pecti va possível a pa parti rtirr da qual se pode perceb per ceber er um pad padrão rão de aconte aco ntecim ciment entos. os. Mais Mais precisamente, “ ve ver” r” outras pessoas como centros de iluminação iluminação impl implica ica uma orientação quanto a elas na qual seus pontos de vista são tão válidos como os meus meus próprios. próprios. Tal Tal “ visão” visão ” , característica do sujeito sujeito empático, ou tal tal esquema de mundo, implica portanto respeito pelos outros e, além do mais,, uma consciência viva das capacidades alheias para sentir dor, ansiedade e assim por diante. As limitações da metáfora das lâmpadas são óbvias, ainda que ela chegue perto da estrutura do mundo à qual toãos somos sensíveis quando usamos o termo empatia tia na vida diária. Independentemente do termo que usamos, entretanto, o estudo de Lauffer tornou claro que somos de fato sensíveis à estrutura da experiência dos outros. E não apenas os psicólogos, é claro, são sensíveis a esta estrutura; todas as pessoas pess oas são. Esta Es ta estr es trut utur uraa é a “ co cois isa” a” crítica crít ica que “ co conh nhece ecem m os” os ” ; porém p orém não sa bemos realmente realm ente o que sabemos sabemo s ou como o sabemos sabem os naqu naqueles eles momentos mom entos em que nos encontramos confiando em outra pessoa para ensinar a nossos filhos ou para
TÉCNICAS DE PESQUISA
41
original da investigação. Sempre que desejarmos algo além da espécie de com preensão que pode ser fornecida com essas técnicas, deveremos talvez perguntar por que desejamo dese jamoss esta es ta coisa coi sa pa partic rticula ularr a mais, e se ela é valiosa vali osa ou não. Tais questões complexas sobre valores terão de ser referidas aqui.
CAPÍTULO 5
DESENVOLVIMENTO METODOLÓGICO Precisamos examinar as próximas etapas no desenvolvimento de uma metodolo gia fenomenológica. Fazer psicologia fenomenologicamente não é só uma espécie pioneira pion eira de trabal tra balho ho quan quanto to à exp explora loração ção de novo novoss aspect asp ectos os da temáti tem ática ca da psicolo psico lo gia, como também, e ainda com maior importância, isso requer inventividade e habilidade consideráveis para desenvolver métodos apropriados. Mais uma vez re petimos petim os que a finalidade final idade de qua qualqu lquer er técnic téc nicaa é ajudar aju dar os fenômen fenô menos os a se revelare reve larem m de forma mais completa do que a que ocorre na experiência usual. Em termos amplos, o fenômeno que pretendemos compreender é o ser-no-mundo das pessoas. Dissemos que nossa abordagem dessa temática deveria seguir-se a uma exploração daquilo que as coisas significaram para as pessoas, o que nos conduz a explorar os horizontes de significação e o modo pelo qual estão organizados, na experiência de alguém, na forma de um mundo coerente e de um sentido de si próprio enquanto parte par te desse des se mundo. mund o. Como pode podemos mos atingir nosso noss o objetivo objet ivo em termos term os co conc ncret retos os,, operacionais? Começaremos pela análise de um estudo sobre as práticas de educação de crian ças em famílias de classe baixa e iremos submetê-lo à crítica de um ponto de vista fenomenológico. Em seguida, tentaremos ver o que poderia ter sido realizado, al ternativamente, na coleta, interpretação e relato dos dados. Finalmente, tentaremos generalizar nossas sugestões em termos de uma estratégia mais geral do que tal estudo particular, porém mais específica do que as recomendações do Cap. 3. UM ESTUDO TRANSCULTURAL Algumas das significações de qualquer comportamento são extraídas de um con junt ju ntoo preest pre estabel abeleci ecido do de significações, significaç ões, isto é, da cu cultu ltura ra do indivíduo. Só seremos serem os capazes de aprender com clareza tais significações se as buscarmos de forma espe cífica. E devemos fazê-lo de dois pontos de vista. Primeiramente, devemos ver o participantes; algumas dessas significa que os acontecimentos significam para os participantes;
DESENVOLVIMENTO DESENVOLVIME NTO METODOL METODOLÓGIC ÓGICO O
43
Em ambas as instâncias, no entanto, para ver com clareza precisamos também, c o m o observadores, fazer o escrutínio de nossa própria visão. Esse visão. Esse é o objetivo da redução fenomenológica fenomenológica,, da variação imaginári imagináriaa e da interpretação. interpretação . Essa Ess a espécie de rigor metodológico define uma segunda maneira pela qual precisamos buscar e de vemos vemos compreender comp reender a importância da cultura no comportamento com portamento quando realiza realizamos mos uma análise fenomenológica. Em uma investigação dos padrões familiares de criação e educação de crianças em classes sociais baixas, E. Pavenstedt (1965) descreveu um padrão que denomi nou “ desorganizado” desorganizado” : A característica predominante nestes lares era o fato das atividades serem determina das pelo impulso; a constância estava completamente ausente. A mãe podia ficar na cama até o meio-dia, enquanto as crianças também eram mantidas deitadas ou corriam ao redor sem supervisão. Embora as famílias algumas vezes tomassem café da manhã ou almoçassem em conjunto, não havia padrão para coisa alguma. Os pais freqüentemente não discriminavam entre as crianças. Um genitor, enraivecido pelo comportamento de um filho, foi visto batendo em um outro que estava mais próximo. Raramente havia comunicação verbal. As regras eram indefinidas ou pairavam no ar de forma incompleta. Freqüentemente as repreensões eram exaltadas e raivosas... Quando as crianças supera vam a primeira infância, os pais pouco diferenciavam entre os próprios papéis e os das crianças. As necessidades dos pais eram tão prementes e tão freqüentemente satisfeitas quanto as dos filhos. Havia uma forte competição pela atenção dos adultos. (Pavenstedt, 1965, págs. 94-95.) Observemos este trecho. A dificuldade não está no fato de que a descrição seja extremamente extremamente interpretativa ou dificultada dificultada por julgamentos de valor que condenam condenam tal ponto de vista, pois toda descrição é interpretativa e emerge de uma perspectiva valorativa particular do percebedor. A dificuldade presente nesta descrição provém do fato de a interpretação não ser rigorosa e de parecer estar completamente implí cito o papel dos valores daquela que percebe na perspectiva e na interpretação. Tal fracasso em reconhecer o papel dos valores conduz a observadora a ver claramente algumas coisas e a obscurecer outras. Uma análise fenomenológica poderia certa mente aperfeiçoar este estudo. “ A característica predominante nestes lares era o fato fato das atividades serem de terminadas pelo impulso...” Esta caracterização emerge das categorias teóricas de. “ impulso” e “con “ controle trole”” (“ instinto” e “ ego ego”” , na terminolog terminologia ia de Sig Sigmu mund nd Freud). Freud). O comportamento que Pavenstedt viu pareceu-lhe impulsivo em lugar de contro lado. Aqui a dificuldade reside em Pavenstedt tomar o fato de permanecer na cama até o meio-dia e de não vigiar os filhos como sendo impulsivo, enquanto oposto a controlado ou padronizado, quando tal comportamento tem obviamente ambas as características. Em lugar de ser expressivo de um impulso para ficar na cama de modo não controlado e não padronizado, este comportamento é clara mente um padrão, controlado e submetido a regras, embora sejam regras diferentes daquelas daquelas do observad obs ervador. or. A diferença é cultural. A afirmação afirmação seguinte, “ a con constân stân
44
MÉTODO
tivamente neutra é menos sujeita a objeções. Observamos que deveria conduzir a uma conclusão diferente daquela da primeira frase de Pavenstedt, pois descreve um padrã pa drãoo diferente diferente e não a ausência ausência de um padrão. Não seria grandemente aperfei çoada por uma consideração quantitativa do quanto a mãe ficava na cama ou de quantos minutos as crianças ficavam sem supervisão, a não ser que pensássemos, o que não é meu caso, que Pavenstedt distorce grosseiramente os fatos. Além de tudo, aqu aquilo ilo que buscamos é o padrão pad rão e a maneira pela qual este padrão padrã o é experienciado pelos participantes — e não freqüências de comportamento isoladas da expériência de alguém. “ Embora Emb ora as família famíliass algumas algumas vezes tomassem tomas sem café da manhã ou almoçassem em conjunto, não havia padrão para coisa alguma.” Pavenstedt não procurava um pa drão, logo não viu nenhum. Procurava o que poderia causar distúrbios psicopatológicos, e descobriu uma ausência daquilo que ela implicitamente supunha determinar saúde mental: padrões de classe média. O fato de que as regras para saúde mental sejam também regras de classe média praticamente não precisa ser mencionado e, embora tais valores possam ser também nossos valores, podemos perceber aqui a possibilidad poss ibilidadee de imperialismo imperialism o cultural. cultu ral. Estas Es tas pessoa pes soass não são como nós, nós , e con conse se qüentemente são doentes. Não é que a pobreza esteja desvinculada do sofrimento humano; porém, aplicado a grupos culturais, o enfoque de Pavenstedt nos conduz a ver apenas ausências e não aquilo que está presente, a supor que tais ausências conduzem à doença mental e a sentir uma obrigação moral de mudar padrões sem pergun per guntar tar se pod podemos emos ou não esta es tarr destrui dest ruindo ndo pad padrõe rõess que não pod podemos emos ve verr po porr superposição dos nossos próprios — tudo em nome da criação da ordem em lugar do caos.1 “Os pais freqüentemente não discriminavam entre as crianças. Um genitor, en raivecido pelo comportamento de um filho, foi visto batendo em um outro que es tava mais próximo.” Este par de frases, constituído de uma interpretação da estru tura experiencial do genitor seguida de um dado concreto, está razoavelmente esta belecido. belec ido. Mais uma vez, uma co consi nside deraç ração ão esta es tatís tístic ticaa do quã quãoo freqü fre qüen entem tement entee ocorreu esse comportamento não é tão importante quanto o fato de captar clara mente a maneira pela qual o genitor percebe. “ Raramente Raramen te havia comunicação comunica ção verbal. As regras eram indefinidas indefinidas ou pairavam no ar de forma incompleta. Freqüentemente as repreensões eram exaltadas e raivo sas.” Estas frases também fornecem observações importantes, na medida em que reconheçamos que a frase “indefinidas ou pairavam no ar de forma incompleta” se refere à experiência da pessoa que está sendo dirigida. Isto é, podemos ver se a ordem paterna foi entendida por uma criança através da observação da expressão facial da mesma, assim como de sua postura e comportamento. Se a ordem “pai rava no a r” , esperamos esperamos que a investigadora nos esteja dizendo que assim assim era paraa para a criança, criança, o que é uma conclusão possível de ser alcançada por um observador. Es peraiíios que Pave Pa venst nstedt edt não nos esteja est eja dizendo dizen do que ela ela não entendeu, mas sim que a criança criança não o fez. “ Quando as crianças superavam a primeira infância, infância, os pais pouco diferencia diferencia vam entre os próprios papéis e os das crianças. As necessidades dos pais eram tão premente prem entess e tão freqüen freq üentem tement entee satisfeita satis feitass qua quanto nto as dos filho fil hos.” s.” Mais uma vez a primei frase é interp in terpret retaçã açã da forn dado de apoio A
PESENVOL PESE NVOLVIME VIMENTO NTO METODOLÓ METODOLÓGICO GICO
45
boa não é evident evid ente. e. Minha opinião opiniã o aqui não é de que as crianç cri anças as não sejam mais vulneráveis do que os adultos: elas o são. Porém, satisfazer as crianças em lugar doss adultos rião do rião conduz automaticamente automaticam ente à saúde mental.2 menta l.2 A autora não diz diz o que que tenta dizer. Ela parece realmente querer afirmar que a experiência paterna estava estruturada em tomo das próprias necessidades, a expensas da sensibilidade às ne cessidades dos filhos. Tal maneira de falar pode parecer envolver uma pequena diferença de vocabulário, mas é provavelmente mais fiel à experiência da própria autora; descreve algo mais crítico do que o fato de se os pais pedem ou não indul gência para suas próprias necessidades e apresenta o que está acontecendo de modo melhor do que a linguagem dos papéis parental e filial — papéis que podem variar enormemente sem produzir Psicopatologia. “ Havia uma uma forte forte competição competição pela atenção dos adultos.” adulto s.” Esta frase descreve descreve um padrão interpessoal complexo de percepções mútuas. Se reconhecermos que o conteúdo crítico da frase lida com a maneira como as pessoas se vêem vêem umas a outras, então a sentença é uma síntese apropriada, que nos leva a perceber aquilo que Pavenstedt percebeu e que provavelmente descreve o que e como os próprios participa parti cipantes ntes per perceb cebera eram. m. O objetivo deste exercício inteiro não é argumentar que devemos purificar nos sas percepções de seu caráter perspectivo: de nossos valores e razões para realizar o estudo. Na verdade isto não pode ser feito; não há conhecimento isento de pers pectiva. O principa princ ipall pon ponto, to, ao ;nvés disso, diss o, refere-s refe re-see ao fato de pod poderm ermos os pe perc rceb eber er e escrever mais rigorosamente ou menos, e ao fato de a redução fenomenológica, a variação imaginária e a interpretação oferecerem à psicologia uma rota para esse rigor que nos pode conduzir para além do folclore da isenção de perspectiva cultu ral. ALGUNS APERFEIÇOAMENTOS METODOLÓGICOS O método de Pavenstedt incluiu entrevistas com membros da família, observa ção dos mesmos no lar e ensino às crianças na escola maternal. Estas rotinas não rigidamente sistemáticas deveriam ter produzido resultados melhores do que os que foram produzidos. No entanto, falar com pessoas ou, alternativamente, estar atento a elas e observá-las, pode ser mais bem feito ou menos. Em grande parte isso depende do modo como estamos atentos e observamos — a que estamos atentos e o que observamos. Uma abordagem fenomenológica da atenção e da observação pre tende compreender os acontecimentos em termos da significação que já possuem em seu cenário natural. Não foi esse o enfoque de Pavenstedt. Os acontecimentos que observou não foram conduzidos a falar por si mesmos. Pavenstedt deveria ter visto as significações que tais eventos tinham em seu cenário natural, na experiên cia de seus sujeitos. Como não explorou explicitamente essa experiência, a signifi cação natural dos acontecimentos não ficou clara. Ela impôs suas próprias signifi cações culturalmente imperialistas aos acontecimentos. Fracassou em deixar que eles se revelassem por si próprios com suas significações já existentes na experiên
46
MÉTODO
dos filhos: sua significação “natural” em seu cenário “natural”. Como se pode discernir a significação natural do acontecimento, e o que ela tem a ver com o retrato mais amplo de quem estas pessoas pensam que são naquilo que elas pensam ser o mundo (seu ser-no-mundo)? pe rgunta ntando ndo às A resposta óbvia a tal pergunta é simplesmente: pergu às pessoas envol vidas. Isso não é, entretanto, tão fácil como parece, Certamente Pavenstedt fez pergunta perg untass e ouviu as respo res posta stas; s; é nisto que consist cons istee uma entrev ent revist ista. a. Tudo depende depe nde de qual é a pergunta, de como é formulada, de como tem lugar a escuta da resposta e de qual é o contexto mais amplo da conversação — diagnóstico, exame, exposi ção, ajuda, investigação e assim por diante. Os psicólogos têm-se preocupado se riamente, de tempos em tempos através das décadas, com a tarefa de perguntar às pessoas pess oas o que querem quer em saber sabe r a respeito resp eito delas. Sigmund Freud Fre ud foi um especial espe cialista ista nessa tarefa óbvia e a totalidade da teoria psicanalítica está baseada num escrupu loso programa de escuta cuidadosa. Os psicólogos clínicos a partir de Freud têm, é claro, seguido seus procedimentos em certa medida. Jean Piaget foi certamente um dos entrevistadores mais habilidosos de nosso século; escrupulosamente perguntou às crianças por que pensavam conforme pensavam e produziu nossa melhor teoria do desenvolvimento cognitivo. Mais recentemente, Robert Coles (1967, 1971) tem tido notável sucesso na prática da psicologia com base meramente na escuta sensi tiva e habilidosa. A. Esterson (1972) também nos oferece uma notável demonstra ção. Embora possamos descobrir tais exemplos, de modo geral os psicólogos têm chegado a ser enormemente céticos quanto aos assim chamados relatos verbais, ou melhor, quanto àquilo que as pessoas dizem. A observação do comportamento che gou, enquanto técnica metodológica, a ser preferida à de perguntar e escutar, e faremos bem em examinar a fonte de tal ceticismo. Apenas se superarmos essas objeções tradicionais estaremos aptos a fazer psicologia desta maneira sem cair nas armadilhas óbvias que estragaram, por exemplo, o estudo de Pavenstedt. As três críticas mais comuns quanto ao perguntar e escutar como técnicas de pesqui pes quisa sa são, em primeiro prime iro lugar, o argumento argum ento de que aquilo que ouvimos ouvim os está es tá tão crivado das tendenciosidades subjetivas do indivíduo, que tem muito pouco valor para par a a psicologia psi cologia como ciência; ciênci a; em segundo lugar, que uma bo boaa part p artee do que oco ocorre rre na produção do comportamento não é consciente e que as pessoas não conhecem realmente, como demonstrou Freud, suas próprias mentes; e finalmente, que aquilo que as pessoas dizem aos psicólogos antes representa o que pensam que os psicólo gos querem ouvir do que qualquer outra coisa. Tomemos cada uma dessas críticas como parte de nossa busca de uma metodologia viável.4 Ao contrário da segunda e da terceira críticas, a primeira se dissolve imediata mente mente logo que recordamos que são precisamente precisamente as “ tendenciosidades subjeti v as” as ” , isto isto é, o modo modo como as pessoas experienciam ex perienciam os acontecimentos acontecim entos e os seus seus queremos explorar. Tais relatos “tendenciosos” horizontes de significação, que queremos realmente têm valor quando aspiramos à verdade sobre as assim chamadas tenden ciosidades. A segunda crítica é mais instrutiva. Lidamos com o problema da motivação inconsciente no Cap. 2, estabelecendo uma distinção entre conhecimento implícito
DESENVOLVIMENTO METODOLÓGICO
47
tradicionalmente compreendido, não está longe daqueles fatores que mais nos inte ressam, os fatores de horizontes da experiência. Esses estão pressupostos de ma neira tão básica e acrítica pela maior parte das pessoas, que indagar sobre eles algumas vezes faz pouco sentido. Não poderíamos perguntar simplesmente a uma das mães mães da pesquisa de Pavenstedt: P avenstedt: “ Que horizontes de significa significação ção condicionam condicionam sua visão de mundo e sua identidade pessoal de tal modo que você fracassa em ser sensível naquilo em que fui treinado a ser sensível em relação às crianças?” Tere mos de voltar muitas muitas vezes, vez es, à medida que nossa metodologia se desenvolve, à ques qu es tão de como persuadir pessoas a descrever aspectos da própria experiência aos quais não estão acostumadas a prestar atenção. A terceira crítica é talvez ainda mais instrutiva, pois as pessoas realmente dizem aos psicólogos aquilo que pensam que estes desejam ouvir. Toda a estrutura dos* papéis do psicólogo e sujeito sujeit o é uma estru es trutu tura ra de examin exa minad ador or e examin exa minand ando, o, espe es pe cialmente em nossa cultura, e o mais honesto de nós não poderia resistir à tentação de dizer coisas que agradassem ao “examinador” ou nele determinassem uma boa impressão a nosso respeito. Não é simplesmente uma questão de dizer a verdade. Há sempre uma quantidade de coisas verdadeiras que dizemos sobre nós mesmos. Uma vez que tenhamos decidido não mentir ao examinador, ainda lhe diremos aquelas coisas que parecem ser de maior interesse para ele. Se pudermos superar a segunda e a terceira críticas, e somente então, estaremos aptos a progredir por intermédio da técnica óbvia de perguntar às pessoas o que queremos saber delas. Uma vez que disponhamos de uma abordagem para pergun tar e escutar que ofereça alguma esperança de enfrentar tais críticas, poderemos estar numa posição adequada para ampliar nossos procedimentos, da entrevista a outras estratégias de observação. O SUJEITO COMO CO-PESQUISADOR Como compreendemos os outros na vida diária? Ouvimos e interpretamos seus “relatos verbais” acerca do que estão pensando e das razões para fazê-lo e baliza mos uma boa parte de nossas vidas na justeza desse procedimento. Também espe ramos que os outros levem a sério o que dizemos e em geral podemos dizer quando não o fazem — e nesse caso nos sentimos insultados. Desejo partilhar o que posso de minha experiência privada com aquelas pessoas de quem gosto, em quem confio e que desejam conhecer-me. Tais relacionamentos são comuns, porém muito dife rentes daquele entre experimentador e sujeito — eu me teria sentido de forma dife rente com relação a Pavenstedt, a qual estabelecia julgamentos de forma severa de acordo com seus conceitos de saúde e doença mental. A natureza do relaciona mento entre pessoas tem, obviamente, um efeito poderoso sobre o que é escutado e Sobre o que é dito. Pavenstedt teria tido dificuldades para iniciar relacionamentos confiáveis com Seus sujeitos. É bastante difícil atravessar fronteiras de classe social e raça; o rela cionamento entre examinador e examinando é ainda mais cheio de suspeita e pre caução. Já que um psicólogo não deixa de ser um psicólogo quando faz pesquisas, a
48
MÉTODO
Tais acordos não são auxiliados por contratos por escrito, e freqüentemente nem mesmo por contratos verbais. A base crítica de um tal acordo são os indícios sutis aos quais somds todos sensíveis quando conversamos com outras pessoas. A única maneira de convencer alguém de que você está de boa-fé é estar de boa-fé. Fazer uma boa pesquisa psicológica exige uma certa habilidade e uma atitude que não é encontrada com maior freqüência entre os psicólogos do que entre a população em geral.7 Uma vez que um pesquisador tenha superado as dificuldades mais óbvias do relacionamento dentro do qual os dados são obtidos, deve descobrir um meio de evocar descrições de seu co-pesquisador que o informem sobre aquilo que deseja saber, sem dizer a seu co-pesquisador o que este deve dizer.8Que formas de intera ção favorecem tal resultado? Ao meditar sobre este problema cheguei praticamente à conclusão de que o que é necessário não é o desenvolvimento de técnicas de pesquisa, mas ao invés disso o desenvolvimento de pesquisadores. O próximo passo no desenvolvimento metodo lógico da psicologia fenomenológica talvez deva envolver uma concentração não em como obter dados e sim em como treinar pesquisadores a serem sensíveis, capazes de autocrítica e desejosos da verdade. Se um um pesquisador busca a verdade de forma genuína, quererá saber como as pessoas realmente são e não tentará meramente confirmar sua hipótese favorita. Se um pesquisador é capaz de autocrítica, será capaz de examinar sua própria experiência, de praticar a variação imaginária e de pres pr esta tarr atenç ate nção ão nos fenôm fen ômeno enoss en enqu quan anto to fenô fe nôme meno nos, s, suspe sus pend nden endo do seus juíz ju ízos os prév pr évios ios.9 .9 Se um pesquis pesq uisado adorr é sensível, sensíve l, escut esc utar aráá os horizo hor izonte ntess das percepç per cepções ões alheias conforme lhe são relatados. Este argumento conduz simplesmente à conclu são de que treinar trein ar pesquisadores pesquisador es é equivalente a ensinar-lhes a “ ser fenomenológifenomenológicos” no sentido das estratégias gerais descritas no Cap. 3. Porém tínhamos esperanças de ser mais específicos neste capítulo. Já dissemos que a atenção aos horizontes não difere muito da questão de caráter lógico “o que deve ser verdadeiro quanto ao ser-no-mundo alheio para que me diga isso, con forme o diz, neste instante?” Tal influência pode ser feita conscientemente. Mas devo estar também consciente do fato de que a mesma espécie de compreensão acerca de meu comportamento está ocorrendo na mente do outro, embora provavel mente de modo não tão explícito ou cuidadoso. Não posso perguntar a uma mãe por que ela fica na cama até o meio-dia e esperar descobrir os horizontes de seu mundo, pois ela bem pode ouv ouvir ir a pergunt perg untaa como uma acusaç acu sação, ão, compre com preend endend endoo errad er rada a mente meus horizontes, mas revelando os horizontes de como entende no momento nosso relacionamento. Esse acontecimento me revelaria que ela não está sendo uma co-pesquisadora, assim como alguém que é testado não o é frente a uma autoridade de julgamento. Que tipos de respostas da minha parte poderiam aumentar sua con fiança? Posso captar o aumento, caso ocorra? Posso convencê-la de que estou de fato interessado unicamente na maneira pela qual ela vê o mundo e de que não preten pre tendo do julgá-la? julgá- la? O que q ue a conv c onvenc ence, e, e o que isso me diz acerca ace rca da forma for ma como ela vê o mundo? Uma vez que ela se tenha decidido a ser uma co-pesquisadora, ainda que de forma vacilante, posso validar sua confiança pedindo-lhe para explicar mais deta
49 mesmas, solicitando que ela as compare com suas próprias experiências e com preensã pre ensãoo delas. Há uma lista infindável de atividade ativ idadess co conc ncret retas as que posso pos so ex exec ecuta utar, r, algumas mais úteis do que outras. No entanto, o que realmente fará diferença, não será unicamente o que eu disser, porém também quem e como eu s o u , pois ela o lerá, explícita ou implicitamente, em tudo que eu disser.10 A conclusão desta linha de pensamentos consiste em afirmar que é usualmente possível co conv nven ence cerr as pessoa pes soass a confiar conf iar em nós se somos de fato dignos de con A “técnica” crucial que nos permite realizar pesquisas viáveis nesta linha é fianç fia nça. a. A ser uma determinada espécie de pessoa. Não Nã o é prov pr ováv ável el qu quee tal de dese senvo nvolvi lvime mento nto metodo met odológ lógico ico pa pare reça ça co conv nvinc incen ente te quando estabelecido de maneira tão simples. Trata-se realmente de um assunto muito complexo. Fazer pesquisa psicológica deve ser a cada passo tão provocante quanto fazer psicoterapia — um desafio não apenas à nossa ingenuidade no planejamento da coleta de dados, como também à nossa capacitação para despertar confiança naqueles que desejamos compreender — e então justificar essa confiança. O verdadeiro teste de tais estratégias não consiste no fato de parecerem ou não convincentes quando estabelecidas aqui. O teste está no trabalho e nos resultados dos pesquisadores. A mais impressionante demonstração recente desta estratégia é o trabalho de Jules Henry (1971), um antropólogo que passou as horas da manhã de cerca de uma semana com cada uma de seis famílias, relatando então o que viu e como interpretou o que viu. O estudo não necessita nec essita de publicidade; publicidade; fala por si próprio.1 próp rio.111 No entanto, en tanto, algun algunss comentários sobre a metodologia de Henry podem esclarecer o difícil problema de como proceder. Em primeiro lugar, Henry manteve anotações elaboradas daquilo que as pessoas faziam, do que ele fazia, do que elas pareciam estar sentindo e do que ele estava sentindo. Em segundo lugar, leu seus próprios dados muitas vezes, examinou-os minuciosamente e classificou-os de acordo com uma variedade de perspectivas, perspect ivas, mantendo-se mantendo -se sempre crítico a respeito respe ito das próprias própria s tendenciosidades tendencio sidades de percepção e de relato, variando as interpretações, abordando o material dos pontos de vista vis ta antropo ant ropológi lógico, co, filosófico, sociológico, sociológi co, psicanalít psica nalítico ico e outros out ros.. Em terceiro lugar, permitiu que cada perspectiva iluminasse vários aspectos dos dados até que as pessoas que estava estudando emergissem como pessoas. pessoas. Perspectivas múltiplas sempre criam o problema do como relacionar as perspectivas umas às outras. Para Henry, esse problema foi resolvido pelo simples fato da dona de casa que estava descrevendo não ser uma entidade múltipla com segmentos antropológi cos, filosóficos, sociológicos e psicanalíticos. Pelo fato dela ser uma pessoa, coe rente e inteira; a multiplicidade das percepções de Henry nos garante um retrato pleno e rico; mas nun nunca ca é permitido permi tido a essa es sa multiplicidade multiplicida de ter te r priorida prio ridade de sobre sob re a coerência do ser-no-mundo de seu sujeito. Se quisermos apreciar as dificuldades, assim como as possibilidades das estraté gias gerais descritas no Cap. 3, nada poderemos fazer de melhor do que nos benefi ciar de uma leitura crítica do estudo de Henry. DESENVOLVIMENTO METODOLÓGICO
CAPÍTULO 6
MÉTODOS CLÍNICOS Quais são os objetivos da psicologia clínica? O diagnóstico e tratamento de indi víduos cujos problemas vitais parecem esmagadores. É certo que uma resposta como esta é correta de acordo com as tradições profissionais, profissionais, mas ela origin originaa outras interrogações. O que está envolvido no fato de ver os problemas vitais de alguém como esmagadores? A resposta mais óbvia gira em torno desse verbo metafórico ver. A ver. A vida parece intolerável. O fato de que alguém veja coisas veja coisas de certa maneira ou viva parecendo de certa maneira tem algo a ver com o ato de experienciar. Todos os conceitos discutidos nas Partes I e III elaboram o que está envolvido no ato de experienciar. Podemos, portanto, reformular os objetivos da psicologia clínica numa forma mais precisa. O procedimento de diagnóstico é aquele em que um indivíduo pode chegar a perceber perce ber mais claramente o modo pelo qual qual vê as coisas, a maneira como como o mundo lhe parece. O procedimento de tratamento é aquele em que uma pessoa é capaz de descobrir maneiras alternativas de ver as coisas, de interpretar o mundo e de ser-no-mundo.1 MARIE, UMA MULHER ATORMENTADA Suponha que Marie, uma mulher de vinte anos, apareça no consultório de um psicólogo psicólo go clínico bu busca scand ndoo ajuda aju da pa para ra um problem pro blemaa pessoa pes soall que lhe parece par ece insu perável. perá vel. Relata Rel ata que tem estado est ado namora nam orando ndo um colega coleg a de escola esc ola,, Jim, po porr muitos meses, que se apaixonou por ele e ele por ela, mas que no momento está obcecada pela idéia de que ele está es tá gostan gos tando do de ou outra tra pe pesso ssoaa ou en enco contr ntrand ando-s o-see com ou outra trass mulheres. Acredita quando ele reafirma seu amor por ela, mas as suspeitas conti nuam a voltar, e começou a vigiá-lo e nunca parece deixar de precisar das expres sões de lealdade por parte dele, que cada vez são mais solicitadas. Jim está ficando impaciente impaciente com ela; ela sabe que está e stá sendo irracional, irracional, mas não é capaz de conside rar as coisas como são. Quando compelida a esclarecer o que deseja de diferente, só é capaz de dizer que deseja “ estar segura em em relação a ele” , embora saiba saiba que que
MÉTODOS CLÍNICOS
51
Nes N este te capítu ca pítulo, lo, descr des creve everem remos os de manei ma neira ra breve bre ve algumas algum as abo aborda rdagen genss clínicas adequadas a estes objetivos e o modo pelo qual poderiam ser úteis a Marie. Em seguida, abordaremos a avaliação psicológica. TEORIAS EM PSICOTERAPIA Carl Rogers (1942v 1961) faz recomendações específicas quanto à criação de um campo terapêutico ótimo, e assim procede com base no modo pelo qual com preen pre ende de a person per sonali alida dade de em geral. Vamos de desc scre reve verr prime pri meira irame mente nte essa es sa co comp mpree reen n são da personalidade, que emergiu do trabalho terapêutico com indivíduos e da observação de tal processo com uma atitude que tem algo de fenomenológica. De acordo com Rogers, as facetas mais importantes de uma pessoa pertencem unicamente a ela. Duas pessoas podem apresentar desempenhos que, do exterior, parece par ecem m ações açõ es idêntica idên ticass ou similares sim ilares,, porém por ém o aspect asp ectoo mais impor im portan tante te de qu qualq alquer uer ação é aquilo que significa para o indivíduo. A significação de acontecimentos que se iniciam ou estão em curso deve ser considerada do ponto de vista da pessoa que os inicia ou os mantém. A perda de uma pessoa amada, portanto, não significa a mesma coisa para qualquer pessoa que passe por isso, e qualquer ato de revolta que se possa seguir não significa a mesma coisa para todas as pessoas que reajam dessa maneira. O centro de significação reside dentro de cada um de nós2, e, se desejo entender você, devo saber o que suas perdas e suas revoltas significaram para você. De acordo com os conceitos de Rogers (1951), o mundo experiencial próprio do indivíduo fórma um sistema e seu organismo forma um outro sistema; ocorre uma Psicopatologia quando os dois sistemas trabalham com propósitos opostos. Se, por exemplo, meu comportamento de revolta posterior à perda de uma pessoa amada significa para mim apenas o fato de que^estou procurando o que quero e mereço, estou-me iludindo por excluir a raiva corporal, do organismo, da interpretação que faço de mim mesmo. Há muitas ocasiões nas quais temos interesse em não encarar alguma coisa que realmente sentimos. Logo, é fácil ver a ampla aplicabilidade da abordagem abordagem rogeriana na compreensão de uma pessoa com problemas. problemas. A tarefa terapêutica é trazer as significações implícitas, como o fato de sentir raiva, à consciência explícita. Portanto, o resultado mais importante da terapia, de acordo com Rogers, é a auto-aceitação. Inerente a todos os problemas pessoais existe uma rejeição de alguma parte de nós, a qual é real demais para ser ignorada, mas inaceitável demais para ser admitida — inaceitável porque todos nós nos preo cupamos em manter nossos conceitos de nós mesmos.3 Todas as recomendações de Rogers aos terapeutas são planejadas para criar uma situação na qual possa ter lugar a auto-aceitação. O primeiro requisito é de que o terapeuta aceite incondicionalmente o paciente. Tal aceitação cria um campo no qual o cliente se sente igualmente compreendido e aceito. Muitas das situações de
52
MÉTODO
No exemplo exe mplo de Marie, Marie , Rogers Roge rs tentar ten taria ia com c ompre preen ende derr os aspe a specto ctoss únicos único s do d o modo pelo qual ela vê o mundo e a si mesma mesm a de dentr ntroo dele. Não suporia supo ria que o “ ciúm ci úme” e” é sempre a mesma coisa, mas, pelo contrário, buscaria o padrão de significações que caracteriza a experiência de Marie na qualidade de experiência única. No entanto, suporia que Marie também estava experimentando outros sentimentos, os quais po deriam participar de seu sistema orgânico, mas que não têm lugar no conceito habi tual que ela possui de si mesma. mesma. Por P or exemplo, Marie poderia muito muito bem bem estar esta r “ de primid pri mida” a” , ba basta stante nte culpad cul padaa e abo aborre rrecid cidaa consigo mesma mesm a — no sentido senti do em que suas respostas corporais com freqüência reproduziam aquelas próprias de sua mãe no momento em que o pai havia abandonado a família, há anos atrás. Embora a mãe tivesse ficado manifestamente manifestamente “ deprimida” e culpasse a si própria pela pela partida do marido, Marie sempre se viu como alegre e autoconfiante. Por conseguinte, não é capaz de se imaginar como a mãe na situação precedente, embora seja de algum modo semelhante a ela e na verdade tenha sido assim desde que o pai partiu. Os sentimentos que Marie tem sobre si mesma, tais como o medo de que não poss po ssaa sust su sten enta tarr um relacio rela cionam nament entoo com um homem, hom em, são também tamb ém sentime sen timentos ntos que não pode pode admitir admitir para si si mesma. mesma. Tais Tais “ sentimentos” não estão estão apenas “ dentro de ” Marie; eles permeiam a maneira pela qual ela vê o mundo e se relaciona com ele. Porém suas percepções explícitas de si própria e de Jim não permitem que tais significações “inaceitáveis” se tomem claras, pois está empenhada em não ser como a mãe. Está portanto fe portanto fech chaa da para aspectos importantes importantes da própria experiên experiên cia. Está apavorada com o fato de que aquilo que aconteceu com a mãe possa acontecer com ela, mas o que não vê propriamente é que na realidade é semelhante à mãe e sabe que o é, num nível de experiência obscuro para ela mesma. Seus sentimentos de ser indigna de amor, de merecer ser abandonada, de fracassar onde pens pe nsaa que q ue a mãe frac f racass assou ou estão es tão escond esc ondidos idos da compre com preens ensão ão explícita expl ícita que tem de si mesma e do mundo, porém apesar de tudo estão implicados em todas as percepções que tem de Jim quando este ocasionalmente lança olhares para outra mulher. A terapia rogeriana forneceria uma arena interpessoal na qual Marie não preci saria mais manter seu conceito conceito de si própria como alegre, autoconfiante e, em úl tima análise, diferente da mãe. Facilitada pela aceitação positiva incondicional de Rogers, poderia começar a explorar suas percepções de Jim, de si mesma e da mãe — sabend sab endoo que ao menos meno s seu relacio rela cionam nament entoo com Rogers não en entra traria ria em colapso cola pso caso se abrisse mais profundamente à própria experiência. Poderia mesmo chegar a entender melhor a mãe, a aceitar que a vida desta não era um fracasso total, a ver que o fato de se assemelhar à mãe não era uma tragédia completa e a entender que sua percepção de Jim envolvia horizontes de significação quanto aos quais não pre cisava ficar apavorada, nem ser totalmente crédula. Mais do que tudo isso, chegaria a aceitar os próprios sentimentos de desvalorização simplesmente como sentimen tos que possuía, não como aspectos de si própria dos quais se deveria envergonhar ou como sinais de que não teria valor. De acordo com George Kelly (1955 (1955), ), assim como para Rogers, é o ponto de vista individual que conta. Mas Kelly elaborou uma teoria diferente para entender esse to de vist Um é uma categoria de significação por meio da qual
53 A melhor maneira de entender o que significa para Kelly um constructo é constructo é obser var a forma engenhosa pela qual estabelece os constructos de um indivíduo. Su ponha pon ha que eu lhe forne for neça ça três trê s itens, iten s, uma biciclet bic icleta, a, uma motoci mot ocicle cleta ta e um automó auto mó vel, e lhe peça para classificar dois deles como semelhantes e diferentes do terceiro. Para completar a tarefa, você poderia usar critérios tais como ter duas rodas, ter motor e ser algo que sua família possui. Pode ser que não tenha preferência por qualquer um dos três grupamentos possíveis. No entanto, se eu lhe pedir que faça uma lista das seis pessoas mais importantes de sua vida e que realize a mesma tarefa uma vez para cada um dos grupamentos possíveis de três pessoas dentre essas seis, obterei uma boa noção.das categorias destacadas de significação (cons tructos) que controlam a construção de seu espaço social. Além do mais, embora a tarefa pareça muito intelectual, a tonalidade emocional de nossa experiência vivida estará em jogo exatamente como ocorre na construção habitual que fazemos do mundo. Suponha Suponh a que Marie Marie viesse a participar particip ar do exercício de classificar dois dois semelhan s emelhan tes e um terceiro diferente em cada combinação possível de três pessoas dentre exatamente quatro pessoas: o pai, a mãe, o namorado e ela mesma. Os resultados bem pod poderia eriam m ser se r similares aos do qua quadro dro seguinte. seguint e. MÉTODOS CLÍNICOS
* mãe pai pai Jim
mãe
mãe pai eu
mãe
pai Jim eu
Jim
mãe Jim eu
Ji m
Jim pai pai
eu pai pai
pai eu
mãe eu
O que ela teria feito aqui seria usar o critério único da idade em todas as situações, tendo sido a tarefa realizada de modo muito mecânico e sem sutileza. Kelly enten deria que tal abordagem da tarefa é, em certo sentido, simplesmente simplesmente óbvia,
54
MÉTODO
em usá-los — e teria de focalizar aspectos de como os indivíduos aparecem para ela e daquilo que significam para ela, aspectos que são mais de horizonte e menos focais. Por exemplo, poderia classificar seu pai e Jim como semelhantes e diferentes de sua sua mãe mãe com base no que chamaria de “ independência” indepen dência” . O que “ independên cia” significa para ela e por que as pessoas têm tal significação? Quem mais possui essa significação? Ela vê a si mesma como independente? O efeito desse exercício é, claramente, abrir Marie a uma consciência explícita dos horizontes de significação que, embora implícitos, estão percorrendo sua vida e restringindo repetitivamente o modo pelo qual ela constrói o mundo. Critérios tais como “eles não gostam de mim” ou “eles me põem nervosa” emergirão na quali dade de aspectos relevantes do modo pelo qual ela percebe pessoas importantes e de dimensões cruciais de sua vida experiencial. A ordem e o padrão de sua vida experiencial e de seu comportamento interpessoal chegarão a um foco vivido e ela aprenderá o que já sabe, mas não Sabe que Sabe. Aprenderá como Sabe como Sabe o que pensa que sabe e o verá como encravado em seu estilo perceptual. A característica global do exercício de Kelly é, finalmente, esclarecer que exis tem maneiras alternativas de perceber pessoas — ou melhor, de construir o mundo e, conseqüentemente, de estruturar aquele espaço interpessoal dentro do qual vi vemos e nos movimentamos todos os dias. Poderia ter sido fácil dizer a Marie que ela não precisava ver o namorado como ela via o pai, mas dizer simplesmente isso teria tido tido pouco efeito. efeito. Seria como dizer a uma pessoa deprimida que não precisava precisav a ficar deprimida. No entanto, quando tal percepção se revela como parte de um padrão rão de Marie Ma rie,, de seu mundo perceptual e experiencial, e quando ela padrão, padr ão, do do pad vê o que e como percebe, então essa escolha de como ver o namorado é uma questão muito diferente. Temos aqui quase uma rotina que pode ensinar as técnicas da redução fenomenológica e da variação imaginária (Cap. 4) a fim de perceber mais claramente o que, como e por que vemos do modo como vemos. A estrutura de nosso mundo vivido envolve muito mais do que constructos in terpessoais. Uma análise mais completa do mundo de alguém alguém está contida na psico logia de Ludwig Binswanger (1953, 1958b, 1963). As formas básicas da existência humana são descritas por Binswanger em termos de três mundos diferentemente estruturados, ou paisagens, que fornecem os horizontes para nosso ser pessoas de algum modo: o mundo do ar, o mundo debaixo da terra e o mundo sobre a superfí cie da terra. Não diríamos que conhecemos esses conhecemos esses mundos; eles formam o contexto estrutural dentro do qual nosso conhecer (ou sentir, agir ou ser) tem lugar. São horizontes. somos total O mundo do ar é uma paisagem definida na qual algumas Vezes somos somos em parte. São inúmeras as po ssibilida ilidades des.. Os limites mente e na qual sempre somos em as possib estão ausentes. O tempo corre velozmente, partindo rapidamente em direção ao futuro, fazendo surgir imagens gloriosas do que poderia ser. O idealismo é reali dade. A sensação corporal de voar como voa um pássaro, livre das restrições terre nas, de jovialidade e de energia sem limites, combinada com uma disposição oti mista desenfreada e com a cognição de fantasia utópica, todas essas sensações pro duzem, juntas, um mundo em que nosso ser-no-mundo paira com a criatividade e a
55 sepultura, a umidade do túmulo, o confinamento sufocante de estar debaixo da terra — sem lugar, sem espaç esp aço, o, sem liberda libe rdade, de, sem movime mov imento nto — carac car acter teriza izam m esse ess e mundo. Estamos presos, e é impossível escapar dos confmamentos da necessidade. A única mudança que o tempo traz é a deterioração progressiva a partir de dentro e o esmagamento por um peso inexorável a partir de fora. Esses dois mundos são os mundos de cada um de nós quando estamos em certos estados de humor. O que é um humor? Experiencialmente, não é um estado de coisas fisiológico; é uma maneira de ser-no-mundo. O mundo que se ergue, ou galga a superfície da terra, é o mundo da ação prática prá tica.. Todos Tod os nós dev devem emos os de algum modo con concilia ciliarr o vôo da imaginação imagin ação com o domínio do possível, com os limites da finitude humana e com o domínio do ne cessário. No mundo da superfície da terra, tomamos o possível e o temperamos com o necessário e tomamos o necessário e o vitalizamos com o possível. O ser humano no mundo transforma ambos: devo morrer algum dia, mas estou vivo hoje: hoje estou vivo, mas morrerei algum dia; meu amor por você é ilimitado, mas devo despender tempo realizando o trabalho do mundo; devo despender tempo fazendo o trabalho do mundo, mas esse trabalho e esse mundo se fazem significat significativos ivos por meu amor ilimitado por você. Em sua análise de Ellen West, Binswanger demonstra que essas três formas de existência humana têm uma presença correta no mundo experiencial de todos nós. Voltando ao exemplo de Marie, vemos que a abordagem de Binswanger não é uma técnica para revelar horizontes implícitos#de experiência; ao contrário, é uma teoria relativa a horizontes que estão universalmente presentes na experiência hu mana. É uma filosofia do homem, dos estados de humor e da terapia. Implica que a situação existencial seja uma das possibilidades dentro de uma estrutura de neces sidades, de opções opçõe s dentro den tro de limites. limites. Em qualquer q ualquer dado momento, as possibilidad possibilidades es podem pod em co cons nstitu tituir ir tudo tud o o que ap apare arece ce,, en enqu quan anto to qu que, e, em ou outro tro momento mom ento,, podem aparecer apenas as necessidades — de acordo com nosso humor. Porém os humo res são paisagens, paisagens, mundos completos que, em suas formas extremadas, bloqueiam ou as possibilidades ou as necessidades, ficando a outra opção como a única que existe. Recobrar a perspectiva das possibilidades dentro de dentro de uma estrutura de neces sidades não é voar solto no ar, nem prostrar-se abaixo do solo; é ser um ser hu mano, fiel à situação existencial na quál tanto as aspirações como as prostrações são fatos da vida. Marie, na verdade, tem algum controle sobre sua vida, e de forma mais evidente sobre si mesma, mas não tem realmente controle total sobre as coisas que lhe aconteceram ou lhe podem acontecer. Nem o sonho de total segurança com Jim nem o pesadelo da inevitabilidade da traição constituem a história completa. Além do mais, não é apenas o futuro com Jim que está em pauta. Seu ser e seu mundo inteiros inteiros estão expressos ex pressos no relacionamento problemático. Do Doss “ outros"’ de Kelly Kelly,, Binswanger Binswanger generaliza generaliza para para o “ mundo” . Existem, Existem , é claro, muitas outras outra s formas fenomenológicas fenomen ológicas ou quase fenomenológicas gicas de fazer Psicoterapia.4 A. Barton (197 (1974) 4),, entretanto entre tanto,, usou a fenomenologi fenomenologiaa não como uma técnica, uma finalidade ou uma filosofia da terapia, mas como um instrumento de pesquisa. Ao descrever o espaço, o tempo e os acordos que real mente ocorrem nas terapias de Freud, Carl Jung e Carl Rogers, Barton mostrou que MÉTODOS CLÍNICOS
56
MÉTODO
como uma visão da vida e da verdade que pode fazer com que problemas aparente mente insolúveis se tomem compreensíveis e tratáveis. Como tanto o paciente quanto o terapeuta freqüentemente não estão conscientes do que Barton Barton chama “ o poder-transformador-de-ter-uma-teoria” poder-transform ador-de-ter-uma-teoria” , tendem, no calor da ação terapêutica, a negligen negligenciar ciar o fato de que que a “ realidade” , com com relação à qual qual estão tão vivamente de acordo, é uma questão de perspectiva e não uma realidade “ objetiva” . Um estudo fenomenológic fenomenológicoo como o de Barton revela aquilo aquilo que a “ ati tude natural” da maioria dos terapeutas e pacientes não pode revelar — que exis tem muitas percepções viáveis da vida e da verdade em nossa cultura, as quais podem ap aperfe erfeiço içoar ar aquela aque la que o pacien pac iente te de início traz tr az pa para ra a terapia tera pia.. O auxílio crucial de todas as terapias está em ajudar o paciente a descobrir uma abordagem viável, viável, e não em chegar a uma “ verdade objetiva” objeti va” sobre as relações humanas e o comportamento. Colocada em outros termos, a fenomenologia habilita Bartoh a adotar certa ati tude (a redução fenomenológica), que por sua vez o habilita a ver a psicoterapia de forma mais clara do que esta é vista na atitude natural. Isto é, a maioria dos tera peutas peut as está est á compro com prome metid tidaa com teorias teor ias partic par ticula ulares res,, visões da vida e da verdad ver dade, e, e estilos de levar em conta as exigências do viver e do fazer face ao que deve ser enfrentado. Esse comprometimento não é uma coisa má — na realidade realidade é uma parte sua versão da reali crucial da própria terapia. Porém leva o terapeuta a supor que sua versão dade corresponde àquilo que é “ realmente real” . Esta suposição é exatamente exatamente o que Edmund Husserl H usserl definiu co com*o “ a atitude natur na tural” al” . como ela percebe o mundo, e, no caso de Barton, Perceber, no caso de Marie, como como os terapeutas percebem o mundo, é, em ambas as situações, adotar uma pers pectiva especial a fim de fazer faze r o escrutínio da vida experiencial de todos os dias. A perspec pers pectiv tivaa especial espec ial é a “ reduçã red uçãoo fenomen feno menológ ológica” ica” ; e no nossa ssa vida exp experien eriencial cial diá ria é conduzida com base na “ atitude natural” natural ” . Em essência, Barton está tentando fazer para os psicoterapeutas o que estes tentam fazer para seus clientes: tomar claros os horizontes de significação que estão imersos na experiência diária. Natu ralmente, seja no trabalho com pacientes, seja seja naquele naquele com terapeut ter apeutas, as, o fenomenofenomenologista depara-se com uma tarefa difícil. A única razão para tentar cumpri-la re pousa, pous a, de algum modo, na conv convicçã icçãoo de que os horizo hor izonte ntess de significação na ex expe pe riência de uma pessoa contêm os fatores cruciais que devemos compreender caso desejemos entender o comportamento humano. No en entan tanto, to, ao mesmo tempo tem po a fenomenologia fenom enologia também tam bém é, em outro out ro sentido, senti do, uma teoria, uma visão, e um estilo. O que a toma diferente é sua consciência do poder pod er transf tra nsform ormado ador, r, e mesmo do papel centra cen trall da teoria teo ria,, visão e estilo. estil o. Ela não entende qualquer destes fatores como proposições sobre a verdade objetiva. Está vividos, tanto pelo pa voltada para o modo pelo qual estes três fatores se tornam vividos, ciente como pelo terapeuta, e considera que a mudança no modo pelo qual alguém ^-no-mundo é a essência da psicoterapia. Enquanto estilo terapêutico, a fenomenologia também visa a aplicar direta e especificamente especificamente este e ste insight relativo relativo ao papel central da teoria, visão e estilo à vida
57
MÉTODOS CLÍNICOS
DIAGNÓSTICO PSICOLÓGICO
Que espécie de compreensão poderia emergir caso Marie fosse aconselhada por seu médico a se submeter àquilo que ela pensa dever ser a visão de raios X de um psicólogo psicó logo?? C. T. Fisch Fis cher er (197l) comparo com parouu tal situação situa ção com uma fenomen feno menolog ologia ia da invasão de privacidade e concluiu que essa rotina bem poderia produzir uma pos tura temerosa e defensiva, se não raivosa e ofendida. Esta postura, em todos os seus aspectos, é freqüentemente tomada como constituindo os esperados sinais de Psicopatologia. Talvez a testagem psicológica seja uma profecia auto-realizada; tal vez seja, em primeiro lugar, uma má idéia. Entretanto, se mantivermos em mente que o diagnóstico é na realidade uma tentativa de esclarecer aquilo que as coisas significam para alguém, neste caso a rotina não precisa ser de submissão submissão ao diagnóstico. Pode ser uma oportunidade para pa ra ap apren rende derr algo sobre o modo como se vê o mundo, mund o, junt ju ntoo com uma um a pessoa pes soa que possui poss ui alguns instrum ins trument entos os pa para ra traze tra zerr à luz os po ponto ntoss de vista vis ta pessoa pes soais. is. Há, por por tanto, certos tipos de coisas que o psicólogo pode fazer para transformar uma situa cooperativa , na qual tanto o psicólogo como o ção apavorante numa situação cooperativa, cliente têm o objetivo comum de compreender melhor o cliente. Fischer (1970) su gere, em primeiro lugar, que o indivíduo que está sendo avaliado e o psicólogo devem previamente entrar em acordo sobre o motivo pelo qual ambos estão lá, o que desejam extrair da experiência e como procederão; em segundo lugar, que o psicó psi cólog logoo de deve ve ex expl plic icar ar suas sua s impr im pres essõ sões es e co conv nvid idar ar o clie cl ient ntee a co com m en entá tá-la -las, s, modificá-las, expandi-las e relacioná-las com o que julgar importante; em terceiro lugar, que o psicólogo deve escrever seu relato numa linguagem que o cliente possa compreender, pedindo a seguir que este o leia, dite suas reações e explique sua visão dessas questões importantes — estas contribuições destinam-se a ser coloca das em apêndice ao relato escrito ou, melhor ainda, a fazer parte dele; e em quarto lugar, que a pessoa avaliada deve ser a única a decidir quem deve ter acesso ao relato. Esta abordagem do diagnóstico psicológico não dá apenas segurança à pessoa de que seus direitos legais e morais serão respeitados; também toma sua experiência vivida de modo sério o bastante para tomá-la o tribunal de qualquer desacordo.5 Focaliza as significações dos acontecimentos, tanto nos materiais de testagem quanto no mundo diário da pessoa, assim como a forma pela qual estão organizadas em seu ser-no-murido total. UMA PSICOLOGIA CLÍNICA FENOMENOLÓGICA Depois de nossa breve aproximação à psicoterapià e ao diagnóstico, vamos ten tar clarificar, em termos do presente livro, algumas idéias sobre a psicologia clínica fenomenológica em geral. Dissemos no Cap. 4 que a atenção aos horizontes horizontes é uma parte par te crucial cruc ial da compre com preens ensão ão de uma pe pesso ssoaa individual. individua l. Esta Es ta estra es tratég tégia ia foi descri des crita ta como algo que o investigador pode fazer, e foi aproximada do processo de inferên cia lógica. Em nossa discussão presente da psicologia clínica, fica claro, em pri meiro lugar, que ela é também algo que o cliente pode aprender a fazer por si
58 MÉTODO conforme sugerido por Rogers, de modo a produzir auto-aceitação, é uma aborda gem útil. O estabelecimento sistemático dos constructos interpessoais operantes de Kelly é outro. A tentativa de Binswanger de focalizar as paisagens universais da experiência vivida oferece ainda outra maneira de ajudar o cliente a prestar atenção nos horizontes da própria experiência. Na abordagem do diagnóstico realizada por Fischer, o indivíduo que está sendo avaliado aprende tanto quanto o psicólogo a respeito de sua própria experiência vivida. Podemos também dizer que uma explo ração sistemática da fisionomia do campo, de alguém no tempo e do tempo em alguém, e dos acordos interpessoais (Caps. 7-9) pode ser uma abordagem de nossa tarefa. Todas estas técnicas clínicas são planejadas para facultar ao indivíduo o acesso à experiência conforme experienciada.
