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lutor: Merton, Robert King, 191 0'itulo: Sociologia : teoria e estmtura 11111111111111111111111111111111111111111111111111111111111111 83230809
Ac. 2774
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SOCIOWGIA - Teoria e Estrutura
ROBERT K. MERTON e professor de Sodologia e diretor associado do «Bureau· of Applied Social Research» da. Universidade de Columbia; Membro da «The American Academy of Arts an4 Sciences» e ex-presidente de «American Sociological Association». Em 1962 foi agraciado com o Premio «Distinguished Scholarship in the Humanities» pelo «American Council of Learned Societies» e, em 1964, pelo «National Institute of Health Lectureship» em reconhecimento as destacadas conquistas cientificas. E autor ainda de varias outras obras de grande valor. Desde 0 seu lanc;amento, Sociologia, Teoria e Estrutura passou a ser considerado como a palavra de importancia central nas ciencias sociais. Trata a obra, inicialmente, da influencia mutua entre a teoria social e a investigac;ao social e, a seguir, a codificac;aoprogressiva da teoria substantiva e os procedimentos da analise socio16gica. Sabre esta base S8 sustentam os diversos trabalhos que 0 Autor reuniu, modificou e ampliou para dar ao livro uma unidade, uma coerencia e urn relevo que se man tern a altura da magnitude do tema. Sociologia, Teoria e Estrutura ja foi traduzido para o frances, italiano, espanhol, japones, checo, alemao e hebreu, o que constitui incontestavel e expressivo significado do seu merito.
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VICtor Natlllael Schwetter Silveira PSIc6LOGO CRP 13523/04
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Victor Natalae'i SCh " er Silveira PSlc6'CoGO CRP 13523/04
SOCIOLOGIA
cu. ~1-:r-~ U.F.M.G.• BIBLIOTECA UNIVERSITARIA
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Segunda
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partugues
PREFAclO
1919
. . . . . .. . . . . . . . . . .. . ..
1967
EDlc;AO
1968 1964
.......................•..............
1970
E STA NOVA IMPRESSAO nao
R~2~OR-Oq ~JC/.r~=
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<-de ederal de lA\\~~
© 1968by Robert K. Merton 1957by The Free Press, A. Corporation 1949by The' Free Press
Direitos reservados para os paises de lingua portuguesa pela EDIT6RA MESTRE JOU Rua Martins Fontes, 99 Sao Paulo
AMPLIADA DE 1968
1965
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DA
e uma edigao novamente revista, mas apenas ampliada. A edigao revista de 1957 permanece inalterada, salvo a sua curta introdugao, agora amplamente aumentada e transformada nos capitulos I e II do presente volume. As unicas outras alterag6es sac tecnicas e de pequena monta: como ligeiras emendas nos indices analitico e de nomes. Ao severn inicialmente compostos, os ensaios que formam este livro nao eram destinados a constituir capitulos consecutivos de urn so volume. Seria inutil, portanto, pretender que os ensaios, como estao agor,a ordenados, apresentem uma progressao natural, estabelecendo rigorosa seqUencia de um ensaio para outro. Assim mesmo, nao acredito estarem ausentes as qualidades de coerencia, unidade e enfase. Para tornar a coerencia mais facilmente visivel, 0 livro esta dividido em quatro partes principais, a primeira estabelecendo uma orientagao teorica, de ac6rdo com a qual sac eXiaminados a seguir tres conjuntos de problemas sociologicos. Curtas introdug6es procedem cada uma dessas tres partes substantivas, no intuito de facilitar ao leitor a passagem intelectual de uma parte para a seguinte. Objetivando dar unidade, os ensaios foram reunidos levando-se em consideragao 0 gradual desdobramento e desenvolvimento de duas preocupag6es sociologicas que se estendem por todo 0 livro, preocupag6es melhor expressas pela perspectiva ,encontrada em todos os capitulos do que' em cada assunto especifico sob exame. Trata-se da preocupagao pela agaO reciproca da teoria social e da pesquisa social, e daquela de codificar tanto a teoria substantiva quanto os processos de amilise sociologica, especialmente da analise qualitativa. Temos de admitir que esses dois interesses nao sofrem por excessiva modestia em suas dimens6es. De fato, se eu fOsse sugerir que os ensaios fazem mais que contornar as margens desses territorios imensos e imperfeitamente cartografados, 0 proprio exagero da pretengao aoentuaria ainda mais a pobreza dos resultados. Mas uma vez que a consolidagao da teoria e da pesquisa e a codificagao da teoria e dos metodos sac assuntos aventados com dificuldade por todos os capitulos deste livro, creio ser conveniente acrescentar algumas palavras a respeito da oi'ienbagao teorica, conforme apresentada na Parte 1.
o capitulo I expoe as razoes das func;oes distintivas, embora reciprooas, das hist6rias da teoria sociol6gica, de urn lado, e formulac;6es da teoria correntemente utilizada, de outro. Escusado dizer que a teoria sociol6gica atual repousa sabre legados do passado. Acredito, porem, que ha alguma utilidade em estudar os requisitos intelectuais para uma hist6ria genuina do pensamento sociol6gico, considerando-os mais que uma serie de sinopses de doutrina sociol6gica, cronolbgicamente disposta da mesma forma que e utH observ,ar exatamente como a teoria socio16gica corrente se inspira na teoria antecedente. Em vista da grande atenc;ao despertada pela teoria socio16gica de medio alcance na ultima decada, achei interessante fazer uma revisao do seu carater e das suas realizac;oes, a luz das utilizac;oes e das critic as pelas quais passou essa teoria dumnte esse periodo. 0 capitulo II e dedicado a essa tarefa. o capitulo III sugere urna estrutura para a teoria social conhecida como analise funcional. Centraliza-se num paradigma que procura codificar as suposic;oes, conceitos e processos que tern estado implicitos (e as vezes explicitos) em interpretac;oes funcionais que se desenvolveram nos campos da sociologia, da psicologia e da antropologia sociais. Se deixarmos de lado as exl!ensas conotac;oes da palavra descoberta, poderemos dizer entao que os elementos do paradigma foram principalmente descobertos, e nao inventados. Foram descobertos, em parte esmiuc;ando criticamenl!e as pesquisas e as discussoes te6ricas feitas por eruditos que utilizam a orientac;ao funcional para 0 estudo da sociedade, e em parte por melO do reexame dos meus pr6prios estudos sabre a estrutura social. Os dois ultimos capitulos da Parte I resurnem as especies de relac;6es reciprocas que hoje prevalecem na pesquisa socio16gica. o capitulo IV especifica os tipos relacionados, mas distintos de pesquisar, compreendidos pelo termo teoria sociol6gica (urn tanto vago, mas usado com fl'eqtiencia): metodologia ou l6gica do processo, orientac;6es gerais, analise de conceitos, interpretac;6es ex post jacto, generalizac;6es empiricas e teoria no sentido estrito. Ao examinar as interconexoes entre eles - 0 fato de serem conexos implica que tambem san distintos acentuo as limitac;oes bem como as func;oes das orientac;aes gerais na tea ria, com as quais a sociologia esta mais fartamente provida do' que com conjuntos de uniformidades especificas e empiricamente confirmadas, derivadas da teoria geral. Assim, tambem, aoentuo e procuro caracterizar a importancia bem como a natureza parcial da generalizac;ao empirica. Nesse capitulo, sugere-se que essas generalizac;6es dispares podem ser colacionadas e consolidadas mediante urn processo de codificac;ao. Tornam-se, entao, exemplos de urna regra geral. o capitulo V examina a outra parte dessa relac;ao reciproca entre teoria e pesquisa: as diversas especies de conseqtiencias de pesquisa empirica para 0 desenvolvimento da teoria socio16gica. Sbmente aqueles que conhecem as pesquisas empiricas apenas pela }eitura, e que nao se dedieam praticamente a elas, podem continuar acreditando que a func;ao primordial ou mesma exclusiva da pesquisa consiste em experimentar hip6teses pre-
estabelecidas. Isto representa uma func;ao da pesquisa, essencial n.as rest rita, e que esta longe de ser a linica, poisa pesquisa desempenha urn pa.pel muito mais ativo no desenvolvimento da teoria, do que urna simples func;ao passiva de confirmac;ao. Conforme 0 capitulo explica em detalhes, a investigac;ao empirica tambem inicia, reformula, reenfoca e clarifica a teoria sociol6gica. E na medida em que a pesquisa empirica faz assim frutificar a teoria, e evidente que 0 soci610go te6rico, que se acha afastado de toda pesquisa, que apenas aprende como que "de oitiva", corre o risco de ficar isolado das experiencias que mais provavelmente poderiam chamar a sua atenc;ao para novas e fecundas orientac;oes. Sua mente nao foi preparada pela experiencia. Acha-se afastado do fenomeno freqtientemente observado, de "serendipidade"* - a descoberta por acaso, por uma mente preparada, de novos resultados que nao eram procurados. Quando me refiro a isso, cansidero a serendipidade urn fato da investigac;ao empirica, e nao como uma filosofia. Max Weber tinha razao quando dizia que alguem nao precisa ser Cesar para compreender a Cesar. Mas os soci610gos te6ricos somos as vezes tent ados a agir como se nao fosse, ao menos, necessario estudar Cesar a fim de entende-lo. Contudo, sabemos que a ac;ao reciproca da teoria e da pesquisa contribui tanto para a compreensao do caso espec1fico quanto para a expansao da regra geral. Sou grato a Barbara Bengen, que emprestou seus talentos redatoriais aos dois primeiros capitulos, a Dra. Harriet A. Zuckermann, que examinou os primeiros rascunhos dos mesmos, a Sra. Mary Miles, que converteu urn palimpsesto em claro texto datilografado. Para a preparaC;ao desses dois capitulos introdut6rios, beneficiei-me de urn subsidio outorgado pela National
Science Foundation.
Hastings-on-Hudson, Nova Iorque marc;o de 1968
(OJ
N. do trad.: Dotas 18 do
Em cap.
ingles serendipity. IV; 4-A do cap.
Vejam-se. a respeito. V e 2, do cap. X.
os
esclarecimentos
do
Autor
nas
PREFAclO DA EDICAo REVIST A <-
DE 1957
MAIS DE UM TERc;O, aproximactamente, do conteudo do presente volume e materia nova. As principais alterag6es consistem de quatro capitulos novas e de dois pos-escritos bibliognificos, que abrangem recentes desenvolvimentos acerca do tema tratado nos capitulos a que foram apensados. Procurei igualmente aperfeigoar, em varios topicos do livro, a exposigao do assunto, reescrevendo paragrafos que nao apresentavam a devida clareza e eliminando diversos erros que nunc a deveriam tel' sido cometidos. Dos quatro capitulos acrescentados a esta edigao, dois pravem de simposios publicados, urn dos quais se esgotou e 0 outro, segundo estou informado, aproxima-se da mesma situagao. "Padr6es de Influencia", que surgiu inicialmente na publicagao Communications Research, 1747-47(P. F. Lazarsfeld e F. N. Stanton, editOres), faz parte de uma serie continuada de estudos feitos pelo Departamento de Pesquisa Social Aplicada, da Universidade de Columbia, versando sabre 0 papel da influencia pessoal na sociedade. Este capitulo estabelece 0 conceito do fator do "influente", identifica dois tipos distintos desse fatal', 0 "loDal" e 0 "cosmopolita" e os relaciona a estrutura de influencia na comunidade local. 0 segundo, "Contribuig6es a Teoria de Comportamento dos Grupos de Referencia", foi escrito em colaboragac;>com a Sra. Alice S. Rossi e originalmente publicado em Continuities in Social Research Cedigao de· R. K. Merton e P. F. Lazarsfeld). Baseia-se na ampla evidencia fornecida pelo The American Soldier, com a proposito de formular certas condig6es em que as pessoas se orientam pelas normas de varios grupos, pa,rticularmente POl' aqueles a que nao se acham filiadas. Os outros dais capitulos acrescentados a est a edigao nao foram publicados antes. 0 primeiro, "Continuidades na Teoria da Estrutura Social e da Anomia", procura consolidar recennes amilises empiricas e teoricas das origens e conseqiiencias da infragao de normas sociais, descritas como anomia. 0 segundo, "Continuidades na Teoria dos Grupos de Referencia e Estrutura Social", procura revelar algumas das inferencias especificamente sociologicas das investigag6es atuais sabre 0 comportamento dos grupos de referencia, distinguindo-as das indug6es sociopsicologicas. Seu objetivo e examinar alguns dos problemas teoricos da estrutura social, que devem ser resolvidos antes que ocorram determinadas progressos na analise saciologica dos grupos de referencia.
Os p6s-escritos bibliognificos tratam reswnidamente da analise fundonal da sociologia e se detem urn tanto no papel do puritanism a no desenvolvimento da ciencia moderna. Agradego especialmente a Dra. Elinor Barber e a Sra. Marie Klink, o auxflio prestado na corregao das provas. A Sra. Bernice Zelditch, a preparagao do indice. A revisao da presente obra foi beneficiada par pequeno auxflio monetario propiciado pelo Programa de Ciencias do Comportamento, da Fundagao Ford, como parte de seu plano de auxflios, sem restrigoes previas, para urn "proj'eto" especifico.
Hastings-an-Hudson, Nova lorque Dia de Ac;;aode Grac;;as,1956
N
ENHUM HOMEM SABE, de modo integral, a que ;foi que modelou seu pr6prio pensamento. Torna-se dificH tragar, pormenorizadamente, a origem das concepgoes emitidas neste livro, bem como pesquisar as causas das suas progressivas modificagoes, que surgiram no decorrer dos anos, a medida em que eu ia elaborando est a obra. Muitos cientistas sociais contribuiram para desenvolve-Ias e sempre que a origem se tornava conhecida, eu tratava de referencia-Ia em nwnerosas notas, espalhadas pelos diversos capitulos. Entre essas fontes, porem, M seis de que me considero especialmente devedor, embora sob graus e modalidades diversas, pelo que desejo prestar-Ihes 0 meu reconhecimento. o primeiro e maior desses tributos e ligeira e tardiamente reconhecido no fato de ser esse livro dedicado a Charles H. Hopkins, espaso de minha irma, cuja vida despertou em muitas criaturas 0 sentido profundo da dignidade hwnana. Para n6s, que compartHhamos do convivio de sua exisrencia serena, ele continua vivo. E com amor, respeito e gratidao, que dedico este livro a Hopkins, que aprendeu por si mesmo aquilo que pade ensinar aos outros. Ao meu born amigo George Eaton Simpson, presentemente no Oberlin College, sou grato par haver incutido, na mente de wn estudante novato como eu, 0 devido interesse para estudar 0 funcionamento dos sistemas de relagoes sociais. Nao me poderia ter sido mais auspiciosa qualquer outra introdugao a sociologia. Com relagao a Pitirim A. Sorokin - antes que se absorvesse no estudo dos movimentos hist6ricos em grande escala, tais como aqueles reprosentados em sua obra Social and Cultural Dynamics, devo dizer que me ajudou a fugir do provincianismo de pensar que os estudos efetivos da so>ciedade se confinavam as fronteiras dos Estados Unidos. E mais: do provincianismo em acreditar que 0 assunto principal e primario da sociologia se centralizava em problemas tao perifericos da vida social, como sejam 0 div6rcio e a delinquencia juvenil. Prazerosamente reconhego que ainda devo esta obrigagao. A George Sarton, 0 mais apreciado entre os historiadores da ciencia, sou grato tanto pela amizade como pela orientagao e priviIegio de ter labutado a maior parte do periodo de dois anos em sua famosa oficina de trabalho, na 189."Secgao da Biblioteca de Harvard. Urn pequeno vestigio de seu estfmulo sera encontrado na Parte IV deste livro, dedicada a estudos sObre a sociologia da ciencia.
Aqueles que lerem as paginas que seguem, logo reco.'1hecerao que a maior divida nesse senti do e para com 0 meu professor e amigo Talcott Parsons, que desde 0 inicio de sua carreira soube inculcar a tantos de seus discipulos 0 maior entusiasmo pela teoria analitica. A medida de sua eficiencia ·cemo professo~ esta no ,fato de ter despertado a independencia intelectual, ao inves de meramente fazer com que seus discipulos lhe obedecessem. Na intimidade espiritual proporcionada pelo pequeno departamento de graduagao em sociologia, de Harvard, na primeira parte da decada de 1930, era possivel a urn estudante do ultimo ano, como eu, visa..'1doa ,formatura, manter est:-eitas e continuas relagaes de trabalho com urn instrutor da qualidade do Dr. Parsons. Tratava-se, na realidade, de urn collegium, 0 que hoj'e nao e facil encontrar, em departamentos que abrigam muitos estudantes e urn pequeno numero de professares, submetidos a pesada rotina. Nos ultimos anos, enquanto eu trabalhava no Departamento de Pesquisa Social Aplicada, na Universidade de Columbia, compartilhando de varias ta.refas, muito aprendi com Paul F. Lazarsfeld. Uma vez que em nossas incontaveis conversagaes tornou-se evidente que ele nao suspeitara da extensao de minha divida intelectual para com ele, sinto-me especialmente feliz, nesta ocasiao, de chamar sabre ele a atengao do publico. Para mim, urn de seus mais valiosos tragos tern side a sua cetica curiosidade, que me compeliu a articular-me do modo mais completo possivel, quanto as minhas razaes em considerar a analise funcional presentemente como a mais promissora, senao a unica orientagao teorica adequada a extensa faixa de problemas da sociedade humana. E, acima de tudo, at raves de seu proprio exemplo, ele reforgou a minha convicgao de que a grande diferenga entre a ciencia social e 0 dHetantismo reside na busca sistematica e seria, isto e, intelectualmente responsavel e austera, daquilo que, a principio, e apenas uma ideia atraente e interessante. No mesmo sentido, penso que a presenga de Whitehead se patenteia nas linhas finais da passagem inscrita na epigrafe deste livro. Ha mais quatro pessoas que merecem breve referenda: todos quantos me conhecem sabem da minha grande obrigagao para com uma delas; as demais, no devido tempo, descobrirao por si mesmas a exata natureza da minha grande obrigagao para com elas.
P art~ I TEORIA
SOCIOLOGICA
SOBRE A HISTORIA E A SISTEMATICA DA TEORIA SOCIOLOGiCA
«Vma perdidl».
ciencia
que
hesita
em
«E caracteristico de uma ciencia, see ao meSilla tempo ambicios'amente e trivial no maneje dos detalhes».
esquecer
seus
fund:tdores
esta
em seus primeiros estagios ... profunda em seus objetivos
«Porem, aproximar-se muito de uma teoria verdadeira c do. minar sua aplica~ao exata. sac duas (a isas bem diversas. como nos ensina a Hist6ria da Ciencia. Tuda quanta hi de importante ji foi dito por alguem que, no entanto. nao 0 descobriu».
E
MBORA INSPIRADOS em larga escala nos trabalhos dos primeiros mestres da sociologia, os presentes ensaios nao tratam da hist6ria da teoria socio16gica, mas da substancia sistematica de certas teorias hoje utilizadas pelos soci610gos. A distinc;ao entre as duas nao e apenas casual, mas ambas estao !reqiientemente con!undidas nos curriculos academicos e nas publicac;6es. Com e!eito, as ciencias sociais, em geral, com a. crescente excec;ao da psicologia e economia tendem a !undir a teoria corrente com a sua pr6pria hist6ria, num grau muito mais elevado do que 0 !azem outras ciencias, tais como a biologia, a quimica ou a Hsica.1
Simbblicamente, e muito adequado que os soci6logos tenham a bendencia de fundir a hist6ria com a sistematica da teoria, pois Auguste Comte, muitas vezes definido como 0 pai da sociologia, tern side tambem descrito 1. Esta discussao inspirou-se num cnsaio anterior a respe,ito da {(posic;ao da teoria sociol6gica». Amencan SocIOlogical ReView, 1949, 13, 164·8. Para observa<;6es oportunas sobre a papel da hlstorra do penSJIl1ento sOCIal, dlverso daquele da teoria sociol6gica corrente, ver: Howard Becker, «VitalIZIng socIOlogical theory», IbId., 1954, 19, 377·88, esp. 379,81, a recente trabalho, farta, e labonosamente documentado par Joseph Berger, Morris Zelditch Jr. e Bo Anderson. SOCiologIcal Theo
como a pai da historia da ciencia. 2 Todavia, a confusao atraente mas fatal da teoria sociologica corrente com a historia das ideias sociologicas, despreza suas l'espectivas fung6es, tao acentuadamente diferentes. o reconhecimento adequado da diferenga entre a historia e a sistematica da historia poderia ter, como resultado, a composigao de historias autenticas. Estas poderiam ter as ingredientes e as caracberisticas formais das melhores historias de outras ciencias. Poderiam ocupar-se de assuntos como a filiagao complexa das ideias sociologicas, as maneiras como se desenvolveram, as conex6es da teoria com as origens sociais variantes e as subseqtientes status sociais dos seus expoentes, a interagao da tea ria com a organizagao social variante da sociologia, a difusao da teoria a partir de centros de pensamento sociologico e as suas modificag6es no decurso da difusao, e das maneiras em que esse pensamento foi influenciado por alterag6es na cultura e na estrutura social ambientes. A pratica dessa distingao contribuiria, em suma, para a historia sociologica da teoria sociologica,. Os sociologos porem, ainda conservam uma concepgao provinciana, diriamos mesmo "pickwickiana"*, da historia da teoria sociologica que, para eles, nao e mais que uma colegao de criticas sumarias de antigas teorias, apimentadas com breves biografias dos grandes teoricos. Isto ajuda a explicar porque quase todos os sociologos consideram-se qualificados a ensinar e a lescrever a "Historia" da teoria sociologica, pois, afinal de contas, eles estao a par dos escritos c1assicos do passado. Mas ess~ conceito da historia da teoria nao e nem historia nem sistematica, apenas urn produto hibrido, muito mal engendrado. Efetivamente, tal conceito constitui anomalia no campo do trabalho intelectual contemporaneo e assinala uma crescente inversao de papeis entre os sociologos e os histo·riadores, pois as sociologos estao mantendo sua concepgao limitada e vaga da historia das ideias exatamente quando nova estirpe, de historiadores especializados, da ciencia esta inspirando-se ampla e profundamente na sociologia, psicologia e politica da ciencia para conseguir rumos teoricos as suas interpretag6es do desenvolvimento da 2. Ver, por exemplo, George Sarton, The Study of the History of Science (Cambridge. Harvard University Press, 1936), 3-4. A atribui<;iio a Comte, Marx ou Saint-Simon do titulo de ..:pa!i» cia sociologia e, em parte, quesHio de opiniao e, em parte, resultado de uma suposi<;ao mal fundamentada s6bre a maneira como surgem e se cristalizam novas ciencias.F Continua sendo uma si.mples opiniao, porque nao hi criterios paclficamente aceitos quanta as condi<;6es de «paternIdade». de. urna cienc.ia; a suposi<;ao, sem muita base, e de que ha, tipicamente, urn pai p.a... ra . ca~a .clencla, 0 que nao passa de uma metafora biologica. Na realidade, a historia cla ClenCla Indica que a poligenese e a regra. Contudo, e fora de duvida que Comte. em 1839. cur:hou a pala.vra «soci?logia», esse horrivel termo hibrjdo que passou a designar a ciencia cia ~~cI~dade .. !"IUItos estudlOsOS e professores tern protestado, ate hoje, contra esse barbarismo. agora J ,~rremed~avel. Urn dos nurnerosos exemplos de protestos e a observa<;ao feita em 1852 pelo ~eOf1co sOClal talentoso e injustamente esquecido, George Corne wall lewis: « ... .a principal obje<;ao cima pa}avra cientif.ica, composta parcial mente de uma palavra inglesa e de uma grega e quepo e1 ser Inco.rnpreensivel para urn estrangeiro que desconhe<;a a nossa lingua. 0 Sf. Comt; propos ~efe~l~v~a f S~C101~gy; mas 0 que diriamos a urn escritor alemao que usasse a palavra gesellO'logy, ou Rea c. a t~ ogy.)}: . A queixa esta registrada em A Treatise on the Methods of Observation and rOlltICS, de Lewis (Londres: 1852), II. 337-notas; quanto it propria historia desse ter~~nl~g r (Londte: 19~~)'r IBranford, «On the origin and use of the word sociology ... », Sociological Papers, Iorque' Y 'c' 3-1~4 e L. L. Bernard e JeSSIe Bernard, Origins of American Sociology, (Noya (*) do t;ad.:r°J:le ~ 1~43), 249. . . . . Charles Dickens usao a. personagem burlesca prIncIpal de «As Aventuras do ~r., PlckwlCk», de e a sua fauna' a~~:tiscaal>~.a campo sem qualquer preparo, «para estudar as breJos de Hamsptead
V.
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mesma. 3 A historia especializada da clencia abrange as conceitos intellgentes mas erroneos que eram aceitaveis na epoca em que foram enunciados mas que foram mais tarde destruidos por testes empiricos inapelaveis, o~ substituidos por conceitos mais adequados aos novas conhecimentos. Tambem inclui as saidas erradas, as doutrinas que se revelaram arcaicas, os erros frutiferos au infrutiferos do pass ado. A historia da ciencia justifica-se quando pretende atingir 0 conhecimento de como os fatos se desenvolveram em determinada ciencia ou complexo de ciencia, nao apenas quando quer colacar em ordem cronologica as sinopses da teoria cientifica. E, acima de tudo, essa especie de historia nao se destina a instruir 0 cientistas de hoje na teoria operante corrente, na metodologia. ou na tecnica de sua ciencia. A historia e a sistematica da teoria cientifica podem ser relatadas, exatamente porque foram previamente l'econhecidas como sendo distintas.
Os sociologos e os historiadores tern invertido seus papeis, de modo impressionante. Os historiadores estao compHando com muito entusiasmo a "historia oral" 4 do recente passado nas ciencias, entrevistando as principais personagens dessa historia e gravando suas declarag6es pelo sistema de "video-tape", ao passe que os sociologos ainda se limitam a concentrar sua atengao aos documentos publicos. E outro caso em que as historiadores estao "invadindo" e "sabrepujando" os sociologos em seu proprio dominio, ou seja, a tecnica da entrevista. Resumindo, podemos diZier que os historiadores da ciencia. fisica e biologica estao comegando a escrever historias analiticas baseadas em parte na sociologia da ciencia, 0 enquanto as sociologos continuam a considerar a historia da teoria sociologica como uma serie de sumarios criticos de suoessivos sistemas teoricos. Admitindo-se esse conceito restrito, conclui-se naturalmente que as obras de Marx, Weber, Durkheim, Simmel, Pareto, Sumner, Cooley e de outros autol'es menos inportantes que descrevam esses sistemas teoricos continuam sendo as fontes principais de material para os sociologos. Porem, essa escolha de materiais nas fontes, que parece tao justificada, choca-se contra a destoante diferenga entre as vers6es terminadas do trabalho cientifico como aparece na obra impressa e 0 andamento real da investigagao nas maos do pesquisador. A diferenga e urn pouca semelhante :'. Entre os representantes mais consequentes da nova historia da ciencia. encontram-se Charles Gillispie. Henry Guerlac. Rupert HalL Marie Boas Hall, Thnmas Kuhn, Everett Mendelsohn, Derek Pnce, Robert Schofield, L. Pearce Williams e A. C. Crombie. 4. Inventada pelo historiador Allan Nevins como mcio de preservac;ao dos dados fugazes do prescnte historico, a «historia oral» tern utilizado tecnicas de entrevista que sao mais proprjas dos soci()logo$ «de campo» que dos historiadores, pois estes sao tradicionalmente mestres no sistema de coleta e de anilise de mater.iais documentarios. Para um rclatorio sabre a «historia ora!», mo~o ~e jnvestj~a<;ao que se estendeu muito alcm do seu ponto de origem oa Universidade de ColumbIa, ver The Oral History Collection of Columbia University (Nova Iorque: Oral History Research Office, 1964), vol. I e suplementos aouais. . Como exemplo, 0 American Institute of Physics esta compilando, sob a direc;:ao de Charles Welner, u.~a hist~ria oral e documentaria da fisica nucle:lr; essa tecnica poderia se-r bem irnitacla pelos soclOlogos wteressados na historia reccnte cia sua propria disciplina. H' .s. Para .exempIos ~a historia da ciencia pintada sociologicamente, ver a publica\"ao aoual H lstOry of SC!~nce, publlcad~ pela primeira vez efl.'. 1962, sob a dire<;ao de A. C. Crombie e M. A. U o~klns.' tambem Marshall Clagett, organlzador, CCltIcal Problems In the HIstory of SCience (MadIson: DIversIty of Wisconsin Press, 1959).
a que existe entre os manuais de "metodo cientifico" e as maneiras pelas quais os cientistas efetivamente pensam, sentem e procedem em seu trabaIho. Os livros sabre metodos apresentam padr6es ideais: como os cientistas deveriam pensar, sentir e agi.r, mas esses padr6es normativos consideniveis, como todas as pessoas que se tern dedicado a pesquisas sabem, nao reproduzem as adaptaQoes tipicamente desalinhadas e oportunistas que os cientistas fazeffi no transcorrer das suas inv'estigaQ6es. Tipicamente, 0 ensaio cientifico e a monografia apresentam uma aparencia imaculada, que POliCO ou nada reflete os saltos intuitivos, as falsas saidas, enganos, observac;;6es confusas e inacabRdas, ou as felizes ocorrencias que van surO"indodesordenadamente durante a pesquisa. Os registros publicos da cien~ia, ou seja, os livros impressos, deixam, portanto, de fornecer muitos dos materiais das fontes originais, necessarios para reconstituir 0 curso real dos desenvolvimentos cientificos. A concepQao da historia da ideia sociologica, como uma serie de r-elatorios criticos de conceitos publicados, retarda-se muito da realidade ja bem conhecida,. Mesmo antes da invenc;;aoevoluciomiria do ensaio cientHico, tres seculos atnis, ja se sabia que 0 idioma da ciencia, tlpicamente impessoal, neutro e convencional so podia comunicar as noc;;6esessenciais das novas contribuic;;6es cientificas, mas nao podia reproduzir 0 andamento real da pesquisa. Em outras palavras, ja se sabia 'entao que a historia e a sistematica da teoria cientifica exigia especies diversas de materiais basicos. Nos primeiros anos do seculo XVII, Bacon simultaneamente observava e lamentava: «que nnnca qualquer conhecimento foi difundid? .na mes~a ordem em que foi inv~n_tado, tampouco na matematica. embora se possa pensar 0 contrano, conslderanclo·se que as proposlc;oes. ap,:esenta.das em ultimo lugar utiIizam realmente as proposl(oes ou suposi(oes colocadas em prunelro Iugar pJ.Ia piOva e demonstraC;ao». 6
Desde entao, a mesma observac;ao tern sido feita repetida e independentemente, ao qu~ parece, por muitos espiritos perceptivos. Assim, urn seculo mais tarde, Leibniz toeou num ponto muito parecido numa carta nao destinada a publicac;;ao,mas que mais tarde passou a fazer parte do registro bistorico: queria fazer·nos erer que nao lera quase nada. Essa asse.rc;ao era urn tanto exagerada. «Descartes Assim mesmo e born estudar as descobertas dos outros de uma manelra que nos [evele a fante das descobertas e' as torne de certo modo nossas. E eu gostaria que os autores nos contasser:n a hist6ria das suas descobertas e as passos que deram para chegar .1; elas. Qyando eles delxam de faze-Io, devemos tentar adivinhar esses passos, a fim de aproveltar 0 mal.s posslvel. os .seug trabalhos Se os 'criticos quisessem fazer isso para nos quando comentam os lIvros [agul 5ena 0 Caso de perguntar ao grande matematico e £iloso£o: como poderiam fazer tal coisa?] eles pre5tariam grande servic;o ao pUDlico». 7 I
Com efeito, 0 que Bacon e Leibniz estao dizendo e que as materias-primas de que a hist6ria e a sistematica da ciencia necessitam, diferem muito significativamente entre si. Mas, uma vez que os cientistas costumam publicar suas ideias e descobertas, nao para ajudar os historiadores a reconstruirem seus metodos mas para informar sellS contemporaneos, e 6. FrancIS Bacon The \Vorks of Francis Bacon. Compilados e editados por James Speddjng, Robert Leslie Ellis e Douglas Denon Heath (Cambridge, Inglaterra: Riverside Press, 1863), VI, 70. 7. Gottfried Wilhelm Leibniz, Philosophischen Schriften, C. I. Gerhardt, editor, (Berlim, 1887), II, )68, em sua carta dirigida de Vien •• a Louis Bourquet, em 22 de mar,o de 1714.
talvez a posteridade, a respeito das suas contribuic;;6es a ciencia., eles tern continuado a publicar amplamente seus trabalhos de urn modo mais Ibgicamente cogente do que historicamente descritivo. Essa pratica continuou a suprir 0 mesmo tipo de observac;;ao feita por Bacon e Leibniz. Quase dois seculos depois de Leibniz, Mach declarou que, em sua opiniao, as coisas nao haviam mudado, para melhor, no milenio posterior a descobert a da geometria euclidiana. As exposic;;6escientLfieas e matematicas ainda continuavam a inclinar-se mais para a casuistica logiea do que para o registro de cursos reais de investigac;;ao: «0 sistema de EucJides fascinou os pensadores grac;as it sua excelencia 16gic3 e os seus defeitos foram esquecidos no meio dessa admirac;ao.\ Grandes pesquisadores, mesmo em cpocas recentes. ~em sido erroneamentc levados a seguir 0 excmplo de Euclides na apresent.1C;J.o do resultado dos seus inqucritos e. dessa maneira, a esconder realmente seus metod-os de inve::tiga~ao, corn .<:rande prejulzo para a cienc.ia». 8
Mas, de certa maneira, a observa,c;;aode Mach e regressiva. Deixa -)le de perceber 0 que Bacon viu tao claramente alguns seculos antes, ou seja, que os anais da ciencia hao de diferir ineviUwelmente, conforme dependam da intenc;;ao de contribuir com conhecimento sistematico corrente ou para uma melhor compreensao historic a, de como se desenvolve 0 tmbalho cientifieo. Mas 0 que Mach, como Bacon e Leibniz, pretende realmente dizer, e que nao podemos esperar reconstruir a historia verdadeira da investigac;;ao cientffica apenas prestando atenc;;ao a relatorios de tipo convencional ja publicados. Essa mesma observac;;aofoi feita recentemente pelo fisico A. A. Moles, ao dizer que os cientistas san "profissionalmente treinados a esconder para si mesmos 0 seu pensamento mais profundo" e para "exagerar inconscientemente 0 aspecto racional" do trabalho feito no passado.9 0 que d~sejamos sublinhar e que 0 habito de explicar favoravelmente 0 curso atual, concreto e real da investigac;;ao,resulta principalmente dos costumes da comunicac;;ao cientifica, os quais utilizam uma lingua gem e uma forma passiva de observac;;ao. Isso implica em que as ideias se desenvolvem sem a ajuda da mente humana e que a pesquisa se ef'etua sem a colaborac;;ao das maos do homem. Essa observac;;ao foi generalizada pela botanica Agnes Arber, a qual !lotou que "0 modo de apresentac;;ao do trabalho cientifico e ... moldado pelos preconoeitos de pensamento vigentes em sua epoca". Embora 0 estilo dos relat6rios cientLficos divirja de acordo com as tendencias intelectuais prevalecentes no periodo, todos eJes apresentam mais uma reconstruc;;ao estilizada da pesquisa do que Uma descric;;aofiel do seu efetivo desenvolvimento. Agnes Arber observa que, no periodo euclidiano, quando o sistema dedutivo era altamente apreciado, 0 curso real das pesquisas Iicava encoberto "pelo metodo artificial de enfileirar conceitos numa linha de dedu\:6es arbitrariamente escolhida", obscurecendo, dessa maneira, 0 seu cientista, "achando-se dominado pelo metodo aspecto empirico. Hoje,
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8. Ernest Mach, Space and Geometry, trad. inglesa de T. J. McCormack (Chiogo: Open Court Publishing Co., 1906), 113; 0 grifo e nosso. 9. A. A., .l\foles, La cn~ation scienti£iquc. (Genebra, 1957), citado por Jacques Barzun em Science: The Glorious Entertainment (Nova Iorque: Harper & Row, 1964), 93.
indutivo, mesmo quando atingiu, de fato, suas hipateses por analogia, reage instintivamente no sentido de esconder as suas pistas, e de apresentar todo 0 seu trabalho - e nao apenas a sua prova - em forma in. dutiva, como se as suas conclus6es houvessem sido realmente atingidas par esse processo".10 Agnes Arber observa que sbmente na literatura nao-cientifica encontramos tentativas para registrar 0 caniter reticula do e intricado do pensamento: «Lawrence Sterne, e alguns escritores modernos influenciados pela sua tecnica [alusao bastante James Joyce e Virginia Woolf], visualizaram e procuraram transportar clara 30$ impreSSlOnistas na lingua gem 0 comportamento complicado e nao linear da mente hllmana, que arrernetc: urn Jado para Dutro sem se preocupar com as peias cia seqUencia temporal; mas POllCOS [cientistas) 1 I se arriscariam a tais experiencias». (J~
Contuo.o, nao e preciso ser muito otimista para perceber que a, incapac:idade da sociologia em distinguir entre a histaria e a sistematica da teoria sera urn dia superada. De inicio, alguns socialogos reconheceram que as publicag6es comuns proporciona,vam base insuficiente para desencovar a histaria real da teoria e da investigagao sociolagica. Contornaram a dificuldade langando mao de outras 'especies de materiais originais: c&dernos de notas e diarios cientificos (p. ex., Cooley), correspondencia (p. ex., Marx-Engels, Ross-Ward), autobiografias e biografias (p. ex., Marx, Spencer, Weber e muitos outros). Socialogos mais recentes tern chegado a publicar, ocasionalmente, relatarios nao retocados, da maneira como efetuaram suas pesquisas, incluindo todos os detalhes das influencias intelectuais ,e sociais recebidas, os encontros ocasionais com dados e id6ias, os erros e descuidos, os desvios do plano original de investiga<;ao e todos os outros tipos de episadios que surgem no decorrer das pesquisas e nao sac geralmente relatados no trabalho publicado.]2 Embora ainda estejam na fase inicial, tais cranicas hao de dar maior extensao a pnitica introduzida por Lester F. Ward, em sua obra em seis volumes Glimpses ot the Cosmos,] 3 de introduzir cada ensaio como urn "esbago histarico descl'evendo exatamente quando, onde, como e porque ,foi escrito".13· 10. Agnes Arber, «Analogy in the history of science», Srudies and Essays in rhe History of Science and Learning offered in Homage to George Sarton, compilados por M. F. Ashley Monta!!u (Nova Iorque: Henry Schumann. 1944), 222-33. esp. 229. 11. A!!nes Arber, The Mind ",nd rhe Eye: A Srudy of the Biologist's Standpoint (Cambridge University Press, 1954). 46. a capitulo V, «The Biologist and Written Word» e mesmo a totalidade desse livro sutil. perceptivo e profundamente informado, deveria constituir lcitura obrigat6ria para os historiadores de qualquer disciplina c.ientffica, nao excluindo a sociologia. 12. Por exemplo: 0 pormenorizado apendice metodo16gico apresentado por William Foote Wh~te na edi,iio aumentada de Street Corper Society: The Social Structure of an Italian Slum (ChIcago: University of Chicago Press, 1955); 0 relato de E. H. Sutherland sobre 0 desenvolvimenta cia sua teoria de associac;ao diferenciaI. em The Sutherland Papers. compilac;iio de Albert Gohen, Alfred Lindesmith e Karl Schuessler (Bloomington: Indiana University Press. 1956); Edward A. Shils, «Primordial. Personal, Sacred and Civil Ties». Brirish Jourpal of Sociology, junho 1957, 140·145; Marie Jahoda, Paul F. Lazarsfeld e Hans Zeisel. Die Arbeitslosen von Marienthal. ed. niio. revista (Bonn: Verlag fur Demoskopie, 1960). com nova introdu<;iio de Lazarsfeld sabre as ongens mtelectuais, 0 ambiente do pensamento socio16gico e psico16gico e os epis6dios que se desenrolaram durante a pesquisa. Em 1964, essa preocupa,iio com tudo aquilo que acooteceu no decurso de varias pesquisas sociologicas foi expressa em duas coletaneas desses assuntos: I Ip Hammond, compilador, Sociologists at Work: The Craft of Social Research (Nova R:fl~e;. aSlc Books) ~ Arthur J. Vidich, Joseph Bensman e Maurice R. Stein, compiladores, erlOns on Commu,nrty StudIes (Nova Iorque: John Wiley & Sons). 13. Nova Iorque e Londres: G. P. Putnam, 1913.18. vida 13a. Para. ou.tro exemplo de inter·rela,iio entre 0 trabalho do soci6logo. a hist6ria de sua e Fr:nk Frga~lZb,ao SOCIal do campo. ver 0 ensaio biogrHico de \Villiam J. Goode, Larry Mitchell urs en erg, em Selected Works of Willard W. Waller (no prelo).
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aparecimento, em 1965, do Journal oj the revista dedicada exclusiv3mente a histaria das ciencias do comportamento - em contraste com grande mimero de revistas importantes e uma centena da pequenas publicag6es consagradas a histaria das ciencias fisica e biolagica. Terceiro sinal foi 0 interesse cada vez maiar pelo estudo da histaria da pesquisa social. Nathan Glazer, por exemplo, tragou 0 processo, por meio do seu ensaio autenticamente histarico The Rise ot Social Research in Europe, ao passo que Paul F. Lazarsfeld instaurou urn programa especial de monograijas dedicadas as primeiras manifestag6es da pesquisa social empirica na AIemanha, na Franga, na Inglaterra, na ItaJia, na Rolanda e na Escandimivia.14 Alvin Gouldner, em seu recente trabalho sabve a teoria social de Platao,] 5 estabelece urn precedente auspicioso para as monografias que relacionam a estrutura sacio-cultural do ambiente social com 0 desenvolvimento da teoria social. Estas sac apenas algumas das muitas provas de que os socialogos estao voltando sua atengao as alllilises caracteristicamente histaricas e sociolagicas da expansao tea rica. Outro sinaI promissor foi
History
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Sciences, a primeira
CONTINUIDADES E DESCONTINUIDADES NA TEORIA SOCIOL6GICA Da mesma forma que outros artifices, os historiadores das ideias acham-se expostos aos varios percalgos do oficio. Urn desses casos mais axasperantes e excitantes surge tadas as vezes que os historiadores procuram identificar as continuidades e as descontinuidades histaricas das ideias. E urn exercicio' acrobatico que se pode comparar com 0 de caminhar sabre urn arame, pois 0 menor desvio da posigao ereta e amiude suficiente paTa ,fazer perder 0 equilibrio. 0 escritor de ideias corre 0 risco de dizer que achou uma seqUencia de pensamento onde nenhuma existe, ou de nao a encontrar onde ela existe.16 Ao observarmos 0 comportamento dos historiadores de ideias, descobrimos que, quando eles se enganam, cometem geralmente 0 primeiro tipo de erros. Sao muito propensos a encontrar uma firme corrente de
I'r 14. Nathan Glazer «The Rise of Social Research in Europe», em The Human Meaning of the Social Sciences. Daniel Lerner, ·compilador (Nova Iorque: Meridian Books. 1959), 43·72. Ver tambem a primeira monngrafia publicada dentro do programa de Lazarsfeld: Anthony Oberschall, Empirical Social Research in Germany, 1848-1914 (Paris e Haia: M,?uton, 19~5). 15. Alvin W. Gouldner, Enter Plato: Classical Greece a,nd the OnglOs of SOCIal Theory (Nova Iorque: Basic Books. 1965). 16. Como exemplo adequado, posso dizer que cheguei a essa mesma distin<;iio alguns an,?s apos have-la elaborado pormenorizadamente durante uma serie de confereoCias. Vcr 3 ?ISCUSSao da «precursoritis», por Joseph T. Clark, S. J., «The philosophy of science and the hIstory of SC!cncc», em Clagett, op. cit., 103-40, e 0 comentaria sabre esse ensaio por 1. E. DrabkIn, esp. pag. 152. Essa coincidencia de ideias e duplamente adequada uma vez que, desde algum tempo, tenho sustentado a opiniao de que as historias e as sociologias das ideias exemplificam alguns dos mesmos processos hist6ricos e intelectuais que elas descrevem e analisam. Note-se, par exemplo, a observal";ao de que a teoria das descobertas multiplas e independentes na ciencia e confirmada pela Ver sua pr6pria hist6ria, pois tern sido periodicamente descoberta no espa~o de varias gera~?es. R. _ K, Merton, «Singletons and multiples in scientific discovery: a chapter in the SOCIOlogy of SCIence», Proceedings of rhe American Philosophical Society, outubro de 1961, 105, 470-86, esp. 5-7. Ver outros casos de hip6teses e teorias que se exemplificam por si mesmas. em R. K. 19e;;)~' On rhe Shoulders of Gianw (Nova Iorque: The Free Press, 1965; Harcour, Brace & World,
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precursores, de antecipagoes ou de prefi~ragoes, em muitos caso~ e:n que uma investigagao ma' profunda revelana tratar-se apenas de flCgoes. Compreende-se que os soci6logos compartilhem dessa tendi'mcia com os historiadores da ciencia, pois ambos adotam geralmente um modelo de desenvolvimento hist6rico da cH~ncia que procede de incrementos do conhecimento. Desse ponto de vista, as lacunas ocasionais provem linicamente da incapaeidade de se descobrirem informagoes completas mediante a investigagao das obras do passado. Desconhecendo os trabalhos anteriores, os cientistas mais recentes fazem descobrimentos que resultam ser redescobrimentos (isto e, conceitos ou achados que ja foram enunciados em todos os seus aspectos relevantes). Para 0 historiador que tem acesso tanto a primeira como a segunda versao da descoberta, essa ocorrencia 'indica uma continuidade intelectual, embora nao hist6rica, de que 0 segundo descobridor nao tinha conhecimento. Essa presungao de continuidade e confirmada pelo fate 'abundantemente comprovado de que descobertas e ideias multiplas e independentes ocorvem nas ciencias.17 Que algumas ideias cientificas tenham sido plenamente anteeipadas 11aOsignifica, e claro, que todas 0 foram. A continuidade hist6rica do conhecimento implica novos incrementos do conhecimento previo que nao haviam sido antecipados; existe tambem certa dose de descontinuidade genuina na forma da quantidade de saltos que se efetuam na formulagao das ideias, e na descobert a de uniformidades empfricas. Um dos passos qUE;mais contribui para 0 progresso sociol6gico da cieneia, consiste precisarnente na solugao do problema da identificagao das condigoes e processos que provocarn a continuidade e a descontinuidade na ciencia. ]::sses problemas de reconstruir a exbensao da continuidade e descontinuidade saa inerentes a toda a hist6ria da ciencia, mas adquirem carater especial naquelas hist6rias (como, por exemplo, na hist6ria tipica da sociologia) que se limitam principalmente a sumarios de ideias cronolbgicarnente organizados. Nos trabalhos que excluem 0 estudo serio da agao recfproca das ideias e da estrutura sociais, a pretensa ligagao entre as ideias mais novas e as mais antigas e colocada no centro das cogitagoes. o histOliador de ideias, quer 0 perceba ou nao, esta entao obrigado a distinguir a extensao da similaridade existente entre velhas e novas ideias, dando-se ao ambito dessas diferengas os nomes de redescobrimento, antecipagoes, prefiguragoes e, no caso mais extremo, "prefiguracionismo". 1. Redeseobrimento e pre-deseobrimento. Falando em sentido estrito, as descobertas multiplas independentes na ciencia veferem-se a ideias substantivamente identic as ou funcionalmente equivalentes, e a achados empfricos public ados por dois ou ma.is cientistas, cada qual desconhecedor do trabalho do outro. Quando isso ocorre mais ou menos ao mesmo tempo, chama-se descobrimentos independentes "simultaneos". Os historiadores 17. Para recentes cotejos de provas a respeito. colhidas pelo menos desde it epoca ?e Fr.a~cis Ba.c,?n ~te a de William Ogburn e Dorothy Thomas e que fornec~m testemu!1hos slste~atlcos op. CI(" ~ «ReSistance adlcIOnals, ver Merton, «Singletons and multiples in scientific discovencs», to the systematic study of multiple discoveries in science», E.uropean Journal of SOCIOlogy, 1963, 4. 237-82.
nao estabeleceram criterios universalmente aceitos de "simultaneidade" mas, na pratica, as d·escobertas multiplas sao designadas como simultaneas quando se dao dentro do prazo de alguns anos. Quando intervalos maiores separam descobrimentos funeionalmente intercambiaveis, 0 mais recente e descrito como redeseobrimento. Como as historiadores da ciencia ainda nao tem designagao firmada para as descobertas mais antigas adotaremos o termo pre-deseobrimento. Nao e facil estabelecer 0 grau de similaridade entre ideias que se desenvolveram independentemente. Ate mesmo nas disciplinas mais exatas tais como na matematica, as prebensoes a inventos multiplos independen: tes sao vigorosamente discutidas. A questao esta em saber quantas "coincidencias" podem ser alegadas para constituir "identidade". Cuidadosa camparagao das geometrias nao-euclidianas inventadas por Bolyai e Labachevsky, por e~emplo, demonstrou que Lobachevsky desenvolvera cinco dcs nove componentes mais salientes dos conceitos coincidentes, de modo mais sistematico, mais fecundo e mais detalhado 18 Da mesma forma tern sido observado que nenhurn par, entve os dOz~ cientistas que "domi~ naram por si mesmos as partes essenciais do conceito da energia e da sua conservagao", tinham preeisamente a mesma concepgao do assunto.19 Nc entanto, diminuindo-se urn pouco 0 criterio da comparagao, as suas descobertas sao geralmente consideradas como multiplas independentes. No que se refere a formulagao menos precisa em muitas das ciencias sociais, torna-se ainda mais dfficiI estabelecer a identidade substantiva ou a equivalencia funcional dos conceitos independentes elaborados. Contudo, em vez de urna comparagao radical entre as primeiras e as ultimas versoes da "mesma" descobert a, surge outra especie de prova, presurnfvel senao compuls6ria de identidade ou equivaleneia: 0 depoimento, pelo qual 0 mais reeente inV'entor admite haver side precedido par outro. Presume-se que esses depoimentos sejam verfdicos; urna vez que a ciencia moderna recompensa a originalidade (ao contrario de outras epocas, em que as novas ideias precisavam ser referendadas por autoridndes mais antigas), e pouco provavel que os inventores concordem em renunciar a originalidade dos seus pr6prios trabalhos. Encontrarnos exemplos de novos inventores, que admitem pre-deseobrimentos em todas as ciencias. Thomas Young, por e~emplo, ffsico de grande poder inventivo, d'::clarou que "muitas circunstancias desconhecidas pelos matematicos ingleses, que eu julgara ter side 0 primeiro a descobrir, ja haviam sido c.escobertas e demonstradas por matematicos estrangeiros". 0 mesmo Young, por sua V'ez, recebeu desculpas de Fresnel, quando este veio a saber que, por inadvertencia, havia reproduzido os trabalhos daquele sobre a teoria das ondas de luz. 20 Da mesma forma Bertrand Russell, referindo-se 18. B. Petr~vievics. «N. Lobatschewsky et J. Boll'ai: etude comparative d'un cas special d'in1929. CVII!. 190-214; e outro ensaio anterior do mesmo ;c~teurs_ slmultanes». Revue philosophique. BU.or sabre o~tro caso antenor do mesmo genera: «Charles Darwin and Alfred Russel Wallace: eltrl'p' zm hoheren ~sychologie und zur Wissenschaftsgeschichte». Isis. 1925. VI!. 25-27 S. Kuhn. «Energy conservatIOn as an example of SImultaneous dIscovery». Em 9. Thomas CI agett. op. Clf.. 321-56. P 20. Alexander Wood. Thomas Yount: Natural Philosopher 1773-1829 (Cambridge: University ress. 1954), 65. 188-9. Fresnel esereYeu a Young: «Quando 'submeti meu trabalho [seu ensaio
as suas contribuigaes aos trabalhos de Whitehead e a sua propria obra declarou que "grande parte desse trabalho ja havia sido feita pOl' F:ege, thas, a principio, nos nao sabfamos disso".21 Em todos os campos da ciencia social e das humanidades se encontram casos em que os auto res mais recentes confessam que suas contribuigaes tiveram predecessores, dando assim e10qUente testemunho do fenameno da descoberta multipla nessas disciplinas. Consideremos apenas estes diversos exemplos: Pavlov deu-se 0 trabalho de reconhecer que "a honra de tel' dado 0 primeiro passe nesse caminho [0 famoso metoda de investigagao instaurado POl' €lIe] pertence a F. L. Thorndike". 22 Freud, que manifestou mais de 150 vezes seu interesse na questao da priori.dade das descobertas, diz 0 seguinte: "Muito mais tarde, encontrei as caracterfsticas essenciais e muito mais significativas da minha teoria dos sonhos - a transformaQao de uma distorgao onfrica em conflito interno, uma especie de desonestidade interior - num escritor familiarizado com a filosofia mas nao a medicina, 0 engenheiro J. Popper que publicou as suas Phantasien eines Realisten sob 0 pseudanimo de Linkeus".23 R. G. D. Allen e J. R. Hicks, os quais levaram a moderna teoria econamica do valor ao seu ponto culminante em 1934, tambem fizeram questao de advertir 0 publico sabre urn pre-descobrimento feito POl' urn economist a russo, Eugen Slutsky, e publicado num jornal Italiano em 1915, epoca em que a Guerra Europeia ocupava tadas as atengaes, em detrimento da facil circulagao das ideias. Allen dedicou urn artigo a teoria que Slutsky enunciara anteriormente e Hicks batizou a equagao fundamental da teoria dos va16res como "equagao de Slutsky". 24 A mesma configuragao se verifica entre os filosofos. Na obra. de Moore Principia Ethica, posslvelmente 0 livro que exerceu malar influencia etica do seculo XX, encontra-se a bem conhecida declaragao: "Quando este livro ja estava completo, encontrei em 'Origin of the Knowledge of Right and Wrong' [Origem do conhecimento certo e do errado], de Brentano, cpini6es muito mais parecidas com as minhas do que as de qualquer outro escritor etico que eu conhega". E Moore prossegue, sumariando quatro conceitos principais sabre os quais escreveu iranicamente: "Brentano parece que conco~da completamente comigo ... " 25 Przncipia Mathematica,
sobre delas
a teoria havieis
da luz] aD Instituto. eu tirado; por isso. apresentei
nao sabia das como novidade
vossas
aguila
experient:i3
tempo ontes». N '1 d r The 21. Bertrand RusseJI, «My mental developmenh>, em James R. ewman, compi a 0 • World of Mathemotics (Novo lorque: Simon & Schuster, 1956), I, 388. N I . 22. I. P. Povlov, Lectures on Conditioned Reflexes, trad. de W. H. Gantt ( ova orque. Internotionol Publishers, 1928), 39-40. 4 ) 23. Sigmund Freud, Collected Papers, trod. de Joan Riviere (Londres: Hogarth. Press, 19 9 I, 302., Para um reloto detolhodo do interesse de Freud nas antecipa,oes, redescobnmentos, pre-descobrimentos e prioridades, vel' Merton, «Resistance to the systematic study of multIple diSCO· veries in science», op. dr., 252·8. .' 24. R. G. D. Allen. «Professor Solutsky's Theory of Consumer Choice», ReVIew of EconomIc Studies, fevereiro 1936, vol. III, 2, 120: J. R. Hicks, Value and Capital (Oxford: Clarendon Press, 1946). . 25. G. E. Moore, Pri/lcipia Ethi'ca (Cambridge University Press .. 1903), X-XI. Como curdadoso erudito, Moore tambem nota uma diferen<;a basica entre suas ideias e as de Brentano. Exempltftca urn fator ~mpo:tante na forma~ao da opiniao que estamos aqui expand? ler:tamente, a saber, q~e de certas ideias em duas ou mais tearias desenvolvldas wdependentemente nao mesmo a Identldade
As referencias a formulagoes precedentes atingem ate mesmo pequenos detalhes, inclusive novas figuras de retorica. Assim, David Riesman introduz a imag·em do "giroscopio psicologico", declarando a seguir: " ... logo depois, descobrir que Gardnes Murphy utilizara a mesma metafora em seu livro Personality. 20 Quando constatamos que uma ideia nossa ja foi descoberta no pass ado fkamos tao desconcertados como quando encontramos, desprevenidos, u~ sosia no meio da multidao. A economista Edith Penrose exprime sem duvida a opiniao de muitos outros cientistas e estudiosos, quando diz: "depois de haver a duras penas elaborado POl' mim mesma uma ideia que ·eu julgava important-a e 'original', tenho sofrido muitas vezes a decepgao de constatar, mais tarde, que a mesma ideia ja havia sido melhor exposta POl' Gutro autor".27 Outra especie de prova que evidencia as redescobertas genufnas e forDecida pelos numerosos cientistas e estudiosos que abandonam uma linha de trabalho ao achar que foram precedidos POl' outros. Os recem-chegados ao assunto teriam certamente todos os motivos para perceber ate mesmo as menores diferengas entre 0 seu proprio trabalho e 0 dos que os precederam; se abandonam sua propria linha de pesquisa, e porque percebem claramente que os antecessores ja haviam atingido conclus6es significativas antes deles. Ca:l SpEarman, POl' exemplo, relata que construiu uma cuida'dosa teoria de "coeficientes de correlagao" para medir graus de correlagao, mas logo verificou que "a malar parte da minha teoria ja fara estabelecida - e muito melhor - POl' outros autores, especial mente pOl' Galton e Udney Yule. Assim grande parte do trabalho foi destrufda e a descoberta que me parecia tao original foi, pesarosamente abandonada".28 Tambem no campo da erudigao literaria, muitas pesquisas tern side feitas inutilmente, POl' ignorancia da existencia de trabalhos anteriores. POl' exemplo, 0 historiador J. H. Hexter, 'em sua linguagem direta e franca, declara que certa \'ez quase terminara urn apendice contestando "a tese de que, na Utopia, Thomas More se afastava dos conceitos sabre a propriedade privada, formulados POl' Hythloday, quando meu colega Prof. George Parks mostrou-me ·excelente artigo de Edward L. Surtz, tratando exaustivamente do masmo assunto. " 0 meu trabalho tornou-se completamente desnecessario".29 Esses exemplos publicamente registrados nao representam certamente a totalidade dos redescobrimentos. Muitos cientistas e estudiosos nao chega·significa necessariamente uma identiclade completa no conjunto das teorias. As teorias humanisticas e sociais, e as vezes tambem fis.icas e biol6gicas, naD possuem essa rigorosa coerencia 16gica que hz com que a identidade dos partes seja equivalente a identidade do todo. 26. David Riesman, em colabom,ao com Reue! Denney e Nathan Glozer, The Lonely Crowd (New Haven: Yole University Press. 1950), 16. 6 n. 27. Edith Penrose, The Theory of the growth of rhe Firm (Nova Iorque: John Wiley, 1959), 2. . 28. Carl Spearman, em A Hisrory of Psychology in Aurobiography. Reda,ao de Carl MurchIson (Nova Iorque: Russell & Russell, 1961), 322. _ 29. J. R., Hexter, More's Uropia: The Biography of an Idea (Princeton University Press, 1962), ,4 n. Hexter acrescenta que aincla foi antecipado em outro aspecto do seu trabalho: «Meu com~ plet.o desacardo com a interpreta~ao de Cncken sabre as inten~oes de More na Utopia e roinha profu~da divergencia com sua analise cia composic;ao dessa obra. d.uplica meu pesar de haver sido .tnteClpado por ele num ponto. Minha ilusao de haver sido 0 prime.iro em notar uma falha no ,~ro I da Utopio ... foi destrufda por nova leitura da introdu,ao de Oncken a tradu,ao alema de R Itter». Ibid., 13-14n. .
Sociologia -
ram a admitir pilblicamente que os seus trabalhos ja haviam sido antecipa· dos por out rem e, pOn#isso, grande mlmero de casos so e conhecido num circulo restrito de amigos e colaboradores intimo. so 2. Antecipar;oes e Prefigumr;6es (ou prenuncios). Em livro reoente,'H o historiador de ciencia Thomas S. Kuhn estabeleceu distinc;ao entre "ciencia normal" e "revoluc;6es dentificas", como fases na evoluC;aoda ciencia. A maioria dos comentarios sabre essa obra concentra-se, como 0 proprio Kuhn 0 fizera, sabre aqueles ocasionais assaltos progressivos que assinalam a revoluc;ao cientifica. Mas, embora essas revoluc;6es representem os momentos mais impressionantes do desenvolvimento da ciencia, a ma,ioria dos, cientistas, na maior parte do tempo, encontra-se engajada no trabalho da "ciencia normal", desenvolvendo por increment os cWTIulativos 0 conheci· mento baseado em paradigmas divididos (conjuntos mais ou menos coerentes de suposic;6es ou de imagens). Assim, Kuhn nao rejeita a antiga teoria de que a ciencia progride principalmente por incrementos, embora sua principal preocupac;ao seja de demonstrar que isto e completamente remoto a historia. Mas qualquer interpretagao do seu trabalho, inferindo que a acumulac;ao de conhecimentos reconhecida pela comunidade dos c,ientistas e apenas urn mito, estaria flagrantemente em desacardo com os registros historicos. A opiniao de que grande parte da ciencia se desenvolve pelo acumulo, de conhecimentos, embora estes sofram a influencia de desvios, engodos, ou retrocesS'os temporarios, implica que a maio ria das novas ideias e' achados tern sido antecipada ou esboc;ada. A cada momenta determinado' surgem aproximac;6es daquilo que logo se vai desenvolver de maneira:, mais total. Seria muito interessante estabelecer urn vocabulario adequado para designar os varios graus de semelhanc;a entre as formulac;6es de ideias e achados cientificos mais antigos e mais recentes. Temos examinado os casos extremos, denominando-os pre-descobrimentos e redescobrimentos, designac;6es que envolvem identidades substantivas ou equivalencias funcionais. As antecipac;6es se ref'erem a algo menos que urna semelhanga, na qual as formulac;6es mais antigas se sobrep6em parcial mente as mais novas, mas que nao enfocam ou extraem 0 mesmo conjunto de implicac;6es. As prefigurac;6es (ou esboc;os) se ref'erem a uma semelhanc;a ainda menor, na qual as formulac;6es mais antigas apenas prenunciaram literalmente as mais novas, isto e, aproximaram·se muito vagamente das ideias subseqiientes, sem praticamente provocar ou acompanhar qualquer implicac;ao especifica. A dHerenc;a basica entre antecipac;6es e redescobrimentos ou prefi· gurac;6es esta muito bem caracterizada no apotegma de Whitehead que encabec;a este capitulo: "Porem, aproximar-se muito de uma teoria verdadeira e dominar sua aplicac;ao exata, sac duas coisas bem diversas, como nos ensina a historia da Ciencia. Tudo quanto ha de importante ja foi dito por alguem que, no entanto, nao 0 descobriu". Whitehead teria side 0 .
30. Para maiores dctalhes, ver Merton, «Singletons and multiples jn scientific discovery». op. 479 e segs, 31. Thomas S. Kuhn, The Structure of Sci'entific Revolutions (Chicago: University of Ch;cago Press, 1952). CH.,
TeOria e Estrutura
primeiro a apreciar a ironia historic a de que f ele fara antecipado mas naa sofrera preemp _ ,8 ·O azer essa observac;ao, , . . c;ao.A ugustus de M exemplo, matematlCo, logico e historiador d 'd .. organ, por · . . .e 1 ems pertencente . 211 t en or Ja havia dito que "dificilment h s a gerac;ao '" . e ouve uma grande d b C1enC1acUJos germes nao se encontrassem nos tr esc.o. erta na temporaneos ou predecessores do homem ue v d a~aJhos de vanos con_ Mas foi outro teorico genial usando f' q d er. ade1ramente a realizou".S2 . ,1guras e lmguagem qua f . quem f1XOUa diferenc;a decisiva entre pre-descob . t se. reudmna, o primeiro desses termos consiste em . nmen 0 e antec1pac;ao: so persegUlr uma ideia f acnado bastante serio para tornar evid"nt '. _ ou azer urn M '. " es suas 1mphcac;oes ss as os h1stonadol'es das ideias muitas veze d '. basicas. A grande freqiienc1'a de d b s esprezam essas d1Stinc;6es .• , re esco ertas genuinas 1 ~ ;elaxar os ~adr6es de identidade subs.tantiva e de eqUiv:~~~~a~mlU~e, ,la, e a menClOnar como formulaC;6es "redescobertas" que so h . un~lOvagamente pressentidas no passado' em cer . .avmm sldo pensam completamente tais pad .: tos casos, os h1stonadores dis"anlJecipac;6es" e "pre-deseObrime:~oess"::\.:ntregam ao jago de achar exagerar as semelhanc;as e a de .0 a parte. Essa tendencia a mais antigas e as mais mOdern::r~zar as difere~c;a~ entre as formula<;6es historiadores das ideias. e urn mal prof1sslOnaJ que aflige muitos as historiadores mais no d '" d vos a clencm, profundamente desiludidos pela tendencia dos seus _ ". pre ecessores em descobrir antecipaf'6es e pref1'g.urac;oes t '" nas Clene as mais diagn6stico compar'ativo exa as, po~em chegar a repudiar, agastados, 0 . ~ , mas na reahdade 0 mal parece estar mais rofundar:nente _d1fu~d1dO entre os historiadores das ciencias sociais As r:pa~al1s~o nao sac difioeis de serem encontradas. Tomemos a 'historia ~: SOClO ogm - um exemplo 'to a u· . _ que mm eompreensivelmente nos interessa 1. Atr~ves das _gera~oes, .a maioria dos trabalhos de soeiologia Cincluve ~s~a mtroduc;ao) tern sldo escritos no estilo do ensaio cientifico Ao c~ntr~:l0 .da ~o~ma longamente adotada par muito tempo para os en~aiOs das cl~nclll:Sfls1cas e biologieas, so recentemente se assentou nos ens";os de soelOlogIa, a ~raTlCa de apresentar urna exposic;ao compacta 'do problema, "'"' o~ processos e mstrumentos de investigac;ao, os ach::'dos empiricos urna dlScussaa de tese e as implicac;6es teoricas do que foi encontrado. 's{ as 1
s;
32. Augustus de Morgan Essa s h Lif d' e an Work of Newton (Chicago e Lond:es: The Open COurt Publishing Co. '1914 Y l~n t pe ra exem.plo mats rec~nte. dccano dos psic61ogos norte-~merica~'os ver a o~servac;ao do atual (Nova Jorque: Appleton-Century.Croft; lnc n (. Bonng, em A HIStory of ExperImental Psychology, hertas tem tido suas antecipa~6es q h:'t ?5 O 2 ·a ed.), 4. «Quase todas as grandes desco· 33. 1i muito simb6lico 'F D .15 ana d or d esenterra mats tarde». tamente que uma co.isa e d~~e UI~eau d haJa coloca~o 3.• quesbio O?S seguintes termos: «5ei perfe-i. Surge em forma de inspira<;ao ~f'" • uas ou m~lS vezes, revestlmento verba! a uma idcia que 30. pe cia !etrJ.. persegui-la a dcse~~ra. e o~tra cOlsa. ~em diferente e er;,cani-la seriamente, toma-Ia esclarece-la em todos os detalhes at'l conseguir-lhe finalmente ~ 0 de todas as dlflcuJdades, entre 0 namaro casual e 0 ':n~tri~:r i entre as verda des aceitas. Eo a mesma diferen(a que cxist~ ~~sado com uma jde.ia uma figur~n sf·lene com todos os seus deveres e dificuldades. 'Estar Istory of the psycho-anal tic m e tnguagem bastante comum». Sigmund Freud «On the p.ublicado primeiramente em 1914 e'reimpresso em . Coller;red. Papers .• opY cit., °r,em2e;7t:>, trabalho ded1cado a hlst6ria de uma ideia t' 35[. esp_ pag. 296. £sse ensalQ profundamente pessoal d 34. Para sermos bem elaros' eSI~ Iep eta de observa!;oes pertinentes aD nosso prescote estudo' es~ssa {forma para os ensaios soci~16a il:o~tac:sos que nao est.am?~ ... diz~ndo au implic:1!1do que 0 us~ babalhorma conseguem apenas dem~nstrar SCfUff a Sua SJgnr~lcan.C1a" Al~uns enS:1lOS que adotam Os que conservam 0 estilo d . C ar~me?t.e que sao 10consequentes; por Dutro lado, D enSalQ ClentlfJCo, conseguem as vezes transmitir conceitos
Edwt
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K. Merton
livros de sociologia eram escritos ensaios e, pa,rtiCUlarmente'b?~ " raramente eram definidos com antigos dfJ eitos aslCO", , num estilo em que os nc ue 0 processo e as relac;6es entre as ~eonas rio'or ao mesmo tempo em q t m sendo desenvolvidas), contmuava '" ,-, eis e a espedfica (que es ava d' - humanistica ha muito vanav " 't d acordo com a tra 1c;ao. _ largamente 1mpIlc1a," e, teve duas COnseqtienClas: 1.0 - Os con tempo estabelecida. Este sl~tema escapam facilmente da atenc;flOquando . ' subJacentes d "les ceitos 'e ideias baslCOSe, os ou definidos e, assim, alguns ~ A imprecisao das mais ant1~as nao sac expressamente et1quetad d 2 sao, de fato, redeSc?bertos ,ma1~ta;r e 'ideias a fazer faceis identificac;o8~ cte formulac;6es incent1va 0 h1stonad uma analise mais meticulosa so de pre_descobrimentos em casos em qu~ ntes . agas e mconseque . 'd" s encontra semelhanc;as v , ' ombros do historiador de 1 .81a Essas ambigtiidades depos1tam nos tec1'pa,,6es genuinas e as pseudo' t'nguir entre as an ." . o pesado fardo de dlS 1 . t'picamente confinada ao uso aC1s quais a semelhanc;a e ! 'da pelo -antecipac;oes, na 1 as da ultima versao, 1mpregna dfntal de algumas das mesmas p~:vr de conhecimentos mais recentes, A historiador de sigl1ific~dOSextra1sZ~do-anteciPac;6es realmente nao e clara, distinc;ao entre as genumas e as p _ ' dolencia e permitir que qualq':,er mas se 0 historiador se entre gar fa m la,,6es passe por antecipac;ao, ele ormu semelhanc;a entre velhas ,e novas " d ." 'deias mas nao a sua hi st'on'a . estara de fato escrevendo a m1tol~~~~es:~b~imentos, a evidencia presur:ni~a Conforme acontece com os p . . eracidade quando 0 propno ,'na adqUlre mawr V' de uma antec1pac;ao genUl . t ntes dele tern apresentado e suc'entista mais novO reconhece que ~du.:0 aFoi assim que Gordon Allport tos da sua 1 e1a, 'a de blinhado certos aspec ,., d autonomia funcional: ou seJ , formulou decisivamente 0 pnnc1plO a d' -es especificas se transformam n que as formas de comportamento, sob co b 1C;0se houvess~m iniciado por , mesmas em ora t 'ode em fins ou alvos por Sl " I e que 0 comportamen 0 P 0 ponto essenc1a I 'mpulso cualquer outra razao, d -0 e mais reforcado pe 0 1 . ainda quan 0 na -" con manter-se par si mesmo, formulou pela primeira vez esse , ou motivo original. Quando Allport t tores mas bastante controvert1do , fl" 'a em cer os se esmo ceito - de grande m uenC1 t primeiros exemplos que 0 rr:S em outros 35 - indicou prontamen e tOh segundo a qual os mecalllsmos -0 de Woodwor , , pulsos' a observac;a -0 de stern sugeria' a observac;a . formados em 1m, ,,,, de , 016gicos podem ser trans . em "genomot1voS , a PSlC , d m transformar-se 1 u s "fenomotivos' po e ,,, d m "firmar·se pe 0 se de que 0 " bJ'etos-mews po e do Tolman conforme a qual os 0 'f' m mais como antecipac;oes , se quaIl lCa , coin pr6prio merito". Esses casos ue as vers6es mais ant1gas _ 0 que e mais importante ue como pre_descobrimentos, uma, vez q q as ma1S novas e, cidiam apenas em parte com 0
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L
. d 0 problema aqui na sO~le~a. e. maS os atributoS d 0 homem noSSO conheCimento OIOglCOS mUlto maLOr para estdos nOS escritos soCt I l"" antecipac;oes C de importancw relatlvo dos dlferentcs . dares da sociologia a Dca tzar t'f na-o e 0 mento C,lCn 1 1(0 I stana f 1 encoraJam os 11 d' . r a . J . foal 0 0 ICO do ensalO 5000 g que d desenvolv1mento dessa ISCIP JO · Amertcan ou or f .motives» pretlgura~5es no decurso 0 h functional autonomy 0 _ t€:m sido observadas r 35, Gordon W, Allport, «T e • . de Allport as anteClpa,oes 'John \''V'iley & Sons, Psychology, 1937, 50, 141,56, d As referT~~~~ies of Personality (Nova lorque, Calvin S, Hall e Gardner L,n zey, em 1957), 270·1.
nao apresenta,vam muitas das implicac;6es l6gicas e das manifestac;6es empiricas especialmente relatadas por Allport. Foi por isso que as forlY1ulac;6ssde Allport modificaram 0 curso cJ.ahistoria da autonomia funcional, ao passo que as antecipac;6es nao 0 fizeram, Essa especie de diferenc;a perde-se de vista nas historias de ideias que se preocupam principalmente em atribuir os "meritos" por contribuic;o'8S,porque tendem a misturar os pre·descobrimentos e as antecipac;6es num borrao informe. Ao contrario, as historias das ideias que se preocuparam primordialmente em reconstruir o curso real do desenvolvimento cientifico levam em conside.rac;ao a diferenc;a crucial entre as primeiras aproximac;6es a uma ideia e as formulac;6es mais recentes que deixaram sua marca no desenvolvimento dessa ideia, induzindo seus auto res e outros interessados a acompanharem sistematicamente 0 seu curso, Quando urn cientista depara com uma formulac;ao antiga G esquecida, detem-se por acha-la instrutiva e a seguir a acompanha ele proprio, a segue, temos urn autentico caso de continuidacJ.e historica de ideias, ainda que alguns anos ja se tenham passado, Mas, contrariando a versao romanceada da pesquisa cientifica, esse padrao parece nao ser muito freqtiente. Mais treqUente e que uma ideia seja formulada com tanta enfase e precisao que nao possa escapar a atenc;ao dos contemporaneos; nesse caso, torna-se facil encontrar antecipac;6es e prefigurac;6es da mesma, Mas 0 que e decisivo para a historia das ideias e 0 fato de fica,rem esquecidas essas primeiras sugest6es e nao serem sistematicamente seguidas por alguem, ate que uma nova formulac;ao temporariamente definida as traga de volta a luz da publicidade, A identificac;ao dos pre-descobrimentos, das antecipac;6es e das prefigurac;6es pode ser rapida ou demorada, Em geral e rapida, em vista da grande vigilancia exercida pelo si.stema social dos cientistas e dos estudiosos, Quando se publicam ideias novamente formuladas ou achados empiricos, ha geralmente urn pequeno numero de cientistas que ja examinou as vers6es mais antigas, embora nao as tenham utilizadas em seus trabalhos. A nova formula-c;ao reativa as suas lembranc;as da versao primitiva e eles entao comunicam os pre-descobrimentos, antecipac;6es ou prefigurac;6es aos seus colegas dentro do sistema, (As paginas da r·evista Science estao pontilhadas de comunicac;6es desse genero, dirigidas a irmandade cientifica). A identificac;ao demorada ocorre nos casos em que a versao mais antiga e rapidamente esquecida. Talvez houvesse side publicada em alguma revista obscura, ou incluida num ensaio tratando de outro assunto, ou escondida nas paginas ineditas de uma caderneta de laboratorio, num diario ou carta intima,. Uma descoberta, durante certo tempo, e considerada completamente nova pelos contemporaneos. Mas quando se familiarizam COmessa nova ideia, alguns cientistas e estudiosos reconhecem formulac;6es que se parecem com as novas, G, medida que vao relendo tra.balhos mais antigos, E nesse sentido que a historia passada da ciencia esta sendo continuamente reescrita pela sua hist6ria subseqtiente. A autonomia funcional formulada par Allport como principio psicol6gico exemplifica 0 segundo padrao de descoberta. Agora que Allport in-
cutiu em nos esse princ1plO, ficamos atentos a qualquer V'ersao sua, que apareQa em obras do passado. Assim, graQas a Allport, posso dizer, apos reler J. S. Mill, que'ele ja sugerira 0 mesmo principio em 1865: "Sbmente depois que os nossos propositos se tornam independentes dos sentimentos de pena ou de prazer que lhes dao origem, e que podemos nos gabar de possuir urn carater firme".36 0 que desejo ressaltar e que eu nao prestara atenQao a observaQao de Mill ao le-la pela primeira vez porque, na ocasiao, nao me achava sensibilizado pelo conhecimento da formulaQao de Allport. Posso tambem citar que em 1908 Simmel havia antecipado, em termos sociologicos, 0 principio de Allport:
e mais desenvolvida. Prestaria atenQao, em sum a, quanta as diferenQas: 1.0 - entre as varias formuao grau em que s'e ajustava as outras construQ6es lagaes da ideia, 2. te6ricas da epoca e, 3. aos contextos que afetaram seu destino hist6rico. Mas, como sabemos, os historiadores da sociologia geralmente nao cumprem esses severos requisitos para analisar antecipaQoes e prefiguraQaes. Parecem, amiude, sentir prazer - e, sendo humanos, as vezes um prazer perverso - em desenterrar antecipaQoes, reais ou imaginarias, das concepQoes mais recentes. ~sse trabalho auto-suficiente nao e dificil, como veremos pelos seguintes exemplos:
«Fa to cia maior importancia sociol6gica e que Inumeras rela<;6es conservam sua estrutura socio16gica inalterad:l, mesmo apos haver-se esgotado 0 senti men to ou ocasiao prhica que Jhes deu de uma rela~ao requer certo ntimero de condi<;5es positivas origem. .. :e certo que 0 aparecimenta e negativas e a ausencia de apenas uma delas pode, de irnediato, impedir 0 seu desenvolvimento. I niciado este, parem. ele nern sempre e destruido pelo desaparecimento imediato daquela condi~io, sem a qual nao poderia ter surgido. 0 que tern sido dito dos Estados [politicosl que se mantem somente atraves dos meios pelos quais foram fundados e apenas uma verdade incompleta e nada mais que urn principio sodacion* que geralmente tudo abrange. 0 sentido de conexao sociologica, seja qual for a sua origem, provoCa a. autopreserva<;ao e a existencia autonoma das suas formas, que sao independentes dos seus motivos iniciais de conexaQ». 37
o
Tanto a formulaQao de Mill como a de Simmel representam autenticas antecipaQoes do principio de Allport. Expoem explicitamente parte da mesma ideia, nao a aplicam suficientementJe a ponto de impressionar seus contemporaneos (isto apesar de Simmel have-la caracterizado como "fata da maior importancia socioI6gica") e, mais do que tudo, essas primeiras formulaQaes nao foram destacadas e desenvolvidas no intervale entre 0 seu enunciado e a exposiQao de Allport sabre autonomia funcional. Realmente, se os primeiros houvessem continuado seus trahalhos durante esse intervalo, e provavel que Allport nao teria chegado a formular o principio; no maximo, re-lo-ia simplesmente ampliado. ~sse caso representa uma parabola para 0 tratamento apropriado das antecipagaes na historia das ideias. Encontrando as antecipaQoes de Mill e de Simmel apos haverem sido 'assinaladas na formulaQao de Allport, 0 autentico historiador de ideias identificaria imediatamente 0 problema historico crucial; por que foram as primeiras sugestoes ("deixas") desprezadas pelos dois autores, pelos seus contemporaneos e pelos seus mais proximos sucessores? Notaria que nao houve progressao imediata e inexoravel da ideia, da mesma forma como notaria sua eV'entual reemergencia como foco de pesquisa empirica. 0 historiador procuraria identificar as contextos, intelectual e social, dentro dos quais a ideia apareceu em sua primeira forma e as alteragoes nesses contextos que the deram peso adicional na 36. John Stuart Mill. A System of Logic (Londres: Longmans. Green. 1865), 423 ... . *.:t:'J. do crad.: Sociation: «urn modo au processo de interal;ao social quer aSS?c..latlvo, q:ler dlssocIatJV?; uma associa~ao ecolog:ica que e geralmente bastante estivel e de compos~<:ao essen.claImente unlforme» (Webster). A respeito da tradu~ao desse termo Gilberto Freyre dlz 0 ,egulnte: «AI.guns sociologos preferem fugir :10 vago da express30 social,' dando a designa<;ao tecnica de socle~al ou socierario a quanto e fenomeno de seres humanos associados ou caracterizados pela con.dl~ao de sociaJidade, distinta da de seres humanos individuos. E Simmel, ja vimos, que a expressao sOCJall~ad~ prefere 0 termo socicraliza~ao, que corresponde a importanci3. que ele,. ainda rnais do (ue .GIddmgs em Sua .f~ac;io ao org3.nismo e ao pr6prio reaLismo st?ciol~gico,. atnbui at? asp~cto un~lOnal d
sua forma posterior
tanto as similaridades 0
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0
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Gruoo Primario. E bem sabido que a formula(30 do grupo primario. feit:t por Cooley em 1909, deixou impressao imediata e duradoura sabre a analise socjol6~ica da vida em grupo. Alguns aoos mais tarde, urn historiador cia sociologia chamou a atendio sabre urn livro de Helen Bosanquet pub!icado naquele mesmo ano e que tratava da interac;ao entre os membros de uma familia como processo social influente sobre a personalidade de cada membro. Prossegue o historiad0f. assir.alando que, em 1894, Small e Vincent haviam intitulado «0 Primeiro Grupo Social: a Familia» urn capitulo da sua obra Introduction to the Study of Society. Alguns anoS mais tarde, porem, 0 biografo de Cooley revisou todo 0 assunto e concluiu significativamente respectivo geralmente aceito. Cooley deu que «rotulos sao uma coisa; outra coisa e 0 conteudo :10 conceito urn conteudo cht'io de significado: i'ito e 0 Clue jrnpoft~J). ]o.1ai~ exatarnente. acrescenta que foi a formula,ao de Cooley, e nao a de qualquer outro, que provocou muitos estudos e pesquisas sabre 0 grupo prirnario. Alertados pel:t inf!uente formubca.o de Cooley. podemos agora notar que 0 termo «grupo primfiriQ» (<
38. Como se sabe hoje pelo pr6prio testemunho de Cooley. a discuss50 do «I'rupo pflmarlO» em sua Social Organization foi introduzida apenas como segunda reflexao, e nem apareci~ na 1"ecladio original. 0 historiador que assinala as discllss6es simultiineas e independentes da iMia e Floyd N. House, em The R,nge of Social Theory (Nova Iorque: Holt, 1929), 140-1. 0 bi6grafo de Cooley que, n9 decurso da sua defesa, cita aspectos salientes das antecipa<;5es para a hist6ria do pensa· mento e Edward C. Jandy, em Charles Horton Cooley: His Life and His Social Theory (Nova Iorque: The Dryden Press, 1942), 171-81. 0 termo usa do por Freud e a sua coincidencia parcial com a concep'."O de Cooley, encontra-se em sua Massenpsycbologie und Ich-Analyse (Lipsia, Viena, Zurique: InternatlOnaler Psycl~oanalytischer. Verlag, 1921), 76. como segue: «Eine solehe primiire Masse ist eme Anzahl v~n Indmduen, die .e.ln und dasselbe Objekt an die Stelle ihres Ichideals gesetzt und sich In~o~gedessen In lhrem Ieh mitelnander identifiziert habem) (tudo i"so enfaticamente sublinhado no oflgtnal)._ Vma v~z que a versao inglesa par James Strachey utiliza a palavra «group» em tada a tradu(a? par~ Jnterpretar «a palavra alema de maior alcance Masse», esse trecho surge, sem ~ualquer mtenpo de arremedar Cooley, como segue: «A primary group of this kind is a number o mdlvlduals who have substituted one and same object for their ego and have consequently Identlfl~d ~h,ernsclves WIth one another in their egQ». (Urn grupo prirnario dessa especie urn nume~o ~e If!F.JVIduOS que substituiram seus egos por urn mesmo e tinico objeto, e conseqiientemente, ~ lent} Icaraj ~uns ~o~ os outros em se1.1S egos). A expressao «grupo primario» de Cooley, as a orm~ al;ao teoflca caractedstica e inconfundlvelmente de Freud. S A tormula,ao de Cooley, que ainda perdura, apareceu em sua obra Human Nature and tbe 1902), 183-4. Jandy, op. cic., 108-26, reconstr6i altern.tinOCla Order (Nova Iorque: Scribner,
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ApI1esento abaixo, rapidamente colhidas e nao glosadas, algumas alusoes a pre-descobrimentos, anoecipac;oes, prefigurac;oes e pseudo-antecipac;oes em sociologia e psicologia, a fim de salientar 0 duplo ponto de vista de que: 1.0 - podem ser encontradas com bastant'e facilidade e, 2.· _ degeneram facilmente num "antiquarianismo" que nao faz, absolutamente, progredir a hist6ria da teoria sociol6gica, mas apenas reforc;a a luta entre os advogados dos Antigos e dos Modernos, os quais despenderam tanta energia intelectual nos seculos XVII e XVIII: Shakespeare, antecipando ostensivamente Freud no «wishful thinking» [pensame~to em que alguem interpreta os fatos em termos daquilo em que deseja erer] e oa raclOnahzar;ao, assirn se . expressa em Henry IV: « ... teu desejo foi pai, Harry, desse teu pensamento». Epicteto (sem falar de Schopenhauer e de mllltos Dutros), anteclpando presuffilvelmente 0 que tenho descrito como Teorema de Thomas, au seja. que as definir;oes que ho:ncm cia as situar;6es afetam .as suas conseqUencias: «0 que perturba e alarma os homens nao sac os fatos em si. mas suas opini6es e fantasias acerca dos fatos». 40 Sumner antecipa·se ostensivamente ao conceito dos estere6tipos de Lippmann, ao escrever, em Folkways, que os costumes «~sac estereotipados». Spencer escrevendo que «a atrac;ao das cidades e direta 4fUanto a massa e inversa quanta a distancia», antecipa ostensivamente a teoria das oportunidades interven.ientes, de Stouffer, outro cas a de similaridade mais verbal do que substantiva. A no,ao de «incapacidade treinada» de Veblen (escolhida, desdobrada e aplicada por soci610gos posteriores), foi ostensivamente antecipada por. Ph,ilip Hamerton, cJ? se~ .li.vr_o por rnui~o ~cm~o se refena as {
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Essa rapida coleta de exemplos, que qualquer soci6logo com bons conhecimentos de literatura poderia multiplicar a vontade, mostra a facilidade com que as antecipac;oes e as prefiguragoes verdadeiras ou imagi_ narias, podem ser citadas ca.da vez que surge nova ideia teorica ou novo achado empirico. Essas eitac;oes nao contribuem para a compreensao do desenvolvimento historico do pensamento. Como a investigaC;ao das descobertas multiplas nas ciencias fisicas e biologicas, a pesquisa hist6rica, para s'er feeunda, requer a analise detalhada da substancia te6rica das versoes antigas e recentes versoes, bem como das condig6es que contribuem para a observaC;ao das continuidades e descontinuidades do pensa. mente as extensoes dadas a idela por Cooley e George Mead. A origem independente da ideia em Marx foi atestada pelos psic610gos sOCIais do Instituto de Psicologia de Kiev, que conheclam bem Marx mas nada sabiam de Cooley e Mead (entrevistados que foram por Henry Rlecken e I'0r mlm em 1961). Leslie Stephen extraiu a metHora de Adam Smith da sua HISrory of English Thoughr in the Eighteenth Century (Nova Iorque: G. P. Putnam's Sons, 1902, 3.'. ed.), I, 174-75. 40. NasCidos no mesmo ano e ambos rnnito bem assimilados no brilhante amhlente de pesquisa sociol6gica que caracterizou a Univers.idade de Chicago no primeiro terc;o deste seculo, W. I. Thorn:.s e Georg.e H. Mead usaram de Iinguagem quase identica ao formularem 0 teorema; Thomas em. termos geraIs, Mead dentro de limites mais estreitos. Assim diz Thomas: «Se os homens d~fln~m situac;o~s como reais, reais se tornam em suas conseqi.iencias. Diz Mead: ,
mento. Excelente exemplo de pesquisa desse tipo e • _
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exame cu'd d 1 a oso que
J. J. Spengler fez da alegac;ao de Lovejoy, de que a Fable oj th B Mandeville (1714) seria uma completa antecipaC;ao das princi;ais e~~~i~: sustentadas por Veblen em The Theory oj the Leisure Class. 41 Tomando ate
certo ponto, as semelhanc;a.ssuperficiais como bastante evidentes S I . . '" , peng er su b me t e as duas senes de IdeIas a uma analise exaustiva, conseguindo assim demonstrar as profundas diferengas, bem como as ocasionais similarida~~s.entre elas. Dessa maneira, ele mostra como diferenc;as de formulac;ao, ImcIalmente pequenas, mas funcionalmente consequentes, podem ocasionar implicagoes teoricas diferentes, as quais sac entao seguidas e desenvolvidas pelos sucessores. 3. Prejigurar;oes. A identificac;ao dos pre-descobrimentos, das antecipac;6es ou das prefiguragoes discutidos na parte anterior, esta compreendid~ nos canais de informac;ao do sistema social da ciencia e da erudic;ao, e nao depende de qualquer esforc;o especial. 0 prejiguracionismo, ao contrario, Tefere-se a pesquisa deliberada e dedicada de toda especie de :mtigas vers6es de ideias cientificas ou eruditas. Nos casos mais extremos, 0 prefiguracionista descreve a maiSt tenue semelhanga entre ideias antigas e novas como se fosse uma identidade virtual. Sao varias as fontes dessa pesquisa intencional. Em alguns casos, pa. rece que 0 estudioso se comprometeu em provar que, realmente, "nao ha nada de novo debaixo do sol". A pesquisa entao apresenta 0 espetaculo profundamente humano de eruditos e de cientistas argumentando que tudo 0 que existe de importante ja foi descoberto antes, ao mesmo tempo rem que cada urn deles esta diligentemente tentando fazer novas descobertas, para fazer progredir a sua disciplina.42 Em outros casos, a pesquisa e acesa por uma faisca de chauvinismo. Quando uma nova ideia e formulada por urn cientista estrangeiro ou uma escola de pensamento alienigena ou, mais geralmente, por urn membro de qualquer grupo de fora ("outgroup"), 0 prefiguracionista sente-se incentivado a procurar alguma antecipagao ou precursor aparente entre os seus proprios ancestrais intelectuais, a fim de restaurar a distribuic;ao apropriada de honra dentro do sistema. Em outras instancias, a pesquisa parece ser inc,entivada por urn sentimento de hostilidade para com 0 inventor contemporaneo, que tera de descer provavelmente alguns degraus da sua posic;ao, ao ser confrontado com precursores da sua suposta nova contribuigao anunciada. Mas 0 prefiguracionismo adquire maior virulencia quando se costuma dar maior valor aos "Antigos" em detrimento dos "Modernos", ou de desprezar os vivos para prestigiar os mortos. 42" J.]. Spcngler, «Veblen and Mandeville Contrasted" \Veltwirtschaftliches Archiv: Zeitschrift Institurs fur Weltwirtschaft an der Universitlit Kiel, 1959, 82, 3-67. 42. EstudlOS0S e oentistas como se fossem homens Comuns muitas vezes :lssumem atitudes que negam as ,?r6prias tearias que procuram confjrmar.. Whitehead' refere 0 caso de urn «behaviorista» C1ue'·f·na . decada de 1920, anunciava seu prop6sito de demonstrar que 0 prop6sito nao tern Iugar SIgn I lcatlva no comportamento humano. t 4~a. A batalha entre antigos e modernos e notoriamente de longa dura,ao. 0 relato sobre cosa atalha sel11 sentido voltada para uma guerra interminavel intimamente conhecido pOl' mim. n rhe Shoulders of Gianrs. ' 41.
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S'ejam quais forem os motivos do prefiguracionista (que s6 podem ser deduzidos do que ele escreve), 0 aspecto observavel e bastante uniforme. De fato, 0 prefiguracionismo pode ser resumido numa especie de "Credo": "A descoberta nao e verdadeira; se verdadeira, nao e nova; se e nova e verdadeira, nao e relevante".
«Dotado de boa mem6ria e de alguma instrudio, nosso nomem descobre geral nao inventam os sells aS5unto5, e parece seotie-se muito satisfeito quan~e as poet~'1 ~m a fante on~e se abeber~r~m., I?o P?nto .de vista simplesmente hist6rico. e eVide~~ense~ue l.:adl~~' nad~ a obJetar; ,3. matena e as veze~ mtc!,essante, contanto que naa seja ofensivaq e I\fao a realtdade, cIa aS51ffi se transforma mUItas vezes e no caso de I angba 'ne h . as, na X t' • . I' -,1 , C ega a ser sempre , 'S S agre~slva. . . e 0 r. !vesse posta os oeu as no oaeiz, teria vista em letra d~ f r segulO"te ... e~c. ete. Acredlto que Dante, se houvesse conhecido Lanrrbaine t .1h' 0 ma 0 urn fossa espcClJ.l em seu Inferno, onde nao faltaria lugar para outro; clJlpacl~:}). reservado
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As vitimas dos prefiguracionistas e os observadores imparc1als do comportamento dessa especie de criticos conseguiram identificar algumas varia90es de canones, Muitas vezes, atingido pelas injurias dos prefiguracionistas, William James foi levado a descrever "os estagios classicos da carreira de uma teoria": em primeiro lugar "e atacada por absurda; a seguir e admitida por verdadeira, mas considerada 6bvia e insigni.ficante; finalmente, e julgada tao importante que os seus adversarios reivindicam a gl6ria de have-la descoberto",43 Provocado mais uma vez pelos "maus entendedores" da, sua descri9aO pragmatica da verdade, W, James deplorou a insinoeridade dos opositores, "os quais ja come9aram a utilizar 0 cliche de que '0 que e novo nao e verdadeiro, e 0 que e verdadeiro nao e novo' .. , Se nada dissemos que fosse de certa maneira original, por que tiveram tanto trabalho para compreender 0 que diziamos? [A seguir, em magnifica e ironica insinua9aO]: A culpa nao pode ser atribuida inteiramente a obscuridade das nossas palavras, pois em outros assuntos sempre conseguimos nos fa~er entendidos". H Enquanto as vitimas protestam com veemencia contra 0 prefiguracionismo, os historiadores da ciencia 0 observam friamente, George Sarton, ate recentemente decano dos historiadnres mundiais da ciencia, observou que
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«;1 violenta obje~ao a uma descoberta, especialmente quando tao pertllrbadora. quanta iml?ortante, p;1ssa geralmente par dais estagios. 0 primeiro e a .da nega.<;ao p~rJ e simples, mUlto. bem exemplificada pelos parisienses que se apunhJm a teona da CJrcu1:l~2_~ do sang-ue: . a teona. de H:ll've-y esta errada, e urn verdadeiro absurdo etc. Quando essa posrc;ao se tarnou l•.nsuste~tav~l, comeC;OlJ ;1 segunda fase: A descoberta esta correta, .mas naa f~)l. H~rvey quem a fez; fOI felta por muita gente antes dele." Coube a Van der Linden a onglnaltdade de haver proclamad.o. como 0 maior hipocratista da sua cpoca: 'Nao pode haver a menor duvida de que a C1r~ulac;ao do sangue ja era conhccida por Hipocrates!' Este c urn bom exemplo de C()!.10 funclOlu :l mente filol6gica, confundindo as palavras com as realidades». i5
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prefiguraci0nismo tambem esta presente nas humanidades, onde recebeu 0 desgra.cioso nome de Quellenforscher (pesquisador de fontes), Saintsbury chegou a identificar um famoso representante do grupo: Gerard Langbaine, "autor um tanto famoso do Account of the English Dramatic Poets". critico ingles nem chega a mante: a calma em seu retrato a bico de pen a do prefiguracionista frances:
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, em Science, Medicine and Hisrory: Essays on rhe Evolurion of the Scienrific Thought and Medical Pracrice, Wrirren in Honour of Charles Singer, compilados e publicados por E, Ashworth Underwood (Londres: Oxford University Press, 1953), II. 15, Para apenas maiS urn exemplo do mesmo genero descrito por urn historiador, ver A. R. Hall. The Scienrific Revolurion, 1500-1800 (Londres: Longmans, Green, 1954) pags, 255 e segs" 0 qual salienta que a teoria da luz de Newton passou pela mesma serie de estagios.
,0 prefigur~cioni~mo nas humanidades e nas ciencias fisicas tern seu f t eqUlvalente mUlto vIsivel nas ciencias sociais ' Tem , por exem 10, ._or . " "p es raIzes na. soclOlog1a. Embora nao se disponha de estudos monog aficos comparatIvos, 0 ~esenVOlv!mento inicial da modern a ciencia socio16gica p~re.c~ de fato nao ser tao cumulativa quanto 0 das ciencias fisicas e blOloglCas,47A predile9ao dos soci6logos do seculo XIX em desenvolver ca~a um seu "pr6prio sistema" de sociologia - e que se manifesta ainda. hOJe em certos, setores - significa que os mesmos sac elaborados, tipicamente, como SIstemas opostos de pensamento, mais do que consolidados num produto cumulativo. Essa tendencia distrai a aten9ao que, ao inves de concentrar·se sabre a analise hist6rica do desenvolvimento da teoria, ocupa-se em provar que 0 novo sistema, afinal de contas, nada t'em de novo. A hist6ria das ideias transforma-se, entao, numa arena onde se d!sputam reivindica90es e contra-reivindica90es de paternidade, que nada te~ a ver com 0 progresso da ciencia, Quanto menor 0 grau de acumula9aO, malOr a tendencia a procurar semelhan9as entre 0 pensamento presente e o ~as~ado, tendencia que pode facilmente terminar na mania do prefiguraClOnISmo.
Movem-s'8 as hist6rias da sociologia para dentro e para fora dessa esfera sombria, Em grau muito variavel, 48 oscilam entre as duas pressuposi90es basicas que temos descrito, referentes ~. maneira como a sociologia, se desenvolve: de um lado, prefiguracionismo; do outro, a afirma9aO de que a sociologia progride mediante novas orienta90es ocasionais e mediante increment os de conhecimentos obtidos por meio da pesquisa sugerida por essas orienta90es - as quais envolvem as vezes pre-descobrimentos, antecipa90es e prefigura90es, devidamente documentados. Talvez, nenhum outro historiador da teoria sociol6gica se haja interessado tao profundamente pelo assunto dos pre-descobrimentos, antecipa90es e prefigura90es quanto Pitirim A, Sorokin, em seu alentado traba· 46, George Saintsbury, A Hisrory of Criricism and Lirerary Tasre in Europe from rhe Earli'esr Texrs ro rhe Presem Day (Edimburgo e Londres: Will.iam Blackwood & Sons, 1909), II, 400.1. 47. Nao estamos sugerindo que 0 desenvolvimento das ciencias fisicas e bio16gicas seja urn modelo de firme e inexonivel continuidade e acumula!;ao. A hist6ria dessas ciencias e, naturalmente. assin~lada por muitos redescobrimentas que surgiram, anos au mesmo gera~6es, apos haverem sido perdldos de ~ista as .pre-descobrirnentos. Mas essas quebras de cantinuidade, reparadas ID:lis t:lrde por redc.scob[J~entos IOdependentes que chamam a aten~ao dos ooservadores para as vers6es antigas e esqueCldas. sao menos freqi.ientes e de menaces conseqi.iencias do que nas ciencias sociais. 48, Essa grande variedade e comprovada pela analise met6dica das seguintes hist6rias contemporaneas da teoria sociol6gica: N S. Timasheff, Sociological Theory: Irs Narure and Growrh (Nova Jorque: Doubleday & Co" 1955); Dan Martindale, The Narure and Types of Sociological Theory (Boston: Houghton Mifflin Co" 1960); Harry E, Barnes e Howard Becker, Social Thoughr from Lore ro SCIence (\'
lho, Contemporary Sociological Theories, 10 ainda muito em uso quarenta 'anos ap6s a sua primeira publicagao. Organizado em escolas do pensamento sociol6gico e destinado "a ,fazer a ligagao da sociologia de hoje com 'a do passado", 0 livro introduz 0 estudo de cada escola com uma list a de pI'ecursores. Talvez por referir-se, com divers os detalhes, a mais de mil :autores, a obra exibe quantidade variadissima de criterios de identidade entre ideias anti gas e novas. Uma das asserg6es mais radicais e a de que os escritos antigos - os Livros Sagrados do Oriente, Confucio, 0 Tauismo etc. - contern "todo 0 essencial" das ideias encontradas nas escolas sociol6gicas e psicol6gicas modern as : estas sac descritas como "mera repetigao" ou como "nada mais" do que repetig6es. (Por ex., pp. 5 n, 26 n, 309, 436-7). Em parte, as seme" lhangas consistem em referencias que se encontram nos antigos classicos e a certos "fatores" da vida social que tambem sac discutidos em trabalhos mais recentes: por exemplo, os Livros Sagrados "sublinham 0 papel" desempenhado pelos "fatOres de raga, selegao e hereditariedade" (p. 219); "0 fato de que, desde tempos imemoriais, os pensadores estavam cientes do papel importante dos fatores economicos no comportamento humano, na organizagao social e nos processos sociais ... " (p. 514) etc. Em parte, a observac;:ao de que uma escola de pensamento e muito antiga chega a ser, as vezes, desagradavel. Assim, a escola formal (de Simmel, Tonnies, von Wiesse) que pretende ser nova, e descrita como "uma escola muito velha, talvez mais antiga do que qualquer outra escola de ciencia social" (p. 495); a escola economica, especialmente a repudiada teoria de Marx e Engels, e descrita como "tao velha quanto 0 pr6prio pensamento humano" (p. 523); por outro lado, afirma 0 seguinte: "a teoria de que a crenc;:a, especialmente a crenc;:a magica ou religiosa, e 0 fator mais efidente do destino humane e talv€Z a mais velha forma de teoria social" (p. 662). No livro de Sorokin tambem se encontra encaixado 0 conceito de que essas antigas ideias foram significa.tivamente desenvolvidas em certos trabalhos posteriores, que nao sac "meras repetic;:6es". E 0 que sa conclui de umas observac;:6es ambivalentes do seguinte tipo: "... nem Comte, nem Winiarsky, nem qualquer outro dentre os soci610gos do fim do seculo XIX, pode reivindicar 0 merito de ter dado origem a teoria acima, ou praticamente a qualquer outra t,eoria. Eles apenas estiveram desenvolvendo 0 que ja era conhecido muitos seculos, ou mesmo milhares de anos atras" (p. 368n, os grifos sac nossos). E prossegue: a escola sociol6gica "como quase todos os sistemas sociol6gicos contemporaneos, originou-se no passado remoto. Desde aquele tempo, com variar;oes, os principios da escola podem ser detectados ao longo de toda ,a hist6ria do pensamento social" (p. 437, grifo nosso). Essas ,formulac;:6esintermediarias deixam aberta a possibilidade de novas e significantes estimativas na hist6ria do pensamento sociol6gico. Assim, E. de Roberty e considerado como "urn dos primeiros pioneiros da sociologia" (p. 438); Kovalevsky "elaborou sua teoria [demografica]
independentemente de Loria, tres anos antes" (p. 390 [1); 0 brilhante Tarde "deixou muitos pIanos, ideias e teorias originais" (p. 637); pesquisas recentes de opiniao publica "tem esclarecido em grau consideravel nosso conhecimento dos fenomenos" (p. 706); Giddings e urn "pioneiro da sociologia norte-americana e mundial (p. 727 n); e, como exemplo final de desenvOlvimento incremental, "a fisiologia social ... dessa maneira, passe a passe ... tem-se expandido e, neste momento, estamos no inicio das primeiras tentativas de construgao de uma teoria geral, porem concreta, de mobilidade social" (p. 748). Essa tendencia a faZier distinc;:ao dos graus de semelhanc;:a entre as teorias antigas e as mais recentes, revela-se muito mais acentuadamente no livro de Sorokin sobre 0 mesmo assunto, Sociological Theories ot Today, 50 publicado uma geragao mais tarde. Alguns fatos descritos como pre-descobrimentos no primeiro trabalho, sac tratados agora como ant& cipag6es, e assuntos tratados previamente como antecipag6es, sao agora eonsiderados como prefigurac;:6es. Tao inexoravel em suas criticas quanto a anterior, esta obra possui contudo, e transmite ao leitor, urn sentido de ,erescimento e de desenvolvimento da teoria. Dois exemplos, grifados por n6s, ilustram essa mudanc;:a de perspectiva:
.«Assim houve uma antecipac;ao de meio seculo. sabre as teorias de Spengler. Realemnte 0 trabalh~ de Spengler, em t6das as suas caracteristicas essenciais., e uma simples .re~eti~a.o das especula,6es sociais de Leontieff e Danilevsky [mas como Dandevs~y precede. I;e~nt1eff quatro anos, presume-se que 0 trabalho de leontleff DaD seJa. IDaJS que uma mera repetl~ao )>>. (Cantero· porary SocIOlogical Theories, p. 26n, grifos nossos).
Como "mera repetic;:ao", 0 trabalho de Spengler poderia parecer superfIuo, pois nada havia que 0 distinguisse daquele dos seus predecessores. Contudo, parece que Sorokin adotou mais tarde um criterio mais ponderado: «A obra de Spengler Der Unrergang des Abendlandes, publicada em 1918. provou ser uma das abras-primas mais infl~entes. contraverti~as e. duravei~ ?3: primeira .meta~e do s~eculo XX. nos dominios da sociolog!a cultural, da fJ1osofJa da hJStofJa e da f!losof,a alema. Embora The Decline of rhe West seja, em suas caracteristicas totais, bem diferente do trabalho de Damlevsky, a sua estrutura conceitual basica se parece, contudo. com a deste ultimo, em todos os pontos ... As numerosas p:iginas que Spengler dedica a an:ilise detalhada dessas transforma~6es [no ciclo das farmas ou sistemas sac.iais] sao frescas, penetrantes e chissic:tS... Apesar dos seus defeltos. The Decline of the West h:i provavelmente de sobreviver como urn dos mais importantes trabalhos ·da primeira metade do seculo XX. (Sociological Theories of Today, pags. 187, 196·7).
«Por mais que se considere a original.idade e 0 conteudo da teoria materialistica marxista de concep~ao cia hist6ria (mas nao a da jnfluencia pd.tica de Marx), no momento presente ... parece nao -ser passivel afirmar que Marx htt.ja acrescentado qualqucr simples ideia nova nesse campo, au dado uma sintese nova e cientificamente melhor das ideias que existiam antes dele. (C. S. T., 520 n; 0 grifo e nosso).
Em seu trabalho mais antigo Sorokin reitera continuamente que nem as ideias especificas, nem a sintese de Marx e Engels tinham qualque,r sombra de originalidade; e termina com 0 credo classico do prefiguracionista:
«Em prirneiro lugar, do ponto de vista estritamente cientifico, nada existe em suas teorias que nao haja s.ido dito por a~tor~s. mais ~ntigos; em s~g~ndo l.u~ar, aquilo. q~e e realmente original esta muito longe de ser C1enttfIco e, flllalmente, 0 unICO mento da teooa e 0 de ter generalizado, de modo mais convincente e exagerado, as ideias conhecidas antes da epoca de Marx... Nem hi motivo qualquer para considerar sua contribui~ao cientifica como sendo acima da media». (c. S. T., 545).
Em &eus trabalhos posteriores, Sorokin, embora continuando a critical' severamente a teoria marxista e a insistir que ela nao se desenvolveu ex nihilo, 51 mostrou-se disposto a conceder-lhe urn papel caracteristico, intelectual e nao apenas politico. «Karl Marx e Friedrich Engels, pela sua divisao das rela~6es s6cio-culturais em duas classes principais, ou seja, as «rela~oes de produ~ao {que] constituem a estrutura economica da sociedade» e a «superestrutura ideologica», ... deram nova vida c pleno desenvolvimento a varia<;ao econ6mica das teorias dicotomicas. Quase t6das as recentes teorias desse genero representavam variac;6es e elaborac;5es da divisao de Marx-Engels _" A teoria de Marx e, de fato, urn prot6tipo de todas as outras teo6as mais tarde examinadas»., (S. T. T., 289, 296; grifos nossos).
Se 0 livro posterior de Sorokin for um arquetipo, talvez estejamos testemunhando uma mudanQa rumo a conceitos mais discriminadores do desenvolvimento das ideias socio16gicas. 1sso sera excelente. Se 0 prefiguracionismo for rejeitado, os soci610gos terao mais liberdade para se conoentrarem e dBscobrirem os pontos especijicos nos quais as novas ideias se baseiam sabre as antig-as, e assim poderao analisar 0 carater e as con_ diQoes das continuidades no conhecimento sociol6gico.
ASPECTOS HUMANISTICOS E CIENTIFICOS DA SOCIEDADE Muitas vezes rem sido observado 0 contraste entre a ori.entaQao das ciencias para os grandes trabalhos classicos e a orientaQao das humanidades. Esse contraste tern suas raizes nas profundas diferenQas na especie de acumulaQoes seletivas que tern lugar na civilizaQao (que abrange a ciencia e a tecnologia) e na cultura (que inclui as artes e as escalas de valares).52 Nas ciencias mais exatas, a acumulaQao seletiva do conheci-
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51. A plOpr1a teoria de Marx sabre desenvolvlmento hIstonco cla ClenCla e do. pensam,ento pressupoe que ex nilulo nihIL fit. ConforII1:e dIsse Marx en: sua bem _conheClda tentatIva de ~a;:cr djstin~ao entre 0 acervo do pensarnento antIgo e as suas propnas adI~oes ao mesmo: « ... nennum merito me deve ser atribuido pela descoberta da existencia de classes na socieclade moclerna, ~en; .cia luta entre elas. Muito antes de mim, os historiadores burgueses descreveram a desenrolar hlstonco dessa luta de classes e os economistas burgueses defilliram a anatomia economica das classes. o que eu disse de novo foi para provar: 1.9 - que a exist en cia de classes esta vinculada apenas a frases particulares e hist6ricas do desenvolvimento da produc;ao; 2.9 que a luta de cJas~es conduz necessariamente a ditadura do proletariado; 3.9 - que esta propria dit~dura constitui apenas uma transi~ao para a abolic;ao de t6das as classes e 0 surgimento de uma soetcdade sem classes ... » Ver carta de 5 de mar,o de 1852 a Joseph Wademeyer, publicada nos Selected Works de Marx (Moscou: Co-operative Publishing Society, 1935), I, 377. Nao precisamos aceitar esta auto-apreciac;ao de Marx pelo seu valor nominal; dois desses tres conceitos eram proje~6es duvidosas para 0 futuro c, co~forme Sorokin admitiu mais tarde, Marx contribuiu para muitas coisas alem cia teoria da classe socIal. 0 ponto em discussao e que tanto Marx em sua carta, quanto Sorokin em sua segunda fase, procuram distinguir entre 0 simples redescobrimento e os incrementos anallticos e sinteticos que fazem progredir 0 conhecimento. 52. A distin<;ao entre process,os de sociedade, cultura e civilizac;ao foi saLientada par Alfred Weber, «Frinzipielles zur Kultursoziologie: Gesellschaftsprozess, Zivilisationsprozess und Kulturbewegung», Archi'v fur Sozialwi'5senschaft und Sozialpolirik, 1920, 47, 1-49. Ver a analise similar por R_. M. Maciver, Society: Its Srructures and Changes (Nova Iorque: Long & Smith, 1931), 225-36, e a dlscussao subseqiiente por R. K. Merton, «Civilization and Culture», Sociology and Social Rese.ar~h, novembro-dezembro 1936, 21, 103-113. Como ilustrac;ao cia tendencia em misturar a hIstona e a sistematica cia teoria, ver os breves relatos dos conceitos de «cultura» e de «civiliz3(ao». usados por Herder, Humboldt. Gllizot, E. Du Bois-Reymond, Wundt, Ferguson, Mo!gan, Tylor, Buckle, 90thelO etc., nos seguintes trabalhos: Paul Barth, Die Philosophie der Geschichte ais Soziologle (Llpsla, Relsland, 1922), 597·613; H. S. Stoltenberg, «Seele, Geist und Gruppe», Scbmoller$.
mento significa que as contribuiQoes classicas feitas POl' homens de genio ou de grande talento, sao amplamente desenvolvidas em obras post.eriores, l1mitas vezes, POI' homens de talento muito menor. o teste mais rigoroso do conhecimento realmente cumulativo consiste no fato de que, em nossos dias, mentalidades rotineiras podem resolver problemas para os quais grandes cerebros do passado nao conseguiram encontrar urn comeQo de sOluQao. Urn estudante universitario sabe hoje como resolver problemas que desafiavam os melhores raciocinios de urn Leibniz, urn Newton ou urn Cauchy. 53 Uma vez que a teoria e as descobertas do passado mais remoto se acham largamente incorporadas ao conhecimento cumulativo atual nas ciencias mais exatas, e a evocaQao dos grandes contribuidores do passado ficou substancialmente reservada a hist6ria da disciplina; os cientistas, em seus laborat6rios ou em seus escritos, utilizam principalmente as contribuiQoes mais recentes, que ja tern assimilado e desenvolvido as descobertas mais antigas. 0 resultado desse processo e que certas contribuiQoes cientfficas mais antigas e, as vezes, mais relevantes, correm 0 risco de serem obliteradas Cembora com algumas exceQoes) pela sua absorQao em trabalhos posteriores. Nas humanidades, cada trabalho c1::issico- cada poema, drama, romance, ensaio ou trabalho hist6rico - sendo observado diretamente, tende a continual' fazendo parte da experiencia direta das sucessivas geraQoes de humanistas. Conforme foi muito bem ilustrado POI'Derek Price, "a estrutura acumulativa da ciencia possui urn tecido de malhas estreitamente entrelaQ:idas, ao passe que a tessitura do campo da erudiQao humanistica assemelha-se muito mais a urn bordado, em que cada ponto pode ser ligado indiferentemente a qualquer outro".54 Em outras palavras, 0 primeiro contato com os classicos desempenha papel insignifica.nte no trabalho dos cientistas da fisica e da biologia, mas tern grande importfmcia no trabalho dos estudiosos de humanidades. Kessler, outro estudioso do sistema de informaQao na ciencia, descreveu a questao em termos provocantes, se nao irritantes: «Ate meSmo as obr~s-primas cia literatura cientifica tornar-se-ao, com 0 tempo, sem valor, exceta para motivos hist6ricos. Isso constitui uma diferenc;a bisica entre a literatura cientifica e a beletrfstiCl.. .E inconcebivel, por exemplo, que urn estudante serio de literatura inglesa nao haja lido Shakespeare, Milton e Scott; mas urn estudante ser.io de fisica. por outro Iado, pode perfeitamente ignorar os escritos originais de Newton, Faraday e Maxwell». 55
A linguagem de Kessler ha de provocar arrepios nos leitores. Realmente, do ponto de vista do humanismo e da hist6ria da cienda, tal declaraQao pareoe uma manifestaQao de barbarismo fora de epoca. Para. muites de n6s, e dificH fazer distinQao entre 0 nosso interesse hist6rico Jahrbuch, 1929. LV. pp_ 105 e segs.; R. Eucken, Geschichte und Kritik der Grundbegriffe der Gegenwart (LipsIa, 1878, pp. 187 e segs Sorokin proporciona uma revista critica dessa estrutura de analise em sua Sociological Theones of Today, cap. 10. .53. Charles e.- Gillispie, The Edge of Objectivity: An Essay in the History of Scienrific Ideas hoje urn calouro de universidade conhece ffials flslca (Pnnccton UmversJty Press, 1960), 8. « ... do q.\:c 0ali1eu. 0 sabia que mais do que qualquer outro tern 0 direito de ser considerado 0 fundador cia .Clenna moderna, e tambem mais do que Newton, cuja mente foi a que ma.is profundamcntese lnteressou pelo estudo da natureza}). 54. Derek J. de Solla Price, «The scientific foundations of science policy», Nature, 17 de abril de 1965, 206. N9 4_981, 233-8. 5). M. M. Kessler, «Technical information flow patterns», Proceedings, Western Join Computer Conference, 9 de m"io de 1961, 247-57.
Sociologia -
e comemorativo pelos trabalhos precursores da c1encia e 0 nosso desejo de fazer progredir a ciencia contemporanea, cujo progresso nao exige grande conhecimento direto com os Principia, de Newton ou com 0 Traite, de Lavoisier. Contudo essa observa<;ao de Kessler ja fora eloqi.ientemente antecipada por urn dos pais da sociologia moderna. Numa lingua gem que caracteriza 0 processo fatidico da assimila<;ao e da expansao na ciencia, diz Max Weber: «Na ciencia. todos nos sabemos que, que fazemos t?;na~-se
Os soci610gos, colocados entre os cientistas da fisica e da biologia, de urn lado, e os humanistas, de outro lado, estao sujeitos a press6es entrecruzadas quando procuram orientar-se no rumo das contribui<;6es classicas, e nao aderem facilmente ao engajamento descrito por Weber. Apenas alguns soci610g,os se adaptam a essas press6es, desempenhando a fundo o papel cientifico sugerido por Weber ou 0 papel humanistico. TaJvez a maioria oscile entre as duas posi<;6es, e poucos san os que procuram consolida-las. Esses esforgos para manter-se entre ambas as orienta<;6es, cientifica e humanistica, tendem tipicamente a fundir a sistematica da teoria sociol6gica com a. sua hist6ria. No que se refere a acumula<;ao de conhecimentos, as ciencias sociais se mantementre as ciencias fisicas e as humanidades, 0 que e confirmado de modo impressionante pelos chamados "estudos de cita<;6es", que comparam a distribui<;ao das datas das publica<;6es citadas nos diferentes campos. Os achados san notavelmente coerentes. Nas ciencias fisicas - representadas por revistas como The Physical Review € Astrophysical Journal - cerca de 60 a 70% das cita<;6es referem-se a pUblica<;6esque apareceram dentro dos cinco anos anteriores. Nas humanidades - representadas por American Historical Review, Art BUlletin e J.ournal of Aesthetics and .4.rt Criticism - os mimeros correspondentes oscilam e'ntre 10 e 20%. Entre as duas acham-se as ciencias sociais - representadas pelas revistas American Sociological Review, American Journal of Sociology e British Journal of Psychology - nas quais 30 a 50% das cita<;6es se referem a pUblica<;6esdos cinco anos precedentes. 57 Outros estudos de padr6es de cita<;6es confirmam que esses achados san tipicos em suas linhas principais. 56. Max Weber. From Max \'\7cber: Essays in Sociology, traduzidos e compilados por R •• H. Gerth e C. \'(fright Mills (Nova Iorque: Oxford University Press, 1946), 138; naturalmente. esse trecho faz parte da sua eloqiiente e duradoura afirma~ao a respeito da «cicncia como voca~ao~). .. 57. Agrade,o ao Sr. Derek ]. de Solla Price por ter-me dado acesso aos seus dados aInda Inedl!os, . ~xtraidos de 154 pacotes de jomais de virias especialidades. Os abundantes estudos. de ,cIta,oes Ja publlcados compreendem: P E. Burton e R. W. Keebler, <<'Half-life' of some SCientifiC aEd . technIcal literatures», American Documentarion, 1960, 11, 18-22; R. N. Broadus. «An analySiS .Q lIterature Cited In the American Sociologic.al Review», American Sociological Review, lunho de 1952, 17, 355-6, e «A citation study for sociology», The American Sociologist, fevereico de 1967, 2,
T1eoria e Estrutura
De urn lado, a sociologia adota a orienta<;ao e os processos das ciencias fisicas. A pesquisa se move a partir das fronteiras expandidas pelo trabalho cumulativo das gera<;6es passadas; a sociologia, nesse sentido restrito, e histbricamente miope, provinciana e eficaz. Mas, por outro lado, a sociologia mantem seu parentesco com as humanidades. Reluta em aban_ donar 0 conhecimento em primeira mao dos trabalhos classicos da sociologia e da pre-sociologia como parte integral da experiencia do soci610go como tal. T,odo soci610go contemporaneo com pretensao a ser "sociolbgicamente alfabetizado" tern tido contatos diretos e repetidos com as obras dos pais dessa ciencia: Comte, Marx e Spencer, Durkheim, Weber, Simmel e Pareto, Sumner, Cooley e Veblen, e dos outros que figuram na curta lista de homens talentosos que deixaram sua marca indelevel na sociologia de hoje. Como sempre relutei em perder contato com os classicos, mesmo antes de encontrar urn fundamento l6gico para isso e uma vez que, ate certo ponto, continuo a manter essa opiniao, este pode ter sido 0 motivo que me levou a especular sabre a natureza e a origem do assunto.
Nao ha misterio sabre a afinidade dos soci610gos de hoje com os trabalhos dos seus anteoessores. Ha urn grau de imedia<;ao, no que se refere a grande parte da teoria sociol6gica gerada pelos membros mais recentes dessa ilustre linhagem, e as teorias atuais demonstram certa ressonancia com os problemas - ainda nao solucionados - identificados pelos primeiros precursores. . , Contudo, 0 interesse pelas obras classicas do passado tambem Lem dado origem a tendencias intelectualmenbe degenerativas na hist6ria do pensamento. A primeira tendencia consiste em reverenciar indiscriminadamente qualquer afirma<;ao ,feita pelos famosos ancestrais. 1sso t'em sido observado com ,freqiiencia nas exegeses dos comentaristas, muito carinhosas, porem estereis do ponto de vista da ciencia. Whitehead refe:e-se a esse costume na epigrafe deste capitulo: "Uma ciencia que hes1ta em esquecer seus fundadores, 'esta perdida". A segunda forma degenerativa e a banaliza<;ao. Para que uma verdade se trans forme em lugar-comum, gasto e cada vez mais duvidoso, basta que seja expressa com muita_ freqi.iencia, de preferencia em imita<;ao inconsciente, por gente .que n~o .a entende. (Urn exemplo e a freqi.iente asser<;ao de que Durkhe1m atnbmu grande importilincia a coer<;ao na vida social ao desenvolver sua conce.P?ao de constrangimento ("constraint") como urn atributo dos fatos SOCIals). A banaliza<;ao e urn excelente meio para fazer uma verdade secar completamente, espremendo-a continuamente como uma esponja. _ Em resumo, 0 'estudo das obras classicas tanto pode ser lamentaveImente inutil quanto maravilhosamente proveitoso. Tudo depende da forma 19-20' Charles E Osgood e Louis V. Xhignesse. «Characteristics of bibliographical covehrag'U in psych'ological iou'rnals published in 1950 ana 1960», Institute of C~mmunicatlOns Re~:~~t~ versity of Illinois, mar,o de 1963. Os estudos persplcazes de clta,oes d~vem, natura h' t6 'cos tiguir entre citac;6es de es~udos de pesquisas e «dados em bru.to» Isto'. e, doc'":.~entos IS f1 , poemas e outra literatura do passado distante que os humanlstas reexaffilnam cntIcamente.
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que toma 0 estudo; pois uma vasta diferenQa separa os meros comentarios e banalizaQoes, da pnitica ativa de acompanhar e desenvolver as orientaQoes teoricas dos antecessores importantes. E est a diferenQa que sublinha a ambivalencia dos cientistas em relaQao a leitura extensa das obras do passado. Essa ambivalencia dos cientistas tern raizes hist6ricas e psicologicas. Desde os albores da ciencia modema, tem-se argumentado que os cientistas devem conhecer 0 trabalho dos seus predecessores, a fim de poder construir sabre as bases lanQadas anteriormente, e para dar 0 devido credito a quem o merece. Ate mesmo 0 mais eloqi.iente profeta do antiescolasticismo, Francis Bacon, dava isso por assentado: "Quando urn homem se dedica a descobrir alguma coisa, ele primeiramente procura e examina tudo 0> que foi dito sabre 0 assunto pelos outros; a seguir, poe-se a meditar por si mesmo ... "58 E urn sistema que foi mais tarde institucionalizado, na forma dos ensaios cientificos, que devem apresentar urn sumario da teoria e das pesquisas ja realizadas sabre os problemas em exame. 0 fundamento logico desse procedimento e tao claro quanto familiar: a ignorancia dos trabalhos do passado muitas vezes condena 0 cientista a descobrir por si mesmo 0 que ja era conhecido. Sorokin exempli fica 0 caso no campo da sua especialidade: «Desconhecendo que certa teoria ja foi exposta hi muito tempo, ou que certo problema ja cuidadosamente estudado por muitos antecessores, urn soci6logo pode facilmente dedicar seu tempo e sua energia ao descobrimento de nova America sociol6gica, ji muito antes desco~erta, Em vez de confortivel travessia do Atlantico cientifico no curto periodo de tempo necessaria ao estudo do que ja tern sido feito, tal soci6logo tera que sofrer todas as dificuldades de Colombo para perceber, depois de desperdipr tempo e energia. que a sua descoberta ja fora feita hi muitos anos, e que os seus esfor~os foram .inuteis. Essa constatac;ao e uma tragedia parol urn estudioso e urn dcsperdicio de vaJioso trabalho para a sociologia e a sociedade». 59 £01
Casos desse genero tern ocorrido amiude em outros campos da c1encia. Urn genio da fisica, Clerk Maxwell (que tambem tinha profundo interesse vocacional pela ciencia social da sua epoca) fez a seguinte observaQao, nos primeiros tempos da sua carreira cientifica: "Estive lendo velhos livro& de otica e neles descobri muitas coisas melhores do que as novidades de hoje. Os matematicos estrangeiros estao descobrindo agora, por seus proprios meios, metod os que ja eram bem conhecidos em Cambridge em 1720, mas que cairam no esquecimento".60 Ha muito tempo que a ciencia institucionalizou 0 metoda e, em parte, a pratica de perscrutar a litera-tura antecedente; isso ja nao precisa ser docurnentado. Mas a atitude contraria - pouco institucionalizada mas, posta em pratica muitas vezes - requer extensa documentaQao, se quis'ermos compreender a ambivalencia dos cientistas em relaQao a erudiQao. Pelo menos durante os ultimos quatro seculos, eminentes homens de ciencia tern denunciado os alegados perigos da erudiQao. As raizes histo-
ricas desta atitude estao implantadas na revolta contra 0 escolasticismo dos comentadores e eX!egetas. Galileu, mais urna vez, da a sua clarinada precursora: «. .. urn homem nunen homens, sem jamais levant:u verda des ja conhecidas e de Repito. quem ass.im procede -e pecito enl seus trabalhos».
se tornara fHosofo ocupando·se somente dos escritos dos outros os 01h05 para as obras cla natureza com 0 intuito de ali reconhecer :lS investigar algumas dentre 0 numero infinito das que falL....il descobrir. Dunea chegari a fil6sofo mas continuara estudante de outros fil6sofos 61
William Harvey imita esse pensamento (numa linguagem que imp ressionou profundamente Clerk Maxwell, e}e proprio colhido nas malhas da atitude ambivalente para com a erudiQao): «Pois tadas aquelec; que teem autores e ,que, ~om a ajuda ~os seus sentidos_ pessoais, nao
No devido tempo, a embivalencia relativa a erudiQao transformou-se, para alguns, numa escolha entre erudiQao e trabalho cientifico original. Pelos fins do seculo XVII, Temple, 0 defensor dos Antigos, que so conhecia a ciencia de oitiva, sentia-se autorizado a satirizar os Modernos pelas seguintes razoes: essas especula<;oes forem verdadeiras. entao. nao sei qua~s. va~tagens, podem trazer ao Conhecimento moderno 0 que recebemos dos Anttgos. Ao contrarlO, e passIve! que os bomens possam mais percler do que ganhar com elas, e possive! que dirninua a Forc;a e 0 Crescimento dos seus Genios, constrangendo-os e formando·os sabre aquele de outros .... e que ten~am ,menos conr.eclmento proprio. por se contentarcm com aque!e de outros antes deles... Alem dlSSO, quem podera dizer com certeza se a cultura nao enfraquece a Invenc;ao num homem que recebeu grandes dons da Natureza e do Nascimento, se 0 peso e a quantidade de tantos pensamentos e not;oes de' 0 movimento e a agitat;ao da outros homens nao pode suprimir os seu~ pr6prios ou prejudicar mente, que fazem surgir t6das as invenc;6es?» 63 -{
o que Temple, em sua vasta ignorancia de tada ciencia, achava risivel, foi tornado muito a serio por grandes ci:entistas modernos. A atitude ambivalente dos cientistas para com a erudiQao e fartamente mantfestada. Claude Bernard, por exemplo, admite que urn hornem de ciencia deve conhecer 0 trabalho dos seus antecessores. Mas, continua ele, a leitura de ate mesmo essa "proveitosa literatura cientifica ... nao deve ser levada longe demais, pois poderia fazer secar a mente e abafar a invenQaO'e a originalidade cientifica. Que utilidade ha em exumar teorias ca.rcomidas, ou observaQoes feitas sem os meios de investigaQao apropriados?" Numa palavra, "a erudiQao mal concebida tern side e ainda e urn dos maio res obstaculos ao progresso da ciencia experimental". 64 Inteligencias do valor de Bernard poderiam evidentemente manejar essa ambivalencia com r,elativa facilidade, selecionando a leitura dos escritos diretamente relevantes para 0 seu proprio trabalho experimental 61.
58. Francis Bacon, Novum Organum (Londres: George Routledge LXXXII, p. 105. 59. Sorokin, Conremporary Sociological Theories, XVIII-XIX. . 60. Lewis Campbell e William Garnett, The Life of James Clerk mIllan & Co., 1884),162.
&
Sons,
Maxwell,
sid.)
Aforisma
(Londres;
Mac-
Le Opere di Galileo Galilei, Edizione Nazione (Floren,a: Tipografia di G. Barbera, 1892), I. 395. 62. Campbell e Garnett, op. cir., 277. . E 63. Sir William Temple, Essays on Ancienr and Modern Learning, compdados por J. . Spingarn (Oxford: Clarendon Press, 1909>'18. 6~. Claude Bernard An Inrroducrion ro the Stu.dy of Experimental Medicine (Non Iorq1le: Henry Schumann. 1949;'a 1.' ed. de 1865),145,141_ III,
e
e te6rico. 0 matematico Littlewood, da mesma maneira que 0 pr6prio Bernard, enfrentou 0 problema, entregando-se primeiramente as suas pr6prias ideias e, a seguir, comparando-as com a literatura antecedente, antes de publica-Ias. (;5 Assim fazendo, Bernard e Littlewood completaram 0 cicIo, voltando ao metodo preconizado pelos sabios e cientistas do passado. G6 Houve quem resolvesse a sua ambivalencia, abandonando quase completamente 0 esf6rQo de tornar-se versado na' literatura antecedente, a fim de poder prosseguir em seu pr6prio trabalho. As ciencias sociais tem seus pr6?riOs exemplos de tais adaptaQoes. Ha muito tempo, Vico endossou de mUlto bom grado a observaQao feita POI' Hobbes, de que se houvesse lido tanto como certos homens, teria conhecido tao pouco quanto eles. 67 Herbert Spencer - de quem se pode dizer que ninguem escrevera tanto antes dele, com tao escassos conhecimentos do que outros haviam escrit~ anteriormente, s6bre a mesma ampla variedade de assuntos - transformou tanto sua hostilidade contra a autoridade dos predecessores, quanto sua doenQa (a leitura the causava tonturas) em uma filosofia de pesquisas que dava pouca importancia ao conhecimento dos antecessores.68 E Freud, em seguida e com plena consciencia, usou do sistema de elaborar os seus dados clinicos e a sua teoria, sem recorrer aos trabalhos ja existentes. Disse, certa feita: "Realmente, pouco sei dos meus predecessores. Se nos encontrarmos algum dia no outro mundo, eles certamente me tratarao de doente e01110 um plagiario. Mas e tao grande a satisfaQao de investigar pessoalmente os problemas, em vez de leI' a literatura s6bre 0 assunto!" E adiante: "Nos ultimos anos, tenho-me privado do grande prazer de leI' as obras de Nietzsche, pois tomei deliberadamente a resoluQao de nao ser tolhido na elaboraQao das impressoes recebidas na psicanalise, por qualquer pers· pectiva vinda de ,fora. POI' isso - e de muito bom grado - estou pronto. a desistir de t6da pretensao a prioridade nos numerosos casos em que 65. J. E. Littlewood, A Mathematician Miscellany (Londres: Methuen Publishing Co., 1953), 82-3. «11 naturalmente born metodo, e eu 0 tenho praticado muito, iniciar 0 pr6prio trabalho sem se preocupar demais com a literatura existente» (0 grifo e nosso). Charles Richet, em The Natural History of a Savant, trad. de Sir Oliver Lodge (Nova Iorque: George H. Doran Co., 1972), 43-4,. formula 0 metoda com as seguintes palavras: «0 pesquisador bem informado ... talvez conhe<;a demais 0 que ja foi publicado por outros para conseguir see inteiramente original. 0 cientista talvez fizesse melher em publicae lliffia experiencia, s6 depois de haver estudado profundamente n bibliografia apropr.iacla, mas isso nao significa que ele cleva atravancar-se com demasiados conheci· mentosantes de iniciar a experimentac;ao». . 66. Dr. E. Bernard, em carta a John Collins, datada de 3 de abril de 1671, dizia 0 seguinte: «Llvr~s e experimentac;6es caminham muito bem juntos, mas separadamente denunciam uma imperfeI<;iio, po is 0 pesquisador pouco letrado ja foi antecipado, sem 0 saber, pelo trabalho dos a,otlgos. ao passo que 0 homem muito lido confunde a hist6ria com a ciencia». £ste trecho fl~ura em Correspondence of Scientific Men of the 17th Cenrury, compilada por Stephen Peter Rlgaud SOxford: UnIversIty Press, 1841), I, 158. Quanto a influencia reciproca da erudio;iio e da observap.o pessoal, veJamos 0 que diz 0 fisico John Freind, que viveu nos seculos XVII e XVIII: «To do flSICO faz e deve, fazer observac;6es baseadas em sua pr6pria experiencia; mas ele sera f~paz de exercer melhar ]ulgamenta e observac;6es mais justas fazendo comparac;6es entre a que e e 0 '1u~ ob~erva pessoalmente.. Nao e afronta a compreensao de qualquer urn, nem estorvo ao l~eu ~enlO, dlZe~ que tanto urn como outro sistema podem ser utilmente empregados e felizmente os~o~etJulsa~d~ exami~and? as opini6es e os metodos d?s ,que, viveram antes dele .. espea. co f' sOd;,ran a se que O1nguem esta amarrado ao seu propriO Julgamento. nem obngado a prn./ar naN.J cIa? de qualquer Dutro autor alem do que lhes parer;;a conforme a razao e redutivel possaa ;~:. lOgu,em portanto deve temer que a sua sagacidade natural qualquer que cia seja. 67. T~;f~~dlda ou enganada. pela leitura»; (History of Physic, Lond;es: 1725/6), I, 292. Bergin (It JoblOgraphy of GIambattista VI co. Trad. de Max Harold Fisch e Thomas Goddard: 68 A~t~' ova Iorque: Great Seal Books, 1963). . bIOgraphy of Herbert Spencer (Nova Iorque: D. Appleton & Co., 1904).
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as laboriosas pesquisas psicanaliticas vieram simplesmente confirmar as verdades que aquele fil6sofo descobriu intuitivamente". (;9 Um dos pais da sociologia levou a um ponto absurdo essa especle de adaptaQao da tensao entre erudiQao e originalidade. Durante os doze anos que devotou a composiQao do seu Cours de Philo sophie Positive. Comte seguiu 0 "principio da higiente cerebral" conservando sua mente livre de tudo 0 que nao f6sse suas pr6prias ideias, pelo simples recurso de nao ler coisa alguma reladonada, ainda que de longe, ao' seu assunto. Conforme declar,ou orgulhosamente numa carta a A. B. Johnson: "Quanto a mim, s6 leio os grandes poetas antigos e modernos. A higiene cerebral e sobremaneira salutar para mim, especialmente porque permite manter a originalidade das minhas meditaQoes peculiares,".70 Assim, vemos Comte fazendo a mais 'extrema - e nesse ponto,absurda - distinQao entre a hist6ria e .a sistematica da sociologia; como historiador da ciencia, ele procurou reconstruir 0 desenvolvimento da ciencia por meio da leitura relativamente extensa dos classicos, ao passo que, como criador do sistema positivista de teoria sociol6gica, ele apaixonadamente ignorou as ideias, imediatamente anteriores - ate mesmo as de Saint-Simon, que f6ra certa vez seu professor - a fim de alcanQar uma especie de originalidade que poderiamos classificar de pickwickiana. Como temos visto, a tensao hist6rica entre a erudiQao e a originalidade ainda e problema para ser resolvido. Os cientistas tem adv'ertido, desde 0 seculo XVII, que a erudiQao muitas vezes encoraja os simples comentariosescolasticos de trabalhos anteriores, em prejuizo das novas investigaQoes empiricas e que 0 envolvimento profundo com as ideias anti gas prejudica muitas vezes a originalida.de, porque produz atitudes mentais inflexiveis. Mas apesar desses perigos, os grandes cientistas fo· ram capazes de C'ombinar a erudiQao e a pesquisa original pa,ra 0 progresso da ciencia, quer lendo sbmente as pesquisas imediatamente anteriores dedicadas ao seu problema, as quais presumivelmente incorporam o relevante e cumulativo conhecimento do passado, quer explorando fontes mais remotas sbmente ap6s haverem levado a bom termo a sua pr6pria pesquisa. Oontudo, 0 extremado esf6rQo para nos emanciparmoiS das ,ideias antecedentes - igual ao que foi ,feito por Comte - pode transformar-se em desprezo conscien1Jede t6das as teorias pertinentes do passado e em distinQao artificial entre a hist6ria e a sistematica da teoria.
Nem mesmo a um precursor deve se permitir a caricatura da diferenQa fundamental, que estivemos averiguando, entre a hist6ria autentica 69. A primeira observao;iio encontra-se numa carta de Freud a Pfister, de 12 de julho de 1909; a segunda, em sua «History of the Psychoanalytic Movement», Collected Papers, 1,.297. Freud pressentIa que toda espec.ie de antecipac;6es do seu trahalho seriam mais tarde cUldadosamente apontadas. Para uma compilac;ao dessas antecipac;5es. tanto antigas como pr6ximas, ver Lancelot Law White, The Unconscious before Freud (Nova Iorque: Basic Books, Inc., 1960). . _ 70. A carta foi dirigida a Alexander Bryan Johnson e se acha reproduzida na nova edlo;ao do seu notavel Treatise on Language, compilado por David Rynin (Berkeley: University of Caltforrua Press, 1959). 5-6.
· tematica da tea ria s-ocio16gica. Par distinQao temos aeentuado peSIS • h' t _. d quenas semelhanQas de Comte, e nao todas. Uma genUlna "IS. ona a teoria socio16gica deve estender-se alem de urn conjunto cronolbglCamente ordenado de sinopses da doutrina; deve lidar com a influencia reciproca entre a teoria e as assuntos como as origens sociais e as status dos seus expoentes, a organizaQao social variante da sociologia, a~ alteraQoes provocadas nas ideias e as suas relaQoes com a estrutura socIal e cultural do ambiente. Desejamos agora delinear algumas funQoes caracteristicas para a teoria sistematica bem alicerQada nas formulaQoes classicas da teoria socio16gica. A condiQao das ciencias fisicas e bio16gicas permanece muito diferente daquela das ciencias socia.is e da sociologia em particular. Se 0 fisico, como tal, nao tern necessidade de impregnar-se dos Principios de Newton, e a bi610go como tal, nao precisa ler e reler A Origem das Especies de Darwin, 0 soci610go, mais como soci61ogo do que como historiador da sociologia, tern amplos motivos para estudar as trabalhos de. Weber, Durkheim e Simmel e ate mesmo para remontar, ocasionalmente, as obms de Hobbes, Rousseau, Condorcet e Saint-Simon. A razao dessa diferenQa e aqui examinada detalhadamente. Os reo-istros demonstram que as ciencias fisicas e bio16gicas tern tido em geral ~aior exito do que as ciencias sociais em restabelecer conhecimentos acumulados do passado e incorpora-los em formulaQoes subseqi.ientes. Este processo de obliteraQao pela incorporaQao e ainda raro na sociologia. Como conseqi.iencia, ainda ha muitas informaQoes nao reconstituidas prontas pa:-a seram utilmente empregadas como pontos de partida. Os usos atuais das teorias socio16gicas do passado san ainda mais complexos, como se evidencia pela extensa repercussao das citaQoes da tea ria classica. Certo tipo de cita.Qaonao envolve nem a simples comentario sabre os classicas nem a usa do seu prestigio para estabelecer credenciais de ideias atuais. E uma forma de citaQoes que, 810 contrario, constitui momentos de afinidade entre nossas pr6prias ideias e as dos nossos antecessores. Mais de urn soci610go tern sofrido a humilhante experiencia de constatar que a sua descoberta independente e, inadvertidamente, urn redescobrimento '8, ainda mais, que a linguagem do predecessor classico - esquecido par muito tempo - e tao viva, tao eloqi.iente ou tao cheia de implicagoes, que deixa a nova versao em segundo plano. Encontrando-~e na situaQao ambivalente de tristeza par ter sido antecipado, e de alegna pela beleza da formulagao mais antiga, ele cita a redagao classica. Ha apenas uma pequena diferenQa quando 0 leitor, que ja tern suas pr6prias ideias formadas, encontra nos livIos antigos exatamente 0 que ja tinha -em mente. 0 conceito, ainda nao descoberto por outros estudiosos, chama a atenQao do leitor justamente par possuir afinidade can: a ideia que ja havia desenvolvido por seus pr6prios me~os._ Qu~n~o. e citada uma antiga fonte, presume-se geralmente que essa cltaQao Slgruflca obrigatariamente que a ideia au achado surgiu da pr6pria leitura. Mas, e evidente que 0 trecho antigo foi notado s6 porque correspondia 810 que o leitor ja havia elaborado par si mesma. Aqui nos encontramos numa e a
situaQao muito curiosa: urn dialogo entre os mortos e os vivos. Isto nao difere muito dos dialogos entre cientistas oontemporaneos, quando urn deles fica muito satisfeito 310 descobrir que 0 outro concorda com uma ideia ate entao mantida em segredo e que poderia ate mesmo parecer suspeita. As ideias adquirem novo valor quando saD expressas Ihdependentemente por outra pessoa, verbal mente au par escrito. A unica vantagem em encontra-las ja impressas, e saber-se que nao houve contagia inadvertido entre 0 livro ou 0 ensaio e qualquer formulaQao anterior da mesma ideia, feita por outrem. Os soci610gos mantem "dialogos" com as formulaQoes classicas ainda de outra maneira. Urn soci6logo contemporaneo defronta-se muitas vezes com urn t6pico dos classicos que contraria uma ideia que ele estava prestes a apresentar como perfeita. Esse tipo de reflexoes, em que se procura a confirmaQao do pr6prio pensamento, e muito util porque convida a modestia. 0 te6rico posterior, obrigado a admitir que esta errado, reexamina seu conceito e, achando-o realmente defeituoso, reformula-o em nova versao melhorada graQas 810 dialogo acima referido. Uma outra funQao dos classicos e a de proporcionar urn modelo para o trabalho intelectual. 0 cantata com espiritos socio16gicos penetrantes, como as de Durkheim e Weber, ajuda-nos a formar padroes de criterio e julgamento para identificar urn bom problema sociol6gico - urn que tenha implicac;;oessignificativas para a teoria - e a aprender 0 que constitui uma soluQao te6rica adequada para 0 problema. Os classicos SaD 0 que Salvemini gostava de denominar libri tecondatori - livros que aguQam as faculdades dos leitores exigentes que lhes prestam total atenQao. Foi esse 0 processo que levou, 810 que se presume, 0 grande e jovem matematico noruegues Niels Abel, a registrar em seu livro de notas: UNa minha opiniao, se alguem deseja progredir na Matematica, deve estudar os mestres e nao os discipulos".71. Finalmente, se urn livro ou trabalho socio16gioo classico e digno de seT lido par algum motivo, tambem e digno de ser relido de quando em quando; pois parte do que e transmitido pela pagina impressa muda em conseqi.iencia de urna interaQao entre 0 autor morto e 0 leitor WYO. Da mesma forma que 0 Cantico dos Canticos muda de sentido quando lido aos 17 ou aos 70 anos, assim tambem Wirtschatt und Gesellschatt, de Weber, SUicide, de Durkheim ou Soziologie, de Simmel diferem quando lidos em epocas diferentes. Pois, da mesma forma que os novas conhecimentos tern efeito retroativo, ajudando-nos a reconhecer antecipaQoes e prefigura_ Qoes nos trabalhos anteriores, tambem as mudanQas nos problemas e focos de atenQao no conhecimento socio16gico atual, ajuda-nos a encontrar novas ideias numa obra ja lida anteriormente. 0 novo contexto dos recentes desenvolvimentos em nossa vida intelectual pessoal ou na pr6pria discipl:ina, faz surgir ideias ou sugestoes de ideias que haviam passado despercebidas numa leitura anterior. Naturalment-e, esse processo requer intensa leitura dos ch:'issicos- a especie de concentraQao daquele erudito 71. 0 Extraordinary,
extrato do livro de notas de Abel esta registrado em Niels Henrik Abel: Mathematician de Oystein Ore (Minneapolis: University of Minnesota Press, 1957), 138.
verdadeiramente dedicado (descrito POl' Edmundo Wilson), que, interrompido em seu trabalho POl' uma batida na porta" abriu-a, estrangulou 0 desconhecido que ali estava e voltou ao seu trabalho. Para uma verificagao informal da fungao potencialmente criadora da releitura dos classicos, basta examinar a marginalia e as notas que tomamos de uma obra elassica, que foi lida e relida alguns anos mais tarde. Se o livro tern precisamente as mesmas coisas a nos dizer na segunda leitura, estamos sofrendo de severa estagnagao intelectual, ou 0 trabalho classico tern menos profundidade intelectual do que julgavamos, ou se dao simulta· neamente essas duas infelizes circunstancias. o que e uma experiencia familiar na vida intelectual do soci610go individual pode tornar-se prevalente para gerag5es inteiras de soci610gos. Pois como cada nova geragl10 acumula seu pr6prio repert6rio de conhecimentos e assim adquire sensibilidade para novos problemas te6ricos, ela chega a vel' muitas "novidades" nos trabalhos antigos, mesmo que esses trabalhos ja hajam side previamente examinados. Ha muito para dizer a favor da releitura das obras mais antigas - especialmente no que se refere a uma disciplina imperfeitament'e consolidada como a sociologia contanto que ,esse estudo consista em algo mais do que aquela despreocupada imitagao pela qual a mediocridade expressa seu tributo a grandeza. A releitura de velhos trabalhos com novos 6culos permite aos soci610gos contemporaneos encontrarem novas percepgoes que haviam permanecido borradas durante 0 primeiro estudo e, como resultado, consolidarem a velha e semiformada compreensao ("insight") mediante a instauragao de nova pesquisa. Alem de servirem ao prop6sito de escrever hist6rias da teoria socio16gica, a leitura dos mestres e a relagao constante e repetida com os elassicos, prestam-se a varias fungoes. Estas comprendem desde 0 prazer de entrar diretamente em contato com uma versao esteticamente agradavel e mais convincente das pr6prias ideias, passando pela satisfagao de ve-Ias confirmadas POl' urn espirito poderoso e ineluindo a fungao educativa de desenvolver altos padroes de gosto para 0 trabalho sociol6gico, ate 0 efeito interativo de desenV"olvernovas ideias pOI' meio do retorno a velhos textos denDra do contexto do conhecimento contemporaneo. Cada uma dessas fungoes resulta da recuperagao imperfeita de antigas teorias sociol6gicas que ainda nao haviam side completamente absorvidas no pensamento posterior. POI' esse motivo, os soci610gos de hoje devem continual' a comportar-se de modo diferente dos seus colegas das ciencias fisicas e biol6gicas, e eSforgar-se para se famili'arizarem intimamente com os seus predecessores classicos, ainda nao muitos distantes. Mas se quiserem ser mais eficientes do que simplesmente dedicados, se pretenderem utilizar as formulagoes mais antigas da teoria, ao inves de aperras comemora-Ias, deverao estabelecer a distingao entre 0 sistema escolastico de comentario e exegese e a pratica cientifica de ampliar a teoria antecedente. Ainda mais importante, os soci610gos deverao perceber a distingao entre duas tarefas diferentes: a de desenvolve.r a hist6ria da teoria sociol6gica e a de desenvolver a sua sistematica atual.
SCBRE AS TEORIAS SOCIOLOGICAS DE MEDIO ALCANCE
A
SEMELHANCA DE TANTAS PALAVRAS que sac usadas a esmo, a palavra teoria corre 0 risco de perder 0 significado. POl' serem as suas aplicagoes tao diversas - incluindo tudo, desde as menores hip6teses de trabalho, as amplas mas vagas e desordenadas especulagoes, ate os sistemas axiomaticos de pensamento -.0 usa da palavra obscurece freqlien_ temente a compreensao, ao inves de suscita-Ia. Ao longo deste livro, a expressao teoria sociol6gica se refere a conjuntos de proposig6es lbgicamente entrelagados, dos quais se podem derivar umas quantas uniformidades empiricas. Do principio ao fim, procurei chamaI' a atengao sabre 0 que denominei teorias de medio alcance: teorias intermediarias ,entre as pequenas, mas hip6teses necessarias de trabalho que surgem em abundancia durante a rotina das pesquisas diarias 1 e os amplos esforgos sistematicos para desenvolver uma teoria unificada capaz de explicar t6das as uniformidades observadas de comportamento, organizagao e mudanga sociais. 2 A teoria de medio alcanc€' e usada principalmente em sociologia para servir de guia as pesquisas empiricas. Ocupa uma situagao intermediaria entre as teorias gerais de sistemas sociais, as quais estao muito afastadas das especies particulares de comportamento, organizagao e mudanga sociais para explicar 0 que e observado, e as minuciosas ordenadas descrigoes de pormenores que nao estao de modo algum generalizados. E claro que a teoria de medio alcance tambem envolve abstrag6es, mas estas estao bastante pr6ximas dos dados observados para serem incorporadas em conceitos que permitam os testes empiricos. As teorias de medio alcance tratam de aspectos limitados dos fenomenos sociais, conforme 0 proprio nome indica. Fala-se de uma teoria de grupos de referencia, de mobilidade 1. «Uma 'hip6tese de trabalho' e pOUeD mais que 0 procedimento de sensa comurn por nOS adotado todos os dias. AD encontrar certos fatos. surgem em nossa mente exp!ica((>cs altern:ldas e comec;amos a testa-las». James B. Conant, On Understanding Science (New Haven: Yale UniversJty Press. 1947), 137, n.9 4. 2. Esta discussao surge e expancle-se sobre uma critica de urn trabalho de ParS0n rel::ttivo a posi~a? da teoria sociol6gica, nas reuni5es de 1947 cia «Aperican Sociological Society», publicada f:suffildamente na American Sociological Reyiew, 1949, 13, 164-8. Inspira-se tambcrn em discus~ soes subsequentes: R. K. Merton, «The role·set: problems in sociological theory». The Dricish Journal nf Sociology, junho de 1957, 8, 106-20, esp. 108-10: R. K. Merton. < para: Allen Barton, Social Organizarion under Stress: A Sociological Review of Disaster Studies (\\1ashlngton, D. C : National Academy of Science - National Research Council, 1963) XVII-XXXVI, esp. XXIX.XXXVI. '
Sociologia
social, de conflitos de desempenhos de papeis e de formaQoes de normas sociais, exatamente como se se falasse de uma teoria de preQos, urna teoria dos germes das doenQas ou uma teoria cinetica dos gases. As ideias geradoras de tais teorias sao caracteristicamente simples: observemos as de Gilbert sabre 0 magnetismo, de Boyle sabre a pressao atmosferica ou de Darwin sabre a formaQao dos at6is de coral. Gilbert comer;;a com a ideia relativamente simples de que a Terra pode ser concebida como urn ima; Boyle, com a simples ideia de que a atmosfera pode ser considerada como urn "mar de ar"; Darwin com a ideia de que se pode conceber os at6is como urn crescimento de coral, para cima e para os lados, sabre ilhas ha muito tempo afundadas no mar. Gada uma dessas teorias fornece uma imagem que da lugar a inferencias. Vejamos apenas urn caso: se a atmosfera e considerada urn "mar de ar", entao, como inferiu Pascal, deve haver menos pressao de ar no tapa de uma montanha do que na sua base. A ideia inicial sugere, desse modo, hip6teses especificas, que sao testadas para verificar se as suas interferencias sao empiricamente confirmadas. A pr6pria fecundidade da ideia e test ada, quando se anota o alcance dos problemas te6ricos e das hip6teses que nos permitem identificar novas caracteristicas da pressao atmosferica. De maneira muito semelhante, a teoria de grupos de referencia e de privaQao relativa tern como ponto de partida a simples ideia, lanQada por James, Baldwin e Mead e desenvolvida por Hyman e Stouffer, de que 0 individuo toma os padroes de outras pessoas significativas como base para uma auto-avaliaQao. Algumas das inferencias que se podem tirar dessa ideia estao em conflito com as expectativas da opiniao comum, baseadas sabre um conjunto nao examinado de pressupostos "evidentes por si mesmos". 0 bom-senso comum, por exemplo, sugeriria que quanto maior a perda real so.frida por uma familia num desastre de massas, mais intensamente se sentiria destituida. Essa crenQa baseia-se no pressuposto nao testado de que a grandeza da perda objetiva esta linearmente relacionada a avaliaQao subjetiva da perda e que esta avaliaQao confina-se dentro da experiencia pessoal de cada um. Mas a teoria da privaQao relativa conduz a urna hip6tese assaz diferente - ou seja, que as auto-avaliaQoes dependem das comparaQoes que os individuos fazem de sua pr6pria situaQao com a de outras pessoas com as quais percebem ser comparaveis no momento. Essa teoria entao sugere que, sob determinadas circunstancias, familias que sofreram serias perdas se sentirao menos destituidas que as que suportaram menores perdas, se tiverem oportunidade de comparar-se com pessoas que so.freram perdas bem mais graves. Por exemplo, certos grupos residentes na area de maior impacto de urna catastrofe sao os que, embora muito atingidos, podem mais provavelmente contemplar alguns vizinhos ainda mais gravemente golpeados. A pesquisa empirica confirma a teoria da privaQao relativa, em detrimento das suposiQoes do bom-senso popular: "A sensaQao de estar relativamente melhor do que os outros aumenta com as perdas objetivas ate a categoria da perda mais alta" e s6 entao comeQa a declinar. Esse padrao e reforQado pela tendencia dos meios de comunicaQao publicos em focalizar "as pessoas que mais sofreram"
-
Teona e Estrutura
[0 que] contribui para fixa-Ias como grupo de referencia, com a qual outras vitimas podem comparar-se com vantagem". A medida que prossegue a investigaQao, descobre-se que esses padroes de auto-avaliaQao afetam por sua vez 0 moral da comunidade de sobreviventes e as suas motivaQoes para ajudar os outros.3 Portanto, dentro de urna classe especial de comportamento, a teoria da privaQao relativa conduz-nos a um conjunto de hip6teses que podem ser testadas empiricamente. A conclusao confirmada pode entao ser enunciada de modo bastante simples: quando poucos sao atingidos na mesma extensao, 0 sofrimento e a perda de cada urn parecem grandes; quando muitos sac feridos em graus muito diferentes, ate mesmo prejuizos grandes parecem pequenos quando comparados com outros muito maiores. A probabilidade de se fazerem comparaQ6es depende muito dos diferentes graus de visibilidade das perdas de grande ou pequena proporQao. A natureza deste exemplo nao deve obscurecer 0 carater mais geral da teoria de medio alcance. E 6bvio que 0 comportamento das pessoas confrontadas com um grave desastre, e apenas um exemplo dentro de um numero indefinidamente grande de situaQoes particulares, as quais a teoria dos grupos de referencia pode ser instrutivamente ::tplicada, dil. mesma .forma que a teoria de mudanQa na estratificaQao social, a teoria da autoridade, a teoria da interdependencia institucional, ou a teoria da anomia. Mas e igualmente claro que essas teorias de medio alcance nao foram lbgicamente derivadas de uma unica teoria que abrange todos os sistemas sociais, embora, uma vez desenvolvidas, elas possam manter consistencia com uma s6. Alem disso, cada teoria e mais do que uma simples generalizaQao empirica - urn conceito isolado resumindo uniformidades de relaQoes observadas entre duas ou mais variaveis. Uma teoria compreende um conjunto de suposiQoes, das quais foram derivadas as pr6prias generalizaQoes empiricas. Dutro caso da teoria de medio alcance em sociologia pode ajudar-nos a identificar sua natureza e suas utilizaQoes. A teoria dos "grupos de desempenho de papeis (role-sets) 4 comeQa com uma imagem de como 0 status social est a organizado na estrutura social. Essa imagem e tao simples quanto a da atmosfera como "mar de ar", de Boyle ou a figura da Terra como ima, de Gilbert. Entretanto, da mesma forma que com tada's as teorias de media alcance, a prova se faz pelo use, e nao pela replica imediata de que as ideias que as originaram sac 6bvias ou estranhas, por serem derivadas de uma teoria mais geral ou consideradas como ligadas a urna especie particular de problemas. Apesar dos significados muito divers os relacionados ao conceito de status social este termo e firme e tradicionalmente empregado em sociologia par~ referir-sea urna posiQao dentro de um sistema social, caracterizada pelos seus especificos direitos e obrigaQoes. Dentro des.sa tradiQao, conforme 0 exemplo dado por Ralph Linton, 0 conceito relaclO3. -4.
Bartoo, op. ci!., 62-63, 70-72, 140. As pAginas segu.intes inspiram-se no
e sua Introduc;ao, XIV-XXV. proprio Merton, «The rolc-set»,
op.,
(it.
nado de papcl social refere-se ao comportamento dos ocupantes de status que e orientado pelas expectativas padronizadas dos outros (que concedem os direitos e "cobram" as obrigagoes). Linton, como outros da mesma tradigao, prossegue confirmando a obse;:vagao basica, ha muito reconhecida, de que cada pessoa ocupa na sociedade inevitavelmeute multiplos status e que cada urn desses status tern 0 seu papel societario a desempenhar. E nesse ponto que as imagens da teoria dos "grupos de desempenho de papeis" se afastam dessa tradigao, ha muito tempo estabelecida. A diferenga e inicialmente pequena - tao pequena, que se poderia dizer insignificante - mas a mudanga do angulo visual produz di,ferengas te6ricas cada vez mais fundamentais. A teoria do "desempenho de papeis" comega com 0 conceito de que, cada status social envolve nao somente urn simples papel associado a ele, mas t6da uma serie de papeis. Este aspecto da estrutura social faz surgir 0 conceito de desempenho de papeis: esse complemento das relagoes sociais no qual as pessoas sac en_ volvidas simplesmente porque ocupam determinado status social. Assim, urn individuo que ocupa 0 status de estudante de medicina, desempenha nao s6 0 papel de estudante vis-a-vis do status correlato dos seus mestres mas tambem uma serie de outros papeis que 0 relacionam diversament~ com outros membros do sistema: outros estudantes, medicos, enfermeiras, assistentes sociais, tecnicos ligados a medicina etc. Da mesma forma, o status de urn professor escolar tern 0 seu papel de desempenho caracteristico, que relaciona 0 professor nao s6 com as seus discipulos, mas tambem com os colegas, 0 diretor da escola, 0 inspetor, 0 Conselho de Educagao, a associagao ou sindicato profissional e, nos Estados Unidos, as organizag6es patri6ticas locais. E de notar que 0 "papel de desempenho" difere daquilo que as soci610gos tern descrito ha muito tempo como "papeis multiplos". Este Liltimo termo tem-se referido, tradicionalmente, nao ao complexo dos papeisassociados a urn unico status social, mas aos varios status sociais (as vezes em esferas institucionais diferentes) em que as pessoas S8 encontram - POI' exemplo, uma pessoa pode possuir ao mesmo tempo os diversos status de medico, marido, pai, professor, membro de uma confraria Teligiosa, eleitor do Partido Conservador e capitao do exercito. (Esse complexo de diferentes status de urn individuo, cada um com seus papeis de desempenho, e urn "grupo de status". Tal conceito faz surgir a sua pr6pria lista de pI'oblemas analiticos, que sac examinados no capitulo XIII). Ate esse ponto, 0 conceito de grupo de desempenho de papeis e meramente uma imagem para conceber urn componente da estrutura social. Mas essa imagem e apenas urn inicio, nao urn fim, porque provoca diretamente certos problemas analiticos. A nogao do desempenho de papeis leva imediatamente a inferir que as estruturas sociais confrontam as homens com a tarefa de articular os componentes de inumeraveis desempenhos de papeis - isto e, a tare fa funcional de conseguir, de qualquer maneira, organiza-Ios, a fim de atingir urn grau apreciavel de regularidade
social, suficiente para permitir que as pessoas tratem dos seus neg6cios sem ficarem paralisadas POI' conflitos extremos em seus papeis de desempenho. Se essa teoria relativamente simples dos papeis de desempenho tiver algum valor te6rico, devera engendrar problemas caracteristicos para a investigagao sociol6gica. E exatamente 0 que esse conceito faz. 5 Levanta a problema geml mas bem definido da identificagao dos mecanismos sociais - ou seja, os processos sociais que tem conseqtiencias especificas para partes designadas da estrutura social - que articulam as expectativas dos que se encontram nos grupos de desempenho de maneira suficiente para reduzir os conflitos de urn ocupante de status. Engendra 0 problema subseqtiente de descobrir como surgem esses mecanismos, a fim de podermos tambem explicar porque os mecanismos nao funcionam eficazmente ou deixam completamente de surgir em alguns sistemas sociais. Finalmente, da mesma forma que a teoria da pressao atmosferica, a teoria dos grupos de desempenho de papeis sugere diretamente a necessidade da pesquisa empirica relevante. Monografias sabre como funcionam divers os tipos de organizagao formal tern contribuido a desenvolver ampliagoes te6ricas de base empiric a a respeito de como os grupos de desempenho de papeis funcionam na pratica.6 A teoria dos grupos de desempenho de papeis ilustra outro aspecto das teorias sociol6gicas de medio aIcance. Concordam freqtientemente com varios dos chamados sistemas de teoria sociol6gica. Ate onde se possa opinar, essa teoria nao esta em desacardo com as extensas orientagoes te6ricas do marxismo, da analise funcional, do "behaviorismo" social, da sociologia integral de Sorokin ou da teoria da agao de Parson. Isto pode ser uma horrorosa observagao para aqueles dentre n6s que foram educados na crenga de que os sistemas de pensamento sociol6gico sao conjuntos de doutrinas, l6gica e estreitamente ligadas e mutuamente exclusivas. Mas de fato, como ainda veremos nesta introdugao, as amplas teorias sociol6gicas san suficientemente espagosas, internamente diversificadas e mutuamente imbricadas, para permitir que uma determinada teoria de media alcance, que tenha urn certo grau de confirma.gao empfrica, possa estar amiude compreendida em extensas teorias que por si mesmas sejam discrepantes em certos aspectos. 5. Para uma versao anterior dessas ide-ias em marcha, yet Merton: «The social-cu~tural envi~ ronment and anomie» no trabalho de Helen L. Witmer e Ruth Kotinsky, New Per~pectlvc f.?f Rde. search on Juvenile D'elinquency, relat6rio de urn simp6sio sabre. a ..f"ele:rancia ~ as Interrela~oes de ceetos conceitos da. sociologia e da psiquiatria aplicados a deltnquencIa, .realtzado em 6 e 7 6)e maio de 1955 (Washington, D. c.: U. S. Department of Health, EducatlOn and Welfare, 195 , 24·50, esp. 47-48. . ._. b d na 6. Pelo que podemos julgar cia dinamica do desenvolvlmento oa cl,er:Cla, es oc;a a d primeira parte desta introdudio, as tearias de medio alcance, achando-se P[OXll;1a~ cia £rente .e pesquisa cia ciencia, podem perfeitamente see produto de descobrimentos ,.multl~los e ~a.damente simultaneos: A ideia central ?o «gr,;-po de desempenho de papeIS» fOl desen,A0 InGependentemente na Jmportante monografl.1 emplflca de Neal Gross, Ward S., ~ason e . 1 McEachern, intitulada Explorations in Role Analysis: Studies of the School Supermrendency Ro e (Nova lorque: John Wiley & Sons, Inc., 1958). Notaveis adenc)os it teona, conJugados com investiga~6es empiricas. pocledio ser encontrados nas seguintes monografias: Robert L. K
0
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Esta opmlao urn tanto heterodoxa pode ser ilustrada mediante 0 reexame de. teoria dos grupos de desempenho de papeis como teoria de medio alcanee. Afastamo-nos do conceito tradicional, presumindo que urn 11nico status socialenvolve, nao urn papel unico, mas urna serie de papeis associados, relacionando 0 ocupante de status a diversos outros. Em segundo lugar, notamos que esse conceito do grupo de desempenho de papeis faz surgir problemas te6ricos caracteristicos, hip6teses e, bem assim, pesquisas empiricas. Urn dos problemas basicos e 0 de identificar os mecanismos sociais que articulam 0 grupo de desempenho de papeis e reduzem os conflitos entre os papeis. Em terceiro lugar, 0 conceito do grupo de desempenho de papeis dirige a nossa atengao ao problema ;,strutural de identificar as medidas sociais que se integram ou se opoem as expectativas de varios membros desse grupo. 0 conceito dos papeis multiplos, por outro lade, .focaliza nossa atengao para urn problema diferente e sem duvida importante: como os ocupantes individuais de status costurnam portar-se diante das numerosas e as vezes antagonicas exigencias que lhes sac feitas? Em quarto lugar, 0 conceito do grupo de desempenho de papeis, leva-nos a questao seguinte: de saber como esses mecanismos sociais vieram a existir; a resposta a essa pergunta nos permite compreender os numerosos casos concretos em que os grupos de desempenho de papeis funcionam ineficazmente. CIsto nao pressupoe que todos os mecanismos sociais sejam funcionais, da mesma forma que a teoria da evolugao biol6gica envolve a suposigao comparaV'el de que nao possam ocorrer desenvolvimentos disfuncionais). Finalmente, a l6gica da analise exibida nessa teoria sociol6gica de medio akance se desenvolve totalmente em termos dos elementos da estrutura social, ma.is do que em termos de proporcionar descric;6es hist6ricas concretas de sistemas sociais particulares. Assim, a teoria de medio akance nos permite superar o pseudoproblema de urn conflito te6rico entre 0 nomotetico e 0 idiotetico, entre 0 geral e 0 completamente particular, entre a teoria sociol6gica generalizadora e 0 historicismo. De tudo iS50 se evidencia que, de acordo com a teoria dos grupos de desempenho de papeis, ha sempre urn potencial para expectativas diferentes entre os membros do grupo, a respeito do que seja a conduta apropriada a urn ocupante de status. A fonte basica desse potencial para conflito - e e importante notar mais uma vez que sabre este ponto estamos de acordo com te6ricos gerais Hio diversos como Marx e Spencer, Simmel, Sorokin e Parsons - encontra-se no fato estrutural de que os outros membros de urn grupo de desempenho de papeis costumam ter diversas posigoes sociais, diferentes daquelas do ocupante de status em questao. Na medida em que os membros de um grupo de desempenho de papeis estao diversamente localizados na estrutura social, eles tendem a ter interesse e se?timentos diferentes daqueles do pr6prio ocupante de status. 1sso, afmal, e urn dos principais pressupostos da teoria marxista bem como de muitas outras teorias sociol6gicas: a diferenciagao social 'gera interesses distintos entre as pessoas diversamente situ adas na estrutura da sociedade. Por exemplo, os membros de urn Conselho Escolar acham-se muitas vezes
nurna camada social e economica que difere muito significativamente daquela do professor escolar. Os interesses, va16res e expectativas dos membros do Conselho tendem, portanto, a diferir daqueles do professor, que assim fica sujeito 'a expectativas opostas as de outros membros do seu grupo de desempenho de papeis: colegas de profissao, membros influentes do conselho Escolar e, talvez, do Comite de Americanismo da American Legion. * Certos assuntos que alguns consideram educativos e civicos, podem ser considerados pedantes ou afetados por outros ou, p()(' terceiros, como verdadeiramente subversivos. Como teoria de medio akance, portanto, a teoria dos grupos de desempenho de papeis comega com urn conceito e urnas imagens associadas, e cria uma serie de problemas te6ricos. Assim, a suposta base estrutural para disturbios virtuais de urn grupo de desempenho de papeis, suscita uma dupla questao (que, comprovadamente, nao fora registrada quando nao existia essa teoria): quais mecanismos sociais, se e que axistern, funcionam para contrabalangar a instabilidade teoricamente pressuposta dos grupos de desempenho de papeis a, correlativamente, em que circunstancias esses mecanismos sociais deixam de operar, dando lugar a ineficiencia, confusao e conflito? Como outras questoes que tern historicamente surgido da orientagao geral da analise funcional, elas nao pressupoem que os grupos de desempenho de papeis operam invariavelmente com substancial eficiencia; pois essa teoria de medio alcance nao se preocupa com a generalizagao hist6rica de que urn certo grau de ordem ou de conflito social prevalece na sociedade, mas com 0 problema anaHtico de identificar os mecanismos sociais que produzem maior grau de ordem e sac capa2Jes de evitar grande mimero dos conflitos que surgiriam se esses mecanismos funcionassem.
o problema de teorias de medio alcance exige do soci610go urn engajamento nitidamente diferente daquele exigido pela busca de uma teoria uni.ficada e que abrange tudo. As paginas seguintes levam a admitir que essa procura de urn sistema global de teoria sociol6gica, no qual as observagoes sabre todos os aspectos do comportamento, da organizagao e da mudanga sociais, encontrariam prontamente seu lugar preordenado, tern 0 mesmo desafio estimulante e as mesmas promessas insignificantes daqueles sistemas filos6ficos que procuravam tudo abarcar e que cairam num merecido esquecimento. 0 problema deve ser adequadamente ,coordenado. Alguns soci6logos ainda escrevem como se esperassem, desde logo, urna formulagao da teoria sociol6gica geral bastante ampla para abranger as vastas extensoes dos detalhes precisamente observados do comportamento, organizagao e mudanga sociais, bastante uti! para dirigir a atengao dos pesquisadores para urn fluxo de problemas a serem empiricamente investigados. Acredito que isto seja uma crenga prematura e
apocaliptica. Nao estamos preparados. 0 trabalho preparat6rio ainda nao existe em quantidade suficiente. Urn pouco de senso hist6rico dos contextos intelectuais vanaveis da sociologia, basta para que esses otimistas abandonem suas extravagantes expectativas. Em primeiro lugar, porque certos aspectos do nosso passado hist6rico ainda estao muito pr6ximos. Nao devemos esquecer que a sociologia nasceu e cresceu num periodo espiritual,7 durante 0 qual estavam surgindo de todos as lados sistemas filos6ficos de grande amplitude de englobar tudo. Todo fil6sofo dos seculos XVIII e XIX, digno desse nome, considerava-se na obrigagao de montar seu pr6prio sistema filos6fico; aesses, os mais conhecidos sao Kant, Fichte, Schelling e Hegel. Cada sistema era uma tentativa pessoal para uma conceituac;:ao de.finitiva do universo da materia, da natureza e do homem. Essas tentativas dos fil6sofos para criarem sistemas totais serviram de exemplo para as primeiros soci610gos, e par isso a seculo XIX foi a seculo dos sistemas sociol6gicos. Alguns dos precursores da sociologia, como Comte e Spencer, estavam imbuidos do esprit de systeme, expresso tanto em suas sociologias quanto em suas obras filos6ficas de maior alcance. Outros, como Gumplowicz, Ward e Giddings, procuraram mais tarde prover legitimidade intelectual para esta ainda "nova ciencia de urn assunto muito antigo". Isto obrigava a construir uma estrutura geral e definitiva de pensamento sociol6gico, de preferencia a desenvolver teorias especiais destinadas a guiar a investigac;:ao de problemas sociol6gicos especificos, dentro de uma estrutura provis6ria e evolutiva. Dentro desse contexto, quase todos os pioneiros da sociologia procuraram modelar seus pr6prios sistemas. A multiplicidade de sistemas, cada um pretendendo ser a sociologia genuina, conduziu naturalmente a formac;:ao de escolas, cada qual com a sua congregac;:ao de professares, discipulos e epigonos. A sodologia nao somente apresentou diferenc;:as com outras disciplinas, mas ainda se diferenciou internamente. Essa diferenciac;:ao, porem, nao era em termos de especializac;:ao, como nas ciencias, mas antes, como na filosofia, em termos de sistemas totais, que pretendiam tipicamente ser mutuamente exclusivos e amplamente desiguais. Conforme Bertrand Russell salientou a respeito da filosofia, essa sociologia total nao compreendeu "a vantagem - se a compararmos com as [sociologias] dos construtores de sistemas - de poder tratar de seus problemas urn de cada vez, em vez de ter de inventar de repente uma teoria global de todo a universe [socioI6gico]".8 Outro caminho tern side trilhado par soci610gos que procuraram estabelecer a legitimidade intelectual dessa disciplina: adotaram como prot6tipos, de preferencia sistemas de teoria cientifica, a sistemas de mosofia. Essa orientagao provocou algumas vezes tentativas de criar sistemas totais de sociologia - objetivo esse que se baseia muitas vezes sabre urn au varios equivocos a respeito das ciendas. . 7. Ver 0 trabalho cbissico de John Theodore Merz, A History of European Thought in the NInereenrh Century (Edimburgo e Londres: W'illiam Blackwood, 1904), 4 vols. of Western Philosophy (Nova Iorque: Simon & Schuster, 8). Bertrand Russel, A History 194 ~ , 834.
o primeiro equivoco e a de pensar que as sistemas de pensamento possam desenvolver-se eficazmente, antes que uma grande quantidade de observac;:6es basicas tenha sido acumulada. De acardo com essa opiniao, Einstein poderia ter acompanhado de perto as pegadas de Kepler, sobrepassando cinco seculos de investigac;:ao e estudo sistematico sabre 0 reo sultado das pesquisas, necessarios para preparar 0 terreno. Os sistemas de sociologia que se originaram dessa suposic;:ao tacita, sao muito pareddos com as que foram adotados em medicina pelos "criadores de sistemas" num espac;:o de 150 anos: vejam-se as sistemas de Stahl, de Boissier de Sauvages, de Broussais, de John Brown e de Benjamin Rush. Bern adiantado estava a seculo XIX quando eminentes personalidades da medicina ainda pensavam ser necessaria estabelecer sistemas te6ricos sabre as doenc;:as,muito antes de haverem sido adequadamente estudadas e desen· volvidas as investigac;:6es empiricas antecedentes. 9 Hoje ninguem mais segue esses cursos vulgares na medicina, mas e uma especie de esfarc;:o que ainda surge na sociologia. E ·essa tendencia que levou a bioquimico L. J. Henderson, soci610go nas horas vagas, a observar: «A diferenc;a entre a maio ria dos modos de construir sistemas nas ciencias sociais e os naturn.is e bem visfvel em suas respectivas sistemas de pensamento e classificac;ao nas ciencias cvolu<;oes. Nas ciencias naturais. tanto as teorias como os sjstemas descritivos crescem pela adaptac;ao ao conhecimento e a experiencia crescente dos cientistas. Nas ciencias sociais. os sistemas sac muitas vezes oompletamente formulados pela intelige,ncia de urn s6 homem. Caso os sistemas atraiam a atenc;ao, podem ser entao, muito discutidos, mas e rara a modificac;ao progressiva e -adaptavel como conseqiiencia dos esforc;os conjugados de grande nUmcro de esrudiosos». 10
A segunda concepgao erranea a respeito das ciencias fisicas repousa numa falsa suposic;:ao de contemporaneidade hist6rica, segundo a qual todos os produtos culturais existentes no mesmo momenta hist6rico possuem 0 mesmo grau de maturidade. No entanto, perceber as diferengas serviria para atingir-se' urn senso de propo-rc;:ao. 0 fato de serem a fisica
e a sociologia duas disciplinas ambas identificaveis nos meados do secul0 XX, nao significa que as conquistas de urna, possam ser comparadas as da outra. Na realidade, as cientistas sociais de hoje vivem num tempo em que a fisica atingiu urn campo comparativamente grande e preciso -de teoria e de experimentac;:ao, urn grande conjunto de instrumentos de investigac;:ao e de abundantes subprodutos tecnol6gicos. Olhando em volta de si, muitos soci610gos consideram as conquistas da .fisica como padrao adequado para avaliar as suas pr6prias realizag6es. Querem comparar seus biceps com as dos irmaos mais velhos. Tambem querem ser tornados em considera<;iio. E quando se torna -e·vidente que nao possuem nem a vigorosa compleic;:ao nem as morUferos galpes dos seus irmaos, alguns soci610gos entregam-se ao desespero. Comec;:ama perguntar: sera realmente possivel estabelecer uma ciencia da sociedade, sem instituirmos urn sistema total de sociologia? Mas essa perspectiva ignora 0 fato de que 9. Wilfred Totter, Collected Papers (Oxford University Press, 1941), 150. A hist6ria dos criadores de sistemas e contada em qualquer hist6ria da medicina; ver, par exemplo, FieldIng H. Garrison, An Introduction to the History of Medicine (Filadelfia: Saunders, 1929) e Ralph H . :\lajor, A History of Medicine (Oxford: Blackwell Scientific Publications, 19~4), 2 vols. . 10. Lawrence). Henderson. The Study of Man (Filadelfia: Unive"ity of Pensylvama Press. 1941), 19-20, os grjfos sao nossos; alias, 0 livro todo podeni ser lido com muito provelto pela maiojia dos soci61ogos.
Sociologia -
existem, entre a fisica e a sociologia do sEkulo XX bilh6es de horas/homem de pesquisa ininterrupta, disciplinada 'e cumulativa. Talvez a sociologia ainda nao esteja madura para 0 seu Einstein porque ainda nao encontrou o seu Kepler - sem falar dos seus Newton, Laplace, Gibbs, Maxwell ou Planck. Em terceiro lugar, ()S soci610gos muitas vezes nao compreendem 0 estado atual da teoria nas ciencias fisicas. 0 erro e ir6nico, pois os fisicos admitem que ainda nao conseguiram erigir um sistema completo de tearia, 16 poucos sac os que acreditam ser possivel faze-Io em futuro pr6ximo. o que caracteriza a fisica e uma serie de teorias especiais de maior ou menor alcance, conjugadas com a esperanQa historicamente fundada de que elas continuem a ser aglomeradas em familias de teoria. Disse urn observador: "embora muitos de n6s aguardemos, na rea1idade, uma futura teoria que tudo abranja e que unifica os varios postulados da fisica, nao esperamos por isso, para continuarmos com 0 importante trabalho da ciencia".l1 Mais recentemente, 0 fisico te6rico Richard Feynmann declarou sem rodeios que "hoje as nossas teorias de fisica, as leis da fisica constituem uma profusao de peQas 16 partes diferentes que nao se ajustam muito bem".12 Mas a observaQao, talvez, mais significativa partiu do mais entendido, dos te6ricos, aquele homem que dedicou os ultimos anos de sua vida a pesquisa incansavel e mal sucedida de "uma base te6rica para t6das essas diversas disciplinas, consistindo de um minima de conceitos e relaQ6es fundamentais, a partir dos quais todos os conceitos 16 relaQ6es das disciplinas particulares poderiam ser derivados de um processo l6gico". Apesar do seu profundo 16 somario empenho nesse problema, Einstein observou:
c
~A maior parte cia pesquisa na fisica dedicada ao desenvolvimento dos sellS varlOS ramos, te6ricd de campos de experiencia mais au menos em cada urn dos quais 0 objeto e 0 conhecimento reitritos e em cada urn dos quais as leis e conceitos parmanecem. tic estreitamente quanta a experimenta~io». 13 passivel. ligados
Essas observaQ6es poderiam ser ponderadas por aqueles soci610gos que aguardam um perfeito sistema geral de teoria sociol6gica em nossos dias - ou logo depois. Se a ciencia da fisica, com seus seculos de generalizaQ6es te6ricas cada vez mais extensas, nao conseguiu estabelecer urn sistema te6rico que englobe tudo, entao, a fortiori, a ciencia da sociologia que mal comeQou a acumular generalizaQ6es te6ricas de escopo modesto, faria bem em moderar as suas aspiraQ6es para um tal sistema.
A convicQao, entre alguns soci610gos, de que devemos, desde logo, estabelecer um grande sistema te6rico, nao resulta somente de uma comparaQao err6nea com as ciencias fisicas, como tambem provem da posi<;ao ambigua da sociologia na sociedade contemporfmea. A duvida em saber se 11. Henry Margenau, «The basis of theory in physics», manuscrito inedito, 1949, 5·6, 12. Richard Feynmann, The Character of Pbysical Law (Londres: Cox & Wyman Ltd" 1%5), 30. 13. Albert Einsten, «The fondamentals of theoretical physics», em L. Hamalian e E, L. Volpe, Great Essays by Nobel Prize Winners (Nova Iorque: Noonday Press, 1960), 219-30 e esp, 220.
Teoria e Estrutura
o conhecimento acumulado da sociologia e adequado para satisfazer as exigencias que the estao sendo feitas em escala crescente - pelos planejadores da politica, pelos reform adores 16 reacionarios, pelos homens de neg6cios e altos funcionarios governamentais, pelos reitores 16 estudantes das universidades - provoca uma convicQao demasiado zelosa 16 de.fensiva por parte de alguns soci610gos, de que nec,essitam, de qualquer maneira, estar a altura dessas exigencias por mais prematuras 16 extravagantes que sejam. Essa convicQao pressup6e, erradamente, que uma ciencia deve estar em condiQ6es de responder a t6das as perguntas, inteligentes ou estupidas que the sao feitas. E uma convicQao que implicitamente se baseia na suposiQao sacrilega e masoquista de que 0 cientista deva ser onisciente e onicompetente - 16 que admitir que nao se possui conhecimento equivale a admitir total ignorancia. Por isso acontece que os expoentes de uma disciplina "adolescente" fazem apelos extravagantes a um sistema total da teoria, que compreende t6da a extensao dos problemas relacionados com essa disciplina. Foi a essa especie de atitude que Whitehead se referiu na epigrafe deste livro: "E caracteristico de uma ciencia, em seus primeir?s estagios ... ser ao mesmo tempo ambiciosamente profunda em seus obJetivos 16 trivial no manejo dos detalhes". Como os soci610gos que, inadvertidamente se comparam aos cientistas fisicos contemporaneos, por estarem ambos vivendo 0 mesmo momento hist6rico, 0 publico em geral 16 os lideres que 0 orientam, muitas vezes se enganam ao fazer uma apreciaQao definitiva da ciencia social baseada na sua capacidade em resolver os problemas urgentes da sociedade hodierna. 0 errado masoquismo do cientista social e 0 inconsciente sadismo do publico, provem da incapacidade de lembrar-se de que a ciencia social, como t6das as ciencias, esta em constante desenvolvimento 16 que nao existe qualquer dispositivo providencial capaz de adc:fua-la, a qualquer momento, a sOluQao da extensa serie de problemas que a humanidade enfrenta. Da mesma forma, vistos de uma perspectiva hist6rica, 0 status e as promessas da medicina do seculo XVII, nao poderiam ser julgados em funQao da sua capacidade de descobrir, naquele momento, a cura ou a simples prevenQao das molestias cardiacas. Se 0 problema houvesse side amplamente focalizado - e considere-se a crescente porcentagem de mortes devido a trombose coronaria! - sua real importancia teria obscurecido a questi.io inteiramente independente de como os conhecimentos medicos de 1650 (ou 1850 ou 1950) eram adequados para resolver uma grande serie de outrDs problemas de sauda. Contudo, e precisamente essa falta de l6gica que se encontra por detras de muitas das exigencias feitas as ciencias sociais. Porque a guerra, a exploraQao do homem pelo homem, a pobreza, a segregaQao racial, a inseguranQa psicol6gica 16 outros males afligem as sociedades modernas, exige-se que a ciencia social justifique sua pr6pria existencia fornecendo soluQ6es para todos esses problemas. Todavia, os cientistas sociais talvez nao estejam mais equipados para soluciona-los do que estavam os medicos, tais como Harvey e sydenham, para identificar, estudar e curar a trombose coronaria em 1655.
De qualquer maneira, como a Hist6ria 0- comprova, a inadequagao da medicina em tratar desse problema particular, nao significou de modo algum, que the faltasse capacidade de progresso. Contudo, se t6da a gente ap6ia sempre as mesmas ideias, que podem fazer os jovens para procurar novos rumos? Se insisto em apontar 0 hiato existente entre os problemas praticos prescritos pelo soci6logo e 0 estado dos seus conhecimentos e habilidades acumuladas, isto nao significa evidentemente, que 0 soci6logo deva deixar de desenvolver cada vez mais uma teoria "compreensiva" ['que abrange todos os caracteres compreendidos numa ideia geral'] ou nao deva empenhar-se em pesquisas diretamente ligadas aos problemas praticos mais urgentes. Acima de tudo, nao significa que os soci6logos devam deliberaramente procurar os problemas pragmaticamente triviais. Diferentes se· tores do espetro da pesquisa e da teoria basicas possuem dtferentes probabilidades de ser apropriados a problemas praticos particulares; tem potenciais diversos de relevancia. 14 E importante, porem, restabelecer urn senso hist6rico de proporgao. A urgencia ou a imensidade de um problema social pratico nao e suficiente para assegurar sua imediata solugao. 15 Em qualquer momento determinado, os cientistas estao pr6ximos da solugao de alguns problemas e afastados de outros. Poderiamos dizer que a necessidade e sbmente a mae da invengao; 0 pai e 0- conheci· mento social acumulado. A menos que os dois sejam conjugados, a necessidade continua esteril. Podera, naturalmente, conceber em algum tempo futuro, desde que encontre um companheiro apropriado. Mas 0c6njuge necessita de tempo (e de amparo) para poder atingir a estatura e 0 vigor necessarios para satisfazer as exigencias que the serao feitas. A orientagao deste livro, quanto as Telagoes entre a sociologia corrente e os problemas praticos da sociedade, e muito igual a sua orientagao quanto as relagoes entre a sociologia e a teoria sociol6gica geral. It uma orientagao desenvolvimentista, mais do que uma que confie nas subitas mutagoes de urn soci610go, que possam de repente trazer solug6es aos grandes problemas sociais ou a uma simples teoria que abrange tudo. Embora esta orientagao nao tenha pretensoes de realizar milagres impressionantes, oferece uma avaliagao razoavelmente realistica das condigoes correntes da sociologia e da forma como realmente se desenvolvem.
SISTEMAS TOTAlS DE TEORIA E TEORIAS DE MEDIO ALCANCE Considerando-se tudo isso, parece razoavel supor que a sociologia progredira na medida em que sua maior (mas nao exclusiva) preocupagao 14. Esse conceito acha-se desenvolvido par R. K. Merton em «Basic research and potentials of relevance». American Behavioral Scientist, maio 1963, VI, 86-90, baseado em minha discussiio antenor, <
f6r a de desenvolver teorias de medio alcance, e que ficara atrasada 5e a sua atengao primordial se concentrar no desenvolvimento de sistemas sociol6gicos totais. E por isso que em seu discurso de abertura do ano escolar na "London School Economics", T. H. Marshall fez urn apelo favoravel ao estabelecimento de "degraus socio16gicos de medio alcance". ,,: Hoje, nos sa tarefa principal consiste em desenvolver teorias especiais apli· caveis a objetivos conceptuais limitados - teorias, por exemplo, dos desvios de comportamento, das conseqi.iencias inesperadas de uma ag110 d~rigida a certo prop6sito, da percepgao social, dos grupos de referencia, do contr6le social, da interdependencia das instituigoes sociais - mais do que procurar imediatamente a estrutura conceptual total, pr6pria a produzir estas e outras teorias de medio alcance. A teoria sociol6gica, se pre ten de progredir de modo significativo, deve prosseguir nestes pIanos interconexos, 1) desenvolvendo teorias especiais das quais se possam derivar hip6teses que permitam ser investigadas empiricamente e, 2) evolvendo (e nao revelando repentinamente) um esquema conceptual progressivamente mais geral, adequado a consolidar grupos de teorias especiais. Concentrar-se ·exclusivamente em teorias especiais traz-nos 0 risco de ficarmos envolvidos em hip6teses especificas que explicam aspectos limitados do comportamento, organizagoes e mudangas sociais, mas que peT' manecem mutuamente inconsistentes. Concentrar-se inteiramente num grande esquema conceptual importante para fazer derivar dele t6das as teorias subsidiarias, corresponde a correr 0 risco de produzir equivalentes socio16gicos modernos (do seculo XX) dos amplos sistemas filos6ficos do passado, com t6das as suas variadas sugestoes, seu esplendor arquitet6nico e sua esterilidade cientifica. o teorista sociol6gico que estiver exclusivamente empenhado na exploragao de um sistema total com as suas extremas abstragoes, arrisca-se a tornar sua mente tao desguarnecida e desconfortavel quanto os interiores decorados em estilo "moderno" ou "funcional". A rota para os esquemas grandes e eficazes de sociologia s6 ficar~. obstruida _ como aconteceu nos albores dessa ciencia - se cada soclOlogo carismatico tentar desenvolver seu pr6prio sistema geral da teoria. A persistencia nessa tendencia, s6 pode conduzir a "balcanizagao" da so~oIO. gia, com cada urn dos seus principados governado por um sistema te6rico pr6prio. Embora esse processo haja assinalado peribdicamente 0 desenvolvolvimento de outras ciencias - especialmente da quimica, da geologIa e da medicina - ele nao precisa ser reproduzido na sociologia, se dermos credito a hist6ria da ciencia. N6s, soci6logos, ao contrario, podemos olhar para uma teoria sociol6gica cada vez mais ampla, que em vez de pr~v~r da cabega de urn homem, consolide gradualmente varias teorias de me~lO alcance, ate que essas se torn-em casos especiais dentro de formulagoes mais gerais.
N
16. Conferencia inaugural pronunciad:l T. H. Marshall, Sociology at rhe Crossroads
em 21 de fevereiro de 1946, e que (Londres: Heinemann, 1963), 3,24.
se
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em:
A evolugao da teoria sociol6gica sugere que se deve dar maior enfase a essa orientagao. Notemos como sac poucas, e muito dispersas, as hip6teses sociol6gicas especfficas derivadas de urn esquema conceptual principal. As propostas para uma teoria geral que tudo abrange, acham-se tao a frente das teorias especiais confirmadas que continuam como programas nao realizados, em vez de serem consolidar;6es de teorias que, a principio, pareciam discretas. Naturalmente, conforme indicaram Talcott Parsons e Pitirim Sorokin (este em sua obra Sociological Theories ot Today), houve recentemente urn progresso significativo. A convergencia gradual de correntes de teoria na sociologia, na psicologia social e na antropologia registra amplos ganhos te6ricos e promete outros ainda maiores. 17 Contudo, grande parte do que hoje e descrito como teoria sociol6gica consiste de orientar;6es gerais para conseguir dados, sugerindo tipos de varidveis que as teorias devem de qualquer maneira levar em cont(J;, mais do que exposir;6es claramente tormuladas e veriticdveis de relar;6es entre varidveis especiticas.
Temos muitos conceitos, mas poucas teorias confirmadas; muitos pont os de vista, mas poucos teoremas; muitas "abordagens", mas poucas chegadas. Talvez fassem salutares algumas alteragoes na enfase. Consciente ou inconscientemente, os homens distribuem seus escassos recursos na produgao de teorias sociol6gicas, da mesma forma que 0 fazem nas suas ocupagoes praticas como, por exemplo, a produgao de acess6rios de sondagem, e essa aplicagao dos recurs os disponiveis reflete seus pressupostos subjacentes. Nossa discussao da teoria de medio alcance na sociologia destina-se a par em relevo a politica que todos os teoristas sociol6gicos tern de escolher. A que deveremos dedicar a maior porgao dos nossos recursos e energias: a pesquisa de teorias confirmadas de medio alcance ou a busca de sistemas conceptuais inclui que tudo abarcam? Creio _ e as crengas sao, sabidamente sujeitas a erro - que as teorias de medio alcance ainda encerram a maior promessa, contanto que a sua procura esteja associada a preocupagao generalizada de consolidar as teorias es17. Dou muita importancia as observa~6es por Takott Parsons em seu primeiro diseur,o como presidente cia American Sociological Society, pOlleD ap6s haver eu formulado esse (ooceito. Por exemplo: «No Hm deste caminho de crescente frequencia e especificidade das ilhas de conhecimento te6rico. estende-se a posi~ao ideal. cientlficamente falanclo, em que a maioria das hlp6teses realmente funcionais da pesquisa empiric3 sac diretamente derivadas de urn sistema geral de teoria. Essa posi~ao somente foi atingida oa fisica, entre todas as ciencias. Mas oao se deve conduir que, por distantes que estejamos desse objetivo, os passos nessa direc;ao sejam futeis. Muito ao contra.ria, qualquer passe real nessa direc;ao constitui urn avanc;o. Somente nesse ponto final e que as ilhas se Eundem numa massa continental de terra. minimo que se pade dizer. portanto, e que a tea ria geral pode fornecer uffia estrutura. amplamente orientadora (sic) ... Pede tambem servir para codificar, inter-relacionar e tarnar disponive! vasta quantidade de conhecimento empirico cxistente. Tambem serve para chamar a atenc;a.o sobre ~s lacunas do nosso conhecimento e para proporcionar criterios de exame das teorias e das generaliza~6es empiricas. Fin.:t1mente, mesmo que essas derivac;6es naa possarn ser feitas sistematicamente (sic) ela e indispensavel para a clarificadio sistematica dos problemas e para a formuladio ~cunda das hip6t~ses». (Os grifos siio nossoso). (Parsons. «The prospects of sociological theory». mertc2n SOCIOlogical RevIew, feverelfo 1950. 15. 3-16, esp. 7), .E signiticativo que urn teorista geral, ~omh: ~arsans, rec~~hec;a 1) que de fata a teoria geral socia16gica poucas vezes permite a derivac;ao e l'po~eses esp~c~flcas; 2) que, em comparac;ao com terrenos como 0 da fisica, tais derivac;6es para ~ ~alOfla das hlpoteses sac urn objetivo remoto; 3) que a tea ria geral fornece somente uma orien· ea~ao'f~efal e 4) .que serve como base para a codificac;ao de generalizar;oes empiricas e de tcorias t~~:i~t tcas'l I2epo~s que iss,? e admitido, os soci61ogos que estao empenhados em desenvolver urna de h .gera nJo d1fere~ mUlto, em principio, daqueles que veem as melhores promessas da sociologia 0Je no esenvolvtmento de teorias de medio alcance e na sua peri6dica consolidac;ao.
o
peCIa1Snum conjunto mais geral de conceitos e de proposigoes mutuamente consistentes. Mesmo assim, devemos adotar 0 ponto de vista provis6rio dos nossos irmaos mais velhos e do poeta Tennyson: "Nossos pequenos sistemas tern seu .dia; Tern seu dia e deixam de existir".
A partir do momenta em que a politica de focalizar as teorias sociol6gicas de medio alcance foi preconizada em obras impressa-5, as respostas dos soci610gos, compreensivelmente, passaram a ser polarizadas. De modo geral, parece que essas reagoes foram amplamente influenciadas pelo padrao de trabalho proprio de cada urn. A maioria dos soci6logos que estiveram empenhados em pesquisas empiricas orientadas tebricamente, deu assentimento a uma politica que meramente formulava 0 que fora anteriormente uma filoso.fia de trabalho. Ao contrario, a maioria da.queles que adotaram 0 estudo humanistico da hist6ria do pensamento social ou que estiveram tentando desenvolver uma teoria sociol6gica total, passou desde logo a descrever essa politica como urn abandono de altas e adequad as aspiragoes. A terceira reagao e intermediaria: reconhece que a enfase dada a teoria de medio alcance nao significa que se deva dar atengao exclusiva a esta especie de teorizagao. Ao contrario, considera que 0 desenvolvimento de uma teoria mais ampla sera conseguido por meio de consolidagoes das teorias de medio alcance e nao emergira, de repente, do trabalho em grande escala dos te6ricos individuais.
Como muitas outras controversias na cIencia, essa disputa a respeito da distribuigao dos recursos intelectuais entre diferentes especies de trabalho sociol6gico, envolve conflitos sociais e nao apenas criticas intelectuais; 18 ou seja, a disputa e menos urn caso de contradigoes entre ideias sociol6gicas substantivas do que de definigoes conflitantes a respeito do papel que se jUlga possa ser mais satisfatbriamente desempenhado pelo soci6logo neste momento. Essa controversia segue 0 caminho classico e conhecido do conflito social. Aos ataques sucedem os contra-ataques, provocando a progressiva alienagao das partes em conflito. Uma vez que 0 conflito e publico, passa a ser, no devido tempo, uma batalha de status mais do que uma pesquisa da verdade. As atitudes tonam-se pola.rizadas e cada grupo de soci6logos comega entao a corresponder muito bem as versoes ester eotipadas do que 0 outro esta dizendo. Os teoristas do alcance medio sac estereotipados como simples contadores de cabegas ou meros pesquisadores de fatos ou como soci610gos apenas descritivos. E os te6ricos que procuram a teoria geral sac estereotipados como especuladores invete18. As paginas styles of sociological
seguintes work».
reproduzem Transactions,
0
pensamento de Merton Fourth World Congress
expresso em «Social conflict in 1961.3. 21·46. of Sociology.
Sociologia -
rados, desprezadores sistematicos das provas empfricas irrefutaveis, au como pessoas irreversivelmente comprometidas com doutrinas formuladas de tal maneira que nao podem ser testadas. Tais cliches nao estao completamente afastados da realidade; como a maioria dos estere6tipos, sac exageragoes inflexfveis de tendencias au atributoSi reais. Mas, a medida que se desenvolve 0 conflito social, transformam-se em estere6tipos autoconfirmat6rios, enquanto que os soci6logos se recusam a experiencias que poderiam obriga-Ios a modificar suas ideias. Soci610gos de cada campo poem-se a observar e selecionar ~om muito cuidado 0 que se passa do outro lado. Cada campo ve no trabalho do outro antes de tudo 0 que 0 estere6tipo adverso alertou-o aver; toma entao imediatamente uma observagao ocasional do adversario por uma fi1osofia permanente, uma enfase qualquer como urn engajamento total. No decorrer desse processo, cada grupo de soci610gos se toma cada vez menos motivado a estudar 0 trabalho do outro, uma vez que 0 considera falso. Esquadrinham os trabalhos dos outros apenas 0 suficiente para encontrar munigao para novos tiroteios. o processo de alienagao recfproca e de estereotipagem e provavelmente reforgado pelo grande aumento de estudos sociol6gicos publicados. Da mesma forma que muitos outros cientistas e eruditos, os soci610gos ja nao conseguem manter-se em dia com 0 que esta sendo publicado nesse terreno. Sao obrigados a selecionar cada vez mais as suas leituras. E essa crescente seletividade facilmente se presta a levar os que sac originalmente hostis a determinada especie de trabalho sociol6gico, a desistirem do estudo das publicagOeS que justamente poderiam induzi-Ios a abandonar 0 seu estere6tipo. Essas condig6es tendem a encorajar a polarizagao das perspectivas. Orientag6es sociol6gicas que nao sac substancialmente contradit6rias sao consideradas' como se 0 f6ssem. De ac6rdo com essa posigao de "tudo ou nada", a pesquisa sociol6gica deve ser estatfstica ou hist6rica; ou se estuda exclusivamente as grandes quest6es e problemas da epoca ou essas materias refratarias devem ser completamente evitadas porque nao sac redutfveis it investigagao cientffica; e assim por diante. A evolugao do conflito social poderia ser interrompida no meio do caminho e transformada em critica intelectual, se se pusesse fim ao desprezo reciproco que muitas vezes caracteriza essas polemicas. Mas as batalhas entre soci610gos geralmente, nao se dao no contexte social que seria adequado para ,evitar que essas trocas de sentimentos hostis se tornassem a regra. Esse contexte envolve uma diferenciagao de status entre as partes, reconhecida por todos, pelo menos no que se refere ao problema espec£fico em estudo. Quando essa diferenciagao de status esta presente - como no caso do advogado e seu cliente ou do psiquiatra e seu paciente - 0 respeito normalmente atribufdo ao possuidor do status de maior prestfgio impede a manifestagao recfproca dos sentimen. tos. As controversias cientfficas, ao contrario, ocorrem tipicamente dentro de uma sociedade de iguais (por mais que 0 status dos interessados difira em outros assuntos), e, alem disso, acontecem em publico, sujei_
Teom e Estrutura
tas as observagoes dos colegas. Entao a ret6rica e enfrentada pela ret6rica, 0 desprezo pelo desprezo, e os problemas intelectuais ficam subordinados a luta pelo status. Outrossim, nas controversias polarizadas ha pouco lugar para os terceiros nao compr,ometidos, que poderiam converter 0 conflito social em crftica intelectual. E oerto que alguns soci610gos nunca adotarao a posigao de "tudo ou nada" que e esperada no conflito social. Mas, tipica· mente, esses elementos imparciais, que desejariam nao combater, ficarn presos no fogo cruzado entre os campos contrarios. Eles sac etiquetados como "simples ecleticos" (ou amadores), tornando assim desnecessario para os dois campos examinarem 0 que essa terceira posigao assevera e qual 0 valor dos seus argumentos; ou sac chamados "renegados", por terem abandonado as verdades doutrinais; ou talvez, ainda pior, sac considerados hornens de "opini6es medias" ou simples curiosos que se sentam s6bre a cerca para observar a briga e que, por timidez ou comodismo, fogem do conflito fundamental entre 0 pure bem e 0 pure mal sociol6gicos. Mas as polemicas nas ciencias tem suas fungoes e disfungoos. No curso dio conflito social, a procura da verdade e desviada do seu rumo e pressionada a servir para humilhar 0 adversario. Contudo, quando 0 conflito e regulado por uma comunidade de pares, ate mesmo as polemicas, - com as suas distorg6es que gastam as energias dos' envolvidos em pseudobatalhas intelectuais - podem ajudar a corrigir os desequilfbrios acumulados na ciencia. Nao ha meio facil para determinar a grau 6timo de utilizagao dos recursos no campo da ciencia, em parte devido ao desac6rdo ,fundamental entre os criterios do "6timo".19 0 conflito social tende a acentuar-se na sociologia t6das as vezes que determinada linha de investigagao - digamos, de pequenos grupos ou de sociedades globais - ou determinado conjunto de ideias - por exemplo, a analise funcional do marxismo - ou determinado modo de pesquisa - digarnos, sociedade em perspectiva ou sociologia hist6rica - monopolizou a atengao e as energias de urn numero cada vez maior de soci610gos. Essa linha de desenvolvimento pode ter-se popularizado entre os soci610gos, por ter demonstrado ser eficaz no tratamento de certos problemas intelectuais ou sociais, ou por ser ideolbgicamente congenial. Os assuntos e os tipos de trabalho pouco populares sac deixados a urn menor numero de recrutas de alto calibre e, por 'conseguir menores resultados, essa especie de trabalho se toma menos atraente. Se nao existissem esses conflitos, 0 reino das ortodoxias te6ricas e dos desequilfbrios na distribuigao do trabalho sociol6gico seria ainda mais acentuado do que hoje. Por isso, as clamores de que problemas desprezados, metodos e orientag6es te6ricas merecem atengao mais ajustada - mesmo quando tais reclamag6es Gao acompanhadas de ataques extravagantes it linha de desenvolvimento prevalente - podem ajuda,r a diversificar 0 tra.balho sociol6gico, refreando a tendencia a concentrar-se numa estreita variagao de problemas. Maior 19. tambem flections
E instrutivo notar que 0 fisico e estudioso de cicncia politica, Alvin M. Weinberg, d~djcou.se a esse problema. Ver a capitulo III de «The Choices of Big Science», em seu !lvra Re· on Big Science (Cambridge, Mass.: The M. I. T. Press, 1967).
Sociologia -
heterodoxia, por sua vez, aumenta as perspectivas de empreendimentos cientificamente fecundos, ate 0 momenta em que estes se transformam tambem em novas ortodoxias.
Como temos assinalado anteriormente, a insistencia na teoria de medio alcance encontra maior repercussao entre os soci610gos que estao, cles pr6prios, empenhados na pesquisa empirica tebricamente orientada. E por isso que a politica de teorias sociol6gicas de medio alcance hoje se firmou, ao passe que as vers6es mais antigas - que examinaremos a seguir nao conseguiram firmar-se. No senti do precise de uma frase familiar, "0 tempo nao estava maduro"; isto e, ate as duas ou tres tlltimas decadas, salvo conspicuas exceQOes,os soci610gos tendiam a dedicar-se muito mais, seja a procura de uma teoria unificada que tudo abrangesse, seja a urn trabalho empirico descritivo de pouca orientaQao te6rica global. Em consequencia, os apelos a favor de uma politica de teoria de medio alcance passavam geralmente despercebidos. Todavia, como temos registrado em outro trabalho,20 essa politica nao e nova nem estranha; possui raizes hist6ricas bem profundas. Mais do que ninguem antes dele, Bacon acentuou a importancia primordial dos "axiomas medios" na cii'mcia: «Nao se cleve contlldo. permitir que 0 conhecimento salte e voe, a partir dos detalhes, para axiomas remotos e generalidades do tipo mais extremo (como os charnados 'primeiros principios' das .artes e das coisas) e aii se estabelecendo como verdade que nao pode ser posta em duvida. contln~c a provJ.r e a estrutllrar os ~xi0l"I1:as medios mediante a referencia aos primeiros; 0 que tern sido 0 costume ate agora; 0 conheCimento seodo nao somente encaminhado dessa maneira po~ urn impulso _natural, mas tambcm pelo uso de demonstra~ao silogistica treinada e habituada a IS50. Mas entao, e somente entao, poderemos esperar muito das ciencias. quando numa justa escala a5cendente, e por passos sucessivos nao interrompjdos ou quebr,ados, pudermos OOS eleva.r ~os detalhes aos. menores. axiomas; e a seguir aos medios axiomas, urn acima do outro e, rln~ [mente, ao. Aax~oma mals geral. Porque os axiomas rnais baixos diferem apenas ligejrament~ da mera expenenCia. ~() passo que os maic: altos e mais gerais (que agora temos) sac aootadores e abstratos e sem ~oLJdez. Mas os medios sac os axiomas verdadeiros. s6lidos e vivos. dos quais dependem os ne~6clOs e os destinos do homem; e acima deles, no final de todos, aqueJes que sao real~eJ!te os_ malS gerais; qu.er? dlzer aqueles que nao sac abstratos, e dos quais as axiomas inter~ medlanos sao realmente ltmlta~6es». 21
«E bcz:n disse Platao, em seu Theaetetus, 'que os particulares sao infinitos. e as altas ge~e.raltdade~ nao dao orienta~ao suf.iciente'; e que a esscncia de teda ciencia, que diferencia 0 2,rtlflce do tnexp:.rto, esta nas proposi~6es medias, as quais em cacla conhecimento particular sac taadas cia tradq;ao e cia experiencia», 22
Da mesma maneira como Ba.con cita Platao como seu predecessor . tambem - John Stuart Mill e George Cornewall Lewis indicam Bacon' assun como sendo 0 deles. Embora diferindo de Bacon quanto ao modo de conexao 16gica entre "as leis mais gerais" e os "principios medios", Mill faz eco as suas palavras nos seguintes termos: ;0.
Merton, «The role-seb>, British Journal of Sociology, junho de 1957, 108. Bacon, NovUln Organum, Livro I, Aforismo CIV; ver tambem Livro I, Aforismas LXVI e .' Herbert ButterfIeld assll1ala que Bacon, «de modo curioso e significativo .,. parece ter nev'dto a eGstrutura que a ciencia iria tomar no futuro». The Origins of Modern Science, 1300-1800 on ,res: . Bell & Sons, 1949), 91.92. (Lo FrWan.cIs Bacon. The Advancement of Learni'ng. em Works, compilados por Basil Montague II res. rliJam Pickering, 1825), II, 177; ver tambem 181.
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«Bacon obscrvou jll.dicio~amente (1'.1~ :1". axi"Hnata media d~ tAd1 ci:"r;:t. constituem. p:i~cipaln;e~te eu valor. As generalizat;5es mals balxas, ?-te ser~m expl~c:das e reS?lVldas. ':I0s pnnClplOS medlos ~/ ue sao a conseqi.iencia. tern apenas a l,mperfclta exatl;lao das Jel~ emP:flc~s; ~o p.a~so que a mai~ria das leis gerais sao gerais demais e Incluem urn n.um,er,G d~ Clfcunstanclas ;nsuflc~en~e pa!a dae uma indica<;:ao satisfat6ria do que acon!ece, em ca;os IndivIduals, e~ que as ClCcunstanclas sac c:, ,?ossl\,cl. portanto, d.:1X:l.r de concordar (o.m a Quase sempre imen"amente numerosa~. ,~ao importancia que Bacon atribui aos pr~nclplOs medlO~, para ~ed~s as C1en~las, Contu~o, consider? radicalmente erracla sua doutrina relatlva ao modo ~e se, atlOgu essas axJomata medJa." JIsto c, o apego inveterado de Bacon a indudio total, que nao delxava nenhum lugar para a dedu~aoJ», 23
Escrevendo quase na mesma epoca que Mill mas, como a hist6ria demonstrou, com menor imp acto sabre os seus contemporaneos, Lewis inspira-se em Bacon para estabelecer urn exemplo de "teorias limitadas" n81ciencia politica._ Acrescenta ele a ideia de que grande mlmero de teoremas wilidos pode ser desenvolvido, restringindo-se a observaQao a determinadas classes de comunidades: «, " temos a possibilidade de enunciar teor.ias limitadas" de prevalecentes de causa~ao, que podem naOA ser verdadelras~ estendidas a teda a humanidade, mas que tem uma presun~ao
predizer ten~encias gerais e leis em sua malOr parte, se .forero de verdade se forem conflnadas
a certas na,6es... .., d d . . . , e possivel alargar a regiao da politIca especu~atIva, Co~sls~entemente, com a ver. a, eua expressao dos fatos, estreitando-se 0 campo da observa~ao, e restCln~pndo-nos a uma cl.asse lImltada de comunidades, Adotando esse metodo, podemos aumentar 0 numero dos verdadel~os teo~emas p~liticos, que podem ser extraidos dos fatos, Ae. ao Aroesmo temf'o, dar~}hes mals plenitude. vid;t e substfincia. Em vez de serem _ :'.pei"laS sc_cas e oeas, generaltdades, eles se parecem com as Media Axiomata de Bacon, que 5.10 expre5soes. genera!Jzad~s de fatos, J?as. sem, embargo, estao suficientemente pr6xirnas cia pnitica para serVIrern de gUJas 005 neg6clOs da vIda>}. 24
Embora essas anti gas formulaQoes difiram em pormenores - 0 contraste entre Bacon e Mill e particularmente conspicuo t6das elas acentua.m a importancia estrategica de uma serie graduada de teorias intermediarias emplricamente confirmadas. Depois daquele periodo primitivo da sociologia, formulaQoes similares embora nao identicas foram pr.opostas por Karl Mannheim, em seu conceito de principia media; por Adolf Lowe, em sua tese de que os "principios sociol6gicos medios" ligam 0 processo econamico ao social; e por Morris Ginsberg, em seu exame do tratamento dado por Mill aos principios medios na ciencia social. 25 No momento, portanto, ha. bast:antes pro vas indicativas de que as teorias de medio alcance na soclOlogla foram propugnadas por muitos dos nossOS av6s intelectuais. Mas. para modificar 0 credo dos prefiguracionistas, se a filosofia de trabalho mcorporada nessa orientaQao nao far completamente nova, e pelo menos verdadeira. 23. John Stuart Mill, A Sysrem.of Logic (L,ondres: ,Longr;'ans,. Green & Co·." 1865\ 4~tt ~~l 0 mesmo concelto de pnoclplOs medlOs as leiS de rnuda,n~a sOd'3 J '.' 'n aplica explicitamente 24. George Cornewall Lewis, A Treadse on the Methods of Observar,on an easonmg 1 Politics, op. cit, II, 112, 127; ver tambem 200, 204-.5. .' sua 25. Essas formula,6es tem sido recentemente ~~smaladas por Se~mour Martin LIPscit e; I-I. Introdu~ao a edi~ao norte-americana de Class, CltlzenshJp and SOCial Development, e '. Marshall (Nova Iorque: Doubleday, 1964). XVI. A~ cita,6es sao extraidas de. Karl Mannh~lmf Mensch und Gesellschafr in Zeiralrer des Umbaus (Lelden. 1935) e Man and Soclery In an Agt. °d Reconsrrucrion (Nova Iorque: Harcourt, Brace & Co.,. 1950) 173-?0; Adolf Lowe, Econo011cS a~r_ 193?) e MOrrIS ~,nsberg, SOCiology (Londre,. Thornton aB~tliin Sociology, (Londres: Allen & Unwin, worth Ltd." 1934). Justamente quando cstc Ilvro esta a .ca,m.lnho do pleIn. ch:J.md-mcu~a ~~ri~ica urn relato pormenorizado desses mesmos antecedentes hlstoncos, acompanhad?s e. H .. minuciosa, por C. A. O. van Nieuwenhuijze, Intelligible Fields in rhe SOCIal SCIences ( ala~ Mouton & Co., 1967), cap. I: «The Quest for the Ma~ageable ~ooal Umt Is There de Middle Range?)}. ::e urn trabalho que levanta numerosas e serJas questoes a respelto das teonas a medio alcance, tedas clas, em minha opiniao, muito esclarecedoras e tambem merecedo.ras de .ur:r: res posta igualmente seria, Mas como este livro ja esta oa linha de produc;ao, es.ta ffilOha .. OpJnlao ainda nao po de ser confirmada pela minuciosa analise que 0 trabalho de NleuwenhulJze amplamente merece.
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problema de saber se as bem c'onhecidas formulagoes de Bacon foram ou nao adotadas pelos soci610gos e simples, pois, nao havia soci6logos, na epoca, para examinar a pertinencia das suas concepgoes. E tambem pouco pro vavel que as concepgoes de Mill e de Lewis, cerca de 240 anos mais ta,rde, produzissem qualquer ressonancia entre cientistas sociais, pois essa disciplina estava apenas em seu inicio. Mas por que as formulagoes de Mannheim, Lowe e Ginsberg, realizadas na decada de 1930, tiveram escassa repercussao no periodo imediatamente posterior? Sbmente ap6s as formulago.es semelhantes feitas por Marshall e por mim nos fins da decada de 1940, foi que encontramos extensas discussoes e aplicagoes dessa orientagao na teoria socio16gica. Embora eu nao haja feito um trabalho arduo e minucioso necessario a investigar a questao, suponho, que a grande repercussao da teoria de medio alcance nas ultimas decadas result a, em parte do aparecimento de grande numero de investigadores socio16gicos, trabalhando em pesquisas que saD ao mesmo tempo empiricamente baseadas e tebricamente relevantes. Uma simples amostra de adesao a politica da teoria de medio alcance podera explicar as razoes da repercussao. Revisando 0 progresso da sociologia nas ultimas quatro decadas, assim conclui Frank Hankins: ~... as teorias de media alcance parecem provavelmente. ter maior significanc.ia explicativa [que a3 teorias sociol6gicas totais]. Neste campo muito trabalho tern sido feito sobre as cornunicac;6es de massa, a estratificacao de classes, os pequenos agrupamentos de varios tipos, e outros importantes aspectos da totalidade social. [E a seguir, na moda polarizante do 'tudo ou nada', Hankins conclui]: ')1 possivel que venhamos a constatar que somente esta teoria possui valor realistico e pdtico'>}. '26
Essa ressonancia da teoria de media alcance da-se entre soci6logos que seguem variadas orientagoes te6ricas gerais, contanto que se preocupem com a relevancia empirica da teoria. Assim, Artur K. Davis, de orientagao marxista, sugere que 0 eonceito de «'teorias de medio alcance'. contrastando com 0 enfoque mais ample de Parsons, foi uma concepcao muito feliz... Vma focalizac;ao de media alcance analise empirica dcntro de urn qua4ro conceptual limitado parece assegurar mais firmemente 0 contato continuo e necessaria com as variaveis empiricas». 27
Ha dez anos, Peter H. Rossi, estudioso profundamente interessado na pesquisa empirica e agudo observador da recente hist6ria da sociologia, percebeu as complexas eonseqi.ieneias de urna formula~ao explicita do conceito de teorias de medio alcanee: «0 conceito de 'teorias de medio alcance' adquiriu grande popularidade tanto entre os ~oci6logos, principalmente orientadas para a pesquis3, quanta entre os que se preocupam mais com a teoria. Ainda e muito cedo para se avaliar em que medida essa idi:ia afetaca as rela<;oes entre teoria e pesquisa oa sociolog.ia norte-americana, Ate agora, a sua aceita~ao trouxe resultados contradit6rios. Do Iado negativo, as pesquisadores que eram acusados de ser 'meros empiricos' tern agora, com essa teoria, urn modo conveniente de elevar 0 status do seu trabalho, sem alterar a Sua forma. Do Iado positivo. mostrou tendencia a elevar 0 status da pesquisa orientada por considerac;oes te6ricas de natureza limitada, por exemplo, 0 estudo de pequenos grupos. Em 26. Frank H. Hankins, «A forty-year perspective», Sociology and Social Reseatch, 1956, 40, 391-8, esp. 398. R 27. Arthur K. Davis, «Social theory and social problems», PhlIosophy and Phenomenological esearch, dezembro 1957, 18, 190-208, esp. 194.
Teoria e Estrutura
. . '~ deremos alcan~ar grandes e definitivos beneficios se noSsa atividade te6rica .z:n~nr?:nt~d~nl~~. s~~tido de dae meno! importa~c~a. aos largos esquemas te6.ricos e mai~r enfase ~iveis estreitamente ligados as presentes possIbIlIdades cia nossa tecnologla de pesqulsa>}. 28
for aos
Essas observagoes apresentam grande interesse porque Rossi se abstem de tomar uma posigao polarizada. 0 conceito de teorias de medio alcance tem sido, as vezes, desfigurado para justificar investigago>espura· mente descritivas, que nao refletem orientagao te6rica alguma. Mas 0 mau usa de urn conceito nao constitui um teste para seu valor. No fim, Rossi como soci610go comprometido, com a pesquisa empirica sistematica, p~las suas implicagoes te6ricas, ap6ia essa politiC~ .como sendo cap.az de satisfazer a dupla preocupagfw pela pesquisa emp1flca e pela relevancia te6rica. A monografia de Durkheim, Suicide, talvez eonstitua 0 exemplo classico do uso e do desenvolvimento da teoria de medio alcance. Nao e de admirar, portanto, que soei610gos seguidores da tradigao de D~rkhei~, como, por exemplo, Armand Cuvillier,29 endossassem essa .reonent~g~o te6rica. Os comentarios de Cuvillier lembram-nos que a teona de medio alcanoe refere-se tanto a pesquisa microssocio16gica quanta macro-socio16gica, tanto aos estudos experimentais de pequenos grup~s quan~o a analise comparativa de aspectos especificos da estrutura SOCIal.Da~ld Riesman tambem assume a posigao de que as investigagoes macrossOClOl6gicas nao pressupoem a existencia de um sistema global ~e. teoria socio16gica; ele sustenta que e melhor "trabal~ar d,e~tr.o ~o medlO alcance, falar menos de 'penetragoes' ou de pesqUlsas baslCas e fazer menos afirmagoes em tarno do assunto".80 poder-se-ia pensar que a duradoura tradigao europeia de trab~lho e~ busca de sistemas globais de sociologia, levaria a repudia.r a one?-tagao favoravel a teoria de medio alcance. Mas tal nao aconteceu. Exa~mando a hist6ria recente do pensamento soeio16gico e conjeturando sobre as perspectivas do seu desenvolvimento, um observador expressou. a .esperanga de que las teorias del range medio reduzirao as meras polemlCas e?-tre "escolas de pensamento socio16gico" e contribuirao para a sua eontmua convergencia. 31 Outros tem levado adiante analises detalhadas da estrut~~a l6gica deste tipo de teoria, salientando-se Filippo Barbano, que. red1g1~ · d as teoria dz medza longa serie de monografias e trabalhos ded1ca os portata.32 . h 1945 55» 28. Peter H. Rossi, «Methodes .of SOCIal Researc , -, of America: A Trend Report, organIzado par Hans 1. Zetterberg
em Sociology in rhe United States (P i' Unesco 1956), 21-34, esp. ar s. ,
23-24. . . f " (P 'S' Librairie Marcel Riviere & Cle., 29. Armand Cuvillier, OU va Ja socwlogle ran~a"e. . an '. e Vrin 1958). 1953) e SocioJogie et problemes actuels (Pans: L,bral,rte ,Prio~ophiu th~' 'new~r' social sciences», 30. David Riesman, «Some observatIOns on t ,e a er W~te (Chicago: The University of em The State of. SOCIal Scwnces, organIzado _ par 1. Dei Riesman deve ser vista il luz Chicago Press), 319-39, esp. 339. A. onenta,ao anuncla. a par ue a teoria de media aleance da obsetva,iio de Maurice 1. SteIn, alnda para serdd,scuttda, tde_ q da sociedade moderna, feitos dos «penetrantes esforc;os e lOterpre acao «rebaixa a irnportancia» por autores como C. Wright Mills e David Riesman ... » .. -, . . f . de 1957 208-13. 31, Salustiano del Campo, em Revista de EstudlOS Polttlcos, Janeiro· e~erelCO'a e rice~ca nella 32. A Jonga lista de trabalhos desse genera de Barbano c~mpreen~e't Teordella ricerca nella sociologia contemporanea, (Miliio: A. Giuffre, 1955), 100-108; « a ~~to 50 O~~tivitil e programmi 3 sua impostazione teorica», Sociologia, julho-setembro de 1958'1 ,. Q-9, d « • dl Scienze Sociali, -di gruppi ricerca sociologica: l'emancipazione struturale 10 SOCIOogla», ua ernl
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Talvez as amHises mais profundas e pormenorizadas da estrutura l6gica das teorias de medio alcance sejam as de Hans L. Zetterberg, em sua monografia On Theory and Verification in Sociology 33 e as de Andrzej E, mais importante, tanto Malewski em VerhaUen und Interaktion.34 Zetterberg como Malewski superam a tendencia polarizadora de considerar as teorias de medio alcance como uma serie de teorias especiais desconexas. Ambos indicam, por meio de preceitos e exemplos detalhados, de que maneira as teorias especiais se consolidaram em conjuntos de teorias cada vez mais amplos. Esta mesma orientagao e manifestada por Berger, Zelditch, Anderson e seus colaboradores, que consideram as teorias de medio alcance aplicaveis a todas as situag6es que apresentem aspectos especificos de fenomenos sociais e que continuam a demonstrar o uso de uma variedade de tais teorias. 35 o inventario sistematico das teorias de medio alcance que surgiram nas ultimas decadas ultrapassaria os limites deste livro. Mas talvez, uma amostra nipida e arbitraria possa indicar a diversidade dos problemas e assuntos tratados por elas. 0 ponto essencial e que essas teorias sao. empiricamente alicergadas - envolvendo conjuntos de hip6teses confirmadas - e nao constituem apenas dados descritivos organizados, ou generalizag6es empiricas, ou hip6teses que permanecem lbgicamente dessemelhantes e desconexas. Das investigag6es sabre as burocracias surgiu urn conjunto curnulativo de teorias desse tipo, gragas especialmente a Selznick, Gouldner, Blau, Lipset-Trow-e-Goleman, Crozier, Kahn e Katz e muitos outros investigadores. 36 Raymond Mack enunciou uma teoria de medio alcance do subsistema ocupacional; Pellegrin, uma teoria da mobilidade das posig6es de lideranga de grupos; Junkichi Abe, uma teoria intermediaria baseada nos dados tanto micro quanto macrossocio16gicos que descrevem padr6es de comportamento desviado na estrutura das comunidades; Hyman, a consolidagao das uniformidades empiricas de opiniao publica numa teoria composta e Hillery, uma consolidagao de uniformidades demograficas. 37 abril de 1966, 5, 1·38. D~ntro do mesmo quadro, ver tambem: Glanfranco POggi, «Momento tccnlCO e momento metodologlco nella ricerca» Bollettmo delle Ricerche SOClale, setembro de 1961, I, 363·9. ' 33. Totowa, New Jersey: The Bedminster Press, 1965, 3.' ed. aumentada. Ver tambem Zetterberg, «Theorie, Forschung und Praxis in der Soziology», em Handhuch der empirischen Sozialforschung (Stuttgart: Ferdinand Enke Verlag, 1961), I, Band, 64·104. 34. Traduzldo d? polones por Wolfgang Wehrstedt, Tubingen: J. C. B. Mohr (Paul Siebeck). 1 .Este !lvro da a b,bllOgrafla completa dos trabalhos muito profundos e rigorosos de alewskl,. urn dos s.oci61ogos poloneses mais capazes. que se suicidou aos 34 aoos. Poucos em com a mesma dareza e 0 mesma rigor as vinculos entre :l nos~os dlas. conscgUlram explicar teona marxlsta e d~t.erminadas teorias de media alcance. Vcr urn dos seus artigos mais imf?rta;tes: I «Der empIrl~che Gehalt der Theorje des historischen Materialismu'.», Kolner Zeirschrifr ur OZIOogl und SozIalpsychologie, 1959, 11, 281-305. ;~. Berger, Zeldltch e Anderson, Sociological Theories J"n Progress, op. cir., 29 e Passim. A "W:' GPh?~p SclzOlck, TVA and rhe Grass Roors (Berkeley: University of California Press 1949)' ed':') " ~~ Mner, Parcerns of Industrial Bureaucracy (Glencoe:. University of Chicago Pres;, 19.63: F P . Llpset, MartIn Trow e James Coleman Unton Democracy (Nova Iorque' The ree ress 1956) Uma co s I'd d I ' .. d .' f" as con~ us?es teoncas essas mOl1ogra~las fOI elta por James G. March . H n 0.1 a~ao Para outros e erbert A. SImon, em .OrgantzarlOns (Nova Iorque: John WIley, 1958), 36·52. j The Bureaue~~i~P lmportantes da. teona de med~o a.Icance ness~ campo. ver Michel Crozier. Katz, op. cir. enomenon (ChIcago: The UniverSIty of C!llcago Press, 1964); Kahn e
J67.
2;
Ph
Raymond Mack . Social37. Fore b' « 0 ccupa t'IOl1aI d etermmatedness: a problem and hypotheses es, outu ro de 1956, 35, 20-25; «The achievement of high statuse'.»,
in role theory». Social Forces.
Teoria e Estrutura
Existe, porem, uma base mais significativa, que perrnite avaliar a o::-ientagao atual dos soci6logos para as .teo:rias_~e medio alcan.ce, melhor d ue essa curta lista de exemplos. E 51mbollco que Sorokm, embora o q . . 16' d 1 soalmente empenhado em desenvolver a teona SOClOglCa e amp a pes . t' t . d -d' escala, atribua, repetidas vezes, urn lugar Importan e..~ .eona e ~e 10 alcance. Em seu livro mais recente, avalia com frequencla os a.tua1s de· senvolvimentos te6ricos em termos de sua capacidade de explicarem "uniformidades de medio alcance". Revista, por exemplo, urna serie de pesquisas estatisticas na sociologia e descobre que san defeit~osas p~rque "nao nos dao uniformidades gerais ou de 'medio alcance', leIS causalS ou f6rmulas validas para todos os tempos e diferentes sociedades". Em outro trecho, Sorokin usa desse criterio para apreciar a pesquisa. contemporanea, que estaria justificada se "houvesse desco~e~-to urn cO~Junt? de uniformidades universais ou, pelo menos .. , de 'medlO alcance, apllcavel a muitas pessoas, grupos 'e culturas". E adiante declara que as tipologias selecionadas de sistemas culturais san acei:avei~ quando, "a exemplo .. , das 'generalizag6es de medio alcance'... nao san .exageradas ou excessivamente generalizadas". Em seu exame da pesqUlsa recent.3 em sociologia, Sorokin .faz enfatica distingao entre "a proc~,:a dos :fat~s" e as "uniformidades de uma generalidade de 'medio alcance . A pnm.el:ra alternativa produz "material 'informativo' puramente local e temporano, desprovido de valor cognitivo geral". A segunda torna ~~~nt~;:~iv;~n~r~liz:;~~~, dfic::~:osco~S;?::~~sen~~6t~~~~idb~e n~e s~r;~~ feor~: ::~~a~a:~sco~~::~~~i;::E formam ouCO sentido de «como» e «porque». Com um3S poucas regras ~erals a nos serv~r~ de guia, Ppodemos orient~r~nos n~ ~scuridao nao. cartografada cia ~Ioresta. l! esse 0 papel cogmtlvo dessas regras e uniformldades l1mltadas. aproxlmadas e predomtnantes». 38
Sorokin assim repudia aquela formidavel paixao pelos fatos, que mais escurece do que revela as ideias socio16gicas que estes fatos exempli~ica~; recomenda teorias de alcance intermediario para servirem de gUlas as pesquisas; e para si pr6prio, continua a proferir a procura de urn sistema de sociologia geral.
REJEIQAO DA TEORIA DE MEDIO ALCANCE Uma vez que se gastou tanta quantidade de tinta so.cio16gica no ~ebate relativo as teorias de medio alcance, pode ser utH examinar tambem as critic as que suscitaram. T'em-se dito que, ao contrario ~os ~iste.mas unicos de teoria socio16gica, as teorias de alcance medio nao san mted h' .. th ugh outubro de 1953, 32, 10-16; Junkichi Abe, . «Some probl~ms of life space an 1St~flc~erbe~~ B. 1957 the analysis of delinquency», Japanese SOCIOlogical .Revlew,. Julho de 1 ,. 7, 3 'd 1957 21, Hyman: «Toward a theory of publiC opiniom>. Pubhc OplOlOn Quarter y, pnmavera e b) d 54.60; George BIllery, «Toward a conceptualization of demography», SoCIal Forces, outu ro e 1958, 37, 45·51. E stil vigoroso e 38. Sorokln, Sociologica: Theories of Today, 106, 127, 645. 375.. m seu e .01' e OS direto Sorokin acusa-me de arnbivalencia em rela~ao aos «grandes SIstemas de SO~IO Ogl~»h de ~teoriaJs de medio alcancc». e tambem d~e outr:as ambiv~lencias. Mas uma te~~atl~:riaml~el~van_ defesa. embora preservasse meu ego, nao ser.ta apropnada neste lug~r e n. Imente te para 0 assunto tratado. mais significativo que,. embo~a ,S?fokln conttnu~o~~~~a fUmo empenhado na procura de urn sistema completo de teona soclOloglca, move-se. . a posi~ao assumida oeste livro.
a
e
Sociologia -
leetualmente muito ambiciosas. Poueos tern expressado esse ponto de vista com maior eloqtiencia que Robert Bierstedt, ao escrever: «Tern os sido ate mesmo convidados a abandonar aqueles grandes problemas da sociedade humana, que ocuparam nossos predecessores na hist6ria do pensamento social e, aD inves disso. aconselhados a procurar aguila que T. H. Marshall denominou, em sua conferencia inaugural na Universldade de Londres, 'degraus na media dlstancia' e outros soci61ogos. mais tarde, 'teorias alcance'. Mas que ambi!;;ao anemica essa! Deveremos Iutar por LIma mcia vit6ria? de media On de estfio as vis6es que mais nos incital'am a cotrar no muncio cia cienc.ia? Eu sempre pensara '.llie os soci6Iogos tambem sabiam sonhar e que acreditavam, como Browning, que 0 alvo de urn homcm deve estar sempre alem do que "Ie pode agarran>. 39
e
Poder-se·ia inferir, dessa transcrigao, que Bierstedt preferiria manter-se firmemente preSQ a otimista ambigao de desenvolV'er uma teoria geral que tudo englobasse, do que aceitar a "anemica ambigao" da teoria de medio alcance. Ou que ele considera as solug6es sociol6gicas para os grandes e urgentes "problemas da soeiedade humana" a pedra de toque tebricamente significativa da sociologia. Mas ambas as inferencias seriam, evidentemente, erradas. A teoria de medio alcance e freqtientemente aceita pelos que a discutem ostensivamente. Assim, Bierstedt prossegue, dizendo que "em minha opiniao urn dos maiores trabalhos de pesquisa sociol6gica jamais feitos por alguem, e The Protestant Ethic and the Spirit at Capitalism, de Max Weber". Nao discuto essa apreciagao da monografia de Weber - embora, pessoalmente, eu preferisse indicar Suicide, de Durkheim, para essa elevada posigao - porque, como tantos outros soci6logos conhecedores das imlmeras obras de critica que se aeumularam em volta do trabalho de Weber, eu continuo a considera.-Ia uma das maio res contribuig6es. 40 Mas aeho d1ficil conciliar a apreciagao de Bierstedt sabre a monografia de Weber com a ret6rica que expulsaria as teorias de medio alcance, por serem "mbrbidamente palidas e simples mente despretenciosas". Pois, essa monografia exatamente e urn excelente exemplo de teorizagao de medio alcance; trata-se de urn problema rigorosamente delimitado - problema que por casualidade foi exemplificado numa epoca hist6rica particula,r, com implicag6es em outras sociedades e outros tempos; utiliza uma teoria limitada acerca das conex6es entre engajamento religioso e conduta econamica; e contribui para uma teoria urn pouco mais geral sabre os modos de interdependencia entre instituig6es sociais. Sera que Weber pode ser acusado de ambigao anemica, ou sera que alguem se igualou a ele no esfargo de desenvolver urna teoria de aleance limitado empiricamente alioergada?
25,
39.
Robert
3'9. esp.
6.
B'erstedt.
«Sociology
and
human
learning»,
American
Sociological
Review,
1960
40, Eu ate mesmo acompanhei algumas das implica,oes da tea ria especial de Weber sabre a interdependencia das institui,6es sociais, Duma monografia abarcando quase exatamente 0 mesmo perfodo estudado por Weber, em que examina a interdependencia funcional entre a ciencia conce~ida como institui,ao social e as institui,oes economicas e religiosas contempora.neas. VeJa-se Science, Technology and Society in Sevenreenrh Century England, em Osiris: Studies on rhe History and Philosophy of Sciences, and on the History of Learning and Culture, organizado par George Sarton (Bruges, Belgica: Ste. Catherine Press, Ltd., 1938); reeditado com nova introdu,ao (Nova Jorque: Howard Fertig, Jnc., 1968; Harper & Row, 1968). Embora Weber houvesse escrito a~e~~s a.lguma~ senten,as sobre a interdependencia do Puritanismo e da ciencia, depois que J01Clei mlnha Jnvestiga~ao esse assunto tomou especial relevancia. J! esse precisamente 0 valor do trabalho cumulativo na tearia de media aleance: alguem se inspira na teoria e na pesquisa antecedentes e procura estender a teoria em novas areas empiricas.
