Universidade Lusíada Faculdade de Ciências Sociais e Humanas Departamento de Psicologia
Exame Psicológico
Desenho da Figura Humana – Figura Infantil
Docente: Prof. Doutora Joana Amaral Dias Discente: Dora Almeida (N.º 110915 / 02)
Ano Lectivo 2003 / 2004
Índice
1. Introdução___________________________________________________________1
2. Anamnese___________________________________________________________1
3. Desenho da Figura Humana_____________________________________________1
4. Comportamento face à avaliação_________________________________________2
5. Estádios de Desenvolvimento____________________________________________2
6. Cotação de acordo com a Escala de Florence Goodenough_____________________4
7. Análise dos Resultados_________________________________________________4
Prefácio
"Antes eu desenhava como Rafael, mas precisei de toda uma existência para aprender a desenhar como as crianças". (Picasso)
Exame Psicológico
1. Introdução
O teste do desenho da figura humana, criado por Florence Goodenough em 1926, é um dos instrumentos psicológicos mais utilizados internacionalmente para avaliação do desenvolvimento cognitivo infantil. O desenho das crianças é uma forma de expressão de particular importância, pois permite perceber e avaliar de forma directa o estado afectivo da criança e o modo como ela se coloca em diferentes contextos (familiar, social ou outros). Através do desenho, a criança fala da sua afectividade e sensibilidade, revela o seu desenvolvimento e a forma como se liga ao mundo, às pessoas e coisas. O desenho infantil precisa de ser visto através do entusiasmo aplicado pela criança, valorizando-se os seus conteúdos explícitos ou não, sem deixar de dar realce à emoção gasta na execução da tarefa. Engloba um processo que carrega consigo uma história única, um desejo próprio, ambos volúveis no tempo e na intenção. E, mais do que criativo, deve ser para a criança momentos de fruição, de dar, e de se expor sem complexos, receios e intenções. 2. Anamnese
O sujeito a quem realizei o teste da figura humana tem 4 anos de idade, chama-se Ruben Singh, é do sexo masculino e encontra-se na pré - primária. É uma criança muito viva e quando tem confiança com uma pessoa é bastante faladora. Sofreu várias vezes de convulsões, que não melhoravam e surgiam quando se pensava que já tinham acabado. Quando não conhece bem um determinado meio, mostra-se muito observador e pensativo, olhando sempre com um ar desconfiado para tudo.
3. Desenho da Figura Humana
Quando foi pedido que desenhasse uma pessoa, a criança mostrou um ar um quanto duvidoso, mas após uns segundos começou o desenho. A figura humana foi desenhada no centro da folha. Começou por desenhar a cabeça com uma notável presença do queixo. De seguida desenhou os braços e depois as pernas, sem presença do tronco. As pernas estavam ligadas à cabeça com os respectivos pés. Por fim, foram desenhados os olhos, o nariz e ainda a boca e o cabelo.
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4. Comportamento face à avaliação
A criança ao longo da tarefa, distraiu-se com vários estímulos, como a televisão e diversos objectos que estavam ao seu alcance. Quando desenhou apenas a cabeça disse apontando para a mesma “Isto é uma pessoa!”, depois desenhou os restantes elementos da figura. Após ter terminado o desenho, a criança virou a folha e desenhou um “suposto” monstro referindo “É um monstro mas não faz mal!”. Curiosamente, este monstro (desenhado voluntariamente) apresentava as pupilas em ambos os olhos, cujas não constavam no desenho humano. 5. Estádios de desenvolvimento Passemos então a uma abordagem curta dos diversos estádios e análises feitas. Existem diversos estudos a respeito do desenho de crianças. Uma das primeiras publicações a respeito do desenho de crianças foi realizada por Georges-Henri Luquet, em 1913, ao escrever a obra Os desenhos de uma criança, na qual apresenta os desenhos de sua filha. Em 1927, publicou a obra clássica O desenho infantil, e falou dos erros e imperfeições do desenho da criança que atribui a incapacidade e falta de atenção e afirma ainda que existe uma tendência natural e voluntária da criança para o realismo. Luquet distingui 4 estádios: Realismo Fortuito: Ocorre por volta dos 2 anos, e finaliza o chamado período rabisco. A criança começa por traçar signos sem objectivo de representação e sem intenção reproduz uma forma. Realismo Fracassado: A criança mostra vontade de representar o real, mas não consegue. Este estádio ocorre por volta dos 3-4 anos. Realismo Intelectual: Ocorre por volta dos 4 anos e pode ir até aos 10-12. Neste estádio a criança desenha várias perspectivas distintas e aquilo que sabe e não o que vê. Realismo Visual: Este estádio é marcado pela descoberta da perspectiva desenhando aquilo que vê com as perspectivas correctas tirando aquilo que acha que não é realista. Esta fase ocorre por volta dos 12 anos de idade.
