Influências da Guerra Fria no Brasil
Após o fim da 2ª Guerra Mundial em 1945, com a derrota da Alemanha, Itália e Japão e vitória da URSS, França e EUA. A Europa, que estava devastada, fica tomada por tropas das duas maiores potencial mundiais da época, URSS e EUA, constituindo assim um novo sistema global bipolar. Começa então a Guerra Fria: EUA defendendo o capitalismo como um sistema em que era possível a liberdade e a democracia; e a URSS levantando a bandeira do socialismo, alegando que somente através dele a burguesia e os problemas sociais poderiam ser combatidos. O mundo divide-se então, grosseiramente falando, em dois grandes pólos: Europa Ocidental e Américas sobre a influência capitalista e, a Europa Oriental e Ásia sobre o comando socialista. O objetivo desse conflito era mostrar o poderio político, militar, tecnológico, econômico, social, bélico e ideológico entre os dois conglomerados e suas zonas de influência. Esse cenário mundial implicou no Brasil, um que na época era considerado de “terceiro mundo”, foi o retorno do anticomunismo e conservadorismo. Para entender melhor, temos que juntamente com o fim da 2ª Guerra também estava havendo uma mudança na configuração política na América Latina. No Brasil, o governo Vargas de 15 anos havia acabado acabado e Dutra assumia o cargo presidencial. Os EUA temendo possíveis expansões dos ideais soviéticos e do comunismo, fizeram alianças, através de tratados como o TIAR e a OEA, com países americanos para manter a segurando do continente o do próprio país, para manter uma barreira contra o bloco socialista. Pode-se observar que o Brasil passou por um processo de democratização logo ao final da 2ª Guerra e, imediatamente, um retorno às raízes autoritárias, ou seja, um retrocesso democrático. Pois, entre os países americanos, o Brasil era o parceiro mais próximo dos EUA e que teve maior envolvimento no conflito mundial. Analisando historicamente, Vargas procurou adequar-se ao novo cenário mundial, pois todos os países estavam saindo de sistemas sistemas ditatoriais para a democracia. Getúlio autorizou a construção de uma base norteamericana em Natal para auxiliar em operações no Norte da África, fez do Brasil um grande fornecer de matérias-primas e enviou tropas brasileiras para a 2ª Guerra na Europa. Com a vitória dos Aliados e a redemocratização, as forças oposição a Vargas pressionaram para o fim da ditadura do Estado Novo. E foi isto que ele fez: iniciou um processo de abertura. Além disso, era necessário o capital estrangeiro para que o Brasil continuasse em seu processo de industrialização. Em 45, a censura à imprensa e a repressão à oposição foram abolidas, anistiaram-se os presos políticos, colocou-se na legalidade o PC e foram chamadas as eleições. O movimento queremista que temia o levante de um novo governante com tendências autoritárias, passou a se mobilizar e a difundir idéias de que seria melhor para o país que Getúlio continuasse no poder, porém, muitos comunistas se aliaram a esse movimento, o que fez com que os EUA se preocupassem, pois, a continuação de Vargas no poder representava um Brasil de esquerda e comunista. No pós-guerra, o Brasil passou a se americanizar e a facilitar a penetração norte=americana no país. No início do governo Dutra já era aparente o retrocesso democrático com a intensificação da repressão aos movimentos sociais e a esquerda. O contexto internacional era de conflitos entre os capitalistas e os comunistas e, no Brasil, não era diferente: inúmeras greves de médio e grande porte, movimentos populares estimulados pela inflação, carestia e reivindicando por políticas sociais. O presidente Dutra era um anticomunista militar, porém ele muda de posição em 45, quando o Brasil se aliou ao EUA. Porém, quando os EUA começaram a repudiar os movimentos comunistas no Brasil, ele volta para sua posição de origem. Começa novamente a repressão ao PCB, aos movimentos sindicais e populares e as greves. A Juventude Comunista, o PCB, o CTB e as Uniões Sindicais foram postas na ilegalidade e suas atividades foram suspensas. O PCB pronunciou um manifesto contra Dutra e exigindo sua renuncia. Logo após, uma lei classificado pelo jornal conservador “O Estado de São Paulo” como “golpe da constituição” e “facista”, foi posto em vigor e previa a restrição a liberdade e censura a imprensa. Os jornais ligados ao PCB sofreram forte repressão e muito foram até fechados. Manifestações multipartidárias e comunistas foram combatidas com as forças militares. Políticos comunistas tiveram seus mandatos cassados e funcionários públicos comunistas foram destituídos de seus cargos. Até mesmo as escolas de samba e o carnaval passaram a ser controlados no governo Dutra. As transmissoras de rádio também não podiam tocar qualquer música, somente as permitidas pelo SCDP. Mesmo com toda a repressão, os comunistas fundaram o PPP e pediram o registro do partido, porém foi negado sob a alegação de ser mais um partido comunista. O Brasil rompeu relações diplomáticas com a URSS sob a justificativa de que a imprensa soviética efetuava acusações ao presidente Dutra. Com o fechamento do PCB e a repressão aos comunistas, a relação Brasil X URSS piorou. Na IV Conferência dos Ministros das Relações Exteriores dos Estados Americanos,
