Hatha Yoga Pradipiká
Editado por Sekhemkhet 777’.’ Abrahadabra Publicações
Título Original: The Hatha Yoga Pradipika Copyright © 2003 e.v. na lingua portuguesa de Abrahadabra Publicações
REVISÃO: Rubens Bulad
[email protected] Goiânia, 2003 e.v.
Abrahadabra Publicações
INTRODUÇÃO Temos o prazer de apresentar à família dos yogis brasileiros a edição em português do Hatha Yoga Pradípiká, o guia clássico para a prática avançada de Hatha Yoga. A importância desta obra radica em que ela é o manual mais detalhado sobre a ciência do Hatha que chegou até nós. Svátmáráma, o autor, parece ter vivido por volta do século XIV da nossa era. Ele integra aqui as disciplinas fisiológicas do Hatha Yoga com as práticas contemplativas do Rája Yoga, deixando claro logo no início do livro que o Hatha Yoga, "como uma escada, conduz ao elevado Rája Yoga." O Hatha Yoga é um método de Yoga tântrico que finca suas raízes na Índia antiga, mas que surgiu com muita força no período medieval (s. IX-XII). Este sistema almeja o despertar da energia potencial usando o esforço físico extremo. Segundo a Goraksha Paddhati, uma obra contemporânea ao Hatha Yoga Pradípiká, a palavra hatha (que literalmente significa "esforço físico violento") deriva das sílabas ha, sol, e tha, lua, donde percebemos a visão dualista do Tantra. A integração das forças solar e lunar, masculina e feminina, é o objetivo deste Yoga. O Hatha Yoga dá muita importância à prática de ásana e pránáyáma, assim como também às purificações (shat karma). A
aparição deste método se vincula a Gorakshanatha, o mítico asceta fundador da ordem dos Kánphata yogis e autor dos tratados Hatha Yoga (hoje perdido) e Gorakshashataka. Os principais livros sobre esta disciplina, fora os já citados, são o Hatha Yoga Pradípiká (segundo a tradição, baseado no Hatha Yoga), o Gheranda Samhitá e o Shiva Samhitá, sendo este último o mais extenso e elaborado do ponto de vista filosófico. O Hatha Yoga Pradípiká consta de quatro capítulos, com um total de 389 versos (shlokas), embora este número possa oscilar dependendo da edição. O yogi Svátmáráma nos proporciona muitas definições fundamentais sobre algumas técnicas absolutamente essenciais nos dias de hoje. No primeiro capítulo, descrevem-se dezesseis ásanas. Entretanto, para desilusão de alguns entusiastas da prática física, a maioria deles são variações da postura sentada com as pernas cruzadas. Também se dão instruções sobre a dieta correta que o praticante deve seguir. A brevidade da série de ásanas descrita, aliada ao grau de dificuldade de algumas posturas "culturais" propostas pelo autor, como kukkutásana ou mayúrásana, pode resultar duplamente frustrante para aqueles que estão acostumados com a idéia de que Hatha Yoga é sinônimo de prática física suave e relaxante. Digo duplamente frustrante porque, por um lado, os ásanas do Hatha Yoga não são de fácil execução. Por outro lado, não se dá tanta importância assim à sua prática, já que ela aparece claramente em função do objetivo final deste sistema: a iluminação (samádhi). O resto da obra, com sua carga de práticas energéticas e meditativas, se encarrega de enterrar essas interpretações errôneas do conceito de "Yoga físico".
No segundo capítulo se expõe a ciência do pránáyáma, as técnicas de expansão da força vital (prána). Para aqueles praticantes que apresentem problemas de saúde prescrevem-se as "seis ações" (shatkarma). Estas técnicas purificadoras devem ser praticadas antes do pránáyáma. O autor distingue oito tipos de expansão e controle da respiração, que denomina retenções (kúmbhaka). Afirma que estas retenções despertam o poder psíquico latente no ser humano, chamado nos textos esotéricos de poder serpentino (kundaliní shaktí). O processo do despertar dessa energia potencial está exposto no terceiro capítulo, e se complementa com dez "selos" corpóreos, chamados mudrás e ainda com três "contrações" físico-energéticas chamadas bandhas, que se fazem com a garganta, o ventre e o assoalho pélvico. Este capítulo conclui com uma descrição das técnicas tântricas vajrolí e sahajolí (de sublimação dos fluidos sexuais, tanto os densos como os sutis) e outras práticas de manipulação da energia. O capítulo final discorre sobre as técnicas de percepção do náda, o som supersutil interior que se torna audível quando a rede de canais psico-energéticos (nádís) foi devidamente purificada. Descrevem-se ainda a absorção final (láyá) da atenção na realidade transcendental e as etapas do samádhi, a iluminação. Acrescentamos alguns comentários ao longo do texto, que aparecem entre colchetes, para facilitar a compreensão de passagens escuras, assim como um glossário técnico onde podem encontrar-se detalhes teórico-práticos sobre os termos sânscritos.
É nosso desejo que o leitor seja estimulado pelas vozes dos yogis da antiguidade que se ouvem claramente neste texto e pelo altíssimo valor instrumental das instruções aqui contidas, para aceitar o convite de aventurar-se no oceano da própria consciência. Goiânia, Setembro de 2001 e.v. Rubens Bulad
I Invocação Inicial e Apresentação I:1. Eu saúdo o Primevo Senhor, Shiva, que ensinou o conhecimento do Hatha Yoga, à sua esposa Párvatí. Este conhecimento, como uma escada, conduz ao elevado Rája Yoga. I:2. O yogi Svátmáráma, depois de saudar solenemente a deidade e seu guru, estabelece desde o início que o ensinamento do Hatha Yoga é somente um meio para a realização do Rája Yoga.
I:3. Para aqueles que vagueiam na escuridão das diferentes doutrinas conflitantes, incapazes de seguir o Rája Yoga, o compassivo Svátmáráma oferece a luz do Hathavidyá. I:4. Svátmáráma aprendeu o Hathavidyá dos mestres Goraksha e Matsyendra. I:5:9. Shiva, Matsyendra, Shábara, Anandabhairava, Chaurangi, Mina, Goraksha, Virupaksa, Bileshaya, Manthána, Bhairava, Siddhi, Buddha, Kanthadi, Korantaka, Suránanda, Siddhipáda, Charpati, Káneri, Pújyapáda, Nityanatha, Nirañjana, Kapáli, Vindunatha, Kakachandísvara, Alláma, Prabhudeva, Ghodácholi, Tintini, Bhánukin, Náradeva, Khanda, Kápálika e muitos outros mahasiddhas, havendo conquistado o tempo por meio do Hatha Yoga, existem ainda no universo. I:10. O Hatha Yoga é um refúgio para aqueles que sofrem os três tipos de dor. Para todos aqueles que se dedicam ao Yoga, o Hatha Yoga é a tartaruga que sustenta o mundo (a base que sustenta suas práticas). [Segundo a visão hindu, esses três tipos de dor ou aflição são ádhyátmika, ádhidaivika e ádhibhautika. O ádhyátmika pode ser de dois tipos: dor física ou dor mental; ádhidaivika são os sofrimentos provocados por influencias planetárias; ádhibhautika são as aflições produzidas pelos fenômenos naturais: chuva, seca, terremotos, etc.] I:11.
O yogi que almejar o sucesso deve manter o Hatha Yoga em rigoroso secreto, pois somente assim ele será efetivo. Quando divulgado indiscriminadamente, perde todo seu poder. Lugar para a prática. I:12. Deve-se praticar Hatha Yoga em uma pequena e solitária ermida (matha), livre de pedras, água e fogo (excessiva exposição aos elementos naturais), em uma região onde impere a justiça, a paz e a prosperidade. I:13. O matha deve ter uma pequena porta e carecer de janelas. O piso deve estar nivelado; nem demasiado alto nem demasiado baixo, e deve conservar-se muito limpo, coberto de esterco de vaca mistruado com água (um germicida natural) e livre de insetos. O exterior deve ser agradável, com uma entrada, uma plataforma elevada e um poço de água. O conjunto deve estar rodeado por um muro. Estas são as características da ermida descritas pelos siddhas que praticaram Hatha Yoga. I:14. Em tal lugar o yogi, livre de toda preocupação, se dedicará unicamente à prática do Yoga seguindo as instruções de seu guru.
Requisitos para a prática. I:15. O yogi fracassa por excesso de comida, esgotamento físico,
embuste, ascetismo inquietude.
exagerado,
companhia
inadequada
e
I:16. O sucesso no Yoga depende de esforço, determinação destemida, audácia, conhecimento discriminativo, perseverança, fé (nos ensinamentos do mestre) e afastamento de toda companhia (supérflua). Atitudes prévias. Os dez yamas são: ahimsá, satya, asteya, brahmacharya, paciência, temperança, compaixão, honestidade, moderação na dieta e shauchan, purificação. Os dez niyamas são: tapas, santosha, espírito religioso, caridade, Íshvarapranidhána, svádhyáya, simplicidade, inteligência, japa e yatna. Posturas. I:17. Em primeiro lugar, se expõem os ásanas, pois eles constituem o primeiro passo do Hatha Yoga. Os ásanas se praticam para conquistar postura firme, saúde e flexibilidade. I:18. A continuação se descrevem alguns dos ásanas adotados por sábios como Vasistha e por yogis como Matsyendra. Posturas gerais. Svastikásana, postura auspiciosa. I:19. Svastikásana: sentar-se no solo com o corpo erguido e as pernas
dobradas colocando a planta de cada pé entre a panturrilha e a coxa (da perna contrária). Gomukhásana, postura da cabeça de vaca. I:20. Gomukhásana: o pé direito se coloca do lado do glúteo esquerdo e o pé esquerdo junto ao direito. Esta postura se parece à face de uma vaca. [Manuais modernos acrescentam que devem unir-se as mãos atrás das costas, com um braço elevado acima da cabeça e o outro recolhido por baixo.] Virásana, postura do herói. I:21. Vírásana: um pé se coloca por cima da coxa oposta e o outro fica encaixado embaixo da coxa do mesmo lado. Kúrmásana, postura da tartaruga. I:22. Kúrmásana: sentar-se de forma equilibrada com as plantas dos pés cruzadas sob o períneo. Kukkutásana, postura do galo. I:23. Kukkutásana: em padmásana, se introduzem as mãos entre as coxas e as panturrilhas; apóiam-se firmemente não solo e se levanta o corpo. Uttána kúrmásana, postura da tartaruga elevada.
I:24. Uttána kúrmásana: adotando kukkutásana (sem fazer a elevação do corpo), segura-se firmemente a nuca com os dedos das mãos entrelaçados e se permanece assim, como uma tartaruga elevada. Dhanurásana, postura do arco. I:25. Dhanurásana: segurando os dedos maiores dos pés com ambas as mãos, manter uma perna esticada enquanto se aproxima a outra da orelha, como se se estivesse tensionando um arco. Matsyendrásana, postura do yogi Matsyendra. I:26. Matsyendrásana: coloca-se o pé direito na parte superior da coxa esquerda e o pé esquerdo junto à parte exterior o joelho direito; segura-se o tornozelo esquerdo com a mão direita e o pé direito com a mão esquerda (passando o braço esquerdo por trás das costas); permanece-se com o corpo torcido ao máximo para a esquerda (depois, repete-se tudo, torcendo para o outro lado). [Existe outra variação desta postura com o dorso do pé direito apoiado no chão ao invés da virilha, o que torna a execução bem mais fácil.] I:27. Esta postura incrementa o apetite estimulando o fogo gástrico (pitta); é um remedio contra as doenças mais mortais. Com a prática regular se desperta kundaliní e se evita a dispersão do néctar que se derrama desde a lua (o soma chakra, no intercílio). Paschimottanásana, postura de alongamento intenso. I:28.
Paschimottánásana: permanecer com as pernas estendidas no solo, segurando os dedos dos pés com as mãos e apoiando a cabeça sobre os joelhos. I:29. Este excelente ásana faz que a força vital (prána) flua através de sushumná, estimula o fogo gástrico (pitta), flexibiliza as costas e elimina todas as doenças que afetam às pessoas. Mayúrásana, postura do pavão. I:30. Mayúrásana: colocam-se as mãos firmemente no solo e eleva-se o corpo no ar, apoiando o ventre sobre os cotovelos; o corpo fica reto como um bastão. I:31. Este ásana cura diversas doenças como o inchaço do abdômen e moléstias digestivas (gulma e udara) e outras enfermidades abdominais; elimina as disfunções provocadas pelo desequilíbrio entre vata, pitta e kapha; facilita as digestões pesadas e ajuda a digerir incluso o mais poderoso dos venenos (kalakuta). Shavásana, postura do cadáver. I:32. Shavásana: permanece-se estendido no solo com o rosto voltado para cima, como um morto (shava); este ásana elimina o cansaço ocasionado por outros ásanas e proporciona descanso à mente. Posturas de meditação. I:33. Shiva ensinou oitenta e quatro ásanas; descrevem-se agora as
quatro mais importantes: siddhásana, padmásana, simhásana e bhadrásana. Siddhásana, postura perfeita. I:34. A mais confortável das quatro, siddhásana, deve praticar-se sempre. I:35. Siddhásana: aperta-se com firmeza o calcanhar esquerdo contra o períneo e coloca-se o direito por cima do sexo (na altura do púbis); mantém-se o queixo pressionando a base da garganta e permanece-se sentado em posição erguida, com os sentidos controlados e o olhar fixo no ponto entre as sobrancelhas. Siddhásana permite atravessar a porta que conduz à perfeição. I:36. Siddhásana faz-se também colocando o calcanhar esquerdo por cima do pênis (medhra) ou da vulva (yoni), e o calcanhar direito por cima deste. I:37. Alguns chamam esta variação siddhásana; outros a conhecem como vajrásana, muktásana ou guptásana. I:38. Igual que entre os yamas e niyamas, as práticas mais importantes são a moderação na dieta e ahimsá, os siddhas sabem que o mais importante dos ásanas é o siddhásana. I:39.
Entre os 84 ásanas, se deve praticar sempre siddhásana, pois purifica as 72.000 nádís. I:40. O yogi que, praticando siddhásana durante doze anos, medita sobre sua autêntica essência (átman) e come com moderação, alcança o sucesso (siddhi) no Yoga. I:41. Se se domina o siddhásana e se consegue conter o prána dentro do corpo com a prática de kevala kúmbhaka, não será necessário praticar os demais ásanas. I:42. Quando se tiver conquistado a perfeição no siddhásana, pode-se desfrutar o êxtase proporcionado pelo estado meditativo chamado unmani avasthá que surge espontaneamente; os três bandhas aparecem de forma natural, sem esforço algum. I:43. Não existe ásana como siddhásana, nem kúmbhaka como kevala, nem mudrá como khecharí, nem absorção (láyá) como a que acontece no som primordial (náda). Padmásana, postura do lótus. I:44. Padmásana: coloca-se o pé direito sobre a coxa esquerda e o pé esquerdo sobre a coxa direita; cruzam-se os braços pelas costas e seguram-se os dedos maiores de ambos os pés, o do direito com a mão direita e o do esquerdo com a mão esquerda; pressiona-se o queixo contra o peito e fixa-se o olhar na ponta do nariz. O padmásana cura as doenças do yogi. I:45:46.
Colocam-se os pés sobre as coxas opostas e as mãos no colo com as palmas para cima, uma por cima da outra; fixa-se o olhar na ponta do nariz e toca-se com a língua a raiz dos incisivos superiores, pressionando o queixo contra a base da garganta para assim elevar apána com suavidade mediante a contração do ânus (múla bandha). I:47. Esta é (outra variação de) padmásana, destruidora de todas as doenças (unicamente) em pessoas de grande percepção. I:48. Adota-se padmásana, com uma mão sobre a outra (no colo, fazendo bhairava mudrá, com as mãos em forma de concha) e o queixo firmemente pressionado contra o peito, medita-se sobre Brahmá, contraindo retiradamente os músculos do ânus para impulsionar a forca vital apána em direção ao coração. Analogamente, leva-se a força vital prána váyu para baixo (contraindo a garganta pelo jalándhara bandha). Desta forma desperta-se a força kundaliní e se alcança o conhecimento supremo. I:49. O yogi, sentado em padmásana, inalando através das entradas das nádís [as narinas] e alimentando-as com prána, alcança a liberação; não há dúvida sobre isto. Simhásana, postura do leão. I:50. Simhásana: colocar os calcanhares (com os pés cruzados) sob o sexo, com o direito tocando o lado esquerdo do períneo e o esquerdo tocando o lado direito.
I:51. Colocar as palmas das mãos com os dedos entendidos sobre os joelhos; com a boca aberta, concentrar o olhar na ponta do nariz. I:52. O simhásana é muito apreciado pelos melhores yogis. Este excelente ásana facilita os três bandhas (múla, jalándhara e uddiyana bandha). Bhadrásana, postura virtuosa. I:53. Bhadrásana: colocar os tornozelos sob o sexo a ambos lados do períneo, o direito à direita e o esquerdo à esquerda (com as plantas dos pés unidas). I:54. Manter os pés firmemente unidos com as mãos e permanecer imóvel. Bhadrásana cura todas as doenças. I:55. Este ásana é chamado gorakshásana pelos yogis avançados (siddhas). O cansaço desaparece ao assumi-la. Conclusão. I:56. Depois dos ásanas e bandhas, continua a seqüência na prática do Hatha Yoga com as distintas variações de kúmbhaka, os mudrás e a concentração no som interior (náda).
Dieta moderada. I:57. Com toda certeza, o brahmachari que observe uma dieta moderada e pratique o Hatha Yoga renunciando aos frutos de suas ações, converter-se-á em um siddha no prazo de um ano. I:58. Seguir uma dieta moderada quer dizer alimentar-se com comida agradável e doce deixando sempre livre uma quarta parte do estômago e dedicando o ato de comer a Shiva. Dieta a evitar. I:59. Não se consideram adequados para o yogi os alimentos amargos, agros, picantes, salgados ou muito quentes; os vegetais verdes (diferentes dos recomendados), os legumes fermentados, o azeite de sementes, o gergelim, a mostarda, as bebidas alcoólicas, o peixe, a carne, o requeijão, o soro, a manteiga, os grãos de tipo chhaasa, os feijões em forma de rim, as frituras, a asafétida e o alho. I:60. Também devem evitar-se a comida requentada, os alimentos secos, demasiado salgados ou ácidos e os alimentos com muita mistura de vegetais (difíceis de digerir).
Hábitos.
I:61. Ao principio, devem evitar-se o fogo, as relações sexuais e as viagens. Goraksha ensina que "no início, o yogi deve evitar as companhias inadequadas, aquecer-se junto ao fogo, as relações sexuais, as viagens longas, os banhos frios de manhã cedo, o jejum e o esforço físico exagerado". Dieta recomendada. I:62. Os seguintes alimentos são recomendados para o yogi: trigo, arroz, centeio, cevada, produtos feitos de cereais, leite, manteiga clarificada (ghee), açúcar mascavo, mel, gengibre seco, pepinos, patolaka, os cinco legumes (jivanti, vastumulya, aksi, meghanada e punarnava), feijão de tipo mung e água pura. I:63. O yogi deve tomar alimentos nutritivos e doces, misturados com leite e ghee, que aumentem os elementos corporais (dhatus: pele, sangue, carne, gordura, osso, medula e sêmen) e que sejam agradáveis. Conclusões. I:64. Qualquer pessoa que pratique ativamente Yoga, seja ela jovem, velha ou mesmo muito velha, enfermiça e débil, pode converterse em um siddha. I:65. Qualquer um que praticar pode conseguir a perfeição (siddhi), a menos que seja preguiçoso. Não se conquista a meta do Yoga apenas lendo livros.
I:66. Tampouco se conseguem os siddhis vestindo-se de uma forma determinada ou especulando sobre o Yoga: somente se triunfa através da prática constante. Sem dúvida, este é o secreto do sucesso na prática. I:67. Enquanto não se tiver sucesso no Rája Yoga devem praticar-se os diferentes ásanas, kúmbhakas e mudrás do Hatha Yoga. [Aqui conclui o primeiro capítulo do Hatha Yoga Pradípiká, que versa sobre os requisitos e atitudes para a prática, os ásanas e a dieta recomendada pelos sábios.]
II O yogi que pratica perfeitamente os ásanas, alimenta-se com moderação e controla seus sentidos, deve agora praticar pránáyáma seguindo as instruções de seu guru. Necessidade do pránáyáma. II:1. O yogi que pratica perfeitamente os ásanas, alimenta-se com moderação e controla seus sentidos, deve agora praticar pránáyáma seguindo as instruções de seu guru. II:2. Enquanto a respiração (prána) for irregular, a mente permanecerá instável; quando a respiração se acalmar, a mente permanecerá imóvel e o yogi conseguirá a estabilidade. Por conseguinte, devese controlar a respiração (praticando pránáyáma). II:3. Enquanto houver alento no corpo, haverá vida. Quando o alento parte advém a morte. Por isso, é necessário restringi-lo através da prática de pránáyáma. Nádí shodhana: a necessidade de purificar as nádís. II:4.
Enquanto permanecerem impurezas nas nádís (ídá e pingalá), o prána não poderá entrar no canal central, sushumná. Desta forma, o yogi não conseguirá o estado de unmani avasthá nem terá sucesso nas práticas. II:5. Somente quando se tenham purificado todas as nádís que ainda estiverem impuras, o yogi poderá praticar pránáyáma com sucesso. II:6. Portanto, deverá se praticar pránáyáma diariamente, com um estado mental em que predomine sattva, até que sushumná fique livre de impurezas. Nádí shodhana pránáyáma a respiração polarizada. II:7. Na postura padmásana, o yogi deve inalar (púraka) através da fossa nasal esquerda (chamada ídá ou chandra) e, após reter a respiração (kúmbhaka) tanto quanto lhe seja possível, deve exalar (rechaka) pela fossa nasal direita (chamada pingalá ou súrya). II:8. A continuação se deve inalar pela narina direita (pingalá), praticar kúmbhaka como antes, e exalar pela esquerda (ídá). II:9. Depois do rechaka deve-se fazer (sempre) púraka pela mesma fossa nasal. O kúmbhaka deve manter-se o máximo possível (até que o corpo comece a tremer). (Depois do kúmbhaka) deve-se exalar lentamente (pois exalando rapidamente, a energia do corpo irá reduzir-se). II:10.
Ao inspirar prána através de ídá, se deve exalar através de pingalá; a continuação inspira-se (prána novo) por pingalá e se exala por ídá, sempre depois de ter retido a respiração (kúmbhaka) o máximo tempo possível. O yogi que se aperfeiçoar na prática da ética e que praticar esta respiração alternada (nádí shodhana), purificará todas suas nádís em três meses. Fases do pránáyáma.
II:11. Deve-se praticar pránáyáma quatro vezes ao dia: na primeira hora da manhã, ao meio-dia, pela tarde e à meia-noite, progredindo de forma gradativa até que se possam fazer oitenta kúmbhakas (em cada sessão). II:12. Na primeira fase há transpiração, na segunda há tremores e na fase superior o prána chega ao lugar mais excelso (brahmárandhra, a abertura do canal axial, no topo da cabeça). O pránáyáma deve praticar-se desta forma. II:13. Se houver transpiração, deve se aplicar uma massagem (esfregando a pele, para reabsorve-la); desta forma, o corpo se torna leve e forte. II:14. No início da prática (de pránáyáma) o yogi deve tomar os alimentos misturados com leite e ghee. Quando a prática evoluir, estas restrições não serão mais necessárias. Prática correta. II:15.
O prána deve controlar-se gradualmente, igual que se domam os leões, os elefantes e os tigres (pouco a pouco, com paciência e energia), pois do contrario o praticante poderia morrer. II:16. A prática correta de pránáyáma libera de todas as doenças, mas uma prática incorreta pode produzi-las. II:17. Uma prática incorreta (de pránáyáma) pode ocasionar moléstias em olhos, nariz e ouvidos, dores de cabeça, soluço, asma e outras dolências (pulmonares) II:18. Para obter a perfeição na prática (siddhi) deve-se inalar e exalar lentamente, procedendo também de forma gradual com o kúmbhaka. Efeitos. II:19. Quando as nádís estão purificadas, o corpo emagrece e brilha de forma natural. II:20. Então, o yogi é capaz de reter a respiração à vontade, se ativa o fogo gástrico, o náda (som interior) se faz audível e a saúde é perfeita. O shatkarma, as purificações físicas. II:21. O shatkarma deve constituir a primeira prática para as pessoas
fleumáticas e de constituição débil. Em outro caso (com vata, pitta e kapha equilibrados), não é preciso. II:22. As seis ações (shatkarma) são dhauti, vasti, neti, trátaka, nauli e kapálabháti. II:23. Estas ações que purificam o corpo são secretas. Possuem múltiplos, surpreendentes resultados e são tidas em grande estima pelos yogis. Dhauti, a purificação do trato digestivo. II:24. Dhauti: engole-se lentamente uma tira de pano umedecida, de quatro polegadas de largura e quinze palmos comprimento e se retira em seguida, seguindo as instruções do guru. II:25. O Dhauti é efetivo contra a asma, as doenças bronquiais, problemas no fígado, a lepra e muitas outras doenças que surgem por causa do desequilíbrio da fleuma (kapha). Não há dúvida sobre isto. Vasti, a lavagem intestinal. II:26. Vasti: em utkatásana (sentado de cócoras, com os pés juntos e as nádegas sobre os calcanhares) e submergido em água até o umbigo, se introduz no reto um tubo fino de bambu e se contrai o esfíncter anal (e o abdômen, para puxar a água, faze-la circular dentro do ventre e, finalmente, expeli-la).
II:27. A prática de vasti é eficaz contra o inchaço dos órgãos internos e o fígado, doenças estomacais e todas as enfermidades advindas do excesso ou do desequilíbrio de vata, pitta e kapha. II: 28. A prática correta de vasti, purifica os constituintes corpóreos (dhatus), os órgãos dos sentidos (indriyas) e a mente (antahkarana); deixa o corpo brilhante e aumenta o poder digestivo, eliminando todos os desequilíbrios fisiológicos. Neti, a purificação dos seios nasais. II:29. Neti: introduz-se um fino cordão, de um palmo de comprimento, por uma das fossas nasais e se puxa pela boca. II:30. Purifica o crânio e melhora a acuidade da visão, eliminando rapidamente todas as moléstias que possam surgir acima da linha dos ombros. Trátaka, a purificação dos olhos. II:31. Trátaka: olha-se fixamente, sem pestanejar, um objeto pequeno, até surgirem lágrimas nos olhos. Os mestres chamam esta prática de trátaka. II:32. Elimina a preguiça e todas as doenças oculares; deve manter-se cuidadosamente em secreto, como uma caixa de jóias.
