A PRESENÇA DE ENTIDADES ESPIRITUAIS NÃO AFRICANAS NA RELIGIÃO AFRO-BRASILEIRA: SINCRETISMO AFRO-AMERÍNDIO AFRO-AMERÍNDIO ? - 1995 Mundicarmo Mundicarmo M. R. Ferretti - Universidade Estadual do Maranhão
A PRESENÇA DE ENTIDADES ESPIRITUAIS NÃO AFRICANAS NA RELIGIÃO 1[1] 1] AFRO-BRASILEIRA: AFRO-BRASILEIRA: SINCRETISMO AFRO-AMERÍNDIO? 1[ Mundicarmo M. R. Ferretti Intro!"#o Uma das características mais conhecidas da religião afro-brasileira o transe medi!nico com entidades es"irituais africanas# ori$%s& voduns ou in'issis. (ontudo& em algumas denomina)*es dessa religião& como o +ambor de Mina e a Umbanda& a maioria dos mdiuns entra em transe com entidades ,ue não vieram da frica e ,ue foram surgindo& "ouco a "ouco& nos terreiros brasileiros. rande "arte dessas entidades são denominadas genericamente caboclo. Embora não ha/a unanimidade em rela)ão % etimologia da "alavra caboclo& a maioria dos autores e es"ecialistas religiosos acreditam ter ele se originado da "alavra indígena 0tu"i 'ari2bo'a& ,ue significa# "rocedente do branco 0FERRE3R4& 1567. 8ão sabemos se esse termo /% era usado no 9rasil em 16:5& ,uando um alvar% do Rei de ;ortugal reafirmou diferen)as hier%r,uicas e$istentes na metr<"ole& e re"rodu=idas na sociedade brasileira e definiu a formas de tratamento es"ecíficas "ara cada "osi)ão social 0M4++4& 15>1#?7. @egundo (Amara (4@(UBC 015?D#17?& at os fins do sculo 333& o termo caboclo era o sinGnimo oficial de indígena e tinha uma conota)ão "e/orativa& "or essa ra=ão& em HIHI1677& teve seu uso limitado "or alvar% do Rei B. Jos de ;ortugal# "Proíbo que os ditos meus vassalos casados com as índias ou seus descendentes descendentes sejam tratad tratados os com o nome nome de cabouç cabouçolo olos s (sic.) (sic.),, ou outro outro semel semelhan hante te que que possa possa ser ser injurioso”.
4tualmente& no 9rasil& o termo caboclo designa# mesti)o de branco com índioK "essoa de cor acobreada e cabelos lisosK cai"ira - "essoa do cam"o& com "ouca instru)ão e Lmodos r!sticosL. 8a religião afro-brasileira afro-brasileira designa geralmente entidades es"irituais. 8o +ambor de Mina - denomina)ão religiosa afro-brasileira surgida na ca"ital do Estado do Maranhão e "redominante no 8orte do 9rasil -& o caboclo& embora tenha& geralmente& geralmente& alguma liga)ão com o índio& "ode ter uma origem não indígena 0"ode ser turco& francs ou ter outra nacionalidade. 8ão obstante& todos os caboclos são considerados brasileiros& "ois& LnasceramL no 9rasil en,uanto entidade es"iritual& isto & come)aram a ser recebidos em transe medi!nico nos terreiros brasileiros 0FERRE++3& 0FERRE++3& M. DNNN. Cs caboclos são muito antigos na religião afro-brasileira e surgiram em terreiros nagG e bantu 0angola& congo e cambinda. Mas& en,uanto sua e$"ansão foi "e,uena nos nagG& seu crescimento foi tão grande em terreiros bantu ,ue& alguns deles "assaram a ser conhecidos como casas de caboclo ou deram origem a candombl candomblés és de caboclo caboclo - chefiados& es"iritualmente& "or entidade cabocla& onde a identidade africana 0angola& nagG foi "rogressivamente "rogressivamente substituída "ela brasileira brasileira 0O48BE@& 15?6. 4 incidncia maior de caboclos em terreiros bantus& ou deles derivados& tem sido inter"retada como decorrente de terem entrado no "aís& como escravos& antes dos /e/es e nagGs 0(4@+RC& 0(4@+RC& 15>N#1:>. 4firma-se tambm ,ue& tendo chegado "rimeiro& afastaram-se mais de suas tradi)*es culturais do ,ue a,ueles e ,ue& como ainda encontraram o territ
