IRÍllITEIRAS IIA TRADICAÍ|
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FRONTEIRAS DATRADIÇÃO
OLAVO DE CARVALHO
coleção elxo
ffi novn sTELLÍt
Crpo: Carlos Roberto Zibel
Costa
Índice
Revisão: Rogério Carlos castaldo de Oliveira Conposição: Cilberto Francisco de Liúa Arte Final: Dorâ Pratt e Bduardo coúes
Prefác
io
1
l. Fronteirâs da Tradição 2. A tradição, as ciências tradicionais l!
I
Edição
CopyriAht
by
r986
Olavo d€ Carvalho
Coleção Bixo
Org-
3l
4- o valor do iotelecto
43
5. À decadêocúe o fiú,
49
coÊsiderações
55
I{ota§
são Paulo TeI:881-5771
SP
Ol3lO
segundo âs doutritras
hindus
7. xoralidade ser
llova Stella Editorial Ltda. Av. Pêülista,2448
t7
3- seitas e teligiães
ó-
Tom Cenz
9
Deus?
71
85
PRAÊÁCrO
Com exceção do ârtigo rrMoralidsde sem Deus?rr, publicado no Jortral da Târde, em 27 de fevereiro de 1982, os trebâlhos reunidos neste volume foram todos escritos em 1985, e tôm todos â mesma finêIidade que ele: ajudar o leitor a disringuir entre os ensinamentos tradicionais t isto é, provenientes dâs Srandes religiões reveladas e ortodoxas) e as suas fa1s i ficaçõe s contêmporâneas. o título explica-se assim pelo nosso intuito de demarcar, de estabelecer um muro divisório entre o que é a Tradição, e o q"e é, de outro lado, o caos e
as "trevas exteriores".
De modo geral, essa distinção é simples. Todos os estudiosos de religiôes comparâdâs do mundo, com quase oenhuma exceção, utilizam o termo "Tradição" como sinôniÍno de sâEâthana Dhâma, de Lei Pereúis' de Sophia Perennis, de Al-Eiknât el-illahiys -- Para designar o número de princípios mecaÍÍsicos que é comuú a todas as grándes religiões do mundo, bem como a transmissão ininterrupta desses princÍpios por meio dos ritos, normas, leis e hierarquias, tenporais e espirituâis, dessas nesmas religiões. Do ponto de vista prático, o crirério de reconhecimento á igualmente simples: considera-se "tradicional", em principio e como regra gerâI, toda doutrinâ ou prática que seja ãceita como ortodoxe e revelada por quâ1quer dessas religiões -- e, inversanente, considêra-se "não-tÍadiciona1", ou, em certos casos extremos, "antitradicional", a qualquer ensinanento ou prãtica q"e não seja ortodoxa por nenhuma delas. Como corolário dessa definiçào, Podemos conPreendêr que. de um ládo, a mistura ou tusão de dourrina" e-p.áti."" de várias reLigiões num amá[gama ae
pretensões 'runiversalistasi' não é ortodoxo para nenhuma delâs, ê portanto só pode ser dito "tradicionâl" no mpsno sentido em que umâ (aÍicarurá. párá sêr câricatura, deve ter alguma longínqua sêmelhança com a reãlidade. o respeito à forna exterior e à integridade de cada ortodoxia é uma exigência sine qua non da verdâdeira universalidadê tradicionâ1. Por outro lado, a "prova dos noverr de quâlquer princípio universal e autênticamente tradicional á
justanente a sua possibilidade de ser transposto nos termos, moldes, parâmetros e símbolos de todas e de cada uma das grandes religiões, sen ferir a ortodoxia de nenhuúa e ner Duito nenos as leis da lógica. E esta êxigência --- que constitui a pedra-de-toque para distinguir o joio do trigo -- é tão difícil e rara de atender, que se identifica mesmo àquilo que na tradição cristã se denomina o "dom das 1ínguas", ou a capacidade dê falâr a cada um segundo a linguagen que the é própria, o que evidentenente está nos aütÍpodas de uÍn sarapatel "universalista" e demagóSico ao gosto dos psêudo gurus en geraL O terno, portanto, evidenteínentê não designa, nen pode designar, nenhuma organização, sociedádê secretaJ escola iniciática ou seita em pãrticular, mas, justamente ao contrário, aquilo que é o mais i1iÍnitado e universaL que se possa conceber. De quâlquer modo, se á distinçào em si mesma é ráciI de estabelecer, muitas pessoas parpceú encontrár dificuldade em aplicá-la aos muitos casos concretos e parciculares que vão surgindo, neste cada vez ÍÍãis colorido supermercado da pseudo-espiritualidade contenporânea, motivo pelo qual podem cair em erros trágicos, mesmo estando informadas do que seja e do que não seja, en princípio, Tradição.
I Eronteirâs
Quer rrêstá" tra Tradição Para que não sê confunda a Tradigão com qualquer tipo de I'organização", 'rescolarr, "corrente de opinião" ou coisa assim, nen, poÍ outro lado, se inagine que ela sejâ apenas um vago "espíritou ou "estiIo", é preciso fazer desde Iogo algumas observações: A Lei exotérica é o "fimite exteriorl da Tradição. Quem ten unâ retigião e reconhece os seus manàamentos, cumprindo-os seja ao nível do "mínirno IegaIÍ, seja acima, conforme suas eapacidades, já está na Tradição. Quen não tem uma religião, quem não está submetido voluntariamente a uma Lei revelada, não está em Tradição nenhuma, ainda que álegue Perteocer a tal ou qual "organizaçãorr e ainda que tal organização se al irme até mesmo, com denÊnc iâl Pretensào, "o Dirptório Central do Cosmos". PoÍ outro rado, é necessário distioguir entre o conceito amplo de rrTradição" e o conceito mais resrrito de "viá espirituat". Assir como u, país nào se esgota na linha.dâs suas fronteiras exteriores, mâs tem uÍn território interior, por sua vez dividido por êm
regiões, províncias, cida-
1986
*Tóp ic os
Olâvo de Carvalho
8
tradição*
I
fronteiras inteÍras
São PauIo, fevereiro de
da
uma conferância pronunciada eú 2 de 1985 na Editora AstrocieÍtia, do Rio de
de
de
9
des, etc. , igualmênte a Tradição, dentro dâs suas fronteiras, tem muitos territórios distintos, corn fÍonteiras ora mais, ora nenos clarámente delimitadas -- conforme a Tradição de que se trâte --, e que vão desde as regiôes áui" .*terior"s até as mais interiores. A região nais exterior é o cumprinento puro e sinplês àa n".*u social ditada pela Lei (o quê inclui a execução pelo menos dos gestos exteriores que compõem os ritos obrigátórios); a náis interior é a realização -- teórica e efetiva -- do sentido último e universal dessá Lei. a qual patenrPia, átravés do homem que aringe essá realização, sua identidade com a constituição mesrna do real e com a Normâ que estatui e rege o Cosnos. (Claro que pessoas que não atingiran a pleoa realização esPirituáI podem -- e devem -- possuir algun vislumbre dessa identidâde entie a Lei revelada e a estruturã do real, e também é claro que a ausência de quâlquer Pre§sentinento nessê sentido seriá una marca de profunda irreligiosidade; nas, ântes de Percorrer uma viâ espiriLual, ninguéÍn Eem essá consciencia exceto em modo irteórico'' e "virtual".) Para o honem primitivo, que desconhecia as limiráções que o processo dê individuaç;o veio a imPor sobre á inteligência hunana nás geráções subsequPntes, não havia necessidade de uma Lei revelada e escrita, Porque eles tinham a compreensão iÍnediata e intuitiva da Lei nstural, que é por si rnesma a prineira das revelações, e da quál as Leis r€veladas posteriores nào são, po. assi. aizer. senão versões simplificadas. o "limite êxterior" da Tradição coincidia então con os limites dâ natuÍeza, ou dito de ourro modo, com os limites intrínsecos da possibilidade huíâna em geral. À progressiva degradação da
intetigância
humana,
criando hiatos e dissonâncias enrre a mente subjetiva e a verdade objêtiva, criou a necessidãde de comPensaçôes períodicas, constituídas pelas sucessivâs Leis reveladâs. Estes fixavam limites exteriores, mais restritos que os da simples lei oâtural, e por isto nesmo nais fáceis de apreender e cumprir. O t0
cumprimento destâs
leis favorecia o
homem
de duâs
um resumo símbolo, dss Leis nâturáis, e' assim sua obediéncie e estudo podia restaurarr ao Longo do teÍnpo, a intuição originária dâs leis naturai; (que por suâ vez, sendo um simbolo das qualidades divinas, levavam o homem ao conhêcimento -- ou melhor: recordâçào -- de Deus) i câso nào houvesse! para este ou aquele indivíduo, a ocasiào de completar essa restauração interior, o cumprimento da norma legaL pelo menos o mantinha dentro dos limites de comunidâde, podendo Portanto beneficiar-se, apos a morte, das prerrogativas originárias readquiridas Delos membros mais cápazes, dâs quais eles Participa,a. a títuIo de herança coletiva. A Primeirá dua" persPect ivas é a que conduz à chamada à""rr. ".,tào "libertaÇào", e constitui o esoterism. A segundá conauz aó que as reLigôes denominan a "salvação da alma após â morte" e constitui o exoteri§úoDeste modo, Percebe-se que as Leis reveladas constitueÍÍ manifestação da }lisericórdia, destinadas s conpensar a perda da intuição direta das l-eis
.r.i;.r" , pr ime i ro. e por isto
que e tas cons r i tu íâD
É ,rrna curiosâ
aberrâção
dá
nossâ época que
justamente âs pessoâs meis insensíveis às Ieis natuiais seja. âs que se ProcláÍnam mais "superiores" ã toda Lei reveládá, quando na verdade sào ás que mais necess itaÍn de1a.
*** Àssin, se quem está mrma reLigião já está na um Trâdição, quegt dentro dessa Trádiçào, encontre rrmâis carninÁo espiritual -- um esolerismo -- está dentro", e quen chesue à s,pre.a realização-está "no centro" dessa Tradição, o qual coincide então com o centro da Tradição universal e primordial. chegar ao ésot..i"ro sem um exoterismo é tão impossíiet quanto chegar ao centro de u' pais sem o"."tr.. ,. suas Ironteiras e Percorrer seu terri róiio. s" afguét desligado de um exocerisno tem por
a felicidade de contâctar um mestre espirirual autênLico, a primeirâ coisa que psLe vai fazer é mándá- Io sprender.e.práticár o exoterismo: geráI do sufismo que um firme - E um prrncrpro eftbasamento no exoterismo é inaispensávef pi"_ parâçao acaso
no.caminho esotérico; e, na rariqatr "o.oOarqá_ vr... r rodos os noviços eram obrigados a decorar Guia dos Eleoentos Essenciáis do Conhecirento Reli_o gioso (nr - famoso carecisno islâmico Tbn.rAshir, como meio de assegurar qr" ". "".;."t,-;" p""..í;; -; Ínrnrmo necessario
de instruçào retigiosa',.( t)
que essa coincidência só existe
nais
em
pârte
a
na
rmagrnaçao,
ê
lguma.
A única maneira de reencontrar Deus é recuperar o senso do sagrado, que é . do maravilhoso, q"e é o senso de eternidade e ".""" imutabilidade .acirnâ dê toda moviÍnentação mental e cósmicâ. os ritos e a arte sâcra roÍnpem a trivialidade, mas não para abrir para o âbismo do nada, e sim para introduzir, nos intervalos de fluxo cósnico, pontos cintilantes que recordâm a inutabilidade do suprâcósmico. Esses pontos são como os rubis de un relógio, que articulâm o lnovimento sem psrticipar dele.
2
Os Perigos da
Trivial
3
idade
Tradição e Tradiçães
indiÍerença e a Lrivialidade __ que dào a rô_ . A. nrca do "sentimenro do mundo,' na socieiade moderna -- levarn a só poder conceber Deus coÍro o ,,totalmente ourror' (o sanz andere de Rudolf ott"l. p.i", iis"ài_ vido Lodo senso do sagrádo, e ausente Loda marca de sácrâtidade na vida coLidiana, Deus só podê ser imâ_ grnado como o áusentej o esLranho, e,n úLrima tancra o esquisiro e o absurdo. Esra á a origemins_ do ápelo sedutor que as seitas monsrruosâs exercem so_ bre a a-lma cansada e gastâ dos .ont".porã_ neos. .Na medida em que se opõe"os"o" à rriviat idade e à opressrvrdáde plana e rasâ da indi Ferença, introdu_ nela um corte que abre pâra uma verricálidade -zindo ':bissáI".o hpdiondo_pode pássar por uma iEágo Dei. §o - que orlvlamenre e uma iúagem consrituída de pri_ vaçao e carência -- privaçào de senrido, ."rên";à a. reál rdáde e poder criador -- ê porLanro uÍna imagem invertlda, Iireralnenre,,satânicai'. nfa tira aa tiil vialidáde pará tevar áo nada, que é.,"i".;;r;;;_ têl das I lusoes. O nádâ p o absoluto só rên umâ coi_ sa eú conum: é que sào iguatmente i";,"gi";rã;".-l lmaginaçáo e o rrlugár geométrico', aa cãincidência êntre o nada e o Absoluro, o que é o Ínesmo qup dizer 12
Existe uma Tradição Prinordial, universal e eterna, que e o deposito da sabedoria revelada. Existe ê manifestação hunana e terrestre dessa Trâdição, e portanto uma organização tradicional que a representa. Bxiste um centro geográfico que é a 1ocalização dessa organização em algum ponto da Terra, egl cada
ciclo
temporal.
é inquestionáver. Xâs: as tradições em particular, historicarnente existentes, não provêm desse ponto dâ Terra, e sim diretamente de Deus, que é a Origern delas e da Tradição Prinordial igualmente. À1iás as tradições não são outra coisa senão a mesma Tradição primordial ressurgida em novas formas, porém em câdâ câso igualmente -- e novâmente -- íntegra e originária. Considerada isoladamente das suas formas históricas, que são as tradições, a Tradição Primordial não se natrifesta historicanente, pela simples razão de que ela não é una ( Láis uma) tradição, que apenâs estivesse acime das demais tradições, e sim é o Lolde das tradições, o padrão da sua tradicionâlidade, e elas, êo contrário, são as suas manifestações históricas, forjadas segundo €sse molde. Tudo isso
t3
O rêcurso às "idéias", ,,formas,, ou "arquét ipos" platônicos pode dar coota desta questão. À "triangularidadei'não se manifesrâ senão aLrâvés de rriângulos concretos e particulares; mas o conceito (ou o esqueÍa mental) de triângulo, que não é em si mesmo nen rriângularidade nem triânguIo, represênta, ná mente, a triangularidade. Todos os triângulos que o homêm faz são forjados no molde do conceito de rriângulo, sem que se possa dizer que ele os produza, ou que provenham dele. Por esta analogia, o homem Lem no seu intelecLo o arquétipo dá Lriangularidáde. oa sua mente o conceiro de rriânguIo, ná sua mào a habilidade de desenhar triângulos; e o intelecto representa aqui o Logos divino, a mente, a Tradição prinordiã1 e a mão, as rradições em parricular. Se a Tradição primordial se manifestasse exteriormente, eIa só poderia Íazê-lo sob á forma de ,'mais uma'r rradição, âssim como só é possíve1 dese_ nhar "um" triângulo e não "o" triânsul; em si mesmo, embora "cadar' triánguto sejá novamenLe, e a seu modo, ',o" triângulo. EIa nunca poderia manitesLar-se sob a forma de uma r'supra-rradição', uoíversa1, por_ que o universo em si nesmo não tem forma, exceto as formas, particuLares que o representamr porque toda Íorma e part icular por definiçào. A "rnani fesracão,l da rradiçào PrimordiaL, com umá forma própr ia e - independente das demais, é urn contra-senso puro e simptes, que vai contra rodâs as condições de espaço, rêmpo e numero que definem o ,,nosso mundorr, e porEanLo essá rnaniÍestação nào ocorr"rá anres do táruino deste mundo. o quat por suá vêz deverá ser precedido justamenre pela "Crânde paródiai'de Tradição prinordial, q.e será o Reino do Anticristo.
portanto, a única ,,fornâ,, sob a qual é possível enconrrár â rrsdição PrimordiaL é a forma das rradições historicanente existentes. Quem quer que se
apresente como porta-voz da Tradição prinordial sem ser por intermédio dessas tradiçàes, já está encenando a parodiá.
14
4
Àntirradição e paródiâ Quando se fala de "organizações anritradicionais", é preciso resguardar-se de imaginar que elas
conbatam a Tradição. Elas não combatem: elas copiam. Não produzem uma refutaçào. produzem um ,imuLairo e Quanto aos representantes da Trâdição, as organizacões antitradicionais só os combatern na medida en que e1ês âmeaçam denunciar o simulacro e frustar a paróaia, mas não na medida em que se limitem a expor dados de conhecimênto tradicionais, de que aIiás elas n€cessitam para com eles co.por'seu sim.Iacro, motivo pelo qual seu combarÊ a tais representantes é dúbio e entrecorrado de cortesias e adula-
ções. Para isto, freqentênente essas organizações e seus comandados 5e prestám á seÍviços mênores em rávor da Tradiçào, e inctusive à divulgáção de parcelãs reêis de conhecimenros rradicionais, de cujo prestígio e fraseologia procuram assim se ap.op.iai. Ao copiar, a anticradição não desfigura a Tradição enquanto ral -- que é imutávet e inatingível sob todos os aspectos aparência perante um grupo humano deterninado, o quat fica enrão impossibilitâdo de chegar à rradição verdadeira enquaoto não se livrar das malhas seduroras e grudentas de um sinulacro quê pode ser inrpirámenLe vero"sirnil. mesmo para pessoas inÍormádas. (o que aIiás sisnifica que ninguém se livra dos simuraáros por suas próprias forças e sen a ajuda dâ traaição nàsna, assim como se distingue o ouro fatso rão-sonente pela comparação com o verdãdeiro.
)
_ A verossimilhança dos simulacros aumenta, poremj nâ proporça que, aprox imando-se o Lermino do presenLe ci( 1o. á Tradi\ào dá a púbtico
parcelas cada vez Ínaiores do seu resouro de conhecimentos. Estes tanto podem servir de flárcos indicativos para levar as pêssoâs à rradição, quánto de ,,mâtéria prima" pará novas falsiri(aaõês e eneodos. Uma t5
sinples migalha de conhecimentos tradicionais, arirada ao solo, borbulhante de ferrilidade, da confusão contemporânea, dá para produzir uma variedade imensa de pseudo-ensinamêntos e pseudo-esco1as, que rebaixam esses conhecimentos en qualidade (engrossândo-os e Iiteralizando naterielisricamente o seu sentido ao nesmo tempo em que procuran der ares de coisá sublime e esotérica a baflalidades e conrrasensos) € os nultiplicám en quentidade de reproduções, vêndendo, aos curiosos, "conhecimentos secretosrr que eles poderiam adquirir petá sinples leiturâ dê livros de domínio púb1ico. Por exemplo, dezenâs de organizações que hoje se dizem provenientes de um nisterioso "centrorr iniciático dâ Ásia Central não são mais do que Íindustrializaçõesri de dados extraídos de rrês livros tradicionais: Xission de lrInde (1910), de Sâinr-yves drAlveydre; Bêstas, Eorêns e Deuses (1924), de Ferdinand Ossendowski, e sobretudo Le Roi du Honde (1927,, de René cuénon. Isto não impede que em determinados casos sucêda o coltrário, isto é, que tendo dererminadâs pessoas pas9ado por organizações tradicionâis e retirado delâs áIguns fragÍnentos "comercializáveis,,, tais organizações decidam publicar a explicação integrat que permita reincorporar essas parcelss num quadro coerente, de modo a evitar novas confusões. Mas tais explicações, por sua vez, pôem en circulação novos dados, que se prestarão a novas falsificações, e assim por diante, o que torna cada vez mais dificil, parâ quen não está escorado denrro de una religião ortodo).a e tradicional, distinguir os caninhos fa1sos e os verdadeiros.