Nauli, a purificação do abdômen. II:33. Nauli: inclinar os ombros para frente apoiando com firmeza as palmas das mãos no solo; fazer girar o ventre para a esquerda e para a direita, como um redemoinho em um rio. Os siddhas chamam esta técnica de nauli. II:34 Nauli: Esta excelente prática de Hatha Yoga elimina a inêrcia do fogo gástrico, estimula a digestão, deixa uma sensação agradável e elimina todos os males e desajustes dos humores. Purificação dos pulmões e dos seios cranianos. II:35. Kapálabháti consiste em fazer rechaka e púraka rapidamente, como o fole de um ferreiro. Esta técnica denomina-se kapálabháti e elimina todos os males atribuídos à fleuma (kapha dosha). II:36. Estas seis práticas eliminam a obesidade, os transtornos da fleuma e as impurezas; fazendo pránáyáma a continuação, se alcança o sucesso sem esforço. Purificação de todas as nádís. II:37. Alguns mestres opinam que as nádís podem ser purificadas somente através da prática de pránáyáma, e que o shatkarma é desnecessário.
II:38. Gajakaraní: com ajuda de múla bandha, se faz subir o apána para a garganta e regurgitar o que houver no estômago; com a prática gradual desta técnica do Hatha Yoga se podem controlar todas as nádís. Conclusões.
II:39. Todos os deuses, incluído Brahmá, têm se dedicado à prática do pránáyáma, livrando-se assim do medo da morte; portanto, é conveniente praticar o controle respiratório. II:40. Enquanto o prána estiver controlado, a mente calma e estável e o olhar fixo entre as sobrancelhas, não deve temer-se à morte. II:41. Uma vez purificadas as nádís com a prática regular de pránáyáma, o prána atravessa a entrada da sushumná nádí e penetra nela facilmente. II:42. Quando o prána flui através da sushumná nádí, a mente se estabiliza; esta fixação da mente se chama unmani avasthá (ou manomani avasthá). II:43. A fim de conseguir tal estado, os yogis expertos praticam diferentes kúmbhakas, obtendo assim maravilhosos resultados (siddhis). As oito técnicas de respiração.
II:44. Há oito kúmbhakas: súryabhedana, ujjayí, sítkarí, sítalí, bhastriká, bhrámarí, múrcchá e pláviní. Os bandhas, as contrações que se fazem durante o pránáyáma. II:45. Ao final de púraka deve-se praticar jalándhara bandha; e ao final de kúmbhaka e principio de rechaka deve-se fazer uddiyana bandha. II:46. Praticando jalándhara bandha, múla bandha e uddiyana bandha ao mesmo tempo (durante a expiração), o prána flui por sushumná. II:47. Impulsionando o apána para cima (com múla bandha) e fazendo descer o prána desde a garganta (com jalándhara bandha), o yogi se libera da velhice e torna-se um jovem de dezesseis anos. Súryabhedana, a respiração solar. II:48. Súryabhedana: o yogi deve sentar-se em um ásana adequado, em um assento confortável, e inalar lentamente pela a fossa nasal direita (pingalá). II:49. A continuação deve praticar kúmbhaka até que senta o prána penetrar em todo seu corpo, desde a ponta dos cabelos até as unhas dos dedos dos pés; então deve exalar lentamente através da fossa nasal esquerda (ídá).
II:50. Este excelente súryabhedana deve praticar-se uma e outra vez, pois despeja o cérebro (lóbulo frontal e seios), combate as parasitas intestinais e cura os males causados por excesso de vata. Ujjayí, a respiração que outorga a vitória. II:51. Ujjayí: com a boca cerrada, inalar lentamente por ambas as fossas nasais, de tal forma que o ar produza um ruído (surdo) ao passar pela garganta para os pulmões. II:52. Praticar kúmbhaka como antes e exalar pela narina esquerda (ídá); com esta técnica eliminam-se os problemas de fleuma na garganta e se incrementa a capacidade digestiva do corpo. II:53. Também cura a hidropisia e os desequilíbrios nas nádís e nos dhatus; este kúmbhaka se pode praticar de pé, tanto imóvel como caminhando. Shítkarí, a respiração refrescante. II:54. Shítkarí: inalar pela boca produzindo um som sibilante, ao manter a língua entre os dentes, e exalar a continuação pelo nariz; a prática continuada desta técnica torna o yogi belo como o deus do amor, Kámadeva. II:55. Então, se torna muito atrativo para as yoginís, controla suas ações, não sente fome, nem sede e não se vê afetado pela sonolência o a
preguiça. II:56. Com esta prática consegue força física e se torna em mestre de Yoga, livre de todas as misérias terrenas.
Shítalí, a respiração refrescante. II:57. Shítalí: inalar através da língua em forma de tubo, como o pico de um pássaro, projetada um pouco por fora dos lábios; a continuação, exalar lentamente através do nariz. II:58. Este kúmbhaka cura as doenças do abdômen e do baço, entre outras; também evita a febre, a tendência a sofrer transtornos biliares, a fome, a sede e os efeitos dos venenos. Bhastriká, a respiração do fole. II:59. Bhastriká: adotando padmásana, ao colocar os pés sobre as coxas (contrários), se eliminam os efeitos nocivos de todas as doenças. II:60:61. Após haver adotado corretamente tal postura, com as costas e a nuca alinhadas, cerrar a boca e exalar com energia pelo nariz de tal forma que se sinta a pressão no coração, a garganta e a cabeça; a continuação, inalar com rapidez até que a respiração alcance o loto do coração. II:62:63.
Repete-se a expiração e a inspiração da mesma forma uma e outra vez, igual que um ferreiro manejando seu fole com força; desta maneira se consegue uma circulação constante de prána pelo corpo; quando se senta o corpo cansado exalar (lentamente) por pingalá. II:64. Depois de encher o interior do corpo com prána, fechar ambas as fossas nasais com o polegar, o anular e o mínimo; fazer kúmbhaka como antes e exalar (lentamente) através de ídá. II:65. Isto elimina os desequilíbrios causados pelo excesso de pitta, kapha e vata e estimula o fogo gástrico do corpo. II:66. Este procedimento desperta a kundaliní rapidamente, purifica as nádís, é agradável e benéfico; desta maneira se elimina a mucosidade que obstrui a entrada da sushumná. II:67. Este kúmbhaka, denominado bhastriká, deve praticar-se especialmente, pois faz com que o prána atravesse os três nós (granthis) que estão ao longo da sushumná (brahmágranthi, vishnugranthi, rudragranthi). Bhrámarí, a respiração do zumbido. II:68. Bhrámarí: inalar rapidamente, produzindo o som do vôo de um zangão, e expirar a continuação com lentamente (depois de fazer kúmbhaka), produzindo o som do vôo de uma abelha; com a prática de este exercício, os grandes yogis experimentam uma felicidade indescritível em seus corações.
Murcchá, a respiração extenuante. II:69. Múrcchá: ao final de púraka se executa um firme jalándhara bandha e depois se espira lentamente; este kúmbhaka reduz a atividade mental de forma muito agradável. Pláviní, a respiração flutuante.
II:70. Pláviní: quando se enchem os pulmões completamente de ar, o yogi pode flutuar facilmente na água, como uma folha de loto.
Tipos de retenção respiratória. II:71. Há três tipos de pránáyáma: rechaka, púraka e kúmbhaka. O kúmbhaka é também de dos tipos: sahita (com púraka e rechaka) e kevala (sem púraka nem rechaka). Kevala kúmbhaka, a retenção absoluta. II:72. Kevala é um kúmbhaka independente de púraka e rechaka, durante o qual se retém prána sem esforço algum; enquanto que não se domine totalmente kevala, se deve praticar sahita. II:73. Certamente, quando se pratica kevala kúmbhaka (retendo a respiração à vontade), se obtêm o estado de Rája Yoga. II:74. Quando se domina o kevala kúmbhaka, sem necessidade de
púraka e rechaka, não existe nada no mundo (interior) que esteja fora do alcance do yogi. II:75. Por meio de kevala kúmbhaka se desperta kundaliní e sushumná fica livre de obstáculos, alcançando-se (gradualmente) a perfeição em Hatha Yoga. Rája Yoga e Hatha Yoga. II:76. Não se pode aperfeiçoar o Hatha Yoga sem a prática do Rája Yoga e vice-versa; portanto, deve-se praticar ambos até que se obtenha a perfeição em Rája Yoga. II:77. Ao final da retenção do alento no kúmbhaka, deve-se afastar a mente de todos os objetos; praticando assim se alcançará o estado de Rája Yoga. Efeitos da prática. II:78. Quando se aperfeiçoa o Hatha Yoga aparecem os seguintes sinais: agilidade física, brilho no rosto, manifestação da vibração sutil interior (náda), olhar penetrante e claro, saúde, controle do fluido seminal (bindu), aumento do fogo digestivo e total purificação das nádís. [Aqui conclui o segundo capítulo do Hatha Yoga Pradípiká, que versa sobre a purificação das nádís (nádí shodhana), a expansão da força vital (pránáyáma) e as purificações corpóreas (shatkarma).]
III Kundaliní, o poder serpentino. III:1. Assim como Ánanta, a serpente infinita, sustenta a Terra com suas montanhas e florestas, da mesma forma a kundaliní é o fundamento de todas as práticas de Yoga. III:2.
Quando a kundaliní adormecida desperta por mediação do guru, todos os chakras e todos os granthis são atravessados. III:3. (Então) a sushumná nádí torna-se o caminho real do prána, a mente fica inativa e o yogi vence a morte. III:4. Sushumná, shúnyapadavi, brahmárandhra, mahapatha, shmashana, shambhaví, madhyamárga, se referem à mesma coisa. III:5. Assim, se deve praticar com empenho os diversos mudrás a fim de despertar à poderosa deusa kundaliní que dorme cerrando a entrada a porta de acesso ao Absoluto (sushumná). Mudrás, os gestos de poder. III:6-7. Os dez mudrás são: mahamudrá, mahabandha, mahavedha, khecharí, uddiyana bandha, múla bandha, jalándhara bandha, viparíta karaní, vajrolí mudrá e shaktí chalana. Eles destroem a velhice e eliminam a morte. III:8. Shiva ensinou estes gestos, que proporcionam os oito siddhis; os siddhas se esforçam em sua prática, mas eles são difíceis de se dominar, mesmo para os deuses. III:9. Devem manter-se cuidadosamente em secreto, como uma caixa de jóias; e não devem mencionar-se a ninguém, como a relação adúltera com uma mulher de boa família.
Mahamudrá, o grande gesto. III:10. Para fazer mahamudrá deve-se pressionar o calcanhar esquerdo no períneo e, mantendo esticada a perna direita, segurar os dedos do pé direito com as mãos. III:11. Depois, se contrai a garganta (em jalándhara bandha) e se conduz o prána para cima (por sushumná); Desta forma kundaliní se move para cima, como uma serpente cutucada por uma vara. III:12. Então, as outras nádís ficam (geladas), sem vida (porque o prána já não as percorre). III:13. Exalar a continuação muito lentamente, nunca depressa; os sábios denominam esta prática mahamudrá, o grande selo. III:14. Com esta prática, se destroem os kleshas e se vence a morte; é por isso que os homens mais sábios a chamam mahamudrá, o grande selo. III:15. Depois de praticar com o (calcanhar) esquerdo (no períneo) se deve repetir com o direito, finalizando a prática quando se houver executado igual número de vezes para cada lado. III:16. Para quem pratica (o mahamudrá) nenhum alimento é já
saudável o prejudicial, pois todas as coisas, independentemente de seu sabor, inclusive as que não têm sabor, e até o mais poderoso veneno, se digerem e se tornam néctar para ele. III:17. Aquele que pratica mahamudrá supera problemas como emagrecimento, lepra, hemorróidas, inchaço do abdômen (gulma), moléstias digestivas e outras. III:18. Assim foi descrito o mahamudrá, que proporciona grandes siddhis aos homens; deve manter-se cuidadosamente em secreto, sem revela-la a ninguém. Mahabandha, a grande contração. III:19. Mahabandha: coloca-se o calcanhar esquerdo contra o períneo e o pé direito sobre a coxa esquerda. III:20. Depois da inspiração, pressionando firmemente o queixo contra o peito (em jalándhara bandha), deve-se contrair os esfíncteres e concentrar a atenção em sushumná. III:21. Após reter a respiração o maior tempo possível é preciso exalar lentamente; depois de ter praticado pelo lado esquerdo, deve-se fazer o mesmo mudando a posição das pernas. III:22. Segundo outras versões, não é necessário contrair a garganta
(jalándhara bandha); em seu lugar, deve pressionar-se a língua firmemente contra a raiz dos dentes superiores (jihva bandha). III:23. Através desta prática (de mahabandha com jihva bandha), que ajuda a conseguir grandes siddhis, detém-se o fluxo ascendente do prána por todas as nádís (a exceção de sushumná). III:24. Esta técnica permite liberar-se da grande armadilha de Yama, o deus da morte, consegue ainda a união das três correntes prânicas (ídá, pingalá e sushumná) e possibilita que a mente permaneça concentrada em Kedara (a moradia do deus Shiva). III:25. Igual que a beleza e o encanto não servem de nada para uma mulher se ela não está junto a um homem, o mahamudrá e o mahabandha são inúteis sem o mahavedha. Mahavedha, a grande passagem. III:26. Mahavedha: o yogi, sentado em mahabandha, deve inalar com a mente concentrada e deter a continuação o fluxo de prána tanto para cima como para abaixo, por meio de jalándhara bandha. III:27. Com as palmas das mãos apoiadas no solo, o yogi deve elevar seu corpo no ar para deixar-se cair suavemente sobre seus glúteos várias vezes. Assim, o prána abandona as nádís (ídá e pingalá) e penetra em sushumná. III:28.
Desta forma acontece a união da lua, o sol e o fogo (ídá, pingalá e sushumná), que conduz à imortalidade; quando o corpo adquirir aspecto de cadáver, o yogi deve exalar (lentamente). III:29. Com a prática de mahavedha se conseguem grandes siddhis; ele faz desaparecer rugas e cabelos brancos e instabilidade do corpo (sinais de velhice) e, portanto, é praticado pelos melhores mestres. Efeitos. III:30. Estas são as três (práticas) que devem manter-se secretas e que protegem contra a morte e a velhice, aumentam o fogo gástrico e proporcionam poderes paranormais (siddhis), como animan e outros. III:31. Estas três devem praticar-se oito vezes ao dia, a cada três horas; isto aumenta os efeitos benéficos das ações e elimina os negativos; quem receber a instrução adequada às praticará gradativamente. Khecharí: técnica. III:32. Khecharí: com a língua recolhida para cima e para trás, obstrui-se o orifício de conexão do palato com as fossas nasais e se fixa o olhar no ponto entre as sobrancelhas. III:33. A língua deve alongar-se gradualmente, cortando (o freio), agitando-a e esticando-a até que se possa tocar o intercílio. Então se consegue realizar propriamente o khecharí mudrá.
III:34. Com uma faca limpa e muito afiada, em forma de folha de cacto, se faz um corte da espessura de um cabelo na base do freio da língua. III:35. Depois, se esfrega a região com uma mistura de sal de rocha e cúrcuma. Depois de sete dias, é preciso cortar novamente a espessura de um cabelo. III:36. É preciso continuar fazendo o mesmo durante seis meses, com cuidado e de forma gradual. Então, o freio da língua ficará completamente cortado. III:37. Quando o yogi dobra a língua para cima e atrás, pode fechar o ponto em que se cruzam as três nádís, denominado vyoma chakra; este é o khecharí mudrá. Khecharí: efeitos. III:38. O yogi que permanece apenas por meio kshana (período de vinte e quatro minutos) com a língua para cima, liberta-se de envenenamentos, doenças, velhice e morte. III:39. Quem dominar o khecharí mudrá não se verá afetado pela doença, a morte, a decadência mental, o sono, a fome, a sede o a falta de lucidez intelectual.
III:40. Quem dominar o khecharí mudrá ficará livre das (leis do) karma e do tempo. III:42. Uma vez obstruído o orifício da parte superior traseira do palato por meio do khecharí mudrá, o yogi pode controlar a ejaculação, até mesmo no abraço mais passional com uma mulher. III:43. E até mesmo que aconteça a ejaculação, o bindu será forçado para cima, por meio de yonimudrá. Somarása: o néctar celestial. III:44. Quem domine os secretos do Yoga pode vencer a morte em quinze dias, mantendo a língua dobrada para trás, com a mente concentrada e bebendo o néctar vital (somarása). III:45. O yogi que inunda seu corpo diariamente com o néctar que flui da "lua" (somarása) é imune ao veneno, mesmo que seja mordido pela serpente takshaka. III:46. Da mesma forma que o fogo arde enquanto houver combustível e a lâmpada ilumina enquanto tiver óleo e pavio, a alma permanece no corpo enquanto houver néctar brotando do terceiro olho (soma chakra). III:47. Quem comer carne de vaca (gomansa) e beber aguardente
(amaravarunni) diariamente, será considerado como uma pessoa distinguida; em outro caso, desprestigiará sua família. III:48. A palavra go alude à língua; "come-la" (gomansabhaksna) é introduzir a língua na cavidade do palato. Isto destrói as ações errôneas (pápa). III:49. Quando a língua se volta para trás e penetra na garganta, o corpo se aquece muito e flui o somarása. Isto se chama amaravarunni. III:50. Se o yogi pressionar a língua contra o orifício do palato, fazendo fluir o somarása, que tem sabor salgado, ácido e picante, mas que também parece leite, mel e ghee, elimina todas as doenças e a velhice, se torna invulnerável aos ataques armados, alcança a imortalidade e os oito siddhis e se torna irresistível para as mulheres siddhas. III:51. Aquele que, com o olhar dirigido para cima e a língua fechando o orifício do palato, medita sobre Parashaktí e bebe da clara fonte do néctar, desde a cabeça até o loto de dezesseis pétalas (vishuddha chakra), por meio do controle do prána, se libera de toda enfermidade e vive muito tempo com um belo corpo, elegante como um talo de loto. III:52. Aquele que possui uma mente pura (da natureza de sattva, não ofuscada ela ação de rájas e tamas) reconhece a verdade (da sua própria alma) no néctar segregado desde a cavidade de onde surgem as nádís, na parte superior do monte Meru (o interior da
cabeça, acima do intercílio); da "lua" surge o néctar, a essência corporal e, da sua perda, a destruição física. Por conseguinte, se deve praticar o benéfico khecharí mudrá (para deter a perda); do contrário não se conseguirá obter a perfeição física (caracterizada por beleza, graça, força e autocontrole). III:53. Tal cavidade, na abertura superior de sushumná, é o lugar de confluência dos cinco rios (as cinco principais nádís) e proporciona o conhecimento divino; no vazio da abertura, livre da influência da ignorância (avidyá), da dor e das ilusões (o yogi, através do) khecharí mudrá, alcança a perfeição.
Conclusão. III:54. Existe somente um gérmen de evolução: o mantra Om; existe somente um mudrá: khecharí; somente um dever: chegar a ser independente de tudo, e somente um estado mental: o manomani avasthá (estabilidade da mente). Uddiyana bandha, elevando a energia. III:55. Uddiyana bandha: chama-se assim entre os yogis porque com sua prática o prána voa para cima por sushumná (uddiyana significa "vôo ascendente"). III:56. Graças a este bandha, o grande pássaro prána (váyu) voa
incessantemente através de sushumná; a continuação se explica uddiyana bandha. III:57. Chama-se uddiyana bandha à retração do abdômen por cima do umbigo (de tal forma que se pressione em direção às costas e ao diafragma); é o leão que vence o elefante (a morte). III:58. Aquele que praticar com freqüência uddiyana bandha seguindo as instruções do seu guru, até que a contração se produza de forma natural e constante, rejuvenescerá, por idoso que seja. III:59. Deve-se contrair vigorosamente o abdômen na região do umbigo para cima e para trás. No prazo de seis meses se vencerá à morte, sem sombra de dúvida. III:60. Entre todos os bandhas, uddiyana é o melhor. Quando se consegue domina-lo, a liberação se produz espontaneamente. Múla bandha, contraindo a base. III:61. Múla bandha: pressionar o períneo com o calcanhar e contrair o (esfíncter do) ânus para fazer subir apána. III:62. Por meio da contração de múládhára, a corrente de prána, que normalmente flui para abaixo, é forçada a subir (por sushumná); os yogis chamam este exercício múla bandha.
III:63. Pressionando o calcanhar contra o períneo, se faz força sobre apána, até começar o movimento ascendente. III:64. Através de múla bandha, tanto prána e apána como náda e bindu se unem e proporcionam o sucesso no Yoga, sem sombra de dúvida. III:65. Com a prática constante de múla bandha se alcança a união de prána e apána, se reduzem consideravelmente as secreções (de urina e excrementos) e incluso os mais velhos rejuvenescem. III:66. Quando apána se eleva e alcança a moradia do fogo (manipura chakra), alimenta e intensifica a chama (do fogo interior). III:67. Quando apána e o fogo se unem ao prána, quente por natureza, um clarão intensamente abrasador brota no corpo. III:68-69 Kundaliní adormecida, aquecida por esse abrasamento, desperta. Tal como uma serpente tocada por uma vara, ela se levanta sibilando; e como se entrasse em sua toca, entra na brahmánádí (sushumná, o canal central). Portanto, o yogi deve praticar sempre múla bandha. Jalándhara bandha, o fecho que controla as redes prânicas. III:70.
Jalándhara bandha: (consiste em) contrair a garganta e manter o queixo firmemente contraído em direção (à parte superior do) peito (porém sem toca-lo). O jalándhara bandha destrói a velhice e a morte. III:71. Este bandha se chama jalándhara porque contrai a rede (jala) das nádís e detém o fluxo descendente do néctar, que goteja desde o soma chakra, no intercílio, através da cavidade do palato. O jalándhara bandha elimina todas as afecções da região da garganta. III:72. Quando se contrai a garganta em jalándhara bandha, o néctar (do soma chakra) não seca no fogo gástrico (manipura chakra) e o prána não se agita (não se desvia do caminho certo). III:73. Quando a garganta está firmemente contraída as duas nádís (ídá e pingalá) ficam "mortas" (inativas). Na garganta fica o vishuddha chakra, onde confluem as (nádís que conectam os) dezesseis centros vitais. (Esses pontos vitais, chamados ádháras são: polegares, tornozelos, joelhos, coxas, períneo, pênis ou clitóris, umbigo, coração, nuca, garganta, língua, nariz, intercílio, frente, cabeça e brahmárandhra).
Bandha traya, a contracao tríplice. III:74.
Praticando (simultaneamente) uddiyana bandha, múla bandha e jalándhara bandha, faz-se ascender o prána por sushumná. III:75. Desta forma, o prána fica imóvel em sushumná e se vence a velhice, a doença e a morte. III:76. Os yogis conhecem estes três bandhas que praticavam os grandes siddhas, eles são meios fundamentais para conseguir o sucesso no Hatha Yoga. Viparíta karaní mudrá, a atitude invertida. III:77. Viparíta karaní mudrá: todo o néctar (somarása) que produz a lua celestial (soma chakra) acaba sendo devorado pelo sol. É assim que envelhece o corpo. III:78. Existe uma excelente prática (karana) por meio da qual se pode burlar o sol, mas somente a podemos aprender do guru e não pelo estudo teórico dos shástras. III:79. Trata-se de viparíta karaní, que mantém o sol, no plexo solar, por cima da lua, sobre o palato; isto deve aprender-se seguindo as instruções do guru. III:80. Aquele que pratica diariamente incrementa seu fogo gástrico. Portanto, deve ter sempre comida abundante.
III:81. Se o yogi reduzir a alimentação, o fogo consumirá rapidamente seu corpo. No primeiro dia deve permanecer por pouco tempo apoiado sobre a (parte posterior da) cabeça (e os ombros), com os pés voltados para cima. III:82. Deve-se aumentar a duração da prática de forma gradual, dia a dia. Após seis meses de prática, desaparecem cabelos brancos e rugas. Praticando três horas ao dia, vence-se a morte. Vajrolí mudrá, o gesto adamantino. III:83. Vajrolí mudrá: até mesmo aqueles que levam uma vida desordenada, sem observar as disciplinas prescritas no Yoga, podem desenvolver os siddhis, poderes paranormais, dominando vajrolí mudrá. III:84. Para esta prática se necessitam duas coisas difíceis de se obter: leite (no momento preciso) e uma mulher que se comporte do modo desejado. III:85. Aspirando o sêmen (bindu) que se ejacula durante a relação sexual (maithuna), seja o sujeito homem ou mulher, se obtém sucesso na prática de vajrolí. III:86. Com cuidado, soprar com força no interior do pênis com a ajuda de um tubo (inserido na uretra), a fim de permitir a passagem do ar (para o interior).
(Precisa-se conseguir primeiramente um cateter fino, de quatorze dedos de comprimento, e inserí-lo na uretra, aprofundando gradativamente a inserção na largura de um dedo a cada dia, até que se introduzem doze dedos, fica de fora um comprimento de dois dedos, que se dobra para cima; a continuação insere-se um tubo mais fino por dentro do anterior e sopra-se com suavidade para limpar a passagem de impurezas; depois se continua absorvendo água através do tubo e progressivamente líquidos cada vez mais densos até, finalmente, absorver o próprio sêmen primeiro com a sonda e depois sem ela - somente se obterá sucesso se a respiração se mantiver controlada e se dominar o khecharí mudrá.) III:87. O bindu que está prestes a ser ejaculado na vagina de uma mulher deve absorver-se com a ajuda de vajrolí mudrá; se a ejaculação já tiver acontecido, deve-se reabsorver o próprio bindu junto com os fluidos vaginais a fim de preserva-lo. (Durante a ejaculação, a uretra sofre contrações espasmódicas, reflexas e irreprimíveis que expulsam o esperma; o vajrolí mudrá reduz o perigo da ejaculação, diminuindo a sensibilidade dos terminais nervosos da uretra, que reduzem o reflexo ejaculatório sem alterar o desejo sexual.) III:88. Desta forma, o yogi preserva seu bindu e vence a morte. Quando se desperdiça o bindu, a morte acontece a seu devido tempo, mas quem o preserva vive uma longa vida. III:89. Retendo o bindu com ajuda de vajrolí mudrá, o corpo do yogi
emana um agradável aroma. Enquanto o bindu estiver retido no corpo, ele não teme à morte. (Vajrolí afirma os testículos e tonifica as gônadas, o que aumenta o vigor e a virilidade, enquanto a produção incrementada de hormônios masculinos rejuvenesce o organismo.) III:90. O bindu dos homens fica sob o controle da mente, e a vida depende do bindu. Portanto, a mente e o bindu devem ser protegidos por todos os meios. III:91. Quem dominar esta prática deve absorver por completo o sêmen junto com os fluidos vaginais da mulher com quem tem relação sexual, através do pênis. Sahajolí mudrá, o gesto espontâneo. III:92. Sahajolí mudrá: sahajolí e amarolí são diferentes variações de vajrolí, dependendo do resultado obtido. É preciso misturar cinzas de esterco com água. III:93. Após a prática de vajrolí durante a relação sexual, uma vez finalizada toda atividade, o homem e a mulher sentados confortavelmente, devem esfregar as partes mais nobres de seu corpo (cabeça, frente, olhos, coração, ombros e braços) com esta mistura. III:94. Isto se denomina sahajolí e deve ser estimado pelos yogis, pois é
um processo benéfico que proporciona a liberação através da experiencia sensual. III:95. Esta técnica somente é dominada por aquelas pessoas virtuosas e valentes, que conhecem a verdade e não são em absoluto invejosas. Amarolí mudrá, o gesto perfeito. III:96. Amarolí mudrá: segundo a doutrina secreta dos kapálikas, amarolí consiste em beber a própria urina (amari) uma vez fria, descartando a primeira descarga, por possuir excesso de bílis, e a porção final, por ser muito rala. III:97. Quem bebe amari, o cheira e pratica vajrolí diariamente, recebe o nome de praticante de amarolí. Vajrolí para a yoginí. III:98. Misturam-se cinzas com bindu após a prática de vajrolí e se esfregam com esta mistura as partes nobres do corpo, obtendo-se assim a visão divina. III:99. Se uma mulher praticar o suficiente como para tornar-se uma experta, se for capaz de absorver o bindu (ejaculado em seu interior) por um homem e o retiver dentro por meio de vajrolí, transformar-se-á em uma yoginí.