Baseado em comunicação apresentada no VII Encontro E ncontro de Ciências Sociais do NorteNordeste, João Pessoa-PB Brasi!" #$%1&&$'
como influncia da religião indígena ou do culto aos ancestrais "raticado& no "assado& "or "o"ula)*es indígenas 0como se fala na literatura afro-brasileira. C fato de alguns caboclos recebidos nos terreiros afro-brasileiros serem conhecidos "or nomes indígenas& como +aba/ara e +u"ã& não deve ser visto como "rova de ,ue ali são cultuados ancestrais e divindades indígenas. 4firma-se no +ambor de Mina ,ue o turco +aba/ara& nasceu em Bamasco e recebeu esse nome no 9rasil& ao entrar na aldeia de (aboclo elho 0o índio @a"e,uara. 4 "resen)a maior de caboclos nos terreiros bantu foi tambm inter"retada& de forma "reconceituosa& nos estudos afro-brasileiros& como conse,Pncia de sua L"obre=a religiosaL e tendncia ao sincretismo. (om"arados aos nagG& os bantu são a"resentados como tendo uma mitologia "obre& "ouco consistente 0(4R8E3RC& 15:6#D>& e uma religião mais voltada ao culto de ancestrais 0O48BE@& 15?6#D>5. Embora se considere o caboclo como o Ldono da terra brasileiraL e se afirme ,ue os africanos costumavam adotar divindades de outros "ovos& ,uando os dominavam "oliticamente ou se instalam em seus territH-155D desenvolvemos em @ão Ouís 0M4 um "rograma de "es,uisa sobre o caboclo na (asa Fanti-4shanti - terreiro aberto "or ;ai Euclides em 157> ,ue se a"resenta como# 2[(]
)ratamos desta *uestão em tra+a!o apresentado em São u.s, #/%1&&$, na 0eunião nua! da Sociedade Brasi!eira Para o Pro2resso da Ciência - SBPC 3E00E))I,4' 1&&$56(-6/" e em comunicação apresentada na 77 0eunião da ssociação Brasi!eira de ntropo!o2ia - B, Sa!8ador-B, a+r' 1&&6 3E00E))I,4' 1&&/59/-$/"' 3[:] '; )am+or de 4ina, apesar de menos conecido na !iteratura do *ue o Candom+!< e a =m+anda >oi tratado e?tensamente por5 PE0EI0 1&/&", C;S) E@=0@; 1&9A", EC;C 1&/$", B00E); 1&//", Ser2io 3E00E))I 1&&$ 1&&6", 4undicarmo 3E00E))I (###" e outros'
"reservador de uma das raí=es da Mina& introdutor do (andombl no Maranhão e continuador de tradi)*es culturais indígenas. 8a,uela "es,uisa "rocuramos su"rir a carncia de informa)*es sobre a mitologia do caboclo com a an%lise das letras de suas m!sicas cantadas em rituais observados. (omo os "rinci"ais caboclos da,uele terreiro são turcos& centramos nossa aten)ão sobre a família do Rei da +ur,uia. Em 155D iniciamos uma segunda "es,uisa sobre entidades es"irituais não africanas do +ambor de Mina& "rocurando conhecer outras categorias e famílias de encantados de terreiros da ca"ital e de duas cidades do Estado onde a "o"ula)ão negra tambm e$"ressiva# (ururu"u 0no litoral e (od< 0no interior. Cs trabalhos "rodu=idos nessas duas "es,uisas tm sido discutidos em reuni*es científicas e encontros "romovidos "or institui)*es ligadas Q religião afro-brasileira.