II A tradição, as ciências tradicionais e o islar* l
Tradição e Àntitradição A abordagem do conceito -- e dâ realidade -- dâ Tradição pode começar pela tomada de consciência do mistério da intetigência humana. Nossa humanidade atual está tão derrotada e deprimida, rão decaídr e eimbotaaa, que a naravi Ihâ desse mistério Bera mente
À inteligência é ao mesmo tempo mistério da subjetividade e certeza de um conhecimento objetivo. Ela escâpá à contradição entre o I'eu. e o ihundori, ela não está propriamente "dentro" nem propriamente "fora" de nós; se seu lugar de aparição é a .ente subjetiva, por outro lado seu alcance, enquanto sede
un conhecimento objetivo, vai muito além dos limites do rimentalrr; por e)(emplo, podêÍnos conceber pela inteligência o infinito, que não podêÍnos "representarii mertâImente de nâneira âIgumã. A inteligência rraparece" na âImâ, mas não "está" na aLma; ela "vê" o mundo e portanto não "está" no mundo. Ela dá fornra, sentido e unidade às nossas percepções do mundo objetivo e subjetivo, e assi, é transcendente de
* Resumos de três conferências pron'Jnc iadas na Editora Àstrocientiâ, do Rio de Jâneiro, em 5, 6 e 1 de
setembro de 1985. À exposição abranseu muitos desenvô1wimêntos oreis que não são reproduzidos aqui. t6
17
 inte l igênc ia não se ident i f i.ã .ôh dâs funçõe s íntelectivas -- rmâglnaçao I
nenh,,má
raciocínio, sensibilidâde, etc. -- que a expressam; e1a é a vida ê o sentido dessas des, mas não se confunde com elas. Por causa do caráter transcendente dâ inteligência, o hômem sente-se só no oão tendo com quêm compárar-se ou dialogar. "niverso, O tcnàmeno recpnrp da chamadã 'rplanetarização da cutturâ" fez con quê a consciência desse caráter transcendênte. único e solitário dâ nos'a espécie tendessê a êmêrCir, lor(asse a passâgem exigindo um reconhecimento claro. No fundo, rodo o interesse aruêi pêlos rpnómpnos da psiq"e é busca da inteligência; apenas â humani"manão conseguiu ainda acertar o alvo, ê dade atuál ainda confunde a intelisência com as funções lntelectivas. Poucas pessoas têm a condição parâ o pleno reconhecimento da inteligênciâ e para a plena realização das consequôncias que esse reconhecirnento inplica. i'ías estas poucas pessoas "representamr', por assim dizer a humaoidade, e se e1âs assumirem a inteligência isto bastãrá parâ que a humanidade reencontre, mais dia, menos diá, seu caminho.
Trânscendendo a todos os fenômenos do universo, a inteligência não ten "causa" nêm "orisem" em parre alguÍnã. EIâ parece surgir de forâ, de cimâ, desde o oceano infinito da Possibilidade, que envolvê o mundo como o oceano envolve os continêntês. Como o espaço e o tempo são apenas formas assumidas pela inteligôncia, é inútir procurar paÍa a intêtigênciâ uma origem no êspaço ou no tempo. Elâ tem origem nâ PossibiLidade. no TnliniLo. q,,e é sempre presentê em todâ parte, inaltÊráveI e inesgotáve1. À orisem da inteligência é agora. O Íevigoranento perióaico do contato entre a inteligência e o infinito, que é a s"a origen, denomina-se revelação, quando desse contãto surgen um rito e uma norna destinadâ a possibilitar esse contato para un grânde número de pessoas; denonina-se intuição íntelectuâl quando ocorre para un individuo em parti(ular. A revelação fornêce os meios para
l8
que os indivíauos atinjam, quando qualificados parâ isso, a intuição intelectual Para os que nao tem o ên'ináes.a quaIitj,a,.áo. êlâ fornô.ê mento para que se aproxrmem o guanto possíveI desse limitêl me5no que "ssá aproximaçio " ia apera' 'Lmbóli(â. e ind;rêra, arravÉs da parL;'ipa\ào das pês5oas na conunidade rcli8io'â. Plá servê para rlar à' suas vida' o carátêr de rrancl r, io'z árraves do qual o sentido da existência se .orna suficiêntemenie pró"imo mesmo dos atos mais simPtes da vida cotidiana, como se observa em qualquêr civilizaçao tradicional.
Não há nem religião nem esoterismo de espécie alguma sêm uma revelação. A revelação origina ao mesmo tenPo as Eecnlcas p discipl inas que ronduz.n à int riçào. t"is q,rà conduze, à viv, n.iaçào 'imbóti'á ê indiretd dô "enlido. A eqrâc duds in.Lán ias dá se o nome dp esoter ismo e exoterismo, respectivamente. A possibitidade pernânente de efêtivar uma dessas duas fornâs de vida espiritual denomina-se Tradição. Toda tradição remonta a uma revelação. A revelação pode vir sob a forma de uma pessoa ou Mensageiro, como Cristo ou Buda, ou sob a forma de um texto, como Os Vedâs, a Torah ou o CorãoCada Íradição é ,-r. corpo intesral e integro de ritos e normas, Àue resiaem nos "pontos de junção" entre a inteligência e o infinito. Esse corPo nao pode ser desmenúrado- Cáda Tradição ó um todo conpleto e auto-suficiente. Pode-se compaÍa-las, mas não fundí-ras. Tambén não se Pode separar esoterismo e exote_ rismo, porque eles sào a vida e o (orpo. resPecrivarêntê - de uma Tradicão. éaaa rraoi,.ào É con't it,íaa de rrês elernentos inpre sc ind íve is : Doutrina sobrê o infinito, sobre o Absoluto e o qrre é nelativo.
a)
Umâ
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que
b) Um corpo de Bitos que ajudam o homem a incorPorâr a verdâde da doutrina na sua formâ de exis_ tência, de modo â harmonizar o conhecioento e c) sácra)
Um corpo de SíDbolos (por exempto, nâ árLe quê ájudám á menre a chegâr à incelecção das
verdades veículadas pela Doutrina e corporiiicadas pelos ritos. Às chanadas ciências tradiciooais, como a alquimia, a asrrologia, ben como as artes sacras, -- árquireturá, pinrurá, erc. -- farem pa.te ao.or: po de s;mbolos de uma rradiçào. A astrotogiâ, Lat como a conhecemos hoje, tem origem na Tradição hetê_ nica -- alexandrina --, mâs seu sinbolismo, por sua universalidade, foi bêÍn assinilaao. pero àsàterismo cristão e muçuLmano, de nodo que seu àstuao é u. Uo.
rn.trumento auxiliar pára rso dessas tradrçoes.
un Lve
quem
deseje penerrár
no
Àpenas é preciso advertir que existe também uma pseudo-cradi(ào. ou,ária, pspudo-rrádiçàÊs. podêmos rêconnêcp-tas tacr tmenLe pelo tá(o dê que dispensám todo exotêr-ismo e se pretenden superiores a todãs as religiões, às quais, no enranto! etas imitan e das quais roubam etemenros simbóticos e rituais. Face ã estas conrraÍa5ões, geraLmênte gro(esLas, caracrerizádas pela áusen.iê LordI de belezá e de ;nLeliqibi_ Iidade, é preciso saber que o próp,;o .en"o estãrjco de cada pp.,soa á un guia seguro pará o joio "epárar do trigo. Más, se querem reatmente seguir uma viã de conhec i men Lo espiricuãt por inregrar-se numa religião ortodoxa. Aruatmenre pode-se seguir
um
a) cr i st ianismo ortodoxo; b) budismo (fujam de quem prometâ
exoterisno
bud
c) judaísmo d) Islan.
is ta )
2
As ciôncias tradicionais ê a astrologia espirituâl
Muitás das ciências tradicionais -- como a a"trologia particularmente -- só chegaram até nós em
uma fôrnâ fragmentária. Apesar da inconrestáve1 validade destâ ciência, as lacunas no edificio que a conpõe abrern nargen a incongruências e contradíções, e, assim, flenhuma das tentativas atuais de formular uina teoria âstrolósica de Daniel Verney, Raymond Abellio. Arnold Keyserling ê tanros ourros
isenta de defeitos que a ror.nam inaceitáve1 desde uÍn ponto de vista lógico. No rnÍnimo, rodas dão uma impressão gerâ1 de incomplecude e deformidade, que é incompátive1 com una ciência toda constiruida de haÍmonia, e na quâl PIâtão ênxergava o retráto mesmo da inteligência divina estanpado oos cé"s. --é
A razão dêssá incompletude, no entanto, nào reside na falta de informações, pois os elemenros que nos chegaram da âstrologia he1ônica, babilônica, chinesa ê inclusive eeípcia, são mais do que suficientes Para Podernos reconstituir na sua quase totalidáde o corpo dessa ciência tal como era conhecidâ e praticada na antiguidade. E, ademais, nem cabe fslar de reconstituição, pois este termo só se aplica a ciâncias extintas, ou em desuso durante muito têmpo, o quê não é o caso da astrologia, ao menos no Oriente, pois êla continuâ a ser praticada ininterruptamente na Índia e nos pâÍses islâmicos, em rnordês rigorosãmente tradicionâis em ambos os casos, e ao mÊnos no que diz respeito à astrologia hindu os textos, trâduzidos em ingfês, são
Oc
abundantes no
idente.
O que nos falta na astrolosia não é informação, uma compreensão verdadeirâ do intuito e do lugar dessa ciência. sabemos muito sobrê â suá consistência interna, mês ignoramos o seu contorno, o seu
é
lugar no sistema das ciências espirituais tradicio-
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nais, e ignoramo" isLo peta simples rázào dê que, nao possuindo mais umá Lrâdiçào viva p comptera, des.onhe. emos roLaimpn(e a ex;sránL ia -- quanto máis a ronsistênria -- desse sisremá. Se as ciências aruais organizam-sê segundo as conveniências de uma técnica ãestinaaa ao -aomínio mâterial do mundo ( incluindo-se nisto as técnicas psicológicas e de dornínio poritico), o sistema tradicional das ciências tem no sêu topo, e como critério hierárquico único e exctusivo, o conceiro p á meta da realização espiritual. tsto queÍ dizer que o que diferencia as ciências umas das outras é. "."t. sistema. a manêira diÍêrÊnre de ênÍocarem o probtemá da realização espiriruat, e que aquilo que âs dispõe hierarquicanente á a sua naior ou menor proxirniaade dessa mêtâ. Em outros termos: una ciência é tida como superior na medida ern que é mais direto o conhecimento de Deus que ela oferece, e como inferior. na mêdida êm quê esse.onhecimenro É mais indireto, "imbóti.o e alusivo. por êxêmplo, a ciência dos ritos é superior a uma ciência po,qu" o rito, ao menos ", útri,a insráncia,",i".ár,a u" conr,."isa cimento direto de Deus, âo passo que o conhecímento da naturêza também leva a Deus, mas por inrermédio
do simbolismo, e de uma naneira inteiramente teórica e viÍtual. Por ourro ládo, uma ciência puramente intelecEual e teórica dâ narureza. como a astrotôgia. é superior a uma ciencia p,;i;.u operáriva " porque a como a arquiretura ou a arte dâ Suerra, primeira está mais próxima da atirude de com;.e;nsão pura e contenpLativaj que é mais aparentaaa ao conhecimento de Deus na mística. Dentro desse sisrema, a única prática quê intere§sâ e ã pratica espiritual que conduza ao pleno conhecimênto da verdade e à reatização eferiva do dever inerente ao estado humânô. O que faLta para uma compreensão da astrologia ê. portanto um conhecimento das suas rêlaçôes com a mÍstica, isto é, com a técnica da rearizaião espirituáL Pojs a .asLrotôgia. quâisquer que sejam suas âpr Lcaçoes prát rcas no campo da pura ur i I idade máte_ 22
riát (e as apticações psicológicas e psicorerapóuricas devem ser incluidás nesra caLegoriâ ranto quánro as ápIicaçôes econômicas ou sociais), á uma ciência de índole teórica, e como rat não teÍn justificação em sí mesmâ, e sim somente nâs âplicações e extensoes que possá ter no campo da reatização espiritua1. Notê-se que, eÍn todas as civilizações que pos'ti.
s"íra. uma astrolosia, ela serviu """.apreço prineiro lugar, como se vê atiás"".p'é pelo "alto que os grandes místicos como Ibn ,Araby, ptatã;, Sohravardi e tantos outros t inham pêta âstrotogiâ espiritual, parâ1e1amênte a um desprezo ou pelo menos a umâ _indiferênça para com as aplicações divinátoriás, nedicas, etc., a quê essa ciÂncia dava em
Ora, somente para dar uma idéia tongínqua do que possa ser essa aplicação espiritual da astrologia, podenos reco.rer à correspondência tradicional entre planetas, funçôes cogoitivas e ptanos de realidade.
Na astrologia rradicional, ral cono se vê por êxenplo em Ibn 'Araby, nas rambén em muitos autores tradicionais ocidentais, cada planêta reprêsênta um! função cognitiva -- em têrmos escotásticos, uma ,'faculdâdê da alma" -- e por outro tádo um ptdno ou nrvel dô cosmôs. A cosmologia,rrêdicionát, da quáI a asrrotogia . e um resuno slmbolrco, ênxerga o cosnos como um sistema de planos, ou de esferas concêntricas, cuja correta percepção (no sentido puramenre intetêcruê1, interior, da palavra percepção) depênde do grau de concentração, dê santidade e de penetração intetectual de cada qual. crosso nodo, os três principais planos são os do espírito, da alma ê aa corporàlidade. O prineiro contén o segundo, que conrém o terceiro. Há nuitas divisões internediárias. pârat€Iamente, a alma hunana tambérn é composta dê esferas (alma intelectiva, alma volirivã, etc. ), âbarcadas umas pe las outras.
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Â
cada uma dessas esfeÍas, simultanêâmênte do macrocosmo e do microcosmo, corresponde uma esfeÍa ou órbita pLaneEária. No esquema p.ânerário, o ásrro máic imporránre -- o So1 -- corresponde, no microcosÍro hunaoo, à
fâculdade de inEuiçao, ou inteligôncia, e ôo nacrocosmo ele representa o Logôs, ou Inteligônciâ Divina. Os demais astros reprêsentam, no homem, fâculdades subsidiárias que, como vimos oa conferência anter ior, dependem da inteligência e a ve icu lan ou
Na sinbólica trâdicional, as viagens celesEes, como a de Dantê na Divina Corédia, simbolizam realizaçôes espirituais, e a trãvessia de câdá esferã planetária simboliza, de un Iâdo, a ascensão a um cósmico de mãior universâIidade, e. de outro. "íve1 á abcorçao d" mâis umá ráculdádp cognitíva ná inruição ou inteligência. Esta âbsorção faz con qu€ â faculdâde em questão perca seu rãnço subjetivo e condicionado e, identificando-se a intelieôocia que e tonte, passe a veicular â verdade de naneira mais fiel e direta. E evidente, pôrtanto, qu€r ô simbolisno dê cada esfera planetária só pode ser correEâmente conpreendido dêntro do processo de real izâção espiritual de cada quãt, e ná medida dessa realização. Em outros terrnos: so compreendonos ou âbarcamôs ãquêlas esferas que já tcnhamos atravessado, ao menos virtualmente, o que depeLrde dâ nossa possibilidâde -ou vocação -- de reatização espirítuaI. o esEudo da astrologiâ, que ên si mesmo é muito útiI para essa finalidâdê, ficâ portanto truncâdo ê insat isfatório ênquanto eIa não for cumprida, ao nenos em certa nedida mínima. Neste sentido, a astrologia é propriânênte uma ciência dita esotárica, na medida em que implica uma realização espirituãI.
2L
encerrar, e vottando âo assunto de ontem, é prec;so advertir que os ritos exotéricos são parte integrante dessê processo de realizaçao Somente Para
e'piritr-ral, ao Ponto de que em grandê Pártê dos cá_ são a base mesma sobre a quál incidira o "r." """ e até mesno uma êventual iniciâdoutrina da ensino portanto, absolutamente indispensásão, Eles ç;.. l.âsos dos na toraLidáde ve is, No que diz respeito ao efeito dos ritos exoteÍicos, um efeito que eles podem e devem ter é justamente o de abrir acesso a un conhec iÍnento esotérico' só que a maior pãrte dos fiéjs não se lembra dê pedii exatamente isso a Deus -- limitando-se a pedir solução ae males humanos corri-queiros e deixando para pedir conhecimenros esoréricos ao primeiro pseudo-Buru ou pseudo-shàikh que áPare\á. sem que 'rt." oã"... utilizar-se do poder efetivo do meio ."g,r.t " normá1. estabelecido por Dêus 'esmo. que é â DrÊce. E. no entanLo, a Promessá de DPus é clâra e .orene: "satei. e vos abrirào a Portai pedi. ê vos daao." E Deus é o Firnê, o Manten€dor, o sufi"..á 3
olslaoeoSufisúo 0 ingre sso no Islam não se faz, como em outrâs religiões, por um rito de agregação, mas Por uÍna s inpLe s declarâção oúUti.a, nu qual o novo nuçulmano ates ta sua crença nos dois princípios de base que const i tuem
o lsLanl
ÀÉ
í-lj\j)\
1â iláha íla Arláh, líohámed rassúl uttárr, quer aizer, "não há deus exceto Deus, eMohammedéomensage iro de Deus".
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Es ta dupla fórnuIa contém, de modo resumído, todo o Tslarn e todo o Sufisno. O primeiro ato do novo muçulmano anuncia, assim o coroanento da religião, que é a conquista do estado final do Sufi,
denominado a Ident idadê Suprema. A prime ira parte da fórnula expressa a Doutrina fundamental da Unidade de Deus e da Unicidâde da Exis tênc ia. Tal doutrina pode ser resunidá da seguinte maneira:
"Ser" e "unidade" são sinônimos. Ser, é ser um. ser, perdida a unidáde, nào existe mâis enquanto tal. Portanto, a unidade é o princípio mesno da coesão dos seres, o princÍpio que sustenta sua identidade diferenciada e sua existência. Ora, pelo fato mesmo de que a idêntidade dos seres é diferenciada, isto é, de que a identidadê de cada qual só é aquilo que é na medida em que ela se diferencia dos outros, Todo
pode-se concluir que a unidáde dos enres nào é uma unidade absoluta, porém relativâ. Unâ unidade absoluta excluiria quâlquer alteridade e qualquer diferenciação. PoÍtanto, os seres só existen na nedida em que têÍí unidade, mas, como esrá uniaade é precária e relaiiva, também o é a sua própria existência. É forçoso admitir, para cina de todas as unidades relarivas, uma unidadê indivisá, áo mesmo tempo simples e-abrângentê, da qual todas as únidadês relâtivas sao apenas projeçoes ou imagens parciais; do mesmo modo, acima de todás as existências particuIares está a Existência enquanto taI. À unlaaae enquanto ral. rranscendente e imanente, oriaen, sustentáculo e meta de todâs as unidêdes parciais, denomina-se Deus, Al-Lâh. À manifestação desse Deus em todas as forrâs de unidades parciais e relat ivas denomina-se Existênc ia.