PARTE
m
ALGUNS HORIZONTES UNIVERSAIS
CAPÍTULO 7
FISIONOMIA DO CAMPO O comportamento deve ser sempre entendido no contexto do campo perceptual dentro do qual ocorre. Um campo perceptual, recordamos, deve ser descrito em termos da experiência vivida, porque é esta que, estruturando-se a si própria, in tegra todas as significações nas quais estamos interessados. Podemos analisar um campo experiencial em horizontes e em horizontes de horizontes, como fizemos no Cap. 1, e podemos vinculá-lo ao contexto mais amplo do ser-no-mundo, como foi feito no Cap. 2. No entanto, um campo tem seu próprio nível de organização. Essa organização pode ser mais bem examinada através da descrição da fisionomia do campo!1 A fisionomia fisionomia de um campo é uma parte poderosa po derosa de nossa no ssa experiência. Podemos observá-la com facilidade em nossa própria experiência, e, com alguma prática, somos também capazes de “ vê-la” na experiência de outra pessoa. pess oa.22 Suponha que você caminha pelo interior de um auditório. Pode observar as fileiras de cadeiras segundo uma espécie de ordem centrada no palco. O cenário consiste em um con junt ju ntoo de linhas e em uma um a de dema marca rcação ção do espaço esp aço tal que somos somo s “ atraíd atr aídos os em dire dire ção” ao pódio da plataforma. Se o auditório estiver vazio, haverá nele um clima de cidade fantasma. Fisionomicamente, um auditório é bastante diferente quando está cheio de pes soas que esperam com impaciência a chegada de um conferencista famoso. Talvez haja ainda alguma coisa faltando, mas desapareceu a atmosfera lúgubre, fantasma górica. Quando cheio, o auditório anuncia um futuro imediato que aguardamos. Quando vazio, adquire uma qualidade intemporal que dá à experiência um sabor sinistro. A atmosfera plena, de expectativa, é ainda diferente daquela que se dá no depois da conferência, quando todas as pessoas mesmo auditório imediatamente depois estão saindo. Tal campo perceptual tem um movimento que nega a força direcional do próprio aposento, que nos empurra em direção ao palco. Claro que o movimento é compreensível para nós, em virtude da experiência temporal de “ter ouvido a conferência”, e essa dimensão temporal impede que os dois Vetores contraditórios
62
ALGUNS HORIZONTES UNIVERSAIS
sintetizados na fisionomia de um campo. Porém essas experiências particulares são apenas exemplos. Até certo ponto, são provavelmente compartilhadas por todos nós, e conseqüentemente não nos informam sobre a maneira pela qual as pessoas experienciam fisionomias diferentes, até mesmo num aposento comum. Para algu mas pessoas, todo aposento é um auditório no qual todos estão orientados para o palco palc o no qual elas se encon enc ontram tram.. Para Pa ra ou outra tras, s, um ap apos osen ento to cheio che io de pe pesso ssoas as não é um palco, a não ser que algo aconteça e o tome tal coisa. Uma modificação fisio nômica como esta ocorre quando, por exemplo, cometemos uma gafe em uma festa, ou quando o coordenador de uma reunião subitamente nos pede para comentar o proble pro blema ma do grupo grup o naqu naquele ele momento. mom ento. Alguns de nós dispõem disp õem as coisas coi sas de modo a fazer com que tais mudanças aconteçam. Podemos responder à fisionomia ficando cronicamente embaraçados, ou conscientes de nós mesmos, ou fascinados pelo palco palc o e exibicio exib icionista nistas. s. As diferen dife rença çass en entre tre o meu campo cam po fisionômoco fisionô moco e o seu, seu , e entre o que eu e você podemos fa podemos fa z e r para manipulá-las, dependem da estrutura mais ampla de nossa experiência e orientação para o mundo. Para alguns de nós, qualquer situação social é uma plataforma, para outros, um embaraço. Estrutura mos nossos campos de maneiras que nos caracterizam de forma pessoal. Nós o fazemos em nossa experiência — percebendo situações de tal e qual maneira. E o fazemos em nosso comportamento — dando tal ou qual forma às situações, nas quais nos colocamos, então, comportalmente.3 ESPAÇO CONCRETO E ABSTRATO Vamos refletir sobre a fisionomia do campo de uma quadra de handball, handball, uma quadra de tênis ou uma mesa de pingue-pongue. Tal campo percentualcomportamental requer reações instantâneas e, conseqüentemente, é provável que nossa compreensão da estrutura do espaço espaço esteja “ em nossos nossos ossos” osso s” , ou ou em nossos nossos músculos, em nossos corpos. Podemos sentir em nossos corpos quando o espaço nos atrai para cá ou para lá. Com freqüência respondemos a indícios perceptuais, tais como os movimentos do adversário, sem pensar sistematicamente nas possibi lidades. Tal tendência permite que um adversário esperto nos engane com seu mo vimento, sugerindo que vai fazer uma coisa e fazendo uma outra, e, portanto, deslocando-nos de posição. Ao jogar contra um adversário malicioso, aprendemos a ignorar suas sugestões e a evitar responder de modo prematuro. Tal aprendizagem envolve uma transformação em nosso campo perceptual, que vai de uma estrutura espacial concreta, concreta, estabelecida pelos movimentos preliminares do adversário, a uma estrutura abstrata abstrata de possibilidades — até que ele se tenha comprometido na rebatida da bola. Quando os movimentos preliminares indicam que ele vai rebater a bola pa para ra um certo ce rto lugar, luga r, esse es se lugar luga r nos atrai atra i e nos movemo mov emoss em direç dir eção ão a ele. A atração em direção a tal parte preferencia preferenciall da quadra qu adra é a estrutura estabelecida e stabelecida por nossa percepção dos movimentos preliminares. Depois que aprendemos a ignorálos, a quadra inteira permanece um espaço de possibilidades idênticas, um espaço hipotético que só se toma real quando o adversário se compromete ao rebater a bola. A distinção entre os espaços abstrato e concreto concreto é muito importante para a compreensão da fisionomia de um campo e do papel da mesma em nosso compor tamento. Há anos um paciente com lesão cerebral chamado Schneider se tomou
FISIONOMIA DO CAMPO
«3
paciente pacie nte pa para ra atend ate nder er ao telefone telefo ne que tocava toc ava,, qu quand andoo este est e esta es tava va presen pre sente te em seu campo visual, e para manipular ferramentas corretamente. Gelb e Goldstein chama ram de greifen, que signi signifi fica ca “ segurar” ou “ tocar” toc ar” , a essa espécie espécie de de comporta mento, que é uma apropriação corporal do espaço em termos bastante concretos. Em contraste, Schneider era incapaz de apontar seu braço esquerdo com o dedo indicador direito quando lhe solicitavam que o fizesse. Tal comportamento, cha mado pelos pesquisadores de zeig de zeigen, en, que signi signific ficaa “ mostrar” mo strar” , ocorre num espaço experiencial experiencial diferente daquele espaço espaço corporalmente concreto conc reto do “ segurar” segu rar” ou “ tocar” toc ar” . “ Mostrar” Mo strar” requer a construção construção de um espaço abstrato, tridime tridimensi nsional, onal, no no qual há esquerda e direita, braços e dedos, e a possibilidade de acompanhar esse mapa abstrato de correspondências entre comportamento motor e instruções. O espaço envolvido no ato de “mostrar” não é vivido por nós no sentido corporal pelo qual ex experi perienc enciam iamos os uma qu quad adra ra de d e tênis ou manipulamos manip ulamos co conc ncreta retame mente nte obje obje tos significativos como ferramentas. De modo semelhante, Schneider não era capaz de realizar os movimentos hipotéticos de pegar o telefone ou de representar o uso de ferramentas quando estes não estavam concretamente presentes. Tais habilida des exigem a formulação de um espaço hipotético que não está assinalado por obje tos presentes visualmente nem está na verdade submetido ao ato concreto de segu rar. Compare a experiência de atos concretos que realizamos distraidamente, como coçar uma parte do corpo, e a de apontar para a narina esquerda com o quinto dedo da mão direita, e você perceberá a diferença entre greifen e zeigen. zeig en. O espaço abstrato é o espaço da possibilidade. Em imaginação, posso construir possibilidad possib ilidades es que hab habitua itualme lmente nte não são reais, rea is, mas pa para ra fazê-lo dev devoo ab abstr strai airr do espaço visual concreto, ou situação, certos princípios constantes ou regularidades que definem os limites dentro dos quais pode haver variação, e imaginar então uma variação variação que não esteja concretamente presente. O espaço concreto, em contraste, está limitado à realidade. Na medida em que meu espaço permaneça concreto, posso pos so pe pega garr um telefone telefo ne real, rea l, mas não um telefone telefo ne possível. poss ível. Nã Nãoo existe exis te “ telefone telefo ne possív pos sível” el” no espaç esp açoo con c oncre creto; to; apena ape nass aque a queles les ob objeto jetoss par p araa os quais me poss p ossoo orien orien tar em termos corporais e motores estão estão num espaço concreto. Ao jogar handball handball ou tênis, precisamos de reações instantâneas. Porém, para joga jo garr esses ess es jogo jo goss bem, dev devem emos os ir além do espaç esp açoo co conc ncreto reto fisionomica fisiono micamen mente te dad dadoo e manter a quadra inteira como um campo de possibilidades até que nossos adver sários realmente se comprometam na rebatida da bola. Do contrário seremos apa nhados pelos movimentos preliminares, tapeações, gestos e posturas planejadas para pa ra nos iludir. Schne Sch neide iderr teria te ria sido provav pro vavelm elment entee um péssimo péss imo jogad jog ador or de tênis, tên is, pois sua habilidade habil idade pa para ra suste su stent ntar ar um espaç esp açoo hipotét hip otético ico frente fre nte aos indícios sensíveis sensív eis que revestem um campo fisionômico estava impedida por sua lesão cerebral. As possibil pos sibilidad idades es não não apareciam para ele, apenas as realidades. As possibilidades exi gem um espaço hipotético, um espaço abstrato, uma conceptualização do campo que possa ultrapassar o espaço imediato, concreto e fisionômico de um campo perce per ceptu ptual-c al-com ompo portam rtamen ental. tal. A distinção entre espaço concreto e abstrato também é útil na compreensão das ilusões óticas. Na ilusão de Müller-Lyer, duas linhas horizontais de tamanho igual parece par ecem m ser se r de d e diferen dife rentes tes tamanh tam anhos os (ver Fig. 8). Podemo Pod emoss medir med ir as linhas e chegar che gar saber, conceitualmente, saber, conceitualmente, que são do mesmo tamanho. No entanto, elas continuam
64
ALGUNS HORIZONTES UNIVERSAIS
>
< <
>
Figura 8. A Ilusão Ilusão de de Mii Miill ller er-L -Lye yer. r. uma experiência delas diferente, que as “localiza” no espaço abstrato da medida linear. Tanto conhecer o o mundo como deixá-lo aparecer são são maneiras de nos orien tar para o mundo. Alguns de nós suspeitam muito das aparências e tentam conhecer o máximo que podem antes de se envolver com as coisas. Outros acreditam que o conhecimento é menos valioso do que a capacidade de apreciar as aparências. Ou tros ainda tentam usar as aparências sistematicamente a fim de conhecer, usar o conhecimento para captar as aparências, e assim por diante. Todas as pessoas têm um estilo que as caracteriza enquanto pessoas. Uma das diferenças entre as pessoas é o modo pelo qual articulam aquilo que conhecem com aquilo que aparece. A constância dos objetos é outro problema semelhante. Vejo um carro como tendo o mesmo tamanho durante o tempo em que se aproxima de mim, embora a imagem do carro se tome maior à medida que ele chega mais perto. Nessa situação, todos aprendemos a evitar a aparência fisionômica e a viver predominantemente através daquilo que sabemos. Ou melhor, sabemos conceptualmente que o carro não cresce à medida que se aproxima, mesmo que isto pareça ocorrer.5 O mesmo fenômeno fisionômico retoma com maior intensidade, entretanto, quando olhamos do alto de um edifício de vinte e cinco andares, a partir do qual os carros nos aparecem como brinquedos. Tal retomo sugere que algumas vezes nosso campo está estruturado por coordenadas espaciais abstratas (sabemos que o carro é do mesmo tamanho) e que outras vezes está estruturado fisionomicamente (mesmo quando sabemos que as linhas são do mesmo tamanho, elas continuam a parec pa recer er diferentes). As categorias abstrato e concreto também são aplicáveis à nossa experiência do tempo. tempo. Uma conferência conferência tediosa tediosa tom a uma hora “ mais mais longa” do que uma confe confe rência estimulante — em termos fisionômicos. Fazemos planos de acordo com horas e semanas concebidas matematicamente, as quais existem em um futuro que ainda não está aqui. Abs A bstr trat atam amen ente te, o tempo é uma linha; o agora é um ponto nessa linha. linha. Movemo-nos Movemo-nos inelutavelmente ao longo da linha; o passado passa do já se foi, foi, o futuro ainda não está aqui. Concretamente, nossa experiência oscila da recordação à ante cipação, não sendo o “ presen pre sente” te” nem um um ponto numa linha nem um movimento movimento numa direção única, e sim uma rica aglutinação de passado e futuro. Mesmo que possamos, possam os, em imaginação, ocu ocupar par o passado passad o ou o futuro, futuro , sabemos que estamos estam os ape nas no presente. Podemos experienciar concretamente uma recordação, assim como podemos experienciar o carro ficando cada vez maior à medida que se apro xima de nós, porém estamos também orientados para o que sabemos abstratamente — que a record rec ordaçã açãoo está es tá atrás atr ás de nós e que o carro ca rro é do mesmo tamanho tam anho..
FISIONOMIA DO CAMPO
65
trário não tem significação. A significação do que conhecemos é sempre fundada nos campos concretos de nossa experiência, a qual é, por seu lado, organizada no mundo para o qual estamos orientados. A equação 2 -l- 2 = 4 é uma afirmação abstrata sem significação, a não ser que se refira a algo vivido pessoalmente por nós.6 A VOLTA À EXPERIÊNCIA VIVIDA Certamente poderíamos refletir a respeito da relação entre os espaços abstrato e concreto e tentar formular, em termos Conceituais, o modo pelo qual cada um deles influencia influencia o outro, e assim assim por diante.7 É importante perceber que, embora este problem prob lemaa po possa ssa ser importan impo rtante te teorica teor icame mente nte,, também tamb ém pode ter te r algo de artificial. A solução é surpreendentemente simples e só pode ser atingida em se renunciando ao problem prob lemaa conceitu conc eituai ai e em se retom re toman ando do aos dado dadoss — os dado dadoss da exp experiê eriênci nciaa vi vida. A experiência vivida não é abstrata nem concreta; tem simultaneamente ambas as características, sempre integradas por nós. Nossos próprios conceitos de “abstrato” e “concreto” são abstrações. Perguntar acerca de como estão relacio nados é supor que são fenômenos separados. Não existe realmente o problema de uma “ relação” relaçã o” , pois pois a separação é, em primeiro primeiro lugar, lugar, analítica — útil útil para alguns alguns propós pro pósito itos, s, mas não carac car acter teríst ística ica da maior pa parte rte da experiên expe riência cia conforme conform e vivida por po r nós na vida vid a diária. d iária. O espaço fisionômico que devemos abordar é, portanto, o espaço vivido que se apresenta em nossa experiência vivida. O campo campo de que falamos deve ser exami nado, em sentido próprio, naquilo que ele é, e não dividido de acordo com nossas noções teóricas. Somos tentados a compreender o campo como uma exposição ou espetáculo. Tal modo de ver o campo não é aquele que apreciamos na experiência vivida. Ser-no-mundo não é um processo de observação passiva; é ação e desem penho pen ho próprio. próp rio. Os campos camp os que desejamos deseja mos examin exa minar ar não se assemelh asse melham am ao que vemos numa tela de televisão; são o espaço aberto e nós estamos neste espaço. Ele nos rodeia. Um campo, conforme conhecido através da experiência vivida, é um espaço no qual nos movimentamos, manipulamos coisas, as tocamos, viramos, e nos movemos em tomo delas. Sabemos o que sabemos do campo em virtude de nossa participação nele. Conhecemos o campo de acordo com nossos propósitos, nosso movimento intencional intencional e nossas operações sobre ele. ele. Nossa Noss a relação para com o campo é mais do que visual. É também mais do que tátil ou auditiva. Todos esses aspectos são sintetizados por nós, na qualidade de pessoas fazendo coisas. O campo se apresenta como um conjunto de possibilidades consideradas por nós de acordo com nossos propósitos. O campo é, antes de tudo, comportamental e expe riencial.8 A maior parte de nosso comportamento é envolvida por planos e reflexões pre liminares com referência aos fatos. Esses atos cognitivos são, certamente, uma fonte importante de significações para nosso comportamento. No entanto, planos e reflexões são abstratos. Envolvem a consideração de possibilidades, futuro e pas sado. O comportamento é aquele momento de nossa experiência em que articula
66
ALGUNS HORIZONTES UNIVERSAIS
Voltemos ao episódio episódio ocorrido com minha filha, descrito no Cap. l, para par a ver o que estas conclusões implicam. É possível refletir sobre a relação entre a com preens pre ensão ão ab abstr strata ata que minha filha possuí pos suíaa do espaço esp aço en entre tre as duas casas cas as e a pre pr e sença visual que esse espaço tinha para ela. Porém nem o espaço abstrato nem o visual eram o espaço no qual ela estava. O espaço vivido de minha filha tanto possuí pos suíaa aspect asp ectos os geométric geom étricos os qua quanto nto aspecto asp ectoss visuais, visua is, os quais podem ser po porr nós observados cada um por sua vez, mas não havia, na experiência dela, dela, o problema de relacioná-los. A fisionomia do campo naquele momente, que desejamos ser ca pazes paz es de “ v e r” ou “ co com m pree pr eend nder” er” , era er a principa prin cipalmen lmente te comportamental. comportamental. Ela es tava em nossa em nossa casa, sentindo a atração em direção à porta. A significação da porta ao fundo da sala, que se erguia entreaberta, não era geométrica, nem era a de um padrão pad rão visual interes inte ressan sante te que lhe chamav cha mavaa a atençã ate nção. o. A significação da po porta rta es es tava baseada no ato pretendido de sair para alcançar a casa da amiga. Mais tarde, minha filha estava na na casa casa da amiga9, e, não vendo a casa na televisão ou através de um binóculo. Aquele espaço a rodeava, a envolvia, a enchia de uma presença es tranha que fez com que seu comportamento de planejamento (a arrumação da sa cola) se tornasse irreal e desconhecido. Quando a experiência vivida mudou de caráter, os planos se tomaram irrelevantes. Algo mais teve lugar, e a porta da casa da amiga começou a atrai-la como a de nossa casa havia feito uma hora antes, mas com um sentido de urgência bem diferente, como observamos observ amos no Cap. 1. O aposento no qual me encontro agora tem um espaço geométrico que com preend pre endoo quan quando do tento ten to fazer faz er uma planta pla nta do mesmo. Também Tamb ém posso poss o relaci rel aciona onarr a pres pr esen ença ça visual dele a tal espaço esp aço con concep ceptual tual,, levando levan do em co cont ntaa minha localização. local ização. Porém eu o apreendo como um espaço vivido fundamentalmente através de meu comportamento: a cadeira está onde me sento, a mesa sustenta meus papéis e xí cara de café, as janelas destinam-se a que se olhe por elas — um buraco é para ser cavado. A estrutura do campo fisionômico integra o que sabemos abstratamente ao fabrico da significação de nossa experiência, tão seguramente quanto integra outros horizontes. A presença imediata do mundo para mim, e a minha para ele, é uma maravilhosa síntese de significações relativas a horizontes temporais, espaciais, in terpessoais, abstratos, visuais e táteis, organizados em torno de um propósito com portam por tament ental al que é básico para par a minha exp experiê eriênci nciaa vivida.
