Faculdade de Teologia e Filosofia
Bacharel em Teologia HOMILÉTICA “A SUA UNÇÃO VOS ENSINA A RESPEITO DE TODAS TODA S AS COISAS” 1 Jo 2.27 “A sabedoria é a coisa principal; adquire pois, a sabedoria; sim com tudo o que possuis adquire o conhecimento” (Pv 4.7)
Pr. A. Carlos G. Bentes DOUTOR EM TEOLOGIA
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Criado por Pr. Bentes
Copyright © 2007 Antônio Carlos Gonçalves Bentes
Capa: Carlos Bentes Revisão e diagram d iagramação: ação: Carlos Bentes 1ª edição: 2007
O AUTOR
Bentes, Antônio Carlos Gonçalves Homilética – Belo Horizonte: edição do autor, 2007. ISBN
CDD CDU
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Bentes, Antônio Carlos Gonçalves Homilética – Belo Horizonte: edição do autor, 2007. ISBN
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EPÍGRAFE “O sermão é uma bandagem que trata trat a as feridas da alma”. Ambrósio “Ganhar almas é a principal ocupação do ministro cristão. Na verdade, deveria ser a principal atividade de todo crente verdadeiro”. verdadeiro”. “Eu desejaria antes levar um só pecador a Jesus Cristo do que desvendar todos os mistérios de Deus, pois a salvação é aquilo pelo que devemos viver”.
Charles H. Spurgeon
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ÍNDICE INTRODUÇÃO: A NOBREZA DA PREGAÇÃO
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O PROPÓSITO DE DEUS PARA A PREGAÇÃO
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A CONTEMPORANEIDADE DA PREGAÇÃO
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HOMILÉTICA
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RETÓRICA
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DISTINÇÕES CLÁSSICAS
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ORATÓRIA
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A RELAÇÃO ENTRE A HOMILÉTICA E OUTRAS DISCIPLINAS
31
O CONTEÚDO DA HOMILÉTICA
36
A NATUREZA DA HOMILÉTICA
37
CLASSIFICAÇÃO DO SERMÃO
40
A ESTRUTURA HOMILÉTICA
41
DIVISÃO DO SERMÃO
42
GRANDES PREGADORES
60
EVANGELHO, EVANGELIZAÇÃO, EVANGELISMO
66
MÉTODOS, ESTRATÉGIAS E TÉCNICAS
76
O EVANGELISMO E O PROCESSO DA COMUNICAÇÃO
79
O ESPÍRITO SANTO E O EVANGELISMO
92
BIBLIOGRAFIA
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INTRODUÇÃO: A NOBREZA DA PREGAÇÃO
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O pregador inglês Lan Tait zomba de quem estuda a Bíblia somente para adquirir mais informações, crendo que sua mente esteja se desenvolvendo quando , de fato, apenas seus ouvidos estão inchando. Conhecer simplesmente por amor ao conhecimento “ensoberbece” (l Co 8.1). As riquezas da Palavra de Deus não são tesouros privativos de ninguém, e quando compartilhamos esses valores estamos participando de seus mais elevados propósitos. Esta é a razão pela qual Robert G. Rayburn ensinou por mais de um quarto de século, aos estudantes seminaristas: “Cristo é o Único Rei dos seus estudos, mas a rainha é a homilética”. 2 Quer sejam seus estudos num seminário, num instituto bíblico ou num programa de leitura particular, serão melhor recompensados quando você visualiza a maneira como cada elemento o prepara para pregar com precisão e autoridade. Cada disciplina bíblica atinge o propósito mais elevado, quando a usamos não simplesmente para dilatar nossa mente, mas para propagar o evangelh e vangelho. o. Elevar a pregação a um pedestal tão sublime pode intimidar até mesmo o mais leal estudante da Escritura. Provavelmente, nenhum pregador cuidadoso tenha incorrido em erro ao questionar se a tarefa é maior do que o servo. Quando encaramos pessoas reais dotadas de uma alma eterna, equilibrando-se entre o céu e o inferno, a nobreza da pregação nos amedronta mesmo quando revela nossa insuficiência. Sabemos serem insuficientes nossas habilidades para uma tarefa de tão amplas conseqüências. Reconhecemos Reconhecemos que nosso coração co ração não é puro o bastante para guiar guiar outros à santidade. Uma honesta avaliação de nossa perícia inevitavelmente nos leva à conclusão de que não temos eloqüência ou sabedoria capazes de levar as pessoas da morte para a vida. Esta pode ser a causa de jovens pregadores fugirem de sua primeira pregação, imposta como tarefa que precisa ser cumprida, e ainda de experimentados pastores sentirem-se desalentados quando no púlpito.
O PODER NA PALAVRA Em face das dúvidas relativas à eficiência pessoal numa época que questiona a validade da pregação precisamos de uma lembrança do desígnio de Deus para a transformação espiritual do ser humano. No final das contas, a pregação cumpre seus objetivos espirituais não por causa das habilidades do pregador, mas por causa do poder da Escritura proclamada. Os pregadores exercerão seu ministério com grande zelo, confiança e liberdade quando compreenderem que Deus retirou de suas costas as artimanhas da manipulação espiritual. Deus não está confiando em nossa destreza para a realização dos seus propósitos. Por certo, Deus pode usar a eloqüência e deseja esforços adequados à importância do assunto em questão, porém sua própria Palavra cumpre o programa de salvação e santificação. Os esforços pessoais dos maiores pregadores são ainda 1
CHAPELL, CHAPELL, Bryan. Pregação Cristocêntrica.1ª ed. São Paulo. Editora Cultura Cristã, 2002, p .26-28. Robert G. Raybyurn foi presidente fundador do Covenant Theological Seminary, e seu primeiro professor de homilética de 1956-1984. Citações de suas notas de classe, não publica pub licadas. das.
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demasiados fracos e manchados pelo pecado para serem responsáveis pelo destino eterno das pessoas. Por essa razão Deus infunde sua Palavra com poder espiritual. A eficácia da mensagem, mais que qualquer virtude do mensageiro, transforma corações. O PODER DE DEUS INERENTE À PALAVRA
Não podemos saber precisamente como a verdade de Deus transforma vidas, mas devemos discernir a dinâmica que nos dá esperança em nossa própria pregação. A Bíblia torna isto claro - que a Palavra não é somente poderosa, ela é inigualável. A palavra de Deus: Cria: “Disse Deus: Haja luz; e houve luz” (Gn 1.3). “Pois ele falou, e tudo se fez; ele ordenou e tudo passou a existir” (Sl 33.9). Controla: “Ele envia as suas ordens à terra, e sua palavra corre velozmente; dá neve como lã e espalha a geada como cinza. Ele arroja o seu gelo em migalhas ... Manda a sua palavra e o derrete (Sl 147.15-18). Persuade:
“mas aquele em quem está a minha palavra fale a minha palavra com verdade ... diz o Senhor. Não é a minha palavra fogo, diz o Senhor, e martelo que esmiúça a penha?” (Jr 23.28,29). Cumpre seus propósitos : “Porque, assim como descem a chuva e a neve dos céus e
para lá não tornam, sem que reguem a terra... assim será a palavra que sair da minha boca; não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a designei” (Is 55.10,11). Anula os motivos humanos:
Na prisão, o apóstolo Paulo se regozijava, porque quando outros pregavam a Palavra, “quer por pretexto, quer por verdade”, a obra de Deus seguia adiante (Fp 1.18). A descrição da Escritura acerca da sua potência desafia-nos a lembrar sempre que a Palavra pregada, antes mesmo da pregação, cumpre os propósitos do céu. Pregação que é fiel à Escritura converte, convence e amolda o espírito de homens e mulheres, pois ela apresenta o instrumento da compulsão divina, e não que pregadores pr egadores tenham em si mesmos qualquer poder transformador.
O PODER DA PALAVRA MANIFESTADO EM CRISTO Deus manifesta plenamente o poder dinâmico da Palavra do Novo Testamento ao identificar seu Filho como o divino Logos, ou Palavra (Jo 1.1). Por meio da identificação do seu Filho como sua Palavra, P alavra, Deus revela que a mensagem do Filho e a Pessoa do Filho são inseparáveis. A palavra o incorpora. Isso não quer dizer que as letras e o papel da Bíblia são divinos, mas que as verdades que a Escritura sustenta são veículos de Deus,
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de sua própria atividade espiritual. A Palavra de Deus é poderosa porque ele está presente nela e opera por meio dela. Por meio de Jesus “todas as coisas foram feitas” (Jo 1.3) e ele continua “sustentando toda as coisas pela palavra do seu poder” (Hb 1.3). A Palavra emprega sua palavra para levar a cabo todos os seus desígnios. O poder redentor de Cristo e o poder da sua Palavra unem-se ao Novo Testamento com Logos (a encarnação de Deus) e logos (a mensagem acerca de Deus), tornando-se termos tão reflexivos como que para formar uma identidade conceptual. Da mesma forma como a obra da criação procede da Palavra que Deus articula, assim também a obra da nova criação (i.é, redenção) nos vem pela Palavra viva de Deus. Tiago afirma: “ele [i.é, o Pai] nos gerou pela palavra da verdade ...” (Tg 1.18). A expressão palavra da verdade se aplica como um trocadilho que reflete a mensagem sobre a salvação e o único que opera o novo nascimento. O mesmo jogo de palavras é empregado por Pedro: “pois fostes regenerados não de semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a palavra de Deus” (1 Pe 1.23). Nessas passagens, a mensagem acerca de Jesus e o próprio Cristo se harmonizam. Ambos são a “viva e eterna Palavra de Deus”, pela qual nascemos de novo. Assim, não é algo meramente prosaico insistir que o pregador deve servir ao texto, pois se a Palavra é a presença mediadora de Cristo, o serviço é devido. Paulo instrui corretamente o jovem pastor Timóteo a ser um obreiro “que maneja bem a palavra da verdade” (2 Tm 2.15), pois a Palavra de Deus é “viva e eficaz” (Hb 4.12a). A verdade da Escritura não é objeto passivo para nossa investigação e apresentação. A Palavra nos examina. “[Ela] é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração” (Hb 4.12c). Cristo permanece ativo em sua Palavra, P alavra, levando a efeito tarefas divinas que o apresentador da Palavra não tem o direito ou a capacidade pessoal de assumir. Essas perspectivas sobre a Palavra de Deus culminam no ministério do apóstolo Paulo. O estudioso missionário que não se tornou conhecido pela habilidade no púlpito, no entanto, escreveu: “Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê” (Rm 1.16). Como estudantes do grego elementar logo aprendem, a palavra “poder” nesse versículo dunamis, da qual nos vem o termo dinamite em português. A força do evangelho transcende o poder do pregador. Paulo, em suas habilidosas comunicações, prega sem envergonhar-se, pois a Palavra que ele anuncia quebra a dureza do coração humano de tal forma que nenhum progresso técnico pode competir com ela. De certo modo, o processo como um todo parece ridículo. Pensar que o destino eterno sofrerá mudança só por que anunciamos conceitos de um texto antigo, desafia o bom senso. Quando Paulo elogia a loucura da pregação – não pregação louca - ele reconhece a aparente insensatez de tentar transformar atitudes, estilos de vida, perspectivas filosóficas e compromissos de fé, com meras palavras (1 Co 1.21). No entanto, a pregação persiste e o evangelho se expande porque Deus confere aos débeis esforços humanos a força de sua própria Palavra.
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O PROPÓSITO DE DEUS PARA A PREGAÇÃO 3 “A pregação não discurso nem aula de retórica. Seu propósito tem de estar na transformação de vidas. Se a mensagem não provoca mudança na vida das pessoas, não é pregação! Ela não deve focar os planos do ser humano, e sim os propósitos de Deus, porque estes é que prevalecerão. São eternos”. “O propósito da pregação e da Bíblia consiste em buscar um fim corporativo para a explanação e o ensino” (1 Tm 1.5,6; Cl 1.28). 4 “O maior desafio da pregação é: Declarar verdades eternas que nunca mudam e aplicá-las num mundo em constante mudança”.5
A CONTEMPORANEIDADE DA PREGAÇÃO 1.1. A Contemporaneidade na Pregação Apostólica Quando pensamos em pregação apostólica, tendo por fonte de pesquisa o Novo Testamento, ficamos restritos a dois expoentes na pregação da Igreja Primitiva: Pedro e Paulo. O primeiro muito mais pelo sermão pregado no Pentecostes (Atos capítulo 2) e o sermão incompleto pregado na casa de Cornélio (Atos capítulo 10). Com relação a Paulo, temos os sermões transcritos em Atos, o primeiro na sinagoga de Antioquia da Psídia (capítulo 13), o segundo no Areópago, em Atenas (capítulo 17), o terceiro em Mileto, aos anciãos da Igreja em Éfeso (capítulo 20), o quarto ao povo judeu irado, em Jerusalém, o que na verdade não pode ser considerado um sermão, mas um testemunho pessoal (capítulo 22) e o derradeiro na presença do rei Agripa (capítulo 26). Além disso, as treze epístolas atribuídas à autoria paulina igualmente podem nos auxiliar neste intento. Quanto à pregação de Pedro, pouco podemos analisar face a falta de esboços. Entretanto, podemos assegurar que atingiu em cheio o objetivo da pregação pela resposta dada pela população, conforme nos assevera a Bíblia, quando quase três mil almas se converteram seguida pela mesma resposta na casa do oficial romano. Sabemos ser improvável que Lucas tenha registrado as palavras exatas de Pedro, mas, certamente, registrou a essência do sermão pregado pelo apóstolo. Tal sermão visou provar tanto pela profecia de Joel como pelo salmo de Davi que Jesus era verdadeiramente o Messias, e que este ressuscitara dentre os mortos. Tão bem sucedido foi o pregador que os ouvintes o inquiriram acerca de que atitude deveriam tomar.
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PAES, Carlito. COMO PREPERAR MENSAGENS PARA TRANSFORMAS VIDAS. 1ª ed. São Paulo: Editora Vida, 2004, p.21. 4 Ibid. PAES, Carlito. p. 22. 5 Ibid. PAES, Carlito. p. 23.
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Podemos afirmar que Pedro utilizou-se exatamente das ferramentas adequadas para tratar com israelitas de diversas nacionalidades: ele os chama “israelitas” e não judeus, justamente porque a segunda forma de tratamento pressupunha que habitavam em Judá; além disso, utiliza argumentação puramente veterotestamentária para persuadi-los. Outro fato a destacar é que o próprio Espírito Santo cooperou para que não houvesse barreiras na comunicação da Verdade, pois Ele deu a cada israelita estrangeiro a oportunidade de ouvir na sua própria língua o testemunho dos discípulos. No envio de Pedro à casa de Cornélio, por obra do Espírito - que convenceu o apóstolo reticente e lhe possibilitou compreender que o Evangelho era igualmente destinado aos gentios encontramos outro exemplo de que o próprio Espírito Santo ensina o caminho da contextualização. O material acerca da pregação do apóstolo Paulo é muito mais farto, justamente por que o livro de Atos lhe dá especial destaque. Além disso, temos toda a sua produção literária constituída por suas epístolas que muito nos podem auxiliar na averiguação do estilo de pregação do apóstolo. C. H. Dodd ressalta a riqueza de informações que o Novo Testamento nos apresenta acerca de Paulo e, com base nestas informações, enaltece a inteligência e a versatilidade da pregação do apóstolo. As cartas de Paulo são intensamente vivas - vivas como poucos documentos chegados até nós de tão remota antiguidade. Elas nos dão não um mero esquema de pensamento, mas um homem vivo. Era uma pessoa de extraordinária versatilidade e variedade. (...) Era igualmente alguém capaz de aplicar a fria crítica da razão aos seus próprios sonhos, e de julgar com sereno equilíbrio o valor verdadeiro dos fenômenos anormais da religião. (...) O seu pensamento é forte e sublime, mais aventuroso que sistemático. Possuía uma inteligência colhedora e uma faculdade de assimilar e usar as idéias dos outros, o que é um grande atributo para quem tenha uma nova mensagem para propagar; sabia pensar nos termos das outras pessoas. É justamente esta habilidade última observada por Dodd, de que Paulo sabia pensar nos termos das outras pessoas, que ressalta a contemporaneidade de sua pregação. No congresso realizado na cidade suíça de Lausanne, em 1974, o missiólogo Michael Green asseverou dentre várias características da evangelização por parte da Igreja Apostólica, que esta era flexível em sua mensagem. Para ele aquela Igreja adaptava-se ao público e às circunstâncias, de acordo com a necessidade do momento, com a cultura, o lugar, o povo. Esta flexibilidade é característica na pregação do apóstolo Paulo. Especificamente acerca da pregação do apóstolo Paulo, o Dr. Shepard enaltece sua personalidade e a capacidade de adaptar-se às circunstâncias, classificando-o como “o maior dos pregadores, exceto Cristo”.
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Foi uma personalidade altamente enriquecida, tanto dos dons hereditários como de educação aprimorada. Nos seus discursos, às vezes, a veemência da natureza corre como o rio, avolumado por chuvas torrenciais; às vezes aparece tão terna e mansa a sua palavra como o amor de mãe. O seu fim no trabalho foi a edificação do caráter cristão. A sua habilidade de adaptar-se às circunstâncias do seu ministério parecia infinita. Os seus sermões eram a lógica personificada, uma correnteza de argumento e apelo que levava tudo de vencida, na sua força irresistível. (...) Majestoso pelo seu intelecto estupendo, versatilíssimo, poderoso no uso da palavra, incansável, infinito em adaptabilidade, esse gênio natural, reforçado pelo preparo mais completo, entregue nas mãos de Deus, representa nas cenas da história o papel de verdadeiro gigante espiritual proeminente na lista dos heróis da fé... Assim, não resta dúvidas de que um dos pontos altos da pregação de Paulo era sua habilidade em contextualizar-se para alcançar a relevância junto a seus ouvintes. Podemos ainda destacar com relação à pregação apostólica registrada no Novo Testamento, que era essencialmente bíblica, referindo-se fartamente a textos do Antigo Testamento, que era Cristocêntrica, pois a cruz de Cristo era o ponto central, além de flexível em sua forma. Sendo bíblica e contextualizada, a pregação apostólica nos serve de modelo pois, é justamente este binômio que entendemos ser fundamental à pregação eficiente. A flexibilidade da mensagem se expressa muito bem também nos sermões pregados por Pedro, Estevão, além dos pregados por Paulo em Atos e nas cartas endereçadas às várias Igrejas. Aos judeus o tema da mensagem foi “Jesus o Messias e o Servo Sofredor”, isto claramente posto na pregação de Pedro no Pentecostes e no discurso de Estevão. Aos romanos a temática foi a “justificação e o senhorio de Cristo”, conforme bem podemos perceber na epístola aos Romanos; e aos gregos o tema da pregação foi “a ressurreição dos mortos “ e “O Logos de Deus”. Isto também é observado por Orlando Costas, ao afirmar que todo pregador necessita ter em conta a cultura de seus ouvintes se é que deseja comunicar-se eficazmente. Ele nota nos pregadores bíblicos a capacidade de refletir profundamente sobre a cultura de seu tempo e cita como exemplos os apóstolos Paulo e João: Paulo se acerca dos filósofos estóicos em Atenas fazendo uso das próprias categorias deles, lhes fala do deus desconhecido e capta sua atenção. Daí passa ao problema básico dos gregos: a ressurreição dos mortos, e especificamente, a ressurreição de Cristo (Atos 17). João toma emprestado um termo da filosofia clássica grega (logos) para comunicar a fé cristã, usando, pois, os símbolos característicos de sua cultura, e expõe ante seu mundo a mensagem cristã. Desta forma, o Novo Testamento nos oferece elementos para dizermos que a Igreja Primitiva cumpria seu papel de pregação da Palavra eficientemente, porque era bíblica e, ao mesmo tempo, flexibilizava a mensagem, levando em conta a realidade dos ouvintes.
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1.2. A Contemporaneidade na Pregação Pós-Apostólica Segundo G. Burt, o período que seguiu o dos pais apostólicos foi assinalado por uma decadência. Ele afirma que o material homilético dos três séculos seguintes ao apostólico, é muito escasso. Mesmo assim cita algumas instruções de Clemente de Roma, Ignácio e Dionísio, no primeiro século, Aniceto no segundo e Cipriano, no terceiro. L. M. Perry e C. Sell referem-se a Clemente de Roma (30-100 AD) como um pregador de objetivos éticos e que conseguia, através de suas mensagens, propiciar “consolo para as pessoas que atravessavam tribulação”. Outro pregador deste período destacado por estes autores é Tertuliano (150-220 AD). Este teria sido um pregador exímio através de mensagens acerca da paciência e da penitência. Um período de ascensão da oratória na Igreja iniciou-se no quarto século, quando a partir de então floresceram Ambrósio, Basílio, Gregório, Crisóstomo e Agostinho, os mais célebres pregadores da Igreja Antiga. Outros pegadores dos primeiros séculos, dignos de serem citados, são Orígenes, Lactâncio, Jerônimo e Cirilo de Alexandria, dentre outros, dos quais temos somente discursos e homilias. Destes pregadores, conforme Burt, destacam-se Crisóstomo e Agostinho, que trouxeram relevante contribuição à literatura Homilética. A obra Peri Hierosynes , ou “De Sacerdócio”, de Crisóstomo, escrita no início de seu ministério, expressa, ainda que indiretamente, alguns preceitos fundamentais para a Homilética da época: 1. 2. 3. 4.
O clérigo - ou ministro - deve ser prudente e douto; Deve possuir alocução fácil; Deve conhecer as controvérsias entre gregos e judeus; Deve ser hábil na dialética (como Paulo, não menor na arte de falar do que nos escritos e ações); 5. Há necessidade de um longo e sério preparo para o ministério; 6. É indispensável o desdém pelos aplausos humanos; 7. Cada sermão deve ser um meio de glorificar a Deus. Parece-nos que a capacidade de flexibilizar a mensagem a ponto de torná-la adequada ao contexto dos ouvintes ainda que não esteja explicitamente anunciada acima, pode ser compreendida nas entrelinhas destas afirmações. Entretanto, parece óbvio que a maior preocupação era para com a oratória e a dialética. Ao referir-se a este mesmo pregador o Dr. Shepard ressalta que ele foi proeminente entre os principais pregadores de todos os tempos. Refere-se à sua instrução na ciência do direito, do seu intelecto extraordinário e de seu desapontamento como mestre no discurso argumentativo e da retórica. Ainda sobre Crisóstomo, Shepard destaca que “conhecia a natureza humana e nos seus discursos jamais se esqueceu de que os seus argumentos eram para convencer o
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povo”. Para este autor os sermões de Crisóstomo refletem de modo vivo as condições do seu tempo. Outra característica deste célebre pregador era sua simplicidade, sua clara preocupação em falar ao povo de sua época. Shepard enaltece a capacidade de Crisóstomo de interpretar a Palavra e de aplicá-la às necessidades do povo de sua época. Na verdade, João de Constantinopla (c. 347-407), que era natural de Antioquia da Síria e filho de mãe cristã, foi bispo de Constantinopla. Quando ocupou este tão importante cargo seu primeiro objetivo foi reformar a vida do clero. Justo Gonzales relata que alguns sacerdotes que diziam ser celibatários tinham em suas casas mulheres que chamavam de irmãs espirituais, e isto escandalizava a muitos. Além disso, outros clérigos haviam se tornado ricos e viviam em grande luxo e o trabalho pastoral da Igreja era negligenciado. As finanças foram submetidas a um sistema de controle detalhado. Os objetos de luxo que havia no palácio do bispo foram vendidos para dar de comer aos pobres. (...) É desnecessário mencionar que isto tudo, apesar de lhe conquistar o respeito de muitos, também lhe granjeou o ódio de outros. O empenho do bispo de Constantinopla não limitou-se apenas ao clero. Seus sermões exortavam os leigos a que levassem uma vida nos moldes dos princípios cristãos: Este freio de ouro na boca do teu cavalo, este aro de ouro no braço do teu escravo, estes adornos dourados em teus sapatos, são sinal de que estás roubando o órfão e matando de fome a viúva. Depois de morreres, quem passar pela tua casa dirá: “Com quantas lágrimas ele construiu este palácio? Quantos órfãos se viram nus, quantas viúvas injuriadas, quantos operários receberam salários injustos?” Assim, nem mesmo a morte te livrará dos teus acusadores. Eis aí um exemplo de pregador contextualizado ao seu povo. Ele recebeu o título de “Crisóstomo” (língua de ouro) cerca de 100 anos após a sua morte, face ao respeito que conquistou com seus sermões, tratados e cartas publicados. A história nos conta que Crisóstomo morreu no exílio, nas montanhas da Ásia Menor. O outro grande pregador destacado neste período foi Agostinho de Hipona (354430).Tido por muitos como o maior teólogo da antiguidade, converteu-se em Milão em meio a uma exortação ouvida por acaso num jardim, tirada de Romanos 13.13-14; foi batizado por Ambrósio em 387. Antes de sua conversão fora mestre de retórica; por isso em suas obras podem ser encontradas muitas instruções quanto à oratória, especialmente na obra De Proferendo, um dos quatro livros que constituem a sua Doctrina Christiana. Dela podemos retirar o conceito de “ótimo pregador” de Agostinho: “É aquele de quem a congregação ouve a
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Verdade, compreendendo o que ouve”. Para Agostinho a vitória do pregador consistia em levar o ouvinte a agir. A pregação atraente devia ser temperada de sã doutrina e gravidade. Agostinho foi ordenado bispo em Hipona, no norte da África, em 395. Dentre seus escritos merece atenção especial as suas Confissões, uma autobiografia onde o conta a Deus, em oração, suas lutas e peregrinação. É tida como uma obra única em seu gênero na antiguidade. Outra obra a destacar é A Cidade de Deus, escrita sob a motivação da queda da cidade de Roma, em 410, e tida como a maior de todas as suas obras literárias. Nesta, Agostinho responde àqueles que afirmavam que Roma tivesse caído porque se tinha entregue ao cristianismo e abandonado os velhos deuses que a tinham feito grande. Dennis F.Kinlaw enaltece grandemente tanto a obra literária como a pregação de Agostinho. Para ele o bispo de Hipona exemplifica o dever de todo pregador em ser um intérprete de sua época. Este autor sugere a leitura do sermão pregado por Agostinho no primeiro domingo após o recebimento da notícia de que Roma caíra nas mãos dos invasores godos, liderados por Alarico, em 410, como um digno exemplo de sermão contextualizado. Kinlaw define Agostinho como um homem de “visão clara de onde se encontrava a humanidade na sua peregrinação para Deus”. No intento de comprovarmos a preocupação com a mensagem contextualizada por parte dos pregadores na história da pregação, reconhecemos que após o ápice alcançado com Crisóstomo e Agostinho, houve pelo menos sete séculos de obscurantismo. O Dr. Ruben Zorzoli, professor do Seminário Internacional de Buenos Aires, descreve este período como tendo sido marcado “por completa escuridão e declínio”. Segundo Zórzoli, alguns fatores que contribuíram para este declínio foram a corrupção do clero, o crescimento das formas litúrgicas (que substituíram o lugar da pregação), a elevação da função sacerdotal sobre a do pregador, as controvérsias doutrinais, e o declínio no conteúdo da pregação pelo uso extremo da alegorização bíblica. O Dr. G. Burt comenta que nesta época utilizava-se a postilla, uma brevíssima paráfrase do texto bíblico, e que apenas alguns privilegiados tinham direito a assisti-la. Estes privilegiados eram chamados akpoumenoi na Igreja grega e audientes na latina. Nos séculos XII e XIII houve uma recuperação no prestígio da pregação. Zorzoli ressalta como motivos desta mudança as reformas na vida do clero, instituídas pelo papa Gregório VII; o avivamento intelectual resultante do escolasticismo e que elevou o conteúdo da pregação; a propagação de seitas heréticas que faziam uso da pregação - o que constrangeu a Igreja Católica a reagir; as cruzadas, que se utilizavam da pregação na mobilização das massas populares, e o uso crescente do idioma popular na pregação. O mesmo autor assevera que, apesar desta recuperação, este período da história da pregação ainda foi marcado pelos erros, dentre os quais destaca o uso do material extra
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bíblico como se fosse bíblico, a interpretação e aplicação equivocados, o uso extremo da alegoria e a freqüente falta de texto bíblico nas mensagens. Com o surgimento das ordens missionárias dos Franciscanos e Dominicanos, no século XIII, a pregação ganha mais notoriedade. A preocupação de falar ao povo, de contextualizar-se à realidade dos ouvintes, parece existir numa obra de Guibert de Nogent, abade francês que morreu em 1124. Dentre os seus preceitos homiléticos destacam-se os seguintes: o pregador deve exercitar o seu talento o mais freqüentemente possível, nunca deve assumir o púlpito sem ter orado, deve ser breve, dar preferência a assuntos práticos e não dogmáticos. Conclui que “poucas coisas ouvidas e guardadas valem mais que muitas que passem pela cabeça do auditório, sem penetrar nem a inteligência, nem a consciência”. Perry e Sell destacam deste período alguns pregadores. Um deles é o alemão Berthold von Regensburg (1220-1272) que, com seus sermões práticos “atacou os pecados de todas as classes na época de um grande interregno na Alemanha”. Acrescentam ainda que Regensburg buscava sempre atingir as necessidades do povo. Destacam também o inglês John Wycliffe (1329-1384), igualmente realçado como um pregador “prático, que se dedicou ao cuidado das almas”. Já nos séculos XIV e XV houve um novo declínio na ênfase da pregação, quando esta deixou de priorizar a população, dando lugar ao intelectualismo árido do escolasticismo. Além disso, contribuíram para isto o período de estabilidade que passava a Igreja Católica, sem as ameaças hereges. Um novo despertamento viria com o século XVI e a Reforma.