À primeira parte da fórnu1a é porranro uma afirmação ae ordem metafísica, que âtesta á Unidad€ do PrincÍpio e a Unicidade da Existência. E certo que, al,em desse sentido Ínais universal, eIa pode Eer de fato uma série indefinida de outros níveis de significado, mais particularizados, que constituem outras tantas aplicações desse prin26
íoio a domínios menores da realidádê. A sesundá parte dá lórmula -- ltohâmed râs§úl Ulláh -- torna-se mais clara quando, pela elimologia, se sabe que o nome üohamed é um deÍivado do verbo trâmada, que significa "louvar", "prezar", "e Log iar", "reconhecer um mérito". Mohâmmed pode ser traduzido sumariânentê como "digno de Iouvor", "meritório". Por outro 1ado, esse nome é ta.uém um certô arranjo fêito com leLrâs que compõem a palâvra Àdaú, "Adào". De modo que MohaÍnned é o proprio Homem. o HoÍnem considerado na sua universafidadê, como arquétipo e modelo .de todos os indivíduos q"e co.pôem a nossa especre r
Portãnto, o
Homem, considerado
na sua universalidade
indivíduo separado, qu" é rraco, dÊricienre à erradjo --, é um .nte de eIêvado mérito, ê este grande mérito da espécie hunana em face de todas as outras espócies animais, vegetais e minerais, e em face de todo o Cosnos com toda a sua -- nào
enquanro
im€nsâ variedadê de modalidades
e planos de existên-
cia, é un "mensageiro" de Deus, um "sinal da Unicidade dá existênciá encravado, como um pino ou um eixo, no meio da Roda cósmica o Homem é o proróripo e padrão da unidáde do próprio Cosmos, e, para as outras espécies de serês, e1e representa a figura mesma de Deus sobre a Terra. Por isto diz-se no ls1am que o Itomem é o "vice-resente[ (khalifat) de Deus oa Terra, encarregado dê zelar perâ ordem cósmica e pelo bem-estar de todos o homem realiza isso pelo exercício das três faculdades que êle tem en comum com o Próprio Deus: intel igênc ia, vontadê e linguageín. Sua inteligência pode aIçar-se âcima da condibiológica e subjêtiva, alcançando a objetividação de e a universâ1idade. sua vontade pode oPtar livremente, vencendo os condicionanentos da própria condição terrestre ê individuâl, afirnando no seio de toda existência humana individual a Presença do Homem Universâ1. Finalmente, sua Iingüagem pode elevar-se acima da mera auto-êxpressão individuat -27
que, no fim das contas, é
apenas biológica __ para tornar-se uma expressão da Universalidade e da i/er_ dádej porrânto do próprio Deus. Dái que o homem, na concepção isIàmiLa. esreia ná rêrrá pará mánirêsrar es,a. Lrés quátid;des: s;a inteligência deve buscar incessântêmenre o univer_ sa1, suá vontade deve optar pelo universal e sua p"1,"." 9",", pela prêce. exprêssâr simbojicampnLe o unrversá1. A êxisrenciá hunaná rem por tinajidadê: (a) atcançar o conhecimento do univêr;at, p"l; ;;;;_ do da Doutrina; (b) Iibêrrar a vonrâde dos condicio_ namentos biolósicos, arnbientais, animais, êtc. , iaz9ndo dêIa un insrrumênLo dócir e um,"í.,1. i."""_ rucrdo pára a apariçáo dá Vêrdade. íc) pronunciar a Palavra Sagrada, para os ourros seres hunanos beú cono pára rodos oc ourros entês cápazes de ouvir
pranLa<. gênios ou ajínn, ;i;.,; ;;,.;;;;lanim:is, do todo o Cosnos na imensá Lj(urgia que, maniÍe"rán_ do. á-Vêrdadej ins(aurá e reinsLaura .onr rnuamenre a !,xlslên( ra em todá parLe e pára Lodos os sêres. A prece, quê e a unica torma liLúrgicá do tstrmJ rem
função instiruidora e reequilibraote não meio humano. mas pára rodos os sêres. ?:I9.. ". sensrDr lidâde e receprividadc quê dr; ôs ánimáisA mostram ao ouvirem os cânticos do co.ão é renôl neno conr inuamênLe áLêsrado por Lodos or observado_ "rn res desde o surpimênLo do Iqiám certanente, parâ o individuo humano. o poder . ordenánte e equitibrante dá pre(ê rs lamrca e umá exper ien.ia que mijhões de pessoas em todo o mundo cont r rmam d iarianenEe_ islàmicá é composta de cinco c ictos ... .A lirurgiã orárros de oraçáot nos quais se recirâm rrechos do executam cerros ge5ro5 r iLuá is que Lons_ trtuem ao seu proprio nível uma escrira có,mica, qt,e . revêrbera no ptano do proprro Lorpo o eLo :.",i.r:pálavras enroadás. oas" O cumprímento dâs nor.nas rstamrcas em rodos os serorês da vidá __ pois umá regra . istámica pará rudo, desde á rêtisiào há áté o desde ás arLes aE; a vida conjugat, desde o governo até a higiene corporal -- var, aos poucos. assim uÍna
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e
na medidâ do aprendizado de cada qual, anpliândo ên círculos concêntricos a irradiação daquele núcleo
de influência espiritual contido nas cinco preces diárias, até que toda a vida, em todos os seus asPectosj se torne una prece continua e irradiante. O Islam não reconhece a existência dê un domínio profano indêpendêrte, e busca a sacratização de todos os gestos e de todos os dominios da existência, pois somentê isto é compatível com a a1tâ disnidade da pos
ição
hurnana
no
Cosmos.
é a mistica isLâmica, ou o aprofundamento intelectual e espiritual do Is1am, para aque1es que sejam capazes de reatizá-to. A base da prática sufi é a mêsma da religião em geral, isto é, a prece, a recitação. O Sufismo, portaflto, não pode ser praticado por queÍn não esteja integrado no ciclo licúrgico e regulâmentar do IsIan, pois este ciclo é, ele mesmo, a basê de todas as práticas sufis. As duas difeÍenças que poderíâmos assinalar entre a prática geral da religião e a práticâ sufi é que esta última. prifleiro, rpquer uma compreensão doutrinal mais profunda do simbolismo cosmológico e metafísico das leis e das preces, coÍnpree[são que pode ser dispensada no caso da maioria dos fiéis; e que, êÍn segundo lugar, o sufismo tende a reduzir ê sirnplificar as práticas, ao mesmo tempo que aumenta sua intensidade qualitâLiva e sua contiO Sufismo
nuidade no tenpo. A tendência geral do sufismo é para realçar a inportância da chamada prece quintessencial -- a jaculatória ou dhikr que é a invocação intermináve1 do Nome de Deus (tal como se dá no cristianisno ortodoxo com a "Prece Perpétuâ"), o que não dispensa evidentemente o praticánte de curnprir todas as regras islâmicas que tambéín são impostas ao comun dos crentes. A narca registrada do pseudo-sufismo -- já denunciada ao longo dos sécu1os por mestres como Ibn iÀrâby, Runi, Ahmed e1 'ÀLaky e tantos outros -- consiste justanente en procurâr desligar o sufismo do Is1am, tentando dispensar os praticantes de cumprir as regras is1âmicas e alinentando o seu orgulho aré o delírio. Íazendo-os crer que sào pes29
soas superiores e que estão acima das normas religi_ quando em vêrdade una legítimâ superiorídade. que Lranscendesse eteLivamentê as formâs exteriores, voltaria a submerer-se a esras, não por necessidadá individuá1, mas por uma necessidade cásmica, isto é, para .a salvação das almas de todos os demais, q"á nâo tivessem âcesso ao conhecimento espiriruâ1. 0 ensinamento sufi provém diretamente do proÍeta, Moháruned, e as tinhagens ininrerrupEás de mestre a discípuIo podem sêr aresradas pela "genealogia" de cadê prericante, em documentos {ue se
osas,
ç1o de quem deseje conhecê-las. Os farsantei não Lem genealo8ia, esrão forá da corrpnre (silsi tar), e nao representêm â ninSuem nem a n€da torâ da suá proprra lnagrÍaçao deliranre e ambiciosa.
Todas as vias espirituais ou escolas plural de taríqat, "via,, -- exigem do Postulante que ele primeiro entre no Islan e pratique e regras, com sinceridade, e durante un
podê ser rnais ou nenos longo, conforme Suns mestres sufis aceitaram, em outras ainda hoje, orienrar retigiosos de ourrás trad ições -- pádres crisràos oLr monges budisrás -áce,Larâ um discipulo sem religiào, e arnda alguem que seja conrra a reliaiào. E Deus Buia à Verdade quem Ele quer
III sêitas e religiões* Raramente as grandes questôes púb1icas, em nosso chegam a ser discutidas com a aÍnplitude, a
país,
o rigor necessários. Agitam-se duas da moda, ouve-se rapidanente a oPiidéias três ;u nião dos transeuntes, os inteLectuais dê plantao improvisarn algumas citações, ê pronto. A.consciência pútfica está âpaziguada -- pelo menos ate que novos u"o.,t".irn".tto", de gravidade redobrada, volteú â sacudi-la da letargia com â revelação de que nenhuÍn ato positivo resultou dâ po1êmica anterior, e de quê profundidade e
tudo está muito Pior que antes. Temo que isso venha â acontecer. com o gravrssrno problená das sêitês, recenrÊmente ágitádo pêLa Igreja Católica com a denúcia dp que muiLas dêssas orgánizações são financiádas Pela CIA. Á p....pçào da gravidáde do Problema dêpende dá orientáçào da consciôncia dP cada quaL: o nacionalistâ sente-se desafiado pela intervençao estranger_ râ, o católico ofendido pà1o desrespeito à sua religião, o progressista ãÍneaçado peto desafio imposto a i"púúri"à ,,i""""t., o pai de farníria intimidado pelo p.iieo q". se ergue ânte o fuLuro dos fiIhos 14ás nào há quem nào se sinta, de perto ou de longe' tocâdo Dela quesrão A pergunta quÊ naLuralmeoEP surgê dianLà dis;o é: co,o é possível que um mâI tão sráve e tão amplâmente conhecido -- que supera infinitamente a invasão das drogas nos anos 60 e 70 -- possa
coütinuar crescendo, sem que a sociedade consiga para tomaÍ a máis mini'na providência a .otiflr".-". Íespeito?
* Tnádito. o orisinâl é de 30
1985
3l
A resposta é, em primeiro 1usax, que a própria diversidade de eÍfoques possÍveis numê sociedâde rrabeÍtarr impede qualquer consenso -- e inviabiliza qualquer açào conjuntá -- fáce á uma questào que demande uma tomada de posição eÍn torno de principios religiosos. Assim, todos resguârdam o principio da "1ibêrdade religiosa" e, âpegando-se às s"r" próprias opiniões, cada qual vê o ininigo por um ânguIo diferente: eIe acâbâ sêndo designado por una multiplicidade dê nomes, que constitui no fim o methor disfarce sob o quaL pode continuar agindo e crescendo iÍnpunemente. É âcIA, é o diabo, é o fin dos t"*pos, _é a angústia da juventude, é prr.a se.-rergonhice, é doença mental, é a crise econônica, são os comunistas, são os anticomunistas -- erlfiul, já ouvi todo gênero de palpites disparatados, que revelan na nossa opinião púrrica, mesmo Letrada, um despreparo total para 1idâr com o problema. Todos sentem a ameêça e todos estão contra, mas quando se trata de definir o q"ô é ela o" quem á erâ, aí instala-se a nova Babel, que é mais propíciâ ainda ao florescimento de novas seitas. Essa imensa dificurdade de compreênder o que se passa leva muitos a um sentimento de ápâlermâda impotência, que se disfarçâ às vezes e, indiferençâ afetada e num ar de superioridáde olínpica ("tudo isso é coisa de gente fraca"), e às vezes se retira para um derrotisno ostensivo, falsâmente profótico e apocalíptico ("não adianta, é pior que praga, você corta una nascem dez, é o firn dos tempos"). A uns é conveniente lembrar que ninguéÍn, por mais intelisente que se jurgue, está livre da influência dos fa1sos mestres (pois ainda ontem não se ajoelharam perante Guevara, i!íarcuse e Althusser? ltais ou sont les neiges draDtâo?); e, a outros, qr:e a ninguén, nen aos anjos e profetâs, e sin sornente a Deus TodoPoderoso, incunbe fixar â data do térnino deste mundo, e que apressâr-se ên ceder a tais rrprofeciasrl (postas no mais das vezes eú circulação pe1âs nêsmâs seitas que se trata de combater), resulta apenas em engrossâr as correntes que tevaÍn a destruições ta132
vez desnecessárias (l), ou,
no minimo, en arriscarcaso o pr.etenso Juízo Universal, como a. vittorio De Sica, venha a ser na famosa "".éal. âlguns sáculos ou nilênios. Nisto, adiado por mais como em tudo o rnâis) o rnelhor é seguir o conselho do
se a
um vexame
Profeta Islâmico: "orai como se fôsseis norrer amanhã, e esÍorçai-vos na tarefa cono se fôsseis viver
Em meio à côn{usão reinante, creio no entanto q"e é possível discernir em tudo isso alguns Pontos evidentes, capazes de serem reconhecidos por todos, e de estabelecer um cêrto consenso. Antes de tudo o nais, não êxiste a nenor possibilidade de compreender o que seja una 'iseita" sem
ter uma idéia clara do que seja "relieião", assim co.o não é possÍvel distinguir a moeda falsa sem co.pará-1a com a verdadeira- Digo isto porqu€ a designação oficial adotádã pela própria CNBB -"grupos e rÍovimentos retigiosos independentes" -- é um eufemismo que dá a entender quê a tgreja reconhece nessas entidades umá manifestação autêntica de relieiosidáde, o que sesuramenre nào é o caso te. se for, a Igrejâ terá ae responder pelo gravissimo pecado de tentar sufocar um impulso religioso autêntico, ou, no míni.o, terá de explicar como e por que a CIÀ veio a desenpenhar eín seu 1ugâr o pápel de "fer-
dãs ínassas). e sp iritual" A noção de religião está intrinsecanente ligada à ae "revelação". rsto va1ê para todas as religiões do mundo, sem distinção, êmbora a forma e a circunstância da revelãção possam ser diferentes en cada caso. Mas, qualquer que seja a religião de que se trate, revelação é o meio pelo quáI á verdade total, universal e definitiva se Eanifesta e se evidenciá culninante" da revelação é o aos honens. o "momento instaÍtê em que se ,rasga o véu" e em que o segredo útti.o se torna evidente. Este momento é antecedido de grandes trabalhos e angúsrias, q,e às uezes envolve. um povo inteiro ( corno no caso do exíIio do povo judêu, precedendo a revelação no nontê sinai), às vezes um indivíauo privilesiado e arquetípico
mento
33
que representa e corporificâ a hunanidade
(como no
caso das peregrinações do Buda antes da lluminação); ê e seguido dê uma serie de eventos miraculosos, de deslumbrante bêIeza, quê confirmam a excepcionalidade do evento. Em seguida, a verdade revelada recobrê-sê novamente de formas (1inguísticas, artísticas, simbólicas), etc., que constituem então como um cofre ou un estojo lavrado em ouro, onde aquele instante privilesiado será conseÍvado, por assin dizer, "fora do tempo". o nome deste cofre é "reli-
gião".
A aspiração de todo homêm religioso, mas particularmeflte do místico, é reabrir esse estojo, nesta vida ou post úorter, para reviver o instante supratemporal da revelação, sendo ârrebatado para fora do tempo, da rnutação e do sofriÍnento por aquela verdade
Entre a revelação, que funda umâ relisião, e a realização mística do indivíduo ou a salvação da â1ma individual, há assim en todas âs r€ligiões umâ inversão do sentido dos acontêcimentos: na revelação, a verdade se mostra a "ós, na reatização misLica e na salvaçào nós é que so,os nos( rádos à verdade, LdI como nas palavras tinais do Sâlve Regitra câtó1ico: "e, depois deste desterro, nostrai-nos a
Creio ser essâ a naneira nais sinples de expli-
car o que
a revelação, ta1 cono é €ntendi-
da em todas as religiões autênticas. Cabe umá pã]avra sobre a diversidade dás formas da revelação. Esta pode tomár á lormá de um texto sagraoo, que é ditado aos homens numâ língua apta a rêcebê-lo (as línguas sacras, coÍno o h€braico, o sânscrito e o árabe , têm propriedades que as 1ínguas modernas, delâs derivadas, não têm, e que permiten expressões de um rigor simbóIico que geráInente es.rp, à pu.cepção dos linguistas leigos). Neste caso, os eventos e personagens que cercam o instânte da revelâção não têm importância mais que auxiliar, corno ins"ma providenciais para a revelação do texto. trumentos No câso de ouLras religiões, a revetaçào não é 3t1
con§tituída de um texto, nas da vinda -- e da vida -- de um homem, que é, ele nesmo, a verdade. Nesta hipótese, pode também haver textos em jogo, quer reproduzam as palavras deste homem, quer relaten suâ vida taL como outros a presenciaran, quer comentem e expliquem a verdade trazida nele, mas tãl como os homens ê eventos do caso anterior, desempenham papel auxiriar- Estão no primeir hinduisno (corn os vedâs), o juaaísmo (com a rorah), e o Islamismo (com o corão); no segundo, o Budismo e o Cristianismo. (o caso do taoísmo e das religiões indígenas é mais complexo e nào cabe discut i-lo aqui, mas nào mudâ êm nâda o que foi dito.) Às pessoas que se aventuran a falar de rê1igião frequentemente esquecem essa distinção ófvia, o que as leva â fazer conparações indevidas -_ por exemp1o, entre Cristo e Moisés, o-Evargelho e o Corão, Buda e IrÍaomé --, o que não ajuda eÍÍ nada o verda-deiro diá1ogo que está pressuposto na noção de Cabê comparar somente os elenentos comparáveis,
isto é, aqueles que estruturalmente desenpenhen, nos sÍândiosos edifícios das religiões, uma função simiiar. Por exemplo, no Cristianismo a reveLaçào nào é o EvanSelho, Ínas Cristo; no IsLam nào é uao,é, .as o texto do Corão. Os EvanAelhos são meios auxiliares para chegar a Cristo, e a vida de Maomé ajuda â comprêender o corão- Mas cada coisa no seu lugar. (2) voltândo à idéia do estojo, este é lavrado pouco a pouco, com o auxí1io das primeirâs testemunhas diretas da revelação, e depois corÍ o concurso dos seus sucessorês. Dai provém um corpo de princípios, de textos, de práticas, de obras de arte, tudo destinado a fixar a memória daquele instante priviregiêdo, de modo que nào se percá párá as gerações seguintes. O trenendo poder gerativo da revelação exprêssa-se de maneira insofismáve1 nas dimensões desse edifício: umâ pretensa religião que surgisse de repente, e que, no curso de um século mais ou ,nenos, já não se tivessê alastrado num corpo imponente de cultura sacra, não seria religião de manei35
ra
alguma.