CAPÍTULO 8
O SELF NO TEMPO Tudo o que faço, todo o meu comportamento, tem algo a ver com meu self. Na qualidade de um self, possuo uma identidade: um nome, uma família, um papel profissional profissio nal e um número núm ero de seguro social. Mas possuo pos suo também tamb ém um passad pas sadoo e um futuro; eles são parte de meu self tanto quanto meu nome. Sei quem sou (agora) porque porq ue sei quem que m fui (no passa p assado) do) e quem q uem serei (no futuro fu turo). ). Co Conh nhece ecerr meu passad pass adoo e futuro e saber quem sou. Já que tudo quanto faço tem algo a ver com meu self, tem também alguma coisa a ver com meu passado e meu futuro.1 Tudo o que faço tem relação com o meu passado em dois sentidos. Em primeiro lugar, o passado está ligado ao que faço no sentido da causalidade física. É óbvio, por p or exempl exe mplo, o, que aquilo que faço está es tá relacio rela cionad nadoo com o fato do alimento alimen to que ingeri ontem me ter fornecido energia, hoje, para o fazer. Porém uma segunda e mais importante relação entre mim e meu passado está ligada ao fato de que eu recordo. recordo. Recordar, ao contrário das causas anteriormente citadas, é algo que faço agora mesmo; é uma apropriação consciente do passado num self e numa identi dade. Não há self que não recorde uma história, pois recordar uma história pessoal é ser ser um self. E não há passado sem um self, sem uma recordação contemporânea, mesmo que inadequada, que reúne milhares de fragmentos num todo coerente, construindo um contexto de autoconhecimento dentro do qual a experiência pre sente, incluindo as recordações específicas, faz sentido. De modo similar, tudo o que faço tem algo a ver com o futuro em dois sentidos. Fisicamente, meu corpo está submetido às leis da causalidade, de modo que o fato de torcer hoje meu tornozelo fará com que eu esteja mancando amanhã. Porém, mais importantes do que as causas e os efeitos mecânicos são meus planos, receios, esperanças, desejos — antecipações em geral. De modo diverso do claudicar de amanhã, a antecipação é algo que realizo agora mesmo; é a apropriação consciente de um futuro em um self e em uma identidade. Ser um self é antecipar um futuro pessoal. pess oal. Não há self sem isto, po porr vago que po possa ssa ser. Ninguém deixa dei xa de perce per cebe berr que estará em algum lugar amanhã e no próximo ano. Mesmo que o self não saiba onde estará, sua vida neste momento está baseada na suposição de que tem um futuro.2
68
ALGUNS HORIZONTES UNIVERSAIS
ros conforme conforme os os consideramos agora.3 Ser-no-mundo Ser-no-mundo é um um “ futuro, tornado pre sente, no processo de esta r sendo” sendo ” , como como apontou Martin Heidegge Heidegger. r. O conceito de self conforme o utilizamos aqui refere-se à forma como consideramos nosso passad pas sadoo e futuro. futu ro. Tal con consid sidera eração ção é matéria mat éria de record rec ordaçã açãoo e antecip ant ecipação ação;; pa parte rte de seu conteúdo é explícita, mas uma boa parte está implícita. Como outros horizon tes, é pressuposto, situa-se na franja quanto a nosso foco de atenção, embora seja decisivo para a significação de eventos em nossa experiência. A experiência de ser um self no tempo é bastante complexa. Neste momento, possuo poss uo um sentido sent ido de mim mesmo. m esmo. O que está es tá envo envolvido lvido nisto? nisto ? Na Fig. 9, record rec ordoo minha infância (1) e antecipo que deverei morrer (2). Quando eu era criança, ante cipava arranjar um emprego (3) e agora recordo a obtenção do mesmo (4); também me lembro da antecipação de conseguir um emprego (5). Minha recordação de como antecipei arranjar um emprego (5) (5) é comparada à minha recordação de conse c onse gui-lo (4), e, ou este correspondeu a minhas expectativas, ou estou algo desapon tado. Fiz planos de aposentadoria quando obtive meu emprego (6). Agora me re cordo de quando os fiz (7) e faço outros novos (8). Lembrar-me-ei de os ter feito (9) e, quando estiver morrendo, recordarei esta lembrança (10). Antecipo agora a ma neira como recordarei a lembrança dos planos de aposentadoria que estou fazendo agora (11). Nem todos todo s estes est es horizon hori zontes tes são igualmente importan impo rtantes tes pa para ra a forma form a como com o me compreendo em meu emprego. Mas todos são, implicitamente, parte de minha compreensão. Ocasionalmente algum deles se toma crucial, como pode ser o caso da noção de que, quando me aposentar, ficarei espantado com a tolice de meus planos de apo aposen sentad tadori oriaa anteri ant eriore ores. s. Parte Par te de minha motivaçã motiv açãoo pa para ra modificá-los neste momento refere-se ao fato de que não desejo olhar para trás e me ver como tendo sido tolo (12). Este processo consiste na antecipação da recordação de uma antecipação (13). (13). O diagrama é complexo o bastante para indicar in dicar quão complexo é, na verdade, ser um self no tempo. Também fica claro que o diagrama é simples demais; tivesse eu incluído meu casamento, o nascimento de meus filhos, os casa mentos de meus filhos, minha agilidade física de outrora, seu decréscimo e sua deterioração atuais, e as centenas de outros tópicos que são importantes para o sentido que possuo de mim mesmo, e o diagrama rapidamente se teria tomado de difícil manejo. Vamos tentar simplificar toda esta complexidade para poder enten der um self no tempo. SER CULPADO Consideremos o caso da Sra. Downs, cujo ser-no-mundo está sobrecarregado pela culpa. culp a. Todas Tod as as vezes vez es que ex expr press essaa raiva raiv a qua quanto nto aos filhos, po pond ndera era sobre a maneira como os feriu. Quando brinca com eles, está certa de não lhes estar dando
O SELF NO TEMPO
69 o amor e liderança que merecem. Todos os episódios alegres são recordados pesa rosamente porque ela não fez tal e tal coisa. O julgamento que faz de si mesma é muito severo, pois seu seif é é aquilo que recorda, e aquilo que recorda consiste em seus fracassos, reais e imaginados. Recorda-se ela de todas as coisas ruins porque seu ser-no-mundo é culpado? Ou seu ser-no-mundo é culpado porque ela se lembra apenas das coisas ruins? Nenhuma seqüência causal é correta; ser culpado é uma maneira de recordar, e recordar as coisas ruins é uma maneira de ser-nomundo, isto é, ser culpado.4 Porém a Sra. Downs também antecipa que continuará a fracassar. Freqüente mente evita brincar com os filhos porque antecipa que os irá desapontar ou decep cionar. O estilo de viver no futuro da Sra. Downs não constitui, para ela, um des dobramento de possibilidades novas e interessantes. Ela espera, ao contrário, uma repetição do passado. A culpa da Sra. Downs é a maneira como ela é, e permeia suas antecipações, assim como suas lembranças. Seu self e o que ela antecipa, e o que ela antecipa é que irá fracassar outra vez. A culpa da Sra. Downs caracteriza seu ser-no-mundo. Sua S ua percepção de campos concretos é colorida pela expectativa de que se tornarão palcos de fracassos poste riores. Seu mundo é povoado por coisas que a fazem lembrar-se daquilo que la menta e a apavoram apresentando o que receia — possibilidades de fracasso. A culpa é, portanto, portan to, uma um a maneira de ser-no-mund ser-no-mundo. o. É uma apropriação do pa do passa ssado do na qual recordamos fracassos anteriores, o que nos conduz a antecipar que continua remos a recordar fracassos passados, o que nos leva a recordar a antecipação de fracassos futuros, o que nos conduz a antecipar a recordação da antecipação de fracassos futuros. A primeira recordação da Sra. Downs dos fracassos do passado requer o hori zonte de sua antecipação de fracassos futuros, e sua primeira antecipação de fra cassos futuros requer o horizonte da recordação de fracassos passados. Ela só la menta com base no temor e só teme com base no que lamenta. Cada um precisa do outro, e cada um produz o outro. Ambos são requeridos pelo fato de ela ser culpada e requerem que seja culpada. Lamentar é uma maneira de recordar e recear é uma maneira de antecipar: juntas, engendram o ser culpado, que é uma forma de serno-mundo. Este processo não é tão complexo como parece. Ser um self é recordar um passad pas sadoo pessoa pes soall e an antec tecip ipar ar um futuro futu ro pessoal. pess oal. Ser Se r culpado culp ado é uma maneira manei ra de ser um self. Esquematicamente, pode ser representado desta forma:
Ser Culpado recordar: lamentar fracassos passados antecipar: temer fracassos futuros SER SENTIMENTAL Consideremos agora a situação do Sr. Pinky, cujo ser-no-mundo é sentimental. Ele recorda o passado através de lentes cor-de-rosa e vê os acontecimentos presen tes como pobres imitações de uma existência idílica de anos anteriores. Sua esposa
70
ALGUNS HORIZONTES UNIVERSAIS
preços preço s subiram e mesmo os espetá esp etácul culos os de televisã tele visãoo se torna tor naram ram violentos viole ntos e sem beleza. Poderíam Pod eríamos os dizer diz er que o Sr. Pinky vive no pa passa ssado do,, mas isto não con constitu stituii toda a história. O sentido que o Sr. Pinky tem do futuro é duplo. Por um lado, está resignado ao fato de que ele e a mulher continuarão a ficar mais velhos e menos atraentes, e de que a vida se repetirá em sua mediocridade monótona comum. Porém, ao mesmo tempo, o Sr. Pinky tem fantasias ricas e gloriosas sobre o modo como ambos pode riam perder peso, como ele poderia ficar'entusiasmado pela secretária ou como poderiam pod eriam de desc scob obrir rir urânio urâ nio no quinta qui ntal,l, torna tor nand ndo-s o-see milionário milio nários. s. Estas Es tas fantas fan tasias ias ocorrem ocorrem com com o espírito espírito de “ se ao menos fosse fosse verd ve rdad ade. e. . . ” . Ele reconhece que não não se tomarão verdadeiras. São meros desejos, constituindo uma maneira do tipo conto de fadas para tomar toleráveis os desapontamentos atuais através de vivên cias num futuro artificial e idealizado. O sentimentalismo do Sr. Pinky constitui o como ele é-no-mundo. Os campos percep per ceptuais tuais co conc ncreto retoss são coloridos colo ridos po porr suas record rec ordaç açõe õess e desejo des ejos. s. São belas bela s repe rep e tições de seu passado idílico, palcos para sua fantasia futura ou, mais comumente, desapontamentos, porque fracassam em ser ambas as coisas. A recordação do Sr. Pinky é reminiscência, sua antecipação é desejo, seu ser-no-mundo é sentimental. Quando ele tece reminiscências sobre o self que costumava ser, certo conteúdo é focalizado e outro conteúdo cai no esquecimento. Ele e sua história idílica. Mas as imagens e o conteúdo também aparecem contra o pano de fundo de um sentimento do presente — e em contraste con traste com ele — enquanto enqua nto desinteressan desin teressante te e feio.5 feio .5 Como na fantasia, suas antecipações o engajam numa existência irreal que corre paralela a um estado de coisas real. Ser sentimental por vezes obscurece este sentido do pre sente. Ele preferiria não o encarar. Está continuamente desapontado com a vida, mas continua vivendo, encobrindo o desapontamento em benefício do sentimenta lismo. Ser sentimental é uma apropriação do fu do futu idílios os futuros, turr o na qual antecipamos idíli o que nos leva a recordar a antecipação de idílios futuros, o que nos conduz a antecipar a recordação da antecipação de idílios futuros. A recordação do Sr. Pinky dos idílios passados requer o horizonte de seu desejo de idílios futuros, e seu desejo de idílios futuros requer o horizonte de sua recorda ção de idílios passados. Só temos reminiscências com base no desejo e só deseja mos com base em reminiscências. Cada um requer o outro, e cada um produz o outro. Ambos são requeridos pelo ser sentimental e requerem ser sentimental. Ter reminiscência é uma forma de recordar, e desejar é uma maneira de antecipar; jun tamente constituem o ser sentimental, uma maneira de ser-no-mundo. Esquematicamente, pode ser representado deste modo: Ser Sentimental recordar: ter reminiscências sobre idílios passados antecipar: desejar idílios futuros IDENTIDADE E LIBERDADE Em contraste com objetos, que não experienciam, o modo como sou-no-mundo
o SELF NO TEMPO
71
fornecem um self diferente para ser. No decorrer de um único dia, posso ser mais de um self, cada um deles produzindo e sendo produzido por um padrão de recor dações. No entanto, através dos dias e dos anos, mantenho unidos certos aspectos de minha história que estão sempre presentes, esteja eu lamentando ou tecendo reminiscências. Estes elementos estáveis aparecem como fatos biográficos, e minha relação com eles é um ato de reapropriação neutra. Formam seja qual for o self estável que está sempre presente, através das vicissitudes do pesar e da reminiscência. São um lastro de identidade contínua, e me apego a eles como me apego à minha identidade. Nasci em tal e qual cidade, de certo país, freqüentei determina das escolas e fiz isto e aquilo no curso de muitas décadas. Recordo estes itens, sempre recordei e recordarei. O padrão dos mesmos muda um pouco durante os anos; a escola secundária que freqüentei não é tão importante agora como o foi em outro momento, mas a estabilidade destes fatos é importante quanto à minha habili dade para saber quem sou eu. Estes fatos biográficos são, no entanto, um mero esqueleto de meu self. A maneira como me lembro deles pode estar cheia de pesar ou de reminiscência. Suas significações podem variar, na dependência de eu estar lamentando ou tecendo reminiscências. Nas situaçõe situ açõess da Sra. Downs e do Sr. Pinky, as maneiras de maneiras de recordar o passado desenvolveram-se numa espécie de pesar crônico e reminiscência crônica, respecti vamente. Eles poderiam mudar estas maneiras de recordar, e, portanto, mudar as significações destes fatos biográficos se, e somente se, cada um modificase seu ser-no-mundo usual. Na verdade, o fato da Sra. Downs recordar seu passado de modo diferente representaria, para ela, ser menos culpada. Para o Sr. Pinky, o fato de recordar diversamente seu passado significaria ser menos sentimental. As circunstâncias sob as quais digo ou sinto que sei quem sou estão voltadas para o futur f uturo. o. Qua Quando ndo estou est ou incerto inc erto acerc ac ercaa do futuro fut uro,, sobre o que faze fa zerr a seguir ou mais tarde, isto se deve ao fato de estar incerto acerca de quem sou e quem tenho certos acerca de quem sido. Tanto a Sra. Downs como o Sr. Pinky estão demasiado certos acerca têm sido. Sabem qual é seu passado e qual é seu futuro. Carecem de nossa incer teza mais mais comum. Tal incerteza é essencial para pa ra a liberdade e expressa expr essa uma espécie espécie de fluidez e flexibilidade na relação de cada um com seu passado. É a ausência desta incerteza que torna fixa a história da Sra. Downs e do Sr. Pinky — e o futuro dos mesmos. Esta espécie de fixidez pode aparecer quer como uma compulsão patológica patológi ca pa para ra repet re petir, ir, qu quer er na forma form a de um medo de repeti rep etirr aquilo que é lamen lamen tado, como no caso da Sra. Downs. Pode ainda surgir como uma certeza inquestionada da repetição, ou como um desejo de repetir aquilo que é reminiscência, como no caso do Sr. Pinky. Ao temer e desejar, a Sra. Downs e o Sr. Pinky estão restrin gindo o futuro pela restrição do passado; eles se aferram ao passado e, assim, redu zem a incerteza, mas, em conseqüência, concebem-se respectivamente como cul pada e sentimen sent imental, tal, sem liberdade liberd ade para par a se tom to m ar aquilo que não têm sido, ou para terem sido aquilo que não esperam se tornar. Natur Na turalm alment ente, e, a Sra. Downs e o Sr. Pinky são extrem ext remos. os. Limitaram Limit aram a própria própri a liberdade de maneiras claras e desnecessárias. Ser culpado ou ser sentimental são formas que não têm, necessariamente, de permear nosso ser-no-mundo do modo como acontece com eles. Porém todos temos algo da Sra. Downs e do Sr. Pinky;
72
ALGUNS HORIZONTES UNIVERSAIS
Ser Culpado recordar: lamentar antecipar: temer Ser Sentimental recordar: tecer reminiscências antecipar: desejar Esta lista não é, obviamente, exaustiva quanto às formas de recordar ou antecipar, ou sobre os modos de ser. No entanto, como todos somos até certo ponto culpados e Sentimentais, as descrições nos ajudam a ver como estas posturas têm um inte resse relativo a quem somos no tempo. Vamos descrever uma terceira maneira de ser-no-mundo, que é também univer sal, logo típica de cada um de nós em graus variados. Queremos descrever o que está envolvido envolvido em em ser livre, ser prático, ser “ saudável” (como (como freqüentemente freqüentemente di zemos em nossa cultura). Denominaremos reapropriação esta maneira de recordar, e esperança esta forma de antecipar. Assim como desejo e reminiscência implicam um no outro, do mesmo modo que temor e pesar, o mesmo ocorre com esperança e reapropriação. O ser no futuro (esperança) (esperança) e o ser s er no passado (reapropriação) (reapropriação) cons tituem horizontes um para o outro; cada um requer o outro e por este é requerido. O passado e o futuro que vivemos são, cada um deles, parte do outro na estrutura do experienciar humano. Ambos são aspectos de nosos ser-no-mundo, que é ser um self no tempo. Em primeiro lugar, a esperança é uma maneira de viver no futuro de forma aberta. Na esperança, o futuro não está limitado ou restringido pelo passado; mi nhas antecipações não são repetições; um futuro divisado é um produto criativo, não a reprodução de aspectos de meu passado. Nem a Sra. Downs nem o Sr. Pinky podem criar cria r neste nest e sentido. sentid o. Em segundo lugar, a esperança conduz a um futuro contínuo com o presente no sentido prático. As decisões que tomo neste momento são significativas em virtude de sua relação prática com um futuro entendido como possível, embora não inevi tável. A esperança contrasta com os temores da Sra. Downs no sentido de que esta não sente a importância das próprias decisões. Tudo seria sempre igual. A espe rança contrasta com o desejo do Sr. Pinky porque é prática e comportamental, motivando a ação no mundo público. Nem a Sra. Downs nem o Sr. Pinky podem tomar decisões com a idéia de segui-las no plano comportamental e de que este comportamento fará alguma diferença quanto a quem e como cada um deles é. Em terceiro lugar, a esperança cria um futuro contra o horizonte de um passado expandido, expandido , um passado cuja riqueza e complexidade renovam continuamente as significações e opções relativas ao futuro, enquanto o temor e o desejo produzem um futuro contra o horizonte de um passado que se vai tornando progressivamente restringido em termos de conteúdo. mais estreito e bem definido, progressivamente restringido Algumas vezes, portanto, vivemos esperançosamente no futuro, o que significa, em primeiro lugar, que divisamos divisam os algo novo no futuro; futu ro; em segundo segund o lugar, que algo ocorrerá em decorrência decorrên cia de medidas medidas práticas que podemos tomar tom ar agora; agora; em terceiro lugar, que isto fornecerá um novo ponto de vista para considerar a significação de
O SELF NO TEMPO
73
idílios e fracassos, e os acontecimentos biográficos que são trazidos à presença não têm significação permanente de idílios ou fracassos, mas podem mudar de significa ção com novas interpretações e perspectivas. Na reapropriação, portanto, estou criando continuamente um novo passado que não está limitado por antecipações temerosas ou desejantes. Em contraste, o passado da Sra. Downs sempre significa fracasso e, conseqüentemente, ela não pode antecipar esperançosamente um futuro, pois está es tá cheia che ia de temor. temo r. O passado pass ado do Sr. Pinky é sempre semp re idílico, logo o futuro futu ro só pode significar repetiç rep etição ão fantasio fant asiosa sa ou desapon desa pontam tament ento. o. Em segundo lugar, a reapropriação traz à luz um passado que, num sentido prático prát ico,, é con contínu tínuoo com o presen pre sente. te. Nem o pesar pes ar nem a reminiscê remin iscência ncia têm esta es ta continuidade prática. As decisões tomadas neste momento pela Sra. Downs e pelo Sr. Pinky podem ser significativas com relação a seus passados lamentados ou de reminiscência, mas a continuidade não é de caráter prático; é de caráter fantasioso. É irreal, no caso da Sra. Downs, fazer penitência por um passado lamentado, se excluirmos o temor da repetição, e o mesmo ocorre com a restrição ritualística do Sr. Pinky a um passado de reminiscências, se excluirmos o desejo de repetição. Em contraste, as decisões tomadas agora com relação a um passado reapropriado se tomam significativas porque mudarão a soma total de meu passado no futuro e farão o melhor possível com o que não puder ser mudado, o que implica, com efeito, modificação; construirão o passado, ao invés de tentar anulá-lo ou repeti-lo. Em terceiro lugar, a reapropriação cria um passado contra o horizonte de um futuro expandido yum y um futuro cuja abertura prometei uma recriação contínua da signi ficação do passado, enquanto o pesar e a reminiscência produzem um passado contra o horizonte de um futuro que, sendo temido ou desejado, se toma progressi vamente mais estreito e restringido em seu conteúdo temático. Algumas vezes, por tanto, vivemos no passado reapropriado, o que significa, primeiramente, que a sig nificação do passado está sujeita a mudança, mesmo que os eventos em si mesmos sejam coisa passada; em segundo lugar, que nossas decisões constroem o passado, mas não tentam anulá-lo ou repeti-lo; e, em terceiro lugar, que tal passado fornece um ponto de vista a partir do qual o futuro pode continuar a se expandir. Ser livre ou saudável (ou como quer que chamemos) é caracterizado pela refor mulação criativa de significações à medida que nos modificamos, o que nos deixa, porta po rtanto nto,, num estad es tadoo con consta stante nte de fluxo entre ent re o que fomos, fomos , somos e nos estamos estam os tornando.6 Também constrói esta modificação constante do passado de uma ma neira prática, evitando as fantasias de penitência nascidas do temor ou pesar e as fantasias de repetição, nascidas do desejo ou da reminiscência. O caráter horizontal do passado e do futuro, com cada um deles constituindo um horizonte para o outro, contribui para uma abertura contínua de possibilidades tanto no passado como no futuro. Quando minhas antecipações se tornam mais esperançosas, aparecem mais opções em meu futuro, o que fornece um horizonte contra o qual se toma possível um maior número de interpretações do passado. E, quando minha recordação se toma predominantemente reapropriação, aparecem mais interpretações do passado, fornecendo um horizonte contra o qual se toma possível um maior número de op ções futuras. Não é razoável razoá vel rotular rot ular todas as exp experiên eriências cias de pesar pes ar e reminiscênc remini scência ia como
74
ALGUNS HORIZONTES UNIVERSAIS
rotuladas para ter um centro de gravidade da própria identidade no pesar ou na reminiscência ou em ambos, para se fechar numa autodefinição que não possibilita redefinição e, portanto, sensação de liberdade. Se a tarefa psicoterapêutica com relação ao futuro é transformar o desejo e o temor em esperança, também é trans formar o pesar e a reminiscência em reapropriação. E como o passado e o futuro são mutuamente horizontais, estas duas transformações devem ocorrer, e realmente ocorrem, juntas. Aquilo que é transformado de maneira mais essencial não é o passado, passa do, nem o futuro, futu ro, enq enquan uanto to isolados, isolado s, e sim o ser-no-mundo ser-no -mundo de alguém, que o passado passa do e o futuro futu ro constitue cons tituem. m. A sensação de liberdade que podemos ter é sempre limitada. Posso construir meu passado passa do de várias maneiras, mane iras, cada cad a uma delas criando crian do um passad pas sadoo um pouco dife rente no futuro. Porém não sou livre para inventar meu passado de modo extrava gante7 gante 7 sem ficar iludido iludido quanto a quem quem sou. Minha Minha filha, filha, que estava esperançosa espera nçosa (de acordo com nossa definição ampla) durante a primeira parte da noite, tornou-se desejosa; desejosa; mudou mudou sua identidade, de alguém alguém “ em crescimento” crescimen to” , para a identida identidade de mais mais sentimental de “ menina pequ pequena” ena” . Ao contrário contrá rio do Sr. Sr. Pinky, ela pode impor impor sua vontade. As crianças são, talvez, mais livres para fazer esta espécie de coisas, quando se superestimam, do que os adultos, porque esperamos menos consistência das crianças e porque as experiências destas quanto ao self estão menos estabiliza das. Decidir quão livres devemos ser a este respeito requer um julgamento de valor, mas por certo podemos recomendar a flexibilidade de minha filha em lugar da infle xibilidade da Sra. Down e do Sr. Pinky. São pessoas infelizes que não podem modi ficar o sentido de si mesmas num grau suficiente para justificar inconsistências comportamentais do tipo produzido por minha filha. Por outro lado, os adultos que se comportam como minha filha correm o risco de serem vistos como infantis, in consistentes, sem consideração pelos outros e de difícil convivência. Se a Sra. Down e o Sr. Pinky são extremos de um self extremamente bem definido, neste caso um adulto que se comporte como minha filha se aproxima do extremo oposto, de um self definido de forma demasiado vaga para ser capaz de sustentar acordos interpessoais, tema para o qual vamo-nos voltar neste instante.
CAPÍTULO 9
ACORDOS INTERPESSOAIS Ao recorda reco rdarr mais uma vez o episódio descrito desc rito no Cap. 1, descobrimos descob rimos que o comportamento de minha filha, por ocasião da mudança de idéia, não foi histriô nico; não foi uma produção dramática por amor à produção dramática. Na verdade, seu choro foi em parte produzido porque queria voltar para casa e possuía certa compreensão de que chorar e dizer que queria voltar resultariam em lhe ser permi tido voltar para casa. Seu comportamento tinha a intenção de produzir o resultado que produziu, e, neste sentido, foi um espetáculo projetado para os olhos dos ou tros. Porém a mensagem crítica “quero ir para casa” foi franca e verdadeira. Por outro lado, posso afirmar com confiança que nem sempre minha filha é tão direta. Seguramente há vezes em que chora quando está com os irmãos não porque esteja machucada, apavorada ou ansiosa para que seus desejos sejam satisfeitos e sim porque porq ue sabe que o cho choro ro atrair atr airáá para par a ela alguma atenç ate nção ão po porr parte par te dos pais, pais , ou talvez possa ser usado como uma arma contra os irmãos ao trazer os pais para perto, per to, pon pondo-o do-oss do seu lado. Em ou outro tross termo ter mos, s, a fisionom fi sionomia ia do qu quar arto to da amiga foi tal que ela não poderia ficar lá, logo chorou para voltar para casa. Em outros mo mentos seu campo está estruturado com uma audiência definida, e chorar se toma uma técnica manipulativa, que responde a um espaço político no qual aspira mera mente a obter aliados — um campo e um movimento nesse campo muito diferentes daqueles característicos da noite em que mudou de idéia. Ao situar sua experiência, ao observar seu comportamento, é por vezes fácil e por po r vezes vez es difícil fazer fa zer um julgam julg ament entoo sobre a estru es trutu tura ra interpe inte rpessoa ssoall de seu campo. camp o. Uma advertência segura é vê-la chorar apenas enquanto a mãe a pode ouvir, e, logo que esta está fora do alcance, vê-la parar de chorar e recomeçar a brincar — bem menos perturbada do que o choro me teria levado a crer. Em outros momentos, posso pos so trat tr atar ar seu cho choro ro como se fosse foss e meramen mera mente te uma técnic téc nicaa manipulat man ipulativa iva num espaço de aliados e lealdades, quando ele é na verdade uma expressão de dor ou de susto. Interpreto erradamente o espaço e o vejo como histriônico, quando na ver dade é franco, direto. Em outros momentos cometo o erro oposto, porque penso que está machucada ou assustada: sou apanhado num dispositivo histriônico e me
76
ALGUNS HORIZONTES UNIVERSAIS
Há também, é claro, situações intermediárias. É certamente verdadeiro, com relação às pessoas mais velhas, que tanto as significações diretas como as histriônicas podem estar presentes simultaneamente. Posso, por exemplo, comportar-me como se se estivesse apavorado a fim de atingir alguma outra finalidade (como obter simpatia simpatia)) e estrutur estr uturar ar então meu campo perceptual de uma maneira apavorante. Ou, caso meu modo de atuar característico seja ficar com raiva, posso chegar a ver meu campo como ofensivo, provocador provo cador de raiva e justificador da raiva. Aqui meu campo campo ambas as signifi fisionômico se acomoda a um campo político. Minha raiva possui ambas cações ao mesmo tempo: uma significação num espaço entre mim e o que me tor nou raivoso, outra significação num espaço entre mim e uma outra pessoa que está intimidada por minha raiva ou simpatiza com ela. Tais complicações são mais a regra do que a exceção, especialmente na experiência adulta. Podemos ver como o campo fisionômico integra e sintetiza aqueles horizontes que separamos para análise. análise. E também podemos ver como ele ele participa de um “ estilo” mais mais amplo, ou rnodus operandi, operandi, que compreendemos como ser-no-mundo.1 O propósito deste capítulo é estabelecer alguma espécie de' terminologia, com a qual possamos entender o comportamento em termos de seus horizontes interpes soais. Falaremos de “acordos” como uma maneira de descrever aquelas com preensõ pree nsões es implícitas e informuladas inform uladas compartil comp artilhada hadass po porr pessoa pes soass que se deparam depa ram umas com as outras. Com freqüência tais acordos vêm à luz de forma mais vivida quando são violados. Todos nós conhecemos pessoas que parecem estar “em outro comprimento de onda” , cujos cujos julgamentos sobre o comportamento apropriado e conveniente são diferentes dos nossos. Tais acordos podem ocorrer de forma bem restrita, como num grupo de duas pessoas pess oas que ven venha ha exist e xistindo indo durant dur antee algum tempo te mpo,, e podem não ter te r nad nadaa a ve verr com um grupo mais amplo (“John pode ter dito X, mas estou certo de que não violaria nosso relacionamento nosso relacionamento violando nossa confiança”). Ou podem ocorrer numa escala mais mais ampla, como em uma famíli famíliaa (“ (“ um Rockefeller Rockefeller não não faria isso” ), numa “ pane linha” ou grupo grupo social social (“ todos sabem o que você pode esperar esper ar de um Sigma Sigma Qui” ). Outros ainda são são étnicos, e mesmo nacionais.2 Naturalmente os grupos me me nores e seus acordos são mais acessíveis a uma análise específica. DÍADES Suponhamos que minha reação a minha filha na noite em que mudou de idéia tivesse sido dizer: “Ora, venha cá, você não quer voltar para casa. Você quer ficar.” Qual teria sido a mensagem essencial? Eu lhe teria dito que não acreditava em seus protestos. Ter-lhe-ia dito que conhecia suas idéias melhor do que ela mesma. Teria desqualificado seus desejos expressos e asseverado que aquilo que realmente sentia. Teria dito que qualquer que fosse ela pensava sentir não era o que realmente sentia. o ser-no-mundo que estivesse desempenhando, não era real o desejo de voltar para casa. Tal atitude, caso eu a assumisse e mantivesse, teria cortado a habilidade pró pria de minha filha para par a acred acr edita itarr em sua experiên expe riência cia pessoal. pess oal. Todos fazemos isso com nossos filhos de tempos em tempos, contudo também permitimos permiti mos que “ tenham tenh am seu caminh cam inho” o” , sigam seu sentido senti do imediato das coisas e, portan por tanto, to, lhes transmitim trans mitimos os a mensagem “ a menina men ina peq peque uena na que você desemp des empenh enhaa é realmente voc v ocê” ê” ou “ sua experiência imediata é digna de crédito e válida e deve ser respeitada como se apresenta”. Tal resposta, que está próxima da que expressei
ACORDOS INTERPESSOAIS
77
Algumas vezes confirmamos outras pessoas, outras vezes não, na dependência de vermos ou não seus comportamentos como francos, o que por sua vez depende do fato de acharmos ou não que o ser-no-mundo expresso no comportamento é real e, caso o seja, do fato dele ser ou não tolerável para nós. O fato de ter negado a minha filha filha a confirmação confirmação de seu ser uma “ menina peq pequen uena” a” a teria habilitado habilitado a recuperar sua identidad identidadee precedente como “ em crescimento” e talvez tivesse tivesse sido a melhor resposta paterna. Nunca saberemos. Mas todos sabemos o que significa ser confirmado ou desconfirmado. Você se vê como um aluno brilhante; um professor pode pod e con confirm firmar ar ou descon des confirm firmar ar seu julgame julg amento nto e a legitimidade da exp experi eriênc ência ia em que o mesmo está baseado. Todos tivemos a experiência de alguma de nossas pr nossas pre~ e~ tensões ter tensões ter sido desconfirmada em razão do fato de uma outra pessoa, que quería mos convencer, de alguma forma nos ter te r deixado saber que não estava est ava convencida. Freqüentemente oferecemos confirmação ao outro, com a expectativa implícita de que nossa oferta será retribuída. Permiti que minha filha fosse uma menina pe quena e tal generosidade a obrigou a confirmar meu sentido de mim mesmo como sendo seu pai. Se você convence um professor a concordar que você não é muito esperto, ele pode garantir essa pretensão em troca da confirmação que você faz da visão que ele tem de si próprio como incrivelmente inteligente. Uma esposa pode prete pr etext xtar ar que é frac f raca, a, pois isto lhe permite perm ite ev evita itarr cert c ertas as espécies espé cies de responsa resp onsabilid bilida a des, e pode ser capaz de persuadir o marido a concordar com essa definição, caso concorde em confirmar a pretejisão dele de ser uma pessoa muito forte. Um rapaz pode desem des empe penha nharr o papel de “ profund pro fundame amente nte proble pro blemá mático tico”” e ev evoc ocar ar confirma confir ma ção por parte da namorada, em troca da confirmação da visão desta quanto a si mesma como alguém que presta assistência ao profundamente problemático. Tais acordos são freqüentemente muito restritos, específicos de um relaciona mento particular; podem refletir fantasias bastante pessoais ou papéis definidos definidos pela cultura. Na medida em que envolvem pretensões, cada parte fica restrita a uma visão do outro que é estática e depende da ignorância da evidência contrária. Tais acordos são chamados conivências; conivências; “ são sentidos” sentido s” como uma uma compreensão compreensão mútua na qual se se pode acreditar, contudo também “ são sentidos” sentido s” como constrangedores. Para o marido “ muito forte” for te” , decidir decidir que que não é tão forte e solicitar mais mais força da mulher é tentar mudar e, ao mudar, violar o acordo. Muitos relacionamentos en tram em crise porque um ou outro membro decide, por alguma razão, mudar e mudar sua visão do outro. Ficamos mais intensamente conscientes de tais acordos quando eles se rompem. A conivência ocorre quando duas pessoas concordam em confirmar as preten sões uma da outra.3 A experiência de ter minha pretensão confirmada é também uma experiência de estar obrigado; posso sentir a obrigação de retribuir o favor quando alguém confirma minha pretensão. Se me conformo ao acordo implícito, uma estru tura espacial definida é estabelecida entre mim e a outra pessoa. Podem-se apreen der regras, implícitas e informuladas — e mesmo informuláveis. Certas reações se tornam legitimadas, legitimadas, outras não. Fico obrigado, obrigado, por po r exemplo, a continuar a ignorar a evidência contrária que contradiga a pretensão do outro e a evitar comportamentos que contradigam contradigam de modo demasiado sério minha própria pretensão. Uma das habi lidades cruciais que todos aprendemos ao crescer é como estabelecer e manter tais
78
ALGUNS HORIZONTES UNIVERSAIS
mado por outra pessoa me dá a experiência da vergonha. Por certo uma das armas disponíveis quando desejamos ferir alguém é a evocação da vergonha. Mas a expe riência de apresentar minha pretensão para confirmação e de não a receber não tem obrigatoriamente de ser um sentimento súbito de que algo está rompido. Quando pela pe la p rim eira ei ra ve vezz en enco cont ntra ram m os uma um a p esso es soaa qu quee recu re cusa sa co conf nfirm irm ação aç ão,, é mais mai s prováve prov ávell que cheguemos chegu emos a sentir sen tir apenas ape nas uma vaga sensaç sen sação ão de fracass frac assoo po porr no nossa ssa inabilidade para estabelecer contato, para “conseguir passagem” em sua direção. Algumas vezes respeitamos essa recusa (como quando temos algum sentido de que nossa pretensão é realmente uma pretensão) e algumas vezes evitamos encontros futuros. Algumas vezes ambas as coisas ocorrem. Se a confirmação é recusada quando não estamos fingindo ou não temos cons ciência de que estamos, podemos sentir dor. Esta é uma estranha espécie de dor social, não devida a algo errado em nossos corpos e sim a algo errado em nossos relacionamentos. A estrutura que fornece o horizonte para tal dor não é nossa sen sação de bem-estar físico, mas nossa sensação de bem-estar social. A dor social pode ser, ser , em cada ca da detalh det alhe, e, tão doloro dol orosa sa qu quant antoo a física. A experiência de não fingir e ser confirmado é a experiência de ser compreen dido. Gostamos das pessoas com as quais deixamos de lado o fingimento e que, apesar disso, nos aceitam. Confiamos nelas porque sentimos que confiam em nós. Parecem-nos genuínas e nos sentimos genuínos com relação a elas. Sabemos que sabem o modo pelo qual nos aparecem e o modo como sentimos que aparecemos a elas. O fato de ser confirmado em nosso self não-pretensioso é sempre uma questão relativa ou aproximativa, pois um desmascaramento total quanto às pretensões é, na verdade, incomum. Porém a experiência de confiar e receber confiança no con texto da confirmação não pretensiosa mútua é o esteio da moral e do relaciona mento humanos. Todos nós já experienciamos algo dessa espécie; todos nós dese jamo ja moss mais exp experiên eriências cias assim. GRUPOS MAIS AMPLOS O espaço social em que nos movemos está estruturado de acordo com grupos mais amplos do que os relacionamentos diádicos. O pequeno grupo prototípico, e talvez o mais poderoso, é a família primária.4 Dificilmente se poderia dizer que todas as famílias são semelhantes, embora seja possível identificar alguns horizon tes quase universais, porque são parte da experiência de ser membro de uma famí lia. Ser membro de uma família envolve freqüentemente uma obrigação que não difere da conivência. Uma família não é uma coleção aleatória de indivíduos; é um grupo que possui acordos muito definidos. O acordo mais importante consiste em nos identificarmos todos como membros. Em termos operacionais tal requisito sig nifica que todos concordamos em esperar acordos uns dos outros. Uma família é um grupo de pessoas que concorda em que haja acordos. É este acordo quanto a que haja acordos, mais do que os próprios acordos, o que mantém a família unida. A maior ameaça à coesão familiar não deriva dos desacordos ou das versões dife rentes a respeito dos acordos, mas de desafios à existência dos próprios acordos.5 Na ve verda rdade, de, dizer di zer que não há acordo ac ordoss é dizer diz er que não há família, mas apenas ape nas uma coleção de indivíduos. indivíduos. “ Discordo de tudo que que você diz, mas você ainda é meu pai” é uma afirmação menos ameaçadora do que “concordo com algumas coisas que você diz (ou com todas elas) mas isso não é grande coisa; também concordo com
ACORDOS INTERPESSOAIS
79
Muitas famílias (e outros pequenos grupos) também têm acordos com determi nado conteúdo, que é mais ou menos importante, e certos rituais para a confirma ção continuada continua da da existência da família. família. Para algumas, as refeições em conjunto são sagradas como expressão do comprometimento mútuo continuado; para outras, me ramente manter os outros informados de uma maneira casual (embora suficiente mente “atenciosa”) é suficiente. O conteúdo dos acordos ocasionalmente resulta em mitos elaborados e algumas vezes os rituais (tal como as refeições) são desem penhos penh os co conc ncret retos os desse des sess mitos (tal como a noção noçã o de que os pais são a fonte font e de todas as coisas boas e saudáveis). Grupos pequenos e coesos podem ser bastante tirânicos. A recusa em desempe nhar os rituais, o desacordo explícito quanto ao mito ou, em especial, a negação de que haja acordos estão sujeitos a séria represália. Quanto mais os membros da família dependem da existência e continuidade da mesma para sustentar as próprias identidades, mais vingativamente responderão aos membros desviantes. Embora possa pos sa pa pare rece cerr mais fácil ser se r cruel com estran est ranho hos, s, algumas das cruelda crue ldades des mais vi ciosas emergem dentro de pequenos grupos de pessoas que se conhecem muito bem, pois qua quando ndo essas ess as pessoa pes soass tentam ten tam mante ma nterr o grupo gru po unido estão est ão protege prot egendo ndo o próprio próp rio sentido sent ido de quem elas são. sã o.66 Os mitos e rituais familiares podem ter por foco certa divisão implícita do tra balho. Os papéis papé is se desenvo dese nvolvem lvem como versõe ver sõess localizad local izadas as de papéis papé is definidos cul turalmente,7 e as pessoas interpretam interpretam o comportamento umas umas das outras contra o pano de fundo das exp expect ectati ativas vas de papéis. papéi s. Porém Poré m nem só o trabalh trab alhoo é dividido e organizado. O poder, o amor, o êxtase, a tolerância e outras utilidades interpessoais são distribuídos de acordo com um padrão particular para uma família particular, e este padrão é seguido pelos membros da família. “John é o estudioso, Jim, o delin qüente; qüen te; Sally é sua filha e Jane é minha filha” filha ” . Tal distribuição distribuiç ão não é formulada, formula da, é claro, mas se Jim tentar desempenhar o papel de John estará violando o acordo e talvez ameaçando o sentido que os membros da família possuem quanto a quem são. Compreender os mitos e rituais familiares, assim como a natureza dos acordos existentes numa família particular, é obviamente crítico para compreender o com portam por tament entoo que oco ocorre rre na presen pre sença ça da própria pró pria família. Qua Quando ndo pres pr esen entes tes,, os acor aco r dos constituem um horizonte poderoso na experiência individual e, a fim de enten der o que significa, para os vários membros, o comportamento na família, devemos compreender os acordos. Porém, mesmo fora do cenário familiar, carregamos co nosco nossos mitos e rituais familiares. A família na qual crescemos permanece, pois, pois , import imp ortante ante em termos term os das espécies espé cies de acordo aco rdoss em que entram ent ramos os e naquilo que significam significam para par a nós. De modo similar, um pequeno grupo, grupo , tal como uma “ pane linha” social na escola ou universidade — com seus acordos, mitos e rituais — é muito importante quando tentamos compreender o comportamento que ocorre em presen pre sença ça desse des se grupo. Porém, Poré m, tal como a família, o peq pequen uenoo grupo contribu cont ribuii com alguma alguma coisa para nossa habilidade de formar e susten s ustentar tar aqueles acordos acordo s implícit implícitos os que mantêm a coesão da vida social. Ao compreender fenomenologicamente o comportamento, portanto, podemos focalizar a atenção nos acordos interpessoais como uma espécie de horizonte que é sempre relevante. Mas esse horizonte dificilmente pode ser separado do espaço
80
ALGUNS HORIZONTES UNIVERSAIS
colorido pelas mesmas espécies de acordos; a Sra. Downs por certo fez acordos implícitos com outras pessoas a fim de confirmar sua culpabilidade, talvez tirando partid par tidoo de d e sua dispo d isposiçã siçãoo par p araa v e r os outr o utros os como com o inocen ino centes tes e bons b ons.. A rela r elação ção en entre tre todas essas espécies de horizontes é intrincada e complexa. Talvez T alvez fosse ainda mais mais relações , porque esses horizontes não estão, em exato dizer que não existem tais relações, geral, separados em nossa experiência vivida. A experiência vivida é conforme é, e devemos sempre retomar a ela a fim de compreender o comportamento. Nossa experiência sintetiza sintetiza com consumada criati vidade8 as espécies de horizontes horizont es que aqui discutimos em separado. A relação entre ent re o nível dos acordos interpessoais e o do espaço fisionômico, por exemplo, não é colorido. Um nível não muito bem apreendida por palavras tais como influenciado e colorido. Um causa o outro, nem é uma “espécie de causa” do outro, como esses termos suge rem. Um forma um horizonte para o outro; fomece o pano de fundo contra o qual o outro nível pode ser, para nós, significativo. Posso dizer, por conseguinte, que um ato impulsivo da Sra. Downs (por exemplo, uma tentativa de suicídio) tem signifi cação contra o pano de fundo de seu campo fisionômico (talvez ela perceba um obstáculo a ser superado). Esse campo é conforme é apenas na experiência dela contra o pano de fundo dos acordos interpessoais (talvez uma promessa que tanto ela como a outra pessoa não esperem que ela consiga manter), mas tais acordos são conforme são em sua experiência unicamente contra o pano de fundo de seu ser no tempo (“ tenho sido e sempre serei um um fracasso” fracass o” ). Além do mais, esse arranjo par ticular de horizontes, que reflete de modo mais vivido as significações do ato, pode ser diferente num outro momento, em outro lugar, com outro ato. Uma análise fenomenológica não pode ficar limitada unicamente a uma lista de níveis de signifi cação; cação; deve revelar um retrato da estrutura da experiência de um acontecimento em sua unicidade. O termo mais mais geral de que dispomos, o qual é sempre o horizonte ser-no-mundo. A estrutura mais básico de significação na experiência humana, é o ser-no-mundo. única do ser-no-mundo de alguém difere de pessoa para pessoa e também (embora menos) de momento para momento. Os níveis do espaço, do tempo e das outras pesso pe ssoas as são sempre semp re pa parte rte do ser-no-mun ser-no -mundo, do, mas nu nunc ncaa dese d esemp mpenh enham am exatam exa tament entee o mesmo papel. Nos Caps. 7-9 descrevemos horizontes universais, porém o lugar dos mesmos numa análise fenomenológica deve ser determinado pela estrutura de cada um deles na experiência (ou, podemos dizer, pela estrutura da experiência no acon tecimento), e não por uma teoria preconcebida.9