ocorrida em Washington, em março de 1951. O objetivo do encontro, solicitado pelo governo dos EUA, era definir apoios concretos para a ação norte-americana na Guerra da Coréia. Na reunião, foram aprovados documentos que confirmavam o alinhamento dessas nações aos EUA, contudo ficou evidente o caráter meramente formal dessas medidas. Os EUA viram frustrados os seus propósitos, uma vez que esperavam um apoio mais concreto, como, por exemplo, o envio de tropas para a região do conflito. Em discurso, representando os seus colegas latino-americanos, o ministro brasileiro, Neves da Fontoura, afirmou o desejo de cooperação com os EUA na elaboração de um plano de emergência para a defesa do hemisfério, mas ao mesmo tempo realçou a expectativa de um plano de apoio ao desenvolvimento econômico da região, após a guerra. Destacou que após o fim da II Guerra Mundial, as economias latino-americanas, que haviam sido redirecionadas para alimentar os esforços de guerra, se viram em profunda crise, sem que recebessem a atenção devida, uma vez que os EUA concentravam os seus esforços na reconstrução da Europa. No entanto, Neves da Fontoura, nos meses que se seguiram, foi um árduo defensor do envio de tropas à Coréia. Ele e o general Góes Monteiro buscaram chegar a uma negociação com os EUA. Contudo, não se chegou a um ponto que atendesse às posições hegemônicas no governo e o acordo nunca foi firmado. As divergências internas e a relutância dos EUA em aceitar os termos brasileiros criaram dificuldades nessas negociações e levaram o Brasil a não enviar as tropas. Porém, isso não impediu que em 1952 fosse firmado o acordo de cooperação militar entre os dois países, sancionado pelo Congresso em março do ano seguinte. Em 50, Vargas volta ao poder através do voto popular e continua a política nacionalista que tinha iniciado no fim de seu mandato, em 45. Os militares também estavam descontentes com medidas consideradas “de esquerda”, como a campanha “O Petróleo é nosso”, que impedia as empresas estrangeiras pudessem explorar o petróleo em terras brasileiras e, posteriormente, resultou na criação da Petrobrás. A população também estava muito descontente, pois a situação econômica do país era ruim, já que a entrada de capital estrangeiro estava restrito com essa política de estatização. Começam a surgir movimentos militares com o intuito de um golpe militar apoiado pelos EUA, que não estavam satisfeitos com o governo Getúlio e temiam uma nação socialista no território americano. Getúlia estava sendo pressionado a renunciar, mas para garantir que não houvesse golpe, ele, num ato completamente pensado e político, se suicida em 54. Seu vice termina o mandato e em 55, novamente são chamadas as eleições de Juscelino Kubitschek é eleito. O governo JK foi mais ligado aos princípios capitalistas, ao EUA e visava desenvolvimento, como o Expandiu-se a infra-estrutura de rodovias, ferrovias e portos, energia elétrica, armazéns e silos. A política de industrialização implantou indústrias de bens de consumo duráveis e de bens de produção, como automobilística, eletrodoméstico, construção naval entre outras. Outro fator foi a construção da capital Brasília no interior do país com o intuito de atenuar as disparidades regionais e promover a interiorização e, esse projeto conseguiu durante um certo momento amenizar os conflitos da Guerra Fria, pois uniu pessoas de direita (capitalista) e de esquerda (socialistas). As grandes mudanças no cenário urbano brasileiro provocaram também seus reflexos na cultura e na arte. Houve uma exploração comercial do cinema, teatro e da música. Na música surgiu a Bossa Nova, influenciado no estilo norte-americano e no teatro apareceu Nelson Rodrigues causando escândalo ao tematizar os conflitos de uma classe média urbana, angustiada por incertezas existenciais e por problemas materiais. próprio lema de seu governo já explicitava: “50 anos em 5” .
Em 61, o presidente eleito foi Jânio Quadros que tinha uma ideologia contrária a de JK: ele pregava a moralização do governo. Jânio tentava uma aproximação com o bloco socialista para fins estritamente econômicos, mas assim não foi a interpretação da direita no Brasil, que passou a alardear o pânico com a "iminência" do comunismo. A fórmula adotada por Jânio foi combinar uma política interna conservadora, deflacionista e antipopular, com uma política externa de rompantes independentes, para atrair a simpatia da esquerda. Jânio atraiu a ira militar e o desgosto popular e, tentou renunciar como uma tentativa de dar seu próprio golpe, até porque, seu vice, João Goulart, era esquerdista e ele pensava que não iriam aceitar sua renuncia e preferir sua permanência. Pensamento errado. Os militares, mais uma vez motivado pelos EUA e o bloco capitalista, tentam aproveitar esse momento para dar um golpe por temerem a instauração do comunismo, porém Jango assume sob regime parlamentarista, ou seja, nesta época o país tinha primeiro-ministro. Mas, em 63, com apoio popular, Jango realiza um plebiscito e a população escolhe a volta ao sistema presidencialista. Goulart passou então a manobrar para manter o apoio das bases populares e sindicais e ao mesmo tempo atrair as simpatias do centro político. Para isso, lançou o plano trienal de desenvolvimento econômico e social, em que defendia conjuntamente as reformas de base, agrárias e urbanas, medidas anti-inflacionárias clássicas e investimentos estrangeiros. O resultado foi exatamente o oposto. O plano foi atacado tanto pela esquerda quanto pelos conservadores, todos preocupados mais com as implicações políticas que com os resultados práticos. O governo, atordoado pelas críticas de todos os lados e fustigado pelos problemas econômicos que se avolumavam, optou pelo apoio das esquerdas. Um movimento militar, apoiado pela a classe burguesa do Brasil, os investidores estadunidenses e a CIA, espalhou-se rapidamente por todo o Brasil, praticamente sem reação da esquerda. Alguns políticos e líderes esquerdistas foram presos, a maioria fugiu em debandada, e Goulart exilou-se no Uruguai. Era o início da ditadura militar no Brasil.