Teoria e Estrutura
Creio que Bierstedt rejeita essa teoria, por dois motivos: em primeiro lugar, sua observagao de que as teorias de media alcance estavam afastadas das aspirag6es dos nossos antepassados intelectuais, nao s6 sugere mas confirma que esse conceito e comparativamente navo e ainda estranho para n6s. Todavia, conforme tenho indicado acima e tambem em outros lugares, 41 0 metoda da teoria de medio alcance tern side repetidamente antecipado. Em segundo lugar, Bierstedt parece supor que a teoria de medio alcance 'exclui completamente a investigagao macrossociol6gica, na qual uma teoria particular da origem a hip6teses espeeificas, a serem examinadas a luz dos dados sistematicamente colhidos. Como temos visto, esse pressuposto nao tern fundamento. Com efeito, a m~ior part.e ~o trabalho da macrossociologia comparativa de hoje, base1a-se prmClpalmente nas teorias especificas e delimitadas das inter-relag6es entre os varios componentes da estrutura social, que podem ser submetidos a testes empiricos sistematicos que utilizam a mesma 16gica e muitas das mesmas especies de indicadores usados em pesquisas microssociol6gicas. 42 A tendencia de polarizar problemas te6ricos em termos de "tudo ou nada", e express a por outro critico, que converte a posigao ~o te6rico do medio alcance em pretensao de ter encontrado uma panacela para a teoria sociol6gica contemporanea. Ap6s admitir que "a maioria dos ~r~balhos de Marshall e de Merton mostram realmente a mesma espec1e de preocupagao com os problemas que estou aqui preconizando", 0 :referido critico, Dahrendorf, prossegue: «Mjnha obje,ao as suas formula,6es nao e porta~to dirigida ,contr e~s~ a tr:e~~l~~~s te~f: contra 0 seu pressuposto explicito [sic) de que .tl)'do [dSl~) dO que e~ta I er °ge~eralidade podemos a sua generalidade e que slrnplesmente (SIC re uZJn 0 0 nlve e resolver todos [sic) os problemas». 43
dd"
e
Contudo, 0 que temos dito deve ter deixado bem claro que os te?ricos de medio alcance nao pretendem que as deficiencias da teona sociol6gica sejam apenas 0 resultado do seu carater excessivamente geraJ. Longe disso. As verdadeiras teorias de medio alcance - por exe~Plo, a teoria, da dissonancia, a teoria da diferenciagao social, ou a teon.a dos gropos de referencia - tern grande generalidade, estendendo~se al:m ~e uma epoca ou cultura hist6rica especial. 44 Mas essas teonas n~o .sac derivadas de urn sistema unico e total de teoria. Dentro de am~l?s hm1t:s, estao em harmonia com uma variedade de orientag6es teoncas. Sao confirmadas por grande quantidade de dados empiricos :' se .algum~.teoria geral assevera que esses dados nao sao validos ou nao eX1stem, tanto pior para essa teoria geral. 41 42 ~
Sociology:
Merton «The role·set» British Journal of Sociology, junho de 1957, 1O~, C "" ative Para u~ resumo exte~so desses desenvolvimentos, ver Robert M. Mars, Only_r Toward a Codification of Cross-Societal Analysis, (Nova Iorque, Harcourt, Brace &,
World, 1967). , . _~ . I .cal 43. Ralf Dahrendorf, "Out of Utopia: toward a reOtlentatlOn v. SOCIOogl American Journal of Sociology, 1958, 64. 115-127, es!' .. 122-3, . 44. Wilf,iam L. Kolb viu isso com muita persplcaCla, mostrando. que as teffla; 2lcance nao estao limitadas a sociedades hist6ricas espedficas. Amencan Ja.uma 0 mar,o de 1958, 63, 544-5.
analysis», de media Sociology,
Outra censura e a de que as teorias de medio alcance dividem 0 campo da sociologia em duas teorias especiais sem rels,gao entre si. 40 E verdade que tern surgido algumas tendencias a fragmentagao na sociologia. Mas dificilmente S8 podera dizer que isso seja 0 result ado do trabalho orientado para as teorias de objetivo intermediario. Ao contrario, as teorias de medio alcance consolidam, e nao fragmentam, os achados empiricos. E justamente 0 que tenho procurado demonstrar, por exemplo, com a teoria dos grupos de referencia, que aglomeram achados provindos de campos tao diferentes do comportamento humano, como sejam a vida militar, as relag6es raciais e etnicas, a mobilidade social, a delinqtiencia, a politica, a educagao, a atividade revolucionaria etc. 46 T6das essas criticas denunciam claramente urn esfargo para situar as teorias de medio alcance no esquema contempori'meo da sociologia. Mas 0 processo de polarizagao leva a critica para muito alem desse ponto, ate chegar a distorgao de informag6es facilmente disponiveis. De outra maneira, nao pareceria possivel que alguem pudesse notar a posigao declarada de Riesman em apoio da teoria de medio alcance e ainda mantivesS€ que "as estrategias de exclusao do Alcance Media" incluem urn «ataque sistematico dirigido contra aqueles artifices socio16gicos contemporaneos que procuram trabalhar com os problemas da tradi~ao dassica. £sse ataque tencle geralmente a classificar tal trabalho 5ociol6gico como 'especulativo', 'impressionistico', au mesmo, simplesmente «jornalistico». Por iS50, 05 penetrantes esfor~os de interpreta~ao cia sociedade rnoderna, feitos por homens como C. Wright Mills e David Riesman que mantem rela~ao organica com a tradi~ao classica justamente por ousarem tratar dos problemas centrais da tradi~ao ~ sac sistematicamente rebaixados de valor dentro da profissao». 47
De acardo com essa asserQao, Riesman esta sendo' "sistematicamente rebaixado" par defensores do pr6prio tipo de teoria que ele esta preconizando. Similarmente, embora essa declaraQao sugira que 0 "rebaixamento" de C. Wright Mills seja uma "estrategia de exclusao" de "Medio Alcance", e digno de nota que urn te6rico desta mesma tea ria concedeu seu firme endasso aquela parte do trabalho de Mills que .of'8rece amllises sistematicas de estrutura social e de psicologia social. 48 45. E. K. Francis Wissenschaftliche Grundlagen Soziologischen Denkens, (Berna: Francke Verlag. 1957), 13. ' 46. Sodal Theory and Social Structure, 278-80, 98-98, 131-94. 47. Maurice R. Stein. «Psychoanalytic thought and sociological inquiry», Psychoanalysis and rhe Psychoanalytic Review, verao de 1962, 49, 21-9, esp" 23-4. B.enjamin Nelson. 0 redator .?eSSe numero do jornal, prossegue observando: «Todo assunto suscetlvel de transformar-se em (ienCia. engendra 0 seu enfoque do 'medio alcance'. A animos.idade expressa c?ntra ess.e desenvol:virnento paree<:~-me ser, em grande parte, errada». «Sociology and psychoanalYSIS on tnal: an epIlogue», ibid., 144-60, esp. 153. 48. Refiro-me aqui ao importante trabalho te6rico que Mills realizou com a colabora~ao de Hans Gerth (que 0 iniciara): Character and Social Structure: The Psychology of Social Institutions (Nova Torque: Harcourt, Brace & Co., 1953), Em minha introdu,ao a essa obra, descrevo esse assinalado trabalho como segue: «as autores nao tern a pretensao de h.aver realizado uma sintese completamente global, incorporando todos os principais conceitos cia psicologia e cia sociologia que se relacionam com a forma~ao do cad.ter e cla personalidade dentro do contexto cia. estrutura soc.ial. Deixam bem claro que esse alvo ainda urn objetivo distante, mais do que uma possivel realiza~ao atual. Nao obstante, eles sistematizaram uma parte irnportante do terreno e forneceram perspectivas, a partir das quais se po de exarninar muito da parte restante. .Esse tipo de trabalho erudito, feito em eolabora,ao com Gerth, e de earater bastante diferente do que 0 dos outros livros de Mills, como Listen Yankee: The Revolution in Cuba e The Causes o! World War Three. !stes nao foram «rebaixados» par outrem, como «positivamente jornalisticos}}; sao, de fato, jornalisticos. Mas esse juJgamento Dao deriva da orienta~ao da teoria de medio alcance.
e
Soci6logos sovieticos modernos continuam a interpretar "a not6ria 'teoria de media alcance'" como concepgao positivista. Segundo G.M. Andreeva, essa teoria e concebida <
Essa erranea concepgao da teoria de medio alcance nao exige aqui muita discussao. Afinal de contas, 0 capitulo "Influencia da teoria socio16gica sabre a pesquisa empirica", repreduzido neste volume, ja esta impressa ha mais de urn quarto de seculo. Desde aquele tempo, tenho feito distingao entre uma teoria, au seja, urn conjunto de suposig6es lbgicamente inter-relacionadas, do qual se derivam hip6teses empiric amente testaveis, e uma generalizagao empirica, ou seja, uma proposigao isolada resumindo uniformidades de relag6es observadas entre duas ou mais variaveis. Mas as estudiosos marxistas constroem teorias de medio alcance em termos que sao expressamente excluidos por essas formulag6es. Essa concepgao erranea pode ser baseada num compromisso para com uma teoria socio16gica global e num receio de que esta teoria possa sel ameaQada pelo papel das teorias de media alcance. Deve-se notar, porem, que na medida em que a orientagao te6rica geral, proporcionada pelo pensamento marxista, torna-se urn guia para a pesquisa empirica sistematica, isto s6 pode ser feito mediante 0 desenvolvimento de teorias intermediarias especiais. Do contrario, como parece ter side 0 caso com estudos tais como a investigagao da Sverdlov sabre a atitude e 0 comportamento dos operarios, essa orientagao conduzira, na melhor das hip6teses, a uma serie de generalizag6es empiric as (como a relagao entre o grau de educagao atingido pelos trabalhadores e 0 numero de organizag6es a que estao afiliados, a quantidade de livros lidos etc.). o capitulo precedente sugeriu que os soci6logos que estao persuadidos da exist encia de uma teoria total abrangendo todo 0 escopo do conhecimento socio16gico, estao prontos a acreditar que a sociologia esta capacitada, desde agora, a satisfazer t6das as exigencias praticas que lhe sao feitas. Essa atitude representa a rejeigao da teoria de medio alcance, como se depreende da seguinte observagao de Osipov e Yovchuk: «E bem conhccido a ponto de vista de Merton, segundo 0 qual a sociologia ainda nao ~sta illadura para urn teoria integral de alcance global, e de que existem apenas umas po~c.as !eonas, utilizaveis num grau interrnediario de abstra~ao, cujo significado relativo e ternporano. e ben; conhecido. Sentimo-nos autorizados a acreditar que essa defini~ao nao po de ser apltcada a sociologia dentifica rnarxista. A visao materialistica da Hist6ria, descrita em primeiro lug~r par ~farx 125 anos atd.s. foi testada pdo tempo e comprovada par todo 0 processo de desen~olv1!ne~to hist6rico. A compreensao materialistica da Hist6ria esta baseada no estudo concreto da vIda social. a surgimento do marxismo na decada de 1840 e 0 seu desenvolvimento sucessivo estiveram organicamente vinculados e apoiados oa pesquisa dos problemas sociais especificos}). 50
49. Essas opini6es foram expressas por A. G. Zdravomyslov e V. A. Yadov, «On the programming of concrete social investigations>}, Voprosy Filosofi, 1963, 17, 81, e por. G. 2-(. Andreeva, «Bourgeois empirical sociology seeks a way out of its crisis}). Filosofskie Naukt, ~9.62. 5, 39. Trechos desses dais ensaios foram traduzidos par George F.ischer, em Science and Pollucs: The New Sociology in Soviet Union (Itaea, Nova Torque: Cornell University, 1964) . 50. G. Osipov e M. Yovchuk. «Some principles of theory. problems and methods of research in sociology in the USSR: a Soviet view», reproduzido na eompila,ao de Alex Simirenko, ed., Soviet Sociology: Historical Antecedents and Current Appraisals (Chicago: Quadrangle Books, 1966), ~99.
Essa pesquisa dos problemas sociais especificos - que as soci6logos sovieticos denominam "investigagao socio16gica concreta" - nao e lbgicamente derivada da orientagao te6rica geral do materialismo hist6rico. E enquanto as teorias intermedilirias nao se desenvolveram, tais investigag6es tenderam para a "empirismo pnitico": a coleta met6dica das informag6es apenas suficientes para serem levadas em consideragao no momenta de tamar decis6es pniticas. Foram feitos, par exemplo, varios estudos do emprego do tempo dos trabalhadores, pouco diferentes dos estudos de Sorokin no inicio da decada de 1930. Os operarios foram solicitados a anotar como dividiam seu tempo entre varias categorias, como tempo de trabalho na fabrica, atividades domesticas, necessidades fisio16gicas, repouso, tempo dedicado as criangas e ao "trabalho social utH" Cincluindo a participagao nos conselhos civicos, nos comites de trabalhadores, nas conferencias au outras especies de "trabalho cultural de massas"). A analise dessas pesquisas de tempo tern dais objetivos principais. 0 primeiro e de identificar e, a seguir, eliminar problemas relativos a eficiencia na distribuigao do tempo. Par exemplo, descobriu-se que urn obstaculo a educagao escolar noturna dos trabalhadores era que a honirio dos exames exigia maior numero de horas de dispensa do trabalho que as fabricas podiam conceder sem prejudicar a produgao. o segundo objetivo consiste em estabelecer planas para mudar as atividades dos trabalhadores. Par exemplo, quando as dados da pesquisa de tempo foram ligados a investigagao das motivag6es dos operarios, chegou-se a conclusao que se podia confiar f6ssem os mais jovens mais estudiosos e "mais ativos em aumentar a eficiencia do trabalho". Tais exemplos demons tram que essas pesquisas estao impregnadas de empirismo pratico, mais do que de formula,g6es t'e6ricas. Os seus resultados situam-se no mesmo baixo nivel de abstragao que a maioria das pesquisas de mercado em outras sociedades. Terao que ser incorporadas em teorias mais abstratas de medioa1cance se pretenderem preencher a lacuna existente entre as generalizag6es empiricas e a orientagao geral do pensamento marxista. 51
o exame que temos feito acima, dos pros e contras extremos das teorias de medio a1cance e suficiente para nos convencer de uma conclusao: cada urn de n6s, soci610gos, e perpetuamente vulneravel ao farisaismo. Damos gragas a Deus por nao sermos iguais a outros soci610gos que mais falam que observam, au simples mente observam mas nao pensam, ou apenas pensam mas nao submetem seus pensamentos ao teste da investigagao empirica. .51. tsse trecho esti baseado no estudo de R. K. Merton e Henry WI. Riecken, «Notes on SOCIology in the USSR», Current Problems in Social-Behavioral Research (\'V'ashington. D.C.: NatIOnal lrutitute of Social and Behavioral Science, 1962), 7-14. Para urn resurno de urna dess~s .lnve~tlga~6es socio16gicas concretas, vet A. G. Zdravomyslov e V. A. Yadov, «SovIet war ers attItude toward work: an empirical study», em S:mjrenko, op. cit., 347-66.
Em vista dessas extremadas interpretag6es da tea ria sociol6gica de media alcanoe, e conveniente reiterar os atributos desta teoria: 1. As teorias de medio alcance consistem de conjuntos limitados de pressupostos, dos quais se derivam lbgicamente hip6tJeses especificas, confirmadas pela investigagao empirica. 2. Essas teorias nao se mantem isoladas, mas sac consolidadas em redes mais vastas de teoria, como ilustrado pelas teorias do nivel de expectativa, dos grupos de referencia e da estrutura de oportunidades. 3. Essas teorias sao suficientemente abstratas para tratarem de diferentes esferas de comportamento e estrutura sociais, ultrapassando assim as simples descrig6es ou generalizag6es empiricas. A teoria do conflito social, por exemplo, tern side aplicada aos conflitos etnicos e raciais, aos de classe e aos internacionais. 4. Este tipo de teoria derruba as disting6es entre os problemas microssociol6gicos, evidenciados nas pesquisas de pequenos grupos, e os problemas macrossocio16gicos, salientados em estudos comparativos da mobilidade sociale da organizagao formal, e da interdependencia das instituig6es sociais. 5. Os sistemas de teoria sociol6gica total - como 0 materialismo hist6rico de Marx, a teoria dos sistemas sociais de Parson e a sociologia integral de Sorokin - mais representam orientag6es te6ricas gerais, do que sistemas rigorosos e estreitos, semelhantes aos que sac empregados para a procura de uma "teoria unificada" em fisica. 6. Dai resulta que muitas teorias de medio alcance estao em consonancia com uma variedade de sistemas de pensamento sociol6gico. 7. As teorias de medio alcance constituem tipicamente uma linha direta de continuidade com 0 trabalho dos formuladores te6ricos classicos. Somos todos legatarios residuais de Durkheim e Weber, cujos trabalhos nos ,fornecem ideias para serem acompanhadas, exemplificam taticas de teorizagao, fornecem modelos para 0 exercicio do born g6sto na selegao dos problemas e nos ensinam como levantar quest6es te6ricas inspiradas nas ideias deles. 8. A orientagao de media alcance envolve a especificagao de ignoranda. Em vez de proclamar urn conhecimento que esta de fato ausente, reconhece expressamente a que ainda deve ser aprendido, a fim de preparar os fundamentos para urn conhecimento ainda maior. Nao pretende estar capacitada a desempenhar a tarefa de fornecer solug6es te6ricas para todos os problemas urgentes e praticos do dia, mas dirige-se aqueles problemas que agora possam ser esclarecidos a luz do conhecimento disponivel.
Conforme assinalamos acima, urn dos principais objetivos deste livro a codificagao da teoria substantiva e dos processos de analise qualitativa na sociologia. Assim entendida, a codificagao e a arranjo ordena,do e compacto dos processos fecundos da pesquisa e dos achados substantivos
e
que dela resultam. E um processo que implica a identificagao e a organizagao daquilo que esteve implfcito no trabalho do passado, mais do que a invengao de novas estrategias de pesquisa. o capitulo seguinte, que trata da analise funcional, estabelece paradigmas como base para codificar os trabalhos previos neste campo. 52 Acredito que tais paradigmas tem grande valor propedeutico. De um lado, trazem a discussao toda a serie de suposigoes, conceitos e proposig6es basicas utilizados numa analise sociol6gica. Reduz, assim, a inadvertida tendencia de esconder a parte essencial da analise sob um veu de comentarios e pensamentos ocasionais, ainda que possivelmente ilustrativos. Apesar do aparecimento de inventarios proposicionais, a sociologia ainda tem poucas f6rmulas - isto e, expressoes simb6licas altamente ab1:eviadas de relagoes entre variaveis sociol6gicas. Em conseqtiencia, as interpretagoes. sociol6gicas tendem a ser discursivas. A l6gica do processo, os conce1tos-chave e as relagoes entre eles perdem-se com freqtiencia, numa avalanche de palavras. Quando isto acontece, a leitor critico deve, laboriosamente, respigar sbzinho as pressupostos implfcitos do autor. o paradigma reduz a tendencia dos te6ricos a empregarem suposigoes e conceitos tacitos. Contribuindo para essa tendencia dos expositores sociol6gicos em tomar-se mais prolixos do que lucidos, existe a tradigao - herdada Iigeiramente da filasofia" substancialmente da hist6ria e amplamente da literatura - de escrever relatos sociol6gicos intensamente vivos, para melhor transmitir t6da a rica plenitude da comedia humana. 0 soci610go que nao repudia essa herang a elegante mas estranha, torna-se mais preocupado em procurar uma constelagao excepcional de palavras, para melhor explicar a particularidade do caso sociol6gico em foco, do que em buscar e acentuar as conceitos objetivos e generalizaveis, bem como as relagoes que a caso exemplifica - a que constitui a essencia da ciencia na medida em que se distingue da arte. Inumeras vezes, esse- usa mai empregado de talento artistico genuino e encorajado pelos aplausos de urn publico leigo, dando ao soci610go a grata certeza de que escreve como um romancista e nao como um doutor em filosofia devidamente condi?ionado e academicamente pedante. Nao e raro que ele pague caro par esses aplausos populares, pais quanta mais se aproxima da eloqtiencia, mais se afasta do sentido met6dico. Convem lembrar, to davia, que Santo Agostinho fez, ha muitos seculos, esta sutH observagao: "... uma ideia nao e necessariamente verdadeira par estar mal enunciada, nem falsa par estar revestida de magnfficas palavras". Sem embargo, ha relat6rios ostensivamente cientificos que se tornam obscuros devido as irrelevfmcias que contem. Em casos extremos, a duro 5;. Tenho apresentado Qutros paradigmas s6bre desvios do 'comportamento social no capitulo ~1 deste volu1?e; sobre sociolog.ia do conhecimento, no capitulo XIV; sobre casamentos inter-raeiais, ill d.«In~er.mar:lage and t~e .so::tal, structure», Psychiatry, 1941, 4, 361-74; sobre preconceito racial ZiveI?cfJm!na~ao, em «DlscflmmatlOn and the American creed)}, em Discrimination and National ar~, R;. M. MacIver, redator (Nova Iorque: Harper & Brothers, 1948). Deve-se notar que ~a uso" 0 te;mo paradl~a por T. S. Kuhn, em seu recente trabalho sobre a hist6ria e a filosofia disci~l?nc~a'n e mu;t0 m~lS, e.xtenso ~ se refere ao conjunto bisico ?e p~essupostos. adotados por uma uma ase hIstoflca partIcular; ver The Structure of SClentIflC RevolutIOns, op. cit.
esqueleto dos fatos, das inferencias e das conclusoes te6ricas fica recoberto pela carne flacida da ornamentagao estilfstica. E e de notar-se que outras disciplinas cientificas - a fisica e a quimica, bem como a biologia, a geologia e a estatistica - tem escapado dessa preocupagao impr6pria com a graga literaria. Aferradas as finalidades da ciencia, essas disciplinas preferem a brevi dade, a precisao e a objetividade aos refinados padroes ritmicos da lingua gem, a riqueza de conotagoes e a delicadeza das imagens verbais. Mas, admitindo-se que a sociologia nao deva seguir a caminho tragado pela quimica, a fisica e a biologia, isto nao significa que ela tenha de rivalizar-se com a hist6ria, a filosofia discursiva e a literatura. Cada urn deve prender-se aos seus objetivos, e a objetivo do soci610go deve ser a de apresentar lucidamente as temas de proposigoes lbgicamente interligadas e empiricamente confirmadas, a respeito da estrutura social e suas mudangas, do comportamento humano dentro dessa estrutura e das conseqtiencias desse comportamento. Os paradigmas na analise sociol6gica tem como objetivo auxiliar a trabalho do soci610go no desempenho do seu oficio. Ja que a interpretagao sociol6gica fundamentada inevitavelmente acarreta algum paradigma te6rico, parece ser de bom aviso expo-lo abertamente. Se a verdadeira a,rte consiste em ocultar todos as sinais da arte, a verdadeira cienda consiste em revelar seu esqueleto, bem como sua estrutura ncabada. Sem pretender que isto contenha toda a hist6ria, sugiro que as paradigmas relativos a analise qualitativa em sociologia, tenham no minima cinco fungoes estreitamente ligadas entre si. 53 Em primeiro lugar, as paradigmas desempenham uma fungao anotadora. Proporcionam uma ordenagao compacta dos conceitos centrais e suas inter-rela,goes, que sao utilizados para a descrigao e a analise. A exposigao de conceitos de forma bast ante breve, de modo a permitir sua inspegao simultanea, e urn auxilio importante na autocorregao das interpretagoes sucessivas, result ado este, dificil de ser alcangado quando as conceitos que se estudam estao espa,lhados e ocultos em sucessivas pagmas de exposigao discursiva. (Conforme se pode ver no trabalho de Cajori, parece ser esta uma das principais fungoes dos simbolos matematicos: permitem a exame simultaneo de todos as termos que entram na analise). Em segundo lugar, as paradigmas diminuem a probabilidade de inadvertidamente introduzir suposigoes e conceitos, uma vez que cada nova suposigao e cada novo conceito deve ser lbgicamente derivado dos componentes ante ria res do paradigma au explicitamente introduzidos :aele. o paradigma, fornece assim urn guia para evitar hip6teses ad hoc (isto 6, que lbgicamente nao correspondem a realidade). Em terceiro lugar, os paradigmas fazem progredir a acumulagao da interpretagao te6rica. Sob este aspecto, podemos considerar a paradigma
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ow,
53. Para uma apreciadio critica desse assunto ver Don Martindale «Sociological theory the ideal type», org. por Llewellyn Gross em S~mposium on Sociolog{cal Theory (Evanston: Peterson. 1959), 57-91, esp. 77-80.
como 0 alicerce sabre 0 qual se constr6i 0 edificio das interpreta<;6es. Se urn novo andar nao puder ser construido diretamente sabre os alicerces paradigmaticos, entao devera ser erguida uma nova ala da estrutura total, e os alicerces de conceitos e suposi<;6es deverao ser ampliados a fim de suportar a nova ala. Alem disso, cada novo andar que possa ser edificado sabre os aliceroes originais fortalece nossa confian<;a em sua qualidade substancial, assim como cada nova amplia<;ao, precisamente porque exige alicerces adicionais, nos leva a duvidar da firmeza da infra-estrutura original. Urn excelente paradigma de grande confian<;a suportara, no devido tempo, uma estrutura interpretativa das dimens6es de urn arranha-ceu, sendo 'que cada andar sucessivo testemunhara a qualidade substancial dos alicerces originais, ao passe que urn paradigma defeituoso suportara sbmente uma estrutura baixa, de urn s6 andar, na qual cada novo conjunto de observa<;6es exigira que se lancem novos alicerces, uma vez que os primeiros nao poderao suportar 0 peso de novos andares. Em quarto lugar, por sua pr6pria disposi<;ao, os paradigmas sugerem a tabula<;ao cruzada sistematica de conceitos presumivelmente significativos, e assim podem estimular 0 analista em rela<;ao a tipos de problemas empiricos e te6ricos, que de outra forma poderiam ser desOs paradigmas estimulam a analise, ao inves de favorecer prezados.54 a descri<;ao de detalhes concretos. Por exemplo, dirigem nossa aten<;ao para os componentes do comportamento social, para possiveis solicita<;6es e tens6es entre tais componentes e, portanto, para fontes de desvio do comportamento que e normativamente prescrito. Finalmente, em quinto lugar os paradigmas favorecem a codifica<;ao de metodos de analise qualitativa, de uma maneira que se aproxima do rigor 16gico, S€nao !empirico, da analise quantitativa. Os processos para se computar medidas estatlsticas e suas bases matematicas sac codificados como coisa natural; suas suposi<;6es e process os podem ser esmiu<;ados e criticados por todos. Ao contrario, a analise socio16gica de dados qualitativos, muitas vezes, situa-se num mundo particular de vis6es interiores penetrantes mas insondaveis e de inefaveis conhecimentos. Na verdade, as exposi<;6es discursivas nao baseadas num paradigma incluem amiude interpreta<;6es perceptivas. Como se diz em linguagem afetada e convencional, elas sac ricas em "intimas ilumina<;6es"; nao fica sempre claro, porem, quais opera<;6es sabre quais conceitos analiticos estao envolvidos nessas "ilumina<;6es". Em alguns ambientes, interpreta-se como sinal de cega impiedade a simples sugestao de que tais experiencias de carater tao intensamente privado deveriam ser reapresentadas num processo publicamente vertficavel, se pretendessem ser consideradas cientificamente relevantes. No entanto, os conceitos e os processos, mesmo aqueles dos mais perceptivos dos soci610gos, devem ser reproduziveis e os resultados das suas intui<;6es verificaveis por outrem. A ciencia e publica e nao particular, e 54. Embora expressando duvidas acerca dos usos da teoria sistematica, Joseph Bensman ~ Art~ur Vidich descreveram admid.velmente e$sa fundio heudstica dos paradigmas em sea ~n5strutlvo ensaio «Social Theory in field research», American Journal of Sociology, maio 1960, , 577-84.
isto inclui a ciencia socio16gica. Nao e que n6s, soci610gos comuns, desejamos bitolar a todos pela nossa pr6pria pequena estatura; e apenas que as contribui<;6es dos grandes e dos pequenos, de modo imparcial, devem ser codificadas, se e que devem servir ao progresso da sociologia. Tadas as virtudes podem facilmente tornar-se vicios, simplesmente pelo seu excesso, e isto tambem se aplica ao paradigma socio16gico. If: urn convite a indolencia mental. Equipado com 0 paradigma, 0 soci610go pade vir a cerrar os olhos aos dados estrategicos nao expressamente trazidos ao paradigma. Ele pode transformar 0 paradigm a, de bin6culo socio16gico, em antalho socio16gico. 0 abuso resulta em considerar como absoluto 0 paradigma, ao inves de usa-lo em tentativas, como ponto de partida. Mas se forem reconhecidos como provis6rios e mutaveis, destinados a serem modificados no .futuro imediato como 0 foram no passado recente, esses paradigmas serao preferiveis aos conjuntos de suposi<;6es tacitas.
III
FUNCOES MANIFESTAS E LATENTES
ABORDAGEM A CODIFICAQAO DA ANALISE FUNCIONAL
A
NA SOCIOLOGIA
ANALISE FUNCIONAL e, ao mesmo tempo, a mais promissora e possivelmente a menos codificada das orientac;6es contemporaneas dos problemas de interpretac;ao sociol6gica. Tendo-se desenvolvido em muitas frentes intelectuais ao mesmo tempo, cresceu em fragmentos e em(mdas e nao em profundidade. As realizac;6es da analise funcional sac suficientes para sugerir que a sua maior promessa sera cumprida progressivamente, assim como suas atuais deficiencias dao testemunho da necessidape de se revisar periodicamente 0 passado, a fim de melhor edificar para 0 futuro. No minima as reavaliac;6es ocasionais irazem a luz da discussao franca muitas dificuldades que, de outro modo, permaneceriam tacit as e nao mencionadas. Como todos os esquemas interpretaLivos, a analise funcional depende de uma triplice alianc;a entr0 a teoria, 0 metoda e os dados. Dos tres aliado.3, 0 metodo e, em todos os aspectos, 0 mais fraco. Muitos dos principais praticantes da analise funcional devotaram-se as formulac;6es te6ricas e :10 aclaramento dos conceitos; alguns encharcaram-se de dados diretamente pertinentes a uma estrutura funcional de referencia; porem poucos sac os que romperam 0 silencio preponderante, relativo ao modo de concretizar a analise funcional. No entanto, a quantidade e variedade das analises funcionais levam a conclusao de que alguns metodos tern sido empregados e despertam a esperanc;a de que muito se possa aprender de seus estudos e exames. Embora seja possivel examinar com proveito os metodos sem referencia a teoria ou aos dados substantivos - e e precisamente esta a tarefa da metodologia ou da 16gica aos processos - as disciplinas empiri· c.amente orientadas sac servidas do modo mais completo pela investiilac;ao dos processos, se levados em conta seus problernas te6ricos e reof;u!tados eSiSenciais. Pois 0 usa do "metodo" envolve nao somente a 16gIea mas, desafortunadamente talvez, para aqueles que precisam lutar
com as dificulllades da pesquisa, tambem os problemas praticos de niveo lar os dados com os requisitos da teoria. Pelo menos, esta e a nossa premissa. Em conseqiiencia, entreteceremos nossa exposi!tao com uma. !l"evisao sistematica de algumas das principais concep!toes da teoria fun· cional.
De5de os seus primordios, a abordagem funcional na sociologia tem sofrido de confusao terminol6gica. Com demasiada jrequencia, um s6 termo tem sido usado para simbolizar dijerentes conceitos, assim como f) mesmo conceito tem sido simbolizado por termos dijerentes. Tanto a cla-
reza da analise como a adequa!tao da comunica!tao tern side vitimas de tal leviandade no uso das palavras. As vezes, a analise sofre pel a involuntaria varia!tao do conteudo conceptual de urn dado termo, e a comunica!tao com outras pessoas se rompe quando essencialmente 0 mesmo conteudo e obscurecido por uma bateria de diversos termos. Nao teremos senao de seguir, por breve espa!t0' os caprichos do conceito de "fun!tao" para descobrir como a claridade conceptual se perde e a comunica!tao se destroi com vocabullirios de analise funcional competidores entre si.
A palavra "fun!tao" tern side utilizada por diversas disciplinas e pela linguagem popular, com 0 resultado nao inesperado de que sua signifi..:a!tao seja freqtientemente obscurecida na propria soeiologia. Limitando-nos apenas a cinco significados comumente reservados a esta palavra, desprezaremos numerosos outros. Para come!tar, ha 0 usa popular de ac6rdo com 0 qual "fun!tao" se refere a alguma reuniao publica ou festividade, usualmente realizada com tonalidades cerimoniais. E em tal senti do que se deve admitir 0 significado, quando urn jornal afirma num cabe!talho: "0 Prefeito Tobin nao ap6ia a fun!tao social", pois a noticia esclarece que "0 Pre!eito Tobin c'.eclarou hoje que nao esta interessado em qualquer fun!tao social, nem autorizou a pessoa alguma que vendesse bilhetes ou propaganda para qualquer evento". Embora tal usa seja bastante comum, entra tao raramente na literatuFa academic a, que em nada contribui para 0 caos que prevalece na terminologia. Evidentemente, este significado da palavra e inteiramente estranho a analise funcional na sociologia. Urn segundo usa toma 0 termo "fun!tao", virtualmente equivalente ao termo "ocupa!tao". Max Weber, por exemplo, define ocupa!tao como "0 modo de especializa!tao, especifica!tao e combinagao das fungoes de urn individuo, com referencia ao que para ele constitua a base de uma oportunidade continua de ganho ou lucro") Este usa do termo e freqiien1. Max Weber, Theory of Social and Economic Organization, (Londres: William Hodge & Co" 1947), 230.
(editado por Talcott Parsons),
te, e na verdade quase tipico, por alguns economistas que se referem a "analise funcional de um gropo" quando relatam a distribui!tao de ocupa!toes em tal grupo. Sendo esse 0 caso, pode ser de born aviso seguir a sugestao 1e Sargent Florence 2 de que seja adotada para tais investiga~oes a frase descritivamente mais proxima, "analise ocupacional". Urn terceiro use, representando uma variedade especial do anterior, encontra-se tanto na linguagem popular como na. ciencia politica, 0 termo fun!tao e usa.do freqtientemente a fim de signi!icar as atividades atribuidas ao ocupante de uma situa!tao social e, mais particularmente, dp. urn cargo ou posi!tao politica. Isto deu origem ao termo "funcionario", ou ·'empregado". Embora neste sentido a fun!tao se sobreponha em significa!tao mais extensa ao significado adotado para tal termo em sociologia e em antropologia, seria melhor que a excIuissemos, uma vez que ela distrai a aten!tao do fate de que as funQoes sac realizadas nao s6 pelos ocupantes de posi!toes designadas, como tambem por uma extensa escala de atividades padronizadas, de processos sociais, de padroes de cultura, e de sistemas de cr,en!ta encontrados numa sociedade. Desde que foi introduzida po: Leibniz, a palavra fun!tao tern sua significa!tao mais exata na matematica, na qual ela se ref ere a uma variavel considel'ada em rela!tao a uma ou mais de outras variaveis, em termos da qual ela pode ser expressa, ou de cujo valor depende seu proprio valor. Esb concep!tao, num se:ltido mais extenso (e !reqtientemente mais impreciso), e express a por !rases como "interdependencia funeioHal" e "rela!;oes funcionais", tao freqtientemente adotadas por cientistas sociais. ~ Quando Mannheim observa que "cada fate social e uma fun(11.0do tempo e do lugar em que ocorre", ou quando um dem6grafo afirma que "os indices de nascimento estao em fun!tao da situa!tao econ6m1ca", estao manifestamente fazendo usa da significa!tao matematica, embora a primeira nao seja relatada na forma de equa!toes e a segunda 0 seja. 0 texto geralmente torna claro que 0 termo fun!tao esta sendo lJsado neste sentido matem:Hico, mas os cientistas sociais movem-se de Ill. para ca entre esta significa!tao e outra que Ihe e relativa, embora distinta, a qual tambem envolve a nO!tao de "interdependencia", "rela!tao !'eciproca", ou "varia!toes mutuamente dependentes". E esta quinta significa!tao, que e fundamental na analise funcional, 2.
P.
Sargent
Florence,
Statistical
Method in Economics,
(Nova Iorque:
Harcourt,
Bra.ee
& Co., 1929); 357-58n.
3. Assim, diz Alexander Lesser: "Em seus aspectos l6gicos essenciais, que e uma rela~ao funcional? Tern alguma diferen~a em especie com as rela~6es funcionais em outros campos da ciencia? Penso que nao. Uma rela,ao verdadeiramente funcional e a que sc estabelece entre dois ou mais termos ou varilS,veis de modo tal que se possa afirmar que em certas condi,6es definidas (que formam urn termo da rela,ao) se observam certas express6es determinadas das ditas condi,6es (que sao 0 outro termo da rela~ao,. A rela,ao ou rela~6es funcionais enunciadas de to do aspecto delimitado da cultura devem ser tais, que expliquem a natureza e 0 carater do aspeeto delimitado em condi,6es definidas', "Functionalism in social anthropology". American Anthropologist, N.S. 37 (935), 386-93, pag. 392.
tal como tem sido praticada na sociologia e na antropologia social. Derivando em parte do sentido matematico nativo do termo, este usa e mais f'requente e explicitamente adotado nas ciencias biol6gicas, nas quais 0 termo fungao se ref ere aos "processos vitais au organicos, considerados nos aspectos em que contribuem para a manutengao do organismo". 4 Com modW.cag6es apropriadas ao estudo da sociedade hum ana, esta sigllificagao crirresponde de modo bastante proximo ao conceito-chave d~ fungao tal como e adotada pelos funcionalistas antropologicos, puros au moderados. 5 Radcliffe-Brown e quem com mais frequencia explica tal significado ao tragar seu eficaz conceito de fungao social em relagao ao modelo ana· logico encontrado nas ciencias biologicas. A maneira de Durkheim, €lIe afirma que "a fungao de um processo fisiol6gico recorrente e assim uma correspondencia entre esse e as necessidades (isto e, as condig6es necessarias de existencia) do organismo". E na esfera social, em que as seres humanos individuais, "as unidades essenciais", estao ligadas par redes de relag6es sociais num todo integrado, "a fungao de qualquer atividade recorrente, tal como a punigao de um crime, au uma cerimonia ft1nebre, e a parte que ela desempenha na vida social como um todo e, portanto, a COl1tribui;;ao que ela da a manutengao da continuidade estrutural-"5 Embora Malinowski divirja em diversos aspectos em relagao as formulag6es de Radcliffe-Brown, €lIe concorda com a mesmo quando considera que a nt1cleo da analise funcional e a estudo "do papel que (as fatores sociais au culturais) desempenham n~ sociedade". Malinowski exp6e numa de suas primeiras declarag5es de propositos: "Este tipo de teoria objetiva a explanagao dos fatos antropologicos em todos as niveis de desenvolvimento pol' sua func;ao, pela parte que lhes toea dentro do sistema integral de eultura, pela maneira com que sao relacionados outros eomponentes dentro do sistema ... " 7
a eada um dos
4. Vejam-se, por exemplo, Ludwig von Bertalanffy, Modern Theories of Development (Nova Iorque: Oxford University Press, 1933). e 9 e segs., 183 e segs.; W. M. Bayliss, Principles of General Physiology (Londres,. 1915), 706, onde descreve suas pesquisas sabre as funQo0s dos hormonios descobertos por Starling e por Me pr6prio; W. B. Cannon, Bodily Chan· ge. in Pain, Hunger, Fear and Rage (Nova Iorque: Appleton & Co., 1929), 222, em que descreve as "funQoes de emergencia do sistema simpatico-supra-renal". 5. Lowie faz distinQao entre 0 "funcionalismo puro" de Malinowski e 0 "funcionalismo moderado", de Thurnwald. Embora a distinQao seja acertada, ver-se-a em seguida que nao e pertinente aos nossos prop6sitos. R. H. Lowie, The History of Ethnological Theory (Nova Iorque: Farrar & Rinehart, 1937), Capitulo 13. 6. A. R. Radcliffe-Brown, "On the concept of function in social science", American AnthroVeja,-se tambem seu posterior discurso presidencial perante 0 pologist, 1935, 37, 395-6. Royal Anthropoiogical Institute, em que declara: " ... Eu definiria a funQao social de urn modo de atividade socialmente padronizado, ou de um modo de pensamento, com Sua relaQB.ocom a estrutura social para cuja eXistencia e continuldade faz qualquer contribuiQao. Anaiogarnente, num organismo vivo, a funQao fisiol6gica das batidas do coraQao, ou da secreQao dos sucos gastricos, e sua relaQao com a estrntura organica ... " "On social structure", The Journal of the Royal Anthropological Institute of Great Britain and Ireland, 1940, 70, Pt. I, 9-10. 7. B. Maiinowski, "Anthropoiogy", Encyclopaedia Britannica. Primeiro volume suplemental, (Londres e Nova Iorque, 1926), 132-133 [0 ~rifo e nossoJ.
•
Tal como veremos em breve, com alguns detalhes, frases que se repetem como esta: "0 papel desempenhado no sistema cultural ou social", tendem a conferir imprecisao a :mportante distingao entre 0 conceito de fungao no senti do de "interdependencia" e a de "processo". Nem necessitamos fazer pausa aqui a fim de observar que a postulado sustentador de cada item de cultura tem algumas relag6es dUrll.veis com outros :
o grande conjunto de term as usados de modo indiferente e quase como sinonimo de "fungao", inclui os significados de usa, utili dade, finali.dade, motivo, intengao, alva, consequencias. Se pusessemos estes e outros termos semelhantes em usa, para nos referirmos ao mesmo conceito estritamente definido, evidentemente haveria pouca utilidade em observar sua numerosa variedade. Porem, e fato que 0 usa indisciplinado destes termos, com sua referencia conceptual ostensivamente semeIhante, conduz a afastamentos sucessivamente maiores, em relagao a analise funcional rigorosa e justa. Os significados de cada termo, que mais diferem que coincidem com 0 significado que tem em comum, constituem a base Cinconsciente) para inferencias que se tornam crescentemente duvidosas, na proporgao em que se distanciam progressivamente do conceito central de fungao. Uma ou duas ilustrag6es ressaltarao que um vocabulario movel estimula a multiplicagao dos mal-entendidos. No trecho seguinte, extraidb de um dos mais sensatos tratados da sociologia do crime, podem-se reconhecer as variag6es do significado de termos nominalmente sinonimos, e as duvidosas inferencias que dependem de tais flutuag6es de entendimento. (Os termos-ehave sao grifados a fim de nos ajudar a eneontrar nosso caminho atraves do assunto.) 8.
Clyde Kluckhohn, Navaho Witchcraft, Trabalhos Etnologia America.nas, Universidade de Harvard, XXII,
N.· 2, 47a.
do Museu Peabody de Arqueologla e (Cambridge: Peabody Museum, 1944),
Finalidade do castlgo. Em diferentes grupos, e em epocas diferentes, tem sido feitas ten· tativas para determinar a finalidade ou funciio do castigo. Muitos pesquisa.dores tem insistido em que algum motivo era 0 motivo do castigo. Por outro lado, salienta·se a fUllciio do ca.stigo em rest aurar a solidariedade do grupo, que foi enfraquecida pelo crime. Thomas e Zna· niecki tem indicado que entre os camponeses dOl Po16nia 0 castigo do crime e destinado primariamente a restaurar a situa~ao que existia antes do crime e a rellovar a solidariedade do grupo, e que a vingan~a e uma consideraciio secundaria. Deste ponto de vista, 0 castigo diz respeito primariamente 00 grupo e somente sec.undariamente ao ofens or. Por outro lado, a expia~ao, a intimida~ao, a reforma, 0 lucro para 0 Estado e outras coisas tem sido formuladas como a funcao do castigo. No pa.ssado como no presente, nao e claro que algum destes seja 0 motivo; os castigos parecem derivar de muitos motivos e reallzar muitas fun~iies. Is to e verdadeiro tanto em rela~ao as vitimas individuais de crimes como em rela.,;ao ao Estado. Certamellte as leis da presente epoca nao sao congruentes em propositos ou motivos; provavelmente existiam as mesmas condi~6es nas sociedades primitivas. 9
Em primeiro lugar, deveremos atentar para a lista dos termos que ostenslVamente se referem ao mesmo conceito: finalidade, fun~ao, motivo, destina~ao primaria e considera~ao secundaria, prop6sito. Examinando-os, torna--se claro que estes termos se agrupam em estruturas conceptuais de referencia inteiramente distintas. POI' vezes alguns deles motivo, designio, prop6sito e finalidade, - claramente se referem as explicitas finalidades dos representantes do Estado. Outras vezes - motlVos, considera~ao secundaria - referem-se, as finalidades da vitima dO crime. E ambos estes conjuntos de termos saD POI' igual referidos as antecipagoes subjetivas dos resultados do castigo. Porem, 0 conceito de fun~ao inclui 0 ponto de vista do observador, nao necessariamente 0 do participante. A fun~ao social se refere as conseqiiencias objetivas observa. t'ets, e nao as disposigoes subjetivas (prop6sitos, motivos, finalidades). E a falha em distinguir entre as conseqtiencias sociol6gicas objetivas e as disposi~6es subjetivas, inevitavelmente conduz a confusao da analise fun· cional, como se pode perceber no seguinte ('xcerto, (no qual tambem as palavras·chave sac grifadas): o extremo da irrealidade e atingido na apresenta~iio das chamadas "fun~6es" da faml· lia. Ouvimos dizer que a familia. realiza importantes funcoes na sociedade; proporciona a perpetua~ao da especie e 0 treinamento dos jovens; preenche fun~6es econOmicas e rellglosas, e assim por diante. Quase somos levados a acreditar que as pessoas se casam e tem filhos porque estao ansiosas em desempenhar essas fun~6es necessarias. Na realidade, as pessoas se casam porque se enamoram, ou por outras raz6es menos romanticas, porem, nao meno~ pessoais. A funCiio da familia, a partir do>ponto de vista dos individuos, e satisfazer seu' desejos. A funcao da familia ou de outra qualquer institui~ao social e simplesmente 0 uso que as pessoas dela fazem. As "funcoes" sociais sao em sua maior parte racionalizacocs de prliticas estabelecidas; nos agimos em primeiro lugar, explicamos depois; nos agimos por razees pessoais, e justificamos nosso comportamento por principios sociais e eticos. Na me· dida em que essas funcoes das institui~6es tenham qualquer base real, devem·se afirmar 10m termos dos processos sociais nos quais as pessoas atuam, na tentativa de satisfazer seus desejos. As fun~ees surgem da integra~ao dos seres humanos concretos e das finalidades concretas .10 9. Edwin H. Sutherla.nd, Principles of Criminology, 3.a edi~ao (Filadelfia: J. B. Lippincott, 1939), 349-350. 10. Wlllard Waller, The Family, (Nova Iorque: Cordon Company, 1938), 26.
Esta. passagem e uma interessante mistura de pequenas ilhas de clareza, no meio de vasta confusao. SempTc que ela erradamente identifica motivos (subjetivos) com fun~6es (objetivas), abandona uma tomada de posi~ao funcional lucida. Pois nao C: precise admitir, como vere. mos, Que os motivos para contrail' matrimonio ("amor", "raz6es pessoais") sao idEmticos as fungoes desempenhadas pelas familias (socializa~ao da crian~a). Ademais, nao e necessario admitir que as razoes apresentadas pelas pessoas para justificarem seu comportamento, ("nos agimos POI' raz6es pessoais") sejam identicas as conseqtiencias observadas de tais padr6es de comportamento. A disposi~ao subjetiva po de coincidir com a conseqtiencia objetiva, mas tambem pode nao coincidir. As duas variam de modo independente. Contudo, quando se diz que as pessoas SaG ievadas a SP.lan~ar em determinado comportamento que pode dar origem a fun~6es (nao necessariamente intencionadas), apresenta-se urn escape para se sail' do perturbado mar de confus6es. 11 Esta breve apresenta~ao de terminologias em competi~ao e suas desafortunadas conseqtiencias pode servir-nos de guia em dire~ao a esfor~os posteriores, para atingir a codifica~ao dos conceitos de analise funcioI~al. Evidentemente haven:!, muita ocasiao para limitar 0 usa do conceito sociol6gico de ufun~ao", e havera necessidade de se distinguir claramente entre categorias sUbjetivas de disposi~ao, e categorias objetivas de conseqtiencias observadas. Se assim nao for, a substancia da orienta~ao funcional podera perder-se numa nuvem confusa de defini~6es.
Principalmente, mas nao s6mante em antropologia, os analistas funciOnais tern adotado comumente tr~s postulados interligados os quais, conforme agora sugeriremos, sac discutiveis e desnecessarios para a orienta~ao funcional. De modo sUbstancial, tais postulados mantem, em primeiro lugar, que as atividades padronizadas ou itens culturBis, sac funcionais para todo o sistema social ou cultural; em segundo lugar, que todJos esses it ens sociais e culturais preenchem fun~6es sociol6gicas; e em terceiro, que tais itens sac conseqtientemente indispensaveis. Embora estes tres artigos de fe sejam vistos comumente apenas uns em companhia dos outros, seria II.
Estes dois exemplos de confusao entre motivo e fun~ao san tirados de urn reposit6rio facilmente acessivel de materiais adicionais da mesma classe. Mesmo Radcliffe-Brown, que de costume evita est a pratica, de vez em quando esquece de fazer a distincao. Por exemplo: ••... a troca de presentes nao servia a mesma finalidade que 0 comercio A finalidade que servia era uma e 0 escambo em comunidades mais desenvolvidas. finalidade moral. 0 objeto da troca de presentes era produzir um sentimento amistoso entre as duas pessoas afetadas e, se nao servia para isso, fracassava. em sua finalidade". o "objeto" da transa~ao esta visto do ponto de vista do observador, do participante ou dos dois? Veja-se A. R. Radcllffe-Brown, The Andaman Islanders, (Glencoe, Illinois: The Free Press, 1948), 84 [0 grifo e nosso].
melhor que fassem examinados separadamente, desde que cada um deles da origem a suas pr6prias dificuldades distintas.
E Radcliffe-Brown quem de modo caracteristico lado em termos explicitos:
estabelece esse postu-
A fun~ao de urn uso social particular e a contribui~ao que ele faz para a vida social Tal visao implica em que urn total, como se da 0 funcionamento do sistema social total. sistema social (a cstrutura social total de uma sociedade, juntamente com a totalidade dos usos sociais, no aspecto em que a estrutura aparece e naquele de que ela depende para sua existencia continuada), tern uma certa especie de unidade, a que podemos nos referir como unidade funcional. Podemos defini-Ia como uma condi~ao na qual t6das as partes do sistema social traba,lham em conjunto com um grau suficiente de harmonia ou coerencia in· 08 quais nao podem ser resolvidos nem terna. isto ii, sem produzir conflitos persistentes, regulados.12
Contudo, e importante notar que ele prossegue descrevendo essa nogao de unidade funcional como uma hip6tese que exige prova complementar. Poderia a principio parecer que Malinowski estava questionando a aceitabilidade empirica desse postulado, quando nota que "a escola sociol6gica" (na qual ele coloca Radcliffe-Brown) "exagerou a solidariedade social do homem primitixo", e "negligenciou 0 individuo".13 Porem logo se torna aparente que Malinowski nao abandona tal admissao dtlbia como ainda consegue acrescentar-lhe outra. Ele continua a falar de pra: ticas e crengas padronizadas, como senda funcionais "para a cult·ura cumo um todo", e prossegue admitindo que elas sac tambem funcionais para cada membro da sociedade. Assim, referindo-se as crengas primitivas no sobrenatural, ele escreve: Aqui a visao funcional e submetida it sua prova de fogo... E' obrigada a demonstrar de que maneira a cren~a e 0 rito trabalham para integra~ao social, para a eficiencia tecnica e econ6mica, para a c.ultura como urn todo, indiretamente, portanto, para 0 bem-estar bio16"ico e mental de calla membro individual. 14
Se a suposigao nao qualificada, isolada, e questionavel, esta dupla suposigao e duplamente questionavel. Se os itens cUlturais, uniformemente preen chern fungoes para a sociedade visualizada como urn sistema, Radcliffe-Brown, "On the concept of function", op. cit., 397 [0 grifo e nosso]. Ver Malinowski, "Antropology", op. cit., 132 e "The group and the individual in func· tional analysis", American Journal of Sociology, 1939, 44, 938-64, pag. 939. 14. Malinowski, "Anthropology", op. cit., 135. Malinowski manteve este ponto de vista, sem mUdan~a essencial, nos seus trabalhos posteriores. Entre estes, veja-se por exemplo, "The group and the individual in functional analysis", op. cit., 962-3: " ... vemos que t6da institui~ao contribui de uma parte para 0 funcionamento integral da comunidade como urn todo, mas que tambem satisfaz as necessidades derivadas e basicas do individuo ... todos os beneficios que acaba.mos de enumerar sac desfrutados por cada memo bro individual". [0 grifo e nossoJ.
e para todos os membros da sociedade, e presumivelmente uma questao empirica d~ fato, ao inves de congtituir-se num axioma. Kluckhohn evidentemente pereebe 0 problema. visto que amplia as alternativas a fim de incluir a possibilidade ou de que as form as culturais "sao ajustadas ou adaptativas ... para os membros da sociedade ou para a sociEdade considerada como uma uni:lade dura-vel". 15 Este primeiro passo e necessario para que se permita a variagao na unidade que e servida pela fungao imputada. Compelidos pela f6rga da observagao empirica, teremos ocasiao de alargar a faixa da variagao ainda mais, em relagao a essa unidade. Parece razoavelmente claro que a nogao da unidade funcional niio e um postulado fora do alcance das provas empiricas; muito ao contrario. o grau de integragao e uma variavel empirica,16 mudando na mesma sociedade, de tempos a tempos, e diferindo entre sociedades diferentl?s. Que t6das as sociedades humanas devam ter algum grau de integragao, e assunto de definigao e convida a interrogagao. Porem, nem t6das as sociedades t.em aquele alto grau de integr::l,~ao no qual cada atividade ou crenga culturalmente padronizada seja funcional em relagao a socieaade como um todo, e uniformemente funcional para 0 povo que nela vive. Efetivamente, Radcliffe-Brown nao precisaria olhar alem do seu preferido reino de analogia, a fim de suspeitar da adequabilidade de sua admissac da unidade funcional. Pois encontramos variugoes significativas no grau de integragao, mesmo entre organismos biol6gicos individuais, emj-,ora a admlssao do senso comum nos contasse que aqui, segUiramente, t6das as partes do organismo trabalham em diregao a uma finalidade "unificada" . Considere-se somente isto: Fitcilmente se pode ver que existem organismos altamente integrados sob estreito contr6le do sistema nervoso, ou dos horm6nios, dos quais a perda de qualquer parcela maior afetar'" fortemente todo 0 sistema, e freqlientemente causara a morte. Porem de outro lado, existem os organismos inferiores muito mais fronxamente correlacionados, nos quais a perda de temporario, durant~ mesmo uma grande parte do corpo causa s6mente um inconveniente a regenera~ao dos tecidos de substitui~ao. Muitos desses animais organizados de modo mais frouxo sao tao pobremente integrados, que as diferentes partes podem estar em oposi~iio umas as outras. Assim, quando uma estrela-do-mar comum e colocada, de costas, parte dos bra~os pode tentar virar 0 animal numa dire~ao, enquanto que os outros trabalham p:ua vira-Io na dire~ao oposta... Como resultado de sua frouxa integra~ao, a anemona-do-mar pode mover-se do lugar e deixar uma por~ao de seu pe agarrando-se fortemente '" uma tDcha, de modo que 0 animal sofre seria ruptura.17
tiori
S-e tal e verdadeiro com organismos isolados, poderia parecer a forque 0 mesmo sucedesse com sistemas sociais complexos.
15. Kluckhohn. Navaho Witchcraft, 46b [0 grifo e nosso]. 16. A primeira revisao que fez Sorokin de teorias de unifica~ao nao ter perdido de vista este fate importante. Veja-se "Forms -integration", por P. A. Sorokin, em Rural Sociology, 1936, 1, 17. G. H. Parker, The Elementary Nervous System, citado por W. gation, (University of Chicago Press, 1931), 81-82.
social, tem 0 merito de and problems of culture· 121-41; 344-74. C. Allee, Animal Aggre·
Nao precisamos prosseguir muito longe neste campo, para demonstrar que 0 admitir-se a unidade funcional completa da. sociedade .h~mana e repetidamente contrario a realidade· Os usos ou sentimentos SOCIalSpodem ser funcionais para alguns grupos e nao-funcionais para outros da mesma sociedade. Os antrop610gos citam com freqtiencia a "crescente so1idanedade da comunidade", e "0 crescente orgu1ho da familia", como exemplos de sentimentos funcionalmente adaptativos. Noentanto, conforme indicou BatesonI8 entre outros, urn aumento de orgulho entre familias individuais pode freqtientemente servir para romper a solidariedade de uma pequena comunidade local. Nao somente 0 postulado da unidade funcional e contnlrio aos fat os, como tambem tem pequeno valor heuristico, desde que ele distrai a; atengao do analista em relagao a possiveis conseqtiencias dispares de urn dado item social ou cultural (usa, crenga, padrao de comportamento, instituigao) para diversos grupos sociais e para os membros individuais desses grupos. Se 0 volume de observagao e de realidade que nega a admissao da unidade funcional e tao grande e tao facilmente acessivel como temos sugerido, e interessante perguntar como e que Radcliffe-Brown e outros que seguem sua orientagao tem continua do a sustentar esta admissao. Uma pista possivel e proporcionada pelo fato de que esta concep(;ao, em suas recentes formulag6es, foi desenvolvida por antr,op6logos sociais, isto e, por homens que se ocupam de modo primacial com 0 estudo de sociedades agrafas. Em vista do que Radin descreveu como "a natureza altamente integrada na maioria das civilizac,;6esaborigenes", esta admissao pode. ser to1eravelmente adequada para algumas, senao para todas as sociedades iJ.grafas. Contudo, paga-se excessiva penalidade intelectual por esta suposigao, que possive1mente seja uti] ao ambito de pequenas sociedades iletradas, para 0 das sociedades letradas, grandes, complexas E: altamente diferenciadas. Talvez em nenhum outro campo os perigos de tal transferencia de suposigao se torne mais visfvel do que na analise funcional da religiao. Este assunto merece um breve exame quando mais nao seja devido ao fato de que e1e exibe em audacioso relevo as ideias erroneas das quais nos tornamos herdeiros, quando adotamos simpaticamente esta suposigao, sem uma filtragem completa. A Interpretar;iio Funcional da Religiiio. Ao examinar 0 prego pago pe-; lB. transferencia desta suposigao tacit a de uma unidade funcional do campo de grupos iletrados relativamente pequenos e comprimidos para 0 campo de sociedades mais diferenciadas e talvez mais integradas, e util considemr 0 trabalho dos soci610gos, 'Particularmente daqueles que sejam ordinariamente sensfveis as suposic,;6es sabre as quais trabalham. Isto tem urn interessE' passageiro devido a sua influencia sabre a questao mais geral de pro~urar, sem modificagao apropriada, aplicar ao estudo das sociedades alfabetizadas, concepg6es desenvo1vidas e amadurecidas no estudo das sociedades agrafas. (A mesma questao essencial vale quanto a
transferencta de processos e tecnicas de pesquisa, porem nao e aqui que este assunto sera tratado). As grandes generalizag6es, nao limitadas no espac,;o e no tempo, acerea das "fung6es integradoras da religiao" sac derivadas em grande parte, embora evidentemente nao seu todo, de observag6es efetuadas em soeiedades agrafas. Nao tern side raro verificar que 0 cientista social adota impUcitamente os achados relativos a tais sociedades e prossegue discorrendo prolixamente sabre as func,;6es integradoras da religiao em r;eral. Daf, ha apenas urn passe para que se fagam afirmac,;6es como a seguinte: A rado pela qual a religiao Ii necessl'iria esta aparentemente manifestada no fato de qu~ sociedade humana alcan~a sua unidade primariamente atraves da posse, por seus membros, de certos val6res finais e objetivos em comum. Embora tais val6res e objetivos sejam de aprecia~1\o subjetiva, eles infiuenciam 0 comportamento, e sua. integra~flo capacita a socii!dade a operar como um sistema.I9 Numa sociedade extremamente avan~ada erguida sObre a tecnologia cienlifica, a classe ~acerdotal tende a perder importfmcia, porque a tradi~ao sagrada e 0 supernaturalismo cnem paJa um segundo plano ... [mas] Nenhuma sociedade tornou-se Hio completamente secularizada a ponto de liquidar inteiramente a cren~a em finalidades transcendenta!s e Mesmo numa sociedade seculariza.da algum ~istema deve exist!r entidades sobrenaturais. para a integra~ao dos val6res !inais, para sua expressao rituallstica, e para os ajustamentos cmocionai9 exigidos pelo desengano, a morte e a desgra~a.20 ll.
Partin do da orientac,;ao de J?urkheim, que era baseada na sua. maior parte sabre 0 estudo de sociedades iletradas, estes autores tendem a isolar somente as conseqiiencias aparentemente integradoras da religiao e a negligenejar suas conseqtiencias possivelmente desintegradoras em certos tipos de cstrutura social. No entanto, considere-se a seguinte lista de fatos e interrogac,;6es: (1) Quando religi6es diferentes coexistem na mesma sociedade, freqiientemente ocorrem conflitos profundos entre os diversos grupos religiosos (considere-se apenas a enorme literatura acerca de confUtos tnter-religiosos nas sociedades europeias). Entao, em que sent.ido a reHgiao proporciona a integragao "da" sociedade, nas numerosas sociedades multi-religiosas? (2) E clara a afirmagao de que "a sociedade humana alcanga sua unidade (na medida em que ela exiba tal unidade) primariamente atraves da posse por seus membros de certos va16res e fins definitivos em comum". Po rem, qual e a evidencia a indicar que os grupos "nao-religiosos", digamos, em nossa pr6pria sociedade, subscreyam com menor freqtiencia certos "va16res e objetivos" comuns. do lJue os grupos devotados a doutrinas religiosas7 (3) Em que sentido a religiao favorece a integragao da sociedade em gera1, se 0 conteudo de sua doutrina e de seus valores esta em oposic,;ao ao conteudo de outros va16res nao-religiosos, adotados por muitas pessoas na mesma sociedade? (Considere-se, por exemplo, 0 conflito entre a oposic,;ao da Igreja Cat619. Kingsley Davis e Wilbert E. Moore, "Some principles of stratification", Sociological ltcview, a.bril de 1945, 10, 242·49, pag. 244 [0 grifo e nosso]. 20. Thid.. 246 10 r:rifo e nossol.
American
Hca a legislac;ao referente ao trabalho das crianc;as, e os valares seculares de evitar a "explorac;ao de jovens dependentes". Ou as avaliac;oes contrastantes do contrale de natalidade POl' diversos grupos religiosos de nossa sociedade). Esta li"'ta de fat03 que sac verdadeiros lugares-comuns, relativos ao papel oa religiao nas sociedades letradas contemporaneas, poderia ser grandementc ampliada, e elas sac evidentemente bem conhecidas daqueles antrop610gos c soci610gos funcionais que descrevem a religiao como integradora, sem limitar 0 alcance das estruturas sociais nas quais tal efeito efetivamente se da. Pelo menos e concebivel que uma orientac;ao te6rica, derivada da pesquisa realizada em sociedades agrafas, tenha servido para obscurecer dados de outro modo conspicu:ls, relativos ao papel funcional da religiao nas sociedades multi-religiosas. Talvez seja a transfer€mcia da suposic;ao da unidade funcional a responsavel pela eliminac;ao de t6da a hist6ria das guerras de religiao, da Inquisic;ao (a qual meteu 0 bedelho em uma sociedade ap6s outra) e dos conflitos sangrentos entre grupos religiosos. Pois 0 fato e que todo este material abundantemente conhecido e ign0rado em favor de ilustrac;oes extraidas do estudo da reTi· giao em sociedades agrafas. E ainda ha mais urn fato chocante naqlleIe trabalho acima citado, que prossegue, afirmando que "a religiao proporciona a integraC;ao em termos de sentimentos, crenc;as e ritos", e que nenhuma referencia sequel' faz ao papel possivelmente divisor da religiao. Tais analises funcionais podem signifiear, evidentemente, que a religiao proporciona a integrac;ao daqueles que acreditam nos mesmos val6res religiosos; porem, e improvavel que sej a isto 0 que se tinha em mente. porque equivaleria meramente afirmar que tada coincidencia sabre qualquer tabua de valares, produz a integragiio. Alem do mais, isso ilustra tambem 0 perigo de tomar a admissao da unidade funcional, a qual po:de ser uma razoavel apro}Qimac;ao para algumas &ociedades agrafas, come parte de urn modelo implicito para a analise funcional generalizada. Tipicamente, nas sociedades agrafas, ha apenas urn sistema religioso predomimmte, de modo que, a parte as desvios individuais, a filiac;ao da sociedade total e a filiac;ao da comunidade religiosa sac virtualmente coexistentes. 6bviamente, neste tipo de estrutura social, uma escala comum de val6res religiosos pode tel' como uma de suas consequencias 0 refarc;o de sentimentos comuns e da integra~ c;;ao social. Porem, isto nao se presta facilmente a uma generalizac;ao que se posE-a defender para outros tipos de sociedade. Teremos ocasiao de voltar a outras consequencias te6ricas da analise funcional utual da religiao, porem, no momento, isto pode ilustrar as perigos que herdamos ao adotar c postulado nao qualificado da unidade funcional. Esta unidade da sociedade total nao pode afirmar-se wm proveito antes da observac;ao. E questao de fat a e nao materia de opiniao. A estrutura te6rica da analise funcional deve exigir expressamen-
te que haja especijicar;iio das unidades para as quais seja funcional urn dado item social ou cultural. Ela deve conceder que urn determinado item ten,ha diversas consequenoias, iuncionais e disfuncionais, para individuos, para subgrupos, e para a estrutura e cultura social mais amplas.
Do modo mais sucinto, este postulado afirrna que tadas as formas soclais ou culturais, padronizadas, t~m func;oes positivas. Como em outros aspectos dn. concepc;ao funcional, Malinowski formula este em sua forma mais extrema: "0 conceito funcional
da cultura insiste, portanto. sobre 0 prinoipio de que cm eada tipo idela e cren~a prcenc.he alg-uma fun~ao vital. .. 21
tie eiviliza~ao, eada costume, objeto material,
Como temos visto, embora Kluckhohn fac;a concessoes a variac;ao ns unidade servida POl' uma forma cultural, ele se une com Malinowski ao postular 0 valor funcional para tadas as formas sobreviventes de cultura. ("Meu postulado basico ... e que nenhuma forma de cultura sobre\'iva em algum sentido ... "22) Este funcionalismo universal pode ser ou nao urn postulado heuristico; isto fica para sei' verificado. Porem devemos estar preparados para determinar se ele tambem desvia a atenc;ao crittca de uma variedade de consequencias nao-funcionais de form as culturais existentes. De fato, quando Kluckhohn procura ilustrar sua af1rmac;~o mediante a atribuic;ao de "func;oes" a itens que aparentemente nao as tern, ele volta a urn tipo de funC;~o que deveria ser encontrada, par dejinir;iio ao inyes de POl' investigac;ao, servida POl' todos os itens persistentes da cultura. Assim, ele sugere que: Os botoes das mangas de uma roup a europeia de homem, presentemente inuteis do ponto de vista mecanico, desempenhsm a "fun~ao" de preservar 0 familiar, de manter uma tradiQao. As pessoas se sentem, em geral, msis con!ortaveis, quando se tornam consciss de uma continuidade de comportamento, se consideram como seguidoras das form as de comportamento ortodoxas e socialmente aprovadas.23
Isto pareceria representar 0 caso marginal em que a imputac;ao de func;oes POu.coou nada acrescenta a descric;ao direta do padrao de cultura ou forma de comportamento. Pode-se bem admitir que todos os elementos eswbelecidos de cultura (os quais sac frouxamente descritos como "tradic;ao") tern a func;ao minima, embora nao exclusiva, de "preservar 0 familiar, de manter uma tradic;ao". Isto equivale a dizer que a "func;ao" do conformi,smo com qualquer pn1tica estabelecida e habilitar 0 conformista a evitar as sang6es em que incorreria ao se desviar da pratica con21. Malinowski, "Anthropology·, op. cit., 132 [0 grifo, que e nosso, talvez seja superfiuo. cm vista, da linguagem energica do original J. ,,,. Kluckhohn, Navaho Witchcraft, 46 [0 grifo e nos~oJ. 23.
Ibid.,
47.
sagrada. Isto e sem duvida verdadeiro, porem pouco esclarecedor. Contudo, serve para nos fazer recordar que teremos que explorar os tipos de junr;6es que 0 soci610go pressup6e. No momenta, isto sugere a suposir;ao provis6ria de que, embora qualquer manifestar;ao de cultura ou de estrutura social possa ter funQ6es, e prematuro sustentar inequivocamente que cada uma de tais manifestaQ6es deva ser funcional. o postulado do funcionalismo universal, evidentemente, e 0 produto da feroz, esteril e arrastada controversia acerca dos "sobreviventes", que grassava entre os antrop610gos durante a primeira parte do seculo. A nOQao de uma sobrevivencia social, isto e, nas palavras de Rivers, de "urn costume ... (que) nao pode ser explicado pela sua utilidade atual, porem somente se torna inteligivel atraves de sua hist6ria passada," 24 data pe10 menos do tempo de Tucidides. Mas, quando as teorias evolucionistas da cultura se tornaram proeminentes, 0 conceito da sobrevivencia pa,receu muito mais estrategicamente importante para reconstruir os "estagios de desenvolvimento" das culturas, particularmente para as sociedndes agrafas, as quais nao possuiam nenhum registro escrito. Para os funcionalistas que desejavam afastar-se de algo que consideravam como a "hist6ria" usualmente fragmentaria e freqUentemente conjetural das sociedades n.grafas, 0 ataque sobre a nOQao da sobrevivencia tomou todo 0 simbolismo de um ataque sobre 0 total e repugnante sistema do pensamento evolucionista. Talvez, em conseqUencia, eles reagiram de modo l"xtremado contra este conceito central da teoria evolucionista e ofereceram um "postulado" igualmente exagerado, segundo 0 qual "todo e qualquer costume (em qualquer lugar) ... preenche alguma funQao vital". Seria Jamentavel c.eixar que as polemicas de nossos antepassados antropo16gicos criassem esplendidos exageros no presente. Uma vez descobertas, catalogadas e f;studadas, as sobrevivencias soclais nao podem ser exorcizadas por um postulado. E se nao podem apresentar nenhum e3pecime de tais sobreviv£'ncias, entao a discussao se extingue por si me sma. Alem do mais, pode-5e dizer que mesmo quando tais sobrevivencias PO!!sam ser identificadas r,as sociedades letradas contemporaneas, elas pareeem pouco acrescentar ao nosso entendimento do comportamento humano ou da din~mica das mudanQas sociais. Nao necessitando do duvido!!O papel de pobres substitutos da hist6ria escrita, 0 soci610go das sociedades letradas pode negligenciar as sobrevivencias sem nenhuma perda aparente. Forem, ele nao precisa ser impelido por uma controversia arealca e irrelevante a adotar 0 postulado irrestrito, de que todas as manifestaQoes culturais exercem funQoes vitais, pois isto tambem e um problema de investigal;ao e nao uma conclusao que se anteponha a ela. 24. W. H. R. Rivers, "Survival in sociology", The Sociological Review, 1913, 6, 293·305. Veja·se tambem E. B. Tylor, Primitive Culture. (Nova Iorque, 1874), especialmente 1. 70·159; e, para uma revisao mais recente da materia, Lowie, The History of Ethnologie.ai Theory, 44 e ~egs., 81 e seg. Uma exposi~ao inteligente e moderada do problema pod!" ~er encontrada em Emile Durkheim, Rules of Soeiological Method, CapitUlo 5, especial. mente nil pag. 91.
Muito mais utH como uma orientaQao a. pesquisa, poderia ser a admissao provis6ria de que as form as persistentes tem um saldo liquido de consetanto para a sociedade considerada como unidade, qiiencias juncionais quanto para subgrupos suficientemente poderosos para que possam reter intatas essas formas, atraves de coerQao direta ou persuasao indireta. Essa formulaQao evita imediatamente a tend€mcia da analise funcional no sentido de concentrar-se sobre funQoes positivas e dirige, ao mesmo tempo, a atenl;ao do pesquisador a outros tipos de conseqUencias.
o ultimo deste trio de postulados, comuns entre os cientistas SOCIalS funcionais, e 0 mais ambiguo em alguns aspectos. A ambigUidade torna-se evidente na declaraQao de Malinowski ja mencionada, segundo a qual em cada tipo de civilizagao, cada costume, objeto material, ideia e crenga preenche alguma !ungao vital, tern alguma tarefa a cumprir, representa uma parte indispensavel dentro d~ um todo que !unciona.25
Nesta passagem, nao e de todo claro se ele afirma a indispensabilidade da junr;ao, ou da coisa (costumes, objeto, ideia, crenQa) que preenche a funQao, ou de ambas. Esta ambiguidade e bastante comum na literatura. Assim, os anteriormente citados Davis e Moore relatam 0 papel da religiao, parecen"A razao pedo a principio sustentar que 0 indispensavel e a instituir;ao. la qual a religiao e necessaria ... ", " ... a religiao... desempenha urn papel unico e indispensavel na sociedade".26 Porem, logo se evidencia que nao e tanto a religiao que e considerada como indispensavel, mas ao inyeS disso, as fungoes de que a religiao e tipicamente encarregada de realizar. Para Davis e Moore, a religiao e considerada como indispensavel somente na extensao em que ela funciona, a fim de fazer os membros de urn!), sociedacle adotarem "certos va16res e fins definitivos em comum" . Acrescenta-se que tais valores e fins, devem ... parecer aos membros da sociedade como tendo alguma realidade e que e papel da crenga religiosa e do ritual !ornecer essa aparencia da realidade. Atraves do rito e da crenga, os va16res e objetivos comuns sao ligados a urn mundo imaginario, simbolizado pelos objetos sagrados concretos, mundo este que por sua vez e relacionado de maneira signifl' cativa aos fatos e dificuldades da vida do individuo. Atraves da veneragao dos objetos sagrados e das entidades que eles simbolizam, da aceita~ao das prescri~iies sobrenaturais que 300 mesmo tempo constituem c6digos de comportamento, exerce-~e urn poderoso contr61e s6bre a conduta humana, guiando·a ao longo de linhas que ~ustentam a estrutura instituclonal e que sao conformes aos fins e valares definitivos.27 25. Malinowski, "Anthropology", op. cit., 132 [0 grifo e nosso], 26. Kingsley Davis e Wilbert E. Moore, op. cit., 244, 246. Veja·se a revisao mais recen~e deste assunto por Davis em sua introdugao a obra de W. J. Goode, Religion Among the Primitives, (Glencoe, Iliinois: The Free Press, 1951) e as instrutivas interpretagoes funcionais que se encontram nesse volume. 27. Ibid., 244·45 (0 grifo e nasso).
Entao, a alegada indispensabilidade da religHio e baseada na admissac do fate de que e unicamente atraves do "culto" e das "prescrigoes sobrenaturais" que pode ser alcangado 0 minima necessario de "contrale sabre a conduta humana" e a "integragao em termos de sentiment os c crengas Resumir.do, 0 postulado da indispensabilidade, tal como e comumente afirmado, contem duas assergoes relacionadas, porem distinguiveis. Primeiro, supoe-se que haja certas junr;oes que saa indispensaveis no: sentida de que, a menos que nao sejam realizadas, a sociedade (0 grupo ou 0 individuo) nao persistira. Isto, entao, exprime urn conceito de pre-requisitos juncionais, ou precondir;oes juncionalmente necesscirias a uma sociedade Cteremos ocasiao de examinar este conceito com alguns detaIhes). Seglmdo, e isto e assunto bastante diverso, admite-se que certas tormas cu!tuTais au sociais sac indispensaveis para preencher cada uma dessas func;oes. Isto implica urn conceito de estruturas especializadas e insubstitu(veis, e da origem a tOda especie de dificuldades te6ricas. Pois, nao s6 pode se demonstrar isto como sendo manifestamente contrario aos fatos, mas tambem acarreta diversas suposigoes subsidiarias, as c;uais tern afetado a amUise funcional dep,de seu inici.o. Isto desvia a atengao do fa to de que as estruturas sociais alternativas (e as formas rulturais) tl\m servido, sob condigoes a serem examinadas, as fungoes necessarias a perslstencia dos grupos. Prosseguindo, devemos estabeleeel' urn teorema basico da analise funcional; tal como a mesma coisa n
•
pade ter ml1ltiplas junr;t5es, assim pode a mesma junr;rio seT' divers amenAs necessidades funcianais saa aqui te preenchida par coisas dijerentes.
Lomadas como permissivas, ao inves de determinantes das estruturas soeiais especificas. au, em outras palavras, ha uma margem de variaC;ao Has estruturas que preenchem a fUngao em questao. (as limites dessa margem de variagao envolvem 0 conc-eito de coerc;ao estrutural, do qual trataremas mais detidamente a seguir). Contrastando com este conceito implicito de formas culturais indispensav~ls (instituigoes, praticas padronizadas, sistemas de crenga etc.), ha entao, a conceito de alternativas juncionais, ou equivalentes funcionais, ou subsiitutos juncionais. Este conceito e amplamente rsc~nhecido e usado, mas e necessario observar que tHe nao pode apoiar-se confortavelmente sabre 0 mesmo sistema te6rico que acarreta 0 postulado da indispensabilidade de formas culturais particulares. Assim, depois de haver revisto a teoria de Malinowski, da "necessidade funcional de mecanismos, tais como a magia", Parsons tern 0 cuidado de fazer a seguinte afirmag3.o: . . .. Sempre que tais elementos de incerteza entrem a procurar objetivos emocionalmente Im~ortantes, pode-se esperar que apare~am, se nao a ma.gia, outros fen6menos fuocionalment~ eqmvalentes.28 28. Talcott Parsons, Essays in Sociological Theory, The Free Press, 1949), 58.
Pore
and
Applied, (Glencoe,
Illinois:
Isto e urn grande afastamento d.e que:
da insistencia do pr6prio Malinowski..
A6sim, pois, a magia preenche uma fun~ao indispensavel dentro da cultura. Ela satisfBZ: uma necessidade definida, a qual nao pode ser satisfeita por quaisquer outros fatores da. eiviliza~ao primitiva.29
Este duplo conceito da func;ao indispensavel e do padrao insubstituivel de crenc;a-e-agao frontalmente exclui 0 conceito das alternativas tuncionais . De fato, 0 conceito das alternativas ou equivalentes funcionais tern emergido repentinamente em cada .disciplina que adotou uma estrutura :funcional de analise. Por exemplo, e extensamente usada nas ciencias psicol6gicas, tal como ( indicado num trabalho de English. 30 E na neurologia, Lashley tern indicado, baseando-se em evidencias e~erimen· tais e clinic as, a inadequagao da "suposigao de que os neuranios individuais saa especializados para func;oes particulares", sustentando, ao contrario, que uma fungao particular pade ser preenchida por uma variedade de estruturas alternativas. 31 A sociologia e a antropologia social tern 0 melhor motivo para evitar 0 postulado da indispensabilidade de certas estruturas, e para trabalhar sistematicamente com 0 conceito das alternativas funcionais e dos substitutos funcionais. Pois, assim como os leigos ha muito tern errado ao admitir que os costumes "estranhos" e crenc;as de outras sociedadal!> eram "meras superstic;oes", assim os ctentistas sociais funcionais correm 0 risco de errar no extremo oposto, primeiro, sendo superficiais na determinagao de val6res funcionais ou adaptativos em tais praticas e crenc;as, e segundo, deixando de ver quais modos alternativos de ac;ao sac eliminados agarrando-se a essas pni.ticas ostensivamente funcionais. Assim, nao raramente se encontra entre os funcionalistas a pretensao em concluir que a magia ou certos ritos religiosos e crenc;as, sejam funcionais, devido a seu efeito sabre 0 estado de espirito ou autoconfianga do crente. No entanto, pode-se dar em alguns exemplos, que essas pratlicas de magia obscurec;am e tomem 0 lugar de pnlticas seculares acessiveis e mais adaptativas. . Conforme FL. Wells observou: Pregar uma ferradura acima da porta. numa epidemia de variola, pode erguer 0 moral dos habitantes da cas a mas nao afastara a variola; tais cren~as e praticas nao suportarao as provas cientificas as quais sao suscetiveis, e 0 senso de seguran~a que elas dao e preservado apenas enquanto as provas verdadeiras sao evitadas.32 29. Malinowski, "Anthopology", op, cit., 136, [0 grifo e nossoJ. 30. Horace B. English, "Symbolic versus functional equivalents in the neuroses of deprivation", Journal of Abnormal and Social Psychology, 1937, 32, 392-94. 31. K_ S_ Lashley, "Basic neural mechanisms in behavior", Psychological Review, 1930, 37, 1-24. 32. F. L. Wells, "Social maladjustments: adaptive regression", em Carl A. Murchison, editor, Handbook of Social Psychology, (Clark University Press, 1935), 880. A obserVa~a(} de Wells esta muito longe de ser antiquada. Ate a decada de 1930, a variola una" podia ser evitada" nos Estados de Idaho, Wyoming e Montana, os quais, nao tendo leis
Os funcionalistas que estao obrigados, por sua teoria, a esperar os efeitos de tais pn1ticas simb6licas, somente sabre 0 estado de espirito do individUo, e que, portanto, concluem que a pratica magica e funcional, desprezam 0 fate de que estas mesmas praticas podem ocasionalmente tomar 0 lugar de alternativas mais eficazes.33 E os te6ricos que se referem a indispensabilidade das praticas padronizadas ou das instituigoes predominantes, devido a sua funQao observada de reforQar os sentimentos comuns, deverao olhar primeiramente os substitutes funcionais, antes de chegar a uma conclusao, mais freqtientemt>.nte prematura do que confirmada. Ap6s a revisao dessa trindade 'de postulados funcionais, emergem diversas considera~6es basicas, as quais devem ser fixadas em nosso esforQo de codificar este modo da analise. EsmiuQando, em primeiro lugar, o postulado da unidade juncional, encontramos que nao se pode admitir a completa integraQao de todas as sociedades, mas que esta e uma questao de fato, empiric a, na qual deviamos estar preparados a encontrar uma cecala de graus de integraQao. E ao examinarmos 0 caso especial das interpretaQoes funcionais da religiao, estivemos prevenidos da possibilidade de que, embora a natnreza humana possa ser feita de uma s6 peQa, nao se segue que a estrutura das sociedades agrafas seja uniiormemente semelhante a das sociedades altamente diferenciadas, e "letradas" . Uma diferenQa em grau entre as duas - por exemplo, a fxistencia de divers as religioes dispares em uma e nao na outra pode tornar aventurosa a passagem entre ambas. De um exame critico de tal postulado, verificou-se que uma teoria da analise funcional deve provo car a especijicar;iio das unidades sociais servidas por dadas funpara a vacina obrigat6ria, podiam jactar-se de ter uns 4.300 casos de varfola num perfodo de cinco anos, ao passo que os Estados mais populosos de Massachuse<,ts, Pennsylvania e Rhode Island, que dispunham de leis de vacina obrigat6ria, nao tiveram nem urn s6 caso dessa enfermidade. No que se refere as insuficiemcias do "senso corilam" nesses assuntos, veja.-se The Patient's Dilemma, por Hugh Cabot (Nova Iorque: Reyual & Hitchcock, 1940), 166-67. 33. Talvez se deva salientar que esta afirmaQao e feita com pleno conhecimento da observaQao de Malinowski, segundo a qual os trobriandeses nao substituiram suas cren~as e praticas magicas pela aplica~ao da tecnologia raciona!. Continua de pe 0 problema da avalia~ao do grau em que 0 desenvolvimento tecnol6gico e retardado pelo fato de que certas comunidades dependem, ate certo ponto, da magia, para lidar com a "margem de incerteza". Esta zona de incerteza provavelmente nao e fixa, mas esta relacionada com a tecnologia de que se disp6e. Os ritos destin ados a regular 0 tempo, POl exemplo, podem facilmente absorver as energias dos homens que, de outra maneira. poderiam reduzir essa "zona de incerteza", atendendo aos progressos dos cOhhecimentos meteorol6gicos. Cada caso deve ser julgado de per sl. Aqui nos refer;mos apenas il tenctencia crescente entre os antrop610gos sociais e os soci610gos a llmltar-se aos efeltos "morais" observados, provenientes de praticas sem fundamento racional nem empirico e que poderiam ser utilizaveis em determinada a renunciar a analise das alternativas situa~ao, se a orienta~ao para "0 transcendental" e "0 simb6lico" nao enfocasse a aten~ao sobre outras me,terias. Finalmente, e de se esperar que tudo isto nao seja interpretado como urn retorno ao racionalismo, Its vezes, ingenuo do "Beculo das Luzes" (seculo XVIII, em que se desenvolveu na Europa urn movimento filos6fico e social caracterlzado pelo racionalismo). [A explica«ao entre parentese e do tradutor].
~oes SOCIalS, e que se deve reconhecer que os itens de cultura tern mlii· tiplas conseqtiencias, algumas delas fUDcionais e outras, talvez, disfuncionais. A revisao do segundo postulado do funcionalismo universal, que assevera serem tOdas as form as persistentes de cultura inevitavelmente funcionais, resultou em outras consideraQoes que devem ser satisfeitas por uma abordagem codificada em relaQao a interpretaQao funcional. Parece que nao s6 devemos estar preparados para encontrarmos conseqtiencias funcionais, como disfuncionais dessas formas, assim tambem como 0 te6rice sera, 900 final, confront ado com 0 dificil problema de desenvolver um 6rgao que possa avaliar 0 saldo liquido das conseqtiencias, se e que sua pes· quisa deva ser aplicavel a tecnologia social. De maneira clara, 0 conselho dos peritos, baseado apenas sabre a avaliaQao de uma escala de conseqtiencias, limitada e talvez arbitrariamente selecionada, a ser anteci· pada como resultado de uma aQao contemplada, sera freqtientemente sujeito a erros e sera julgado, com razao, como de pouco merito. o postulaao aa indispensabilidade, segundo verificamos, acarretava duas proposiQoes distintas: uma, que alega a indispensabilidade de certas fungoes e da origem ao conceito da necessidade jurncional ou dos p,re-requisitos juncionais, a outra, que alega a indispensabilidade das instituigoes sociais existentes, das formas de cultura, ou semelhantes, e isto, quando discutido adequadamente, da origem ao conceito de altern ativas juncionais,
equivalentes
ou substitutos
juncionais.
Alem do mais, a circulagao destes tres postulados, separadamente ou em harmonia, e a fonte da aprecia~ao comum, de que a analise funcional inevitavelmente envolve certos compromissos ideol6gicos. Uma vez que esta e uma questao que repetidamente vira ao pensamento a medida que foe examinarem as concepgoes ulteriores da analise funcional, sera melhor examina-la desde ja, se quisermos que a nossa atengao nao seja repetidamente afastada dos problemas anaUticos em estudo pelo espectro de uma ciencia social manchada de ideologia.
A Analise
Funcional
como Elemento
Conservador
Em muitos setores, e com crescente insistencia, tem-se afirmado que, qualquer que :::eja 0 valor intelectual da analise funcional, ela e inevitavelmente comprometida com uma perspectiva "conservadora" (e mesmo "reacianaria"). Para alguns desses crfticos, a analise funcional e pouco mais do que uma versao hodierna, da 'doutrina surgida no seculo XVII, afirmando a identidade invaril~vel entre os interesses publicos e particulares. Ela e considerada como uma versao secularizada da doutrina estabelecida par Adam Smith, por exemplo, quando, na sua Theory oj Moral Sentiments, escreveu acerca da "ordem harmoniosa da Natureza, sob orienta~ao divina, a qual promove a bem-estar do homem
atraves da aQ3.o de suas propensoes individuais". 34 Assim, dizem tais criticos, a teoria funcional e meramente a orientaQao do cientista social conservador, que defenderia a presente ordem de coisas assim como ela e, e que atacaria a conveniencia de se fazerem mudanQas embora moderadas. Sob este ponto de vista, 0 analista funcional sistematicamente ignora a advertencia de Tocqueville, de nao confundir 0 familiar com 0 necessario: "... aquilo que chamamos de instituiQoes necessarias, sac freqiientemente apenas as instituiQoes as quais nos acostumamos ... " Fica por demonstrar que analise inevitavelmente cai, presa dessa ilu1513,0 atraente; mas, tendo revisado 0 postulado da indispensabilidade, podemos bem apreciar que este postulado, se for adotado, podera faciimente dar origem a tal acusac;ao ideo16gica. Myrdal e urn dos que mais recentemente e nao de maneira menDs tipica, entre os criticos, argui a inevitabilidade de uma inclinaQao conservadora na analise funcional: ... se Uffi2, coisa tern uma "funcao", ela e boa, ou pelo menos essencial.· A palavra "fun~ao" somente pode ter urn significado, em termos de uma imposta finalidade ;** se tal finalidade e deixada indefinida ou implicita, como sendo 0 "interesse da sociedade", 0 qual na nao e ulteriormente definido, *** deixa·se uma consideravel folga. para a arbitrariedade, conseqtiencia pratica, porem ja se da a direQao principal: uma descri9ao das institui90es soriais, em termos de suas fun~oes, necessariamente conduzira a uma teleologia conser· vadora".35
As notas de Myrdal 1513,0 instrutivas, menos por sua conc:usao do que por suas premissas, pois, conforme temos observado, ele se ap6ia em dois postulados tao freqiientemente adotados por analistas funcionais, para chegar a acusaQao irrestrita que aquele que descreve as instituiQoes em termos de fungoes, esta, inevitavelmente, entregue a "uma teleologia conservadora". Porem, em nenhuma passagem Myrdal desafia a inevitabilidade dos postulados em si mesmos. Sera interessante perguntar como serao inevitaveis os postulados, quando 0 perquiridor escapou das premissas. De fato, se a analise funcional na sociologia fosse comprometida com a teleologia, ou pelo menos com a teleologia conservadora, 'ela tornar·se-ia logo sujeita, e alias, adequadamente, a acusagoes aincJ.a mais ru·· des que essas. Tal como tern acontecid0 com tanta freqiiencia com a teleologia na hist6ria do pensamento humano, ela seria submetida a uma 1 eductio ad absurdum. 0 analista funcional poderia, entao, enfrentar 0 destino de S6crates Cembora nao pela mesma razao) que sugeriu ter Deus colocado nossa boca logo abaixo do nariz, a fim de que pudessemos go-
34. Jacob Viner, "Adam Smith and Laissez Faire", Journal of Political Economy, 1937. 35, 206. a teoria da. indispensabilidade como Deve·se admitir que Myrdal aceita gratuitamente intrinseca a t6da analise funcional. Isto, como vimos, nao s6mente oj gratuito. como falso. Aqui, Myrdal assinala apropriadamente 0 postulado vago e duvidoso da unidooe funcional. 1944) II 35. Gunnar Myrdal, An American Dilemma (Nova Iorque: Harper & Brothers W~ . ' , [gnfos e observa~oes sac nossos J.
zar do cheiro de nossos alimentos. 36 Ou, de maneira semelhante aos te610gos cr.istaos base ados no argumentJ do designio, ele poderia se! logrado par urn Benjamin Franklin, 0 qual demonstrava que evidentemente De,J3 "queria que n6s bebericassemos, pois ele H~z as juntas do braQo justr.mente do comprimentc necessaria para levarmos urn copo a boca, sem ultrapassar do alvo ou deixar de atingi-lo: "Adoremos, pois, de copo na mao, a esta benevolente sabedoria; adoremos, e bebamos". 37 Ou eIe poderia estar disposto a declara<;oes mais serias.. como a de Mir~helet quando observava "quao belo tudo que e disposto pela Natureza. Logo que a criauQa chega a este mundo, encontra Uffia. mae que esta pronta para cuidar dela".~8 De maneira semelhimte a qualquer outro sistema de pensamento, que se limite com a teleologia, embora evitc atravessar n fronteira daquele estranho e improdutivo territ6rio, a analise funcional em sociologia e ameagada por uma redugao ao absurdo, dcsde que adote 0 postulado de que todas as estruturas sociais 1513,0 indispensaveis ao preenchimento de necessidades funcionais not6rias.
:It muito interessante observar que outros autores tern chegado a conclusoes exatamente opostas a acusagao de que a analise funcional esteja intrlnsecamente comprometida com 0 conceito de que tudo 0 que 3xiste e bem e de que este mundo e, na verdade, 0 melhor dos mundos possiveis. Estes observadores, LaPiere por exemplo, sugerem que a analise funcional seja uma abordagem inerentemente critica na perspectiva, e pragmatica no jUlgamento: Ha .. _ uma, significa~ao mais profunda do que poderia parecer a primeira vista, na passagem da descriQao estrutural para a analise funcional. nas ciencias sociais. Esta passagem Se 0 representa uma ruptura com 0 absolutismo social e 0 moralismo l1a Teologia crista. aspecto importante de qualquer estrutura social e 0 de suas funQoes. segue·se que nenhuma estrutura pode ser julgada imicamente em termos de estruturas. Na pratica isto signific". por exemplo. que 0 sistema de familia patriarcal e coletivamente valioso. illlicamente so e na extensao em que funcione atingindo a satisfa~ao das finalidades coletivas. Como estrutura social, nao tem nenhum valor intrinseco, uma vez que seu valor funcional variara de tempo, em tempos e de lugar para lugar. o ponto de vista funcional aplicado ao comportamento coletivo, sem duvida. afrontara todos aqueles que acreditam que as estrnturas sociopsicolo,gicas ten ham valores intrinsecos. Assim. para aqueles que acreditam que 0 ritual eclesiastico oj born, porque oj urn ritual eclesiastIco. a afirma~ao de que algumas cerimanias eclesiasticas sac apenas movimentos formalS, vazios de significa~ao religiosa, e que outros sac funcionalmente comparaveis a representa~oes teatrais, e que ainda outros sac uma forma de festan~a e. portanto, sac comparaveis a uma orgia de bebados. sera uma afronta ao senso comum, urn ataque a integridade de.s pessoas decentes, ou, pelo menos, os desvarios de urn pobre louco.39 36. Farrington tece algumas outras observa~oes muito interessantes sabre pseudoteleologia em sua obra Science in Antiquity (Londres: T. Butterworth, 1936), 160. 37. Trecho de uma carta de Franklin ao padre Morellet. extraido das Memorias deste ultimo por Dixon Wecter. The Hero in Americ.a (Nova Iorque: Scribner, 1941). 53·54. 38. Foi Sigmund Freud que colheu esta observa~ao em A Mulher, de Michelet. 39. Richard LaPiere. Collective Behavior. (Nova Iorque: McGraw·Hill, 1938), 55-56 [0 grifo oj nossol.
o fato de que a analise funcional pode ser encarada par alguns como inerentemente conservadora, e par outros como intrinsecamente radical, sugere que talvez ela nao seja inerentemente uma coisa, nem outra. Sugere que a analise funcional pode nao implicar em nenhum compromisso ideol6gico intrinseco, embora, como outras formas de analise sociol6gica, ela possa estar imbuida de uma extensa variedade de va16res ideoI6gic-os. Ora, nao e esta a primeira vez que se atribuem significaGoes ideol6gicas diametralmente opostas a uma orienta!(aO te6rica da ciencia social au da filosofia social. Portanto, pode s·~r util examinar '.Ull dos mals notavei~ exemplos no qual uma COnCep!(aOsociol6gica e pletodol6gica tenha sido objeto das mais variadas imputac;oes ideol6gicas e comparar este exemplo, na medida do possivel, com 0 caso da analise funcional. 0 exemplo de COmpara!(aOe a do materialismo dia letieo. Seus porta-vozes sac os historiadores da economia, fil6sofos soCIalS e revoluciunarios profissionais, Karl Marx e seu intimo amigo e colaborador Friedrich Engels. As Orienta~oes Ideologicas do Materiallsmu Dialetico
As Orienta~oes Ideologicas c,omparaveis, da Analise Funcional
1. "A mistifica~ao que a dialetica sofra n~s maos de Hegel, de modo algum c impede de ser 0 primeiro a apresentar sua forma geral de funcionamento, de maneira compreensiva e consciente. Com ele, ela esta de cabe~a para bai· xo. Ela podera ser novamente colocada direito, se for descoberta a parte c,entral racional dentro da concha mistica.
1. Alguns anallstas funclonais, gratultamente. admitlram que tadas as estruturas sociais existentes preenchem fun~oes Isto e pura fe, sociais indispensaveis. misticismo, se assim 0 quiserem, em V<3Z de ser 0 produto fill ••l de uma inquiri~ao sustentada e sistematica. J1: preclso ga· nhar 0 postulado, e nao herda·lo, se e que ~e deva con quistar a aceita~ao dos ho· mens da ciencla social.
2. "Em sua forma mistificada a dialetica tomou-se moda na Alemanha, porque pa· receu transfigurar e glorificar 0 estado ok coisas existen te. 3. "Em sua forma racional e urn escandalo e uma abomina~ao para a burgllllsia e seus professores doutrinarlos, porqlle abrange em seu reconhecimento compreensivo e afirmativo do e.tado de coisas eXistente, tambem lhO mesmo tempo 0 reconhecimento da nega~iio daquele est ado [de coisas], de sua inevitavel ruptura;
2. as tres postulados: unidade run· cional, universaJidade e indispensabilidade, compreendem urn sistema de premissas, as quais inevitavelmente conduzem a uma glorifica~ao do est ado de coisas existente. 3. Em suas form as mais empiricamente orient adas e analiticamente precis as, a analise funcional e freqUentemente encarada com suspei~ao por aqueles que consocial existenre sideram uma estrutura como eternamente fixada e imune a mudan~a. Esta forma de analise funcion"l mais minuciosa abrange nao s6 urn estado das fun~oes das estruturas sociais existentes, mas tambem urn estudo de suas dis· fun~oes em relacao aos indivlduos diversamente situados, aos subgrupos ou estratifica~oes sociais, e a sociedade considerada Admite provlem sua maior extensao. soriamente, como veremos, que quando 0 saldo liquido do agregado de conseqiiencias de uma estrutura social existente e clara.-
m<3Jlte disfuncional, de&enYoITe-seforte e ilJSistente pressao para a mudan~a. Aqui embora isto ainda tenha que ser comprovado, e possivel que, para alem de urn certo ponto, est a pressao provocara inevitavelmente rumos mais ou menos determina.do~ de mudan~a social. 4. "porque ela considera cada forma desenvolvida histiJricamente como em mo· vimento fluido, e, porta.nto, leva em c:mta sua natureza transit6ria, nao menos que sua existencia momentiinea; porque ela nao permite que nada se the imponha e e, em sua e&sencia, critic a e revoluclonaria." 4\).
4. Embora a analise funcional haja ft;calizado com freqUencia a estatica da e~trutura social em vez da dinamica da mudan~a social, tal aqui nao e intrlnseco a esse sistema de amUise. Apontando as fun~oes, ao mesmo tempo que as dis· fun~oes, este modo de analise pode avaliar nao .6 as bases da. estabiIldade social como tambem as fontes potenciais da mudan~a social. A frase "formas historic amen te desenvolvidas" pode ser lembrete uti! de que as estruturas sociais estao tlpicamente sofrendo uma mudan~a perceptivel. Resta d6Ilcobrir as pressoes que favorecem varios tipos de mudan~a. Na medida em que a analise funelonal focalize inteiramente as conseqUencias funcionais, ela se inclina a uma ideologia ultraconserva.clora; na medida em /1ue ela focalize inteiramente as oonlle/1Uencias disfuncionais, inclina-se em. dil'e~ a uma utflpia ultra-radical. l~ suw essencia", nao e uma coisa. nelTI Ololtra.
5. "... toda,s as situa~oa:;; hi:;;t6rlcas sucessivas sac apenas estagios transitorios, no infindavel caminho do desenvolvimento da sociedade humana, da forma inferior para a superior. Cada estagio e necessario, e, portanto, justificado para 0 tempo e rondi~6es aos quais deve sua origem."
5. Reconhecendo, como 0 devem fazer, que as estruturas sociais estao em perm anente mudan~a, os analistas sociais devem, nao obstante, eJOplorar os elementos interdependentes e com freqUencla mUtuamente apoiadores, da estrutura social. De modo geral, parece que a maior parte das socledades sac integradas ao ponto em que muitos, senao todos, dos seus elementos, estejam reciprocamente ajustados. A5 estruturas sociais nao possuem urn sortimento de atributos tornado ao acaso, mas tais atributos estao entrela~ados de varlas maneiras, e com freqUencia se ap6iam miltuamente. Reconhecer isso, nao e adotar uma afirma~ao indiscriminada de tocto status quo; deixa.r de reconhecer isso, e sucumbir as tenta~oes de utopismo radical.
6. "Mas nas mais novas e mals altas condi~oes que gradualm.ente se desenvol·
6. As tensoes e OS esfor~os numa estrutura social, que se acumulam como con-
40.
Ate aqui, 0 trecho esta citado sem supressoes, nem acrescimos e somente com 0 grifo adequado para dar maior enfase a grande fonte do materialismo dialetico, que e 0 Capital, de Karl Marx lChicago: C. H. Kerr, 19(6), I, 25-26.
vem
em
seu proprio
seio,
cada
uma
delas
perde sua valida de e justilic89aO. Ela necessariamente da.ra lugar a formas mals elevadas que tambem por sua vez decalriio e perecerAo ... "
7. "0 [materlalismo dialetico], revel a 0 carater transl t6rio de cada coisa e em cada coisa; nada pode durar ante ele, exocto 0 processo Inlnterrupto de vir a sel e de desaparecer ... A [dialetica] evidente· mente, tem tambem nm lado conservador: reconhecc que os estagios definidos l10 conhecimento e da socicdade SaD justifica· dos por sell tempo e circunstancias; mas somente ate ai. 0 conservadorismo de tal modo
de encarar
as coisas
e
relativo;
po~
rem seu earater revolucionario e absoluto 0 tInico absoluto que He admite".41
seqilencias disfuncionais de elementos existentes, nao sao apertadas, confinadas e cerceadas mediante planejamento socif\l apropriado, e no seu devido desen volvimento conduzirao a ruptura instituclonnl e a mudan9as sociais basicas. Quando essa mUdan~a pa.ssou para alem de urn ponto dado, nao facilmente Identificavel e costumelro dizer-se que urn n6vo sistem; social emergiu. 7. Mas de novo, deve ser relterado: nem s6 a mUdan~a nem s6 a, fixidez sbzlnha podem ser 0 objeto pr6prio do estudo de analista funcional. A medida que examinamos 0 curso da hist6ria, parece razo::'. velmente claro que todas as principals estruturas sociais, em seu devido tempo tem sido cumulativamente modificadas abruptamente terminada.s. Em qualquer caso, elas nao tem sido eternamente fixas e inflexiveis as mUdan~as. Porem num dado momento de observa~ao, q~alqUc'r uma dessas estruturas soclais pode estar tole ravel mente acomodada, tanto aos va. lores sUbjetivos de mUitos, ou da maior parte da popula~ao, como as condi~6es objetivas corn que ela e confrontada. Re. conhecer isto e ser consentaneo com os fa. tos, e nao fiel a uma ideologia preestabelecida. E pelo mesmo motivo, quando se observa que a estrutura nao esta ajus. tada as necessidades do povo, ou com as condi~6es de a~ao iguaJmente s6lidas, Isto tambem deve ser reconhecido. Quem ousar fazer tudo isso pode tornar·se um analista funcional; quem ousar menas, naD " sera.42
0;
Esta comparaQao sistematica podera ~er 0 bastante para sugerir que a analis€ funcional, da mesma forma que a dialetica, nao acarreta. neurn compromisso ideol6gico especffico. Isso nao quer dicessariamente zer que tais compromissos nao estejam freqtientemente implicitos nas abras dos analistas funcionais. Porem p&rece extrinseco, em lugar d€ intrins€Co a teoria funcional. Aqui, tal como em outros departamentos de atividade intelectual, 0 abuso nao impede as possibilidades do uso. Criticamente revisada, a analise funcional e n€utra relativamente aos princinais sistemas ideol6gicos. Nessa extensao, e somente neste
41. Da mesma forma, este trecho e citado apenas com a supressao de material irrelevante e tambem com grifo nosso, da obra de Friedrich Engels, Karl Marx, Selected Works, (Moscou; Sociedade Editora Cooperativa, 1935), I, 422. 42. Admite-se que esta parllfrase contraria a inten~ao original do bardo, mas espera'5e que a ocasiao justifique a falta.
8entido limit ado, 43 ela e semelhante aquelas teorias ou instrum€ntos das r:ii~ncias fis.tcas OS quais se prestam indiferentemente ao usa de grupos opostos, para finalidades que freqtientement€ nao fazem parte da intenQao dos cier.tistas.
Ainda e instrutivo voltar, se bem que resumidamente, a discussao das funQoes da religill.o, a fim de demonstrar como a Z6gica da analis€ funcional e adotada POl' pessoas de suas posiQoes ideol6gicas opostas. o papel social da religiao tern side evidentemente observado e repe· tidamente interpretado atraves de muitos seculos. 0 nucleo central da continuidade de tais observaQoes consiste na enfase sabre a religiao como meio institucional de contrale social, quer se de no conceito d€ Platao, de "nobres mentiras", quer na opiniao de Arist6teles, de que ela ope· ra "com vistas a persuasao da multidao", ou segundo 0 incomparavel julgamento d€ Polibio, de que "as massas... podem ser controladas apenas por terrores misteriosos e medos tragicos". Se as expressoes de Montesquieu acerca dos legisladores romanos informam que eles: procuravam "inspirar a urn povo que nalla temia, 0 medo dos deus€s, e usaI' tal medo para 0 conduzir onde quer que Ihes aprouvesse", Jawaharlal Nehru observou, depois, com base em sua pr6pria exp€rienda, que "os unicos livros que os funcionarios britanicos recomendavam acaloradamente (aos prisioneiros politicos na India), eram livros religlOsos ou novelas. E maravilhoso quae caro e ao coraQao do Governo Britanico 0 assunto da religiao, e quae imparcialmente ele encoraja t6das as formas dessa atividade".44 Poderia parecer que ha uma antiga e duradoura tracilQaoque mantem, de uma ou de outra forma, que a religiao tern s€rvido para controlar as massas. Igualmente e aparente que a linguagem em que esta proposiQao e vazada, usualmente fornece uma pista reveladora do compromisso idwl6gico do autor. Que e, entao, que se passa com algumas das atuais analises funcionais da religiao? Em sua consolidaQao critica das divers as teorias principais da sociologia da religiao, Parsons resume algumas das conclusoes basicas que emergiram em relaQao a "significaQao funcional da religiao" : . " se as normas morais e os sentiment os que as suportam san de tao primordial importancia, quais sao os me,canismos pelos quais elas sac mantidas, alem dos processos extern OS de coa9iio? Durkheim oplnava que os rituais religiosos emm de primordial slgnifica~ao COltJO 43. Nao se deve toma,r isto como nega~ao do importante fato de que os valMes, impllcita e explicitamente reconhecidos, do cientista social, possam contribuir a fixar sua escolha de problemas para a pesquisa e, por conseguinte, a utilidade de seus resultados para determinados prop6sitos e nao para outros. Nossa afirma~ao nao slgn:fica mais do que dlz: a analise funcional nao tem compromisso intrinseco com qualquer campo ideo16gico, como se deduz, 00 menos, da discussao precedente. 44. Jawaharlal Nehru, Toward Freedom, (Nova Iorque: John Day. 1941), 'I.
um mecanismo para expressar e refor~ar os sentimentos mais essenciais a- integra~ao instilu. cional da sociedade. Fa-cilmente pode·se ver que esta formula~ao e cla,ramente ligada ao~ pontos de vista de Malinowski ace rea da significa~ao das cerim6nias flinebres como Un> mecanismo para se reafirmar a solidariedade do grupo em ocasiao de fortes tens6es emocionais. Assim, Durkheim estabeleceu certos aspectos das rela~6es especHicas entre a religiiio e a estrutura social, mais agudamente que Malinowski, e, alem disso, colocou 0 problema numa perspectiva funcional diferente, ao aplica-lo a- sociedade como um todo, abstraindo-o de situa~6es particulares de tensao e esfor~os em rela~ao '10 individuo.45
E novamente, resumindo urn resultado essencial do principal estudo comparativo da sociologia da religiao, Parsons observa que "talv8z a mais surpreendente caracteristica da analise de Weber seja a demonstrac;ao da medida em que precisamente as variac;5es dos va16res sancionados socialmente e dos objetivos da vida secular, correspondem as variac;5es da filosofia religiosa dominante das grandes civilizac;5es".46 Semelhantemente ao explorar 0 papel da religiao entre os subgrupos raciais e etnicos dos E'stados Unidos, Donald Young observa com efeito a estreita correspondencia entre seus "valares e objetivos socialmente sancionados na vida secular" e sua "filosofia religiosa dominante": Uma fun~ao que uma religiao de minoria pode desempenhar e a de reconcilia~ao com um .tatus inferior e suas conseqiiencias discriminat6rias. A prova do servi~o religioso desta Por outro lado, as fun~ao pode ser encontrada entre t6das as minorias norte·americanas. institui~6es religiosas tambem podem desenvolver-se de maneira tal a serem um incitamento e apoio da revolta contra um status> inferior •• Assim, os indios cristianizados, tendo-se em conta as exce~6es, manifestaram a tendencia de ser mais submissos do que os pagaos. Cultos especiais tais como aqueles associados com 0 uso do peyote, a Igreja dos fndios "Tremedore5" e a Dan~a dos Fa,ntasmas, as tres contendo elementos nativos e cristaos, foram tentativas predestinadas ao ma16gro, no sentido de se desenvolverem modos de expressao religiosa adap· tados a circunstiincias individuais e de grupos. 0 ultimo cUlto, com sua insistencia em garantir um "millennium" de liberdadc em rela~ao ao homem branco, incitava a- revolta violenta. 0 cristianismo do negro, embora encorajando bastante a critica a- ordem existente, fomentou a aceita~iio das dificuldades presentes pelo conhecimento de melhores tempos n:l vida depois desta. As numerosas variedades de cristiaonismo e 0 judalsmo, trazidos pelos imigrantes do Mexico e da Europa, apesar de conte rem elementos nacionalistas comuns, ta.mbem salicntavam recompensas posteriorcs em vez de a~iio imediata.47
Estas observac;5es diversas e esporadicas, com sua proveniencia ideo16gica notavelmente variada, apresentam algumas semelhanc;as basicas. Primeiro, tadas elas estao relacionadas com as consequencias de sistemas religiosos especificos quanto a sentimentos, definic;5es de situac;5es e ac;5es predominantes. As consequencias observadas com maior frequencia, sac as de refarc;o de normas morais ja prevalecentes, d6cil aceitac;ao dessas normas, adiamento das ambic;5es e recompensas (se a doutrina religiosa assim 0 exige), e assim por diante. Contudo, como 45. Talcott Parsons, Essays in Sociological Theory, 61 [0 grifo e nosso1. 46. Ibid., 63. 47. Donald Young, American Minority Peoples, (Nova Iorque: Harper, 1937), 204 [0 grifc e nosso1. Uma analise funcional da religiao dos negros nos Estados Unidos pode ser encontrada na obra de George Eaton Simpson e J. Milton Yinger, Racial and Cultural Minorities (Nova Iorque: Harper & Brothers, 1953), 522-530.
observa Young, as religi5es tambem tern servido, sob determinadas eireunstancias, para provocar rebeli5es, ou como Weber demonstrou, as religi5es tern servido para motivar ou para canalizar 0 comportamento de grande mimero de homens e mulheres, para a modificac;ao das estruturas sociais. Seria prematuro, portanto, concluir que tadas as religi5es em tada parte visam unicamente 0 objetivo de fomentar a apatia das massas. Em segundo lugar, 0 ponto de vista marxista, de modo implfcito, e a opiniao funcionalista, de modo explfcito, afirmam 0 ponto fundamental de que os sistemas de religiao afetam 0 comportamento, de que eles nao sao simplesmente epifenamenos, mas determinantes de eomportamento pareialmente independentes. Pois, presumivelmente, faz diferenc;a se "as massas" aceitam ou nao uma religiao particular, assim como faz diferenc;a se urn individuo toma ou deixa de tomar 6pio. Em terceiro lugar, as teorias mais antigas, assim como a marxista, rogitam das consequencias diferenciais das crenc;as e rituais religiosos de varios subgrupos e estratos da sociedade - por exemplo, "as massas" - tal como, neste particular, faz 0 nao-marxista Donald Young. 0 funcionalista nao se limita, como temos visto, a explorar as eonsequencias da religiao para a "sociedade como urn todo". Em quarto lugar, comec;a a manifestar-se a suspeita de que os funcionalistas, com sua enfase na religiao como mecanismo social para "reforc;ar os sentimentos mais essenciais a integrac;ao institucional da SOCi8dade" talvez nao se tenham diferenciado material mente - em sua estrutura analitica - dos marxistas, que tambem afirmam que a religiao opera como urn mecanismo social para reforc;ar certos sentimentos seculares, assim como sagrados, entre seus seguidore..>, se convertermos sua metafora do "6pio das mass as" numa afirmac;ao neutra de urn fate social. A diferenc;a s6 aparece quando as avaliar,;oes deste fato comumente aceito entram em questao. Na medida em que os funcionalistas se referem somente a "integrac;ao institucional" sem explorar as diversas eonseqtiencias da integrac;ao a respeito de tipos de va16res e de interesses muito diferentes, eles se confinam a interpretac;ao puramente formal, pois a integrac;ao e urn conceito claramente formal. Uma sociedade pode ser unificada sabre normas de castas estritas, de regimentac;ao, e riocilidade de estratos sociais sUbordinados, assim como pode ser unificacia sabre normas abertas e amplas, de largas areas de auto-expressao e independencia de opiniao entre estratos temporariamente inferiores. E na medida em que os marxistas afirmam, indiscriminadamente, que tada religiao em Wda parte, qualquer que seja seu conteudo doutrinario E' sua forma organizada, inclui "urn 6pio" para as massas, eles tambem Se baseiam em interpretar,;5es puramente formais, sem admitir, como demonstra ser 0 caso do paragrafo de Donald Young, que algumas religi5es particulares em estruturas sociais particulares, servem para ativar em vez de entorpecer a a~ das massas. E, J){)rtanto, na avaliar,;ao de
tais func;6es da religiao, e nao na l6gica da analise, que se separam os funcionalistas e os marxistas. E sac as avaliagoes que permitem verter As garrafas em si o conte1.idoideol6gico nas garrafas do juncionalismo.48 mesmas sac estranhas a seus contelidos, e podem servir igualmente camo recipientes para urn ven>eno ideol6gico ou para urn nectar ideo· l6gico. 48. ~ste tipo de quiproqu6 e talvez mais comum do que se costuma suspeitar. Muita~ vezes, 0 acordo fundamental na analise de uma situa~ao e totalmente obscurecido pelo desacordo fundamental na avalla~ao dessa situa~ao. Em conseqiiencia, sup6e-se erroneamente que os adversarios diferem em seus processos de conhecimento e em suas desco· bertas, ao passe que diferem apenas em suas escalas de valOres. Observemos, por exemplo, 0 conhecido caso dos debates e controversias publicas entre Winston Churchi!l e Harold Laski, que deixava muita gente supor - e Churchill era um dos qu~ supunham - que os dois politicos estavam em desacordo sobre a premissa essencial de que a mudan~a social se efetua mais faciimente em tempo de guerra do que em tempo de paz. Comparemos os seguintes extratos das obras dessas duas personalidades: "A antiga estrutura de tempo de paz da sociedade tinha side descartada e a vida tinha atingido estranha intensidade devido ao feiti~o da guerra. Sob esta misteriosa influencia, homens e mulheres tin ham side notoriamente exaltados em dire~ao da A unidade morte, da dor e do trabalho. e a camaradagem se tin ham tornado possiveis entre indivlduos, classes e na· ~6es e se fortaleceram enquanto duraram a pressao hostil e a eausa eomum. Mao agora 0 feiti~o esta roto: tarde demai, para alguns prop6sitos, cedo demais pars outros e siIbitamente demais para todos! Cada pais vitorioso v'oltou a seus niveis e arranjos allteriores, mas bem depressa se descobriu que essas organiza~6es estavam e estragadas, sua tram a enfraquecida desconjuntada, parecendo muito estreitao e obsoletas".
"Ao
passar
0
feiti90,
passon
tambem,
precis2.mente quando as novas dificul· dades estavam em seu apogeu, grande parte dos poderes de dire~ao e de con· trole... Para as massas fieis, sobrecarregadas de trabaiho, a vit6ria foi tao corn· pleta que nao parecia necessario prorrogar' o esfor~o ... Uma grande fadiga dominava a a~ao coletiva. Embora todos os ele· mentos subversivos procurassem colocar·se em evidencia,
todas quica,
as
0
furor
demais
revolucionario,
formas
de energia
como
"A atmosfera de guerra permite, e meso mo impoe, inovac6es e experiencias que nao sac posslveis quando volta a paz. A invasao da nossa rotina de vida nos acostuma ao que William James chamav2 de costume vital de romper com os CDS· tumes... Verno-nos de repente estimula· dos a fazer esfor~os e ate sac.rificios que nao sa.biamos que eramos capazes de fa· zer.
0 perigo
comum
cria
uma
base
para
urn novo companheirismo, cujo futuro depende por completo de serem ou nao seus alicerces provis6rios ou permanentes. Se sao provis6rios, 0 final da guerra pa· rece 0 retorno a todas as nossas divergencias anteriores, dez vezes agravados pelos graves problemas que aquela nos In. gou". "Sustento, portanto, que as mudan~as podem ser feitas pelo consenso geral num periodo em que, como agora, as circuns· tancias fazem recordar aos indivlduos suas identidades e nao suas diferen~as". "Podemos iniciar agora essas mudanQas, porque 0 ambiente esta preparado para recebe-las. 11: muito duvilloso que possamos faze·los, apoiados no consenso geral quan do esse ambiente tiver deixado de existir. 11: tanto mais duvidoso porque 0 esfor~o que a guerra requer provocara em multog, sobretudo nos que cOl1cordararn com a suspensao de priviiegios, uma eanseira, uma
ansia
para
voItar
as
vel has
formas,
a qual sera dificii resistir".
psi.
se extinguira".
"A intensidade dos esfor~os suscitados pelo perigo nacional excederam de muito
"Em todas as revolu~6es, surge um pe· rlodo de inercia em que a fadiga do es·
A orientac;ao funcional nao e evidentemente nova, nem limitada as ciencias sociais. Efetivamente, ela surgiu relativamente tarde na ceua sociol6gica, a julgar POl' seu usa externo e anterior, numa grande va. riedade de outras disciplinas. 4g A orientac;ao central do funcionalisIno expressa na pratica de interpretar dados mediante 0 estabelecimento M capacidades ordinarias de seres huma· nos. Todas estavam engrenadas a uma altura anormal. Uma ve. desaparecido 0
supremo
incentivo,
todo
nlundo
tomou
eonsciencia da intensidade do esforco. Uma grande e geral distensiio e a deseida aos
niveis
ordinarios
da
vida
eram
imi~
for~o impiie uma pausa no proeesso de inova~iio. 11: natural que esse perlodo so· brevenha com a ceSSa~a() das hostilidades. Depois de viver certo tempo nas aItur&s, a eonstitui~ao humana pareee exigir tran· qiiilidade e repouso. Insistir, num perlodo para de pausa, para nos prepararmos nova e diflcii jornada e, sobretudo, para um passe no escuro, seria pedir 0 im· possivel. .. Quando terminarem as hostiii· dades contra 0 na"ismo, os individuos
nentes. Nenhuma comunidade teria podido continuar gastan do tamanha riqueza e energia vital a semelhante velocidade. Maior de todas foi a exaustao que se deu nail fiieiras dos trabalhadores inteleetuais. necessitarao, antes de mais nada, de uma pelo es· Tinham trabalhado sustentados rotina de pensamentos e de eostumes que timulo que agora ia desaparecer. 'Posso nao imponha as suas mentes a penosa tra.balhar ate cair' - isto era suficieme adapta~ao a uma exeita~ao perturbadora"_ enquanto troou 0 canh5.o e marcharam us exercitos. Mas agora era a paz e, em {Sda parte, tornou·se evidente 0 esgola· mento nervoso e fisico, que antes nao fora sentido ou fora desdenhado". Us trt1chos da pril'!1eira coluna, que Jembram Gibbon sao, naturalmente, de Churchiil. o Winston Churchill de entre as duas grandes guerras, que escrevia retrospectivamente sobre as consequencias da primeira delas: The World Crisis, vol. 4, The Aftermath, (Londres: Thornton Butterworth, 1928), 3D, 31, 33. As observa~6es da segunda coluna sac de' Harold Laski, doutrinario do Partido Trabalhista Britanico, escritas durante a Segunda Guerra Mundial, para dizer que a polltica do Sr. Churchill e "0 adiamento deliberado de qualquer Cjuestao considerada 'controvertida' ate que obtenha a vlt6ria [e] isto significa ... que as re;a~6es de produ~ao vao ficar inalteradas ate que chegue a paz e que, em consequencia, nenhum dos instrumentos para a mudan~a social em grande escala estara a disposi~ao. da na~ao para fins sobre os quais toda, a gente esta de acordo." Revolution of Our Time, (Nova Iorque: Wiking Press, 1943), 185, 187, 193, 227-8, 309. A menos que Churchill tenha esquecido sua analise das consequencias da Primeira Guerra, e evidente que ele e Laski conc'lrdavam no diagn6stieo de que uma altera~ao social importante e deliberadamente 11: evidente que a diferen~a estav'l e!etuada. era improvavel na era imediata do ap6s·guerra. na aprecia~ao da convenii'mcia de se instituirem mudan~as deliberadas. [Em nenhuma da~ duas colunas acima os grifos sac dos autores]. 11: interess2,nte assinalar, de passagem, que a pr6pria expectativa em que coneordavam seria urn Churchill e Laski - ou seja, de que 0 periodo de ap6s-guerra na Inglaterra periodo de letargia e de indiferen~a das massas para a mudan~a institucional planejada nao foi inteiramente confirmada pelo curso real dos ll>Contecimentos. A Inglaterra, depoi3 da Segunda Grande Guerra, nao repudiou a ideia da. reforma planificada (muito pelo COli· trario; como se sabe, 0 Partido Trabalhista foi eleito para 0 pOder e levou a efeito profunda reforma social) - [a explica~ao entre parenteses e do tradutorJ. 49. A prevalencia geml de uma atitude funcionalista tem side assinalada diversas vezes. Por exemplo: "0 fa to de se observar a mesma tendencia em todos os campos do pensa.mento demonstra que agora existe uma tendencia geral para interpretar 0 mund:l
de suas conseqiH\ncias aplicadas a estruturas maiores nas quais elas estavam comprometidas - tern side encontrada virtual mente em todas as ciencias do homem - biologia ·e fisiologia, psicologia, economia e d1reito, antropologia e sociologia.50 0 predominio do modo funcional de encarar as coisas, em si mesmo, nao e garantia de seu valor cientifico, mas sugere que a experiencia cumulativa tern forgado essa orientac;ao sabre os disciplinados observadores do homem como organismo biol6gico, como ator psico16gico, como membro da sociedade e como portador de Gultura. Imediatamente relevante e a possibilidade de que a experiencia anterior em outras disciplinas pode proporcionar modelos metodo16gicos em termos de interconexao de funcionamento e nao POl' unidades substanciais sernradas. Albert Einstein na, fisica, Claude Bernard na fisiologia, Alexis Carrel na biologia, Frank Lloyd Wright na arquitetura, A. N. Whitehead na filosofia, W. Koehler nn. psicologia, Theodor Litt na sociologia, Hermann Heller na ciencia politica, B. Cardoso no direito: esses hornens todos representam diferentes culturas, diferentes aspectos da vida e do espfrito humanos, contudo, todos (olJesenfocam seus problemas com urn sentido de 'realidade' que visa, nao it substancia material, mas it intera~ao funciona.1 para a compreensao dos fenomenos", G. Niemeyer, Law Without Force, (Princeton University Press, 1941), 300. Esta variegada companhia sugere, uma vez mais, que 0 acordo sabre 0 ponto de vista funcional nao implica necessariamente identidade de filosofia ou politlca. 50. A blbliografia que comenta a tendencia ao funelonalismo e quase tao numerosa e e consideritvelmente mais extensa que as divers as blbllograflas clentfficas que representam a tendencia. As limita~6es de espa~o e 0 inter@sse pela relevaneia imediata.. reduzem o numero de tais referencias, que tern que ocupar aqui 0 lugar de uma revisao e estudo extensos desses desenvolvimentos colaterais do pensamento cientffico. No que se refere it biologia, uma fonte geral e agora clll.ssica, e a obra de J. H. Woodger, }3iological Principles: A Critical Study (Nova Iorque: Harcourt Brace & Co., 1929), especialmente 327 e segs. Como materiais correlativos, podem ser indicados, pelo menos, os seguintes trabalhos: Bertalanffy, Modern Theories of Development, op. c.it., especialmente 1-46, 64 e segs., 179 e segs.; E. S. Russell, The Interpretation of DeTelopment and Heredity: A Study in Biological Method (Oxford: Clarendon Press, 1930), especialmente 166-280. Estudos a.nteriores serao encontrados em trabalhos menos instrutlvos de W. E. Ritter, E. B. Wilson, E. Ungerer, J. Schaxel, J. von Uexkiill etc. Podem ser consult ados proveitosamente os trabalhos de J. Needham, por exemplo: "Thoughts on the problem of biological organization", em Scientia, agesto de 1932, 84-92. No que concerne it fisiologia, devem ser levados em conta os trabalhos de C. S. Sherrington, The Integrative Action of the Nervous System, (New Haven, Yale University Press, 1923); W. B. Cannon, Bodily Changes in Pain, Hunger, Fear and Rage, capitUlo 12 e The Wisdom of the Body, (Nova IOl'que: W. W. Norton, 1932), todos menos 0 infeliz epilogo sebre "homeostase social"; G. E. Coghill, Anatomy and the Problem of Behavior, (Cambridge University Press, 1929); Joseph Barcroft, Features in the Archi· tecture of Physiological Function, (Cambridge University Press, ~934). No que se l'efere it pslcologia, sao oportunas virtualme11l;e todas as contribui~ees bitsicas 1\ psicologia din arnica. Seria nao a.penas corriqueiro, mas tambem exato, dizer que as concep~6es freudianas sac carre gadas de funcionalismo, ja que os conceitos principais se referem, invari1\velmente, a uma estrutura funciona1 (ou disfuncional). em Carl Para uma dlferente ordem de conceitos, veja-se Harvey Carr, "Functionalism", Murchison, redator, Psychologies of 1930 (Clark University Press, 1930); e um dentre muitos outros artigos que tratam substancialmente deste conjunto de conceitos, veja-se "Homeostasis as an explanatory principle in psychology", POl' J. M. Fletcher, em Psychological Review, 1942, 49, 80-87. Uma elCposi~ao da aplica~ao da a.bordagem funclonal da personalidade, encontra-se no capitUlo I de
l1teis a- analise funcional aplicada a- sociologia. Contudo, aprender dos canones do processo analitico em tais disciplinas freqiientemente mais :rigorosas, nao significa adotar seus conceitos e tecnicas especificas, de olhos fechados. Por exemplo, lucrar com a l6gica do processo empregada de modo bem sucedido nas ciencias bio16gicas, nao e descambar na aceitagao dt' analogias em grande parte irrelevantes e de homologias. que por tanto tempo tem fascinado os devotos da sociologia organicista. Examinar a armagao metodol6gica das pesquisas biol6gicas nao e adotar seus conceit os substanttVos. A estrutura l6gica da experimentac;ao, por exemplo, nao difere em fisica, quimica ou psicologia, embora as hip6teses substantivas, as ferramentas tecnicas, os conceitos basicos e as dificuldades praticas possam diferir enormemente. Nem os substitutos aproximados da experimentagao -- a observac;ao controlada, 0 estudo comparativo e 0 metoda de "discenlir" - diferem em sua estrutura l6gica em antropologia, sociaJogia ou biologia. Considerando ra-pidamente a l6gica do processo de Cannon na fisiologia, estamos, entao, procurando um modelo metodo16gico que possivelmente poderia ser adaptado para a sociologia, sem adotar as infortunadas homologias de Cannon entre a estrutura dos organismos biol6gicos e a da sociedade. 51 Seu processo apresenta-se como se segue. Adotando a orientac;ao de Claude Bernard, Cannon primeiramente indica que 0 organismo exige um estado relativamente constante e estavel. Uma das tarefas do fisiologista, entao, e fornecer "uma exposigao con. creta e pormenorizada dos modos de assegurar os estados duraveis". Ao examinar as numerosas exposig6es "concretas e pormenorizadas", proporcionadas por Cannon, encontramos que 0 modo geral de jormulag{io e invariavel, nao importando qual 0 problema especifico que esteja amao. Uma formulac;ao tipica e a seguinte: "A jim de que 0 sangue ...
No que diz l'espeito ao direito, veJa-se 0 trabalho critlco de Felix S. Cohen, lntitulado "Transcendental nonsense and the functionai approach", Columbia Law Review, 1935, XXXV, 609-849, e as numerosas cita~6es que contem. Quanto it sociologia e antropologia, veja.-se a breve amostra de cita~6es ao longo de todo este capitUlo. 0 volume editado pOI' Robert Redfield constltul uma ponte muito utH s6bre 0 a.bismo que separa com excessiva freqiiencia as cienclas biol6gicas das ciencias socials: "Levels of Integration in Biological and Social Systems", Biological Symposia, 1943, VIII. Importante esf6r~0 para expor a estrutura conceptual da analise funclonal, encontra-se em: Talcott Parsons; '.rhe Social System, (Glencoe, Illinois: Free Press, 1951). 51. Como ja se tornou impHcito anteriormente, 0 epilogo de Cannon it sua obra Wisdom of the Body, continua sendo urn exemplo insuperavel dos extremos infrutlferos a que se ve arras tad a ate mesmo uma mentalidade excepcional, quando come~a a deduzir analogias e homologias essenciais entre organismos biol6gicos e sistemas sociais. Veja-se, por exemplo, a sua compara~;;'o entre a substancia intercelula,r fluida do corpo e 0" canais, rios e estradas de terra que "carregam os produtos da mina e da fabrica, da granja e do bosque". ~sge tipo de analogia, desenvoivido anteriormente em copiosos volumes, POI' Rene Worms, Schaeffle, Vincent, Small and Spencer entre outros, nao representa 0 valor distintivo dog trabalhos de Cannon para 0 soci610go.
sirva de meio circulante, preenchendo as vanas junr;oes de urn car:ecador comum de nutrientes e de dejetos ... , e preciso haver precauQoes :;ara rete-lo, sempre que haja perigo de escapame~to". Ou, analisanIGO outra afirmaQao: "Se a vida da celula deve contmuar ... , 0 sangue ... iieve circular com velocidade suficiente para entregar as celulas vivas 0 (necessario) suprimento de oxigenio". Havendo estabelecido os requisitos do sistema organico, Cannon, en· UtO, continua a descrever em pormenores os varios mecanismos que operam a fim de satisfazer esses requisitos (por exemplo, as complicadas alteraQoes que conduzem a coagulaQao, a contraQao local de vasos sanguineos ofen didos que dimlnuem a gravidade da hemorragia, a acelerada formaQao de coagulos atraves da secreQao de adrenalina e sua aQao sabre 0 figado etc.) Ou ainda, ele descreve os varios dispositivos bioquirnicos que asseguram urn suprimento adequado de oxigenio ao organismo normal e as mudanQas compensadoras que ocorrem quando alguns de tais dispositivos nao funcionam de modo adequado. Se a l6gica de tal abordagem e afirmada em seus termos mais gerais torna-se evidente a seguinte seqi.iencia inter-relacionada de eta pas . Ant~s de tudo, certos requisitos funcionais dos organismos sac definidos, requisitos que devem ser satisfeitos se 0 organismo deve sobreviver ou !uncionar com algum grau de eficiencia. Em segundo lugar, ha uma descriQao concreta e pormenorizada dos dispositivos (estruturas e pro
mente inteligiveis, nao reunem sistematicamente os tipos de dados necessarios, r.ao empregam urn corpo comum de conceitos e nao utilizam. os mesmos criterios de validez. Em outras palavras, encontramos na:. fisiologia urn corpo de conceitos-padrao, de processos e de designios de analise ao passe que na sociologia encontramos uma variada seleQao de' conceitos, de processos e de 1esignios, dependendo, ao que pode parecer, dos interesl'es e dos gostos do soci6logo tornado como individuo. Certamente, esta diferenc;:a entre as duas disciplinas tern algo aver - e talvez bastantf' - com as diferengaiS nas caracteristicas dos dados examinados pelo fisi6logo e pelo soci610go. As oportunidades relativamente grandes dos trabalhos experimentais da fisiologia, - e esta afirmaQao ja e muito banal, - sac dificilmente igualadas na sociologia. Porem, isto explica muito pouco os dispositivos sistematicos dos processos e dos conceitos num caso, e 0 carater disparatado, freqi.ientemente nao-coorde· nado e nao raro defeituoso, dos processos e dos conceitos na sociologia funcional.
Apreser.tamos urn paradigma dos conceitos e problemas centrais a codificaQao da analise funcional na sociologia, como urn passe inicial e admitido como tentativa nessa direQao. Logo se tornara evidente que os principais r:omponentes de tal paradigma emergiram progressivamente das pagina.s anteriores, a medida que fomos examinando criticamente os vocabularios, os postulados, os c'Onceitos e as imputaQoes ideol6gicas que agora sac encontrados neste campo de atividade. 0 paradigma os reune de forma compacta, permitindo assim 0 exame simultaneo dos princiPillS requisitos da analise funcional e servindo como auxilio a autocorrec;:ao das interpretaQoes provis6rias, resultado este dificil de conseguir quando estao esparsos e ocultos, pa.gina ap6s pagina de exposiQao discursi·•.a.52 0 paradigma apresenta 0 nucleo maciQo dos conceitos, dos processos e das inferencias na analise funcional. Acima de tudo, deve-se notar q1:e 0 paradigma nao representa urn conjunto de categorias introduzido de n6vo, mas sim uma codijicar;ao daqueles conceitos e problemas que tern side impostos a nossa atenQao pelo l::xame critico da pesquisa atual e da teoria relativa a analise funcional . (A referencia as secQoes anteriores deste capitulo mostrarao que 0 terreno foi preparad.o para cada uma das categorias incluidas no paradigma). 1.
0 (s) item (s) a que sao imputadas as fun~iies A escala total dos dados sociol6gicos pode ser submetida a analise funcional e em grande parte isso tem sido feito. 0 requisito basico e que 0 objeto da analise representa um item padronizado (isto e, conforme a uma norma e repetitivol, tais como os papeis sociais, 08
52. Para uma breve exposi~ao da finalidade dos paradigmas a nota s6bre paradigmas em outro trecho deste volume.
analiticos
como liste, veja-sll
adroes culturais, as emo\;oes cultural mente padronizadas, as norm as SOCiMS,a organiza~ao ~e grupos, a estrutura social, os dispositivos para contr61e social etc. INTERROGAQAO BASICA: Que deve entrar no protocolo da observa\;ao do item dado pa.ra ser acesslvel a analise funcional sistematica? 2. Conceitos de disposi\;iies subjetivas (motivos, prop6sitos) A qualquer momento, a analise funcional invariavelmente admite ou opera expllcitamente com alguma concep\;ao da motiva\;ao dos individuos incluidos num sistema social. Conforme a discussao anterior demonstrou, tais conceitos de disposi\;ao subjetiva sao freqiiente e err6neamente fun didos com os conceitos relacionados, porem diferentes, de conseqiiemcias objetivas de atitudes, crenQas e comportamento. INTERROGAQAO BASICA: Em que tipos de analise e suficiente tomar motiva\;oes observadas, como dados, e em quais sao eles corretamente considerados como problematicoij, como derivaveis de outros dados? 3. Conceito de conseqiiencias objetivas (fun~iies, disfun\;iies) Temos observado dois tipos predominantes de confusao que envolvem as varias concep\;oe~ correntes de "fun\;ao": (1) A tend(ncia a limitar observa\;oes sociol6gic2>Sas contribui\;oes positivas de urn item sociol6gico para 0 sistema cultural ou social em que esteja implicado; e (2) A tendemcia a confundir a categoria sUbjetiva de motivo com lh categoria objeti\'a de f'ln\;ao.
Para eliminar essas confusoes, sao necessarias distin\;oes conceptuais apropriadas. o prtmeiro problema exige urn conceito de conseqiiencias multiplas e um saldo liquldo de um agregado de conseqiiencias. Fun\;iies san aquelas conseqiiencia,s observadas que propiciam a adapta\;ao ou ajustamento de urn dado sistema e disfun\;iies san aquelas conseqiiencias observadas que diminuem a adapta\;ao ou 0 ajustamento do sistema. Ha tamMm a possibilidade empiric a de cons('qiiencias nao·funcionais as quais san simplesmente irrelevantes ao sistema em considera\;ao. Em qualquer situa\;ao dada, urn item pode ter conseqiiencias tanto funcionais como disfuncionais, originando 0 dificil e importante problema de desenvolver canones para avaliar o saldo l1quido do agregado de conseqiiencias. (E claro que isto e muito import ante no uso da analise funcional para guiar a forma\;ao e a execu\;ao do plano). o segundo problema (originado da facil confusad dos motivos e das fun\;oes) exige que introduzamos uma distin\;ao conceptual entre os casos em que 0 alvo em vista, sUbjetlvo, coincida com a conseqiiencia objetiva, e os casos em que ambos divirjam. As fun\;iies manifestas san aquelas conseqiiencias objetivas que contribuem para 0 ajusta;nento ou adaptlh\;aO do sistema, que sao intencionadas e reconhecidas pelos participantes do sistema. As fun~iies latentes, correlativamente, san aquelas que nao constam das inten\;oes, nem sao reconhecidas.· INTERROGAQAO BASICA: Quais san os efeitos da transforma\;ao de uma fun\;ao pre. viamente latente numa fun\;aO manifesta (0 que inclui 0 problema do conhecimento do COIr'· portamento humano e OS problemas da "manipula\;ao" do comportamento humano)? 4. Conceitos da unidade servida pela fun\;ao Temos observado as dificuldades acarretadas pela limita~ao da analise as fun\;oes exer(,[das para a "sociedade", uma vez que certos itens podem ser funcionais para 2Jguns individuos e subgrupos e disfuncionais para outros. Portanto, e necessario considerar uma amplitude de unidades para as quais tenha conseqii~ncias designa,das: individuos em posi\;oes sociais diferentes, subgrupos, 0 sistema social geral, e os sistemas de cultura. (TerminoJogicamente isto afeta os conceitos de fun\;aO psicol6gica, de fun\;ao do grupo, de fUllQoes sociais, de funQao cultural etc.).
• As rela\;oes entre as "conseqiiencias imprevistas" da a\;ao, e as "fun\;oes latentes", podem ser claramente definidas, uma vez que estao implicitas na sec\;ao precedente no paradigma. As conseqii(mcias nao procuradas da a\;ao sao de tres tipos: (1) as que san funcionais
para urn sistema deliberado e compreendem
as fun~oes latentes;
5.
Conceitos de ex,gencias funcionais (necessidadcs, pre-requisitos) Implantada em cada analise funcional, existe alguma concep\;ao, tacita OU expressa, dos requisitos funcionais do sistema em observa\;ao. Conforme foi a.notado em outro lugar53 isto permanece como urn dos conceitos mais nebulosos e empiricamente mais sujeitos a debate, na teorta funcional. Conforme e utilizado pelos soci610gos, 0 conceito de requisito funcional tende a ser tautol6gico, ou ex post facto; ten de a ser limitado as condi\;oes de "sobrevivencia" de urn dado sistema; tende, como no trabalho de Malinowski, a incluir as "necessidades" bio16gicas, assim como as sociais. Isto envolve 0 dificil problema de estabelecer tipos de requisitos funcionais (universais versus espec!ficos); e determinar processos para, validar as suposi\;oes de tais requisitos etc. INTERROGAQAO BASICA: Que e necessario para estabelecer a validade de variaveis como "requisito funcional" em situa\;oes em que seja impraticavel a experimenta\;ao rigorosa? 6. Conceitos dos mecanismos atraves dos quais Be reaIizam as fun~iies A analise funcional na sociologia, como em outras disciplinas tais como a fislologia e a psicologia, exige uma exposi\;ao "concreta e detalhada" do mecanismo com 0 qual opera a fim de realizar uma fun~ao deliberada. Isto se refere a mecanismos sociais, e nao a psico· 16gicos (por exemplo, a divisao de papeis, 0 isolamento de exigencias institucionais, a orde. na~ao hienirquica de va16res, a divisao social do, trabalho, os atos rituais e cerimoniais etc.) INTERROGAQAO BASICA: Qual e 0 balan\;o presentemente disponivel de mecanismos sociais correspondentes, por exemplo, ao grande balan~o dos mecanismos psicol6gicos? Quais os problemas metodol6gicos que estao implicitos na percep\;ao do funcionamento de tais mecanismos sociais? 7. Conceitos de alternativas funcionais (equivalentes ou substitutos funcionais) Como temos visto, desde que abandonamos a Suposi\;ao gratuita da indispensabilidade funcional de estruturas sociais particulares, necessitamos imediatamente de algum conceito daw>alternatlvas funcionais, equivalentes ou substitutos. Isto focaliza a aten\;ao s6bre a amplitude de varia~ao possivel no que diz respeito aos itens que, no caso em exame, possam servir a urn requisito funcional. Isto des congela. a identidade do existente e do inevitavel. INTERROGAQAO BASICA: Desde que a prova cientlfica da equivalencia de uma alegada alternativa funcional exige idealmente uma experimenta\;ao rigorosa, e desde que isto nao e freqiientemente praticavel em .situa\;oes sociol6gicas de larga escala, quais sao os processos de investiga\;ao que se aproximam mais de perto da 16gica da experimenta\;ao? 8. Conceitos de contexto estrutural (ou de coer~lio estrutural) A margem de varia\;ao nos itens que podem preencher designadag, funQoes numa estrutura social nao e ilimitada (e isto tern >ldo observado repetidamente em nosso estudo pre· cedente). A interdependencia dos elementos de uma estrutura social limit a as possibilI0 conceito de coer\;ao estruturnl dades efetivas de mudan\;a ou as alternativa~ funcionais. corresponde, na area da estrutura social, ao "principio de possibilidades limitadas" dp Goldenweiser, numa esfera mais ampla. 0 nao reconhecimento da relevancia da inter· dependencia e das restri\;oes estruturais concomitantes, conduz ao pens amen to ut6pico em que se admite tacitamente que certos elementos de urn sistema social podem ser eliminados sem afetar 0 resto daquele sistema. Esta considera\;ao e reconhecida. tanto pelos cientistas sociais marxistas (por exemplo, Karl Marx) como pelos nao-marxistas (por exemplo, Malinowski) .54 (2) (3)
as que san disfuncionais para urn sistema deliberado e compreendem as disfun\;oeS latentes; e as que san alheias ao sistema, que nao afetam nem funclonal nem disfuncionalmente, au seja, a classe de conseqiiencias afuncionais que, do ponto de vista pragmMico, carecem de importancia. Para uma exposi\;ao preliminar, veja-se R. K. Merton, "The unanticipated consequences of purposive social action", Amertcan Sociological Review, 1936, 1, 894-904; para a tabulaQao destes tipos de conseqiiencias, ver Goode, Religion Among the Primitives, 32-33.
53. R. K. Merton, "Discussion of Parsons' 'Position of sociological theory' ", Americau Sociological Review, 1949, 13, 164-168. 54 Palavras de Marx anteriormente citadas documentam esta afirma\;ao, mas san apenas alguns dos muitos trechos em que Marx sublinha a importancia de se levar em consi· dera\;lio 0 contexto estruturaJ. Em A Contribution to the Critique of Political Economy
INTERROGAQAO BASICA: Por que modo de coergao um dado contexto estrutural limita a amplitude de variagao dos itens que podem efetivamente satisfazer as exi!lli'ncias funcionais? Em que condigoes ainda por determinar, encontramos uma area de indiferenga, na qual qual· que I' alternativa tirada de grande mimero destas, pode preencher a fungao? 9. Conceitos de dimimica e de mudanga Temos observado que os analistas funcionais tendem a focalizar a estatica da estrutura social e a negligenciar 0 estudo da mud:onga estrutura!. Esta enfase sobre a estatica, contudo, nao e inerente a teoria da analise funciona!. Mais que isto, e uma enfase z,ctventicia que deriva da preocupagao dos primitivos funcionalistas antropol6gicos, de contrapor·se a tendencias anteriores de escrever hist6rias conjecturais a Esta pratica, liti! no tempo em que a princlpio foi respeito de sociedades iletradas. Introduzida na antropologia, persistiu com desvantagens no trabalho de alguns soci610gos funcionais. o conceito de disfungao, que implica no conceito de tensao, esf6rgo e oposigao no nive] estrutural, propicia uma aproximagao analitica 300estudo da dinamica e da mudanga. Com3 se observam a,s disfungoes contidas dentro de uma estrutura particular de modo a nao pro· duzir instabilidade? A acumulagao de esforgos e tensoes produO')pressao que favorece a mu· danga, em diregoes tais que provavelmente conduzem a respectiva ,.edugao? INTERROGAQAO BASICA: A preocupagao dominante entre os analistas funciona;s, com 0 conceito de equilibrio social, distrai a atengao dos fenomenos de desequilibrio social? Quais os processos disponiveis que permitirao ao soci610go, pelo modo mais adequado, mediI a acumulagao de tensoes e esforgos num sistema social? Em que extensao 0 conhecimento do contexto estrutural permite ao soci610go antecip:or as diregoes mais provaveis da mudanQa social? 10. Problemas de validagao da an6lise funcional No desenvolvimento do paradigm a, chamou-se a atengao repetidamente para os pont os especificos em que devem ser valida.dos suposigoes, atribuigoes e observagoes.55 Isto requer, sobretudo, uma formulagao rigorosa dos processo~ sociol6gicos de analise que mais se apro. ximam da logica da experimentagao. Requer uma revisao sistematica das possibilidades e limitagoes da analise comparada (cultural e de grupo). INTERROGAQAO BASICA: Ate que ponto este. !imitada a analise funcional pela dificl1J(que apareceu em 1859 e foi publicada de novo em Selected Works de Karl Marx, op. cit., I, 354-71), ele observa por exemplo: "Jamais desaparece uma ordem social antes que todas as forgas produtivas que encerra se tenham desenvolvido; e jamais aparecem relagoes mais elevadas de produgao antes que as condiQ6es materiais de sua existenc;a ten ham amadurecido no seio da velha sociedade. Portanto, a humanidade so estabelece para si as tarefas que pode realizar, pois, otservando 0 assunto mais cuidadosamente, verificaremos sempre que a tarefa somente nasce quando as condig6es materiais nec~ssarias para sua solugao existem, ou estao, pelo menos, em processo de formagao" (p. 357). Talvez a mais conhecida das suas numerosas referencias sobre a influ~ncia coercitiva de uma determinada estrutura social se encontre no segundo paragrafo de o Dezoito Brumario de Luis Napoleao: "0 homem faz a sua hist6ria, mas nao a faz com circunstancias escolhidas por ele, mas com as que encontra ao alcance da sua mao". (Trecho extraldo da parafrase do original, publicada em Selected Works de Marx, II, 315). Pelo que se' ve, A. D. Lindsay e 0 mais profundo dos comentaristas que assinalaram as aplicag6es te6ricas de afirmag6es como essas. Veja-se seu oplisculo Karl Marx's Capital: An Introductory Essay (Oxford University Press, 1931), especialmente as pags. 27-52. Para outra linguagem com contelido ideol6gico totaImente diferente mas com inpllcag6es teoricas essencialmente analogas, veja-se B. Malinowski: "Dada uma necessidade cultural definida, os meios de satisfaze-Ia sac poucos em nlimero e, portanto, 0 dispositivo cultural que entra em vigor como resposta a necessidade esta determinado dentro de estreitos limites". "Culture", Encyclopedia of the Social Sciences, op. cit., 626. 55. Deste ponto, e evidente que estamos considerando a analise funcional como um me. todo para a interpreta~ao d9 dados sociologicos. Isto nao significa negar 0 pa.pel im· portante da, orientagao funcionaI para sensibilizar 0 ~('~i6logo para a coleta de tipos de dados que, de outro modD, poderiam ser esquecidos. Talvez seja desnecessario
dade de localizar modelos adequados de sistemas sociais, que podem submeter-se a um estudo comparado (semi-experimenta))? 56 11. Problemas das implicagocs ideologicas da analise funcional Numa secgao anterior foi salientado que a analise funcional nao tem compromisso in. trinseco com qualquer posigao ideol6gica. Isto nao contradiz 0 fate de que quaisquer analise~ funcionais particulares e hip6teses particulares formuladas por funcionalistas podem ter um papel ideol6gico identificave!. Entao, isto se torna urn problema especifico para a sociologia do conhecimento: em que medida a, posigao social do soci610go funcional (por exem. plo, em relagao a um "cliente" particular que haja autorizaao determinada (pesquisa) eVOca determinada formulagao de um problema, em vez de outra, afeta suas suposigoes e conceitos e limita a amplitude das inferencias derivadas dos seus dados? INTERROGAQAO BASICA: Como se pode descobrir 0 colorido ideol6gico de uma analise funcional, e em que gra-u uma ideologia particular deriva dos supostos basicos adotados pelo soci610go? A incid(·ncia de tais assuntos este. relacionada com 0 sta-tus e 0 papel do sociologo como pesquisador?
Antes de passar a urn estudo mais intensivo de algumas partes deste paradigma, sejamos claros acerca dos usos a que se sup6em ser possivel aplicar 0 paradigma. AfinaI, as taxonomias dos conceitos podem ser indefinidamcnte multiplicadas, sem fazer progredir materialmente as tarefas da analise sociol6gica. Quais, entao, sac as finalidades do paradigma e como podera ele ser usado?
A primeira e mais importante finalidade e fornecer urn guia codiiicado e provis6rio as analises funcionais adequadas e frutiferas. Este objetivo evidentemente significa que 0 paradigma contem 0 conjunto minimo de conceitos, com os quais 0 soci6logo necessita trabalhar a fim de levar ao fim uma analise funcional adequada e, como corolario, que el~ possa ser usado aqui e agora, como urn guia para 0 estudo critico das analises existentes. Prop6e-se que ele seja, assim, urn guia demasiado compacto e conriso na formulagao de pesquisas de analises funcionais e uma ajuda em Jocalizar as contribuig6es distintas e as deficiencias de pesquisas anteriores. As limitag6es de espago nos permitirao aplicar somente partes limitadas do paradigma a uma avaliagao critica de uma lista selecionada de assuntos.
repetlr 0 axiom a de que os conceitos de um indiV'iduo determinam a incIusao ou a exclusao de dados e que, apesar da etimologia da palavra" os dados nao sac "dados" ma.s "arbitrados" com a inevitavel ajuda de conceitos. No processo de elocubrar uma internecessario obter pretagao funcional, 0 analista soci610!(0 considera invariavelmente dados diferentes dos inicialmente imaginados. A interpretagao e a coleta de dado' estao, portanto, inextricavelmente entretecidas com 0 conjunto de conceitos e de proposig6es relativos a ""stes conceitos. Essas observag6es sao estudadas com mais vagar no Capitulo II. 56. Social Structure, de George P. Murdock (Nova, Iorque: Macmillan, 1949), demonstra qUe procedimentos como os que impIica 0 exame minucioso da cultura sao muito promissore, para 0 estudo de certos problemas metodologicos de analise funcional. Vejam-se tambem os processos de analise funcional em Marriage, Authority, and Final (lauses, por George C. Homans e David M. Schneider (Glencoe: The Free Press, 1955).
Em segundo lugar, 0 paradigma se prop6e a conduzir diretamente aos postulados e suposig6es (freqtientemente tacitos) que se acham no substrato da analise funcional. Como temos assinalado anteriormente algumas dessas suposig6es sac de fundamental importancia, outras sac insignificantes e dispensaveis e outras mais sac dubias e ate mesmo en§ranosas. Em teneiro lugar, 0 paradigma procura sensibilizar 0 sociologo nao samente em relagao as correlag6es estreitamente cientfficas de varios tipos de analise funcional, como tambem a suas correlag6es politicas e algumas vezes ideologicas. as pontos em que uma analise funcional pressup6e urn angulo politico implicito e os pontos em que ela se relaciona com a "engenharia social", sac quest6es que encontram lugar integral no paradigma. Fica abviamente alem dos limites deste Capitulo explorar em detalh~ os grandes e amplos problemas incluldos no paradigma. Isto pode aguaraar uma exposigao mais completa Dum volume devotado a tal finalidade. Portanto, limitaremos 0 restante de nossa presente dissertagao a aplicag6es breves apenas das primeiras partes do paradigma, a urn numerC' de casos rigorosamente limitados, da analise funcional na sociologia. E, de tempos em tempos, estes poucos casos serao usados como ponto de partida para a discussao de problemas especiais que sac apenas ilustrados de modo imperfeito, pelos casos em questao.
A prirneira vista, pode parecer que a crua descrigao do item a ser analisado funcionalmente, acarreta poucos problemas, se e que surge algum. Presumivelmente, deve-se descrever 0 item "de modo tao completo e exato" quanto possivel. No entanto, depois de pensar mais, fica evidente que esta maxima nao fornece quase nenhuma orientagao para ~ observador. Considere-se a situagao embaragosa de um neofito funclonalmente orientado, armado samente com esta maxima, como se fOsse urn auxilio destin ado a responder a pergunta: a que e que YOU observar, 0 que e que YOU incorporar as mlnhas anotag6es de campo e 0 que poderei omitir sem prejuizo? Sem admitir que 5e possa dar agora uma resposta detalhada e circunstancial ao trabalhador do campo, nao obstante, poderemos observar que a pergunta em si mesmo e legitima e que se desenvolveram parcialmenA fim de provocar estas respostas implicitas, a te respostas implicitas. fim de codifica-Ias, e necessario abordar os casos de analise funcional com a interrogagao: Que especie de dados foram consistentemente inclui·
e confinada a urn relato d'J conjuro ou da formula, do rito e dos executantes. Inclui a exposigao sistematica das pessoas que participam e dos espectadores, dos tipos e indices de interal;ao entre os executantes e a audiencia, de mudangas nestes modelos de interagao, no decurso do cerimonial. Assim, a descrigao das cerimonias de chuva dos Hopi, por exemplo, * envolve mais do que as ag6es aparentemente orientadas em diIndui regao a intervengao dos deuses nos fenomenos meteorologicos. urn relatorio das pessoas que sac envolvidas de varias maneiras no padrao de comportamento. A descrigao dos participantes (e espectadores) e apresentada em termos estruturais, isto e, em termos de colocagao de tais pef>soas em seus lugares interligados de situagao social. Breves citac;6es ilustrarao 0 modo pelo qual as analises funcionais comegam com a inclusao sistematica (e, preferlvelmente, com esquemas) etas situagoes sociais e intel·-relag6es sociais dos que entrem no comportamento que 5e examina. Ccrimonia Chiricahua, da puberdade, para meninas: a familia domestica, ampliada, (pais e parentes capazes de auxiliar do ponto de vista financeiro) suportam a despesa dessa cerim6nia de quatro dias. Os pais escolhem 0 tempo e 0 lugar da cerimonia. "Todos os membros do acampamento da mii~a comparecem, bem como quase todos os memo bros do grupo local. Um regular numero de visit antes de outros grupos locais e alguns via· jantes de bandos de fora, saD vistos: seu numero aumenta It proporgao que 0 dia avanga". o !idcr do grupo local ao qual pertence a famll.ia da mog20, fala, dando as boas-vindas a todos os visitantes. Resumindo, este relato chama a atengao de modo explicito para as segulntes situa,lies socials e grupos envolvldos por varias form as na cerlmonia: a mOga; seus pals e a famllia mais pr6xima; 0 grupo local, especialmente atraves de seu chefe; 0 banda representado pelos grupos locais externos, e a "tribo representada pelos membros de outros bandos". 57
Tal como veremos no momenta oportuno, embora seja pertinente definir agora, a descrigiio crua da cerimonia em termos da posigao social e das filiag6es dos grupos de pessoas envolvidas de varias formas, fornece uma pista principal que lev!;l,as fungoes desempenhadas por este cerimonial. Numa palavra, sugerimos que a descrigao estrutural dos participantes na atividade em analise, proporciona hipoteses para interpretag6es func-ionais subseqtientes. Outro E'xemplo indicani novamente a natureza de tais descrig6es em termos de papel, situagao social, filiagao no grupo e as inter-relac;6es entre estes fatOres. Rea~iies estandardizadas ao 'mirriri' (ouvir obscenidades os Murngin da Australia. A reagao padronizada deve ser mido: quando um marido amaldigoa sua esposa. na presenga ao comportamento aparentemente an6malo de atirar dardos
dirigidas a propria irma) entre descrita de modo bastante resudo irmao dela, 0 irmao se langa It esp6sa (nao contra 0 marldo)
este~
HOPI. Uma das tribos Shoshones dos indios da na~ao Pueblo, tambem conhecida por Moqui. Sao agricultores industriosos, trabalham com tlnturaria e tecela,gem, criam gado, e sao conhecidos por sua complexa organizagao de clas e cerim6nias religlosas.
Logo <;p torna claro que a orientac;ao do funcionalista determina grandemente 0 que e que se inclui na descrigao do item a ser interpret ado . Assim, a descric;ao de um espetaculo de magia ou de uma cerimonia nao
57. Morris E. Opler, "An outline of Chiricahua Apache social organization", em Social Anthropology of North American Tribes, ed. por Fred Eggan (Chicago: University of Chicago Press, 1937), 173-239, especialmenta ..., pa~s. 226-:l3O [0 gTifo & nosso J.
aos, nao importa qual seja 0 item submetido dados foram incluidos, ao inves de outros?
a
analise,
e porque
(N. do T.)
e as suas irmas. A descriQao de tal padrao inclui descri<;6es da situaQao social dos partie;pantes. A. )fma. sao membros do cia do irmao; 0 marido provem de outro cia_ Observe-se ainda que os participantes sao localizados dentro de estruturas sociais e 66sa 10calizaQao e basica a analise funcional subseqiiente de tal comportamento.58
Uma vez que estes casos sac extraidos de sociedades agrafas, poder-se-ia admiti.r que estes requisitos de descriQao f6ssem peculiares a metteriais agrafos_ Contudo, tomando-se outros casos de analises funciomoderna, podemos nais de padrao encontrados na sociedade ocidental identificar este mesmo requisito, assim como oferecer guias adicionais aos "dados descritivos necessarios". o "complexo do arnor rOIlHlntico" na sociedade american a : embora t6das as sociedadcs reconheQam "ocasionais ligaQ6es emocionais violentas", a sociedade norte-americana contern. poranea esta entre as poucas sociedades que valorizam as ligaQ6es romanticas, e pelo menos na crenQa popular, tomam-nas como a base para a escolha de urn conjuge para casamento. Este padrao caracteristico de escolha diminui ou elimin2, a escolha do conjuge pelos pais 01.1 pelo grupo de parentesco mais amplo. 59 Observe-se que a enfase sabre urn padrao de escolha de c6njuge exclui padroes de escolha alternativos, cuja ocorrencia e conhecida em outras partes. Este caso sugere urn segundo desiderato para urn tipo de dados a seAo desrem incluicos no relato do item submetido a analise funcional. crever 0 padrao caracteristico (modal) de manejar urn problema estan. Clardizado (escolha do c6njuge), 0 observador, sempre que seja possivel indica as principais alternativas assim excluidas. Como veremos, iS50 propicia indicaQoes diretas ao contexto estrutural do padrao e mediante a sugestao de materiais comparativos adequados, aponta na direQao da validaQao rla analise funcional. Urn terceiro elemento constitutivo da descriQao do item problematico, preparat6rio a analise funcional real - por assim dizer, urn requisit~ ~dicional a preparaQao do especime para analise - e incluir os "sigmflCados" (ou significac;;ao rognitiva e afetiva) da atividade au padrao ' para as membros do grupo. De fato, como se tornara evidente, urn relato total circunstanciado d'ts significaQoes ligadas ao item muito contribui a sugerir as linhas apropriadas de analise funcional. Urn caso ex-
,
58. W. L. Warner, A Black Civilization - A Social Study of an Australian Tribe (,Nova Iorque: Harper & Brothers, 1937), 112-113. 59, Sobre diferentes atitudes em relaQao it analise funcional do "complexo de amor roman. tico", ver R2Jph Linton, Study of Man, (Nova rorque: D. Appleton-Century Co.. 1936),. 174-5; T. Parsons, "Age !lnd sex in the social structure of the United States", Amencan Sociological Review, outubro de 1942, 7, 604·616, especialmente as pags. 614-15: T. Parsons, "The kinship system of the contemporary United States", American An. thropologist, 1943, 45, 22·38, especialmente as pags. 31·32, 36-37, ambos esses trabalhos reproduzidos em seus Essays in Sociological Theory, op. cit.; T. Parsons, "The social structure of the family", em The Family: Its Function and Destiny, ed. por Ruth N. Anshen (Nova Iorque: Harper, 1949), 173-201;R. K. Merton, "Intermarriage and the social ~tructure'~' Psychiatry, 1941, 4, 361-74, especialmente as pags. 367·8; e Isidor Thorn~r. SOCIOlogIcalaspects of affectional frustration", Psychiatry, 1943, 6, 157-173,especialmente as pags. 16!>-72.
traido das muitas anaJises funcionais tese geral:
de Veblen, serve para ilustrar
a
o padrao cultural do consumo ostensivo: 0 consumo ostensivo de artigos relativamente dispendiosos "significa" (simboliza) a posse de suficiente riqueza. para "permitir-se" tais despesas. Por sua vez, a riqueza e honorifica. As pessoas que se lanQam ao consumo por ostentaQao nao s6 obtem prazer com 0 consumo direto, como tambem do elevado status social refletido nas atitudes e opini6es dos outros que as observam. jtste padrao, e notado especialmente entre a classe folgada, isto e, aqueles que podem e em grande parte se abstem do trabalho produtivo [esta. e a situaQao social ou pepel componente da descriQao l Contudo, este con sumo se difunde a outras camadas que procurarn emular 0 padriio e que do mesmo modo experimentam orgulho em despesas "de desperdicio". Finalmente, 0 consumo em termos ostensivos tende a eliminar outros criterios de consumo (por exemplo, C gasto "eficiente" de fundos). [Esta e uma referencia expllcita aos modos alternativos de con· sumo obscurecidos da vista pela enfase cultural do pa.drao que est a sendo examinado ].60 Como bem se sabe, Veblen continua a imputar uma variedade de fungoes ao padrao de consumo ostensivo - funQoes de engrandecimento e validaQao do status social, de "boa reputa.Qao", de exibigao de farQa peEstas conseqiiencias, compartilhadas pelos particImniaria (pag. 96). pantes da atividade padronizada sac produtoras de satisfaQ9.o, e justifiearn a explicaQao da continmlQao do padrao. As pistas das juncoes imputadas silo jornecidas
quase totalmente
pela rdescricilo do pr6prio
padrilo,
o que inclui referencias explicitas (1) ao status social daqueles que exibem diferencialmente ,0 padrao, (2) alternativas conhecidas ao padrao de consumir em termos de exibiQao e "desperdicio", ao inves de fruiQao pri\"ada e "intrinseca" do item de consumo; e (3) os diversos significad03 culturalmente circunscritos ao comportamento de consumo de ostenta<;ao pelos participantes e observadores do padrao. Estes tres componentes da descriQao do especime a ser analisado nao provocam de maneira alguma a exaustao do tema. Urn protocolo descritivo completo, adequado a analise funcional subseqiiente, inevitavelmente se espalhara por uma gama de conseqiiencias psico16gicas imediatas e sociais, do comportamento em ,exame. Porem, essas correlaQoes, podem ser examinadas com mais proveito em conexao com os conceitos de funQao. Aqui torna-se unicamente necessario repetir que a descriQao do item nao segue de acardo com a incrinaQao ou a intuiQao, mas deve incluir no minima essas tres caracteristicas do item, se e que 0 protoco10 descritivo do item em exame deva apresentar valor 6timo para a analise funcional. Embora reste muito a ser aprendido com relaQao aos desideratos da fase descritiva da analise total, esta breve apresentaQao de modelos para urn conteudo descritivo pode servir para indicar que os procedimentos da analise funcional podem ser codificados com 0 resultado final de que 0 trabalhador socio16gico de campo tera urn mapa que guiara a observaQao. Outro caso ilustrara mais urn desiderata para a descriQao do item a ser analisado. 60.
Thorstein Veblen, The Theory of the Leisure Class, (Nova 1928), especialmente nos capdtulos 2-4.
rorque:
Vanguard
PrQss,
Tabu da exogamia: Quanto maior a solidariedade do grupo, tanto mais marcado sera o sentimento contrario ao casamento com pessoa fora do grupo. "Nao faz nenhuma diferenca qual sej a g, causa do desejo que favoreca a solidariedade do grupo ... " a casamento fora dele significa OU perder um membro do grupo a favor de outro grupo ou a inclusao no pr6prio grupo, de pessoas que nao tenham sido completamente socializadas nos val6res, sentimento~ e pr:Hicas do grupo em que ingress am .61
Isto sugere urn quarto tipo de dados a serem inc1uidos na descri<;ao do especime social ou cultural, antecipada a analise funcional. Inevitavelmente, os participantes da pratica que esta sendo examinada tern aiguma lista de motivos para manifestarem sua conformidade, ou para 0 relato descritivo devera, tanto quanta possi· a respectiva dissidencia. v'3l. incluir uma relar;ao destas motivar;6es, porem tais motivos nao devem ser conjundidos como temos vis to, com (a) a padrao objetivo ,do comport amento, ou (b) com as junr;6es sociais daquele padrao. A inclusao dos motivos no rela.to descritivo ajuda a explicar as fun<;6es psicol6gicas servidas
pelo padrao e freqiientemente verifica-se ser sugestiva quanto as fun<;6es sociais. Ate aqui, temos considerado itens que saD praticas au cren<;as claramente padronizadas, padr6es esses reconhecidos como tais pelos participantes da sociedade. Assim, os membros da sociedade dada podem, em varios graus, descrever os contornos da cerim6nia de puberdade dos Chiricahuas, o tipo de "mirriri" dos Murngin, a preocupa<;ao com 0 con5umo ostensivo e os tabus da exogamia, a escolha dos parceiros na base de ligag6es romanticas. Todos esses casos SM partes da cultura publica, e como tais, saD mais ou menos conhecidos completamente por aqw§les que participam dessa cultura. Contudo, 0 cientista social nao' se limit a a tais padr6es manifestos. De tempos a tempos, ele revela urn padrao cultural oculto, urn con junto de praticas ou cren<;as que e modelado tao consistentemente quanto os padr6es publicos, mas que nao e considerado como urn padrao normativamente regulado pelos pr6prios participantes. Os exemplos de tais casos saD abundantes. Assim, as estatisticas mostram que na situa<;ao de quase-casta que predomina nas rela<;6es entre negros e brancos, nos Estados Unidos, 0 padrao predominante de casamentos inter·raciais (quando ocorrem) e entre mulheres brancas com homens negros (ao inves de ser entre mulheres negras e horn ens brancos). Embora este padrao, que pode ser denominado - hipogamia de casta -, nao 8eja institucionalizado, e persistente e notavelmente estavel. 62 Ou entao, consideremos outro exemplo de urn padrao fixo, porem aparentemente nao reconhecido. Malinowski relata que os trobriandeses cooperativamente ocupados na tarefa tecnol6gica da constru<;ao de uma canoa, nao estao s6mente unidos naquela tarefa tecnica explicita, mas 61.
Romanzo Adams, Interracial Marriage in Hawaii, especialmente as pags. 197·204; Merton, "Intermarriage ... ", op. cit., especialmente as pags. 368-9;K. Davis, "Intermarriage in caste societies", American Anthropologist, 1941,43, 376·395. 62. Cf. Merton, "Intermarriage ... ", op. cit.; Otto Klineberg, ed., Characteristics of thE American Negro (Nova Iorque: Harper, 1943).
~ampem para estabelecer e refor<;ar, no processo de sua execu<;ao, rela<;6es interpessoais entre eles. Boa parte dos dados recentes, acerca de tais grupos primarios, chamados "organiza<;6es informais", trata de tais padr6es de rela<;6es que saD observadas pelo cientista social, mas nao san reconhecid
na norma, dentro da estrutura
social -
participacao
dife-
rencial;
2) consideracao dos modos de comportamento alternativos, excluidos pela enfase s6bre a norma observada (isto e, atencao nao s6mente ao que ocorre, mas tambem ao que e deRprezado em virtude- da norma existente); 3) os significados emotivos e cognitivos conceituados pelos participantes da norma; 4) uma. distincao entre as motivac6es da participacao na norma e 0 comportamento objetivo incluido na norma; 5) reguiaridades de comportamento nao reconhecidas pelos participantes, mas que sejam nao obstante associ adas com a norma central de comportamento.
Que estes desideratos do protocolo do observador estao longe de serem completos, e inteiramente provavel. Porem, eles fornecem urn passo tateante na dire<;ao de se especijicarem os pontos de observa<;ao., que facilitarao a subseqiiente analise funcional. Pretendemos que eles sejam urn tanto mais especificos do que as sugest6es ordinariamente encontradas em afirmag6es gerais quanto aos processos de trabalho, tais como os que aconselham 0 observador a ser sensivel com referencia ao "contexto da situa<;ao".
Conforme tern sido ventilado em se<;6es anteriores, a distin<;ao entre fun<;6es manifestas e latentes foi imaginada para evitar a confusao inadvertida, freqiientemente encontrada na literatura sociol6gica, entre motivar;6es conscientes do comportamento social e suas conseqilencias ob63. A redescoberta do grupo primario pelos interessados nos estudos sociol6gicos da In· dustria tem side um dos principais estimulos a abordagem funcional na pesquisa socio· 16gica recente. Referimo·nos aos trabalhos de Elton Mayo, Roethlisberger e Dickson, William Whyte e Burleigh Gardner, entre muitos outros. Continuam de pe, natural· mente, difereIl.!.'as de interpretaciio a que conduzem esses mesmos dados.
jetivas. Nosso exame dos vocabu1l1rios correntes da analise funcional tern demonstrado Quao facilmente, e quae desafortunadamente, 0 soci610go pode identificar os motivos com as junr,;i5es. Ja foi antes esclarecido que Q motivo e a fungao variam cada uma de per si e que a falha em registrar este fato numa terminologia estabelecida tern contribuido para a ~endencia inconsciente entre os soci610gos, de confundir as categorias subjetivas da motivagao com as categorias objetivas da func;ao. Este, entao, e 0 prop6sito central de nossa adesao a pratica nem sempre recomendavel de introduzir novos termos no vocabulario tecnico da sociologia, em rapido crescimento, pratica essa considerada POl' muitos leigos como uma afronta a sua inteligencia e uma ofens a contra a inteligibiIidade comum. Como se percebera facilmente, tenho adaptado os termos "manif.esto", Po "latente", diferenciando-os de seu usa em outro sentido POl' Freud (embora Francis Bacon ja ha muito tempo falasse de "processo latente" e "configurac;ao latente", em conexao com processos que estao abaixo do Iimiar da observac;ao superficial). A mesma distingao tern sido repetidamente trac;ada POI' observadores do comportamento humano, a intervalos regulares, numa extensao c.e muitos seculos.64 Na verdade, seria desconcertante verificar que uma distinc;ao que chegamos a considerar como principal na analise funcional, nao tivesse sido feita POI' qualquer urn daqueles que em numerosa :.;ompanhia, com efeito, adotaram uma orientac;ao funcional. Precisamos mencionar apenas uns poucos daqueles que, nas decadas recentes, tela verificado ser necessario distinguir em suas interpretac;oes especificas d~ C'omportamento, a finalidade em vista, das conseqtiencias funcionais da <:tc;ao. George H. M,ead 65 "... aquela atitude em rela~ao ao infra tor da, lei tern a (mica van. tagem [leia-se, fun~ao latenteJ de unir todos os membros da comunidade na solidariedadc emocional da agressao. Enquanto os mais admiraveis esfor~os humanitarios certamente eorrerao contra os interesses individuais de muitos componentes da comunidade ou deixari\:) de to car 0 interesse e a imagina~ao da massa, ficando a comunidade dividida o~ indiferente o grito d~ :ladrao' ou de 'assassino' e sintonizado por profundos complexos, que jazem !lbaix~ da superflcle d~s es:or~os individuais em concorrencia, e cidadaos que tern [permanecido] separados por mteresses dlvergentes unem·se contra 0 inimigo comum". A analise semelhante de Emile Durkheim,66 das fun~6es sociais do castigo, e tambem focalizada sabre suas fun~6es latentes (conseqiiencias em rela~ao a comunidade) ao invcs de serem confinadas as fun~6es ma.nifestas (conseqiiencias em rela~ao ao crimlnoso).
Estes e outros numerosos observadores sociol6gicos, entao, de tempos a tempos, tern distinguido entre categorias de disposic;ao subjetiva ("neReferencias a algumas das mais notaveis entre as primeiras manifesta~6es da distin~ao, podem ser encontradas em "Unanticipated consequences ... ", de Merton, op. cit. George H. Mead, "The psychology of punitive justice", American Journal of Sociology, 1918, 23, 577·602, especialmente pag. 591. Como ja foi indicado neste capitulo, Durkheim adotou uma orienta~ao funcional em tilda sua obra e trabalhou, embora muitas vezes sem aviso expl1cito, com conceitos eqUlvalentes. A referencia do texto neste trecho e ao seu "Deux lois de I'evolution penale" em. L'annee sociologique, 1899-1900,4, 55-95, bem como com a sua Division of Labor i~ So••",ty, (Glencoe, Illinois: The Free Press, 1947).
W.G Sumner 67: " ... desde os primeiros atos pelos quais os horn ens procuram satisfazer Das suas necessidades, cada ato explica.se por si, e nao olha alem da satisfa~ao imediata. neeessidades peri6diclls surgem os he.bltos pa.ra os indivlduos, e os costumes para 0 grupo, ma. estes resultados sao conseqiiencias que nunca foram conscientes, e nunca foram previstas ou procuradas. Elas nao sac observadas ate que hajam existido por longo tempo, e ainda leva mais tempo ate que sejam apreciadas." Embora isto falhe na localiza~ao das ~6es sociais padronizadas para uma estrutura social designada, faz claramente a distin~ao be.sica entre as finalidades a vista e as conseqiiencias objetivas. R.M. MacIver 68: Alem dos efeitos diretos das institui~6es, "he. efeitos ulteriores, a modo de controles, Que fazem fora das finalidades diretas dos homens este tipo de forma de controle relativo ... pode ser profundamcnte util a sociedade, embora nao intencionado". W.r. Thomas e F. Znaniecki 69: "Embora t6das as nova.s institui~6es [cooperativas de e•.mponeses poloneses] sejam assim formadas com 0 prop6sito definido de satisfazer certa3 necessidades especlficas, sua fun~ao social nao e de modo nenhum limitada a sua finalidade explicita e consc>Snte... cada uma dessas institui~6es - comuna ou circulo agricola, ba.nco de emprestimos e de economia, ou teatro - nao e simplesmente urn mecanisme para lidar com certos vai6res, mas tambem uma associa~ao de pessoas, da qual cad a membro se supGe que participe das atividades comuns como um individuo vivente e concreto. Qualquer que seja 0 inter~sse comum oficial, predominante, sabre 0 qual a institui~ao e fundada, a assoc;a· ~ao, como grupo concreto de personalidades humanas, de modo nao oficial envolve multos outros interesses; os contatos sociais entre seus membros nao sao limit ados ao seu. objetivo comum, embora este ultimo, e evidente, constitua tanto a razao principal pela qual a associa~ii.o e formada, como 0 la~o maJs permanente que a man tern coesa. Devido a eSSB cornbina~ao de urn mecanisme abstrato, politico, economico ou de qualquer modo racional, para a satisfa~ii.o de necessidades especlficas, com a unidade concreta de urn grupo social a nova institui~ao e tambem 0 melhor elo intermediario entre 0 grupo prime.rio campones e 0 sistema nacional secundario".
cessidades, interesses, prop6sitos") e cat.egorias de conseqti~ncias funcionais objetivas, geralmente nao reconhecidas ("unicas vantagens", conseqtiencias "nunca conscientes", "servic;o... nao intencional a sociedade", "func;ao nao limitada a uma finalidade consciente e explicita"). Desde que a ocasiao para fazer a distingao se apresenta com grande freqtiencia, f) desde que 0 prop6sito de urn esquema conceptual e dirigir as observac;oes para os elementos salientes de uma situac;ao e evitar 0 descuido inndvertente de tais elerr~entos, talvez f6sse justificJ.vel designar esta distinc;ao POl' urn conjunto apropriado de termos ou expressoes.
6';.
Esta, uma entre multas das suas observa~6es, encontra-se naturalmente em W. G. Sumner, Folkways (Boston: Ginn & Co., 1906), 3. Seu colaborador, Albert G. KeUer conservou a distin~ao em seus pr6prios trabalhos; veja-se, por exemplo, sua Social Evolution (Nova Iorque: Macmillan, 1927), 93-95. tirado de uma. das primeiras obras de MacIver: 68. Este trecho esta propositadamente Community, (Londres: Macmillan, 191~)' A distin~ii.o adquire maior importl\ncia em seus trabalhos posteriores, chegando a ser elemento muito importante em sua Social Causation (Boston: Ginn & Co., 1942), especialmente as pags. 314-321e inforrnando a maior parte da sua The More Perfect Union (Nova Iorque: Macmillan, 1948). 69. 0 paragrafo citado no texto e urn dos muitos que, com justi~a, induziram a considerar The Polish Veasant in Europe and Amerie,a, urn "classico socioI6gico". Vejam-se l\S pags. 1426-7, 1523 e segs. Como sere. dito mals tarde neste capitulo, as ideias e ,,"s distin~6es conceptuais contidas neste trecao - e ha muitos outros que se the assemelham no ponto de vista da riqueza de conteudo - foram esquecidas ou nunca foram levadas em conta pelos soci610gos industriais que chegaram recentemente a formular 8 no~ao de "organiza~ao informal" na indUstria.
Esta e a atitude racional que justifica a distingao entre fungoes manifestas e fungoes latentes; a primeira refere-se aquelas conseqUencias objetivas para uma unidade especificada (pessoa, subgrupo, sisten~a social au cultural) a qual contribui para seu ajustamento au adaptagao e assim e intencionada; a segunda se refere as consequencias nao intei1cionadas e nao reconhecidas da mesma orclem. . Existem algumas indicagoes de que a batismo dessa distingao pode servir a urn prop6sito heuristico de tornar-se incorporado a urn apare· Iho conceptual explfcito, ajudando assim tanto a observagao sistematica como mais tarde a analise. Nos anos recentes, por exemplo, a distingao entre as fungoes manifest as e as latentes tern sido utilizada em analises de casamento inter-racial,70 estratificagao social,71 frustragao preafetiva,72 teoria sociol6gica de Veblen,73 atitudes norte-americanas dominantes com relagao a Russia,74 propaganda como meio de contraIe social,75 teoria antropol6gica de Malinowski,76 feitigaria dos Navamoda,79 dinamica da jos,77 problemas da sociologia do conhecimento,78 personalidade, 80 medidas de seguranga nacional, 81 dinamica social interna da burocracia 82 e grande variedade de outros problemas socio16gicos. A pr6pria diversidade de tais assuntos sugere que a distingao te6rica entre as fungoes manifestas e as latentes nao seja destinada a uma variedade particular de comportamento human a . Porem ainda permanece g, grande tarefa de desentocar as usos especificos aos quais possa ser aplicada esta distingao, e e a esta grande tarefa que devotamos as restantes paginas deste capitulo. 70. Merton. "Intermarriage and the social structure", op. cit. 71. Kingsley Davis, "A conceptual analysis or stratification", American SociologicalReview, 1942,7, 309-321. 72. Thorner, op. cit., especialmentea. pag. 165. 73. A. K. Davis, Thorstein Veblen's Social Theory, tese doutora1,Harvard, 1941e "Veblen on the decline of the Protestant Ethic", Social Forces, 1944,22, 282·86;Louis Schneider, The Freudian Psychology and Veblen's Social Theory (Nova Iorque: King's Crown Press, 1948),em especial 0 Capitulo 2. 74. A. K. Davis, "Some sources of Americanhostility to Russia", AmericanJournal of So· ciology, 1947,53, 174·183. 75. Talcott Parsons, "Propaganda and social control", em seus Essays in Sociological Theory. Journal of American Folklore, 1943, 76. Clyde Kluckhohn, "BronislawMalinowski,1844-1942", 56, 208-219. 77. Clyde Kluckhohn, Navaho Witchcraft, op. cit., esp. as pags. 46·47e segs. 78. Merton, Capitulo XII deste volume. 79. Bernard Barber e L. S. Lobel, "'Fashion' in women's clothes and the American social system", Social Forces, 1952,31, 124-131. 80. O. H. Mowrere C. Kluckhohn, "Dynamic theory of personality", em J. M. Hunt, ed., Personality and the Behavior Disorders (Nova Iorque: Ronald Press, 1944),1, 69·135, especialmente a pag. 72. 81. Marie Jahoda e S. W. Cook "Security measures and freedom of thought: an exploratory study of the impact of loyalty and security programs", Yale Law Journal, 1952, 61, 296-333. 82. Philip Selznick,TVAand the Grass Roots (University of California Press, 1949);A. W. Gouldner, Patterns of Industrial Bureaucracy (Glencoe, Illinois: The Free Press, 1954); P. M. Blau, The Dynamics of Bureaucracy (University of Chicago Press, 1955);A. K. Davis, "Bureaucratic patterns in Navy officer corps", Social Forces, 1948,27, 142·153,
A distinglio esclarece a analise de padr6es soctats aparentemente irra. donais. Em primeiro lugar, a distingao ajuda a interpretagao socio16gi-
ca de muitas praticas sociais que persistem mesmo quando seu prop6si0 processo consagrado to manifesto nao esteja claramente alcangado. pelo tempo nestes casas tern sido a de que diversos observadores, especialmente as leigos, se referem a tais praticas como "superstigoes", "irracionalidades", "simples inercia da tradigao" etc. Em outras palavras, quando 0 comportamento do grupo nao atinge suas finalidades ostensivas e na verdade, frequentemente nao pode faze-lo - ha uma inclinagao para atribuir sua ocorrencia a falta de inteligencia, a crua ignorancia, as Assim, as cerim6nias dos Hopi, des· sobrevivencias ou a chamada inercia. tinadas a produzir abundante chuva, podem ser rotuladas como uma pratica supersticiosa de gente primitiva e isto permite encerrar a assunto. Deve-se notar que isso, de modo nenhum explica a comportamento do coloca 0 epiteto de grupo. E simplesmente urn caso de nomenclatura, "superstigao" em substituigao a uma analise do papel real desse comportamento na vida do grupo. Dado 0 conceito de fungao latente contudo lembramo-nos de que este comportamento talvez possa realizar 'urn a fun: gao para 0 grupo, embora esta fungao possa ser muito afastada da finalidade declarada da conduta. o conceito de fungao latente amplia a atengao do observador para mais alem da questao de se sabe!' 5e a conduta consegue ou nao a sua finalidade confessada. Ignoranda temporariamente esses prop6sitos exas que se plicitos, dirige a atengao para outro campo de consequencias: relacionam, par exemplo, com as personalidades individuais dos Hopi que concorrem na cerim6nia e com a persistencia e continuidade do grupo maior. Se alguem se limitasse aa problema de saber se existe uma func.oao manifesta (deliberada), isto se converteria num problema nao para o soci6logo. mas para 0 meteorologista. E e certo que as nossos meteorolog1stas estao de ac6rdo em que a cerim6nia da crmva nao produz chuva; mas is to nada tern a ver com a assunto. Significa, simplesmente, Cjue a cerim6nia nao tern este usa tecnico, que esta finaUdade da cerimonia e suas consequencias reais nao coincidem. Mas com a conceito de fungao latente, continuamos nossa investigagao e examinamos as consequencias da cerim6nia, nao para as deuses da chuva au para os fenomenos meteorol6gicos, mas para a grupo que realiza a cerim6nia. E entao se pode verificar, como muitas observadores ja a indicaram, que 0 cerimonial tern realmente fungoes, mas fungoes latentes ou nao deliberadas. As cerim6nias podem desempenhar a fungao latente de reforgar it identidade do grupo, proporciona!1do uma ocasiao peri6dica em que os individuos disseminados de urn grupa se reunem para entregar-se a umeL atividade ccmum. Como Durkhelm, entre outros, indicou faz muito tempo, tais cerlmonias constltuem um meio de se expressarem coletivamen·
te sentimentos que, numa analise ulterior, resultam ser uma fonte fundamental de unidade do grupo. Mediante a aplicaQao sistematica de funaparentemente gao lat·ente, pode descobrir-se, as t'ezes, que a conduta irracional e positivamente funcional para 0 grupo. Se trabalharmos com (J conceito de funQao latente, nao seremos levados a concluir muito apressadamente que, se uma certa atividade de urn grupo nao atinge sua finalidade nominal, sua persistencia somente possa ser descrita como urn caso de "intrcia", "sobrevivencia" au "manipulaQao de sUbgrupos poderosos da sociedade". Na realidade, alguma concepQao parecida com a da funQao latente t~m ~ido empregada com muita freqiiencia, quase invariavelmente, pelos clentlstas sociais que seguiam um pmcesso padronizado destinado a aIcancar um objetivo que se sabia n{io poder jisica bem acreditada. Seria este claramente
ser aicancado
pela ciencia
0 caso, por exemplo dos Mas, com' uma ritos dos indios Pueblo relativos a chuva e a fertilidade.
e
conduta ~ue nao se dirige para um objetivo claramente inatingivel, menos provavel que os observadores socioI6gicos examinem as juncoes co. laterais ou latentes da conduta. A distinC{io dirige a atenc{io para campos de pesquisa tebricamente trutijeros. A distinQao entre funQoes manifestas e latentes, alem disso
serve para dirigir a atenQao dos soci610gos precisamente para as eSfer~ da cGnduta, da atitude e da crenQa, em que podem aplicar com maior proveito suas habilidades especiais. Pois qual seria a sua tarefa se se limitassem ao estudo de funQoes manifestas? Interessar-se-iam, entao, ex:r .grande p_a~te, em determinar ;;;e uma pratica instituida para urn proInvestigaram POSltO especlflco consegue na reoJidade esse prop6sito. por ex~mplo, se urn sistema no-,ro de pagamento de salario atingiria se~ prop6S1to declarado de reduzir a mao-de-obra e de aumentar a produQao. Indagaram se uma campanha de prcpaganda logrou de fato seu objetivo de aumentar a "decisao de lutar", ou a "decisao de comprar bonus de ~uerra:' ou a "tolerancia para com outros grupos etnicos". Pois bem estes tlpos de investigal;ao sac importantes e complexos; mas, na medid~ em que os soci610gos se limitarem a estudar funQoes manifestas sua in:restigaQao sera fixada para eles por homens praticos de neg6cios' (que seJa .~ capi:ao. de industria, urn lider sindical ou mesmo, um chefe navaJ~, IStO na? Importa no momento) e nao pelos problemas te6ricos que Ocu,pando-se primordial mente com 0 estao no nucleo da disciplina. campo. ~as funQoes manifesta.s e com 0 problema chave de verificar se as. pratlCas ou organizaQoes delih"lradamente instituidas logram consegUlr seus objetivos, 0 soci610go se transforma num habil e aplicado regisOs termos de tra~or ~e u~a norma de conduta completamente familiar. estzmacao sac jixados e limitados peia quest{io que Ihe e apresentada por homens de n .. - t 6 . . egocws nao e rlCOS, p. ex·: 0 novo sistema de pagamento de SalarlOS alcanQou tal e tal objetivo? Armada, porem, com 0 conceito de funQao latente 0 soci610go estende sua. investigaQao as direl;oes mais promi.ssoras par~ 0 desenvolvimento te6nco ds materia . E'xamma::l '. pratlca social familiar (ou planejada)
para descohrir as fungoes latentes e, por isso mesmo, geralmente nao reconhecidas (exaInina tambem, e ciaro, as funQoes manifestas). Examina, por exemplo, as conseqiiencias do novo plano de salarios, a pedido, suponham05, do sindicato em que estao organizados os trabalhadores; ou as conseqiiencias de um prognll'.1a de propaganda, nao somente para. aumentar seu prop6sito confessado de 1espertar entusiasmo patri6tico .. mas tambcm para que um grande numero de pessoas deixe de manifestar sua oposiQao quando diverge da politica oficial etc. Em resumo, supoe-se que as contribuiQoes intelectuais distintivas do soci610go se dirigem primordialmente ao estudo das conseqiiencias inesperadas (entre as quais figuram as funQoes latentes) de praticas sociais, assim como ao estudo das conseqiiencias previstas (entre as quais se con tam as funQoes manirestas).83 Existem algumas pro vas de que os soci610gos fizeram suas contribuiQoes maiores e mais distintivas precisamente no momento em que sua. atenQao investigadora passou do plano das funQoes manifestas para 0 plano das funQoes latentes. Isto poderla ser documentado com muitos exemplos, rDas umas poucas ilustra(ioes serao suficientes. ESTUDOS DA HAWTHORNE WESTERNELECTRIC: 84 Como se sabe, as primeira.s etapas dessa investigaQao foram dedicadas ao problema das relal(oes entre a "iluminaQaoe a eficiencia" dos trabalhadores industriais. Durante uns dois anos e meio, focalizou-se a atengao sabre problemas co'mo este: As mudanQas de intensidade de luz afetam a produQao? Os. resultados iniciais demonstraram que, dentro de amplos limites, nao hlll0 rendimento da via relaQao uniforme entre iluminaQao e produQao. produl;ao aumentou tanto no grupo experimental em que se aumentou (ou se diminuiu) a iluminaQao, como no grupo de controle em que nao se !izeram mudanQas na iluminaQao. Em suma, os pesquisadores se limi.taram estritamente a invEJstigar funQoes manifestas. Na ausencia de mn ~onceito d~ funQao social latente nao se prestou inicialmente qualquer atenQao as conseqiiencias sociais da experiencia sabre os individuos dos grupos de prova e de controle ou sabre as relaQoes entre os operarios e as autoridades da sala de provas. Em outras palavras, faltava aos investigadores uma estrutura sociologica de referencia e, assim sendo, eles nperaram s6mente como "engenheiros" (exatamente como urn grupo de meteorologistas poderia ter estudado os "efeitos" da cerimonia Hopi, sabre a chuva). 83. BreveilustraQaodeste conceitogeral apareceem MassPersuasion,de Robert K. Merton, MarjorieFiske e Alberta Curtis (Nova Iorque: Harper, 1946),181>-189; Jahoda e Cook•. op. cit. 84. Isto e citado comoestudo em urn caso de como uma investigaQao complicada5e mo·· dificoucompletamenteem orientaQaote6rica e no carater dos seus resultadospela introdUQaode urn c,onceitoparecidocom 0 de funQaolatente. A escolhadO caso para ~ste' prop6sitonao implica.naturalmente.na aceitaQaoplena das interpretaQoesque os auto-· res deram aos seus resultados. Entre os diversosIivros que analisarama pesquisa da. WesternElectric,veja'separticularmenteManagementand the Worker,de F. J. Roethlisbergere W. J. Dickson(Harvard UniversityPress, 1939).
S6mente depois de prolongadas investigagoes, lembrou-se 0 grupo pesquisador de explorar as consequencias da nova "situagao experimental" sabre as imagens e as conceitos que tinham de si mesmos as trabaIhadores que tomavam parte na experiencia, sabre as relagoes pessoais entre os individuos do grupo, sabre a coerencia e unidade do grupo. Como diz Elton Mayo, "0 fiasco da iluminagao as havia posta de sobreaviso para a necessidade de manter registros muito minuciosos de tUdo 0 que aconteria na sala, aUjm dos dispositlvos industriais e de engenharia manifestos. Em consequencia, as observagoes incluiam nao s6mente registros de mudangas industriais e tecnicas, como tambem registros de alteragoes fisiol6gicas ou medicais e, em certo sentido, de mudangas sociais e antropol6gicas. Estas ultimas tomaram a forma de um diario, que dava conta, 0 mais completamente possivel, dos acontecimentos reais de cada dia ... " 85 Em resumo, s6mente depois de uma longa serie dt experiencias que descuidaram par completo as fungoes sociais latentes da experiencia (como situagao social preparada), foi que se introduziu esta estrutura claramente sociol6gica. "Quando nos demos conta disto _ escre~':m as .a:tores, - a pesquisa mudou de carater. Os investigadores ja .•1ao se Imeressaram em comprovar as efeitos de variaveis simples. A experi~ncia dirigida f.oi substituida pela ideia de uma situagao social que necessltava ser descnta e compreendida como um sistema de elementos in:erdepen.d:-~tes" . Dai par diante, como hoje e bem conhecido, a pesQ.U1sase dlnglU em grande parte a indagagao das fungoes latentes de pratJCas padrnnizadas entre os trabalhadores das organizagoes informais ?ue se desenvolvem entre os operarios, das diversoes instituidas para eles por "sabios administradores", dos grandes programas de conselhos e dialogos com as operarios etc. 0 novo esquema conceptual alterou 0 terreno e os tipos dos dados recolhidos na investigagao sUbsequente. E suficiente voltarmos ao paragrafo acima citado da obra classica de ~h~mas e Znaniecki, ja velha de trinta anos, para reconhecermos a exatldao da observagao de Shils: real mente, a hist6ria do estudo de grupos primarios na sociologia norte.americana e urn exemplo extremo das descontinuidades no desenvolvimento dessa disciplina: certo pro. blema e destac~do par urn dos fund adores incontestes da disciplina, e deixado de lado c, alguns anos mals tarde, volta a ser entusiasticamente apresentado como se ninguem tivessp antes pensado nele.86 -
. :~omas e Znaniecki tinham, pais, insistido repetidas vezes na opiniao soc:ologlCa de que, qualquer que fa sse sua principal finalidade, "a associa. f.;ao.de pessoas humanas como grupo concreto implica, de maneira naCl oflclal, _ muitos outros interesses; os contatos sociais entre seus mem bras nao se limitam a sua finalidade comum ... " Resulta, portanto, que 85. Elton Mayo, The Social Prohl ems Press, 1945), 70.
Be. Edward Shils, The Present Press. 1948), 42,
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The Free
foram necessarios anos de experimentagao para que a equipe de pesquisa da Western Electric dirigisse sua atengao para as fungoes sociais latentes de grupos primarios que se formam em organizagoes industriais. E preciso salientar que nao citamos este caso como exemplo de plano experimental defeituoso; nao e isto a que imediatamente nos interessa. E (xmsiderado apenas como exemplo da aplicabilidade para a pesquisa .sociol6gica do conceito de fungao latente e dos conceitos de analise funcional que the sao associados. Demonstra como a inclusao deste conceito (nao importa que se usem au nao estas rr.esmas palavras) pode tornar sensiveis aos pesquisadores sociol6gicos um campo de variaveis sociais importantes que, de outra maneira, passaria facilmente despercebido. A catalogaga,o explicita do conceito podera talvez diminuir a frequencia das ocasioes clio descontinuidade nas futuras investigagoes sociol6gicas.
o descobrimento das fungoes latentes representa importantes in ere· mentos aos conheeimentos soeiol6gieos. Ha outro aspecto em que a investigagao das fungoes latentes representa caracteristica contribuigao dps cientistas soclais. Sao precisamente as fungoes latentes de uma pratica au crenga as que nao sao do conhecimento comum, porque sao consequencias sociais e psicol6gicas inesperadas e, em geral, nao reconhecidas. Portanto, as resultados concernentes a fungoes latentes representam um incremento maior de conhecimentos do que os resultados concernentes a fungoes manifestas. Representam tambem maior afasta· menta da f'abedoria de "senso comum" au de "bom sensa" a respeito da vida social. Como as fungoes latentes se distanciam mais ou menos das fungoes rnanifestas declaradas, a pesquisa que vem a descobrir fungoes produz, frequentemente, resultados "paradoxais". 0 paradoxo aparente nasce da radical modificagao de um preconceito popular familiar, que ve uma pratica au crenga padronizada ilnieamente pelas suas fungoes manifestas; tal modificagao se da quando se indicam algumas das suas fungoes latentes subsidiarias ou colaterais. A introdugao do conceito de fungao latente na pesquisa social leva a conclusoes que revelam que "a vida social nao e tao simples como parece a primeira vista"; pais enquanto as pessoas se limitam a eertas consequencias (par exemplo, a consequencias manifestas), e relativamente simples para elas formular juizos marais sabre 0 procedimento au crenga em questao. As avaliagoes morais, baseadas em geral sabre as consequencias manifestas, tendem a polarizar-se em termos absolutos de "branco au preto", mas a percepgao de outras eonsequeneias (latentes) complica amiude 0 panora· ma. Os problemas de avaliagao moral (qu.e, por enquanto, nao sao de nosso imediato interesse) e as problemas de engenharia social (que constituem nosso interesse imediato) 87 assumem ambos as complicagoes 87. Isto nao significa negar que a engenharia social tenha implicag5es morais diretas, ou que a tecnica e a moralidade estejam inevitavelmente entrelagadas, mas nao pretendo 1l:stes problemas serao tratadcs tratar deste tipo de problema no presente capitulo. nos Capitulos VI, XV e XVII. Veja·se tambem Merton, Fiske e Curtis, Mass Persuasiou, Capitulo 7.
Sociologia
adicionais quase sempre implicitas nas decisoes sociais de responsabIlidade. Um eX'Jmplo de pesquisa que emprega impliciiamente 0 conceito de funQao latente esclarecera 0 sentido em que 0 "paradoxo" - discrepancia entre :l funQao aparente, meramente manifesta, e a verdadeira funGao, que implica tambem fUllQoes latentes - ten de a ocorrer como resultado da inclusao deste conceito, Assim, voltando a famosa analise do "consumo ostensivo" feito por Veblen, nao e por acaso que este autor foi considerado como urn analista social dotado de perspicacia para 0 paradoxo, a ironia e a satira; pois sac estes os resultados, freqtientes se nao inevitaveis, da aplicaQao do conceito de fUll~ao latente (ou sem eqtiivalente). o PADRAO DOCONSUMO OSTENSIVO. 0 prop6sito evidente da compra de bens de consumo e, naturalmente, a satisfaQao dal3 necessidades as quaia estao explicitamente destinados esses bens, Assim, os autom6veis estao destinados, evidentemente, a proporcionar certa c,lasse de transporte; a3 lampadas, a proporcionar luz; os artigos alimenticios, a propord'ionar 0 sustento; os pr,odutos artisticos raros, a proporcionar prazer estetico, Como esses produtos tem esses usos, em geral se supas que tais usos Veblen abarcavam todo 0 campo das funQoes socialm~mte importantes. sugere que era esta a opiniao comum predominante (e claro que na era. pre-vebleniana): "Afirma-se, convencionalmente, que 0 fim da aquisiQao e cIa acumulagao e 0 consumo dos bens acumulados,.. Pelo menos, acredita-se que esta seja a finalidade econamica legitima da aquisiQao, unica que a teoria
deve levar
em conta".88
Mas, di7 Veblen em substancia, como soci610gos devemos considerar as fUllQoes latentes na aquisiQao, acumulaQao e consumo, e essas funQoes latentes se afastam muito, na realidade, das funQOes manifestas. "Mas, somente quando tornado num sentido muito afastado da sua significaQao ingenua (ista e, da funQao manifesta) se pode dizer que esse consumo de bens oferece 0 incentivo do qual deriva invariavelmente a acumulaQao". E entre as funQoes latentes, que ajudam a explicar a persistencia e a 10calizaQao social do padrao de consumo ostensivo, figura sua simboliza{;ao de "farQa pecuni::lria, e a aquisiQao e conservagao, POl' esse meio, ae urn born nome". 0 exercicio de uma "escolha escrupulosa" na qualidade da "comida, da bebida, da residencia, do servigo, dos ornamentos, das baixelas e dos divertimentos" redunda nao somente aa satisfagao de consumir artigos "superiores" em vez de "inferiores" mas tambem e sobretudo, no dizer de Veblen, de umaumento ou reafirmagiio do status social.
o paradoxa vebleniano e que as pessoas compram coisas caras nao tanto porque sac melhores mas porque sac caras. Reside nisto a equa.Qao latente ("alto custo = sinal de alta posigao social") que Veblen destaca em sua analise funcional, e nao a equagao manifesta ("alto custo =
-
Teoria e Estrutura
, l'dade excelente dos produtos"). Nao nega que as fungoes manifesqua 1 t' I tas tenham algum lugar no apoio ao padrao do con~umo os ens1:'0; e as - operantes "0 que se acaba de dizer.' nao deve ser mterpretam b.em sao, . _ sentido de que nao haja outros incentlvos para a aqUISIQaoe ta d 0 no . _ ... lar>ao do que este desejo de exibir a sua sltuaQao pecUlllana, cona acumu '{ . d . seguindo assim a estima e a inveja dos semelhantes. 0 deseJo e mawr comodidade e seguranQa perante a necessidade esta presente em todos e cada urn dos estagios.,." Ou ainda: "Seria temerario afirmar qu~ semfaIt uma finalidade proveitosa na utilidade de qualquer arhgo ou pre a ··t ' d' I . . por' mais evidente que seja 0 fato de que seu proposl pnmor la servIQo, .. lemento fundamental estejam constituidos pelo desperdlclO osten~ seu e 6 f - d' sivo" e pela consideraQao social que dai resuIta.89 S que as .ungoes t-
°
retas, manifestas, niio explicam plenamente as consumo. Em outras palavras, se as fungoes u status-consol~dac;ao separam-se das normas o referidas norm as sofreriio mudangas graves, de cconomista
norm as predomlnantes. de latenbes rle status-reforgo do consumo oslenslVo, as t·. . t pelo um IPO nao preVls o.
"convencional".
A este respeito, a analise que faz Veblen das funQoes latentes 5e afasta da ideia de sentido comum, segundo a qual 0 produto final dQ consumo e "naturalmente, a satisfaQao direta que proporciona": "A gente come caviar porque tern fome; compra Cadillacs porque quer o. meIhor carro que possa conseguir; janta a luz das velas porque aprec1a 0 ambiente tranqiiilo". A interpretaQao de senti do comum, em termos de motivos manifestos escolhidos, cede 0 lugar, na analise de Veblen, a fun~6es colaterais que sac tambem, e talvez de m~n.eira mais si~n~ficativ,,-, realizadas pelas referidas praticas. E fora de dUVlda que nas ulhmas decadas a analise vebleniana tanto se popularizou que agora as funQoes laten~s sao, de modo geral, reconhecidas. [Isto levanta 0 interessante problema das mudanQas que tern lugar num tipo predominante de cor:duta quando suas funQoes latentes chegam a ser geralmente re~onh.ec1.das (e entao ja nao sao latentes), Nao teremos oportunidade de dlSCUtu este importante problema no presente livro).. . o descobrimento de funQoes latentes nao s6 torna mais preCisos os conceitos das funQoes desempenhadas POl' certas normas sociais (como tambem OC0rre com os estudos sabre funQoes manifestas) mas introduz
39
,
t egar se a vagas terminologias. Ib'd 32 101 E de ser notar que Veblen cost uma en r , ' " I., , . ) 'I emprega "incentlvo" "deseJo, Nas passagens citadas (e em muitos outros lugares , e e ' , t 0 dan nao e grande porque 0 "prop6sito" e "fungao" como tl'wmos eqUivalen es, 0 '6 't I e claro qude os dProPal gSU mOs contexto costuma esclarecer a aCepgaa: dessas palavras.- Mas - 'd' t'cos e mo 0 , d Por expressos de conformar-se com uma norma cultural nao saD I en I, as fungoes latentes da conformidade. Veblen 0 reconhece de vez em qua~ o. fe de exemplo' "Para sermos estritamente exatos, nao deveriamos incluir sob a eplgra aeao . I' d base de uma invejosa compar y' desperdicio ostensivo senao os gastos rell
urn incremento
qualitativamente
dijerente
no estado previo
dos conheci-
mentos. A disting{io impede a substituig{io da analise sociol6gica por juizos morais ingenuos. Posto que as avaliagoes morais numa sociedade ten·
cern a ser feitas, em grande parte, pelas conseqtiencias manifestas de vma pratica ou de urn c6digo, devemos estar preparados para constatar Que a analise por fungoes latentes certas vezes vai contra as avalia((oes moraLe; predominantes. Pois as fungoes latentes nao operam da mesma maneira que as conseqtiencias manifestas que de ordinario sac ba· se de tais juizos. Assim, em gran des setores da populagao norte-americana, a maquina politica ou a "camarilha politica", sac consideradas ineQuivocamente "mas" e "indesejaveis". As bases desses juizos morais variam bastante mas, em substancia, consistem em analisar que as maquinas po11ticas violam os c6digos morais; 0 favoritisrno politico viola o c6digo de selegao do pessoal, que deve ser na base de consideragoes impessoais e nao de lealdade a urn partido ou de contribuigoes de fundos para 0 mesmo; 0 caciquismo viola 0 principio de que os votos devem basear-se na avaliagao individual dos meritos dos candidatos e das questoes politicas, e nao em manter lealdade a urn lider feudal; 0 su1Jorno e 0 trafico com cargos publicos 6bviamente infringem as regras da corregao; a " protegao" dos delitos viola de maneira manifesta a lei e os costumes, e assim sucessivamente· Em vista das multiplas ocasioes em que 'as maquinas politicas, em grau variavel, infringem os bons costumes e as -vezes a pr6pria lei, e oportuno ::Iveriguar como se arranjam para continuar funcionando. As "explicagoes" familiares da continuagao da maquina politica nao sac aqui tratadas. Pode ser, e claro, que, se "os cidadaos decentes" estivessem a ~ltura das I'ouasobrigagoes politicas, se 0 corpo eleitoral fosse ativo e ilustrado, se 0 numero de funcionarios eletivos f6sse bastante menOr que as dezenas e ate as centenas, cujas nomeagoes espera-se que sejam ta· citamente endossadas pelas eleigoes municipais, distritais, estaduais ou nacionais; se 0 corpo eleitoral fosse conduzido pelas "classes ricas e edu· radas sem cuja participagao - como disse Bryce, nem sempre de orienta. Cao democratica - 0 governo melhor formado tern que degenerar rapida" mente"; se se introduzissem essas e outras muitas alteragoes na estrutura politica, talvez pUdessem real mente ser evitados os "males" da maquina politica. 90 Mas e necessario observar que nao se fazem com freqtiencia tais alteragoes, que as maquinas politicas tern, como a fenix, a qualidade de renascerem, vigorosas e indenes, das suas pr6prias cinzas e que, em Pretendem assinalar as circunstancias 90. Estas "explicagoes" pretendem ser "causais". sociais que dao as maquinas pollticas. Na medida em que SaD confirmadas pel", experlencia, essas expllcagoes aumentam, naturalmente, nosso conhecimento do problema: por que as maquinas pollticas fun cion am em certas areas e nao em outras? Como conseguem perdurar? Mas estas exp!icagoes causais nao SaD suficientes. As con· sequencias funcionais da dita maquina ultrapassam, em grande parte, como veremos, a interpretagao causal.
suma, esta estrutura exibe notavel vitalidade em muitas zonas da vide\, politica norte-americana. Resulta, portanto, do ponto de vista funcional, que n6s esperam03 habitualmente (mas nao invariavelmente) que norm as e estruturas SQ· ciais persistentes realizem fungoes positivas que naquele momento n{io s{io realizadas em forma adequada par outras normas e estruturas existentes; acode, entao, ao pensamento, que talvez essa organizagao publicamente difamada satisfaz, nas presentes circunst{z,ncias, fungoes latentes fundamentais. 91 Urn breve exame de analises correntes desse tipo podera serlflr tambem para aclarar novos problemas de analise funcional. ALGUMAS FUNgOES DAMAQUINA pOLInCA. 8em cogitarmos de entrar nas ctiferengas de detalhe que distinguem as divers as maquinas politic as urn Tweed, urn Vare, urn Cru~p, urn Flynn ou urn Hague nao sao, em absoluto, tipos identicos de chefes politicos, - podemos examinar rapidamente as fungoes mais ou menos comuns a maquina politica, como Upo generico de organizagao social. Nao pretendemos pormenorizar to dr.,;; as diversas fungoes da maquma politica, nem supor que t6das essas tungoes sac realizadas em forma amlloga por t6da e cada uma das maquinas. A fungao estrutural chave do cacique ou chefe politico e organizar, centralizar e manter em boas condigoes de funcionamento "os fragmentos disseminados de poder" que andam agora dispersos em nossa organizagao politica. Mediante esta organizagao centralizada de poder politico, 0 chefe e a sua maquina podem satisfazer as necessidades de diversos subgrul'oS da comunidade maior, que nao se sentem satisfeitos com estruturas sociais legalmente concebidas e culturalmente aprovadas. Portanto, para compreender 0 papel do caciquismo ("bossism") e da maquina politica, teremos de observar dois tipos de variaveis socio16gicas: (1) 0 contexto estrutural, que torna dificil, se nao impossivel, que estruturas com sangao moral realizem fungoes sociais essenciais, deixando assim aberta a porta as maquinas politicas (ou seus equivalentes estruturais) para que executem aquelas fungoes; (2). os subgrupos, cujas necessidades distintivas ficam insatisfeitas, exceto no que diz respeito as fungoes latentes que a maquina realmente efetua.92 91. Crelo que e superfluo acrescentar que esta hip6tese nao se destina a "apoiar a instituigao da maquina politica". A questao de se sa,ber se as disfungoes da maquina superam as suas fungoes, a questao de se dispor ou nao de outras estruturas que possam realizar suas fungoes, sem implicar necessariamente em disfungoes sociais, ficam pa,ra ser examinadas na ocasiao adequada. Agora apenas nos interessa documentar a afirmagao de que os julzos morais base ados exclusivamente na apreciagao das fungoes manifestas de uma estrutura social, SaD "irreais" no sentido estrito, isto e, nao tomam em consi· deragao outras conseqi.ii'mcias efetivas da estrutura, conseqi.iencia.s essas suscetiveis dp proporcionar urn suporte social basico para a mesma estrutura. Como indicaremos adiante, as "reformatS sociais" eu a "engenharia social" que ignoram as fungoes latentes o fazem ao risco de sofrer profundas decepgoes e efeitos de bumerangm (arma quP, como: se sabe, quando nao alcanga 0 alvo, volta para tras, atingindo, as vezes, 0 pr6prio, arremessador). [A explicagao entre parenteses e do tradutorJ. 92. Mais uma vez, como em trechos anteriores, deixaremos de examinar as posslveis di." fungoes da maquina polltica.
A armagao constitucionar da organizagao politica norte-americana evita de modo especifico a possibilidade legal de urn poder altamente centralizado e, como tem sido observado, assim "desalenta a formagao de urna lideranga eficiente e responsavel. Os autores da Constitulgao, como observou Woodrow Wilson, estabeleceram 0 sistema de contrale e contrapeso 'para manter 0 governo numa especie de equilibrio mecanico, POl' meio de uma pugna amistosa constante entre suas diferentes partes organicas.' Desconfiavam do poder POl' consideI'a-lo perigoso para a liberdade: em conseqiiencia, espalharam-no para rarefaze-Io e levantaram valetas para impedir sua concentragao". Esta dispersao do poder se encontra nao somente no plano nacional, mas tamtern nas areas locais. "Em conseqiiencia" - continua Sait a observar "quando 0 povo ou grupos particulares dentm do pavo exigiram agao positiva, ninguem tinha autoridade bastante para agir. A maquina forneceu urn antidoto". 93 A dispersao constitucional do poder nao somente dificulta a decisao e a agao eficazes mas tambem, quando a agao chega a realizar-se, e def[nida e envalta dentro de consideragoes legalistas. Em conseqiiencia, desenvolveu-se "um sistema muito mais humano de governo de partido, cujo principal 0hjetivo nao tardou a ser 0 de embair 0 governo da lei... A i1egalidade da democracia extra-oficial foi simplesmente 0 contrapeso do legalismo da democracia oficia:. Tendo-se permitido ao advogado subordinar a democracia a Lei, 0 chefe politico era chamado para desvenciIhar a vitima, 0 que fazia dentro de certas regras costumeiras e mediante retribuigao, pecuniaria ou de outro genero".94 Oficialmente, 0 poder politico esta dispel'so . Varios expedientes muito conhecidos foram imaginados para este objetivo manifesto. Estabeleceu-se nao somente a habitual separagao de poderes entre os diferentes ramos do governo, senao que, em certa medida, foi amitado 0 periodo de exercicio dos cargos e aprovada a rotagao no poder. A esfera de poder inerente a cada cargo foi estritamente delimitada. Mas, diz Sait em termos rigorosamente funcionais: "A lideranga e necessaria e, ja que n.ao e facH de ser exercida dentro da estrutura constitucional, 0 chefe politico proporciona-a de fora, numa forma imperfeita e irresponsavel".95 Em t~rmos mais genericos, as dejiciencias juncionais da estrutura Contexto
Estrutural:
ojicial dao origem a outra estrutura (nao ojicial) para satisjazer, de modo um tanto mais ejiciente, certas necessidades existentes. Sejam quais
forem suas origens hist6ricas especificas, a maquina politica persiste como aparelho apto a satisfazer necessidades de grupos diversos da po·
93.
Edward M. Sait, "Machine, Political", Encyclopedia of the Social Sciences, IX, 658b, [0 grifo e nossoJ; cf. A. F. Bentley, The Process of Government (Chicago, 1908), Capitulo 2. 94. Herbert Croly, Progressive Democracy, (Nova Iorque, 1914), pag. 254, cita~ao de Sait, op. cit., 658b. 95. Sait, op. cH., 659a, [0 grifo e nossoJ.
- ql''' de Dutra forma nao lograriam satisfagao. Mas, ao exam ipu 1agao '''-,' . nar alguns desses subgrupos, bem como as suas necessldades_ caracte. t'lCas, seremos levados ao me"mo tempo a urn campo de fungoes latenriS ~ tes da maquina politica. Politica para Diversos Subgrupos. s.abe-se que 'e farf'a da maquina politica procede das suas ralzes na couma f on,.te a . . _ . munidade local e nos bairros. A maquina polltlCa nao consldera 0 corpo eleitoral como sendo uma massa amorfa e indiferenciada de votan~es. Com aguda intuigao socio16gica, a maquina reconhece que cada eleltor e um indivfduo que vive num determinado bairro, com problemas e ne(;essidades ressoais especificos. As questoes publicas sac abstratas e .lon!!.inquas; os problemas particulares sac extrema:n~nte concretos e lmediatos. A maquina nao funciona apelando genencamente aos grandes interesses publicGS, mas mediante relag6es dir,etas, semifcu~ais, entre o.s representantes locais da maquina e os eleitores do seu balrro. As elelgoes se ganham no bairro. A maquina estabelece seus vinculos com homens e mulheres comuns, mediante complicadas redes de relagoes pessoais. A politica se tra?sforma em lagos pessoais. 0 cabo eleitoral de bairro. "d~ve ser ~I~llgO de todos :>imulando simpatia (se nao a sente) pelos mfellzes e UtlllZa~do para' suas boas obras os recursos que 0 chefe poe a sua dispOSIGao". 96 0 cabo eleitoral de bairro e sempre "0 am~go que se p:ocura nas horas de aperto". Em nossa sociedade predommantemente lmpessoal a maquina politica, POl' intermedio dos seus agentes locais, desempenha a importante junr;aO social de humanizar e personalizar t6d~ classe de auxilio a quem necessita dele. Distribuigao de gener~s allme~ticios, provimento de empregos, conselhos legais e extralegals, solugao de pequenos conflitos com a lei, apoio para conseguir uma balsa ~e estudos. "politica" para uma crianga pobre e inteligente num coleglO. local, atengao aos aflitos - t6da a gama de crises em que a pessoa prec~sa de um amigo c, sobretudo, de urn amigo que compreenda bem as cOI~as e Que possa ajudar - tudo isto pode ser conseguido com 0 cabo eleltoral Fum;oes da Maquina
sempre prestativo. . . . . . . Para dur 0 devido valor a esta fungao da maquma polltlCa, e preClso observar nao somente a ajuda efetivamente prestada, mas tambem a ~aneira como e prestada. E preciso vel' tambem que ,existem outros orgamsmos que distribuem auxilios. As agencias de bem-estar s~ci~l, as .c~sas de beneficencia os consult6rios de ajuda juridica, a assistencla medlCa em hospitais gr~tuitos, as repartigoes publicas de assistencia, as autoridades ~e imigragao; estas e muitas outras organizagoes existem para. d~r os m~ls diversos tipos de assist encia . Mas, em contraste com as tecmcas prof1ssionais dos funcionarios da assistencia social, que podem repres~n~ar tipicamente na mente dos que a recebem uma frill" burocratic.a ~ llm1tada, ajuda, conseguida depois de detalhada investigag3.o do dlrelto legal
que a ela tern a "cliente", acham-se as tecnicas nao profissionais do che. fe politico de arrabalde, que nao faz perguntas, nao exige 0 cumprimento de regras legais para prestar atengao e que nao se "intromete" nas vidas privadas. 97 Para muitos individuos, a perda do amor-proprio e urn prego par demais elevad0 que se tern que pagar para receber assistencia legalizada. Em contraste com 0 abismo que 0 separa dos funcionarios da casa de beneficencia, que procedem amiude de uma classe social urn ambiente educativo e urn grupo etnico dif£'l'entes, 0 cabo eleitoral d~ bairro e "urn A dama sujeito igu31 a nos", que comprE"£nde a que est a acontecendo. da alta sociedade, condescendente e generosa, dificilmente podera competir com c amigo compreensivo, num caso de aperto. Nesta luta entr~ estruturas que competem para, riesempenhar uma junr;tio que nominal. ~ente e a mesma, au seja, dar ajuda e apoio aos que precisam, e noto-
no que 0 politico da maquina €5ta melhor entrosado com os grupos a que serve, do que 0 assistente social impessoal, profissionalizado socialmente longinquo e legalmente limit ado . E como 0 "politico" p'od ' 'fl' eas v.ez~s 1.n Ulr e mexer com as o.rganizagoes oficiais para a outorga de asslstenCl.a, e:qu.ant~ 0 funcionario do bem-estar social nao tem pratica~en~e.~nfl.uenCla s~bre. a maquina pOlitica, isto s6 contribui para aumentar a ef1C1encn. do pnme1ro. Foi Martin Lomasny, chefe politico de Bos~on: .quem aescreveu esta funcc~i.o essencial em termos familiares porem mC1s1VOS,quando ~eclarou ao jornalista Lincoln Steffens, famoso POl' :mas reportagens sobre "corrupgao politic a" : "Creio que deveria haver E'm cada bairro uma pessoa a quem qualquer sUJ'eito pudesse s d'" d' . e 1r1g1r para pe? 11'aJuda - nao imp~rtando a pessoa ou 0 assunto. Ajuda, voce entende.
Nad!a de vossas lezs nem de vossa justir;a,
apenas ajuda".98
As "c:ass.es necessitadas" constituem, portanto, um subgrupo para 0 q~al a maquma politica satisfaz necessidades que a estrutura social legal nao poderia satisfazer em forIlla adequada e da mesma maneira. Para ~m segundo subgrupo (principalmente os "grandes" neg6cios mas tambem os "p~q~~nos"), ~ ~hefe politico desempenha a fungao de pro: porC10nar os pnv1leglOs pohtlcos que implicam beneficios econ6micos
97. Caso bem semelhante de contraste com a polltica oficial de assistencia social enCOl1tra-se na distribui~ao de ajuda aos desempregados, feita de maos abertas e 'sem car politica, por Harry Hopkins, assistente de Franklin Dela.no Roosevelt no govE,rno do Estado de Nova Iorque. Conforme diz Sherwood: "Hopkins foi asperamente criticado p~las agenCi~s consagradas de beneficencia, por causa, dessas atividades irregulares; dlzlam que nao era 'conduta profissional' distribuir boletins de trabalho sem uma invest;. ga~aO completa. sabre cada requerente, sabre seus recursos financeiros e de sua familia 'Harry mandou as agencias ao diabo'. dissp, e, provavelmente, sabre a sua religiao. Goldberg [0 Dr. Jacob A. Goldberg era urn colaborador de Hopkins]." Robert E. ~~erwood, Roosevelt and Hopkins, An Intimate History (Nova Iorque: Harper, 1948!. 30. 98. 19 e Autobiography of Lincoln Steffens (Chautauqua, Nova Iorque: Chautauqua Press, 31),.618. Inspirando-se em grande parte em Steffens, como ele mesmo diz, F. Stuart Chapin expoe com grande clareza as fungoes da maquina. politica. Veja-se sua obn Contemporary American Institutions (Nova Iorque: Harper, 1934), 40-54.
imediatos. As corporagoes de neg6cio, entre as quais as empresas de servigos publicos (estradas de ferro, transportes e companhias locais de luz eletrica, empresas de comunicagoes) sac as mais not6rias a este respeito buscando isengoes politicas especiais que lhes permitam estabilizar s~a situagao e aproximar-se do objetivo de elevar seus lucros ao maximo. Interessante e que as empresas querem com freq1iencia evitar urn caos de competigao incontrolada. Desej am a malar seguranga, que lhes pode ser proporcionada POl' urn "ditador" econ6mico que domine, regulamente e organize a competigao, sempre que esse ditador nao seja urn funcionar10 publico, cujas decisoes estejam sujeitas ao exame e ao contr6le publico. (Este ultimo t.ipo represent3ria 0 "contralE" do governo", sendo, portanto, considerado tabu). 0 chefe politico preenche esses requisitos de maneira admiravel. Examinada POl' urn momento, a parte de qualquer consideragao moral, a aparelhagem politica manejada pelo cacique, est a eficazmente destinada a desempenharessas fungoes com urn minima de ineficH~ncia. Tendo nas suas maos competentes os fios das diversas secgoes, ministE~rios e agencias governamentais, 0 chefe politico racionaliza as relagoes entre os neg6cios publicos e os particulares. Serve de embaixador da comunidade dos neg6cios no territorio POl' demais estranho (e as vezes inimigo) do governo. E, em f;ermos estritos de neg6cios, esta bem pago pelos ,l5erviC,'osecon6micos que presta aos seus respeitaveis clientes, os negociantes. Num artigo inti~ulado "An Apology to Graft" (Apologia do sub6rno), Lincoln Steffens sugeriu que "0 culpado era 0 nosso sistema econ6mico, que oferecia rique:::a, poder e aplausos como premio aos individuos hastante atrevidos e habeis para comprar, mediante sub6rno, minas, campos petroliferos e privilegios e que 'se sairam bern' sem serem incomodados". 99 E numa conferencia perante uma centena de homens de neg6cio de Los Angeles, descreveu urn fato que todos conheciam muito bem: 0 chefe politico e sua maquina eram parte integrante da 01'ganizagao d.a economia. "Voces nao podem construir nem explorar uma estrada de ferro, uma empresa de bondes urbanos ou uma companhia de gas, de agua ou de enr.rgia eletrica, abrir ou explorar uma mina, possuiI' bOSqUt3e explorar madeira em grande escala ou manter qualquer outro neg6cio privilegiado, sem subornar, ou contribuir para subornar, 0 governo. Voces me dizem em particular que tern de faze-lo, e eu aqui lhes digo semipublicamente que tern mesmo de faze-lo. E e assim em. tOdo 0 pais. Isto significa que temos uma organiza~ao da sociedade em que, par alquma raztio, voces e sua classe, os lideres da sociedade mais habeis, mais inteligentes, mais imaginosos, mais ousados e engenhosos, estao e tern que estar contra a sociedade, suas leis e t6das as suas excrescencias". 100 99. Autobiography of Lincoln Steffens, 570. 100. Ibid., 572-3 [0 grifo e nossol. Isto ajuda
a explicar, como disse Steffens, concordando com 0 membro da Comissao de Folicia Theodore Roosevelt, "a proeminencia e respet·
Como a procura de servigos especialmente privilegiados nasce dentro da estrutur~ da sociedade, 0 chefe politico preenche diversas fungoes para este segundo subgrupo de neg6cios que busca privilegios. Essas "necessidades" dos neg6cios, tal como estao agora constituidos, nao sac adequadamente cobertas por estruturas sociais tradicionais e culturalmente aprovadas; em conseqi.iencia, a organizagao extralegal mais ou menos eficiente da maquina politica surge para proporcionar esses servigos. Adotar uma atitude exclusivamente moral para com a "eorrupta maquina politiea", e perder de vista as pr6prias eireunstancias estruturais que originam 0 "mal" que se ataca. tao rigorosamente. Adotar urn ponto de vista funcional e proporcionar, nao uma apologia da maquina politica, mas uma base mais s6lida para modifiear ou eliminar a maquina, desde que se fagam arranjos estruturais especificos, seja para eliminar as procuras efetivas da comunidade dos neg6cios, ou seja, se tal for 0 objetivo, para satisfazer essas demand as por outros meios. Urn terceiro grupo de fungoes especificas que a maquina politica realiza para urn subgrupo especial, e 0 de proporcionar novos canais de mn' bilidade social as pessoas que, de outra maneira, estariam excluidas dos caminhos mais tradicionais para a "ascensao" pessoal. Tanto as fontes dessa "necessidade" especial (de mobilidade social), como a forma em que a maquina politiea vem contribuir para a satisfagao da referida necessidade podem ser compreendidas, examinando-se a estrutura da eulLura e da ~ociedade em geml. Como se sabe, a cultura norte-americana atribui enorme importancia ao dinheiro e ao poder como meta legitima de "exito" para todos os individuos da soeiedade. Embora nao seja a unica em !lOSSO inventario de metas culturais, continua figurando entre 8·S mais fortemente earregadas de afeto e valor positivos. Todavia, eertos grupos e cf'rtas zonas eco16gicas sac notaveis pela ausencia relativa de oportunidactes de se alcangar esses tipos (monetario e de' poder) de exito. Tais subgrupos eonstituem, em suma, subpopulagoes em que "a importaneia f'ultural atribuida ao exito pecuniario tern sido assirnilada, mas que oferecern pouco acesso a meios tradicionais e legitimos para alcangarem esse exito". As oportunidades tradicionais de trabaiho para as pessoas de (tais areas) se limit am quase eompletamente ao trabalho manual. Dada nossa estigmatizagao cultural do trabalho manual, 101 e 0 corres-
101.
tabilidade dos homens e das mulheres que intercedem pelos escroques e pelos cOn"uptos", quando estes sao detidos durante alguma campanha peri6dica para "limpar a mll.quina politica". Cf. Steffens, 371 e passim. Veja·se 0 estudo do "National Opinion Research Center" sabre a avalia.Qao das ocupaQoes, que comprova firmemente a impressao geral de que as ocupaQoes manuais estao colocadas muito baixo na escala social de valares, mesmo entre aqueJes que se dedicam a um trabalho manual. Observe·se bem as implicaQoes deste ultimo caso. Com efeUo, a estrutura cultural e social impoe os val6res do sucesso pecuniario e do poder mesma aqueles que se acham presos as estigmatizadas ocupaQoes manuais. Examine-se, sabre este pano de fundo, a poderosa motivaQao para se alcanQar esse tipo de sucesso por qualquer meio. Um lixeiro, que concorda com outros norte-americanos na opiniao de que a profissao de lixeiro "e a mais baixa das ocupaQOes baixas", dificilmente pode
pondente prestigio do trabalho "de colarinho branco e gravata", e evidente que 0 resultado e a tendencia a eonseguir os objetivos eulturalmente aprovados, por todos os meios possiveis. Por outro lado, "pede-se a essas pessoas que orientem sua conduta para a perspectiva de acumular riqueza (e poder) e, por l)utro lado, nega-se-lhes, em grande parte, as oportunidades efetivas para faze-lo dentro dos padroes institucionais". Ner,te contexto de estrutura social, a maquina politica preenche a fungao basica de proporcionar caminhos de mobilidade social aqueles que, de outro modo, ficariam em desvantagem. Dentro desse contexto, a pr6pria maquina e a camarilha politic as corruptas "representam 0 triunfo da inteligencia amoral sabre 0 'fracasso' moralmente prescrito quando os canais de mobilidade vertical se fecham au se estreitam numa so-
a
ciedade que outorga alto valor ajluencia ec.onOmica, ao [poder] e d elevagiio social para todos os seus individuQs".102 Como notou urn soei6lo-
go, baseado em varios a110Sde atenta observagao numa zona de bairros pobres: o soci610go que deixa de lade camorras, camarilhas ("rackets") e organizaQoes politicas, por se desviarem dos padroes desejaveis, assim esquece alguns dos principais elementos !la vida dos bairros afastados, favelas ou cortiQos ("slums") ... Nao descobre as funQoes que
Isto constitui, portanto, urn terceiro tipo de fungao, desempenhada para urn <;ubgrupo diferenciadc. Esta fungao, diga-se de passagem, C realizada pela mer a existencia da maquina politica, porque e na propria ter de si mesmo uma imagem que the agrade: faz um trabalho de "paria" na pr6pria sociedade que nao se cansa de the garantir que "todo individuo que tenha verdadeiro Acrescente·se a isto sua confissao pcasional de que "nao teve merito pode progredir". as mesmas possibilidades que os outros, digam 0 que quiserem" e se percebera a enor· me pressao psico16gica que pesa sabre ele para "igualar a marcaQao", encontrando algum meio, legal ou ilegal, de melhorar. Tudo isto proporciona 0 pano de funda estrutural e derivadamente psicol6gico para a "necessidade socialmente induzida" em certos grupos, para se encontrar um c~,minho acessivel de mobilidade social. Merton, "Social structure and anomie", Capitulo IV deste volume. William F. Whyte, "Social organization in the slums", (OrganizaQao social nas favelas ou cortiQos) American Sociological Review, fevereiro de 1943, 8, 34-39 [0 gnfo e nosSOJ. Assim, pois, a maquina pol~tica e a camorra ("racket") de intimidaQao representam um caso especial do tipo de ajustes organizativos as condiQoes descritas no Capitulo IV. Note.se que representam um ajuste organizativo; estruturas definidas nascem e funcionam para reduzir um tanto as tensoes agudas e os problemas dos indivlduos apanhados no conflito descrito entre a "pressao cultural do sucesso para todos" e 0 "fato soci~Jmente estruturado de oportunidades desiguais para 0 sucesso". Como. 0 indica 0 Capitulo IV, sac possiveis outros tipos de "ajustamento" individual: delmqiiencia do tipo "lObo solitario" estados psicopatol6gicos, rebeldia, retraimento provocado aprovadas etc. Da mesma maneira, outro' pelo abandono de metas culturalmente tipos de ajustamentos organizativos surgem de vez em quando; 0 "racket" ou a maquma
i maquina que estes individuos e subgrupos encontram mais ou menos satisfeitas suas necessidades ,nduzidas pela cultura. Isto se refere aos servir;os que a pr6pria aparelhagem politica distribui ao seu pessoal. Ma..<; \'isto dentro do contexto social mais amplo que temos examinado, ja nao parece simples mente urn meio de engrandecimento pr6prio para os indiv~duos ansiosos de lucre e de poder, mas tambem como uma providencia organizada para subgru7JOS que, de outra mane ira, seriam excluidos au prejudieados na corrida para 0 "exito". Assim como a maquina politica presta servir;o aos neg6cios "legitimos", tambem funciona para prestar servir;os da mesma especie a atividades "ilegitimas", tais como, centros de vieio, delitos e grupos de chantagem ou intimidar;ao ("gangsters" e "racketeers"). Uma vez mais, 0 papel socio16gico fundamental da maquina a este respeito, so pode ser apr~ciado em sua forma mais completa quando se abandonam provis6riamenl.e as atitudes de indignar;ao moral, a fim de examinar com t6da inocencia mOral 0 funcionamento real da organizar;ao. Sob esta luz, torna-se desde logo evidente que 0 subgrupo dos delinquentes, dos malfeitores que operam na base da chantagem ou intimidar;ao ("racket") e dos jogadores profissionais, tern analogias fundamentais de organizar;ao, exigencias e funcionamento com 0 subgrupo dos industriais, dos homens de neg6cio e dos especuladores. Se existem Reis da Madeira ou Reis do Petr6leo, tamhem existem Reis do Vicio e Reis da Camorra. Se os neg6cios legitimos em expansao organizam sindicatos administrativos e financeiros para "racionalizar" ou "unificar" zonas cliversas de prociur;ao e de empresas, tambem 0 racket e u clelito pr6speros organizam sindicatos do crime, para POl' ordem nas zor.as de outra maneira ca6ticas da produr;ao de bens e Rervir;os ilicitos. Se 0 grande comercio legitimo considera ruinOsa e ineficiente a proliferar;ao de pequenas empresas que sUbstituem, POl' exemplo, as cadeias de supermercados gigantes pOl' centenas de pequenas mercearias de esqwna, tambem os neg6cios ilegitimos adotam a mesma atitude e organizam sindicatos do crime e do vicio. Finalmente, e este e urn dos aspectos mais importantes, existe a analogia fundamental, se nao a quase identidade, entre 0 papel economico dos neg6cios "legitimos" e 0 dos neg6cios "ilegftimos". Uns e outros se dedicam em certo grau a fornecer bens e servic;;os para os quais existe demanda economica. Moral a parte, uns e outros sac neg6cios, empre-
sas industriais e profission'lis, que distribuem bens e servir;os desejados por alguem, para os quais ha urn mere ado em que os bens e servi(;os se transform am em mercadoria. E, numa sociedade predominantemenpoliticas nao sao os iinicos meios organizados disponiveis para enfrentar €ste problema induzido pela sociedade. A participagao em organizag6es revolucionarias, por exemplo, pode ser considerada, dentro deste contexto, como um modo alterna.tivo de ajustamento organizativo. Aqui damos apenas uma informagao te6rica disso tudo, ja que, de outro modo, poderiamos perder de vista os cOl1(;eitos funcionais basicos de substitutos fUll. cionais e de equivalentes funcionais, que deverao ser discutidos por extenso numa prf)Xlma publicagao.
te de mercado, autra coisa nao se poderia espers.r senao 0 aparecimento de empresas adequadas onde quer que haja uma demand a de mercado para certos bens e servir;os. Como se sate, 0 vicio, 0 crime e os rackets sac "grandes neg6cios". Basta pensar que, em 1950, 0 r.umero de prostitutas profissionais nos Estados Unidos foi calculado em 500.000; compare-se esse numero com os 200.000 medicos e as 350.000 enfermeiras profissionais registrados na mesma epoca. E difieil calcular quem tenha a maior clientela: os horn ens e as mulheres profissionais da medicina ou os homens e as mulheres que fazem profissao do vicio. E dificil, naturalmente, calcular 0 ativo economico, a renda, os lucros e dividendos do jogo clandestino no meso mo pais e compara-lo, por exrmplo, com 0 ativo, a renda, os lucros e os dividendos oa industria de calr;ados, mas e bem possivel que as duas iudustrias estejam mais ou menos a par. Nao existem cifras exatas s6bre os gastos anuais em narc6ticos proibitivos e e provavel que sejam menos que os gastos em doces, mas tambem e provavel que sejam maiores que os gastos em livros. Basta refletir urn momento para reconhecer que, em termos estritamente economicD'S, nao ha l!enhuma diferenr;a importante entre 0 fornecimento de bens e servir;os licitos e ilicitos. 0 trafico de bebidas alc06licas documenta isto de forma adequada. Seria extravagante argumentaf que, antes de 1920 (quando entrou em vigor a emenda constitucional N: 18, ou seja, a "lei seca") 0 fornecimento de bebidas alc06licas constituia urn servir;o economico, que c'.e 1920 a 1933 ja nao constituia urn servi!{o economico prestado a urn mercado, e que de 1934 ate 0 presente tomou novamente urn carater util. Ou seria economicamente (nao moralmenteJ absurdo dizer que a venda de alcool de contrabando no Estado seco de Kansas no.o corresponde a satisfa(;ao de urna procura no mercado, da mesma forma que a venda de alcool legalmente fabricado no vizinho Estado "umido" de Missouri. Exemplos desta cIasse podern multiplicar-se ate ao infinito. Sera possivel sustentar que nos paises europeus, onde a prostitui. (;aO esta registrada e legalizada, a prostituta presta urn servir;o economi· co, enquanto que neste pais, onde nao esta legalmente sancionada, a prostituta nao presta tal serviGu? Ou que 0 abortista profissional esta n0 mercado economico quando tern situar;ao legal reconhecida, e que esta fom do merr.~do economico quando 0 aborto e urn tabu legal? Ou que 0 jogo satisfaz a uma demanda especifica de passatempo em Nevada, onde constitui 0 maior neg6cio nas maiores cidades do Estado, ma~ que dlfere essencialmente, sob pste aspecto, do cinema no Estado vizinho cia Calif6rnia? 1N
104.
Talvez a exposigao mais perspicaz desse ponto de vista tenha sido a que fizeram Hawkins e Waller: "A prostituta. 0 rUfiao, 0 vendedor de narc6ticos, 0 explorad01 de uma batota, 0 vendedor de fotografias obscenas, 0 contrabandista, 0 abortista, sao todos eles elementos produtivas, pais todos eles produzem servigas ou bens que a gente de"eja e est,; disposta a pagar. Acontece que a sociedade proibe esses bens e servigos,
o
fato de nao reconhecer
que esses negoclOs sac apenas moralmendistinguiveis dos neg6cios "legitimos" ori'ginou grande confusao nas analises. Desde que se reconhe<;a a identidade entre os dais, ja se podera perceber que, se a maquina poIitica de-, 13empenha tun<;oes para "os gran des neg6cios legitimos", e muito provavel que tambem desempenh8.ra fun<;oes n300 muito diferentes para "as gran des neg6cios ilegitimos". E, naturalmente, e 0 que se da com muifa frequencia. te, mas n3,0 econ6micamente
A fun<;3oodisuntiva da maquina politica para sua clientela dclinqi.iente, viciosa e de camorra ("racket") e de Ihe permitir explorar a satisfa<;ao de demandas econ6mic3G de um grande mercado, sem a devida interven<;ao do governo. Assim como as gran des empresas podem contribuir para os gastos eleitorais de Ulll partido politico, no intuito de conseguir um minimo de interven<;3oogovernamental, assim tambem agem os grandes "rackets" e as grandes organiza<;Oes do crime e do vicio. Em ambos_o,~ caso~, a maquina politica ~ode, em graus variaveis, fornecer "proLe<;ao. Em ambos os casos, mUltas caracteristicas do contexto estrutural ~3ooi~enticas: (1) demanda do mercado, para bem-estar e servi<;os; (2) mteresse dos exploradores em levar ao maximo 0 lucro das empre.sas; (3) necessidade de controlar parcialmente 0 governo que. de outra Jorma,. poderia interferir nas atividades dos homens de neg6cios; (4 l llecessldade de uma agencia eficiente, poderosa e centralizada que proJJorcione uma liga<;ao entre 0 "mundo dos neg6cios" e 0 governo. Sem presumir que as paginas precedentes esgotaram 0 capitulo das fun<;oes nem 0 capitulo dos subgrupos servidos pela maquina politic a ja podemos ver, ao menos, que na atualidade, esta desempenha algUma.; funr;oes para diversos subgrupos, junr;oes estas niiodesempenhadas em jorma apropriada pelas organizar;oes cultural mente aprovadas e mais tradicionais.
Embora somente de passagem, podem-se mencionar aqui algumas implica<;oes da analise funcional da maquina politica que, naturalmente, estao a exigir estudo mais intensivo. Em primeiro lugar, a analise feita nas paginas snteriores tem implica<;oes eiretas para a engenharia social. Ajuda a explicar por que os esfor<;os peri6dicos de "reforma politica", de "elimina<;3oodos corruptos", "de limpeza da casa politica" sao Hpicamente (embora nao necessariamente) ineficientes e de pouca dura'~3oo. Servem de exemplo pam um teorema fundamental: t6da tentativa ·de eliminar uma estrutura social existente sem jornecer previamente ou·t~as :struturas adequadas para. preencher as junr;oes exercidas pela organzzar;ao que se quer abolir, esta condenada ao jracasso. (Desnecessario
e
dizer que este teorema tem 81cance muito maior que 0 caso especifico mas certa gente continua a produzi-los e outra gente continua a consumi-Ios' urn decreto ou urn ato legislativo nao bastam para que 11Ies deixem de fazer pa~e do sIstema econ6mico". "Critical notes on the cost of crime" Journal of Criminal Law .and Criminology, 1936, 26, 679-94,pag. 684. '
da maquina political. Quando a "reforma politica" se limita a "eliminaeao dos velhacos", pouco mais faz que entregar-se a magia sociol6gt(;a. A reforma pode, durante algum tempo, colocar algumas figuras no· vas na ribalta politica; pode servir a fun<;ao social fortuita de assegurar uma vez mais ao corpo eleitoral que as virtudes morais continuam intatas e que finalmente triunfarao; pode efetuar, realmente, uma mudan<;a ao pessoal da maquina politica; e pode mesmo, durante algum tempo, refrear as atividades da maquina ate 0 ponto de ficarem insatisfeitas as· muitas necessidades que ela anteriormente perfazia. Mas nao se pode' evitar que, a menos que a reforma implique tambem em dar "nova forma" a estrutura social e politica, de tal sorte que as necessidades existen· tes sejam satisfeitas por outras estruturas, ou a menos que implique nu· ma mudan<;a que elimine por completo as necessidades, a maquina politica voltara ao seu lugar integrante do sistema social das coisas. Procurar a mudanr;a social sem 0 devid:o reconhecimento dJas junr;oes manto jestas e latentes desempenhadas pela organizar;iio social que esta sofrendo a mudanr;a cantentar-s·e com 0 ritual social em vez de lanr;ar miio d,a engenharia social. Os conceitos de fun<;oes manifestas e laten-
e
tes (ou seus equivalentes) s300 elementos indispensaveis no repert6rio tecnico do f'ngenheiro social. Neste sentido decisivo, tais conceitos n300 s300 "meramente" te6ricos (no sentido abusivo da palavra) mas eminentemente pratieos. Na execu<;fio deliberada das altera<;oes sociais, somente podpm ser ignorados ao pre<;o de aumentar consideravelmente 0 risco de fracasso. Uma s€'gunda implica<;3oodesta analise da maquina politica tamMm abrange zonas mais amplas que a que vimos examinando. Tem sido assinalado as v€zes 0 paradoxo de que, entre os que ap6iam a maquina polifica, figuram tantos elementos "respeita,vC'is" da classe empresarial, que sao, e claro, contrarios ao delinquente ou ao racketeer, elementos "nao respeitaveis" do baixo mundo. A primeira vista, tal fato e apontado como caso muito estranho de acasalamento. As vezes, um meritissimo juiz tem de sentenciar 0 mesma racketeer ao lado do qual esteYa' senta.do na noite anterior, numa ceia sem cerim6nia, com figuroes politicos. Dm promotor estadual de justi<;a cruza, na rua, com um reu confesso mas absolvido, que se esta dirigindo a residemcia secreta onde a chefe politico convocou uma reuni3oo. 0 grande homem de neg6cios pode queixar-se, quase tao amargamente quanto a grande racketeer, das pesadas contribui<;oes que 0 chefe politico exige para 0 fundo do partido. Os adversarios soeiais encontram-se na mansao cheia de fumo de cigarros do politico bem sucedido. Tudo isto deixa de ser considerado IJaradoxal. se examinado a luz da analise funcional. Uma vez que a maquina serve da mesma forma ao homem de neg6cios e ao delinQuente, entrecruzam-se os dais grupos que, aparentemente, s300 antipodas. Isto aponta para urn teorema mais geral: as junr;oes sociais de uma organizar;iio ajudam a d!eterminar a estrutura (incluindo-se 0 recrutamento do pessoal compreendido na estrutu-
ra), c:ssim como a estrutura ajuda a determinar a ejiciencia com que se realizam as jungoes. No que se refere a situagao social, 0 grupo dos ho-
mens de neg6cios e 0 grupo delinquente constituem, de fato, p610s distintos. Mas a situagao social nao determina completamente a conduta ou as relagoes ·entre os grupos. Sao as fungoes que modificam essas rela~oes. Dadas suas necessidades instintivas, os diferentes subgrupos da sociedade em geral estao "integrados", quaisquer que sejam seus desejo& ou in ten90es pessoals, pela estrutura centralizadora que atende as diversas necessidades. Numa frase que implica muitas coisas e que requer exame mais detalhado, c. estrutura ajeta a jungtio e a jungtio ajeta a estrutura.
Esta revisao de algumas consideragoes importantes sabre a analise estrutural t- funcional pouco mais fez que indicar algun~ dos principals p.ro~lemas e possibilidades Of0!£cidos por este modo de interpretagao so. clOloglCa. Cada urn dos itens catalogadJs no paradigma requer constante esclarecimento te6rico e pesquisas empiricas acumulativas. Mas e claro que na teoria funcional, despida c1.aqueles postulados tradlcionais que a cercayam e amiude a con\'ertiam em pouco mais de uma racionalizagao poste:lOr das praticas f:)xistentes, a sociologia disp6e de urn com§. (0. de a.nalise sistematica e p.mpiricameate relevante. Espera-se que a onentagao aqui indicada possa sugerir a factibilidade e a desejabilidadfde ~ma maior codificagao da. analise fUIicional. Desta maneira, cada secgao do paradigma sera tratada oportunamente em capitulo documentado, analisado e codificado da hist6ria da analise funcionaJ.