PARTE
lv
CONCLUSÃO
CAPÍTULO
10
O MUNDO Inevitavelmente, quando indaga indagamos mos acerca das “ relações” relaçõe s” entre os horizontes horizontes universais descritos na Parte III, defrontamo-nos com um quebra-cabeças conceptual que não pode ser solucionado a nível conceptual. Os três horizontes — espaço, tempo e outras pessoas — podem ser ditos universais porque o comportamento e a experiência estão sempre orientados dentro de um contexto físico, pessoal e social. Mas constituem horizontes isoláveis ou contextos apenas para propósitos analíticos. Não Nã o precisam prec isam ser se r relaciona rela cionados dos con concep ceptual tualme mente, nte, porque por que oco ocorre rrem m ao mesmo mesm o tempo temp o na experiência, e desejamos que nossos conceitos sejam verdadeiros com relação à experiência. Cada um destes horizontes é um aspecto do mundo mundo,, mas o mundo não é uma soma destas partes. partes . É o horizonte mais fundamental fundamental dentro do qual estes horizontes se podem fazer visíveis visíveis na análise análise fenomenológi fenomenológica, ca, contra co ntra o qual aparecem, aparecem , a partir do qual foram abstraídos e em virtude do qual existe, de algum modo, modo, experiência. Portanto, o mundo não é um conceito fácil; é tão fundamental para a experiência que é muito difícil colocá-lo em questão e, assim, perceber sua importância. Já no Cap. 2 oferecemos algumas sugestões sobre a natureza do mundo. Queremos agora fornecer mais detalhes acerca deste horizonte de horizontes. O MUNDO COMO EXPERIÊNCIA Se você está passeando pass eando numa cidade na qual qual se encontra encontr a há apenas poucos dias, fixa pontos de referência para não se perder. O parque está sempre à sua esquerda ou atrás de você, quando você dobra à direita. O arranha-céu do outro lado do parque par que é visível de qua qualque lquerr ponto. pont o. E a parti pa rtirr dele você pode enco en contr ntrar ar a Market Mark et Street, onde fica a principal linha de ônibus. Se por acaso você vagueia por uma parte par te da cidade cidad e onde o arranh arr anha-cé a-céuu não é visível e fica confuso conf uso pelo fato de ter te r dobrado à direita uma ou duas vezes (ou teria sido uma vez à direita e depois à esquerda?), então algo se modifica. Os edifícios que estavam sendo mapeados por você anteriormente, localizados num espaço orientado, agora aparecem numa espé cie de presença não localizada. No entanto, aquele edifício vermelho está entre o azul e o prateado, mesmo que você não saiba mais onde eles estão situados com relação ao arranha-céu. Se você se apavora quando se perde, mesmo a seqüência azul, vermelho e prateado dos edifícios perde o poder de orientação, e você tem a
84
CONCLUSÃO
Uma experiência como esta demonstra de forma suficientemente clara as varia ções na aparência e significação dos edifícios e das ruas, de acordo com as varia ções do “arcabouço” espacial em que os colocamos. Porém, mesmo em nosso suave desconforto por estarmos temporariamente perdidos, há ainda um padrão de referência que permite que edifícios e ruas tenham significação. Você sabe que temporariamente perdido porque não foi muito longe e sempre pode perguntar está temporariamente perdido o caminho a alguém. A experiência está, portanto, encravada num padrão de refe rência temporal que permanece confiável e promete que você será capaz de se achar novamente. Você percebe que, ao andar em volta dos edifícios azul, ver melho e prateado, eles aparecem, da esquerda para a direita, na seqüência prateado prate ado-verm vermelho elho-azu -azul,l, já j á que você se en enco contr ntraa no outro out ro lado. Também o espaço esp aço,, embora não esteja mais ancorado em seu conhecimento do lugar onde passa a linha de ônibus, permanece consistente. Além do mais, as pessoas se movimentam, indo e vindo dos lugares de uma forma familiar. Então, qual o problema de estar per dido? Nada há de extraordinário a esse respeito. Suponha, entretanto, que você descubra que qualquer que seja o ponto a partir do qual vê os edifícios, eles sejam sempre, da esquerda para a direita, azul, ver melho e prateado. Eles devem estar se movendo. Óu então o movimento que você faz no espaço não está tendo mais o efeito comum na experiência visual. Suponha que quanto mais depressa você caminhe em direção ao policial, mais distante ele fique, fique, mesmo que permaneça parado. Suponha que está ficando mais cedo ao invés de mais tarde, que é de fato um dia diferente, que está nevando onde antes o sol brilhava. brilh ava. Suponha Su ponha que as pessoa pes soas, s, em lugar de se dirigir aos lugares de maneira manei ra familiar, estão todas olhando para você, cochichando umas com as outras, trocando ocasionalmente risos contidos. Estar perdido é uma coisa; a maior parte do mundo permanece consistente, apesar de tudo. As coordenadas de significação espacial, temporal e social ainda estão intactas, e o mundo continua a fazer sentido. Entretanto estas outras expe riências constituem algo mais. As coordenadas espacial, temporal e social não são mais confiáveis. O mundo, na forma da qual geralmente dependemos para nos si tuar, se dissolve. Quando estas coordenadas se dissolvem, o mundo se dissolve; quando o mundo se dissolve, nossa habilidade para nos situar se dissolve e, com ela, a rede de significação na qual confiamos tão tranqüilamente (mas, de fato, desesperadamente). Todavia, mesmo estas experiências são apavorantes, diferentes e estranhas por que as comparamos com um padrão recordado de coerência. Mesmo no centro deste pânico, o mundo ainda existe implicitamente — em sua ausência. Não há mundo (no sen experiência absolutamente sem mundo, e, intrinsecamente, não há mundo tido fenomenológico) absolutamente sem experiência. Le bens nswe welt lt , o “mundo da vida” Edmund Husserl (1970) chamou o “mundo” de Lebe ou mundo vivido. Este mundo não é um lugar estranho no qual estamos jogados aleatoriamente, hostil à nossa sobrevivência e indiferente à nossa experiência. Ele é o mundo da existência diária: coisas familiares, aposentos, ruas, pessoas e ativida des. É o mundo da apropriação por seres humanos, interpretado e moldado, em sua própri pró priaa presen pre sença, ça, em acordo aco rdo com quem somos — mesmo que o fato de sermos sermo s alguém seja interpretado e moldado em acordo com a presença já dada do mundo. É o mundo
O MUNDO
85
riencio e a experiência está aí porque o mundo já existe. Logo, o mundo não é apenas uma experiência; o mundo é a própria experiência. O mundo, assim como a experiência, não está “lá fora” (meramente “obje tivo”), neutro e sem significação. Ao contrário, em minha experiência diária des cubro o mundo pleno de significações, significações que estão sempre presentes, que não foram criadas por mim e não são meramente subjetivas, mas não são tam bém separa sep arada dass de mim e meramen mera mente te ob obje jetiv tivas as.1 .1 Eu estou est ou no mundo, mas em vir tude da experiência também o mundo está em mim; o mundo e eu nos interpenetramos. Sou quem eu sou unicamente por causa do mundo, e o mundo é quem é o que é apenas por minha causa, por causa de você e do restante dos seres conscientes que se apropriam dele. O MUNDO COMO UM PROBLEMA ONTOLÓGICO Quando pensamos pensam os no episódio ocorrido com minha filha, filha, descrito no Cap. l, não sabemos que objetos se destacaram no campo e se tomaram partes salientes de sua mudança de idéia. Talvez todos os objetos tenham parecido diferentes, e o próprio pró prio cará ca ráte terr do campo cam po se tenha ten ha modificado. modifica do. Simulta Sim ultanea neamen mente te (tanto (tan to como com o causa ca usa quanto como efeito, embora estes termos não sejam muito apropriados), o sentido que ela possuía de si própria mudou, de um adulto planejador incipiente para uma menina pequena. Seu mundó mudou de um conjunto de significações que sustenta vam seu crescimento para um conjunto de significações que sustentavam sua com preen pre ensão são de si própr pró pria ia como com o menina meni na peq pequen uena. a. As significações signific ações do campo cam po imediato, imed iato, de tempo e espaço, de objetos e pessoas, de si mesma e do mundo mudaram todas de uma só vez. Todas elas são aspectos do mundo, aquele contexto de significações dentro do qual campo, objetos, pessoas, self e assim por diante possuem significa ções. Quando dizemos que ela mudou de idéia, queremos dizer que seu mundo mudou. Neste Ne ste momen mo mento, to, pod podemo emoss focaliz foc alizar ar a atenç ate nção ão naqu naquilo ilo que mudou, mud ou, ou pode podemos mos estar interessados naquilo que permaneceu idêntico. Ela ainda se identificava como minha filha, identificava as casas como a casa deles e a nossa, o tempo como hora de ir para a cama, e assim por diante. Ela mudou de uma forma forma de se se compreender compreen der como uma versão em crescimento de um adulto planejador para uma menina pe quena aninhada em cobertas protetoras em sua própria casa, mas permaneceu en^ volvida no mesmo mundo, com a mesma identidade. Não estava convencida, de forma amnésica ou insana, de ser alguma outra pessoa. A uniformidade através do episódio, a estabilidade do complexo do mundo, de identidade, campo e objeto é tão notável quanto a mudança. É menos provável que percebamos esta consistên cia, pois chegamos a esperá-la e assumi-la quanto a minha filha, a qualquer outra pesso pe ssoaa e a nós mesmos. mesm os. No en entan tanto, to, se que querem remos os ex explo plora rarr e co comp mpree reend nder er a ex expe pe riência humana, esta uniformidade é tão impressionante, na qu'alidade de dado, quanto a mudança. O trabalho fenomenológico descritivo sempre traz à luz horizontes que permi tem que um fenômeno apareça e seja experienciado. A procura de horizontes de horizontes nos conduz, em última instância, de volta ao mundo, que está sempre
86
CONCLUSÃO
geral. Quando os filósofos abordam esta questão, estão explorando a ontologia, ontologia, o estudo do ser.2 Nossas explorações do episódio, episódio, por outro lado, foram menos ontológ ontológicas icas e mais onticas. onticas. Estivemos mais preocupados com esta pessoa particular do que com os seres humanos em geral e, além disso, mais preocupados com um episódio particu lar de mudança do que com seu ser-no-mundo característico em geral. No entanto, tivemos de nos referir à compreensão geral que ela possuía de si mesma para tomar lúcido o episódio específico e tivemos de nos referir a fatos ontológicos do mundo para tom to m ar lúcida a compree com preensão nsão geral que ela possuí pos suíaa de si mesma. As questões ques tões ontológicas do ser em geral nunca estão longe da superfície quando começamos a explorar os meandros de uma situação humana particular.3 A COMUNALIDADE DO MUNDO Suponha que você veja dois jogadores de tênis cansados e suados deixando a quadra e entrando num bar do outro lado da rua. Este comportamento observado tem para nós uma referência bastante clara e uma série de contextos imediatamente evidentes. Compreendemos o comportamento porque a significação do mesmo, do ponto de vista dos partic par ticipa ipante ntes, s, é bastan bas tante te inambígua. Compreend Com preendemos emos o ritual social de beber em conjunto depois de jogar tênis em conjunto, o campo visual da rua e a qualidade convidativa do bar, a sensação física de estar com calor e com sede, e assim por diante. Todos estes aspectos são imediatamente compreensíveis e, embora possamos estar errados (talvez eles estejam realmente indo assaltar o proprietá prop rietário), rio), depende depe ndemo moss de tais compre com preens ensões ões,, algumas mais e outras out ras menos elaboradas, em nossas vidas diárias. Tais compreensões dependem das significa ções compartilhadas dos rituais sociais, dos bares e da sede. Temos estas significa ções em comum com os jogadores de tênis. Suponha que você é um dos jogadores. Vê a fadiga de seu amigo e o seu descon forto, assim como os sente você próprio, e se oferece para pagar-lhe uma cerveja gelada. Espera que ele aceite, decline polidamente ou insista em pagar uma para vocé também; não espera que ele se enfureça, ignore o oferecimento ou tire a roupa e plante bananeira. As expectativas que você possui são conhecidas por ele, e você sabe que ele sabe que você as tem. Elas são parte de um conjunto compartilhado de regras de etiqueta que nos habilitam a conviver com outras pessoas todos os dias. Suponha que você fosse eu, o pai de minha filha, e que recebesse o chamado telefônico avisando que sua filha estava chorando há meia hora depois da chegada à casa da amiga, impacientemente antecipada. Nesta situação, suas expectativas te riam sido violadas, como as minhas o foram, e você reconheceria haver alguma coisa incompreensível. Por que ela mudou de idéia? O próprio fato de formular esta pergunta, no entanto, estaria baseado numa compreensão previamente compartilhada relativa à antecipação de sua filha. Cha mar o ocorrido de “ mudança de idéia” idéia ” é compreender compre ender,, em primeiro lugar, lugar, que ela ela queria ir e, em segundo lugar, que queria voltar para casa. Tanto o querer ir como o que ela querer voltar são compreensíveis; você pode não saber por que ela mudou de idéia, mas sabe o que significam o querer ir e o querer voltar. Compartilha com ela uma
o MUND MUNDO O
87
Percorrendo nossa experiência diária, constituindo sua própria base, existe um conjunto de significações comumente conservado, coletivamente organizado no mundo, compartilhado implicitamente com outros, e absolutamente decisivo para sermos quem e como Somos. O mundo — espacial, temporal, interpessoal, compar tilhado, já existente — está na base de toda nossa compreensão de nós mesmos e dos outros. Na maior parte, as características fundamentais do mundo nos são da das, ficamos “ viciados vicia dos”” nelas na qualidade de uma estrutu est rutura ra de signifi significação cação para nossa vida inteira, antes que possamos refletir criticamente sobre o que e como são elas. O mundo já existe,4 O que já existe em nossa experiência consiste em mais do que meros objetos, como entidades físicas ou fragmentos luminosos e escuros, duros e macios, doces e amargos. O sempre existente é um conjunto de significações, uma totalidade de referência dentro da qual tudo o mais faz sentido. Posso compreender os jogadores de tênis, minha filha, ou você — mas apenas como parte de uma compreensão já existente no mundo. E sei que a compreensão prévia que possuo é, em aspectos essenciais, a mesma compreensão prévia que possuem você, minha filha e os sua dos jogadores de tênis. O mundo nos é comum, mesmo que nossas perspectivas possam possa m diferir e nos tornem torn em pessoa pes soass difere dif erente ntes.5 s.5 Freqüentemente supomos que nossas mentes sejam compartimentos privados, que os outros só conhecem na medida em que decidimos compartilhar com eles seus conteúdos.6 conteúd os.6 Reconhecemos que partilhamos partilhamos um um mundo mundo comum comum com outras pessoa pes soas, s, mas parece par ecemos mos também pressu pre ssupo porr que esta es ta comunal com unalidad idadee é o resultado da partilha parti lha de nossos noss os con conteú teúdo doss mentais com os outros. out ros. Também Tamb ém a suposiç sup osição ão op opost ostaa é possível: a comu c omunalid nalidade ade do mundo não é o resultad res ultadoo do compar com partilh tilhar ar expe ex periên riência cias; s; é a base para base para fazê-lo. Meu mundo não é como o seu, porque compartilhamos nossa privacid priva cidade; ade; foi sempre sem pre como o seu, e é apenas ape nas em virtude virtu de de desta sta similaridade prévia que se torna possível compartilhar perspectivas privadas. Podemos perguntar como é possível estarmos certos desta posição e, também, se ela é ou não importante. Os dados que conduzem a esta conclusão advêm da análise fenomenológica. Os conteúdos de minha experiência têm uma comunalidade com os seus porque o mundo (aproximadamente sinônimo de experiência) experiência) me é dadô na qualidade de nosso mundo comum comum (aparece desta forma em minha experiência), Da mesma maneira, o mundo é, também, dado a você. Ambos supomos, portanto, que nos referimos ao mesmo mundo e esta suposição comum per comum permit mitee que nos comuniquemos. Isto cons titui a base para nossa comunicação e não o resultado dela. A importância desta conclusão não é menor do que a postura ontológica que assumimos ao falar, de algum modo, sobre comunicação. A tensão entre nossa ex periência periê ncia diária e nossas nossa s co const nstruç ruçõe õess teóricas teó ricas sobre a mesma, mesm a, conforme confo rme apo aponta ntado do especialmente no Cap. 3, surge de uma postura ontológica não submetida à crítica fenomenológica. O tema (das “outras mentes”) é complexo demais para ser abor dado aqui, porém é mais do que uma questão puramente acadêmica, e a noção fenomenológica de um mundo comum, sempre já dado, aponta diretamente para
88
CONCLUSÃO
quele episódio. Focalizar nossa atenção no papel do mundo nas experiências parti culares é a melhor maneira para nos tornarmos sensíveis à influência penetrante do mundo em todos os seres humanos. Consideremos, por exemplo, a experiência dos humores. Meu mundo difere de dia para dia; freqüentemente expressamos tal fato dizendo que experienciamos diferentes humores. Quando examino a experiência de diferen tes humores, descubro que o que que expresso pelo termo “ humor” hum or” é uma variação na na aparência do mundo.7Recentemente soube de uma experiência de um aluno, que se tinha apaixonado por uma garota durante um congresso de uma semana em uma cidade que jamais tinha visitado antes. A cidade adquiriu, para ele, uma qualidade mágica — diferente de qualquer outra em que houvesse estado. As árvores eram mais verdes, o céu mais azul, as edificações mais esplêndidas, e assim por diante. Em certo momento durante a semana, perguntou à garota o que se iria tornar o relacionamento dos dois. Ela respondeu com o sentimento convencional e pouco comprometedor de que o futuro não contava e de que estava apenas apreciando o presente pres ente.. Não era isto que ele sentia, ele sentia, e ficou desapontado com a resposta, embora pretex pre textas tasse se con conco corda rdarr e prosseg pros seguir uir den dentro tro da visão con convenc venciona ionall dela. Durant Dur antee a hora e meia seguinte, antes que ele finalmente explodisse num acesso de raiva e praticame prati camente nte arranc arr ancass assee uma viga de uma parede par ede,, experien expe rienciou ciou o mundo de ma neira muito diferente. As árvores e o céu se tornaram sem vida, as edificações, feias; as pessoas lhe pareceram temerárias e imprevisíveis, enquanto antes tinham parecido parecid o amigáveis e tranqüila tranq üilas. s. A magia da cidade tinha tinh a desapa des apareci recido, do, certam cer tament ente, e, mas não hoüvera um retorno a uma cidade neutra. A ordem e o sentido que tinham permeado perm eado a cidade, cida de, as pessoa pes soass e os acontec aco ntecime imentos ntos desapar desa parec ecera eram. m. A cidade cidad e se tornara um lugar estranho, pouco convidativo e hostil. Todos nós já experienciamos estas mutações fisionômicas. Durante períodos ex tremos, é fácil perceber que os acontecimentos são mágicos ou hostis contra o pano de fundo de uma paisagem inteira que é mágica ou hostil. O mundo se modifica e os acontecimentos tomam significações diferentes. Que devemos fazer quanto a esta diferença? Ainda mais relevantes para o tema, entretanto, são as significações de acontecimentos surgidas quando não não estamos experienciando extremos de humor. O mundo tem uma aparência característica e é, do mesmo modo, uma rede de significações para a vida diária. Sua fisionomia pode não nos chamar a atenção, visto que é tão comum; o peixe é o último a descobrir a água. Mas esta fisionomia não é menos poderosa para estruturar e fornecer significação aos acontecimentos do que aquela característica dos estados extremos de humor. Em nossa psicologia fenomenológica ôntica, em outras palavras, visamos a che gar a uma compreensão de diferentes indivíduos, assim como de diferentes humores no mesmo indivíduo. Uma descrição do mundo do indivíduo é tão apropriada para a primeira tarefa tare fa qua quanto nto para par a a segunda. Ludwig Binswanger Binswan ger (1958 (1958a) a) descre des creveu veu uma série de pacientes em termos de seus mundos. Vamos recapitular algo da descrição de Binswanger na qualidade de ilustração. Uma mulher de vinte e um anos estava sujeita a ataques de ansiedade cada vez que alguém mencionava saltos ou sapatos — realmen real mente te um sintoma sinto ma intrigante. intri gante. Porém ela havia exp experie eriencia nciado do sua primeira primei ra ansiedade e sensação de desfalecimento na idade de cinco anos, quando seu salto
O MUNDO
89
separação. Binswanger propõe “investigar o esquema de mundo que possibilitou essas fantasias e fobias fobias em primeiro primeiro lugar” . O que funciona como chave para o esquema de mundo de nossa pequena paciente é a categoria de continuidade, continuidade, de conexão contínua e refreamento. Isto impõe restrição, simplificação e esgotamento tremendos do “conteúdo do mundo”, da totalidade extre mamente complexa dos contextos de referência da paciente. Tudo que faz o mundo signi ficativo é submeter à regra desta categoria única que, única que, sozinha, sustenta seu “mundo” e seu ser. É isto que causa a grande ansiedade acerca de qualquer ruptura de continuidade, qualquer lacuna, divisão ou separação, ato de ser separado ou dividido. Por isto a sepa ração da mãe, experienciada por todos como a separação-arquetípica da vida humana, chegou a se tomar tão prevalente que qualquer acontecimento de separação servia para simbolizar o temor de separação da mãe e para convidar e ativar aquelas fantasias e sonhos diurnos (1958a, pág. 203). Binswanger acrescenta que esta teoria não é uma “explicação” no sentido causal. O esquema de mundo que depende da continuidade não é a causa, causa, mas a condi ção de possibilidade possibilidade para as fantasias, os temores e os ataques de ansiedade. Ele acrescenta qu quee o incidente dos patins assumiu sua significância traumática porque, nele, o mundo subi tamente mudou de fisionomia, mostrou-se pelo ângulo da subitaneidade, de algo total mente diferente, novo e inesperado. Para isso não havia lugar no mundo desta criança: não poderia entrar em seu esquema de mundo; ficou, como estava, sempre do lado de fora; não poderia ser dominado (1958a, pág. 204). O esquema esquem a de mundo em em que todas estas experiências estão baseadas “ não tem tem de ser ‘consciente*, mas não o devemos chamar ‘inconsciente’ no sentido psicanalítico” tico ” . Ou melhor, melhor, é um um horizonte, horizonte , conforme descrito no Cap. 2. Um segundo paciente sofria toda espécie de preocupações somáticas, fobias quanto ao que poderia p oderia fazer e quanto ao que poderia ser feito feito com ele. ele. Foi diagnos diagnos ticado ticado como um “ esquizofrênico polimorfo” em virtude da combinação aparente apa rente mente desconcertante de sintomas, a maior parte dos quais o conduzia a um com portam po rtamen ento to no notave tavelme lmente nte bizarro. bizar ro. Binswanger Binsw anger observa obs erva:: Enquanto que em nosso primeiro caso tudo aquilo (alles Seiende) Seiende) apenas era acessível num mundo reduzido à categoria da continuidade, neste caso o mundo é reduzido à categoria mecânica de força e pressão. Portanto, não ficamos surpresos em perceber que nesta existência e em seu mundo não há estabilidade, que sua corrente de vida não flui calmamente, mas que tudo ocorre por solavancos e sobressaltos, dos gestos e movimen tos mais simples à formulação de expressões lingüísticas e à tomada de decisões cogniti vas e volitivas. Tudo que se refere ao paciente é irregularmente recortado e ocorre abruptamente, prevalecendo o vazio entre os solavancos e empurrões isolados (1958a, pág pág.. 207)*. O mundo de um terceiro terceiro paciente estava esta va “ reduzido às categorias de famili familiari ari dade e desconheciment desconhecimentoo — ou estranheza” estranheza ” . Este Este paciente paciente “ estava constantemente constantemente apavorado por um poder hostil hostil furtivo furtivo e mesmo mesmo impessoal” . Estas experiências mais tarde proliferaram em delírios de perseguição. Como nos outros casos, os
90
CONCLUSÃO
quer experiência) só poderiam ocorrer com base em um esquema de mundo que fornecia a base, o contexto, as condições de possibilidade para estas experiências. Os humores e os estilos de vida individuais não são os únicos aspectos elucida dos por um estudo fenomenológico do mundo. Consideremos também as situações. Todos sabem que a “atmosfera” é muito diferente numa festa de aniversário, em um julgamento de assassinato e num funeral — embora cada uma delas se possa assemelhar às outras duas sob certas circunstâncias..Nestes cenários, somos atraí dos para um “ humor coletivo” — aquele que que mais nos toca em virtude da sensibili sensibili dade individual ao mesmo e da tendência de todos nós para contribuir para essa atmosfera, uma vez envolvidos nela, comunicando-a aos outros. Sei de um psicologo fenomenológico que está tentando descrever a atmosfera da Psicoterapia, com paciente pac ientess diferente dife rentess em diferentes diferen tes estrut est rutura uras. s. Este Es te esforço esf orço promete prom ete uma contribu cont ribui i ção substancial substancial à literatura literatura psicoterapêutica. psicoterapêutica. Outros exploram o “ mundo mundo virtual” de um romance ou outra peça de arte. A sensibilidade literária será proveitosa, e com isso ficaremos em maior harmonia com a vida. Em cada um destes tipos de estudos, as possibilidades para uma psicologia fe nomenológica estão apenas vislumbradas. Em cada cad a uum m deles, nova versão do “ mé todo fenomenológico” terá de ser arquitetada, embora as estratégias gerais do Cap. 3 permaneçam como guias valiosos. Camadas múltiplas de significação serão apreendidas e descritas, e tornar-se-á vivida a sua coerência em totalidades experienciais. rienciais. Na N a base base de todas todas estas descrições estarão “ mundos” a serem serem apreciados e o “ mundo” para ser compreendido compreendido..
CAPÍTULO
11
COMENTÁRIOS FINAIS Lembro-me de uma aula, na qual dois professores e dez alunos, que tinham chegado a se conhecer e a se gostar, voltaram mutuamente a atenção para os outros enquanto indivíduos; vieram à luz comentários sobre o comportamento e estilo de cada um, e todos desfrutamos de um elevado senso de respeito recíproco, assim como nos tomamos mais sinceros em nossas observações. Um certo aluno não havia estudado muita coisa do material, mas todos gostavam dele em função da habilidade que possuía em ser espirituoso, apontando nossos disparates ocasionais quando seguíamos temas profundamente filosóficos. Disse-lhe algo sobre esse efeito; temia que fosse um cumprimento bastante malicioso, mas eu pretendia isso. Todos olharam para ele, esperando esperan do outro de seus famosos comentários. Ele fez uma pausa pa usa e em seguida segui da disse: “ É melhor mel hor que qu e você tenha ten ha cuidado. cuid ado. Eu pod poderia eria algum dia dizer algo realmente brilhante.” Foi engraçado, mas sério também. A observação foi uma resposta à atmosfera amigável dos trabalhos com um tema caracteristicamente inesperado. O aluno con seguiu, primeiro, manter sua postura de frivolidade jovial; segundo, reconhecer que não havia dito nada brilhante anteriormente; terceiro, fazer uma piada sobre como seria no futuro; e quarto, solicitar respeito pela pessoa que era, mesmo que fosse diferente do restante de nós. O momento passou com uma boa risada, mas merece ser preservado como um exemplo do quanto pode ser criativo o comportamento humano. Houvesse ele tido tempo para pensar em algo a dizer que alcançasse todos aqueles resultados; hou vesse ele identificado cada uma das diversas significações do que estava aconte cendo na sala, do que lhe tinha sido dito e do que significava para todos nós olhar para pa ra ele com exp expect ectati ativa; va; tivesse tive sse ele record rec ordad adoo todos tod os os sentime sen timentos ntos que exp experi eri mentara em relação ao curso e às pessoas que o freqüentavam; e tivesse ele plane jad ja d o quais os tipos tipo s de relaciona relac ionamen mento to que gostari gos tariaa de mante ma nterr no futuro fut uro,, não teria ter ia surgido com um comentário melhor. Na verdade, sua reação espontânea combinou em um instante todos esses ess es motivos, significaçõ significações, es, recordações recordaçõ es e planos. Assim é o comportamento geralmente. Necessitamos realmente captá-lo em sua plena com plexidade plexid ade e abu abundâ ndânci nciaa de significações se que querem remos os compreend comp reendê-lo. ê-lo.
92
CONCLUSÃO
acontecer amanhã. A maior parte de nosso comportamento é pelo menos tão com plex pl exaa q u a n to isso is so,, e a m aior ai oria ia de nó nóss j á o e n ten te n d e em sua su a co com m p lexi le xida dade de,, embora não explicitamente. Nada é tão trivial que não mereça uma análise fenome nológica, pois tudo o que fazemos envolve todos os níveis e camadas de quem somos. O comportamento é uma expressão de quem somos no momento, de quem fomos e seremos com o correr do tempo; é também uma resposta a um campo fisionômico que está em fluxo constante, embora segundo um padrão; também re prese pre sent ntaa no nossa ssa partic par ticipa ipação ção em acordo aco rdoss interpe int erpessoa ssoais is múltiplos, múlti plos, passad pas sados os,, prese pr esen n tes e futuros. O comportamento é o ato de tomar público quem somos; pode ema nar de um nexo privado de pensamentos e sentimentos secretos, mas nossa privaci dade não pode permanecer, e realmente não permanece, totalmente confidencial. Uma pessoa pode-nos iludir durante uma pequena parcela de tempo, mas uma ilu são a longo prazo é tão rara que sempre a consideramos um acontecimento extraor dinário, não porque sejamos fenomenologistas treinados, mas porque somos fenomenologistas não adestrados, e sempre compreendemos mais do que pensamos sobre nós mesmos e sobre os outros. Contudo, enquanto esta compreensão perma nece implícita e não é submetida a um escrutínio rigoroso, estamos propensos a encobri-la com teorias vistosas porém simplórias que ignoram a vida conforme a vivemos realmente. Nós, humanos, somos na verdade capazes de ignorar a vida conforme realmente a vivemos. Mas somos também capazes, como nenhuma outra espécie, de dispensar aten ção explícita ao comportamento em sua riqueza e complexidade. Uma psicologia adequada é aquela aq uela que revela a nós mesmos a nossa experiência vivida, em lugar de de encobri-la com explicações globais de acordo com as quais tudo significa a mesma coisa. Mas a psicologia é uma ciência extremamente jovem. A psicologia fenomenoló gica o é ainda mais. Se você prestou atenção à minha advertência do Prefácio e tentou realizar algum trabalho analítico enquanto prosseguia na leitura, deve ter provavel prov avelmen mente te descob des cobert ertoo que compre com preend ender er o compor com portam tament entoo não é tão fácil como muitos dos exemplos podem tê-lo feito parecer. Antes de tudo há a tarefa de estar aberto à própria experiência. Essa abertura requer uma disciplina bastante incomum, visto que aprendemos, durante anos de treinamento, a ignorar grande parte da mesma. Que sensação produz estar em tal ou qual situação? Muitas situações são por nós “processadas” segundo uma espécie de eficiência intelectual que nos barra ba rra o acesso ace sso à percep per cepção ção clara cla ra daquilo que j á compre com preend endem emos, os, e que devemos deve mos compreender para sermos incluídos entre as pessoas mentalmente sadias de nossa cultura. A maior parte de nós neste planeta descobrirá o caminho para a sepultura sem chegar sequer a um acordo com a própria vida. Isso é triste, certamente, mas está longe de ser necessário. Enquanto seres humanos, não possuímos apenas a habilidade notável de sintetizar horizontes na experiência e de articular a experiên cia no comportamento de maneira imediata; possuímos também a habilidade ainda mais extraordinária de chegar a saber o que estamos que estamos fazendo, po fazendo, porr que motivo mot ivo e com que efeito — efeito — mas apenas se tentarmos ir além daquelas significações estereotipadas tão correntemente oferecidas pela nossa cultura, apenas se puderemos nos discipli nar no sentido de uma postura reflexiva e crítica, apenas se formos curiosos.
COMENTÁRIOS FINAIS
93
mente sem violentar violentar os dados da experiência vivida.1 Mais Mais uma vez, a extrema juve ju vent ntud udee de no noss ssaa ciênci ciê nciaa se evidenci evid encia. a. Potenci Pote ncialm almente ente existe exi ste um número núm ero infinito de maneiras de isolar e rotular os vários níveis de significação na experiência hu mana; nem todos são igualmente úteis, acurados ou reveladores da vida conforme a vivemos. Esses critérios só podem ser encontrados na experiência vivida; nosso empreendimento se toma naturalmente circular nesse sentido. Todavia, ele não é incontrolável, infundado, carente de base. Nem pode a descrição ser arbitrária ou uma mera questão de preferência. A teoria psicológica deve ser fundada no único lugar no qual, afinal de contas, toda significação pode ser fundada: na experiência diária. Se conceitos tais como mundo, fisionomia, culpa, conivência e assim por diante não falarem de nossa experiência, ou se obscurecerem diferenças experienciais permanentes e importantes, terão de ser reformulados. Algumas das dificuldades, mas absolutamente não todas elas, podem ser reduzi das pela própria psicologia, que é um corpo de literatura e um programa para cria ção de mais literatura. Como estudantes de psicologia temos o direito de explorar a literatura existente para que nos possamos tornar mais transparentes para nós mesmos, e temos a obrigação de criar literatura adicional e de melhor qualidade para pa ra nossos nos sos filhos. PSICOLOGIA FENOMENOLÓGICA E OUTRAS PSICOLOGIAS2 É provavelmente um erro dividir as diversas psicologias de forma tão radical entre aquelas que visam a prever, ou a controlar o comportamento, e aquelas que aspiram a compreender pessoas. A maior parte dos psicólogos pretende ambas as coisas. A psicologia psicologia fenomenológica fenomenológica está num dos extrem os desse contínuo, na me dida em que não visa a prever ou a controlar o comportamento e em que dirige o seu foco de atenção exclusivamente à tarefa de compreender. Há psicologias ex tremadas na outra direção, como por exemplo a de B. F. Skinner (1953, 1972). (É curioso o fato de que os skinnerianos e os fenomenologistas fenomenologistas tenham um fundamento significativamente comum, que freqüentemente se opõe ao do restante da disciplina.)3 O argumento fenomenológico afirma que, se desejamos compreender pessoas, de vemos abordar a tarefa com métodos e conceitos que sejam gerados exclusivamente para par a esse e sse fim. N a medida med ida em que a psicolo p sicologia gia mode m oderna rna ado adotou tou método mét odoss e conc c onceito eitoss da física, ela está limitada a compreender apenas aqueles aspectos do homem que são compartilhados pelos objetos físicos. Na medida em que adotou métodos e con ceitos da biologia, está limitada a compreender aqueles aspectos do homem que são compartilhados pelos organismos em geral. A psicologia fenomenológica visa a compreender as pessoas enquanto pessoas; esta é uma das razões pelas quais ela põe seu foco de atenç ate nção ão na exp experiê eriência ncia.. Há outras psicologias que visam a compreender as pessoas enquanto pessoas, tais como a assim chamada psicologia psicologia humanística ou ou personologia.4 De modo modo se melhante à psicologia fenomenológica, a personologia reconhece que as pessoas por certo têm coisas em comum com os objetos físicos e com os organismos em geral. Portanto, essas outras espécies de psicologia não são carentes de valor em suas tentativas de entender as pessoas. Porém, à maneira de Willie Sutton, que disse que roubava bancos “ porque é neles neles que está o dinheiro” , os fenomenologist fenomenologistas as e perpersonologistas aspiram a uma abordagem mais direta. Se queremos compreender pes
94
CONCLUSÃO
mos” algo e o que está em jogo quando comunicamos nossa compreensão. Em função da psicologia fenomenológica emergir de uma tradição filosófica diferente da das ciências físicas e biológicas, suas respostas a essas questões são freqüente mente diferentes daquelas da corrente principal da psicologia americana. Contudo, a psicologia fenomenológica se eleva ou declina por seus próprios méritos, en quanto um tipo de psicologia, não estando subjugada à associação com filósofos renomados e influentes. Não que esta es ta espécie espé cie de psicologia psicologi a nada de deva va a Edmund Edmu nd Hu Husse sserl, rl, Martin Mar tin Hei Hei degger, Jean-Paul Sartre e Maurice Merleau-Ponty. Ela é mais seguramente uma criação deles do que minha. Isto também não significa que possamos dispensar as idéias desses pensadores na busca de uma psicologia fenomenológica, especial mente em seus pontos de partida filosóficos básicos. Quer dizer, no entanto, que é possível poss ível pa para ra alunos alun os principi prin cipiante antess pe pens nsar ar fenomen fen omenologic ologicame amente, nte, faze fa zerr fenomen fen omenolo olo gia e, por certo, compreender o que a psicologia tenta compreender de modo inci sivo e penetrante. Apesar da validade da psicologia fenomenológica estar em função do confronto com questões usualmente não colocadas em que nos engaja e do fato de nos condu zir a explorar temas tem as com os filósofo filósofos, s, seu mérito mais mais básico é abrir nossos olhos e mentes à experiência vivida. Esta é também sua tarefa mais básica. Na verdade, essa recomendação resume o trabalho de todos os fenomenologistas. Tentei, estou certo de que com êxito irregular, promover o progresso dessa tarefa com este livro. Se não estivermos abertos à experiência vivida do mundo, teremos realmente uma psicologia psicolog ia estra es tranha nha.. Na Natur turalm alment ente, e, traba tra balha lharr com “ o subjet sub jetivo ivo”” e com aconte aco nteci ci mentos únicos causa problemas — alguns dizem que insuperáveis. Isso é um exa gero. É provavelmente significativo que a psicologia fenomenológica apareça num certo momento de nossa história cultural. Embora ela simplesmente se ajuste às reservas correntes quanto à ciência e à tecnologia, deve elevar-se ou declinar com base bas e em seus próprio pró prioss méritos méri tos e não po porr sua asso a ssocia ciaçã çãoo com sentime sen timentos ntos antitecn anti tecnoológicos populares.5 Devemos nos abster de prometer demasiado. Creio, sim, firmemente, que uma abordagem fenomenológica em psicologia possa realçar o vínculo dos problemas mais mais básicos de no nossa ssa disciplina disciplina com questões morais,6 morai s,6 pela adoção de uma um a atitude apreciativa em lugar de manipulativa, e pela incorporação dessa atitude em sua própri pró priaa urdidura urd idura.. Mas está es tá longe de ser se r evidente evid ente que esta es ta espéci esp éciee de psicologia psicolo gia poss po ssaa ser se r algum dia algo mais do que uma voz minoritári mino ritária, a, ou pa pare rece cerr adequa ade quada da numa cultura que define a adequação em termos tecnológicos. No en enta tanto nto,, escrev esc revoo este es te livro com uma espera esp erança nça:: a de que possam pos samos, os, como uma cultura, como uma disciplina e profissão, e como indivíduos, chegar a reco nhecer que os fenômenos que estudamos significam muitas coisas e que podemos chegar a entender as inúmeras camadas e nuances de significação inerentes ao comportamento humano. A psicologia fenomenológica não é mais do que a explici tação rigorosa da nossa experiência experiên cia de todos os dias. Não N ão é mais desejável do que que a experiência diária é importante. Porém, visto que todo conhecimento só tem signifi
APÊNDICE
APENAS PARA PSICÓLOGOS: O LUGAR DA PSICOLOGIA FENOMENOLÓGICA Em 1890, William James definiu pela primeira vez a psicologia para os america nos. Ela deveria ser a ciência da vida mental. E com a idéia de que deveria existir tal ciência, apoiado na erudição, boa vontade e visão de James, o povo ganhou uma persp per spec ectiv tivaa inteiram inte irament entee nov novaa de si próprio. próp rio. De início, apenas ape nas um pequ pequeno eno número núm ero de estudiosos compreendeu o que era a psicologia, mas seus esforços diligentes para par a estab es tabel elec ecer er a nov novaa ciência ciên cia produz pro duziram iram,, eventu eve ntualm alment ente, e, em pou poucas cas década déc adas, s, um novo centro de gravidade para estudos de graduação e uma nova maneira, para os americanos, de pensar sobre eles próprios. Milhões de americanos tornaram-se um pouco menos homens do que eram antes: objetos voluntários de uma nova ciên cia, uma nova ciência na qual eles mesmos — nós mesmos — poderiam também ser os cientistas. Nosso século é aquele no qual o autoconhecimento humano assumiu uma forma única e penetrante, e o advento da psicologia americana foi uma das causas desta mudança na vida mental que os próprios psicólogos estudam. James consolidou e americanizou pequenas partes do autoconhecimento psico lógico que se tinha desenvolvido na Europa e na Inglaterra. Deu-lhe uma amplitude que não excluía qualquer aspecto daquilo que somos, do mais minúsculo detalhe dç nosso cérebro e do pensamento mais secreto a nosso respeito aos acontecimentos maiores e mais públicos perpetrados pelo homem. A própria noção de psicologia expunha a amplitude total de quem somos por nosso próprio escrutínio. O nasci mento da psicologia americana, com o Principies ofPsychology, de James, condu ziu a incríveis desvios e transformações em nossas definições de nós mesmos. Têm havido continuidades debaixo de descontinuidades debaixo de continuidades — a história da psicologia já é tão complexa que ministrar um curso sobre a mesma, por exemplo, oferece tantas possibilidades quanto uma autodefinição pessoal. Alguns dizem que esta ciência está na infância, outros que é adolescente, outros ainda que está madura. O que dizemos do progresso da psicologia depende daquilo que imagi namos que James tenha criado.
98
APÊNDICE
University de John Watson, e Alfred Binet, da França, pela Stanford University, mas, em cada uma destas circunstâncias, o produto importado foi americanizado. Mais tarde vieram Sigmund Freud e a psicologia da Gestalt , contra o pano de fundo de Charles Darwin, que havia sacudido a Inglaterra e os Estados Unidos no século anterior, e de James, que nos havia preparado para estas importações ao inventar um novo americano para a psicologia psicologia — um nòvo “ homem” homem ” como objeto de um autoconhecimento psicológico. Ninguém sabia bem, nem Sabe, aonde está indo a psicologia. No en enta tanto nto,, o fato de que ela está está indo adiante parece uma afirmação segura para o futuro previsível. A psicologia fenomenológica é outro componente na lista das importações da Europa. Como as anteriores, já havia precursores nesta ou naquela região da psico logia americana cultivada para consumo local. E, assim como as importações ante riores, está destinada a ser americanizada, assim como a enriquecer o autoconhe cimento americano que a incorporará. A natureza exata desse enriquecimento, neste ponto, é bem pouco clara. Permanece um problema o modo como ela real mente atuará no caótico mercado das idéias. Mas talvez seja importante notar que os psicólogos fenomenológicos possuem alguma visão deste futuro. Devemos esta belec be lecer er nossas nos sas intençõ inte nções es e compar com partilh tilhar ar abertam abe rtament entee nossas nos sas espera esp eranç nças as com as au au toridades estabelecidas do autoconhecimento psicológico americano, os psicológi cos acadêmicos. Cada idéia nova é, em certo sentido, uma ameaça às velhas idéias e a história da psicologia neste país é uma fábula fascinante de negociações entre os homens a respeito de qual será a linguagem de nossa autocompreensão. De modo mais específico, que contribuição pensamos que a fenomenologia possa po ssa forne for nece cerr ao rico cong conglome lomerado rado de idéias que carac ca racter teriza iza presen pre sentem temen ente te a psi cologia acadêmica americana? Parece-me que existem quatro níveis em que a feno menologia entra nesta matriz e desejo tentar descrever, neste breve ensaio, as for mas pelas quais a fenomenologia pode trazer uma contribuição. FONTE DE HIPÓTESES Através de sua metodologia de ciência natural, a psicologia tem estado, já há algumas décadas, no ramo da verificação de hipóteses. De onde vêm estas hipóte ses? De palpites, intuições, adivinhações disciplinadas e leitura criativa de desco berta be rtass an anteri teriore ores. s. Os desenvo dese nvolvim lvimento entoss mais inovado inov adores res em psicologia psicolo gia têm sido produzid prod uzidos os por psicólogos psicólogo s que olharam olhara m pa para ra os fenômen fenô menos os que desejava dese javam m com com preen pre ende der, r, em seguida olharam olha ram ou outra tra e ainda aind a out o utra ra vez, vez , fazend faz endoo pergunta perg untass tais como “o que deveria ser verdade para que isso isso acontecesse?” De modo não pouco fre qüente, os psicólogos usam sua própria experiência como uma fonte de palpites. “ Como eu reagiria reagiria se se estivesse nesta situação?” situaçã o?” Todos estes processos, que nunca são incluídos na conta da metodologia psico lógica, são fenomenológicos num sentido informal e assistemático. As reduções fenomenológicas, variações imaginárias e interpretações têm sido sempre o capital de giro de cientistas criativos, mas estes não as explicitaram de forma detalhada como procedim proc ediment entos os metodológic meto dológicos. os. No nível mais simples de con contrib tribuiç uição ão,, a fenomen feno meno o logia pode fornecer uma descrição clara e algum rigor metodológico a este estágio crucial, e tão negligenciado, do processo científico.