1.3. A Contemporaneidade na Pregação dos Reformadores A Reforma marca um avivamento na pregação. Como fatores mais importantes deste avivamento Zórzoli destaca a nova ênfase na pregação como um elemento vital na vida e na adoração, tendo a mensagem proferida por um pregador voltado ao lugar que a missa havia ocupado. Além disso, o mesmo autor ainda acrescenta a influência da pregação na luta contra os erros patrocinados pela Igreja Papal, a volta da utilização do texto bíblico na pregação e o refinamento dos métodos homiléticos até então utilizados. Os precursores anabatistas, além de Lutero, Calvino e Zwinglio, atestam o restabelecimento da prioridade da pregação. Neste período surgem obras no campo da Homilética que merecem destaque, como a Ratio Brevissima Concionandi, de Felippe Melanchton (1517) e que em sua primeira parte discorre sobre as várias partes do discurso (exórdio, narração, preposição,
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argumentos, confirmação, ornamentos, amplificação, confutação , recapitulação e peroração), em seguida enfoca a maneira de desenvolver temas simples, depois como trabalhar com temas complexos, e assim por diante. Constitui-se numa das principais obras do gênero, conforme Burt. Outra obra Homilética citada pelo mesmo autor é o Ecclesiastes, Sive Concionator Evangelicus, de Erasmo (c. de 1466-1536), que dividiu-se em quatro livros: o primeiro sobre a dignidade, piedade, pureza, prudência e outras virtudes que o pregador deve cultivar; o segundo sobre estudos que o pregador deve fazer; os demais sobre figuras do discurso e o caráter do sacerdócio. Embora Martinho Lutero (1483-1546) não tenha escrito uma obra específica sobre a arte de pregar, Burt destaca suas Palestras à Mesa , das quais resume os seguintes preceitos homiléticos: O bom pregador deve saber ensinar com clareza e ordem. Deve ter uma boa inteligência, uma boa voz, uma boa memória. Deve saber quando terminar, deve estudar muito para saber o que diz. Deve estar pronto a arriscar a vida, os bens e a glória, pela Verdade. Não deve levar a mal o enfado e a crítica de quem quer que seja. Ainda sobre ensinos de Lutero acerca da pregação, Burt destaca estas palavras do reformador, voltadas especificamente aos jovens pregadores: Tende-vos em pé com garbo, falai virilmente, sede expeditos. Quando fores pregar, voltai-vos para Deus e dizei-lhe: “Senhor meu, quero pregar para tua honra, falar de ti, magnificar e glorificar o teu nome”. E que o vosso sermão seja dirigido não aos ouvintes mais conspícuos, mas aos mais simples e ignorantes. Ah! que cuidado tinha Jesus de ensinar com simplicidade. Das videiras, dos rebanhos, das árvores, deduzia Ele as suas parábolas; tudo para que as multidões compreendessem e retivessem a Verdade. Fiéis à vocação, nós receberemos o nosso prêmio, senão nesta vida, na futura. Podemos perceber nestes conselhos de Lutero a preocupação de tornar a mensagem compreensível ao povo mais simples que compõe a Congregação. Esta é uma das características principais dos reformadores deste período. Com relação a João Calvino (1509-1564), que foi pastor da Église St. Pierre , em Genebra, na Suíça, podemos destacar sua obra literária que foi amplamente distribuída e lida em todas as partes da Europa e que influenciou grandemente o movimento reformador. 6
Confutar. [Do lat. confutare.] Verbo transitivo direto. 1.Rebater, refutar. 2.Impugnar, contrariar; reprimir: "pregue livremente a Fé de u'a só Divindade, confute a falsidade dos que ainda são chamados deuses imortais" (P. e Antônio Vieira, Sermões, III, p. 196.) Verbo pronominal. 3.Dar provas contra si mesmo. [Pret. imperf. ind.: confutava, ... confutáveis, confutavam. Cf. confutáveis, pl. de confutável.].
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Como teólogo e pastor, Calvino deu prioridade ao ensino das Escrituras, tendo escrito comentários sobre 23 livros do Antigo Testamento e sobre todos os livros do Novo Testamento, menos Apocalipse. Suas Institutas, obra composta de 79 capítulos e completada em 1559, é o principal de seus escritos. Dentre outras coisas, Calvino é tido como um pregador preocupado com a delimitação do verdadeiro papel da Igreja na sociedade, tendo sido precursor de um grande impacto na sociedade de sua época. Ensinava que a Igreja precisava orar pelas autoridades políticas. Comentando 1 Timóteo 2.2, afirmou que precisamos não somente obedecer a lei e os governantes, mas também em nossas orações suplicar pela salvação deles. Expressou também grande preocupação com a injustiça social. Comentando Salmo 82.3, afirmou: “um justo e bem equilibrado governo será distinguido por manter os direitos dos pobres e dos aflitos”. Sua pregação levou a Igreja de Genebra a batalhar contra os juros elevados, a lutar por oportunidades de empregos e tudo aquilo que era pertinente a uma sociedade secular mais humana. Dentre os grandes pregadores do século XVI podemos destacar ainda John Knox (1514-1572), o reformador escocês. Uma de suas características marcantes foi sua visão social bem esclarecida expressa na defesa da obrigação de cada cristão cuidar dos pobres e no sistema elaborado por ele mediante o qual cada igreja sustentaria seus próprios necessitados e administraria escolas de catequese para todas as crianças, ricas e pobres. Para Zórzoli, no geral, os séculos XVII e XVIII foram de novo declínio, com uma quase generalizada pobreza de púlpitos na Europa. Destaca pregadores como Baxter, Bunyan e Taylor, na Inglaterra, e Bossuet e Fenelon, na França, como sendo exceções no século XVII. Destaca como grandes pregadores e exceções do século XVIII, que considera marcado pela mediocridade, John e Carl Wesley, juntamente com George Whitefield, na Inglaterra, que produziram um avivamento centrado na pregação às multidões. Na América do Norte destaca Jonathan Edwards. Todos estes foram pregadores que conseguiram fazer a ponte da Palavra aos corações de multidões de pessoas. Sobre Jonathan Edwards (1703-1758), cujo mais famoso sermão foi intitulado “Pecadores nas Mãos de Um Deus Irado”, pregado na Igreja Congregacional em Northampton, Massachusetts, em 1741, podemos destacar o seu sermão de despedida do pastorado daquela igreja, depois de 23 anos de ministério ali. Ao buscardes o futuro progresso desta sociedade é de maior importância que eviteis a contenda. Um povo contencioso é um povo miserável. As contendas que têm surgido entre nós desde que me tornei vosso pastor têm sido o fardo mais pesado que tenho carregado no decurso do meu ministério - não somente contendas que tendes comigo, mas aquelas que tendes tido uns com os outros por questões de terras e outros interesses. Eu já
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sabia muito bem que a contenda, o espírito inflamado, a maledicência e coisas semelhantes, eram frontalmente contrárias ao espírito do Cristianismo e têm concorrido, de modo todo peculiar, para afastar o Espírito de Deus de um povo, a tornar sem efeito todos os seus meios de graça, além de destruir o conforto e o bem estar temporal de cada um. Permita-me que vos exorte com todo o vigor, que, daqui para a frente, todas as vezes que vos empenhardes na busca do vosso bem futuro, que vigieis atentamente contra ume espírito contencioso: “se quiserdes ver dias bons, buscai a paz e seguí-a”( 2 Pedro 3.1011). Nota-se nesta transcrição da conclusão do sermão o cuidado de enfocar um assunto vivenciado pela congregação. O pregador falou ao povo sobre uma deficiência do povo. Esta contextualização da pregação determinou o sucesso e caracterizou os grandes pregadores em todos os períodos da história da pregação.
1.4. A Contemporaneidade da Pregação dos Séculos XIX e XX Há quem iguale o prestígio e eficiência da pregação do século XIX com o século primeiro, com Pedro e Paulo, e com o século IV, com Crisóstomo e Agostinho. Inegavelmente, este século foi marcado por grandes e renomados pregadores, como Finney, Brooks, Broadus, Moody, Spurgeon, Hall e Mclaren, alistados como os príncipes da pregação neste período. Como grandes pregadores do século XIX Perry e Sell destacam, dentre outros, o norte americano Henry Ward Beecher (1813-1887). Beecher notabilizou-se pela pregação contra os vícios sociais de sua época, tendo sido líder do movimento anti escravista. Segundo estes autores, este pregador costumava pregar diretamente a respeito das necessidades pessoais de seus ouvintes. Outro grande pregador deste período destacado por Perry e Sell é Phillips Brooks (1835-1893). Referem-se a Brooks como tendo sido um pregador “extraordinariamente sensível para com as necessidades humanas”. Contam que ele costumava investir suas tardes em visitas ao seu povo, especialmente os pobres, doentes e atribulados. Transcrevem um comentário feito por um admirador, de nome Bryce: “Brooks fala ao seu auditório como um homem fala ao seu amigo”. No intento de demonstrar a preocupação com a contemporaneidade por parte de ilustres pregadores, citamos como exemplos dois dentre estes mais destacados, Finney e Spurgeon. Primeiramente citamos Charles G. Finney (1792-1875), que viveu uma intensa experiência de conversão em Nova Iorque, em 1821, sendo introduzido à Igreja Presbiteriana. Foi pastor presbiteriano e depois congregacionalista. Pregador avivacionalista, chega a ser apontado como “o mais ungido evangelista de reavivamento
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dos tempos modernos”. Estima-se que mais de 250 mil almas se converteram como resultado de suas pregações. Em sua obra Lectures on Revival (Preleções Sobre o Reavivamento), de 1835, Finney demonstrou sua esperança de que o reavivamento varresse os Estados Unidos, trazendo progresso e reformas sociais; democracia e abolição da escravidão, dentre outras conseqüências. Finney não pregava simplesmente sobre a vida eterna em Jesus, mas que a fé em Jesus seria o caminho para que a sociedade americana fosse redimida. Outro ilustro pregador deste período foi o célebre Charles Haddon Spurgeon (18341892), um pastor batista muito influente na Inglaterra. Em 1854 iniciou um ministério de 38 anos consecutivos na capela batista na Rua New Park, em Londres e, com apenas vinte e dois anos de idade era o pregador mais popular de Londres. Em 1861 foi edificado o Tabernáculo Metropolitano nas Ruas Elephant e Castle, um templo com capacidade de abrigar seis mil pessoas, onde Spurgeon ministrou ininterruptamente até sua morte. Junto ao Tabernáculo foi criado um seminário e uma sociedade de colportagem que enfatizava a distribuição de literaturas. Calcula-se que 14 mil membros foram acrescentados àquela Igreja durante o ministério de Spurgeon. Teve muitos de seus sermões publicados, num total de 3.800 deles! Na obra “Lições Aos Meus Alunos” encontramos farto material resultante de preleções deste ilustre pregador que bem podem expressar sua preocupação com a relevância que a pregação precisa encontrar nas vidas dos ouvintes. Assim Spurgeon expressa sua preocupação com o desempenho eficiente dos pregadores: É desejável que os ministros do Senhor sejam os elementos de vanguarda da Igreja. Na verdade, do Universo todo, pois a época o requer. Portanto, quanto a vocês, em suas qualificações pessoais, dou-lhes este moto: Sigam avante. Avante nas conquistas pessoais, avante nos dons e na graça, avante na capacitação para a obra, e avante no processo de amoldagem à imagem de Jesus. Sobre a eficiência na comunicação da Verdade ao povo, Spurgeon afirmava que o ministro só seria verdadeiramente eficiente se fosse apto para ensinar. Sobre ministros inaptos, ele asseverou em tom hilário: Vocês sabem de ministros que erraram a vocação e, evidentemente, não têm dons para exercê-la. Certifiquem-se de que ninguém pense a mesma coisa de vocês. Há colegas de ministério que pregam de modo intolerável: ou nos provocam raiva, ou nos dão sono. Nenhum anestésico pode igualar-se a alguns discursos nas propriedades soníferas. (...) Se alguns fossem condenados a ouvir os seus próprios sermões, teriam merecido julgamento, e logo clamariam como Caim: “É tamanho o meu castigo, que já não posso suportá-lo.” Oxalá não caiamos sob a mesma condenação.
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Esta tão bem humorada declaração de Spurgeon demonstra sua preocupação com a relevância da pregação na vida dos ouvintes. Esta foi a característica dos ilustres pregadores desta e das demais épocas. Com relação ao nosso século, podemos notar algumas tendências que indicam o desprestígio da pregação nas Igrejas e a perda da centralidade no ministério pastoral. Para Martyn Lloyd-Jones, que enxergava este declínio da importância da pregação na Igreja do século XX, tal desprestígio se deve, primeiramente, à perda da crença na autoridade das Escrituras. Outra razão apontada pelo autor para este declínio é o fato de “a forma ter-se tornado mais importante que a substância, a oratória e a eloqüência por conseguinte, coisas valiosas por si mesmas”. Tal declínio da pregação no nosso século se acentua, porque, segundo Lloyd-Jones, “a pregação tornou-se uma forma de entretenimento”. A situação da pregação na atualidade é enfocada na próxima etapa da pesquisa, onde a opinião supra citada é reforçada com depoimentos de outros autores. Nos preocupamos também em discorrer acerca das conseqüências deste declínio de prestígio da pregação.
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HOMILÉTICA 1. Definição Homilética é a ciência que se ocupa com a pregação cristã e, de modo particular, com o sermão proferido no culto, no seio da comunidade reunida. O termo “homilética” deriva do substantivo grego h( o(mili/a – Hē homilia [Leia rê romilia] , que significa literalmente “associação”, “companhia”, e do verbo homil ēo (o(mile/w), que significa “falar”, “conversar”. O Novo Testamento emprega o substantivo homilia em 1 Co 15.33 “... as más conversações ( o(mili/ai) corrompem os bons costumes”. O verbo HĒ HOMILEIN (h( o(milei=n)7 era usado pelos gregos sofistas 8 para expressar o sentido de “relacionar-se, conversar”. HE HOMILIA designa, especialmente no Novo Testamento, “o estar juntos, o relacionar-se”, e, nos primeiros séculos da Era Cristã, o termo passou a ser usado para denominar a “arte de pregar sermão”. “Homilia. Pregação em estilo familiar e quase coloquial sobre o Evangelho” (Aurélio). Daí deriva o sentido “homilética” e suas formas de expressão. Desde então e muito cedo, a homilética passou a fazer parte da teologia prática. O termo “homilética” surgiu durante o Iluminismo, entre os séculos XVII e XVIII, quando as principais disciplinas teológicas receberam nomes gregos, como, por exemplo, dogmática, apologética e hermenêutica. Na Alemanha, Stier propôs o nome Keríctica, derivado de k ēr yx (kh=ruc ) que significa “arauto”. Sikel sugeriu haliêutica, derivado de halieús (a(lieu/j) , que significa “pescador”. O termo “homilética” firmou-se e foi mundialmente aceito para referir-se à disciplina teológica que estuda a ciência, a arte e a técnica de analisar, estruturar e entregar a mensagem do evangelho. ,
“A homilética é ciência, quando considerada sob o ponto de vista de seus fundamentos teóricos (históricos, psicológicos e sociais); é arte, quando considerada em seus aspectos estéticos (a beleza do conteúdo e da forma); e é técnica, quando considerada pelo modo específico de sua execução ou ensino”.
O termo “homilia” tem suas raízes etimológicas em três palavras da cultura grega: 1. Homilos (o(/miloj), que significa “multidão”, “turma”, “assembléia do povo” (cf. At 18.17); 2. Homilia (o(mili/a), que significa “associação”, “companhia” (cf. 1 Co 15.33); 7
HOMILEIN = o(milei=n. Homileō = o(mile/w. Estar com, tratar com. Encontrar-se, vir às mãos. Ter relações matrimoniais. Sofista. [Do gr. sophistés, 'sábio', posteriormente 'impostor', pelo lat. sophista.] Substantivo de dois gêneros. Hist. Filos. 1.Cada um dos personagens contemporâneos de Sócrates (v. socratismo) que chamavam a si a profissão de ensinar a sabedoria e a habilidade, e entre os quais se destacam Protágoras (480-410 a. C.), que afirmava ser o homem a medida de todas as coisas, e Górgias (485-380 a. C.), que atribuía grande importância à linguagem. Os sofistas desenvolveram especialmente a retórica, a eloqüência e a gramática. [Cf. sofisma (1 e 2).] . 8
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3. Homile ō (o(mile/w), que significa “falar”, “conversar” (cf. Lc 24.14; At 20.11; 24.26). Sua tarefa não se limita apenas a princípios teóricos, mas concentra-se grandemente no treinamento prático. a) Seu objetivo primordial O objetivo principal da homilética desde o seu remoto princípio foi orientar os pregadores na dissertação de suas prédicas e, ao mesmo tempo, fazer que os mesmos adquiram princípios gerais corretos e despertá-las a terem idéia dos erros e falhas que os mesmos em geral cometem. São inúmeras as obras, boas e úteis, em diversos idiomas e de diferentes datas que tratam diretamente desta disciplina. Quando as lemos, descobrimos inúmeros defeitos em nós mesmos e nos outros -, alguns deles até extravagantes e grosseiros. Com efeito, porem, à medida que vamos lendo estas obras, corrigimos essas falhas que se apresentam. Convém notar que a homilética não é a mensagem. Ela disciplina o pregador para melhor entregar a mensagem. Não nos esqueçamos: A mensagem é de Deus (Ef 6.19, etc). Entretanto, não devemos esquecer que para melhor compreensão e apresentação da mensagem deve haver um certo preparo e treinamento por parte do orador. b) A homilética e a eloqüência A missão principal da homilética é conservar o pregador (pregador aqui tem sentido abrangente - inclui pessoas de ambos os sexos) na rota traçada pelo Espírito Santo. Ela ensina, onde (e como) se deve começar e terminar o sermão. O sermão tem por finalidade convencer os ouvintes, seja no campo político, forense, social ou religioso. Por esta razão a homilética encontra-se ligada diretamente à eloqüência. A eloqüência é a capacidade intelectual de convencer pelas palavras. As palavras esclarecem, orientam e movem as pessoas. O orador que consegue mover as pessoas, persuadindo-as a aceitar suas idéias, é eloqüente, pois a eloqüência é a capacidade de persuadir pela palavra. Fala-se de Apolo, um judeu, natural de Alexandria, que era “ ... eloqüente e poderoso nas Escrituras” (At 18.24b). c) Como podemos convencer Existem várias maneiras de persuadirmos ou convencermos alguém a seguir nossa orientação: - Pela força moral (princípios e doutrinas) - regras fundamentais. - Pela força social (costumes, normas e leis) - o direito. - Pela força física (braços e armas) - a guerra. - Pela força pessoal (exemplo) - influência psicológica. - Pela força verbal (falada ou escrita) - retórica . - Pela força divina (atuação do Espírito Santo) – Ele “... convence ...”. O poder da persuasão pode convencer até o próprio Deus! Moisés, o grande legislador hebreu, pregou para que Deus se arrependesse e conseguiu! Com efeito, Deus se arrependeu e perdoou ao povo (Ex 32.7-14). Jonas, de igual modo, conseguiu o arrependimento do povo ninivita e o arrependimento de Deus (Jn 3.4-10).
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2. Jesus e a homilética No ministério de Cristo, a homilética ocupou o lugar central no que diz respeito a sua propagação plena. Embora fortemente ousado a dar primazia a outros métodos de abordar o povo, Jesus “... veio pregando” (Mc 1.14). Na sinagoga de Nazaré, o Mestre descreveu a si mesmo como divinamente enviado “... para evangelizar os pobres ... a pregar liberdade aos cativos ... a anunciar o ano aceitável do Senhor” (Lc 4.18,19). Os evangelhos nos apresentam quadros inesquecíveis do Pregador Itinerante, nas sinagogas, nos montes, nas planícies, à beira-mar, de vila em vila, de cidade em cidade finalmente em todo o lugar, trazendo após si multidões quase incontáveis, deixando o povo fascinado com suas palavras de graça e com autoridade do seu ensino. A pregação de Jesus continha todo o sabor da bondade divina: era um clamor insistente por sua compaixão, e poderoso por sua urgência. A pregação direta é, sem dúvida, um convite à consciência, à razão, à imaginação e aos sentimentos, mediante a declaração da verdade e da graça de Deus, pois produz um efeito mais urgente e eficaz. 3. O valor da homilética A homilética contribuiu, no sentido geral, na propagação da Palavra de Deus. Duas coisas, contudo, influenciaram grandemente a pregação cristã, levando-a para as formas retóricas. a) A primeira vantagem A primeira foi a disseminação do Evangelho entre as nações gentílicas, em cujo seio as tradições e formas judaicas eram pouco conhecidas. Basta lembrarmos da crítica que de Paulo fizeram alguns coríntios, e como se deliciavam em ouvir Apolo, por ser “... eloqüente e poderoso nas Escrituras”. b) A segunda vantagem A segunda coisa que influiu foi a conversão de homens que já tinham sido treinados na retórica. Muitos deles, dia-a-dia, se tomavam pregadores, e naturalmente usavam seus dotes retóricos na proclamação do Evangelho. Acrescentemos a essa influência o declínio dos pregadores judeus não cristãos, e veremos como a homilia (a arte de pregar) cedeu lugar proeminente ao sermão elaborado. Por isso, naqueles dias já se definia a homilética “como a ciência que ensina os princípios fundamentais de discursos em público, aplicados na proclamação e ensino da verdade em reuniões regulares congregadas para o culto divino” (Hoppin). A origem da homilética A homilética propriamente dita, nasceu muito cedo na história humana, embora não como termo designativo homiletikós (o(milhtiko/j) (arte de pregar sermão) e homilia (o(mili/a) (arte de falar elegantemente na oratória eclesiástica), mas como oratória 4.
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pictográfica (sistema primitivo de escrita no qual as idéias são expressas por meio de desenhos das coisas ou figuras simbólicas). Ela surgiu na Mesopotâmia há mais de 3000 anos a.C., para auxiliar à necessidade que os sacerdotes tinham de prestar contas dos recebimentos e gastos às corporações a que pertenciam e faziam suas prédicas em defesa da existência miraculosa dos deuses do paganismo. O sistema sumeriano viria a ser o protótipo (primeiro tipo ou exemplo) de outros importantes sistemas de escrita, como o egípcio, por exemplo.
a) Como termo designativo Entretanto, homilética como termo designativo com suas técnicas, sistematização e adaptação às habilidades humanas, nasceu entre os gregos com o nome de retórica. Depois foi adaptada no mundo romano com o nome de oratória, e, finalmente, para o mundo religioso com o nome de homilética. A retórica e a oratória tornaram-se sinônimos para identificar o discurso persuasivo (profano). A homilética, entretanto, passou a identificar o discurso sacro (religioso). •
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b) A partir do IV Século d.C. A partir desta época os pregadores cristãos começaram a estruturar suas mensagens, seguindo as técnicas da retórica grega e da oratória romana. Com efeito, porém, desde o primeiro século da Era Cristã, esta influência estrutural da homilética já começava a ser sentida no seio do Cristianismo. Não é de se surpreender, portanto, que a maioria dos teólogos cristãos primitivos compunha-se dos que aceitavam as teorias gregas e romanas, pois muitos deles eram filósofos neoplatônicos convertidos ao Cristianismo ou estavam sob a influência dessas idéias (conforme foi o caso de Justino Mártir, de Clemente de Alexandria, de Orígenes, de Agostinho, de Ambrósio e muitos outros).
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RETÓRICA 1.
Noção e definição
O vocábulo retórica (do grego, “rhētōr” (r(h/twr), - orador numa assembléia) tem sido interpretado como a arte de falar bem ou arte de oratória, isto é, a arte de usar todos os meios e recursos da linguagem com o objetivo de provocar determinado efeito nos ouvintes. A retórica é a técnica (ou a arte, como preferem alguns) de convencer o interlocutor através da oratória, ou outros meios de comunicação. Os gregos sofistas a dividiam em três grupos: Política Forense Epidítica9 (demonstrativa). •
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DISTINÇÕES CLÁSSICAS10 Embora não sejam certamente inspiradas, as clássicas distinções retóricas de Aristóteles podem auxiliar os pregadores a considerar suas responsabilidades básicas e a atenção que cada uma merece. Embora o apóstolo Paulo tenha ensinado acerca da inerente eficácia da Palavra, também relatou sua resolução pessoal de não colocar “pedra de escândalo” ao evangelho no caminho de quem quer que fosse (2 Co 6.3). Na retórica clássica três elementos compõem cada mensagem persuasiva: Logos (lo/goj) - o conteúdo verbal da mensagem incluindo sua arte e lógica. Pathos (pa/qoj) - os traços emotivos da mensagem incluindo paixão, fervor e sentimento, que o orador transmite e os ouvintes experimentam. Ethos (e)/qoj) - o caráter percebido do orador; determinado mais significativamente pelo interesse expresso pelo bem-estar dos ouvintes. Aristóteles acreditava que o ethos era o componente mais poderoso da persuasão. Os ouvintes avaliam automaticamente cada um desses aspectos na mensagem de modo a pensarem que o pregador apresenta. Essa percepção adverte os pregadores que desejam criar livre acesso à Palavra que transforma corações a se esforçarem seriamente para tornar cada aspecto de sua mensagem uma porta e não uma barreira. Paulo pondera a importância de cada um desses componentes em sua primeira carta aos tessalonicenses (veja fig. 1.1) Embora seus termos não sejam os de Aristóteles, eles repercutem traços das categorias clássicas do professor de retórica e nos lembram que a arte não é o bastante para tornar poderosa a mensagem, se o coração e o caráter não validarem suas verdades. Paulo torna claro que, embora o Espírito Santo molde o caminho do evangelho, os .