Quando foi escrito pela prlmeira vez em 1948 0 trab:;.Iho anterior re~re~en.tou urn esfargo para sistematizar as suposig6es e os conceito~ ~nr:CJIPals da teona da ~naliSE' fU"1cional em sociologia, que se achava nta~ .numa lenta :volugao. 0 desenvolvimento dessa teoria sociol6gic3. ctdqUlrm d.esde entao Importancia nota vel. Au preparar esta edicao in~orporei a ela algumas das ampliagoes e correg6es que se prodUZi~a~ no mtervalo, mas deixei uma formulagao extensa e detalhada para outro volume agora em preparo. Por conseguinte, pode ser util nesta conjunt~ra, c~t~logar nao tadas, mas apenas algumas, das recentes contribUigoes teoncas a analise funcional em sociologia. A maim" contribuigao te6rica nos ultimos anos foi, naturalmente, ') ~e Talcott Parsons em The Social System (Glencoe, Illinois: The Free .•.ress, 1951). acrescida por novos trabalhos de Parsons e de seus colaboradores . T Par R F . '. sons,.. Bales e E. A. Shlls, Working Papers in :he Theory oj Ac'tion (Glencoe, Illinois: The Free Press, 1953); T. Parsons ,.~~: A. Shils (ed.) Toward a General Theory oj Action, (Cambridge: Har.",. a Umverslty Press, 1951). As contribuigoes mais importantes de urn r
livro tao amplo e tao legicamente complexo The Social System nao podem ser facilmente distinguidas dos seus desenvolvimentos conceptuats mais provIscirios e as vezes discutiveis; semente agora os soci610gos come<;am a fazer as distin<;oes necessarias. Mas evidentemente ambas as pesqudsas vindas das formula<;oes de Parsons e da revisao critica te6rioa, e claro" representarn urn passo decisivo para uma exposi<;ao met6dica da teoria sociolcigica atual. The Structure oj Society, de M. J. Levy Jr. (Princeton University Press, 1953), procede em grande parte, nas palavras do seu autor, do sistema conceptual de Parsons e oferece uma multiplicagao 16gica de numerosas categorias e conceitos. Resta ver se tais taxonomias de conceit os se revelarn apropriadas e liteis na analise de problemas sociol6gicos. Analises menos extensas porern mais incisivas, de problemas te6ricos selecionados de analises funcionais, tern aparecido em alguns trabalhos provindos de diversas "zonas culturais" de teoria sociol6gica, como Se pode ver pela breve bibliografia que segue. Talvez 0 rnais penetrante e produtivo de todos €lIes seja 0 par de trabalhos relacionados entre si, de Ralf Dahrendord, "Struktur und Funktion", em Kolner Zeitschrijt' jilr Soziologie und Sozialpsychologie, 1955, 7, 492,519; e de David Lockwood, "Some remarks on 'The Social System'" em The British Journal oj Sociology" 1956, 7, 134-146. Ambos as trabalhos constituem casos exemplares de teoriza<;ao sistematica, destinada a assinalar lacunas especificas no estado atual da teoria funcional. Urn relat6rio meditado e nao pOlemico da situagao da teoria funcional e de alguns de seus problemas-chave nao resolvidos sera encontrado em "Structural-functional analysis: some problems and misunderstandings", por Bernard Barber, em American SocioTogical Review, 1956, 21, 129-135. Urn esfar<;o para esclarecer 0 importante problema da 16gica da analise, implicito na parte da sociologia funvional destinada a interpretar tipos estruturais observados na sociedade, foi realizado por Harry C. Bredemeier em "The methodology of functionalism", em American Sociological Review, 1955, 20, 173-180· Embora este trabalho atribua discutivelmente certas suposigoes a varias analises funcionais que examina, tern '1 clar,) merito de colocar em foco a importante quest.iio da 16gica adequada de analise funcional. Quanto a inclusao da analise funcional dos antropologistas na sociolagia contempOl'l:lnea (nao meramente na antropologia), veja-se 0 instrutivo trabalho de Melford E. Spiro, intitulado "A typology of functional. analysis", em Explorations, 1953, 1, 84-95 e 0 minucioso exame critico de Raymond Firth em "Function", em Current Anthropology, (dirigida por William L. Thomas Jr.), University of Chicago Press, 1956, 237·258 . A difusao da teoria funcional recentemente formulada nos Estados Unidos repercute numa serie de apreciagoes criticas da referida teoria na Belgica, Franga, Italia e Brasil. Entre as mais importantes figuram: "Fonction et finalite en sociologie", por Henri Janne, em Cahiers Interno.tionauxde Sociologie, 1954, 16, 50-67, que procura entrela<;ar a teoria fun-
cional atual com a teoria anterior contemporanea dos soci6logos franceses e belgas. Georges Gurvitch empreende uma critic a minuciosa da analise funcional em sociologia em "Le concept de structure sociale", em Cahiers Internationaux de Sociologie, 1955, 19, 3-44. Amplo exame da teoria funcional em suas relag6e:; com problemas selecionados de investigagao sociol6gica sera encontrado em Teoria e Ricerca nella Sociologia ContempOranea, por Filippo Barbano, (Milao: Dr. A. Giuffre, 1955). 0 trabalho de Florestan Fernandes, Ensaio sabre 0 Metodo de Interpretagao Funcionalista na Sociologia (Sao Paulo: Universidade de Sao Paulo, Boletim N.D 170, 1953), e uma monografia informativa e sistematica que recompensa uma leitura tao apressada e falivel como fl. minha. o paradigma exposto nas paginas precedentes foi formalizado de acardo com urn conjunto abstrato de anotag6es destinadas a tornar 8vidente como se relacionam suas diferentes partes com elementos da abordagem funcional em biologia. Veja-se "A formalization of functionalism, with special reference to its application in the social sciences", na proxima colegao de trabalhos de Ernest Nagel, intitulada Logic Without Metaphysics (Glencoe: The Free Press, 1957). Para uma aplicac;ao detalhada do paradigm a, veja-se "Social control in the newsroom: a functional analysis", por Warren Breed, em Social Forces, 1955, 33,. 326-335; "Notes on Eskimo patt,erns of sUicide", por A. H. Leighton e C. C. Hughes, em Southwestern .Journal oj Anthropology, 1955, 11, 327-338; "A social-psychological study of the alleged visitation of the Virgin Mary in Puerto Rico", por Joan Chapman e Michael Eckstein, em Year Book oj the American Philosop'hical Society, 1954, 203-206; The Home and Social Status, por Dennis Chap. man (Londres: Routledge and Kegan PaUl, 1955); The Freedom oj Ex. pression: A StUdy in Political Ideals and Socio-Psychological Realities, 'Por Christian Bay (a aparecer proximamente); "Diverse action and. response to crime", por Michael Eckstein (a aparecer proximamente); Communication oj Modern Ideas and Knowledge in Indian Villages, por Y. B. Damle, (Cambridge: Massachusetts Institute :Jf Technology, Center for International StUdies, 1955). Para urn estudo interessante das conseqiiencias manifest as e latentes da agao em relagao com imagens de autojustificagao e autofrustra«ao, veja-se 0 capitUlo 8 de The Image, por Kenneth Boulding (Ann Arbor: University of Michigan Press, 1956).
IV
A
INFLUENCIA DA TEORIA SOCIOLDGICA SQBRE A PESQUISA EMPIRICA
HIST6RIA RECENTE da teoria sociol6gica pode s~r descrita, e~ grande parte, como sendo a alterna«ao de dois pontos de VISt~oposto~. D. urn lado, vemos os soci61ogos que procuram sobretudo ~enerallz~r, ab~lr ,c~: minho 0 mais rapidamente possivel para a formula«ao ~e ,1~lSsoclOlog Tendem a valorizar a importancia do trabalho soclOloglOOem relacas. com 0 alcance e a demonstrabilidade das genera r. «ao lza«oes, eVl·tando a. "banalidade" da observa«ao minuciosa em pequena escala e buscando a magnitude de resumos globais. No outro extremo .enco.ntr~-se urn gru: po intrepido que nao busca com muito empenho as Impllca«.oes d~s sua" pesquisas mas que tern confianga e certeza de que 0 q~e ~lzem .e exato. E certo que suas informag6es sabre fatos san compr~vavels_ e san co~pro vadas com freqiiencia, mas eles se enc?ntram mmtas vezes ~m dl~~ Culdade para relacionar esses fatos entre Sl ou mesmo para expllcar p . . gr upo : ;) cue fizeram essas observag6es e nao outras. Para 0 pnmelro l'~ma que 0 identifica parece ser, as vezes: "Nao sabemos se 0 que dlze· mos e verdade, mas, pelo menos, e significativo", enquanto ~ lema dos empiricos radicais poderia ser: "Isto e demonstravel, mas nao podemos indicar SUa import an cia" . Sejam quais forem os fundamentos para ad:,rirmos a. u~a ou outra. :iessas atitudes - explicag6es diferentes mas nao necessanamente. conltradit6rias •. 'Iogos, s oc'610gos do conhepoderiam ser fornecldas por PSlCO 1. , cimento e historiadores da ciencia - e bem claro que nao ha base 16o' que nos permita colocar uma dessas atitudes contra a outra. As ge"lCa _. neraliza«6es podem ser temperadas, senaa pela tolerancIa, pe I0 menos peao la observar;ao disciplinada; e as observaQ6es rigoros.as, e. deta~had~s r: es precisam spr banalizadas pela exclusao da sua pertmencla e Impllca«o te6ricas. . a.mpla., sena·o unanime, sabre tudo Havera certamente concor d'anCIa isso. Mas essa pr6pria unanimida de esta' a l'ndicar que essas observag6es
sac triviais. No entanto, se uma das func;6es da teoria e explorar as implicac;6es do que e aparentemente evidente por si mesmo, nao sera inoportuno investigar 0 que pressup6em esses enunciados programaticos acerca das relac;6es entre a teoria sociol6gica e a pesquisa empirica. Ao fazer isso, deveremos nos esforgar para evitar que nos detenhamos saore exemplos tirados das ciencias "mais amadurecidas" - eomo a fisica ,3 a biologia - nao porque estas nao apresentem os problemas 16gicos implicitos, mas porque sua pr6pria maturidade permite que essas disciplinas tratem jrutljeramente de abstra<:;6es de ordem elevada ate um grau que, deve-se confessar ainda nao e 0 raso da sociologia. Um numero muito elevado de estudos sabre 0 metodo cientifico conseguiu formular os pre-requisitos 16gicos da teoria cientffica mas, ao que parece, isto foi feito com freqUi;ncia num nivel de abstrac;ao tao alto que a perspectiva de traduzir esses preceitos para :1 investigaC;ao soeiol6gica atual tornou-se ut6pica. A pesquisa sociol6gica devera, finalmente, satisfazer aos canones do metodo cientffico; de imediato, a tarefa consiste em expressar essas exigencias, de maneira que possam ter uma influencia mais direta sabre 0 trabalho analitfco que, no momento, e factivel. A eXpr(;SSaO "teoria sociologica" tem sido amplamente usada para 1eferir-se 8,OSprodutos de varias atividades diferentes mas relacionadas entre si, exercidas por membro~ de um grupo pro fissional chamado "sod610gos". Mas como esses diferentes tipos de atividade tem efeitos cuja Jmportancia varia sabre a invE,stigac;ao social empiric a - ja que dife· rem em suas func;6es cientificas - e necessario diferencia-Ios para fins de estudo. Alem disso, essas diferen<:;as fornecem uma base para avaliar as contribuic;6es e limitac;6es caracteristicas de cada um dos seis tipos de trahalho que, com frequ€'ncia, sac amontoados sob a denominaC;ao generica de teoria sociol6gica: (l) metodologia; (2) orientac;6es sociol6gicas gerais; (3) analise de conceitos sociol6gicos; (4) interpretac;6es socia16gicas post jact11.m; (5) generalizac;6es empiricas em sociologia e (6) teoria sociol6gica.
De infcio, devemos fazer clara distin<:;aoentre a teoria sociol6gica, que ten por materia certos aspectos e resultados da interac;ao dos indivfdtios, sendo, portanto, sUbstantiva, e a metodologia, ou 16gica do procedimento l'ientifico. Os problemas de metodologia transcendem os que se encontram em qualquer disciplina unica e tratam, seja dos que sac comuns ,), grupos de disciplinas lOU, de forma mais geral, dos que sac comuns a
t6da investigaC;ao cientffica. A metodologia nao esta pa~ti?ularmen.te vinculada aos problemas sociol6gicos; embora se encontrem mumeras ~sruss6es metodol6gicas em livros e revistas de sociologia, nem por isso tern tlas carater sociol6gico. Os soci6logos, da mesma forma que todos os demais estudiosos que se dedicam ao trabalho cientffico, devem ser metodol6gicamente prudentes: devem conhecer a finalidade da pesquisa, 0 C9.rater da inferencia, os requisitos de um sistema te6rico. Mas estes co:lhecimentos nao implicam um conte'lldo particular de teoria sociol6gica. . te em suma uma clara e decisiva diferenC;a entre saber como comproE XIS , ' . .var um conjunto de hip6teses e saber a teoria de onde se devem tirar_ hlPOteses a serem comprovadas.2 Minha impressao e que a preparac;ao sociol6gica atual esta destinada a fazer compreender aos estudantes mais a nrimeira hip6tese que a segunda. . como observou Poincare, faz mais de meio seculo, os soci610gos tem Sldo durante muito tempo os hierofantes da metodologia, as~im desvia~do, talvez, talentos e energias da tarefa de formular uma teona substantlva. A focalizac;f,o da atenc;ao sabre a 16gica do procedimento t~m um~ ~atente func;ao cientffica, ja que esses balanc;os servem ao proposlto cntlCo .de Refletem tambem orientar e avaliar as pesquisas te6ricas e empiricas. as dores de crescimento de uma disciplina imatura. Assim como 0 aprendiz que adquire novas habilidades examina autoconscientemente. cada. elemento dessas habilidades, a diferenc;a do mestre que as. pratlCa .dla a dia com aparente indiferenc;a para sua formulac;~o e..xpliclta, tambem os expositores de uma disciplina que avanc;a com vaclla<:;oesno ~u~o de uma posiC;ao cientffica soletram laboriosamente os funda~entos lOgl~OSdo seU I,rocedimento. Os livros banais sabre ~etodO~ogl:: que prollferam. no eampo da sociologia, da economia e da pSlcologIa n~o e~co~tram ~Ulto~ equivalentes entre as obras tecnicas de ciencias q~e J.a atmglram_ ha mUlto tempo a maioridade. Seja qual fOr sua func;ao mtele~t~al,. esses ~rabalhos metodol6gicos implicam perspectivas de uma matena mexpene~te, que apresenta ansiosamente suas credenciais .~ fi~ de _ob~er.~ma. Sltuac;ao de completa igualdade na confraria das ClenClas. E. ~lg11lflCat1Vo, porem, que os exemplos de metodo cientffico adequado, utl~lzados pelos soci610gos para fins iIustrativos ou expositivos, costumam ser tirados ~e. outras disciplinas e nao da pr6pria sociologia. Tomam-se como proto~lpOS ou modelos metodol6gicos a fisica e a quimica do seculo XX e nao ~ do seculo XVI para a sociologia do seculo XX, com escasso reconheCld t The Lan "uage of Social ~ d'versas ty Press, 1944); P. F. Lazarsfeld e M. Rosenberg, re a ores,. I Research, (Glencoe: The Free Press, 1955), especialmente as mtroduQoes as 2.
1. Vejam-se algumas ooras que exp6em assuntos metodol6gicos, distinguindo-os dos 2.;<. suntos processuais da sociologia: Florian Znaniecki, Thc Method of Sociology, (Nova Iorque: Farrar & Rinehart, 1934); R. M. MacIver, Social Causation, (Boston: Ginn to;. Co.: 1942); G. A. Lundberg, Foundations of Sociolog'y, (Nova Iorque: Macmillan Co., 1939): Febx Kaufmann, Methodology of the Sccial Sciences, (Nova Iorque: Oxford Universl'
partes. d na investi<>aDeve-se notar, porem, que nao somente os instrumento~ e processos .usa, as mas ue ta~llQao sociol6gica (OU cientifica), devem satisfazer aos cntenos metodolog1cos,. q Duhem bem pressup6em, 16gicamente teorias substantivas. Conforme observo:'arsle:~tidoS na a este respeito, 0 instrumento, assim como os resultados expen~r;:: "substantiva. La cHincia, estao repletos de suposi,6es e teonas especlflCas de ord theorie physique, (f'a.ris: Chevalier Riviere, 1906), 278.
~ento explicito de que e.ntre 3, sociologia e essas outras c1encias ha uma d1ferenga de seculos de lllvestigagao cientifica acurnulativa T' ra"oe sa . 't' I . a1S compay s 0 meV1aye mente programaticas e nao real1'stas E " . t d l' . . . x1genClas meo 0 oglcas ma1S apropriadas produziriam entre ._ . . ,a asplragao metodol6gica e a rea I1zagao socI016gica uma brecha menos o'b . . . , VIa e menos InJusta.
ORIENT A<;oES SOCIOLOGICAS GERAIS , . Grande. parte do que e apresentado nos manuais como teoria socio~~~~c~c~ns1ste em orientagoes gerais para materias substantivas Essa~ ~ n agoes compreendem amplos postulados que indicam tipos de vari;' ve1S que devem ser levados em cont d
Ainda que tais perspectivas te6ricas gerais tenham efeitos mais amplos e profundos sabre 0 desenvolvimento da investigagao cientifica que as hip6teses especificas - pois constituem a matriz da qual, nas palavras de Maurice Arthus, "emanam, uma ap6s outra, novas hip6teses em incessante sucessao e uma colheita de fatos acompanha de perto 0 florescimento dessas hip6teses" - ainda assim s6 constituem 0 ponto de partida para 0 te6rico, cuja tarefa e formular hip6teses especificas, relacionadas entre si, dando formulagoes novas a generalizagoes empiricas, a luz das orientagoes gerais. Deve-se notal', alem disso, que as contribuigoes crescentes da teoria 80ciologica as suas disciplinas irmas, estao mais na esfera das orientagoes sociol6gicas gerais do que naquela das hip6teses especificas confir0 desenvolvimento da hist6ria social, da economia institucional madas. e da importagao de perspectivas sociol6gicas na teoria psicanalitica implica 0 reconhecimento da dimensao sociol6gica dos dados mais que a incorporagao de teorias especificas confirmadas. Os cientistas sociais foram levados a descobrir lacunas sociol6gicas na aplicagao da sua teoria a conduta social concreta. Nao exibem com tanta freqtiencia ingenuidade sociol6gica em suas interpretagoes. 0 economista, 0 cientista po:itioo e 0 psic610go chegaram a reconhecer, cada vez mais, que OS dados que eles consideravam sistematicamente certos, podem ser problematicos do pontn de vista sociol6gico. Mas est a receptividade para uma perspectiva sociol6gica dissipa-se com freqtiencia, devido a escassez de teorias especificas suficientemente comprovadas, a respeito, POI' exemplo, dos determinantes de necessidades humanas eu dos processos sociais implicitos na distribuigao e no exercicio do poder social. As pressoes que se derivam das lacunas te6ricas respectivas das diversas ciencias sociais J;odem servir, com 0 tempo, para dar origem a uma crescente formula«ao de teorias socio16gicas especificas e sistematicas, adequadas aos problemas inerentes as ditas lacl1nas. Nao bastam as orientagoes gerais. "E 0 que se infere, provavelmente, do contexto da queixa langada POl' um economista. .
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pIa para a pesquisa empirica ' IS amcas de Durkheim segundo . EO. que acontece com as hip6teses genert, as quaIs a "causa determinante d f social deve ser procurada entre os fatos sociais e" un: at.o fica 0 fator "social" '. que 0 precederam e Ident1ta a conduta. 3 Ta~~::= ~~:m~s ~~s~ltucionais para, a~ .quais se ariensociedade ~omo urn sistem d q e at~ certo ponto, e .utIl considerar a nalmente hterdependentes'~ 4 e :::s t~~t~ament~ rel~clOnadas e funcioimportancia do "coefic' t h . bem se InCIUlnesta categoria a 1en e umamsta" nos dado It . sac expostos POl' Znaniecki S k' s cu urals, tais como essas orientagoes gerais di:e ~ro In, entre outros. Podem-se parafrasear ordem de fatos .' . n ~-se- qu~ 0 pesquisador desatende a essa 't ' . a seu pr6prIO rISco. D1tas orientagoes nao formulam hI' po eses espeClflCas. A principal fungao dessas orientagoes e proporcionar um contexto g~ral para ~ pesquisa; facilitam 0 processo de chegar a determinadas hi~otes:s. C1temos ~ caso. oportuno: MaLinowski foi levado a examinar e. novo _a concepgao freUd1an,l do complexo de Edipo na b d ae ()ne~tagao sociol6gica geral, qua considerava que a formagao d : :. uma tos e padrolJlzada pela estrutura social. Este ponto de vista g~ ~e~ 1menve manifestamente d b enenco sergico" em confront e ase a~ estudo que faz de um complexo "psicoI6~a socied~de CUj~ ~~~~: Sls.~~made relagoes entre posigoes sO~iais nuhip6teses e.specificas que ~;l" Ct! ere daque:las ~a Europa ocidental. As tes Com a orientagao gene .11.Z0Uness~ pesQUlsa eram todas con gruenoutras al . !,lca, mas nao eram prescritas POI' ela. Er.:l riaveis ~st~~;~:~i: ::;t:;~o ger~l indicou a pertinencia de algumas vaparticulares que deviam ser a~~l~~~~:. a tare fa de averiguar as variaveis
3. Durkheim Th R ' e nles of Sociological M th d Alcan, 1925), 9-45. passim. eo, 110; L'Education morale, (Paris: Fe!ix 4. Conrad M A b H . rens erg e Solon Kimball Family d C arvard University Press, 1940), xxvi. an ommunity in Ireland, (Cambridge:
o economista procura sempre relacionar sua analise de urn prohlema a ~dgum "dado". isto e, a algo que seja extra·econ6mico. Este algo pode ser aparentemente muito remoto do problema que foi previamente colocado, porque as c~,deias de causaQao econ6mica sao as vezes muito extensas. Mas sempre quer transferir finalmente 0 problema a urn ou outro soc1610g0. se ha soci6logo a espera: muitas vezes niio hi. (5)
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Dizem, as vezes, que a teoria e formada POI' conceitos; esta afirma<;:ao,POI' ser incompleta, nao e verdadeira ou falsa, mas apenas vaga. E fora de dtivida que a analise conceptual, que se limita a especificagao e 5. J. R. Hicks, "Economical. Theory and the social sciences", The Social Sciences: Their Relations in Theory and in Teaching, (Londres: Le Play Press, 1936), p. 135 [0 grifo e nossoJ.
Sociologia -
ao esclarecimento de conceitos-chave, e uma etapa indispensavel do tra,balho te6rico. Mas urn corpo de conceitos - status social, papel, Gemeinschaft, interaQao social, d.istancia social, anomia nao constitui uma teoria, embora possa entrar num sistema te6rico. Pode-se conjetu· rar que, na medida. em que ocorre entre os soci610gos uma tendencia antite6rica, ela significa urn protesto contra os que identificam teoria com esclarecimento de definiQoes, centra os que errOneamente tomam a parte pelo todo na analise te6rica. Somente quando tais conceitos se relacion am entre si em forma de sistema e Que comeQa a aparecer a teoria. Os conceitos, pois, constituem as definiQoes (ou prescri<;oes) do que se deve observar; sac as variaveis entre as quais devem ser procuradas as relaQoes empiricas. Quando as proposiQoes se relacionam entre si 10gicamente, esta formada uma tecria. A escolha de conceitos que orientam a coleta e a analise de dados e naturalmente, crucial para a [lesquisa empirica. Pois, para citar u~ iruismo importante, se os conceiios sac escolhidos de maneira que nao haja relaQao entre eles, a pesquisa sera esteril, por meticulosas que sejam as observaQoes e as inferencias subseqi.ientes. Este truismo e importante porque implica que as verdadeiros processos de tenteio na pesGuisa empirica talvez sejam relativamente infrutiferos, ja que 0 numero de variaveis que nao estao relacionadas em forma significativa e indefinidamente grande. Assim, pois, uma funQao do esclarecimento conceptual consiste em tornar explicito 0 carater dos dados subsumidos num conceito. 6 Serve, por conseguinte, para reduzir a probabilidade de que resultados empiriGOS espurios sejam expressos em termos de conceitos dados. Assim, 0 exame que Sutherland faz do conceito consagrado de "delito" proporciona exemplo instrutivo de como 0 referido esclarecimento induz uma revisao de hip6teses concernentes a dados organizados em relaQao com 0 conceito. 7 Sutherland demonstra que existe urn equivoco implicito nas teorias criminol6gicas que tratam de explicar 0 fate de haver uma proporQao muito mais aHa de delinqi.iencia, "oficialmente medida", nas classes sociais baixas do que nas :lltas. Os "dados" sabre delinqi.iencia (orI
5.
Como observa Schumpeter a respeito do papel dos "instrumentos de analise": "Se temos que falar de niveis de pre~os e imaginal' metodos parz, medi·los, precisamos saber 0 que e urn nivel de pre~os. Se temos que observar a procura, precisamos tel' urn con· celto precise da sua elasticidade. Se falamos da produtividade do trabalho, temos que saber que conceitos sac acertados no tocante ao produto total POI' hora-homem e one outros conceitos sac acertados a respeito do coeficiente diferencial parcial do prod'clto total em. rela~ao as horns·homem. Nenhuma hip6tese entra nesses conceitos. que encarnam slmplesmente metodos de descri~ao e de medi~ao, nem nas proposi~6es que de· e a fmem suas rela~6es (proposi~6es chamadas teorems.s), e todavia sua estrutura~ao pnnclpal tar~fa da teoria, tanto na economia como em outras disciplinas. E isto ql:e entendo POl' mstrumentos de analise". Joseph A. Schumpeter, Business Cycles (Nova 101'que: McGraw·Hill Book Co.• 1939), I, 31. 7. Edwin E. Sutherland, "White·collar criminality" American Sociological Review, 1941;. 5, 1·12.
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Teoria e Estrutura
ganizados em termos de urn conc~i~o ou ~e~ida especial de. como opera e crime), tern conduzido a uma sene de hlpoteses que co~s.lderam a pos condiQoes de vida nos cortiQos e favelas, a debilldade mental . d b reza, a t as caracteristicas que se pensa estarem estreitamente aSSOClaas.. a e ou r classe social inferior, como sendo as "causas" do comportamento cnmlo. Desde que se aclare 0 conceito de delito, para relaciona-lo a vienos " d l' ..• . d JaQao da lei penal, ampliando-o a ponto de abarcar a e mqUen~l~ a.s ue usam colarinho branco"* ou seja, na esfera dos negoclOs e .<' ( 1asses q f das profissoes liberais - violaQoes que se reflet~m com m:nor requenria do que as violaQoes cometidas pela classe balxa -, entao a suposta associaQao entre baixa posiQao social e delito ja nao pode prevalecer. Nao precisamos continuar examinando a analise de sutherland, ~ar~ descobrir a funQao do esclarecimento conceptual neste caso: contnbUl para a "rer.onstruQao de dados", indicando com maior exatidao 0 ..q~e in' duem e 0 que excluem. Assim fazendo, leva ao descarte de hlpoteses formulada'S para explicar dado!:' espurios, por meio da investigaQao das suposiQoes sabre as quais se basearam os dados estatisticos iniciais. Ao colocar urn ponto de interroga<;ao na suposiQao implicit a que serve de base a pesquisa da definiQao do delito - ou seja, a suposiQao ~e. que ~s violaQoes do c6digo penal por individuos das diversas classes sOCialSestao representativamente registradas nas estatisticas oficiais -, este esclarecimento conceptual tern implic~Qoes diretas com urn nucleo de teorias. De modo analogo, a analise conceptual pode resolver amiude an.ti~o. mias aparentes nos resultados empiricos, indicando que tais contradlQoes sao mais aparentes que rea is. Estas frases familiares se. :-eferem, em parte, ao fate de que conceitos que, a principio, foram deflm~os em forma crua, incluiam tacitamente elementos com diferenQas Impo.rtante~ entre si, de forma que os dados organizados segundo tais conceltos dl' ferem em substancia, exibindo assim tendencias aparentemente contr~dit6rias. 8 A funQa0 da analise conceptual neste caso e de levar ao maximo a probabilidade de comparabilidade, sob certos aspectos, dos dados que se devem incluir numa pesquisa. o exemplo tirado de Sutherland nada mais faz que documen~ar. o. fato mais geral de que, na pesquisa. como em atividades menos _dlsclplm~das nossa linO'uagem conceptual tende a fixar nossas percepQoes e, den, " . d r I vaaamente, nosso pensamento e nossa conduta. 0 concelto e Ine a .s.t.uaQao, e 0 pesquisador reage de acardo. A a~alis~ conceptual expllcIta ajuda-o reconhecer a que esta reagindo equals sao os elementos (tal-
A expressao
"white· collar",
que poderiamos
traduzir
tambem
POI' colarinho
e gravata,
designa empregados de certa categoria. (N. do Ed.) d Gini aJ' odem ser enco!1tradas em Corra 0 . 8. Formula~6es elaboradas dbste tipo de an lse P . breve estudo ve· Prime \inee di patologia economica (Milao: Giuffre, 1935); para um t osservazionl .a-se do mesmo autor, "Un tentativo di armonizzare teone. ?'Spara e e. . 1935 \2 , . . I" RO ista di pohtlca economica, 1 J contrastanti nel campo dei fenomem SOCla, IV t
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\ez importantes) que ignora. Os resultados alcangados POI' Whorf s6bre este assunto sao, com modificagoes apropriadas, aplicaveis a pesquisa empirica. 9 Descobriu que 0 comportamento se orientava para significados lingi.iisticos ou conceptuais expressos pelas palavras que se aplicam a uma situagao. Assim, na presenga de objetos que sac descritos conceptualmente como "tambores de gasolina", 0 modo de comportamento tendera para urn tipo particular: deverao ser manipulados com muito cuidado para nao explodirem; mas, quando a gente se defronta com 0 que se chama "tambores de gasolina vazios", 0 comportamento e diferente; e descuidado, nao e proibido fumar nas proximidades e os tocos de cigarros podem ser atirados a esmo. Tocfavia, os tambores "vazios" sac as vezes perigosos, porque con tern gases explosivos. A gente reage, pOl" tanto, nao a situagao material, mas a situagao conceitualizada. 0 conceito de "vazio" ai se usa POI' equivoco, como sin6nimo de "nulo e vao, negativQ e inerte", como palavras aplicadas a situagoes materiais, sem referencia a "coisas irrelevantes", tais como gases e vestigios de liquido nos recipientes. A situagao e conceituada no segundo sentido e 0 conceito se relaciona entao com 0 primeiro sentido, dai resultando que tambores de gas olin a "vazios" se convertem em causa de incendios. 0 esclarecimento do significado exato de "vazio" no mundo do raciocinio tera profundo efeito s6bre 0 comportamento das pessoas. Este caso pode servir de paradigma do efeito funcional do esclarecimento conceptual s6bre a conduta pesquisadora: esclarece precisamente 0 que esta fazendo 0 0 pesquisador pesquisador quando lida com dados conceptualizados. obtem consequencias diferentes para a investigagao empirica quando modifica sua aparelhagem conceptual. Mas isto nao quer dizer que 0 vocabulario de conceitos fixa as percepgoes, as ideias e a conduta associada a elas, de uma vez POI' t6das e para sempre. Muito menos significa que tais casos de terminologia enga.nosa estao incrustados em uma ou outra linguagem (como Whorf tenciia a super nesta teoria de behaviorismo lingUistico). Os homens nao estao permanentemente presos na trama dos conceitos (m..uitas vezes herdados) que usam. Nao somente podem escapar dessa tram a, como tambem podem criar outra nova, mais adequada as necessidades da ocasiao. Mas, em qualquer momenta particular, a gente deve estar prep arada para vel' que os conceitos diretores podem estar, e as vezes estao, arrastando-se atras do comportamento exigido pelo caso. Durante esses periodos as vezes longos de atraso, os conceitos mal aplicados produzem a.s suas consequencias danosas. Mas a pr6pria inadequagao do conceito para a situagao, reconhecida ap6s uma experiencia penosa, exigira com frequencia formulagoes autocorretoras e mais apropriadas. A tare9. B. L. Whorf, "Relationof habitual thought and behavior to language",em L. Spier, A. 1. HaJlowelle S. S. Newman(redatores),Language,Culture, and Personality,(Menasha: Sapir MemorialFund Publication,1941),75-93.
. t m descobrir 0 atraso conceptual, a fim de nos liberarmos fa conS1Se e . as de ma conduta cognoscitiva que ten de a produz1r,9a d as norm b I'd' em esta e ecer m lees Out ra tare fa da analise conceptual consiste , t' , . " dos dados sociais que interessam a mves 19a9ao emp1nca. ()b servave1S . antigos neste rumo evidenciam-se nas obras de Durkhe1m (e E"sf orgos " 'I') 't ~ais importantes '" _SOC10ogla ' eons t 1 uem uma das suas contribui"oes ' '" _. suas concepgoes formalizadas nesses lineamentos nao se aprob E mora h . t'I' ximem da sofisticagao das formulagoes mais recentes, Durk elm u 1 ~ou . nte "var1''''veis intercorrentes" , como no que foram ostenslvame '" . .descntas . temente POl' Tolman e Hull e procurou estabelecer mdlCes para n1aIS recen .' . . . 10 0 problema ate onde preClsa ser enunclado para nosessas vanavels· '.., . ., 'medl'atos consiste em lmagmar mdlCes de entldades mobsos prop 6·t Sl os 1, _"., .' ou s l'mbo'll'cas (p ," .ex a coesao SOCial), mdlCes, estes que poservavels dem ser apoiados em teoria. A analise conc~Pt~al aSS1m ~e converte numa base para avaliagao critica, inicial e pen6dlCa, da medida em que sign os ou simbolos supostos sac indicadores adeq~ados do substrata social, A referida analise sugere pistas para determmar se, de fat.~, ~l indice (ou instrumento cle medigao) prova ser adequado para a ocaS1ao, '
INTERPRETA<;OES SOCIOLOGICAS POST FACTUM Na pesouisa sociarempirica acontece amiude que se recolham d~dOS . d - .<::ubmetidos a urn comentario interpretatIVo, que somen~e mais tar e sac " 6 t mo de B L Whorf, intitulado 9a, Para um estudo mais extenso, vejarse 0 volumeP s u 'M I T 1956) E a Language Thought and Reality (Cambridge:TechnologyPress of "h" 'a obra , e t da por Joshua Whatmoug em su posigaowhorfianamals extremadaque a.aca . 'P 1956)85 186-7227-3'1. Language:A ModernSynthesis(Nova Iorque: St, Martms ~ess" " '1!)1!.O de Mas os tiros bem acertados de Whatmoughnao, d.estroe:n1~~~~:::n~ef:n~~:J. ConWhorf, pois apenas obriga,ma retirada a uma posl!)ao mals d t mas" ' • 0 pensamento e a con u a, celtos socialmentearraigados afetam a percep!)ao, 't f" t para que os concelos I'napro. estrutura da linguagem proporciona.campo su IClene . '0 compreensiva priados sejam substltuidospor conceitos mais adequados, Umag r,~~~aexamination 01 das ideias de Whorf pode ser encontrada em Franklm Fearm ,. d ·tioD" the conceptsof BenjaminWhorf in the light of theories of perceptIOnan cogm-81 ' Harry Hoijer, redator, Languagein Culture, (Universityof ChICagoPress.f1954)~i:7 0 ~e. es repetlda em suas monogralas, 10 A formula!)aO basica de Durkhelm,v"nas vez or um fate cx· . b t't' fato interno que se nos escapa.P guinte: "E necessario". su SI Ulr 0, . ndo" Vejam-sesuas Rules of terno que 0 simbolizae estudar 0 pn':'~lro atra,:,e~~o s:~;an 1~30)'22 e segs. Examc SociologicalMethod, Cap, II; Le SUlcI~e(Pa.~s. ~ociais~ncont;a-seem Emile Durdetalhado das opini5esde Durkhelm sobre 1n IcesI ue' Columbia.UniversityPress, . Iogy, por Harry Alpert (. Nova orq . II "The Problemof Interkheim and H'IS SOc.lO L H 1939) 120e segs. S5bre 0 problema geral, veJa-seC._ . u.' 194350 273'-91. , Variablesin moral beh aVlOr . th eory", PsychologIcalReVIew, ' , 'sar se. 0 in· vening 11 Entre as muitas fun!)5esda analise.conceptualn~t::eont;~v::~~g:n:: ;:s~~~OSig5esque dice ~ "neutro" ou nao, em relao!)ao ao seu am Ie I'd ulaeao) de observaveiscoI - (e a validezpara determnad a pop ~ a. anallse conceptuaI servem de base ," seegao t't des) mo ;indices(p. ex., a. filiagaoreligiosaou uma escala. ~,a I~ te~ha dissociadode se-tl inicia provas apropria.dasda possibilidadede que 0 10 Ice 1 G ttma.n "A basis for .. deste assunto ver Lous u , substrato, Para. uma clara expoSI!)ao .' '1944 9 139-50,especi£Jmente scaling qualitative data", American SOClologieal ReVIew, " pags, 149-50. •
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Este modo de proceder, em que as observagoes esUio ao alcance da mao e as interpretaQoes se aplicam posterior mente aos dados, tern a estrutura 16gica da investigaQao clinica. As observaQoes podem tel' carater estatisticCl ou de "hist6rias de casos". A caracteristica que define este procedimento c a introduQao de uma interpretaQao posterior a observaQao, e nao a comprovaQao empirica de uma hip6tese pre-formulada. Ai est:'\. implicita a suposiQao de que urn corpo de proposiQoes generalizadas tenha side tao bem estabelecido, que pode ser aplicado de maneira aproximada, aos dados que estao ao alcan:::e da mao. Estas explicaQoes post factum, destinadas a "expliear" observaQoes, diferem em funQao l6giea dos proeedimentos espeeiosamente analogos em que os materiais da observaQao se utilizam para deduzir novas hip6teses, que deverao ser eonfirmadas POl' novas observaQoes. Uma earaeteristiea persuasiva do proeedimento eonsiste em que as explieaQoes sac realmente eongruentes com 0 eonjunto de observaQoes. I&to e pouco surpreendente, uma vez que s6mente se selecionam as hip6teses post factum que estejam de acordo com as observaQoes. Se a suposiQao basica se mantem - ou seja, que a interpretaQao post factum utiliza teorias muito confirmadas - entao este tipo de explicaQao, na realictade, "lanQa raios de luz no obscuro caos das marerias". Mas, coIJUJ e mais freqtiente na investigaQao sociol6gica, se as hip6teses post factum sac tambem ad hoc ou, pelo menos, apenas tern urn grau ligeiro de comprovaQao previa, entao essas "explicaQoes precoces", como foram chamadas POl' H. S. SUllivan, produzem uma sensaQao falsa de adequa!:.ao, ao risco de nao instigar novas pesquisas. As explieaQoes post factum permanecem no nivel da plausibilidadc (baixo valor comprobat6rio) e nao levam a uma "evidencia que se impoe" (alto grau de comprovaQao). A plausibilidade, ao eontr::\rio da evidencia que se impoe, encontra-se quando uma interpretaQao e congruente com urn eonjunto de dados (que na realidade e tipicamente, deu origem a decisao ':le usar uma interpretaQao e nao outra). Implica tambem que nao foram exploradas outras interpretaQoes igualmente congruentes com as dados, e que as inferencias tiradas da interpretaQao nao foram eomprovadas POl' novas observaQoes. A falacia l6gica subjacente na explicaQao post fa9tum baseia-se no fato de que dispomos de uma variedade de hip6teses pouco refinadas, cada lima delas com certo grau de confirmaQao, mas destinadas a explicar conjuntos de fatos completamente contradit6rios. 0 metodo da explicaQao post factum nao conduz POl' si mesmo a nUlificabilidade, quando mais nao seja, POl' ser tao completamente flexivel. POl' exemplo, e possivel que 5e diga que "os desenlpregados tendem aIel' menos livros do que quando estavam empregados". Isto se explica pela hip6tese de que a ansiedade aumenta como conseqtiencia do desemprego e que, portanto, qualquer atividade que requer concentraQao de espirito como, POl' exemplo, a leitura torna-se dificil. Este tipo de explicaQao e plausivel, pois e eviden-
te que urn aumento de ansiedade po de oeorrer em tais situaQo~s. e sabendo-se que urn estado de preocupaQao m6rbida interfere co~ ~ a~lvldade org~nizada. Mas, se dissermos mais tarde que os dados ongmais eram erro:leos e que foi constatado que "os desempregados lee:n ~ais do que an· tes", pOder-se-a invocar imediatamente uma nova expl1caQao post. fact~m. A nova explicaQao dira que os desempregados tern mais tempo dl~pomvel ou que se entregam a atividades tendentes a aumentar s~as h~bll1dad~s pessoais. Em conseqtiencia, leem mais do que antes. AssIm, seJam quaIs' foram as observaQoes, po de ser encontrada uma nova interpretaQao que' "se ajuste aos fatos".l2 Este exemplo talvez seja sUficiente _para indie~r que tais reconstruQoes servem s6mente como doeun::entaQao, mas nao como provas. Foi a inadequaQ30 16gica da interpretaQao post factum que levou Peirce a observar: E essencial para a indugao que a conseqiH!ncia da teori&. se infira primeiro em r:la. "ao ao resultado desconhecido, ou virtualmente desconhecido, da expenenca; e que este resultado s6 se averlgue vlrtualmente mals tarde. Porque, se observamos os fenOmenos para encontrar coincidencias ccm a teoria, 0 grau de concordfmcia que encontrarmos sera simples questao de engenho e llrte. 1~
Essas reconstruQoes deixam de lado, tipicamente, uma formulaQao explicita das condiQoes em que se constatara que as hiP6~eses sac _certas. A fim de preencher ,esse requisito l6gico, as interpretaQoes deverao ser, liecessariamente, de prediQao 9 nao de p6s-diQao. Como caso oportuno, podemos citar a freqtiencia com que Blumer afirma que as analises de documentos feitas POl' Thomaz-Znaniecki "pareeem meramente plausiveis". 1-1 A base da plausibilidade reside na consistencia entre a interpretaQao e os dados; a auseneia de evidencia compuls6ria provem da falha em contribuir provas distintivas das interpretaQoes, a {)arte da sua consistencia com as observaQoes iniciais. . A analise e ajustlj,da aos fatos e naD ha indicio de quais dados podenam ser tornados para contravir as interpretaQoes. Em consequencia, a prova documental simplesmente ilustra, mas nao comprova a teoria. 15
GENERALIZA<;oES EMPfRICAS EM SOCIOLOGIA Diz-se nao poucas vezes que 0 objeto da teoria sociol6gica e de chegar a enunciados de uniformidades sociais. Esta e uma afirmaQ9.o elip12. Os dados pertinentes nao foram reunidos. Mas, s6bre plausibilidade da segunda intel' pr(ltagao, ver Douglas Waples, People and Print: Socjal Aspects of Reading in the Dc· pression (Chicago: University of Chicago Press, 1937), 198. . 13. Charles Sanders Peirce, Collected Papers, publicados por Charles Hartshorne e Paul WeIss (Cambridge: Harvard University Press, 1932), II, 496. . 14. Herbert Blumer, An Appraisal of Thomas and Znaniecki's "The Polish Peasant m Europe and America" (Nova Iorque: Social Science Research Council, 1939), 38, ver tambem ibid., 39, 44, 46, 49, 50, 75. _ dem 15. E dificil perceber em que se funda Blumer para afirmar que as interpretwc;6es nao po . ser meros casas de ilustragao de uma teoria. Seu comentario de que os assuntos "adqUlrem uma importancia e uma significagao que nao tinham", poderia aplicar-se, em geral, as explicag6es post factum.
tlea que precis a, POl' conseguinte, ser esclarecida. POl' que ha dois tlpus de enunciados de uniformidades sociol6gicas que diferem de maneira importante em suas rela~oes com a teoria. 0 primeiro diHes e a generaliza~ao empfrica: uma proposigao isolada que resume uniformidades observadas de rela~oes entre duas ou mais variaveis. 16 A literatura socio16gica e ferti! em tais generaliza~oes, que nao foram assimi!adas a teoria socio16gica. Podem ser citadas como exemplo as "leis" do consumo, de Engels, como tambem 0 re.sultado a que chegou Halbwachs, de que os operarios gastam mais em corr.ida, POl' unidade adult a, do que os empregados de "colarinho branco" da mesma faixa de rendimentos. 17 Tais generaliza~oes podem ser mais ou menos exatas, mas isto nao afeta seu lugar l6gicc na estrutura da pesquisa. 0 resultado a que che~ararn Groves-Ogburn, numa amostra de cidades norte-americanas, de que "as cidades com uma porcentagem maior de gente empregada nas rnanufaturas, tambem tern, em media, porcentagens ligeiramente maiores de joyens casados", foi expresso numa equa~ao que indica 0 grau dessa rela· ~ao. Embora as proposi~oes deste tipo sejam essenciais na investig~ao empirica, uma misce1l1nea de tais proposi~oes apenas fornece as mate· rias-primas para a sociologia como disciplina. A tarefa te6rica e a orienta~ao da investiga~ao empirica rumo a teoria, come~am quando se estabelece tentativamente a rela~ao das uniformidades corn urn conjunto de proposi~oes relacionadas entre si. A no~ao da pesquisa dirigida implica, em parte,18 que a pesquisa empirica esta organizada de maneira tal que, se se descobrem uniformidades empiricas, estas tern conseqtien· cias diretas para urn sistema te6rico. Na medida em que a investiga~ao 16. ~ste uso do termo "emplrico" e comum, como diz Dewey. Neste contexto, "empirico significa que a materia de uma dada proposicao que tern inferenciaexistencial representa somente urn conjunto de agrupac6es uniformes de caracterlsticas, cuj~ existencif1. se observou repetidamente, sem que se saiba em absoluto por que existe esta agrupncao, sem uma teoria que enuncie sua razao de ser". John Dewey, Logic: The Theory of Inquiry (Nova Iorque: Henry Holt & Co.. 1938), 305. 17. Ver uma grande colecao de tais uniformidades, condensada por C. C. Zimmerman. Consumption and Standards of Living (Nova Iorque: D. Van Nostrand Co., 1936), 51 ~ segs. 18. "Em parte", quando mais nao seja porque desmente as possibilidades de obter novos resultados prometedores e limita completamente as investigac6es a comprovacao de hip6teses determinadas de antemao. Palpites originados no curso da investigacao, que nao podem ter implicac6es imediatamente 6bvias par •• urn sistema te6rico mais amplo, podem resultar nn descoberta de uniformidades emp~ricas que podem ser mais tarde incorporadas a uma teoria. Por exemplo, na sociologi~ do comportamento politico, fi· cou recentemente comprovado que, quanto maior 0 numero de press6es sociais a que estao sujeitos os eleitores, menos interesse demonstram numa eleicao pres'dencial. (P. F. Lazarsfeld, Bernard Berelson e Hazel G~,udet, The People's Choice [Nova Iorque: Duell, Sloan & Pearce, 1944], 56-64). ~ste resultado, totalmente imprevisto quando se formulou pel a primeira vez a pesquisa, pode perfeitamente originar novos rumos de investigacao sistematica dt. conduta poHtica, embora nao esteja ainda integrado numa teoria generalizada. A investigacao emp'irica frutifera nao somente comprova hip6teses teoricamente derivadas, como tambem dB. origem a hip6teses novas. Isto pode ser Chfr da pesquisa, ou seja, a desco· mado 0 componente de "serendipidade" ("serendipity") berta por casualidade ou sagacidade, lle r,esultulos valid os que nao eram procurados.
c dirigida, a explicagao racional obterem os resultados.
dos resultados
formula-se antes de se
o segundo tipo de generalizagao socio16gica, a chamada lei cientifica, difere da anterior, na medida em l';,'I.1e e enunciado de uma invariabilidade derivavel de uma teoria. A escassez de tais leis no terreno da sociologia talvez reflita a bifurcagao existente entre a teoria e a pesquisa empirica. Apesar dos muitos volumes que tratam da hist6ria da teoria sociol6gica e apesar de uma pletora de investigagoes empiricas, os socio' logos (inclusive 0 autor) podem dlscutir os criterios das leis sociol6gicas sem citar urn s6 exemplo que satisfa~a plenamfmte a esses criterios. 19 Estao longe de fazer falta as aproxima~oes a esses criterios. Para dar urn exemplo das relagoes das generaliza~oes empiricas com a teoria e formular a:: fungoes da teoria, pode ser uti! examinar urn caso familiar em que essas generalizagoes foram incorporadas num corpo de teoria substantiva. Assim, faz rnuito tempo que ficou estabelecido, como uniformidade estatistica, que em varios povos, os cat6licos tern uma porcentagem de suicidios inferior ados protestantes.20 Desta maneira, a, uniformidade colocava Jam problema te6rico. Constitulria simplesmen· te UUla. regularidade empirica que seria import ante para a teoria, samentc se pudesse ser derivada de urn conjunto de outras proposir,;oes, e a esta tare fa se dedicou Durkheim. Se enunciarmos de um modo formal suas suposigoes te6ricas, torna-se claro 0 paradigma da sua analise te6rica: 1. A coesao social proporciona apoio psiquico a individuos dos grupos que se acham submetidos a tens6es e ansiedades agudas. 2. 05 indices de suicidios estao em funcao de ansiedades e tens6es nao aliviadas, as quais as pe.s3uas estao submetidas. 3 Os cat6licos tern uma coesao social maior que os protestantes. 4. Portar.to, poderia ~~ preyer uma proporcao :uenor de suicidios entre os cat6licos do que entre os protestantes.2l
Este caso serve para assinalar a posic;ao das generalizagoes empiri· cas em re1agao com a teoria e para ilustrar as diferentes funcoes da teoria. J~. Ver, .\Jor exemplo, 0 estudo de George A. T.undberg, "The c,mcept of la.w in socIal sciences", rhilosophy of Science, 1938, 5, 189-203, Que afirma a possibilidade de ditas le:s. sem
expor nenhum caso oportuno. 0 livro de K. D Har, Social Laws. (Chapel Hill: Unlve~sity of North Carolina Press, 1930), nao cumpre a promessa implicita em seu titulo. Urn grupo de cicntistas socials que estuda a pO~'_lbilidade de forrnular leis sociais, acl1~ dificil apresentar exemplos (Blu-ner, op. cit., 142·50). 20. Nao e necessario dizer que esta aIirmacao sup6e que a educacao, os rei'dimentos, a nacionalidade, a residencia urbana ou rural e outros fat6res que poderiam alterar es,e resultado se mantiveram iguais. 21. Nao precisamos examinar outros aspectos deste exemplo tais como: (1) a medida em que temos enunciado adequac1amente as premiss as implicitas n~ interpretacao de Durkheim; (2) a analise te6rica suplementar que tomaria essas premissas, nao como fornecidas, m&.s como problematicas; (3) as bases nas quais se detem num ponto e nao. em
1. Indica que a pertinencia te6rica na.o esta intrinsecamente presente nem ausente nas generalizagoes empiricas, mas que aparece quando .a generalizagao e conceituada em abstragoes de carater mais eleva do (ca,t.olicismo - coesao social - ansiedades aliviadas - indice de sUiciddios) ..que estao incorporadosem enunciados mais gerais de relagoes.22 0 que ,lnicialmente se tomou como uma uniformidade isolada, enuncia-se como uma relagao, nao entre a filiaQao religiosa e 0 comportamento, mas entre grupos com certos atributos conceitualizados (coesao social) e 0 comportamento. 0 escopo dos achados empiricos originais amplia-se consideravelmentc e algumas unifol'midades aparentemente dispares, sur gem relacionadas entre si (diferengas nos indices de suicidio entre pessoas casadas e solteiras podem entao ser inferidas da mesma teoria). 2. Uma vez estabelecida a aplicabilidade te6rica de uma uniformidl1,de,deduzindo-a de urn grupo de proposigoes relacionadas entre si, teremos 0 necessario para a acumular;;ao, tanto da teoria como dos resultados da pesquisa. As uniformidades diferenciais na proporgao dos suicidios confirmam ainda mais 0 grupo de proposigoes do qual se derivaram essas E' outras uniformid:::des. Esta e uma das principais fungoes da teoria sistematica. 3. Ao passe que a uniform.idade empirica nao conduz por si mesma
a inferir dtversas consequencias, a reformulagao da origem a consequen'Cias diferentes, em campos de conduta completamente afastados daque1e da conduta suicida. Por E'xemplo, pesquisas sabre 0 comportamento obsessivo, as preocupagoes m6rbidas e outras condutas inadaptadas revelaram que tadas elas devem estar relacionadas com falhas na coesao do grupo.23 A conversao de uniformidades empiricas em enunciados 1re6ricos aumenta, pois, a tecundidade oa investigac;;ao mediante a exploragao S11cessiva de implicagoes. 4. Ao proporcionar uma f'xplicagao racional, a teoria oferece uma base para a predir;;ao, mais segura que a simples extrapolagao empirica de tendenr.ias observadas anteriormente. Assim, se medidas independentes indtcassem uma queda da coesao social entre os cat6licos, 0 te6l'ico poderia predizer uma tendencia ao aumento do indice de suicidios outro a regressao em potencia infinita das intp.rplcta~6es te6ricas; (4) os problemll6 implicitos na introdu~ao de variaveis intervenientes, tais como a coesao social, que nao sac medid~ em forma direta; (5) a medida em que as premissas foram empiricamelll.l! eonfirma,das; (6) 0 nlvel, ate certo ponto baixo de abstra~ao, representado por est! txem· plo; e, (7) 0 fate de que Durkheim deduziu varias generaliza~6es empiricas deste mesmo conjunto de hip6teses. :22. Thorstein Veblen expos isto em sua tipica e vigorosa linguagem: "Tudo isto pode parecel' Mr..s os dados relacionados com que se estu tendo muito trabalho por banalidades. qualquer pesquisa cientifica tambem sao banalidades, quando sac considerados sob 'Q.ualquer outro aspecto que aquele em que sao relevantes". The Place of Science in Mo· dern Civilization (Nova Iorque: Viking Press, 1932), 42. :23. Ver, par exemplo, Elton Mayo, Human Problems of an Industrial Civilization (Nova lor· ,que: Macmillan Co., 1933),113et passim. A arma~ao te6rica utilizada nos estudos de mo· ral industrial, feitos por Whitehead, Roethlisberger e Dickson se originaram, em boa par.te, des formula~6es de Durkheim, conforme contessam os autores cit;:,dos.
nesse grupo. 0 empirico nao te6rico nao teria, porem, outra alternativa senao predizer na base da extrapolaQao. 5. A Hsta precedente de fungoes pressupoe mais urn atributo da tearia que nao concorda completamente com a formulagao de Durkheim e que ds. origem a urn problema geral que tern especial mente acossado a teoria socia16gica, pelo menos ate 0 presente. Se a teoria pretendB ser fecunda, tern que ser suficientemente precisa para ser determinada. A r.recisao e urn elemento integ~al do criterio de comprobabilidade ("testability"). A pressao eX1stente para a utilizagao sempre que seja possive!. de dados '3statisticos na sociologia, para controlar e comprovar inferenrias te6ricas, tern uma base justificavel, c.esde que consideremos 0 papel :6gico da precisao na pesquisa disciplinada. Quanta mais precisas forem as inferencias (prediQoes) que possam fer tiradas de uma teoria, menor sera a probabilidade de que outras hiv6teses sejam adequadas para essas predigoes. Em outras palavras, as predigoes e os dados precisos servem para reduzir os efeitos empiricos exercidos ~abre a pesquisa pel a fallicia logica de afirmar 0 consequente.24 Sabe-se que predigoes que se verificam derivadas de uma teoria nao provam ou demonstram essa mesma teoria; apenas fornecem um~ medida de confirmagao, pois e sempre possivel que outras hip6teses, tiradas de sistemas te6ricos diferent>?s, possam explicar tambem os fenamenos preditos. 25 Mas as teorias que lidmitem teorias precisas con firmadas pela observagao, assumem importancia estrategica, ja que proporcionam uma base inicial pari\, a escolha entre hip6teses competitivas. Em outras palavras, a precisao reforga a probabilidade de aproximar-se de uma observagao ou de uma experHincia "d.ecisivas". A coerencia interna de ump. teoria tern uma fungao muito parecida, porque se €xtraem de' urn sistfJma te6rico diferentes conseqiiencias empi· ricamente confirmadas, isto reduz a probabilidade de que teorias competitivas possam explicar de maneira adequada os mesmos dados. A teoria unificada sustenta uma medida de confirmagao maior do que acontece com hip6teses diferentes e sem relagao entre si, acumulando assim maior valor probat6rio. logicamente falaz: 24. 0 paradlgma da "prova pela predi~ao" e, naturalmente, Se A (hipl\tese), entao B (predi~ao). B e observado. Fortanto, A e certo Isto nao e muito perturbador para a investi!!a~ao cientifica., porquanto s6 resultam afe· tados outros criterios que os formais. 25. E oportuno lembrE>r que diferentes te6ricos predisseram a guerra e conflitos mort,i· teros em grande escEola para meados deste seculo. Sorokin e alguns marxistas, por exemplo, tormularam esta predi~ao baseados em sistemas te6ricos completamente dife· rentes. A eclosao real de conflitos em larga escala nao nos permite por si s6 escolher entre os sistemas de analise, mesmo porque 0 tato observado p congruente com os dois . .S6mente se as predi~6es houvessem sido tao especlficas e tao precisas, de modo que os acontecimentos reais tivessem coincidido com uma predi~ao e nao com a outrllo, ter· ·se·ia estabelecido uma comprova~ao determinada.
Ambas as press6es - rumo a precisao e rumo a coerencia logica podem cOEduzir a uma ativide.de improdutiva, especialmente nas ciendas sociais. Pode-se usar e tambem abusar de qualquer procedimento. Uma insistencia prematura sabre a precisa.o a qualquer custo pode esterilizar hipoteses imaginativas. Pode levar a uma reformula<;ao do problema cientifir:o a fim de tornar 2plicavel a medida, disso resultando, as vezes, que os materiais subsequentes nao tenham rela<;ao com 0 problema :nicialmente proposto. 26 Ao buscar a precisao, e necessario cuidar de nao perder de vista, inadvertidamente, problemas importantes. Da mesma maneiw, a pressao para a ronsistencia logica induziu as vezes a logomaquia e a teoriza.C;aoesteril, na medida em que at'! suposi<;6es contidas no sistema de analise estavam muito afastadas das referencias empiricas ou envolviam abstra<;6es tao liutis que nao permitiam a pesquisa empirica. 27 Mas a garantia de tais criterios de pesquisa nao esta viciada por tais abusos.
Esta resumida exposi<;ao serviu, pelo menos, para salientar a necessidade de uma rela<;ao mais estreita entre a teoria e a investigac;ao empirica. A divisao que prevalece atualmente entre as duas manifesta-se em marcantes descontinuidades na pesquisa empirica, por urn lade, e numa teoriza~ao sistematica nao apoiada em testes empiricos, por outro lado. 27a E notorio que ha poucos exemplos de pesquisa consecutiva que haja investigado acumulativamente uma sucessao de hipoteses derivadas de uma dada teoria. Muito ao contrario, parece haver uma marc ad a dispersao de investigag6es empiricas, orientadas para um campo concreto da conduta humana, mas carecendo de uma orienta<;ao teorica central. A pletora de generaliza<;6es empiric as descontinuas e de interpreta<;6es post factum refletem esse tipo de investiga<;ao. 0 grande volume de orienta<;6es gerais e de analises conceptuais, enquanto distintas de conjuntos inter-relacionados de hipoteses, reflete por sua vez a tendencia a uma atividade teorica separada da investigagao empirica. E urn lugar-comum que a continuidade e nao a dispersao, so pode ser conseguida quando os estudos empiricos sac orientados pela teoria e quando, por sua vez, a teoria e empiricamente confirmada. Todavia, e possivel ir mais alem dessas afirma<;6es e sugerir certas conven<;6es para a pesqui26. Stuart A. Rice comenta esta tendencia na investiga~ao da opiniao publica, como se pode ver em Eleven Twenty-six: A Decade of Social Science Research, ed. Loui~ Wirth (Chicago: University of Ohicago Press, 1910), 167. 27. E. Ronald Walker refere·se a esta pratica" no campo da economia denominando-a 'praga te6rica". From Economic Theory to Policy (Chicago: University of Chicago Press, 1943), Cap. IV. 27a. Veja-se a respeito 0 impressionante exemplo de tal descontinuidade citado no Ca.pitnlo 1 (ou seja, 0 redescobrimento recente do grupo primario nas associa~5es formais !CJgumas dtkadM depois de ter ~ido detalhadamente estudado por Thomas e Znaniecki).
sa sociologic a, que poderiam facilitar bastante este processo. Estas conven<;6es podem ser chamadas "deriva<;ao formalizada" e "codificac;ao".28 Tanto no projeto como na exposi<;ao de investiga<;6es empiricas, pode-se estabelecer uma convenc;ao definida de que sejam explicitamente formuladas as hipoteses e, sempre que possivel, seus fundamentos teoricos (suposi<;6es e postulados) A rela<;ao de dados seria feita em termos de sua aplica<;ao imediata as hipoteses e, derivadamente, a teoria. subjacente. A aten<;ao deveria ser orientada, de. forma especifica, sabre a introdu<;ao de variaveis interpretativas, diferentes das implicitas, na formUla<;ao original das hipoteses e 0 efeito destas sabre a teoria deveria tambem ser indicado. As in~erpreta<;6es post factum que sur gem inevitavelmente quando Se descobrem novas e inesperadas rela<;6es, deveriam ser enunciadas de maneira a tomar evidente a dire<;ao da investiga<;ao posterior de prova. As conclus6es da pesquisa poderiam muito bem incluir, nao s6mente uma exposi<;ao dos resultados a respeito das hipotfses iniciais, mas tambem, quando fa sse oportuna, a indica<;ao da ordem de observag6es necessarias para comprovar outra vez as novas implica<;6es da pesquisa. Uma deriva~ao formal deste tipo tern tido efeitos sa· lutares na psicologia e na economia, conduzindo, no primeiro caso, a experiencia;;; em serie29 e, no segundo, a uma serie articulada de pesqui· sas. Uma consequencia de tal formaliza<;ao e que ela serve de contrale sabre a introdu<;ao de interpret~<;6es sem rela<;ao entre si, indisciplinadas e difusas. Nao imp6e ao leitor a tare fa de indagar das rela<;6es entre as interpret.a<;6es incorporadas ao texto. 30 Acima de tUdo, prepara 0 caminho para a pesquisa consecutiva e acumulativa e nao para urn amontoado fragmentario de investiga<;6es dispersas. o processo correlativo que parece indicado e 0 que Lazarsfeld chama de "codificac;ao". Ao passe que a deriva<;ao formal focaliza nossa atenQao sabre as implica<;6es de uma teoria, a codifica<;ao IJrocura sistematizar as generaliza<;6es empiricas disponiveis, em esferas do comportamento aparentemente diferentes. Antes de permitir que esses resulta. dos, empiricamente separados, fiquem abandonados au sejam relacionados a zonas diferentes de conduta, a inten<;ao deliberada de estabelecer
28. Sem duvida,essas
conven~5es sac dedu~ao e indu~ao, respectivamente. Nosso unico intento, neste passo, e traduzir os procedimentos 16gicos em termos apropriados parr, a investiga~ao e a teoria socio16gica atuais. 29. E notavel, a este respeito, a obra de Clark Hull e seus colaboradores. Veja-se, por exemplo, Principles of Behavior, de Hull (Nova Iorque: D. Appleton-Century Co, 1943): e:;for~os tambem comparaveis, no rumo da formallza~ao, nl:08 obras de Kurt Lewin, por exemplo, Studies in Topological and Vector Psychology, I, por Kurth Lewin, Ronald Lippit e S. K. Escalona ["University of Iowa Studies in Child Welfare", Vol. .XVI (Iown City, 1940), 9-42)30. Um livro como Caste and Class in a Southern Town, de John Dollard, e rico de suges· t5es, mas constituiu tarefa enorme para 0 leitor formular explicit:;,mente os problemas te6ricos abordados, as variaveis interpretativas e as suposi~5es implicitas nas inter preta~5es. Mas e necessario fazer tudo isso, se 0 que se tem em vista e uma sucessao de estudos baseados na obra de Doll&J'd.
hip6teses pl'ovis6rias aplicaveis promete ampliar a teoria existente, sUJe!ta a ulteriores pesquisas empiricas. Assim, muitos resultados empiricos, ontidos em terrenos tais como a propaganda e a opiniao publica, as reagoes perante 0 desemprego e as reagoes das familias ante as crises, indiearn que, quando os individuos se encontram diante de urn "padrao de estimulo objetivo", do qual se esperava que produzisse reagoes contrarias as suas "predisposigoes iniciais", seu comportamento real pode ser melhor predito na base de predisposigoes do que de "padroes de estimulos". Isto esta implicito nos "efeitos de bumerangue" da propaganda,31 nas conclusoes sabre as reagoes ajustadas ou desajustadas ao desemprego,32 e pela pesQuisa sabre a estabilidade das familias que enfrentam graves redugoes em seus rendimentos.33 Uma formulagao codificada, embora tao t6sca como esta, origina problemas te6ricos que facilmente passariam in adfossem examinados vertidos se os diferentes resultados empiricos nao dentro de urn mesmo contexto. Nossa opiniao e que a codificagao, como procedimento que complementa a derivagao formal de hip6teses a serem comprovadas, facilitara 0 desenvolvimento paralelo de uma teoria SQ. cio16gica via-vel e de umlt pesquisa empirica pertinente.
31. Pau: F. Lazarsfeld e Robert K. Merton, "Studies in radio 20Ildfilm propaganda", Tran. sachons of the New York Academy of Sciences Series II 1943 6 58-79 32 O· " " . . E' M. Hall, "Attitudes and unemployment", Archives of Psyrhology, N.o 165 (mar~o de 1934); '. W. Bakke, The Unemployed Worker, (New Haven: Yale University Press, 1940). 33. Mirra Komarovsky, "The Unemployed Man and His Family (Nova. Iorque' Dryden Press 1940); R. C. Angell, The Family Encounters the Depression (Nova IOrque; Charles Scrib: ner'S Sons, 1936); E. W. Burgess, R. K. Merton e outros, Restudy of the Documents Analyzed by Angell in the Family Encounters the Depression (Nova. Iorque: Social SCience Research Council, 1942).
v
INFLUENCIA DA PESQUISA EMPfRICA SaBRE A TEORIA SOCIOL()GICA
A
HIST6RIA TEM CERTO DOM para tornar antiquados os cliches. E 0 que se pode cons tatar, por exemplo, no desenvolvimento hist6rico da sociologia. 0 cliche do te6rico social planando no empireo das ideias puras nao contaminadas pelos fatos mundanos esta ficando rapidamente nao menos antiquado que 0 cliche do pesquisador equip ado com urn lapis e urn questionario, entregue apaixonadamente a caga de estatisticas isoladas e insigniticantes. Pois ao levantar a mansao da sociologia nas ultimas decadas, 0 te6rico e 0 empirico aprenderam a trabalhar juntos, Ainda mais, aprenderam a dialogar durante 0 trabalho, As vezes, isto apenas significa que 0 soci610go aprendeu a falar a si mesmo, ja que, cada vez mais, 0 mesmo individuo se tern encarregado, simultaneamente, da teoria ·e da pesquisa. A especializagao e a integragao se desenvolveram de maos dadas. Tudo isto levou a conclusao de que, nao somente a teoria e a pesquisa deviam agir influenciando-se mutuamente mas que, de jato, trabalhavam mutuamente. Em consequencia, decresce a necessidade de que as exposigoes acer,ca das relagoes entre a teoria e a pesquisa tenham urn carater totalmente programatico, Urn volume crescente de investigag6es orientadas a teoria faz com que seja cada vez mais possivel estudar as relac;;oes reais entre uma e outra. Como todos sabemos, tais estudos nao escasseiam, Sao fartamente encontrados nas revistas. Em geral, giram em torno do papel da teoria na investigac;;ao, formulando, as vezes com grande lucidez, as fungoes da teoria da iniciagao, designio e prosseguimento da pesquisa empirlca. Mas como esta nao e uma relagao numa s6 diregao, senao que as duas se influem mutuamente, talvez seja ilti! examinar a outra diregao da relagao: 0 papel da investigagao empiric a no desenvolvimento da teoria social. Tal e 0 prop6sito deste capitulo.
AS FUN<;;6ES TE6RICAS
DA INVESTIGA<.;AO
Com algumas not6rias excegoes, os estudos sociol6gicos recentes tem indicado apenas uma fungao importante da investigagao empirica: a comprovagao Oll verificagao de hip6teses. 0 modele para a maneira apropriada de executar essa fungao e tao familiar quanto claro. 0 pesquisador eomega com um palpite ou hip6tese, dai tira varias inferencias as quais sao, por sua vez, submetidas a uma comprovagao empirica que confirma ou refuta a hip6tese. 1 Mas este e um modelo 16gicQle, por isso, deixa de relatar 0 que realmente ocorre numa investigagao frutifera. Apresenta. um conjunto de normas l6gicas e nao uma descrigao da experiencia investigadora. E, como os 16gicos sabem muito bem, ao purifiear a experien. cia 0 modelo l6gico pode tambem deforma-Ia. Da mesma forma que outros modelos, abstrai-se da sequencia temporal dos acontecimentos. Exagera 0 poder criador da teoria explicita, ao mesmo tempo em que reduz ao minimo 0 papel criador da observar;ao. Pois a pesquisa nao e simplesmente a l6gica misturada com a observagao. Possui suas dimensoes psicol6gicas da mesma forma que suas dimensoes l6gicas, embora mal se pudesse suspeitar tal coisa, em vista da ordenagao logicamente rigorosa a que costuma se expor a investigagao.2 Sao justamente as pressoes psico· 16gicas e l6gicas da investigagao sabre a teoria social 0 que nos propomos investigar. Minha tese central e que a pesquisa empiric a vai muito alem do pa· pel passivo de verificar e comprovar a teoria: faz mais que confirmar ou refutar hip6teses. A pesquisa desempenha um papel ativo: realiza pelo menos quatro fungoes importantes, que ajudam a dar forma ao desenvolvimento da teoria: inicia, reformula, desvia e clarifica a teoria.3
(0 DADO IMPREVISTO, AN6MALO E ESTRATEGICO EXERCE PRESSAO PARA INICIAR A TEORIA) Em determinadas condigoes, 0 resultado de uma investigagao da ori· gem a teoria social. Num trabalho meu, expus isto em forma breve demais, nos scguintes termos: "A pesquisa empirica frutifera nao somente comprova hip6teses teoricamente derivadas, como tambem da origem a hip6teses novas. Isto pode ser chamado 0 elemento de 'serendipidade' da Ver, por exemplo, a revisao de procedimentos em "Theory of intervening opportunities", de G. A. Lundberg, em "What are sociological problems?", American Sociological Re. view, 1941, 6, 357·69. 2. Ver R. K. Merton, "Science, population and society", The Scientific Monthly, 1937, 44, 170·71; 0 oportuno estudo de' Jean Piaget, Judgment and Reasoning in the Child (Lon· dres, 1929), capitulos V e IX, e 0 cornentario de William H. George: The Scientist in Action (Londres, 1936), 153: "Urna pesquisa nao progride do modo em que esta 'descrita para a pUblica~ao·. 3. A quarta fun~ao, clarific~ao, foi desenvolvida por Paul F. :::"z.zarsfeld,em diversas re·· vistas.
I.
investigagao, au seja, a descoberta, por casualidade ou por sagacidade, de resultados vaJidos que nao eram procurados".4 o padrao de "serendipidade" 4a se refere a experiencia bastante comum da observagao de um dado imprevisto, an6malo e estrategico, que se t1rans-' forma em causa para 0 desenvolvimento de nova teoria ou pela ampliar;ao de uma teoria ja existente. Podem ser descritos rapidamente cad a um dos elementos deste tipo. 0 dado e, ante:-sde mais nada, imprevisto. 4. R. K. Merton, ~Sociological Theory", American Journal of Sociology, 1945, 50, 469n. a interessante notar que est a mesmli estranha palavra "serendipity" que tivera pouca circula~iio desde que fora cunhada em 1754 por Horace Walpole, tenha sido empregada para referir-se a este componente da investiga~iio pelo fisi610go Walter B. C60nnon. Ver sua obra Thc Way of an Investigator (Nova Iorque: W. W. Norton, 1945), Cap. IV, onde cita numerosos exempios de serendipidade em diversos campos da ciencia. !a. Depois que a nota precedente foi escrita em 1946, a palavra "serendipity", com toda SUI; curiosidade etimol6gica difundiu-~e muito filem dos limites da comunidade academica. A notiwel rapidez da sua difusao pode ser constatada nas paginas do New York Times. Em 22 de maio de 1949, Waldemar Kaempffert, redator de ciencias do Times, teve ocasiao de referir-se a serendipidade, ~o resumir urn artigo do cientista pesqui. sador Ellice McDonald, numa das paginas internas e muito escondida, dedicada aos mais recentes desenvolvimentos da ciencia. Umas tres semanas mliis tarde, ou seja, em 14 de junho, Orville Prescott, da sec~ao literaria do diario Times, mostrou-se evidentemente cativado pela. palavra pois, na critica de urn livro em que 0 her6i e admirador fanatico de palavras estranhas, Prescott pergunta. a si mesmo se 0 protagonista de 1949, serendipity ganha conhecia a palavra serendipity. No dia da. Independencia completa aceita~ao social. Liberada dos parenteses e sem necessitar de uma frase que a defina, a palavra serendipity aparece, sem justifica~ao nem adere~os, nfi primeira pagina do Times. Chegz, a essa importll.ncia nu!!!a noticia de Oklahoma City, que resume um discurso de "Sir" Alexander Fleming, descobridor da penicilina, na inaugu· ra~ao da Oklahoma Medical Research Foundation. ("As experiencias de 'Sir' Alexander, que resultaram no descobrimentc de drogf.os modernas contra enfermidades mortais diz a noticia sob a responsabilidade de Robert K. Plumb - sao freqilentemente citadas como exemplo not{wel da importll.ncia da serendipity na ciencia. Ele descobriu a pen icilina por casualidtode, mas estava bem preparado para buscar sentido aos acidentes cientificos"). Nessas viagens, desde a pagina esoterica dedicada a ci,"ncia ate as colunas rnais abertas das revistas de livros e ~te as manchetes populares da primeira pa· gina a palavra chegou a adquirir carta de naturaliza~ao. Tf.Jve. nao tarde a abrir caminho nos dicionarios escolares norte-arnericanos. E este mais urn caso em que uma palavra, lnadequada muito tempo para a llnguagem comum, foi recuperada e usada com bastante freqUencia. (Compare·se com :\ nota 6 do Capitulo IV, que se refere a hist6ria semelhante de outro termo, a anomia). E mais uma vez se pode perguntar: que e que explica a ressonancia cultural que tem tido, nos ultimos anos, est a palavra inventad." de som esquisito, mas util? Elinor G. Barber e eu estarnos estudando quest6es dessa ordern, num estudo monogratico sobre a sem€mtica sociol6gicE. impllcita na difusao cultural da palavra serendi· pity. 0 estudo examina os contextos sociais e culturais da cunha gem da palavra no seculo XVIII; 0 clima de opiniiio adequado em que, pela primeira vez, foi impressa no seculo XIX; fuS rea~6es diante do neologismo quando foi lido pel a primeira vez; os diversos clrculos sociais de literates, flsicos e cientistas sociais, engenheiros, lexic6· grafos e historiadores em que se difundiu; as mudan~as de sentido que sofreu no curso da sua difusao e os usos ideol6gicos a que foi submetida. N. do trad.: Conforme 0 "New Standard Dictionary of the English Language", de Funk e WAlgnall, userendipity" significa 0
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Uma pesquisa destinada a testar uma hip6tese faz nascer urn subproduto fortuito, urn[\, observa(;ao inesperada que influi em teorias que nao se haviam tornado em conta 110 inicio da investiga(;ao. Em segundo lugar a observa(;ao e an6mala, surpreendente,5 porque parece contrastar com a teoria dominante ou com outros fatos ja estabe· lecidos. Em ambos os casos, a incongruencia aparente provoca curiosia.ade: estimula 0 investigador a "dar senti do ao dado", a situa-Io numa f'strutura mais ampla de conhecimentos. 0 pesquisador continua em suas explora(;oes. Extrai inferencias das observa(;oes, inferencias que, Quannaturalmente, muito dependem da sua orienta(;ao te6rica geral. to mais se embebe nos dados, maior e a probabilidade de que encontre uma dire(;ao frutffera para a investiga(;ao. Se 0 seu n6vo palpite resulta justificado, 0 dado an6malo conduz finalmente a uma nova teoria ou a amplia(;ao da existente. A curiosidade estimulada pelo dado an6malo fica temporariamente satisfeita. Em terceiro lugar, ao notarmos que 0 fato inesperado deve ser estrategico, isto e, deve permitir implica(;oes que influam s6bre a teoria generalizada, referimo-nos, e claro, mais ao que 0 observador poe no dado, do que ao dado em si, pois e evidente que se requer urn observador te6ricamente sensibilizado ao descobrimento do universal no particular. Afinal de contas, os homens assinalaram, seculos a fio, ocorrencias tao "banais" como os lapsus linguae, os lapsus ,calami, os erros tipograficos e as falhas de mem6ria, mas foi necessaria t6da a sensibilidade te6rica de urn Freud para ver, nisso tudo, dados estrategicos, mediante os quais ele p6de amp liar sua teoria da repressao e dos atos sintomaticos. o padrao de "serendipidade" implica, pois, 0 dado imprevisto, an6ma10 e estrategico que exerce pressao s6bre 0 pesquisador, para que de n6vo rumo a pesquisa, a fim de ampliar a teoria. Casas de "serendipidade" tem-se dado em muitas disciplinas, mas citarei como exemplo 0 de uma investiga(;1i.o sociol6gica recente. No curso de nossa investiga(;ao da organiza(;ao social de Craftown,6 bairro suburbano de umas 700 famflias, em sua maioria da classe trabalhadora, constatamos que grande porcentagem de residentes estavam tiliados a maior numero de organiza(;oes civicas, politicas e outras de tipo voluntario, do que em seus anteriores luga· res de residencia. De modo inteiramente acidental, verificamos tambem que 0 aumcnto da participa(;ao em grupos atingia tamMm os pais de crian(;as pequenas. Este fate contrastava bastante com as ideias aceitas au de sentido comum, pois se sabe perfeitamente que, particularmente nos ambientes de nivel econ6mico mais baixo, as crian(;as pequenas costumam pTl'nder os pats, impedindo-os de tomar parte nas atividades orga· 5. Charles Sanders Peirce ja h~.via assinalado, muito antes, 0 papel estrategico do "fato surpreendente", ao expor 0 que {He chamava de "abdu<;ao", isto e, ::. iniciagao earns· nutengao de uma hip6tese como urn passe na inferencia. Ver seus Collected Papcrs, VI, 522-528.
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Tirados de uma serie de estudos sabre a sociologis e a psicologia social da habitagao efetuados mediante uma subvenglio outorgada pela Funda<;ao Lav::.nburg.
nizadas de grupos, fora de casa. Mas os pais de Craftown explicaram muito factlmente sua conduta: "Oh!, nao ha problema para a gente sair a noite, - declarou uma mae que pertencia a varias organiza(;oes. E facH encontrar mocinhas que cuidem das Crian(;8S quando precisamos sa1r a noite. ,Ha muito maior numero de mocinhas aqui do que onde vivia. mos antes". A explic::>.(;aoparece bastante adequada e teria satisfeito a curiosidade do investigador, se nao f6sse devido a um dado inquietante: como a maior parte dos bairros residenciais novos, Craftown tern, na realidade, numero muito pequeno de adolescentes: s6mente 3,7%, por exemplo, no grupo de idade de 15 a 19 anos. Ainda mais, 63% dos adultos tern me. nos de 34 anos, de modo que, entre seus filhos, ha uma ::;Jropor(;aoexcepcionalment,:. grande de bebes e crian(;as pequenas. Por isso, longe de haver muitas adolescentes para cuidar das crian(;as pequenas em Craftown, acontece exatamente 0 contrario: a propor(;ao dos adolescentes para com as crian(;as menores de dez anos e de 1 :10, enquanto que nas co.munidades de origem a propor(;ao era de 1: 1,5.7* Encontramo-nos, portanto, com um fate an6malo que certamente nao fazia parte do nosso program a de observa(;oes. E claro que nao entramos, nem poderiamos certamente faze-Io, no terreno das investiga(;oes em Craftown, com uma hip6tese relativa a uma cren(;a ilus6ria na abundanria de adolescentes para cuidar de crian(;as pequenas quando os pais vaG ao cinema. Foi uma observa(;ao imprevista e an6mala. Era tambem estratp-gica? Nao prejulgamos da sua importancia "intrinseca". Parecia nem mais, nem menos banal que a observa(;ao de Freud durante a Primeira Guerra Mundial, (na qual teve dois filhos na frente de combalte),: de que tinha lido mal um titulo de jornal: "Der Friede yon Gorz" (A pa~ de Gorz) em vez de Die Feinde vor Gorz" (0 inimigo diante de Gorz). A Freud tomou um incidente banal e 0 converteu em fato estrategico. menos que a discrepancia observada entre as impressoes sUbjetivas dos residentes de Craftown e os fatos objetivos sofresse uma transforma(;ao s.lgo parecida, era melhor ignora-Ia, porque tinha, sem duvida, pouca "importancia sociaL" o que primeiro transformou esta ilusao em caso intrigante de problema te6rico geral foi a dificuldade de explica·la simplesmente como produto calculado de "interesses criados", dedicados a divulgar uma crenGa contTllria aos fatos. Em geral, quando 0 soci6logo, com urn sistema conceitual nascido da teoria utilitaria, observa uma cren(;a social 7. Encontraremos essencialmente as mesmas discrepancias na distribuigao por idades ~ntre Craftown e as comunidades de origem, se compararmos as proporg5es de criangas (.Ie menos de 10 anos com as de 10 a 19 anos. Se tomarmos as cria.ngas de menos de 5 anos como base da comparagao, as desproporg5es ainda serao maiores. • N. do trad. 0 autor esteve referindo·se a urn costume muito difundido nos Estados mediante pequena remuneragao, t:'nidos, 0 "baby sitting", que consiste em contratar, uma mocinha, "baby sitter", para tomar conta de crian<;as pequenas, quando os pais 5aem a noite para ir ao cinema etc.
6bviamente falsa, procura grupos espeCIals em cujo interesse foi inven· t.ada e difundida aquela crenc;a. EnHio ele grit a "Propaganda!", quando u explicac;ao poderia ser dada por uma analise te6ricamente aceitavel. 8 Mas, no caso presente, isto esta completamente fora da questao: na verdade, nao ha grupos de interesses especiais que possam ser invocados pa· ra falsear a estatfstica etaria da populac;ao de Graftown. Qual era, en· tao, a origem dessa ilusao social? Varias outras teorias sugeriam pontos de partida. Havia 0 postulado de Marx, segundo 0 qual "a existencia social dos individuos e que determina suas consciencias". Havia 0 teorema de Durkheim de que as imagens sociais ("as representac;6es coletivas"), refletem de algum modo uma realidade social, embora isto "nao signifique que a realidade que the serve de base corresponda objetivamente a ideia que dela tem os crentes". Havia a tese de Sherif segundo a qual "fatares sociais" proporcionam uma ft.rmac;ao para percepc;6es e juizos seletivos em situac;6es relativamente estruturadas. Havia a opiniao predominante na sociologia do conhecimento, de que a localizac;ao social determina as perspectivas que entram na percepc;ao, nas crenc;as e nas ideias. Mas, por sugestivas que fossem essas orientac;6es gerais,9 nao indicavam, em forma direta, que rasgos da E'xistencia social, que 9.spectos da realidade social, que fatares sociais, que localizac;ao social pocham ter determinado aquela crenc;a aparentemente falaz. A pista foi dada, inesperadamente, por novas conversac;6es com resi.dentes. Gonforme as palavras de urna ativa participante da vida social de Craftown, mae de dois meninos menores de seis anos: Meu marido e eu saimos muito mals. 0 Sr. compreende, aqul tem mals gente para to· conta das crian~as. Tem-se mnis confian~a em cncontrar uma menina de trcze 8 ca~ torze anos, quando se conhece a maior parte da vizinhanf,>a. Quando a gente mora numa grande ddade, nao se fica tao tranqiiila deixando' entrar cm casa uma pessoa que e quase desconhccida.
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Isto mostra claramente que as raizes sociologicas da "Husao" devem ser procuradas na estrutura das relac;6es de comunidade a que pertencem os residentes de Craftown. A crenc;a e um reflexo inconsciente, nao da realidade e<;tatistica, mas da coesao da comunidade. Nao e que haja, objetivamente, mais adolescentes em Craftown, mas e que €lIes sac mais intimamente conhecidos e, portanto, existem socialmente para os pais que precisam de ajuda para cuidar dos filhos. A maior parte dos residentes de Craftown, tendo chegado ha pouco tempo de um ambiente urbano, encontra-se agora numa comunidade em que a proximidade entre vizinhos 8.
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fora de duvida que os "ir-teresses criados" espalham freqiientemente propaganda falsa, o que pode reforQar as i1usoes das massas. Mas as teorias dos interesses criados ou da3 mentiras eclesiasticas p~ra explicar falsas cren~as populares, nem sempre constituem 0 ponto de partida mais produtivo, nem servem muito para explicar os motivos da acei· ta~ao ou da rejei~ao das cren~as. 0 caso presente, embora seja praticamente b~al, e teOricamente import ante porque demonstra, mais uma vez, as Iimita~oes de um sistema utilitario de analise. As diferen~as entre teoria e orienta~oes ger9.is fora.m estudt.das no Capitulo IV.
produziu intimidades reciprocas. A Husao expressa 0 ponto de vista de pessoas para quem "existem" adolescentes como ajudantes potenciais para cuidar das crianc;as, somenw se sac bem conhecidas e, portanto, merecem confianc;a. Em resumo, a percepc;ao era uma func;ao da confianc;a, e a confianc;a, por sua vez, era func;ao da coesao Bocia!. 10 Do ponto de vista sociologico, pois, este resultado imprevisto se ene-aixa e amplia a teoria, segundo a qual a percepC;ao social e urn produto da estrutura social. Contribui para 0 desenvolvimento da "psicologia das normas sociais",l1 porque nao e simples mente urn caso de individuos assimilando normas particulares, julgamentos e padr6es de outros membros da comunidade. A percepc;ao social e, antes, um sUbproduto, um deril:ado, da ~strutura de relac;6es human as . Talvez seja isto sUficientc para ilustrar 0 funcionamento do padrao de serendipidade: um resultado inesperado e anomalo desperta a curiosidade do pesquisador e 0 conduz ao longo de uma senda que 0 leva a uma nova hipotese.
(OS DADOS NOVOS EXERCEM PRESSAO PARA A ELABORAQAO DE UM SISTEMA CONCE'PTUAL). Mas nao e s6mente mediante 0 fate anomalo que a investigaC;ao empirica convida a ampliar a teoria. Tambem 0 faz mediante a repetida ob5GrVac;aode fatos ate entao ignorados. Quando um sistema conceptual existente e comurnente aplicado a uma materia nao tom a suficientemente em conta os referidos fatos, a investigac;ao pression a com insistencia para que 5e the de nova formulac;ao. Isto leva a introduzir variaveis que nao foram sistematicamente inclufdas no sistema de analise. Deve-se no· tar que nao e que os dados sejam anomalos, ou inesperados, ou incompaLiveis com a teoria vigente; e apenas que nao foram consider ados pertinentes. Ao passo que 0 tipo serendipidade gira em tomo de uma incbnsistencia aparente que pressiona a favor de uma resoluc;ao, 0 tipo de re10. As fichas
catalogadas de,sse estudo proporclonam mals uma prava corroborativa. Em que vista d~ propor~ao excepcionalmente alta de crian~as pequenas, e surpreendente 54% dos pais afirmem que "em Craftown e mals facll conseguir pessoas que cuidem dos nossos fllhos quando queremos salr" do que em outros lugares em que tenham vlvldo; somente 21% diz que e mals dificll e os 25% restantes pensam que nao ha diferen~a. Os que procedem de comunidades urbans.s maiores e mals provavel que digam que e mals fa ell consegulr ajuda em Craftown. Alias, como serla. de esperar, os resldentes que estao mals estreltamente vlnculados com a vida de Craftown e que se amblentam melhor com 0 lugar, e mais provavel que julguem mz.ls facH encontrar dlta ajuda; 61% destes asslm acredltam, contra 50% dos que se identlficam com outras comunidades, ao passo que sOmente 12% acham-no mais dificll, em compara~ao com 26% do ultimo grup<,11. Fundamental nesse campo deve ser considerooo 0 llvro de Muzafer Sherif que traz ~sse titUlo, embora tendendo a ter somente uma, concep~ao algo llmitada dos "fatOres so· ci••is.... The Psychology of Social Norms (Nova Iorque, 1936).
Sociologia
formulaQao gira em tOrno do fate ate entao ignorado mas pertinente, que pressiona para a ampliaQao do sistema conceptual. Estao longe de eseassear exemplos disto na hist6ria da clencia social. Assim, uma serie de fatos empirieos novos levou Malinowski a incorporar elementos novos a uma teoria da magi a . Foram os s~u~ t.robriandeses, naturalmente, que Ihe deram a deixa para 0 aspecto dlstmtlvo dessa teoria. Quando aqueles ilheus pescavam na laguna interior aplicando 0 metodo que lhes inspirava eonfianQa, ficava assegurada uma pesca abundante e nao havia perigo algum. Nao existia inseguranQa, nem riseos intransponiveis. E ai, observou, Malinowski, nao se praticava a magia. Mas, na pesea em alto mar, de result ado incerto e graves perigos freqtientes, floreseiam os ritos magicos. Destas feeundas observa~oes originou-se sua teoria de que a crenQa magica surge para afastar as ineertezas nas atividades pratieas do homem, para reforQar a eonfianQa, reduzir a ansiedade, abrir caminhos de fuga num beco sem saida aparente. A magia foi interpretada como tecniea suplementar para se consegUir objetivos praticos. Foram estes fatos empiricos que sugeriram a incorporaQao de novas dimensoes as teorias anteriores da magia, especialmente nas relaQoes entre a magia e 0 fortuito, 0 perigoso e 0 incontroh\vel. Nao que \~sses fatos f6ssem incongruentes ou incompativeis com as 1eorias anteriores, mas porque os sistemas conceptuais nao os haviam tido sUficient.emente em conta. E Malinowski nao eomprovava uma hip6tese preconeebida; eriava uma teoria ampliada e aperfeiQoada sabre a base de dados empiricos sugestivos. Proeuraremos em nosso pr6prio pais outro exemplo dessa pressao dos dados empiric os para a refundiQao de uma teoria especifica. A pesquisa trata de um s6 easo espetacular de persuasao das massas: mediante emissoes de radio a intervalos repetidos durante dezoito horas, a estrela de radio, Kate Smith, vendeu grande quantidade de bonus de guerra no espaQo de Ul!l dia. Nao e minha intenQao expor por extenso a dinamica deste caso de persuasao de massas; 12 para nossos atuais prop6sitos, interessam-nos somente as implicaQoes de dois fatos que surgiram do estudo da questao. Antes de mais nada, no deeurso de entrevistas intensivas, muitos dos nossos informantes - nova iorquinos que haviam prometido comprar um bonus de Kate Smith - manifestaram completo desencanto pelo mundo da pUblicidade, pelos anUneios comerciais e pela propaganda. Senti am que estavam sendo manipulados e isto lhes desagradava. Opunham-se a, ser alvo de uma publicidade que adula, insiste e aterroriza. Opunham-se a ser arrastados por ondas de uma propaganda que procura impingir opinioes e aQoes que nao estao de aeordo com seus melhores interesses. Expressavam espanto diante daquilo que, na realidade e um tipo de Pseudo-Gemeinschajt: metodos sutis de vendas em que se finge interesse
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Teoria e Estrutura
pessoal pelo cliente, a fim de maneja-lo mais facilmente. Conforme disse um negociante varejista: "Em meu pr6prio neg6cio, posso ver como muitos individuos, em seus tratos comereiais, fazem gestos amistosos, de sinceridade e coisas parecidas, a maior parte dos quais e pura farsa". Per:tencentes a uma sociedade metropolitan a segmentada e altamente competitiva, nossos informantes descreviam urn ambiente de desconfianga mutua, de anomia, no qual os valores comuns ficavam submersos no charco dos interesses privados. A sociedade era considerada como arena de luta entre rivais na fraudulencia. Havia pouca crenQa na conduta de~interessada . Contrastando com tudo isto surgia 0 segundo fato: verificamos que a forQa persuasiva da campanha de Kate Smith para a compra de bonus sabre asses mesmos inform antes, fundava-se em grande parte numa firme crenQa na integridade e sinceridade daquela estrela de radio. E 0 resultado foi quase que 0 mesmo numa pesquisa de opiniao efetuada entre quase um milhar de nova-iorquinos. Oitenta por cento dos pesquisados acharam que Kate, em sua maratona de dezoito horas estava interessada exclusivamente na venda de bonus de guerra, enquanto que soment.e dezessete por cento acreditava que ela tambem se interessava em fazer sua promoQao pessoal, e despreziveis tres por cento pensavam que ela sa havia interessado primordialmente pel a pUblieidade resultante. Esta importancia dada a sineeridade de Kate e 0 que mais surpreende, no problema de pesquisar a formaQao de reputaQoes, pois ela apare'cia pelo menos em seis programas de radio, comercialmente patrocina·· dos, cada semana. Mas, embora a Smith se dedicasse, aparentemente, a.s mesmas atividades pUblicitariasexercidas por outras pessoas, era considerada pela maioria dos nossos informantes como a antitese direta de tudo 0 que representavam os demais anunciadores e estrelas. Segundo as palavras de urn seu admirador: "Ela e sincera e, na realidade, quer dizer tudo 0 que sempre diz. Com ela, nao se trata apenas de sentar-se perante 0 microfone, falar e falar mediante pagamento. E diferente das outras pessoas". Qual 0 motivo dessa crenQa esmagaoora na sinceridade da Smith? Indubitavelmente, a mesma sociedade que produz uma sensaQao de alienaQao e de afastamento, faz nascer em muitos individuos um desejo de seguranQa, uma vontade aguda de crer, uma fuga em direQao a fe. Mas por que a Smith se eonverte em objeto dessa fe, para tantos individuos geralmente desconfiados? Por que a consideram sincera os que procuram redimir-se dn falsidade? POl' que se aeredita que os seus motivos estaOl acima da avareza, da ambiQao e do orgulho de elasse? Quais sac as fontes sociopsicol6gieas desta imagem da Smith como encarnaQao da sinceridade? Entre as varias fontes, queremos examinar aqui a que mais diretamente se relaeiona com uma teoria da persuasao das massas. A pista nos e proporcionada pelo fato de que estao convencidos de seu patriotismo de-
sinteressado uma proporgao maior dos que ouviram seu programa para a venda de bonus de guerra, do que dos que nao 0 ouviram. Isto pare
I'intes no reconhecimento, primeiro com ma vontade e depois incondicional, da honradez de Kate Smith. A emissao ininterrupta serviu coAs palamo 0 cumprimento em agao de uma promessa em palavras. vras foram reforgadas pelas coisas que ela na realidade fez. A moeda das palavras foi aceita porque estava respaldada pelo ouro da conduta. Ademais, nao foi necessario que "0 lastro de ouro" se aproximasse d~ <1uantidade de "papel-moeda circulante" que podia garantir. Este estudo empirico sugere que a propaganda pelos fatos pode ser eficaz entre as pr6prias pessoas que desconfiam da propaganda por palavras. Onde existe desorganizagao social, anomia, valores antagonicos, encontramcs a "propagandite" levacta a proporg6es epidemicas. a mais provavel e que todo enunciado de valores seja descartado como "mera propaganda". As exortag6es sao suspeitas. Mas a propaganda pelos fa· tes desperta mais confianga. Mas os ouvintes podem tirar suas con· clus6es da agao e e menos provavel que sintam estar senda manejados. Quando os atos e as palavras do propagandista coincidem simbolicamente, estimula·se a crenga em sua sinceridade. Investigag6es ulteriores podem determinar se este tipo de propaganda e muito mais eficiente em sociedades que sofrem de anomia do que nas que estao mais plenamente integradas. Mas de maneira nao diferente no caso de Malinowski, isto pode ilustrar 0 papel da investigagao em sugerir novas variaveis que tenham de incorporar-se a uma teoria especifica.
(NOVaS M:ETODOS DE PESQUISA EMPfRICA EXERCEM PRESSAO A FAVOR DE NOVaS FOCOS DE INTERESSES TE6RICOS) Ate 0 momento, temos examinado 0 efeito da investigagao sobre a desenvolvimento de teorias particulares. Mas a investigagao empirica tam· bem afeta as tendencias mais gerais no desenvolvimento da, teoria. Isto Ocorre principalmente mediante a invengao de processos de pesquisa que tendem a trasladar os fOcos de interesse te6rico aos novos pontos de investigagao. As raz6es sao, em geral, evidentes. Afinal de contas, a teoria s6lida s6 prospera com uma dieta rica em fatos pertinentes, e os procedi· mento£ recem-inventados ajudam a fornecer os igredientes dessa dieta. 11:stesdados novos, que amiude nao eram disponiveis anteriormente, estimulam a formulagao de novas hip6teses. Alem disso, os te6ricos acham que suas hip6teses podem ser comprovadas imediatamente nas esferas em que se aplicaram tecnicas de investigagao apropriadas. Ja nao precir sam esperar que os dados se vaG apresentando fortuitamente - pesquisas destinadas a verificagao de hip6teses podem ser langadas de uma vez. A corrente de dados pertinentes aumenta 0 ritmo do avango em certas esferas da teona, enquanto em outras a teoria ,se ,estanea por falta de
observagoes suficientes, Em conseqtiencia, a atengao muda de objeto. Ao indicar que a descoberta de novos processos de investigagao seguem-se novos centros de interesse te6rieo, nao queremos dizer que s60 cresceI1(' mente ditos processos d-esempenhem um papel decisivo.l3 te . int€resse na teoria da propaganda como instrumento de controle social, por exemplo, e em grande parte uma resposta a situagao hist6rica cambiante, com seu antagonismo de grandes sistemas ideol6gicos, suas novas tecnologias de comunicagao de massas que abriram novos caminhos a propaganda e uma conseqtiencia dos generosos fundos de pesquisa distr1bufdos pelas gran des empresas e pelos gov-ernos interessados nessa nova arma de guerra, declarada ou nao declarada. Mas esta mudanga e tambem um subproduto de fatos acumulados, de que se pode dispor mediante processos de invengao recente e confessadamente ainda toscos, tais como 8 analise de conteudo, 0 painel tecnico e a entrevista concen· trada. Sao numerosos os exemplos de sse impacto na hist6ria recente da teoria social, mas s6 temos tempo para mencionar uns poucos. Assim, 0 interesse crescente pel a teoria da forma~ao do carater e da personalidade, em relagao com a estrutura social, muito se acentuou depois da introdugao de novos metodos projetivos; a prova ou teste de Rorschach, 0 teste de apercepgao tematica, as tecnicas Iudicas e a terminagao de histoAssim tambem a sociometria tecnica de rietas sac as mais conhecidos, Moreno e outros, e novos progressos na tecnica da "entrevista passiva", tem revigorado 0 interesse pela teoria das relagoes interpessoais. Tambem nasceu de ditas tecnicas a tendencia ao que se poderia chamar de "redescobrimento do grupo primario", particularmente na forma de interesse te6rico pelas estruturas sociais informais como mediadoras entre 0 individuo e as gran des organizagoes formais. jj:ste interesse encontrou expressao numa vasta literatura sabre 0 papel e a estrutura do grupo informal, por exemplo, em sistemas sociais de fabrieas, na burocracia e nas organiz~es politicas. Analogamente, podemos prever que a recente introdugao do painel tecnico - a entre vista rep-etida com 0 mesmo grupo de informantes - focalizara em seu devido tempo, de modo mais intenso, 8. atengao dos psic6logos sociais sabre a teoria da formagao de atitudes, a escolha entre divers as preferencias, os fatores da participagao na poUtica e os determinantes da conduta em casos de conflito entre os varios papeis que 0 indivfduo de'Ie exercer na sociedade, isto para mencionar apenas alguns tipos de problemas aos quais esta especialmente adaptada esta tecnica. o efeito mais dire to dos processos de investigagao sabre a teoria, talvez tenha sido result ado da criar;lio de estatfsticas socioI6gicas, organizadas em termos de categorias tearicamente pertinentes. Talcott Par13.Talvez nao seja necessarioacrescentar que esses processos,instrumentos e aparelhos dependem,por sua vez, da teoria anterior, mas isto nao altera SeUefeito estimulante sObre0 desenvolvimentoulterior da teoria,
sons observou que os dados numencos samente sac importantes do ponto de vista cientffico quando podem se encaixar em categorias analiticas, e que "uma grande quantidade de investigagoes atuais apresenta fatos de uma forma que nao pode ser utilizada por nenhum sistema analftico generalizado atual". 14 Estas censuras, que ate ha pouco eram bem merecidas, estao se tornando cada vez menos aplicaveis. No passado, 0 soci6logo tinha que tratar, em grande parte, com series_ pre-escolhidas de estaUsticas, reunidas em geral para fins nao sociol6gicos e, portanto, nao formuladas em categorias diretamente pertinentes a um sistema te6rico. Em conseqtiencia, pelo menas no que conceme a fatos quantitativos, 0 te6rico era obrigado a trabalhar com dados provis6rios, que apenas tinham relagao tangencial com seus problemas. Isto nao s6mente deixava larga margem de erro - recordemos os toscos indices de coesao social a que Durkheim teve que se ater -, mas tambem significava que a teoria tlnha que esperar para dispor em forma incidental, e as vezes quase easual, de dados pertinentes, Nao podia avangar rapidamente. jj:ste quadro comegou agora a mudar. o te6rico ja nao dep-ende quase exclusivamente da opiniao das repartiQ6es administrativas ou das agencias de bem-estar social, para a obten. 0 esbogo programatico formulado pol' C;ao dos seus dados quantitativos. Tarde 15ha mais de meio seculo, da necessidade de cstaUsticas na psicolOgia social, especialmente das relativas a atitudes, opinioes e sentimentos, converteu-s? em promessa plennmente cumprida. Assim tambem os pes· quisadores da organizagao da comunidade estao criando estaUsticas sabre a estrutura de classes, a conduta associativa e a formagao de camasrilhas, 0 que deixou sua marca nos interesses te6ricos. Os estudos etni· cos comegam a fornecer dados quantitativos que reorientam 0 te6rico. Pode-se supor com certeza que a enorme acumulagao de materiais socio16gicos durante a guerra - esp€cialmente pela Secgao de Pesquisa da Divisao de Informagao e Educagao do Ministerio da Guerra dos E. U. A. -, materiais que, em parte, sac resultantes das novas tecnicas de pesquisa, intensificar{:, 0 interesse pela ~:eoria do moral de grupo, a propaganda e a lideranga. 15a Talvez seja desnecess3rio mUltiplicar exemplos. o que temos dito nao significa que a acumula~ao de estaUsticas por si mesma faga progredir a teoria; significa que 0 interesse te6rico ten de a cleslocar-se para as zonas ricas de dados estatfsticos pertinentes. 1511 Alias, estam.os apenas chamando a atengao sabre essa mudanga de enfo14. Talcott Parsons,"The role of theory in social research", AmericanSociologicalReview, "... no camposocial a informagaoestatfsticadisponivele de urn nivel que nao se pede ajustz.r diretamente nas categorias da teoria analitica". 15. GabrielTarde, Essaiset melangessociologiques (Paris, 1895),230·270. 15a.Tal parece ser 0 caso, agora que foi publicllo<1o The AmericanSoldier,por S. A. stouffer e outros. 150.as dados estatisticos.tambem facilitam sUficientepreeisao na pesquisa.,para subme· te'r a teoria a determina:lasprovas; ver 0 estudodas fungoesda precisaono CapituloJ!.
que, mas n8,0 a estamos avaliando. E possivel que as vezes desvie a atenf;ao para problemas que, num sentido te6rico ou humanista, nao sac importantes; tambem e possivel que afaste a atengao a problemas de grandes implicag6es, levan do-a para outros para os quais existem promessa.s de solug6es imediatas. Na falta de urn estudo detalhado, e dificil chegar a uma estimagao geral deste ponto. Mas a norma em si mesma parece bastante clara em sociologia como em outras disciplinas; a medida que disp6em de novos dados, com os quais anteriormente nao contavam, as te6ricos voltam seu olhar analitico as implicag6es desses dados e desc.obrem novas direg6es para a investigagao.
coloca este problema geral de empH1smo metodol6gico, pode alguem "saber que A, B e C estavam entrelagados por certas conex6es causais, sem jamais saber com exatidao a natureza de A, B ou C". Em conseqtiencia, as pesquisas fazem avangar os processos de investigagao, mas seus resultados nao ingressam no reposit6rio de teoria acumulativa de ciencia social.
Mas, em geral, a clarificagao de conceit os, con!5iderada comumente como provincia particular do te6rico, e urn resultado freqtiente da investigagao empirica. A investigagao sensivel as suas pr6prias necessidades nao pade escapar com facilidade a esta pressao para a clarificagao conceptual.
e
(A INVESTIGAQAO EMPfRICA CONCEITOS CLAROS)
EXERGE
PRESSAO PARA OBTER
Boa parte do trabalho chamado "teorizagao" trata da clarificaQao de conceitos, e com muita razao. E nesta materia de conceitos claramente definidos que a investigagao na ciencia social e, nao poucas vezes, defeituosa. A investigagao motivada por um grande interesse na metodologia pode centrar-se no designio de estabelecer relag6es causais sem a devida consideragao para a analise das variaveis compreendidas na investigaQao. Este empirismo metodol6gico, como pode chamar-se 0 designio de investigar, sem um interesse correlativo na clarificagao de variaveis sUbstantivas, caracteriza em grande parte a investigaQao atua!. As. sim, numa serie de experiencias eficientemente concebidas, descobre Chapin que "0 realojamento de familias de um bairro pobre num conjunto de residencias oficialmente planificado, tem como resultado 0 melhoramento das condiQ6es de vida e da vida social das familias". 16 Ou, median. te pesquisas dirigidas, os psic610gos descobrem os efeitos que os lares adotivos exercem sabre as criangas nos testes de inteligencia.l7 Ou, tambem mediante pesquisa experimental, os investigadores tratam de de. terminar Se um filme de propaganda conseguiu seu objetivo de melhorar a atitude do povo perante os ingleses. Estes diferentes casos - e eles sao repr~sentativos de uma grande quantidade de investigaQ6es que tem feito progredir a metodo da ciencia social -, tem em comum 0 fato de que as variaveis empiric as nao sac analisadas em relagao com seus elementos conceptuais.18 Como Rebecca West, com sua caracteristica lucidez, 16. F. S. Chapin, "The effects of slum clearance and rehousing on family and community relationships in Minne&.po!is", American Journal of Sociology, 1938,43, 744-763. 17. R. R. Sears, "Child Psychology", em Wayne Dennis, ed., Current Trends in Psychology (University of Pittsburgh Press, 1947),55-66.Os comentarios de Sears sobre ~ste tipo de pesquisa apresentam admiravelmente 0 problema gera!. 18. Embora grosseiros, processos como a entrevista concentradr. estao destinados a servir de ajuda para descobrir variaveis talvez pertinentes numa sltua~iio r. principio indi. ferenciada. Ver R. K. Merton, M. Fiske e P. L. Kendall, The Focused Interview (Glen. coe, Illinois: The Free Press, 1956),
Porque um requisito basieo da investigar;iio que os conceitos, as variaveis, sejam definidos com suficiente clareza para permitir que a investigar;iio nao se progrida, requislt,o este que, com freqtiencia e inadvertidamente,
cumpre no tipo de exposigao discursiva que ~ amilide err6neamente chamada de teoria sociologiea. A clarificagao de conceitos costuma entrar na investigagao empirica Em especulana forma de confecgao de indices das variaveis estudadas. Q6es nao de pesquisa, e possivel falar vagamente de "moral" ou de "coesac social", sem conceitos claros do que implicam ,essas palavras, mas elas aevem ser aclaradas, se 0 pesquisador quiser ir adiante em seu prop6sito de observar sistematicamente casos de ba1xa e alta moral, de coesao ou de decomposigao social. Se nao quiser ficar bloqueado desde 0 inicio, tera que imaginar indices que sejam observaveis, bastante precisos e meti· culosamente claros. Todo 0 movimento de ideias que recebeu 0 nome de "operacionalismo", nao e mais que um caso patente da exigencia, por par· te do pesquisador, de que os conceitos estejam definidos com bastante cIareza para que ele possa trabalhar. Isto tem side reconhecido em forma tfpica pelos soci610gos que combinam uma orientagao te6rica com a investigaQao empiric a sistematica. Durkheim, por exemplo, apesar de que a sua terminologia e os seus indices pareQam hoje toscos e discutiveis, percebeu claramente a necessidade de imaginar indices de seus conceitos. Afirmou repetidamente que "e ne(l'ssario. .. 8ubstituir 0 fato interno que se nos escapa por urn fato externo que 0 simbolize e estudar 0 primeiro atraves do seguneo". 19 0 indice, o signo da coisa conceptualizada, esta idealmente numa relaQao direta com o que significa (e a dificuldade de estabelecer esta relagao e, desde logo, um dos pr:)hlemas criticos da pesquisa). Como 0 in dice e 0 seu objeto estao relacionados deste modo, e 0 caso de se perguntar sabre que base um P. tom ado como indice e outro como a variavel indicada. Como 0 insinuou 19.
Emile Durkheim, Division of Labor iu Society (Nova Iorque: Macmillan, 1933),66; tambem suas Les regles de la methode sociologique (P&.ris, 1895),55-58;Le Suicide (Paris, 1930),356e passim. Cf. R. K. Merton, "Durkheim's Division of Labor in Society·, que se re!erem American Journal of Sociology, 1934,~O, especialmente nas pags. 326-327 aos problemas dos indices; para uma analise muito mais amp!a, ver L£",arsfeld e Ro· senoerg, redatores, The Language of Sodal Research, Introd. ~ Parte 1.
Durkheim e como Suzanne Langer 0 assinalou novamente, a in dice e 0 termo do par de correlatos que e perceptivel, e a outro termo, mais difidl ou impossivel de perceber, e teoricamente pertinente. 20 Assim, as escalas de atHude p15em a nossa disposiQao indices de atitudes que de outra maneira nao seriam distinguiveis, assim como as estatisticas ecol6gicas representam indices de diferentes estruturas sociais em diferentes zonas. o que freqiientemente aparece na pesquisa como tendencia a quantifi· caQao (mediante a confecQao de escalas) pode considerar-se, pais, como :lm caso especial do intento de aclarar suficientemente as conceitos para a. realizaQao de investigaQ15esempiricas. 0 estabelecimento de indices va11dos e observaveis e fundamental para a usa de conceitos no prosseguimenta da investigaQao. Urn exemplo final indicara quanta pressiona a pesquisa para a clarificaQao de antigos conceitos sociol6gicos que, no plano da exposiQao discurslVa, canservavam-se mal definidos e nao esclarecidos. Urn conceito fundamental para a sociologia sustenta que os individuos desempenham multiplos papeis sociais e tendem a organizar sua conduta de acordo com as expectativas estruturais definidas atribuidas a cada papel. Alem disso, costuma-se dizer que, quanto menos integrada esteja a sociedade, com maior freqiiencia estarao os individuos submetidos a tensao de papeis sociais incompativeis. Os casas tfpicos sac numerosos e familiares: 0 comunista cat6lico submetido a press15es antagonicas pelo partido e pela igreja, a individuo marginal que sofre as influencias de sociedades antagonicas, a mulher casada que exerce uma profissao, atormentada entre as exigencias da familia e as demandas da carreira. Todos os manuais de sociologia sac ricos de exemplos de exigencias incompativeis, formuladas a individuosr de varias personalidades. Talvez par ter sido em grande parte limitado as interpretaQoes discursivas e rara vez submetido a investigaQao sistematica, este problema central dos papeis antagonicos necessita ainda ser esclarecido e levado para alem do ponto em que ficou parada desde algumas decadas. Ha muito tempo que Thomas e Znaniecki indicaram que as confUtos entre os pal.'eis sociais podem reduzir-se mediante a tradicionalizaQao e a segmentaGao dos papeis (atribuindo cada conjunto de exigencias a papel a situa<:15esdiferentes). 21 E outros autores observaram que 0 antagonism a freqiiente entre papeis e disfuncional para a sociedade, como para 0 individuo. Mas tudo isto deixa intocados muitos problemas importantes, par exemplo: sabre que bases se pode predizer a conduta de pessoas submetidas a papeis antagonicos? E quando e necessaria tamar uma decisao, que papel (au que grupo de solidariedade) deve prevalecer? Em que condiQ15es predomina um sabre a outro? No plano do pensamento discursivo, foi 20. Suzanne K. Langer, Philosophy e F. Znaniecki, 21. W. 1. Thomas 1888, 1899 e segs.
in a New Key (Nova The Polish Peasant
Iorque: (Nova
Penguin Books, 1948), 46·47, Io.rque: Knopf, 1927), 1866·70,
sugerido qUl' a papel com a qual mais plenamente se identifique a individuo acabara sendo a predominante, afastando-se assim a problema mediante uma pseudo-solw;ao tautol6gica. Mas 0 problema de se predizer a conduta C'onseqiiente a incompatibilidade de papeis, problema de investlgaQao que requer a clarificRQao operativa dos conceit as de solidariedade. antagonismo, exigencias de papel e de situaQao, tern sido evitados, observando-se que os confUtos entre papeis terminam tipicamente em frustra-
~ao. Mais recentemente, a pesquisa empiric a tern pression ado para a clarificaQao dos conceitos-chave implicitos neste problema. Foram ideados indices de press15es de grupos antagonicos e da conduta resultante obsei" vada em situaQ15esespecificas. Assim como inicio nessa direQao, foi de· monstrado que, numa situ~ao concreta em que se tem de adotar uma decisao, como, par exemplo, numa votaQao, individuos sujeitos a essas press15es que se entrer.;ruzam, reagem adiando a sua decisao pelo voto. E, em con6iQ15esainda par determinar, tratam de reduzir 0 antagonismo escapando do campo em que a conflito se produz: perdem interesse pela campanha poUtica. Finalmente, as mesmos dados insinuam que, no caso de press15es entrecruzadas sabre 0 eleitor, e a posiQao socio-economica que prevalece tipicamente. 22 Seja como for, a ponto essencial e que, neste caso como em outros, as proprios requisitos da pesquisa empirica for am essenciais para esclarecer conceitos herdados. 0 process a de pesquisa empirica suscita quest15es concentuais que podem passar des perce bid as durante muito tempo na investigaQao te6rica. Ainda resta fazer algumas observaQ15es finais. Meu estudo foi consagrado e:Kclusivamente a quatro efeitos exercidos pela investigRQao sabre 0 deHenvolvimento da teoria social: a iniciaQao, a reformulaQao, a reenfoque e a clarificaQao da teoria. Ha outros efeitos, contudo. 11; fora de duvida, tamMm, que a enfase dada a este capitulo Se presta a confus6es. Pode-se inferir que alguma distinQao ofensiva tenha sido feita as expensas da teoria e dos te6ricos. Nao foi essa minha intengao. Apenas sugeri que uma teoria formulada de forma expUcita nem sempre precede a investigaQao empiric a e que, na pura realidade, 0 te6rico nao e forQosamente a lampada que ilumina a caminho para novas observaQ15es. A seqiiencia e muitas vezes invertida. Nao basta dizer que a pesquisa e a teoria devem casar-se, se a sociologia pretende dar frutos legitimos. Nao devem apenas trocar juras solenes: devem saber como pro ceder depois delas. Devem ser claramente definidos seus papeis reciprocos, ~ste capitulo e urn curto ensaio em direQao a essa definiQao.
22. L&<2:arsfeld, Berelson te por B. Berelson, Press, 1954),
e Gaudet, The People's P. F. Lazarsfeld e W.
Choice, Capitulo VI e 0 estudo N. McPhee, Voting, (University
subseqUenof Chicago
INTRODUCAO
OS OITO CAPfTULOS que compreendem a Parte II tratam de problemas de estrutura social, do ponto de vista te6rico da analise funci')· nal. o Capitulo VI, "A Estrutura Social e a Anomia", foi primeiramente publicado em 1938, mas foi recentemente ampliado e revisto. Ele exemplifica a orientagao te6rica do analista funcional que considera 0 comportamento socialmente divergente como urn produto da estrutura social, tanto quanto I) comportamento conformista. Esta orientagao e dirigida com todo 0 rigor contra a premissa falaz, fortemente escudada na teoria freu· diana e tambem encontrada nos trabalhos de revisionistas de Freud, tals como Fromm, de que a estrutum da sociedade restringe primordialmente a livre expressao dos impulsos nativos fixos do homem e que, por conseguinte, 0 homem periodicamente irrompe em rebeliao aberta contra tais restrigoes, a fim de alcangar a liberdadc. Ocasionalmente, esta liberdade e de urn carater nao muito e£timado pelos representantes convencio:J.ais da sociedade, e e prontamente rotulada como delituosa, ou pato16gica, ou socialmente perigosa. A filosofia contida em tal doutrina e, evidentemente, 0 anarquismo ern; eu 0 anarquismo benevolente, como e 0 caso de Fromm, ou algumas vezes. como e 0 caso de Freud e Hobbes, uma concepgao do anarquismo como sendo malevolente, no qual 0 homem e visto como entrando num contrato social destin ado a protege-lo desta malevolencia. Em qualquer destes casos, a estrutura social e considerada como urn mal necessario, originando-se a principio dos impulsos hostis, e depois restringindo sua livre expressao. Em contraste com tais doutrinas anarquistas, a analise funcional concebe a estrutura social como ativa, como produtora de novas motivagoes que nao podem ser preditas sabre a base de conhecimento dos impuIs os nativos do homem. Se a estrutura social restringe algumas disposigoes para agir, cria outras. 0 enfoque funcional, portanto, abando-
na a poslCao mantida por varias teorias individualistas, de que as diferentes proporc6es de comportamento div,ergente, nos divers os grupos e E'stratos sociais, sac 0 resultado acidental de proporc6es variaveis de personalidades pato16gicas encontradas em tais grupos e estratos. Ao inves, tenta determinar como a estrutura social e cultural gera a pressao favoravel ao comportamento socialmente desviado, sabre pessoas localizadas em varias situac6es naquela estrutura. No Capitulo VI, esta orientacao geral da origem a algumas hip6teses especificas acerca das fontes estruturais de comportamento desviado. Altas proporc6es de divergencia em relacao aos requisitos institucionais sac vistas como resultado de motivac6es profundas e cultural mente induzidas, as quais nao podem ser satisfeitas entre aqueles estratos sociais com limitada oportunidade de acesso. A cultura e a estrutura social operam como prop6sitos cruzados. Referindo-me as divergencias em relacao aos requisitos institucionais, tentei deixar claro que alguns desvios tambem podem ser considerados como um novo molde de comportamento, possivelmente emergente entre subgrupos que estejam em oposicao com aqueles moldes institucionais apoiados por outros grupos alem deles mesmos e pela lei. Nao e suficiente referir-se as "instituic6es" como se elas f6ssem todas uniformemente apoiadas por todos as grupos e estratos da sociedade. A menos que se de consideracao sistematica ao grau de apoio as "instituic6es" particulares por grupos especijicos, estaremos desprezando 0 importante lugar do poder na sociedade. Falar de "poder legitimo" ou de autoridade e frequentemente usar de uma frase eliptica e enganadora. 0 poder pode ser legitimado por alguns dos grupos da sociedade, sem 0 ser legitimado por toaos os grupos da mesma. Portanto, pode ser enganador descrever o inconformismo com instituic6es sociais particulares, como urn comportamento desviado; ele pode representar 0 comeco de um novo mol de alternativo, com suas pr6prias pretens6es distintivas de validade moral. Neste capitulo, ocupo-me primordialmente, em ampliar a teoria da analise funci.onal, levando-a a lidar com problemas de mudanga social e cultural. Como tenho observado em outras passagens, a grande preocupacao dos soci6logos e antropologistas funcionais com os problemas de "ordem social" e com a "manutenc;ao" dos sistemas sociais tem focalizado geralmente sua atenc;ao cientifica sabre 0 estudo dos processos pelos quais um sistema social e na maior parte preservado intacto. Em geral, eles nao tem devotado muita atengao aos processos utilizaveis para determinadas mudancas basicas na estrutura social. Se a analise do Capitulo VI nao progride materialmente na direcao de sua solucao, pelo menos reconhece que este e um problema significativo. Tal analise e orientada na direcao dos problemas da dinamica social e das mudancas. o conceito chave que estabelece uma ponte sabre a brecha entre a estatica e a dinamica na teoria funcional e 0 da tensao do esforco da contradic;ao ou da discrepancia entre os elementos com~onentes da' es-
trutura social e cultural. Tais esforcos podem ser disfuncionais para 0 sistema social em sua forma entao existente: podem ser tambem instrumentais para produzir mudancas em tal sistema. Em qualquer caso eles exercem pressao na direcao das mudancas. Quando os mecanismos sociais que os controlam estao cperando eficientemente, tais esforc;os saa mantidos dentro de fronteiras, que limit am as mUdancas da estrutura social. (Em alguns sistemas de teoria politica e de ideologia, os resultados destes mecanismos de controle sao chamados de "concess6es" e "acomodar ({6es", inibidoras do processo de mudanca estrutural basica). EVidentemente, tudo isso nao quer dizer que tais esforcos sac os uniDOS a influir nas mudancas de uma estrutura social; porem, eles representam uma fonte de mudanca teoricamente estrategica, a qual ainda tem de ser objeto de pesquisa socio16gica suficientemente prolongada e acumulativa. Entre os problemas que exigem ulteriores pesquisas, estao os 3eguintes: a extensao em que os norte-americanos de diferentes ,estratos sociais assimilar am efetivamente os mesmos obJetivos e valores culturalmente induzidos;* a operac;ao dos mecanismos sociais, tais como a diferenciacao social a qual diminui as tens6es resultantes dessas aparentes contradic6es entre os objetivos culturais e os acessos socialmente restritos a tais objetivos; a operacao dos mecanismos psico16gicos pelos quais se fazem mais toleraveis as discrepancias entr,e aspira<;6es induzidas pela cultura e os resultados socialmente atingiveis; a significacao funcional para a estabilidade de um sistema social de que uma pessoa tenha diversas ocupac6es que fornecem recompensas distintivamente nao pecuniarias, talvez assim diminuindo tens6es por outro modo intoleraveis; a extensao em que tais tensoes exercem pressao para mudanca sabre a cultura (substituindo a "seguranca" pela "ambicao" como valor primario) e sabre a estrutura social (mudando as regras do jogo a fim de aumentar a area da oportunidade economica e politica para as classes destituidas). Alguns de tais problemas tem recebido estudo sistematico desde a primeira edicao deste livro. A fim de salientar a importancia essencial da continuidade da pesquisa e da concep<;ao, para 0 desenvolvimento de uma disciplina tal como' a sociologia, tenho examinado tais estudos com algum detalhe num capitulo novamente preparado (VII), em vez de incorporar suas conclus6es numa revisao de estudo anterior. Desta maneira, acredito que se possa dar enfase adequada a importancia nas continuidades te6ricas e empiricas da inquiricao, as quais ampliam, modificam e corrigem anteriores formula<;6es e, portanto, constituem 0 tra<;o distintivo da inquiri<;ao sistematica. Tal como na analise do comportamento divergente, dos dois capitulos anteriores, a teoria funcional e utilizada na analise da estrutura burocratica e da personalidade no Capitulo VIII. Suponho, tambem que a es(.)
Um passo nesta diregao foi dado por Herbert H. Hyman, "The cl~oSses", em Reinhard Bendix e Seymour Martin Lipset (eds.) A Reader
in
Social
Stratification
(Glencoe,
The
Free
Press,
value systems Class, Status 1953), 426-442.
of different and Power:
trutura constringe os individuos situ ados dentro dela por vanas maneiras, a desenvolver enfases culturais, moldes de comportamento social e inclinaQoes psicol6gicas, e mais uma vez, admito que isso se mantem valido para os desvios sociais e disfunc;oes tal como 0 faz para a conformidade social e as func;oes. Os desvios nao sac necessariamente disfuncionais para urn sistema social, como temos visto, assim como 0 conformismo nao e necessariamente funcional. Da analise funcional da estrutura burocratica, e claro que sob determinadas condic;oes, a conformidade com os regulamentos pode ser disfun cion aI, tanto na realizaQao dos objetivos da estrutura, como para os varios grupos da sociedade a quem a burocracia deve servir. Os regulamentos sac aplicados em tais casos, mesmo quando as circunstancias que de inicio as tinham feito serem funcionais e eficientes, hajam-se modificado materialmente de modo que a conformidade a regra destr6i seu objetivo. Mesmo que tomemos como ponto de partida as distinc;oes biblicas entre a letra e 0 espirito, e 6bvio que isto nao constitui uma nova observaC;ao. Atraves dos seculos, muitos tern observado que as regras, uma vez santificadas pelos valores culturais, frequentemente continuam a ser compuls6rias mesmo quando as condic;oes modificadas as tornam cbsoletas. Na verda de, esta e outra daquelas velhas e repetidas obser. vac;oes, tornadas tao familiares e sedic;as, que a sua pr6pria familiarida· de tern sido erradamente tomada como s6lida inteligibilidade. Com!) result ado, as grandes implicac;oes sociol6gicas deste import ante lugar-comum nao foram ainda seriamente estudadas, 0 que quer dizer, estudadas sistematicar.lente e com habilidade tecnica. Como e que tal inflexibilida· de vem a existir, nas organiza~oes burocraticas? Sera porque os regulamentos se tornaram tao profur.damente enraizados entre 0 pessoal buroeratico, porque os regulamentos foram imbuidos de afeto e sentimento, que permanecem impiedosamer..te fixos e inexoraveis, mesmo quando ja nao sac apropriados as suas func;oes? 0 dever, a honra, a lealdade, q, decencia, tais sac apenas uns poucos dos term os eulogisticos que ostensivamente descrevem a conformidade com certas normas sociais. Sera que estas normas se tornam absolutas, e consequentemente mais resistentes as mudanc;us que as normas consideradas como inteiramente instrumentais em carater? E de questoes desta ordem que trata 0 Capitulo VIII. Neste capitulo, as disfunc;oes burocraticas sac consideradas como derivando nao s6 de urn ajustamento exageradamente estreito e estatico a um conjunto de condic;oes qae ja nao existem, mas tambem do rompimento de mecanismos sociais que ordinariamente sac auto-reguladores (pOl' exemplo, 0 desejo dos empregados burocraticos em seguir uma carreira bem ordenada, pode em c1evido tempo original' excessiva precaUC;ao no desempenho das suas func;oes e nao somente urn grau de conformida· de com os regulamentos, mais eficiente ao ponto de vista tecnico). Em vista do interesse atual crescente em relaC;ao aos mecanismos de auto· ·regulaC;ao nos sistemas sociais, - homostase social, equilibrio social, me-
canismos de retorno, sao alguns dos variados termos que regis tram tal interesse -, ha necessidade adicional para 0 estudo empirico das condic;oes sob as quais tais mecanismos, uma vez identificados, deixam de <:er auto-reguladores e tornam-sE' disfuncionais para 0 sistema social. Tal como ultimamente foi exemplificado no estudo de Philip Selznick, TV A and the Grass Roots, esse problema te6rico pode ser empiricamente investigado com born resultado na organizaC;ao burocratica des de que nela as interligac;oes de estrutura e os mecanismos sao mais facilmente observaveis dt) que em sistemas sociais menos altamente organizados. Assim como 0 Capitulo VIII se dirige a rela<;ao da estrutura burocratica sabre 0 desenvolvimento de uma personaIidade ocupacional, assim ;) Capitulo IX 5e dirige aos perigos, limitac;oes e potencialidades do perito em ciencia social, nas burocracias pubIicas. Ambos os capitulos exploram problemas de estrutura geral da burocracia, por urn lado, e problemas da sociologia das ocupac;oes, POI' outro lado. Manifestamente, ambos estes campos exigem muito mais pesquisas empiricas acumulati vas do que lhes tern sido atribuidas. Os estudos sociol6gicos da burocracia sao claramente necessarios a fim de proporcionar uma base mais larga e mais firme para 0 conhecimento da administraC;ao, tanto publica como privada. Ate agora, as discussoes sociol6gicas tendiam a ser especulativas, nuas e abstratas, ou, quando tinham side informadal' com materiais concretos, estes eram de modo geral inteiramente impressionisticos. Esta falha tornou-se not6ria e, adequadamente, iniciou-se uma serie de monografias empiricas a respeito dos problemas sociol6gicos da burocl'acia, publicando-se os estudos realizados no Departamento de Sociologia da Universidade de Columbia, com 0 auxflio de balsas de estudo concedidas pelo Social Science Research Council. 0 estudo anteriormente citado, de Selznick (949) centraliza sua analise sabre consequencias nao antecipadas da ac;ao organizada para a politica burocr::1tica; SeymoUl' Martin Lipset, em Agrarian Socialism (950), examina a interaC;ao entre 0 pessoal burocratico e as planejadores de politica; duas monografias de Alvin W. Gouldner - Patterns ot Industrial Bureaucracy (954) e Witdcat Strike (954) - trac;am as func;oes e disfunc;oes, tanto latentes como manifestas, das regras burocraticas numa industria; e The Dynamics ot Bureaucracy (1955), de Peter M. Blau, analisa as condigoes sob as Ciuais ocorrem as mudangas na estrutura em duas burocracias do governo. Ainda nao publicado e 0 estudo de Donald D. Stewart, das juntas de recrutamento militar (950) o qual examina 0 papel da participaC;ao volunt~ria numa organizaC;ao burocratica. Em conjunto, esses estudos fornecem dados de observaC;ao acerca dos trabalhos da burocracia, de uma especie que nao se pode 00tel' unicamente de fontes documentarias, e comegam a esclarecer algumas das principals questoes no estudo da burocracia. 1 1. Materiais adicionais sObre a estrutura e 0 funcionamento da burocraci:;" estao reunldos em duas cole~6es de trabalhos: R. K. Merton, A. P. Gray, B. Hockey e H. C. Selvln,
o outro grande grupo de estudo abordado no Capitulo IX e a analIse soclologica das ocup~oes: neste caso, trata-se da ocupaQao do perito em cipncia social. Aqui a necessidade de pesquisa acumulativa ainda e mais evidente. Muitos p.studos espalhados sabre ocupaQoes tem si00 publicados durante os ultirnos trinta anos, e nas notas apensadas aos diversos capitulos deste livro, encontram-se referencias a uma amostra tirada de entre eles. (Entre estas, a serie de livros de Esther Brown, acerca de profissoes e semiprofissoes, tem sido da maior utilida.de, para fins pn1ticos). Porem, ate ha pouco tempo, esses estudos ordinariamente nao se orientavam para um corpo de teoria sociologica consistente. ~~mbora estes estudos tenham side interessantes ou praticamente uteis, pouco contribuiram para fazer progredir a teoria sociologica, ou na aplicaQao dessa teoria ao conhecimento desse import ante setor da atividade humana. E com certeza, pelos mais diversos criterios, e entre os mais diversos grupos, as ocupaQoes sao extensamente reconhecidas como urn importante nucleo da organizaQao da sociedade. A maior parte das horas de vigilia dos homens e devotada as suas atividades ocupacionais; os sustentaculos economic os para a sObrevivencia do grupo sac fomecidos pelo trabal.ho agregado das ocupaQoes socialmente interligadas; as aspira~Oes pessoais dos homens seus interesses e sentiment os sac em grande parte organizados e selados com a marca de seu ponto de vista ocupacional. Assim sabemos impressionlsticamente, e baseados em alguns estudos, com ocasional grau de ~onfianQa, que as pessoas de varias ocupa~5es tendem a cte~mpenhar diferentes papeis na sociedade, ter diferentes participaQoes no exercicio do poder ostensivo ou oculto, e a veT 0 mundo diferentemente. Tudo isto e largamente sentido mas pouco investigado. Assim W. H. Auden, procurando colocar ideias correntes E'm molde poetico, viu como a possibilidade de pontos de vista ocupacifmalmeneds., Reader In Bureaucracy (Glencoe, Illinois: The Free Press, 1952), e Robert Dubin, Human Relations in Administration, (Nova Iorque, Prentice-Hall, Inc., 1951). Um excelente guia para le!tura e pesquisa sobre a estruturs. burocratica e suprido por Harold L. Wilensky, Syllabus of Industrial Relations, (Chicago: The University of Chicago Press, 1954) e uma revisao dos recentes desenvolvimentos te6ricos de Peter M. Elau, Bureaucracy in Modern Society (Nova Iorque: Random House, 1956). da burocracia, descrIto pelos Mais recentemente, apareceu um estudo independente autores como correndo um paralelo aos estudos de Gouldner e Elau, e chegando senslvelmente as mesm£.s conclusoes: Roy G. Francis e Robert C. Stone, Service and Proce· dure in Bureaucracy (Minneapolis: University of Minnesota .Press, 1956). Con forme os Interessante porque cs autores notam, "Esta convergencia de pesquisa e particularmente vllrios estudos foram, tanto quanto sabemos, conduzidos inteiramente independentes uns dos outros. Poderia p~,recer que a teona da burocracia levou a formula9ao de problemas comuns, e a investiga90es empirtcas comuns". PlIgina V. Os estudos de Columbia e estes estudos de Tulane na verdade chegam a conc!usoes semelhantes, e talvez nao esteja longe 0 tempo em que a fOr9a te6rica dess~.s conclus5es possa ser trazida a um s6 foco. Aqul se pode apenas afirmar, embora nao se possa demonstrar, '1ue ~sses estudos sao uma extensao e especifica9ao da teoria sociol6gica da burocrwcla e nlio uma reformula9iio da teorta antecedente.
te condicionados cimento:
pode transvasar
em perguntas
na sociologia do conhe-
Malinowski, Rivers, Benedict e outros Mostram como a cultura comum modela as vidas separadas: As ra!
sos na direc;ao de tal program'). de pesquisa consolidada na sociologia das ocupagoes in foi dado. Certamcnte, neste grande e significativo campo da pesquisa socio16gica 2 pode-se supor que 0 passado seja apenas urn pr6!ogo. Os Capitulos X e XI, ambos escritos depois da primeira edigao deste livro, const:.~·uem esfor(;os para. utilizar a analise funcional no estudo de urn imporlDnte componente da estrutura social: 0 grupo de referencia. Escrito com a colaborac;ao de Alice S. Rossi, 0 Capitulo X examina e crgumza as COmnbUl(;6es de TiLe American Soldier a teoria do comportamento do grupo de referencia, e 0 relaciona com as concepc;6es afins que f.ntes foram adotadas. Em todv 0 trabalho, os grupos de referencia SaD conslderadas nao s6 do ponto de vista da psicologia social como tambem do ponto de vista de sua moldagem pela estrutura social de on de emergem. No Capitulo XI sac trac;adas as continuidades ulteriores a teoria do grupo de referencia, as quais sac agora publicadas pela primeira vez. Elas sac destinadas a clarificac;ao de alguns conceitos basic os da teoria, a luz da pesqUlsa recent~ e a formular, em direC;ao a sua problematica, isto e, os problemas principais (conceptuais, substantivos e de procedimento), os quais devem ser resolvidos a fim de fazer caminhar esta teoria de medio alcance. o Capitulo XII, tambem novo nesta edigao, introduz 0 conceito dos influenciais, identifica e caracteriza dois tipos de influenciais - 0 local e 0 cosmopolita - e examina seus moldes de ac;ao na estrutura de influencia de um"!, comunidade. Comprova que a extensao de influencia que os individuos exercem uns s6bre os outros nao e inteiramente determinada por !'ua p()~ic;aode classe social, e que, portanto, quantidades substanciaiS de influenejas podem ser achadcf. em cada estrato da estrutura de classe. Sob este aspecto, 0 estudo relatado no Capitulo XII e parte de uma tradi({ao de pesauisa sociol6gica que se estende s6bre 0 exercicio da influenria nas comunidades locais. 3 Embora 0 Capitulo XIII, "A profecia que se cumpre por si mesma", tenha side escrito originalmente para uma audiencia leiga, foi incluido neste volumE porque trata de um setor muito negligenciado da analise funclonal na sociologia, ou seja, 0 fstudo do mecanismo social dimlmico. o leito; logo observara qu"! c mecanisme da cren(;a social de que se ('umpre po. si me sma, no qual 0 erro segura de si gem sua pr6pria confirmac;ao espiria, traz uma rela:;ao te6rica aproximada com 0 conceito da fun<;ao later,te. Ambos sac tipos de conseqiiencias inesperadas de agao, decisao ou cren<;a uma produzindc a pr6pria circunstancia err6neamente admitida ('omo existente, a outra l;roduzindo resultados que eram totalmen2.
William J Goode, Robert K. Merton e Mary Jea.n Huntington, The Professions in Ame· rican Society: A Sociological Analysis and Casebook, e urn exame intensivo do campo ~ um£, arma~iio te6rica para pesquisas posteriores. . 3. QU2nto a II m relato circunstancial das origens e desenvolvimento destli linha de couti· nuidade na inquirj~ao sociol6gica ver Elihu Katz e P. F. Lazarsfeld, Personal Influence (Glencoe, Illinois: The Free Press, 1955), Introdu~ao e Parte 1.
ie inesperados. Ambos os mec2.nismos, implicitamente considerados em meu trabalbo anterior s6bre "as ccnseqiiencias imprevistas da agao social proposital", sac ainda um outro exemplo de moldes sociol6gicos que sal) freqiientemente observados, mas pouco estudados. (No presente exemplo, isto forma forte contraste com a psicologia individual, a qual tem dado grande e cumulativa aten(;ao ao molde da cren(;a que se cumpre por si mesma, como um tipo de circulo vicioso psicoI6gico). Urn terceiro tipo de consequi',ndas imprevistas, 0 da crenga que se destr6i por si mesma, e abreviadam<::nte mencionado, mas nao desenvolvido extensamente neste capitulo. Este mecanismo pitorescamente denominado da "profecia sUicida", pelo 16gico John Venn, do seculo XIX, envolve crengas que obstam a realiza(;ao Gas pr6prias circunstancias que de outro modo se produziriam. Tais eXf'mplos sac abundantes e familiares. Confiantes de que ganharao uma competi(;ao esportiva, uma guerra ou um premio wbi<;3.do, os gropos tornam-se complacentes; sua complacencia conduz a letargia, e a letargia a eventual derrota. Muitos homens, particularmente os experimentados na condu(;ao de neg6cios publicos, evidentemente tem abservado e algumas v'lz8s levado em considera<;ao 0 fen6meno da ('Tenga suicida. Lincoln, por 8xemplo, era bastante consciente do dito fenamena. Nos dias negros de 1862, quando 0 general McClellan estava pa~ ralisado, e os exercitos do Oeste imobilizados, Lincoln deixou de apelar para a convoca<;ao de milhares 1e soldados, de novas tropas, das quais necessitava desesperadamente, explicamlo: "Eu apelaria publicamente para 0 pais, para obter estas novas f6r~
A predigao que se cumpre por si mesma e a predi\{ao suicida encerram duplo interesse para 0 cientista social. Representam nao s6 padroes que ele deseja investigar no compo:rtamento dos outros, mas tambem moldes que criam problemas metodol6gicos em sua pr6pria pesquisa. Isto torna mais dificil u verifica\{ao empfrica das predi~oes da ciencia social, pois desde que essas pr,edi\{oes podem ser levadas em considera\{ao pel as pr6prias pessoas a quem se referem, 0 cientista social acha-se eternamente diante da possibHidade de que sua predi\{ao entre na situa\{ao como fator novo e riinamico mudando as pr6prias car,di\{oes sob as quais a predi\{ao manifestou-se verdadeira, de infcio. EStl caracteristica das predi\{oes e peculiar aos assuntos hurnanos, nao se encontra entre as predi\{oes acerca do mundo da natureza (salvo quando cs fen6menos naturais sac tecnol6gicamente moldados pelos homens). 4 Tanto quanto sabemos, a predi\{ao do meteorologista, de chuvas continuadas, ainda nao levou perversamente a ocorrencia de urna seca. Porem, a cristante previsao do economista do governo, de um excesso de produ\{ao de trigo, possivelmente pode levar os produtores individuais de trigo a redt.:zir sua produ\{ao planejada, de modo a invalidar a predi\{ao. Tudo isto sugere que um tipo de predigao da ciencia social extenso e ainda imperfeitamente identific2.do, confronta-se com urn par~doxo: s~ f6r tornado publico, a predi\{ao torna-se aparentemente invaJida, e se nao for to~nado publico, geralmente sera considerado nao como uma predi\{ao, mas Slm uma p6s-di\{ao. Sera considerado como um conhecimento depois do fato. (Isto representa uma especie de dificuldade da ciencia social afim mas nao equivalcnte ao que creio ser a dificuldade em algumas fabeas d~ ciencia fisica, represent ad a pelo principio de incerteza de Hei.,enberg). Certamente, r.uma atitude misantr6pica, ou com excessiva devoc;ao aos valores da ciencia social acim::l. de todos os outros val6res, ou no papel autodesignado de um samurai cientifico, 0 cientista social poderia escrevel', lacrar e depositar SUa predi\{ao em lugar seguro, a respeito de desempre go iminente ou guerra, ou confUtos internos, trazendo-a a publicidade s6mente depois que os eventos preditos houvessem se efetivado. Porem isto seria q:lase temerario em rela\{ao ao corpo politico como em rela\{ao 4. A necessldade da qualifica~ao colocada entre parenteEes fol demonstrada por Adolf Gtilnbaum, que observa: " ... Considere-se 0 mecanismo dirigido de urn servomotor, seme· Ihante a urn dispositivo de tiro ao alvo que se realimenta e esta sujeito a contrOle de fogo Eoutomatico. E claro que cada frase da opera~ao de urn tal mecanismo constltul exemplifica.;ao de urn ou mais princlpios puramente fisicos. No entanto, a seguinte sl· tua~ao e permitida por estes mesmos princlpios: urn computador prediz que, em SUB presente rota, 0 missil errara se'L! alvo, e a comumcagao dessa informa~ao ao proj~til teleguiado, sob Eoforma de urn novo conjunto de instru~6es, 0 induz a alterar sua rota e, portanto, a alcan~ar seu alvo, de modo contrario a predl~ao original do computador. Em principio, como e que isto difere do caso que 0 economista do gov:·rno prediz urn excesso de suprimento de trigo, 0 que tern 0 efeito de aconselhar EoOSplantadores de trigo que alterem suas Inten~6es originais de plantio?" Ver a nota instrutiva de Gronbaum, "Historical determinism, social activism, and predictions in the social sciences", a ser publicada em The British Journal for the Philosophy of Scienc.e.
ao pr6prio corpo pessoal. Quando Se consider a a profunda obje\{ao de muitos individuos em serem considerados como cobaias psicol6gicas, pode-se imaginar aproximadamente a furia reunida de uma popula\{ao inteira, ao descobrir que foi transmudada numa imensa cobaia sociol6gica. Talvez f6sse melhor reconsiderar esta experiencia circeana. Alem d8sse interesse geral no mecanismo da cren\{a que se auto destr6i, 0 cientista social tem, pois, consideravel incentivo para efetuar a investiga\{ao sistematica e penosa, nas ~ondi\{oes sob as quais esta predic;ao de autodestrui\{ao, ou previsao, opera no ambiente social. Atraves de tais pesquh;as serias, talvez dele aprenda 0 que e necessario para converter a predi\{ao potencialmante suicida nurna predi\{ao socialmente benefica e objetivamente firme. A Parte II, entao, e devotada primariamente a intera\{ao entre as es· truturas sociais e as ocupa\{oes, dentra de um contexto de mecanismos ~. ciais dinamicos. Propoe-se apresentar alguns lineamentos de investi" ga\{ao sociologica, te6ricamente relevantes, empiricamente trataveis e socialmente uteis. De qualquer maneira, as grandes falhas desses campos tem persuadido a este sociologo a que coloque seus esfor\{os de pesquisa imediata a disposiqao do estudo sociol6gico da burocracia e a analiSE f~.mcional das Ocuplil;oes.
VI
ESTRUTURA SOCIAL
E ANOMIA
A
TE Hi\. POUCO TEMPO - e outrora muito mais -, podia-se falar de uma acentuada tendencia nas teorias psico16gicas e socio16gicas, de atribuir 0 funcionamento defeituoso das estruturas sociais as falhas do contrale social sabre os imperiosos impulsos bio16gicos do homem. A imagem das rela~6es entre 0 homem e a sociedade insinuada por esta doutrina e bastante clara mas e muito questiomivel. No come~o, existem os Surimpulsos bio16gicos do homem, os quais procuram expressao total. ge depois a ordem social, essencialmente um aparelhamento para 0 manejo dos impulsos, para 0 processamento social das tens6es para a "renuncia as satisfa~6es dos instintos", nas palavras de Freud. 0 inconforrnismo com as exigencias de uma estrutura social e assim admitido como estando arraigado na natureza original. 1 Sao os impulsos biologicamente enraizados que de vez em quando irrompem atraves do contrale social. E implicitamente, a conformidade e 0 resultado de um calculo utilitario, eu de um condicionamento nao racional. Com 0 recente avan~o da ciencia social, este conjunto de concep~6es sofreu modifica~ao basica. Um dos fatores observados e que ja nao parece tao 6bvio que 0 homem seja colocado contra a sociedade, numa guerra incessante entre 0 impulso b:016gico e aE:restri~6es sociais. A imagem do homem como um indomado feixe de impulsos come~a a parecer mais uma caricatura do que um retrato. Por outro lado, as perspectivas socio16gicas tem contribuido cad a vez mais a analise do comportamento qi.le se desvia das normas prescritas, pois qualquer que seja 0 papel dos impulsos bio16gicos, ainda permanece de pe a questao de se saber por que 1. Vel', POl' exemplo, S. Freud, Civilization and Its Discontents (passim e esp. pag. 63); Ernest Jones, Social Aspects of Psychoanalysis (Londres, 1924), 28. Se a nOQao freudian~ e uma variedade da doutrina do "pecado original", entao a interpretaQao oferecida neste estudo e uma doutrina do "pecado socialmente derivado".
n. frequencia do comportamento desviado varia dentro de estruturas sociais difercntes, e por que sucede que os clesvios tem diferentes formas e moldesem estruturas diferentes. Hoje, como outrara, temos muito que aprender s6bre os processos pelos quais as estruturas sociais geram as circunstancias em que a infra!;ao dos c6digns sociais constitui uma rea!;ao "normal" (is to e, que pode ser esperada).2 Este capitulo constitui uma tentativa de esclarecimento do problema. A estrutura erigida neste EJnsaio pretende proporcionar urn enfoque sistematico da analise das fontes sociais e cUlturais de comportamento transviado. Nosso objetivo principal e descobrir como e que algumas es. truturas sociais exercem uma pressiio dejinida s6bre certas pessoas da sociedcule, para que sigam conduta niio conjormista, ao inves de trilharem 0 caminho conjormista. Se pudermos localizar grupos peculiarmente sujei-
tos a tais pressoes, deveremos esperar encontrar propor!;oes moderadamente elevadas de comportamento desviado em tais grupos, nao porque os seres humanos, neles compreendidos, sejam compostos de tendencias bio16gicas diferentes, mas porque eles estao reagindo normalmente it situa!;ao social na qual se encontram. Nossa perspectiva e socio16gica. Olhamos as varia!;oes nas pror;orr.;oes do comportamento desviado, e na:> a sua incidencia. 3 Se nossa indaga!;ao for bem sucedida, algumas formas de comportamento desviado serao encontradas como sendo psico16gicamente normais, e a equa!;aO do desvio e da anormalidade psico16gica sera posta em duvida.
PADR6ES DE METAS CULTURAIs E NORMAS INSTlTUCIONAIS Entre os diversos elementos das estruturas SOCIalSe culturais dois sao de imediata importancia. Sao analiticamente separaVeis emb;ra se 2.
"Normal" no sentldo da reagao a determinadas condigoes sociais, psicologicamente esperadz. IJe nao cUlturalmente z,provada. Esta afirmagao, eVidentemente, nao nega 0 papel das diferengas biol6gicas e de personalidade, na fixagao da incidencia do comportamento des. viado. Slmplesmente, este nAo e 0 problema aqul conslderado. E, no mesmo senti do, assim 0 considero, que James S. Plant ffulc. da "reagao normal de pessoas normals II condigoes anormais". Ver sua Personality and the Cultural Pattern (Nova Iorque, 1937), 248.
3. A posigao aqui tomada tem sido Iilcidamente de~crita por Edward Sapir. " ... os proble. mas da ciencia social diferem dos problemas do comportamento individulW. em grau de especificidade, e nao de classe. Cada aflrmagao a respelto de comportamento que dirija a enfase, expllcitz. ou impllcitamente, s6bre as experienclas atuais e integrals de pessoas definidas ou tip os de personalidades, constltui um dauo de psicologia ou de psiquiatria, nao de ciencia soci2J. Cada afirmagao a respeito de comportamento que pretende nao estudar 0 indlvlduo ou indivlduos em si mesmos, ou trz.tar do comportamento esperado de um tipo de indivlduo flsica e psicologicamente definido, mas que prescinde de tal comportamento a fim de p6r em claro reHlvo certas expectatlvas em relagao aos aspectos de comportamento individual que varlas pessoas compartllham como norma lnterpessoal ou 'social', constitul um dado, embora cruamente expresso, de ciencia social". Nerta obra escolhi a segunda perspectiva; embora eu venha a ter ocasiao de falar de t.tl tUdes, val6res e fungoes, sera do ponto de vista de como a estrutura social estimullb ou lnibe sua aparl9ao, em tlpos especl!lcos de sltua96es. Ver Sapir, "Why cultural anthroPOlogy needs the psychiatrist", Psyehiatry, 1938, I, '7.12.
misturem em situa!;oes concretas. 0 primeiro consiste em objetivos culturalmente definidos, de prop6sitos e interesses, mantidos como objetivos legitimos para todos, ou para membros diversamente localizados da sociedade. Os objetivos SaG mais ou menos integrados - 0 grau de integra!;ao e urna questao de fato empirico - e aproximadamente ordenados em alguma hierarquia de va16res. Envolvendo varios graus de sentimento e de significa!;s'o, os objetivos predominantes compreendem uma arma(,ao de referencia aspiracional. Sao coisas "que valem 0 esf6r!;0". Sao ~m componente basico, embora nao exclusivo, do que Linton denominou "designios para a vida do grupo". E embora alguns, nao todos, de tais objetivos culturais sejam diretamente relacionados aos impulsos bio16gicos do homem, nao saG por eles determinados. Um segundo elemento da e:;trutura cultural define, regUla e controla os modos aceitaveis de alcan!;ar esses objetivos. Cada grupo social, invarHl.Velmente, liga seus objetivos culturais a regulamentos, enraizados nos costumes au nas institui!;oes, de procedimentos permissiveis para a procura de tais objetivos. Estas normas reguladoras nao SaG necessariamente id~nticas as normas tecnicas ou de eficiencia. Muitos procedimentos que do ponto de vista de individuos isolados seriam os mais eficientes na obten!;ao dos va16res desejados - 0 exercicio da f6r!;a, da fraude, do poder - estao excluidos da area institucional da conduta permitida. Por vezes os procedimentos desabonados incluem algo que seria eficiente para o gr~po em si mesmo, por exemplo, os tabus hist6ricos contra a vivissec!;ao, ou a respeito das experiencias medicas, ou a analise socio16gica das normas "sagradas" - desde que 0 criterio de aceitabilidade nao e a eficiencia tecnica, mas sim os sentimentos carregados de va16res (apoiados pela maior parte dos membros do grupo, ou por aqueles capazes de promover tais sentimentos atraves do usa simultaneo do poder e da propaganda). Em todos os casos, a es.colha dos expedientes para se esfor«ar na obten!;ao dos objetivos culturais e limitada pelas normas institucionalizadas . Os soci6logos falam freqiicntemente de tais contr6les como estando "nos costumes", ou operando atraves das institui!;oes sociais. Tais afirma!;oes eUpticamente sao bastante verdadeiras, porem obscurecem 0 fato de que as praticas culturalmente padronizadas nao saG t6das de uma s6 pe!;a. Sao sujeitas a uma larga gama de contr6les. Estes podem representar padroes de comport.amento prescritos em forma definida ou preferencial, ou permissiva, ou proibida. Na avalia!;ao do funcionamento dos contr6les sociais, estas varia!;oes aproximadamente indicadas pel os t.ermos prescric;iio, prejerencia, permissiio e proibic;iio dev.em ser naturalmente levadas em conta. Outrossim, dizer que os objetivos culturais e normas institucionaliz_N das funcionam ao mesmo tempo para modelar praticas em vigor, nao significa que elas exercem uma rela!;ao con stante umas s6bre as outras. A enfase cu!tllral dada a certos objetivos varia independentemente do grau
de enfase sabre os meios institucionalizados. Pode-se desenvolver uma tensao muito pesada, por· vezes virtualmente exclusiva, sabre 0 valor de objetivos particulares, envolvendo em comparagao pouca preocupagao com os meios institucionalmente recomendados de esforgar-se para a consecugao de tais objetivos. 0 caso limite desse tipo e alcangado quando a amplitude de procedimentos alternativos e governada apenas pelas nor· mas tecnicas em vez das normas institucionais. Neste caso extremo e hlpotetico, seriam permitidos todos e quaisquer procedimentos que permi· tissem atingir eSSe objetivo tao importante. Isto constitui um tipo de cultura mal integrada. Um segundo tipo limite e encontrado em grupos onde as atividades originalmente concebidas como instrumentais sao transmudadas em praticas autocontidas, as quais faltem ulteriores objetivos. As finalidades originais sac esquecidas e a estreita aderencia a conduta institucionalmente recomendada torna-se um assunto de ritual.4 A con· formidade absoluta torna·se um valor central. Por algum tempo, a estabilidade social e assegurada as expensas da flexibilidade. Desde que '1 amplitude dos comportamentos alternativos, permitidos pela cultura, e severamente !imitada, ha pouca base para adapta-la a novas condic;6es De· senvolve-se entao uma sociedade limitada pela tradigao, "sagrada", mar· cada pela neofobia. Entre esses tipos extremos estao as sociedades que mantem um equilibrio aproximedo entre enfases sabre objetivos cultuniis I~ praticas institucionalizadas, e estas constituem as socieciades integra· das e relativamente estaveis, embora mutaveis. Um equilibrio efetivo entre essas duas fases da estrutura social e man· tido enquanto as satisfag6es proporcionadas aos individuos se ajustam as auas pressoes culturais, por '3xemplo, satisfag6es provenientes da realiza· cao dos objetivos e satisfagao diretamente emergentes das form as de es· fOrgo para atingi-los, institucionalmente canalizados. E estimado em termo do produto e em termos do processo, em termos do resultado e em termos das atividades. Assim devem derivar satisfag6es continuas, cia preocupagao se transferir exclusivamente para 0 resultado da competi· eclipsar os competidores, se a pr6pria ordem deve ser sustentada. Se a llreocupagao se transferir exclusivamente para 0 resultado da competigao, entao l3,quelesque perenemente sofrem derrota podem, de modo bas· tante compreensivel, procurar alterar as regras do jago. Os sacrificios ucasionalmp-nte - e nao invariavelmente, segundo Freud admitia - acar· retados pela conformidade com as normas institucionais devem ser compensados pelas recompensas socializadas. A distribuigao de posig6es sociais atraves da competigao deve ser organizada de modo que se proporcion em incentivos positivos para a adesao as obrigag6es da situagao, e 4, J;;ste ritualismo pode ser associado com uma mitologia que racionzJize est as prliticas de modo que elas aparentemente retenham sua situa~ao como meio, porem, a pressao dommante e no senti do de conformidade ritualistica estrita, independente da mitologia. o ritualismo e z.ssim tanto mais completo, quanto tais racionaliza~6es nao sao nem sequer provocadas.
isso, para cada posu;ao dentro d ordem distributiva. Do contnlrio, tal como 0 verificaremos adiante, surgira 0 comportamento aberrante. Na verdade, minha hip6tese central e que 0 comportamento aberrante pode ser considerado socio16gicamente como um sintoma de dissociagao entre as aspirag6es culturalmente prescritas e as vias socialmente estruturadas para realizar essas aspirag6es. Dos tipos de sociedades que resultam da variac;ao independente dos objetivos culturais e dos meios institucionalizados, daremos prioridade ao estudo do primeiro: uma sociedade em que ha enfase excepcionalmente forte sabre objetivos especificos, sem uma correspondente enfase sabre os procedimentos intitucionais. Para evitar mal-entendidos, este enunciado deve ser bem explicado. Nenhuma sociedade carece de normas go. vernantes da conduta, porem elas real mente se diferenciam na medi· da em que os usos e costumes populares e os contrales institucionais estao efetivamente integrados com os objetivos que se destacam na hie· rarquia dos valares culturais. A cultura pode ser tal que induza os indio viduos a centralizarem suas convicg6es emocionais sabre 0 complexo de fms cultura!mente aplaudidos, com muito menos apoio emocional sabre os metodos prescritos para alcangarem essas finalidades. Com tais enfases diferenciais sabre os objetivos e sabre os procedimentos institucionais, os ultimos podem ser tao viciados pela tensao em alcangar os objetivos, que o comportamento de muitos individuos, fique sujeito apenas a conside· rag6es de conveniencia tecnica. Neste contexto, a unica pergunta signi· ficativa e a seguinte: Qual dos processos disponiveis ~ 0 mais eficiente 3. fim de apossar-se do valor culturalmente aprovado? 5 0 processo mats eficiente do ponto de vista tecnico, quer seja culturalmente legitimo ou nao, torna-se tipicamente preferido a conduta institucionalmente prescri· ta. A medjda que se desenvolve este processo de amaciamento das nor· mas, a sociedade torna-se insta\'el e aparece 0 que Durkheim denominava "anomia" (ou ausencia de nOlma).6 A este respeito, percebe-se a relevfmcia da parMrase de Elton Mayo do titulo do bem conhecido livro de Tawney. "Na verdade 0 problema nao e 0 da enfermidade de uma soc.iedade aquisitiva; e " da aquisitividade de uma sociedade doeute". Human Problems of an Industrial Civilization, 153. Mayo lida com 0 processo atraves do qual a riquez~ vem a ser 0 simbolo basi co da realiza~ao social, e encara isto como sendo pro· veniente de urn est ado de anomia. Minha maior preocupa~ao aqui e com as conseqUencias sociais de uma pesada enfase sobre 0 sucesso monetario como objetivo, numa sociedade que nao adaptou su~ estrutura as correla~6es desta enfase. Uma analise com· pleta exigiria 0 exame simultaneo de ambos os processos. 6. A ressurrei~ao feita por Durkheim do termo "anomi2,", 0 qual, tanto quanto e de meu conhecimento aparece em primeiro lugar no mesmo sentido no fim do seculo XVI, bem poo.eria ser' objeto de uma investiga~ao, por urn estudante interessado na .filia~ao his· t6rica d&oSideias. Tal como a frase "clima de opiniao" trazida a populandade acade· mica e politic a por A. N. Whitehead, tres seculos depois de ter sido cunhada por Joseph Glanvill, a palavra "anomia" entrou illtimamente em uso freqUente, desde que foi reintroduzida por Durkheim. Por que essa ressonancia na socied~de contemporA· nea? Urn magnifico modele do tipo de pes quisa exigido por quest6es dessa ordem, en-
5.
o funcionamento deste processo que eventualmente resulta em ano. ynia po de ser facilmente percebido numa serie de epis6cIios familiares e instrutivos, embora talvez triviais. Assim, na competigao de atletismo, quando 0 alvo da vit6ria e despojado de suas roupagens institucl:onais e 0 sucesso torna-se subentendido em "ganhar a partida" em vez de "ganhar segundo as regras do jago", estabelece·se implicitamente urn premio ao uso de melos ilegitimos, porem tecnicamente eficientes. 0 "craque" do ti. me de futebol concorrente e sub-repticiamente golpeado; 0 lutador e in. capacitado por seu oponente, atraves de tecnicas engenhosas, porem ill. citas; os alunos da universidade encobertarr.ente dao "colas" aos "estudan. tes" cujos talentos sac limitados ao campo do atletismo. A enfase con. cedida ao resultado de tal maneira atenuou as satisfag6es derivadas da simples pariicipagao na atividade competitiva, que somente urn resultado bem sucedido fornece a satisf£gao. Atraves do mesmo processo, a ten. sao gerada pelo desejo de ganhar numa partida de paquer e afrouxada pe. la distribui<::ao de quatro ases a si pr6prio ou, quando 0 culto do sucesso chegou ao extremo, pelo saga;; embaralhamento de cartas numa partida de paciencia. A debil pontada de mal·estar no ultimo exemplo e a natureza sUb-repticia dos delitos em publico indicam claramente que as reo gras institucionais do jago sac conhe.cidas por aqueles que as desprezam. Po rem, 0 exagero cultural (ou idiossincratico) que conduz 0 homem a ob· ter sucesso de qualquer mane ira, leva·o a desprezar 0 apoio emocional das regras.7 Este processo evidentemente nao se restringe as competig6es esporti. vas, as quais simplesmente nos fornecem imagens microc6smicas do ma. crocosmo social. 0 processo pelo qual a exaltagao do fim gera uma literal desmoralizar;iio, isto e, desinstitucionaHzag13,o dos meios, ocorre em lnuitos 8 grupos, nos quais os dois competentes da estrutura social n13,o estejam altamente integrados. A cultura norte·americana contemporanea parece aproximar-se do ti. po polar em que ocorre grande enfase sabre objetivos de exito sem a en. fase equivalente sabre os meios institucionais. Evidentemente seria irreal nsseverar que a riqueza acumnlada permanece sozinha como urn simbolo
contra-se em Leo Spitzer, "Milieu and Ambiance: an essay in historical semantics". Philosophy and Phenomenological Research, 1942, 3, 1-42, 169-218. 7. PEorece improvavel que as norm as culturais, depois de assimiladas, possam ser totalmente elimlnadas. Qualquer residuo que persista, induzira tensoes de personalidade e confli. Uma rejeiQao ostensiva das normas Instl. tos, com alguma medida de ambivaH'ncia. tucionais ja incorporadas, estara provavelmente ligada a algumz. retenQao latente de seus correlativos emocionais. SensaQao de CUlpa, sentimento de pecado, angustia d,a consciencia, sao termos diversos aplicZodos a est a tensao nao aliviada. A aderencla repudiados, ou as racionaliza(;oes da rejeiQao de simb6lica aos valOres nominalmente tais valares, constituem expressoes mais sutis dessas tensoes. 8. Em "muitos", mas nao em todos os grupos nao integrados, pela razlio antes menclonada. Nos gropos em que a enfr..se principal recal sabre os melos instltucionais, 0 resultado Ii normal mente urn tipo de ritualismo, em vez de anomia.
do sucesso, assim como seria irreal negar que os norte-americanos lhe atribuem urn lugar saliente em sua escala de va16res. Em grande parte, o dinheiro tern sido consagrado como urn valor em si mesmo, alem e acima de seu gasto a traco de artigos de consumo ou de seu uso para 0 aumento do poder. 0 "dinheiro" e peculiarmente bem adaptado a tor· nar·se urn simbolo de prestigio. Conforme Simmel salientou, 0 dinhei· ro e altamente abstrato e impessoal. Nao importando como e adquiri· do, fraudulenta ou dentro das instituig6es, pode ser usado para adquirir os mesmos bens e servigos. A anonimia da sociedade urbana, em con· jungao com essas peculiaridades do dinheiro, permite que a riqueza, cujas origens podem ser desconhecidas da comunidade em que vive 0 plu· tocrata ou, quando conhecidas, podem ser purificadas pelo decurso do tempo - sirva como simbolo de elevado status. Ainda mais, no Sonho Norte-americano nao ha ponto de parada final. A medida de "sucesso monetario" e convenientement'3 indefinida e relativa. Em cada nivel d'3 renda, contorme verificou H. F. Clark, os norte-americanos querem sem· pre uns 25% a mais (e claro que esta ideia de "urn pouco mais" volta a funcionar logo depois que 0 ;;.Ivo anterior foi atingido). Neste fluxo de padr6es em mudanga, n13,oha ponto de descanso estavel, ou, em outras palavras, e 0 ponto que se man tern semprE' "urn pouco adiante". 0 ob· servador de uma comunidade na qual n13,oS[lOin comuns os salarios anuais represent ados por seis algarisrr.os (isto e, de 100.000 d6lares para cima) relata as palavras angustiadas de uma vitima do Sonho Americano: "Nes· ta cidade, sou socialmente menosprezado, porque ganho apenas mil d6· lares por semana. Isto d6L" 9 Dizer que 0 objetivo do sucesso monetario esta entrincheirado na cuI· tura norte-americana e apenas repetir que os americanos sac bombardeados de todos os lados por preceitos que afirmam 0 direito e, frequente· rrlente, 0 dever de alcanc;ar 0 cbjetivo, mesmo em face a repetidas frus· trag6es. Prestigiosos representantes cIa sociedade reforgam essa enfase cultural. A familia, a escola e 0 local de trabalho - principais organis· mos que modelam a estrutura da personalidade e a formagao dos objeti· vos dos norte-amencanos - unem-se a fim de impor a intensiva discipli· 'na necessaria para que urn individuo consere intacta uma meta que esta, cada vez mais, fora do seu alcance e que obrigue a motivar seu comportamento pela promessa de uma recompensa que n13,ose cumpre _ Tal co· mo veremos, os pais servem de correia de transmiss13,o para os valares e objetivos dos grupos dos quais fazem parte, sobretudo os da sua clas· se social ou da classe com que se identificam. E as escolas sao evidente· mente organismos oficiais para a transmissao dos va16res predominantes, com uma grande proporgao de livros usados nas escolas da cidade, afirmando impJlcitamente, ou mesnlO de modo expFcito, "que a educagao con· duz a inteltgencia e consequentemente ao sucesso no emprego e ao exi-
to monetario". 10 Os prot6tipos do sucesso, os c1ocumentos vivos' que testemunham que 0 Sonho Norte-americano pode ser realizado contanto que a pessoa tenha as habilidades exigidas, sac pegas centrais desse processo de discIplinar 0 povo, a fim de mante-lo preSQ as suas ilus6es insatisfeitas. CODsidere-se a este respeito os seguintes trechos do jornal de neg6cios, Nation's Busine$s, extraidos de uma grande quantidade de materia analogi), encontrada em comunicag6es de massa, estabelecendo os vaJares de cultura predominantes, no mundo dos neg6cios: (Nation's
o Documento Business, Vol. 27, n.o 8, pag. 7>'
"Voce tem que ter nascido para esse trabalho, meu amigo, ou entao ter urn born pistolao".
Aqui est a uma opiniao heretica possl. velmente nascida de uma frustraQao continu~.cta. a qual rejeita 0 valor de alcanQar urn objetivo aparentemente irrea1izavel e, mais ainda, poe em dtivida, a legitimidade de uma estrutura social que oferece dite. renQas no acesso a esss. meta.
o contra·ataque, afirmando expIlcitamen. te 0 valor cultural de reter as aspiraQoe.s de cads. urn intactas, de nao perder a "ambiQao". Antes de dar ouvidos a esta seduQao, per· gunte a estes homens:
Uma clara afirmaQao da funQao a ser servida pela seguinte lista de "sucessos". Jl:stes homens sao testemunhos vivos de que a estrutura social e t:;,I que permite que essas aspiraQoes sej am alcanQadas se a pessoa for corajosa e persistente. E cor. relativamente, 0 fracasso no atingimento desses objetivos da testemunho das defi. ciencias pessoais. A reaQao provocada pelo fracasso deveria, portanto, ser dirigida pBra dentro e nao para fora, contra as pr6· prias pessoas e nao contra ums. estrutura social que proporciona a,cesso livre e igual 11 oportunidade.
Elmer R. Jones, presidente da WeIls-Fargo Co., que comeQou a vida como rapaz pobre e deixou a escola no 5.~ ano pa ra pegar seu primeiro emprego.
Prot6tipo de sucesso I: Todos podem ter as mesmas corretas ambiQoes elevadas, pois nao importa que 0 ponto de partida seja muito b~,ixo: 0 talento verdadeiro porle alcanQar as maiores alturas. As aspiraQoes devem ser conservadas intactas.
Frank C. BaIl, 0 pedreiro que veio a ~er o rei das frutas em conserva. que viEojOll de Buffalo ate Muncie, Indiana. numa ~ar· rOQa, com 0 cavalo do irmao George, al1 iniciou um pequeno neg6cio que se tornou o maior de sua especie.
Prot6tipo de sucesso II: Quaisquer que seJam os atuais resultados dos esfor<;os de ~,lguem, 0 futuro e grande em suas promessas, pois 0 homem comum ainda pode tornar-se um rei. As recompensas podem parecer ad·adas para sempre, mas final· mente elas serao concretizadas quando n empress. de alguem se tornar "a malor de sua especie".
10.
Malcolm S. MacLean, Scholars, Workers and Gentlemen 29.
(Harvard
University Press, 1938),
J. L. Bevan, presidente do nlinols Central Railroad, que aos doze anos era mensageiro no escrit6rio de frete de Nova Orleans.
Prot6tipo de sucesso III: Se as tendencias seculares de nossa aconomia parecern dar pouca incentivo aos pequenos neg6cios, entao as pessoas podem subir dentro das gigantescas burocracias das empresas p~.rticulares. Se alguem ja nao poda 'er rei no ambito de sua pr6prla crlaQao. pe10 menos pode ser urn presidente em uma das democracias economicas. Seja qual Mr a situaQao atual de urn indivlduo, mOQO de recados ou escriturario, 0 seu olhar deve estar sempre fixado pEora 0 alto.
De divers as fontes jorra uma pressao continua a fim de manter aItas ambigoes. A literatura de exortagao e imensa, e podemos escolher s6mente correndo 0 risco de parecermos injustos. Lembremos apenas os seguintes: 0 Rev. Russel H. Cowell, cujo sermao Acres ot Diamonds foi ouvido e lido por centenas de milhares de pessoas, sendo seguido por The New Day, ou Fresh Opportunities: A Book tor Young Men, Elbert Hubbard, que prof,eriu a famosa Mensagem a Garcia nos clubes de Chautauqua, por tada a extensao do pais; Orison Swett Marden que, numa torrente de livros, publicou em primeiro lugar The Secret at Achievement, elogiado por reitores de universidades; a seguir ensinou como "Ir para a frente" em seu livro Pushing to the Front, recomendado pelo Presi· dente McKinley e finalmente, nao obstante esses t~stemunhos demo era.. tkos, cartografou os caminhos para fazer de to do homem urn rei (Every Man a King). 0 simbolismo do homem comum, elevando-se a situagao de realeza econamica, esta pro!undamente entrelagado a cultura norte-ameri' cana, encontrando talvez a sua definitiva expressao nas plalavras de r.lguem que sabia do que estava falando. Andrew Carnegie: "Seja urn rei em seus sonhos. Diga a si mesmo "Meu lugar e no alto".ll Unida a esta enfase positiva sabre a obriga~ao de manter alvos ele· vados, ha uma enfase correlativa sabre 0 castigo daqueles que refreiam suas ambigces. Os norte-americanos sac admoestados a "nao ser urn dos Que desistem" pois no dicionario da cultura daquele povo, tal como no lexico da sua juventude, "nao existe a palavra 'fracasso'''. 0 manifesto CUltural e claro: nao se pode desistir, nao se deve moderar os esforgos, nao se pode diminuir os objetivos, pois "nao a fracasso, mas 0 alvo baixo e crime". Assim a cultura imp6e a aceitagao de tres axiomas culturais. Pri· meiro, todos devem esforgar-se para atingir os mesmos elevados objetivos, ja que estao a disposigao de todos; segundo, 0 aparente fracasso momentaneo 2 apenas uma estagao no caminho do sucesso final; e tercei!o, 0 fracas so genuine consist3 apenas na diminuigao ou retirada da am· bigao. 11. Cf., A. W. Griswold, The American Cult of Success (Yale University doctoral dissertation, 1933); R. O. Carlson, "Personality Schools": A Sociological Analysis (Columbia Unlver· sity Ma.ster's Essay, 1948).
Numa panifrase psicol6gica :1proximatlva, esses axiomas representam em primeiro lugar, um refar;;o secundario stmb6lico do incentivo; em segundo lug'ar, urn freio a ameac;;a de extingao da reagao mediante um est.imulo assQciado; em terceiro lugar, 0 aumento da farga impulsora para responder ('onstantemente ao fstimulo, apesar da continuada aus€mcia de recompensd. Na parafrase sociol6gica, cetes axiom as represent am primeiro 0 desvia da critica da estrutura social para a critica do proprio individuo, colocado entre aqueles situ ados de tal forma na sociedade, que na0 tem 00tal e igual acesso a oportunidade; segundo, a preservagao de uma estrutura do poLier social, pela identificagao dos Individuos dos estratos sociais inferiores, nao com seus pares, mas com aqueles que estao no alto (a quem eles finalmente se juntarao); e terceiro, a atuagao de press6es favoraveis a conformidade com os ditames culturais de ambigao irreprimivel. mediante a ameaga, para aqueles que nao se acomodam aos referidos ditames, de nao serem considerados plenamente pertencentes a sociedade. E nesteR termos e at raves df' tais processos que a cultura norte-american a contempofllnea continua a ser caracterizada POI' uma pesada enfase sabre a riqueza como simbolo basico do sucesso, sem urna enfase correspondente sabre as legftimas vias nas quais se deve marchar em dire~ao a este objetivo. Como reagem os individuos que vivem nesse contexto cultural? E como as nossas observag6es 5e refletem na doutrina de Que 0 comportamento transviado deriva tlpicamente dos impulsos biol6gicos que irrompem atraves das restrig6es impostas pela cultura? Em poucas palavras, quais sac as consequencias do comportamento das pessoas situadas em varias posig6es na estrutura social de uma cultura, na qual a enfase sabre os objetivos do sucesso dominante afastou-se cada vez mais fie uma enfase equivalente sabre os processos institucionalizados para a obtengao desses objetivos?
Deixando estes padr6es de cultura, examinaremos agora os tipos de adaptllgao clos individuos, dentro da sociedade portadora da cultura. Embora nosso enfoque seja ainda a genese cultural e social das proporg6es variaveis e tipos de comportamento divergente, nossa perspeetiva 5e fransferira do plano dos molde.,,: dos val6res culturais para 0 plano dos tipos de aaaptagao a estes valares entre as pessoas que ocupam diferentes posig6es na estrutura social. Consideramos aqui cinco tipos de adaptagao, tal como estao esquemat.leamente dispostos na tabela seguinte, onde (+) significa "aeeitagao", 1-) significa "r~jeigao". e (±) signifiea "rejeigao de valOres predominantes e sua sUbstituigao POI' novos valares".
Meios Institucionalizados 1. Conformidade
II. III. IV. V.
+
Inovac;3.o Ritualismo Retraimento Rebeliao 13
o exame do modo pelo qual a estrutura social opera a fim de exercer pressoes sabre os individuos, num ou outro desses modos alternativos de romportamento, deve ser precedido pela observagao de que as pessoas podem mudar de uma alternativa para outra, a medida que elas se langam em diferentes esferas de atividades sociais. E'ssas categorias se refel'em ao papel de comportamento em tipos especificos da situagoes, nao a personalidade. Sao tipos de reagao mais ou menos duradoura, nao tipos de or· ganizagao de personalidade. Considerar esses tlpos de adaptagao em diversas esferas de conduta introduziria uma complexidade que nao. poderia ser dominada na extensao deste capitulo. POI' esta razao, vamos nos ocupar primordialmente com l:l atividade econamica no senti do amplo "da produgao, troca, distribuigao e con sumo dos bens e servigos" em nossa sociedade competiti,va, onde a riqueza assumiu um papel altamente simb6lico. 12. Nao faltam tipologias de dlferentes modos de reagao, em relagao tls condlg6es de frustra~ao. Freud, em sua Civilization and Its Discontents (pag. 30 e segs.) f.ornece urn; tipologias derivativas, freqlientemente diferentes em de~alhes baslcos, serao en: contradas em Karen Homey. Neurotic Personality of Our Tlm.e (Nova Iorque, }937). S. Rosenzweig, "The experimental measurement of types of reactIon to frustratIOn, em H. A. Murray e outros, Explorations in Personality (Nova Iorque, 1938), 585-599; e nos trabalho~ de John Dollard, Harold i.asswell, Abram Kardiner e Erich Fromm: Mas na estrita tipologia fre'~dian~ a perspectiva e de tipos de rea~oes inparticularmente dividuais, inteiramente separada do lugar do indivlduo dentro da estrutur:, social. Apesar de sua constante preocupl"l(ao com a "cultura", por exemplo, Horney nao explora as diferen~as no imp acto dessa cultura sobre 0 fazendeiro. 0 trabalhador e 0 homem de neg6cios sobre os individuos das classes baixa, media e tJta, sObre os membros de varios grup~s etnicos e raciais etc. Ccmo rp.sultado. 0 papel das '~inconsistencia~ da cultura" nao e 10caJizado em seu impacto diferencial sobre grupos dlversamente sltuados. A cultura toma-se uma especie de len~ol que cobre igua'mente todos os. memo bros da sociedade sem considerar as diferen~as idiossincraticas nas suas hist6nE.'; do vida. Uma suposi~ao primordial da nossa tipologia e que essas rea~6es ocorrem com freqiiencia diferente dentro de varios subgrupos de nossa sociedade, precisamente por· que os membros de tais grupos ou estratos SaD diferencialmente sujeitos ao estlmulo cultural c as restri~6es socials. Esta orlentacao sociol6glca sera encontrada nos escritos de Dollard, e, menos sistemMicamente, nos trabalhos de Fromm, Kardiner e Lasswell. . Re resentll Do ponto de vista geral, ver a nota 3 deste capitulo. . 13 Esta quinta alternativa esta num plano claramente dlferente ds"l demals. P . . . . I' uma rea~ao de transi~ao que procura IDstttuclOna Izar novos 0bJ.etivos e novoS proced!· • mentos a serem compartilhados por outros membros da sociedade. Refere-se asslm a esfor~os para mudar a estrutura cultural e soc!sJ existente, ao inves de acomodar esfor~os denbo
dessa estrutura:.
Na medida em que uma sociedade e estavel, 0 tipo I de adaptagao conformidade tanto com os objetivos culturais como com os meios institucionalizados - e a mais comum e a mais difundida extensamente. Se ass'm nao fosse, nao se poderia manter a estabilidade e continuidade sociais. A engrenagem de expectativas que constitui cada ordem social e sustentada pelo comportamento modal de seus membros, representando a conformidade com os padroes culturais estabelecidos, embora estes estejam talvez variando desde muitos seculos. De fato e samente porque 0 comportamento e tipicamente orienta do em diregao aos val0res basicos da sociedade, que podemos falar de urn agregado humane como constituinte de uma sociedade. A menos que haja urn reposit6rio de va16res compartilhados por individuos que se influem reciprocamente, existem relagoes sociais (se e que assim possam ser chamadas as interag6es desordenadas), mas nao sociedade. E assim que, em meados deste seculo XX, seria possivel nos referirmos a extinta "Liga das Nagoes" principalmente como uma figura de linguagem, ou como urn objetivo imaginado, mas nao como uma realidade sociol6gica. Ja que 0 nosso interesse primordial 5e concentra sabre as fontes de comportamento desviado e ja que temos examinado resumidamente os mecanismos que transformam a conformidade como a reagao modal da sociedade norte-americana, pouco mais necessita ser dito neste ponto em relagao a este tipo de adaptagao. '
A grande enfase cultural sabre a meta de exito estimula este modo de adaptaC;ao atraves de meios institucionalmente proibidos, mas fr~. ouentemente eficientes, de atingir pelo menos 0 simulacro do sucesso _ a Esta reagao ocorre quando 0 individuo assimilou a riqueza e 0 poder. enfase cultural sabre 0 alvo a alcangar sem ao mesmo tempo absorve!' igualmente as normas institucionais que governam os meios e processos para 0 seu atingimento. Do ponto de vista da psicologia, pode-se esperar que um grande interesse emocional por determinado alvo em vista, produza a disposigao de aceitar riscos, e esta atitude po de ser adotad3 por pessoas de tadas as camadas da sociedade. Do ponto de vista da sociologia, surge entao esta p:rgunta: quais as caracteristicas de nossa estrutura social que predispoem em diregao a esse tipo de adaptagao, produzindo assim maiores fre. quencias de comportamento divergente em uma camada social do que em outra? Nos n~vcis econamicos mais elevados r. pressao rumo a inovagao apaga, com nao pouca frequencia, a distingao entre os esforgos normalmente llsados no mundo dos neg6cios, ou seja, no lado "legal" dos costumes e as
manobras "espertas" alt~m dos costumes. Conforme Veblen observou, "nao e facil em qualquer easo dado - na verdade, e por vezes impossivel, ate que os tribunais hajam se manifestad'J a respeito - dizer se e urn caso de elogiavel habilidade de vendedor, ou uma ofens a punivel". A hist6ria d.as gran des fortunas norte-americanas e urn exemplo de tensoes rumo a inovagoes institucionalmente duvidosas, tal como e atestado por muitos elogios aos "Baroes Ladroes". A relutante admiragao frequentemente express a em particular, e nao raramente em publico, a esses horn ens "astutos, habeis e bem sucedidos", e urn produto da estrutura cultural em que a meta sacrossanta virtualmente consagra os meios. Este fenameno nao e novo. Sem admitir que Charles Dickens f6sse urn observador inteiramente cuidadoso da cena norte-american a, e com pleno conhecimento de que ele era tudo, menos imparcial, citemos suas agudas observagoes sabre 0 "amor dos norte-americanos" s transagoes "espertas", que encobre muitas fraudes e grosseiras quebras de confianga: mui· tos desfalques, publicos e privados, e permite que muitos canalhas merecedores da fOrcr. !ft igualem com pessoas honestas ... Os meritos de uma especulagao irregular ou uma falencia, ou de urn tratante bem sucedido, nao sac medidos por suz.s relagoes com a regra aurea. "Faze a out rem 0 que queres que te fagam", mas sac apreciados pela sua "esperteza" ... Man· tive 0 seguinte dialogo uma centena de vezes: "Nao e uma circunstancia muito degrooantQ que fulano esteja adquirindo uma grande propriedade pelos meios os mais in fames e odiosos, e nao obstante todos os crimes de que ele se tornou culpado, deva ser tolerado e esti· mulado pelos vossos concida.daos? :t!:le e uma praga publica, nao e"? "Sim, senhor". "Urn mentiroso confesso"? "Sim, senhor". ":t!:letern side chutado e algemado, e preso"? "Sim, ~e· nhor". "E urn indivlduo inteiramente desonrado, degradado e devasso"? "Sim, senhor". "Santo Deus, qual e entao 0 seu merito"? "Bern, senhor, ele e urn homem esperto".
Nesta caricatura dos valares culturais conflitantes, Dickens era evi· dentemente apenas mais um desses espiritos agudos que demonstraram sem piedade as consequencias da importancia dada ao sucesso financeiro. Os humoristas norte-americanos continuaram no ponto em que os estrangeiros pararam. Artemus Ward satirizou os lugares comuns da vida americana, ate que parccessem estranhamente incongruentes. Os "fil6sofos de praga publica", Bill Arp e Petroleum Volcano [mais tarde VesuvioJ Nasby, puseram a satira a servigo da iconoolastia, quebrando as imagens das figuras publicas com prazer nao oculto. Josh Billings e seu alter ego, 0 Tio Esek, tornaram explicito 0 que muitos nao podiam admitir livremente, quando ele" observavam que a satisfagao e relativa, ja que "a maior parte da felicidade neste mundo consiste em possuir 0 que os outros nuo podem conseguir". "Todos se dedicaram a demonstrar as fungoes sociais do humorismo tendencioso, tal como foi mais tarde anaIisado por Freud, em sua n:onografia acerca de Wit and Its Relation to the Unconscious, usando como "uma arma de ataque tudo 0 que e grande, dignificado e poderoso, contra aquilo que esta protegido por obstaculos internos ou circunstancias extern as contra a detragao direta". . . Porem, talvez mais apropriada tenha side a exibiC;ao de espirito, feita por Ambrose Bierce numa forma que tornou evidente que 0 espirito nao se havia destacado de suas origens etimol6gicas e ainda signifi-
cava 0 poder pelo qual a gente sabe, aprende, ou pensa. Em seu ensaio caracteristicamente ironico e profundo acerca do "crime e seus c . " . or l'etIvo.s , BIerce. come«a observando que "os soci610gos tem longamente ~ebatldo a teona de que 0 impulso para cometer 0 crime e uma molesha; os que concordam com isso parecem sofrer des sa mesma molestia" Ap6s tal preludio, des creve os modos pelos quais 0 malandro bem suced!. do alcan«a ~ legitima«ao social e prossegue, analisando as discrepancias entre os valores cUlturais e as rela«oes sociais. v;a de .regra, 0 born nort~.americano e bastante contn\rio a velhacaria; mas ale suaviza sua ~us:endade por uma amlg,wel toleri'mcia para com os velhacos. Sua unica exigancia e de que ele de~a conhecer pessoalmente os tratantes. Todos n6s "denunciamos" os ladroes em voz aIta, se nao temos a honra de conheca-Ios. Se tivermos essa honra, bern, isto e diler~nte, a menos que ales recendam a favela ou a prisao. Podemos saber que ales SaD delinqilentes, ma~ quando os e~contramos, sacudimos sua.s maos, bebemos com ales, e se aconsob algum outro aspecto, convidamo-Ios as nossas t~ce que seJ~m rICos, ou lmportantes Cl;oSase conslderamos uma honra freqiientar as suas. Bern entendido, "nao aprovamos os seus metodos" e isto ja constitui uma punigao suficiente. A Id&ia de que urn patife da qualquer lmportancl~ 0.0 que da'e se pensa, parece ter sido inventado por urn humorista. No palco de vaudevIlle de Marte, isto provavelmcnte ter·a fe to sua fortuna. , [E IAcrescentSo]: Se fa sse negado 0 reconhecimento social aos velhacos, ales seriam em numero conslderavelmente menor. Alguns, apenas esconderiam com mais cuidado seus \'astos 0.0 longo do caminho da iniqilidade, mas outros contrariariam bastante os seus instintos pSora r~nunciar as desvantagens do. velhacaria em troca das de uma vida honrada. Umll pessoa mdlgna nada teme tanto como a negativa de urn aparto de mao e 0 golpe demorado, mas meVltavel de urn olhar de desprazo. Temos velhacos ricos porque tern os pessoas "respeitaveis" que nao se envergonham de toma-Ios pela mao, de serem vistas com ales, de dizer que os conhecem; consideram desleal ce~sura-Ios; gntar quando se e roubado por ales equivaleria a testemunhar contra urn cum· pllce. Pode·se s~rrir para u:" canalha (a maior p.,rte de n6s faz isso muitas vazes por dial se a gente nao sabe que ele e urn safado e nao disse que ale e; mas sabendo que e, ou tendo proclamado que e, sorrir para ale e ser hipocritSo, apenas urn simples hip6crita ou UJTl hlp6cnta adulador, de acordo com a posigao na vida em que esteja 0 canalha que receb", nossos sornsos. Ha mais hip6critas simples do que hip6crit.,s aduladores, pois ha mais velhacos de pouca importancia do que canalhas ricos e distintos, embora cada urn dos ultimos sera saqueado enquanto 0 seu carliter for receba menos sorrisos. 0 povo norte-americano o que {>: enquanto .ror tolerante em relagao aos canalhas bem sucedidos; enquanto a inl;e. nUldade norte-amenc&.na tragar uma distingao imaginaria entre 0 carater publico de um homem e a. seu carater particular, comercial ou pessoaI. Em poucas palavras, 0 povo dos Estados Umdos sera. roubado enquanto merecer ser roubado. Nenhuma lei hum.,na pode nem d:ve eVlta-Io, pOlS se 0 fizesse, viria abrigar uma 'ei mais alta e mais salutar: "Haver&!; de colher 0 que tiveres semeado" .14
14. As observagoes de Dickens SaD de suas American Notes (por exemplo, na edigao publi· Uma analise sociol6gica das fungoes do hucada em Boston: Books, Inc., 1940), 218. mor. tendenclOso e dos humoristas tendenciosos, que seria a contrapartida formal, embora mevltavelm:nte menor, da analise psicol6gica de Freud, ja esta tardando So aparecer. A dlssertagao doutoral de Jeannette Tandy, embora nao seja de carater sociol6gico, apresenta urn ponto de partlda: Crackerbox Philosophers: American Humor and Satire (Nova Iorque: Columbia University Press, 1925). No Capitulo V de Intellectual America intitulado "The Intelligentsia- ••• Oscar (Nov.a Iorque: Macmillan, 1941), apropriadamente Carglll tece algumas s611das observagoes sabre 0 papel dos mestres da satira norte-amencana d~ seculo XIX; porem, isto naturalmente tern apenas urn pequeno lugar em 0 ensalo de Bierce. seu grande !lvro sabre "a marcha das idl\ias norte-americanas".
Vivendo na era em que os baroes ladroes floresceram, Bierce nao po
"
law-breakers",
Proba
011,
Porem, quaisquer que sejam as proporc;6es diferenciais do comportamento desviado nos diversos estratos sociais, e sabemos por muitas fontes que as estatisticas oficiais a respeito dos crimes mostram uniformemente proporc;6es maio res nos estratos inferiores, e que elas nao sac dig· nas de confianc;a, resulta da nOSsa analise que as maiores oressOes palra o comportamento transviado 8[.0 exercidas sabre as camadas inferiores. Casos que podemos apontar nos permitem descobrir os mecanismos socia· 16gicos responsaveis por essas press6es. Diversas pesquisas tern mostrado qlle as areas especializadas de vicios e crimes constituem uma reaC;ao "normal" contra uma situaC;ao em que a €:nfase cultural sabre 0 sucesso pecuniario tern sido assimilada, mas onde ha pouco acesso aos meios con· vencionais c legitimos para quP uma pessoa seja bem sucedida na vida As oportunidades ocupacionais das pessoas destas areas sac grandemen~ te confinadas ao trabalho manual e aos pequenos empregos de colarinho branco. Dada a estigmatizaC;ao norte-americana ao trabalho manual . a qual se verificou ser bastantc uniforme em t6das as classes sociais 17 ~ a ausencia de oportunidades realistic as para ultrapassar aquele nivel ~ resultado .tern sido ~ma _tendencia acentuada em direC;ao ao compor;amendesvlado. A s1tuac;ao social do trabalhador manual (nao especializaao) e 0 cons:quente baixo rendimento nao 0 habilitam a competir dentrodos padroes consagrados de honestidade, com as oportunidades de poder e de alto rendimento oferecidos pelos sindicatos do vicio da chantagem e do crime. 18 ' P~ra. as fin~lidades deste trabalho, essas situac;6es exibem duas caractenstlCas sal1entes. Primeiro, os incentivos para 0 exito sac inculca· d?S pe.las. normas estabelecidas da cultura e em segundo lugar, as vias dlSpOmVels para 0 acesso a este objetivo, sac tao !imitadas pela estrutura de classe, que nao resta outra saida senao apelar para os desvios de comportamento. E a jalta de cntrosamento entre os alvos propostos pelo
t?
National ~pinion Research Center, National Opinion on Occupations, abril, 1947. Esta pesqUlsa sobre a classificagao e avaliagao de noventa ocupagoes, numa amostragem na· clOnal, apre.sentE. uma serie de importantes dados empfricos. De grande significagao ~ a constatag~o de que, apesar de uma leve tendencia das pessoas a valorizarem sua pr6pr~a ocupagao e as correlE.tas mais alto do que as de outros gropos, ha uma subsean· ~__1 concordancla na avaliagao dos empregos ou orupagoes em todos os ambientes do trabalho. Mais pesquisas desta especie sac necessarias a fim de cE.rtografar a topografla cultural dE.S sociedades contemporaneas. (Vel' 0 estudo comparativo do prestf"l0 concedid ... • . palses industrializados: " Alex Inkeles e Peter H . 0 a"s p~mclpals ocupagoes em sels .' ROSSI, NatIOnal compansons of occupational prestige", American Journal of SocIOlogy, 1956, 61, 329-339). 18. ~er J.oseph D. Lohman "The participant observer in community studies" American SocIOlogICal Review, 1937, 2, 89(}.S98 e William F. Whyte, Street Corner S:ciety (Chicago, 1943). Notem·se as conclusoes de Whyte: "E diflcil para 0 homem de Cornerville al· ~angar a escada (do sucesso), mesmo 0 seu primeiro degrs,u ... Jl:le e um Italiano e os Ital1anos sao considera1 os pe Ias pessoas das classes superiores como os menos deseja' . vels dos povos imigrantes ... a sociedade promete recompensas atraentes em termos de ~mhelTo e posses materiais ao homem 'bem sucedido'. Pa,ra a maioria dos habitante~ l~a~o~nervllle" essas recompensas s6 poderao ser alcangadas pela influencia das quadri( rackets) e da protegao poUtica". (273-~74)
17.
ambiente cultural e as possibilidades oferecidas pela cultura social qua 0 recurso ~ produz int.ensa pressao para 0 des~io ~e "com~or:amento. e l1mltado por uma estrutJ . "'~nais legitimos para "entrar no dmheuo de classe a qual nao e inteiramente acessfvel, em todos os niveis, a ~~mens de boa capacidade. 19 Apesar de nossa persistente ideologia de "oportunidades iguais para todoS",20 0 caminho ~ara 0 exit? e rel~tivamente fechado e notavelmente dilicil para os Que tern pouca mst.:uc;ao fo~~al e. parcos recursos. A pressao dominante conduz a atenuac;ao ~a utll1~aC;aodas vias legais, mas ineficientes, e ao crescente usa dos expedlentes lIegitimos, porem mais ou menos eficientes. ., . .. A cultura dominante faz exigencias incomnatlvels, para os mdlvlduos situados nas camadas inferiores da estrutura social. De urn lado, a eles se pede que orientem sua conduta em direc;ao a expectativa da gr~nde riqueza: _ "Que cada horn em seja urn rei", diziam Ma~den, CarnegIe ~ l,ong _ e do outro lado, a ele::; se negam, em larga medlda, as oportumaades efetivas de assim fazer rientro das instituic;oes vigentes. A conseqUencia desta inconsistencia estrutural e uma gra~de porcent.agem de 0 equilibrio entre os fms e os mews cultucomport amen to transviado. ralmente aceitos, torna-se altamente instavel, devido a tendencia ere scente a se atingir as metas carrega.das de prestigio, por qualquer meio. Dentro desse ccntexto, Al Capone representa 0 triunfo da inteligencia amoral sobre 0 "fracasso" que a moral prescreve quando os canais da mobilidade vertical sac fechados ou estreitados numa sociedade que atribui alto premio s6bre a afluencia econ6mica e ascensiio social para todos os seus membros.
21
Esta ultima qualiiicaC;ao e c1e importancia essencial. Ela irr.plica em que outros aspectos da estrutura social, alem da extrema enfase sobre 0 sucesso pecuniario, devem ser considerad03, se quisermos entender as fontes sociais do comportamento desviado. Alta porcentagem de comportamento desviado nao e gerada simplesmente pela falta de oportunidade ou por exagerada enfase pecuniaria. Vma estrutura de classes comparativamente rigida, uma ordem de castas, podem limitar as oportunidades, muito alem do ponto que hoje se observa na sociedade norte-americana. 1.9. Numerosos estudos tem concluldo que a piramide educacional funciona pE.ra. impedir que uma grande prOpofgao de jovens inquestionavelmente habeis mas econOmlcamente desv~J1tajados obtenham uma instrogao formal mais alta. Jl:ste fato acerca de nossa estr:tura de classes tem sido observado com desalento, POl' exemplo, POl' Vannevar Bush em seu relat6rio ao governo, Science: Thc Endlcss Frontier. Veja-se ainda W. L. Warn~r, R. J. Havighurst e M. B. Loeb, Who Shall Be Educated? (Nova Iorque, 1944). o papel hist6rico cam1::liante desta ideologia e um assunto que merece ser estudado. 20. 0 papei do negro com relagao a este assunto faz surgir questoes tao .te6ricas como 21. I - negra tem asslmllado os va· praticas. Ja foi dito que grandes segmentos da popu agao . e tem !tires da casta dominante, de sucesso pecuniario e de progresso SOCIal, mas s. d "ajustado reeJlsticamente" ao "fato" de que a ascensaO social ~ atualmente confma a quase inteir:mente ao movimento dentro daquela casta. Vel' DOlla:d, .caste and c~:~~ in a Southern Town, pags. 66 ·e segs.; Donald Young, American Mmorlty Peoples, hS:' Robert A. Warner, New Haven Negroes (New HE.ven. 1940), 234. Vel' tambt\ffi a su quente
discussao
neste
capitulo.
SOCiologia -
E somente quando um sistema de va16res culturais exalt a, virtualmente acima de tUdo 0 mais, certos objetivos de sucesso comuns d popula(;ao em geral, enquanto a estrutura social restringe rigorosamente ou fecha eomp~etamente 0 acesso aos rr.odos aprovados de alcangar estes objet!. vos, para uma parte consideravel da mesma popula(;ao, que 0 comportamento desviado se apresenta em grande escala. Em outras palavras, uossa ideologia igualitaria nega implicitamente a existencia de individuos e grupos nao competidores, na perseguigao do sucesso pecuniario, Ao inYes, 0 mesmo corpo de simbolos de sucesso e dado como se aplicando a todos, Afirma-se que as metas transcendem as linhas de classe, nao sendo limitadas por elas, mas a organizagao social de hOje e tal que existem diferengas de classe na acessibilidade a essas metas. Neste contexto, uma virtude cardeal norte-americana, a "ambigao", estimula um vicio "ardeal tambem norte-americano, 0 "comportamento desviado". Esta an,lJise te6rica po de auxiliar a explicar as correlagoes varIaveis entre 0 crime e a pobreza. 22 A "pobreza" nao e uma variavel isolada que opere precisamente da mesma forma, ande quer que seja encontrada; f! apenas uma dentro de um complexo de variaveis socia~s e cUlturais identificaveis e interdependentes. A pobreza em si e a cOnseqiiente limi~ tagao de oportunidades nao bastam para produzir uma PrOporgao alta e conspicua de comportamento criminoso, Mesmo a not6ria "pobreza no meio da opulencia" nao conduzira, necessariamente, a este resultado. Porem, quando a pobreza e as desvantagens a ela associadas, em competigaO com os va16res aprovados para todos os membros da sociedade es. tao articul2das com uma enfase cUltural do exito pecuniario como objetivo domimmte, as altas prOpoTgoes de ccmportamento criminoso sao 0 resultado normal. Assim, as esLatisticas dc, crimes, rUdimentares (e nao necessariam-ente dignas de confianga), sugerem que a pobreza e menos altamente correlacionada com a delinquencia no sudoeste da Europa do que nos Estados Unidos. As oportunidades de vida economica dos pobres, naquelas areas europeias, pareceriam ser ainda menos promissoras do que neste pais, de modo que nem a pobreza nom sua associagao com oportunidades limitadas e sUficiente para justificar as diferengas de correlagoes. Contudo, quando consideramos a COnfiguragao total _ pobreza, oportunidades limitadas e inculeagaO de alvo$ culturais _ aparece alguma base para explicar a mais alta COrrelagao entre a pobreza e 0 crime em 22. 11:ste esquema £,nalftlco pode servlr para resolver algumas das Inconslstenclas aparentes na rela~iio entre 0 crime e 0 status economlco, menclonados por P. A. Sorokln. tie Observa, por exemplo, que "niio e em toda a parte, nem sempre, que os pobres mostram maior propor~iio de crimes... mUitos palses mals pobres tern tido menos crime que palses mais ricos .. , A melhorla economic£, da segunda metade do secUlo XIX e do come~o do XX, niio fol acompanhada pelo decresclmo da delinqiiencla". Ver seu Con. temporary Sociological Theories (Nova Iorque, 1928), 560-561. ContUdo, 0 ponto crucial e de que a baixa situa~iio economic£, exerce urn papel dinamico diferente, em estruturas sociais e culturais diferentes, tal como e estabelecido no texto. Portanto, niio sa deve esperar uma correla~iio linear entre 0 crime e a. pobreza.
Teoria
e Estrutura
d que em outras on de a estrutura de classes, rigid a, e llossa soci~dade, 0 d'ferentes para as divers as classes. - b 1 de sucesso t , b' _ assocfada a szm 0 os . _ t a enfase cultural da • -. d contradlgao en re _ am_ Igao peAs vltlmas essa .. a 0 ortunidade completa nao sac sempre cuniaria e os obstaculos SOCIalS. : suas aspiragoes frustradas. Cert3conscientes das fontes estrutur81s e. tes de uma discrepancia entre 0 ' _.. t ente conSClen mente elas sao frequen em .. Porem elas nao percebem, neces' pensas SOCIalS., t d valor pessoal e as recom A e-les oue encontram a fon e e isto ocorre. qu . _ sariamente, como e que . 1 odem tornar-se alienados em relagao tal fenomeno na estrutura s~~:did~tos prontos para a Adaptagao V, (~ea essa estrutura e tornar-se , t mente inclui a gra.nde malOrIa, .sto aparen e. , beliao) , Porem outros, elf t mais misticas e menos SOCll)., dificuldades a on es "d ' P odem atnbmr suas . l' 'sta e soci6logo apesar e ~L ' 0 distmto c aSSlCl _" l6gicas. P~lS, conforme bservado em sua explicagao geral, 0 memes . dade em que as fortunas dos ., mo" Gilbert Murray, tern t' ~ 0 e uma SOCle lhor terreno para a supers 19ao " te nenhuma relagao entre seus orta" pratlCamer.. d homens parecem nao comp ,. 'd d estavel e bem governada ten e f s Uma socle a e . ,, meritos e seus es orgo , dl'Z Virtuoso e Industnoso seJil. urar que 0 Apren . "'" mais ou menos a asseg d' Malvado e Preguigoso VIr•• 'd nquanto 0 Apren IZ .• , bem sucedido na VI a, e tendem a par em eVldenCla t 1 'edade as pessoas , a fracassar. E em a SOCI . . 'el's Porem (numa socledaazoavels ou VISIV, , 'd as correntes de causagao, r . 'd muns da diligencia, honest! a.) as VIrtu es co . d t'l'dade" 23 E em tal SOCleda e as de sofrendo de anomIa ... de pouca u 1 1 ' . d de e bondade parecem ser _ t e do misticismo: os efeitos a pessoas tendem a aliviar a tensao a ray s Fortuna, do Acaso, da Sorte. d'do" como 0 eminentemente "fra' d' 'd 0 "bem suce 1 ..entemente atribui 0 resultado a "sor. De fato, tanto 0 m .1Vlu cassado" em nossa sOCIedade, frequ 6' Julius Rosenwald, declarotl ' , h mem de neg ClOS, , te", Assim, 0 prospera 0 "d .das a sorte", 24 E um Imporq ue 95% das grandes fortunas er~m, eVI I' tl'VO dos beneficios sociais 6 . m edItOrIal exp lCa tante jornal de ne~ c~o~ nu ., ue a sabedoria complementada pela da grande riqueza mdlVldual, dlz~a q d s fortunas: "Quando um • onsavels pelas gran e sorte eram os fatores resp . auxiliado conforme recod t s invest!mentos , . homem atraves de pru en e. acumula uns poucos mlt em mmtos casos 'd nhecemos, pela boa sor e • d outros" 25 De modo pareCl 0, ' t' 19o do bolso os. d Ihoes, nem por ISSO Ira a , ., a ao economica em termos e o trabalhador frequenteme~te expllca ~e:;;~o~ homens experimentados e acaso. "0 trabalhador ve em seu lh Se ele trabalha, sente-se especializados, que nao encontram traba o.
164-.165 0 capitulo Iorque, 1925),tirei Gilbert Murray, Five Stages of Greek ReIl , r;ion (Nova f Nerve" do qual este paragr afo , 23. do Prof. Murray £, respel't 0 de "The FaIlure 0, . clvilizadas e penetran t es a nalises so. deve certamente ser classificado entre as m&J,s ciol6gicas de nosso tempo, Ver a. cita~iio de uma entrevista em Gustavus 24. rican Fortunes (Nova Iorque, 1937), '706. 25. NaUon's Business, VoL 27, N.o 9, pagll. 309.
Meyers,
History
of the
Great
Amo-
Sociologia
com sorte.
Se ele esta sem trabalho, considera-se a vitima de ma sorte. Estabelece ~le pouca relar;ao entre 0 valor e as conseqilencias".26 porem, estas referencias a atuac;ao do acaso e da sorte servem a func;6es distintas, conforme elas Rejam feitas POl' aqueles que as atingiram, ou pOl' aqueles que nao atingiram as metas valorizadas pelo ambiente cUltural. Para os bem sucedidos, isso constitui em termos psico16gicos, uma desarmante expressao de modestia. Com efeito, esta longe de qualquer aparencia de presungao dizer que alguem teve sorte, em vez de dizer que mereceu inteiramente sua pr6pria boa fortuna. Em termos socio16gicos, a doutrina da sorte, tal como e exposta pelos bem sucedidos, serve a duplll func;ao de explicar a freqtiente discrepancia entre 0 merito e a recompensa, ao mesmo tempo que conserva imune da critica uma estrutura social que permite que tal discrepancia se torne freqtiente. Pois se 0 sucesso far primariamente materia de sorte, se ele existe simplesmente na cega natureza das coisas, se ele sopra onde quiser, e nao f:e pode pre vel' de onde vem e para onde vai, enUio certamente ele sera incontrolavel e ocorrera na mesma medida qualquer que seja a estruwra
-
Teoria e Estrutura
_ pl1'cam a doutrina da sorte a separagao entre que nao a om ensas pode-se desenvolver uma a t't1 u de E n t l'e nqueles •..' o merito, ,os. esfOrg?s. e as reccor: a estrutura social, melhor exemplificaindividualwtlca e cmlCa par~ , 'mport9. nao e 0 que voce conhece, ma3 da no cliche cultural de que 0 cJue 1 quem voce conhece". d enfase cultural sabre 0 suceSSQ ran a Em sociedades como a nossa't gt :ocial que indooidamente limita. ., . todos e uma es ru ura . pecumano para '. d estabelecem para muitos uma ten· at'c aos melDS aprova os, . . . . ontraste com as normas mst1tuclOo recurso pr 1 0 US praticas inovat1vas, em c . . 'd t sac rumo d t - presup6e que os md1v1 uos e . esta forma de a ap agao nais. Porem, . r dos de modo que abandonam os l:1ham sido imperfeitamente SOCIa1za '. f'a-o ao exito POl' outro lado, . . . quanto retem a aspua". . . meios instltuclOna1s, en .' 1 • mente OS valares institucional1"I tern asslm11aclo comp e"a ' entre aque es que ' .t a-o companlvel conduza a uma rea,t. • provavel que uma Sl uag zados, " mms 1 ,t. bandonado persistindo, porem, a con- aIt erna t'va .' roa1s gao 1 , na qual 0 a vo ". a, d eagao requer exame ulterlOr formidade aos costumes. Esse t1PO e l' definido.
social.
Para os que nao sac bem sucedidos, e particularmente para aqueles entre estes, que encontram pouca recompensa de seus meritos e seu esfOrC;O,a doutrina da sorte serve a func;ao psico16gica de as habilitar a preservar sua auto-estima, face ao fracasso. Tambem po de implicar a dis· func;ao que consiste em reprimir a motivagao para urn esfarc;o persistente.27 Sociologicamente, como e ensinado POl' Bakke28, a doutrina pode re!letir falta de compreensao do funcionamento do sisLema econamlco social, e pod!} ser disfuncional na medida em qne elimina a ex,plicac;ao racional de trabalhar a favor das mudangas estruturais, proporcionando major justiga nas oportunidade~ e nas recompensas. Esta orientac;ao em direc;ao a sorte e aos risces, acentuada pela tensac de aspirac;6es frustradas, pode ajudar a explicar 0 acentuado interesse pelos jog-os de azar em certos estados da sociedade, jogos estes proibidos peJa lei ou apenas tolerados, mas nao reconhecidos ou estimulados.29 26. E. W. Bakke, The Unemployed Man (Nova Iorque, 1934), pag. 14. (Os grifos sao meus). Bakke faz insinua9ao em rela9ao as fontes estruturals que sugerem uma cren9a na sorte entre os trabalhadores. "Ha certa dose de de5animo na sltuE,<;ao em que um homem sabe que a maior parte de sua boa ou ma fortuna est a fora de seu contrOie e depcnde do fator sorte". (0 grifo e meu). Na medida em que ele e for9ado a se acomodar a decis6es da gerencia ocasiunalmente imprevislvels, 0 trabalhador esta sujelto ~ Inseguran9as e ansledE,des no seu trabalho: outra "semente" para a cren~a no destino, fato, acaso. Serla interessante saber se tals cren9as diminuem quando os slndicatos operarios reduzem a probabilidade de que seu destlno ocupaclonal esteja fora de SUM pr6prias maos. 27. Em seu ponto extremo, pode estlmular a res1gna9ao e a atlvidade rotinelra (Adapta9ao III) ou a passlvidade fatalist a (Adapta9ao IV), de que nos ocuparemos adi=te. 28. Vel' Bakke, op. cit., 14. onde ele sugere que 0 "trabalhador sabe menos acerca dos pro. cessos que Ihe permltam ser bem sucedldo ou nao tel' nenhuma probabilidade de exito, do que os homens de neg6cio ou das profiss6es liberals. Portanto, ha mais CfuSOSem que os acontecimentos parecem ser influenciados pela boa ou mil. sorte". 29. Ct., R. A. Warner, New Haven Negroes e Harold F. Gosnell, Negro Politicians (Chlca-
ode ser prontamente identificado. tipo ritualista de adaptag~o dP 'ados alvoS culturais do gran· na rpduc;ao os e,ev Implica no abandono ou ," . b'l'dade social ate 0 ponto em que .,t.. e da rap1da mo 11 . , de sucesso pecum""no . _ d urn porem embora se re. ·t s aspuagoes de ca a· , "'. v1'da" embora se tracem possam ser sat1sfe1 as a d t tar "procrre",lr na , jeite a obrlgagao cultural e en 1 . '"mente continuam a ser seguidas ~s pr6prios horizontes,. quase compu siva as normas instituciona1s. terminol6glCo perguntar se isto constitui
o
Seria urn jago de palavras D d que a adaptagao, com efeito, e urn comportamento divergente. es e tamento claro e institucio. . t desde que 0 compor . -' uma dec1sao merna, e _. cultllralmente prefendo, nao e genalmente l;lermitido, embora nao seJ~ t" de urn problema social. As a ralrr.ente considerado como represen t ~va~ fa"endo esta especie de adap. d' 'd os que es eJ u. ," pessoas intimas dos m 1V1u " d "nfase cultural predominante, 'n'a em termos a e " tagao podem dar OP1,10" odem no caso individual, sentir que 0 Quer isto seja ou nao des· e podem "tel' pena deles , e r d 'd" cia" velho Jonesy esta certamente em.de:~~ade; cla~a!Ilente representa um afascrito como urn comportamento 1 homens sao obrigados a se esfor· tamento do modelo cultural no. qua os f a~ atraves dos proJedimentos . t ndo prefenvel que 0 ag h' garem atlVamen e, se . ara a frente e para cima, na 1erarinstitucionalizados, para cammharem P quia social de interesse pelo "jogo de numeros· entr~ OS os quais comentam 0 gran ,. (N do trad.: "Number's game e go . 1935)123-125, . I ·tua91io econom1ca. . ne"l'OS norte-americanos de ba xa S1 ".. 0 do bicho" br&oSilelro). un':a loteria clandestlna, um tanto semelhante ao Jog
sociol.ooin.
Seria
de
esperar
uuma
sociedade
dente
das
que
do
ansiedade.
ou
mais
o
sindrome
filosofia certa", as
altas
satisfeito
ambic;6es
uma
mais
siao
de temer
C'oisa
que
caixa
se
empresa
utilidade
publica. individual
que
parecem
principais,
se que
seguras
II -
da
enfase
que
inferior na
pautarem
conformidade
cima a
classe com
media os
os as
menos
costumes
de para
e frustrac;6es dos
objetivos
0 quanto
mais
cuja
baixas
e do
que
os americanos
representados Pois
e na
sabre
sociedade,
as
classe
de
a probabilidade
da
das da
os
media
que infe-
a fim
qual
encontrar
disciplinamento
re-
fate
entre
crianc;as
e na
exi-
aderencia
culturais
esperar
possibilidade
reduz
da
empresa
classes mais
das
metas
0 forte
do
gaiola
adaptac;ao
obtenc;ao
frustac;6es
pressao
superior.
de
oca-
institucionais.
pesadamente
da
tem
e "alguma
da
perigos
pela
deveriamos
morais
qual
na
agarrando-se
grandes
exercem
mandatos apresenta
dos
III, "ritualismo".
tipicamente
pelos
para entre
sociais, estivessem
Adaptac;ao
os pais
das
E:'scritorio
e 0 modo
normas -
cuidadosamente na
E a perspectiva
no
as
reac;ao
32
objetivos,
"inovac;ao"
que
desconfianc;a.
conformista,
particular
e as
passo'
e descer. ou
voce e que
gerencia
os norte-american
predominante
oportunidades
incluem
social
rotinas que
tais
e
da
I,ll. competic;ao
de
as
classe media se
inerentes
na
pessoal
palavras, fuga
abandono
a Adaptac;ao
pequenas
riOr
uma
cul-
alto
a
regulam
zelosamente
poucns
esperassemos
bissem sulta
Em
cliches jogando
E uma
·e excita
Sua
atitudes
ao
organizac;ao
pelo
particular
aspire
nessas
perigo,
que
subir
de
"vou
e seguranc;a.
numa
obser\'ados"
mente
a eles pelo
estreitamente Se
33
a inac;ao,
de
a escalada sucesso
do
a
da
favor
Adaptac;ao
II e
30. Ver, por exemplo, H. S. Sullivan, "Modern conceptions of psychiatry", Psychiatry, 1940, 3-111-112;Margaret Mead, And Keep Your Powder Dry, (Nova Iorque, 1942), Cap. VII; Merton, Fiske e Curtis, Mass Persuasion, 59-60. 31. P. Janet, "The fear of action", Journal of Abnormal Psychology, 1921, 16, 150-160,e 0 extraordinario estudo de F. L. Wells, "Social maladjustments: &>daptiveregression". op. cit., 0 qual trata de perto 0 tipo de adapta~lio aqui examinado. 32. F. J. Roethlisberger e W. J. Dickson, Management and the Worker, Cap. 18 e pa~ .. 531 e segs.; e s6bre 0 tema mais geral, as anot~6es t1plcamente perspicazes de Gilbert Murray, op. cit., 138-139. 33. Ver os tres capHulos seguintes.
1'pori.n. e
EstTutura
III. 0 severo treinamento faz b b'l' d d da Adaptac;ao pro all a e d . .t l'ndividuos carreguem mais tarde pesada carga e anSlecom que mUl os -' . f' t' 1 m as ' socializaf'ao da classe medIa m enor es Imu a. '> . .' dade. Os mol d es d e . 'nria estrutura de carater mais predisposto em duegao ~o n.
. estlmula
a
St:li:m~r~~
e bai-
instrutivo.
serie
"nao
ameac;ador2.
produ~ao
produz
fora",
e ao
satisfac;ao
do burocrata
esta-
ansiedades
como
numa para
trabalhadores
bancaria
procurar
e familiar
consegui",
constante,
sua
com
agudo
31
ja
como
entre
assustado,
da
0 que
estas
depen-
observado
produz
0 medo
;\ frustrac;ao
quota
"serao
acontecera"
empregado
suavizar
pescoc;o
produzem
a
a uma
para
freqUente
largamente sido
0 tern a que se entremeia
aparece
implicit
produc;ao
competitiva
expressao
meu
0
bastante
urn, tem
luta
tanto
encontra
convidam que
cie cada
conforme
rotinizada.
com
baixas
situac;ao
E a atitud~ sua
vida
pondo
fosse
permanente.
social
desa:pontado".
aspirac;6es a
de
estou
"estou ficara
aspirac;ao
a ac;ao
implicita
social
recursos
do ritualista
"Na.o
adaptac;ao
Pois,
incessante dos
de
exatamente,
turais: nao
esta
nivel
de
a posic,;ao
Urn
0 proprio
tipo
realizac;6es.
freqiiencia,30
xar
esse
faz
proprias
muita de
que
_
e e nesse
estado,
por
, 0 mol de
qiiencia Devemos, capitulo,
conseguinte,
adaptativo III. porem, salient:u novamente,
qUE:' estamos
que
ocorre
com
malS
fre
35
examinando
aqui
tal
modos
como
no
principio
de adaptac,;iio
a
d(lste contradi,
. . John Dollard, Children of Bondage (Washington, 34. Ver, por exemplo, AllIson. DavIs e CI ") 0 qua.! embora trate dos moldes de socia1940), Cap. 12 ("Child Traming and .ass Ad' :nferl'or no Extremo SuI dos Est&>rlos d 1 sse inferlO" e me 1U I -e< a popUla~ao branca. A respeito, liza~ao entre os negros a ca· df Unidos, parece ser aplicavel, com pou~as mOd' lCa~ol-s~atu5" American Journal of Socio· E . k "Child rearmg an socIa , ver ainda M. C. rlC son, -. H . hurst "Social class and color difleJ.. lavR'~view' 1946 11 698.710: " ... 0 signilogy, 1946, 53, 190-192;Allison ~a.VISe . h'ld 'ng" American SOCIO1oglca " 4.1 rences m c I -rearl , t d desenvolvimento humano e que e e ficado basico da classe social para os estudan es ~. de) para crian~as de classes difedefine e sistematiza diferentes ambientes de apren Iza t da pela- tabelno diriamos quP. . d .deucia apresen a , ~, rentes". "Generallzando a partIr a eVI. d' t. uem entre os estratos de media baix30 as crian~as da classe media (os auto res nao. IS.mgtentemente as influencias que fazem • . ·t s mais cedo e malS mSlS A I alma No decurso da sua edue media alta) sao sUJel 0 . nscienciosa respons"ve e c . uma crian~a ser or delra, co .' t frem mais frustra~6es em seus ca~ao, as crian~as d&>classe medIa provavelmen e so
r:'
J
impulsos". • i .ca Es'udos iniciais nesta direGlio 35. Esta hip6tese ainda aguard~ comprov'~~~~1:Pa:~ir~~ao": as quais exploram as detertern sido feitos com ~s expenenclas de nmodifica~6es nas 20tividades especlficas e expeminantes de forma~ao das metas e ~~a urn obstaculo principal, ainda nao sobrepu' rimentalmente planeJadas. Ha, toda _' d I b at6rio com seu relativamente leve aujado, par&>deduzir inferencias da sltua~ao e afor d IA'PI'Se papel tomadas de posi~ao, . . t f t itos das ta.re as e " , to-envolvimento nos labIrm os or u . a ' a forte inverslio afetiva nas metas de problemas aritmeticos etc., que sejam apllc ve,s ..' com suas forma~6es de grupoS d 'd diaria Nem tals expenenclas, exito, n~oSrotinas a VI a . . rOfundas press6es sociais que dominam r,[I ad hoc, tern sido capazes de reproduzlr ast? . or exemplo poderia reproduzir 0 la· vida diflria. (Qual experiencia de labora. ono,,,op I'm com 'voce e que voce nao tern d rna Xantlpa' ru , mentoso resmungo de uma mo e ... ~ d asa ,e faria coisas"?) Entre os es· . • homem de verdade sa.nA' e c t nenhuma ambl~ao; urn . . d -ste assunto veja-se especialmen e • d r 'da embora \lmlta a com e , tudos com rela~ao e 1m , . r' I trivings" Journal of Social Psycho· nd 'group standards as fa.ctors R. Gould, "Some sociological determmants 0 goat t~ 473 L Festinger "WIsh expec a IOn a logy, 1941, 13, 461· ; : . " 'rnal ~f Abnormal and Social Psychology, 1942, 37, influencing level of aspIration, Jou d L win e outros "Level of Aspir,,· 184-200. Urn resumo das pesquisas e 2,p::senta 0 t:~r Be~avior Disorders (Nova Iorqu~, tion", em J. McV. Hunt, ed., Persona\l Y an d 1944), I, Cap. 10. ed. • aspira"lio e a realiza~lio perseguida . d ,,- ·to" como propor~ao entre a , o concelto e eXl '.. . de nivel de aspira~ao, tern, evidentemente, uma longa. sistemllticamente nas expenenclas I' t a predominancia desta concep~ao hist6ria. Gilbert Murray (op. cit., 138-139)~a~: ~artor Resartus, Carlyle observa que entre OSpens adores da GreCla do seculo IV. fra~ao em que 0 numerador 0. "felicidade" (satisfa~lio) pode ser representada por ~ma Algo muito parecido, e apre· .' 0 denominador a aspIra~ao. 02] representa as rea\lz2<;oes, e '. f Psychology [Nova Iorque, 19 . I ., J s (The PrinCIples 0 sentado por WIllIam ame . A Sorokin Social and CuItura I, 310), Ver tambem F. L. Wells, op. Clt.~ 87;es~a~' crl~ica e sab~r se esta introspe<;;:';o Dynamics (Nova Iorque, 1937) III, 161-164. q. al a situa"ao prepa.rada no , . . . osa experimenta~ao na qu familiar pode ser sUJelta a ngor sa.lientes da situa~ao de vida real, ou laborat6rio reproduza adequadamente os aspectos t nto na vida real, demor-sse a observa~ao bem disciplinada das rotinas ~o compor ame tra.rao ser 0 metoda de inquiri~ao mais produtlvo.
Os indi.viduos apanhados nestas de canUer eu de personalidade,. !
:~;:~::~:~j:;:,:ti~~~O~:;:I:";::' ~~, ~:':"':~'::i~:;:~::.~~~::~' ":':, CIa e que se submetem de modo tao extrem ., . a ~rocr,:>do sentimento de cUlpa engendrada or a °t p~r.q~e estao s~Je1tos a a!
tualistica para especies impr~sSionan~e:ss:;e:'a~~:~~:~~-~: a?~ta!
~
Assim como a Adapta!. d I eJeeaQao mal temos d d , er porque uma classe especifica devesse te: a os que nos levem a enten· IStO como uma forma de relacioname t urn carater anal. Contudo, se entendemos ter e resultando de experien ' n 0 com outros, enraizada na estrutur20 de carAClas com 0 mundo externo t ' emos uma chave para entener porque dado 0 modo de 'd d d VI a a classe med' 'f ' e hostilidade, f£,voreceu 0 desenvolvimento d la ~n enor, sua estreiteza" isolamento 294). Exemplo de form I _, esta espeCle de estrutura de carater" (293. u aQao der>vada de urn . . . • ultima hora, aqui julgado como dubio'" a especle d~ anarquismo benevolente de glCas inerentes ao homem q , ' ' "exIstem tambem certas qualidades psicoJ.6. ue necessltl:>ITl ser
mum de va16res, podem ser incluidos como membros da sociedade (distinguindo-se da populQ,(Jao) somente num senti do ficticio. Pertencem a esta categoria algumas das atividades adaptativas dos psic6ticos, artistas, parias, proscritos, errantes, mendigos, bebados cranicos e viciados em drogas.37 Eles renunciaram aos objetivos culturalmente prescritos e 0 seu comportamento nao se ajusta as normas institucionais. Isto nao quer dizer que em alguns casos a fonte de seu modo de adapta!
institucionais.
37. Obviamente, esta afirmaQao e eliptica. E:stes individuos podem reter alguma orit!ntaQao dos val6res de seus pr6prios agTupamentos dentro da socied£.de maior, ou ocasion2olmente, dos val6res da propria sociedade convencional. Em outras palavras. eles p~ dem mud20r para outros modos de adaptaQao, porem, a AdaptaQao IV pode ser identle as atitudes do vagabundo, ficada flwilmente. Nels Anderson relata 0 comportamento e tal relate pode, por exemplo, ser prontamente rl!fundido em t~rmos de nosso esquema fuIlalitico. Ver The Hobo (Chicago,
1923), 93-98, et passim.
Nem sequer a sociedade acelta indiferentemente esses reptldios de seus valOres. A~sim agindo admitiria dtlvidas quanto t ' I' Aqueles que abandonaram a busca do sucesso sao' 1 ~ alS va 'd .< Imp acc>velmente ores. pe~segUl os at" seus esconderijos por uma sociedade que'I mSlS . t e em ter todos• os seus membros orientados em dire(;ao aos esfor(;os em ad u' . sucesso. dos quarteiroes d e Ch'wago, em queq se Inrreunem O va bAssim, d no cora(;8.o _ s ga un os. estao as prateleiras das livrarias recheadas cadorias d t' d . com as meres ma as a revltalizar aspira(;oes mortas.
?
rec:
"Livralria_ da Costa do Ouro" fica no porao de uma velha residencia, construida em o em e agora apertada entre duas quadras d·~o predios de escrit6rios. espa90 da re frea9ao t .a rut.. h' 0 . 1i: nee c elO de barracas, cartazes berrantes e placares sses cartazes anunciam livros qu tr . dl!les diz'" Home . ea. aem a s,ten9ao dos desprovidos de recursos. Uro . ... ns aos mllhares passam por aqui dill. . . nao e bem sucedida financeirEmente N _. namente, porem a maioria dlHes brador de aluguel. Em vez disso -I . d u.nca estao mals que dois passos a frente do co· d ... e es eVlam ser mars au dazes e ous d " leI o logO., antes que a velhice venha definha-I t. a os, ndo a frente fragios humanos. Se voce quer escapar d _ t os e a Ira~los ao monte de refugos dos naud n es e mau destmo - 0 destin d . os omens, entre e compre urn exemplar do Th .. - 0 a vasta malOria ,e Law of FmanClal Sucess. 1i:le metera algumas Ideias novas em sua cab"'"a e I vy, 0 co ocar" no camlnho do s 35 Sempre ha horn ens flam:.ndo em roda das ba r racas ucesso. centavos. vagabundo, 38 v SUCCS50custa caro mesm t'l t .. Mas rammente compram. Para 0 o n I n a e cinco centavos.
~~ s~ este. desv!ado e condenado na vida real, pode transformar-se em on e e satlsfa(;ao na vida da fantasia Assim Kardin er b que tais figuras do folclore contemporaneo ~ da cultu' a ul 0 servou "a rr.or 1 t' r pop ar erguem , a e a au o-estlma pelo espetaculo do homem . . . .. correntes e expressa seu desdem por elas" ' N 0 cmema . que reJelta as IdeIas . 0 prot6t' . eVldentemente, 0 "vagahundo" de Charlie Chaplin ("Carlit~S") IPO e, joao-nlnguem esta muito . pre 1i: 0 ele alvo0 de zombaria dee urn d clonsclcnte de sua pr6prla. inslgniflcancia.. 1i:le e, sem· d mun 0 ouco e desconcertante I el o qual consts.ntemente IOgP. para dentro de uma' '. no qua e nao tern lugar e est a livre dos conflitos porque ab d atltude satlsfclta de vagabundagem. 11:le d • an onou a busca da seguran~a e d t" . na 0 a falta de qualquer pretens1io de virtude 0 '." _ 0 pres IglO, e esta resig· u de dlshn~ao, (Retrato preclso do caratcr da Adapta9ao IV) Sempre se en I . vo ve no mundo por fuCidente AI' el e agressao contra os fracos e Incapazes t. _ . I e encontra maldade pre, apesar de sl mesmo toma se 0 c ': con ra ISSO nao pode reagir. No entanto, semampeao dos injusti9ados e d .. lude de SUE.grande habiJidade de os opnmldos, nao pel a vir· I orgamza9ao mas por for9a d . 1 pe a qual ele procura a fraqueza do ofen ~I a simp es e tosca esperteza do, mas desdenhoso do incompreensivel :~~dO : ~:mpre permanece humilde, ~obre e isolao personagem do nosso tempo que est' I seus valores. Portanto, ele representa . ," perp exo ante 0 dHema de a f 1m de alcan~ar as metas do s d ou ser esmagado na luta ucesso e 0 poder ('Ie 0 alcan . d 9a apenas uma vez, no fllmf E om Busca do Ouro) ou de sucumb' Ir f ugm 0 das mesmas n 'vagabundo de Carlitos representa urn r .. uma reslgna~ao sem esperan~a. mais esperto que as foreas pem' . g ande aHvlO, POlS exulta em sua habllldade de ser • y IClOsas almhadas con trs s· . sahsfa9ao de sentir que a derradeira f . ..' I e proporclona a cada homem Q de escolha e nao um sin tom a d ~ga :los obletlvos SOCialS,rumo a solidao, e urn ato de Chaplin.39 e sut. errota. Mickey Mouse e uma continua9ao da saga o
-
0
_
. 0 dos deserdados sociais os quaisEstese quarto _ t- modo de adapt a (;a'0 e, POlS, nao em nenhuma das re c0 mpensas proporcionadas pela socie' ____ , 38. H. W. Zorbaugh The G Id C 39. Abram Kardiner' Th P 0 h o.ast and the Slum (Chicago, 1929). 108. c olog:lCal.Fro~t.iers of Society (Nova Iorque, 1945), 369-370. (Os grifos sao nosso~) ~a . s ronteras pSlcolo&,\cas de la 50ciedad (Mexico: F. de C. E., 1955).
7
dade, tambem tern poucas das frustra(;Oes que esperam aqueles que con· tinuam a buscar essas recompensas. Alem disso, representa urn modo de adapta(;ao mais particular que coletivo. Embora as pessoas que exibem este comportamento desviado possam gravitar em dire(;ao a centros onde entrem em contato com C'utros vagabundos e embora possam partiIhar da subcultura desses grupos divergentes, suas adapta(;oes sao grandemente particulares e isoladas em vez de serem unificadas sob a egide de urn novO c6digo cultural. Esse tipo de adapta(;aO coletiva ainda esta para ser estudado.
Esta adapta(;ao oonduz os homens que estao fora da estrutura social circundante a encarar e procurar trazer a luz uma estrutura social nova, isto e, profundamente modificada. Ela pressup6e 0 afastamento dos objetivos dominantes, e dos padroes vigentes, os quais vem a ser considerados como puramente arbitIl:lrios. E 0 arbitrario e precisamente aqui10 que nem pode exigir sUjei(;ao, nem possui legitimidade, pois poderia muito bem ser de outra maneira. Em nossa sociedade, os movimentos organizados para a rebeliao, aparentemente, almejam introduzir uma estrutura social na qual os padr6es culturais de exito seriam radicalmente modificados e na qual se adotariam medidas para uma correspondencia mais ,estreita entre 0 merito, 0 esfor(;o e a recompensa, Antes de examinar, porem, a "rebeliao" como urn modo de adapta(;ao devemos distingui-la de urn tipo superficialmente similar, mas essencialmente diferente, 0 ressentimento. Introduzido num sentido tecnico especial, por Nietzsche, 0 conceitr de ressentimento foi adotado e desenvolvido socio16gicamente por Max Scheler. 40 Esse sentimento complexo tern tres elementos entrela(;ados. Primeiro, sentimentos difusos de 6dio, inveja e hostilidade; segundo, urn senso de impotencia para expressar tais sentimentos, ativamente, contra a pessoa ou estrato social que os evoque; 41 o terceiro, a consciencia continua desta hostilidade impotente. 0 ponto essencial que distingue 0 ressentimento da rebeliao e que 0 primeiro nao envolve uma genuina mudan(;a de va16res. 0 ressentimento implica 40. Max Scheler, L'homm~ du resentiment (Paris, sem data). 1i:st~ ensaio apareceu prlmel. ramente em 1912; revlsto e aumentado, foi Incluido na obra de Sche:er, Abhandlungen uud Aufsatze, aparecendo depois em Vom umsturz der Werte (1919), 0 \lIt mo texto 101 uswo para a tradu9ao francesa. Teve consideravel Influl!ncia em var'ados c:rculos Intelectuals. Para uma excclente e bem equilibrada dlscussao c!o ensaio de Scheler, que indica algumfuS de suas Inclina~oes e pleconceitos, os aspectos em que ele prefiguroU l 0es os conceitos nazistas, suas ~rienta90es antidemocraticas e sobretudo suas intu 9 ocasionalmente brilhantes. Ver V. J. McGill, "Scheler's theory of sympathy and love", "m Philosophy and Pbenomenological Re.earch. 1942, 2, 273-291. Outro relt,to crltico que anallsa corretamente a visao de Scheler de que a estrutura social desempp.nha apNlas urn papel secundario no ressentimento, lipaI~Ce em Svend RtdlUlfo Moral Indignation and Middle-Class Psychology: A Sociological Study (Copenhague, 1938), 199-204. 41. Scheler, op, e1t., 55-56. Nenhuma palavra Inglesa reproduz 0 complexo de elementos contidos na palavra ressentiment; SU3 aproxima9ao maior em tolemao seria Groll.
u~a atitude "u~as verd~s". que simplesmente afirma que as objetivos deS~JadO~, m~s. nao atm~IvelS, n~ verda~e nao encarnam as va16res apreclados .. - afmal, a raposa da fabula nao diz que renuncia 3G gosto pelas uvas; dI~ .apenas que precisamente aquelas uvas nao estao maduras Pel~ co~trano .a rebeliao. en.v0lve uma genuina transvalora(;ao, em q~e- a exp~nencla d~reta au vlCana da frustra(;ao conduz a total den uncia dos 1. ,'alores antenormente apreciados A raposa rebelde sun' I ". '. p esmen e renunClana ao gas to geral pelas uvas maduras. No ressentimento, a gent~ con~e~a a que_secretamente ambiciona; na rebeliiio a gente condena a pr6prIa ambI(;ao. Mas, embora as duas coisas sejam distintas, a rebel'ao orgamzada pode movimentar urn vasto reservat6rio dos que acumulam resse~tlment~, e de descontentes, a medida que se tornam agudas as desloca(;oes mstltucionais. . Q~ando a sistem<:t instituciflnal e considerado como a barreira a sat~~fa(;ao de objetivos legitimizados, esta preparado a palco para a rebe1I~0 c~mo rea(;ao adaptativa. Para se passar a a(;ao poUtica organizada r.ao somente devera ser repudiada a lealdade a estrutura social predomi: !lante,. como. tambem devera ser transferida a novas grupos possuidos por u:n novo mlto. 42 A fun(;ao c~ual do mito e localizar a fonte de frustra(;oes e~ larga esc.ala, _na estrutura social, e delinear uma estrutuTa que, presu~lvelP',ente, Ja nao provocara a frustra(;ao dos individuos merecedorE'~' E urn mapa para a a(;ao. Neste contexto, as fun(;6es do contra. -mlto ~os conservadores - brevemente esbo(;ada numa se(;ao anterior deste caPlt~lo - tornam-se ainda mais claras: qualquer que seja a fonte da f:ustra(;ao da massa, ela nao sera encontrada na estrutura basica da soc:edade. _ a mito conservador po de assim assegurar que essas frustra({oes estao na natureza das coisas e ocorreriam em qualquer sistema so. Ci~l: "0 desemprego em massa, peri6dico, e as depressoes dos neg6cios nao podem ser e.liminados par atos de legisla(;ao; e como uma pessoa qU~ Sf!sente bem hOJe, e mal no dia seguinte".43 au, se nao se adota a teoria da inevitabiJidade, entao se apega a doutrina do ajustamento gradual e superficial. "Umas poucas mUdan(;as aqui e ali, e teremos as coisas fun. cionando tao suuvemente quanto possivel". au, talvez, apregoa a doutrina que transff're a cUlpa da estrutura social para a individuo que "fracassa", ja que "realmente, neste pais, todo individuo consegue atingir a grau de prospericade que almeja". _ as mitos da rebeliao e do conservadorismo, ,ambos trabalham na dire!;~O de urn "monop6lio da imagina(;ao", procurando definir a situa(;ao em termos tais que encaminhem 0 frustrado em dire(;ao a Adaptagao V au fJ af~stem dela. E acima de tudo 0 renegado que, embora bem cOlo~ado na vIda, renuncia aos valores vigentes, que se torna 0 alvo da maior hos. 42. George S. Pettee. The Process of Revolution (Nova Iorque mente :;eu relato de "monop6lio da imaginaQi'io". • 43. R S. e H. M. Lynd. Middletown in Transition (Nova Iorque cllches culturais que exemplificam 0 mito conservador. '
tilidade entre aqueles do seu grupo original, pois ele nao s6 lan(;a duvidas sabre 0~1va16res, como 0 faz 0 grupo l'ebelde, como tambem ele sigmfica que a grupo conservador tern sua unidade quebrada.44 No entanto, como tern sido observado com bastante freqtiencia, os organizadores dos ressentidos e dos rebeldes em grupos revolucionarios, sac tipicamente membros de uma classe em ascensao em vez de pro vir em dos estratos mais deprimidos.
TEND£NCIA A ANOMIA A estrutura social que tern os examinado produz uma tendencia a anomia e ao comportamento divergente. A pressao de tal ordem social visa a que 0 individuo "fa(;a melhor" que os competidore&. Enquanto os sentimentos que ap6iam este sistema competitivo estao distribuidos por t6da a extensao das atividades, e nao estao confinados ao resultado fillal do "exito", a escolha dos meios permanecera principalmente dentro do ambito do controle institucioU9J. Contudo, quando a enfase cultural muda da satisfa(;ao provinda da pr6pria competigao para a preocupa(;ao exc1usiva com a resultado final, a tensao result ante favorece a ruptura da estrutura reguladora. Com esta atenuagao dos controles institucionais ocorre uma aproxima(;ao a situa(;ao que os fi16sofos utilitarios consideram erroneamente tipica da sociedade, situa(;ao esta em que as ca~culos de vantagem pessoal e temor ao castigo sac os unicos elemento:> reguladores. Esta tensao rumo a anomia nao opera uliiformemente em todos as setores da sociedade. Algum esfor(;o tern sido feito na presente analise para sugeri! quais as estratos mais vulneraveis as press6es que favo~~cern a comrortamento transviado, e para estabelecer alguns dos mecam:>mas que funcionam para produzir tais press6es. Com 0 prop6sito de simplificar a problema, a born exito financeiro foi tornado como a principal objetivo cu~tural, embora haja, evidentemente, objetivos outr~s ~o ~epo~it6rio dos valores comuns. Par exemplo, as campos da r9l:\,lIzagaomtelectual e artistica proporcionam tipos de carreira que podem nao trazer gran des resultados pecuniarios. Na medida em que ~ estrut~ra cultural concede prestigio a estas profiss6es e a estrutura SOCIalperm1te acesso a elas a sistema permanece mais au menos estabilizado. as desvios potenciafs ainda podem seguir :1 linha geral desses conjuntos auxiliares de ,·a16res. Mas persistem as tendencias centra is em dlre(;aO a anomi.a; para estas e que 0 esquema analitico aqui estabelecido chama a aten(;ao.
o
PAPEL DA FAMILIA
Deve-se dizer uma palavra final agrupando as implicag6es espalhadas por t6da a extensao do discurso precedente, relativo ao papel desempenhado pela familia nos tipos de conduta divergente. 44. Ver as perspicazes observaQoes de Georg Simmel, Soziologie (Leipzig, 1908), 276-277.