O C(/o0o n( R+2#o A)ro-Br(3+r( 4s entidades es"irituais não africanas cultuadas em terreiros brasileiros 0de (andombl& angG& Mina& 9atu,ue e Umbanda tm sido classificadas& em conformidade com a f%bula das Ltrs ra)as formadoras da sociedade nacionalL de ,uem fala Roberto da M4+4 015>1#75-?:& nas seguintes categorias# 1 caboclos 0re"resentantes da "o"ula)ão nativaIindígena ou de segmentos "o"ulares da sociedade brasileira ligados a %rea ruralK D "retos-velhos 0re"resentantes dos escravos africanosK : e senhores ou Lgente finaL 0re"resentantes do coloni=ador euro"eu - branco. Cs caboclos "arecem mais antigos e surgiram& tanto na 9ahia como no Maranhão 08ordeste do 9rasil& em terreiros nagGs 0iorubanos e bantus 0congo& angola& cambinda . Mas& desde o final do sculo "assado& e$istiam& tanto no Estado da 9ahia ,uanto no do Maranhão& terreiros de caboclo& como o da +ur,uia& em @ão Ouís 0ca"ital do Maranhão. Cs "retos-velhos são mais ligados Q Umbanda 09RC8& B.155HK REE8F3EOB& @.M.1557 e mais cultuados no @udeste 0"rinci"almente no Rio de Janeiro e em @ão ;aulo do ,ue no 8ordeste. 8o Maranhão são geralmente homenageados no dia 1: de Maio& data em ,ue se comemora a aboli)ão da escravidão africana no 9rasil. Cs brancosIsenhores são tambm conhecidos na Umbanda e muito antigos na religião afro-brasileira do Maranhão& onde foram relacionados a ori$%s 0divindades africanas& como o Rei @ebastião& associado a a"anã. E$istem ainda na religião afro-brasileira& como um sub-ti"o de caboclo ou constituindo outra categoria de entidade es"iritual surgida no 9rasil& os boiadeiros. Estes& mais conhecidos em terreiros de Umbanda africani=ados 0influenciados "or (andombl. @ão& Qs ve=es& tambm chamados de Lca"angueirosL& "ara distingui-los dos LflecheirosL 0de origem indígena& tambm chamados caboclos Lde "enaL . Essas denomina)*es es"eciais tm rela)ão com as diferen)as de sua caracteri=a)ão "or eles a"resentadas nos rituais religiosos - os mdiuns incor"orando os "rimeiros usam ca"anga 0bolsa de couro de boi e os segundos usam flecha eIou tanga de "enas 0OCBS& 1566. Cs boiadeiros& a"esar de ligados a atividades rurais& como são no 9rasil muitos descendentes de índio& "arece ,ue geralmente não tm origem indígena e& Qs ve=es& são a"resentados em letras de m!sicas cantadas em rituais como sendo de 4ngola ou da Tungria. 4 sua re"resenta)ão como angolanos refor)a a idia de ,ue o surgimento das entidades es"irituais não africanas nos terreiros brasileiros tem muito a ver com a cultura bantu ou com os (andombls bantu. J% a sua re"resenta)ão como "rovenientes da Tungria sugere sua associa)ão a ciganos - "ovos nGmades oriundos& "rovavelmente& do Egito& ndia e (aldia& ,ue foram escravi=ados ou "erseguidos na Tungria e e m diversos "aíses da Euro"a& e ,ue foram muito numerosos na Tungria& onde& em 16?1& houve uma frustrada tentativa "ara a sua sedentari=a)ão 0@48+2484& 15>:#:N. @ão conhecidos no 9rasil desde o @culo 3 0@48+2484& 15>:#:: e a"arecem em @ão Ouís& nas re"resenta)*es natalinas dos terreiros& como tendo vindo do Egito& e em rituais "or eles reali=ados "ara entidades femininas& como "rovenientes da Es"anha 4%4& 4[9]
s mu!eres ci2anas *ue andam, 2era!mente, pe!as ruas das cidades +rasi!eiras, !endo a sorte das pessoas, nas cartas do +ara!o ou nas !inas de suas mãos, são representadas na re!i2ião a>ro-+rasi!eira' s ci2anas, em+ora mais conecidas na =m+anda, são encontrada em terreiros maranenses, tanto em rituais !i2ados a Cura a paDe!ança de ori2em ind.2ena", como o Baião, como ao )am+or de 4ina 3E00E))I, 4' 1&&1"' No )erreiro da )ur*uia eram comandadas pe!a princesa 3!oripes, irmã do 0ei da )ur*uia - o 3erra+ra de !e?andria, da conecida FGistHria do Imperador Car!os 4a2no e dos doe Pares de 3rançaF' 0io de Janeiro5 i8raria do Imp
“oa noite pr! quem é de boa noite, bom dia pr! quem é de bom dia, benç#o, meu pai, a benç#o $ou boiadeiro, %ilho da &un'ria”. ($amba n'ola asa *antishanti).