APENAS PARA PSICÓLOGOS
99
de estímulo e um output de de resposta. Tais Tais processos “ internos” intern os” não são dire input de tamente visíveis e não são, portanto, abordáveis pela ciência convencional, embora sejam provavelmente aspectos críticos da produção do comportamento. A experiencia é, riencia é, precisamente, precisam ente, uma de tais tais “ variáveis variáveis intervenientes” intervenien tes” , quando apreendida apreendida a partir do ponto de vista da ciência natural. Muitos psicólogos hipotetizaram variáveis intervenientes para explicar as rela ções observáveis entre estímulos fornecidos a um organismo e respostas emitidas por ele. As do teóric teó ricoo da aprendizag apre ndizagem em Clark Hull (195 (1952) 2) constit cons tituem uem inferências inferên cias lógicas quase puras e, portanto, não são particularmente fenomenológicas. Em con traste, aquelas do teórico da aprendizagem E. C. Tolman (1966) são altamente fe nomenológicas em conteúdo, e o método de Tolman consistia abertamente em per guntar: guntar: “ Como eu eu me comportaria se estivesse estivesse nesta situação s ituação?” ?” O livro livro de Fritz Psychology o f Interpersonal Interpersonal Relations (1958), Relations (1958), representa uma tentativa Heider, The Psychology elaborada de compreender a experiência conforme experienciada, e praticamente cada capítulo deu origem a um subcampo da psicologia social contemporânea. Os psicólogos da Gestalt estavam estavam evidentemente inspirados em algumas peculiaridades da experiência subjetiva para criar parte de nossa literatura psicológica mais exci tante. Kurt Lewin (1935) deve ser mencionado, igualmente, nesta linha. Snygg e Combs (1949) e MacLeod, é claro, apresentaram-se a si próprios como fenomenologistas e levantaram muitas hipóteses. Nenhum Nenh um destes dest es psicólogos foi um fenomenolo fenom enologista gista no sentido senti do bastan bas tante te estrit est ritoo em que os fenomenologistas usam atualmente este termo, ainda que todos fossem fenomenológicos no ponto crucial em que “compreenderam” o comportamento: antes de o demonstrar experimentalmente. Naturalmente, palpites que emergem de uma especulação fenomenológica assistemática e informal nem sempre são corretos no sentido sentido em em que a ciência ciência natural natural entende “ correção corr eção”” . Portanto, esta espécie espécie de “fenomenologia” necessita de um método científico de verificação. Porém, ao mesmo tempo, a ciência precisa desta espécie de fenomenologia como uma fonte de hipóteses. Precisa da fenomenologia não só para fornecer novos enfoques criativos para pa ra antigos problem prob lemas, as, como também para par a forne fo rnecer cer con conteú teúdo do teóric teó ricoo relativo relat ivo ao modo como as pessoas realmente vivem. Uma psicologia fenomenológica bem de senvolvida fornecerá aos psicólogos científicos, que preferem fundir seus trabalhos nos moldes da ciência experimental, idéias teóricas sobre o modo como as pessoas realmente vivem, tomando o trabalho experimental mais incisivo, relevante e útil. Deixe-me oferecer um exemplo mais específico do que quero dizer, embora o trabalho de qualquer dos psicólogos mencionados esteja cheio de tais exemplos. Suponha que desejemos saber que espécies de fatores determinam a atração inter pessoal. pess oal. A pesqui pes quisa sa sobre este est e tópico tópic o tem mostrado mos trado que podemos podemo s prever pre ver o quan quanto to um sujeito será atraído por uma pessoa, conhecendo algumas das características deste sujeito, seus traços de personalidade, e assim por diante. Podemos também prever pre ver,, com algum grau de precisã pre cisão, o, com base nas carac ca racter teríst ística icass da pessoa pes soa para quem o sujeito é atraído. Isto é, certas pessoas são mais atraentes do que outras. Reunindo estas duas espécies de informações podemos prever qualquer atração in dividual com maior precisão do que se conhecêssemos apenas um dos preditores. Mas há ainda outra variável que influencia o grau de atração em qualquer situação particu par ticular, lar, a situação situa ção den dentro tro da qual duas pessoa pes soass se encontr enc ontram am (Franke (Fr ankel,l, 1973 73). ). O
100
APÊNDICE
que ele percebe numa situação que situação como sendo sendo importante? Quais Quais as “ dimensões” dimen sões” da situação? Isto é, quais as “ situações prototípicas” ? Nossa No ssa lista, que inclui “ assu as sust stad ador ora” a” , “ de desa safia fiado dora” ra” , e assim po porr diante dia nte,, dis crimina as diferenças diferenças situacionais situacionais relevantes? Faz-se necessária nece ssária uma fenomenologia fenomenologia das situações, para fornecer ao experimentador uma idéia de como as fazer variar na testagem de suas predições. UM VEÍCULO PARA O HUMANISMO A ciência natural será amplamente centrada em tomo de um método e é inde penden pen dente te de ou outra trass tradiçõ trad ições es do pen pensam samen ento to ocident ocid ental al que são frutíferas frutíf eras pa para ra a psicologia. O humanismo huma nismo é uma um a de tais tradiçõ trad ições. es. Por Po r “ human hum anism ismo” o” , ex expre presso sso simplesmente aquela linha de pensamento que começa com a premissa de que de vemos compreender pe compreender pess ssoa oass em termos apropriados para pessoas, em lugar de em termos emprestados da física ou da biologia. Esta tradição não é igualmente rele vante ou útil para qualquer dos ramos da psicologia, mas é certamente importante para pa ra a psicolog psic ologia ia clínica clín ica e pa para ra o estud est udoo da pe perso rsona nalid lidad ade, e, do co comp mport ortam amen ento to “anormal”, e assim por diante. Nestes campos, o humanismo tem marcado sua presen pre sença ça na psicologia psicolo gia atrav atr avés és do doss trabalh trab alhos os de Carl Rog Rogers, ers, Go Gordon rdon Allport, Allpo rt, Rollo May, George Kelly, Clark Moustakas, Abraham Maslow, Sidney Jourard e muitos outros. Um ponto de vista humanístico coloca a consciência no centro do conceito de homem, pois esta domina a vida do homem de forma mais mais dramática do que, talvez, a de qualquer outro organismo. O comportamento do homem é menos mecânico, menos previsível, menos uma função direta do ambiente e mais dependente de como ele percebe o mundo em geral e sua situação imediata em particular. Ao focalizar a experiência do paciente, assim como seu comportamento, os psi cólogos cólogos estão sendo tanto fenomenológicos fenomenológicos como humanísti hum anísticos. cos. Uma psicologia psicologia fe fe nomenológica nomenológica bem desenvolvida desenvo lvida fornecerá uma um a teoria do que signif significa ica ser uma pes soa (em lugar de uma coisa, ou um organismo). Tal teoria tomará a tradição humanística capaz de ter uma presenç p resençaa mais mais coerente coeren te e rigorosa na psicologia psicologia americana. A preocupação humanística com as pessoas na qualidade de seres que têm expe riências é o campo comum dos psicólogos humanísticos e fenomenológicos. Eles fazem contribuições mútuas, porém atualmente o humanismo, apesar de sua in fluência óbvia na psicologia clínica, carece de um método, de uma teoria coerente e de uma fundamentação explícita em dados rigorosos. As finalidades do humanismo (compreender e ajudar pessoas) são manifestamente diferentes das finalidades cien tíficas (previsão e controle), porém a psicologia humanística atual assemelha-se mais a uma preocupação moral afixada à psicologia científica por suas aplicações clínicas do que a um programa discriminável. Em suas aplicações clínicas* a psicologia não pode simplesmente sobrepor um padrã pa drãoo de referên refe rência cia carac ca racter terísti ístico co da ciência ciên cia natura nat urall à tarefa tar efa clínica, clínic a, sob pen penaa de excluir alguma coisa. Tentativas tais como o esforço de B. F. Skinner para resolver tecnologicamente os problemas humanos criam um profundo desconforto entre os humanistas, o qual é mais comumente formulado em termos de escrúpulos morais
APENAS PARA PSICÓLOGOS
101
periên per iência cia pa para ra co com m preend pre ender er os pacien pac ientes tes,, en então tão é necess nec essári árioo en ente tend nder er realmen real mente te a experiência, em lugar de meramente apresentar o argumento. É necessário tornar o argumento convincente para oferecer uma compreensão coerente. A psicologia fe nomenológica oferece esta esperança. UM PARADIGMA Thomas Kuhn (1962), em seu estudo das revoluções científicas, isolou um nível da ciência denominado “ paradigma” . Um paradigma paradigma é um complexo de suposições, maneiras de ver e de pensar, que está subjacente às teorias e modelos. A ciência, em sua evolução, pode descobrir inúmeros fatos sem modificar as teorias, porém estas se desenvolvem, em última instância, como resultado dos fatos. De modo similar, inúmeras teorias e modelos podem vir à luz sem uma mudança de para digma, mas estes realmente se modificam em pontos cruciais da história da ciência. Tais mudanças nos paradigmas (“ (“ revoluções” revoluç ões” ) não apenas mudam a percepção de fatos e teorias de modo que aquilo que não parecia importante anteriormente se toma importante agora. As mudanças paradigmáticas também redefinem o conhe cimento considerado útil, as espécies de questões formuladas, os critérios daquilo que se considerará como soluções, e, em certo sentido, os objetivos da ciência. A psicologia americana experimentou uma de tais dramáticas revoluções entre os anos de 1915 e 1930, quando os próprios objetivos da psicologia mudaram, pas sando da busca de átomos elementares da mente (“estruturalismo” de Titchener) a uma busca das leis e princípios que pudessem habilitar os psicólogos a prever e controlar o comportamento (“behaviorismo” de Watson). Outras inovações em psicologia psicolog ia — da pa parte rte de Freud Fre ud,, de Jean Jea n Piaget, do doss psicólogos psicó logos da Gestalt , do neuropsicólogo D. O. Hebb, dos psicólogos cognitivistas (com estudos de processa mento de informação), dos etologistas e de Skinner (tecnologia operante) — foram aproximadamente radicais, ao menos em intenção, mas não foram de fato tão pene trantes e “ revolucionárias” revolucion árias” quanto o behaviorismo de de Watson. A concepção watsoniana provocou uma genuína mudança de paradigma; sem dúvida, os psicólogos mencionados discordaram da teoria de Watson, mas operaram amplamente dentro de seir paradigma. Tendo os participantes da postura de Watson na principal cor rente da psicologia americana concordado que é importante entender apenas aque les fatores psicológicos que afetam o comportamento, comportamento, a definição de compreensão ficou sendo a habilidade para prever e controlar o comportamento. A psicologia fenomenológica, em seus momentos mais ambiciosos, aspira a es tabelecer um novo paradigma para a psicologia. Este novo paradigma envolverá uma modificação quanto a quais fatos e teorias são importantes: que perguntas for mular, quais respostas considerar como tais e, em geral, quais os objetivos da ciên cia. Bem, a situação atual da psicologia americana é de um tal pluralismo que uma ampla mudança de paradigma com a magnitude da watsoniana é provavelmente impossível. impossível. Os psicólogos psicólogos nunca concordariam con cordariam quanto qu anto àquilo par àquilo paraa que mudar, visto que já há desacordo profundo sobre a partir de que de que estaríamos mudando. Portanto, a presença mais modesta da psicologia fenomenológica na qualidade de “uma fonte
102
APÊNDICE
importantes e o desenvolvimento de um método para solucioná-los. Como os psicó logos fenomenológicos não estão satisfeitos com o status status pré-paradigmático cor rente de seu trabalho, o paradigma a desenvolver será tão diferente da corrente principal atual da psicologia psicolo gia como o paradi pa radigma gma wa watson tsoniano iano foi dive d iverso rso do estr e strutu uturaralismo de Titchener. O destino deste paradigma e a compreensão psicológica que emergirá dele serão questões para gerações futuras de psicólogos. Do ponto de vista de um paradigma fenomenológico, a previsão e o controle do comportamento não são objetivos particularmente importantes, nem critérios de conhecimento; conhecimento; um fenomenologista fenomenologista não não concordaria concor daria que que “ conh conhecem ecemos” os” ou “ com preend pre endem emos” os” algo apenas ape nas qua quando ndo o podemos podem os prev pr ever er e con contro trolar lar.. A verificaç verif icação ão do conhecimento será talvez mais uma questão de um acordo, baseado no fato de o modo como entendemos a nós mesmos já ser conhecimento. Ou melhor, nós na verdade já nos compreendemos de algumas formas particulares, e esta autocom preensão pree nsão é uma parte do modo como realmen real mente te somos. somos . Tentemos elaborar elabora r este ponto difíc difícil, il, mas crucial. crucial. No decorrer dec orrer de um dia, eu me comporto todo o tempo. A psicologia me oferece conceitos que me possibilitam compreender meu próprio comportamento. Ele é, por exemplo, uma seqüência de respostas a uma seqüência de estímulos, ou uma descarga de energia psicodinâmica canalizada através de uma rede de mecanismos de defesa do ego. Estas teorias são parte do modo como eu (e todos todo s os outros out ros american ame ricanos) os) me compre com preend endo. o. Também També m me compreendo, no entanto, como me esforçando por um futuro particular ou evi tando um futuro particular, como satisfazendo preferências, cumprindo obrigações, provand prov andoo coisas cois as a pe pesso ssoas as,, resisti res istindo ndo a tent te ntaç açõe ões, s, de demo monst nstran rando do coragem cora gem,, afir mando meus direitos, e assim por diante. Nada nesta linguagem é conforme à lin guagem da teoria psicológica, embora constitua aquilo que fabrica minha autocom preens pre ensão ão não-teór não- teórica. ica. A fim de traz tr azer er à luz minha teoria teo ria psicológi psico lógica, ca, dev devoo tradu tra duzir zir estas palavras em termos psicológicos. Tal tradução é claramente reducionista, mas alegramo-nos de pagar esse preço para par a ter te r uma ciência. ciência . A altern alt ernati ativa va a essa ess a reduçã red uçãoo tem sempre sem pre pareci par ecido do co cons nstit tituir uir um mero relato da corrente da consciência — poesia, literatura, inspiração ou con fissão, mas não psicologia. O paradigma fenomenológico repousa na suposição de que este nível da compreensão diária, não-teórica, pode constituir a temática da psicologia porque porq ue não é aleatór alea tório, io, desord des ordena enado do ou inest in estrut rutura urado do.. A tarefa tar efa con consis siste te meramente em descobrir uma maneira de articular explicitamente essa ordem e essa estrutura já existentes. A psicologia fenomenológica visará, pois, a tornar claro o modo pelo qual somos enquanto viventes e experienciadores de pessoas. Não atin gimos esta compreensão, porque a psicologia não tem tido esta finalidade, nem a teoria e a linguagem para tal. E quando a obtivermos, ela nos revelará de tal modo que saberemos que é verdade. Se esta promessa soa como mágica, isto ocorre em parte porque estamos acos tumados a pôr à prova o conhecimento pelo antigo paradigma. Porém este antigo paradigma paradi gma não ab abor orda da a qu quest estão ão de como vivemos vivem os realm rea lment entee nossa nos sa ex exper periên iência cia e, na verdade, não o poderia fazer com seu método. Com importância ainda maior, no entanto, devemos perceber que nossa compreensão daquilo que significa ser um ser humano já desfruta de um acordo extraordinário. Porém, visto que não foi formu lada, tem permanecido ao nível de uma suposição não investigada. A psicologia
APENAS PARA PSICÓLOGOS
103
nossa experiência diária. E estas significações estão disponíveis para escrutínio e crítica — mas somente depois que um paradigma tiver sido desenvolvido. O paradigma fenomenológico procurará revelar-nos a nós mesmos. Ele nos dirá o que realmente já sabemos e o modo como já vivemos, em lugar de empurrar para trás as fronteiras do conhecimento à maneira das ciências físicas. No entanto, mesmo já sabendo o que nos dirá, não sabemos que o sabemos. Não possuímos uma compreensão clara e articulada de quem somos e de como somos quem somos e, portanto, não percebemos, a não ser de modo vago e assistemático, quais são nossas opções. Talvez M. Foucault (1970) estivesse certo quando sugeriu que o “ homem” hom em” (conforme o conhecemos) fora inventado inventado no século XVIII e que que nos estávamos aproximando do momento em que “ele” desapareceria e emergiria uma nova compreensão de nós mesmos. UMA RESPOSTA À CRISE Os psicólogos têm com freqüência entendido sua ciência como prática, abor dando problemas sociais e empurrando o curso da história em direção a um modo de vida mais razoável e humano. Os notáveis desastres sociais e políticos deste século ocorreram contra o pano de fundo do autoconhecimento psicológico, e os americanos tiveram uma sensação de que poderiam intervir inteligentemente para tornar a vida melhor. Mesmo que este século não ofereça crises mais graves do que as dos anteriores, estas parecem assim porque nos sentimos mais aptos a responder de forma inteligente. A tecnologia comportamental de Skinner (1970) é simples mente o exemplo mais óbvio desta atitude. A partir de seu próprio começo no trabalho inicial de Husserl, a fenomenologia também foi vista por seu autor como uma resposta a uma crise peculiarmente mo derna. O próprio Husserl não foi muito claro a respeito dessa crise até o fim de sua vida, na obra póstuma The Crisis of European Sciences and Transcendental Phenomenology (1970). Sua compreensão particular da crise está baseada nos contor nos e suposições amplas do pensamento moderno a partir do século XVI. A versão um pouco diferente de Martin Heidegger (1962) de nossa situação sugere um erro de 2.000 anos. Outros fenomenologistas vêem o problema de forma diferente. Em geral, os fenomenologistas percebem a crise como mais profunda e com plexa ple xa do que os ou outro tross psicólogos psicól ogos americ am ericano anos. s. Nã Nãoo compar com partilha tilham m do otimismo otimis mo tec tec nológico de Skinner, mas ultrapassam também a noção do psicólogo de que a agres são seja meramente inata. Tendem a abordar a história humana ao nível das suposi ções básicas para as tradições e consciência coletiva da sociedade. Esta abordagem tem conduzido a uma variedade de interpretações que bem podem parecer especu lativas e irrelevantes para o estilo mais prático dos psicólogos americanos, mesmo em suas tentativas de enfrentar a crise. Mas algumas destas suposições históricas muito profundas são diretamente rele vantes para os psicólogos. De forma mais óbvia, nossas tradições nos colocaram na situação peculiar em que fatos e valores estão radicalmente separados uns dos ou tros. Esta separação entre fatos e valores no pensamento moderno tem uma impor
104 104
APÊNDICE
estas questões relacionadas sistematicamente, dada uma tradição intelectual que insiste em separá-las? Podemos libertar-nos desta cisão tradicional que impregna totalmente nossa própria linguagem e pensamento? Ou estamos condenados a de senvolver uma tecnologia mais e mais refinada para atingir finalidades, deixando a questão das finalidades mesmas ser decidida como matéria de gosto, poder político e acidente histórico? Já abordei o problema da contribuição dã fenomenologia à psicologia neste nível em um outro trabalho (Keen, 1972), e não vou repetir isso aqui. No entanto, é importante observar que a fenomenologia tem, neste nível, a presença de um mo vimento ou tradição cultural na história das idéias, assim como a tem nos níveis de paradigma, paradigm a, de teoria teo ria do exp experi erienc enciar iar humano human o e de fonte font e de hipótes hip óteses es científicas cientí ficas no modelo naturalista. FAZENDO PSICOLOGIA FENOMENOLOGICAMENTE Dado que sua psicologia ainda é pré-paradigmática em ampla escala, o psicólogo fenomenológico experimenta algum desgosto e embaraço quando um colega lhe pergunta perg unta simplesme simp lesmente: nte: “ O que você faz? fa z?”” Em pa parte rte,, o que fazemos fazem os depende depe nde de em qual dos quatro níveis de aplicação estamos interessados. Mas cada nível de pende, pen de, como com o anteri ant eriorm orment entee apo aponta ntamo mos, s, do desenvo dese nvolvim lvimento ento de um parad p aradigm igmaa mais explícito e comunicável. Acho que se deve fazer uma tentativa, mesmo neste estágio inicial, para responder a pergunta. O objetivo da psicologia fenomenológica é revelarmo-nos à nossa compreensão explícita. Devemos fazê-lo observando-nos, a nós mesmos e um ao outro. Tal ob servação — do self e de outros — pode aproximar-se das metodologias introspec tiva e comportamental, respectivamente. O trabalho fenomenológico não está limi tado a qualquer das duas, mas as pressupõe, depende delas e as usa. Além da observação própria e alheia, o trabalho fenomenológico inclui reflexão disciplinada sobre nossa própria observação. Naturalmente, os bons cientistas sempre refleti ram, mas isto nunca se tornou um método com uma finalidade própria, questões própr pró prias ias,, soluçõ sol uções es própr pró prias ias e um proce pro cedim dimen ento to orde or dena nado do pa para ra pa pass ssar ar de um a outro. Mais particularmente, o objetivo da psicologia fenomenológica é revelar à nossa compreensão explícita aquilo que já compreendíamos implicitamente. Conforme mencionamos anteriormente, nossa compreensão diária, vivida, de nós mesmos, não é abordada por nossas teorias psicológicas. Sempre que converso com uma outra pessoa, por exemplo, compreendo o que eu digo do ponto de vista dela (ma neira pela qual sei o que que dizer) e sei implicitamente que ela faz o mesmo com relação a mim. Juntamente, estabelecemos uma rede intrincada de acordos, não apenas sobre aquilo a que se referem nossas elocuções lingüísticas, como também sobre que expressões são apropriadas, em que circunstâncias, por que razões, e assim por diante. Ou, de forma mais precisa, e muito importante, nós não estabele cemos cemos estes acordos, pois eles já existem. São parte do sistema de nossas vidas e das vidas de quaisquer pessoas que já tiveram, de algum modo, uma conversa. Estes acordos podem ser especificados? É necessário ou compensador especificálos? Como podemos abordar esta tarefa?
APENAS PARA PSICÓLOGOS
105
com muitos não fenomenologistas, mas ele não é abraçado por psicólogos que orientam seus trabalhos pelas finalidades exclusivas de previsão e controle do com portam por tamen ento. to. A própria reflexão disciplinada não é fácil de descrever e é este, é claro, o problem prob lemaa paradigmá parad igmático tico.. Ele não pod pode, e, po porr cer c erto to,, ser reduzido redu zido a instru ins truçõe çõess do tipo “ livro livro de receita rec eitas” s” . Voltando Voltando a nosso exemplo exemplo da conversa, como sabemos o que que nossas elocuções parecem e significam para os outros? É claro que, por vezes, erramos neste julgamento, e isso nos impressiona, porém a reflexão disciplinada nos leva a perceber o quão notável é o fato comumente inexpressivo de que o façamos tão bem. Como o fazemos? De algum modo, nossa experiência de nós mesmos ao conver sar com outros possui certas certas qualidades que não têm sido investigadas com muita intensidade. Localizo o outro num espaço físico que é entendido como estando dentro da amplitude de minha voz e sei que ele faz o mesmo com relação a mim. Contudo, também me localizo, e ao outro, numa espécie de espaço psicológico no qual somos transparentes um para o outro. Em minhas conversas diárias, suponho que os conteúdos de minha experiência são comunicáveis ao outro e os dele a mim, que compartilhamos uma intenção de nos revelar um ao outro, que esta inten ção se encaixa em um espaço psicológico (ou experiencial) de minha vida mais ampla, que é diversa, mas que tem superposição com a do outro, que esta superpo sição contém um conceito compartilhado do mundo, que esse mundo também pa rece diferente a partir das duas perspectivas, que posso conduzir o outro a entender minha perspectiva (dentro de limites) e que posso entender a dele — se concorda mos em fazer esta tentativa. Mesmo que não concordemos em tentar, compreende remos inevitavelmente um ao outro em certa medida. Por que compreendemos tanto? Porque esse é o caráter da experiência humana. A experiência não é efêmera e inefável; é estruturada a cada minuto de acordo com um espaço no qual já sabe* mos que um espaço físico compartilhado será um espaço experiencial comparti lhado, embora com aspectos únicos de acordo com nossas perspectivas distintas. Não estou esto u sozinho sozinh o no mundo e nun nunca ca supus que estives esti vesse. se. A exp experiê eriênci nciaa humana hum ana tem esse caráter, na medida em que é realmente humana. Falando em termos de desenvolvimento, a aquisição deste caráter interpessoal da experiência ocorre provavelmente muito cedo, embora saibamos, a partir do trabalho de Piaget, que provavelmente haja um desenvolvimento ordenado desde o primeiro sentime sen timento nto empátic emp áticoo no relacion rela cioname amento nto com a mãe até as habilidades habilidad es so fisticadas para mentir e para antecipar as conclusões alheias, assim como outros adornos da experiência diária dos adultos. Por mais fascinante que seja a questão do desenvolvimento, minha preferência é pela compreensão inicial das estruturas experienciais nas quais ocorre o desenvolvimento — e aqui penso, como fenomenologista, que a limitação das investigações de Piaget ao pensamento lógico, que é uma das estruturas da experiência, mas não a única, não oferece uma psicologia fenomenológica muito completa. As estruturas da experiência humana que tornam possível possív el minha vida diária são muito mais elabora elab oradas das do que as op opera eraçõe çõess formais — mesmo se intercalarmos a perseveraçã persev eraçãoo de operações operaç ões con concretas cretas e de cognição pré-opera pré-o peracion cional. al. Os trabalh trab alhos os de Freud, Fre ud, H. S. Sullivan e George Georg e Kelly também també m são sugestivos.
106
APÊNDICE
mento, estar além da possibilidade de acordo ou fora do âmbito da psicologia; os fenomenologistas estão trabalhando para especificar o paradigma que possa trazer tudo isto à luz. CONCLUSÃO Qual é então o “lugar” da psicologia fenomenológica em meio à complexa rede de idéias que constituem a psicologia acadêmica americana? Cada um dos níveis que discutimos foi mais ambicioso, de mais longo alcance e mais visionário do que os anteriores. O primeiro primeiro pode ser se r previsto com confiança, confiança, pois já é um fato fato estabe estab e lecido da história. Porém a operação neste nível se expandirá e se tornará mais importante com o desenvolvimento da própria psicologia fenomenológica. A opera ção ao segundo nível já está clara em alguns sentidos, mas depende também do desenvolvimento continuado do próprio trabalho. O terceiro nível, do paradigma, virá a se realizar. A questão de sua importância para a psicologia não será prova velmente decidida pela atual geração de psicólogos. O quarto nível é aquele sobre o quall apenas os tolos qua tolos fazem fazem previsões, mas podemos esperar que, como uma ma neira de pensar, a fenomenologia contribuirá para que possamos escapar de nossa crise cultural — se há uma crise exse vamos escapar dela. Eu me descubro pensando sobre o que acharia o William James de 1890 da psicologia psicologi a acadêm aca dêmica ica de hoje. As inúmeras inúmer as incons inc onsistê istência nciass e con contra tradiç dições ões da pró pró pria psicologia psicolog ia de James Jam es ainda aind a estão est ão cono conosco sco.. Nós as vemos vemo s de forma form a um pouc poucoo diferente hoje em dia, mas elas são, com toda probabilidade, mais do que meras contradições em teoria psicológica; ao contrário, são contradições do pensamento ocidental em geral — talvez mesmo paradoxos da própria existência humana. Hus serl aparentemente se impressionou mais com James do que o inverso, mas a feno menologia, assim como a psicologia, percorreu um longo caminho desde que algum deles dois escreveu seus trabalhos embrionários. O agora é um momento excitante, quando os sucessores de ambos falam um ao outro a partir da posição de vantagem constituída por aquele autoconhecimento americano peculiar que é a psicologia acadêmica.
NOTAS CAPÍTULO 1 ‘Um dos poucos estudos psicológicos deste problema é o de E. T. Gendlin (1962). 2Tem havido bem poucos estudos fenomenológicos sobre crianças. O trabalho de Maurice Merleau-Ponty (1964a) é uma notável exceção. O psicólogo mais importante e sagaz especiali zado em crianças é, provavelmente, Jean Piaget, que com freqüência é fenomenológico em método e conteúdo, embora não explicitamente. Uma boa fonte de consulta sobre o volumoso trabalho piagetiano é o livro de J. H. Flavell (1963). Uma crítica do trabalho de Piaget do ponto ponto de vista vista fen fenom omen enol ológ ógic icoo pode pode ser encont encontrad radaa em B. B. Levi Levi (1 (1972). Para Para uma uma aprec aprecia iaçã çãoo da visão do próprio Piaget sobre a fenomenologia e outros empreendimentos filosóficos, veja Piaget (1971). 3Muitos psicólogos diferenciaram a vergonha da culpa exatamente desta maneira (por exemplo, Lynd, 1961). Podemo-nos sentir sentir culpados sozinhos; a culpa é uma questão questão de autojulgamento. autojulgamento. Por outro lado, a presença de outras pessoas, seja real, imaginada ou implícita, é uma parte inerente da experiência da Vergonha; o outro é o juiz, e o self, o réu. Do ponto de vista do desenvolvimento, a culpa provavelmente deriva da vergonha; a criança é sensível à desapro vação parental antes que aprenda a desaprovar-se a si mesma. Mesmo a culpa adulta prova velmente inclui Sempre algo de vergonha, pois também me sinto culpado porque sei que outras pess pessoa oass impor importa tant ntes es me me julga julgari riam am ma mal. Tais distinções e descrições são uma parte importante da psicologia fenomenológica. Aju dam a tomar claro o caráter estrutural da experiência diária. A “estrutura" se refere, neste caso, ao pré-requisito espacial implícito para a experiência: a vergonha ocorre num espaça interpessoal. O arranjo de panos de fundo temporais é também um exemplo de estrutura. A experiência é sempre estruturada; o espaço e o tempo são duas (mas não as únicas duas) estruturas que caracterizam a experiência humana. 4Este caráter social é um terceiro aspecto universal da experiência humana. A fisionomia do espaço físico (conforme aparece na Fig. 5), a estrutura dos panos de fundo temporais temporais (con forme forme aparece nas Figs. 1 e 2) 2) e a estrutura das relações sociais (conforme sociais (conforme mostrada nas Figs. 3 e 4) são os três “horizontes universais" que serão discutidos detalhadamente nos Caps. 7, 8 e 9, respectivamente. Conforme ficará explicitado posteriormente, nada há de sagrado quanto a estes três horizontes, e, na verdade, na própria experiência eles não ocorrem como aspectos separados. 5P6de valer a pena abordar aqui uma questão levantada por um aluno quando terminou de ler o Cap. Cap. 1. “ Eu o li. Entendi Entendi o que você diz; mas ainda ainda não sei sei por que que ela mudou de idéia. Apesar de tudo que você disse, ainda não acho que o tenha explicado de modo que eu possa
108 108
NOTAS
compreendia algo. Geralmente, a compreensão envolvia o conhecimento de um padrão ou seqüência de eventos antecedentes que causavam o evento em questão. “Por que ela mudou de idéia?” significava, para este aluno, “o que determinou que ela mudasse de idéia conforme o fez ?” O estudante está, é claro, bastante certo quando afirma que não há resposta para esta perg pergun unta ta nest nestee capít capítul ulo. o. E tam també bém m está está corre correto to ao dize dizerr que que o cap capítu ítulo lo realm realmen ente te não não expl explic icaa nada; não explica nada àqueles para quem “compreender” significa saber o que causa a ocor rência de um evento. Se chove e desejamos saber por por qu quee está chovendo, provavelmente ficaremos certos de que compreendemos por que está chovendo quando entendemos a física da condensação da água e dos padrões de temperatura, além do modo pelo qual se aplicam à chuva de hoje. Por que está chovendo? A resposta está num padrão de eventos antecedentes que, quando ocor rem, sempre produzem chuva. Se conhecemos a meteorologia, então compreendemos. Com base base ne nest stee sent sentid idoo de co comp mpree reens nsão ão da dass co cois isas as,, o Cap ap.. 1 nã nãoo no noss diz diz por por qu quee minha filha mudou de idéia. A causalidade é a maneira pela qual compreendo algumas coisas, mas não a forma pela qual compreendo todas as coisas. Não é a maneira pela qual compreendo o que o aluno quer dizer quando expressa sua crítica. Minha compreensão de pessoas não é análoga à minha compreensão da temperatura. Não considero a objeção que o aluno fez como sendo o efeito de um padrão de causas, as quais poderiam ser uma uma fundamentação fundamentação científica e uma leitura do capítulo. Apreendo o que ele está dizendo por saber o que ele exprime , e não por saber o que causou a emergência desse comportamento neste momento. Ele sabe o que quero dizer com esta afirmação, e podemos dizer que nos “compreendemos” mutuamente. É tentador estabelecer, de modo vago, que as duas espécies de compreensão são funda mentalmente diferentes e que a fenomenologia visa à última, ao invés de à primeira, a qual é o objetivo da psicologia tradicional. Esta polaridade é útil temporariamente, talvez, porém na verdade é simples demais, como mostraremos na Parte II. 6Esta afirmação implica em que não haja nada a respeito de nós mesmos que já não saibamos (embora possamos não saber qu quee o sabemos). Tal afirmação vai contra todas as espécies de fatos sobre o corpo e a mente humanos, que muitas pessoas nunca conheceram nem conhece rão. No entanto, se estes fatos são relevantes para suas vidas e são fatores em seu comporta mento, as pessoas devem conhecê-los em algum nível, a fim de comportar-se como o fazem. Este dilema pode ser resolvido pela distinção entre conhecimento explícito e implícito, estendendo-se o último aos processos orgânicos dos quais não estamos conscientes (conforme se reflete na afirmação “Meu estômago sabe quando digerir comida”). Tal solução é cons truída sobre uma metáfora básica para a compreensão do corpo, muito diferente da metáfora mecanicista predominante na medicina moderna. Não podemos discutir aqui este assunto com as filosofias da ciência e do conhecimento, mas apenas concordar com o fato de que a psicolo gia fenomenológica desafia algumas suposições fundamentais do pensamento científico e as coloca em questão. O problema inteiro reaparecerá em conexão com os processos mentais inconscientes no Cap. 2. CAPÍTULO 2 'Esta afirmação é discutível, é claro. Nas primeiras décadas deste século os psicólogos prati camente só lidavam com a experiência consciente. Sua psicologia era bastante frustradora, em virtude dos argumentos doutrinários a respeito de quais seriam os blocos de construção fun damentais da consciência. As doutrinas fundamentais foram, primeiramente, o empirismo britânico, que argumentava dever a consciência ser entendida em termos das partes elementares de seu conteúdo — sensações, imagens e afeições — e, em segundo lugar, a protofenomeno-
CAPÍTULO 2
109
Nos Nos EUA, EUA, John John Wat Watso sonn (19 (1924), o mai maiss fam famoso oso dos dos behav behavio ioris ristas tas,, resol resolve veuu o prob proble lem ma ao ao redefinir a psicologia de modo que a experiência consciente nã nãoo fizesse parte dela. Embora esta esta perspect perspectiva iva fosse combatida combatida pelos psicólogos da Gestalt Gestal t (Koffka, 1935; Köhler, Köhler, 1947) e outros, o behaviorismo tem sido a principal força da psicologia americana. Seu mais recente e claro repres representa entante nte é B. F. Skinner (195 (1953, 3, 1972); no entanto, entanto, muitos psicólogos que discordam de Skinner ainda sustentam que a psicologia pode prosseguir sem referência à experiência consciente. A opinião predominante hoje em dia nos EUA assemelha-se, provavelmente, à seguinte: “A experiência consciente pode desempenhar um papel importante em alguns comportamen tos, mas não pode ser investigada diretamente porque é subjetiva, privada e não pode ser avaliada pelos métodos da ciência objetiva. Tudo o que sabemos acerca da experiência cons ciente é, portanto, indireto — uma inferência a partir do comportamento. E, visto que os experimentos, previsões e outras rotinas da ciência natural estão prosseguindo sem explora ção direta da experiência, a perda não deve ser grande demais.” Esta perspectiva pode ser discutida discutida em todos os pontos. pontos. Para uma avaliação mais profunda, profunda, ver A. Giorgi Giorgi (1966 (1966,, 19 19770a, 1970b), J. A. Beshai (1971), S. Strasser (1963), Merleau-Ponty (1964c) e o Apêndice deste livro. Uma exceção a esta visão predominante supõe que a consciência é importante na medida em que afeta a maneira pel pelaa qual o sujeito é condicionado (Grings, 1973). Esta Es ta postur posturaa não é, na verdade, muito diferente daquela de Watson e Skinner, pois a consciência se toma mera mente uma outra variável de laboratório e não um fenômeno com seus próprios direitos, valorizável enquanto foco de estudo. Entrementes, um segmento de opinião sobre o papel da experiência em psicologia, menos importante, embora proeminente, é representado pelos teóricos da atribuição (Jones et al., 1972). Os atribuicionistas descrevem sua teoria como um setor restrito de um estudo mais amplo relativo a como as pessoas percebem o mundo. Sua contribuição particular consiste em trazer à tona as percepções Causais de Causais de nossa experiência diária. Tais percepções causais estão presente presentes, s, argum argumen entam tam eles, eles, po porqu rquee os ho hom men enss têm têm uma uma orienta orientação ção do tipo tipo real realid idad adee-eecontrole. Mas existem também outras posições. A teoria da dissonância (Festinger, 1957), as teorias teorias da consistên consistência cia (Abelson et al. 1968) e as teorias da expectância expectância (Rotter (Rotter,, 1966) existem lado a lado com a teoria da atribuição. Cada uma delas descreve um aspecto da experiência humana. A tarefa de descrever a experiência como um todo, dentro do qual cada uma destas teorias assume uma especialidade determinada, permanece algo a ser desenvolvido. No passado, os psi psicó cólo logo goss da Gestal Gestaltt ab abord ordar aram am esta taref tarefa; a; Ku Kurt rt Lew ewin in (19 (1935, 1936) e Fritz Fritz Heider Heider (19 (1958) fizeram muitas sugestões válidas que poderiam ser úteis nesta tarefa. Entretanto, o sentimento corrente entre os trabalhadores destes campos parece ser o de que uma teoria geral é prema tura neste momento. Os fenomenologistas, por outro lado, preferem trabalhar partindo da experiência como um todo para atingir então suas partes especificáveis, cada uma delas já pode podend ndoo ter, então então,, um conte contexto xto claro claro e um luga lugarr na totalid totalidad ade, e, em funç função ão do quad quadro ro gera gerall com o qual começam. Portanto, eles não apreciariam esta afirmação feita pelos teóricos da atribuição: “A ‘significação’ do evento e a reação subseqüente [de alguém] à mesma são determinadas, em grau relevante, pela causa atribuída” (Jones et al., 1972, p. xi). Para um fenomenolog fenomenologista, ista, esta es ta afirmação afirmação está está exatamente exatamente às avessas; a “ significação” significação” constitui o fator prin princi cipa pal,l, mais ampl amplo, o, co conte ntextu xtual; al; a “ causa causa atribuída atribuída”” é de deriv rivad ada. a. Esta diferen diferença ça de estilo estilo entre atomistas e holistas recapitula uma querela antiga entre Demócrito e Anaxágoras, dis puta puta que que é aind aindaa ma mais óbv óbvia, ia, em em psic psicoologi logia, a, na na con contro trové vérsi rsiaa entr entree os os beha behavio vioris ristas tas e os ge gestal stal-tistas deste século. 2Considero a descrição como a tarefa primária para toda psicologia. Ela é freqüentemente contraposta à “explicação”, com base na noção de que primeiro descrevemos um fenômeno e poste posterio riorm rmen ente te o expl explic icam amos os.. Porta Portanto nto,, a expl explic icaç ação ão é vista vista co com mo o obje objetiv tivoo fin final da ciê ciênc ncia ia;; constitui a clarificação das condições necessárias e suficientes para a produção do evento —
110
NOTAS