III:100. (Assim) sem dúvida, não se perde nem a mais mínima quantidade de fluxo vital feminino. No corpo (da yoginí) o náda transformase em bindu. III:101. Se o sêmen (bindu) e o fluido feminino (rájas) permanecerem unidos no interior do corpo mediante vajrolí, consegue-se todo tipo de siddhi. III:102. A yoginí que preserva seu rájas mediante uma contração ascendente pode conhecer o passado e o futuro, e alcançar a perfeição em khecharí. Conclusão. III:103. Mediante a prática do Yoga de vajrolí, obtém-se a perfeição do corpo (beleza, graça e força); este tipo de Yoga proporciona mérito (púnya) e, embora coexiste com a experiência sensual, conduz à libertação (moksha). Kundaliní. III:104. Kutilangí, kundaliní, bhujangí, shaktí, íshvarí, kundalí, arundhatí: todas estas palavras são sinônimas. III:105. Assim como a porta se abre com a chave, o yogi abre a porta da libertação mediante o Hatha Yoga e o poder de kundaliní.
III:106. A grande deusa (kundaliní) dorme fechando com sua boca a passagem através da qual se pode ascender ao brahmárandhra (a passagem da energia psíquica pelo "orifício de Brahmá", no alto da cabeça), o lugar onde não existe dor nem sofrimento. III:107. Kundaliní shaktí, que dorme sobre o bulbo (kanda, onde convergem as nádís), proporciona libertação ao yogi e escravidão ao ignorante. Aquele que conhece a kundaliní, conhece o Yoga. III:108. Kundaliní se descreve enroscada como uma serpente; aquele que conseguir fazer com que a shaktí se movimente (de múládhára para cima) alcançará a libertação, sem sombra de dúvida. III:109. Entre os rios sagrados Gangá e Yamuná está sentada uma jovem viúva praticando tapas; é necessário possuí-la pela força, pois isto conduz à morada suprema de Vishnu (seu esposo, no sahásrara chakra, no alto da cabeça). III:110. O sagrado Gangá é ídá e o Yamuná é pingalá; entre ídá e pingalá está a jovem viúva kundaliní. Shaktíchalana mudrá, sacudindo o poder serpentino. III:111. Shaktíchalana kriyá: deve-se despertar a serpente adormecida (kundaliní) segurando firmemente seu rabo; então, shaktí abandona seu sono e se ergue com força.
III:112. Depois de inalar por pingalá, a adormecida serpente deve ser manejada mediante a técnica paridhána, a fim de move-la diariamente durante uma hora e meia, tanto ao amanhecer como ao entardecer. (A técnica paridhána é similar ao nauli, pois consiste em mover os músculos abdominais de esquerda à direita, de direita à esquerda e em espiral.) Kanda, o centro do corpo sutil. III:113. O centro do corpo sutil (kanda, localizado atrás do umbigo) tem uma extensão de doze dedos. Está situado por cima do ânus, a uma distância de quatro dedos e tem um aspecto delicado, de cor branca, como coberto por um pedaço de pano branco. III:114. Sentado na postura vajrásana seguram-se os pés perto dos tornozelos e pressionam-se (os calcanhares) sobre o kanda. III:115. Em vajrásana, depois de movimentar a kundaliní, o yogi deve praticar bhástriká kúmbhaka, a fim de despertá-la rapidamente. III:116. Depois deve contrair o sol para obrigar a kundaliní a ascender. Embora se sinta chegar às portas da morte, o yogi não sente medo de nada. [O sol, súrya, é a região do abdômen, perto do umbigo, que se contrai por meio de uddiyana bandha.]
III:117. Quando se move kundaliní sem medo por aproximadamente uma hora e meia, ela entra no canal sushumná e ascende um pouco por ele. III:118. Desta forma, kundaliní deixa livre a entrada de sushumná, e é puxada sem esforço para cima pela corrente de prána. Efeitos. III:119. Portanto, deve-se mover todos os dias esta arundhati (kundaliní), que dorme confortavelmente, pois assim o yogi ficará livre de doenças. III:120. O yogi que move a shaktí consegue os siddhis; que mais pode dizer-se? Vence o tempo, como se se tratasse de uma simples encenação. III:121. Somente o yogi que leva uma vida de brahmácharya, observa uma dieta moderada e saudável, e pratica Yoga estimulando corretamente a kundaliní, desenvolverá os siddhis no prazo de quarenta dias. III:122. Uma vez posta em movimento a kundaliní, deve-se praticar especialmente o bhástriká kúmbhaka. Donde pode surgir o medo da morte em um yogi que se autocontrola e pratica sempre de acordo com as instruções corretas?
Outras técnicas. III:123. Além da prática de shaktíchalana, que faz a kundaliní movimentar-se, que outras técnicas existem para remover as impurezas das 72.000 nádís? III:124. O canal sushumná se alinha (para facilitar a passagem do prána) por meio da prática de ásana, pránáyáma e mudrá. III:125. Quem permanecer atento à prática (livre da preguiça) e concentrado em samádhi, obterá grandes benefícios tanto de shambhaví mudrá como de outros mudrás. III:126. Sem Rája Yoga não há terra; sem Rája Yoga não há noite; sem Rája Yoga são inúteis todos os mudrás. III:127. Todas as técnicas de pránáyáma devem realizar-se com a mente concentrada; o sábio não deve permitir que sua mente vagueie (enquanto pratica os exercícios). Conclusões. III:128. Shiva, o Primeiro Senhor (Adinatha), descreveu desta forma o dez mudrás; cada um deles outorgará grandes siddhis a quem permanecer autocontrolado (yamin). III:129. Aquele que transmite os ensinamentos sobre estes mudrás,
recebidos por sua vez da maneira tradicional, de guru a discípulo, esse é verdadeiramente um guru, e se pode chamar mestre, Senhor (Íshvara) em forma humana. III:130. Aquele que seguir cuidadosamente estes ensinamentos, concentrado na prática dos mudrás, será capaz de vencer a morte e conseguirá os siddhis como animam (e outros). [Os oito siddhis clássicos são: animam, "atomização", a capacidade de reduzir à vontade o tamanho do corpo; laghimam, "levitação", a capacidade de flutuar ou voar; prápti, "atingir", a habilidade de expandir o corpo conforme a própria vontade; prákámyam, "preenchimento dos desejos", a capacidade de mergulhar na matéria sólida como se fosse líquida; mahimam, "magnificação", o poder de expansão infinita; íshitritva, "soberania", o poder de manipular a natureza; váshitvam, "mestria", controle sobre os elementos materiais; e kámávasáyitvam, "moradia do desejo", a capacidade de realizar qualquer desejo.] [Aqui conclui o terceiro capítulo do Hatha Yoga Pradípiká, que versa sobre a força kundaliní, os mudrás, os bandhas e seus efeitos.]
IV Samádhi. IV:1. Louvor a Shiva, o guru que se apresenta em forma de náda, bindu e kála. Aquele que se consagrar a ele alcançará o estado sem mácula, livre das correntes da ilusão (máyá). (Náda é o som supersutil, similar à reverberação de um sino, representado pelo semicírculo (chandra) desenhado na letra Om; bindu é o som representado no Om pelo ponto sobre o semicírculo; kála é o tempo.) IV:2. A continuação expõe-se a excelsa técnica do samádhi que vence a morte, conduz à felicidade (eterna) e à gloriosa dissolução no Absoluto (Brahman). IV:3-4. Rája Yoga, samádhi, unmani, manomani, amaratva, láyá, tattva, shúnyashúnya, paramapáda, amanaska, advaita, niralamba, nirañjana, jivanmukti, sahaja e turíya são sinônimos. [Yoga real, iluminação, elevação, elevação da mente, imortalidade, dissolução, verdade, plenitude no vazio, estado supremo, transcendência da mente, não dualidadade, estado de consciência sem refêrencias externas, estado de pureza absoluta, libertação neste corpo, espontaneidade e quarto estado de consciência (além dos estados de vigília, sono e sonho), são sinônimos.]
IV:5. Assim como o sal que se dissolve na água se torna uma só coisa com ela, a alma e a mente se fazem uma. Isso é o samádhi. IV:6. Quando não há movimento de prána (durante o kúmbhaka) e a mente se dissolve na alma, tal estado de harmonia se denomina samádhi. [Este estado é o samprájñata samádhi descrito por Pátañjali.] IV:7. Esse estado de equilíbrio que é a união da alma individual com a Alma Universal (jivátman e Páramátman), em que as construções mentais (sankalpas) cessam de existir, chama-se samádhi. [Este estado é o asamprájñata-samádhi, no qual não se distingue entre sujeito conhecedor, objeto conhecido e processo de conhecimento.] Efeitos. IV:8. Quem conhece realmente a grandeza do Rája Yoga? Graças aos ensinamentos transmitidos pelo guru, se alcançam o conhecimento verdadeiro, a libertação dos condicionamentos, a estabilidade suprema e os poderes paranormais (jñána, mukti, sthiti e siddhi). IV:9. Sem a ajuda e a compaixão de um autêntico guru, é muito difícil conseguir a renúncia aos desejos (vairágya), a percepção da
verdade e o (sahajávasthá).
autêntico
estado
natural
de
iluminação
IV:10. Quando se desperta kundaliní mediante a prática de ásana, kúmbhaka e mudrá, o prána se dissolve no vazio (shúnya) de brahmárandhra. IV:11. O yogi que despertou a energia e se libertou de todo karma alcança de forma natural o estado de iluminação (samádhi). IV:12. Quando o prána flui por sushumná e a mente se dissolve no vazio (shúnya), o conhecedor do Yoga (que conseguiu suprimir o fluxo das modificações mentais) remove as raízes dos seus karmas. Conclusão. IV:13. Louvor a ti, ó, Amara!, conquistador até mesmo do tempo, em cujas mandíbulas sucumbe o universo com todas as coisas animadas e inanimadas. [O yogi perfeito é chamado aqui pelo epíteto Amara, que significa perfeito.] Prána. IV:14. Amarolí, vajrolí e sahajolí se conseguem com sucesso quando a mente é reduzida ao estado de equilíbrio perfeito e o prána flui por sushumná.
IV:15. Como pode obter-se o conhecimento se o prána ainda estiver vivo (está ativo) e a consciência não tiver morrido (não tiver suprimido seus processos mentais)? Somente aquele que conseguir permanecer na imobilidade absoluta, detendo o prána e a consciência, alcançará a libertação. IV:16. Uma vez dominada a técnica para abrir sushumná e fazer com que o prána flua por seu interior, será preciso praticar (sem descanso) em um lugar adequado até que kundaliní se estabeleça em brahmárandhra. Sushumná. IV:17. O sol e a lua originam a divisão do tempo em forma de dia e noite. Sushumná (não obstante) devora o tempo. Isto é um grande secreto. IV:18. Há 72.000 nádís no corpo; de todas elas, sushumná é a que contém a energia divina (shambhaví shaktí) que apazigua o deus Shambu (Shiva); as outras não são de grande utilidade. IV:19. Com o prána controlado, deve-se despertar a kundaliní e acender o fogo gástrico para entrar em sushumná sem restrições. IV:20. Quando o prána flui através de sushumná se alcança o estado de
estabilidade da mente (manomani). Qualquer outro tipo de prática será um simples esforço do yogi. Prána e mente. IV:21. Aquele que detém o alento detém também o pensamento. Aquele que domina o pensamento domina igualmente o prána. IV:22. As duas causas da atividade mental são a energia vital e as propensões subconscientes (prána e vásaná): a inatividade de uma de elas provoca a inatividade da outra. IV:23. Quando a mente está absorta, prána se detém; quando prána está suspenso, a mente permanece quieta. IV:24. A mente e o prána estão relacionados entre si como o leite e a água, sendo suas atividades coincidentes; se houver movimento de prána, haverá movimento mental; se houver atividade mental, haverá movimento de prána. IV:25. Suspendendo a atividade de um deles (o prána e a mente), o outro igualmente irá parar; se um age, o outro também agirá. Se não permanecerem quietos, os sentidos estarão sempre ativos. Controlando-os, alcança-se moksha, a libertação suprema. Mente e mercúrio.
IV:26. A natureza da mente consiste em estar em movimento contínuo, igual que a do mercúrio; quando ambos ficam imóveis, há algo em este mundo que não possa conseguir-se? IV:27. Ó Párvatí! Quando o mercúrio é imobilizado, destrói as doenças. O prána tem a mesma capacidade. Quando estes morrem (tornam-se inativos), proporcionam vida; quando se controlam, a levitação é possível. Prána, mente e sêmen. IV:28. Quando a mente fica quieta, prána se detém e, em conseqüência, o sêmen (bindu) permanece imóvel; quando o bindu permanece estável, o corpo, por sua vez, adquire força e estabilidade. IV:29. A mente domina os órgãos dos sentidos. O prána é senhor da mente. O estado de dissolução (láyá) controla o prána e, por sua vez, depende da vibração sutil (náda). Liberação. IV:30. A quietude mental em si mesma se chama moksha, embora outros possam chama-la de outras maneiras; em qualquer caso, quando mente e prána se dissolvem, sobrevém uma indescritível alegria. Láyá. IV:31.
Quando cessam o movimento respiratório e a atração pelos objetos dos sentidos, quando não há movimento no corpo nem modificações nas mente, o yogi experiencia o Láyá Yoga. IV:32. Quando cessa completamente toda atividade mental e física se produz o indescritível estado do Láyá Yoga, do qual somente a alma é consciente, pois está além das palavras. IV:33. A dissolução acontece em brahmárandhra, o lugar onde se focaliza a concentração. A ignorância (avidyá), por meio da qual existem os cinco elementos, os sentidos e a energia presentes em todo ser vivo, dissolve-se no indiferenciado Brahman. IV:34. As pessoas repetem "láyá, láyá", mas, que é realmente láyá? É o estado de isolamento dos objetos dos sentidos, que surge quando as tendências subconscientes (samskáras) deixam de atualizar-se. Shambhaví mudrá. IV:35. Os Vedas, os Shástras e os Puránas são como prostitutas (pois estão disponíveis para todo o mundo). O shambhaví mudrá, pelo contrário encontra-se cuidadosamente guardado, como uma mulher casta. IV:36. Shambhaví mudrá consiste em concentrar a mente no interior (em qualquer um dos chakras) enquanto se mantém fixo o olhar sobre um objeto exterior, sem pestanejar. Os Vedas e os Shástras mantêm este mudrá em secreto.
IV:37. Shambhaví mudrá é um estado em que mente e prána se tornam uno com o objeto interno, enquanto o olhar permanece fixo, como vendo tudo, quando em verdade não vê nada. Quando, graças ao guru, se alcança esse estado, que está além do vazio e do não-vazio (shúnyashúnya), em que tudo se torna uma manifestação do grande Shambu (Shiva), então se manifesta a realidade. IV:38. Tanto shambhaví mudrá como khecharí mudrá, embora difiram no ponto em que se fixa o olhar e no objeto de concentração, têm em comum que ambos proporcionam o estado de felicidade que advém quando se dissolve a mente no vazio (no átman), o qual é um estado de bem-aventurança em si mesmo. [Denomina-se vazio porque não está afetado por tempo, espaço ou matéria. É um estado vazio de si mesmo e também de objetos distintos de si mesmo. Os pontos de fixação do olhar nos dois mudrás são diferentes, porque em shambhaví mudrá a olhar se dirige para o exterior, e em khecharí para o intercílio. Os objetos de concentração são diferentes porque em shambhaví mudrá a atenção se fixa no anáhata chakra e em khecharí mudrá, no ájña chakra.] IV:39. O estado unmani surge de forma natural quando o olhar se dirige para a luz que aparece durante a concentração na ponta do nariz, se levantam um pouco as sobrancelhas e se concentra a mente, como foi explicado antes (shambhaví mudrá).
IV:40. Alguns se enganam com as promessas dos Ágamas, outros, com os enigmas dos Vedas e outros ainda com a dialética. Nenhum deles conhece aquilo com cuja ajuda pode-se atravessar o oceano da existência. IV:41. Com os olhos entreabertos, o olhar fixo na ponta do nariz, a mente calma e o fluxo de prána imobilizado em ídá e pingalá, permanecendo em um estado de quietude (corporal, sensual e mental) se alcança o estado mais elevado, em forma de luz radiante que é a fonte de todas as coisas e, em si mesmo é o Todo, a suprema realidade; que mais pode-se dizer? Lingam. IV:42. Não se deve adorar o lingam nem de dia nem de noite; o lingam deve adorar-se somente quando tiverem deixado de existir o dia e a noite. [O lingam simboliza o Ser, o átman. Os símbolos dia e noite fazem referência à circulação de prána pelas nádís solar (pingalá) e lunar (ídá) respectivamente. Isto significa que não se deve meditar no ser enquanto o prána estiver fluindo pelas duas nádís. Primeiramente deve cessar o movimento de prána em ídá e pingalá, para faze-lo fluir posteriormente por sushumná.] Khecharí mudrá. IV:43. Quando prána, que normalmente flui pelas nádís direita e esquerda (as abandona e) se move por sushumná, então pode-se
praticar khecharí mudrá até alcançar a perfeição, sem dúvida alguma. IV:44. Quando o vazio entre ídá e pingalá (sushumná), devora a corrente de prána, sem dúvida o khecharí mudrá torna-se perfeito. ["Devorar o prána" quer dizer que este deve permanecer estável em sushumná.] IV:45. Entre ídá e pingalá há um espaço vazio chamado vyoma chakra onde se aplica a língua para a prática do mudrá chamado khecharí. IV:46. Khecharí mudrá, que recolhe o néctar procedente da lua, é a amante visível de Shiva; a entrada da incomparável e divina sushumná nádí deve bloquear-se elevando a língua em direção ao céu da boca. IV:47. Sushumná também quedará bloqueada quando se preencher com prána. Este é o perfeito khecharí mudrá, que conduz ao unmani avasthá. IV:48. Entre as sobrancelhas está a moradia de Shiva, o lugar onde a mente se aquieta; este estado mental (samádhi) se conhece como turíya. Nele, o tempo (a morte) não pode entrar. [O turíya é o "quarto estado" de consciência, que está além da vigília, do sono e do sonho.]
IV:49. Deve-se praticar khecharí mudrá até alcançar o estado de yoganidrá; o tempo (a morte) não existirá para quem conseguir isto. Dissolução. IV:50. Uma vez liberada a mente de todo objeto e conceito, já não surgem mais pensamentos. Então, a mente parece um jarro vazio, rodeado e preenchido de espaço. IV:51. Quando cessa a respiração exterior (com a prática de khecharí), também o faz a interior (a produção de prána); então, a corrente de prána e a corrente mental param no lugar apropriado (brahmárandhra). IV:52. O praticante que dia e noite dirige o fluxo de prána (através de sushumná), consegue dissolver a mente no lugar onde o prána se dissolve. IV:53. Deve-se inundar o corpo de pés à cabeça com o néctar (que flui da lua, o soma chakra). Assim, o corpo irá adquirir grande força e valor. Assim o khecharí (foi descrito). IV:54. Centrar a mente em shaktí e manter shaktí no centro da mente; observar a mente com a mente e fazer do supremo estado (samádhi) o objeto de concentração.
(É preciso manter o prána na mente e a mente em brahmárandhra. Então, contemplando a kundaliní shaktí, a mente e kundaliní tornam-se uno.) IV:55. Colocando o si mesmo (átman) em meio de ákasha (Brahman) e ákasha em meio do si mesmo, reduzindo tudo à natureza de ákasha (além do tempo e do espaço), não se pensa em mais nada. IV:56 Assim, o yogi em estado de meditação permanece vazio no interior e vazio no exterior, como um jarro vazio no espaço. Ao mesmo tempo, sente plenitude no interior e plenitude no exterior, como um jarro imerso no oceano. IV:57. Não deve haver processos mentais sobre coisas externas ou internas. Devem abandonar-se todos os pensamentos subjetivos e objetivos. É preciso deixar de pensar. IV:58. A totalidade de este mundo é somente uma criação da mente; até mesmo a própria atividade mental é uma ilusão. Quando se tiver transcendido a consciência, composta de processos mentais, se encontra repouso no imutável. Então, certamente ó Ráma!, encontrarás a paz. IV:59. Igual que a cânfora na chama e o sal na água, a mente se dissolve em contato com a alma. Máyá.
IV:60. Todo o que se apresenta ante a mente não é mais que aquilo que se pode conhecer, pois a mente é o conhecimento mesmo; quando o processo de conhecimento e o objeto de concentração se absorvem reciprocamente, desaparece toda dualidade. IV:61. Tudo em este mundo, tanto os seres animados como os objetos inanimados, são uma criação da mente; quando a mente alcança o estado transcendente, deixa de experimentar-se a dualidade. Conclusões. IV:62. Quando se abandonam todos os objetos de conhecimento, a mente se absorve (no satchitánanda: ser, consciência e bemaventurança) e somente o estado de libertação (kaivalya) permanece. IV:63. Os diferentes caminhos que conduzem ao samádhi, que utilizam diferentes técnicas, foram descritos pelos grandes mestres da Antigüidade, que basearam os ensinamentos em sua própria experiência. IV:64. Louvor a sushumná, a kundaliní, ao néctar que flui da lua, ao manomani avasthá e à grande shaktí, sob a forma da Consciência Pura. Náda. IV:65.
Agora se descreve a prática de náda (anáhata), tal como a ensinou Gorakshanatha, válida incluso para os menos ilustrados, incapazes de compreender a realidade. IV:66. O Primevo Senhor Shiva mostrou inúmeros caminhos que conduzem ao láyá, mas ao que parece, o melhor de todos é a prática do Náda Yoga. IV:67. O yogi, sentado em muktásana e adotando shambhaví mudrá, deve escutar atentamente o som interior que se ouve no ouvido direito. IV:68. Cerrando os ouvidos, o nariz, a boca e os olhos, então se ouvirá claramente um som no purificado sushumná. [Os ouvidos devem fechar-se com os polegares, os olhos com os indicadores, o nariz com os dedos meios e anulares e a boca colocando os mínimos nas comissuras dos lábios. Esta técnica também recebe o nome de yoni mudrá.] Etapas. IV:69. Toda prática de Yoga abrange quatro etapas: arambhavasthá, ghatávasthá, Parichayávasthá e nishpatti avasthá. Arambhavasthá, o estado inicial. IV:70. Arambhavasthá: quando o "nó de Brahmá" (brahmágranthi,
situado no múládhára chakra) é atravessado (com a prática de pránáyáma), se experiencia uma espécie de beatitude no shúnya (ou ákasha, elemento espaço, no chakra do coração). Ouvem-se sons cintilantes, como de guizos, (no centro) do corpo. IV:71. Em quanto se faz audível o som no vazio (interior), o corpo do yogi se torna resplandecente e brilhante; emana uma deliciosa fragrância, se afasta da doença e seu coração se enche (de prána e felicidade). Ghatávasthá. IV:72. Ghatávasthá: na segunda etapa, prána se une com apána, náda e bindu e entra no chakra do meio (na garganta). Neste estágio os ásanas se aperfeiçoam e surge a sabedoria divina. IV:73. Quando o vishnugranthi é atravessado (pelo prána durante o kúmbhaka), a felicidade suprema está próxima. No vazio do vishuddha chakra surge um som que ressoa como o rufar do timbal. Parichayávasthá. IV:74. Parichayávasthá: na terceira etapa percebe-se um som parecido ao de um tambor mardala, ecoando no espaço do intercílio; então, prána entra no grande vazio (mahashúnya, isto é, sushumná), a sede de todos os siddhis. IV:75.
Uma vez superado o estado de felicidade puramente mental (alcançado ao escutar os sons supersutis antes descritos), experiencia-se de forma espontânea a felicidade que deriva do conhecimento do átman. Neste ponto, superam-se todos os desequilíbrios (dos dhatus, humores corporais), as dores, a velhice, a enfermidade, a fome e o cansaço. Nishpatti avasthá. IV:76. Nishpatti avasthá: uma vez atravessado o "nó de Rudra" (rudragranthi, no ájña chakra, no intercílio), o prána alcança o assento de Íshvara (no topo da cabeça, sahásrara chakra). Então se ouve um som como o da flauta, que assume depois a ressonância da víná. IV:77. A integração mental (em um estado no qual a dualidade sujeitoobjeto não existe) se denomina Rája Yoga. O yogi se torna assim mestre da criação e da destruição, como Íshvara (assumindo poderes comparáveis a Íshvara). IV:78. Chame-se ou não libertação, isto é a felicidade perfeita; esta felicidade provém da absorção (láyá) e se consegue através do Rája Yoga. Hatha e Rája.
IV:79. Há muitos que são apenas hathayogis e não conhecem o Rája Yoga; estes são simples praticantes que nunca alcançam os frutos de seus esforços.