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Epidítico. epidíctico . [Do gr. epideiktikós, pelo lat. epidicticu.] Adjetivo. E. Ling. 1 .Aparatoso, ostentoso. 2.Demonstrativo. CHAPELL, Bryan. Pregação Cristocêntrica. 1ª ed. São Paulo. Editora Cultura Cristã, 2002, p.26-28.
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ouvintes avançam para uma confrontação com a Palavra através das portas que o pregador abre com a mensagem. Paulo cita, significativamente, sua própria vida como afetando a receptividade da mensagem dando assim credencial bíblica à noção de que o ethos é uma força poderosa no processo ordinário da persuasão espiritual. “Porque o nosso evangelho não chegou até vós tão-somente em palavra (logos) , mas, sobretudo, em poder, no Espírito Santo e em plena convicção (Pathos) , assim como sabeis ter sido o nosso procedimento (Ethos) entre vós e por amor de vós” (1 Ts 1.5). Paulo menciona sua conduta e sua compaixão não apenas como evidência de sua “profunda convicção”, mas também como fontes integrais do “poder” de sua mensagem. Embora este livro de método homilético enfoque os elementos do logos e do pathos na pregação, a própria ênfase bíblica nos lembra que o caráter pastoral permanece como o fundamento do ministério. A glória da pregação pode ser a eloqüência, mas a batida do coração é a fidelidade. Nossa pregação deveria refletir o caráter único de nossa personalidade, mas nosso ser deveria refletir a semelhança de Cristo, de modo que sua mensagem se espalhe sem embaraço.
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OS SOFISTAS O primeiro estudo sistematizado acerca do poder da linguagem em termos de persuasão é atribuído ao filósofo Empédocles (444 a.C.), do qual as teorias sobre o conhecimento humano iriam servir de base para vários teorizadores da retórica. O primeiro livro de retórica escrito é comumente atribuído a Córax e seu pupilo Tísias. A sua obra, bem como as de diversos retóricos da antiguidade, surgiu das tribunas jurídicas; Tisias, por exemplo, é tido como autor de diversas defesas jurídicas defendidas por outras personalidades gregas (uma das funções primárias de um sofista). A Retórica foi popularizada a partir do século V a.C. por mestres peripatéticos (itinerantes) conhecidos como “sofistas”. Os mais conhecidos destes foram os gregos Córax, Sócrates, Platão e Aristóteles (500-300 a.C.). Os sofistas se compunham de grupos de mestres que viajavam de cidade em cidade realizando aparições públicas (discursos, etc) para atrair estudantes, de quem cobravam taxas para oferecer-lhes educação. O foco central de seus ensinamentos concentrava-se no logos ou discurso, com foco em estratégias de argumentação. Os mestres sofistas alegavam que podiam “melhorar” seus discípulos, ou, em outras palavras, que a “virtude” seria passível de ser ensinada. A conhecida frase “o homem é a medida de todas as coisas” surgiu dos ensinamentos sofistas. Uma das mais famosas doutrinas sofistas é a teoria do contraargumento. Eles ensinavam que todo e qualquer argumento poderia ser contraposto por outro argumento, e que a efetividade de um dado argumento residiria na verossimilhança (aparência de verdadeiro, mas não necessariamente verdadeiro) perante uma dada platéia. O termo “sofista” tem uma conotação pejorativa nos dias de hoje mas, na Grécia antiga, os sofistas eram profissionais muito bem remunerados e respeitados por suas habilidades. Tratando não somente do estilo, mas, também do assunto, da estrutura e dos métodos de elocução em cada caso, os gregos combinavam a técnica dos sofismas com a concepção platônica e aristotélica de que a arte da oratória deve estar a serviço da verdade. A retórica ensinada na Grécia antiga pelos sofistas, fundamentada em princípios disciplinares de conduta, teve origem na Sicília, no V século a.C., através do siracusano Córax e seu discípulo Tísias. Tísias tornou-se o discípulo mais famoso de Córax. Quando Córax lhe cobrou as aulas ministradas, Tísias recusou a pagar, alegando que, se fora bem instruído pelo mestre, estava apto a convencê-lo de não cobrar, e, se este não ficasse convencido, era porque o discípulo ainda não estava devidamente preparado, fato que o desobrigava de qualquer pagamento. O resultado é que Tísias ganhou a questão. 11
GONÇALVES, Delmo. HOMILÉTICA “A arte de pregar sermões”. Apostila do SEBEMGE.
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a) As regras do discurso Córax formulou uma série de regras para dividir o discurso em cinco partes: Proêmio (prólogo) Narração Argumentação Observações adicionais Peroração (epílogo). As regras estabelecidas por Córax tinham por finalidade orientar os advogados que se propunham a defender as causas das pessoas que desejavam reaver seus bens e propriedades tomados pelos tiranos. Os sofistas foram os primeiros a dominar com facilidade a palavra modulada nestes princípios; entre os objetivos que possuíam, visando a uma completa formação, três eram procurados com maior intensidade: adestrarem-se para julgar, falar e agir. Seu aprendizado na arte de falar consistia em fazer leituras em público, comentários sobre poetas famosos, improvisar e promover debates. A partir daí, a palavra retórica passou a ser usada no campo da comunicação para descrever o discurso persuasivo, quer escrito ou falado. A partir daí, a palavra retórica passou a ser usada no campo da comunicação para descrever o discurso persuasivo, quer escrito ou falado. • • • • •
b) As qualidades exigidas Os oradores sofistas, entre eles, Górgias, Isócrates (que viveu de 436 a 338 a.C., e implantou a disciplina da retórica no currículo escolar dos estudantes atenienses) e muitos outros, exigiam várias habilidades dos oradores. Entre todas, quinze são consideradas imprescindíveis: memória, habilidade, inspiração, criatividade, entusiasmo, determinação, observação, teatralização, síntese, ritmo, voz, vocabulário, expressão corporal, naturalidade e conhecimento. Filósofos destacados como Platão (430-347 a.C.), Aristóteles (382-322 a.C.) e Cícero (106-44 a.C.) deram muita atenção aos princípios a serem seguidos por quem desejasse levar os homens a crerem e agirem. Paulo, pelo que parece, observou que estes princípios retóricos levaram alguns oradores cristãos aos extremos, firmando-se apenas em “... sublimidade de palavras ou de sabedoria...” (1 Co 2.1). Era esta a época em que os “... gregos buscavam sabedoria”. c) O Retor (r(h/twr) O retor, entre os gregos, era o orador de uma assembléia. Entre nós, entretanto, a palavra rhetor veio a ter o significado pomposo de mestre de oratória. O objetivo do retor (orador retórica) era, através de seu discurso laureado, o de persuadir os sentimentos nas discussões e nas deliberações sobre os problemas na democracia grega. As reuniões eram processadas nas praças ou no Areópago. Logo se percebeu que os cidadãos falantes, de fácil verbo, se expressavam mais adequadamente, dominavam a situação, sentiam-se sempre vitoriosos, tornavam-se admirados pelas multidões e galgavam os melhores postos na comunidade. Não demorou para que todo o mundo
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desejasse conquistar os segredos dessa nova arte.
2. A divisão da retórica Entre os gregos e os romanos, os discursos retóricos deviam ser modulados em cinco pontos, a cada um dos tais foram associadas muitas sugestões para o bem falar. a) Invenção. A invenção consistia na coleta e planejamento do uso dos materiais e idéias, a fim de influenciar aos ouvintes. Três tipos de apelo que o orador pode fazer. São: Apelos lógicos baseados na evidência e no raciocínio. Apelos emocionais baseados nos impulsos e sentimentos. Apelos éticos baseados no caráter, personalidade, experiência e reputação do orador. b) Disposição. Consistia no arranjo do material na ordem destinada a servir melhor o propósito do orador. c) Estilo. Nesse sentido Aristóteles foi o maior deles. Consistia no uso de palavras para transmitir a mensagem da maneira mais eficaz. d) Memória. Consistia em lembrar a mensagem a ser transmitida. e) Entrega. Consistia no uso correto da voz e do corpo para apresentar a mensagem aos ouvintes. Depois, com a grande influência do Cristianismo, passou-se a distinguir a retórica da homilética e alguns princípios éticos foram incorporados a esta última. • • •
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ORATÓRIA 1. Sua extensão Convém que o leitor saiba que a retórica inventada pelos gregos passou para o mundo romano com o nome de oratória e para o campo religioso com o nome de homilética. Entretanto, a partir do IV século d.C., a retórica e a oratória tornam-se sinônimos usados para identificar o discurso profano, e a homilética identifica o discurso sacro, religioso, cristão. A homilética, a partir daí, passou a ser a arte de pregar o Evangelho. Assim, a oratória (de oris, boca) passou a indicar mais a parte técnica do sermão; enquanto que a homilética, as partes práticas e dogmáticas cristãs, que vão do sermão à celebração do culto.
2. Os grandes mestres de oratória Os romanos sofreram extraordinária influência cultural dos gregos no século I a.C., inclusive na arte da oratória. Com efeito, porém, outros grandes mestres, de diferentes nacionalidades, deram também sua contribuição. a) Cícero Cícero foi o maior orador romano. Nascido no ano 106 a.C., preparou-se desde muito cedo para a arte da palavra. Com apenas dez anos de idade, seu pai o deixou aos cuidados de dois mestres da oratória. Aos quatorze anos, iniciou seu aprendizado retórico na escola do retor Plócio e já aos dezesseis anos abraçou a prática da fala, observando os grandes oradores da sua época, que se defrontavam nas assembléias do fórum. b) Quintilian Depois de Cícero, merece atenção especial na história da Arte Oratória romana, Quintiliano. Nascido na metade do primeiro século da Era Cristã, na Espanha, foi para Roma logo nos primeiros anos de vida para estudar oratória. Seu pai e seu avô foram retores e o pai lhe ministrou as primeiras aulas de retórica. c) Demóstenes Demóstenes, orador grego de extraordinária eloqüência, foi contemporâneo de Filipe da Macedônia, que através das Filípicas 12, Orações Violentas, atacava a sua política, denunciando-lhe as intenções de dominar a Grécia. Demóstenes, considerado um dos maiores e mais perfeitos oradores da antiguidade, obteve êxito na arte de falar, depois de ter superado dificuldades impostas pelas suas próprias deficiências naturais. Os problemas de respiração, dicção, articulação e postura não lhe creditavam as condições últimas para que pudesse atingir seu objetivo de tornar-se um orador. Duas 12
filípica. Do gr. philippiké, pelo lat. philippica.] Substantivo feminino. Discurso violento e injurioso.
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qualidades, porém, Demóstenes possuía: a determinação e a vontade. A determinação Ao iniciar sua preparação, isolou-se num local onde ninguém pudesse perturbá-lo. Para que a sua concentração e meditação fosse completa... a sua dicção foi corrigida com seixos que colocava na boca e com os quais procurava pronunciar as palavras da forma mais correta possível. Outros maus hábitos, entre eles o de levantar um ombro quando falava, foi também corrigido com disciplina rígida. A força de vontade Demóstenes parece ter tido um início difícil e sido filho do próprio esforço. Entretanto, superou todas essas dificuldades. Empregou todas as técnicas e meios engenhosos para conseguir ser o maior orador da antiguidade (declamar diante da praia vencendo com a voz o ruído e barulho das ondas; correr, subindo montanhas íngremes, recitando trechos de autores gregos para desenvolver o fôlego, etc.). O resultado de seu esforço foi gratificante. Ele conseguiu aquilo que almejava! •
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A RELAÇÃO ENTRE A HOMILÉTICA E OUTRAS DISCIPLINAS Como disciplina teológica, a homilética pertence à teologia prática. As disciplinas que mais se aproximam da homilética são a hermenêutica e a exegese. Enquanto a hermenêutica é a ciência, arte e técnica de interpretar corretamente a Palavra de Deus, e a exegese a ciência, arte e técnica de expor as idéias bíblicas, a homilética é a ciência, arte e técnica de comunicar o evangelho. A hermenêutica interpreta um texto bíblico à luz de seu contexto; a exegese expõe um texto bíblico à luz da teologia bíblica; e homilética comunica um texto bíblico à luz da pregação bíblica. A homilética depende amplamente da hermenêutica e da exegese. Uma homilética sem hermenêutica bíblica é trombeta de som incerto (1 Co 14.8) e uma homilética sem exegese bíblica é a mera comunicação de uma mensagem humanista e morta. A importância do assunto dificilmente pode ser exagerada, pois a hermenêutica é a base teórica da exegese, que por sua vez, é o alicerce tanto da Teologia (quer bíblica, quer sistemática) como da pregação. O diagrama abaixo ilustra estas relações: Hermenêutica Exegese
Teologia Bíblica
Teologia Sistemática
Pregação/Homilia
A homilética deve valer-se dos recursos da retórica (assim como da eloqüência), utilizar os meios e métodos da comunicação moderna e aplicar a avançada estilística. Não se pode ignorar o perigo de substituir a pregação do evangelho pelas disciplinas seculares e de adaptar a pregação do evangelho às demandas do secularismo. A relação entre a homilética e as ciências modernas é de caráter secundário e horizontal; pois as Escrituras Sagradas são a fonte primária, a revelação vertical, o fundamento básico de toda a homilética evangélica. Por isso, o apóstolo Paulo escreveu aos coríntios: “Eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não o fiz com ostentação de linguagem, ou de sabedoria. Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado. E foi em fraqueza, temor e grande tremor que eu estive entre vós. A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder, para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria humana; e sim, no poder de Deus” (1 Co 2.1-5).s
O DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DA HOMILÉTICA O modelo predominante no período profético era a palavra vinda diretamente do Senhor (“assim diz o Senhor”) que os profetas anunciavam e ilustravam em suas próprias vidas: uma prostituta como esposa (Oséias); nomes dos filhos (Is 7.3, 8.3); cinto (Jr 13.111); o vaso do oleiro (Jr 18.1-17); a botija quebrada (Jr 19.1-15); a morte da mulher de Ezequiel (Ez 24.15-27). Após o exílio, desenvolveu-se a homilia primitiva, em que passagens das Escrituras Sagradas eram lidas em público ou nas sinagogas (Ne 8.1-18).
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Por volta de 500-300 a.C., os gregos Córax, Sócrates, Platão e Aristóteles desenvolveram a retórica, aperfeiçoada pelos romanos na forma da oratória (principalmente Cícero, em cerca de 106-43 a.C.). Jesus, no entanto, pregou o evangelho do reino de Deus com simplicidade, utilizando principalmente parábolas (Mt 13.34s.; Mc 4.10-12,33,34) e aplicando textos do Antigo Testamento à Sua própria vida (Lc 4.16-22). Uma análise do livro de Atos revela cinco elementos básicos comuns às mensagens apostólicas: O Messias prometido no Antigo Testamento; a morte expiatória de Jesus Cristo; Sua ressurreição pelo poder do Espírito Santo; a gloriosa volta de Cristo; e o apelo ao ouvinte para que se arrependesse e cresse no evangelho. A maioria dos cristãos antigos, portanto, seguiu o exemplo da sinagoga, lendo e explicando de modo simples e popular as Escrituras do Antigo Testamento e do Novo. Não se percebe muito esforço em estruturar um esboço homilético ou um tema organizador. A homilia Cristã apenas “segue a ordem natural do texto da Escritura e visa meramente ressaltar, mediante a elaboração e aplicação, as sucessivas partes a passagem como esta se apresenta”. As primeiras teorias homiléticas encontram-se nos escritos de Crisóstomo (345-407 a.D.), o mais famoso pregador da igreja primitiva. A primeira homilética foi escrita por Agostinho, em De Doctrina Christiana. Agostinho dividiu-a em de inveniende (como chegar ao assunto) e de proferendo (como explicar o assunto). Na prática, esta divisão sistemática corresponde hoje às homiléticas material e formal. A Idade Média não foi além de Agostinho, mas produziu coletâneas famosas de sermões, atualmente publicadas em forma de livros devocionais. “Homilética era quase a única forma de oratória conhecida”. O maior pregador latino da Idade Média foi Bernardo de Claraval (1090-1153). Graças a Carlos Magno (768-814), a pregação era feita na língua do povo e não exclusivamente em latim. A grande inovação da Reforma Protestante foi tornar a Bíblia o centro da pregação. Os discursos éticos e litúrgicos foram substituídos pela pregação evangélica das grandes verdades bíblicas, versículo por versículo. Martinho Lutero e João Calvino expuseram quase todos os livros da Bíblia em forma de comentários que, ainda hoje, possuem vasta aceitação acadêmica e espiritual. Os líderes da Reforma Protestante deram à pregação um novo conteúdo (a graça divina em Jesus Cristo), um novo fundamento (a Bíblia Sagrada) e um novo alvo - a fé viva. Enquanto Lutero enfatizava o conteúdo da pregação do evangelho (a justificação pela fé), Melanchton ressaltava o método e a forma da pregação. Como humanista convertido, Melanchton escreveu, em 1519, a primeira retórica evangélica, seguida de duas publicações homiléticas, em 1528 e 1535, respectivamente. Melanchton sugeriu enfatizar a unidade, um centro organizador, um pensamento principal (loci) para o texto a ser pregado. A pregação evangélica deveria incluir: introdução, tema, disposição, exposição do texto e conclusão.
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OS PROBLEMAS DA HOMILÉTICA A palavra de Deus afirma que “a fé vem pela pregação e a pregação pela palavra de Cristo” (Rm 10.17). Como é possível, então, que surjam dificuldades quando esta palavra é proclamada? O problema não está na palavra em si, porque “a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até a ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração” (Hb 4.12). O problema não está na Palavra de Deus, mas em sua proclamação, quando feita por pregadores que não admitem suas imperfeições homiléticas pessoais! Atualmente, as dificuldades mais comuns da pregação bíblica encontram-se nas seguintes áreas: Falta de preparo adequado do pregador. Na maioria das vezes, a pregação pobre tem sua raiz na falta de estudo do orador. Muitos julgam ter condições de preparar uma mensagem bíblica em menos de seis horas, sem o árduo trabalho exegético e estilístico. Pensam que basta ter um esboço de três ou quatro pontos para edificar a igreja, ou acham suficiente manipular as Quatro Leis Espirituais para levar um indivíduo perdido à obediência a Cristo. Falta de unidade corporal na prédica. Os ouvintes do sermão dominical perdem o interesse pelo recado do pastor quando este apresenta uma mensagem que consiste numa mera junção de versículos bíblicos, às vezes até desconexos pulando de um livro para outro, sem unidade interior, sem um tema organizador. A falta de unidade corporal na prédica leva o ouvinte a depreciar até a mais correta exposição da Palavra de Deus. Falta de vivência real do pregador na fé cristã. O pior que pode acontecer ao pregador do evangelho é proclamar as verdades libertadoras de Cristo e, ao mesmo tempo, levar uma vida arraigada no pecado e em total desobediência aos princípios da Palavra de Deus. Por isso, Paulo escreveu: “... esmurro o meu corpo e o reduzo à escravidão, para que, tendo pregado a outros, não venha eu mesmo a ser desqualificado” (1 Co 9.27). ,
Em outras ocasiões, o pregador talvez esteja vivendo em santificação, mas ainda assim, quando suas mensagens são apresentadas de forma muito teórica, empregando termos técnicos, latinos e gregos que o povo comum não entende, elas se tornam enfadonhas. No fim do culto, o rebanho admite que seu pastor falou bem e bonito, mas se queixará de não ter entendido nada. Falta de aplicação prática às necessidades existentes na igreja. Muitas mensagens são boas em si mesmas, mas se tornam pobres na prática, na edificação do povo de Deus. Constituem verdadeiros castelos doutrinários, mas não mostram como colocar em prática, de maneira viável, o ensino da Palavra de Deus negligenciando, por exemplo, oferecer
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ajuda concreta a uma senhora que, após 35 anos de vida conjugal feliz, perdeu seu esposo num acidente de trânsito, na semana anterior. Falta de equilíbrio na seleção dos textos bíblicos. A maior parte das Escrituras foi praticamente abandonada na pregação eficiente do evangelho. Mais de 95% dos sermões evangélicos pregados no Brasil baseiam-se no Novo Testamento e em geral, limitam-se a textos evangelísticos, tais como: Lc 19.1-10; Jo 1.12; 3.16; 14.6; Rm 8.28; 2 Co 5.15-21 etc.
Prega-se a verdade, mas não toda a verdade! O alvo do apóstolo Paulo era pregar “o evangelho das insondáveis riquezas de Cristo” (Ef 3.8). É bom lembrar que os apóstolos, e com eles a primeira geração da igreja primitiva, utilizavam quase sempre o Antigo Testamento. Eles baseavam suas mensagens naqueles 39 livros, que constituem mais de dois terços de nossa Bíblia atual. Falta de prioridade da mensagem na liturgia. O culto teve início pontualmente às 19:30, com um belo programa musical seguido de muitos testemunhos empolgantes, várias orações e diversos avisos. Finalmente, às 21h30, quando toda a congregação já estava cansada, o dirigente anunciou: “Vamos agora para a parte mais importante de nosso culto. Com a palavra, nosso pastor, que vai pregar o santo evangelho”. O pastor, então, fica constrangido de pregar 40 minutos, pois sabe que ninguém irá agüentar. A característica principal de um culto evangélico é a pregação da Palavra de Deus. Números especiais bem ensaiados, testemunhos autênticos, avisos, tudo isso é útil e necessário, desde que em seu devido lugar. Devemos zelar para que nossos cultos não se tornem festivais de música popular ou reuniões para avisos, mas, sim, encontros com Deus em Sua palavra! Lutero era muito enfático em afirmar que, onde se prega a palavra de Deus e
são ministrados o batismo e a ceia, é ali que se encontra a verdadeira igreja. Falta de um bom planejamento ministerial. “O pregador eficiente tem de planejar sua pregação com antecipação”. Muitos pastores falam sem nenhum plano ou propósito. Eles simplesmente decidem, a cada semana, quais os tópicos para os sermões do domingo seguinte. Algumas vezes, a decisão é feita na sexta-feira ou no sábado. A pregação sem um plano de longo alcance produz diversos resultados negativos: 1. O pregador é colocado sob tensão e ansiedade desnecessárias; 2. Muitos pastores simplesmente pregam os mesmos sermões, domingo após domingo. Eles escolhem um texto novo, mas, no fim, o conteúdo acaba sendo idêntico ao daquele outro velho sermão; 3. Outras vezes, o pregador tem uma idéia boa para um sermão, mas não dá tempo para que ela se desenvolva; e 4. Aqueles que não planejam sua pregação, geralmente cedem à tentação do plágio”. O bom pregador deve fazer um planejamento anual, incluindo mensagens para os dias especiais (Natal, Páscoa, aniversário da igreja etc.). Dessa forma, ele alimentará seu
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rebanho com uma dieta sadia e balanceada. Outros motivos que resultam em problemas para a homilética. Além das dificuldades já mencionadas, devemos lembrar que a pregação vem sendo desvalorizada pela secularização que atinge nossas igrejas. Muitas famílias preferem assistir ao “Fantástico”, em vez de ouvir uma mensagem simplesmente exortativa e moralista.
Há também a questão da grande diversidade de igrejas e pregadores evangélicos, o que facilita à família recém-chegada optar entre o pregador eloqüente e popular e a igreja com status. Além disso, o estresse do dia-a-dia faz com que, mesmo no domingo, não haja mais o sossego necessário para reflexões espirituais profundas.
AS CARACTERÍSTICAS DA HOMILÉTlCA Charles W. Koller apresenta o conceito bíblico de pregação como “aquele processo único pelo qual Deus, mediante Seu mensageiro escolhido, Se introduz na família humana e coloca pessoas perante Si, face a face”. Em sua tese, Koller refere-se ao mensageiro (vocação, caráter, função) e à mensagem (conteúdo, poder, objetivo). Na realidade, porém, as características da homilética evangélica não devem restringir-se somente aos pólos mensageiro e mensagem. Três elementos, no mínimo, participam da prédica: o pregador, o(s) ouvinte(s) e Deus. Podemos representá-los por meio de um triângulo, cujos vértices simbolizam o autor, o comunicador e o receptor: Neste triângulo, o pregador dirige-se a Deus, na preparação e na proclamação da mensagem, e ao ouvinte, sua comunidade evangélica. O ouvinte recebe a mensagem da Palavra de Deus através da comunicação pelo pregador ou por sua própria leitura. Deus, por Sua vez, é autor, inspirador e ouvinte de Sua Palavra. Entretanto é bom lembrar que o triângulo só se completa com um núcleo: este âmago é a palavra do Cristo crucificado (1 Co 2.2). O triângulo, então, deve ser aperfeiçoado da seguinte forma: DEUS
a BÍBLIA w
PREGADOR
OUVINTE OU COMUNIDADE
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Para os evangélicos, Cristo é o centro da Bíblia. Lutero ensinou enfaticamente: “A Escritura deve ser entendida a favor de Cristo, não contra Ele; sim, se não se refere a Ele não é verdadeira Escritura... Tire-se Cristo da Bíblia, e que mais se encontrará nela?”.
O CONTEÚDO DA HOMILÉTICA Com a Palavra de Deus, é-nos dado o conteúdo da pregação. Pregamos esta Palavra, e não meras palavras humanas. Na comunicação da Palavra de Deus, lembramonos de que nossa pregação deve consistir nessa mesma Palavra: “Se alguém fala, fale de acordo com os oráculos de Deus...” (1 Pe 4.11). Este falar não é o nosso falar, sendo antes um dom de Deus, um charisma (xa/risma). No poder de Deus, nosso falar torna-se o falar de Deus: “... tendo vós recebido a palavra que de nós ouvistes, que é de Deus, acolhestes não como palavra de homem, e, sim, como, em verdade é, a palavra de Deus, a qual, com efeito, está operando eficazmente em vós, os que credes” (1 Ts 2.13; cf. 1 Co 2.4s.; 2 Co 5.20; Ef 1.13). Concluímos, pois, que o conteúdo da homilética evangélica é a Palavra de Deus. Com ela, é-nos confiado um “tesouro em vasos de barro” (2 Co 4.7). É a responsabilidade dos “ministros de Cristo, e despenseiros dos mistérios de Deus” (1 Co 4.1), que anunciam “todo o desígnio de Deus” (At 20.27). O conteúdo da pregação apostólica testifica a plenitude do testemunho bíblico. Isto se torna evidente ao analisarmos os sermões de Pedro e de Paulo, no livro de Atos (mensagens de Pedro: At 2.14-40; 3.12-26; 4.8-12; 5.29-33; 10.34-43; mensagens de Paulo: At 13.16-41; 14.15-17; 17.22-31; 20.18-35; 22.121; 24.10-21; 26.1-23; 26.25-29). Nestes sermões, encontramos um testemunho de seis faces que, com palavras diferentes, repete-se: 1. O testemunho da perdição do homem (o pecado e seu julgamento); 2. O testemunho da história da salvação efetivada por Deus em Jesus Cristo (Sua humilhação, encarnação, sofrimento, morte, ressurreição, exaltação e segunda vinda); 3. O testemunho das Escrituras e da própria experiência; 4. O testemunho da necessidade imperativa de arrependimento e dedicação da vida a Jesus Cristo (confissão dos pecados, fé salvadora, vida santificada); 5. O testemunho do julgamento sobre a incredulidade; e 6. O testemunho das promessas para os fiéis. As mensagens apostólicas dirigem-se ao homem integral e convidam-no a uma entrega absoluta a Cristo (consciência, razão, sentimento e vontade).
