Rítmos Brasileiros = Frevo e Marcha-Rancho
"Frevo" de Candido Portinario
Na última década do século XIX e na primeira do século XX, aparece em Recife, no estado de Pernambuco, um ritmo, vindo da marcha e do maxixe, de andamento rápido e que se tornaria característico das festas de carnaval deste estado. Ao mesmo tempo, no Rio de Janeiro, começam a surgir as marchinhas carnavalescas, que possuem características semelhantes ao ritmo nordestino, surgem: o Frevo e a Marcha-Rancho. A principal diferença entre os dois ritmos é marcada pelo andamento, visto que o frevo apresenta andamento muito rápido. Devido às suas origens os ritmos apresentam instrumentações diferentes, apesar de poderem ser executados por diversas formações. O frevo vem da tradição das bandas militares e, portanto, tem como formação comum grupos com instrumentos de sopro (saxofones, trompetes, trombones, clarinetes, flautas e flautins) e instrumentos de percussão utilizados na marcha (bumbo, caixa e prato). A marcha-rancho possui também essa tradição militar, mas também tem como formação tradicional grupos relacionados ao samba, com instrumentos como cavaquinho, violão, bandolim, além de percussões como pandeiro, caixa e surdo.
O ritmo básico tanto do Frevo quanto da Marcha-Rancho é o mesmo, marcado pela figura abaixo:
Porém, as interpretações se distinguem por ter articulações diferentes, além do andamento, e podem ser transcritos assim:
Frevo:
Marcha-Rancho:
Variação:
Repertório Sugerido: (para praticar) Frevo: Atrás do Trio Elétrico (Caetano Veloso) Frevo Diabo (Edu Lobo) Frevo Rasgado (Gilberto Gil/ Bruno Ferreira)
Marcha-Rancho: A Banda (Chico Buarque) Marcha de Quarta-feira de Cinzas (Vinícius de Moraes/Carlos Lyra) As Pastorinhas (Noel Rosa/Braguinha) Noite dos Mascarados (Chico Buarque)
Ritmos Brasileiros II - Baião
Violões II - Pintura de Dina Garcia
Baião: Luiz Gonzaga, o rei do baião, foi responsável pela popularização do ritmo nordestino em todo Brasil durante o apogeu da rádio nacional por volta de 1946, com a gravação da música que leva no nome do ritmo:
O ritmo tem sua origem, como muitos outros ritmos brasileiros, em reuniões e festas populares que eram acalentadas com a dança, a música e, no caso da cultura nordestina, dos desafios de repentistas. Atribui-se o início do gênero aos “interlúdios” instrumentais realizados pela viola caipira entre os versos dos repentistas.
Sanfoneiro - Pintura de Dina Garcia
O baião possui um a instrumentação peculiar: Acordeom/Sanfona – que tem função harmônica e melódica; zabumba e triângulo - que são responsáveis pela definição rítmica (veremos as funções desses instrumentos mais a frente). Também são comuns a viola caipira, flauta, pífanos e alguns outros instrumentos de percussão. Como grande parte dos estilos de música brasileira, o baião é escrito em 2/4 e tende a ter mais andamentos rápidos do que lentos. Com sua fixação como estilo na década de 40 o baião
influenciou todo o cenário musical brasileiro, tendo como fruto canções de diversos compositores consagrados da MPB, como Gilberto Gil, Caetano Veloso e Milton Nascimento, além de ter influenciado fortemente a música instrumental, que tem como um de seus maiores representantes no baião o multi-instrumentista Hermeto Pascoal. São grandes nomes da história do baião: Luiz Gonzaga, Humberto Teixeira, Dominguinhos, Jackson do Pandeiro. Zabumba e triângulo: Os dois instrumentos responsáveis pela condução rítmica do baião são a zabumba e o triângulo. A zabumba, instrumento tipicamente brasileiro, é responsável pela marcação dos graves e também toca sons mais agudos com a vareta utilizada em baixo do instrumento, executando a seguinte figura:
O triângulo trabalha executando a subdivisão em semicolcheias e acentuando o contratempo, como no exemplo abaixo:
Ritmos Básico e Variações:
Levando em conta as definições rítmicas apresentadas acima temos várias possibilidades para retratar o baião. Abaixo temos uma versão que utiliza a rítmica da zabumba:
Variante I: Somente a parte grave da zabumba:
Variante II: Em forma de arpejo:
Variante III:
Repertório sugerido: (para praticar) Canções: Asa Branca (Luiz Gonzaga) Qui nem Jiló (Luiz Gonzaga) Domingo no Parque (Gilberto Gil) Baião instrumental: Hermeto Pascoal Egberto Gismonti Guerra Peixe