Fichamento de Texto
BUTLER, Judith. Introdução – Vida precária, vida passível de luto. In: Quadros de guerra : Quando a vida é passível de luto? Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2016. Discente: Jeffrey Aislan de Souza Silva. Curso: Doutorado.
1. Tema:
A precariedade como forma de pensar as vidas no contexto social do neoliberalismo e as condições de enquadramento que formam uma vida passível de luto. 2. Objetivo da autora:
Apresentar suas análises sobre o conceito de precariedade e as formas possíveis de enquadramento da precariedade, como também os possíveis significados que esses enquadramentos possam vir a ter nos contextos que são apresentados. Ainda nesse contexto, a autora argumenta sobre as possíveis formas de se fazer uma vida vi da passível de luto e os mecanismos de poder que estão ambientados nesse processo. 3. Tese:
A precariedade precisa ser repensada no interior das políticas de esquerda, como forma de redirecionamento do foco e ampliação da crítica política da violência do Estado, incluindo as guerras e demais formas de violência legalizadas, para ampliar as reinvindicações políticas e sociais sobre os direitos à proteção, sobrevivência e prosperidade. prosperidade. 4. Desenvolvimento Desenvolvimento do Texto •
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Primeiramente a questão é pensar, como uma vida é considerada vida? Certas vidas são respeitadas, vividas, outras não. Reconhecer Reconhecer uma vida, não significa querer dar proteção. O conceito de precariedade desenvolvido pela autora não é apenas para explicar como ocorre a precarização, não é um conceito apenas em si mesmo. É um modo de pensar e requerer direitos na sociedade. A precariedade está ligada a “condição precária ”, que segundo a autora, é ponto de partida para pensar questões com a intenção de requerer políticas progressistas e de esquerda. esquerda. Um ponto crucial no debate é a capacidade de apreender uma vida, de reconhecê-la, pois os sujeitos são constituídos mediante normas, que produzem os meios pelos quais são reconhecidos, reconhecidos, no qual há muitas formas fo rmas de se fazer reconhecer. Mas os mecanismos e operações de poder produzem sujeitos que às vezes não são reconhecidos como sujeitos e vidas que não são reconhecidas como vidas. Ser reconhecido se mostra como uma das grandes questões dentro do conceito de precariedade desenvolvido por Judith Butler, pois segundo a autora, você
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precisa estar na condição de ser reconhecido, questão bem limitada, já que, segundo a própria Butler, nem todo mundo se encontra nessa condição. A autora divide os conceitos de apreensão , entendido como modo de conhecer, mas ainda não de reconhecimento, e inteligibilidade , entendido como esquema, que estabelece os domínios do que pode ser conhecível. Para Butler, nem todos os atos de conhecer são atos de reconhecimento e da mesma forma que as normas da condição de ser reconhecido preparam o caminho para o reconhecimento, os esquemas de inteligibilidade condicionam e produzem essas normas. Outro elemento fundamental para reconhecer a precariedade são os enquadramentos, pois segundo a autora, não há vida nem morte fora dos enquadramentos. Um elemento importante nesse contexto é como os enquadramentos são enquadrados nas molduras, pois assim diversas maneiras de intervir e ou ampliar a imagem estão em jogo. Para Butler, é fundamental questionar a moldura, pois talvez ela nunca tenha contido verdadeiramente o fato, está ligado a algo externo, algo que vem de fora, nos impõe a interpretação que é apresentado pela moldura. Quando os enquadramentos são postos para circular, os contextos são rompidos, precisam ser rompidos, o que acaba criando nossos significados para aqueles enquadramentos, já que os mesmos variam de intenção, texto, contexto, tempo e lugar. O rompimento do enquadramento produz uma quebra de autoridade, de hegemonia, tornando possível conhecer o outro. Para uma vida ser entendida como passível de luta, é necessária sensibilização. A precariedade precisa ser reconhecida no que está vivo, mesmo não sendo a melhor e nem a única forma de reconhecimento. A precariedade implica viver socialmente, está ligado a dependência, mostrando que a vida de alguém está sempre ligada as mãos de outros. A precariedade é coincidente com o próprio nascimento, que é por definição precário, o que faz com que a vida apenas em condições de perda apareça efetivamente, portanto a possibilidade de uma vida ser passível de luto é pressuposto para toda a vida que importa. O fato de uma vida ser passível de luto é uma condição do surgimento e da manutenção de uma vida, sem o luto, não há reconhecimento que uma vida pode ser vivida. Vida precária não significa vida com proteção a tudo, pois até o direito a vida não é um a priori. Uma grande questão neste debate, está ligado a saber se as condições sociais de sobrevivência e prosperidade são ou não possíveis e quem determina essas questões – quem decide e com base em que essa decisão é tomada. A vida exige apoio e condições possibilitadoras para poder ser uma vida vivível. Afirmar que a vida é precária é afirmar que a possibilidade de sua manutenção depende, fundamentalmente, das condições sociais e políticas, e não somente de um impulso interno para viver.