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A IMPORTÂNCIA DA HOMILÉTICA A igreja viva de nosso Senhor Jesus Cristo origina-se, vive e é perpetuada pela Palavra de Deus (Rm 10.17). Pregar o evangelho significa despertar, confirmar, estimular, consolidar e aperfeiçoar a fé (Ef 4.11ss.). Por essa razão, a prédica é a característica marcante do cristianismo. “Nenhuma outra religião jamais tornara a reunião freqüente e regular de massas humanas para ouvir instrução religiosa e exortação uma parte integrante do culto divino ”. Para o seminarista e futuro pregador do evangelho, “a homilética constitui a coroa da preparação ministerial”, porque para ela convergem todas as matérias teológicas a fim de originar, vivificar, caracterizar, renovar e perpetuar o cristianismo autêntico. Além de importante, a homilética é também nobre, “porque se interessa exclusivamente pelo bem das almas”, que são objeto do amor infinito, da graça remidora e do poder renovador de Jesus Cristo. Durante o COMIBAM 87 (Congresso Missionário Ibero-Americano), o líder evangélico René Zapata (El Salvador) disse: “A pregação é o principal meio de difusão do cristianismo mais poderosa do que a página escrita, mais efetiva do que a visitação e o aconselhamento, mais importante do que as cerimônias religiosas. É uma necessidade sobrenatural, convence a mente, aviva a imaginação, move os sentimentos, impulsiona poderosamente a vontade. Mas, depende do poder do Espírito Santo. É um instrumento divino; não o é resultado da sabedoria humana, não descansa na eloqüência, não é escrava da homilética”. A homilética é importante devido a seu conteúdo (a proclamação do evangelho como característica fundamental do cristianismo autêntico), seu lugar central na preparação do ministro evangélico e seu objeto (o bem-estar do homem, criado por Deus).
A NATUREZA DA HOMILÉTICA É a teoria e a prática da pregação do evangelho de nosso bendito Senhor Jesus Cristo, que revela o poder e a justiça de Deus para todo homem que nEle crê (Rm 1.16). O teólogo alemão Trillhaas define a natureza prática da homilética como “a voz do evangelho na época atual da igreja de Cristo”. Os termos pregação e pregar vêm do latim praedicare, que significa “proclamar”. O Novo Testamento emprega quatro verbos para exemplificar a natureza da pregação: I. K ē rysso (khru/ssw) , proclamar, anunciar, tornar conhecido (61 ocorrências no Novo Testamento). Está relacionado com o arauto ( kēryx - kh=ruc), “que é comissionado pelo seu soberano ... para anunciar em alta voz alguma notícia, para assim torná-la conhecida”. Assim, pregar o evangelho significa fazer o serviço e cumprir a missão de um arauto. João Batista era o arauto de Deus. Para sua atividade, os sinóticos empregam o termo k ē rysso: Mt 3.1; Mc 1.4; Lc 3.3. Jesus, por Sua vez, era arauto de Seu Pai: Mt 4.17,
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23; 11.1; e os doze discípulos, Paulo e Timóteo, arautos de Jesus: Mt l0.7,27; Mc 16.15; Lc 24.47; At 10.42; Rm 10.8; 1 Co 1.23; 15.11; 2 Co 4.5; Gl 2.2; 1 Ts 2.9; 1 Tm 3.16; 2 Tm 4.2. Estas referências bíblicas mostram que a natureza da pregação consiste em quatro características principais:
1) Um arauto fala e age em nome do seu senhor. O arauto é o porta-voz de seu mestre. É isto que dá à sua palavra legitimidade, credibilidade e autenticidade; 2) A proclamação do arauto já é determinada. Ele deve tornar conhecidas a vontade e a palavra de seu Senhor. O não-cumprimento desta missão desclassifica-o de sua função e responsabilidade; 3) O teor principal da mensagem do arauto bíblico é o anúncio do reino de Deus: Mt 4.17-23; 9.35; 10.7; 24.14; Lc 8.1; 9.2; e; 4) O receptor da mensagem do arauto bíblico é o mundo inteiro: Mt 24.l4; 26.13; Mc 16.15; Lc 24.47; Cl 1.23; 1 Tm 3.16. II. Euangelizomai (eu)aggeli/zomai - eu)aggeli/zw ) , evangelizar. Quem evangeliza transmite boas novas, uma mensagem de alegria. Assim se caracteriza a natureza da prédica evangélica. O pregador do evangelho é o portador de boas novas, de uma mensagem de salvação e alegria. Ele anuncia estas boas novas de salvação ao homem corrompido por seu pecado (Is 52.7; Rm 10.15) 13 . O conteúdo do evangelho é a salvação realizada por Jesus Cristo (Lc 2.10; At 8.35; 17.18; Gl 1.16; Ef 3.8; Rm 1.16; 1 Co 15.15ss). e seu alcance é o mundo inteiro. O evangelho não deve limitar-se a uma classe especial. Ele é para todos. Todos têm direito de ouvir a mensagem de Jesus Cristo (At 5.42; 11.20; 1 Co 1.17; 9.16). III. Martyrein (marturei=n - marture/w) , testemunhar, testificar, ser testemunha. O testemunho de Jesus Cristo é outra característica autêntica da prédica evangélica. Jesus convidou seus discípulos para serem Suas testemunhas do poder do Espírito Santo (Lc 24.48; At 1.8). Neste sentido, os apóstolos compreenderam e executaram seu ministério (At 2.32; 3.15; 5.32; 10.39; 13.31; 22.15; 23.11; 1 Jo 1.2; 4.14). A testemunha qualifica-se através da comprovação de sua experiência. Isto lhe dá credibilidade, convicção e liberdade no cumprimento de sua missão. O evangelista diz: “... e nós temos crido e conhecido que tu és o Santo de Deus” (Jo 6.69). Isto significa que somente aquele que experimentou pessoalmente o poder salvador e transformador de Cristo, por meio da fé em Sua pessoa e obra, é qualificado para ser testemunha 13
Is 52.7: Como são belos nos montes os pés daqueles que anunciam (mebassēr) boas novas, que proclamam a paz, que trazem , na Septuaginta é boas notícias, que proclamam (mebassēr) salvação, que dizem a Sião: “O seu Deus reina!”. Mebassēr - r" &a b: m eu)aggelizome/nou e eu)aggelizo/menoj de eu)aggeli/zw.
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evangélica. Por isso, a testemunha do Novo Testamento testifica para outras pessoas aquilo que apropriou pela fé. “E o que de minha parte ouviste, através de muitas testemunhas, isso mesmo transmite a homens fiéis e também idôneos para instruir a outros” (2 Tm 2.2).
IV. Didaskein (dida/skein - dida/skw) , , ensinar. Encontramos este verbo 95 vezes no Novo Testamento. Seu significado é sempre ensinar ou instruir. O Novo Testamento apresenta-nos Jesus como um grande educador: “Quando Jesus acabou de proferir estas palavras [o Sermão do Monte], estavam as multidões maravilhadas da sua doutrina; porque ele as ensinava como quem tem autoridade, e não como os escribas” (Mt 7.28, 29). “É o testemunho unânime de todos os escritores sinóticos, que sem dúvida coincide com a realidade histórica, que Jesus ensinava publicamente, i. e., nas sinagogas (Mt 9.35; 11.54; Mc 6.2; 1.21 e passim) , , no templo (Mc 12.15; Lc 21.37; Mt 26.55; Mc 14.49); (cf. Jo 18.20) ou ao ar livre (Mt 5.2; Mc 6.34; Lc 5.3; e passim). Somente Lucas 4.16ss dá detalhes acerca da forma externa de Seu ensino, ficava em pé para ler um trecho dos profetas”.
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CLASSIFICAÇÃO DO SERMÃO O sermão é classificado por duas formas, a saber: pelo assunto ou pelo método, podendo ser discursivo ou expositivo.
1. Pelo assunto: 1.1. Doutrinário. É aquele que expõe uma doutrina. (Ensinamento). Sua finalidade é instruir os crentes sobre as grandes verdades da fé e como aplicá-las, portanto, é didático. O dom de ensino era muito difundido no cristianismo nascente. Jesus era intitulado de “Mestre” e os seus seguidores de “discípulos”. O sermão doutrinário atende quatro funções na vida da igreja: a) b) c) d)
1.2. 1.3. 1.4. 1.5. 1.6. 1.7.
Atende o desejo de aprender que existe na vida do crente; Previne contra as heresias; Dá embasamento à ação; Contribui para o crescimento dos ouvintes e do próprio pregador.
Histórico. É aquele que narra uma história; Ocasional. É aquele destinado a ocasiões ocas iões especiais; Apologético. Tem a finalidade de fazer apologia. (defender); Ético. É quando exalta a conduta e a vida moral mor al e ética; Narrativo. Quando narra um fato, um milagre; Controvérsia. Tem por finalidade atacar erros e heresias.
2. Pelo método (James Braga. COMO PREPARAR MENSAGENS BÍBLICAS, Pág. 1776). 2.1. Topical ou Temático. Trata de um tópico e não de um texto bíblico em particular. As divisões derivam-se do tópico (ou tema). [COMO PREPARAR MENSAGENS BÍBLICAS, Pág. 17-29]. 2.2. Textual. Trata do desenvolvimento de um texto bíblico, um ou dois versículos. As divisões derivam-se do texto. [COMO PREPARAR MENSAGENS BÍBLICAS, Pág. 3046]. 2.3. Expositivo. Trata do desenvolvimento de um texto bíblico, geralmente longo. As divisões também derivam-se do texto. Este pode expor uma história ou uma doutrina. (Parábola, Milagre, Peregrinação, Pecado). Em certo sentido todo sermão é expositivo, mas aqui indica a extensão do texto. Leia: O Cajado do Pastor, pág. 163-170. [COMO PREPARAR MENSAGENS BÍBLICAS, Pág. 47-76].
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A ESTRUTURA HOMILÉTICA14 A Estrutura homilética de um sermão possui o seguinte esquema:
TÍTULO: TEXTO: INTRODUÇÃO: PROPOSIÇÃO: Sentença Interrogativa Sentença de Transição AS DIVISÕES PRINCIPAIS: I.
PRIMEIRO SUBTÍTULO 1. Primeira subdivisão; 2. Segunda subdivisão; 3. Terceira subdivisão.
II. SEGUNDO SUBTÍTULO 1. Primeira subdivisão; 2. Segunda subdivisão; 3. Terceira subdivisão. III. TERCEIRO SUBTÍTULO 1.Primeira subdivisão; 2.Segunda subdivisão; 3.Terceira subdivisão. CONCLUSÃO APLICAÇÃO APELO
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DIVISÃO DO SERMÃO O Sermão deve possuir divisões, que permitem um bom aproveitamento do assunto que vai ser apresentado. É a expressão do aspecto específico a ser apresentado, formulado de maneira que seja um anúncio adequado do sermão.
TÍTULO 15 O pregador não deve se preocupar com o título no início do preparo de seu sermão, pois geralmente o título, assim como a introdução, é um dos últimos itens a ser preparado.
CARACTERÍSTICAS DO TÍTULO O título deve ser interessante e atraente a fim de despertar a atenção dos ouvintes. Para ser interessante ele deve relacionar-se as situações específicas e às necessidades das pessoas que ouvem o sermão. 1. O título deve ter relação com o tema do sermão ou com o texto bíblico. 2. O título deve ser decente e digno. Devem ser evitados títulos rudes que ofendem e causam apatia. 3. O título deve ser preferencialmente breve. 4. O título pode ser uma citação breve de um texto bíblico.
PROPOSIÇÃO OU TEMA16 Proposição é uma declaração positiva do assunto a ser proclamado. É a afirmação de uma verdade bíblica, eterna que tem aplicação universal. A proposição também é chamada de “tese”, “tema”, “idéia homilética”. Deve-se atentar para o fato de que assunto e tema não são a mesma coisa. O Assunto é algo mais genérico, enquanto que o tema é mais específico. Um assunto, por exemplo, poderia ser a “Esperança”, e vários temas poderiam ser derivados deste assunto: “A Esperança do Crente”, “A Esperança do Mundo”, etc... Uma proposição, para ser completa deve possuir um “sujeito” e um “complemento”. Para descobrir o sujeito e o complemento da passagem bíblica, convém aplicar as interrogativas “quem”, “o que”, “por que”, “como”, “quando” e “onde”. 15 16
[email protected] Ibid.
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O texto de Gálatas 3:13 nos servirá de exemplo: “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós; porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro”. Fazendo a pergunta “sobre o que fala este texto?”, descobriremos o sujeito da sentença, ou seja, “a maldição da lei”. O complemento é tudo aquilo que a passagem relata acerca da maldição da lei, isto é, que ela foi realizada quando Cristo a tomou sobre si, sendo pendurado no madeiro. Uma vez tendo descoberto o sujeito e o complemento podemos formular a idéia exegética do texto: “Nossa redenção da maldição da lei foi realizada por Cristo, o qual recebeu a maldição por nós”. A proposição deve preferencialmente estar na afirmativa. A frase “Devemos honrar a Cristo obedecendo aos seus mandamentos” é melhor do que “Não devemos desonrar a Cristo desobedecendo aos seus mandamentos”. A proposição difere da idéia exegética. A idéia exegética é a afirmativa de uma única sentença; é a verdade principal da passagem, enquanto que a proposição é a verdade espiritual ou princípio eterno, transmitido por toda a passagem. Tomemos como exemplo a passagem de Marcos 16.1-4: “1 Ora, passado o sábado, Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, e Salomé, compraram aromas para irem ungi-lo. 2 E, no primeiro dia da semana, foram ao sepulcro muito cedo, ao levantar do sol. 3 E diziam umas às outras: Quem nos revolverá a pedra da porta do sepulcro? 4 Mas, levantando os olhos, notaram que a pedra, que era muito grande, já estava revolvida.” A idéia exegética desta passagem é: “... as mulheres, a caminho do túmulo para ungir a Jesus, preocupavam-se com um problema grande demais para elas, porém já resolvido antes de elas terem de enfrentá-lo”. Esta idéia exegética nos leva à seguinte tese: “Deus é maior do que qualquer problema que tenhamos de enfrentar”. Note que a idéia exegética é uma verdade fundamental da sentença, mas a tese extraída da idéia exegética é uma verdade eterna e universal, aplicável a tudo e a todos. A proposição deve ser formulada no tempo presente; não deve incluir referências geográficas ou históricas; não deve fazer uso de nomes próprios, exceto os nomes divinos. Uma tese com alguma dessas características ficaria muito embaraçosa: “Assim como o Senhor chamou a Abrão de Ur dos Caldeus para ir para uma terra que desconhecida, da mesma forma Ele chama alguns de nós para irmos pregar aos estrangeiros”.
TIPOS DE TEMAS 1. Interrogativo: Uma pergunta, que deve ser respondida no sermão. Ex.: Onde estás? Que farei de Jesus? Tenho uma arma o que fazer com ela? 2. Lógico: Explicativo. Ex.: O que o homem semear, ceifará; Quem encontra Jesus volta por outro caminho. 3. Imperativos: Mandamento, uma ordem; Caracteriza-se pelo verbo no modo imperativo. Ex.: Enchei-vos do espírito; Não seja incrédulo; Não adores a um Deus morto. 4. Enfáticos; Realçar um aspecto específico;
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Ex.: Só Jesus salva; Dois tipos de cristãos; 5. Geral: Abrangente, aborda um assunto de forma geral sem especificá-lo. Ex.: Amor; fé, esperança
TEXTO É trecho lido pelo orador, podendo ser um capítulo, uma história, uma frase ou até mesmo uma palavra. O texto bíblico é a passagem bíblica que serve de base para o sermão. Esse texto deverá fornecer a idéia ou verdade central do sermão. Nunca se deve tomar um texto somente por pretexto, e logo se esquecer dele. Segundo Jerry Stanley Key, existem algumas vantagens no uso de um texto bíblico: 1. O texto dá ao sermão a autoridade da palavra de Deus. 2. O texto constitui a base e alma do sermão; 3. Através da pregação por texto o pregador ensina a palavra de Deus; 4. O uso do texto ajuda os ouvintes a reter a idéia principal do sermão; 5. O texto limita e unifica o sermão; 6. Permite uma maior variedade nas mensagens; 7. O texto é um meio para a atuação do Espírito Santo.
A INTRODUÇÃO 17 Introdução. Tem por finalidade chamar a atenção dos ouvintes para o assunto que vai ser apresentado e também para o pregador. A introdução, também chamado de exórdio, deve ser elaborado por último, como acontece com o título. Deve ficar claro que a introdução não é o mesmo que as preliminares que os pregadores costumam proclamar. As preliminares consistem de observações gerais que não se relacionam com o sermão. Geralmente é uma apresentação do pregador ou um testemunho para que este seja conhecido do povo. A introdução é o processo pelo qual o pregador procura conduzir a mente dos ouvintes para o tema de sua mensagem. Na introdução o pregador procura prender a atenção dos ouvintes acerca do tema que pretende proclamar. CARACTERÍSTICAS DA INTRODUÇÃO 1. Deve despertar o interesse dos ouvintes. 2. Deve ser breve.
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Ibid.
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SENTENÇA INTERROGATIVA E SENTENÇA DE TRANSIÇÃO
A proposição deve ser ligada ao sermão através de uma pergunta, e esta por sua vez através de uma sentença de transição. Para ligar a proposição ao sermão, usa-se qualquer um dos cinco advérbios interrogativos: “por que”, “como”, “o que”, “quando” e “onde”. Vejamos alguns exemplos: Na proposição “A Vida Cristã é uma Vida Vitoriosa” podemos incluir a seguinte interrogativa: “Quais são os motivos que nos levam a considerar que a Vida Cristã é uma Vida Vitoriosa?” (ou Como se faz da Vida Cristã uma Vida Vitoriosa?) Este tema poderia nos levar a uma resposta baseada em Romanos: “Por que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus” ou “Por que em todas essas coisas somos mais do que vencedores”. A sentença de transição faz a transição entre a interrogativa e o corpo do sermão. A transição para a interrogativa acima, por exemplo, poderia ser: “Vejamos cinco motivos pelos quais podemos afirmar que a Vida Cristã é uma Vida Vitoriosa”. A palavra motivo é a palavra-chave da transição, pois toda transição deve possuir uma palavra-chave que caracterize os pontos principais do sermão. Vários são os motivos que classificam a vida cristã como sendo uma vida vitoriosa, e em cada divisão do sermão deve expressar claramente esses motivos. As sentenças de Transição que ligam as divisões do sermão devem repetir a palavrachave. Por exemplo: “Vejamos qual é o primeiro motivo pelo qual devemos afirmar que a vida cristã é uma Vida Vitoriosa”. A estrutura homilética seria a seguinte: PROPOSIÇÃO: A Vida Cristã é uma Vida Vitoriosa INTERROGATIVA: Quais são os motivos que nos levam a considerar que a Vida Cristã é uma Vida Vitoriosa? TRANSIÇÃO: O texto nos apresenta cinco motivos pelo qual devemos afirmar que a vida cristã é uma Vida Vitoriosa. Vejamos o primeiro motivo: I. PRIMEIRA DIVISÃO: Por que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus... TRANSIÇÃO: Vejamos o segundo motivo... II. SEGUNDA DIVISÃO: Por que em todas essas coisas somos mais do que vencedores”. LISTA DE PALAVRAS CHAVES Alvos, argumentos, aspectos, atitudes, causas, efeitos, evidências, fatores, fatos, fontes, lições, manifestações, marcas, meios, métodos, motivos, necessidades, objetivos, ocasiões, passos, provas, verdades, virtudes, etc... (note que as palavras-chaves estão no plural).
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AS DIVISÕES PRINCIPAIS
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O corpo. É a parte mais linda porque aqui se revela a Mensagem como Deus que dar. É o mesmo que desenvolvimento do sermão. As Divisões são o corpo do sermão. São as verdades espirituais divididas em partes seqüenciais, distintas, mas interligadas à verdade principal que é a proposição. CARACTERÍSTICAS DAS DIVISÕES PRINCIPAIS 1. Devem ter unidade de pensamento. 2. Elas ajudam o pregador a lembrar-se dos pontos principais do sermão. 3. Elas ajudam os ouvintes a recordarem-se dos aspectos principais do sermão. 4. Elas devem ser distintas umas das outras. 5. Elas devem originar-se da proposição e desenvolvê-la progressivamente até o clímax do sermão. 6. Elas devem ser uniformes e simétricas. 7. Cada divisão deve Ter apenas uma idéia ou ensino. 8. O número das divisões deve, sempre que puder, ser o menor possível.
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A CONCLUSÃO 20 A conclusão é o clímax do sermão. Na conclusão o pregador deve chegar ao seu alvo que é atingir seus ouvintes e persuadi-los a praticarem e aplicarem em suas vidas a mensagem que ouviram. É a sessão do sermão onde tudo o que foi dito anteriormente é reafirmado com mais intensidade e vigor, a fim de produzir maior impacto nos ouvintes. A conclusão é o fechamento do sermão e deve ser bem feita, um sermão com encerramento abrupto é desaconselhável. Conclusão é o clímax do sermão, na qual o objetivo constante do pregador atinge seu alvo em forma de uma impressão vigorosa. A conclusão é, sem dúvida, o elemento mais poderoso de todo o sermão. Se não for bem executada, pode enfraquecer ou até mesmo destruir o efeito das partes anteriores da mensagem. A conclusão deve ser breve e objetiva. É um resumo do sermão, uma recapitulação e reafirmação dos argumentos apresentados. Durante a conclusão pode efetuar um convite de acordo com a mensagem transmitida.
CARACTERÍSTICAS DA CONCLUSÃO 1. A conclusão não é apenas um anexo da mensagem, é parte dela. 2. Na conclusão não devem ser apresentadas novas idéias, mas apenas ser enfatizado as já expostas anteriormente. 3. A conclusão é a parte mais poderosa do sermão, porque une todas as verdades ensinadas em uma verdade única. 4. A conclusão deve ser breve. 5. A conclusão pode ser uma recapitulação das idéias expostas nas divisões principais. 6. A conclusão pode ser uma ilustração. 7. A conclusão poder ser a aplicação da mensagem aos aspectos práticos da vida. 8. A conclusão pode ser um apelo.
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Ibid.
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APLICAÇÃO É a arte de persuadir e induzir os ouvintes a entender e colocar em prática em sua vida. Pode ser feita ao final de cada divisão ou de acordo com a oportunidade. Deve ser dirigida a todos, com muito entusiasmo apelando à consciência e aos sentimentos dos ouvintes. A aplicação é o processo mediante o qual o pregador aplica a verdade espiritual do sermão à vida dos seus ouvintes, a fim de persuadi-los a uma reação favorável à mensagem. Em outras palavras a aplicação é e persuasão das palavras do pregador; é a palavra dirigida ao coração. Na pregação o pregador fala a mente das pessoas, a fim de que meditem nas palavras que estão ouvindo, mas na aplicação o pregador fala ao coração, a fim de que pratiquem as palavras ouvidas. A aplicação é a meditação posta em prática.
ILUSTRAÇÃO É o processo de explicar algo desconhecido pelo conhecido. É a exposição de um exemplo que torna claro os ensinamentos do sermão. A ilustração pode ser uma parábola, uma alegoria, um testemunho ou uma história (ou uma estória). Deve ser enfatizado que a ilustração não é a parte mais importante do sermão, mas sim a explanação do texto. A parte mais importante é a interpretação do texto, pois o alvo do sermão é torná-lo conhecido do público, e a ilustração se presta a essa tarefa. A ilustração ajuda na exposição tornando claro e evidente as verdades da Palavra de Deus. A ilustração atrai a atenção, quebrando assim a monotonia, e faz com que a mensagem seja gravada nos corações com mais facilidade. As ilustrações também ajudam na ornamentação do sermão tornando-o mais atraente, porém o pregador deve ter o cuidado de não ficar o tempo todo contando “histórias”. São recursos usados para o enriquecimento, e o esclarecimento de uma mensagem, quando devidamente aplicada. O senhor Jesus sempre tinha uma boa história para iluminar as verdades que ensinava ao povo. O significado do termo ilustrar é tornar claro, iluminar, esclarecer mediante um exemplo, ajudando o ouvinte a compreender a mensagem proclamada. O bom uso da ilustração desperta o interesse, enriquece, convence, comove, desafia e estimula o ouvinte, valoriza e vivifica a mensagem, além de relaxar o pregador. A ilustração não substitui o texto bíblico apenas tem uma função psicológica e didática, para tornar mais claro aquilo que o texto revela. As ilustrações devem ser simples, estão correlacionadas com a mensagem, devem fornecer fatos de interesses humanos e devem Ter um ponto alto ou clímax.
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APELO O apelo é o processo de requerer do auditório uma resposta positiva acerca do que foi explanado. O apelo é uma invocação feita aos ouvintes para que recebam os ensinamentos expostos na pregação. Deve ser enfatizado que a própria pregação já em si um apelo. O verdadeiro apelo é feito pelo Espírito Santo. Ele chama e invoca os homens para que ouçam a sua Palavra, e quando estes se voltam para ela, demonstram sua fé nas palavras que ouviram. As Escrituras afirmam que a fé vem pelo ouvir da Palavra de Deus, portanto a exposição da palavra é o apelo que o Espírito Santo dirige aos homens para que ouçam, creiam e recebam a palavra em seu coração. Isto não impede, entretanto que se façam apelos à platéia de forma visual, por meio de um levantar de braço ou solicitando ao ouvinte que vá à frente da congregação. Deve-se, no entanto, entender que esses fatos não se constituem na concretização do apelo, e, portanto, deve, este tipo de apelo, ser usado com moderação.
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TIPOS DE SERMÕES21 Há 4 tipos de sermões:
1. 2. 3. 4.
SERMÃO TEMÁTICO OU TÓPICO; SERMÃO TEXTUAL; SERMÃO EXPOSITIVO; SERMÃO BIOGRÁFICO.
O sermão é diferente da homilia ou da preleção exegética. A homilia é a exposição seqüencial da passagem, versículo por versículo, apresentando-se apenas a idéia exegética que cada versículo contém. É um comentário sobre uma passagem bíblica, curta ou longa, explicada e aplicada versículo por versículo, ou frase por frase. A homilia não possui estrutura homilética. A preleção exegética é um comentário detalhado de um texto, com ou sem ordem lógica ou aplicação prática. A exegese interpreta o significado oculto da passagem, mas a exposição apresenta ao público esse significado.
SERMÃO TEMÁTICO É aquele onde a divisão faz-se pelo tema. Todas as divisões devem derivar do tema. A melhor forma é fazer perguntas ao tema escolhido, tais como: Por que? Como? Quando? O Que? Onde? É aquele em que toda a argumentação está amarrada em um tema, dividese o tema e não o texto, o que permite a utilização de vários textos bíblicos. Isso não quer dizer que o tema não seja bíblico, mas sim que o sermão gira em torno do tema e não de uma passagem específica. Porém para que o sermão temático seja bíblico, o tema deve ser extraído da Bíblia. Um tema, por exemplo, poderia ser a fé evangélica. O sermão, então não se basearia em apenas um texto bíblico, mas em diversos versículos da Bíblia, pois a palavra fé se prolifera por toda a Escritura. O sermão baseado neste tema poderia expor a fé dos patriarcas, a fé dos mártires, a fé dos apóstolos, e assim por diante. Uma Idéia de um Sermão Doutrinário: Tema: Os Sinais indica m, Jesus está voltando! Texto: Mt 24 Introdução: I. Os s inais na natureza: II. Os s inais polí tico-sociais : III. Os s inais religiosos: 21
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SERMÃO TEXTUAL
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É aquele em que toda a argumentação está amarrada no texto principal que, será dividido em tópicos. No sermão textual as idéias são retiradas de um texto escolhido pelo pregador. O tema é extraído do próprio texto, e por isso o esboço das divisões deve manter-se estritamente dentro dos limites do texto. É um método muito bom, pois oferece aos ouvintes a oportunidade de acompanhar, passo a passo a exposição do sermão. As divisões do sermão textual podem ser feitas de acordo com as declarações originais do texto. Ou se utilizar de uma análise mais apurada baseando-se em perguntas como: Onde? Que? Quem? Por que? Que deverão ser respondidas pelas declarações ou frases do texto. E ainda pode-se dividir por inferência, as orações textuais são reduzidas a expressões sintéticas que encerra o conteúdo.