Unmani avasthá. IV:80. A concentração no espaço entre as sobrancelhas é a melhor forma de alcançar o unmani avasthá em pouco tempo. Mesmo para as pessoas de intelecto limitado, esta é a forma mais adequada para alcançar o Rája Yoga. O estado de absorção que nasce de náda, proporciona esta experiência de forma imediata. IV:81. (Todos) os grandes yogis que alcançaram o estado de samádhi através da concentração no náda, sentiram em seus corações uma felicidade ímpar, que está além de toda descrição e que somente pode conhecer-se pela graça do abençoado mestre (Sri Gurunatha). Prática do náda. IV:82. O praticante silencioso (muni), fechando os ouvidos com os polegares, ouve (atentamente) o som supersutil (em seu interior) até alcançar o estado imutável (turíya). IV:83. Por meio da prática da audição atentiva, o som interior sobrepõese gradualmente aos sons exteriores; assim o yogi, em quinze dias, pode superar a instabilidade mental e alcançar a felicidade suprema. IV:84. Nas primeiras etapas da prática se podem ouvir diversos sons interiores fortes, mas na medida em que se progride, estes se tornam cada vez mais sutis.
IV:85-86. No início, ouvem-se interiormente vários sons, como o rugir do oceano ou o trovão, como o tambor jarjara ou o timbal. Na etapa intermédia os sons se percebem como um tambor mardala, a concha, o sino, a trombeta. Finalmente, o som se assemelha ao dos crótalos, ao da flauta, ao da víná e ao das abelhas. Os diferentes sons se escutam desde o centro do corpo. IV:87. Embora possam perceber-se os sons fortes, como o do trovão ou o do timbal, é preciso dirigir a atenção exclusivamente aos sons mais sutis. IV:88. Embora a atenção possa alternar-se entre os sons fortes e os sutis, deve-se impedir que a mente, ao ser de natureza instável, vagueie por todas partes. IV:89. Pode-se conseguir a estabilidade meditando em qualquer som interno em que a mente fixe primeiramente a atenção. Esse é o estado de láyá, em que se absorvem a mente e o som. IV:90. A mente absorta em náda não sente atração pelos objetos dos sentidos, igual que uma abelha que quando bebe o néctar (das flores), não se preocupa com seu cheiro. IV:91. O afiado gume de ferro do náda restringe efetivamente a atividade da mente, que se comporta como um elefante louco (difícil de controlar) vagueando pelo jardim dos objetos sensoriais.
(Aqui se faz referência ao pratyáhára, que consiste em retrair os sentidos da influência que os objetos exercem sobre eles.) IV:92. Quando a mente estiver despojada da sua (habitual) natureza inquieta e ficar firmemente contida pelas rédeas do som sutil (náda), alcançar-se-á a estabilidade, igual a um pássaro com as asas cortadas, que não pode voar. IV:93. O yogi, desejoso de alcançar o domínio do Yoga, deve reduzir ao mínimo toda atividade mental e, com a mente totalmente concentrada, meditar exclusivamente no náda. (A mente deve tornar-se uma coisa só com o som sutil.) Semelhanças. IV:94. O náda é como a armadilha que captura o antílope interno (a mente); e também como o caçador que mata ao animal interior (o pensamento conceitual). IV:95. O náda é como o ferrolho da porta que encerra o cavalo (o pensamento conceitual) do yogi; por conseguinte, deve-se meditar diariamente sobre ele. IV:96. A mente e o som sutil agem como o mercúrio e o sulfuro quando se unem. A mistura solidifica-se e o mercúrio (a mente) perde sua natureza ativa. Assim, a mente torna-se capaz de mover-se sem apoio no espaço (que é Brahmá).
IV:97. A mente é como a serpente interior que, ouvindo o náda, esquece qualquer outro conteúdo e, absorta na unidade, pára de mexer-se em qualquer direção. Asamprájñata samádhi. IV:98. O fogo que queima um tronco se apaga quando consumiu toda a madeira; assim também a mente, quando permanece concentrada (e não busca mais combustível), dissolve-se no náda. IV:99. A mente (antahkarana) é como o antílope que, atraído pelo som da fêmea no cio, fica imóvel e pode ser facilmente ferido pelo arqueiro (isto é, pode ser totalmente silenciada por aquele que dominar o prána). IV:100. O que se pode ouvir neste ponto é a ressonância mística de um som; e a quintessência disso que se ouve é o supremo objeto de conhecimento, a consciência absoluta (chaitanya). A mente (antahkarana) torna-se una com a consciência, dissolvendo-se nela. Este é o supremo estado de Vishnu (o Ser Onipresente). IV:101. O conceito de ákasha (o substrato do som) existe somente enquanto o som supersutil pode ouvir-se. A realidade transcendental (Brahman) manifestada no silêncio é o supremo átman. IV:102. Tudo o que se ouve sob a forma do divino náda é de fato shaktí.
O estado que está além de toda forma, no qual os elementos (tattvas) se dissolvem (láyá), é o Supremo Senhor (Parameshvara). Aqui concluem as instruções sobre o som supersutil (náda). Unmani avasthá. IV:103. Todas as práticas do Hatha e o Láyá Yoga não são mais que meios para conseguir o Rája Yoga; quem realizar o Rája Yoga triunfará sobre a morte. IV:104. A mente é a semente, o Hatha Yoga o solo e o desapego (vairágya) a água; com estes três elementos cresce rapidamente a árvore sagrada (kalpavriksha) do unmani avasthá. IV:105. Por meio da meditação constante no náda, destroem-se todos os desejos acumulados e a mente e o prána dissolvem-se definitivamente na imaculada consciência absoluta (esvaziada dos gunas). IV:106. Durante o unmani avasthá o corpo se assemelha a um pedaço de madeira. O yogi não se estremece nem pelo poderoso som da concha (shankha) nem pelo do grande tambor (dundubhi). IV:107. O yogi que supera todos os estados e se libera de todos os pensamentos, parece estar morto (isto é, permanece imutável ante os estímulos externos). Ele está liberado, sem sombra de dúvida. Samádhi.
IV:108. O yogi em samádhi não é atingido pelo processo do tempo (a morte), nem pelo fruto das ações (karma); nada nem ninguém pode afetar-lhe. IV:109. O yogi em samádhi não recebe nada através dos sentidos; não conhece a si mesmo nem aos demais. IV:110. Aquele cuja mente não está desperta nem dormida, livre das lembranças e do esquecimento, para quem nada permanece quieto o ativo, aquele é realmente um liberado (jivanmukti). [A mente dorme quando perde a faculdade de discernir entre os diferentes objetos, pois tamas encobre os órgãos dos sentidos, superando rájas e sattva. O estado de samádhi não é de vigília porque não se experienciam os objetos dos sentidos. Tampouco é um estado no qual surjam lembranças, pois não se trata de uma modificação mental que surgiu antes, e não se desperta de tal estado. Permanece-se livre do esquecimento, porque não há impressões mentais que conduzam à lembrança. Não se está quieto, porque existem ainda impressões residuais; e tampouco ativo, porque as modificações mentais cessaram seu movimento.] IV:111. O yogi em samádhi é insensível ao calor e ao frio, à dor e ao prazer, à honra e ao insulto. IV:112. Certamente, trata-se de uma pessoa liberada, de aspecto saudável
(com a mente clara e desperta), que parece dormido mas está desperto, que não inala nem exala (devido ao kevala kúmbhaka). IV:113. O yogi em samádhi não pode ser ferido por arma alguma, nem ser atacado por ninguém; está além das influências de mantras e yantras. Conclusão. IV:114. Enquanto o prána não entrar em sushumná e alcançar sua meta no brahmárandhra, enquanto o bindu não estiver controlado mediante a contenção da respiração, enquanto a consciência (chitta) não refletir sem esforço sua autêntica natureza (Brahman) durante a meditação, aqueles que falam de conhecimento espiritual não serão mais que charlatões indignos de confiança. Aqui conclui o quarto e último capítulo do Hatha Yoga Pradípiká, que versa sobre láyá, náda e samádhi.
GLOSSÁRIO Adinatha "Senhor Primordial", epíteto aplicado ao mestre original da tradição Kaula (também chamada Natha), identificado com Shiva, criador mítico do Yoga e primeiro na linhagem dos 84 mahasiddhas, yogis iluminados do norte da Índia.
Advaita "não dualismo". O Advaita Vedánta é um sistema metafísico exposto nas escrituras antigas chamadas Upanishads e outros textos baseados nelas. O Vedánta não dualista é a tradição filosófica preponderante no hinduísmo e inclui várias correntes diferentes, sendo as duas mais significativas o não dualismo absoluto de Ádi Shankaracharya e o não dualismo qualificado de Rámánuja. Ágamas "aquilo que desce". Este termo se refere à tradição do Yoga, e designa o conhecimento adquirido através das percepções sensoriais ou pelo testemunho de autoridades competentes. Ahimsá "não violência". Um dos cinco yamas, proscrições ou preceitos de conduta do Yoga de Pátañjali. Ahimsá, a não violência, entendese como não matar, não agredir nem causar nenhum tipo de dor a nenhum ser vivo. As outras quatro proscrições (veracidade, não roubo, não desvirtuamento da sexualidade e não possessividade) são corolários, conseqüências naturais da não violência. Ájña "centro do comando". Um dos sete chakras, centros psíquicoenergéticos no corpo sutil, situado no ponto do intercílio. Representa-se graficamente como uma flor de lótus de duas pétalas que circundam o lingam, símbolo da criatividade de polaridade masculina. Este centro está conectado com o ego (ahamkára), com a mente inferior (manas) e com o mantra Om. Também recebe o nome de guru chakra, pois é neste centro que o adepto recebe telepaticamente as instruções do seu preceptor.
Ákasha "esplendor". Este termo designa o elemento espaço ou éter, e é freqüentemente usado como referência para o Ser transcendental (Páramátman), "radiante como mil sóis". Também significa ar, atmosfera, luz. Designa o espaço sutil onde estão armazenados todos os conhecimentos e feitos humanos, desde os primórdios. É a memória da Humanidade, patrimônio e herança de todos os homens. Corresponde ao inconsciente coletivo de Jung. Amanaska "estado transmental". Designa a iluminação, estado de transcendência da mente. Também recebe o nome de unmani, "exaltação". Amara "perfeito", "imortal". Uma das qualidades do yogi realizado. Amaratva "perfeição". Estado de isolamento sensorial (pratyáhára), em que a consciência perde contato com as referências externas. Amaravarunni "aguardente". Um epíteto para o amrita ou soma, licor lunar que goteja desde o soma chakra, no interior da cabeça. Amari urina. Amarolí "néctar imortal". Técnica que consiste em beber a própria urina com fins terapêuticos. Amarolí mudrá
"selo da imortalidade". Ação de fazer amarolí, ingerir a própria urina. Anáhata "não batido". Centro de captação de bioenergia localizado no plexo cardíaco, na altura do coração. O nome refere-se ao som do coração, que não é provocado por percussão, nem pela fricção de dois objetos, como no caso da música, senão que é uma pulsação interior. Este centro tem doze pétalas douradas que rodeiam circularmente dois triângulos de cor cinza superpostos. Os triângulos formam uma estrela de seis pontas, símbolo do elemento ar. No centro desta estrela pulsa o bíja mantra Yam. Ánanta "infinito". Nome da serpente cósmica de mil cabecas, sobre a qual jaz o deus Vishnu ("o onipresente"), preservador da criação. Animam "atomização". Um dos oito siddhis, poderes paranormais que surgem ao longo da prática de Yoga. É a capacidade de reduzir à vontade o tamanho do corpo. Antahkarana "instrumento interior". O psiquismo que, segundo o tratado Sámkhya Kariká, compreende a mente superior (buddhi), o ego (ahamkára) e a mente inferior (manas). Apána "respiração descendente". É a forma de energia vital que controla os processos de excreção e expulsão, aliviando o organismo de elementos desnecessários. Localizado no baixo ventre e na parte inferior do tronco, é o responsável pelos processos de excreção. Fisiologicamente, isto se processa através da força centrífuga,
desintegrando ou eliminando matérias fecais e urina e emitindo o sêmen. É de polaridade negativa, e a sua cor é laranjaavermelhada. Os dois váyus, prána e apána, são os grandes pássaros que o yogi deve unir dentro de si. Essa inversão das direções naturais da energia é o objetivo principal dos exercícios respiratórios. Arambhavasthá "estado inicial". O primeiro dos quatro estados (avasthás) de realização dentro do Yoga. Neste estágio da prática, o "nó de Brahmá" (brahmágranthi, localizado no chakra básico) é atravessado pela força kundaliní, quando esta ascende ao longo do canal central (sushumná nádí). Arundhati sinônimo de kundaliní. Asamprájñata samádhi "iluminação supraconsciente", último grau de samádhi. É o mais elevado estado de hiperconsciência, no qual se atinge a condição de jívanmukta, "liberado vivo", e se penetra na essência do próprio Ser. Ásana "postura", "assento". Exercícios psicofisiológicos do Yoga, definidos pelo sábio Pátañjali como sthirasukham, firmes e agradáveis. Este termo se presta a duas interpretações: por um lado, ásana significa lugar para sentar, assento de meditação, e conseqüentemente as posturas que o praticante assume para concentrar-se, meditar ou fazer respiratórios. Ao permanecer em uma posição imóvel, os ritmos internos vão reduzindo-se e a atuação dos gunas rajas e tamas, ação e inércia, vai diminuindo, dando lugar ao guna sattwa, equilíbrio e harmonia. O corpo é invadido por uma
sensação de bem-estar que absorve o pensamento: "A posição é dominada quando se elimina a tensão e se medita no infinito." Yoga Sútra, II:47. Por outro lado, a palavra ásana também designa os exercícios físico-energéticos do Yoga. Nesse sentido, e desde a popularização das formas "físicas" do Hatha Yoga, no período medieval, estes exercícios começaram a ganhar força dentro do universo das técnicas do Yoga. É através deles que o praticante faz do corpo um instrumento para o crescimento pessoal. Os ásanas movimentam de forma intensa e variada o fluxo da energia, vitalizando, fortalecendo e, preparando a estrutura biológica para o despertar de kundaliní. As posturas descritas nesta obra são apenas dezesseis, embora apareçam alguns a mais no texto (listam-se quatro nomes e duas variações da postura chamada siddhásana, e dão-se dois nomes ao bhadrásana): bhadrásana, postura virtuosa; dhanurásana, postura do arco; gomukhásana, postura da face de vaca; gorakshásana, postura do yogi Goraksha; guptásana, postura escondida (sinônima de siddhásana); kukkutásana, postura do galo; kúrmásana, postura da tartaruga; matsyendrásana, postura do yogi Matsyendra; mayúrásana, postura do pavão; muktásana, postura que outorga a libertação (sinônima de siddhásana); padmásana, postura do lótus; paschimottanásana, postura de alongamento intenso (conhecida igualmente como postura da pinça); shavásana, postura do cadáver; siddhásana, postura perfeita; simhásana, postura do leão; svastikásana, postura auspiciosa; uttánakúrmásana, postura da tartaruga elevada; vajrásana, postura do diamante (sinônima de siddhásana); vírásana, postura do herói. Asteya "não roubo". Um dos cinco yamas, preceitos éticos do Yoga. Asteya significa não roubar, não cobiçar ou invejar bens ou conquistas de outrem. Não é apenas não roubar, mas eliminar totalmente o impulso de apoderar-se de objetos (ou idéias)
alheios. O sábio Vyása ensina que "steya significa pegar ilegalmente coisas pertencentes a outrem. Asteya é abstenção dessas tendências, mesmo que em pensamento." Átman "ser". Eu, ánima, alma, princípio auto-organizador do ser: "Este átman é o mantra eterno Om, os seus três sons, a, u e m são os três primeiros estados de consciência, e estes três estados (vigília, sono e sonho) são os três sons." Maitrí Upanishad, VIII. A Mundaka Upanishad, I:1,3, diz que o átman é "aquilo através do qual o universo inteiro pode conhecer-se". A natureza do átman é sat chit ánanda: verdade, consciência e bem-aventurança. O átman é a porção divina do ser, Brahman ou Paramátman. Na Dhyánabindu Upanishad se diz que assim como o cheiro está na planta, a manteiga no leite, o óleo na semente e o ouro na pedra, da mesma forma tudo está imerso no Brahman, sendo o átman a porção individual dele. Outra imagem recorrente nos textos é a da lua, que se reflete em diferentes pontos. Se se observarem esses reflexos, se vêem muitas luas. Se se olhar para cima, se vê uma lua só, a real. Avasthá "estado", "condição". Existem vários estágios no caminho do Yoga, que são chamados avasthás. Assim, o Hatha Yoga Pradípiká distingue quatro estágios na caminhada: 1) arambhavasthá, "estado inicial", em que a força kundaliní vence o primeiro obstáculo à sua ascensão (brahmágranthi); 2) ghatávasthá: "estágio do pote", em que as duas forças vitais se unem e a kundaliní ascende até o chakra da garganta (vishuddha); 3) parichayávasthá: "acumulação", quando começam a ouvir-se os sons sutis (náda); e 4) nishpatti avasthá, "maturidade", o estágio final, em que a força vital ascende até o alto da cabeça, e o yogi se compara ao próprio Deus (Íshvara). De acordo com a filosofia
Vedánta, este termo designa os diversos estados de consciência: vigília (jágrat), sonho (svapna), sono (sushupti) e estado transcendente (turíya). A Maitrí Upanishad, VII:11, descreve esses quatro estados da seguinte forma: "aquele em que se vê com os olhos, aquele em que é possível mover-se em sonhos, aquele em que se dorme profundamente e o que está além do sono profundo. Esses são os quatro estados. Desses quatro, o quarto é superior aos demais." Avidyá "não saber". Ignorância metafísica. O maior dos obstáculos à iluminação (samádhi), pois é nele que se originam todos os outros, conforme o Yoga Sútra. "Para o Sámkhya e o Yoga, o mundo é real (não é ilusório, como é por exemplo, para o Vedánta). Entretanto, se o mundo existe e permanece, isso se deve à "ignorância" do espírito: as inúmeras formas do Cosmos, assim como seu processo de manifestação e desenvolvimento, somente existem na medida em que o espírito, o Si (Purusha) se ignora e, do fato dessa ignorância de ordem metafísica, surgem o sofrimento e a escravidão." Mircéa Éliade, Pátañjali et le Yoga, p. 14. Bhairava "terrível". Aspecto terrorífico do deus Shiva. Nome de um adepto mencionado no Hatha Yoga Pradípiká. Bhairava mudrá "selo de Bhairava". Gesto de meditação, em que o dorso da mão direita repousa sobre a palma da mão esquerda. Báhya kúmbhaka "retenção externa". É a fase na qual o aparelho respiratório permanece totalmente vazio, excetuando obviamente aquele volume de ar residual que sempre fica nos pulmões. É preciso
executar esta técnica com bastante atenção e cuidado: pessoas com problemas pulmonares ou cardíacos, especialmente hipertensão, devem abster-se de fazer retenções demasiado prolongadas, tanto com os pulmões vazios quanto com eles cheios. O acompanhamento e a supervisão de um professor qualificado e responsável são fundamentais em qualquer caso. Psicologicamente, o shúnyaka produz, partindo do vazio, abstração, receptividade, consciência dos próprios limites. Ao ser muito prolongado pode acontecer uma intoxicação por excesso de anidrido carbônico, muito útil para alcançar estados elevados de consciência, mas que deve fazer-se unicamente com acompanhamento de um instrutor competente a fim de evitar efeitos indesejados. Bandha "fixação". A palavra deriva da raiz bandh, que significa ligar, fixar. Contrações de plexos, nervos, órgãos e glândulas, que funcionam como interruptores do fluxo energético no organismo. Quatro são de capital importância: jalándhara (contração da garganta), uddiyana (contração do abdômen) e múla (contração do assoalho pélvico). Através destas contrações o praticante força o ar vital apána váyu a ascender, e o váyu prána a descer, confluindo ambos na altura do umbigo. Bhadrásana "postura virtuosa". Um dos ásanas descritos nesta obra, que trabalha a abertura pélvica. Se colocam as plantas dos pés unidas sob a base do tronco, mantendo os joelhos perto do chão. As mãos seguram as pontas dos pés. Bhastriká "respiração do fole". O nome provém da comparação entre o movimento do abdômen durante a respiração acelerada e o de um fole funcionando. Este respiratório produz uma oxigenação muito
mais intensa que todos os outros, limpa os pulmões e as vias respiratórias e é altamente energizante e vitalizante, podendo eliminar o cansaço e a depressão em poucos instantes. Sentado com as costas bem eretas, faça por alguns instantes a respiração abdominal. Aos poucos, comece a acelerar o ritmo, contraindo ao máximo o abdômen a cada exalação. Isto deve produzir um ruído bem alto e forte. A inspiração acontece espontaneamente, quando o diafragma e o ventre se expandem. Ao expirar, o diafragma se eleva e a musculatura reta abdominal se contrai vigorosa e rapidamente. Ao inspirar, o abdômen se projeta para fora. Ao exalar, ele se contrai com força. Você poderá fazer vários ciclos deste respiratório, contando o número de exalações. No início serão algumas dezenas, que você irá progressivamente aumentando até várias centenas. Após um certo tempo de prática, quando houver eliminado aqueles sinais de desconforto decorrentes do exercício (no início poderá sentir dores nos flancos, na região abdominal ou nas costas), você conseguirá aumentar ainda mais a duração de cada ciclo. É aconselhável fazer uma retenção com pulmões cheios combinada com bandha no final de cada ciclo de bhastriká. Durante as primeiras vezes que o fizer, a fim de fortalecer e treinar a sua capacidade vital, sugerimos que você faça o kúmbhaka juntamente com jihva bandha (contração da língua no céu da boca) e ashwiní mudrá (contração ritmada dos esfíncteres do ânus e da uretra). Quando começar a fazer retenções prolongadas utilize o jalándhara bandha (contração do queixo no tórax) combinado com múla bandha (contração dos esfíncteres). Preste atenção para não contrair a musculatura da fisionomia nem movimentar os ombros durante o exercício. Efeitos: fortalece a parede abdominal, aumenta a circulação sangüínea e tonifica o sistema nervoso. Normaliza as funções dos aparelhos digestivo e excretor. Oxigena todo o organismo e revitaliza os tecidos. No plano sutil, provoca um
aumento relevante da consciência de si próprio e da força de vontade. Bhrámárí "respiração da abelha". Inspire rápida e vigorosamente, produzindo um som reverberante, semelhante ao zumbido do zangão. Expire muito lenta e suavemente, com um som parecido ao zumbido da abelha." HYP, II:68. Sente-se em atitude receptiva para praticar. Mantenha as costas eretas e coloque as pontas dos polegares dentro dos canais auditivos, fechando firmemente com isto os ouvidos, porém sem provocar desconforto. A respiração deve fluir entre púraka e rechaka de forma ampla. Não é aconselhável fazer retenções. O som a que se refere o texto é um murmúrio, como se pronunciássemos a letra m de forma baixa e contínua, imitando o som do vôo de uma abelha. Comece a emitir esse som na exalação, concentrando-se nele. Não o faça durante a inspiração. Se após alguns ciclos você começar a sentir os braços cansados, junte os cotovelos no peito ou descanse as mãos sobre os joelhos enquanto estiver inspirando e volte a colocá-las nos ouvidos quando for exalar. Faça isto de dez a vinte vezes. Ao encerrar, procure perceber os sons sutis, que vibram no interior do seu corpo. Efeitos: esse exercício acaba com o mau humor, ativa o sistema nervoso e tonifica o aparelho respiratório. Desperta a sensibilidade, clarifica as idéias e detém as instabilidades do pensamento. É um excelente preparatório para os exercícios de retração dos sentidos e concentração. Bhujangí "serpente", um sinônimo de kundaliní. Bindu "ponto", "gota". Esta palavra possui diversos significados: por um lado, o bindu designa o centro a partir do qual se expande o
Universo, lugar em que se unem todas as formas de manifestação da Prakriti. O bindu representa igualmente o som transcendental do Absoluto. No Hatha Yoga e no Tantra, designa o sêmen ou o fluxo vital masculino, que precisa ser retido ou reabsorvido durante o intercurso sexual ritual (maithuna). Brahmá "o incomensurável". Na mitologia, o primeiro deus da tríade hindu, sendo os outros dois Vishnu e Shiva. Brahmá é chamado Prajapati, pai e Senhor das criaturas. Nasceu do ovo cósmico, Hiranyagarbha, e emana do umbigo de Vishnu quando este dormita sobre as águas causais, para criar o Universo. Após a criação, o mundo permanece inalterado por um período de 2:160.000.000 anos, que equivale a um dia na vida do deus. Após esse dia, ele dorme, Shiva começa a dançar a dança do fim dos tempos e o universo se reabsorve na matéria primordial. Ao despertar, Brahmá restaura novamente a criação. Este processo se repete até completar o período da existência do deus, que vive 100 anos. O número de anos terrestres da vida do deus tem 15 dígitos. No fim deste ciclo, o cosmos e os próprios deuses se reabsorbem no processo chamado mahaláyá, a grande dissolução. Brahmachari "servidor de Brahmá" (brahmacharya).