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A precariedade tem que ser compreendida não apenas como um aspecto desta ou daquela vida, mas como uma condição generalizada, pois a própria ideia de precariedade já implica uma dependência de redes e condições sociais, já que para manter uma vida como sustentável é necessário proporcionar condições e batalhar por sua renovação e seu fortalecimento. Segundo Butler, onde uma vida não tem chance de florescer, é onde devemos nos esforçar para melhorar as condições de vida. Na parte final do texto, intitulado Formações Políticas, a autora retoma as questões levantadas ao longo de sua argumentação, como as condições de precariedade e as formas de enquadramento, que estruturam modos de reconhecimento. A precariedade como ponto de partida, propõe que não há vida sem necessidade de abrigo e alimento, não há vida sem dependência de redes mais amplas de sociabilidade e trabalho, que transcenda a possibilidade de sofrer maus-tratos, pois uma vida é por definição precária. Algumas populações estão diretamente ligadas a condição precária, abotoadas a violência maximizada pelo Estado-Nação. A autora argumenta que depender do Estado-Nação, estar protegido por ele, também significa está sujeito a violência produzida pelo próprio Estado – como diria Weber, a violência legítima. Em considerações finais, a autora propõe que seu trabalho sirva para pensar reordenações das políticas públicas de esquerda, dentro do contexto de retirada de direitos e precarização da vida no espaço imposto pelo neoliberalismo no mundo contemporâneo.
5. Metodologia:
A autora estrutura o texto, dialogando com questões bastante contemporâneas, ligadas a violência política, a guerra e os problemas de retirada de direitos dentro do Estado Democrático no contexto do neoliberalismo. Por ser um texto de reflexões corridas e bem pessoais, apesar de embasado pelo amplo conhecimento teórico de Butler, o texto não possui muitas referências bibliográficas. Há diálogos esporádicos com conceitos de Hegel e Klein. A autora constrói sua argumentação com uma narrativa clara e objetiva, trabalhando com os conceitos de precariedade e enquadramento dentro do debate das vidas que são passíveis de luto. Ao longo do texto, ela se preocupa em expor e analisar categorias como apreensão e inteligibilidade, embasando muito bem suas ideias em conceitos bem posicionados no texto que está dividido em cinco partes. Na primeira, intitulada Apreender uma vida, onde a autora argumenta sobre as formas de apreensão e a condições de ser reconhecido como sujeito. Na segunda intitulada Marcos de Reconhecimento, onde são explicitadas as questões sobre formas de reconhecimento, os enquadramentos e molduras, como também os efeitos da quebra desses enquadramentos. No terceiro tópico, intitulado Precariedade e ser ou não passível de luto, são explanadas as questões sobre o reconhecimento de uma vida como passível de luto, ligada principalmente a questão da sensibilidade, pois sem o reconhecimento e a sensibilização uma vida não pode ser enlutada, e sem o luto, não há reconhecimento de que uma vida possa ser vivida. No quarto tópico intitulado Para uma crítica do direito à
vida,
a autora explana as questões relacionadas ao direito a vida, imerso no contexto contemporâneo das sociedades neoliberais, buscando formas de repensar o direito a vida, mostrando que ele não é um a priori e que o conceito de precariedade precisa ser reconhecido de forma geral, atuando em espaços onde seria impossível florescer vidas. No quinto tópico, intitulado Formações políticas , a autora retoma questões já levantadas ao longo do texto, mas insere a problemática na questão do Estado-Nação, com sua proteção, mas também produzindo vulnerabilidades devido a própria violência produzida pelo Estado. Nesse último tópico, a autora ainda propõe uma reordenação das políticas e estruturas da esquerda, afim de promover críticas a política da violência do Estado. 6. Resumo
Judith Butler explicita o seu conceito de precariedade, pensado a partir das análises produzidas pela autora diante das questões referentes a precarização da vida humana nas guerras e conflitos sociais, diante do processo de retirada de direitos que ocorre na sociedade neoliberal. Segundo Butler, para entender o processo de precarização é preciso estar atento aos enquadramentos, produtores de significados, pois não há vida nem morte fora deles. Butler argumenta que para uma vida ser passível de luto, é necessária sensibilização, pois sem o luto não há reconhecimento do direito à vida. Após a explanação de sua argumentação, a autora propõe que seu trabalho seja útil para pensar críticas as políticas de violência impostos pelos Estados-Nação, assim como utilizado para pensar formas de requerer direitos sociais, políticos e melhores condições de vida.