8a religião afro-brasileira do Maranhão o termo caboclo designa não a"enas entidades es"irituais indígenas& como a (abocla Jurema e o (aboclo elho& ou ligadas Q cria)ão de gado& como as entidades da família de Ogua-9o/i-9u% - entidade ,ue comanda a Mata de (od< 0manifesta)ão religiosa afro-brasileira tí"ica do interior do Estado do Maranhão& de grande influncia nos terreiros da ca"ital e do 8orte do 9rasil - e os boiadeiros recebidos a "artir dos anos oitenta na (asa Fanti-4shanti& ,uando esta introdu=iu o (andombl. 8o Maranhão o termo caboclo designa tambm turcos 0como a (abocla Mariana& euro"eus de origem nobre 0como 4ntGnio Oui=& vulgo (orre-9eirada - filho de Bom Ouís& Rei de Fran)a e encantados das matas 0florestas& como os @urru"iras& sem liga)ão com a "ecu%ria e de origem indígena discutível. 4lm do nome @urru"ira lembrar (uru"ira 0ser da mitologia tu"i ,ue "rotege a mata e assusta os ca)adores& em algumas casas os @urru"iras são denominados (uru"iro& ou mesmo& (uru"ira. (ontudo& nos terreiros de @ão Ouís& os @urru"iras são conhecidos como entidades da mata do Lang%L e classificados& "or Mãe El=ita& como LFulu"aL& termos ,ue "arecem remeter Q frica - aos Felu"e 0"ovo da uin 9issau& de ,uem fala @3O4I15>: e a uma Lna)ãoL africana muito conhecida em (uba - ang% 0U48(TE& 15>:. "+u sou aboclo uerreiro, uerreiro de le-andria, uerreiro é homem nobre, %ilho do ei da /urquia 0+erreiro de 3eman/% - ;ai Jorge
O T!r0o no T(*/or + Mn(: Sn0r+t3*o A)ro-A*+r,no? 8o +ambor de Mina os turcos são numerosos e muito conhecidos 0FERRE++3&M. 15>5#DNDK 155D#7?K DNNN#1D>. ;ertencem % família do Rei da +ur,uia - o Ferrabr%s de 4le$andria& da "&ist0ria do 1mperador arlos 2a'no e os 3o4e Pares de *rança", tra=ida "ara o 9rasil "elos "ortugueses& de"ois de muito difundida na ;enínsula 3brica& e re"resentada em dan)as folclH-1>7. 4"esar dos turcos adotarem na Mina& fre,Pentemente& nomes indígenas& não tm origem ameríndia. @egundo ;ai Euclides& o +erreiro da +ur,uia foi fundado em 1>>5& "or 4nast%cia O!cia dos @antos& negra maranhense de (od<. 4nast%cia tinha como ori$%s de cabe)a# angG e < Missã 08anã e foi "re"arada na Mina "or um africano ou descendente de africano conhecido "or Manoel +eus @antos& ,ue tinha terreiro em @ão Ouís. 4"esar de cultuar ori$%s& abriu seu terreiro "ara a entidade es"iritual denominada Rei da +ur,uia& ,ue veio a se tornar ali chefe de uma grande família de entidades caboclas. 8ão obstante& o +erreiro da +ur,uia ficou conhecido como de Lna)ãoL tai"a 0ta"aV e os turcos tiveram ali& como "adrinho& o vodum 4vere,uete. 4ntes da abertura da +ur,uia os turcos /% eram conhecidos em terreiros maranhenses e& h% muito& como "ersonagens da "o"ular &ist0ria do 1mperador arlos 2a'no e os do4e Pares de *rança e de re"resenta)*es folcl