Aquele
que
pratica
a
castidade
Brahmacharya "conduta brahmínica". Continência, celibato. Um dos cinco yamas do Rája Yoga. O não desvirtuamento da sexualidade pode interpretar-se tanto como total e absoluta abstinência sexual quanto não dissipação da energia através do orgasmo. Em ambos os casos pretende-se, embora por meios diferentes, refrear a força geradora, a fim de entesourá-la para a evolução no sádhana
(prática espiritual). O estudioso Alain Daniélou, em seu livro Shiva e Dionisos (p. 98) sustenta a seguinte opinião sobre este conceito: "Emprega-se hoje a palavra brahmacharya com o significado de casto, mas a castidade é uma noção ambígua. Nenhum homem é casto, já que de uma maneira ou de outra emite periodicamente seu sêmen, nem que seja dormindo. O que é proibido ao brahmachari não são as práticas sexuais, são os vínculos e particularmente os atos reprodutores, que, por suas conseqüências, o ligam à sociedade, privando-o da sua liberdade. O brahmachari não deve ter relacionamentos que impliquem riscos de concepção. Deve ser, de qualquer modo, econômico com seu sêmen, consagrando-se ao estudo." Brahmágranthi "nó de Brahmá". Primeiro dos três granthis, "nós energéticos" do corpo sutil, situado no múládhára chakra, primeiro centro psicoenergético, na base da espinha dorsal. Alguns autores localizam o brahmágranthi no chakra cardíaco (anáhata). Ver granthi. Brahman "aquele que se expande". A alma suprema do universo, da qual todos os seres e objetos emanam. Absoluta, eterna e autoexistente, esta alma cósmica é o ponto onde a criação começou e o ponto onde ela se dissolverá no fim das eras. Esta essência divina é imutável, eterna, onipresente, não criada, sem início nem fim, ilimitada e imperceptível. No Satapatha Brahmana, no entanto, aparece como o criador ativo do mundo. Infinito em suas manifestações, ele está presente tanto nos deuses, homens e animais, como nas coisas mais simples e banais. O Brahman é o objeto de meditação usado pelos yogis que aspiram a absorver-se nele. Muitas das Upanishads tratam sobre a natureza da alma
suprema. Às vezes, recebe o nome de Kalahansa, o cisne do tempo. Brahmárandhra "abertura de Brahman", a abertura do canal axial (sushumná nádí), no topo da cabeça, que corresponde no plano psíquico à sutura frontal craniana. O brahmárandhra é um dos pontos nos quais o yogi deve meditar. Enquanto alguns autores consideram este vocábulo sinônimo de sushumná nádí, o canal central ao longo da coluna vertebral, para outros ele é a extremidade superior desta nádí, no sahásrara chakra, que fica no topo da cabeça. Chaitanya "consciência", "inteligência". Mente transcendental, essência do Ser, psiquismo, intelecto. Segundo o Sámkhya, manas, a mente como sede dos pensamentos e das idéias é apenas um dos componentes que constituem a consciência (chittabhúmi). Chakra "roda", "disco". Os chakras são centros de captação, armazenamento e distribuição da força vital no corpo sutil. O organismo funciona como um receptor de prána cósmico, captando energia do ambiente através dos chakras. Existem milhares de pequenos chakras no corpo, chamados marmas na medicina ayurvêdica, porém, para efeitos da prática, importam os sete principais, que estão ao longo da coluna vertebral e na cabeça. Desses sete centros, os primeiros seis correspondem ao plano energético, e o último ao plano etérico. Eles são: múládhára, swádhisthána, manipura, anáhata, vishuddha, ájña e sahásrara chakra. A aparência deles é circular e brilhante, como se fossem pequenos CDs de quatro ou cinco dedos de largura, que giram vertiginosamente em ambos sentidos. Cada um tem
associados uma série de propensões mentais (vrittis), uma forma, uma cor, um veículo, uma deidade e um bíja mantra, isto é, um som semente, ao qual responde. São representados com um número definido de pétalas, sobre as quais aparecem inscritos fonemas do alfabeto sânscrito, os bíjas menores, que representam as manifestações sonoras do tipo de energia de cada chakra. Dessa forma, cada sílaba de cada mantra estimula uma pétala definida de um chakra. Existe uma analogia entre esses centros e os diversos plexos do corpo físico, mas é um erro querer identificá-los com as diversas partes da anatomia humana. Chalana "sacudida". Uma técnica de manipulação da energia vital. Ver shaktíchalana. Chandra a lua. Chandrabheda pránáyáma "atravessar a lua". Este exercício estimula a nádí lunar, chandra ou ídá nádí. Se inspira pela narina lunar, a esquerda, e se exala pela narina solar. Efeitos: este exercício só deve ser feito em caso de indicação expressa do guru, pois ele envolve certos riscos. É completamente seguro ativar a corrente prânica solar, pingalá nádí, fazendo súryabheda pránáyáma, porém pode ser perigoso ativar ídá nádí, a corrente de polaridade negativa, fazendo este exercício. Acontece que se for exacerbada a atividade de ídá nádí, sua energia descendente pode deixar a consciência totalmente introvertida e fazer com que o corpo entre em estado letárgico. Não se deve fazer súryabheda e chandrabheda pránáyáma no mesmo dia. Chitta "consciência". No Yoga Sútra, chitta é a o poder interno que cria
as sensações de cognição e retenção. Segundo a filosofia Sámkhya, compreende os três instrumentos internos de conhecimento: buddhi, ahamkára e manas; o intelecto, o ego e o pensamento (anatahkarana). No Hatha Yoga, a palavra chitta pode ser sinônima de buddhi, intelecto superior. Uma das descobertas mais originais dos hathayogis é o vínculo estreito que existe entre consciência e respiração: "Aquele que detém o alento detém também o pensamento. Aquele que domina o pensamento domina igualmente o prána." HYP, IV:21. Dhanurásana "postura do arco". Uma posição de flexão frontal descrita no Hatha Yoga Pradípiká: sentado, com uma perna estendida no chão à frente do corpo e segurando o dedo maior desse pé com a mão do mesmo lado, deve elevar-se o outro pé até a altura do ouvido sustentando-o com a outra mão, como se se estivesse tensionando a corda de um arco. Este ásana recebe igualmente o nome de karna dhanurásana ("postura do arco no ouvido"), para diferencia-lo do dhanurásana mais conhecido nos dias de hoje, que é uma hiperextensão da coluna vertebral, deitado de bruços no chão e segurando os tornozelos com as mãos. Dhatu "constituinte". No sistema de saúde Ayurvêdico, ciência irmã do Yoga, define os sete elementos corporais: pele, sangue, carne, gordura, osso, medula e sêmen. Às vezes, a palavra dhatu denota o principal constituinte do corpo, que é o néctar da imortalidade (amrita). Pode igualmente fazer referência aos três humores corporais, vata, pitta e kapha. Ver dosha. Dhauti "limpar", "purificar". Segundo o Gheranda Samhitá, o dhauti compreende quatro grupos de técnicas de purificação das mucosas
e dos órgãos internos: 1) antar dhauti, técnicas para a limpeza dos órgãos internos; 2) danta dhauti, exercícios para asseio dos dentes; 3) hrid dhauti, que é descrito como purificação do coração, mas que também atua sobre os órgãos internos; e 4) múla shodhana, lavagem do reto. O Hatha Yoga Pradípiká não menciona essas categorias, mas descreve o dhauti como uma técnica de purificação do aparelho digestivo que se faz engolindo uma longa tira de pano (esta técnica recebe também o nome de vaso dhauti). Dosha na medicina indiana (Ayurveda), os três humores do corpo, que se constituem pela interação entre os cinco elementos: vata (ar e espaço), pitta (fogo) e kapha (água e terra). O equilíbrio dos doshas possibilita o correto funcionamento fisiológico. Dundubhi: um tipo de tambor. Gajakarani "técnica do elefante". Prática que consiste em elevar a força vital chamada apána e provocar a vomição, expelindo todo o conteúdo do estômago. Esta prática ajuda a manter o controle sobre as correntes prânicas (nádís). Embora não esteja catalogado no Hatha Yoga Pradípiká como uma técnica de purificação (shatkarma), pertence obviamente a essa categoria. Em outras obras recebe o nome do vamana dhauti. Gangá nome sânscrito do rio Ganges. Ghatávasthá "estágio do pote". O segundo dos quatro estágios na senda do Yoga. É um estado meditativo em que os fluxos prânicos prána e apána permanecem unidos com náda e bindu (o som sutil e sua
causa), e com a alma individual e a alma universal (átman e Páramátman). Ghee manteiga clarificada, largamente utilizada na culinária indiana. Apresenta uma série de vantagens sobre as manteigas normais, como o fato de não estragar facilmente, não ferver a baixas temperaturas e ser mais saudável. A preparação do ghee é muito simples: leve ao fogo médio em banho-maria um pacote de manteiga sem sal. Quando a manteiga começar a derreter, abaixe o fogo, continue fervendo-a e retire a cada 15 minutos a espuma que se forma na superfície do líquido. Cozinhe durante 30 a 40 minutos, desligue o fogo e deixe esfriar. Quando tiver esfriado, mas ainda em estado líquido, coloque o ghee em um recipiente adequado depois de eliminar cuidadosamente o sedimento depositado no fundo da panela. Go vaca. Gomansa carne de vaca. Gomukhásana "postura da cara de vaca". Um dos dezesseis ásanas descritos nesta obra, que consiste em colocar o pé direito do lado do glúteo esquerdo e o pé esquerdo junto ao direito. Atualmente, gomukhásana se faz unindo as mãos atrás das costas, com um cotovelo elevado e o outro para baixo. Gopi vaqueira.
Goraksha ou Gorakshanatha "protetor das vacas". Um dos grandes mestres de Yoga da nossa era, que viveu provavelmente no século IX d.C. no norte da Índia, provavelmente no Punjab. Pertence à tradição adinatha e fundou a ordem dos kanphata yogis. Mestre de Matsyendra, foi um dos mestres que deu ao Hatha Yoga a forma que ele tem hoje. Atribui-se a ele a composição de várias obras sobre Yoga, como o Goraksha Samhitá, o Amaraugha Parbodha e o Siddha Siddhánta Paddati. Em algumas partes da Índia ele é venerado como um deus. Gorakshásana "postura de Goraksha". No Hatha Yoga Pradípiká, o gorakshásana é uma variação da postura virtuosa, bhadrásana. No Gheranda Samhitá esse nome designa outra postura de meditação. Granthi "nó". Os granthis são obstáculos à ascensão da energia psíquica, kundaliní. Durante o processo do despertar, ela encontrará três obstáculos ao longo da sushumná nádí, localizados no múládhára chakra (brahmágranthi), anáhata chakra (vishnugranthi) e ájña chakra (rudragranthi). O yogi precisa de muita perseverança na prática para neutralizar cuidadosamente essas forças hostis, sem produzir um arrombamento energético, pois eles estão ao longo do caminho precisamente para prevenir despertamentos indesejados. Se formos pensar na correspondência entre a localização destes nós e as tendências subconsicientes latentes (vrittis) em cada centro, poderíamos identificar esses obstáculos com as disposições afetivas inerentes a cada um deles: os laços da pulsação sexual (primeiro granthi, no múládhára chakra), do amor e da autoestima (segundo granthi, no anáhata chakra) e da soberba e o orgulho intelectual (terceiro granthi, no ájña chakra).
Gulma inchaço crônico do fígado ou de outro órgão abdominal. Guna "atributo". Originalmente, esta palavra designava a corda de um arco. Os gunas são as qualidades que definem, através da sua interação, todo o mundo manifestado. Os estados da realidade, as formas de manifestação que assume Prakriti, a natureza, são três: tamas, imobilidade, inércia; rajas, atividade, ação; e sattwa, equilíbrio, perfeição: "As fases de buddhi em forma de sattwa, rajas e tamas, interagindo entre elas, dão lugar à experiência da paz, da intensidade ou da insensibilidade. Os produtos dos gunas estão em estado fluido, sempre em movimento. Por isso, a mente é chamada 'aquela que muda rápido.'" Vyása, Yoga Bháshya, II:15. Guptásana "postura secreta". Outro nome do siddhásana, a postura de meditação por exelência. Guru "pesado". A palavra guru (mestre) pode interpretar-se como aquele cujo julgamento tem peso. No Yoga hindu, o guru desempenha um rol axial no ensinamento do Yoga, como deixa claro o Shiva Samhitá (III:11): "Somente o conhecimento transmitido pela boca do guru pode dar frutos." No contexto do Yoga, o mestre é considerado com o maior respeito e reverência. Entretanto, o fato de serem poucos os mestres realmente iluminados e muito numerosos os charlatões, levou o autor do Kularnava Tantra a fazer a seguinte afirmação nesta obra (XIII:106-108): "Há muitos mestres na terra que ensinam coisas que não tem a ver com o Ser, mas é difícil encontrar um mestre que de fato revele o Ser. Muitos são os gurus que livram seus discípulos das riquezas, mas raro é o guru capaz de remover as
aflições do discípulo. O verdadeiro mestre é aquele através de quem flui a felicidade suprema. O homem inteligente deve escolher tal pessoa como seu mestre, e nenhuma outra." Hatha "força". Violência, esforço físico extremo, algo que está contra a inclinação natural. Entretanto, existe ainda uma interpretação esotérica deste termo: segundo o autor do Goraksha Paddhati, um comentário do Gorakshasataka, a palavra hatha derivaria das sílabas ha, sol, e tha, lua, donde podemos inferir que este sistema almeja a integração das forças solar (masculina) e lunar (feminina) dentro do indivíduo. Hatha Yoga "Yoga da força", também chamado Hathavidyá, "ciência do esforço". Método de Yoga que almeja o despertar da energia potencial através do aperfeiçoamento e da purificação do corpo físico, da manipulação da força vital e das técnicas contemplativas. Embora este sistema se apresente como sendo complementar do Raja Yoga, as práticas de concentração, meditação e iluminação estavam incluídas desde o início em suas premissas. Hathavidyá "conhecimento do Hatha", outro nome do Hatha Yoga. Hathayogi o praticante de Hatha Yoga. Ídá nádí "canal do conforto". Nome de um dos principais canais energéticos do corpo sutil, de polaridade lunar ou negativa, simbolizada pela cor branca. Inicia no chakra da raiz (múládhára), na base as espinha e ascende ao longo da coluna, entrelaçando-se
com o canal solar, pingalá nádí, e atravessando os principais chakras, até chegar na narina esquerda. Transporta e distribui a energia de polaridade negativa: o apána. Está associada à energia lunar, de caráter suave e descendente, e ainda à introversão, atenção, frescor, feminilidade, passividade, subjetividade, intuição. Indriya "relativo ao rei dos deuses (Indra)". Os órgãos dos sentidos, faculdades ou atividades sensoriais: audição, visão, olfato, tato e paladar. Segundo a tradição yogue, os sentidos são a mais poderosa influência sobre o homem, podendo ser utilizados como uma escada para a transcendência ou um veículo para a perdição. Afirma o deus Krishna na Bhagavad Gítá: "O homem que detém seu pensamento nos objetos dos sentidos desperta em si mesmo a inclinação por eles. Da inclinação nasce o desejo; do desejo, a cólera; da cólera, a desordem mental; da desordem mental, a confusão da memória; da confusão da memória, a perda do discernimento; pela perda do discernimento o homem se perde completamente. Mas o homem disciplinado que se relaciona com os objetos exteriores através dos sentidos, livres de atração e repulsão, subordinados ao Eu, alcança a serenidade." (II:62-64). Íshitritva "soberania". Um dos oito poderes paranormais (siddhis) que consiste na capacidade de manipular os elementos da natureza. Íshvara "Senhor". Proto-yogi, modelo arquetípico do praticante de Yoga. Na metafísica tântrica aparece identificado com o bindu; nas interpretações do Sámkhya e do Yoga Sútra, Íshvara adquire o status de deus supremo. "Íshvara não é, em suma, senão um arquétipo do yogi: um Macro-yogi; muito provavelmente, patrono
de algumas seitas yogues. De fato, Pátañjali esclarece que Íshvara foi o guru dos sábios das épocas imemoriais; porque, acrescenta, Íshvara não está condicionado pelo tempo. (...) Numa dialética da liberação, na que não era necessário que figurasse, Pátañjali introduz um "Deus" ao qual concede, é verdade, um papel bastante modesto: Íshvara pode facilitar a obtenção do samádhi a quem o tome como objeto de concentração. (...) Pátañjali teve que introduzir Íshvara no Yoga porque Íshvara era, por assim dizer, um dado experimental: os yogis recorriam efetivamente a Íshvara, embora tivessem podido liberar-se mediante a observância exclusiva das técnicas do Yoga. (...) O que resulta notável é o papel cada vez mais ativo que desempenha Íshvara entre os comentadores tardios." Mircéa Éliade, El Yoga. Inmortalidad y Libertad, pp. 66 e 67. Íshvarapranidhána "consagração a Íshvara". Quinto preceito ético (niyama) do Yoga clássico. A prática de Íshvara pranidhána consiste em tomar esse modelo como objeto de meditação. Íshvara pranidhána também significa entregar as ações e seus frutos a uma vontade superior à própria. Pode entender-se como auto-aceitação no momento presente ou ainda como serviço à Humanidade. Íshvarí "Senhora". Outro nome da força psíquica potencial, kundaliní. Jalándhara "fecho que controla as redes", também chamado kantha samkochana, "contração da garganta". Técnica que consiste em recolher o queixo em direção à depressão jugular, na base da garganta. Usa-se durante as retenções, facilitando sua execução e evitando tontura, zumbidos nos ouvidos ou desvanecimento. Opera o controle sobre as correntes prânicas, daí o nome. Atua
no cérebro, através da tração na parte superior da coluna vertebral, estimulando as glândulas endócrinas, regulando o fluxo de ar e prána na região do coração e ativando os canais sutis ídá e pingalá. Japa repetição mental ou verbal de um mantra com o objetivo de atingir estados superiores de consciência. A repetição do mantra pode fazer-se de três maneiras diferentes: em voz alta, na forma de um murmúrio quase inaudível, ou mentalmente. A mais forte é a última. Todas elas possuem uma estreita relação com a respiração, o pránáyáma e o mátra (ritmo). O Kularnava Tantra, XI:19, aconselha: "durante o japa deve evitar-se toda preguiça, bocejo, sono, espirro, salivação, medo, movimento ou emoção. O mantra nada dá se houver comida em excesso, conversação incoerente, falatório, autoritarismo, apego aos demais ou instabilidade... Durante o japa devem evitar-se a inércia, a aflição, a atividade desnecessária, a imaginação desvairada e a ventosidade. Fique em paz, seja limpo e frugal com a comida, durma no chão (colchão duro), seja devoto, com pleno controle e livre das dualidades, com a mente estável, silencioso e com autocontrole, e então, faça japa." Jihva bandha "contração da língua". Técnica que consiste em pressionar a língua contra a raiz dos dentes superiores. Quando a língua obstrui o duto de confluência entre as narinas e a garganta, este bandha recebe o nome de khecharí mudrá. Jivanmukti "liberado vivo", aquele que alcançou a libertação pelo Yoga: "Aquele que está como dormido, tanto no sono como na vigília, sem respirar e imóvel, é verdadeiramente livre. Aquele cujos
sentidos não se agitam, cuja mente e respiração se absorvem no próprio ser, que está como morto, se chama jívanmukti, o que se liberta em vida. Não ouve, não cheira, nem toca nem vê; tampouco conhece o prazer ou a dor, nem exercita a mente. Como um tronco de madeira, não conhece nada nem é consciente de nada; está unicamente absorvido em Shiva, está em samádhi. Kularnava Tantra, VI:4 Jñána "conhecimento", "sabedoria". Esta é uma palavra que pode utilizar-se tanto em contextos seculares como sagrados. Pode fazer referência tanto a conhecimento de cunho intelectual como a conhecimento divino. Afirma a autora Tara Michaël: "Todas as disciplinas yogues têm um valor instrumental para restabelecer o espírito em sua pureza inata e permitir assim que o Conhecimento resplandeça, abolindo para sempre a ignorância congênita que consiste em 'tomar o que é impermanente por permanente, o que é impuro por puro, o que está entremeado de sofrimento por felicidade, e o que não é o Eu pelo Eu.' Yoga Sútra, II:5." O Yoga, p.141. Kaivalya "isolamento". Libertação através do samádhi, estado de transcendência de todos os condicionamentos. O kaivalya é aquilo que permanece quando a mente inferior (manas) foi dissolvida através das práticas de concentração. Kaivalya é sinônimo de moksha. Kála "segmento", "parte". Tempo, destino, uma das categorias da existência. No Hatha Yoga, esta palavra designa também a potencialidade do som sutil e sua origem (náda e bindu). Um dos nomes de Shiva, o criador mítico do Yoga.
Kalakuta um tipo de veneno. Kalpavriksha a árvore mítica dos desejos, capaz de realizar todos os objetivos. Kámadeva o deus do amor. Na mitologia, Kámadeva é Eros, o deus do amor indiano, representado como um jovem belo e vigoroso que porta um arco e uma aljava com cinco flechas de lótus que simbolizam os cinco sentidos. Kámávasáyitvam "moradia do desejo". Poder paranormal que outorga a capacidade de realizar qualquer desejo. Kanda "bulbo". Também chamado kandasthána, é o ponto de origem da rede de canais prânicos no corpo sutil. Fica logo acima do períneo e possui forma oval, como os lingams de pedra. Configura a conjunção das nádís, os canais da força vital, entre o múládhára e o manipura chakra. Corresponde ao ponto que a medicina e as artes marciais chinesas chamam hara, no centro geográfico do corpo. As pétalas do múládhára chakra se abrem a partir da sua base. A cauda eqüina, o grupo de filamentos nervosos que se espalham a partir da região dorsal da coluna é a estrutura que corresponde ao kanda no corpo físico. Kapálabháti "crânio brilhante". Uma das purificações do organismo, que proporciona uma limpeza total das vias respiratórias. Elimine todo o ar dos pulmões. Inspire lenta e profundamente e, sem reter o ar,
expire vigorosamente pelas narinas, fazendo bastante ruído e contraindo com força o abdômen. Volte a inspirar de forma completa, com suavidade, e solte o ar outra vez com vigor, mas sem contrair a musculatura facial nem movimentar os ombros. Faça isto pelo menos dez vezes. A posição sentada deve ser perfeitamente firme, para evitar oscilações devidas à força da exalação. É aconselhável utilizar um lenço debaixo das narinas, pelo menos durante os primeiros ciclos, para reter nele o excesso de mucosidade que será eliminado durante o exercício. Efeitos: o kapálabháti limpa instantaneamente as vias respiratórias. Fortalece o sistema nervoso e tonifica o organismo, regulando o seu metabolismo. Proporciona excelente oxigenação cerebral, limpando e purificando os pulmões e revigorando os órgãos internos e a musculatura abdominal. Produz um certo estado de euforia, aumenta a confiança em si próprio e a capacidade de controlar a mente. Desperta a faculdade da percepção sutil. Kapálin um mestre de Hatha Yoga. Kapálika "portadores do crânio". Nome de uma seita shivaísta cujos adeptos carregam um crânio humano, como símbolo do desapego à vida material, mas que também é utilizado para o não menos nobre propósito de fazer as refeições. Kapha fleuma, um dos três humores corporais (doshas) mapeados pelo sistema de saúde ayurvêdico, ciência irmã do Yoga. O kapha dosha é descrito como sendo pesado, frio, oleoso e doce. Kaphadosha o mesmo que kapha.
Karaní "fazer". Realizar alguma ação. Karma "ação". Este vocábulo deriva da raiz kr, que significa fazer, agir, criar. Karma pode traduzir-se como ação ou dever moral, o resultado das ações, a lei de causa e efeito. A teoria do karma afirma que a ação e a reação configuram dois aspectos da mesma realidade. Ao mesmo tempo, a noção de karma não tem nada a ver com fatalismo ou determinismo (embora o efeito esteja potencialmente contido na sua causa): muito pelo contrário, é uma realidade que pode ser modificada, uma espécie de destino maleável. Swámi Vivekánanda definiu o karma como "a eterna afirmação da liberdade humana. Nossos pensamentos, nossas palavras, nossos atos, são fios de uma rede que tecemos ao redor de nós mesmos." Ou seja, o homem é intrinsecamente livre e responsável pelas suas ações. O Satapatha Brahmana, VI:2.2,27, um dos mais profundos e antigos textos vêdicos, afirma que "todos os homens neste mundo nascem moldados por si mesmos." Estamos criando a nós mesmos a cada instante e podemos, através de um ato de vontade, nos transformar e transformar conseqüentemente nosso futuro. Kedara residência mítica do deus Shiva. Kevala "puro", "absoluto". O kevala kúmbhaka acontece no estágio mais avançado do Yoga, quando a respiração cessa, sem movimento inspiratório ou expiratório. O praticante pode retê-la espontaneamente pelo tempo que desejar. Isto ocorre quando o prána pára de fluir por ídá e pingalá, passando a circular apenas
por sushumná, que entra assim em atividade. "Nada nos três planos da existência é impossível de se alcançar para aquele que detém o domínio do kevala kúmbhaka e possui a faculdade de reter a sua respiração como desejar." HYP, II:74. O kevala kúmbhaka é a meta do pránáyáma: acontece quando a força kundaliní está desperta. É o resultado do despertar da consciência do corpo sutil. Após ter adquirido o domínio total dos vrittis (instabilidades da consciência) e do plano subconsciente (swápna) através do sahita kúmbhaka, o yogi passa a ser swámi, "senhor de si mesmo". Havendo despertado nos três planos da existência, advém a faculdade da onisciência. Não é uma técnica em si, mas uma conseqüência própria dos pránáyámas, notadamente os ritmados. O ritmo inicialmente regulará as pulsações do corpo, para em seguida aquietá-las. Quando o corpo se aquieta, cessa também a turbulência da consciência. Aparentemente o yogi está imóvel, ausente, mas, interiormente, ele está despertando a maior força existente no ser humano, que se manifesta como energia, expansão da consciência, hiperlucidez e bem-aventurança infinita. "Quando o yogi consegue, segundo a sua vontade, regular o ar e deter a respiração (em qualquer momento e durante o tempo desejado), então logrará sem dúvida o sucesso no kúmbhaka; e tendo sucesso no kúmbhaka, que coisas não poderá realizar o yogi?" Shiva Samhitá, III:39. Khecharí "que se move no espaço". Contração que consiste em obstruir a passagem do ar pela garganta, voltando a língua para cima e para trás, confortavelmente e sem forçar. Este exercício se sustenta durante bastante tempo em algumas meditações, pelo que o relaxamento completo é fundamental. Consiste em retrair a língua de forma que a ponta fique pressionando o palato mole, no céu da boca. Com a prática, a língua se alonga até alcançar a cavidade posterior à úvula, onde se situa o triveni, o ponto de
confluência das três principais nádís: sushumná, idá e pingalá. Simultaneamente, através desta pressão produz-se uma massagem indireta nas glândulas pineal e pituitária. Perseverando na prática, começam-se a sentir diferentes sabores: alcalinos, amargos, lácteos, e finalmente, o gosto do néctar (amrita). Antigamente, alguns yogis tinham o costume de cortar o freio da língua para poder atingir mais facilmente o triveni. É muito útil para prolongar o kúmbhaka e para fazer concentração. Klesha "dor". Os kleshas são os aspectos dolorosos da consciência, as misérias existenciais: "Ignorância, egoísmo, exaltação das paixões, aversão e medo da morte são os cinco kleshas. A ignorância é a causa dos outros quatro, estejam eles em estado latente, atenuado, intermitente ou ativo." Yoga Sútra, II:3-4. O comentarista Vyása explica: "As aflições ou misérias são as cinco formas de conhecimento errôneo. Quando elas se manifestam fortalecem o equilíbrio dos gunas, produzem as mudanças, colocam em movimento o fluxo de causa e efeito e, combinadas, produzem os frutos das ações. No presente contexto, a ignorância é indicada como o caldo de cultivo onde se manifestam o egoísmo e as outras misérias, em estado latente, intermitente ou ativo. Todos os kleshas são variedades da ignorância, pois eles estão permeados pela ilusão. Quando um objeto está colorido pela ignorância, os outros kleshas se manifestam naturalmente. As aflições se experienciam em presença da ignorância e se dissipam quando ela é atenuada." Yoga Bháshya, comentário dos sútras II:3 e II:4. Kshana "momento", "instante". No Hatha Yoga Pradípiká, um kshana define um período de 24 minutos. No Yoga Bhashya, um tratado que comenta o Yoga Sútra do sábio Pátañjali, o autor afirma que
um kshana é o lapso que transcorre durante o deslocamento de um átomo de uma posição para outra. Kukkutásana "postura do galo". É um dos ásanas de mais difícil execução, pois combina flexibilidade extrema na bacia, nos joelhos e mãos com força e equilíbrio nos braços. Consiste em assumir padmásana, a postura do lótus, e passar os antebraços até acima da linha dos cotovelos nos espaços entre os joelhos. Feito isso, as palmas ficam apoiadas no chão e o corpo em equilíbrio elevado nelas. Kúmbhaka "jarro de água". É a retenção do fluxo respiratório com os pulmões cheios de ar e prána. Em alguns textos esta retenção recebe o nome de antara kúmbhaka ou retenção interna, por oposição à retenção externa, shúnyaka ou báhya kúmbhaka. O kúmbhaka ocupa um lugar de destaque dentro da prática do pránáyáma, pois é durante a retenção que se processa a absorção da energia vital. Para fazer a suspensão, é preciso primeiramente fechar a glote através do jalándhara bandha. O tempo desta retenção pode variar. Evite suspender a respiração durante demasiado tempo, pois isto pode provocar palpitações, taquicardia e respiração ofegante. O ritmo de evolução nos pránáyámas deve ser metabolizável: não se deve forçar além dos limites naturais do organismo. A melhor forma de reter o ar é evitando encher os pulmões até o limite. Exercícios acompanhados de kúmbhaka têm por objetivo aumentar o tônus do organismo e estimular as funções fisiológicas. Nas primeiras práticas pode ocorrer uma ligeira tonteira, devido à hiper-oxigenação cerebral, que é completamente normal, embora não esteja demais consultar o seu instrutor para corrigir eventuais erros de execução.