interpretação. Todas as descrições, necessárias e suficientes no sentido causai, e sim uma interpretação. inclusive as explicações, são de algum modo interpretações. Uma explicação nos oferece uma certa interpretação; diz o que algo significa, dentro da estrutura do querer saber o que causou o evento, geralmente de modo a que possamos produzi-lo ou evitar que ocorra. É possível, e talvez até desejável, querer compreender acontecimentos por razões diferentes daquela rela tiva ao controle sobre os mesmos. Veja Beshai (1971). 3O conceito de horizonte, inicialmente inicialmente formulado por Edmund Husserl Husserl (1958 (1958),), é bem mais mais amplo do que estamos expondo aqui. De modo geral, tanto Husserl como Martin Heidegger situam-se na tradição kantiana na medida em que, como Kant, perseguem seus objetivos inda gando quais as pré-condições para que algo seja po seja poss Esta espécie de pergunta exibe uma uma ssíve ível.l. Esta similaridade superficial como a busca de causas ou explicações conforme descrito na nota 2. Mas as diferenças são monumentais. Indagar sobre a possibilidade de que o ser seja, e seja, e de que seja de tal modo que certos seres o possam reconhecer, é descrever a situação em que nos encontramos enquanto seres humanos. É uma parte da procura ontológica. Indagar sobre as condições necessárias e suficientes de um evento particular é fazer uma pergunta bem mais reduzida, embora não se possa desprezar sua importância prática. Heidegger denomina esta Ontico, em lugar de empreendimento ontológico. A relação última indagação empreendimento Ontico, em entre entre ambas está está longe longe de ser simples e será discutida no Cap. 10. De qualquer forma, a horizontalidade se horizontalidade se refere ao fato de que a experiência humana para possível. el. A um pano de fiindo ou superfície que torna a experiência possív A experiência aponta para uma rede de significações já existentes que tem seu foco não tanto em coisas físicas, mas em seu padrão de ordem, o qual formulamos implicitamente no ato de sermos, de algum modo, conscientes no sentido humano do termo. Há muitos de tais padrões ou ordens (horizontes) inerentes à experiência humana; nos capítulos da Parte III, abordamos muitas de tais ordens. Conforme é discutido na Parte IV, o mundo é o horizonte fundamental. Beingg and and Tim Time (1962), diz 4Não temos intenção de responder a esta pergunta. Heidegger, em Bein tempo é o horizonte de horizontes fundamental, que não há padrão de significação que que o tempo é supere o tempo como ordem última da experiência humana, do ser humano e do Ser em geral. outro como o horizonte fundamental. Max Scheler (1954) e Martin Buber (1958) chegam a um outro como Maurice Merleau-Ponty (1962) descreve a natureza da experiência humana de tal modo que o horizonte fundamental. fundamental. Paul Ricoeur Ricoeur (1967 (1967,, 1970) põe o foco no sím corpo emerge corpo emerge como o horizonte bolo bolo.. Jean Jean-P -Pau aull Sartr Sartree (1956) apó apóia-s ia-see na diver diversid sidad adee absol absoluta uta das das coisa coisass em si mes mesm mas con con forme emergem, não afetadas por nossa consciência. Todas estas descrições são, é claro, supersimplificações — meros slogans para indicar as direções assumidas por nossos predecessores filosóficos. O ponto importante aqui é que nossa psicologia, um empreendimento ôntico, depende em última instância de nossa postura ontológica. No entanto, começar com uma descrição de nossa postura ontológica como passo preliminar na investigação da experiência tomaria esta obra um tipo de livro bem diferente — do meu ponto de vista, ilegível, se não impossível de escrever. Devemos perceber que nós (e todos os psicólogos) estamos tomando liberdades quanto à questão ontológica e prosseguindo, apesar de tudo. O efeito deste reco nhecimento nos deveria to tomar mar modestos quanto a nossas conclusões. conclusões . Veja também também o Cap. Cap. 10 para para um uma disc discus ussã sãoo das das ques questõ tões es ont ontol ológ ógic icas as e de de sua rel relaç ação ão com com a psi psiccolog logia. ia. 5A expressão com hífens “ ser-em-m ser-em-meu-escrit eu-escritório” ório” é uma uma tentativa tentat iva um pouco inadequada para combinar, em um único termo, o termo verbal para o processo de ser e o termo nominal para ser lá lá. o locus do ser. A experiência aqui descrita é, claramente, tanto meu ser lá como meu ser lá. No No próxi róxim mo pa pará rágr graf afo, o, a mesm esma co cons nstru truçã çãoo ap apar arec ecee na ex expre pressã ssãoo “ serser-em em-u -um m-cam -campo po”” e, mais tarde, falaremos de modo modo ainda mais mais geral geral em “ ser-no-mundo” . Todas Todas estas expressões expressões com hífens vêm diretamente da literatura fenomenológica alemã, e freqüentemente confun dem, quando não ofendem, os leitores americanos. Tentei usar termos americanos familiares sempre que possível, e ocasionalmente utilizei “estilo” e “orientação para o mundo” quando considerei que eram tão bons quanto seus
CAPÍTULO 2
111
é o resultado de termos hipostasiado estes dois aspectos de uma unidade anterior, o resultado da tradição ocidental, que faz destas abstrações realidades separáveis, violando a unidade da experiência conforme experienciada e, portanto, forçando-nos a usar expressões com hífens para para descre descrever ver com com prec precisã isãoo a expe experiê riênc ncia. ia. Veja eja tam també bém m o Cap Cap.. 7, no nota ta 9. 9. 60 termo “ sintetiza sint etiza”” pode ser s er enganador, enganador, caso implique implique serem as unidades fundam fundamentais entais da experiência as partes, consistindo partes, consistindo o todo da mesma numa mera reunião ou combinação das parte partes. s. O oposto oposto está mais ais próx próxim imoo na verdad verdade: e: a un unid idad adee da experi experiên ência cia é fund fundam amen enta tall e original. A separação em partes é o resultado de uma análise reflexiva e sempre envolve abstração. A unidade precede a análise, e o concreto precede o abstrato, tanto lógica como empiricamente. 7Ao irmos irmos do “ campo” ao “ mundo”, mundo” , seguimo seguimoss um caminh caminhoo conveniente para a nossa noss a com com preen preensão são,, mas mas bem bem dife difere rent ntee da man maneir eiraa pela pela qua uall o conc concei eito to de de “ mund mundo” o” se de dese senv nvol olve veuu na história da fenomenologia. Uma recapitulação breve dessa história pode contribuir para nossa compreensão compreensão do termo “ mundo” . Husserl (1958 (1958,, I960, I960, 1968) passou toda toda a sua vida investi gando o nexo de interação entre a consciência, que conhece, e o objeto, que é conhecido. Seu pens pensam amen ento to tom tomou ou o rum rumo de de uma uma filo filoso sofi fiaa tran transce scend nden ental, tal, na qua uall postu postulo louu um um eg egoo tran transce scen n dental, ou sujeito absoluto, não muito diferente do de Kant. Tal orientação parece perpetuar os dualismos mente-corpo e mente-mundo, mas as descobertas de Husserl abriram caminho para para qu quee os os fen fenom omen enol olog ogist istas as sub subse seqü qüen entes tes supe superas rasse sem m co com mpleta pletam men ente te o eg ego trans transce cend nden ental tal e os dualismos. Uma destas descobertas foi a de que a percepção, a mera consideração cons ciente de um objeto, sempre sempre envolve um um horizonte horizonte ou um fundamento fundamento e contexto, dentro do qual os objetos se tornam manifestos. Atualmente é óbvio que tal horizonte influencia profun damente o qu quee vemos quando apreendemos um objeto. Husserl divisou o horizonte fundamen tal dentro do qual, ou em virtude do qual, poderia haver, de algum modo, experiência cons ciente. As várias direções que sua filosofia tomou nas primeiras décadas deste século foram, todas, tentativas para clarificar de que modo essa consciência pode chegar a alguma espécie de contato com um objeto. Na década década de 30, 30, de depo pois is qu quee os nazist nazistas as o retira retiraram ram de seu seu po posto sto na Umve Umversi rsity ty of Fre Frei burg burg,, o qu qual al foi foi então então assu assum mido ido por Heide eidegg gger er,, Hu Husse sserl rl ch cheg egou ou a uma uma form formul ulaç ação ão (19 (1970) semelhante à de “mundo”, que Heidegger havia estabelecido anteriormente, nos anos 20: o conceito de Le de Lebe Tanto Husserl como Heidegger (1962), assim como os fenomenologis bens nswe welt. lt. Tanto tas posteriores, descobriram que a experiência do “mundo” é o horizonte para qualquer expe riência particular. Além disso, descobriram, em primeiro lugar, que o horizonte do mundo é, na experiência comum, implícito e difícil de formular e, em segundo lugar, que o horizonte do mundo é, não apenas essencial, mas está fundamentalmente presente em qualquer percepção. Nunc Nuncaa perc perceb ebem emos os um um ob obje jeto to no no vác vácuo uo,, mas mas unic unicam amen ente te atra atravé véss de uma uma orien orientaç tação ão qu quee exi exibbe as dimensões de nosso “ mundo vivido” vivido” , mesmo mesmo que os meandros do próprio mundo vivido vivido sejam tão sutis que o tomem praticamente invisível em nossa abordagem usual da experiência. Para uma boa exposição histórica de toda esta situação, veja H. Spiegelberg (I960). Conceitualmente, somos tentados a perguntar se este “mundo vivido” é o mundo objetivo, que existe quer existamos ou não, ou o mundo subjetivo, que é totalmente relativo à nossa apreensão pessoal. Tal escolha parece uma opção forçada, dentro de nossas formas tradicio nais de pensar; este “mundo” deve ser objetivo ou subjetivo, ou ambos. Os ambos. Os fenomenologistas tentam romper com a tradição que força tal escolha e procuram falar sobre “o mundo” como sendo tão objetivo quanto subjetivo — e como não sendo nem objetivo, nem subjetivo. O mundo, para o qual o comportamento está dirigido, e dentro do qual deve ser compreen dido, não é um mundo subjetivo. Quando vejo vejo você atirando atirando um dardo num alvo, você não está visando a um alvo subjetivo; está subjetivo; está visando ao alvo que existe para nós dois, a doze pés de distância de você, e a vinte de mim. Porém ele não é, também, um alvo meramente objetivo, poi poiss de de meu meu ân ângu gulo lo co conv nvida ida a arrem arremess essar ar de de certa certa man manei eira ra,, com com um uma certa certa incl inclin inaç ação ão e força força,,
112
NOTAS
dentro de você; pelo contrário, é uma estrutura de mundo que fornece ao alvo, ao dardo e à atividade uma certa significação e coloração, características de seu ser-no-mundo particular. Se desejo compreender as nuanças de seu arremesso de dardo ou sua relação com uma ter ceira pessoa, tenho de entender seu mundo na estrutura dele próprio, seu ser-no-mundo. Se quero compreender o comportamento de um rato faminto num labirinto, devo entender o mundo do rato; a forme não é tanto um “motivo” dirigindo-o do interior, mas sim uma estru tura de mundo particular ou maneira de ser-no-mundo. Ver L. Binswanger (l958a), E. Straus (1963) e Merleau-Ponty (1964c) para discussões relevantes relativas aos animais. Este conceit conceitoo de “mundo” “ mundo” é semelhante ao de K. Koffka (193 (1935), 5), um um psicólogo da Gestalt, que o chamou chamou “ meio meio comportamental” comportamental ” , enquanto enquanto oposto ao “ meio meio geográfico” geográfico” . O meio meio com porta portame ment ntal al é o mei meioo do po ponto nto de de vista vista do do org organ anism ismoo que que se com compo porta, rta, e o me meio ge geog ográ ráfi fico co é o meio do ponto de vista de um observador externo neutro. Obviamente, o primeiro é mais importamente para entender o comportamento. Como afirma Koffka, “apenas aqueles movi mentos do organismo que ocorrem num meio comportamental devem ser chamados compor tamento” (p. 32). Ou melhor, movimentos que não estão orientados por um mundo percebido, tais como o fato de ser movido pelas ondas quando se nada no mar ou de ser levado pelo vento, não são absolutamente Comportamento. De modo geral, os positivistas poderiam argumentar que nunca podemos saber qual é o mundo percebido ou meio comportamental, pois este é privado e subjetivo. Devemos, por tanto, construir nossa ciência com base no mundo real, no meio geográfico, que é público e objetivo. Poderíamos, na verdade, lançar a crítica oposta a esta distinção. Nunca podemos saber qual é o mundo real, o meio geográfico. A perspectiva “neutra” a partir da qual atingi mos o meio geográfico, o mundo real, não é realmente neutra. É parte de nossa perspectiva científica ou coletiva. Embora isto possa ser diferente do “mundo” fenomenológico ou do meio comportamental, a significação significação da distinção muda, de uma diferença entre “ subjetivo” e “fantástico” versus “objetivo” e “real”, para uma distinção entre perspectivas diferentes. É reduzido, reduzido, portan portanto, to, a uma distinção distinção entre entre privado e público. Argumentaremos no Cap. 10 que os mundos mundos “subj “ subjeti etivos” vos” são profundamente compartilhados e no Cap. 7, 7, nota 3, 3, que a priva cidade da experiência tendeu a ser superenfatizada pelas tradições filosóficas anglo-americanas. 80 termo “ suposição” suposição” pode ser ser enganador, enganador, se tomado tomado apenas no sentido cognitivo. cognitivo. Qu Quem em-eu-sou-no-mundo é, claramente, uma questão de meu ser, e não apenas de minha cognição. Veja também o Cap. 8, nota 2. 9Uma maneira de apreciar a influência profundamente integradora do mundo, na qualidade de contexto para nossa experiência,é experienciar seu desaparecimento. Algumas reações a dro gas e crises crises psicótica psicóticass podem fornecer fornecer esta est a experiência experiência (Keen, 1970, Cap. 12) e podemos podemos ocasionalmente experienciar o enfraquecimento desta influência integradora quando contem plam plamos os as as estrelas, estrelas, o espaç espaçoo cósm cósmico ico,, o tempo tempo cós cósm mico, ico, e assim assim por por dian diante. te. 10A metáfora metáfora do “ desempenho desempenho”” , assim como outros outros termos operan operantes tes usados no texto texto (ence nação, representação, representação de papel, interpretação), tem um certo sabor voluntarístico que sugere — embora certamente não solucione — temas filosóficos profundos, comple xos demais para serem abordados aqui. Estas metáforas dramatúrgicas foram introduzidas em psic psicol olog ogia ia por Erv Ervin ingg Gof Goffm fman an (1959) e ampl amplia iada dass por por Eric Eric Bem Bemee (19 (1964) e B. B. M. M. Bragi ragins nski ki,, D. D. D. Braginski e K. Ring (1969). Eles focalizam a importância relativa da motivação constrange dora ou sincera, versus desempenho de um papel, texto, parte, mito e assim por diante. Sus tentam, pois, a noção de que o comportamento humano nunca é motivado de forma simples ou única, fato que toma o trabalho fenomenológico sobre este aspecto muito mais urgente. “ Outra formulação formulação desta visão do comportamento comportamento em geral seria caracteri caract erizar zar o comporta comporta mento como referencial. O comportamento se refere a algo além dele mesmo. Há dois senti dos nos quais esta afirmação é verdadeira. Em primeiro lugar, do ponto de vista da pessoa que
CAPÍTULO 2
113
cerrado de John significa que significa que ele está com raiva. O comportamento aponta para a raiva. No fim, estas duas referências do referências do mesmo comportamento se fundem numa única. Quando inter preta pretamo moss o compo comporta rtam men ento to com como uma uma expres expressã sãoo de raiv raiva, a, sim simultan ultanea eam men ente te interp interpret retam amos os a raiva como uma resposta a algum aspecto enfurecedor do mundo. Esta espécie de interpreta ção surge automaticamente na vida diária. Na qualidade de fenomenologistas, aspiramos a torná-la explícita e rigorosa. Naturalmente, os dois estágios de nossa interpretação (que ö punh punhoo cerrado cerrado sign signific ificaa prim primeira eiram men ente te raiva raiva e que que a raiva raiva se deve deve a tal tal ou qual qual coisa) isa) estão estão sujeitos a erro, mas não somos impotentes para percebê-lo. A questão das interpretações errôneas será retomada no Cap. 3. É bom lembrar também que A. Schütz (1967) chama nossa atenção para a ambigüidade prese presente nte no no fato fato de de chama chamarr um um ato ato de de “exp “ expressã ressão” o”.. Alg Algun unss atos atos preten pretende dem m com comun unic icar ar algo lgo a outras pessoas; outros comunicam sem que o ator pretenda fazê-lo; outros ainda não preten dem comunicar e não o fazem. Estas distinções são importantes numa análise fenomenológica partic particula ular, r, mas mas não não afet afetam am a form formul ulaç ação ão qu quee apres apresen entam tamos os aqui aqui.. Ve Verr tam també bém m o Cap Cap.. 9. 12O tema dos motivos e do comportamento inconscientes está sujeito a surgir em qualquer psic psicol olog ogia ia que que tom tome a ex expe periê riênc ncia ia consci conscien ente te co com mo po ponto nto de pa partid rtida. a. Por Por certo, certo, os ev even ento toss para os qu quai aiss tanto tanto Iva Ivann Pav Pavlo lovv co com mo Sig Sigm mund Fre Freud ud dirig irigeem no noss ssaa aten atençã çãoo são são impo importa rtant ntes es e devem ser reconhecidos e tomados em consideração. O evento pavloviano é discutido de modo mais conveniente no Cap. 7 e o evento freudiano no Cap. 8. Por agora, deixem-me acrescentar alguma coisa ao que aparece no texto. A “resposta condicionada”, que ocorre sem a intervenção da consciência, e o “desejo inconsciente”, que nos motiva sob formas que não conhecemos, podem não ser eventos inteiramente diferentes, embora os rótulos e as teo rias a partir dos quais são observados nos ofereçam, na verdade, interpretações muito distin tas. Há uma diferença adicional adicional quanto à dimensão: dimensão: uma resposta resposta condicionada é uma unidad unidadee de análise muito pequena, uma parte específica do comportamento que é segregada de seu contexto de vida e estudada por si mesma, enquanto que um desejo inconsciente nos engaja numa teoria da orientação total de alguém quanto à vida, através da história de vida desse alguém. alguém. Mas Mas a similaridade destes destes dois pontos de vista aparece aparece a parti partirr de de um um ponto de vista fenomenológico. Em cada instância, uma ação é perpetrada no contexto de algum estímulo ou situação significativa. O fato de que a significação não seja clara não toma sem significação a ação ou o estímulo. A tarefa consiste em descobrir a significação. Pavlov e Freud tentaram fazê-lo em suas teorias sobre a significação, a origem da mesma e o modo pelo qual ela opera em nossas vidas. As duas teorias são muito diferentes, mas possuem uma maquinaria concei tuai em comum, a qual opera fora opera fora da da experiência consciente. É fácil ver esta ação crucial na experiência, mas para o fazer devemos ver a experiência como horizontal, isto é, como apon tando para além de seu foco específico de ateúção, para seus panos de fundo ou horizontes, os quais são trazidos para o foco explícito unicamente por meio do trabalho fenomenológico. Estes horizontes são uma parte da experiência no sentido de que é a sua presença o que toma a experiência o que ela é. O fato de que alguns destes horizontes não sejam explicitamente conscientes se toma pouco surpreendente se percebermos a experiência em seu caráter de possui possuirr múl múlti tipl plas as cam camad adas as e sig signi nifi fica caçõ ções es.. O fato fato de de que que seja seja difíc ifícil il perce perceber ber clar claram amen ente te alg alguu mas das camadas não é surpreendente para qualquer pessoa que tenha tentado desenvolver um trabalho fenomenológico. Sobre todo este problema, veja também W. Fischer (1971) F. H. Lapointe (1971) e diversos artigos em A. E. Kuenzli (1959). Em 1940, Wolfgang Köhler desenvolveu todo este tema da seguinte maneira: A experiência humana comum, sozinha, não é um material com o qual se possa construir uma ciência da psicologia. Técnicas indiretas revelam muitas relações funcionais que determinam os conteúdos e o curso dos eventos mentais. Estes fatos de dependência funcional freqüentemente estão fora do âmbito da consciência imediata; e parece importante perceber que mesmo a ocorrência de relações experienciadas e compreensíveis na vida emocional e no pensamento está relacionada a fatores que, do mesmo modo, só são acessíveis indiretamente. Não é exagero, creio eu, dizer que qualquer investigação
114
NOTAS
ção repousa numa distinção entre métodos “diretos” (como na fenomenologia) e métodos “ indiretos” . Os Os primeiros primeiros são destinados à investigaç investigação ão da experiência, os últimos à investi gação de fatores que não são dados na experiência — o germe que faz minha cabeça doer, a lembrança esquecida que me faz odiar meu patrão, e assim por diante. Assim como no caso do germe e de outros fatores físicos, incluindo meu organismo fisioló gico em geral, algo totalmente remoto quanto à minha consciência dá forma e condiciona minha experiência, e deve ser considerado temeum dos fatores causais que lhe estão subja centes. Tais relações funcionais constituem uma parte da psicologia e não são acessíveis à investigação fenomenológica. Mas sua relevância para relevância para o comportamento é acessível à investi gação fenomenológica, se é que afetam de algum modo a experiência. Exceto no caso do pequ pequen enoo nú núm mero ero de tipo tiposs de compo comporta rtam men ento to totalm totalmen ente te au autom tomáti ático cos, s, co com mo os refl reflex exos os,, tais tais relações funcionais sempre afetam, na verdade, a experiência. O exemplo da lembrança esquecida é menos claro, pois a lembrança “esquecida” não é realmente esquecida. Sua presença não é explícita; sua presença se mostra apenas como hori zonte de significação em minha experiência de meu patrão. Mas dizer que não pode ser explo rada diretamente é limitar a exploração direta à consciência focal e excluir antes do tempo uma exploração dos horizontes. 13A neurose e a hipocrisia têm alguma coisa desta espécie em comum. Suponha que Mary ache desagradáveis as arremetidas sexuais do marido, mas ao invés de lhe dizer isso ou tentar encontrar, com ele, uma maneira pela qual possa ser menos repulsivo, simula fadiga, doença e dor para excusar-se da obrigação de expressar amor sexualmente. Eventualmente, chega mesmo a se sentir cansada cansada e doente e sofre padecimentos e dores quando ele inicia seus avanços. O fato de chamar este comportamento de neurótico ou hipócrita hipócrita depende de nos colocarmos numa postura de diagnóstico ou de julgamento. Na realid realidad ade, e, estes estes dois dois rótul rótulos os são são a mesm esma coisa coisa;; a lingu linguag agem em diag diagno nost stic icaa é freqüen freqüente te mente, se não sempre, um veículo indireto e disfarçado para julgamentos de valor (Keen, 1972; Szasz, 1970)._De fato, quando os apreciamos fenomenologicamente, o comportamento sujeito a diagnóstico é muito semelhante ao de Mary. Mary sente algo, mas como as normas de casamento não permitem que se expresse abertamente, diz outra coisa, e, eventualmente chega a crer no que diz em lugar daquilo que sentia originalmente. Da mesma forma, a socie dade condena e sente repulsa por aquelas pessoas que são suficientemente diferentes, mas, como as normas de nossa cultura não nos permitem, em geral, expressar abertamente estes sentimentos (espera-se que tenhamos simpatia pelos mentalmente enfermos), dizemos coleti vamente outra coisa" (ou pedimos aos médicos que o digam) e eventualmente chegamos a acreditar no que dizemos em lugar daquilo que originalmente sentíamos. Em ambas as situa ções, perde-se a clareza entre as pessoas. Tal processo é tão comum, a nível individual e social, que deveria ter sido mencionado anteriormente. Na verdade, essa é a melhor interpre tação para aquilo que Freud chamou de “motivos inconscientes” — um conceito que, quando visto sob esta perspectiva, não é contraditório com uma análise fenomenológica. CAPÍTULO 3 'Este aspecto não tem sido particularmente importante na psicologia americana tradicional, porq porque ue gran grande de parte parte dessa dessa psic psicol olog ogia ia ag agee co com mo se se as pessoas não fossem pessoas, e sim objetos que podem ser estudados com os mesmos métodos que um físico emprega ao abordar a natureza. As rotinas da física foram, de fato, quase que identificadas com a própria ciência. O método interpretativo de Sigmund Freud e o “humanismo” americano, conforme praticado por Gordo ordonn Allp Allpor ort,t, Abr Abrah aham am Maslo aslow w, Carl Carl Rog Roger ers, s, Rol Rollo lo May e outro outros, s, forn fornec ecem em uma uma vis visão ão alternativa, na verdade uma tradição alternativa em psicologia. A. Giorgi (1970a) sumariza esta tradição e também argumenta que a mudança de nossos métodos, dos da física para os da
CAPÍTULO 3
115 115
comum, e a polarização tende a conduzir os profissionais de cada uma delas a rejeitar um importante campo comum. No entanto, esta questão metodológica pode ser comparada à questão científica tradicional: como podemos evitar tendenciosidades subjetivas e chegar à verdade objetiva? Podemos abordar a situação como sendo do tipo em que quanto mais aber tos estivermos, como cientistas, aos fenômenos em sua unicidade e seus diversos níveis de significação, menos certos ficaremos de nossas conclusões. Por outro lado, quanto mais con vencidos ficarmos de nossas conclusões, mais teremos de focalizar significações específicas e mensuráveis dos fenômenos com exclusão de todos os outros. Os diferentes objetivos — apreciação de significação de múltiplas camadas e descoberta da verdade objetiva — têm como campo comum o fato de desejarmos ver COm Clareza, Clareza, no en tanto, se é mais importante definir com clareza em termos de significação de múltiplas cama das ou em termos de verdade objetiva — esta é a questão. Devemos escolher a verdade objetiva, mesmo se esta violar a significação de múltiplas camadas, ou a significação de múlti plas plas cama camada das, s, mesm esmo se esta viol violar ar a verd verdad adee objeti objetiva va?? Para Para quem quem a verda verdade de objet objetiv ivaa é im im porta portante nte?? Há relev relevân ância cia no no fato dela dela ser sign signific ificat ativ iva? a? Para Para quem quem a sig signific nificaç ação ão de de mú múltipl ltiplas as camadas é importante? Importa se ela é objetivamente verdadeira? Com que propósitos visa mos à verdade objetiva? Com que propósitos aspiramos à significação de múltiplas camadas? Quais destes propósitos são o nossO propósito? nossO propósito? Estas questões não parecem conduzir a uma decisão categórica entre a fenomenologia e a ciência natural, ao menos neste estágio de nossa discussão. 3Para um argumento persuasivo que sustenta esta alegação, veja Wolfgang Köhler (1947) e F. From (1971). Köhler também oferece (no Cap. 7 de seu livro), uma explicação interessante deste fenômeno. Argumenta, de acordo com os princípios da psicologia da Gestalt, que há um isomorfismo natural entre “desenvolvimento dinâmico na experiência subjetiva” e “formas de comportamento comportamento percebi percebido” do” (p. 136). Também Também apresenta apresent a muitos muitos exemplos similares em seu estudo dos chimpanzés (1925). Embora sua explicação (“isomorfismo”) esteja sujeita a um sério questionamento, o fato de que leve o fenômeno suficientemente a sério para tentar explicá-lo constitui uma contribuição substancial à psicologia. 4Martin Heidegger formulou este aspecto da seguinte maneira: “conhecer é uma espécie de ser que é parte do Ser-no-mundo” (1962, p. 88). 5Observe que esta definição de erro não erro não é a comum — inclusão de tendenciosidade subjetiva — mas é, ao contrár contrário, io, estabe estabelec lecida ida co com mo falta falta de clare clareza za quan quanto to a essa “ tende tendenc ncios iosida idade de”” . Como “não há conhecimento isento de perspectiva” (proposição com a qual a maior parte dos cientistas concorda), como podemos purificar o conhecimento de perspectiva e tendenciosi dade? Se isso é impossível, o que se toma, neste caso, a aspiração à verdade objetiva? Toda via, a inclusão de uma perspectiva em todo conhecimento não exclui a Compreensão mútua. Compreensão mútua. Uma vez que as pessoas se compreendam mutuamente, podem também concordar que cada uma delas possui parte da verdade e que nenhuma delas possui toda a verdade. A inclusão da persp perspect ectiva iva só ex excl clui ui o acord acordoo se alg algué uém m aleg alegaa qu quee a sua sua perspectiva é melhor que a de qualquer outro. 6A comunalidade de nosso mundo não é apenas o resultado de nossas experiências comparti lhadas. Também é o campo ou base desse compartilhar. O mundo comum está aí em primeiro lugar; nossa partil partilha ha é seu fruto, em vez do oposto. Este tema tema é abordado no Cap. Cap. 10. 7Esta linha de pensamento e aquela abordada na nota 5 tendem a sugerir que a perseguição da verdade objetiva quase não vale a pena se, de algum modo, implica alguma perda em termos de significação. Mas há, na verdade, um outro lado. Embora todo conhecimento envolva perspe perspecti ctiva va,, há uma uma pers perspe pectiv ctivaa qu quee não não só só po pode de ser Compreendida por Compreendida por outros, como também exatamente Compartilhada Compartilhada por por outros. Isto é, há uma maneira de fazer psicologia na qual não apenas falo a vocês sobre a Sra. Smith a partir de meu ponto de vista, como também descrevo esse ponto de vista — de modo que você tanto pode Compreendê-lo como Compreendê-lo como reproduzi-lo. reproduzi-lo. Esta
116
NOTAS
gicos: o testador deixa o próprio teste, que pode ser usado por qualquer pessoa treinada para fazê-lo, realizar a apreensão essencial. O próprio testador meramente relata os resultados. Não Não temos temos,, portanto, portanto, conhe conhecim cimen ento to liv livre re de de pers perspec pectiv tiva, a, pois pois o teste teste é uma uma perspectiva, mas não possuímos apenas um conhecimento meramente pessoal, inverificável, idiossincrático. Talvez este ganho valha a pena, valha mesmo a pena o bastante para sacrificar algumas das camadas de significação que estão envolvidas no programa fenomenológico. Talvez saiamos ganhando em conhecer relativamente pouco sobre a Sra. Smith (por exemplo, podemos não saber o quanto ela está cronicamente raivosa) se pudermos saber o que sabemos com certeza; talvez o sacrifício de uma compreensão mais profunda dela enquanto ser-no-mundo seja vá lido, na medida em que possamos ganhar um grau de certeza que não pode ser atingido atra vés de uma abordagem baseada na esperança de que você seja capaz de ver a Sra. Smith com clareza apenas se eu o fizer e descrever minha perspectiva de modo suficientemente profundo. Nossa Nossa visã visãoo deste deste assun assunto to depen depende de clara claram men ente te daqui daquilo lo a que se destina destina o conhecimento. Se quero prescrever medicamentos psiquiátricos à Sra. Smith, é importante saber se devo ou não receitar tranqüilizantes. Estou disposto a sacrificar muitas nuanças acerca daquilo que os acontecimentos significam para ela e de como ela é-no-mundo, desde que saiba o que preciso saber para prescrever a medicação. Por outro lado, se estou tentando conduzi-la a uma melhor compreensão de si própria, então o índice de raiva que emerge de um teste psicológico é relativamente sem significação fora do contexto da maneira pela qual ela é-no-mundo, mesmo que eu esteja relativamente seguro quanto a esse índice e outros semelhantes. Consideradas desta maneira, as perguntas da nota 2 ficam reduzidas à alternativa entre querermos conhecer a Sra. Smith porque desejamos modificá-la através de alguma espécie de tratamento do tipo drogas (o assim chamado modelo médico) ou porque queremos conduzi-la a uma compreensão de si própria. Este tema complexo foi abordado em outro trabalho (Keen, 1972). Veja também o Cap. 6, nota 1. *A redução fenomenológica foi estabelecida na qualidade de estratégia metodológica por Ed mund Husserl (1958, pp. 31-32, pa 31-32, passim ssim). ). Uma Uma explanação particularmente lúcida é oferecida por R. R. M. Zaner Zaner (1 (1970). Mau auri rice ce Mer Merle leau au-P -Pon onty ty (19 (1962) comen comento tou: u: “ A liçã liçãoo mais mais impo import rtan ante te que a redução nos ensina é a impossibilidade de uma redução completa” (p. xiv). Na verdade, a não ser que aceitemos o idealismo de Husserl, parece que Merleau-Ponty está .certo. Ele pros prosse segu guee com comen entan tando do:: ... a reflexão radical conduz a uma consciência de sua própria dependência de uma vida irrefletida que constitui sua situação inicial, imutável, dada de uma vez por todas. Longe de ser, como tem sido afirmado, um procedimento da filosofia idealista, a redução fenomenológica pertence à filosofia exis tencial; o ser-no-mundo de Martin Heidegger só surge contra o último plano da redução fenomenoló gica (p. xiv).
Os psicólogos modernos certamente concordariam que não nos podemos purificar totalmente de nossas preconcepções; logo, estamos obrigados a examiná-las como horizontes de nossa próp própria ria exp exper eriê iênc ncia. ia. Em noss nossaa consi conside dera raçã çãoo da red reduç ução ão feno fenom men enol ológ ógic ica, a, não ana anali lisa sam mos este este pont pontoo com com muita uita prof profun undi dida dade de,, mas pod podem emos os desc descob obrir rir na reali realiza zaçã çãoo da redu reduçã çãoo feno fenom men enol oló ó gica que a “sign “ significaçã ificaçãoo inerente” inerent e” não está “ lá fora” fora” mas, ao contrário, no fenômeno, fenômeno, o que requer, para o seu eventual aparecimento, o nosso próprio ser-no-mundo. Para uma excelente descrição do processo de exame de nossos próprios horizontes, uma descrição que toma vivido o vigor e o esforço extraordinários envolvidos em tal processo, veja A. Esterson (1972). A Parte I do livro de Esterson é uma análise de uma família com uma filha esquizofrênica. Esta análise esclarece as possibilidades inerentes à análise fenomenoló gica e o modo como ela aperfeiçoa o pensamento psiquiátrico tradicional. A Parte II é uma descrição de seu método método fenomenológic fenomenológico, o, na qualidade de “dialético “ dialético”” . Este termo se refere tanto à natureza interpessoal do conhecimento (que emerge do diálogo) como também a uma oscilação sistemática (para usar u sar a adequada adequada expressão de Radnitzky, 1970) entre a imersão imersão
CAPÍTULO 4
117
modo ultrapassando este problema. Como uma abordagem fenomenológica contém uma série de suposições, ela encobre, assim como revela. Enquanto as ciências naturais, procurando excluir o erro e se aproximar da verdade tanto quanto possível, desenvolveram técnicas elabo radas para aumentar a certeza, a fenomenologia, visando a minimizar os limites da perspec tiva, desenvolveu técnicas elaboradas para completar nossa visão das várias camadas de signi ficação. 10Esta afirmação é enganadora, se tomada como implicando em que todos começamos num estado de consciência privada e compartilhamos partículas e pedaços apenas de vez em obtida pelos quando. No Cap. 10 deveremos deveremos frisar frisar que a comunalidade do mundo é dada, não obtida pelos seres humanos; está sempre presente, mesmo através de culturas radicalmente diferentes. Conhecemos a Sra. Smith e sua perspectiva porque todos somos seres-no-mundo. Nossa co munalidade anterior com ela é tão impressionante, na qualidade de dado, quanto nossas dife renças. Nossa compreensão da unicidade da Sra. Smith é sempre uma variante de nossa com pree preens nsão ão de nós nós mes mesm mos e das das pesso pessoas as em ge gera rall com como seres seres-n -noo-m mun undo do.. CAPÍTULO 4 !Para uma consideração definitiva desta situação histórica, ver J. J. Kockelmans (1971) e especialmente H. Spiegelberg (1960, 1972). 2Um rápido levantamento do trabalho fenomenológico que tem sido feito na psicologia pode Journal al of o f Pheno Phenome meno nolo logic gical al Psych Psychoo ser obtido através de relativamente poucas fontes. O Journ logy, publicado logy, publicado na Duquesne University, tem apenas poucos anos de existência. Outras cole tâneas representativas são as de A. Giorgi, W. Fischer e R. Von Eckartsberg (1971), E. Straus (1964, (1964, 19 1966 66),), M. Nata Natanso nsonn (1973 (1973)) e Spiegelberg Spiegelberg (1972 (1972).). Uma colet col etân ânea ea mais antiga antiga é a de A. A. E. Kuenzli (1959). Esta lista não leva em conta a literatura filosófica (o trabalho de MerleauPonty, 1962, 1964b, 1964c, é bastante psicológico) ou a volumosa literatura européia, da qual algumas traduções estão incluídas em R. May, E. Angel e H. Ellenberger (1958). J. Lyons (1961) nos oferece uma útil bibliografia comentada de outras fontes dispersas aqui e ali. sempre redutivo, consiste num 3Saber se o fato de pôr ou não ênfase nos aspectos comuns é sempre prob proble lema ma filo filosó sófi fico co dif difíc ícil il,, co com mplic plicad adoo demai demaiss pa para ra discu discutir tir aqu aqui.i. O próp próprio rio Edm Edmun undd Husse usserl rl prov provav avel elm men ente te disc discut utiria iria comigo igo sobr sobree minh minhaa man manei eira ra de de abor abordá dá-lo -lo no no texto. texto. 4Esta linha de pensamento implica que sempre interpretamos eventos únicos, singulares, antes ou durante o processo de comparação e que devemos interpretá-los da melhor maneira possí vel. Com relação a este ponto, pode ainda ser questionado o porquê de nosso desejo de compreender um evento em sua unicidade. Na verdade, a ciência preditiva depende de evennãoo sejam únicos; sua finalidade é estabelecer generalizações sob as quais possamos tos que nã classificar um evento único, a fim de o compreender. Tal compreensão parece ser suficiente, mesmo que a unicidade do acontecimento seja perdida. Nov Novam amen ente te estam estamos os aq aqui ui lança lançado doss na qu ques estão tão de a qu quee se destina destina o conhecimento ou compreensão, o que levanta o problema de nossos propósitos — a natureza de nosso nosso estilo enquanto cientistas ou psicólogos, em primeiro lugar. Tais questões são pessoais e morais, antes que psicológicas, e não são consideradas comumente como estando incluídas na provín se. cia da psicologia, per psicologia, per se. Vale a pena assinalar, entretanto, que quando o psicólogo se dedica às vidas das pessoas, mesmo para modificá-las, é difícil evitar a questão moral — talvez para a disciplina como disciplina, assim como para seus práticos individuais. O argumento moral de que a psicologia tem a obrigação de compreender alguns eventos em sua unicidade, tal como o caso de um determinado paciente, pode ser estabelecido com base nas tradições morais ocidentais que todos, provavelmente, subscrevemos (a integridade e dignidade do indivíduo, por exemplo).
118
NOTAS Sempre que um fenômeno aparece, o faz dentro de um certo horizonte ou contexto, e o horizonte dado impiicitamente com o fenômeno não é irrelevante para a compreensão do fenômeno. Pelo con trário, o horizonte é essencial para a compreensão do fenômeno porque o papel que este desempenha dentro do contexto, mesmo que seja reconhecido apenas implicitamente, é um dos determinantes da significação do fenômeno. (Gerwitsch, 1964). (1971, pp. 41-42).
Mais especificamente, podemos podemos reduzir dados de entrevista a “ unidades intencionais” , que que são aspectos autodeflnidos, autodelimitados, da experiência do sujeito. T. F. Cloonan (1971) usou este método na investigação da tomada de decisão. 6Podemos perguntar qual o valor de tal descoberta. Por que os psicólogos despendem tempo e esforço para chegar a tais descrições? À parte o valor que podemos atribuir às mesmas em virtude de sua semelhança com a arte, tais descrições são críticas para as suposições teóricas da psicologia, como aquela da relação entre corpo e mente. E. L. Stevick (1971) afirma: Como indica Schächter, a excitação fisiológica e uma certa situação são componentes essenciais da emoção. No entanto, este estudo revela que tanto a consciência da situação como o papel da excitação fisiológica são bem diferentes das conclusões de Schächter. Em virtude de suas pressuposi ções filosóficas, o corpo é, para Schächter, um mero organismo fisiológico; ele aceita o fato de que tal corpo está excitado na emoção porque tem evidências experimentais para prová-lo. Seus estudos utilizam drogas para assegurar a presença desta excitação; ele ignora ou exclui que, na emoção, a excitação é auto-iniciada, e assim passa por cima, completamente, da questão crucial — como o corpo fica excitado? Supondo uma separação corpo/mente, Schächter identifica consciência com re flexão e pensamento. Portanto, interpreta as respostas de seus sujeitos à situação de raiva ou euforia na qualidade de cognições. Este estudo revela, entretanto, que a emoção é uma resposta de uma pessoa em seu todo a uma situação que é vivida antes de ser refletida, e a excitação fisiológica é parte da maneira na qual o sujeito vivência a emoção; a excitação é o modo afetivo do corpo. Na raiva, a excitação é algo que empurra empurra o sujeito para fora, num comportament comportamentoo explosiv exp losivo, o, expans ex pansivo ivo (p. 14 145). 5).