;u8imos >a!ar, pe!a primeira 8e, em Car!os 4a2no e os doe Pares de 3rança, na Casa 3anti-santi' Pai Euc!ides, em transe com ca+oc!o, nos disse5 Fnão estou a*ui para >a!ar da mina istHria, não *uero e nem posso''' se 8ocê *uer sa+er, a dos turcos, 8eDa a istHria de Car!os 4a2no e doe Pares de 3rançaF' Consu!tamos, inuti!mente, !i8ros de GistHria mas um dia, !ento um te?to de um >o!c!orista encontramos, como persona2em da Ce2ança, 3erra+rs, 3!oripes e seu pai, o !mirante Ba!ão, de *uem ou8ira >a!ar no terreiro' Vimos depois a o+ra citada por Beatri @N)S 1&/6", *ue nos >orneceu uma copia ?ero?' Con>rontamos a narrati8a !iterria com a do terreiro 3E00E))I,4' 1&&(," mas, sH compro8amos a e?istência do !i8ro no )erreiro da )ur*uia no ano de 1&6&' Nossos tra+a!os despertaram 2rande interesse entre as pessoas mais !etradas de terreiros de 4ina e, em 11%1&&6, 8endo uma e?posição de >otos anti2as na Casa 3anti-santi, constatamos *ue a istHria dos turcos a8ia sido ree!a+orada a partir dos nossos tra+a!os e, e8identemente, da !eitura do precioso !i8ro, *ue, por sina!, desaparecera do )erreiro da )ur*uia, antes do
encontramos no +erreiro da +ur,uia em 15?5& com Bona Weca& filha da fundadora& foi a ela "resenteado "or sua madrinha& em 15:H. (onforme ela nos informou& sua madrinha& alem de organi=ar (hegan)as& recebia Bom João - rei "ortugus& conhecido na Mina como "rimo do Rei da +ur,uia. 8a Mina a hist. C +erreiro da +ur,uia não foi fundado "or curador ou "a/ 0chefe de culto afro-ameríndio& sem XfundamentoY na religião afro-brasileira . Foi aberto "or uma descendente de africanos& iniciada na religião afro-brasileira ,ue& sendo amiga "articular da conhecida Mãe 4ndre=a& chegou a morar na (asa das Minas-Je/e 0dahomeana. 4 idia da origem indígena 0generali=ada das entidades não africanas ou classificadas como caboclo& tão recorrente na obra de "es,uisadores e no discurso de "ais-de-santo& tem sido& Qs ve=es& refor)ada "ela inter"reta)ão a"ressada de elementos de rituais observados& onde elas são recebidas em transe medi!nico e onde "odem a"arecer com nomes e& %s ve=es at& com tra/es indígenas. Um e$ame mais a"rofundado do "erfil da,uelas entidades& uma an%lise das letras de m!sicas cantadas "or elas ou "ara elas& e uma leitura atenta de relatos míticos recolhidos na,ueles terreiros& "odem levar o "es,uisador a encara-las de modo bastante diferente. 8a Mina maranhense o nome das entidades es"irituais e o uso "or elas& nos rituais& de "e)as de indument%ria indígena& não são suficientes "ara atestar sua origem ameríndia& embora falem da valori=a)ão do índio no +ambor de Mina e sugiram alguma cone$ão com ele. 4ssim& a e$"lica)ão da ado)ão de nomes indígenas "or turcos não deve ser buscada em sua origem tnica ou em um "ossível em"rstimo cultural indígena& e sim& no conte$to hist
>a!ecimento de @ona eca' 6[6] o+ra impressionou tanto a popu!ação +rasi!eira *ue muitos pais deram aos seus K!os nomes de a!2uns de seus persona2ens, como 0o!dão ca8a!eiro cristão" e 3!oripes princesa turca *ue con8erteu-se ao cristianismo, como o seu irmão 3erra+rs de !e?andria"' 0o!dão ima, >a!ecido tormou *ue em )uriaçu, cidade do !itora! maranense onde nasceu, os nomes de esta+e!ecimentos comerciais eram tam+oi comandada por ui I7' @om ui >oi para a Casa de Na2 e 0ei da )ur*uia para a de 4anoe! )eus Santos e depois para o )erreiro da )ur*uia, onde nem todos adotaram o cristianismo'