Kundalí "enroscada". O mesmo que kundaliní. Kundaliní "serpentina". Kundaliní é a forma em que Shaktí, a energia primordial está presente no ser humano: a energia ígnea que permanece em estado latente na base da coluna na forma de uma serpente. "Ela, a encantadora do mundo, brilha como um relâmpago; o seu doce murmúrio parece-se com o indistinto zumbido de milhares de abelhas loucamente enamoradas. Ela é a fonte de toda palavra. Ela é quem mantém a todos os seres do mundo através da inspiração e da expiração, e refulge na superfície do múládhára chakra como uma corrente de luzes brilhantes." Satchakra Nirúpana, 10. iconograficamente a kundaliní se representa, dentro do homem, como uma serpente adormecida, enrolada três vezes e meia em torno do lingam (o falo, símbolo do poder gerador masculino), e obstruindo com a sua cabeça a entrada da sushumná nádí, o canal mais importante dos que veiculam os alentos vitais, encontrando-se na base da coluna vertebral, no chakra chamado múládhára. O despertar da kundaliní e a sua ascensão pela sushumná nádí produz um calor muito intenso, e a sua passagem através dos chakras desenvolve os poderes latentes inerentes a cada um deles. A técnica para despertar kundaliní consiste em concentrar o prána em idá e pingalá nádí, e em levar essa energia para o múládhára chakra. Através de determinados ásanas, visualizações, manipulações da energia por meio de bandhas e mudrás, o yogi faz com que ela chegue até onde reside a kundaliní. Ali acontece o despertar e desenvolvem-se os fenômenos subseqüentes: ascensão pela sushumná nádí e samádhi, que acontece quando a serpente penetra o sétimo chakra, chamado sahásrara, no alto da cabeça. "Em síntese, kundalí é a representante corporal individual do
grande poder cósmico (Shaktí) que cria e sustenta o universo. Quando essa Shaktí, que se manifesta como consciência individual (jíva) se funde na consciência do Shiva supremo, o mundo dissolve-se para esse jíva, e obtém-se a liberação (mukti)." J. Woodroffe, El Poder Serpentino, p. 181. Kúrmásana "postura da tartaruga". No Hatha Yoga Pradípiká, este ásana consiste em sentar-se com as plantas dos pés cruzadas sob o assoalho pélvico. Nos dias de hoje, esse nome designa outras duas posturas diferentes, ambas de flexão frontal: uma em que o praticante senta sobre os calcanhares e deita sobre as coxas, com os joelhos unidos, os braços ao longo das pernas, as palmas voltadas para cima e a testa apoiada no chão; e outra de muito difícil execução na que o praticante deita para frente, com as pernas afastadas e os braços por baixo delas, mantendo as palmas voltadas para baixo. Kutilangí outro nome da força kundaliní. Laghimam "levitação". Um dos oito poderes parapsíquicos (siddhis), que é desenvolver a capacidade de flutuar ou voar. Láyá "absorção". No contexto do Hatha Yoga, esta palavra define a absorção da atenção na realidade através da prática de samádhi. É por esse motivo que, às vezes, aparece como sinônimo de samádhi. No Hatha Yoga Pradípiká, Adinatha, o primeiro mestre, prescreve inúmeras maneiras de alcançar o estado de láyá, sendo a melhor delas a concentração no som supersutil (náda). Láyá designa um dos ramos do Yoga, baseado no despertar da energia latente, kundaliní. Láyá Yoga é sinônimo de Kundaliní Yoga.
Lingam "signo". Símbolo de Shiva e do poder gerador masculino. O lingam não se relaciona apenas com a sexualidade, mas também com a força vital que se manifesta nas práticas. "O lingam é o signo distintivo que permite conhecer a natureza última das coisas." Shiva Purána, I:16, 106. A palavra deriva das raízes: lin, absorver, dissolver; e gam, produzir, penetrar profundamente, compreender. Inclui não apenas o falo, mas também a sua união com a vulva (yoni), que o rodeia na base. O lingam de fogo que Shiva cria para mostrar o seu poderio, cuja base busca infrutuosamente o javali de Vishnu nas profundezas de terra e seu cume no alto dos céus o cisne de Brahmá, é o próprio axis mundi, o eixo do mundo. Por isso, Vishnu aparece como o guardião da terra e Brahmá como o senhor do céu. O lingam não é símbolo de Shiva: ele é o próprio Shiva, criador e eixo da criação ao mesmo tempo. Madhyamárga "caminho do meio". Um sinônimo de sushumná nádí, o canal psíquico central, que corre ao longo da espinha dorsal. Maha "grande". Sufixo que precede algumas palavras, denotando importância. Mahabandha "grande contração". Um exercício de manipulação da força vital que consiste em associar uma posição sentada (descrita como o "meio lótus". Ver padmásana) à retenção respiratória (antar kúmbhaka), a contração dos esfíncteres (múla bandha) e a contração da língua (jihva bandha), fixando a atenção no canal sutil central (sushumná). Este exercício faz parar o fluxo prânico
pelos canais sutis ao abrir o canal central, favorecendo a concentração e o surgimento dos poderes paranormais (siddhis). Mahamudrá "grande selo". Faz-se pressionando o calcanhar esquerdo no períneo, mantendo a perna direita estendida e segurando com as mãos o pé direito. Associa-se a esta posição do corpo a contração da garganta (jalándhara bandha), fazendo retenção da respiração e, posteriormente, exalação lenta. Este mudrá proporciona longevidade, cura diversas doenças dos aparelhos digestivo e excretor e outorga poderes paranormais (siddhis) a quem o pratica. Mahapatha "grande senda". Um sinônimo de sushumná nádí, o canal axial do corpo sutil, que corre ao longo da coluna vertebral. Mahashúnya "grande vazio". Outro sinônimo de sushumná nádí. Mahasiddha "grandes seres perfeitos". Os oitenta e quatro mestres iluminados da tradição tântrica do norte da Índia, detentores dos siddhis. Mahavedha "a grande passagem". Na mesma posição do mahabandha, durante a retencao com os pulmões cheios (kúmbhaka), apoiam-se as palmas das mãos no chão para elevar o corpo sobre elas e em seguida deixa-lo cair sobre os ísquios. Repete-se este procedimento varias vezes, provocando uma série sucessiva de pequenos choques no prána do corpo. O mahavedha, junto com o mahamudrá e o mahabandha, formam uma tríade que deve ser repetida oito vezes por dia, a cada três horas.
Mahimam "magnificação". Poder paranormal que possibilita a expansão infinita. Maithuna "cópula", "matrimônio". Coito ritual em que os parceiros imitam a união cósmica entre Shiva e Shaktí. A prática, que deve concluir sem que os parceiros alcancem o orgasmo, nada tem de profano: emula-se a união sagrada dos princípios masculino e feminino, Shiva e Shaktí. A incompreensão do Tantra e o simbolismo que o transmite colaborou para considerá-lo repulsivo, vergonhoso e digno de escárnio. Porém, o maithuna não tem nada a ver com licenciosidade: muito pelo contrário, é um instrumento que revela a dimensão divinal da natureza humana. Entretanto, nos últimos tempos têm surgido mestres inescrupulosos que vendem sexo como se fosse superconsciência, o que acaba por divulgar e tornar conhecidas no Ocidente unicamente as formas mais vulgares e degradadas do Tantra. "Pelo próprio fato de não se tratar de um ato profano, mas de um rito, no qual os participantes não são mais seres humanos senão que estão 'desprendidos', como deuses, a união sexual não participa mais do nível kármico. Os textos tântricos repetem com freqüência o adágio: 'pelos mesmos atos que fazem com que muitos homens se queimem no inferno durante milhões de anos, o yogin obtém a salvação eterna.'(Indrabhúti, Jñánasiddhi, 15.) (...) O jogo erótico se realiza num plano transfisiológico, porque nunca tem fim. Durante o maithuna o yogin e sua náyiká (parceira) incorporam uma 'condição divina', no sentido de que não somente experimentam a beatitude, senão que podem contemplar diretamente a realidade última." Mircéa Éliade, El Yoga. Inmortalidad y Libertad, pp. 194, 197.
Mardala um tipo de tambor. Manipura "cidade da jóia". Centro de força situado na região lombar, na altura do umbigo. O bíja mantra deste chakra é Ram. Ele se relaciona com o elemento fogo (agni), com o sol e com o ar vital samána, o prána ígneo. Este lótus tem dez pétalas azuis, dentro das quais aparece um triângulo vermelho-alaranjado, representando a yoni. O manipura chakra determina indivíduos enérgicos, coléricos ou com disposição para a liderança. As latências subconscientes que correspondem ao centro do umbigo são: raiva, irritabilidade, fascinação, ódio, medo, timidez, crueldade, inveja, ciúme, apego cego, melancolia, letargia e ânsia de poder. Manomani avasthá estado de estabilidade da mente que sobrevém quando o prána se movimenta livremente por sushumná nádí. Para alcançar esse estado, vários exercícios de pránáyáma são indicados nesta obra. Mantra "instrumento do pensamento". No contexto aqui aludido (IV:113), o autor não está referindo-se a um mantra de poder ou de louvor, mas a uma fórmula de magia negra. Em outros contextos, um mantra é uma fôrmula sonora que produz vibrações sutis na consciência e possibilita a entrada em estados de meditação profunda. Os mantras são o melhor instrumento para limpar a mente e desintegrar os condicionamentos. No entanto, a repetição de um som não é um fim em si mesmo. Ela se faz em função do resultado: estabilidade do pensamento e expansão da
consciência. Enquanto os sons comuns são manifestações da Shaktí, o poder da natureza, os mantras são expressões concentradas desse mesmo poder, forças criativas que agem diretamente sobre a consciência. Matha "cabana", "mosteiro". Uma ermida ou outro lugar onde o yogi se recolhe para fazer suas práticas. O fato desta obra mencionar explicitamente que o local de prática não deve ter janelas evidencia o caráter secreto que possuíam as práticas de Yoga na época. Matsyendra "Senhor dos peixes". Um dos oitenta e quatro mahasiddhas da tradição tântrica, parece ter vivido por volta do século X da nossa era (embora alguns autores o situem no século V). É considerado o primeiro mestre de Hatha Yoga e fundador da confraria dos Nathas. Mestre do lendário yogi Gorakshanatha, é venerado como um deus até hoje no norte da Índia, no Nepal e no Tibet. Matsyendrásana "postura de Matsyendra". Consiste em colocar o dorso do pé direito na virilha esquerda e o pé esquerdo no chão, do lado de fora do joelho esquerdo. Segura-se o pé esquerdo com a mão direita, o tornozelo direito com a mão esquerda e torce-se o tronco olhando para trás, por cima do ombro esquerdo, mantendo as costas eretas. Este ásana é de muito difícil execução, mas existe uma outra variação muito usada que consiste em manter o dorso do pé direito apoiado no chão. Esse detalhe facilita enormemente a execução desta torção. Este ásana estimula apetite, cura diversas doenças e desperta o poder serpentino (kundaliní). Máyá
"aquilo que se move". A palavra máyá se traduz freqüentemente como ilusão. Porém, na filosofia Vedánta, o conceito de máyá é muito mais do que isso. Máyá deriva da raiz ma, que é medir. Máyá é o próprio movimento do Universo, a manifestação do Brahman. Apalavra máyá aparece por primeira vez no Rig Veda, VI:47,18, com o entido de poder sobrenatural ou artifício. Posteriormente, a Shvetáshvatara Upanishad, IV:10, desenvolve a teoria da máyá sobre esta idéia, cujos postulados propõe no seguinte trecho: "Deve saber-se que a Natureza é ilusão (máyá), que o Senhor Supremo (Maheshwara) é o Mágico (máyin) e que todo este universo está cheio de criaturas que são fragmentos dEle mesmo". Esse foi o início da doutrina da máyá, a impossiblidade de ver as coisas como elas realmente são, por conta da ignorância metafísica. A mesma idéia foi adotada milênios depois por Ádi Shankaracharya como um dos pontos de partida do pensamento vedântico. A palavra máyá também aparece como um dos nomes ou atributos da força da Natureza (Prakriti). Mayúrásana "postura do pavão". Exercício avançado de força e estabilidade que consiste em equilibrar-se sobre as palmas das mãos, sustentando o corpo com os cotovelos pressionando o abdômen e as pernas unidas e estendidas para trás. O corpo estendido e elevado desta maneira lembra a forma de um pavão com sua cauda. Donde, o nome da postura. Este ásana tonifica e estimula o aparelho digestivo e cura disfunções dos órgãos abdominais. Medhra "falo". Deriva da raiz mih, "fazer água" e do sufixo tra, "instrumento". Sinônimo de lingam. Meru o axis mundi dos mitos genésicos hindus. O monte Meru é uma
montanha fabulosa, considerada o centro do universo. Corresponde ao Olimpo da mitologia grega. Todos os planetas giram em torno dele, que é comparado à corola de uma flor de lótus gigante. O rio Ganges desce desde o céu até seu cume, a partir do qual se distribui nas quatro direções cardeais. Os regentes das quatro direções do quadrante ocupam as quatro faces da montanha, que é feita de ouro e gemas preciosas. O seu cume é a residência de Brahmá, e lugar de encontro de deuses, sábios (rishis) e espíritos aéreos (gandharvas). Em alguns textos de Yoga, a palavra meru ou merudanda é usada para designar a coluna vertebral. Moksha "libertação". Estado de descondicionamento em que a consciência transcende toda dualidade. Segundo Georg Feuerstein, "o evento da libertação, paradoxalmente, coincide com a constatação que libertação e condicionamento são meras construções conceituais e, portanto, não possuem uma significação definitiva". The Shambala Enciclopedia do Yoga, p. 187. Ver samádhi. Mudrá "selo", "gesto". Esta palavra tem dois significados diferentes dentro do Yoga. Por um lado, designa as posturas manuais, fonte de uma linguagem gestual e corporal que se origina na tradição tântrica e se utilizam também nas danças sagradas e no ritual hindu. Por outro lado, designa um grupo de técnicas similares aos ásanas. Neste sentido, um mudrá é uma atitude física, mental e psíquica que expressa e canaliza a energia do ambiente para o corpo e a mente. Muktásana "postura da libertação". Outro nome do siddhásana.
Mukti "liberado". Sinônimo de moksha. Múla "raiz". Múlabandha "contração da raiz". Um dos três fechos energéticos usados no Hatha Yoga. Consiste em fazer a contração dos esfíncteres do ânus e da uretra e a elevação do assoalho pélvico. Esta contração é acompanhada por um recolhimento sutil dos músculos do baixoventre e das nádegas. Revigora o sistema nervoso central, estimula a união do ar vital descendente (apána) com o ascendente (prána) e desperta o chakra básico (múládhára). Múládhára "suporte da raiz". Centro de força localizado na base da coluna vertebral, na base da espinha, região sacra. É nele que jaz adormecida a força psíquica potencial (kundaliní). Iconograficamente, se representa como um lótus vermelho de quatro pétalas. No centro dele, um quadrado cor de açafrão representa a prithiví, o elemento terra. Inscrito dentro do quadrado, um triângulo invertido avermelhado, o tripura, representa a yoni, o órgão sexual feminino, imagem da fecundidade. Em seu interior está o lingam, o falo, princípio criador masculino, que brilha como um diamante. Enroscada três vezes e meia em torno dele, jaz adormecida kundaliní, a energia latente, em forma de serpente. Este chakra relaciona-se com o ar vital descendente (apána). O som semente (bíja mantra) que ativa este chakra é Lam.
Mung um tipo de lentilha. Muni "silencioso". Um espiritualidade.
asceta,
representacao
da
mais
elevada
Múrcchá "desvanecimento", "vertigem", nome de um exercício respiratório. Inspire devagar e profundamente. Quando os pulmões estiverem totalmente cheios, pressione o queixo na base da garganta em jalándhara bandha, degluta saliva e contraia os esfíncteres em múla bandha. Retenha o máximo de tempo que você conseguir, esforçando-se para manter o kúmbhaka um pouco além do limite natural do seu conforto. Observe a sensação de vazio. Exale com controle e suavidade. Concentre-se em conseguir a mínima projeção de ar. Se for necessário, respire de forma espontânea durante alguns ciclos antes de reiniciar o exercício. Deve-se controlar a sensação de desvanecimento que acontece por causa da diminuição da taxa de oxigênio no sangue que irriga o cérebro e pela diminuição da pressão sangüínea provocada pelo jalándhara bandha. Múrcchá é indicado apenas àqueles praticantes que já tiverem um excelente grau de purificação e uma boa capacidade pulmonar. Para esses, recomendamos a execução de cinco a dez ciclos. Como cada ciclo pode ultrapassar os três minutos de retenção, esse número é suficiente para fazer uma boa prática. Efeitos: este pránáyáma limpa a consciência de pensamentos desnecessários e possui um efeito introversor, reduzindo as influências do mundo exterior que nos invadem através dos sentidos. Favorece a concentração mental. Pessoas com problemas cardíacos ou de pressão alta devem abster-se de fazê-lo.
Náda "som". Sonoridade, vibração sutil que se percebe quando as redes prânicas foram devidamente purificadas. Termo técnico do mantrashástra, a ciência do mantra. O náda não designa um som audível, mas se refere à qualidade de perceber a vibração supersutil, que é uma manifestação do Absoluto em forma de som (Shabdabrahman). É o som que o praticante percebe ao fazer a concentração chamada nádánusandhána, que consiste em 'fechar' as portas da percepção dos sentidos. Nádí "rio". As nádís são os canais do corpo sutil por onde flui a força vital (prána). Formam uma imensa e intrincada malha de correntes prânicas que vivificam o corpo físico. Contam-se ao todo setenta e duas mil, segundo textos clássicos. Destas, setenta e duas são importantes, e, dessas setenta e duas, destacam-se dez no transporte da força vital, sendo as três primeiras de relevância capital para o Yoga: ídá, pingalá e sushumná, situadas ao longo da coluna vertebral. As outras sete nádís são: gándhárí, que vai do centro do corpo sutil, chamado kanda, até o olho esquerdo; hastijihvá, que percorre um caminho similar, indo até o olho direito; púsha, que vai até o ouvido direito; yasháswiní, que finaliza no esquerdo; alambushá, terminando na boca; kuhú, nos órgãos sexuais; e shankiní, na região anal. Todas elas iniciam seu percurso no kanda e formam uma rede que distribui os "ares vitais" ou (váyus) pelo organismo. Nádí shodhana "purificação dos canais sutis". Pránáyáma de respiração alternada que visa a equalizar as polaridades da energia do corpo sutil, promovendo a purificação dos canais e os centros de força. Faz-se inspirando por uma narina e exalando pela outra, trocando de
narina com os pulmões cheios. Este respiratório é importantíssimo no Yoga, pois promove o bhúta shuddhi, a limpeza do corpo sutil, requisito preliminar e indispensável para as práticas mais avançadas. Sentado em uma posição firme e agradável, com as costas eretas e as mãos em jñána ou vishnu mudrá, esvazie por completo os pulmões. Obstrua a narina direita e inale pela esquerda. Retenha o ar nos pulmões. Feche a narina esquerda e exale pela direita. Aqui você completou um ciclo. Inspire por essa mesma narina e retenha o ar. Com eles cheios, troque de narina, expirando pela esquerda. Faça 20 ciclos, lembrando sempre que só deve trocar a narina em atividade com os pulmões cheios. Quando estiver desenvolvendo facilmente a mecânica do nádí shodhana acrescente o ritmo, começando com a proporção 1:1:1:0 (um tempo para inspirar, o mesmo tempo para reter o ar e o mesmo tempo para expirar). Depois, se estiver se sentindo bem dentro dele, poderá passar para os ritmos 1:2:2:0 (um tempo para inspirar, o dobro desse tempo para reter o ar e o dobro dele para expirar, sem reter a respiração com os pulmões vazios) e 1:2:2:* (um tempo para inspirar, o dobro desse tempo para reter o ar e o dobro dele para expirar, fazendo uma retenção livre com os pulmões vazios) e posteriormente, os de proporção 1:4:2:0 (um tempo para inspirar, o quádruplo desse tempo para reter o ar e o dobro dele para expirar, sem reter a respiração com os pulmões vazios) e 1:4:2:* (um tempo para inspirar, o quádruplo desse tempo para reter o ar e o dobro dele para expirar, fazendo uma retenção livre com os pulmões vazios), que são os mais potentes. O nádí shodhana kúmbhaka deve ser silencioso e agradável. Se em algum momento você sentir que está perdendo o fôlego ou que está ficando ofegante, deverá reduzir proporcionalmente a duração de cada fase até achar o tempo ideal para a sua capacidade pulmonar individual. Efeitos: este pránáyáma é ótimo para revigorar o sistema nervoso, melhorando o rendimento da pessoa no plano intelectual, mantendo a saúde do corpo de modo
geral e preparando-o para o processo de despertar da kundaliní através do seu efeito sobre as nádís. Os sinais visíveis desta purificação do corpo sutil são perfeito estado físico, pele suave e brilhante e muita energia. Nauli ou laulikí "rolamento". Uma das seis purificações (shatkarmas), que consiste em fazer uma auto-massagem abdominal, isolando o músculo reto, pressionando os órgãos internos contra a espinha dorsal e elevando ao máximo o diafragma, ao mesmo tempo em que se imprime um movimento ondulante à musculatura do ventre. Deve fazer-se com os pulmões vazios. Durante o nauli, o abdômen apresenta uma aparência côncava, ficando totalmente recolhido contra a coluna e para cima, enquanto que o músculo reto abdominal permanece projetado para frente, deslocando-se sinuosamente para a esquerda e para a direita. Neti uma das seis purificações (shatkarmas). Neti é a lavagem das fossas nasais. Segundo o Hatha Yoga Pradípiká, o neti se faz usando um cordão de aproximadamente 30 centímetros de comprimento. No Gheranda Samhitá, outro texto de Hatha Yoga, essa purificação recebe o nome de sútra neti (sútra significa cordão). Existe outra técnica similar, o jala neti, que consiste em fazer circular água entre as narinas ou delas para a boca, usando um pequeno bule chamado lota. O Gheranda Samhitá descreve também mais duas purificações das vias nasais: o dugdha neti, em que a lavagem se faz usando leite e o ghrita neti, no qual se aplica manteiga clarificada (ghee) com o dedo mínimo no interior das narinas. Os diferentes tipos de neti são ótimos contra males dos seios frontais e nasais, como sinusite, enxaquecas, rinites, corizas ou resfriados e ainda favorece a saúde das regiões cerebral, cervical e escapular.