Veja também o Cap. 7, nota 8. Este trecho de Stevick é de de Du Duqu quesn esnee Studie Studiess in PhenOmenolOg lOgiCa iCal Psyc Psycho holo logy gy:: Volum Volumee /, por A. A. Giorg iorgii et al, e é repr reprod oduz uzido ido com com per perm missã issãoo de Hum Human aniti ities es Press Press,, Inc., Inc., New Yor York. k. 7A questão não respondida mais importante que ocorrerá ao leitor crítico é, quase certamente, a da verificação. Fizemos Fizemos repetidamente referência à idéia de que que o julgamento dos desacor dos entre intérpretes deve ter lugar no tribunal da experiência vivida. Mas experiência vividade de quem? Se quem? Se o investigador A diz X e o investigador B diz Y ao interpretar um aconte cimento e se ambos estão descrevendo acuradamente as próprias experiências, como, neste caso, eu e você poderemos decidir.se X ou Y é a verdade? Estaremos novamente limitados às disputas pré-behavioristas, como aquela entre W. Wundt e F. Brentano, sem dispor de forma alguma para fazer qualquer progresso? Esta pergunta impõe uma pergunta anterior: Por que, em primeiro lugar, quereríamos rotu lar X como “verdadeiro” e Y como “falso”? X é verdadeiro para A e Y, para B. O que é verdadeiro para mim e para você? Porém esta linha de pensamento parece tomar o caráter persp perspec ectiv tivoo tão tão a séri sérioo qu quee o reduz reduz a um puro puro relat relativ ivis ism mo; se tal tal relat relativ ivis ism mo radic radical al é da dado do,, fica difícil ver por que deveria eu me importar com o fato de seguir o trabalho de A e B ou por que eles os publicaram. Esta conclusão lógica é verdadeira por algum tempo, mas não é descritiva do que normal mente acontece. A e B provavelmente não diferem de forma absoluta. Provavelmente pos suem uma boa margem de superposição. Minha descrição da empatia conforme esta aparece em minha experiência não é diferente da de M. Lauffer. Ela vê a empatia a partir de um ângulo, eu a partir de outro, você de um outro ainda, mas todos vemos a mesma coisa. Ne nhum de nós está totalmente errado. Podemos aprender uns com os outros a apreciar a empa tia, a raiva, ou a tomada de decisão de várias perspectivas e, assim, enriquecer a nossa pró pria pria.. Este Este concei conceito to de conhe conhecim cimen ento to é dife difere rent nte, e, por certo, certo, da noçã noçãoo de “ ve verda rdade de objeti objetiva” va”,, na qual a questão da verificação surge em primeiro lugar. Talvez seja um conceito de conhe
CAPÍTULO 5
119 119
Esta linha de pensamento conduz, naturalmente, a uma noção bem diferente quanto àquilo que a psicologia, como uma disciplina, pode ser. J. Lyons (1970) explica detalhadamente al guma coisa quanto a esta noção (assim como outros autores) quando descreve a relação entre um pesquisador psicológico e seu sujeito na qualidade de uma relação cooperativa, em lugar da forma usual usual de “ observador-observado” . Os dados dados da psicologia se podem podem tomar tomar um “conjunto de percepções informadas que são apropriadas para o nível diário de compreensão em comunidade” em lugar de descobertas altamente técnicas, incompreensíveis e esotéricas de uma pseudofísica instrumental elaborada. Lyons assinala que “o conjunto de percepções informadas mais útil e esclarecedor tem sido aquele dos vultos literários de talento da nossa cultura” cul tura” . Aconteceu Aconteceu na história da psicologia psicologia que os psicólog psicólogos os tentassem tentassem adaptar adaptar os métodos métodos da física ao estudo das pessoas, fazendo as mudanças necessárias em virtude da mudança de tema, mas preservando o antigo conceito de rigor. Não é evidente qualquer motivo pelo qual, a não ser por acidente histórico, os psicólogos não possam adaptar os métodos da literatura ao estudo das pessoas, fazendo as mudanças necessárias para atingir algum grau de rigor, mas prese preserv rvan ando do o antig antigoo conce conceito ito de articu articulaç lação ão do do serser-no no-m -mun undo do ddas as pesso pessoas. as. Um conj conjun unto to de “próximos passos” menos visionário e algo mais concreto para a pesquisa fenomenológica psic psicoológi lógica ca é suge sugeri riddo por por Gio Giorg rgii (19 (1970b). CAPÍTULO 5 ‘O tema do imperialismo cultural é, e tem sido sempre, um problema nas ciências sociais. Nossa Nossa histó história ria cultu cultura rall está pe perm rmea eada da de exem exemplos plos de co com mo, em nossa nossa própri própriaa pe perc rcep epçã ção, o, estamos amplamente inconscientes quanto a seus fundamentos, que vão de antigas noções de “ responsabilidade responsabilidade do homem homem branco” bra nco” (ver Van der Post, 1955, para uma consideraçã consideraçãoo parti cularmente sensível), passando pelos antropólogos evolucionistas (ver Hofstadter, 1944), a práti prática cass co conte ntem mpo porâ râne neas as de saúd saúdee men enta tall (ver (ver Szas Szasz, z, 1970). O ex exem empl ploo mais ais vivid ividoo de desta sta espécie de percepção culturalmente imperialística pode ser encontrada nas justificativas ofi ciais para a guerra, principalmente para a guerra do Vietnã. Aqueles que viram a obrigação americana de salvar o Vietnã do Sul do Vietnã do Norte não foram cruéis em qualquer sentido simples; não sabiam o que ou como estavam vendo. Nosso tratamento imperialístico daquelas minorias que têm (ou tinham) culturas viáveis (como os índios americanos) não é uma exceção na história do homem. O estudo de E. Pavenstedt é motivado pelos sentimentos mais nobres, tais como o desejo de eliminar o sofrimento psicológico da pobreza, mas suas percepções são, também, imperialísticas. Também seu trabalho não é uma exceção na história das ciências sociais. É válido acrescentar que a fenomenologia não tem o interesse exclusivo de evitar imperia lismo cultural, nem a virtude exclusiva de evitá-lo. Toda ciência deve fazer esta tentativa, e ouvi falar de (mas não vi) estudos fenomenológicos alemães sobre os judeus na década de 30 que são pecadores primários a este respeito. É pena que estes estudos não tenham sido tradu zidos para que pudéssemos discriminar, com sua ajuda, a boa da má fenomenologia. 2É digno de nota que A. S. Neill (1960), respondendo à tendência de nossa cultura de ser violentamente patemalístifca patemalístifca com as crianças, crianças, chegue exatamente à conclusão oposta. Bem Bem, o contexto é importante aqui; as famílias de Pavenstedt eram pouco superprotetoras e patemalísticas. Mas insistir que minhas necessidades, como pai, sejam satisfeitos, dificilmente pode ser visto como patogênico. Tudo depende do que comunico a meus filhos quando faço isto. A questão real não é o comportamento per se, se, mas sua significação para as crianças. Solicitar indulgência para minhas necessidades pode comunicar um sentido de igualdade entre nós quanto a alguns aspectos cruciais, ou pode comunicar que eu absolutamente não me importo com as crianças. A questão crítica é, provavelmente, se me preocupo ou não com elas e se
120
NOTAS
todas, técnicas para controlar as significações de seu comportamento. A estratégia alternativa de perg pergun unta tarr-lh lhee o que seu comportamento significa tem sido relativamente ràra porque, pri meiramente, é difícil (na ausência de uma teoria da significação e da experiência) saber o que fazer com tais dados e, em segundo lugar, porque o experimentador está freqüentemente mais interessado em confirmar a hipótese de que as condições X conduzem ao comportamento Y do que em compreender a experiência de seus sujeitos ou porque, em outros termos, eles se comportam como o fazem. Este assunto será retomado posteriormente. No No entan entanto, to, é claro claro qu que sig signific ificaç açõões de de peque pequena na mon monta ta pod podem em ser ser man manip ipul ulad adas as de de form formaa experimental e que tais manipulações imitam, ocasionalmente, a vida real. Por exemplo, o par parad adig igm ma de S. E. Asch sch (1958), no qual qual os suje sujeit itos os faze fazem m um julga julgam men ento to num con contex texto to no qual os dados perceptuais lhe dizem uma coisa e outras pessoas lhe dizem outra, não é dife rente de certas situações sociais nas quais se produz conformidade. Difere delas, no entanto, porq porque ue o suj sujei eito to nun nunca ca esq esque uece ce que que é um um suj sujei eito to num num ex expe perim rimen ento to psi psico coló lógi gico co,, e unic unicam amen ente te a significação desse fato pode influenciar amplamente o comportamento, em termos de como ele se sente a respeito de si próprio. O trabalho recente em psicologia social do experimento está começando a enfrentar este problema (por exemplo, Rosenthal, 1966; Ome, 1962). Alter nativas ao paradigma experimental não estão tão bem estabelecidas quanto as críticas ao mesmo. 4Uma fonte de ceticismo que não discutiremos no texto deve ser mencionada aqui, e consiste na tendenciosidade historicamente condicionada da psicologia behaviorista de considerar como sem importância o que a pessoa diz, mesmo que isto indique o que ela está experienciando, porque a experiência não é uma parte importante da temática da psicologia. Embora raramente vejamos uma afirmação tão atrevida quanto a de John Watson (1924), os psicólogos estão ainda inclinados a desconfiar em princípio, da fugidia questão da consciência e dos relatos verbais que a expressam. Na época em que Watson escreveu, o exame da consciência estava amplamente limitado às rotinas infrutíferas de E. B. Titchener, e, portanto, quando Watson rejeitou categoricamente a consciência como objeto, isto foi como uma rajada de ar fresco. fresco. Qu Quase ase não precisaria precisaria dizer que me parece, entretanto, entretant o, que o bebê foi jogado fora junto junt o com a água do banho, e que os psicólogos evoluíram dentro da postura peculiar, ainda comum atualmente, de acreditar nos relatos verbais de suas esposas, filhas e amigos — repousando tranqüilamente, de fato, nestes relatos, em virtualmente cada faceta da vida diária—, mas de desconfiar profundamente deles no laboratório. Esta peculiaridade contribuiu para a irrele vância que a psicologia moderna possui para a vida diária. 3A manipulação experimental da significação, tal como no experimento de Asch (1958), pode perf perfei eita tam men ente te ser ser estab estabele elecid cidaa co com mo uma uma forma forma de pe perg rgun untar tar e escuta escutar. r. Ela Ela é, clar claram amen ente te,, uma via indireta. Asch não pergunta a seus sujeitos se eles se conformam ou não, e por que o fazem; pelo contrário, ele os põe numa situação na qual realmente se conformam, e tenta imaginar por que o fazem através da manipulação de certas variáveis tais como as instruções, o tamanho do grupo, a unanimidade dos aliados, e assim por diante. (Asch na verdade inter roga seus sujeitos depois de tudo, mas esse procedimento nunca contribuiu como uma parte sistemática dos dados.) Asch “pergunta” sobre conformidade, a seguir “escuta” as respostas no comportamento do sujeito. Tais rotinas expressas não superam os problemas dos papéis do examinador e do examinado. Um sujeito nunca esquece que ele é um sujeito e que se está comportando nesse papel, o que influencia seu comportamento. tíLyons (1970 (1970,, 1963) descreveu descreveu detalha detalhadament damentee esta esta estratég estratégia. ia. Um crític críticoo amigável amigável me me cha mou a atenção para o fato de que o método que aparentemente tenho em mente já foi inven tado e amplamente desenvolvido e usado por antropólogos culturais, ao menos desde o tempo de Bronislaw Malinowski. Reconheço imediatamente que este comentário é absolutamente
CAPÍTULO 5
121
A controvérsia sobre a observação participante aplica-se ao método fenomenológico de uma maneira muito particular. Por um lado, Malinowski argumentava que a pesquisa sobre o comportamento humano devia “apreender o ponto de vista do nativo, sua relação com a vida, para para captar captar sua sua visão de seu seu mundo” (referido em Kardiner e Preble, 1961), ainda que um trabalhador de campo em antropologia, em uma cultura estrageira, não possa deixar inteira mente de carregar sua sua própria cultura nativa. Além do mais, deve ter em mente certas catego rias de análise que nã nãoo são nativas da cultura que está estudando, se pretende produzir um estudo sobre essa sobre essa cultura, em vez de um estudo que meramente expresse essa cultura. Por outro lado, embora a “participação’' total não seja nem possível nem desejável em antropologia, alguma participação, alguma participação, mesmo que vicariante, é certamente necessária para com preen preende derr com com certa profu profund ndid idad adee o que que se está está obse observ rvan ando do.. Este dilema, bastante vivido para os metodologistas da antropologia, cujo alvo é a cultura, parec parecee aind aindaa mais ais impe imperio rioso so pa para ra um feno fenom men enol olog ogist ista, a, cu cujo jo alvo alvo é o ser hu hum man ano. o. Nã Nãoo há maneira de “sair da situação humana” para estudá-la, não há como atingir a perspectiva de Deus. Assim, Maurice Merleau-Ponty (1962) diz que “a lição mais importante que a redução [fenome [fenomenológ nológica] ica] nos ensina ensina é a impossibilidade de uma redução comple completa” ta” . Disto não se segue que não tenhamos possibilidade de aperfeiçoar a “atitude natural”. Toda investigação humana de seres humanos é, forçosamente, “observação participante” e, assim, o desenvol vimento desta técnica pelos antropólogos exerce uma fascinação inevitável sobre o investiga dor humano do ser humano. Quanto à obtenção de dados, de informantes conforme realizada por observadores partici pantes pantes,, reco recom men endo do o estud estudoo de Jules Jules He Henr nryy (1971) co com mo um mod odel elo. o. O traba trabalh lhoo de Mali li nowski (1948) e Margaret Mead (1935) é, por certo, sugestivo do ponto de vista metodológico. 7Talvez Talvez seja importante importante distinguir distinguir a idéia do “ sujeito como como co-pesquisador” da estratégia de pesq pesquis uisaa intro introsp spec eccio cionis nista, ta, pré pré-b -beh ehav avio ioris rista ta,, de W. W. Wund Wundtt e E. E. B. Titch Titchen ener er.. A intro introsp spec ecçã ção, o, enquanto técnica, requer um treinamento intensivo e, quando tal treinamento é possível, idéias elaboradas sobre aquilo que deve ser descoberto. Os desacordos eram, em certa época, resolvidos pela decisão do introspeccionista introspeccionista “ mais especializado” , que que estabelecia qual qual era a verdadeira forma da mente. As técnicas fenomenológicas podem chegar, por vezes, ao mesmo destino. No entanto, em contraste com os experimentos de Titchener, a compreensão diária, base base de de toda toda pe pesq squis uisa, a, é o foco foco de atenç atenção ão do doss feno fenom men enol olog ogist istas as;; não é desre desrespe speita itada da co com mo o era pelos introspeccionistas. Este fato faz uma diferença importante nessa argumentação. De qualquer forma, também o introspeccionista era um co-pesquisador, e o sentido de uma tarefa em comum com o experimentador era também uma parte importante dessa rotina. A dife rença, no entanto, está em que a presente estratégia não depende de um treinamento rigoroso do sujeito. De fato, é exatamente a experiência diária, em seu estado natural e espontâneo, que visamos a explorar e descrever. 8Este problema foi solucionado por Freud através da técnica da livre associação, numa rotina extensa e laboriosa, sem dúvida um procedimento impressionante. A partir de Freud, uma série de outras estratégias emergiram, despendendo menos tempo, mas ainda se aproximando de nosso objetivo. Carl Rogers (1942), trabalhando em uma relação especialmente planejada para para ajuda ajudarr pessoa pessoass (ver (ver Cap. Cap. 6), repet repetia ia os pe pens nsam amen ento toss do clien cliente te em palav palavra rass um pouc poucoo diferentes, levando-o a corrigir cada comunicação em cada passo do caminho. S. Jourard (196 (1964, 4, 1971) explorou sistematicamente sistematicamente as condições e técnicas técnicas de autodescobrimento autodescobrimento e fez muitas sugestões válidas sobre a maneira de superar esta dificuldade. F. Deutsch e W. F. Murphy (1955), escrevendo sobre uma técnica de entrevista mais diretiva dentro da tradição psic psican analí alític tica, a, argum argumen enta tam m que que dua duass perg pergun unta tass — “ O qu quee você você que querr dizer? dizer?”” e “C “ Como omo sabe?” sabe?” — hab abili ilita tam m um um entrev entrevista istado dorr a evocar evocar o relato relato expe experie rienc ncia iall ne nece cess ssár ário, io, sem sem nece necess ssid idad adee de dizer às pessoas o que dizer. O metodologista original nesta linha foi, sem dúvida, Sócrates. Este método de perguntar ao sujeito o que queremos saber não foi usado no episódio
122
NOTAS
oferece uma demonstração igualmente lúcida de que os avanços críticos da ciência sempre seguiram este padrão, ao invés da teoria da indução herdada de John Stuart Mill. I “Geralmente é menos chocante admitir que as pessoas nos compreenderão se não tentarmos enganá-las do que admitir que provavelmente não compreenderão quando tentarmos enganálas. A última suposição está implícita nos experimentos nos quais os propósitos estão ocultos; a primeira, numa conversação honesta como a que estamos descrevendo aqui. E também mais fácil supor que as pessoas serão honestas quando confiam em nós do que supor que seus comportamentos sejam reveladores de como elas são quando não confiam — em situações tais como as que ocorrem quando as tentamos enganar, e as tentamos enganar através da ijléia de que não as estamos tentando enganar. II Um colega referiu-se a este estudo como “jornalístico” — indicando sua depreciação pela falta de uma metodologia científica mais tradicional da parte de Henry. A observação é inte ressante, os jornalistas desfrutam de uma longa tradição em relatar-nos o que não podemos ver e continuam a ter um poder social considerável. Ao mesmo tempo, esse grupo contém, talvez, alguns dos melhores e dos piores cientistas (no sentido amplo de investigação e relato). A respeito dos melhores poderíamos provavelmente dizer que seu trabalho é semelhante ao de Henry pela atenção escrupulosa ao que experienciam, pela atitude reflexiva crítica e pela comunicação de retratos cuidadosamente elaborados. Os piores podem ser verdadeiramente assustadores como propagandistas, mas a ciência tradicional não é a única correção para tais defeitos. Uma outra seria tornar-se um bom jornalista e isto requer, tal como o trabalho de Henry, uma atitude que se aproxima da fenomenológica. Veja o Cap. 4, nota 7, e Lyons (1970) quando este fala do output próprio da psicologia como um “conjunto de percepções informa das que são adequadas para o nível nível diário de compreensão compreensão em comunidade” comunidade” . CAPÍTULO 6 ‘Esta visão da psicologia é algo controvertida. Para uma discussão das relações entre a psico logia tradicional, o chamado modelo médico, e a psicologia fenomenológica, veja Keen (1972). Podemos dizer, em geral, apoiados no Cap. 3, nota 7, que o modelo médico é incompatível com uma abordagem fenomenológica da psicologia clínica. O modelo médico implica, primei ramente, um relacionamento de papéis no qual “médico” e “paciente” são papéis permanen temente atribuídos, fixando e contendo as significações que possa ter a experiência na situa ção clínica; em segundo lugar, a percepção do “problema” como algo que vai mal nos proces sos internos do paciente paciente (ou na “mente “ mente”” deste); deste); em terceiro terceiro lugar, a operação sobre o pa ciente à maneira em que um médico “põe em ordem” o corpo de alguém — sem a necessidade de que o paciente compreenda os intrincados aspectos do tratamento. Nem todos os psicoterapeutas que trabalham em seus consultórios operam segundo todos estes aspectos do modelo médico; de fato, eles os violam com liberdade. Mas o modelo médico consiste no centro de gravidade da tradição psiquiátrica e é vividamente representado numa série de práticas co muns, muns, tais como como a administração administraçã o de de drogas, eletrochoque, eletrochoque, psicocirurgia e alguma algumass visões da modificação de comportamento. É interessante que os praticantes da modificação de compor tamento aleguem haver superado o modelo médico (Bandura, 1969). Fizeram-no quanto a certos aspectos, mas em outras a modificação de comportamento é um exagero da tradição psiq psiqui uiát átri rica ca — po porr exem exempl plo, o, nas nas defi defini niçõ ções es de de papéi papéis. s. 2Pode ser importante observar que nem todos os fenomenologistas estariam de acordo com a afirmação de que o centro de significação reside em cada um de nós. Jean-Paul Sartre poderia aceitar tal maneira de estabelecer as coisas; Martin Heidegger, especialmente em seu último trabalho, a rejeitaria completamente. 30 fato de operar na vida a serviço de um um autoconceito é certamen certamente te inevitável, mas, ao se se tomar rígido, nos aproxima das posturas da Sra. Downs e do Sr. Pinky (discutidas no Cap. 8).
CAPÍTULO 7
123 R. Kuhn e H. Ellenburger têm relevantes ensaios publicados em R. May, E. Angel e Ellen burg burger er (1 (1958). M. Boss oss (19 (1958, 1963) adota adota de de form formaa ma mais óbvi óbviaa um uma abor aborda dage gem m hei heide deggge geri rian anaa à Psicoterapia. Poucos ensaios ou F. J. J. Buytendijk estão disponíveis em inglês, mas seu estudo da dor (1962) é um ensaio fenomenológico extremamente importante. Binswanger (1963) e Van den Berg (1973) têm casos excelentes publicados em inglês. J. F. T. Bugental (1965), May (1967), A. Burton (1967) e Keen (1970) são americanos que adotaram uma abor dagem fenomenológica fenomenológica da Psicoterapi Psicot erapia. a. R. D. D. Laing (196 (1967, 7, Í969) Í969) oferece oferece muitos insights insights rele rele vantes. Outros artigos sobre terapia podem ser encontrados no Jour Journa nall of o f Phe heno nome meno nolo logi gica call Psychology, no Revie Review w of o f Exi Existe stent ntia iall Psych Psychol olog ogyy an andd Psy Psych chia iatry try e no Jour Journa nall o f Exi Existe stent ntia iall Psychiatry. 50 testad testador or e o cliente nem sempre, naturalmente, naturalmente, têm de de concordar, concordar, e as percepções do testador também fazem parte do relato. Se o testador diz que o cliente se preocupa muito com sua adequação enquanto homem, por exemplo, e o cliente não vê as coisas dessa maneira, mas, ao contrário, percebe seus problemas como financeiros, ocupacionais e assim por diante, então, em primeiro lugar, as percepções e interpretações do cliente quanto a suas próprias preo preocu cupa paçõ ções es são, são, pe pelo lo men enos os,, tão tão impo importa rtant ntes es qu quan anto to as do testado testadorr e, em seg segun undo do lug lugar, gostaríamos de saber quais os tipos de dados que poderiam conduzir este último à conclusão obtida, face ao desacordo do cliente. Aquilo que ele, o testador, quer dizer por meio de tal interpretação deve por certo ser esclarecido e o testador, o cliente e o leitor do relato se bene benefic ficia iarã rão, o, todo todos, s, a partir partir de tal tal escla esclare recim cimen ento to.. Vale ale a pena obser observa varr que “ o tribu tribuna nall da experiência vivida” empregado nesta situação não nos leva aos problemas de verificação dis cutida no Cap. 4, nota 7, pois se pode garantir que as pessoas têm diferentes perspectivas e que cada uma delas é válida e importante. Esta situação, com todas as suas vantagens, pode poderia ria pre predo dom minar inar em toda toda psi psico colo loggia que que lida lida com com sere seress hu hum man anos os se estivé estivésse ssem mos interes interes sados em fazer com que ela predominasse. Os psicólogos clínicos podem argumentar que se perd perder eria ia alg algoo. É válid válidoo pergu pergunt ntar ar o qu quee se perderia. 6É claro que alguns dos objetivos da psicologia clínica conforme ela está agora definida não seriam atingidos deste modo. A manipulação do comportamento, seria bem menos simples, talvez impossível, através desta abordagem. O fato deste objetivo parecer ou não crítico de pend pendee de de valores (deveríamos ou não manipular pessoas para o seu próprio bem, independente do fato delas compreenderem ou não?) e abordagens (o modelo médico ou outro). Também a ciência da verdade objetiva sobre a natureza da psique não floresceria (se é que já o fez) e teríamos de substituí-la pelo “conjunto de percepções informadas apropriado para o nível de compreensão coletiva” que nos é dado correntemente pelos peritos em literatura e jornalismo em nossa cultura. O fato de podermos ou não nos decidir por isso, em lugar de pelo conheci mento orientado por especialistas de uma ciência técnica, também depende de nossos valores e abordagens abordagens (ver (ver Cap. l 1).
CAPÍTULO 7 'O conceito de campo tem uma história longa e diferenciada em psicologia. O teórico do campo por (1935, 19 1936 36),), cujo concei conceito to de campo é uma combinaçã combinaçãoo por exce excelê lênc ncia ia foi Kurt Lewin (1935, do conceito de Umwelt do biólogo J. von Uexküll, ou ambiente conforme percebido por um organismo, da teoria de campo em física, como na teoria eletromagnética desenvolvida nos séculos XlX e XX e de observação psicológica sagaz, a qual o convenceu de que o ponto de vista do protagonista do comportamento é crucial para a compreensão da ação. A Fig. 5 do Cap. Cap. 1 é típica do modo modo de pensar de de Lewin, embora ele ele freqüentemente se tomasse mais abstrato. Costumava usar um pequeno número de conceitos, como vetor, valência, barreira, canal e pólos positivo e negativo para descrever todas as situações nas quais o comportamento tem lugar. Esta estratégia teórica possui a vantagem da grande generalidade e a desvantagem
124
NOTAS
legitimidade legitimidade dentro do behaviorismo behaviorismo quando Tolm Tolman an o chamou chamou “ variável interveniente” interveni ente” , ne cessária para explicar a relação observada entre estímulo e resposta — os apoios mensuráveis de toda a teoria behaviorista. Embora Tolman também não estivesse interessado em uma fisionomia do campo, do mesmo modo que Lewin e os fenomenologistas, e ao contrário de outros behavioristas, estava convencido de que o ponto de vista do agente é importante na compreensão do comportamento. 2Esta afirmação não é literalmente verdadeira, mas nossa habilidade natural para perceber a partir partir do po ponto nto de vista vista alhe alheio io é um do doss fatos fatos bá bási sico coss da psic psicol olog ogia ia hu hum man anaa qu quee .nã nãoo foi suficientemente apreciado, talvez em virtude da tradição empirista no pensamento ocidental, a qual afirma que “conhecemos” apenas o que nos é dado através dos órgãos dos sentidos. Compreendo obviamente a experiência dos outros durante todo o tempo, sem que esta com preen preensão são tenha tenha emer emergi gido do de um cana canall sens sensor orial ial discr discreto eto.. Este Este tema tema foi foi discut discutid idoo em relaç relação ão com a metodologia no Cap. 3. 3A diferença entre as duas maneiras pelas quais estruturamos nossos próprios campos por nossa própria iniciativa não é tão grande como parece. Quando da percepção de situações de determinada maneira, estamos presumivelmente operando numa esfera puramente privada, objetiva. Mas ambas as esferas estão longe de ser puras. Nossa experiência presumivelmente priv privad adaa está geralmente “escrita em nossa face” — e sobre nossas posturas e gestos. Pode mos ter segredos, mas é difícil mantê-los. Nosso comportamento presumivelmente públ públic icoo reporta diretamente a nossa experiência (Cap. 2, nota 11) na mente de qualquer espectador. Quando entro numa situação cautelosamente, impudentemente, temerosamente, ou de alguma outra maneira, estruturo-a enquanto uma totalidade, e não primeiro como um espetáculo vi sual e depois como um campo comportamental. Minha presença perceptual e minha presença comportamental na situação são da mesma espécie, mutuamente integradas, tão profunda mente que a distinção analítica entre percepção e comportamento parece questionável. De modo geral, as distinções entre público e privado, objetivo e subjetivo, comportamento e experiência são estabelecidas de modo demasiado rígido na tradição da psicologia americana. O fato de que tenhamos tradicionalmente feito esta distinção de forma tão estrita denuncia nosso débito com a ontologia implícita à maior parte do pensamento ocidental, que Martin Heidegger tentou claramente superar. A ontologia privatista e subjetivista dificulta a per cepção do modo como compreendemos uns aos outros na vida diária. Ao inquirir sobre os fundamentos da possibilidade da experiência diária, ao procurar os horizontes da experiên cia dentro dos quais esta chega a ser significativa, descobrimos um nível de significação evi dentemente social; ver Caps. 9 e 10. Se a consciência fosse primariamente privada, e tomada pública apenas ocasionalmente quando a expuséssemos explicitamente a outrem, neste caso nossa experiência de outras pes soas se assemelharia mais a uma pilha de discos do que ao relacionamento, à empatia e à compreensão que caracterizam a vida diária. Além do mais, a consciência é públ públic icaa não ape nas no sentido de ser difícil guardar segredos; é pública também no sentido de que membros da mesma cultura sempre compartilham expectativas, normas e conceitos de papel. Estes aspectos compartilhados de nossa consciência não são meramente adicionados a uma cons ciência que seria, sob certos aspectos, privada; fornecem a estrutura de significações dentro da qual localizamos nossa própria privacidade. Portanto, o comportamento é mais explicitamente público e objetivo do que a maneira pela qual vemos subjetivamente as situações, mas esta é uma distinção relativa. Público e privado são dois pólos de um continuum, a maior parte da atividade crítica está em algum lugar entre eles. Além do mais, este continuum é menos uma questão de realidades metafísicas do que de grau de explicitação e grau em que são consideradas socialmente justificadas. 4Para um estudo fenomenológico mais profundo da ilusão de Müller-Lyer, veja R. J. Alapack
CAPÍTULO 7
12 1255
5Há uma complicação significativa neste ponto. O carro se torna físionomicamente maior quando se aproxima? Talvez pudéssemos argumentar que a fisionomia do tráfego é tão forte mente influenciada por nosso conhecimento que o carro é do mesmo tamanho, que o carro nãoo parece maior quando se aproxima. Talvez sejamos tentados a dizer que ele se toma nã físionomicamente maior unicamente porque sabemos que sua imagem em n9ssa retina se toma maior. Não há resposta absoluta para esta questão, nenhuma fisionomia absoluta que seja ingênua quanto ao que sabemos sobre as relações espaciais do mundo. Da próxima vez que percorrer um corredor, observe o fluxo das paredes, teto e porta diantes de você, ele pode pode-se -se tomar tomar fantás fantástic tico. o. É esta expe experiê riênc ncia ia “ mais natural” natural” ou “ mais ais funda fundam men ental tal”” do qque ue nossa experiência ordinária de nos movermos do lugar A para o lugar B? É aconselhável tomar-se sensível à fisionomia como a do corredor misterioso, mas nosso termo “fisionomia” deve referir-se igualmente a ambas as experiências. Um “caminho” de A para B não é pura mente conceituai e não fisionômico; meramente tem uma fisionomia diferente. 6Esta afirmação é, na verdade, muito controvertida filosoficamente, pois é possível argumen tar que os números constituem um contexto de significação perfeitamente coerente sem refe rência a qualquer coisa que experienciemos no mundo mundo.. Nossa Nossa visão aqui é mais mais “exist “ existencia encial” l” , isto é, estabelecemos que nossa existência concreta no mundo é, inevitavelmente, o funda mento de toda significação. 7Pode ser útil esclarecer as relações entre as distinções abstrato versus concreto e público versus privado. Eles se superpõem, mas estão longe de ter significações idênticas; podemos ver como se interceptam no quadro seguinte. público
privado
abstrato
1
3
concreto
2
4
A célula 1contém aquelas significações compartilhadas que estão encravadas na linguagem. É claro que abstrações da experiência (como na linguagem) são mais fáceis de compartilhar do que a experiência imediata, que é uma ancoragem intransigentemente privada na experiência única do indivíduo único. A célula 2 não está* no entanto, vazia; compartilhamos a ilusão de Müller-Lyer, a experiência do teatro vazio e muitas outras experiências fisionômicas muito concretas. Esta partilha indica que, embora a experiência esteja ancorada na unicidade do indivíduo, dificilmente a poderíamos dizer exclusiva, mesmo em sua concretude. A célula 3 também não é uma célula vazia, embora comumente as abstrações sejam sociais. A célula 4 destina-se ao que é, intransigentemente privado e concreto: as experiências místicas que são indescritíveis, por exemplo. 8O teórico que melhor descreve nossa orientação comportamental no espaço é Merleau-Ponty. Tal orientação propositiva no espaço é freqüentemente corporal, e Merleau-Pönty é também o teórico que tem preferência quanto à fenomenologia do corpo. Em seu principal trabalho teó rico, The Phenomenology of Perception (1962), elabora a compreensão de Schneider, ante riormente mencionado neste livro. Seu comentário sumariador sobre a questão que estamos abordando refere-se à nossa relação com o “campo” e ao modo pelo qual o corpo está impli cado:
126 126
NOTAS
Nossa Nossa orien orientaç tação ão co corp rpor oral al no espa espaço ço é tão tão fund fundam amen enta tall qu quee tend tendem emos os a não lhe lhe dar a devida atenção, especialmente quando refletimos sobre seres humanos, a maior parte dos quais constroem a vida mais através de idéias do que de relações físicas. Entretanto, ao olhar mais de perto a experiência, vemos que ela revela que esta espécie de horizonte está sempre prese presente nte e é essen essenci cial al para a sig signifi nifica caçã çãoo do doss acon acontec tecim imen ento tos. s. É freqü freqüen entem temen ente te muito uito cru cru cial, como quando certos tipos de situação nos emocionam. A emoção é uma resposta corpo ral, assim como ideacional. Ela é, por certo, sintetizada na experiência concreta e aparece na forma de propriedades fisionômicas do campo. Talvez as descrições mais elaboradas da experiência emocional em seu aspecto corporal sejam dadas por Jean-Paul Sartre (1956). Para outro exemplo da integração de significações corporais na experiência, veja o estudo de E. L. Stevick (1971) sobre a raiva, relatado no Cap. 4. O estudo de Stevick também esclarece como uma abordagem fenomenológica da emoção toma óbvio o clássico “problema corpo-mente”: Os estudos tradicionais da emoção abordam o corpo como um objeto no mundo, ignorando a forma como ele é vivido pela consciência. Estes estudos observam e medem as mudanças provocadas pela emoção, sem nunca solucionar o problema de como ou por que estas mudanças ocorrem, e como e por que são questões importantes a considerar, precisamente porque o corpo é, para eles, um orga nismo separado da “mente”. Porém os dados deste experimento mostram sujeitos que descrevem seu corpo como aquele que viveu, e através do qual viveram, a raiva. Partindo desta pressuposição, o fato de que o corpo vai se impregnando com a raiva até que explode espontaneamente para preservar sua qual é sua própria própria existênc exist ência ia no mundo, não é mais um problema ou mesmo um tema hab ilid ade, ad e, a qual para o psicólogo, (p. 147)
W. Fischer (1970) também integrou a significação corporal e outras na experiência da ansie dade. O problema corpo-mente é talvez o melhor e mais incômodo exemplo, no pensamento ocidental, do fato de estabelecer uma distinção analítica, averiguar os elementos distinguidos, e considerar, então, impossível descrever as relações entre as partes analiticamente separa das. Assim como em nossa distinção deste capítulo entre experiência “abstrata” e “con creta”, a solução do problema das “relações” é voltar à experiência vivida da qual as partes foram abstraídas, na qual não encontramos absolutamente uma “relação entre partes separa das” das ” , mas mas um todo integrado com com organização organização própria e não devedora de nossas abstrações abstra ções conceituais. 9Como demos ênfase à noção de ser nO espaço, é bom notar que Martin Heidegger (1962) destacou destacou de modo decisivo o quanto de significação porta a palavra “ em” . O ser-no-mundo é uma expressão expres são com hifens hifens que indica uma uma unidade experiencial, da qual “homem” “ homem” e “mundo” são abstrações. Portanto, o “em” não é o mesmo que usamos quando dizemos que o charuto está na caixa. “Não há coisa tal como o fato de estarem Tado a lado* uma entidade chamada ‘Dasein' ‘Dasein' e outra entidade entidade chamada ‘mundo” ‘mundo”*(p. *(p. 81). 81). Os objetos estão lado a lado e este é o sentido em que o charuto está na caixa — o sentido de proximidade física. Dizer que estamos “no” mundo ou “no” campo é descrever uma espécie de relacionamento muito dife rente ou, tal como antes, a noção de “relacionamento” estará submetida à pressuposição de que partes analiticamente separadas (homem e mundo) são separadas e devem ser conceitualmente relacionadas. Assim, o termo “em” “ em” não é meramente físico (charuto na caixa) caixa) nem reflete uma relação entre homem e mundo. O “em” de Heidegger, e também o nosso, é uma expressão da presença experiencial do mundo para o homem, uma presença tal que cada um é um horizonte do outro e nunca faz sentido separado do outro. Sou-no-mundo no sentido de que estou aberto para o mundo (o que é diferente da forma pela qual o charuto está na caixa), mas estar aberto não é uma caracterização de mim mesmo e de minha relação com alguma coisa “lá “ lá fora” ; esta abertura ou “transparência” “ transparência” é pré-requisito pré-requisito para que que haja, haja, de algum algum
CAPÍTULO 8
127
CAPÍTULO 8 1De um ponto de vista heideggeriano, esta afirmação é muito débil. Mais precisamente, dize mos que o D o Das asei einn (termo de Heidegger para a presença humana, que tipicamente é referida pelo pelo enga engana nado dorr term termo abstrato abstrato “ ho home mem m” — ver Cap Cap.. 7, nota nota 9), 9), é uma uma temporalização, uma feitura de tempo, uma marcação de tempo. O tempo não é algo “lá fora”, “no” qual estamos; é uma atividade do D do Das do Das asei einn — na verdade a atividade mais fundamental do D asei einn e, portanto, o horizonte mais fundamental da experiência humana. Este tempo não é uma escolha voluntá ria. Não temos escolha entre temporalizar ou não; é inevitável inevitável que o façamos. O tempo, como o mundo, está integrado naquela unidade experiencial que constitui nosso primeiro dado e, assim como o mundo, foi abstraído para consideração especial no pensamento ocidental. Em virtude desta tradição, que criou o “problema” da “relação” entre tempo e self, devemos agora trabalhar nosso caminho de volta à unidade da experiência, a fim de começar de novo. Este capítulo tem como objetivo reintegrar self e tempo, mas não queremos manter em se gredo o fato de que eles já são da mesma espécie na experiência e que, se pudermos nos abrir à experiência conforme experienciada, o trabalho conceituai deste parágrafo e dos seguintes se toma desnecessário. 2Esta expressão, “a suposição de que ele tem um futuro” pode ser enganadora se “suposi ção” çã o” for tomada em seu sentido puramente cognitiv cognitivo. o. A maneira maneira fenomenológica fenomenológica mais mais própria de abordar esta noção reconheceria que o futuro penetra o presente (em lugar de ser uma suposição ou premissa dele). O presente não está separado do futuro, mas é, mesmo agora, uma pre uma presen sentif tifica icaçã çãoo ou um fazer um fazer presen presente te o futuro. O vocabulário do texto, menos difícil, poré porém m fen fenom omen enol olog ogic icam amen ente te men menos os prec preciso iso,, foi foi sele seleci cion onad adoo por que questõ stões es de sim simplic plicid idad ade. e. 3Esta linha de pensamento pode ser enganadora se “é “ é ” e “ são” forem reduzidos, neste silo gismo, a um mesmo signo, denotando mera igualdade. Do ponto de vista lógico, este procedi mento mento é suficientemente correto. Mas, na perspectiva perspectiva fenomenológica fenomenológica,, dizer “ nós somos nossas histórias e futuros” é dizer mais do que estabelecer que “nós” e “nossas histórias e futuros” são expressões idênticas. Na verdade, a frase também estabelece que vivemos nossas vivemos nossas histórias e futuros; apropriamo-nos deles e os desempenhamos. O verbo “ser” indica algo bem bem distan distante te da mera mera eq equi uiva valên lênci ciaa lógi lógica ca;; indi indica ca ser enquanto ser-no-mundo. Tal como a palav palavra ra “ em”, em” , no capí capítu tulo lo an anter terior ior,, pa palav lavras ras sim simples ples po pode dem m ter muita uita sign signif ific icaç ação ão quand quandoo usadas para descrever a experiência conforme experienciada, em lugar de indicar meras con junções junções lógi lógica cas. s. Esta difi dificu culd ldad adee é iner ineren ente te à leitu leitura ra da da litera literatur turaa fen fenom omen enol ológ ógic icaa e só só é supe supe rada por uma leitura de tipo fenomenológico. 4Esta conceptualização de culpa pode parecer, de início, muito diferente de outras mais clás sicas, como a de Sigmund Freud. De acordo com Freud, a culpa pode invadir minha vida em virtude de um episódio ou situação há muito esquecida, pela qual me senti, enquanto criança — da da manei maneira ra com como as crianç crianças as consi conside dera ram m as coisas coisas —, —, culp culpad ado. o. A mast mastur urba bação ção e a de desa sa prov provaç ação ão pare parent ntal al ou os desej esejoos ed edip ipia iannos de poss possui uirr a mãe com exc exclu lusi sivi vida dade de,, co com m fan fantasi tasias as de retaliação paterna, exemplificam tal situação (ver Freud, 1961). De acordo com nossa pre sente formulação, eu pareceria ter de ‘‘recordar” conscientemente tais eventos para me sentir culpado. Há um século, aproximadamente, a experiência psicanalítica desaprova tal alegação. De fato, o termo “esquecimento” ou “repressão” da recordação é, recordação é, na verdade, apenas uma maneira de dizer que muitos horizontes de nossa experiência contemporânea são difíceis de focalizar e de enunciar. Quando Quando realmente “recorda “ recordamos” mos” , como como no insight insight psicanalítico, isto não é tanto um ato de tomar consciente* consciente*algo algo que que era “ inconsciente” inconsciente” , e sim sim o ato de atingir uma enunciação de um horizonte da experiência contemporânea e uma apreensão explícita de uma das premissas de todas as nossas experiências de vida. Este processo não é o de desen terrar um fato do passado, mas o de trazer à luz as significações de nossas experiências contemporâneas, permitindo que sejam reinterpretadas. Nem só os psicanalistas entenderam desta maneira a psicanálise; veja também H. Fingarette (1963). A mais completa interpretação
NOTAS
128 128
mais primordial de ser culpado. A relação entre “existente” e “existencial” é a mesma que existe entre “ônt “ ôntico” ico” e “ ontológico”, ontológico” , conform conformee discutido no Cap. Cap. 10. 5Veja o “romance” ou os “momentos perfeitos” de Antoine em Ná em Náus usea, ea, de de Jean-Paul Sartre (1959). 6Talvez seja importante destacar que esta noção de saúde é muito mais sartreana que heideggeriana. Na verdade, Heidegger fala de uma “repetição” ontologicamente dada, que é um limite essencial no futuro. 7O termo “extravagância” foi usado pela primeira vez por Ludwig Binswanger (1963) para referir-se àquela espécie de autodefinição que não tem consideração pelo que é dado. A dado. A inte ração entre o que é dado e necessário, por um lado, e o que é aberto aberto e po e possí ssíve vel,l, por por outro, é um dos problemas mais antigos e complicados da história da filosofia. Nenhuma posição ex trema é adequada; a liberdade total está tão longe da condição humana como o determinismo. Existe aqui o perigo de mais uma vez fazer de uma parte abstraída da experiência vivida (fazer uma escolha ou ser compelido por fatores fora de controle) o paradigma para a condição humana. Tendo visto que tanto a liberdade como o determinismo são característicos da expe riência humana e tendo solidificado e tornado absolutas ambas as interpretações, encontramo-nos encontramo-nos agora agora às voltas com com o “problema” “ problema” da “ relação” relação” entre entre os dois. Não há “ solu ção” para este problema a nível conceituai. A resposta fenomenológica, como sempre, é o retomo à experiência vivida, onde encontramos os dois aspectos da experiência humana já integrados, e horizontais um para o outro. Percebemos nossa liberdade porque esta se destaca de nossas limitações, e percebemos nossa determinação porque ela se sobressai de nossa liberdade. Entretanto, podemos acrescentar que mesmo esta descrição, que é verdadeira em certa medida, ainda polariza liberdade e determinismo, como se fossem aspectos separados da experiência. Em minha vida diária, procedo à luz de um ser-no-mundo que é, simultanea mente, tanto livre como determinado. Não submeto cada aspecto da experiência a uma categorização cognitiva e calculo o grau de minha liberdade antes de realizar cada ação. Já sei sei como as possibilidades e necessidades estão organizadas e procedo de acordo com isso. O fato de que este saber esteja sujeito a mudança, como na psicoterapia, que pode liberar a Sra. Downs e o Sr. Pinky, indica meramente que o ser-no-mundo está num estado de fluxo cons tante. Um terapeuta pode ver as po as poss ssib ibili ilida dade dess de mudança (contra as necessidades necessidades de ser obrigado a ser quem se é) de forma um pouco diferente daquela em que a Sra. Downs ou o Sr. Pinky as vêem. Eles não serão persuadidos por seus argumentos, mas podem chegar a adquirir uma visão mais próxima da do terapeuta se chegarem a perceber claramente os horizontes das próp própria riass ex expe periê riênc ncias ias e o modo com comoo as sig signifi nifica caçõ ções es dos dos ev even ento toss se desen desenvo volv lvera eram m, co com mo sedimento, ao longo dos anos. Tal mudança, no entanto, não é meramente intelectual; é uma mudança na própria estrutura da experiência e, portanto, no caráter do ser-no-mundo de cada um deles. CAPÍTULO 9 ‘Ver Cap. 2, nota 13. 2Muitos acordos interpessoais são especificações de acordos já existentes, presentes na socie dade mesmo antes que nos engajemos nela: o fenômeno dos pa dos papé péis. is. Havia um pa um papel pel de pa paii antes que eu me tomasse pai, um pa um pape pell de de mar marid idoo antes que eu fosse um marido, um pa um pape pell de de aluno antes aluno antes que eu fosse um aluno, um pa um papel pel de cria criannça de cla class ssee méd média ia do do Mei Meioo-O Oeste este antes antes que eu fosse uma criança de classe média do Meio-Oeste, e assim por diante. Mesmo sabendo que o fenômeno dos papéis tem sido a província da sociologia e da psicologia social, devemos reconhecer que a estrutura dos papéis e das expectativas, que constitui nossa organização social (ou cultural), fornece inevitavelmente um horizonte para muitos acordos interpessoais que não têm lugar dentro deste contexto. Na verdade, existe uma psicologia social fenomeno
CAPÍTULO 9
129 129
Podemos dizer, em geral, que nossa focalização em significações e horizontes não mudaria compartilhadas, são primariamente numa sociologia fenomenológica. Muitas significações são compartilhadas, são prop proprie rieda dade de de um gru grupo po e pe perte rtenc ncem em aos indiv indivíd íduo uoss som somen ente te na medi medida da em em que estes são membros do grupo. Na verdade, a partilha de significações coletivas é uma medida de integra ção, e os membros do grupo que sabem implicitamente (por vezes explicitamente) quem está “dentro” ou “fora** de um grupo estão respondendo ao grau em que o indivíduo compartilha as significações coletivas. No entanto, as significações não são apenas compartilhadas; tam bém bém são são históricas. Dizer “um “ um Rocke Rockefeller feller não faria isso” é fazer referência a uma uma tradição. Uma tradição é uma história compartilhada dentro da qual tem lugar a experiência individual, assegurando sua significação comum ou coletiva. A tradição já está sempre presente; é um horizonte da experiência nos indivíduos, e é neste sentido que podemos chegar a conhecê-la se queremos estudá-la e tomá-la explícita. Parte daquilo que sabemos implicitamente quando somos membros de uma tradição é que outros na tradição compartilham conosco estas signifi cações. Uma sociologia fenomenológica pode tomar claro todo este material. 3A confirmação aparece confirmação aparece no trabalho de R. D. Laing (1969), mas este a tomou de Martin Buber (1958). A conivência termo pretens conivência também é tomada de Laing (1969). O termo pre tensão ão não foi usado antes neste sentido, ao menos que eu saiba. A idéia inteira não é diferente da noção de jogo de jogo de de Eric Beme, que se tomou t omou famoso há poucos poucos anos por seu best- seller Games People Play Okay — Youre Okay, de .T. (1964), e que foi perpetuada na lista dos best-sellers por Vm Okay — .T. A. ornn to Win, in, de M. James e D. Jongeward (1971). A popularidade deste tipo Harris (1967), e B e Bor de psicologia entre o público em geral está começando a rivalizar com a popularidade de Sigmund Freud meio século atrás, embora a mística de Freud nos anos 20 (Anderson, 1967) e seu impacto duradouro sobre nossa cultura (Rieff, 1959) possivelmente não sejam igualados novamente. Para uma análise desta situação, veja Emest Keen (1972). 40 estudo de famílias floresceu na década passada pass ada nas profissões de psiquiatra psiquiat ra e psicotera peuta peuta.. Algu lguns exem exempl plos os da literat literatura ura atual atual são são V. V. W. Eise Eisens nstei teinn (1 (1956); I.I. Boszor szorm men enyi yi-N -Nag agyy e J. L. Framo (1965); T. Lidz, S. Fleck e A. Comelison (1965); J. G. Howells (1971); G. H. Zuk (1971); A. Ferber, M. Mendelsohn e A. Napier (1972); Laing e A. Esterson (1970); Esterson (1972) e o volume do grupo para o Adiantamento da Psiquiatria, Treatment ofFamilies in Conflict (1970). (1970). 5Veja Laing (1967), para uma compreensão da família como “uma negociata de proteção mú tua”. 6Veja Laing e Esterson (1970), para exemplos deste “caráter vingativo”. Seus sujeitos, como muitas famílias, não tentam ferir os desviantes conscientemente. Na verdade, o oposto é fre qüentemente verdadeiro quanto a suas representações explícitas de seus próprios motivos. Este caráter caráter vingativo vingativo é “inconsciente” “ inconsciente” , termo pelo qua quall indicamos indicamos que o compo comportamento rtamento res pond pondee a uma uma situa situaçã çãoo cuja cuja sig signifi nifica caçã çãoo vvem em de hor horizo izonte ntess dos dos quais quais não não estam estamos os cô côns nscio cioss em em termos focais. É claro que estes horizontes, no entanto, estão estabelecidos em nossa expe riência num nível implícito. 7Ver Cap. 9, nota 2. 8Ver Cap. 2, nota 6. 9Uma complicação final para este capítulo inteiro: as relações interpessoais são vistas aqui amplamente como uma questão de “fazer acordos”. Esta posição implica em que uma moti vação humana fundamental é preservar a própria identidade. Se isto é verdade, põe em ques tão a comunalidade já dada do mundo, sobre a qual qual argumentaremos no próximo capítulo. Se a perspectiva implícita neste capítulo fosse desenvolvida até sua conclusão, a comunalidade do mundo não seria sempre dada e sim uma conivência universal, um negócio universal, um consentimento comum de jogar o mesmo jogo. O fato de que haja indivíduos que se furtem deste acordo universal (nós os chamamos “psicóticos”) tende a sustentar esta visão, mas esta
130
NOTAS
CAPÍTULO 10 ‘Estas afirmações negativas — que o mundo não é meramente subjetivo, nem meramente objetivo — são expressões de uma visão filosófica, na verdade metafísica, que é distinta do idealismo e do realismo, respectivamente (ver também Cap. 2, nota 7). Estas duas posições metafísicas historicamente relevantes conduzem a contradições e finalmente a compreensões errôneas em filosofia e especialmente em psicologia. A fenomenologia não é a única filosofia que tenta orientar um trajeto entre idealismo e rçalismo, mas é a mais recente e a que se desenvolveu paralelamente à psicologia modema. Por esta razão ofereceu à psicologia mo derna e dela recebeu mais contribuições do que ocorreu com outras filosofias metafísicas. Algumas filosofias, é claro, como o positivismo lógico, são igualmente recentes e têm muito a ver com a psicologia, mas tentam explicitamente evitar a metafísica. Se isto é ou não possível, constitui questão de um debate filosófico extenso que, por vezes, constitui o conteúdo latente das discussões entre psicólogos, como no trabalho organizado por T. W. Wam (1964). 2Na qualidade de psicólogos, estamos menos interessados nesta questão e em outros proble mas relativos à universalidade da experiência do que nas variações. As mudanças na expe riência de minha filha chamam mais nossa atenção do que as permanências. Estamos mais interessados na forma pela qual as pessoas diferem umas das outras do que na maneira pela qual se assemelham. Gigantescos problemas universais têm sido tradicionalmente estudados pelo peloss filó filóso sofo fos, s, e os psi psicó cólo logo goss têm estado estado mai maiss incl inclin inad ados os a supor supor qu quee o ser simpl simples esm men ente te é, é, que as coisas simplesmente são, e que a experiência simplesmente é — e a inquirir sobre questões menos especulativas e mais práticas, trabalhando a partir destas suposições. No No entan entanto, to, a vari variaç ação ão entre entre pess pessoa oass ou ou da mesm esma pessoa pessoa de mom momen ento to a momen omento to sem sempr pree ocorre dentro de certos limites. O fato de que todas as pessoas experienciam um mundo — e este já está presente, pleno de significação, fornecendo uma totalidade referencial dentro da qual as experiências fazem sentido — este fato não é irrelevante para a psicologia. Além do mais, o mundo não é universal para nós por sua mera presença; ele sempre se faz presente em termos de espaço, tempo, identidade' própria e outros universais da experiência humana. A especificação destes universais da experiência humana, e do modo como se ajustam mutua mente no empreendimento humano de ser-no-mundo, é um aspecto ontológico da psicologia. 3Ver Cap. 9, nota 9. 4Dizer que o mundo já existe pode parecer levantar a questão de sua procedência — não em termos de cosmos, mas em termos de psicologia. Ou melhor, aparentemente é verdade que o mundo não está presente para o feto, mas que ele está presente para mim agora. Entre o momento presente e aquele quando eu era um feto, o mundo chegou a ser para mim. Como isto acontece? acontece? Jean Jean Piaget (1929 (1929,, 1954) nos oferece as observ observações ações mais mais sensíveis sensíveis sobre sobre o desenvolvimento da consciência no indivíduo, mas estas observações não justificam a comu nalidade do mundo, o fato de que o mundo em que eu vivo seja essencialmente similar àquele em que você vive. Há uma noção do senso comum de que você e eu obviamente chegaremos a viver mundos semelhantes porque existe, afinal de contas, apenas um mundo físico “real”, “lá fora”. O mundo do qual falamos, entretanto, e cuja comunalidade nos impressiona não é simplesmente uma coleção de objetos comuns. Mais importante que isso, ele é também um conjunto já existente de significações, uma totalidade referencial dentro da qual o comporta mento e a percepção, na qualidade de referenciais específicos, são significativos. Logo, desenvolvemo-nos psicologicamente num mundo significativo já existente. Desenvolver-se é aprender esta totalidade referencial, tanto quanto adquirir objetos perceptuais específicos. A natureza sempre já presente do mundo levou Martin Heidegger, em seu último trabalho, a um estudo da linguagem, pois esta é responsável por grande parte de nossa referência com part partilh ilhad adaa e po pode de fornecer fornecer a estrutura estrutura para o restan restante. te. O estudo estudo da lingu linguag agem em nest nestee sent sentid idoo não é meramente a comparação de linguagens diferentes e do modo pelo qual elas categorizam dif temente temente o mundo (Whorf, 195 956) 6) mas também o tudo tudo da linguagem
CAPÍTULO 11
131 131
quee este (aparentemente) estranho comportamento tinha tivas à cultura. Porém, eu saberia qu quee eu não compartilhava essas significações. A experiência do significações; compreenderia qu comportamento dos outros como intrigante me conduz unicamente para fora de sua cultura, não exclui a compreensão de que eles têm uma cultura. Nunca suponho que os aborígines africanos, cuja cultura eu não compreendo, sejam autômatos ou bambus que se movem aleato quee cada um deles é um ser-no-mundo, o que é que é este processo riamente ao vento. Compreendo qu de ser, e o que é o o mundo como um cenário no qual se é. Nunca perco meu sentido fundamen mundo como tal de ser-no-mundo e, portanto, nunca perco o mundo como aquilo que tenho em comum com os outros, mesmo quando reconheço (e contra que padrão reconheço) nossas diferenças mais superficiais. 6Esta suposição e as que se seguem no texto são opostas à tradição britânica da filosofia empirista (conforme praticada, por exemplo, por John Locke, George Berkeley e David Hume). Esta tradição filosófica permeou os modos pelos quais representamos nossas mentes para para nós nós mesm esmos e certame certamente nte está subja subjace cent ntee à maio maiorr pa parte rte da psic psicoolog logia amer americ ican ana. a. A fe fenomenologia propõe um desafio direto a esta tradição e a estas suposições e apela, para con firmação, à experiência conforme experienciada experienciada e não à experiência conforme tradicional mente a explicamos a nós mesmos. 7Há uma forte tendenciosidade no pensamento ocidental no sentido de localizar tal variação dentro de mim mesmo (a noção por exemplo, de que os humores são meramente o resultado experimental de variações glandulares) e de supor que o mundo em sua presença objetiva é constante. Nosso conceito do mundo refere-se ao mundo da experiência, e que, portanto, não é nem objetivo nem subjetivo no sentido tradicional. Dizer que “a beleza está nos olhos do espectador” viola a experiência conforme ela é experienciada. Minha experiência da beleza a coloca não em meus olhos ou em minha mente, mas no mundo. De modo similar, dizer que um dia cinzento e depressivo ocorre em virtude de uma mudança em mim mesmo também viola os dados experienciais os quais ditam que num dia cinzento o mundo pareça desinteres sante, sem colorido e deprimente. Esta tendenciosidade tendenciosidade “ subjetivista” subjetivist a” do pensamen pensamento to ocidental é tão forte que realmente realmente pode pode ser dif difíc ícil il para para nós nós retomar à expe experiê riênc ncia ia e apre apreci ciáá-la la conf confor orm me é. Mas o fato fato expe experie riennciai consiste em que o mundo mude nos humores. Criar uma psicologia dos humores com base neste fato experiencial certamente vai contra nossa maneira tradicional de pensar sobre a mente e o corpo. Em lugar de eventos corporais causando eventos mentais (o formato comum) diríamos fenomenologicamente que o corpo também expressa nossa mudança de mundo: corpo e mente, devemos recordar, são abstrações a partir do dado original do ser-no-mundo. CAPÍTULO 11 !Há uma complicação significativa no “esta “ estabelecimento belecimento de uma linguagem” linguagem” sem “violar “ violar os dados da experiência vivida” vivida” . Quando já existe existe uma linguag linguagem em para os dados da experiência vivida, o estabelecimento de uma nova linguagem necessariamente a violentará. Esta questão nova linguagem é significativa para a linguagem de toda a ciência social; Martin Heidegger parece ter sido um dos poucos eruditos, talvez ao lado de Ludwig Wittgenstein, que viu a linguagem natural como fundamental do ponto de vista ontológico. 2Veja o Cap. 2, nota 1, para um esclarecimento adicional da relação entre a psicologia fenomenológica e outras psicologias. Veja também o Apêndice deste livro. 3Três aspectos comuns imediatamente se destacam. Primeiramente, a ênfase skinneriana no controle ambiental do comportamento, especialmente do ambiente contemporâneo (para dis tinguir Skinner do “ambientalismo” em geral, como aquele de John Watson), assim como o pont pontoo de partid partidaa feno fenom men enol ológ ógic icoo no ser-n ser-noo-m mun undo do,, co colo loca cam m a pe pesso ssoaa diret diretam amen ente te na situação, ção, não podendo ser ela realmente separada do seu cenário imediato, caso desejemos
132
NOTAS
é “emitido” em lugar de meramente provocado, assim como a ênfase da fenomenologia na intencionalidade, atribui iniciativa e atividade ao organismo, em lugar de inércia e passivi dade. Cada um destes três pontos também esclarece diferenças importantes quanto a linguagem e estilo entre as duas psicologias, e a natureza histórica e teórica complexa destas próprias questões solicita uma análise profunda que não pode ser fornecida aqui. 4Para uma descrição lúcida da personologia de Gordon Allport, Abraham Maslow e H. A. Murray, veja S. R. Maddi e P. T. Costa (1972). Veja o Apêndice deste livro para um enfoque um pouco diferente deste tópico. 5Carl Rogers (1973) sugeriu que mantenhamos aberta a possibilidade de outras “realidades” além daquela ordinariamente considerada em nossa experiência moderna, bem programada, consciente. Aponta para experiências paranormais extraordinárias, especialmente aquelas de Carlos Castaneda (1971) como evidência de que não devemos ser tão rígidos quanto a nossas prec precon once cepç pçõe õess da rea realid lidad ade. e. Acho Acho qu quee este este apelo apelo,, embor emboraa nobr nobre, e, deve deve ser ser refin refinad adoo e resta restabe be lecido em dois sentidos. Em primeiro lugar, não acho que precisemos ir às experiências para normais como as de Castaneda a fim de descobrir mistérios que nos possam entusiasmar. Não conheço qualquer psicologia até hoje que tenha dado ao fenômeno mais simples da percepção humana uma explicação adequada. Independentemente do quão sofisticados nos tenhamos tomado sobre a mecânica dos órgãos perceptivos e do cérebro, não abordamos o fato extraor dinário de que a percepção é experiência, em lugar de uma interação simplesmente mecânica de coisas. Em segundo lugar, as “outras realidades” que presumivelmente são atingidas sob circunstâncias especiais de ingestão de drogas e êxtase religioso não são realmente diferentes da experiência diária, caso possamos, ao menos, prestar atenção à experiência conforme ex perie perienc ncia iada da,, em luga lugarr de entend entendê-l ê-laa sempr sempree em term termos os de nosso nosso padrão padrão de referên referência cia raci racioonal-funcional, newtoniano. O mundo newtoniano não é, por certo, o mundo da experiência; nunca o foi. Meramente nos convencemos de que a realidade é conforme nossos modelos disseram que deveria ser, embora a experiência comum contradiga esta afirmação todos os dias. 6Para uma visão dos profundos problemas morais com que a psicologia se defronta hoje, veja Keen (1972).