CARACTERÍSTICAS DO SERMÃO TEXTUAL Deve girar em torno de uma única idéia principal da passagem, e as divisões principais devem desenvolver essa idéia. As divisões podem consistir em verdades sugeridas pelo texto. As divisões devem, preferencialmente e quando possível, vir em seqüência lógica e cronológica. As próprias palavras do texto podem formar as divisões principais do sermão, desde que elas se refiram à idéia principal. Tema: Cristo é tudo para o crente Texto: João 14.6 Introdução. I. Cr isto é o caminho para o céu, II. Cr isto é a verdade que orienta, III. Cr isto é a vida que salva.
SERMÃO EXPOSITIVO23 É aquele cujas divisões principais se derivam do texto, e consistem em idéias progressivas que giram em torno de uma idéia principal. O sermão expositivo, assim como o sermão temático e o textual, gira em torno de um tema, mas na mensagem expositiva o tema é extraído de vários versículos em vez de um único. Por isso mesmo os vários versículos de uma passagem que dão origem ao tema único do sermão deve ser uma unidade expositiva. O sermão expositivo se baseia em uma porção extensa das Escrituras. Pode ser alguns versículos ou um capítulo inteiro, até mesmo um livro.
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Ibid. Ibid.
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É aquele que explora os argumentos principais da exegese, hermenêutica e faz uma exposição completa de um trecho mais ou menos extenso. O sermão expositivo é uma aula, uma análise pormenorizada e lógica do texto sagrado. Este tipo do sermão requer do pregador cultura teológica e poder espiritual. O sermão expositivo é o método mais difícil. Apreciado pelos que se dedicam à leitura e ao estudo diário e contínuo da bíblia, deve ser feito uma análise de línguas, interpretação, pesquisa arqueológica, e histórica, bem como, comparação de textos.
Tema: O Cr istão e o Novo Nascimento Texto: João 3.1-15 Introdução. I. A necessidade do novo nascimento ( v.v.3-5) II. O mistér io do novo nascimento (v.v. 6-10) III. A recompensa do novo nascimento ( v. 15)
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Modelo (Textual Expositivo) TEMA: O ANDAR DO POVO DE DEUS TEXTO: Ef 5.1-15: INTRODUÇÃO: Sadu Sing na Inglaterra; Richard Wumbrant. FRASE DE TRANSIÇÃO: O POVO DE DEUS DEVE ANDAR: I.
ANDAR EM AMOR: Ef 5.2; 1Co 13.4-8; Rm 5.5; 1Jo 3.11-18; Jo 13.34. 1. Amor requer aproximação: Rm 12.9-21; 2. Amor requer respeito: Gl 5.13-15; 3. Amor requer confiança: Jo 19.26,27 4. O Amor requer Renúncias: Mt 5.38-48;
Ilustração. Richard Wumbrant FRASE DE TRANSIÇÃO: O POVO DE DEUS DEVE ANDAR:
II. ANDAR COMO FILHOS DA LUZ: “... andai como filhos da luz”. 1. É andar em comunhão com Deus: Gn 5.22-24; 2. É não partilhar das obras das trevas: 1Jo 2.15-17; Sl 1.1-8; Tg 4.4; 1Co 5.7-13. 3. É provar sempre o que é agradável ao Senhor: Ef 5.10; Rm 12.2 FRASE DE TRANSIÇÃO: O POVO DE DEUS DEVE ANDAR:
III. ANDAR EM SABEDORIA: Ef 5.15; Tg 1.5,6; 1. Remindo o tempo: Ef 5.16; Cl 4.5; 2.
Procurar entender a vontade Deus : Ef 5.17; Rm 12.2;
3. É ser cheio do Espírito Santo: Ef 5.18; Gl 5.16; 4. É dar sempre graças a Deus: Ef 5.20; 1Ts 5.18. CONCLUSÃO: O POVO DE DEUS DEVE ANDAR EM AMOR, NA LUZ E EM SABEDORIA. Pr. A. Carlos G. Bentes
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EXEMPLO 1
TEMA: OS ATRIBUTOS DE JESUS TÍTULO: NOSSO SENHOR SINGULAR TEXTO: Mt 14.14-22 I.
A COMPAIXÃO DE JESUS 1. Demonstrada em seu interesse pela multidão (v.14) 2. Demonstrada em seu serviço à multidão (v.14)
II.
A TERNURA DE JESUS 1. Demonstrada em sua resposta graciosa aos discípulos (vv.15,16) 2. Demonstrada em seu trato paciente com os discípulos (vv.17,18)
III. O PODER DE JESUS
1. Manifesto na alimentação da multidão (vv.19-21) 2. Exercido mediante o serviço dos discípulos (vv.14-21) EXEMPLO 2
TÍTULO: VEJA DEUS OPERAR TEMA: “Cristo como o Supridor de nossas necessidades” TEXTO: Mt 14.14-21 INTRODUÇÃO: I.
CRISTO SE INTERESSA POR NOSSAS NECESIDADES 1. Tem compaixão de nós em nossas necessidades (vv.14-16); 2. Ele nos considera em nossas necessidades quando outros não se importam conosco (vv.15,16).
II. CRISTO, AO SUPRIR NOSSAS NECESSIDADES, NÃO SE RESTRINGE PELAS CIRCUNSTÂNCIAS 1. Ele não se restringe por nossa falta de recursos (vv.17,18); 2. Ele não se restringe por qualquer outra falta (v.19).
III. CRISTO SUPRE NOSSAS NECESSIDADES 1. Supre nossas necessidades com abundância (vv.20); 2. Provê muito mais do que o suficiente (vv.20,21).
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EXEMPLO 3
TÍTULO: RESOLVENDO NOSSOS PROBLEMAS TEMA: “nossos problemas” TEXTO: Mt 14.14-22 INTRODUÇÃO: I. ÀS VEZES NOS CONFRONTAM OS PROBLEMAS 1. Problemas de grandes proporções (vv.14,15); 2. De natureza imediata (v.15); 3. De solução humana impossível (v.15).
II. CRISTO É ABUNDANTEMENTE CAPAZ DE SOLUCIONAR NOSSOS PROBLEMAS 1. Sob a condição de que lhe entreguemos nossos recursos limitados (vv.16-18); 2. Sob a condição de que lhe obedeçamos sem questionar (vv.19-22). EXEMPLO 4
TÍTULO: RELACIONANDO A FÉ COM A NECESSIDADE HUMANA TEMA: “A fé em relação com a necessidade humana” TEXTO: Mt 14.14-21 INTRODUÇÃO: I.
O DESAFIO DA FÉ 1. O motivo do desafio (vv.14,15); 2. A substância do desafio (vv.14,15)
II.
A OBRA DA FÉ 1. O primeiro ato de fé (vv.17,18); 2. O segundo ato de fé (vv.19)
III. A RECOMPENSA DA FÉ 1. A bem-aventurança da recompensa (v.20); 2. A grandeza da recompensa (vv. 20,21).
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DIFERENÇA ENTRE SERMÃO EXPOSITIVO E TEXTUAL No sermão textual as divisões principais oriundas do texto são usadas como uma linha de sugestão, isto é, indicam a tendência do pensamento a ser seguido no sermão, permitindo ao pregador extrair as subdivisões ou idéias de qualquer parte das Escrituras. Já no sermão expositivo o pregador é forçado a extrair todas as subdivisões e, é claro, as divisões principais, da própria passagem que pretende explicar ou expor. O sermão expositivo não é uma homilia bíblica ou uma preleção exegética.
O SERMÃO BIOGRÁFICO24 É um tipo específico de sermão que tem por objetivo expor a vida de algum personagem bíblico como modelo de fé e exemplo de comportamento.
MENSAGEM PREGADA PELO PASTOR GUILHERME DE AMORIM ÁVILLA GIMENEZ NA IGREJA BATISTA BETEL EM 11 DE MARÇO DE 2007 ÀS 18:00 HORAS. SERMÃO BIOGRÁFICO PERSONAGEM: ABRAÇÃO ÊNFASE: MISSÕES E CONSAGRAÇÃO DE VIDA O QUE É UM SERMÃO BIOGRÁFICO Um estilo homilético em que o pregador ‘encarna’ um personagem bíblico. Ele é apresentado na primeira pessoa do singular e se vale de encenações e afirmações pessoais tentando retratar verdades da Palavra de Deus.
POR QUE ABRAÃO No mês de missões nada melhor do que falarmos no ‘pai de missões’ (assim ele é chamado por vários missiólogos.
1. IDENTIFICAÇÃO INTRODUÇÃO Minha história está registrada em Gênesis 12-25. A Bíblia fala sobre mim 233 vezes, não apenas no Antigo Testamento mas também no Novo. Jesus Cristo falou sobre mim. Os 24
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apóstolos Paulo, Pedro e Tiago também fizeram menção a mim em seus livros. Apareço também no livro de Hebreus.
ABRÃO Nome inicial do personagem. SIGNIFICADO DO NOME: “antepassado famoso” ABRAÃO Seu nome foi mudado aos 99 anos de idade. SIGNIFICADO DO NOME: “pai de muitas nações” (Genesis 17.5) LUGAR DE NASCIMENTO: Ur dos Caldeus. A Caldéia é a parte Sul da Babilônia, um local muito fértil naquela época. Um povo idólatra e pagão vivia ali. Havia já avanços científicos e o povo era de cultura avançada. FAMÍLIA: Filho de Terá e descendente de Sem OCUPAÇÃO: Proprietário de gado abastado ÉPOCA: Viveu cerca de 1920 anos antes de Jesus Cristo. IDADE: 175 anos de vida. 2. COMEÇO DE SUA HISTÓRIA Minha história começa em uma época de muita fartura e riqueza. Eu tinha muito gado, vários empregados e gozava boa saúde. Apesar de viver em um lugar pagão sempre fui temente a Deus. Tinha uma esposa, Sara, a quem amava de todo o meu coração. Nossa única tristeza é que não podíamos ter filhos. Eu já estava velho e ela também e nós continuamos firmes em Deus.
PRIMEIRA APLICAÇÃO: você pode ser fiel a Deus mesmo debaixo das mais diferentes circunstâncias. Mesmo na prosperidade material, mesmo diante de uma sociedade corrupta e pagã e mesmo quando alguns de seus sonhos não se realizam. 3. A CORAGEM DE OBEDECER A DEUS Certo dia Deus falou comigo. Eu não esperava. Estava entretido com tantos afazeres. Deus me deu uma ordem dizendo: “sai da tua terra e do meio dos teus parentes e vá para uma terra que eu te mostrarei.” Me lembro até hoje daquelas palavras. Eu não pensei duas vezes. Chamei Sara, meu sobrinho Ló, contei tudo que Deus me dissera e parti sem saber para onde. Deixei a estabilidade e segui confiando apenas em Deus. Não foi fácil confesso. Mas como é bom obedecer ao Senhor. Foi a maior experiência de minha vida, ir sem saber qual será o destino final, movido apenas pela confiança.
SEGUNDA APLICAÇÃO: o mundo de vocês é muito diferente do meu. Vocês tem a tecnologia a seu favor e antes de tomar uma decisão vocês podem fazer vários prognósticos. Mas saibam que muitas vezes nós seremos dirigidos exclusivamente pela fé.
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Não haverá outro elemento que nos dê segurança. Obedeça a Deus de todo o coração. Seja um homem de fé. Se arrisque se fazer a vontade de Deus exigir isso.
4. UM HOMEM COMUM COM ERROS E PECADOS Apesar da minha fé e coragem tive meus erros e com vergonha hoje os reconheço. Um dos meus problemas sempre foi a mentira. Logo depois de ter obedecido ao Senhor houve fome na terra e tive que levar Sara e meus empregados para o Egito. Sara sempre foi uma mulher muito bonita. Eu fiquei com medo de que os Egípcios me matassem para tomar a Sara como mulher. Então eu menti. Combinei com Sara que ali no Egito ela seria minha irmã e não minha esposa. E o pior: não foi só dessa vez. Depois desse episódio de novo eu menti. Me arrependo disso.
TERCEIRA APLICAÇÃO: todos nós somos pecadores e dependemos da graça, perdão e amor de Deus. Você nunca pode perder a dimensão de sua humanidade, de suas fraquezas e da sua natureza pecaminosa. 5. O CUMPRIMENTO DAS PROMESSAS DE DEUS Quando eu ia completar cem anos de idade Deus me disse que Sara, minha esposa, ficaria grávida. Confesso que eu fiquei achando aquilo engraçado. Pudera, que mulher engravidaria com a idade de Sara? Mas assim aconteceu. Deus cumpriu sua promessa para comigo. E eu aprendi que sempre vale a pena confiar no Senhor, esperar Nele. Nasceu nosso lindo filho Isaque. O filho da promessa. E por causa do nascimento dele eu despertei para um novo momento em minha vida.
QUARTA APLICAÇÃO: Deus sempre cumpre o que promete mesmo quando eu acho que está demorando. Creia totalmente em Deus. Ele não falha nunca. Sempre cumpre as suas promessas. 6. A OBEDIÊNCIA Meu filho foi crescendo. Um grande garoto. Aí veio a maior surpresa de minha vida. Deus pediu meu único filho em sacrifício a Ele. Pediu que eu tirasse a vida de meu filho e oferece um holocausto ao Senhor. Minhas pernas tremeram, meu coração bateu mais forte. Me lembro daquele dia em que chamei Isaque e fomos para o monte. Ele não entendendo nada. Busquei a lenha para o sacrifício vendo-o com aquela fisionomia de perguntas sem resposta. Então, no momento em que já tinha amarrado meu filho e tirado o cutelo para matá-lo Deus disse para que eu parasse. Ele provou minha obediência. E eu nunca mais fui o mesmo depois disso.
QUINTA APLICAÇÃO: obedeça a Deus mesmo se for para perder, para sofrer ou se a obediência parece em um primeiro momento insensata. Deus sabe porque pede as coisas.
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não abra mão da obediência. Seja fiel ao Senhor de todo o seu coração. Confie no Senhor sempre. Faça o que puder para obedecer e você será aprovado pelo Senhor.
7. PAI DE UMA GRANDE NAÇÃO Deus me preparou para que eu fosse o pai de uma grande nação, o povo de Israel. Deus trabalhou em minha vida para que eu abençoasse os povos. Você também pode ser uma bênção nas mãos de Deus. Mas é preciso obedecer, permitir ser uma bênção. Você está disposto a isso?
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GRANDES PREGADORES JONATHAN EDWARDS (1703-1758) Grande pregador dos EUA, ingressou no ministério em 1726. Seu primeiro pastorado foi em Northampton, Massachusetts, onde serviu até 1750. Foi contemporâneo e atuante num grande despertamento espiritual e tido por alguns como o maior teólogo da América do Norte. Era pregador excelente, com célebres sermões publicados: Deus Glorificado na Dependência do Homem (1731), Uma Luz Divina e Sobrenatural (1733) e o mais famoso, Pecadores nas Mãos de um Deus Irado (1741). Sobre o sermão mais famoso, baseou-se em Deuteronômio 32:35. Depois de explicar a passagem, acrescentou que nada evitava que os pecadores caíssem no inferno, a não ser a própria vontade de Deus. Afirmou que Deus estava mais encolerizado com alguns dos ouvintes do que com muitas pessoas que já estavam no inferno. Disse que o pecado era como um fogo encerrado dentro do pecador e pronto, com a permissão de Deus, a transformar-se em fornalhas de fogo e enxofre, e que somente a vontade de Deus indignado os guardava da morte instantânea. Continuou, então, aplicando ao texto ao auditório: Aí está o inferno com a boca aberta. Não existe coisa alguma sobre a qual vós vos possais firmar e segurar... há, atualmente, nuvens negras da ira de Deus pairando sobre vossas cabeças, predizendo tempestades espantosas, com grandes trovões. Se não existisse a vontade soberana de Deus, que é a única coisa para evitar o ímpeto do vento até agora, seríeis destruídos e vos tornaríeis como a palha da eira... O Deus que vos segura na mão, sobre o abismo do inferno, mais ou menos como o homem segura uma aranha ou outro inseto nojento sobre o fogo, durante um momento, para deixá-lo cair depois, está sendo provocado ao extremo... Não há que admirar, se alguns de vós com saúde e calmamente sentados aí nos bancos, passarem para lá antes de amanhã... O sermão foi interrompido pelos gemidos dos homens e os gritos das mulheres; quase todos ficaram de pé ou caídos no chão. Durante a noite inteira a cidade de Enfield ficou como uma fortaleza sitiada. Teve início um dos maiores avivamentos dos tempos modernos na Nova Inglaterra.
JOHN WESLEY (1703-1791) Foi um instrumento poderoso nas mãos de Deus para um grande avivamento no século XVIII. Nascido em Epworth, Inglaterra, numa família de dezenove irmãos! Em 1735 foi para a Geórgia como missionário aos índios norte-americanos, não chegando a ministrar aos índios, mas sim aos colonos na Geórgia. Durante uma tempestade na travessia do Oceano Atlântico, Wesley ficou profundamente impressionado com um grupo de morávios a bordo do navio. A fé que tinham diante do risco da morte (o medo de
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morrer acompanhava Wesley constantemente durante a sua juventude) predispôs Wesley à fé evangélica dos morávios. Retornou à Inglaterra em 1738. Numa reunião de um grupo morávio na rua Aldersgate, em 24 de maio de 1738, ao escutar uma leitura tirada do prefácio de Lutero ao seu comentário de Romanos, Wesley sentiu seu coração aquecido de modo estranho . Embora os estudiosos discordem entre si quanto à natureza exata dessa experiência, nada dentro de Wesley ficou sem ser tocado pela fé que acabara de receber. Depois de uma viagem rápida para a Alemanha para visitar a povoação morávia de Herrnhut, voltou para a Inglaterra e, juntamente com George Whitefield, começou a pregar a salvação pela fé. Essa “nova doutrina” era considerada redundante pelos sacramentalistas da Igreja Oficial que achavam que as pessoas já eram suficientemente salvas em virtude de seu batismo na infância. Em 1739, John Wesley foi a Bristol, onde surgiu um reavivamento entre os mineiros de carvão em Kingswood. O reavivamento continuou sob a liderança direta dele durante mais de cinqüenta anos. Viajou cerca de 400.000 km, por todas as partes da Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda, pregando cerca de 40.000 sermões. Sua influência se estendeu à América do Norte. O metodismo veio a tornar-se uma denominação após a morte de Wesley.
MARTINHO LUTERO (1483-1546) Era um destacado monge agostiniano, doutor em teologia e pregador na cidade de Wittemberg, quando ocorreu uma grande transformação em sua vida. Ele mesmo contou: Desejando ardentemente compreender as palavras de Paulo, comecei o estudo da Epístola aos Romanos. Porém, logo no primeiro capítulo consta que a justiça de Deus se revela no Evangelho (vs 16 e 17). Eu detestava as palavras “a justiça de Deus”, porque conforme fui ensinado, eu a considerava como um atributo do Deus santo que o leva a castigar os pecadores. Apesar de viver irrepreensivelmente, como monge, a consciência perturbada me mostrava que era pecador perante Deus. Assim odiava a um Deus justo, que castiga os pecadores... Senti-me ferido de consciência, revoltado intimamente, contudo voltava sempre ao mesmo versículo, porque queria saber o que Paulo ensinava. Contudo, depois de meditar sobre esse ponto durante muitos dias e noites, Deus, na sua graça, me mostrou a palavra “o justo viverá da fé”. Vi então que a justiça de Deus, nessa passagem, é a justiça que o homem piedoso recebe de Deus pela fé, como dádiva. Então me achei recém nascido e no Paraíso. Todas as Escrituras tinham para mim outro aspecto; perscrutava-as para ver tudo quanto ensinam sobre a justiça de Deus. Antes, estas palavras eram-me detestáveis; agora as recebo com o mais intenso amor. A passagem me servia como a porta do Paraíso. Em outubro de 1517, Lutero afixou à porta da Igreja do Castelo de Wittemberg as 95 teses, o teor das quais é que Cristo requer o arrependimento e a tristeza pelo pecado e não
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a penitência. Lutero afixou as teses para um debate público, na porta da igreja, como era costume nesse tempo. Estas teses, escritas em latim, foram logo traduzidas para o alemão, holandês e espanhol. Logo, estavam na Itália, fazendo estremecer os alicerces de Roma. Foi desse ato de afixar as 95 teses que nasceu a Reforma. Um ano depois de afixar as teses, Lutero era o homem mais popular em toda a Alemanha. Quando a bula de excomunhão, enviada pelo Papa, chegou a Wittemberg, Lutero respondeu com um tratado dirigido ao Papa Leão X, exortando-o, no nome do Senhor, a que se arrependesse. A bula do Papa foi queimada fora do muro da cidade de Wittemberg, perante grande ajuntamento do povo. Lutero era um erudito em hebraico e grego, o que facilitou sua grande obra, a tradução da Bíblia para o alemão. Ele mesmo escreveu para o seu povo: Jamais em todo o mundo se escreveu um livro mais fácil de compreender do que a Bíblia. Comparada aos outros livros, é como o sol em contraste com todas as demais luzes. Não vos deixeis levar a abandoná-la sob qualquer pretexto. Se vos afastardes dela por um momento, tudo estará perdido; podem levar-vos para onde quer que desejam. Se permanecerdes com as Escrituras, sereis vitoriosos. Depois de abandonar o hábito de monge, Lutero resolveu deixar por completo a vida monástica, casando-se com Catarina von Bora, freira que também saíra do claustro, e geraram seis filhos.
CHARLES FINNEY (1792-1875) Nasceu de uma família descrente e se criou num lugar onde os membros da igreja conheciam apenas a formalidade fria dos cultos. Tornou-se um advogado que, ao encontrar nos seus livros de jurisprudência muitas citações da Bíblia, comprou ume exemplar com a intenção de conhecer as Escrituras. Eis um trecho de sua biografia: Ao ler a Bíblia, ao assistir às reuniões de oração, e ouvir os sermões do senhor Galé, percebi que não me achava pronto a entrar nos céus... Fiquei impressionado especialmente com o fato de as orações dos crentes, semana após semana, não serem respondidas. Li na Bíblia “pedi e dar-se-vos-á”. Li, também, que Deus é mais pronto a dar o Espírito Santo aos que lho pedirem, do que os pais terrestres a darem boas coisas aos filhos. Ouvia os crentes pedirem um derramamento do Espírito Santo e confessarem, depois, que não o receberam. Exortavam uns aos outros a se despertarem para pedir, em oração, um derramamento do Espírito de Deus e afirmavam que assim haveria um avivamento com a conversão de pecadores... Foi num domingo de 1821 que assentei no coração resolver o problema sobre a salvação da minha alma e ter paz com Deus. (...) Fui vencido pela convicção do grande pecado de eu envergonhar-me se alguém me encontrasse de joelhos perante Deus, e bradei em alta voz que não abandonaria o lugar, nem que todos os homens da terra e todos os demônios do inferno me cercassem. O pecado parecia-me horrendo, infinito. Fiquei quebrantado até o pó perante o Senhor. Nessa altura, a seguinte passagem me
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iluminou: “ Então me invocareis, e ireis, e orareis a mim, e eu vos ouvirei. E buscar-meeis, e me achareis, quando me buscardes de todo o vosso coração”.
A conversão de Finney e o seu imediato batismo no Espírito Santo, contados em sua biografia, são impressionantes. O amor a Deus, a fome de sua Palavra, a unção para testemunhar e anunciar do Evangelho vieram sobre ele no dia de sua entrega a Jesus. Imediatamente, o advogado perdeu todo o gosto pela sua profissão e tornou-se um dos mais famosos pregadores do Evangelho. Eis o segredo dos grandes pregadores, nas palavras do próprio Finney: Os meios empregados eram simplesmente pregação, cultos de oração, muita oração em secreto, intensivo evangelismo pessoal e cultos para a instrução dos interessados. Eu tinha o costume de passar muito tempo orando; acho que, às vezes, orava realmente sem cessar. Achei, também, grande proveito em observar freqüentemente dias inteiros de jejum em secreto. Em tais dias, para ficar inteiramente sozinho com Deus, eu entrava na mata, ou me fechava dentro do templo. Conta-se acerca deste pregador que depois de ele pregar em Governeur, no Estado de New York, não houve baile nem representação de teatro na cidade durante seis anos. Calcula-se que somente durante os anos de 1857 e 1858, mais de 100 mil pessoas foram ganhas para Cristo pelo ministério de Finney. Na Inglaterra, durante nove meses de evangelização, multidões também se prostraram diante do Senhor enquanto Finney pregava. Descobriu-se que mais de 85 pessoas de cada 100 que se convertiam sob a pregação de Finney permaneciam fiéis a Deus; enquanto 75 pessoas de cada cem, das que professaram conversão nos cultos de algum dos maiores pregadores, se desviavam. Parece que Finney tinha o poder de impressionar a consciência dos homens sobre a necessidade de um viver santo, de tal maneira que produzia fruto mais permanente.
CHARLES SPURGEON (1834-1892) Conhecido como o “príncipe dos pregadores”, aos 19 anos já era pastor na Park Street Chapel, em Londres. A princípio um luar muito amplo, para mil e duzentas pessoas, porém freqüentado por um pequeno grupo de fiéis. Em poucos meses o prédio não comportava mais a multidão e eles se mudaram para um outro auditório que comportava quatro mil e quinhentas pessoas! A Igreja então resolveu alugar o Surrey Music Hall, o prédio mais amplo, imponente e magnífico de Londres, construído para diversões públicas. O culto inaugural deu-se em 19 de outubro de 1856. Quando o culto começou, o prédio no qual cabiam 12.000 pessoas estava superlotado e havia mais 10.000 fora que não puderam entrar!
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Uma terrível catástrofe ocorreu neste dia. Ao início do culto, pessoas diabólicas se levantaram gritando “ Fogo! Fogo!”, provocando um grande alvoroço e um saldo de sete pessoas mortas e vinte e oito gravemente feridos. Isto não impediu que o interesse pelos cultos até aumentasse. Em março de 1861 sua Igreja concluiu a construção do Metropolitan Tabernacle, local que comportava uma média de 5.000 pessoas a cada culto dominical, isto perdurando pelos próximos 31 anos. Pregou em cidades de toda a Inglaterra e noutros países: Escócia, Irlanda, Gales, Holanda e França. Pregava ao ar livre e nos maiores edifícios, em média oito a doze vezes por semana! Spurgeon publicou inúmeros livros. Milhares de sermões seus foram publicados e traduzidos para diversas línguas. Além de pregar constantemente a grandes auditórios e de escrever tantos livros, esforçou-se em vários outros ramos de atividades. Inspirado pelo exemplo de Jorge Muller, fundou e dirigiu o orfanato de Stockwell. Reconhecendo a necessidade de instruir os jovens chamados por Deus a proclamar o Evangelho, fundou e dirigiu o Colégio dos Pastores. A oração fervorosa era um hábito em sua vida. Contava com trezentos intercessores que, todas as vezes que pregava, mantinham-se em súplica.