Niralamba "sem apoio". Um grau de samádhi, chamado no Yoga Sútra asamprájñata samádhi ou iluminação supracongitiva. De acordo com Pátañjali, autor dos Sútras, o samádhi sem apoio é o último grau de iluminação. É o mais elevado estado de hiperconsciência, no qual o yogi atinge a condição de jívanmukta, liberado vivo, e penetra na essência do próprio Ser. Nishpatti avasthá "estado de maturidade". Segundo o Hatha Yoga Pradípiká, este é quarto e último grau na senda do Yoga. Nele, a consciência e a força vital uma vez tendo atravessado o rudragranthi, no ájña chakra, alcamcam a moradia de Íshvara, no alto da cabeça (sahásrara chakra). Nesse estado, desperta-se a experiência do som sutil (náda). Niyama "observância". As cinco prescrições de conduta do Yoga: purificação (shauchan), contentamento (santosha), esforço concentrado da vontade (tapas), estudo de si mesmo e das escrituras (swádhyáya) e consagração a Íshvara (Íshvara pranidhána). Estas atitudes cumprem a função de domínio sobre os cinco órgãos da percepção (jñánendriyas): olhos, ouvidos, nariz, língua e pele. O controle dos sentidos aponta à organização da vida pessoal do praticante. Om símbolo do hinduísmo e do Yoga, é o mais poderoso dos mantras, a representação sonora que simboliza a vibração primordial do Universo. É o som semente (bíja mantra) que ativa o ájña chakra. O Om é o mais importante de todos os mantras. Se diz que ele contém o conhecimento dos Vedas e se considera o corpo sonoro
do Absoluto (Shabdabrahman). O Om é o som do infinito e a semente que fecunda os outros mantras. A Mandúkya Upanishad começa dizendo que "o Om é o mundo inteiro. O passado, o presente, o futuro: tudo é o mantra Om". As escrituras contam que o mantra Om, amplificado na caixa de ressonância do vazio primordial, se propagou até criar o espaço e as galáxias. Segundo o Taittiriya Brahmana foi a vibração, o movimento, o que engendrou os primeiros ritmos no cosmos. O Om é formado pelo ditongo das vogais a e u, e a nasalização, representada pela letra m. Por isso é que, às vezes, aparece grafado Aum. Essas três letras correspondem, segundo a Maitrí Upanishad, aos três estados de consciência: vigília, sono e sonho: "este Átman é o mantra eterno Om, os seus três sons, a, u e m, são os três primeiros estados de consciência, e estes três estados são os três sons." (VIII). Padmásana "postura do lótus". Coloca-se o peito do pé direito sobre a virilha da perna esquerda e depois o pé desta encaixado no alto da outra coxa. A coluna permanece perfeitamente ereta, mas sem forçamento. Quem não conseguir dominar a posição poderá optar pela variação mais simples, chamada ardha padmásana, que consiste em colocar apenas uma das pernas encaixada na virilha da outra e esta por baixo, ao invés de por cima, como no caso do padmásana. Pápa "mal", "ação errônea". O conceito de pápa se opõe ao conceito de púnya, "ação meritória", ocupando ambos uma posição central na ética hindu. Já no Rig Veda, obra de 3000 a.C., existem muitos hinos para pedir perdão por ações erradas. A importância da ética no caminho espiritual não diminuiu com o passar do tempo, e na Bhagavad Gítá, obra bem posterior aos Vedas, vemos a importância de uma vida de virtude para ter resultados positivos na senda do Yoga: "Quem age sem o menor apego, depositando
suas ações em Brahman, não se macula com o mal, da mesma forma que a água não adere à folha do lótus". (V:10). E ainda: "Assim, consagrando-se sem cessar à meditação e permanecendo livre do mal, o yogi obtém sem dificuldade o infinito deleite da comunhão com Brahman" (VI:28). Paramapáda "caminho supremo". Uma forma de referir-se ao samádhi. Páramátman "Ser supremo". Eu Supremo ou Ser universal, oposto à alma (jívátman) ou ao psiquismo individual (jíva) Parameshvara "senhor supremo". Outro epíteto de Shiva. Parashaktí "energia suprema". Pode fazer referência tanto à manifestação do poder criativo da existência, personificada na Deusa Mãe, quanto à força psíquica potencial (kundaliní). Ver shaktí. Parichayávasthá "estado de acumulação". O terceiro dos quatro estágios na prática do Yoga. Nele, ouve-se durante a concentração um som como o do tambor. Ao ascender, a força vital (prána) alcança o ájña chakra e se vivencia a bem-aventurança espontânea (sahajánanda), que liberta o praticante da dor, do envelhecimento, das doenças, da fome e do sono. Segundo o Gheranda Samhitá, (III:60), este estado se caracteriza pela entrada do prána no canal central (sushumná) e se acompanha pelo despertar do poder serpentino (kundaliní shaktí). Paridhána
"movimento ondulante". Um sinônimo de nauli, a técnica de auto-massagem do abdômen através do isolamento do músculo reto abdominal. Párvatí "montanhesa". Um dos nomes ou manifestações da Deusa-mãe, esposa de Shiva. Paschimottánásana "postura de alongamento intenso das costas". Mais conhecido como "postura da pinça", o nome deste ásana deriva das palavras paschima, que significa ocidental (oeste, nesse caso, são as costas, pois se pratica ásana de frente para o leste, onde nasce o sol) e uttána, alongamento intenso. Um dos mais conhecidos exercícios de flexão no Yoga, consiste em segurar os pés ou os dedos maiores deles com as mãos, mantendo as pernas estendidas e aproximando a cabeça dos joelhos. O Shiva Samhitá (III:92) chama este exercício de ugrásana. Pátañjali codificador do Yoga Clássico (Ashtánga Yoga) e autor do Yoga Sútra. Todas as formas de Yoga que se praticam hoje em dia têm neste autor e sua obra uma referência obrigatória. De data incerta, especula-se que o livro tenha sido escrito entre os séculos IV a.C. e IV d.C., embora a data mais provável esteja situada entre IV e II d.C. O Yoga Sútra consta de apenas 196 aforismos que constituem um verdadeiro mapa - talvez o mais antigo - do psiquismo humano, que contém as instruções para chegar na essência e desenvolver o potencial oculto no homem. Os sútras estão divididos em quatro capítulos ou pádas: 1) caminho do samádhi (samádhi páda), 2) caminho da prática (sádhana páda), 3) caminho dos poderes psíquicos (vibhuti páda) e 4) caminho da libertação (kaivalya páda).
Pingalá "fogo", "vermelho". Canal de circulação da energia no corpo sutil, de polaridade positiva ou solar, e de cor vermelha. Simboliza a energia do sol, o fogo. É de natureza ativa, forte e ascendente. Transporta o ar vital de polaridade positiva, o prána. Nasce no kanda, centro do corpo sutil na região do baixo ventre, logo acima do múládhára chakra, e vai até a narina direita. Pingalá nádí se associa à extroversão, ação, energia, calor, atividade, masculinidade, objetividade, lógica analítica. Pitta "bílis". Um dos três constituintes básicos dos biótipos da medicina ayurvêdica, formado pela combinação dos elementos água e fogo. Está associado com as seguintes qualidades: calor, pungente, líquido, fogo. Alguns trabalhos de medicina ayurvêdica recomendam a execução de bhastriká pránáyáma para equilibrar o excesso de bílis no organismo. Pláviní "flutuante". Fazendo pláviní, a pessoa pode flutuar na água. Esta é uma forma inusual de pránáyáma, que raramente é ensinada e sobre a qual muito pouco foi escrito. Em posição de meditação, inspire pelas narinas e puxe o ar como se estivesse bebendo-o (no mergulho livre se faz um exercício muito similar, chamado "respiração da carpa", que possibilita longas apnéias). Retenha o alento pelo máximo de tempo que puder. Efeitos: pláviní é útil para eliminar a sensação de fome durante o jejum e em casos de acidez estomacal ou gastrites. Prákámyam "preenchimento dos desejos". Poder parapsíquico que consiste na capacidade de mergulhar na matéria sólida como se fosse líquida.
Prána "força vital", "energia". Este termo provém das raízes pra, intenso, que denota constância, intensidade; e na, movimento. De onde se conclui que prána é uma força em constante movimento ou vibração. A expansão da força vital ocupa um lugar central nas práticas do Hatha Yoga. Em todos os textos de Yoga o prána aparece sempre associado à força vital, energia e poder, porém, é preciso destacar que este termo possui dois aspectos: o cósmico e o individual. O prána cósmico abrange todas as formas de energia existentes: a matéria (dinâmica na vibração das suas partículas atômicas) e as forças elementais da Natureza (luz, calor, magnetismo, eletricidade, gravidade) são suas expressões tangíveis. No plano sutil também designa os cinco elementos que constituem a matéria (pañchatattwa). No plano humano, prána é o substrato energético que forma o nosso corpo tangível, regulador de todas as funções orgânicas e físicas. O volume de prána que circula dentro do corpo determina o grau de vitalidade de cada indivíduo. Extraímos essa bioenergia de diversas fontes: da luz e do calor do sol, dos alimentos que ingerimos, da água que bebemos, e, principalmente, do ar que respiramos. Ela circula no corpo pelas nádís, canais da fisiologia sutil. Ver váyu. Pránáyáma "expansão da força vital", exercícios respiratórios. O domínio e a expansão do prána começam pela execução de certos procedimentos que consistem em dar à respiração um ritmo diferente daquele que caracteriza o estado de vigília, visando a fazer com que ela flua de forma cada vez mais lenta e profunda. A razão disto é que existe uma relação muito estreita entre os ritmos respiratórios e os estados de consciência. Esta afirmação vai muito além da simples comprovação de que, por exemplo, a respiração de uma pessoa que está fazendo um esforço para concentrar-se
diminui o seu ritmo naturalmente, enquanto alguém submetido a uma situação limite respirará de forma superficial e agitada. A palavra pránáyáma deriva de dois termos sânscritos: prána, que significa alento, força vital, respiração, energia, vitalidade e ayáma, expressão que, segundo o dicionário Amarakosha, significa extensão, intensidade, propagação, dimensão. Pránáyáma, então, é o processo através do qual se expande e intensifica o fluxo da energia no interior do corpo. Prápti "atingir", a habilidade de expandir o corpo conforme a própria vontade. Pratyáhára "controle do alimento". Pratyáhára se traduz como abstração ou retração dos sentidos, e é a faculdade de liberar a atividade sensorial do domínio dos objetos exteriores: "Quando os sentidos já não estão em contato com seus próprios objetos e assumem a natureza da consciência, isto é prathyáhára. Assim obtém-se a total subjugação dos sentidos." Yoga Sútra, II:54-55. Constitui a quinta etapa do Ashtánga Yoga ou Yoga de Pátañjali. O termo pratyáhára está formado por duas palavras sânscritas: prati e ahára. Ahára significa comida ou algo que você coloca para dentro. Prati é uma preposição que significa contra ou fora. Pratyáhára então significa "controle do ahára", ou "ter controle sobre as influências externas". No Mahabhárata se compara o praticante de pratyáhára a uma tartaruga: "assim como a tartaruga recolhe seus membros sob a carapaça, da mesma forma o yogi retrai seus sentidos da influência dos objetos externos." Prithiví "aquela que se esparge". Um dos nomes de Kálí-Durgá, a DeusaMãe. Designa também o elemento terra.
Púnya "ação meritória". Virtude, bondade, bem. O fruto das ações ou volições (sankalpa) eticamente boas, que estão em consonância com o a lei universal (dharma). Nesse sentido, púnya opõe-se a pápa. Púraka "encher", "multiplicar". É a fase da inspiração. Sempre deve começar após uma exalação completa, expandindo o baixo ventre e a região abdominal para frente e para baixo, depois a região intercostal ou média e, finalmente, a parte alta do tórax, que deve elevar-se devido à ação dos músculos intercostais. A inalação no pránáyáma deve ser uniforme e contínua e, salvo exceções, será nasal, lenta, profunda, consciente, suave, completa e silenciosa. Rája "rei", "real". Rája Yoga "Yoga real". Nome do Yoga Clássico, codificado pelo sábio Pátañjali, também chamado Ashtanga Yoga, Pátañjala Rája Yoga ou ainda Seshwara Sámkhya. O Rája Yoga possui oito etapas: 1) yama, oito proscrições, que são: não violência (ahimsá), veracidade (satya), não roubar (asteya), não desvirtuar a sexualidade (brahmacharya), e não possessividade (aparigraha); 2) niyama, as cinco prescrições éticas: purificação (shauchan), contentamento (santosha), austeridade (tapas), estudo do Yoga e de si mesmo (swádhyáya); e consagração a Deus (Íshvara pranidhána); 3) ásana, posições psicofísicas; 4) pránáyáma, expansão da força vital através de técnicas respiratórias; 5) pratyáhára, faculdade de liberar a consciência da influência dos objetos exteriores; 6) dháráná, concentração em um só ponto com
o objetivo de limitar a atividade mental ; 7) dhyána, meditação contemplativa, que consiste em deter as flutuações da consciência através da sua saturação na contemplação de um objeto; 8) samádhi, iluminação. Rajas "atividade", "paixão". Um dos três gunas, princípios que definem por interação todo o existente. Também designa o sêmen viril, a descarga menstrual ou o fluido vital feminino ou fluxo menstrual. Ráma "aquele que traz luz, alegria e paz". Rei de Ayodhya, Ráma aparece como uma personagem histórica da dinastia Kosala, estando listado na cronologia dos Puránas. É considerado a sétima encarnação de Vishnu. Foi um rei tão justo que sua vida se transformou em mito. Conhecido pela coragem, compaixão e sabedoria, ele encarna o paradigma da fidelidade. O épico Rámáyána narra suas aventuras para resgatar sua esposa Sítá das mãos do demônio Rávana. Rechaka "exalação". A exalação é uma das fases da respiração yogi. contraindo vagarosa e controladamente a musculatura abdominal. Ao mesmo tempo, a musculatura intercostal se recolhe para dentro e para cima. Não se deve forçar excessivamente a expiração, a não ser em determinados exercícios específicos. O rechaka é sempre nasal, completo, uniforme e silencioso, quase sem deixar resíduos de ar dentro dos pulmões. Relaciona-se com a expansão do ser e com as formas que essa expansão adota. Rudragranthi "nó de Rudra". Terceiro obstáculo (granthi) à ascensão do poder
serpentino (kundaliní), localizado no ájña chakra, no intercílio. Este, assim como os outros granthis, é uma espécie de válvula de segurança para prevenir o despertar indesejado da energia kundaliní. Sádhana "meio de realização". Caminho espiritual que conduz à perfeição (siddhi); prática cotidiana de Yoga. Sahaja "espontâneo", "inato". A espontaneidade é uma expressão da realidade, e a iluminação, uma ferramenta que está sempre mais próxima do que se imagina. Sahaja é a capacidade de tornar realidade essa constatação, abrindo espaço dentro do ser para que a luz se manifeste. Sahajánanda "bem-aventurança inata". Estado que se conquista ao praticar o terceiro dos quatro estágios do Yoga (parichayávasthá). Sahajavastha "estágio de espontaneidade". Um sinônimo de samádhi. Sahajolí mudrá "gesto sahajolí". No Hatha Yoga Pradípiká, esta técnica consiste em esfregar a pele do corpo com uma mistura de cinzas de esterco de vaca com água após o intercurso sexual (maithuna). Outros textos especificam que sahajolí consiste em fechar a yoni até que esta aperte o lingam como uma mão, abrindo-o e fechando-o a gosto, como a mão da vaqueira - gopi - que ordenha uma vaca. Sahásrara chakra
"roda das mil petalas". Centro de armazenamento e distribuição da energia vital do alto da cabeça: "por cima de todos os outros (...) está o 'lótus das mil pétalas'. Este lótus, brilhante e mais branco que a lua cheia, tem a sua cabeça apontada para baixo. Ele encanta. Seus filamentos estão coloridos pelas nuances do sol jovem. Seu corpo é luminoso." Satchakra Nirúpana, 40. É chamado 'lótus das mil pétalas' a causa das 972 nádís que emanam dele. É nele que se experimenta a união final de Shiva e Shaktí, objetivo do Yoga e do Tantra; é aqui onde chega a kundaliní, após ter atravessado e ativado os outros seis chakras. Alguns textos não o consideram um chakra propriamente dito, pois ele manifesta-se somente após o despertar da kundaliní. Sahita "associado a", ou "acompanhado de". Sahita kúmbhaka é a retenção com pulmões cheios durante o pránáyáma que está relacionada com as fases da respiração, púraka e rechaka. É o tipo de retenção feita de forma consciente, com participação do esforço da vontade. O sahita pránáyáma divide-se em sagarbha e agarbha, conforme o exercício inclua repetição mental de mantra ou não. O segundo grupo inclui todos os exercícios feitos sem a repetição de mantra (manasa japa). Mas, quando o praticante atinge um certo domínio sobre os seus pensamentos, passa a desenvolver o sagarbha pránáyáma, que consiste em associar a prática do japa com a execução dos respiratórios. O japa poderá ajudá-lo na contagem de um ritmo (mátra), ou será feito acompassado com as suas próprias pulsações internas. Samádhi "iluminação". Objetivo final do Yoga. Mais do que um estado, o samádhi e uma "área de conhecimento" que abrange diversos graus de hiperconsciência. É a oitava e última parte do Ashtanga Yoga. Existem dois tipos diferentes de samádhi: com apoio e sem
apoio (sabíja e nírbíja). Quando se alcança este estado fixando a consciência em um ponto, a experiência recebe o nome de sabíja ou samprájñáta samádhi, "com semente" ou com apoio. O samádhi "sem semente" (nírbíja) ou asamprájñáta samádhi é o estado de conhecer, situado além do estado de ser, e se atinge quando não há mais referências externas para a meditação. Por isso o nome, "sem semente" ou "sem apoio". Quando desaparece a diferença entre contemplador e contemplado, o yogi alcança esse samádhi, em que se queimam todos os condicionamentos. Havendo o yogi conquistado a liberdade absoluta, havendo-se emancipado dos condicionamentos, havendo se absorvido no Ser e no Conhecer, ele é o que se chama jívanmukta, o liberado em vida. Como jívanmukta, ele não vive mais no tempo linear, mas no eterno presente. Samprajñata samádhi "iluminação com cognição". Uma das variedades do estado de iluminação, também chamada sabíja samádhi, que se exerce contemplando um objeto. Samskára as raízes profundas dos condicionamentos humanos, de caráter kármico e inato. São as tendências subconscientes, de caráter inato e hereditário. O samskára perpetua-se através das gerações por herança histórica, cultural, ou étnica, afetando todos os indivíduos. Sankalpa "construção mental". Resolução interior, técnica de mentalização utilizada para desenvolver, unificar e direcionar a força do pensamento. Nada tem a ver com auto-sugestão ou hipnose: consiste em concentrar a energia mental criado no plano dos pensamentos o objetivo que se deseje ver realizado em algum outro plano. A atividade rotineira dispersiva reduz
consideravelmente a capacidade de realização do indivíduo. Com a mentalização se unifica essa energia, criando um substrato psicológico favorável para que o objetivo aconteça. O sankalpa é uma frase curta, mas carregada de significação. Deve manter-se por dez a quinze sessões sucessivas de meditação ou de yoganidrá, e repetir-se pelo menos três vezes ao iniciar e três ao finalizar a prática. Devem ser poucas palavras, e sempre as mesmas, para fixá-las no pensamento: uma frase curta, do gênero "desperto a minha kundaliní", ou "lembro sempre que precisar". Deve ser positivo - por exemplo, "estou saudável" ao invés de "não estou doente". Deve conjugar-se sempre no presente. Se você pensar no futuro, nunca vai conseguir o seu sankalpa, porque a mente subconsciente só entende o presente. Como você deve estabelecer o seu sankalpa em função da sua necessidade, é preciso em primeiro lugar ver qual é essa necessidade. Para ter isso claro, nada melhor do que uma boa auto-análise, profunda e sincera, que sirva para identificar os rasgos mais da própria personalidade e detectar os erros mais graves cometidos nos últimos tempos. Feito isso, o sankalpa se estabelece com base nas atitudes opostas àquelas que se precisa eliminar. O sankalpa pode trabalhar nos níveis físico, vital, emocional ou mental, dependendo da sua necessidade. Exemplos de sankalpa: "confio em mim"; "tenho harmonia física e mental"; "o sucesso acompanha todos meus empreendimentos"; "desenvolvo o meu potencial". Satchitánanda "ser-consciência-beatitude". As três qualidades da alma. Ver átman. Sattva "equilíbrio", "leveza", "bondade". Um dos três gunas, princípios que interagem na manifestação da Natureza, formado pelo equilíbrio entre os outros dois, imobilidade e movimento (tamas e rajas).
Satya "verdade". Um dos cinco yamas, proscrições éticas do Yoga de Pátañjali. Satya, a verdade, consiste em fazer coincidir pensamentos, palavras e atos, o que deve entender-se como evitar a falsidade em todas suas formas, tanto nas relações do yogi com as pessoas, quanto dele consigo próprio. Satya é procurar sempre a verdade, independentemente de aonde essa busca possa nos levar. Shaktí "esposa", "energia", "poder". Nome da Deusa-mãe, consorte de Shiva. Na cosmogonia tântrica equivale à Prakriti, o princípio feminino, dinâmico e gerador. Shaktíchalana "sacudida da energia". Para que kundaliní abandone sua forma potencial, é preciso "chacoalha-la" e fazer bhastriká pránáyáma logo após. Esta técnica utiliza a força vital descendente, chamada apána, para provocar a ascensão de kundaliní. Sentado na posição do diamante (vajrásana, nesta obra, sinônimo de siddhásana), pressionam-se os tornozelos contra o "bulbo" (kanda), centro do corpo sutil, atrás do umbigo. Faz-se bhastriká kúmbhaka e contrai-se o "sol" (a região abdominal), estimulando desta forma a kundaliní durante uma hora e meia, até que ela entra no canal central (sushumná). Shambhaví mudrá "selo de Shambhaví (esposa de Shiva)". Dirige-se a atenção para o interior, mantendo-a num centro de força escolhido pelo praticante. O olhar está fixo num ponto exterior, sem movimento das pálpebras.
Shambu "nascido da paz". Outro nome do deus Shiva. Shantosha "contentamento". Um dos cinco niyamas, observâncias de conduta do Ashtanga Yoga. Santosha, o contentamento; consiste em cultivar um estado interior de permanente alegria, independentemente das circunstâncias externas. Shástra "repetição", "ciência". Escrituras sagradas dos hindus. Tratado ou conjunto de textos, revelados ou de autoridades das diferentes escolas filosóficas ou científicas. Shatkarma "seis ações". Designa os processos de purificação interna do organismo. O corpo precisa limpar-se através de exercícios que transcendem a noção de higiene fisiológica pura e simples. As técnicas de purificação mais importantes são o shatkarma e o shanka prakshálana. O shatkarma é um conjunto de seis técnicas de purificação descritas no Hatha Yoga Pradípiká: sopro do crânio brilhante (kapálabháti), fixação ocular (trátaka), isolamento do músculo reto abdominal (nauli), purificação das narinas (neti), lavagem estomacal (dhauti) e lavagem intestinal (vasti). Os três primeiros ajudam a purificar o organismo, mas trabalham também a energia e o pensamento. Os três últimos fazem a purificação interna de três partes do corpo. O objetivo destas purificações é equilibrar os três humores do corpo (doshas), que surgem da interação entre os cinco elementos: ar e espaço (vata), fogo (pitta) e água e terra (kapha). Cada técnica trabalha sobre uma área definida do corpo, não apenas purificando-o por fora, mas também - e principalmente - por dentro, promovendo a limpeza total do organismo, o bhúta shuddhi, indispensável para o
progresso na prática. Esse estado de purificação permitirá que a respiração e os fluxos prânicos circulem livremente. Shavásana "postura do cadáver". Posição de relaxamento faz-se deitando decúbito dorsal, com as palmas voltadas para cima (o que proporcionará uma melhor descontração dos ombros e braços), a cabeça, região cervical, costas e ombros bem apoiados no chão, e as pernas separadas uns três palmos, com as pontas dos pés voltadas para fora. Os maxilares se soltam, os lábios ficam unidos e os dentes separados. Shítalí "frescor". Neste pránáyáma a inspiração e feita pela boca e a expiração pelas narinas. Coloque a língua em forma de calha, deixando-a ligeiramente para fora da boca e pressionando-a com os lábios. Inale, fazendo o ar passar pela língua e sentindo o contato dele com a garganta, laringe e traquéia. Retenha durante um bom tempo, fazendo khecharí mudrá, a contração da língua, pressionando-a no céu da boca. Solte o ar vagarosamente pelas narinas e volte a inspirar pela boca, com a língua formando um canudo. Execute diversos ciclos. Efeitos: elimina o calor, a sede, a fome e as toxinas acumuladas no organismo. Melhora a digestão e acaba com a acidez estomacal. É indicado para ser feito durante o jejum, pois elimina as sensações de fome e de sede e refresca o hálito. Sítkárí "sibilante". Variação do shítalí pránáyáma, que possui efeitos semelhantes. É útil para aqueles que não conseguem colocar a língua em forma de calha. Deixe a boca entreaberta, os dentes semicerrados e a ponta da língua tocando o palato na junção deste com os dentes incisivos. Inale pela boca, sentindo o ar entrando e refrescando o interior do corpo. Mantenha os pulmões cheios pelo
tempo que lhe for possível, sentindo conforto e evitando exageros. Exale devagar, não retenha a respiração com os pulmões vazios e inicie em seguida uma nova inspiração. Não esqueça: apenas a inalação é feita pela boca, a exalação deverá ser sempre feita pelas narinas. Efeitos: os mesmos que no shítalí pránáyáma: elimina a fome, a sede, o cansaço, o sono e a indolência. Outorga beleza e vigor ao praticante. Shiva "benfeitor". Criador mítico do Yoga e arquétipo do praticante. É o patrono das artes, da filosofia e dos empreendimentos intelectuais. Na cosmogonia do tantrismo corresponde ao Purusha do Sámkhya, o Si, o princípio da consciência criadora. Nele se encontram todos os aspectos contraditórios da natureza humana (talvez pudéssemos afirmar o contrário; as contradições dos humanos são espelho das de Shiva). É Pashupati, senhor das feras, Natarája, senhor da dança, Bhairava, destruidor de demônios, Dakshinamurti, o Mestre perfeito, Mahadeva, o yogi nu, Ardhanaríshvara, o hermafrodita. Na mitologia purânica aparece como o dançarino cósmico, marcando com seus movimentos o ritmo do Universo manifestado. Shloka "hino", "verso". O estilo literário em que está redigido o Hatha Yoga Pradípiká. Shmashana "campo crematório". No contexto desta obra, shmashana é uma forma de designar o canal central da energia sutil que sobe ao longo da espinha (sushumná nádí). Shodhana "purificação". Ver nádí shodhana.