REFERÊNCIAS Abelson, R. P., Aronson, E., McGuire, W. J., Newcomb, T. M., Rosenberg, M. J., & Tannen Tan nenbau baum, m, P. (Eds.) Theories of cognitive consistency: A sourcebo sour cebook. ok. Chicago: Rand McNally, 1968. Alapack, R. J. The physiognomy physiognom y of the Mueller-Lyer Mueller-Lyer figure. figure. Journa Jou rnall o f phenom phen omenol enologic ogical al Psycholo Ps ychology gy , 1971,2, 27-48. Allport, G. W., & Vernon, P. E. Studies in expressive movement. New York: The Macmillan Company, 1933. American Psychological Association. Casebook on ethical Standa Standards rds of o f D.C.: American Psychological psychologists. Washington, D.C.: Association, 1967. Anderson, Ande rson, M. From curiosity curiosity to satiety: The American reacti reaction on to Freud Unpublished lished senior ho hono nors rs thesis, thesis, Buck BuckneU neU University, University, in the I9 I 9 2 0 ’s. Unpub 1967. Asch, Asch, S. S. E. E. Effects of group pressure pressure upon the th e modification and distortion distortio n o f judgm jud gments. ents. In E. E. E. Maccoby, T. T. M. M. Newcomb, Newcomb , & E. L. Hartley. (Eds.) Readings ed. ) New York: Holt, Readi ngs in social Psychology. (3rd ed.) Rinehart and Winston, 1958. Bandura, A. Principies ofbehavior modification. New York: Holt, Rinehart and Winston, 1969. Barton, A. Three Three worlds worlds o f therapy: Freud , Jung ; and Rogers. Palo Alto: Nation Na tional al Press Books, 1974. Berne, E. Games York : Grove Press, 1964. Games people peop le play. New York: Beshai, Beshai, J. A. A. Psychology’ Psycho logy’ss dilemma: To explain or to understa und erstand nd.. Journal Jou rnal o f pheno phe nom m enol en olog ogic ical al Psyc Ps ycho holo logy gy f 19 19771 i, 209 209-224. -224. Binswanger, L. Grundformen und Erkenntnis menschlichen Daseins. Zürich: Neihans, 1953. Binswanger, Binswanger, L. The existentia existe ntiall analysis school of thoug tho ught. ht. In R; R; May, May, E. Angel, Angel, & H. Ellenberger. Ellenberger . (Eds.) (Ed s.) Existence: A new dimension in Yo rk: Basic Basic Books, Bo oks, 1958a. Psychology and psychiatry. psychiatry . New York: Binswanger, L. The case o f Ellen West. West. In R. May, May, E. E. Angel, & H. Ellenberger. (Eds.) Existence: A new dimension in Psychology
134
REFERÊNCIAS
Boss, M. Psychoanalysis and daseinsanalysis. New Yo York: rk: Basic Books, 1963. Int ensiv sivee fam fa m ily il y therapy. therapy . Boszormenyi-Nagy, I., & Framo, Fram o, J. L. (Eds.) Inten New York: Yo rk: Harper Harp er & R q w , 1965. Me thods ds ofm of m a d n ess: es s: The Braginski, B. M., Braginski, D. D., & Ring, K. Metho hospital as a last resort. New York: Holt, Rinehart Rin ehart and Winston, 1969. Psychologie ie vom empirisc empirischen hen Standp Sta ndpunkt. unkt. Leipzig: Duncker Brentano, F. Psycholog & Humbolt, 1874. Psychiatry, 1957,20, 114-130. Buber, M. M. G uü uütt and guüt feelings. feelings. Psychiatry, I a n d thou. thou . New Yo Buber, M. Ia York: rk: Charles Scribner Scri bner’’s Sons, 1958. Bugental, J. F. T. The search for authenticity. New York: Holt, Rinehart and Winston, 1965. Mod ern hu huma manis nistic tic psy p sych choo therapy. therap y. San Francisco: Burton, A. Modern Franc isco: JosseyBass, 1967. Buytendijk, F. J. J. Pain. (Trans, by Eda O’Shiel.) Chicago: University of Chicago Press, 1962. reali ty: Furth Fu rther er conversatio conv ersations ns with Do Donn Juan. Casteneda, C. A separate reality: New York: Yo rk: Simon & Schuster, 1971. Cloonan, T. F. Experiential Experien tial and behavioral aspects of decision-maki decision-making. ng. Du quesn esnee In A. Giorgi, R. Von Eckartsberg, & W. Fischer. (Eds.) (Ed s.) Duqu studies in phenomenological Psychology. Psychology. Vol. 1. Pittsburgh: Duquesne University University Press, Press, 1971. Pp. 112-13 1 12-131. 1. Colaizzi, P. R. Reflectio Refl ection n and resear research ch in Psychology. Dubuque, Iowa: Kendall/Hunt Publishing Company, 1973. Coles, R. Children in crisis. (3 vols.) Boston: Little, Little , Brown, 1967-1971 1967- 1971.. Migrants, shareeroppers, mountaineers. Boston: Little, Coles, R. Migrants, Little , Brown, Brown, 1971. clinicai interview. New York: Deutsch, F., & Murphy, W. F. The clinicai International Universities Press, 1955. Eisenstein, V. W. (Ed.) Neur Yor k: Basic Basic Ne uroti oticc interactio inter actionn in marria arriage ge.. New York: Books, 1956. Esterson, A. The leaves of spring. Harmondsw Harm ondsworth, orth, Middlesex, Middlesex, England: Penguin Books, Ltd., 1972. Ferber Fer ber,, A., Mendelsohn Mende lsohn,, M., M., & Napier, Napier , A. A. (Eds.) (Eds .) The book b ook o f family York : Science House, 1972. 1972. therapy . New York: Festinger, L. A theory ofco of cogn gniti itive ve disson dissonanc ance. e. Stanford: Stanford University Press, 1957. Festinger, L., Riecken, H. W., & Schächter, S. When prophecy fails. Minneapolis: Minneapolis : University Universit y of Minnesota Minne sota Press, 1956. 1956. Fingarette, H. The self in transformation. New York: York : Basic Books, Books , 1963. Fischer, C. C. T. The testee teste e as as co-evaluator. Journa Journall o f counselin counseling g Psychology Ps ychology , 1970,7 7, 70-76. Fischer, Fischer, C. C. T. Toward the structure structu re of privacy: privacy: Implications for psychopsychological assessment. assessmen t. In A. A. Giorgi, W. W. Fischer, Fischer , & R. Von Eckartsberg.
REFERÊNCIAS
135 Eckartsberg, Ecka rtsberg, & W. Fischer. (Eds.) (Eds .) Duquesne Studie s in phenomenological Psychology. Vol. l. Pittsburg Pitts burgh: h: Duquesne University Press Press,,
1971, Pp. 247-258. Flavell, J. H. The developmental Psychology of Jean Piaget. New York: Van Nostrand, 1963. The order or der o f thing things. s. New York: Vintage, 1970. Foucault, M. The Frankel, Franke l, S. S. Situational Situationa l determin dete rminants ants of three empirical empirical principies of interpersonal interperson al attractio attra ction. n. Unpublished senior thesis, thesis, University University of Massachusetts, 1973. Freud, S. Cmlization and its discontents. New York: No Norto rton, n, 19 196l 6l.. Front, F. Perception ofother people. New York: Columbia University Press, 1971. Gelb* Ge lb* A., & Go Golds ldstei tein, n, K. Zeigen un undd Greifen. Nerven Ner venarz arzt t , 1931. Expe riencingand gand the Creat reatio ion n ofmean o fmeaning. ing. New York: Gendlin, E. T. Experiencin Yo rk: Free Press, 1962. Giorgi, Giorgi, A. Phenomenology and experimental experimen tal Psychology, II. Revie Re view w o f existential Psychology and psychiätry, 1966, 6, 37-50. Giorgi, A. Psychology as a human Science Science:: A phenomenologica phenom enologically lly based approach. New York: Harper & Row, 1970a. Giorgi, Giorgi, A. Toward Towa rd pheno phenomeno menologica logically lly based research in Psychology. of ph en om en olog ol ogic ical al Psych Ps ycholo ology, gy, 1970b,/, 75-98. Journal Jour nal ofph Giorgi, A., Fischer, Fische r, W., W., & Von Eckartsberg Eck artsberg,, R. (Eds.) (Ed s.) Duques Duq uesne ne studies stud ies in Ps ycholo ology gy.. Vol. 1. Pittsburgh: Duquesne phenom phe nomeno enologic logical al Psych University Press, 1971. Goffman, E. The presentation ofselfin everyday life. New York: Doubleday Anchor, 1959. Asy lums:: Essays on the social Situation Situation o f mental patien pa tients ts Goffman, E. Asylums oth er inmates. New York: Dou and other Doubleday bleday,, 1961. Goffman, E. Relat Re lation ionss in public. publi c. New York: Harper Harpe r & Row, 1971. Goldstein, L. J. Logic Logic of explanation in Malinow Malinowskia skiann anthropology. anthropolog y. Philosophy ofscience, ofscience, 1947 >24, 155-166. 1947>24, Grings, W. W. Cognitive factors facto rs in electrod elect roderm ermal al conditioning. Psychological bulletin, bulletin, 1973, 79 79,, 200-210. Group for the Advancement of Psychiatry, Committee on the Family. Treatment offam ilies in conflic conflict. t. New York: York : Science House, 1970. Re view ew o f existe exis tenti ntial al Haigh, Haigh, G. Existential Existen tial guilt: Ne Neurot urotic ic and real. Revi Psychology Psyc hology and psychiatry, psychiatry, 1961, I, 1961, I, 120-131. oka y. New York: Harris, T. A. I'm I' m o k a y - y o u ’re okay. York : Harper Har per & Row, Row , 1967. Heidbreder, E. Seven psychologies. New York: Appleton-Cen Apple ton-Century-Crofts, tury-Crofts, 1933. Heidegger, M. Bei B eing ngan andd time. New York: Harper Harpe r & Row, 1962. Heider, F. The Psychology of interpersonal relations. New Yo York: rk: Wiley, Wiley, 1956. Henry, J. Pathways to madness. New York: Random House, 1971.
136
REFERÊNCIAS
Hull, C. L. A. behavior behavio r syste sy stem. m. New Haven: Yale University Univer sity Press, 1952. Husserl, E. Ideas. London: Lon don: Allen & Unwin, 1958. 1958. Husserl, E. Cartesian meditations. meditations. The Hague: Nijhoff, Nijho ff, 1960. Husserl, E. The The ide idea ofphenome ofphen omenology nology.. The Hague: Nijhoff, Nijhoff , 1968. Husserl, E. The cris crisis is o f the European sciences sciences and transcendental phen ph enom omen enol olog ogy. y. Evanston: Northw Nor thweste estern rn University Press, 1970. James, M., & Jongeward, D. Born Bor n to win. Reading, Mass.: Mass.: Addison-Wesley, 1971. James, W. Principies o f Psychology. (2 vols.) New York: Holt, Rinehart and Winston, 1890. Jones, E. E., Kanouse, D. E., Kelly, H. H., Nisbett, R. E., Valins, S., & Weiner, B. Att A ttri ribb utio ut ionn : Perceiving the causes o f behavior. Monistow Mo nistow n, N.J.: General Leaming Press, Press, 1972. 1972. Jourard, S. The transparent self: Self-disclosure and welbbeing. New York: Van Nostrand, 1964. Jourard, S. Self-disclosure. New York: Yor k: Wiley-Interscience, 1971. Kardiner, A., & Preble, E. They studied man man.. New York: York : The Worid Publishing Company, 1961. Keen, E. E. Scheler’s Scheler’s view view o f repentance repen tance and rebirth re birth and its relevance relevance to psych ps ychoth other erapy apy.. Revi Re view ew ofex of exist isten entia tiall Psychology and psychi psy chiatr atryy 1966, 6, 6, 84-88. Keen, E. Three faces o f being: Toward an existentia l clinicai Psychology. New York: York : Appleton Appl eton-Cen -Century tury-Cro -Crofts, fts, 1970. Keen, E. Psychology and the new consciousness. consciousness. Monterey: Brooks/Cole, 1972. Kelly, G. The Psychology of personal constructs. New York Y ork:: No Norto rton, n, 1955. Kockelmans, J. J. Phenomenological Psychology in the United States: A criticai analysis of the actual Situation. Journal Journal o f phenomenological Psychology Psycho logy, 1971,2, 139-172. Principies o f Gestalt Psychology, New York: Koffka, K. Principies York : Ha Harco rcourt urt Brace Brace Jovanovich, 1935. Köhler, W. The mentality ofapes. New York: York : Liveright, 1925. Dynamic s in Psychology, New York: Köhler, W. Dynamics York : Grove Press, Press, 1940. Köhler, W. Gestalt Psychology. New York: Y ork: Liveright, 1947. Kuenzli, A. A. E. (Ed.) (Ed .) The phenomenological problem. New York: Harper & Row, 1959. Kuhn, T. S. The structure o f scientific revolutions. revolutions. Chicago: University of Chicago Press, 1962. Kwant, R. C. Phenomenology Phenomeno logy o f social social existence. existence. Pittsburgh: Duquesne University Press, 1965. Laing, R. D. The politics ofexperience Pan theon, n, 1967 1967.. ofexpe rience.. New York: Pantheo Laing, R. D. S elf el f and others others.. New York: Pantheo Pant heon, n, 1969 1969.. Laing, R. D., & Esterson, A. Sanity, Sanity, madness, and the family. family. Harmonds-
,
REFERÊNCIAS
13 7
Levi Levi,, B. B. Critique of o f Piaget’s Piaget’s theory the ory of o f intelligence: A phenomenologic phenom enological al Jou rnall o f phen ph enom omen enolo ologic gical al P sych sy chol olog ogyy , 1972, 3, 99-112. approach. Journa dy nam m ic theo th eory ry o f Person Per sonality ality.. New York: Lewin, K. A dyna York : McGrawMcGraw-Hil Hill,l, 1935. Prin cipiess o f topo to polo logi gica call Psyc P sycho holog logy. y. New York: Lewin, K. Principie Yo rk: McGrawMcGraw-Hil Hill,l, 1936. Lidz, T., Fleck, S., & Comelison, A. Schizophrenia Schizophrenia and the family. New York: Internatio Inter national nal Universit Universities ies Press, Press, 1965. 1965. Lynd, H. M. On shame and the search for identity. New York: Yo rk: Science Editing, 1961. Lyons, Lyons, J. A bibliographic bibliographic introductio introd uctionn to phenomenology phenomeno logy and Ps ycho holog logy. y. New York: existent exis tentialis ialism. m. In R. May (Ed.) (E d.) Existential Psyc Random House, 1961. Pp. 101-126. Lyons, J. Psychology and the measure Press,, measure o f man man.. New York: Free Press 1963. Jou rnall o f phe Lyons, J. The hidden dialogue dialogue in experimental research. research. Journa nome no meno nolog logica icall Psy P sych cholo ology gy,, 1970, 1, 19-30. Maddi, S. R., & P. T. Costa. Humanism Huma nism in personology. persono logy. Chicago, Aldine, 1972. Malinowski, B. Magic, Magic, Science Science and religion and othe o therr essays. essays. New York: Free Press, 1948. May R. Psychology and the human dilemma. New York: Van Nostrand, 1967. E xist sten ence ce : A new ne w dim ensio en sion n in May, R., Angle, E., & Ellenberger, H. Exi ps ych yc h iatr ia tryy and an d Psy P sych cholo ology gy.. New York: Y ork: Basic Basic Books, Book s, 1958. Mead, M. Sex and temperament in three primitive societies. New York: Morrow, 1935. Merleau-Ponty, M. The phenomenology ofperception. New York: York : Humanities Press, 1962. Merleau-Ponty Merleau -Ponty,, M. The child’ chi ld’ss relatio re lations ns with others. othe rs. In M. Merleau-Ponty, Merleau-P onty, Northw estern Universi University ty The primacy primacy o f percepti perception. on. Evanston: Northwestern Press, 1964a. Merleau-Ponty, M. The primacy primacy o f perception. perception. Evanston: Northwestern University Press, 1964b. Merleau-Ponty, M. The strueture ofbehavior. Boston: Beacon Press, Press, 1964c. Minuchin, S., Montalvo, B., Guemey, B. G., Rosman, B. L., & Schumer, F. Yor k: Basic Basic Books, 1967. Familie Familiess o f the slums. slums. New York: Natan Na tanson son,, M. The journey Read ing, Mass.: Mass.: Addison-Wesley, Addison-Wesl ey, 1970. jour neying ing self. Reading, Ph enom omen enolo ology gy and an d the th e social soc ial sciences sc iences.. Vol. 1. Natan Na tanson son,, M. (Ed. (E d.)) Phen Evanston: Evansto n: Northw Nort hweste estern rn University University Press, Press, 1973. Niell, Niell, A. S. Summerhill. New York: York : Hart, 1960. Orne, Orn e, M. On the social social Psychology of o f the psychological experiment. American Amer ican psychologist, psycholo gist, 1962, I 7 776-783.
13 1388
REFERÊNCIAS
Piaget, J. The construction o f reality York : Basic Basic Books, reality in the child child.. New York: 1954. Piaget, J. Insights and illmions ofph Yor k: The World of philo iloso soph phy. y. New York: Publishing Company, 1971. Radnitzky, G. Contemporary schools ofmetascience. New York: Humanities Press, 1970. Ricoeur, P. The symbolism ofevil New York: Harper & Row, 1967. Ricoeur, P. Freud and philosophy. NewHaven: NewH aven: Yale University Press, Press, 1970. 1970. Rieff, P. Freud: The mind of York : The Viking Press, o f the moralist. moralist. New York: 1959. Rogers, C. Counseling and psychotherapy. Boston: Houg Houghton hton Mifflin, Mifflin, 1942. Rogers, C. Client-centered therapy. Houghto ghtonn Mifflin, 1951. therapy. Boston: Hou Rogers, C. On becominga person. Boston: Houghton Mifflin Mifflin,, 19 196l. 6l. Rogers, C. Some new challenges. American Americ an psychologist psycho logist,, 1973,2#, 379-387. Rosenthal, R. Experime Expe rimenter nter effe e ffects cts in behavioral behavioral res resea earc rch. h. New York: Appleton-Century-Crofts, 1966. Rotter, Ro tter, J. B. Generalized Generalized expectancies for internal versus versus external externa l control of reinforcement. Psychological monographs, 1966, 80, No. 1 (Whole (Whole No. 609). Sartre, J.-P. Being and nothingness. nothingness . New York: Philosophical Library, 1956. Sartre, J.-P. Nausea Directio ns, 1959. 1959. Nausea.. New York: New Directions, Scheler, M. The nature ofsympathy. New Haven: Haven: Yale University Press, Press, l954. Schütz, A. The phenomenology of the social World. Evanston: North western University Press, l967. Schutz, A. On phenomen pheno menology ology and social social relation relations. s. Chicago: University of Chicago Press, 1970. Skinner, B. F. Science and human behavior. New York: York : The Macmillan Company, 1953. Skinner, B. F. Beyo York : Alfred A. Kno Knopf, pf, Be yond nd free f reedo dom m and dignity. dignity . New York: 1972. Snygg, D., and Combs, A. W. Individu Indi vidual al beha behavior vior New York: Harper & Row, 1949. Spiegelberg, H. The phenomenological movement. (2 vols.) The Hague: Nijhoff, I960. I96 0. Spiegelberg, H. Phenomenology in Psychology and psychiatry. Evanston: Northw No rthwest estern ern University Press, Press, 1972 1972.. Stevick, E. E. L. L. An empirical investigation of the experience experienc e of anger. In A. A. Giorgi, W. Fischer, & R. Von Eckartsberg. (Eds.) (Eds .) Duquesne studies in phenomenological Psychology. Vol. 1. Pittsburgh: Duquesne University Press, Press, 1971. 1971. Pp. 132-148. 132- 148. Strasser, S. Phenomenology and the human sciences. Pittsburgh: Duquesne
REFERÊNCIAS
139
Straus, E. Phenomenological Psychology. New York: York : Basic Basic Book Books, s, 1966. Szasz, T. S. The manufacture ofmadness. New New York: Harper & Row, 1970. Syst ematic tic Psychology: Proleg Prolegom omena ena.. Ithaca: Comell Titchener, E. B. Systema University Press, 1966. psychol ogical al man. man. Berkeley: Tolman, E. C. Behavior and psychologic Berkeley: University University of California Press, 1966. Underwood, Unde rwood, B. J. The representativeness representativene ss of rote verbal learning. In A. A. W. W. Melton. (Ed.) Categor Categories ies o f human lear learni ning ng.. New York: York : Academic Press, 1964. diff erent nt existence. Pittsburgh: Duquesne University Van den Berg, J. H. A differe University Press, 1973. Van der Post, L. The dark eye ofAfrica. New York: Yor k: Morrow, 1955. Von Eckartsberg, R. An app approach roach to experiential experien tial social social Psychology. In A. A. stud ies Giorgi, Giorgi, W. Fischer, Fische r, and R. R. Von Eckartsberg. Ecka rtsberg. (Eds.) (Ed s.) Duquesne studies in phenomenological Psychology. Vol. 1. Pittsburgh: Duquesne University University Press Press,, 1971. Pp. 32 325-3 5-372 72.. Wann, T. W. Behaviorism Behaviori sm and ph pheno enome meno nolog logy. y. Chicago: University o f Chicago Press, 1964. Watson, J. Behaviorism. Chicago: University of Chicago Press, Press, 1924. Whorf, B. L. Language, Language, though tho ughtt and reality reality.. New York: Wüey, 1956. Whyte, W. F. Street Stre et come co merr society: The soci social al structure o f an Italian Italian slum. slum. Chicago: University o f Chicago Press, 1943. Zaner, R. M. The way way o f phenomenology. New York: Pegasus, Pegasus, 1970. Zuk, G. H. Family therapy: A triadic-based approach. New York: Behavioral Publications, 1971.
ÍNDICE ONOMÁSTICO Abelson, R. P., 109 Allport, G. W., 38, 100, 114, 132 Anaxagoras, 109 Anderson, M., 129 Angel, E., 117, 123 Asch, S. E., 120 Bandura, A., 122 Barton, A., 55-56 Berkeley, G., 131 Berne, E., 112, 129 Beshai, J. A., 109, 110 Binet, A., 98 Binswanger, L., 54-55, 88-89, 112, 123, 128 Boring, E. G., 108 Boss, M., 123 Boszormenyi-Nagy, I., 129 Braginski, B. M-, 112 Braginski, D. D., 112 Brentano, F., 108, 118 Buber, M., 110, 127, 129 Bugental, J. F. T., 123 Burton, A., 123 Buytendijk, F. J. J., 123 Casteneda, C., 132 Cloonan, T. F., 118 Colaizzi, P. R., 39 Coles, R., 46 Combs, A. W., 99 Comelison, A., 129 Costa, P. T., 132 Democritus, 109 Deutsch, F., 121 Eisenstein, V. W., 129 Ellenberger, H. F., 117, 123 Esterson, A., 46, 116, 129 Ferber, A., 129 Festinger, L., 109, 120
Foucault, M., 103 Framo, J. L., 129 Frankel, S., 99 Freud, S., 46, 98, 101, 105, 113, 114, 121, 127, 129 From, F., 115 Gelb, A., 62 Gendlin, E. T., 107 Gerwitsch, A., 118 Giorgi, A., 109, 114, 117, Goffman, E., 112, 128 Goldstein, K., 62 , Goldstein, L. J., 120 Grings, W. W., 109 Haigh, G., 127 Harris, T. A., 129 Hebb, D. O., 101 Heidbreder, E., 108, Heidegger, M., 68, 94, 103, 110, 111, 115, 122, 124, 126 126 Heider, F., 109 Henry, J., 49, 121 Hofstadter, R., 119 Homey, K., 122 Howells, J. G., 129 Hull, C., 99 Hume, D., 131 Husserl, E., 84, 94, 103, 106, 110, 111, 116, 121 James, M., 129 James, W., 97-98,. 106 Jones, E. E., 109 Jongeward, D., 129 Jourard, S., 100, 121 Kant, E., 110 Kardiner, A., 121 Keen, E., 104, 114, 116, 122, 127, 129, 132 Kelly, G., 52-54, 100, 105 Kockelmans, J. J., 117 Koffka, K., 109,112
142 Laing, R. D., 123, 129 Lapointe, F. H., 113 Lauffer, M., 38 Levi, B., 107 Lewin, K., 99, 109, 123 Lidz, T., 129 Locke, J., 131 Lynd, H. M., 107 Lyons, J., 117, 119, 120, 122 MacLeod, R., 99 Maddi, S. R., 132 Malinowski, B., 121 Maslow, A., 100, 114, 132 May, R., 100, 114, 117, 123 Mead, M., 121 Mendelsohn, M., 129 Medeau-Ponty, M., 94, 107, 109, 110, 112, 116, 121, 125 125 Mill, J. S., Moustakas, C., 100 Murphy, W., 121 Murray, H., 132 Napier, A., 129 Natanson, M., 117, 128 Niell, A. S., 119 Ome, M., 120 Pavenstedt, E., 43-47, 119 Pavlov, I., 97, 113 Piaget, J., 38, 46, 101, 105, 107, 130 Preble, E., 121 Radnitzsky, G., 116 Ricoeur, P., 110, 127 Riecken, H. W., 120
ÍNDICE ONOMÁSTICO Rieff, P., 129 Ring, K., 112 Rogers, C., 51-52, 100, 114, 121, 132 Rosenthal, R., 120 Rotter, J. B., 109 Sartre, J. P., 94, 110, 122, 126, 128 Schächter, S., 118, 120 Scheler, M., 110 Schütz, A., 113, 128 Skinner, B. F., 93, 100, 103, 109 Snygg, D., 99 Socrates, 121 Spiegelberg, H., 111, 117 Stevick, E. L., 38, 118, 126 Strasser, S., 109 Straus, E., 112, 117 Sullivan, H. S., 105 Szasz, T. S., 114, 119 Titchener, E. B., 97, 101, 108, 120, 121 Tolman, E., 99, 123 Van den Berg, J. H. 123 Van der Post, L., 119 Vemon, P. E., 38 Von Eckartsberg, E., 117, 128 Von Gebsattei, V. E., 122 Von Uexküll, J., 123 Wann, T. W., 130 Watson, J„ 98, 101, 109, 120, 131 Whorf, B. L., 130 Whyte, W. F., 120 Wittgenstein, C., 131 Wundt, W., 97, 118, 121 Zaner, R. M., 116, 121 Zuk, G. H., 129
ÍNDICE REMISSIVO ABSTRAÇÃO, corpo e mente, 126 espaço e tempo, 65, 126-127 Abstrato, espaço, 62-64, 126-127 Antecipação, como apropriação do futuro, 67 de recordações, 12 e, culpa (temor), 68-69 liberdade (esperança), 72 e self, 67-74 sentimentalismo (desejo), 69-70 no exemplo de uma criança de cinco anos, 5-9 Atenção (ou escuta), 39-40 Atribuição, teoria, 109 Auto-aceitação, 51 BEHAVIORISMO, 109-110, 120; ver também Con dicionada, resposta CAMPO, 123 fisionômico, 61-66 social, 9-10, 12-14, 17 Causalidade, e, explicação, 88-89, 109 o futuro, 67 passado, 67 percebida, 109; ver também Liberdade e determi nismo Centrada no cliente, terapia, 51-53 Clínica, psicologia, fenomenológica, 57-58 métodos, 50-57 objetivos, 50, 57, 100, 122-123 Comportamento, como, comprometimento irrevo gável, 65 expressão do ser-no-mundo, 20-21, 91-92 enquanto caracterizado pela objetividade, 65 criativo, 91-92 inconsciente, 21-22, 113-114 Compreensão, 19, 27, 28, 29, 35, 93-94, 108-109; ver tam bém bé m Descrição, Explicação, Interpretação Comunicação, 27-33 Condicionada, resposta, 113; ver também Behaviorismo Confiança, 47-48, 51, 78
na(o), espaço, 62-66, 125 raiva, 39, 118 Criatividade, 17-18, 9J Crise, fenomenologia como resposta, 103-104 Culpa, 68-69, 127-128 Cultural, imperialismo, 44, 119 DECISÃO, tomada, 118 Descrição, 16, 109; ver também Explicação, Inter pretação, Compreensão Desejo, 70 Díades, 76-78 EMOÇÃO, 126 Empatia, 39-40 Espaço, abstrato e concreto, 62-65, 126 no exemplo de uma criança de cinco anos, 8-11 social, 78-80 Esperança, 72-74 Estrutura da(e)(o), experiência, 16, 107 mudança de experiência, 11 tempo, 6-8 Expectância, teoria, 109 Experiência, atitude quanto à, em psicologia, 109 como, critério de conhecimento, 38, 64-65, 92-93, 131 fundamento de significação, 124-125 síntese, 17, 36-37, 111 universais, 34-35 Explicação, 109; ver também Descrição, Interpre tação, Compreensão Compreensão Explicitação, 117 Extravagância, 128 FAMÍLIAS, 78-79 Fenômeno, 116 Fenomenológica, psicologia, abordagem global, 22, 24, 27-28, 32, 93, 117-118 como, fonte de hipóteses científicas, 98-100 paradigma, 101-103 resposta à crise, 103-104
144 Fisionomia do, camp o, 61-66 mundo, 87-89 Futuro, como antecipação, 67 efeito de causa, 67 e self, 67-74 sentimentos acerca, 69-74 GERAL, e particular, 34-35 processo psicológico, 38-39 Gestalt, psicologia, 98, 99, 101, 109-110, 115 Greifen e Zeige Ze igen, n, 63 HORIZONTE, 16-18, 54-55, 89, 110-111 Humanística, 93, 100, 114 Humores, 88, 131 IMAGINÁRIA, variação, 30, 31, 54 Inconsciente, comportamento, 21-22, 89, 113-114 Interpessoais, aconios, 75-80 Interpretação, 30, 31, 110; ver também Descrição, Explicação, Compreensão Compreensão Introspecção, 121 LIBERDADE, 70-74 e determinismo, 128 Linguagem da fenomenologia, 16, 126-127 Livre, associação, 121 MEMÓRIA, como apropriação do passado, 67 de antecipações, 12 e, culpa (pesar), 68 liberdade (presentificação), 73-74 self, 67-74 sentimentalismo (reminiscência), 69-70 no exemplo de uma criança de cinco anos, 5-9 Metafísica, 130 Método, clínico, 50-58 desenvolvimento do futuro, 42-49 instrumentos instrumentos fenomenológicos clássico s, 30 30-3 -311 técnicas de pesquisa, 34-37 Motivos, 111-112 Müller-Lyer, ilusão, 63-64 Mundo, 19, 83-90, 111-112 como, experiência, 83-84 horizonte fundamental, 110 problema odontológico, 85-86 comunalidade, 86-87 enquanto social, 116-117 objetivo e subjetivo, 84, 111, 130 variações, 87-90 NATURAL, atitude, 31, 56, 121 ciência, atitude quanto à consciência, 109 e fenomenologia, 97-98, 114-115, 116 objetivos, 100; ver também Física, ciência OBJETO, constância, 64 Ontologia, 85 86, 110, 128 PAPÉIS, 79, 112, 128 Paradigma, fenomenologia, 101-103 Participante, observação, 120 Passado, como causa e como recordação>, 67 e self, 67-74
ÍNDICE REMIssIVO sentimentos acerca, 69-74 Perspectiva, 28-30, 32-33, 112, 116 Pesar (ou lamentação), 69 Pessoais, constructos, 52-54 Possibilidade, 54-55 condições, 89-90 e espaço abstrato, 63 Pretensões, 77 Privacidade, como base para ontologia, 124 e significações compartilhadas, 124 invasão, 57 Psicológica, testagem, 57 Psicopatologia, 73 Psicoterapia, 51-56, 57-58, 128 RAIVA, 38-39 Reapropriação, 71-74 Recordações, de antecipações, 12 no exemplo de uma criança de cinco anos, 5-9, ver também Memória Reminiscência, 70 SCHNEIDER, 62-63 Self, 13-15, 18 e passado e fiituro, 67-74 Sentimentalismo, 69-70 Ser, culpado, 68-69, 127-128 sentimental, 69-70 Ser-no-mundo, 16-23, 110 e comportamento, 16-24 o mundo, 19-20, 111 ser-em, 126 Significação, 5 camadas, 31 e estrutura, 16 mudança, 11 na redução fenomenológica, 35 Social, campo, 9, 12-14, 75-80, 107 dor, 78 psicologia, abordagem fenomenológica, 75-80, 128-129 de experimentos, 119 experimentos, 120-121 Sujeito como co-pesquisador, 47-49, 121 TEMOR, 69 Tempo, abstrato e concreto, 64 adulto e infantil, 12-13 e, causalidade, 67-68 self, 67-74 no exemplo de uma criança de cinco anos, 5-9 visão de Heidegger, 126-127 Transcultural, estudo, 42-49 ÚNICOS, even tos, 34-37 34-37 indivíduos, 37-39 Universais, 35, 107 VERBAIS, relatos, 46, 120 Vergonha, 12, 78, 107 Verificação, 118-119 da adequação da interpretação, 31 na testa tes tagem gem psicológica,. 123 pela experiência vivida, 38, 65, 92-93, 131