A revelação provén da Misericórdia divina, e a Itisericórdia é por natureza expansiva. Esse corpo de manifestações sacrais quê se alastra, depois da revelação, pelas terras e pelos sécu1os, deve porén ter unidade, e esta é assegurâda pelo caráter ininterrupto da transmissão do ensino e da autoridade, de homem a homêÍn, de nação a nação, de geração ^a geração. rsta transrnissão ininterrupta -- que se vê, por exemPlor no caso cristão, na ordenação sacerdotal proc"dente de sáo Pedro. ê deste á .lesus -- é o que se denomina proprianente "tradição", do verbo latino trad€Íe, "trazer". Designa aqüi1o que "foi" trazido por Deus e que "continua sendorr trazido de
no decorrer dos séculos.(3) Na ríneua outro o sent ido da PáIávra Kabbalah, sobre a qual as seitas dê ontem e de hoje fazem proliferâr tantos enignas e pretensos ,nistérios, aptos a chamar a atenção da curiosidâde grosseirã ê vulgar. Na dupla coluna de emânações divinas da Kabbalâh, entende-se que a "Misericórdia" traz a revelação e alastra aos homeos a possibilidade da salvação pelo crescimento da religião, e orrRigor" assegura a unidade do edifício pela transmissão direta da autoridâde e pela inflexibilidade da douErina conservâda dê Beráçào em g"raçào. Jâ por essas explicações iniciais e eLementares, o Íenóneno das seiLas surge-nos um pouco mais elucidado. Na medida em que nào dispõem nem dã revetaçào -- nem. a fortiori, podem arrogar-se a origem e a posse de um corpo de cuLtura sacra _- elas Poderiam ser definidas como a reLigião menos seus dois e lenentos essenciais. ora, as religiões não são fornadas âpênas Pelos elementos essenciáis, mas tambén pelo concurso de elenentos "âcidentâis", que formam por assim dizer a gordura e a pelê dessê corpo ondê a revelaçào e a cultura sacra são â vida e o sangue. Tais elenentos acidentais são, de um lado, a comunidade ou coletividade dos fiéis; de outro, a estrutura de poderio social gerada pela cultura sacra Pâra prover as
honen a hebra
homem nãô
ica,
36
necessidades materiais dá coletividade; e, finalnente, os hábitos de culto e de obediência por parte dos fiéis. (4) Reunindo estes três componentes sob a denominaçào de "cuIro" -- e siBo nisto o êspírito "posirivista" que presidiu à redaçào do nosso cóaigo Civil --, podemos chegar, enfirn, a uma definição de "seita": seita é o culto sen religião. Em outros termos, é á atiLude subjetiva de obedí;nciâ e devoção (viabilizada pôr uma estrutura de Poderio ou
influência social), sern a contrapártida objetiva de una revelação cristaLizâda num corpo de cultura sãcra. É um corpo feito de gordurá e pele, sem vida Cláro que, etimologicamente, a palavra "seita" tefl um sentido âlgo diverso, e claro tambén que e1a já foi usada com um sentido diferente en outros i"*po", p".. designar outros tipos de fenômeoos. Mas não estou aqui fazendo um estudo de etimologia neÍn de semântica histórica. Estou definindo a palavra, e a coisa que ela designa, segundo ambas se apresentan
olhos. Podem aplicar o conhoje, perânte ceito, tal cono o defini, a qualquer dos casos presentes. Verifiqueín se em todas as seitas que conhecem não existe culto e estrutuÍa de Poder' Existem. Verifiquem, por outro 1ado, se esse culto se ditige â un corpo de cultura sácra efetivamente existente -- a um corpo de dogmas, 1eis, conentários, obras de arte sacra, panteão de vidas dê homens santo§, enfim, tudo o que caracteriza una religião autêntica já aesae seus primeiros tempos. Verão que não se dirige a nada. Ou antes, verão que o culto, nao tendo objeto real onde polãrizar-se, se fêcha em si ."".o, ã".o""r-"e num labirinto autolátrico, e se dirige enfim à estrutura mesma de Poder que o sustenta, ou àqueles que nela ocuPam os mais altos poscos hierárquicos. Entào podenos precisar â nossa àeFini5ào, ê dizer que seita é um culto subjetivista, autolátrico, que diviniza o poderio social que a sustenta. Este poderio pode cristalizar-se simbolicamente na pessoa dê um "mestre'r ou projetar-se
iÍnpessoâlmente na organização cono um todo. 0 ponto 37
essencial é o"e o oôiêro de culto nào transcende iámais as esr;uturas aá própria organização. Há um casor entrêtânLo. que pode conÍundir-no" un pouco, parecêndo escapar à deriniçào arima É o
câso das seitas que se aProPriam de elementos ou asDectos isolados de reLjgiões exisrenLes. Por exernplo rórmulas riruais. sínboios ou dogmás. NesLá evêntualidade, o objero de culro Párecê eferivamente projetâr-se pu', ,ié* do§ Iimites da orgânização, abrindo-sê parâ as dimensõe" sup"riores que sao
simbolizadâs por esses elementos roubados Por exêmp1o, umâ seita pode utilizar-se de elênentos do Àirá"í".", como a noção de karoa ou a recitação do .onossilabo sacro Om (Aum), e evidenteflente suas prát icas parece.ào ter toda a amPlitude " . "1.'"" sinbóIicos que essÊs elenenros eletivamenrê tem na religião origináriá- Para coflpletar o siÍrulacro, a dos próprios t€xtos dã reliseita pode gião em questão, que, circulando em edições-comerciais ao êlcánce de todos (isto quando nao. sao reproduzidos em edi\ões promovidas pelá propÍra seitâ), podem ser tivremeote usâdos Parâ qualquer fin, independemenre do seu u§o regular e da significação que possan te). efetivamente na religiao de onde provêm. Quem pode impedir que alguem use o Evangelho para Erânsflit ir o contrário da mensagem
ou, com base em trechos seletos dos ""angéli"r, discursos do Budá, ensinar como budismo algo que seiá exatamenLe a neeaçào do budismo: Pártindo do princípio de que a vítima desses engodos desconhece coÍnpletâmente as religiães saqueadas, nada pode
impedi-lâ de comprar como coisa autênticâ e completa algo que é apenas um fragmento roubado. o teste decisivo para identificar esse tipo dê operação é j"stamentà o papel fragmentário e incoerente que em tais seitas desemPenham esses pedaços de hinduísmo, dê cristianismo, de budismo. As religiões autêntiáas não constituen amá1ga.as de práticas e sí,uor"s jun(ados a.s.o. poré, (orPo', orgãnismos vivos cuias partes não podem ser seccionadas e usadas fora do contexto sem acarretaÍ ou a norte 38
Parâ dessas mesmâs partes! ou do organismo inteiro precre Nosso: ser cristão não basta rePetir o Pai so, de um Lãdo, comPreender quê os sete pedidos doe pai fro".o represêntam cadâ uín deles uma virtude praticãr ,. "..r"."".à, e, de outro 1ado, é Preciso pela cadeia tais como são dâdos e "..ru.."io", "."." em Jesus ininterÍuptâ de sacerdócio que começa essas ê São pedrà, e que se chama Igreja' Praticãr virtudes tal e como elas são exPlicadas por essáe rnesma tradição ininterrupta, com um sentido claro ã"ii.ia. ."*, torÍente de Livros desde há dois nil com um senrido improvisado e arbirrário ,.".1 .
pela riránia do e8o individual Pára sêr djtádo ";. muculÍnáno, não basta declárar que ""ó oe"s é o"'" ' p.o,",,", p.".;.o s"ometer-'e à toi ;i;;;-; "", " dessê Deus ,j'ico e se Propâgá pYla cadeia ."" "..n, ini.,"..rp,u da tesislá(ào e do ensinamenro esoirj-3 tt1â1 do lsIam, e é preciso imitar efetivamente seus atos e vida desse ProÍetá, regrando-se por (omenrados exemplos, (al como estào relaLadoc. .e exDIicádos nos I ivros da teologia. da iurrcPruden( 1a e âa .spirit"at idade do Tslám. e não segundo os os caprichos do dêsejo individuã1 Caso contrarro' Íé de açào sete oedidos do Paj Nosso ou a de' Iar un <êm sinbolizado mu(utránâ lornám-se um símbolo pura contradição una enLào ou o.o PêrturbadoÍ. 'o, " nào quando 'e tem ã- "i'pr"., como a de pedir ásua ÀLegrê para Porto sêde, ou comprãr uma passagem salvâdor' se nossos aros desmenquando se q,.i;t, rormuradoq em PaIavrês á Iógico i"r""ã."àr""ilà.s quê Deus aienaerá à nossa verdadeira vontâde' exmudamente nos âtos. e nào à Falsa, alegada ;ressa " --'-p-";;;-;;..ê sen senrido-nêm lncençào, própria a nós met,os, nas nâo á Deus A Precê e ,,. ';."." da retisiáo, nào seu sub'rirucivo o mesmo Dôde-sê dizer de rodos os símbolos e r iros em Parii"',r".. o,"* se aproPria de Pedaços do Evangelho sem s.bmeter-se à regra cristã, viola duplamentê a sem Iei cristã. Quem se aPropria de pedâços do corao texto o duPlamente cumprir a 1ei muçulmana, Profana sacro. (5)
39
PortantoJ o üso d€ eiemenros muçulmanos não torna muçulmuna umã seita! nem a tornâ .risrã o uso dê elemêntos cristãos. Esses elementos enfeites, pingentes e plumás coloridas ilusáo de que se cuLrua a Deus, quando ofênde a Deus brutalmenre, enquanro ná prática se .ultua Lná "rganizalio " "êu chefe. Com i\Lo. votré. defini,áo anrer iôr, e as .êiras conrinuan sendo um culto de si mesmâs, um ser mórbido, autocêntrico, egoísta, fechado e destrurivo como um
foi dito até aqui bâsta para que qualquer nao sêndo retigiosa, possa distinsuir com total precisão e rigor entre religiões e seitas. Essa distinção, absoluramenre indispensáve1 como preliminar a qualquer discussão séria do probtema, nao parêce ter estado ênrre os objetivos da .ecente reuniãú dá CN88. onde. ao conLrár ío, houve umá Lpndência á conrundir JêtiberadánÊnre as duás .orsa5j rotulando as seitas cono "movimenros religiosos indepêndentes", o que coofere ao fenômeno u. caráter r'religioso" qrí ele ábsolurampn,e nJo tcn. De tdLor ro fêz"r i""o. a CNBB n;o dêixou ouLro crit;rio de distin\ào.nLre ar r"li8iôês. spiLas, senâo o fato de que as primeiras são ,,oficiais,, e as segundas são tindependenres,' sem atiás esclarecer como uma organizaçào financiada pela CIÁ pode ser "ind"p"ndente". j"ro êquivdtr a negar às ,"1 isiàe", à CaroliLa in.lusive qurlqu"r primdzia nas quesràes religiosas, e em reduzir rodâ diferença a uma questão acidenral de orden sociat e .;urÍaica. t..u.a: resulta em legitimar as seiras do ponro de vista rêlieioso, restando âpênas tegiriná-tas sociar e juridicamenre. Isto é suicídio puro e simples. O.que
pessoa,
mesmo
Para conpletar estes êsclarecimentos, é preciso introduzir ainda uma distinção fundanenral enrre a simples, âpropria(ào imirar iva e tragmenrária dê riLos ê srmbolos rel;giosos, de um tado. p, de oLcro,
a alteração ou inversão propositat desses símbolos
40
e
No primêiro caso, estanos diante do mero fenô"pseudo-religíão", q"e é o caso da maioriâ dâs seitâs atuâlmente existentes. A práticâ de tais "riros" náo têm outros etieiros, senào os quê poden sêr obtido< pêlos pro.edímênros vulSar"s d. "ugestào
meno de
e auto-sugestão (com toaas as sequeLas norais e psicoIógicas que tôm esses procedimentos, quândo transformados en práticas hâbituais e viciosas). Já nô sesuodo .a.", poré., tráta-§e daquilô
ou religião invertida , e isto já é algo de infinitamente mais
que se podê denominar "contra-religião"
grave, pois não é realmente outra coisâ senão aquilo quê recebe trãdicionalmente o nome de "satanismo'r. A palavra "Sarã" -- êm h"btdico F drrb,, shaiLan sisnifi.a pxáramenLê adversário, no ç,nrioo êtiro tó!ico aa expressão 1at inâ ad-versus, isto é, aquilo que toma as coisas PeLo verso ou Pelas costas O "satânico" a que nos relerimos áqui não tem êvidentemente as habituais conotaçõe. mitológicas e fanmente poPular, tasmáticas em que a palavra ma" signit ica -- "tecni.amente', por assim dizPr -a inver'ào p,opo-iLãl dos simbolos, dâ' Palávrás, das coisas, das idéias, dos sentimentos e, evidente-
ritos.(6) A exisrência d" sêira' saLanistás,
mente, dos
que até álatrás era matériâ de pura fãntâsiâ en filque dêspertavan no pr;blico Jná ,êa;." " '.,r"..', in. rédula curios:dade. é to;" "m fato noróde çào rio e contundente da nossa trágica atualidade. A título de exemplo dessas inversões rituais, cruzês de cabeça para todos conhecem o caso dasrrMissas Negras". Menos baixo que são usadas nas falado no ocidente, mas muito conhecido no oriente Médio, é o caso das seitas aberrantes de pseudosufis, onde periodicamente se recitár trechos do Corão de costas voltadas pâra a Meca, que é a direção normal da prece; ou se coloca uma nulher Parâ u prece, postada ná frente dos fiéis, o que "t"rir. é pela lei corânica "ma função exclusivâmênte masculina; ou ainda se realizam as preces §em a ablução preliíninar que purifica o crente pãra comparecer gum tempo
4l
diânte de Deus, (isto equivale, no Cristianismo, tomar a comunhão voluntâriámentê
mortai).(7)
em
a
êstâdo de pecado
Não é necessário dizer quê a prática dos ritos inversos tem também efeitos inversos, isto é, se os ritos relisiosos devêm conduzir à iltminação incerior, os ritos profanatórios conduzem ao embrutecimênto da âlma, à substituição da intelisência pela malícia, e âo ctllto dã perversão e da bestialidade. Conro atestação dos efei.tos de tais práticas nresmo no donínio corporal, pode-se verificar o grande número de crianças nat imortas ou defeituosâs entre os Íithos de mulheres praticânEes de tais "ritos". Que, a pretexco de liberdade religiosá e de igualdâdê de direitos tais coisas possam vir hoie em dia â ser denominádas pelo mesno termo 'rrelieião" (re1ígio) quê designa os grandes edificios de 1eis, ritos e conhecimentos sacros como o Cristianismo, o Budismo oLr o IsIam, é âigo qu€ somente atesta a incon".iên.iê. raiêndo d esrupidpz. o" um" Época que parec. ansiar pelo dbr"no p LIánár pelá di"'ol r,,ão
na vorâgem do nada.
IV
A depreciação do intelecto, mesmo feita em nome dê supostos "ureios superiores" ae contrecimento, é anti-islâmica e anti-espirituâl e. s"a essência. É inspirada pelo apeso à imaginação e à sensoriaridade, funções que, uma vez reprinido ou entorpecido o poderio seÍ freio sobre o hointelecto, mem, revestindo-se inclusive da âutoridade que Pertence exclusivamente ao intelecto e pretendendo ditar "verdades" cuja confusão mesna já basta para caracterizá-1as como ment iras ou desvarios. A excusa da rrfórr não passa de um subterfúgio,
q"e não é aceito nen pelo Corão, nem pelas autoridades, sábios e espirituais do nundo islâmico. o Corào proibe terDinântenente crer ."m razão: "Não sigas aquilo que desconheces" (xVIrr36). zakâria E1 Berry, cornentando este versícu1o, afirnai "o corão proíbe ao homeÍn sesuir aquilo que dêsconhece, quando não tem provas evidentes a respeito. Elê condena áquêl.s que sêguem a oJLros. mesmo a "eu. páis. sem conhec imento. . . , classificando abaixo dos animais o homem que não usa de sua inteligência".(1) Un hedith do Profetá (sobre ele á Pãz) estabelece: "Deus não criou nada mais nobre que o intelecto, e Sua cólera tomba sobre aquêlês que o denigrem".(2 )
à excusa dâ fé, é importante notar que latim, ten a acepção de "fide1ídâde", de
Quanto
fides,
em
rrconstânciarl e de rrconfiabilidade", nada permitindo interpretá-1a no sêntido de umâ adesão irracional a
* rnédito. originar de 1985 t+2
43
crenças insensãtas ou incertas. A virtude da fé sigl ni lica quê o homêm. umá vez têndo apreendiao peia rázao ê pêla êvidência und vprdád., perma.ec.,j ii.r a eIa, mesmo quando sua imaginaçào, ."u, senti,enros ou sua vontade -- para não falar de fatorês coêrcitívos-meramente externos, como a opinião ;;-, pressao das circunstâncias -- o inctinarems.rp;i em sêntido oposto. Denrrô do campo cristão, u .o"..pção nã" p difêrenre, dêsde q!ê á Lêotosia ",."tá"r i.r, .;; sánLo Tomá5 de Aqurno à tr"nLe. dectara que a tá nào € uma atitude dos sentimenros -- e muito menos de alsum impulco obscuro, inêxpti"áver e ,,subcon"cienl re" -- porên uma dcc i sào do incê iect o e dá Vonrade (3). No rnundo judaico, o vator do intetecro e do pensanento e afirmado como sinal de soberaniá inre_ lectual e moral da pessoã humâna, e atesradô, entrê ouEros raro", peto ámo, quê o povo judeu dêdi.á ao. rlvros e-a árrê do.debarp. qu" é tundámenrat pârr á manu t ençáo dâ "'ioráh vivênLê,, (4). Certas expressões ârrebatádas dos mist icos muçuJmanos e crisrào". que oro. tamám sua .É acima e rndepcndênLem, nrê dê mor ivos ra.ionáis. aào pod"m ser desoncstamentc empresadas pará justific;r o inLete,r.. poi" cxpres:an ápenr.., er nodo :f,q,:.:g hrperbolr.o. ã Éidej:dad. do,.renr. d v-rdddê apre_ êndida, mesmo âcimá € independ.nremenrê dos meios de dêscobertâ e prova que â elá conduziram ê que a sus_ tpnLem no campo do pênsrmenro dis.ursivo; ái,". ou" o. finr sào sup-rior.. aos mêio" j"_ -;g"ir;., preciar os neios enquanco rais, ncn ";. Íazer u.o detês sob quálquêr prpLêxro qre sêjd. O sêntido.dessas expre.sàe" ê que d verdáde, mesmo rmpertêrLane-rLe apreendioa, vdjê,nai- do qüê un er_ tundado em razôe, lógr.a,: aajs vale verdáde"parenLem.nre que nào se sabe provar do.que deixár-sê ensánar por latsás p,ovâc. o pró_ prro es(ilo hiperbolico de rái\ dêctaráçôe. êviàen.ia que Êles veiculam hipóresps exr remadá§. quê radás ao pê da lerra ou.r modo ptá.o r"rutrarián Lono ábsurdo puro e .ímptes. Quando sào proter;da" por rrsrrcos mu\utmános. e oreci.o têvar áindá em.onra
o gônio da 1íngua árabe para as
expressões ârrebatadas e hiperbó1icas, cuja tradução para uma IÍnguâ ôcidentál produz às vezes um efeito de incongruência e desproporção, desde que a indole mais fria e raciooâl das línguas ocidentâis não permite traduzir fielmente as emoções de um temperâúento nobremente arrebatãdo tal cono o dos árabes. Quando o sufi diz que prefcrê "ir para o inferno pêla vontade de Deus a ir para o céu contra a sua vontadeii, está claro que ele não está dizêndo quê Deus tênha o hábito de enviar os hômens santos pâra o inferÍo, mas apenas expressândo, por ampliação ad absurdum, a radicaLioade da obeaiÉncia. (Que u'na expr"ssào.omo essa possa "ua ser usadâ por fâlsos mestres para induzir inocentes discípuIos ocidentâis a prãticaÍ o ma1 "em nome de Deus" e a "provar sua obediência" indo êfetivamente para o inferno, é algo cuja monstruosidâde saltâ aos olhos, mas que reâlmente a.ôotecê êrn nossos dias (5) ). lo mesmo nodo, quando Santo Agostintro, após têr verificado que a inexistênciâ de Dêus é uma hipótese absurda, declara sua crença em Deus em termos dê credo quia absurduo ("creio, mesmo que seja absurdo"), está no mesmo ato afirmândo que a crença em Deus não pode ser absurda. A propósito, o uso indevido do termo qatb ("coração") para designâr arsum tipo misterioso dã fãculdade cognitivâ colocado acima e fora do intelecto e da razão é claramente condenado pelos nestres sufi., cono por exênp)o Al-Chazzali: "Há efetivâmente no coração (qalb) do homem r
m olho (' áyn) qu" po"ui perferçáo. (hamám-no à" dê inrêle.to ('aql), às,e,.' oe espirito
vezes
(ruh).
Dêixe de lado todas essas denoninações que as pessoas pouco clarividentes podêm fazer crer que se Lrárá de rêaliddde",úLLipta'. Quanto a nós. preren dêmos designaÍ expressões aquilo que diso hoúen racional da criança, do aninãl e do tingue portanto Chamemo-Io iÍrtelecto ('aql), selouco. guindo a l insuasem corrente"(6).