E: evidentemente a familia que funciona como import ante correia de transmissao na difusao dos padroes culturais, em relagao a geragao se. guinte. Po rem, 0 que tem passado desapercebido ate ha pouco tempo, e que a familia transmite especialmente a porgao de cultura acessivel ao estrato social e aos grupos em que os pr6prios pais se encontram. E, portanto, um mecanismo para disciplinar as criangas, em termos dos ob. jetivos culturais e dos costumes caracteristicos dessa estreita variedade de grupos. Nem e a socializagao limitada ao treinamento e a disciplina~ao diretos. a processo e :ortuito, pelo menos parcialmente. Inteiramente a parte de repreensoes diretas, recompensas e castigos, a crianga e exposta a prot6tipos sociais no comportamento diariamente testemunhado e nas conversagoes casuais clOS pais. Nao raro as criangas descobrem e incorporam unitormidades cu.lturais, mesmo quando implicitas e niio to ram reduzidas a regras.
elas permanecem
as padroes de linguagem fornecem a mais impression ante eviden. cia, prontamente observavel como se fosse numa clinica, de que as crian. gas, no processo de socializagao, descobrem uniformidades que nao foram explicitamente formuladas para elas, p~los mais velhos ou contempora. neos e que nao silo formuladas pelas pr6prias criangas. Erros de lingua. gem entre as criangas, sao muito instrutivos. Assim, a crianga usara espontaneamente palavras tais como "mouses" ou "moneys", mesmo que jamais tenha ouvido tais termos ou niio lhe tenha sido ensinada a "regra de tormagiio dos plurais". au cIa criara palavras, como "faIled", "runned",
"singed", "hitted" embora nao the tenham ensinado aos tres anos de idade, as "regras" da conjugagao. au dira que um manjar predileto e "gooder" como 0 que outro menos apreciado, ou talvez atraves de uma extensao 16gica, podera descreve-Io como 0 "goodest" de todos.* Obviamente, a crianga descobriu os paradigmas implicitos para a expressao do. plural, para a conjugagao dos verbos e a flexao dos adjetivos. A pr6pr1a natureza de seu erro e a ma aplicag8.0 do paradigma dao disso testemunhc.45 Pode-se, portanto, concluir, tentativamente, que a crianga esta tambem Jaboriosamente ocupada em descobrir e agir contorme os paradigmas implicitos de avaliagiio cultural, de categorizagiio das pessoas e das coisas e de tormagiio das metas dignas de estima, assim como assimilando a orientagao cultural explicita, baseada na infinita corrente de ordens, explica(*)
N. do trad.
Talvez convenha "money" e invariavel.
"mice'; terito perfeito
correta
e "fell",
lembrar
que, em ingles,
0
plural
correto
de "mouse" ~ "hitted", 0 pre.
Em vez de "faIled", "runned", "singed", uran". "SZJlg" e "hit". 0 :lumentativo de
"good"
nao
Po
"gooder" mas "better" e 0 absoluto nao e "goodest" mas "best". 0 que 0 autor quis demonstrar e que as crian~as tendem a adotar as formas regulares, isto e. mais "0muns, em vez das formas irregul£,res que, como 0 nome indica, fogem das regrl>s regulares. 45. W. Stern, Psychology of Early Childhood (Nova Iorque. 1924), 166, menciona a incideneia de tais erros (p. ex., "drinked", [que seria 0 preterito perfeito regular mas incorreto], em vez de "drank" (preterito perfeito irregular, mas correto]), porem nao tira as inferencias rela.tivas a descoberta dos paradigmas implicitos.
c;oes e exortagoes a ela dirigidas pelos pais. Parece que, alem das i..•nport antes pesquisas das psicologias profundas no processo de socializa. cao, haja necessidade de tipos suplementares de observagao direta da difusao da cultura na familia. Pode muito bem acontecer que a crianga retenha 0 paradigma implicito dos valores culturais, descoberto no comportamento diario de' seus pais, mesmo quando 0 mesmo entre em conflito com seus conselhos e exortagoes explicitos. A projcgiio das ambigoes paternas sabre a crianga tambem tem importancia fundamental no assunto de que estamos tratando. Conforme bem se sabe muitos pais confrontados com 0 "fracasso" pessoal ou um "sucesso" limitado, podem silenciar sua enfase sabre objetivos de sucesso e podem acllar ulteriores esforgos para 0 atingimento de tais obJetivos, tentando alcanga-Io "por procuragao", atraves de seus filhos. "A influencia pode vir atraves da mae ou do pal. FreqUentemente da,.se 0 caso de urn pai que alimenta a esperanc;a de que seu filho atinja alturas que ele ou a esposa deixaram de aUngir". 46 Numa recente pesquisa da organi· zagao socia! de conjuntos de residencias construidas pelo governo, temos encontrado, tanto entre negro'> como entre brancos, dos niveis ocupacio. nais inferiores, uma proporgao substancial com aspiragoes de que seus filhos sigam uma profissao liberal. 47 Se tal descoberta fOr confirmada caso que nos por pesquisas posteriores, tera grande signific2.gao para ocupa pois, se a projegao compensat6ria da ambigao dos pais sabre as criangas for muito acentuada, isto significara que precisamente os pais menos capazes de proporcionar a seus filhos facH acesso as oportunidades - os "fracassados" e os "frustrados" - san os que exercem maior pressao sabre os filhos para que estes alcancem exitos importantes. E este sindrome de elevadas asp1ragoes e limit ad as oportunidades reais, como temos visto, e precisamente 0 padrao que provoca 0 comportamento desviado. Isto aponta claramente para a necessidade de serem realizadas investigagoes focalizadas sobre a formaCao das metas ocupacionais nos diversos estratos, se quisermos entender, do ponto de vista do nosso esquema analitico, 0 papel que a disciplina familiar desempenha inadvertidamente na origem da conduta divergente.
°
Deve ficar claro que a discussao anterior nao e afinada a um plano moraJistico. Quaisquer que sejam os sentimentos do leitor referentes a conveniencia moral de coordenar as fases dos alvos e dos meios da estrutura social, e claro que a imperfeita coordenagao das duas conduz a anomia. Se uma das fungoes mais gerais de. estrutura social e a de fornecer uma base para a pr.evisibilidade e a regularidade do comporta46. H. A. Murray e outros, Explorations in Personality, 307. 47. Extraido de urn estudo da. organizaQao social das comunidades planeJadae, Merton, Patricia S. West e M. Jahoda, Patterns of Social Life.
por R. It.
~ento. social, e.ssa fungao torna-se crescentemente limitada em d d eflCiencia, a me 1 a que esses elementos da estrutura social se tornam d' '. No ponto ext e . " .. lssoclaoos. l' mo, a preVISlmlJdade e diminuida e sobrevem 0 que se POd~ chamaI' corretamente de anomia ou caos cultu al E~te. ensaio acerca das fontes estruturais do com~or'tamento de . d O constltul apenas .um preludio. Nao inclui urn estudo detalhado d:SV1:I mentos estruturals que predisp6em em d' _ e_ . . lrec;;ao a uma au a outra das goes alternClLlvas, abertas aos individuos qu ,', rea e~uilibrada; desprezou em grande parte, l3e~ ~~;:ian:~aa.~=tr~tu.ra ~al .1oelevanC.l~ dos processos sociopsicol6gicos que cleterminam a ~nc'd' c~f~ca dessas reagoes; apenas considerou resumidamen _ 1 encI~ espeCIaIS preenchidas pelo comportamento desviado' nao :~b~'" tfungoes soexplanat6rio do esquema analitico a urn teste' . . e eu 0 poder diante a clererminagao das variagoes dos g '..emplrICO ~omPleto, me;~:~~r:
~~f~:~~~:~~t:;x:::::oS~C~~l.de
VII
CONTINUIDADES NA TEORIA DA ESTRUTURA SOCIAL E DA ANOMIA
lev~~Pc~~m~~rt~o:~~~tar:~~~e ~~:
Sugerimos q.ue estes problemas, e outros que lhe" sa-o podem ser a I d ~ relacionados, na lsa Os com vantagens, mediante 0 uso de"sse esquema.
N
OS ULTIMOS ANOS tem aparecido uma literatura soclOl6gica de consideravel expressao a qual trata de um outro aspecto da anomia. Isto proporciona uma base mats extensa para clarificar e ampliar as for· mulagoes estabelecidas no trabalho anterior. Na verdade, 0 interesse a respeito da anomia cresceu, rapidamente, 0 bastante para tornar-se (quase inevitavelmente) vulgarizado, a medida que se difunde em circulos sociais cada yez mais amplos. Como exemplo de vUlgarizagao, observemos o caso do semanario que pUblica uma investigagao s6bria e cuidadosa, efetuada POI' Gerhart Niemeyer, acerca das consequencias sociais da anomia, e prontamente consider a 0 relato como "atragao para 0 leitor", comegando nestes termos coloquiais e gritantes: "Menino, isso e 0 que eu chamo de anomia aguda", exclamou com urn assobio Bleecker Totten, urn dos 225 estudantes da "Oglethorpe University") Menos sibHantes, porem mais instrutivos, sac os estudos te6ricos da anomia, substantivos e pertinentes, que agora serao examinados.
Conforme foi elaborado POI' Durkheim, 0 conceito de anomia se referia a uma condigao de relativa normalidade numa sociedade ou grupo. Durkheim deixou claro que este conceito se referia a uma propriedade da estrutura social e cultural, e nao a uma propriedade dos individuos que confrontavam tal estrutura. Nao obstante, enquanto se tornava evidente a utilidade do conceito para entender diversas formas de comportamento desviado, eIe foi se amplianoo ate referir-se a uma condigao de indiviauos, em vez de se referir ao ambiente.
E:ste conceito psicol6gico da anomia foi simultaneamente formulado por R. M. MacIver e por Da-v'id Riesman. Uma vez que suas formulaC;oes sac substancialmente semelhantes, 0 que se diz de uma pode-se dizer de ambas. "Anomia". diz MacIver, - 0 qual adota a grafia da palavn:. tal como era usada no secnlo XVI ("anomy", enquanto outros adotam "anomie") - significa 0 estado de espirito de EJguem que fol arrancado de suas raizes morais, que ja nao segue quaisquer pndr6es mas somente necessidades avulsas, que ja nao tern qualquer senso de continuidade, de grupo e de obriga~ao. 0 homem an6nimo tornou-se espiritualmente esteril, reage s6mente diante de si mesmo, nao e responsavel para com ninguem. ~le ri dos va16res de outros homens. Sua unica fe e a filosofia da nega~ao. Vive s6bre a debil linha da sensa~ao entre nenhum futuro e nenhum passEodo". E ucrescenta: "A anomia e urn estado de esp.irito no qual 0 senso de coesa:) social - mol'~ principal da moral - esta quebrada ou fatalmente enfraquecido". 2
Conforme tern side observado, "0 enfoQue (e MacIver e assim psico. 16gico (is to e, a anomia para ele e urn est ado de espirito, nao urn estado de sociedade - embora 0 estado de espirito possa refletir tensoes sociais) e seus tipas psicol6gicos (de anomia) correspondem aos elementos (an: siedade - isolamento - falta de finalidade) que formam 0 aspecto subjetivo do conceito de Durkheim".3 Que 0 conceito psicol6gico de anomia tenha uma referencia definida, que se refira a "estados de espirito" identificaveis de individuos particulares, e fora de duvida, tal como 0 atestam as estantes repletas dos psiquiatras. Todavia, 0 conceito psi co16gico e uma contrapartida do conceito sociOl6gico da anomia, e nao urn substituto para ele.
o conceito sociol6gico da anomia, conforme foi explicado nas puginas anteriores, pressupoe que 0 ambiente mais destacado dos individuos possa ser concebido de maneira utH, como envolvendo a estrutura cultural, de urn lade, e a estrutura social, de outro. Tal conceito pressupoe que, mesmo sendo tais conceitos intimamente ligados, devem ser conservados separados para finalidades de analise, antes que sejam novamente reunidO$. Neste contexto a estrutura cultural pode ser definida como 0 conjvnto de valores normativos que governam a conduta comum dos membros de uma determinada sociedade ou grupo. E por estrutura social se entende 0 conjunto organizado de relagoes sociais no qual os membros d8 sociedade ou grupo sac implicados de varias maneiras. A anomia e entao concebida como uma ruptura na estrutura cultural' -
,
2.
R. M. MacIver, The Rampart~ We Guard (Nova Iorque: The Macmillan Co., 1950) 84, 85 e todo 0 CapItulo X; (os grifos sao nossos). Compare-se a. descri~ao independentemente concebida mas equivalente, dos "an6micos", por David Riesman, em colabora~ao com Reuel Denney e Nathan Glazer. The Lonely Growd (New Haven: Yale University Press 1950), 287 e segs. '
3.
R. H. Bwokes, "The anatomy of anomie", Politic.al Science, 1951, 3, 44.51; 1952, 4, 38-49 - urn artlgo em revIsta que examlna E:.srecentes extens6es conceptuals da anomia. H. L. Ansbacher procura. relacionar a anomia com a no~ao adleriana de "falta de interesse SOCIal"numz. nota publicada em Individual Psychololy News Letter: Organ of the International Association of Individual Psychology, Londres, junho-julho de 1956.
ocorrendo, particularmente, quando ha uma disjungao aguda entre as normas e metas culturais e as capacidades socialmente estruturadas dos membros do grupo em agir de acordo com as primeiras. Conforme esta concepgao, os valores culturais podem ajudar a produzir urn comportamento que esteja em oposigao aos mandatos dos pr6prios valores. Sob este ponto de vista. a estrutura social pression a os valOres culturais, tornando possivel e facil aos indivfduos que ocupam determinadas situagoes sociais dentro da sociedade, agirem de acordo com os ditos valares e impossivel para os outros individuos. A estrutura social age como barreira ou como porta aberta para 0 desempenho dos mandatos culturais. Quando a estrutura social e cultural estao mal integradas, a primeira exigindo urn comportamento que a outra dificulta, ha uma tensao rumo ao rompimento das normas ou ao seu completo desprezo. Evidentemente, nao se conclui que este seja 0 unico processo que favorega a condigao social da anomia; as teorias e pesquisas posteriores estao orientadas a procura de outras fontas padronizadas, geradoras de urn alto grau de anomia. Esforgos tern side feitos para captar os conceitos psicol6gicos e sociol6gicos que distinguem a anomia "simples" da anomia "aguda".4 A anomia simples se refere a urn estado de confusao num grupo ou sociedade, que esta sujeito a conflito entre esquemas de valor, resultando em algum grau de mal-estar e num senso de separagao do grupo; a anomia aguda e a deterioragao e, no caso extremo, a desintegragao dos sistemas de valor, 0 que resulta em prorundas angUstias. Isto tern 0 merito de assinalar terminologicamente 0 fate algumas v'3zes anunciado, mas fre· quentemente esquecido de que, tal como sucede com outras condigoes da sociedade, a anomia varia em grau, e talvez em especie. Tendo identificado alguns dos processos que conduzem a anomia, 0 ca· pitulo anterior formula uma tipologia de leag5~)s adaptativas a esta condigao e des creve as pressoes estruturais que proporcionam maior ou me· nor frequencia de cada uma dessas reagoes entre as diversos estratos da estrutura de classe. A premissa aqui sUbjacente e a de que os estratos de classe nao sac apenas diferentemen~e sUjeitos a anomia, mas sac tambem, diferentemente sujeitos a urn ou outro tipo de reagao a ela. Talcott Parsons adotou esta tipologia e a derivou, quanto as motivagoes, do seu esquema conceptual de interagao social.5 Esta analise parte da suposigao de que nem as tendencias a urn comportamento desviado, nem as tendencias ao equilibrio de urn sistema de interagao social podem desenvolver-se no acaso; pelo contrario, trabalham em uma ou mais direGoes identificaveis, escolhidas entre um numero limitado. Isto quer dizer que a pr6pria conduta divergente tern suas normas. 4.
5
Sebastian De Grazi&., The Political Community (University of Chicago Press, 1948), T2-74, passim; cf. Brookes, op.cit., 46. Parsons, The Social System, 256-267, 321-325; Talcott Parsons, Robert F. Bales e Edward A- Shils, Worki"&, Papers ill the Theory of Action (Glencoe: The l"ree Press, 195:1<)67-'8.
Nas palavras de Parsons e Bales, "ficou demonstrado que 0 desvio tomaya, fundamentalmente, quatro direQoes, conforme fasse a necessidade de expressar a alienaQao do molde normativo - inclusive 0 repudio a mudanQa como objetivo em si - ou de manter a conformidade compulsiva com 0 tipo normativo e com a adesao a, mudanQa e, mais ainda, segundo f6sse 0 modo de aQao orientado ativa eu passivamente. Isto dava quatro tipos de rumo: os de agressividade e de retraimento, do lade ca alienaQao, e as de atuaQao compulsiva e de aceitaQao compulsiva, do lado da conformidade compuls6ria. Demonstrou se ainda que este paradigma, alcanQado de modo independente, e essencialmente 0 mesmo que 0 anteriormente estabelecido pOI' Merion, para a analise das estruturas social e de anomia".6 Esta primeira ampliaQao da tipologia da reaQao, conforme se obser· vara, continua a referir-se tanto a estrutura cultural - "0 molde normativo" - como a estrutura social - as conexoes moldadas a outras pessoas, ou 0 afastamento em relaQao a elas. Continua, porem, a caracterizar os tipos de reaQao em termos de serem (:les ativos ou passivos, significando, assim, que 0 comportamento desviado pode, seja ativamente "'tomar a situaQao nas maos', fazendo mais para ten tar controla-la, do que as expectativas [institucionalizadas]" exigem ou, passivamente, "demonstrando insuficiencia em afirmar 0 grau de contrale ativo" exigieto pOI' essas expectativas. as tipos de comportamento desviado podem ainda ser subdivididos pela distinQao entre casos nos quais as tensoer:; surgem principalmente nas relaQoes sociais com outros, ou nas formas culturais para com as quais a conformidade e esperada. 7 Tais manifestaQoes concretas de reaQao a tensoes an6micas, como a delinqliencia, o crime e 0 suicidio, bem como tais tipos intermediariamente conceptuais de reaQoes, como a inovaQao, 0 ritualismo, 0 retraimento e a rebeliao, tornam-se assim classificaveis como resultantes de certas propriedades abstratas de sistemas de interaQao identificados par Parsons. Esse tipo de classificaQao mais complexa dos tipos de comportamento desviado ainda tern que ser utilizado de maneira extensa nas investigaQoes empiricas, ja que foi formulada tao recentemente.
Tal como muitos de n6s que temos de seguir suas grandes pegadas e conseqlientemente vacilamos urn tanto nestas areas excessivamente espagosas, Durkheim nao proporcionou diregao expHcita e met6dica em relagao aos varios sinais de anomia, as de ausencia de norma observaveis e as relagoes sociais deterioradas. No entanto, e claro que se devam desenvolver indices, caso se deseje utilizar a conceito da anomia na pesquisa empirica. 6. Parsons e outros, Workiug Papers, 68. Ibid. 74.
7.
Urn passe nesta direQao foi dado POI' Leo Srole, ao desenvolver uma Em parte, a escala incorpora itens que "escala d~ anomia" preliminar.8 se referem a percepQao do individuo em rela<;ao a seu ambiente social' em parte, a percepgao do seu pr6prio lugar dentro daquele ambient;. Mais especificamente, os cinco itens compreendidos nessa escala preliminar se referem a: (1) a percepgao de que as Hderes das comunidades sac indiferentes as necessidades dos individuos; (2) a percepgao de que pouco pode ser realizado numa sociedade, que seja considerada como basicamente imprevisivel e onde falte ordem; (3), a percepgao de que as metas da vida se afastam em vez de se realizarem; (4) urn senso de futilidade; e (5), aeon vicgao de que nao se pode contar com associados pessoais para apoio social e psico16gico. 9 Conforme Srole indica com alguns detalhes, este esf6rgo para desenvolver uma escala de anomia tern varias limitagoes e algumas inadequagoes, porem fornece urn ponto de partida em diregao a uma medida padronizada 6e anomia, tal como e percebida e experimentada POI' individuos num grupo au numa comunidade. Esta eS
8. Num trabalho lido perante a Sociedade Sociol6gica American[;" em 1951, intitulado "So· cial dysfunction, person2Jity, and social distance attitudes", e ainda, numa versao am· pliada, porem alnda nao publicadll, Intitulada "Social integration and certain corollarIes".
9. A transcrigao especffica dfstes itens e relatada em Alan H. Roberts e Milton Rokeach, "Anomie, authoritarianism, and prejudice: a replication", American Journal of Socdolo~·, 1956, 61, 355-358, na nota 14. Num comentario publica do a respeito deste trabalho, Srole duvida que seu estudo haja sido efetivamente replicado; Ibid., 1956, 62; 63·67. 10. Towards an Understanding of Juvenile Delinquency (Nova Iorque: Columbia Univer· sity Press, 1954), especialmente as Capitulos V-VI. Vel' tambem 0 instrutivo trabalho em artigo de revista baseado sabre &ste Iivro, POI' Ernest Greenwood, "New directions in delinquency research", The Soci.a.IService R.eview, 1956, 30, 147-157.
acaso estao registrados na serie estatfstica organizada pelas entidades offciais - a saber, a circunstancia de que tais dados da contabilidade social que acontecem estar a mao ':lao sac necessariamente os dados que melhor correspondem a medi(;ao do conceito. E por isso que descrevi 0 engenhoso esfar(;o de Lander, como "sintomatico" ao inves de considera. -10 como um progressO decisivo. Pois assim como Durkheim teve que se basear apenas em estatfsticas oficiais, obrigando-o a empregar essas aproximadas, indiretas e altamente provis6rias medidas da anomia, como sejam a situa(;8.o ocupacional, a situa(;ao conjugal e a desintegra(;ao da familia (div6rcio), assim 0 fato fortuito de Que os dados do recenseamento de Baltimore inclufam itens sabre a delinqu{mcia, a composigil.o racial e a propriedade das casas conduziu Lander a usa-las como medida da anomia, aproximada, indireta e altamente provis6ria. Considera(;oes pragmaticas desta especie nao sac evidentemente um", alternativa adequada aos indices do conceito, te6ricamente derivados. :'I.1:udan(;asde residencia podem ser uma medida indireta da propor(;ao do rom pimento nas rela(;oes sociais estabelecidas, porem, e evidente que a medi(;ao seria substancialmente melhorada se se pudesse obter dados diretamente colhidos, sabre as rela(;oes sociais rompidas. E assim, com os cutros componentes objetivos da anomia, concebidos tanto como normativos e como relativos ao rompimento. Ista nao e um simples conselho de perfei(;ao inatingivel. Apenas afirma, 0 que e bastante evidente, que assim como as escalas dos aspectos subjetivos da anomia devem ser ainda melhoradas, tam· bem devem ser as escalas de seus aspectos sUbjetivos. A utiliza(;ao de dados oficiais disponfveis da contabilidade social e apenas um substituto pragmaticamente adotado e provis6rio. Originando-se do conceito dos componentes subjetivos e objetivos da anomia, esta 0 requisito tambem evidente de que a pesquisa sabre as fontes e as consequencias da £',nomia devem tratar simultiineamente da Jntegrac;ao dos dois tIp,\s de componentes. Concreta e ilustrativamente. isto significa que 0 comportamento dos individuos "anamicos" e "eunamicos", dentro dos grupos que tenham um grau determinado de anomia objetiva, poderia ser sistematicamente comparado. assim como 0 comportamento dos individuos do mesmo tipo poderia ser examinado em grupClS. com varios graus de anomia. Essa especie de pesquisa constitui evidentemente 0 pr6ximo passe a frente no estudo da anomia. 11 As recentes contribui(;oes te6ricas e de processo clarificaram assim o conceito da anomia e come(;aram a modelar as ferramentas necessarias a seu estudo sistematico. Outras contribuic;oes substantivas tem surgido recentemente, as quais tem influencia direta sabre uma outra
11.
Quanto a 16glCRgeral desta especle de analise. ver a se<:;aoacerca de "indices estatlstlcos da estrutura social", ~86-288deBte volume e Paul F. Lazars!eld e Morris RosenbeJ'g, The Language of Social RCl!earch (Glencoe: The Free Press, 1955).
parte da analise funcional lho anterior.
e estrutural
da anomia
estabelecida
no traba-
Devemos recordar que temos considerado a enfase sabre 0 bom exito monetario como um tema dominante na cultura americana, e indicado as tensoes que 0 mesmo impoe diferencialmente sabre as pessoas situ adas em varias posi(;oes na estrutura social. Evidentemente, isto nao queria significar - conforme repetidamente salientamos - que a disjun(;ao entre as metas culturais e os meios institucionalmente legitimos derivasse apenas desta extrema enfase nos objetivos. A teoria mantem que qualquer enfase extrema sabre as realiza(;oes - quer sejam de produtividade cientffica, de acumula(;ao de riqueza pessoal ou, por urn pequeno v()o da imagina(;ao, as conquistas de um Dom Juan - atenuara a conformidade com as normas que governam 0 comportamento destinado :.l. alcan(;ar a forma especial de "sucesso", especialmente entre os individuos que estao em desvantagem social na corrida competitiva. E 0 conflito entre os objetivos culturais e a possibilidade de usar os meios institucionais - qualquer que seja 0 carMer do objetivo - que produz uma tengao em dire(;ao a anomia.l2 o objetivo do exito monetario foi escolhido para a analise ilustrativa, pela admissao de que ele se enraizou firmemente na cultura norte-americana. Uma lista de estudos de hist6ria e de sociologia hist6rica recentemente emprestou maior apoio aquela opiniao muito generalizada. Em sua detalhada monografia sabre 0 evangelho norte-americano do sucesso mediante a ajuda a si mesmo, - 0 impulso para auto-realiza(;ao Irvin Gordon Wyllie tem demonstrado que, embora 0 "sucesso" tenha evidentemente side definido por diversos modos na cultura norte-americana, (e por divers os modos entre os varios estratos sociais), nenhuma outra defini(;ao "goza de tal prestfgio universal nos Estados Unidos, do que aquele que identitica 0 sucesso com a caracidade de ganhar dinheiro". 13 Este pesado acento sabre c sucesso financeiro, evidentemente nao e peculiar aos norte-americanos. Ainda e muito oportuna a observa(;ao analitica feita de longa data por Max Weber: "0 impulso de aquisi(;ao, a busca do ganho, da maior quantidade possivel de dinheiro, nada tem aver em si com 0 capitalismo (e, no caso presente, com a cultura especifil. camente norte-americana). Este impulso existe e tern existido entre garcons, medicos, cocheiros, artistas, prostitutas, funcionarios desonestos, soldados, nobres, cruzados, jogadores e mendigos. Pode-se dizer que tem sido comum a tadas as especies e condi(;oes de homens, em todos os temlZ. W. J. H. Sprott tern express ado Isto, com invejEwel clareza, nas confer,eiIJ,ciasde Josiah Mason, proferidas na Universldade de Birmingham. Science and Social Action (Londres: Watts & Co., 1954), 113. 13. Irvin Gordon Wyllie, The Self-Made Man in America (New Brunswick: Rutgers Unl· l'erslty Press, 1954), 3·.•• e em tOda a extensao do livro.
pOS, em todos as paises da terra, onde quer que tenha existido a sua pos~ibilidade objetiva".14 Mas 0 que distingue relativamente a cultura norte-americana sob este aspecto e foi tornado como [onto central para a analise deste caso no capitulo anterior, e que esta e "uma sociedade que atribui alto premio sabre a afluencia economica e a ascensao social para todos os seus memo bros" . Tal como uma cartilha de sucesso do fim do seculo XIX retratou admiravelmente essa cren<;a cultural: "A estrada para a fortuna, tal como a estrada publica de pedagio, esta aberta igualmente aos filhos do mendigo, e ao descendente de reis. Ha taxas a serem pagas POl' todos, e no entanto tOdos tern direitos, e unicamente a nos compete utilizar esses direitos". 15 A caracteristica dessa doutrina cultural e dupla: pdmeiro, a esforc;o a busca do sucesso nao e urn assunto dos individuos que por acaso tenham impulsos aquisitivos, enraizados na natureza humana, mas sim uma expectac;ao socialmente definida; e segundo, esta expectac;ao p:.1dronizada e considcrada como apropriada para cada componente da sociedade nao levamlo em considerac;ao sua situac;ao inicial ou posic;ao n~, vida. Evidentemente, nao se trat.a do fat a de que os padr6es identlcos de realizac;ao ~'eJam concretamente exigidos de cada carnponente da sociedade; a natureza e extensao desse movimento para ci· ma, na escada economica, pode tornar-se definida diferentemente entre as diversos estratos sociais; mas as orientac;6es culturais predominantes dao grande enfase a esta forma de exit a e consideram apropriado que todos se esfcrcem para atingi-lo. (Como veremos adiante, esta proposi· c;ao e bast ante diferente da proposic;ao empirica de que as mesmas proporc;6es de pessoas de todas as classes sociais aceitam de fat a esta enfase cult,ural e assimilam·na em sua estrutura pessoal de valores). E apenas a fa to de que no pulpito e na imprensa, na ficc;ao e nos filmes cinematograficos, no decurso da educac;ao formal e da socializac;ao informal, nos variaaos meios de comunicac;ao publicos e particulares que atraem a atenc;ao dos norte-americanos ha uma enfase relativamente acen· tuada sabre a obrigaC;ao moral, assim como sabre a possibilidade efetiva, de lutar pelo exito monetario e de consegui·lo. Conforme Wyllie demonstra, palestras inspiradoras nas escolas, assoC'iaC;6esmercantis de livreiros, colegios comerci.ais, e uma grande biblioteca de man~s de sucesso, propagam insistentemente esse tema. (pags. 137 .e segs.). IS\O e ainda amplamente documentado pelo resultado de uma serie de analises do conteudo dos romances mais lidos, das cartilhas reim· pressas sem cessar, usadas nas escolas primarias par toda a extensao do pais, e pelos valores reafirmados nos necrclogio~ de alguns dos mais fa· mosos homens de negocios. Kenneth S. Lynn pesquisa 0 penetrante tema da subida "dos andrajos para a riqueza" nos romances de Theodore
14. Max Weber,The Protestant Ethic a"d the Spirit of Capitalism(Nova Iorque: Charles Scribner's Sons, 1930),17. 15. A. C. McCurdy,Win Who Will (Filadelfia.1872),19, citado por Wyllie,op. cit., 22.
Dreiser, Jack London, David Graham Phillips, Frank Norris e Robert Herrick. A dura vel presenc;a do mesmo tema na serie aparentemente Ri. inexaurivel de leitores das obras de McGuffey e demonstrada par chard D. Mosier. 16 E na obra The Reputation of the American Busi. nessman17, Sigmund Diamond analisa uma grande lista de necrologios, esses repositorios de sentimento moral, publicados apos a morte de Stephen Girard, John Jacob Astor, Cornelius Vanderbilt, J. P. Morgan. John D. Rockefeller e Henry Ford, e assinala a frequencia constante do conceito de que, quando urn homem "tern as qualidades exigidas, 0 sucesso sera seu em qualquer tempo, em qualquer lugar, sob quaisquer circunstllnGias". Esse tema cultural nao so assevera que 0 :;:ucesso monetario e possi· vel para todos, nao importando a posic;ao inicial, como tambem que 0 es· forc;o para conseguir a sucessa incumbe a todos, mas que, as vezes, as apa· rentes desvantagens da pobreza sac na verdade vantagens, pais, nas palavras de Henry Ward Beecher, e "a duro, mas bandoso seio da pobreza, que lhes diz: 'Trabalhem!' e mediante 0 trabalho faz deles homens".l8 lsto conduz naturalmente ao tema subsidiario de que a exito au 0 ma16gro result am inteiramente das qualidades r-essoais; de Que quem fra· cassa deve queixar-se apenas de si, pois 0 coralario do conceito do homem que vence na vida par esforc;o proprio (self-unmade man) e 0 do ham em q·..le se desfez fl si mesmo. Na medida em que esta definic;ao cultural e as· similada pOl' aqueles que naa acertaram em seu alva, a fracasso repre· senta uma dupla derrota: a derrota manifesta de permanecer muito par .• tras na canida para 0 sucesso, e a derrota implicita de nao tel' a capaci· Qualquer que dade e a energia moral necessarias para se obter 0 exito seja a verdade objetiva ou a falsidade da doutrina. em qualquer exemplo r.omado em particular, e e impartante que isto nao possa ser descobertO' com facilidade, a definiC;ao predominante f1rranca um tributo psiquico daqueles que malograram. E neste terreno cultural que, numa significatj· va proporc;ao de casos, a ameac;a da derrota impulsiona os ham ens ao usa daquelas taticas, fora da lei ou dos costumes, mas que prometem "sucesso". o mandato moral de alcanc;ar 0 exito exerce assim pressao sabre 0 individuo, para ser bem sucedido usando dos meios normais, se for possIvel, au mediante a emprego de meios fraudulentos, se for necessario. As narmas morais evidentemente continuam a reiterar as regras do j6go e a pedir que seja feito a "jogo limpo", mesmo quando 0 comportamento seja divergente da norma. Contudo, ocasionalmente. mesmo os manuais de sucesso "instam os homens" a "irem para adiante e ganhar" fazenda 16. KennethS. Lynn, The Dream of SlIcess(Boston: Little Brown. 1955):Richard D. Mosier,Makingthe AmericanMind (Novarorque: King's CrownPress, 1947).Ver tam· bem Marshall W. Fishwick,AmericanHeroes: Myth and Reality (Washington,D.C.: Public Affairs Press, 1954). 17 Cambridge:Harvard UniversityPress, 1955 18. Citado por Wyllie,22-2J.
uso de todos os meios disponheis para chegar a frente dos competidores", como no tratado compreensivelmente ananimo de 1878, How to Become Rich. E "no periodo de 1880 a 1914, os populistas, os partidarios de uma so taxa, os jornalistas inv,estigadores de casos. de corrupQao ("muckrak
Este processo que conduz a anomia, contudo, nao tern que se desenrolar necess;1riamente sem obstaculos. Sob condic6es ainda a serem identificadas, podem-se produzir tendencias compensadoras. Em certo grau, a julgar pelo que diz a his tori a, tal pode tel' ocorrido na sociedade norte-americana. A enfase cultural s6bre 0 exito ao alcance de todos ficou contida deotro de certos limites, em parte talvez como reaQao ao conheCImento caca vez maior da estrutura real de oportunidades e, em parte, como reaQfio as conseqtiencias desmoralizadoras, da adesao irrestrita a f\ssa teoria Isto ~quiva}e a dizer que, embora persist a a teoria original, ela e de vez em quando contida dentro de limites que aconselham a moderar as u~piraQ6es. Aquele popular missionario do evangelho do sucesso, Orison Swett Marden, advcrtiu seus leitores : "'0 fate e que a maior r:arte de nos nunca pode esperar ficar rico'''. Urn manual de sucesso, publicado no comeQo do seculo, oferece uma filosofia de consolaQao que redefine sucesso: "Tanto vale ser urn soldado raso, como um general que
°
manda. Nem todos podemos ser generais. Se voce e urn born soldado, numa multldao selecionada, e tern boa reputaQao, isto e 0 sucesso em sl mesmo". Ate um jornal com0 0 American Banker diz ser possivel afirmar que "apenas uns poucos de nos que repartem 0 destine comum silo destinados a acumular grande riqueza, ou alcanQar conspicuas posiQoes. o numero de tais posig6es e as oportunidades para tal acumulaQao de
Num trabalho recente, Herbert H. Hyman abordou 0 problema, colecionando e reanalisando dados disponiveis em pesquisas de opiniiio putlica, os quais tratam direta OU indiretamente da distribuiQao dos val~res dados ao exito entre os estratos eeon6mieos e sociais. 21 Conforme ere colocou pela primeira vez 0 ponto em discussao: "E claro que a ana,.. 20. Para estas e outras observagoes compan5.veis, ver Wyllie, 144 e segs. 21. Herbert H. Hyman, "The value systems of different classes" em Bendix e Llpset, edlHires, Class, Status and Power, 426-442. Provas adequadas ac~rca das aspiragoes e realiza~oes das minorias religiosas e raciais, tambl'm sao £,presentadas por Gerhart Saenger e Norma S. Gordon, "The Influence of discrimination on minority group members in its relation to attempts to combat discrimination", Journal of Social Psychology, 19~0, 31, 95·120, especialmente 113 e segs.
lise de Merton admite que 0 objetivo cultural e realmente assimilado pe10s individuos das classes mais baixas".(427) Em vista dos dados que sac apresentados a seguir, torna-se essencial enunciar esta suposigao mais clara mente mediante sua qualificagao: a amUise admite que alguns Individuos dos estratos inferiores economicos e sociais realmente adotam a meta do exito. Pois, afinal, a analise nao man tern que todos ou a maior parte dos membros dos estratos inferiores sac sujeitos a pressao em duegao ao comportamento nao conformist,a das varias especies estabeJeCldas n:'l tipologia da adaptagao, mas somente que maior numero deies sac sUjeitos a essa pressao, do que os situados nos estratos mais altos. Na hip6tese em foco, 0 comportamento df3sviado ainda e 0 molde subsidiario e a conformidade 0 padrao modal. Portanto, e sUficiente que uma minoria de tamanho consideriivel dos estratos inferiores assimile a meta para que os seus componentes Fejam diferencialmente sujeitos a esta pressao. como resultado de suas oportunidades relativamente menores, de alcangar 0 Sl1cesso monetario. Hyman in;.cia seu trabalho observando que "0 que e obviament.e exigido e a eviciencia empirica sobre 0 grau em que os individuos de estratos dijerentcs valorizam a meta do exito culturalmente recomendada, acrectitam que a oportunidade e disponivel para eles, e mantem outros va16res que os ajudariam ou prejudicariam em suas tentativas de se moverem em diregao aos seus objet.ivos. Este trabalho, de maneira preliminar, e assim complemental' a analise te6rica de Merton". 22 Aqui, novamente, 5e os dados disponiveis foram ligados apropriadamente a hip6tese, 0 enunciado precisa ser d~limitado. E verdade que a analise reclama evidencia empirica a respeito do "grau em que os individuos dos diferenres estratos" dao valor ao alvo do sucesso; e evidente que a meta do sucesso proporcionara pouco, a titulo de motivagao, a menos que eles sejarr. significativamente comprometidos ao tema. Na realidade, os dados de pesfluisa de que Hyman S8 valeu nao discriminam entre os graus de com· promisso com 0 objetivo, mas indicam somente a jreqilencia com que os individuos da amostra tirada dos diversos estratos sociais expressam algum grau desconhec'do de aceitagao do objetivo de sucesso e dos valores relacionados. Desde 0 comego, entao, verifica-se que a pesquisa subseqtiente poderia Ser~rigida com proveito em diregao ao estudo da in ten22. Ibid.. 427-428[os !(rlfos sac nossos]. Investipr6cs empiricas a respeito da freqiiencia comparativa do motivo de sucessoem diferentes grupos sociais ja foram iniciadas. Urn de tais estudos e de R. W. Mack, R. J. Murphy e S. Yellin, "The Protestant ethic, level of aspiration and social mobility: an empirical test", American SociologicalReview. 1956 .. 21, 295-300.1!:steestudo insinua, embora nao com intengao de demonstra-l0, que a etICZ,norte·americal'a do sucesso pode ser bastante infiltrante para superar as dUe. rpn~asna enfo
sldade, assim como da extensao em que tais valores sa(l mantidos em c.iversos grupos, estratos sociais e comunidades. Devemos notal', entao, que a hip6tese do capitulo anterior requer que uma apreclllvel minoria, (nao todos ou a maior parte), dos que estao nos estratos sociais inferiores haja assimilado 0 mandato cultural do sucesso monetario, e que isto pressuponha a assimilagao afetivamente significativa de tal valor, e nao a mera· aquiescencia verbal com 0 dito objetivo. Estas duas qualificagoes fornecem urn contexto para localizar as correlagoes te6ricas da evidencia empiric a reunida no trabalho pertinente e compacto de Hyman. De modo geral, a list a rta~ evidencias, que nao e revista aqui em c1etalhe completo, pois e facilnlente acessivel, mostra uniformemente 03 dijerendais nas proporgoes de adultos e de jovens dos estratos sociais inferior, medio e superior que sac positivamente orientados em diregao ao exito profissional e em diregao aos meios estabelecidos para ajudar a consecugao de tal exito. POI' exemplo, uma pesquisa nacional de opiniao no fim da decada de 1930 encontrou diferenciais de classe na crenga da oportunidade ocupacional, tal como se registra pelas' resp05tas a pergunta: "Voce pensa que hoje qualquer jovem que seja economico, capaz e ambicioso tenha oportunidade de subir no mundo, possuir sua pr6pria casa, e ganhar cinco mil d6lares pOl' ano"? Entre "os pr6speros", 53% confirmaram essa crenga comparados com 0 que Hyman descreve como "apenas" 31% entre "os pobres".23 Outra pesquisa nacional encontra 63% dos profissionais liberais e empregados de escri t6rio de categoria (gerentes e "executive") expressando sua crenga de que os anos vindouros ofereciam boa possibilidade de progresso, alem de sua presente situagao, comparados com 48% dos operarios fabris; outrossim, 58.0/0do primeiro grupo (empregados de mais alta categoria) diziam que 0 trabalho mais energico lhes proporcionaria uma promogao, enquanto que s6 40% de segundo grupo de trabalhadores manuais concordavam com esta opiniao otimista. outros exA esses dados, citados POI' Hyman, podem acrescentar-se traidos de um estudo sociol6gico dos moradores brancos e negros de um bairro residencial novo, de alugueis baixos. 24 Estes 500 moradores, em diferentes niveis dentro dos setores mais baixos da hierarquia ocupacio23. Ibid., 437. A creng£,nas probabilidadesrealisticas da oportunidade de progresso no emprego parece est£,r razoavelmenteespalhada entre os trabalhadores, pelo menos ate nos illUmos anos da decada de 1940. Por exemplo,Roper relata que numa pesquisa de trabalhadores, 70 por cento dizia que suas probabilidades de progredir eram melhores que as que seus pais tinham tido e 62 por cento acreditava que as oportunidades para seus filhos seriam ainda melhores que as suas pr6prias. Esta avaliagao relativa da~ oportunidades ocupacionais, envolvendo comparag6esentre ger£<;6esconsecutivas, pode ser mals pertinente, em termos de uma imagem das oportunidades,do que as a.valiagoe~ "bsolutas para ~ pr6prLt geragao de quem as faz. Ver Elmo Roper, "A self portrait of the American people - 1947",Fortune, 1947,35, 5-16. 24. R. K. Merton, P. S. West e M. Jahoda, Patterns of SocilllLife, Capitulo 3, nao pUbl!cado.
nal, expuseram suas avalia!ioes de oportunidade de melhoria, em suas ocupa!ioes em geral e em seu proprio local de trabalho em particular. :I5 Surgiram tres significativos tip os de aprecia!iao. Primeiro, urn tipo de crescente otimismo acerca das oportunidades de "ir para a frente" nas ocupa!ioes em geral em cada nivel sucessivamente mais alto desta modesta hierarquia de empregos. E como se a mera existencia de outros individu~s :m estratos ocupacionais mais baixo'S que 0 proprio, apoiasse
cos.
. ~m segundo lugar, 0 mesmo tipo, embora com uma amplitude signiflC~tlVamente mai.s estreita de varia!iao, OCOrrenas estimativas das oporQuanto mais tumdades predommantes em seu pr6prio local de trabalho. alto 0 nivel de emprego, tanto maior a propor!iao dos que acreditavam que as opo~tunidades de progresso em seus locais de trabalho eram boas o~ razoaveJs. Entre os negros, as porcentagens que registravam seu otimIsmo eram respectivamente 43, 32 e 27; entre os brancos, 58, 47 e 44. . ~ .terceiro tipo na avaliagao das oportuniciades, contudo, distingue deflmtIvamente a perspectiva dos trabalhadores brancos e dos negros, cotrabalhadores brancos tendem aver pouca diferen!ia enmo grupos. tre as probabIlIdades das ocupagoes em geral e em seus proprios locais de trabalho: 0 que eles tomam como verdade em geral tambem tomam como verdadeiro em seus ambientes imediatos. Entre 'os trabalhadores negros, particularmente entre os que detem empregos um tanto mais elev~dos, tudo isso mUda. Qualquer que sejam suas estimativas de oportu~Id~des em sua ocupagao em geral, tendem a ser decididamente mais pessImIstas na avalia!iao das oportunidades nos locais onde trabalham. 0 que essas estatisticas de expectativa ocupacional parecem demonstrar e que a fre~i.ie~te CO~ViC!iaoentre os trabalhadores negros em cada nivel de ocupagac) e que eies sac barrados no acesso equitativo a melhoria. A estas provas sabre as diferen!ias de classe e de ra!ia acerca da erenga nas oportunidades ocupr..cionais, pod.e-se acrescentar outra evidel1cia, citada por Hyman, sabre diferengas de classe acerca do valor atribuido a pducagao formal como meio de aUIDcntar a possibilidade de sucesso ocupacional. Por exemplo, propor!ioes sUbstancialmente maiores dos
?~
25. As perguntas que provocaram as estimatlvas eram estas: "Quais sao as oportunidade~ de progresso para uma pessoa do seu nlvel tecnlco, se ela real mente resolve empregar t~da a sua f6rQa de vontade?" "A respeito do luglar onde voce agora trabalha, qual& ~ao as oportunidades para melhorar de vida?"
estratos sociais mais altos do que dos mais baixos, expressam a crenc;:a de que ualguma educagao universitaria" e necessaria "para progredir na vida"; mnis uma vez, 91% dos individuos "prosperos", entrevistados em uma pesquisa nacional, ccmparados com 68% dos individuos "pobres", expressou 0 desejo de que seus filhos frequentassem uma universidade em vez de conseguir urn emprego imediatamente depois de sua diploma!iao colegial; alem disso, 74% de uma amostra de rapazes do grupo entre 13 e 19 anos de iamilias "ricas e prosperas", comparadas com 42% dos de "classe inferior preferiam ingressl1r nas universidades, como sequencia da diploma!
,
raativas das divers as classes ~ociais que adotam 0 alvo cultural do ~xito mas os seus numeros absolutos. Dizer que uma porcentagem maior
d.os estratos superiores sociais e econamicos adota firmemente 0 objetivo cultural do exito, nao e dizer que 0 fa!ia um numero maior de indi\'iduos da classe superior comparados com as pessoas da classe inferior. Na verdade, desde que 0 numero de pessoas no estrato superior identiticado nestes estudos e substancialmente meno, que 0 numero do estrato mais baixo, acontece as vezes que mais pessoas das classes mais bai:has adotam este objetivo, do (c:e pessoas de classe superior. Centralizando-se quase que excIusivamente27 nas promo~oes compara.tivas dos divers os estratos sociais que tenham urn ou outro valor de orienta!
rito - Hyman deixa de considerar os fatos que sac mais pertinentes a hip6tese que esta em foco. Pois, conforme tem side dito repetidamente, a hip6tese nao exige que maio res proporg5es, ou mesmo maiores nume10S de pessoas dos estratos sociais inferiores sejam orientados em diregao a meta de exito, mas s6mente que um numero substancial seja assim orientado. Pois e a disjung{io entre as altas aspirag5es culturalmente induzidas e os obstaculos socialmente estruturados em relagao a realizagao dessas aspirag5es, que se sustenta como exercendo clara pressao a favor do comportamento divergente. Por "nUmero substancial", se entende, pois, um numero suficientemente grande para resultar em uma disjungii.o mais frequente entre os objetivos e a oportunidade, nos estratos da classe inferior, do que entre os estratos da classe superior mais favo· recida. E mesmo, pode ser que esta disjungao seja mais frequente nos estratos inferiores de que nos estratos medios, embora ainda faltem da· dos empiricos adequados sabre isto, desde que 0 numero evidentemente maior dos norte-americanos da classe media, que adotam a meta de sucesso, pode incluir uma proporgao sUficiente menor dos que sac seriamente impedidos em seus esforgos para avangar em diregao a dita meta. Em qualquer eventualidade, 0 requisito analitico fundamental e distinguir sistematicamente entre os achados sabre as proporg5es relativas e sabre os ntimeros absolutos 28 nas diversas classes sociais que aceitam 0 objetivo cultural, e reconhecer que e a freqiiencla da disjungao entre 0 aI\'0 e 0 acesso socialmente estruturado em relagao a ele, que tem interesse te6rico. As ~squisas adicionais terao que resolver 0 dificil problema de obter dados sistematicos tanto sabre as metas como sabre 0 acesso padronizado as oportunidades e de analisa-los juntamente a fim de ver se n. combina!:ao de elevadas aspirag5es e pequenas oportunidades ocorre com frequencia substancialmente diferente em varios estratos sociais g-rupos e comunidades, ese, por sua vez estas difereneiais sac relaciona: da,s . em difer·entes propor!t5es, com 0 comportamento desviado. EsquematlCamente, isto exigi ria dados acerca das diferenciais socialmente padronizadas em 1. exposigii.o a meta cultural e as normas que regulam 0 comport9.mento orientado em diregao aquele objetivo; . _ 2. a~eitag{io do obje~ivo e das normas como mandatos morais e va· lares asslmilados; )
2R. Deve·se notar, pelo menos de passagem, quP. a necessidade de fazer est a distinQao ten! l&,rga influencia na analise da vida social. Por importantes que sejam em si mesmas. as propor~6es relativas dos que se situ am em varios estratos sociais e grupos que ex:· bem atitudes particulares, talentos, riqueza ou qualquer molde de comportamento, nao deve ser permitido que obscure~am, como freqi.ientemente 0 fazem em estudos sociol6· gicos, 0 fa to igualmente irnportante dos ntimeros absolutos que manifestam (stes itens em d~ferentes estratos e grupos. Do ponto de vista dos efeitos sabre a sociedade, sao fre· quentemente os ntimeros absolutos e nao propor~6es relativas que importam. Patti ')UlOrOS exemplos desta mesma considera~lio. ver 0 Capitulo XII dcste livro, nota 16.
3.
relativa
acessibilidade
vida, na estrutura 4.
ao objetivo:
ocasi6es que se apre3entam
na
das oportuuidades;
a extensii.o da discrepcmcia
entre
0
objetivo aceito e sua acessi·
bilidade; 5. 6.
0 grau de anomia,. e as proporgoes de comportamento
desviado de varias especies esLabelecidas na tipologia dos rr.odos de adaptagao. E claro que nao e facH rcunir dados adequados a todos esses itens distintos embora relacionad03. Ate agora, os soci610gos tem tido que trabalhar com medidas confeSSa(18mente aproximadas e imperfeitas de quase t6das essas variaveis - us:..ndo, por exemplo, 0 ·grau de educagao formal, como sendo um indicador de acesso a oportunidade. Po rem, e cada vez mais frequente em sociologia que, uma vez identificadas teoricamente as variaveis estrategicas, descobrem·se medidas aperfeigoadas para as mesmas. Ha um crescente intercambio entre a teoria, que enuncia a significagao de certas variaveis: a metodologia, que formula a 16gica da pesquisa empirica envolvida nessas variaveis e a tecnica, que elabora as ferramentas e os procedimentos para medir as varHiveis. Vimos que, ultimamente iniciativas definidas tem sido tomadas para se achar as medidas dos c~mponentes da anomia, tanto subjetivos como objetivos. Talvez 5e possa supor que estas medidas continuarao a ser melhoradas, e que medidas adequadas para outras variaveis serao elaboradas, especialmente ml~rlidas aperfeigoadas para 0 conceito ainda utilizado frouxamente, mas importante daquilo que Weber denominou "ocasi6es que se apresentam na
vida", na estrutura de oportunidades. Desta maneira, tornar-se-a possivel descobrir a topografia social da anomia. Tomar-se-a possivel localizar os lugares estruturais na sociedade norte-americana, por exemplo, onde esteja no ponto maximo, a disjungao entre os valares cUlturais que determinaram ao povo manter certos objetivos, e as possibilidades padronizadas de viver conforme esses valares. Tal inquerito viria contrariar qualquer tendencia impensada em pressUpor que a sociedade norte-americana esteja uniformemente afetada pelf\ l'>nomia. Ao contrario, determinaria pela pesquisa os status na estrutura da sociedade americana que acarretam a maior dificuldade para que os individuos sigam os requisitos normativos, pois isto e que se quer dizer quando se afirma que a disjungao entre as normas aceitas e as oportunidades para uma conformidade com essas normas socialmente recompensada, "exerce pressao" favoravel ao comportamento desviado, e produz a anomia. Assim como e oportuno identifiear as fontes de diferentes graus de ~momia em diferentes setores da sociedade, tambem e oportuno examinar as variaveis adaptag5es, e as fargas que favorecem um ou outro destes tipos de ac1aptagao. Um certo numero dE: estudos recentes influi neste problema !,?;eral.
A ANOMIA E AS FORMAS DE COMPORTAMENTO DIVERGENTE
A primeira forma de comportamento divergente identificada na tipoJogia estabe.1ecida no capitulo anterior foi descrita como inovag13,o. Pode-se recordar que isto se refere a rejeig13,ode r;raticas institucionais, com a reteng13,o dos objetivos culturais. Isto pOd'eria na aparencia caracterizar uma parte sUbstancial do comportamento transviado que tern recebido a maior porg13,ode ateng13,oda pesquisa, por exemplo, aquela que se inclui vagamente nos conceitos gerais de "crime" e "delinquencia". Uma vez que a lei proporciona criterios formais para esses tipos de desvio eles vem a ser relativamente observaveis e logo se tornam focos de estu: (lo. Em contraste, outras formas de comportamento que do ponto de vista sociol6gico, embora n13,odo legal, se consideram desvios das normas aceitas, por exemplo, aquela que denominamos de "retraimento" _ sac menos visiveis e recebem menor atengao. Diversos estudos indicaram ultimamente que os conceitos convencionais de "crime" e "delinquencia", podem servir para obscurecer ao inves de esclarecer 0 entendimento da numerosa variedade de comportamento desviado a qual se referem. Aubert, por exemplo, observa que "a definigao legal de crime ... provavelmente [representa] pouco em comum entre todos os fenomenos cobertos pelo conceito... E 0 mesmo parece ser verdadeiro ·em relagao ao crime de 'colarinho branco'... Esse tipo pocte tambem diferir muito em sua 'natureza, e pode exigir exPlicagaes' causais inteiramente diferentes".29 No processo de aplicagao de urn termo, tal como 0 de crime OUdelinquencia, a uma classe de comportamento, <'leseny'olve-seuma tendencia de atender primeiramente as semelhangas - consequentes ou nao - entre os itens de comportamento abrangidos na dita classe. Formas de comportamento sociol6gica e inteiramente distintas, por exemplo comportamento de jovens, vem a ser designadas pelo termo generico, "i:lelinquenGia juvenil". Isto acarreta com frequencia a suposiQ13,ode que a extensa. diversidade de compprtamento dos individuos Que se langam a uma ou outra formlt de taVconduta, sejam de especie te6ricamente semelhante. No entanto, e questionavel que (l comportamento do jovem que haja desviado algu.'1las pegas de "baseball" dos seus companheiros tenha um sig29. Vilhelm Aubert, "White-collar crime and social structure", American Journal of Sociology, 1952, 58, 263·271, it pag. 270; conferir, tambem, R. K. Merton, "The social-cultural envi:onment and anomie", em Helen L. Witmer e Ruth Kotinsky, editores, New Pers. pec,tIves for Research on Juvenile Delinquency (Washington, D.C.: U. S. Department of Health Education and Welfare, Children's Bureau, 1956), 24-50, inclusive dlscussDes POl mem~ros d& conferencia: Daniel Glaser, "Criminality theories and behavioral image.'". AmerIcan Journ~! of Sociology, 1956, 61, 433·443, II pall'. 434.
nificado semelhante a ag13,odo jovem que peri6dicamente assalta membros de outro grupo. Alem dl) mais, a decisao de abranger uma extensa lista de comportamentos sob a rubrica de crime ou delinquencia, ten de a fazer supor que uma s6 teoria explicara todo 0 campo de conduta colocado em tal categoria. No pens amen to legico, !.sto n13,oe muito distanciado da suposig13,o de urn Benjamin Rush ou de John Brown, de que deve haver uma teoria da doenga, ao inves de diferentes teorias de d08ngas: da tuberculose e da artrite, do Eindrome de Meniere e da sifilis. Assim como classificar condigaes e processos profundamente divers OS sob 0 unico titulo de doenga, levou alguns zelosos e sistema-tieos medicos a crer que era sua tarefa fazer evoluir uma teoria geral da doenga, que tudo abrangesse, tambem, ao que parece, 0 modismo consagrado, tanto coloquial como cientifico, de se referir a "delinquencia juvenil" como se fosse uma s6 entidade, levllj alguns a crer que deve haver uma teoria basica de "sua" causag13,o. Talvez isto seja suficiente para sugerir 0 que pode significar referir-se ao crime ou a delinquencia juvenil, como urn eonceito que tudo abarca e que pode perturbar as formulagaes te6ricas do problema. Desde que se sabe que 0 comportamento ordinariamente descrito como criminoso ou delinquente e, do ponto de vista sociol6gico, inteiramente variado e dispar, torna-se evidente que a teoria em discussao nao pode dar conta de t6das as formas de comportamento desviado. Em seu livro sensivel as teorias, Albert K. Cohen suger;,) que esta teoria e "altamente plausivel como uma explicagao do crime profissional dos adultos e dos delitos contra a propriedade cometidos por alguns ladraes juv€IIlis mais idosos e semiprofissionais. "Infelizmente - continua ele - nao explica a qualidade n13,outilitaria da subcultura ... Se 0 participante da. subcultura delinquente estivessc empregaudo simplesmente meios ilicitos para a finalidade de adquirir valores economicos, mostraria mais respeito pelos bens que assim adquiriu. Alem do mais, a destrutividade, a versatilidade, 0 'gostinho' especial em praticar agao proibida e 0 total negativismo que caracterizam a subcultura delinquente est13,oalem do alcance desta teoria". 30 A primeira e mais saliente 9.firmagao feita par Cohen, convida ao con&enso e merece reiteragao· A teoria da anomia anteriormente exposta 30. Albert K. Cohen, Delinquent Boys (Glencoe: The Free Press, 1955), 36. Uma vez que alguns dos principais temas te6ricos estao sendo examinados em relaQao com a livro de Cohen, sao apenas citadas as seguintes discussDes que se referem ao paradigma da estrutul& social e da anomia, como bgse para analisar 0 comportamento criminoso e delinqUente: Milton L. B:uron, "Juvenile delinquency and American values", American Sociological Review, 1951, 16, 208-214;Solomon Kobrin. "The conflict of values in delln. quency areas", American Sociological Review, 1951, 16, 653-662;Ralph H. Turner, "Value conflict in social disorganization", Sociology and Social Research, 1954,38, 301-308;W. J. H. Sprott, The Social Background of Delinquency (University of Nottingham, 1954), conforme resenha de John C. Spencer, em The Howard Journal, 1955, 9, 163-165;Hermann Mannheim "Juvenile delinquency", British Journal of Sociology, 1956, 7, 147-152; Aubert, op. cit.; Glaser, op. cit.
serviu para explicar algumas, e nao tadas as form as de comportamento desviado, babitualmente descrito como criminoso ou delinqi.iente. 0 segundo ponto sera importante, se se revelar verdadeiro; em qualquer caso, tera 0 merito de focalizar futuras pesquisas sabre suas correlag6es. Este e 0 ponto em que a teoria da estrutura social e da anomia nao expli· ca 0 carateI' "nao utilitario" de boa parte do comportamento que ocorre nos grupos de delinqi.iencia. Mas ao explorar este ass unto mais profundamente, deve-se recordaI', para fins de clareza tE:orica, que esta teoria nao ffirma que 0 resultante comportamento c1esviado seja racionalmente cal· culado e utilitario. Ao inves, centraliza-se sabre as press6es agudas criadas pela discrepancia entre os objetivos cUlturalI:'.ente induzidos e as opor~.unidades socialmente estruturcdas. As reag6es a essas press6es, com as conseqiientes tens6es sabre os individuo::: a elas sujeitos, podem envolvel' urn cO:1sideravel grau de fJ.ustragao e de comportamento nao racional au irracional.31 A "destrutividade" tern sido amiude psicologicamente identificada como uma formr, de reag8,0 a f!'llStragao continuada. D~t mesma forma, parece que 0 "~f1gativismo total" pode ser interpretado, sem alargar a teoria a fim de incorporar varil"xeis novas e ad hoc, como urn repudio persistente as autoridades que personiflCam a contradigao entre as aspirag6es cUlturais legitimizadas e as oportunidades socialmente restringidas. Cantu do, parece que a "versatilidade" e 0 "gostinho" com que alguns rapazes praticam seus desvios apoiados pelo seu grupo, nao sac diretamente explicados pela teoria da estiUtura social e d:'l anomia. Quanto as fontes dessas particularidades do comportamento desviado, deve-se presumivelmente observar a interagp,o social entre estes individuos transviados de mentalidade semelhante, os quais mutuamente reforgam suas atitudes e comportamentos divergentes Clue, em teoria, l'esultam da situagao mais ou menos comum em que eles mesmos se encontram. E a esta fase do progresso total de comportamento desviado, apoiado pela "gang" ou turma, que Cohen aplica especial mente sua il~strutiva analise. Porem, como indica mais adiante em seu livro (54), antes de prosseguir na analise dos tipos de "solug6es" para as dificuldades que os "rapazes delinquentes" encontram em seu meio social imediato, e preciso atentar para as freqi.iencias val ia veis cOlfl que tals dificuldades se apresentam. Nes ta parte de sua analise, Coheh efetivamente examina as fontes sociais € culturais aessas press6es, em termos sensivelmente iguais aos que temos considerado. Sua analise cabalmente sociol6gica faz progredir consideravelmente nosso conhecimento de certas formas de comportamento transviado, r:omumente encontradas em grupos de delinqi.iencia, e assim faz ampliando 0 tipo de teoria estrutural "l funcional que estamos examinando.
31. Em seu comentario precisamente s6bre este ponto, Herman Mannheim indic&. que a teoria "pode ser muito bem capaz de explicz,r muito mais 0.('1 Que simplesmente a forma utili taria de expressar aspira~6es frustradas". Op. cit., 149.
Ao estudar a subcultura da delinquencia, Cohen esta evidentemente numa linha direta de continuiciade com os estudos anteriores de Shaw, McKay, e especialmente, Thrasher. 32 Contudo, ele prossegue observando que estes estudos diziam respeito principalmente ao problema de como Sil iransmite aos jovens a subcultura da delinqi.iencia e que 0 problema correlativo, ao qual ele proprio so dirige, diz respeito a origem de tais moldes culturais. De maneira muito semelhante, e possivel distinguir entre t.:.ma teoria que trata apenas das reag6es dos individuos as tens6es culturalmente induzidas, tal como foi propostu par Karen Horney, POI' exemplo, e urna teoria que trata tambem dos ejeitos das reacoes agregadas e algumas
veze~ socialmente
organizadas,
sabre
a pr6pria
estrutura
norma-
tiva. Chegamcs ao processo social que liga a an.omia e 0 comportamento desviado. A fim de colocar 6ste problema em seu contexto te6rico apro-
priado, e necessario que vejamoE a genese e 0 <.:rescimento da anomia como resultante de urn processo social em liJovir
mais do que outros, as tens6es que surgem da discrepancia entre os objet.ivos culturais e os meios mais efetivos para sua realizagao. Consequent.emente, files sac mais vulneniveis ao comportamento desviado. Em al!luma proporgao de casos, tarr.bem dependentes da estrutura de contrC>Ie do grupo, esses afastamentos das normas institucionais sac socialmente recompensados pelo bom "exito" em alcangar as metas. Porem, estes modos desviados de alcangar os objetivos ocorrem dentro de sistemas sociais. Em consequencia, a comportamento desviado afeta nao somer.te as individuos que primeiramente se langam a €lIe,mas de certo modo, afeta lambem outros individuos com quem €lIessac inter-relacionados no sistema. Uma frequencia crescente de comportamento desviado, mas "bem suo cedido", ten de a diminuir e, ate mesmo, como possibilidade extrema, a eI~-' minar a legitimidade das norm as institucionaiB para os demais componentes do sistema. 0 processo aumenta assim a extensao da anomia dentro do sistema, de modo que outros individuos que nao reagiam sob forma de comportamento desviado a leve anomia que a principio prevalecia, chegam assim a proceder, quando a anomia se espalha e e intensificada. 1sto, por sua vez, cria uma situagao mais agudamente anamica, para outros individuos do sistema social, que de inicio seriam menos vulneraveis. Desta forma, a anomia e as proporg6es crescentes de comportamento desviado podem ser cohcebidas como interatuantes, num proces~o de dinamica social e cultural, com consequencias cumulativamente destruidoras da estrutura normativa, a menos que entrem em jago mecanismos de contrale e de retengao. Em cada caso especifico em foco, e essencial, como temos dito, idcntificar os mecanismos de contrale que "diminuem as tens6es resultartes de contradigoes aparentes [au reais] entre os objetivos cultumis e 0 acesso socialmente restrito" a €lIes. 023/
Uma segao anterior deste capitulo examina as provas relativas as formas de reagao a anomia, abrangidas no conceito afetivo e emcamente.. neutro de "inovagao" au seja, 0 usa de meios institucionalmente proibidos para atingir um objetivo culturalmente valido. Antes de estudar as provas relativ:::,s a outros tipos principais de reagan - ritualismo, retraimento e rebelHio - de~os salientar outra vez qu~ ~ teoria g_e~alda :strutura social e da anomia nao e confinada ao obJet1vo espec1f1co do eXIto monetario e as restrig6es sociaif para 0 l),cesso ao mesmo. Verificou-se, re num sistema social que articula de varias maneiras esses tipos de comportamento diversamente iniciados. Desta maneira, qualquer que seja a situagao Iniclal de cad a individuo, a comportamento divergente dos individuos fora da familia tende a apoiar-se mlituamente tornando-se destrutivo das norm as estabelecidas. A anomia se transforma em feno~eno social muito alt'm dos limites de urn grupo de familias separadas e distintas. Uma an'alise relativ~, a estes dados encontra-se em Ralph Pieris, "IdeologicaJ. momentum and social equilibriumw, American Journal of Sociology, 1953,
57,339-346.
exemplo, que a teoria era ::Jplicavel a urn caso de pesquisa cientifica em que col2boraram varias disciplinas, a casos de comport:::,mento em comunicag6es de massas,;;5 a um caso de desvi.o da ortodoxia religiosa 36e 2. urn caso de conformidade com as norm as socials e de desvio das mesmas numa prisao militar 37 - casas esses que, pelu menos a primeira vista, pareceriam ter pouco au nada em comum com a meta do exito monetaria. Como foi dito na exposi~ao inicial da tea ria, "0 sucesso monetaria foi tornado como a principal objetivo cultural" somente "para as fins de simplificagao do problema... embora existam, naturalmente, outros objetivos nos reposit6rio de valares comuns".(57) Em termos da concepgao geral, quaisquer objetivos culturais que recebam enfase extrema e apenas insigni1icantemente qualificadas na cultura de urn grupo, servirao para atenuar a enfase sabre as pniticas institucionalizadas e contribuirao nara a anomia. .. Da mesma maneira, e necessario reiterar que a tipologia do comportamento desviado esta longe d,~ ser confinada ao comportamento ordinariamente tlescrito como criminoso au delinquente. Do ponto de vista da sociologia, outras formas de afr.stamento das normas reguladoras podem ter pouco eu nada a vet com a violagao nas leis do pais. Simplesmente identificar aJguns tipos de desvio, e em si meSillO urn problema dificiI de teoria social, que esta sendo progressivamente €sclarecido. Por exemplo, foi efetuado visivel pragresso te6rico pela concEpgao de Parsons, de que a doen(Ja num de seus principais aspectos, e "definida como uma forma de comportamento desviado,' e que as elerr.entos da motivac;ao do desvio, que sac expressos no papel do doente, sac- conexos com aqueles expressos numa variedade de outros eanais, inclusive tipos de confcrmidade comj!Ulsiva que nao sac socialmente definidos como de desvio". 38 Como outro exemplo, 0 comportamento que se pode descrever com9 "superconformidade" au "supersubmissao" as normas institucionais, tern sido sociologicamente considerado como divergente, mesmo que a primeira vista possa parecer corr..o representativ'"l da conformidade declaPOl'
I
35.
Warren
G. Bennis, "Some barriers to teamwork in social research", Social Problems, White Riley e Samuel H. Flowerman. "Group relations as a
1956.3, 223-235; Matilda variz.,ble
in
communications
research",
American
Sociological
Review,
1951, 16, 174-180;
Leonard 1. Pearlin, The Social and Psychological Setting of Communications Behavior, (Columbia University, tese inedita de doutoramento em sociologia, 1957),Pearlin constata fortes tendc'ncias em usar a televisao como "fuga" entre aqueles que estejam altamente motivados a alcangar mobilidade social e ao mesmo tempo colocados num3 ocupagao que nao permit~_ a rapida satisfa9ao de tal objetivo. Uma das principaj~ conclus6es deste estudo empirico e que "a televisao esta bem definida como urn mstrumento pelo qual as pessoas podem fugir a conflitos e tens6es que tern sua etiologia no sistema social". \ 36. Celia, Stopnicka Rosenthal, "Deviation and social change in the Jewish community of a small Polish town". American Journal of Sociology, 1954,60, 177-181. 37. Richard Cloward, The Culture of a Military Prison: A Case Study of Anomie (Glen~oe: The Free Press; ainda inedito); e a resumo parcial de Cloward, em Witmer e Kohns ky, op. eit., 80-91. e todo a Capitulo X. 38. Parsons, The Social System, 476-477,
rada. 39 Como a tipologia das reagoes a anomia pretende deixar claro, esses sac tip os distintos de comportamento que, em contraste com a sua manifesta aparencia de conformidade com as expectagoes institucionalizadas, pode ser apresentado na analise sociol6gica como representativo de afastamento dessas mesmas expectativas. Finalmente, a titulo de preambulo a esta revisao de outros tipos de comportamento desviado, deve-se notar mais uma vez que, do ponto de vista da sociologia, nem todos esses desvios das normas dominantes do grupo sao necessariamente disfuncionais em relagao aos va16res basicos f; a adapta~ao ao grupo. Correlativamente, a aderencia estrita e nao questionada a tadas as normas dominances seria funcional s6mente num grupo que jamais existiu: urn grupo que seria completamente estatico e invariavel, num ambiente social e cultural estatico e invariavel. Algum (desconhecido) grau de desvio das normas correntes e provavelmente funcional para as objetivos basicos de todos as grupos. Urn certo grau de "inovagao", por exemplo, po de resultar na formagao de novas padroes institucionalizados de comportamento que sejam mais adaptativos que os antigos, para favorecer a realizagao dos objetivos primordiais. Constituiria uma visao miope e, alem disso, urn julgamento etico dissimulado admitir que mesmo 0 comportamento desviado disfuncional em relagao aos valares correntes do grupo, seja tambem eticamente deficiente; pais, como temos tido freqtiente ocasiao de observar neste livro, 0 conceito de disfungao social nao e urn substit"kto termino16gico de ultima hora para a "moralidade" ou as "praticas antieticas". Urn determinado padrao de comportamento que se afaste das normas dominantes do grupo pode ser disfuncional quando diminui a estabilidade do grupo au quando reduz suas probabilidades de alcangar aE metas que 0 mesmo valoriza. Mas, do ponto de vista de outro conjunto de padroes eticos, pode ser que as defeitos estejam nas normas do grupo e nao no inovador qu~ as rejeita. Isto tern sido definido com caracteristica intuigao e eloqUencia por urn dos homens verdadeiramente grandee de nossa epoca: Na tribo primitiva ~ad classe tem sua Moira ou quota designada e seu Ergon ou tun~ao, e as coisas vaGbem e cada classe e cada individuo preenche sua I\loira e cumpre scu Ergon, e nao transgrid ou viola os dos demais. Na Iinguagem moderna, cada classe ou individuo tem seu servi~o social a realizar e goz•. seus direitos conseqUentes.E a ve1ha Themis [lei ou justi~a personific2.da,e as coisas que "sao feitas"]; mas uma Themis vastamente ampliada pe1a imli.gina~ao.e tornada mais positiva. Uma Themis em que podeis ser chamado nao s6 para morrer por vosso pals - as mais antigas leis tribais ja inclullioInisto - mas a morrer pela verdooe, ou, conforme vem explieadonuma passagem maravilhosa de segundo Iivro, a desafiar t6da a lei convencionalda vossa sociedadepor amor a verdadelra lei que tenha side desamparada ou esquecida. Ningut'm que a tenha lido pode esquecer facilmente 0 relato do homem justo na sociedade ma ou equlvocada, como ele (, a~oitado e cegooo e por fim empalado ou crucificado pela sociedade que 0 entende mal, porque el~ 39. Ver a discussao a respeito, na se~ao segulnte devotlida ao padrao de retraimento em resposta a anomia.
(, justo mas parece 0 contrario, e como depois de tudo (, melhor para e:e do que seguir a multidao na pratica do mal.40
sotrer
assim
Tudo is to nao necessitaria ser repetido se nao fa sse a suposigao for. tuita e ao que parece, sempre mais freqUente, de que 0 comportamento desviado necessariamente equivale a disfungao social, e a disfungao social, por sua vez, a violagao de urn c6digo de etica. Na hist6ria de cada sociedade, presumivelmente, alguns dos her6is de sua cultura foram con. siderados her6icos, precisamente porque tiveram a coragem e a visao de a:rastar-se de norm as que entao prevaleciam no grupo. Como bem sabe. mos, 0 rebelde, a revolucionario, 0 nao-conformista, a individualista, a her6ico, au 0 renegado da vespera e, muitas vezes, 0 her6i de hoje. Tambem se deve dizer, pois isto e esquecido com tanta facilidade, que centralizar esta teoria sabre as fontes culturais e estrutura1s do com. portamento desviado, nilo significa concluir que tal comportamento se. ja a reagao caracteristica, e muito menos exclusiva as pressoes que te. mos examinado. Esta e uma analise de proporc;oes e tipos variaveis de romportamentos desviados, nao uma generalizagao empiric a com a finalidade de provar que todos os que estao sujeitos a essas pressoes reagem mediante 0 desvio. A teoria apenas assevera que os que se acham 10. calizados em lugares na estrutura social, particularmente expostos a tais tensoes, tern maiores probabilidades que outros a apresentar desvio de con. nuta. No entanto, como resultado dos mecanismos sociais contrarios, mesmo estas posigoes carregadas de tensao nao induzem tipicamente ao desvio: a conformidade tende a permanecer como reagao modal. Entre as mecanismos compensadores, con forme foi sugerido no capitulo prece. dente, esta 0 acesso a "outros objetivos no reposit6rio dos valares comuns. .. Na medida em que a estrutura cultural conceda prestigio e essas alternativas, e a estrutura social permita acesso a elas, a sistema torna-se, de certo modo, estabilizado. Os transgressores potenciais aincra podem se conformar com esses conjuntos auxilares de valares".(57) Ja se ini. ciou a pesquisa do funcionamento de tais alternativas como freios da conduta divergente. 40a
40. Gilbert Murray, Greek Studies (Oxford: Clarendon Press, 1946), 75. A a1usao (, ao segundo Iivro da Repuhlica de Platao: se a formula~ao original de Platao justif,r.a a parMmse de Gilbert Murmy, e suti! questao de oplniao. 40a. Ver 0 trabalho a ser publlcado brevemente, de Ruth B. Granick. "Biographies of popular NegrQ'heroes'''. Seguindo os proce~sosest2.belecidospor Leo Lowenthal em seu e~tudo das biografias populares, Granlck anaJisou a compos;~aosocial dos "her6is nedestinadas princ·palmente a Jeitores ne· gros" em duas revlstas populares i1ustradlioS, gros, dentro do contexto proporcionadopela teoria do comportamento transviado que esta sendo estudada. A autorz, encontra diterentes roteiros para alcan~ar exito no mundo das divers6es, para negros e brancos, embora os status de valor aparl'nte pare~am bastante identicos para estes dols subgrupos. 0 mais interessante (, a SU3 conclusao provis6ria de que 0 acesso a diferentes metas de '?Citoproporciona amplo espa~o para 0 comportamento conformista, e nao par•. 0 desviado. 0 estudo bem conhecido de Lowenthal encontra-se em "Biographie,«in popular magazines". P. F.
Resurnmdo, torna-se evidente que (l). a teoria em exame trata d~ metas de diversas especies, postas em relevo pela cultura e nao samente da meta do exito monetaric. que ja foi estudado a titulo de Hustra· c;ao; (2) ela distingue formas de comportamento desviado, que poclem es· tar muito afastadas das que !f:presentam violaQoes das leis; (3) que e comportam':3nto desviado nao e necessdriamente disfuncional para f. operaQao eficlOnte e 0 desenvolvinlento do grupo; (4) que os conceitos de desvio social e de disfunQao social nao agasalh~.m premissas eticas ocllitas; e (5) que metas culturais alternativas proporcionam uma base para a estabiliza!?ao dos sistemas sociais e culturais.
Tal como esta situado na tipologia, 0 rituallsmo e urn tipo de reagao em que as aspiraQoes culturalmente definidas sac abandonadas, enquanto "a gente continua a acatar quase compulsiv.1mente as norm as institaelanais". Ao expor este conceito, dissemos qua "seria urn jago de palanas terminal6gico perguntar Sf:. isto constltui urn 'comportamento diver· gente'. Desde que a adaptagao, com efeito, e uma decisao intern a e desde que 0 comportamento branco e institucion~lmente permitido, embora nao seja c1tlturalmente preferido, nao e ~eralmente considerado como representativo de 'urn problema social'. As pessoRs intimas dos individuos que estejaffi fazendo esta ad:1ptac;ao podem dar opiniao em termos da enfase cultural predominante, e podem 'ter pena deles'; nurn caso individual. podem sentir que '0 velho Jonesy esta certamente em decadencia'. Quer se descreva este comportamento como desviado ou nao ele repr':3senta claramente urn afastamento do modele cultural, no qual os homens sac obrigados a se esforc;ar ativamente, de prefer en cia atraves dos processos institu~jonalizados, a fim de caminharem para a frente e para cima, na hierarquia social" (224) Desta maneira. sugeriu-se que a aguda ansiedade de status, numa sociedade qut' da grande importancia ao tt'ma do sucesso na vida, pode 1nduzir 0 comportamento desviado descrito como "superconformidade" e "supersubmissao" . ~xemplo, tal supersubmissao pode ser encontrada. entre os "virtuosos burocraticos", alguns dos quais podem "superconfor1 "",,,"sfe'd e F. N. Stanton (editares), Radio Research, 1942-1943(Nova Iorque: Duell, Sloan e Pearce. 1944l. Tem-se considerado tambem que os moldes de comportamento de consumo, - pOl' exemplo, a transm'ssao decrescente dos estilos e das modas no sistema de estratifica~3.r; - serve a fun~ao latente de tornar 0 "istema agradavel mesmo para ••queles que n;;.o prol'(ridem apreciavelmente dentro dele. Ver Bernard Barber e Lyle S. Lobel, "'Fashion' In women's clothes and the American social system", Social Forces, 1952, 31, 124-131e urn trabalho correl£.~ivo por Lloyd A. Fallers, "A note on the 'trickle effect''', Public Op;nlon Quarterl~·. J~S4, 18, 314-321. Quanto as observa~6es pertinentes ace rea de simbolos diferenciais de reallza~ao que servem para mitigar um senso de fracussa pessoal, ver M£,~garet M. Wood, Paths of Loneliness (Nova Iorque: Columbia University Press, 1953), 212 e segs.
mar-se precisamente porque estao sujeitos a culpa engendrada pela anterior nao-conformidade com as regras". 41 Sabre esta hip6tese em espel'iaI, ainda ha poucas provas sistematicas, alem de urn estudo psicanalitico de vinte "burocratas" que julgavam apresentar tendencias a "neurose compulsiva". 42 Mesmo estas provas escassas, contudo. nao se relacionam diretamente com a presente teoria, que tern de se haver, nao com tlpos de personalidade, embora isto seja importante para outros prop6si. Los, mas com tipos de desempenho do papel em resposta a situaQoes socialmente estruturadas. De interesse mais direto e 0 estudo feito por Peter M. Elau 4:1 sabre o comportamento dos burocratas. Ele sugere que os casos observados de superconformidade "nao sao devidos ao fato de que a aderencia ritualistica aos procedimentos operacionais existentes se tenha tornado urn habito inescapavel" e que "0 rituaUsmo resulta nao tanto da superidentificaQao com as regras e a profunda habitualidade com as praticas estg,belecidas, como da falta de seguranQa em importantes relaQoes sociais dentro da organiza.Qao". Em poucas palavras, quando a estrutura da situaQao nao suaviza a ansiedade de status e a ansiedade sabre a capacidade de ~atisfazer as expectativas institucionalizadas, os individuos destas organi· zaQoes reagem pela excessiva submissao. As situaQoes modeladas pela estrutura social que convidam a reac;ao ritualista da superconformidade as expectaQoes normativas tern side repoduzidas experimentalmente e, evidentemente, de modo apenas hom6logo, entre calneiros e bodes. (0 leitor certamente resistira a tentac;ao de pensar que nao se poderiam ter encontrad.::> animais mais simbalicamente apropriados). Convem lembrar que a situaQao que envolve 0 ritua!ismo, envolve a repetida frustrac;ao dos objaUvos fortemente desejador., ou a constante verifica~ao de que a recompensa nao e proporcionada a conformidade. 0 psicobiologista Howard S. Liddell, com efeito. renrodu2.iu ambas essas condiQoes em sua serie de experiencias. 44 Citamas urn exemplo, entre muitos: Um bode ... e trazido ao laborat6r10 cada dois minutos um ap~lho de telegrafia bate seguidos de um choque apli8ado a sua perna de choques e slnals. 0 hode e devolvido a seu
dia, e submetldo a uma prova simples: cr-de uma vez por segundo, durante dez segund"'-l dianteira. Depois de vinte comb:na~6es diarl"3 pasto. Logo EHead quire urn satls;at6rlo nlvel
41. Pag. 226, ver tambern a dlscuss!lo das "fontes estruturals de superconforrnldades" no Capitulo VIlI e do "renegado" e do "convertldo" nos Capltu10s X e XI deste IIvro; a observa~ao de Parsons e Bales de que "a pnmeira introspec~ao importante nesta c()o nexao [de relaclonar suas teorias independentemente desenvolvidas] era que a 'superconformidade' devia ser definida como desvio". Parsons e outros. Working Pal'ers. 75. 42. Otto Sperling, "Psychoanalytic aspects of bureaucracy", Psychoanalytic Quarterly, 1950, 19, 88·100. 43. P. M. Blau, The Dynamics of Bureaucracy, Cap. XII, especialmente 184·193. 44. Convenientemente resumidas em Howard S. Liddell, "Adr,ptation on the threshold of inte IIgence", Adaptation. editado por John Romano, (lth?.ca: Cornell University Press, 1949), 55-75.
de habilidade motora e aparentemente ada.pta-se bem a este procedimento de linha-de-mon· tagpm. Dpntro de seis ou sete semanas, contudo, 0 observador nota que se desenvolveu insidlosamente uma altert<;ao no comportamento do animal. :1!:levem de boa vontade ao laborat6no, mas, ao entrar, exlbe uma certa dellberagao afetada, e suas reag6es condlcionals sac multisslmo preclsas. Parece estar procurando "fazer a coisa certa". Ha alguns aDOS, nosso grupo comegou a chamar tals animals de "perfeccionistas"... Descobrimos que no laborat6rio de Favlov era usada a expressao "comportamento formal", para ca.rac· terizar tal conduta no cao.
Isto parece apresentar mais do que uma semelhan\(a passageira ao que temos descrito como "0 sindrome do ritualist a social" que "reage a uma situa\(ao na aparencia amea\(~dora e que excita a desconfian\(a agarranOo-se tanto mais estreitamente as rotinas seguras e as normas institucionais." 45 E, na verdade, Liddell prossegue para relatar que "aquilo que pouemos dedllzir como sendo 0 comportamento similar no homem, sob eircunstancias ameaQadoras, vai ser encontrado na descriQao de Mira y L6pez, acerca dos seis estagios do medo humane [0 primeiro vem descrito a seguir): Prudencia e a automodera~iio: Observado exteriormente, 0 paclente ptorece ser modc!>· to, prudente e sem pretensces. Por meio de automoderagao voluntaria, ele limlta seus obJet1vos e amblg6es. p renuncia aos prazeres que acarretam risco oU exibigao. 0 indivlduo em tal estagio. ja esta sob a in!luencia inibit6ria do mMo. Reage escapando profilaticll0 paciente ainda nao se acha mente da situagao que se aproxima. Introspectivarnente, ·consciente de estar com medo. Ao contrario, esta ate urn tanto auto-satisfeito e orgulhosJ porque se considera dota.do de maior previsao que outroS' seres humanos.46
:ltste retrato caracterol6gico do conformist a compulsivo que agradece a Deus porque ele nao e como os outros homens, ilustra os elementos essenciais de uma especie de reaQ9.0 ritualista as situaQ6es amea\(adoras. Cabe a teoria sociol6gica identificar os processos estruturais e culturais que produzem altas proporQ6es de tais condiQ6es de ameaQa em certos setores da sociedade, contra proporQ6es r.egligiveis em outros, sendo 0 tipo de problema que se dirige a teoria da estrutura social da anomia. Desta maneira produz-se uma consolidaQao de interpretaQ6es "psicol6gica" e "socioI6gica" dos padr6es de comportamento observ.ados, como aqueles representados pelo ritualismo. Nos estudos centraliza90s sabre "a intolerancia da ambigUidade" 47 encontram-se outros dad0o/e ideias oportunas, focalizados sabre a perscnalidade, ao inves de 0 serem sabre 0 desempenho de papel em tipos designados de situaQ6es. 0 que falta a tais estudos na sistematica incorpo· IaQao das variaveis e da dinamica da estrutura social, e largamente com45. Capitulo VI deste IIvro, as pags. 224-225. 46. Emilio Mira y L6pez, Psychiatry in War (Nova Iorque: Academy of Medicine, 1943), citado por Liddell, op. cit .. 70. 47. Else Frenkel-Brunswik, "Intolerance of ambiguity as an emotional and perceptual pf'rsonality varIable", Journal of Personality, 1949, 18, 108-143; tambem T. W. Adorno e Personality (Nova Iorque: Harper & Brothers, 1950); RI· Gutras, Thp Authoritarian chard Chnstie e Marie Jahoda, editores, Studies in the Scope and Method of "The Authoritarian Personality", (Glencoe: The Free Press, 1954),
pensado pela sua caracterizaQao detalhada dos componentes que presumivelmente entram nas reaQ6es ritualisticas a situaQ6es padronizadas e nao somente na estrutura da personalidade rigida. Como foi dito num rapido e recente balanQo, os componentes de intolerancia da ambigUidade incluem: "indevida preferencia pela simetria e familiaridade, pelos 'prop6. sitos definidos e pela regularidade; tendencia a soluQ6es do tipo 'ou branca ou preto', dicotomizaQao simplificada, sOluQ6es do tipo 'um ou outro' sem limites nem distinQ6es, conclusao prematura, perseveranQa e estereotipia; tendencia para a forma excessivamente 'boa' (isto e, excessiva Pragnanz da organizaQao de Gestalt), alcanQada atraves da globalidade difusa ou pela superenfase nos detalhes concr8tos; compartimentalizaQao, limitaQao do estimulo; tendencia a evitar a incerteza mediante a reduQao nos significados, pela inacessibilidade a experiencia, pela mecanica repetiQao das series, ou mediante uma segmentaQao ao acaso, e uma absolUtizaQao daqueles aspectos da realidade que foram conservados". 48 A significaQao substantiva de cada urn de tais componentes nao pode ser ebservada nesta lista compacta; os detalhes sac encontrados em numerosas publicaQ6es. Porem, 0 que e evidente, mesmo observando-se a lista ~presentada, e que 0 conceito da intolerancia d:-l ambigUidade se refere a "um excesso" de classes determinadas de percepQao, atitudes e comportamento (corr.o e indicado por termos tais como "indevida preferencia", "simplifica<;ao excessiva", "nao qualificada", "cmperenfase", e semelhantes). Contudo, as normas em cujos termos elas sac juIgadas como "excessivas", nao precisam ser confinadas as normas estatisticas observadas em urn agregado de personalidades sob observaQao, ou a norm as de' "adequaQao funcional" estabelecida considerando os individuos em serie e abstraindo-os de seus ambientes sociais. As normas tambem podem ser derivadas das expectativas normativas padronizadas que prevalecem em certos grupos, de modo que pelo primeiro conjunto de padr6es 0 comportamento que possa ser considerado como "super-rigidez psicol6gica" pode, as vezes, ser considerado pelo segundo conjunto de padr6es, como conformidade social adaptativa. Isto equivale apenas a dizer que embora haja pro,'avelmb."t:lteuma articulaQao entre 0 conceito de personalidades demasiado rigidas, e 0 con~eito de comportamento ritualistico socialmente induzido, os dois est3.0 longe de serem identicos.
o padrao de retraimento consiste no abandono substancial tanto das metas culturais anteriormente e!Stimadas, como das pniticas instituciona· lizadas dirigidas a tais metas. Recentemente tem sido identificadas aproximaQ6es a este tipo, entre 0 que tem sido descrito como "familias em! problemas'~ - ou seja, aqueles que nao vivem de acordo com as ex;pectati-
vas normativas predominantes em seu ambiente social. 49 Provas adicio· nais deste modo de reagao sao encontradas entre trabalhadores que Cle· senvolvem urn est ado de passividade psiquico em reagao a alguma dis·) eernivel manifestagao de anomia. 50 Contucto, de maneira geral, 0 retraimento parece ocorrer como reagao a anomia aguda, envolvendo uma quebra abrupta da estrutura normati· va aceita P. familiar e das relag6es sociais estabelecidas, particularmente quando lhes parece, aos individuos sujeitos a ela, que a situa<;;ao se pro· 10ngara indefinidamente. Conforme Durkheim observou com caracteristica penetragao,51 tais rupturas podem ser encontradas na "anomia da prosperidade", quando a fortuna sorri e muitos individuos ascendem a uma posigan muito superior a Que estavam acostumados e nao apenas na "anomia da depressao", quando a fortuna franze os sobrolhos e parecel rfastar-se para sempre. Urn estado anamico muito parecido surge com freqUencia naquelas situag6es bem definidas que "isentam" 0 individuo e uma longa lista de obrigag6es inerentes ao seu papel como, por exemplo,
49
W. Balda.mus e Noel Timms, "The problem family: a sociological approach". British Journal of Sociology, 1955,6, 318-327.Os autores concluem dizendo que "embora os traQos individuais de estrutura da personalid~ode pareQam ter um efeito mals pode· roso. .. do que era esperado, a evidencia das crenQas e orientaQiies desviadas como uma determinante separada ainda e suficiente para merecer uma pesquisa mais eiaboraQ9 na natureza e importancia deste fator. Assim pareceu que, com certas qualificaQiics, os casos mais extremos de desorganiz~<;;ao e ineficiencia em familia-problema aproxl· mavam-se de uma situaQao de retraimento ... : a conformidade com os valOres estabelecidos e vlrtualmente desprezada, especialmente com relaQao aos padriies de compor· tamento". Conforme tOdas as indica<;;iies, 0 retraimento parece ser mais freqilente entr~ aqueles que estao no estrato social extremamente inferior, tal como foi descrito por W. Lloyd W~orner e Paul S. Lunt, The Social Life of a Modern Community (New Ra· ven: Yale University Press, 1941). 50. Ely Chlnoy, Automobile Workers and the American Dream (Nova Iorque: Doubleday & Co., 1955);ver sebre este ponto, a resenha do livro de Paul Meadows, American So. ciolo!':ir.al Review, 1955,20,624. Conforme observamos na primelra apresentaQao dos tipos de a.daptaQao, ~stes se referpm "ao comportamento de desempenho... nao person~,lidade". Ev:dentemen,e, nao ee deve concluir que a adaptaQao permaneQa fixa durante teda a vida dos indivl· dnos; ao contra rio, hi espaQo para urna lnvestlguQao sistematica a respcito dos pacondiQiies. Por driies de seqiiencia do p;Jel que se desenvolvem sob determinadas exemplo, 0 esferQo de cOlyormidade, pode ser seguido por uma adaptaQao r.tualista, e esta, por sua vez, por retralmento; outros tipos de seqilencla do papel Iambem p()· dem ser identiflcados. Quanto a um interessante estudo que comeQa a tratar com as seqilencias de adaptaQao de papel, ver Leonard Reissmaon, "Levels of aspiration and social class", American Sociological Rey;ew, 1953,233-242. 51. Conforme acontece com a m~,ior parte das introspecQiies ace rea do comportamento h,,· mano, esta havia sldo evidentemente, "antecipada". Em The Way of All Fle,h, por exemplo, Samuel Butler nota: "A adversidade, se 0 homem e levado a cia gradual· mente, e mais suportavel com eqilanimidade pela maior parte das pessoas, do que qualquer grande prosperidade alcanQada numa vida intelra". (Capitu'o V) A dlte· renQa, evidentemente, e que Durkheim continuou a incorporar sua introspecQao num conjunto orden ado de Ideias te6ricas, as quais ele segUiu em suas conclusiies; este nao era 0 "metier" (oticlo) de Butler, e ele prosseguiu. ao contnirio, com ao numerosas outras introspec~iies sem conexao ao homem e a sua socledade.
no caso da "aposentadoria"
imposta
a pessoas sem 0 seu consentimento
e no caso de viuvez. 52 Num estudo das pessoas viuvas e das que se aposentam de seus em. pregos, Zena S. Blau examina em pormenores as circunstancias que fa. vorecem 0 retraimento, como sendo urn dos diversos tipos de reagao.53 Conforme eJa aponta, tanto a viuva como os "aposentados" perderam um papel principal e, de alguma forma, experimentam urn senso de isolamen. to. A autora acha que 0 retrajmento ten de a ocorrer mais amiude entre viuvas e v;uvos isolados e prossegue relatando sua freqUencia ainda maior entre mulheres viuvas do que entra os homens viuvos. 0 retrai· mento se manifesta em nostalgia do passado e apatia no presente. Os retraidos sac ainda mais relutantes em entrar em novas relag6es sociais com outros, do que os que sao descritos como "alien ados", dai resultando que tendem a continuar em sua condigao apatica. Possivelmente porque 0 retraimento representa uma forma de com· portamento desviado nao publicamente registrado nas estatisticas de contabilidade social, ao contrario do que aconteceu com outros desvios de comportamento tais como 0 crime e a delinqUencia, e porque nao tem 0 mesmo efeito dramatico e altamente visivel sabre 0 funcionamento de gru· pos como as violag6es da lei, tern havido a tendencia de ser negligencia· rio como assunto de estudos pelos soci610gos, quando nao pelos psiquia· tras. No entanto, 0 sindrome de retraimento tern side identificado durante seculos, e sob 0 r6tulo de acidia (ou sua variagao, acidia [preguigaJ) foi considerado pela Igreja Cat6lica Romana como urn dos peca· dos mortais. Tal como a indolencia e 0 torpor, no qual "os pogos do espirito secam", a acidia tern interessado os te610gos des de a Idade Med.ia, e ocupado a atengao de literatos de ambos os sexos, pelo menos desde 0 tempo de Langlande Chaucer, passando por Burton, ate Aldous Huxley e Rebecca West. Inumeros psiquiatras lidaram com a acidia na forma de apatia, melancolia, ou anedonia.54 Mas e singular que os so·
Aqui, novamente, 0 escrltor percebe antecipadamente 0 que 0 cientista social Ira exam;· nar, mais tarde, em seus detalhes e correlaQiies. 0 ensaio classlco de Charles Lamb, acerca de The Superannuated I\ian, descreve 0 s:ndrome de desorientaQao experimen· t~,do por aqueles que saD afastad05 da obrigaQao (funQao, desempenho) que os amarra· contorta· yam a uma escrivanlnha, com tOdas as rotinas insipidas, mas inteiramente veis, que Imprimiam ordem a sua existencia diaria. E ele prossegue, "recomendando muito cuidado as pessoas que ~,lcanQam Idade avanQada nos neg6c1os atlvos, para que nao abandonem levlanamente seu emprego, sem avaliar previamente suas pr6prias pos· sibilidades em manter uma vida ativa, pois a passagem repentina e total a ociosldade pode ser perigosa". Os grlfos sac nossos e foram colocados para cham:::.r a atenQao 86bre 0 que Durkhelm, Butler e Lamb consider am como a essencia do assunto: a mn· danQa repentina de st:::.tus e de funQao. 53. Zena Smith Blau, Old Age: A Study of Change in Status, dlssertaQao inMita de dou· toramento em socioJogia, Columbia University, 1956. 54. Qua,nto a alguns entre muitos relatos de acldia: Langland, Piers Plowman, e Chaucer, "Pa'l'son's Tale"; Burton, Anatomy of Melancholy; 0 ensaio de Aldous Huxley em On the Margin; Rebecca West, The Thinking Reed. Ver tambem F. L. Wells, "Social mliolad· 52.
ciologos tenham dispensado pouen atengao a tal sfndrome. No entanto, esta forma de comportamento desviado tern aparentemente seus antecedentes sociais, assim como suas conseqtiencias sociais manifestas, e pode. mos aguardar maiores inquirig6es sociologieas s6bre a mesma da especie representada pelo reeent.c estudo de Zena Blau. ' Resta verifiear se os tipos de apatia polftiea e organizaeional que agora estao sendo investigados pelos cientistas sociais se relacionam as f6r~as soeiais que, segundo esta teoria, condicionam 0 comportamento de retraimento.55 Esta possibilidade tern sido enunciada nos seguintef. termos: ... a rejei~ao de norms.s e metas inclUl 0 fenomeno da apatia cultural, com respeitu aos padr6es de conduta. Aspectos qualitativamente diferentes dEste liltimo estado sall design ados em varias formas, por termos como indiferen~a, cinismo, fadiga moral, desencanto, falta de Meto, oportunismo. Urn sinal destaeado de apatia e a perda de interesse por urn alvo cultural anteriormente visado tal como ocorre quando urn esflir~o continua. A perda das mets.s fun. do resulta em frustra~ao persistente e na aparencia inevitavel. damentais da vida deixa 0 indivlduo num vacuo social, sem dire~ao focal ou prop6sito. Outra especie crucial de ~pz.tia parece emergir, porem, de condi~6es de grande complexidade normatlva, e/ou de rapldas mudan~as, quando os indivlduos sao empurrados numa e noutra dire~ao mediante normas e objetivos numerosos e conflitantes, ate fica rem literalmente desorlentz.dos e desmoralizados, incapazes de garantir urn prop6sito firme em rela~ao a urn conJ~nto de norm~s que eles possam sentir como autoconsistente. Sob certas condi~6e!', alnda nao compreendldas, 0 resultado e uma especie de "demissao de responsabilidade'" a perda de tlida conduta atinente a principios, a fz.lta de preocupa~ao pela manuten~a~ de uma comumdade moral. Parece que esta perda e uma das condi~6es basicas das quais eme~gem z.lguns tlPOS de totalitarismo polltico. 0 indivlduo renuncia a autonomia moral e sUJelta-se a uma disciplina externa.56
Deve ter ficado claro que a teoria em exame considera 0 conflito en. tre os objetivos cultural mente definidos e as normas institucionais como uma jonte de anomia, mas que nao iguala 0 conflito de va16res com a anomia. 57 Muito ao contrario: OS conflitos entre as normas mantidas justments: adaptative regression", em Carl A. Murchison, ed., Handbook of Social Psyc.bo. IGgy, 869 e segs., e 0 trabalho citado de A. Meyerson, "Anhedonia", American Journal of Psychiatry, 1922, 2, 97-103. 55. Cf. Bernard Barber, 'Mass AP~bY' and Voluntary Social Participation in tbc Unitrd States, tese inMita de doutora ento em sociologia, Harvard University, 1949; B. Zawadski e Paul F. Lazarsfeld, "T e psychological consequences of unemployment", Jour. nal of Social Psychology, 1935, 6. 56. Robin M. Williams, Jr., American Society (Nova Iorque: A. A. Knopf, 1951), 534-535. li7. Tal como foi formulada de inlcio, a teoria e evidentemente mais obscura que de costume, slibre este ponto. No minimo, est a conclusao parece estar indicada pelo fato de que dois penetrantes estudos sugeriram que urn conflito entre as norm as foi equipaRalph H. Turner, "Va. rwo com a ausencia de norma (aspecto cultural da anomia). lue confllct in social disorganization", Sociology and Social Research, 1954, 38, 301.308; Christian Bay, The Freedom of Expression. manuscrito inedito, Capitulo III. Urn soci610go da hist6ria identificou os contornos de urn processo de desencantamento com os objetivos culturais e os meios institucionais nos liltimos anos da ctecada de 1930, nos Estados Unidos, ao registrar os comentarios da imprensa sobre a morte de John D. Rockefeller. Observou ell": "E evidente que os dissidentes nlio enC2
pOl' subgrupos distintos numa sociedade, freqtientemente resultam num aumento de adesao as normas predominantes em cada subgrupo. E 0 conflito entre os va16res culturaImente aceitos e as dificuldades socialmente estruturadas em viver de ac6rdo com esses va16res, que exerce pressao para os desvios de comportamentc e 0 rom pimento do sistema normativo. Contudo, 0 result ado da anomia pode ser apenas urn prell1. dio para a formulagao de novas normas, e e esta reagao que temos descrito como "rebeliao", na tipologia da adaptagao. Quando a rebeliao se limita a elementos relativamente pequenos e im. potentes numa comunidade, fornece urn potencial para a formagao de subgrupos, alienados do resto da comunidade porem unificados entre si. Este padrao e exemplificado pelos adolescentes afastados da sociedade, oue se agrupam em turmas ou 5e integram num movimento de juventude com uma propria subcultura distintiva.58 Esta reagao a anomia tende, contudo, a ser instavel, a menos que os novos grupos e norm as sejam suficientemente isolados do resto da sociedade que os rejeita. Quando a rebeliao se torn'" endemica numa parte substaneial da sociedade, proporciona urn potencial para a revolugao, a qual reformula tan· to a estrutura normativa quanto a social. E neste sentido que urn recen· te estudo do papel mutavel da burguesia da Franga no seculo XVIII am· plia, significativamente, a atual concepgao da anomia. E'sta ampliagao esta sucintamente expressa nos seguintes termos :59
pelo mesmo prismz. as medidas a serem tomadas para reforma da sociedade, mas do ponto de vista dos defensores de Rockefeller e da 'livre empr(\sa', esse desaclirdo era talvez menos importante que a prova da desconfian~a para com 0 regime de livre empresa e da aliena~ao - particularmente nas camadas inferiores da ordem social - em rela~ao aos objetivos e padr6es que proporcionavam base ideol6gica e seguran~a aquele regime. Para estes crlticos, tais objetivos Q padr6es nao possuiam ma.is legitimidade, nao mais podiam servir para exigir lealdade;e com a lealdade rompida, como entao poderiam os empresarios de neg6cios esperar confiantemente que flisse mantida a rotina de a~6es e rea~6es que caracterizava a dlsclplina Industrial? Porem 0 que estava emboscado nas diatribes dos crlticos era algo aMm d2, diferen~a de opiniao e a falta de satisfa~ao. Se as atividades de urn empresario como Rockefeller eram fun~6es de uma organiza~ao social que era em si mesma causa do descontentamento - de pobreza e desemprego, seus crltl. cos sustentavam entao que aquel2< organiza~ao social ja nao merecia ser apoiada e que os 'jovens' ja nao mais entrariam nas fileir20S dos que seguiram esses padr6es entre sl mesmos - poder-se-ia alcan~ar uma nova e melhor organiza~ao social. Isto era - ot! poderia tornar-se - mais do que uma simples discussao; era urn planejamento para a~ao. E como a a~ao tenderia a restringir 0 escopo e a liberdade de a~ao da iniciativa privada, seus defensores na imprensa tinham que enfrentar 0 desafio. As lealdades em perigo necessitavam de reafirma~ao, e cad a nova prova de que elas estavam em perigo, desde as greves de bra~os cruzados em Flint, ate a legisl~ao do 'New Deal' em Washington imprimiam urgencia a tarefa". Sigmund Diamond, The Reputation of the American Businessman, 116-117. 58. Ver 0 estudo altamente instrutivo de Howard Becker, German Youth: Bond or Free (Landres: Routledge & Kegan Paul, 1946); S. N. Eisenstadt, From Generation to Gene· ration: Age Groups and Social Structure (Glencoe: The Free Press, 1956) especialmellte o Capitulo VI. Princeton Uni59. Elinor G. Barber, The Bourgeoisie in 18tb Century France (Princeton: versity Press, 1955), 56.
Tem side sugerido que... uma discrepilncia muito grande entre a expectativa da mo· bilidade e 0 atingimento real redundam num estado de anomia, 0 que vem a ser uma desin· tegraQao social parcial, refletindo 0 enfraquecimento das normas morais. A mesma desmo· ralizaQao tambem surgira muito provilvelmente quando houver mobilidade de fato, desa· companhada de aprovaQao moral; foi com dlscrepancia de ambos os tipos que a burguesia da FranQa, no seculo XVIII, se viu confrontada numa extensao crescente, 11 medida quP o seculo transcorria.
Inteiramente a parte do caso hist6rico particular que apontamos, isto c;hama a atengao te6rica para a concepgao geral de que a anomia pode resultar de dois tipos de discrepancia entre as proporg6es objetivas de mobilidade social e as definig6es culturais do direito moral (e da obrigagao) de ascender, dentro de urn sistema social hierarquico. Ate agora, temos exarninado somente 0 tipo de discrepancia em que a ascensao culturalmente valorizada e objetivamente restrita, podendo acontecer que isto seja historicamente 0 tipo de exemplo mais freqi.iente. A discrepancia correlativa, porem, como observa a Dra. Barber, tambem produz gra· yes tens6es no sistema. Em termos gerais, isto pode ser identificado como 0 tipo familiar, cada vez mais familiar para os norte-americanos, em que prevalecem ao mesmo tempo normas de casta e normas de classe aberta, numa sociedade, como uma ambivalencia dela resultante em diregao a classe de jato e a mobilidade de casta daqueles apontados por muitos como membros de uma casta inferior. A fase de ,desmoralizagao que resulta de uma situagao estrutural desta especie e exemplificada nao somente nas relag6es entre as raQas nas varias partes dos Estados Uni· dos como num grande mlmero de sociedades que foram colonizadas pe10 Ocidente. Estes fatos familiares parecem formar urn todo, em termo::; de teoria socio16gica, com os fatos referentes a burguesia do ancien regime que a Dra. Barber coloCGUneste marco te6rico. 60
ESTRUTURA SOCIAL EM TRANSI<;AO E DESVIOS DE COMPORTAMENTO Em termos da teoria que estamos estudando, e claro que as press6es diferenciais do comportamento deRviado continuarao a ser eJxer. cidas s6· bre certos grupos e estratos, apenas en quanta permanecer /inalterada a estrutura da oportunidade e os objetivos culturais. Correlativamente, a medida que ocorrerem mudanc:as significativas na estrutura dos obje· tivos, deveremos esperar mUdanc;as correspondentes nos setores da populagao mais diretamente expostas a essas press6es. 60.
Uma vez que 0 Interesse imediato e a contribuiQao te6rica, em lugar dos achados emplespeclficos, nao resumo as materla,ls substantlvos encontrados pela Dra. Barbe~. Estao resumidos em sua tentativa de conclusao, segundo a qual "fol 0 enrijamento de slstema de classe que precipitou a allenaQao d~ste segmento (medio) da burgues:a, a:astando-o da exist nte estrutura. de classc, 11 qual se mantlvera leal ate a Revo.u·· Qao. Quando the negaram 0 direito de melhorar sua posiQao social, 0 burgues achml mtoleravel a tensao das moralidades confiItantes, de modo que passou So rejeitar illtelramente a desaprovaQao da mobilidade social", Ibid., 144. flCOS
Temos tido freqi.ientes ocaSlOes de notar que as organiza\(6es criminosas ("rackets") e as camarilhas politicas que Ihe sac as vezes associacas, persistem par f6r\(a das fun\(6es sociais que realizam para varias partes da popula\(ao subjacente, a qual constitui a clientela confessada e inconfessada de ambos. 61 Portar.to, seria de esperar que, a medida em que se desenvolvem alternativas estruturais legitimas para desempenhar estas fun\(6es, isto resultasse em mudan\(as substanciais na distribui.;ao social do comportamento desvi3.do. E precisamente a tese desenvolvida por Daniel Bell num trabalho analiticamente penetrante. 62 Bell observa que "os quadrilheiros, de 'gangster mobsters' de modo ge·· lal, eram imigrantes ou filhos de imigrantes ,e que 0 crime, na medida que {' padrao demonstrou, era urn caminho de acesso para uma posi\(ao social na vida norte-americana". (142) E conforme foi observado freqi.ientemente por estudiosos socio16gicos do assunto, cada n6vo grupo de imigrantes passava a ocupar 0 estrato social mais baixo, recem-abandonado por urn grupo imigrat6rio que chegara anteriormente. Por exemplo, quando os italianos tinham a experiencia de uma ou duas gerag6es de vida norte-americana, descobriam que "os caminhos mais evidentes na grande cidade, para chegar dos farrapos a riqueza, ja estavam ocupados" pelos judeus e irIan· deses. E conforme continua B'::lll, Excluidos da escada politica .- nos primeiros anos da decad a de 1930 nao havlSo quase npnhum nome Italiano entre os altos funcionarios da municlpalidade, nem nos livros do periodo indicaodo se podem encontrar referencias a lideres politicos dp nome Italiano - [el encontrando eles poucas vias abertas 11 riqueza, alguns se voltaram para os melos iliclt05. Nas estatistlcas dos tribunais de menores da dec:;da de 1930, 0 ma.ior grupo de delin· C'juentes era de origem itallana...
(146)
Foi 0 p.x-camorrista, procuranco respeitabilidade, diz Bell, que "proporcionou um dof, maiores apoios ao impulso de conquistar uma voz po-litica para os descenctentes de Halianos na estrutura de f6r\(as das maquinas politlCas urbanas". E uma decisiva mudanga nas origens dos fundos para as maquinas politicas urbanas proporcionou 0 contexto que facilitava esta alianga entre os malfeitores ("racketeers") e organizagao politica; pois os substanciais fundos que anteriormente vinham das gran· des empresas estavam sendo desviados das organizag6es politicas muUmn. dessas fontes substitutivas para 0 Ii· nicipais para as nacionais. nanciamento das organizag6es l-.oliticas est~va pronta e a mao, na "nova, e freqi.ientement~ ganha ilegalmente, riqueza italiana. Isto e bem ilustrado pela carreira de Costello e seu aparecimento como poder politico em Nova Iorque. Aqui a motivo dominante foi a busca de uma entrada _ para si mesmo e para seu grupo etnico - nos circulos que governavam a 61. 62.
Ver a observaQao de William F. Whyte, citada no Capitulo III deste livro (145) bem como a discussao ulterior do dellto como meio de mobilldade social, no Capitulo VI. Daniel Bell, "Crime as an American way of life", The Antioch Review, verao de 1953. 131·154.
ESTRUTURA BUROCRATICA E PERSONALIDADE
VIII grande cidade"· (147) No devido tempo e pela primeira vez, os descendentes de italianos chegaram a 8lcangar urn grau substancial de influenr.ia na politica municipal de Nova Iorque. Em resumo, estes sac os termos em que Bell traga "uma sequencia etnica distinta acerca dos F.lOCOSde obter riqueza ilicita". Embora r.s provas estejam ainda longe de ser adequadas, ha alguma base para concluir, conforme Bell 0 faz, de que "os horn ens de origem italiana apa· receram na maior parte dos papeis principais no alto drama do jago e clos sindicatos do crime, assim como ha vinte anos os filhos dos judeus do' Leste europeu eram figuras proeminentes no crime organizado, e antes destes, os individuos de origem irlandesa estiveram em evidencia".(150-15l) Porem, com as mUdangas na estrutura da oportunidade, "urn crescente numero de italianos nas rroflssoes liberais e no comercio legitimo ... ao mesmo tempo estimula e pern'.ite ao gru.po italiano de exercer influen· cia politica crescente; e, cada v€z mais, sao os membros das profissoes liberais e os homens de neg60iO que proporcionam modelos para a jU· ventude de origem italiana de hoje, modelos que mal existiam ha vinte anos atras".(152-153) POl' fim e iranicamente, em vista da estreita ligagao de Roosevelt com f.,S grandes maquinas politicas urbanas, foi a mudanga estrutural basi· c'a na forma de prover benefleios, atraves dos procedimentos racionalizados do que ,alguns chamam "0 estado do bem-estar social", que em gran· de parte Iniciou 0 declinio da ml1quina politi ca. Seria metaforico mas essencialmente verdadeiro, dizer que foi 0 sistema da "previdencia social" e a criagao de balsas de estudo distribuidas mais ou menos burocratica· mente, que reduziu profundamente 0 poder da maquina politica, mais que o assalto dire to dos reformadores. Tal como Bell concluiu, Com a raelonaliza~ao e a absor~ao de algumas atlvldades 1l!eltas dentro da estrutura da eeonomla, 0 desapareeimento de uma gera~ao mais velha que havla estabelecido umr. hegemonla sabre 0 crime, a ascellsao de grupos minoritarlos a certas posi~aes soclais e 0 rompimento dos sistemas do chefe politico urbEJlo, 0 t1po de dellto que vimos estudando esta igualmente se desfazendo. 0 crime, evidentemente, permanecera enquanto permanecerem a palxao e 0 desejo de lucro; porem, 0 grande dellto organizado das cldades, tal como 0 conhecemos nos liltlmos setenta e cinco anos, baseav£,-se em motivos aclma destes m6vels unlversais. Baseava·se nas caraeteristleas da eeonomla dos grupos t'tnleos e da po litiea norte-Eornerleanos. As mudan~as nessas areas signlfieam que tambem 0 crime orga· nlzado, como temos eonheeldo, esta no fim. (154)
Nao precisamos procurar outro fecho mais adequado, em thmos de analise essencialmente estrutural e funcional, para esta revista das con· tinuidades da analise da relagao entre a estrutura social e a anomia.
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MA ESTRUTURA SOCIAL formal e !'acionalmente organizada envolve normas claramente de:in~das de atividades, nas quais, de mll· neira ideal, cada serie de agoe;::('steja funcionalmente relacionada com as propositos cla organizagao. 1 E:,l tal organizagao esta integrada uma serie de cargos, de status hierarquizados, nos quais estao implicitos gran· de numero de obrigagoes e de privilegios estreitamente definidos pOl' reo gras limitadas e especificas. A cada urn desses cargos se atribui uma area de competencia e de responsabilidade. A autoridade, 0 poder de con· trale que deriva de uma situaguo reconhecida, e inerente ao cargo e nao a pessoa particular que desempenha 0 papel oficial. A agao oficial ordi· nariamente ocorre dentro da armagao das regras preexistentes da orga· nizagao. 0 sistema de relago,"s prescritas entre os varios cargos envolve urn consideravel grau de formalidade e de distancias sociais claramente definidas entre os ocupantes dessas posil;oes. A formalidade e express a POl' meio de urn ritual social mais ou menos complicado, que simboliza ~ apoia a "ordem das bicadas" ,. nos varios cargos. Tal formalidade, que esta integrada com a distribuigao da autoridade dentro do sistema, serve para reduzir ao minimo a fricgao, mediante a contengao em larga escala, dos contatos oficiais dentro dos moldes previamente definidos pelas regras da organizagao. Criam-se desta maneira a facilidade de calcular com· portamento dos demais, e urn conjunto estavel de expectativas mutuas. Ainda mais 0 formalismo faciiita a intel"agao dos ocupantes dos cargos, apesar de s~as atitudes particnlares (possivelmente hostis) em relagao urn 1. Para urn desenvolvimento do eoneelto de "organlzaQao raclon&.l" veja·se Karl Mannhelm. Mensch und Gcscllschaft 1m Zeltalter des Umbaus (Leiden: A. W. Sijthoff, 1935), espe (0)
elalmente pags. 28 e segs. "Ordem das bicadas" "pecking order", Imagem tiradlO.>dos costumes de certas aves: a mais forte, "despota", biea as outras, e estas blcam sucessivamente as mals fracas, ern eseals. deseendente. Ver a nota 2, deste capitulo. (N. do trad.)
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com 0 outro. Desta maneira, e ~,ubordinado e protegido da aQao arbitni· ria de seu superior, desde qU3 :'\1: aQaes de ambos sac limitadas por um conjunto de regras mutuamentc reconhecidas. Dispositivos especific08 de procedimento estimulam a otjetividade e restringem a "rap1da passa· gem do impuiso para a aQao". 2
o tipo ideal de tal organizaQao formal e a burocracia; em muitos as· pectos, a analise classic a da bllI'ocracia e a de Max Weber. 3 Conforme Weber indica, a burocracia envGlve uma divisao nitida de atividades inte· gr.adas, as quais sac considerac1as como deveres inerentes ao cargo. Urn sistema de contrales e sanQae." ciiferenciados, e definido nos regulamentos. A designaQao dos encargos ocorre na base de qualificaQaes tecnicas que sac determinadas atraves de procedimentos formalizados e impessoais (por exemplo, exames). Dentro da estrutura da autoridade hierar. quicamente disposta, as ativid'3.des dos "peritos treinados e assalariados" sac governadas por regras gemis, abstratas e claramente definidas, as quais evitam a necessidade de serem emitidas instruQaes especificas pa. A generalidade das regras exige 0 constante usa ra cada caso particular. da categorizaciio mediante a qual os problemas e casos individuais saa classificados a base de criterios designados, e sac tratados em conformidade com os mesmos. 0 modelo puro do funcionario burocratico e aque. Ie que foi, seja nomeado por um superior, ou por meio de uma compet~Qao impessoal (concurso ou f-xame). Em geral, a funcionario nao e eleito. Atinge-se uma medid~ de flexibilidade na burocracia, elegendo. -se os funcionarios mais altos, as Quais de forma resumida representam a vontade do eleitorado (por exemplo, um grupo de cidadaos ou urn Conselho de Diretores). A eleiQao dos funcionarios mais graduados e des. tinada a infIuenciar as finalidades da organizaQao, mas os procedimentos t.ecnicos para atingir essas finalidades sac postos em execuQao pelo pessoal burocratico estavel. 4 A maior parte dos cargos burocraticos envolve a expectativa de em. pr~go vitalicio, na ausencia de fatares de perturbaQao que possam dimi. nUlr 0 tamanho da organizaQito. A burocracia leva ao maximo a segu. ranQa vocacional. 5 A funQao cJ.acstabilidade no cargo, da aposentadoria, 2. H. D. Lasswell, Politics (Nova Iorque: McGraw-Hill, 1936), 120-121. 3. Max Weber, Wirtshchaft und Gesellschaft (Tubinga: J. C. B. Mohr, 1922), Parte III, Cap. 6; 650·678. Urn resumo do estudo de Weber encontra-se em Talcott Parsons, The Structure of Social Action, especialmente pag. 506 e segs. Uma descri~ao, que nao Ii caricatura, do burocrata como tipo de personalidade, pode ser encontrada em C. Rabany, "Les types sociaux: Ie fonctionnaire", Revue generale d'administration, 1907, 88, 5·28. 4. Ka,rl Mannheim, Ideology and Utopia (Nova Iorque: Harcourt, Brace, 1936), 18n, 105 e segs. ideologia y utopia (Mexico: F. de C.E., 1941). Ver tambem Ramsay Muir, Peers and Bureaucrats (Londres: Constable, 1910), 12-13. 5. E. G. Cahen-Salvador sugere que 0 pessoal das burocracias e constituldo, em grande parte, por indivlduos que colocam a seguran~a acima de tudo. Ver sua "La situation ma terielle et morale des fonctionnaires", Revue politique et parlementaire (1926), 319.
dos aumentos de salario e das promoQaes regulamentadas e assegurar 0 desempenho devotado dos deveres do cargo, sem atenQao a pressaes es. tranhas. 6 0 principal merito d'3.burocracia e sua eficH~ncia tecnica, com grande apreQo dado a previsao, velocidade, contrale, pericia, continuidade, di5CriQao e ao rendimento satisfatorio do dinheiro exigido dos contribuin. tes. A estrutura assim montada aproxima-se da completa eliminaQao das relaQaes personalizadas e das consideraQaes nao racionais (hostilidade, ansiedade, envolvimentos afetivos etc.) Com a burocratizaQao crescente, torna-se claro para todos que quei· ram ver, que 0 homem e controlado em alto grau pelas suas relaQaes sociais com os instrumentos de produQao. Isto ja nao e apenas urn axioma do marxismo, mas urn fate inflexivel a ser reconhecido por tOdos, intpiramente a parte das suas convicQaes ideol6gicas. A burocratizaQao torna prontamente visivel 0 que era anteriormente apagado e obscuro. Mais e mais pessoas descobrem que, para trabalhar, devem estar empre· gadas; que, para trabalhar, devem dispor de ferramentas e equipamento e que as ferramentas e 0 equipamento sac cada vez mais disponiveis somente nas burocracias, publicas eu privadas. Conseqiientemente, e pre· ciso que a gente seja empregada pelas burocracias a fim de ter acesso as, ferramentas, a fim de trabalhar, a fim de viver. E neste sentido que a bu· rocratizaQao acarreta a separaQao dos individuos em relaQao aos instru· mentos de produQao, como acontece na empresa capitalistic a moderna, ou nas empresas estatais comr.pistas (do tipo comum nesta metade do seculo XX), assim como nos eXPlcitos pos-feudais, a burocratizaQao acar· retava completa separaQao entre os soldados e os instrumentos de destruiQao. Tipicamente, 0 trabalhaaor ja nao possui 0 seus instrument03, nem 0 soldado as suas armas. E neste senti do especial, mais e mais pessoas se tornam trabalhador;)s, seja de macacao, de colarinho branco, ou de casaca. Assim se desenvolve, por exemplo, 0 novo tipo de traba· Ihador cientffico, quando 0 cientista e "separado" de seu equipamento tecnico - afinal, 0 fisico nao e habitualmente dona de seu ciclotron. Para poder trabalhar em sua i:,csquisa, ele tern que estar empregado numa burocracia com recursos de laborat6rio. A burocracia e administraQao que evita quase completamente a dis· cussao publica de [mas tecnicas, Embora possa oconer a discussao publi· ca de suas diretrizes. 7 Este sf3gredo nao e restrito a burocracia publica, nem privada; e considerado necessario para resguardar informaQaes valiosas contra competidores ecol1omicos privados ou grupos politicos es· trangeiros e potencialmente hosti::;. E embora isto nao seja assim ge· ralmente derfominado, a espionagp-m entre competidores e talvez tao comum, senao tao intricadamente organizada, nos sistemas de empresas economic as privadas, como nos sistemas de estados nacionais. Os indio H. J. Laski, "Bureaucracy", Encyclopedia of the Social Sciences. £ste artigo represents mais 0 ponto de vistz. do cientista politico do que 0 do soci6logo. 7. Weber, op. cil., 671.
6.
ces de custo, as listas de clientes, os novos processos Mcnicos, pIanos de produgao, tudo isto e tipicamente considerado c.omo segredos essenciais das burocracias economicas pc-iv9das, que podenam ser revel ados se as bases de tOdas as decisoes e plnnos de agao tivessem que ser defendidos em publico.
Nesses tragos rapidos, as :'enlizagoes e fungoes da organizagao burocratica sac salientadas e as te!1soes e esforgos internos de tais estruturas sac quase inteiramente esqllEocidos. Contudo, a comunidade em ge· ral costuma evidentemente saiifmtar as imperfeigoes da burocracia, tal como se sugere pelo fato de €s~e "horrivel hibridismo" a palavra buro('rata ter·se tornado urn epite~.'), urn Schimpjwort (uma palavra pejorativa) . o caminho para 0 estudo dos aspectos negativos da burocracia e proporcionado pel a aplicagao do ('onceito de Veblen, da "incapacidade treinada", pela nogao de Dewey, de "psicose ocupacional", ou pel a de Warnotte, de "deformagao profissi.onsl'·. A incapacidade treinada se refere aquele estado de coisas em que as habilidades de alguem funcionam como madequagoes, ou pontos cegos. As agoes baseadas em treinamentos e habilidades que foram aplicados com born resultado no passado, podem redundar em reagoes inapropriadas para circunstancias novas. Uma fIexlbilidade inadequada na aplica!;l:io das habilidades num meio modificar do, provoc!:'.ra desajustamentos llJ::ds au men os graves. 8 Assim, recor· tendo ao exemplo do que acontccc numa granja avicola, citado por Burke, as galinhas podem ser facilmente condicionadas a interpretar 0 som de uma campainha como sinal de distribuigao de ailimento. A mesma campainha pode ser usada mais tarde para reunir as aves a fim de serem abatidas. Em geral, 0 individuo adota medidas e atitudes que estao de ac6rdo com 0 treinamento que recebeu no passado e, sob novas condigoes nue diferentes, a propria soli· nao sejam reconhecidas como signijicativamente dez desse treinamento pode conduzir a adogao de procedimentos inadequados. IWcorrendo ainda a uma frase quase imitativa de Burke, "as pessoas podem ser despreparadas, por estarem preparadas com uma preparagao inadequada"; sua preparagao pode tornar-se uma incapacidade o conceito de Dewey, sabre psicose ocupacional, ap6ia-se em observa' "oes muito semelhantes. Como rc:sultado de suas rotinas diarias, as pes~oas desenvolvem preferencias €speciais, antipatias, discriminac;oes e en· fases. 9 (0 termo psicose e vsado por Dewey a fim de indicar "urn ca· rater pronunciado da mente"). Fssas psicoses se desenvolvem pela pres-
sac que exerce sabre 0 individno a organizac;ao especial de seu papel ccupacional. Os conceitos de Veblan e de Dewey, se referem a uma ambivalencht fundamental. Qualquer ac;ao pode ser considerada em termos daquilo que c}a atinge ou falha em atingir. "Um modo de ver e tambem urn modo de nao ver; 0 enfoque sobre 0 objeto A implica no desenfoque sabre 0 objeto B". 10 Em seu estudo, Weber se interessa quase exclusivamente pOi" aquilo que a estrutura burocrMica atinge: precisao, confianga, eficiencia. Esta me sma estrutura pode sel' cxaminad::~ de outra perspectiva propor<'ionada pela ambivalencia. Quai:; sac as limitac;oes das organizagoes designadas a atingir esses objetivos? Por razoes que ja temos c1t8.do, a estrutura burocratica exerce uma. pressao constante sabre 0 funcioll:3.rio, para que ele seja "met6dico, prudente, disciplinado". Se a burocracia tern que funcionar com bons resultados, deve atingir alto grau u-= confianc;a em sua conduta e urn grau incomum de conformidade com af: norm as de ac;ao aprovadas. Dai de· corre a imporHmcia fundamental da disciplina, que pode ser tao altamente desenvolvida numa burocracia religiosa ou economica, como nas forc;as armadas. A disciplina s6 pode ser eficiente se as padroes ideals fcrem apoiacIos por fortes sentimentos da limitagao da autoridade e da competencia de cada urn, e a mehSd.cz. execu~1io das atividades de rotina. A eficacia da estrutura social dep..2nde em ultima analise em infund,ir nos participant,r.s do grupo, atitudes e sentimentos apropriados. Como veremos, existem na burocracia Gispositivos apropriados para incuicar e :;eforc;ar esses sentimentos. No momento, basta observa.r que para garantir a disciplina (a necessaria confianc;a da reac;ao), e3ses sentimentos sac freqiientemente mai~ intensos do que seria tecnicamcI;te necessario. Ha uma margem de se-guranc;a, por assim dizer, na p>:8ssao exercida por tais sentimentos sabre o burocrata, para conforma-Io as suas obrigac;oes modeladas, que muito se parece com as tOlerancias de estimativa de precauc;ao feitas por urn engenheiro quando calcula os I>t:portes de uma ponte. Esta pr6pria enfase conduz porem, a urna transfer en cia dos sentimentos dos alvos da organizagao para os detalhes particulares de comportamento exigidos pelaj regras. A obediencia as regras, originalmente concebida como urn meio, transforma-se num fim; entao ocorre 0 processo familiar de deslocamento dos objetivos, pelo qual "urn valor instrumental torna-se urn valor terminal". 11 A disciplina, facilmente interpretada como conform?.-
10. Ibid .. 70. t:ste processo tern sido freqtlentemente Observado em var~os contextos. A heterogonia dos fins de Wundt, e urn exernplo cpracteristlro: a P rado,-,ie der Folgen (Paradoxo da obedienciaJ de Max Weber e outro. Ver tarnbern as observaQoes de MacIver sabre a transforma~ao da civiliza~ao em cultura e ~ observa~ao de Lasswell de que "0 animal flUmano se distingue por sua infinita capacidade de trz.nsformar os seus rneios em fins· Ver Merton, "The unanticipated cop-sequences of purposIVe social a.ctlon", American So-
11.
8. Estudo perspicaz e aplica~ao destes conceitos se encontram em Kenneth Burke, Perma· nence and Change (Nova Iorque: New Republic, 1935). pags. 50 e segs.; Daniel Warnotte, "Bureaucratie et Fonctionnarisme", Revue de l'Institut de Sociologie, 1937, 17, 245. 9. Ibid., 58·59.
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!;iao aosregulamentos, qualquer que seja a situagao, e vista nao como uma medida designada para finalidade especifica, mas se transform a em va!0r imediatC' na organizac;ao de vida do burocrata. Esta enfase, resultando do deslocamento dos objetivos originais, desenvolve-se em rigictez •• numa inabilidade para se ajnstar prontamente. Segue-se 0 formalismo e mesmc 0 ritualismo, com uma insistencia indiscutida sabre a rigorosa adesao aos procedimentos forn~alizados. 12 Isto pode ser levado a tal -ponto de exagero que 0 interesse precipuo de conformidade com as regras interfere com a efetiv~ao dus finalidades da organizagao, caso em que tern os 0 fenameno familiar 00 tecnicismo ou formalismo do funcionario. Urn caso extremo des~e processo de deslocagao de objetivos e 0 "virtuose" burocratico, que nunca esquece uma s6 das regras que limitam sua agao e por isso e incapaz de ajudar a muitos concidadaos que 0 procuram. 13 Caso tipico em que a €strita e literal obediencia as regras produziu tal resultado, e a situagao patetica em que se viu envolvido Bernt Balchen, pilato do Almirante Byrd em seu vao ao Polo SuI. De ac6rdo com urn regulamento do Departamento do Trabalho, Bernt Balchen, ... nao pode receber seus papeis de naturalizagao. Balchen, nascido na Noruega, declarou sua Intengao de naturalizar-se em 1927. Diz-se que ele nao preencheu a condigao de residenc:a continua nos Estados Unidos durante cinco anos. A viagem antartica de Byrd 0 tirou deste pals, embora estivesse num navio sob a b~,ndeira norte-americana, enquanto f6sse urn membro insubstitu'vel da expedigao ao p610 sui, regiao que os Estados Unidos reivir.chamando·se esta redica, devido a exp'oragao e ocup20gao dela por norte-americanos, glao a Pequena Americ~,. o escrit6rio de naturalizagao explica que nao pode adotar 0 criterio de que a Pequena America seja territ6rio norte-americano. Isso seria intrometer-se em questoes internalllionais, nas quais nao deve intervir. Tanto quanto diz respeito ao escrit6rio, Balchen p~tava fora do pa,'s e tecnicamellte nao cumpriu com os requisitos da lei de naturalizagao.14
ciological Review, 1936, I, 894-904. Em termos dos mecanismos psicol6gicos envolvidos, esse processo foi analisado ma.is completamente por Gordon W. Allport, em seu estuQo do que e e denomina "a autonomia funcional de motivos". Allport emenda as priml· tiva.s formulag6es de Woodworth, Tolman e William Stem, chegando a uma definiglo do processo, do ponto de vista. ds. motivagao individual. :tIe nao considera aquelas fases da estrutura social que conduzem em diregaa a "transformagao dos motivos". A formulagao adotada neste trabalho e, assim, complementar a. analise de Allport; uma, salientando os mec~.nismos psicol6gicos envolvidos, e outra considerando as constrig6cs da estrutura social. A convergencia da psicologia e da sociologia em diregao a este conceito central, sugere que 0 mesmo pode constituir uma das pontes conceptuais entre as dUBSdisciplinas. Ver Gordon W. Allport, Personality (Nova Iorque: Henry Holt & Co., 1937). Cap. 7. 12. Ver E. C. Hughes, "Institutional office and the person", American Journal of Sociology, 1937, 43. 404-413; E. T. Hiller, "Social structure in relation to the person", Social Forces. 1937, 16, 34-4. 13. M~.nnheim. Ideology and Utopia, 106. 14. Citado do Chicago Tribune (24 de junho de 1931, p. 10) por Thurman Arnold, The Symbols of Government (New Haven: Yale University Press, 1935), 201-202. (Os grifos saa nnssos).
r:a, derivam de fontes estruturais. 0 processo pode ser abreviadamenrecapitulado. (1) Uma burocracia eficiente exige confianga de reagao e estrita devogao aos regulamentos. (2) Tal devogao as regras conduz a sua transformagao em absolutas; ja nao sac concebidas como relativli'3 a urn conjunto de propositos. (3) Isto interfere com a adaptagao rapida, sob condig6es especiais nao claramente visualizadas por aqueles que lancaram as regras gerais. (4) AssJm, os mesmos elementos que favorecern a eficiencia em geral, produzem ineficiencia em casos especificos. Os individuos do grupo que nar) se divorciaram do significado que as regras tern para eles, raramenta chegam a perceber a inadequagao. EsBas regras, com 0 correr do tempo, assumem carater simbolico, em vez de serem estritamente uti1itaria.~. Ate aqui temos tratado dos sentimentos inveterados que favorecem :l. disciplina rigorosa, simplesmenta como dados, foram surgindo. Contudo, as caracteristicas definidas da estrutura burocratica podem levar a tais sentimentos. A vida do funcionario burocratico e planejada para tile em term os de uma carreira hierarquizada, atraves dos dispositivo<.i organizacionais de promogao por antiguidade, aumentos de sahirios, aposentadoria etc. sendo tUdo isso c.€stinado a proporcionar incentivos para a agao disciplinada, e a confo:'"midade com os regulamentos oficiais. 15 Espera-se do funcionario que ele adapte (e ~le geralmente 0 faz) suas ideias, ~entimentos e ag6es a expectativa desta carreira. Porem estes mesmos dispositivos que aumentam a proiJabi!idade da conformagao, tambem condnzem a uma superpreocupagao CDm a estrita observancia dos regulamentos, 0 que induz timidez, conser,;adorismo, e tecnicismo. 0 deslocamento dos sentimentos, dos fins para os meios, e aliment ado pela tremenda significagao simb6lica dos meioJ (regras). Outra caracteristica da estrutura burocratica ten de a produzir sensi\elmente 0 mesmo resultado. 03 funcionarios tern 0 senso de urn destino comum para todos quantos trabalham juntos. Compartilham os mesmos interesses, especialmente desde que ha relativamente pouca competigao, pois a maioria das pron:\0(;6es e por antigtiidade. Diminui-se assim a competigao intergrupal, e concebe-se que este arranjo seja positivamente funcional para a burocraria. Contudo, 0 esprit de corps e a organizagao social informal que 5e desenvolve tipicamente em tais situag6es, frequentemente leva 0 pessoal a defender seus interesses arraigados, em vez de prestar ajuda ao publico e aos funcionarios eleitos, de mais alta categoria. Conforme disse 0 Presidente Lowell, se os burocratas acreaitam que sua situagao nao e reconhecida de modo adequado por urn alto funcionario eleito e recem-chegado, sonegam-lhe informag6es es:senciais, conduzindo-o a erros pelos quais ele podera ser responsabilizate
15. Mannheim, Mensch und Gesellschaft, 32-33. Mannheim s~lienta. a Importancia do "LE" bensplan" e do "Amtskarriere" (Plano de vida e carreira lie cargos). Ver os comenta· rios de Hughes, op. cit., 413.
do. au se ~le procura domint',)" de modo completo, e assim fere 0 sentimento de integridade pessoal (Jcs burocratas, podem afluir a sua mesa tantos documentos, que nao cOIweguira sequer assina-los, muito menos conhecer seu conteudo. 16 Isto iJustra a organizac;ao informal de defesa que t'.lnde a surgir sempre que haja uma aparente ameac;a a integridade do grupc. 17 Seria demasiado facil, e parcialmente erroneo, atribuir tal resistencia dos burocratas, simplesmente a interesses criados. Estes interesses se opoem a qualqu'.lr nova ordem que elimine ou, pelo menos, torne in\jer. ta sua vant.agem diferencial dC1'1\ ada dos arranjos vigentes . Sem duvida isto esta ligado, em parte, a resistencia burocratica as inovac;5es, po:rem outro processo talvez seja Wf.is significativo. Como temos visto os funcionarios burocratas se ide\ltlficam afetivamente com seu mOdo' de viver. Eles tern orgulho da profissao, que os leva a resistir a mUdanc;a nas rotinas .estabelecidas; pelo menos, aquelas mUdangas que sejam sentidas como impostas por pessoas Estranhas ao grupo. Este il6gico orgu. Iho da profissao e um tipo famiHar, en contra do mesmo entre batedore3 de carteira, a julgar da obra de Sutherland, a Ladrfio Profissional; estes, apesar do risco, se comprazem em dominar a proeza que Ihes traz presti~io, de "bater um bOIso esquerdo" (saquear 0 bOIse esquerdo dianteiro das ('alc;as). Num trabalho muito perspicaz, Hughes aplicou os conceitos de "secular" e "sagrado" a varios tipos de divisao de trabalho: a "santidade" de casta e as prerrogativas da Stand (posic;ao, situac;ao), contrasta.nli agudamente com 0 crescente secularismo da diferenciaC;ao ocupacional em nossa sociedade. 18 Contu.do, como nosso estudo sugere, em voca~oes parti\julares e em tipos particulares de organizac;ao, 0 processo de santificacao (visualizado como a contrapartida do processo de secularizacao), Isto quer dizer que atraves da formac;ao de sentimento, da depend~ncia emocional dos simbolos e dos status burocraticos, e de en volvimento emocional nas esferas de competencia e autoridade, desenvolvem·se prerrogativas que abrangem 9titudes de legitimidade moral, que se estabelecem como valOres por direito pr6prio, e nao sac mais visualizada . , como meros meios tecnicos de despachar a administrac;ao. Pode-s'.l observar uma tendencia para certas l"ormas burocraticas, originalmente intro. duzidas por razoes tecnicas, em S~ tornarem rigidificadas e sagradas, em.
16. A. L. Lowell, The Government of England (Nova Iorque, 1908) I, 189 e segs. 17. Urn.. Instrutiva descri~ao do desenvolvimento de tal organiza~ao defensiva nnm gru. po de trabalh£odores. encontra-se em F. J. Roethlisberger e W. J. Dickson, Managemem and the Wo~l[er (Boston: Harvard School of Business Administration, 1934>18. E. C. Hughes. "Person£,lity types and the division of labor", American Journal of Sociology, 1928, 33, 754·763. DistingRo muito parecida e tragada pol' Leopold Von Wiese c Howard Becker. Systematic Sociolol,'Y (Nova Iorque: John Wiley & Sons, 1932), 222-225 e outras passagens.
liiique en apparence.19 Durbora, conforme Durkheim diria, sejam kheim tocou neste processo geral em sua descric;ao de atitudes e valOres que persistem na solidariedade organica de uma sociedade altamente Aiferenciada.
OUtra caracteristica da estrutura burocratica, a enfase sabre a despersonaliza;:ao das relac;oes, tambem desempenha sua parte na incapacia molde de personalidade do burocradade treinada dos burocratas. ta e formado em torno desta norma de impersonalidade. Tanto este fa· tor, como a tendencia categorizante, a qual se desenvolve do papel dominante das regras gerais e abstratas, tende a produzir conflito nos conta. tos do burocrata com 0 publico ou interessados. Desde que os funcionarios atenuam as relac;oes pessoais e recorrem a categorizagao, as peculiaridades dos casos individuais sac freqtientemente ignoradas. Mas 0 interessado que, de modo inteiramente compreensivel, esta conveneido das cr.racteristicas especiais de seu proprio problema, freqtientemente objeta a tal tratamento categ6rico. a comportamento estereotipado nao e adaptado as exigencias dos problemas individuais. a tratamento im· pessoal dos assuntos, que por vezes sac de grande significac;ao pessoal para 0 cidadao, origina a acusac;ao de "arrogancia" e "insolencia" do buroerata. Assim, na Ageneia de Emprego de Greenwich, 0 trabalhador desempregado que trata de cobrar setl seguro-desemprego, ressente-se daquilo que considera ser "a impersonalidade, e por vezes a aparente aspere· za e mesmo dureza de tratamento pelos funcionarios... Alguns se queixam da atitude superior que tomam os funcionarios". 20 autra fonte de conflito com 0 publico deriva da estrutura burocratiea. a burocrata, em parte sem considerar sua posic;ao dentro da hierarquia, age como representante do poder e do prestigio de toda a estru19. Hughes reconhece uma fase d 'ste processo de santificagao quando escreve que 0 treino profissional "conduz com ele. como subproduto. ~ assimilagao do candidato a urn conjuntc:r de atitudes e controles profissionais, uma consciencia e solidariedade profis.· siona!. A profissao reivindica e almeja a tornar·se nma unidade moral". Hughes, op. cit., 762. (as grlfos sac nossos). A este respelto. 0 concelto de Sumner. de pathos como 0 halo de sentimento que protege urn v~Jor social dos ataques da clitica, e particularmen· te relevante, na medida em que proporciona uma plsta para conhecimento do mecanismo envolvido no processo da santificagao. Ver seu Folkways, 180·8!. 20. "Eles tratam a gente como se fossemos lixo. Vi outro dia urn maritimo desempregado pegar urn desses tipos pelo colarinho. por eima do balcao, e sacudi·lo energicamente. Nos todos sentiamos vontade de dar vivas. Claro que ele perdeu seu beneflcio por is· so... Mas 0 funcionario merecia isto pelo' ~eu modo insolente". (E. W. Bakke, The Note·se que ~ atitude de superioridade era imputada pelo Unemployed Man, 79·80). marinheiro desempregado que estava numa situa~ao de tensao devido 11 sua perda de status e auto-estima, numa sociedade em que ainda predomina a ide;&. de que um "homem capaz" sempre pode encontrar urn servi~o. Que It imputagao de arrogll.ncia de· rlva grandemente do este.do de espirito do cliente, se ve da observagao do pr6prio Bakke, de que "os funcionarios estavam apressados, e nao tinham tempo para genti-
Sociologia -
tura. Em seu papel oficial, esta. revestido de autoridade bem definida. lsto condu~ freqtientemente a uma atitude dominante, na realidade ou na aparencia, a qual somente pode ser exagerada por uma discrepancia entre sua posiQao dentro da hierarquia e sua posiQao em relaQao ao publico. 21 Os protestos e recursos a cutros funcionarios, POI' parte do interessado, freqtientemente nao dao resultado ou sac obstaculizados pelo ja mencionado esprit de corps que une os funcionarios num subgrupo mais ou menos solidario. Esta fonte de conflito pode ser diminuida nas empresas privadas, onde 0 cliente pode fazer urn protesto eficaz, transferindo seu neg6cio a outra organiza<;ao dentro do sistema competitivo. Porem, dentro da natureza monopr>ljstica da administraQao publica, tal alternativa e impossive!. Alem disso, neste caso, a tensao e aumentada porque ha uma discrepancia entre a teoria e a realidade: assevera-se que os funcionarios publicos sac "servidores do povo", mas de fato sac freqtientemente superiores em vez de subordinados e 0 alivio da tensao raramente pode ser proporcionado pel a procura de outras repartiQ6es para se obter 0 serviQo necessario.22 Esta tensao e atribuivel em parte it confusao dos status do burocrata e do cidarliio que procura uma repartic;ao publica; este ultimo pode considerar-se socialmente superior ao funriomirio que no momenta esta dominando.23
Teoria e Estrutura
Assim, rom respeito as relac;6es entre os funciomirios e 0 publico, uma fonte estrutural de conflito e a pressao dos regulamentos que exigem tratamento formal e impessoal, ao passo que 0 cidadao deseja considerac;ao individual e personalizada. 0 conflito pod_e ent~o ser en~arado como derivando da introduQao de atitl1.des e relaQoes nao apropnadas. 0 c 0_.nflito dentro da estrutura burocratica surge da situaQao oposta, a sa. bel', quando as relaQoes personalizadas sUbstit~em as relaQoes Impe~soal'; estruturalmente exigidas. Este tipo de confllto pode ser caracter1zado romo segue. Temos visto que a burocracia e organizada como urn grupo secundario e formal. As reaQoes normais implicitas nesta rede organizada de f;~pectativas sociais sac apoiadas pelas atitudes afetivas dos membros do grupo. Desde que 0 grupo e orientado em direQao as normas. secundarias da impersonalidade, qualquer falha em conformar-se com ta1s no~~s oE
lezas, mas havia pouco sinal de aspereza ou sentimento de superioridade em seu trar tamento dos homens". Na medida em que haja base para a imputa~ao de comportamento arrogante dos burocratas, isto pode ser explicado posslvelmente pelos seguintes conceitos justapostos. "Auch der moderne, sei es i:iffentJiche, sei es private, Beamte eNtrebt immer und geniesst meist den Beherrschten gegentiber eine spezifisch gehobene, standische sozia,le Schatzung". (Weber, op cit., 652). "Nas pessoas em quem a ansia de prestlgio (> mais saliente, a hostilidade usualmente toma forma de urn desejo de hurn!lhar os demais". K. Horney, The Neurotic Personality of Our Time, 178-179. 21. Com rela~ao a isto, observa-se a relevancia dos comentarios de Koffka sobre certns aspectos da "ordem das bicadas" entre as aves. "Se compan;,rmos 0 comportamento da aye que esta no alto da lista de bicar, a despot a, com aquela que esta muito ma!s baixo, z. segunda ou terceira antes da ultima, entao se observa que estas sac muito mais crueis para as poucas que the estao baixo, do que a primeira, no tratamento de todos os membros do grupo. Tao logo se tira do grupo todas as que estao acima da penultima, 0 comportamento desta torna-se rn~,is manso e pode mesmo tornar-se amistoso ... Nao e diflcil encontrar-se analogias com este comportamento nas sociedades humanas. e, portanto, urn aspecto desse comportamento deve ser primordialmente 0 efeito de agrup~,mentos sociais, e nao de caracterlsticas individuais". K. Koffka, Principles or Gestalt Psyc,hology (Nova Iorque: Harcourt, Brace, 1935), 668-669. 22. Neste ponto, a maqulna polltlca se torna amlude funclonalmente signlficativa. Como Steffens e outros tern mostrado, as rela~6es altamente personalizadas e a ab-roga~ao das regra.s formais (formalidades de rotlna) pela maquina, freqtientemente satisfazem as necessidades dos "clientes" individuais de modo mais completo que 0 mecanismo formalizado da burocracia governamental. Ver a. respeito urn raoido enunciado, no Capitulo I. 23. Conforme urn dos desempregados disse acerca dos funcionarios da Agencia de Emprego de Greenwich: "'E os malditos sujeitos nao teriam seus empregos se nao fosse por n6s, homens sem emprego. E 0 que me da nos nervos quando os vejo de n~,riz para cima", Balcke, op. cit. 80. Ver tambem H. D. Lasswell e G. Almond, "Aggressive behavior by clients towards public relief administrators". American Political Science Review, 1934, 28, 643-655.
A burocracia e uma estrutura secundaria de grupo, destinada a levar para a frente certas atividades que nao podem ser satisfatoriamente desempenhadas s6bre a base dos criterios do grupo primario. 25 Dai. resulta que 0 comportamento que ocorre contra estas normas formahzaClas, torna-se objeto de desaprovaQao emocionalizada. Esta constitui uma defesa funcionalmente significativa, estabelecida contra as tendencias que poem em perigo a realizaQao das atividades socialmente necessarias. Certamente, essas reaQ6es nao sac praticas racionalmente determinadas, explicitamente designadas para 0 preenchimento dessa funcao. Ao contrario, visualizado em term os da interpretac;ao individual da ~ituac;ao, tal ressentimento e simplesmente uma reaQao imediata, opondo-se a "desonestidade" daqueles que violam as regras do j6go. Contudo, e nao obstante esta trama subjetiva de referencia, tais reaQoes servem
24.
A significa~ao diagn6stica de indices lingi.i!sticos tais como os epitetos mal tern ,ido explorada pelos soci610gos. Sumner observa, de mane:.ira ap~opriada, que os epitetos r: present~.m "criticas sumarias" e defini~6es de situa~oes SOC1alS. Dollard nota ta~~e e definem os assuntos em dlsputa numa sOCledad , que os "epltetos freqtientemente 't avahar a ao Sapir tern salientado corrctamente a importancia do contexto - de S1ua~oes . t d que "nas . . significa~ao dos epitetos. De igual relevanciz. Ii a observa~ao de Lm on e hist6rias de casos 0 modo pelo qual a comunidade se sentiu a respeito de urn ep1s6dlO em sl particular e mai~ importante para 0 nosso estudo, do que 0 comportamento mesmo ... " Um estudo sociol6gico dos "vocabularios de enc6mio e apr6brio" conduzi-
ria a valiosas descobertas. 25. Cf. Ellsworth Faris, The Nature 41 e segs.
of Human
Nature
(Nova Iorque:
McGraw-Hill,
1937).
a
func,;ao lutente de manter os elementos estruturais da burocracia, rea· Iirmando a necessidade de relac,;oes secundarias formalizadas. e contri· buindo a evitar a desintegrac,;ao da estrutura burocratica, que ocorreria se as relagoes impessoais fassem suplantadas pelas relac,;oes personali· ~adas. Esse tipo de conflito pode ser genericamente descrito como a intrusao de atitudes do grupo primfrio quando as atitudes do grupo se· cundario silo institucionalmente exigidas, assim como 0 conflito entre 0 burocrata e 0 publico deriva freqiientemente da interac,;ao em termos im· pessoais, quando 0 tratamento pessoal e exigido pelo individuo. 26
A tendencia a crescente burocratizac,;ao da sociedade ocidental, ja de ha muito prevista por Weber, nao e 0 unico motivo para que os sociolo· gos voltem sua atenc,;ao para este campo. Os estudos empiricos da inte· grac,;ao da burocracia com a personalidade devem aumentar especial. mente nossa compreensao da estrutura social. Grande numero de problemas especificos cham am nossa atenc,;ao. Ate que ponto os tipos par· ticulares de personalidade sac selecionados e modificados pelas varias bu· rocracias (empresas privadas, servic,;o publico, a maquina politica quase legal, as or dens religiosas)? Na medida em que a ascendencia e a submissao sao consideradas como trac,;os de personalidade, apesar de sua variabilidade em diferentes situac,;oes de estimulo, sera que as burocra· cias selecionam personalidades de tendencia particularmente submissas ou ascendentes? E desde que varios estudos demonstraram que tais tra· «os podem ser modificados, a participac,;ao em cargos burocrl:lticos tende a aumentar as tendencias de ascendencia? Os varios sistemas de recruta· mento (por exemplo, patrocinio, competic,;ao aberta envolvendo conhecimento especializado ou capacidade mental geral, ou experiencia pratica) selecionam diferentes tipos de personalidade? 27 A promoc,;ao par criterios de antigUidade diminui as ansiedades de fundo competitivo e
26. A desaprova9§.0 da comunidade a muitas formas de comportamento pode ser analisada em termos de urn ou outro de tais moldes de substitui99.0 de tipos de rela90es cultu· ralmente inapropriadas. Assim, a prostitui99.0 constitui urn caso t!pico em que 0 coito, definida como slmbolo da "mais uma forma de intimidade que e institucionalmente sagradli," rela99.0 do grupo primario, e colocado dentro de urn contexto contratual, simbolizado pela troca daquele mais impessoal de todos os s!mbolos, 0 dinheiro. Ver Kingsley Davis, "The sociology of prostitution", American Sociological Review, 1937, 2, 744-705. '1:1.
Entre os recentes estudos sobre 0 recrutamento para a burocracia, destacam·se os saguintes: Reinhard Bendix, Higher Civil Servants in American Society (Boulder: University of Colora,do Press, 1949); Dwaine Marwick, Career Perspectives in a Bureaucratic Setting (Ann Arbor: University of Michigan Press, 1954); R. K. Kelsall. Higher Civil Servants in Britain (Londres: Routledge e Kegan Paul, 1955); W. L. Warner e J. C. Abegglen, Occupational Mobility in American Business and Industry (Minneapolis: Uni· versity of Minnesota Press, 1955).
a.umenta a eficiencia administrativa? Urn exame detalhado dos mecanis· mos que embebem de afeto os c6digos burocraticos, seria instrutivo, tanto socio16gica como psicologicamente. Sera que 0 anonimato das declsoes do servic,;o publico tende a restringir a area dos simbolos de presti· e:io a urn circulo intima estreitamente definido? As diferenc,;as de asso· ~1ac,;ao(com outros circulos) tendem a evidenciar-se de modo especial entre os burocratas? o ambito das perguntas teoricamente significativas e praticamente importantes parece estar limitado apenas pela acessibilidade aos dados concretos. Os estudos das burocracias religiosas, educacionais, militales, econamicas e politicas, tratando da interdependencia da organiza· c,;ao social e da formac,;ao da personalidade, constituiriam urn caminho para pesquisas proveitosas. Nessa direc,;ao, a analise funcional das es· truturas concretas ainda podera edificar uma Casa de Salamao para os sociologos.
PAPEL DO INTELECTUAL NA BUROCRACIA PUBLICA
IX
o
S SOCI6LOGOS NORTE-AMERICANOS devotaram-se longamen. tc ao estudo dos grupos funcionais e ocupacionais na sociedade. Am· pliaram tambem 0 conhecimento corrente dos problemas e dos desvios sociais. Por exemplo, muito ja se conhece acerca das fontes de delin· qiiencia juvenil e do crime. Talvez, porem, persista demais entre nos c passado da sociologia; talvez nao nos tenhamos afastado bastante de nossos antigos ancoradouros no estudo de tais problemas sociais, para examinar tambem outros campos de problemas que talvez tenham suas raizes na estrutura social e ·exer!{am influencia mais, direta no desenvolvimento dess:1 estrutura. 1 Como exemplo tipico, os intelectuais devotados a ciencia social tern estado tao ocupados examinando 0 comportamento '1e outrem, Cluenegligenciaram gravemente 0 estudo de seus pr6prios pro· blemas, situa!{ao e comportamento. 0 individuo vagabundo, errante ("hobo") e as mulheres que exercem a profissao de vendedoras foram ob· jete de aprofundados estudos, ao passe que parece haver relutancia em se analisar os cientistas sociais como tipo ocupacional. Temos mono· gTafias empfricas relativas ao ladrao e ao mendigo profissionais, mas ate recentemenle, nenhuma que tratasse do papel do intelectual pro fissional em nossa sociedade. 2 Mas parece que a clareza bem poderia come!{ar em casa.
1. Uma sugestiva interpreta~ao das diferentes orienta~6es da sociologia na Europa e na America encontra-se em Karl Mannheim, "German Sociology" (1918-1933), Politica, 1934, 29-33. 2. Com isto nao queremos ignorar diversos e recentes estudos que estao se encaminhando nesta dire~ao. Contudo, 0 trabalho de Florian Znaniecki, The Social Role of The Man of Knowledge (Nova Iorque, 1940), p, devotado mais a urn esba~o te6rico do que a urn estudo emplrico. Logan Wilson, The Academic Man, (Nova Iorque, 1941), tambem se limit a, de acardo com 0 titulo, ao contexto academico. 0 estudo de Claude Bowman sabre The College Professor (Filadelfia, 1938) diz respeito as imagens do
o INTELECTUAL
COMO TIPO PROFISSIONAL
Indicativa dessa falha em nossa pesquisa atual e a au' . d . tos d d' , senCla ernUl· a• os pormenonzados necessarios . Os intelectua1's t-em que com· pr,eender que eles tambem sao humanos e assim na frase d T . lh' ',e erentlan E d d . ' nao sac a elOS ao estudo de si mesmos " '" . . na vel' a e, as decadas da cnse or~entaram a atenQao dos intelectuais para seu lugar na sociedade. 3 MUltOS,tend~ experimentado faIta de seguranQa em seus status, co. meQaram a reexammar as fontes mais gerais dessas inseguranQas n6 para outros estratos da populaQao como tamb"'m . ,ao s Co. ' '" para Sl mesmos meQa~am a aV~har as conexaes entre seu lugar na estrutura social ~ seu conce1tos, teonas e perspectivas. Alguns chegaram s cessidad a crer que suas neeXistenteeSe:~:,e~~~:: =er satisfeitas dentro da estrutura institucional " perguntar POI' que Agora e q . reconhecer ~. exisUmcia de conflito de classe: tanto . uase respe1tavel rador d' I ' ass 1m que urn colaboo . _ o. J~;na de gran des neg6cios, Fortune, rejeita a "verbosidad h1pocnta e "as frases melosas" e vaga Ii.stica e dos metodos analfticos e~;:g~~~~r n~a ~~~~;~no~o~ia mai~ r~aJ
~~e~~s clac;~es e de .seus conflitos e interesses sao tao' cl;a:n:n~X1;~~:~ as pe os anahstas politicos nao-marxistas como pel . os marx1stas que as indicaram em primeiro lugar". 4 profes~or apresentadas em 19 revistas dentro do Ultimo meio seculo. E ::. Sociolo f T.eaehmg, de WIllard Waller e devotada em grande parte ao professor primario ~ ; El gmaslO. Karl Mannheim refere-se ao intelectual. numa monografi::. inedita' ademais ~xlstem numeroso.s es:udos resumidos na literatura (principalmente europeia·). co~t~: 0, os mesmos .nao s.ao g-era.lmente baseados em dados empiricos pormenorizados rere. ~:~te~ ~~s papels re.Eds dos mtelectuais a respeito da politic a social e as decis5~s oue obr:S ~e uem. AS. blbllograflas gerais sobre os intelectuais podem ser encontradas ~as of tile S ~lanSn~elm e no artIgo de Roberto Michel, "Intellectuals", na Enc,yclopedh OCla
Clences.
•
3.
v;:~.por :9xemPlo, H. D. Lasswell, "The relation of ideologic9,l intelligence to public policy" .ICS, 42, 53, 25-34; H. D. Lasswell e M. S. McDougal, "Legal education and Ubli' c 1943 52 ~3 295 ~~~I.CY:professIOnal training in the public interest", Yale Law Journal hle~u::mente os jornais de jurisprudencia tern dado considerave1 ate~~ao 'a tals ~ro:
4.
~:;::Y d M:gan, "State of the Nation", Fortune, 28 (943), 138. Os comentarios poste. Ode angan sahentam a rela~ao entre a g,berta admissao do conflito de classes e .am esenvolvlmento economico atua!. "A primeir::. maxima dos escritos pol1ticos norte. . . encanos por mUlto tempo pareceu ser: 'Nao de 0 nome d PosSu!.la' T I a cOlsa, e voce podera os acont·. a vez e~ nenhuma outra na~ao as defini~5es politicas, as tendencia~ e pre' - eCl:nentos. seJam enrolados em verbiagem tao hipocritamente vaga. Est20 im. POll~:~~od~ao denva de mera idiossincrgsia lIterar'a; antes, reflete 0 relativo atraso a de 1929 povo norte.am:flcano, para quem, mesmo as crises tao tremendas como &. 1939, ainda. nao destro~aram, como na Europa, a estrutura economica, de mOdo a 0 ~egll~e SOCIal a serias duvidas. Magnifico precedente para goCabar com ess:ubmeter • sop a termmologlca fOI dado recentemente por Eric Johnston Presidente da C••mar::. Americana de C e . , . melosas com ,. om rclO, quando disse que se deviam eliminar frases tao . 0 0 sIstema de livre empresa' e • d t tltuindo-as pelo te . tif' 0 mo 0 nor e-americano de viver', subs. eXistencia d ~mo clen ICO exato, 'capitalismo'''. Sera que tal confissao da o confhto de classes signific . a que as crises sociais estao come~&.ndo a corroer 0 te id d c 0 a hipoCrlsla?
Po de se! que, uma vez reconhecidos estes problemas, os intelectuais norte-americanos reunam os dados necessarios para avaliar as realidades e potencialidades de seu papel em relaQao a poUtica social geral. Talvez possam ser persuadidos a registrar suas vivencias em todos os deQuais talhes. Quais os papeis que eles sao chamados a desempenhar? os confUtos e frustraQaes experimentados em seus esforQos para preencher tais papeis? Quais as pressaes institucionais que sao exercidas sabre eles? POI' exemplo, quem define seus problemas intelectuais? Sob quais condicaes abordam eles os problemas a pesquisar? Qual e 0 efeito ce tais pesquisas sabre as diretrizes? Quais sao os efeitos da burocratizaQao sabre as perspectivas dos intelectuaIs? Constatam eles que, mesmo quando originam problemas para analise, tendem a pensar em tel'· mos de alternativas estreitamente restritas'? Quais saa os problemas ca· racteristicos de manter as linhas de comunicaQao entre os orientadores da politica e os intelectuais? E possivel formular extensa lista de marcos indicadores para os intelectuais que sejam, ao mesmo tempo, participan· tes e observadores, tanto dentro como fora da burocracia. S6mente infOl'maQaeS assim detalhadas nos habilitarao a passar do plano das vagas aproximaQaes para as analises intensivas e bem alicerQadas das reo laQaes dos intelectuais com as diretrizes socials. S6mente quando dispusermos desses dados em grande escala. poder:~, a sociologia do conhecimento deixar de se preocupar tanto com as grandiosas generalizaQaes que nao passaram pelo crivo de urn teste empirico adequado. Uma vez que os dados disponiveis sac escassos, nosso estudo deve basear-se em materias espalhadas em varias publicaQaes e em entrevistas informais com intelectuais, referentes as suas experiencias relacionadas com a administragao publica. Mal podemos, portanto, esboQar alguns asrectos do papel dos intelectuais: suas possibilidades e limitagaes, suas futilidades e recomrensas. Nosso estudo e pouco mais do que uma ex· pedigao explorat6ria que pode sugerir caminhos promissores para posteriores indagagaes. Trata de aspectos escolhidos do papel do intelectual, particularmente dentro das burocracias governamentais. 5
Para nossos prop6sitos, 0 termo "intelectual" nao precisa ser definido com muita precisao. Consideraremos as pessoas como intelectuais, na medida em que elas se devotam a cultivar e formular 0 conhecimento. Elas tern acesso a urn fundo de conhecimentos, que nao deriva tao-s6mente de sua experiencia pessoal direta e 0 fazem progredir. 6 Suas atividades podem ser vocacionais ou avocacionais; isto nao e decisivo. 0 fato de 5. Quando foi lido perante a Sociedade Sociologica Americana, este trabalho inclui& uma extensa analise das atividades dos intelectuals que contribuiram a definlr e a executar diretrizes, durante a Conferencia da Paz, de Paris. fl. Znaniecki, op. clt., 37·38.
que John Stuart Mill tenha passado vanos anos no Ministerio dos Neg6cios da fndia nao 0 credencia como urn intelectual. Convem notar que a palavra "intelectual" se refere a urn papel social e nao a uma pessoa em si. Embora este papel se sobreponha a varios papeis ocupacionais, nao necessita coincidir com os mesmos. Assim, normalmente incluimos os professares e Jentes catedraticos entre os intelectuais. Como aproximagao grosseira, isto po de ser exato, mas nao se segue que todo catedratico ou professor seja urn intelectual. Ele pode ser ou nao ser, dependendo da natureza real de suas atividades. 0 caso llmite ocorre quando urn professor simplesmente comunica 0 conteudo de urn manual, sem ulteriores interpretaQaes ou aplicaQaes. Em tais casos, o professor nao e mais intelectual do que 0 locutor de radio que simplesmente Ie urn texto preparado para ele por outros. Ele e entao simplesmente U1lla engrenagem na correia de transmissao da comunicaQao das ideias forjadas por outros. Vamos nos ocupar de certa classe de intelectuais: aqueles que sac especialistas no campo do conhecimento social, econamico e politico. FaJando por alto, isto inclui os cientistas sociais e os advogados. Em muitos aspectos, 0 seu papel, particularmente com relaQao as diretrizes publicas, e sociol6gicamente distinto do papel dos especialistas da ciencias fisicas e biol6gicas. Em primeiro lugar, ha urn grau considen'ivel de indetermina~ilo nas descobertas dos cientistas sociais, na medida em que elas influem sabre as aQaes projetadas. Enfrentam eles, por assim dizer, contingencias muiEste ultimo pode predizer, to maiores do que 0 engenheiro eletricista. por exemplo, de que modo uma valvula de vacuo funcionara sob as pr6prias condiQoes em que sera usada: mas os testes previos nos assuntos sociais sac apenas urna aproximaQao inexata e, mesmo assim, ha uma grande medida de contingencia na determinaQao das condiQaes sob as quais 0 plano sugerido tera que operar. As alternativas elaboradas pelo cientista social, muitas vezes nao tern, e algumas vezes nao podem ter, a n~toridade de progn6sticos fidedignos adequados ao fim que se tern em vIsta. 0 conhecimento especializado, neste caso, consiste mais em reduzir os erros palpaveis de julgamento. Tal indeterminagao possivelmente subllnha a ambivalencia da desconfianQa ou da expectativa esperanQosa que se tern para com 0 cientista social em sua quaIidade de conselheiro. Em segundo lugar, este elemento de indeterminaQao contribui tambem para minar a relagao existente entre os peritos e os cIientes. Ao av:).liar a competencia do perito, 0 cIiente nao pode sempre confiar nos resultados, pois a opiniao e sempre comparativa. Talvez 0 problema pu. desse ser resolvido mais eficientemente po:, outro especiaIista; talvez isso nao fOsse possivel. Ha uma larga area de indeterminaQao na avaIiagao de desempenho de perito. E conseqaentemente, ha urn importan. te componente fiduciario no papel de peTito. E precise haver uma organiza!
sidade que emita urn titulo de capacidade - que tome provavel que a confianQa do cIiente nos peritos seja em geral merecida. Po rem quanto mais indefinidos forem os padraes objetivos de avaIiaQao, tanto maior sera a possibilidade de relaQaes interpessoais, sentimentos e outros fatores nao objetivos, determinantes do grau de confianQa do cIiente no perito. Contra este pano de fundo, podemos compreender uma fonte de ('escontentamento muito freqiiente entre os peritos que contemplam urn colega, menos competente que eles em termos de criterios tecnicos, sentado a mao direita de algum politico que decide a formaQao das diretrizes. A indeterminaQao da avaIiaQao abre 0 caminho para discrepfmcia entre a posigao do perito e sua competencia. Supae-se que tais discrepancias sejam mais provaveis no caso dos cientistas sociais que servem como conselheiros do que no dos tecn610gos que operam em campos nos quais a eficiencia comparativa de seu trabalho possa ser mais precis amente avaIiada. Em terceiro lugar, esta indeterminaQao em estimar a atuagao no campo dos neg6cios humanos aurnenta a necessidade de que os orientadores da politica confiem na opiniao dos peritos ao recrutar novo pessoal perito. E dessa maneira, inteiramente a parte de nepotismo proposital, que as camarilhas de assessares tendem a se desenvolver, pois aqueles peritos existentes numa organizaQao convocarao e se apoiarao provavelmente em outros peritos a quem conhecem e a cujo respeito podem formular urn juizo fundamentado na base desta famiIiaridade direta. As redes de relaQaes pessoais entre os intelectuais servem freqiientemente para criar camarilhas auto-suficientes, pelo neenos entre os mais importantes assessares. Em quarto lugar, 0 intelectual que se Gcupa de assuntos humanos Ii· da com dados e problemas a respeito dos quais os orientadores da politica estao freqiientemente convencidos de terem consideravel conhecimento. 0 politico geralmente nao admite que 0 perito tenha mais competencia do que ele para tratar de certos problemas. Quando 0 cientista social esta virtualmente certo da validade do seu conselho, ele esta. freqiientemente, !idando com neg6cios de pouca importancia. Quando nata das questaes maiores, seu conhecimento relevante pode nao ser Uio grande como 0 que foi adquirido pelo politico atraves de anos de expe· riencia. Esta e talvez, uma das causas da pouco invejavel situaQao do intelectual da ciencia social, relegado ao purgat6rio, e jamais sabendo com certeza se esta destinado ao ceu ou ao inferno. Ele estal pronto para atender aos chamados, mas e raramente considerado indispensavel. Se seu conselho nao corroborar as opiniaes dos "homens de aQao", podera ser devolvido ao seu purgat6rio privado. Quando ha grande indeterminaQao na prediQao das conseqiiencias de certos rumos politicos, 0 parecer do cientista social pode ser prontamente ignorado. Finalmente, 0 intelectual que trata da conduta e da cultura humana interessa·se por alternativas que tern imediatas e 6bvias impIicaQaes de
valor. Esta peeuliarmente sujeito a ataques por aqueles cujos interesses e sentimentos saa violados pelas suas deseobertas. Este aspeeto de seu trabalho, junto com 0 grau relativamente baixo de probabilidade de suas predic;oes relativas as consequencias de uma mudanc;a de politica torna-o especialmente vulneravel aquela rapicia substituic;ao de peritos que nos acostumamos a deparar em certas burocraeias. Por essas razoes, e indubitavelmente por outras, os inteleetuRis que se oeupam de assuntos humanos em geral se encontram num status menos segura do que os C'ientistas de flsica e de biologia que afetam as diretrizes dos negoeios publicos.
Podemos convenientemente classificar esses intelectuais em dois tipos principais: aqueles que exercem fungoes de assessares e fungoes teenicas dentro de uma burocracia, e aqueles que nao pertencem a uma buracracia. A distingao e apontada reconhecendo-se uma diferenga r:o "cliente" das duas especies de intelectuais: para 0 intelectual burocratico, sac aqueles orientadores de politica na organizagao em que ele esta, direta 011 indiretamente, exercendo uma fungao de assessor; para 0 intelectual independente,7 a clientela e urn publico. Trataremos, antes de mais nada, das relagoes com a polftica do intelectual nas burocracias publicas com alguma atengao para 0 intelectual independente, nesta mesma conexao. 0 intelectual independente, que durant.e periodos de crise social entra temporariamente numa burocracia publica, constitui um tipo intermediario.
RECRUT AMENTa DOS INTELECTUAIS PELA BUROCRACIA PUBLICA A burocratizagao implica insistencia na racionalidade dos processos (dentro de um contexto limitado), que exige pessoal intelectualmente especializado. Jovens intelectuais dos Estados Unidos tem side cada vez mais recrutados pela burocracia publica, pelo menos durante a ultima geragao. Dois aspectos deste processo merecem atengao: (1) suas correlagoes quanto a mudanga na apreciagao de valares entre os intelectuais 7. 0 termo "intelectual independente" nao f!>. usado aqui no sentido adotado por Mannheim ou por Alfred Weber. Refere-se meramente aqueles intelectuais que nao desempe. nham funQao de assistentes a fim de auxiliar a formulaQao ou complementaQao da, diretrizes, numa burocr~.cia. Os academicos saD incluidos entre os intelectuais nac ligados, apesar de sua conexao com uma "burocracla academica". 0 papel deles dlfere ab desempenhado pelos intelectuais burocn1ticos. desde que tipicamente nao se espera que utilizem seu conhecimento especializado para moldar as diretrizes da burocrach •.
mais jovens e, (2) os modos pelos quais a buroeracia eonverte os intelectuais. politicamente inclinados, em tecnicos. Muitos intelectuais se ajastaram das esperanc;as, objetivos e recompensas oferecidos pelas empresas pri vadas. Este afastamento dos vaWres reverenciados pela classe empresarial e urn reflexo dos deslocamentos institucionais que produzem a inseguranc;a e as incertezas. A experiencia das crises econamicas periodic as se faz sentiI' pela recusa de lealclade a estrutura de poder predominante. Os intelectuais se embebem de valares e padroes que lhes parecem ser incongruentes com urn lugar no mundo dos negocios. Alguns se voltam para 0 ensino, especialmente 0 universitario, que presumivelmente proporciona uma possibilidade de exercerem seus interesses intelectuais, evitando uma sujeiQao direta ao "contrale do mundo dos negocios". Para muitos intelectuais afastao.os, contudo, a profissao de ensinar sigmfiea permanecer nas linhas lar terais, olhando, em vez de participar dos movimentos historicos que estao em andamento. Em vez de ficarem a mar gem da historia, preferem ter a lmpressao de estarem ajudando a fazer a hist6ria, assumindo posic;oes nas burocracias publicas que, presumivelmente, os colocam mais perto do local real das decisoes importantes. Na atragao que Washington exerce sabre 0 intelectual, ha urn sintoma, talvez, da crenga de que 0 local do contrale efetivo de nossa socie
intelectuais no serviQo publico, especialmente antes da guerra. Em contraste com esses intelectuais nao solidarios com as grandes empresas, permanece 0 grupo indubitavelmente muito maior de recrutas do serviQo publico, especialmente os tecnicos que se confessam indiferentes a qualquer poUtica social, mas cujos sentimentos e valares sao, em termos gerais, os dos grupos de poder dominantes. Os tecnicos concebem sua atuaQao simplesmente como executora de quaisquer diretrizes que sejam definidas pelos orientadores da politica. 0 c6digo pro fissional do tecnico obriga-o a aceltar a sua dependencia do poder executivo. Este senso de dependencia que e rodeado de fatares sentimentais, expressa-se na seguinte f6rmula: 0 urieBtador da polftica fornece os objetivos (finalidades, alvos) e os tecnicos, baseados em conhecimento especializado, indicam os diversos meios para alcanQar tais finalidades. Esse c6digo pro fissional e tao controlacior e persuasivo, que tern induzido certos tecnicos a se submeterem a f.;ssa rfgida distinQao entre meios e fins, sem reconhecer que a distinQao verbal em si mesma pode ajudar 0 tecnico a fugir da sua responsabilidade social. 0 tecnico considera 0 fim. ou a meta como 0 term.ino da agao. Na0 pode encara-Ios como causa de ulteriores consequencias. Nao chega a ver que a aQao traz implicitas as suas consequfmcias. Ha, final mente, oS intelectuais naG engajados que, em tempo de agudas crises sociais, tais como a guerra, ou a depressao, se empregam temporariamente no serviQo publico. Esses burocratas ad hoc podem ter se 5fastado ou nao dos grupos de poder dominantes; mas nao tendo ideo~jficado suas carreiras com 0 serviQo publico, eles estao provavelmente me110S constrangidos pelas press6es burocraticas. Para eles, existe a facH 3Jternativa de retornarem a suas vidas privadas. Tudo isto sugere caminhos de pesquisas relativas ao recrutamento dos intelectuais pelo serviQo publico. Ja existem dados disponiveis dos criterios objetivos de seleQao, mas sac de interesse secundario. Gostariamos de conhecer a situaQao de classe social dos intelectuais que encontram seu caminho na burocracia. Em que momento, praticamente, se apresentam as alternativas de escolha para a carreira do intelectual'! Quais Em as press6es que 0 levam a preferir 0 serviQo publico ao particular? que medida 0 afastamento e 0 repudio dos va16res das classes empresariais desempenham um papel em tal escolha? Quais sac as fontes de tal afastamento? Podemos assim projetar luz sobre 0 tipo comum de intelectuais que se divorciem dos va16res nominalmente soberanos para se identificarem com 0 destine dos centros de poder potenciais? 0 afluxo de intelectuais para 0 serviQo publico serve de barametro das mudanQas iminentes ou futuras na estrutura do poder? Quais as expectativas comuns entre os intelectuais que esperam encontrar seu lar espiritual na burocracia estatal? Os dados sabre quest6es como essas constituem um primeiro passo na determinaQao dos efeitos posteriores da vida burocratica sabre 0 intelectual. Somente quando os dados necessarios forem reunidos, poderemos par a prova as hip6teses de que as burocracias provo-
cam mudanQas graduais no intelectual afastado da livre empresa, tran:>formando-o em tecnico apolitico, cujo papel e servir a qualquer estado. social que aconteQa estar no poder.
Embora tenhamos traQado urn contraste entre 0 intelectual afastado da empresa privada (e que tem mentalidade polftica) e 0 tecnico, ao tempo em que ingressam na vida burocflltica, esta distinQao pade tornar-se crescentemente atenuada no decurso dos serviQos que prestam dentro da a,dministraQao publica. Parece que a burocracia do Estado exerce uma. pressao sabre 0 intelectual afastado, no senti do de que ele se acomode as diretrizes daqueles que tomam as decis6es estrategicas, dai resultando que, oportunamente, 0 papel do intelectual que antes era afastado, po de se tornar indistinguivel daquele do tecnico. Ao descrever 0 processo mediante 0 qual 0 intelectual numa burocracia e convertido em tecnico, prosseguimos com a suposiQao de que as perspectivas e panoramas sao, 'Jm larga escala, produtos da posigao social. Os intelectuais se orient am para circulos sociais mais ou menos definidos e acomodam seus interesses, atitudes e objetivos a tais circulos. As exigencias e expectativas inerentes a uma situaQao social tendem a moldar 0 comportamento dos ocupantes daquela posiQao. Conforme Mead indicou tao bern, 0 ser social surge incorporando 0 conjunto organizadv de atitudes de outras personalidades significativas. Outrossim, esta progressiva assimilaQao das avaliag5es e expectativas de outros e cwnulativa, e costuma produzir-se sem que 0 processo seja percebido, exceto em pontos ocasionais de confUto. 8 Esta o1)servagao da formagao de personalidades funcionais leva imediatamente nossa atengao as diferengas nos "outros individuos importantes" para 0 intelectual burocrata e para 0 in· dependente; em suma, obriga-nas a examinar a cUentela diferente dos dais tipos de intelectuais e a parte que desempenham na moldagem do pa· pel do intelectual. Remota ou diretamente, 0 cliente do intelectual burocratico e um dir!gente politico que est a interessado em traduzir certos prop6sitos vagos ou bem definidos, em programas de agao. As exigencias que 0 cliente faz ao intelectual podem variar, mas nos pontos essenciais provavelmente poderao ser tadas agrupadas num numero limitado de tipos. A especijicidade das exigencias do cliente sabre 0 intelectual burocratico muito influi na determinagao do carater de atividades deste ultimo. Num caso extremo, 0 dirigente politico pode simplesmente indicar uma area geral, sem nenhuma indicagao da natureza das decis5es que pretende tomar. Esta e uma area vagamente definida, na qual havera presumivelmente necessidade de se tomarem iniciativas em alguma data futu-
ra (pOl' exemplo, as relagoes etnicas na Europa ou 0 est ado do moral no exercito) . Pede-se an intelectual que reuna fatos pertinentes, sabre a base dos quais os politicos poderao tomar mais tarde decisoes "inteHgentes". Neste ponto de baixa especificidade das perguntas do cliente, o intelectual tern maior campo possivel - as vezes, urn campo tao incomodo que pode produzir ansiedade como result ado de uma orientagao :imperfeita - para definir problemas, decidir quais sac as dades pertinentes e recomendar outras diretrizes possiveis. Tambem pode ser que a cliente faga uma pergunta urn tanto mais definida, indicando uma area especifica na qual a politica deva ser esbogada em largos tragos e informagoes devam ser obtidas com maior clareza, (por exemplo, as relagoes entre a Servia e a Croacia na Europa ou a produgao das pequenas firmas industriais durante a guerra). Esta delimitagao do campo de observagao reduz a visao do intelectual que deve decidir tanto sabre a natureza dos problemas praticos, como sabre 0 carateI' das informagoes pertinentes. Ou 0 problema pode ser apresentado ao intelectual em pontos progressi· vamente antecipados na sequencia de decisoes; ou no momenta em que se examinam as decisoes politicas possiveis ou quando uma diretriz espedfica ja foi adotada e ha necessidade de informagoes acerca dos meios ,de leva-Ia a efeito atraves de urn programa definido de agao, ou finalmen· te, depois que urn dado programa foi pasto em pratica e ha nec'essida.ae de avaliar a eficiencia do dito programa. Estes intervalos na sequencia de decisoes apresentam diferentes tipos de problemas ao intelectual. Em geral parece haver uma relagao inversa entre a especificidade do problema tal como e definido pelo cliente, e a possibilidade para 0 intelec· tual em iniciar propostas politicas. Quanto mais cedo opere 0 intelectual na sequencia da decisao, tanto maior sera a sua influencia potencial em guiar a decisao. Quando a area da pesquisa e vagamente indicada pelo dirigente politico, 0 estudo do intelectual pode, dentro de certos limites, focalizar a atengao sabre outros meios de agao, atribuindo maior peso a certos tipos de provas. Isto parece ter side 0 caso, por exemplo, com os Catorze Pontos do Presidente Wilson, que, em grande parte, foram 0 resultado de uma avaliagao da situagao geral, feita por intelectuais "cujos cerebros ele tomara emprestado", para usar uma frase do proprio Presidente. Ajudando a estabelecer essas linhas gerais de diretrizes, 0 intelectual pode dar inicio a algum contra Ie partindo de baixo. Em raras situagoes dessa especie, 0 dirigente politico podera encontrar-se na conhecida posigao do frances {Iue, em 1848, quando era instado a nao se unir a mUltidao que tomava de assalto as barricadas, respondeu: "Devo segui-Ios, pois sou 0 seu Hder". Contudo, e mais tipicamente, 0 intelectual burocn1.tico encontra-se numa posigao em que e chamado a fornecer informagoes para diretrizes especificas ou possiveis, que ja foram formuladas pelos dirigentes politicos. Como perito, pede-se que indique quais as necessidades a serem le-
vadas em conta ao escolher urna ou outra das alternativas propostas, ou a par em execug8.-ouma determinada politica. Quando os problemas alcangam 0 intelectual neste ultimo estagio de uma sequencia de decisao, chega a pensar sobretudo em termos instrumentais e a aceitar as definigoes dominantes dos objetivos. Suas perspectivas sac fixadas nesta conformidade. Ele vem a encarar somente aqueles aspectos da situag~ 0 total que sac diretamente relacionados a diretriz proposta. Pode estar ciente ou nao de desprezar outras possibilidades am sua pesquisa, pe10 fato de concentrar-se sabre as consequencias ou modos de levar a efeito possibilidades limitadas que the foram apresentadas. Ele pode ignorar 0 fato de que urn modo de vel' implica num modo de nao vel' e que, limitar u alcance as alternativas A e B, significa estar desprezando as alternativas C e D· Este problema da relagao para com 0 politico toma urn aspecto inteiramente diferente para 0 intelectual independente. Suas perspectivas podem seT dirigidas por sua posig.(:,o dentro da estrutura de classe, mas sac urn tanto menos sujeitas ao (,{illtrale imediato de uma clientela especijica. Ele caracteristicamente aproxima-se da area do problema, inteiramente a parte das anteriores suposigoes e interesses de urn cliente burocratico. Pade sentir-se livre para considerar as consequencias de outras dire· ;:rizes possiveis, as quais jJodem tel' sido ignoradas ou rejeitadas pela burocracia. Suas limitagoes naD sao ta'nto uma materia de desprezar alternaMas, nao estando sujeito as constritivas sem inquirigao adequada. ~oes das decisoes pendentes baseadas sabre 0 seu trabalho, 0 intelectual nao ligado a administragao publica po de ficar no ambito das boas intengoes e dos maus programas de agao. Mesmo quando ele formula tanto a diretriz como 0 programa e.m termos realisticos, e dificil que suas opini6es cheguem ate os politicos responsaveis. No que diz respeito a direg8.o da politica, 0 individuo que nao esta dentro da burocracia torna-se uma voz pequena e frequentemente apagada. De tudo isso surge 0 dilema com que se defronta 0 intelectual preocupado em estimular as inovagoes sociais. De modo nao muito exato, isto pode ser expresso num slogan: quem inova nao e ouvido; quem e ouvido nao inova. Se 0 intelectual tern que representar urn papel eficiente quando quer utilizar os seus conhecimentos e cada vez mais necessario que' se integre numa estrutura burocratica de poder. Contudo, isto frequentemente exige que abdique de seu privilegio de explorar as possibilidades de diretrizes que considera signiticativas. Por outro lado, se ele r;ermanecer desligado da burocracia a fim de preservar sua inteira oportunidade de escolha, caracteristicamente nem tera os recursos para l,evar ao fim suas investigagoes numa escala apropriada, nem tera grande probabilidade de ver suas conclus6es aceitas pelos politicos dirigentes como base para agao. Nao e preciso dizer que e possivel encontrar-se completa honestidade tanto entre os intelectuais burocraticos como entre 05 independentes:
as diferenc;as essenclals situam-se na relac;ao para com 0 cliente e nas press6es concomitantes que desempenham parte na definic;ao dos problemas considerados significativos. Ambos as tipos de intelectuais podem 5er completamente honestos dentro dos limites de sua dejinir;iio de problemas. Porem, cada urn diHes tomou uma decisao importante e freqiientemente de valor diferente, ao aceitar ou rejeitar a definic;ao de urn problema. Vejamos urn exemplo tipico. Tanto os intelectuais burocraticas como as independentes podem estar tratando da mesma area-problema: par exemplo, a segr·egac;ao racial nurn centro industrial do norte. No que se refere a coleta dos fatos, ambos os intelectuais podem apresentar conclus6es muito semelhantes, a saber: que uma grande proporc;ao de tn:.. balhadores negros tern urn moral muito baixo e urn rendimento industrial pequeno, aparentemente como resultado da continua discriminac;ao racial. Os pesquisadores tambem podem concordar em que urn grande numero de trabalhadores brancos se op6e a qualquer proposta de eliminar a segregac;ao. A diferenc;a entre a ponto de vista e as pesquisas dos intelectuais burocraticos e dos independentes pode muito bem evidenciar-se na escala seguinte: a de formular um::t politica e converte-Ia em programa. Para a intelectual burocratico, a politica pode ser definida nos seguintes termos: como podemos tornar toleravel senao agradavel a segregac;ao para a trabalhador negro? Nesta conformidade, 0 assessor burocratico po. de indicar que certos tipos de propaganda dirigidos a populac;ao negra podem servir para elevar a moral, sem eliminar a segregac;ao. A pesquisa do intelectual burocratico serviu assim para complementar uma diretriz pre-definida. Contudo, 0 intelectual independente nao necessita canfinar sua investigac;ao desta maneira, pais pode estudar meios de elimi.'1ar a segregac;ao racial sem rebaixar apreciavelmente 0 moral dos trabalhadores brancos. Em outras palavras, ele pode par em duvida a diretriz predominante, estudando suas conseqiiencias e examinando os meios de par em pratica diferente. Convem notar que a validade dos dois conjuntos de conclus6es nao se discute, porem, as duas pesquisas serao uteiSi par 0 ponto crucial e reconhecer as imra um proposito e nao para 0 outro. plicar;i5es de valor acarretadas pela pr6pria escolha e dejinir;iio do probl.ema, e que a escolha sera em parte jixada pela posir;iio do intelectual dentro da estrutura social. 0 intelectual burocratico, obrigado a permitir que
o dirigente politico defina a escopo de seu problema de pesquisa, esta. implicitamente alugando suas habilidades e conhecimentos para a preservac;ao de urn arranjo institucional determinado. 0 intelectual ind~pendente pode nao afetar diretamente a diretriz dominante, mas traz a luz conhecimentos que presumivel~ente serao uteis para a modificac;ao da ordem atual. Assim, a intelectual torna sua decisao de valores mais significativa, ao escolher tanto sua clientela, como, de maneira derivada. o tipo de problema com que se ocupara. 9 9. 0 que ternos tentado fazer aqui e esclarecer, atraves de urns. ilustra~ao concreta urna correla~ao essencial da concep~ao de Weber, do papel de Wertbeziehung na pesqu;sa in-
Ha outra maneira pela qual a orientac;ao dos intelectuais que entram para uma burocracia tende a mUdar, e esta deriva das press6es ,para a. a~ao. Tal como diz uma expressao urn tanto vaga, eles tendem a se tornar "menos teoricos e mais praticos". A que se refere isto? Quanto mais proxima do centro real da decisao, mais precisa uma politica ampIa ser transformada em programas de ac;ao e maior 0 numero das consi. derac;6es que devam ser levadas em conta, sabre e alem da formulac;ao politica original. Este "levar em conta" das variaveis adicionais significa uma mudanc;a parcial da diretriz inicial; significa, "transigencia com as realidades do caso". Assim, quanto mais perto estiver localizado 0 intelectual do ponto de decisao real, maior pressao sofrera para acomodar suas formulac;6es abstratas originais as exigencias da situac;ao. Esta pressao, operando durante um certo periodo de tempo, modela as perspectivas gerais do intelectual burocratico; ele cada vez mais vem a pensar em termos de tecnica ·e de instrument os adequados a par em execuc;ao as diretrizes dentrode uma situar;iio dada. Para 0 intelectual independente, tais mudanc;as de perspectivas do seu colega buroc\'"9,tico freqiientemente parecem configurar uma "venda" au ,.traic;ao" . Este tipo familiar de conflito resulta das posic;6es diferentes dos dais tipos de inteleetuais dentro da estrutura social, que apresentam, inevitavelmente, algumas diferenc;as de perspectiva. 0 intelectual independente pode continuar firmemente a pautar-se par suas formulac;6es, ja que estas nao se traduzem em ac;ao, e ele freqiientemente deixa de ver os aspectos do problema em ac;ao, os quais constantemente recaem sabre a intelectual burocratico. Este, por sua vez, tern alternativas limitadas: (1) Ele pode acomodar seus pr6prics va16res sociais e conhecimento especial aos valores dos dirigentes politicos. (2) Pode procurar alterar as diretrizes vigentes do poder executivo sabre 0 aparelhamento burocratico. (3) Pode reagir em termos de uma dissociac;ao esquizoide entre seus proprios va16res e as da burocracia, considerando sua func;ao como puramente tecnica e sem implicac;6es de valores. A primeira reac;ao envolve uma incorporac;ao dos valores da burocracia, e algumas vezes uma mudanc;a no interior do ponto de vista do intelectual. A segunda,\ quando 0 intelectual isolado procura contrapor suas opini6es proprias e fundamentadas as da maquina geral, 0 que ordinariamente redunda em conflito sem conseqiiencias praticas que freqiientemente e 0 preludio da fuga do intelectual, afastando-o da burocracia. A terceira reac;ao que acreditamos ser a mais freqiiente, conduz ao "papel de tecnico". Como este papel ~ apoiado pelos costumes profissionais do intelectual - "Como homem de ciencia, nao me permito opini6es de valor" - reduz a conflito que setelectual. Diz Weber que as observa~6es SaD focalizadas em certos aspectos ds. situa~ao concreta em termos de valOres que governarn e definem 0 que e considerado como "significativo·. Resta entao explorar varios pontos fixos na estrutura social, OS valares que SaD comuns nesses pontos, e assim determins.r a rela~ao efetiva entre a estrutura social e a atividade intelectual. Ver Max Weber, Gesammelte Aufslitze zur Wissensehaftslehre (Tubinga, 1922), 177·1&1.
ria senti do quando executam diretrizes em desacordo com suas opini6es. Em resumo, a segmentac;ao dos papeis permite que 0 intelectual conserve seu senso de integridade pessoal, embora participe de programas qus coIidam com sua pr6pria escala de valor. Tudo isto sug·ere que 0 intelectual independente e 0 intelectual bu· rocratico preenchem func;6es inteiramente diferentes com relac;ao as di· retrizes sociais. 0 intelectual independente pode funcionar como pessoa irritada, como critico de diretrizes consagradas, ao denunciar publi· camente algumas de suas correlac;6es e consequencias. Pode, portanto, influenciar ate certo ponto 0 clima da decisao. Com 0 crescimento das comunicac;6es de massa, esta func;ao tern tornado uma importancia amda maior que no passado. 0 intelectual burocratico, POI' outro lado, salvo nos casos relativamente raros em qUI}ele efetivamente define a diretriz, limita-se geralmente a desenvolver modos mais eficientes de exeeutar as decis6es e de introduzir outras r;ossibilidades de ac;ao, que nao violem os valores acatados pela burocracia. Isto faz pensar que os intelectuais independentes podem estar servindo a prop6sitos comuns, mesmo durante as crises belicas efetivamente, embora de modo diverso, como os intelectuais que estao devotando "suas energias ao esforc;o de guerra" e servindo nurn empr€lgo oficial.
intelectuais e dos homens de neg6cios. As atitudes das organizac;6es empresariais para' com os intelectuais, expressas por uma pUblicac;ao como Nation's Business sac muitc reveladoras.lJ Indicam os modos pelos quais 0 intelectual entra em confUto com os valores e interesses economicos consagrados. As conclus6es dos intelectuais sabre as consequencias das pnlticas E:conomicas correntes e de seus arranjos, que nao consideram como sacrossantos atraem os ataques diretos dos homens de neg6cios que se identificam co~ essas pr:Hicas, consideradas pOI' eles tecnicamente eficientes e moralmente certas. Essa e uma fonte das acusac;6es que se fazem aos ;.n tIt Eles nao concordam e.ec u ais , de que €lIes nao sac homens praticos. .. com "os fatos do caso", "fatos" esses que sac justamente as pratlCas corlentes. Os "economistas te6ricos" que pens am em soluc;6es diferentes sac ridicularizados como "sentimentos enjoados", em c_ontraste com os "homens praticos" que conduzem 0 alto comercio da nac;ao. E d~s.de que essas soluc;6es alternativa~ usualmente nao for am postas em pratlCa, todos esses arranjos em perspectiva podem ser prontamente rotulados como "ut6picos". Assim se explicam os ata:],ues "as altas mentaIidades que E'screvem guias para as utopias economicas". . . . A identificac;ao do homem de neg6cios com suas rotmas usualS e axlO:nas culturais nao 0 predisp6e a aceitar alterac;6es nessas rotinas e aXi~mas. A seguinte in feliz quadrinha e bastante tipica do "homem da lIvre empresa" que quer progredir em seus neg6cios:
Porem, mesmo quando 0 intelectual burocratico se acomoda ao ponto de vista dos orientadores da politica, ainda pode projetar linhas de ac;iil)
Trabalha para os funclO11>lrios, Profess6res, te6ricos e e~criturarios, Trabalha para sustcntar ('s trabalhadores Que te insultam enquanto trabalh~.
alternativas que contrariam os val6res e objetivos dos representantes da livre empresa que estejam em posic;6es de mando no governo. :l!:ste cho-
que de valores ocorre frequentemente nas pr6prias propostas de diretrizes. E 0 que expIica, com certeza, 0 desabafo que reproduzimos a seguir, vindo da boca de urn politico que voltou a sua profissao habitual de ge· rente de propaganda: Em minha opinHi.o, a mentalidade professoral e um dos mais perigosos fat6res em nossos atuais governos. Ao inves da visao ampla que eles prometem tebricamente, 0 pensaomento d('les, sob 0 calor desacostumado dz. autorirlade, alga v6c e sobe atraves das nuvens, Iivres das peias dos fatos e da realidade. Ja estou saturado com esses mogos que sempre empunham suas reguas de calculo. Cons· Nao ha opiniao igual tatei que nao ha elasticidade em suas mentcs rigidfi,s e academicas... a sua, a menos que ela seja de oompleta concordfmoia ou de maior audacia em seu mundl' de sonhos. tIes nfio qller~m conselhos d~ quem tenha experiencia. Suas mentalidades Iivrescz.s, calcadas em sonhos e ~m sahs de aula, nao tern, decididamente, porta~. ou janelas abertas para 0 mundo exterior .10
Contudo, tais confUtos sac menos urn produto do contexto burocr3.tieo do que urn entrechoque mais extenso entre os valores e inter€lsses dos ~O. Lou R. Maxon. numa declaragao a respeito da sua. demissao do Escrit6rio de Adminis· tralla'o de Prellos, New York Times, 15 de .;ulho de 1943,15.
Estreitamente relacionado a esse repto aos costumes da classe ~mpre. sarial esta 0 usa que 0 intelectual faz da analise hist6rica e critlCa. 0 muncto dos neg6cios e sentido POI' aqueles que estao mais diretamente en· volvidos nele, como um datum, uma coisa dada, nao anaIisavel em el~mentos que talvez possam ser combinados de modo diverso. 12 A analIse d? intelectual e consequentemente considerada como "irrealistica" e, "te6nca" (no senti do pejorativo). Nao e, pois, surpreendente que os horr:ens de neg6cios hajam feito da "teoria" um epiteto, e rejeitem "a abstrac;ao professoral produzida nas chocadeiras intelectuais". . Alem dessas fontes diretas de confUtos, ha, na estrutura sO~lal, Ii· nhas divis6rias resultantes das dif0rentes posic;6es dos intelectua1s e do comercio orga~izado. POI' mais que 0 intelectual esteja interes'sado na 11.
12.
tste breve resumo e baseado numa amostra de t6d~ as referencias a intelectuais, profess6res etc., contida em Nation's Business, durante seis anos escolhidos no perlodo entre 1928e 1943. Isto e uma adaptagao do enunciado de Mannhelm, y utopia (Mexico: Fondo de Cultura).
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Ideologia
ria sentido quando executam diretrizes em desacordo com suas opini6es. Em resumo, a segmentac;ao dos papeis permite que 0 intelectual conserve 'seu senso de integridade pessoal, embora participe de programas qu~ wlidam com sua pr6pria escala de valor. Tudo isto sug·ere que 0 intelectual inuependente e 0 intelectual burocnitico preenchem func;6es inteiramente diferentes com relaC;ao as di· retrizes sociais. 0 intelectual independente pode funcionar como pessoa irritada, como critico de diretrizes consagradas, ao den uncial' publicamente algumas de suas correlac;6es e conseqtiencias. Po de, portanto, influenciar ate certo ponto 0 clima da decisao. Com 0 crescimento das comunicac;6es de massa, esta funC;ao tern tomado uma importancia amda malar que no passado. 0 intelectual burocratico, POI' outro lado, salvo nos casos relativamente raros em qUI}ele efetivamente define a illretriz, limita-se geralmente a desenvolver modos mais eficientes de exe('utaI' as decis6es e de introduzir outras r;ossibilidades de aC;ao, que nao violem os va16res acatados pela burocracia. Isto faz pensar que os intelectuais independentes podem estar servindo a prop6sitos comuns, mesmo durante as crises belicas efetivamente, embora de modo diverso, como os intelectuais que estao devotando "suas energias ao esforc;o de guerra" e servindo nurn emprego oficial.
Porem, mesmo quando 0 intelectual burocratico se acomoda ao ponto de vista dos orientadores da politica, ainda pode projetar linhas de acnfJ alternativas que contrariam os val6res e objetivos dos represent antes da livre empresa que estejam em posicc5es de mando no governo. ~ste choque de valores ocorre freqtientemente nas proprias propostas de diretrizes. E 0 que explica, com certeza, 0 desabafo que reproduzimos a seguir, vindo da boca de urn politico que voltou a sua profissao habitual de ge· rente de propaganda: Em minha opiniao, a mentalidade professoral e um dos mais perigosos fatOres em nossos atuais governos. Ao inves da visao ampla que eles prometem te.6ricamente, 0 pens80mento i\{'les, sob 0 calor desacostumado df;, autoridade, al~a vOc e sobe at raves das nuvens, livres das peias dos fatos e da realidade. Ja estou saturado com esses mo~os que sempre empunham suas reguas de calculo. ConsNao ha opiniao igual tatei que nao ha -elasticidade em suas mentcs rigid~.s e academicas... R sua, a menos que ela seja de compIeta concordancia ou de maior audacia em seu mund" de sonhos. Suas mentalidades livrescz,s, Eles nao q'ller~m conselhos d~ quem tenha experiencia. calcadas em sonhos e ~m sal9.s de aula, nao tern, decididam.ente, portaF. ou janelas abertas para 0 mundo exterior .10
Contudo, tais conflitos sac menos um produto do contexto burocdtieo do que um entrechoque mais extenso entre os va16res e interesses dos .0. Lou R. Maxon, numa declara9ao a respeito da sua. demissao do Escrit6rio tra~a'o de Pre~os, New York Times, 15 de .;ulhQ de 1943,15.
de Adminis·
intelectuais e dos homens de neg6cios. As atitudes das organizac;6es empresariais para' com os intelectuais, expressas POI' uma pUblicaC;ao como Nation's Business sac muito reveladoras.lJ Indicam os modos pelos quais 0 intelectual entra em conflito com os va16res e interesses economi· cos consagrados. As cOHclus6es dos intelectuais sobre as conseqtiencias das praticas economicas correntes e de seus arranjos, que nao consideram como sar crossantos atraem os ataques diretos dos homeas de negocios que se identificam co~ essas pr::Uicas, consideradas pOl' eles tecnicamente eficientes e moralmente certas. Essa e uma fonte das acusac;6es que se fazem aos intelectuais, de que (Hes nao sac homens praticos. ~les nao concordam com "os fatos do caso", "fatos" esses que sac justamente as praticas corlentes. Os "economistas teoricos" que pens am em soluc;6es diferentes sac ridicularizados como "sentimentos enjoados", em contraste com os "homens praticos" que conduzem 0 alto comercio da naC;ao. E desde que essas soluc;6es alternativa::: usualmente nao for am postas em pratica, todos esses arranjos em perspectiva podem ser prontamente rotulados como "utopicos". Assim se explicam os ata:tues "as altas mentalidades que pscrevem guias para as utopias economicas". A identificaC;ao do homem de negocios com suas rotinas usuais e axio:nas culturais nao 0 predisp6e a aceitar alterac;6es nessas rotinas e aXi~mas. A seguinte in feliz quadrinha e bastante tipica do "homem da 11vre empresa" que quer progredir em seus neg6cios: Trabalha para cs funclO11>lrios, Professores, te6ricos e e~criturarios, Trabalha para sustcntar ('s trabalhadores Que te insultam enquanto trabalhz,s.
Estreitamente relacionado a esse repto aos costumes da classe empresarial, esta 0 usa que 0 intelectual faz da analise hist6rica e critica. 0 mundo dos negocios e sentido POl' aqueles que estao mais diretamente envolvidos nele como um datum, uma coisa dada, nao analisavel em elementos que talv~z possam ser combinados de modo diverso. 12 A analise d? intelectual e conseqtientemente considerada como "irrealistica" e, "teonca" (no sentido pejorativo). Nao e, pois, surpreendente que os homens de negocios hajam feito da "teoria" um epiteto, e rejeitem "a abstrac;ao professoral produzida nas chocadeiras intelectuais". . Alem dessas fontes diretas de conflitos, ha, na estrutura sOC1al,linhas divis6rias, resultantes das dif0rentes posic;6es dos intelectuais e do comercio organizado. POl' mais que 0 intelectual esteja interes'sado na 11.
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jj;ste breve resumo e baseado numa amostra de tOdz,s as referencias a intelectuais, professores etc., contida em Nation's Business, durante seis anos escolhidos no perlodo entre 1928e 1943. Isto e uma adapta~ao y utopia
do enunciado de Mannhelm,
(Mexico: Fondo de Cultural.
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melhoria de sua pr6pria situagao economica, as controles institucionais exigem que EHeconsidere isto como urn subproduto, em vez de faze-lo como prop6sito imediato de sua atividade. 0 papel do homem de neg6cios, par outro lado, e firme e tradicionalmente definido como sendo de elevar ao grau maximo seus ganhos economic as (par meios legitimos), cansiderando-se todos as outros aspectos de sua atividade como subsidiarios em relagao a tais objetivos definidos institucionalmente. Existem, entao, dais designios opostos para modos de viver, dais conjuntos contrast antes de imperativos culturais. Pelo menos algumas das mutuas suspeitas e recriminag6es derivam desta oposigao institucionalizada no modo de encarar as coisas. 0 homem de neg6cios pode questionar e impugnar integridade dos costumes dos intelectuais. Ou, pelo contrario, ele pode procurar assimilar tais habitos aos seus pr6prios. Entao considera-se que as intelectuais colocam tambem seus interesses em primeiro lugar e que sua procura de conhecimento e simplesmente um meio de meihorar sua ;;Jr6pria posigao como se ve na seguinte definigao dada a "um livro de professor": "1
Trata·se de um livro escrito por um professor; 0 leitor hll. de perceber que 0 motivo prmcipal dessa publicagao e que 0 professor precisa ter seu nome gravado na capa de um livro.
Pode acontecer tambem que a homem de negacios procure desvalo· rizar a personalidade social do intelectual. Entre as que tiveram pouca instrugao formal, isto pode conduzir facilmente ao antiintelectualismo convertendo-se as diplomas universitarios em simbolos de desprestigio. o homem de neg6cios que tern instrugao formal superior foi, em certa cpoca, subordinado aos professores. Nessa situagao teve oportunidade de conhecer os va16res e padr6es da existencia professoral, as quais, no padrao ideal, diferem em varios pentos com os do mundo dos neg6cios. Tendo-se emancipado da universidade, 0 homem de neg6cios pode agir defensivamente, pelo menos devido ao fato de que ele tem um vestigio de culpa, por nao se conformar com os valores desinteressados que conhece'.l quando estudante. Ele pode valer-se da oportunidade de afirmar sua completa emancipaQao depreciando seus antigos superiores, efetuando assim uma inversao de papeis. Esse tipo de conflitc nao e improvavel, e surge na familia a medida que as criangas passam da idade de dependencia e subordinagao para a estado Qe adulto e de realizag6es independentes. Tambem se diz que os professores sac caracteristicamente "homens que vassaram anos a dirigir intelectos imaturos (e portanto) nao suportam a oposigao". E a inversao dos papeis e francamente aplaudida, quando !'e relembra aos professores sua obrigagao para com aqueles que tornam I,ossivel sua sobrevivencia, como no comentario sabre as "assim chamados intelectuais. .. que na maior parte provem de colegios, sustentados pela comunidade, onde tinham a privilegio de usar aparelhamento e equipamentos dispendiosos e raramente calculavam quanto isto eustava aos con-
tribuintes, au prestavam homenagem ao sistema que procfuzia os b ._ 't d d d . . . eneme os oa ores . as edlflclOS e equipamentos e freqtientemente os 01 udos salarios que recebiam" p p
11
Tendo como pano de fundo tais tipos de conflito, nao e absolutamente s~rpr,eendente que 0 intelectual experimente amiude uma serie de frustraco~s, uma vez QU~ se torna parte integrante de uma burocracia que, ate certo ponto, e control ado por aqueles que nao podem viver com ne.m se~ ele.l3 A lua-de-mel entre os intelectuais e dirigentes 'da polltl~a e frequente.me?~e desagr~davel, rude e curta. Isso tem uma compTeenslvel base soclOloglCa. 0 mtelectual, antes de assumir seu posto burocratico, costuma pensar em seus problemas intelectuais fazendo abstraQao das exigemcias especif'icas de outras pessoas. Pode acreditar que urn problema se resolve por seu interesse intrinseco. Logo que ingress a numa burocracia, descobre que a tare fa do intelectual e em si mesma estreitame~te ligada com as reH1Q6es sociais dentro dessa organizaQao. Sua seleQao de problemas para estudo deve ser guiada por aquilo que conhece, o~ pens a que conhece, de seus clientes, atuais ou em potencial; sua formulaQao do problema, suas analises e relat6rios devem ser entrosa. dos na mesma relaQao com um cliente. Em resumo, onde havia an. teriormente experimentado uma sensaQao de autonomia intelectual _ nao imp~rtando, no momento, se era real ou ,espuria - ele agora sC\torna consclente dos contr6les visiveis acerca da natureza e diregao das suas pesquisas. Este tipo de coagao transforma-se em frustragao, particularment~ quando de nenhum modo esta certo quanto aos desejos exatos do cllente, ou se estiver certo, quando discorda com a natureza desses desejos. Os conflitos resultantes, entre os criterios de escolha e analise dos problemas, como intelectual independente ou como intelectual burocratico, freqtientemente levam a fuga da burocracia, e ao escape para a suposta autonomia. A rapida renovagao nos quadros de pessoal especializado nas administrag6es publicas nao e apenas um caso de insatisfagao do publico ou da critic a par grupos de fora, tais como a Congresso. Freqtientemente e a produto das frustrag6es acumuladas, sentidas pelo intelectual que foi anteriormente condicionado a um senso de autonomia pessoal e nao pode se p.autar pelas visiveis coaQ6es impostas par uma organizagao formal. Asslm, um psiquiatra recentemente observou acentuada elevagao na eufo-
e:~,
13. Seria interessante te observa~ao de dos seus pr6prios radas". E ainda: festagao prejudicial tros, a poldtica de
fazer circular entre os dirigentes politicos norte-americl:U1os a seguinclasse dirigente jamais conseguiu prescindil Stalin: u ••• nenhuma a problema consiste em nao desencorajar ~sses camaintelectuais. ••'Hostilizar os especialistas' sempre foi e continua a ser sua manie vergonhosa". [A Julgar pelos casos de Vavllov e Verga. entre ouStalin mudou mais tarde].
ria e otimismo de seus amigos. Nao sabia a que atribuir isso, e a principio admitiu que tal fate resultasse das vit6rias das Na~6es Unidas. S6mente mais tarde e que compreendeu ter encontrado uma serie de amigos que tinham acabado de deixar definitivamente a burocracia de Washington. Exibiam euforia originada do relaxamento da frustra~ao, Assim, tambem, Stouffer relata sua observa~ao do tempo da guerra: "Na mClee (luta feroz) de Washington, 0 intelectm~,l nao se pode manter no "refugio a/pino" que e a gloria da pesquisa universitaria em tempo de paz. Ha muitas frustracofs ... Todas as reparticoes que fazem trabalho de sociologia ou de psicologia social, tais como o Escritorio de lnformacoes de Guerm, (l Escritorio de Servicos Estrategicos, a Espionagerr.: Militar e outros sofreram a mesma experilmcia.14
E instrutivo examinar alguma!> das frustra~6es dos tipos mais familiares, as quais freqtientemente culminam em desilusao, pois elas derramam luz sabre as possibilidades e limita~6es do intelectual burocrata em influenciar a politica. Essas frustra~6es podem ser classificadas em dois grupos principais: (l) as que derivam do conflito de valares entre 0 m· telectual e 0 orientador politico das diretrizes e, (2) as que provem do tipo burocratico da pr6pria organiza~ao. 1.
Conflito de valores entre 0 intelectua1 e os dirigentes da politica: a. De vez em quando 0 intelectual burocratico encontra-se servindo de a1vo no conflitQ que surge entre mentalidades tao diferentes como a do politico e a sua propria. Uma pesquisa que parece ser triviEol, de um ponto de vista imediatamente pratico, pode ser altamen· te significativa pelas suas correlacoes teoricas e mais tarde pode iluminar uma serie de problemas praticos; mas com 0 tempo 0 intelectual po de ser compelido a aceitar novos criterios de significEo\;ao. b. As conclusoes da pesquisa podem ser exploradas para finalidades que se chocam ccrn os v2Jores do intelectual; suas recomendacoes de diretrizes, baseadas no p~so de evid~ncja, podem ser desconsideradsoS, introduzindo-se mesmo uma diretriz contraria. c. 0 intelectual freqiientemente nao quel' se comprometer baseado no que Ihe par~ce ser uma evid~ncia fragil, ao passo que 0 pol!tico dirigente necessita assim proceder devido a urgencia da aCao. d. Os especlallstas podem sentiI' frustraciies ao serem levados a trabalhar em campos situ ados fora de sua esfera de compet~ncia, pois os dirigentes pol!ticos pOl' v~zes nao percebem as diferencas importantes entre as varias especialidades.
a. Uma vez que as burocracias sao organizadas para a aCao, formulam-se freqiientemente perguntas aos intelectuais, ps,ra as quais eles naD tem resposta imediata. Ora, isto pode provocar a "neurose do prazo final", pois ha problemas cuja soluCao e imposslvel dentro do tempo concedido. o problema do prazo final talvez tenha siao melhor descrito pOl' Robert Louis Stevenson num contexto inteiramente d:verso: "lsto nao e um lab oratorio de ciencias, no qusJ 20Scoisas sao testadas escrupulosamente; teoriza.mos com uma arma de fogo apontada a nossa cabeca; somos confront ados com um novo conjunto de condicoes sobre as quais nao so temos que formal' opiniao, como resolver a entrar em Eo\;aO,antes que a hora termine".
14. Samuel A. Stouffer, "Social science and the soldier", em American Society in Wartime, publicado POl' W. F. Ogburn (1943), 116.
b. As linhas de comunicaCao entre os orientadores de decisoes e os intelectuais podem obstruldas, conduzindo tlplcamente a trustracoes. 1) Uma vez que os dirigentes pol!ticos treqiientemente nao mant~m os intelectuais m. form ados
estar
1) 0 dirigente politico POl' vezes rejeitara a pesquisa fundamentada nas clencias soclais, supondo que sus. experi~ncia direta Ihe deu um entendimento mais segura da situaCao queo Intelectual jamais possa atingir. lsto e mais provave1 ocorrer quando as conchisoes sugerirem mudancas nas rotinas e praticas familiares, pois e raro que 0 intelectual possa d&monstrEor a malar eficiencia dos sistemas que propoe, comparados com os arranjos tradlcionais vigentes.
Esta incursao numa fase do papel do intelectual em nossa sociedade e feita com a inten~ao principal de formular certas hip6teses. A colec;ao de biografias, diarios e livros dos intelectuais empregados pela administra~ao publica, a observaQao de participantes diretos e os dados hist6ricos, podem proporcionar uma base firme e frutifera para a pesquisa neste campo,15
15. Desde que esta parte foi escrita, urn lJasso inicial nesta direCao foi dado POl' Julian L. Woodward, "Making government opinion research bear upon operations", AmericanSociological Review, 1944, 9, 670-677. Vel' tambem R. K. Merton, "The role of applied social science in the formation of policy", Philosophy of Science, jUlho de 1949, 16, 161·181.
A
CONTRIBUICOES TEORIA DO COMPORT AMENTO DO GRUPO DE REFERI::NCIA*
E
STE CAPfTULO BASEIA-SE na suposlgao de que ha um trafego reciproco de Ida e volta entre a teoria social e a pesquisa empirica. Os ma· teriais empiricos sistematicos auxiliam 0 progresso da teoria social, ao impor a tare fa e ao proporcionar a oportunidade de interpretagao, de ac6rdo com lineamentos ami11de nao premeditados; e a teoria social, por sua vez, define 0 escapo e alarga 0 valor preditivo das descobertas empiricas, indicando as condig6es sob as quais elas sao validas. Os dados sistematic os do The American Soldier,l em toda a sua numerosa variedade, pro· \)orcionam uma ocasiao 11tHpara 0 exame do j6go reciproco entre a teoria social e a pesquisa social aplicada. Mais particularmente, tentamos identificar e ordenar as pesquisas bastante numerosas que aparecem em The American Soldier, e que, implicita ou expressamente, se relacionam com a teoria do comportamento do grupo de referencia. (As realidades empiric as que este termo comporta, serao adiante examinadas com mais vagar. Deve-se observar, contudo, que em· bora 0 termo "gropo de referencia" nao se empregue nessas obras, nem tenha encontrado ainda inteira aceitagao no vocabulario da sociologia, enquanto diferente da psicologia social, os conceitos do grupo de referencia desempenham run importante papel no aparelhamento interpretativo utilizado pelo Departamento de Pesquisa da Divisao de Informagao e Educagao do Ministerio da Guerra dos Estadog Unidos). Em dois pontos, lidamos rapidamente com assuntos correlatos, que, contudo, nao fazem parte integrante da teoria do grupo de referencia. CO) Com a colaboragao de Alice S. Rossi. 1. as autores do primeiro destes volumes, "Adjustment during Army Life", sao S. A. Stouffer E. A. Suchman, L. C. DeVinney, S. A. Star e R. M. Williams Jr.; do segundo, intitulado "Combat and Its Aftermath", sao: S. A. Stouffer, A. A. Lumsdaine, M. H. Lumsdaoine, R. M. Williams Jr., M. B. Smith, 1. L. Janis, S. A. Star e L. S. Cottrell Jr. Ambos foram public ados em 1949 pela Princeton University Press.
Revisamos os indices estatisticos dos atributos de grupo e da estrutun social, tal como sac adotados de varias formas nestas pesquisas, e tentamos indicar, embora de maneira muito breve e programatica, 0 valor especifico da incorporagao sistematica de tais indices a pesquisas ulteriores. E, de maneira igualmente resumida, apontamos de que modo os dados analisados pelo Departamento de Pesquisas poderao ser completados. de urn ponto de vista psicologico, e reformulados de maneira util, d0 ponto de vista da sociologia funcional. Urn procedimento comum para extrair e tentar desenvolver as correlagoes teoricas do The American Soldier, e adotado em toda a extensaa. C:esta analise. Isto acarreta 0 intensivo reexame de exemplos de pesquisa, relatados em tais obras, com 0 proposito de subordinar as descobertas em abstragoes ou generalizagoes de nivel mais alto. Nos proprios trabalhos, os autores austeramente (e, em nossa opiniao, sabiamente) Iimitam suas analises a interpretagao do comportamento dos soldados e aos contextos organizacionais nos quais 0 comportamento ocorreu. Porem, manifestamente, os conceitos analiticos sac validos, nao apenas, quanto aO comportamento dos soldados. Generalizando provisoriamente aqueles conceitos, podemos estar numa posigao de explorar as correlagoes mais amplas dos materiais, para a teoria social. Nossa discussao parte assim, de uma analise interna de cada estudo de pesquisa feito naquelas obras, nas quais os autores usaram como uma variavel interpretativa, algum conceito de grupo de referencia. 0 objetivo de colacionar tais casos e determinar os pontos em que eles estimulam extensoes da teoria do comportamento do grupo de referencia, que possam ser seguidas atraves de outras pesquisas estrategicamente focalizadas. Ocasionalmente, foi efetuado 0 esfOrgo de sugerir como e que essas extensoes teoricas poderiam ser incorporadas em designios de pesquisa empirica, os quais assim construirao algo tomando por base os achados do Departamento de Pesquisas. Desta maneira, pode haver provisao cle.continuidade no j6go reciproco entre a teoria cumulativa e novas pesqUlsas. o reexame indutivo dos casos admite tambem a articulagao dessas concepgoes de grupos de referencias, com outras concepgoes predominantes na psicologia social e na sociologia, as quais, nao, tern ordinariamente' sido ligadas com a teoria do comportamento do grupo de referencia. Na medida em que tais conexoes sejam estabelecidas, The American Soldier tera desempenhado uma fungao ulterior da pesquisa empirica: a consolida~ao provisoria de fragmentos de teoria, atualmente dispersos. Ao longo dessas linhas, sera feito urn esf6rgo para indicar a coerencia entre a teoria do grupo de referencia e as concepgoes da sociologia funcional. Aparentemente elas tratam de facetas divers as do mesmo as5unto: uma centraliza-se s6bre os processos atraves dos quais os tromens se relacionam aos grupos, e referem seu comporbamento aos val6res desses gropos; a outra centraliza-se s6bre as conseqtiencias dos processos,
espeeialmente para estruturas sociais, mas tambem para os individuos e gropos envolvidos nessas estruturas. Encontrar-se-a que a teoria do grupo de referencia- e a sociologia funcional dirigem diferentes perguntas aos mesmos fen6menos, mas que as referidas perguntas tern relevancia reciproca. Todo este ensaio tende, portanto, a averiguar 0 que The American Solc.ier pode contribuir para 0 estado atual da teoria do grupo de referencia, e os problemas teoricos que the sac relacionados. Como estamos comprometidos com a nogao de que 0 desenvolvimento da teoria social exige uma grande medida de continuidade, ao inves de uma colegao de resultados autocontidos e alegadamente definitivos, isto significa que a presente reapreciagao de alguns dos materiais do The American Soldier, e em si mesma altamente provisoria, como uma fase de urn desenvolvimento continuo, ao inves de constituir urn ponto estavel. Tampouco supomos, e claro, que cada uma e t6das as extensoes da teoria do grupo de referencia aqui propostas, provarao efetivamente ser validas; como qualquer outra forma de atividade humana, a teorizagao tern sua cota de risco. Na verdade, e quando cada hipotese provisoriamente oferecida, de uma discipUna dada, vem a ser aparentemente confirmada que 0 tearico tern moti'10 para se alarmar, pois urn registro de sucesso invariavel pode indicar urn aparelhamento defeituoso e por demais complacente de confirmagao, em vez de uma teoria excepcionalmente salida.
Dos varios conceitos empregados pelos autores de The American Sol· de interpretar seus multiformes materiais, ha urn que assume urn lugar de destaque. E 0 conceito da privagao relativa. Sua significagao central evidencia-se de alguma forma por ser urn dos dois. conceitos para os quais foi expressamente chamada a atengao do leitor, no capitulo introdutorio aos dois volumes. Conforme os proprios autores os estabeleceram, depois de uma breve alusao a concepgao de varios perfis, "Tambem introduzimos outras ferramentas conceptuais, not adamente uma teoria da privaQiio relativa, a fim de auxiliar de modo mais geral na ordenagao dos achados empiricos que de outro modo seriam dispares". n, 52) Embora 0 conceito da privagao relativa seja periodicamente utilizado para a interpretagao de variagoes de atitudes entre diferentes categorias de homens, variando, por exemplo, 'com respeito a idade, educagao e estado civil, 0 mesmo nao e definido de maneira formal em nenhum lugar, nas paginas desses volumes. Nao obstante, e como veremos adiante, os esbogos desta concepgao gradualmente emergem dos varios exemplos nos quais a mesma e posta em agao _ Por exemplo, e no primeiro caso do !:eu usa que os autores se referem a natureza da utilidade teorica da concepgao, e ao seu possivel parentesco com outros conceitos estabelecidos de teoria sociolagica: dier com a finalidade
A ideia festa para IidEode nao em parte, referencia",
[da priva<;ao relativaJ. e simples, quase 6bvia, porem sus. utilidade se manireconciliar dados, especialmente nos ultimos capitulos, nos quais sua aplicabl· Poderia parecer que a ideia tem parentesco, e e a prinDipio muito aparente. incluiria tais conceitos sociol6gicos bem conhecidos como "estrutura social de "padr6es de expectativa", ou "defini<;6es da situa<;ao". (1, 125)
E'sta ausencia de uma definiQao formal da privaQao relativa nao e uma grande desvantagem. Em qualquer caso, os autores escapam a tra(11Qaobem estabelecida dos trabalhos de teoria sociologica, de estarem repletos de numerosas definiQoes que permanecem em desuso. Em vez de uma definiQao explicit a do conceito, podemos reunir uma lista de t6das essas ocasioes, espalhadas atraves dos volumes, e que tratam de tipos de situaQoes aparentemente nao relacionadas, nos quais 0 conceito tern side posto em usa pelos autores, e por esta maneira podemos aprender algo do real carater operacional do conceito. A lista seguinte representa, embora de forma muito abreviada, cad a uma das pesquisas nas quais alguma versao do conceito da privaQao relativa (ou urn conceito proximo, como 0 do status relativo) e extraida explicitamente do The American SOldiJer: 1. Com referencia ao homem casado, ros solteiros do Exercito, ele podia sentir que dos solteiros; e comparando-se com podia sentir que tinha sido chamado a
convoc,ado: "Comparando·se com seus companheique Ii convoca<;ao exigia deie um sacriHcio maior seus amigos civis, casados e nao convocados, 'He fazer sacrificios dos quais OS outros estavam esca·
pando inteiramente". (1, 125) 2. "0 diplomEodo de colegio ou de universidade era um candidato claramente indi cado para a convoca<;ao; casos de dispensa por motivos profissionais, provavelmente ocorriam muito mais freqiientemente em grupos com grau menor de instru<;ao. Em media, 0 homem que nao cursara 0 ginasio e que era convocllodo, podia indicar maior numero de conhecidos que provavelmente nao tinham mais direito do que cle em terem sua convoca· "ao adiada e que, nao obstante, tinham conseguido dispensa devido as profiss6es que exerciam... Quando se comparavam com seus amigos nao convocados, senti am provavd· mente que deles, convocados, se exigiam sacrif~cios, dos quais eram dispensados outroll iguais a Hes", (1, 127) 3. "0 conceito da priva<;ao relativa e partlcularmente util na aVllolia<;aodo valor da edu· ca<;ao pa.ra se conseguir' urn status ou emprego, assim como para a aprova<;ao ou a critlca do Exercito... Tendo niveis mais altos de z.spira<;ao que 0 menos instruido, 0 homem mais culto tinha mais a perder, em seu proprio conccito e na opiniao de seus amigos, se nao conseguisse alcangar alguma especie de status no Exerctio. Dai, a frustra<;ao era maior para elc do que para outros, se um objetivo que ele procurava nao fosse atingido ... (1, 153). 4. " ... 0 conceito da priva<;ao e de recompensa diferentes ... pode ajudar a compreender alguns dos processos' psicol6gicos relevantes em rela<;ao a este problema. 11:certo que 0 sol· dado que se achava no ultramar, em rela<;ao aos sold ados ainda em seu proprio pais, sotris. maior ruptura com os la<;os domesticos amenos e confortaveis a que estava acostumado nos Estados Unidos. Mas tambem e verdade que em rela<;iio ao soldado em combate, aquele mes· mo soldado (n:;, retaguarda das areas de luta), sofrill. muito menos priva<;6es do que 0 homem que estava realmente lutando". (1, 172) 5. "0 conceito das diferen<;as de priva<;6es nos levari a a procurar saber por que motivo o grupo de soldados com mais priva<;6es parecia ter pouco mais espirito de critica do que o grupo menos sz.crificado ... Quanto menor f6nse a diferen<;a entre oficiais e soldados no
6. "... como era de esperar, os soldados que houvessem progredido mais devagar que outros soldados ~c. igual antigiiidade no Exercito, eram os que mais criticavam as oportunidades de promoc;a.o I\a~ f6rc;as armadas. Porem a propor<;ao relativa de promo<;ao pode se. baseada em pad roes dlfercntes por diferentes classes da massa do Exercito. Por exemplo, um sold ado com curso. escolar primario, que se tornou cabo depols de um ano de servI<;o. tena tldo uma propor<;ao de promo<;ao mals rapida comparado com a maior parte de seus camara~as do mesmo nivel de instru<;ao, do que um universitario que atingisse a mesma gradua<;ao no mesmo pre.zo. Da.! esperarmos que, numa dada gradua<;ao e numa mesma antigiiidade, 0 m~is provavel e ~ue 0 individuo mais instruido se queixasse mais que os ou-tros da lentldao das promo<;oes... Fen6meno semelhante parecia ocorrer nos diferente,; ramos do servi<;o militar". (1, 250) 7. "Dos estudos referentes aos solc'.z.clos,anteriormente relatados neste capitulo, seria de esperar que as atitudes dos oficiais com respeito as promo<;6es, tal como as dos soldados. haven a d: r:f1etlf alguma rela<;ao com 0 nivel de expectatlva e com 0 nivel de atua<;iio, eom referenCls ao das pessoas eonheeidas dele. Assim esperariamos que urn capitiio que estlVes~e nes~a gradua<;iio ~or Jongo tempo, comparado com outros capitaes, estlvesse menos satIsfelto acerca da sltua<;ao de promo<;oes, do que um tenente que ha pouco tempo estivcsse em tal gradua<;ao". n, 279) . 8. "... parece provavel que tanto os negros do Sui como do Norte, podem ter sido con· slderavelmente influenciados em SEUS ajustamentos gerais pOl' outras compensa<;6es ps·coI6· gleas: ao ?ermanecerem estaclonados no Sui, 0 que e facil de compreender se encararmos sua sltua<;ao como um status relativo. "Em rela~aol a maior parte dos civis llegros, que ~le observou nas cidades do suI, 0 sol· dado negro gozava comparativamente uma posi<;ao de riqueza e dignidade". (1 563) 9. "Em poucas palavras, os val6res psicol6gicos da vida no Exercito para '0 sold ado ne· gro estacionado no Sui, relativamente ao civil negro do Sui, excederam sensivelmente os var lares psicol6gicos da vida no Exercito, do soldado negro no Nr,rte, em rela~ao ao eid .•• dao negro nortista". (1, 564)
Estes nove paragrafos atingem ate 0 cerne as afirmaQoes interpreta· tivas nas quais a nOQao da privaQao relativa ou os conceitos que the sac Iiliados, foram expressamente utilizados a fim de interpretar resultados que de outro modo seriam considerados anomalos au inconsistentes. 2 A estes usos explicitos do conceito, acrescentaremos mais adiante diversos exemplos de casos de pesquisa, nao submetidos pelos autores a interpretaCiao em termos de conceitos de grupos de referencia, os quais nao obstante parecem explicados por tais conceitos. . Em todos esses casos, deve-se notar que a conceito de privaQa0 relat1V!l serve ao mesmo proposito teorico: e usado como varh~vel interpretativa interveniente. As pesquisas foram destinadas ao estudo dos sentimentos e atitudes dos soldados norte-americanos em relaQao a convocaQao, por exemplo, ou as suas avaliac:5es das oportunidades de promoQao. Essas atitudes consideram-se tipicamente como variaveis dependentes. A analise dos dados demonstra que tais atitudes diferem entre soldados de situaQoes diferentes; por exemplo, homens mais velhos, ou casados, mostravam maior ressentimento em relaQao a convocaQao do que os mais
2.
Parece, pois, que, conforme teremos ocaslao de observar mais detalhadamente 0 concelto ds. priva<;ao relativa nasce daquilo que temos denominado "0 padrao de se;endiPidacte" do Impacto da pes quisa empirica s6bre a teoria, isto e, "a exper1''Ilcia bastante comuro de observar urn dado nao anteeipado. anomalo e estrategico, que proporciona z, ocasilio Ver capitulo V. de desenvolver uma nova teoria ou de ampliar uma teoria existente".
jovens ou solteiros; os diplomados em colegios ou universidades eram meTlOS inclinados a se mostrar otimistas aci~rca de suas probabilidades de promoQao no Exercito. Tais atributos de situaQao sao em geral tomados Uma vez que sejam orovisoriamente como as variciveis independentes. ~stabelecidas as relaQaes entre as variaveis independentes e as dependentes, 0 problema e 0 de leva-las em conta: 0 de inferir como e que os de melhor instruQao sac menos otimistas acerca de suas oportunidades de promoQao ou como e que 0 homem casado exibe maior ressentimento a Iespeito de sua convocaQao para 0 serviQo militar. Neste ponto de interpretaQao introduz-se 0 conceito de privaQao relativa, de modo que 0 molde da analise torna-se aproximadamente 0 seguinte: 0 homem casado (varia· vel independente) com mais freqtifmcia questiona a legitimidade de sua convocaQao (variavel dependente) porque ele avalia a situaQao dentro da estrutura de referencia (variavel interpretativa) proveniente da comparaQao dele mesmo com outros homens casados que ainda esHio na vida civil, que escaparam completamente do recrutamento, ou com homens solteiros que estao no exercito, cuja convocuQao nao exigiu deles um sacrificio comparavel. Podemos assim rotular a funQao do conceito de priva~ao relativa como 0 de uma interpretaQao provis6ria depois do fato, destinado a ajudar a explicar a variaQao de atitudes expressas pelos sold ados de diferentes situaQaes sociais. E desde que as interpretaQaes post-factum tem um lugar distintivo no continuo desenvolvimento da teoria consideraremos adiante, com mais detalhes, esta caracteristica do conceito de privaQao relativa. 3 A confrontaQao destes paragrafos-chave serve como algo mais do que breve resumo dos assuntos originais. Ja que os estudos que utilizam 0 conceito da privaQao relativa tratam de diversos temas, e que estao espaIhados pelas paginas do The American Soldier, nao ha assim a probabili· dade de serem ,examinados em termos de suas mutuas articulaQaes te6ricas. A justaposiQao dos paragrafos admite uma insper;ao simultanea das diversas interpretaQaes, e por sua vez, permite que descubramos as categorias centrais que foram evidentemente tomadas pelo Departamento de 3. Neste ponto prccisamos obscrvar apen&s de passagem que e prematuro li.dmitir que as interpreta~6es ex post facto sac em principio nao suscetiveis de anula~ao empirica. Ar· rejei~ao do conceito da prlguir lsto, como 0 fez Nathan Glazer em sua super-rapida va~ao relativa, e ignorar 0 j6go reciproco entre a teoria e a pesquisa no desenvolvimento hist6rico de umE. disciplinn. Como veremos, nao ha fundamento para se dizer, como GIllzer 0 faz, que a nogao da privagao relativa concebivelmente nao pode ser anulada: "Assim. (com 0 conceito da pnva~1io relativa) urn pouco de imagina~ao permltir{l que cubramcs qualquer poss,vel result~,do ..• " E mais adiante, sustenta que tal conceito "nao pode ser refutado por fatos, e contlnuar{l sendo certo qualquer que seja 0 re~ultado de um conjunto de dados". Logo sc vera que as proposi~6es que incorporam 0 <:onceito da priva~ao relativa sao facllmente sujPitas a nulifica~ao emplrica, se de fl'.>to nao forem verdadeiras. Para apreciar uma razao que justifique nossa enfase sabre a teo· -ria sociol6gica emplricamente orientada, como sendo um desenvolvimento em marcha, vet as conseqii{mcias dc negligenciar este fato, como se observa no trabalho de Nathan Glazer, ••'The America.n Soldier' as science", Commentary, 1949, 8, 487-~96.
Pesquisas como as bases de comparat:;ao presumivelmente implfcitas r1as atitudes e nas avaliaQaes dos soldados. E uma vez que as categorias de analise empregadas pelo Departamento de Pesquisas sejam descobertas, suas conexaes 16gicas podem ser determinadas, levando assim a formuJaQaes que parecem ter significaQao para 0 ulterior desenvolvimento da teoria do grupo de referencia. Se continuarmos em nossa induQao, constat.aremos que as estruturas de referencia para os soldados que estavam sob observaQao do Departamento de Pesquisas, eram provisoriamente supostas como sendo de tres especies. Em primeiro lugar estao os casos em que as atitudes ou opiniaes dos homens eram tidas como influenciadas pela comparaQao com a situac;ao de outros com quem eles estavam em associar;ao real, em relaQaes sociais constantes, tais como "os amigos civis casados" do soldado 110 paragrafo 1, ou "os conhecidos" do homem que nao tinha instruc;ao colegial ou uni versitaria no excerto 2. Uma segunda base implfcita de comparac;ao e com aqueles homens que de alguma forma pertinente, pertencem ao mesmo status ou a mesma categoria social, como no caso do capitao que compara, sua posic;ao "com outros capitaes" no excerto 7, sem qualquer implicac;ao de que eles necessariamente estejam em direta interac;ao social. E em terceiro lugar, admite-se com aquiHes que estao de alguma maneira pertinente, em situat:;6es diferentes, ou numa categoria social dijerente, como no caso do soldado nao combatente comparado com os homens combatentes, no excerto 4, ou dos soldados e sargentos comparados com as oficiais no excerto 5 (ainda sem interac;ao social entre eles necessariamente subentendida). Pela maior parte, como sabemos por este exame dos casos, os grupos eu individuos que presumivelmente foram tomados como bases de comparac;ao pelos soldados nao caem simplesmente em um ou outro caso desses tres tipos, mas envolvem varias combinac;6es deles, Com maior freqtiencia, a comparaC;ao pre sumida e com amigos do mesmo status, como 0 individuo que s6 fez 0 curso primario, comparado com amigos do mesmo nivel educacional no excerto 6, ou com varios "outros" nao amigos ou conhecidos que estao numa situat:;ao semelhante em alguns aspectos salientes e dessemelhantes em outros, tais como 0 soldado negro que se compa1a com os civis negros, nos excertos 8 e 9. Se tais atributos dos individuos ou grupos servindo de estruturas de referencia forem dispostos num quadro, entao a estrutura conceptual da noc;ao de privac;ao relativa (e conceit os a ela filiados), torna-se mais facUmente visivel. A ordenaC;ao esquematica nos habilita a localizar, nao s6 as estruturas de referencia comparativa utilizadas mais freqtientemente na interpretac;ao dos dados pelo Departamento de Pesquisa, mas tambem Gutras estruturas possiveis de referencia, que encontravam pouca acolhida na interpretac;ao do Departamento. Assim nos e proporcionada uma ocasiao de explorar sistematicamente a natureza te6rica da privac;ao rela-
l.iva como instrumento de interpreta~ao, c para indicar os pontos em que possivelmente ela aprofunda e alarga a teoria propria, de comportamento do grupo de referencia. Em sUbstancia, os grupos ou individuos tornados como pontos de referencia nos nove excertos, sac explicitamente caracterizados POI' estes poucos atributos. A presen~a de rela~6es sociais constantes entre 0 individuo e aqueles tornados como base de compara~ao, indica que eles pertencem neste grau, a urn grupo ou intragrupo comum e sua ausencia, que nao pertencem ao grupo ou que estao num extragrupo. Quando chega ao status comparativo, a cIassifica~ao implicita e algo mais complicada: as individuos tornados como base de compara~ao podem ser do mesmo status que 0 sujeito, ou outro diferente e, se for diferente, 0 status pode ser mais alto, mais baixo, ou nao classificado. A lista de pontos de referenr:ia implicita nas interpreta~6es do Departamento de Pesquisa aparece, pois, da seguinte maneira:
viduos tomem como base para a auto-referencia, a situa~ao das pessoas com quem estao em intera~ao social direta: primeiramente, 0 intragrupo dos amigos e conhecidos. Outras vezes, a estrutura suposta de referencia e suprida pel a categoria social das pessoas: soldados em rela~6es sociais constantes. A fim de iluminar a correla~ao do conceito de priva~ao l'elativa com a teoria do grupo de referencia, estes "outros" com quem 0 illdividuo nao interage sac aqui designados como nao l)ertencentes ao gru· po, ou extragrupos. 4 Desde que tanto os pertencentes e os nao perten· centes, intragrupos e extragrupos, de fato foram tornados como supostas estruturas sociais de referencia nessas interpreta~6es, isto imediatamente leva a uma questao geral de importancia central para uma teoria em desenvolvimento, qual seja a do comportamento do grupo de refer~ncia: em que circunstiincias os membros do grupo a que se pertence sao tomados como estrutura de referencia para a auto-avaliw;ao e a formacao de
ATRIBUTOS DE INDIVfDUOS, CATEGORIAS SOCIAIS E GRUPOS, TOMADOS COMO QUADRO DE REFERENCIA COMPARATIVA*
Os grupos de referencia sao, em principia, quase inumeraveis: quaisquer dos grupos dos quais a pessoa seja membro, e i~stes sac comparativa· mente poucos, bem como os grupos dos ~luais a pessoa nao e membro, e estes, evidentemente, sac legiao, podem se tornar pontos de referencia para moldar as atitudes, avalia~6es e comportamento proprios. E isto d.i origem a outro conjunto de problemas que exigem formula~ao teorica (! inquiri~ao empiric a ulterior. E iS80 porQue, conforme claramente sugere Q quadro do The American Soldier, 0 individuo pode ser orientado em dire~ao a qualquer de uma ou mais especies de grupos e situa~6es - grupos a que 0 individuo pertence e grupos estranhos, status semelhanies ao seu proprio ou, se forem diferentes, mais altos, mais baixos, ou nao classifica(iOS socialmente a respeito do seu proprio status. Entao, isto apl'esenta Gutro problema: se os grupos ou situa~6es multiplas, com suas normas c padr6es possivelmenie divergentes, ou mesmo contraditorias, forem to·
STATUS SOCIAL
EM RELA06ES SOCIAlS CONSTANTES COM 0 INDIVfDUO SIM mesmo grupo)
I
(pertencentes ao N? 1 amigos casados grupo ou intra- N? 2 sem amizades de ginasio ou coh\gio N? 6 amigos com 0 meso mo nivel de instruQao
'"
MAIS ALTO N? 5 oficiais
1-
I
;Z
Y
(nao perten- N.o 4 solda.dos nos EsN? 5 centes ao mesmo grupo tados Unidos ou em oficiais ou extragrupo) aQao de combate N.o 6 soldados de igUal1 -
=ti@~a&
N? 7 outros capitaes
N.Os 8, 9 civis negros no SuI
I +
r
.OS
I
N? 3 amigos N? 7 conhecidos
;(
00 INOIVlouo
Y
I
NAO CLASSIFICADOS
MAIS BAIXO
I RUMO OdS ORIENfACO[S N AO
DIFERENTE
8,
9
I~
I
civis negros no SuI
o exame desse quadro de varil:\veis implicit as na ideia da priva~ao relativa dirige imediatamente a aten~ao a diversos problemas empiricos e teoricos. Tais problemas, como se tornara logo mais eVidente, nao so se relacionam especificamente com 0 conceito da priva~ao relativa, como de modo mais geral, com uma teoria de comportamento de grupo de referencia. Notar-se-a da pesquisa preliminar dos exemplos contidos no quadro que, POI' vezes, os autores de The American Soldier admitem que os indi-
atitude, e sob quais circunstiincias os membros de outro grupo fornecem a estrutura de referencia significativa?
grupo ou extra-
4. Reconhecemos que esta sente'lga esta repleta de problemas implicitos que seria prematuro considerar neste ponto. Por exemplo, ela envolve 0 problema dos criterios de "pertencer" ou nao a um grupo. Na medids. em que' a freqUencia da interaQao social seJa um de tais criterios, devemos reconhecer que OS limites entre os grupos nao sao, de modo algum, rigorosamente tragados. Pelo contrario, os "componentes" de determinados gru· pos sao de varias maneiras ligados a outros grupos, aos quais c,onvencionalmente nac pertencem, embora 0 soci610go possa ter ~.mpla base para inclui-Ios nestes ultimos grupos, em virtu de de sua freqUente interaQao com seus membros convencionais. Asslm, tambem, estamos por ora evltando a questao das distinQces entre os grupos sociais e as eategorias sociais, referindo-se estas a situaQces consagradas, entre cujos ocupantes pode haver pouca on nenhuma interaQao. Alguns observadores poderao dizer que B formulaQao contida em The American Soldier amplla as formulaQces de te6ricos da psicologia social como Georg,e H. Mead, que S8 limiton aos t;rupos de afiliagiio como estruturas importantes de referencia, em seu conceito dos "outros generalizados" e em seu relz.to da formacao de auto-f1.titudes. Tudo isso merece apenas breve referencia neste ponto, ja que sera estndado adiante em Jugar mais adequado.
madas como uma estrutura de referencia pelo individuo, como serao resolvidas essas discrepancias? 5 Essas quest6es iniciais podem ajudar a estabelecer 0 campo da nossa ,pesquisa. Que os homens atuam numa estrutura de referencia, su~rida pelos grupos de que fazem parte, e uma nogao indubitaVe!mente an~lga e fJrovavelmente certa. Se fasse apenas essa a preocupagao da teona do grupo de referencia, nao seria mais que um termo navo para um velh.o foco de atengao na sociologia, a qual se concentrou sempre na determlnagao da conduta do grupo. Contudo, ha 0 fato ulterior de que os ho:nens freqiientemente se orientam por grupos outros que nao os pr6prios, ~o moldar seu comportamento e suas avaliag6es, e sac os problemas que .se centralizam em Wrno desse fato de orientagao pelos grupos a que 0 individuo nao pertence, que constituem 0 interesse distintivo da teoria dl>S grupos de referencia. E claro que, em ultima analise, a teoria deve ser generalizada ao ponto em que ela possa explicar tanto as orientag6es do grupo a que se pertence como as de grupos estranhos; mas sua tare fa imediata mais importante consiste em descobrir os processos atraves dos quais os individuos se relacionam aos grupos a que nao pertencem. Em geral, entao, a teoria dos grupos ce referencia almeja a sistema· I.lzar as determinantes e as conseqiiencias daqueles processos da avalia~ao e auto-estimativa, nos quais 0 individuo toma os va16res ou padr6es De outros individuos e grupos, como sistema comparativo de refer en'cia.