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“... julgo que, no que diz respeito ao desenho, o que terá de melhor a fazer o educador é apagar-se, deixar a criança desenhar o que quer, propondo-lhe temas sempre que ela necessita, sobretudo quando lhe pede, mas sem lhos impor e, sobretudo deixá-la desenhar como quer, a seu modo.” (Luquet, 1969) O sujeito encontra-se, de acordo com a escala de Luquet, no estádio do realismo fracassado. Este estádio ocorre por volta dos 3-4 anos de idade, onde a criança descobre uma identidade forma – objecto e procura reproduzir esta mesma forma. Foi bastante notável na resolução da tarefa esta interligação entre a forma e o objecto.
Também Piaget fez uma análise do desenho infantil, onde descreveu 5 fases: Garatuja: Faz parte do estádio sensório motor (0 a 2 anos) e do estádio pré operatório (2 a 7 anos). Divide-se em 2 fases desordenada e ordenada. A desordenada é expressa por movimentos amplos e desordenados. A fase ordenada contem movimentos longitudinais e circulares: coordenação visomotora. Pré-Esquematismo: Inclui-se ainda no estádio pré-operatório. Nesta fase a criança descobre a relação entre desenho, pensamento e realidade. Esquematismo: Faz parte das operações concretas ( 7-10 anos) e nesta fase a criança faz os seus primeiros ensaios das perspectivas omitindo pormenores. Realismo: Faz parte do final do estádio das operações concretas. A criança começa a ter consciência do sexo com uma aproximação máxima da realidade no desenho. Por vezes são utilizadas linhas de base, e começam a surgir as formas geométricas.
Relativamente à análise de Piaget e depois de uma análise feita ao desenho, posso afirmar que o Ruben encontra-se no Pré-esquematismo. No fim de desenhar a figura humana, voltou rapidamente a folha e continuou a desenhar. Ou seja, mesmo havendo espaço na parte frontal da folha, virou-a.
Posso ainda afirmar que o Ruben encontra-se nos estádios favoráveis à sua idade, e à sua técnica utilizada no desenho.
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6. Cotação de acordo com a Escala de Florence Goodenough
No final do século XIX, acreditava-se que o desenho infantil poderia ser visto com um indicador do desenvolvimento psicológico (Goodenough, 1974). A primeira escala com critérios de análise do Desenho da Figura Humana, foi desenvolvida por Florence Goodenough, como forma de desenvolvimento intelectual das crianças.
De acordo com a escala deste autor, o Ruben obteve 14 pontos numa escala com 51 itens. Tentei não ser muito exigente na cotação do desenho, no entanto dei determinados pontos negativos a certos itens nos quais tinham dúvidas.
7. Análise dos Resultados
Cruzando os resultados da cotação com a Anamnese do sujeito e todos os outros factores influentes na avaliação, posso dizer que a criança se encontra numa fase favorável ao seu desenvolvimento que corresponde nitidamente à conjunção idade e estádio e/ou fase. O sujeito mostra-se uma criança com aptidões e comportamentos normais para a idade se tivermos em conta os parâmetros normais de avaliação. A cotação do sujeito pela comparação de outros com idade superiores, é bastante elevada, pois existem crianças mais velhas com a mesma pontuação - 14 pontos. Temos ainda de ter em conta nesta análise, que o sujeito era muito novo e isto dificulta de certo modo uma avaliação exacta e correcta da criança. No entanto, foi tentado elaborar uma análise e ambientes favoráveis à criança para que fosse facilitado o trabalho desta mesma análise, de forma a ser o mais exacta e correcta possível.
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