45
A eminente dignidade do intelecto ê da falã é aindá reafirmada pela autoridade de Jala1 Ed-Din Rú-
mi,
quando d iz: "O homem é um.animal que
fala: o homem acresas caracteristicas aninãis a linguâgem; essas características são permanentes e estão ligadas a ele, e o mesmo sucêde com a linguagem. Quando o homefl não fala exteriormêntê, fâla interiormente. Está semprê falando: é como ",,ra torrente misturadã com fodo. À água clara da torreote é a tinguagem, o lodo é á ánimalidade. o looo é a( idêntá1. Nào vés que lodo e corpo pêrecem e ápodrecem, ao passo que a liflguagem, trãnsmitida pela história, pe1â ciência, .ulturá, ber ou maI, pêrmane(e?"(7) pelá ' Que diria Rúmi, enrào, êm láce das teoriás que ofeÍecem uma "comunicação oão verbal", puranente animal e instintiva, fundada nâ memória ancestral, como forma de "conhecinento direto" superior à 1incenta
guágem?
concluir êstá parte
A1-Kortoby: "Os de Adão distinguem-se pelo seu inte1ecto... A filhos assemêlha-se ao solr e o intelecto ao olho. Se o lei for são e estiver aberto, vê o so1 e percebe as otho das coisas".(8) E com E1-Berry: formas "o pensamento enrào um in
46
com
mento, É preciso transformá-la num hábito ou posse perflanêntê, e q"e só se obrêm pela renoção das distrações e pela concentração do intelêcto. A concên-
traçao, como e obvio, inrensifica a atividade do intel€cto, suprime a pretêxto de desenvolver supostas "faculdades superiores". O rermo "visão interior" uEilizado por todos os místicos, refere-sê do êrrédo de evidén. iá permanênrê que p aL, an\ado pelo intelecto, e que nunca poderia sêr aringido pelo seu mero exercício esporáaico e intermitente, e
sim somente pela prática volLrotária e resulâr. Por outro lado, á possibilidade da corrupção não decorre de algunâ falha constitutivá do próprio intelêcto, mas do simplês faro de que pensar é simultâneamente um ato Lógico (portanto ontológico) e um ato psicolósico (portanto biológico), respondendo simultâneamente, de uma parte, às exigências constitutivas da verdade e, de outra pârte, às contingên-
ciâs e
do corpo
em süa insrabitidade e o pensameoro é riet à sua missão, quando ete se atém à universalidade tógica que reflête a permanência e a universatidade do ser, ple á o "inrplecto sáo" qup corarz o homem : vêrdáde. Quando, ao contrário, ele se deixa €nvolvêr pelas funções inferiores e se torna escravô da inasinação e dos desejos, ete mersulha nâ obscuridade subjetiva dos impulsos biôlóeicos, e é o "intelecro doente" que homcm na prisão da mentirâ e da i lusão. É nesse sentido, e não en qualqLrer outro, que afé e a obediância à Lei revelada podem ser, âo taticamente e na prática, mais imporrantes do o próprio intelecto, já que o bonr funcionamenro dêpende, em últiná instância. da retidão moral resu Iar idâde tradicionál do indivíduo. É claro, então, que umâ pretensa "via espiritual" que por um lado restrinja ou desestimule ã ação do intelecto e por outro excite a imaginação ímedianr. hí"róriâs. medianre "irua5óes incongru;ntes, mediante uma sucessão de estínu10s desenconrrados), ao mêsno tenpo que aá tivre curso aos desejos
demândas
flutuação ciclica.
Quando
41
e abole qualquer rêgra moral explícitê, concorre unicâmente pârâ a sujeição do intelecto às paixões, e portanto para a eclosão da 'rrebelião" que fará do intelecto doente e nundanizado uú tirano a serviço do ego subjetivo. Tudo isso concorre para rebaixar o homem a um nível inferior ao do ênimal, ao nesmo tempo que the dá a trágica ilusão de esrar "êvoluin-
Y
Adecadêtrciaeofiú,
seguDdo as
do espirituâlmente".
doütriras hindus*
sinais próximos de uÍÍ I'fin dos tempos" atraem hoje â atenção de muitas pessoas para e antiquíssima doutrina hindu dos ciclos cósmicos, pe1ê simples razão de que os acontecinentos a confirmam ao pe da letra. Mas esta súbita populêridede de uma doutrina que permaneceu desconhecida no Ocidente durante quêse toda a nossa civilização -- e que, mesmo dêpdis de redescoberta pelos orie$talistas, ainda ficou por mais de um século relegada ao dominio do exótico e do "oculto", no sentido pejorativo do terno --, essa popularidâde não significa que e1a seja hoje melhor compreendida do que ontêm, e nem mesno que aqueles que a divulgaÍn âgora tenhan a mínimê inteüção de fazer compreendê-la. De fato, a tendência geral é para fazer um grânde alarde dos fatos e dos tempos assinalados pela doutrina dos ciclos, mas dândo-1hes uma valoração exatamente inversa daquela que thes atribuen os textos sâcros hindus de onde e1a foi extraíaa. Em suma, os fatos que a doutiinê hindu assinalâ como perigosos índices de uma degradação extrêma e sem precedentes da espécie humana, são hoje apresentâdos como sinais auspiciosos de una era de renovação, de Iuminosidade e mesmo de apogeu espirituêI. Se é arriscado dizer qual a intenção com que se Os
* Novembro de 1985. Escrito para uma publ icação Editora Àbri1 sobre o coneta de llalley. 49
da
faz isso, é fácil, no entanto, constatar o efeito que uma de.se Lipo dêsen. adeid: á pronessa de "ção r..ou"ç;o i ILSór iá raz Lom que ás pessoas se "*u átirem .or mdic 'acilidádê, e dL; com unr Lertá voI úp ia , na vordsên da de. ad;nc iá . o árgdnento (orrenlê de quê rooa Ôxrinçdo conçlitui áulÔmatLcámênie uná rênova!ao e Jora de Proposito, porqu€ o quê está e..ioeo é a melhor qúaLidâde do que sc promete vir depois, -e não o simPles fato da múdançá. Quando um homem estâ para norrer, o^unrco indício positivo de que e1e têra una exrstencra m€lhor no outro mundo reside justamenEe na santidâde de sua vida terrestre e na Piedadê corajosa e honrada com que e1e enfrente a aproximaçao da morte, e não no simples fâto de encontrar-se moribundo, que e algo que tâúbém acontece aos tiranos e assassinos na "aIvá'Fm quê isLo consLituá molivo de .onl:an!a dira que ninguêm Pior êinda. almas. !do dac suas garantia dessa uma constitua uma mort€ desonrosa ac rêregár do que á no5sa civilizá\ào. ordem, n.m ao atirãr-se e trádicionais religiões e a cultura com vorúpia aos piores desrcgrâmentos e âo culto das .ais gràs.eiras Pscudo-divindades já concebidas, con digniestei: morrendo disnãmente, dos seus que fosse mil ímetro dade, sem abdicar um que povos in
A doutrina hindu dos ciclos cósmicos abrange muito mais do que un cicLo de civilização, como o
nosso; ela se estende por toda a duração do nosso rundo. e rss:naIa erâpas ê mudar'a" oer iód icas que transforman nào ap"nas a5 ê\trururâs ço'râIs. Ps'quicas e culrurais, ma. a propria isiononia oo pla.,"tu. e" .t u*uau. t',.aa.ças de erâ" ascrorógicas (de rouro a Áries, de Áries a Peixes, de Peixes a equário), são apenas uma fração das mudanças cicli-
cas rnaiores âssinaladas pelos hindus. As eras âstrológicas, de 2160 anos, sucedem-se por simples mudana mâssa çãs culturais e sociais, lentas e -- para disa cLrrta quase imperceptíveis ãa humanidade -50
"n Lan.;4. 'em á.onPánhdr-se d' alL ra\oês nàioresdo' ..caia física l.to nào á'ontê'e con as nudánça' como srandes ciclos assinalados nâ doutrinâ hindu, que anos, 21 600 polares" de dos fins "ciclos "s marcan alteraçôes profundás na constituição nêsma da h.,mãnioad". e que "ào aconpannado' dê calâ' Iismo" ê t".;m"no- de ord"m ríti.a qun alrnran signi",',.". ficativâmente o panorama da Terra Os melhores estudiosos do assúnto, como Saint Yves d'ALvevdre, Rene cuénon e caston Georsel, são unâni'es e' demarcar as dô 'nrêr ranrlro :media.óes oo rosro rêmpo t'L i. Lrê srdroê" Íeróm"n' ro. a" ,,, àe""". Polár'." proporções, perto do qual a simples oudança de era astrológica é co.o ,r. rabisco de üm sarÔto no muro de um temPlô que rui. eorele" o.e inLerprêtám oc a!orrecimêntÔs çociá;s dá no.'a época à tuz da ruoança de era ásLrológica cometem assim um Pequeno erro de escalâ' que ooãe arLerar sub.Lán'iálmenLê a v:"ào das 'ojsa"' de modo quê '3to5 que êvid"n iám o ê'goramento roLá1 das possibilidadás humanâs mâis báixas, prenunciando .reti,amente also como uma extinção, pÔssam ser vis-
tôs Lono Promi5soras novidâd's' -á.e á icLo. é pr".:'o diz'r qu''m rosso.lerPo una nulr ipli.idáde d" ci' los ' 'smicos ' hr'Lor"o" está cheeando ao ser-r fin, prenunciando uma mudança arrade muitã maiores proporções do que um simples modernÔ nosso do instiEuições das nhão na cros'ca
io.ià.",. i.a,',, iaI . máreriàli'tr' De lêto LÔin' de d€m por volta desta época o encerr'amento da Era piscàs, o encêrranento de um ciclo polar de 21 600 da ,;;; .' . encerramento dâ rdade do Ferro (era decadôncia iniciada aproximadamente em 4450 A C )' iara q"e se conpreenda bem o que isto quer dizer, é p.eciso saber que a doutrinâ hindu -- como'o â1iás, todas as doutrinas tradicionâis -- eflcâra
deseníolvimento têmporal da espécie humana como uma procês50 de quêda proBrês'jva. que dê inrervalo. i"i..,"r. ê susrddo poi uma inte'v'n'ào Providêncial aos céus, com o surgimento de um Avatara ou Profêta' até certo ponto as Possibilidades espi;;;;;;,;".. 5l
rituais anterior nunca poder etevar a nívet pieno de perfeiçào espirituá1 de antes. Dentro do ciclo final da Idadê do Fe.ro, o surgímento do Cristianismo representâ uma dessas reoova,,õ"". _cneBando porranro ao ágora, o "eudotínal. Lêrcêiro e ritrimo p"ríodo da toade rerro. já em si nesma considerada o auge da decadência após as Idades do Ouro, da Prata e do Bronze, que tiveram
humânidade ão
durações bem maiores que a detá. No que diz respeito aos indicios que assinalam o fin da ldade do Ferro, rais como aparecem nâs doutrinas hindus, eles não são muiro diferenres das profêcias contidas no Apocalipse dê São João refêrentes ao encerramento do cicto Íenor constiruído pelo período de vigência do Cristianismo. para que o leitor possa por si mesmo estabêlecer as devidas comparações, damos em seguida um extrato do livro dos Baghavata Purana, Livro Xrr, St. 24 a 44, que tratam do pânorama humano e social desse período:
esse período, os homêns têm a inreli^ ."Durante gencra curtá e poucos Etes são glurões, libidinosos, indigentes. As mulheres são Iiberrinas "Os campos são devastados pelos assatraotes
livros sacros são profanados petos heréticos. IAs mulheres são de talhe exíguo, mas
"orazes, de una fecundidade excessiva, sem pudor, taaarelando sem parar, ladras, rurvas e de um grande descarâmen-
I'o comércio estará nas mãos de gente miseráve1, de ment irosos convicros. Mesmo nào sendo em caso de necessidáde. as ocupaçõ"s iIícitas serào considera-
"Os honens abandonarão pais, irmãos, amigos e parentes, serão dados à luxúria e às areições iiíci52
"os Shudras (homens grosseiros e materiâ1istas), disfarçados em ascetas, viverão deste disfarce, c apt ando oferendas.
"os homens terão a alma sempre perturbada; estârão âtormêntados pela escassez e pelo fisco. "A riqueza substituirá vântajosámêntê â nobreza virtude, o mérito.
de orisen, â
"No câsamento, os homens só b"scarão o prazer, e, nos negócios, o lucro Iácii. "o objetivo ae toaos será encher a barrisa. ia passarâ por sinceridade.
A
insolenc
"A lei dos herér i.os preváLecerá. Toda. ás .âs' tas serão parecidas com a dos Shudras.rl Nesse panorama, os indícios da desagregação -a sexualidade decadente, os shüdras disfarçados de místicos, á hêresiâ proposta como religião, a insolência tomãda como "sinceridade" -- não são por acaso os mesmos nos quais os teóricos da "Era do Aquário" vêm os mais elevãdôs sinãis de uma "renovação
espirituâ1r'?
Eis o que diz ãquê1e que foi talvez o mais tenaz estudioso dâ doutrina hindu dos ciclos no sécu1o xx: .Para os cabãlistas, a "Era do Aquário" é a era do "Princípe deste Mundo".Alguns, entre os hippies, conparam-se aos primeiros cristãos... Mas os 'rfilhos do Aquário" esquecem, ou isnoram que... o próxino "Fim dos Tempos" será imediaEamente precedido pelo advento do Anticristo, que os cabalistas identifican como a "Era do Aquário"..., reino efêmero porquê, segundo o Apocalipse, durará somente quarenta e dois fleses. . . os pobres hippies nutrem muitas ilusôes quando imaginan representar a vanguarda da humanidade futura, quândo en realidade são apênâs os produtos desenerados de um mundo corrompido e próximo da 53
ruína."(l) Evidentementê, os que na décsda de 70 se denohippiês são hoje os fiesmos que lotân- os ashraEs dos pseudo-gurusj e se submere; á todo gênero de experiênciâs degradântes, que passerÍr poÍ irprámi-navam
t
VI
rcas asceti.ás"
Consideraçães*
l
Apreceealei As precês dirigeÍn-se ao "ser psíquico" da comunidade !eligiosâ, e someote através dele à "influência espiritual" cêIêste, que orienta esse ser oum sentido unificante e escendeÍrte; em outros têrmos, dirige-se ao "divino'r êtrevés do "humano universalizâdo", eo "universal" através do "gera1". (1) Pêre o crente, é e aceitação, a obediôncie das regres da religião que o coloca em harmoniê com ê ttâlme de comuüidade", de modo que suas preces possem chegâr eo céu; assirn, as restrições que a obediênciâ possa impor são compensadas pela Gráça que responde à sua prece. (2) É aaí que provém â êstrite necessidade da 1ei religiose. Esta polariza os focos de consciênciá -corno fâchos de luz que se dirigern a um corpo dê valores cuja uÍliversalidâde reilumina, Por sua vê2,
âs consciêÍrcias individuais; reitengrando-es
na
finalidêde de existência. A 1ei destacâ certos valo_ res que constituem a "personalidade" esPecíficâ com
que o tlomem Universal se aptesentâ nessa religião. (3) 0s traços essin iluminados oferecem-se cLsros eos olhos de todos os crentes e tornám-se, * Notas distribuídâs ê alunos de posta a várias perguntes. Dezembro de 54
55
1985.
Por sua vezj guias pará fâc ilitâr ê inrpgraçào dos crentes na reArá.e, ássim, a pêrcep§ào do universal. 5ej áo rnves de impor regras, a retigião dei_ xasse todos " à vonrade", oferecendo uma,,liberdâde,, constrruida simplesmpnre da ausência de teis expl[_ citas, o foco de áLençào de cadá qual, em vêz de se crrrrgrr ao ee,r a1 (" por meio deste áo universat), irie na direçào dá suá diterença individuat (Dortan_ to, quanL irar ívo). o único ponro de con_ ^do a unificar a Assim. vergencra comunidade só poderiá estar localizâdo no íponto cego', deixâdo no po. "u"tro todas as consciências (ou rnelhor, ínconsciênciàs)
divergentes, e que consrituíria assim o,,niojo in_ conlessavel" desde o qual á comunidadê poderia ser manobrada para finalidades que nada tôm àe universal e que ela ignoraria comptetamente. A unidade já não se^ Íária pelo "ponro mais atro,,. isro é, peIã cons_ de vatores univêrsais, nas pelo ponLo mais baixo, isto é, pela inconsciência- ..r". ar" finalidades da orsânizáção, na conversência de rodas as inconsciências. lo invés de um;máxino aivisor cornun", teríamos "mínino múrt iptô comum,, que abarcâriâ a rodos no foco da inconsciência gerat. É a tecnica da contra-iniciação. (4) .. Podemos, porranto, concebêr qual o t ipo de "religião" -- e, portanto, de ',prácesse" anuncia por rrás da,,permissividade'. ê do nu,"iri"ro contemporaneos.(5) Ea roligiào e o govêrno do manêjo inconscienre das massas peto Anricristo.
A redundância aparente esconde una inrenção que apela ao que existe de mais essencial e profundo na
vocação humana. Acontece que
todos os entes serven a Deusj e â formá párLi(ular que assume esrp serviço pm caso e deterninada pelá sua narurÊzá. A pedrá porquê esta é s"a natureza, determinada por Deus, e os astros giram em torno do Sol porque Deus esta órbitâ cono um destino inexorável adstrito à natureza dos corpos do sisrema sotar. Àssim, todos os entes são subjugados pela rarê-
fa que sua natureza impõe, e em nenhuÍn momenro nem circunstâncias thes é oferecida a atternaEivã de dizer Ínão" e nem mesmo a possibilidade de rer dúvidás ou hêsiláçõe" por máis teves e passageiras que sejam.
Se
ente "fâlharr em sua rârefa, estâ falha odtra.oisá senào a supressào pura e simples da sua existência individuâI, como se vê, por exemplo. pelo Íáto de quê os spres viventes, aos quais foi por suá naturêza ordenado viver, cessam de existir tão togo essa vida sê interrompê por um instante, não podendo de maneirâ alguma estarem mortos por un lapso de tempo e volrar à vida en seguida. (6) Do mesmo nodo, uma substância química, cuja natureza é aeriniaa por um certo asregâdo de Partes, ou atomos se quiserem, cessa de existir enquanto tal, tão Iogo essas partes são dispersadas e integradas - a outros cor.pos circundantes, não podendo r:ma mo1écula de um
nào represenra
carbono ser desfeita
2
A obediôncia e
forEâ àuÍrana
a
Se Deus é Onipotente.
e se todos os entes
dos estão sob Suas ordens, quâ1 o sent ido que tet a exortação de,,servir a Deus", uma vez que existe alternar iva? Não e isto como pedir fogo queime e a água molhe?
56
poge
rê fe
ita
à
Toda "fa1hâ" implica, portanto, a dispersão das pârtes cujo agregado consritui o ente e que por ocâsião dã falha são integradas a outros entes. A dêsintegração da forma de um ente no insrâÍre da cessação da sua tarefa não impede que as partes, isoladâmente cons ideradâs, cont imlem desempenhando cada qual a tarefa que lhe é própria, integradas porém num our
ro organismo ou sisrema.