6
De nosso breve exame preliminar, parece resultar que as pesquisas de The American Soldier, que utilizam 0 conceito da privagao relativa, podem agir como agente catalisador que acelera a clarificagao teorica e a formulagao de problemas para ulterior estudo empirico. Mas a natureza exatr. dessas formulag6es podera ser melhor visualizada atraves de um exame detalhado de diversos de tais casos, depois que houvermos definiti\"amente ligado 0 conceito da privagao relativa com a teoria do comportamento do grupo de referencia.
conceito de privagao relativa, os autores de The Amesua atengao sabre 0 componente da privagao, ao inves de faze-Io sabre 0 componente relativo do con,ceito. Por assim dizer, focalizaram sabre a privar;ao relativa, em vez de o fazerem sabre a relativa privagao. A razao disso parece ao mesmo temAo desenvolver
0
rican Soldier, em seu todo, centralizaram
Embora esse problema relembre 0 problema tradicional, !"penas levemente esclarecido, do conflito entre as afilia~oes 2>grupos multiplos e entre papeis multiplos, de modo algum sao os dois id:'nticos; pois, como temos visto, as estruturas de referencia nao sac supridas apenas pelo proprio grupo ou stl:otus a que 0 individuo pertence, mas tambem por outros grupos e status. -6. Esta afirma~ao resumida e eliptica sera ampliada em partes posteriores deste capitulo.
"5.
po aparente e compreensivel, em vista do carater conspicuamentc privadonal das situa~6es no Exercito, com as quais eles lidaram. De modo geral, os norte-americanos consideravam 0 servigo nas fargas armadas, no melhor dos casos, como uma dura necessidade, aceita com relutancia: A vasta maioria dos homens nao veio voluntariamente para 0 Exercito... a a.ceita~ao do papel de soldada provavelmente tendia a ser de carater passivo, pelo menos quanta a~ atitudes iniciais... a atitude passiva com rela~ao ao servi~o militar implicava numa relativl:o ausencia de identifica~ao com os largos objetivos sociais que serviriam para desviar a aten~ao das frustra~6es do dia-a-dia no novo ambiente. Em con sequencia, era provavel que os recrut2>si tivessem acentuada consciencia das caracteristicas privacionais da vida no Exer. cito. (I, 208-9).
Foram, entao, OS tipos de reagao a uma situagao basicamente privacional, que com mais frequencia exigiram estudo, e foi principalmente no servigo de interpretagao desses tipos de reagao, que se desenvolveu 0 conceito de privagao relativa. Tal como 0 proprio termo privagao relativa sugere, 0 conceito foi utilizado primordialmente para ajudar a explicar os sentimentos de insatisfagao, particularmente nos casos em que a situsgao objetiva, a primeira vista, parecia nao ter probabilidade de provo car tais sentimentos. Isto nao quer dizer que 0 conceito fasse totalmente liffiitado a interpretagao dos sentimentos de insatisfagao, privagao, ou injustiga entre os soldados, desde que a pratica presumida de comparar a propria situagao com a de outros resultasse freqiientemente num estado de relativa satisfagao. Em geral, contudo, as satisfag6es derivadas de tal comparagao com outros desempenham 0 papel de contrabalangar excessivas insatisfag6es, nos casos de comparagao multipla: por exemplo, h insatisfagao do homem nao combatente no ultramar, presumivelmente reforgada pel a comparagao com aqueles servindo nos Estados Unidos, e tcmperada pela satisfagao do seu status em relagao ao do sOldado em agao de guerra. (I, 173) Tal como os proprios autores evidentemente rec6nhecem, a "priva· gao" e a componente incidental e particularizada do conceito de privilgao relativa, ao passe que 0 nucleo mais significativo do conceito e sua insistencia sabre a experiencia social e psicologica, como "relativa". Isto se pode perceber do texto, no ponto em que os autores introduzem a ideia de privagao relativa e sugerem seu parentesco com outros conceitos socio· logicos, tais como "sistema social de referencia, tipos de expectativas ou definig6es da situagao". (1, 125) E a componente relativa, os padr6es de comparagao na auto-avaliagao, que estes conceitos tem em comum. Liberando 0 conceito da privagao relativa, do confinamento aos dados particulares que eram inicialmente designados a interpretar. podera me tornar-se generalizado e relacionado com um maior corpo de teoria. A privagao relativa pode ser provis6riamente consider ad a como um conceito especial na teoria do grupo de referencia. E uma vez que The American Soldier proporciona dados empiricos sistematicos, e nao apenas opiaioes discursivas acerea do conceito de privagao relativa, abre-se possi-
velmente 0 caminho para clarificar progressivamente vanaveis cruciais,. de modo que se possa cartografar ulteriores pesquisas cumulativas, relaclOnadas com a teoria. Todavia, tudo isso ainda e programlitico. Se The American Soldier na verdade tern ou nao essas func;;6es para a teoria do grupo de referenda, somente se podera determinar atraves da inspec;;ao, numa distancia mais aproximada do que temos tentado ate agora, das pesquisas contiaas nesses volumes, que se relacionem com a teoria. A analise desses diversos casos destina-s.e a documentar-se e elabor2.r a emergencia daqueles problemas de teoria de grupo de referencia, que foram resumidamente antecipados nas paginas anteriores, assim como a indicar outros problemas relacionados, os quais ainda nao receberam atenc;;ao. Nesta direc;;ao, os fatos essenciais e a interpretac;;ao basica, que foram estabelecidos pelo Departamento de Pesquisas, serao resumidos em cada caso, e seguidos de uma exposic;;ao de suas aparentes correlac;;6es, para 0 avanc;;o da teoria do grupo de referencia. A guisa de antecipac;;ao, pode-se dizer que tais casos geram a formulac;;ao de uma extensa faixa de problemas especfficos que serao tornados em detalhe e sac aqui indicados resuminamente, pela seguinte lista de titulos: Os grupos a que a gente pertence operando cerna grupos de referencia; Grupos de referencia conflitantes e grupos de referenci£, mutuamente apoiantes; Uniformidades de comportamento derivadas da teoria do grupo de referencia; fndices estatlsticos da estrutura social; A teoria do grupo de referencia e a mobilidade social; Fun~6es de orienta~6es positiv&s em rela~ao a grupos aos quais a gente nao l-~hence; Processos sociais que ap6iam au refreiam essas orienta~6es; Fun~6es psicol6gicas e sociais de institui~6es que regulam a pa.ssagem de urn grupo d(" filia~ao para outro; e Revisao de conceitos relacionados com '" tea ria do grupo de referencia.
o GRUPO A QUE A PESSOA PERTENCE, CONSIDERADO COMO GRUPO DE REFEMNCIA Caso N.o 1. Esta pesquisa trata das avaliac;;6es dos soldados, quanta as oportunidades de promo<;ao, tais como foram suscitadas pela pergunta: "Voce pensa que urn soldado inteligente tern boa oportunidade de promoc;;ao?" Urn resultado geml, necessariamente muito abreviado neste sumario, diz que para cada nivel de antigi.iidade, graduac;;ao e instruc;;ao, "quanto menor fOr a oportunidade de promogao proporcionada par urn ramo, au combinac;;ao de ramos das forc;;as armadas, mais javor{LVel sera. a opiniao tendente a oportunidade de promoc;;ao". cr, 256) Dentro dos limites dos dados em maos,7 esta expectativa paradoxal (de maiores pro7. E import ante que fa~amos est& advertencia, pais e escassamente provavel que esta rela~ao entre as propor~6es reais de mobilidade e a satisfa~ao pessoal com as probabilldade~ de mobilidade se mantenha valida em tOda a extensao de varia~ao. Se as propor~6es de promocao fOsscm reduzidas praticamente a zero em alguns destes grupos, en
moc;;6esonde ha men ores possibilidades para tal), encontra clara demonstrac;;ao. Assim, embora B. Forc;;a Aerea tivesse uma proporc;;ao de promo·c;;6esmuito alta, os membros da Forc;;a Aerea criticavam de modo muito mais acentuado as oportunidades de promoc;;ao, do que, par exemplo, os homens da Policia Militar, onde as oportunidades objetivas de prumoc;;ao "eram talvez as plOres de qualquer ramo das Forc;;as Armadas". Assim, tambem em qualquer graduac;;ao e antigUiriade dadas, as soldados com melhor instruc;;ao, apesar de suas proporc;;6es de promoc;;ao notavelmente mais altas, eram os mais criticos das oportunidades de promoc;;ao. Este paradoxa e provisoriamente explicado pelo Departamento de .Pesquisas como result ado de avaliac;;6.esocorridas dentro da referencia fornecida pelas proporc;;6es de grupo de promoc;;ao. Uma proporc;;ao geralmente alta de promoc;;6es induz excessivas esperanc;;as e expectativas entre as membros de urn grupo, de modo que cada urn tera mais probabilidade de experimentar urn senso de frustragao em sua posic;;ao atual, e desafeic;;ao para com as oportunidades de promoc;;ao. Conforme os autores expuseram, "sem referencia a teoria de que tais opini6es representam uma relac;;ao entre suas expectativas e suas realizac;;6es relativamente a outros que esUio no mesmo barco que eles, tal achado seria na verdade paradoxa!." cr, 251, os grffos sac nossos) ImpUcagoes te6ricas. Em primeiro lugar, deve-se notar que foi urn resultado anomalo que aparentemente sugeriu a hip6tese de Que as avalia· G6es das possibilidades de promoc;;6es sac uma func;;ao das expectativas e realizac;;6es "relativas a outros que estao no mesmo barco (na mesma situac;;ao) que eles". E por sua vez, 0 resultado bruto nao interpretado :::.parece como anomalo somente porque e inconsistente com a suposic;;ao de senso comum de que, em geral, as avaliac;;6es correspondem aos fatos objetivos do caso. Em conformidade com 0 senso com urn, as acentuadas diferenc;;as nas proporc;;6es objetivas de promoc;;ao presumivelmente se riam refletidas em diferenc;;as correspondentes nas estimativas de oportu· nidades de promoc;;ao. Tivessem sido encontradas tais correspondencias, aparentemente teria havido pouca ocasiao de sugerir est a hip6tese de uma estrutura de grupo de referencia. Tal como 0 caso se apresenta, os dados sugerem que os homens definem a situac;;ao diferentemente. Porem, nao e bastante mencionar estas "definic;;6es da situaQao"; e necessa!rio expUcoAas. E a func;;ao do conceito de privac;;ao relativa (tal como sucede com outros conceitos dos grupos de referencia) e precisamente aquela de auxiliar a esclarecer as observac;;6es definidas de uma situac;;ao. Neste caso, era necessario que os dados empiricos sistematicos, ta1s como aqueles reunidos em The American Soldier, descobrissem ou revelassem 0 padrao anomalo, nao suscetivel de ser revelado atraves de observaQao impressionistica. E isto Hustra urn papel basico da pesquisa siscontrariamos entao uma "opiniao ainda mais favoravel" daoS oportunidades de promo~ao? Presumivelmente, a rel~ao e curvil1nea, e isto obriga a soci610go a descobrir as condicoes sob as quais se de1xa de verifica.r a rela~ao linear observada.
tematica empUlCa em alcan«;ar resultados imprevistos, anomalos e estrategicos, que exercem pressao para iniciar au ampliar uma teoria. 8 Os da,. aos e a hip6tese formulados para explica-Ios abrem caminho para outr03 problemas te6ricos e de pesquisas, os quais podem aqui apenas receber breve men«;ao, e nao a completa exposi«;ao que merecem. A hip6tese confirma certas suposi«;oes importantes acerca do grupo tornado como ponto de referencia pelos soldados, e que assim afeta seu !livel de satisfa«;ao quanto as oportunidades de promo«;ao. Esta suposi. !iao e feita, como temos visto, na forma de que as avalia«;oes sac "relativas a outros no mesmo barco". E os dados sao consistentes com a opiniao de que quatro grupos ou categorias sociais presumivelmente foram tomadas como contexto ou arma«;ao de referencia: homens com 0 mesma tempo de servi«;o, status similar de instru«;ao, gradua«;oes semelhantes, e mesmo ramo das For«;as Armadas. Pois bern, esta hip6tese, adequadamente generalizada, faz surgir to· da especie de questoes ulteriores, pertinentes a teoria do grupo de referencia, e que exigem renovada investiga«;ao e analise. Quais as circunstancias que predispoem a tal norma de escolher os individuos da mesma situa«;ao ou grupo, como pontos de referencia significantes? A frase idiematica, "no mesmo barco", faz surgir os mesmos problemas sociol6gicos que a outra frase coloquial, "manter-se a par com os Jones", isto e, acom· panhar os mesmos niveis de vida dos vlzinhos. Quem sao os Jones, nas varias estruturas sociais, com os quais as pessoas procuram se mantcr no mesmo nivel? Seus amigos e conhecidos mais intimos? Pessoas de nivel social ou econornico imediatamente mais altos, com as quais ~Gm contato? Quando e que os Jones sao pessoas a quem a gente jamais enoontra, mas de quem ouve falar (por exemplo, atraves dos meios ptlblicos de comunica«;ao)? Por que algumas pessoas escolhem os vizinhos de rua para se manter no mesmo nivel deles e outros, em lugar de .3S· colher os Jones, escolhem os Cabot, ou os Cassidy, e finalmente por que algumas pessoas nao procuram se emparelhar com nenhuma das outras?" Em outras palavras, a hip6tese oferecida em The American Soldier com rela«;ao a pessoas do mesmo status que 0 individuo torna como ponto de referencia para as suas avalia(;oes apresenta logo um conjunto de pro. blemas, relacionados entre si, pr6prios para a investiga(;ao e que consti· tuem novos e importantes la(;os no desenvolvimento da teoria do grupo de referencia. Quando e que nao se tomam os grupos a que alguem perten· ce como grupos de referencia para chegar as avalia(;oes? Afinal de contas, muitos homens estavam aparentemente a par das diferen(;as entre a tabela de organiza«;ao da For(;a Aerea e a de seu pr6prio ramo dos ser· 8. (»
Esta "fun~aoeriadora"da pesquisa empiricaem rela~aoit teoria merecefllaioraten~aode que Ihe e eoncedldano Capitulo V deste livro. Na sociedadenorte-american a, 0 nome "Jones" represent!:> a familia tipica, tradicional e :la classe media (como,no Brasil, 0 nome "Silva"). "Cabot"e "Cassiny"sao nomes de fa.miIiasantigas, localizadasna costa dc AtItmtico,descendentesdos primejros Imlgrantese que ainda conservamprestigio social e econ6mico.(N. do trad.)
vic;os. Quando e que essas proporc;oes de mobilidade entre os homens. nao componentes "do mesmo barco" afetavam seu pr6prio nivel de satisfac;ao? E estes problemas sociol6gicos, embora pudessem ter-se originado em qualquer outro lugar, foram efetivamente gerados pelos achados tmpiricos anomalos, desenvolvidos e provisoriamente interpretados neste estudo. Que a nova experiE"mcia sistematica, tal como e representada pelos dados e hip6teses de The American Soldier, gere realmente a fOrmUI:.l) (;ao de outras questoes te6ricas, observa-se pelo breve exame de trabalho, um tanto contrastante, de um notavel te6rico da psicologia social, George H. Mead, 0 qual nab se abeberou em materiais empiric os sistematicos. Mead foi, naturalmente, precursor importante na hist6ria da teoria do grupo de referencia, particularmente com respeito a sua concep«;ao cen· tral, express a de varias formas em seus escritos basicos, mas apanhad:l cie maneira bastante adequada na afirma(;ao de que "0 individuo expe· nmenta a si mesmo como tal, nao diretamente, mas apenas indiretamen· te, partindo dos pontos de vista particulares de outros individuos membros do mesmo grupo ou do ponto de vista generalizado O() grupo social a que pertence em seu todo".9 Nesta formula(;ao e em numerosas outras semelhantes,10 Mead, com deito, apresenta a hip6tese de que sac os grupos aos quais pertence 0 individuo, como membro, que proporcionam a arma(;ao de referencia significativa. para as auto·avalia(;Oes. E isto ele ilustra abundantemente com exemplos aned6ticos tirados de sua variada experiencia pessoal, e reflexao introspectiva. Mas, possivelmente devido ao fate de que ele nao l:stava em contato com provas empiricas sistema[icas, as Quais poderiam 5er aparentemente inconsistentes com esta formula(;ao em pontos especificos, nao chegou a per gun tar a si mesmo se, na verdade, 0 grupo tomado como ponto de referencia pelo individuo e invariavelmente 0 grupo do qual ele e membro. Os termos "outro", "0 outro", e "outros" sur gem literalmente centenas de vezes, na exposi(;ao que Mead faz da tese de que a desenvolvimento do ser social acarreta rea(;ao as atitudes de "outro" ou ae "outros". Mas a situa(;ao variavel "destes outros" presumivelmente tomados como arma(;oes de auto-referencia, e encoberta exceto pela repetida afirma«;ao de que eles sao membros "do" grupo. Assim Mead e aqueles de seus seguidores que tambem se abstem das pesquisas empiricas, tiveram pouca ocasiao de colocar a questao das condi(;oes sob as quais os grupos "dos que nao pertencem" tambem possam constituir uma significativa arma«;ao de referencia. Nao s6 a pesquisa de The American Soldier aponta diretamente a tal questao, mas tambem conduz ainda aos problemas revelados pelos fatos das multiplas filia(;oes a grupos e dos multiplos grupos de referencia. 9. GeorgeH. ,Mea,d "'I' "Ind, Self and Socl'ety,(The Universityof ChicagoPress, 1934),138' [os grifos sao nossos]. 10. Por exemplo,ver ibid., 151·156, 193·194.
Faz-nos lembrar que a teoria e a pesquisa devem passar a estudar a dinamica da seler;iio dos grupos de referencia entre os diversos grupos a que pertence 0 individuo: quando e que os individuos se orientam por outros em seu grupo de ocupagao, em seus grupos de simpatia, ou em seus grupos religiosos? Como e que podemos caracterizar a estrutura da situar;iio social que conduz a uma em vez de outra dessas diversas afiliag5es a grupos, que estejam sendo tornados como contexto significativo? Segundo ate ao fim da hip6tese formulada neste texto, notamos igualmente 0 problema suscitado pelo funcionamento simultaneo dos multi· Os desenvolvimentos posteriores exigem estul,los grupos de referencia. do dos processos dinamicos implicitos nas contratendencias te6ricamen1:e supostas, induzidas por multiplos grupos de referencia. Por exemplo, quais sac as dinamicas da avaliagao, e nao simplesmente da avalia!:ao final, do sistema de mobilidade ascensional entre os diplomados de nivel universitario, relativamente novos, na Policia Militar: na hip6tc~e oferecida por The American Soldier, eles seriam levados a insatisfa· Qao, atraves de referencias a situagao de outros universitarios, mas na qualidade de substitutos comparativamente novos, e como membros Ja Policia Militar, eles gozariam de uma satisfagao relativa. Como e que es,sas contratendencias se resolvem afinal, na avaliagao que chega ao conhecimento do observador? Voltando.nos finalmente para a variavel dependente deste estudo, ob,servamos que ela consiste nas avaliag6es feitas pelos soldados, do sistema institucional de promog6es no Exercito, e nao nas auto-avaliar;oes de sucesso pessoal dentro daquele sistema)! Com efeito, pecIiu-se aos ho' mens que avaliassem 0 sistema de promogao, em termos de sua efici{mcia e de sua legitimidade, tal como se pode ver na pergunta cuidadosamente formulada, que suscitou suas opini6es: "Voce pensa que urn soldado inteligente tern boa oportunidade de promogao?" Isto da origem a urn problema merecedor de uma atengao que ate agora lhe foi negada: os dois tipos de avaliag6es, a auto-avaliagao e R 2.valiagao dos arranjos institucionais, envolvem mecanismos semelhantes de ('omportamento do grupo de referencia? Neste ponto, e claro que a pesqui sa e necessaria a fim de descobrir a estrutura das situag5es sociais que tipicamente revelam as auto-avaliag5es ou os juizos intimos -- por exemplo, quando a comparagao com as realizag6es de outras pessoas especificadas, conduz a autodepreciagao injusta, a uma sensagao de inadequagao pessoal - e a estrutura das situag6es que tipicamente conduzem a avaliag6es de instituig6es ou de opini6es exteriorizadas - por exemplo, quando a comparagao com outros conduz a urna sensagao de inadequag6es 11. Na verdade, como 0 texto inslnua, a~ avalia~oes Institucionai~ provavelmente refletem os balan~os que os soldadns fazem cas 8U:;'5 pr6prias posl~5es, comparadas com SUl>S legitimas expectativas, mas isto nao sera tratado aqui. A hip6tese de grupo de referencia tenta explicar as varia~5es n:;. natureza de tais expectativas, em termos dos contextos sociais proporcionados pel a distribuiQao do statu~ em intragrupos importantes.
institucionais, fazendo pensar que 0 sistema social milita contra quallj,uer correspondencia estreita entre 0 merito do individuo e a recompensa social. Aqui, como em muitas pesquisas de The American Soldier, as correlag6es de procedimento, analise e interpretagao evidentemente n800 se Iimitam a novos estudos do comportamento dos soldados. Incidem sabre areas mais estrategicas de estudo, num sistema social maior. Por exem. plo, os fat6res socio16gicos que 1evam os individuos a considerar legitima sua posigao social relativamente baixa, bem como aque1es que os 1evam a interpretar sua posigao como resultante de organizag5es sociais defeituosas e possivelmente injustigadas, abrangem claramente uma area de problema de extraordinaria importancia te6rica e politica. Quando e que as estreitas oportunidades de sucesso na vida sac consideradas pelos individuos como coisa normal, atribuivel as suas Iimitag5es pessoais, e quando e que sac imputadas a urn sistema social arbitrario, em que as recompensas nao estao proporcionadas a capacidade? 12 Os conceitos de privagao relativa e de recompensa relativa ajudam a transferir esses muito discutidos mas pouco analisadqs padr5es de comportamento, do ambito da especulagao impressionistica para 0 da pesquisa sistematica.
Diversas pesquisas em The American Soldier ofere cern ocasiao para se penetrar .em problemas te6ricos surgidos do conceito de que multiplos grupos de referencia proporcionam contextos para as avaliag5es feitas pe10s individuos. Dois de tais casos foram selecionados para serem aqui tratados, porque aparentemente exibem diferentes moldes de comparagao multipla: no primeiro, multiplos grupos de referencia proporcionam contextos que operam em prop6sitos contradit6rios; no segundo, propolcionam contextos que se sustentam mutuamente, Grupos de r>eferencia conflitante: Caso N.o 2. Em fins de 1943 e principios de 1944, 0 Departamento de Pesquisas realizou uma serie de investigag5es das quais obteve uma visao de diferengas de atitudes (refle. ,tindo os ajustamentos pessoais) de soldados nao-combatentes no ultra· 12. Tais quest5es foram evidentemente levantad&oSem numerosas ocasi6es anteriores. Foram porem, habitualmente con5ideradas como problemas distintos e autocontidos de in· teresse em seu pr6prlo conteudo e nao como problemas especlals subsumivels numa teoria de comportamento de grupo de referencia. Por exemplo, tem-se sugerldo que os individuos conspicuamente "bem sucedidos", que subiram rapidamente numa hierRr· quia social, e que estao em destaque aos olhos do publico, funcionam como modelo~ ou figuras de referencia, testemunhas :Ie urn sistema de mobilidade no qual, aparente· mente, as carreiras Zoinda estao abertas aos talentos. Para alguns observadores, estes modelos de exito sao testemunhas vivas a. favor da legitimidadEl do sistema institucional e neste contexto comparativo, 0 indiv,iduo desvia 0 criticismo do sistema sabre si mesmo. Ver Merton, Fiske e Curtis, Mass Persuasion, 152 e segs. Porem essas observ&.<;5espermanecem como impressionistic as e aned6ticas. desde que nao fornecem ma· pas sistematicos de investigaQao que penetre neste eomportamento, ao longo das Iinhas sugeridas pelas pesquisas de The American Soldier.
Faz-nos lembrar que a teoria e a pesquisa devem passar a estudar a dinamica da sele<;iio dos grupos de referencia entre os diversos grupos a que pertence 0 individuo: quando e que os individuos se orientam por outros em seu grupo de ocupaQao, em seus grupos de simpatia, ou em seus grupos religiosos? Como e que podemos caracterizar a estrutura da situa<;iio social que conduz a uma em vez de outra dessas diversas afiliaQoes a grupos, que estejam sendo tornados como contexto significativo? Segundo ate ao fim da hip6tese formulada neste texto, notamos igualmente 0 problema suscitado pelo funcionamento simulUmeo dos multillios grupos de referencia. Os desenvolvimentos posteriores exigem estudo dos processos dinamicos implicitos nas contratendencias te6ricamen1:e supostas, induzidas por multiplos grupos de referencia. Por exemplo, quais sac as dinamicas da avaliaQao, e nao simplesmente da avalia~ao final, do sistema de mobilidade ascensional entre os diplomados de nivel universibirio, relativamente novos, na Policia Militar: na hip6tcse oferecida por The American Soldier, ElIes seriam levados a insatisfa· Qao, atraves de referencias a situaQao de outros universitarios, mas na qualidade de substitutos comparativamente novos, e como membros Lla Folicia Militar, eles gozariam de uma satisfaQao relativa. Como e que essas contratendencias se resolvem afinal, na avaliaQao que chega ao conhecimento do observador? Voltando-nos finalmente para a varilivel dependente deste estudo, observamos que ela consiste nas avaliaQoes feitas pelos soldados, do sistema institucional de promoQoes no Exercito, e nao nas auto-avalia<;6es de sucesso pessoal dentro daquele sistema.!! Com efeito, pediu-se aos homens que avaliassem 0 sistema de promoQao, em termos de sua efici€mcia e de sua legitimidade, tal como se pode ver na pergunta cuidadosa.mente formulada, que suscitou suas opinioes: "Voce pensa que um soldado inteligente tern boa oportunidade de promoQao?" Isto da origem a urn problema merecedor de uma atenQao que ate agora the foi negada: os dois tipos de avaliaQoes, a auto-avaliaQao e R 2.valiaQao dos arranjos institucionais, envolvem mecanismos semelhantes de comportamento do grupo de referencia? Neste ponto, e claro que a pesquisa e necessaria a fim de deseobrir a estrutura das situaQoes sociais que tipicamente revelam as auto-avaliaQoes ou os juizos intimos -- por exemplo, quando a comparaQao com as realizaQoes de outras pessoas especificadas, conduz a autodepreciaQao injusta, a uma sensaQao de inadequaQao pessoal - e a estrutura das situaQoes que tlpicamente conduzem a avaliaQoes de instituiQoes ou de opinioes exteriorizadas - por exemplo, quando a comparaQao com outros conduz a urna sensaQao de inadequaQoes 11. Na verdade, como 0 texto insinua, a~ avalia~6es institucionai~ provavelmente re!!etem os balan~os que os soldadQs fazem cas 8U"-o3pr6prias posi~6es, comparadas com SUl>S legltimas expectativas, mas isto nao sera tratado aqui. A hlp6tese de grupo de referencia tenta explicar as varia~6es nl> natureza de tais expectativas, em termos dos contextos sociais proporcionados pela distribui~ao do st ••tu~ em intragrupos importantes.
institucionais, fazendo pensar que 0 sistema social milita contra qual4.uer correspondencia estreita entre 0 merito do individuo e a recompensa social. Aqui, como em muitas pesquisas de The American Soldier, as correIaQoes de procedimento, analise e interpretaQao evidentemente nao se Iimitam a novos estudos do comportamento dos soldados. Incidem sabre areas mais estrategicas de estudo, num sistema social maior. Por exem. ) plo, os fatOres sociol6gicos que levam os individuos a considerar legitima sua posiQao social relativamente baixa, bem como aqueles que os levam a interpretar sua posiQao como resultante de organizaQoes sociais defeituosas e possivelmente injustiQadas, abrangem claramente uma area de problema de extra ordinaria importancia te6rica e politica. Quando e que as estreitas oportunidades de sucesso na vida sac consideradas pelos individuos como coisa normal, atribuivel as suas limitaQoes pessoais, e quando e que sac imputadas a urn sistema social arbitrario, em que as recompensas nao estao proporcionadas a capacidade? 12 Os conceitos de privaQao relativa e de recompensa relativa ajudam a transferir esses muito discutidos mas pouco analisadqs padroes de comportamento, do ambito da especulaQao impressionistica para 0 da pesquisa sistematica.
Diversas pesquisas em The American Soldier ofere cern ocasiao para se penetrar .em problemas te6ricos surgidos do conceito de que multiplos grupos de referencia proporcionam contextos para as avaliaQoes feitas pelos individuos. Dois de tais casos foram selecionados para serem aqui tratados, porque aparentemente exibem diferentes mol des de comparagao multipla: no primeiro, multiplos grupos de referencia proporcionam contextos que operam em prop6sitos contradit6rios; no segundo, proporcionam contextos que se sustentam mutuamente. Grupos de referencia conflitante: Caso N.o 2. Em fins de 1943 e principios de 1944, 0 Departamento de Pesquisas realizou uma serie de investigaQoes das quais obteve uma visao de diferenQas de atitudes (refle·tindo os ajustamentos pessoais) de soldados nao-combatentes no ultra12. Tais quest6es foram evidentemente levantad~.s em numerosas ocasioes anteriores. Foram porem, habitualmente considerad~s como problemas distlntos e autocontidos de interesse em seu pr6prlo conteudo e nao como problemas especials subsumivels numa teoria de comportamento de grupo de referencia. Por exemplo, tem-se sugerido que os individuos conspicuamente "bem sucedidos", que subiram rapidamente numa hierar· quia social, e que estao em destaque aos olhos do publico, fun cion am como modclos ou figuras de referencia, testemunhas de urn sistema de mobilidade no qual, aparentemente, as carreiras ~Jnda estao abertas aos talentos. Para alguns observadores, estes modelos de exito sao testemunhas vivas 2> favor da legitimidadEl do sistema institucional e neste contexto comparativo, 0 indiwduo desvia 0 criticismo do sistema s6bre 8i mesmo. Ver Merton, Fiske e Curtis, Mass Persuasion, 152 e segs. Porem essas observ"'Qoes permanecem como Impressionistic as e aned6ticas. desde que nao fornecem mapas sistematicos de investiga~ao que penetre neste comportamento, ao longo das linha~ sugeridas pelas pesquisas de The American Soldier.
mar e de soldados estacionados nos Estados Unidos. Embora constant as diferenQas nao eram gran des. Entre os sargentos ainda nos Es,es, . "h b·tual tados Unidos, pOl' exemplo, 41 pOl' cento conslderara-se como a 1 mente dispostos e animados", comparados com 32 POl' cento dos que se foncontrava alem-mar; 76 pOl' cento do primeiro grupo sustenLava que "0 Exercito funciona mais ou menos bem ou muito bem", contra 63 ~or cento do segundo grupo, (I, 167, Tabela IV) Mas como outras pesqUlsas demonstraram que a maior preocupaQao dos homens no ultramar era voltar para casa (I, 187), os autores observam que se poderiam :sperar ~ferenQas muito maiores, nas atitudes que expressam adaptaQao pessoal. Tres fat6res san mencionados para explicar a ausencia de maiores dificuldades fatares esses que funcionam para freiar 0 grau de descontentamento 'que era de se esperar pOl' parte dos soldados nao-combatentes de alem-mar.l3 Entre estes, daremos atenQao somente para 0 conceito interpretativo de "privaQao diferencial e recompensa" 14 0 qual, como nos lembraremos de uma citaQao anterior, pode ajudar.nos a entender alguns dcs processos psico16gicos relev~ntes par~ este problema. E certo que 0 soldado de alem·mar, relaiivamente aos sold ados amda ~staclOnados nOS ES: tados Unidos, sofria grande ruptura com os la<;os domesticos e, com mUitas das a:nemdz.de. da vida nos Estados Unidos, as quais cstavam acostumados. Mas tamber:' e c:rto que, relativamente aos soldados em combaie, os soldados de alem-mar nao e~ a<;ao e nao prova· velmente destinados a entrar ern combate sofriam muito menos pnva<;oes do que os md1vi0
duos realmente
combatentes.
(I, 172)
Com efeito, os autores sugerem que dois cuntextos de comparaQao, operando em senti do contrario, afetaram as avaliaQoes das tropas nao-combatentes de ultramar. Que nos ensina, entao, este exemplo, acerca dos fundamentos sabre os quais certos contextos se tornam pertinentes para tais avaliaQoes, em vez de outros? E preciso notal', de inicio, que 0 status dos individuos que constituem semelhante os contextos da avaliaQao e, em algum senti do importante, ao status dos homens que fazem a avaliaQao. Assim, os soldados que ainda estao nos estados Unidos assemelham-se aos que ainda nao entraImplicar;6es
te6ricas.
13. Aqui vemos outra vez que 0 conceito da priva<;ao relativa (tal como a no<;aO\de "detini<;ao da situz,<;ao" ern ge!'a\) e mtroduzido para explicar urn achado aparentemente anamalo. Neste caso, 0 ~,chado aparentemente se desvia. nao simplesmente da exp~c· tativa de senso comum, mas de outros fatos descobertos no decurso da pesquisa. Poderia assim ilustrr..r 0 tipo de padrao de serendipidade nas pesquisas, ern que "a observa<;ao e anamala, surprecndente, seja porque parece ser inconsistente eom a toor:a predominante ou corn outros !atos estabelecidos. Ern qualquer caso, a mCOnSlStenCla l!>parente provoca curiosidade; estimula 0 investigador a 'tirar sentido dos dados'· .. 14. Os outros dois sao, primeiro, sele<;ao fisica, pois os homens enviados a u1tramar tmham que preencher padr6es mais rigorosos e, segundo, "urn sentimento da importlincia do servi<;o militar para cada urn". A este respeito, 0 autor observa: "Embora a dl!eren<;a entre os teatros de lut~,... nao possa provar ou contradizer as hip6teses, nao se pode menosprezar 0 fato de que, ern media, as diferen<;as de atitudes ern rela<;flo as tarefas do Exercito. entre os grupos que, permaneciam nos Estados Unidos e os de a1em-mal eram negligiveis, ou inversas, _ quando comparadas corn as diferen<;as entre os Estados Unidos e 0 alem.mar quanto ao estado de espdrito ou as atitudes pessoais em rela<;ao ao Exercito".
(I, 173)
ram em combate, e os soldados em combate san semelhantes no fato de que tambem estao no ultramar. Alem disso, outras similitudes e dissimilitudes, pertinentes a situaQao, afetam as avaliaQoes resultantes de maneiras contrastantes. Assim, 0 soldado nao-combatente no ultramar, pelos padroes do Exereito, esta em situaQao pior do que 0 soldado que esta nos Estados UnidoG, porque esta comparativamente privado das amenidades e desligado dos laQos sociais, e melhor que 0 soldado com) batente, porque nao esta exposto a mesma medida de privaQao e risco_ :E~ como se dissel;se: "Estamos mal, os outros estao pior", comparaQao muitas vezes feita POl' aqueles que querem adaptar-se a sua situaQao. Sua definiQao da situaQao e, portanto, a resultante presumivel dos tipos rontrapostos de comparaQao. Isto sugere a hip6tese geral de que se deve imaginal' ou perceber aIguma semelhanQa nos atributos de status entre 0 individuo e 0 grupo de referencia, a fim de que a comparaQao oeorra a todos. Uma vez que se obtenha este minimo de semelhanQa, 15 outras similaridades e diferenQas pertinentes a situaQao propnrcionarao 0 contexto para se formarem ava!iaQoes. Consequentemente, isto logo focaliza a atenQao do te6rico sabre os fat6n~s que produzem uma sensagao de analogia entre posiQoes, ja que eles ajudarao a determinar quais grupos entram em jago como contextos comparativos. As semelhanQas sUbjacentes de status, entre os indio "iduos pertencentes a intragrupos, escolhidas POl' Mead como sendo 'J eontexto social, aparecem assim como apenas uma base especial, embora obviamente importante, para a escolha dos grupos de referencia. 0" extragrupos tambem podem envolver alguma similaridade de situaQao. De maneira implicita, a hip6tese do Departamento de Pesquisas proporciona neste ponto uma pista para os fat6res que afetam a escolha dos grupos de referencia. A hip6tese nao sustenta que as duas categorias de homens - os combatentes de uItramar e os nao-combatentes que ainda nao seguiram - constituiam as unicas com as quais qualquer indi'JZduo particular entre os combatentes de ultramar se comparava. Na verdade, ele pode tel' compara do sua sorte com a de numerosos e divers os Qutros - urn amigo civil refestelado num trabalho confortavel nos Estados Unidos, urn primo que goza a vida como correspondente de guerra, urn ator cinematogratico nao chamado as armas, mencionado num arti15. l!:ste minimo de similaridade de stz,tus aparentemente pressuposto pelo comportamentG dos grupos de referencia exige claramente urn estudo sistematico. Alguma semelhnn<;a de situa<;ao evidentemente sempre se pode alcan~ar, dependendo so mente da 60/11' plitude da categoria de situa<;ao. A compara~ao corn outros ~ possivel, pelo menos na capacidade social mais gerzJ de user humano". E de maneira mais pertinente ao exemplo que tomamos, 0 combatente de ultramar podia comparar-se (e 0 fazia) com o nao-combatente que ficara ern casz,. por far<;a de sua situa~ao seme1hante como soldados, e corn os civis,em virtude de sua situa<;ao semelhante como jovens norte-arne0 problema te6rico e de pesquIsa, neste ponto, ricanos adultos do sexo masculino. consiste em determinar de que modo a estrutura da situa<;ao social encoraja certas similaridades de status a se tornarem a ba.se para tais compara<;6es levando olltras similz.ridades de status a serem ignorndas como "irrelevantes".
go de revista. Mas essas comparag6es feitas por urn individuo bem po· diam ser idiossincraticas, precisamente por implicarem sistemas pessoais de referencia. Nao ofereciam contextos comuns a muitos, ou a maior parte dos individuos abrangidos no status de nao·combatentes no ultramar. Na medida em que t6das sac idiossincraticas, apresentariam varia.:;6es casuais entre as varias categorias de soldados. Conseqi.ientemente, tlas nao se agregariam em diferengas de atributos estatisticamente imp ortantes, entre grupos ou categorias sociais de soldados. Em outras palavras, as estatisticas de The American Soldier a res· peito de definig6es diferenciais de suas situag6es entre os combatentes, 16 os nao combatentes de ultramar e os conscritos ainda nos Estados Uni· dos, sac tomadas como manifestag6es do imp acto de grupos de referencia socialmente estruturados, mais ou menos comuns aos homens de ca da categoria. Nao e apenas indolencia ou falta de percepgao que impede o soci610go de procurar descobrir todos os contextos comparativos que se Tefiram a qualquer individuo dado; isto se deve sobretudo ao fato de que muitos de tais contextos sac idiossincraticos, nao partilhados por uma grande fragao de outros individuos dentro do mesmo grupo ou categoria social. As estatisticas comparativas em The American Soldier nao sac evidentemente destinadas a manifestar, e nao podem manifestar aque· les numerosos contextos particulares, pr6prios a individuos e, por isso \'ariaveis ao acaso, em relagao a sua categoria social. Nao se procuram tais dados sociol6gicos para a formagao de contextos idiossincraticos de •avaliagao. Os grupos de referencia aqui considerados por hip6tese, nao sao, portanto, simples artefatos do arbitrario esquema de classificag6es dos dutores. Ao inves, aparecem como sistemas de referencia usados em comum por uma proporgao de individuos dentro de uma categoria social suficientemente grande para originar definig6es da situagao caracteristi· ca daquela categoria. E tais sistemas de referencia sac comuns porque (-'stao moldados pela estrutura social. No caso presente, por exemplo, c grau de proximidade das linhas de combate fornece uma base de com· paragao socialmente organizada e socialmente salientada entre as tres rategorias de soldados - combatentes de ultramar, nao-combatentes de ul· tramar e trcpas de volta a seu pais de origem. Em conseqi.iencia sao categorias como ess~s qH3 fornecem os contextos comparativos comuns para a definigao dH si'cllagao entre esses homens. Isto nao implica em negar que outros contextos possam ser de grande conseqi.iencia para inclividuos particulares, dentro de cada uma dessas categorias sociais; estas 5e tornam, porem, relevantes para 0 soci6logo, somente quando sao parti· lhadas suficientemente para conduzir a diferengas grupais nas avalia· r;6es. 15. The American Soldier nao fornee~ dados sobre as aLtudes dos eombatentes neste po·n· to do texto, embora os dados apropriado£ sejam eneontrados em outros trechos dos di· tos volumes. (por exemplo, I, 111)
Nestas pagmas, The American Soldier proporciona u..na pista, e pos. sivelmente uma pista importante, para resolver 0 problema sociol6gico de se encontrar 0 residuo comum que forma os grupos de referencia distintivos para os individuos situados em certa categoria de status social. Ha outro problema aqui implicito, acerea do qual pouco se pode aprender neste exemplo: como reagem os membros de um grupo ou categoria de status quando estao sujeitos a grupos multiplos de referencia, opera~no em sentido contrario? No caso presente, a avaliagao liquida de sJa sorte entre os nao·combatentes de ultramar aparentemente representa. va um meio termo, intermediario entre as avaliag6es dos nao·combaten. tes nos Estados Unidos e os homens atuando na linha de fogo. Mas os autores de The American Soldier nao concluem que este seja 0 unico mol· de de reagao sob essas circunstancias. Por exemplo, e possivel que quan· do divers os grupos de filiagao exergam press6es diversas e conflitantes no senti do de auto-avaliagao, 0 individuo tenda a adotar outros grupos, de nao filiagao, como molde de referencia. Em qualquer caso, surge ali 0 problema, grande e nao definido, previamente aludido, de procurar os pro· cessos de concordar com tais press6es conflitantes. 17 Que os cientistas sociais do Departamento de Pesquisas eram conhecedores desta linha de inquirigao, emergente de seus estudos do tempo de guerra, e sugerido pe· 10 fato de que 0 diretor, Stouffer, ·esta agora desenvolvendo pesquisas s6bre as exigencias, embora conflitantes, dos grupos primarios e das auto· ridades das organizag6es formais. 18 Grupos
de rejerencia
que se ap6iam mutuamente.
Caso No" 3.
Em
seus contornos essenciais, este estudo cr, 122-130) trata dos sentimentos de legitimidade atribuidos pelos homens a sua convocagao para 0 servigo ativo. A pergunta formulada era: "No momento em que voce foi can· vocado,I9 voce pensava que a sua chamada poderia ser adiada"? Os ti· 17. Um estudo do comportamento politico demonstrou que os individuos, sob pressao contra· ria, apresentavam m2oior probabilidade de adiar sua decisao de voto final. Como pros· segue 0 principal desses autores: "Tal adiamento nao e a (mica rea~ao possivel. Ou· tras alternativas se estendem, ctesde as rea~6es de individuos neuroticos, tais como a inabilidade em tomar qualquer deeisao, ate as solu~6es inteleetuais que poderiam acerea da conduzir a novos movimentos soeiais. Muit~oS das quest6es deseoneertantes rela~ao entre as atitudes individuais e 0 ambiente social poderao ser respondida& quando estes problemas de press6es contrarias e rea~6es a elas tiverem side inteirp,mente e corretamente estudados". L~.zarsfeld, Berelson e Gaudet, The People's Choice. (Nova Iorque: Columbia University Press, 1948,2, edi~ao), XXII. 18. Samuel Stouffer, "An analysis of conflicting social norms", American Socj~logical Review, 1949,14,707-717. 19. Ja que isto nao tem rela~ao com nosso proposito principal, nao fizemos esfor~o al· gum, em to do este trabalho, para relatar as numerosas etapas tecnicas tom:;.das pelo Departamento de Pesquisa a fim de determinar a adeqmc",ao de seus dados; mas es leito res de The American Soldier estarao bem a par dos diversos e, as vezes bem ima· ginosos processos adotados para conferir cad", eonjunto de dados. No presente caso, por exemplo, mostra-se que as rea~6es a esta pergunta nao eram simples mente urn reflexo dos sentimentos dos soldados subseqiientemerite a sua incorpora~ao; pois, "quando se per· guntavfu aos novos recrutas, cuja expressao de sentimentos acerca da sua incorpora~ao
pos de resposta a esta pergunta demonstraram que os homens casados, com mais de 20 anos de idade, que nao tinham completado 0 ginasio, com maior probabilidade mantinham que suas convocac;6es poderiam ser adiadas. Nesta rategoria de sts1;us, 41 por cento, comparados com apenas 10 por cento dos solteiros, com ginasio completo, e com menos de 20 .anos de idade, pretendiam que nao deviam ter side convocados de forma alguma. De maneira mais geral, verifica-se que as situac;6es de idade, estado matrimonial e nivel educacional, sac consistentemente relacionados com a boa vontade em relac;ao ao servic;o militar. Como as hipoteses oferecidas para explicar tais resultados sac essen. cialmente do mesmo tipo para cada uma das tres categorias de status, necessitamos examinar somente uma delas a tftulo de exemplo. Tal como temos visto num excerto deste caso, os autores explicaram provisoTtamente a maior relutancia quanto ao servic;o, dos homens casados, em termos dos padr6es de comparac;ao fornecidos por referencia as duas outras categorias de status. A pas sag em chave interpretativa comporta repeti~:ao neste ponto: Comparando·se com seu, companhelros sollelros do Exercito, ele podia sentir que a con. vocaQao exigia dele urn sacrificio maior que dos solteiros; e comparando.se r,om seus amigo. ch-is,
casados
e nao
convocados,
de
sentj.a que
tinha
sido
chamado
a fazer
sacrif1cios
dos
,quais os Qutros est~.vam escapando in.teiramente. Portanto, em media, era ma~s provavel que 0 individuo casado entrasse no Exercito com maior ma vontade que os outros e, PC&' :5lvelmente, com certa sensaQao de injustiQa. [1, 125, os grifos sao nossos]
• Implicagoes te6ricas. Mesmo que a interpretac;ao seja breve e apresentada como tentativa, ajuda-nos a localizar e formular problemas ulteriores, inclufdos no desenvolvimento de uma teoria de comportamento de grupo de referencia.
Em primeiro lugar, reforc;a a suposigao, insinuada no caso anterior, de que e a definic;ao institucional de uma estrutura social que pode focalizar a atenc;ao dos membros de um grupo, ou ocupantes de uma situac;ao social, sabre certos grupos de referencia comuns. Nem isto se refere apenas ao fato de que os soldados aceitam as normas institucionais oficiais (as regras que governam a convocac;ao e as isenc;;6es) como uma base direta para juIgar a legitimidade de sua propria convocac;;ao para 0 serviC;Omilitar. Estas mesmas regras, tais como sac definidas em termos de status com 0 estado matrimonial e a idade, tambem focaliza a aienc;;ao sabre certos grupos ou status, com que se comparem os indivfduos sujeitos ao servic;o militar. Com efei\,o, isto e subentendido pelos
nao podia ser afetado por meses ou anos de experiencia sUbseqiiente no Exercito, Q [mesma especieJ de perguntas separava significativamente os recrutas que mals tarde se tornaram psiconeur6ticos dos outros convocados". (1, 123nl. Esta nota pretende salientar, de uma vez por tedas, que 0 nosso resumo de urn caso de pesquisa nao reproduz inteiramente aqueles detalhes sutis e cumulativos que freqiientemente conferem peso aos dad os em maos. Para se conhecerem estes detalhes, melhor do que as quest6es mais gerais a que dao origem, e necessario urn estudo direto do The American Soldier.
autores, OS quais, referindo-se aos sacriffcios maiores pela convocac;ao do homem casado, prosseguem dizendo: "lsto foi oficialmente reconhecido 0 proprio fat a de que as juntas de conpelas juntas de convocac;ao... vocac;ao eram mais liberais com os casados do que com os solteiros, forneceu numerosos exemplos para 0 casado convocado, de outros em identica situar;iio que obtiveram oportunidades relativamente melhores que a sua propria". (1, 125, os grifos sac nossos) As normas institucionais evo-\ do) cam comparac;;6es com outros, semelhantes no aspecto particular status - "outros em identic a situac;;ao" - estimulando assim grupos de referencia comuns para estes soldados casados. Em adic;ao a estes grupos de referencia comuns, conforme foi anteriormente mencionado, hem pode haver toda a especie de grupos de referenda, idiossincraticos, os quais, uma vez que variam ao acaso, nao teriam resultado na relutanCIa estatisticamente discernivel para a prestac;;ao do servic;;o militar, que e.ra comparativamente acentuada entre os homens casados. Um segundo problema e ilustrado pela hipotese que admite uniformemente que 0 soldado casado se compare com os indivfduos de status semelhante, com os quais ele esta ou esteve em relac;oes sociais reais: companheiros do Exercito ou amigos civis. lsto faz surgir a pergunta reo lativa ao comportamento dos grupos de referencia, quando 0 sistema de referencia comparativa e suprido por categorias de status impessoais em geral (outros homens casados, sargentos etc.) e por aqueles que repre~entam as categorias de status com quem 0 indivfduo esta mantendo relar;of;s sociais constantes. Por exemplo, 0 que e que afeta mais as avalia,c;6esdo indivfduo, quando tais categorias operam em propositos conflitantes (problema claramente visfvel no quadro de variaveis estabelecidas mais atras neste trabalho)? Esta questao nos leva imediatamente a considerar a importancia re· lativa das categorias gerais de status e dos subgrupos intimos, dos quats o indivfduo e membro. Por exemplo, suponhamos que todos ou quase todos os amigos casados de um soldado casado tenham tambem sido convocados ainda que, em geral, essa categoria de status tenha proporc;;ao menor de convocac;6es que a categoria dos homens solteiros. Na media, qual sera a base de comparac;;ao que provara \Ser a mais eficiente? Ele se comparara com os outros recem-casados convocados, de seu cfrculo intimo de relac;;6es ou subgrupo, e consequentemente estara mais pronto a aceitar a convocac;ao para si mesmo, ou ele se comparara com a categoria de status maior de homens casados, que em geral sac mais frequentemente dispensados, e por via de consequencia sentir-se-a agravado com sua propria convocac;;ao?A questao tem, evidentemente, um alcance mais .geral. Por exemplo, as expectativas dos operarios concernentes as suas possibilidades pessoais de emprego futuro, baseiam-se mais sabre 0 seu emprego atual e dos seus companheiros de trabalho, no mesmo emprego, do que sabre as altas proporc;6es de desemprego predominantes nos {)ffcios em geral?
Este exemplo, do The American Soldier, aponta sidade de pesquisas cumulativas acerca da relativa mas de rejerencia de situat;oes mais
assim para a neces·
ejiciencia dos siste· jornecida pelos companheiros e por categorias Sugere quais itens salientes de observagerais.
C;;aodevem ser incorporados em tais estudos projetados, de modo que este problema, pelo menos em seus contornos principais, possa prestar-se 3pesquisa, desde ja e nao num futuro remoto. Tais estudos projetados po· cleriam facilmente incluir itens de dados relativos as normas ou situa!tao dos companheiros pr6ximos, assim como dados sabre conhecimentos acerca das normas ou situa<;6es predominantes em geral na situagao dada. A analise subseqiiente seria entao em termos de compara<;ao sistema· bca de individuos do mesmo status mas com companheiros pr6ximos, que distintamente se opuseram as normas ou que estejam em situa<;6es eontrastantes. Estudos feitos em H~plica destes, de modo a incluir tais materiais, fariam progredir substancialmente nossos conheciment05 atuais acerca do funcionamento do comportamento do grupo de referencia. 20 Em terceiro lugar, a teoria admite que os individuos que comparam sua sorte com a de outros, tern algum conhecimento da situa<;ao na qual se encontram aqueles outros. Mais concretamente, admite que 0 individuo conhece mais ou menos as propor<;6es comparativas de recrutamen· to entre os homens casados e os solteiros, ou 0 grau de desemprego em suas categorias de trabalho em geral. 21 Ou se 0 individuo e considera· do como positivamente orientado em dire<;ao as normas de urn grupo 810 qual nao pertence, a teoria evidentemente admite que ele tenha 811 gum co· Iihecimento dessas normas. Assim, a teoria do comportamento do grupo de referencia deve incl1.;.ir em sua elabora<;ao psico16gica mais compI eta, algum tratamento da dinamica da percep<;ao (dos individuos, gru· pos e normas), e em sua elabora<;ao socio16gica, algum estudo dos ca· nais de comunica<;ao atraves dos quais tal conhecimento e adquirido. Quais serao os processos que resultam em imagens e,xatas ou deformadas da situa<;ao de outros individuos ou grupos (tornados como estrutura de referencia)? Quais serao as formas de organiza<;ao social que levam 810 maximo as probabilidades de correta percep<;ao de outros individuos e
l'
upOS e quais as que resultarao
em percep<;ao deformada?
Desde que
~:guns 'elementos perceptivos e cognitivos estao definitivamente subentendidos mesmo numa descri<;ao do comportamento dos grupos de referen-
ria, sera necessario que tais elementos sejam explicitamente
incorporados
it teoria. Urn quarto problema emergente deste caso diz respeito a situa<;ao emvirica dos conceitos dos grupos de referencia. Neste estudo bem comq ~m outros que aqui examinaremos, 0 conceito interpretativo da priva<;ab relativa foi introduzido depois que a pesquisa de campo fora completada.22 Seado este 0 caso, nao havia previsao para a coleta de evidencia sistematica 23 independente, sabre 0 funcionamento de tais arma<;6es sociais de julgamentos individuais. Que uma propor<;ao importante de soldados casados comparou na verdade sua sorte com ados amigos civis casados, e com os seus companheiros solteiros do Exercito, a fim de chegar as suas conclus6es, permanece como urn pre~supos~~, r:o ~ue se r~fere aos dados em maos. Essas compara<;6es sac vanavelS mtervementes mais inferidas do que realmente demonstradas pelos fatos. Mas nao e ~ecessario que permane<;am como pressupostos. Elas nao s6 con cordam com os fatos a mao, mas tambem sac de uma especie que pode ser diretamente verificada em futuras pesquisas que empreguem 0 conceito de grupo de referencia. 24 Estes estudos podem destinar-se a incorporar
0 conceito seja posterio: .90 coleta de dados, .:~i :~~sOd;:i~~b:l:C~::li~:e~O: ~~: o tecedencia s~ficiente para permdl.tdlrseuD:sp o~: ~~g~ist'" ~nterpretativo, portanto, 0 use, tro modo nao senam empreen I os. da priva;ao relativa nao foi limitado a uma concepcao ex post facAto.. Soldl'er tern -t' e cial po's The mencan .. 23. A insistencia em exigir dados sIstema ~cos essen., t - grupos de referencia foram abundantes indicac6es de que em ~U1tOS casos,. SI'PO;O~sexempio essas indicz.c;6es in-
22.
Embora
realmente
toma.dos como cont~x~~sdae ~~rn~~~~~o~r, as quais re:elam
~~u::d~~~:r:~~o~~n~~~t~:r:;r
n~~. ~t~~os
claramente
~nidos ~r~m as vezes t~~::o~i~o:;:o
21.
Assim, urn:;, pesquisa recente e inedita sobre a sociologia e psicologia social da hablta· cao, por R. K. Merton, P. J. S. West e M. Jahoda, Patterns of Social Life, inclui urn estudo da eficiencia comp2,rativa do "primeiro ambiente de opiniao" (constituido pelas opini6es dos companheiros mzoIs intimos do individuo) e 0 "segundo ambiente de api· niao" (constituido pelas opini6es daqueles com quem 0 individuo nao esta em estreita associacao). Quando {sses fatores operam em sentido contrario, parece que 0 primeiro ambiente goza de certo grau de prioridadc. Evidentemente pode ocorrer que, sob certas rondic6cs, os individuos facam uma extra po· lacao do seu conhecimento da situacao dos seus companheiros numa dada categoria social, para :;,quela propria categona sochi ern geral. Ou pode ocorrer que a situacao de algum companheiro receba maior consideracao pelo individuo, do que a situacao contrastante que ele sabe prevalecer na categoria social em geral. Estas sac quest6es suscc· tiveis da. mais ampla pesquisa empirica e importante para a teoria dos grupos de reo ferencia.
~~'~:~~a:~
referencia par~ avaliar o~ ~~~:c~~ ~~~s ~~:~n~:~o :e~:,~ta~: ~ara qualquer homem ... estando no u ramar P rvice Or anization [Organizacao de t;rritorio dos Estados Unidcs Deixemos que 2,queles rapazes da usa, (Umted Se Servicos Auxiliares), cujos membros g~ralmente f1cavam ~:sta brincadeira, assim ficarao dur:;,nte a II Guerra Mundlal) partlclpem urn pouco d volta da gente sabendo 0 que significa dormir na lama com mosqUitos z.umbm 0 em ouco . O. P 38" "Devemos ter uma oportumdade de respnar urn P como se fossern aVlOes - . h' melhor conservar :;,queles rapazes de ar fresco de vez em quando, mas supon 0 qu: e" mo 0 inferno estar aqul :It duro co ta ~mente de da usa por la, pois do contrario a usa acabarla. d ossa cidade que 0 soldado Fulano es nov", City" "Recebemos e ler em cad a jornal que vem and Rad licenc;a em seu lar, depois de urn duro servico de guar a em 10 ~ zando 8 cartas de sold ados que ainda nao sair= dos Estados Umdos : que est::nsgOaIUS!VaS icen~a" (I 188) Estas observac;6es tambem contem passao U I sua segun da l ...,. fO m nos Estados n.· a fonte de inforrnac6es relativas a situacao dos soldados ~ue lcar~diOS reveladores nao dos: "Ler em cada jornal", "recebemos cartas" etc., mas esses ~PlS ara analise sao considerados, e com bastante razao, sUficie~tes para serVIr de base P sistematica, pelos autores de The American Soldier. a necessidade de dados sObre 24. Urn recente exemplo da possibilidade de anteclpar agora pelo estudo de votacao felto o comportamento dos grupos de referencia e forneclda 0
0
20.
que
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$ociologia
dados sistematicos sabre os grupos que os indivfduos efetivamente tomam como sistemas de referencia para sua conduta, e podem, portanto, determinar se as variaQoes de atitude e de conduta correspondem a variaQoes nos contextos de grupos de referencia. Esta possibilidade de converter a variavel interveniente de grupos de referencia, de mera suposiQao para fatos concretos, leva-nos a um quinto problema. Antes de mergulhar numa pesquisa sabre as condiQoes sob :1S quais os indivfduos comparam a si mesmos com os outros i.ncivfduos ou grupos especijicados, e necessario considerar 0 status psico16gico dessas comparaQoes. Pois quando os indivfduos adotam essas estruturas de reo ferencia, explicitamente e conscienciosamente, as pesquisas socio16gicas que envolvam entrevistas com grande nu.mero de pessoas naC! oferecem grandes dificuldades de processamento. As perguntas apropriadas podem trazer a luz a necessaria informaQao a respeito de grupos, categorias de status ou indivfduos, que sac tornados como sistema de referenGias. E claro, porem, que nao existe nenhuma razao para presumir que tais comparaQoes da pr6pria pessoa com outras serao uni.formemente conscientes. Numerosos estudos experimentais de psicologia social de· monstraram que os i.ndivfduos respondem inconscientemente as diversas estruturas de referencia introduzidas pelo pesquisador. Na medida em que grupos de referencia desapercebidos sac envolvidos nas rotinas ordinarias da vida diaria, as tecnicas de pesquisa devem ser ampliadas para que sej a percebido seu funcionamento. Processos adequados de pesquisa tambem podem ser destinados a descobrir quais grnpos de referencia sac espontllnea e explicitamente trazidos a baila, distintos do estudo das reagoes aos contextos de grupo de referencia proporcionados pelo experimentador ou sugerido pelo entrevis, tador. Tanto as entrevistas como os estudos experimentais tern side ate aqui grandemente focalizados sabre reaQoes a context os de grupos de reo ferencia fornecinos para os pacientes. Tais estudos podem progredir mais, desde que se forneQam listas ordenadas de contextos comparativos, aproximadamente como segue: em 1948 em Elmira (publicado mais tarde por B. Berelson, P.F. Lazarsfeld e W. N. McPhee, Voting, University of Chicago Press, 1954), Com um subsidio da Funda~ao Rockefeller para 0 estudo das tecnlcas de discussao em mesa-redonda ("panel stUdies") na pesqnislt wcial, promOV('u-se uma conferencia em Swarthmore para tratar dos conceitos de grupos de referencia, tendo em vista fazer com que temas relativos a tais conceitos fossem introduzidos no exame das elei~oes em Elmira. The American Soldier proporcicnt. numercsas outras concep~6es que podem ser semelhantemente in corporadas em pesquisas ulteriores. E este processo de uma intera~ao continua entre a tecria e a pesquisa empirica que e desprezadc por veredictos como 0 de Glazer, de que 0 conceito da priva~ao relativa "nao pode ser refutado por fatos". (Ver nott. n? 3 deste capl, tulo). Urn conceito teorico que emerge ou se desenvolve no decurso de uma pesqu!sa, se tiver qualquer relevancia emplrica, pode entao ser utilizado (e se for defeituoso, pod~ ser modificado ou anul.o:lo) em pesquisas subseqilentes. Se tiver de ser algo criadora, nao Novos conceitos e hipo· po de ser limitada a verifica~ao de hip6tese predetermlnadas. teses surgem neste processo de investiga~ao e se tornam base de novas pesquisas. Consideramos que e precisamente assirn que ocorre a continuidade na cieneillL
-
Tenria e Estrutura
grupo de trabalho lOU do outro do ?"grupo a que pertence) com au t roS em seu acredita voc~, estar recebendo remunera~ao adequad~ pelo que f~Z. . 'onArios que atendem ao publlco no salao central, acredlta voce "comparado com os f unCI "" que ... etc.?" "Compa.rado com 0 presidente da empresa, acredita voce ... etc.?"
"comparado
maneira Ou d e
analoga, tambem se poderiam dar informaQoes relativas d . 1 a sa1l1rios a urn grupo experimental, e esconde-.las. e urn .grup.o 19ua dores a fim de determinar se as avallaQoes e satlsfaQoes sub, de t I'll.b alh a , , . d .sequentes do grupo experimental sac modificadas pOl' posslvels grupos e referencia fornecidos pelo investigador. . • Porem, estes tipos tateantes de investigaQao, p~ra os quaIS sa.~ for~e.cidos grupos de referencia especiais, nao entrarn, e claro, _n~ reglao ~ao.cartografada da escolha esponUinea de grupos de rejerencza,. em _SltUa• ... POI' que sera que 0 indivfduo A, numa certa sltuaQao, se Qoes vanavelS. . .. . compara com 0 indivfduo B, e noutra, com 0 m~l:lduo C? Ou malS co~: creta e ilustrativamente: Quando e que os operanos comparam sua S?_ te com ados colegas operarios com OS quais estao em estrelta a~socla- 0 e quando 0 fazem com outros cujo status e acentuadamente dlf.erel~~a?, Quais os aspectos da estrutura social, e quais os proce~s.os pSlColoe. . . rt d dos indivfduos e grupos conswerados co' gicos que llmltam a amp 1 u e. . _. roblema mo estruturas de referencias pertmentes? E este tlpo ~e .p ue mold am a escolha dos grupos de referencla - que se 25 os processos q ." ." apresenta como 0 mais necessltado de mvestlgaQao .
UNIFORMIDADES DE COMPORTAMENTO TEORIA DO GRUPO DE REFERtNCIA
DERIV ADOS DA
Ate este ponto, temos bxaminado pesquisas nas quais 0 conceito ~~ privaQao relativa foi utilizado explicitamente pOI' Stouffer e se~s aSSOCla aos a fim de interpretar achados empfricos. Ao pro ceder asslm: temos ten~ado, em primeiro lugar, indicar como este ~o~c~ito pode ser mcorpo.' rado numa teoria mais geral, embora ainda pnmltlVa, do compor~ame~ 1 como tais estudos dao onto do grupo de referencia e, em segun d 0 ugar, b' . . t .. os que podem se tornar 0 Jellem a outros problemas empl1'lCOSe eonc to de pesquisas novas e cumulativas. _ . . d grupos de referencla tern Desejamos agora observar se a teona os .', na verdade aplicaQao maior que 0 conceito aparentemente especIal de .pn u'sas de The Amerzcan vaQao relativa. Felizmente, as numerosas pesq 1 . . de Herbert H. Hyman, The PsychoUrn notavel come~o e encontrado no es~~dooPlO;el r : Hyman procurou que seus entre· l92 logy of Status, "Archives of Psychology, n. 26 , . '1 h . m tom ado como compa. d"d s que (es aVIa vistados relatassem os grupos ou os III IVI uo t' A' dl'reto evidentemente pode . E t especie de ques lOn"rlO ra~ao com seu propno status. sa. t I mbrados' porem 0 progres. d compara~ao conSClen es e e, . evocar apenas os sIstemas e '. _ t .do em geral a sugestl. so da teori!!, do grupo de referencia sofreu devIdo. a nao :r seg::ge~tes de gr~pos de re. va orienta~ao de Hyma.n, em estruturas espontaneamen e em ferencia.
Soldier nos permitem examinar isto, pelo menos ate certo ponto. POls algumas de tais pesquisas incluem achados que aparentemente nao sao pertinentes ao conceito da privac;;ao relativa - ja que tratam de auto-imagens, mas nao de niveis de satisfac;;ao com a pr6pria sorte - embora acreciitemos que possam se: explicados, aplicando-lhes conceitos de grupos de referencia. Enquanto verificamos se esta teoria nos permite descobrir uniformidades socio16gicas sUbjacentes a padr6es de comportamento aparentemente dispares, tambem teremos ocasiao de aumentar a list a dos nroblemas especificos que necessitam de soluc;;ao, se e que desejamos fazer a teoria dos grupos de referencia. Caso N.o 4, (II, 242-72). Os grupos de combate em geral estavam sujeitos a alta taxa de sulJEtituic;;ao de pessoal. E verdade que alguns grupas eram treinados € entravam em combate com poucas mUdanc;;as de pessoal; mas mesmo nestes casos, as baixas exigi am frequentes substituic;;oes. 0 Departamento de Pesquisas apreendeu 0 fato sociologicamente significante de que os soldados nao experimentados encontravam-se assim em duas estruturas sociais nitidamente diferentes: alguns, permanecendo por algum tempo em grupos homogeneos, formados inteiramente de tropas igualmente bisonhas e outros, em divis6es que inclufam veteranos de combate. E aqui 0 estudo tomou um aspecto sociol6gico definido. Em contraste com as pesquisas comuns de opiniao publica, usadas na psicologia social que compara grupos de individuos de status di-, jerentes Cidade, sexo, classe etc.) eles nao compararam simplesmente as atitudes dos novatos com a das trop'as veteran as. Isto teria sido apE'llas uma comparac;;ao de grupos de homens em duas situac;;6es distintas, l) que seria um import ante tipo de comparac;;ao, mas de valor seriamente limitado para a sociologia. Ao contrario, tomaram isto como ocaslao para estudar 0 impacto dos contextos de grupos sobre as at1tudes dos tipos de individuos, problema este que evidentemente e velho, mais velho que a pr6prili. sociologia, mas que menos frequentemente tern sido objete de pesquisa empirica sistematica, do que de discussao impressionistica.
o Departamento de Pesquisas, portanto, concentrou-se sobre os pr6prios contextos de grupoR que essas tropas encontram: tropas de novatos em grupos compreendidos tota1mente por sua pr6pria especie-; elementos de reforc;;o, igualmente inexperientes, em divis6es formadas por vetera. nos de combates; e os pr6prios veteranos dessas divis6es. 26 Fizeram-se perguntas a esses tres grupos de soldados, em algumas das zonas que 0 Departamento de Pesquisas chama de "areas de atitude" (disposic;;ao para 0 comb ate, confianga em sua habilidade para comandar um grupo em 26.
EVidentemente, ha urn quarto grupo de contexto que poderia ter entrado estrategicamen. te na compara~ao sistematica, a saber, as divisoes conformadas inteiramente por vete. ranos de combate, ms.s as praticas de SUbstitui~ao do Ext'rcito impossibilitaram que 0 Departamento de Pesquisas incluisse neste estudo essa.s divisoes compost as exclusivamente de veteranos.
rombate, avaliac;;ao de sua condic;;ao fisica etc.). Essas pesquisas enc~n. traram padroes de dijerenr;as aparentemente diversos em suas reac;;oes entre os tres grupos. Na primeira "area de atitude", por exemplo, os va. teranos apresentavam maior re1utancia em entrar em combate que os noyaws, sendo que as tropas de reforc;;o ocupavam situac;;ao intermediaria tuns e outros. EnrJuanto que 45 por cento das tropas novatas estaen - b' yamre "dispostas a entrar numa zona de batalha rea 1", a proporgao a1Xa- ) va para 28 por cento c:J.ire as de sUbstituigao, e a somente 15 por cento entre os veteranos. Evi em relac;;ao a confianga dos homens em sua capac1dade para t?mar con· Tal como se po~erra e~.per~ ta de urn grupo de homens" em combate. com base no senso comum, os veteranos expressavam ma1S frequentv mente confianga ·em sua capacidade de preencher este pa~e~, do qu: as tropas bisonhas em unidades novatas. E de importancia dec1s1va, porem, que, ao contrario do primeiro caso (decisao para 0 combate), em que a.s respostas dos sOldados substitutos foram intermediarias entre os dOlS outros 0 menor grau de congrupos, neste caso os substitutos demonstraram fianga em suas capacidades. 27 _ Alem disso, em outro tipo de "atitude" - .em relac;;ao a sua pr6pria condigao fisica - as tropas de reforgo eram v1rt~~lmente indistinguiveis das outras tropas novatas, mas multo mais pos1t1vas do que os vetera· 1.10Sa se considerarem "em boas condic;;6es fisicas". ., Estes tres conjuntos de dados pare cern revelar, portanto, tres d1ferentes tipos de reac;;ao; no primeiro, as tropas de substituigao respondem d~ ;nodo mais semelhante ao dos veteranas do que ao das tro~as novatas, no segundo, de modo mais distanc1ada dos veteranas e tambem dessemeihante ao de autras trap as novatas; e no terceiro, inteiramente semelhan-
27.
. - d'es test dE>dos seria necessano Se aqui houvesse oportunidade para uma completa reVlsa~ e d'! rentes questoes. levar em conta os problemas de "confian~a da pergunta ,pOlS r s I e t2Ul-indices nesta "area de atitude" de "confian~a em si mesmo" deram resultados um or to diversos. Contudo, tal nao e essencial para os presentes prop6sltos espe~lalment e ; a. quais S8' mos r estarmos nos ocupando primordialmente com as t r opas de reserva . ' as em todos os "nls ram constantemente menos confiantes que os veteranos e os blsonhos t d' se estu. itens. (Quanto as cifras, ver II,252). Ver tambem a analise das pergun ~s . :,s em R. do, feitas por P. L. Kendall e P. F. Lazarsfeld, "~roblems of Survey Ana i:lli~~iS: The K. Merton e P. F. Lazarsfeld, ContinuitieSi in SOCIal Research (Glencoe, Free Press, 1950), 133-198.
t:s aos seu~ iguais nas tropas sem experiencia. E uma vez que estes, s~o tI~OS dlferentes, 0 Departamento de Pesquisas formulou interpreta(oes diferentes, Com l'eferencia a- atitude das tropas de ref6rQo (reserva), que muito se assemelha a- relutancia dos veteranos a entrar em combate, sugere-se que "em alguma extensao os substitutos assimilaram as atitudes dos_ veteranos combatentes que estavam em seu derredor , cuJ'a s , .opmlOes acerca do comb ate teriam para eles alto prestigio". (II 250) Com re:aQao a- ~apacidade para comandar um grupo de combate, do que os substItutos dlferem ao maximo dos veteranos, sugerem-se que "para os veter~nos, a experiencia era seu ponto forte, e tambem 0 ponto em que os SUbStltUtOSem combate com eles sentiam 0 maximo de inferioridade permanecendo como 0 faziam, a sombra dos veteranos". (II, 251) ~ quando as tropas de sUbstituiQao sac inteiramente semelhantes a- sua COnt:apa:t~da ~as tropas novatas, como sucede com as avaliaQoes de condigao fIslca, ISto se procura explicar dizendo que esses julgamentos prova-velmente refletem uma diferengil. real (objetiva) na condiQao fisica entre os veteranos e os demais soldados. Implicagoes te6ricas. Logo de inicio concederemos que isto apresenta um desafio intrigante e urn problema para a teoria sociol6gica, pois. o comportamento-resposta dos soldados de ref6rQo parece exibir varia~oes ~uase fortuitas, situa~ao essa desagradavel para 0 te6rico, cuja tarefa e perceber uniformidade subjacente no meio de tal aparente desordemo Isto nos faz lembrar a situaQao com que Durkheim se confrontou ~~an~o encontrou urna imensa variedade de proporQoes de suicidios, qU~' c..~fel'lam.~onforme os sexos, as areas urbanas e rurais, as populaQoes ciEm lugar de VIS e mIll tares, os grupos religiosos e assim POI' diante. ['!'erecer novas e separadas interpretaQoes de cada conjunto de diferenciais, ele tentou derivar essas variaQoes de um conjunto limitado de proposiQoes. Aqui, entao, esses varios tipos de reaQao dos substitutos deixou a teoria socioI6gica a tarefa de discernir as variaveis Signific~ntes e as circunstancias importantes que revelam esta aparente diversidade d~ comportamento-resposta. Com~ bem se sabe, 0 primeiro passo na busca da ordem socio16gica em termos te6ricos, os conceitos em termos dos dados que sac relatados. Na maioria dos casos, verificar-se-a que tais conceitos poClem lucrar peia clarificaQao e reformulagao. Isto parece suceder com 0 I:r.esente caso. Os diversos conjuntos de dados sac todos relatados como abtudes correspondentes a diferentes "areas de atitude". 0 te6rico deve jm~diat~n:ente considerar a possibilidade de que as diferenQas concepluals baslCas, nestes dados, possam ser obscurecidas pelo usa de um s6 conceito t6scamente definido. 28 0 conceito isolado de cobertura geral, de
e _reexammar,
28. Na introdu~ao Stouffer chama especial aten~ao para a frouxidao do conceito da "ati tUde", conforme foi adotado nestes estudos: ",' ,no principal trabalho do Departament~ de Pesquisas e na maior parte do texto dos referidos volumes nao ha defini~ao fundo-'
"atitude", tambem pode falhar em dingir a atenQao do apalista para c apropriado corpo de teoria a fim de interpretar os dados. E, finalmente, pela inclusao'tacita de elementos significativamente diferentes, nos dados reunidos, sob esse conceito indiferenciado, os achados empiricos podem exibir anomalias, contradi\(oes, e falta de uniformidades, que sejam apenas aparentes, nao reais. o que mostI'll. urna reformulaQ8.o conceptual desses dados? A primeira variaveI, "disposiQao para 0 combate", na verdade pode ser utilmente descrita como uma "atitude" no sentido de "um estado de prontidao mental e neural, organizado atraves da experiencia, exercendo urna influencia diretiva ou dinamica s6bre a reaQao do individuo em relaQ8.o a todos os objetos e sitllaQoes com as quais ell.'. e relacionado". 29 Mas a segunda variavel, "autoconfianQa na capacidade de comandar um grupo de combate", tal como aqui vem designada, aparece nao tanto como um conjunto preparat6rio do comportamento, mas como auto-imagem e auto-avaliagiio. Duas conseqtiencias decorrem desta reformulaQ8.o provis6ria de um s6 conceito de "atitude", nos dois conceitos de atitudes e de auto-9.valiaQao. Primeiro, ja nao se presume que os dados que influem s6bre estas duas vanaveis necessitam manifestar as mesmas distribuiQoes comparativas: isto agora se torna urna questao discutivel, e nao uma suposiQ8.o tacita. E, segundo, a reformulaQao em termos de auto-avahaQao leva-nos imediatamente a- teoria de grupo de referencia das auto-avaliagoes, A reformulaQ8.o do conceito em que as variaveis dependentes sac enunciadas, fornece, assim, urn elo possivel com a teoria do passado: naD somos forQados a improvisar hip6teses totalmente novas, que permaneQam isoladas e desligadas de um corpo geral de teoria; talvez possamos derivar esses achados de um conjunto estabelecido de hip6teses centralizadas em redor da estrutura, das funQoes e dos mecanismos dinamicos das auto-avaliaQoes em diversos contextos de grupos, Ainda mais, e a teoria que incorpora 0 conceito da privaQao relativa, usado aIhures nestes volumes, mas nao aqui. Com esta nova base conceptual, estamos preparados para reexaminar os dados de The American Soldier a fim de ver se nil. verdade exibem a anomalia dos tres mol des distintos de reaQao sob as mesmas condiroes, Se uma teoria geral tiver que sail' destes dados e alem das interpretaQoes oferecidas no texto, entao deve tambem ser capaz de incorporar estes tipos de reaQao aparentemente diferentes, como expressoes de uma regularidade subj acente. nal de atitudes, por isso, conceitos como 'atitudes', 'tendencias' e 'opinHies' sao usad~ mais ou menos frouxamente e mesmo algumas vezes permutavelmente, .. " (I, 42) Estamos aqui dedicados a explora~ao de algumas das conseqiiencias empiricSoS e te6ricas da reespecjfica~iio de urn conceito, Uma clara defini~ao deste procedimento encontra-se em W. J. Goode e P. K. Hatt, Methods in Social Research (Nova Iorque: McGra.w Hill, 1952), 48·53,
29. A defini~ao particular citada e a de G, W. Allport; porem divers as concep~6es de "lItitu, de" tern essencialmente esta mesma. significa~ao em seu ~mago.
Nascida do alicerce te6rico fornecido POl' James, Cooley e Mead e POl' Hyman, Sherif e Newcomb, mantem-se a hip6tese de que, na medida em que os subordinados ou membros em perspectivas sac motivados para se filiarem a um grupo, tenderao a assimilar os sentimentos e conformar-se com os va16res do estrato do grupo que desfruta de mais autoridade e prestigio. A fun~ao da conformidade e a aceita~ao pelo grupo, assim como a aceita~ao progressiva pelo grupo refor~a a tendencia em dil'e~aO a conformidade. E os va16res destas "outras pessoas importantes" constituem os espelhos nos quais os individuos veem sua auto-imagem e alcan~am as auto-avalia~6es. Aplicado ao caso especifico em foco, as "outras pessoas importantes" do grupo a que se pertence sac IndiViduos analogamente sem experiencia para 0 soldado n6vo de uma turma novata, ao passe que para os sOldados de sUbstitui~ao, os "outros importantes" sac veteranos experimentados, com seus conjuntos distintivos de va16res e de sentimentos. Ao aplicar a hip6tese geral, deve-se antecipar que os soldados de re!6rc,;0,como "gente de fora" motivados a fim de se filiarem com 0 estrato prestigioso e cheio de autoridade (os veteranos) mais aproximadamente se conformariam com 0 tOdo dos va16re::.e sentimentos dos vetera., nos aqui estudados. Prectsamos ser claros neste ponto. Se sua utilidar:le interpretativa deve ser adequadamente avaliada, a hip6tese deve ficar de pe, e nao ser modificada ou abandonada porque 0 texto de The Ame1'ican Soldier relata que as rea~6es dos soldados de ref6r~o, nest as dis. t,intas "areas de atitude", eram de fato diferentes. A presente hip6tese nos da um conjunto de instru~6es que nos levam a reexaminar estes padr6es diversamente relatados, a fim de determinar se eles sac na verdade diferentes, ou se 0 sac apenas na aparencia. De modo provis6rio, e ns medida em que os dados relatados nos permitem dizer, parece que as diferen~as sac apenas aparentes. Na base das diferen~as manifestas na distribui~ao porcentual das respostas as perguntas feitas aos veteranos, aos soldados de refQr~o e as tropas novatas, existem regularidade de respostas correspondentes as que sac antedpadas pela hip6tese. Assim, em primeiro lugar, com respeito a disposi~ao para 0 combate, os sentimentos dos veteranos, mantem efetivamente que "0 combate e um inferno" e, POI' conseguinte, os veteranos expressam amiude relutancia em entrar em combate. Ao contrario, as tropas novatas, as quaIs tinham deixado ha menos tempo a vida civil, tinham, de inicio, maior probabilidade de acreditar nos va16res da popula~ao civil do tempo de guerra, com todos os seus "cliches convencionais", em que 0 combate proporciona ocasi6es para 0 heroismo dramatico. De fato, isto e confirmado pelo texto citado em outro lugar e em outra conexao, onde se relat~ que "provavelmente 0 mais forte c6digo grupal [entre os combaten. tes). " era 0 tabu contra qualquer conversa do tipo da 'bandeira tremulante s6bre n6s". " 0 nucleo da atitude entre os combatentes parecia ser-
1I de que qualquer conversa que nao subordinasse os va16res idealisticos e 0 patriotismo as mais asperas realidades da situa~ao de combate, era hip6crita, e uma pessoa que expressasse tais ideias seria uma hip6crita".30 No primeiro caso, pois, nossa hip6tese tirada da teoria do grupo de referencia nos conduziria a antecipar que os soldados de ref6r~o, procuranclo filiar-se ao estrato prestigioso e autoritario dos veteranos, passariam clos va16res em yoga na vida civil, para os va16res mais rudes dos vet<'l-) ranos. E isto, como sabemos, e efetivamente 0 que sucede. Para os solclados de ref6r~0, a fun~ao pressuposta de assimilar os val6res dos veteranos e encontrar mais pronta aceitaQao pelo grupo de status mais elevado, num ambiente onde 0 grupo subordinado de substitutos nao tem dIreitos pr6prios a um prestigio legitimo. Mas se a hip6tese e compativel com 0 primeiro conjunto de dados acerca da disposi~ao para 0 comb ate, podera tambem ser valida para :> segundo conjunto de dados, que tratam da assim chamada atitude de (;onfian~a em si mesma, relativo a capacidade de comando, particularmenIe desde que foi verificado que, neste exemplo, as respostas dos soldados de ref6r~0 eram muito ajastadas das dos veteranos, mais ainda que as respostas dos novatos? Na verdade, 0 texto se refere a isto como um padrao de resposta "diferente" ou "divergente". Certamente, a distribuic,;ao manifesta das respostas difere das primeiras. Visualizada, porem. em termos da teoria do grupo de referencia, acreditamos nao ser mais que outra expressao das mesmas regularidades dinamicas subjacentes de comportamento, neste contexto de grupo. Isto pode ser testado, aplicando-se a hip6tese. No caso da confian<;;aem si mesmo, como ja vimos, lidamos com uma auto-avaliagao ao inyes de lidar com uma atitude no sentido de um conjunto preparat6rio para a agao. Os va16res e sentimentos do estrato dos veteranos sustenta, com efeito, que "a experiencia real de combate e necessaria a fim de preparar um recruta para comandar um grupo de homens em combate".:n Pois bern, se como a hip6tese sugere, os sold ados de substituigao proeuJam assimilar este valor e se julgam pOl' ele, se eles se veem no espelho proporcionado pelos va16res dos veteranos prestigiosos, apenas podem considerar-se, de modo geral, despreparados para 0 espontaneo comando
II, 150 [os grifos saa nossosJ. 0 mesmo ponto de contraste de val6res relativos ao com· bate entre a popula~ao civil e os combatentes, e feita essencialmente em numerosos lugares nos dois volumes, por exemplo, II, 111-112e 151; I, 484. Tambem se deve observar a Tabela VIII no Capitulo 3, do Volum9 II, mostrando que os veteranos apresentav&m maior probabilidade que as tropas sem experH\ncia, em dizer que "esta guerra nao meFinalmente, deve-se dizer que este contraste entre as defini~5es da rece ser lutada". situa~ao de combate por civis e por combatentes foi a.ssinalada por Brewster Smith, que tambem conduziu a analise do comportamento dos soldados de reserva agora em revista. 31. Os dados estatnsticos das respostas a esta pergunta: "Voce pensa que teve bastante trein&mento e experiencia para poder comandar a contento um grupo de homens em combate?", permitem afirmar que os veteranos sustentam essa opiniao. Isto e revelado pe!o exame dos val6res dos combatentes, especlficamente na Parte II, Capitulo 3.
PO.
em batalha. Nesta hip6tese, os soldados de sUbstituic;ao, em resumo, haveriam de se comportar justamente como 0 fazem, sendo mais provavel aUe digam que nao estf.o preparados para comandar homens em combat~ (envolvendo uma 8.uto-estimac;ao mais baixa do que aquela encontrada entre as tropas novatas, que nao estao vis-a-vis com os veteranos). Assim, embora a distribuigao das respostas seja acentuadamente diferente da dos veteranos, levando 0 Departamento de Pesquisas a descrever este mesmo padrao de reac;ao como se fosse um outro diferente, os soldados de reforc;o estao se ligando ao mesmo padrao de comportamento nos dois casos - quando isto e analisado em termos da teoria do grupo de referencia. Estao assimilando os valores dos veteranos, e assim presumivelmente filiando-se a este estrato prestigioso e autoritario. No primeiro caso de "disposic;ao para 0 cambate", isto apenas reafirma os sentimentos dos veteranos, fazendo com que a distribuic;ao de respostas dos soldados de reforc;o se assemelhe as dos veteranos. No segundo exemplo, de autoconfianc;a na capacidade de comando, eles tambem assimilam os padr6es dos veteranos, mas desde que isto nao seja simplesmente uma atitude, mas uma auto-avaliac;ao, eles aplicam tais padr6es a si mesmos, consideram-se relativamente deficientes e assim dao respostas as perguntas de auto-avaliac;ao, diferentes das dos veteranos. Assim, uma uniformidade de processo social parece estar sUbjacente, nos dii'erentes tipos de respostas evidentes. A mesma hip6tese pode ser novamente testada sobre outros itens, • partindo desses dados sobre "atitudes" dos veteranos, dos soldados de reforc;o e das tropas novatas; por exemplo, os que tl'atam de "atitudes relativas ao prepare llsico". Neste caso, as t!'opas novatas e as de subs· tituic;ao reagem de modo igual, com 57 e 56 pOl' cento respectivamente dizendo que estao ern bom estado fisico, enquanto que apenas 35 pOl' centQ dos veteranos faz tal afirmac;ao. Isto e relatado como um terceiro tipo de resposta, ainda no nivel manifestamente empirico de freqi.ieneias de resposta, levando 0 Departamento de Pesquisas a outra interpretac;ao deste tipo aparentemente novo: sugere que a semelhanc;a das respostas das tropas de reforc;o com as dos novatos, "e, sem duvida, paralela a anaJogia existente no est ado fisico dos homens".32 Ao que se diz, estas reac;6es represent am, nao uma assimilac;ao das atividades dos veteranos, mas antes urn relata fiel das diferenc;as objetivas entre a situac;ao ffsica dos veteranos fatigados - os "combaten-, tes exaustos" - e a das tropas frescas de reforc;o e dos novatos. Mas isto redunua em outro problema para a teoria: sob que condi~6es os homens r~agem relatando a situac;ao objetiva ao inves de uma 32. II,263. Isto se refere "' suas respostas "absnlutas" em relaQao a esta pergunta: "Vor./': pensa que esta em boas condiQ6es flsicas?" Outras perguntaos que se referem a condiQ6es de "combate", introduzem poss;velmente a fator da relut>incia ao combate, que as soldados de substituiQao assimilaram; as .ubstitutos tendem a apresentar uma op,niao intermediaria ados veteranos e a das tropas bisonhas.
imagem socialmente refletida? 33 Este terceiro tipo de reac;ao, diferente v.a aparencia, exige uma nova hip6tese? Parece, mais uma vez, que nao ha necessidade de se introduzirem novas variaveis ad hoc, embora na ausencia dos dados necessarios isto deva evidentemente permanecer para ser examinado em futuras pesquisas. Parece que as veteranos nao afirmam sua ma condic;ao fisica como urn valor social distintivo e positivo (exceto, como 0 texto indica, como uma possivel racionalizac;ao para escapar a ulteriores combates) no mesmo sentido em que eles mantem a crenc;a de que "0 comb ate e 0 inferno" ou que "a experiencia de combate e indispensavel para que um recruta possa comandar homens em sPtuac;ao de combate". Soldados de reforc;o, que procuram assimilar-se aos veteranos prestigiosos e socialmente valorizados nao serao favorecid.os pela assertiva de que estao em ma forma fisica, de que eles tambem, sac "combatentes exaustos". Tal pretensao daria motivo para que os veteranos rejeitassem os soldados de reforc;o, desde que isso representasse, nao um pedido para a sua afiliac;ao ao grupo, mas para a 19ualdade de status. Alem disso, 0 reconhecimento pelos elementos de reforc;o de sua forma fisica comparativamente boa, nao significa urn contravalor, o qual tambem poderia ameac;ar sua aceitac;ao pelos veteranos. Dentro do contexto do mesmo grupo, nao ha base funcional ou motivacional para que os so:dados de reforc;o reproduzam os juizos sobre si mesmos dos veteranos; entao se expressam as diferenc;as aparentemente objetivas na situac;ao fisica dos veteranos fatigados, dos recrutas prontos para substitui-los e das tropas novatas. Na medida em que as diferenc;as destes tres padroes de resposta manifesta possam ser derivadas teoricamente de uma teoria funcional de comportamento de grupo de referencia, este caso ilustra um grande servic;o da teoria para a pesquisa social aplicada: a reconstruc;ao atraves da rlarificac;ao conceptual, de irregularidades aparentes nos dados, conduz a descoberta provis6ria de regularidades subjacentes, funcionais e dina,micas. Porem, como temos sugerido, os caminhos entre a teoria social e a pesquisa aplicada comportam 0 trMego em duas maos: nao somente
33. Aqui, como em outros trechos, uma formulaQao ligeiramente mais generalizada do problema dirige nossa atenQao para a import>incia dos dados agora apresentados em paginas diversase desconexas de The American Soldier. Em diversa.s passagens desse. volumes, tem-se admitido que as respostas dos soldados representam "relatos objetivos· em vez de opini6es condicionadas pelo grupo; mas. na ausencia de uma formulaQao geraJ, e provavel que nao se perceba a necessidade de colecionar as mesmas e de esclarecer a questao te6rica. Ver, par exemplo, a interpretaQao das reaQ6es dos "que n20 voltaram aos grupos constituldos predominantemente par soldados que a eIe voltaram". onde se diz: "Em parte esta concordancia de opini6es entre as que voltaram e as que nao voltaram sugere que havia algum fundamento de fato como de atitude, para a prefere ncia dada pelos que voltaram as sua.s unidades e ao conferto que elas representayam. Estes dados, porem, nao podem ser toma.dos como segura confirmaQao deste pan· to. pais podem ser, pelo menos em parte, simplesmente a evidencia de que as atitude5 dos que voltaram afetou as opini6es dos que nao voltaram". (II, 515-517)
a teoria pode reformular alguns dos materiais em The American Soldier, mas com base nos mesmos materiais, podemos especificar os tipos de indices sociol6gicos ulteriores e as observac;6es necessarias para alcanc;ar a continuidade e a acumulac;ao na teoria de assimilac;ao e valor, 0 contexto grupal das auto-avaliac;6es, e a avaliac;ao objetiva das situac;6es. Vma breve Usta de tais indices pode substituir uma analise detalhada de seu potencial para 0 progresso desta teoria. 34 1. Indice de rela~iies sociais reais: Ha claramente necessidade de dados sistematicos s6Ilre as rela~oes sociais, realmente mantidas entre 0 estrato prestigioso e autoritario, e os recrm-chegados a um grupo. Poce-se descobrir uma tendencia empirica nos individuos em cenassimilagao de vatato mais freqiiente ou mais duradouro de a.filiagao, para apresentar lores? 2. Indice de motiva~iies de membros que en tram nos grupos: A teoria pressupoe uma preocupa~ao entre os recem-chegados par2. se filiarem ao grupo de status mais alto. Com fma!idades de pesquisa, seria evidentemente necessario dividir os recem-chegados em lermos de presenga, ausencia ou grau de tais motiv~ocs. Urn processo analitico derivativo, movendo-se em outra diregao, consistiria em tomar tais motivagoes afiliativas, nao como necessitando POl' sua vez de expl,;,nagao. dados, mas como problematicas, 3. In dice de cotsiio social e de vaIOres associados: Os recem-chegados representam urn agregado espalhado de individuos, ou urn subgrupo organizado? Se se del' 0 segundo caso. t;,m eles seus pr6prios vaJores grupais, com reivindicagoes definidas It legitima~ao moral'l reci. Em tais casos, 0 contato continuo conduz a uma assimilagao mais aproximadamente l'roca, ao in;-e.; de exercida de urn ~6 lado? 35
A inclusao de indices como estes, e 0 usa sistematico do metodo de entrevista em mes.a-redonda, bem como a observac;ao direta, haveriam de abarcar 0 estudo sistematico dos processos de assimilac;ao de val6res como parte do comportamento do grupo de referencia, e nao apenas, como nas pesquisas aplicadas de The American Soldier, 0 estudo de certos :esultados liquidos de tais processos. Poder·se-ia entao fazel', POl' exem· 34_ 0 leitor talvez se sinta tent.,c.o a dizer que a maior parte do que segue foi reconhecido como variaveis provltvelmente importantes, desde os primeiros dias da moderna sociologia. Mas aqui, como em muitos trechos deste estudo, deve-se dizer que ha uma grande diferenga, - realmente, toda a diferenga., - entre as referencias impressionisticas e esporadicas a tais variaveis e a incorpora~ao sistematica das mesmas na pesqnlsa. Somente at raves deste ultimo procedimento progredlrao a teorla e a pesquis2.. 0 impressionlsmo nao e um substltuto adequado, quando mais nao seja porque e de carater tiio va go e flexivel que nao admite a nulifica~ao decisiva de uma hip6tese provis6ria. Nietzsche, que comumente nao entendia a etica da ciencia. num momento de gran"Certamente nao e urn dos menores encantos de urna de clarividencia, declarou: 0 objeto da sistematica incorporagav das variateoria, 0 fato de ser ela refutavel". veis na pesquisa, e permitir 2. anulagao, assim como a confirmagao, tare fa urn tanto dificil para um autor aferrado a. uma teoria e nao exposto a dados sUficientemente incriminat6rios que 0 fagam divorciar-se daquela teoria. 35. Observar-se-a que os materiais de The American Soldier nao permitiram em geral 0 estudo dos efeitos dos elementos de reserva sabre os vetera.nos, problema manifestamente implicito num desenvolvimento do presente assunto. Contudo, 0 Departamento de Pesquisas deu·se muito hem conta do problema. Em certo trecho, POl' exemplo, foi posslvel determinar, com aproximagao, se 0 orgulho dos vet<1ranos pela sua companhia er2. afetado POl' uma proporgao comparativamente alta de substitulgoes. (Vel' II, 255-257)
plo, a investigac;ao do processo cumulativo e, possivelmente, circular 36 atraves do qual a assimilac;ao de va16res estimula 0 contato social entre as grupos, 0 qual POl' sua vez reforc;a a assimilac;ao de va16res, a maior aceitabilidade social e 0 contato social mais ativo. Vma sequencia inteiramente diferente de pesquisa empirica e te6rica e sugerida pela reanalise destes dados referentes aos contextos grupais de assimilac;ao de valor. Sob que condic;6es encontramos tais avaliac;6es a.lteradas de grupos inteiros de estratos sociais (quer isto seja denominado "pensamento em perspectiva", ou "falsa consdencia")? Isto ocorre principal mente quando os membros deste grupo identificam seu destino com os de outro grupo, de modo que ja nao expressam fielmente seus pr6prios interesses e va-lUres no presente? Em outras palavras, dentro de que contexto da estrutura social ocorre tal "distorc;ao" de valares do grupo, e em quais ht" uma teac;ao mais aproximadamente apropriada a situac;ao? A observac;ao deste conjunto de dados - encontrados em umas poucas paginas entre as mUltas centenas de The American Soldier - parece ter red un dado nos seguintes procedimentos, e tel' chegado aos seguintes resultados: Primeiro, uma clarificac;ao dos conceitos permitiu que uma aparente desordem ou variac;ao em algumas descobertas relatadas f6ssem interpretadas como express6es diversas de uniformidades sociol6gicas subjacelltes, servin do assim ao objetivo te6rico da parcim6nia, encontrado s~mpre que se derivam diversas generalizac;6es empiricas de uma formulac;ao mais geral. [(Parcim6nia em sociologia assim como em biologia, e a economia animal ou humana evitando a dol' ou 0 esf6rc;0, ao procurar o prazer ou a vantagem. (N. do trad.)] Segundo, a reconceitualizac;ao operada para esta finalidade, sugerindo 3. relevancia de urn corpo de proposic;6es te6ricas previamente desenvolvido, reduzindo assim a natureza, ad hoc das interpretac;6es correntes e eontribuindo para a continuidade dos resultados presentes e das teorias do passado. Numa certa medida, esta e a mesma teoria sUbentendida pelo conceito da privac;ao relativa que, embora utilizada em outras palo. tes de The American Soldier, nao foi aplicada a este conjunto particular de materiais empiricos. Terceiro, generalizando os conceitos (alem das categorias descritivas imediatas de veteranos, substitutos e tropas novatas) aponta-se para a possibilidade de que as formulac;6es genericas sejam pertinentes, nao so· mente para a situac;ao especificamente militar, mas para uma margem mais ampla de situac;6es correspondentes aos requisitos das formulac;6es 36. Um exemplo do tipo de lmalise dos processos necessarios para tratar de problema desta especie, encontra-se em P. F. Lazarsfeld, e R. K. Merton, "Friendship as socinl and methodological analysis", editado POl' M. Berger, T. Abel process: a substantive e C. H. Page (editores).· Freedom and Control in Modern Society, (Nova Iorque: D. 1954). 18-66. Va.n Nostrand,
te6ricas, ampIiando assim 0 escopo dos dados aos quais estes talvez possam ser aplicados. E, finalmente, a pr6pria existencia de tais dados sistema'dcos, permiUndo a reconceitualizaQao provis6ria, pode adiantar de modo importan,te 0 desenvolvimento da teoria, iluminando a necessffiade de incorporar uma serie de indices socio16gicos a pesquisa de tais problemas, proporcionando assim ulterior acumular;tio de conhecimento socio16gico, ao Ii. gar a teoria passada, os c1ados presentes e a pesquisa futura. Embora empreendido como uma pesquisa social apIicada, The American Soldier proporciona os sUbprodutos potenciais de estimular a nar(;lmania, a continuidade, 0 escopo e a a-::umulaQao da teoria socio16gica. E, como nao e raro na pesquisa aplicada, os sUbprodutos podem redul1dar mais importantes para a disciplina da sociologia do que a aplica~ao direta das descobertas.
INDICES EST ATfSTICOS DA ESTRUTURA SOCIAL Antes de prosseguir em nossa revista dos problemas da teoria dos grupos de referencia, sera litil considerar explicitamente as correlaQoes dessas pesquisas para 0 estudo dos contextos sociais. Do exame precedente das pesquisas sabre a avaIiaQao das oportunidades de promoQao e -das auto-avaIiaQoes das tropas de refarQO, verifica-se que The American Soldier e uma fonte fertil para 0 desenvolvimento de indices, relativament'€ exatos, da estrutura social. Nestes e noutros estudos, os dados de pesquisa sao analis8,dos em termos da distribuiQao das reaQoes por unidades sociais (companhias, divisoes, ramos do serviQo militar). E em suas analises relativas as distribuiQoes de freqi.iencia, au das proporQoes caracterizadoras das unidades sociais, em relaQao as reaQoes dos individuos e dos subgrupos dentro dessas diversas unidades, os auto res se adiantaram bast ante do ponto ordinariamente alcanQado nos estudos da ecologia social. De modo semelhante ao usa de indicadores estatisticos em ecologia, para representar diferentes especies de unidades sociais numa base de zoo na, The American Soldier proporciona indices de atributos da estrutura social; porem, de maneira dessemelhante aos estudos eco16gicos, The American Soldier prossegue fazendo uma analise sistematica das atitudes ou avaliar;oes dos individuos ciaisdijerentes.
de identicos
status
dentro
de estruturas
so.
Esta combinar;tio de indices sugere numerosos indices estatfsticos de atributos grupais au estrutura social que podem ser feitos em futura pes. quisa socio16gica. Ademais, a usa de distribuiQoes, proporQoes ou indices uC freqi.iencia, como indices sociais, tern 0 merito especial de nos lembrar que essas estruturas freqi.ientemente variam em termos de grau e nao nec8ssariamente em termos de "tudo-ou-nada". Por exemnlo os sistemas sociais nao proporcionam simples mente a mobilidade ou~ a' fixidez de seus
membros; apresentam diferentes proporQoes de mobilidade. 37 Nao saa simplesmente heterogeneas, ou homogeneas, mas tem graus variaveis de Nao sao integradas au nao-integradas, coesivas ou heterogeneidade.38 dispersivas, mas tern graus varhlveis de integraQao e coesao.39 Devido ao fato de que os indices estatisticos de tais atributos de sistemas sociais tern side raramente utilizados em conjunQao com indices de comportamento individual, a sociologia comparativa tem-se 1imitado em grande parte a resultados vagos e indecisos. Tem faltado comparagoes relativamente estritas, porque a maioria de n6s, na maior parte do tempo, tem-se limitado a falar de estruturas sociais "diferentes", ao inves de estudar as estruturas que mostram diferir em grau especificavel. Quar do foram adotados indices estatisticos de atributos grupais - por exem· pIa, as variaQoes em proporQoes raciais entre os grupos - esses dados nao foram tipicamente combinadas com comparaQoes sistematicas do comportamento de pessoas de status semelhantes dentro desses grupos distintivos. E, correlativamente, quando se obtiveram medidas relativamente exatas de atitudes individuais, essas tern, raramente, sido combinadas r;om medidas semelhantes definidas de estrutura social. Assim, a psi colagia social na decada passada ou aproximadamente nesse periodo de tempo, tern se dirigido ao usa sistematico de indices de atitudes e sentimentos individuais, sobretudo entre grupos de individuos mutuamente naa !elacionados. Os estudos do Departamento de Pesquisa.s sugerem a praticabilidadp, e a importa-ncia da elaboraQao de indices, tanto da estrutura social como GOcomportamento dos individuos situados dentro de tal estrutura. Suas comparaQoes ocasionais de estrutura de status nos diferentes ramos do Exercito envolvem, assim, indices de estratificaQao, semelhantes ao que sac proporcionados por distribuiQoes de freqi.iencia de uma populaQao entre as diversas classes sociais. Uma vez que tais indices sej am estabele37. Ver, por exemplo, ° uso de indices de proporg6es comparativas de mobilidade social nas F6rgas Aereas, nas F6rgas Auxili20res e nas F6rgas Terrestres etc., como contexto social para as avaliag6es individuais das probalidades de promogao. I, 251 e segs. 28. Ver, por exemplo, os indices de heterogeneidade social das companhias, fornecidos prlas proporg6es de sUbstituigao nas unidades militares, como contexto social para as express6es individuais de orgulho na companhia. II, 255 e segs. Processo semelhante foi adotado num estudo das atitudes ra,ciais individuais dentro dos contextos das subareas de habitagao planejadas para abrigar famflias sem discrimina.gao de raga, caracterizadas pela ,exigencia de diferentes proporg6es de negros e brancos. Merton, West e Jahoda, op. cit. 39. Considere-se como a sociologia contemporanea pode melhor20r 0 estudo anterior de Dur· kheim s6bre ° suicidio, que admitia varios graus de coesao social e de integragfio entre os cat6licos e os protestantes, os grupos militares e os civis etc. Conforme foi visto no Capitulo II, "0 grau de integra,gao e uma variavel empirica, mudando na mesma sociedade de tempos a tempos e diferindo entre varias sociedades". Os indi· ces estatisticos de integra.gao e de coesao permitiriam urn estudo sistematico, cora. urn rigor que nao era possivel na epoca de . Durkheim, da influencia de tais variade individuos localizados de varias ,,6es de contexto social ,;6bre 0 componamento maneiras dentro do grupo.
cidos, torna-se possivel fazer compara"oes sistem"t' - anedotlC'as , , d '" ""leas, nao * ,0 comportamento das pessoas de status de classe semelhante ' ~ aentro ' ' 1sto vlven l' ') 1 ' de estruturas de classe diferentemente proporclOnadas f-Utara no avango alem das caracterizagoes mais familiares d' "h eme· 0 0n: da classe media" ou do "homem da classe operaria" a fim seu comportamento caracteristico dentro de sistem~s d Ide deter.mmar temente constituidos ' Da mesma fo rma, ou t'ros tlpos dee d'fc asses ,- dlferen. eml podem ser incluidos em indices, pelas distrib ,d I eren~l.aga,o sovarias Situ~goes (educagao, instrugao, raga idade ~:~~e: ce f~~qU~nCla de o estudo sistematico de individuos semelhantem " om ma as com ente sltuados dentro dessas estruturas variaveis. 40 A esse ' respeito, The American Sold' zer po d e representar urn p I'd' ao f u t uro Imediato , no qual os m ' d'Ices de relagoe d re u 10 bT ga cultural, coesao grupal e diferenciagao '1 s : mo I Idade, mudanticamente incorporados em est d SOCIa serao regular e sistemauma vez que se fa"a isso torn u os, comp,arativos de estrutura social, E '" , arose-a possIvel compa portamento do grupo de referenci .., rar os mol des de comde lhantes, dentro desses varios sl'stemaas 1~~IVlduOS em situag6es semeSOCIalS.
TEORIA DO GRUPO DE REFERENCIA E MOBILIDADE SOCIAL Outras pesquisas relatadas em The Am . . usa explicito do conceito de p' _ encan Soldzer, que nao fazem , nvagao relativa ou de o·t ' bem podem ser refundida.s em term' . c ncel os afms, tanlcia. Destas uma das mal's' os aa teona dos grupos de refercn, , ngorosas e fecundas' t d donda das relag6es entre 0 conformis mo d e 0 es u 0 em mesa-reva16res oficiais do Exercito, em vista d os SOld~~OSconvocados e os a :E:ste estudo tambem ilustra 0 onto l~ua subsequente ~romogao, ramente elucidado de qu p rgamente conhecIdo, porem rae a mesma pesquisa social d pelo menos de tres maneiras d'f t po e ser analisada suas descoberta- emp" .d I eren es e separadas, embora relacionadas: .., Incas ocumentadas sua met d I . procedimento e suas impII'ca"o-e t ,.' 0 0 ogla (JU 16gica de . . '" s eoncas. Dma vez qu~ a metodolo i sido amplamente discutidos g~ e os achados empiricos deste estudo tern ,urn no. estudc de Kendall e Lazarsfeld, e outro no pr6prio Th A e mencan Soldzer - nao n 't cupar com €lIes aqui A . , . " eceSSIamos nos preomas d ,.' _ 0 mves dlsso, lImltaremos nosso estudo a algue suas rmplIcagoes te6ricas, 'l'ais implicag6es se dIvidem em tres especies relacionadas, PrimeiN. do trad.: uAned6tico" e usado a ui . 40, 0 trabalho de Berelson, Lazarsfel~ e n~c~~:~dO de. hlstona pouco conhecida, inedita", sos, proporcionando teJvez ' Vohng, faz use extensivo de tais proces" novas provas da co t' 'd d " n !nUl a e na pesqulsa social. Rei a t6 rio detalhado dos lndic ~tO.C101~gICOS .encontra-se na Secciio 2 do estudo de Kendall e Lazarsfeld em Ul les III SOCIal Researeh.
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II
Con:i:
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ra, as implicagoes com a teoria dos gropos de referencia a medida que GS achados empiricos sao reexaminados dentro do contexto daquela teo· ria, Segunda, as implicag6es que nos habilitam a ligar as teorias dos grupoS de referencia com hip6teses da sociologia funcional. E terceira, as correlagoes que, uma vez sejam adequadamente generalizadas, nos habilitam a Vel' que este estudo incide, nao somente sabre os padr6es de conformidade e mobilidade dos soldados norte· american os na II Guerra Mundial, mas, possivelmente, tambem sabre os padr6es mais gerais e aparentemente dispares de comportamento, tais como abandono do pr6prio, renegagao, ascensao social e semelhantes, o levantamento dessas implicagoes abarca urn grande campo que d,ificilmente pode ser inteiramente completado, nao devido a limitagoes de espago, mas devido a limitag6es de nosso conhecimento socio16gico. Mas uma simples tentativa de realizagao dos nossos prop6sitos nos permitira reconhecer as articulagoes te6ricas entre os tipos de comportamento social atualmente separados. Comecemos seguindo nossa pratica habitual de esbogar resum:'damente os principais resultados do estudo, tais como sac registrados em The American Soldier. Caso N.D 5 0, 258-275),
Esta pesquisa tratava, nao de proporr,;oes de promogao, as quais eram determinadas pelas alterag6es na tabela da organizagao, mas com a incidencia da promogao quais os homens que apresentavam maior probabilidade de ser promovidos? Uma vez que a decisao do oficial comano.ante relativamente a promog6es nao se baseava de maneira alguma sabre testes objetivos de capacidade ou de atuagao dos 5cldados, havia muita mar gem para que as relag6es interpessoais e os sentimentos exercessem seu papel, de modo a mfluenciar tais decis6es, Nao e de estranhar, pois, que 0 Departamento de Pesquisas tenha formulado esta hip6tese: "Urn fator que dificilmente teria deixado de entrar em alguma extensao no julgamento de urn oficial ao escolher urn homem para promogao era sua ccnformidade com os costumes oficialmente aprovados". 0, 259) Observa-se tambem, e teremos ocasiao de voltar a este ponto com maiores detalhes, que, "ao fazer jUlgamentos subjetivos, 0 oficial comandante necessariamente se expunha abertamente a acusagoes de favoritismo e, particularmente, a ser vitima das astucias dos so]· dados mais habeis em se insinuar". (I, 264) Urn estudo, em mesa-redonda, de tres gropos de soldados foi efetuado, a fim de determinar se os homens que expressavam atitudes de acardo com os habitos militarmente estabelecidos, recebiam subsequentes pro, mogoes em proporg6es significativamente mais altas que os outros, Constatou-se que este era 0 caso mais constantemente ene-ontrado, POl' exemp]o, "dos recrutas que em setembro de 1943 disseram nao pensar Que a disciplina do Exercito era pOl' demais severa, 19 pOl' cento haviam 5e tornado soldados de primeira cIasse em janeiro de 1944, ao passo que apenas 12 POl' cento dos outros recrutas haviam alcangado este primeiro
posto". n, 261'2) Assim tambem d t.ras foram dispostos conforme se~s quan to os soldados das tres amos'tUdes de conformidade" encont pon .os, numa "quase-escala de ati,roU-se unIformement g" rupos que os homens cUJ'as atit deem todos os tres aq 'I u es eram as mai s eonformistas, eram ue es com maior probabilidad dos". n, 263)41 e de serem sUbseqiientemente promo viImplieagoes
te6rieas
Ao e
.
( . . xammarmos este t d teseJamos esclarecer algumas d es u 0 cfe mesa-redonda de referencia e a sOciologia fu as. correlagoes entre a teoria dos grupos 'lgO nClOnal que perman , ra; - objetivo ao qual este estudo' se e~eram implicit as ate que as descobertas do estud d presta partlCularmente bem J'a' t' 0 po em ser P t ' " ermos de ambas as especies de t. ron amente reformuladas em m I eona e sao con 'd ~ esca a de comportamento mais SI eradas influentes nupno estudo. ampla que aquela considerada no pro-
o valor de tal reformUlagao ara . servado, quando visto em con _P a teona social e talvez melhor obexao com a variavel ' d f ormidade". Quando " m ependente de "con• . se pens a sobre ISSO e 1 ~escn~o c?mo conformista neste estudo es;a c aro ,que 0 tipo de atitude e ordmanamente denominado" f ." num polo oposto daquilo que I:1r' d con ormIdade social" P' . 10 a sOciologia a conformI'A";ad' . OIS no vocabuUi e socIal denota I c: d ' a e com as normas e expectativas usua ~ente conformi_ pertence 0 individuo Mas t correntes no proprIO grupo a que a " nes e estudo a confo 'd ,s normas do grupo primario imedia' " rmI ade refere-se, nan as normas inteiramente difere t to:, constItuIdo pelos soldados mas c:" . n es, contIdas nos t ' laIS. Realmente tal como os d d " cos urnes militares oficlar ' a os de The Amer' . " 0, as normas dos "intragrupos" a zean Soldzer torn am normas oticiais do Exercito d que pertencem os sold ados e as lidiam.42 Na linguagem da e te~ri:st~~~o dos oficiais, fre~iientemente co----_ grupos de refereneia, portanto, "41. Como os p' . roprlOS autores dizem lhe, estes dados nao demonstr~~ ~Oem~aKendall e Lazarsfeld indicam com algum deta t a.s, roms do nelra conclusiva . ~ prin ." . que outras correlatas, favorecem m . q~~ as atltudes conformis, _ C'lp10 , somente uma experiencia aIor probabllIdade de promoQao. Em v:~o ; ~"ossfvel neste presente exemplo, c~~~~~:~:~te . controlada, a qual 6bviamente osasfaet~~::ie~clas dO~da,OI:nn~~t~~~:an:oons~:n:~dO
co~~:o;:~~/l::e
d:st~~~a eC:Vl~aes:~:'~~-
encontrados como relacionados tanto a e tltdadde e mstruQao, os quais haviam sioe l ongo cammho ' a lues como as for . para demonstrar uma, rela . "prornoQoes, percorre urn adl:l~a~ e do progresso sUbseqiiente. Com Q:e~p:i~~re ~ tmCldencia das atitudes co\,,_ 0 ponto alcanQado pelo us d a es e assunto, 0 estudo val bem ~~~~:~it~~:sti~~n;~rt~~st:sg:~~~aQao e 0aseat~:u~:s :~~;:rn~:;~::s~~~t~n~~ceano~o Iuma, Cor0 s 3 tmham rnais proba,bilidades de serem nbdlvl~UOS temcnte promovidos. Ver I 272_27que -42. Embora '. su sequen_ to n' as porcentagens 4,bsolutas de homens . cent:;e:soss~m eVidentemente ser tomadas pe~uese~OIa~arn urn .determinado sentimen_ os clad sao afetadas pel a mera lingua em d va or nommal, ja que tais portram a0p: apresentados anteriormente no v~lume 0 (sentlmento, e todavia. sugestivo que nas uma pequena . , por exemplo I 147 atitudes ofici I mmoria de amostras de s Id d " e segs.) encon· de Oficia" a mente aprovadas. Em gera.l urn 0 a ,os convocados, aderindo as maior IS pauta'se por essas atitudes. ' a proporQao significativamente
as atitudes conformistas para com os costumes oficiais podem ser consideradas como urna orientagao positiva rumo as normas de urn grupo ao qual 0 individuo nao pertence e que e tornado como armagao de referencia, Esse conformismo com as norm as de urn "grupo de fora" (aa Qual 0 individuo nao pertence), e assim equivalente aquilo que e ordinariamente denominado nao-conformismo, isto e, nao-conformismo com as normas do "intragrupo" (ou seja 0 grupo ao qual 0 individuo pertence). 43 Esta reformulaCao preliminar conduz diretamente a duas questoes inter-relacionadas que ate agora temos considerado mais implicitas que explicitas: quais sac as conseqiiencias, funcionais e disfuncionais, da orientagao positiva para os va16res de urn grupo que nao e 0 nosso proprio? Outrossim, quais os processos sociais que dao inicio, sustentam ou refreiam tais orientagoes? Fungoes de orientagilo positiva a grupos aos quais 0 individuo nilo pertence: soeializagilo anteeipat6ria_ Ao considerar, embora resumida-
mente, as possiveis conseqiiencias deste padrao de conformismo com as !lormas do extntgrupo, e recomendavel distinguir entre as conseqiiencias para os individuos que apresentam este comportamento, 0 subgrupo em que eles proprios se encontram, e 0 sistema social que abrange ambos estes elementos, Para 0 individuo que adota os valores de um grupo ao qual aspira, mas ao qual nao pertence, esta orientagao pode servir as duplas fungoes de ajudar sua ascensao dentro daquele grupo e de facnitar seu ajustamento depois que ele se tornou parte do mesmo. Que a primeira funQao foi na verdade d'esempenhada, eis a essencia das constatac;oes de The American Soldier, segundo as quais os recrutas que aceitaram os va16res oficiais da hierarquia do Exercito eram, com maior probabnidade, 0:; que sedam promovidos. A hipotese relativa a segunda funQao ainda carece de comprovagao; porem, em principio, nao seria dificil descobrir empiricamente se aqueles homens que, atraves de uma especie de soeializagilo a1iteeipat6ria, se investem dos va16res de urn extragrupo ao qual aspiram, encontram mais pronta aceitagao por aquele grupo e se ajustam mais facilmente ao mesmo. Isto exigiria 0 estabelecimento de indices de aceitagao e de ajustamento pelos grupos, assim como umSl 'comparagao, em termos de tais indices, dos individuos reeem-chegados a urn grupo, que se tivessem previamente orientado pelos valores do 43. Nao ha nada fixado a respeito dos Iimites separando os intragrupos dos extragrupos, os grupos a que 0 indivlduo pertence dos grupos a que nao pertence. ~Ies mudam conforme a. situaQao muda. "Vis-a-vis" dos civis ou de um grupo estranho, os sol· dados das F6rQas A,'madas podem se considerar e serem conRiderados como urn intragrupo; no entanto, em outro contexto, os soldados convocados podem se considerar a si mesmos, e serem considerados como urn intragrupo, distinto do extragrupo dos oficiais. Ja que estes conceitos sao relativos a situaQao, ao inves de serem absolutos, nao ha paradoxo em se referir aos oficiais como urn grupo de fora em relaQao aos sold ados convoca.dos, em certo contexto, e como membros do intragrupo, em outro contexto. Do ponto de vista geral, ver os Capitulos IX e XI.
grupo e daqueles que nao 0 houvessem feito, caso presente isto teria implicado um est d Mais ,concretamente, no . u 0 comparatlVo entre os soldados promovidos a um pasto sup enol' da sUbse" t po POl' aqufHes que tivessem suportado que,? e adaptagaO ao gruse, para as mudangas de pasto A a preparagao definida na hip6tet 'd ' e aqueles que prev'a man t 1 0 presos aos valares d '" 1 men e se houvessem I t't . e seu Intragrupo" d 1 Ulra 0 teste empfrico sistematico d ' , e so dados. Isso cons. Alem do mais, parece ' e, uma hIpotese funcional. . d' , que a socIahzagao ant ' t" o m IVIduo somente dentro d eCIpa ona funciona para ta e uma estrutura so ' I ' , que proporcione mobilidad p" CIa relatlvr.mente aberpara?ao de atitudes e de com~~rta:::: somente em tal estrutura tal presegulda POl' mud an gas reais de st t nto para mUdancas de status seria casos; daf resulta que 0 mesmo ~ ~s ~uma proporgao substancial de ria disfuncional para um indivfd~~ de socializagao antecipat6ria sete fechada, onde ele nao en contra ' uma estrutura social relativamen na aceitagao pelo e prova I ve mente perderia aceitagao d 'd grupo ao qual aspira po, pelo grupo ao qual ele t' eVI 0 a sua orientagao fora do gru' 1'ec h ' per ence Este lilt' , . on eCIdo como 0 do homem ., ImO tIpo de exemplo sera grupos, porem nao aceito inteira:::~~mal, colocado na borda de divers os A ' e por nenhum sSlm, 0 caso freqiientemente estuda ' caso do soldado que toma os t do do homem marginal 44 e a 't' cos umes oficiais 'l't POSIIva de referencia pod " . mI 1 ares como arma"ao , em ser IdentIfIcados ' '" r:omportamento dos grupos d fA, ' numa teona funcional de rlzagao - antecipat6ria e re erenCIa como c 0 pad - d ' asos especiais de Socia" '. rao 0 homem ma ' especIal, num sistema social relat· rgmal represent a 0 caso d Ivamente fechado e um grupo tom am como armagao 't' ' no qual os membros outro grupo do qual eles ,POSIIva de referencia, as normas de D t sac excluldos por um en ro de tal estrutura social " _ a questao de principios, o.i f ' , a sOClahzagao antec' t'· s un ClOnal para 0 indivfd Ipa ona passa a ser consegue alcangar e de espe~~n~~e se torna vitima das aspirag6es que nao estudo em mesa-redonda parece ~n~~~a~ao pode satisfazer. Porem, como 0 comportamento dos grupos d fA" exatamente a mesma especie de relat' e re erencla dentro d Ivamente aberto e funcional para 0 i " e um sistema social em que 0 ajuda a alcangar a situa ao . ndIvI~uO, pelo menos na medida portamento relativo a um grupo d g a ~ua,l ele aspira. 0 mesmo comtes, em estruturas sociais diferent e referencla tem COnseqiiencias diferenChegad es. os a este ponto, constata . normas de um grupo ao qual . :;o,s que ~ onentagao Positiva rumo as 0 m IVIduo nao pertence e precipitada pe. la passagem entre grupo , s a que se pertence seja de fato ou idealmente, e
1';0
44. As descriQoes I't. . qua I atlVas do comportament sumldas, por exemplo, por E, V St
s~:
d 0
os homens marginais,
conforme foram re-
:r~~~ti~:~:~~:t: r:.~n:i~:s,M:~~:al u:an~a.s(oNO::pe~~:;ue~ ~ec~~~~r~~ ~::~~rt~~::o donar urn grupo de filiaQao Por outro efere~cla, em que 0 indivlduo procura aban. ao qua ~Ie tern soclalmente 0 acesso prolbldo,
que as consequencias funcionais ou disfuncionais evidentemente depen. clem do carateI' relativamente aberto ou fechado da estrutura social em que isto ocorre, - E aqui!o que a primeira vista poderia parecer uma forma inteiramente nao relacionada e dispar de comportamento - 0 comportamento de marginais como 0 mulato da ColOnia do Cabo au 0 Eurasiano, ou dos soldados que adotam as valares de estratos militares diterentes dos seus pr6prios - e visto, ap6s a conceitualizagao apropriada, como caso especial de comportamento de grupo de referencia, Embora a socializagao antecipada possa ser funcional para a individuo num sistema social aberto, e aparentemente disfuncional para a solir:'.ariedade do grupo ou do estrato ao qual ele pertence, pois a lealdade aos ---costumes contrastantes de outro gru!lo significa rejeig§o dos costumes do intragrupo. E, portanto, como veremos logo adiante, 0 intragrupo reage colocando tada a sorte de restrig6es sociais sabre tais orientag6es positivas a certas norm as dos grupos de fora, Do ponto de vista do sistema social maior, por exemplo, do Exercito como um todo, a orientagao para os costumes oficiais poderia parecer funcional ao apoiar a legitimidade da estrutura, e ao manter intacta :1 €:strutura da autoridade, (Isto e 0 que presumivelmente significa 0 texto dE. The American Soldier, quando se refere a essas atitudes conformistas como "favoraveis do ponto de vista do E:xercito"). E evidente, porem, que muitas pesquisas necessitam ser feitas antes que se possa dizer que este e verdadeiramente 0 caso, E possivel, por exemplo, que os efeitos secundarios de tais orientag6es possam ser tao deleterios a solidariedade dos grupos primarios de soldados, que seu moral se afrouxe, Uma pergunta concreta de pesquisa poderia ajudar a esclarecer 0 problema: nas unidades que tem uma porcentagem relativamente grande de minoria que se conforme com os 'laWres oficiais do Exercito, sera mais provavel que se encontrem sinais de anomia e de desorganizagao pessoal (p, ex" baixas nao provocadas por ag6es de guerra)? Em tais situag6es, sera que o "sucesso" pessoal do conformista (relativamente as promog6es), serve apenas para deprimir 0 moral dos outros, ao recompensar aqueles que se afastam dos costumes do intragrupo? Neste estudo, de mesa-redonda, bem como em dfversos outros aqui revisados, - por exemplo, 0 estudo das avaliag6es dos soldados quanto il justificagao de sua convocagao para 0 Exercito - 0 comportamento dos grupos de referencia e evidentemente relacionado a legitimidade atri· bUida aos arranjos institucionais, Assim, e menos provavel que 0 soldado casado mais idoso considere justa a sua. convocagao; a maior parte dos soldados pensa que "nao e justo" que as promog6es sejam presumivelmente baseadas sabre "quem voce conhece, nao sabre 0 que voce conhece"; e assim por diante, Em parte, esta enfase aparente sabre a legitimidade e evidentemente um artificio da pesquisa: muitas das perguntas apresentadas aos soldados se referiam as suas concepg6es sabre 0 carater legitime au ilegftimo de sua situagao ou dos arranjos institucionais
Robert K. Merton.
predominantes; porem, 0 foco de interesse dos r ' . . b P opnos pesquIsadores era por sua vez 0 resultado de terem '1 e es 0 servado que os sold d proporQao significativa estavam real t a os, numa como os de Iegitimidade institucional ~~:~ preocupad~s. com assuntos dos soidados convocados frequentem 't . d' os comentarlOs espontaneos en e In lcam. 45 Isto desperta atenQao, porque as im uta 5 " . naQ6es parecem funcionalment l' P Q es de IegltInudade d8.s orde. e re aClOnadas com 0 grupos de referencia Afetam comportamento dos d . aparentemente a amplitud
«oes entre
os grupos
ou entre
as mdividuo
..e
as compara·
tas, Se a estrutura de urn . t ' . s, que tlplcamente serao fei· IS e geralmente definida como si :t~a ngldo de estratificaQao, por exemplo egl lma se os d' 't ' Q6es de cada estrato sac geralment' , lrel os, requisitos e obrigatao os individuos pertencentes e conslderados moralmente certos, en. d ae tomar a situaQao dos outros a ca a estrato terao men as probabilidad~ pria sorte. Presumivelmente ~Iomotconte~to para avaliaQao de sua pro, e es enderao a coni" goes a outros membros de seu '. mar suas campara· nho. Contudo, se 0 sistema de :~oP~~~. estrato, au do estrato social viziticas, entao as membros d 1 s ra I IcaQao estiver sofrendr, pesadas cri. e a guns estratos tera . 0 malOr probabilidade de comparar sua propria situa"ao '" com a de outros e de Id men t e suas auto-avaliaQ6es E t . _ mo ar conforme· , . s a vanaQao na est t d . o no grau de legitimidade atribu'd ' . ru ura os sIstemas ,'f' 1 0 as regras do J'6g d n lcar 0 fato frequentement b 0, po e ajudar a jus. d' e a servado de que 0 com a propria sorte, e frequent t' grau e msatisfaQao dos nos estratos sociais severamee~e~ e ~e~or entre os individuos situa. . tivamente rigido, do que entre n: epnmldos num sistema social rela.. . aqueI es estratos que malS bem de vida" num . t. aparentemente esta0 SISema socral m' 0 d.o, a amplitude dos grupos tornados como alS m ~eI. De qualquer mo. sIstemas sociais diferentes pod . base efetlva de compara<;ao em rle t ., e mUlto bem ~ "e aprese n t ar como estreita. i n e llgada ao grau em , que se atribui predominante. ,lml legit· 'd a de it estrutura social Embora fique muita coisa par dizer ; t . gerir que a padrao da social' _ ' ,s ~ talvez seJa bastante para suo ., IzaQao anteclpada pod t Cllversas para as individuo .' e er consequencia" s que a mamfestam 0 ' ' , s grupos aos quais eles pertencem, e a estrutura social' 'malS ampla E atra ' d es t udo de mesa-recfonda a r't " yes a reexame deste , espel a das recompensa . mlsmo, torna-se possivel espec'f' s pessoalS do conforI lcar alguns tipos d" , mas envolvidos numa an'I' f . a IClOnalS de probi <>. un clOnal mais ampl d t ~ t a de grupo de referencia'a ISe po a e al comportamen_ ______ ' r exemplo: 45. POl' exemplo, em respostfu a pergunta " . tados Unidos, quais seriam 2.., t. ' Se voce pudesse falar com 0 Presidenta dos Esfazer a respeito da guerra e d res perguntas mais importantes que gOstari: de Ihp. Qao de soldados, tanto negros co~:a~te que voce desempenha?", UIbd. grande propor gunta.s relativas a legitimidade dos r;ncos, apresentou, como era de se esperar per' soldados negros eVidentemente Critic~~:r::m:: e regUla~entos vigentes no Exercit;. o~ mas em 31 POl' cento das tropas brancas f pratlCas mJustas de discriminaQao racial, a VIda no Exercito". (I, 504 et passim,) ormulou tambem "mdagaQoes e criticas sobI'd
1. Ja que somente uma fraQao do intrliogrupo se orienta positivamente em direQao 2.0S valeres do extragrupo, e necessario descobrir a posiQao social e os tipos de personalidade dos que mais provavelmente 0 farao. Por exemplo, os que estao isolados dentro do grupo sac particularmente dispostos a aceitar ta:s valeres de forlio? 2. Muita atenQao tern sido prestada aos processos que favorecem a orientaQao positiva Quais sao, porem, os processos que para as normas do grupo a que 0 individuo pertence. favorecem tais orientaQoes para outros grupos ou estratos? As proporQoes relativamente al. tas de mooili0atle servem para reforc;ar essas ultimas orientac;oes? (E de se lembrar que The American Soldier proporciona dados tangenciais a este respeito, no estudo das proporQoes de promoQao e da llovaliaC;aodas oportunidades de promoc;ao), Convenientemente adaptados, esses dados sebre as proporQoes reais de mobilidade, de aspiraQoes e de socializaQao anteci. pada as normas de urn estado social mais alto ofereceriam uma teoria funcional de com. portamento conformista e desviado. 3. Que conexoes, se algumas subsistem entre as proporQoes varil\veis de mobilidade e a aceitaQao da legitimidade do sistemE> de estratificaQao, por individuos diversamente situados naquele sistema? Ja que parece que os sistemas com proporQoes de mobilidade muito bai. xas podem alcanQar larga aceitaQao, qu:;,is serao as outras vari{weis interpretativas que ne· cessitam ser incluidas para se exp!icar a relaQao entre as proporQoes de mobilidade e as imput~oQoes de legitimidade? 4, Na vida, civil ou na. militar, sao os individuos m6veis, mais prontos a reafirmar o~ vaJeres de urn grupo que detem 0 poder ou 0 prestigio, os mais rapidamente aceitos por tal grupo? Funciona isto eficientemente, mais como funQao latente, na qual os individuos m6veis ado tam tais vale res porque os consideram como superiores, do que de maneira deliberada, apenas para ganhar aceitaQao do nevo grupo? Se tais orientac;oes sac definitiva· mente motivadas pelo desejo de "pertenc~r a urn grupo", tornam-se elas contraproducentes" sendo os individuos m6veis caracterizados como "penetras" e arrivistas (ou no Exercito, como "puxB·sa~,c.s", esforQando-se para serem promovldos)?
Processos sociais que ap6iam au rejreiam as orieniar:;6es positivas aos grupos a que nao se pertence. No exame das funQ6es de socializaQao an·
tecipada, temos feito alusao, de passagem, a proCeSSOSsociais que apoiam au refreiam este padrao de comportamento. Vma vez que sac exatameate os dados relativos a tais processos que nao sac HLcilmente captados no tipo de materiais de pesquisa de atitudes, principalmente utilizados em The American Soldier, e ja que tais processos sac fundamentais pan, qualquer teoria de comportamento de grupos de referencia, esses da· tios merecem ser examinados com maior vagar . Como temos visto, 0 que constitui a socializaQao antecipada, do pon· to de vista do individuo, e interpretado como defeCQao e inconformismo, pelo grupo de que ele e membro. Na medida em que 0 individuo se iden· Ufica com outro grupo, ele se afasta de seu proprio grupo. No entanto, embora 0 campo da sociologia se tenha ocupado durante va-rias geraQ6es com as determinantes e as consequencias da coesao de grupo, tem dado pouca atenQao sistematica ao aS8unto complementar do afastamento do grupo. Nas poucas vezes em que foi tomado em consideraQao, ficou limitado a casos especiais tais como 0 do imigrante da segunda geraQao, do conflito de lealdade entre 0 "gang" e a familia etc, Em geral, 0 assanto foi deixado para 0 observador literario, que descobria 0 drama inerente a situaQao do renegado, do traidor, do desertor. As conotaQoes car· regadas de valor de tais termos usados a fim de descrever a identificaQaG com as grupos diversos dos originais, sugere definitivamente que tais pa-
~lr5es de comportamento foram Lipicamente considerados do ponto de vi!';ta do grupo de filia<;ao. (No entanto, 0 renegado de urn grupo pode se,· o convertido de outro). Uma ve?: que se encontra em cada grupo 0 pres:::iUpostode que seus membros sa.) leais a ele, pois de outro modo 0 grapo nao teria carater grupal, nem confian<;a de a<;ao, a transferencia d'3 lealdade para outro grupo (particularmente urn grupo que opere na mesma esfera de interesses politicos ou econamicos), e considerada sobretudo em termos sentimentais afetivos, em vez de ser tomada em termos imparciais de analise. 0 renegado, 0 traidor ou 0 arrivista, - seja qual for a de~omina<;ao popular -- mais frequentemente se torna urn objeto ae desprezo do que de estudo sociol6gico. A e~trutura da teoria do grupo de referencia, separada da linguagem d~ sentlm~n:o, habilita 0 soci610go a identificar e a localizar a renega<;ao, a tral<;ao, a assimila<;ao dos imigrantes, a mobilidade de classe, a ascensao social etc., como outras tantas formas de identifica<;ao 'com aquilo que, num dado momento, e urn extragrupo. Assim procedendo proporciona a possibilidade de estudar esses extragrupos, nao como forparticulares e desligadas de comportamento, mas comas inteiramente mo express5es diferentes de processos semelhantes, sob condi<;6es significativamente diferentes. A transferencia de lealdade dos indivfduos da dasse superior para outra inferior - quer isto suceda no perfodo pr?-revolucionario da Fran<;a do seculo XVIII ou da Russia do seculo XX pertence a mesma categoria de problemas sociol6gicos que a mais familiar identifica<;ao dos indivfduos de classe mais baixa com os de classe mais alta, assunto este que ultimamente come<;ou a ocupar a aten<;ao dos soci610gos, numa sociedade em que a ascensao social e urn valor consagrado. Apesar dos nossos acentos culturais, 0 fenameno dos que estao POI' cima que adotam os valares dos que estao pOI' baixo, e urn fenameno de grupo de referencia tao digno de ser estudado quanta 0 dos indivfcuos ae Oaixo queprocuram se igualar aos de cima. Nessas deser<;5es do intragrupo, pode-se constatar, como tern sldo sugerido muitas vezes, que e 0 indivfduo isolado, nominal mente pertencente a urn grupo, mas apenas levemente incorporado a sua rede de rela<;5es sociais, que com maiar probabilidade se torne orientado positivamente em dire<;ao a grupos estranhos. Isto, porem, mesmo que seja geralmente yerdadeiro, e uma correla<;ao est.:Hica e, portanto, apenas parcialmente 0 que precisa ser descoberto e 0 processo atraves do qual esclarecedora. €st~ correla<;ao vem a Se realizar. A julgar pOI' alguns dos dados qualificatlvos anotados em The American Soldier, e por outros estudos acerca da deser<;ao de grupo, ha urn jago mutuo continuado e cumulativo entre uma deteriora<;ao das relagoes sociais dentro do intragrupo e as atitudes positivas em rela<;ao as norm as de urn extragrupo. o que 0 indivfduo sente como afastamento de urn grupo ao qual pertence, tende a ser considerado, pelos seus companheiros do mesmo grupo. como urn repudio ao grupo, provo cando, geralmente, uma reac;ao
hostil. A medida que as rclac;6es SOCialSentre 0 individuo e 0 resto do grupo deterioram, as regras do grupo se tornam menos obrigat6rias p::Lra ele, pois ja que ele esta progressivamente se afastando do grupo, e sendo por isso castigado, e menos provavel que encontre satisfac;ao na obediencia as regras do grupo. Uma vez iniciado, este processo pareca mover-se em direc;ao a urn desligamento cumulativo do grupo, em termos de atitudes e de valares, assim como em termos de rela<;6es sociais. E na medida em que ele se oriente em direc;ao a valares fora do grupo, afirmanclo-os as vezes verba!mente e expressando-os em a<;ao, ele apenas alargara a brecha e reforc;:u<'la hostilidade entre ele mesmo e seus companheiros do intragrupo. Atraves da intera<;ao da dissociac;ao e do progressivo abandono dos va16res do grupo, ele pode tornar-se duplamente motivado para se orientar em dire<;ao aos valares de outro grupo, e para 5e filiar a eles. Entao fica de pe a questao da possibilidade objetiva de filiac;ao ao grupo de referencia. Se a possibilidade for desprezivel ou inexistente, 0 indivfduo aliena do torna-se socialmente desenraizado; mas se c sistema social realisticamente permite tal mudanc;a nas filiac;5es gru[lais, entao 0 indivfduo que S8 tornou estranho a urn grupo tern mais motivagao para pertencer a outro. Esta explica<;ao hipotetica da dissociac;ao e do afastamento, a qual evidentemente toea apenas em processos que exigem pesquisas no campo do comportamento dos grupos de referencia, parece concordar aproximailamente com dados qualitativos tirados de The American Soldier sabre aquilo que foi designado POl' varias express5es coloquiais ou de gfria, tais Gomo "puxa-saco", "louco por uma promo<;ao", "lambedor" etc. Trechos do diario de urn soldado exemplificam a interac;ao entre a dissocia<;ao e a afastamento: 0 homem que se orienta para fora do grupo e muito diIigente em se pautar pelas normas oficiais: "Mas a gente tem [que trabalhar aqui]. 0 tenente disse que se espera que cada urn trabalhe"; - isto provoca a hostilidade do grupo expressa em epftetos e ridiculo "Todo mundo esta agora imltando sons de beijos e de chup5es, dirigidos a Fulano e Beltrano" - hostilidade acompanhada por crescente dissocia!;ao dentro do grupo - "0 ostracismo era visivel, mas moderado ... poucos se mostravam amig£weis para com eles ... em certas ocasi6es as pessoas evitavam sua comp;;nhia" - e a associa!;ac mais frequente com homens que representavam c extragrupo - "Sicrano, Fulano e Beltrano 'puxaram' a tarde tada; rodeiam os tenentes e faz'!m perguntas espertas". Neste breve e resumido relato, Se veem os mecanismos do intragrupo funcionando a fim de refrear a orientaQao positiva em favor das r.ormas oficiais,46 b'!m como 0 processo atraves do qual essa orienta-
46. "Urn folheto ofieial do Ministerio da Guerra, distribuldo a novos recrutas, tentava elogiar a atitude dos recrutas que procuram "valorizar-se": 'Valorizar-se', significa t6das as coisas que urn soldado pode honestarnente fazer, a firn de conquistar atenQao e prornoQao. 0 Exercito estirnula os conscritos a fornecer urn esf6rQo extra nos treinos, 'a. se II
~ao se desenvolve entre aq~(:les que tomam tais normas como sua prillclpal estrutura de referencia, considerando seus lagos com 0 intragrupo como sendo de importancia apenas secundaria. A julgar pelas implicag6es desta pesquisa em mesa-redonda acerca da conformidade e mobilidac.e, ha lugar para 0 estudo das conseqiiencias dos tipos de conduta relativa a urn grupo de referencia, bem como de suas determinantes. Alem disso, as conseqiiencias pertinentes a sociologia, nao sac apenas as que resultam para os individuos que seguem esse comportamento, mas tambem as que result am para os grupos de que fazem parte. Desenvolve-se tHmbem a possibilidade de que 0 grau de legitimidade que se concede a estrutura desses grupos e a situagao de seus membros possa afetar a extensao dos grupos ou estratos que sac ordinariamente tornados como armagao de referencia, ao avaliarem sua propria situagao. E, finalmente, esta pesquisa em mesa-redonda chama a atengao para a necessidade de urn estudo rigoroso daqueles processos na vida do grupo, que apoiam au refreiam as orientag6es em relagao a grupos estranhos, estudo que talvez possa conduzir a uma articulagao da teoria dos grupos de referencia com as teorias correntes da organizagao social.
Em nosso estudo do caso anterior, fizemos urn esforgo para distinguir entre as conseqiiencias da orientagao positiva em diregao a urn grupo estranho, no que concerne ao individuo, ao grupo ao qual pertence originalmente e ao sistema social em geral. Se urn padrao de comportamento tipicamente estabelecido, como supomos, apresenta tais conseqiiencias diversas, 0 mesmo podera ser proveitosamente examinado sob urn ponto de vista tanto psicologico como sociologico. De vez em quando, The American Soldier analisa 0 comportamento apenas em termos de estrutura psicologica. Em alguns de tais casos, a mesma situagao pode ser vantajosamente reexaminada em termos de suas correlag6es a estrutura da soci.0logia funcional. 47 Isto nao quer dizer que a orientagao sociologica seja necessariamente "superior" a psicologica, ou que ambas estejam necessariamente em rr.utua oposigao. Mas sac diferentes. E se
apresentar com os sapatos engraxados e os bot6es polidos', a capricha,r, em suma, na aparencia pessoal. As vezes, isto pode tornar a vida desconfortavel para os mais "folgados', mas estimula 0 espirito de competi~ao e melhcria que faz 0 nosso Exercito superior aos outros". I, 264. 47. E interessante observar como a cxperiencia profissional anterior de cada critico aparentemente se reflete em sua aprecia~ao individual de The American Soldier ... No exame desse livro, 0 psic610go Gordon W. Allport refere-se ao que denomina "sua inclina~ao socio16gica". E aqui, dois soci610gos estao afirma,ndo que tal obra tern marcada "orieTlta~ao psico16gica". as autores poderao confortar-se mutuamente com as reclprocas "2o<:u, saQoes".
olharmos estes materiais de uma perspectiva diferente daquela constante do proprio texto poderemos, talvez, revelar ulteriores implicag6es destas pesquisas aplicadas, para com a teoria social. Caso N.o 6 (II, 272-84). Entre os casos que exibem acentuada arie~tagao psicologica, esta 0 resumido relata das experiencias dos soldados nos "depositos" de reforgo (reserva), aqueles estacionamentos do Exercito onde se faz a filtragem dos recrutas vindos dos campos de treinamente· e que se destinam a preencher as vagas das unidades em combate _ 0 auto I' pinta urn vivido retrato psicologico do deposito de reforgo: das "fontes de disturbio psicologico aparentemente irredutiveis" do deposito, onde as tropas de reforgo sac distribuidas impessoalmente e em grosso pelo pessoal permanente do deposito, e onde 0 individuo tern apenas um status prodsorio, faltando-Ihe 0 "apoio de lagos sociais e a certeza de ter urn lugar fixo em alguma organizagao". Provavelmente, "a caracteristica mais saliente da vida no deposito... era que a situagao levava a urn estado de ansiosa incerteza sem oportunidade para aliviar a tensao". (II, 274) Uma conseqiiencia da vida no deposito era fazer com que 0 recruta "aceitasse com prazer muitos aspectos de uma designagao permanente em deterrr-inada unidade". Embora isto nao significasse que eles consideravam bem-vindo 0 proprio combate, "mesmo em relagao a isto ... a terminagao da ansiosa incerteza era provavelmente em alguns aspectos urn ganho psicologico. 0 novo combatente podia dizer para si mesmo: Melhor ou pior, "isto agora e definitivo". (II, 176) o Departamento de Pesquisas, interessava-se, a seguir, com a seguinte pergunta: Quais sac os efeitos dessas experiencias sobre 0 soldado de reserva? Porem os mesmos dados envolvem outro tipo de problema, desta vez do ponto de vista da sociologia funcional: 0 problema, nao do efeito do deposito sabre 0 soldado de reserva, mas sabre sua subseqiiente incorporagao a urn grupo de combate . A analise fUDcional dessa situagao comegaria conceitualizando 0 papel social do deposito de ref6rgo, que pertence a categoria de uma organizagao que maneja a passagem de individuos de urn grupo para outro. Como sucede tipicamente na descrigao urn tanto generalizada de uma situagao, outras situag6es nominalmente diferentes no nivel de senso-comum, sac consideradas como pertencentes a mesma categoria geral. Os materiais de analise atualmente espalhados nas numerosas paginas de The American Soldier tornam-se exemplos tipicos deste padrao de transigao de um grupo para outro: POI' exemplo, 0 deposito de reforgo, neste aspecto, nao apresenta essencialmente nenhuma diferenga em relagao a base de redistribuigao, que serve de intermediaria entre uma unidade de combate e urn novo posto no territorio dos, Estados Unidos. Alem do mais, os sociologos tern estado POI' muito tempo interessados nos padr6es sociais padronizados que regulam a passagem de urn grupo para outro, em varias areas institucionais, pOI' exemplo, a transigao do diplomado do co· legio para 0 primeiro ana universitario.
As dificuldades pessoais e SOCialSenvolvidas em tais transferencias sao consideradas como surgindo, em primeiro lugar, do duplo processo do romper velhas filiac;;6es grupais (ou de coloca-Ias em segundo lugar) e de construir novos lac;;osgrupais. Num certo sentido, isto e comparavel ao processo da absorc;;ao inicial do recruta em sua primeira unidadf' do Exercito, com todas as dores de crescimento inerentes a formac;;ao de grupos. Mas neste ambiente especial, 0 individuo tem seu ajustamento imensamente facilitado, ja que tal problema nao Ihe concerne em particular. Cada um dos demais membros do novo grupo em format<9.o esta expe:'imentando urn problema semelhante, quer seja ele urn estudante d0 primeiro ano da universidade, ou um bisonho recruta do Exercito. Contudo, uma vez que ele e parte des~.e grupo, a transferencia para outro grupo ja estabelecido e um assunto inteiramente diferente, como qualquer crianc;;a que e transferida de uma escola para outra no meio d.) periodo letivo pode relatar. Neste caso, seu contato inicial com 0 novo grupo pode, com muita certeza, envolver uma intensificac;;ao dos velhos lac;;os - seus velhos amigos, seus ex-professores, sua velha escola, sac imbuidos de urn afeto desproporcionadamente grande. Este e muito aproximadamente 0 mesmo fenomeno que 0 dos sold ados separados das suas velhas unidades de combate e tendo que se acamodar em novos postos do exercito situados no territ6rio patrio. Urn estudo de The American Soldier relata que os elementos que voltam aos Estados Unides dao ;nuita importancia a que Ihes seja permitida "continuar a usar a insignia de suas velhas unidades" (II, 507-508), - assim como a crianc;;a de escala, sbruptamente transferida, pode intensificar seus lac;;as parg, com 0 velho grupo. Ambos demonstram resistencia a um subito "desmame" de 1..IT, grupo. A crianc;;a de escola, sendo urn individuo isolado, nao apresenta desafio a unidade do novo grupo* e com 0 tempo, ela sera usual mente ,.)
A este respeito, vel' como C. S. Lewis, nli primeira parte de sua autobiografia. zomba da necessidade funcional do "trote" na.s escolas secundarias particulares inglesas, ou pelo menos. na escola que ele teve a sorte de freqiientar. "Interessante e que 0 sistema UP 'public schools' haja produzido assim a pr6pria coisa que se propunha evitar ou cumr (Na Inglaternh, "public schools" significa escola secundaria e universitaria, mantida nao pelo governo, mad POl' entidades ,privadas e freqiientada pe!os "f!lhos de familla" oa sociedade tradicional. - N. do trad.>. Pois voce tern que entender (se voce nao fol tambem aluno dessas escolas), que a coisa tOda foi imaginada para ·tirar as pretens6es' dos rapa.zes menores e 'coloca-los em seus lugares'. Conforme 0 meu irmao m~ disse certa vez: 'Se os calouros nao sofressem 0 trote, tornar-se-iam insuportaveis' ... E 6bvio que certo perigo grave estava sempre presente nas mentes daqueles que edlEcaram a hierarquia de Wyvern. Parecia-lhes evidente POl' si mesmo, que se a gente cleixasse as coisas entregues a si pr6prias, os rapazes de dezenove anos, que jogavam 0 futebol 'rugby' no time do Condado e representavam a escola nos torneios de boxe, seriam derrubados e pisados pelos ca,louros de treze anos. Voce compreende que isto seria urn espetaculo chocante. POl' conseguinte, era necesssllrio elaborar urn mecanil;o mo para proteger os fortes contra os fracos, a corpora~ao fechada dos veteranos contra a cambada de recem-chegados, que mal se conheciam entre si e desconheciam 0 nOvo ambiente, em suma.. defender os tremulos le6es contra os furiosos e vorazes cordeiros" C. S. Lewis, Surprised by Joy: The Shape of l\1y Early Life (Nova Iorque: Harcourt. .Brace & Co., 1955), 104-106.
aceita em suas fileiras; porem se urn numero razoavel de novos alunos se confrontasse com 0 grupo, insistindo nos lac;;oscom a velha escola, poderia surgir a necessidade de se estabelecer urn para um "dep6sito educaclonal", a fim de evitar as conseqiiencias disfuncionais desses desafios a nnidade do grupo. Este e precisamente 0 problema da situac;;ao no Exer(~ito. Tendo sido construida em bases bastante frageis, a unidade de urn grupo do Exercito poderia ser seriamente prejudicada pela introduc;;aode urn consideravel numero de sUbstitutos, se as previas ligac;;6esdestes ultimos nao se tivessem rompido antes de sua inclusao no novo grupo. Assim, da perspectiva da eventual facilidade dos elementos de substituic;;ao em serem absorvidos num grupo de combate, novo para eles, bem como do ponto de vista de seu efeito potencial sobre 0 grupo em que ingressam, pode bem surgir uma exigencia funcional para que niio sejam imediatamente transferidos do grupo de treinamento para 0 grupo definitivo com 0 qual entrarao brevemente em comb ate . Uma alternativa foi efetivamente posta em pratica durante os anos da guerra: filtrar os soldados recem-treinados, atraves dos dep6sitos de substituic;;ao. Isto sugere a func;;ao latente possivelmente realiz'tda pelo dep6sito de substitui<;ao: pode servir para afrouxar os anteriores lac;;os militares do soldado, tornando-o assim mais maleavel a pronta absorc;;ao em seus grupos de combate. De maneira muito semelhante ao escafandrista, que se ajusta a pressao atmosferica normal, no fim de urn dia de trabalho, passando por camaras de descompressao, assim 0 soldado "e desagrupado" passando atraves dos dep6sitos de substituiC;;ao. Isto era tanto mais imp ortante, em vista da velocidade com que os elementos de sUbstituic;;ao eram efetivamente enviados a frente de batalha depois de se unirem a urn grupo de combate. Em certo estudo, constatou-se que a metade dos infantes de sUbstituic;;ao entrou em combate real tres dias ap6s haverem se juntado a sua unidade. Em outras palavras, a excessiva ansiedade psico16giC'aobservada pelo Departamento de Pesquisas, como caracteristica cfa vida no dep6sito, pode tambem ser considerada como indice de comportamento num estado de temporaria "ausencia d~ grupo". Qualquer que seja, porem, a camcteristica a ser salientada - 0 fenomeno sociol6gico subjacente da "ausencia de grupos" ou a ansiedade psico16gica extern a e visivel - 0 soci610go funcional procuraria trac;;ar suas conseqiiencias organizacionais, isto e, Sp.u impacto sobre a absorgao do elemento de substituic;;ao dentro de seu mais importante grupo do Exercito, a unidade com a qual ele serve em combate. 48 48. Anteriormente ja mencionamos a similarid~.de entre a tun~ao do "dep6sito de tropas de reserva" e a da "base provis6ria para novas designa~6es", atraves da qua.l 0 sold ado que volta ("returnee") e transferido de seu grupo de combate para nOvo pOsto no territ6rio patrio. Urn exame do estudo do solda.do que volta, em The American Soldier (II Capitulo a respeito dos problemas de Rodlzio e Reconversao) sugere que 0 processo de
A ansiedade que acompanha 0 processo de "desagrupamento" bem pode ser disfuncional para 0 soldado individual, no tempo em que esta passando por tal processo, e para alguns soldados, pode ter tido serios efeitos em seu ajustamento pessoal geral. No entanto, este mesmo processo de "desagrupamento" pode ter conseqiiencias funcionais para outras unidades de organizac
ja. estivessem
incorporados
as
suas
novas
unidades
por
mais
tempo
que
os
que nao tin ham estado no exterior. Na For~a Aerea, POI' exemplo, 34 POI' cento dos <]~e foram repatriados e 15 POI' cento dos que ficaram no territ6rio patrio disseram ']lIe nao se sentiam "pertencentes" a. seus novos grupos. A diferen~a entre os repatriados e os que nao tin ham saldo da patria, em outros ramos das For~as Armadas, decresce levemente, da diferen~a de 17 POI' cento na For~a Aerea, (mais coesa), a 11 POI' cento (II, 507) A rapidez e faci1idade do processo de desagrupa. no Servi~o de Intendencia. men to e subseqiiente reabsor~ao num novo grupo, parecem depender da fOr~a dos la. ~os com 0 grupo anterior. Pois meso 49. Notal' esta possivel fun~ao da ansiedade, nao significa patrocinar a ansiedade. mo como uma concomitante do proce~so de desagrupamento, nem todas estas situa~o"s de ansiedade sac funcionais para a. organiza~ao social. No caso dos cursos de aspirant,~s Ulna a oficial, por exemplo~ as quais upodem ser considerados como uma provacao", conseqiiencia da sit\la~ao de alta a,nsiedade era arrancar do aspirante a oficial qua;. quer vp.stigio de seus antigos valOres de graduado, 0 que aparentemente contrariava sua Depois de uma sUbseqiiente capacida.de de entender 0 ponto de vista do graduado. analise das rig'orosas prova~oes POl' que passam os candidatos ao oficialato, em termos de casos para pesquisa, ali se dizia que: ..... ha bastante plausibilidade neste rela.to de transmissao da cultura, para descobrir neste processo 0 motivo pelo qual muitos ofi~iais, que anteriormente fom,m soldados, pareciam incapazes de aplicar sua expel'lJnCla como gradua.dos aD procurar en tender 0 ponto de vista dos recrutas." n, 391) Da perspectiva da. consciencia hierarquica do Exercito, is to pode ou nao pode ser con. siderado censuravel, mas parece evidente que os graduados - produtos de urn sistema de cultura que salient a 0 valor da igualdade democnitica - cumpriam melhor os sel1~ deveres quando acreditavam que a distancia entre eles e seus chefes no.o era in trans· poni~el, quando senti am que seus oficiais tinham rela.tivamente poucos privilegios malS q~e €les, e' assim POl' diante. (I, 369) Em outros ca.sos, porem, as conseqiiencias funcionalS do processo de desagrupamento, quanto aos objetivos do Exercito, podem sobrepu. Jar mUlto a.s conseqiiencias disfuncionais temporarias do soldado enviado ao "dep6sito de reserva~". Do ponto de vista de uma concep~o.o estreitamente definida da engenharia sOCIal, IStO poderia conduzir a recomenda~oes tendentes a extenso.o do "desagrupamen. to", media.nte providencias expl1citas, para criar organiza~es ou situa~oes transit6ria.;
incorporados em seu novo grupo de combate. Na medida em que isto fosse verificado, teria influencia sabre 0 problema mais geral de fatores ~ processos que afetam a passagem de urn grupo para outro. De certo modo, isto completaria a analise penetrante do dep6sito de substitui. c;ao, apresentada por The American Soldier.
CONCEITOS RELACIONADOS COM A TEORIA DOS GRUPOS DE REFERENCIA Das alus6es espalhadas atraves do· estudo que antecede, e evidente que certos fatos de comportamento relativo a grupos de referencia foram
orientar
seu COlnportanlento
com
referencia
a seu status
de cIa sse
media."
Ibid.,
300 Los grifos SaD nossos I. E interessante observar que os problemas tecnicos de obten~ao de amostras para as pesquisas de opinio.o, for~aram a aten~o.o para 0 pr6prio fa,to de que 0 status econO· Assim: "0 mico e relativo a distribui~o.o do rendimento na comunidade circundante. proprietario de uma pequena loja de cal~ados em Dubuque, Iowa, casa,do, sem filhos e ganhando 5.000 d6iares pori anD, encontra-se coloca.do entre as pessoas pr6speras da ci· Sua dade... Ele encontra-se economicamente, perto do 'alto da pilha' em Dubuque. associa~o.o com outra,s pessoas pr6speras do lugar 0 inclinam a considerar seu destillo como sendo bastante .ligado ao das pessoas pr6speras em toda parte... Deem os mesmos
embora 0 fate especffico de que as auto-avalia<;oes sac relativas e a estrutura "do" grupo tivesse side observada com freqiii!mcia, nao era conceitualizado em termos bastante gerais para conduzir a pesquisa sistematica sabre as correla<;oes do fato. Urn termo como "grupo de referencia" e uti] nao porque 0 termo em si mesmo ajude a explicar 0 comportamento, mas porque ele nao permite que com facilidade deixemos de considerar este Gomponente das auto-avaliagoes. A propria generalidade da expressao wnduz-nos a percepgao de similares sob as dessemelhangas aparentes de comportamento. Mas a parte de tais observagoes isoladas, tern havido diversas linhas de desenvolvimento em sociologia e em psicologia social, que agora prometem fundir-se numa teoria funcional do comportamento do grupo de referencia. Cada urn destes fatares, a sua maneira, tern feito contribuigoes importantes, porem, em retrospecto, 0 fato impressivo e que, em grande medida, suas mutuas correla<;oes ainda nao foram consolidadas. Como e geralmente sabido, estas sac as concep<;oes dos intragrupos e dos extragrupos, estabelecidas por Sumner, as ideias referentes ao ser social desenvolvidas por James, Cooley e Mead, as pesquisas sistematicas mai~ 7.ecentes sabre 0 comportamento dos grupos de referencia, representados pelo trabalho de Hyman, Sherif e Newcomb, e os numerosissimos esturios especiais acerca de problemas concretos de comportamento humane tais como os que tratam de aculturagao, assimila<;ao, 0 homem marginal: '" mobilidade social, os papeis mUltiplos, as lealdades conflitantes, as pressoes cruzadas, e seme1.hantes. o fato geral, e nesta forma truncada, pouco instrutivo, de que os homens sac orient ados de varias formas em relagao a grup08 que nao os ~eus pr6prios, foi captado na terminologia inventada por Sumner, para d.istribuir entre "n6s mesmos, 0 nosso grupo ou intragrupo, e todos os demais, os outros grupos ou extragrupos". 52 Sumner prossegue na descri«aO das relagoes entre estes tipos de grupos. Essencialmente, estas observagoes urn tanto prematuras sustentam que as condigoes de amizade e ordem se concretizem nos intragrupos, ao passe que a relagao para com os extragrupos e de hostilidade, saque e exploragao. Que tal e 0 caso (sob condi<;oes especificas) Sumner pade demonstrar atraves de numerosos exemplos extraidos da hist6ria e da etnologia. Porem, ado tan do 5.000d61ares
por ano a urn gerente de vendas assistente que resida em Nova Iorque e tenha. duas filhas em idade escolar, e voce verificara que ele nao se considera com') ~ertencente ao mesmo nivel economico do negociante de calCados de Dubuque, nem ele pensa ou vota, de maneira semelhante aquele homem, a respeito de muitos assunl03 lmportantes". Elmo Roper, "Classifying respondents by economic status", Publie Opinion sampling and poll Q~arterly, 1940,4, 270; ver tambem, S. S. Wilks, "Representative rellablllty", ibid., 263: "Urn salario de 3.000d61ares por ano em Nova Iorque si"nifica uma cOlsa e .a mesmo salario numa pequena cidade do Arkansas represent a, alg~ com0 problema da situacao economica na amostragem e hoje mane Pletam:nte dlferente. Jado sobre 0 que equiva,le a uma base relativa em cada localidade em que se tomoL! a amostra ... " 52. W. G. Sumner, Folkways, 12.
uma forma descritiva, ao inves de analitica, a respeito dos fatos do assun(;0, ele inevitavelmente toldou e obscureceu 0 fato por outro modo conspicuo de que, sob certas condigoes, 0 grupo de fora torna-se uma base de referencia53 positiva, nao apenas h0Stil, e que a ciencia da sociologia e. portanto, incumbida de determinar as condigoes sob as quais uma ou elUtra das orientagoes para os grupos de fora sac predominantes. Em resumo, a distin<;ao inicial colocou Sumner no caminho adequado, destin ado a iniciar uma serie de problemas relativos ao comportamento dos grupos de referencia; mas este caminho para 0 desenvolvimento de uma teoria de comportamento dos grupos de referencia, aberta em principio aos que a quisessem' explorar desde a publicagao de Folkways em 1906, nao foi acompanhada pela pesquisa sistematica. Apenas com 0 leve exagero inevitavel quando se resume numa s6 fr:),f:e um grande numero de fatos, pode-se dizer que as antecipagoes da teoria do grupo de referencia, por James, Cooley e Mead, tambem permanece!'am quase totalmente nao desenvolvidas, durante uma geragao ou mais. Particularmente entre os sociologos, suas concepgoes foram tratadas, nao como urn comer;o, mas como uma conclusao virtual, repetidamente citada " ilustrada com novos exemplos de multiplos "eus" do "eu" - espelho das reagoes aos gestos significantes de "outros", e assim por diante. E devido ao fate de as palavras dos precursores se tornarem palavras finalS, pouco foi edificado sabre suas sugestoes cheias de penetragao ("insight"). Eles foram honrados, nao pela maneira em que os homens de ciencia honram seus predecessores, ampliando e elaborando suas formulagoes, a ba· se de problemas cumulativamente desenvolvidos e de pesquisas sistematicas incidentes sabre tais problemas, mas da maneira pela qual os literatos honram seus antecessores, citando repetidamente as passagens "definitivas" das obras do mestre. Certos psic610gos sociais, entre os quais se destacam Hyman, Sherif e Newcomb54 tern feito avanQar urn tanto esta teoria, planejando pesquisas Este caso de descontinuidade na teoTia do grur:o de referencia e da maior importancia, pois Sumner evidentemente reconheceu em ou~ros trechos, que aquilo que ele deno"minou "imita~ao" ou "emula~ao" dos moldes de comportamento dos extr21grupos, aCOIltecia rea!mente. Essas observacoes nao foram, porem, sistematicamente ligadas com suas anteriores distincoes entre intragrupos e extragrupos. de maneira a que resulta.sse1l1 numa serie de problemas analiticos relativos aos diversos padroes de comportam:nto de grupos de referencia, sob varias condicoes. Assim, tambem, ile fez co,:,entanos sobre o "pa,rvenu", (07) individuo que, evidentemente, esta passando de urn mtragrup~ para outro mas nao desenvolveu as questoes te6ricas e analiticas focallzadas por tals mua danc~s no grupo de filiacao. Em suma, ele fez numerosas observao<;oes pertinentes problemas de grupos de referencia, mas elas permanecem espalhadas e desligadas, em vez de serem anallticamente agrupadas e vistas como aparenta,das. 54, Hyman, op. eit.; M. Sherif, em. sua obra Psychology of Social Norm~, (Nova Iorque: Harper 1936)movia-se em direcao a uma concepcao de grupos de referencla, malS com, , . . I PhI T M pletamente desenvolvida em seu livro posterior, An OutlIne of SOCla syc oogy, . . Newcomb em sua monografia Personality and Social Change, (Nova Iorque: Dryd~n . representou urn grande '. Press, 1943), passe adlante nessa d'ue<;ao, e sua SoCJ'al Psychology
53.
(Nova Iorque:
Dryden
Press,
1950),inclui
pesquisas
mais
recentes.
emplrlCaS que se teriam alimentado nas formulag6es te6ricas do comportamento dos grupos de referencia. E desde que os seus dados eram sistematicos, ao inves de aned6ticos, logo se encontraram em confronto com muitos dos mesmos problemas que emergem das pesquisas de The American Soldier. 0 estudo de Newcomb, em particular, centralizou-se nao apenas sabre os contextos dos grupos de referencia, de atitudes, percepg6e'5 e opini6es, mas tambem considerou a organizagao social que afetava a escolha dos grupos de referencia. As pesquisas de The American Soldier pertencem a esta ultima linha de desenvolvimento, consistindo em numerosos estudos empiricos, de tipos de comportamento ostensivamente diferentes, os quais nao obstante envolvem processos sociais e psicol6gicos semelhantes. Desde que os dentistas sociais estao equipados com alguns metodos, embora ainda insuficientes, para 0 estudo do comportamento dos grupos de referencia no curso ordinario da vida diaria, nao precisam olhar s6mente para as situ ag6es projetadas nos laborat6rios de psicologia social, que deixam fora de :mas paredes as relag6es sociais estabelecidas, as quais compreendem a organizagao' de grupos na sociedade. Urn recruta do Exercito, procuran00 promogao, s6mente num senso estrito e te6ricamente superficial pode ser considerado como seguindo urn comportamento diferente daquele do imigrante que assimila os valores de urn grupo nativo ou de urn indivi.duO .da classe media inferior que conforma seu compo;tamento pelo que Ideahza como sendo os padr6es da classe media superior, ou 0 de urn me. nino de favela, que se orienta pelos valores de urn assistente social em vez de faze-Io pelos valores de uma quadrilha da esquina da rua, o~ de uma estudante de Bennington que abandona as crengas conservadoras de seus pais para adotar as ideias mais liberais de suas coloegas de colegio, ou de urn cat6lico de classe inferior que se distancia do padrao de seu intragrupo quando resolve votar com os republicanos, ou de urn aristocrata frances, do seculo XVIII, que se alinhava com urn grupo revolu. clonario de sua epoca-. Embora possam variar em detalhe, essas formas de co~portamento nao sac necessariamente desligadas, "pertencendo", res~e.ctlVa~e~te, as jurisdig6es da sociologia da vida militar, das relag6es raCIals e etmcas, da mobilidade social, da delinqiiencia (ou "desorganizac;:aosocial"), da sociologia educacional, da sociologia politica e da sociologia da revolugao. Tais divis6es convencionais, em termos c.e esferas superficialmente distintas do comportamento humano, servem para obscurecer a similaridade dos processos sociais e psicol6gicos com os quais se ocupam concep{i6es mais abstratas, tais como as de teoria dos grupos de referencia. Tal como se pode ver no quadro de variaveis, na primeira parte deste :rabalho, a combinagao de elementos pode diferir, dando assim origem a form as abertamente distintivas de comportamento, porem isto pode ser, n~o obstante, apenas diferengas de processos semelhantes, sob condig6es Todas elas podem representar os casos de individuos que se dlferentes.
tornam identif:icados com grupos de referencia a que aspiram, ou nos auals acabaram de conseguir filiagao. E na medida em que assim for, os ;omportamentos observados podem, em principio, ser derivados de urnas poucas concepg6es gerais que sejam validas para todos, ao inves de ter sua similaridade obscurecida por terminologias variaveis, tais como promogao, assimilagao (e aculturagao), luta de classes (0 superconformismo), socializagao, desvio social, apostasia, ou ainda, privagao relativa, conflito de papeis, press6es cruzadas e falsa consciencia. o primeiro estagio das concepg6es de grupos de referencia e craveja· do de exemplos nos quais as ocorrencias hist6ricas particulares, da sociedade levou os soci610gos a se concentra rem sabre esferas de comportamen~o social, nas quais os padr6es de comportarhento dos grupos de referencia eram not6rios. Assim, os estudos de assimilagao, clara circunstanCIa em que ha referencia a cUltura dos extragrup6s, foram precipitados I.elas ondas de imigrantes para os Estados Unidos e as subseqiientes angUstias da absorgao de pessoas de outros ambientes culturais. Assim, tambem, 0 crescente interesse sociol6gico na mobilidade entre as classes sociais e na "falsa consciencia" pela qual os homens se identificam com as classes "as quais nao pertencem", parece ser em parle uma reagao ~ discussao aberta das classes e a urn sentido possivelmente reforgado da luta de classes. Em tais exemplos, a escolha do tema pelo soci6logo era ditada mais por problemas praticos concretos, do que pelas exigencias da teoria sistematica. Como resultado, havia marcada tendencia para as concepg6es interpretativas permanecerem particularizGJd'as na esfera especial de comportamento que estava sob consideragao. Desenvolveram-se conceitos distintivos, apropriados a cad a esfera, como instrumentos de analise separad06 e quase isolados, e freqiientemente perdiam-se de vista suas sobreposig6es te6ricas e suas conex6es. A especializagao das investigag6es em termos dos problemas praticos gerados pela mudanga social algumas vezes desenvolveu-se as expensas de urn corpo mais geral de teoria. Os casos especiais usurparam a atengao e introduziram-se conceitos especiais, porem a tare fa de sua consolidagao te6rica estava apenas iniciada. Embora nosso breve exame dos casos tenha fornecido s6mente sugestoes para este efeito, elas sac talvez bastante para dar peso as possibili-' dades de que nao se trata de formas nao relacionadas de comportamento social, mas de manifestag6es concretas de padr6es subjacentes de comportamento de grupos de referencia. 55 Parece provavel que se as pesc.uisas especiais tragarem as conex6es te6ricas entre essas formas de .55.
1'd - te6rlca nas Um h'sloriador da ciencia comentou problemas compE,raveis de conso I agao . ifie'l cienci2.s naturais e f5.sicas: " ... de t6das as form as de atividade .mental a mals do_DO de induzir ... e a aria de manejar 0 mesmo feixe de dados Ja eXIstentes, colocand en;~ porem num novo sistema de relag6es reciprocas e dando-Ihes uma estrutura dlfer ., o que'Significa virtu2Jmente coloca-Ios, no momento. em diferente capitulo de pensamento". H. Butterfield, The Origins of Modern Science (Londres: Bell, 1949), 1.
C'ompoItamellto, elas produzirao uma daquelas teorias de alcanc'e l'n t er _ " . rr.edIarlO que consolidam hip6teses por outra mOdo segregadas e 'f'd d . . un10r 1~1 a es emp1rICas. A concepc;ao mais ampla ,e mais completa significarIa, por exemplo, que a pesquisa sabre os mol des de ajustamento dos l' ._ 'b . . m1 gran t es con t rI Ulna com sua cota para a mesma teoria que orienta a . d' t Ab . pesqUlsa ue a so re, digamos, os fat ares da mobilidade soc1'al EAt . , . _ . es es pas~Ol;.rumo a consol1dac;ao redundariam numa acumulaQao mais rapida da ,~orIa de grupos de referencia, ja que as pesquisas sabre diversos depai" tamentos do comportamento humano se estimulariam e apoiariam mutuamente. Pelo m:nos, isto parece ser 0 significado desta revisao prelimi. 7lar das concepc;oes dos grupos de referencia, em The American SoLdier.
Xl
o
CONTINUIDADES NA TEORIA DOS GRUPOS DE REFERENCIA E ESTRUTURA SOCIAL
CONCErTO de grupo de referencia originou-se formaJmente no campo da psicologia social. Este campo focaliza primariamente as rea· c;6es dos individuos em relac;ao a seu ambiente interpessoal e social mais extenso. Em consequencia, quando a pesquisa experimental e a investigac;ao te6rica dos problemas de grupos de referenda se puseram a caminho, concentraram-se sobretudo no estudo das determinantes da escolha dos grupos de referencia pelos individuos e das consequencias dessa escolha para a personalidade. Mas, como foi indicado varias vezes no capitulo anterior, 0 eonceito de grupo de referEmcia tern lugar destacado na teoria da sociolcgia, com seu foco sabre a estrutura e as func;oes dos ambientes sociais onde estao localizados os individuos. E evidente Clue a teoria sociopsicol6gica e a teoria sociol6gica dos grupos de referencia, nao sac nitidamente separaveis; em parte, elas se sobrepoem e, em parte, elas se completam. Constituem, todavia, niveis c1iferentes de analise te6rica, que e uti! distinguir peri6dicamente, com a Iinalidade de descobrir problemas te6ricos distintos. E certamente possivel que em definitivo, a psicologia sociaJ e a sociologia formem urn todo indivisivel, como tambem pode acontecer que tada a ciencia seja uma s6. Mas, por enquanto, e mais uti! observar as diferenc;as entre estes tiPOSIe niveis da teoria, a fim de que possam ser relatados mais sistematicamen1e. De qualquer mane ira, e desta perspectiv:1 que eu empreendi 0 exame das continuidades na teoria dos grupos de referencia, a partir do momento em que 0 capitulo anterior foi pela primeira vez escrito. Durante este periodo de aproximadamente seis anos, muito foi aprendido e I!1uitas lacunas no conhecimento foram descobertas. E neste sentido que as paginas seguintes sao organizadas em termos dos problemas te6ricos, tanto de grupos de referencia como de temas afins de estrutura social em geral.
(
A medida que urn campo de pesquisa e intensivamente cUltivado, seus conceitos basicos san progressivamente esclarecidos. Conceitos que de lUlClO pareciam adequados, precisam ser ulteriormente especificados, quando se acumulam os resultados da investigaQao. A medida que se dediferenciados termisenvolvem conceitos especificos, san frequentemente 1l016gicamente, a fim de fixar as distinQoes que se tern em mente. 1 Este esforQo para esclarecer os conceitos basicos representa uma linha de con. tinuidade recente, no desenvolvimento da teoria dos grupos de refe. rencia.
CLARIFICA\=AO DO CONCEITO DO GRUPO DE REFERENCIA E uma nOC;aoindubitavelmente antiga e provavelmente s6lida, a de que os homens agem numa estrutura social de referencia, suprida pelos grupos dos quais fazem parte. Se fosse somente esta a preocupaC;ao de teorie. do grupo de referencia. seria apenas urn termo no. va para urn velho foco da socioiogia, a qual sempre se concentrou sobre a determinante grupal do comportamento. Cantu do, ha a fato posterior de que os homens freqtientemente se orientam por grupos Qutros que nao os seus proprios, ao moldar seu comportamento e Sua,s avaliac;6es, e sao os problemas centralizados em redor deste fato de orientac;ao ,em relac;ao aos grupos estranho>, que constituem a preocupac;ao espec.al da teoria dos grupos de referencia. E evidente que. aIinal, a teoria deve ser generalizada ao ponto em que ela passa expJicar tanto as orientac;oes para 0 inif2,grupo, COmo para 0 extragrupo; porem, de irr.ediato, sua maior tare fa e pesquisar os processos e,traves dos quais as individuos se re.acio. nam aos grupos a que nao pertencem. (Pagina 314).
A medida que as inovaQoes tearicas, grandes ou pequenas, san introduzidas no campo da investigaQao, e possivel que sejam reassimiladas. por alguns a teoria que existia anteriormente nesse campo, dai resultando que 0 progresso distintivo seja turbado au inteiramente obscurecido_ Que seja necessario destacar os aspectos em que a teoria do grupo de referencia amplia a concepQao longamente estabelecida da determinaQao grupal do comportamento, ficou evidenciado em recente esforQo de reassimilaQao desta especie. Por exemplo, tern sido realQado que, "apesar do entusiasmo de alguns proponentes, nada ka realmente novo na teoria dos ~rupos de referencia". 2 E ainda, "A proposif,:ao de que os homens pensam, sentem e veem coisas de urn ponto de vista pecul1ar ao grupo do.
1. 0 progressivo f5clarecimento dos conceitos glca fol examinado no Capitulo 1V. 2.
Tamotsu
como fase integrante
Shibutani, "Reference groups as perspectives", grifos sao nossos].
1955, 60, 563 [as
American
qual participam, e coisa velha, repetidam~nte salientada pel~s estudiosos da antropologia e da sociologia do conhecImento ... 0 concelto do .grupo de referencia traz na realidade urn pequeno aperfeiQoamento a teona longamente familiar ... " 3 _. E clara a maneira como se pode chegar a conclusao de que a teona GOSgrupos de referencia nada mais e seniio uma reiteraQao da nOQao de Pensamento, 0 sentimento e a percepQao, sejam moldados pelo gruque 0 t . " d po ou grupos em que a pessoa toma parte, de modo que a eona. na a apresenta realmente novo"; basta adotar 0 eXP~diente ~omu~ de 19norar as ideia:; distintivas desta teoria em desenvolvlmento, ldentlflcando-a as. co." m as concepf'oes ha muito tempo familiares. Fazer .0 novo pareSlm h cer velho, usando 0 dispositivo de, ignorando 0 novo, focalIzar 0 vel 0, nao e uma pratica inteiramente nova. No entanto, pareee ~aver al~r:ra falta de convicQao neste juJ~amento, ja que 0 autor. conclUl sua .revlsao do assunto, reconhecendo uma caracteristic~ distintlva do con~elto dos grupos de referencia, a qual "res me associaQoes e lealdades dlferentes, £ assim facilita 0 estudo da percepQao seletiva [embora, como veremos, dificilmente se trate apenas da percepgao seletiva], Torna-se, portanto", - acrescenta 0 autor - "urn instrumento indispensavel para compreender a diversidade e 0 carater dina-mico da especie de sociedade ~a. qual nao seja s6mente esta 'es.pecle de vivemos [embora, presumivelmente, sociedade']". 4 Resta ver se ela pode ser adequadamente descnta como "um instrumento indispensavel".
• POr toda a extensao do capitulo anterior, ha numerosas, porem r:a- ()I sistematicas alusoes a diversas especies funcionais de ~ru~os de referencia. Dlz-se que proporcionam "uma estrutura de r~ferencl~ para a ~,uto-avaliaQao e a formaQao de atitudes": diz-se que ha nec:ssldade de urn estudo sistematico dos processos de assimilaQao de valores como p~r~e - .". , ha urn breve comentano do comportamento do grupo de re f erenCla "sabre os contextos de atitudes, percepQoes e juizos dos grupos de re!e~ rencia"; mas, como a pesquisa subsequente 0 demonstrou, estas alusoes p..ao-coordenadas a especies implicitamente dfferentes de comportamen~o de grupos de referencia, nao san urn substitutivo para uma ordenaQaQ considerada e metadica de tais especies. . . Diversos trabalhos recentes foram dedicados ao problema de ldentlficar os principais tipos de grupos de referencia, em termos de suas f~n~oes caracteristicas, relativamente ao comportamento dos que sao onen-
da teorizac;ao sociol6Journal
of Sociology,
3. 4.
Ibid., Ibid.,
565 569.
tados em diregao a eles. Os trabalhos 5 estao em concordancia substancial, distinguindo explicitamente dois6 tipos principais de grupos de referencia, ao Iongo das linhas vagamente esbogadas no capitulo precedente: o primeiro e 0 "tipo normativo" que estabelece e man tern padroes para o individuo, e 0 segundo e 0 "tipo de comparagao", que proporciona uma estrutura de comparagao relativa, em relagao a qual 0 individuo se avalia a si proprio e aos outros. 0 primeiro e uma fonte de valores assimilados por determinados individuos (os quais podem ser ou nao membros do grupo), como no caso que temos examinado, dos soldados de reserva assimilando os valores dos veteranos. 0 segundo e, ao contrario, urn contexto para avaliagao da posigao relativa propria e dos outros, como nos casos citados por DuBois, Roper e Wilks, do significado social do ~tatus economico relativamente a estrutura economica da comunidade c1rcundante. Os dois tipos sao apenas analiticamente distintos, pois .~ mesmo grupo de referencia pode evidentemente servir a ambas essa;;; fungoes. A serem distinguidos de ambos os tipos de grupos de referencia, estao os grupos, identificados por Turner, "cujos membros constituem simplesmente condigoes" para a agao dos individuos. 7 Estes "grupos de interagao", como Turner os denominou, sac apenas partes do ambiente social do individuo, assim como os objetivos fisicos sac parte de seu ambiente geografico; deve leva-Ios em conta ao tratar de realizar seus pro(Jositos, mas nao tern para ele senti do normativo ou comparativo. Essas distingoes criam varios problemas: quais dos dois tipos de comportamento de grupos de referencia envolvem mecanismos distintivos, sociais e psicologicos? Quais condigoes estruturais de uma sociedade favorecem muita ou pouca conduta comparativa de referencia, como aproximadamente, as comparagoes justas ou injustas da especie examinada por Veblen? Os intragrupos e os extragrupos diferem na medida em que caracteristicamente servem as fungoes comparativas e normativas? Questoes dessa ordem seguem-se quase diretamente da distingao entre estes tipos funcionais de grupos de referencia.
5
Harold H. Kelley, "Two functions of reference groups", em G. E. Swanson, T. M. New comb e E. L. Hartley (redatores), Readings in Social Psychology (Nova Iorque: Henry op. cit.; Ralph H. Turner, "Role-taking, role Holt & Co., 1952), 410-414; Shibutani, standpoint, and reference·group behavior", American Journal of Sociology, 1956, 61, 316-328. 6 Shibutani indicou urn terceiro tipo ostensivo: grupos aos quais os homens aspiram. Po· rem, con forme Turner indicou de maneira a.dequada, este nao e outro tipo, porque "0 desejo de ser aceito •. retratado [pelos soci610gos] como 0 mecanisme que conduz il adoQao de val6res e perspectivas do grupo de referencia". Turner, op. cit., 327. 7. Turner, op. cit., 328. Nao faQo nenhum esf6rQo aqui para reproduzir os detalhes da divisao instrutiva feita por Turner das varias especies de orientaQao dos grupos que at" agora foram incluldas no conceito geral dos grupos de referencla.
A distingao entre grupo a que 0 individuo pertence ("intragrupo") e grupo a que nao pertence ("extragrupo") envolve evidentemente "0 problema de criterios de 'afiliagao' a urn grupo", como temos visto; (Pagina 199) porem, como bem observou recentemente urn critic08 nao se pode permitir que tais criterios perrnanegarn implicitos. No entanto, eles assim tern permanecido, em escritos sociologicos em geral, assirn como no ensaio precedente. Uma das fungoes de teoria dos grupos de referencia consiste em esclarecer os criterios conceptuais da afiliagao. a urn grupo. Como tern side repetidamente indicado nas paginas anteriores, e como sera peri6dicamente indicado nas paginas a seguir, a expressao agora consagrada, "grupo de referencia" tern algo de inapropriado, pois 0 termo e aplicado nao s6mente a grupos, mas a individuos, como tambem a categorias sociais. A distingao entre grupos de referencia e individuos de referencia sera examinada mais adiante, noutra segao; por ora, 0 esforgo sera dirigido a diferenciar conceitualmente os dados sociologicos bastante dispares que agora sac comumente descritos como grupos de referencia. Urn ponto de partida e fornecido pelas breves e incompletas definigoes dos conceitos de grupos e filiagao ao grupo, do capitulo anterior. Na medida em que a freqiiencia da intera.c;ao social seja urn de tais criterios, devemos reconhecer que os limites entre os grupos nao sao, de mojo algum, rigorosamente traQados. Pelo contrario, os componentes de determinados grupos sao de varias maneiras ligados a outros grupos, aos quais convencionalmente nao pertencem, embora. 0 .soci61?go po~sa -.er ampla base para inclul-Ios nestes ultimos grupos, em virtude de sua frequente mteraQ~o com seus membros convencionais. Assim, tambem, estamos por ora eVltando a questao das distinQoes entre os grupos sociais e aoScategorias sociais, referindo-se estas a situaQoes consagradas entre cujos ocupantes pode haver pouca ou nenhuma interaQao. (Pagina 313, n.4). Nao ha nada fix ado a respeito dos limites separando os intragrupos dos extragrupos, os :tIes mudam conf~rm€ grupos 2, que 0 indivlduo pertence dos grupos a que nao pertence. '" situaQao muda. "Vis-a-vis" dos civis ou de urn grupo estranho, os soldados das ForQas Armadas podem se considerar e ser considerados como urn mtragrupo, no entanto, em outro contexto, os gradu2,dos podem se considerar a si mesmos, e ser~m co~siderados como. urn intragrupo, distinto do intragrupo dos oficiais. Ja que estes conceltos sao. :elatlVos a Sltua<;ao ao inves de serem absolutos, nao ha paradoxo em se referlf aos oflclals como urn grupo 'de fora em relaQao aos graduados, em certo contexto, e como membros do intragrupo, em outro
contexto.
(Pagina
347, n. 43).
A isto urn critico redargui adequadamente, "Pode nao haver urn paradoxa, mas nos certarnente insistirnos em criterios explicitos para a de~ignagao de urn grupo particular como intragrupo, num caso, e como
ll. Norman Kaplan, na Universidade
Reference Group Theory and Voting Behavior, de Columbia, 1955, 35-47 (lnMito).
tese de doutorllomentc
extragnlpo, no outro". 9 Ja que 0 critico, Norman Kaplan. nao fornece, porem, tais criterios, pode ser uti! reexaminar e sistematizar as varias especies de formagoes sociais vagamente designadas como "grupos", "categorias sociais", e semelhantes. Alguns dos criterios pertinentes sac men· cionados nao sistematicamente nas passagens anteriores, porem ainda tern de ser trazidos ao claro, para exame sistematico. Em primeiro lugar, entende-se geralmente que 0 conceito sociol6gico cie grupo refere-se a urn numero de pessoas que interagem uma com a outra, de acordo com padroes consagrados.1O As vezes, se diz que e urn grupo de pessoas que mantem entre si relagoes sociais consagradas e caracteristicas. Contudo, as duas afirmagoes sac equivalentes, pois as "reJagoes sociais" sac em si mesmas formas moldadas de interagao social, suficientemente duraveis para se tornar partes identificaveis de uma esirutura social. Este criterio objetivo do grupo foi indicado na alusao antetior a "frequencia de interagao". Evidentemente e permissivel ado tar este criterio isolado como suficiente, mas se a fina!idade e desenvolver urn conceito que seja sociol6gicamente utH, outros criterios sac requeri-
dos.
11
Urn segundo criterio de grupo, que permaneceu s6mente implicito nos trechos citados, e que as pessoas que interagem dejinem a si mesmas como "membros", isto e, que elas tern expecta~oes padronizadas de forma!; de interagao, que sac moralmente obrigat6rias para elas e outros "membros", mas nao sabre os individuos considerados como "de fora" do grupo. Este criterio foi indicado casualmente nas passagens citadas, alusoes ocasionais ao fato de que as pessoas "se consideram" como memuros dos grupos. o terceiro criterio, correlativo, e que as pessoas em interagao sejam dejinidas por outras como "pertencendo ao grupo", estas outras incluindo componentes do mesmo grupo e nao componentes. No caso dos gru' pos formais, estas definigoes sac frequentemente explicitas; no caso de grupos informais, sac muitas vezes tacitas, sendo simbolizadas mais pela conduta do que pela expressao em muitas palavras. Na medida em que estes tres criterios - formas duraveis e moralmente consagradas de interagao social, autodefinigao como membro dogrupo e a mesma definigao por outras pessoas - sejam plenamente pre~nchidos, os que estejam envolvidos na interagao duradoura sac claramente identificaveis como grupos abrangedores. Tanto 0 criterio objetivo de interagao como os criterios subjetivos de definic;oes sociais, combi.nam-se para trac;ar !imites relativamente claros de afiliaC;ao e de nao afiliagao. Quando as definigoes subjetivas sac confusas, a forma da inte9.
Ibid.,
32.
10. Para urn exemplo, ver George C. Homans, The Human Group (Nova Iorque: Harcour~, Brace and Company, 1950), I, 82-86. 11. Para urn conjunto extenso de tais criterios, ver P. A. Sorokin, Society, Culture anc)' (Existe tradu~ao em Personality, (Nova Iorque: Harper & Brothers, 1947), 70 e segs. espanhol, Soeiedad, Cultura y Personalidad [Madrid: Ed. Aguilla.r, 1966], 3·.a ed.).
ragao social observada perde seu carater distintivo, desenvolvendo-se entao 0 tipo familiar de caso em que 0 observador sociol6gico descobre "formagoes grupais" que nao sac necessariamente sentidas como tais por aqueles envolvidos nelas. Conforme tern side insinuado, e agora deve ser dito, os !imites dos grupos nao sac necessariamente fixos, mas estao mudando dinamicamente, em reagao a contextos situacionais especificaveis. Uma situagao modificada pode proporcionar mudangas significativas na proporgao de interaC;ao social, de modo que os que antes eram membros deixam objetivamente 0 grupo, mesmo se explicitamente nao "pedem demissao" ou "se separam" dele. Particularmente naqueles grupos informais, aos quais faltam definigoes explicitas de afiliagao ao grupo, por si e por outros, tais mudangas na proporgao de interagao social podem tornar imprecisos os !imites do grupo. Isto pode ser considerado como uma das caracteristi· '_as funcionais dos grupos informais: sua estabilidade depende em parte dessa relativa ambiguidade de afiliagao. Pelo mesmo motivo, isto origin a dificuldades pn:iticas, nao te6ricas, para 0 soci610go que esteja ocupado em identificar a filiagao dos grupos informais. Isto aponta a n0.;essidade de reexaminar e rejeitar algumas das significagoes dos termos "membro" e "nao membro", que nao correspondem fielmente aos fatos, pois parece haver graus de afiliaC;ao, que sac em parte indicados pelas )Jroporgoes de interagao social com outros no grupo. Isto esta implicito nos termos ocasionalmente usados pelos soci610gos, como membro "no· minal" do grupo ou membro "periferico" do mesmo. Urn membro nominal do grupo e assim dejinido por outros, como ligado ao sistema de interagao social do grupo mas que, na rea!idade, cessou de fnteragir com os outros do grupo. Membro periferico do grupo e aquele que reduziu tanto sua interagao social com os outros do grupo, que estes controlam uma parte relativamente pequena de seu comportamento. Alteragoes na situagao objetiva, por exemplo, mudangas de residenc1a dos membros correntes do grupo, podem causar uma proporgao relativamente alta de membros nominais a atuais. Da mesma forma, mudanc;as de situagao podem afetar as definigoes individuais e dos outros, sabre a afiliaC;ao ao grupo. Pois desde que as proporc;oes de interaC;ao social nao sac uniformemente distribuidas entre as membros de urn grupo, qualquer acontecimento constante que aumen. te a interaC;ao entre alguns e reduza a interagao entre outros, tendera a formagao de sUbqrupos. Tal como 0 termo imp!ica, os subgrupos sao estruturalmente constituidos por aqueles que desenvolvem relac;oes sociais distintivas entre eles, as quais nao sac repartidas com outros membros do grupo maior. Todos os grupos sao potencial mente vulneTllveis a formaC;aode tais subgrupos. As f6rc;as que favorecem a formaC;ao destes grupos diferenciados podem ser nao cUlturalmente objetivas: por exemplo, os componentes do grupo que se encontram continuamente em mais es· treita propinquidade, sac mais suscetiveis de formar grupos distintivos.
Interesses eSpeClaIS, peculiares a certas situagoes au estratos do grupo maior, tambem podem favorecer a formagao de subgrupos; POl' exemplo, os interesses dos soldados convocados e dos oficiais ao Exercito, na medida em que nao sejam identicos e difiram em assuntos padronizados. Sentimentos e valores, peculiares aos status ou estratos constituintes, tambem podem agir na mesma diregao a flm de produzir subgrupos. Quando esses tres tipos de forgas diferenciadoras convergem, desenvolve-se uma daquelas especies de redetinir,;6es sociais, as quais nos temos ,eferido ao dizer que, em algumas ocas16es, os membros de um Intragru1=,0podem tornar-se diferenciados, constituindo-se em novos intragrup03 ou em extragrupos. Uma "questao" que cristalize os interesses distinti· vos, ou sentimentos, ou ambos, dos subgrupos potenciais, pode mobilizar tanto 0 comportamento como as atitudes que resultam em novas for· magoes de grupos. Enquanto a linguagem conceptual comumente em usa para descrever a estrutura grupal significar uma condigao estatica de afiliagao ao grupo, parecera paradoxal que os mesmos individuos devam, conforme a ocasiao, ser descritos como fazendo parte de um grupo e, em outras ocasioes, como sendo de um grupo diferente (e talvez mutuanrente hostil); porem, se for reconhecido que a afiliagao ao grupo e a estrutura do grupo sac dinamicas, Que elas sac apenas as resultantes conceitualizadas de forgas em agao dentro de um grupo, torna-se claro que os limites dos grupos estao em constante processo de mudanga objetiva, tal como foi registrado pelas proporgoes de interagao social, e de redefinigao so~ial, tal como foi registrado pelas definigoes de afiliagao, feitas POI' urn ou POI' varios individuos. 12
Assim como a atiliar,;iio a um grupo esta longe de ser um conceito auto-evidente e exige criterios sociol6gicos explicitos, se e que deva ser conceitualmente identificavel, assim sucede com a niio ajiliar,;iio. Certamente, os "nao membros" sac aqueles que nao preenchem os criterios de interagao e de definigao de afiliagao, e, portanto, poderia parecer que a definigao dos membros seria suficiente para definir as pessoas que restassem, como nao membros; porem, as definigoes residuais prestam-se no12. :J;:steconceito geral dos limites cambia.ntes dos gropos a que se pertence, e novamente considerado no Capitulo XIII, 519. Quanto a serem as redefinic;6es sociais determinadas pelas situs,c;oes" existe a ir6nica observac;ao de Albert Einstein numa confer?ncill proferida na Sorbonne: "Se minha teoria da relatividade f6r provada verdadeira, a Alemanha me reivindicara como alemao, e a Franc;a declarara que sou urn cidadao do mundo. Se a minha teoria resultar errada, a. Franc;a dire. que sou alemao e a. Alema· nha declarara que sou judeu".
toriamente a obscurecer caracteristicas significativas daquilo que esta sen. do definido apemas negativamente. 13 Este e 0 caso com 0 conceito residual de nao afiliagao. Se a categoria de "nao afiliagao", for definida em termos negativos a rim de compreender aqueles que nao preen cham os criterios da afiliagao servira apenas para obscurecer as distingoes basicas em especies de naoafiliagao; essas distingoes tem particular relevancia para a teoria dos gru' pos d~ referencia. Que isto seja assim, pode ser constatado tirando-se certas dedugoes do conceito importante e longamente negligenciado de ''In. tegralidade" de urn grupo, tal como foi apresentado POI' Slmmel.I4 0 concelto de integralidade refere-se a propriedade de urn grupo meaida pel a proporgao de membros potenciais - aqueles que satisfazem os requisitos de afillagao, exigidos pelo grupo - que sejam tambem membros etetivos. Os sindicatos, as associagoes profissionais e os grupos de alunos, sac apenas as especies mais not6rias de exemplos de organizagoes com va. rios graus de integralidade. A propriedade do grupo de integralidade, conforme Simmel salienta de modo adequado, deve ser claramente distinguida da propriedade de tamanho do grupo. Com efeito, isto significa que os grupos do mesmo tamanho absoluto (medido pelo mimero de membros), pode tel' graus inteiramente diferentes de integralidade (medidos pela proporgao de membros potenciais que sejam membros efetivos). E correlativamente, isto significa que os grupos do mesmo tamanho absoluto podem tel' graus acentuada. mente diferentes de poder social, conforme €lIes abranjam todos os memo bros potenciais ou proporgoes varillveis dos mesmos. 0 reconhecimento da relagao entre a integralidade e 0 podel', evidentemente, e uma dai" principais razoes pela qual as associagoes de homens em situaQoes parti. culares procurariio alargar sua afiliagiio a fim de incluir uma pr'Jporgao tao larga quanto possivel da afiliagao potencial. Quanto mais aproximadamente completo for 0 grupo, tanto maior 0 podel' e a influencia que €lIe podera exercer. Esta breve formulagao do conceito da integralidade nao e mais qua uma aparente digressao do reexame dos conceitos de membros e nao membros de urn grupo, pois, conforme Simmel aparentemente sentiu, 0 conceito da integralidade implica na existencia de especies de nao membros de urn grupo, que sac distintas e estruturalmente diferentes. Os nao membros nao constituem uma categoria social isolada e homogenea, Eles diferem em suas relagoes padronizadas para com 0 grupo do qual :laO sac membros. Isto e evidentemente implicito na observagao feita por Simmel, de que "a pessoa que, POI' assim dizer, pertence idealmente a um 13. Convincente exposic;ao da ideia das categorias residuais, encontra·se em Talcott Parsons, The Structure of Social Action, 16-20, 192. 14. The Sociology of George Simmel, traduzido e editado por Kurt H. Wolff, (Glencoe, I11i. nois: The Free Press, 1950), 95.
grupo, mas permanece fora d~He,por sua mera indiferen<;a, sua nao afilia<;ao positivamente prejudica 0 grupo. Esta nao afilia<;ao pode tomar a forma de competi<;ao, como no caso das coalis6es de trabalhadores; ou pode mostrar aos estranhos os limites do poder de que 0 grupo disp6e; ou pode prejudicar 0 grupo porque este nem sequer pode ser constituido, a menos que toaos os .candidatos potenciais se unam como membros, como e 0 caso de certos carteis industriais". 15 e inadmissibilidade para pertencer ao grupo: Isto sugere urn primeiro atributo em termos do qual a categoria residual de nao membro pode ser melhor especificada: os nao membros que sac inadmissiveis para afilia<;ao podem ser utilmente distinguidos daqueles que sac admissiveis mas que continuam a nflO ser afiliados ao grupo. A distin<;ao entre os nao membros admissiveis e os nao admissiveis pode servir para esclarecer as condi<;6es as quais os nao membros sejam provavelmente sujeitos a se orientarem positivamente, em dire<;ao as normas de urn grupo. Outros atributos da nao afilia<;ao sendo iguais - e examinaremos imediatamente estes outros atributos, - os nao membros admissiveis a afilia<;ao presumlvelmente serao dispostos a adotar as normas do grupo como uma arma<;ao de referencia positiva. Os atributos de admissibilidade e de inadmissibilidade proporcionaml ~,penas uma base para ulterior especifica<;ao do conceito residual de nao afilia<;ao. Pelo menos tres outros conjuntos de atributos podem ser sist'ematicamente identificados e ligados com padr6es distintivos de comportamento de grupo de referencia. 1.
Admissibilidade
2. Atitudes a respeito dos candidatos a ingresso no grupo: Os nao membros tambem diferem em suas atitudes padronizadas a respeito dos que podem se tornar membros: (a) alguns podem aspirar a afilia<;ao ao grupo; (b) outros podem ser indiferentes com rela<;ao a tal afilia<;ao; e (c) outros mais podem ser motivados a permanecer nao afiliados ao grupo. A teoria do grupo de referencia evidentemente tern incorporado a primeira dessas atitudes motivadas a respeito da afilia<;ao, como constituindo urn mecanismo que favorece a orienta<;ao positiva dos nao membros com rela<;ao as normas de urn grupo. 0 capitulo anterior e uma analise, entre muitas, que trata de caso especial do "individuo que adota os va16res de urn grupo ao qual aspira, mas ao qual nao pertence". 16 Combinando os dois atributos do estado de admissibilidade dos nao membros que se orient am para 0 grupo com as atitudes mais individuais dos nao membros que nao se orientam para 0 grupo, torna-se possivel esta15. Ibid., 95. 16. Ver pagina 201 deste volume e 0 breve resumo deate ponto, na pag. 280. Com efeito, Muzafer Sherif e Carolyn W. Sherif, Groups in Harmony and Tension (Nova Iorqu~: Harper & Brothers, 1953), 161, fazem disto uma parte integrante de sua definiQao dos grupos de referencia: "aqueles aos quais 0 indivlduo se relaciona. como parte ou a que i:le aspira relacionar-se psicologicamente".
belecer de nao t€: que apenas
uma lista sistematiea de tipos identificaveis de rela<;6es psicossociais membros de gropos designados. Desta maneira, torna'se evidenos nao membros aspirantes a aceita<;ao por urn grupo, constituem urn dentre varios tipos distintos de nao membros.
ATITUDES DE NAO ME:\lIBROS EM RELA<;AO A AFILIA<;AO
ADMISSfVEL AFILIA<;AO
Aspira
Candidato a afiliaQiio Membro potencial Nao membro aut6nomo
i.\.
pertcnccr
Indiferente a afiliaQao Motivado a nao pertencer
PARA
Romem marginaJ Nao membro separado Nao membro antagonlstico (fora do grupo)
No capitulo anterior, como em geral na teoria do grupo de referencla, apenas alguns desses tipos discerniveis de nao membros tern sido especlficamente identificados. Como tudo i.ndica, esta identifica<;ao dos tipos tern sido parcial e altamente seletiva, porque surgiu das descri<;6es airetas dos mol des de comportamento observados, ao inves de serem ananticamente derivados de combina<;6es de atributos definidos de nao membros em rela<;ao a grupos designados. Conforme temos observado, 0 primeiro desses tipos - os individuos que aspiram a grupos dos quais ainda nao sac membros - tern sido tornado isoladamente para receber aten<;ao especial, na teoria dos grupos de referencia. Mas, como ficou implicito nessas primeiras amUises, e como 0 paradigma acima indica de novo, os aspirantes a afilia<;ao a urn grupo se dividem em duas especies signifiea· tivamente diferentes, dependendo dos criterias de grupo quanto a admi;;sibilidade ao status de afilia<;ao. Diferem em sua posi<;ao estroturalmente definida e, por conseguinte, nas conseqiH~neias funcionais e disfuncionais de sua adesao a socializa<;ao antecipada, adotando os va16res do grupo, ao qual aspiram, mas a que nao pertencem. 17 o aspirante admissivel a afilia<;ao - que foi identificado como "candidato" a afilia<;ao - tanto e motivado a escolher 0 grupo a que nao pertence como seu gropo de referencia, como e apto a ser recompensad() pelo novo grupo por fazer isto. 0 aspirante inadmissivel, pelo contrario, que se entrega a essa socializa<;ao antecipada torna-se urn marginal, sujeito a ser rejeitado pelo seu gropo de afilia<;ao por repudiar seus valares e a nao ser aceito pelo gropo em que procura entrar. A segunda classe principal de nao membros - aqueles que sac inteiramente indiferentes a perspectiva de ingresso no gropo - consiste daqueles que de modo nenhum se orientam pelo grupo em questao. Estao ir.teiramente fora de sua orbita, a qual nao constitui parte dos grupos de
17. Tipos semelhantes foram definidos na. mesma base por Leonard Broom, "Toward a cumulative social science", Research Studies of the State College of 'Vashington, 1951, 29, 67-75.
referencia deles. Nao obstante, esse tipo pode tambem, instrutivamente, ser subdividido naqueles que sac aceitaveis para a afiliaC;ao e, portanto, podem se tornar pontos de referencia para 0 grupo que pode procurar atrai-los para sua 6rbita, e os inaceitaveis e indiferentes nao membros que constituem 0 que Turner descreveu como meras condic;6es pare. a aC;ao do grupo.l8 Como logo veremos, estes tipos de nao membros tern distintas situac;6es, dependendo de, se 0 grupo procura ou nao alargar sua aproximac;ao a integralidade. Os nao membros da terceira classe, ao contrario, estao orientados em relaC;ao ao grupo em questao, mas estao motivados de varias form as a nao procurar afiliaC;ao niHe. Os nao membros que ativamente evitam a afiliac;ao para a qual sac elegiveis, sac nas palavras de Simmel, aqueles a quem "se aplica 0 axioma 'Quem nao e POl' mim e contra mim'''. 19 E tal como Simmel tambem insinuou, os individuos aceitaveis que expressamente rejeitam afi1iac;ao, sac mais ameac;adores para 0 grupo sob certos aspectos, do que os antagonistas, declarados que de qualquer mocio nao poderiam tornar-se membros. A rejeic;ao pelos admissiveis simboliza a relativa fraqueza do grupo, sublinhando sua incapacidade de agrupar todos os membros potenciais, bem como simboliza a relativa dubiedade de suas normas e va16res que nao sac aceitos POl' aqueles a quem em principio deviam atrair. Para estes dois tip os de nao afiliados, 0 grupo e (ou pode tornar-se facilmente) urn grupo de referencia negativo tal como veremos na seC;aoque trata deste tipo de grupo. A observac;ao conjunta dos atributos de admissibilidade ou inadmissibilidade e das atitudes em relaC;ao a afiliac;ao num grupo designado, diferencia, portanto, os tipos distintos de nao afiliac;ao, ao inves de consi' derar implicitamente todos os nao membros como sendo de uma s6 clas' sc. Cada urn desses tipos de nao membros pode, POl' sua vez, criar padr6es distintivos de comportamento de grupo de referencia, "vis-a.-vis" do grupo indicado ao qual eles nao pertencem. Cada urn deles identifica antecipadamente os nao membros que sac positivamente orientados em relaC;ao ao grupo, aqueles que sac negativamente orientados em relaC;ao a ele, e a grande importante categoria de nao membros que nao sac orientados em relac;ao a ele de modo nenhum, isto e, para quem 0 grupo em questao nao e urn grupo de referencia. Pelo menos dois conjuntos adicionais de atributos de nao membros e grupos de nao afiliaC;ao necessitam ser levados em conta a fim de identificar, estrutural e psicol6gicamente, as orientac;6es distintivas para os grupos de nao afiliaC;ao, a saber: preocupaC;ao ou ausencia de preocupa18. Esta {> uma adaptaQao do conceito proposto por Turner e relatado na primeira part~ deste capitUlo. Turner chama nossa atenQao para os grupos que compreendem mera. mente condiQ6es para as pessoas que nao estao neles; consideramos aqui 0 t'po corre. lativo de nao·membros compreendendo condiQ6es pa,ra grupos que nao os definem co. mo membros possiveis. 19. Simmel, op. eit., 95.
c;ao definidas pelo grupo com a incorporac;ao dos nao'membros admissiveis e a distinc;ao entre os nao·membros que pertenceram e aqueles que nunca pertenceram ao grupo. 3. Grupos abertos e jechados: Assim como os individuos diferem nas aspirac;6es de se filiarem com grupos particulares, assim os grupos diferem em sua preocupaC;ao de amp liar ou restringir 0 mimero de seus afiliados. Isto significa que os grupos e as estruturas sociais em geral, podem ser relativamente abertos ou fechados, tal como de ha muito se nota na teoria sociol6gica. 20 Simmel proporciona, tambem aqui, urn ponto de partida. Os grupos nao procuram uniformemente aumentar 0 n;,'lmero de seus membros; alguns, ao contrario, sac organizados de maneira a restringir as admiss6es, chegando ate a excluir alguns que seriam formalmente aceitaveis. Isto e particularmente 0 caso das elites, sejam autoconstituidas ou socialmente reconhecidas. Esta diretriz de exclusao nao e apenas uma questao dlO preservar 0 prestigio e 0 po del' do grupo, embora essas considerac;6es pes&am concretamente entrar na diretriz. Como diz Simmel, com efeito, POde tambem ser requisito estrutural de urna elite, 0 de permanecer relativamente pequena, se deseja manter as relac;6es sociais que a distin· guem.21 0 aumento facil do mimero de afiliados pode tambem depreciar o valor simb6lico da afiliaC;ao do grupo. POl' estas varias raz6es estruturais e egocentricas, certos grupos permanecem relativamente fechados. Pelas mesmas raz6es formais, outros tipos de grupos procuram ser relativamente abertos, nurn esf6rc;o de aumentar 0 mimero de afiliados, Os partidos politicos, nos sistemas politicos democraticos,22 os sindicatos
20. Uma formulaQao blaStante recente encontra-se em Sorokin, op. eit., 175. 0 "carater rc· lativamente aberto ou fechado da estrutura social" e relacionado ao comportamento dos grupos de referencia e suas consequencias, no ca,pitulo anterior, porem nao f.o '5istemMicamente relacionado a outros atributos de nao membros e de extragrupos. Tam· bem se deve observar expressamente que nao somente os sistemas das classes socia;s podem ser considerados litilmente como abertos ou fechados por vorias maneiras, mas todos os grupos e categorias sociais assim podem ser considerados. 21. A observaQao de Simmel e assim redigida: "Assim a tendencia da extrema limitaQatl numerica ... nao e devida somente 11desinclina<;ao egoistica de repartir uma posiQao dt' chefla, mas tambem a.o instinto [sic; leia-se: ao entendimento tacito] de que as con· dl<;6es vitais de uma aristocracia apenas podem ser mantidas se 0 mimero de seus membros for pequeno, relativa e absolutamente... [Sob certas condiQ6esL na.cta se (lOde fazer senao traQar num certo ponto uma linha dura contra a expansao, e defender o grupo quantitativamente fecha.cto contra quaisquer elementos externos que possam querer entrar nile, nao se Importando COm quantos direltos eles possam Invoear. A natureza aristocratica frequentemente se torna consciente de si mesma, s6mente nesta situaQao, nesta solida.riedade aumentada em face de uma tend emcia de expansao·'. Simmel, op. elt., 90-91.[Os grifos sao nossos]. E desnecessario dizer que ao assim reeo· nheeer 0 requisito estrutural da relativa clausura de uma elite, Simmel nao esta propugnando 11diretriz de exclusao. 22. Os partidos politicos manifestamente nao tern este carater em todos os sistema.s politicos. Sociol6glcamcnte consideradB, B doutrlna bolchevlsta de Lenlne propugnava 0 principio de elite fechadp., que reservaria afiliaQao ao partido aos revolucionarlos do;)·
de tra~alhadores e certos corpos religiosos, por exemplo, sac estrutural e ,funclOnalmente constituidos de tal forma, que procuram au men tar 0 numero de seus. ~filiado~ ao maximo. Evidentemente, as organizaQoes q~e fazem proselltIsmo nao se limitam ao campo de aQao politica ou religlOsa; podem ser encontradas nurna variedade de esferas institucionais Tais ?~ga~izaQOes abertas objetivam tornar-se, ao mesmo tempo, grupo~ de aflhaQao e grupos de referencia para todos aqueles que formalmente preenchem seus criterios de admissibilidade. Ocasionalmente, os criterios podem tornar-se menos rigidos, a fim de aumentar 0 numero de nao membros que passam afiliar-se, originando-se 0 molde estrutural familiar de confUto entre "altos padroes de admissibilidade" e "grande numero de membros".23 •. Depen,d~ndo do ?arater aberto ou fechado do grupo, os nao-membros s~o ~or van as ~anelras levados a se orientar por ele como grupo de referenCIa. Esta fOl .a bas~ para sugerirmos, no capitulo anterior, que os g:up.os de f?ra sac malS provavelmente adotados como grupos de referenCla nos sIstemas sociais que tern altas proporQoes de mobilidade social 0 contexto estruturai do que naq~eles que s~o relativamente fechados. das proporQ~es de mobllidade determina se tal orientaQao antecipada da I,.arte dos nao membros sera funcional ou disfuncional para EHes. Nurn sls~ema a?erto, a orientaQao positiva em relaQao aos grupos de fora sera maI~ freque~temente recompensada pela subseqUente inclusao nesses grupas, n~m. sIstema fechado, conduzira mais freqUentemente a frustraQao das obJetIv~s. e a urn status marginal. Atraves deste sistema mais ou menos admltl~o de recompensas e castigos padronizados, os sistemas abertos :ncoraJam uma alta proporQao, e os sistemas fechadas uma baixa proporQao de referencia positiva aos grupos a que 0 individuo nao tence.24 . per e
4. _Perspectiva de tempo sabre a nilo ajiliar;ilo: os membros anteriores o~ n,a~ membros constantes: De maneira semelhante a outros conceitos
socl~loglCOS de status, a nao afiliaQao tern side usualmente concebida e~tatIcamente, em termos do status corrente do individuo. E como atraves desses outros cOilceitos, e necessario um esf6rQo distinto do pensamento --;;tr~in;:;-a;;:d:;;o:s~---;;d;":::;:' ::;1:::' ::::-::;-:-::----~--------------------e ISC1P mados, em contraste com a doutrina menchevista de Martov e de T:otSky. que defendia 0 principio de afilia~ao a,berta as massas. As organiza~o-esde' v",nas esferas In~ . t·t· . te~taram ~O~binar o~ principios de afiliagao "aberta" ' ufechada" 1 UClOnalS e t +.. ,por todas as manelras poeSlVelSde dlspositivos estruturais a fim de es ' ra,lflcar 0 numero e a mentalidade dos associados 23. Esta Ii a contrapartida no campo d" . a organlza~ao social, de conflito igualmente faml Ilar no campo da . cultura popuIar e das comunica~oesd20Smassas. 0 objetivo de au-men ar ao maximo a . audi' . - 0 "principio de popularidade das massas" - entra em tconflit . enCla cipio de b~mcom0 obJetlv? d,~manter "altos padroes" de conteudo cultural - 0 "prin· as me g6sto das ehtes. De manelra ba.stante interessante nao Ii incomum quo smas . j'PIO de organlza~aode . ' recomende 0 prin· cipio de el'tpessoas que . rejeitam 0 prmc elite . I e a respelto da cultura popular. 24. A - do capitulo . reneste . respeito . .' ver a se~ao anterior, s6bre "teoria dos grupos de refe cia e moblhdade social".
para escapar a este contexto estatico e para incorporar no esquema conceptual "0 que to do 0 mundo sabe", isto 13, que nao somente seu status atual mas tambem a hist6ria de seus status passados, afetam 0 comportamento presente e futuro do individuo. Assim, apenas recentemente e que os estudos sociol6gicos do comportamento da pessoa referente a classe tem sido distinguidos sistematicamente, ao inves de 0 serem esporadica.mente, entre os individuos que presentemente estao na mesma classe social, em termos de sua hist6ria passada de status de classe, encontrando, como seria de esperar, diferenQas significativas de comportamento de grupos de referencia, entre aqueles que sac m6veis para baixo, m6veis para cima, ou estacionarios em sua posiQao de classe. 25 Muito semelhan.temente, urn estudo das amizades como processo social tern feito distinQao entre aqueles que, nurn tempo dado de observaQao, aparecem na me sma categoria (por exemplo, como amigos de pensamento semelhante), mas que nao obstante diferem em termos de suas mutuas relaQoes e va16res, num periodo anterior de observaQao. Torna-se entao possivel ligar tais diferenQas passadas com suas relaQoes provaveis em outra epoca de observaQao, e tambem a outras sucessivas.26 A categoria de nao membro pode semelhantemente, ser conceitualizada dinamicamente, em termos da hist6ria passada da afiliaQao, distinguindo entre aqueles que eram anteriormente membros do grupo e aqueles que nunca estiveram no grupo. Como temos visto, os nao-membros tern sido considerados dinamicamente em termos de suas orientaQoes em relaQao ao futuro, como no caso daqueles que aspiram a- afiliaQao ao grupo; porem, nao tem side assim considerados em termos de din arnica est'rotural, levando em conta suas relaQoes passadas com 0 grupo. No entanto, parece plausivel que os individuos que ja pertenceram ao grupo se diferenciam em seu comportamento relativo ao grupo de referencia, dos outros nao membros que nunca pertenceram ao grupo. Pode-se admitir provisoriamente, que a afiliaQao a urn grupo que implicava ligaQoes e sentiment os profundamente arraigados, nao possa ser facilmente abandonada sem urn residuo psico16gico. Isto equivale a dizer que os ex-membros de urn grupo previamente significante para eles, prova-velmente permanecerao ambivalentes, ao inves de ficarem inteiramente indifer.entes em relaQao a ele. Evidentemente, numerosas condiQoes estruturais podem mitigar ou eliminar esta ambivalencia; por exemplo, a sepa25. Bruno Bettelheim e Morris Janowitz, The Dynamics of Prejudice (Nova Iorque: Harper & Brothers, 1950);Joseph Greenblum e Leonard 1. Pearlin, "Vertical mobility and Prejudice: a socio-psychologicalanalysis", em Reinhard Bendix e Seymour Martin Lipser, (redatores), Class, status and Power, (Glencoe, Illinois: The Free Press, 1953),480-49i. :26. Paul F. Lazarsfeld e Robert K. Merton, "Friendship as social process: a substantive and methodological2.nalysis",em Morroe Berger, Theodore Abel e Charles H. Page (redatores), Freedom and Control in Modern Society (Nova Iorque: D. Van Nostrand Company, 1954)18-66. Uma amplia~ao de tal analise se encontra no trabalho a ser publicado de John W. Riley Jr. e Matilda. White Riley, "The study of psychological mechanisms in sociologicalresearch".
ragao completa residencial e social de urn grupo pode reduzir as ocaSlOes em que ele tern significado para 0 antigo membro. Dito em termos de nossa classificagao de "atitudes de nao-membros em relagao a afiliagao, isto significa que os ex-membros podem tel' motivos para nao pertencer 30 grupo, em vez de serem meramente indiferentes a afiliagao. 0 grupo continua a interessa-Ios precisamente porque eles estao afastados ou con· sideram-se estranhos a eie; portanto, e suscetivel de tornar-se urn grupo' de referencia negativo. Focalizando a especie do nao-membro, que era anteriormente membro do grupo significativo para ele, torna-se possivel articular 0 conceito de grupo de referencia nzgativo - que sera considerado em detalhe -- com [, analise do comportamento desviado e do controle social elaborado POl' Parsons, Como diz ele, ... a aliena~ao e concebida sempre como parte de uma estrutura motivacional ambivalen~e,. enqu2ol1to que a conformidade nao precjsa ser assim. Onde nao htl mais qualquer liga~ao e.o objeto e/o a assimila~ao do padrao normativo, a atitude nao e de afastamento, mas d~ indiferen~a, T2,nto 0 objeto social como 0 padrao tornaram·se apenas objet.,)s neutros da sltua~ao. os qu.,is nao mais sao um foco do sistema de necessidade catetica (0) do ego. Em tal caso 0 conf:ito teria side resolvido por resoluQao completa, atraves dB substituiQao de urn novo objeto, atraves da inibiQao ou extinQao da disposiQao de necessidade e/ou atrav"" da assimilaQao de um novo tipo normativo. 27
Porem, esta ligagao afetiva a urn grupo de afiliagao anterior nao necessita ocorrer, e talvez nao ocorra tipicamente. Da-se, enUio, 0 caso em que. 0::; ex-membros de urn grupo frequentemente 0 convertem em urn grupo de referencia negativo em relagao ao qual eles sa~ dependentemente hostis, 0.0 inves de serem simplesmente indiferentes, pois precisamente, devido a que a perda ou rejeigao da afiliagao nao erradica prontamente a anterior llgagao com 0 grupo, e provavel resultar a ambivalencia em lugar da indiferenga. Isto, origina 0 que Parsons chama "afastamento compulsivo", que neste caso sera uma duradoura e rigida rejeigao das normas do grupo repudiado.28 o ex-membro ambivalente tern assim uma dupla orientagao: procurar afiliar-se a algum grupo substitutivo ·e lutar contra sua anterior ligagao com 0 primeiro grupo de afiliagao. Isto po de explicar a tendencia freN. do trad.: No ingl:6 contemporaneo chamam·se "cathectic" !:oS coisas, pessoas, ideias etc., a que 0 individuo conceda uma, adesao, valor, inter:sse ou importancia singular. 27. Parsons. The Social System, 254. Of. a exposiQao dos processos de alienaQao e estrnnhamento no capitulo anterior deste volume, 269-271. 28. 0 tipo de ambiva1<~ncia no qual 0 componente alienativo domin2" e retratado por Par· sons da seguinte maneira: " ... 0 fato de que a adesao a outro como uma, pessoa (0" como urn grupo) e ao tipo normativo seja ainda uma necessidade fundamental, signiflca que 0 ego tern necessidao
quentemente observada em tais individuos, em se tornarem ate mais fortemente ligados ao novo grupo de afiliagao do que aqueles que nasceram nesse grupo, e correlativamente, a se tornarem mais hostis para com seu grupo anterior do que os seus novos associados. Michels e urn dos muitos Que tern a impressao de que 0 "renegado" e mais devotado a seus novos companheiros de afiliagao grupal e mais hostil ao grupo que ele deixou, do que as pessoas tradicionalmente afiliadas a seu novo grupo. Ele sugere que 0 revolucionario de origem burguesa e mais violento em sua oposigao fl. burguesia do que seus companheiros revolucionarios de origens proletarias. Se esta impressao fosse encontrada empiricamente verdadeira, entao o processo de afiliagao e de comportamento de grupo de referencla que aqui estamos tragando, poderia ajudar a explicar urn duplo afeto refor('ado: uma especie de formagao de reagao na qual a identificagao com 0 ;,ovo grupo e apoiada pelo repudio ao velho, sendo ambas expressas com ~.Lfetodesproporcionado. Correlativamente, 0 comportamento do grupo repudiado em relagao ::;,seu ex-membro tende a ser mais hostil e aspero do que aquele dirigido as pessoas que sempre for am membros de urn E,xtragrupo, ou as pess~as que nunc a pertenceram ao grupo mas sac aceitaveis para incorporagao. Aqui, tambem, existe urn duplo afeto. De urn lado, isto deriva da ameaga aos va16res do grupo que estao sendo repudiados pelos individuos que anteriormente os aceitavam, pois isto subentellde que os ex-membros os puseram a prova e os encontraram deficientes. Isto e simbolicamente mais daninho que a oposigao a estes valores POl' mcmbros de urn extrag~upo, que nunca viveram de acordo com eles. Este ultimo cas.o p~de ser l~1~e~pretado pelo grupo como assunto de pur a ignorancia, defmigao essa dlflc~l de sustentar quando e aplicada a urn ex-membro. POl' outro lado, a aceltagao pelo ex-membro, dos va16res de seu novo grupo, pode ser tOl~ada eomo simbolizando a fragilidade das lealdades dentro do grupo repudlado. Se isto pode acontecer uma vez, pode acontec,of outr~. O. e~-membro, 0 membro que se afastou, e assim, urn simbolo vivo da mfenondade lmputada aos va16res do grupo, bem como da fragilidade de suas lealdades: :It interessante lembrar que a linguagem corrente registre esta tendencia do grupo a reagir com profundo sentimento contra os qu~ se afastam dele. Observe-se a extensa lista de termos repletos de sentimentos que rlesignam os ex-membros: renegado, ap6stata, vira-casaca,. heretico, traidor, separatista, deserLor e quej andos; e dWcil encontrar. lmguage~ .neutra para designal' esse mesmo fato. Os matizes de sentld_O que dls.~mguem esses termos insultuosos, costumam indicar a orientagao subsequente d~ Ex-membro em relagao ao grupo que ele abandonou. 0 renegado na? _so l'epudia as norm as do grupo e sua afiliagao a ele, mas se une a oposlgao. o ap6stata substitui as crengas que professa, POl' outras men?s nob.r~s, do ponto de vista do grupo. 0 vira-casaca acumula essas felomas SOCIalS, pois muda de lealdade, nao POl' intima convicgao, mas pela esperanga de luero. Quaisquer que sejarn, porem, as graus e opr6brio contidos em
tais epitetos, coincidem em implicar que a orientagao em rela"ao -. '" ao grupo t·
OS CONCEITOS
DE INTRAGRUPOS
E EXTRAGRUPOS
. Da ~e~is.ao anterior, resulta evidente que os grupos de afiliagao nao seJam smommos de intragrupos, nem os grupos de nao·afiliagao correspondam aos extragrupos, embora 0 contrario possa parecer implicito no famoso trecho de William Graham Sumner, que expos pela primeira vez o.s conceitos de intragrupo e extragrupo. De inicio, Sumner esta se refenudo a "sociedade primitiva", porem, antes de terminar, tern que dizer quase 0 mesmo a respeito das sociedades mais complexas: ... uma diferenciacao surge entre nos mesmos, 0 grupo formado por n6s, ou intra,grupo, e todas as demals pessoas, ou outros grupos ou extragrupos. os de dentro de um grupo formada por n6s. estao numa relacao de paz, ordem, lei, gaverno e industria, um para com 0 outre. A relac~o deles para, Com todos os de fora, ou extragrupo, e de guerra e saque, salvo se al. gum acordo tenha modificado essa relacao ...
29. Pade-se encontrar amplo material atestando esta norma, na cena hlst6rica. atual, no comportamento dos muitos ex-comunistas que se transformaram em norte-americanos patriotas, e dos poucos ex-patriot as que se tornaram comunistas. J;:ste assunto exigiria estuda c~mplementando a,quele feito por Gabriel A. Almond e outros, The Appeals of ~;~muD1sm (Prmceton: Princeton University Press, 1954); ace:rca de tais tipos, ver WIS Coser, The Functions of Social Conflict (Glencoe: The Free .Press, 1956), 67-72.
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A relacao da camaradagem e paz no intragrupo e a de hostilidade e guerra com os extragrupos sao correlativas a cada um... A lealdade para com 0 grupo, 0 sacrificio por ele, 0 6dio e desprezo pelos de fora, a fraternidade dentro, 0 est ado de guerra fora, tudo cre.ce junto, sendo produto· da mesma situacao.30
Seguin do essa orientagao, n6s, soci6logos, temos por praxe repetir, antes que testa-la em suas muitas implicagoes, a tese formulada por Sumner. Ao inves de olhar 0 intragrupo como aquela especie sui-generis do grupo de afiliagao que e caracterizada pela coesao interna e hostilidade externa, temos tendido a desenvolver a pratica, encorajada pelas pr6prias formulagoes ambiguas de Sumner, de supor que todos os grupos a que 0 individuo pertence exibem as caracteristicas do intragrupo. E os soci6logos nao saD os unicos a manter esse ponto de vista. De todos os lados, tem-se por demonstrado que a solidariedade dentro do grupo fomenta a hostilidade em relagao aos que estao fora dele, e vice-versa, numa espiral cumulativa de coesao interna e hostilidade externa. A primeira vista, e de modo geral, ha muitos fatos que ap6iam esta opiniau. 0 nacionalismo intenso, como a hist6ria demonstra e como 0 confirmam os acontecimentos cantemporaneos, e tipicamente acompanhado pela hostilidade para com outras sociedades nacionalistas. Os ataques ou ameagas de ataque por urna, apenas fortificam a coesao da outra e armam 0 palco para hostilidade ainda maiar para com 0 estranho. Os casos identificaveis que se ajustam a essa interagao de grupos SaD demasiado numerosos e not6rios para permitir que se negue a existencia da norma. Contudo, 0 que se pode discutir, e na verdade esta sendo aqui discutido, e se este e 0 unico padrao que liga a coesao interna dos grupos e suas relagoes externas ese, com efeito, todos os grupos de afiliagao funcionam da maneira descrita por Sumner. Isto vem a ser, nao assunto de 16gica, mas materia de fato. Pois, como foi indicado, existe a tendencia de supor que, do ponto de vista de seus membros, todos os grupos sac "intragrupos", e dai se conclui que os grupos de afiliagao geralmente exibem 0 sindrome de comportamento de Sumner. No entanto, a investigagao mostra que este nao e 0 caso.31 30. W. G. Sumner, Folkways, 12-13 [os grifos sao nossas l Sumner prossegue referindo-se ao "etnocentrismo" como "0 nome tecnico pa,ra esta visao das coisas em que 0 pr6prio grupo da pessoa e 0 centro de tUdo, e todos os demais sao medidos e valorados com referencia a ele"; e uma aJusao antiga e nao sistematicamente desenvolvida a funcao de auto-avalia,cao de certos grupos, ate mesmo quanto a terminologia. :!tIe define 0 "patrie.tismo" como a "Iealdade em relacao ao grupo civico ao qual a pessoa pertence por nascimento ou por outro laco grupal" e 0 "chauvinismo" como urn nome que indica a Tais express6es sao t6das consideradas como "presumida e truculenta. auto-afirmacao". caracteristicas do mesmo padrao geraJ: "camaradagem" para os de dentro do grupo, e "hostilidade" para os que estao fora do grupo, ambos os sentimentos surgindo e desaparecendo simultaneamente. 31. Merton, West e Jahoda, Patterns of Social Life, Capitulo 8, mostra que 0 molde da coesao-interna e hostilidade-externa e apena,s urn dos diversos moldes exibidos por gru· pos de afiliacao em suas relac6es com os autros grupos. A observacao comum ap61a isto mas a fixidez conceptual e as conotac6es do conceito de intre.grupos tenderam a obscurecer este fato facilmente observi'l.vel.
utilizando somente os conceitos psicol6gicos mais primarios, Sumner concluiu, cedo demais e injustificadamente, que ~.• proftmda lealdade a urn grupo gera antipatia (ou, pelo menos, indiferenQa) em relaQao a outros grupos. Vindo da tradigao evolucionista do pensamento sociologico, com sua insistencia tm que a sociedade, assim como a natureza, luta com unhas e dentes, Sumner descreveu urn caso importante, embora especial, como se fasse urn casa geral. Ele admitiu e sua suposiQao ecoou como verdade consagrada em numerosas ocasioes em sua (poca, que a intensa lealdade a urn grupo gera necessariamente hostilidade em relaQao aos que ~lstao fora do grupo. A teoria do grupo de referencia, que sistematicamente reconhece as orientaQoes positivas para com os grupos a que a individuo nao pertence, pode servir como corretivo para esta conclusao prematuramente restrita. Intragrupos e extragrupos san freqtientemente sUbgrupos dentro de uma organizaQao social maior, e sempre sao potencialmente assim, ja que uma !lova integraQao social pode abranger grupos previamente separados. Isto significa que, assim como temos observado condiQoes estruturais e situadonals que favorecem a formaQao de subgrupos, tambem podemos observar, sob condiQoes determinadas as tendencias para as integraQoes intergrupais. Nao e a realidade social, mas san as nossas pr6prias preocupaQoes socialmente condicionadas, que levam alguns de nos a focaIizar os processos de diferenciaQao social, negligenciando os processos de consolidaQao social. A teoria dos grupos de refe'rencia trata de ambos as tipos de processos ~ociais.
Problema 1. 5. CONCEITOS DE GRUPOS, CATEGORIAS SOCIAlS
COLETIVIDADES
E
o termo grupo tern sido freqtientemente estendido at( 0 ponto de ruptura, e nao somente na teoria do grupo de referencia, que 0 empregou para designar grandes quantidades de pessoas, entre a maior parte das quais nao ha interaQao social, embora compa:ctilhando urn conjunto de normas sociais. Este usa impreciso e encontrado em expressoes tais como "grupo de nacionalidade", a fim de designar a populaQao total de uma naQao (distinguindo-se 0 seu usa mais apropriado para associaQoes cujos membros sejam da mesma nacionalidade). Nao preenchendo 0 criterio da interaQao social, estas estruturas sociais devem ser, conceptual e terminologicamente, distinguidas dos grupos. Segundo 0 usa de Leopold yon Wiese e Howard Becker, de Florian Znaniecki e Talcott Parsons, podem ser designadas como coletividades: 32 pessoas que tern urn senso de solidarie32.
Leopold von Wiese e Howard Becker, Systematic Sociology, Znaniecki, Sodal Actions (Nova Iorque: Farrar & Rinehart, The Social System, 41, 77-78.
Capitulo XLII: 1936), 364·365;
Florian Parsons.
dade, em virtude de compartilhar va16res comuns e que adquiriram urn ~entido concomitante de obrigaQao moral para preencher a papel que lhes e atribuido. Evidentemente, todos as grupos sao coletividades, mas aquelas coletividades as quais falta 0 criteria de interaQao entre os membros, nao san grupos. Nem a distinQao deve ser considerada meramente taxionamica: a funcionamento do contrale social em grupos e Qutras coletividades difere como resultado das diferenQas nos sistemas de interaQao. Ademais, as coletividades sao potenciais para a formaQao de grupos: a fundo comurn de vaWres pode facilitar a interaQao social entre partes da coletividade. Distintas tanto dos grupos como das coletividades, estao as categorias 50ciais, Conforme as identificamos no capitulo anterior, as categorias sociais sao agregados de situaQoes sociais, cujos ocupantes nao estao em interaQao social. Tern caracteristicas semelhantes - de sexo, idade, estado civil, rendimento etc. - mas nao san necessariamente orientadas em relaQao a urn corpo de normas distintivo e comum. 33 Tendo status iguals, e conseqtientemente interesses e valares semelhantes, as categorias sociais podem ser mObilizadas para ingressar em coletividades ou em grupos. Quando funcionam como grupos, os membros da mesma categoria social podem ser considerados como grupos de pares ou companhias de iguais (embora 0 usa tenha limitado 0 termo de grupos de pares aos grupos cujos membros sejam da mesma idade). o exame demQnstra que 0 conceito do "grupo" de referencia pode incluir, de modo indiferenciado, formaQoes sociais de especies inteiramente diferentes: grupos de afiliaQao e de nao ·afiliaQao, coletividades e categorias sociais. Resta ver 5e 0 comportamento dos grupos de referencia clifere conforme se tome urn ou outro grupo desses grandes tipos de formaQoes sociais como sistema de referencia. Em qualquer caso, como veremos, isto faz surgir 0 problema de como a estrutura da sociedade favorece a seleQao de outros grupos, com os quais os individuos estejam em associaQao real como grupo de referencia e como, na ausencia de tal associaQao direta, isto favorece a escolha dos grupos de referencia entre as coletividades e categorias sociais.
Ao examinar os diversos tipos de'nao membros. observamos de passagem que alguns deles desenvolvem, de maneira caracteristica, ambivalencia em direQao a grupos a que pertenceram em epoca. anterior. Mas nao sao apenas os grupos de nao afiliagao que funcionam como grupos de referencia negativa; a mesma coisa pode dar-se com os grupos a que se 33.
Pa.ra
a
Society
distin~ao (Nova
entre Iorque:
"seme!hante" Rinehart
and
e "comum". Company,
ver
R.
M.
1949), 32-33.
MacIver
e C.
H.
Pagp-.
pertence. Ja em 1943, em seu classico estudo de assimilac;;ao de val6res por estudantes universitarios,34 Newcomb indicou que as normas de urn grupo ere referencia podem ser rejeitadas e distinguiu depois, mais anaHticamente, os grupos de referencia positivos e os negativos.35 0 tipo positivo envolve a assimilac;;ao motivada das normas do grupo ou dos padr6es do grupo como base para auto-avaliac;;ao; 0 tipo negativo envolve rejeic;;ao motivada, isto e, nao simplesmente a nao aceitac;;ao das normas, porem a formac;;ao de contranormas. Estudos de grupos de referencia tern demonstrado uma tendencia distinta a focalizar-se s6bre aqueles grupos cujas normas e val6res sejam adotados por determinados individuos. Por conseguinte, 0 conceito de, grupos de referencia negativa ainda tern que ser convertido em foco de con stante investigac;;ao. No entanto, parece que ele encerra promessa de consolidar urna extensa lista de comportamento social que, na superficie, parece ser discreto e inteiramente desligado. Como Newcomb indica, o referido grupo conceitualiza certas normas de conduta como sendo "rebeliao adolescente" contra os pais. No plano psicol6gico, proporciona LIma ligac;;ao com os conceitos de negativismo e de personalidade. No plano sociol6gico e urn conceito geral destinado a assinalar 0 tipo de relac;;6es hostis entre grupos ou coletividades em que as ac;;6es,atitudes e va16res de urn sac dependentes das ac;;6es,atitudes e val6res de outro, que se colocou em oposic;;ao. Por exemplo: Charles Singer; conhecido historiador da ciencia, sugeriu que mesmo as proeminentes escolas de Medicina da velha Grecia rejeitavam 0 conceito da infecc;;ao nas molestias, precisamente porque ele era aceito pelos "barbaros".36 De maneira semelhante, tem-se observado com frequencia que muitos norte-americanos rejeitarao imediatamente, sem as analisar, ideias que tern merito pr6prio, simplesmente porque elas se originaram na Russia Sovietica ou ali sac populares. E de crer que muitos russos fazem 0 mesmo com as concepc;;6es rotula-das como norte-americanas. Numerosos estudos experimentais de "prestigio negativo", nos quais uma afirmac;;ao carre gada de val6res ou uma verdade cmpiricamente demonstravel Ioram rejeitadas q'J~ndo atribuidas a tiguras publicas repudiadas, tambem demonstraram 0 funcionamento de processos pal'ecidos. Assim como se desenvolveu uma teoria psicol6gica das personalidades negativas, tambem se podera desenvolver uma t.eoria sociol6gica do grup:J de referencia negativa, que unifique as provas deste fen6meno ate agora espalhadas em esferas de comportamento muito dispares. As pesquisas
poderiam. proveitosa:nente partir do fato teoricamente significante, de quP, certas atltudes, valores e conhecimentos que sac pessoal e socialmente funcionais, podem ser repudiados simplesmente porque sac identificados com urn grupo de referencia negativo. Tal investigac;;ao faria progredir nosso conhecimento do problema basico das condic;;6es sob as quais 0S individuos e grupos continuam a praticar uma .-::onduta que e disfuncional para eles. Teria 0 merito distinto, embora colateral, de ajudar a alargar o foco da pesquisa e da teoria sociol6gicas, agora tao interessadas em favorecer urn comportamento funcional para aqueles que tendem a manter os moldes disfuncionais de comportamento da sociedade. o exame anterior dos conceit os de grupos, de afilia<;ao e de nao afiliac;;ao, de intragrupos e extragrupos, de coletividades e de categorias sociais, e de grupos de referencia positivos e negativos, destina-se a ajudar a classificar alguns dos conceitos mais gerais da teoria do grupo de referencia, e auxiliar a formulac;;ao de problemas para posterior investigac;;ao. Os conceitos que incidem s6bre componentes mais especificos da teoria tambem foram recentemente reexaminados, como se tornara evidente na seguinte l'evisao dos problemas substantivos e metodol6gicos.
o escopo e objetivos da teoria dos gn;.pos de referencia foram descritos no capitUlo anterior, em termos de sistematizar "as determinantes e consequencias daqueles processos de avaliac;;ao e auto-8stima~ao nos quais 0 individuo toma os va16res ou padr6es de outros indiviciuos e grupos, come estrutura de referencia comparativa". Como temos visto, esta afirmac;;ao deve ser ampliada ate incluir estruturas de referencia tanto normativas como comparativas. Contudo, em outros aspectos, a afirmac;;ao pode ser deixada intacta, como formulac;;ao sin6tica daquilo que e envolvido neste campo de investigac;;ao. Em particular, a distinc;;ao entre as determinantes e as conse. quencias necessita ser preservada, pois embora sejam dinamicamente interdependentes, cada uma tern seu conjunto caracteristico de problemas te6ricos. De modo semelhante ha necessidade de distinguir entre as individuos e os grupos de referencia, a fim de descobrir finalmente a natureza exata dos mecanismos que relacionam os dois.
SELE\=AO ENTRE GRUPOS DE REFEMNCIA 34. TheodoreM. Newcomb,Personalityand Social Change (Nova rorque: Dryden Press. 1943). 35. TheodoreM. Newcomb,Social Psych~logy,(Nova Iorque: Dryden Press, 1950).227; tambt!ma analise de Newcombem MuzaferSherif, An Outline of SocialPsychology (Nova Iorque: Harper & Brothers, 1948),139-155. 36. Citadoem H. T. Pledge,ScienceSince 1500(Londres:H. M. StationeryOffice,1939), 163.