aceita)ão da abertura de mais um terreiro de Mina em @ão Ouís& "rocedimento ainda ho/e "roibido na (asa das Minas-Je/e e sem"re desencora/ado na (asa de 8agG %&' 4 ado)ão "elos turcos de nomes de índios brasileiros 0muitos deles& ainda ho/e& "agãos como eles deve ter muito a ver com a ideali=a)ão da "o"ula)ão nativa ocorrida a">5& ,uando "ossível ,ue os e$-escravos e seus descendentes tenham sido mais motivados a se afirmarem como brasileiros do ,ue como africanos. 4 identidade brasileira da família do Rei da +ur,uia a"arece nas cores escolhidas "ara simboli=a-los no +ambor de Mina# 1 o vermelho 0,ue& h% muito& re"resentava os turcos nas dan)as mouriscas e ,ue& certamente& tem a ver com o seu car%ter belicoso& e ,ue era tambm associado a índios americanos 0L"eles vermelhasLK D o verde e o amarelo 0cores ,ue re"resentam o 9rasil& desde ,ue dei$ou de se r colGnia "ortuguesa. 4 associa)ão dos turcos Q na)ão brasileira e ao índio 0nativo a"arece tambm no discurso de ;ai Euclides ,uando trata do mito de +aba/ara - her?7-1>6N& da ,ual "artici"aram muitos negros na es"eran)a de obterem alforria. (asado com a índia 9artira ,ue& encontrando-o no cam"o de batalha& cuidou de seus ferimentos& o turco +aba/ara tornou-se chefe de muitas aldeias indígenas e contribuiu "ara sua "acifica)ão e civili=a)ão. 4o serem a"resentados na Mina como encantados da Lna)ão tai"aL 0africana associados a (aboclo elho 0índio& os turcos foram vinculados tanto Q frica ,uanto ao 9rasil& desviando as aten)*es de sua origem "agã e "ermitindo ao +erreiro da +ur,uia a con,uista de um es"a)o no meio religioso afromaranhense& dominado "ela (asa das Minas-Je/e 0consagrada a Womadonu e "ela (asa de 8agG 0consagrada a angG . (omo na,ueles terreiros abertos "or africanos os turcos não eram Ldonos da casaL e nem Ldonos da terraL 0nativos do 9rasil& s< "uderam se e$"andir na Mina a"
Con0!3#o C caso dos turcos no +ambor de Mina demonstra a dificuldade de se fa=er grandes generali=a)*es na religião afro-brasileira e os riscos de se inter"retar a e$istncia de todas as entidades caboclas em termo de sincretismo afro-ameríndio. Oevando-se em conta os dados a,ui a"resentados& dificilmente se "oderia considerar a,uelas entidades como seres da mitologia ou ancestrais indígenas. 4 mitologia dos turcos no +ambor de Mina tem como matri= "rinci"al gestas 0est
Se2undo Pai Euc!ides, os turcos eram rece+idos na Casa de Na2, como encantados FtaipaF, mas não podiam se mani>estar de modo di>erente dos das entidades a>ricanas' Na sua casa podem ser a!e2res e +aru!entos, podem emitir F+radosF, dançar dando rodadas e, >ora do +arracão, tomar +e+ida a!coH!ica' [&] GistHria seme!ante Q de persona2ens do Brasi!-Co!nia como João 0ama!o, *ue desposou uma .ndia do mesmo nome, e como @io2o R!8ares, o Caramuru, *ue ceKou muitas a!deias de .ndios paciKcados 3E00E))I, 4' (###5(/("'
8o +ambor de Mina do Maranhão& 4lmirante 9alão& Ferrabr%s de 4le$andria& ;rincesa Flori"es não são a"enas "ersonagens liter%rios ou de re"resenta)*es folcl