51
Na decomposiqào de um enLê, ás parres sepáradas, ao serem inregrâda" srsLema continuám cumprindo essa rarefa isolâdan€nre, isto e, num nível de inregração mais baixo. por eremplo: as cétu1âs dispersas de um.ào morro DodeíÍ conrinuar vivpndo nos vermes q,,e as aevo,.., nras já nào havêrá ên( rê p tás u ."o.o"nr,,ào, á i;rêsraçào numá unidádê supe,;or e numá torma "6sss 6"norlnada "cão". Em outros termos: â obediência prossegue, rÍlas a forma individuar desapárece. Tudo o que existe obedece a O-us. más nem (udo o que exisrê pêrsevêrg idênt ico na existência *.* môdo ocorre com o homen. sabemos que êsLê 9" e um (ompjexo q rê inregrá pártes -- ou láixas '- PerLen(entec ànalogicamenrê aos trêç rernos dá naturêza: minerai, vegetal e animalt as quais são coroadas e integradJs p"tá. tunrà"' proPriámente hurnanas, que dpr,nem á roima -- ricicá e êxicrenLiál -- da nos;a espécie. Essas 6ui*," disrõem-se hierarquicamente, e no insraote em que cessa uma das funçóes supêriores, as infêrio;es cofltinuam imperturbavelmente sua tarefa, mas fora desse todo integrado. por ex€mpto, quando cessam funções propriamente humanas -- ting"agem Lósica"s € oPção voluntária
animai" J",eior " intlinros -pxi,rindoj más opprênd; lorâ dos quádros deLprminadô" p.lá5 tun\ô.. humana.. E, quándo se extingue a vida ánimal e vcgetativa, os componentes ninêrais do corpo humano cãnservao inalteravelmente suas propr edades. ás quais .onrjnLam,. porránto. dê\empênhando suá tar{.ta. só quê r'gorá ja nêo sob o cooando de una vontadê humana nen dê um impulso animal vivenre, mas sim ao sâbor do jogo de causas que .srêja em ação no oedd\o de Lerrá onde o cor po -- as
Íun5óes
conr inudm
estpjà sêpuIrado. Assin, o ênte individual sêrvira â Deus -- isto e, obedecerá à sua nature,a -- em qualquer circunstância, nâs dêntro dos linires e do níve1 definido por natureza. Se L,Í ênte peÍde á propriedâde humana, continuará servindo â DeusJ más
ja
não como homen,
e sim como animal, sujeito 58
às
leis do nundo animal; e assim por diante, descendo até a niflerâIidáde, cuja obediência é exemplar ao ponto de â alma do hoÍnem perfeito ser sinbolizãda
por un cristâI.(7) Dessê flodo, o que se exige do homen quando se o exorta a rrservir a Deus" é que não o fãça sêgundo o joeo de tensões e repuxos câusais que definem a êsfera animâ1, vegetal ou mineral, mas como homem, segundo a Íorma propriam"nre humàna de obediência, á
qual implica os três fatores que sesundo o corão definem a condição hunana, e que são a iotetigência objetiva (capaz de ápreender o absoluto e o relativo), a vontade livre (capaz de optâr pelo real ê rejeitar o ilusório) ê a Iinguasem 1ógica (capaz de abstração, isto é, de superâr a particuláridade e êlevar-se ao universal). Quãndo se exorta o honem â çervir a Dêus, a êIternál ivá á que esca exortaçào s" opõe não é a possibitidãdê de que o homem deixe de servir a Deu§ de uma forma ou dê outrã, mas que ele deixe de ser homem. Em outros termos, que ele Passe á sêrvir a Dêus por ouLr05 mor ivos e modos que rào os propriamênte trumanos, já que o duro sono dos mineráis e o jogo .e8o do" insrinros animais são Lambén, a seu nível, dererminaçôes dâ Naturezã e, portantoJ sêrviço prestado a Det1s. À intelisência humana é a intelisência hümana porque pode conceber distintos graus de relatividade e distintas modalidades de reflexão, direta e indireta, do âbsoluto no relâtivo: a vontade livre é a vontãde livre porque se "ê aiante de urn n;mero indefinido de álternativãs e pode escolher aquela que nelhor reflita â absolutidade de Deus na natureza das coisas, dentro de um contexco pârticular e de uma contingôncia vivida peta sua individualidade. A linguagen lógica é a linguagem lógica porque tem a possibilidãde da contradição interna e porque pode, pela coerência do discurso, refletir â Unidâde divina e, portanto, reportar-se ao Infinito pela perfeição da forma finita. Somente â obêdiência por esses três canais é propriamente humaná, e somente esses três canais conduzem à ideotificação do homem com a 59
Vontade do Céu, como se vô pelo preceito cristão de qúe ning"Ém vai á Dêus ex.eEo por Jesus, e pelo hadith: "Ninsuém encont.a.á Deus "e prinPiro não river encontrâdo o Profeta.Í Em ambos os casos o que se preced ida pê la dizê que a ascensào à divindade realização da perfeição do estado humano, ou, em outros têrmos, que os Grandes Misté!ios são precedidos pe los Pequenos Mistérios. o célebre hadith -- "Meu escravo não cesse de se aproximar de Min por devoções voluntárias, até quê Eu o ame..."etc,, contém de modo sintético todas essas distinções, ná mêdida en que o "aproximar-se" inplica a distioção dô Absoluto e do relativo (inteligência), ou "não cessar" designa a concentração (vontaae) e a "prática voluntária" deslgna prêclsamente a recitação ou dhikr (linguagem). Do mêsrno modo, pode-se entender a obediência Iivre, inteligente e voluntária, ao realizâr a Perfeição da "servidão" transfoima a servidão em "amizade", cono se vô pela sentença dê Jesr-rs (" Não vos
senão amigos"), e, tâmbém, châmarei mais pela forma comum das pâIavras "santo" e "amigo" em r íngua árabe (rraly). Segundo todas as doutrinas Erâdicionâis, o estado humano é condicionar e pode ser Perdido. Budâ áÍirma que um nascimenro em forma humâná á,m e,"nr" tão precioso e raro quanto o seria a coincidência de uma tãrtaruga, num Iugár qualquer do Ocêâno, Iograr pâssar a cabeça por uÍna argola atirada em qualquer outro Lugar do mesno oceano. E aliás, basta a mãis leve comparação com as outrâs espécies animais para constatar a insignificância n"mérica da espécie As trâdições extremo-orientais estabeleceín vá-
rias gradações de distinção entre niveis não-humanos e infra-huflanos de existência, gradações que são
exigidas pela doutrina dês transmigraçàes. Más, Para as tradições ,onoteistas, todos os estados inferiores ao e§tâdo humano constituem, sen distinção, o "inferno", o que a1iás é fo.çoso pela etimologia mesma da palavra, 60
do mesno modo que nenhuma tradição desmentê a Oniporência dê Deus, á qual rêgê mesmo o" êstados âssim tâmbém nênhumá postJIá.4 conquista ,.,".""i". de estados superiores Íora da unica via que e a
E,
o Homen Perfeiro ou ProFetá, c á reálizaçáo da plenirude dos trés árt ibuLo' humános' Vê-.e por ai o quanro e moncrruosá â perspecriva oue. sob o rótuto de "suÍismo", afirma a supeoa ooedjância coprciEiva -- idenriÍicán'i"'i;â.á do-a com a per r"içào --. e identili'a a "verdadeira l;berdádê" com a "ausáncia dê alternaLivá", o que implicê â de"istáncia inicidt da pertêi\ão humana e a t"sca ae uma forma lateral e forçosamenre inferior de obediência, a qual, não podendo ser â dos bichos nem â das pedras (nos quais un homem não poderia trânsformar-se conservando, ao.mesno temPo, a forma exterjor humáná) .ó poderia ser a dos denônios, êstes obviaflente também são "servidores" â seu modo e, obviamenre, nào tâm álEernáriva, senão obedecPr e concinuar
idpnrifi.a(ào
com
3
A farsa do "inconsciente Pessoal" Que o homem seja presa de têndências destrutivas -i animatescas ou mesno diabólicas --, as quais às vezes atuam por meios inconscientes, e que seja necessário expor essas forças obscuras à luz da consciência, para reprimi-Ias ou canalizá-1as segundo o caso, é algo en que a maior Parte das correntes da psicologia moderna concorda com ãs doutrinas trádicionai;. Melhor dizendo: é algo que sempre foi diEo pelas psicologiâs tradicionai". e que ás escolas moàernas'copiarãn, atribuindo a si o mérito de 61
uná descoberta que não thes pertence. Mas, para pio-
rar as coisas, a cópla não foi fiel: a psicologia
moderna introduziu na noção das forças subconscient"s una êntase peculiâr, e ranbém estabeieceu (erL05 modoc dê lidâr .on êssas Éor!as! com a' quais a perspectiva tradicionâI não pode concordàr de manei-
ra
âIguma.
o ponto Iundánen(ál dê dis.ordání;a é que a. escolás nodernas, com Freud à trente, lor\ás incons.ienres infêriores como perLencen(es à alma individuâl, ã sêrem reconhecidas como tais, Iassunidasi'e, em sêguida, "sublinadas". Alguns psiforças a "verdadeira cótogos chegam naturezarr do homen, apenas encoberta por uma fina camadâ de proibições e tâbus culturais, que seria nec"ssário retirar para restabelecer a sáúdê ê á naturalidadê; o p.óp.io Freud, evidentemente, nunca chegou â tâis êxagerôs. Do ponto de vistã tradicional, ãs forças inferiores não pertencem de nodo âlgun à psique individuâ1 humâna, e se um homem as assume cono conponentes dê suê inorvidualidade, ou dá suá pessoa, está simplesmente se deixando dominar por elas ê se rebaixando voluntariamente ao níveI do animalesco ou do diabó1ico. Se tais forçâs, umê vez ássunidas como se faz na psicanálise e cm outros tratamentos do mesmo gênero, poden en seguidá ser sublimadas ou sociâIizadas, de mánêira que o animá1esco continue presente r mas sob forna disfarçada e socialmente aceitávet, isto só é possivel na medida mêsmâ em que a própria sociedade à qual se procura adaptar o indivíduo tem also de ânimalesco e de diabólico. Há unã diferençâ radical e inconciliáve1 entre a sublimação-socialização! ta1 como a entenden a escola frêudiana e seus similares, e a efetiva vitória do homern sobre as forças inferiores, tal como se realiza nas escolas espirituais das tradições, por .étodos que nada têm em comum com os de quaLquer psicoterapia modêrna. Essa diÍerença é .es.a que exist€ entre um animal feroz adornecido "e un animal donéstico. o primeiro nostrará as garras tão logo dêsper62
Segundo as doutrinas tradicionais, â posse de uma almá individual -- isto é, dotada de uma foÍma própria e ditprente em Lada caso -- é uma caracteristica exclusiva da espécie humana. As demais espécies, aninais e vegetais, têm apenas uma "alrna coletiva", denominada seralmente o "gênio da espécie". De modo que, nessa perspectiva, somente aquilo que é proprianente humâno -- isto é, caracterizado pelos três atributos que defineo o homem: inteligência
objetiva,
vonEade livre e linsuasem -- pode ser reconhecido como pertenc€nte à atmâ individual, tudo o mais provindo cie um residuo dá animalidade no homên, resía"o este q"e é por sua própria natureza coletivo e impêssoáI. A presença de quaisquer elenêntos ánimalêscos ou diabólicos no homen deve ser vista senpre como uma intrusão, e o invasor deve ser expulso para que a alma individual recupere sua integridade. Qualquer tendência inferior, lonse de pertencer ao
âmbito dâ própria alma, já;. poÍ si me.mâ, um siná] de decomposição dã alna, dê sua desagrêgação sob o impacto de forças psíquicas estranhas e inumanas que ultrapassaram a sua capacidade de reação consciente. Portanto, assumir essás tendências como se fossêm próprias da individuaLidade (sem contar a aberração dê considerá-las a verdâdeira natureza da pessoa), assumi-1as ao invés de combatê-las, é una verdadeira inversão do processo de cura da a1na. Equivâ1e a colocar a consciência a serviço da despersonalização. do homem; aquele que se entregâ a tais experiências torna-se vitina inerme e paradoxalmente satisfeita das influências desagregadoras e desumanizantes que atravessam a sociedade atual como râ i adas de ventos furiosos. Na perspectiva cradicional,
o que o homem tem não são supostas forças inferiores próprias da alma, mas, justamente ao contrário, fraquezas de uÍna alma que, sem deixar de ser hunana, pode no entanto ser invadida e dominada por forças estranhas. oaÍ que o conhecimento da própria alma seia, na perspectiva trâdicional, una consciência de conscientizar
bl
e permanentê da própria fraquezá -- e, porranto, umã busca constanre de apoio nas verdades univêrsais --, ao contrário do que ocorre em ranras agudâ
psicologías modernâs, onde o suposto ,,autoconhecimento'r de forças ânimalescâs e diabóticas produz uma
autosatisfação estúpidâ e pretensiosa, que já é, e. si mesma, also dê animatesco e diabórico.(9)
4
ttudiração
l A meditação é uma operação do pensamento (e, portanto, da ringuagem), não sendo possivel conirndí-Ia, de un Lado, Loa esLado5 propriamente .on templativos, sileociosos, aos quais justamente ela conduz e para os qLrais Em árabe, a mesma palavra que designa "pensar" sisnifica ""mediEar": fikr, que é ,.Lma operação complementár âo dhikr (rê* citação, concentração). o fikr recordã á para que o dhikÍ recorde Deus. 2. A
meditação ó essencialmente ativa, no a vontade deliberadamente conduz os pensâmêntos nã d ireção certá.
sentido
em quê
Existe, hoje em dia, muita conÍusão a respeito que seja oeditação- Em geral confundem-na con áI8um êsLêdo de quietude e repouso inLerior, que antes constitui um simples ,,retâxamênto,' (Íelar). Á confusão é propositadamenre alimenrada por organizações contra-iniciáticas, que procuran ganhar âdeptos _mêdiante o apelo à busca de um arÍvio fácir paÍa angust ias vulgares. Meditação é uma operação p€Ia quat a menrê, partindo de dados firmes da doutrina, escapa aos erros e volteios anárquicos do pensanento vutgâr,
3. obstáculos .e"taii que podem inteÍromper a neditação (cu1pas, imaginações compulsivas) seriam obstácu1os muito mais graves a um estâdo contempLativo puro; a mente, que não está treinada pela meditação, não â1cança ta1 estâdo.
medrráÇáo
seja
do
"ditando-se" uma I ição sobrê un ponLo de douLrinâ. A e meio presa. neio tivre, de nodo a ,,reconduzirÍ suavemente ao fio central o movimento da menre. Seu exercÍcio pressupôe duas condições: (a) o conhecimento dá dourriná, e tamUém ao" .írboto", q.. perínitem pela analoBia "rêcuperarí para o rema cen-
tral êventuais movimentos laterais espontâneos da rnente; (b) uma técnica de prece e conceniraçào, que estabelece o fio continuado do rema. A meditação é circ"tã., ou antes esférica, no sentido de que todos os planos da alma são convocados a intêgrar-se no tema central, constituindo una totalidade harmônica q,re é em sua conpletude una irago mrndi, portanto uma iúago Dei-
4- As culpas € temores devem ser removidos antes dá neditação para não cortarêo âbruptánente o seu fio, donde se conclui que sem os ritos prêlininares de purificação a mêditação é impossíveL. 5. Muito nenos deve-se confundir a meditaçãô, a oração, sejâ com a recitação continua (prece jaculatória), e certamente e1â náda tem a ver com
com estados de "ben-estar" mêrânente auto-hipnóticos e com um desfile dê bêlas inâgê;s pela mente. ( lO)
5
Passividade
Em certos mêios, Iouvâ-se nuito, hoje em dia rrpa.sividade", que represenLaruma espéc ie 'e supàe de suna das qualidades propriámente femininas, opos j çào à "aL iv idadê" mascu I iná .
64
65
Iais oposições, como se apresenraÍn no Linsuajar dos eios "ocuttistas", são senpre suspeitas, não cm sr mesma§, e cLaro, porque representam polaridad.rs a'r- ollviân,,'Lc r;.n r.guná rêatidad- en * r própr ,, .í,e.. q,; deias ... rá2. o quar É uo r "a' ." ,.. nimo simplista grôssêiro, e e na pior das hipótr:scs vo rado d. ropraoan.nLe à conrusào medid.r o jogdo dup Io sent ido. Se há (,m ponto pacífico na Tra
o que d€fine a postura de
r1
"homoo verdadeiro,, conro
de alguóm que é passivo en relação ao principio ativo em face da maniÍesração. O profeta -- ou iniciâdo que, na escatá da reatização mistica,
a e
Virgên -- sobre
e1a a paz --, que na Crisrandade representa o cume dâ perfeição humâna e no Tslam tem
o estatuto de prôfeta. Embora essencialmenre feminina, a virrude da obediência é ocasionatmenre simbolizádâ por tipos masculinos, corno Abrahão -- sobre e1e â paz. Do mesmo modoJ a segunda Íunção é essencialnenLe masculina, não taltândo porám rasos em 9ue acidcntalm€nte a virtude do comando proíétieo seja concedida a uma flulher, como no caso de Sta. Joana mesmo
Dentro do Ternário dos nundos -- Céu, -- e denrro dos ternários derivêdos
Homem
prolongam pará denEro do mundo humano (corpo, aimá 66
volirivâ,
alna
pãssividadê ao fêminino e a atividade ao masculino, atribuição esta q"e só tem validade plena ao nível do Homefl llniversá1, tendendo a ser substituida, nos graus inferioresJ pela multiplicidade de combinações que constelân a gamá todâ dâs possibilidades indiv idua is.
o o
reprêsenra,-- tem âssim uma dupla face, uma voltâda para o C€u, outra para a Terra. A primeira face é passiva, e coÍresponde à atitude de obediência do servo em relação ao Senhor; a segunda, átivaj corresponde ao papel de profêta-1egis1ador, portanro de governante e chef€ militar, juiz e mêsrre. O aspecto passivo, cuja pêrteisào ã, de um tado. a anura,,ào da vonráde propria em ,ace do (omándo de Deus, e dê outro lado a Ibrancurarrou purczá da inteligência aptá a refLetir sem átterãção a verdade, corresponde efecivamente a um aspacro, por assim dizer, feminino da perfeição, e por isto ele pode ser r.epresentado por uFa mulhpr(ll). O Modeto, npsLe caso, é a Sanra
espirito; álná sensitivâ,
lectiva, etc.), a atividade e â passividade podem combinar-se de muitas maneiras, sendo que, quanto nênos univêrsa1 e mais particular o nível de aplicação, mais é arriscado atribuir uniformemente a
a1ma,
inte-
6
Pedantisoo
.Hoje em dia, cada qual julga-se no direito de rotulâr como "pedante" o emprego dê qualquer palavra que e1ê particularmente não conheça, ou com â quaL
não esteja pessoalmente habituado. Como são por definição os mais ignorântes quem ignora o maior número de palavras, o vocabulário sociâlmence admicido restringe_se dia a dia, ao mesmo tempo que proliferan os termos de 8íria, os sons inarticulados e as corruptelas de paLavras estrangeirâs; e como todos estes termo§ dePendem de moda ê são portanto de cuÍta duração (sem contar ainda as gírias puramente Iocais, que testringem ainda espacialmênte o vocabulário), venros que a comunicação de quaisquer idéias se torna a cadâ diâ mais difíciI. o crivo de cIáusulas restritivas, cada vez mais apertado, acaba por fazer com que mesmo a expressão des idéias mais simples e pátente§ se torne un desafio dp gigânte, a não ser pará quêm res tr inje voluntarianente seu público. A inveja, o cornplêxo de inferioridede, o narclsisno ê e tirânica auto-afiÍmação dos mâis ignorantes e grosseiÍos toma o lugsr da ciência e da cultura, para não fslar da sabedorie. De mero recurso de crÍtice ê correção estilís_ 67
era, o rótulo dê pedantisno tÍansformou-se num in;trumento de opressão que faria inveja à propaganda nazista, e prênuncia, hoje, o reinado do ticâ
que
SupreÍno
Imbecil, que é o Anti-Cristo.
o capricho fúti] de multidões de tirânetes -cada qual julgando-se padrão e Ío na Para toda a humanidâde -- tornou-sê o supreno critério de valor
e veracidade. A leviandade das avaliações contrásta con o peso aterrador das penalidades qúe dêcÍeta. Diriâ que hoje o temor ao julgamento dos inbecis pesa como uma espada de Dâmocles sobre todos os q". à"...u",, se não estivesse seguro de que ninguém mais conhece a expressão "espada de Dâmoc1es" e não temesse incorrer no crime de "pedantlsrno".
1
Lixo oeatal
o "1ixo informático" de hoje em dia produz necessarianentê na psique de câd3 qual um "lixo rnental" constituído de palavrâs soltas, sons inarticulados, associações de idéias sem nenhum sentido, trocadilhos âutômáticos, para oão falar de residuos dê pornogrâfia e pornofonia en toda a sua presença contínua e obsêdante nos ouvidos e na me.ória. Essa "cortina de sujeira" é um dos principais q"e é condição indisobstácu1os à "na espirituais. "oncentração, pensávet da prece e de outras práticas o "ruído psÍquico" êxcita, irrita, atrai, dispersâ, nove e derruba o mais bem intencionado principiante. Ele existe " é tortatecido diâriâmente pelos meios de comunicação, pelos cartazes luminosos, pelo falatório oco dos bares e restaurantes, pelâ exibição maciça e inconseqente de objetos de consumo e de desêjo acina dâs pôssibilidades de aquisição, e
não se deve esquecer as práticas psicológlcas per;;;.,; q,. proctrram arrair -e rixar a aren5ào oo indivíd;o nes'as insigniriràncias, 'omo se Iaz ná "terapiâ" Fischer-Hof fmann. üuito" p.o"u.uÍn fugir disso -- bêm cÔno dã triviá1idáde opr"ssiva dá vidá cociat -- fugindo pará o .r,o . Uuscanao "a natureza"' Yas. por ur lado' a
natureza se encontra aviltada pela presença obsedãnPor rr aas máo'rina' e LárrêzPs do mundo moderno' epela ô,,rro Iado ecsá fusá é pla mesma aIimeflLáda sôciedade inaurrriãt, a título dÊ deriva( ivo, por sua vez industrializado sob váÍias modalidâdes de ; i..i...,,, vernizes ídeológicos natuÍaIistas. A fuga rem€te de volta obsessivamence ao Donto de Dart idá. ' ô,'tlrô,, ven da sociêdddê indu.rrial, mác, uma vez assirnilado, ele não está aqui nem a1i, geografi*". ná *.n.., nâ a1mã do indivíduo E se ""*""i", quem foi sujado foi a alma, é ã alma que tem de ser 1impa.