INDIVIDUOS
POTENCIAIS:
DE REFERENCIA
Desde que 0 termo "grupo de referencia" foi introduzido por Hyman, os cientistas sociais adotaram a convenc;;ao terminol6gica de incluir nessa expressao, tanto 0 comportamento orientado para grupos como para indio viduos particulares. Esta designac;;ao eliptica foi adotada evidente e total-
mente com 0 prop6sito da brevidade; as express6es "grupo de referencia . .. -d 0 de referencia" teriam sido POl' demais desajeitadas e emba· '" InUlVIu . ;agosas, para sobreviver POI' muito tempo. Quaisquer q~e ~ossem, ~odaw~, z6es para adogao da expressao abreviada a propna termmologla as ra . t' t demonstrou a tendencia de fixar a definigao de problemas pelos Clen IS as sociais (segundo a maneira mais geralmente i?dica~a no Capitulo IV, 160). A pesquisa e a teoria tem tendido a se focahzar sobre os grupos de referencia, a custa do esquecimento relativo dos individuos de referencia., . Desde logo, conviria sugerir que a selegao dos individ,uos de referencw nao apresenta presumivelmente maior idiossincrasia do que a. es~olha clos grupos de referencia. Quase sem se interessar pela provemencIa, .a teoria socio16gica sustenta que a identificagao com os grupos e com os mdlviduos que ocupam determinados status nao ocorre ao. ~caso, mas .tende il. ser moldada pela estrutura ambiental das relag6es SOCIalS estabeleCldas e pelas definig6es culturais predominantes. Entre muitos. exe~?lOS~ urn e fornecido pelo relato ae Malinowski, do modo como as ldent:flC~goes e hostilidades do complexo de Edipo sao moldadas pel~ orgamzagao dos papeis na estrutura da familia. Contudo, ainda rest~ mUlto a ~er descoberto acerca dos mecanismos sociais e psico16gicos atruNes dos quaIs a estrutura social e cultural modela sistematicamente a selegao dos individuos de refeA
rencia, dentro de um grupo de referencia. o individuo de referencia tem sido freqilentemente descrito como urn mGdelo do papel a desempenhar. No entanto, como se infere das pr6prias palavras, a suposigao de que ambos sejam conceitualmente sinanimos, obscurece uma diferenga basica nos temas aos quais respectivamente se referem. A pessoa que se identifica com um individuo de referencia procurara apro· ximar-se do comportamento e dos va16res daquele individuo em seus diversos papeis. 0 conceito de "papel-modelo" pode ser concebido como de escopo mais restrito, denotando uma identificac;ao mais limitada com um individuo, s6 em um ou em uns poucos dos seus papeis que se queira selecionar. Seguramente, um "papel-modeIo" pode tornar-se um individuo de referencia, se os seus multiplos papeis forem adotados para fins de emulagao, em vez de permanecer a emulagao limitada ao papel sabre - cuja base fora estabelecida a relac;ao psico16gica inicial. Assim como os papeis podem ser segregados um do outro, no curso da interac;ao social, tambem podem ser separados, na forma de orientac;6es de referencia. A emulac;ao com um igual, com um pai ou uma figura publica, pode restringir-se a segmentos limitados de seus comportamentos e va16res, e isto pode ser definido convenientemente como a adogao de um exemplo de pape!. Mas a emulagao pode estender-se a uma lista mais ampla de comportamento e de valores das pessoas que podem ser definidas como individuos de referencia. A 'distingao conceptual engendra 0 problema dos processos que favorecem a selegao de pessoas como modelos de papeis ou como individuos de referencia. Dizer que a identificaQao parcial ocorre no primeiro caso,
dando-se a identificac;ao total no segundo, e apenas considerar 0 problema em lingua gem um tanto diferente em vez de resolve-lo. As circunsti'mcias que favorecem a identificagao total ou parcial ainda estao POI' ser descobertas. Os moldes de interac;ao social, POI' exemplo, podem estabelecer limites para a mera possibilidade de escolher certas pessoas como individuos de referencia. Se a interagao for segmental e limitada a certas relaQ6es de papeis isto apenas permitiria a emerg{mcia de um paradigma e nao de um indivic1.uode referencia mais ampla (exceto na fantasia). Contudo a identificac;ao parcial em termos do papel, de urn individuo pode motivar uma pesquisa a busca de conhecimento mais extenso do comportamento e va16res do paradigma em outras esferas. Este tipo de processo parece estar implicito no interesse popular e geral pelas vidas privadas das figuras publicas que estao servin do de modelos para muita gente. A identificagao parcial com os her6is da cultura do passado e do presente pode ampliar-se ate atingir a total identificagao, engendrando assim um interesse ativo pela sua conduta e seus valores, muito distanciados do papel em que chegaram a proeminencia. Os bi6grafos, os editores da'5 revistas de "fas" e os "colunistas de mexericos" prosperam a custa dessa suposta tendencia em transformar os modelosem individuos de referencia. Seria passivel conseguir pistas valiosas para se encontrarem as determinantes da escolha dos individuos de referencia, estudando seqilencias de individuos de referencia escolhidos pelos mesmos individuos. Presumivelmente, havera nuanc;as distintas nos individuos de referencia e nos paradigmas, a medida que as pessoas se movam atraves de sequencias de status durante seus ciclos de vida. Isto ainda implicaria em que consideravel parte de tal escolha nao e idiossincratica mas moldada atraves de seqilencias de carreiras estruturalmente determinadas e estatisticamente frequentes, atuais, antecipadas ou desejadas. Tais estudos de desenvulvimentos, assim como as comparag6es estruturais em determinado ponto no tempo, serviriam oportunamente para alargar nasso conhecimento altamente imperfeito das determinantes de escolha dos individuos de referencia e dos paradigmas de papeis. Um problema correlativo centraliza-se na selegao de individuos de referencia no milieu, ou ambiente social imediato constituido pelas relagoes sociais nas quais 0 individuo esteja diretamente engajado, 36' e na sociedade maior, incluindo figuras publicas com a~ quais nao haja interagao social direta. A estrutura dos meios sociais obviamente varia: pOI'exemplo, alguns tem uma estrutura razoavelmente estavel, com relag6es sociais 36a. Procurei sugerir, numa apresenta~ao deste tema, que as recentes investiga~6es 50ciol6gicas e sociopsicol6gicas, tem "desenvolvido uma superenfase s6bre 0 milieu em contraste com a estrutura social maior, ao !idar com 0 ambiente social do comportamento huma.no". Ver a "Sessao 2" em Witmer e Kotinsky (redatores), New Perspectivps for Research in Juvenile Delinquency, 25 e segs. Algumas observa~6es penetrantes de alguns dos problemas que esta pr,i.tica provoca, serao encontrados em Theodore Caplow. "The definition and measurement of ambiences", Social Forces, 1955. 34, 28-33.
duniveis entre pessoas que sac substancialmente as mesmas; outros podem ter ao mesmo tempo uma estrutura relativamente instavel e muitas e rapidas mudan!(as de pessoal. E conforme Otto Fenichel tern observado, tais trocas rapidas, freqiientemente com conseqiientes efeitos sabre os moldes de rela!(oes sociais, podem "tornar impossiveis as identifica!(oes duraveis".37 Tambem pode levar as pessoas para quem faltam individuos locais a serem tornados como referencia, a se voltarem para figuras mais distantes com quem se podem identificar. E evidente que estas poucas observa!(oes apenas abordam a grande lista de problemas que se desenvolvem nesta parte de teoria do grupo de referencia. Por exemplo, elas nada dizem acerca da questao: se a identifica!(ao com urn grupo de referencia se faz necessariamente pela identifica!(ao com membros individuais daquele grupo; mas 0 que foi dito pode ser suficiente para indicar que as distin!(oes entre paradigmas, individuos de referencia e grupos de referencia, ajudam a colocar urn conjunto distintivo de problemas para serem investigados.
SELECAO ENTRE GRUPOS DE REFERENCIA POTENCIAIS GRUPOS DE AFILIA<;AO VERSUS GRUPOS DE NAO,AFILIA<;AO Os gropos de referencia sao, em princlpio, quase inumeraveis: qualquer dos gropos dos quais a pessoa seja membro, e estes sao comparativamente poucos, bem como os gropos dos quais a pessoa nao e membro, e estes, evidentemente, sao legiao, podem se tornar pontns de referencia para moldar as atltudes, avalia<;ao e comportamento proprios. (Pag. 313). Em que circunstancias os membros do grupo a que se pertence sao tomados como estrutura de referencia para a auto-avalie.<;ao e a forma<;ao de atitude, e sob quais circunst:\ncias os membros de outro gropo ou "extragrupo" fornecem a estrutura de referencia signifi· cativa? (pag. 313)
Estas primeiras formula!(oes foram evidentemente criadas pam armar o cenario para 0 problema de constru!(ao te6rica das determinantes sociais, culturais e psicol6gicas de sele!(ao, dentre 0 grande potencial dos grupos de referencia. Centralizam-se elas sabre 0 problema geral de identifica!(ao das f6r!(as .e contextos que favorecem a sele!(ao, au de grupos de afilia!(ao cu de grupos de naoafilia!(ao, como estruturas de referencia significativa; problema este que continua basico para a teoria dos grupos de referencia. Contrastando com outras partes da teoria que se desenvolve, esta parte recebeu relativamente pouca aten!(ao nestes ultimos anos_ Muita pesquisa foi feita com referencia a identifica!(ao das condi!(oes que favol'ecem a escolha de urn grupo de afilia!(ao em detrimento dos demais, tal como veremos adiante; porem pouco se tern estudado em rela!(ao as
37. Em seu tratado, Norton & Co.,
intitulado
The Psychoanalytic Theory of Neurosis (Nova Iorque: algo desorientador POl' ser dema.siado restrito.
1945),505,que e
W. W
condi!(oes que favorecem a escolha de grupos de nao ·afilia!(ao. 0 estudo que foi feito,· tende a confirmar conjeturas ou hip6teses e a formular problemas adicionais. Uma de tais conjeturas (a qual, de qualquer maneira, leva 0 terna para a frente, mas s6mente numa curta distancia) sustentava que os individuos "motivados para se afiliarem a urn grupo" tenderiam a adotar os valares daquele grupo ao qual nao pertencem. (pag. 306) Esta hip6tese limitada tern sido i'.lltimamente ampliada por Eisenstadt, que descobre, nurna amostra de imigrantes a Israel, que a sele!(ao dos grupos de referencia e largamente governada pela capacidade de certos grupos, de "con. ferir algum prestigio em termos da estrutura institucional da sociedade".38 Na medida em que a outorga de status representa uma base principal para a escolha de grupos de nao afilia!(ao, a estrutura social, que confere varios graus de prestigio e autoridade a grupos e que determina 0 grau de acessibilidade a eles, tendera a padronizar esta sele!(ao para os individuos diferentemente situados na sociedade. Foi tambem conjeturado que os "isolados" dentro de urn grupo podem ser especialmente inclinados a adotar os va16res dos grupos a que nao pertencem como estruturas de referencia normativas. (pag. 351) Esta hip6tese tambem tern side desenvolvida por Blau, 0 qual sugere que em particular aquelas pessoas socialmente nao m6veis "que sac relativamente isoladas" incluem 0 "carreirista social, 0 individuo que adota 0 estilo de vida de uma classe mais prestigiosa a qual nao pertence e 0 membro desencantado da ,elite, 0 individuo que adota a orienta!(ao politica de uma classe men os poderosa que a sua pr6pria".39 Finalmente, nesta curta lista de hip6teses, tem-se sugerido que os siste. mas sociais com propor!(oes relativamente altas de mobilidade social tenderao a produzir extensa orienta!(ao para os grupos de naoafilia!(ao como grupos de referencia. (pag. 351) Pois e em tais sociedades que as aspira!(oes de subir a outros grupos e estratos sera freqiiente e a socializa!(ao antecipat6ria sera funcional. Pelo menos urn estudo e consistente com cesta suposi!(ao. Stern e Keller examinaram os grupos de referencia espontaneamente selecionados por uma pequena amostra da popula!(ao da Fran!(a e encontraram que elas apresentavam pequena evidencia "de orienta!(ao para grupos a que nao se pertence". Estes autores prosseguem, com respeito ao contexto estrutural deste tipo de sele!(ao, que "uma das carac. teristicas da sociedade francesa e a relativa imobilidade dos grupos sociais. Investiga!(oes semelhantes empreendidas em outros sistemas sociais podem produzir resultados diferentes. Nossos achados devem ser provados numa sociedade em que haja menos tradicionalismo do que existe na Fran!(a,
38. M. Eisenstadt, "Reference group behavior and social integration: American Sociological Review, 1954,19, 175-185, na pag. 177. 39. Peter M. Bla,u, "Social mobility and interpersonal relations", Review, 1956,21, 290-295, na pag. 291.
an explorative American
stUdY·,
Sociological
e onde seja mais predominante a mobilidade social para cima. Se tivessemos que tomar uma sociedade como ados Estados Unidos, na qual as necessidades basicas sac satisfeitas mais amplamente e presurnivel que o tipo de comportamento des grupos de referencia seria inteiramente diverso".40 Embora ainda estejamos a uma consideravel distancia de encontrar urn conjunto de hip6teses te6ricamente evolvido e empiricamente subsl.anciado, acerca das determinantes da selegao os extragrupos como grupos de referencia, ja se aprendeu bast ante para indicar os contornos de novas investigag6es. Os padr6es concretos de comportamento de grupos de referencia variam, presumivelmente, de acardo com os tipos de personalidades e de situag6es sociais daqueles que exibem este comportamento e 0 contexto estrutural dentro do qual ele ocorre. A pesquisa a respeito das diferengas de personalidades em tal comportamento tern sido prefigurada em estudos correntes, porem ainda e negligivel. De alguma forma tem-S8 ::lado mais atengao as diferengaa de status, em relagao ao comportamento cios grupos de referencia, particularmente com relagao aos membros isolados e integrados de grupos, e com relagao a pessoas socialmente m6veis, ou estacionarias. Particularmente instrutivos sao os estudos iniciais comparativos em sociedades diferentes, destinados a descobrir os caminhos segundo os quais os diferentes contextos estruturais afetam as propor<;6es e distribui<;ao de tiDes identificaveis de comportamento de grupos de referencia. Estudos tais como os de Eisenstadt, de Stern e Keller, que tern sido citados, e de Mitchell,40a porlem ser adequadamente ampliados a fim de considerar novas problemas te6ricos da especie que esta sob estudo, e podem ser reproduzidos em outras sociedades estrategicamente escolhidas, a fim de fornecer uma analise genuinamente comparativa do comportamento des grupos de referencia. Especificamente, ao tratar do problema das condig6es sob as quais os grupos de fora sao selecionados como grupos de referencia, s6mente tal estudo comparativo habilitara os soci610gos a escapar aos limites tragados pela cultura, de generalizag6es que podem nao ser reconhecidas como sendo de fato aplicaveis apenas a certos tiDes de sistemas sociais. Esta consideragao, que evidentemente e pertinente a uma amplitude muito mais extensa de problemas sociol6gicos, tern farga particular para a teoria dos grupos de referencia, a qual, ate pouco tempo, tern sido desenvolvida quase que exclusivamente nos Estados Unidos. Esta circunstancia de hist6ria intelectual facilmente introduz uma inclinagao cumulativa nos achados, a menos que a tendencia seja contrariada por estudos comparativos de com40. Eric Stern e Suzanne Keller, "Spontaneous group references in France", Public OpimnD Quarterly, 1953, 17, 208-217,nas pags. 216-217. 40a. Ver' os trabalhos da 29.a Segao de Estudos do Instituto Internacional de Civilizac;6cs Diferentes, Londres, setembro de 1955, 13·16, preparados por J. Clyde Mitchell, "The African middle classes in British Central Africa", que examina a emergencia de eUropeus como grupo de referencia normativo para os indigenas da Africa.
portamento de grupos de referencia, dentro de contextos estruturais lamente dispares.
SELECAO DE GR~?OS DE REFERENCIA OS GRUPOS DE AFILIACAO
intei-
ENTRE
... a teoria e a pesquisa devem passar a estudar a (linamica da selegiio dos gropos de reo ferencia entre os diversos grupos a que pertence 0 individuo; quando e que os individuos ,~e orientam POl' outros em seu glUpO de ocupagfio, em seus grupos de simpatia ou em seus grupos religioso" I Como e que podemos car2.cterizar a estrutura da s!tuagii", social que con. duz a uma, em vez de outra dessas divers as afiliag6es a grupos que estejam sendo tornados como contexto significativo? (Pag. 319)
Nas paginas anteriores temos sugerido repetldamente que 0 foco distine proporcionado pelo fato de que os homens freqiientemente orientam-se por grupos outros que nao os seus proprios, ao moldar seu comportamento e suas avaliag6es. E distint.ivo no senti do de que a teoria sociol6gica tern propendido ate recentemente, a concentrar-se sistematicamente nas influencias dos grupos sabre seus membros e a considerar apenas incidentalmente as influencias des grupos de fora. Isto esta longe de significar que os grupos a que os individuos nao pertencem constituem 0 foco exclusivo para a teoria dos grupos de referencia. Nao obstante, essa mudanga de enfoque poderia ser interpretada como significando que s6mente os grupos de fora tern alguma importancia sabre a conduta, como grupos de ::eferencia; 41 confusao esta que convem eliminar 0 mais depressa possivel. Na realidade, evidentemente, 0 grande volume de pesquisas neste campo continua a focalizar-se sabre as determinantes e conseqiiencias de tomar as normas e valares dos grupos a que a gente pertence como estrutura de referencia normativa e comparativa. Em parte, este continua sendo 0 enfoque principal da investigagao; devido ao fato geralmente reconhecido de que e 0 grupo ao qual a pessoa pertence que mais freqtientemente e mais proeminentemente afeta 0 comportamento da pessoa. Menos signi. ficativamente, a insistencia neste enfoque resulta da dificuldade ainda difundida e substancial, de imaginar instrumentos de pesquisa qu~ d~ modo adequado identifiquem a influencia de certos grupos sabre os mdl' viduos que nao sac membros deles. Porem, quaisquer que sejam as raz6es e a escolha dentro des grupos a que se pertence que continua a prend~r a atengao daqueles que estudam 0 comportamento des grupos de referencia , e e a estrutura te6rica deste problema que pede exame detalhado. tivo da teoria dos grupos de referencia
Norman Kaplan Reference Group Theory and Voting Behavior, pag. 30 e segs., cha41. ma a atenc;iio d~ modo enfatico para 2, opiniao de que focalizar excluslVamente os grupO. ele nao afiliagao seria claramente imerecido.
As quest6es anteriores acerca da dinamica da selegao entre os grupos que se pertence, embora possam ser pertinentes, nao tem side enunciadas naquela forma explicita que revela 0 carateI' do problema te6rico. Isto quer dizer que as perguntas implicam, mas nao sistematizam os problemas componentes que devem ser classificados antes que se possam encontrar as solug6es substantivas met6dicas. Cada um destes problemas componentes necessita ser formulado e examinado pOl' seus pr6prios meritos, antes que se possam perceber suas interconex6es. II
As quest6es acerca de quais dos divers os grupos a que 0 individuo pertence sac selecionados como grupos de refer encia (tais como aqueles estabelecidos na formulagao do problema 4) pressup6em evidentemente a. existencia de diferentes especies de grupos a que se pertence, mas nao encaram expllcitamente 0 problema ainda nao resolvido de formular uma classifi.cagao met6dica de iais tipos. A taxionomia esta longe de ser tada a teoria sociol6gica, mas e parte indispensavel dela. Quando examinamos a condigao atual da teoria sociol6gica no Sentido de conceptualizar e classificar os tipos de grupos, devemos concluir, penalizados, que ainda nao apareceu um Lineu ou um Cuvier da sociologia. Na ausencia de um acontecitnento assim decisivo, pode, nao obstante, ser util chamaI' a atengao sabre a significagao te6rica e a situagao corrente do problema da classificagao sistematica dos tipos de grupos. A formulagao introdut6ria do problema 4 pode ser tomada como um exemplo razoavelmente tipico de inadequagao te6rica e assim pode nos auxiliar a reformular 0 problema da classificar;ao. Mediante a refer encia :Zustrativa aos grupos ocupacionais, de simpatia e religiosos, a formulagao mostra a pnj,tica predominantemente entre os soci610gos, de adotar listas ::;ubstantivas de grupos como estes sac descritos na linguagem coloquial. Esta lista pode ser e tem sido ampliada, ao ponto de abranger longa relagao alusiva: sindicatos operarios e irmandades secretas, fraternidades, e sodalicios em geral masculinos e femininos; quadrilhas, camarilhas, e grupos de amigos; grupos etnicos, ocupacionais, de recreagao, politicos, religiosos, de parentesco e educacionais e assim POl' diante, formam a lista Jimitada apenas pela mUltiplicidade de grupos e termos habituais na sociedade. No entanto, parece que listas desse genero nao tem grande semeIhanca com uma classificagao te6ricamente fundamentada. Cruzando estas listas descritivas de grupos, exist em numerosas e varias ~lassificag6es - freqtientemente na forma de dicotomias - baseadas sabre um oU,mais criterios. A medida que 0 tempo e medido na hist6ria ainda curta da sociologia moderna, algumas dessas classificag6es chegaram a ser veneraveis, muito respeitadas e pouco meJhoradas pOl' duas ou mais
gerag6es.42 Mas, segundo as presentes indicag5es, essas classificag6es de grupos e aquelas que vieram depois, foram apenas precursoras de classificagoes mais precisas e te6ricamente mais villveis, as quais ainda tem que ser desenvolvidas. Ha algum merecimento em aludir a ignorancia coma um prelUdio ao ataque concentrado aos problemas ainda nao resolvidos, e, no entanto, claramente importantes. Para algumas finalidades, tem side uti! trabalhar com tais classificag6es correntes como grupos primarios e grupos secundarios, intragrupos e extragrupos, grupos de conflito e grupos de acomodagao, "grupos pequenos" (classificados em termos numericos de seus membros como diades, triades etc.) e, presumivelmente, "grupos grandes", associag6es e comunidades; mas e evidente que estes nao constituem mais do que os comegos de classificag6es te6ricamente derivadas, adequadas a preencher a necessidade de analisar 0 funcionamento das estruturas grupais. o problema de desenvolver classificag6es adequadas de grupos e evidentemente muito antigo, tendo prendido a atengao de uma longa linha de observadores sociol6gicos, desde Arist6teles ate os nossos aias. Embora esses muitos esforgos sejam diferentes em outros aspectos, os melhores deles concordam com 0 requisito 16gico fundamental de que uma classificagao eficiente nao sera apenas e grosseiramente descritiva dos "tipos" observados, mas derivara de combinag6es de va16res de determinadas propriedades do grupo.43 0 problema decisivo, evidentemente, e identificar as propriedades te6ricamente estrategicas do grupo, que servirao sistematicamente a discriminagao do funcionamento de cada tipo resultante do
42. Em seu inventario de concei',os sociol6gicos, em 1932, Ea,rle E. Eubank pade apresentar trinta E! nove c;assifica~oes distintas de grupos. alguns baseados sabre estruturas, outros sabre fun~6es, e ainda outros sabre a, natureza das rela~6es sociais predominantes. E em vista do que descrevi como a recente "redescoberta do" grupo primario", con· sidere-se 0 que teve Eubank a dizer com respeito a,. pUblica~ao do livro de B. Warrer. Brown, Social Groups, em 1926: "Este pequeno volume e uma evidencia tangivel do fato de que 0 grupo foi descoberto, ou mais exatamente, redescoberto durante os anos recentes. Em seu navo pa,pel e com suas novas implica~6es, torna-se nao apenas 0 conceito central sob a categoria de form as societarias, mas 0 conceito central da socio· logia como urn todo. Revela que num navo sentido, muito mais significante do que anteriormente, a sociologia tornou-se 'a ciencia do grupo'. Porem, 0 que e este grupo, esta 'alguma coisa' redescoberta, que esta sendo sugerida com nossa pedra angular socioI6gica"? Eubank, The Concepts of Sociology (Nova Iorque: D. C. Heath and Co., 1932), 132-168,e 134 para a observa~ao citada. Com a experiencia, senao necessariamen· te com a sabedoria, ganha a.traves de compreensao posterior,' apenas se pode manter a esperan~a de que a descoberta mais recente provara ser mais produtiva e sequente do que aquela que far a tao entusiasticamente saudada POI' Eubank uma gera~9.o atras. 43. Sorokin observou e anunciou este requisito com clareza meridiana em seu Society. Culture and Personality, 159-163,tal como Parsons em sua nota fecund a a respeita dos conceitos de Gemeinschaft e Gesellschaft, 686-694,da obra The Structure of Social Action. Descreve aquela nota como "fecunda", devido a que, a deduzir-se de tadas as aparen· cias esta a.nalise dos relacionamentos concretos designados POI' Tonnies e Weber Ii a fon;e da classificaQ9.o mais recente de Parsons, dos "padr6es variaveis". Estes sao apenas, dois dos muitos estudos sabre a materia que estao sendo examinados, conforme se indica. na nota seguinte.
grupo, distinguindo-o dos demais. 44 Um esf6rc;o compreensivo para fazer precisamente isto, foi relatado por P. A. Sorokin,45 com uma classificaC;ao resultante, a qual aguarda ulterior uso sistematico em pesquisas atuais. Em contraste com a concordancia sUbstancial entre os soci610gos de que as classificaC;5es .estrategicas dos grupos devem satisfazer 0 requisito T.6gico de serem derivadas de combinaC;5es de propriedades do grupo, ha uma discordancia extensa a respeito da questao substantiva sabre as propriedades do grupo que fornecem a base para as classificac;5es mais instrutivas. Ja que 0 problema substantivo esta tao em fluxo, podera ser uti! revisar rapidamente uma lista provis6ria das propriedades dos grupos que foram reconhecidas, - ap6s a inspeC;ao e analise dos trabalhos SOClO16gicos46 versando grupos e associac;5es - como sendo teoricamente cons44. Entre as numerosas formula~oes do proolema e dos esfor~os conseqlientes para 0 aa. sentar. ver George A. Lundberg, "Some problems of group classification and meaoSuurn oportuno estudo de Horement", American Sociologic'll Review, 1940,5, 531-360; ward Becker, "Constructive typology in the social sciences", American Sociological Review, 1940,5, 40-55;os diversos trabalhos de R. M. Stogdill, entre eles, em especial, "The organiz2,tion of working relationships: twenty sociometric indices", Sociometry, 1951,14, 336·373 e "Leadership, membership and organization", Psychological Bulletin, 1950,47; 1·14;e do mesmo laborat6rio de "estudos de lideran~a", na Universidade no Estado de Ohio, John K. Hemphill, Situational Factors in Leadership (Co'umbia: Thp. Ohio State Univers,ty. 1949),especialmente 0 Capitulo 3 a respeito do "group descrip. tion"; uma serie ulterior de estudos e uma afirma~ao met6dica do problema encoI'.tra·se em P. F. Lazarsfeld e M. Rosenberg, redatores, The Language of Social Research, Se~ao IV; E. Wight Bakke, Organization and the Individual (New Haven: Yale Uni. versity Press, 1952);encontra-se urn desenvolvimento sistematico de escalas para me. dida das dimensoes dos grupos nas importantes investiga<;6es acumulativas efetuadas por Matilda White Riley, John W. Riley Jr., Jackson Toby e associados, Sociological Studies in Scale Anal}'sis (New Brunswick: Rutgers University Press, 1954);e Edgar F. Borgatta e Leonard S. Cottrell Jr., "On the classification of groups", Sociometry and the (,stes 2.,utores come~am com uma enuncia~ao precis" Science of Man, 1955,18.409·422; do problema em estudo: "Mesmo que se admita que certas coletividades sao grupos (' outras nao 0 sao, e que haja uma diferen~a na sua especie, quando se faz 0 esf6r~0 para especifica,r as diferen~as, encontramo-nos considerando variaveis s6bre as quais to. das as coletividades poderiam ser ordenadas, e em cujos termos elas poderiam ser cla~sificadas, pol' varias manciras, para prop6sitos diferentes. Assim a questao se modifica - se urn agregado fo urn grupo, ou nao, relativo ao grau ern que tal agregado e caracteriza.cto par urn complexo especificado de variaveis admitidas como componentes de "agrupa~ao". Tal formula~ao aponta para a necessidade de identificar as varillveis reo levantes que saa componentes criticos, em terrnos do que qualquer cole~ao de pessoas pode ser 2,valiada, e, em qualquer ponto dado, classificada". 45. Sorokin, op. eit., CapitUlo 9, "ClassificatIon of Organized Groups". Est2> classifica~ao bem conhecida, naa e resumida aqui; podera ser facilmente examinada com vistas II medida em que as propriedades dos grupos que entram naquela classifica~ao se sobre. poem ou sao identicas a a,lgumas daquelas provisoriamente registradas nas paginas 5e guintes. 46. Nao fa~o nenhum esf6r~0 para citar os materiais sociol6gicos que forneceram os pontos de partida para esta lista de propriedades dos grupos; contudo, devo dizer que o~ escntos de Georg Simmel foram, alem de qualquer compara~ao, os mais frutiferos para I finalidade. Desejo tambem expres~ar meu reconhecimento pelos auxilios recebteSS2> dos em forma de criticas e sugestoes, pelos estudantes de meu seminario de formandes ace rea de Problemas Selecionados da Teoria da Organiza~ao: Chaim Adler, Berna~d Blishen, Richard CIOW2.rd, Peter M. G. Harris, Russel Heddendorf, James A. Jones,
titutivas das propriedades significativas da estrutura dos grupos. Dizer que a seguinte lista e apenas um rascunho incompleto - ou, numa des. criC;ao mais apropriada, "0 rascunho de um rascunho" - e bastante verdaceiro; porem, no curso ainda nao fixado dos desenvolvimentos te6ricos, po de, nao obstante, ter alguma utilidade.
1. Clareza ou jalta de precisuo das dejinic;6es sociais de ajiliac;uo ao r1rupo: Os grupos diferem extensamente no graa de clareza com que pode
ser definida a afiliaC;ao a eles, variando de alguns grupos informais com !imites indistintos, os quais somente podem seJ identificados atraves de illVestigaC;ao sistematica, aqueles que apresentam processos definidos e formalizados de "admissao". Esta propriedade e presumlvelmente relacio· nada a outras qualidades do grupo, tais como, os modos de controle social. Se a afiliaC;ao a um grupo nao for claramente definida, podera acentuar-se o problema de se exercer controle efetivo sabre aqueles que podem se eonsiderar a si mesmos como membros nominais ou perifericos; a orientac;ao com relaC;ao aos requisitos dos papeis dos membros seria incerta e indefinida. Deve-se notar que isto esta sendo definido como uma propriedade do grupo, e nao em termos de variac;5es idiossincraticas de definiC;ao 0 grupo pode ter criterios claramente defi· I:or individuos particulares. nidos e facilmente reconhecidos de afiliaC;ao, ou os mesmos podem ser vagos e dificeis de identificar, pelos membros do grupo ou pelos nao·membros da sociedade circundante. 2. Grau de entrosamento dos membros no grupo: Esta propriedade refere-se ao escopo e intensidade do envolvimento dos membros no grupo. 'Num extremo, estao grupos que envolvem e regulam os sentimentos e 00mportamentos dos membros na quase totalidade das suas personalidades e dos papeis que desempenham; estes podem ser descritos, em termos flaO depreciativos, como "grupos totalitarios". No outro extremo, certos grupos envolvem e regulam apenas urn segmento limitado dos seres e papeis dos membros; estes sac descritos como "grupos segmentais". Isto e concebido nao como as atitudes e identificac;ao com I) grupo que cada membro individual possa ter, mas antes em termos de uma propriedade do grupo: a extensao em que 0 grau de entrosamento no grupo e normativamente recomendada e realmente realizada. Esta conc~p('ao geral ·evidentemente, tern sido utilizada com frequencia na sociologra: Walter B. Klink, William N. McPhee, Williams Nicholls, Simone P2>re, Gene Peterson, Charlton R. Price, James Price, George S. Rosenberg, Robert Somers, Nechama Tec p Kenneth Weing2.rten. Sou particularmente agradecido a Terence K. Hopkins que me serviu de assistente durante todo aquele ano letivo.
numa sociedade complexa, 0 individuo e normal mente envolvido numa grande variedade de papeis distintos, cada urn dos quais pode engajar ape[Jas uma pequena parte de sua personalidade total; em sociedades menos. cliferenciadas, a afiliagao ao grupo tende a afetar uma porgao consideravelmente maior da personalidade de cada membro. Parece provavel que tanto maior for 0 grau culturalmente definido de entrosamento num grupo, tanto maior a probabilidade de que ele sirva como grupo de referencia a respeito de avaliagoes e comportamentos varios.
4. Durar;{io esperada da ajiliag{io ao grupo: Embora estas duas propriedades possam variar independentemente, san relacionadas e podem ser consideradas juntamente. BIas se referem, respectivamente, a duragao real da afiliagao ao grupo, e a expectativa padronizada de duragao posslvel. Em alguns grupos e organizagoes, a afiliagao tern urn termo fix ado de duragao, tanto de fato como em expectativa; as escolas proporcionam urn dentre muitos exemplos dessas afiliagoes. Em outras, uma ou ambas dessas afiliagoes saD de duragao indefinidamente extensa. Pelo menos urn estudo da materia 47 concluiu que a expectativa de permanencia ou transitoriedade relativa, funciona independentemente cla duragao real a residencia,. no que se refere a afetar 0 comportamento dos membros de uma cornu mdade. Os grupos e organizagoes diferem manifestamente na composig30 de suas afiliagoes, nestes dois sentidos.
Da mesma forma que a afiliagao individual difere nestes aspectos, tambem diferem os grupos e organizaQoes, considerados como empresas que conduzem seus pr6prios neg6cios. A "idade" real de urn grupo e uma qualidade que presumlvelmente afeta Qutras propriedades do grupo: sua flexibilidade, firmeza relativa, sistema de contr61e normativos etc.48 A duragao real de urn grupo, todavia, deve ser distinguida das expectativas padronizadas de duragao provavel do grupo; quer seja uma associagao estabelecida "temporariamente" para satisfazer uma necessidade que, uma vez preenchida, implica a sua dissolugao,49 quer seja uma sociedade ,estabelecida com a expectativa de c!.uragao ilimitada para urn futuro indefinidamente prolongado. As varia6.
Durag{io
esperadado
grupo:
~7. Merton. West e Jahoda, Patlerns of Social Life, em diversas passagens. 48. 0 mais minucioso e demorado estudo desta propriedade da dura~ao real da vida dos grupos e organiza~6es, foi conduzido por P. A. Sorokin. Ver sua obra Social and Cultural Dinamics, IV, 85 e segs., e 0 Capitulo 34 de sua Scciety, Culture and Personality, a qual inclui uma extensa bibliografia. 49. 0 el'emplo de urn estudo sociol6gico de adapta~ao de uma tal associa~ao autodefinidRo· encontra-se no estudo da "Nation a.! Foundation for Infantile Paralysis", depois da descoberta da Vacina Salk; esta na obra de David Sills. The Volunteer Way: A Study in the Sociology of Voluntary Associations, Universidade de Columbia. Departa.mento de
~.oes na duragao esperada presumlvelmente afetariam a selegao dos membros, a especie e grau de envolvimento dos mesmos, a estrutura interna da organizagao; seu poder e outras qualidades que havemos de examinar. 7. grupo:
Tamanho
absoluto
de um grupo, ou de partes componentes de um
Esta propriedade refere-se ao numero das pessoas que compreendem o grupo. No entanto, esta questao, aparentemente simples, de contar 0 numero dos membros, envolve evidentemente anteriores suposigoes e deci. soes do soci610go, como pode ser visto pelas analises anteriores do con. ceito de afiliagao ao grupo. 0 que deve ser tornado como criterio de afiliagao: as proporgoes objetivamente medidas de interagao social, padro· nizadas de acordo com as expectativas de desempenho de outros; autodefinigoes de indivftluos como pertencentes ao grupo; definigao por uma proporgao especificada e grande de outras pessoas, que atribuam a afiliagao aos individuos? Em certas ocasioes, 0 tamanho absoluto de urn grupo e tornado como significando nao 0 numero de pessoas nele encontradas, mas 0 numero de posir;oes em sua organizac;ao. Neste ultimo sentido, a conexao freqiientemente enunciada entre crescimento em tamanho e crescimento em complexidade da estrutura social, torna-se evidentemente uma tautologia. Seja como fOr medida, porem, a qualidade de tamanho absoluto de urn grupo ou das partes integrantes do mesmo, deve ser explicitamente diferenciada, da propriedade de tamanho relativo.
Sociologia, tese de doutoramento, 1956 (a ser publicada). Ver a observa~ao correlata de Chester 1. Barnard: "Uma orgaoIliza~ao deve desintegrar-se se nao pode realizar seus prop6sitos. Urn numero muito grande de organiza~6es bem sucedidas surge, cresce e por fim desaparece por esta razao. E por isso que as organiza~6es mais duradouras eXlgem repetidaornente a ado~ao de novos prop6sitos". The Functions of the Executive, 91. 50. Os conceitos de tamanho absoluto e relativo foram extraidos da seguint~ passagem da obra de Simmel, Sociology, dando-se-Ihes urn sentido algo diferente. "As diferen~as eg· truturais entre os grupos, que sao produzidas por meras diferen~as numericas, tornam-se mais evidentes nos papeis desempenhados por certos membros proeminentes e efica. zes. E 6bvio que urn dado numero de tais membros tern significa~ao diferente num grupo grande, do que num pequeno. A medida que 0 grupo se modifica. qualitativamente, tambem muda a eficH~ncia de tais membros. Porem deve·se no tar que esta efi· ciencia e modificada mesmo se 0 mimero dos membros proeminentes se eleva ou dim!· nul na mesma propor~ao daquela do grupo inteiro. 0 papel de urn milionario que reside numa cidade de gente da classe media, de dez mil pessoas, e a fisionomia. gera1 que a cidade recebe de sua presen~a, sao totalmente diferentes da significa~ao que cin· qiienta milionarios, ou por outro modo, cada, urn deles teria para uma cidade de 500.000 habitantes - a,pesar do fato de que a rela~ao numerica entre 0 milionario e seus concidadaos, a qual isoladamente (poderia parecer) deveria determinar aquela significa~ao, permaneceu inalterad",... A caracteristica peculiar e que os numeros absolutos do gropo total e de seus elementos proeminentes, determinam de modo tao notavel as rela~6es dentro do gropo - apesar do fa to de que sua rela~ao numeric a permane~a a mesma". The Sociology of Georg Simmel, 97·98. [os primeiros grifos sao nossos]. Pode-se observar que a I()r~a sociol6gica dessa distln~ao entre os numeros absolutos e as propor~6es relativas e salientada na analise da estrutura socia.! e da anomia, e no estudo dos Influentes. Ver a nota 28 do Capitulo VII e a nota 16 do Capitulo XII.
Esta propriedade tern side frequentemente perditla de vista, mesmo quando e implicitamente envolvida na aml.lise socio16gica de urn grupo ou de uma organizagao social. Refere-se ao mimero de pessoas num grupo (ou nurn determinado estrato do grupo) relativo ao numero de pessoas em outros grupos da mesma esfera institucional (ou, para prop6sitos espe· ciais, relativos a grupos em outras esferas institucionais). Isto significa que os grupos ou organizagoes do mesmo tamanho relativo funcionarao diferentemente, dependendo de seu tamanho absoluto, e correlativamente, os grupos do mesmo tamanho absoluto funcionarao diferentemente, dependendo de seu tamanho relativo a outros grupos cio ambiente social. (Isto parece valer pam os grupos, as associagoes e comunidades). Po!' exemplo, as comunidades que tern a mesma composigao racial relativa - digamos, com dez por cento de negros e 0 resto de brancos - tera situagoes sociol6gicamente diferentes, dependendo do fate de que 0 tamanho absoluto da comunidade seja de cern, ou de cern mil. Correlativamente, uma comunidade de mil pessoas tera uma estrutura social significativamente diferente, dependendo de ser ela circundada por outras comunidades de tamanho absoluto semelhante, ou por comunidades de tamanho muito maior ou muito menor. Tudo isto e para dizer que os grupos e organizagoes de urn tamanho absoluto particular terao status e fungoes diferentes, numa sociedade em que haja outros grupos e organizagoes semelhantes, de tamanho absoluto substancialmente maiores, ou menores, do que quando ela exista numa sociedade com grupos e organizag6es comparaveis, do mesmo tamanho. Por exemplo, universidadef. dos Estados Unidos e da Inglaterra, do mesmo tamanho, terao tamanho relativo inteiramente diferente. Esta concepgao geral e evidentemente expressa em nog6es populares tais como "urn peixe grande num lago pequeno torna·se distintamente urn peixe pequeno num lago grande". Porem·, como usualmente sucede com tais frases idiomaticas, que regis tram algum aspecto da condigao humana e da realidade social, as correlag6es dessas frases nao foram metodicamente apanhadas em ana-lises posteriores. Alem do mais, a linguagem popular caracteristicamente despreza a consideragao de que 0 mesmo lago pode sef relativamente pequeno ou grande, dependendo de sua localizagao. De qualquer maneira, parece que os conceitos de tamanho absoluto e de relativo tern relagao direta com a teoria de grupo de referencia. 9. Carater aberto 0 u jechado de urn grupo: Esta propriedade tern side discutida com algumn amplitude neste capitulo; como se pode recordar, ela se refere a criterio para afiliagao ao grupo que pode tender a tomar 0 grupo relativamente aberto e acessivel, ou relativamente fechado e restritivo. Ela denota c grau de exclusividade da afiliagao. Em cada erfera. institucional, alguns grupos almejam manter uma afiliagao relativamente limitada; outros, alcangar maxima expansao da afiliagao. Esta propriedade e presumivelmente relacionada a outras propriedades do
grupo; sua relativa firmeza, grau de "integragao", de autonomia, de desvio tolerado, e assim por diante. Em vista da discussao anterior, isto provavelmente nao necessite de maior revisao a estas alturas. 10. "Integrac;ao":" proporc;ao dos membros atuais em relac;ao aos Como temos visto com alguma extensao, a propriedade da potenciais: integragao, isolada por Simmel, porem grandemente ignorada pelos soci61ogos, desde sua epoca, refere-se a proporgao de membros atuais de urn grupo ou organizagao, com os seus membros potenciais, isto e, com aqw3les que satisfazem o~ criterios operantes para a afiliagao. Apenas precisamos reiterar que esta propriedade e relacionada de varias maneiras com outras propriedades do grupo. A relativa influencia de urn grupo na comunidade, por exemplo, pode ser afetada (embora nao necessariamente de maneira linear) pela medida em que se aproxima da integragao, ciistinguindo-se de seu t~manho relativo ou :l.bsoluto. Por exemplo, a Associagao das Enfermeiras Norte-Americanas, com seus 178.000membros em 1956, ultrapassa conslderavelmente a Associagao Medica Norte-Americana, que proclama ter 140.000 membros. Contudo, a organizagao dos medicos tern a mais alta "pIOporgaOentre t6das as associag6es profissionais, de membros admissiveis para afiliagao realmente inscritos, pois abrange aproximadamente 65 por cento de todos os medicos licenciados; a organizagao das enfermeiras, :1pesar de seu numero relativo maior, tern uma porcentagem distintamente menor, ou seja, aproximadamente 41 por cento das enfermeiras profissionais empregadas na "enfermagem organizada". (Contudo, ambas essas associag6es representam aproximag6es substancialmente maiores de integragao de que a maior parte de outras associag6es profissionais). Inteiramente a parte de outras propriedades do grupo, que favorecem as diferengas em situagao social e poder de uma associagao, e claro que a Associagao dos Medicos Norte-Americanos, com sua proporgao mais alta de admissiveis efetivamente associados, esta numa posigao de reivindicar influencia maior e de exercer poder maior que a Associagao das Enfermeiras Norte-Americanas, com sua afiliagao maior. Nao obstante, as conex6es entre tamanho absoluto, grau de integragao, influencia social e poder, ainda estao para ser estudadas. Ao dizer que a propriedade efe integragao nao tern necessariamente uma relagao linear com assuntos como prestigio e poder, Queremos anotar 0 tipo da organizagao que, a fim de desenvolver e manter urn status de elite, seleciona apenas urn numero fixo de membros, entre as pessoas que satisfazem os criterios de aceitabilidade para serem associadas. 11. Gmu de dijerenciac;ao social: Esta propriedade refere-s.e 00' mlmero de situag6es e de papeis funcionalmcnte percebidos dentro da organizagao do grupo. Ff'lo menos desde 0 tempo de Spencer, tern sido notado que ha uma tendencia distinta para 0 crescimento no tamanho de
urn grupo, que vai de par a par com a crescente diferenciaQao.51 Nao obstante, verifica-se empiricamente que as organizaQoes do mesmo tamanho absoluto diferem consideravelmente na extensao em que envolvem status uiferenciados. As organizCJ.Qoespodem atribuir muitos membros a diversas situaQoes escolhidas dentro de urn numero relativamente pequeno, ou entao multiplicar as situagoes estruturalmente distimas, com menor numero de membros colocados em cada situaQao. Evidentemente, esta propriedade nao se refere apenas a diferenciaQao 11ierarquica das situaQoes (que nao e outra coisa que a forma especial chamada estratificaQao social). Mas a diferenciaQao social identifica-se, muitas vezes com estratificaQao social, em parte, talvez, como resultado da tendencia das situaQoes diferenciadas em serem avaliadas por varias ma· neiras (e, portanto, graduadas ou hierarquizadas de modo dif.erente) pelos membros da sociedade. Mas, conforme nos lembra 0 conceito da divisao de trabalho pode haver muita ou pouca diferenciaQao de status no mesmo plano de estratificaQao; tarefas diferenciadas em termos de funQao, por &xemplo, podem ser incluidas na mesma hierarquia. 12. Forma e altura da estratijicaciio: Isto t-stratos socialmente distinguidos e graduados, cada estrato e a distancia social relativa entre propriedades de grupos e sociedades ja foram necessidade de <;e-loaqui novamente. 51 ••
se refere ao numero dos ao tamanho relativo de os estratos. Como essas bem estudadas, nao ha
13. Tipos e graus de coesiio social: Pelo menos desde 0 trabalho de Durkheim, 0 grau de coesao social tern sido reconhecido como uma propl'iedade do grupo que afeta lima larga variedade de comportamento e desempenho de papel, pelos membros de urn grupo. Tres tipos de coesao social podem ser utilmente distinguidos, em termos da base de coesao.52 Todos os tres tipos podem ser encontrados por varias maneiras em qualquer grupo ou sociedade em particular; porem, isto nao impugna as diferenQas entre elas; os grupos e sociedades diferem na medida em que 0 grau de coesao social encontrado nelas dependa de uma ou outra dessas bases. a) Coesao social culturalmente induzida: resultando de normas e valares comuns, assimilados por membros do grupo; 51. Esta generalizagao empirica era ·evidentemente fundamental na teoria de estrutura social de Herbert Spencer. Vel' a Parte II, "The Inductions of Sociology", de The Principles of Sociology, (Nova Iorque e Londres: D. Appleton & Co., 1925) I, 447-600. Urn estudo recente e empiricQ deste relacionamento encontra-se em F. W. Terrien e D. L. Mills, "The effect of cha.nging size upon the internal structure of organizations", American So· ciological Review, 1955, 20, 11-14. 51a. Urn compreensivo estudo comparativo oeste assunto encontra-se em Bernard Barber, Social Stratification (Nova Iorque: Harcourt Brace, 1957l. 52. Outras tipologias, mais elaboradas, tern sido desenvolvidas. Uma serie de trabalho~ pertinentes encontra-se em W. S. Landecker, "Types of integration and their measuremeny, American Journal of Sociology, 1951, 56, 332-340;"Integration and group structure: a.n area for research", Sociai Forces, 1951-1952,30, 394-400: "Institutions and social integration", Papers of the Michigan Academy of Science, Arts and Letters, 1954, 39, 477-493.
b) Coesao social organizacionalmente induzida: r·esultando da reali-· <;aQaodos objetivos pessoais e grupais atraves das atividades interdependentes de outros elementos do grupo; c) Coesao social induzida pelo contexto estrutural: resultando, por exemplo, de contrastes de intragrupos e extragrupos, conflitos com outros grupos, e semelhantes.53 Resta ver como as bases sabre as quais tais grupos sejam coerentes, serao consistentemente relacionadas com as outras propriedades do grupo. 14. 0 potencial de jissiio oude unidade de um grupo: Esta propriedade complexa pode ser utilmente concebida como uma result ante do n.O11 (grau de diferencia~ao social) e n.O 13 (grau de coesao social). Refel'e-se a uma variavel distinta da vida do grupo: alguns grupos exibem uma propensao para subdivisao sucessiva e freqtientemente nao·planejada, ate 0 ponto em que os subgrupos emergentes se desenvolvem em grupos autanomos; outros tendem a reincorporar os subgrupos emergentes dentro da or'ganizaQao maior, de modo que sirvam para reforQar a estrutura e l>S funQoes daquela organizaQao.54 Os partidos politicos, por exemplo, parecem diferir profundamente neste sentido: alguns se dividem em numerosas "dissid€mcias", outros mantem uma unidadf\ monolitica. Ainda mais:
53
Nao s6 os cientistas, mas tambem os esta.clistas e os "homens de neg6cios publicos" freqiientemente tern observado esta fonte de coesao social. Duas entre a grande quantidade. de tais observag6es, encontram-se na. passagem citada de Winston Churchill no Capitulo J deste Iivro, (pag. 61), e na scguinte passagem da autobiografla de Thomas Jefferson: "Durante a Guerra da Independencia, enquanto a. pressao de urn inimigo externo nos· mantinha estreitamente unidos e as iniciativas deles nos conservavam necessariamente em alerta, 0 espirito do povo, excitado pelo perigo, era. urn suplemento a Confederagao, c· todos se sentiam urgidos a zelosos esforgos, fassem ou nao exigidos naquele instrumen .. to; porem, quando a paz e a seguranga foram restaurados, e cada horn em se tornot\l ocupado com atividade uti! e proveitosa, menos atengao foi conferida aos chamadcs do Congresso". The Writings of Thomas Jefferson, (Washington, D.C.: The Thomas Jef" ferson Memorial Association, 1903), I, 116. Cuidados21 analise desta uniformidade de relacoes intergrupos e fornecida pOl' Lewis A. Coser, The Functions of Social Conflict, Capitulo V, intitulado "Conflict with OutGroups and Group Structure". 54. Uma lnstrutiva analise processual da formacao dos subgrupos em relacao ao grupo major inclusivo, encontra-se em George A. Theodorson, "Elements in the progressive de· velopment of small groups", Social Forces, 1953, 31, 311-320. Note-se tamMm a seguinte observagao de Harriet Martineau, The Positive Philosophy of Auguste Comte, (Londres, 1896), 228, a qual Theodorson adota de maneira. apropriada como epigrafe para seu trabalho: "0 verdadeiro espirito geral da din arnica social consiste em conceber cada Un!> desses est2.clos sociais como 0 resultado necessario do anterior, e 0 indispensavel modmentador do seguinte, con forme 0 axiomlli de Leibniz, '0 presente e prenhe de futuro'. Segundo este ponto de vista, 0 objeto da ciencia e a descoberta das leis que governam esta continuidade, e cujo agregado determina 0 curso do desenvolvimento humano". As teorias atuais do processo estocastico nos grupos constituem uma versao mais exatamente probabilistic a desta concepcao fundamental. Uma analise das rela<;oes sociais como processo, conduzida segundo esta veia, encontra-se em Lazarsfeld eMerton, "Friend~hip as social process: a substantive and methodological analysis", em M. Berger, T. Abel e C. H. Page (redatores) Freedom and Control in Modern Society, 18-66, especial· mente na Parte II.
alguns grupos exibem uma propensao distintiva para "colonizar", para formal' grupos dependentes a sua propria imagem; alguns deles tornando-se mais tarde independentes do grupo fundador. 15. Extensao da interagao social dentro do grupo: Esta propriedade :refere-se a ,extensao esperada e real da interac:;ao social entre ocupantes de status determinados no grupo. Em alguns grupos, a interac:;ao social substancial e limitada as pessoas que pertencem aos status "adjacentes" na hierarquia (pares, e inferiores e superiores imediatos), tal como isto e registrado na concepc:;ao de "ir atraves dos canais competentes". Qutros grupos e organizaQ6es propiciam mais ocasi6es padronizadas para inte· rac:;ao entre individuos de hierarquia consideravelmente diferente, como POI' exemplo, no conceito de urn grupo hierarquizado, e, nao obstante, consistindo de "uma companhia de iguais". Contudo, deve-se observar que, como fato real, a primeira especie de grupo tern freqi.ientemente mais interac:;ao social entre desiguais distintos do que e estruturalmente indicado (pOl' exemplo, meios informais de comunicac:;ao sem vassar atraves dos canais), assim como a segunda especie tern menos interac:;ao entre desiguais do que as recomendac:;6es normativas indicariam. 16. Carater das relagoes sociais prevalecenies no grupo: Esta pro· :pl'iedade tern sido tradicionalmente adotada como a principal distintiva de entre varios tipos de grupos, como se pode vel' analisando classificac:;6es estabelecidas, como as dos grupos primario e secundario, grupos fechados e grupos de fora, Gemeinschajt (comunidades) e Gesellschajt (companhias), grupos formais e informais etc. E tambem em conexao eom esta propriedade, que Parsons desenvolveu seu sistema bem conhecido de padr6es variaveis, em termos dos quais as relac:;6es na estrutura dos papeis de urn sistema social podem ser analiticamente caracterizadas: afetividade versus neutralidade afetiva, auto-orientac:;ao versus orientaQao coletiva, universalismo versus particularismo, realizac:;ao versus imputac:;ao, e especificidade versus prolixidade.55 As combinac:;6es de va16res dessas cinco variaveis servem para caracterizar distintivamente as relac:;6es sociais con· ('retas predominantes num grupo. 1'7 Grau de conjormidade esperada as normas do grupo: tolerancia de comportamento desviado e afastamento institucionalizado dasdejinit;oes estritas das normas grupais: Esta propriedade refere se a quantidada
de desvio no comportamento dos membros do grupo que e ordinariamente ace ita POI' outros do grupo. Alguns grupos e organizac:;6es tendem a exigir estrita aderencia as l!Ormas, estabelecendo margens minimas para os afastamentos em relac:;ao as regras, a discric:;ao dos membros; isto e 0 que freqi.ientemente se chama pejorativamente "burocracia". Qutros permitem uma extensa amplitUde de divergemcia das normas, como, POI' exemple,
em grupos que se orgulham de permitir grande liberdade a individualidade e a. criatividade. A imagem estereotipada da burocracia prussiana se aproximaria do primeiro tipe; algumas organizac:;6es devotadas ao ensino e a pesquisa, nas sociedades ocidentais, se aproximariam do segundo tipo. Na realidade, evidentemente, 0 primeiro tipo permite mais discric:;ao do que se admite popularmente, e 0 segundo, menos. Nao obstante, isto nao quer dizer que as grupos e organizac:;6es nao sejam diferentes com relac:;ao a esta propriedade. As evas6es das normas podem se tornar funcionais para 0 grupo, e freqi.ientemente, como preltidio da mudanc:;a estrutural no grupo, desenvolve-se uma fase mais ou menos persistente na qual tais evas6es se torn am institucionalmente padronizadas. E este padrao que tenho deserito como "a evasao institucionalizada das regras institucionais".56 Esta fase de mudanc:;a na estrutura social e complicada, e exige exame mUito mais aprofundado do que seria aqui possivel. Contudo, pode-se dizer que o padrao das evas6es institucionalizadas se desenvolve quando as exigendas que confrontam 0 grupo ou coletividade, (ou partes importantes das mesmas) exigem comportamento adaptativo que esta em oposic:;ao com as normas, praticas e sentimentos antigos ou, correlativamente, quando os requisitos recentemente impostos ao comportamento estao em oposic:;ao com estas normas, praticas ou sentimentos profundamente arraigados. 57 No primeiro caso, as normas e sentimentos sac mantidos intactos, POl' algum tempo, enquanto os afastamentos tacitamente reconhecidos sac aceitos pouco a pouco. No segundo caso, as exigencias reeentemente impostas sac de fato evitadas, enquanto as normas e sentimentos que mudam '!agarosamente continuam a governar 0 comportamento atuaL Pode-se conjeturar que uma apreciavel quantidade de desvio tolerado das normas, e funcionalmente necessaria para a estabilidade das estruturas sociais complexas. 18. 0 sistema dos contr6les normativos: Esta propriedade Se refere aos processos padronizados de contrale normativo que regulam 0 comportamento dos membros de urn grupo. Qs grupos e organizac:;6es diferem na extensao em que exercem contrale atraves de regras expressamente formuladas (lei); atraves de exp~ctativas menos definidamente formuladas, 56
Uma variedade de exemplos de evas6es institueionalizadas' em diferentes esferas institu· cionais, e encontraoda em Wilbert E. Moore, Industrial Relations and the Social Order (Nova Torque: The Ma.cmillan Company. 1951,ed. revista) 114; Logan Wilson, The Robin Williams, American Academic Man (Nova Torque: Oxford University. 1941)218·219; George Eaton Simpson e J. Milton Yinger, Racial and Cultural MinoSocjety, 36().-365; rities, 658,660;J. H. Fichter, "The marginal Catholic", Social Forces, 1953,32, 167-173, na pag. 169. 57. Em vista dos acontecimentos que se seguiram a decisao da Suprema C6rte, de 17 de maio de 1954,declarando que a segregagao racial nas escolas p1iblicas e inconstitucional, pode ser pertinente citar as seguintes aplicag6es da concepgao de burlas institucionalizllodas, feitas por mim em 1948:"Num clima cultural desfavoravel - e isto nao exelui ne· cessariamente as regi6es 'benigna.s' do Sui distante - 0 recurso imediato provavelmente
mas definidamente padronizadas, de comportamento, as quais sao refor~adas pelos sentimentos e pela doutrina moral de apoio (costumes); e atraves de expectativas de rotina, freqilentemente habituais, porem menos fortemente afetivas (habitos do povo ["folkways"]. Num extremo, as normas delimitadas e oficialmente promulgadas sac postas em funcionamento por agentes designados para este papel; e do outro, as normas sac obser· vadas pelas reag6es "espontaneas", (embora socialmente moldadas) dos Gutros membros do grupo, mesmo que nao tenham side investidos da fungao especifica para essa finalidade. Ainda resta ver como 0 sistema do contrale normativo e regularmente relacionado as numerosas outras propriedades dos grupos E' organizag6es. 19. Grau de visibilidade ou observabilidade dentro do grupo: Esta propriedade refere-se a medida em que as normas e os desempenhos dos !Japeis dentro de urn grupo sejam prontamente abertas a observagao por outros (inferiores, iguais ou superiores em status). E uma ideia mais €xtensa do que a que os soci610gos americanos tern longamente descrito como "visibilidade social", significando por isto 0 grau em que a entidade de status (especialmente de classe, casta, raga e etnia) dos individuos e logo visivel. A propriedade de visibilidade ou observabilidade, neste sentido mais extenso, exige muito mais estudo do que the tern sido concedido; parcialmente, porque ha indicag6es de que ela entra tiLcitamente em muitas analises de estrutt:ra de grupo e de comportamento; parcialmente, porque suas numerosas correlag6es com os processos sociais e com as estruturas sociais estao apenas agora se tornando evidentes, muito tempo depois que foram obliqua e brilhantemente introduzidas por Simmel; e parcialmente, porque tern influencia direta sabre urn dos principais problemas da teoria GOS grupos de referencia (tal como veremos extensamente numa segao posterior deste capitulo). tera que ser 0 de agir atraves dos contrail's federais, legais e administra.tivos, que Ira· tam de extrema discrimina~ao, com 0 pleno reconhecimento de que, com Wda a probabilidade, esses regulamentos serao sistematicamente burlados durante algum tempo. Em ta.is regi6es culturais, podemos esperar 0 desrespeito a lei como pratica comum, talvez tao comum como sucedeu em todo 0 pais, relativamente a emenda XVIII da Constit1J.i~ao (trata-se da Lei Seca [N. do Trad.l), freqtientemente com a conivencia dos funcionarios locais. A grande separa~ao entre a nova lei e os costumes locais nao produzirao ime· diatamente uma mudan~a significativa nas prMica.s predominantes; as puni~6es 'llmb6licas das infra~6es provavelmente sera6 mais comuns do que 0 contrail' efetivo tla lei. Na melhor das hip6teses, as mudan~as importa.ntes serao espasm6dicas e crucialmente vagarosas. Todavia, mudan~as no sistema econamico (no senti do da mais generosa aplira~ao de capitais e distribui~ao de empregos [N. do trad.J), poderao, no devido tempo, em· pres tar a.poio a nova estrutura legal de contrail' sabre a discrimina~ao. A medida que o sapato da economia apertar, devido ao fato de que os iliberais nao mobilizam os recur· sos da mao-de-obra industrial nem ampliam seus mercados loca.is atraves de pagamentos
Em forma tipica de €nsaio, Simmel alude a esta propriedade em seu lelato do carater sociol6gico das aristocracias: "Ha tambem urn limite absoluto [de nl1meros] aJ.em do qual a forma aristocratic a do grupo ja nao pod& ser mantida. 0 momenta em que desaparece esta determinado em parte por circunstancias externas e em parte, por circunstancias psico l6gicas. Se ele tern que ser eficiente como urn todo, 0 grupo aristocratico aeve ser 'visivel ou observavel' 58 por todos os seus membros. Cada elemento [do grupo] deve smda ser pessoalmente conhecido' de cada um dos demais". Simmel intuitivamentr: sentiu a importancla central da propriedade ce pronta visibilidade do grupo, mas nao tendo acesso aos fundamentos da teoria que se desenvoi\'eu depois que ele escr,::veu, nao pade sistematizar csta intuigao, considerar ~ estrutura assim como 0 tamanho do grupo, que afetavam a variabilidade dessa propriedade, e descobriu suas relag6es com os sistemas do contrale que funcionam para manter a estabilidade dos grupos. Com 0 recente aparecimento da "teoria de informagao", tornou·se evidente que Simmel notara a propriedade dos grupos que afeta profundamente 0 respectivo comportamento e desenvolvimento, como em· presas que conduzem seus pr6prios ni!g6cios. Pois agora pode dizer-se, sem recorrer a figuras de linguagem ~implesmente anal6gicas e mal-en· tendidas, que os grupos sociais diferem a tal ponto em sua organizagao, que alguns promovem eficiente "fornecimento" o.e "informag6es" as pessoas que estao primordialmente na posigao de regular 0 comportamento dos seus membros, ao passo que outros pOllCO se ocupam em fornecer tais informag6es. As condig6es estruturais que favorecem a pronk\' observabilidade ou desempenho de papeis, fornecerao evidentemente informag6es 58, A pala.vra original alema e tibersehbar, Ao passar para 0 ingles essa palavra, Kurt Wolff a traduz para "surveya,ble", (observavel ou percept~vel, 0 que e, evidentemente, 0 senti do original parece ser um tanto mais aproxin:~dO, uma aproxima~ao apropriada), contudo, das express6es "visible" (visivel) ou "observable" (observavel), como slgmfICa· do de ser visivel num rapido olhar, ou de ser imediatamente observavel. De qualquer modo, esta e a razao para que neste ponto nos afastemos da excelente tradu~ao de Wolff. Ver Simmel, Soziologie, 50, e The Sociology of Georg Simmel, 90. Como e gera.lmente reconhecido, pelo menos desde os dias em que Santayana qu~ era estudante de Berlim, escrevia a William James: "descobri urn Privatdocent, 0 Dr. Simmel, cujas prele~6es muito me interessam", Simmel freqtientemente escreveu como sa verdadeiramente acreditasse que "ha alguns empreendimentos nos quais uma cUldado.sa. desordem e 0 verdadeiro metodo", j;:le nao trabalhou sistematicamente com uma vaIlll., vel como a "visibilidade", ma.s ao inves disso, aludiu esporadicamente a ela. Sua incur· sao na "sociologia dos sentidos", por exemplo, incide implicitamente sabre 0 concelto dB visibilidade, mas Simmel deixa a seus leitores ja profundamente envolvidos no assunlO, o tra,balho de identificar as conex6es. Soziologie, 646-665. Em seu livro sabre The Functions of Social Conflict, 0 qual tenta sistematizar algumas das numerosas percep~6es ~e Simmel Lewis A. Coser cita adequadamente a observa~ao de Jose Ortega y Gasset, a.c~L· ca do e~tilo de trabalho de Simmel: "Aquela mentalidade aguda - uma especie de esqui10 filos6fico _ nunc a. considerava seu assunto como problema em si mesmo, mas ao con, trario, tomava·o como uma plataforma sabre a qual executava seus maravilhoso~ .ex:r. cicios anaMticos". Em parte alguma esta. opiniao e melhor apoiada do que no use mt_rmitente que Simmel faz do conceito da visibilidade ou observabll10aOe.
renovadas, quando 0 desempenho dos papeis se afastar das expectativas padronizadas do grupo, pois sob tais condi(;oes, as rea(;oes dos outros ;:l1embros do grupo, ten dentes a recolocar 0 desviado dentro dos trilhos, come(;arao a funcionar logo ap6s haver ocorrido 0 comportamento des'-,iado. Colateralmente, quando houver impedimentos estruturais a tal observabilidade imediata e direta, 0 comportamento desviado pode acumular-se, separar-se mesmo mais prol'undamente das normas predominantes, antes de se tornar perceptivel aos outros membros do grupo, provocando entao uma "super-rea(;ao" que servira apenas para afastar ainda mais os desviados, ao inves de "corrigir" seus desvios. Estas limita(;oes estruturais ao fluxo de informa(;ao (0 que poderia parecer a contrapartida atual do conceito de observabilidade de Simmel), desta maneira interferira com I] estaao relativamente constante do grupo e produzira caprichosas e irregulares oscila(;oes do contra Ie social. ultimamente tern havido bastante pesquisa que trata de assuntos atinentes a esta propriedade dos grupos. Isto aparece particularmente na forma de estudos das maneiras pelas quais as redes de comunica(;oes eslabelecidas atraves de estruturas de grupos experimentalmente simplificadas, afetam a propor(;ao, a extensao e 0 carateI' do fluxo de informagao, com as consequemcias concomitantes nao s6 para 0 desempenho das tarefas como tambem para 0 contrale social. Neste resumido trabalho, talvez seja bastante citar apenas uns poucos estudos, e especialmente aqueles de Alex Bavelas e seus cOlaboradores, os quais nos parecem estar entre os de maiqr alcance, entre as recentes investiga(;oes feitas sabre este tema.59 Outros estUdos, concebidos principalmente em termos de psicologia social, mais que de estrutura social, come(;aram a explorar diferenciais padronizados de informa(;oes acerca dos sentiment~s de participa(;aO ao grupo, que predominam entre Hderes e entre membros das flleiras.60 Tais estudos sac claramente urn preludio a uma fase de pesquisa 50cial em que os dois tipos de estudo - estrutural e sociopsicol6gico _ serao consolidados. Desta maneira, a observabilidade do desempenho de papeis e dos sentimentos sera relacionada a estrutura do grupo e ao fluxo (oe informa(;oes, para 0 funcionamento do contra Ie social. 59. Alex Bavelas, "Communication patterns in task-oriented groups". em Daniel Lerner e Harold D. Lasswell (redatores), The Policy Sciences (Stanford: Stanford University Pres .., 1951).193-202, e as ulteriores investigaQoes provindas do grudo de Bavelas; George A. Heise e George A. Miller, "Problem solving by small groups using various communicatioll Henry Quastler nets", Journal of Abnormal and Social Psychology, 1951,46, 327-336; (redator), Information Theory in Psychology: Problems and Methods (Glencoe: The Free Press, 1955);Ha,rold Guetzkow e Herbert A. Simon, "The impact of certain communication nets upon orga.nization and performance in task-oriented groups", Management Science, 1955,1, 233-250. 60. Kalma Chowdhry e to e•.timate opinions 1952,47,51-57.Este de suas implicaQoes, observabilidade com
T. M. Newcomb, "The relative a,bilities of leaders and non-leaders of their own groups", JOlll'nal of Abnormal and Soc.ial Psychology, estudo e os que Ihe sao relacionados serao examinados em termos numa parte seguinte deste capitulo dedicada 11 tarefa. de estudar 8 algum detalhe.
Os estudos sociol6gicos de campo, que influem sabre urn ou outro aspecto da observabilidade no sentido em que esta sendo aqui desenvolvido, incluem 0 exame de Blau a respeito do usa das medidas estatisticas que registram a quantidade e carateI' do desempenho de papel numa burocracia, com as consequencias concomitantes para 0 contra Ie socia161 e t,;,ma analise da amizade considerada como processo social que toma como \'ariavel principal as circunstancias que influem na pronta expressao de sentimentos entre pares de amigos, ou a continuada supressao de tais sentimentos.62 Ja que as investiga(;oes da ciencia social ~cerc
61. Blau, The Dynamics of Bureaucracy, especialmente 0 Capitulo III, "Statistical Recoros of Perform ance". 62, Lazarsfe'd eMerton, op. cit" especialmente a Parte II. 63. Corro conJunto de exemplos de correlaQ9.o entre a dlstll.ncla espacial e a formaQao de relaQoes sociais numa comunidade local, ver R. K, Merton, "The social psycholog'j of Current Trends in Social psych~IOgy (Pltt;housing", em W2,yne Dennis (redator), burgh: University of Pittsburgh Press, 1948),163-217, especialmen~e nas pagInas 203-:0 A Leon Festinger, Stanley Schachter e Kurt Back, Social Pressures In Informal Groups .. Study of Humaa Factors in Housing (Nova Iorque: Harper & Brothers, 1950),espeClal-
21. Autonomia ou dependencia do grupo: Os grupos diferem na Extensao em que sac auto-suficientes ou deper.dem de outros para preencher suas fun<;6es e alcan<;ar seus objetivos na sociedade em geral. Os grupos podem continual' a operaI' mesmo quando nao preencham um ou mais de seus requisitos funcionais, enquanto tais requisitos sejam preenchidos para eles POl' outros grupos da sociedade. A aparencia de completa autonomia, sociol6gicamente consider ada, e frequentemente enganadora. POl' exemplo, os kibbutzim de Israel nao poderiam aparentemente conservar seu carateI' essencialmente socialista se nao fasse 0 fato de que (utras partes da economia e da sociedade de Israel estivessem preenchendo alguns de seus requisitos essenciais e se recursos econamicos nao lhes fassem proporcionados pelos israelitas de fora do Estado de Israel. 64 Esta concep<;ao de graus variaveis de auto-suficiencia social de um grupo ou de uma comunidade tern sido cuidadosamente desenvolvida e estudada empiricamente POl' sociologos rurais; poderia ser pertinente em outros setores alem dos setores rurais da sociedade.
22. 0 grau de estabilidade do grupo: Esta propriedade se refere a capacidade de um grupo, de suportar oposi<;ao de fora para dentro, de manter sua estrutura, e de modifiCa-la em sequencia ordenada. Nao se refere a propor<;ao de modifica<;ao nos quadros de pessoal, 0 que e outra propriedade, embora provavelmente relacionada. Alem do mais, ela difere da coesao social (n.o 13) a qual e ligada com a estabilidade, embora nao seja da mesma significa<;ao que ela. Ao me refer1r a isto como uma "capacidade", ao inves de faze-lo como urn grau observado de estabilidade, quero tornar explicita a considera<;1io de que a estabilidade observada de um grupo e contingente em rela<;aoao grau de tensao ambiental e nao apenas pela. sua propria estrutura interna, como e indicado no estudo que segue. 23. Grau de estabilidade do contexto estrvtural do grupo: Isto se refere a capacidade do ambiente social de um grupo particular, a manter ~eu carateI'. Provavelmente tem rela<;6es complexas com a propriedade de estabilidade do grupo. POl' exemplo: um ambiente social estavel pode mente 0 Capitulo 3; TheOdore Caplow e Robert Forman, "Neighborhood interaction in a homogeneous community", American Sociological Review, 1950, 15, 357-366; H. J. Gans, "Thp socioJolIT of new towns", Sociology and Socjal Research, 1956, 40, 231-239. Os estUdos sociol6gicos das relaQ6es da distrlbuiQao espacial das pessoas com seu comporta. mento social e relacionamentos sociais, ja sao consideraveis; uma codificaQao dos acha. dos desta varieda.de de estudos provilvelmente justificaria 0 esf6rQo. 64. Eva Rosenfeld, Institutional Change in the Israel' Collectives, tese de doutoramento em sociologia, Universidade de Columbia, 1952; Melford E. Spiro, Kibbutz: Venture in Utollia Simmel (Cambridge: Harvard University Press, 1956); Barber, Social Stratification. observou que "As sociedades socialisticas ou qua.se·socialfsticas tem side possiveis apenas em grupos mUito pequcnos e sempre tem falhado em grupos maiores". Sociology ot Georg Simmel, 87-88. A um exame ulterior, torna-se evidente que esta generalizaQao empirica e condicionada a outras proprieda.c1es grupais, que Simmel nao aplica sistematicamente ao Iidar com exemplos hlst6ricos especificos.
contribuir para a malar estabilidade emplnca dos grupos que funcionam dentro dele, a 'medida que estes constroem CUmUlativamen~e rela<;6es acomodativas e adaptativas com 0 ambiente. Contudo, um, amblente altamente estavel pode criar condi<;6es de tensao para os grupos que estejam em acentuado processo de mudan<;a. Esta e uma especie de situa<;ao, concebida em termos de estrutura social mais que de cultura, que presurnivelmente foi captada pel a no<;ao de retardamento cultural, de Ogburn. 24.
Modos de manter a estabilidade cl10 grupo, e do contexto estrutural:
Conforme Simmel observou frequentemente, os grupos e seus co~textos estruturais diferem nos processos atraves dos quais mantem establlidade, seja atraves da rigidez relativa, seja atraves da jlexibilidade relatlva. Isto quer dizer que eles podem reter seu carateI' como grupos, tanto _estruturalmente como funcionaJmente, quando confront ados com ten~oes, ou odem manter seu carate!' funcional mediante mUdan<;as apropn~das na ~strutura, como resposta as tens6es. Esta velha ideia requer conslderavel esclarecimento; porem, mesmo nestes termos rodes, parece que. os grupos diferem significativamente nos modos caracteristicos pelos quaIS se adaptam as tens6es internas e externas. 25. prestigio social relativo dos grupos: Assim como os individuos sac socialmente classificados em termos de prestigio e de acesso as oportunidades das recompensas culturalmente valorizadas, assim sucede c~m ~s gropos. Os sociologos dao pOl' demonstrado que os sta~us ocupaclOnals sac graduados de modo avaliativo, e que os ocupantes de tals status te~dem a ser, correspondentemente, graduados; porem, somos um tant? malS caprichosos em nOSsa pratica de pesquisas, quando se trata de l~cor~or~~ dados sistematicos sabre gradua<;ao relativa dos grupos e orga~lza<;oes. No en tanto a observa<;ao de todos os dias indica alguns dos mUltos aspectos nos qU~iSe significante a preocupa<;ao com a influencia de um grupo: o processo de competi<;ao, conforme Park e Burgess observa.x:am uma atras e como os evolucionistas cqnsistentemente sallentaram, gera<;ao , . . _ t bem dos implica nao apenas a posi<;ao relativa dos mdlvlduos mas am grupos, organiza<;6es e sociedades. 26. Poder relativo dos grupos: Isto se refere a capacidade variavel de um grupo em fazer cumprir suas decis6es coletivas sabre (a~ seus membros e (b) seu ambiente social. Aqui se ac1mite que 0 poder relatl~o dp , grupo e uma resultante de outras propriedades do grupo; porem, a !lm . _ di 66 analise deste problema ainda esta em seus pnmor os. 0 comc<;c . . e . exatamente Uma. das caracteristicas contnbulQoes dos es t u d os d e Warner , _ por exemsubstancial da analise da graduaQao rela.tiva dos grupos e orgamzaQoes; ver'.t (New plo, W. Lloyd Warner e P. S. Lunt, The Social Life of a Modern CommuDl y,
Haven: Yale University Press, 1941). t lanQar luz soble '11 O trabalho em que a.tualmente Robert S. Lynd esta ocupado, prome e i.ste problema. Ver tambem Floyd Hunter, Community Power Structure (Chapel HI :
E evidentemente arbitnirio terminal' aqui a lista das propriedades dos grupos, pois provavelmente haveni outras tantas mais, senao muitas mais, que ja foram estudadas pelos soci610gos, seja esporadicamente, seja sistematicamente. Mas esta lista nao pretende esgotar 0 assunto; e quando muito propedemtica. E apenas urn curto passe em dire\(ao ao objetivo te6ricamente impasto de se desenvolver um esquema conceptual para a raracteriza\(ao dos grupos sociais. Urn tal esquema e 6bviamente necessario se quisermos reunir a multidao de fatos acerca dos grupos e da estrutur; dos grupos, em forma de conhecimento unificado. Uma considerar;ao completamente contniria po de ser sustentada em rela\(ao a esta lista provis6ria: nao que esteja manifestamente longe de estar completa, mas porque ja e demasiado longa, pois como e que POd8mos nos desempenhar da tarefa implicita de caracterizar simultaneamente cada grupo trazido a exame em termos de todas essas vinte e seis propriedades? Fazel' isso significaria patentemente que poucos grupos seriam encontrados estruturalmente semelhantes em todos estes numerosos aspectos. Conseqiientemente, as uniformidades de comportamento, articuladas com a estrutura dos grupos serao dificeis ou impossiveis de descobrir. Tudo isSo evidentemente nao representa problema novo, e seguramente nao e confinado as classlfica\(oes sociol6gicas. E urn problema que deve ser res~lvid~ de novo, na formula\(ao de uma classifica\(ao util, em qualquer dIScIplma. Porem, os metodos gerais de se chegar a uma solucao' sao razoavelmente bem conhecidos, aproveitando-se a massa de experiencias cumulativas. Em primeiro lugar, a lista proposta de propriedades pO_de?rfginar diversas classifica\(oes, cada uma tendo seu usa distintivo. Nao e pressuposto que uma classifica\(ao isolada deva ser desenvolvida na base de urn grande numero de propriedades distintivas. Em segundo lugar, sem duvida se veriflcara que algumas propriedades podem ser deduzidas de outras, e, portanto, nao necessitam ser consideradas independentemente. Temos sugerido diversas de tais possibilidades na lista anterior. Finalmente, e provavel que algumas destas (e de outras) propriedades aparentes resultarao "insignificantes", nao conduzindo a descoberta de fatos discerniveis. Porem, a utilidade de uma lista preliminar desta especle P. a de fornecer urn ponto de partida para se "experimental'" a elabora\(ao - de classifica\(oes alternativas, ao inves de ado tar classifica\(oes ad hoc concebidas para urn prop6sito momentaneo. ~ontudo, ha urn grande obstaculo que deve ser sobrepujado antes que ~e p~ssa provar a utilidade de novas classificac;oes de grupos. E a dificulaade de se desenvolverem medidas padronizadas de cada uma das l1ropriedades que estao em exame. Ha uma fase no des':Jnvolvimento de urn", disciplina, na qual as medigoes e indices ad hoc sac concebidas novamente em cada estUdo, de modo que, embora as palavras referentes a propriedade ,?niversity of North Carolina Press, 1953); Rola.nd J. Pellegrin e Charles H. CoateR, Absentee-owned corporations and community power structure" American Journal of Sociology, 1956, 61, 413-419. '
lJermanegam sem.ivelmente as mesmas, 0 aspecto do fenomeno que elas
Pois como agora deve estar claro, estas questoes indicam que 0 modo uti! 'de se classificarem os grupos sera em termos das atividades institucionais a que estejam dedicados, tais como trabalho, divertimento, comunhlio de lingua e religiosidade. Entretanto, no melhor dos casos, esta suposi~ao e discutivel. Realmente, na ciencia sociol6gica, como no processo de crescimento, e mais certo, senao mais necessario, aprender a andar antes de aprender a correr; pois, pOI' mais algum tempo no futuro, assim ~omo o foi durante tanto tempo no passado, pode resultar prudente e convemente tragal' a escolha dos grupos de. referenci~ ~mtre os grupos .de a~i~iaga~ co~~ cretamente descritos, como seJa, a famIlIa, em vez dos mdIVICiUOS IgU em idade, dos grupos profissionaIs ao Inves dos grupos religiosos. A 11110rmagao obtida com as pesquisas levadas avante neste plano de con cretividade , terao 5em duvida sua utilidade; mas e necessario reconhecer an-
tecipadamente que, do ponto de vista de uma teoria sistematica do comportamento dos grupos de referencia, isto pode apenas constituir uma pesquisa provis6ria, talvez um prellidio indispensavel, porem, apenas urn prellidio da descoberta de uniformidades na escolha dos tdpos de grupos como grupos de referencia sob determinadas condig6es. Com esta estipulagao, sera litH continuar com a formulagao de problemas implfcitos na dinamica da escolha de grupos de referencia, entre os grupos a que se pertenga juntamente com a revisao dos estudos que versam sabr·e tais problemas. Tal como agora se apresentam os assuntos qual e 0 estado da teoria e da realidade a respeito das condig6es e pro: cessos que influem na escolha de uns grupos ao inves de outros, como grupos de afiliagao, que sirvam de sistemas normativos e comparativos de referencia?
VARIAQAO NOS GRUPOS DE REFERENCIA VALORES E NORMAS DIFERENTES '
QUANTO
A
Embora este conceito tenha penetrado muito lentamente na teoria dos grupos de referencia, tern sido longamente admitido que grupos diferentes se tornam importantes para diferentes esferas de comportamento dos individuos. Isto e apenas urn modo de dizer que, tacitamente, 'senao sempre e~Plic~~a~ente, os grupos de referencia funcionam como tais em conjungao com dl~tmtas especies de avaliagao e de comportamento. Como temos visto, quando consideramos a propriedade do grupo n.O 2, do grau de vinculagao com 0 grupo, alguns grupos presumlvelmente se tornam pertinentes para extensa variedade de comportamentos, e outros para umas poucas apenas. Sugest6es desta natureza sao comuns em ciencia social. Desde seus inicios, por exemplo, a sociometria supas que certos individuos tendem a ser selecionados como associados preferidos no ambito do trabalho e outros, no ambito dos divertimentos. 67 Da mesma maneira, nao se p~de admitir tacitamente que os mesmos grupos sirvam uniformemente como grupos de referencia para os mesmos individuos, em cada fase de seu romportamento. Apresentada nestes termos diretos, esta afirmagao tern todos os sinais de urn lugar-comum, pesad."amente enunciado. No entanto, o costume de aludir aos grupos de referencia, sem os relacionar imediatamente a forma particular de comportamento ou avaliagao implfcita, consegue escapar as insinuag6es contingentes desse lugar-comum. Alem do 67. Esta considera~ao basica e 6bvia ja mencionada, mas que poderia facilmente ser esque. A • • • clda, entrou na tec' d . mca a an"llse SOClOmetflCa. quando esta foi introduzida pela pri. . mell:
mais, nem 0 leigo nem 0 soci610go parecem conhecer muito, ate agora, acerca da selegao uniforme de um em vez de outros grupos como estruturas de referencia, em conexao com tipos especificos de comportamento e de avaliagao. 0 pouco que e conhecido sugere que a suposigao 6bvia de senso comum, segundo a qual 0 grupo funcionalmente ou substancialmente pertinente torna-se invarHlvelmente 0 gntpo de referencia, esta longe de ser verdadeira; nao e certo, por exemplo, que a pr6pria afiliagao religiosa possa determinar sozinha qual grupo sera adotado como sistema de referencia normativa, tratando-se de assuntos religiosos, ou que a associagao sindical do individuo dirigira, necessariamente 0 seu ponto de vista econamico. A complexidade do comportamento do grupo de referencia nao parece ser modelada de acardo com este padrao Unico e muito atraente. Outros numerosos observadores tem salientado 0 ponto geral de que os mesmos individuos ou grupos nao sao uniformemente tornados como guias para 0 comportamento e avaliagao em diferentes esferas sociais. Durante certo tempo, isto foi expresso na linguagem destinada a descrever o funcionamento da lideranga. A titulo de exemplo, consideram-se as obserYag6es de Saul Alinsky, de que "urn homem encara uma pessoa particular como seu Ifder, alguem em cuja opiniao tenha confianga, em assuntos politicos, mas quando e confrontado com os problemas das finangas, ele se dirige a um dos seus companheiros de sociedade fraternal ou sindicato pro fissional. E assim sucessivamente. Pode ser que tenha em sua 6rbita de atividades, cinco ou seis individuos a quem se dirige a respeito de assuntos diferentes. E 6bvio, pois, que raramente se encontra com a personalidade que possa ser definida como Ifder completo, uma pessoa que tenh3. urn sequito de 40 a 50 individuos em qualquer esfera de atividade ... "68 Ja que isto e descrito como simplesmente uma impressao obtida em seu campo de observagao, Alinsky express a sua confianga em que uma mais sistematica "investigagao l'evelara" que e exata. Uma de tais investigag6es, relatada no capitulo seguinte deste livro, dedicado a pstudar a pessoa que eu acredito possa ser indicada mais corretamente como "influente", do que como "lfder", revela que ... os influentes diferem extensamente com respeito ao numero de esferas de atividade~ nas quais exercem sua influencia interpessoal. Alguns influentes, e estes podem ser denomicitados como exercendo influencia, porem apena.s nados monom6rficos, sao repetidamente numa area definida um tanto limitada. por exemplo, a area da politica, ou a de cll.nones de born g6sto, ou da moda. as influentes monom6rficos slio os "peritos" num .campo limitado e sua influencia nlio se difunde em outras esferas de decisao. Outros, e IStO mclUl born mimero de influentes principais, sao polim6rficos, exercendo influencia interpessoal numR relacionadas entre sil. (Pags. 413-414). variedade de esferas, (1l.Svezes nao aparentemente
Porem como este estudo indica que os soci610gos estao agora prepalados par~ ir alem da generalizagao empirica de que relativamente poucos influentes exercem influencia diversificada em varias esferas de atividades. e relativamente muitos confinam sua influencia a uma esfera apenas. :Ii:
evidf'nte que os proX1mos passos da investigagao deverao identificar as conrlit;oes sob as quais aparece um ou outro destes moldes de influencia. o estudo mais compreensivo deste problema geral de influencia unitaria ou divers a e encontrado no livro de Katz e Lazarsfeld.69 Ai tambem de inf.luencia, e aquele restrito a uma se diz que 0 tipo predominante s6 area de normas e de atividade: "0 fRtO de que uma mulher seja lider numa area, nao tern relagao com a probabilidar'e de que seja lider em outra". Este problema e um dos varios que proporcionam ocasiao para consolidar 70 numa teoria de alcance intermediario, os achados e hip6teses relativos aos individuos "influentes" e aos Hderes de opiniao, e aqueles relativos ao comportamento dos grupos de referenda; pois se torna evidente que 0 primeiro conjunto de investigagoes trata, efetivamente, dos fenamenos dos grupos de referencia e de individuo de referencia, examinados pela perspectiva daqueles que proporcionam esscs sistemas de avaliat;iio normativa L comparativa. Nestes estudos, focaliza-se a atent;ao sabre os tipos de individuos e de grupos que vem atuar como fontes simples ou multiplas de orienta¥ao para outros, conferindo-se apenas atengao secundaria a analise detalhada da condigao daqueles para quem estes individuos e grupos sejam influentes. 0 segundo conjunto de estudos, ao contrario, centraliza-se sabre os individuos que ado tam urn ou outro grupo au individuo como fontes de guia e orientagao, e preocupa-se apenas secundariamente com a analise detalhada dos individuos e grupos que exercem esta influencia. do grupo de referenc'ia" envolve rela!foes Mas, como a "comportamento sociais que sao, evidentemente, bilaterais, torna-se claro que os pr6ximos pass~s na investigagao deste campo d~ comportamento exigirao analise;: simultaneas, tanto dos individuos que adotam diferentes grupos de refemcia como dos grupos que fornecem estas estruturas de referencia. 1. demos nos arriscar a dizer, que, ate agora, a independencia relativa destas duas linhas de investigar;ao tornou-se realmente vantajosa para 0 progresso da teoria da influencia social, pois os muitos pontos de convergencia que agora sac perceptiveis, aumentam nossa confianga na validade de ambas as linhas de investigagao, na base de que e menos provavel a ocorrenci", de errcs identicos independentes, do que de verdades identicas independentes. Mas, seja como far, os estudos com freqiiencia separados sabre :., influencia social, (, sabre a conduta relativ~· a grupos de referencia. focali-
69. Elihu Katz e Paul F. Lazarsfeld,Personal Influence, Parte II e, em particular, 0 Capi tulo XV, resumindo os achados do estudo. 70 ~ste e urn dos numerososexemplos em que e possive1descobrir a consolidaQaode dife· rentes teoria.s,tal como este processo de teorlzaQaoe resumidamente descrito na Intra· dUQaodeste livro e ao se aproximar 0 fecho do Capitulo IV. Esta possivel consolidaQaofoi observadapor S. N. Eisenstadt, "Studies in reference group behaviour", Human Relations. 1954,7, 191-216, nas paginas 204·106.1J:lecita adequadamentecomo pertinente, o estudo de Morris Janowitz, The CommunityPress in an Urban Settinl:'(Glencoe: The Free Press, 1952),
zados sabre individuos e grupos que sofrem influencia, necessitam evidentemente ser te6ricamente consolidados em conceitos socio16gicos capazes ae lidar com ambos simultaneamente. Sabre este pano de fundo bastante ampliado, a significagao de diversos estudos recentes da escolha de uns grupos de afiliagao em vez de out-ros, como grupos de referencia, tom a maior importancia socio16gica. Estes estudos sac reconhecidamente simples comegos, mas talvez tanto mais sintomaticos de desenvolvimento iminente, pOI' esta mesma razao. 0 estudo c'lP.Ralph Turner, POI' exemplo, comega com a premissa (pertinente a segunda propriedade mencionada em nossa lista) de que "a literatura dos grupos de referencia nem sempre sublinhou a medida em que as grupos relevantes para as valares de. sao segmentariamente e nao totalmente tndividuo".71 Turner dai prossegue, temando corrigir este defeito pelo estudo dos diversos grupos de afiliagao, es,colhidos como sistemas de refe· rencia para diferentes tipos de va16res: valares focalizados sabre a exito profisstonal, tipos determinados de valares eticos ou morais e valares que se referem ao que Turner descreve como "riquezas da vida". Nao pretendo l'esumir aqui suas descobertas; como diz Turner, elas sac mais sugestivll,s que compuls6rias. 0 ponto essencial e que sur gem diferentes normas de r,elegao, com tipos de va16res que se relacionam com tipos de referencias. Par exemplo, as afiliagoes a grupos que resultam de sucesso pessoal mais que de atribuigoes sociais, tendem freqiientemente a ser mais relevantes para a aceitagao de va16res, pela especie particular de "homens orientados para 0 futuro", que constituem a amostra de Turner. Outrossim, os va16res e padroes ate mesmo desses grupos aos quais os individuos 9.spiram a ingressar, nao sac uniformemente aceitos. Se este ultimo (;onceito parece inicia~mente nao ser mais que urn truismo, consideragoes posteriores sugerem que pode ser urn destes truismos que seria melh.or examinar em vez de descarta-los como evidentes pOI' si mesmos, pois €lIe dirige a atengao para as condigoes que favorecem a resistencia as. n~rmab e valares de urn grupo potencial de referencia, ao inves de Ilm1tar-se apenas aqueles que condicionam a adogao destas normas e valares, orien· tagao geral essa que Solomon Asch 72 procurou resolutamente resta~elecer em seu pr6prio e importante lugar, face a uma tendencia predomma~te nas ciencias sociais e psico16gicas, de considerar primordialmente a lllfluencia coercitiva ou constrangedora do grupo. Isto vale apenas para ;,ugerir que 0 estudo da "autonomia individual" e da constrigao social sao 71. Ralph H. Turner, "Reference groups of future-oriented men", Social Forces, 1955.34, 13{)-136, na pag. 131. . h 72. Entre seus significantes estudos a respeito dessa materia, ver os segumtes: S'. E. A:C , H. Block e M. Hertzman, "Studies in the principles of judgments and attitudes. ~. Two basic principles of judgment", Journal of Psychology,1938,5, 219-251;S. E. Ase , "Studies in the principles of judgments and attitudes: II. Determination of judgments by group and ego standards", Journal of Social Psychology,1940,12, 433-465.Para UtnB exposiQaocompreensiv2< das consideraQ6este6ricas envolvidas nestes e noutros estudos, ver S. E. Asch, So•.ial Psychology,(Nova Iorque: Prentice-Hall,Inc., 1952).
faces opostas da mesma moeda te6rica, ao inves de ser 0 estudo do "individuo" contra 0 "grupo", como algumas vezes ainda se supoe inadvertidamente. Parece que a consideraQao dos "grupos de referencia diferentes, para diferentes normas e valores" est a subindc a urn nivel cuidadosamente estudado de atenQao sociol6gica. 0 mesmo mimero da revista em que Turner relata seus estudos, por exemplo, illClui urn estudo colateral, porem independente, de Rosen, 0 qual tern 0 mesmo prop6sito central. De novo, e aludido trabalho expoe 0 que e 6bvio, mas enfrenta 0 truismo com seriedade e procura desenvolve-Io: "Os outros fat6res significativos nao sac necessariamente fat6res de referencia parii. todas as areas do comportamento do individuo". 73 Mais uma vez, em lugar de um resume dos achados, escolhi apenas urn que parece ter significado para a continuaQao das pesqUlsas. Rosen relata a descoberta aparentemente anomala, de que os individuos da sua amostra que sac de fate os mais "tradicionalistas" em suas atitudes religiosas em seu comportamento, nilo sao, como se poderia supor se tomassemos por base 0 senso comum de facH alcance, os mais convencidos de que estao vivendo conforme as normas tradicionais. A aplicaQao da teoria do grupo de referencia esclarece este paradoxa aparente, pois os que sac os mais "tradicionais" ou "ortodoxos" em seu comportamento religioso, tendem a ser aqueles cujos pais observam padroes religiosos particular. mente rigidos quanto a ortodoxia, e no contexto destes padroes mais exigentes, estes individuos mais freqtientemente julgam que a sua conduta esta muito abaixo do nivel exigido. Esta constataQao pode ser facHmente apoiada pelos conceitos consagrados de que a estimaQao que 0 individuo faz de si mesmo depende de varios padr6es grupais de jUlgamento. Tern o merito de nos fazer recordar 0 que e geralmente sabido, porem, reconhecido apenas esporadicamente: a sensaQao que 0 individuo tern de estar "de acordo consigo mesmo" e freqtientemente nada mais que 0 result ado de estar "de acordo" com os padroes do grupo ao qual esta sentimentalmente ligado. 0 senso de autonomia pessoal nao significa necessariamente a rejeiQao das restriQoes normativas excrcidas por todos os grupos. Urn terceiro e sugestivo estudo de Eisenstadt 74 e mais compreensivamente dirigido ao problema da escolha de diferentes grupos de referencia no aspecto de serem afetados pelo carater dos valores e norm as envolvidas na situaQao. Embora seja limitada a precisao de seus dados, a analise que Eisenstadt faz do problema representa urn distinto passo a frente. ComeQa discriminando tip os de normas socials, reconhecendo inteiramente que a ,classificaQao deixa ample espaQo para melhoria. Os cinco tipos de normas que ele distingue - e nao menciona-Ios aqui talvez possa ter 0 merito apreciavel de dirigir 0 leitor ao trabalho original - sac mais 73. Bernard C. Rosen, "The reference group approach to the parental factor in a,ttitude and be!Javior formation", Social Forces, 1955, 34, 137-144. 74. S. N. Eisenstadt, "Studies in reference group behavior: 1. Reference norms and the social structure", Human Relations, 1954, 7, 191.216.
adiante agrupados em dois tipos principais: (1) as normas que expllcitamente relacionam os "val6res finais" do grupo ao desempenho do papel apropriado, em rAdes particulares de intera\:ao social; e (2) as normas que servem para graduar a importancia relat.i.va dos varios papeis ou esferas de comportamento, assim servindo para mitigar confUtos potenciais entre inconsistentes definiQoes de papel. Da mesma forma como vimos no decUl'so da enumeraQao das propriedades dos grupos, que aquHo era urn prel1idio para a classificaQao dos mesmos, tambem esta classificaQao das norm as e preliminar a definiQao dos problemas te6ricos. Entre estes problemas, 0 mais fundamental diz respeito as condiQoes sob as quais urn ou outro destes tipos gerais de normas de referencia e evocado e mantido como mecanisme de controle social. 0 primeiro tipo, conforme a conclusao provis6ria de Eisenstadt, que serve para reafirmar os valores duraveis subjacentes numa situaQao particular de interaQao social, tende a ser evocado na circunstancia em que, por uma ou outra razao, as rotinas sociais do grupo sac significativa-mente perturbadas. Com uma parafrase moderada e adequada, esta conclusao pode ser 10rmulada como segue: uma orientaQao de referencia em relaQao a este insinuante tipo de norma, relacionando os valores finais a situaQoes especi1icas de interaQao social, serve como mecanismo de contra Ie social, sob condiQoes de desorganizaQao iminente ou atual, dentro de subsistemas de uma sociedade, e nao sob condiQoes de conflito potencial entre subsistemas. (Eisenstadt, 202) 0 segundo tipo de norma tende a ser chamado a atuar quando as definic;oes cliversas e cnnflitantes da situaQao social por grupos diferentes apresenta ao individuo uma escolha a ser feita entre papeis conflitantes.75 Tenho que admitir que estas conceIJc;6es me parecem importantes pela sua afinidade te6rica, que Eisenstadt observa, com alguns dos conceitos expostos no capitulo anterior deste livro. Porem, a parte de tais consideraQ6es alheias, tern 0 merito distinto de focalizar a atenQao, no desenvolvimento de uma teoria sociol6gica do comportamento dos grupos de refe rencia, sobre as condic;oes institucionais e estruturais que influenciam a escolha de urn ou de outro dos grupos de referencia, e que, alem do mais,
75. E em rela~ao a este problema que a teoria do comportamento dos grupos de referencia se liga a teoria vizinha dos papeis sociais e do conflito dos papeis. A estrutura sociaJ, os val6res culturais, e as press6es das situa~6es interagem a fim de produzir uma escolha entre papeis alternativos e algumas vezes conflitantes, de ac6rdo com norm as que apenas estao comegando a ser entendidas, e mesmo assim, em seus primeiros espo~os. Ver, por exemplo, 0 trabalho de Samuel Stouffer, "An aonalysis of conflicting social norms", American Sociological Review, 1949, 14, 707-717, e as trabalhos subseqiientes de Stouffer e de Jackson Toby, derivados do primeiro. Ver tambem a analise da escoIha de papeis numa situa~ao de agudas press6es sociaJs, par Lewis M. Killian, "The signi· ficance of multiple-group membership in disaster", American Journal of Sociology, 1952, 67, 309-314.
servem de uma ou outra fun<;ao social para 0 grupo.76 E embora os estudos do tipo dos que aqui sac tratados sejam considerados como preliminares por seus autores, representam realmente um come<;o de caminho para a solu<;ao do problema de como chegam a ser escolhidos os grupos de afilia<;ao, uns em lugar de outros, como estruturas de referencia para varias especies de avalia<;ao, de compara<;ao e de forma<;ao de atitudes.
SELE<;AO DE GRUPOS DE REFERENCIA ENTRE DE "STATUS" OU SUBGRUPOS ENVOLVENDO CONSTANTE INTERA<;AO
CATEGORIAS
... [qual eJ a importancia relativa das categorias gerais de status e dos subgrupos int'mos POl' exemplo, as expectativas dos open'lrios concernendos quais ~ individuo Ii membro... tes as suas possibilida,des pessoais de empn"go futuro, baseiam-se mais sabre 0 seu emprego atual e aos seus companheiros de trabalho no mesmo emprego, do que sabre as altas pro~0r<;6es de desemprego predominantes nos oficios em geral? Estel exemplo de The American Soldier aponta assim para ll>necessidade de pesquisas cumulativas
acerca
da relativa
eficiencia
dos sistemas
de refer-encia
fOTllecidas
pelos
compa-.
nheiros e pOl' categorias de situa~oes mais gerais. Sugere quais itens salientes de observa~iio devem ser incorporados em tais estudos projetados, de modo que este problema ... possa prestar-se a pesquisa, desde ja e nao num futuro remoto. Tais estudos projetados porleriam facilmente incluir itens de dados relativos as normas ou situaQao dos companheiros pr6ximos, assim como dados s6bre conhecimentos acercll>das normas ou situaQoes predominantes em geral na situaQao dada. A analise sUbseqiiente seria entao em termos de compz,rllQao sistematica de individuos do mesmo slalus, mas com companheiros pr6ximos, que distintamente se opuseram as normas ou que estejam em situaQoes contrastantes. (Pag. 269)
o que foi projetado nesta passagem, como alvo de pesquisa para 0 problema, tornou-se mais tarde realidade, especialmente na pesquisa conhecida como "pesquisa de Elmira" sabre 0 comportamento eleitoral. Assim, num trecho da pesquisa de Elmira* focalizado sabre os detalhes do compor76. A alusao aqui e as afirmaQoes de problemas da seguinte especie, os quais foram estabelecidos no capitulo anterior: "0 problema te6rico e de pesquisa, neste ponto, consiste em determinar (jsto e, verificar) de que modo a estrutura da situa~iio social encon.ja certa.s similaridades de status a se tornarem a base para tais comparaQoes, levando outras semelhangas de status a serem ignoradas como 'irrelevantes'. (pag. 323. nota 15). Ainda: 0 problema e identificar "sistemas de referencia usados em comum pOl' uma. proporQao de individuos dentro de uma categoria social, suficientemente grande para original' definiQoes da situaQao caracteristica daquela categoria. E tais sistemas de referencia sao comuns porque estao moldados pela estrutura social". (pag. 325) E mais: '••... e a definiQao institucional de uma estrutura social que pode focalizar a atenQao dos membros de urn grupo ou ocupantes de uma situaQao social, sabre certos grupos de referencia comuns... Em ll>diQaoa f!stes grupos de referencia comuns. _. bem pode haver t6da a especie de grupos de referencia, idiossincraticos, os quais ... variam ao acaso " (pag. 327) E esta orientaQao sociol6gica em relaQao a grupos de referencia que Eisenstadt esta ocupado em especificar e desenvolver.· Nao sera demasiado dizer que, no campo da teoria dos grupos de referencia, a continuidade esta se tornando a norma predominante de desenvolvimento, em lugar da abrupta descontinuidade. (*) N. do trad.: A cidade de Elmira esta situada. no Centro Sui do Estado de Nova Iorque e conta cOrca de 50.000 habita.ntes.
tamento de grupos de referencia,77 observa-se que os dados descritos nessa passagem sao exatamente aqueles "proporcionados pelo estudo da vota<;ao e, sempre que possivel, e este tipo de analise" que e usado. Esta monografia inclui um fundo substancial de achados relevantes que, novamente, nao procuro resumir em detalhe. Um exemplo pode servir como indica<;ao do teor geral dos resultados. Verifica-se que os associados imediatos (co-trabalhadores) numa organiza<;ao formal (urn sindicato) evidentemente modelam a percep<;ao que 0 individuo tern do complexo politico da organiza<;ao total. E muito mais provavel que os individuos, cujos companheiro& sac republicanos, perceberam que seu sindicato vota predominantemente como republicano, que os homens cujos companheiros sac democratas. Nao obstante, parece, pelos dados disponiveis, que 0 sindicato como um todo, serviu como grupo politico de referencia para alguns dos seus afiliados ao passo que, para outros, foram os companheiros mais pr6ximos que serviram como referencia. Este achado conduz ao problema ulterior de 1dentificar as circunstanciais que favorecem um ou Dutro padrao de sele<;ao do grupo de referencia. o relato basico do estudo de Elmira 78 focaliza este problema geral, como se pode ver dos seguintes trechos, tao compactos que uma parafrase nao seria mais que uma perifrase: '" que dizer das inevitaveis discordancias entre 0 pequeno grupo de colegas e conhecidos maior a que pertence? Costuma-se com quem 0 eleitor convive, e a, comunidade dlzer que 0 que importa ao votante e 0 ambiente social proximo a ele; e assim e. Quando o grupo primario de amigos ou companheiros de trabalho e unido em opiniao politica, avotaQao conespondente e firme. Quando os grupos primarios democraticos sao "solidos", 0 voto partidario nao e muito mais baixo do que 0 dos grupos republicanos "s6lidos", (jsto e, cada partido perde apenas aproximadamente 12 ou 15 POl' cento em desvio de votosl. A forre: maioria da, comunidade a favor dos republicanos tern pouco efeito, porque pouco influi na", pessoas que pertencem a grupos democraticos homogeneos. Mas quando 0 ambiente primario esta internamente dividido, a influfil1cia da comunidade estranha, pode ser percebida. Entao os republicanos ganham uma proporQao mais alta da votaQao. Se os amigos e companheiros de trabalho sac divididos na proporQao de dois a urn a faNor dos republicanos, a votaQao final resulta aproximadamente como de tret; quartos a favor dos republicanos; mas se eles sao dois a urn democraticos a votaQao para os democraticos e somente de cinquenta POl' cento. E como se 0 voto medio, nos grupos primarios mistos, tendesse a se inclinar pa,ra 0 lado republic3.no. 0 impacto da comunidade maior
77.
e
assim
mais evidente
entre
os votantes
que provem
de grupos
prima-rios
discordantes.
Norman Kaplan, Reference Group Theory and Voting Behavior, ja citada, 79, e POl' exemplo, 156 e segs. 78. Bernard R. Berelson, Pa,ul F. Lazarsfeld e William N. McPhee, Voting: A Study of Opinion Formation in a Presidential Campaign, (Chicago: The University of Chicago Press, 1954), 98-101 e em outras passagens. Tomei a liberdade de grifar os trechos que parecem ser de mais significaoQao te6rica geral, assim como inclui 0 paralelo caseiro, mas informativo, entre as conidas de cavalo e urn processo social recentemente identificado na comunidade local. E certo que os soci610gos nao estranharao a a.nalogia, pois a hist6ria nos mostra que assuntos parecidos, tais como a teoria das proba.bilidades nos jogos de azar foi estudada POl' cientistas e observadores respeitaveis, como d'ImoJa, Pacioli, Ca,rdan, Tartaglia, Pascal, Fermat e Jacques Bernoulli. Se e licito comparar grandes coisas com pequenas coisas, 0 valor da analogi,a se mantem.
Quando os companheiros
uma dire9iio politica \inica entao os grupos maiores da comunidade circ,undante refor9am sua POSi9ao sobre os menores. o mesmo efeito pode ser observado dentro de cada status s6cio-econ6mico e de cada categoria religiosa. Com amigos que ap6ia.m 0 partido "certo" (0 partido tradicional do estrato), cada urn dos subgrupos e 90 POl' cento "firme" em sua vota9ao. Mas, em quase cad a caso intermediario, a categoria inclinada< para 0 la.do dos republicanos obtem uma vota9ao maior para seu partido, do que seu equivalente democratico. Os protestantes com urn l.,migo democratico (entre tres) "perdem" apenas 15 POl' cento de seu voto para os democraticos, ma-s os cat6licos com urn amigo republicano "perdem" 36 POl' cento dos seus votos (vel' a Tabela XLV lconselho que muito recomendamos aos que sent em prazer intelectual numa analise socio16gica criadora de materiais empiricos]). Em geral, portanto, os republicanos conseguem mais que sua eota casual de ajuste republican a de Elmira, a um ambiente eonfiante, devido a atmosfera predominantemente a qual tende assim a se perpetual'. .A maio ria circundante recebe a vanta-gem dasl pressoes cruzadas. Poder-se-ia denominar isto "0 efeito de ruptura" '! tomando emprestado urn termo dos circulos da corridas de cavalo. No sistema de apostas coletivas ("parimutuel") as pessoas apostam urnas contra as outras e se influenciam miJ.tuamente, Mas, quando a resultad a e tornado em somas redondas, as fra90es sobra,ntes - a "ruptura" - vao para a Prado, au para a Gov.'rno que esta em segundo plano. Em nosso caso, a "ruptura" no ajustamento dos pequenos grupos vai a favor da comunida.de republicana. Num momento isolado, a "ruptura" au sobra. pode ser insigllificante como sucede nas pistas de corrida; porem, num dado periodo de tempo, atinge soma consideravel. Par exemplo, a forte vota9ao repubLcana dos habitaol1tes mais velhos de Elmira pode ser 0 resultado justamente destes atritos provenientes do "toma la e da ca" dos gl'UpOs primarios. Com a idade crescente, a cornu pida-de republicana cobra constantemente tributo (isto e, atl'ai) os antigos democratas. e clara,
-
quando,
intimos do eleitor nao Ihe proporcionam
pelo contrario, the oferecem
uma
alternativa
-
Achados como estes confirmam algumas das presung6es de fato, contidas nos antigos e consagrados conceitos do pluralismo que afirma que as associag6,es podem (e na doutrina politica do pluralismo, devem) mediar entre ds individuos, a sociedade maior e 0 Estado.79 Analiticamente, este E urn conceito sadie da estrutura social, mas apenas como primeira aproximagao. Para comegar, 0 conceito nao precisa ser limitado, como tradicionalmente era nos escritos dos pluralistas, a luta pelo poder entre as associaQ6es organizadas particularmente e 0 Estado. Nao e apenas 0 exercicio formal e consciente do poder que e assim afetado pela estrutura social, mas tada a envergadura da influencia social, inclusive, aquela que e informal e inconsciente. Em segundo lugar, e a profunda analise de Nisbet torna isso abundantemente claro, nao sao os "individuos", tacitamente considerados como "monte de areia de particulas desligadas da humanidade", que sao protegidos em suas liberdades pelas associaQoes que se situam entre eles e 0 Estado soberano, mas as "pessoas", diversamente comprometidas nos grupos primarlos, tais como a familia, os compunheiros e os grupos locais. Essa ficl;ao do individuo verdacleiramente isolado, tao poderosamente concebida no famoso e consagrado capitUlo XIII do Leviathan, de Hobbes, e que 79. Instrutivas analises socio16gicas do pluralismo, nao 56 como teoria polltica, mas tambem como COnCeP9aOde estrutura social, Se encontram em Robert A. Nisbet, The Quest for' Communit~ (Nova Iorque: Oxford University Press, 1953) e Clark Kerr, "Industrial rela.tions and the liberal pluralist", Proceedings of the Seventh Annual Meeting of the Industrial Relations Research Association.
Gesde entao foi acolhida nas SUposlQoes dos pluralistas liberais, e uma invenQao que a sociologia de hoje sem qualquer duvida razoavel, demonstrou ser ao mesmo tempo inveridica e superflua. Em terceiro lugar, como agora se comprova, mesmo os grupos primarios nos quais as pessoas ,estao de alguma forma envolvidas, nao tern efeitos uniformes sabre as orientaQ6es de seus membros. As vezes os valares dos grupos que propiciam ao individuo 0 ambtente social, nao sac todos (ou na maior parte) de uma s6 peQa, e em tais casos, os efeitos potenciais oesses grupos ficam neutralizados. Ademais, quando as orientaQ6es de valares conflitantes predominam nos grupos primarios, e as orientaQ6es modais do ambiente social maior sao acentuadas, 0 papel mediador do grupo primario torna-se diminuido ou mesmo desprezivel, e a influencia da sociedade maior torna-se mais premente. Esta, pelo menos, e a diregao que podem tomar as inferencias experimentais dos resultados da pesquisa de Elmira. Outro tipo de significaQao nestes achados relaciona-se com 0 lugar te6rico da "pesquisa do pequeno grupo" no desenvolvimento da teoria dos grupos de referencia e na teoria Inais geral dos grupos. E evidente que as conclusoes dos estudos de Elmira Iiao poderiam ter side atingidas se 0 comportamento sob exame tivesse sido 0 de uns poucos individuos reunidos por urn curto prazo a fim de constituir um "pequeno grupo" em urn ou outro laborat6rio sociol6gico, pois 0 requisito essencial do problema (> 0 de que 0 comportamento de tais individuos seja examinado dentro do tluplo contexto de relaQ[;iointima de longa duraQao ("amizade" ou "colegas ae trabalho") e da estrutura normativa e de comportamento da comunio.ade circundante. E exatamente esta especie de problema sociol6gico, Ciue implica em estruturas sociais que estejam funcionando ativamente com significaQao afetiva duradoura para individuos situados dentro dela, o que passa caracterlsticamente pela malha dos "pequenos grupos" experimentalmente concebidos de individuos reunidos numa base ad hoc para finalidades limitadas, com limitado envolvimento no "grupo" e tudo isto por tempo limitado. E claro que isto nao significa par em duvida. 0 valor da pesquisa experimental dos pequenos grupos; e apenas para mostrar que este tipo de investigaQao e apropriado para uma faixa limitada de problemas sociol6gicos e inapropriada para outra faixa provavelmente maior de outros problemas. E apenas po,ra dizer que quanto a proplemas, tais como 0 que esta sob exame, no qual as interligac;6es entre as redes afetivamente significantes e duraveis das relaQoes pessoais e a estrutura social maior sac precisamente as ligaQoes que estao sendo exploradas, os designios, alias instrutivos, de investigaQao de pequenos grupos experimentais, nao sac calculados como sendo adequados. Pode-se arriscar a expressar 3. esperanQa e a confianQa de que, antes que haja decorrido muito tempo, os soci610gos e psic610gos sociais terao identificado os problemas te6ricos que sejam mais efetivamente acessiveis a investigaQao em pesquisas de pequenos grupos e a distinguir estes dos problemas te6ricos que possam
ser estudados com maior eficacia dentro das rotinas social diaria. 79a
ordinarias
da vida
A segao anterior deste exame de continuidade da teoria dos grupos de r,eferencia e da estrutura social, tratou do que e atualmente conhecido como as determinantes da selegao dos grupos: grupos de afiliagao e de nao afiliagao, grupos de afiliagao de tipos alternativos e grupos que envolqem relagoes pessoais constantes, diferenciados daqueles agregados abstratos, que compreendem categorias de status social, e diferenciados da comunidade maior e 0a sociedade na qual os individuos tambem encontram seu lugar. Uma variedade de problemas especificos, te6ricos e empiricos, foi examinada em suas correlagoes sabre as determinantes da escolha. Jll que nao tentaremos neste momento fazel' Llais do que mencionar algumas das consequencias e fungoes do compori:arnento dos grupos de referencia, deveremos examinar pelo menos algulls dos elementos estruturais que estao cor.centrados no comportamento clos grupos de referencia, concebidos como processo social. Como foi sugerido na lista anterior das propriedades dos grupos, que se acredita serem afins ao ulterior desenvolvimento da teoria dos grupos de referencia, 0 elemento da "observabilidade" ou "visibilidade" desempenha parte saliente neste processo, 0 qual, por conseguinte, zequer exame explicito.
OBSERVABILIDADE OU VISIBILIDADE: CAMINHOS PADRONIZADOS DE INFORMA(;AO ACE-RCA DE NORMAS, VALORES E DESEMPENHO DE PAPEIS A teoria dos grupos de referencia evidentemente "admite que os individuos que comparam sua sorte com a de outros, tern algum conhecimento da situagao na qual se encontram aqueles outros ... Ou, se 0 individuo e (;onsiderado. .. orientado em diregao as normas de urn grupo ao qual nao pertence, a teoria evidentemente admite que ele tenha algum conhecimento dessas normas. Assim, a teoria do comportamento do grupo de referencia aeve incluir em sua elaboragao psicol6gica mais completa, algum tratamento da din arnica da percepgao (dos individuos, grupos e norm",s) e em sua elaboragao sociol6gica, algum estudo dos canais de comunicagao atra79a. Urn exemplo de dados sociol6gicos detalhados a respeito de grupos de referencia conflitantes encontra-se no dossier de provas compiladas em The Worker· Priests : A Collecttraduzido do frances POl' John Petrie (Londres: Routledge e Keive Documentation, gan PaUl, 1956). A oposigao padronizada de papeis, que surgiu entre os padres·operar~os franceses pode ser instrutivamente interpretada em termos das concepg6es que "cabamos de revisal': seriam dificeis, senao impossiveis, de reproduzir, em forma te6rica eompa,nivel, dentro dos limites de um gahinete.
yes dos quais tal conhecimento e adquirido. Quais serao os processos que ~esultam em imagens exatas ou deformadas da situagao de outros individuos e grupos (tornados como estrutura de referencia)? Quais serao as formas de organizagao social que levam ao maximo as probabilidades de percepgao correta de outros individuos e grupos, e quais as que resultarao em percepgao deformada? Desde que alguns elementos perceptivos e cognitivos estao definitivamente subentendidos mesmo numa descrigao :10 comportamento dos grupos de referencia, sera necessario que tais elementos sejam explicitamente incorporados a teoria". (Pag. 328) Este enunciado do conceito de que ha variagoes padronizadas, no acervo de conhecimentos acerea das normas e valares de urn grupo de referencia, continua toleravelmente adequado no momenta em que escrevemos. Mas, se nao advertirmos que estamos voltando repetidamente ao terna da percepgao exata ou destorcida, 0 enunciado pode talvez dirigir erradamente a atengao, exclusivamente para os grupos e importantes problemas da psicologia da percepgao, afastando-a dos grandes e importantes problemas das maneiras segundo as quai's a variabilidade da estrutura do grupo afeta a facilidade de acesso as informagoes acerca das normas e valares predominantes nos grupos. Que 0 conceito do comportamento dos grupos de referencia pressupoe algum conhecimento ou imagem das normas e valares que prevalecem no grupo, e praticamente evidente por si mesmo e tern sido natura~mente reconhecido desde algum tempo. Ao referir-se ao trabalho de Benmngton, por exemplo, Newcomb observou que nem todos os estudantes se davam conta da nitida tendencia contraria ao conservadorismo, que se desenvolve entre eles a medida que vaG passando de ana no curso universitario. Che~ou a advertir que, "bbviamente, aqueles que nao estao conscientes da tendencia dominante na comunidade nao podem estar usando a cornunidade como grupo de referencia para uma atitude".80 Por isso Newcomb incluiu em seu esquema de pesquisa, uma medida da percepgao de tal tenden~ia entre os estudantes. Embora esta componente da teoria. seja "6bvia" nao obstante da-se 0 caso de que muitos estudos de comportamento 'dO grupo de referencia nao tern previsto explicitamente a coleta sistematica de provas que indiquem os graus variaveis de percepgao das normas predominantes em grupos que estejam ostensivamente servindo como grupos de referencia. 81 80. Newcomb, na obra de Sherif, An Outline of Social Psychology, 143. 81. Urn exame met6dico e detalhado deste ponto encontra-se no Capitulo III de Norman Kaplan, op. cit. Kaplan observa de modo apropriado que duas especies distintas de "percepgao" estao envolvidas por varia.s maneiras no comportamento dos grupos de referencia: a, percepgao de que urn grupo ou urn individuo esta sendo usadol como uma estrutura de referencia de val6res, e a percepgao (conhecimento) apenas das normas mantidas por outros individuos designados (que podem estar desapercebidamente ~ervindo de estrutura.s de referencia). A razao para se salientar esses pressupostos "6bvlOS" simples: elas provaram fraquentemente ser tao 6bvias, da teoria, e despretensiosamente que foram totalmente deixadas de lado, no plano de pesquisa s6bre os grupos de referencia.
Contudo, a questao do conhecimento ou de percep<;ao das normas e valar,es predominantes num grupo, e mais do que urn dado empirico incorporado as analises das determinantes da escolha do grupo de referencia. Nao e apenas urn dado, mas e tambem urn problema sociol6gico. Isto quer dizer que 0 conhecimento dessas normas, nao apenas varia empiricamente entre os individuos; a possibilidade e a medida em que se pode adquirir tal conhecimento e tambem presumivelmente moldada pela estrutura grupal. E isto gera alguns problemas teoricamente significativos para analises ulteriores. De que maneira a estrutura dos grupos afeta a distribui<;ao do conhecimento dos va16res e das normas realmente sustentados pel os membros do grupo? Que tais diferen<;as no conhecimento das normas grupais real mente existem, n13.o e apenas urn tema de suposi<;13.o convencional, mas e assunto que tern side sistematicamente demonstrado por estudos tais como 0 de Chowdhry e Newcomb (aos quais ja me referi no breve relata da "visibilidade" ou "observabilidade" como propriedade do grupo). No resume que mais tarde fez de seus achados, Newcomb observou que em cada urn dos grupos (de 20 a 40 membros, incluindo um grupo de estudantes religiosos, urn grupo politico da comunidade, uma sociedade medica reminina, e um grupo de educa<;ao de trabalhadoI'es), "os lideres eram juizes mais exigentes das atitudes do total dos afiliados do que os n13.olideres, acerca de itens relevantes, mas nao acerca dos nao relevantes". Definia-se como relevante 0 item que f6sse estritamente relacionado as finalidades do • grupo, e irrelevante um que fasse apenas remotamente relacionado. As atitudes religiosas foram consideradas c~\mo relevantes, para 0 grupo religioso, mas n13.o para 0 grupo politico. Newcomb continua observando que Se a opinHio dos lIderes tivesse demonstra.do ser superior tambem em rela~ao aos itens nao .relevantes.... (isto) teria significado que os lIderes sac bons julzes em todos OS as· suntos das atitudes de outras pessoas, independente das normas particulares do grupo. 1st" sugeriria que 0 lider de um grupo poderia qui~a ter side snbstituido prontamente pelo lIder de um grupo inteiramente diferente. Os resultados, evidentemente, nao a,p6iam esta conclusao. Antes, sugerem que a posit;iio do lider c espeo.ial,em t€lrmos das normas especl· ficas do grupo. Incidentalmente, desde que em media os lIderes nao eram membros d€lstes grup09 por perfodos de tempo maiores que os nao lIderes, nao se pode concluir que hajam resultado de "antiguidade", quer suas posi~5es de lidera.rwa, quer sua familiaridade com as normas do grupo.82
82.
1tste sumario do estudo e fornecido por Newcomb, Social Psychology, 658-659.Grifei a frase que implica num conceito de. estrutura do grupo, 0 qual sera agora examinado, e servi-me da ocasiao para corrigir um €lrro tipogrMico 6bvio na senten~a final, substi-
tUindo a palavra
composta
u
nao membros"
pela palavrat
"nao Uderes",
erro
esse que se
manteve inadvertidamente ate a impressao final. Conforme os pr6prios Chowdhry e Newcomb torna-ram claro, um s6 estudo, mesmo em se tratando de um estudo criativo como (,.ste, nao e suficiente para estabelecer a interpreta~ao dada aos fatos observados. Outra estudo, destinado a continuar a inter· preta'!:ao do estudo de Chowdhry e Newcomb, sugere que a avalia~ao mais precisa das atitudes do grupo pelos lideres nao precisara resultar apenas de sua posi~ao estrategica na estrutura das comunicag5es. "Os lIderes podem conhecer melhor as opini5es de
Achados desta especie, acerca da variabilidade do conhecimento das normas predominantes num grupo, tem-se multiplicado recentemente na psicologia social.83 Isto proporciona importantes come<;os para se desenvolverem estudos sociol6gicos colaterais aos processos atraves dos quais a estrutura dos grupos conduz as diferenciais relativas a visibilidade das normas adotadas em tais grupos. Tais estudos, complementares aos estudos SOCiopsicol6gicos, necessitam ser focalizados sabre as posi<;6es au stat'lJ-s. ocupadas pel os individuos na estrutura do grupo, e n13.o,como a observa<;ao grifada de Newcomb torna claro, sabre as diferen<;as individuais na sensibilidade da percep<;ao. Desenvolver os detalhes dos estudos sociol6gicos necessarios, faria corn que nos desviassemos para longe do caminho, mas algumas indica<;6es limitadas poderao servir ao prop6sito imediato. Os estudos sociol6gicos empiric os, sabre as diferen<;as padronizadas do conhecimento acerca da distribui<;ao de valares e normas no grupo, poderiam come<;ar com vantagem, pelo ponto te6rico de que a autoridade atraves nos grupos nao opera de ordinario como aparece externamente: ria determina<;13.o de ordens. Conforme Barnard, entre outros,84 tem obser'Iado a autoridade e 0 atributo de uma comunica<;ao por far<;a da qual ela aceita por urn "membro" do grupo como governante de sua a<;13.o. Nesta concep<;ao, "a decis13.o relativa a saber se uma ordem tern autoridade ou nao, recai sabre as pessoas a quem ela e dirigida, e nao reside em 'pessoas de autoridade' ou naqueles que emitem essas ordens". Em resumo, a autoridade e, sociologicamente considerada, uma rela<;13.o social normada,
i
de urn individuo ("um lider") . e nao 0 atributo Tal como em outros casos, assim sucede com este: a conceitualiza<;13.O de urn problema faz diferenga apreciavel na maneira pela qual conti.nu~ a analise posterior. Se a Rutoridade e concebida como urn trago do md1seus grupos porque €lIes,1:1'1isque qualquer outros membros, foram influentes na for· mula,gao de tais opini5es'. Proves experimentais limitadas sac apresentadas em apow desta explica~ao dos fatos. Apenas, eu acrescenta,ria que esta necessidade nao pr~Clsara ser tomada como um plOcesso social alternativo que resulta. em maior conhecimento dos val6res dos grupos, das atitudes e opini5es entre os "lideres", mas sim como UIt'. processo social complemental', 0 qual refor~a aqu€lleindicado POI'Chowdhry e New~oml:> Meu motivo para a,presentar esta sugestao se tornara evidente nas pagmas Seg1Unt~s. Ver George A. Talland, "The assessment of group opinions by leaders, and their I~' fluence on its forma,tion", Journal of Abnormal and Social Psychology, 1954,49,_431-:3 r;' (Declaro-me grato a meu colega, Richard Christie, por ter chamado mmha aten~ao sob . a trabalho de Talland)' . . 83. Tais estudos foram resumidos em varias passagens no Handbool. of Socml Psychology. redie-idopor Gardner Lindzey (Cambridge, Mass.: Addison-Wesley Publishing Company, Inc..: 1954), por exemplo, nos Capltulos 17, 21, 22 e 28. . . a84 C. 1. Barnard, The Functions of the Executive, Capitulo XII e especlf!camente na p . gina 163. Exames postenores .' da, dlferenga ent re "I'd I eran,ca", tal como e conslderada em psicologia social, e "autoridade", no conceito adotado em sociologia, encont~am~se em J F Wolpert "Toward a sociology of authority", em A. W. Gouldner, StudIes In Leade~ship (NOVa'Iorque: Harper & Brothers, 1950), 679-701;Robert Bierstedt, "TI?e problem of authority", em Berger, Abel e Pa,ge, (redatores), Freedom and Control. In Modern Society, 67-81,especialmente nas paginas 71-72; Elliott Jaques. The Changmg Culture of a Factory (Nova Iorque: Dryden, 1952), Capitulos 9 e 10.
vfduo, ao inves de uma relacao social, a investigacao volta-se para as caracterfsticas psico16gicas particulares que fazem com que urn tipo de indivfduo, e nao outro, consiga que suas ordens sejam geralmente obedecidas. POl' importante que seja esta questao, nao e urn problema que recaia na competencia te6rica da sociologia. Mas, concebida como relac;ao social, a autoridade torna-se acessfvel a investigacao socio16gica. Barnard fornece urn guia para analisar (\ lugar da visibilidade ou observabilidade no exercfcio da autoridade. Sustenta, provisoriamente, mas com firmeza, que as pessoas que estejam em posic6es de autoridade, efetivamente a exercem e tern suas "ordens" aceitas, somente a medida em que tais ordens, POl' sua vez, se conformem com as normas do grupo ou da organizacao. Se isto parece paradoxal, isto se da apenas devido aos preconceitos nao examinados no sentido contrario, pois a "autoridade", no lexico do tao decantado "homem da rua", pa:ece residir nos indivfduos que emitem comandos, e nao nas atividades consequentes daqueles a quem tais ordens sac dirigidas. No entanto, ap6s navo exame, tudo isso parecera menos paradoxal, pois claramente a "autoridade" e apenas uma esperanca Ya, se nao resultar na aceitacao das ordens. E 0 ponto basico desta conaceitas, caso se desviem repcao e que tais ordens nao serao ordinariamente considerlwelmente das normas que operam dentro do grupo.85 Tudo isso nao quer dizer, evidentcmente, qt<.eaqueles que se acham ll1vestidos de autoridade nada sao, aZem de seguidores passivos das normas predominantes. 1sso apenas significa que a "autoridade" nao confere carta branca aos que a possuem, que ela; nao traz consigo 0 podar incondicional 6.e permitir que 0 seu agente faca 0 que quiser. Para ser constantemente eficaz, a autoridade deve ser exerCida dentro dos limites restritlvos supridos pelas normas do grupo. Nao obstante, tambem e verdade que a autoridade fornece ocasiao para modificar as normas e para introduzir novos moldes de comportamento considerados como consistentes com essas novas normas, assim como com aquelas pre'/iamente existentes. Em resumo, a autoridade envolve menos do que popularmente se sup6e, em termos de poder incondicional, e mais poder condlCicnal do que disp6em os indivfduos rlas fileiras do grupo. No presente contexto, estou antes de mais nada interessado com 0 primeiro desses atributos da autoridade: sua Emitacao pelas normas do grupo, pois isto exige claramente que os que estejam investidos de autoriclade tenham conhecimento substancial d(, tais norm as ; presume-se, mesma, q1.letal conhecimento sej a malar do qW.J0 possufdo pelos outros membros individuais do grupo. Caso contrario, as ordens emitidas pela autoridade 1
85.
Barnard baseou sua concepQiio em numerOS28 observaQoes de comportamento e em refl~.xoes s6bre as mesmas, tudo isto incidindo s6bre grandes organizaQoes formais. DePOlS que escreveu seu trab2Jho, investigaQoes detalhadas confirmaram esta concepQiio; por .exemplo, a engenhosa experiencia relatada por F. Merei, "Group leadership ano institutionalization", Human Relations. 1949, 2, 23·39.
frequentemente violarao essas normas e cumulativamente reduzirao a autoridade efetiva daqueles que as emitiram. As or dens nao serao obedecidas, ou serao cumpridas apenas sob compulsao, com 0 resultado de que a autoridade que antes era legftima, converte-se progressivamente em exercicio do "poder nu ecru". Este resultado surge pOl' vezes, precisamente pelas raz6es que acabamos de examinar. Porem, quando a autoridade permanece mais ou menos intacta, assim 0 faz porque as "ordens" sao contidas rigorosamente dentro dos limites estabelecidos pelas regras do grupo e que sao levadas em conta pOl' aqueles que estao em posiCao de autoridade. Devemos, portanto, considerar os mecani~mos de estrutura social que operam a fim de fornecer aqueles que estao em autoridade, as necessarias informac6es. Ate agora, concentramo-nos sabre 0 requisito funcional para 0 efetivo exercfcio da autoridade, de dispor de informacao adequada acerca das normas e va16res do grupo, e implicitamente, acerca das atitudes de seus membros. E de se notal', tambem, que informac6es comparaveis sao tambem funcionalmente necessarias acerca do comportamento real dos membros do grupo, e de como desempenham seus papeis. Os dois tipos .de informacao sac estreitamente relacionados, mas sao distin~ame~te d1fel'entes. A visibilidade das normas e do clesempenho dos pape1s sac necessarios para que a estrutura da autoridade possa funcionar eficientemente.
MECANISMOS DE OBSERVABILIDADE DO DESEMPENHO DOS PAPEIS
DAS NORMAS
Tudo isso e para dizer que sac necessarios estudos nao somente para estabelecer os fatos iniciais do caso - se as autoridades dos grupos que funcionam efetivamente, tanto formais como informais, geralmente tern conhecimento maior que os outros membros, das normas e do compor~amento adotado no grupo - mas tambem para identificar os dispositivos estruturais e os processos dos grupos Clueproporcionam essa visibilidade. Embora nao haja grande acervo de estndos sistematicos a respeito dessa materia, e possfvel ja agora reunir alguns fatos e estimativas relativos aos mecanismos sociais que servem a esta funCao de fornecer observar bilidade. A identificaCao desses mecanismos comeca com urn fato basico a respeito do exercicio do contrale social pelos membros de urn gr.upo em .geral: (j POl' aqueles que estejam investidos de autoridade em part:cular .. Este e urn fato frequentemente negligenciado em estudos do controle sOClal, em grande parte porque e aceito sem prov:1, tornado como certo. No entanto, ~omo todos sabem, sac exatamente alguns dos assuntos tornados pOl' certos que tern 0 mau costume de surgir como praga sabre as pessOaS que se'dedicam a busca do conhecimento. Este e 0 fate a que ja aludimos
e que agora devemos reiterar. Quer 0 percebam ou nao, as pessoas que estejam efetivamente ocupadas no exercfcio do contrale social devem de alguma forma ser informadas aci~rca das normas (ou comportamento moralmente regulado e esperado) que predominam no grupo, assim como devem estar informadas sabre 0 comportamento real dos membros do grupo .. S: lhes falta a primeira especie de informa<;ao, os que estejam em pos1<;ao de autoridade exigirao, as vezes, urn comportamento in com~atfvel com as regras do grupo e encontrarao, freqi.ientemente, para sua md1gnada surpresa, que suas expectativas ("ordens") nao estao sendo cumpridas, ou que 0 estao apenas "sob protesto" (0 que quer dizer que a conformidade atual as or dens se faz ao pre<;o de diminuir a conformfdade e~pont~n:a as ordens no futuro). Em smbos os casos, isto constitui uma dlmmUl<;ao da autoridade. Dito de outra maneira, e com isso somente parece que voltamos a nosso ponto de partida te6rico, a autoridade afetiva. e ~stavel envolve 0 requisito funcional de informa<;ao bastante completa: acerea das normas reais (nao supostas) do grupo e 0 desempenho de papel real (nao suposto) de seus membros. Quais os mecanismos, - quais os arranjos e process os da estrutura gru~al - servem para preencher estes requisitos funcionais da autoridade efetlva? Formular a pergunta nao e, evidentemente, admitir que todos os grupos em tada parte tenham tais mecanismos. S6 equivale a dizer qu~ na me~ida em que os grupos nilo tenham mecanismos adequados para satlsfazer esses requisitos, diminuirao a autoridade e 0 contrale social. E como todos sabemos, este foi 0 destino de muitos grupos que se desintegraram, pois um grupo nao pode persistir sem uma medida substancial de contrale social. 1. Dijerenciais na comunica!
de maneira que os que tem autoridade estao num nexo de comunica<;ao em dois sentidos, dai resultando que estao melhor informados acerca das normas e dos comportamentos que aqueles que detem outras posi<;6es no grupo. Deve-se dizer ainda que esta e uma tendencia organizacional, mais do que a descri<;ao de um fate concreto. A organiza<;ao eficiente exige que aqueles que estao revestidos de autoridade sejam localizados em junturas da rede de comunica<;ao, nas quais eles sac regularmente informados das normas realmente predominantes no grupo. Como resultado da mesma estrutura, os ocupantes das p05i<;6es de autoridade tendem a ser melhor informados que outros, acerea do carater do desempenho dos papeis no grupo. Grande mUltiplicidade de disposil.ivos organizacionais foi ideada numa ou noutra ocasiao, com 0 intuito de preencher este requisito funcional da visibilidade. Em grupos pequenos e informais, isto freqi.ientemente vem a ser preenchido sem 0 usa de dispositivos estruturais deliberadamente introduzidos para tal finalidade: 05 padr6es de intera<;ao social servem para manter os "lfderes" em contato com as atividades relativas ao grupo, dos membros do grupo. Em organiza<;6es grandes e formais, devem ser invent ados mecanismos especificos, os quais podem ser considerados em geral como "procedimentos de contabilidade". Quer os mesmos envolvam uma contabilidade de partidas dobradas em neg6cios pliblicos ou particulares, ou a classifica<;ao dos estudantJ nas institui<;6es educacionais, ou a realiza<;ao de "pesquisas sabre 0 moral" dos soldados em estabelecimentos militares ou dos operarios nas indlistrias, eles tern, substancialmente, a mesma fun<;ao de informal' aos defensores de autoridade acerca da qualidade e quantidade de desempenho dos papeis na organiza<;ao, a fim de que as atividades do grupo possam ser mais eficientemente controladas e coordenadas. Contudo, 0 usa de mecanismos destinados a preencher 0 requisito funcional da visibilidade e em si mesma limitado pelas nom1as do grupo. Se as autoridades procuram manter-se informadas acerca dos detalhes de desempenho dos papeis numa extensao que ultrapassa as expectativas normativas dos membros do grupo, isto encontrara resistencia ou oposi<;ao lleclarada. POucos grupos, ao que parece, absorvem de modo tao completo as lealdades dos membros, ao ponto err. que estes aceitem facilmente a irrestrita observabilidade do desempenho dos seus papeis. Esta atitude e algumas vezes descrita como "necessidade de isolamento". Porem, 0 quanto possa esta expressao ser adequada, como descri!
individuais de capacidade e treinamento, e para as exigencias das situa<;6es que tornam extremamente dificil a conformidade estrita. Esta e uma das fontes daquilo que em outro local foi classificado neste livro, como evas6es socialmente moldadas, ou mesmo institueionalizadas, das regras institucionais. Mas se a estrutura do grupo favorecer a completa vigilancia das atividades, mesmo 0 afastamento num grau tolerado da letra estrita dos requisitos prescritos para cada papel, vira a ser psico16gicamente acabrunhador. Os membros do grupo devem entao decidir de novo 0 quanto €lIes poderao se distanciar das normas, sem provocar san<;6es punitivas, assim como as autoridades devem decidir de novo se a estrutura formal basica do grupo esta sendo corroida pelos desvios observados do comportamento. Neste sentido, as autoridades podem tel' "excessivo conhecimento" daquilo que realmente esteja sucedendo, de modo que tal se torne disfuncional para 0 sistema de contra Ie social. A resistencia a total visibilidade das atividades e evidentemente acentuada POI' uma rlivagem de interesses (suposta ou real) entre os estratos de autoridade e os estratos governados. A forte hostilidade em relac;ao a "estreita supervisao" nos neg6cios e na industria evidentemente expressa est a objec;ao duplamente refor<;ada a vigmmcia do desempenho dos papeis. POI' quase as mesmas raz6es, as pessoas que insistem na estreita obediencia as regras oficiais vem a ser consideradas como metidos a "palmat6ria do mundo", ocupadas em fazer progredir seus pr6prios interesses mediante 0 expediente de nao permitir as infrac;6es costumeiramente toleradas das regras; porem, a presumida malevolencia ou 0 interesse do observador s6mente acentua a antipatia que uma pessoa sente ao vel' t6das as suas atividades sujeitas a observa<;ao. Com certeza, as telas de televisao de "1984" despertam horror, porque a "Policia de Pens'lmentos" tern raz6es institucionalmente malevolentes para quel'er fiscalizar 0 que os suditos de "Oceania" estao fazendo a qualquer momento. No e:ltanto, pondo de lado t6da a malevolencia, a autonomia da pessoa e dada como ameac;ada POl' nao tel' vida particular - isto e, totalmente separada e secreta - imune a observac;ao feita par outros. A boa vontade de Robert Owen em relac;ao 1I seus empregados de Nova Lanark foi reconhecida mesmo pelos seus contemporfmeos que duvidavam de sua sanidade mental; no entanto, quando ele instalou 0 dispositivo a que deu 0 nome de "monitor silencioso", a fim de observar num olhar a conduta de cada urn de seus operarios, pode-se supor que €lIes nao consideraram inteiramente bem·vinda a ideia de que o seu benevolente "irmao mais velho" estava na posiC;ao de saber precisamente 0 quanto bem ou quanto mal €lIes estavam trabalhando. A observa<;ao de que ha uma resistencia a total visibilidade da pr6pria conduta, embora seja empiricamente familiar, (presumivelmente, para pes· soas de todas as escalas da sociedade) tambem serve como importante prop6sito te6rico. Sugere que pode ser util pensar que ha em varias estruturas'sociais, algum grau juncional 6timo de visibilidade. Indica, outrossim, que este grau 6timo nao coincide com a completa visibilidade. Nem isto
quer dizer apenas que acontece que a gente necessita de algum "isolamenta", pais embora isso possa ser verdadeiro, nao ajuda nada do ponto cJe vista analitico. Nem igualmente, conforme a moda dos relativistas culturais, sera bastante dizer simplesmente que esta "neaessidade de isolamento" acontece variaI' entre as culturas, ou entre varios estratos sociais Gom suas subculturas distintivas dentro de uma sociedade que tudo abrange. Embora seja verdadeira a ocorr~ncia desta variac;ao, nossa teoria sugere que nao e 0 caso de considerar isto 0 simples resultado dos acidentes da Hist6ria. Mais pr6priamente, somos levados a considerar que as diferentes estruturas sociais exigem, para seu funeionamento eficiente, diferentes graus de visibilidade. Correlativamente, esta sendo sugerido que as diferentes estruturas sociais exigem dlSpositivos pa:a se isolar da visibiJidade total e irrestrita, a fim de poderem funcionar adequadamente: tais arranjos, na linguagem comum, sac descritos como necessidade de intimidade, ou importancia do segredo. E possivel sugerir, se e que ainda nao se possa demonstrar, 0 carateI' funeional dos freios postos a total observabilidade de conduta. Particularmente na vida das sociedades, complexas, na qual a malar parte das pessoas tern uma ou mais vezes se afastado dos estritos requisitos norm~ tivos da sociedade, a inflexivel e literal aplicac;ao destes padr6es normativos, sob pena de pUnic;6es para todos os afastamentos delas, resultaria quase "numa guitarra, de "eada homem contra cada homem", pois a inteira, continua e imediata submissao aos estreitos padr6es do grupo s6mente seria possivel num vacuo social que jamais existiu. Isto nao foi em qualquer soeiedade conhecida. A func;ao social da tolerancia, a fun<;ao de certa quantidade de pequenas delinqtiencias que permaneceram inobservadas ou, se percebidas, relevadas, e destinada a permitir que a estrutura social funeione sem indevida tensao. Ha uma faixa de comportamento que, se se desVIa da estrita letra da lei (ou do c6digo moral) e socialmente permitida, sem comentarios indevidos e sem a aplicac;ao das sanc;6es. Esta e a faixa da evasao institucionalizada, a qual aparentemente varia em largura de grupo para grupo, sob varias condic;6es de exigeneias. Em epocas de aguda tensao sabre 0 grupo ou sabre a socicdade, na qual ela e ameac;ada de dissoluc;ao, ha, evidentemente, urn estreitamento des(a faixa de desvios permitidos ou toleraveis; a lei marcial exemplifica esta mudanc;a na exigencia da estrita conformidade. Em outras ocasi6es, quando 0 mesmo gI'UiJO' ou sociedade nao esta sujeito a graves perigos, a faixa de permissibilidade se alarga, e a menos que a visibilidade seja fortalecida e se atraia a atenc,;ao do publico para os desvios dos padr6es normativos literais, tais afastamentos tern sua continuac;ao tolerada. Como aconfece freqtientemente, 0 homem de letras se sai melhor que o cientista social em retratar, em cores inconfundiveis e vividas, a situa<;ao George Orwell e Aldous social que 0 cientista analisou abstratamente. Huxley, entre os nossos contemporaneos, foram muito felizes ao retratar o horror da total observabilidade de conduta; mas ambos tiveram que
extrapolar tendencias que se desenvolvem por vanas maneiras nas sociedades dos dias atuais, para um futuro hipotetico, a fim de pintar esse retrato diab6lico de uma sociedade onde 0 individuo se acha sob irrestrita visibilidade e constante observa~ao. Muito antes que emergissem sociedades em condi~6es de estimular este curto vao da imagina~ao, 0 romancista e ensaista da era vitoriana, William Makepeace Thackeray, foi capaz de retratar uma sociedade horrenda, na qual todos os afastamentos das normas sociais eram prontamente descobertos, e punidos em seguida. Considere-se apenas a seguinte passagem de seu ensaio, "On Being Found Out", ("Se fassem todos descobertos"):
pode ser alargada com seguran~a, sem interferir com a necessidade fun('ional de "isolamento", "segredo", ou "ser ignorado".87 Dizer que a visibilidade do desempenho de um pa.pel pode ser julgada como excessiva pelos padr6es do grupo e uma coisa; outra coisa inteira· mente diversa e dizer que as normas, nao obstante, concedem maior acesso a tais informa~6es aqueles que exercem autoridade do que aos demais membros do grupo. Os diferenciais de visibilidade n11,osac simplesmente ciados, ou "casualidades"; sac 0 result~,do de requisitos funcionais que estao sendo preenchidos pela estrutura do grupo e pelas normas que ap6iam tal estrutura.
Imaginai se t6das as pessoasque procedemmal fossem descobertase punidas de acor· do com seu erro. Imaginai todos os rapazesdas escolas,serem chicoteados;e, a seguir, os assistentese 0 diretor... Imaginai 0 chefe da policiamilitar ser amarrado,tendo anterior· mente dirigido 0 castigode t6da a tropa,... Depoisque d padre confessarseus pecados, SUo ponhamosque amarremos0 bispo e the apliquemosalgumas duzias de vergastadas!(Parece-meestar venda 0 senhor Bispo de Double-Gloucester encolhido,numa posturalmuito de· sajustadlO,em seu reverendos6lio episcopal). Depoisde despachar obispo, que diremos do Ministroque 0 nomeou?.. A carnificina Ii demasiadohorrivel. A mao cai impotente. ante a quantidadede varas de marmeloque deve cortar e brandir. Repito que estou sa· tisfeitode que nem todosn6s seja,mosdescobertos;e protesto,meus prezadosirmaos, contra o castigo que merecemos... Concordarieisem que vossa esposa e filhos soubessemexata· mente 0 que sois, e vos julgassemexatamentepelo vossovalor? Se assim fosse,meu amigo, viverieisnuma caslOlugubre, e terieis apenas uma frigida lareira... Nao penseis que sois comoparecei9a eles... Nada disso, meu amigo. Afastai de v6s este monstruosoconceito. e sede agradecidode que cles nao vos descobriram.
2. Dijerenciais de motivar;iio: Naa s6 a estrutura dos grupos fornece maior acesso as informa~6es ace rea das normas de funcionamento e do desempenho de papeis as pessoas que estiverem em posi~6es de autoridade, mas tambem as defini~6es institucionais dos individuos que estao nessas posi~6es Ihes proporciona maior motiva~ao para procurar estas informar;6es. Essa especie de curiosidade nao depende simplesmente do tempera· mento pessoal do individuo, embora, com certeza, as inclina~6es pessoais possam refor~ar os requisitos socialmente definidos do papel. Em grupos tem uma responsabilidade tormais ou informais, os lideres ~hecidos distintiva, tanto no que sucede dentro como fora do grupo, e por aquilo que relaciona 0 grupo a seu ambiente social. Sentem·se motivados a man· ter-se em contato com 0 que esta sucedendo, quando mais nao seja porque serao considerados responsaveis pelos acontecimentos. Correlativamente, os membros do grupo sac motivados a conquistar 0 consentimento de seus superiores em rela~ao a novas formas planejadas para a~ao. Agir sem tal apoio e colocar em perigo a prOpria pOSi~a~. E por isso que os subordinados geralmente "se entendem" ~om os sup~nores antes de tomar qualquer medida que nao seja de rotina. Este procedlment~ e evidentemente integrado na estrutura das burocracias altamente orgam· zadas. Porem 0 que e mais revelador, e como Whyte, Romans e outros tern observado est a pratica ocorre tambem nos grupos mais informais. 0 entendimento ~ode envolver apenas uma aparente casual troca de imp ress6es mas isto pode ser prontamente identificado como 0 equivalente funcion~l de "passar pelos canais competentes" em organiza~6es formais e
Embora estimulada pelo sistema de castigo vigente nas escolas de seu tempo, a imagina~ao de Thackeray tinha alcance liIpitado mas, nao obstante, foi capaz de apanhar 0 ponto essencial: a total visibilidade de conduta, e a execu~ao irrestrita da letra da lei e dos costumes, converteria a sociedade numa selva. E esta ideia central que 8e acha contida no conceito de que alguns limites sabre a t(,tal visibilidade de comportamento sac funcionalmente exigidos para a opera~ao €:ficiente de uma sociedade. Evidentemente, e este mesmo requisito que estabeleceu limites a pronta acessibilidade dos dados pessoais, ao psic610go e ao soci610go, os quais, com prop6sitos elevados e desinteressados desejam alargar a observabi· lidade da conduta humana. E por isso que se pode dizer que 0 cientista social e, com tanta freqiiencia, objeto de ambivalencia. E por isso que suas inquiri~6es sac tao freqiientemente consideradas como meras "bisbilhotices", em "assuntos particulares". Se nao fasse a existencia de outros mecanismos contrapostos da sociedade - tais como a institucionaliza~ao d&s "comunica~6es privilegiadas", ou "dados a serem tlatados em completo segredo", - nem 0 cientista social, dependente de livre acesso aos dados acerca do comportamento humano, nem os outros profissionais, tais como C' medico, 0 advog.ado e 0 sacerdote, que tambem necessitam ter tais infor· ma~6es, seriam capazes de desempenhar seus papeis sociais. Como, po rem, estes, papeis sociais estao institucionalmente definidos de modo a incluir inflexiveis restri~6es, a tornar conhecidos de outrem os afastamentos observados do c6digo, a margem de observabilidade do comportamento desviadn
mais complexas. 87. A obra de Orwell,1984,e a de Huxley,Brave New World eVldentementenao necess\· tam ser citadas para serem ,dentlflcadas. 0 relato do "momtor sllenclOsO" de New Lana,rkIi orgulhosamenteincluido em The Life of Robert Owen,escnta por ele mesmo [com 86 anos de idade], (Londres: EffinghamWilson, 1857),I, 80·81. 0 ensalOde ThackerayIi encontradoem suas obras completas. Assim como Simmel sentiu a significa<;aosociol6gicada observabilidade,igulOlmente ele percebeu a significa<;aode sua tontrapartida, 0 "segrcdo". Ver The Sociology01 GeorgSimmel,307-376.Ra,ramentefaJhouseu "intentoda [sociologia]do jugo",embora freqiientementeele se tornasse aborrecidoem ter de prosseguira partir dal. Oportuno Ii tambt'm 0 trabalho complementarde Wilbert E. Moore e Melvin M. Tumin, ·Some social functions of ignorance",AmericanSociologicalReview,1949,14,787-795.
Desta forma, as motiva<:;5es institucionalizadas dos superiores e inferiores nos grupos, podem-s,e tornar complementares e de apoio mutuo. De uma certa forma, 0 superior responsavel e motivado a fim de se manter informado em rela<:;aoao comportamento que se muda, e as expectativas; ate certo ponto, 0 subordinado dependente e motivado a fim de informar o superior antes de empreender a<:;5esinovadoras. Tanto a estrutura como a motiva<:;ao servem para manter os detentores da autoridade melhor informados que os membros das fileiras do grupo. 3. Obstciculos a visibilidade:. Mas isto e, naturalmente, apenas parte da hist6ria. As motiva<:;5escontradit6rias e os processos sociais operam a :im de reduzir a visibilidade para as autoridades superiores, que prcdominaria automaticamente, se apenas funcionassem os mecanismos anteriores. Algumas dessas tendE!llcias contradit6rias sac bem conhecidas e ma~ precisam ser aqui mencionadas.87a As pessoas que ocupam os cargos superiores nos grupos ou urganiza<:;5escomplexos, nao podem se manter em contato direto com todos aqutHes que estao em todos os demais estratos. Nao somente isto e fisicamente impossivel, mas, mesmo que fOsse possivel, seria disfuncional, do ponto de vista da organiza<:;ao,pois se eles tern que preservar a estrutura da autoridade, tambem devem, de maneira geral, agir "atraves dos canais competentes". Do contrario, conforme foi efetivamente observado por Simmel e outros, eles solapariam a autoridade daqueles que ficam em ~osi<:;aointermediaria entre as autoridades mais elevadas e os escal5es mais baixos da organiza<:;ao. Como resultado, os estratos mais altos podem rhegar a ouvir somente aquilo que seus subordinados imediatos quiserem que eles ou<:;am. A observabilidade e filtrada atraves de diversas camadas de pessoal, e a informa<:;ao finalmente destilada pode discrepar em diversas formas da situa<:;ao real das normas de funcionamento e do desempenho de papeis na organiza<:;ao.88 Alem do mais, a autoridade tende em alto grau a isolar aquelas pessoas que 0 exercem. Como, normalmente, interagem com os que the sac quase iguais na hierarquia, quanto mais complexa a organizac;;ao, tanto maior a possibilidade de que, por algum tempo, elas estarao desligadas das
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mudanc;;as em atitudes e normas observadas nas camadas inferiores (e nao apenas nas mais baixas) da organiza<:;50. Esta circunstancia da estrutura social e freqtientemente responsavel pelo atraso nas informac;;5es. Numero consideravel de pessaas da organizac;;ao podem se tornar afastadas das norm as estabelecidas muito tempo antes que tal chegue a atenc;;ao das autoridades cujo trabalho e manter essas normas. Como resultado desse isolamento estrutural, as autoridades podem ignorar as mUdan<:;as das normas de funcionamento, ate que tais mudan<:;as se hajam tornado bastante adiantadas. Dada esta fonte de comunica<:;5es defeituosas, tais mudanc;;asdas normas de contra Ie podem chegar ao conhecimento das "autoridades" somente quando elas descobrem que as ordens que elas supunham estar rigorosamente dentro dos limites das normas predominantes na organizac;;ao, nao encontram a conformidade esperada. Em tais circunstancias e nessa extensao, a autoridade se dilui. As concess5es tardias as normas da organizac;;ao, agora patentemente alteradas, servem apenas para tornar aparente a todos 0 quanto declinou a autoridade previamente existente. Em alguns casos, quando este processo segue seu caminho antes que seja reconhecido por aqueles que ostensivamente estejam no comando, a autoridade sofre abdica<:;ao. A importancia funcional de urn toleravel grau de visibilidade das normas 6 do desempenho dos papeis para aqueles que estejam em posi<:;5es de autoridade tende a ser organizacionalmente reconhecida, embora em casos pspecificos isto nao seja necessaria. Quando a estrutura do grupo au organiza<:;ao falha em reconhecer os requisitos hipoteticamente minimos da visibilidade "suficiente", institui-se uma nova estrutura de autoridade, ou €omcaso contrario a organiza<:;ao cai em peda<:;os. Esta reivindica<:;ao te6rica, a qual necessita. de mais estudo empirico do que jamais the foi concedido, liga a teoria do comportame!lto do grupo de referencia a teoria da organizac;;ao social. Estas duas meadas da teoria sociol6gica podem ser entrela<:;adas com uma terceira, compostf. de ideias acerca dos requisitos funcionais da personalidade para ocupar posi<:;5esde constante autoridade, e para manter a visibilidade das normas organizacionais e do desemnenho dos papeis.
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8720.Parcialmente examinados POl' exemplo, pOI' Homans, op. cit .. 438·439, e em outras pas. sagens do mesmo livre. 88. "A sabedoria popular" freqtientemente inclui 0 reconhecimento desta tendenci20 estrutural nas sociedades complexas. Os defensores de Hitler se apegavam ao fato das organiza~i5es complexas a fim de explicar que "ele realmente nao sabia" dos campos de ex\ terminio da Alemanha nazista, mas isto, ao que parece resulta dos registros hist6ricos, seria menosprezar 0 talento organizador de Hitler: seus cana,is de comunica~ao operayam mais eficientemente do que aquela hip6tese poderia fazer supor. A hist6ria 0 tern como responsavel pela chacina de massa,s, nao s6 porque os lideres institucionais sac de seus sUbordinados, mas geralmente tidos como responsaveis pelo comportamento tambem porque Hitler atuou 0 "melhor" que p6de: ele tinha consideravel observabilidade daquilo que realmente se processava. Exceto 200se aproximar 0 fim do seu imperio de mil anos, ele se manteve bem inform ado : esta fase da eficiencia organizada do naz!smo forneceu ampla base para sua responsabilidade.
4. Seler;;do social dos tipos de personG,lidade apropriados' manutenr;;do Como urn dos requisitos para 0 efetivo erxercicio da autorida visibilidade:
dade, a visibilidade pressup5e 0 funcionamento de mecanismos para a sele<:;aode Hderes organizacionais que tenham 0 tipo de personaUdade funcionalmente apropriado. Esta afirmaC;;aopode ser banaUzada com facilidade. Ela pode significar que as pessoas em posi<:;5es de autoridade fariam bem em ter uma "capacidade de lideran<:;a",em cujo caso se daria este fato lamentavel: urn caso avan<:;ado de trivialidade complicado pela redundancia. Contudo, se a afirma<:;ao fOr entendida como significando que os atributos especijicos da personalklade sac exigidos a fim de manter uma observabilidade efetiva das normas do grupo e do desempenho dos papeis, isso entao coloca problemas que merecem, e afinal podem receber,
respostas empiricamente solidas. A vasta literatura que por vezes pode parecer mesmo sem limites, acerca dos trac;os de personalidade dos "lideres" e daqueles colocados em outros papeis funcionais, sem duvida inclui muita informac;ao que incide sabre a questao que agora esta sob exame. Aqui nao faremos nenhum esfarc;o para examinar e colecionar tais materiais. E'm vez de faze-lo, eu me referirei apenas a algumas conjeturas Instrutivas feitas por Shils,89 que me parecem inridir diretamente sabre ( problema dos requisitos da personalidade, que devem ser preenchidos a tim de manter a pronta visibilidade das normas e 0 desempenho dos papeis. •..•ills chega a este problema quand') pergunta porque e que os mm,-., .~tentos fascistas-nativistas dos Estados Unidos provaram ser de vida ~llrtl:l ou ineficientes, apos urn breve intervalo de poder, senao de gloria. Afinal, parece haver pedac;os de solo cultural em que 0 nativismo deveria prosperar. Conforme Shils expoe, "0 Medio Oeste e a California do SuI estao bem providos de agitadores mediocres, na:'ivistas e fundamentalistas, (isto e, interpretadores literais da Biblia) do tipo que se poderia denominar fascistoide. No entanto, eles nunca tiveram qualquer sucesso nos E:stados Unidos, apesar de seu numero e apesar da existencia, na populagao do Medio Oeste e do Oeste, de uma veia de xenofobia, de sentimentos populistas, antiurbanos e antiplutocraticos, de desconfianga para com os intelectuais, realmente, muitos dos ingredientes do fascismo. Uma vez que urn Ethos ou sistema geml de valares nao e 0 mesmo que 0 comportamento diferenciado num sistema de papeis, tais pessoas jamais foram capazes ( de constituir urn movimento significativo". Uma parte da explicagao para este aparente paradoxa parece recair sabre a inadequagao da personalidade dos lideres nativistas, vista do angulo daquele requisito funcional da autoridade efetiva nos sistemas sociais, que tenho descrito como observabilidade ou visibilidade. Os lideres nativistas de modo geral se ressentem dos seguintes caracteristicos de personalidade, catalogados por Shils: -
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suficiente sensibilidade as expectativas dos demais; orienta~ao tendente a 2,prova~il.o dos colegas e eleitores, (0 que evidentemente nao significa ficar escravizado a tal aprova~ao); uma capacidade para persistir num roteiro de a~ao organizacionaJ.; uma capacidade minima de confiar em outras pessoas, de modo que 0 !ider esteja a- pal dos seus diversos e compartidos valores; uma capacidade para controlar e inibir rea~oes imediatas diante dos acontecimentos, a fim. de permitir opinioes ponderadas sobre as conseqiiencias organizacionais da a~ao; .uma capacidade de distinguir sistematicamente entre ocasioes que exijam comportamenta expressivo dos pr6prios sentimentos, comportnmento instrumental e comportamento qUt coloque em a~ao os valores compartilhados pelos outros; cap2.eidade de agir prestigiando a autoridade de seus pr6prios lugar-tenentes. nao insistindo em relacionar-se diretamente a seus seguidores ou eleitores, 90
89. E, A. Shils, "Authoritarianism: 'right' and 'left' ", em Richard Christie e Marie Jahoda, Studies in the Scope and Method of 'The Authoritarian Personality', 24-49. espeeialment" nas paginas 44-48, 90. :l':stes itens sac parcial mente a parafrase da afirma~ao compa-eta de Shils a respeito deste caso; ibid., 44 e segs.
Estas sao algumas vanaveis de personalidade que servem para tornar facilmente possivel aquelas pessoas invcstidas de autoridade, que permanegam compreensiveis sem se tornarem dependentemente subordinadas a seus partidarios atuais e potenciais. Mas para que tais requisitos de personalidade sejam preenchidos pelos lideres das organizagoes, €I em si mesmo urn resultado dos processos sociais de selegao dos lideres, e Shils passa a decrever os defeitos na mecanica de escolha pelos movimentos nativistas' tais defeitos apenas necessitam ser aplaudidos aqui, em vez de sere~ detalhadamente escritos. o ponto teorico essencial ,~ que certas constelagoes de personalidades sao funcionalmente exigidas para 0 papel do lider organizacional, assim como certos processos seleti'los da estrutura social sac funcionalmente lJecessarios a fim de que as personalidades apropriadas sejam colocadas Has posigoes de autoridade onde efetivaffiente possam observar as normas e 0 desempenho dos papeis. 5. Como se apresenta ate agora a questiio da visibilidade: As paginas imediatamente precedentes tern localizado e trazido a nossa atengao uma varia vel sociologica de alguma importancia para a teoria dos grupos de referencia, em particular, e para a teoria orga.nizacional, em geral. Esta variavel da visibilidade tern side examinada somente em alguns de seus contornos principais. Mesmo assim, ,era necessario sair urn tanto da teoria dos grupos de referenda, concebida de modo estrito, a fim de levar 0 assunto da visibilidade para a esfera mats ampla da organizagao social. No decurso desta revisao, foi provisoriamente sugerido que do ponto de vista da teoria sociologica, a visibilidade e 0 equivalente na estrutura social, daquilo que e a percepgao social do ponto de vista da teoria psicologica. o estudo sociologico da visibilidade e orienta do aos problemas de como as estruturas sociais injluem no conhecimento facH ou dificH das normas predominantes do grupo, e da medida em que os membros do grupo vivem de acardo com tais normas. Do mesrno modo que uma teoria compreensiva da organizagao social proporciona um lugar para os moldes estruturais da visibilijade, uma teoria compreensiva da percepgao proporciona urn lu· gar para os processos psicologicos que influem nessas sensitividades diferenciais as situagoes sociais, as quais tern sido descritas como "percepgao social".91 A "visibilictade", port-anto, e 0 nome que se da a estrutura de uma organiza<;ao social que proporciona aqueles que estao colocados em varias situagoes naquela estrutura, oportunidade de perceber as normas adotadas na organizagao e 0 carater do desempenho dos papeis por parte daqueles que compoem a dita organizac;ao. Ela se rGfere a urn atributo da estrutura
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Uma revisao e avalia~ao documentada dtste ultimo campo de investiga~ao encontra-,se em Jerome S. Bruner e Renato Tagiuri, "The perception of people", em Lindzey, Handbook of Social Psychology, II, 634·654,e outros a-rtigos de revistas, citados na blbliografla daquele trabalho.
social, nao as percepQ6es que os individuos acontecem tel'. As diferenciais padronizadas na visibilidade foram exploradas pela comparaQao feita entre aquelas pessoas investidas de autoridade com as demais colocadas em posiQ6es subordinadas. Isto nos leva a uma curta revisao de alguns me· canismos sociais que facilitam ou dificultam a visibilidade. Os mecanismos se referem a estruturas e processos considerados em term os de sua significaQao funcional pan det':'lrminados requisitos da 01'ganizaQao social; neste caso considera·se 0 requisito da visibilidade como urn elemento que entra no controle social. Dois de tais, mecanismos foram Indicados como sendo, 0 primeiro, a 10calizaQao das "autoridades" em posiQ6es estrategicas dentro da rede de comunicag6es, e 0 segundo, as motivag6es estruturalmente induzidas para. as autoridades, as quais sac tidas como responsaveis pelos sucessos e ffllhas da organizagao e devem se manter informadas acerca das normas e atividades. Correlativamente, exami· namos as barreiras estruturais e de procedimentos que se op6em a visibilidade POl' aqueles que exercem fun~6es de autoridade, e observamos que sac necessarios outros dispositivos f.struturai~ para ultrapassar tais bar· reiras. Finalmente, tomamos nota da especie de requisitos de personalidade, que devem ser preenchidos para que as pessoas revestidas de autoridade possam fazer usa sistematico das oportunidades estruturalmente providen· ciadas para que haja visibilidade. Tudo isto pode parecer uma longa digressao do assunto dos elementos estruturais e dos respectivos procedimentos que entram no comportamento dos grupos de referencia. Em parte, C uma digressao para a. mais extensa teoria da organizagao social. Porem, em parte maioI', incide diretamente sabre urn dos principais pressupostos da teoTia dos grupos de referencia, ( que e 0 pressuposto de que deve haver modos padronizados, segundo as quais as pessoas se tornam familiarizadas com as normas e atividades dos grupos que elas escolhem como estruturas avaliativas e comparativas de referencia. Os cientistas sociais mal eomeQaram a examinar as mecanismos que favorecem a malar au menor conhecimento das norm as e atividades dos grupos, POI'parte dos que estao dentro, ou fora. Ate que isso seja melhor esclarecido, POl' novas formulag6es te6ricas e POl' investigaQ6es em· piricas que Ihes sejam associadas, a teoria dos grupos de referenda per· n.anecera, no mesmo grau, decididamente limit ada, e neste aspecto, incom· pleta. Os passos seguintes em diregao ao progresso desta parte da teoria dos grupos de referencia podem pelo menos ser prefigurados, pois, uma vez que se ,reconhega ser a visibilidade uma componente integral dos processos dos grupos de referencia, rapidamente apresentam·se a mente numerosas per· guntas, hi,p6teses e conjeturas. A observabilidade dos grupos a que nilo set pertence sera caracteristicamente maior a respeito de suas normas e va16res do que a respeito dos tip os de comportamento que realmente prevalecern ~eles? Usando palavras urn tanto diferentes, havera uma tendencia para que os elementos "de fora" desenvolvam imagens irreaUsticas dos gru· pas a que nao pertencem, os quais, no caso de serem grupos de l'eferen·
cia positivos, conduzem 8. idealizaQao ilimitada (como quando as normas oficiais sao tomadas ao pe da letra) ou, se se tratar de grupos de referencia negativa, conduzem a condenagao ilimitada (como quando as normas S8,0 consideradas completamellte alheias aos valores profundamente enraiza. dos dos de fora)? Correlativamente, costumam os individuos desestimar c:-;va16res expressos dos grupos a que pertencem, sabendo, mesmo se nao formulam este conhecimento, que 0 comportamento real apenas se aproxima desses va16res quando as mesmos sao lncorporados nos papeis sociais? De modo mais geral: existirao, efetivamente, diferenQas moldadas na visibilidade das normas e das atividades, dependendo se 0 grupo em questao e urn daqueles de que 0 individuo e membra, urn ao qual ele as· plra, ou urn que ele rejeita de inicio? Quest6es dessa ordem nao deixam de tel' implicag6es. POl' exemplo, considere·se 0 caso do novo convertido a run grupo. Freqtientemente tem sido dito, e provavelmente em parte e verdade, que 0 convertido se torna exageradamente zeloso de sua conformidade em relac;;aoas norm as do gru· po porque ele se considera observado e deseja assegurar sua aceitagao. Po· rem, embora possa ser correto descrever a ardente conformidade do con· vertido n~stes tEhmos de motivaQ6es socialmente induzidas, pergunta-.se se esta motivagao e uma parcela grande da verdade inteira? 0 conceito das diferenciais na observabilidade sugere que nao e, pois, a parte desta questao de motivagao, 0 convertido pode tambem ser peculiarmente conformista POl' nao tel' conhecido, de primeira mao, os matizes e padronizagao das normas do grupo a que recentemente adeTiu. Em conseqtiencia, e ao con· trario dos velhos membros do grupo, que adquiriram tal conhecimento in· conscientemente, no decurso de sua socializac;;ao, 0 convertido se esforga ~or se ajustar a letra estrita de tais normas. Torna·se rigido conformista. Porem, 0 ponto tebricamente importante e que ele exibe este extremo conformismo, nao necessariamente devido a que ele possua uma "personalidade rigida", mas porque na ausencia de estreita familiaridade com as normas de seu novo grupo, ele nao tern outra alternativa senao fazer das normas oficiais 0 roteiro obrigat6rio da sua conduta. Com muita freqtiencia, como todos sabem, 0 novo convertido -- seja a uma convicc;;aoreligiosa poUtica ou "social" - torna·se urn pedante, estreitamente interessado na satisfagao de agir em conformidade com as regras. 92 92.
Descrever esta maneira de urn homem como pedante, nao e concordar em insulta-Io. pedante. e urn tipo bem definido na. sociedade. Um2, vez que nao posso aperfei~o9.' a descri~ao desse tipo social, alem do que consta num volume an6nimo de ensaio, citados na obra de Fowler, Modern English Usage, tomo de emprestimo sua descri~ao: "'0 pedante e urn crente na burocr2,cia; isto e, ele exalta 0 metoda, acima do trabalho realizado. 0 pedante diz, tal como os Fariseus: "Deus, agrade~o-te nao ser igual aque· les homens" - exceto que ele freqtientemente substitui "Deus" par "Eu mesma". 0 pedante mantem sua mesquinha contabilidade aM 0 ultimo centavo, enquanto seu vizi· nho milionario deixa que as contas tomem conta de si mesmas. 0 pedante espera que os outros se enquadrem em suas escalas de medi~ao multo inadequadas e os condena com confianc;a se nao 0 fizerem. 0 pedante e sabio mais do que permite sua! idade, em t6das as coisas que nao importam. Urn pedante quebra nozes com urn martelo
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Do ponto de vista da visibilidade das Iiormas, 0 equivalente sociol6gico do pedantismo e 0 conceito de que a alta, classe social impoe obriga\;oes: noblesse oblige. Os de alta categoria social consagrados num grupo ou sociedade - aqueles da nobreza (num senti do diverS0 do hist6ricamente provincial) - conhecem as regras do j6go, isto e, conhecem as llCJrmaS,e s:ibem como se comportar. Tendem tambem a ter 0 poder de fazer valer sua vontade. Nestes limites, tem um senso de seguranga pessoal socialmente va,lido. Precisamente por causa de tudo isso, espera-se que eles nao exergam seu poder ate 0 maximo. ("Aqueles a quem muito se permite deve aproveitar-se 0 menos possivel do seu poder"). Ao contrarlo do ne6fito, inseguro de seu status, 0 homem de categoria consagrada pode livremente afastar-se das normas estritas, particularmente quando nao 0 faz em proveito pr6prio, pois insistir na letra estrita da norma geralmente significa apenas insIStir s6bre as vantagens diferenciais da sua posigao, assim como afastar-se da norma redunda geralmente em proporcionar maior liberdade de agao aos que the sac subordinados em posigao, categoria e conceito. A estrutura social sendo 0 que e, um pedante de baixa graduagao pode ser tolerado, mesmo que nao seja apreciado; mas um pretensioso de alta classe, que procura tirar proveito desproporcional pela sua insistencia s6bre a letra da norma, sera duplamente condenado e odiado; tuna vez, porque ele nao acomoda a norma as exigencias da situagao, (G nisso ele se iguala aos outros que nao percebem que as norm as sac apena~ orientagoes ou linhas de conduta), e outra vez, porque ele se beneficia quando transforma 0 estrito conformismo em virtude. S6mente quando manifestamente perde pela incondicional aderencia as normas que ele desejaria impor a si mesmo e aos outros, e que 0 homem de categor~ ~onsagrada torna-se relutante e ambivalentemente admirado. Ele e entao d~inido Gomo um homem de principios, ao inves de ser classificado como pedante e egoista que procura seu pr6prio interesse. Em tudo isto, a varia vel da visibilidade e indispensavel componente, embora algumas vezes obscurecido. Para tirar esta variavel das sombras da inatengao que a obscurece, talvez f6sse util examinar, mesmo de maneira breve, uma especie de investigagao sociol6gica que se centraliza 56bre os caminhos pelos quais a opiniao do "publico" e dos eleitores chega ~ atengao dos que estao situados em elevados lugares, pois as atitudes, opinioes, sentiment os e expectativas dos grupos organizados e das massas nao.organizadas presuml.velmente constituem uma armagao soci:;.l de refe~encia para a agao desenvolvida pelas pessoas de autoridade, apenas c;;,uandoelas sejam conhecidas, ou quando se pense que sejam conhecidas hidraulico: isto e, conVOC2,os princlpios da moralidade a fim de decidir se ele poderli. ou) nao, ou mesmo devera, fazer algo tao sem importflllcia como beber urn copo de cerveja. De urn todo, pode-se, talvez, dizer que t6das as suas diferentes caracter1sticas aihivam da combina9ao, em propor96es variaveis, de tres coisas - 0 desejo de cumprir seu dever, a cren92, de que ele sabe mais que os outros a a cegueira a diferen9a de valor entre as coisas diversa.s' u.
por tais pessoas. Em resumo, e a opm1ao, tal como e observada, e nao a opiniao publica .como poderia ser, que afeta de varias maneiras as decisoes das autoridades se e que nao as determinam.
OBSERVABILIDADE DA OPINIAO PUBLICA PELOS INDIVfDUOS QUE DECIDEM Tem side freqiientemente observado que a "opiniao publica" deve ser uma opiniao informada, a fim de ser bem fundamentada, isto e, orientadu para as realidades da situagao. Isso nao esta em discussao aqui. 0 que mais nos interessa e a questao correlativa de como a estrutura social pmporciona aos individuos investidos de autoridade, as informagoes de que necessitam :1cerca do est ado da opiniao publica, pois a opiniao publica e importante, euquanto afeta 0 curso real dos neg6cios i'Ublicos, e proporciona uma estrutura de referenc-ia para as decisoes das pessoas que tem autoridade, sempre na medida em que possa ser observada. Evidentemente, os "grupos de pressao" organizados proporcionam a base mais conspicua para a observabilidade do estado ostensivo da opinilio. Na verdade, 0 grupo de pressao pode ser concebido como um dispositivo organizacional destinado a trazer certos interesses, sentimentos e pontos de vista, a atengao dos influentes, dos detentores de poder, e das autoridades, e para tornar claras as conseqiiencias da nao confo~idade com eles. 0 funcionamento dos grupos de pressao tern side extensamente estu. dado,93 e embora, sem duvida, muito faIta a ser aprendido acerea das condigoes sob as quais eles sac por varias forrnas eficientes, este assunto nao r: de interesse aqui. Antes, consideraremos a questao mais nebulosa de como as varias especies de maquinaria social influem na observabilidade dos interesses, sentimentos e orientagoes desorganizadas. 0 que ainda e mal conhecido e exige estudos ulteriores e, em parte a conduta expressiva, em parte a conduta instrumental de grandes coletividades freqiientemente desorganizadas e os procedimentos padronizados para tornar esses sentimentos e interesses visiveis aos detentores do poder.94
93. Uma reVlsao completa e a analise desses estudos e fornecida por V. O. Key, Politics, Parties and Pressure Groups (Nova Torque: Thomas Y. Crowell, 1952, 3~ ed.). 94. Evidentemente, ha uma. antiga tradi9ao de pensamento dedicada ao problema do modo de fazer ouvir a voz do povo, particularmente no ambito da politica. Ha taombem algo que quase chega a ser tradi9ao, de pesquisas emplricas ad2Tca deste assunto, sendo n parte que mais conhe90 a que foi elaborada pelo Escrit6rio de Pesquisa.s Sociais Apli· cadas, da Universidade de Columbia. Inicialmente, tais estudos se focalizaram sabre as comunica96es procedentes dos frequentadores de aUdit6rios, dirigidas aos que dependem de ter um aUdit6rio, por exemplo, Jeanette Sayre, "Progress in radio fan-mall analysis", Public Opinion Quarterly, 1939, 3, 272-278. Isto foi mais tarde ampliado a fim de incluir analises sistematicas da correspond en cia dirigida a repre~entantes politicos,
A propria vida social m:ganizada gera motivagoes para criar dispositivos sociais que possam fo:'necer urn grau funcionalmente adequado de observabilidade. Numa extensao apreciavel, os deten totes da autoridadc sac motivados a descobert~, dos valares, normas, interesses e comportamentos dos outros grupos, a fim de que suas decisoes possam levar em conta tais circunstancias, da mesma forma que, em certa medida, os que pertencem as fileiras do grupo sac motivados em tornar seus va16res, llormas, interesses e comportamento, conhecldos dos orientadores, autorizados das diretrizes sociais, a fim de que sejam levados em conta. (E apenas sob condigoes especiais que as camadas sociais sac motivadas a bloquear tal observabilidade). Porem, as motivagoes nao sac suficientes para produzir 0 evento. A organizagao social deve propor-cionar a maquinaria que far a com que essa informagao chegue a atengao dos estratos autoritativos apropriados Os procedimentos socia is e ()S dispositivos que servem a essa fungao tern sido os mais variados, do ponto de vista historico. Eles tem variado desde 0 usa do espiaf e "perito em opiniao publica" tal como Barere, pela por exemplo, Herta Herzog e Rowena Wyant, "Voting via the senate mailbag", Public Opinion Quarterly, 1941, 5, 358·382; 590·624. Em 1948, foi preparada uma monografi:> completa, porem ainda nao publicada, a analise de uma, amostra de 20.000 cartas, cartoes postais e telegram as dirigidos a Dwight D. Eisenhower, grande parte da qual Ihe pedia que, apesar de sua, anunciada relutancia, se candidatasse a reelei~ao ao cargo d" presidente dos Estados Unidos: Robert K. Merton, Leila. A. Sussmann. Marie Jahoda e Joan Doris, Mass Pressure: The 1948 Presidential Draft of Eisenhower. Leila A. Sussmann agora esta tra,balhando num estudo pormenorizado da correspondencia dirigida a Franklin D. Roosevelt; uma parte deste estudo foi publica do sob 0 titulo, "FDR e a correspondencia da Casa Branca", Public Opinion Quarterly, 1956, 20, 5-16. ver tambem 0' trabalhos que seguem no mesmo exemplar dessa. revista trimestral, sob 0 titulo geral, "Communication ta the policy·maker: petition and pressure". A inven~ao de inqueritos de opiniao publica proporcionou ~a nova e crescente· a,ra a abservabilidad.e mente utilizada via de comunica~ao, embora ainda imperfeita, da opiniao e do comportamento das massa,s. 0 exame detalhado d ste assunto nos afastaria demasiado do nosso objetivo. Encontram·se estudos pertinentes ao uso dessas investigao!
policia n~poleanica, ate a pesquisa de opmlao publica dos tempos mode!nos. Porem, embora tais meios hajam varia do em car:Her organizaciona\ e em. propositos especificos, tem sldo constante a fungao de fornecer as autondades com alguma imagem do predominante "estado de opm'." lao," POlS mesmo quando as autondade.s procuram embair ou reformular os interesses e va16res de seus eleitores, sem falar nos casos em que as autoridades desejam agir de acardo com as expectativas do povo, e interessantA, senao imDeratlVo, conhecer quais sac essas expectativas. Qualquer que seja a forma da organizagao - ditatorial ou democratica - um grau substancial de observabilidade das massas e um requisito funcional. A maquinaria da observabilidade difere nas diferentes estruturas sociais, mas, de aiguma forma, suas fungoes parecem ser universais na vida dos grupos. E claro que isto n13.oquer dizer que a fungao seja preenchida de modo uniforme e adequado. A historia mostra que as estruturas sociais complexas tiveram que se contentar com arranjos patentemente inadequados para tomar conhecidos as autoridades os sentimentos e valares de sua clientela. Muitas vezes, as autoridades tiveram que recorrer a adivinhagoes racionalizadas, baseadas sabre provas muito fragmentari.as. Jefferson, por exemplo, observa em sua Autobiograjia que os legisladores da Virginia haviam estudado um proj.eto de lei que prove ria para "uma emancipagao futura e geral dos escravos", mas "verificou-se que 0 espirito publico ainda nao apoiaria a proposta ... " Tambem Lincoln efetuou um esfargo corajoso, porem, afinaJ frustrado, de ler tadas as cartas que Ihe eram endere!:adas para a Casa Branca, a fim de saber 0 que pensava 0 pavo norte-americano. Desde entao, montes de correspondencia enviada aos presidentes norte-americanos tem cresci do constantemente, alcangando volume espetacular durante a presidencia de Franklin D. Roosevelt. 95 Na ausencta de uma maquinaria social para avaliar a importancia de urn grande volume de mensagens. a observabilidade pode diminuir, ao in· ves de aumentar. (Os teoricos das comunicagoes identificaram claramente 'Os processos atraves dos quais urn excesso de mensagens produz confusao). A narrativa feita por Sandburg dos esforgos de Lincoln em dar conta do cres~ente volume de documentos a ele dirigidos, pode servir como parabola Socio16gica de um excesso de mensagens :96 Nos primeiros meses da administra~ao de Lincoln ... ele lia cuidadosamente cada papel, do principio ao fim, observando: "Nunca assino um documento sem 0 ler antes". Mais tarde: "Nao quer a Sr. ler estes papeis para mim?" Ainda mais tarde, ele pedia imicamente "um resumo do conteudo". E no quarto ano de manda,to, sua rea~ao mais freqiiente era: "Mostre onde devo assinar"
Alem de organizar as vezes plebiscitos formais, as organizagoes grandes e complexas chegam a criar 0 equivalente funcional de urn plebiscito con· 95.
Sussmann, op. cit., 6·9, resume a prova no volume de correspondencia. Como exem· pia impressionante, sabe·se que 450.000 mensagens chegaram a Casa Branca durante a primeira semana do primeiro periodo presidencial de Roosevelt. , 96. Carl Sa,ndburg, Abraham Lincoln: The War Years, (Nova Iorque: Harcourt, Brace & Company, 1939), III, 414.
tmuado, parcial e nao compulsorio que, com variados graus de erro, serve para familiarizar as autoridades com os desejos da coletividade. OUtros. sim, como Sussmann aponta,97 as comunicac;6es das mass as para as au· toridades realizam outras func;6es alem das de servir como urn indice (imperfeito) do sentiment a publico. Quando s800judiciosamente empregadas, servem tambem para fortalecer a m800de algumas autoridades em conflito com outras. Par exemplo, a governo de Roosevelt usou magistralmente desta arma organizacional. Quando terminou a C.W.A. ("Civil Works Adminis· tration" - Administrac;8oode Obras Civis) mais de 50.000 cartas c 7.000 telegramas foram enviados a Casa Branca protestando contra essa decis8oo. e como dizia Sherwood, tais manifestac;6es "nao podiam ser ignoradas".98 Da mesma forma, as autoridades, que em tadas as organizac;oes e nao apenas nas politicas, tern a responsabilidade de relac;6es externas, podem sacar sabre as sentimentos manifestados pelos seus eleitores, a fim de apoiar suas diretrizes de politica externa. 99 Finalmente, esta especie de observabilidade proporciona a comunicaC;8oodireta com a mais alta autoridade, sem enfraquecer a autoridade dos intermediaries. 100 Este rapido esbac;o lios moldes de comunicac;ao que surgem para preencher, pelo menos em parte, 0 requisito funcional da observabilidade ou visibilidade, evidentemente n800diz tudo. Mas pode sublinhar 0 ponto prin~ipal, n800menos importante por ser obvio, de que a teoria dos grupos de referencia deve englobar, si,stematicamente, a varil1vel da observabilidade
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97. Urn resumo instrutivo das multiplas funQoes de tal correspondEncia em massa, en· contra.-se em Sussmann, op. cit. Uma explanaQao crltica e programatica da necessidade de estudar a opiniao publica, na maneira em que "ela influencia aqueles que extraindo-lhes as conseqtiencias, tern que providenciar" encontra-se em Herbert Blumer, "Public opie no nion and public opinion polling", American Sociological Review, 1948,13, 542-549, estudo de tal trabalhc1 por Theodore M. Newcomb e por Julian Woodward, 549-554. 98. Robert E. Sherwood; Roosevelt and Hopkins: An Intimate History (Nova Iorque: Har· per & Brothers, 1958),56. ~ 99. Urn exemplo entre muitos, consta no relato de Sher ood, sabre as cOnferE!llcias de Hopkins com Stalin, ap6s a morte de Roosevelt. Hop. ins salientou 0 import ante papel do "estado geral da opiniao americ2",a", no afetar as diretrizes correntes das relaQoes exteriores e continuou assegurando a Stalin "com tada a sinceridade a seu alcance que este corpo de opiniiio publica norte-americana"~ que tinha sido 0 apoio constante das diretrizes de Roosevelt, estava seriamente perturbado acerca de suas relaQoes com a Russia. Com efeito, nas ultimas seis seman2.s a deterioraQao da opiniao publica [nao se diz como foi avaliadaJ tinha side tao seria que chegou a afetar de modo adverso as relaQoes entre os nossos dois paises. Mr. Hopkins disse que nao er2, tao simples, ou tao faci!, indicar as razoes exatas desta deterioraQao, mas necessitava salientar que sem 0 apoio da opiniiio publica e p2,rticularmente dos partidarios do Presidente Roosevelt, 'seria muito dificil que 0 Presidente Truman levasse adiante as diretrizes do Presidente Roosevelt". Ibid., 888-889. 100. Sussmann, op. cit., 12. "Talvez a principal raziio pela qual Roosevelt dava tanto valol iJ. sua correspondencia, era que ele a considerava como uma de suas melhores linhfo'l de comunlcaQao com 0 'povo comum'·. ~Ie estava bem a par das distorQoes que "s elites impoem sabre os meios de comunicaQao das massas ("mas media,") ... Elle estava ciente das IimitaQoes dos canais oficiais de informaQao. Frances Perkins cita-o como tendo Ihe dito certa vez: " ... os canals oficials de comunlcaQao e de informaQao sao freqtientemente demasiooo ngidos... As pessoas Que fazem tais pesquisas raramente se aproxirnam do homem da ma'''.
das normas, valares e desempenho de papeis, adotada nos grupos tornados como sistema de. referencia. Ate agora, as estudos do comportamento dos grupos de referencia tern negligenciado bastante esta variavel. No maximo tais estudos tern incluico provas sabre as percepc;6es das normas e valO~ res em grupos de referencia potenciais; tern tambem, porem com menor frequemcia, incluido a contrapartida sociologica dos arranjos estruturais que influenciam a maior au menor validade de tais percepc;6es, entre as pessoas situadas em varias posi<;6es, na estrutura da cornunicagao. As duas linhas tle investigac;ao se desenvolveram em grande parte de modo indcpendente, e uma das utilid3cdes da teoria dos gnlpos de ref.erencia pode ser a de reuul-Ias e consolida-Ias.
A INCONFORMIDADE COMO TIPO DE COMPORTAMENTO DO GRUPO DE REFERENCIA Em vanas passagens do capitulo anterior e nas primeiras partes deste, tBm side sugerido que a cornportamento conformista e a n800·conforrnista podem ser adequadamente descritos, e tarnbem analisados, apenas se tal comportamento far relacionado aos grupos a que se pertence e aos grupos a que n800se pertence, tornados como referencia normativa e avaliativa. For exernplo: " ... no vocabulario da sociologia, a conformidade social usualmente denota conformidade em relaC;8ooas norrnas e expectac;5es correntes no proprio grupo de filiaC;8oodo individuo, isto e, grupo a que ele pertence. " [E, conforme ternos vista] a conformidade com as normas de urn grupo externo (ou extragrupo) e assirn equivalente ao que e cornurnen· te denorninado "inconformisrno", isto e, nao conforrnidade com as normas do intragrupo". (346-347) Conforme foi observado, isto da origem a "duas quest6es inter-relacionadas. .. quais sac as conseqtiencias funcionais e dis· funcionais, da orientac;8oopositiva para os valares de um grupo diverse do proprio? E mais, quais os processos sociais que iniciam, sustentam, ou desviam tais orientac;6es ?"347. Desde a primeira edic;ao deste livro, tendo reexaminado aquela semen· teira de ideias sabre 0 que agora e denominado cornportarnento do grupo de referencia - Capitulo 8 da obra de Cooley, Human Nature and the Social Order, - e constatei que, ja em 1902, Cooley concebera a inconformidade em termos bastante aproximados. Em um dos dois principais aspectos -' sendo 0 outro aquilo que e descrito como "impulso rebelde ou 'sugestao contraria' ", isto e, urn trac;o de personalidade de negativismo ou alienaQ80D - a inconformidade "pode ser considerada como conformidade mais afastada. A rebeliao e apenas parcie.l e aparente; e aquele que parece esta,r fora de passe com a procissao, esta realmente man· tendo 0 compasso de outra musica. Conforme disse Thoreau, ele esta ouvindo outro tambor. Se urn rapaz se recusa a seguir a profissaO' que seus pais e a.migos julgam ser a meIhor para (~e, e persiste em trabalhar em alguma coisa estranha, e rantastica, tal como a
arte, ou a ci{mcia, certamente sera porque sua vida mws sentida nao e absolutamente a que leva com aqueles quc est&o em seu derredor, mas com os mestres que {He conheceu atraves de livros, ou talvez viu e ouviu por alguns momentos. o ambientc, no sentido de influencia social realmente em a~ao, esta longe de ser a COiS3 definida e obvia que freqiientemente se supoe. Nosso ambiente real consiste daquelas 100~ imagens que estao mais presentes em nossos pensamentos, e no caso de uma mentalidade vigorosa e um crescimento, tais pensamentos provavelmente serao inteiramente diferentes daquilo que esta mais presente aos sentidos. 0 grupo ao qual damos nossa lealdade, e a cujos padr5es procuramos nos conformar, e determinado por nOSsa propria afinidade seletiva, que escolhe entre todas as influenc~as pessoais' acessiveis a nos; e oa medida em que fazemos a nossa esc.olha com alguma independencla de nossos companheiros imediatos e palpavcis,
temos
a aparencia
de ser nao confonnistas.
Toda a inconformidade que seja afirmativa ou construtiva devc agir atraves dessa csco· ilIa de rela~oes mais remotas, a oposi~ao em si e esteril e nada significa alem de uma pe· culiaridade pessoal. Nao ha, portanto, uma Iinha defiuida entre a conformidade e a nau conformidade; ha simplesmente urn modo mais ou menos caracteristico c nao-usual de cscolher
e combinar
as influ,lencias
acessiveis".
101
Qualquer que seja a hist6ria deste conceito de inconformidade, parece agora que €lIeproporciona uma base para a consolidaQao da teoria do "com100a. Isto e claramente uma. exagera9ao do caso, suficientemente extremada a ponto de quase se retificar por si mesma. Procurando sa,lientar a ideia, muito necessaria no) tempo em que {He estava escrevendo, de que 0 ambiente social nao consiste s"mente das pessoas com que 0 individuo esta em intera9ao direta, Cooley se coloca no outro extremo, nao melhor sustentavel, de afirmar que este ambiente consiste de nada mais do que imagens de outros homens e outros pa,dr6es. Urn ingenue objetivismo nao pode ser retificado por urn subjetivismo igualmente ingenuo. Contudo, e evidente, do resto de seus escritos, que Cooley, na pratica, nao subscrevia os mandamentos lite. rais do extremo idealismo que ele expressa nesta passagcm. 101. Charles H. Cooley, Human Nature and the Social Order, (Nova Iorque: Charles Scribner's Sons, 1902; reimpr-esso pela The Free Press, 1956), 301-302,e 0 todo do Ca.pl· tulo 8, intitulado "Emula9ao". Grifei as partes desta passagem que se reiacionam de 0 que Cooley assevera ali, modo mais direto com a teoria dos grupos de referencia. como fa,to, desde entao se transformou numa s&rie de problemas que estao recebendo estudo emplrico. Dizer que a teoria dos grupos de referencia e em parte uma redescoberta daquilo que durante muito tempo havia permanecido incultivado nestas notaveis paginas dc Cooley, seria uma interpreta9ao correta, da historia antecedente da ideia dos grupos de referencia. Porem, seria urn erro diZ~ que a teoria. dos grupos de referencia uada mais e que essa redescoberta: A circu stancia de que ideias e insinua96es fecun· das perma.necem Improdutlvas ate que 0 urso do desenvolvimento intelectual Ihes confira novas signiIica96es, e urn episodio familiar na hist6ria do pensamento hum?no. Na realidade, as redescobertas ocorrem precisamente por esta forma.: uma acuml1la9ao de conhecimentos cientificos resulta em tornar claramente relevantes algumas ideia.s e observa90es existentes ha longo tempo em impressos de dominio publico. Contudo, eram ignoradas em grande parte, porque sua relevancia nao era evidente, e, na situa9ao anterior da disciplina, nao podiam facilmente ter sido evidentes aos observadores talvez ma,is sabios, porem menos informados, daquele tempo. Neste senti do razoavelmente estrito, tais ideias estao situadas "adiante de seu tempo". Mais de tarde, quando elas podem ser Iigada.s a outras ideias e outros aparelhamentos pesquisa, que no entretempo se hajam desenvolvido, elas tomam nova significa9ao. Isto deveria tornar claro que ao tomar conhecimento da,s observa90es de Cooley, por longo tempo desprezadas - tais paginas, tanto quanto seja do meu conhecimento, nao foram ponto de partida de uma investiga'9ao sustentada e cumulativa; desde qu~ foram pUblicadas - nao pretendo diminuir as reaiiza90es dos cientistas atuais, que a teoria dos grupos de refelfl1cia,. Nao pretendo desenvolveram independentemente fazer 0 jogo dos "sombreadores", negando merito aos Pedros de hoje para homenagear
portamento desviado" (em parte 102 como foi descrita nos Capitulos VI e VII que tratavam da anomia) e da teoria do comportamento dos grupos de re: ferencia, uma vez que a inconformidade e concebida como sendo tipicamente a c01!formidade com os val6res, padr6es e expectaQ6es dos outros individuos e grupos tornados como referencia, torna-se ela diferente de outras formas de comportamento desviado. 0 inconformismo verdadeiramente "pessoal", inteiramente desligado do passado, do presente, ou dos grupos de referencia realisticamente possiveis, e aquilo que os psic610gos tern identificado como "autismo", ou seja, 0 pensamento e a aQao caprichosos, bastante distanciados da realidade externa. 103 Nao e 0 inconformismo individual, mas antes 0 inconformismo publico 0 que aqui nos interessa. Quando 0 inconformismo representa conformidade para com os val6res, padr6es e prllticas de uma condiQao anterior da sociedade, que ainda perduram mas nao sac aceitos uniformemente, e frequentemente descrito como "conservadorismo". Pejorativamente, e algumas vezes com exatidao, e descrito como "reacionario", particularmente quando constitui urn esforgo para reintroduzir va16res e praticas que tinham sido substituidos ou sin:plesmente haviam caido em desuso. Quando 0 inconformismo representa a conformidade com os valores, padr6es e praticas que ainda nao foram institucionalizadas, mas sac consideradas como constitutivas do sistema normativo de futuros grupos dE' referencia, e frequentemente descrito come "radicalismo". Pejorativamente, e algumas vezes com exatidao, e descrito como "utopismo", particularmente quando se acredita representar urn esta.do perfeito da sociedade, impossivel de ser atingido_ 104 Porem. desde que as etiquetas sociais e polfticas tais como essas, tern mais do que uma funGao puramente descritiva, sac raramente usadas como designaQ6es objetivas, porem, vem a ser atribuidas a varios tipos de inconformismo. Nestes termos, a teoria dos gropos de referencia exige uma distinQao constante entre as varias especies de conduta ctescrita palos soci610gos como "conduta divergente". 0 que aqui esta sendo classifieado como "inconformidade", ou "inconformismo" em seu senti do hist6rico consagrado, poos Paulos dos primeiros dias. Estas observac6es se destinam somente a. indicar uma descontinuidade no desenvolvlmento desta teo;ia, a qual, como agora podemos ver, em retrospecto, envolve uma Ia.cuna de quarenta anos ou mais. 102. Nao fa90 cita9aO de outros trabalhos que recentemente tern desenvolvido a teoria do comportamento desviado, porque os mesmos foram examinados, com alguns pormeno· res, nos capitulos anteriores. Contudo, deve-se dizer que 0 capitulo devotado ao "com· portamento desviaodo e os mecanismos dos con troles sociais" na obra de Parsons, The Social System, fornece uma base substancial para a especie de consolida~ao te6riea que esta sendo proposta. Na verdade, em urn ponto daquele capitulo (292 n.), Parson. faz uma alusao antecipat6ria a "urn de diversos pontos em que a teoria dos 'grup0s de referencia' se torna de gra.nde importancia para a analise dos sistemas sociais". Por&m tal consolida9iio nao e 0 trabalho de urn dia, e exigira os esfor90s concorrentes de muitos, antes que possam ser realizadas as suas perspectivas. autistico na teoria da psicologia social foi exam in ado por 103. 0 luga.r do pensamento Theodore Newcomb, Social Psychology, 101-103; 287-294; 303-30l. 104. Compare-se 0 relato das mentalldades ideol6gicas e ut6picas, feito por Karl Mannheim, Ideology aud Utopia, (Nova Iorque: Harcourt, Brace & Co., 1936), especial mente nas paginas 173-237.
de facilmente ser distinguido de outras especies de comporr.amento desviado, tais como (a maior parte) da criminalidade e da delinquencia. Estas especies de "conduta divergente", diferem estrutural, cultural e funcionalmente.104a Portanto, nao se pode pressupor que t6das elas estejam adequadamente compreendidas num unico conceito de "condut.a divergente"; isto e assunto para investigac;oes e nao para suposigoes. A primeira vista, 0 comportamento do inconformista e do delinquente podem parecer estruturalmente identicos. Em ambos os casos, eles nao estao vivendo conforme as expectac;oes moralmente enraizadas dos outros com quem estao comprometidos num sistema de situac;oes e papeis entre· lac;ados. Em ambos os casos, tambem, os demais componentes do sistema social agirao de maneira a procurar que os "dcsviados" voltem a atuar de acordo com as expectativas consagradas. Quaisquer que seja-m as diferenGas que possam existir entre os dois, sac frequentemente obscurecidas, pois, muitas vezes 0 inconformista e taxado de criminoso. Nao obstante, por baixo dessas analogias superficiais existem profundas diferenc;as. Em primeiro lugar, 0 inconformista, ao contrario do criminoso, nao procura esconder seu afastamento das normas predominantes do grupo. Pelo contrario, ele torna publico seu desacardo. Isto se articula com uma segunda diferenc;a: 0 inconformista desafia a legitimidade das nor-mas e das expectativas que rejeita, ou pelo menos discute sua aplicabilidade a certas situac;oes; 0 delinquente, em geral, reconhece a legitimidade das normas. Nao costuma alegar que 0 roubo e born e que· 0 homic.idio e mal)ifestac;ao de virtude. Apenas acha conveniente ou expressivo de seu esta0.0 de espirito, violar as normas ou fugir delas. Em terceiro lugar, e de modo correlato 0 inconformista objetiva mudar as normas do grupo, substituir aquilo que ele toma como norm as moralmente ilegitimas, por normas que tenham uma base moral diferente. 0 delinquente, ao contrario, procura apenas escapar ao cumprimento das normas existentes no momento. 0 inconformista apela tipicamente para uma "moralidade mais alta", ao passo qUt, como expediente para sua defesa, 0 criminoso apela para circunstancias atenuantes. Finalmente, e de modo crucial, 0 inconformista, de modo relutante e subconsciente, pressupostamente se separa das norm as predominantes devido a motivos total ou parcial mente desinteressados; enq'..lanto isto, 0 pressuposto das ac;oes do criminoso, em desviar-se das normas, e 0 de servir a seus pr6pri~ interesses. As anteriores earacteristicas dos dois, tendem a salientar estas ~iferentes suposic;oes. Gonhecendo as conseQuencias punitivas que seu comportamento publico colocara em movimen· 104a.. As diferen~as tern sido indicadas no quinto tipo de adapta~ao em rela~ao 11 anomia, identificada no paradigma estabelecldo no Capitulo VI, 0 qual Indica que tanto os objetivos cultUlais rein antes como os meios institucionais sao repudiados, e suplan. tados por novos val6res que sao compartilhados e aos quais se reconhece legitimlda.de. (Paginas 213, 229-230). Uma ulterior dlscussao deste ultimo tlpo de "comportamento 'desviado" encontra-se em Katherine Organski, Change in Tribal South Africa (tes~ inedita de doutoramento, Universidade de Columbia, Departamento de Sociologla. 1956).
to, 0 inconformista age, nao obstante, de acardo com seus sentimentos e va16res; conhecendo as consequencias de suas ac;oes, 0 criminoso faz t.odos os esforc;os para fugir delas, ocultando suas infrac;oes do conhecimento do publico. No dominio cultural, igualmente, 0 inconformista e 0 criminoso diferem oasicamente (deve-se repetir, mesmo quando a sociedade, como urn derra. cleiro recurso de contrale social, rotula 0 inconformista como "nada mais" flue urn criminoso. Efetivamente. apesar das definic;oes publicas e das aparencias, sente·se de modo geral que 0 inconformista, de convicC;ao politica, religiosa ou etica, e urn individuo muito melhor do que urn simples criminoso) . Em term as de teoria sociologica, as diferenc;as entre 0 plano <-ultural e 0 plano da estrutura social (ao qual nos temos referido nos paragrafos anteriores), sac fundamentais, mesmo quando obscurecidas pelo fate de que os mesmos complexos hist6ricos de comportamento tenham c-orrelac;oes para ambos. Sem entrar em detalhes acerca desta materia, pois isso nos faria desviar ainda mais do nosso tema. podemos pelo menos apontar os diferentes niveis de analise que ambas representam. No plano da estrutura social, 0 comportamento inconformista e outros comportamentos desviados ativam os mecanismos de contra Ie social par parte daquelas pessoas que estao envolvidas em redes interligadas de situac;ao social e de papel social com os "desviados". A falha destes ulti· mos em viver conforme as expectativas dos demais com quem estao em relac;ao direta constitui uma experiencia punitiva para eles, os quais POl' sua vez reagem penalizando-o por seus afastamentos das expectac;oes de papel estabclecidas. Entao, num senso import ante, os companheiros de papel do desviado tendem a se comportar em termos, de seus pr6prios interesses,- a desviado torna a vida miseravel ou difioil para eles, e assim f,rocuram recoloca-Io na linha, cOm 0 resultado de qtle eles possam prosseguir em seu andamento normal de vida. No plano cultural, este mesma comportamento por parte dos membros "ortodoxos" do sistema social ocorre, mesmo quando eles nao estejam diretamente ligados em urn sistema de relac;oes sociais com a desviado. Sua reaC;ao hostil para com 0 desviado, neste sentido bastante estrito, e desinteressada. Eles tern pouco ou nada a perder com a afastamento dele das normas estabelecidas e das expectac;oes dos papeis; de fato, a propria situaC;ao deles, ortodoxos. nao e aprecii'tvelmente danificada pelo "mau comportamento" do inconformista. Nao obstante, eles tambem reagem com host1lidade, pois tern assimilado as normas morais que agoraestao sendo violadas e experimentam 0 comportamento que de fato repudia essas normas, au ameaga sua valid~de social continuada, como uma negaC;ao do valor daquilo que eles e seus grupos consideram de alta estimaC;ao. A forma que tais represalias tomam e bem descrita como "indignaC;ao moral", ou seja, urn ataque desinteressado contra aqueles que se separam das normas do grupo, mesmo quando tais afastamentos nao
interferem com 0 desempenho dos proprios papeis, urna vez que quem reage e direta e socialmente relaCionado com a desviado.105 Nao fasse par este reservatorio de indignaC;ao moral, as mecanismos de contrale social seriam severamente limitados em sua operac;ao. Seriam c:onfinados samente a ac;ao das pessoas que fassem diretamente pastas em desvantagem pelo comportamento inconformista e desviado. Contudo, na realidade, a indignac;ao moral e a oposic;ao desinteressada a inconformidade e ao comportamento desviado servem para emprestar maiar farc;a aos mecanismos de contrale social, pois nao so a numero relativamente pequeno de pessoas diretamente atingidas pelo desvio - par exemplo, as pais da crianc;a raptada - mas tambem a coletividade maior, aaerente c!as normas culturalmente estabelecidas, sao ativadas a fim de fazer que () desviado (e par antecipac;ao, outros desviados em perspectiva) seja traziclo tle volta a linha adotada. No plano cultural, 0 inconformista, com seu apelo a favor de uma moralidade mais alta, em circunstancias historicas propicias e de modo diferente do que sucede com a simples delinqtiente, pode aproveitar-se do deposito Jatente de indignac;ao moral. Em alguma medida, sua inconformidade atrai, seja os valares morais de uma epoca anterior, os quais foram perdidos rie vista, ou os valares morais de uma epoca que esta no futuro. Ele tern assim a probabilidade, senao sempre a certeza, de conseguir 0 apoio de outros membros da sociedade, inicialmente menos corajosos e arriscados. Seu inconformismo nao e uma infrac;ao privada, mas urn impulso em direc;ao a uma nova moralidade (au a restaurac;ao de uma velha e quase esquecida moralidade). Em suma, ele apela para urn grupo de refe105. A explicagao racional da indignagao moral foi enunciada cHtssicamente, embora no vocabuh\rio a.rcaico da Lei Natural, por Hobbes, no Capitulo XV do Leviathan: "Novamente, a Injustiga das Maneiras, e a disposigao, ou aptidao a fazer ofens a ; e e Injustiga antes que se passe aos Atos: e sem supor qua.lquer pessoa individual ofendida. Porem, a Injustiga dos atos (isto e, Ofens a) , sup6e urna pessoa individual ofendida; especialmente aquHe, em relagao a quem foi feita a Convengao: e, portanto, muitas vezes a ofensa e recebida por urn homem, quando 0 dano atinge outro. Como quando 0 patrao ordena a seu empregado dar dinheiro a um estranho; se tal nao fOr feito, a ofens a e feita 11.0 patrao com quem ele haVla combinado obedecer; mas 0 dauo atinge 11.0 estr2o!lho, em relagao a quem ele nao tinha obrigagao; e portanto, nao the podia causar ofensa. E assim tambem nos Estados, os individuos particulares podem perdoar suas dividas uns aos outros; mas nao a.ssim roubos ou outras violencias, pelas quais eles sejam prejudicados; porque a falta de pagamento de Divida, e uma afensa. aos interessados: porem 0 Roubo e a VioJencia, sac Ofens as it personalida.le do Estado". :li:ste e 0 caso da objegao desinteressada it violagao das normas. testemunho do autor, ernbora isto seja apenas urn escasso Conforme 0 p:ro~o comego de investiga~es acerca. do assunto, 0 locus classicus da teoria da indignagao moral e a obra de Svend Ranulf, Moral Indignation and Middle Class Psychology (Cope· clam, nha.gue: Levin & Munksgaard, 1938). Conforme Ranulf lerna abundantemente seu proprio trabalho provern em descendencia sociologica direta, da teoria funda· mental a respeito da. agao da indignagao moral proposta, da maneira a mais influente, senao pela primeira vez, por Emile Durkheim. A precedente monografia sabre estc assunto, POl' Ranulf, tambem deve ser consultada: The Jealousy of the Gods and Criminal Law at Athens: A Contribution to the Sociology of Moral Indignation (Copenha· gue: Levin & Munksgaard; Londres: Williams & Norgrate Ltda., 1933), 2 vols.
rencia passado ou futuro. Ele reativa urn conjunto esquecido de val' -t· . ores, padroes e pra !Cas, ou atlVa urn conjunto que nao est a tisnado par concess6es existentes e compromissos Ulceis com as realidades correntes .. Em tudo isso, 0 incon.formista esta muito distanciado do criminoso puror que nada tern de antigo para restaurar e nada de navo a sugerir, masprocura satisfazer seus interesses particulares au expressar seus senti. mentos pessoais. Embora 0 direito oficial nem sempre fac;a a distinc;ao em termos da dinamica cultural, 0 inconformista e 0 criminoso comu~ estao situados em polos opostos.
o que foi dito de modo resumido acerca dos pIanos cultural e social-estrutur~l do comportamento criminoso e do inconformismo, evidentem_e~te nao a~range t6da a historia; pode bastar, porem, para nossos proPOSltoS Imedlatos. Ambas as especies de afastamentos das normas do pupo podem ser e tem sido descritas como "comportamento desviado" _ e numa primeira e vaga aproximac;ao, isto nao est a errado - mas, nos pIanos de estrutura social e de cUltura, sao, todavia, distintos, numa anro. ximac;ao mais exata. Agora e possivel sugerir que eles diferem car~~i;eristicamente tambem no plano da personalidade. Nao ha duvida que as personalidades daqueles que encabec;aram movimentos de nao.conformismo histaricamente significativos podem, ocasionalmente, tel' mais do que uma semelhanga passageira com as personalidades daqueles que se entregam a crimes grandes ou pequenos, POl' interesse proprio; porem, salientar essas semelhangas ocasionais e superficiais, a custa das diferengas caracteristicas e bem assentadas, seria declarar a falencia intelectual da psi co· logia academica. Embora a psicologia possa parecer pronunciar-se em senti do contnlrio, aqueles corajosos salteadores de estrada da Inglaterra do seculo XVII, John Nevinson e seu bastante decantado sucessor Dick 'lurpin, nao eram iguais ao corajoso inconformista, Oliver Cromwell. E Se as simpatias polfticas au religiosas de cada, urn servem para tOl'nar isto evidente POl' si mesmo, sem demonstragao, ainda assim sera conveniente reexaminar as juizos historicos que fariam de Trotsky ou de NehrU! pouco mais do que criminosos com apreciavel quantidade de simpatizantes. E possivel que as motivag6es inconscientes de alguns inconformistas se assemelhem as dos simples criminosos. Em ambos as casos, a comportamento pode ser compulsivo, destinado a expiar urn sentimento pessoal de pecado. A violagao das normas existentes pode servir para legitimar o ate inculpado, compartindo-o com outros. Nao obstante, desde que as normas sociais que estejam sendo violadas sac funcional e inteiramente distintas, nos casos do naoconformista e do criminoso, a significac;ao psicologica da violagao tambem e diferente. Assim como 0 esquema conceptual da sociologia pode, numa primeira aproxima!{ao ser tao grosseiro a ponto de reunir, sem distingao, a nao conformidade com normas consagradas', porem suspeitas com 0 afastamento das normas fora de suspeita, assim 0 esquema conceptual da psicologia, com suas ideias de culpa, de mecanismos de defesa, de formac;ao de reag5es, e outros semelhantes, podem manchar diferengas basicas, atribuindo comportamentos social-
mente dispares a mesma "gaveta" motivacional. E evidente que isto significl:!, colocar 0 problema, mas nao resolve-Io, mas isto pode tel' 0 merito te6rico de nos lembrar de que, na busca de generalizaQ6es acerca do comportamento humano, podemos nao raro ocultar ou desdenhar difel'enQas significativas de comportamento. Fazel' isto e incorrer na pratica intelectualmente discutivel do reducionismo. E cair na falacia de supor, como William James descreveu de modo inesquecivel, que "um quartet') de cordas de Beethoven e, na realidade. .. um raspar de cerdas de caudas de cavalos sobre tripas de gato, e pode ser exaustivamente descrito em tais termos ... " 106 o inconformista, historicamente importante, em termos de estrutura social, cultura e personalidade, e urn tipo diferente de desviado social. Conforme 0 antigo adagio de que "a melhor maneira de conhecer a natureza de qualquer coisa e examinal' os casos extremos", deveriamos observar 0 conformista extremado, que entra em sua trajet6ria publica de inconformismo, com 0 pleno conhecimento de que corre 0 risco (tao grande que e quase certeza), de que sua conduta seja severamente castigada pelo grupo. Esta especie de homem, num senti do bastante estrito. e urn martir, isto e, urn individuo que se sacrifica POl' principios. Ao .aderir as normas e va16res de algum grupo de referencia diferente do -grupo com cujas expectativas nao esteja de acordo, esta preparado para :aceitar, senao para acolher de born grado 107 as consequencias quase certas t? dolorosas da sua dissenQao. As fontes psicol6gicas do comportamento do martir sac uma coisa; seu carateI' sociol6gico, e algo diferente. Os motivos do martir podem ser 106. William James, The Will to Believe (Nova Iorque: Longmans, Green & Co., 1937), 76, ou, conforme James definiu a tese te6rica em termos mais gerais, e lan~a.r-se a "vi· cioso abstracionismo: urn modo de usar conceitos que pode ser assim descrito: Concebemos uma situa~ao concreta isolando alguma ca,racterlstica saliente ou importante dela, e classificando-a sob ta.l titulo, entao, ao inves de acrescentar a seus anteriores ca,racteres t6das as conseqtiencias positivas que podem ser trazidas pelo novo modo reduzindo 0 fenode concep~ao, continuamos a usar nosso conceito privativamente; meno ol'iginalmente rico as cruas sugest6es daquele nome abstl'atamente tomado, tratando-o como se fosse um caso de 'nada. alem' daquele conceito, e agindo como 3e das quais 0 conceito foi extraldo, fossem expungidas. todas as outras caracteristicas A abstra~ao, funcionando desta. maneira, torna-se urn meio de paralisar, ao inves de ser um meio de fazer progredir 0 pensamento. Mutila as coisas; cria dificuldades e en contra impossibilidade; e mais da metade das dificulda.des que os metaflsicos e 16gicos dao a si mesmos sobre os paradoxos e quebra-cabe~as dialeticos do universo, estou convencido que podem ser tra~ados ate esta. fonte relativamente simples. 0 uso viciosamente p~o dos caracteres abstratos e das classes de nomes, assim estou persuadido, e urn dos gran des pecados originais de. mentalidade racionalistica". Tal como os soci610gos e psic610gos tern ampla ocasiao de saber, esta fonte de dificuldades nao e confinada aos metaflsicos e 16gicos. William James, The Meaning of Truth: A Sequel to "Pragmatism", (Nova Iorque: Longmans, Green & Co., 1932), 249-250. 107.,Se demonstrasse que considel'a bem-vinda3 as conseqtiencias punitivas, €olepoderia set desdenhosamente descrito como procurando "transformar·se em martir". De uso co· mum muito tempo antes do advento de Freud, esta. expressao reflete 0 reconhecimen· to popular da possibilidade que a sUjei~ao ostensivamente desinteressada de si pr6prio
um ~u.alquer, dentro de grande variedade: uma expressao de predominallte r.~rc1s1~mo, a necess~dade de r~ceber castigo, urn desejo de dominaQ?o .at1va sobre uma reahdade extenor aparentemente intransigente, no interesse dos seres queridos. 108 Tudo isto pode ser verdade. Contudo dentro do contexto social, esse tipo de inconformismo implica uniforme:nente 0 repudio publico de certos va16res e praticas consagrados e a adesao a outros va16res e praticas, a custa de urn castigo quase inevitavel, inflingido pela sociedade. Funcionalmente, tal inconformismo pode servir para promover reformas sociais e culturais. A respeito, e interessante observar que as reaQ6es dos outros a este tipo de inconformista podem ser mais complexas do que uma aparencia declarada de pura hostilidade poderia sugerir. o inconformista declarado tende a ser olhado com sentimentos mistos de 6dio, admiraQao e amor, mesmo POl' aqueles que ainda se prendem aos valores e praticas que ele critica. Agindo as claras, em vez de secretamente, e sabedor de que esta sujeito a severas sanQ6es POl' parte do grupo, 0 inconformista tende a suscitar certo grau de respeito, embora {'ste possa ficar oculto sob grossas camadas de hostilidade declarada e odio manifestado pelas pessoas que percebem que seus sentimentos, seus interesses e sua situaQao estao ameaQados pelas palavras e atos de inconformista. A componente positiva da ambivalencia e 0 tributo pago a ('onduta desinteressada. Sente-se que 0 inconformista tem coragem, isto e. uma capacidade demonstrada de correr grandes riscos, especialmente ao castigo aplicado por outros, pode se transformar, sob ulterior analise, ou em a.utc-satisfa~ao, ou em rea~ao a uma necessidade psicol6gica "patoI6gica". S6mente em circunstancia.s socialmente moldadas e freqtientemente encenadas ritualmente, 0 carater masoquista pode ser admiriwelmente adequado ao efetiva desempenho do papel social. Porem, de maneira geral, transformar em virtude publica uma necessidade privaoda e ser considerado culpado de uma dupla infra~ao: pois est as a~6es reivindicam recom· pensa por uma. a~ao aparentemente desinteressada, mas realmente egoista, e rompem a mutua confian~a exigida numa sociedade estavel, pois lan~a duvida sobre a validade moral de condutas de outras pessoa.s, realmente desinteressadas. 108. 0 vocabulario da motiva~ao, con forme opiniao geral, deixa muito a desejar. Esta~ anota~6es nao devem sel' considel'adas na ideia de que os "motivos" SaD impulsos sepa,rados, cada urn dos quais "pl'oduz" sua forma distintiva de comportamento. Mesma sem 0 beneficio de uma teoria psicol6gica sistematica, Cooley teve algumas ideias gerais ace rea deste a.ssunto as quais sao, pelo menos, mais apropriadas hoje do que quando €ole as enunciou, ha duas gera~6es; POl' exemplo: "0 modo de falar de egolsmo·altrulsmo, falsifica os fatos no ponto mais vitaJ possivel, admitindo que nossos impulsos relativos a outras pessoas sejam repartidos em duas classes, os impulsos do Eu e os impulsos do Tu, da mesma forma que as pessoas fisicas sao separaveis; ao passo que um fato basico em todo 0 campo dos sentlmentos e a fusao de pessoas, de modo que 0 impulso pertence nao a urn ou a outro, mas precisamente ao terreno, comum que ambos ocupam, para seu intercurso ou convlvio". E acrescenta: " .. .'altruls. tieo' e usa.do para significar alguma coisa mais do que bondoso ou benevolente, alguma distin~ao psicol6gica ou moral entre este sentimento ou classe de sentimentos e o outro chamado egolstico, porem tal distin~ao parece que nao existe. Todos os sen· timentos sociais sao altruisticos no sentido de que envolvem referencia a alguma outra pessoa,; poucos sao tais no sentido em que excluem a pr6pria pessoa. A idei" de uma divisao nesta linha parece fluir de uma vaga presun~ao de que as ideie.s pessoais devem tel' uma separatividade correspondente ados corpos materlais". Cooley.
SociOlogia -
Teoria e Estrutura
c com finalidades altruisticas)09 Ate certo ponto, a coragem (embora tal. vez num grau menor) e reconhecida quando os homens Se expoem a grande3 riscos, mesmo com propositos de interesse proprio particular ou de outrem, como sucede no exemplo familiar do "criminoso audacioso" ou do "inimigo corajoso" que neste sentido, sac admirados mesmo quando se condenam a~ suas atividades, pois, desde que a coragem e potencialmente uma virtude social - isto e, funcional em relaQao a persistencia e desenvolvimento dos l!;rupos, de ac6rdo com os val6res finais - ela impoe respeito, mesmo :aaqueles exemplos complexos em que esteja sendo usada aparentemente, flaO a favor do grupo, mas contra ele. Esta breve revisao do assunto pode servir para esclarecer as diferenQas funcionais entre as duas especies de comportamento desviado. Sob eertas condigoes, a inconformidade publica po de ter as fungoes manifestas e latentes de alterar os padr6es de conduta e de val6res que se tornaram disfuncionais para 0 grupo. Outras formas particulares do comportamento desviado tern a fungao manifesta de servir aos interesses do desviado sob condigoes que foram parcialment~ identificadas por Durkheim, George Mead e Radcliffe-Brown, como sendo a fungao latente de reativar sentimentos do grupo que se tornaram tao fracos a ponto de nao mais serem reguladores efetivos do comportamento. Amontoar estas formas de con· duta funcionalmente (e nao apenas moralmente) diversas, no conceito unico de "comportamento desviado" e obscurecer seu conteudo sociologico. MinaI de contas, e Hcito supor que, ao contnlrio do que sucedera com a alma de John Brown, a de Al Capone nao exercera mais qualquer influencia. Ainda mais: Eugene V. Debs e Albert B. Fall, (Secretario do Interior do Presidente Harding, que se celebrizou com 0 escandalo de "Teapot Dome", e que demonstrou ser incapaz de custodiar com firmeza os dinhei· ros publicos), foram ambos metidos na cadeia, sob as leis da sociedade norte-americana, como culpados de "comportamento desviado". No enHuman Nature and the Social Order, 128,129·130. Poder·se-ia dizer que quando Comte cunhou 0 termo "aItrulsmo" e 0 definiu con forme 0 fez, ajudou a. criar a ilusao que Cooley procurou contrariar. 109. Exemplos disto podem ser evidenterr.ente multiplicados sem limite. Considere-se apenas 0 caso de John Brown, aquele traidor, assassino e corajoso fanatico, desejoso de morrer pela causa da liberdu!e, do modo como ele a entendia. Na estimativa de Carl Sandburg, "Brown tinha permanecido tao calmo e religiosamente contente de ~er enforcado em publico, perante todos os homense naQ6es, que nao podia ser levianamente esquecido dos pens2,mentos dos homens". E assim, 0 governador do Estatlo que 0 condenara a f6rca, depois de um julgamento justo, teve isto a dizer: "Brown 6 um feixe dos melhores nervos que jamais conheci, cortado e golpeado, sa.ngrando e acorrentado. E un:r-hQ..memde cabeQa clara, de coragem, de fortaleza,. E fanatico, vao e tagarela, mas firme,\verdadeiro e inteligente". Na medida em que 0 "comportamen· to desviado" e 0 que as normas e paodr6es da sociedade assim definem, evidentemente a definiQao dos aterrorizantes crimes de Brown difere daqueles cometidos por outros,. que eram apenas ladr6es de cavalos. Em seu relato deste grande ato de naoconformi~mo, Ca.rl Sandburg l> tanto historiador como porta-voz da cultura norte-americana' Abraham Lincoln: The Prairie Years (Nova Iorque: Harcourt, Brace & Co., 1926),il, 18&-195.
tanto, Harding, 0 expoente da normalidade, achou possivel libertar da cadeia 0 inconformista Debs, mediante urn tardio ate de clemencia presi. dencial, enquanto que 0 Presidente Coolidge, que se comprometera a reforQar a normalidade legal, nao encontrou possibilidade de indultar 0 desviado Pall. * A menos que se mantenha a distingao entre os tipos do comportamento inco'nformista e do desviado, conceptual e terminol6gicamente, a sociolagia, por inadvertencia, continuara no caminho que algumas vezes comeQOua trilhar, e tornar-se-a aquela ciencia da sociedade que, implicitamente, ve virtu de apenas na conformldade social. Se a .sociologia nao desenvolver sistematicamente as disting6es entre a estrutura social e as fungoes dessas diversas formas de comportamento desviado, estara com efeito, - embora, creio' nao deliberadamente, - concedendo urn premio ao valor que 0 grup~ atribui a observancia dos seus padr6es predominantes, e insinuando nue a inconformidade e necessariamente disfuncional para 0 grupo.110 No ;ntanto conforme tern sido salientado em diversas partes deste livro, nao e inco~um 0 caso de que a minoria inconformista de uma sociedade represente os interesses e va16res finais do grupo, mais efetivamente do que a maioria conformista. 111 Deve-se repetir que esta opiniao nao e urn juizo moral, mas funcional, nao uma declaragao de teoria etica, mas uma ~
N. do trad.: Eugene Victor Debs (1855·1926), chefe sociallsta e !ider trabalhista norteamencano fOI encarcerado por ter-se oposto atlvamente a participaQao dos E~t'ildOS -UnldOS n; Pnmelra Guerra MundlaI. Albert B Fall, como secretario do Intenor de negoclou dolosaWarren G. Harding (presidente dos Estados Unidos de 1920a 1923~,' mente a venda de uma jazida petro!ifera denominada "Teapot Dome que pe:tencla ao gov6rno norte-2,mericano. Foi processado, condenado a varics anos de prlsao e cum-
priu a pena. 1I0. 0 vaior cultural norte-americano do direito de discord?',r e profundamente estabelecido para que nao tenha nenhum efeito controlador sabre 0 comportamento, mesmo so~ condiQoes de tensao. Ern termos da sociologia do conhecImento,. a_ qual en~ara o. tra balho intelcctual como interligado por varias ma.neiras as condlQo:s SOCialSsubJacen· tes ha uma significaQao especial num grande estudo empirico d2.s forQas que favorecem . ceitaeao a rejeiQao e 0 apoio dos inconformjstas poIlticos e de outras espeCles. a a " d C' '1 L'b t· (Nova Iorque' Ver Samuel A. Stouffer, Communism, Conformity an IVI I er '~S, . .' Doubleday & Co., 1955),Esse estudo parte da. admissao de que tals tlPOS de mconformismo diferem significativamente de outros tipos de comportamento_ desvla~~. _ AleI!l disso, 0 mesmo se refere ao problema de descobrir as bases de aceltaQao e. reJelQao dos inconformista.s, problema que apenas foi tocado de leve nas p.agm~s antenores. TamMm trata deste assunto uma. recente experil!ncia soclol6glCa focallzada sObre o problema correlativo d2.s condiQ6es sob as quais a conformidade social e disfunCl.Onal. em relaQao aos propositos que 0 grupo escolheu. Ver Harold H. Kelley e. Martl~ M. Shapiro, "An experiment on conformity to group norms where confonmty IS detnmenta,l to group achievement", American Sociological Review, 1954,19, 667·677. 111. Leia-se 0 notavel reiato a respeito do inconformismo publico, na Hist6ria dos Estados Unidos, escrita pelo senador John F. Kennedy Profiles in Courage: Decisive Moments in the Lives of Celebrated Americans (Noval Iorque: Harper & Brothers, 1955). Contem 0 relato de oito senadores que recusaram a se conformar com as expectativas dominantes apesar de extremas press6es exercida.s sabre eles - press6es que envol· viam risco a suas carreiras pollticas, difamaQao sabre seu carater, e 0 repudio por seus eleitores. Orientados por grupos de referencia diversos daqueles que estavam no po-
Robert K. Merton
•
declaragao vez
de teoria
feita.
socio16gica.
provavelmente
que, usando
urn conceito
desviado",
negam
preceitos
sera
em
Finalmente, aceita
insuficientemente
sua
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e uma
pelos
mesmos
declaragao
diferenciado
socio16gica
aquilo
que,
observadores
uma
sociais
de "comportamento que
afirmam
em
a conduta, rermos,
das expectativas status.e
papel
culturalmente
seus
eticos.
relagoes
definidas
que
vando trou
ser
mais
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compreendem
que cada
e que, para
padronizadas
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pessoa
cada
uma
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primeira
recentes
sociais.
Linton
PAPEIS, GRUPOS DE STATUS E SEQUENCIAS DE STATUS
devemos
observar
que
mas
conjunto
de papeis
Tendo
examinado
diversos
de
mento social
dos dos
grupos papeis
portamento tal
dos
como
nas
de esbogar que
isto
volver Ralph -
algum
ocupada
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desvio
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temos
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tanto
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a teoria tempo,
Linton,
de uma 0
nao
Isto
dos
papeis
sociais
menos
desde
estrutura
tem-se -
social.
significava individuos;
sac
e do os
pequena mais
0 com-
tarefa
fazemos obriga
status
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e,
alem desen-
trabalhos dois
para
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e 0 papel,
num
conceitos
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sistema
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status
social.
no urn
Este
util,
e
ficou
nesta
Isto
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provado
primeira
as
obser-
mUltiplos
associado.113
conforme
com
prosseguiu
ocupa
papel
Contudo,
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Seu papel distintivo.114
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Linton
Nestes
as expectativas
padronizado
social.
um
posigao.
ligar
da
profundo
que
particular Esta
estrutura
0 assunto
envolve,
e uma pode
merece,
nao
s6
caracteristica
ser
urn,
basica
registrado
por
urn
grupo de papeis, pelo que eu entendo aquele complemento -de relacionamento de papeis que as pessoas tem em virtude de ocupar um status social particular. Tomemos urn exemplo: 0 status isolado distintivo,
de
estudante
em
relagao
papeis
0
de a
relacionando medicos,
medicina
seus
acarreta
nao
professores,
mas
0 ocupante
daquele
assistentes
sociais,
apenas tambem status
tecnic'os
0
papel
uma
de
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variedade
estudante de
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estudantes,
de laborat6rios
etc.
outros enfer-
115 Outro
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112 urna
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estrutura
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social.
que
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para
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social
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CONTEXTO ESTRUTURAL DO COMPORTAMENTO DOS GRUPOS DE REFER.£NCIA: GRUPOS DE DESEMPENHO DE
8em
estrutura
da sociedade desses
aquela
servem
comportamento
0
a
atribuidas
que
social, mediante
del', esses homens podiam sentir que sua reputa~ao e seus principios seriam mais tarde reabilitados e seu inconformismo seria apreciado. 1!:ste registro compacto e detalha,do de "decis6es duras e impopulares", entre outras coisas, e instrutivo para urn ulterior desenvolvimento de uma teoria do inconformismo, como parte de uma teoria mais extensa do comportamento dos grupos de referencia. Ela proporciona valiosas informa~6es cllnicas s6bre 0 uso da.s press6es sociais em previsao do ato espe· rado de inconformismo, os multiplos gropos de referencia envolvidos numa dec;sao publica basica, 0 fato estrutural de maxima observabilidade, 0 qual confronta figura.s publicas tais como os Senooores, as complica~6es resultantes das defini~6es obscuras e imperfeitas das obriga~6es dos papeis, 0 fato estrutural de que a observabilidade da. opiniao da clientela eleitoral e precaria e assim proporciona margem para as deci· s6es aut6nomas, a norma~ao de motivos para urn conformismo publico, contrariando a opiniao pessoal do homem politico, 0 senso em que a posteridade possa efetivamente ser tomada como urn gropo de referencia. significante, e os val6res mUltiplos que podem colocar a teguran~a pessoal, a estima popular, e a preserva~ao das rela~6es pUblicas, num lug l' subordina.cto ao valor da cren~a pessoa!. Em resumo, e urn livre de singular impor ancia para os cientistas sociais, .interessados na teoria do comportamento dos grupos de referencia. 112. Dizer que Linton nao foi "0 primeiro" a introduzir estes conceitos gemeos na ciencia \ social, seria tao verdadeiro quanto irrelevante, pois e fato que apenas depois do seu famoso Capitulo VIII em The Study of Man (Nova Iorque: Appleton-Century, 1936), (Existe tradu~ao em espanhol: Estudio del hombre, (Mexico: Fondo de Cultura Econ6-
mica, 7.a ed., 1963)], que tais conceitos, e suas correla~6es, se tornaram sistematicamente incorporados a uma crescente teoria da estrutura social. . Cf., ibid., e particularmente, 0 trabalho mais recente de Linton. do qual se pode:,a dizer que nao tern tido a aten~ao que merece: The Cultural Background of PersonalIty (Nova Iorque: Appleton·Century, 1945) especialmente paginas 76 e segs., [ExIste tradu· ~ao em portugues: Cultura e Personalidade (Sao Paulo: Ed. Mestre Jou,.1966)]. . Urn exemplo de entre muitos desta concep~ao, encontra·se na observa~ao de Lmton de que "urn status particular dentro de urn sistema. social pode ser ocupado, e seu papel associado conhecido e exercido, pOl' uma quantidade de individuos slmultane~mente". The Cultural Bacl,ground of Personality, 77. Ocasionalmente, Lmton fez men~ao de passagem aos "papeis ligados com 0 ... status", mas nao desenvolveu ~s correla~6es estruturais dos multiplos papeis que serao a.ssociados com uma Sltua~ao isolada. The Study of Man, 127, apresenta uma de tais afirma~6es. Theodore Newcomb claramente percebeu que cada posi~ao em urn sistema de papels envolve multiplas rela~6es do papel. Social Psychology, 285-286. Uma analise preliminar do conjunto de papeis do estudante de Medicina a qual e de importancia direta para a teoria dos grupos de refertnci20, encontra-se em Mary Jean Huntington, "The development of a professional self-image", em R. K. Merton, .P. ~. Kendall e G. G. Reader (redatores), The Student·Physician: Introductory StudIes 10 the Sociology of Medical Education (Cambridge: Ha.rvard University Press, 1957),.como parte de estudos realizados pelo Escrit6rio de Pesquisa Social Aplicada da Umversl· dade de Columbia, com 0 auxlIio de uma b6lsa do CommonweaJth Fund. Tambem em Merton na obra. de Witmer e Kotlnsky, op. cit., 47-50. Hans L. Zetterberg, An Action Th:Ory (manuscrlto), toma esses conceitos e os problemas associados no Ca· pitulo V. .' . Ta.! como se da em outros campos, a acumula~ao da teoria na soclOlogla pre~slOna 0 desenvolvimento de conceitos em determinadas dire~6es. Isto e pelo menos llustrado pelo desenvolvimento de conceitos semelhantes aqueles do gropo. dOS.papels, do gropo de status e das seqiienclas de str.tus embora com terminologla dlferent<3, num trabalho de Frederick L. Bates, "Position, role, a.nd status: a reformulation of
exemplo: a situa~ao de professor de escola primana tern seu grupo de papeis distintivos, relacionando 0 professor a seus alunos, aos colegas, ao diretor e ao superintendente da escola, a Comissao Diretora, e em freqiientes ocasi6es, as organizag6es patri6ticas locais, as organizag6es profissionais de profess6res, as Associa~6es de Pais e Mestres e outras. Parece claro que 0 grupo de papeis difere da norma estrutural que durante muito tempo foi catalogada pel os soci610gos como sendo de "papeis mUltiplos", pois, con forme 0 costume consagrado, a expressao papeis multlplos refere-se ao complexo de papeis associados, nao com um s6 status social, mas com varios status (freqiientemente, em esferas institucionais diferentes), em que os individuos se encontram - POl' exemplo, os papeis ligados as situa<;~es distintas de professor, de esp6sa, de mae, de cat6lico, de republicano e assim POl' diante. Designamos este complemento de status sociais de urn individuo como seu grupo de status, sendo que cada urn dos status, POl' sua vez, tera seu grupo de papeis distintivo. Os conceitos de grupo de papeis e de grupo de status sao estruturais, e se referem as partes da estrutura social num momenta particular. Con:sideradas as suas muta~6es no decurso do tempo, a sucessao dos status ocorrendo com freqiiencia sUficiente para ser moldada socialmente, sera designada como uma sequencia de status, como, por exemplo, sucede com os status sucessivamente ocupados por urn estudante de medicina, urn interno, urn medico residente e urn cHnico medico independente. De maneira muito aproximada, evidentemente, poderemos observar sequencias de gruposde papeis e de grupos de status. As ordena<;6es padronizadas de grupos de papeis, de grupos de status e das seqiiencias de status podem ser consideradas como compreendendo a estrutura social. Os conceitos nos fazem lembrar, - no caso improv8,vel de que isto seja necessario - 0 fato insistente de que mesmo a estrutura social aparentemente simples, e extremamente complexa; porque estruturas sociais que funcionam, devem, de qualquer maneira, organizar esses grupos de status e de papeis de modo que prevale~a urn grau apreciavel de ordem social, suficiente para habilitar a maior parte do povo, durante a maior parte do tempo, a tratar dos seus assuntos da vida social sem ter que improvisar novos ajustes para cada situa~ao nova que se apresentar. Os conceitos servem tambem para nos auxiliar a identificar alguns dos problemas essenciais da estrutura social, que exigem analise. Quais os processos sociais que tendem a causal' perturba~ao ou rompimento do gr11;pode papeis, criando condi~6es de instabilidade estrutural? Atraves de que mecanismos sociais os papeis no grupo de desempenho de papeis se articulam de tal ma'lteira que os conflitos entre eles sejam menores do que poderiam ser de 1 outra forma?
FONTES ESTRUTURAIS DE INST ABILIDADE NOS GRUPOS DE DESEMPENHO DE PAPEIS Poderia parecer que a fonte basica de perturba~ao nos grupos de desempenho e a circunstancia estrutural de que qualquer pessoa que ocupa urn determinado status tern parceiros de papeis, diferentemente situados na estrutura social. Como resultado, estes outros parceiros professam, de certo modo, val6res e expectativas morais diferentes daqueles mantidos pelo ocupante do status em foco. POl' exemplo, 0 fato de que os membros da Comissao Diretora de uma escola * estejam freqiientemente em estratos econ6micos e sociais inteiramente diferentes dos ocupados pelo professor da escola publica, significara que, em certos aspectos, seus va16res e expectativas serao diferentes dos do professor. 0 professor individual pode assim estar prontamente sUjeito a expectativas antag6nicas de desempenho cJ.epapel, entre seus colegas de profissao e entre os membros influentes da Comissao Diretora da escola, POl' vezes, indiretamente, do superin· tendente das escolas. 0 que para urn pode parecer urn artificio educacional sem valor, pode ser consider ado pelo outro como essencial para a instru~au. Tais avalia~6es dispares e inconsistentes complicam a tarefa de se fazer com que todos entrem em ac6rdo. 0 que se diz s6bre 0 status do professor, ~plica-se, em graus variaveis, aos ocupantes de outros status que em seus grupos de papeis estao estruturalmente relacionados a outras pessoas que ocupam status diversos. Tal como agora se apresentam as coisas, isto parece ser a principal base estrutural para as perturbag6es potenciais de urn conjunto estavel de papeis. Evidentemente, 0 problema nao surge naquelas circunstancias especiais em que todos os que estejam no grupo de papeis tenham os mesmos val6res e as mesmas expectativas. Porem esta situa~ao e especial, (. talvez historicamente rara. Parece que, com maior freqiiencia, e particularmente nas sociedades altamente diferenciadas, os que desempenham os mesmos papeis sac extraidos de diversos status sociais, com va16res sociais ate certo ponto diferentes. Na medida em que isto prevalece, a situagao caracteristica sera de desordem, ao inves de apresentar uma ordem relativa. E ainda, embora as sociedades hist6ricas variem na medida em que isso f6r verdadeiro, parece de maneira geral dar-se 0 caso em que prevalece urn grau substancial de ordem, ao inves de desordem aguda. Isto entao da origem ao problema de identificar os mecanismos soc.iais atraves dos quais se garante algum grau razoavel de articulagao entre os
(0)
copcepts", Social Forces, 1956, 34, 313-321. Ideias teoricamente comparaveis foram desenvolvidas tambem por Neal Gross, em seu estudo acerca de pessoal executivo das escola.s (a s&r publicada).
N. do trad.: Nos Estooos Umoos, a Comissao Diretora escolar ("school-board") e con£tituida por urn gropo de cidadaos, eleitos au nomeados, que exerce relativo co.ntr~J~ sobre as escoJas publica.> elementares, mantidas pelos governos locais (mumClplOS au condados).
papEds nos grupos de papeis, ou correlativamente, os mecanismos SOCIalS que se rompem de modo a que ja nao permanegam relativamente estabilizados os grupos de papeis estruturalmente estabelecidos.
MECANISMOS SOCIAlS PARA A ARTICULAQAO PAPEIS NOS GRUPOS DE PAPEIS .
