Interpretando Interpretando as Narrativas do AT Prof. Jean Francesco
Introdução !
Mais de 60% do conteúdo bíblico é composto por narrativas, isto é, Deus se revela através de histórias;
As narrativas da Bíblia estão distribuídas em várias partes: Pentateuco (Gn-Dt), Históricos (JsEt), algumas partes dos Profetas, Evangelhos e em Atos;
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Os povos do Oriente antigo tinham um jeito específico de contar suas histórias. Por este motivo, nós ocidentais de hoje não podemos impor nossos padrões ao texto bíblico, mas tentar compreender o texto dentro de seu próprio mundo original.
Quais são os princípios básicos para interpretar uma narrativa bíblica?
Três princípios essenciais! 1. Entender as narrativas não como meros fatos, mas como uma história carregada de significados teológicos e práticos; 2. Compreender cada narrativa dentro de seus contextos: 1. Imediato, 2. Livro, 3. Canônico, 4. Cristocêntrico; 3. Ler as narrativas pressupondo sua genialidade literária: 1. Cenas, 2. Personagens, 3. Lugares, 4. Recursos retóricos, 5. Intenção do autor.
(1) História teológica !
A história bíblica não é a história toda daquilo que aconteceu, mas é a narração de alguns fatos selecionados com um objetivo específico: revelar quem Deus é e o que ele faz. Portanto, não é “mera história”, é a história sendo contada da perspectiva divina.
(1) História teológica !
A história bíblica não é centrada no homem e naquilo que ele deve fazer (moralismo + obras), mas em Deus e naquilo que ele fez, faz e fará pela humanidade (graça). Logo, a chave para interpretar as narrativas é olhálas da perspectiva teocêntrica.
Sugestão
Donald A. Carson. O Deus presente. São José dos Campos: Editora Fiel, 2012.
(1) História teológica !
Por ser uma narrativa teológica, os autores narram histórias para inspirar em nós a fé e confiança plena no caráter de Deus. Podemos dizer que as narrativas bíblicas são “sermões em forma de histórias” (LONGMAN, p. 111). O objetivo final do autor é sempre propiciar um encontro com o Deus da história.
(2) Coloque as narrativas em seus contextos! !
Histórias não devem ser lidas em desconsideração de seus contextos. Cada história tem um sentido se lida dentro de seu contexto e pode ter outro às vezes oposto se o contexto não for respeitado (Ex.: Célula e o Corpo).
(2) Coloque as narrativas em seus contextos! Exemplo:
Gideão pede sinais para saber a vontade de Deus (Juízes 6.36-40). Devemos fazer o que ele fez? Como interpretar essa narrativa?
(2) Coloque as narrativas em seus contextos! Interpretação: contexto imediato
O fato de Gideão pedir sinais a Deus não é um gesto nobre, mas demonstra total falta de confiança na palavra de Deus. No capítulo seguinte, Deus é que testa o próprio Gideão acerca do número dos soldados para a guerra. A generosidade e paciência de Deus está em destaque.
(2) Coloque as narrativas em seus contextos! Interpretação: contexto do livro
Ele é mais um juiz, dentre os 12 do livro, que Deus usa para libertar o seu povo. Ele é só um figurante do grande protagonista (Deus) que continua libertando o seu povo apesar de seus pecados. Mensagem de Juízes: Pecado —> Maldição —> Arrependimento —> Libertação —> Benção.
(2) Coloque as narrativas em seus contextos! Interpretação: contexto canônico
Gideão é um personagem usado por Deus para libertar seu povo de um conflito contra os midianitas. Ensina-nos um princípio geral de que Deus nos usa apesar de nossas fraquezas e covardia (Ex: Abraão, Moisés, Jeremias, Pedro, Timóteo).
(2) Coloque as narrativas em seus contextos! Interpretação: contexto Cristocêntrico
Gideão é um mini-exemplo do grande homem que foi usado pelo Espírito Santo para libertar o mundo do pecado, da morte e da condenação eterna: Jesus. Em seu momento de maior fraqueza, Getsêmani, Jesus permaneceu firme em sua missão de nos resgatar.
(2) Coloque as narrativas em seus contextos! Exemplo:
O Êxodo: o evento no qual Deus libertou os israelitas da escravidão do Egito (Ex 13). Como interpretar essa história?
(2) Coloque as narrativas em seus contextos! Contexto imediato: O Deus que liberta da escravidão (10 sinais + Páscoa, Mar vermelho) Contexto do livro: Chamado de Moisés —> libertação —> Missão de Israel —> 10 mandamentos —> Tabernáculo —> Terra prometida. Contexto canônico: modelo libertador de Deus na história: Noé, Abraão, Ló, Babilônia, Satanás. Contexto cristocêntrico: Jesus como aquele que encena o novo êxodo: 1. Atravessa o mar, 2. Vai para o deserto, 3. Dá sua lei, 4. Realiza o seu êxodo na Páscoa (cruz); 5. Promessa do Espírito; 6. Prometeu uma terra.
“Todos os acontecimentos do Antigo Testamento antecipam o grande ato de redenção, que Jesus realizou na cruz. A Bíblia é muito mais do que uma coleção de histórias isoladas com lições morais importantes. Ela conta apenas uma história, que é única. Todas as diversas histórias — Abraão, Moisés, Davi, Neemias, Daniel e da Igreja Primitiva — contribuem para uma história única da salvação divina, e esta história tem o clímax em Jesus Cristo.” (LONGMAN, 2003, p. 119).
(3) Recursos literários !
Como uma obra de arte, as narrativas precisam ser lidas levando-se em conta pelo menos três coisas:
1. Cena: personagens, cenário, tempo; 2. Estrutura retórica: repetições, inclusões e quiasmos; 3. A intenção do autor por trás de cada cena e recursos retóricos.
Exemplo de repetições: 1 Reis 17
1. Elias no palácio diante de Acabe 2. Elias alimentado pelos corvos 3. Elias e a viúva de Sarepta 4. Elias e o filho da viúva Qual é o elemento que dá unidade às quatro cenas da vida de Elias? Quais recursos literários o autor usa para nos fazer entender sua intenção por trás das quatro cenas? Cf.: 17. 2, 8, 16, 24.
Exemplo de inclusão: Gênesis 11.1-9
Você já reparou que a história da Torre de Babel está exatamente no meio das genealogias dos filhos de Noé? Por que o autor faz isso e qual é a sua intenção? E como o problema é resolvido no capítulo seguinte? Genealogia ( Torre de Babel ) Genealogia —> ?
Exemplo de quiasmo: Gênesis 12-13
Você já reparou qual é a ordem das viagens que Abraão faz em sua peregrinação? Qual é a intenção do autor?
A Betel, v. 8 B Neguebe, v. 9 C Egito, v. 10-20 (mais importante)
B’ Neguebe, 13.1 A’ Betel, 13.3
Bibliografia !
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LONGMAN III, Tremper. Lendo a Bíblia com o coração e a mente. São Paulo: Cultura cristã, pgs 101-120. KAISER; SILVA. Introdução à Hermenêutica bíblica. São Paulo: Cultura cristã, pgs 67-82. GREIDANUS, Sidney. O pregador contemporâneo e o texto antigo. São Paulo: Cultura cristã, pgs 231-276