DWIGHT LYMAN MOODY (1837-1899) Um total de quinhentas mil almas ganhas para Cristo, é o cálculo da colheita que Deus fez por intermédio de seu humilde servo. Moody nasceu em 5 de fevereiro de 1837, o sexto filho de nove, numa pobre família do Connecticut, EUA. Sua mãe ficou viúva com os filhos ainda pequenos, o mais velho tinha 12 e ela estava grávida de gêmeos quando o marido morreu. Sua mãe foi uma crente fiel e soube instruir seus filhos no Caminho. Aos vinte e quatro anos, logo após casar-se, em Chicago, Moody deixou um bom emprego para trabalhar todos os dias no serviço de Cristo, sem ter promessa de receber um único centavo. Tendo trabalhado com Escolas Bíblicas e evangelização em Chicago, atuou também junto aos soldados durante a Guerra Civil. Teve uma tremenda experiência numa viagem a Inglaterra. Visitou Spurgeon no Metropolitan Tabernacle e impressionou-se. Também contactou Jorge Muller e o orfanato em Bristol. Nesta mesma viagem, o que mais impressionou Moody e o levou a buscar definitivamente uma experiência mais profunda com Cristo foram estas palavras proferidas por um grande ganhador de almas de Dublim, Henrique Varley: O mundo ainda não viu o que Deus fará com, para e pelo homem inteiramente a Ele entregue. Um terrível incêndio que praticamente destruiu Chicago, em 1871, também foi um divisor de águas na vida de Moody. Nesta época ele teme uma marcante experiência com o Espírito Santo. Voltou a pregar na Inglaterra posteriormente e Deus o usou para inflamar os corações.. Na Escócia, multidões buscaram ao Senhor. Na Irlanda, maravilhas também ocorreram, com conversões de multidões ao Senhor.
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Para termos idéia, esta viagem culminou com quatro meses de cultos em Londres. Moody pregava alternadamente em quatro centros. Realizaram-se 60 cultos no Agricultural Hall, aos quais um total de 720.000 pessoas assistiram; em Bow Road Hall, 60 cultos, aos quais 600.000 assistiram; em Camberwell Hall, 60 cultos, com a assistência de 480.000; Haymarket Opera House, 60 cultos, 330.000; Vitória Hall, 45 cultos, 400.000 assistentes. Retornou aos EUA em 1875, sendo reconhecido como o mais famoso pregador do mundo, continuando a ser um humilde servo de Deus. Durante um período de 20 anos dirigiu campanhas com grandes resultados nos Estados Unidos, Canadá e México. Em diversos lugares as campanhas duraram até seis meses. Transcrevo um depoimento de um dos assistentes a um dos cultos promovidos por Moody: Nunca jamais me esquecerei de certo sermão que Moody pregou. Foi no circo de Forepaugh durante a Exposição Mundial. Estavam presentes 17.000 pessoas, de todas as classes e de todas as qualificações. O texto do sermão foi: “Pois o Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido”. Grandiosa era a unção do pregador; parecia que estava em íntimo contacto com todos os corações daquela massa de gente. Moody disse repetidamente: “Pois o Filho do homem veio – veio hoje ao Circo Forepaugh para procurar e salvar o que se perdera”. Escrito e impresso isso parece um sermão comum, mas as suas palavras, pela santa unção que lhe sobreveio, tornaram-se palavras de Espírito e de vida.
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EVANGELHO, EVANGELIZAÇÃO, EVANGELISMO
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“Pregar é evangelizar, daí a necessidade de transcrever este tópico”. Para uma compreensão básica sobre evangelismo, temos que percorrer uma conceituação de “evangelho” e “evangelização”, para depois formularmos um entendimento plausível sobre “evangelismo”. Ao tratarmos deste assunto, não temos a preocupação de fixar a definição acadêmica mais aceita. Antes, nossa preocupação é encontrar o entendimento mais adequado ao assunto, jogando com definições de autores e compreensão do texto original. EVANGELHO A Palavra evangelho ocorre 72 vezes no Novo Testamento, das quais 54 se encontram nos escritos de Paulo. O termo provém do grego euanguelíon (eu)aggeli/on) , que significa literalmente: “boas-novas” (Mc 1.1,15; 16:15). Este é o substantivo. Em Lc 2.10 encontramos o euanguelíon em ação: “eu anuncio boas-novas”. [ eu)aggeli/zomai - eu)aggeli/zw ]. O correspondente em hebraico (m ebassēr) quer dizer “proclamar boas-novas”, “trazer novas de vitória”. Na Septuaginta, principalmente nas referências a Isaías 52.7-9; 41.27; 40.9, encontramos a mesma idéia. Is 52.7: “Que formosos são sobre os montes os pés do que anuncia (m ebassēr r”&ab:m) as boas-novas, que faz ouvir a paz, que anuncia (m ebassēr - r”&ab:m) coisas boas, que faz ouvir a salvação, que diz a Sião: O teu Deus reina!”. Is 52.7: “Que formosos são sobre os montes os pés do que anuncia (euanguelizoménou - eu)aggelizome/ nou) as boas-novas, que faz ouvir a paz, que anuncia (euanguelizómenos - eu)aggelizo/menoj ) coisas boas, que faz ouvir a salvação, que diz a Sião: O teu Deus reina!” (LXX). Thayer procura conceituar o termo euanguélion como: “As notícias alegres de salvação através de Cristo; a proclamação da graça de Deus garantida em Cristo”. Estudos históricos do significado do termo indicam que entre os antigos gregos a Palavra euanguélion era usada para “boas notícias de campos de batalha”. A notícia poderia vir por navio, a cavalo ou por um mensageiro a pé, e era proclamada à cidade, que, ansiosa, esperava pelas novas. O mensageiro era o euanguélos, que queria dizer: “o mensageiro sagrado”. A Septuaginta, algumas vezes, traz a idéia de um corredor ou batedor que traz a notícia da vitória. Não há dúvida de que a figura que a história desta palavra pinta é fascinante e foi muito bem empregada pelos anjos, no dia do Natal. E é este espírito que precisa dominar o sentido do evangelho ainda hoje para todos nós. ,
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FERREIRA, Damy. EVANGELISMO TOTAL. Rio de Janeiro. JUERP, 1990, p. 33-67.
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Mas evangelho é mais do que boas-novas. Delcyr de Souza Lima, em seu livro Doutrina e Prática da Evangelização, comenta: “Em outras palavras, para Jesus, o evangelho tinha o sentido de sua presença real entre os homens, cumprindo os desígnios de Deus, com o fim de salvá-los”. Podemos arriscar uma definição simples mais abrangente à luz de tudo quanto temos abordado: Evangelho é Jesus, tudo quanto ele fez e ensinou, visando à salvação do pecador perdido. Para fins práticos, podemos resumir o evangelho em quatro palavras, que formam quatro frases: 1. Jesus veio ao mundo para buscar e salvar o que se havia perdido. Este é o sentido histórico de Jesus. 2. Jesus morreu por nossos pecados. Este é o sentido teológico de Jesus (1 Tm 1.15). 3. Jesus ressuscitou (1 Co 15.1). 4. Jesus voltará a este mundo (At 1.9-11). É o sentido escatológico do evangelho. Estes são os fundamentos do evangelho, que se traduzem em fatos da vida de Jesus. Esses fatos foram registrados em livros que são chamados Evangelhos. De um registro para outro, pode haver variação e até problema de tradução, mas esses fatos fundamentais são inconfundíveis e essenciais para tornar alguém sábio para a salvação (2 Tm 3.15).
EVANGELlZAÇÃO Evangelização, em última análise, é a ação de evangelizar. A palavra evangelizar (eu)aggeli/zw - euanguelizō) ocorre 52 vezes no Novo Testamento, incluindo 25 vezes em Lucas e 21 vezes nos escritos de Paulo. Em sua exaustiva pesquisa sobre “evangelizar”, David B. Barrett diz, a certa altura: “A palavra é usada pela primeira vez em seu sentido tipicamente bíblico em Sl 49 (Septuaginta, no Salmo 39.10), traduzido como: ‘Eu tenho dito as alegres novas de livramento na grande congregação’. No Salmo 92.2: ‘Falar da sua salvação’, em (Isaías 52.7, ‘publicar a salvação’, e em Isaías 60.6, ‘proclamar o louvor do Senhor’. Esse uso judaico continuou nos tempos do Novo Testamento por Philo (20 a.C.-50 d.C.), historiador Josefo (37 d.C.-100), e outros”. Um autor famoso formulou a seguinte definição de evangelização: “evangelizar é um mendigo dizer a outro mendigo onde conseguir alimento” . O episódio dos dois leprosos na porta de Samária, que entraram no arraial dos sírios, encontrando grande fartura, numa época de fome na cidade, é, realmente, uma ilustração viva do que é Evangelizar. Daí poder-se dizer que evangelização é a ação de comunicar o evangelho, visando levar perdidos a Jesus para que sejam por ele salvos. Quando aqueles leprosos resolveram entrar na cidade e anunciar as boas notícias de que já havia pão para a sua fome, eles fizeram exatamente aquilo que temos que fazer com o mundo faminto de Deus.
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A técnica da evangelização é ação. Ação que realiza. A palavra evangelizar é diferente da palavra pregar. Nem toda pregação pode ser evangelização. Dois textos, entre outros, podem mostrar o caráter de ação: Lucas 4.18; Atos 10.36-38. Aqui vemos a menção de evangelização acompanhada de certas realizações. A idéia fundamental de evangelização é de passar o evangelho para alguém, de tal maneira que a pessoa fique entranhada por ele. Desse modo, deve-se entender que mero proselitismo e comunicação de preceitos de determinada religião ou seita não constitui evangelização. Em outras palavras: Pela evangelização, a pessoa absorve o Evangelho e ele passa a fazer parte da sua vida.
EVANGELISMO A palavra evangelismo não se encontra no Novo Testamento. Naturalmente, ela torna possível a ação de evangelizar. A partícula ismo denota sistema. Assim, antes de mais nada, evangelismo envolve os princípios, os métodos, as estratégias, as técnicas empregados na ação de evangelizar. O evangelho dá à evangelização as condições para que ela atinja os seus objetivos. Antes de mencionar algumas definições acadêmicas de evangelismo e mesmo antes de tentarmos elaborar uma, vejamos alguns elementos essenciais de uma boa definição de evangelismo. Delos Miles, em seu livro lntroduction to Evangelism (Introdução ao evangelismo), usado como livro-texto em alguns seminários americanos, fala do assunto. Damos, a seguir, um resumo das suas idéias:
1. O coração da definição deve ser as boas-novas sobre o reino de Deus. As boas-novas de que Jesus é o Senhor sobre tudo - sobre o universo físico, sobre a história, sobre os dirigentes das nações, sobre todos nós. Esta é a essência da nossa mensagem. 2. Abrangência global: que alcance a pessoa no seu todo, com a totalidade do conteúdo do evangelho, com a totalidade de Cristo, pela totalidade da igreja, na totalidade do mundo, na totalidade do tempo até à eternidade, Isto é: o evangelho global no homem global. 3. Sentido teológico. Exemplo: se a definição não apresenta Jesus como Filho de Deus, como redentor, salvador, não fará sentido. A teologia da libertação não visa tanto o novo nascimento, por exemplo. 4. O sentido do prejuízo para quem não aceita a salvação (Rm, 1.18). O evangelismo é como uma faca de dois gumes: abre a porta para a salvação e pode abri-la também para a condenação (Jo 3.18).
Mas isto não é tudo o que queremos saber sobre o conceito de evangelismo. Vamos percorrer brevemente algumas definições chamadas clássicas, que são usadas pelos autores. 1. Definição Anglicana de 1918: “Evangelizar é apresentar Cristo Jesus no poder do Espírito Santo, para que homens possam vir a pôr sua confiança em Deus através dele, aceitá-lo como seu salvador, e servi-lo como Rei na fraternidade de sua igreja”.
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2. Definição do Concílio Internacional Missionário, em 1938: Esta definição adotou a mesma anglicana de 1918, torcendo-a para um sentido ecumênico e trocando a palavra “Rei” pela palavra “Senhor”. 3. D. T. Niles, em 1951: “Evangelizar é um mendigo dizer a outro mendigo onde encontrar alimento”. 4. Definição do Congresso Internacional para a Evangelização do Mundo, realizado em Lausanne, Suíça, em 1974. É o chamado Pacto de Lausanne : “Evangelizar é espalhar as boas-novas de que Jesus morreu por nossos pecados e foi levantado da morte de acordo com as Escrituras, e que, como Senhor que reina, ele agora oferece perdão dos pecados e o dom libertador do Espírito a todo aquele que se arrepende e crê. Nossa presença cristã no mundo é indispensável para o evangelismo, e este é o tipo de diálogo cujo propósito é fazer com que se ouça cuidadosamente a mensagem a fim de entendê-la. Mas evangelismo por si mesmo é a proclamação do Cristo histórico e bíblico como Salvador e Senhor, com vistas a persuadir pessoas a virem a ele, pessoalmente, e serem reconciliadas com Deus. Em publicar o convite do evangelho, nós não devemos ocultar a necessidade do discipulado. Jesus ainda chama todos quantos o seguem para negarem a si mesmos, tomarem sobre si sua cruz e identificarem a si mesmos com sua nova comunidade. Os resultados do evangelismo incluem obediência a Cristo, integração à sua igreja e serviço cristão responsável no mundo”.
5. Em recente pesquisa histórica sobre conceito de evangelismo, David B. Barrett anota a definição de J . S. Robertson, secretário geral da histórica primeira Sociedade Missionária Anglicana, nestes termos: “Evangelismo é um termo genérico que descreve diferentes posições e modos nos quais a atividade de evangelização é expressa”. 6. C. E. Autrey, em seu livro The Theology of Evangelism, traduzido para o português sob o título A Teologia do Evangelismo, assim define evangelismo: “Evangelismo é o esforço extensivo da igreja, através de uma confrontação com o evangelho de Cristo, numa tentativa de conduzir os homens a um cometimento pessoal, mediante a fé e o arrependimento em Cristo, como Salvador e Senhor”. 7. Donald McGavran deve ser mencionado aqui com um comentário especial. Filho de pais missionários, McGavran nasceu na Índia e foi a terceira geração missionária naquele país, onde trabalhou por mais de 30 anos pelo movimento denominado Discípulos de Cristo. Algumas experiências adquiridas nos campos o levaram a mudar a terminologia tradicional de evangelismo e missões para o que ele chamou de crescimento de igrejas. No seu conceito, “tudo que possa trazer homens e mulheres que não tenham uma relação pessoal com Jesus Cristo para uma camaradagem Com ele e para um responsável relacionamento com a Igreja”. Daí ele tem se tornado autor muito importante no mundo de evangelismo e missões. Sua grande definição foi estabelecida a partir de 1977, no livro Dez Passos para o Crescimento da Igreja, onde de diz: “Evangelismo é proclamar Jesus
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Cristo como Deus e Salvador, persuadir pessoas a se tornarem seus discípulos e membros responsáveis de sua igreja”. Donald McGavran é do Fuller Theological Seminary, em Pasadena, Califórnia. Suas obras são muito procuradas hoje em dia, sendo seu ponto forte, sua ênfase, o crescimento de igrejas, mas temos que começar pelo fundamento da evangelização do indivíduo. Não queremos fazer crescer a igreja de qualquer maneira. 8. O professor Delcyr de Souza Lima, apreciado autor brasileiro nesta área, assim define evangelismo: Evangelismo é a ação cujo objetivo é levar os homens a conhecerem sua condição de pecadores perdidos e a conhecerem o plano de Deus para sua salvação; conduzi-los à aceitação de Jesus Cristo como Filho de Deus, Salvador e Senhor, e integrá-los na vida cristã.
Seria por demais exaustivo uma análise de cada definição acadêmica aqui apresentada. A meu ver, todas elas são válidas para fins didáticos e acadêmicos, mas não batem em cheio no significado de evangelismo. Para início de conversa, a definição de evangelismo tem que ser calcada no conceito de evangelização e de evangelho. Algumas definições aqui apresentadas confundem evangelização com evangelismo e vice-versa. Já mencionei que evangelismo tem a ver com sistematização. Evangelismo tem a ver com métodos, estratégias e técnicas pelos quais se comunica o evangelho ou se realiza a evangelização. À luz do que temos dito, desejo arriscar uma definição que mais se aproxime da realidade do termo: Evangelismo é o sistema baseado em princípios, métodos, estratégias e técnicas tirados do Novo Testamento, pelos quais se comunica o evangelho de Cristo a todo pecador, sob a liderança e no poder do Espírito Santo, visando persuadi-lo a aceitar a Cristo como seu salvador pessoal, de acordo com o comissionamento de Jesus dado a todos os seus discípulos, levando, ao final, os que crerem, a se integrarem à igreja pelo batismo, preparando-os para a volta de Cristo. Vamos analisar brevemente esta definição. Pelo evangelismo, nós fazemos o evangelho - o conteúdo dos ensinos e das motivações de Cristo - chegar ao pecador e atuar nele. Os métodos são apenas dois: evangelismo pessoal e evangelismo de massa. De qualquer maneira, o indivíduo será atingido. Dependendo do contexto em que esteja o indivíduo ou indivíduos a serem a alcançados, vamos estudar uma estratégia. Por exemplo, a estratégia do Espírito Santo em alcançar o eunuco, ministro da rainha Candace, foi ir ao caminho de Gaza, por onde ele passava. A estratégia de Jesus em alcançar a mulher samaritana e várias outras pessoas de sua aldeia foi passar por aquele poço e ficar ali assentado, para entabular conversação com ela. Dependendo, ainda, do tipo de pessoa, das circunstâncias que a cercam, o evangelista usará uma técnica adequada, A técnica de Filipe com o Eunuco foi aproximar-se do carro e começar a conversa, partindo do ponto em que homem estava: lendo o profeta Isaías. A técnica que Jesus usou com a mulher foi pedir água, porque estava com sede. A técnica é o
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recurso material que usamos. Tudo isso é trabalhado pelo Espírito Santo que usa homens que usam recursos dados por Deus. Se a pessoa crê em Cristo como Salvador, ela é integrada e o caminho é o batismo ; ela aceita incluir-se na igreja, corpo de Cristo. E daí para frente, sem desprezar a estrutura global do evangelho, o discípulo será preparado para a volta de Cristo. Notamos, portanto, que é o evangelismo que disciplina e organiza todo este movimento operacional. Ele supre a evangelização dos recursos de que necessita para alcançar o pecador com a mensagem do evangelho. Portanto, evangelismo não é mera proclamação do evangelho, mas todo um sistema que permite a proclamação do evangelho. A esta altura, chamamos a atenção do leitor para o uso dos termos evangelismo e evangelização neste livro. 26 Como tenho demonstrado, evangelismo refere-se mais à sistematização, à metodologia de ação de evangelizar, enquanto que evangelização, ação de evangelizar, busca no evangelismo seu auxílio para se realizar. Os autores, no entanto, empregam os dois termos indistintamente. Assim, não obstante fazermos distinção entre evangelismo e evangelização em nossa exposição desta matéria, fizemo-lo mais para fins acadêmicos. No decorrer dos capítulos subseqüentes, portanto, usamos os dois termos sem qualquer preocupação com este detalhe que, em termos práticos, não fará muita diferença. Em alguns casos, a nossa preferência por evangelização em vez de evangelismo será apenas por comodidade da pronúncia do tema.
EVANGELISTA A palavra evangelista (eu)aggelisth/j - euanguelistēs) ocorre três vezes apenas no Novo Testamento: Atos 21.8; Efésios 4.11 e 2 Timóteo 4.5. Na primeira passagem, encontramos o nome de Filipe, classificado como um evangelista. Em Efésios, a menção é aos dons espirituais. Em 2 Timóteo, o jovem pastor é conclamado a fazer a obra de um evangelista. Há duas observações muito importantes, logo de início, sobre o assunto. Temos aqui o que podemos chamar de evangelista de função e evangelista de ofício . O evangelista de função é assim chamado porque seu trabalho difere do trabalho de um apóstolo. O Dicionário Teológico do Novo Testamento, editado por Kittel, Assim se expressa sobre o assunto: O evangelista no Novo Testamento não é o que declara oráculos, como entre os gregos. Ele é o que proclama notícias alegres, o evangelho. O evangelista, originalmente falando, denota a função, mais do que ofício, e poderia haver pequena diferença entre um apóstolo e um evangelista. Todo apóstolo poderia ser evangelista, mas, por outro lado, nem todo evangelista era apóstolo. Em todas as três passagens do Novo Testamento, os evangelistas estão subordinados aos apóstolos.
26
FERREIRA, Damy. Evangelismo Total. Rio de Janeiro. JUERP, 1990.
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Este é o sentido estrito do termo. Um outro sentido do termo é extensivo a todos os crentes. Todos os crentes são testemunhas de Cristo e pregam o evangelho na tentativa de levar pessoas a Cristo. Mas o que mais queremos enfatizar neste capítulo é sobre a pessoa do evangelista; que características ou qualificações deve ele ter e cultivar. É isto que veremos a seguir.
EXPERIÊNCIA DE CONVERSÃO Parece absurdo mencionar este fato, mas um evangelista tem que ter, inequivocadamente, a consciência de que é uma pessoa convertida. É muito fácil alguém nascer numa família cristã, engajar-se na igreja e no seu sistema, aprender educação religiosa, e pensar que por isso está salva. Isto é tremendo engano. Cada pessoa tem que ter sua experiência com Deus. Pode ser que as experiências variem de pessoa para pessoa, mas haverá um convicção inconfundível de que ela é convertida, é salva. Se alguém não nasceu de novo, não pode contar nada a outrem. Não importa que essa experiência tenha vindo na infância, na adolescência, na juventude ou na vida adulta. Importa que cada um que evangeliza possa dizer com convicção que Cristo o salvou e que ele é uma nova criatura (2 Co 5.17).
SELADO NO ESPÍRITO SANTO Uma outra convicção que deve estar posta inconfundivelmente no evangelista é a sua relação com o Espírito Santo. Hoje encontramos muitos movimentos confusos sobre a doutrina do Espírito Santo. Temos que entender, de uma vez por todas, que não há crentes sem o Espírito Santo; não há conversão sem o Espírito Santo (João 16.7-11). Também ninguém pode ter um terço ou dois terços de Deus. Se alguém tem o Pai, tem o Filho e tem o Espírito Santo também. Quando alguém se converte, arrependendo-se de seus pecados, crendo em Jesus como seu Salvador, recebe o dom do Espírito Santo, que é o próprio Espírito Santo (At 2.37,39; João 7.37,39). Daí, a pessoa é selada pelo Espírito Santo (Ef 1.13,14); o Maligno não lhe toca (1 João 5.18); ninguém o arrebata das mãos do Senhor (João 10.28); ele passa a ser habitado pelo Espírito Santo (1 Co 6.19,20). O Espírito Santo lhe é dado como garantia da vida eterna e isto é uma promessa irreversível. Muita gente há hoje vivendo numa fé que é um mar de dúvidas e incertezas. Tais pessoas acham que podem perder a salvação e assim vivem no desespero. O evangelista precisa ter convicção do seu relacionamento com Deus, com o Espírito Santo e seu Filho Jesus. Necessita da divindade dentro de si e por onde for tem que pensar assim. Sua vida é um santuário e ele possui todas as garantias divinas para o seu ministério.
O EVANGELlSTA E A SANTIFICAÇÃO A salvação é um ato que é selado com o Espírito Santo. A santificação é um processo. No Novo Testamento podemos notar isto facilmente examinando o modo e o tempo do verbo grego empregado nas declarações sobre a salvação, que denotam ação
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realizada, enquanto que a santificação é mencionada como ação contínua. A santificação é o processo que mantém o “vaso limpo” (1 Ts 4.4) e é ela que dá ao Espírito as condições necessárias para usar o crente poderosamente.
O EVANGELlSTA E A BÍBLIA O evangelista tem que conviver com a Bíblia de tal maneira que possa, por ela, apropriar-se da Palavra de Deus. Ele precisa não só ter um vasto conhecimento dela, como também deve alimentar-se dela. Para tanto, aconselho cinco expedientes que devem ser levados a sério pelo evangelista em relação à Bíblia. 1. O evangelista deve ler constantemente a Bíblia (Ap 1.3; 1 Tm 4.13). Existe hoje muita gente que tem pouco convívio com a Bíblia, e muitos crentes nunca leram a Bíblia toda pelo menos uma vez. O evangelista deve dar-se à tarefa de ler, pelo menos uma vez, a Bíblia toda. O ideal seria o evangelista ler a Bíblia toda uma vez por ano. Durante muitos anos, tive o privilégio de fazê-lo assim, competindo com meu pai, e foi muito salutar. 2. O evangelista deve ouvir a leitura da Bíblia (Rm 10.17; Ap 2.29; Ec 5.1). Quando lemos, podemos estar desligados na nossa atenção ou até podemos ler sem ênfase um ponto que deveria ser ressaltado. Quando ouvimos, podemos ser despertados, para aspectos nunca notados por nós. A leitura da Bíblia em alta voz deve ser cultivada nos cultos. Seria bom até haver fitas gravadas com voz solene e fundo musical, para que se pudesse ouvir a mensagem bíblica. A igreja pode elaborar programas de leitura da Bíblia de maneira a torná-la mais viva. Grupos lendo a Bíblia em estilo de jogral podem tornar o momento altamente edificante. 3. O evangelista, ainda mais, precisa memorizar a Bíblia (Sl 119.11; Dt 6.6; Pv 7.1-13). O evangelista deve saber muitos textos de cor, não só para servir-se deles na evangelização em certas circunstâncias, como também para lançar mão deles em momentos de lutas e conflitos espirituais. No passado, os pais crentes costumavam ensinar longos textos a seus filhos e tinham orgulho de exibir, a qualquer visitante do lar, a capacidade das crianças em recitar textos bíblicos. Hoje este hábito tão salutar está desaparecendo das famílias. De qualquer maneira, o evangelista deve primar por fazer isso. Antes de mais nada, ele deve decorar todos os versículos que possam expor o plano de salvação de maneira prática e simples. Tenho tido a experiência de falar aos ouvido de pacientes terminais em circunstâncias que não daria nem para abrir uma Bíblia. Em casos assim, ajudará muito ter o plano de salvação de cor e ir recitando pausadamente ao ouvido do paciente que, não obstante em estado de coma, pode receber a mensagem. 4. O evangelista, sobretudo, deve estudar a Bíblia (At 17.11; 2 Tm 2.15). Evidentemente, o estudo bíblico será mais proveitoso quando o estudante já tiver lido por completo, pelo menos uma vez, a Bíblia. A noção do todo ajuda na compreensão das partes. Na minha experiência pessoal, tenho começado meus estudos bíblicos usando referências (no rodapé) e concordâncias. Este é o meu primeiro expediente de estudo. É o hábito de estudar a Bíblia. Se a pessoa está capacitada para os originais, então deve ir a eles primeiro. Mas isso não é essencial. As traduções, geralmente, são confiáveis. Também
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o estudante deverá recorrer a outras versões e fazer um estudo comparativo. Só depois é que se deve ir a um comentário. Às vezes supervalorizamos os comentários. Eles são bons, mas grandes comentaristas, aqui e ali, cometem erros e até heresias. Temos que nos habituar a estudar a Bíblia pela Bíblia. O evangelista tem que conhecer a Bíblia e para tanto deve estudá-la sob todos os aspectos. Depois de conhecê-la razoavelmente bem, o evangelista deve estudá-la em relação a outros ramos de conhecimento humano e religiões comparadas. 5. O evangelista deve meditar na Palavra de Deus (Sl 1.2; Js 1.8; Sl 119.48), A meditação é uma arte e devemos desenvolvê-la. A melhor ilustração que conheço para explicar a meditação é a do boi que remói. Durante algum tempo, o boi colhe seu alimento. Depois ele pára, o alimento é trazido de volta à boca a fim de ser devidamente triturado e aproveitado pelo organismo. Na meditação, a pessoa procura trazer à mente tudo quanto sua memória acumulou durante um dia ou durante dias passados. E aí ela põe tudo “na mesa”, para revisão e comparação, tirando as lições. A nossa própria inteligência está preparada para fazer comparações e tirar conclusões. Nosso mundo de hoje não tem parado para meditar. A tônica dos nossos dias é a emoção e não a razão; o barulho, e não o silêncio. Até mesmo nossos cultos são barulhentos e emocionais, o que gera o bloqueio da linha de transmissão ao espírito, impedindo-o de ser alimentado. Na meditação, a mente fica repousante e o canal do enriquecimento espiritual fica livre para deixar passar tudo de quanto a alma necessita. É por isso que a própria Palavra de Deus recomenda meditação. O evangelista precisa dedicar tempo à meditação, sem o que a Palavra de Deus pouca atuação terá em sua vida. É no silêncio, e não no barulho, que Deus fala (1 Rs 19.8-15). Era exatamente por isso que Jesus gostava de orar no monte, no deserto e em lugares silenciosos como o Horto de Getsêmane.