B/o2r()( Ct(( B00E));, 4aria m!ia Pereira' ;s Voduns do 4aranão' São u.s5 3undação Cu!tura! do 4aranão, 1&//' BS)I@E, 0o2er' a rencontre des dieu? a>ricains et des esprits indiens' In5 @ES0;CGE, Genri' 0o2er Bastide5 u!tima scripta, r*ui8es de Sciences Socia! des 0e!i2ions, Paris, n':A, p'1&-(A, 1&/9' Pu+!icado tam+rica desco+erta5 uma istHria recontada' 0e8ista de ntropo!o2ia, 33CG%=SP, 8'(:, 1&A#' C;S) E@=0@;, ;ct8io da )e ne2ro in Nortern Brai!, a stud in accu!turation' Ne WorX5 J'J' u2ustin Pu+!iser, 1&9A' @N)S, Beatri UHis' Ce2ança' 0io de Janeiro5 3=N0)E%IN3, 1&/6' Cadernos de 3o!c!ore, n'19"' 3E00EI0, urricanas na re!i2ião a>ro-+rasi!eira5 o .ndio em terreiros de São u.s-4' NIS - 9/ 0eunião da SBPC, 8o!' 1' São u.s5 =34, 1&&$ p'6(-6/"' 3E00E))I, 4undicarmo representação do .ndio em terreiros de São u.s-4' Pes*uisa em 3oco, São u.s, 8'$, n'$, p'9/-$/, Dan'%Dun'1&&/' presentado na 77 0eunião Brasi!eira de ntropo!o2ia Sa!8ador, #9%1&&6"' 3E00E))I, 4undicarmo @esceu na 2uma5 o ca+oc!o do )am+or de 4ina no processo de mudança de um terreiro de São u.s - a Casa 3anti-santi' ( ed' São u.s5 E@=34, (###' 3E00E))I, Ser2io' uere+entan de omadonu5 etno2raKa da Casa das 4inas' ( ed' São u.s5 E@=34, 1&&6' 3E00E))I, Ser2io' 0epensando o Sincretismo' São Pau!o5 E@=SP São u.s5 3PE4, 1&&$' U0EEN3IE@, Sidne 4' Sncretism and racism in Mesoteric =m+anda' Goriontes ntropo!H2icos, Porto !e2re, a'1, n':, p'$/-6A, 1&&$' U=NCGE, Jesus' Processos Etnocu!tura!es en Cu+a ' Ga+ana5 Editoria! etras Cu+anas, 1&A:"'
GIS)\0I @; I4PE0@;0 C0;S 4UN; E ;S @;E P0ES @E 30N' )raduida do caste!ano por Jernimo 4oreira de Car8a!o' Se2uida de 3VIENSE, !e?andre Uomes' Bernardo de! Carpi o *ue 8enceu em +ata!a aos doe pares de 3rança' 0io de Janeiro5 i8raria Imp te @eep5 a stud o> an >ro-Brai!ian Cu!t' Ne WorX5 ncor, 1&/$' EI)E, SeraKm S'I' Cartas dos primeiros Desu.tas do Brasi! - III5 1$$A-1$6:' São Pau!o5 Comissão do IV Centenrio, 1&$9' ;@W, 0au!' Uio8anni' Sam+a de Ca+oc!o' 0io de Janeiro5 3=N0)E%IN3, 1&// Caderno de 3o!c!ore, n'1/"' 4), 0o+erto da' 0e!ati8iando5 =ma Introdução Q ntropo!o2ia' PetrHpo!is5 Voes, 1&A1' PE0EI0, 4anoe! Nunes' Casa das minas5 contri+uição ao estudo das so+re8i8ências do cu!to dos 8oduns, do panteão @aomeano, no Estado do 4aranão-Brasi!' ( ed', PetrHpo!is5 Voes, 1&/&' SN)^N, 4aria de ourdes B' ;s Ci2anos5 aspectos da or2aniação socia! de um 2rupo ci2ano em Campinas' São Pau!o5 33CG%=SP, 1&A:' ntropo!o2ia, 9"' SIV, rtur u2usto da' @ireitos ci8is e pena! dos mandin2as e dos >e!upes da Uuin<-Bissau' 9 ed' Bissau5 Ed' @edi!d, 1&A:'
P!/0(o +*: Uma versão revista e atuali=ada foi "ublicada em# FERRE++3& Mundicarmo M.R. +he "resence of nonafrican s"irits in an afro-bra=ilian sZncretismV 3n# REE8F3EOB& @idneZ M. e BRCCER@& 4ndr. Reinventing religions# sZncretism and transformation in 4frica and the 4mericas. Roman \ Oittlefield& DNN1& "s.55-111 3n# ;48EO C8 REO33C8@ RE3+4O3W4+3C8 48B @S8(RE+3@M 38 4FR3(4 48B +TE 4MER3(4@ - 444 488U4O MEE+38& 1557& ashington B(. 444 4nnual Meeting# 4bstrats. ashington # 444& 1557. ". 1H?-1H?. 4;RE@E8+4BC EM ;CR+UUE@ EM REU834C BC 38+E(49-M4