Pâra limPá-Iá, á preci'o. Primeiro' nào retoro'as. piadas gross"iras' c.r o Ijxo os êuromdaraceios bobos e crocadilhos quê excitan se ti"ro" *ai" baixos dâ nente inferior' Tambem nâofa1deve aLinentá-1o com un linguajar inãrticulado' samente "espontâneo": é preciso esfoÍçar-se para i.ir. .1".., "om Frases comple(ás. porque a.perfeirào da Forma atrai a inspirarao correlat Já que oe irresistivÊlmente atrâído pela beleza i"i'i,.; e a srámaLrca oeia intperidaoe. e já qre a lósicâ como a pensámênto' da integridad" do "ào o o.incípio rerórica é o princípio dá-beIpzã do di5''urso proveito Em terceiro lugar, é preciso tirar dessa bâse constituíãa Pela linguagen, Para dar fora na aos atos, e daí aos sentimentos, para o que premais o p..." *."rá, bem como â 1ei, constitui cioso instrumento
estímulos, que Íazen do mundo á(uál uma imaeem do intêrno. EnLre esses est rmulos,
por ínais miI e
urn
68
69
VII tloratidada 3eú Deus?* Àté uns sécu1os êtrás, o atêísmo ere considera_ ull|e simples inorslidade. "Libertini6mo" erâ um dos seus sinônirnos. Hoie Ials-se de ume "noralidade leigêrr ou mesmo de ume rrmoral aBoósticarr, como coisa evidente por si nesmê ê que não necessita especial
do
just ificação.
Nesge contexto, s'.rpõe_se que todas ês questões rnorais estão Íre depeüdêÍrcia exclusiva de certos t'princípios" nais ou mênoa convencionais aceitos pela coletividede, e que portanto Podêm ser Íesolvidos segundo critários unicsmente humanos, sem nenhum uma instânc ia "divina'r. os mesmos "princípios", ecredita-se, Podem sêr ac€itos tanto Pêlos ateus qirento Pelos crentes' Crer. ou não crer em Deu6 pâssa a ser uma questão subjetive! e ser decididâ no foro íntimo de cade um, Ionge das discussões objêtivas sobrê a morali.dadê sociâ1, sobre âs quêis eIs não deve êxercer nênhuúa interfêrência relevaate. En suma, a moralidâde pássou da eLçadá Íeligio_ se para â êsfers Puraúente juríaica, êducácional ou polÍtica, e todo êpeIo à idéia dê Deus, tornâ-se no à."o, ur" intromissão indesejáve1 de consideraçães "netafísicas" -- no sentido corrente e Pejoral ivo da palavrs, isto é, dê elgo absoluEamenre inveriticavel e hipotético -- no contexto de uma discussào que bem poderia ser resolvida inteirâmente por neios "racioneisr', i8!o é, mediante o aPeIo, Por exenPlo, so
*
Publicêdo [ro Joroal dr TÚde de 27 de fevereiro de 1982. Reproduzido seú â1terações, 71
intêres
se
co
Iet
ivo,
aos
queiros, ou a qualquer
sent imêntos humanos corriout ro cricério purâmente
Se o crênrej apesár disso, ins is te em imiscuir Deus na moral idade, admite-se cortesmente que o façã, e adÍnite-se isso em nome de um pr inc ípio de "toIerância", que, por suâ vez , também não é o divino, nas humâno, o que rêsulra em a f irnar implicitamente que o honem é melhor para Deus do que Deus
Embora irremediavelmênre viciosa, êssa posrura
está tão disseminada hoje êm dia, que mesno os sacerdotê5 doc vários "utros tpara nào dizêr á ma"sa do" Íipi" comun.) aceiram discJrir nêssê" rermos, cono se vê em congressos fiLósoficos e educacionais onde o ponto de vista "caró1ico" ou ,,judaico,'é apresêntado e. pé ae igualdade con ourros tãntos
de vistá puramêntê hLmanos ê ,onrinSênrês, catolicismo ou o judáismo fossem simptes es.olrs filo'ófica. máis ou mênos recente< e inprovicádás .omo o marxisno. o bêhàviourismo. â p.icanalise. er' . Como .e rudes"e l,âv.r ,rra mêdidá .omun entrê as religiôes rêveladas e ás opiniões indiviPontos
Quando consideramos que os códisos morâis da civilização ocidentat derivam codos de â1guna fonte religiosá ou espirituat - seja p€to cristianismo, seja pela inftuência judáica, he1ênicã ou nuçu1mana, seja pelo Dirêiro Romano. que por sêu tado também náo era dÊ origem "puranenr, huná1a,'ma. esrává Iigado a todo um complexo mirico e rírual -- podemos nos perguntãr como foi possível, em menos de três
seculos, uma âIreração tão profunda. Associa-se seralmente esse fenômeno à aisseninaçào, a párt ir da Rênascençê e sobrêrudo depois do seculo xVTTT. de vários ripo< de arcísmos "cientírio evolucionismo, o pragmatismo, o positivismo, em que se denomina o r,âdvenro dã
Essa explicação é mais o,r menos correta, mas ressalvas. Primeira que o processo nào 'e ini(ia na Renascensa, mas remonta ao século xTTI, quândo fatos de nâturezã puranente poLítica e interna da Igreja desencadearam a destruição dâ imâgem cristã-nedieval do cosmos, muito antes dos descobrimentos científicos aos quais se atribui êrroneamente essa destruição. Tais fatos são demasiado conplexos para explicar aqui, mas já me referi mais extêÍsâmente a eles num livreto publicado algum tempo âtrás (l), sendo desnecessário repeti-1os aqui. Basta dizÊr quê êles l"vám à conclusào de que está inreiramente erradâ a concepção popular segundo a qual foi o .progresso cientifico" que destruiu a primazia dâ concepção cristã na cultura ocidental. Em segundo lugar, se a disseninação do ateÍsmo foi a causa genérica da asceosão da moral idade agnóstica, destaca-sê, entr.e as manifestações do ateismo, urna espêcificamente, que por sua força de convicção pode ser considerada a deterÍninante da ãtitude moral contemporâoea, ou pelo menos sua mâis com duas
lêvante j ust i ficação. Trata-se da divulgação pelos antropólogos e etnótogos, da diversidade de códisos morais nas váre
riâs culturâs.
Os antropóIogos associam essa diversidade à variação nas instituições po1íticas e econômicas, nas formas de adâptação do homem ao meio natural, nas estruturas faÍniliares, etc. Isso tende evidentemênte a mostrar o caráter adaptativo e secundário da rnoralidade e, portânto, â abolir toda idéia de uDâ noralidade absoluta d€ origen divina. Os livros clássicos, nesse sentido, são os de Bronisla!, MaIino\rski e Ruth Benedict, entre outros, que se tornâram nodelares como padrões da atitudê científica ante as demais culturas. A atitude de "isenção imparciaL" do antropólogo exige que e1e se limite a descrever as diferenças de pâdrões morais entre as várias culturás, seú pÍonunciar-se sobre a superioridade de uns sobre os outros nem sobre a verdêde ou erro de cada um êÍn particuIar. Restaria perguntar se essa "isenção" cria con13
dições para uma objetividâde, como pêrece à primeira
vista, ou se ela já não constitui um parri pris que vic ia todâs as cooclusões. Na realidade, para situar-se imparcislnente ântê todos os cóaigos morais, o cientista deveria ôu
possuir um outro código, inrelectualmenre superior a todos eles -- que os abrângesse e superasse dialeticamente, constituindo-se como um eixo pernanent€ do quál derivássem como variações ocâ"ionâis -- ou, cáso Lontrárror colocár-se num ponLo de vjçra simplesmenre arnorâ1 ou indiferenre. À primeira hipórese está excluída porque ra1 alegação àe s"perioiiaaae não seriarrcienríÍica", e de fato os antropó1ogos .járai" a adotam. Quanro à segunda hipórese, que de láto e a da maioria dos cicnrisLas, não se compreende cono uma atitude indiferenre poderia levar a
outra coisa senão à inairerenciação, ou seja, a encarar todos os cóaigos morais como igualmente irrpLevantês. Em ou(rás patavrás, náo se vê como â indiferença poderia ajudar a caprar, precisamênre,
diferenças. Rests áinda uma Eerceirâ alternativa, que é a dê o cientista colocar-se numa posição ativamentê antimoral ou irnoral, de modo que a descrição das
várlas noralidâdes resulrasse em relati;izá-tas todas dê taI modo que, vistás junras, assumissern o aspecto de uma absurda galeriâ de erros, esquisitices regionais e preferências arbitrárias. parece-me
quê é justanênte isso o que acontece em grande número de obras antropológicas, mesmo quando o autor rem una atitude de sinpariâ para com a culturâ êm apreço, pois vai trarar-se ênrào de uma simparia meramente sentimental, que ên nada contribui para a
aprêensào intelectual da validade universal dos padrões morais dessa cuLtura. f se não é para descobrir em cádâ culcura seus valores universâis e per-
mânêntes, Para que estudá-Ias? _ Se a proclamaçào do reIârivisno culrural dos codigos morais resultou em abotir todá auroridade moral objetiva, reve ainda o dom de trans fornar o iodiferentismo moral -- ou imoral dos antropó1o74
gos fle únicâ etitude morál ecertavel, Porque a unrca "c ient í ficá". Com isso, não êstou oegsndo o fato da variação dos códi.gos morais, mas êpenas o modo ae encará-1os e âs conclusões que se tirâm de1e. Porque, se os códigos rnorais divergêm, não ó menos verdâde que cada un dêles se :rpresênta como vêrdadeiro, e que esta reivindicação de umâ vêrdede faz parte da natudos códigos morais. De modo que, de duas uma: ou estão todos errados -- o que irnplica unra condenação globa1 da inteligência humana, condenação da qual não êstâria isento o antropó1ogo que a proferisse --, ou então a variação mesma deveria ser 'encarada como uma pluralidade de aspectos da mesma verdâde, Câds cóaigo moral seria entào visco como una adaptação temporal e contingente de uma Íne§ma Lei supratemporâ1 e, em sua essência, invariáveI. ou sejar de uma Lei divina. Isto significa que o estudo da diversidade dos códigos morais teria de ser feito como uma aplicação psrticular de um conhecimento da "moralidad€ universaL" emanâda ds philosophia peren-
nis, ou unidade transcendente das religiões.(2) Como, porém a hipótese de uma Lei transcendente c inutável está fora da esferâ ao antropó1ogo, as variações acabam não sendo referidas a nenhum eixo o que se acabã caindo num contra-senso 1ógico que, nâ terminologiâ escolástica, seria o da
diferença de espécies sem comunidâde de gênero. Perdendo-se de vista Loda essênc iá permánenLe do lenó_ meno "moralidade", o fato mesmo da variação é absolutizado, sendo quê o têrmo rrvariação" á já por si reIâLivo a un sujêiro lógico que varia. Liquidada a hipótêsê dê uina rnoral objetiva, fundâda no absoluto, a per§pectiva que restava era a de un puro acordo entre sentinentosr desejos ou interêsses huúanos, individuais ou grupais, e é a isto que se rêduz o conceito atual de noralidade. Essê conceito, por sua própria natureza, irnplicará uma nivelação das "preferências'r morais, e as divergênciâs eventuais terão de ser decididas, ênfin, por um critério simplesmente numérico ou "democrático". 75
Neste sentido, bastâ que "m número considerávet de pp
crescendo o número de reivindicações divergentes, as mais estapafúrdias esquisitices indíviduais e grupais serão admitidas como formas variantes de "nora1idade", e o acordo final terá ae se estabê1ecer eÍ torno de "preceitos mínimos" qr," po""ám sêr a"eiEos por Lodos inditerentemente, isto á. "m torno do. senLimenL05 mais vulgares e corriqu"iros.
A discussão da moralidâde, assimi tende a transformar-se numa simples disputa eleitoral ou de
"absolutã" do crente passa a ser apenas uma preferência entre outrâs, sem nênhum direito especial, e a defesa de Deus terá de concorrer, no nêrcado livre, com a defesa dâ honossêxualidáde e do sadismo, do aborto ou do racismo. Nenhuma dâs igrejas terá nada â re-
mercado. Nesse panorama, a moralidade
clarnar, quando seus adversários as acusarem de êstâr. disputando sua freguesia ou cabalando eleitores. É evidente que, ao aceitarem a discussão nesses ternos -- mesmo que seia pelas mêlhores inten--r os crentes do lodás ãs religiões rêve1âdas la as colocâm numa posição de inferioridade, de modo como "e diz no rplrào populár, .on râis amigos, para que á religião precisará de inimisos? En todà a discussãô moral .ontenporánea, parace há um ponto que é sempre passado em branco. Se morálidadp se prêrêndê verdadeira, entào ur caráter absoluto, ou, se quiserem, âbsolutista, faz pârte da essência mesma da moral, e, neste caso, poderíamos pêrguntar se uma "morâIidade reIâtiva", como se pretende hoje em dia, constitui moralidade de qualquer espécie que seja, ou se "ão é apenãs uina ausência de moralidade. É irnportante notar que o que se afirma hoje não é apenas a rêlatividâdê deste ou dâquele código morâl ên paÍticular, mas a relatividâdê da nôr41. Corno ela se apresenta sempre sob formas vâriadas, conclui-se dai, num sofisma bastante suti1, que essa
variabilidade está na essência da moráI, e não apenas nas condições contingentes -- históricas, sociais, êtc. -- en que e1a se manifesta. A "isenção imparciaL" ao antropó1ogo é uma forma de nominalismo
Quanto aos padrões noráis particulares, estês senpre foran relativos, como sê vê pelo sentido nesmo da palavra mores, "costumêsr', isto é, algo que por si não afirma validade universâl, Ínas apenas umâ conjunção temporária de fatores. ocorre que todâs as leis moráis do passado, retativãs em si mesmas, postulavam-se no entanto cono origioadas no absoluto, ou seja, como expr"ssões ou refLexos têmporaisj e Portânto necessariamente relativos. de una verdade supratemporaL e absoluta. Nesse sentido, a Ínoralidade, como a inteligência mesma -- se rnê permitem utilizar "ma expressão pâradoxaL de Fri thjol schuon -- goza de umâ cond içào "relativamente âbsolutar', no sentido de uma projeção ou reflexo do absoluto no temPo. E esta clãro que as variacões de um retlexo não indicam a inconstância aa ronte ae Iuz, nas da superfície refletánre, como soÍnbras projetadas pelo sol numa folhagem batid4
As leis morais, relativas porque feitas absolutas porque não foram feitas
homens. são
Para por
hoÍnens, nas apenas recebidas por estes, e sujeitas aos limites e variações do receptor. se o conhecimento é, precisamente, â redução da multiplicidade fenomênica à unidade de um princípio, a constatação das variaçôes morais só teriâ sentido intelêctual se conduzisse à constatação de uma unidade PrinciPiâ1 (31 e supra-hisróricâ. Más isto é exaramente o contrário do que faz a antropologia (4), a quaL, dissolvendo a unidade da moral numa variação absolutizada, só pode Ievar à multiplicidade e à confusào Quando se fala de "projeção do absoluto no têÍnpo", isto não se refere apenas aos códigos morais, nas sim a toda a Lei revele:da (da qua1, aliás, o aspecto moral não é senão uma parcela entre nuitas). Ém todas as tradiçôes espiriruais, a revelaçào sem77
--"-'
pre foi entendida como uma Ídescida" de um plano a outro -- o absoluto consentindo fâlar á lingua8em do conLingente _-, o que imPlica uÍn cerLo cáráter Parâdoxâ1 da verdede reveLede. Do Ponto de vista linguístico, Schuon, observa que, em todos os textos sacros, a revelaÇão "estoura" os quadros Srematicais e semânticos de um idioma simplesmente humâno, rema-
nejando_os e, de certo modo inaugurândo uma "nova" 1íngua, como o Peútateuco inaugura o hebraico e o flcorão o árabe. A mora1, por isso, sempre apresentou duas faumâ absoluta, voltada Para sua raiz na eternidade; outra rêlativa, reflexo da eternidade Ío tempo. o simplismo dos tempos modernos sPmPre sentiu pe 1a
paradoxo como insupoitáveI, Eêntendo liquidá-Io supressão de um dos termos, sisteneticâmente o
prime iro de1es.