O EVANGELISTA E A ORAÇÃO (1 Ts 5.17) A oração deve fazer parte da vida do evangelista. Ele deve ter um programa pessoal de oração, juntando este programa com o seu programa de santificação. O evangelista deve conservar uma mente de oração. É pela oração que estamos na presença de Deus e, no convívio com ele, vamos assimilando a sua maravilhosa maneira de ser. O evangelista deve fazer da oração o seu estilo de vida. Como ele vai enfrentar o poder das trevas ao evangelizar, deve estar devidamente reforçado espiritualmente para a luta. E é pela oração que o reforço vem. Não somente o evangelista deve cultivar uma vida de oração para manter seu poder espiritual, mas ele deve orar pelas pessoas que pretende alcançar para Cristo e também orar por aquelas que está evangelizando. E sua vida de oração vai passar para aqueles que ele ganhar para Cristo. Eles serão seus imitadores.
A CONDUTA DO EVANGELISTA O evangelista deve ter vida irrepreensível. Aliás, esta é a exigência para todo servo de Deus (1 Co 1.8; Ef. 1:4; Fl 2.15; 1 Ts 3.13; Cl 1.22). Isso quer dizer que evangelista
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deve ter vida moral equilibrada. Naturalmente, não se exige que seja perfeito , porque isso seria impossível. Mas o evangelista deve ser uma pessoa digna, de caráter firme, de hábitos puros. Não deve ser dado a bebidas alcoólicas e a outros vícios; não deve ser mundano; deve conviver bem com a família e portar-se de tal maneira que não cause escândalo (1 Co 10.31,32; 2 Co 6.1-3). O que mais tem prejudicado o evangelho tem sido a conduta de evangelistas e ministros de um modo geral. O povo cobra muito do líder. Todos esperam que ele seja perfeito. É claro que isso é cobrar demais, Mas o líder, aquele que prega a Palavra, deve ter vida equilibrada, para que ninguém tenha motivos para acusar um servo de Deus.
O EVANGELISTA E A ORAÇÃO Esta era uma das qualidades de Filipe, o evangelista, juntamente com os demais diáconos (At. 6.3). Sabedoria, todavia, não pode ser confundida com escolaridade. Uma pessoa pode ter vários diplomas universitários e não ser sábia. Esta é a sabedoria vem de Deus. A presença do Espírito Santo na vida dá ao crente capacidade para fazer juízos de valores, analisar bem todas as experiências e ficar com o que é bom. Como recomendou Paulo: “Mas ponde tudo à prova. Retende o que é bom” (1 Ts 5.21). Mas este aspecto de sabedoria do evangelista o levará também a ser um observador da vida para tirar aprendizado. A Bíblia diz que Salomão foi o homem mais sábio do seu tempo (1 Reis 4.31), realmente, foi o que ele pediu a Deus: sabedoria. Mas notamos como o sábio Salomão fazia: ele era um observador do mundo em redor. Constantemente vamos notar nos seus escritos, como é o caso de Provérbios e Eclesiastes, a expressão: “E vi ( ... )”. Isto indica observação (Pv 24.32; Ec 2.13,14; 4.15). O evangelista deve ser um observador da vida. É aí que Deus lhe dará material, argumentos e portas abertas para o trabalho de evangelização.
O EVANGELlSTA TEM QUE SER PESSOA OTIMISTA Num momento de fraqueza e pessimismo, um evangelista poderá estragar todo o seu trabalho de testemunho de Cristo. Ouvi contar de certo líder evangélico que, pela manhã, teve um desentendimento com a esposa em casa. Ao sair apressado em seu carro para o trabalho, acabou abalroando outro veículo. Diante do imprevisto, e como a culpa fora sua, viu-se obrigado a atrasar sua ida para o trabalho a fim de procurar uma oficina, junto com o outro carro, para avaliar os danos e pagar os prejuízos. Ao conversar com o mecânico, estava cheio de amargura e pessimismo. Ele dizia: “Vê, meu amigo. Meu dia está negro. Saí de casa brigado com a esposa e agora bato com o carro. É tempo perdido e é tempo que não tenho para pagar. Estou arruinado”. Quando acabou de chorar suas mágoas, o mecânico que era crente em Jesus, bateu em seu ombro e, sem saber que estava diante de outro crente, disse: “ É, meu amigo. O que você está precisando mesmo é aceitar a Cristo como seu Salvador para mudar a sua vida”. Então aquele líder caiu em si e viu o erro que estava cometendo.
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O evangelista nunca deve esboçar pessimismo. Se algo não vai bem, ele deve saber como encarar a situação. Deus tem seus planos e seus propósitos para os seus servos.
MÉTODOS, ESTRATÉGIAS E TÉCNICAS MÉTODOS A palavra método vem do grego metá (meta) e hodós (o(do/j) , que significa no caminho. Daí, “direção que se imprime aos próprios pensamentos a fim de investigar e demonstrar a verdade”. Em termos práticos, método é o caminho que se usa para se chegar a um determinado objetivo; é a maneira de se fazer algo . Assim, se quero atingir pessoas com a mensagem de Cristo, posso fazê-lo de pessoa em pessoa, e então tenho evangelismo pessoal, ou posso fazê-lo a um grupo de uma só vez, e terei evangelismo de massa. Para fins didáticos, é melhor que nos fixemos em dois métodos de evangelismo: evangelismo pessoal e evangelismo de massa. Em assim fazendo, estamos distinguindo método de estratégia e de técnica. Como sabemos, existem dois métodos básicos em toda ciência: 1. O Dedutivo (a priori). Trabalha a partir de dados existentes. De uma proposição (afirmação) ou uma série de proposições deduz ou infere uma série de fatos. Dedução é tirar inferências e conclusões lógicas dos dados. 2. O Indutivo (posteriori). Ele parte do particular e chega a um enunciado ou afirmação geral.
MÉTODO DEDUTIVO: do geral para o particular MÉTODO INDUTIVO: do particular para o geral
a priori a posteriori
Em qualquer dos dois métodos, podemos empregar duas formas de raciocínio pura o trabalho de evangelização: o método dedutivo e o indutivo. O método dedutivo de abordagem evangelística é aquele que começa do geral para o particular. No caso, o evangelista começa por falar do plano de salvação, para aplicá-lo ao problema particular que o pecador está enfrentando. Exemplo: o pecador está deprimido e não tem paz. Neste caso, para argumentar dedutivamente, o evangelista começará falando do plano de salvação. Se o pecador o aceitar, poderá livrar-se da sua falta de paz, que deve ser conseqüência do pecado em sua vida. Na argumentação indutiva, o evangelista começa pelo problema da pessoa até chegar ao plano de salvação, que, uma vez aceito, pode ajudar a pessoa no seu problema. Um caso típico deste exemplo é o diálogo de Jesus com a mulher samaritana. Ele começou com os problemas daquela mulher: a sede, os pecados que ela tinha, e partiu para apresentar-lhe a água da vida (João 4).
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ESTRATÉGIA Estratégia27 é uma expressão militar. Originalmente, trata da arte, organização e planejamento das operações de guerra. Mas a idéia é usada em geral para qualquer plano de ação, buscando a maneira mais adequada e melhor para se alcançar objetivos colimados28 . A estratégia tem a ver, portanto, com o lado operacional do método. Em Lucas 9, Jesus envia seus doze apóstolos a pregar. O método pode ter sido de evangelismo pessoal e de massa ao mesmo tempo. A estratégia foi o envio dos 12 ao mesmo tempo; foi uma campanha. Em João 4, lemos o lindo episódio do encontro de Jesus como a mulher samaritana. O método de evangelismo que Jesus usou foi o pessoal. A estratégia foi o programa de passar por Samaria, ao ir a Jerusalém, e ficar ali parado perto do poço de Jacó. Em nossos dias (1990), um culto ao ar livre é uma estratégia. O método do evangelismo será o de massa. Um núcleo de estudos bíblicos nos lares é uma estratégia. Uma série de conferências é uma estratégia. A igreja em células é outra estratégia. TÉCNICA A técnica é o recurso material que usamos para executar o método. A maneira como abordo a pessoa, como arranjo o plano de salvação; se uso o argumento dedutivo ou indutivo, tudo isto são técnicas. Contar histórias em flanelógrafo para crianças é uma técnica. Usar slides ou Data Show para uma palestra evangelística é uma técnica. Usar folhetos como: Como Possuir uma Vida Feliz, ou As Quatro Leis Espirituais, e outros semelhantes, é uma técnica. Jesus começou a conversar com a mulher samaritana usando a água: “Dá-me de beber”. Foi a técnica. Não estaremos totalmente errados se chamarmos tudo isso de métodos de evangelismo. No entanto, para fins didáticos, apesar de estratégias e técnicas fazerem parte da execução do método, em termos específicos, cada parte dessa execução tem seu próprio nome. Ao trabalharmos nestas conceituações, temos que entender o espírito no Novo Testamento sobre metodologia. Poderemos filtrar do Novo Testamento várias amostras de métodos, estratégias e técnicas. Mas vamos notar uma variação muito grande de caso para caso. Notamos que o Espírito Santo usava uma grande variedade de recursos. Mas não podemos evitar a compreensão de que o Espírito Santo usava os discípulos como seres humanos e não como seres “celestiais”. 27 28
Estratégia vem da palavra soldado (stratiō tēs - stratiw/thj) em grego. Colimar. [Do lat. collimare, dos astrônomos seiscentistas; errônea, originária de má leitura de collineare, 'visar'.]. 1.Observar com instrumento adequado. 2.P. ext. Mirar, visar, observar. 3.Fig. Ter em vista; visar a; objetivar, pretender .
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É talvez dentro deste entendimento que o grande e renomado autor Michael Green, em seu livro Evangelismo na Igreja Primitiva (Evangelism in the Early Church), assim se expressa: Quando nós pensamos em métodos evangelísticos hoje, vem prontamente à nossa mente a pregação num grande templo ou numa grande arena. Naturalmente, nós temos que nos livrar de tais preconceitos quando pensamos em evangelismo entre os cristãos primitivos. Eles não sabiam nada sobre como falar seguindo certos padrões homiléticos dentro de quatro paredes de uma igreja. Na verdade, por mais de 150 anos, eles não possuíram templos e havia a maior variedade de tipos e conteúdo de pregação evangelística cristã.
Isso não elimina, no entanto, o valor do conhecimento de maiores recursos metodológicos. Como tenho demonstrado, o Espírito Santo trabalha conosco e leva-nos a usar as “ferramentas” que temos para que façamos seu maravilhoso trabalho. Partindo desses princípios, podemos fazer um bom exercício se formos ao Novo Testamento e analisarmos os textos que tratam de evangelização, identificando: o método, a estratégia e a técnica usados em cada caso. Trabalhar com evangelismo dentro deste conhecimento ajuda na criatividade. Temos procurado mostrar que os dias atuais exigem estratégias e técnicas adequadas a cada contexto cultural. Não podemos empregar simplesmente recursos trazidos de outros países e traduzi-los para serem usados no Brasil. O evangelista tem que estar habilitado tanto espiritual como intelectualmente para criar programas de acordo com o novo contexto em que foi introduzido.
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O EVANGELISMO E O PROCESSO DA COMUNICAÇÃO Tenho descoberto, cada dia mais, que o conhecimento do processo da comunicação ajuda muito o evangelista e o pregador. Evidentemente, este é um assunto profissional da área de comunicação, mas o evangelista não deixa de ser um comunicador. Se bem que dotado da unção especial de Deus e não estando sujeito a técnicas, o conhecimento deste material ajuda bastante. Eis por que me reporto a ele, ainda que brevemente e quase que em forma de esboço.
CONCEITOS A palavra comunicação vem do latim comunicare, que quer dizer: tornar comum . Daí vem a conceituação de que “comunicação é o processo pelo qual um indivíduo transmite estímulos a outros indivíduos, a fim de modificar seu comportamento” . Em seu sentido mais amplo, comunicação sugere a idéia de comunhão, de estabelecimento de um campo com as outras pessoas, de divisão de informações, de idéias, de sentimentos. Como se vê, isso tudo coincide com a natureza do evangelismo da pregação.
TIPOS DE COMUNICAÇÃO QUANTO À NATUREZA O que farei agora será uma breve apresentação, em esboço, da natureza da comunicação dando alguns dos seus tipos. ,
1. Comunicação Exclusivamente Oral Aqui se encaixa a voz humana, seja qual for o meio pelo qual ela se propague. É o caso da pregação tradicional, em que o pregador usa a sua voz. É o caso da conversa evangelística.
2. Comunicação Exclusivamente Visual Aqui se incluem a escrita, os sinais luminosos ou ambos ao mesmo tempo. Na comunicação escrita entra tudo aquilo que se pode dizer através de: livros, revistas, folhetos, panfletos e outros. No grupo dos sinais luminosos, incluem-se códigos de trânsito e de navegação; nos sinais manuais, a mímica é o importante método usado pelos surdos-mudos, muito difundido ultimamente. Algumas igrejas costumam ter um intérprete para pessoas dessa classe, para que a mensagem possa ser entendida. É de muito valor este tipo de comunicação. Pode-se também combinar os dois métodos.
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3. Comunicação Oral-Visual O exemplo comum é: teatro, televisão, cinema, conversação, discurso. Não é preciso reafirmar que todos os métodos desta classe podem ser usados com grande proveito na comunicação do evangelho, desde que devidamente aplicados. O teatro, principalmente, pode tornar-se um eficiente método de comunicação do evangelho. Esta parte merece desenvolvimento especial, mas este não é o nosso objetivo aqui.
TIPOS DE COMUNICAÇÃO QUANTO AOS OBJETIVOS Nesta divisão, encontraremos talvez uma parte que é muito útil ao evangelista. As outras, nem tanto. Mas damos a divisão clássica para que o leitor tenha uma idéia do todo. Remeteremos o assunto para autores especializados, se necessário. 1. Comunicação Informativa - Notícia e Aula Aqui entram principalmente a reportagem e o jornalismo de um modo geral. Também abrange a área educacional.
2. Comunicação Persuasiva Esta talvez interesse mais ao evangelista. A persuasão procura modificar, fortalecer ou destruir convicções do receptor. Na área profissional, entra a propaganda. Na área do evangelista, entra a argumentação da mensagem. A persuasão é um dos principais instrumentos de trabalho do evangelista, na sua tarefa de comunicar o evangelho .
3. Entretenimento Este tipo de comunicação procura provocar experiências alegres no receptor. Inclui principalmente o humorismo. Naturalmente, este não é o papel do evangelista. O evangelista jamais usará meios para entreter o seu auditório. Ele tem uma meta com a sua mensagem. A mensagem do evangelista é sempre urgente. Deus não usa passatempos com o seu povo. Mas, em se tratando de evangelização de crianças, entra aqui o teatrinho de fantoches, que não deixa de ser entretenimento.
COMPONENTES DO PROCESSO DA COMUNICAÇÃO Agora entramos na parte que será mais útil ao evangelista. Nesta quero me demorar um pouco mais. 1. O Emissor ou Fonte
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O emissor, no nosso caso, é o evangelista (ou o pregador). Ele é o comunicador. Ele
é a fonte de onde a mensagem vai fluir e alcançar os seus objetivos. Neste particular, quero ressaltar algumas habilidades comunicativas que o emissor deve possuir e desenvolver. 1) Habilidades comunicativas (1) Escrita - O comunicador que se comunica por escrita deve saber escrever bem. Evidentemente, nem todos os evangelistas costumam escrever seus sermões ou suas palestras. Mas é usual; foi usado no passado e pode ser muito útil hoje. Livros de sermões podem ter uma grande utilidade. Folhetos, panfletos e outros similares podem ser usados pelos evangelistas. O evangelista deve desenvolver sua habilidade de comunicar pela palavra escrita. Principalmente para aqueles que pregam pelo rádio, o sermão deverá ser escrito. Dificilmente alguém fará bons programas pelo rádio se não escrever seus sermões. E para colocar uma mensagem no coração do ouvinte, o evangelista tem que desenvolver certa habilidade para reunir palavras dentro do seu adequado sentido e conteúdo. (2) A palavra - A palavra é algo muito importante na vida do evangelista. Ele deve primeiramente saber usar a palavra certa em cada raciocínio, em cada pensamento. Palavra, inclusive, que seja bem conhecida pelos seus ouvintes. Não adianta usar palavras difíceis, se seu auditório não vai entendê-las. Há atualmente uma certa preocupação de alguns evangelistas em usar palavras difíceis. Isso não é de boa regra. A melhor maneira é usar a palavra que o povo está usando, sem descer, é claro, à gíria e ao ridículo. Por outro lado, a palavra deve ser pronunciada com clareza e corretamente. Há evangelistas e pregadores que têm o hábito de “engolir” a última sílaba de certas palavras. Outros diminuem a intensidade de voz no meio da palavra para a frente, de modo que ninguém entende ou precisa ficar adivinhando o que ele disse. Isso prejudica o entendimento e a comunicação. O evangelista, portanto, deve articular bem as palavras. Também é importante a tonalidade da voz, a altura em que se pronuncia as palavras. Esta deve ser audível e agradável. Alguns evangelistas cultivam o hábito de pregar gritando palavra por palavra. Tal método cansa os ouvintes. Os momentos de entusiasmo na pregação devem acontecer naturalmente. No entanto, se um evangelista grita o tempo todo na mesma intensidade e no mesmo nível, o sermão se torna insuportável para o auditório. O tom de voz do evangelista deve ser agradável. E, dentro deste aspecto, o pregador deve procurar desenhar com a tonalidade o sentimento da palavra. Quando se fala “amor”, deve haver uma expressão de amor na voz do evangelista. Esta é uma habilidade que muito ajuda o evangelista. (3) Leitura - O evangelista deve saber ler bem, se vai fazê-lo para pregar. Mesmo que não vá ler o seu sermão, a leitura da Bíblia muitas vezes significa um bom começo para o sermão. Pregadores há que não sabem ler a Bíblia. Não dão expressão à leitura, não dão vida ao seu sentido; tropeçam aqui e acolá, e às vezes pronunciam dubiamente certas palavras de que não se certificaram antes como são pronunciadas, como é o caso de
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“alimaria”, “Samaria” e outras semelhantes. A leitura da Bíblia deve refletir seu sentimento, e as palavras devem ser lidas com clareza e expressão. Assim também deve acontecer com a leitura de um sermão de rádio, que deve ser feito naturalmente, não como se estivesse lendo, mas como se estivesse realmente falando. (4) Audição - A audição do comunicador deve ser boa. Se ele ouve pouco, pode falar baixo demais ou pode tentar falar alto demais. Não sabendo controlar o nível do seu volume de voz, ele pode criar problemas para o seu auditório. (5) Raciocínio - Vamos dizer que “raciocínio é a arte de pensar ordenadamente” . Os pensamentos colocados na mensagem devem ser bem organizados e ordenados. Se o evangelista não sabe como arranjar os seus pensamentos, aquilo que ele quer comunicar, dificilmente haverá comunicação. A arte de pensar claramente ou de saber colocar com clareza os pensamentos é muito importante para o comunicador, isso exige do evangelista certo conhecimento também do seu auditório ou dos seus ouvintes, sobre até que ponto vai a capacidade deles em compreender o tipo de raciocínio que se está elaborando para eles. 2) Atitudes Outro aspecto muito importante do emissor é a sua atitude como tal. Podemos abordar o assunto sob três aspectos: (1) Atitude para consigo mesmo - O comunicador deve ser otimista e acreditar em si mesmo. O comunicador comunica pela sua própria presença. Se ele é uma pessoa confiante, cônscia do que ele é e faz, naturalmente irá transmitir segurança aos seus receptores. No fundo, isso significa que ele deve saber o que faz. Ele deve ter consciência de que sabe fazer o que está fazendo. Por isso mesmo, o evangelista jamais deve pedir desculpas por ter pregado mal. Ele sempre prega bem, mesmo que não tenha se sentido assim. Houve dias na minha vida em que, em virtude de cansaço físico e mental, senti-me extenuado durante todo o sermão, Ao final, estava quase não fazendo apelo porque achava que não haveria resultado. Mas fiz o apelo. E vi então um grande número de pessoas lá na frente. O evangelista, mais do que qualquer outro comunicador, deve ter certeza de que vai conseguir resultados porque “tudo posso naquele que me fortalece”. (2) Atitude para com o assunto - O comunicador deve acreditar no assunto que assunto que está passando adiante. Imagine um pregador que não crê na mensagem que está entregando. Nos Estados Unidos, às vezes ocorre que um pastor de outra denominação vai pastorear uma igreja de denominação diferente, por certo tempo. Ouvi, certa ocasião, o testemunho de um pastor batista que estava ajudando uma igreja presbiteriana. Ele estava tendo problemas com a sua congregação por causa do batismo, Imaginem aquele homem batista, imersionista, tendo que batizar por aspersão. A minha colocação neste exemplo não é de crítica ao presbiterianismo, mas nas emoções de alguém que crê de uma maneira, mas que, por circunstâncias especiais, tem que fazer ao contrário da sua fé. O comunicador cristão precisa crer na mensagem que prega.Quando prega sobre
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o céu, por exemplo, deve alimentar em si mesmo a certeza de que ele também irá para o céu um dia. (3) Atitude para com o recebedor - O recebedor, que está na outra linha de comunicação, é o ponto mais importante de sua tarefa de comunicar. Ele deve ser levado a sério e deve ser considerado de muito valor. Assim, o evangelista deve levar em consideração seu status, sua cultura - pouca ou muita - suas necessidades, sua capacidade de receber sua comunicação. O evangelista não deve ser fingido, simulando que o acha importante. Do contrário, algum detalhe vai escapar da sua dinâmica pessoal, e ele não será atingido. 3) Nível de conhecimento Merece especial atenção o nível de conhecimento e cultura do comunicador em relação ao nível do recebedor. Há três abordagens principais a serem feitas: (1) Pouco conhecimento em relação ao receptor - Esse conhecimento, naturalmente, refere-se mais à área em que a pessoa está envolvida no processo da comunicação. Mas, de qualquer maneira, o comunicador deve ter alguma superioridade de conhecimento da matéria que está comunicando em relação ao que está recebendo. No caso do evangelista, ele deve ter mais para dar do que o povo está ouvindo. Do contrário, não haverá comunicação. É evidente que o povo pode ter um alto nível em outra de conhecimento, mas aqui trata-se da área específica da matéria que se está comunicando. No caso, a religião, a mensagem de Deus. E aí ocorrem coisas interessantes. Lembro-me de certo pastor que, convidado a dirigir um culto de formatura de médicos, em vez de levar uma mensagem da Palavra de Deus, gastou parte de seu tempo consultando livros de medicina e falou sobre um tema específico da área médica. Deu-se mal de todos os lados. Primeiro, seu nível de conhecimento da matéria era pouco ou nenhum em relação aos seus receptores. Segundo, eles estavam cansados de matérias médicas, e naquele dia necessitavam de algo diferente, que viesse de Deus. Este foi, realmente, o comentário que ouvi dos formandos. Assim, o conhecimento do comunicador deve ser sempre mais do que o dos seus ouvintes. (2) Excesso de conhecimento - Na área da teologia, todo conhecimento é pouco. No entanto, quando o nível intelectual do evangelista é muito mais elevado do que o do seu auditório, ele correrá o risco de não conseguir se comunicar. É o caso de doutores em teologia que vão pregar no interior e lançam mão de termos técnicos de teologia. Jamais alcançarão os seus receptores. No mínimo, se o comunicador está consciente de que seu nível intelectual é muito mais elevado, deverá fazer um esforço para descer. Esta questão de comunicação em relação a níveis do conhecimento é mais ou menos como alimentar girafas e ovelhas. Se alguém põe a alimentação na altura da ovelha, a girafa poderá comer, porque ela tem capacidade tanto de abaixar como de levantar a cabeça. Mas se alguém põe alimento na altura da cabeça da girafa, a ovelha jamais alcançará o alimento.
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(3) Conhecimento equilibrado - Ou o comunicador tem um conhecimento equilibrado em relação ao seu recebedor, ou ele deve desenvolver uma tremenda habilidade de descer, quando necessário. Esse conhecimento, no entanto, não significa que o evangelista deva saber tanto quanto o seu ouvinte, e sim deve saber mais do que ele, a ponto de ter algo novo para dar. 4) Contexto sócio-cultural Um dos grandes segredos da comunicação, quanto ao comunicador, está no conhecimento que ele tem do contexto sócio-cultural dos seus ouvintes. Para tanto, tornase necessária uma certa adaptação do comunicador ao contexto. Jesus, por exemplo, para comunicar-se com a humanidade, “fez-se carne”. E ele gostava de chamar-se “Filho do homem”. Era profundo conhecedor da natureza humana e dos costumes do povo. Sabia falar da vida pastoril, da vida campestre e da vida do mar. Para ser eficiente, o comunicador deve envolver-se o quanto possível na cultura do povo ao qual comunica a sua mensagem, para que possa falar a sua própria linguagem. Quando participei da 2ª Transtotal (um empreendimento da Junta de Missões Nacionais da Convenção Batista Brasileira, realizada na Rodovia Transamazônica, em 1974), levei comigo um jipe novo. O meu plano era usar o carro durante a campanha de evangelização e ao final do mês entregá-lo ao missionário sediado em Altamira. Então lá estava eu, bem à moda cabocla - era no Estado do Pará - lidando com gente do campo e bem humilde. Eu trajava calça de brim ordinário, camiseta de malha e chapéu de palha. Mas, num verdadeiro contraste com aquela gente humilde, eu dirigia um jipe novo. Naquele dia, parei o carro na entrada de um rancho. O dono da casa era um cearense. Como não havia porteira no rancho, avancei com o carro além dos limites do terreno e puxei conversa com o homem. Ele permaneceu calado. Perguntei-lhe então o motivo de não querer conversar comigo. Finalmente ele me disse que não gostava de rico. Argumentei então que não era rico; eu era um pastor. Então ele apontou o jipe e disse: “Olha lá aquele carro novo”. Aí eu tive muito trabalho para explicar que aquele carro havia sido trazido para um missionário farmacêutico, que às vezes era obrigado a dirigir à noite pela floresta a fim de socorrer alguém. Só então o homem começou a confiar em mim. Bem, o que houve foi um cochilo de minha parte neste aspecto: o contexto sócio-cultural daquele homem me diz ia que, para eu me comunicar com ele, o carro na sua porta era fator negativo. Pelo menos, para começar. Depois ele entendeu, mas a muito custo.