DOS
Antes de se examinar alguns desses mecanismos, devemos reiterar que nao estamos tomando como pressuposto que, como assunto de fate hist6. rico, todos os grupos de papeis operem com eficiencia substancial. Nao nos interessa uma ampla generalizagao hist6rica, segundo a qual prevalece a ordem social, mas 0 problema anaIitico de identificar os mecanismos sociais que funcionam para produzir urn maior grau de ordem soclal do que aquele que prevaleceria, se tais mecanismos nao fassem chamaLios a entra~ em agao. Em outras palavras, e a sociologia e nao a hist6ria, que constltui aqui 0 nosso interesse imediato. 1. Mecanismo da dijerenga de intensidade de dedicagiio ao papel entre aqueles incluidos no grupo de papeis: Os participantes de urn papel se
;nteressam de maneira diferente com 0 comportamento daqueles que este.jam num status social particular. Isto quer dizer que as expectag6es de papel daqueles que estao no grupo de papeis nao sac mantidas com 0 mesmo grau de intensidade. Para alguns, este relacionamento de papeis pode ser apenas de significagao periferica; para outros, pode ser fUDela. mental. Tomemos urn exemplo hipotetico: os pais de criangas de uma escola publica podem estar mais diretamente interessados na avaliagao e contrale do comportamento dos professares do que, digamos, os membros de uma organizagao patri6tica local que nao tenham filhos na escola. Os valares dos pais e dos componentes da organizagao patri6tica podem estar em oposigao em numerosos aspectos, e podem exigir urn comportamento inteiramente diferente por parte do professor. Mas se as expectativas de urn pequeno grupo dentro do grupo de papeis do professor forem fundamentais em relagao a suas preocupag6es e interesses, e as expectativas do outro grupo forem apenas perifericas, isto facilitara 0 problema do pro. fessor em procurar chegar a um acardo com tais expectativas dispares. Temos observado antes, ao enumerar as propriedades estruturais dos gruJPOs,que ha variagao padronizada no escopo e na intensidade da adesa.) dos membros do grupo a seus status e papeis. Tal variagao serve para a~orteoer a pertilr.Q.agao de um conjunto de va16res que implica expec. t.atIvas antaganicas cIa conduta dos que ocupam urn status particular. 0 professor, para quem este status tem primordial importancia, sera neste grau, mais capaz de se opor as exigencias de conformar·se com as dife. rentes expectag6es daqueles de seu grupo de papeis, para quem esse rela.
cionamento tenha apenas uma significagao periferica. Evidentemente, isto nao quer dizer que os professares nao sejam vulneraveis aquelas expectativas que estejam em oposigao com seus compromissos profissionais. Pretendemos apenas dizer que eles sac menos vulneraveis do que 0 seriam f,or outra forma, (ou algumas vezes 0 sac) quando os poderosos membros de seu grupo de papeis sac apenas pouco interessados com este relacionamento em particular. Se todos os que estao envolvidos no grupo de papeis do professor, fassem igualmente preocupados com este relacionamento, a condigao do professor seria consideravelmente mais penosa do que 0 e atualmente. Aquilo que vale para 0 caso particular do professor presuml. velmente valera para os ocupantes de qualquer outro status: 0 imp acto sabre eles, de expectag6es divers as de comportamento apropriado entre a.queles que estejam em seu grupo de papeis, pode ser estruturalmente mitigado pelas diferengas no envolvimento de relacionamento entre aqueles que constituem seu grupo de papeis. Tudo isto e para dizer que 0 funcionamento de cada grupo de papeis sob observagao necessita ser examinado em termos dos mecanismos que influem nos diferentes graus de envolvimento do relacionamento dos pa· peis entre as diversas pessoas que comp6em 0 seu grupo. de poder das pessoas envolvidas em um Urn segundo mecanismo, que afeta a estabilidade de urn grupo de papeis e potencialmente fornecido pela distribuigao do poder. Neste aspecto, 0 poder significa nada mais que a capacidade observada e previsivel de que urn individuo imponha a pr6pria vontade numa agao social, mesmo contra a resistencia de outros que tomem parte naquela agao.1l6 Nem todos os membros de urn grupo de papeis podem ser igualmente poderosos em moldar 0 comportamento dos ocupantes de urn status parti cular. Contudo, isto nao significa que 0 individuo, 0 grupo, ou 0 estrato que fagam parte do grupo de papeis, e que separadamente seja 0 mats poderoso, consiga uniformemente impor suas expectag6es sabre os ocupan· tes do status, digamos, sabre 0 professor. Isto s6 poderia ocorrer se apenas urn membro do grupo de papeis tivesse urn monop6lio efetivo do poder, seja excluindo todos os demais, seja superando 0 poder combinado dos outros. Afora esta situagao especial, os individuos sujeitos a expectag6e:3 conflitantes entre os membros de seu grupo de papeis podem efetuar, deii· berada ou involuntariamente, coalisoes de poder entre eles, as quais capa('item esses individuos a prosseguir em seus pr6prios caminhos. 0 con· flito sera, entao, nao tanto entre os ocupantes de status e os varios memo bros do seu grupo de papeis, como entre os membros do pr6prio grupo. o contrapeso de qualquer membro poderoso do grupo de papeis e por vezes fornecido por uma coalisao de poderes menores, combinados. 0 2. Mecanismo grupo de papeis:
das dijerengas
116. Isto sera reconhecldo como a concepgao que Max Weber faz do poder, que nao e muito afastada. de outras vers6es contemporaneas do conceito. E extraido da obra de Max Weber: Ensaios de Sociologia, 180 e segs.
molde familiar de "equilibrio de poderes" nao esta confinado as lutas pelo poder entre as na<;6es; numa forma menos visivel, pode ser encontrado no funcionamento dos grupos de papeis em geral, tal como a crian<;a que consegue que a decisao de seu pai seja compensada pela decisao contraria de sua mae, tern ampla ocasiao para conhecer. Quando os poderes em conflito, no grupo de papeis, se neutralizam, 0 ocupante de status tern relativa Iiberdade de proceder como tencionava originalmente. Assim, mesmo naquelas estruturas potencialmente instaveis, nas quais os membros de urn grupo de papeis mantem expecta<;6es distintas e contrastantes acerca daquilo que 0 ocupante de status deveria fazer, este nao esta totalmente a merce do mais poderoso de entre eles. Outrossim, urn alto grau de identifica<;ao com seu status refor<;a seu poder relativo. pois, na extensao em que os membros poderosos de seu grupo de papeis nao estejam preocupados com este relacionamento particular, no mesmo grau em que 0 esta 0 ocupante do status, eles nao serao levados a exercer seu poder potencial de modo total. Dentro de largas mar gens de sua 2tividade de papel, 0 ocupante do status estara entao livre para agir, nao controlado, porque nao sera observado. Isto nao significa, evidentemente, que 0 ocupante de status, sujeito a expectativas con flit antes 117 entre os membros de seu grupo de papeis, 117. Numa conferencia animada e bem informada, William G. Carr, secretario executivo da AsociaQao Nacional de EducaQao, resumiu algumas das press5es conflitantes exer· cida.s s6bre os curriculos escolares POl' organizaQoes voluntarias, tais como a LegHio Americana, a AssociaQao pr6·NaQoes Unida,s, 0 Conselho Nacional de SeguranQa, 0 Escrit6rio de Melhores Ncg6cios, a FederaQao norte·americana de Traba.lho, e as Filhe.s da RevoluQao norte-americana. Seu resumo pode servir, mediante exemplos concre· tos, para indicar a quantidade de expectativas em competiQao, entre os que se en· con tram no complexo grupo de papeis de superintendentes escolares e as Comiss5es Diretoras escola,res locais, ("school-boards">, numa sociedade tao diferenciada como l\ norte-americana. Do relat6rio de Mr. Carr consta que algumas vezes essas orga.nizaQoes voluntarias "enunciam suas opini5es coletivas geralmente de modo temperado, Elas organizam con· a.lgumas vf,zes de modo grosseiro, mas sempre com insistencia", cursos, campanhas. coletas, demonstraQ5es, dias especiais, semanas especiais e aniversarios, atividades essas que abrangem 0 aUlO inteiro. "Elas exigem que as escolas publicas proporcionem mais atenQao as ligas infantis de baseball, a socorros de urgencia, a higiene pessoal, a correQao no falar, a inclusao da lingua espanhola na escola primaria, a prepa.raQao militar, ao entendimento inter· nacional, a musica moderna, a Hist6ria do mundo, a Hist6ria local e a Hist6ria it Geografia, e as Artes Domesticas, ao Canada e a America do norte·americana, Sui, aos Arabes e Israelitas, aos Turcos e Gregos, a Crist6vao Colombo e Leif·Ericsson, a Robert E. Lee e a Woodrow Wilson, a nutriQao, ao cuidado dos dentes, a livre iniciativa, as relaQoes trabalhista,s, a prevenQao do cancer, as relaQoes humanas, it energia at6mica, ao usa de armas de fogo, a ConstotuiQao, ao fumo, a temperanQa, a bondade para. com os animais, ao Esperanto, aos 3 R, aos! 3 C e aos 4 F, ao uso de maquinas de escrever e. it caligrafia manuscrita legivel, aos va.!6res morais, a boa condiQao fisica~os conceitos eticos, a defesa civil, a prepara.Qao religiosa, a. poupan· leis, a educaQao do consumidor, aos narc6ticos, as matematicas, Qa, a obediencia it arte dramatica, it fisica, it cera,mlca, e (a mais recente de t6das as descobertas educacionais> ao "phonics", ou seja, 0 uso da fonetica elemental' para en sinal' a boa. pro'nuncia aos principiantes. "Cada um de tais grupos esta ansioso para evitar sobrecarrega.r 0 curriculo. Todos e quaisquer um deles pedem que sejam abandonados os tema.s nao essenciais a fim de
I"
esteja, efetivamente, imune ao contrale por parte diHes, Isto vale apenas para se dizer que a estrutura do poder dos grupos de papeis se da frequentemente de tal forma, que 0 ocupante de status tern, aproximadamente, mais autonomia do que seria 0 caso Se esta estrutura de poderes em competic;ao nao existisse. 3. M ecanismo para subtrair as atividades dos desempenhos de papeis, da observabilidade por parte dos membros do grupo de papeis: 0 ocupante
de urn status nao entra em continua interaC;ao com todos os que comp6em o seu grupo de papeis. Este fato nao e incidental, mas faz parte integrante do funcionamento dos grupos de papeis. A interal;aO com cada membro (individual ou grupos) do grupo de papeis e limitada por varias maneiras, e intermitente; nao e mantida com uniformidade por tada a extensao da escala de relac;6es que abarca 0 status sociaL Este fato fundamental da estrutura de papeis permite que 0 comportamento do individuo que desempenha 0 papel, que esteja em oposic;ao com as expectac;6es de alguns componentes do grupo de papeis, continue a se processar sem tensao mdevida, pois, conforme vimos com algum detalhe, 0 contrale social efetivo pressup6e urn apreciavel grau de observabilidade de comportamento do individuo. Na extensao em que a estrutura do papel isola 0 ocupante da situaC;ao da observac;ao direta por parte de alguns membros do seu grupo de papeis, ele nao esta uniformemente sujeito a press6es de competic;ao. Deve-se salientar que estamos tratando aqui com urn fato da estrutura social, e nao com ajustamentos individuais mediante as quais esta au Jquela pessoa logre ocultar partes de seu desempenho, de certos membros de seu grupo de papeis. o fato estrutural e que os status sociais diferem na extensao em que algum desempenho de papel por urn associado esteja livre de imediata observabilidade por parte de todos os membros do grupo de papeis. As varia<;6es verific~das neste atributo de status sociais complicam de modo correspondente 0 problema de fazer frente as diferentes expectativas dos membros do grupo de papeis. Assim, os ocupantes de todos os statu;; ocupacionais algumas vezes se defrontam com decis6es dificeis, as quais envolvem seu senso de integridade pessoal, isto e, de viver conforme as normas e padr6es basicamente governantes de seus papeis ocupacionais. Po rem, tais situac;6es diferem na extensao da imediata observabilidade do comportamento ocupacionaL Conforme 0 senador Kennedy registra, naquele livre ao qual temos feito referencias elogiosas, poucas ocupa<;6es, 5e e que existam algumas, defrontam com decis6es tao dificeis "sob 0 que seja incluido 0 assunto que propoem. A major parte deles insiste que nao dese· ja um curso especial - apenas quer que suas Ideias sejam consideradas de mod·) a imp regnal' to do 0 programa diario. Cada um deles proclama crenQa firme no con· tro e 10caJ da educaQao e um 6dio apreensivo do contr61e federal. "Nao obstante, se 0 programa de suas organizaQ5es nacionais nao e adotado sem demora, muitos dr'les usarti a pressao da imprensa, das estao<;5esde radio, e todos o~ dispositivos de propaganda a fim de passar POl' cima da Comissao Diretora escolal' loca.! eleita". De uma conferencia na inauguraQao de Hollis Leland Caswell, Escola de Profess6res, Universidade de Columbia, novembro, 21·22, 1955, 10.
brilho dos refletores, como aquelas dos cargos publicos. Poucas, se ,~ que existem algumas, defrontam com a mesma terrivel responsabilida1e que confronta urn senador que esteja atendendo a alguma votaQao impor· tante de sua casa legislativa." 118 Em contraste, outros status sociais gozam de relativa inobservabilicade funcional por parte de alguns membros de conjunto de papeis. 0 status do professor universitario pode servir de exemplo. A regra consagrada de que aquilo que se profere nas salas de aula das universidades e privilegiado, no sentido de ficar restrito entre 0 professor e seus alunos, tern a funQao de manter urn grau de autonomia a favor do professor. Se o mesmo f6sse observado uniformemente em relaQao a todos os· que S8 a.cham compreendidos no grupo de papeis do professor, ele poderia ser leva do a ensinar, nao 0 que sabe, ou 0 que a evidencia 0 leva a acreditar, mas aquilo que seria agradavel as numerosas ·e divers as expectaQoes de todos aqueles que se ocupam com a "educaQao dos jovens". Isto logo serviria para descer 0 nivel da instruQao ao mais baixo denominador comum. Seri:3. transformar 0 ensaio, colocando-o no plano do espetaculo de televisao, cuja preocupaQao e fazer qualquer coisa que seja necessaria para melhorar sua cotaQao de popularidade. Evidentemente, e esta isenQao da observabilidade de todos em geral, que pUdessem pretender impor sua vontade s6bre o· instrutor, que e uma parte integrante da liberdade academica, concebida como urn complexo de val6res e de normas. De maneira mais extensa, 0 conceito da informaQao privilegiada e da ('omunicaQao confidencial nas profissoes liberais - Direito e Medicina, ensino e 0 ministerio religioso - tern a mesma funQao de isolar os rlientes da imediata observabilidade de seu comportamento e suas crenQas, em relaQao aos demais enquadrados no mesmo grupo de papeis. Se 0 medico ou 0 padre tivessem a liberdade de contar tudo quanto viessem & saber acerca das vidas particulares de seus clientes, nao poderiam deser.lpenhar de modo adequado as suas funQoes. E mais, conforme vimos em nossa revisao acerca da observabilidade, se os dados de todos os comportamentos de papel e de t6das as atitudes f6ssem livremente disponiveis a qualquer pessoa, as estruturas sociais nao poderiam funcionar. Aquilo que algumas vezes e denominado "a necessidade de vida privada" - isto e, isolamento das aQoes e pensamentos a fim de que nao sejam vigiados pOI' C'utras pessoas - e a contrapartida individual do requisito funcional da estrutura social, de que seja proporcionada alguma medida de imuniclade em relaQao a total observabilidade. De' outro modo, a pressao de v'iver conforme as regras de t6cJas as normas sociais (freqtientemente· c-onflitantes), tornar-se-ia literalmente insuportavel; numa sociedade complexa, 0 compo~mento esquizofrenico se tornaria a regra, ao inves da formidavel exceQa~ que ja e. "A vida particular" ou "intimidade" nao e meramente uma predileQao pessoal; e urn requisito funcional importante para 0 efetivo funcionamento da estrutura social. Os sistemas.
socIals devem proporcionar uma quantidade apropriada, como dizem n~ FranQa, de quant-a-soi - uma porQao do ser que e mantido em separado, imune da vigilancia social. E evidente que 0 mecanismo do isolamento da observabilidade, pode ser contraproducente. Se 0 politico ou 0 estadista f6ssem completamente protegidos das luzes dos refletores sociais, 0 contr6le pUblico de seu comportamento se reduziria na mesma proporQao. 0 poder an6nimo, exercido an6nimamente, nao favorece a existencia de uma estrutura estavel de relaQoes sociais, que satisfaQa os va16res da sociedade, tal como e amplamente demonstrado pela hist6ria da policia secreta. 0 professor que '7steja totalmente isolado da observaQao por parte de seus pares 8 superiores, pode deixar. de agir de ac6rdo com os requisitos minimos do seu status. 0 medico, em SUa clinic a particular, que esteja em grande .oarte isento da opiniao de colegas competentes, pode dar causa a que 0 seu desempenho profissional caia abaixo dos padroes toleraveis. 0 policia secreta pode violar os va16res da sociedade e nao ser descoberto. Tudo isto significa que se torna necessaria em alguma medida, a observabilidade do desempenho dos papeis pelos membros do grupo, cas:> s<" queira satisfazer 0 requisito social indispensavel da responsabilidade. Esta opiniao, obviamente, nac contradiz as afirma<;oes anteriores, que €stabeleciam a necessidade de algum grau de isolamento em relaQao a observabilidade, para 0 eficiente funcionamento das estruturas sociais. Ao contrario, as duas afirmaQoes, tomadas em conjunto, sustentam novamente que ha algum ponta 6timo de observabilidade, dificil ainda de identificar em term os mensuraveis e sem duvida variaveis para diferentes situaQoes sociais, e que simultaneamente estabeleQam a responsabilidade do desempenho dos papeis € a autonomia do dito desempenho, ao inves de uma temerosa aquiescencia com a distribuiQao do poder, que em dado TJIomento pode prevalecer, no conjunto dos papeis. Varios moldes de observabilidade podem funcionar a fim de habilitar os ocupantes dos status sociais, a dar conta das expectativas conflitantes entre os membros de seus conjuntos de papeis. 4. Mecanismode observabilidade pelos membros do conjunto de papeis, de suas eXigencias conflitantes, s6bre os ocupantes de um status social: Este mecanismo e implicitamente mencionado nos dais relatos
anteriores da estrutura do poder e dos moldes de isolamento da abservabilidade; portanto, aqui sera apenas comentado de modo resumido. Na medida em que os membro.s do grupo de desempenho de papeis ignorou c6modamente que suas exigencias s6bre os ocupantes de urn status sac incompativeis, cada membra pode pressionar os seus interesses s6bre tais ocupantes. Entao a norma e a de muitos contra urn. Mas quando se torna claro que as exigencias de alguns membros do grupo de papeis estao em total contradiQao com as exigencias dos demais membros, cabe ao grupo de papeis, e nao ao ocupante do status, a tarefa de resolver essas contradiQoes, seja lutando pela obtenQao do poder exclusivo, au
negociando algum compromisso de meio-termo. Na medida em que 0 conflito se torna mais e mais evidente, a pressao sabre 0 ocupante do status fica temporariamente aliviada. Em tais casos, 0 ocupante de status sUjeito a exigencias e expectaQ6es .('onflitantes, pode ver-se lanQado ao papel do tertius gaudens, 0 terceiro .J:ou mais freqtientemente 0 "enesimo") participante que tira vantagem rlo conflito dos demais. 119 0 ocupante de status, originalmente no fOco do conflito, virtualmente se torna um circunstante mais ou menos influente, cuja funQao e esclarecer as exigencias em conflito, feitas pel os membros de seu grupo de papeis, tornando-as em problema para eles (e nao para si pr6prio). Assim, sac os membros do grupo que deverao resolver as suas pr6prias exigencias contradit6rias. Com bastante freqtiencia, isto serve para alterar a estrutura da sitm:.r;ao. Este mecanisme social pode ser concebido como operando para eliminar uma forma daquilo que Floyd H. Allport descreve como "ignorancia plura1istica", isto e, 0 padrao segundo 0 qual os membros individuais de um :grupo sup6em estar virtualmente sQzinhos em manter certas atitudes e [xpectativas sociais, desconhecendo totalmente que Gutros compartilham
dependendo da estrutura do poder, isto reorienta 0 conflito, convertendo-o em pugna entre os membros do grupo de papeis, e nao, como antes sucedia,. entre ·eles e 0 ocupante do status. Sao os membros do grupo de pap6is que agora estao sendo solicitados a articular suas expectativas. Pelo menos isto serve para demonstrar que nao e a ma·vontade intencional por parte do ocupante do status que 0 impede de se conformar com tadas as exigencias contradit6rias que the sac impostas. Em certas circunstancias, a substituiQao da ignorancia pluralistica pelo conhecimento comum serve para forQar a reformulaQao do que pode ser esperado do ocupante de status. Em outros casos, 0 processo serve simplesmente para permitir que 0 ocupante siga seu pr6prio caminho, enquanto os membros do grupo continuam empenhados em seu conflito. Em ambos os casos, isto de tornar :nanifestas as expectaQ6es contradit6rias, serve para articular 0 grupo clos papeis alem daquilo que ocorreria se esse mecanisme nao entrasse Em aQao. 5. M ecanismo do apoio social por outros em semelhantes status sociais, com semelhantes dijiculdades de lidar com um grupo de papeis, nao.integrado: Este mecanisme pressup6e a situaQao estrutural nao rara,
em que outros que ocupam a mesma situaQao social tem problemas muito ~emelhantes de lidar com seus grupos de papeis. Ainda que nao 0 acredite, o ocupante de um status social usualmente nao esta sQzinho. 0 pr6prio fato de que se trata de um status social significa que ha outras pesso~s mais ou menos em circunstancias iguais. A experiencia real e potencial de confrontar expectaQ6es de papel conflitantes, e comum aos ocupantes lios status. 0 individuo sujeito a estes conflitos, portanto, nao necessita enfrenta-Ios como um problema totalmente partiCUlar, que devesse ser manejado de modo totalmente privado. Tais conflitos de expectativas de papel chegam a ser padronizados e compartilhados pelos ocupantes do mesma status social. Estes fatos da estrutura social proporcionam uma base para que se r.ornpreenda a formaQao de organizaQ6es e sistemas normativos entre aqueles que ocupam 0 mesmo status social. As associaQ6es que congregarn individuos da mesma profissao (inclusive das cham ad as profiss6es liberais), por exemplo, constituem uma reaQao estrutural aos problemas de lidar com a estrutura do poder e as exigencias conflitantes (de modo potencial ou real) formuladas pelos que formam 0 grupa de papeis de desempenho de determinada situaQao. Constituem formaQ6es sociais destir:;adas a contrariar 0 poder dos grupos de papeis; sendo nao meramente acessiveis a tais exigencias, mas contribuindo a dar-Ihes forma. A organizaQao dos ocupantes de status - parcela tao familiar do panorama social das sociedades diferenciadas - serve para desenvolver um sistema normativo, 0 qual antecipa e por isso mesmo alivia as exigencias coniHtantes feitas aos que pertencem ao status. Proporcionam apoia social ao individuo ocupante de urn status, reduzindo ao minima a necessidade de
que {He tenha que improvisar
ajustamentos
privados
a situa!i6es de con-
!lito.
Pode-se dizer que esta mesma fun!iao faz tambem parte da importfmcia Bociol6gica do aparecimento dos c6digos profissionais, destinados a formular antecipadamente as normas de conduta socialmente aprovadas para O~ ocupantes de status. Nao, evidentemente, que tais c6digos funcionem com eficiencia automatica, servindo para eliminar adiantadamente aquelas exigencias julgadas ilegitimas em termos do c6digo, e para indicar de modo inequivoco 0 que deve fazer 0 ocupante do status, quando confrontado com exigencias conflitantes. A codifica!iao de materias eticas assim como cognitivas, imp liea em abstra!iao. Os c6digos ainda necessitam ser interpretados antes de serem aplicados a casos concretos. 121 Nao obstante v apoio e proporcionado pelo consenso entre os colegas de status, na medida em que tal consenso e registrado no c6digo, ou e expresso nos julgamentos dos colegas, orientados em dire!iao ao c6digo. A fun!iao de tais c6digos torna-se tanto mais significante noa casos em que os ocupantes dos status sejam vulneraveis a press6es emanadas de seus grupos de papeis, precisamente porque eles estejam relativamente isolados uns dos eutros. Assim, milhares de blbliotecarios esparsamente distribuidos entre as cidades e vilas da na!iao, e muitas vezes expostos a pressao da censura receberam forte apoio do C6digo de Censura elaborado pela Associa!iao dos Bibliotecarios norte-americanos, em conjunto com 0 Conselho norte-americano de Edit6res de Livros. 122 Esta especie de apoio social para a c.onformidade com os requisitos de uma situa!iao, quando e confrontada com press6es originadas do grupo de papeis, serve para compensar a instabilidade do desempenho dos papeis que por outro modo se desenvolveria. 6. Resumo dos grupos de papeis: ruptura papeis: Evidentemente, este e 0 caso extremo
dos relacionamentos
dos
dos modos de lidar com exigencias incompativeis feitas sabre os ocupantes de status pelos membros do grupo de papeis. Certos relacionamentos sac quebrados, deixando urn eonsenso de expecta!i6es de papeis entre aqueles que permanecem. Porem, este modo de adapta!iao somente e possivel sob condigoes especiais e limiNao ha fim 6bvio a interpretaQao das normas que governam 0 comportamento dO' status nas profissoes, religiao, polltica e todos os outros setores institucionais da 50ciedade. Encontra-se uma recente coleQao detalhada e compacta de taJs interpretl\Qoes, no volume de 900 paginas, Opinions of the Committees on Professional Ethics da AssociaQao dos Advogados da Cidade de Nova Iorque e da AssociaQao dos Advogado& do Condado de Nova Iorque, publlcado sob os auspiclos da FundaQaO Wllliam Nelson Cromwell, pe1aColumbia University Press, 1956. 0 ponto decisivo Ii que nao ha total unanimidade no, comportamento de status apropriados em situaQoes determinadas, mas que 0 advogado, considera.clo como individuo, nao Ii solicitado a resolver tais assuntos exclusivamente na base de sua pr6pria interpretaQao da situll>Qao. ProfisSi?nalmente, {~e nao esta s6. Quanto ao c6digo, ver The Freedom to Read, (Chicago: American Library Association, 1953); quanto a uma lloruUisedo assunto em geral, ver Richard P. McKeon, R. K_ Merton e Walter Gellhorn, Freedom to Read (1957),
tadas. Apenas pode ser efetivamente utilizado naquelas circunstancias em que ainda e possivel para 0 ocnpante desempenhar seus outros papeis, sem 0 apoio daqueles com quem suspendeu suas rela!ioes. Dito por outra forma, isto exige que os restantes relacionamentos no grupo de papeis nao sejam substancialmente danificados pela ado!iao deste dispositivo. Pressupoe que a estrutura social proporciona a op!iao de descontinuar algumas rela!ioes no grupo de papeis, como, por exemplo, numa rede de amizades pessoais, uma vez que· 0 conjunto de papeis nao e tanto urn assunto de escolha pessoal, como urn caso de estrutura social na qual esta implantado o status. Sob essas condig6es, a op!iao pode vir a ser 0 afastamento do ocupante do status, em vez do afastamento do grupo dos papeis, ou de uma parte apreciavel dele. Tipicamente, 0 individuo vai, e a estrutura social permanece.
CONFLITO RESIDUAL NO GRUPO DE DESEMPENHO DE PAPEIS Pouca duvida pode haver de que estes sac apenas alguns dos mecar,lsmos que trabalham a fim de articular as expecta!ioes daqueles que estao no grupo de papeis. A investiga!iao descobrira outros, assim como tJrovavelmente modificarao 0 relato anterior daqueles que temos identificado provisoriamente. Acredito, porem, que a estrutura 16gica desta analise possa permanecer em grande parte intacta. Esta pode ser resurni<:Jamente recapitulada. Primeiro, admite-se que cada status social tern seu complemento organizado de relag6es de papeis, os quais podem ser concebidos como compreendendo urn grupo de papeis. Segundo, as rela!ioes nao sac apenas entre 0 ocupante do status particular e cada membro do grupo de papeis, mas, sempre potencialmente e, :lS vezes, realmente, entre os membros do pr6prio grupo de papeis. Terceiro, em certa medida, aqueles que estao no grupo de papeis e especialmente aqueles que ocupam situa!ioes sociais dispares, podem ter diferentes expectativas (morais e atuariais) do comportamento do ocupante de status. Quarto, isto origina 0 problema de suas diversas expectativas serem suficientemente articuladas para que as estruturas do status e de papeis operem com urn minimo de eficiencia. Quinto, a articula!iao inadequada de tais expectativas de papeis tende a par em jago urn ou mais mecanismos sociais, os quais funcionam para ~eduzir a quantidade do conflito padronizado dos papeis, a urn nivel infe-rior ao que seria atingido se tais mecanismos nao estivessem em funcionamento. Sexto, de modo final e importante, mesmo quando tais mecanismos funcionam, nao bastam, em certos casos, para reduzir 0 conflito das
expectativas entre aqueles que formam grupo de papeis abaixo do nivel :-.ecessario para que a sistema de papeis opere com substancial eficiencia. j~ste conflito residual dentro do grupo de papeis pode ser bastante para mterferir material mente com 0 efetivo desempenho de papeis pelo ocupante do status em aprec;o. Na realidade, provavelmente ficara revelado que esta circunst~mcia e a mais frequente: sistemas de papeis operando em regimes consideravelmente abaixo de sua eficiencia total. Sem procurar analogias tentadoras com outros tipos de sistemas, s.ugerimos que isto nao seja muito diferente do caso de maquinas - quer seja a motor atmosferico de Newcomen, au a turbina de Parsons - as quais nao podem utilizar inteiramente a energia termica. Ainda nao conhecemos alguns dos requisitos para a maxima articula· C;ao das relac:;oes entre 0 ocupante de urn status e as membros de seu gropo de papeis, par um lado, e a maxima articulac:;ao dos va16res e expectativas entre os que formam a grupo de papeis, do outro lado. Porem como temos vista, mesmo as requisitos que agora possam ser identificados nao sac imediatamente satisfeitos, sem falhas, nos sistemas sociais. Na medida em que nao a forem, as sistemas sociais sao forQados a andar manqlH~jando com aquele compasso de inefetividade e de ineficacia, frequentemente tolerado porque a perspectiva realist a de uma melhoria decidida parece tao remota que as vezes nem sequer e visfvel.
DINAMICA SOCIAL DA ADAPTAQAO DOS GRUPOS DE STATUS E DAS SEQOENCIAS E STATUS Deve-se recordar que a grupo de status se refere ao complexo de posic;.oes distintas designadas a indivfduos tanto dentro de um como entre varios sistemas sociais. Assim como ha problemas para articular 0 gropo fie papeis, assim tambem existem problemas para a articulaQao do grupo de status. Em alguma medida, estes problemas sao semelhantes, embora nao identicos na estrutura. Por esta razao, e tambem, conforme se deve admitir, porque este estudo ja tomou extensao excessiva, aqui nao fazemas nenhum esf6rgo sequer para esboQar a lista inteira de problemas que agora podem ser identificados. Contudo, pode ser utH referir uns poucos deles, quando menos indicar 0 carater geral que poderia tamar a ulterior analise. Os gropos de status proporcionam claramente uma forma basica de interdependencia as instituiQoes e os subsistemas de uma sociedade. Isto deriva do fato familiar de que as mesmas pessoas sao envolvidas em sistemas sociais distintos. Alem do mais deve-se notar que assim como grupps e sociedades diferem no numero' e na complexidade dos status sociais que formam parte de sua estrutura, assim os indivfduos diferem no numero e na complexidade de status que formam seus conjuntos de
entre
::t8tuS. Nao e cada componente de uma "estrutura social complexa" que teni a mesma complexidade de grupos de status. Como exemplo familiar de urn caso extrema, considere-se a quantidade aparentemente infindavel de status embora possiveis de serem enumeradas, ocupadas ao mesm~ tempo par urn Nicholas Murray Butler, e como exemplo hipotetico de outro extrema, as posiQoes relativamente pouco ocupadas par urn "scholar" (intelectual com rendimentos pr6prios) e que de fato haja conseguido se retirar da maior parte dos sistemas sociais - ocupado em seu trabalho embora formalmente "desempregad0", solteiro, sem companheiros, na; interessado em organizaQoes politicas, religiosas, cfvicas educacionais, militares ou outras. Os problemas de articular as requisitos de papeis do complexo grupo de status, no primeiro exemplo, e os do simples grupo dE;status, no segundo, sao presumivelmente de ordem intensamente diferente. I Os grupos complexos de status nao somente proporcionam alguma forma de ligaQao entre subsistemas numa sociedade; eles confrontam as ocupantes de tais. status com graus distintamente diferentes de dificuldades em organizar suas atividades em cada papel. Alem do mais, a socializaQao primaria em certos status, com suas caracterfsticas orientagoes de valor, podem afetar de tal forma a formaQao da personalidade, a ponto de fazer com que ela poss~ ser algumas vezes mais, algumas vezes menos, apta a desempenhar as requisitos de outros status. Contrapondo-se a tais dificuldades que sao potencialmente inerentes aos grupos de status complexos, existem diversos tipos de processos sociais. Em primeiro lugar as pessoas nao sac vistas pelos outros como ocupando apenas um s6 status mesmo que este possa ser a status contralador de uma relaQao social parti~ular. Os empregadores frequentemente reconhecem que as empregados tambem tem famflias e, em ocasioes padronizadas, temper am suas expectativas de conduta do empregado com as exigencias de tal fato. 0 empregado de quem se sabe que teve uma morte entre familiares mais chegados, como e natural, provisoriamente e menos solicitado em seus requisitos ocupacionais. Esta percepQao social das obrigagoes requeridas pelo status do indivfduo serve para amortecer e para modificar as exigencias e expectaQoes pelos membros dos grupos de papeis associados com alguns de tats status. Esta especie de adaptagao continua e por sua vez relacionada com as 'la16res da sociedade. Na extensao em que haja um consentimento anterior acerca da "importancia" relativa das obrigagoes de situagoes conflitantes, i8tO reduz 0 conflito interno de decisao par aqueles que ocupam essas situaQoes e torna facH a acomodaQao par parte daqueles que estejam envolvidos em seus gropos de papeis. Evidentemente, existem f6rQas que militam contra tais prontas adaptaQoes. As pessoas envolvidas no gropo de papeis do indivfduo, em um de seus status, tem suas pr6prias atividades moldadas, perturbadas quando tile nao vive conforme as obrigagoes de seu papel. Em alguma medida, €ies se tornam motivados a mante-Io no desempenho de seu papel. Se a
motiva~ao de interesse pr6prio fasse de fate todo-compulsiva, isto causaria ainda mais tensao nos sistemas de situag6es que realmente ocorrem. Os membros de cada grupo de papeis estariam efetivamente puxando e empurrando os de outros grupos de papeis, permanecendo constantemente no meio 0 ocupante dos diversos status; porem, a motivagao egoista nao B tudo 0 que fornece uma folga padronizada na acomodagao relativa a ,pxigencias conflitantes. Em termos psicol6gicos, a empatia - a compreensao simpatica da sorte das outras pessoas - servem para reduzir as press6es exercidas sabre as pessoas apanhadas em conflitos de obrigag6es de status. Dizer que e "psicoI6gica", contudo, nao e sugerir que a empatia nada mais seja alem de um trago individual de personalidade que as pessoas podem ter em graus variaveis: a extensao em que a empatia e encontrada entre os membros de uma sociedade e em parte fungao da estrutura social subjacente. Aqueles que estao nos grupos de papeis do individuo sujeito a obrigag6es de situagoes conflitantes, por sua vez sac ocupantes de multiplos status, anteriormente ou atualmente, de modo real ou de modo potencial, sujeitas a tensoes semelhantes. Esta circunstancia estrutural pelo menos facilita o desenvolvimento da empatia. ("Estaria eu na mesma situagao, se nao fOsse pela graga de Deus"). As estruturas sociais nao deixam de ter a possibilidade de aprender a fazer adaptagoes, sucessivamente transmitidas atraves de modificagoes de man datos culturais. Isto auxilia a abrandar a freqiiencia e intensidade de conflito do grupo de status. QuantC' maior a freqiiencia com que ocorra o conflito normado entre as obrigac:;6es de mUltiplos status, tanto mais provavel que surjam novas normas para regulamentar essas situagoes, mediante a designagao de prioridades de obrigagao. Isto significa que cada individuo apanhado nessas situagoes cheias de tensao, nao precisara improvisar novos ajustamentos. Significa ainda que os membros de seu grupo de papeis tornarao efetivamente mais facil para ele acomodar a dificuldade, aceitando sua "decisao" se ela estiver de acardo com os padroes de prioridade funcionalmente evolvidos. Os mecanismos sociais para a redugao de tais conflitos tambem podem ser considerados em termos de seqiiencias de status - isto e, a sucessao - de status atraves das quais se move uma apreciavel proporgao de pes. "Soas. Considerem-se as seqiiencias daquilo que Linton denominou status alcanr;ados (ou, mais geralmente, aquilo que pode ser denominado status adquiridos): status nos quais os indiyiduos se movem em virtude de suas pr6Iilrias realizagoes, mais do que por terem side colocadas nelas em virtude do nascimento afortunado ou desafortunado, (os quais, entao, seriam status adscritos). A ideia principal e que os componentes dos g~'Uposde status na~o combinados ao acaso. Um processo de, auto--sele·g.ao- tanto social comb psicol6gico - opera a fim de reduzir as perspectIVas qe repartigao dos status pelo acaso. Os valares assimilados previamente pelos individuos tornam menos provavel (do que seria na ausencia de ditos vaWres) a motivagao para 0 ingresso em status incompativeis com
a pr6pria tendencia. (Mais uma vez, como em tada a extensao de nosso relato de mecanismos, nao esta sendo implicito que este processo opere invarHwelmente, com eficiencia total e automatica; porem, realm,=nte fun·ciona). Como resultado deste processo de auto-escolha de status sucessivos, 0 p,-rupode status a qualquer tempo est a mais pr6ximo de sua unificagao do que estaria de outra maneira. Em t8rmos das orientag6es de vaWres ja 'f'studadas, as pessoas repelem certos status que poderiam desempenhar, 'porque os consider am repugnantes, e escolhem outros em perspectiva, porque os consideram simpaticos. Um caso extremo documentara 0 ponto .te6rico geral: as pessoas criadas como "Cientistas Cristaos" e que se con· 'servam fieis a essa crenga, em geral nao se tornam medicos. Afirmar que isto e evidente por si mesmo, e exatamente 0 ponto. Estas duas situag6es sucessivas - Ciencia Crista e Medicina - nao ocorrem com alguma freqiiencia como result ado de um processQ de auto-escolha. Mas 0 que vale para este caso limite bem conhecido, pode-se supor que valha, com muito menos freqiiencia e regularidade, para outras sucess6es de status. E esta mesma ideia te6rica, afinal, que foi empregada por Max Weber em sua analise da Etica Protestante em relagao as empresas de neg6cios. 'Com efeito, ele dizia que devido a este processo de auto-escolha, seguindo 'os linhas que temos esbogado, um grupo de status estatisticamente muito freqiiente, compreendia pessoas afiliadas a seitas protest antes asceticas .e ao mesmo tempo defensores dos neg6cios capitalistas. Ademais, em tempo oportuno, estes dois status produziam definig6es cada vez ~ais .compativeis de papeis sociais. Em resumo, funcionavam para reduZlr 0 conflito real entre status, num grupo de status que a estatistica mostra f:star freqiientemente abaixo do nivel de conflito que prevaleceria se nao -fosse pelo funcionamento de tais mecanismos de auto-escolha e pela progressiva redefinigao de obrigagoes de status. Pelo mesmo mecanismo, torna-se possivel que os status "neutros" uns .em relagao aos outros, surjam com consideravel freqiiencia nos mesmos grupos de status. Por "neutro" se entende apenas que os valares e obri-gag6es dos respectivos status sac tais que nao e provt1.vel que entrem .em conflito. (Concretamente, e claro que quase qualquer par de status 'pode ter requisitos conflitantes, sob certas condigoes; contudo, alguns -pares sac mais claramente sujeitos a tais conflitos que outros. Outros pares podem reforgar-se mutuamente, como temos visto, e ainda out,ros podem ser simplesmente neutros). Por exemplo, e concretamente posslv~l que um maquinista de locomotiva seja mais sUjeito a exigencias conflltantes de status se ele for de origem italiana e nao irlandesa, mas .0 sistema social, sendo aquilo que e, esta combinagao de status pare~en~ ter alta proporgao de neutralidade. 0 padrao de status mutuamente mdl' ferentes proporciona alguma medida de variabilidade nos grupos de sta:us, sem acarretar conflito entre eles. Ele ajuda a explicar 0 fato demonstravel de que, embora os status num conjunto de status nao estejam agrupados ,ao acaso, tambem nao sac inteira e estreitamente integrados.
Os conceitos de grupos de status e de seqUencias de status ajudam a gerar outros problemas para a analise funcional das estruturas sociais. 123 Mas 0 esbogo anterior pode ser suficiente para sugerir a natureza de tais problemas. Tambem e evidente que, pOI' sua vez, eles sac ligados a proble~as de ~omportam~nto dos grupos de referencia, e estas ligag6es nao serao exammadas aqUl.
CONSEQU:ENCIAS DO COMPORTAMENTO REFER:ENCIA
DOS GRUPOS
DE
Ao concluir este relato ace rea das continuidades na teoria do comportamento dos grupos de referencia e da estrutura social menciono simplesmente, em vez de analisar, problemas escolhidos das co~Seqi1encias dos tip os diferentes de comportamento dos grupos de referencia. Estuda-Ios com os pormenores que agora sac possiveis faria deste relata provis6rio, urn novo livro de grande extensao.
AS FUN<;6ES E DISFUN<;6ES DO COMPORTAMENTO GRUPOS DE REFERENCIA
DOS
Conforme foi sugerido no capitulo precedente e em porg6es anteriores deste, ha. "coerencia entre a teoria do grupo de referencia e as concep"6es da sociologia funcional. Aparentemente elas tratam de facetas dive~sas do mesmo assunto; urna centraliza-se sabre os processos atraves dos quais os homens se relacionam aos grupos e referem seu comportamento aos valores desses grupos; a outra centraliza-se sabre as conseqUencias d03 ?ro~e.ssos, especialmente para estruturas sociais, mas tamb8m para os mdlvlduos e grupos envolvidos nessas estruturas". (226) 124 . J~ .observamos indicios de algumas das fung6es sociais provisoriamentc Identl.flCadas, de comportamento de grupos de referencias, nas seg6es &~tenores. Consideremos agora uma delas, a fungao da socializagao anteclpada: a aquisigao de va16res e orientag6es encontradas em status e Relata". alguns dos problemas correlatos nos desviaria demais do assunto. ];: de notar pore~, que, as grada~1ies dos papeis (as mudan~as graduais, em vez de slibitas dO~ p.apels nas sequencia.s das situaQoes) operam no sentido de mitigar as dificuldad~s do tlpo descnto por Ruth Benedict, em sua obra "Continuities and discontinuities in cultural conditioning", Psychiatry, 1938, 1, 161-167. Ver ,~sta .me~ma orienta~ao e adotada por Eisenstadt, com interessantes resultados. StudIes m reference group behaviour", Human Relations, 1954, 7, 191-216,especialmente na pagma 192, na qual ele observa: "Ao inves de pergunta,r de inicio quais sao as manelras pelas quais as grupos de referencia influenciam 0 comportamento de urn mdlVlduo, poderlamos perguntar porque tal orientaQao e de quaJquer maneira necess~n~, do ponto de vista tanto de urn sistema social dado como da. personalidade Quais sao a s fun~oes . - preenche no lapso de vida social dao mdlViduo ..' que t aJ onenta,ao e urn mdlvlduo e em sua participa,ao na sociedade da qual e membra?"
grupos nos quais a pessoa ainda nao esta incluida, mas onde e provavel que ingresse. Serve para preparar 0 individuo para status futuros, em sua seqUencia 'de status. Uma parte explicit a, deliberada e freqUentemente formal deste processo e evidentemente aquele representado pel a educagao e pelo treinamento; mas uma parte consideravel de tal preparagao e implicit a, inconsciente e informal, e e particularmente para esses aspectos que a nogao de socializagao antecipada dirige nossa atengao. Tal preparagao informal para os papeis a serem desempenhados em c:onexao com status futuros tende a tel' urn can'i.ter distintivo. Nao costum<:l. abarcar pessoal especializado destin ado a preparar tais papeis, ou entao resulta da preparagao inconsciente e colateralmente proporcionada portal pessoal. Mesmo nas escolas, a socializagao antecipada se estende alem dos limites daquilo que esta formalmente previsto. Pela mesma raza<), a socializagao antecipada nao e didatica. 0 individuo reage as deixas que lhe sac trazidas nas situag6es de comportamento; extrai delas mais au menos inconscientemente implicag6es com respeito a seu futuro desem[-enho de papel e assim se orienta para uma situagao que ele ainda nao ocupa. Tlpicamente, ele nao codifica expressamente os valores e requisitos do papel que esta aprendendo. Conduzindo a esta fungao de socializagao antecipada, esta a circunsl'ancia estrutural daquilo que pode ser denominado "gradag6es de papel". a individuo Se move mais ou menos continuamente atraves de uma seqUencia de status e de pap,eis associados, cada fase da qual nao diferindo muito daquela que a precedeu. Embora sua transferencia "oHcial" (social· mente reconhecida) para urn novo status possa parecer subita, mais freqUentemente tal nao se da, porque a preparagao informal passou inobservada. Ha menos descontinuidade nas seqUencias de status do que poderia. tomar-se visivel na superficie social, com a celebragao dos seus rites de passage e mudangas de situagao legalmente estatuidas. Nas seqUencias de status e de papeis, 0 individuo e mais ou menos continuamente sujeito a apreciagao, pOI' terceiros, da sua adequagao ao desempenho esperado. As tendencias de regresso ao comportamento de urn papel anterior sao dominadas pela reafirmagao da situagao recentemente adquirida. ("Voce agora e urn rapaz cresci do ... ") Correlativamente, as tendencias de avango "prematuro" a papeis em perspectiva sac dominadas ("Algum dia, e claro, mas pOI' enquanto voce ainda e crianga ... "). Com efeito, orientando-se as normas do status em perspectiva, 0 individuo se submete a urn comportamento probat6rio e tende a mover-se num passo controlado pelas reag6es dos que estao no momento naquele deter.
minado grupo. Pouco se sabe das orientag6es de tempo em diregao a situag6es p papeis que as culturas pretendem que deveriam predominar em cada fase do cicIo da vida, e menos ainda acerca daquelas que realmente prevalecem.125 Em seu registro de minuto a minuto, do comportamento de
XII urn menino, em todo 0 decurso de um dia, Barker e Wright 126verificaram que quase metade do comportamento do menino era definitivamente orientado €m direc;ao a seus papeis atuais, uma parte muito pequena (un" quatro por cento das "unidades de comportamento") para papeis futuros e menos ainda em relac;ao a papeis passados. Nao sac disponiveis dado~. paralelos tomados em relac;ao a uma quantidade representativa de pessoas t!.radas de sociedades e de estratos sociais diferentes, de modo que ; assunto permanece inteiramente conjetural. Por exemplo, tem-se dito que' r,a juventude, 0 futuro distante parece vago e quase ilimitado; 0 passado. parece negligivel; e assim 0 presente e 0 futuro imediato tomam significac;ao primordial. Conforme a mesma suposic;ao, os anos medios tendem 3 incluir uma especie de equilibrio entre as tres epocas, ao passo que a velhice se orienta principalmente no passado; porem, na melhor das hip6t.eses isso sac suposic;oes, alias nao muito instrutivas. As norm as de orientac;ao em relac;ao as situac;oes passadas, presentes e futuras, em diferentes estagios do cicIo da vida, quase certamente variam conforme variac;oes de cultura e de posic;ao na estrutura social; mas ainda teremos que alean~ar um conhecimento sistematico a respeito de tudo isso. Contudo, pode-se' sUjJor que, na medida em que variam tais orientac;oes de tempo, a escolha Qe grupos de referencia varia, e assim, tambem a func;ao deles em propiciar a socializac;ao antecipada. o que e verdadeiro desta func;ao dos grupos de referencia, parece valer para outras func;oes que tem sido identificadas nos estudos do comportamento dos grupos de referencia, anteriormente mencionados neste tl:abalho; mas essas func;oes (e disfunc;oes) dos grupos de referencia apenas comec;aram a ser exploradas e, tal como agora estao as coisas, sera melhor estuda-Ias num relato provis6rio e ulterior,127
Smith, "Different cultural concepts of past, present and future: a stUdy of ego exten. sion", Psychiatry, 1952. 15, 395-400. Outro tra,balho come~a II> examinar a possibilidade de que possa haver "varias orienta~6es de objetivo temporal nos varios nlveis da! classes sociais", mediante urn estudo preliminar de pouco mais de cern crian~as das camaodas sociais baixa e media, nos Estados Unidos; Lawrence L. LeShan, "Time onentatlOn and social class", .Tournal of Abnormal and Social Psychology 1952 47 589-592. ' ,. ~~ G.. B~r~er e R F. wright~ une Boy's Day, (Nova Iorque: Harper & Brothers, 1951). n tnbUl~oes baslCaS it teona dos grupo, ..Ie referencia sao encon tradas na edi~ao revista de Muzafer Sherif e Carolyn W. Sherif, An Outline of Social Psychology (Nova Iorque: Harper & Brothers, 1956). Lamento que s6 tenham chegado ao meu conhecimento quando este livro ja estava em provas de pagina~ao.
PADROES DE INFLUENCIAS: INFLUENTES LOCAlS E COSMOPOLIT AS
E
STE E UM estudo explorat6rio, focalizado s6bre 0 papel das tOmunicac;oes de massa nos tipos de influencia interpessoal. Baseado principalmente em entre vistas com oitenta eseis homens e mUlheres, perten centes a diversos estratos sociais e econ6micos, em "Rovere", (nome imaginario) cidade de 11.000 habitantes, situada na orla maritima do Leste, f\ essencialmente urn estudo de casos, em vez de uma analise estatistica 1 de padroes de influencia. 0 alvo especifico inicial deste estudo-pil6to dividia-se em quatro partes: (l) identificar os tipos de pessoas consideradas como influentes por varias maneiras por seus concidadaos; (2) relacionar os padroes de comportamento provocado pelas comunicac;oes com os seus papeis de pessoas influentes; (3) descobrir as pistas des principais caminhos que as levaram a adquirir influencia; e (4) estabelecer hip6teses para 0 estudo mais sistematico de funcionamento da :n.fluencia interpessoal na comunidade local. o corpo deste relat6rio e devotado a uma analise de tipos basicamente diferentes de pessoas influentes: tipos que denominaremos 0 "local" e 0 "cosmopolita". Mas, antes de nos voltarmos para tais assuntos especfficos, pode haver algum interesse em fazer mengao a dois desvios de procedimentos metodol6gicos encontrados no caminho. 0 primeiro desvio foi tom ado quando uma pesquisa aplicada em sociologia, originalm€nte devotada a um problema pratico delimitado, deu origem a construgoes te6ricas que emergiram inesperadamente no processo da investigac;ao. Embora 0 estudo-pil6to f6sse inicialmente empreendido a fim de conhecer as fungoes desempenhadas por uma revista ( magazine~ de circulac;ao nacional para varios tipos de leitores - problema de sociologia das comunicac;oes de massas - logo foi reorientado como result ado das impre.ssoes e dos resultados iniciais, pois se constatou que a revista era utilizada de maneiras nltidamente diferentes por pessoas que exerciam graus variaveis de influencia interpessoal em sua comunidade. Voltando rapidamente 1. Embora sejam citadas de vez em quando cifras sumariza.ndo nosso material de estud~, tais numeros sao apenas heurlsticos e nao demonstrativos. Servem somente para in~.car as fontes de hip6teses interpretativa.s que aguardam investiga~ao detalhada e SIStematica_
sabre nossos passos no segundo rodeio, encontraremos 0 obstaculo que obrigou a invent-ar procedimentos diferentes para analisar os mesmos ,:lados qualitativos. 0 eel'to e que nossa analise inicial foi inteiramente improdutiva. Contudo, com a emergencia dos conceitos de influentes locais e cosmopolitas, os "mesmos" dados qualitativos conduziram a resultados urodutivos que desde entao tornaram-se suscetiveis de serem elaborados. Ap6s esta breve revisao dos procedimentos destas duas fases de 110ssa analise qualitativa, estaremos melhor preparados para avaliar 0 relato especifico dos influentes locais e cosmopolitas. 110S
CONVERSAO DE PESQUISA EM PESQUISA TEORICA
APLICADA
o problema pratico que orientou esta inquiriQao era bastante claro.2 departamento de pesquisa de uma revista noticiosa de circulaQao nacional procurava saber como se poderiam localizar as areas de influencia pessoal numa comunidade. Alem disso, quais eram as caracteristicas de tais pessoas influentes, inclusive quanto a leitura de revistas? A men. cionada revista estava alcanQando as pessoas "chaves" das redes de relaQ6es pessoais? E, de qualquer maneira, quais padr6es de uso dessa publicaQao eram feitos pelas pessoas influentes, em comparaQao com os lcitores comuns? o
Formulado 0 problema pratico, levou imediatamente a enfocar 33tenQao sabre a criaQao de metodos de identificar as pessoas portadoras de graus vari{weis de influencias interpessoais. Obviamente, nao se podia determinal' se os leitores dessa publicaQao eram ou nao desproporcionalmente compreendidos entre aqueles que podiam ser denominados "influentes", a menos que se tornasse possivel utilizar procedimentos para localizar e identificar os influentes. Alem do mais, 0 pr6prio fato de que se inclinava uma pesquisa a fim de lidar com tal problema, indicava qlle alguns indices plausiveis de influencia eram considerados inadequados pelo cliente. Tais indices aparentes de influencia, tais como a ocupaQao, o rendimento, 0 fato de ser proprietario, e as afiliaQ6es dos leitores a dIvers as organizaQ6es, constavam dos arquivos da revista noticiosa, ou eram faceis de outer atraves de uma indagaQao entre os leitores. Orga. nizou-se entao uma pesquisa destinada a procurar indices de influencias 2.
J!: tentador
desenvolver a digressao que isto sugere. A maior parte dos clientes, se nao todos, estava provavelmente interessada em conhecer mais a respeito dos tipos de in. fluencia interpessoal, porque "esse a.ssunto de exercer influcncia" podia ajuda.los a vender a.nuncios. (Frank Stewart registra 43 revistas ilustradas de circula~ao nacional que usam "como varia~6es do tema de que seus leitores sao pessoas influentes"). ltste obje. tivo pratico combinou-se com a existencia de urn departamento de investiga~6es, par3 sugerir a necessidade de se estudar esse terreno. Como veremos, uma vez iniciada a investiga~ao, seus objetivos se diversificaram, distribuindo-se em subproblemas pouco relacionados com os objetivos originais. As fun~6es da pesquisa aplicada a. uma teoria pertinente precisanr ser sistemMicamente exploradas; alguns estudos iniciais estac expostos nc Capitulo V deste volume.
mais eficientes na hip6tese de que, embora as pessoas de alto "status social" possam. exercer influencia interpessoal relativamente grande, 0 status social nao e urn indice adequado. Alguns individuos de status elevadc aparentemente exercem pouca influencia interpessoal, enquanto cutros de status inferior tern consideravel influencia interpessoal. Nova investigaQao qualitativa se fazia necessaria a fim de encontrar indices rnais diretos de influencia interpessoal. Porem, como nao e raro, admitiu-se que 0 problema havia sido exposto lIe maneira adequada desde 0 inicio. Os leitores de tal revista de maneira incomum, compreendem pessoas de influencia, e em qualquer caso, os influentes utilizam a revista de maneiras diferentes que as adotadas pelos :eitores comuns? Na realidade, esta era uma especificagiio prematura do problema, conforme compreendemos somente ap6s que 0 problema-pilato estivera em marcha durante algum tempo. Descobrimos que nao e tanto o caso de identificar os influentes, (e 0 uso que fazem das revistas), mas de descobrir tipos de influentes (e as diferenQas associadas na orientaQao deles relativamente as revistas noticiosas como agencias de informag6es conc~rnentes a sociedade geral, mais do que a sua pr6pria comunidade local). A mudanQa principal deste estudo, conforme veremos, ocorreu com 0 reconhecimento de que 0 problema pratico tinha sido superespecificado em sua formulaQao inicial. Esta superespecificaQao durante algum tempo distraiu a nossa atenQao, das alternativas salientes da investigaQao. Somente quando 0 problema inicial foi reformulado, somente quando. a pesquisa dos meios de identificar os influentes foi convertida numa pesqUlsa de tipos de influentes susoetiveis de diferir em seu comportamento ~e con:u, nicaQao, e que a pesquisa se revelou produtiva, tanto em s~as dimenso~s aplicadas, como te6ricas. Somente entao os dados, antenormente nao assimilaveis POI' nosso esquema representativo, "entraram no lugar". SQmente entao fomos capazes de explicar os diversos dados colhidos na observaQao, os quais se apresentavam desligados, e que foram distribuidos atraves de urn numero lilnitado de conceitos e proposiQ6es. Como veremos na parte central deste relat6rio, ele exigiu uma reformulaQao do problema antes que estivessemos numa posiQao de progredir em direQao aos objetivos aplicados e te6ricos da inquiriQao. Duas Fases da Analise Qualitativados
Influentes
Ap6s a reformuJaQao do problema, ocupamo-nos com a determinaQao de processos, ainda que toscos, para habilitar os informantes a clas~ifi~~r pessoas (separada.s de suas familias imediatas) que exercessem SlgmfIcativa "influencia" sabre elas no curso da interaQao social. 3 Nao nos 3. Nada se dira neste trabalho sabre os procedimentos imagina.dos prelimlnarmente para a identlfica.c;ao de pessoas que exerciam diversos graus de influencia Interpessoal. ::ara informa~6es sabre os mesmos procedimentos, adaptados a uma pesquisa postenor,. veJa-se "A sociometric study of influence In Southtown", por Frank A. Stewart, em SOCIometry,
preocupamos com a influencia exercida indiretamente atraves das decisoes rmportantes, de ordem politica, de mercado, administrativas e outras, as quais afetam grande numero de pessoas.4 Em entrevistas prolongadas, os inform antes eram levados a mencionar as pessoas a quem se voltavam em procura de auxilio ou conselho, relativamente a varios tipos de decisoes pessoais (decisoes que variavam desde a escolha de um emprego ou pIanos educacionais para a pr6pria pessoa e seus filhos, ate a escolha de livros, jogos ou mobilia). E mais, os inform antes eram convidados a indicar as pessoas que, em seu conhecimento, eram geralmente procuradas naquelas varias oportunidades. Essas tentativas de identificagao de individuos que exercessem influencia interpessoal, eram evidentemente ligadas com razoes oferecidas pelos informantes, para explicar porque escolhiam esses "conselheiros" e nao outros. No decurso destas entrevistas, nossos oitenta e sets inform antes vieram a mencionar urn total de 379 pessoas que, num aspecto ou noutro, foram indicadas como tendo exercido infl'uencia sabre eles, em situagoes concretas, envolvendo decisoes. Alguns "conselheiros" apareciam por diversas vezes nesta coleta de dados. (Houve 1043 "mengoes" referentes a 379 pessoas, algumas das quais eram mencionadas 30 ou mais vezes). Dos 379, cinqiienta e sete, ou seja, 15 por cento foram mencionados quatro ou mais vezes, e isto foi provis6riamente tornado como hip6tese de trabalho para apurarmos a "influencialidade". Conforme aqui veremos, este criterio totalmente explorat6rio e arbitnirio nos habUitou a identificar casos em que podiamos examinar 0 funcionamento da in flu en cia interpeswal. Trinta dessas pessoas influentes foram posteriormente entrevistadas, com vistas a sua pr6pria avaliagao ou imagem de sua influencia, avaliagao de in!luencia exercida sabre eles por outras pessoas, situagoes em que eles exerciam influencia, seu comportamento provocado pel as comunicagoes e informes semelhantes. Tudo isso estava incluido nos dados para a analise. Este nao e 0 lugar de relatar, em detalhes, a primeira e improduti.va rase de nossa analise da conduta dos influentes a respeito das comuniragoes. Po rem, considerando resumidamente como e porque isto originou tun tipo diferente de analise, algo pode ser ganho em diregao a uma codijicar;iio de metodos de analise qualitativa.5 Mencionaremos apenas 0 1947, 10, 11-31. A metodologia requerida tinha side notavelmente desenvolvida nurr.a comunida.cle do Meio Oeste pelo Departamento de Investigag6es Sociais Aplicadas da Universidade de Columbia: Personal Influence, por Elihu Katz e P. F. Lazarsfeld, (Glencoe, Illinois: The Free Press, 1955). 4. Para urn breve estudo do conceito de influencia interpessoal provisoriamente empregad" neste trabalho explorat6rio, ver 0 Adendo no final deste Capitulo. 5. Esta parte da nossa exposigao constitui urn convite a fraternida.cle dos soci610gos, pa:-a que incorporem as suas publicag6es, uma resenha detalha,da do modo como se fez realmente a analise qualitativa. Somente quando dispusermos de uma quantidade con~i. deravel dessas resenhas sera possivel codificar metodos de analise qualitativa com algo da clareza com que tem side expressos os metodos quantitativos. A presente exposigao sofre da faJta de materiais concretos que ilustrem as mUdangas sucessivas nas catego· rias de analises; os poucos detalhes aqui relatados procedem de uma monografia mais extensa que se encontra no Departamento de Investigag6es Socia.is Aplicadas; mas IStO
suficiente para indicar de que modo os dados exerceram pressao sabre 0 pesquisador para modificar sucessivamente seu conceito, de maneira que, com a reformulagao dos dados em termos dos novos conceitos, apareceu urn conjunto de uniformidades sugestivas," em vez da confusa massa anterior dos fatos. Naquilo que agora sabemos ter sido a primeira fase, relativamente esteril, de nossa analise, nao s6 distinguimos os individuos influentes da massa dos membros comuns, mas continuamos a distinguir os influentesde acardo com sua posigao din arnica na estrutura de injlruencias locais. Assim, tragaram-se distingoes entre 0 influente habitual (que ocupa uma posigao supostamente estavel), 0 influente potencial (a estrela ascendente _ ainda Se movendo para cima), 0 influente decrescente (que ja passou pelo zenite e esta agora movendo-se para baixo), e 0 influente adormecid"o (possuidor dos atributos objetivos do influente, porem nao os empregando para 0 exercicio da influencia). Os nao influentes foram por sua vez clivididos em componentes da fileira (com uma limitada amplitude de contatos sociais, nos quais sac tipicamente os recebedores, em vez de distribuidores de conselhos) e os isolados (em grande parte desligados dos contatos sociais). Esta classificagao redundou l6gicamente impecavel, empiricamente apliGavel e virtualmente esteril. E certo que os nOSSOSdados podiam ser dispostos Hwilmente nessas categorias; mas isto fornecia poucas uniformidades nitidas, de comportamento resultante de comunicagoes, ou de outros moldes de comportamento. Em resumo, as distingoes eram validas, porem relativamente infrutiferas para nossas finalidades. Po rem, conforme L. J. Henderson observou certa vez, "uma classificagao qualquer e quase sempre Lnelhor que nenhuma", isto conduziu a algumas pistas esparsas, relativas as fungoes das revistas noticiosas e outros meios de comunicagao para cs individuos que ocupam diversas posigoes na estrutura de influencias. Assim, constatamos que alguns influentes usam caracteristicamente a revista nao tanto para sua pr6pria ilustragao, mas para 0 esclarecimento de out~as pessoac; que se voltam a eles a procura de guia e orientagao. Tambem se tornou claro que as fungoes da revista noticiosa diferiam grandemente para 0 membro das fileiras e para 0 individuo influente. Para o primeiro, exerce sobretudo uma fungao pessoal e privada; para 0 segundo, uma fungao publica. Para 0 leitor das fileiras, a informagao encontrada na revista noticiosa. e urn artigo para consumo pessoal, ampliando sua r;r6pria concepgao do mundo dos acontecimentos publicos, ao passe que para 0 influente, e uma mercadoria .de troca, a ser permutada por aumen~os adicionais de prestigio, habUitando-o a agir como interprete dos neg6clOs nacionais e internacionais. Ajuda-o a ser urn lider da opiniao publica. pode ser suficiente para sublinhar a. necessidade de exposig6es cada vez mais detalhadas de analises qualitativas em sociologia, que registrem n1io somente 0 produto final, como tambem os sucessivos passos para chegar a esse produto. Na opiniao do Depa.rtamento, {> necessario desejar fervorosamente est a codificagao, tanto para. a coleta como para a analise dos dados sociDl6gicos qualitativos.
Mas, na melhor das hip6teses, esta primeira classificac;ao resultou num grande apanhado de impress6es avulsas, nao intimamente relacionadas entre si. Nao nos permitia explicar os diversos comportamentos dos influentes. Por exemplo, um pouco mais do que metad~ dos influentes lia ravistas, mas nOSsa classificac;ao nao proporcionou nenhuma pista sistematica quanto ao motivo porque os demais nao as liam. A esterilidade desta fase de nossa analise motivou a busca de novos conceitos de trabalho, mas foi uma serie de observac;6es incidentalmente surgidas no curso dp nossa analise, que dirigiu a atenc;ao para os conceitos reais com os quais viemos a trabalhar. Acima de tUdo, um fato estrategico modelou a segunda fase da analise. As entrevistas com os influentes haviam side centralizadas sabre suas :elac;6es dentro da cidade. No entanto, em resposta ao mesmo conjunto de indagagao, alguns influentes falaram s6mente da situac;ao local de Hovere, enquanto que outros conseguiram incorporar frequentes referencias a assuntos muito alem dos limites de Rovere. Uma pergunta concernente ao imp acto da guerra sabre a economia de Rovere imediatamente provocava, num caso, uma resposta que tratava exclusivamente dos problemas internos da cidade, e no outro, referenc!as a economia nacional ou ao comercio internacional. Foi esta tipificac;ao caracteristica das respostas aentro de uma peculiaridade local, ou uma estrutura mais extensa de r:fere~cia - tipificac;ao que talvez poderia ter sido antecipada, mas que nao fO! - que conduziu a concepc;ao dos dois principais tipos de pessoas influentes: 0 "local" e 0 "cosmopolita". Ao passe que a primeira classificaC;ao havia lidado com fases do cicIo da influencia pessoal, a segunda 0 fez em term os da orientagao 6 dos influentes em relac;ao a estruturas sociais locais e maiores. Uma girava em tarno de posiC;ao dentro da estrutura da influencia; a outra em tarno das bases para a influencia e dos modos como essa influencia era exercida. Com a emergencia dos conceitos de influentes locais e cosmopolitas, llma quantidade de novas uniformidades imediatamente veio a luz. Os "mesmos" materiais tomaram correlaC;6es inteiramente novas, a medida que foram reexaminados e reanalisados em termos de tais conceitos. Fatos que nao encontravam lugar pertinente na primeira analise tornaram-se no segundo nao s6 relevantes, mas tambem criticos. Assim os tipos variaveis dp carreiras 'dos influentes - quer tenham elas se desenvolvido na maior parte dentro de Rovere, ou ali se tivessem ampliado depois de haverem sido iniciadas alhures - vieram a ser uma parte integrante da 1"egunda analise, ao passe que haviam side "interessantes", mas nao,inte-
A orien6. :r;; ~ecessaria uma palavra de explica~ao sabre este conceito de "orienta~ao'. ta~ao social difere do papel social. 0 papel se refere ao modo em que sao postos em pratIca, ~s direitos e deveres Inerentes a uma posi~ao social; a orienta~ao, como aqul e donceblda refere-se ao tern b' t . , , , ,.' a su Jacen e no complexo de papels SOCIalSdesempenhados pelo md,V,duo. :r;; 0 tema (tacito ou exp1icito), que encontra expressao em cada urn dos complexos de papeis sociais em que 0 indiV'iduo esta envolvido.
grantes na primeira. Tais assuntos aparentemente diversos, com a mobilidade geografica, a participac;ao em rede de relac;6es pessoais e em organizac;6es volunt~rias, a translaC;ao de potenciais de influencia em operac;6es de influencia, os mol des de comportamento determinados pel as comunicac;6es - verificou-se que tudo isso eram express6es dessas orientac;6es principais em relac;ao a comunidade local: orientac;6es variando desde a preocupac;ao virtualmente exclusiva com a area local ate a preocupac;ao fundamental com 0 grande mundo exterior. Neste preludio ao corpo principal do relat6rio, notamos, portanto, dois assuntos de interesse de procedimentos e de metodos. Vimos primeiramente, que uma pesquisa social aplicada, originalmente focalizada sabre objetivo severamente delimitado, originou uma investigaC;ao mais extensa, incidindo sabre uma teoria sociol6gica de moldes de influencia interpessoal. E em segundo lugar, resumimos brevemente as circunstancias que pressionam a favor de uma 'modificac;ao de conceitos qualitativos, com a consequente reformulac;ao de fatos separados em padr6es e uniformidades coerentes. Com esta breve introduc;ao, estamos preparados para 0 relato especffico dos dois tipos basicamente diferentes dos influentes, e de seus respectivos padr6es de comportamento em relac;ao as comunicac;6es.
Os termos "local" e "cosmopolita" 7 nao se referem, evidentemente, as regi6es nas quais a influencia interpessoal e exercida. Ambos os tipos de influentes funcionam quase exclusivamente dentro da comunidade local. Rovere tem poucos residentes que tenham seguidores estranhos aquela comunidade. '" o criterio principal para distinguir os dois termos e encontrado em sua orientagao em relaC;ao a Rovere. 0 individuo "localista" limita geral7. Depois de identiflcados os dois tipo's de influentes, estas palavra,s foram tomadas ele Carle C. Zimmerma.n, que as usa para traduzir a famosa distin~ao de Toennies entr~ 0 leitor informado sabre socicGemeinse,hart (localista) e Gesellschaft (cosmopolita). logia encontrara a mesma distin~ao, embora com terminologias diferentes, nos trabalhos de Simmel, Cooley, Weber, Durkheim e outros. Ainda que estes vocabulos tenh20m sido usados comumente para referir-se a tipos de organiza~ao social e de rela~5es sociais, aqui se aplicam a materiais empiricos sabre tipos de pessoa.s influentes. Cf. Fundamental Concepts of Sociology (Nova Iorque, 1940), tradu~ao feita por C, P. Loomis do livro classico de Ferdinand Toennies, Gemeinschaft und Gesellschaft e de urn artigo posterior, sumamente importante, com 0 mesmo titulo. Ver tambem The Changing Commuuity, por Carle C. Zimmerman (Nova Iorque e Londres: Harper & Brothers, 1938), ,espeCIal. mente pags. 80 e segs. Para urn resumo completo de conceitos analogos na I1teratura sociol6gica, ver Systematic Sociology, de Leopold yon Wiese e Howa,rd Becker (No'Ja Iorque: JohI'\ Wiley & Sons, 1932), especialmente 223-226n, (0' 0 conceito de influentes foi tirado de urn estudo da estrutura de influencia, de urn suburbio onde residem indiv!duos de reputa~ao e influencia nacionais. Como d,zem os auto res, "nao e surpreendente que as caracteristicas pessoais desses 'influentes' difiram das do influente 'cosmopolita' de baJxa categoria de Rovere". Kenneth P, Adler e Davis Bobrow, "Interest and influence in foreign affairs", Public: Opinion Quarterly, 1956, 20, 89-101. Ver tamhem Floyd Hunter, Power Structure: A Study of Dedsion·Makers (Chapel Hill: University of North Carolina Press, 1953).
mente seus interesses a sua pequena comunidade. Rovere e essencial. mente 0 seu mundo. Devotando poucos pensamentos a grande Sociedade {'Ie se preocupa com problemas locais, com virtual exclusao do palc~ nacional e internacional. Estritamente falando ele e provinciano. o contrario se observa com 0 tipo cosmopolita. Ele tern algum interesse em Rovere, e necessita, evidentemente, manter urn minima d~ relac;:oes dentro da comunidade, urna vez que tambem exerce influencia all. Mas esta. tambem orientado significativamente para 0 mundo fora de Rovere. ResIde em Rovere, mas vive na Grande Sociedade. Se 0 tipo local e paroquial, 0 cosmopolita e ecumenico. ~las trinta pessoas influentes entrevistadas longamente, catorze foram avah~das separadamente por tres analistas 8 como "cosmopolitas", e dezesselS como "locais". As orientaQoes dessas pessoas encontraram expressao caracteristica uuma variedade de contextos. Por exemplo, os influentes foram incitados a declarar seus pontos de vista pela quase projetiva interrogaQao: "Voce se preocupa muito com as noUcias?" (Isso se passava no outono de 1943 quando "as noticias", para a maior parte da gente, eram refei"entes ~ ,guerra). As respostas, tipicamente bastante longas, prontamente se prestaram a classificaQao em termos dos principais focos de interesse dos influentes. Urn conjunto de comentarios foi focalizado sabre os problemas de ordem nacional e internacional. Expressavam preocupaQao com as d.ificuldades que acompanhariam 0 surgimento de urn mundo estavel no !lp6s-guerra; aludiam muito ao problema de se construir uma organiz~QaO internacional a fim de garantir a paz; e assim por diante. 0 segundo ~onjunto de comentarios referia-se as notfcias da guerra, quase inteiramente em termos do que ela significava para os entrevistados pessoalmente, ou para seus concidadaos de Rovere. Aproveitavam-se de uma pergunta a respeito das "notfcias" como a uma ocasiao para revisar 0 imediato fluxo de problemas que a guerra introduzira na cidade. Classificando os influentes nestas duas categorias, encontramos que c~ozedos catorze 9 cosmopolitas tipicamente respondiam dentro da estrutura dos problemas nacionais e internacionais, ao passe que apenas quatro dos ~, Esta coincidencia completa das estimativas diflcilmente pode ser esperada numa. amostra mais numerosa. Mas os sindromes cosmopolita. e local estavam tao claramente de!inidos para este punhado de casos, que houve pouca duvida ac';~,Tcado "dlagn6sticow• Uma Investigagao completa encontraria. crit&rios mals formals de acardo com. os lineamentos impHcitos no estudo seguinte e, em consequencia, descobrlria urn tipo intermediario que nao se aproximarla do p610 local nem do p610 cosmopolita. :9. Devemos ,epetir que as cifras citadas 'neste ponto, como em todo 0 livro, nao devem ser tomadas como fonte representativa populaclona.l. Sao men cion ados o.nlcamente para llustrar 0 prop6sito heuristico a que serviram, sugerindo pistas para 0 fun cion amen to de diferentes tipos de influencia interpessoal. Como costuma acontecer tao frequen· temente com os resumos qua.ntitativos de estudos de casos, as cifras nao confirmam Ulterpretag6es, apenas as sugerem. Por sua vez, as interpretag6es explorat6rias fome'cern urn ponto de partida para projetar estudos quantitativos ba.seados sabre amostras 2,dequadas, como em Katz e Lazarsfeld. op. cit.
dezesseis influentes locais falavam seguindo esta linha de pensamento. Gada tipo de influentes isolava elementos distintamente diferentes do fluxo dos acontecimentos. Uma pergunta vagamente formulada habilitava cada urn a projetar suas orientaQoes basicas em suas respostas. Tadas as outras diferenQas entre os influentes locais e os cosmopolitas parecem derivar de suas diferenQas a respeito da orientaQao basica.10 Os perfis dos grupos indicam a tendencia dos influentes locais a se devotarem lie localismo; e provavel que hajam residido em Rovere por urn longo periodo, sac profundamente interessados em encontrar-se com muitas pes· soas da cidade, nao CJueremse mudar dali, com grande probabilidade estarao ;nteressados na politica local etc. Tais itens, os quais sugerem grande disparidade entre os dois tipos de influentes, constituem nossa principal preocupaQao nas seQoes seguintes. Nelas veremos que a diferen<;a na orientaQao basica e ligada a uma variedade de outras diferenQas: (1) nas estruturas das relaQoes sociais em que cada tipo esta implicado; (2) nos caminhos que percorreram ate chegar as suas atuais posiQoes na estrutura de influencia; (3) na utilizaQao do seu status atual para 0 exercicio da Jnflu€mcia interpessoal; e (4) em seus comportamentos motivados pelas comunicaQoes.
Os influentes locais e cosmopolitas diferem de modo marc ante em seus laQos com a cidade de Rovere. Os primeiros sac grandes patriotas locais e 0 pensamento de sair de Rovere parece raramente lhes vir a ideia. Tal como disse urn deles, numa tentativa de explicaQao: Rovere e a melhor cidade do mundo. Tern algo que nao existe em nenhum do mundo, embora. eu nao possa dizer exatamente 0 que e.
outro lugar
Perguntados diretamente "se jamais pensaram em sair de Revere", treze dos dezesseis influentes locais responderam enfaticamente que nunca ~,onsiderariam esta possibilidade, e os outros tres expressaram uma forte preferencia no sentido de permanecer, embora acreditassem que poderiam sair sob certas condiQoes. Nenhum sentia que ficaria igualmente satisfeito com a vida em qualquer outra comunidade. Ja nao se dava 0 mesmo ((lm os cosmopolitas. Somente tres destes afirmaram estar ligados a Rovere por tada a vida. Quatro expressaram sua atual boa vontade de viver em outra cidade, e os restantes sete gostariam de mudar, sob certas condiQoes. As reaQoes dos cosmopolitas, tais como a seguinte, jamais surgem entre os locais: 10,
Nao se diz nada aqui dos determinantes objetivos das diferengas de orientagao. Descobrir esses determ in antes e tarefa. adicional e claramente importante, que nao se val ten tar
no presente
estudo.
Sociologia -
Por divers as v:",es estive para me mudar daqui" para assumir outro emprego. Estou apenas aguarda.ndo que meu filho se encarregue de minha clinica, para mudar-me para a California.
Estas diferen~as basicas de atitude em rela~ao a Rovere ootao arri0uladas com 0 curso diferente da vida dos influentes locais e dos cosmopolitas. as cosmopolitas tiveram vida mais movimentada . as locais tipi' camente nasceram em Rovere ou em sua vizinhan~a imediata. Enquanto 14 dos 16 locais residiram em Rovere durante mais de vinte e cinco anos, o mesmo e exato para menos da metade dos cosmopolitas. Os cosmopolitas sao tipicamente pessoas que chegaram recentemente, e que t em residido numa suce~sao de comunidades em diferentes partes do pais. Nem sequel' isto parece ser 0 resultado de diferen~as na composi~ao da idade dos grupos local e cosmopolita. Na verdade, os cosmopolitas provavelmente serao mais jovens que os influentes locais. Porern, Quanta 90S de mais de qUfl,renta e cinco anos de idade, os cosmopolitas parecem Ber na compara~ao, recem·chegados, e os influentes locais, nascidos e criados em Rovere. Partin do dos materiais dos casos, podemos inferir as bases da marcada \incula~ao com Rovere, caracteristica dos influentes locais. No processo de estabelecer sua marca, estes influentes se tornaram completamente adaptados d comunidade, e duvidosos quanto a possibilidade de se darem Uio bem em outra parte. Da altura dos seus setenta anos de idade, um juiz local refere sua sensa~ao de total incorpora~ao a comunidade: • Eu nao pensaria em mudar·me de Rovere. As pessoas aqui sao muito boas, muito compreensivas, Gostam, de mimo e sou agradecido a Deus pelo senti men to de que as pessoas de Rovere confiam em mim e olham para mim como seu guia e !lder.
Assim, 0 forte senso de identifica~ao com Rovere, entre os influentes locais, e ligado com suas origens tipicamente locais, e com seus moldes de carreira nesta comunidade. Econ6mica e sentimentalmente, eles estao profundamente enraizados em Rovere. No que se refere a liga~ao com Rovere, os cosmopolitas diferem dos locais virtualmente pm todos os aspectos. Nao somente eles sac relativamente recem·chcgados; eles nao se sentem enraizados na cidade. Tendo caracteristicamente vivido em outros lugares, sentem que Rovere, "uma cidade bastante agradavel", e apenas uma entre muitas. Tambem estao convencidos, atraves da experiencia vivida, que podem progredir em suas carreiras, em outras comunidades. POl' conseguinte, nao pens am que Rovere abarque os limites extremos de uma existencia segura e satisfat6ria. A sua maior riqueza de experiencia modificou·lhes a orienta~ao relativamente a comunidade onde agora vivem.
No, decurso das entrevistas os influentes tiveram ocaslao de expressar suas atitudes em rela~ao a "conhecer muita gente" da comunidade. As
Te()ria e Estrutura
.' t damente entre os dois tipos. Treze dos dezesseis atitudes dlfenram acen ua . , I' m contraste com quatro dos catorze cosmopol1tas, expresmfluentes ocals, e .. ·t . . t reA sse em estabelecer frequentes contatos com mUl a saram marca d 0 ill e gente.. t a se mais instrutiva quando e examinada em termos Esta cliferenga orn . ., a influente local preocupa-se caracteristicamente em conhecer c;uall~atlvo.s. s'vel de pessoas E quantitativista na esfera dos contatos o mawr numero pos 2' • te d . t Conforme dizia um elemento mfluen a sociais as numeros con am. " 1" . . . I' fazia eco aos sentimentos de outro loca, 0 pol1cla * (0 qua aSSlm ' Prefeito) : d' ra mim mesmo, Gosto de - de amigos em Rovere, (.> 0 que Igo pa Tenho uma porQao 'na poderei fal&r com 500 pessoas em duas Se eu parar numa esqUi • ha conhecer a t 0 dos . or exemplo quando se promove alguma camp an . horas. Conhecer a aJuda, das pessoas P A' ssoas influentes que s&bem como voce s pe . , d' gente para 0 lugar. , ] d' e urn dill. desses: "Bill, voce, tern mals Todo mundo III Ica a prefelto Isse-m . t e conversa com 0 povo. Jack Flye [0 Eu gosta,ria de ter todos os amigos que VOCeJ em, e 'IU' amigos nesta cidade do que eu. voce ma.! conhece". Isto me fez sentir bem ...
Esta atitu~e tipica se ajusta al?nfi~:n~~:h:~:~~~t~~o~iPeO ::s i~~~~~~~: . I Alem dlSSO sugere que a At "oca... ' . r6 rios influentes Iocais. Nem sequel' es e nessoals e reconheclda pelos ~ onse uencia das ocupagoes tnte~esse pelos Ic~n:-atosc:se~:~~~i:n~:S~n~:;:~i~sionais liberais, e os memdos mfluentes o'.,als. A' t todos no mesmo canto em louvor bros do governo local, entre el~s, Jun am-se .d t de um banco recapitula dos contatos multiplos : vanaddos. a p~pe:~i::c~a e modo de encarar as a mesma hist6ria em termos e sua e
?
coisas: essoas Isto na verdade comeQou quando eu Eu sempre gostei de conversar .com as ~m ort~~~ do banco, no que diz respeito aos era caixa. 0 caix", esta na poslQao ma~s P I'dar com to do 0 mundo. Voce aprende .' C caixa voce tern que I , de omo. . - tern outra oportunidade aSSlm ' cont&tos com 0 publico. t'smo de cada urn Voca nao h" d ~ '. que e muito capaz, mas " ua a conhecer 0 nome d e b a 1 A ora mesmo temos urn calxa . comunlcar-se con, 0 povo. g . d-Ie j;;le nao demonstra simpatla.para rocuraram para se quelxar e , nto ou tres pessoas que me. P .• d ma palavra gentil a cada urn; e urn assu com elas. Eu disse a ele, voce tern que ar u pessoal e comercial.
Esta nota dominante ressalta
0
interesse decisivo dos i~fluentes r~~~~~~
:i:
e
a~~i~a~~~:~~~ ac:me;ciaI, em t6das as maneiras de contatos pes~~ais, as suas personalidades quando nec~ssl am sob 0 'pressuposto ou de outro tipo, as influe~tes deste grupo ~:m de vista local, e in. x Ucito de que podem ser lmportantes, do po a :l~ntes pelo fato de mobilizar bastante pessoas que ~s conhecem e ·quem poderao ajudar, assim como ser ajudados pOl' eles.
(0)
N. do trad.:
Nos Estados
cipio ou ao condado,
Unidos a policia comum
e
"Ioca.!", isto
e,
compete ao muni-
Robert K. Merton
. ~s influentes cosmopolitas, por outro lado, tem notavelm mteresse em conhecer i:a7Ua gente quant. ente pouco . 0 posslVeI.l1 Sao mais selet· em sua eSCO~lade amigos e conhecidos At. IVOS importfmcia de se Iimitarem a amigo . cen uam, de maneIra tipica, a " s com quem POssam "conversa d verdade , com quem possam "trocar 'd'" ". r e quantitativistas, os cosmopolitas sac ~u=;;s;. .~e os mfluentes locais sac peito. Nao e quantas pessoas eles conh~c:~IS ::s em rel~g~o a este resque eles conhecem, 0 que para eles e impor;ante. 12a especle de pessoa3 . 0 contraste com as atitudes predominantes dos influentes salwntado nestas afirmagoes dos influentes cosmopolitas:
locais e
Nao fa~o questao de conhecer pessoas, a, menos que Nhaja algo nelas. ao estou interessado em quantidade. Gosto de sabe soas; isto expande a cultura da gent G t I' 0 que hil com as outras pese. os 0 de encon trar pe d tru~ao e experiencia iguais as minhas. ssoas e mentalida.cle, ins-
Assim comO com os influentes locais a . t. . cruza as Iinhas ocupacionais e educaci .' qUI ambem a atItude basica liberais entre os cosmopolitas nao sali~~~:~ oSdprofissionais e extensa rede de conhecid anCIa e uma larga ,. os, se a pessoa pretende desenvolver uma cllentela. Em contraste com urn advogado "local" q f I d " . , ue a a a vantagem ~ara mlm: ~e conhecer tantas pessoas quantas me seja possivel" um cosmopollta torna-se ao mesmo tempo poetico e exclusivista, ao ~izer:
:0~r::;~~~10,.
. Nunca sai para procurar gente. Nao sinto pra,zer algum tas C f em andar POl' a! a fazer . on orme P016nio dizia a Laertc [em "Hamlet"]: "Os amigos comprovados, adotados POl' ti, Agarra~os a tua. alma, Com grampos de a~o, Mas nao deprecies teu aperto de mao Apertando ados frangotes ainda imp{umes ... "
Sl
vi-
Ao considerar· a sociabilidade dos locais e dos cosmopoIitas, examinamos suas atitudes para com as relagoes informals e pessoais. Mas quais sac os seus papeis nas agencias mais formais de contatos sociais: as organizagoes voluntarias? Como era de esperar, ambos os tipos de individuos influentes costumam pertencer a maior numero de organizagoes do que os cidadaos comuns. Os influentes cosmopolitas pertencem a uma media de oito organizagoes por individuo, e os influentes locais, a uma media de seis. Isto poderia dar a entender que os cosmopolitas fazem maiar uso dos canais de organizagoes, para exercer influencia, do que de contatos pessoais, acontecendo 0 contra-rio com os locais. Mas 0 que succde com a sociabilidade, tambem se da com as organizagoes; os fatos mais instrutivos sac qualitativos, e nao quantitativos. Nao e tanto pelo fato de os cosmopolitas pertencerem a mais organizagoes do Que os locais. Se uma investigagao rigorosa levasse a tal impressao, ainda nao identificaria as diferengas organizacionais estrategicas· entre os dois grupos. Antes acontece que eles pertencem a tipos diferentes de organizagoes. E, mais uma. vez, essas diferengas reforgam 0 que temos apren,dido acerca das duas especies de influentes. Os influentes locais, evidentemente, se agrupam naquelas organizagoes que sac sobretudo destinadas a "fazer contatos", para estabelecer lagos pessoais. Assim, eles sao encontrados sobretudo nas sociedades secretas (Magonaria), nas organizagoes fraternais (Elks) e nos clubes de servigos locais - 0 Rotary, os Lions, e os Kiwanis, que em Rovere e a organizagao mais poderosa. Sua participagao parece ser menos questao de levar adiante as objetivos nominais de tais organizagoes, do que de usa,.las como centros de cantata. Conforme diz francamente um influente local, negociante: li-II~
tago:u:~r~~~~i:ost~rior
deste tr~balho, veremos que estas diversas orien-
podem ser interpr:tad~: ~~:o~~:a~u co~ce~nentes as relagoes pessoais, nlcangar a influencia N .ngao.. e seus modos diferentes de !Jrocuram entrar . . o. momeAnto,e SUficiente observar que os locais os cosmopolitas em mUltIPla~ redes de relagoes pessoais, ao passo que ' no _mesmo nwel de status, expIicitamente limitam a am. Plitude d essas relac;oes.
11. Isto foi confirm ado de forma interessante . . lnformantes uma lista red· 'd ' da segumte manelra: apresentamos a nossos 19l a ao acaso de nomes de resid t t '1 en es em Rovere, pedindo-lhes que os identificassem Os infl dos outros grupos de' informant~:n :s osocais reconheceram mais nomes que qualquer pessoas que os inform antes _ . '. cosmopollta.s, POI' sua vez, conheciam meno. 12 N t nao mfl uen tes . e~ e estudo-pIl6to, limitamo-nos a . _ pessoais. Uma, investiga _ . expressao de atitudes para com rela~6es e contatos d ~ao mals detalhada poder· . as rela~6es pessoais efet. . . la exammar 0 quantum e a qualidade lvas, caractenstIcas dos influentes locais e dos cosmopolitaos.
Consigo conhecer as pessoas atraves dos elubes de servi~o: Kiwanis, Rotary, Lions. Atualmente perten~o a.os Kiwanis. :t!;ste clube e diferen1e dos demais. Voce' tern que ser escolhido para ingressar nele. :t!;lesescolhem voce primeiro, fazem urn inquerito a seu respeito. Congrega apenas urn numero limitado de pessoas influentes, e com elas almo~o uma vez pOl' semana.
Os cosmopoIitas, por outro lado, tendem a pertencer aquelas organi7agoes nas quais podem exercer suas habilidades e conhecimentos especiais. Sao encontrados em sociedades profissionais e em grupos de passatempo ("hobby"). Na epoca da pesquisa, em 1943, estavam mais frequentemente envolvidos em organizagoes da Defesa Civil, estimulando os objet.ivos da organizagao, mais do que estabelecendo lagos pessoais. o mesmo contraste aparece na Iista de cargos publicos preenchidos pelos dois tipos de influentes. Sete de cada urn dos tipos desempenha l1,lgum cargo publico, embora os locais tenham uma media um pouco menor, um cargo a menos que 0 outro grupo. A diferenga principal e no tipo de cargo desempenhado. Os locais tendem a preencher cargos poli-
ticos - encarregado das ruas, prefeito, a camara de vereadores etc. c:omumente obtidos atraves de relar;6es politicas e pessoais. Os cosmopotitas, por outro lado, aparecem mais freqUentemente em posir;6es publicCl.S que envolvem nao apenas funr;6es politicas, mas a utilizar;ao de habilidades e conhecimentos especiais (por exemplo, a Junta de Saude, 0 Comite dd Construr;6es, a Diretoria de Educar;ao). De tudo isso podemos estabelecer a hip6tese de que a participaQao nas associar;6es voluntarias * tem funr;6es um tanto diferentes para os influentes cosmopolitas e para os locais. Os cosmopolitas se ocupam com as associar;6es, principalmente devido as atividades de tais organizar;6es, pois elas proporcionam 0 meio de ampliar suas habilidades e seu conhecimento. Os locais €stao interessados principalmente em associar;6es, nao pelas suas atividades em si, mas porque proporcionam um meio para f1.mpliar as relar;6es pessoais. As orientar;6es basicas dos influentes locais e dos cosmopolitas sac assim expressas de maneiras diversas, no comportamento organizacional, assim como em outros aspectos.
As diferenr;as anteriores na ligar;ao sentimental em relar;ao a Rovere, a sociabilidade, e ao comportamento relativo as organizar;6es, nos ajudam 9, determinar os diferentes caminhos de influencia, percorridos pelos locais e pelos cosmopolitas. Ao cartografar estes caminhos, preencheremos o pano de fundo Decessario a interpretar;ao das diferenr;as em conduta de comunicar;6es, caracteristicas dos dois tipos de influentes. Os locais, em grande proporr;ao cresceram na cidade e cresceram com ela. Em sua maior parte, freqUentaram as escolas locais, saindo temporariamente, para seus estudos universitarios ou profissionais. Tive: ram seus primeiros empregos em Rovere, e ganharam seus primeiros d6lares da gente de Rovere. Quando chegaram a elaborar suas carreiras, R.overe foi 6bviamente 0 lugar em que passaram a exerce-Ias. Era a unica eidade que conheciam bem, na qual conheciam, da caber;a aos pes, a )Jolitica, os neg6cios e a vida social. Era a unica comunidade que conhedam, e de modo igualmente importante, que os conhecia. Ali eles tinham desenvolvido numerosas relar;6es pessoais. E isto conduz ao atributo decisivo do caminho para 0 sucesso dos influentes locais; muito mais do que com os cosmopolitas, sua influencia repousa sabre uma elaborada rede de re'lar;;6es pessoais. Numa f6rmula que de uma s6 vez simplifica e ilumina 0 fato essencial, podemos dizer: a influencia dos influentes locais repousa nao tanto no que eles conhecem, mas em quem eles conhecem.
e
Assim, a preocupagao dos influentes locais com as relar;6es pessoais em parte 0 produto e em parte 0 instrumento de seu tipo particular de
(.) Para tip os e func;5es de participac;ao em tais organizac;5es, ver Bernard Ba.rber, "Participation and mass apathy in associations", em Studies in Leadership, compilados por Alvin W. Gouldner, (Nova Iorque: Harper & Brothers, 1950), 477·504.
influencia. 0 "mho da terra que progride", parece que 0 consegue atraves de boas relar;6es pessoais. Desde que ele esta envolvido em relaQ6es pessoais, muito tempo antes de haver seria~ente abrar;ado sua carreira, 0 caminho de menor resistencia para ele e continuar a se apoiar sabre tais ':elar;6es, tanto quanto the seja possivel, no prosseguimento de sua, profissao. Com 0 influente cosmopolita, tudo isso muda. Sendo tipicamente um fecem-chegado a comunidade, ele nao utiliza, nem pode utilizar, relar;6es pessoais para chamar a atenr;ao. Usualmente, ele vem a cidade totalmente equip ado com 0 prestigio e as habilidades associadas com 0 seu neg6cio ou sua profissao, e sua experiencia "mundana". Inicia sua ascensao na estrutura de prestigio, num nivel relativamente elevado. E 0 prestigio de suas realizar;6es anteriores e habilidades previamente adquiridas, que 0 tornam aceitavel a um lugar na estrutura de influencias. As suas relar;6es pessoais sac mais 0 produto do que 0 instrumento de sua influencia. Essas diferenr;as na localizar;ao dos tipos de carreira tem algumas interessantes conseqUencias para os problemas que confront am os dois tipos de influentes. Em primeiro lugar, h~a alguma evidencia, embora longe de ser conclusiva, de que a ascensao dos locais a influenciabilidade e vagarosa, comparada com ados cosmopolitas. 0 Dr. A., pastor ~rotestante cosmopolita e leitor de revistas noticiosas, observou, a res pelto da !acili~ade com que havia chegado a destacar-se na comunidade: "A vanta gem de ser pastor (> que voce nao tem necessidade de exibir provas. A gent~ aceita e recebida em todos os lares, inclusive os melhores". ros grifoE
Ii imediatamente
sao nossosJ.
Conquanto essa observar;ao possa ser otimista, reflete 0 ponto essencial de que 0 recem-chegado que se "realizou" no mundo de fora, toma seu lugar mais cedo entre aqueles que tem alguma medida de influencia na comunidade local. Em contraste, os influentes locais tem que "fazer suas provas", Assim, 0 presidente de banco local, que levou uns quarent~ Bnos para subir, partindo do seu emprego de mensageiro, fala com sentlmento da longa e vagarosa estrada ao longo da qual "abri meu caminho para cima". A composir;ao de idade dos influentes local e cosmopolita e tamb8m uma palha ao vento com relar;ao a proporr;ao da subida para a influencia. Todos, menos dois dos dezesseis influentes locais, tem mats de quarenta e cinco anos de idade, ao passe que menos de dois terQos dos cosmopolitas estao neste grupo de idade. Nao somente a proporc;ao de subida para a influencia pode ser mais 'jagarosa para 0 innuente local, do que para 0 cosmopolita, mas a ascensao envolve algumas dificuldades especiais derivadas das relar;6es pessoais locais. Parece que tais relar;6es tanto podem auxiliar como dificultar :rapaz, no "sair-se bem". Ele devera sobrepujar os obstaculos de ser intimamente conhecido pela comunidade, quando ele era "apenas um rapazinho". De alguma forma ele devera habilitar os outros a reconhecerem sua con-
°
sistente mudanQll; de situaQao. E 0 que e mais importante, as pesssoas de quem ele era subordinado deverao ser convencidas de que ele se tornou superior, de alguma forma. Kipling segue os ensinamentos de S. Matens, Cap. 13, ao observar que "os profetas sac honrados POI' t6da a Terra exceto na aldeia em que nasceram". 0 problema da ascensao na estrutur~ de influencias, para 0 individuo em sua cidade natal, pode ser exatamente localizado em termos sociologicos: a mudanQa de status dentro de urn grupo, particularmente se ela for bastante rapida, exige a reformulaQao de atitudes em relac;ao ao individuo movel, e renovaQao de relaQoes com ele. A estrutura preexistente das relaQoes pessoais durante algum tempo restringe a subida do influente local. Somente quando ele logrou abrir caminho entre as concepQoes estabelecidas a seu respeito, os outros acei· tarao a inversao dos papeis acarretada na ascensao do homem local, a uma posiQao de influencia. Urn advogado de Rovere, enumerado entre os in· iluentes locais, descreve concisamente 0 processo: Quando iniciei minha atividade, as pessoa.s me conheciam tao bem na cidade que m~ tratavam ainda como se eu f6sse urn gar6to. Mas depois que tomei interesse em vari05 assuntos publicos e c!vicQs, e me tornei presidente da org2U1izagao democratica, e me can· didatei a legisla.tura do Estado - sabendo muito bem que nao conseguiria ser e:eito eles comegaram a me considerar seriamente.
o cosmopolita nao enfrenta a necessidade de romper os preconceitos locais acerca de si mesmo, antes que the seja possivel ter sua situaQao ~le influente, "cons~derada seriamente". Como temos visto, suas credenriais sao encontradas no prestigio e na autoridade de suas realizaQoes. fora dali. Ele assim manifesta menos interesse numa larga faixa de con· tatos pessoais, POI' duas razoes. Primeiro, sua influencia deriva do prestigio, ao inves da reciprocidade com outros da comunidade. Segundo, a r-roblema de se desembaraQar das imagens obsoletas dele como "menino" nao existe para ele, e, conseguintemente, ele nao focaliza sua tensao sobr~ relaQoes pessoais, como sucede com 0 influente local. As estradas separadas, que levam a influencia, percorridas pelos locais e pelos cosmopoJitas, ajudam assim a explicar suas orientaQoes divergentes em relaQao a comur.idade local, com tudo 0 que tais orientaQoes implicam.
, ~este ponto, pode ocorrer ao leitor que a distinQao entre os influentes LocalSe cosmopolitas e meramente urn reflexo de diferenQas da educaQao ou ocupaQao. Tal nao parece ser 0 caso. E certo que os cosmopolitas entrevistados tiveram mais instruQao fo~al do que os locais. Todos, menos urn dos cosmopolitas, em compa~aQao.co~ a metade dos locais, sac pelo menos diplomados no ginasio. ambE\m e verda de que a metade dos locais esta nos "grandes negocios" cOI'~forme0 padrao de Rovere, ao passe que apenas dois dos catorze cosmo: pol1tas caem neste grupo; e ainda, que metade dos influentes cosmopolitas
sejam profissionais liberais, em comparaQao com menos de urn terQo dos locais. Porem, essas diferenc;;as na situaQao profissional ou educacional nao \ parecem determinar os diversos tipos de influentes. Quando comparamos o comportamento '3 as orientaQoes dos profissionais liberais entre os in· .fluentes locais e cosmopolitas, as suas difereuQas caracteristicas persistem, rn.esmo quando tern as mesmos tipos de profissao liberal e mesmo que t.enham recebido 0 mesmo tipo de instruQao. As diferenQas educacionais e profissionais podem contribuir para as diferenQas entre os, dois tipos de influentes, mas nao sao a jonte dessas diferenQas. Mesmo como profissionais, 0 influente local e mais negociante e politico, em seu comportamento e em seu ponto de vista, do que 0 cosmopolita. Ele utiliza as rela(,oes pessoais como uma via para atingir a influencia, notavelmente mais do que seu equivalente cosmopolita. Em resumo, e a maneira de utilizar o status social e nao os contornos jormais do pr6prio status, que e decisiva.
13
Ao passo que 0 status ocupacional pode ser urn apoio principal para a ascensao do cosmopolita a influencia, isto e meramente urn adjutorio para o local. Enquanto todos os cinco profissionais liberais locais procuravam ativamente a politica local, os profissionais liberais cosmopolitas pratica· mente ignoravam a atividade politica organizada, em Rovere. (Seus cargos oficiais tendem a ser nomeaQoes honorarias). Longe de que a profissao sirva para explicar asdiferenQas entre eles, parece que a mesma ocupa~ao tern urn papel diferente na influencia interpessoal, conforme e adotada POI'urn local ou pOI' urn cosmopolita. Isto confirma nossa impressao anterior de que os "atributos objetivos" (instruQao, profissao etc.), nao sac suficientes como indices de pessoas que exerQam influencia interpessoal. o negociante influente, que entre nosso pequeno numero de entre vistados e encontrado quase exclusivamente entre os locais, utiliza tipicamente suas relaQoes pessoais para realQar sua influencia. E muito provavel que uma amostra maior incluiria negociantes que sejam influentes cosmopolitas e cujo comportamento difere de maneira significante em rela· c,ao a este aspecto. Assim, 0 Sr. H., considerado como exercendo grande influencia em Rovere, ilustra 0 tipo de homem de gran des negocios cosmopolita. Chegou a Rovere como urn dos principais diretores executivos de uma fabrica de manufaturas locais. Estabeleceu poucas ligaQoes peswais. Mas e procurado para aconselhar, precisamente porque "tern anda-
13.
A importancia de procurar ativamente a influencia e evidente na analise do "tipo mO-· vel ascendente", descrito na monogra,fia s6bre a qual se baseia esta exposigao. Ver tambem a'ranville Hicks, Small Town (Nova Iorque: The Macmillan Co., 1946), 154, descrevendo urn individuo que, evidentemente, e urn influente local, nestes termos: ".e: urn po]ltico tlpico, urn manejador nato; urn homem que adora a influencia, traba· lha intensamente para adquiri.la e faz todo 0 possivel para convencer t6da a. gente de que realmente possui influf!llcia". (0 grifo e nos80).
Sociologia -
do POl' ai" e tern aura de urn homem familiarizado com 0 mundo exterior dos neg6cios. Sua influencia ap6ia-se na pericia que se the atribui, em vez de se basear na compreensao simpatica dos outros. Isto acrescenta outra dimensao a distin\lao entre os dois tipos de influentes. Parece que 0 influente cosmopolita tern uma comitiva malar pOl'que sabe; 0 influente local, porque compreende. Urn e procurado devido as suas habilidades especializadas, e sua experiencia; 0 outro, devido n. :.lpreciar;aointima de detalhes intangiveis, porem de significar;ao afetiva. Os dois padr6es podem ser comparados com a ideia da diferenr;a que prevalece entre "0 especialista medico, extremamente competente, porem impessoal" e o "velho medico da familia". Ou ainda, nao e muito distinta a dife'renga entre o impessoal "funcionario de assistencia social" e 0 amigavel "chefe do distrito eleitoral", que estudamos no Capitulo III. Nao e meramente porque 0 chefe politico local proporcione cestos de comida e empregos, conselhos legais e extralegais, que ele acerte as pequenas escaramur;as com a lei, que ajude 0 brilhante rapaz pobre a conseguir uma balsa politica de estudos nurn colegio local, que cuide dos desprotegidos - que ele ajude numa serie inteira de crises quando uma pessoa necessita de urn amigo, e, acima de tudo, urn amigo que "conher;a as coisas" - e possa fazer algo a respeito. 0 que lhe !Jroporciona influencia nao e meramente que ele forner;a auxilio. E a maneira pela qual 0 auxilio e jornecido. Afinal, existem as repartir;6es especializadas para distribuir;ao de auxilios. As agencias de assistencia social, as casas de beneficencia, os escrit6rios de auxilio legal, as clinicas hospitalares, os departamentos de socorros publicos - estas e muitas' outras organizar;6es, estao a disposir;ao dos interessados. Mas em contraste com as tecnicas profissionais do funcionario de assistencia social, as quais freqtientemente represent am na mente de quem recebe 0 auxilio, 0 oferecimento frio, burocratico, de urn auxilio limitado, que se segue a uma investigar;ao pormenorizada, estao as tecnicas nao ·proftssionais do cabo eleitorl'l.l, que nao formula nenhuma pergunta, nao exige 0 cumprimento de regras legais de qualifica~ao, e nao se "imiscui" em neg6cios privados. 0 f'apitao do distrito eleitoral e urn prot6tipo de influente "local". A influ&ncia interpessoal derivada da pericia especializada envolve alguma distancia social entre 0 distribuidor de conselhos e aquele que orocura 0 conselho, ao passe que a influencia derivada da compreensao simpatica, tipicamente acarreta estreitas relar;6es pessoais. A primeira e o padrao do influente cosmopolita; a segunda, do influente local. Assim, o funcionamento desses mol des de influencia da uma pista as orientar;6es distintivas dos dois tipos de influencia. 13a 13a. Tudo isto ainda. deixa aberto 0 problema de se descobrir os tipos de intera9ao social e de rela90es de influencia entre os influentes locais e os cosmopolitas. l1:ste problema foi explorado num estudo atual das escolas superiores em rela9ao com a estrutura de val6res da comunidade ambiente, estudo feito por Paul F. Lazarsfeld em colabora~ao com Richard Christie, Frank A. Pinner, Arnold Rogow, Louis Schneider e Arthur Brodbeck. No transcorrer desse estudo, Frank A. Pinner constatou que as Comiss6es Diretoras
Teoria e Estrutura
Hn. razao ern acreditar que novas pesquisas encontrarao proporr;6es dlferentes d.e influentes locais e cosmopolitas, em diferentes tipos de estruturas comunitarias. Pelo menos pode-se tirar a conclusao provis6ria, dos estudos que presentemente se processarp a respeito de mudanr;as tecnol6gicas e sociais numa cidade da Pennsylvania, durante os ultimos cinqtien· das Escolas. e os inspetores escolares diferiam evidentemente de orientaQao: uns eram de ten dimcia claramente "local", ao passe que os outros eram de orientaQao "cosmo· polita". E, ao que parece, isto nao e apenas uma questao de "acid~nte". hist6rico .. Pinner sugere que as comunidades de diferentes tip os tend em a escolh~r. mdlvlduos "de dlferente orienta.<;ao para a Comissao Diretora das escolas secundanas. ( hlgh schOOI~). Isto, por sua vez, cria circunstfmcias especiais que afetam a mtera<;ao da Comlssao Dlfetora. e do inspetor da escola, dependendo da orienta<;ao basica de ambos. As one~ta.:oe~ das Comissoes Diretoras sao tambem, ao que parece, ligadas ao grau de co~trole qu_ Os influentes de uma comumd.ade, profun~a. exercem sobre a poHtica, educacional. mente interessados nos assuntos locais, estavam decididos a manter. todas. as fun<;oes da comunidade a um exame constante e a a,ceitar ou reJeltar as onenta<;oes: segun~o estivessem de acordo ou fossem contraditorias com as norm as geralmente aceltas [pe.~ comunidadE'J 10ca.1J. Pela mesma razao, 0 [outro] ,distrito era uma zona ·frouxament~. organizada, nao somente no estreito sentido geograflco. Os que: em vls~a da sua PO~l "ao social e economica eram capazes de exceder alguma infl~e.ncla, nao compartllha. m por igual do interesse pelos assuntos locais. Em consequencla, as dlfetnzes que ~~ntrolam 0 comporta.mento da escola secundaria, nao necessitam. represent~r 0 con: senso dos grupos influentes da comunidade; antes, um grande numero de mdlViducs potencial mente influentes poderia, por omissao, deixar 0 maneJ~ dos assuntos da escola secund!1fia ao grupo de cidadaos que se interessa. pela educaQao. . "Os graus de 'relaxaQao' e de 'rigidez' da estrutura de uma comunidade talvez seJam medidos com maior exatidao em termos das oportunidades de manobras de que desfruta o governo local". . ... ..' o estudo da intera9ao entre grupos de diferente composl9ao em rela9ao aos. mfluentes locais e cosmopolitas, representa um passe ro frente bem definido quanto as ldews 0 conceito de estruturas "rigidas" ou ."frouxas" das comum· expostas neste trabalho. dades, em conexao com as orienta<;oes predominantemente locals ou cosmopolltas. dos que ocupam posiQoes estrategicamente situadas, representa outro passe a,dlante_ E l~te. ressante notar que esse conceito de estruturas sociais "frouxas" ou "rigidas" tenha sldo formulado independentemente pelos participantes do estudo aClma menclOnado e,. a gr~n. de distancia, por Bryce F. Ryan e Murray A. Straus, em "The mtegratlOn of SmhaLsc Society", Research Studies of the State College of Washiugton,.1954, 22, 179-227,especIal· mente as pags. 198 e segs. e 219 e segs. E importante sublmhar q~e dltOS conceltos estao sendo formulados no decurso de uma pesquisa emplnca slstematlCa; do contrano. seriam manifestaQoes de sombreamento profissional, destin adas a demonstra.r que nacl~ ha de novo sob 0 sol, usando do expediente muito simples de extirpar tudo 0 que " • e reduzi.lo s6mente ao velho. S6mente neste scntido limitado encontrar·se·a a novo - ." ·t de Georg "mesma" ideia central de estruturas sociais Urigidas" e "fleXlvelS .nos escTl.os . Simmel, homem de inumeras ideias fecundas. Veja·se 0 seu ensalO, .traduzldo faz .meJ.~ seculo por Albion W. Small e publicado em American Journal of SociOlogy, nos pr~mel de g.ostos intelectu.a~~ se ros e dificeis anos em que os soci610gos r.orte-americanos viam obrigados a tomar emprestado 0 capital intelectual dos soclOlogos europeus. Th: ersistence of social groups", American Journal of Sociology, 1898, 3, 662-698, 829·836, P . . t" egumte' "0 gru-.. 1898, 4, 35.50. A formula~ao mais compacta, das Idelas em ques ao e .a 5 po pode manter-se, (1) conservando com a maior tenacidade sua flfmeza e ng:de~ de forma de modo a poder enfrentar os perigos lmmentes com suflclente reslstenCla € poder 'conservar a, rela~ao de seus elementos, atraves de todas as mudan~as de CHcuns~ tancias extern as ; (2) com a maior variabilidade possivel de sua forma, de modo que possa realizar rapidamente a. adapta~ao da forma em resposta a mudan<;a de cHcun,-. tancias exteriores, de maneira que a forma do grupo possa acomodar-se a qualquel
5:
exigencia
das circunstancias".
(831)
ta anos, que esta sendo efetuada par Dorothy S. Thomas, Thomas C. Cochran e seus colegas.* Sua analise hist6rica e sociol6gica, detalhada. apresenta como resultado, que aquela cidade compreendia dais tipos difercntes de populac;ao: "residentes regu1n.rmente permanentes, muitos dos quais ali nascidos, e um grupo migrat6rio que continuamente ia e vinha." A base de t6scas estatisticas de modificac;ao da populac;ao de outras cidades norte-americanas, os investigadores concluem adiante que est a condic;ao 6 bastante espalhada. Pode muito bem ser que a primeiro grupo, mais aproximadamente permanente, inclua 0 tipo "local" de influEmcia, e 0 segundo grupo, relativamente em transito, inclua a "cosmopolita". Tipos diversos de comunidades presumivelmente terao diferentes proporc;6es das du;l.S especies de populac;ao e das duas especies de influentes. Outros estudos recentes descobriram mais diretamente que as propor· (6es e situaC;6es sociais dos dais tipos de influentes variam a medida qv,~ varia a estrutura social da comunidade. Par exemplo, Eisenstadt relata que uma tradicional comunidade iemenita apresenta falta quase total do tip a cosmopolita. ao passo que tanto as cosmopolitas como os locais desempenh am seus papeis distintivos em divers as outras comunidades sob observac;ao.** A base dos estudos de Stouffer s6bre as liberdades civis, David Riesman sugere modos pelos quais as papeis dos influentes locais e cosmopolitas podem variar em diferentes estruturas sociais. Os cosm')politas que assumem posic;6es de lideranc;a formal na comunidade, podem ser obrigados a se tamar intermedi:l,rios de tolerancia, visto serem apanhados entre a m6 superior da elite tolerante e a inferior da maioria intolerante, e assim se tornam moldados a ser menos tolerantes que seus associados anteriores e mais tolerantes que sua atual clientela. Tambem como resultado de eontextos estruturais diferentes, as cosmopolitas entre lideres de comunidade, sendo ('nes pr6prios mais "tolerantes" quanta as liberdades civis que
as outros, paden', estarem situac;6es mais vulneraveis no Sul que no Leste eu no Oes(,('. Pois Stouffer constatou que entre todos, menos as portadares de titulos universitarios, as Sulistas sao muito menos tolerantes
o
COMPORTAMENTO
(.)
(00)
1956, 34, 332·338.
DOS INFLUENTES
Parece que a comportamento de comunieac;6es e parte das rotinas da vida e das orientac;6es basicas caracteristicas dos dais tipos de pessoas influentes. As escolhas de revistas, jomais, e programas de radio, refletem imediatamente e reforc;am as orientac;6es basicas. Embora pO.ssam vanat largamente as :'notivos da escolha de materiais par parte deles, no vast·) flux a de ccmunicac;6es de massa, as jUnI;6es psico16gicas e sociais preenchidas pela dita escolha, sac bastante limitadas. Uma vez que as locais e os cosmopolitas fazem exigencias distintamentc diferentes de seu ambiente social, utilizam as comunicac;6es de massas para obter result.ados distintamente
Evidentemente. quanto mals a coisa muda, meis se torna diferente. Os conceitos reemergentes de estrllturas socials frouxas e rigidas parecem-se com as observa<;6es slmmelianas: nao obstante, dlferem de mane Ira importante em suas Impllca<;6es. Conforme relat6rio de Thomas C. Cochn!Jl, "History and the social sciences", em Relazioni del X Congresso Internazionale di Scienze Storic,he (Roma, 4·11 de setembrl) de 1955), I, 481·504, em 487-488 sebre a base de Sidney Goldstein, Patterns of Internal Migration in Norristown, Pennsylvania, 1900-1950,2 volumes, (Tese de doutoramenco mimeografada), University of Pennsylvania, 1953. S. N. Eisenstadt" "Communication systems and social structure: an exploratory comparative study", Public Opinion Quarterly, 1955, 19, 154·167. Estudo feito numa pequena cidade do Sui conclui que ali nao se podem distinguir dois tipos de influentes. A presente sugestao indica que com a a.cumula<;ao de pesquisas, ja nao basta registrar a pre· sen<;a ou a ausencia dos tipos de influentes. Antes, e sociol6gicamente pertinente descobrir os atributos da estrutura social que produzem diferentes propor<;6es de tipos iC\entificaveis de influentes. Ver: A. Alexander Fanelli, "A typology of community leadership based on influence and interaction within the leader subsystem", Social Forces,
DE COMUNICA<;OES
diferentes.
Tipos e Funr:;6es da Leitura
de, Revistas
Os influentes cosmopolitas, aparentemente, leem mais revistas as::linando de quatro a cinco - que as locais, assinam de duas a tres. 1sto era de preyer, com os dados que conhecemos de suas respectivas rotinas ~e vida, e suas orientac;6es. Os cosmopolitas, com seus interesses extraloca1s devotam-se mais completamente a experiencia vicaria. fornecida peiOs peri6dicos, enquanto que OS locais se preocupam mais com relac;6es interpesSamuel A. Stouffer, Communism, Conformity, and Civil Liberties, (Nova Iorque: Doubleday & Co., 1955) proporciona os resultados revisados par Dav~d. Riesman seu artigo "Orbits of tolerance, interviewers, and elites", Public, OplDlon Quarter.y,
e:~
1956, 20,
49-73.
::;oewlogta -
soais diretas. Urn tende a ler acerca do grande mundo de fora; 0 outro, a agir no pequeno mundo de dentro. Seus habitos de leituras refletem seus modos de viver. Contudo, san as varia!(oes nos tipos de revistas lidas pelos locais e pelos eosmopolitas que indicam mais diretamente as fun!(oes desses padroes de leitura. 0 leitor influente das revistas notieiosas, por exemplo, e pre· dominantemente do tipo cosmopolita, ao inves do tipo local. Isto e muito previsivel, a luz das fun!(oes preenchidas por uma publica!(ao como 0 Time.
A revista noticiosa proporciona vistas e noUcias abrangendo urn campI) muito extenso. Prometendo dar sua versao das noticias por detras das noUcias, ela trata dos acontecimentos que se desenvolvem na politica nacional e internacional, na industria e nos neg6cios, na educa!(ao, na ciencia e nas artes. Tais comentarios constituem as pr6prias esferas naf: quais sera encontrada a influencia dos cosmopolitas; pois, como temos visto, eles san considerados como os arbitros peritos do "born gosto", ou da "cultura" e das tendencias da Grande Sociedade. Pelo mesmo padrao, a revista noticiosa nacional tern pouco que dizer aos influentes locais. Afi· nal, ela nao devota muito espa!(o a Rovere e suas adjacencias. A leitura do Time nao contribuira para que 0 influente local entenda a vida de Rovere, nem para a sua influ€mcia na cidade. E urn luxo inteiramente dispensavel. Contudo, para 0 cosmopolita, a revista noticiosa serve a diversas fun· «:;oes. Ela fornece uma correia de transmissao para a difusao da "cultura" do mundo de fora aos "lideres culturais" de Rovere. (Isto e particularmente verdadeiro para as mulheres pertencentes aos cosmopolitas). Entre os pequenos circulos sociais e elubes de cosmopolitas de igual tendencia, a revista fornece assunto para as conversa!(oes. Habilita a elite cultu· ral da clas:se media de Rovere a permanecer ern posi!(ao bem adiantada em rela!(ao aqueles que os, procuram para tomar conselho em assuntos de born gosto, ou para opinioes relativas as tendencias d8 politic a internacional. 0 Time nao s6 constr6i uma ponte atraves do golfo entre 0 in fluente cosmopolita e os influenciados; ela ajuda a manter 0 golfo que se· para os sabedores dos nao·informados. Proporciona assim divers as van· :agens para os cosmopolitas de Rovere. Habilita·os a manter uma especie de contato com 0 mundo de fora e reduz 0 seu senso de isolamento cultural. Da a alguns urn senso de "automelhoria", pois os "mantem a par das cOlsas". Habilita·os a refor!(ar sua pr6pria posi!(ao na comunidade, pois lhes permite exibir suas credenciais de conhecimentos, quando a ocasiao f:xige.
Mas como' nao san estas as bases da influencia para os influentes "locais", uma vez que seus papeis sociais nao acarretam opinioes acerca da "cultura" e do mundo em geral, periodicos como 0 Time sao-lhes superfluos. Portanto, as satisfagoes derivadas das comunicag6es de rnassas nao san meramente psicol6gicas, quanto a sua natureza; san tambem urn produto dos papeis sociais daqueles que fazem usa dessas comunica-
Teoria e Estrutura
Oes. Nao 5e trata do fato de que a revista noticiosa seja para um homem, ~ carne, e para outro, 0 veneno. Ao inves disso, e que a revista noticiosa e c.arne para urn tipo social, e veneno para outro tipo social. A analise, das fungoes das comunicagoe~ de mass as exigem anterior anaUse dos papeis sociais que determinam os usos a que tais comunicagoes possam ser aplicadas. Se os contextos sociais da influencia interpessoal nao tivessem explorado, nao poderiamos haver antecipado a escolha do Time por urn tipo de influentes, e sua rejeigao por outro. Sensivelmente, 0 mesmo podera ser dito da ulterior leitura de revistas, pelos influentes de Rovere. Resulta que para nosso pun~ado de casos, a leitura de Tzme diferencia da maneira mais clara os localS e os cosmopolitas. Porem, os mesmos moldes de selegao operam com outras revistas. Atlantic Monthly, Harper's, National Geographic - as revistas assim chao madas de "classe", que devotam boa parte de seu conteudo a assuntos eg. trangeiros e nacionais, e as artes, san lidas duas vezes mais pelos cosmopolitas, do (Iue pelos locais. Para t6das as outras revistas., vi.rtualmen~e. nao parece haver diferenga entre os dois grupos. Re~der's Dtgest e Ltfe aparecem com igual frequencia. Um estudo em grande escala comprova· ria facilrnente a impressao de que s6bre 0 mesmo nivel de instrur;ao~ os influentes locais e cosmopolitas tem diferentes moldes de leitura de revistas, e que estes moldes podem ser explicados em termos ~e que as revistas satisfazem fungoes distintamente diferentes para os dOlS grupos.
A leitura das revistas noticiosas nacionais e um ato acima e alem do dever de ler atentamente os jornais diarios. supoe 0 interesse em estar "a par das coisas", em "ter opinioes responsaveis", e "pontos de ~ista distintivos". E bastante interessante notal' que os moldes de leltura dos jcrnais tambem refletem as diferentes orientagoes do influente local e rlo cosmopolita. Os locais leem mais jornais, mas isto e totalmente atribuivel a sua maior tendencia pOl' jornais de Rovere e de outros jornais locais (de u~a cidade das "izinhangas). 0 quadro e inteiramente diferente qua~to a Jor· nais metropolitanos. Cada um dos cosmopolitas Ie 0 New York Ttmes ou 0 New York Herald Tribune, ou os dois, ao passo que os locais m~n.os fre· quentemente se voltam a estes jornais com sua extensa e analltlCa cobertura das noticias mundiais. 0 contraste se estende a detalhes. Quas: meta de dos "locais" Ie os tabl6ides, que tratam resumidamente dos neogocios mundiais e dao enfase sabre noticias de •..m t'eresse humano" - assas· . sinios div6rcios c crimes audaciosos parecem ser 0 principal foco do mte, , . I' m ta resse humano contemporaneo - mas apenas um cosmopolita mc Ul ~ . ~ b16ide em sua dicta de jornais. Conquanto ,essas distribuigoes estatlstlCa::> pudessem oferecer um estudo detalhado, a consistencia desses fatos explo-
rat6rios sugere que as orientaQoes basicas dos influentes expressas em seus moldes de leitura de, jornais. Tipos e Fungoes de Ouvir os Comentadores de Noticias
sac tambem
Radioj6nicas
Ha alguma evidencia de que a predileQao dos cosmopolitas por uma compreensao impessoal, analitica dos acontecimentos mundiais est a refletida em seus modos de ouvir os comentadores das noticias radiofanicas. Com base num anterior estudo feito pelo Escrit6rio de Pesquisa Social Apli· cada, os comentadores foram classificac'.os de acardo com 0 grau em que "analisava" as noticias, ao inves do grau em que relatavam particularmente as noticias mundiais. Os cosmopolitas preferem 0 comentador mais analitico (Swing, Hughes) enquanto os locais sac mais interessados naqueles que prescindem a analise e sac virtualmente apenas "lanQadores" de noticias (Th-"Jmas,Goddard etc.) Mesmo no ambito das "noticias extralocais", os locais conseguem atingir urn criterio localista. Preferem claramente aqueles comentadores que tipicamente convertem as noticias e teses publicas em anedotas personalizalias. Gabriel Heatter, com suas infus6es de sentiment.o nos neg6cios politicos e econamicos, e urn favorito dos locais, mas nao dos cosmopolitas; assim, tambem, Walter Winchell, que relata a versao dos mexericos intimos da Broadway, como conversa de fundo de quintal, e personaliza as teses nacionais e internacionais. Os influentes locais procuram os ingredientes pessoais na lista impessoal das noticias mundiais. . 0 comportamento de comunicaQoes parece assim refletir as orienta~oes basicas d,os influentes locais e cOSimopolitas. Uma investigaQao ulterior poderia proporcionar uma verificagao estatistica s6lida, e fazer provas mais rigDrosas destas impress6es. Por exemplo: Os locais influentes que leem "as mesmas" revistas, realmente selecionam os mesmos conteudos nestas revistas? Ou os locais de modo caracteristico focalizam os componentes "personalizados e localistas" no material editorial, ao passo que os cosmopolitas procuram os componentes mais impessoais e "in· formativos"? Quais sac as aplicagoes que estes diferentes tipos de leitores ciao aos assuntos que leram? Em outras palavras, como e que os conteudos das comunicaQoes de massa entram no f uxo da influencia interpessoal?14 Os estudos acerca da sociologia das comunicaQoes de massa devem suplementar as amllises em termos de atributos pessoais dos leitores e ouvintes. com as analises e seus papeis sociais e sua significagao nas redes de relaGoes interpessoais,
Ate esfe ponto, temos examinado os influentes: seus diversos modos de cxercer a influencia interpessoal, seus caminhos para atingir posigoes de \
14. E este precisamente\ L2,zarsfeld, Qp. cit.
0
foco de aten~ao no estudo dos tipos de influ!ncia,
por Katz e
influencia, seu comportamento nas comunicaQoes. Mas, afinal, considera· mas essas pessoas como influentes apenas devido a que sac assim referi· das por nossos informantes. 15 0 que poderemos aprender acerca dos Lipos de influencia interpessoal olhando os tipos das avaliaQoes reciprocas? o que poderem08 aprender considerando as relaQoes entre 0 mencionado e o merfcionador, entre aqueles que surgem como influentes por varias maneiras e aqueles cujas opinioes os definem como influentes?
Embora falemos frequentemente de "homens de influencia", e claro que est a frase e urn modo eliptico de dizer: "os homens que exercem influencia sabre urn certo numero de outras pessoas em certas situaQoes". Conforme observamos no adendo a este capitulo, a influencia interpessoal significa uma relagiio assimetrica entre as pessoas. A in fluencia nao e um atributo abstrato de uma pessoa, e urn processo que envolve uma ou mais pessoas. De maneira concorde, numa analise desses tipos, devemos olhar 11aOsomente ao homem que e 0 influente, mas tambem as pessoas que sac influenciadas por ele. Dito de outra maneira, temos muito que aprender explorando a peI"gunta: Quem e influente em relagao a quem? Esta pergunta geral imediatamente se divide numa serie de quest6es mais especificas. Quem sac os influentes para as pessoas localizadas em "arias maneiras na estrutura da influencia? As pessoas sac mais frequentemente sujeitas a influencia por aqueles que se acham acima deles na estrutura de influencia, ou por pessoas de seu proprio estrato de influencia? Quando os informantes de Rovere sac divididos em "influentes altos" (aqueles mencionados por 15 pOl' cento ou mais de !lOSSOSinformantes), "influentes medios" (mencionados POl' 5 a 14 por cento) e os "influentes comuns" (mencionados por menos de 5 por cento), e quando os relacio:lamos com suas identificaQoes de pessoas que exercem influencia sabre liles, diversas impressoes emergem com clareza. Hi uma concordancia impressionante sabre cada nivel da estrutura de iniluencia, relativa as pessoas que pertencem a parte alta da estrutura. Em grande parte sao as mesmas pessoas que sac relatadas como influentes, sem se levar em conta a posigao ua estrutura de influencias daqueles que fazem 0 julgamento. De dois tergos a tres quartos das mengoes pelos tres estratos sac concentrados nos 15 pOl' cento dos influentes altos. 15. Deve ser repetido que aqui consideramos a influencia interpessoal nao como sImpIps materia de valora~ao mas como questao de fato. Que os juizm. dos inform antes e a QbservaQaQ objetiva l~vem aos mesmos resultados deve permanecer uma questao aberta. Este estudo explora,t6rio utilizou inform antes a fim de localizar certos tipos de problemas a respeito da influencia interpessoal; uma pesquisa. completa utilizaria a observ9-"ao. bem como as entrevist9-s, par9- 20Veriguar 0 grau real de influencia interpessoal e as esferas em que esta se exerce.
Contudo, ocorrem diferengas entre os diversos estratos, n:a estrutura de influencia. Os informantes de cada estrato de influencia relatam uma uroporgao maior de pessoas de seu pr6prio estrato como influentes para eles, do que fazem os informantes de outros estratos. Mais concretamente: os influentes altos sao mais inclinados a mcncionar outros entre influentes altos do que 0 sao os influentes medios, eu os inforrnantes comuns; os influentes medios sac mais inclinados a mencionar outros in~luentes medios, do que influentes altos, ou comuns; a os comuns mais Ire. quentemente mencionam pessoas deste estrato do que as outros informantes. Ganha-se assim a impressao de que embora urn nllmero relativamente pequeno de pessoas - os altos influentes - exerga inflt:.encia sabre pessoas de todos os niveis da estrutura de influencia, ocorre uma tendencia secundaria para as pessoas serem por outro modo mais influenciadas por seus pares daquela estrutura. Se isto fOr verificado comJ geralmente verdadeiro, e um fato da maior importancia, relativo a operagao da influencia interpessoal. A surpreendente concentragao da influencia interpessoal pode distrair nossa atengao da distribuigao completa da influencia. Isto poderia facilmente, levar a influencias enganosas. Apesar dessa concentragao parece 1..
bora os mfluentes altos ten ham uma grande medida de influencia interpess.oal, individ~almente, provavelmente sac tao poucos em nllmero que coletwamente, tern. uma parte menOr do total geral de influencia interpessoal da comumdade. E correlativamente, embora cada pessoa entre as inf~uentes medios e as comuns tenham relativamente pouca influencia, cole. t~vamente :les poderao conter a r.orgao maior de influencia interpessoal. aesde que estes estratos incluem a mass a maior das pessoas da comunidade,16 Tomand'o como indices os dados de South town, os 4 por cento de altos influentes eram citados em aproximadamente 40 par cento de todos os exemplos de influencia, mas permanece 0 fato de que os 60 par cento residuais se referem a pessoas classificadas mais baixo na estrutura local de influencia. Sensivelmente, 0 mesmo foi encontrado no presente estudo-pilato. Nossa pesquisa de Rovere e sUficiente para formular embora eVidentemente nao 0 seja para confirmar, 0 ponto central: uns p~ucos individuos, na parte mais alta, podem ter urn grande quantum individual de influencia, mas a quantidade total de influencia deste grupo comparavel16. A f~r~a empJrica desta considera~ao e igua1 11 que se en contra em estudos da distri. bUl~ao s~cial do genio ou do talento (ou, no caso, da distribui~ao do poder de compraJ. FOl repetIdamente constatado que os estratos sociais e educativos superiores tinham, ate certo ponto, uma proporcao maior de jjgenios" e de "talentos"; mas como nesses estra. tos os numeros sao pequenos, 0 maior numero de genios e de talentos procede na realidade, de estratos socials inferiores. Do ponto de vist2. da sociedade naturalm~nte o que importa e 0 niimero absoluto e nao a propor~iio procedente de u~ estrato sociai determmado. 1
mente pequeno pode ser menor que aquele exercido pelos grandes nllmeros de pessoas encontradas em relagao as baixas inferiores da estrutura de influencia. Nosso estudo·piloto rendeu assim duas impress6es principais relativas a estrutura da infuencia, as quais aguardam ulteriores investigag6es: (I) as pessoas de cada estrato de influencia sac mais provavelmente influenciadas por seus pares daquela estrutura do que por pessoas de outros E:stratos, e (2) apesar da grande concentragao de influencia interpessoal entre relativamente poucos individuos, 0 grosse de tal influencia e largamente disperso, entre 0 grande nllmero de pessoas das porg6es inferiores daquela est.1utura. Uma terceira impressao que merece ulterior investigagao e sugestiva do tipo por meio do qual a influencia interpessoal filtra-se para baixo atraves da estrutura de influencia. Com dados colhidos em Rovere, parece que esta estrutura inclui uma "cadeia de influencia" com os elos da corrente constl uldes por l~~ssoas situadas em adjacentes estratos de influencia. As pessoas de cada estado de influencia sac mais inclinadas a consid~rar como influenles as pesseas que estejam imediatamente acima do seu pr6prio do que as pessoas de eutros ,estratos, seja actma ou abaixo. Assim, os informantes, comuns. olhando para cima em diregao a seu cstrato adjacente (os influentes medias) mencionam mais freqtientemente essas pessoas como influentes, do que os influentes altos; os influentes medios, por sua vez, mencionam mais freqtientemente os influentes altos do que os comuns. Isto sugere que algumas opini6es e conselhos origin ados (ou derivados das comunicag6es de massas) pelos influentes altos, podem s'er progress!vamente filtrado;; pela estrutura abaixo. Outras opini6es, originadas em niveis inferiores da estrutura, podem ser sucessivamente transmitidas atrayeS de estratos cada vez mais baixos. Nossos materiais limitados fornecem apenas ligeiros indicios. Numa investigagao de escala total, com diversos estratos de influencias, esta impressao de urn molde da infiltragao de influencia interpessoal poderia ser colocada sob uma prova decisiva. Ate agora consideramos estes tipos unicamente em termos da posigao de influenciados e de influenciadores na estrutura de influencias local. Manifestamente, seria recompensador examinar os mesmos tipos do ponto de vista da localizagao das pessoas em outros sistemas sociais. 0 problema generico pode ser afirmado resumidamente: em que extensao e em que situag6es a influencia interpessoal opera amplamente dentro do pr6prio grupo social, estrato, ou categoria (idade, sexo, estrato de classe, estrato de poder, estrato de prestigio etc) e quando e que opera amplamente entre Os grupos, ,estratos, ou categorias sociais? Uma vez que os contornos deste problema foram estabelecidos nas seg6es introdut6rias, e uma vez que 0 problema e, mutatis mutandis, essencialmente 0 mesmo que 0 anterior, apenas umas poucas perguntas sintomaticas necessitarao ser formuladas aqui. Os homense as mUlheres geralmente se voltam para outros de sua pr6pria idade, de seu pr6prio sexo, de sua pr6pria classe social, ou de seu
:soCiologia
grupo religioso, a busca de conselho e orientac;ao? Por exemplo, de que modo a idade entra no padrao? Quao geral e a tendencia, discernivel tanto nos materiais de Rovere quanto nos de Southtown, para as pessoas serem influenciadas por aqueles urn tanto mais velhos do que elas proprias? Como e que isto difere entre varios tipos de comunidades e entre as varias subculruras de nossa sociedade? Quando e que urn jovem se volta para urn mais amadurecido veterano, a busca de conselho, e quando e que discute seus casos com outros jovens?17 Assim, tambem, fica bastante para aprender acerca do fate de se canalizar a influencia ao longo das linhas dos sexos. Os estudos de Rovere e de Southtown apresentam em conjunto uma marcante tendEmcia para que os homens refiram a influencia a outros hamens, ao passo que as mulheres referiam influentes masculinos e femininos em mla:eros quase iguais. Ulteriores inquiric;6es indubitavelmente descobrirai)l (~sferas de influencia virtualmente monopolizadas POl' homens, Gutras por mulheres, e ainda outras divididas em medidas mais ou menos iguais.l8 Da mesma forma, embora 0 fluxo principal da influencia interpessoal parec;a existir partindo dos estratos sociais superiores para baixo, ha uma ('orrente discernivel na direc;ao oposta. 0 que necessita ser aprendido e 0 tipo de situaC;ao em que as pessoas sac principalmente influenciadas por outras no mesmo nivel de status, e por outras de nivel mais elevado, ou mais baixo. Torna-se necessario pesquisar particularmente os casos marginais, em que as pessoas classificadas no alto status-hierarquico (poder, classe, prestigio) sac influenciadas por outras de situaC;ao inferior. Assim, num punhado de casos, as pessoas de situaC;ao superior, no relatorio de Rovere, relatam ter side influenciadas por pessoas geralmente consideradas ('omo deficlentes de influencia substancial. Na verdade, os materiais em 110SS0 poder sugerem a possibilidade de que as pessoas situadas no alto presumivelmente com uma grande dose de auto-seguranc;a e de firmeza de situaC;ao, sao mais inclinadas que os individuos da gituaC;ao media possivelmente menos seguros em sua posiC;ao,a se dirigir a pessoas situadas no fundo da hierarquia, a busca de urn conselho ocasioiJal. Embora tais ca· sos sejam provavelmente raros, podem lanc;ar muita luz sabre 0 funcionamento da :nflu€mcia interpessoal. Como no caso da concentrac;ao de influencia, ha aqui 0 perigo de que 0 pesquisador possa limitar-se aos fatos yrincipais, perdendo assim de vista os instrutivos tipos subsidiarios de influencia. Quest6e3 dessa ordem, resultantes de nossa pesquisa inicial, podem ser facilmente multiplicadas. Mas as mencionadas podem servir como prototipos. Claro e que todas essas quest6es podem ser apresentadas novamente,
17. Aqui, como p",ra todas as demais quest6es levantadas nesta seQao, entende·se que os fatos observados diferirao para diferentes esferas de influencia. Isto, portanto, na0. precisa ser repetido de novo para cad", grupo de quest6es. 0 problema geral das esferas de influ(lIlcia sera rapidamente examinado na seQao seguinte. 18. Inicio's substanciais de respostas a perguntas como as formuladas acima, sac proporcionados por Katz e Lazarsfeld, op. cit.
-
Teoria
e Estru'tura
· t' t de influencia desde que e inteiramente provavel para cada cs·fera dIS m a, . Id diferem conforme a esfera de atividade e a atltude na qual que os mo e~ 'd Embora isto tenha ficado como urn pressuposto .' influencia e exerCl a. a _ d osso relato 0 problema especial das esferas de m· em toda a extensao en, . fluencia exige urn exarne elaro, embora resumldo. /
ESFERAS
DE INFLUENCIA:
MONOM6RFICOS
E POLIM6RFICOS
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Rov~re os influentes diferem largamente, ~0~1 relac;ao ao numero Em 't' 'd de nas quais exercem mfluenCla mterpessoal. Alguns de e~feras de a IV~: podem ser denominados monomorficos, sao repetioos mfluentes, e es es A' t urna ou outr", damente citados como exerce~do influencla, m:::~mp~: : e~ea da politica, r .. m tanto estreltamente - por, - . area de mwa u A d Os influentes monomorflcos d canones de bom gosto, ou da mo a· . ou a os < r ·tado e sua influencia nao se d:ifunde por sac os "peritos" de urn. c~mpo Iml '. t 'nelui um bom m.1mero dos in· . f de declsao. Outros, e IS 0 1 . flutras es eras . . fl encia interpessoal numa vane· fluentes altos, sao pOlim.0rf1Cos, exercem ~ u_ . relacionadas). Embora os dade de esferas (por vezes apa~e~t_em~ne na~UdO de Rovere, ainda resta tipos fossem prontamente identlf:ca~els r:~ es Acima de tudo arona-mica muito a ser aprendido com referencla a e es. li 0 i~nuente per, t' tl'pOSnecessita ser estabelecida. Sob que cone <;;oes . tie alS . ta 1 ou em vez dlSSOsera onomorfico? Trata-se de um tlPO es ve, . manece m . A' t 1 que 0 monom6rflco em urn esttigio no desenvolvimento da mfluenCla, a _ ;- de _ olimorfico atra'ies da opera~ao tempo oportuno tendera a tornar-se P 't ( "efe·to de halo")'! 1 t-' de uma esfera para ou ra 0 transferencia de ~res 19lO _ . . a enas em certas esferas que enTalvez a influencla monomorfIca ~~orra p ouco reconhecimento publico. volvem alta especializac;ao de habllldade, _ef.p por exemplo 0 biofisico . fl t monomor lCO, Sob tais condiC;6es,um m uell e Ih penas em assuntos que to quem __ pode ser consultado para ~co~se a~oaque deveriamos fazer a respeito e sua influencia pode ser sua ·esfera especial de competencla -:-A . "? d - 0 Nacional para a ClenCIa . . • de uma Fur.. a~a . . 0 0 de caminho ao exercicio polim6rtal que a influencla monom6rflCa 1 .g tos' a "autoridade" pode fico da influencia interpessoal, em dIvers os assun . 1:er generalizada e transferida. 't do nu'mero comparativo de ., t· ando a respel 0 podemos prossegmr mves .lg . fluentes e as cosmopolitas. Tem. seJ'am efetlvos os III . t esferas nas quaIS t de Rovere que os mfluen es -se a impressao, pelo estudo dos docurnen o~ flue-ncia e~ diversas esferas, T ao s6 exercem sua m locais e os cosmopo I1 as n . . l'nados a ser polimorficos, e os cosos locais sao malS mc 1 d mas tambem que t 'nfluencia dos locais basea os do mais freqUentemente mopolitas, monow6rficos. Aparentemen .e, a 1. ''1'gac;6es" pessoals derIvan f.;randemente em suas 1 _ . t t 'nde a ser mais ,estreitamente cirde certos tipos de uma penCla aparen e, e cunscrita. . der se os mesmos individuos exerAssim tambem sera instrutlVo apren 'nfluencias poli, - f' Ab algumas pessoas, e 1 cem influencia monomor lca so re
m6rficas sabre outras. POI' exemplo, podera resultar que os influentes, acon. selhanc.o pessoas de seu pr6prio estrato social, caracteristicamente 0 fazem numa varieaade de campos, ao passo que eles san influentes numa escala mais limitada de decisoes, para os seguidores de urn estrato social inferior Co?quanto isto possa se dar, nao se deveria pressupor que os mdividUo~ "seJam" m~nom6rficos ou polim6rficos, mas ao c'Ontrari'O que eles operam como urn t~po, ou outro, conforme a estrutura da situac.;ao.* Quando is to determina a necessidade de esclarecer tais termos como "ho~ens de influencia", ou "lideres de opinilio". Urn individuo pode ser conslderado como influente, quando tem um largo sequito numa esf" d t· 'd d . ~ra e a IVI a e, as.sIm como outro po de tambem ser assim considerado porque ~ont~ .c~m dIversas pequenas comitivas em diversas esferas. As ulteriores mqUlrIgoes na influencia interpessoal devem 'procurar identificar os influ. entes monom6rficos e polim6rficos, localiza-Ios dentro da estrutura social local, e estabelecer a dinamica da mUdanga de um tipo para outro. Uma sugestfio final e necessaria para futuros estudos a resp':'lito da estrutura de influencia de uma comunidade. Esta pesquisa preliminar sugere fortemente (e isto nasceu do estudo de Southtown) que os criterios :!~r~ais ~ais como instrugaO, renda, participagao nas organizagces vol unt.~rlas, ~u~ero de referencias no jornal local, e semelhantes19 nao proporc~o~arr: mOlcadores adequados dos individuos que exercem uma medida sigm~l~atIva de influencia interpessoal. Sao necessarias as entrevistas sistematICa.s, c~mpletadas POl' observagoes diretas. Considerado de outro modo, ,a !ocallzagao d~ntro de vari~s hierarquias sociais de riqueza, poder e classe, :Ia~ p~edetermmam a 10callzagao dentro de uma estrutura local de influen CIa mterpessoal.
ADENDO: 0 CONCEITO PROVISORIO INFLUENCIA INTERPESSOAL
DA
Confinado ao assunto da "influencia interpessoal", este estUdo nao trata da influencia social em geral. A influencia refere-se a interagao direta da.s pessoas, na medida em que afeta 0 cornportamento ju'turo ou a a.tItude dos participantes (tal que S'eja diferente do que teria sido na ausenCIa da interagao).20 S. N. Eisenstadt diz que esta distingao e "claramente perceptQvel"entre diferentes grupos de g Imlgrantes .europeus em Israel. Ver seu trabalho "Communication processes :mon ImmIgrants m Isr.ael:',Public,Opinion Quarterly, 1'952,16.42-58.Robert F. Agger etragou os tJpos de mfluencla exercidospor influentes polim6rficosI em materia de dire. tnzes escolares, governo local e bem-estar da comunidade numa pequena cidade' "Power. attrIbutions in the local community: theoretical and research considerat;ons" SOCIalForces, 1956.34, 322-331. ' 19. A influencia atraves d2.s comunicag6esde massa ("mass media") nao e evidentemQIlt~ ~emesma COlsaque a influencia interpessoaI. E interessante notar, por exemplo, que ~ na Southtown estudada .por Frank Stewart, foi 0 editor do jornal IOC2Jincluido en re as pessoas exercendo aprechlvel influencia interpessoaI. 20. Isto esta adaptado da formu]agao de Herbert Goldhamer e Edward A. ShiIs, "Types (*)
A signi.ficagau estrategica do conceito da "influencia" na clencia social llitimamente se tem tornado progressivamente clara. Digna de destaque e a analise feita POI' James G. March 20a a qual, embora confessadamente feita como tentativa, representa um marcante passo a frente. A inIluencia e sucessivamente definida em termos compativeis com a concepgao anterior ("mho algo "que jnduz uma mudanga no estudo do organismo, diferente daquela [que seja] previsivel". E um caso particular de causalidade claramente nao co-extensiva com ela. Contudo, conforme March indica, podemos identificar casos de comportamento manifesto, os quais podem ser preditos ('om base na infuTmagao acerca do estado da pessoa, e que, nao obstante, podem tel' sido influenciados interpessoalmente. (March prefere falar do estado do "organismo individual". Para a soci610go, 0 organismo em alguns a.spectos e urn conceito mais inclusivo do que a pessoa, incluindo, como 0 faz, atributos bio16gicos e outros que nao san sociais, e em outros aspectos, e menos inclusivo excluindo, como tipicamente 0 faz, a posigao social e as relagoes da pessoa). March formula a observagao importante, a luz dessa concepgao, de qU'l "embora seja freqilentemente possivel estabelecer 0 fato de que a influencia interpessoal haja ocorrido, e peculiarmente dificil estabelecer 0 fato de que nao haja ocorrido tal influencia. Parcialmente POl' da inessa razao, uma disti.ngao necessita ser feita entre a relacionamento fluencia entre dais acontecimentos (pOI' exemplo, "A vota sim", "B vota sim") e 0 relacionamento entre dois individuos (pOI' exemplo, A, B)". (435) Estas concepgoes proporcionam a March uma base para avaliar 0 valor e as limitagoes dos metodos correntes de mediI' a influencia. Embora isto nao necessite ser reexaminado aqui, e importante tomar nota da conclusao geral de March, de que ate agora, essas ~edidas tem sido a~ hoc ao i.n~~~ de serem teoricamente derivadas e padrolllzadas. Tal como ele conclUl, E extraordinario - mas verdadeiro - que apesar do fato de que ha presentemente em usa urn nlirnero significante de metodos distintarnente diferantes de mediI' a influencia", nao e totalmente claro sob que condigoes elas fornecern respostas comparaveis. E'videnternente, e possivel, embora seja rararnente litil, definir urn conceito pOl' uma tecnica de medida [a qual e derivada de urn conjunto de ideias sisternaticas acerca do conceito substantivo]; mas na ausencia de algum conhecimento das intercorrelagoes enof power and status". American Journal of Sociology,1939,45, 171-182 .. As :az6es ~,••: modificar sua formulagao tornar-se-ao cada vez mais claras. Mmha mSlstencla sobr, l!>conduta e atitudes futuras pode compreender-sefacilmente. Se a "influencia" s~ referisse a tada e qualquer modificagaode conduta seria virtualmente identica a "mteragao social",ja que t6da interagao exerce um efeito, ainda que ligeiro, sabre a conduta nl!>situagao imediata. 0 individuo nao age exatamente da mesma forma na presenga de outros do que quando esta s6zinho. . " The 20a. James G March "An introductionlto the theory and measurement of mfluence , American' Politi~;l Science Review, 1955.49, 431-451.March utiliza muito 0 trl!>balho do seu colega Herbert A. Simon especialmente"Notes on the observation and me~,s, - urement of political power",em Journa,l of Politics, 1953,15. 500-516.Ver tamb-em "Th~ influence process in the presence of extreme deviates". par L. Festinger, H. B. Gera-rd, B. Hymovitch, H. H. Kelley e B. Raven, Human Relations, 1952,5, 327-346.
SoCiologia amente unido a conceitos correlatos. Portanto, con fu s • . . .., I . ceito provisono de mfluencla lnterpessoa. e con 'm de esclarecer nosso .. f ::1, 1 . . t do esquema das analises de estratlflCac;ao. . '0 'ocallza-Io den 1'0 l~ecessan. t tTca"ao tern dado origem a uma Numerosas discussoes recentes de es ra 1 1 ,. •~ ·t termos a ela relacionados. Entre estes, eneonvasta list a de concel os e terpessoal
volvidas,
nao
diferentes
se pode
de medidas.
influencias. na literatura,
no relatar
com
mente
urn
prime,iro
conhecimen escolhidos te
e, 0 que
de influencia
para
atenc;ao
em discursoes
claras.
0 influenciador ou
atitude
reciproca.
pois,
direc;oes
as
concordam
metric
as
Cisto
metric
as,
se
estratificac;ao Como ao inves
POl' metodos
(450-451)
e utH.
a hist6ria
aquela
Serve
medidas
especijicada
liga.
do pensae freqtiente-
ignorancia
igual,
carater
pelo
varias que
analises
e, hierarquias). f6ssem
sena
superfluo).
resultado de ser
de
0 foco
de
a estratificac;ao
t6das
ser
cas os, 0 grau
(Se de
fate
as
da de
exercido
s6bre interpessoal
estratificac;ao
social
posic;oes em
em
assimecom-
uma
in-
em
am-
0 mesmo e que ern
difiram,
elas
posic;oes
sociais
f6ssem
alu-
bastan-
a qualquer
influencia
implica
sido
sac
de influencia
estratificac;ao
iguais
tern
isto
freqtientemente
e raramente
discussoes
para
respeito
ocorre
freqtientemente
do que
relar;ao social
numa com
que
assimetrico
com
menos
As razoes
implica
em tais
sido
soci610gos,
social.
E claro
mesmo
e ligado
conquanto
tern
pelos
e 0 influenciado,
e raramente Este
porque
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atesta
de
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Social".
de estabelecer
de suplantar
interpessoal
dada.
Mas
comportarnento. explica
assunto
interpessoal
portamento as
seja
importante,
a ignorancia
de estratificac;ao
A influencia
fluencia
tentativas
da Ciencia
e igualmente
senti do
sistematica
tl ica: existe
bas
no
da medida
poucas
de influencia,
e, conforme
pequena,
procedimentos
corrente
encontrar
da teoria
neste
influencia,
como passo
e 0 estado
formais
principal
POl' diversos
to.
Os problemas didos
da
grande
este
definic;oes
'nossa ignorancia
0 conceito tame
conceito
podem-se
corpo
e certa
especijicar
das
No entanto,
ou pelo
A observac;ao
mento,
0 mesmo
Semelhantemente,
de medidas, para
definir
geral, evidenassi-
completamente
hierarquia,
0
conceito
si-
compreendido
em
de investigac;ao,
discussao 0 conceito
de
estratificac;ao,
da influencia
trarnos: t hierarquia, situs, situagao s6cio-eco· osieiio social generica: sta us, termos indica d ores de P , n6mica, locus, estrato, estagao, posigao; I'. superior, media, inferior, recem-che· termos indicadores de posi~iio sodal especlfICa: class~ ., declasses aristocraCla etc" .. t ga.clos novos-ricos, arrives. '..., t ma de cla.sse aberta, Standesys em, , d t turas de estratlhca~ao: SISe term os indicadores e es rI,:,' _mico olOtico ou social etc.; casta, hierarquia de pres:,glO econo osi 'ao~ (fontes, criterios. determinantes): riqueza" po· termos indicadores de atrlbutos. d.e p ~. 'd posieao honoraria, autoridade etc.; atnbUlgao estllo de VI a, y • • fl' . · der, prestigio, rea Ilzagoes, ' . • . icio do poder, controle, m uenCla, _ mos referentes ao funcionamento da posl~ao. ,exerc. ~:rclusao, dominagao, discriminagao, coergao, mampulagao etc. termos sugere que as terminologias ou. d de e que ha urn grande numero de l multiplicar3.m-se alem da estt_lt~ necess a _e~ desses conceitos. Alem do mais, dizem respeito as mter-re l acto .. problemas que oeialmente estratifieadas em cufeopulac;oes podem ser s ' sugere que as p .' da nao claramente entendidas, essa5 h' rquias POl' manelfas am Mas nao po: rentes le~a.. ,.' , a ao sac inter-relacionadas. 0 problp.ma sociol6gico aqUl diversas hlerarqUlas de estratlflc • t' s ue elas sejam 1 den lca . aemos pressupor q . t ela"oes entre as diversas hierar'f t nte 0 de explorar as m er-r ,. ~am es .:3.me bl ma indistinto, pressupondo que elas possam ser qUlas e nao tornar 0 pro e . 21 fundidas num sistema composto de hierarqUla. Esta
lista
selet~
de expr~ssoes
7
J
e
da
20b
imediato
tornou-se
in·
20b. Compare-se a observa.gao de March sebre uma analogia entre relagao causal e rela· goes de influ(\l1cia ma"s estreitamente concebidas. "Ambas as relagoes sac assimetricas. Isto e, 0 enl'nciado de que A e a causa de B exclui a possibilidade de que B seja a cauSa de A. De ma.neira analoga, 0 enunciado de que A influi em B exclui a possib:lidade de que B influa em A, Tambem aqui, grande parte da confusao nos estudos te6ricos sebre influencia provem de nao distinguir a relagao de influencia entre acontecimentos (por exemplo, subconjuntos de atividades de individuos) e a relagao de intluencia entre os indlviduos (por exemplo, os conjuntos completos de atividades de individuos). 0 fate de que parega possivel falar de assimetrias entre acontecimentos, mas que nao seja possivel, com a mesrna freqUencia falar de assimetria de influencia entre indivdduos (por exernplo, a participa~ao na inflUl~onciapode apresentar-se com freqUencia em forma de especializa.gao da in fluencia conforme a "zona") sugere que 0 rnodelo apropriado para a descrigao de uma relagao de influencia entre dois individuos e urn modelo em que as atividades relacionadas de influencia dos individuos se dividem em conjuntos miltuamente exclusivos, de tal rnaneira que dentro de cada grupo subsiste a assirnetria entre os agentes individuais da.s atividades". Ibid., 436 e as "notas" d, Simon anteriormente citadas. Cor;elativamente, est as assirnetrias proporcionam uma base para distinguir influen· tes que exercem in fluencia em muitas esferas de conduta e de opiniao, daqueles que s6 0 fazem numa s6 ou em poucas esfera.s.
. _ esta na analise que Ma.x Weber faz de classe. 21. 0 locus classicns para esta determmagao, _ . lesa de Hans H. Gerth e C. Wngl".t g torque: Oxford University Press, status e poder, agora disponivel em tr~du~ao ,(n . E says in SOClology, N ova The b Mills: From Max We er. s _. or A R. Henderson e Talcott Parsons, . tradugao P . d Wm Hodge 1947), 390-395. Mal:. 1946)" pags 180 e segs. e numa . 0 'zation (Lon res: ., d Theory of Social and EconomIc rgam t do sebre os fundamentos, derruba cs recentemente, os estudos se basearam, de_cer ~er;~ s~ Talcott Parsons, "A revised anapor Weber. Entre as numerosas eXPOSIgOes"t,f'ti~n': na compilagao de Reinhard Benlytical approach to the theory of socIal stra 1 IC: R 'der in Social Stratification (Glen· and power:, lea DavI's "A conceptual analysis of dI'X e S '. M. Lipset, Class, Status953) 92128' Kmgs ey , , coe Illinois: The Free Press, 1 , - _' 9 2 7 309-321' Emile Benoit-Smullyall, , . S 'ological ReVIew 1 4", . 1944 stratification", Amencan OCt t 1 t·~ns" American Sociological ReVIew, , "Status, status types and statu~ in terrt~f~c~tiOn'(Nova torque: Harcourt, Brace, 19,57). 9, 151-161e, Bernard Barber, SocIal S .ra . ses roblemas, ver W. L, Warner .e Para tentativas empiricas de esclareclmento Cdes '~y (New Haven: Yale UniverSIty P S Lunt The Social Life of a Modern ommu~, , New York Rural Community, .., K fman Prestige Classes In a 944) e do Press 1941); Harold F. au " t' Memoir 260 margo de 1 , (Corn~ll University Agricultural Expenment Sta Ion'.t sociom:try Monogra,phS, N~ 10, t' 'n a Rural CommunI y, h tcr mesrr.o autor, Defining P res Ige 1 . B Hollingshead, "selected c arac . (Beacon, Nova torque: Bea,con House, lS46), A~ " .American Sociological Review, 194?, istics of classes in a middle western commulll Y, middle-sized cities", American SoClO' 12, 385-395;C. Wright Mills, "The mIddle classes m logical Review, 1946, 11, 520-529, . este roblema encontra-se no volume de Waro maior acervo de dados relatlvos a . P d ti 0 de! distingoes conceptulhis dado ner-Lunt, mas a analise ressente-se da ausenCla 0 P por Weber.
No presente estudo, portanto, supomos que a posigao numa estrutura lOcal roe injluencia interpessoal po.de ser relacionada posigao em outras hierarquias, mas nao identica a ela. Este pressuposto tanto tern base
e
a
cmpirica quanto conceptual. 0 apoio empirico e proporcionado por urn estudo do somportamento politico,22 segundo 0 qual "os lideres da opiniao nao se identificam com as pessoas socialmente proeminentes na comunidade, ou com as pessoas mais ricas, ou com os lideres clvicos". Explorando brevemente os tipos de relaQ6es entre diversos sistemas de estratificagao, encontraremos novas bases para este pressuposto. Embom possam ser diversamente correlacionados, a influencia interpessoal, a classe social, 0 prestigio e 0 poder nao coincidem. Classificados em termos da quantidade e origem dos seus rendimentos, da sua riqueza acumu[ada, alguns membros da "classe media superior" talvez exerc;am uma influencia menos direta sabre as decis6es de uns poucos conhecidos, que alguns membros da "classe inferior" exercem sabre as seus muitos conhecidos. Os individuos que se situam em alta posigao hierarquica, baseados, digamos, sabre criterios geneal6gicos - podem ter pouca influencia interpessoal sabre aqueles que nao se preocupam com suas esferas particulares de atividade e opiniao (por exemplo, as artes, a moda, 0 "born gasto"). Mesmo os conceitos estreitamente relacionados de poder e de influencia interpessoa~ nao sao identicos. Individuos que tern poder de afetar as oportunidades econarrucas de urn grande grupo podem exercer pequena influencia interpessoal em outras esferas: 0 poder de distribuir ou restringir empregos, nao resulta necessariamente em influencia direta sabre 0 comporta· mento politico, associativo ou religioso do povo. Assim sucedc tambem com outras inter-relag6es. As pessoas altamente situadas numa hierarquia de prestigio podem nao ter 0 poder de fazer com que sejam adotadas decis6es sabre outras pessoas, em muitos tipos de situaQ6esespecificadas. (0 poder de impedir que certas pessoas sejam admitidas num clube "exclusivista" e bem diferente do poder de negar-Ihes oportunidade de ganhar a vida em emprego atuaD. As altas pessoas de uma hierarquia de poder podem ter pouco prestigio (0 chefe politico e 0 "racketeer" bem sucedido seriam os exemplos mais estereotipados). Em llesumo, as posig6es nas hierarquias de classe, de poder e de prestigio contribuem para 0 potencial da injluencia interpessoal, mas nao determinam a extensao no, qual a injluencia real mente ocorre. Assim como as bases da influencia interpessoal variam, assim variam suas jormas. A influencia pode tomar entao as seguintes formas: eoer<;iio (f6r<;a, violtncia); dominio (comandar sem amea<;a de f6r<;a); manipnla<;iio (quando os objetivos do influenciador
nao sao expllcitos); 23
22. Lazarsfeld, Berelson e Gaudet, The People's Choice, 50 e cap. XVI. 23. Cf., Goldhamer e Shils, op. eit., 171-172. Como estes a.utores se limitam a um estudo do pader, 56 tratam de f6r<;as, dominias e manipula<;6es. Ver tambem K. Davis, op, eit., 319, que acrescenta a "troca" as formas de influencia.
esclarecimento', (em que a indica<;ao de linhas
alternativas
de a<;ao afeta
0
comportamento
subseqiiente) ; prot6tipos para imita<;iio (em que a pessoa que exerce influencia nao esta consciente de que eo intera<;ao resultou na madifica<;ao do comportamento ou das atltudes de outros); conselho (consistindo em opini6es e recomenda<;6es, mas nao ordens); e permnla (na qual cada pessoa, abertamente. modifica a situa<;ao de modo a levar os outros a determinadas form as de comportamento).
Na presr:''1te pesquisa, temo-nos preocupado principalmente com a influencia sob a forma de esclarecimento, conselho e prot6tipo para imitaQao. Nao tratamc.s do exercicio indireto do poder, atraves de comportamentos mercantis, politicos ou administrativos, com seus efeitos sabre a massa. Os objetos de nossa pesquisa concentram-se nas pessoas que surgem como possuidores de apreciavel medida de influencia inter].Jessoal, manifestada diretamente em suas relac;6es com os outros.
XIII
A PROFECIA QUE 5E CUMPRE POR 51 ME5MA
N UMA SERlE
DE TRABALHO, raramente consultados fora da comunidade universitaria, W. 1. Thomas, decano dos soci6logos ncrte-americanos, formula urn teorema basico para as ciencias sociais: "Se os individuos definem as situac6es como reais, elas san reais em suas conseqUencias". Se 0 teorema de Thomas e suas implicac6es fassem mais difundidas, seria maior 0 !1illnero de individuos que conheceriam melhor 0 funcionamento da nossa sociedade. Embora carecendo da generalidade e precisao de urn teorema newtoniano, ele possui 0 dom de pertinencia e e aplicavel instrutivamente a muitos, senao a maior parte, dos processos sociais.
"Se os individuos definem as situac6es como reais, elas san reais em suas conseqUencias", disse 0 professor Thomas. A suspeita de que 0 autor estava se dirigindo a urn ponto critico torna-se muito insistente quando percebemos que 0 mesmo teorema, em sua essencia, havia sido observado pOl' mentalidades disciplinadas e observadoras muito antes que Thomas. Quando vemos mentalidades, discrepantes em outros pontos, como 0 bispo Bossuet em sua apaixonada defesa, no seculo XVII, da ortodoxia cat6lica, 0 iranico Mandeville em sua alegoria do seculo XVIII, tada crivada de observac6es sabre os paradoxos da sociedade humana, 0 genio irascivel de Karl Marx em sua revisao da teoria de Hegel sabre G devenir hist6rico, 0 fecundo Freud em trabalhos que talvez tenham che;1:ado mais longe do que quaisquer outros de sua epoca no que se refere a modificaQao das perspectivas do homem sabre 0 homem, e 0 erudito, dogmatico e, as vezes, s6lido professor de Yale, William Graham Sumner, que sobrevive como 0 Karl Marx das classes medias - quando vemos esta heterogenea companhia (que escOlhi dentro de uma llsta maior, embora menos distinta) estar de acardo
sabre a verdade e a pertinencia do que e essencial no teorema de Thomas, podemos concluir que ele tambem merega talvez nossa atengao. Para onde, entao, dirigem a nossa atengao Thomas e Bossuet, MandevIlle, Marx, Freud e Sumner? A primeira parte do teorema constitui uma incessante lembranga de que os homens reagem nao somente aos tragos objetivos de uma situagao, como tambem, e as vezes principalmente, no senti do que a situagao tern para eles. E, assim que atribuiram algum sentido a situagao, sua conduta consequente, e algumas das consequencias dessa condu{:a, sao determinadas pelo sentido atribuido. Mas isto e ainda bastante abstrato, e as abstrag6es tornam·se ininteligiveis se de vez em quando nao se enlagam os dados concretos. Qual seria 0 caso que poderia. vir a calhar como exemplo?
Corre 0 ana de 1932. 0 Last National Bank e uma instituigao floresumte. Grande parte dos seus recursos e liquida, sem estar "aguada". 0 senhor Cartwright Millingville orgulha-se, com tada a razao, do estabelecimento bancario de que e presidente. Ate a Quarta-feira Negra. Ao chegar. ao banco, verifica que 0 movirnento esta mais ativo que de costume. Isto e urn pouco estranho, ja que os operarios da A.M. O.K., usina siderurgica e os da K.O.M.A., fabrica de colch6es, nao costumam ser pagos antes do sabado. Todavia, ali estao duas duzias de homens, obviamente trabalhadores das fabricas, formando filas diante dos guiches dos caixas pagadores. Ao entrar em seu escritorio, 0 presidente do banco pensa, com certa compaixao: "Esperemos que nao tenham sido despedidos no meio da semana. A estas horas eles deveriam estar trabalhando em suas maquinas". Mas preocupag6es deste tipo nunca fizeram prosperar urn banco e Millingville entrega-se ao estudo de urn monte de documentos que estao sabre sua mesa. Depois de assinar uns vinte papeis, sente-se preocupado pel a intrusao de qualquer coisa de estranho. 0 discreto zum-zum provocado pela atividade normal de urn banco cedeu a estridencia importuna de muitas vozes. Definiu-se como real uma situagao, que e 0 inicio do que ficou conhecido como a Quarta-Feira Negra, a ultima quarta-feira, alias, da existencia do Last National Bank. Cartwright Millingville nunca ouvira falar do teorema de Thomas, mas nao senti a dificuldade em reconhecer sua agao. Sabia que, apesar da Iiquidez relativa do ativo do banco, urn boato de insolvencia, uma vez langado POl' numero sUficiente de depositantes, redundaria na insolvencia do banco. E, ao terminal' a Quarta-feira Negra - e a Quinta-Feira ainda mais Negra -, em que longas filas de depositantes inquietos, cada urn dos quais procurando salvar freneticamente os seus haveres, se prolongaram em fHas ainda \maiores de depositantes ainda mais inquietos, aconteceu 0 que ele temia - a insolvencia do banco.
A estrutura financeira estavel do banco havia dependido de uma serI," de definig6es da situagao: a crenga na validade do sistema entrosado de csperangas econ6micas de que vivem os homens. Uma vez que os depo sitantes definiram a situagao de outra maneira, uma vez que duvidaram da possibilidade de que se cumprissem suas esperangas, as consequencias dessa definigao irreal foram bastante reais. Este e urn caso historico bem conhecido e ninguem necessita do teol'ema de Thomas para compreen del' como aconteceu; pelo men os, os que votaram em Franklin Roosevelt em 1932. Mas, com a ajuda do teorema, a tragica his torig, do banco de Millingville talvez possa converter-se numa parabola sociologica que nos ajude a compreender nao somente 0 que ocorreu com centenas de bancos norte-americanos na c.ecada de 1930,como tambem 0 que ocorre nas relag6es entre negros e brancos, entre protestantes, cat6licos e judeus nos dias de hoje. A parabola nos diz que as definig6es publicas de uma situagao (profecias ou predig6es) chegam a ser parte integrante fla situagao e, em consequencia, afetam os acontecimentos posteriores. Isto e peculiar aos negocios humapos. Nao e encontrado na natureza, intoeada pelas maos humanas. Predig6es acerca da volta do cometa da Halley, nao influem em sua orbita; mas 0 rumor de insolvencia do banco do Sr. Millingville afetou o resultado real. A profecia da falencia levou ao seu cumprimento. Tao comum e 0 padrao da profecia que se cumpre POl' si mesma, que cada urn de nos tern seu exemplo favorito. Pensemos no caso da neurose de exames. Convencido de que vai ser reprovado, 0 angustiado estudante dedica mais tempo a se lamentar do que a estudar e, como resultado, presta urn mau exame. A ansiedade, inicialmente falaz, converte-se em medo bem justificado. Ou, em outro ambiente, pensa-se que a guerra e inevitavel entre dois paises. Movidos POl' este convencimento. os representantes das duas nag6es afastam-se cada vez mais entre si, reagindo a cada movimGnto "ofensivo" do outro POl' urn movimento "defensivo" pr6prio. Os estoques de armarrientos, materias-primas p homens arm ados tornam-se cada vez maiores e, POl' fim, a guerra "prevista" transforma-se em guerra real. A profecia que se cumpre POl' si mesma e, inicialmente, uma definigao !alsa da situagao que provoca uma nova conduta a qual, POl' sua vez, converte em verdadeiro 0 conceito originalmente falso. A validade especiosa da profecia que se cumpre pOl' si me sma nerpetua 0 reinado do erro, pois o "profeta" mencionara 0 cur so real dos acontecirr..entos como prova de que tinha razao desde 0 principio. (Sabemos, todav;a, que 0 banco de Millingville era solvente, que teria sobrevivido muitos anos se 0 falso rumor nao tivesse criado as condig6es do seu proprio curnprimento). Tais sac as per,'ersidades da l6gica social. E a profecia que se cumpre POl' si mesma que explica em grande parte a din arnica do conflito racial e Hnico nos Estados Unidos de hoje. Que isto seja 0 caso, pelo menos para as relag6es entre negros e brancos, pode
ser deduzido das mil e quinhentas paginas de An American Dilemma, aQao ainda mais generalizada sabre as relaC;6es entre grupos etnicos, do que indica Myrdal, constitui a tese mUito mais breve do estudo seguinte.l
Devido a nao poderem compreender 0 funcionamento da profecia que cumpre POI' si mesma, muitos norte-americanos de boa vontade (e as vezes de ma vontade) mantem persistentes preconceitos etnicos e raciais. Sent em essas crenc;as nao como preconceitos, nao como pre-concepc;6es, mas como produtos irresistiveis da sua pr6pria observaC;ao. "Os fatos do caso" nao lhes permitem chegar a outra conclusao. Assim, nosso cidadao branco, de espirito "imparcial", ap6ia decididamente a exclusao dos negros do seu sindicato operario. Sua opiniao se baseia, naturalmente, nao sabre a preconceito, mas sabre os fatos frios e rigidos. E os fatos parecem ser bastante cIaros. Os negros, "que pertenciam ate ha pouco ao SuI nao industrializado, nao estao disciplinados nas tradic;6es do sindicalismo e na arte das negociac;6es coletivas". 0 negro e um "fura-greves". 0 negro, com seu baixo padrao de vida, presta-se a :a,ceitar trabalho mediante remunerac;ao inferior aos salarios correntes. 0 negro, e em suma "um traidor da cIasse operaria", devendo ser, sem som,bra de duvida, excluido das organizac;6es sindicais. Tais sac os fatos do caso como os ve 0 nosso afiliado a urn sindicato, tolerante mas de cabec;a dura, inocente de tada a compreensao da profecia que se cum pre pOI' si mesma como processo basico da sociedade. Nosso sindicalista nao percebe, naturalmente, que ele e seus companheiros produziram os mesmos "fatos" que observa; pois ao definir a situac;ao no sentido de que os negros sao incorrigivelmente contn'j,rios aos principlos do stndicalismo e ao exclui-Ios dos sindicatos, provoca uma serie de consequencias que, na verdade, tornam dificil, senao impossivel, que a negro evite desempenhar 0 papel de "fura-greves". Sem trabalho depois da Primeira Guerra Mundial, mantidos fora dos sindicatos, milhares de negros nao podiam resistir aos apelos dos empregadores atingidos pelas greves, que lhes abriam uma convidativa porta de acesso a uma porCao de empregos dos quais, em outras circunstancias, seriam excluidos. A hist6ria cria sua pr6pria prova da teoria da profecia que se cumpre POI' si mesma. Que os negros f6ssem furadores de greve porque eram excluidos dos sindicatos (e de grande numero de empregos) e nao que S6
1. 0 oposto a profecia que se cumpre por si mesma e a "profecia suicida", que modificll tanto a conduta humana em rela~ao com 0 que teria sido se a profecia nao houvesse side feita, que nao consegue ter apoio. A profecia se destr6i por si mesma. Nao se estu· da\ 2
fassem excluidos POI' serem fura-greves, pode ser constatado pelo virtual desaparecimento dos negros como fura-greves, nas industrias em que conseguiram ser admitidos e sindicalizados nas ultimas decadas. A aplicac;ao dn teorema de Thomas sugere tambem como se pode romper 0 rirculo vicioso e, muitas vezes tragico, das profecias que se cumprem pOI' si mesmas. A definic;ao inicial que pas 0 circulo em marcha deve ser abandonada. Somente quando se p6e em duvida a suposiC;ao ori:zinal e se formula nova definiC;ao da situagao, e que 0 fluxo consequente dos acontecimentos desmente a suposiC;ao. S6 entao a crenc;a deixa de engendrar a realidade. Mas par em duvida as definic;6es profundamente arraigadas da situaCiaonao e urn simples ate de vontade. A vontade ou, no caso, a boa vontade, nao pode abrir e fechar-se como uma torneira. A inteligencia e a boa vontade sociais sao, POI' sua vez, produtos de diferentes farc;as sociais Nao tomam existencia pela propaganda e 0 ensino das massas, no sentido usual dessas palavras tao caras aos panaceistas sociol6gicos. Na esfera social, como na esfera psicol6gica, as ideias falsas nao se desvanecem em silencio, quando sac confrontadas pela verdade. Ninguem espera que urn paran6ico abandone suas deformac;aes mentais e suas ilus6es, (tac dificilmente adquiridas) ao ser informado de que caracem em absoluto de fundamento. Se as enfermidades psiquicas pudessem tadas ser curadas simplesmente pela disseminaC;ao da verdade, as psiquiatras deste pais estariam sofrendo de desemprego e nao de excesso de trabalho. Tampouco uma "campanha educativa" permanente podera destruir 0 preconceito e a
duos que julgamos serem diferentes, em grau importante, de "n6s-mesmos", em termos de nacionalidade, raQa ou religHio. 0 contrario do extragrupo etnico e, naturalmente, 0 intragrupo etnico, constituido por todos os que pertencem ao "nosso" grupo. Nada ha de fixe ou eterno nas linhas que separam os intragrupos dos extragrupos. Conforme mudam as situaQ6es, tambem mudam as linhas de separaQao. Para grande numero de norte-americanos brancos, Joe Louis e membro de urn ext~agrupo, quando a situaQao se define do ponto de vista racial. Em outra ocasiao, por exemplo, quando Louis derrotou 0 alemao nazificado Schmeling, muitos desses mesmos norte-americanos brancos 0 aclamaram como membro do intragrupo (nacional). A lealdade nacional sobrepujou 0 separatismo racial. As mudanQas bruscas nas fronteiras dos grupos resultam as vezes embaraQosas. Assim, quando negros norte-americanos ganharam 0 maior numero de medalh~s nos Jogos Olfmpicos de Berlim, os nazistas, sublinhando a cidadania de segunda classe atribuida aos negros ,em divers as regi6es desse pais, negaram que os Estados Unidos'tivessem ganho realmente os jogos, ja que os atletas negros, na pr6pria opiniao dos seus concidadaos brancos nao eram norte-americanos "completos". E 0 que poderiam responder a isto Bilbo ou Rankin, politicos segregacionistas do SuI dos Estados Unidos? Sob a guia paternalfstica do intragrupo dominante, os extragrupos etnicos estao constantemente submetidos a urn vivo processo de precon· ceitos que, ao que me parece, vicia notoriamente a educaQao e a propaganda de massa3 que se faz em favor da tolerancia etnica. Este e 0 proce~so pelo qual "as virtu des do intragrupo se convertem em vicios do extragrupo", digamos assim, parafraseando a observaQao do soci610go Donald Young. Ou, mais familiarmente e, talvez, mais instrutivamente. pode ser chamado 0 processo de "maldito se 0 fazes e maldito se nao 0 fazes", nas relaQoes etnicas e raciais.
Para descobrir que os extragrupos etnicos sac condenados adotam-se os valores da sociedade protestante branca, e tambem censurados se nao 0 fazem, devemos observar primeiro urn dos her6is da cultura de intragrupo, examinar as qualidades que the atribuiram os bi6grafos e. a crenQa popular, destinando assim as qualidades mentais, de aQao e de carater que, em geral, sao consideradas dignas de admiraQao. Nao sac necessarios inqueritos peri6dicos de opiniao publica nara justificar a escolha de Abe Lincoln como her6i da cultura que mais plenamente encama as virtudes cardeais norte-amtlricanas. Como dizem os Lynd em Middletown, os habitantes daquela pequena cidade tipica s6 admitem George Washington ao lado de Lincoln como /)s maiores norte-americanos. Este ultimo e reinvidicado como seu, quase tanto pelos republi· canos apastados como pelos democratas menos abasta0.os.2
I ,; " , !:: I ' ,I __ ' _ Todo P.limino de escola sabe, inevitavelmente, que Lincoln era frugal, trabalhador, ansioso em adquirir novos conhecimentos, defensor dos direitos do cidadao comum e que galgou com sucesso r. eseala das oportu· nidades, desde a infima condiQao de pequeno agricultor ate as respeitaveis alturas do eomercio e da advocacia. (Nao necessitamos acompanhar mais adiante a sua vertiginosa ascensao). Se alguem nao souber que estes atributos e realizaQ6es constituem 'Ja16res muito apreciados pela elasse media norte-americana, nao tardara em descobri-lo lanQando urn olhar sobre a exposiQao que fazem os Lynd em "0 Espfrito de Middletown"; pois aU encontramos a imagem GO Grande Emancipador plenamente refletida nos valores reverenciados por Middletown. E sendo esses seus valores, nao e surpreendente verificar que t6das as Middletowns dos Estados Unidos conden am e desprezam os individuos e os grupos que, presumivelmente, nao possuem essas virtudes. Se pareee ao intragrupo branco que os negros niio sac tao educados quanto eles. que tem un-:.a proporQao "indevidamente" alta de oj.Jerarios nao ,especializados e um2. proporQao "indevidamente" baixa de negociantes e de membros das profiss6es liberais, que sac manirrotos, e tudo 0 mais que consUtui 0 cat:3.logo das virtudes e pecados da classe media, nao e dificil compreender a acusagao de que 0 negro e "inferior" ao branco. Sensibilizados ao funcionamento da profecia que se cumpre por si mesma, dev~riamos estar preparados para ver que as acusaQoes antinegras que nao sao manifestamente falsas sac apenas especiosamente certas. Os alegados sac certos, no sentido que Dickens poderia atribuir ao seu celebre personagem 0 Sr, PickWick, ou seja, conforme temos visto, que em
por David Donald, Lincoln Reconsidered (Nova rorque: Alfred A. Knopf, 1956), 3-18. Embora Lincoln, natural mente , continue sendo 0 chefe nominal simb6lico dos republicanos, isto pode ser exatamente outro paradoxo da hist6ria, do mesmo tipo daque!e que Lincoln observou a seu tempo, a respeito de Jefferson e dos democratas. "Recordando, tambem, que 0 pa.rtido de Jefferson formou-se sobre seu suposto devo· tam en to superior a.os direitos pess~ais do homem, man tendo que os direitos da propriedade sao apenas secundarios e muito inferiores, e admitindo que os assim chamados democraticos de hoje sao os partidarios de .Tefferson e seus oponentes, 0 partido anti. -Jefferson, sera igualmente interessa,nte notar quao completamente OS dois mudaram de maos, no que diz respeito a.os principios sobre OS quais se supunha que estavam i~i' cialmente' divididos. Os democratas de hoje sustentam que a Iiberdade do homem nao e absolutamente nada, quando entra em conflito com 0 direito de propriedade de outro homem; os republicanos, ao contnirio, sao a favor, tanto do homem como do d61ar mas, em caso de conflito, co!ocam 0 horn em em primeiro lugar. "Lembro-me que certa vez muito me diverti observando dois individuos parcial mente embriagados, lutando com seus capotes vestidos, luta essa. que, ap6s longa e quase inofensiva contenda terminou quando cad a urn, entre varias peripecias, encontrou-se vestido com 0 capote do outro. Se os dois grandes partidos de hoje forem realmente identicos aos dois que existia,m no tempo de Jefferson e Adams, e que realizaram a mesma proeza que os dois bebados". Abraham Lincoln, em carta dirigida a H. L. Pierce e outros, em 6 de abrit de 1859 em Complete Works of Abraham Lincoln, publicado por John G. Nicolay e John Hay, (Nova Iorque, 1894), V, 125-126.
geral as profecias que se curnprem por si mesmas SaG verdadeiras. Assim, 5e 0 intragrupo predominante cre que os negros sac inferiores e procura evitar que os fundos destinacfos a educa!tao "sejam mal gastos com incapazes", e depois proclama como prova definitiva dessa inferioridade que (;S negros "s6" tem proporcionalmente a quinta parte de graduados universitarios da que tem os brancos, dificilmente podera causal" surpresa esse transparente j6go de prestidigita!tao social. Depois de termos visto a coelho, cuidadosamente (embora nao muito habilmente) colocado dentro da cartola, s6 podemos olhar com desdem a atitude triunfal com que final mente no-lo mostram. (Realmente, e um tanto €mbara(;oso notar que uma propor-gao maior de negros do que de brancos passou das escolas 8ecundarias para a universidade; aparentemente, as negros bastante tenazes para escalar os altos muros da discrimina!tao representam urn grupz: ainda mais seleto do que a popula!tao branca que passou pelas escolas secundarias). Assim tambem, quando 0 cavalheiro do Mississipi (Estado que gasta cinco vezes mais com 0 aluno branco medio do que com 0 aluno negro medio), proclama a inferioridade essencial dos negros, assinalando a propor!tao de medicos par habitantes entre os negros como inferior a quarta parte da dos brancos, ficamos mais impressionados com a sua 16gica embrulhada do que com seus profundos preconceitos. Tao claro e, nestes exemplos, 0 mecanismo da profecia que se cumpre par si mesma, que somente as pessoas que escolherem para sempre a predominancia do sentimento s6bre a realidade, podem levar a serio essas provas especiosas. Mas a prova espuria eria, muitas vezes, a cren!ta verdadeira. A auto-hipnose provocada pela propaganda que a pr6pria pessoa faz, e um aspecto nao ,aro da, pro fecia que se cumpre por si mesma. Ja nos ocupamos bast ante dos extragrupos condenados por nao apresentarem (aparentemente) as virtudes do intragrupo. Mas que diremos a respeito da segunda fase desse processo? Sera possivel dizer seriamente que 0 extragrupos tambem sac condenados quando possuem essas virtudes? E possivel. Mediante um perfeito preconceito bissimetrico, os extragrupos etnicos e raciais sao condenados fa!tam 0 que fizerem. A condena!tao sistematica <.10 membro do extragrupo persiste em grande parte independentemente do que fizer. Mais ainda: mediante a exercicio extravagante de uma caprlchosa 16gica judicial, e a vitima que e castigada pelo delito. Nao obstfmte as 2.lJarencias superficiais, 0 preconceito e a discriminagao diril~idos ao extragrupo nao depende do que faz 0 extragrupo, mas est a profundamente arraigado na estrutura da nossa sociedade e na psicologia sodal de seus membros. Para compreender como isto acontece, devemos f:xaminar a alquimia !noral mediante a qual a intragrupo transforma facilmente a virtude em vida a vicio em virtude, conforme as necessidades da ocasiao. Nossos estudos procederao pelo metoda de casas.
e
Comecemos com a f6rmula atraentemente simples de alquimia moral: a mesma conduta deve ser apreciada de maneira cUferente, conforme a pessoa que a exibir. Por exemplo, 0 alquimista eficiente deve saber desde logo que a palavra " firme" se declina propriamente do seguinte modo: Eu sou firme, Tu es obstinado, Ele e emperrado. Alguns ha que, nao versados nas sutilezas dessa ciencia, dirao que se deveria aplicar uma s6 e mesma palavra aos tres casos de conduta identica. Esta insensatez antialquimica deve ser simplesmente :gnorada. Ter-do presente esta experiencia, estamos preparados para observar como a mesma conduta sofre campI eta mudan!ta de valora!tao, quando passa do intragrupo Abe Lincoln para 0 extragrupo Abe Cohen ou Abe Kurokawa. Procedamos sistematicamente. Abraao Lincoln trabalhava ate altas horas da noite? Isto atesta que era um indlviQuo industrioso, resoluto, perseverante e ansioso por exercer ao maximo os seus talentos. Os judeus au japonf:ses do extragrupo tambem trabalham ate de madrugada? Isto apenas exemplifica sua mentalidade de "sweatshop" [oficinas ou fabricas onrie as operarios eram obrigados a trabalhar longas horas par baixos salarios e pessimas condi!toes de salubridade (N. do trad.}], seu desabusado desrespeito aos padroes de trabalho norte-americanos, seus metodos de concorrencia desleal. 0 her6i do intragrupo e frugal, econ6mico e moderado? Entao 0 vilao do extragrupo e tacanho, miseravel e economizador de tostoes. Ao Abe do intragrupo se presta home nag em par ser esperto, perspicaz e inteligente e, pelo mesmo motivo, dedica-se a maior desprezo aos Abes dos extragrupos por serem astutos, ladinos, manhosos e por demais espertos. Negou-se a indomavel Lincoln a contentar-se com uma vida de trabalho manual? Preferiu usar a cerebro? E'ntao que se lhe prestem todos as elogios pel a sua ascensao denodada pela vacilante escada da oportunidade. Mas, naturalmente, fugir cIa trabalho manual para 0 trabalho cerebral, como fizeram as comerciantes e advogad.os do extragrupo, nao merece senao censuras por representar um tipo de vida parasitario. Estava Abe Lincoln ansioso por conhecer a sabeaoria acumulada dos seculos, mediante a estudo incessante? 0 defeito do jUdeu e que ele e urn estudante fanatica, com uma maquina trituradora bem engraxada na cabe!ta, com a nariz sempre metido num livro, enquanto as rapazes decentes vaG ao cinema au a um j6go de futebol. Nao quis 0' resoluto Lincoln limitar-se ao nivel da sua comunidaJe provinciana? Era exatamente a que se devia esperar de urn homem rie visao. Mas, se os membros dos extragrupos se atreverem a criticar as aspectos vulneraveis da nossa sociedade, mandemo-los de volta ao lugar onde nasceram. Lincoln jamais esqueceu, ao se elevar muito acima das suas origens, as direitos do cidadao comum, como tambem apoiou a direito de greve? Isto prova que, como todos as norte-americanos genuinos 0 maior deles foi eterna-
mente fiel a causa da liberdade. Mas, quando examinamos as estatisticas das greves atuais, recordamo-nos que "as pnitlcas antinorte-americanas" sao causadas pelos extragrupos em sua perniciosa agitagao entre os operarios que, alias, "se sentem muito satisfeitos com 0 alto nivel de vida que atingiram". Uma vez enunciada, a f6rmula classica de alquimia moral e bastante clara. Mediante 0 habH emprego dos ricos vocabularios de louvor e de opr6brio, 0 intragrupo transmuta facHmente suas pr6prias virtudes nos vicios dos outros. Mas, POI'que se destacam tantos membros do intragrupo Gomo alquimistas morais? Par que, no intragrupo predominante, sao tantos os que se entregam completamente a esta expe:riencia continua de transmutat,;2o moral? Podemos encontrar uma explicagao, colocando-nos a certa distancia do nosso pais e acompanhando 0 antrop610go Malinowski as Ilhas Trooriand. Ali encontramos um padrao instrutivamente analogo. Entre os trobriandenses, num grau ao qual evidentemente ainda nao se aproximam os norte-americanos, apesar de Hollywood e das revistas de "confiss6es intimas", 0 exito com as mulheres confere honra e prestigio ao homem. A proeza sexual e urn valor positivo, uma virtude moral. Mas, se urn trobriandense da camada inferior tern "demasiado" exito sexual, se realiza "demasiadas" conquistas, coisa que, naturalmente, deveria ficar limitada a elite, aos chefes ou homens poderosos, entao este glorioso recorde se converte em escandalo e abominagao. Os chefes jicam riipidamente ressentidos por todo sucesso pessoal nao justificOJdo pela posigao social. As virtudes morais sao virtudes apenas quando ficam zelosamente confinadas ao intragrupo apropriado. A atividade correta de gente censuravel converte-se em motivo de desprezo, nao de honra; pois e ,evidente que somente deste modo, reseI'vando essas virtudes exclusivamente para si mesmos, podem os homens poderosos conservar sua distingao, seu prestigio e seu podel'. Nao se poderia encontrar processo mais sapio para conservar intato urn sistema. de estratificagao social e de poder social. Os trobriandenses muito teriam a nos ensinar, pois parece claro que os chefes nao inventaram POl' calculo este programa de entrincheiramento Seu comportamento e espontaneo, irrefletido e imediato. Seu ressentimen to pela ambigao "excessiva" ou pelo exito "excessivo" do trobriandense comum nao e calculado, e verdadeiro. Acontece, outrossim, que est a pronta reagao emocional a manifestagao "fora de lugar" de virtu des do intragrupo, serve tambem de expediente utH para reforgar as direitos especiais dos chefes em relagao as coisas boas da vida em Trobriand. Nada seria mais afastado da verdade, nenhuma interpretagao mais deformada dos fatos, do que supor que esta conversao das virtudes do intragrupo em "icios Ido extragrupo faz parte de uma conspiragao calculada e deliberada dos chefes de Trobriand para manter os trobriandenses comuns em seu lugar. E, simplesmente, que os chefes foram doutrinados numa apreciagao
cia ordem adequada das coisas e consideram parte da sua pesada carga manter a mediocridade dos outros. Numa rapida revisao das culpabilidades dos alquimistas da moral, nao temos POI' que sucumbir ao erro equivalente de considerar simplesmente (' status moral do intragrupo e do extragrupo. Nao que todos os judeus e todos os negros sejam angelicos e que os gentios (no sentido de qualquer naojudeu - N. do trad.) sejam todos diab6licos. Nao que a virtu de individual deva ser agora procurada exclusivamente no lado "mau" dos caminhos etnico ..raciais e 0 vicio individual no lado "born". E provavel que haja tantos homens e mulheres corrompidos e viciados entre os negros e os judeus como entre os brancos gentios. 0 que acontece e que a feia cerca que encerra 0 intragrupo impede que os individuos que formam os extragrupos sejam tratados com a decencia que se costuma conceder aos seres numanos.
Basta observar as conseqtiencias desta curiosa alquimia moral para vel' que nao ha paradoxo algum em condenar os membros dos extragrupoG quando apresentam, e quando nao apresentam, as virtudes do intragrupo. A condenagao, nos dois casos, desempenha uma s6 fungao social. Os contrarios aparentes unem-se. Quando os negros sac marcados como incorrigivelmente inferiores porque (a primeira vista) nao manifestam essas virtudes, isto vem confirmar a justiga natural de atribuir-lhes um status inferior na sociedade. E quando se acusa aos judeus e aos japoneses de serem dotados superlativamente dos va16res do intragrupo, deseja-se tornar claro que eles devem ser rigorosamente mantidos dentro das elevadas muralhas da discriminagao. Em ambos os casos, pretende-se que 0 status especial atribuido aos diversos extragrupos e perfeitamente razoavel. Todavia, este arranjo perfeitamente razoavel continua produzindo as C',onseqtienciasmais irracionais, tanto l6gicas como sociais. Vejamos apenas algumas delas. Em alguns contextos, as limitag6es impostas ao extragrupo - pOI' exemplo, 0 racionamento do numero de judeus que podem ingressar nas universidades e outras escolas de profiss6es liberais - demons tram logicamente 0 medo a suposta superioridade do extragrupo. Do contrario, nao sena necessario aplicar qualquer discriminagao. As f6rgas inexoraveis e impessoais da competigao academic a nao tardariam em rebaixar 0 nlimero de estudantes judeus (ou japoneses, ou negros) a urn nivel "apropriado". Esta crenga implicita na superioridade do extragrupo parece, porem. prematura. Nao ha qualquer prova cientifica que possa demonstrar a superioridade dos jUdeus, dos japoneses ou dos negros. Os esforgos do inr tragrupo c1iscriminat6rio para suplantar 0 mito da superioridade ariana <'..om0 mito da superioridade nao .ariana, esta condenado ao fracasso pela
clencia. No fim das contas, a vida dentro de um mundo de mitos tem que se chocar com os fatos do mundo da realidade. POl' conseguinte, POl' questao de simples egoismo e de terapia social, poderia ser sabio para 0, intragrupo abandonar 0 mito e ater-se a realidade. A norma de ser condenado POl' fazer e condenado tambem POl' nao fazel', acarreta conseqtiencias ulteriores, entre os proprios extragrupos. Se se diz reiteradamente a uma pessoa que ela e inferior, que nada reallZOUde positivo, e muito humane que essa pessoa lance mao de qualquer pedacinho de evidencia para pravar 0 contrario. As definiQ6es do intragrupo imp6em ao extragrupo supostamente inferior a tendencia defensiva de exaltar "as realizaQ6es da raQa". Conforme observou 0 ilustre sociologo negro Franklin Frazier, os jornais negros demonstram "notavel consciencia de raQa e exibem orgulho consideravel pelas proezas dos negros" a maior parte das quais sac pequenas se forem medidas POl' padr6es mais amplos". A aULcglorificaQao, que se encontra em certo grau em todos os grupos, amiude se converte em contra-resposta ao desprezo persistente v:indo dos grupos de fora. Mas e a condenaQao dos extragrupos, devido aos seus triunfos "exeessivos", 0 que da origem a uma conduta verdadeiramente grotesca. Assim, depois de algum tempo e POl' uma questao de defesa propria, os extragrupos chegam a persuadir-se que suas virtudes, na realidade sac vicios, o que constitui 0 episodio final da tragicomedia dos valores invertidos. Procuremos acompanhar essa trama atraves do seu intricado labirinto de autocontradiQ6es. A admiraQao respeitosa para a ardua ascensao do "office boy" que chega a ser presidente da republica esta profundamente arraigada na cultura norte-americana. Esta longa e dura ascensao traz consigo urn duplo testemunho: atesta que todas as carreiras estao largamente abertas ao verdadeiro talento na sociedade norte-american a e atesta o valor do individuo que se distingue em sua heroica ascensao. Seria injusto escolher um modelo entre as muitas valentes figuras que se abriram um caminho contra todas as desigualdades ate chegarem ao pinaI:ulo onde se sentaram na cabeceira da longa mesa de conferencia no grande "Salao do Conselho". Tomada ao acaso entre muitas outras a saga de Frederick H. Ecker, presidente do conselho de uma das maio res empresas privadas do mundo, a Metropolitan Life Insurance Company, podera servir de modelo. Partindo de um trabalho servil e mal pago atingiu uma posiQac eminente. Uma corrente incessante de honrarias !luiu bastante apropriadamente em direc;ao a este homem de grande poder e de gran des rea1iza(l6es. Acontece, embora isto seja urn assunto eminentemente pessoal desse E'minente fi:r..ancista, que 0 Senhor Ecker e presbiteriano, Mas, ate agora, nao se levantou publicamente nenhum "ancHi.o" da igreja presbiteriana para declarar que a bem sucedida carreira do Sr. Ecker nao deve ser tcmada muito a serio e que, afinal de contas, relativamente poucos presbiteria'nos subiram dos andrajos para a riqueza e que os presbiterianos, na realidade, Iiao "controlam" 0 mundo das finanQas, dos seguros de vida e
das invers6es imobiliarias. Antes, pode-se super que os "anci6es" presbiterianos unem-se a outros norte-americanos imbuidos das normas dos sucessos proprios da classe media para felicitar 0 eminentemente bem sucedido Sr. Ecker e lJara aclamar outros crentes que alcanQaram alturas quase iguais. Seguros em sua situaQao de intragrupo, assinalam com 0 dedo do orgulho e nao com 0 dedo do desalento, 0. exito individual. Os exitos notaveis de membros de extragrupos suscitam outras reaQ6es, inspiradas pela pratica da alquimia moral. E evidente que, se 0 triunfo e um vicio, e necessario rechaQar os triunfos ou, pelo menos, desestimula-los. Em t&is circunstancias, 0 que e motivo de orgulho para os presbiterianos pode converter-se em motivo de desalento para os judeus. Se o judeu e condenado pelo seu exito educativo, pro fissional, cientifico ou economico, entao e bastante compreensivel que muitos judeus cheguem a pensar que essa;; realizaQ6es devam ser reduzidas ao minimo, como simples ato de autodefesa do grupo. Assim se fecha 0 circulo do paradoxo. quando vemos membros do extragrupo laboriosamente ocupados em ga rantir ao poderoso intragrupo que eles, na realidade, nao sac culpados de terem contribuido excessivamente a ciencia, as profiss6es liberais, as artes, ao governo e a economia. Numa sociedade que considera habitualmente a riqueza como pro.a de talento, um extragrupo ve-se obrigado, pelas atitudes invertidas do grupo predomin'1nte, a negar que haja entre eles muitos individuos ricos. "Entre as 200 maiores empresas nao ,banearias . " somente dez tem urn presidente do conselho judeu". E esta a observaQao de um anti-semita, tendente a provar a incapacidade e a inferioridade dos judeus, que tao pouco fizeram "para organizar as empresas que construiram os Estados Unitios"? Nao; e uma replica a propaganda anti-semita, apresentada pela Liga Antidifamatoria da sociedade B'nai B'rith. Numa <;ociedade em que, como ficou demonstrado POl' recente pesquisa do Centro tie Pesquisa da Opiniao Nacional, a profissao medica goza de mais prestigio do que qualquer outra de noventa ocupaQ6es (com exceQao tia presidencia da Corte Suprema dos Estados Unidos), encontramos alguns porta-voz€s jUdeus, manobrados pelo intragrupo atacante, que se situ am na fantastica posiQao de declararem sua "funda preocupaQao" com a quantidade de judeus que exercem a profissao medica, "desproporcional ao numero de judeus em outras profiss6es". Numa naQao que sofre de notoria falta de medicos, 0 medico jUdeu converte-se em motivo deploravel de profunda preocupaQao, em vez de receber aplausos pela sua trabalhosa aquisiQao de conhecimentos e habilidades e pela sua utilidad€ social. Somente quando os Yankees de Nova Iorque (clube de baseball) se aeclararem profundamente preocupados pelas suas numerosas vitorias no campeonato na Serie Mundial, tao desproporcionada com 0 numero de triunfos oblidos pOI' outros clubes da divisao superior, podera tal ate de abnegaQao enquadl'ar-se na ordem normal das coisas.
Numa cultura que considera insistentemente os profissionais liberais como sendo de valor social mais elevado que os melhores desbastadores de florestas e descobridores de fontes, 0 extragrupo encontra-se na posic;;aoanamala de tel' .de assinalar, com alivio defensivo, 0 grande numero de pintores e colocadores de papeis nas paredes, pedreiros e eletricistas, encanadores e laminadores judeus. Mas ainda esta para ser assinalada a inversao definitiva de va16res. Cada recenseamento sucessivo tern demonstrado que e cada vez maior 0 numero de norte-americanos que residem nas cidades e suburbios. Os norte-americanos se tern urbanizado tanto que, atualmente, s6mente mora no campo menos da quinta parte da populac;;ao do pais. Ja e tempo, evidentemente, que os metodistas e os catolicos, os batistas e os episcopais deliunciem a iniquidade dessa migra<;au dos seus correligiomlrios para as cidades, pois, como se sabe, uma das maiores acusac;;6es dirigidas contra os judeus era a sua nefanda tendencia a viver nas cidades. Em consequencia, os Hderes judeus encontram-se na incrivel posic;;ao de tel' que aconselhar insistentemente aos seus correliglOnarios, para que se transfiram nas proprias ZOnas agricolas abandonadas pelas hordas de cristaos que se dirigiram para as cidades. Talvez isto nao seja tao necessario. Ao se tornar cada vez mais popular no intragrupo, 0 "crime" judeu da urbanizac;;ao, pode ser que venha a tomar a forma de virtude transcendente. Mas e preciso reconhecer que ninguem esta seguro quanto a ist I, pois nesta louca confusao de valares invertidos, nao tardara a ser impossivel determinar quando a virtu de e pecado e 0 pecado perfeic;;ao moral. No meio dessa confusao, urn fate permanece inequivoco. Os judeus, como os outros povos, tern trazido contribuic;;oes relevantes a cultura universal. Consideremos apenas uma lista resumida. No campo da literatura de fiec;;ao(e reconhecendo grandes diferenc;;as de magnitude entre uns e outros), figuram, entre outros jUdeus, Heine, Karl Kraus, Borne, Hofmannstbal, Schnitzler, Kafka. Na esfera da composic;;aomusical, Meyerbeer, Felix Mendelssohn, Offenbach, Mahler e Schonberg. Entre os v\rtuose'S musicais, lembremo-nos de Rosenthal, Schnabel, Godowsky, Pachmann, Kreisler, Hubermann, Milstein, Elman, Heifetz, Joachim e Menuhin. Entre os cientistas, com estatura suficiente para receber 0 premio Nobel, vejamos a lista familiar que inclui Beranyi, Mayerho f, Ehrlich, Michelson, Lippmann, Haber, Willstatter e Einstein. No numero esoterico e imaginativo da invenc;;ao matematica, lembremo-nos ilnicamente de Kronecker, criador da moderna teoria dos numeros; Hermann Minkowski* que forneceu os fundamentos matematicos da teoria especial da relatividade; ou Jacobi, com seus trabalhos fundamentais sabre a teoria das func;;6es eHp-
(*)
E 6bvio que devemos mencionar aqui 0 nome de batismo, pois do contrario 0 matematico Hermann Minkowski poderia ser confundido com Eugen Minkowski. que fer;[,con· tribuiQoes tao notaveis aos nossos conhecimentos s6bre esquizofrenia, ou com Mieczyslaw, Minkowski. figura relevante entre os anatomista.s do cerebro. ou com Oskar Min· gnWSki, descobridor do dinbete pancre:Hico.
ticas. E' assim, em cada provincia especial dal:i.celac;;6esculturais, encontramos uma Jista de hornens e mulheres que POl' casualidade eram judeus. E quem esteve assim tao aS3iduamente ocupado a cantar louvores aos 'udeus? Quem compilou tao diligentemente a lista de muitas centenas de ~udeus distintos que contribuiram de maneira tao notavel ao progresso da J . ciencia, da literatura e das artes, lista de onde tlramos os poucos nomes acima mencionados? Algum filo-semita, ansioso POl' demonstrar que seu povo muito contribuiu para a cultura universal? Nao, ago~a_sab~mos mais a respeito. A lista completa sera encontrada na 36.' edlc;;ao dO manual anti-semita do racista Fritsch. De acardo com a formula alquimica de transmutac;;ao das virtudes do intragrupo em vicios do extragrupo, 0 a.utor oferece esta relac;;ao como uma lista de chamada de espil'itos sinisr.1'OS que usurparam as realizac;;6es devidas pr6priamente ao intragrupo ariano. Uma vez que tenhamos compreendido 0 papel predominante do intra· grupo na clefiniC;;aoda situac;;ao, 0 paradoxo da conduta aparentemente oposta dos extragrupos negro e judeu cai POl' si mesmo. Se se reprocha aos negros a sua inferioridade e, em apoio dessa censura alega-se a sua falta de contribuic;;ao a cultura universal, a necessidade humana de amor proprio e a preocupac;;ao pela seguranc;;a muitas vezes os leva defensivamente a magnificar todo e qualquer triunfo, ou rea· Jizac;;aoda sua rac;;a. Quando se acusam os judeus de excessivos triunfos e ambic;;6es ilimitadas, e listas de judeus ilustres sac apresentadas para apoiar a acusac;;ao, entao a necessidade de seguranc;;a os leva defensivamente a minimizar ~s genuinas realizac;;6es dos membros do seu grupo. Tipos de comportamentv a,parentemente opostos desempenham as mesmas func;;6es psicol6gicas e sociais. A auto-afirmac;;ao e a auto-anulac;;ao convertem-se em recursos para tratar de lutar contra a condenac;;ao pOl' supostas deficiencias do grupo e contra a condenac;;ao pelos supostos exc'essos do grupo, respectivamente. E com urn sensa- suti~ de su.perioridade moral, 0 bem instalado intragrupo observa essas CUl'losas atltudes aos extragrupos com urna mescla de burla e desprezo.
Continua-ra indefin1damente essa desoladora tragicomedia. marcada apenas pOl' pequenas mudanc;;as no elenco? Nao necessariamente. . Se os escrupulos moc:ais e 0 senti do de decencia fassem os umcos meios para par fim ao espetaculo, seria de esperar que ele continuaria i~definidamente. Os sentimentos morais, de per si, nao sao muito malS E'ficazes para curar os males sociais do que para remedial' aos male~ fisicos. Nao ha duvida que os sentimentos morais contribuem a motlvar esforc;;os favoraveis a mudanc;;a, mas nao substituem os meios persistentes necessarios para conseguir 0 objetivo, como 0 atesta 0 cemiterio densamente povoado das utopias "de miolo mole".
Ht. muitos indicios de que se pode dar um fim deliberado e planejado ao funcionamento das profecias que se cumprem por si mesmas e aos circulos viciosos da sociedade. A seqiiela da nossa parabola socio16gica do Last National Bank proporciona um indicio do modo como isto pode ser realizado. Durante a fabulosa decada de 1920, em que Coolidge produziu sem duvida uma era republicana de exuberante prosperidade uma media de 635 bancos por ano suspendeu suas operag6es. E durant~ os quatro anos imediatamente anteriores e posteriores a Grande Quebra de 1929, quando Hoover sem duvida nao provocou uma era republicana de preguigosa depressao, a media de falencias subiu para 0 numero espetacuJar de 2.276 bancos por ano. Mas, coisa muito interessante, nos doze anos que se seguiram a criagao da Federal Deposit Insurance CorporatIOn 6 a promulgagao de outra legislagao bancaria, enquanto Roosevelt presidi1J Ii depressao e a revivescencia democratica, ao recesso e ao auge da economia, os fechamentos de bancos cairam a insignificante media de 28 por ano. Talvez Os panicos monetarios nao tenham sido conjurados instj~uCi~nalmente ~ela legislagao; no entanto, milh6es de deposit antes ja nao tmham motIVos para provocar corridas aos bancos por raz6es de panico, simplesmente porque uma mudanga institucional deliberada havia eliminado as causas do panico. Os motivos da hostilidade racial nao sao constantes psicol6gicas mais inatas que os motivos do panico. Apesar dos ensinamentos de psic610gos amadores, 0 panico e a cega agressao racial nao estao arraigados na natureza humana. Esses tipos de conduta human a sao em grande parte produzidos pela estrutura modificavel ·da sociedade. Uma pista mais e proporcionada pelo exemplo que ja citamos da hostilidade generalizada dos sindicalistas brancos contra os furadores de greve negros, introduzidos na industria pelos patr6es, depois do termino da Primeira Guerra Mundial. Tendo sido descartada a definigao inidal de que os negros nao mereciam ser afiliados aos sindicatos, 0 negro, com maior margem de oportunidades para trabalhar, j a nao teve necessidade de ingressar nas fabricas pelas portas escusas que lhes abriam os patr6e3 em luta contra as grevistas brancos. Alem disso, mUdangas institucionais apropriadas romperam 0 circulo tragico da profecia que se cumpre por si mesma. Mudangas sociais deliberadas desmentiram a previa s firme convicgao de que "nao esta mesmo na indole dos pretos" juntarem-se cooperativamente com seus colegas brancos nos sindicatos. Citemos como exemplo final urn estudo efetuado num conjunto residencial bi-racial. Situado em Pittsburgh, este conjunto residencial operario de Hilltown e constituido por cinqiienta por cento de famflias negras e cinqiienta por cento de famflias brancas. Nao e uma utopia do seculo XX. Ali, como em toda parte, houve alguns atritos interpessoais. Mas, numa comunidade formada em partes iguais por individuos das duas ragas, menos da quinta parte dos bran cas e menos da terceira parte dos negros informaram que esses atritos Se tinham dado entre individuos de l"8ca dijerente. Pelo seu pr6prio testemunho, as choques se limitaram em
grande parte a desacordos dentro de cada grupo raciaL Porem, apenas urn em cad a vinte e cinco brancos esperava, a prinClplO, que as relag6es; entre as ragas da comunidade decorressem suavemente, enquanto qu'J' cinco vezes mais esperavam graves disturbios, e 0 resto previa uma situa.gao tolenlvel, se nao completamente agradavel. E paremos aqui com a.a. expectativas. Depois de revisar sua experiencia real, tres de cada quatro> brancos mais apreensivos descobriram que, "afinal de contas, as ragas Se davam bast ante bem". Nao e este 0 lugar adequado para expor em pormenores os resultados deste estud.) mas, na essencia, ele demonstrava uma vez mais que, em circunstancias institucionais e administrativas adequadas, a experiencia da amizade inter-racial pode suplantar 0 medo do a.ntagonismo inter-racial. Essas mudangas, e outras do mesmo genero, nao ocorrem automaticamente. A projecia que se cumpre par si mesma, pela qual os temores S6 transformam em realidade, funciona institucionais delibera-dos. unicamente
somente na ausencia de contr6les
rechagando 0 fatalismo social implicito na ideia de que a natureza human a e imutavel, e que se pode romper 0 circulo tragico do medo, do desastre social e do medo reforgado. Os preconceitos etnicos morrem - mas muito lentamente. Podemos contribuir a langa-Ios ao olvido, nao apenas sublinhando que sac irracionais e incompatfveis com os tempos modernos mas, sobretudo, cortando 0 sustento que ainda lhes e dado por certas instituig6es da nossa sociedade. Se duvidamos da capacidade do homem para controlar 0 homem e u sua sociedade, se persistimos em nossa tendencia a achar nas norm as do passado os pIanos do futuro, talvez ja seja hora de reconhecermos d~ novo a sabedoria da observagao feita por Tocqueville ha mais de urn seculo: "Sinto-me inclinado a crer que as instituig6es que julgamos necessarias sao, muitas vezes, nada mais que instituig6es as quais nos temos, acostumado e que, em assunto de constituigao social, 0 campo das pos, &ibilidades e muito mais extenso do que imaginam os individuos que vivem nas divers as sociedades". Tambem nao se devem citar, como provas a favor do pessimismo, os freqiientes e ate mesmo tipicos fracassos no planejamento da~ relag6es humanas entre grupos etnicos. No laborat6rio universal do soci610go, como nos laborat6rios mais reclusos do fisico e do quimico, 0 que e decisivo e a experiencia que tern exito e nao os mil e urn fracassos que a precederam. Aprende-se mais de urn s6 exito do que de multiplos fracassos. Basta urn resultado favoravel para provar que 0 que s~ procura pode seratingido. Dai para diante, basta apenas aprender de que maneira se conseguiu esse resultado. Considero ser este, pelo menos, 0 sentido sociol6gico, das reveladoras palavras de Thomas Love Peacock: "Tudo 0 que e, e passivel".
INTRODUCAO
A
PARTE III CONSTA DE tres capitulos, os dois primeiros revisando criticamente alguns problemas gerais e especiais da sociologia do conhecimento e 0 terceiro, escrito com a colaboragao de Paul F. Lazarsfeld, resurnindo urn campo limitado de estudos sabre a sociologia da opiniao e das comunicag6es de massa. A justaposigao dos dois campos nada tern de casual, pois, ernbora se tenham desenvolvido em grande parte independentemente um do outro, 0 alvo desta introdugao e de sugerir que se contribuiria ao cultivo eficaz de cada urn deles, unificando alguns dos conceitos te6ricos, dos metodos de pesquisa e dos resultados empiricos de ambos. E, para ver as analogias essenciais entre eles, bastara que 0 leitor compare 0 sumario geral da sociologia do conhecimento que oferece 0 Capitulo XIV deste livro com 0 sumario geral de pesquisas sabre comunicag6es de massa, dado por Lazarsfeld em Current Trends in Social Psychology, compilado por Wayne Dennis. Realmente, os dois trabalhos podem ser considerados como especies do genero de investigagao que se interessa pelo jago reciproco entre a estrutura social e as comunicag6es. Urn apareceu e foi mais assiduamente cultivado na Europa e 0 outro, ate agora, tem side mais comum nos Esta· dos Unidos. Portanto, se a etiqueta nao far tomada ao pe da letra, a sociologia do conhecimento pode ser chamada de "especie europeia" e a sociolog-ia das comunicag6es de massa, a "especie norte-americana". (E evidente que essas etiquetas nao podem ser aplicadas estritamente; afinal de contas, Charles Beard foi durante muito tempo um expoente da versao nativa norte-americana da sociologia do conhecimento, assim como Paul Lazarsfeld, por exemplo, realizou em Viena algumas de suas primeiras investigag6es sabre as comunicag6es de massa). Embora as duas especialidades st·ciol6gicas se dediquem ao jago reciproco entre as ideias e a estrutura social, cada uma delas tem seu foco distintivo de atengao.
Nesses campos temos instrutivos exemplos das duas enfases contrastantes na teoria sociol6gica, descritas anteriormente nestas paginas, (especialmente no Capitulo I e no Capitulo IV). A sociologia da conhecimento pertence em sua maiar parte lao campo dos te6ricos globais, em que a amplitude e importancia do problema justifica a dedica· gao a ele, as vezes completamente a parte da possibilidade presente de progredir concretamente para alem das engenhosas especulag6es e das conclus6es impressionisticas. De modo geral, os soci6logos do conhecimento figuraram entre os que levantaram a bandeira que dizia: "Nao sabemos 5e 0 que dizemos e certo, mas pelo menos e importante". Os soci6logos e psic6logos dedicados ao estudo da opiniao publica e das comunicag6es de massa encontram-se com maior freqtiencia no campo oposto dos empiricos, com urn lema algo diferente inscrito em sua bandeira: "Ndo sabemos se 0 que dizemos e espeelalmente importante, mas pelo menos e verdadeiro". Aqui se deu a malUf enfase a coleta de dados relativos ao assunto geral, dados que tern valor essencial como provas, ainda que r.ao estejam imunes a discussao. Mas, ate ha pouco, houve pequeno interesse pelo influxo desses dados sabre os problemas te6ricos e se confundiu a coleta de informag6es praticas com a coleta de observag6es cientificamente pertinentes. Esta Introdugao nao somente servira para apresentar os capitulos componentes da Parte III, mas tambem podera ser de interesse em si mesma, ao comparar as variantes europeias e norte-americanas do estudo socio16gico das comunicag6es. Assim fazendo, ganhamos a forte impressao de que Os pontos distintivos a que se da importancia, enlagam-se as estruturas sociais em tarno das quais se desenvolvem, embora 0 presente est.udo nao f:'\ga mais que sugerir algumas das conex6es possiveis entre a estrutura social e a teoria social, de urn modo apenas preliminar a uma verdadeira pesquisa do assunto. A comparagao tern mais outro objetivo: propugnar a unificagao dos campos de pesquisa social relacionados entre si, em busca da feliz combinac;ao dos dois, que possua as virtudes cientificas de ambos e nenhum dos vicios superfluos de urn e outro.
WISSENSSOZIOLOGIE E PESQUISA DAS COMUNICA<;OES DE MASSA As orientac;6es distintivas desses campos de investigac;ao coordenados, complementHres e que em parte se sobrep6em, constam e sac expressos numa variedade de aspectos relacionados entre si, ou seja: suas materias e sua definicao caracteristicas dos problemas, seus conceitos de dados. sua utilizacao de tecnicas de pesquisa e :1 organizacao social de suas ativiaades investigadoras. Materia
e Dejinir;iio
de Problemas
A variante europeia dedica-se a des~nt€rrar as raizes SOCIalSdo conhecimento, para descobrir os modos em que 0 conhecimento e 0 pensamento
~ao af.etados pela _estrutura social ambiente. 0 principal foco de atengao c aqUl a formac;ao pela sociedade (~e peropectivas intelectuais. Nesta disciplina, ('omo sugiro nos capitulos seguintes, 0 conhecimento e 0 pensamento saa tao frouxamente interligados, que chegam a incluir quase Wdas as ideias e crengas. No entanto, no ceme da disciplina, ha urn interesse sociol6gico pelos contextos sociais do conhecimento, que est a mais ou monos certificado por provas sistematicas. Isto significa que a sociologia do conhecimento interessa-se mais diretamente pelos produtos intelectuais dos peritos, seja na ciencia e na filosofia, como no pens amento politico ou econamico. Embora sentindo tambem algum interesse pelo estado presente do conhecimento (au nivel de informac;ao, como 0 chama caracteristica e significativamente), a variante norte-americana se enfoca sabre 0 estudo sociol6gico da crenga popUlar. Focaliza-se especialmEmte sabre a opiniiio, e nao sabrb 0 conhecimento. Nao san essas, naturalmente, diferengas nitidas, como se fOsse entre branco e preto. Nao sendo arbitraria, a fronteira entre uma coisa e outra nao tern a clareza por exemplo de, uma fronteira intemacional. A opiniao matiza-se de conhecimento, 0 qual nao e outra coisa senao aquela parte da opiniao socialmente aprovada por criterLls particulares de pro va. E assim como a opiniao pode con· verter·se em conhecimento, 0 conhecimento pode, de modo igualmente ostensivo, degenerar em mera opiniao. Mas, salvo nas margens, a distinQao se mantem e se expressa nos focos distintos de atengao das variantes euro· peia e norte-americana da sociologia das comunicac;6es. Se a versao norte-americana interessa-se primordialmente pela opi· nHio publica, pelas crengas das massas, pelo que chegou a chamar·se "cuI· tura popular", a versao europeia concentra-se em tamo de doutrinas mais esotericas, sabre os sistemas complexos de conhecimento que se reformam e, as vezes, se deform am, quando passam para a cultura popular. Essas diferengas de enfoque trazel11 consigo outras diferengas: a variante europeia, ao se interessar pelo conhecimento, chega a !idar com a elite intelectual; a variante norte-american a, preocupada pela opiniao majoritaria, trata das massas. Uma se concentra sabre as doutrinas esotericas de UIlS poucos, a outra sabre as crengas exoteric as de muitos. Esta divergencia de interesse tern relac;ao imediata com tadas as tecnicas de pesquisa, como veremos adiante; e evidente, por exemplo, que uma entrevista investigadora destinada a tirar informag6es de urn cientista ou de urn literato, diferira de modo importante de uma entrevista destinada a pesquisar urn perfil transversal da populac;ao em geral. As orientac;6es das duas variantes demonstram ulteriores correlag6es que distinguem detalhes sutis. 0 setor europeu ocupa-se, no plano eognos· 0 .conheci· citivo, de conhecimento,. 0 norte·americano, de injormar;iio. mento implica urn corpo de fatos ou de ideias, enquanto a informagao nao tern tal implicac;ao de fatos ou ideias sistematicamente conetados. Em conseqtiencia, a variante norte·americana estuda os jragmentos isolados
de injormaf;ao utilizaveis pelas massas; a variante europeia tipicamente pensa numa estrutura total de conhecimentos utilizeLveis par uns pOUC0S. Os norte-americanos dao enfase aos agregados de pedagos separados de m· formagao, as europeus a sistemas de teoria. Para 0 europeu, e essenc~al analisar a sistema de principios em t6da a sua complicada inter-relagao, com as olhos pastas na unidade conceptual, nos niveis de abstragao e de concretizagao, e na categorizagao (p. ex., morfol6gica au analitica). Para o norte-americano e essencial descobrir, mediante as tecnicas de analises de fat6res, par exemplo, as feixes de ideias (au de atitudes) que ocorrem ~mpiricamente. 0 primeiro sublinha as relag6es que subsistem logicamente, o segundo, as que ocorrem empiricamente. 0 europeu interessa-se ~elas etiquetas politicas somente se 0 encaminham a sistemas de ideias POlltlC3S que ele depois constr6i em t6das as suas sutilezas e complexidade, procurando fazer vel' sua (suposta) relagao com urn ou outro estrato SOCial. 0 norte-americano interessa-se pelas crengas politicas descontinuas e s6 na medida que permitem ao pesquisador classificar ("codificar") os individuos sob uma etiqueta ou categoria politica geral, a qual pode depois demonstrar (nao supor), que tern uma circulagao maior num ou noutro estrato social. Ao passu que 0 europeu analisa a ideologia dos movimentos politicos, 0 norte-americano investiga as opini6es dos eleitores e dos nao eleitores. Estes focos de atengao distintiva poderiam ser expostos e exemplificados ainda mais, porem, ja se disse 0 suficiente para indicar que, de uma. materia amplamente comum, a sociologia europeia do conhecimento e a ROciologianorte-americana de comunicag6es de massas extraem problemas distintivos para uma interpretagao distintiva. E, pouco a pouco, vai surgindo a vaga impressao que, pura e simplesmente, pode ser resumida como segue: 0 norte-americano sabe do que esta falando, e isto nao e muito; o europeu nao sabe do que esta falando, e isto e muito.
As variantes europeia e norte-americana tern conceitos notavelmente diferentes s6bre ° que constitui os dados empiricos brutos, s6bre 0 que e necessario para converter esses dados brutos em fatos comprovados f:: s6bre 0 legal' desses fatos, aos quais SE; chegou POI' varios caminhos, no desenvolvimento da ciencia sociol6gica. Em geral, 0 europeu aceita hospitaleiramente e ate mesmo· cordialmente as dados que se candidatam aos status de dados empiricos. Uma impressao derivada de alguns documentos, especialmente se esses documentos se referem a urn tempo ou lugar sUficientemente remoto, sera aceita como fato relativo a correntes de ideias difundidas ou acerea de doutrinas geralm':Jnte admitidas. Se a posigao intelectual de urn autor e bastante alta e 0 campo das suas realizag6es bastante amplo, as vezes suas impress6es meramente fortuitas das crengas predominantes, serao tipicamente tomadas como rela-
t6rios de fatos sociol6gicos. Ou entao, uma generalizagao exposta de maneira sUficientemente positiva e geral sera tomada como dado empirico. Sao tantos os exemplos que e dificil selecionar alguns. Urn Mannheim, POI' exemplo, resumira 0 estado mental das "classes baixas no periodo p6s-medieval", dizendo que "somente pouco a pouco chegaram a se dar conta da sua importtmcia social e politica". Ou ele pode considerar nao s6 importante como verdadeiro que "todos os grupos progressistas consideram que a ideia e anterior ao fato", quando isto e ostensivamente urn assunto de observagao cuidadosa e nao de definigao. Ou €lIepode apresentar uma .hip6tese tao instrutiva como a seguinte, formada pOI' varias suposig6es de fatos: " ... quanto mais ativamente colabora urn partido em ascensao numa coalisao par1amentar, e quanta mais renuncia aos seus impulsos ut6picos originais e, com eles, a sua perspectiva mais ampla, mais provavel e que seu poder de tmnsformar a sociedade seja absorvido pelo seu interesse em c.etalhes concretos e isolados. Exatamente paralela a mudanga que se pode observar na esfera politica, produz-se uma mudanga na perspectiva cientifica que se ajusta as exigencias politicas, isto e, a que era uma vez mero esquema formal e opiniao total abstrata, ten de a dissolver-se na investigagao de problemas especificos e separados". Sugestivo e quase apoditico e, se vercIadeiro, langando tanta luz s6bre tudo a que a intelectual ja experimentou e talvez ja observou casualmente no decurso de sua vida numa sociedade politica, esse enunciado tenta a individuo a considera-lo como fato e nao como hip6tese. E 0 que mais e, como ocorre frequentemente com as formulag6es sociol6gicas da variedade europeia, 0 enunciado parece abarcar tantos pormenores de experimentagao, que 0 leitor raramente passa a pensar nos vastos trabalhos de investigagao empirica que seriam necessarios antes que aquele enunciado pudesse ser considerado como algo maiSi que uma hip6tese interessante. 0 enunciado adquire rapi· damente uma situagao imerecida, como se f6sse fato generalizado. E digno de nota que observag6es com essas, extraidas da sociologi.a do conhecimento, pertencem tipicamente ao passado hist6rico, talvez recapitulando a conduta tipica ou modal de grande numero de individuos (estratos au grupos sociais inteiros). Em qualquer sentido empirico estrit.o, os dados que justificam esses enunciados sumarios tao abrangedores, nao foram, e bem de vel', sistematicamente recolhidos, pela simples e suficiente razao que nao podem se, encontrados em lugar algum. As opi· ni6es de milhares de individuos eomuns do passado remoto s6 podem ser conjeturadas ou reconstruidas pela imaginagao; na realidade, perderam-se na hist6ria, a menos que se adote a c6moda ficgao de que as impressoes das massas ou a opiniao coletiva assentada POI' alguns observadores daquele tempo possam ser consideradas como jatos sociais comprovados. Contrastando com isto tudo, a variante norte-americana da importancia primordial ao estabelecimento empirico dos fatos do casu sob estudo. Antes de procurar determinar por que certas escolas de pensamento sao rnais inclinadas a "investigagao de problemas especificos e separadosn,
os norte-americanos procuram primeiramente averiguar se este e verda(iziramente 0 caso. Naturalmente, esta atitude, como a da variedade europeia, tem os defeitos das suas qualidades. Com muita freqiiencia, 0 intenso interesse pela comprovagao empirica conduz prematuramente a repressao das hipoteses imaginativas: 0 nariz do pesquisador se poe tao perto da pedra de amolar empirica, que ele nao e capaz de enxergar alem dos limites da tare fa imediata. A variante europeia, com seus largos objetivos, quase desdenha estabelecer os proprios fatos que se propoe explicar. Passando por cima da tarefa dificil e trabalhosa de determinar os fatos do caso e indo diretar mente a explicagao dos fatos supostos, 0 sociologo do conhecimento nao consegue mais que par 0 carro adiante dos bois. Como tada a gente sabe se este processo cor-tribui de algum modo ao movimento, em geral con: tribui ao movimento retrogrado - talvez tanto na esfera do conhecimento como no campo dos transportes. E 0 pior e que, as vezes, os bois desaparecem completamente e 0 carro teorico fica parado, ate ser aparelhado para novos fatos. A graga do caso e que, mais de uma vez na historia da ciencia, uma ideia explicativa tornou-se fecunda, mesmo quando os fatos que procurava explicar a principio, se revelaram nem existir como fatos. Mas e evidente que esses erros frutiferos nao podem ser tornados em conta. A variante norte-americana, com sua visao limitada enfoca-se tanto sabre 0 estabelecimento do fato, que so de vez em quan~o leva em conta a pertinencia teorica dos mesmos, depois que foram estabelecidos. Entao o p~oblem~ nao e tanto que 0 carro e os bois tenham os seus lugares in: vertIdos; e antes, que muitas vezes nao existe 0 carro teorico, de modo algum. Os bois podem, e certo, caminhar para a frente mas, como nao puxam carro algum, sua rapida jornada e infrutifera, a menos que algum europeu chegue, com atraso, para enganchar a seu carro a parelha de bois, Mas, como sabemos, as teorias ex post facto sao suspeitas e com muita razao. ' Estas diferentes orientagoes para os fatos e os dados relacionam-sl:' tambem com a escolha do assunto e a definigao dos problemas para invest~gar. A variante norte-americana, com a importancia que eoncede a COllf~rmac;ao empirica, presta pouca atengao ao passado historico, ja que a fe nos dados da opiniao publica e nas crengas grupais se torna suspeita quando julgada a luz dos criterios aplicaveis a dados comparaveis relativos &.S crengas atuais de grupos. Isto pode explicar em parte a tendencia nOrte~americana em tratar primordialmente problemas a curto prazo, como seJa, ~~.re~goes aos materiais de propaganda, a comparagao experimental da eflclenCla da propaganda por diversos meios, e assim por diante. 0 G~sprezo virtual pelos materiais historicos nao resulta da falta de jute;::sse .o~ do nao reconhecimento ~a importancia dos efeitos a longo prazo, as umcamente da erenga que esses assuntos requerem dados que nao podem ser obtidos.
Com sua atitude mais acolhedora para com os dados impressionisticos das massas, 0 grupo europeu pode dar-se ao luxo de fixar seu interesse em problemas de tau longo prazo como 0 movimento de ideologias politicas em relagao com as mudangas nos sistemas de estratificagao de classes (nao simplesmente a passagem de individuos de uma cIasse para outra dentro do sistema). Os dados historic os dos europeus apoiam-se de maneira ti· pica, sabre suposigoes que hoje estao sendo empiricamente testadas pelos norte-americanos. Assim, um Max Weber (ou algum membro da numerosa tribo de seus epigonos) pode discorrer sabre as crengas puritanas que prevaleceram no seculo XVII, baseando suas conclusoes fatuais nos relatos dos poucos individuos letrados, que expuseram suas crengas e as crengas que julgavam ser as dos outros, em livros que hoje podemos ler. Mas, naturalmente, fica intocada e intocavel a questao independente de sabermos ate que ponto as crengas expostas nos livros representam as erengas da maior parte da populagao (sem falar das suas diferentes camadas), completamente inca paz de se expressar por si mesma, no que diz respeito a historia. Esta relagao entre 0 que se encontra nas publicagoes e nas crengas (ou atitudes) reais da populagao sUbjacente, que a variante europeia da por coisa sabida, converte-se num problema proprio para ser investigado pela variante norte-americana. Quando se observa que os jornais, as revistas e os livros expressam uma mudanga no sistema de crengas ou na perspectiva geral e que isto e provisoriamente tomado como reflexo da mudanga de crengas ou de pontos de vista de uma populagao associada (classe, grupo ou regiao), os representantes da variante norte-americana, mesmo os menos radicalmente empiricos, poem-se a indicar que seria imporiante "descobrir por alguns meios independentes a atitude da populagao em gera!. Nossa verificagao so poderia ser conseguida mediante entrevistas com periis transversais do publico nos dois periodos, para ver se a mudanga de vaIOres indicada por esta alteragao na revista (ou outra meio de comunicagoes de massas) e reflexo de uma mudanga real de vaIOres na populagao subjacente". (Lazarsfeld, op. cit., 224). Mas, como ate hoje nao se inventaram tecnicas para entrevistar periis transversais de populagoes do passado remoto, para comprovar as impressoes recebidas dos documentos historicos disseminados que chegaram ate n6s, 0 soci610go norte-americano de comunicagoes de massa tende a limitar-se ao presente historica. Possivelmente, reunindo os materiais em bruto da opiniao publica, das crengas e dos conhecimentos de hoje, ele poderia assentar os alicerces para 0 soci610go que estudasse amanha empiricamente as tendencias a longo praza da opiniao, das erengas e dos conhecimentos. Se 0 europeu prefere tratar de processos a Iongo prazo, mediante 0 estudo dos dados hist6ricos, em que alguns dos dados relativos a crengas de grupos e de massas podem ser discutidos, e impugnadas as suas conclusoes, 0 norte-americano prefere tratar meticulosamente 0 caso a curto prazo, empregando dados que foram moldados de modo muito completo para cobrir as necessidades do problema cientifico e limitar-se as reagoes
imediatas dos individuos a uma situa<;ao imediata separada das longas extens6es da historia. Mas, ao tratar ernpiricamente do problema mais restrito pode, desde logo, eliminar da investiga<;ao os proprios problemas que sac de interesse fundamental. 0 europeu mantern bem no alto a bandeira de conservar intato 0 problema em que esta basicamente interessado, ainda quando possa ser apenas assunto de especula<;ao; 0 norte-americano arvora 0 estandarte que afirma a sUficiencia dos dados empiricos a qualquer custo, mesmo a custa de renunciar ao problema que provocou primeiramente a investiga<;ao. 0 rigor empirico da atitude norte-americana implica numa ordena<;ao autonegativa em que importantes movimentos a longo prazo, de ideias em rela<;ao a mudan<;as na estrutura social, sac POl'demais abanaonados como materia facti vel de estudos; a inclina<;ao especulativa da ati. tude europeia implica em aceitar plenamente que as impress6es dos acontecimentos de massas se tomem por fatos, e que sac poucos os que violam a conven<;a.o consagrada de evitar quest6es embara<;osas sabre as provas que possam apoiar definitivamente os 'supostos fatos de conduta e de cren<;a das mass as. Acontece assim que a variante europeia chega a fRIar de assuntos importantes de modo empiricamente discutivel, ao passo que a norte-amerieano discute assuntos talvez mais banais de modo empiricamente rigoroso. o europeu imagina e 0 norte-americano olha; 0 norte-americano investiga a curto prazo e 0 eutopeu especula a longo prazo. Alern ':lisso, deve ser levado em conta ate que ponto 0 rigor do primelro e a amplitude do segundo devem ser exata e necessariamente antaganicos e, quanta ao mais, deve-se procurar os meios de unifica-los.
As duas variantes apresentarn diferen<;as caracteristicas em seu in~resse pelas tecnicas de investiga<;ao para a coleta de dados e para sua ana.. lise ulterior. Para 0 sociologo europeu do conhecimento, a propria frase tecnica de investigar;iio desprende urn sorn estranho e pouco acolhedor. Considera quase que intelectualmente degradante expor os prosaicos detalhes de como se fez urn estudo de sociologia do conhecimento. Retra<;ando sua linhagem intel
Coisa totalmente diferente sucede com 0 estudo norte-americano das comunica<;6es de massa. No decurso das ultimas decadas, em que a pesquisa neste terreno tern sido levada a efeito sistematicamente, tern side pasto em destaque vasto e diverse repertorio de tecnicas. Tecnicas de entrevistas em t6da sua numerosa variedade (de grupo ou individual, nao diretiva e estruturada, exploratoria e enfocada a urn so ponto, entre vista simples de perfil transversal e entrevista de equipe repetida), questionarios, testes de opiniao e de atitud~, escalas de atitude do tipo Thurstone, Guttman e Lazarsfeld, experimenta<;ao e observa<;ao controladas, analise de conteudo (seja de calculos de simbolos ou analise de itens, tematica, estrutural ou de campo), analisador de programas de Lazarsfeld-Stanton - tudo isso constitui apenas uma amostra dos diversos procedimentos imaginados para as pesquisas das cornunica<;6es de massa.1 A propria abundancia das tecnicas norte-american as nao faz senao diminuir por contraste a pequena lista das tecnicas europeias. E 0 contraste dificilmente pode deixar de trazer a luz outros aspectos diferentes nas duas orienta<;6es para o estudo sociologico das comunica<;6es. A atitude perante 0 problema da conjianr;a nas observa<;6es entre as variantes europeia e norte-americana, pode ser considerada como a pedra de tOCjuepara medir suas orienta<;6es mais gerais em dire<;ao as tecnieas. A contian<;a, que signifiea grosso modo a consistEmcia entre observa;;;6es independentes do mesmo material, esta quase inteiramente ausente, como problema, para 0 estudioso europeu. Em geral, cada estudioso da sociologia do conhecimento exeree seus talentos a seu modo para deseobrir 0 conteudo e 0 sentido dos seus documentos. Seria considerado afronta a integridade ou a dignidade do pesquisador sugerir que 0 documento que estudou poderia ser analisado independentemente por outros, a fim de se confirmar <) grau de confian<;a, ou seja, 0 grau de conformidade entre os diversos observadores dos mesmos materiais. 0 insulto poderia se aprofundar se se acrescentasse que gran des discrepancias entre duas an:Hisf.s independentes poderiam lan<;ar duvidas sabre a capacidade de urn e OU'l.·O pesquisador. A propria no<;ao da confian<;a na caracteriza<;ao Cisto e, a medida em que coincidem categoriza<;6es independentes dos mesmos materiais empiricos), raramente encontrou expressao nos projetos de investiga<;ao dos sociologos do conhecimento. Ver, por exemplo, as tecnicas expostas nas seguintes publicaQoes do Departamento de Pesquisas Sociais Aplicada.s da Universidade de Columbia: P. F. Lazarsfeld e F Stanton, (redatores), Radio Research, 1941, (Nova Iorque: Duell, Sloan & Pearce, 1941); Radio Research, 1942·1943, (Nova Iorque: Duell, Sloan & Pearce, 1944); Communications Research, 1948·1949, (Nova. Iorque: Harper & Brothers, 1949); tambem 0 recente volu· me reportando os estudos do Departamento de Pesquisas da SecQao de EducaQao e InformaQao do Exercito, por Carl 1. Hovland, A. A. Lumsdaine, F. D. Sheffield, intitulado Experiments on Mass Communic.ations, (Princeton University Press, 1949) e 0 volume sabre 0 Projeto de InvestigaQ6es de. ComunicaQ6es de Guerra., por H. D. Lass· well, Nathan Leites e outros, intitulado Language of Politics, (Nova Iorque: George W. Stewart, 1949).
o esqllecimento sistematico do problema da confian<;a ou da nracidade, talvez seja uma heran<;a que 0 sociologo do conhecimento recebeu dos historiadores, que foram seus precursores intelectuais. Pois nas ,JOIaS dos historiadores, a diversidade de interpreta<;6es e considerada tiplea. mente nao tanto como problema a ser resolvido, mas como fatalidade. Quando e reconhecido, este problema e aceito com urn ar de resigna<;ao, tingido de urn pouco de orgulho pelas diversidades artisticas e individc:.ais aa observa<;ao e da interpreta<;ao. Assim, na introdugao ao primeiro dos quatro volumes de sua magistral. obra sabre Thomas Jefferson c autor, Dumas Malone, faz a seguinte ressalva, que nao deixa de ser repre: sentativa das atitudes de outros historiadores em rela<;ao as suas proprias obras: "ouiros interpretarao 0 mesmo homem e os mesmos acontecimentos de maneira diferente; isto e praticamente inevitavel, ja que Jefferson foi figura central em controversias historicas que ate hoje repercutem". (Os grifos siio nossos). Essa teoria de interpreta<;6es diferentes dos mesmos aeontecimentos firmou-se de modo tao completo entre os historiadores, que e quase cert~ que apare<;a, de uma ou de outra forma, no prefacio da maior parte da!! obras histor!cas. Se a historia fOr situada na tradi<;ao do humanismo, da Iiteratura e da arte, este conceito se torna logo compreensivel. No campo Cias artes, esta ressalva a toda interpreta<;ao definitiva e ao mesmo tempo uma expressao, embora convencional, de modestia profissional e defini<;ao de experiencia repetida: os historiadores geralmente revisam as interpre. ta<;6es de homens, de aconteeimentos e de movimentos sociais. Quanto a isto, tampouco os cientistas esperam uma interpreta<;ao definitiva, ainda que sua atit,ude perante a diversidade de interpreta<;6es seja bem diferente. Para compreender est a atitude implfcita perante a confian<;a ou a veracidade, expressa pelos historiadores ou sociologos do conhecimento, nao e necessario romper com a teoria de uma diversidade inevitavel de interpreta~oes. Mas a compreensao sera melhorada, se contrastarmo~ esta teoria com 0 ponto de vista que se manifesta tipicamente nas obras dos cientistas, de modo muito diferente nos trabalhos dos fisicos e, em certo modo, no dos cientistas sociais. Quando 0 historiador aguarda com equanimidade e quase feliz resigna<;ao as dijerentes interpreta<;oes do mesmo dado, seus colegas cientistas eonsideram isto como sinal de urn ponto de apoio inst.avel, que projeta duvida sabre a veracidade da observa<;ao, da mesma f0rma que sabre a adequa<;ao da interpreta<;ao. Seria muito estranho 0 prefaeio de urna obra de quimica, em que se dissesse, a maneira do his toriador, que "outros irao interpretar os mesmos dados sabre a combustao de modo diferente; isto e praticamente inevitavel ... " E certo que podem ocorrer na ciencia (e com frequencia ocorrem), diferen<;as de interpreta<;ao teorica; mas nao e disso que se trata. As diferen<;as consideram-se como pro vas das insuficiencias do sistema conceptual ou, possivelmente, das observa<;oes originais e institui-se a pesquisa para eliminar essas diferen<;as, Na reaIidade, devido a concentra<;ao do esfOr<;opara eliminar com exito as diferen<;as de interpreta<;ao na ciencia, devido a nao se procurar a
pressionistica, os focos de atengao das investigag6es entre os cientistas ingleses do seculo XVII, e a estabelecer, frouxa mas objetivamente, a extensao das conex6es entre as necessidades economicas e a diregao da investigagao cientifica naquela epoca. Ha indicios de que nao foi outra coisa que um excesso de otimismo sociolagico sugerir, no comego desta introdugao, que as virtudes de cada variante se combinassem com a exclusao dos vicios de ambas. Aqui e acola, isto se tem realizado. Esta fertilizagao cruzada produz um hibrido vigoroso, com as categorias tearicas interessantes de uma e as tecnicas de investigagao empirica de outra. Uma analise de conteudo de biografias popubres em revistas de circulagaa CtC massas, feita pOI' Leo Lowenthal, oferece um exemplo promissor do que se pode esperar, a medida que esta uniao se fizer mais frequente. 2 Ao retragar as mudangas de assunto dessas biografias populares, a partir dos "idolos de produgao", ate chegar aos "idolos de consumo", Lowenthal utiliza categorias tiradas de uma importante tradigao europeia de teoria social. E, para determinal' se a muctanga e real ou imaginaria, substitui '.) impressionismo da variante europeia pel a analise sistematica de conteudo da variante norte-americana. 0 hibrido e notariamente superior a qualquer dos dois de raga pura. Outra zona de investigagao em que 0 interesse pela tecnka e nulo na variante europeia e supremo na norte-americana, e a da audip.i1.cia para produtos culturais. 0 europeu nao desconhece POl' completo 0 fato de que as teorias necessitam de audiencia para serem eficazes, mas a isto nao presta uma atengao muito sistematica ou seria. Recorre a dados ocasionais, raros e duvidosos. Se um livro teve grande exito popular, au se se pode averiguar 0 numera de edig6es, ou se, em alguns casos se pode determinal' a numero de exemplares distribuidos, tudo isto, segur..do as conveng6es da tradigao eurapeia, sup6e-se que signifique algo import ante a respeito da audiencia. Ou talvez resenhas, extratos de diarios acasionais de alguns poucos leitores disseminados, ou conjeturas impressionisticas de contemporaneos sac considerados como provas significativas do tamanho, canUel' e composigao das aUdiencias e das suas reag6es. Muito diferente e 0 que ocorre com a variante norte-americana. 0 que £" uma grande lacuna na socioIogia europeia do conhecimento, transforma-se em importante foco de interesse no estudo norte-americano de comunicag6es de massa. Tecnicas complicadas e exigentes .foram inventadas para mediI' nao samente 0 tamanho da audiencia nos diversos meios de massas, como tambem sua composigao, suas preferencias e, ate certo ponto, suas reag6es. Um motivo desta diferenga de enfoque sobre a investigagao de audiencias e a importante diferenga nos problemas centrais dos dois campos. o socialog:> do conhecimento procura, acima de tudo, as daterminantes
2.