Shúnya ou shúnyata "vazio". No Hatha Yoga Pradípiká, o mais alto estado de samádhi é descrito como sendo vazio e pleno ao mesmo tempo (shúnyapúrna), o estado em que desaparecem as noções de tempo e espaço. O termo shúnyata também define a parada do alento com os pulmões vazios. Shúnyapadavi "caminho do vazio". Uma forma de referir-se ao canal central (sushumná). Shúnyashúnya "vazio no vazio". Um sinônimo de samádhi. Siddha "ser perfeito". Yogi realizado, mestre iluminado, detentor de poderes paranormais (siddhis) pertencente à linhagem dos mahasiddhas. Ver mahasiddha. Siddhásana "postura perfeita". É a posição clássica de meditação. Pressiona-se o calcanhar direito contra a base do períneo, entre o sexo e o ânus. A outra perna fica pela frente, os joelhos bem separados e baixos, e as costas eretas. É a posição mais adequada para fazer práticas visando ao despertar de kundaliní e dos poderes paranormais (siddhis). Siddhi "perfeição". Os siddhis são poderes paranormais que advêm como resultado do samádhi. O praticante adquire então a qualidade de penetrar em áreas da consciência e da realidade que são habitualmente inacessíveis. Ao fazer meditação sobre um objeto, o
yogi assimila o siddhi, o poder inerente a ele. Esses poderes são formas diferentes de se relacionar com as leis naturais, que visam a estimular o praticante, desenvolvendo confiança no método, para assim atingir a liberação final. Ao todo, o sábio Pátañjali menciona oitenta e quatro poderes parapsíquicos que surgem ao longo do caminho para a iluminação, e que o yogi adquire ao progredir na prática. Simhásana "postura do leão". Para fazer simhásana, sente sobre os calcanhares, inspire profundamente e exale pela boca, abrindo-a bem e arregalando os olhos, deixando que o ar saia desde o baixo ventre. Ao mesmo tempo projete os braços para frente, com as mãos crispadas em forma de garra e o tronco inclinado levemente adiante. Faça isto várias vezes. Este exercício é muito útil para desfazer o gesto estereotipado, a máscara de tensão facial que geralmente mostramos de forma inconsciente ao relacionar-nos com o mundo. Aliás, a palavra personalidade deriva do grego, personna, que significa justamente máscara. Soma chakra centro de força situado na testa, acima do ájña. Corresponde ao terceiro olho. Este chakra tem a forma de uma lua crescente branca e brilhante, dentro de um lótus de doze pétalas luminosas. Sobre a lua está Kámadhenu, a vaca sagrada, que é a fonte do néctar (somarása) e o veículo do chakra. É de cor branca, com cabeça de corvo, pescoço de cavalo, rabo de pavão e asas de cisne. Acima de Kamadhenu estão Shiva e Shaktí, em união sagrada (maithuna), sobre um triângulo invertido, dentro de um lótus vermelho de oito pétalas. Shiva aparece como o yogi que sublima e domina a energia sexual (úrdhvaretas). Shaktí não está mais na forma de serpente, como no múládhára chakra, mas,
havendo ascendido através de sushumná nádí, aparece como yoginí. A união de ambos produz o samádhi. Somarása "extrato". Somarása ou soma é o néctar lunar, também chamado amrita, que significa imortal. É um fluido interno sutil segregado pelo corpo como resultado das práticas espirituais, considerado a seiva da imortalidade. Esta obra indica a técnica chamada khecharí mudrá para experimentar o sabor do néctar lunar. Sri Gurunatha "senhor mestre". Ver guru. Sthiti "estabilidade". Estado de firmeza mental que se conquista com o aperfeiçoamento da concentração. Súrya "sol". Súrya é o deus vêdico solar, também chamado Savitar, criador do Universo. Em tempos mais recentes, seu culto foi sendo gradativamente substituído pelo de Vishnu. Súrya atravessa os céus numa carruagem puxada por um cavalo de sete cabeças, ou por sete cavalos, guiados por Aruna, deus da aurora. Com suas quatro mãos leva uma flor de lótus, o disco ígneo (chakra), a trompa de caracol (shankha) e faz o abhaya mudrá, gesto de afastar o medo. Súryabheda "atravessar o sol". Neste exercício, o prána entra por pingalá nádí, a nádí solar. Sente em uma posição de meditação: padmásana, siddhásana ou outra, preparando-se para o exercício. Com a mão direita em jñána mudrá (polegar e indicador unidos), obstrua a narina esquerda. Inale lenta e profundamente pela narina direita.
Quando os pulmões estiverem cheios, pressione o queixo contra a base da garganta, fazendo jalándhara bandha. Simultaneamente, execute o múla bandha, elevação do assoalho pélvico. Após a retenção, encerre as contrações, coloque a cabeça na posição vertical e exale de forma controlada pela narina lunar (esquerda). Inicie um novo ciclo, inspirando sempre pela narina solar, exalando pela lunar. Continue respirando desta forma durante quinze a vinte ciclos. Efeitos: estimula o sistema nervoso simpático, aumenta a temperatura interna do corpo, melhora a digestão e limpa os seios nasais. Sushumná nádí central, o mais importante canal do corpo sutil, no interior da espinha vertebral. Ela é, segundo as escrituras, "a bem amada dos yogis", a suprema. Possui a natureza do fogo e está inativa, entrando em funcionamento apenas no momento do despertar da kundaliní. Origina-se no múládhára chakra, indo até o sahásrara , no alto da cabeça. Está formada por três camadas concêntricas: sushumná é a camada exterior, vajra ou vajriní a camada intermediária, e chitriní a interior. Sushupti "sono". Um dos quatro estados de consciência. Sushupti corresponde ao sono profundo. Ver avasthá. Svádhyáya estudo de si próprio e das escrituras. Um dos cinco niyamas, prescrições éticas do Yoga de Pátañjali. Abrange não apenas o autoconhecimento através da reflexão sobre a sabedoria das escrituras (shástras), mas também a aplicação prática desse conhecimento. O swádhyáya alarga os horizontes do intelecto, enriquece e estimula a prática. Diz o Vishnu Purána (VI:6.2): "do estudo deve-se passar ao Yoga. Do Yoga deve-se passar ao estudo.
Pela perfeição no estudo e no Yoga, a Consciência Suprema se manifesta. O estudo é um olho com o qual o Ser se percebe. O Yoga é o outro." Svapna "sonho". Um dos quatro estados de consciência. Ver avasthá. Svastikásana "postura auspiciosa". Swástikásana se faz colocando o pé direito por baixo do outro, mas sem pressionar o períneo como quando se faz siddhásana. O peito do pé esquerdo fica sobre a panturrilha direita. Os pés ficam por dentro das articulações dos joelhos e a espinha permanece bem ereta, evitando assim a pressão sobre os órgãos internos. Esta posição é uma das mais confortáveis para os iniciantes. Svátmáráma mestre de Yoga do século XIV d.C. e autor do Hatha Yoga Pradípiká. Embora suas referências sejam Matsyendra e Goraksha, da linhagem dos mahasiddhas do norte da Índia, não estudou pessoalmente com eles pois pertence a uma geração posterior à desses nathasiddhas. Takshaka "cortante". Uma serpente venenosa. Tamas "imobilidade". Inércia, Um dos três gunas, os atributos da Natureza definem através da sua inter-relação o mundo manifestado. Ver guna. Tantra "tecido". A palvra Tantra pode ser traduzida como 'espargir o
conhecimento'" ou "a maneira certa de se fazer qualquer coisa". É o nome de um movimento filosófico, matriarcal e sensorial que empresta suas principais premissas ao Yoga e ao Sámkhya, herança e patrimônio da cultura do rio Indo. O culto da Grande Mãe está presente na Índia desde o neolítico (8000 a.C.), mas os mesmos símbolos que o tantrismo utiliza hoje remontam ao paleolítico (20000 a.C.) e estiveram sempre presentes ao longo do continente eurasiano. O Tantra assimilou e organizou os rituais da Magna Mater, transformando-os num método de emancipação que busca na psique humana a manifestação da força divina da Shaktí. Este movimento teve uma forte influência sobre a religião, a ética, a arte e a literatura indianas, havendo ressurgido com inusitada força entre 400 e 600 d.C., quando chegou a transformar-se numa moda que acabou por influenciar nos modos de pensar e agir da sociedade indiana medieval. Aqui ela se afirma, populariza e estende ainda mais, dando origem a um grande número de correntes e manifestações filosóficas, religiosas, mágicas e artísticas, algumas antagônicas. "Não se trata de uma religião nova, senão de uma nova caracterização de fatos que pertencem ao hinduísmo comum, mas que, às vezes, só se apresentam precisamente em suas formas tântricas. Percebe-se o selo do tantrismo na mitologia e na cosmogonia, mas, principalmente, no ritual. O gérmen se remonta com freqüência aos Vedas, especialmente ao Atharva Veda, que pode considerarse um hinário pré-tântrico." Jean Renou, El Hinduismo, p. 89. Tapas "calor". Auto-superação, mérito, dever. Um dos cinco niyamas do Yoga Clássico. Tapas (da raiz tap, produzir intenso calor, tornar-se ardente) é ascese, disciplina, ou esforço concentrado da vontade. Consiste em transcender pela força de vontade as limitações naturais fazendo jejum, mauna ou enfrentando certas provações que o próprio praticante se impõe, mas que não são
necessariamente fisiológicas. Segundo Pátañjali, tapas "produz a destruição das impurezas, o que conduz ao aperfeiçoamento da sensibilidade corporal". Yoga Sútra, II:43. É uma das práticas mais arcaicas do Yoga, documentada no Rig Veda (X:136), o texto mais antigo do hinduísmo onde, há mais de 7000 anos atrás, um hino nos dá a primeira descrição de ascetas yogis. O objetivo desse esforço sobre si próprio é atingir um estado de purificação que permita ao indivíduo tomar posse do seu corpo, indo além dos limites impostos pela percepção limitada da realidade. "Uma linguagem que não fira, verídica, amigável e benéfica, o estudo regular das escrituras, tal é o tapas da palavra. A serenidade e clareza de espírito, a doçura, o silêncio, o autodomínio, a total purificação do caráter, tal é o tapas consciente." Bhagavad Gítá, XVII:15-16. Tattva "princípio". Na cosmogonia Sámkhya os tattvas, que são vinte e quatro, determinam os diferentes níveis em que se articula a manifestação de Prakriti, a Natureza: "Os tattvas impregnam todo o universo e o nosso corpo-mente. São emanações de luz e som criadas pelas diferentes freqüências de vibração da energia e suas propriedades são inerentes aos átomos e células do corpo físico." Danilo Hernández, Claves del Yoga, p. 74. Trátaka "fixação". Uma das seis ações (shatkarma). O tratáka é o grupo de exercícios de fixação ocular, que servem para limpar e tonificar os músculos e nervos ópticos, assim como para descansar a vista. O trátaka desenvolve força de vontade e intuição e favorece a meditação. Consiste em fixar firmemente o olhar em um ponto ou em fazer certos movimentos de rotação, alongando músculos e nervos ópticos. Neste sentido, podemos dizer que os trátakas são ásanas feitos com os olhos.
Turíya ou turíyávasthá "quarto estado". O Yoga conhece quatro estados bem diferenciados de consciência, além do samádhi: a consciência habitual, o sono, o sonho e o turíya, anterior à iluminação. Sobre esse quarto estado nos dizem as escrituras: "há algo para além da nossa consciência e que habita em silêncio nela. É o supremo mistério que ultrapassa o pensamento. Apoiai a vossa consciência e o vosso corpo sutil nesse algo e não o apoieis em nenhuma outra coisa". Maitrí Upanishad, VI:19. O estado de turíya não é difícil de ser alcançado: desde as primeiras experiências profundas de pránáyáma ou meditação é possível vivenciá-lo. Ver avasthá. Udara "barriga". Inchaço da região abdominal. Uddiyana "vôo para cima". técnica de massagem dos órgãos internos, pressionando a parede abdominal contra a espinha e elevando ao máximo o diafragma. O uddiyana bandha possui duas variações: rajas e tamas, conforme se faça imprimindo um movimento ondulante à parede abdominal ou mantendo a contração estática. O movimento não é apenas para dentro, mas também, e principalmente, para cima. A variação usada durante os respiratórios é a estática, tamas uddiyana bandha, com as costas eretas e as mãos em jñána mudrá. O uddiyana bandha estimula os músculos cardíacos, tonifica os órgãos abdominais, favorece o peristaltismo, normaliza a secreção do suco gástrico e elimina toxinas e disfunções dos aparelhos digestivo e excretor: gastrite, dispepsia, constipação intestinal e distúrbios biliares. No plano sutil, este exercício ativa a circulação e favorece a união dos ares vitais prána e apána. Eis aqui uma metáfora: os "grandes pássaros", os alentos vitais, "voam" através de sushumná nádí, na direção do
sahásrara chakra, por isto, chama-se a este exercício "vôo ascendente". Ujjáyí "respiracao vitoriosa". Embora seja descrita nesta obra como uma técnica específica de pránáyáma, esta respiração acontece espontaneamente em estados de concentração e meditação profunda. A técnica é muito simples. Sente-se em qualquer posição de meditação, com as costas eretas. Coloque as mãos em jñána mudrá e, com os olhos fechados, comece a fazer a respiração completa, contraindo levemente a glote e fazendo com que o ar flua com uma certa pressão. Essa contração deve produzir um som suave e contínuo, baixo e uniforme como um sussurro. Sinta o ar como se estivesse entrando diretamente pela garganta. Acrescente o ritmo da sua preferência e faça vários ciclos, evitando sempre produzir uma fricção excessiva nas vias respiratórias. Se você tiver dificuldade para sentir este som, faça-o algumas vezes com a boca aberta, exalando devagar. Efeitos: aumenta a temperatura e o calor corporal, normaliza o funcionamento da glândula tireóide e do sistema endócrino, protege contra doenças e estimula as funções intelectuais. Unmani avasthá "estado de exaltação". Também chamado no Hatha Yoga Pradípiká manomani, "exaltação da mente". Última etapa do caminho do Yoga. É o mesmo que o estado de iluminação que Pátañjali chama nirvikalpa samádhi. Uttánakúrmásana "postura da tartaruga elevada". Partindo da postura kukkutásana, com as pernas cruzadas em lótus e os braços encaixados nos interstícios dos joelhos, colocam-se as mãos nos lados da cabeça e deixa-se que o corpo role para trás, ficando como uma tartaruga
virada de costas. No segundo estágio da postura, permanece-se em equilibro sentado sobre os ossos ísquios, com as mãos segurando ainda a cabeça, as orelhas ou os ombros. Esta posição também recebe o nome de garbhapindásana, "postura do embrião". Vairágya "desapego". Vairágya é o desapego do fruto das ações: "quando a mente perde todo desejo pelos objetos vistos ou imaginados, adquirindo um estado de domínio e desprendimento." Yoga Sútra, I:15. Vajrásana "postura do diamante". No Hatha Yoga Pradípiká e no Gheranda Samhitá, vajrásana é outro nome do siddhásana. Hoje em dia, esse nome utiliza-se em algumas escolas para designar a postura de meditação que se faz sentando sobre os calcanhares, com as mãos no colo ou nos joelhos. Vajrolí mudrá "gesto adamantino". No Hatha Yoga Pradípiká, vajrolí define a técnica de reabsorção seminal no final do intercurso sexual e, junto com este, os fluidos vitais femininos. Prescreve-se igualmente uma variante especial para mulheres desta reabsorção dos fluxos vitais. Vásaná "perfume", "desejo". Impressões ou "sulcos" subconscientes, tendências que condicionam o homem. O cheiro que uma flor deixa em um pano é a vásaná dessa flor. Mesmo depois de retirála, o cheiro ainda está lá. As vásanás constituem um colossal obstáculo para o meditante, pois a vida subconsciente é um fluxo constante de impressões latentes que dão corpo às propensões mentais. Para poder atingir o estado de cessação vrittis
(chittavritti nirodhah), objetivo do Yoga, é necessário aniquilar essas tendências através da concentração, da meditação e da auto-análise. Váshitvam "mestria", controle sobre os cinco elementos materiais (pañchatattwa ou mahabhúta): terra, água, fogo, ar e espaço. Vasistha lendário sábio (rishi) e mestre espiritual do rei de Ayodhya, Ráma, a quem instrui sobre Yoga e dharma na obra Yoga Vasishtha, escrita na forma de um diálogo filosófico entre ambos. Vasti lavagem que inclui dois métodos para a purificação dos intestinos: um feito com água, jala vasti e outro com ar, sthala vasti. Jala é água. Jala vasti é a lavagem dos intestinos usando um clister com capacidade para dois litros de água. Esta deve ser mineral, morna e salgada, em proporção igual à utilizada no jala neti. Assimilamse dois litros de água pelo reto. Executa-se uma posição de inversão até sentir forte vontade de evacuar. Este processo deve ser repetido até que a água saia bem clara. A prática de jala vasti aumenta a saúde de um modo geral, o vigor físico e a imunidade. Sthala vasti se faz ficando em viparíta karanyásana, a variação mais simples da invertida sobre os ombros, com as costas em um ângulo de 60 graus em relação ao chão, se trazem os joelhos até o peito. Nesta posição, puxa-se ar pelo reto, provocando o vazio no abdômen através do nauli ou do uddiyana bandha. Após alguns minutos, expele-se fazendo diversas contrações abdominais. Váta "ar", "vento". Um dos cinco elementos materiais (pañchatattva). Às vezes, esta palavra aparece como sinônimo de prána. Também
designa um dos três humores corpóreos (doshas) do sistema ayurvêdico, que possui qualidades como secura, frescor e mobilidade. Váyu vento, o elemento ar. No Rig Veda, Váyu é o deus do vento. Shrí Aurobindo escreveu: "Váyu é o senhor da vida. Os místicos antigos consideravam a vida uma força que abrangia toda a existência material e era ao mesmo tempo a condição de todas suas atividades. Esta idéia foi posteriormente formulada no conceito do prána, o sopro vital do universo." On the Veda, p. 323. Por outro lado, os váyus ou pránas, chamados "ares vitais", são os diferentes comprimentos de onda que assume a força vital, de acordo com a direção predominante de sua circulação. Conforme vai distribuindo-se pelo corpo, essa energia se modifica, adaptando-se às funções de cada órgão vital ou região particular. A fisiologia do corpo sutil menciona dez "ares vitais". Os cinco mais importantes são: prána, apána, samána, udána e vyána. Regulam a distribuição da vitalidade dentro do organismo e são responsáveis pelas funções fisiológicas. Essas funções são respectivamente a inspiração (prána), a expiração e os processos de excreção (apána), a vitalização dos órgãos internos (samána), a deglutição e a força muscular (udána) e a tonificação do sistema nervoso (vyána). Os outros cinco pránas estão vinculados como o corpo físico denso e são: nága, kúrma, krikara, devadatta e dharañjaya. Cada um regula uma das funções orgânicas externas: eructar, pestanejar, espirrar, bocejar e fazer sons. O náda váyu dá lugar ao estado de vigília, o kúrma provoca a visão, o krikara aciona os mecanismos da fome e da sede, o devadatta o bocejo e o dharañjaya abrange o corpo inteiro e não o abandona nem mesmo após a morte. Veda
"aquilo que foi visto". Os Vedas são a forma de literatura mais antiga da Índia e da Humanidade: são textos sânscritos revelados que constituem o embasamento da tradição hindu. Os Vedas são quatro livros: Rig, Yajur, Sama e Atharva. Foram compostos mais de 4000 anos antes da nossa era. Estes hinos litúrgicos aparecem escritos na forma da mais fina poesia e mostram, entre outras coisas, as crenças, costumes e formas de vida deste povo, incluindo fórmulas mágicas, encantamentos e orações dirigidas às forças da Natureza, encarnadas nos deuses vêdicos. Constituem uma excepcional obra literária de inusitada profundidade, que contém em forma embrionária todas as formas de pensamento que abalizaram a Índia ao longo da História, dando origem ao brahmanismo e, posteriormente, ao hinduísmo, incluindo o Yoga. Víná um instrumento musical de corda, similar porém mais antigo que o sitar. Vindunatha um dos mestres iluminados (nathasiddhas) da tradição tântrica. Viparítakaraní "atitude invertida". Muito embora pelas parcas instruções técnicas sobre este exercício dadas no Pradípiká e no Gheranda Samhitá, possa inferir-se que esta é a postura sobre a cabeça, há consenso entre os comentaristas e tradutores destas duas obras no sentido de associar este nome com a variação fácil da inversão sobre os ombros (sarvangásana). Essa variação consiste em apoiar o peso do corpo mais nos ombros e braços do que no pescoço e na parte posterior da cabeça, facilitando assim a permanência e a respiração no exercício. A técnica de execução, nesse caso, seria a seguinte: deitado de costas, com os braços ao longo do corpo, inspire e eleve as pernas unidas e estendidas até a verticalidade.
Continue inspirando e eleve agora o tronco, vértebra por vértebra, até manter as pernas e o tronco formando um ângulo de 90 graus. O tronco, por sua vez, permanece em um ângulo de aproximadamente 45 graus em relação ao solo. Permaneça pelo menos por 30 respirações lentas e pausadas nesta postura, e compense-a em seguida fazendo matsyásana, a postura do peixe: deitado no chão, eleve o tórax e mantenha apoiados o cóccix, a parte alta da cabeça e os cotovelos no solo. Respire assim durante pelo menos a metade dos ciclos respiratórios que você permaneceu na posição anterior. Este exercício se apresenta como uma panacéia capaz de curar todas as doenças. Vírásana "postura do herói". Posição de meditação que tem uma descrição pouco clara tanto no Pradípiká quanto no Gheranda Samhitá. Alguns comentaristas afirmam que vírásana é outro nome da postura do lótus (padmásana). Outros, fazendo uma interpretação literal, chegam a uma postura totalmente diferente daquela. Em algumas escolas esta postura se faz sentando sobre os calcanhares, com os joelhos unidos e as mãos no colo ou nos joelhos. Vishnu "aquele que está em todas partes". Na mitologia purânica, Vishnu é o deus conservador e sustentador da criação. Ele é benigno, embora não lhe faltem os aspectos terríveis. Ostenta quatro atributos: o disco ígneo (chakra), arma de guerra e símbolo de poder, a flor de lótus (padma), a trompa de concha (shankha) e o bordão (gada). Vishnu, que durante o período vêdico foi uma deidade secundária, adquire cada vez maior prestígio durante o classicismo hindu. Seu ciclo é um dos mais complexos do hinduísmo, o que mostra sua popularidade. Os avatáras ou encarnações de Vishnu são dez: Matsya, o deus-peixe que resgata o legislador Manu do dilúvio; Kúrma, o deus-tartaruga, que serve
de pivô no episódio da batida do mar de leite, do qual surgirão o elixir da imortalidade (amrita) e outros tesouros ; Varáha, o deusjavali que resgata a terra do fundo do oceano primordial; Narasimha, o deus-homem-leão, matador do demônio Hiranyakáshipu; Vamana, o deus-anão que resgata o universo das mãos do demônio Bali; Parashuráma; o restaurador das castas na guerra entre sacerdotes e guerreiros; Ráma, rei de Ayodhya, modelo exemplar do legislador; Krishna, que aparece como cocheiro de Arjuna, na batalha de Kurukshetra, narrada no Mahabhárata; Buddha, restaurador do dharma e Kalki, o homemcavalo que construirá uma nova era de ouro sobre as cinzas da atual era de ferro. Vishnugranthi "nó de Vishnu". "Nó" energético (granthi), situado no chakra do coração (anáhata). Ver granthi. Vishuddha chakra "grande purificador". Centro da força vital localizado no plexo laríngeo, na região da garganta. É da cor púrpura, e possui dezesseis pétalas carmim. No seu pericarpo, um círculo branco, resplandecente como a lua cheia, representa o elemento éter (ákásha), inscrito em um triângulo invertido da mesma cor. No seu centro vibra o mantra Ham. "O yogi, com a mente fixa constantemente neste lótus, com a respiração controlada mediante o kúmbhaka, em sua ira, é capaz de mover a totalidade dos três mundos." Satchakra Nirúpana, 31A. Vyoma chakra "chakra etérico". Segundo a obra Siddha Siddhánta Paddati, atribuída a Gorakshanatha, este é o nono centro psicoenergético, situado na confluência de ídá e pingalá nádí, na região da garganta. A técnica mais adequada para despertar este centro de
força é khecharí mudrá. Este ponto do corpo sutil é chamado também triveni, sangam ou ákasha chakra. Yama "restrição". Os yamas são as cinco proscrições: não usar nenhum tipo de violência (ahimsá); falar a verdade (satya); não roubar (asteya); não desvirtuar a sexualidade (brahmacharya); e não se apegar (aparigraha). Esses "refreamentos" pretendem purificar o yogi, aniquilar a subjetividade advinda do egocentrismo e preparálo para os estágios seguintes. Desempenham o controle dos impulsos naturais, que se manifestam através dos cinco órgãos de ação (karmendriyas): braços, pernas, boca, órgãos sexuais e excretores. Yamin "aquele que coloca os yamas em prática". Ver yama. Yamuná rio sagrado do Norte da Índia, afluente do Ganges. Este rio é considerado uma deidade feminina, filha do Sol (Súrya) e irmã do deus da morte (Yama). Na correlação que existe entre micro e macrocosmos, esse rio está associado ao canal sutil solar e à narina direita (pingalá nádí). Yantra "instrumento que serve para reter". Símbolo ou diagrama utilizado na prática de meditação. Etimologicamente deriva das raízes yan, reter, restringir, controlar; e tra, instrumento, artefato. É o eqüivalente gráfico do mantra. Diz-se que o mantra é a alma do yantra. Os yantras são símbolos ou diagramas que encerram nas suas linhas os princípios do tantrismo e do Yoga, e que falam diretamente ao Eu profundo; imagens do macrocosmos que se refletem no microcosmos. Constituem excelentes imagens para
meditação, embora sejam também utilizados na magia popular hindu para fazer invocações. A rigor, yantra é qualquer diagrama geométrico traçado com a finalidade específica de servir como suporte para meditar. Podem-se utilizar para a prática desde figuras simples, como o triângulo, o quadrado ou o círculo; símbolos como a imagem da lua, o sol ou uma chama; até outras infinitamente mais intrincadas e labirínticas, como os yantras do culto Shrívidyá. Yatna "esforço". É a essência da prática, sinônimo de abhyása, "prática diligente". O yatna é uma das qualidades mais importantes do praticante, pois não pode haver progresso sem esforço concentrado e disciplina. Yoga "união". O Yoga é uma filosofia prática que nasceu na Índia milênios atrás. A palavra deriva da raiz sânscrita yuj, que significa literalmente unir, integrar. O objetivo do Yoga é transformar o homem, conseguir a experiência definitiva da liberdade humana: a fusão entre o Ser e o Conhecer. Dizem as escrituras que o caminho do Yoga começa "quando o homem consegue quebrar a prisão das suas misérias." O Yoga parte da condição humana desamparada, nua e crua e tem o mérito sem par de descobrir a verdadeira potencialidade do homem: a da sua espiritualidade. Seus ensinamentos são somente acessíveis através da prática: o yogi deve "pôr sob o jugo" seu corpo, sua psique e sua consciência, a fim de libertar o Espírito. Yoganidrá "sono do yogi". Estado de consciência que se situa entre o sono profundo e a meditação; técnica de descontração profunda e consciente. Na mitologia purânica alude ao sono de Vishnu.
Como Náráyana, Vishnu é o deus que dorme, aquele que descansa nas águas causais, deitado sobre a serpente Ánanta, "a infinita", que tem mil cabeças com as que o cobre e protege, à maneira de um dossel. Ele dorme, medita e sonha ao mesmo tempo: durante seu sonho surge-lhe do umbigo uma flor de lótus, da qual emerge Brahmá para criar o mundo, dando início a um novo ciclo cósmico de quatro eras (mahayuga): de ouro, de prata, de bronze e de ferro. Yogi "aquele que pratica Yoga". Praticante de sexo masculino. Yoginí "aquela que pratica Yoga". Praticante de sexo feminino. Yoni "matriz", "vulva". Por extensão, designa o princípio feminino, a força geratriz do mundo, a Shaktí. No tantrismo, a yoni não é somente o símbolo da energia criadora feminina, mas significa também fonte, semente, grão, água. Compara-se ao botão da flor de lótus. Assim como o lótus não é manchado pela lama onde cresce, da mesma forma a yoni permanece perpetuamente pura e intocada. "A Natureza manifesta, a energia cósmica universal, está simbolizada pela yoni, o órgão feminino, que rodeia o lingam. A yoni representa a energia que engendra o mundo, matriz de todo o que existe". Karapatrí, Lingopapásana Rahasya, Siddhánt