2. O Receptor ou Recebedor Há dois pontos muito importantes na comunicação: o emissor e o receptor. Já falamos, de modo geral, do emissor. Agora, vamos ver a outra ponta da linha da comunicação: o recebedor. Não vamos falar do recebedor do ponto de vista dele mesmo, mas do ponto de vista do emissor, que é o que nos interessa nos nossos objetivos evangelísticos. O emissor deve
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conhecer, tanto quanto possível, o receptor. O trabalho do emissor será preparar o material da sua mensagem e transportá-lo para o mundo do recebedor. Para que isso aconteça, “o mundo do recebedor” deve ser muito bem conhecido do emissor. Não é o recebedor que deve ser transformado para receber a mensagem, mas o emissor que deve adaptar-se para alcançá-lo. Aqui, a matéria se torna muito ampla, e não temos condições para nos estender muito. Naturalmente, o evangelista é ajudado pelo Espírito Santo na sua mensagem, mas certo conhecimento ajuda. 1) O nível cultural do recebedor O evangelista deve ter algum conhecimento ou informação sobre a situação cultural média do seu auditório. Isso o ajudará a usar algo muito importante chamado código , que veremos mais adiante. Trata-se da linguagem e terminologia apropriadas. Qual é o nível médio de escolaridade do povo? primário? secundário? universitário? Isto é importante saber sobre o recebedor. Não se deve descer a detalhes, mas é necessário que se tenha um conhecimento mínimo acerca do receptor. 2) Contexto cultural Por contexto cultural, quero dizer o tipo de vida que o povo leva; o que se faz naquela cidade. A vida está mais voltada para a agricultura? Se se empregar uma ilustração sobre plantação, semente, ceifa, o povo vai entender? Ou a vida está mais voltada para a pecuária? Será que vão entender ilustrações e pensamentos sobre boi, cavalo , ovelhas? Ou, então, seria um tipo de vida industrial? É gente realmente de cidade grande? Conhecem linguagem de problemas econômicos? Ou será que estão numa Beira-mar, vida de pescadores? É importante conhecer o nível médio cultural ou tipo de vida do recebedor. 3) Situação religiosa do recebedor Não há dúvidas de que este ponto pertenceria ao primeiro aspecto abordado: o cultural. Mas eu o dividi porque ele assume aspectos bem especiais. Saber a situação da mente e da consciência religiosa dos recebedores é importante. O evangelista poderá entrar na “contramão”, se não levar em conta as tradições religiosas dos seus ouvintes. Não quero dizer que o evangelista deva ficar medroso diante da situação e deixar de pregar a verdade do evangelho, mas deverá saber como melhor entrar no assunto. Se alguém vai pregar em Portugal, por exemplo, deve saber que a maioria da população é católica e tem suas tradições: o povo é tremendamente fechado para conversar com protestantes. Esta é a experiência que eu tive, nas duas vezes em que visitei aquele país. Há uma cidade em Goiás em que toda a população é espírita. Se alguém vai começar a pregar pelo lado da reencarnação ou da caridade, pode não se dar bem. É muito importante saber em que o
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povo crê e ter habilidade para tirar vantagens disso. Não foi porventura isso mesmo que Paulo fez em Atenas? Veja Atos 17.15-34. Veja como Paulo começou de um ponto curioso: o altar vazio (v. 23) e dali desenvolveu sua argumentação para o Deus verdadeiro e para Jesus, o Salvador. 4) Saber localizar o recebedor O bom comunicador começa sua mensagem onde o recebedor está. É ele mesmo que o comunicador quer. Não importa onde ele esteja. Jesus foi a Zaqueu. Deixou a multidão e descobriu Zaqueu lá na árvore e dali falou com ele. Com a mulher samaritana, começou exatamente no ponto em que ela estava tirando água. Dali, progrediu sua argumentação até alcançar o mais íntimo do seu coração. Filipe foi enviado ao deserto, onde estava um homem buscando a verdade. Chegou à carruagem, conversou com o homem exatamente sobre o seu ponto de interesse no momento, que era a leitura do profeta Isaías, e, a partir dali, lhe anunciou Jesus. É muito importante ao comunicador do evangelho saber achar o seu recebedor; saber localizá-lo, tanto física como mentalmente.
3. A Mensagem Ainda estamos falando do processo da comunicação. Já vimos, em linhas gerais, o emissor e o recebedor, ou receptor. Agora veremos a mensagem. A mensagem é o conteúdo que se quer colocar no recebedor; que se quer transferir para o domínio mental e espiritual dele. É o recado, o discurso, o aviso. Vejamos alguns aspectos componentes da mensagem. 1) Conteúdo É a essência do que se quer passar para o recebedor. Por exemplo: quero dizer ao meu auditório que Jesus é o Salvador. Tenho que ter cuidado para que o conteúdo seja bem definido. O que eu quero dizer é exatamente isto e nada mais. Às vezes o conteúdo se torna complexo, e aí exige melhor cuidado ainda. Mas parece que o conteúdo não é tanto o problema. 2) Código Para passar o meu conteúdo, que até então está apenas na minha mente e no meu domínio, eu preciso de certa preparação. Nesta fase, o fator mais importante chama-se código. Esse código é o símbolo ou grupo de símbolos que vou usar. Esse código pode ser representado pela escrita, por meio da mímica ou através de sinais luminosos. No entanto, devo saber se o meu código é comum ao meu recebedor, isto é, se o meu recebedor entende os símbolos que estou querendo usar. Se alguém conhece o código Morse, usado na telegrafia, então eu posso bater sinais e serei imediatamente entendido. Se alguém sabe
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ler, eu posso escrever e o meu recebedor vai entender. Se alguém conhece mímica de surdo-mudo, eu serei entendido se a usar para me comunicar. Isto é codificação. A minha codificação deve ser de acordo com o meu recebedor, para que ele possa “decodificar”, isto é, interpretar a minha mensagem. Descendo um pouco mais a detalhes: mesmo usando palavras oralmente, devo construir idéias que possam fazer sentido na mente do povo. Se alguém vai a uma tribo de índios que ainda não conheça televisão, não poderá empregar a idéia que envolva televisão. Ou se vamos ao interior, onde nunca alguém ouviu falar de computador, não podemos dizer que “todos os nossos pecados estão registrados no sistema de computação de dados de Deus”. Mas se estou falando com algum piloto de avião mecânico ou gente que trabalha na área, posso falar que meu carro “entrou em pane”, que todos vão entender. O comunicador deve ser cuidadoso na sua codificação para que a mensagem chegue ao recebedor clara e cristalina. 3) Tratamento Por tratamento, quero dizer o “empacotamento” da mensagem, a maneira como ela vai ser acondicionada para chegar ao recebedor. Isto se refere à organização do material da mensagem, à ordem do sermão ou palestra, com tema, introdução, discussão e conclusão, tudo posto numa certa ordem lógica.
4. O Canal Já vimos o emissor, que está no ponto inicial, e o recebedor, que está na outra ponta. Para ser alcançado, o recebedor precisa de um canal. O canal pode ser visto do ponto de vista do emissor e do ponto de vista do recebedor. 1) Canal do ponto de vista do emissor Vou apenas dar o esboço da matéria, uma vez que, por si, as palavras explicam o assunto. (1) Exclusivamente orais: voz humana, rádio, telefone. (2) Exclusivamente visuais: escrita, sinais luminosos, sinais manuais, música. (3) Orais e visuais: teatro, televisão, conversação, cinema, discurso ao vivo. Todos estes são meios que o emissor pode usar para enviar sua mensagem. O assunto não exige, para o nosso caso, maiores comentários. No entanto, do ponto de vista do receptor, na ponta de chegada da mensagem, os canais assumem outras características, porque são de outra natureza.
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2) Canal do ponto de vista do recebedor Aqui os canais estão todos na própria natureza humana, e podem ser assim enumerados: (1) Audição - Este é um dos principais canais de comunicação. Se alguém não ouve, então se terá que usar o método da mímica. O comunicador deve saber se o seu recebedor está ouvindo bem. Pode ser que ele tenha bom ouvido, mas o ambiente apresenta algum problema. Ou está distante demais do ponto do emissor, ou há alguma interferência à sua volta que não lhe permite ouvir. Para o comunicador é muito importante certificar-se de que o recebedor está ouvindo bem. (2) Visão - A visão é outro importante canal de comunicação. Mesmo que esteja ouvindo, a pessoa entende melhor a mensagem do seu emissor quando ela o pode ver. Assim, o local em que a pessoa está sentada é muito importante e fundamental para a boa comunicação. Por isso mesmo, um ligeiro declive no piso e a posição da plataforma do púlpito, no caso do pregador, ajudam muito na visibilidade. A combinação da audição com a visão dá o processo chamado audiovisual, de grande ajuda na comunicação. Nele se baseia, por exemplo, a televisão. Na mesma linha de recurso, está o uso de slides(Data show) e de flanelógrafos. Exclusivamente visual é o método de mímica. O surdo-mudo desenvolve uma rapidez muito grande de ver e captar os sinais feitos com a mão do comunicador que, na verdade, usa várias partes do corpo, além das mãos e dos dedos, para comunicar sua mensagem. (3) Tato - Este é um canal também muito importante. O tato é para o cego o que a visão é para o surdo-mudo. É pelo tato que o cego consegue ler o sistema Braille. E com grande número de cegos no mundo, este é um canal muito importante para essa população de recebedores. Naturalmente, o cego pode usar o ouvido também. Nele, esse canal se desenvolve para compensar a falta de visão. (4) Olfato e paladar - Dois canais menos importantes são o olfato, que nos habilita a captar o cheiro, e o paladar, que nos habilita a sentir o gosto das coisas. A comunicação aqui só se dá em casos muito peculiares. Pelo olfato, você pode reconhecer certa pessoa que usa sempre o mesmo perfume, ou notar que alguém está cozinhando carne. Pelo paladar, você apenas pode reconhecer certa qualidade de alimento ou de líquido, Não é muito importante para o nosso caso.
INTERFERÊNCIA Um fator muito interessante no processo da comunicação chama-se interferência. Interferência é tudo aquilo que pode afetar, deformar, desviar, interromper ou neutralizar a mensagem. E aí seria difícil especificar situações. Ruídos, choro de crianças movimentação no auditório, uma lâmpada com defeito, piscando, uma cadeira com ressalto, que torna difícil a acomodação do corpo, a gravata torta no pescoço do evangelista, uma roupa desabotoada no evangelista, e detalhes semelhantes. Qualquer coisa assim pode distrair a atenção do recebedor, e sua mente se fechará para
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comunicação. Assim, o evangelista precisa cuidar bem do seu ambiente de pregação. Como pregador, sempre gosto de ver meu ambiente de pregar antes, principalmente quando vou usá-lo pela primeira vez. Quero ver a posição do púlpito, quero a iluminação, a ventilação e os bancos. E antes de subir para o púlpito, depois de haver orado mais uma vez, vou ao espelho, vejo meu cabelo, minha gravata. Olho também os meus sapatos. Nunca me esqueço de um professor, amigo meu, que foi dar aula com uma meia de cada cor. Ao sentar-se em uma pequena mesa, suas pernas ficaram à vista, e daí suas meias chamaram a atenção da turma o tempo todo. Ele talvez nunca tenha sabido, mas a sua aula naquele dia não foi assimilada pelos que estavam sentados na parte da frente da sala. Até os anéis do pregador podem chamar a atenção e tornar-se interferência à comunicação. Lembro-me de um pregador leigo, que usava três anéis: dois numa mão e um em outra. Mas os anéis eram tão grandes, que chamavam a atenção. Um deles tinha um brilhante. Então, cada vez que ele gesticulava com mais entusiasmo, o brilhante refletia luz e ofuscava a visão do seu auditório. Isto pode ser interferência. É bem interessante vigiar estas coisas.
REALlMENTAÇÃO (Feed Back) Finalmente, em todo o processo de comunicação há a realimentação, que é a resposta que se tem à sua comunicação. Isto é, é o meio pelo qual o comunicador fica sabendo se a mensagem chegou lá do outro lado ou não. O pregador pode saber se isto está acontecendo pelo semblante, pelo comportamento do povo. Ele pode perceber quando o auditório está atento e o acompanha com olhar até nos gestos. Isto traz satisfação ao evangelista. Mas quando ele não “codificou” bem, não há “decodificação”, ou quando ocorre qualquer outro tipo de interferência, a mensagem não chega. Então o comunicador deve cuidar de consertar tudo logo. Estes princípios aqui colocados são válidos tanto para o evangelismo de massa como para o evangelismo pessoal. Se o leitor quiser mais detalhes sobre esta matéria, deve consultar David Berlo. Atualmente, várias faculdades incluem esta matéria em seus currículos. No entanto, estou inserindo a matéria aqui apenas como uma pequena ajuda ou auxílio ao estudante de evangelismo.
GRÁFICOS EXPOSITIVOS Como temos resumido bastante este capítulo sobre o processo da comunicação, já que o estamos adaptando para evangelismo, daremos, a seguir, alguns gráficos que mostram outra vez a lista dos componentes desse processo, em três arranjos diferentes, para facilitar a compreensão desta matéria.
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Gráfico Resumido para Memorização do Processo
FONTE Habilidades comunicadoras Atitudes
MENSAGEM Elementos
CANAL Visão
Estrutura
Audição
RECEBEDOR Habilidades Comunicadoras Atitudes
Conhecimento
Código
Tato
Conhecimento
Sistema Social
Conteúdo
Olfato
Cultura
Tratamento
Paladar
Sistema Social Cultura
2. Gráfico Indicativo do Funcionamento do Processo
Esta é uma maneira de descrever graficamente o processo da comunicação. Mas aluno ainda pode ficar confuso com os termos técnicos. Pois vamos tentar mais um tipo de gráfico.
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3. Gráfico com Interpretação Simplificada
O TESTE DAS SETE PERGUNTAS Há um pequeno teste, que se usa em faculdade de pedagogia, que ajudará o aluno na montagem de uma comunicação mais eficiente: 1. Por quê? - Por que vou falar ou escrever? Qual ou quais os objetivos específicos da minha comunicação? 2. A quem? - Quem será o meu receptor (leitor, ouvinte ou auditório?) Quais as suas características? 3. Quem? ou de quem? - Quem irá falar? Quais as minhas características pessoais que deverei levar em consideração? 4. O quê - Que conteúdo deve ter a minha mensagem? Qual o tema? O que é que quero comunicar? 5. Quando? - O momento é oportuno? Apropriado? Quais as circunstâncias especiais da ocasião em que irei comunicar? 6. Como? - Que tipo de canal usarei para atingir meu receptor? Dos canais humanos, qual será mais solicitado? Estaria em condições? 7. Onde? - Onde irei falar ou onde estará o meu receptor? Diante de um televisor, diante de um rádio, num auditório?
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O ESPÍRITO SANTO E O EVANGELISMO Empregamos o termo evangelismo em vez de evangelização propositadamente. Queremos tratar do assunto de modo mais abrangente, indo além da “ação de evangelizar”, atingindo a própria sistematização que torna possível essa ação. Temos falado muito de métodos, estratégias e técnicas, mas tudo isso deve ser liderado pelo Espírito Santo. Quando examinamos o movimento de evangelização levado a efeito nos tempos do Novo Testamento, vamos encontrar esses recursos materiais. Mas vamos descobrir, sem muito custo, que eles foram elaborados por pessoas que estavam revestidas do Espírito Santo para a obra da evangelização. Assim, temos que entender os diversos aspectos dessa atuação do Espírito Santo. Advertimos aos leitores que não nos deteremos em uma elaboração doutrinária do Espírito Santo. Há diversas obras específicas sobre o assunto, e os interessados poderão recorrer a elas para maior aprofundamento na matéria. Queremos, isto sim, tratar apenas de aspectos mais práticos, que possam conscientizar o evangelista para a necessidade de estar sempre dependendo do Espírito Santo para a “obra de um evangelista” (2 Tm 4.5).
O ESPÍRITO SANTO NO CRENTE Antes de mais nada, o crente precisa ter consciência da presença do Espírito Santo na sua vida. Não quero discutir aqui como isso acontece, que é assunto de área doutrinária. Mas é importante que o crente e, conseqüentemente, o evangelista tenham consciência da presença definitiva do Espírito Santo na sua vida. O seguinte esquema abreviado mostrará algumas características dessa presença:
1. O Dom do Espírito Santo Em Atos 2.1-13 temos a narrativa da vinda do Espírito Santo, “para ficar para sempre conosco”, conforme a promessa. Em Atos 2.37-39, temos a orientação de Pedro sobre como receber o dom do Espírito Santo que, segundo o próprio texto, para “quantos Deus nosso Senhor chamar” (At 2.39b). Esta idéia é reforçada pelo entendimento de João 7.37-39. O crente, portanto, precisa entender que, se ele é realmente um crente, ele tem o Espírito Santo.
2. O Penhor Selado. Penhor = arrabōna (a)rrabw=na); Selo = sfraguisámenos ( sfragisa/menoj . Uma das passagens mais significativas neste sentido é a de Efésios 1.13,14. É bom transcrevê-la, para que o leitor não deixe sua leitura para depois: “em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados (sfraguisámenos - sfragisa/menoj ) com o Santo
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Espírito da promessa; o qual é o penhor (arrabona - a)rrabw=na) da nossa herança, até ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória”. O crente tem que entender que ele está selado, lacrado para Deus. Esta é a garantia de que ele está salvo. É o penhor da sua herança eterna. E o apóstolo Paulo continua, agora na Primeira Epístola aos Coríntios, a falar dessa condição do crente: “Ou não sabeis que o vosso corpo é o santuário do Espírito Santo, que habita em vós, O qual possuís da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por preço; glorificai pois a Deus no vosso corpo” (1 Co 6.19,20). Em resumo: o crente tem o Espírito Santo, no qual está selado, e que lhe é dado como garantia da vida eterna. O Espírito Santo que lhe foi dado habita nele, e o crente pode ter consciência desse fato, pois é Paulo também que nos informa: “O Espírito mesmo testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus” (Rm 8.16). É, portanto, o penhor selado, e do qual temos plena consciência.
O ESPÍRITO SANTO NO EVANGELISTA Pode parecer uma repetição da mesma idéia anterior, mas logo o leitor perceberá a diferença. Vimos, de modo geral, a condição em que o Espírito Santo se relaciona com todos os crentes. Nesta oportunidade agora queremos focalizar a atuação específica do Espírito Santo no crente como evangelista ou na atividade evangelística.
1. O Poder do Espírito Santo Em Atos 1.8 temos a grande promessa: “Mas recebereis o poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra”. A palavra grega para “virtude” é dýnamin ( du/namin ) , que vem de dýnamis (du/namij) , que quer dizer “poder”. A nossa palavra dinamite vem de dýnamis. Testemunhar de Cristo, evangelizar, fazer discípulos são atividades especiais que exigem poder especial. Só o Espírito Santo pode providenciar esse poder, e, se o crente já recebeu o Espírito Santo, já tem o poder: “Recebereis o poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo” - e o Espírito Santo já veio, se o evangelista é, realmente, um crente. O evangelista precisa crer no poder do Espírito para sua tarefa. Ele não deve tentar substituir isso por nada neste mundo.
2. Motivação Os textos de Atos 21.4 e 2 Pe 1.21, na tradução da Sociedade Bíblica do Brasil, falam dos crentes movidos pelo Espírito Santo. O evangelista, o missionário, o pregador, são movidos pelo Espírito Santo. O Espírito Santo trabalha na vontade deles. Esta é maneira como o Espírito trabalha em nós. Aliás, muitos de nós, talvez por influência do alto grau de superstição que existe na nossa gente, somos tentados a pensar que, na hora de
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sermos usados pelo Espírito Santo, tem que haver um ambiente espetacular, de fogo caindo do céu, de “monte fumegante” como no Sinai, e coisa semelhante. Uma vez selado e habitado pelo Espírito, a coisa mais natural e normal que há é o Espírito agir em nós. Sua atuação se incorpora ao nosso mecanismo de percepção e compreensão e tudo acontece normalmente, mas nós temos consciência de que o Espírito nos falou. É neste sentido que podemos entender as expressões de Atos 16.6,7, onde Lucas diz que os missionários foram “impedidos pelo Espírito Santo de anunciar o evangelho” em determinado lugar. O mesmo podemos notar quando, em Atenas, o espírito de Paulo se comovia em si mesmo, vendo a cidade tão entregue à idolatria (At. 17.16). Não há dúvida de que o Espírito Santo em nós nos move e motiva para as coisas do evangelismo. É como se fôssemos duas pessoas - e na verdade é assim - que andassem juntas o tempo todo, só pensando e planejando sobre a salvação das almas perdidas. E é isso que acontece com o evangelista. Não foi sem razão que Paulo disse que nós temos a mente de Cristo (1 Co 2.16). E não é realmente isso que Jesus quis dizer em João 17.21: “Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste”? Grife as expressões: “para que eles sejam um em nós” e “para que o mundo creia que tu me enviaste”. Aqui está o segredo: a Trindade Santíssima, que é uma unidade, se entrelaça conosco e forma uma unidade conosco: com cada um de nós. Daí, se somos realmente crentes, convertidos, portadores do Espírito Santo, não há como trabalharmos sozinhos. Sempre trabalhamos juntos com ele! Um aluno ponderou certa ocasião que, se eu ficava elaborando esboços de sermões, consultando grego, hebraico, comentários, dicionários teológicos, eu não estava dando oportunidade ao Espírito Santo para agir em mim. Ao que respondi: “Pelo contrário, eu estou trabalhando com o Espírito. Nós dois trabalhamos sempre juntos. Ele me ajuda nas minhas pesquisas e trabalha com o meu entendimento e eu me alegro por este tremendo privilégio, de trabalharmos juntos”.
3. Direção Também o evangelista é guiado pelo Espírito Santo. Ele guia na verdade (João 16.13) , e guia também nos empreendimentos evangelísticos e missionários (At 16.68,9,10). Em Trôade, notamos como o Espírito Santo atuou no entendimento de Paulo para guiá-lo à Macedônia, pela expressão: “( ... ) concluindo que o Senhor nos chamava para lhes anunciarmos o evangelho” (At 16.10). O grande evangelista Filipe foi guiado pelo Espírito para encontrar aquele eunuco no caminho de Gaza. O Espírito Santo nos guia no dia-a-dia da evangelização. E deve ser assim, e devemos aprender a fazer assim, a depender dele. Neste caso, ele nos conduzirá nos planejamentos, na elaboração de estratégias e técnicas, de acordo com a sua multiforme sabedoria. O evangelista deve estar consciente disso.
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O TRABALHO DO ESPÍRITO SANTO NO PECADOR O apóstolo Paulo muito acertadamente diz que o homem natural “não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque para ele são loucuras” (1 Co 2.14). Por isso mesmo, o Espírito Santo trabalha por instrumentalidade do crente, do evangelista, que compreende as coisas do Espírito de Deus.
1. O Espírito Santo Abre o Interesse Uma linda passagem bíblica neste sentido é a de Atos 16.14 , que diz que “( ... ) o Senhor lhe abriu o coração para atender às coisas que Paulo dizia”. O evangelista precisa dessa ajuda, sem o que não haverá resultado. Nota-se, mais uma vez, que o Espírito Santo trabalha com o entendimento das pessoas.
2. A Compreensão das Escrituras O Espírito Santo abre às pessoas a capacidade para crer nas Escrituras. Não há evangelização, e muito menos evangelismo, sem o trabalho da Palavra de Deus. Em Lucas 24.45, Jesus abriu o entendimento dos discípulos para compreenderem as Escrituras. E essa compreensão precisa vir. Enfatizo este assunto porque há muita gente trabalhando num evangelismo meramente emocional, e a emoção não é tudo; a razão precisa estar presente no processo. Em Beréia, muitos judeus foram examinar nas Escrituras a mensagem que Paulo e Silas pregavam, para ver “se estas coisas eram assim” (At 17.11). É o trabalho mental de confronto, comparação, para levar ao juízo de valores e à compreensão.
3. O Trabalho de Persuasão Em João 16.7-11, lemos que o Espírito Santo convence o mundo do pecado, da justiça e do juízo. Portanto, no processo de persuasão, não vale a mera técnica do ser humano. Por argumentos humanos, por exemplo, jamais alguém se convencerá de que é pecador. A alegação mais comum é: “Todo mundo faz assim”, ou “Isto é aceito pela sociedade”. Mas quando o Espírito Santo toca na mente do pecador, aí ele chora os seus pecados. Nesse processo, o Espírito Santo trabalha dos dois lados: do lado do lado do evangelista, dando-lhe a maneira como argumentar, e no pecador, ajudando-o a “decodificar” a mensagem e a quebrantar-se pela convicção dos seus pecados. Nesse processo, o Espírito Santo trabalha com respeito à liberdade da pessoa. Por isso, a pessoa precisa aceitar a mensagem. No Novo Testamento notamos que os resultados se efetivam quando as pessoas recebem de bom grado a “sua palavra” (At 2.41). Depois de persuadido, o pecador aceita ou rejeita. Se aceita, dá-se o arrependimento. Diante do desejo do pecador de “mudar de mente”, o Espírito Santo opera no pecador. O arrependimento não é um processo de manobras psicológicas, de mudar a mente por
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educação ou outro processo humano qualquer, mas é uma operação do Espírito Santo. O evangelista joga na mente do pecador a “palavra viva” e o Espírito Santo se encarrega da operação necessária à mudança (1 Pe 1.23-25). Com isso voltamos ao início das exposições aqui feitas: é a concessão do dom do Espírito Santo, que todo crente deve obter (At 2.37-39). Como disse no início deste capítulo, não queria ser extremamente exaustivo nesta área, nem entrar em aspectos doutrinários, o que os interessados poderão obter em outras obras sobre o assunto. Esperamos que o roteiro que aqui traçamos seja de valor para os evangelistas. Isto é o básico.
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BIBLIOGRAFIA 1. BERKHOF, L. Princípios de Interpretação Bíblica. Rio de Janeiro. Ed. JUERP, 1981. 2. BRAGA, James. COMO PREPARAR MENSAGENS BÍBLICAS.15ª ed. São Paulo. Editora Vida, 2002. 3. CHAPELL, Bryan. PREGAÇÃO CRISTOCÊNTRICA. 1ª ed. São Paulo. Editora Cultura Cristã, 2002. 4. CRABTREE, A. R. Teologia do Velho Testamento, 2ª ed. Rio de Janeiro. JUERP, 1977. 5. FERREIRA, Damy. EVANGELISMO TOTAL. Rio de Janeiro. JUERP, 1990. 6. HENRICHSEN, Walter A. Princípios de Interpretação da Bíblia . São Paulo. Ed. Mundo Cristão, 1980. 7. LACHLER, Karl. PREGA A PALAVRA. 1ª ed. São Paulo. Edições Vida Nova, 1990. 8. LUND, E. & NELSON, P. C. Hermenêutica. Miami. Editora Vida, 1968. 9. MELO, Joel L. Sombras, Tipos e mistérios da Bíblia . Rio de Janeiro. Ed. CPAD, 1989. 10. REIFLER, Hans Ulrich. PREGAÇÃO AO ALCANCE DE TODOS. 2ª ed. Edições Vida Nova, 1998. 11. SILVA, Waltensir L. da. A ARTE DE PREGAR. LERBAN 12. VIRKLER, Henry A. Hermenêutica – Princípios e Processos de Interpretação Bíblica. Miami. Ed. Vida, 1987. 13. http://www.orbita.starmedia.com/omensageiro1 14. sites.uol.com.br/revistadominical /homiletica.htm. 15. www.baptistlink.com/solascriptura/Ide/Homiletica-IltonGoncalves.htm. 16. solascriptura-tt.org/Ide/Homiletica-JoseFerraz.htm.
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Pedidos ao Pr. A. Carlos G. Bentes RUA: PRÇA DA ESTRELAS, 75 SOLARIUM - VÁRZEA CEP. 33400-000 – LAGOA SANTA - MINAS GERAIS. TEL. (031) 3681 4770; CEL. 86614070; 96849869. Email:
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ATIVIDADES Capitão do Comando da Aeronáutica. Pastor Auxiliar da Igreja Batista Getsemani. Conferencista. Professor dos seminários: 1. SEBEMGE: Seminário Batista do Estado de Minas Gerais; 2. STEB: Seminário Teológico Evangélico do Brasil; 3. UNITHEO; 4. Seminário Teológico Hosana; 5. Seminário Koinonia; 6. Faculdade Bíblica Central Do Brasil. Pastor Auxiliar da Igreja Batista Getsemani. Professor das disciplinas: Teologia Sistemática, Teologia Contemporânea, Apologética, Escatologia, Pneumatologia, Teologia Bíblica do Velho e Novo Testamento, Hermenêutica, Homilética. • • • •
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