O golpe de estado de 1964, qualificado por personagens afinados como uma revolução, instituiu uma ditadura militar, que durou até 1985. Os militares então justificaram o golpe, que eclodiu cinco anos após o alinhamento cubano à União Soviética, governado por Nikita Khrushchev, sob alegação de que havia uma ameaça comunista, afirmando ter eclodido no caso uma contrarrevolução, fortemente contestada principalmente pela historiografia marxista. Os Estados Unidos participaram da tomada de poder, principalmente através de seu embaixador no Brasil, Lincoln Gordon, e do adido militar, Vernon Walters, e haviam decidido dar apoio logístico aos militares golpistas, caso estes enfrentassem uma longa resistência por parte de forças leais a Jango: em Washington, o vice-diretor de operações navais, John Chew, ordenou o deslocamento para Santos de uma força-tarefa, operação que, embora não completada, ficou conhecida como "Brother Sam". O Congresso Nacional extingue a União Nacional dos Estudantes (UNE) e todas as uniões de estudantes estaduais, aprovando a Lei Suplicy. O governo militar torna obrigatório o ensino do idioma inglês em todas as escolas públicas e privadas do Brasil, como resultado de negociações entre o Governo Federal e o governo dos Estados Unidos chamado na época de Acordo MEC-Usaid. Os EUA, maiores aliados da ditadura de direita no Brasil, passava a influenciar e infiltrar-se ainda mais a cultura no Brasil, com ações mútuas dos governos neste sentido. O ano de 1968 foi marcado pela luta contra a ditadura, que atraía cada vez mais participantes: profissionais liberais, artistas, religiosos, operários, donas-de-casa. O movimento contra a direita e o estabelecimento do sistema foi mundial naquele ano, com movimentos no mundo todo, tanto nos países do Bloco capitalista quanto o Bloco comunista assim como nos países não alinhados. A repressão aos movimentos de esquerda se intensificou, todos os aparelhos de estado estavam interligados e funcionando a plena potência, os sistemas de vigilância também estavam coordenados e liderados por profissionais treinados nos Estados Unidos. Essa ditadura, comandada primeiramente pelo general Castelo Branco, interveio nos sindicatos, fechando várias associações, dentre elas a UNE – União Nacional dos Estudantes, proibiu greves, cassou mandatos de políticos de oposição, criou o SNI - Serviço Nacional de Informação, que tinha a função de espionagem política. Esse período se caracterizou pela censura à imprensa, movimentos culturais e sociais, a repressão aos opositores do regime militar, institucionalização da tortura, entre outros fatores. O ideal capitalista que apresentava uma propaganda representada por uma família alegre assistindo televisão começou a transformar o ideal socialista representado por um povo sofredor enfrentando filas enormes e grandes perseguições militares. Mas, esses capitalistas foram quem fizeram essas perseguições, deixando uma boa parte da população brasileira oprimida e proibida de apresentar “o que é que o brasileiro tem”. Junto com todas essas transformações vindas com a ditadura, teve ainda o Ato Inconstitucional número 05, que afirmava essa ditadura, firmada em um poderio militar, característico da Guerra Fria. Apesar dessas perseguições, muitos brasileiros deram seu grito de revolta contra esse sistema. Tem-se como exemplo a Tropicália de Gilberto Gil e Caetano Veloso, movimento inspirado no Fino da Bossa liderado por Elis Regina e Jair Rodrigues, que tinham como característica o ideal brasileiro, independente de qualquer estrangeirismo que impedisse a criatividade brasileira. Nesse mesmo contexto surgiu a Rede Globo de Televisão, comandada por um burguês, Roberto Marinho, com o objetivo de afirmar essa ditadura cruel e feroz. Em momentos de revoltas, ela apresentava os shows da Jovem Guarda, que tinha seus maiores ícones: Rei Roberto Carlos, o “tremendão” Erasmo e Wanderléia. Além de tudo isso o povo gritava: para frente Brasil, sorrindo com os gols de Pelé, enquanto muitos perdiam seus familiares e amigos que até hoje permanecem desaparecidos.