Ore, a morslidade atual não é apenas relativa, o foran todâs as que a ântecederam, e1a é rele_ tivista, o que é totelnente diferente. Ela não aPeÍa§ tem urn atributo de relatividade, como todas, nras funde-se na relâtividade enquanto ta1. As Ínora_ lidades enteÍiores limitaram-se a acelter a reletividade de facto, como fatalidáde inevitável da con_ dição humanâ. À morâlidede atusl deseja essa relatividadê e a proclama cono uma superioridade de jure' fazendo seu princípio e sua bandeita. Nesse sentido, mesmo a pelavrâ "re Iat iv is terr não é suficiente, pois uÍn re1êtivista de jure é urna oegação ativa do âbsoluto, e portanto e noral. idade moderna é essencialnente negativa ou negat ivista. A questão toda, então, resume-se na Pergunta: coÍno
que medida uma negaçÀo Pode servir de fundámento Para o que quer que seja? clsro, pode-se partir de uma negação Psra fâzer um raciocínià filosófico, que procederá entào Por uma seqência de precisôes e distinções, isto é, por nesácõe9 sucessivas e progressivanênte Particulari,uã"á. u"" está clâro ';ue, na análise lógica como na anáLise química, â dlvisão em Psrtícu1as ceda vez m€nores pode pÍosseguir indefinidemente, ebrindo-se
.nfim apenas para os sucessivos abismos do infinitesinaI. o correlato moral dâ partição infinitesimal da nar.lr ia ,j a dúvida: podê-se prossegui r questionando c duvidãfldo indefinidamente, mas ninguém diria qut: isto serve de base parâ moral, que não "* cóalgo para apoiar a decisão cxisEe pârâ criar dúvidas, mas e a ação. 0 preço noral de urna opção pefa aná1ise intermi náve I ó a perplexidade paraLisãnte da dúvida
Por olrtro lado, a moral negativa, não podêndo, por definiÇào, firmar um conteúdo moral positivo, deverá proceder por negações, isto é, por restrições e proibições, que, por sua vez, poderão particuLârizar-se progressivãmente até abaÍcaÍ detâlhes insignificantes, o que é precisamente a tendência do Estado burocrático moderno, o qual se pernite Íegulãnentar assuntos que as sociedades tradicionais preferiram deixar a critério de cade qua1. A moralidade Ieiga, portanto, constituirá apejurídico de penâ1idâdes, e não um cóna" u, "óaigo positivos que sirva de base para a digo de vâlores decisão e, portánto, para o fortâlecimento da personal idade hunana. Daí a associação, comum entre jovens de hoje,
entre "moral" e "repÍessão", pois, jamais tendo conhecido um cóaigo moral que remeta para o alto, para o absoluto e para o sentido da existência, só podem impedimento e una -imaginar a ooral como um âgre ssao. Claro que a moralidade negativa, procedendo poÍ
ÍêgaÇões sucessivânente particularizadas, terá dê tonar como parâmetro o mais beixo e o mais vil, pois, de un ponto de vista "científico", o crime é uma realidáde posiriva e a ascençâo do homem a uma dinênsào rranscendente é apenas una hipótese entre outras, matéria de conjetura e oão de decisão prática. A úoralidade negâtiva só pode surgir, assim, numa sociedade que êncara o pior cono noÍmâ, o ruim e o feio coúo "rea1idade", e o ben, a verdâde e a beleza como vagos ideais inatiÍgíveis, o que implica uma condenação a todo o cosmos. 79
Contraditória de um ponto de vista Iógico, a moral agnóstica é ta.ré,n "na imPossibilidâde psicológica, por um motivo muiro "imPles. Na trádicional aivisào ternjr ia do ser humâno -- corpo, alna, êsPirito -- a morâ1 diz resPeito especificamentê à aLma, ou seja, ao campo das emoções, volições, desejos, êtc., das quãis
nossos
âtos
emanârn como simples
projeções corporais. tlinguén rerá dúvidas em compr"Pndêr que nossas de nossás represenLâções simboli"moçôes dependpm
i"to é, que nosso código .inbóli. o Pessoâl e grupaL firma aigu,nas coisas como desejávêis, outras cono destestáveis, temíveis, êtc., e quê essa "montâgem" simbólicâ, por sua vez, "canaliza" a energia das ernoções, produzindo comportamentos. Toda moral depende, portanto, de uma hiêrarquia de símbo1os. os objetos de afeto que colocarmos no ropo da hiprá,quia decidirào, em itrima anátise, os compoÍtamentos e reações morais secundários. Por mais iLógica que seja a escolha dessê valor supremo, bem como dos sirnbolos que o corporificam, a êstr:utura internâ dã hierarquia simbólicâ tem una certa coerência lógica, pois se colocanos, por exenplo, o prazer da vida corporal no topo, e o simbolizamos pela image. de status, de riqueza, de luxúria, está .r..o qu" no degrau segúinte da hierârquia não poderá estar u, símbolo d. oureza vjrginal ou de abnegaçào no sacrifício. loda a arre tradi"ional, atias. Ü.i.i"-r" na redlidádê ",oerá.cia dos símbolos, dê môdô oue a "tiberdadp" artíst icá atuaL no spntido dê uLjlizar qualquer símboIo com qualquer sêntido podê ter conseqências psicológicas imprevisíveis. Toda a queqrào da morâl re"une-se, assim' na perguÍta: quâI o nosso objeto de maior afeto, e como o simbolizanos? A que dirigimos o maior volume do nosso fluxo dê energias psíquicas? Nem todos os objetos de afeto podem ser rePresentados com â mesna facilidade, e pelos mesmos meios. Se o que mais a.amos é apenas umâ pessoa, podemos representá-14 mediânte umâ sinPlês recordação, sen nênhum grande êsÍorço. Mas se adotamos un .r",
ideâ1 ãbstrato, por mais vulgar que seja, a ,,paz social" por exenplo, a rêpresentação disso exigirá um esforço náior. e iá nào pod"rá ser uma rêprpsentação merarnente subjetiva, pois neste caso o quê pâra nos e a paz para um outro pode ser o símboto da desordem e dâ vioLenciâ, ê ássin nossa esrrururá afetivâ êstaria permanentemenre ameaçáda de conrestação desde fora. ou seja, quánto mais universal o objeto de aFero. naior esfor\o de obiêrividdd. esLara inplicado ná sua rep,esênra,,ào, e maior o aleto que devereínos ter para nos rorivar a isso. Isso sienifica que a quanridade e qualidáde do esforço que fazemos para representar -- parâ conhecer -- nosso objero de areto já é un sinal da sua universalidade, ê portanto da suâ qualidade objeti-.
ora, se o objêto de
arnor
mais alto é
então
âquele que dêmanda naior esforço concenrrâdo parâ o conhecimento dâ sua universalidade, está cIãro que a única noção que cumpre essa exigência é a noção-de AbsoIuto, justãmente porquê o absoluro esrá âcina de todas as rêpresentações. Elê consritui o objeto de afeto por excelência, pois seu conhecimento dêmanda o melhor de nós mesmos, num esforço concentrado que Íâz com que êsse amor tenhâ o dom de nos tornãr meIhores, e que portanto sejâ o único amor que, de certo modo, traz em si sua própria recompensa. Todas as demais rormás de amor não sào .enào reflexos ou sínbolos desse único "ser" ao qual jamais poderemos amar ranto quanto lhe cabe por sua consrituição ontológícâ mesma, ou antes, por sua consriruiaão supra-ontoIógica. Como está ascensão progressiva no aÍno., pela concentração, pela devoção e pelo esforço, constitul o que propriamente sê chama ascese e purificação, todas âs fornas de arnor são necessáriâmente um tanto ascéticas, sob pena de não serem amor de manêira alguma.
Mâis ainda,
como
toda hierarquia afetiva --
portanto morâl -- emana desse mesno páradigina, compreensão de todos os códigos rnorais rêÍnporâis particulares dependê dá nossa própria proxinidade 8t
relação ao ÀbsoIuto, ou seja: toda objetividade intele;tuâ] perante a diversidade dos códigos morais só se pode estabelecer "desde cima", desde um emor modeLar e tão alto que possá abranger sinteticamente todas ês outras Possibil idádes de expressão, e nunca "desde baixo", desde umâ simples postura artificial de indiferênça acadêmica, q"e não é mais do que
senil. Eín suna: todos os códigos morais só Podem ser compreendidos a pârtir da moralidade absoluta Neste sentido, os grãndes santos e nestres das várias tradições, uma vez tendo alcançado o estado supremo, podeo inclusive transcender as formas contingentes da sua própria tradição (seja nos aspectos rituais ou morais), pois o absoluto é o ponto central da coincidentia àppositorun, onde as divergências dogmáticas se reábsorvem numa unidade superior. Cono dizem os ,luculmános. "as djvereências enLre os dourorês dá ,;liBiào rambém são uma dáaiva dá misericórdia divina". Entre(ánto, essá superá(ào das lornas só é possíve] após a absorção intêgral da tradição a que pertencenos, pois ninguem s€ tôrnâra um santo sem i", u.,t". sido un fiel. Esta advertência é de resto ól,ia, mas calvez seia Preciso rePe( i-la numa época e materialistâs confessos se permiten en que ateus pregar a I'superação dos formalismos religiosos",-como se esta superaçào pudessê ser ourra coisa senao o resultâdo ÉináI da obediencia Psrrita aos mesmos formalisnos, e como se o rígido 1êgalismo judaico não tivesse tido de vir ânte§ dã Pura esPiritualidainsêns ibi l idade
rar o Cristianismo
em nome do Cristo". As diferenças entre os códigos morais das váriás tradições resolveo_se desde cima, na perêpêctiva universal dâquele quê se tornou um "anigo de Deusrr ê que pode restituir â cada variante sua parceLa na verdade total, e dissolven-se desde baixo' no indiferêntismo relativista da "imparcialidâde científica" ou no universalismo abstrato do pseudoespirituâIismo que despreza a autenticidâde dê cada religião ê cada código efl particular. Por isto se diz que nada é tão pareciao quanto a verdade quanto um erro, e que satã é o iÍnitador, o macaco de Deus. Resta ainda a hipótese de, eínbalados por alSuÍr dos sentimêntalismos contemporâneos, elevarmôs aLgum ideal parcial -- a paz social, a liberdade, a fÊlicidade, o âmor humano, ou seja tá o que for -- à condição de absoluto, e o cultuarmos em seguida Mâs isto é a definição nesma da idolatria, e não pode têr sido para isto que Moisés queimou o bezerro de ouro, que Mohânsed invãdiu a Kaaba para qüebrar os íaolos, ou que o Cristo, num de seus mais subtimes pâradoxos, respondeu ao suplicante: "tor que me .hânâs boD? só neus é bom".
de interior, que não foi trazida PeIo cristo para abolir â Lei, mas para curnPri-Ia. Mohyyddin Tbn-Aráb i di "se que seu coração era â ceLa do monge "tanto a Kaâbâ do peregrino quanlo ii. disse-o depol§ Mas da Torah tábuas ou as cristão como um exenplar, ínuçulmano como un de reconhecido profedo Is1ã dePois do Ínaior figura como a santo e aqueexemPlo de ser un Não deixa MohamÍned. Para tâ universalismo dê un que, em nomê 1es "cristãos" puramentê inventado e abstrato, falam hoje ern "supe82
83
IloT s
I l) üartin lings,
LondoÍr,
Sufi Sriüt of rhe XXth CêÊtury, Àllen & Unwin, ^ 1971, p. 17ó.
III l) Não se
deve confundir a disseminação de tais com á difusão honestá das doutrinas "profecias" trêdicioüeiÉ -- por exenplo, vedântinâs -- sobre os ciclos. cósrÍicos. No primeiÍo cnso, o que se vise é criar uo smbieíte de confusão pela prolifef,ação desorde[ada de eÍrseios e teoores, que predigponham âs rnagsas ignorantes a aceitar de braços abertos quelquêr farsante que thes ofereça como salvação elgo que nâo passa de um simulacro de atívio, enga-, noso ê fugaz. Nó segurdo caso, a mesmâ profundidede e complexidade de doutrina impede âs simplificações grosseiras ao gosto do púb1ico vulgar, e demandaú do 1êitor ums atitude interior bem diferente dessa. Conforme, de uú 1edo, René cuénon, I,ê ràgne de la q{reDtité et les Signês des Terps, Pêris, CaLlimard, 1945 (chsp. )0«VtI, I'Le duperie des prophécies',), e, de outro, Gaston Georgel, Les Quatre Ãges de l'Euredté- Brposé de la lroctrinê TraditioÊêliê des Cyclê6 co6riquê,, Milano, Archà, 1976,
2) A criteriologia das compareçães entre religiões foi estabêlecida de nodo definitivo por Frithjof schuon em Dê t'Unité lrenscendente des Réligiong Peris, Ie Seui1, 1979. llá tradução brasileira, muito rara, de Fernendo celvão: D[ Iloidedê Trán6ceídêntê dss religiões, São Paulo, lÍarrins, 1950.
85
3) Sobre a definição de Tradição, v Sevved Hossein Nâsr, KnoÍ.ledge and the Sacred, New York, Crossroads, l98l (Chap. II, "What is Tradltion?I). 4) os ritos, portânto, exigem o concurso de uma dupla ordem aá inrr"ência: dã um 1ado, as influêndivinas, que asseguran- a direçao cias espirituais,ncentralizante" da sua prática; ese "r"."."i.".r" tas influências são asseguradas pela revelação e pela ortodoxia que a transmite; de outro lado, influências psíquicas, fornecidas pela concentraçao dâ nassa dos crentês e que garantem a reverberaçao Íhorizontal" das influências esPirituais sobre todâ â comunidade hunana en questão. os pseudo-ritos, poi ranLo! .onten ap"nas a parce p"íquica .o quê lhes à,',"," .- si'n,racio de eticácia cr. René cu"nón. Ãp.'ç.. I'lnitiation, Paris, Éditions rraditio"". Ies, 1983. ne 5) Em úItima instância, a obediência integraL aos é urn critério infalíp,"."ito" formais da relieiãoI'mestres espirituais" entre distinção par" a ve1 o Como escreveu e fâLsos. srandê sufi veraiaei.os un homem que veja você Bayazid al-Bistami: "uesmo ponto de erguêr-se ao poderes niraculosos de dotado investisue por mas ele, enganar se deixe no ar, não se ele observa os divinos preceitos e proibições, se êle pernánece den o dos liínites dâ religiào e se ele cumpre os deveres que ela the impõe." (Clt en lrrtritall il. Perry, A Treasury of Trâditional IfisdoÚ! L
Patês líânor, Bedfont, Perennial Books, 1981, P.943)' Que também, por outro iado, ninguém se deixe enganar
peras citações de câsos de mestres espirituais aurenti.os que, en cêrtos caso'. permiriram ou ordenaÍám á "êus dis.ípuIos ações que conr rariavam' aparentemente ao menos, o texto da lei religiosa' Essês casos são hoje abundantemente citádos em defesa de aberrações que os pseudo-gurus conetem ou ordenam diante ãe seus est,rpiaificâdos disciPulos ' Ma' os oiscípulos nào sabem. e os pseudo-gurus nào thes contam, que se "há câsos em que um glrru ordênâ, 86
provisoriamente e tendo en vista determinada opera_
ção de alquimia espiritual (do discípu1o), atos que, sen prejudicar a ninguéo, são contrários à Lei..., ou antes às "prescrições", tais como existêm no Hinduísmo, e, no ocidente, sobrecudo no Judaismo, en oenhur caso poderia tratar-se de irfrações graves à orden púbrica-" (FriEhjof schuon, Regards sur les úondes anciens, Paris, Editions Traditionelles, 1976, pp. 66-67 e ne l). Não é necessário esclarecer que, no contexto is1âmico, a ingestão d€ bebidâs alcoór icas, o aborto o" a prát ica irregular dos ritos são infrações graves à oraem pública. 6) sobre as seitas aberrantes de pseudo-sufis, cf. l. M. Leüis, Ecstatic Religion, An Aotropologicâl Study of Spirit Possession and shânanisú, Harmonds-
worth, IÍiddlesex, Penguin Books, 1975. Especiálmente pp. 104-148. o autor descreve inclusive o caso de seitas onde o papel do inan (líder da prece) é desenpenhádo por mulhêres masculinizadas e estóreis, ê cujas práticas sâtânicas têÍn como um de seus efeitos mai. óuvios a 'cparaçào dos ca.ais. 7) cf. t
ions
ques t
LtErreur spirite, Paris, Édis, 1952 (Parte II, cap. x, "La
nená cuénon, Trad
it
ione 11e
ion du satanisme").
tv I ) zakaria El-Berry, os Direitos Euuanos no IsIão, trad. Samir E1-Hayek, São Pau1o, Centro ts1âmico do Bras i 1, s/d , p. 30.
2) Cit. por FriEhjof S.huon em coúprendre l'IslaD, Paris, Le seui1, 1976, p.42. 3) o Concilio vâticano I condenou e proibiu formalnente âs teorias que fazem da fé um "sentimento" vaso e irracional, sureido das profundezas do "inconsciente". A definição dâdá pelo Concí1io foi: "Se a7
aLsuém disser que Deusj um e verdadeiro, criador e senhor nosso, po, mêio dás !oi<ás . r iádas não pooe sêÍ conhecido pêlá luz naturâl da razão, que seja anátena (De RêweI-, can. l). O Pâpâ Pio X, em sua Encícrica Pâscendi Dorinici cregis ( 1907), classificou oc propágàdo.es dá reor iá s. nt inênral da fi como "homens de pêrvêrso dizêrrr ( Át., 20:30), "vaní10quos e sedutôres" ( Tit., l:10), "q"e caiaos e,r' erro arrastam os dêmais ao erro" (rI Tiú. 3:3).
4) Cf. Alexandre Safran, La cábâ1a, trad.
Carlos
Ayala, Barcelona, Martinez Roca, 1976, pp. 5l-125.
5) Cf. F. Schuon, "Ellipse et hyperbolisme dâns Iá rhetorique arabe" em Le soufisDe: voile et quintessence, Paris, Dêvy-Livres, 1980, pp. I I ss. 6) Al-chazzatí, Le Tabernêcle des Luniàres, trad. Deladriàre, Paris, Le SeuiL, l98l, p. 40.
Roger
7) Djalal-ed-Din Rumi, Fihi-nâ-fihi (En esto 10 que está en eso), trâd. M. Bonaudo, Buenos Àires, Ediciones del Peresrino, p. 103. 8) Cit. por El-Bcrry, p.
I
)
Mi
30
cas ton ceorsel, Les Quatre Âges lano, Àrchà, 1976 , pp.56-57.
de
Irflunanité,
VI
et ésrésor€s'r, em Initiation et realisatioÍr spirituelle, Paris, Éditions TradiEioneIIes, i975, pp. 64 ss. I
) René cuénon, "Influence spirituellê
88
e pequênos letrados corn interrese em ,,ocutrisno',. Ct.. â ,espeiro, n"né cuénon, Le Ràgne dp Ia Quánr-ite, Chap. XXVII, e rsmbem o que foi dito arr;s no presenrê volume. Cap.
29.
9) El-Berry, op. cit. , p.
2) A relativã eficácia dos ritos e práticas pseudoreligiosas ê peüdo- espirituais provêm aliás unicamente da energia psíquica coleriva ,,esroc.ada,, em objp(os, lugáres, símboto., e pê
3) Sobre a unidade e diversidade do Homem Universâ1 -- ponto êssencial parâ a conpreensão do que estamos dizendo aqui, v. Seyyed Hossein Nasr, Ideals and Realitiês of Islaú, London, Unwin, 1979, p.61 , e sobretudo Titus Burckhardt, ,,Introductions', à rrad. francesa de La SagÊsse des propheres, de Mohieddin lbn 'Arab\', Páris, AIbin Michet, tc74, pp. tO ss. 4) Uma "experiênLia', desse tipo É eferjvamentp realizada pela organização Idries Shah, conforme pude-
mos observaÍ pessoalnente e conforme declara nesmo o "manua1" da seira, O Sufisro no Ocidenre, Rio, Dervish, 1984, pp. I04 ss.
89
5) Sobre o nêrcisismo, v. o excelente artiSo de Iíichel Lacroix, 'rUma época sob o signo de Narcisor', publicado no o Bstado de são Paulo, êm 13 de maio de I984.
de tergiversações a pretexto dos casos de pessoâs I'cLinicamente mortas" que voltaÍam à vida, pois está claro que a ftorte em questào é reconhecida parc ial e reletiva. 6)
Nâda
7)
Rêsguerdadas certas difereflças sernânticas, nota_ damente quanto à palavra "falha", comparar o que dissemos com o que diz Mário Ferreira dos Santos em sua be1â Ética ltunds@Irtel, Logos, 1964, pp. 109117.
8) Consultar, sobre o problema do IÍâ1, o têxto de Frithjof schuon, "Diurensions of omnipotence", em Studíes iÊ Co.parativ€ neli8ioÊ, vo1. xVI, n. l_2, t{inter - spring, 1984, pp. 9-1ó (rêproduzido em Tras 1ãs Euelles dê le RêIiEioo Pere rc, tred. esPânho1e, Bercelonâ, sophia Perennis, 1982).
9) rfá um evidente perigo em sondar as tendêncies inferiores. Ne úitologia gregâ, esse perigo é enÍa_ tizado quando Júpiter recomendâ a Perseu que não olhe a Medusa (sÍmbo1o das forças inferiores) dire-
VII
l) À ioagen do hoÉ! ná astrologia, Júpiter, 1981.
2) Frithjof Schuon, De I'unité traoscendetrte deg réIigions, Paris, Le SeuiI, reed. 1978 (há uma tradução brasileira, Da uDidâdê tretrscendêote das religiões, São Pau1o, Iíartins, s/d). 3) rrPrincipiel": termo cunhado por René cuénoÊ (Lá crise du Dade Dde!tre, Paris, Callimard, l93O), pâra designer o que se refere âo mundo dos princípios eternos e imutáveis, por oposição âo mundo da manifestação.
4) As tentatives rêcentes de alguns antropó1ogos, ros Encontros de Royaumont, sob a chefia de Edgar lrorin e }íassimo Piâte11i-PatmeriÍli, pera reconstituir uÍna cêrte r'unidâde do honem" por baixo de variedade dâs culturas, a1ém de constituir epenês um tardio reconhecimento do óbvio p'or pârte de quêm sempre o negou, é ainda urn reconhecimento tÍmido e parcial, e bêseedo em razões puramente contingeÍrtesr como as de ordem biológica, por exempLo.
temeÍrte nos olho§, mas sim através do escudo que ele recêbe do senhor do Olimpo. O escudo rePresentâ sempre es doutrioas e as Preces, em seu asPecto Protê_
tivo.
t0) Para uma expLicação meis coülPleta da meditação, v. Titus Burckhardt, Ân IÊtroductioD to Sufi lloutritre, trad. inglesa, London, Thorsons, 1976, Chap. l7' e Frithjof Schuon, "De Ie Méditâtion" em LrOêiI du Co€ur, Paris, Dervy-Livres, I974, l1) Cf. Frithjof Schuon, Corprendre IrIsIáo, Le seuiI, 1976, pp. 103-123.
90
São Paulo,
Pâris,
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