Leo Lowenthal, "Biographies (red20tores), Radio Research,
in popular m20gazines", P. F. Lazarsfeld e F. Stanton, 1942-1943, (Nova Iorque; Duell, Sloan & Pearce, 1944).
sociais das perspectivas do intelectual, como este chegou a formal' suas ideias. Interessa-se, portanto, no auditario, apenas pelo influxo que este exerce no intelectual; basta-lhe levar em conta a audiencia somente como o faz 0 intelectual. POI' outro lado, 0 estudioso das comunicag6es de massa interessou-se primordialmente, quase desde 0 principio, com 0 impacto d.os meios de comunicagao de massa sabre as audiencias. A variante curopeia enfoca-se sobre as determinantes estruturais do pensamento; a, norte-ameri.cana, sobre as consequEmcias sociais e psicolagieas da difusao da opiniao. Uma concentra-se em tomo da fonte, outra em torno do re:sultado. A europeia pergunta como acontece que aparegam as ideias 'particulares; a norte-americana pergunta como essas ideias, depois que apareceram, afetam a conduta? Dadas essas diferengas de enfoque intelectual, e facH vel' porque a variante europeia descuidou a investigagao da audiencia e porque a variante norte-americana a ela se dedicou. Tambem se pode indagar se os enfoques intelectuais sao, POl' sua vez, produto do contexto estrutural em que aparecem. Ha indicios de que este seja 0 caso. Conforme Lazarsfeld e outros tem salientado, as pesquisas de comunicag6es de massa apareceram em grande parte como resposta as ,exigencias do mercado. A severa competigao pelos amincios entre os diversos meios de cOIDl1nicagaode massa e entre as agencias de cada meio, provocou uma demanda economic a de medig6es de tamanho, composigao e reag6es de audiencias (de jornais revistas, radio e televisao). E na procura da maior participagao possiveI no dinheiro da publicidade, cada meio de massas e cada agencia se mantiveram alertas para as possiveis deficiencias nas medig6es de a.udiencias utilizadas pelos competidores, introduzindo assim uma pressao consideravel para inventar medig6es rigorosas e objetivas, nao vulneraveis a critica. A1E~mdessas press6es do mercado, a recente interesse militar pela propaganda criou tambem urn enfoque sobre as dimens6es do auditario, ja que, com a propaganda como com os amincios, os patrocinadores querem saber se atingiram 0 publico desejado e se conseguiram os alvos previstos. Na comunidade intelectual onde a sociologia do conhecimento vicejou em sua malar parte, nao existiu a mesma pressao economica intensa e inexoravel para descobrir medig6es tecaicamente objetivas de audiencia e, muitas vezes, faltaram os recursos apropriados d~ pessoal p!!,ra comprovar as medig6es, quando estas foram provisoriamente estabelecidas. Esta diferenga nos contextos sociais dos dois campos levou-os a procurar fnfoques nitidamente diferentes de atengao investigadora. Essas demand as de mercado e militares nao somente suscitaram grande interesse entre os estudiosos de comunicag6es de massa para a mediGao da audiencia, como tambem contribuiram para dar forma as categorias em relagao as quais se descreve ou se mede 0 auditario. Afinal de contas, o objetivo de uma investigagao ajuda a determinar suas categorias e conceitos. As categorias de medigao de audiencia foram, pOl' conseguinte, primordialmente as de estratificagao dos rendimentos (genero de dado
duvida muito importante para os que tern interesse principal em sem d vender e colocar suas mercadorias), do sexo, idade e grau de e ucaQao (obviamente importante para quem procura descobrir os canais pUblicitarios mais apropriados para atingir grupos especiais). Mas, uma vez que tais categorias de sexo, idade, instruQao e rendimentos correspondem tambem a alguns dos principais status na estrutura social, os procedi~:ntos imaginados pelos estudiosos das comunicaQoes de massa para a medic;;aode auditorios, sac tambem de interesse direto para os sociologos. Tambem advertimos que a importancia socialmente induzida, dada a oroblemas intelectuais particulares, pode desviar 0 interesse da investigac;;ao ~e outros problemas de tao grande ou maior interesse sociologico, mas com pouco valor perceptivel para os objetivos imediatos de mercado ou militares. A tarefa imediata da investigaQao aplicada obscurece as vezes as turefas remotas da investigaQao basica. Categorias dinamicas com pouca influen· cia direta sabre os interesses comercIais, tais que, por exemplo, a "falsa consciencia" (funcionalmente definida pela marcada discrepancia entre urn status econamico objetivarnente baixo e uma identificac;;ao ideologica com os estratos econ6micos superiores) ou diferentes tipos de mdividuos econamicamente moveis, tern ate agora desempenhado urn pequeno papel na list a das aUdiencias. Enquanto a variante europeia (WissenssoziologiJe) fez poucas investigaQoes sabre as audiencias de diferentes produtos intelectuais e cUlturais, a variante norte-americana (investigaQao das comunicaQoes de massa) fez muitas e as categorias dessas pesquisas for am, ate 0 passado recente, molda· das nao tanto pelas necessidades da teoria sociologica como pelas necessidades praticas dos grupos e das agencias que criaram a demanda de pes· quisa de audiencia. Sob a pressao direta do mercado e das necessidades militares, inventaram·se tecnicas definidas de pesquisa e essas tecnicas Ie· vam inicialmente as marcas da sua origem: estao profundamente condi· donadas pelos usos praticos a que foram primeiramente dedicadas. A questao de saber se esta investigac;;ao tecnica das comunicac;;oes para as massas torna-se mais tarde independente ou nao das suas origens sociais, e em si mesma urn problema de interesse para a ciencia da sociolo· gia. Em que circunstancias adquire a investigac;;ao provocada pelos inte· l'esses do mercado e militares uma autonomia funcional em que as tecnicas e os resultados entram no dominio publico da ciencia social? E possivel que tenhamos aqui, tao perto dos nossos olhos que nao conseguimos ve·lo, urn fenameno nas ciencias sociais paralelo ao que sucedeu nas ciencias fi· Slcas durante 0 seculo XVII. Naquela epoca, como se sabe, nao foram as velhas universidades, mas as novas sociedades cientificas, que deram im· pulso aos progressos experimentais da ciencia e esse impulso estava relacionado com as exigencias pn3.ticas que se faziam as cienc:as ffsicas em ereSClmento. Da mesma forl"'1a hO.ie, no campo das comunicaQoes de massa, a industria e 0 govemo proporcionaram em grande porte 0 capital de risco em apoio a investigaQao social necessaria para os seus proprios
fins, numa cpoca e num terreno em que as universidades relutavam em dar esse apoio, ou eram incapazes de fornece-lo. Durante 0 processo in'ventaram-se tecnicas, preparou·se 0 pessoal e obtiveram-se resultados. Agora, ao que parece, 0 processo continua e, ao chegarem as universidades essas demonstrac;;oes do valor real e potencial da pesquisa, as mesmas fornecem recursos para a investigaQao, basica e aplicada, neste campo como em outros das ciencias sociais. Seria interessante levar isto mais longe: as investigaQoes orientadas para as necessidades do Estado e da industria cstiveram demasiado vinculadas ao problema urgente imediato, dando muito pouca oportunidade para tratar de questoes mais fundamentais da ciencia social? Cremos que as ciencias sociais nao estao suficien· temente adiantadas, nem a industria e 0 E'stado bastante maduros para chegar a apoiar em larga escala as investig~oes basicas em ciencias sociais da me sma forma que em ciencias fisicas? Sao questoes estas que surgem diretamente da historia social da investigaQao em comunicaQoes de massa, p revestem interesse imediato para 0 sociologo do conhecimento.
o que ocorre a respeito dos assuntos, da definiQao de problemas, das concepc;;oes dos dados empiricos, da atitude para com as tecnicas. ocorre l.amMm com a organizac;;ao do pessoal de investigaQao: as variantes auro peias e norte·americanas tomam posiQoes distintas e dif,erentes. Os euro· peus trabalham tipica.mente como intelectuais solitarios, explorando as publicaQoes acessiveis em bibliotecas e arquivos, talvez com a colaboraQao de urn ou dois ajudantes, sujeitos a sua direta e constante vigilancia. Os norte-americanos tem trabalhado cada vez mais como equipes de investigaQao ou como gran des organizaQoes de pesquisa formadas por varias equipes. Essas diferenc;;as na organizaQao social da investigaQao alimentam·se das outras diferenQas que temos indicado e as sustentam. ReforQam as atitudes diferentes para com as tecnicas de investigaQao, por exemplo, e as atitudes perante os problemas tecnicos, como 0 que examinamos rapidamente: 0 problema da confianQa all veracidade. Nao ha duvida de que os sabios europeus solitarios da sociologia do conhecimento percebem de maneira abstrata a necessidade de uma categorizaQao fidedigna dos seus dados empiricos, na medid a em qUE'seus estudos implicam, em certa medida, dados empiricos sistematicos. Tambem e evidente que buscam tipicamente e talvez consigam, consistencia na classificaQao dos seus materiais, submetendo·se aos criterios de classificaQao nos casos manifestamente raros em que ditos criterios sac enunciados de rnaneira expressa. Mas 0 intelectual isolado nao esta obrigado pela pr6pria estrutura da sua situar;iio de trabalho a tratar de modo sistematico a veracidade como problema tecnico. Ha uma possibilidade remota e improvavel de que algum outro sabio, em algum outro lugar longinquo da comunidade
academic a, encontre exatamente 0 mesmo conjunto de materiais empiricos. utilize as mesmas categorias, os mesmos criterios para essas categorias e realize as mesmas operac;;6es intelectuais. E nao e provavel, em vista da fradic;;ao em contrario, que tenha lugar uma replica deliberada do mesmo estudo. Em consequencia, ha muito pouco na organizac;;ao da situac;;ao de trabalho do europeu, que 0 obrigue a tratar sistematicamente do dificil problema d.a veracidade da analise. Por outro lado, a pr6pria organizac;;ao social diferente da pesquisa nor· !.e-americana sabre comunicac;;6es de massas, obriga virtualmente a prestar atenc;;aoa problemas tecnicos como 0 da veracidade. Os estudos empiricos de comunicg,c;;6esde mass as requerem geralmente 0 exame sistematico de grandes quantidades de dados. A magnitude dos dados e tal, que geralmente 0 intelectual nao tern a possibilidade de reuni-los, assim como nao tern tempo nem meios monetarios para organizar as operac;;6es de rotina. Se essas pesquisas sac absolutamente necessarias, requerem a colaborac;;ao de numerosos pesquisadores organizados em equipes. Exer.J.plos recentes foram proporci6nados pelo Projeto de Investigac;;ao sabre Comunicac;;6es de Guerra, de Lasswell, na Biblioteca do Congresso, pela Sec;;aode Comunicac;;6es de Massa Hovland, no Departamento de Pesquisa da Sec;;ao de Ensino e Informac;;ao do Exercito, e pela Sec;;aode Investigac;;ao de Comunicac;;6es do Departamento de Investigac;;6es Sociais Aplicadas da Universidade de Columbia. Com esta organizagao da pesquisa, 0 problema da veracidade se torna tao premerte que nao pode ser esquecido nem observadc ligeiramente. A necessidade da veracidade da observac;;ao e da analise que, naturalmente, existe no terreno da pesquisa em geral, transforma-se no mais visivel e mais insistente nos limites em miniatura da ,equipe da pesquisa. E de supor que diferentes pesf1uisadores que trabalham com os mesmos materiais empiricos e realizam as mesmas operac;;6es, obtenham os mesmos resultados (dentro de limites toleraveis de variac;;ao). Assim, a pr6pria estrutura d.o grupo de trabalho :mediato, com seus varios e diversos colaboradores, reforc;;a 0 perene interesse da ciencia, incIuidas as ciencias sociais, pela objetividade: a veracidade interpessoal e intergrupal dos dados. Afinal de contas, 3e 0 conteudo das comunicac;;6es de massa e classificado ou codiHcado por varios qualificadores, isto suscita ineviUtvelmente a questao de saber se os diferentes codificadores (observadores) obtem na realidade os mesmos resultados. Nao somente se torna manifesta e exigente a questao, ,como tambem pode ser respondida sem grande dificuldade mediante a ·comparac;;ao das diferrntes codificac;;6es autanomas do mesmo material. Neste sentido, portanto, "nao e por acaso" que grupos de pesquisa como 0 Projeto de Investigac;;6es sabre Comunicac;;6es de Guerra, de Lasswell. dediquem grar..de atenc;;ao a veracidade da analise de conteudo, enquanto 0 estudo de Mannheim sabre 0 conservaaorismo alemao, baseado tambem sabre conteudo documental, mas realizado por urn s6 investigador a maneira europeia, nao trate sistematicamente da questao da veracidade como problema.
Deste modo, talve7.:.tendencias divergentes foram reforc;adas pelas estruturas sociais diferentes dos dois tipos de pesquisa: 0 investigador solitario, com 0 isolamento mitigado por uns poucos ajudantes, rJa tradiC;;aoeuropeia da socioiogia do conhecimento; e a equipe de pesquisa, cuja diversidade se torna coerente por urn objetivo geral, na tradic;ao norte-americana de pesquisa das comunicac;;6es de massa.
Seria provavelment'3 instrutivo levar mais adiante as comparac;;5es en r,re as formas variantes de pesquisas de comunicac;6es. Como, por exemplo, se comparam as origens sociais do pessoal que faz as pesquisas nos dois campos? Diferem de acardo com as diferentes func;;6es sociais dos dois tipos de pesquisa? Os soci6logos do conhecimento sac mais amiude, como realmente sugere Mannheim, homens marginais em relaC;ao a diferentes sistemas sociais, e portanto aptos a perceber, senao a conciliar, as diversas perspectivas intelectuais de grupos diferentes, enquanto que os investigadores das comunicac;;6es de massa saa com maior frequencia individuos m6veis dentro de urn sistema econamico ou social, dedicados a procurar os dados de que necessitam aqueles que manipulam organizac;6es, buscam mercados e controlam grande numero de pessoas? A emergencia da soclOlogia do conhecimento na Europa relaciona-se com as fiss6'3s basicas entre sistemas sociais radicalmente opostos, de sorte que, para muitos, nao lhes parecen estabelecido sistema algum dentro do qual pudessem aplicar de maneira import ante suas habilidades, de tal forma que foram levados a buscar, em primeiro lugar, um sistema social que t.ivesse sentido? Mas perguntas de tao grande alcance ultrapassam os limites desta Introduc;;ao. Esta revisao da variante europeia da pesquisa de comunicac;;6es- ou seja, a sociologia do conhecimento - e da variante norte-americana - a saber, a sociologia da opiniao e das comunicac;;6es de maSS:1 - pode proporcionar 3.mbiente para os tres capitulos seguintes. ~ C~p!tulo XIV destina-se a revisar e valorar sistematicamente algumas contnbmc;oes fundamentais a sociologia do conhecimento. Desde logo serri. constat ado que essas contribuic;;6es sac sobretudo europeias e que em sua maioria tern pouco a dizer acerca dos procedimentos de analise, s6mente um pouco mais a expor quanto a resultados empiricos sistematicos. Mas fm seus sistemas de ideias sera encontrada a origem de muitas quest6es ,mportantes da pesquisa soclol6gica. o capitulo seguinte trata com alguns pormenores as contribuic;6es de Karl Mannheirn a sociologia do conhecimento e permite uma explorac;;ao mais completa de alguns problemas escassamente mencionados no estudo mais geral do Capitulo XIV. o ultimo capitUlo na Parte III - que trata da propaganda pelo radio e pelo cinema - revif;a recentes estudos, quase inteiramente do ponto de vista do tecnico em ;,esquisas. Assim, pois, concentra-se em tarno das
XIV tecnicas de pesquisa para 0 estudo da propaganda, e nao em tomo das auestoes correlativas do papel funcional da propaganda em sociedades de ~jversos tipos. Resta ver se as tecnicas de pesquisa revisadas nesSl;')ca. Jitulo sao adequadas s6mente para 0 limitado conjunto de problemas atualmente apresentados pelas exigencias de mercado, ou se tambem sac pertinentes aos problemas que inevitavelmente se apresentam em ~6da grande estrutura social. Nao deve a sociedade socialista, da mesma forma que a capitalista, enfrentar problemas de incentivo e motivos sociais, informar e persuadir grande numero de individuos dos prop6sitos e dos fins da comunidade c de fazer com que adotem os meios mais praticos para atingir tais fins? Pode·se per gun tar tambem se a necessidade de co:lhecimento social tecnico d!eve ser '~squecida por aqueles que as vezes se revoltam contra 0 usa que se faz desses conhecimentos. Pela mesma razao, pode-se perguntar se 0 interesse exclusivo por pequenos detalhes tec nicos nao pode representar uma restrigao prematura e nao muito produtiva do problema socio16gico, ate 0 ponto em que a investigagao nao tenha implicagoes perceptiveis para a sociologia nem para a sociedade. Sao quest.oes estas muito mais faceis de propor que de resolver, embora 0 estudo do Capitulo XVI possa, pelo menos, proporci(jnar materia-prima para aqueles que se interessam em trabalhn em busca das solugoes.
A SOCIOLOGIA DO CONHECIMENTO
A
GERAQAO PASSADA presenciou 0 aparecimento de urn campo especial C:epesquisa sociol6gica: a sociologia do conhecimento (Wissenssoziologie). A palavra "conhecimento" deve ser interpretada, certamente, de modo muito amplo, ja que os estudos nesta area tem tratado virtualmente de t6da a gama de produtos cuEllrais (ideias, ideologias, crengas juridicas e eticas, Iilosofia, ciencia, tecnologia). Mas seja qual for 0 conceito de "conhecimento", a orientagao desta disciplina continua sendo em grande parte a mesma: interessa-se ;)rimordialmente pelas relagoes entre 0 conhecimento e outros fat6res existenciais da sociedade ou da cultura. Por mais geral e vaga que possa ser esta formulagao do prop6sito central, urn enunciado mais especffico nao servira para incluir os diferentes pontos de vista que tern surgido. E evidente, pois, que a sociologia do conhecimento interessa-se por problemas que tiveram longa hist6ria. Tanto e verdade, que a disciplina ja t,eve seu primeiro historiador, Ernst Gntenwald.l Mas 0 nosso prinClpal intereS3p. nao e pelos numerosos antecedentes das teorias atuais. Na realidade, ha poucas observagoes atuais que nao tenham tido expressao previa em alguma frase sugestiva. Ao rei Henrique IV diziam que "teu desejo foi pai, Henrique, dessa ideia" s6mente pOUCOS anos antes que Bacon escrevesse que "0 .entendimento humano nao e luz seca, mas recebe uma infusao da vontade e dos afetos; dai procedem as ciencias que podem ser chamadas "ciencias como a gente quis". E Nietzsche formulou grande numero de aforismos sabre as modos como a necessidacIe determina as perspectivas 1.
Neste trabalho nada se dinl desta hist6ria. Ernst Gruenwald proporciona urn esb6!;o dos acontecimentos passados. pelo menos desde a epoca chama.cla das Luzes, em Das Pro· bll:111 cler Soziologie des Wissens, (Viena-Lfpsia: Wilhelm Braul11ueller, 1934). Para urn panorama de conjunto, vel' H. Otto Dahlke, "The sociology of knowledge", H. E. Barnes, Howard e F. B. Becker, redatores, Contemporary Social Theory (Nova Iorque: Appleton-Century, 1940), 64-89.
atraves das quais interpretamos 0 mundo, de modo que ate as percepg6es dos sentidos estao impregnadas de preferencias de val6res. Os antecenada mais fazem que apoiar a observagao de aentes da Wissenssoziologie Whitehead, de que "chegar muito perto de uma teoria verdadeira e cap tar sua aplicagao precisa sac duas coisas muito diferentes, como nos ensina a hist6ria da ciencia. T6das as coisas importantes foram ditas antes nor alguem que nao as descobriu".
Completamente a parte das suas origens hist6ricas e intelectuais, existe a ques~ao relativa a base do interesse contemporaneo pela sociologia do {;OnheClmento. Como se sabe, a sociolagia do conhecimento, como discIplina independente, foi cultivada especialmente na Alemanha e na Franga. l"oi somente nas ultimas decadas que os soci610gos norte-americanos come. <;aram a clodicar atengao crescente aos problemas dessa area. 0 aparec1mento de :)ublicag6es e, como pro va decisiva de respeitabilidade academica, c numero loada vez maior das teses de doutoramento, atestam em parte (. aumento de interesse. Uma explicagao imediata e obviamente insuficiente para este fen6meno seria a recente transferencia do pensamento sociol6gico europeu, po; 30C1610gosque ultimamente chegaram aos Estados Unidos. E fora de duda culvida que esses intelectuais figuravam entre os porta-estandartes Mas isto nada mais fez que p6r a clisposigao tura da Wissenssoziologie, dos norte-americanos essas concepg6es e nao explica sua aceitagao real mais do que 0 faria a simples disponibilidade em qualquer outro caso de difusao cultural. 0 pensamento norte-americano se revelou receptivo para a sociologia do conhecimento, em grande parte porque ,esta disciplina trata de problemas, conceitos e teorias que sac cada vez mais pertinentes a situagao social contemporanea dos Estados Unidos, porque a sociedade norte-americana chegou a ter certas caracteristicas das sociedades europeias nas quais surgiu inicialmente essa disciplina. A sociologia do conhecimento assume interesse sob urn complexo de· ~inido de circunstancias sociais e culturais.2 Ao aumentar 0 antagonismo social, as diferengas nos val6res, nas atitudes e nos modos de pensar dos ~rupos, se desenvolvem ate 0 ponto em que a orientagao que esses grupos t1veram previamente em comum e eclipsada por dif.erengas incampativeis. Nac s6mente se produzem diferentes universos mentais, mas a existencia de cada urn deles ameaga a validade e a legitimidade dos outros. A coexistencia dessas perspectivas e interpretag6es antag6nicas na me sma socieclade conduz a uma desconjiant;;a ativa e reciproca entre os grupos. Num ambiente de desconfianga, ja nao se investiga a contetido das crengas e os enunciados para determinar se sac validos au nao, ja nao se confrontam as 2.
Ver Karl Mannheim,
412-413.
Ideology
and Utopia.
S-12; Sorokin,
Social
and Cultural
Dynamics,
II,
enunciados com as provas p'3rtinentes, mas se formula uma pergunta inteiramente nova: porque se mantem essas opini6es? Funcionaliza-se 0 pensamento, interpretando-o em relagao com suas fontes e suas fung6es psicol6gicas, econ6micas, sociais e raciais. Em geral, este tipo de funcionalizagao acontece quando se p6em em dtivida os enunciados, quando eles parecem tao palpavelmente inadmissiveis, absurdos QU tendenciosos, que ja nao c neoessario examinar as provas a favor ou contra eles, mas apenas os fundamentos que lhes permitem ser formulados.3 Esses enunciados estranhos "explicam-se por" ou "atribuem-se a" interesses especiais, a motivos incons' cientes, a perspectivas defarmadas, a posigao social etc. No pensamento popular, isto sup6e ataques reciprocos contra a integridade dos adversarios; no pensamento mais sistematico, conduz a analises ideol6gicas reciprocas. Em ambos os niveis, alimenta-se das insegurangas ~oletivas e as nutr,e. Dentro deste ambiente social, encontra larga circulagao \.IIll conjunto de interpretag6es do homem e da cultura que compartilham de certas suposig6es comuns. Nao apenas a anaJise ideol6gica e a Wissenssoziologie, como tambfm a psicanalise, 0 marxismo, 0 semanticismo, a analise da propaganda, 0 paretismo e, ate certo ponto, a analise funcional tern, apesar de suas diterengas, urn ponto de vista analogo s6bre 0 papel das ideias. De urn lado, ha a esfera das verbalizag6es e das ideias (ideologias, racionalizag6es, express6es emotivas, deformag6es, folclore, derivag6es), t6das consideradas SCimoexpressivas, derivativas ou deceptivas (da pr6pria pessoa e de outro) e funcianalmente relacionados com algum substrato. De outra lade estao os substratos que ja foram concebidos (relag6es de produgao, 'Josigao social, impulsos fundamentais, conflitos psieol6gicos, interesses e sentimentos, reag6es interpessoais e residuos). E atraves de tudo Isso, corre 0 tema da determinagao inconsciente de ideias pelos substratos; a enfase sabre a distingao entre 0 real e 0 ilus6rio, entr,e a realidade e a ,'1.parencia :;a esfera do pensamento, das crengas e da conduta do homem. E, seja qual f6r a intengao dos analistas, suas analises tendem a possuir uma <)ualidade ('.zeda: tendem a acusar, secularizar, ironizar, satirizar, alienar, desvaloriza~ 0 contetido i.ntrinseco da crenga ou ponto de vista confessado. Pensemos apenas nos matizes das palavras escolhidas nesses contextos para referir-se as crengas e pensamentos: mentiras vitais, mitos, ilus6es, deriva<;6es,folclore, racionalizag6es, ideologias, fachadas verbals, pseudo-raz6es etc.
3. Freud observou esta tendencia a buscar as "origens" e nao a testar a exatidao de conceitos que nos parecem palpilvelmente absurdos. Suponhamos que alguem sustente que 0 centro da terra csteja che,o de ~ompota. "0 resultado de nossa objeg&o intelectual sera urn desvio
de nossos
interesses:
em
vez
de dirigi.los
a
propria
investiga{:ao,
isto
e,
se 0
Interior da terr2, esta cheio ou nao de compota, ficaremos a imaginar que especie de homem e esse que tern tais ideias na cabe~a ... " Sigmund Freud, New Introductory Lectures, (Nova Iorq'lc: W. W. Nirtin. 1933),49. No nlvel sOCi2J,uma diferenga radical de perspectivas entre varios grupos sociais, leva nao somente a ataques ad hominem, como tambem a "explicagoes funcionalizadas".
o
que estes sistemas de analise tem em comum e a pratica de descar· 'Lar 0 valor nominal das declarac;6es, das crenc;as e dos sistemas de ideias, reexaminando-se dentro de um contexto novo que proporciona 0 "signifi. cado real". As declarac;6es consideradas ordinariamente em termos do seu conteudo manifesto sac baixadas do seu pedestal, seja qual for a in ten· r;ao do amllista, relacionando-se esse conteudo com os atributos da pessoa que fala e cia sociedade em que vive. 0 iconoclasta profissional, 0 desmasearador especializado, 0 analista ideol6gico e seus respectivos sistemas de ideias, prosperam numa sociedade em que grandes grupos de individuos ja se desvinc1.l1aram dos valares comuns; em que universos mentais indepenctentes se enlac;am pela desconfianc;a reciproca. A analise ideol6gica sistematiza a. falta de fe nos sfmbolos reinantes que chegou a se generalizar; dai a sua pertinencia e popularidade. 0 analista ideol6gico nao cria um sequito, mas fala a um sequito para 0 qual a sua analise "tem sentido", isto e, se conforma com sua ·experiencia nao analisada previamente. 4 Numa sociedade em que a desconfianc;a reciproca encontra express6es populares tais como "quanto vai ele ganhar com isto"; em que "buncombe" ("conversa mole"), e "bunk" ("tapeac;ao") sac express6es coloquiais de hi mais de um seculo e "debunk" (desmascarar) ha mais de uma gerac;ao; onde os anuncios e a propaganda provocaram uma resistencia ativa a aceitac;ao de qualquer declarac;ao em seu senti do literal; em que a conduta pseudo-Gerneinschajt como recurso para melhorar a posic;ao economic a e polftica esta documentada num "best-seller" sabre 0 modo de fazer amigos e in· fluenciar pessoas; em que as rela<;6es sociais se convertem cada vez mais em instrumentos ou meios, de modo que 0 individuo chega a crer que os demais pro::uram principalmente controla-Io, maneja·lo e explora-Io; em que 0 crescente cinismo implica uma separac;ao progressiva das relac;6es importantes de grupo e um grau consideravel de isolamento pessoal; em que a incerteza sabre os motivos de cada um e proclamada na incisiva frase "talvez esteja eu racionalizando, mas ... ", em que as defesas contra as desilus6es traumaticas talvez consistam em estarmos permanentpmente desenganados, reduzindo as expectativas sabre a int':Jgridade de outros, dando 1Jor descontados de antemao seus motivos e talentos; - numa sociedade assim, a analise sociol6gica sistematica e uma sociologia do conhecimento t.erivada assumem uma pertinencia e uma convicc;ao socialmente fundamentadas. E os academicos norte-americanos, perante sistemas de analise que parecem ordenar 0 caos do conflito cultural, dos valares e dos pontos de vista antaganicos, apropriaram-se prontamente e assimilaram esses esquemas analiticos. 4.
0
concelto de pertinence fol evocado pelos precursores marxlstas de Wissenssoziologie, ••As conclus6es te6rlcas dos comunlstas nao se baselam, de modo algum, em Idelas ou prlncipios que tenham sido inventados ou descobertos por este ou aquele suposto reformadOT universaJ. Nao fazem mais que exprc~sar, em term os gerais, as rela~oes reais que resultam de uma luta de classe efetlva, de um movlmento hist6rico que se esta desenvolvendo sob nossos pr6prlos olhos ... " Karl Marx e Friedrich Engels, The Communis, Manifesto, em Karl Marx, Selected Works, I, 219.
A "revoluc;ao copernicana" nesta zona de investigac;ao consistiu na hi· p6tese de que nao s6mente 0 erro, a ilusao ou a crenc;a falsificada estavam socialmente (hist6ricamente) condicionadas, senao que tambem 0 estavGl a descoberta da verda de. Enquanto a atenc;ao esteve focalizada sabre as determinantes sociais da ideologia, a ilusao, 0 mito e as norma", morais, a sociologia do conhecimento nao podia aparecer. Estava bastante claro que na explicac;ao do erro all da opiniao nao certificada achavam-se implicitos alguns fatares extrate6ricos, que necessttavam alguma explicac;ao especial ja que a realidade do objeto nao podia explicar 0 erro. Mas no caso do conhecimento confirmado ou certificado supas-se durante muito tempo que podia ser adequadamente explicado em termos de uma relac;:io direta 0bJeto-interprete. A sociologia do conhecimento nasceu com a 110tav31 hip6tese de que ate mesmo as verdades tinham que ser consideradas socialmente explicaveis, que tinham que ser postas em relac;ao com a sociedade hist6rica em que apareciam. Esboc;ar apenas as con-entes principais da sociologia do conhecimento num rapido estudo, equivaleria a nao apresentar nenhuma adequadamente e a fazer violencia a t6das. A diversidade de formulac;6es - de Marx, de Scheler ou de Durkheim; a variedade de problemas - desde a determina~ao social c.e sistemas de categoria ate as ideologias polfticas ligadas as classes; as enormes diferenc;as de ambito - desde a categoriza<;ao onicompreensiva da hist6ria intelectual ate a localizac;ao social do pensamento dos intelectuais negros nos ultimos decenios; os varios limites atribuidos a disciplina - desde uma ampla epistemologia sociol6gica ate as relag6es emvfricas de estruturas e ideias sociais particulares; a proliferac;ao de conceitos - ideias, sistemas de crenc;a, conhecimentos positivos, pensamentos, sistema de verdades, superestruturas etc.; os varios metodos de valida<;ao - desde as admissfveis mas indocumentaveis atribui<;6es ate as metic.ulosas analises hist6ricas e estatfsticas - a luz de tudo isto, 0 esfar<;o de tratar ianto do aparelho analitico como dos estudos empiricos em umas poucas paginas, seria apenas sacrificar 0 detalhe ao conjunto. Para con tar com uma base de comparagao entre a confusao de estudos que apareceram neste campo, temos de adotar algum sistema de analise. o paradigma seguinte destina-se a constituir um passo nessa direc;ao. E, sem duvida, uma classificac;ao parcial e, ao que sc espera, provis6ria, que ciesaparecera para dar lugar a um modelo analitico aperfeic;oado e mais exigente. Mas proporciona uma base para se fazer um inventario dos resultados existentes neste campo; para indicar os resultados contradit6rios, contrarios e consistentes; para expor 0 aparelhamento conceptual agora em uso; para determinar a natureza dos problemas que tem preocupado os irabalhadmes deste campo; para estimar 0 carater das pro vas que foram trazidas em relac;ao a estes problemas; para indicar as lacunas e as debi· Jidades caracteristicas dos tipos atuais de interpretac;ao_ Tada a teoria presta-se a classificac;ao de acardo com 0 paradigma seguinte:
1.
Onde est a situada a base existencial das produ~oes mentais'! a. Bases sociais: posi9ao social, classe, gera9ao, pa.pel ocupacional, modo de produ9ao, estruturas de grupo (universidade, burocracia, academias, seitas, partidos politicos), "situa9ao hist6rica", inte,,"s,es, sociedade, afili~'Qao etoica, mobilidade social, estrutura de pOder, processos sociais (competi9ao, antagonismo etc.) b. Bases culturais: valores, "ethos", clima de opiniao, Volksgelst, tura,
2.
cultura,
Weltanschaungen
Zeitgeist,
tipo
de cm·
etc.
estao sendo analisadas sociolilgicamente? morais, ideologias, ideias, categorias de
pensamento,
filosofia,
cren9as religiosas, norm as sociais, ciencia positiva, tecnologia etc. Que aspectos sao analisados: sua sele9ao (focos de aten9ao), nlvel de abstra91io. suposi90es previas (0 que se toma como dados e 0 que Sf> toma como problematica 1. conteudo conceptual, model os de verifica9ao, objetivos da atividade intelectuaJ. etc.
Como se relacionarn as produgocs mcntais com a base existencial? a. Rcla~.oes c.ausais ou funcionais: determina9ao, causa. correspondencia, condi9ao necessaria., condicionamento, interdependencia funcional. intera9ao, dependencia etc. b. RelagocSl simbul1icas, orgiinicas on de senti do : cons'stencia, harmonia, coerencia, uni~ dade, congruencia, comp~,tibilidade (e antonimos); expressao, realiza9ao, expressao simb6lica, StrukturzlIsammenhang. identidzdes estruturais, conexao intern a, analoc.
gias estilcsticas, integra930 16gico-signlficativa, identidade Palavras ambigua, para designar rela~oes: correspondencia. conexao
4.
de
Que produ~oes mentais a. Esferas de: cren9as b.
3.
mentalidade
Por
que?
estreita fun~oes
de sentido etc. reflexo. entrela9amento.
etc. manirestas
e latentes
atribuidas
as
produ90es
mentals
existencial-
nlcntc condicionadas. a. Conservar 0 poder, promover a estabilidade. orienta9ao, explora9ao ou a.provelta· mento. rela90es sociais ree,'s obscuras, proporcionar motivos, canalizar a condut:l, desviar a critica, desviar a hostilidade, proporcionar tranqUilidade, controlar a natu· reza, 5.
Os principais enfoques que devem ser aqui considerados sac os de Marx, Scheler, Mannheim, Durkheim e Sorokin. 0 trabalho atual nesta area orienta-se em grande parte para uma outra dessas teorias. seja mediante uma aplicaQao modificada dos seus conceitos, seja mediante contraconcepQoes. Outras fontes de estudos neste campo, originadas no pensamento norte-americano, como 0 pragmatismo, serao deliberadamente omit.idas, ja que ainda nao foram formuladas com referencia especifica a teorfa do conhecimento, nem incorporadas a pesquisa em qualquer grau importante.
coordenar
as
rel2090es scciais
Quando predominam as rela90es a. Teorias historicistas (limitadas b. Teorias
analiticas
etc.
atribuidas a base existenrjal e ao conhecimento? a sociedades ou culturas particulares).
gera,is.
Exister:~, naturalmente, categorias adicionais para classificar e anaUsar estudos de sociologia do conhecimento, que nao examinamos aqui de modo completo. Assim, 0 perene problema das implicaQoes das influencias rjxistenciais s6bre 0 conhecimento para 0 status epistemol6gico desse conhecimento foi calorosamente debatido desde 0 pr6prio principio. As solugOE
Um ponto central de concordancia em todos os enfoques da sociologia do conhecimento e a tese de que 0 pensamento tem uma bas~ existencial na medida em que nao e deterntinado imanentemente e enquanto um OU outro de seus aspectos pode ser derivado de fat6res extracognoscitivos. Mas isto e apenas um consenso formal, que deixa lugar para uma ampla variedade de teorias concernentes a natureza da base existencial. A este respeito, como em outros, 0 marxismo e 0 foco tormentoso da Wissenssoziologie. Sem entrar no problema exegetico do marxismo - basta lembrar a famosa frase de Marx "je ne suis pas Marxiste" -, podemos segulr suas formulaQoes atraves das obras de Marx e Engels. Sejam quai.s forem as mudanQas que tiveram lugar no desenvolvimento da sua teoria durante 0 meio seculo em que trabalharam, eles se ativeram consistentementE' a tese de que "as relaQoes de produgao" constituem 0 "fundamento real" para a superestrutura das ideias. "0 modo de produQao na vida materi.al determina 0 carater geral dos processos sociais, politicos e intelectuais da vida. Nao e a consciencia do homem que determina sua exis\('mcia, mas, ao contrario, a existencia social e que determina a consciencia".5 Ao 1;ratar de funcionalizar as ideias, isto e, de relacionar as i.deias dos individuos com sua base sociol6gica, Marx as situa dentro da estrutura de classe. Ele supoe, nao muito, que outras influencias nao sejam funcionais, mas que a classe e 0 determinante primordial e, como tal, 0 imicG ponto de partida para a analise. E 0 que ele diz, explicitamente no primeiro pre facio de 0 Capital: "... aqui s6 nos ocupamos de pessoas como Personificagao de categorias econ6micas, como representantes de determinados interesses e reaQoes de classe".6 Prescindindo de outras variaveis e considerando aos individuos em seus papeis econ6micos e de classe, Marx concebe a hip6tese de que esses papeis sac determinantes primordiais, dei-
5. 6.
Karl Marx, A Contribution to the Critique of Political 1904), 11-12. Karl Marx, Capital, I, 15; ct. Ma,rx e Engels, The grifos sao nossos).
Economy, German
(Chicago: Ideology,
C. (Nova
H.
Kerr,
Iorque;
xando assim como questl'io aberta a extensiio em que explicam adequadamente 0 pensamento e a conduta em qualquer caso determinado. Na realidade. ums. linha de desenvolvimento do marxismo desde a precoce Ideologia Germi1nica ate as ultimas obras de Engels, consiste na definigao (e delimitagao) progressiva do grau em que as relag6es de produgao condicionam realmente 0 conhecimento e as formas de pensamento. Todavia, tanto Marx como Engels sublinham repetidamente e com insist-encia crescente que as ideologias de um estrato social nao precisam necessariamente proceder apenas de pessoas que estao objetivamente situadas nesse estrato. Ja no Manifesto Comunista, Marx e Engels haviam indicado que, a medida em que a classe governante se aproxima da sua dissolugao, "um pequeno setor ... une-se a classe revolucionaria. Portanto, assim como, num periodo anterior, um setor da nobreza se uniu a burguesia, assim hoje uma parte da burguesia une-se ao proletariaco e, especialmente, uma parte da burguesia ideol6gica que se elevou ao nivel de compreender te6ricamente 0 movimento historico em seu conjunto."7 As ideologias localizam-se socialmente analisando suas perspectivas e previas suposig6es e determinando como se interpretam os problemas: do ponto de vista de uma ou de outra classe. 0 pensamento nao se localiza mecanicamente s6mente para estabelecer a posigao de classe do pensador. Atribui-se a classe para a qual e "apropriado" a classe cuja sitm:.gao social. com seus conflitos de classe, suas aspirac;6es, temores, restrig6es e possibilidades objetivas dentro do contexto i:'ocio-historico dado, esta sendo expressada. A formulagao mais explicita de Marx diz 0 seguinte: Nao se deve formar a estreita ideia de que a pequena burguesia quer, por pnnejpi<1l, impor urn interesse ego:sta de classe. Ela acredita, antes, que as condiQoes especiais de sua emancipa<;ao sac as condi<;oes gerais, somente mediante as quais pode sa1var-se a sociede,de moderna, evitando-se a luta de classes. Tambem nao se devei imaginar que OS representantes democraticos sejam todos pequenos negociantes ou que estejam cheios de entusiasmo por e1es. Pe10 que respeita sua instm<;ao e sua posi~ao individual, podem estar tao longe diHes como 0 ceu da terra. 0 que os. faz representantes da pequena burguesia e que em suas mentes (im Kopfe) niio passam dos limites que nao: foram ultrapassados por esta ultima
nas
atividades
de sua. vida
e que,
em
conseqil,:ncia,
SaD
levados
aos
mesmos
pro-
blemas e soluQoes te6ricas a que 0 interesse material e a posiQao social leva e, pequena burguesia na pratica. Es,ta Ii a rc1a~ao gcral ("ueberhaupt") dos representantcs politicos e lilcr:irios de urna classe com a classe que representam. 8
Mas, se nao podemos derivar ideias da posigao objetiva de classe de seus expositores, isto deixa uma larga mar gem de indeterminagao. Surge entao mais um problema, 0 de descobrir porque alguns individuos se identificam com 0 ponto de vista caracteristico do estrato de classe em que objet:vamente se encontram, enquanto outros ado tam as pressuposic;6es 7. Marx e Engels, The Communist Manifest, em Karl Marx, Selected Works, r, 216. 8. Karl Marx, Der Achtzchntc Bmmaire des Louis Bonaparte, (Hamburgo, 1885), 36 (os International Publishers, 1939), 76; cf. Max Weber, Gcsammeltc Aufsaetze zur Wissen· schaftslehre, 205.
de um estrato de classe distinto do "seu proprio". Uma descrigao empirica do .fato nao e substituto adequado para sua explicagao teorica. Ao tratar das bases existenciais, Max Scheler coloca caracterlsticamente sua propria hipotese em oposigao com outras teorias prevalecentes.9 Traga uma distingao entre sociologia cultural e a que ele chama sociologia dos fat6res reais (Realsoziologie). Os dados culturais sac "ideais" na es:fera das ideias e dos va16res: os "fat6res reais" estao orientados para a efetivagao de mudangas na realidade da natureza ou da sociedade. Os primeiros definem-se POl' metas ou inteng6es ideais; os segundos derivam de uma "estrutura de impulso" (Triebstruktur, isto e, 0 sexo, a fome e 0 ooder). E um erro basico, diz ele, de t6das as estruturas naturalist as. sustentarem que todos os fat6res reais - raga, geopolitica, estrutura do poder politico ou relag6es de produgao econ6mica - determinam inequlvocamente a esfera das ideias significativas. Rejeita tambem t6das as concepg6es idealistas, que erram ao considerar a historia das condig6es existenciais como um desdobrar unilinear da historia da mente. Atribui uma autonomia completa e uma sequencia determinada a esses fat6res reais, embora sust~ntando, inconsequentemente, que as ideias carregadas de valor servem para guiar e dirigir seu desenvolvimento. As ideias em si, nao tem inicialmente eficacia social. Quanto mais "pura" f6r a ideia, maior sera a sua impotimcia, no que concerne a seu efeito dinamico s6bre a sociedade. As ideias nao chegam a realizar-se, a encarnar-se em acontecimentos culturais, se nao estiverem enlagadas de algum modo, com interesses, emog6es ou tendencias coletivas e se incorporarem a estruturas institucionais.lO So entao - e a este respeito lirnitado estao justificadas as teorias naturalistas (pOl' exemplo, 0 marxismo) - exercem alguma influencia definida. Se as ideias nao se apoiassem no desenvolvimento iminente de fat6res reais astariam condenadas a converter-se em utopias estereis. ' .t\..::i teorias incorrem tambem em erro, afirma Scheler, ao supor tacit::'.· mente que a variavel independente e uma so ao longo da historia. Nao h:i variavel independente constante, mas ha, no transcurso da historia, uma sequencia definida, em que predominam os fat6res primarios, sequencia que pode ser resumida numa "lei de tres fases". Na fase inicial, os lagos de sangue e de parentesco constituem a independente variavel: em seguida, 0 poder politico e, finalmente, os fat6res econ6micos. Nao ha, pois, constancia na primazia efetiva de fat6res existenciais, mas apenas 9.
Esta exposiQao baseia-se num estudo mals completo de Scheler, lntitulado *Probleme einer Socio10gie des Wissens", em seu Die Wissensformen und die Gesellschaft (Lipsia: Der Neue-Geist Verla.g, 1926), 1-229. £:ste ensaio e uma versao ampliada e melhoraJa de urn seu precedente trabalho Versuche zu einer Soziologie des Wissens, (Munique; Duncker und Humblot, 1924), 5-146. Para outros estudos sObre Scheler, ver P. A. cchillp, "The formal problems of Scheler's sociology of knowledge", The Philosophical Rcview, marQOde 1927, 36, 101-20; Howard Becker e H. O. Dahlke, "Max Scheler's sociology of knOWledge", Philosophy and Pbenomenological Rescarch. 2: 310-322,marQO de 1942. 10. Scheler, Die Wissensformen ... , 7, 32.
uma variabilidadg ordenada. Assim, Scheler trata de relativizar a pr6p~Q ideia das determinantes hist6ricas. 11 Pretende, nao somente ha.ver c0x:tIrmade indutivamente a lei das tres fases, como tamMm te-la feito denvar de uma teoria dos impulsos humanos. o conceito que Scheler da aos Realjaktoren - ra<;a e parente~co,. estrutura de poder, fat6res de produ<;ao, aspectos qualitativos e quan:It~tlVOS lie populac;ao, fat6res geograficos e geopoliticos - diflcilme~te ~Onstlt~1 uma categoria utilmente definida. E de pouco valor subsumir esses dIv.e~sos elementos numa rubrica e, certamente, seus pr6prios est~dos empincos esse repert6no de fatares. e os dos seus discfpulos nao aproveitaram Mas, ao sugerir uma varia<;ao dos fat6res existenciais importantes, el~bo:a nao na sequencia ordenada que deixou de estabelecer, move-S€ na dlre<;ao seguida posteriormente pela pesquisa. . Assim Mannheim deriva de Marx, primordialmente, ampllando sua con~ep<;a0 d~ bases existenciais. Dado 0 jato de afilia<;~~ ~tiltiP:a ag~u~os, o prcblema consiste em determinar quais dessas afllla<;oes sac declswas para fixar perspectivas, modelos de pensamento, defini<;oes do d~d~ etc. Ao wmtrario de urn "marxismo dogmatico", nao supoe que a posH_ao de classc seja a tinica determinante definitiva. Acha, por exemplo, q~e urn grupo organicamente integrado concebe a hist6ria como urn mov1me~to continuo dirigido a realiza<;ao das suas metas, enquanto os g~up~S_SOC1~1mente desarraigados e frouxamente integrados advogam uma mtUl<;.av hIS' torica que ponha em realce 0 fortuito e 0 imponderavel. ~6 medIante s explora<;ao da diversidade das forma<;oes de grupo - gera<;oes, ~~pos de posi<;ao, seitas, grupos profissionais - e de seus modos caractenstlCos de pensar pode encontrar-se uma base existencial correspondente a gra~de variedade de perspectivas e de conhecimentos que realmente predo~mam,12 Embora represent an do uma tradi<;ao diferente, esta e essenc1~1~~nte a posh;ao adotada por Durkheim. Num estudo_ antecipado da~ pnr~l1tIV~S formas de classifica!;ao, feito com a colabora<;ao de Mauss, ele mante~e que a genese das categorias de pensamento dev.e ser e~contrada nas estruturas e nas rela<;oes de grupo e que as categonas vanam quando muda a organiza<;ao social,13 Tratando de explicar as origens soc~ais d~S categoria~, Durkheim postula que os individuos sac mais direta e mclus1vamente ?,nentad0s para os grupos em que vivem do que para a natureza. As expenen. reJeta . I d0 desde muIt0 tempo uma concep~ft.o· 11. Ibid 25-45Deve-senotar que Marx havla ., de. mUd2Jl~aS . de base a um ataque II analoga de variaveis independentesque servua sua Critiqueof Political Economy;ver Capital,I. 94n. t . 12. Karl Mannhelm Ideologyand Utopia, 247-8.Em vista dos extensose recentes es udos sabre a obr~ de M2Jlnheim,nao 0 estudaremos10ngamenteneste ensalo. Para 8 llPreciagiiodo autor, ver G capitulo XV deste Uvro. ., . • 13. Emile Durkheim e Marcel Mauss, "De quelquesformes primitives de classIfIcatIOn, L'AnneeSociolouique1901-026 1-72..... mesmoIdeiastao abstratas comolas de tempo e espagoestao :m c;da mo~ento de'sua hist6rla, em estrelta.rela~aocom a organizagao social corresp~ndente'"Como0 assinalouMarcelGranet, este trabalho contemalgumas paginas sObre0 pensamentochines que, no. opiniao dos especiaUstas,abrem nova era. no terreno dos estud
cias primordialmente importantes sac conciliadas mediante as relac;oes sociais, que deixam sua marca s6bre 0 carater do pensamento e do conhecimento.14 Assim, em seu estudo s6bre as formas primitivas de IY=nsamento, trata da recorrencia peri6dica das atividades sociais (cerirn6nias, festas,. ritos), da estrutura do cIa e das configura<;oes especiais das assernbleias ie grupo, incluindo-as entre as bases essenciais do pensamento. E, apli. cando as formula<;oes de Durkheim ao pensamento antigo chines, Granet atribui as concep<;oes tipicas de tempo e de espa<;o desse povo, a base tais como a organiza<;ao feUdal e a alterna<;ao ritmica de vida de grupo concentrada e dispersa,15 Em agudo contraste com as precedentes concep<;oes das bases existenciais esta a teoria idealista e emanacionista de Sorokin que trata de derivar todos os aspectos do conhecimento, nao de uma base social existencial, mas de diferent.es "mentalidades culturais". Estas mentalidades estao fo:madas por "premiss as maiores"; assim, a mentalidade ideativa concebe a realidade como urn "Ser imaterial, eterno"; suas necessidades como primordialmente espirituais e a plena satisfa<;ao das mesmas mediante a "redu<;ao ao minimo ou a elimina<;ao da maior parte das necessidades fisicas".16 Pelo contrario, a mentalidade sensitiva limita a realidade, 0 que pode ser percehido pelos senti dos, interessa-se primordialmente pelas necessidades fisicas, que procura satisfazer ao maximo, nao mediante a modifica<;ao do "eu", mas mediante a mUdan<;a do mundo exterior; 0 principal tipo intermediario de mentalidade e 0 idealista, que representa um equilibrio virtual dos tipos anteriores. Dessas mentalidades, isto e, das premissas maiores de eada cUltura, e que derivam os sistemas da verdade e do conhecimento. E' aqui chegamos ao emanacionismo integral de uma posi<;ao idealista: parecC' simplesmente tauto16gico dizer, como 0 faz Sorokin, que "numa sociedade' e numa cultura sensitivas tern que predominar 0 sistema sensitivo era verdade, baseado no testemunho dos 6rgaos dos sentidos",17 Porque a mentalidade sensitiva ja foi definida como aquela que concebe "a realidade untcamente como 0 que se apresenta aos 6rgaos dos sentidos",18 Ademais, uma fraseologia emanacionista como esta atalha algumas cras qu.estoes basicas suscitadas por outros enfoques da analise das condi<;oes eXlstenciais. Assim, Sorokin considera 0 fracasso do "sistema sensitivo da veniade" (empirismo) em monopolizal' uma cultura sensitiva, como prova de que a cultura nao esta "plenamente unificada". Mas isto constitui a remlnc1a So investiga<;ao das bases das pr6prias diferen<;as de pensamento a que se interessa nosso mundo contemporaneo. Isto e certo para outras. Emile Durkheim, The ElementaryForms of ReligiousLife, 443-4;ver tambem Hans Kelsen,Societyand Nature (Universityof ChicagoPress, 1943),30. 15. Marcel Granet, La pensee chinoise,(Paris: La Renaissancedu Livre, 1934),esp. pags. 84·104. 16. Sorokin, Social and Cultural D~'namics,I, 72-73. 17. Ibid., II,S. 18. Ibid., I, 73. 14.
categorias e prinClplOs do conhecimento, aos quais procura aplicar contabilida·-:e socio16gica. Por exemplo, EHe acha que em nossa presente tura sensitiva, 0 "materialisIDo" e menos frequente que 0 "idealismo", e 0 "eternismo" sac quase igualmente frequentes; o "temporalismo" mesmo ocorre com 0 "realismo" e 0 "nominalismo", 0 "singularismo"
urna culque \) e 0
"universalismo" etc. Uma vez que existem todas essas diversidades dentro de uua cultura, a caracterizagao geral da cultura como sensitiva nao proporclona base para indicar quais grupos subscrevem a urn modo de pensa· menta e quais. grupos a outro. Sorokin nao explora sistematicamente diferentes basGs existenciais dentro de uma socie-:ade ou cultura; busca as tendencias "predominantes" e as atribui a cultura em seu conjunto. 19 Nossa sociedade contemporanea, completamente a parte das dijerenr;as de pers· pectiva int81ectual das diferentes classes e grupos, e considerada como exem· plo integral de cultura sensitiva, Conforme suas pr6prias premissas, 0 enfoque de Sorokin e primordialmente adequado para uma caracterizagiio gera! das culturas, mas nao para analisar as conex6es entre diferentes can· dig6ef:i existenciais e 0 pensamento dentro de uma sociedade.
d a e que Marx nao ,omou. e~. cont~ esse problema de forma sistematica21 explica muito da vagueza 1111c1al acerca do que e abarcado pela superestrutura . rent<>1'; esfe '" d 16' " e como as d1fe,':: ras 1 eo glCas se relacionam com os modos de produga A m1SS~G de ~ngels ~onsistiu em grande parte em ten tar esse esclarecim~~to Ao d1ferencmr 0 termo geral "ideologia" Engels concedeu . I . . de autonomia. ' a e1 certo grau analogamE:nte
condicionadas
pela
base
0 fat
material
t'
.
Assim que se tornou necessaria a nova divisao de tr b Ih . lisslonais, abriu·se outra esfera nova e . d d t a a 0 que Ctlou advogados prada produ ao e d c ... In epen en e que, com t6da sua' dependencla geml C 0 omerclO, aunda tern capacidade pr6pria parS! reagir tambem sAb v re essas esferas. Num Estado mode II geral e ser sua expressao :;~~' d:vee se~e~: cbo:responder nao s.omente a situacao econOmlca . ' • m em uma expressao conseqiiente em S1. eco~~:'gu~;VI~~o,!b v~~~:.::di~~:: i~::rn;~iS n~o f~~n~=:tacmOendte _IncOnseqiiente. ;e;:: mals a·SSlm e ,ma,IS . raramente ocorre que urn c6digo legal seja n Icoes econOmicas _ . Quan'O "
:e:I:e;:
!Ca::~ei~Oao deadj~::i~:~'~'2go predominio de uma classe: 15to e~ e:r~::~:r~~c~fe:~:rl':itj~
e ver~ade da_ lei, com sua estreita conexao com as press6es econom~:a~sto . " ,co~ ma~or razao 0 de outras esferas da "superestrutura ideo16g~ca. A f110sofm, a religiao e a ciencia sac particularmente canst glda~ pelo acervo preexistente de conhecimentos e crengas e s6 indi;:~~ ultm~amente infIuenciadas par fatores economicos,23 Nesses terrenos na~ e, pO'3uvel "d:rivar" a contelldo e 0 desenvolvimento da cren«;a e do conhe. C1mento da SImples analise da situagao hist6rica: ..
e
Basta um rapido exame para mostrar que a palavra "conhecimento" foi concebida de maneira tao amp la, que pode referir-s~ a todos os tipos de i.deias e a todos os modos de pensamento, que vao desde a crenga popular ate a ciencla positiva. As vezes, tem-se chegado a assimilar a palavra "co· nhecimento" a palavra "cultura", de modo que nao samente as ciencias exatas, como tambem as convicg6es eticas, os postulados epistemol6gicos, as predicag6es materiais, os juizos sinteticos, as crengas poIiticas, as categorias de pensamento, as opini6es escatol6gicas, as normas morais, as suposig6es ontol6gicas e as observag6es de fatos empiric as se consideram mais ou menos sem discriminagao como "existencialmente condicionados".20 A questao e, naluralmente se esses diversos tipos de "conhecimento" estao na meso ma telagao com suas bases socio16gicas, ou se e necessaria distinguir diversas esferas de conhecimento precisamente porque essa relagao difere nos diversos tipos. Em geral, tem existido uma ambiguidade sistematica no que se refere a este problema. Samente em seus 1lltimos escritos chegou Engels a reconhecer que 0 conceito de superestrutura ideo16gica compreendia diversidade de "formas ideoI6gicas", que diferem de maneira importante, isto e, que nao sac iguais e 19. Uma "excecao" a esta pratica encontra·se em seu contraste entre a tendencia preda· minante dOl"clero e da aristocracia latifundiaria religiosa a. se converterem em classes dirigentes e organizadoras na cultura ideativa e a burguesia. capitalista, os intelectuais, os prorissionais liberais e os funcionarios civis, na cultura sensitiva .. ," III, 250. Ver tambem sua. exposicao da dlfusao da cultura entre as classes sociais, IV, 221 e segs. 20. Cf. Merton, op. cit" 133-135; Kurt R. Wolff, "The sociology of knowledge: emphasis on a.n empirical attitude", Philosophy of Science, 10, 104·123,1943; Talcott Parsons, "The role of ideas in social action", Essays in Sociological Theory, Capitulo VI.
o desenvolvimento polltico, jurldico !il 6f" . . . . no desenvolvimento economico M 'to os ICO,relIglOso, IIteratlo, artlstico etc. baseia.se tambem sObre a base econOmic~ ;~ odas essas coi~as reagem uma sObre a outra e a!iva, enqunnto tOdas as demais aOte q~e a sltuacao econOmica seja a causa iinica : a base da necessidade econOmica ql~:Sd·~ .St. urn efeito passivo. Antes, hA interacao sObre , e Inl Ivamente, sempre faz valer seus direitos.24
;0.
"definitivamente" faz valer seus . Mas d.izer que a base economica diTe1tos eqUlvale a dize . d r que as esferas 1deol6gicas apresentam corto grau e desenvolvimento independente como na realidade observa Engel;: Quanto mais a esfera particular t . mica e se aproxima daquela da pura i~::l es amos mvest!.gaolldo se afasta da esfera econ6
Finalmente, ha um gica da ciencia natural. .expressamente a ciencia
conceito ainda mais restrito da situa~ao ~0~i016: Numa passagem bem conhecida, Marx dlstmgu_ natural
das
esferas
ideo16gicas.
eeonomieo, toda a imensa superestrutura modifiea·se mais Ao mudar 0 fundamento minar essa.s transforma<;6es, devemos fazer sempre ums -ou menos rapldamente. Ao exa . I d eondi<;6eseconomicas de produ<;aoque podel!1 ,distln<;aoentre a transforma<;ao maten~. ~s tie as formas jurfdicas pollticas, reli· recisao da CJenCia DR ura , , ·ser determinad,as com a p 'd 16gicas em que os homens se fa· giosaS, esteticas ou filos6flcas, em suma, as formas I eo ':zem conscientes deste conflito e 0 dlscutem. 26 A
'm a ciencia natural e a economia politica, que podem ser iguai; SSI, ' . . _ da.se uma situ~ao completamente distinta daquela d9, quanta a IJl eClsao, . t 'buido a . l' 0 conteudo conceptual da ciencia natural nao e a n lCleo ogla. ." "material" uma base economica, mas apenas seus "objetlVos e seu . .... industria. e 0 comercio? Mesmo esta ·pura" Onde estaria a ClenCla natural. sem a d u material s"mente mediante 0 comercio drncia natural se prove do seu obJetivo e 0 se e a industria, mediante a atividade sensorial dos homens. 27 Seguindo OS mesmos lineamentos, Engels afirma que ~ aparecime,~to aa concep~ao materialistica da hist6ria de Marx foi determmada pela ne· 'dade" como 0 indicam as opinioes analogas que apareceram entre os ~~:~~riado~es franceses e ingleses daquela epoca e a descoberta da mesma por MOrg~n.2~ . ., " feita independentemente mo a sustentar que a propna teona soclahsta ;, urn mes 1 h Enge s c ega d .' .qu.~ dam. "reflfxO" nroletario do moderno antagonismo de classes, de ~o pelo ;lends, se considera 0 conteudo mesmo do "p.ensamento Clentlflco com()
concep~ao,
?
socialment'3
determinado,29
sem viciar
a sua vahdade.
A' C t'b tion to thC1Critique of po!itic.al Economy, 12. . Marx, on rI u . Gcrman Ideology, 36 (grifos nossos). Ver tambem Engels, soc.a· Marx e Engels, The. ., '. Kerr 1910),24.25,em que se dlZ que ~~ !ism: Utopian and SClent.flC,(Chicago. C. H..' . ento da cifmcia. A ed' cendente expllcam 0 renaSClm necessldades de ume. ciasse m la as. . d' t 'a proporcionam os alvos e tlpica -asser<;aode que "unicamente" 0 comerclO e a ~n ~s rI que se encontram especialmente dos enunciados extremos e nao testados deco::<;~::~ermina<;ao" nao podem ser toma· nos primelTos escntos marxlstas. Pale.vras d ·to vago ~ extensiio das ao pe da letra; estao ca~acteristi~amente ~sadas d: :c;,~':e;~~ materi~is nunca foi real das rela<;6esentre e. atlvIdade llltelectua e os u investigada por Marx ou Engels. e . de descobertas e Inven<;6esinde· Engels, em Marx, Selected Works, T, ,93. A ocon r:c1a . 1 do conhecimento fol um pendentes e paralelas como "prova" da determlll~<;aos~~~~ Maca,ulay em s~u ensaio tema multo repetido ao longo do seculo XIX. J em _ 'd calculu~ (na alta mat~· s6bre Dryden, tinha observado, em rela<;ao.com a inven<;ao) °or Newton e Leibniz: "A matica um metoda de calculo ou de anallse (N. do trad. P se nenhum dos , . h' h ado a um ponto em que, ciencia matematica, na realldade, a,Vlac eg .' nte a al uma pessoa, den· dois tivesse existido, 0 principio tena ocorndo lllevl~ave:::striais vi~orianos comparti· tro de poucos anos". CIta outros casos oportunos. . s . t tese baseada em . dIg" esosta a , rel~vo por lhavam dos pontos de vIsta de M'arx e Engels. HOJe em . em inven<;6es em duplicata Independentes, tem sido especialmente P Dorothy Thomas, Ogburn e Vierkandt. Engels, Soc~alism: Utopian and Scientific, 97.
incipiente a considerar a Havia, pois, no marxismo, uma tendencia dencia nat.ural numa rela~ao com a base economica diferente daquela das esferas do conhecimento e da cren~a. Na ciencia, 0 foco de aten~ao pede ~tar socialmente determinado, mas talv·ez nao 0 seu aparelho conceptual. A este respeito, as ciencias sociais, segundo se pensou muitas vezes, eliferiam ae maneira importante das ciencias naturais. Havia a tendencia de assimilar a ciencia social a esfera de ideologia, tendencia desenvolvida pelos marxistas posteriores na discutivel tese de uma ciencia social de classc que e inevitavelmente tendenciosa30 e na pretensao de que somente a "ciencia proletaria" tem ideias validas sabre certos aspectos da realidadl! social}1 Mannheim segue a tradi~ao marxista ate 0 ponto de isentar as "ciencia,;,; exata~." e 0 "conhecimento formal" da determina~ao existencial, mas nao
talvez, mediante a mescla de linguagens e de culturas. Construidas sobre essas Welta:nschauungen de mutagao muito lenta, estao as formas mais "artificiais" do conhecimento, que podem ser ordenadas em sete classes, conforme 0 seu grau de artificialismo: 1. mito e lenda; 2. conhecimento implicito na linguagem popular natural; 3. conhecimento religioso (desde a vaga intuigao emocional ate 0 dogma fixo de uma igreja); 4. os tipos funriamentais do conhecimento mistico; 5. conhecimento filos6fico-metafisico; 6. conhecimento positivo das matematicas e das ciencias naturais e culturais; 7. conhecimento tecnol6gico.35 Quanto mais forem artificiais esses tipos de conhecimento, mais depressa mudam. E evidente, diz Scheler, que as religiots mudam muito mais lentamente que as varias metafisicas e que estas perduram durante periodos muito mais dilatados que os resultados da cj{mcia positiva, os quais mudam de hora em hora. Esta hip6tese das velocidades de mudanga apresenta alguns pontos de analogia com a tese de Alfred Weber de que a mUdanga da c'ivilizagao e mais rapid~, que a mudanga da cultura, e com a hip6tese de Ogburn, se· gundo a qual os fatores "materiais" mudam mais rapidamente que os "imateriais". A hip6tese de Scheler participa das limitagoes das outras, assim eomo de v.irias deficiencias mais. Em lugar algum Scheler indica com alguma clareza 0 que realmente denota seu principio de classificac,;ao de tipos de conhecimento, denominado "artificialidade". Por que, por exemplo, seu "conhecimento mistico" e considerado mais "artificial" do que Os dogmas religiosos? Nao examina de modo algum 0 que significa dizer que um tipo de conhecimento muda mais rapidamente que outro. Pensemos em sua curiosa equiparagao dos "resultados" cientificos novos com os sistemas metafisicos. Como se compara 0 grau de mudanc,;a implicito na filosofia neokantiana com, digamos, a mUdanc,;ada teoria biol6gica durante 0 periodo correspondente? Scheler afirma ousadamente uma variac,;ao se~'.lpla em velocidade de mudanc,;a e, naturalmente, nao confirma pela experlencia essa complicada pretensao. Vistas as dificuldades que se encontram para comprovar hip6teses muito mais simples, nao se ve muito bem 0 que se pode ganhar formulando hip6teses complicadas desse tipo. Mas somente certos aspectos deste conhecimento se consideram sociologicamente determinados. Na base de certos postulados, que nao e necessario examinar aqui, Scheler diz: o carater socio16gico de todo conhecimAnto, de todas as form as de pensamento e cogni· cao, e indiscutivel. Embora 0 conteiido e, ainda menos, a validez objetiva de todo conhe· ~imento, 11ao estejam determinados pelas perspectivas de contrOle dos interesses soclais, Alem disso, as "for· este e, todavia, 0 ca,so, com a sele~iio dos objetos do conhecimento, mas" dos processos mentais por meio dos quais se adquire 0 conhecimento silo sempre e necessariamente co·determinadas sociologicamente. ou seja, pela estrutura social. 36
cio que qualquer outra coisa,37 e de se esperar que os modos de pensame t d't·no oem u~c,;aoe a C~asSificagaOdas coisas cognosciveis em geral, estejam co-determllladas (mztbedingt) pela divisao e classificagao de grupos que formam a sociedade. Scheler repudia abertamente qualquer forma de sociologismo. Procu. ra escapar de urn relativismo radical recorrendo a urn dualismo metafisico. Estanelece uma esfera de "essencias intemporais" que em diversos graus entram. no contelldo dos juizos; uma esfera totalmente diferente daquela da realidade hist6rica e social que determina 0 ata dos juizos. Conforme Manl1elbaum resumiu inteligentemente esta opiniao: A esfera das esscncias e pa.ra Scheler uma esfera de possibilidades das quais n6s. vin. culados; ao tempo e aos nossos inter(·sses, escolhemos primeiro urn conjunto e depois outro 0 ref/etor da nossa aten. p~ra estuda·los, Ate onde enfoquemos, como historiadores, ~ao, depende das nossas valora~6es sociologicamente determina.das; 0 que vemos all es~a determmado pelo conjunto de val ares absolutos e intemporais que estao imollcitos no pas. sado de que tratamos, 38
Isto e, Iealmente, contra-relativismo por decreto. A simples afirmac,;ao da dlferenga entre essencia e existencia evita 0 incubo do relativismo exor. cisando-o. 0 conceito de essencias eternas pode ser grato aos metaffsicos mas e absolutamente estranho a pesquisa empirica. Convem observar qU~ e~sas concepgoes nao desempenham papel impartante nos esforc,;os empi. ncos de Scheler para estabelecer relagoes entre conhecimento e sociedade. Scheler indica que tip os diferentes de conhecimento estao vinculados a formas particulares de grupo. 0 contet1do da teoria da ideia de PlaHio requereu a forma e organiz~ao da academia platonica; assim tambem a organizagao das igrejas e das seitas protestantes foi determinada pelo contet1do das suas crengas, que podia existir somente neste e nao em outro tipo de organizagao social, conforme demonstrou Troeltsch. E, de modo semelhante, tipos de sociedade Gemeinschajt tern urn fundo tradicionalmente definido de conhecimento Que se transmite como concludente' nao Ihes ~nteressa descobrir ou ampliar os conhecimentos. 0 mero i~tento. de submeter a prova 0 conhecimento tradicional, na medida em que implica dt1vida, e afastado como blasfemat6rio. Em tais grupos, a 16gica , prevalecente e 0 modo de pensamento sac os do "ars demonstrandi" e nao os do "ars inveniendi". Seus metodos sao prevalentemente ontol6gicos e dogmaticos, mas nao epistemol6gicos ou criticos; seu modo de pensar e o do realismo conceptual, nao 0 nominalista como no tipo de organizac,;ao Gesellschajt,. seu sistema de categoria, organicista e nao mecanicista.39
como '3. explicagao consiste em derivar 0 que e relativamente novo do que ja e familiar e reconhecido e, como a sociedade e "melhor conhecida"
37. Ver 0 mesmo pressuposto de Durkheim, citado na nota 14 d~ste capItulo. 38. Maurice Mandelba,um, The Problem of Historic,al Knowledge, (Nova Iorque: Liveright, 1938), 150; Sorokin coloca uma esfera analoga de "ideias intemporais", por exemplo, em SU2> Sociocultural Causality, Space, Time, (Durham: Duke University Press. 1943). 215.
35. Ibid., 36. Ibid.,
39. Scheler, Die Wissensformen ... , 22·23; compare-se uma caracteriza~ao analoga de "escolas sagradas" de pensamento, por Florian Znaniecki, The Social Role of the Man of Knowledge, (Nova Iorque: Columbia University Press. 1940). capitulo 3.
62. 55.
passim.
Durkheim amplia a investigagao socio16gica ate a genese social ddS <:ategorias de pensamento e baseia sua hip6tese em tres tipos de presumida evidencia. (1) 0 fato da variagao cultural nas categorias e as regras da 16gica "demonstra que dependem de fatores que sao hist6ricos e, em conse,qilencia, sodais".40 (2) Como os conceitos estao encastrados na linguagem que c individuo adquire (e isto e exato tambem no que concerne a. terminologia especial dos cientistas) e como alguns dos termos conceptuais se reterem a coisas que n6s, como individuos, jamais experimentamos, e indub!tavel que sao um produto da sociedade.41 (3) Finalmente, a aceitagao ou a rejeigao de conceitos nao e determinada simplesmente pela sua validade objetiva, mas tamb{>m pela sua consistencia com outras crengas predominantes.42 Mas Durkheim nao adere a urn tipo de relativismo em que s6 exis·tem criterios competitivos de validade. A origem social das categorias nlio as torna completamente arbitrarias no que concerne a sua aplicabilidade a natureza. Sao, em grau variavel, adequadas ao seu objeto. Mas, como ~s -estruturas sociais variam (e, com elas, a aparelhagem das categorias) ha elementos "subjetivos" inevitaveis nas construgoes l6gicas particulares eorrentes numa sociedade. Esses elementos subjetivos "devem ser progressivamente erradicados, Se quisermos nos aproximar mais estreitamente da realidade". E isto acontece em determinadas circunstancias sociais. Com a ampliaQao dos c'ontatos interculturais, com a difusao da intercomunicagao entre pessoas pertencentes a sociedades diferentes, com 0 erescimento da sociedade, 0 sistema local de referencia rompe-se. "As coisas ja nao podem ficar contidas nos moldes sociais de acordo com os quais toram inicialmente classificadas; tern que ser organizadas de acordo com seus proprios principios. Assim a organizagao logica se diferencia da or.ganizaQao social e se torna aut6noma. 0 pensamento genuinamente humana nao e urn fate primitivo; e produto da historia ... "43 Em especial, as concepgoes que estao submetidas a critica cientificamente, met6dica, ehegam a ter uma maior adequaQao objetiva. A pr6pria objetividade e consider::lda como uma result ante social. Do principio ao fim, a duvidosa epistemologia de Durkheim esta interJ1gada com sua exposiQao substantiva das raizes sociais das designaQoes concretas de unidades temporais, especiais e outras. Nao precisamos nos 'entregar a. exaltaQao tradicional das categorias como coisa a parte e prevista, para no tar que Durkheim nao tratava delas, mas de divisoes convencionais do tempo e do espaQo. Observou, de passagem, que as diferenc;as a esse respeito nao nos devem levar a "esquecer as analogi as, que nao sao menos essenciais". Se ele foi urn iniciador em relacionar as variago8s '.0. Durkheim, Elementary 41. Ibid., 433-435. ·42. Ibid., 43. Ibid.,
438.
444·445; 437.
Forms ... , 12. 18,
439.
~os I'lst~mas de conceitos com as variagoes da organizagao social, nao cons6gulU estabelecer a origem social das categorias. Como Durkheim, Granet concede grande importancia a lingu t· . t· . agem, para res rmglr e lxar conceltos e modos dominantes de pensamento. 1)em?nR~rOUc~mo .a l.ingua chinesa nao esta aparelhada para registrar concmtos, anahsar Idelas ou apresentar teorias discursivamente; ela se tern eOlll:iervado incompativel com a precisao formal. A palavra chines f' 'd"" a nao - lxa uma 1 ",la com urn grau definido de abstragao ou generalidade mas evoca um complexo indefinido de imagens particulares. Assim, nao ~xiste p.alavra que signifique simplesmente "anciao", mas ha um ntimero consideravel ~e p~~avras que "desc~evem diferentes aspectos da ancianidade", por e~emplO. ,e 1,. ~s que necessltam de uma dieta mais rica; k'ao, os que respl:-am com dlflCuldade, e assim por diante. Essas evocagoes concretas supoem uma multidao de outras imagens tambem concretas de cada detaIhe .dO modo de vida do anciao: os q11eestao isentos do servigo militar; aqueles para quem deve estar pronto 0 caixao e outros implementos funerarios; os que tern direito a andar apoiados num cajado etc. Estas sao .algu,:nas das i~ag,ens evocadas por k'i, as quais, em geral, correspondem a. nogao quase smgular de pessoas velhas, de uns 60 a 70 anos de idade. Tais palavras e frases tem sentido inteiramente concreto, emblematico.44 Assim como a lingua gem e con creta e evocadora, tambem as ideias mais gerais do antigo pensamento chines eram invariavelmente concretas, nenhuma delas comparavel as nossas ideias abstratas. Nem 0 tempo, nem o :spago eram concebidos de forma abstrata. 0 tempo avanga por circulos ·e e redondo; 0 espago e quadrado. A terra e quadrada e esta dividida em -quadrados; as muralhas da cidade, os campos e as cabanas formam un'. 'quadrado. As cabanas, os ediffcios e as povoagoes devem ser orientados a escolha da orientagao esta nas maos de um chefe ritual. As tecnic~ da divisao e da administragao no espago - a agrimensura, 0 desenvolv;. n:ento das povoagoes, a arquitetura, a geografia polftica - e as especula90es geometricas que as mesmas pressupoem, se enlagam com urn corpo de regulamentagoes sociais. Particularmente quando incumbem a ass em'bleias peri6dicas, reafirmam e reforgam em cada detalhe os sfmbolos que representam 0 espago. Explicam sua forma quadrada, seu carater heterogeneO e hierarquico, uma concepgao de espago que s6 podia ter nascido uuma sociedade feudal.45 Embora Granet tenha talvez estabelecido os fundamentos sociltis das 'designagoes concretas do tempo e do espago nao esta muito claro que ele t:,ata de dados comparaveis as concepgoes do Oriente. Examina concep. goes tradicionais, ritualizadas ou magicas e as compara impllcitament~ com nossas concepgoes positivas, tecnicas ou cic:'tificas. Mas, numa larga mar gem de praticas reais, 0 chines nao a.tuava SObl..:' a suposi
44. Granet, La Pen 4);. Ibid., 87-95.
see Chlnoise, 37-38,82 e
todo
0
Capitulo
I.
"0 tempo e redondo" e "0 espaQo, quadrado". Quando se examinam esferas comparaveis de atividade e de pensamento e discutivel que se produza essa segmentaQao de "sistemas de categorias", no sentido de nao haver denominadores comuns de pensamento e concepQao. Granet demonstrou diferenQas qualitativas de conceitos em certos contextos, mas nao em contextos comparaveis como, por exemplo, 0 da pratica tecnica. Sua obra da te8temunho de diferentes focos de interesses intelectuais nas duas esfe· ras e, dentro da esfera ritualista, de diferenQas basicas de perspectiva, mas nao de brechas intransponiveis em outras esferas. A falacia muito vi~'ivel no conceito de Levy-Bruhl de "pre-logicidade" da mente primitiva aparece tambem na obra de Granet. Gomo foi demonstrado por Malinowski quando se examinam esferas comparaveis de pensamento e de atividade nao se encontram essas diferenQas inconciliaveis.46 Sorokin participa dessa mesma tendencia em atribnir criterios de verdade absolutamente ellspares aos seus diferentes tipos de cultura. Este autor vertcu num idiom a distintivo 0 fato das mudanQas de atenQao par parte das elites' intelectuais em diferentes sociedades historicas. Em certas sociedades, as concepQ6es religiosas e alguns tipos particulare:; de metafisita estao no foco da atenQao, enquanto em outras, a ciencia empirica tornou-se 0 centro de interesse. Mas os diferentes "sistemas de verdade" coexistem em cada uma dessas sociedades, dentro de certas esferas; a it;.reja catolica nao abandonou seus criterios "ideativos" mesmo, nest:3. epoca "sensitiva". Uma vez que Sorokin adota a posiQao de criterios de verdade radicalmente diferentes e dispares, tern que situar sua propria obra dentro deste contexto. Pode-se dizer, embora urna discussao extensa f6sse necessaria para prova-lo, que ele nunca resolve este problema. Seus varios esforQos para enfreotar urn impasse radicalmente relativista diferem em forma notoria. Assim, logo de inicio diz que suas interpretaQ6es devem ser comprovadas do mesmo modo "que t6da lei cientifica. Em primeiro lugar, o· princi:r io deve ser logico por natureza; em segundo lugar, deve passar COIn exito pelo teste dos 'fatos relevantes', isto e, deve ajustar-se aos fatos e representa-Ios".47 Em sua pr6pria terminologia, Sorokin adotou assim uma posiQao cientifica caracteristica de urn "sistema sensitivo de verdades". Quando ele se enfrenta diretamente com sua propria posiQao epistemo16gica, adota, nao obstante, urn conceito "integralista" da verdade, que procur"!, assimilar criterios empiricos e 16gicos, como tambem "urn ate de intuiQao'" ou "experiencia rnistica supersensivel super-racional, metal6gico.48 Assim reallza uma integraQao ou unificagao dos diversos sistemas. Para 46. Ct. B. Malinowski em Magic,Science& Religion(Glencoe:The Free Press, 1948),9 "T<'ldacomunidadeprimitiva est:l.de posse de urn 2,cervoconsideravelde conheclmen·· tos, baseadosna experiinclae mo!dadospela razao". VertambemEmileBenoit-Smullyan, 14Granet's
La Pensee
Chinoise".
American
Sociological
Reviewl
47. Sorokin,Socialand CulturalDynamics,I, 36; cf. II, 11-12n. 48. Ibid., IV, Cap. 16; SocioculturalCausality... , Cap. 5.
1936, 1, 487-492.
justifica~ :" ."verdade de fe" - unieo item que poderia afasta-lo dos criM. rIOS ordmanos usados no trabalho cientifico atual -, diz que a "intuiQao" ~esernp~nha urn papel importante como jonte de descobrimentos cienti. i1COS. Mas resolve isto a questao? A questao nao e de fontes psico16gicas de conc1us5es validas, mas de criterios e metodos de validar;iio. Que criMrios adotaria Sorokin quando as intuiQ6es "supersensiveis" nao fOssem ,congruentes com a observaQao empiric a? Nesses casas, provavelmente ate onde podemos julgar pela sua obra e nao pelos seus comentarios s~bre ~ua obra, admitiria os fatos e rejeitaria a intuiQao. Tudo isso sugere que Sorokin esta discutindo sob a etiqueta generica de "verdade" tipos bem disti~tos e nao comparaveis de juizos: justo como a analise feita par urn quimICO de uma pintura a 6leo nada tem a ver com a sua avaliaQao estetica tambem os sistemas de verdade de Sorokin se referem a classes de jUizo~ ,completamente diferentes. E, realmente, ele e leva do a dizer isso mesmo, '{uando observa que "cada urn dos sistemas de verdade, dentro do seu le~itimo campo de competencia, nos da urn conhecimento genuine dos respectivQs aspectos da realidade".49 Mas, qualquer que seja sua opiniao pessoal s6bre a intuiQao nao consegue inc1ui-Ia em sua sociologia como criterio (ja que nao como fonte) de conclus6es validas.
Ainda que este problema seja evidentemente 0 nucleo de t6da teoria na sociologia do conhecimento, tern side amiude tratado par implicagao e na0 de maneir2, direta. Mas cada tipo de suposta relagao entre conheCImento f- sociedado pressup6e t6da uma teoria de metodo socio16gico e de causagao social. As teorias vigentes neste terreno tratam de urn ou dos dois tipos de relaQao: a causal ou funcional e a simb6lica, organicista ou de significado. 50 Marx e Engels, naturalmente, !idaram somente com alguma especie de r,elaQao causal estre a base econ6mica e as ideias, denominando diversamente essas ideias como "determinagao, correspondencia reflexo excrescencia, dependencia" etc. Adicionalmente, existe uma rel~c,;ao de ':interesse" ou de "necessidade"; quando as estratos sociais atribuem necessi. dades numa etapa particular de desenvolvimento hist6rico, afirma-se que ha uma pressao definida para que se produzam ideias e conhecimentos 1j,propriados. As insuficiencias das div,ersas formulag6es tern surgido como praga para incomodar os que seguem a tradiQao marxista nos dias de hOje.51
49. SocioculturalCausality...• 230-1n. 50. AS, difereng2Sentre elas foram estudadasdurante muito tempo no pensamentosocio16gICo europeu. Nos EstadosUnidos, 0 estudomais completoe 0 de Sorokin,em Social and Cultural Dynamics,p, ex. em I, Capltulos1-2. .51. Ct. os comentariosde Hans Speier, "The social determinationof ideas" Social Re. sea~ch,1938,5, 182-205; C. WrightMills,"Language,logic a.nd culture",Am~ricanSocio. logICalReview,1939,4, 670-680.
nao e mere "reflexo" d:il Uma vez que Marx disse que 0 pensamento posir;ao objetiva de classe, como temos visto, isto levanta de novo 0 pro blema da sua atribui!(ao a uma determinada base. As hip6teses marxistas vi gentes para enfrentar este problema implicam uma teoria da hist6ria que e 0 fundamento para determinar se a ideologia e "situacionalmente adeqnada" para urn dado estrato da sociedade: i1ito requer uma interpreta!(ao hipot.etica do que os homens pensariam e perceberiam. se pudessem compreender de maneira adequada a situar;ao hist6rica.52 Mas esta penetra!(ao na situa!(ao nao necessita na realidade estar amplamente difundida em estratos sociais particulares. Isto nos leva, portanto, ao problema da "talsa consci€mcia", ou seja, de como chegam a prevalecer ideologias que nao estao de acordo com os interesses de urna classe, nem sac adequadas do ponto de vista de urna situa!(ao. Uma explica!(ao empirica parcial da falsa consciencia, implicit a no Manifesto, baseia-se na opiniao de que a burguesia controla 0 conteudo da cultura, difundindo assim doutrinas e normas alheias aos interesses do praletariado.53 Ou, em termos mais gerais, "as ideias diretivas de cada epoca sempre tern sido as ideias de sua classe governante". Mas isto e apenas uma explica!(ao parcial; refere-se, no maximo, a falsa consciencia da classe subordinada. Poderia, pOI' exemplo, explicar parcialmente 0 fato observado POI' Marx de que mesmo onde 0 carnpones proprietario "pertence ao proletariado POI' sua posi!(ao, assim nad pensa ele"; nao seria, todavia, pertinente para procurar explicar a falsa consciencia da classe dirigente. Outro tema, embora nao claramente formulado, que se relaciona com o problem<;l, da falsa consciencia, corre ao Ion go da teoria marxista. Trata-se do conceito de ideologia como expressao niio deliberada e inconsciente de "motivos reais", os quais por sua vez sac construidos em term03 dos interesses objetivos das classes sociais. Destaca·se assim, repetidamente, 0 carMer inconsciente das ideologias: A ideologia e urn processo que 0 assim chamado pensa,dor realiza, conscientemente sem duvida, mas com uma falsa consciencia. Os motivos reais que 0 Impulsionam ~ao desconhecidosd:'le, do contrario nao seria em absoluto urn processo ideol6gico. Por isso, ele imagina n:otivos faJsos ou aparentes.54 A ambiguidade da palavra "correspondencia" para se referir a conexao entre a base material e a ideia s6 pode ser inadvertida pelo polemico
cntusiasta. Interpretam-se as ideologias como "deforma!(oes da situacsocial" ;55 como meramente "expressivas" das circunstancias materiais56 ao "defo -. ~omo motlVos que ap6iam a realiza!(ao de mUdancase, . rm ad"as. ou nao, realS na sOCledade57. E neste ultimo momento, quando se permite que a.c cren!(as "ilus6rias" proporcionem motivos para a a!(ao, que 0 marxisrho atribUi Ja nao certo grau de independencia as ideologias no processo hist6rico. sac meramente epifenomenicas. Gozam de certo grau de autCJllomia. DaqUi nasce a ideia de fatores interatuantes em que a superestrutura, embors, interdependente com a base material, tambem tenha, ao que se supoe, certo grau de independencia. Engels reconheceu explicitamente que as formulaeram inadequadas pelo menos em dois aspectos: primeiro, 90es anteriores que tanto ele como Marx tin ham dado anteriormente importaneia excessiva ao fator economico e subestimado 0 papel da intera!(ao reciproca; 58segundo, que tinham "esquecido" 0 aspecto formal, 0 modo como se produzem eSSa5 ideias.59 As opini6es de Marx e Engels sabre os elementos conexivos das ideias e da subest.rutura economic a sustentam, portanto, que a estrutura econt>mica constitUi 0 marco que limita 0 campo das ideias que redundarao socialmente eficazes; podem aparecer ideias que nao sejam pertinentes para I.1ma ou outra das classes antagonicas, mas serao de pouca consequencia. As circunstancias economicas sao necessarias, porem insuficientes, para 0 aparecimento e difusao de ideias que expressem os interesses ou as perspectivas, ou ambas as coisas, de estratos sociais diferentes. Nao ha cieter.minismo estrito das ideias pelas circunstancias economicas, mas apenas urna predisposi!(ao definida. Conhecendo as circunstancias economicas, podemos predizer os tipos de ideias que podem exercer uma influencia controladora numa dire!(ao que pode ser efetiva. "Os homens fazem sua hist6lia, mas nao a fazem precisamente como querem; nao a fazem em circunstancias escolhidas POI' eles, mas em circunstancias diretamente fundadas. dadas e transmitidas pelo passado". E as ideias e as ideologias desempenham urn papel definido na realiza!(ao da hist6ria: pensemos apenas no conceito de religHio como "6pio das massas"; pensemos tambem na importancia que concediam Marx e Engels aos proletarios "conscientes" de "seus interesses". Uma vez que nao ha fatalidade no desenvolvimento da estnttura social total, mas apenas 0 aparecimento de circunstancias eco55. Marx. Der Achtzehnte Bmmaire... , 39, quando os democr:l.ticosMontagnards se enga.
52. Cf. a formulaQao de Mannheim, Ideology and Utopia, 175 e segs.; George Lukacs, Geschichte und Klassenbewusstsein(Berlim: 1923),61 e segs.; Arthur Child,. "The pro· blem of imputation in the sociologyof knowledge",Ethics, 1941,51,200-214. . 53. Marx e Engels, The German Ideology,39: "Na medida em que governam' como class!' e determinam a extensao e amplitUdede uma epoca, e evidente por sl mesmo que 0 fazem com 0 maximo das suas possibilidades,dai resulta.ndoque, entre outras coisas, governam tambem como pensadores, produtores de ideias e regUlam a produQ9.oe distribuiQaodas !deias de sua epoca... " 54. Carta de Engels a Mehring, 14 de julho de 1893,em JUarx, Selected Works, I, 388-9; cf. Marx, Der Achtzehnte Brumaire, 33; Critique of Political Economy,12.
naram a si mesmos.
56. Engels, Soelalism:Utopian and Scientific, 26-27. Cf. Engels,'F'euerbach,122-123:"0 roalagro em exterminar a heresia protestante correspondeu a invencibilidadeda burguesla nascente... Entao 0 calvinismo demonstrou que era realmente 0 disfarce religioso dos interesses da burguesia daquele tempo... " 57. Marx concede importancia motivacional as "i1us6es" da nascente burguesia: Dee Achtzehntc Brumaire, 8. 58. Carta de Engels a Joseph Bloch, 21 de setembro de 1890,em JUarx, Selected 'Vorks, I, 383.
59. Carta de Engels a Mehring, 14 de julho de 1893,ibid., I, 390.
nomicas que fazem possiveis e provaveis certas direg6es de mudanga, os sistemas d'l ideias podem desempenhar urn papel decisivo na escolha de uma alternativa que "corresponda" ao equilibrio real de pOder, e nao de outra alternativa que va contra a situagao de poder existente e esteja dest.inada, em consequencia, a ser instavel, precaria e transit6ria. A teorla marxista da hist6ria pressup6e que, cedo au tarde, os sistemas ue ideias que sao incongruentes com a estrutura de forgas incipientes que na realidade existe, serao rejeitados em favor dos que expressam com maior a.proximagao 0 alinhamento real do podel'. E esta opiniao que Engels expressa em sua metafora do "curso em zigue-zague" da ideologia abstrata; .as ideologias podem desviar-se temporariamente do que e compatfvel com as presentes rela<;6es sociais de produgijo, map no fim voltam a entrar na linha. POl' esta raza6, a analise marxista da ideologia esta obrigada sempre a interessar-se pela situagao hist6rica "total", a fim de explicar os des vios temporarios e a posterior acomoda<;ao das ideias aos impulsos econbmicos. Mas pOl' essa mesma razao, as analises marxistas podem tel' um grau excessivo de "flexibilidade", quase ate ao ponto em que qualquer acontecimento possa ser explicado como uma aberra<;ao ou desvio temrJorario; em que "anacronismos" e "atrasos" se transformem em etiquetas para explicar as ideias existentes que nao correspondem as expectativas te6ricas; em que 0 conceito de "acidente" proporcione um meio facil para salvar a teoria, dos fatos que parecem amea<;ar sua validez.60 Desde 0 momento em ·que urna teoria abrange conceitos como "atrasos", "empuxos", "anacronismos", "acidentes", "independencia parcial" e "dependencia definitiva", t.orna-se tao labil e tao confusa que se pode virtualmente conciliar com qualquer configura<;ao de dados. Aqui, como em varias outras teorias da 'soc10logia do conhecimento, pode-se formular uma pergunta decisiva para rieterminar se temos uma verdadeira teoria: Como pode ser invalidada a teoria? Em tOda situagao hist6rica dada, que dados contradiriam e invalidariam a teoria? A menos que isto pOssa ser resolvido diretamente, a menos que a teoria contenh?. enunciados que possam ser comprovados pOl' tipos definidos de provas, nao e mais que uma pseudoteoria que sera compatfvel com qualquer conjunto de dados. Embora Mannheim tenha ido longe no desenvolvimento de procedimentos reais de pesquisas na sociologia substantiva do conhecimento, nao esclareceu muito os fatOres conexivos de pensamento e sociedade.61 Como cHz ele, umD vez que se analisou uma estrutura de pensamento, surge 0 problema de atribui-la a grupos definidos. Isto requer nao somente uma investigagao empiric a dos grupos ou estratos que pensam principalmente -daquela maneira, corrio tambem uma interpretagao do porque aqueles grupos e nao outros, manifestam este tipo de pensamento. Esta ultima quesCt. MaxWeber,Gesamme1te Aufsaetz6znr Wissen.chatt.1ehre. 166-170. '61. 1!:steaspectoda obra de Mannheime estudadodetalhadamenteno capitulo seguinte.
'80.
tao implica uma psicologia social que Mannheim nao desenvolveu de maneira sistematica. A insuficiencia mais grave da analise de Durkheim estriba-se precisamente em sua aceita<;ao sem critic a de uma ingenua teoria de correspondCncias em que se considera que as categorias de pensamento "refletem" certos rasgos da organiza<;ao do grupo. Assim, "ha sociedades na Australia e na America do Norte em que 0 espa<;o e concebido em forma de um circulo imensG, porque 0 acampamento tern forma circular... a organiza<;a,o social foi 0 modelo da organiza<;ao espacial e uma reprodu<;ao dela".62 De modo analogo, a no<;ao geral de tempo e derivada das unidades especificas de tempo diferenciadas nas atividades sociais (cerim6nias, festas, ritos).o3 A categoria de classe e os modos de classificagao sac derivados da agrupar;.ao e da estratifica<;ao sociais. As categorias sociais projetam-se depois "em nOssa concepgao do mundo n6vo".64 Em suma, as categorias expre3' sam, portanto, os diferentes aspectos da ordem social. 65 A sociologia do conhecimento, de Durkheim, ressente-se da sua carencia de uma psicologia sociel. Para Scheler, a relagao central entre as ideias e os fat6res existenciais intera<;ao. As ideias atuam reciprocamente com os fat6res existenciais que servem como agencias seletivas, ampliando ou reprimindo a extensao em que as ideias potenciais encontram expressao real. Os fat6res existenciais nao "criam" ou "determinam" 0 conteiido das ideias; nao fazem mais que explicar a diferenc;a entre potencialidade e realidade; impedem, atrasam ou aceleram a realiza<;ao de ideias potenciais. Numa figura que lembra 0 nume hipotetico de Clerk Maxwell, Scheler declara: "De um modo e numa ordem definidos, os fat6res existenciais abrem e fecham as comportas das correntes das ideias". Esta formula<;ao, que atribui aos fatOres existenciais a fungao da selegao numa esfera independente de ideias e, segundo Scheler, urn ponto fundamental de concordancia entre te6ricos que diver gem em outros pontos, tais como Dilthey, Troeltsch, Max Weber e me pr6prio.66
e
Scheler opera tambem com 0 conceito de "identidades estruturais", que se refere a pressupostos comuns de conhecimentos e de crengas, POl' um lado, e de estrutura social, economica e politica, POl' outro.67 Assim, 0 aparecimento do pensamento mecanicista no seculo XVI, que chegou a dominar 0 pensamento organicista anterior, e inseparavel do n6vo individualismo, do predominio incipiente da maquina a vapor s6bre a ferramenta manual, da incipiente dissolugao da Gemeinschaft em Gesellschajt, da pro. dugao par'l. um mercado de utilidades, do surgimento do principio de com62. Durkheim,ElementaryForms.... 11.12. 63. Ibid.. 10-11. 64. Ibid.. 148. 65. Ibid.. 440. 56.
Scheler,
Die ",oim;ensformen
m. 1bid.,56.
.. ", 32.
retic;ao no "ethos" da sociedade ocidental etc. A noC;ao da pesquisa cien· tifica como processo sem-fim, mediante 0 qual se pode acumular urn reposit6rio de conhecimentos, para sua aplicaC;ao pr.atica con:orm~; 0 e~ja ~ ocasiao, e 0 div6rcio total dessa ciencia da teologm e da fllosofla, nao fOI possivel antes que surgisse 0 principio novo de aquisiC;ao indefinida, carac· teristico do capitalismo moderno.68 Ao estudar essas identidades estruturais, Scheler nao concede a pnmazia nem a esfera s6cio-economica, nem a esfera do conhecimento. Antes _ e Scheler considera isto uma das proposiC;6es mais importantes neste t.erreno _ as duas coisas esUio determinadas pela estrutura do impulso da elite, que esta estreitamente entrelaC;ado com os "ethos" predominantes. Assim, a tecnologia moderna nao e meramente a aplieaC;ao de uma cieneia pur a baseada na observaC;ao, na 16gica e nas matematicas. E muito mais o produto de uma orientac;ao para 0 dominio da natureza que definiu 0, objetivos e a estrutura conceptual do pensamento cientifico. Esta orientac;ao e em grande parte implicita e nao deve ser confundida com os motivos pessoais dos cientistas. Com 0 conceito da ident:dade estrutural, Scheler margeia 0 conceito ;:J.e integraC;ao cultural ou Sinnzusammenhang. Corresponde ao conceito de "sistema cultural significative," de Sorokin, que implica "a identidade dos principios e va16res fundamentais que impregnam t6das as suas partes" o que se diferencia de urn "sistema causal", que implica a interdependencia das partes.69 Tendo construido seus tipos de cultura, 0 exame que Sorokin faz dos criterios de verdade, ontologia metafisica, produC;ao cientifica e tecnol6gica, revela marcante tendencia em diregao a integragao significativa desses itens com a cultura predominante. Sorokir. enfrentou corajosamente 0 problema de como determinar a extenstio em que se da essa integragao, reconhecendo, apesar dos seus viru· lentos comentarios sabre os estatisticos da nossa epoca sensitiva que, tratar da medida ou grau de integragao implica necessariamente alguma mediga~1 estatistica. Em conseqiiencia, estabeleceu indices numericos dos diversos autores e das varias obras de cada periodo, classificou-os em suas categorias apropriadas e calculou assim a freqiiencia relativa (e a influencia) dos diversos sistemas de pensamento. Qualquer que sejli. a avaliagao tecnica da validade ou veracidade das estatisticas culturais, Sorokin reconheceu diretamente 0 problema, esquecido por muitos pesq1,lisadores, da cultura integrada ou Sinnzusammenhaengen, a saber, 0 grau ou extensao aproximada desta integragao. Alias, baseia francamente suas conclus6es empi· ricas em grande parte sabre essas estatisticas.70 E as conclus6es tambem
68. Ibid., 25; cr. 482-84. 69. Sorokin, Social and Cultural Dynamics, IV, Cap. 1; I, Cap. 1. 70. Niio obstante 0 lugar fundamental que as estatistleas oeupam em seus resultados empirieos, Sorokin adota uma atitude curiosamente ambivalente para com elas, atitude analoga a que se atribui a Newton •• respeito da experimentagao: urn reeurso para
atestam que 0 seu enfoque leva a enunciar 0 problema das conex6es entre as ~ases existenciais e 0 conhecimento, mas nao a sua solugao. Assim, para cltar urn caso que vem a calhar, define-se 0 "empirismo" como 0 Sistema sensitivo tipico de verdades. Os cinco ulUmos seculos e , par t·1c~lla~~ente, 0 seculo passado, representam a "cultura sensitiva por exesl:n~I'l .. 71 Mas, mesmo nesta preamar de cultura sensitiva, os indices estartrStlCOSmostram apenas 53% de obras influentes no campol do empiris E nos pnmelros " ~ seculos desta cultura sensitiva - de fins do seculo XVI a. meados do XVIII - os indices do empirismo sac constantemente mais baixos que os do racionalismo (0 qual e associado, provavelmente, com uma cultura idealista e nao sensitiva).72 0 objeto destas observag6es nao € de perguntar se as conclus6es de Sorokin coincidem com seus dados estatisticos; nao e de perguntar por que se diz que os seculos XVI e XVII tern predominantemente "urn sistema sensitivo de verdade", em vi~ta dos aados: Antes, e para indicar que, de acordo com as pr6prias premiss as de Sorokm, as caracterizag6es gerais de culturas hist6ricas constituem meramente urn primeiro passe que deve ser seguido por analises de desvios das tendencias centrais da cultura. Uma vez introduzido 0 conceit.o de grau de integragao, a existencia de tipos de conhecimento que nao estao integrados com as tendencias predominantes, nao se pode considerar simples~ mente como "acumulag6es", nem como "contingentes". Suas bases sociai.,; aevem ser averiguadas de uma maneira que uma teoria emanacionista nao perm.ite. Urn conceito basico que serve para diferenciar generalizag6es acerc:l do pensamento e dos conh~cimentos de toda uma sociedade ou cultura e 0 de "audiencia" ou "publico", ou 0 que Znaniecki chama de "circulo so·' cial". Os homens de conhecimento nao se orientam exclusivamente em direc;ao .aos seus dados ou a sociedade total, mas a setores especiais da sua sOCledade, com suas exigencias especiais, criterios de validez de con~:cim~ntos im~o:ta~tes, de problemas pertinentes etc. Mediant~ a preVlsao Qessa~ eXlgenCIaS e expectativas de audiencias particulares, que <>e' podem 10callzar de modo efetivo na estrutura social, podem os homens de saber, organizar seu pr6prio trabalho, definir seus dados e captar os problemas. Em conseqiiencia, quanto ma1s diferenciada for a sociedade, maior sera 0campo das aludidas audiencias efetivas, maior a variedade dos focos de aten gao - clen . tif'!Ca, de formulac;oes conceptuais e de procedimentos para testar os titulos de conhecimpnto. Vinculando cada uma das li.udiencias f~zer suas conclusoes previas "inteiigiveis ao vulgo e pr6prias para convenc~-loW. l!: dlgna de not~ a aprov2o!:aoque Sorokin da a observagao de Park, segundo a qual SUa! estatjstj~as nao sao mais que uma concessao a mentaiidade sensit-iva predominante e que "se (Hes as querem, que as tenham". Sorokin, Sociocultural Causality Space Tim~ 95n. " A ambivalf;ncia de Sorokin proeede do seu esf6rgo em integrar "si~temas ~e ve,~ dade, completamente dispares. 71. Sorokin, Social and Cultural Dynamics II 51 72. Ibid., II, 30. ' , .
I
tipol6gicamente definidas a SWl poslgao social distintiva, torna-se possivel dar uma explicagao wissenssoziologische das diferengas e conflitos do pensamento na sociedade, problema que inevitavelmente e atalhado numi\ teoria emanacionista. Assim, as cientistas franceses e ingleses do seculo XVII, que estavam organizados em sociedades cientificas recem-criadas, se dirigem a audiencias muito diferentes daquelas dos sabios que permaneciam exclusivamente nas universidades tradicionais. A diregao de seus esforgos, para uma exploragao "simples, s6bria e empirica" de problemas e:specificos tecnicos e cientificos, diferia de maneira consideravel do trabalho especulativo e antiexperimental dos que estavam nas universidades. A pesquisa das variagoes das audiencias efetivas, a exploragao dos seus criterios distintivos de conhecimentos importantes e validos,73 0 relacionamento com sua posigao na sociedade e 0 exame dos processos sociopsico16gicos, mediante os quais operam para restringir certos modos de pen· samento, constitui um procedimento que promete tirar a pesquisa sabre sociologia do conhecimento do plano da atribuigao geral ao da investip:agao empiric a comprovavel.74 A exposiQao que precede trata do conteudo principal das teorias vigentes neste terreno. As limitagoes de espago s6 permitem 0 exame mais breve de outro aspecto das teorias registradas em nosso paradigma, ou seja, as funGoes atribuidas a diferentes tipos de produg6es mentais.75
Alem de proporcionar explicagoes causais do conhecimento, as teorias atribuem fungoes sociais ao mesmo, fungoes que provavelmente servem para explicar sua persistencia ou sua mudanga. Essas analises funcionais nao podem ser examinadas aqui detalhadamente, embora pu· desse ser muito proveitoso examina-Ias em profundidade. A fei,;;ao mais evidente da imputagao marxista de fungoes e a sua atribuiGao, nao a sociedade em seu conjunto, mas a diferentes estratos da mesma. Isto vale nao somente para 0 pensamento ideo16gico como
tamb~m para a riencia natural. Na sociedade capitalist a, a ciencia e a teenologla que dela derivam, estao chamadas a se converterem em . . t malS urn ms rume~to de contra Ie nas maos da classe dominante.76 Conforme estes mesmos Imeamentos, ao indicar as determinantes econamicas do desen'vol ._ m t . tT Vl en 0 Clen 1 lCO, os marxistas muitas vezes julgaram sUficiente fazer ver que AOS.resultados cientificos permitiam a solugao de alguma necessidade econom:ca ou tecno16gica. Mas, a aplicagao da ciencia a uma necessid~de nao comprova, necessariamente que a necessidade tenha sido impl1cada de maneira importante nesse result ado. As fungoes hiperb6licas fo:am descobertas dois seculos antes que tivessem qualquer importancia pr.a~lca e 0 estudo das segoes canicas teve uma hist6ria truncada de dois rmlemos antes de ser aproveitado na ciencia e na tecnologia. Podemos 1~!erlr, entao, que as necessidades que finalmente for am satisfeitas medIante essas aplicagoes, serviram para dirigir a atengao dos matematicos para esses terrenos, que houve, por assim dizer, uma influencia retl'cativa de do is a vinte seculos. E aecessaria a pesquisa detalhada das relagoes €'~tre 0 surgimento das necessidades, 0 reconhecimento delas pelos cientlstas ou por aqueles que dirigem a escolha dos seus problemas e as (onseqtienc~as desse reconhecimento, para que se possa estabelecer 0' papel das n~cessldades na determinagao da tematica da pesquisa cientifica.77 Alem de pretender que as categorias sejam emergentes sociais Durkilei~ tambem assinala sua fungao social. Mas a analise funcion~l esta destmada, nao a explicar 0 sistema particular de categorias de uma sociedade, mas a existencia de um sistema comum a sociedade. Para fins c.e intercomunicagao e para coordenar as atividades dos individuos, e in0 que 0 apriorista toma dlsp.ensavel uma tabela comum de categorias. eqUlvocadamente por coagao de uma forma de entendimento inevitavel €' nativa, e, na realidade "a pr6pria autoridade da sociedade, transferida a certo modo de pensamento que e a condigao indispensavel de tada agao comum".78 Deve haver um minimo de "conformidade 16gica" se se deseja manter atividades sociais de conjunto; uma tabela comum de categorias e uma necessidade funcional. Sorokin, que assinala as diferentes
73. a conceito de Wertbeziehung (relevancia paora 0 valor) de Rickert-Webernao e mnis que urn primeiro passe nesta dire~ao; fica de pe a tarefa. posterior de diferenciar os diversos grupos de val6res e de relaciona-Ioscom gropes ou estratos distintivos da socie· dade. 74. Esta e talvez a varia~ao mais distintlva ns. sociologia do conhecimento que hoje se desenvolvenos clrculos sociologic05dos Estados Unidos e pode ser quase considerada (:omo uma acultu!'a~ao norte-amerlcana do ponto de vista europeu. 1!:steresultado deriva caracteristicamente da psicologia social de G. H. Mead. Sua pertinencia a ests respeito e assinalad:;,por C. W. Mills, Gerard de Gre e outros. Veja-se 0 conceito do "clrculo social" de Znaniecki, op. cil. Vejam·se tambem os come~osde resultadO. emplricos seguindo esses Iineamentos, no campo mais geml das comunlca~aespub'ica.": PaoulF. Lazarsfeld e R. K. Merton, "Studies in Radio and Film Propaganda". 75. omite·se inevitavelmenteuma aprecia~aode pontos de vista historicistas. e ahist6ricos. 11:de notar que esta controversia admite definitivamente uma posi~aoIntermediaria.
76. .Por exemplo,Me.rxfaz uma c;ta~aoa Ure, urn dos apologistas do capitaIismono seculo XIX. 0 qual, falando da inven~ao da maquina de fia,r, dizia: "11:uma cria~ao destinada a restabelecer a ordem entre as classes laboriosas.. , 1!:sseinvento veio confirmar a tese ja enunciade.por nos, de que 0 capital, quando pae a seu servi~oa ciencia consegue domesticar a mao rebelde do trabalho". 0 Capital, I, 477. ' 77. ?omparar com B. Hessen, op. cit.; R. K. Merton, Science, Technology and Society In 17th Century England, (Bruges: Osiris History of Science Monographs, 1938),Capltulos 7-10;J. D. Bernal, The Social Function of Science (Nova Iorque: The MacmilIan C~., 1939);J. G. Crowther, The Social Relations of Science, (Nova Iorque: The MacmlIIan Co., 1941);Bernard Barber, Science and the Social Order, (Glencoe,Illinois: Tht Free Press, 1952);Gerard De Gre, Science as' a Social Institution, (Nova Iorque: Doubleday & Co., 1955). 78. Durkheim, Elementary Forms... , 17, 10-11,443..
FUNC;OES DO CONHECIMENTO CONDICIONADO
EXISTENCIALMENTE
funQoes mais
servidas
amplamente
Do
estudo
pOl" diferentes esta
sistemas
de esp~o
e tempo,
desenvolveu
opiniao.79
que precede,
resulta
evidente
que uma
ampla
diversidade
fie problemas neste campo esta a exigir novas pesquisas.80 Scheler indicou que a organizaQao social da atividade intelectual esta relacionada de maneira importante com 0 carater do conhecimento que se desenvolve sob seus auspicios. Um dos primeiros estudos do problema nos E'stados Unidos foi a caustic a, impressionistica e amiude penetrante exposiQao que Veblen fez das pressoes que moldam a vida universita.ria norte-amer:cana.81 Wilson ocupou-se de modo mais sistematico dos metodos e criterios de recrutamento, atribuiQao de posiQao e mecanismos de controle do intelectual universitario, proporcionando assim uma base substancial para estudos comparativos.82 Ao fazer uma tipologia dos papeis dos homens de saber, Znaniecki formulou uma serie de hip6teses concernentes as relaQoes entre esses papeis e os tipos de conhecimentos cultivados' entre os tipos de conhecimento e as bases de apreci~ao dos cientistas 'pelos outros individuos da sociedade; entre as definiQoes de papeis
administrat~vos, as z~nas da v1d~ urn conhecImento a "undo e POS1necessaria a sabedoria do homem do intelectual e a relaQao de suas influencia do seu trabalho, reque· que as mudanQas na organizaQao
Sorokin Sociocultural Causality, Space, Time, passim. Outros 'resumos podem ser encontrados no prefacio de Louis Wirth a obra de Mannheim, Ideology and Utopia, XXVIII·XXXI ; J. B. Gittler, "Possibilities of a sociology of science", Social Forces, 1940,18, 350-359. Thorstein Veblen, The Higher Learning in America, (Nova Iorque: Huebsc~, 19:~1. Logan Wilson, The Academic Man, d. E. Y. Harthshorne, The German Umversltles and National Socialism, (Harvard University Press, 1937). Florian Znaniecki, Social Role of the Man of Knowledge. Em sua obra An Americ,an Dilemma, Gunnar Myrdal assina-Ia repetidamente as "avalia~oes ocultas" dos cientistas socials norte-americanos ao estudar a negro norte-americano e 0 efeito dessas avalia~oes sObre a formula~ao de "problemas cientlficos" neste .terreno da ::Jesquisa. Ver especiaJmente II, 1027-1064.
social submetem cada vez mais 0 intelectual a exigencias antagonicas.8b Tem-se pensado, cada vez mais, que a estrutura social nao influi na ciencia simplesmente enfocando a atenQao dos cientistas sabre certos problemas a investigar. Alem dos estudos a que ja nos temos referido, outros e social entra na fortern tratado dos modos em tlue 0 contexto cultural mulaQao conceptual de problemas cientificos. A teoria; da seleQao, de Darwin, foi modelada de acordo com a nOQao predominante de uma ordem economica de competiQ8.o, nOQaol a qual se atribuiu, por sua vez, uma funQao ideol6gica mediante uma suposta identidade de intereSSes.86 A observaQao meio a serio, de Russell, sabre as caracteristicas nacionais da pesquisa sabre 0 apr,endizado dos animais aponta a urn n6vo tipo de pesquisas sabre as relaQoes entre a cultura nacional e as formulaQoes conceptuais.87 Assim, tambem, Fromm procurou demonstrar que 0 "liberalismo consciente" de Freud implicava tacitamente a rejeiQao dos impulsos condenados pela sociedade burguesa e que 0 pr6prio Freud era, em seu carater "patricentrico" representante tipico de uma sociedade que exige obediencia e submissao.88 85. Mannheim refere-se a uma monogra.fia inedita sObre 0 intelectual; biblfografia~ gerais encontram--se em seus Iivros e num artigo de Roberto Michels sObre "Intellectuais", na Encyclopedia of the Social Sciences. Entre as trabalhos recentes encontram-se: C. W. Mills, "The social Role of the Intellectual", Politics, I, abril de 1944;R. K. Merton, "Role of the Intellectual in Public Policy", apresenta.do na reuniao anual da American Soclolo~ical Society, 4 de dezembro de 1943,(CapitUlo IX do presente volume); Arthur Koestler, "The InteJligentsia", Horizon, 1944,9, 162-175. R6. Keynes observou que "0 principia da sobrevivencia dos mais aptos poderia ser conslderada como uma vasta generaliza~ao da economia ricardiana.". Citado par Talcot.· Parsons, em The Structure of Social Action, 113; cf. Alexander Sandow, "Social factors in the origin of Darwinism", Quarterly Review of Biology, 13, 316-326.' 87. Bertrand Russell, Philosophy, (Nova Iorque; W. W. Norton & Co., 1927),29-30. Russell observa que as animais empregados em pesquisas psicol6gicas"exibiraml todos a~ carooterlsticas nacionais do pesquisador. Os animais observados par norte-americanos cor· rem freneticamente de urn lado para outro, numa ostenta~ao incrlve1 de atividade e energia e, fina.lmente, dao casualmente a resultado desejado. Os animais observados par alemaes sentam-se e se poem a medita.r e par !1m dao a solu~ao, tJrando-a do Intima da sua consciencia". A frase chistosa nao deixa de conter uma certa verda.de, pais a possibilidade de diferen~as nacionais na escolha e formula~ao de problema.s cientHicos tern sido muitas vezes assina.lada, embora nao estudada sistematicamente, Cf. Psychologie der Wissenschaft, por Richard Mueller-Freienfels, (Lipsia: J. A. Barth, 1936),Capitulo 8, que trata das diferen~as nacionais e de classe na escolha de proble· mas, "estilos de pensamento" etc., sem assentir completamente aos requisitos "echtdeutsch" de urn Krieck. Este tipa de interpreta~ao, porem, pode ser levado a extremas discutidos e infundados, como na "analise" demolidora que faz Max Scheler do "cant" Ingles. Conclui que, na ciencia como em todos as outros terrenos, os ingleses sao incorrigivelmente "cantianos". Os conceitos de Hume sObre 0 ego, a substancia e a can· tinuidade como auto-enganos biol6gica.menteuteis, eram simplesmente cant deliberado, assim como foi a caracteristica concep~ao inglesa das hip6teses de trabalho (Maxwell, Kelvin) como ajudas para a progresso da ciencia, mas nao como verdades, concep~ao que nao e mais que uma manobra astuta para ter urn controle momentaneo dos dados e ordena-los. Todo a pragmatismo implica este cant oportunista, diz Scheler, em Geniu5 des Krieges, (Lipsia: Verlag der Weissenbuecher, 1951). (N. do trad.: Cant significa conversa insincera e gasta, especialmente quando usada para fins pledosos ou marais). 88. "Die gesellscha.ftlicheBedingtheit der psychoanalytischen Therapie", por Erich Fromm, em Zcitschrift ftir Sozia!forschung, 1935,4, 365-397 .
Tem sido indicado, de modo muito parecido, que 0 conceito de cau·· sa\tao multipla e especialmente grato para 0 professor univ~rsita.rio: que p"Qza de relativa seguran\ta, e leal ao status quo de que obtem dlgmdade ; subsistencia, inclina-se a concilia\tao, enxerga alvo valioso em todos os pontos de vista e tende, em conseQuencia, a uma taxionomia que Ihe permite evitar tomar partido, destacando a multiplicidade de fat6res e a complexidade de problemas.89 A enfase sabre a natureza o~ a .alimenta\ta.o como primeiro determinante da natureza humana tem sldo l1gada a Orlenta\toes politicas opostas. Os que dao maior importancia a hereditariedade sac conservadores, ao passe que os ambientalistas sac predominan· temente 6.emocratas ou radicais, que desejam a reforma social.90 Mas mesmo os ambientalistas, entre os autores norte-americanos contemporaneos que escrevem sabre patologia social, ado tam conceitos de "adapta\tao ~ocial" que, de maneira implicita tomam POI' normas os padroes das peouenas comunidades e nao avaliam, caracteristicamente, a possibilidade de ~ue certos grupos realizem seus objetivos nas circunstancias institucio· nais que predominam.91 As atribuigoes de perspectivas como essas reque· rem um estudo mais sistematico para poderem ser aceitas, mas indicam tendencias recentes a descobrir as perspectivas dos sabios e relaciona-la,; com a urdicJ.ura de experiencias e interesses constituida POI' suas respectivas condi<;oes sociais. 0 carateI' discutivel de imputagoes que nao se baseiam em sUficiente material comparativo e ilustrado POl' uma recente exposi\tao sabre os escritos de intelectuais negros. A selegao de categoria3 analiticas e nao morfo16gicas, de determinantes da conduta ambientais e nao bio16gicos, de dados mais excepcionais que tipicos, e atribuida ao ressentimento de casta dos e'scritores negros; nao se faz qualquer esfargo para comparar a frequencia de tendencia ana,loga entre escritores bran·
qual identificou tambem as bases da resistencia a mudan\ta na medicina.9. A mudanGa fundamental da organiza\tao social da Alemanha nazista pro. porcionou uma prova ,experimental e virtual de como a orientagao e a extensao do trabalho cientifico dependem da estrutura de poder e do am. biente cultural associado a esSa estrutura.95 E as limita\toes a to do cor.. ceito de que a ciencia ou a tecnologia representam a base irrestrita a qual se deve adaptar a estrutura social, tornam-se evidentes a luz das observa\toes que mostram como a ciencia e a tecnologia foram postas ao servi. go de exigencias sociais ou econamicas.96 Alargar mais ainda a lista formidavel de problemas que exigem e gs. t.ao recebendo investiga\tao empirica ultrapassaria os limites deste capitUlo. Basta dizer 0 seguinte: a sociologia do conhecimento vai superando rapidamente a tendencia anterior a confundir hip6teses provis6rias com dogmas impecaveis; a abundancia de ideias especulativas que marcou suas primeiras etapas esta sendo submetida agora a testes cada vez mais ri. gorosos. Embora Toynbee e Sorokin possam tel' razao ao falar de uma alternancia de periodos de descoberta de fatos e de generaliza\tao na his. tona da ciencia, parece que a sociologia do conhecimento conseguiu conciliar as duas tendencias numa uniao que promete dar bons frutos e que se enfoca, &obretudo, sabre os problemas que estao no proprio centro Lic. interesse intelectual contemporaneo. 97
COS.92
OS vestigios de qualquer tendencia para considerar 0 desenvolvimene avangado to da ciencia e da tecnologia completamente independente ~em relagao com a estrutura social, estao sendo dissipados pelo curso dos acontecimentos hist6ricos da atualidade. Um contrale cada vez malar e, muitas vezes restritivo, da pesquisa e da descoberta cientificas, tem sido observado repetidamente, sobretudo numa serie de estudos de Stern,93 0
89, Lewis S. Feuer, "The economicfactor in history", Science and Society, 1940,4, 174·175. 90. N. Pastore, "The nature·nurture controversy: a sociological approach", School and Society, 1943,57, 373·377. 91. C. Wright Mills, "The professional ideology of social pathologists", American Jonrnal of Sociology,1943,49, 165·190. 92. WillilMTlT. Fontaine, "'Social determination' in the writings of negro scholars", AmericanJournal of Sociology,1944,49, 302·315. 93. Bernhard J. Stern, "Resistances to the Adoption of TechnologicalInnovations", em National Resources Committee, TechnologicalTrends and National Policy (Washington: U. S. Government Printing Office, 1937),39-66;"Restraints upon the Utilization of Inventions", The Annals, 200,1·19,1938e outras referencias no mesmo estudo: Patents. and Free Enterprise, por Walton Hamilton (TNEC Monograph N~ 31, 1941).
94. Bernhard J. Stern, Social Factors in Medical Progress, (Nova Iorque: Columbia Unl. versity Press, 1927); Society and Medical Progress, (Princeton: Princeton University Press, 1941);cf. Richard H. Shryok, The Developmentof Modern Medicine,(FiladIHfia: University of Pennsylvania Press, 1936);Henry E. Sigerist, Man and Medicine, (Nova Iorque: W. W. Norton & Co., 1932). 95. Hartshorne, German Universities and National Socialism. 96. De modo mll.isnot6rio apenas em tempo de guerra: veja·se a observacao de Sorokin, de que os centros de poder militar tendem a ser os centros do desenvolvimentocient.!· fico e tecnol6gico(Dynamics, IV, 249·251),cf. 1. B. Cohen e Berna-rdBarber, Science and War (ms.); R. K. Merton, "Science and military technique", Scientific Monthly, 1935,41, 542-545;Bernal, op. cit.; Julian Huxley, Science and Social Needs, (Nova Iorque: Harper & Brothers, 1935). 97. Para bibliografias mais extensas, ver Bernard Barber, Science and the Social Order, Mannheim, Ideologyand Utopia; Harry E. Barn.es,HowardBeckere Francees B. Becker, redatores, Contemporary Social Th"ory, (Nova Iorque: D. Appleton-CenturyCo., 1940).
xv
KARL MANNHEIM E A SOCIOLOGIA DO CONHECIMNETO
Mas na realidade, a linguagem conseguiu ate hti pouco ocultar-nos quase t6t1as as coisas de que falamos.
I. A. Richards
A DISCIPLINA
a que seus expositores alemaes deram 0 nome de Wissensna falta de uma tradugao mais exata emprega-se freqiientemente esse teutonismo - tem uma larga hist6ria, centralizada em grande parte A consideragao sissobre 0 problema da objetividade do conhecimento'! tematica dos fatares sociais na aquisigao, difusao e desenvolvimento de -conhecimentos, e, nao obstante, fate relativamente tardio, que tem suas duu.1 principais raizes no pensamento sociol6gico frances e alemao.2 As duas linhas de desenvolvimento tem antecedentes diferentes e interesses carar;teristicamente distintos na escolha do problema. 0 ramo frances durkhetmiano, nasceu principalmente de urn fundo etnogrMico que destacava a margem de variagao entre diferentes povos, nao somente quanto a estrutura moral e social, como tambem quanto as orientag6es oognitivas. 0 pr6prio pioneiro Durkheim, em famosas passagens de sua obra Les formes ~lementaires de la vie religieuse (Paris, 1912), apresentou audaciosa ana~ise das origens sociais das categorias fundamentais do pensamento. Afastando-se de Durkheim em alguns aspectos, Lucien Levy-Bruhl, em seus .estudos sabre a mentalidade primitiva, procurou mostrar diferengas irredutiveis entre a mentalidade primitiva e civilizada. Outros seguidores de .ziologie -
esb6~0 dessa primeira etapa., pelo menos desde a chamada ~poca das Luzes. encontra-se em Das Problem der Soziologie des Wissens, de Ernst GrUnwald, Capitulo 1. Mas niio e mostra de esplrito anti quado sugerir que esta hist6ria pode remontar ao tempo da Ilustra9iic grega. Na realidade, 0 exemplar Essai sur Ia formation de la pensee grecque (Paris, 1934), de Pierre-Maxime SchuhI, oferece ampla base para sugerir urn ucomel;o" anterior, embora igualmente ar~itrario. :2. Pode-se objetar capciosamente a esta observa9iio. citando aper~us sugestivos no pensamento ingles, pelo menos desde os tempos de Francis Bacon e de Hobbes. De modo anaIogo, 0 movimento pragmatico, desde Peirce e James, ja esta informado por est'Jdos pertinentes ao caso. Toda.via, nada disso constitui analises sistematicas dos problemas soeioI6gicos centrais ds. questiio. Urn estudo aprofundado deste terreno lncIuiria. naturalmente, os desenvolvimentos tangenciais. 1. Urn
Durkheim abriram caminho atraves desse primeiro interesse pelas socLdades agrafas e aplicaram seu sistema conceptual a diferentes aspectos sociais do pensamento e do conhecimento na sociedade civilizada. Tais estudos atestam que as contribuiQoes francesas a la sociologie du savoir, ~ao em gra.nde parte aut6ctones e independentes das pesquisas alemas ~nalogas.3
Os principais antecedentes da Wissenssoziologie .encontram-se entre os precursores imediatos de Manr..heim. Nem todos foram, certamente, da mesma especie; muitas vezes sustentavam opini6es antiteticas, mas se interessavam em grande parte pelo mesmo corpo de problemas. Alem disso, ao deslindar a ascendencia intelectual de Mannheim, nao se pode supor que ele ti vesse seguido em todos os aspectos relevantes, a orientaQao de algum delos. Pelo contrario, discutiu com todos eles em um ou outro n,omento e fcram precisamente estas Auseinandersetzungen que 0 levaram, com frequcpcia, a esclarecer sua pr6pria posiQao. A esqui:rda hegeliana, e Marx em particular, deixara sua marca na obra de Mll.nnheim. Na realidade, sua posiQao foi caracterizada cor!.o "marxismo burgues". Em Marx e Engels e no estimulante livro de Geor~ LUkacs, intitulado Geschichte u:nd Klassenbewusstsein, encontramos algumas das concepQ6es basicas de Mannheim: 0 historicismo de largo alcanee que consioem ate 0 aparelho categorial como uma funQaol da estrutura social e, particularmente, da estrutura de classe;4 a concepQao dinamica do 3. Mas nao completamente, porque Durkheim, iniciou uma seQao em L'Annee sociologique (1910, 11, 40 sabre as "conditions sociologiques' de la connaissance", por ocasiao de uma resenha do artigo de Wilhelm Jenlsalem, intitulado "Die Soziologie des Erkennens·. Alem disso, indicaQoes bibliograticas r:ipidas podem ser utilizadas, eml vez de urn estudo detalhado da tradiQao de Durkheim. Maurice Halbwachs, Les cadres sociaux de la memoire, (Paris, 1925), desenvolve a, tese de que a memoria, cuja importlincia epistemologica foi assinalada illtimamente por Schlick, Frank e outros, do c[rculo de Viena, e uma funQao da estrutura social. Marcel Granet, em La civilization chinoise (Pa.ris, 1929) e, particularmente, em sua muito anunciada La pensee chinoise, (Paris, 1934) atribui modos de pensar ca,racteristicamente chineses a diferentes traQos da estrutura social. Durkheim tambem influenciou varios escritores que escreveram sobre as origens da ciencia ocidental: Abel Rey, La science orientale avant les Grecs (Paris, 1930), La Jeunesse de la science grecque (Paris, 1933); Leon Robin, La pensee grecque et les origines de I'esprit scientifique (Paris, 1928); P. M. Schuhl, op. cit., e, ate certo ponto, Arnold Reymond, Histoire des sciences exactes et naturelles dans I'antiquite greco.romaine (Paris, 1924). Sua influencia tambem se manifesta em diversos estudos sociologicos r·~terentes a arte e a litera.tura, especialmente nos de Charles Lalo. A este respeito, ver os volumes 16 e 17 da Encyclopedic fran~aise, intitulados "Arts et litteratures dans la societe contemporaine" (Paris, 1935·6). 0 unico contribuinte trances digno de nota a Wissenssoziologie, que se antecipou a Durkheim e que se originou de uma heranQa semimarxista, foi Georges Sorel. Vejam·se suas obras Le proces de Socrate (Paris, 1889), RHlexions sur la violence (Paris, 1908); Les illusions du progres (Paris. 1908). 4. POl' exemplo, Friedrich Engels: "Socialism: Utopian and Scientific", em Karl Marx: Selected Works, I, 142 e seg.; ct. Die deutsche Ideologie, Marx.Engels Gesamtausgabe (Berlim, 1930, V.
conhecimento ou saber; 4a a interpretaQao ativista das relaQoes dialeticas entre teoria e pratica ;4b 0 papel do conhecimento na transladaQao da aQao humana da esfera da "necessidade" a da "liberdade" ;4c 0 lllgar das contradiQoes e dos grupos sociais antaganicos na iniciaQao da reflexao; 4d a cnfase da sociologia concreta, como sendo diferente da atribuiQao ao individuo de qualidades hist6ricamente determinadas 4e Os neokantianos, em particular a chamada escola do Sudoeste ou de Baden - 0 emprego de uma s6 rubrica para este grupo de te6ricos nao deve ocultar suas diferenQas atestadas por numerosos desacordos sabre pontos especificos - contribuiram da me sma maneira a formaQao das opini6es de Mannheim. Na realidade, como veremos, Mannheim separou-se das teses centrais deles, menos do que parece ter-se dado conta.5 Derivou de Dilthey, Rickert, Troeltsch e, especialmente, de Max Weber grande parte do que e fundamental em seu pensamento: a enfase nos elementos afetivo-volitivos na orientaQao e formaQao do pensamento; um dualismo, explicitamente repudiado por Mannheim mas persistente em mt. ffierosas formulaQ6es, na teoria do conhecimento que faz uma distinQao entre 0 papel dos elementos de valor no desenvolvimento das ciencias exatas e a Geisteswissenschajten; a distinQao entre Erkennen e Erkliiren rl.e um lado e Erleben e Verstehen de outro; a ideia de que 0 valor relevante do pensamento nao implica a desvalorizaQao fundamental dos juizos empiricos.6 Finalmente, das obras dos fenomen610gos Husserl, Jaspers, Heic1egger e, sobretudo, Max Scheler, extraiu Mannheim, provavelmente, 0 interesse pela observaQao exata dos fatos "dados" na experiencia direta; o interesse pela analise da Selbstvertiindlichke£ten na vida social; 0 fate de relacionar diferentes tipos de cooperaQao intelectual com tipos de estrutura de grupo.7 0 variado fundo sabre 0 qual se destaca Mannheim reflete-se em seu ecletismo e numa instabilidade fundamental na urdidura dos seus conceitos. 4a. Engels, "Ludwig Feuerbach and ~he Outcome of Classical German Phllosophy", ibid., I, 453 e segs. 4b. Marx, "Theses on Feuerbach", ibid., I, 471; ct. C'apital (Chicago, 1925-6), III, 954. 4c. Engels. "Socialism ... ", op cit., I, 180-1. 4d. Marx, "Introduction to the Critique of Political Economy", ibid., I, 356. 4e. Marx, "Theses on Feuerbach", op. cit., I, 473. 5. Em seu ensaio sabre uDa.s.problem einer Soziologie des Wissens", em Arc.hiv tlir Sozial· wissensehaften und Soeialpolitik, 1925, 599 e seg., Mannheim repudia. exp!lcitamente 0 neokantismo como ponto de partida para a Wissenssoziologie. Veja·se, porem, nosso estudo posterior, no qual mantem que, na pratica, Mannheim se aproxima rnuito do conceito de Wertbeziehung de Rickert·Weber. 6. Ver Heinrich Rickert, Die Grenzen der naturwissenschaftlieheu Begriffsbildung, 4.a eel!Qao, (Tubinga, 1921), especialmente pags. 35-51 e 245·271; Wilhelm Dilthey, GesammeIte Sehriften (Tubinga, 1922) III, 68 e seg., 169 e segs.; Max Weber, GesammeIte Auts1itze zur Wissenschaftslehre, 146-214; 403·502. 7. Ver Edmund Husserl, Ideas: General Introduction to Pure Phenomenology, (Nova lor· que, 1931), 187 e segs.; Karl Jaspers, Psychologie der Weltanschauungen (Berl'm, 1925), 20 e segs.; 142 e segs.; Julius Kraft, Yon Husserl zu Heidegger (Lipsia, 1932), esp. 87 e segs.; Max Scheler, Versuche zu einer Sociologie des Wissens (Munique-Lipsia, 1924); Die Wissensformen und die Gcsellschatt (Lipsia, 1926).
Convem lembrar que as teorias de Mannheim tern sofrido constantes mudanQas de modo que nao se pode considerar apropriadamente seus primeiros e seus ultimos estudos como representativos de suas opinioes maduras.8 Como 0 objetivo deste trabalho nao e retraQar 0 desenvolvimento do pensamento de Mannheim, embora semelhante empreendimento pudesse recompensar 0 estudioso da Wissenssoziologie, tomaremos suas obras mais recentes como chaves para sua posiQao presente e nos referiremos as obras anteriores somente quando lanQarem alguma luz sabre esta posiQao. Isto nao implica, naturalmente, a proposiQao geral de que as ultimas formulaQoes sac invariavelmente mais exatas e profundas que as anteriores, mas este parece ser 0 caso na ocasiao presente.
de Mannheim deriva alguns dos conceitos basicos da Wissenssoziologie uma analise do conceito de ideologia. 9 A consciencia do pensamento ideo16gico sobrevem quando as asseveraQoes de urn adversario se consideram falsas em virtu de de serem determinadas pela situaQao de vida deste ultimo. Como nao se supoe que as deformaQoes sejam deliberadas, a ideologia se diferencia da mentira. Na realidade, a distinQao e essencial, porque sublinha 0 carateI' inconsciente dos enunciados ideol6gicos. Assim, 8. Cf., Grunwald, op. cit., 266-7. A fim de abreviar as refer~ncias subsequentes para. distin-· guir entre os periodos ffprimeiro" e "ultimo" de Mannheim, usaremos as seguintes citaeoes alf20beticas. Porquanto 0 artigo "Wissenssoziologie" represent a 0 primeiro desvio radical de Mannheim da sua posieao anterior, sera utilizado pa.ra assinalar 0 apareci.· mente de suas "novas formulaQoes". A. 1923. "Der Historismus", Archiv fiir Sozialwissenschaft und Sozialpolitik, 52-1-60. B. 1925. "Das Problem einer Soziologie des Wissens", ibid., 53, 577-652. C. 1926. "Ideologische und soziologische Interpretation der geistigen Gebilde", Jahrbuch fiir Soziologie (Karlsruhe). 424-40. D. 1927. "Das konservative Denken", Archiv fiir Sozialwissenschaft, 57, fasciculos 1-2, 68·142. 1928. "Das Problem der Generationen", Kolner Vierteljahrshefte fiir Soziologie, 7, 157-185. F. 1929. "Die Bedeutung der Konkurrenz im Gebiete des Geistigen", Verhandlungen des 6. deustchen Soziologentages in Zurich, (Tubinga.), 35-83. G. 1929. Ideologie unrl Ulopip (Bonn), trad. de Louis Wirth e Edward Shils, como· partes II-IV (49-2G6) de Ideology and Utopia (Nova Iorque, 1936); ns refer~ncias silo
E.
tiradas da edicao em ingl~s. H. 1931. "Wissenssoziologie", Handworterbuch der Soziologie, ed. por Alfred Vierkandt 659-680, traduzida cornu parte V (237-280) de Ideology and Utopia; as (Stuttgart), referencias SaG extraidas da tradueao. I. 1934. "German Sociology", Politica, 12·33. J. 1935. Mensch und Gesellschaft im Zeitalter des Umbaus (Leiden). K. 1936. "Preliminary approa.ch to the problem", escrito especialmente para a ediel\o· em ingl~s de Ideology and Utopia, Parte I, 1-48. L. 1940. Man and Society in an Age of Reconstruction (Nova Iorque), traduclio de Edward Shils de uma versao consideravelmente revista e aumentada de J. 9. 0 conceito correla,tivo, "utopia", pode ser estudado mais proveitosamente num trecllo posterior, ja que e primordiaJmcnte relevante para as opinioes de Mannheim sObre I), criterio das proposicoes validas.
o que Mannheim chama de "concepQao particular da ideologia", difere da "concepQao total" em tres aspectos fundamentais. A concepQao particular considera ~·.omente algumas das asserQoes do adversario como ideol6gicas, de pensamento nao ideol6gico; a concepisto e, concede-Ihe a possibilidade ~ao total considera todo 0 sistema de pensamento do adversario inevitavel· mente ideo16gico. Alem disso, a concepQao particular implica necessa· riamente analise no plano psicol6gico, ja que supoe que os adversarios comI.-artilham criterios comuns de validez, enquanto a concepQao total se interessa pelo nivel nool6gico em que a forma, 0 conteudo e a urdidura conceptual de urn "modo de pensar" se concebem como inevitavelmente ligados a situaQao vital. Finalmente, e como corolario, a primeira opiniao implica uma' "psicologia dos interesses" (num sentido muito parecido com as "racionalizaQoes" do psicanalista), enquanto que a segunda trata somente de estabelecer uma "correspondencia" entre 0 meio social e 0 sistema de pensamento. Assim, este ultimo conceito nao requer atribuiQao de motivos, mas termina com a indicaQao de correspondencias compreensiveis entre os modos de pensar e a situaQao concreta.10 Segue-se dessas diferenQas. que 0 conceito particular e implicitamente individualist a, tratando com as ideologias de grupos somente pela "adi~ao" das ideologias separadas dos seus membros ou pela seleQao das que sac comuns aos individuos do grupo. Contudo, a concepQao total trata de estabelecer 0 sistema unific2do· de pensamento de urn grupo que est a implicito no juizo de seus membros. (G, pp. 49-53.) A passagem da concepQao particular a concepQao total da ideologia, que Mannheim traQa com pericia consumada, leva ao problema da falsa consciencia, "0 problema de como ... a mente totalmente deformada que falsifica tudo 0 que esta ao seu alcance, possa tel' surgido". (G, pp. 61-62), Os conceitos particular e total se misturam pela primeira vez na teoria marxista, que transladou decididamente a enfase do plano psicol6gico para 0 plano social. Foi necessario mais urn passe para 0 aparecimento de uma sociologia do conhecimento: a passagem de uma formulaQao "especial" do conceito de ideologia, para uma formulaQao "geral". Na formulaQao especial, somente 0 pensamento dos nossos adversarios se considera completamente como uma funQao da sua posiQao social; no geral, assim se considera 0 pensamento de todos os grupos, incluido 0 nosso. Como diz Mannheim sucintamente, "com 0 aparecimento da formulaQao geral da concepQao total da ideologia, a simples teoi'ia de ideologia se converte na sociologia do conhecimento. 0 que era uma vez 0 armamento intelectual de urn partido transforma-se num metodo de pesquisa na hist6ria social e intelectual em geral". (G, p. 69.)
10.
G, 50-51. Comparar com Scheler, Versuche ... , p. 95. ·Vor aHem dart hier nlcht tHe Rede sein von Motivationen und subjektiven Absichten der gelehrten und torschenden Individuen: diese konnen unendlich manmgtaltlg sein: technische Autgaben, Eltelkelt, Ehrgeiz, Gewinnsucht, Wahrheitsliebe, usw".
Embora a teoria da ideologia se possa conceber como urn antepassado da Wissenssoziologie, e necessario renunciar a grande parte do seu legado, Fe desejarmos que seja uma disciplina cognitiva e nao uma disciplina politica. A teoria da ideologia interessa-se antes de mais nada em desacreditar 0 adversario, "a tout prix", e s6 remotamente se interessa em adqui rir urn conhecimento articulado e valido da materia em questao. It polemica e ten de a dissipar os pontos de vista rivais. It implicitamente antiintelectualista. Estabeleceria a verdade POl' urn fiat, POl' pure dominio politico, se fosse necessario. Busca 0 assentimento, independentemente dos fundamentos para a aceitagao. Tern afinidade com a ret6rica, mas nao com a ciencia. As implicag6es da teoria da ideologia sac tais, que devem ser francamente rejeitadas, para nao eclipsarem os objetivos essen· Na realidade, cialmente cognitivos de uma sociologia do conhecimento. Mannheim trata de eliminar os elementos agudamente relativisticos e propagandisticos que perduravam na formulagao anterior da Wissenssoziologie.
Em termos gerais, podemos conceber a sociologia do conhecimento como dividida em dois ramos: a teoria e "urn metoda de pesquisa hist6tico-socio16gico". 0 aspecto te6rico pode, por sua vez, dividir-se em: (a) "investigagao puramente empirica mediante a descrigao e a analise estrutural dos modos em que as relag6es sociais influem de fato no pensamento"; e: (b) "investigagao epistemo16gica dedicada as conex6es desta relagao com 0 problema da validez". (H, p. 277,) 0 aspecto metodo16gico preorupa-se com a elaboragao de procedimentos para a formagao de tipos ideais da Weltanschauungen que estao implicitos nos tipos de pensamento correntes em diferentes estratos sociais (classes sociais, gerag6es, seitas, partidos, camarilhas, escolas de pensamento). Mediante tais reconstrug6es articuladas, os modos concretos de pensamento devem derivar-se da "composigao social dos grupos e dos estratos", que se expressam dessa maneira. (H, p. 277. E entao evidente que 0 ramo metodo16gico dessa disciplina esta estreitamente ligado com 0 ramo te6rico, (a), acima citado). Assim, podemos revisar a divisao de Mannheim e considerar que esta disciplina compreende duas classes principais de problemas: os de uma Wissenssoziologie f;ubstantiva ou de conteudo, que compreen de os aspectos empiricos e de procedimento, e os pertencentes a relevancia epistemo16gica da sociologia do conhecimento. Embora a maiar parte dos comentaristas da obra de Mannheim tenha centralizado a atengao sabre seu estudo epistemo16gico, paTece mais frutifero dedicar a atengao a sociologia substantiva do conhecimento, como na realidade reconhece 0 pr6prio Mannheim. (H, p. 275.) o escopo do ramo substantivo se reflete em seus problemas, conceitos, teoremas e canones de evidencia. 0 pensamento considera-se existencialmente determinado quando se pode demonstrar que nao e iminente nem internamente determinado e quando sua genese, forma e conteudo
estao influenciados, de maneira importante, por fatores extrate6ricos. (H, p. 240.) [Nas palavras de Frederick Jackson Turner: "Cada epoca escrevc de novo a hist6ria do passado, relacionando-a com as circunstancias predominantes em seu pr6prio tempo".] N'a base dos estudos empiricos, pode-se afirmar que os prop6sitos coletivos e os processos sociais levam ao conhecimento de diferentes problemas que, de outro modo, permaneceriam obscuros e inadvertidos. Neste sentido, Mannheim faz derivar os problemas que nao sac de especial interesse para a pr6pria Wissenssoziologie, da mobilidade horizontal e vertical intensiva na sociedade porque, somente entrando assim em contato com modos de pensamento radicalmente a duvidar da validade geral diferentes chega 0 observador-participante das suas pr6prias formas herdadas de pensamento. Analogamente, somente quando as garantias institucionais costumeiras de uma Weltanschauung - POl' exemplo, a Igreja e 0 Estado - sac destro(;adas pela ra.pida mudanga social, chegam a constituir urn problema as multiplas formas do pensamento. Mudangas desse tipo da estrutura social levam a novo exame, e a discussao da Selbstvers'tandlichkeiten daquilo que era considerado como incontestaveI. (J, p. 132 e seg.) Outros teoremas de Mannheim exemplificam, em seu perfil geral, as correlag6es que procura estabelecer entre pensamento e estrutura :iociaI. Exp6e a tese de que "mesmo as categorias em que se subsumem, se agrupam e se ordenam as experiencias, variam de acardo com a posigao social do observador". (G, p. 130.) Urn grupo organicamente unificado concebe a hist6ria como urn movimento continuo em diregao a realizagao de seus fins; os grupos socialmente desarraigados e fracamente unificados adotam um intuicionismo hist6rico que acentua 0 fortuito e 0 imponderaveI. A mentalidade conservadora bem ajustada e contraria a teorizagao histo· rica, ja que a ordem social, wie es eigentlich ist, considera-se natural e apropriada, e nao problematica. Os conservadores entregam-se a reflex6es defensivas filos6ficas e hist6ricas concernentes ao mundo social e ao lugar deles no mesmo, somente quando grupos de oposigao discutem 0 status quo. Alem disso, 0 conservadorismo tende a considerar a hist6ria em rela-gao com categorias morfol'6gicas que acentuam 0 carater unico das config1lrar;6es hist6ricas, enquanto os partidarios da mudanga ado tam urn enfoque analitico a fim de chegar a elementos que possam ser recombinados, mediante a casualidade ou a integragao funcional, em novas estruturas sociais. A primeira opiniao acentua a estabilidade intrinseca da estrutura social tal como esta; a segunda destaca a variabilidade e a instabilidade abstraindo os componentes da estrutura e ordenando-os de novo. Numa nagao com horizontes economicos e territoriais em expansao, como os Estados Unidos, os estudiosos das ciencias sociais preocupam-se pela pesquisa detalhada de problemas sociais isolados, e sup6em que a solugao dos problemas particulares levara automaticamente a uma integragao adequada de toda a sociedade. Esta suposigao s6 pode medrar numa sociedade em aue grandes possibilidades e numerosas alternativas de agao proporcionam
urn grau de elasticidade que permite de fato, algum remedio para os defeitos institucionais. Pelo contrario, numa na<;ao como a alema, 0 limitado campo de a<;8.ofaz com que se perceba a interdependencia dos elementos sociais e conduz assim a uma visao organica que abarca t6da a transforr.la<;aOda estrutura soclal e nao a um rm;onnisrr.o de detalhes. (G. pp. 228-9; ] ~p. 30'-33.) De modo analogo, Mannheim r~h.cioNI quatro ti.pos de mentalidade uu.spica - a anabatista do milenio, a liheral-hmnauitaria, a conservadora e a socialista-comlmista - incluindo a l();;alin<;ao social particular e os prop6sitos coletivos dos seus protagonistas. A respeito, demonstra que ate c, "sentino do tempo hist6rico" dos grupos e influenciado POI' sua posi<;ao e aspira<;oes. 0 anabatista que esperava 0 "milenio" provindo do ardor revoluciJonariJo e das "tensas expectativas" de estratos sociais oprimidos acentua 0 presente imediato, 0 hie et nunc. AS dasses medias nascentes qu~ deram origem ao humanitarismo liberal, destacam a "fdeia" do futuro indeterminado Que, no momento oportuno, compravara a realiza<;ao das suas normas (.ticas, pOl' meio de uma "ilumina<;ao" progressiva. 0 senti do do tempo dos conservadores interpreta 0 pass ado como tendo conduzido inexoravelmente ao estRdo social existente ao qual da valor indiscutivel. ("Tudo 0 que e, esta exatamente em 6uas causas". "Uma verdade e clara: tudo 0 que e, e justo"). Finalmente, as cO:lcep<;oes socialistas-comunistas diferenciam 0 tempo hist6rico de modo mais complicado, distinguindo entre o futuro imediato e 0 futuro remoto, embora sublinhando que 0 presente concreto coml reende nao Ilomente 0 passa(Jo, como tambem as tendencias latentes do fv,turo. Ao formular essas conexoes entre a localiza<;ao social, as aspira<;oes coletivas e a orienta<;ao temporal, Mannheim previu um campo de estudos que esta sendo cultivado cada vez mais.ll
Perceber-se-a que os cimento POSltiVOque as gias e crenc:as sociais. basico. Que esferas de Mannheim referentes a
problemas anteriores pertencem menos ao conheconvic<;oes politicas, filosofias da hist6ria, ideoloE assim se coloca imediatamente um problema "pensamento" estao compl'eendidas nas teses de determina<;ao existencial (Seinsverbundenheit) do
11. A primeira analise sociol6gic2> de Durkheim sabre sistemas de referenclas temporals versou completamente sabre materia is de povos pre-alfabetizados e (conseqi1entemente'll nao tratou das diferenQas de orientaQao tempora,l ,entre os grupos da mesma sociedade. Vejam·se' suas Elementary Forms of the Religious Life, 1 e seg.; 440 e seg.; tambem E. Durkheim e M. Mauss, "De quelques formes primitives de classification", L'Annec sociologique, 1901 2, 6, 1-71; H, Hubert e M. Mauss, Melanges d'histoire des religions, (Paris. 1909). capitUlo sabre "La representation du temps". Pa.ra estudos mais recen'o". ver P. A. Sorokin e R. K. Merton, "Social time", American Journal of Sociology, 1937. 42, 615·629; A. 1. Hallowell, "Temporal Orientation in Western Civilization and in a Prellterate Society". American Anthropologist, 1937, 39, 647-70. Sorokia Inclui extenso estudo deste assunto no quarto volume de sua. obra Social and Cultural Dynamics.
pensamento? 0 que esta precisamente abrangido pela palavra "conhecimento", a cuja analise esta nomina,lmente dedicada a disciplina da Wissenssoziologie? Para os prop6sitos desta disciplina ha diferen<;as importantes nos tipos de conhecimento? Mannheim nao trata desses assuntos de modo especifico e com amplfdao em nenhuma das suas obras. No entanto, suas observa<;oes e seus estudos empiricos ocasionais implicam que esta persistentemente preocupado pOl' esta questao fundamental e alem disso, que nao chegou a qualquer conclusao bem precisa, embora provis6ria, em rela<;ao a ela. S~u fracas so a este respeito deixa entre vel' serias discrepancias entre alguns dos seus teoremas e as suas investiga<;oes empiricas €specificas. 0 conhecimento e considerado as vezes de maneira tao ampla que abarca todos os tipos de enunciados e todos os modos de pensamento, desde as proverbios folc16ricos ate a rigorosa ciencia positiva. Assim, numa primeira formula<;ao, sustenta que 0 "pensamento da ciencia hist6rica, politica e social, assim como 0 pensamento da vida cotidiana", eshio existendalmente determinados. (F. p. 41.) Em outro trecho, lemos que 0 processo so. cial penetra na "perspectiva" da "maior parte dos dominios do conhecimento". Mesmo assim, 0 conteudo do "conhecimento formal" (enunciados analiticos, 16gica, matematicas, sociologia formal?) nao e afetado pela situa<;ao social ou hist6rica. (G, p. 150.) Gozam dessa imlmidade as "ciencias exatas", mas nao as "ciencias culturais". (H, p. 243.) Km outros l.rechos, sustenta-se mais ou menos indiscriminadamente, que san "existencialmente determinados" as convic<;oes eticas, os postulados epist3mo16gicos, as predica<;oes materiais, os juizos sinteticos, as cren<;as politicas, as categorias de pensamento, as opinioes escato16gicas, as norm as morais, os pressupostos onto16gicos e as observa<;oes de fatos empiricos. 12 A identifica<;ao de diferentes tipos de pesquisa, subsumindo-os a uma s6 rubrica, s6 serve para confundir, e nao aclarar, os mecanismos que intervem na "c.letermina<;ao existencial". Empregam-se diferentes conjuntos de ideias rJara realizar fun<;oes diferentes, e somos levados a logomaquia e a interminaveis controversias, S8 insistirmos que elas devem ser julgadas "essencialmente" analogas. Esta falacia informa a obra de Mannheim. Se tivesse prestado aten<;ao a distin<;ao familiar entre as fun<;oes referenciais e emotivas da linguagem, POI' exemplo, essa mescla dificilmente teria fica do indiferenciada. Como disse 1. A. Richards, "0 sentido em que acreditamo,') numa proposi<;ao cientifica nao e 0 mesmo em que acreditamos em expressoes emotivas, sejam politic as, 'nao embainharemos a espada', ou criticas, '0 progresso da poesia e imortal' ou poeticas". 12. Ct. E, 162;
F, 11; K, 22·23; G, 71·72, 150; H, 243260 etc. Sabre este ponto, veJam-se as vigorosas crlticas de Alexander von Schelting. em Max Weber's Wissenschaftslehre (Tubinga, 1932), 95, 99, n. 2. Note-se tambem a pertinencia da observaQao de 1. A. Richards segundo a qua,l "0 pensamento no sentido mais estrito varia somente CO'll provas; mas as atitudes e os sentimentos mudam por tad a especie de raziSes". Isto nao e negar sua interpenetraQao.
a fate de nao haver Mannheim distinguido na pratica, os tipos marcadamente heterogeneos de conhecimento que ele diz ser seinsverbunden, e particularmente surpreendente em vista da sua familiaridade com a utH Clistinc;ao de Alfred Weber entre conhecimento cultural e conhecimento de civilizac;ao.13 Felizmente, as proprias investigac;6es de Mannheim em Wissenssoziologie substantiva versaram quase exclusivamente sabre maieriais culturais (Weltanschauungen, escatologias, convicc;6es polfticas), de modo que esta confusao nao vicia seus estucJos empiricos. Todavia seus teoremas mais gerais resultam discutfveis devido ao emprego de uma categoria de pensamento insuficientemente diferenciada e amorfa. Este de· feito, alem disso, impede t6da a tentativa de averiguar a situac;ao das ciencias naturais e fisicas no que concerne a determinac;ao existencial. Se Mannheim tivesseesclarecido sistematica e implicitamente sua posic;ao €I este respeito, teria estado menos disposto a supor que as ciencias fisicas sac completamente imunes a influencias extrateoricas e, correlativamente, menos inclinado a sustentar que as ciencias sociais estao par· ticularmenle expostas a essas influencias,14
A analise de pecificado 0 tipo to. Esta lacuna sua tese central
Mannheim e limit ada, tamMm, pelo fato de nao ter es ou modo de relac;6es entre estrutura social e conheCImenleva a vagueza e a obscuridade no proprio imago da relativa a "determinac;rio existencial do conhecimento" (Seinsverbundenheit des Wissens). Mannheim chegou evidentemente a reconhecer (mas nao a superar) esta dificuldade, pois escreveu: Aqui nao entendemos por "determlna<;ao" uma seqiiencia mecanica de causa e efelto: deixamos aberto 0 senti do de "det-ermina<;ao", e somente a pesquisa emplrica nos enslnarll. quanto e estrita a corrs~aQao entre situa<;ao vital e processo de pensa.mento, ou que margem existe .para as diferen,as na correla<;ao. 15
Ainda que se possa estar de acardo em que e imprudente prejulgar os tlPOS de relac;6es entre conhecimento e estrutura social, tambem e certo que a nao especificar;ao desses tipos exclui virtualmente a possibilidade E 0 que resulta claro do estudo de Mannheim em A, 37, 48, e de seu comentarlo Cl' passagem sobre a obra de Weber em outro aspecto, G, 159. Pa.ra urn breve estudo geral desta distin<;ao, ver R. M. MacIver, Society (Nova Iorqur., 1937), 268·281; R. K. Merton, "Civilization and CUlture", Sociology and Social Research, 1936, 21, 103·13. 14. Por exemplo, as recentes investigaQoes empiric as de Borkenau, Hessen, Bernal, Soro· na. deter· kin eMerton, indlcam pelo menos que 0 papel dos fatares extracientlficos minaQao da dire<;ao do desenvolvimento da ciencia natural e da ciencia social difere mais em grau do que em classe. Para uma formula,ao te6rlca. desta opinlao. ver Talcott Parsons, Th~ Struc,ture of Social Action, 595 e seg. Antecipando·nos ao nosso estudo posterior, nao ha base para supor que a vallde7, do julzo empirico e necessa:riamente mais afetada por essas influencias extracientlficas, mals num caso do que em outro. 15. H. p. 239, n. Wirth e Shils, os tradutores, acrescentam: "A expressao alema 'Seinverbundenes Wissens' tern urn sentido que deixa aberto 0 carater exato do determinlsmo·
13.
ce
formular problemas para a investigac;ao emplrlCa. Pois nolens volens, pesquisas empfricas de Mannheim sac um E'xemplo disso) inclui em seu esquema conceptual ou pressup6e tacitamente algum conceito dessas relac;6es. Assim, e instrutivo assinalar rapiciamente as relac;6es entre posic;ao social e conhecimento. A lista seguinte e ilustrativa [os grifos sao nossos]. n in vestigador (e as proprias
Esteve de acordo com as necessidades de uma sociedade industriaL.. basear suas aQoes· cC'letivas... sobre urn sistema de ideias racionalmente justificavel. (K, p. 33). A gera<;ao que se seguiu ao Romantismo ... (oootou) uma opiniao revolucionarla pOY considera-la de ac.ordo Com as necessidades da epoca. (G, p. 144.) [Esta concep<;ao pa,.ticular da ideologia] refere·se a uma esfera de erros ... qur denva •.n tnevitavel e inconscientemente de certas determinantes causais. (G, p. 54.) . .. urn ponto de vista dado e urn conjunto dado de conceitos, porque estao entrela9a
Socialmente, este ponto de vista intelectualista teve sua base num estrato medio, nR burguesia e na classe intelectual. :Este ponto de vista, que esta de acordo com a rela9aO _ trutural dos grupos que a representam, seguiu urn curSQ medlo dlnamico ... (G, p. 199.) As ideias, as formas de pensamento e as energlas ps!qulcas perduram e se transformam em estreita conexao com 215 f6rQas socials. Nunca aparecem por casualidade em moment os ,Iudos do processo social (G, p. 223). Nao e uma casualidade que urn grupo [elites ascendentesl considere a hist6ria como urn", circula<;ao de elites, enquanto para outros [por exemplo, os socialistasJ e uma transfo~maQao da estrutura hist6rico-social. Cada um somente consegue ver primordialmente aque-l~ aspecto da totalidade social e hist6rica para 0 quai est a orientooo pelo seu prop6sito, (G p
127.)
as diferentes termos que nominalmente se referem aos tipos de reo lar;oes entre a subestrutura e a superestrutura, sao menos materia de diversidade estilfstica em prosa do que indicio da indecisao fundamental de M.annheim. Emprega ele a palavra generica "correspondencia" (Entsprechung) para denotar essas relar;6es, e faz diversidade de pressupostos nao integrados ao derivar certas formas de pensamento de certos tipos de sit.uar;6es sociais. Alguns desses pressupostos merecem breve exame. 1. De vez em quando - apesar da sua explfcita negativa de semelhante inter:.r;ao - Mannheim sup6e uma causac;rio direta de formas de pensamento por f6rr;as sociais. Esta suposir;ao costuma ser proclamada pela frase, que se repete amiude: "Nao e nunca uma casualidade que ... " uma teoria dada se derive de urn tipo dado de posigao de grupo. (Ver, por exemplo, H, pp. 248-9.) Neste caso, Mannheim adota, da ciencia natural, 0 conceito de "Erkliirung", em que a regra geral explica aspectos do ('aso particular. 2. Urn segundo pressuposto pode chamar-se 0 "pressuposto de interesse", e segundo ele, ideias e formas de pensamento estao "de acardo com", isto e, sac agradaveis' aos interesses dos sujeitos. Em certa forma, e simplesmente uma doutrina da influencia dos interesses criados - eco-
n6micos, politicos, religiosos - em que e proveitoso para os sujeitos sustentarem certas opini6es. Assim, urn grupo vantajosamente situado se· ra talvez menos receptivo do que urn grujJo socialmente desfavorecido, para a lingua gem de urna reforma ou revolw;ao social profunda. A acei· t.ac;ao ou a rejeic;ao podem ser deliberadas ou inconscientes.l6 Este pressuposto encontra-se no vulgiirmarxismus, que, repudiado POl' Mannheim como pOl' '\ilarx, esta implicito de vez em quando nos trabalhos do pri· meiro. 3. Urn terceiro pressuposto e 0 "foco de atenc;ao", de ac6rdo com o qual 0 sujeito limita sua perspectiva a fim de tratar de problema particUlar, diretamente pnltico ou teorico. Aqui 0 pensamento se orienta pe· la propria formulac;ao do problema, cujo conhecimento pode POl' sua vez ser atribuido a posic;ao social do sujeito. Pode·se afirmar, grosso modo, ~ue esta hipotese e destacada na sociologia substantiva do conhecimento, enquanto a "hipotese do interesse" e sublinhada na teoria da ideologia. 4. Em nivel completamente diferente esta 0 tratamento ocasional que faz Mannheim de certas estruturas sociais como simples requisitos previos para certas formas de pensamento. Coincide nisto com Scheler, 800 falar de "certos tipos de grupos que sac os unicos em que podem nascer e ser elaborados ... (as formas de pensamento)". (H, pp. 242-3.) Grande parte da analise de Mannheim relaciona-se com 0 estabelecimento de condic;6es previas, ou ainda com fat6res que 0 facilitam, e nao com as condic;6es necessarias e suficientes. Os exemplos sac numerosos. A mobilidade social '{Jode levar a reflexao, a analise, a ampliac;ao dos pontos de vista; po· de, da mesma forma, Ieval' a insouciance, a superficialidade, a confirmac;ao dos pr6prios preconceitos. Ou, para encarar Dutro teorema: a justaposic;ao de opini6es antag6nicas pode induzir a reflexao, como result.l do aforismo dos instrumentalistas: "0 conflito e 0 moscardo do pensamento". Mas tal conflito pode tambem evocar fideismo, ansiedades incon· clusivas, cepticismo. Ou ainda, as classes vantajosamente colocadas .("conservadoras") podem relutar em teorizar acerea da sua situac;ao, ma<; 0 16. A yoga oC2oSionaidas "tcorias de interesse", porque ofere cern uma interpreta~ao supc<, tamente adequada e, em si mesma, urn problema de Wissenssoziologie que merece maiO! estudo. Variedades particulares encontram-se em algumas das inferencias tiradas de postulado do "homem econ6mico", da "teoria da conspira~ao" em ciCncia politica, da excesziva Dmpliagaa dos conceitos de "racionaliza~ao" e "propaganda" em psicologia. a Ideia da "mentira sacerdotal" de Voltaire. do cliche de que "a religiao e 0 6pio das massas". Naturalmente, 0 fato de que, de vez em qua.ndo, circulem essas opini5es. pode ser devido a que "dao resultado", a que, ate certo ponto, explicam a conduta Mas e humana e estao em consontmcia com urn corpo mais amplo de conhecimentos. digno de nota, porem, que em t6das essas doutrinas, quando a a~ao e 0 pensament, podem ser atribuidos a motivos ulteriores (especialmente se sac mal afamados), diz-se que 0 comportamento esta explicado. A curiosidade esta satisfeita: Fulano e urn advogada de interesses "especiais", urn instrumento dos interr.sses criados, urn cornunista, urn banqueiro hamiltonia.no. A suposi~ao comum a essas diversas vers5es e a nO<;30 hobbesiana do egoismo como f6r~a motora da conrluta. Para uma exposi~ao penetrante das fontes e das consequencias das preocupa~5es (teorlas) s6bre a conspira~li.o, ver The Torment of Secrecy, de Edward A. Shils (Glencoe, Illinois: The Free Press, 1956).
dificil '~squecer a nobreza alienada que aderiu as teorias SOCIalSdos enci. clopedistas ou os :'apostatas" que san socialmente burgueses mas espiritualmente proletanos, ou os seus equivalentes proletarios que se identifiearn .com a. etica burguesa. Tudo isto nao 6 para negar as correlac;6es ~,ugendas, mas apenas para expor, na companhia do proprio Mannheim a necessidade de uma analise mais circunstanc'iada dos muitos fat6res \.?s~ truturais implicitos. 0 estudo de Mannheim em relac;ao aos pre·requisitos da outro colorido a determinac;ao existencial, que se referia simplesmente as correlac;6es empiricas entre sociedade e conhecimento, em que 5e toma a propria uniformidade para estabelecer a "correspondencia". Nesse nivel se 1etem freqiientemente a analise, uma vez assinalada a correlac;ao. 5. Mais outra relac;ao implicita entre estrutura social e conhecimento ~ompreende, que se pode chamar de pressuposto emanacionista ou qua-' 5e estetico. Neste ponto de vista (especialmente indicado em B e F) nao estao completamente ausentes as matizes hegelianos. Palavras tais como "compatibilidade", "congruencia", "harmonia", "consistencia" e "contrarie dos seculos XVIl e XVIII, entre Shakespeare e Milt.on e a fisica inglesa ... " etc. 1!:st~ tern a fai desenvolvido com alguma extensao por Spengler e Sorokin. 18. 1!:ste e apenas urn caso especial do problema mais geral de se estabelecer tipos de integra~ao social e cultural. A pratica de M2,nnheim, apesar da ausencia de formula~6eB Uma sistematicas, assinala urn acentuado avan~o sabre aquela dos eplgonos marxistas. rormul~ao explicita da l6gica das rela~5es ent,e val6res culturais e dada por Sora· kin, Social and Cultural Dynamics, Vol. I, 7·13. Ate 0 ponto em que trata de "integral'ao cultural" e ignora a sua rela~ao com a organiza~ao social, Sorokin inclina-se para uma interpreta~ao idealista. Cf. C. Wright Mills, "Language, logic and culture", American Sociological Review, 1939, 4, 670-680. Para uma critica especltica de Mannheim BObra esta ponto, ver Schelting, Op. cit., 102-115.
que se aventura a fazer um resumo de uma versao ja resumida. (H, pp. 276-8.) Todavia, deve-se assinalar um obstaculo se opoe ao primeiro dos process os : uma articula<;ao explicit'a. dos pressupostos comuns a "expressoes e registros particulares de pensamento". Pelo menos no que se refere as cren<;as, atualmente e muitas vezes impossivel determinal' se os va16res culturais sac congruentes ou incongruentes antecipadamente as situa<;oes sociais em que estao implicitos. Assim, se a questao se coloca, na abstra<;ao feita de casos concr,etos de conduta, de saber se sac compativei.s ou incompativeis a "pacifismo" ou a "abolicionismo", a resposta tem de ser indeterminacJa. Pode-se concluir tambem, no plano cultural abstrato e\as cren<;as, que esses dais sistemas de valares sac ao acaso (mutuamente irrelevantes), congruentes ou incongruentes. No caso dos Quakers, a adesao aos dois valares implicava a<;ao unificada para a aboli<;ao da escravidao sem recorrer a violencia, enquanto Garrisone seus adeptos, inicialmente defensores da nao resistencia, se retrataram das suas opini6es pacifistas para acertar a guerra como meio de abolir a escravidao. E de se notal' que, antes de tel' surgido esta situagao, havia pouca base para imaginal' algum confUto entre os valares do abolicionismo e os do pacifismo. Quando muito 0 analista cultural poderia sentir-se tentado a considerar esses va16res como componentes de um sistema integrado de valares, etiquetados de "humanitarismo". A sintese cultural abstrata que procura reconstruir a "unidade subjacente de pontos de vista" pode asstm c~mduzir a falsas inferencias. Valares abstratamente incongruentes tornam-se amitlde compativeis POI' causa da sua distribui<;ao entre diferentes situa<;oes na estrutura social, de sorte que nao dao pOI' resultado exigencias antaganicas sabre as mesmas pessoas no mesmo momento. 0 confUto potencial de valares pode ser obviado separando-os em Ciferentes universos de pensamento e incorporando-os a diferentes papeis sociais. 0 fato de nao reconhecer que a organiza<;ao de valares nos papeis sociais, poderia tornar compativeis valares abstratamente antaganicos, poderia conduzir, POI' t'xemplo, a tese de que a Igreja Cat6lica sustenta os valares incompativeis do celibato e da fecundidade. Neste caso. 0 confUto e a ma integra<;ao podem ser naturalmente evitados, em grande parte, atribuindo esses valares a diferentes situa<;oes dentro da organiza<;ao eclesiastica: 0 celibato para a situa<;ao de sacerdote, e 8. fec;,mdidade sem limita<;oes para os leigos casados. Os sistemas de cren<;a devem, portanto, ser examinados em termos das suas relagoes com a organiza<;ao social. E este urn requisito cardeal tanto da Sinngemiisse Zurechnung como da Fiiktiztiitszurechnung, descritas POI' Mannheim. (H, pp. 276-7.)
em grandes detalhes, uma vez que ja existem muitas exposi<;oes criticas.19 Alem disso, Mannheim reconhece que os resultados sUbstantivos da Wissenssoziolo[Jie - que compreendem a parte mais remuneradora do terreno - nao concluzem as suas (dele) conclus5es epistemol6gicas. A controversia centraliza-se sabre 0 conr.eito de Mannheim acerca Cia ideologia total geral, a qual, como sera lembrado, afirma que "0 pensamento de todos os partidos, em tadas as epocas e de carateI' ideoI6gico". Isto conduz imediatamente, ao que parece, ao relativismo radical, com seu conhecido circulo vicioso, em que as mesmas proposi<;oes que afirmam dito relativismo sao ipso facto inva,lidas. Esta muito claro que Mannheim percebe a falacia 16gica e 0 niilismo intelectual implicitos em :;;ua posi<;ao. Assim, rejeita expressamente a irresponsavel opiniao de que "nao ve na atitude intelectual mais que juizos pessoais arbitnlrios e propaganda". (G, p. 89, n.) Tambem rejeita "a vaga, mal pens ad a e esteril forma de relativismo a respeito do conhecimento cientific.'J que hoje predomina cada vez mais". (H, p. 2:>7.) Como, entao, consegue escapar do impasse relativista? Talvez E'm forma indevidamente simplificada, podemos classificar as tentativas de Mannheim para evitar a fal:kia relativista e para estabeleeel' points d'appui para a validez dos seus pr6prios conceitos, sob tres item; principais: Criterios dinamicos de validade, Relacionismo e Garantias estruturais de validade. Mannheim apresenta diferentes 1. Criterios Dinamicos de Validade. criterios dinamicos da validade dos juizos hist6ricos. "Uma teoria ... e err6nea se, em determinada situa<;ao pratica, emprega conceitos e categorias que, se fassem tomados a serio, impediriam que 0 homem se adaptasse aquela etapa hist6rica". (G, p. 85; 0 grifo e nosso) " ... 0 conhecimento esta deformado e e ideol6gico quando deixa de tomar em conta as realidades novas que se aplicam a uma situa<;ao c quando procura oculta-las, rensando-as em categorias que sac inapropriadas". E', numa nota, acrescenta Mannheim: "Uma percep<;ao pode ser err6nea au inadequada d sttuar;iio, POI'antecipar-se a ela, como tambem POI'ser antiquada". (G, p. 86 e n. 1.) Mas e evidente que 0 criterio de ajuste ou adapta<;ao e uma peti<;ao de principio, a menos que esteja especificado 0 tipo de ajuste. 20 Teorias numerosas e ate contradit6rias podem permitir que 0 homem "se ajuste' de uma maneira au de outra. 0 ajustamento social tende a ser um conceito normativo e nao um canceito existenciaI. Alem disso, a determina19.
A mais completa e a de Schelting, op. cit., pp. 94 e seg. Ver tambem sua resenha de Ideologie und Utopie, em American Sociological Review, 1936, 1, 664·672; Gunther Stem, "Ueber die sogenannte 'Seinsverbundenheit' des Bewusstseins", Archiv fUr Sozialwissen~.haft nnil Sozialpolitik, 1930, 44, 492-502; Sjoerd Hofstra,' De sociale Aspecten van Kennis en Wetenschap,
Resta agora estudar 0 aspecto mais discutido dos escritos de Mannheim, a saber, suas alega<;oes relativas as conseqiH~ncias epistemol6gicas da sociologia do conhecimento. Isto nao precisa ser examinado
70.
(Amsterdao,
1937), 39-41; Pa.ul Tillich,
"Ideologie
und
Utopie",
Die Gesells-
chaft, 1929, 6, 348-355 (edicao partiCUlar da traducao inglCsa de James Luther Adams). Como ja foi indicado ha muito tempo por Max Weber em seu estudo de "diesen viet mlsbraurhtcn Begriff", 0 conceito de adaptacao social tern larga va,riedade de significa4'ri dos. maior parte dos quais sao cientlficamente inuteis. Ver seu Wissenschaftslehre. e seg.; ver tambem Scheltlng. op. clt., 102 e !leg.
~ da "propriedade" ou da "impropriedade" de categorias pressup6e os r;ao , ~ t I mesmos crirerios de validez que Mannheim procura descartar. Sao avez estas obscuridades e ambigl1i.dades que 0 levam a de3envolver outros -criterios de vallctade com a introductao do conceito de utopia. "S6mente as orientact6es que transcendem a realidade" sac ut6picas, "as quais, quando passam a informar a conduta, tendem a fragmentar, seja parcial, seja totalmente, a ordem das coisas predominante no momento". (G, p. 173.) Neste sentido, 0 pensamento ut6pico, em contraste com 0 ideol6gico, e verdadeiro e nao ilus6rio. A dificuldade deste pon~') .ae vista e de imediata evidencia. Como fara 0 observador, em determJnado momento, para discriminar 0 pensamento ut6pico valida do pensl3,·mento ideol6gico deformado? Ademais, uma vez que, como acabamos de ver, as concepct6es podem ser "inadequadas a situactao por se antedparem a ela", como se podem escolher as "ideias antecipadas vaJidas" ~ntre as "ideias antecipadas" nao validas? Mannheim reconhece essas dificuldades, mas a sua soluctao e de valor duvidoso. Nao s6mente sup6e urn criterio de validade ex post facto, mas tambem impede a possibilidade de juizos validos sabre ideias contemporaneas, como resulta do trecho so-guinte: ... se olharmos para 0 passado, parece possivel encontrar urn eriterio bast"",te adequado para saber que lideia] deve ser considerada ideol6gica equal ut6pica. 1!:ste eriterio e 0 da.<; suas realizll09oes. As ideias que, posteriormente, demonstraram ter side ape',las representllo9oes deformadas de uma ordem social passada ou de uma ordem social potencial eram ideol6gicas, ao passo que as que foram realizadas adequada.mente na ordem social subseqiiente eram utopias relativas... A medida em que as ideias sac realizadas constituem uma norma suplementar e retroativa para fazer distin~oes entre fitas que, enquanto sac contemporr.neas, estao sepultadas sob 0 conflito partidarista de opinioes. (G, p. 184.)
Conforme Schelting demonstrou, este criterio retroativo pressup6e 0.3 mesmos criterios de validade que Mannheim deseja substituir. Pois, de 'que outra maneira pode 0 observador demonstrar que sua interpretactao dc. processo hi.st6rico e correta? Seria necessaria uma analise longa e detalhada muito alem do alcance deste ensaio, para fazer ver outras dificuld~des inerentes a esta posictao. Mas Mannheim modera consideravelmente -esta opiniao, numa outra tentativa para atalhar 0 relativismo radical. 2. Relacionismo. Mannheim esbocta tres posict6es possiveis ante a questao das relact6es que a genese de um enunciado tern com a sua validade. A primeira nega "validade absoluta" [sic] a uma assen;ao quando -as suas fontes estruturais estao demonstradas.21 Pelo contrario, a segunda sustenta que est a demonstractaO nao tern conseql1encia alguma sabre 0 valor de veracidade da asserctao. A terceira conCePctaO,adotada por 'Mannheim, e intermedillria entre os dois extremos. A identificactao d:l :21. Mannheim atribui constantemente uma teoria da "verdade absoluta" aqueles que rejei· tam uma posi~ao relativista radical. (Por exemplo, H, 270, 274.) E uma teoria gratuita. Podem-sc eon ceder diferentes perspectivas, diferentes objetivos de investiga~ao, diverso& sistemas conceptuais e acrescentar apenas que os varios resultados sejam traduziveis OU unifieado.' entre si, antes que possa.m ser eonsiderados validos.
pOSlctaOsocial do afirmante implica apenas "a suspeita" - uma probabilidade - de que a afirmactao "possa representar mera opiniao parcial". Essa identificactao particulariza tambem 0 alcance do enunciado e fixa os limites da sua validade. Isto redunda em atribuir a Wissenssoziologie urn papel consideravelmente mais modesto que aquele que pretendiam as anteriores formulact6es de Mannheim, como se evidencia pelo seu pr6prio resumo: As analises cll,racteristicas da socioJogia do conhecimento nao sao, neste sentido, de modO' algum irrelevantes para a determina~ao da verdade de urn enunciado; mas estll< "",alises . .. nao revelam plenamente por si s6s a verdade, porque a mera delimita~ao das perspectivas nao e de modo algum urn substituto da discussao imediata e direta entre os pontos de vista divergentes ou do exame direto dos fatos. 22
Ao expor suas opini6es relacionistas, Mannheim esclarece 0 conceito de "perspectiva" (Aspektstruktur) que denota Ita maneira como alguem 'Ie urn objeto, 0 que percebe nele e como 0 interpreta em seu pensamento." As perspecti.vas podem ser definidas e imputadas as suas fontes sociais. levando-se em conta: "0 sentido dos conceitos que se usam; 0 fenameno do contraconceito; a carencia de certos conceitos; a estrutura do aparelho de categorias; os modelos predominantes de pensamento; 0 grau (H, p. 244.) rie abstractao; e a ontologia que se pressup6e". Nesta ocasHio, Mannheim chega a dar a volta quase completa ao seu ponto de partida; tanto assim que suas observact6es presentes podem ser facilmente assimiladas as de Rickert e de Max Weber. 0 pensamento situacionalmente determinado ja nao significa de modo ineviblvel pensamen to ideoJ6gico, mas implica s6mente cert.a "probabilidade" de que 0 ocupante de urn determinado lugar na estrutura social pensara de certa maneira. (H, p. 264.) A validade das proposict6es ja nao se testa medianta .a analise wissenssoziologische, mas mediante a investigactao direta do objeto. Ademais, a "functao particularizante" da sociologia do conhecimento nos ajuda simplesmente a averiguar as limites dentro dos quais sac validas as proposict6es generalizadas. 0 que Mannheim chama de particularizactao nao e naturalmente outra coisa que uma palavra nova para urn preceito metodol6gico amplamente reconhecido, a saber, que qualquer COlsa que resu.lte ser verdadeira em certas circunstancias, nao deve ser supOsta verdadeira universalmente ou sem limites nem condict6es. Bridgman e Sorokin chamaram a isso "0 principio dos limites"; Dewey considera sua violactao a "fahlcia filos6fica"; em sua forma mais prosaica e mais amplamente conhecida, e definida como a "falacia da extrapolactao injustificada" . o conceito de "perspectivismo" de Mannheim e substancialmente (1 mesmo que 0 conceito rickert-weberiano de Wertbeziehung (que sustenta Que as valares sao relevantes para a formulactao do problema cientHico e '22. H, 256. Da mesma forma, em seu mais recente ensa:.io, escreve Mannheim: ul!:, natu· ralmente. verdadeiro que, nas ciencias sociais, como em outros assuntos, 0 criterio ultimo de verdade ou de falsidade deve ser procurado na pesquisa do objeto; a soeiologia do conhecimento nao e substituto para Isso". (K, 4.)
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Conforme Schelting demonstrou, este criterio retroativo pressupoe 0.3 mesmos criterios de validade que Mannheim deseja substituir. Pois, de 'que outra maneira pode 0 observador demonstrar que sua interpreta<;ao dv processo htst6rico e correta? Seria necessaria uma analise longa e detalhada muito alem do alcance deste ensaio, para fazer vel' outras dificuldl!.des inerentes a €)sta posi<;ao. Mas Mannheim modera consideravelmente ,esta opiniao, numa outra tentativa para atalhar 0 relativismo radical. 2. Relacionismo. Mannheim esbo<;a tres posi<;oes possiveis ante a questao das rela<;oes que a genese de urn enunciado tern com a sua validade. A primeira nega "validade absoluta" [sic] a uma assergao quando as suas fontes estruturais estao demonstradas.21 Pelo contrario, a segunda sustenta que esta demonstra<;ao nao tern conseqtiencia alguma sabre 0 valor de veracidade da asser<;ao. A terceira concep<;ao, adotada por 'Mannheim, e intermediaria entre os dois extremos. A identifica<;ao d::t :21. Mannheim atribui constantemente uma teoria da "verdade absoluta" aqueles que rejei· tam uma posi~ao relativista radical. (POl' exemplo, H, 270, 274.) E uma teoria gratuita, Podem-sc conceder diferentes perspectivas, diferentes objetivos de investiga~ao. div.erso, sistemas conceptuais e acrescentar apenas que os varios resultados sejam traduzlvels ou unificado.' entre si, antes que possa.m ser considerados vaJidos.
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Ao expor suas opinioes relacionistas, Mannheim esclarece 0 conceito que denota "a maneira como alguem de "perspectiva" (Aspektstruktur) 'Ie urn objeto, 0 que percebe nele e como 0 interpreta em seu pensamento." As perspectivas podem ser definidas ,e imputadas as suas fontes sociais. levando-se em conta: "0 sentido dos conceitos que se usam; 0 fenameno do contmconceito; a carencia de certos conceitos; a estrutura do aparelho de categorias; os modelos predominantes de pensamento; 0 grau rie abstra<;ao; e a ontologia que se pressupoe". (H, p. 244.) Nesta ocasiao, Mannheim chega a dar a volta quase completa ao sen ponto de partida; tanto assim que suas observa<;oes presentes podem ser facilmente assimiladas as de Rickert e de Max Weber. 0 r:;ensamento situacionalmente determinado ja nao significa de modo inevitavel pensamen to ideo]6gico, mas implica somente certa "probabilidade" de que 0 ocupante de urn determinado lugar na estrutura social pensara de certa maneira. (H, p. 264.) A validade das proposi<;oes ja nao se testa mediante a analise wissenssoziologische, mas mediante a investiga<;ao direta do objeto. Ademais, a "fUD<;aoparticularizante" da sociologia do conhecimento nos ajuda simples mente a averiguar os limites dentro dos quais sac validas as proposi<;oes generalizadas. 0 que Mannheim chama de particulariza<;ao nao e naturalmente outra coisa que uma palavra nova para urn preceito metodol6gico amplamente reconhecido, a saber, que qualquer coisa que resulte ser verdadeira em certas circunstancias, nao deve ser supOsta verdadeira universalmente ou sem limites nem condi<;Oes. Bridgman e Sorokin chamaram a isso "0 principio dos limites"; Dewey considera sua violagao a "falacia filos6fica"; em sua forma mais prosaica e mais amplamente conhecida, e definida como a "falacia da extrapola<;ao injustificada" . o conceito de "perspectivismo" de Mannheim e substancialmenta 0 mesmo que 0 conceito rickert-weberiano de Wertbeziehung (que sustenta oue os valares sao relevantes para a formula<;ao do problema cientifico e "32. H, 256. Da mesma forma, em seu mais recente ensaJo, escreve Mannheim: "E, nat~ralmente, verdadeiro que. nas ciencias sociais, como em outros assuntos, 0 criterio ultimo ae verdade ou de falsidade deve ser procurado na pesquisa do objeto; a socio1ogia do conhecimento nao e substituto para isso". (K, 4.)
a escolha de materiais, mas sac irrelevantes para a valldez dos resultados).23Ambas as opini6es partem das premissas de uma multidao inesgotavel de fen6menos, da inevitabilidade de escolher entre iHes em relagao com um sistema conceptual e da relevancia dos val6res e da estrutura social. para esse sistema e para a formulagao do problema. Na realidade, ja em 1904, KUlpe e os psic610gos da escola de Wi.irzburg haviam demonstrado experimentalmente que a natureza dos problemas (Aujgaben) determinava em grande parte a forma e contelldo da percepgao e da observagao.21. Os psic610gos das escolas da Gestalt e de Lewin ampliaram mais recentemente esses resultados, sob a influencia orientadora dos Aujgaben. Rickert, Weber e, especialmente, Mannheim, procuraram acrescentar uma dimensao sociol6gica a este notavel descubrimento demonstrando que os va16res culturais e a estrutura social determinam, por sua vez, a formulaAs9aO dos Autgaben que dirigem a observac;ao em diregao determinada. sim, esta fase particular da sociologia do conhecimento esta claramente integrada aos resultados de pesquisas experimentais em psicologia. Convem notar, porem, que esses experimentos nao constituem razao suficientepara atribuir validade as observag6es enfocadas desta maneira. Em parte, a inconseqi.iencia de Mannheim em seus primeiros escritos nasce de uma diferenciagao vaga entre incorregao (invalidade) e perspflctlva (unilateralidade). Os enunciados perspectivistas provavelmente nao sac incorretos se 0 seu autor reconhece e admite sua natureza parcial; €:ntao sao simplesmente formulag6es abst.mtas de certos aspectos da situagao concreta. Mas sac definitivamente invalidos se se apresentam como representag6es muito completas dos fen6menos em questao ("falacia. da concregao mal colocada" de Whitehead). A fronteira entre a invalidade e 0 mere perspectivismo e, portanto, bem menos clara que Mannheim parece supor. Sua atual enfase s6bre 0 reconhe.cimento da perspectiva e 0fato de considera-la propriamente como essencial para 0 pensamento valido na ciencia social, parece ser pouco mais que uma repetigao da ideia Vel' Rickert, Die Grenzcn. __, 245-271, ". _.a Hist6ria, niio e uma ciencia valoradora, maS· uma cl~ncia relacionadora de valOres", Cf. Weber Wissenschaftslehre, 146-214. "Nao existe uma an:
,de Wertbeziehung e, como tal, fa-Io retornar ..qual provavelmente saiu.25
ao redil de Rickert-Weber, do
3_ Garantias Estruturais de Validade. Ate aqui, Mannheim procurou proporcionar bases para a validade dentro dos limites de determinadas perspectivas. Mas ainda se encontra perante 0 problema de avaliar os _meritos relativos de diferentes opini6es particulaTes e, alem di:oso, de va·· Hdar as que iHe denomina "sinteses dinamlcas" dessas opini6es diferentes. E'm resumo. se a anarquia intelectual tem que ser evitada, deve haver -algum fundamento comum para unificar as diferentes interpretag6es particularistas. Em sua Ideologia e utopia, ele apresenta uma solugao que, apesar das modificag6es, lembra muito Hegel e Marx. 0 historicismo idealista de Hegel garantia sua pr6pria ',rerdade afirmando que 0 "Geist :absoluto" tinha feito val-er seus direitos na filosofia de Hegel, porquanto a hist6ria tinha alcangado por fim a sua meta. Para Marx, 0 mesmo tip\) .de postulado encontra no proletariado 0 expoente atual do processo hist6rico iminente que s6 a ele abre a possibilidade de um pensamento social sem deformag6es. Mannheim encontra uma garantia estrutural da va lidade do pensamento social na "posigao sem classe" dos "intelectuais so(sozialjreischwebende Inielligenz). Esses es,cialmente independentes" forgos para livrar-se de um relativismo extremo podem ser comparados a proeza do bado de Munchhausen, quando conseguiu safar-se de um pantano, puxando a si mesmo pelas pr6prias barbas. o Seinsl.'erbundenheit que, para outros, torna tudo opaco menos uma pequena fatia perspectivista de conhecimento, perde sentido para os intelet: tuais. (D. pp. 115-120; F, p. 67 e seg.). 0 papel da "intelligentsia" torna'se uma especie de paliativo tranqtiilizador para um relativismo implicito. Os mtelectuais saG os observadores do universo social que olham para ele, senao com desapego, pelo menos com uma penetragao que merece confianga. l:' com olhos sintetizadores. A eles, como ao proletariado de Marx, ga'Tante-se a perspectiva que permite uma visao completa da situagao hist6rica roncreta e, como para Marx, este privilegio nasce da f.,ua posigao pecuLiar dentro da estrutura social. Assim, Mannheim declara que os intelectUllls sac capazes de compreender as diferentes tendencias antag6nicas da epoca. uma vez que "sao recrutados de estratos sociais e de situag6es de vida <:onstantemente variaveis". (K, p. 10; G, p. 139.) No Manijesto Comunista podemos ler: "0 proletariado e recrutado em t6das as classes da popula«ao". Mannheim afirma que os intelectuais estao est.ruturalmente livres ,de interpretag6es deformadas porquanto "estao consciente ou inconscient.£'mente. _. interessados em algo mais do que entrar no estrato seguinte da escala social". (G, p. 232; "es bewusst oder unbewusst stets auch aul :25. A discrepancia. entre esta interpreta<;ao e a de Schelting, que crltica sistematicame,.t~ Mannheim na base da Wissenschaftslehre de Weber, e mais aparente que real. Scheltinl; trata dl\ Gbra de Mannheim como urn todo em que, amiude, aparecem justapostas as primeiras e as ultimas pa,rtes. Aqui tratamos dos escritos de Mannhelm como representando urn desenvolvimento, em cujas ultimas etapas 0 afastamento de Weber torna-se cada. vez mais atenuado.
etwas anderes ankam, als auf das Hineinarrivieren in die nachste Stufe des 50zialen Seins".) Engels, em seu ensaio sabre Feuerbach, nos lembra qu~_ "somente entre as classes de trabalhadores permanece inc6lume a atitude alema para a teoria ... Nao ha nela p:reocupagao por fazer carreira, por ga· nhar dinheiro, ou por receber favores do alto". Mas, seja isto 0 que far na realidade, esta claro que no caso dos intelectuais e do proletariado a simples posigao estrutural do estrato nao basta por si s6 para dar validade a suas concepgoes. E, real mente, Mannheim parece ter chegado a essa conclusao, pois, num artigo posterior, reconhece a necessidade de urn "denaminador comum" e de uma f6rmula para "traduzir" os resultados obtido~ de diferentes perspectivas. (H, p. 270, "eine Formel der Umrechenbarkeit und Uebersetzbarkeit dieser verschiedenen Perspektiven ineinander ... ") Mas, nesta conexao, nao se afirma que imicamente os intelectuais estruturalmente apoiados podem forjar essas sinteses. E Mannheim nao indiceu 5atisfatoriamente como se possa fazer a "tradugao de uma perspectiva em termos de outra", de acardo com sua opiniao. Uma vez dada a determinagao existencial do pensamento, quem podera servir de juiz na babel de palavras em competigao? Parece, pois, que ao tirar conseqtiencias epistemol6gicas da sociologia do conhecimento, Mannheim foi leva do a varias antinomias nao resolvidas. E fora de duvida que novas modificagoes de sua posigao con forme lineamentos esbogados ultimamente, conduzirao a urn sistema da analise sustentavel e unificado. Quanto a verdadeira revolugao na teoria do C.)nhecimento, que ele pensa ser derivada da ampliagao apropriada da Wissenssoziologie, pode-se dizer que, em suas linhas ousadas, esta epistemologia e conhecida, ha bastante tempo, pelo pensamento norte-americano _ I:; o pensamento de Peirce e James, com a medigao de Dewey e Mead, no qual 0 pensamento se considera como uma atividade entre tantas outras de urn gT11pOnumeroso, inevitavelmente vinculado a experiencia e compreensivel somente em suas relagoes com a experiencia nao cognoscitiva, estlmulado pelos obstaculos e pelas situagoes passageiramente frustraneas, que contem conceitos abstratos que devem ser revisados, vez por outra, a. luz de suas implicagoes com as coisas particulares concretas e valida s6mente quando se ergue sabre uma base experimental. 26 Para 1StO,contribuiu Mannheim com uma analise valiosa do papel da estrutura e da atividade do pensamento. Nao se deve interpretar mal 0 tom crftico do estudo que antecede. Mannheim esbogou os amplos contomos da sociologia do conhecimento com perich~ e penetragao notaveis. Despojados de seus impedimentos epistemol6gicos, modificados seus conceitos pelos resultados de novas pesquisas empfricas e eliminadas as ocasionais inconseqtiencias l6gicas, os procedi-
26. i"um livro posterior, Mannheim declara seu acc'lrdo sabre muitos aspectos do pragrratismo, J. 170 e seg. Ta,mbem compartilha dos preceitos do funcionalismo, em diferentes aspectos que nao podem ser examinados aqui. Ver, por exemplo, H. 254, 274-5.
mentos e as achados substantivos de Mannheim aclaram as relagoes entre conhecimento e estrutura social, que ate agora tinham permanecido obscuras. Fellzmente, Mannheim reconhece que sua obra. nao e de modo al. gum definitiva - palavra esta que desencadeia forte disc6rdia quando c aplicada a uma obra cientifica -; podemos entao esperar considerllVeis esclarecimentos, gragas a exploragoes ulteriores no terreno em que €lIe foi o pioneiro.
XVI
ESTUDOS SOBRE A PROPAGANDA PELO RADIO E PELO CINEMA*
~STE E UM RELAT6RIO sabre certos estudos da propaganda nacional pelo radio e pelo cinema. Isto posto, procuremos definir 0 termo "propaganda" e f~amos com que a defini(;ao seja valida ao Iongo deste ensaio. Entendemos por propaganda todos e cada urn dos conjuntos de simbolos que influem na opiniao, nas cren(;as ou na a(;aO sobre assuntos que a comunidade considera controvertfveis. Os simbolos podem ser escritos, impressos, faladas, pict6ricos ou musicais; mas se 0 assunto e considerado fora de debate, nao e objeto de propaganda. Em nossa sociedade, a cren(;a de que 2 mais 2 SaG 4 nao pode, neste sentido, ser objeto de propaganda, dEl, mesma forma que nao 0 pode ser a convic(;ao moral de que e mau 0 incesto entre mae e filho. Mas ainda e possivel propagar a cren(;a que a nossa vit6ria na guerra nao e inevitavel; que a "poll tax" e contraria a certas concep(;oes de democracia (N. do trad. "Poll tax" e uma taxa por cabe(;a, que se exige para 0 registro de eleitores em alguns dos Estados dos EUA, especialmente para eliminar 0 eleitorado negro); que seria imprudente, em tempo de guerra, proporcionar aos cidadaos to do 0 petr6leo e a gasolina que desejassem; que uma cren(;a religiosa tern mais direito a nossa fidelidade que outra. Dada uma questao discutivel, a propaganda se torna possivel e, ao que parece, inevitavel. Outra observa(;ao geral. Em muitos setores, a propaganda se identifica amiude com a mentira, 0 engano ou a fraude. Em nossa. opiniao 'l propaganda nao tern rela(;ao necessaria com a verdade ou a falsidad0. Uma informa(;ao autentica de afundamentos de navios norte-americanos em tempo de guerra, pode redundar em propaganda eficaz para induzir os cidadaos a aceitar muitas priva(;oes, que de outra forma nao admitiriam de born grado. Se aceitarmos a opiniao de que a propaganda e a falsidade sac a mesma coisa, estaremos a caminho do niilismo. Devemos
tambem reconhecer que se pode produzir uma atitude de desconflanga indiscriminada, como defesa contra a aceitagao de privag6es au contra uma barragem de fatos e informag6es que provocam 0 medo, a mal-estar au a abandono de crengas queridas. Mas ja e tempo de par fim as discuss6es sabre a propaganda ela geral, discuss6es que tern a fascinio da especulaC;;aonao controlada pelM pesquisas empiricas. Para focalizar claramente certos problemas da propaganda, devemos nos dedicar a propaganda especifica e inventar procedimentos definido,s para testar nossas interpretag6es. Nao que as estudos gerais sabre propaganda sejam necessariamente invalidos, mas aeon· teee que tendem a ultrapassar nosso fundo de conhecimentos. Sao grandes com a grandeza da vacuidade. E possivel que este trabalho peque no senti do contrario. Tentamos apenas relatar alguns dos estudos realizados na Segunda Guerra Mundial pelo Departamento de Investigag6es Sociais Aplicadas, da Universidade de Columbia, efetuados sob a diregao da Dra. Herta Herzog e pelos autares deste ensaio. Uma caracteristica desses estudos e 0 seu interesse pelos efeitos comprovaveis de alguns documentos especfficos de propaganda. Outra caracteristica e sua orientagao tecnica; constituem uma base para aconselhar aos escritores e produtores desta propaganda. A pes.. quisa deve ser tal que proporcione meios para a decisao e a agao imedia· ta. Uns doze anos antes de fugir para Samoa, Robert Louis Stevenson descrevia inconscientemente 0 mesmo tipo de situagao enfrentada pelos estudiosos da pesquisa, que operam dentro da rede da agao politica: Esta nao e ciencia de gabinete, em que as coisas sac testada.s ate 0 milesimo de fragao; t,8crizamos com uma pistola encostad20 it testa; encontramo-nos perante novo conjunto de circunstancias sabre 0 qual nao somente temos que emitir juizo, mas tambem entrar em agao, antes que a nossa hora chegue ao fim.
o presente relat6rio, portanto, lida com uma pesquisa efetuada "com a pistola encostada a testa". Objetivamos realiza-la antes que 0 leitor aperte 0 gatilho.
Em certo sentido, a analise detalhada da propaganda nao e coisa nova· Pelo men as durante a ultima geragao foram estudados os efeitos dos filmes, dos programas de radio e dos artigos de jornais. Ate ha pouco tempo, porem, esses estudos tratavam dos efeitos gerais dos materiais, de propaganda em conjunto. As pesquisas - par exemplo, as de L. L. Thursto· lie - limitavam por conseguinte seus resultados gerais a observag6es como estas: Urn filme antinegro, "The Birth of a Nation" ("0 Nascimento de uma Nagao") acei1tuou os sentimento, antinegros nos audit6rios testados. o filme "Streets of Chance" ("Ruas da Sorte"), que apresentava. urn jogador como pessoa interessante ~ simpatica, conduziu a uma malor condenagao do j6go, por motivos nao aye riguados.
A pelicula."All QUiet on the Western Front" ("Nada de Novo na Frente Ocidental") produzlU re20,oes malS acentuadas contra a guerra, entre criangas escolares que 0 filme "Journey's End" ("Final de Viagem").
Os leitores notarao que esta pesquisa pouco nos diz dos rasgos especfficos da propaganda que provou esses efeitos; mas e esta precisamente a questao que interessa ao escritor de roteiros e ao produtor. Se eles pretendem aproveitar as pesquisas sabre propaganda, estas devem ser dirigidas para a descoberta dos efeitos tipicos de aspectos definidos e especlficas da propaganda, assim como de seus efeitos gerais. Qual e a cara. ter da propaganda eficaz em circunstancias determinadas? Neste relatdrio, examinaremos amostras de estudos recentes em que tragos definidos de propaganda se entrelac;;am com tipos definidos de reagao. Antes de examinar as metodos para analisar as ef,eitos da propaganda, trataremos de desvanecer uma ilusao muito comum. E evidente que, em geral, as escritores de propaganda nao podem saber como 0 publico respondera ao seu material, se confiarem meramente na intuigao ou na 0bservagao das reac;;6esdesse publico. Varios exemplos, a primeiro dos quais e mais educativo que propagandistico, mostrarao que inesperadas reag6e~~ podem ser provocadas pelo escritor. Urn habil escritor havia redigido, da maneira mais Wcida que Ihe iora possivel, as instruC;;6espara usa dos "cup6es de racionamento", durante a Segunda Guerra Mundial. Foi ajudado nessa tarefa por varios conselheiros psico16gicos. E'ntrevistadores bem preparados apresentaram as instrug6es as donas de casa e observaram suas reac;;6es. Baseados nessas observag6es fez-se uma segunda redac;;ao das instrug6es. Tambem esta foi testada mediante entrevistas e finalmente adotou·se uma terceira re' dac;;aomodificada. Urn dos principais objetivos em esclarecer que cup6es au selos de racionamento de diferentes va16res podiam ser adicionados para atingl:- urn determinado numero de pontos. Supas-se que, como a maior parte da gente tinha alguma experiencia ~om selos do correia, essa analogia poderia ser empregada com bans re5ultados nas instrug6es. Qual intelectual ou burocrata, sentado em seu escrit6rio, poderia pr,ever que esta simples analogia provocaria comentarios como as seguintes: Eu nao sabia que era preciso manda·los pelo correio. Parece que nao ha formulario algum para colar os cup5es.
Este exemplo trivial de resposta inesperada reflete simplesmente urn ma16gro de comunicagao. Outros exemplos nos proporcionam as peliculas que destacam a crueldade e a imoralidade dos nazistas. Episddios que lndicam ostensivamente que as nazistas nao se interessavam em absoluto pela decencia humana comum, sac valorizados as vezes pelos audit6rios, rm termos puramente tecnicos: sac tornados como exemplo da eficienem nazista. As implicag6es emocionais e marais buscadas pelos produtores dos filmes passam despercebidas pelo aUdit6rio.
Urn tipo muito parecido de reac;;ao inesperada encontra-se nos assunt.os tratados pelas radioemissoras. Uma conversa sabre os raios X fOl transmitida sob os auspicios de uma sociedade medica, como parte de uma campanha destinada a promover 0 uso apropriado dos servic;;osde saude pelos individuos da comunidade. 0 locutor, distinto medico radiologista. procurou dissuadir seus ouvintes de consultarem pn1ticos nao licenciado'3 (charlataes) para 0 exame e 0 tratamento com raios X. Procurando ser mais persuasivo, assinalou repetidamente "os perigos do usa dos exames e do tratamento pelos raios X". As boas intenc;;6es do radiologista suscitaram inquietac;;6es inesperadas. Alguns individuos presentes - que alias IlUllca tinham consultado charlataes - assim expressaram seus temores recem-adquiridos: Deixou a gente sem vontade de utilizar os ralos X. Parecem muito perlgosos. 0 medico usa protetore; de chumbo e caJc;a luvas. Depois dlsso, nlnguem mals val se deixar examinar uma s6 vez sequel' com raios X. 0 "pessoai" est a muito assustado. Pa-rece que talvez provoquem dor. De ouvir falar dessas radiac;6es ou colsas parecidas, eu penso que seriam pelo menos desa.gradavels.
o tipo das respostas imprevistas coloca vanos problemas fundamentais. Como podemos analisar filmes, emiss6es de radio e impressos de propaganda de maneira que possamos comprovar 0 que provavelmente produzira determinados efeitos? Os procedimentos para alcanc;;ar esse finl vieram a ser denominados analise de conteudo. Ha outras quest6es. Como podemos conhecer as reac;;6esrealmente suscitadas pela propaganda? Ate onde podemos explicar as discrepancias entre as reac;;6es previstas e as reac;6es reais? Podemos estabelecer urn fundo de experimentac;ao e interpretac;ao que nos permita prever melhor as reac;6es a diferentes tipos de propaganda, reduzindo assim ao minimo, ou impedindo reac;6es indesejaveis, POl' meio de modificac;6es adequadas da propaganda, antes de lanc;a-Ia ao publico? Aos procedimentos destinados a resolver essas quest6es, chamaremos analises da rea<;tio. Passemcs agora ao que consideramos nossa principal tare fa : expo! nossa experiencia na analise de diferentes tipos de propaganda durante um perfodo de dois anos. Se focalizarmos nossa atenc;ao sabre problemas realmente encontrados nesses estudos, talvez possamos esclarecer alguns dos procedimentos inventados para a analise de conteudo e de reaga0. o
documento de propaganda - folheto, filme ou programa de radio examinado primeiro para determinar os tipos provaveis de reac;6es a seus diversos componentes e aspectos, ou ao documento em conjunto. E possivel supor, talvez, que todo aquele: que examinar 0 material de propaganda conhecera seu conteudo. Mas isto esta muito longe de se dar. A analise de conteudo requer certos procedimentos, baseados na experiench clfnica e fundamentados na teoria psicol6gica ou sociol6gica, a fim de discernir as reac;6es provaveis ao conteudo. 0 mere impressionismo nao
e
basta. 0 conteudo de urn programa de radio de 15 minutos ou de uma pelicula de uma hora pode ser corretamente estimado samente mediante procedimentos sistematicos. Assim como necessitamos 6culos de alcance para perceber objetos longinquos, assim tambem necessitamos meios, il." \ezes surpreendentemente simples, para perceber uma corrente de expe. ri&ncia que dura urn largo periodo de tempo. Esses meios variam desde o extremo de calcular a freqtiencia de certos simbolos·chave ate 0 extremo oposto de determinar a estrutura da propaganda em conjunto ou de uma campanha completa de propaganda. Vejamos alguns exemplos do tipo mais simples: analise de simbolos Uma serie de programas de radio para "manter 0 moral" continha apra. ximadamente 1000 simbolos que representavam as Nac;;6es Unidas (ou seus associados, Estados Unidos a parte) e ao Eixo (cada um dos tres paises que 0 constituiam, ou coletivamGnte). Depois de examinar a freqtien.cia dos respectivos conjuntos de simbolos em doze programas, manifestaramose varias uniformidades que reIletiam uma estrutura dos programaE que iam contra 0 prop6sito manifesto dos seus produtores. Em todos 0,; programas, menos urn, a freqtiencia dos simbolos das Nag6es Unidas e positivamente correlativa aos pertencentes ao Eixo: 0 aumento ou a dimi nuigao num conjunto de simbolos esta associado com 0 aumento ou a diminuigao no outro. Isto colocou em primeiro plano urn trac;o importan. te dos programas "morais". 0 interesse pelas Nac;6es Unidas limita-se, em grande parte, ao seu papel na, luta frente ao Eixo; raramente e mencionado sob qualquer outro aspecto. No que concerne a essa serie "moral", as Nag6es Unidas parecem ser "amigos nos maus tempos"; 0 interesse POl' elas se manifesta primordialmente como aliados que ajudam a lutar contra 0 Eixo e nao como aliados a que nos unem lagos de simpatia, independentemente da guerra. Os programas tratam desses paises, nao como sociedades, mas como nag6es que possuem coragem e animo milita. res. Saudamos os feitos her6icos dos russos e nos alegramos de que fOssem inimigos de Hitler. Elogiamos os ingleses que durante tanto tempo, defenderam a fortaleza britanica contra os nazistas. Ou lamentamos os destinos das nag6es ocupadas e tambem aqui 0 interesse POl' essas nag6es se limita ao que sent em nas maos do inimigo. POl' serem esses os motivos expressos nas alus6es as Nac;6es Unidas, notamos as associac;6es obser. vadas entre a freqtiencia de simbolos que se referem as Nac;6es Unidas e ao Eixo. Deve-se notal' que os analistas e, possivelmente, os produtores desta serie de programas de radio nao teriam descoberto esta estrutura sUbjacente se 0 calculo dos simbolos nao tivesse chamado sua atenc;ao. Esta serie de programas tambem fez uso extenso de cliche da personificac;ao ao referir-se ao inimigo; aproximadamente 25% de todos os sfmbolos referentes ao inimigo se referem a Hitler, Mussolini, Goering etc., enquanto samente 4% das referencias as Nag6es Unidas e 11% das referencias aos Estados Unidos consist-em em personificuc;6es. Este emprego de cliches personificados e simplificados apresenta 0 inimigo como constitufdo POl'urn pequeno bando de homens maus e implica que, uma vez destrui-
dos esses Domens, tudo Ira bem. Esle tipo de personificac;ao result a ser excessivamente aceitavel para os ouvintes, ja que esta de acardo com as ideias simp list as mais espalhadas; por exemplo, a ideia paralela de que devemos lutar principalmente contra 0 crime, castigando aos criminosos, mas nao tomando medidas preventlvas. Alem disso, verificamos que as diversas distribuic;6es de palavras usadas para designar 0 inimigo em fHmes documentarios, sac reproduzidas nos comentarios dos individuos entrevistados que assistiram aos filmes. Assim, se Hitler, a figura sata-nica individual, e todo 0 povo alemao, e nao s6mente os nazistas, sac identificados mais frequentemente como 0 inimigo pelo c'omentador do filme, isto se reflete mais tarde no tipo de reac;6es do audit6rio. Basta relembrar as reac;6es a clausula sabre os culparios pel a guerra no Tratado de Versalhes para nos darmos conta de que a questao tern consideravel importancia politica. A propaganda corrente pode ignorar inadvertidamente a carater nazista ou fascista do inimigo, formando assim urn acervo de ma vontade, mal orientada para 0 periodo posterior a guerra. OUtro exemplo e proporcionado por um folheto relativo aos negros. Os principais tern as do folheto eram dois: e verdade que os negros continuam sofrendo discriminac;ao mas, nao obstante, tern feito grandes prol1'ressos na sociedade democratica norte-americana, que permitiu a muitos ~egros terem exitos individuais e contribuirem ao progresso da comunidade. Pel0 contrario, Hitler sempre manifestou desprezo pelos povos de cor e, se tivesse ganho a guerra, teriam side anuladas tadas as vantagens dos negros. 0 contelido do folheto pode ser classificado, portanto, em duas categorias: material relativo "as conquistas e realizac;6es dos negros numa democracia" e "as privac;6es que eram ameac;adas pela vit6ria de Hitler" . Ha-"ia 189 paragrafos e itens: 84% tratavam de ganhos verdadeiros e 16% de perdas potenciais se triunfasse a nazismo. Para os redatores do folheto, isto parecia evidentemente uma distribuic;ao razoavel da importan cia concedida aos dois temas. Mas 0 folheto continha dois tipos de apresentac;6es: 0 primeiro era artigo de urn ilustre escritor negro; c segundo, uma serie de fotografias que chamavam a atenc;ao, acompanhadas de curtas legendas. Posteriormente, a analise tematica demonstrou que as legendas das fotografias e o teor do artigo apresentavam os dais temas em proporc;6es completamente difierentes. Cerca de 73% dos conceitos do artigo referiam-se as perdas potenciais sob Hitler, enquanto 27% mencionavam os ganhos numa democracia; l:or outra lada, enquanto 98% das fotografias e das legendas se referiam aos ganhos, s6mente 2% se referiam a ameac;a de Hitler. Pois bern, acontece que a maioria de qualquer populac;ao, especialmente da populac;ao negra com seu baixo nivel de instruc;ao, sente-se em geral mais atrafda por fotografias e legendas do que por textos detalhados. E provavel que olharao mais para as fotografias do, que para 0 texto. A fotografias, nessa ocasiao, negligencfaram quase completamente 0 assunto das perdas dos negros no caso da vit6ri!l. nazista. Em conseqtien-
cia, 0 folheto nao atingia, em grande parte, 0 seu objetivo. Testaram-se A certas atitudes dos negros, antes e depois de terern lido 0 folheto. maior parte dos leitores sentiu orgulho e personalidade mais saliente, em consequencia, dessa exposic;ao dos sucessos e das contribuic;6es da sua rac;a. Mas 0 folheto nao trazia motivo.s especiais para que os negros se dedicassem a lu.ta contra 0 nazismo, em seu pr6prio interesse, uma vez que grande parte da mensa gem essencial tinha passado despercebida aos le1tores. Ainda que perfunt6riamente estes dois exemplos ilustram os modos como 0 calculo ordinario de sfmbolos-chave e a analise tematica nos pennitern descobrir erros inadvertidos do propagandista. Tambem servem como guia para as entrevistas com pessoas expostas a propaganda. Ha outros tipos rie analise de ,contelido que se podem resumir rapidamente:1 1. Contagem de sfmbolos: Consiste em identificar e contar os s!mbolos-chave nas comunica~oes. Ist~ apenas indica, de modo restrito, os slmbolos que estiveram no foco da aten~ao dos aUdit6rios. A contagem das referencias a.o inimigo nos comentarios do filme docu. menta este tipo. 2 2. Classifica~1io unidimensional de s[mbolos: Esta e uma I1geira amplia.c;ao do tipo anterior. as simbolos. classificam-se conforme sejam empregados, falando em termos gerais, em contextos positivos ("favoraveis") ou negativos ("desfavoraveis"). Assim, a Inglaterra (vitoriosa, democratica, va.Iente) ou em termos _ pode ser descrita em termos (vencida, dividida em castas, perfida). ~ste tipo de analise constitui urn primeiro passo para a determina~ao das distribui90es mals eficientes de slmbolos para conseguir urn determinado resultado. Pode servir para controlar a pratica muitas vezes ineficaz de observar as coisas em contrastes de branco·e·preto. Quando se aplica a propa,ganda inlmiga, este tlPO de analise proporciona uma base para medir a seguran~a ou inseguran~a relativas do inimigo.3
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3. Analise de itens: Classifica~ao de segmentos ou sec90es da propaganda (por exemplo. cenas de urn filme, can~oes de urn programa de radio,; fotografi'fls de urn fo~heto>. Isto requer a sele9ao dos itens importantes e nao importantes na base de uma teoria psico16gica do "valor de aten~ao". ~sses itens suscitam na audiencia interesse~ fundamentais ou perlfericos. Como serao esses itens interpretados pelos diferentes tipos de audit6rio? Em algumas an{;.)ises de filmes, foi posslvel preyer que cena<; e que scqUencias estariam no centro da aten9ao dos audit6rios. 4. Analise tematica: Classifica9ao dos temas explicitos ou impl,citos (simb6licos) do material de propaganda. Esta analise, ao contn\rio da analise de itens, trata da importancia supostamente cumulativa. de uma serie de itens.4 1.
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Ja se diSpoe agora de urn exame completo dos procedimentos de analise de conteudo' Bernard Derelson, Content Analysis in Communications Research (Glencoe, Illinois: The Free Press, 1951). Ver tambem, H. D. Lasswell, "A provisional classification of symbol data", Psychiatry. 1938, 1, 197·204; Douglas Waples e outros, What Reading Does to People. Appendix B, (Chicago, 1940); N. C. Leites e I. de Soilli Pool. On content anaDocU:ment lysis, Experimental Diyision for the Study of Wartime Communications. N? 26, setembro de 1942. Ver, por exemplo, H. D. Lasswell, "The world attention terly, 1941, 3, 452-462.
survey", Public Opinion Quar.
3. Por exemplo, os estudos por Hans Speier e Ernst Kris, Research Project on Totalitarian Communication, na Nova Escola de Pesquisas Sociais; uma analise inedita dos slmbolos da serie de radio "This is War", Bureau of Applied Social Research, Columbia University. 4. Por exemplo um estudo por Gregory Bateson, de urn filme de propaganda nazlsta. Ver tambem Siegfried Kracauer, Propaganda in the Nazi War Film (Nova Iorque): Museum of Modern Art Film Library, 194:l).
5. Analise estrutural: Referente as inter·rela.<;6es dos diversos tipos de propaganda. Essa~ rela.<;6espodem ser complementares (0 inimigo e cruel, n6s somos compassivos); unifiradas, (0 inimigo e cruel, embusteiro, agressivo, irreligioso); interferentes (quando os temas atuam com finalidades que se entre cruz am : por exemplo, 0 tema da forca nazista produz ansie· dade).5 6. Analise de campanhas: TratD. das inter·relac6es de diferentes documentos, todos de.· tin ados a um prop6sito gera!. Enquanto a analise estrutural trata das relac6es dentro de um s6 documento de propaganda, a analise de campanhas trata das relac6es de uma serie de documentos. Compreende problemas de continuidade, de· duraCao, de importfmcia relativa, de tempo, assim como da.s relac6es mencionadas na analise estrutura!.6
POl' este 1esurno , vemos que urna das principais miss6es da analise de conteudo e de proporcionar pistas para as reac;6es provaveis suscitadas pela propaganda. Mas isto nao basta. Temos que verificar se as reac;6es previstas ocorrem na realidade, se a analise do conteudo e essencialmente valida. Isto requer entre vistas com individuos dos audit6rios; entrevistas de urn tipo essencial, que chamaremos de "entrevistas enfocadas".7 Digamos de passagem que ha ac;ao reciproca entre as analises de conteudo da propaganda e as entrevistas enfocadas em leitores e ouvintes. E indispensa,vel uma analise previa de conteudo para oriental' a entre vista, sendo que a E'xperiencia das entrevistas aguc;a a observac;ao para uma analise de conteudo mais adequada.
As entrevistas destinadas a descobrir as reac;6es reais a propaganda parecem, a primeira vista, uma tarefa muito simples. Mas naD
5. Por exemplo, Kracauer, op. cit.; tambem estudos de filmes pelo "Bureau of Applied Social Research" . 6. Por exemplo, estudos sobre campanhas politicas, campanh •.s de propaganda de servi COSpUblico" venda de bonus de guerra etc. 7. R. K. Merton, M. Fiske e P. L. Kenda,n, The Focused Interview.
Para outros sujeitos que acham dificil formular, de qualquer maneira, -Buasreac;6es, foram inventadas tecnicas especiais de entrevista, para lhes permitir expressarem suas opini6es. Tada a entrevista e enfocada em termos do material de propaganda que esta sendo testado. As observac;6es do entrev1stador nao dirigem a atenc;ao para aspectos definidos da propaganda. Nao fazem mais que facilitar aos entrevistados a expressao dos seus pr6prios centros de atenc;ao e das suas reac;6es aos conceitos que saa importantes para eles. Poderiamos dizer que 0 entrevistador fornece ao entrevistado um refletor que ilumina as pegadas que a peUcula, 0 programa de radio ou 0 material impr,esso deixou na mente do entrevistado. S6 depois que os entrevistados expuseram completamen.te suas reac;6es aC's aspectos da propaganda que sentiram da maneira mais viva, comp1eta 0 estuc.o 0 entrevistador, comprovando as hip6teses derivadas da analise de conteudo que ainda nao foram examinadas na entrevista. Toda entrevista e registrada ao pe da letra pela taquigrafia. Isto permite fazer uma analise posterior intensiva, precisamente dos aspectos da propaganda que suscitaram determ inados tipos de reac;ao. Em ge::-al,podemos dizer que uma entrevista enfocada e valiosa na medida em que consiga os seguintes objetivos: 1. Detemlina os aspectos eficazes da propaganda que foi bem recebida pelo audit6rkl. 2. Determina 0 carater multilateral das reac6es com bastante pormenores. 3. Permite testar se' as reac6es que esperavamos, na base de uma analise de conteudc, aconteceram na realidade. 4. Descobrc reac6es totalmente imprevistas, isto e, reac6es que nao fora.m previstas nem pelo escritor, nem pelo analisador do conteudo. tiE
Ainda que todos os objetivos da entrevista sejam importantes, 0\ u1ti· mo e de especial importancia pratica. Os leitores se recordarao dos nossos exemp10s do panfleto sabre as negros e da conversa pelo radio sabre os raios X. Ambos pretendiam indicar que, sem uma analise de conteudo e das re1ac;6es que a ajudem, as vezes as arvores nao permitem que 0 propagandista enxergue 0 bosque. Poderiamos ainda acrescentar que, muitas vezec:,a rosa nao deixa que 0 propagandista veja os espinhos. Se 0 props.gandista deseja transmitir uma ideia ou erial' uma determinada impressao, deve faze-1o POI' meio de palavras, ilustrac;6es ou outros simbo10s. Depois que 0 seu panf1eto, pec;a, programa de radio ou roteiro foi entregue ao publico, 0 audit6rio 0 interpreta como quiser. Conta-se 0 caso de um missionario que, indicando uma mesa aos indigenas, pronunciou repetidas vfzes a palavra "mesa", ate que 0 seu audit6rio de analfabetos pudesse repetir a palavra. Depois de algum tempo, ficou estupefato aO verificar que alguns analfabetos chamavam de "mesa" as 9.rvores, porque as duas coisas eram da mesma cor parda. Outros davam 0 nome de "mesa" aos cachorros, porque uns e outros tinham quatro patas. Em tesumo, cada ouvinte tinha selecionado algum aspecto do complicado objeto, que para 0 missionario estava perfeitamente designado como um todo pela palavra "mesa". De forma semelhante, e instrutivo vel' como muitas vezes os efeitos da propaganda podem ser totalmente imprevistos.
o caso que vamos examinal' a seguir, tern alguma relaQao com 0 teste do programa de saude acima mencionado. ~sse teste teria grandes implicaQoes, caso 0 governo procurasse manter as funQoes educacionais e propagandisticas que assurniu durante a guerra, num eSfarQo para manter elevado 0 moral do povo. Tendo pass ado pela experiencia de aceitar alguma medida de supervisao governamental, esperava-se que 0 povo norte-americano se tornasse mais receptivo a promoQao da saune publica, da nutriQao e das atividades educativas no ap6s-guerra. o leitor lembrar-se-a do caso em que urn representante da classe medica fez, pelo radio, uma palestra sabre os raios X. ~le insistiu sabre as precauQoes que devem ser tomadas para evitar as queimaduras que podem ser provocadas pelas radiaQoes; assinalou que 0 governo local protege 0 cidadao, POI' meio de urn sistema de lioenciamento de operadores de raios X e pela inspeQao do equipamento; insistiu sabre 0 treinamento especializado exigi do para se conseguir proficiencia nesse terreno. 0 conferencista estava procurando, evidentemente, precaver os seus ouvintes sabre 0 perigo de cairem nas maos de charlataes que nao tern competencia tecnica nem integridade moral. Preocupado profissionalmente com o problema, aparentemente nao percebera que os seus ouvintes nao tinham a menor famiIiaridade com 0 assunto. Esqueceu-se de adaptar 0 problema aos parcos conhecimentos do audit6rio. Os ambientes de pesquisa relacionados com este, sabem muito hem que os ouvinles nao podem Hwilmente assimilar certas informaQoes e opinioes, se estas nao estao integradas ao seu acervo de conhecimentos. Se 0 medico houvesse descrito os procedimentos usados pelos charlataes para conseguir clientes, se tivesse indicado como se pode reconhece-los tacilmente ou, tambem, se tiv.esse citado a suposta quantidade de operadores nao licenciados que atuam nesse campo, seus ouvintes teriam podido ussimilar suas opinioes e atitudes. Como nao 0 fez, parecia estar batendo em portas abertas. Falou de ",edicos lIcenciados, mas nao esclareceu devidamente 0 assunto. Nao cheg(,u que aconteceria ao ouvinte se uma pessoa nao·licencia.da viesse a tratar dele. a dizer
°
Em consequencia, os ouvintes comeQaram a duvidar da importancia e, ate mesmo, da realidade do problema. 0 medico falou, POI' assim dizer, dentro de urn vacuo psicol6gico, que os ouvintes deviam, de qualquer maneira, preencher POI' si mesmos. 0 locutor lhes descreveu a compli.caQao de urn apllrelho de raios X e eles usaram essa informagao recem-adquirida para observarem 0 problema a sua maneira. (0)
N. do trad. Bumerangue e urn peda~o de madeira curvo e chato que, depois de atirado, se nao Minge 0 alvo volta ao a.tlrador; e usado como arma, pelos aborlgenes da Austril.lla; a palavra e empregada como lmagem de urn esquema, plano etc. que, ao contrario do que espera 0 seu criador, nao atinge 0 a.lvo e volta para tras, destruindo os pianos de quem 0 lan~ou.
Nao acredito que a advertencia esteja de algum modo justificada. Nao e qualquer um que pode assl1mir um aparelho de radiogm,fia. Alias, a General Electric nao iria vender esse equlparr.ento a uma pessoa nao licenclada. Nao posso coneebel' que uma pessoa nao lIcenclada pudesse arrlscar-se a comprar um equipamen to asslm ca.ro, mais ou menos dez mil d61ares, para ser, no dla segulnte, den unclada POl' a.lguem que tlvesse descoberto que niio tinha licen~a.
Possivelmente com a intenQao de resolver este problema, 0 locutor passou a eilaltecer em termos gerais os meritos dos especialistas. Uma analise de conteudo encontrou 63 referencias em 14 minutos, aos conceitos de autoridade, de licenQa e de especializaQao. Como a conversa colocou problemas que 0 conferencista nao aclarou, isto produziu urn ejeito de bumerangue. Os ouvintes se impacientaram cada vez mais e, POI' fim, reptaram 0 pr6prio perito em radiografias: Ha multos casos em que um indivlduo lIcenciado nao usa bem os raios X. Um indivlduo pode conseguir uma licen~a para conduzir um autom6vel, mas isto nao signlfica que saiba. guiar. Da mesma forma, certos indivlduos podem conseguir uma lIcen· <;a, mas isto nao prova que sejam competentes.
o programa punha em relevo a necessidade de urn prepare adequadn para os est)ecialistas em raios X; mas supunha, equivocadamente, que os ouvintes tinham 0 equipamento mental necessario para identificar a autorizaQao ou licenQa com a destreza adequada. Em consequencia, tada a insistencia do conferencista conduziu primeiro a impaciencia, depois ao cepticismo e finalmente a desconfianQa. Em ce:.-tas condiQoes, portanto, a gente responde a propaganda de maneira oposta a que era esperad:\ pelo promotor. No decursa dos nossos testes encontramos varios tipos de tal efeito de bumerangue, alguns dos quais mencionaremos a seguir. 0 bumerangue precedente do especiaIista c exemplo de urn tipo familiar: 0 resultado da estimar;ao psicol6gica er· r6nea do estado mental do audit6rio. A propaganda nao produzira a reaQao esperada, a menos que 0 seu conteudo corresponda as necessidades psicol6gicas do audit6rio. E necessario, portanto, dispor de uma corrente ininterrupta de informaQao relativa aos sentimentos e atividades predominantes na populagao, para evitar que a propaganda produza 0 efeito de bumerangue. Neste ponto, os tipos familiares de pesquisas de opiniao publica se entrelaQam com a analise detalhada da propaganda. Pelos inqueritos de opiniao publica sabemos, POI' exemplo, que uma grande proporQao de norte-americanos, num momenta em que isto nao era absolutamente 0 caso, acreditava que os Estados Unidos possuiam 0 maior exercito, a maior produQao de materiais de guerra e que esse pais era 0 que mais contribuira para a vit6ria sabre 0 Eixo. Em consequencia, os filmes que procuravam destacar as contribuiQoes dos outros aliados deviam estar especialmente destinadas a nao alimental' esse etnocentrismo. Se se tratava de mostrar 0 que os ingleses, os russos e os chineses haviam feito, a serie de filmes relativos aos emprestimos e arrendamentos e outras contribuiQoes norte-americanas, devia indicar, especifica e explicitamente, os limites dessa ajuda. De outra maneira, surgiria 0 tipo indicado de
efeito de bumerangue, em que urna disposic;ao psico16gica desatenta do audit6rio, desvia 0 filme para fins diversos daqueles a que se destinava. Um segundo tipo de efeito de bumerangue provavelmente faz parte do Surge 0 dilema que se minimo irredutivel das reac;oes de bumerangue. apresenta aa escritor que tem que dirigir sua prapa,ganda a um p~bliCO psicalogicamente heteragenea, ista e, camposta d'e individuas que estaa em dijerentes estados .de animo sabre a quesUio apresentad;a. Argumentos
eficazes para urn setor do publico podem produzir efeitos opostos 13m outro setor que e social e psicologicamente diferente. Vejamos urn caso que vem a ponto. Um programa de radio des~inado a elevar 0 moral, transmitido pouco depois de Pearl Harbor, contmha dois temas dominantes. 0 primeiro sublinhava a f6rga e a potencialidade das Nac;oes U~Jldas e destinava-se a combater 0 derrotismo. 0 segundo destacava n. f6rc;a do inimlgo, para combater 0 excesso de confianc;a. 0 problema e bastante claro. Nao sera possivel que a insistencia sobre noss~ forc;a reforce a confianc;a daqueles que ja sao confiantes? E, correlatl'vamente, as referencias ao poder do inimigo nao aumentarao 0 derrotismo dos que ja sao derrotistas?8 A julgar pelos resultados das entrevistas, isto foi ,exatamente 0 que sucedeu. Nao e f.acil tarefa evitar reac;oes opostas em dois setores do publico. Complica-se mais pelas mudanc;as e, ao que parece em certas ocasioes, pela~ mudanc;as excessivamente rapidas do "estado da mentalidade pUblica", de modo que a perspectiva predominante e, num momento, "de Call' fianc;a" e, noutro momento, "profundamente pessimista". Parece, mais uma \'ez, que se a "propaganda moral" tern de ser funcionalmente adequada a situac;ao, deve existir uma informagao constante relativa as orientac;oes emor-ionais que prevalecem na populac;ao., o terceiro tipo de bumerangue e talvez mais importante que os outros, porque pode ser eliminado, em grande parte, mediante urna analise adeQuada da propaganda. Podemos chama-lo bumerangue estrutural, que ;esulta de que num mesmo trabalha de propaganda haja dijerentes temas que se entrecruzam quanta ,a seus prap6sitas. Se 0 propagandista considera separadamente os diferentes temas da sua propaganda e ignora
suas inter-relac;oes sociais e psico16gicas, pode descobrir que todo seu trabalho propagandistico e ineficaz para alcanc;ar seus fins. Para evitar isto, e necessario fazer a analise estrutural das relagoes dos temas entre sf. Um caso hipotetico, mas essencialmente paralelo a casos que, na realidade, apareceram nos testes, pode servir como exemplo de bumerangue estrutural. Algumas pelfculas, produzidas antes da entrada dos norte-americanos na guerra, compreendiam, entre outros, dois assuntos dominantes. 0 primeiro destacava a crueldade e 0 sadismo dos nazistas, assim como sua ameac;a ao tipo de vida norte-americano: tema vivid amen8. Na realidade, existem algumas provas documentadas, embora ligeiras, de que as pessoas reagem seletivamente, de maneira a reforQar suas atitudes e sentimentos do momento.
te representado em cenas de maus tratos a C1V1S, simplesmente por causa das suas ideias polfticas ou religiosas. Nos testes verificou-.se que tais series de Iilmes despertaram sentimentos profundamente hostis em muitos individuos da audiencia. Mas e bastante curioso que essa hostilidade contra os nazistas nao levou necessariamente urna proporc;aa dos que viram os filmes, maior dos que nao os viram, a expr,essar seu desejo de que os Estados Unidos entrassem no conflito. Na realidade, houve as vezes urn ligeiro decrescimo no numero de individuos do "grupo-filme" em relac;aa com os do "grupo-controle" que desejaram intervir na guerra. Como aconteceu isto? De vez em quando, 0 material das entre vistas mostra que essa falta aparente de efeito no que diz respeito a intervenc;ao, provem do fato de que outro tema dos filmes atua em senti do contl'ario. Este tema contrastante pode por em destaque a destreza, a experiencia e 0 enorme tamanho do exercito nazista, apresentando-o em cenas impressionantes de soldados nazistas em ac;ao. Um tema assim pode suscitar temores e inquietac;oes acerca das perspectivas de que os norte-americanos possam fazer frente a exercitos tao formidaveis como 0 nazista, especialmente em momentos em que ainda nao haviamos organizado nossas pr6prias forc;as. Assim, pode ocorrer que 0 tema da forc;a nazista, que suscita temores, possa contrabalanc;ar 0 tema da crueldade nazista, que provoca sentimentos hostis. Estes sentimentos, portanto, podem traduzir-se num desejo real de que a nac;ao nao entre no confUto. A analise estrutural adequada desses filmes teria indicado a probabilidade de que um tema do filme anulasse os efeitos provenientes do outro tema do mesmo filme. Par conseguinte, embora as dais temas pudessem ser eficazes, como 0 foram - um para excitar hostilidade, e outro para dar a conhecer aos norte-americanos a f6rc;a do inimigo - 0 resultado liquido quanta ao desejo de intervenc;ao na guerra pode ser nulo. Este caso nao somente exemplifica urn tipo de reac;ao bumerangue, como tambem mostra que a entrevista focalizada nos permite suplementar e enriquecer 0 valor do experimento control ado tradicional, do tipo mencionado no comec;o deste estudo. 0 experimento controlado consiste em ter dois grupos de sujeitos muito igualados, um dos quais foi submetido a propaganda e outro nao. Gertos sentimentos e atitudes dos dois grupos sao testados duas vezes: urna, antes de submeter a propaganda 0 grupo experimental e outra, depois de ter sido submetido. Se os gropos estao, na realidade, adequadamente igualados, as diferenc;as de atitude entre os dais grupos que se encontrarem no segundo teste poderao ser atribuidos a propaganda. Mas suponhamos que, a respeito de certas atitudes, nao haja diferenc;a perceptivel, como ocorreu com a atitude de nossos sujeitos, no que se refere a intervenc;ao dos Estados Unidos na guerra. 0 experimento control ado nao nos dira porque nao ha mudanc;a· Seus resultados mastram itnicamerite 0 ejeito liquido da propaganda sabre esta atitude e nila a dindmica mais complicada da rea<;ilo q'l1Jecanduz a este ejeito liquido. Mas, como -temos visto, 0 malOgro do filme pode ser
devido ao fato de que dois temas, cada urn dos quais era eficaz, produztram reac;6es que se anularam mutuamente. 0 material das entrevistas permite-nos, portanto, dar uma explicac;ao psicol6gica de reac;6es que pottem nao se registrar nos resultados experimentais. Examinaremos brevemente urn quarto tipo de bumerangue, quando mais nao seja pela frequencia em que e encontrado na propaganda. i!:ste bumerangue e 0 resultado ,de que chamamos, com as devidas escusas a Whitehead, a jalacia da exemplijicacao mal colocada. Sempre que a propaganda lida com assuntos que SaD francamente familiares para 0 publico em perspectiva, existe 0 risco de que alguns dos assuntos especificos escolhidos, nao sejam considerados como representativos por alguns individuos da audiencia, que consultam sua pr6pria experiencia. 0 folheto que trata dos negros e da guerra, a que nos referimos acima, era dedicado em grande parte, aos ganhos sociais e econ6micos dos negros na demoeracia norte-americana. 0 tern a era ilustrado, especialmente, por fotografias de negros eminentes norte-americanos, por melhorias nas condic;6es habitacionais etc. Mais ou menos 40% de uma amostra de negros considerou to do 0 panfleto como "mentiroso", em vista da sua pr6pria experiencia, de urn lado, e dos "exemplos de progresso", do outro. E de notar que a veracidade dos exemplos nao os impede de produzir uma reac;ao de tipo bumerangue. 0 leitor consulta sua pr6pria experiencia imediata e, se nao corresponde aos exemplos contidos no documento, rejeita-os de todo 0 corac;ao. A desconfianc;a engendrada por estas discrepancias evidentes entre "os fatos" e "a propaganda" tende a generalizar-se e a dirigir-se para 0 docurnento como urn todo. Outrossim, as reac;6es de tipo bumerangue se difundem muito alem das pessoas que as sentiram inicialmente. Ao discutir 0 documento com outros individuos, 0 leitor desconfiado se converte, por assim dizer, em foco de cepticismo contagioso. Predisp6e outros leitores potenciais a me sma atitude desconfiada. Assim, a analise de conteudo e a analise das reac;6es, que eliminam essas bases para as reac;6es tipo bumerangue, desempenham importante func;ao profih'itica. Nossa exposic;ao talvez tenha abarca-do exemplos suficientes de analises de propaganda, para ajudar a veneer uma perene dificuldade com os autores e produtores de propaganda. 0 escritor inspirado nem sempre pode aceitar a nOc;ao de que 0 que ele concebeu como expressao unica de urn momento inspirado possa ser provavelmente melhorado, ou sequer tocado, por aquilo que the parece ser s,penas urn processo mecanico de testagem. Mas isto se afasta do nosso assunto. Nao se deve pensar que estejamos atacando a mentalidade dos artifices, dos tecnicos e dos artistas que inventam essa propaganda. Nao cremos que a nossa amUise prosaica possa emparelhar-se com a habil ret6rica e os impressionantes ritmos que entram em sua dramatica eficiencia. Concordamos que nao podemos facilmente ensinar-lhes 0 seu oficio. As ideias criadoras, quer sejam expressas por palavras, sons ou imagens, nao podem manifestar-se
Mas a pesquisa sistematica torna-se necessaria para sinteticamente.9 saber se os propagandistas atingiram seus alvos. Da mesma forma que os investigadores nao podem escrever roteiros aceitaveis, estamos convencidos que os propagandistas tampouco podem calibrar os efeitos psicol6gicos dos seus produtos, sem empregar tecnicas como as que temos descrito. Pode-se mesmo imaginar que esteja na natureza do problema 0 fato de que 0 propagandista tenha que deixar de lado algumas das implicac;6es indesej adas do seu trabalho. 1sto explica a frequencia com que os nossos testes descobrem inadequac;6es que ao que parece, poderiam ser previstas. Mas, na realidade, a analise das reac;6es costuma ser indispensavel; descobre muitas outras insUficiencias que nao podemos examinar agora mais extensamente. 1sto 5e estende aos modos de apresentac;ao. Por exemplo, tendo em conta 0 fato tecnico, a analise de reac;6es costuma ser indispensavel: descobre multidao de coisas que 0 radio tomou do cinema, a mudanc;a rapida de cenas correspondentes a montagem em apresentac;6es visuais. Estamos certos, na base dos testes, que esta tecnica produz obscuridade para 0 radiouvinte comurn. Perde-se a sequencia. Os ouvintes nao sabem exatamente de que se trata. Perdem 0 interesse. De modo muito parecido, as alus6eR hist6ricas chegam muitas vezes a orelhas moucas, a menos que sejam minuciosamente explicadas. Pens emos tambem na questao da autenticidade, no casu dos filmes dOcumentais. Os propagandistas provavelmente ficariam surpresos se soubessem com quanta frequencia 0 audit6rio p6e em duvida a possibilidadf::' de ver urn filme real de Hitler em seu retiro da montanha ou do enxundioso Goering, numa sala de confer€mcias. 0 propagandista sabe que e urn recorte de uma pelicula alema, mas 0 audit6rio nao sabe. A desconfianc;a nasce e se difunde. Do mesmo modo, encontramos numerosos erros de apreciac;ao no emprego de locutores de radio ou na reproduc;ao de discursos oficiais que exaurem a paciencia dos ouvintes. Temos repetidamente sublinhado a necessidade de obter provas detalhadas das reac;6es do publico a propaganda. Como ajuda para este fim, usamos amiude urn processo denominado "analisador de programas". Esse processo, assim chamado porque foi a principio usado para testes de programas de radio, pode ser usado tambem para qualquer outro tipo de comunicac;ao, como num filme, por exemplo, que se desenvolve numa dimensao temporal. A finalidade do analisador de programas pode ser ex9.
Estamos muito cordialmente de acordo com Aldous Huxley sobre uma questao que A essencialm~nte a mesma ", .. 0 homem de letras fa.z a maior parte da ~ua obra nao POT calculo, nao pela aplicagao d~ formulas, mas por intuigao estetica. Tern algo a dizer, e 0 diz com as palavras que the parecem estetica.mente mais satisfator,ias. Depois do acontecimento aparece 0 cr1tico (leia·se: 0 anelista de propaganda), que descobre que o escritor empregou certo gobnero de dispositivo literario que pode ser cataloga.do no capitulo apropriado do compendio dos "conselhos para escrever". 0 processo e, em gra.nde parte, irreversiveI. Se alguem nao tiver talento, nao pode confeccionar com 0 Iivro de receitas, uma boa obra de arte. "T. H. Huxley as a man of letters", Huxley Memorial Lecture, 1932, 28; ver tambem Remy de Gourmont, La culture des idees, 1900, 51.
plicada rapidamente. As entrevistas sabre re~6es a propaganda devem, naturalmente, ser feitas somente depois que 0 filme ou programa de radio terminou, uma vez que nao se deseja interromper a fluencia normal das impress6es do audit6rio. Como podemos, entao, ajudar a assistencia a recordar suas rea«6es a aspectos particulares do material? Se 0 entrevistador mencionasse cenas ou epis6dios especificos, ele estaria determinando os focos de aten«ao. Alem disso, a descri«ao que 0 entrevistador fizesse da cena influiria na exposi«ao que 0 entrevistado faria, por sua vez, da su;:j, experiencia. 0 analisador de programas serve para eliminar essas limita«6es. Ao assistir a urn filme ou escutar um programa de radio, cada sujeito aperta um botao verde que tern na mao direita, quando gosta do que the e apresentado ou urn botao vermelho na mao esquerda, quando a apresentagao the desagrada. Nao aperta nenhum dos bot6es, quando esta "indiferente". Essas rea«6es sac registradas numa fita m6vel, sincronizada com 0 filme ou o programa de radio. Assim, os individuos do aUdit6rio registram sua aprova«ao ou desaprova«ao, a medida que VaG reagind'o ao material apresentado. As raz6es dessas rea«6es e seus pormenores determinam-se posteriormente pelo tipo de entrevista focalizada a que nos temos referido. Duas vantagens desse processo resultam claras. Em primeiro lugar G pr6prio audit6rio escolhe as partes do material que sac bastante imp ortantes para serem objeto de uma entrevista pormenorizada. Cada ouvinte apresenta, por assim dizer, uma eXj)osi«ao em march a das suas rea«6es, ao classificar 0 material em tres grupos: as partes que 0 afetam de maneira positiva, negativa, ou que the sac indiferentes. Em segundo lugar, as respostas registradas na fita pelo audit6rio podem ser reunidas intatas, fornecendo a "curva de resposta" geral. Esta curva presta-se ao tratamento estatfstico, possibilitando-nos obter a origem das respostas favoraveis ou desfavoraveis. Acima de tUdo, prove, sempre com antecedencia, a analise favoravel, extremamente usada como guia para a entrevista focalizada.
PROPAGANDA TECNOLOGICA PELOS FATOS
OU PROPAGANDA
Este estudo talvez tenha atingido sua finalidade principal. Pode ter dado ao leitor alguma ideia dos processos usados na analise psico16gica da propaganda. Vejamos agora algumas conclus6es gerais a que chegamos no decurso do nosso trabalho. Uma das rea«6es mais not6rias que temos observado em nossos testes, e a desconfian«a geral que a propaganda in spira a muita gente. A "propagandite" alcan«ou propor«6es epidemicas. Qualquer enunciado de valares corre 0 risco de ser tach ado de "mera propaganda" e imediatamente descartado. As express6es diretas de sentimentos sac suspeitas. Comentarios, como os seguintes, sac tfpicos do homem comum da rua, quando acredita que outros estao procurando exercer influencia sabre ele:
Acredito que, a conversa d~le e tola demais para ser aceita por uma mentalidade adulta. ProdUZ1Uem mlm uma reaQao contrana a. que, suponho, era esperada. Pa.rece que eles querlam que a gente se sentlsse arrebatada pelo patriotismo, mas para mim a - f' contraria. re2oQao 01 E depois, no 1im, isso de assobiar a "Bandeira Estrelada". ("The Star.Spangled B " h' 'I t ' anner , ~no naClOna nor e·amencano - N. do trad,) Teda a gente acredita na sua bandeira., mas nmguem gosta de te-Ia sacudida na cara.
Essa desconfian«a do sentimentalismo nao deve surpreende·lo. Parece que houve relativamente poucas charangas militares durante a ultima guerra. Bern disse 0 psic610go Ernst Kris, referindo-se a nossos inimigos como a n6s mesmos, "os homens foram para a guerra no meio da tristeza e do silencio".lO Ou, nas palavras do sujeito de urn dos nossos testes: Na presente situaQao, nao vimos os rapazes desfilarem pelas ruas, como aconteceu conos. co em 1917. Nao chegamos a ficar sensibilizados pela situ2oQao.
Que implica«6es trazem essa farta de explos6es coletivas de entusiasmo para 0 propagandista que procura reunir toda ,especie de apoios para 0 esf6r«0 de guerra? Nossas observa«6es sugerem que a desconfian«a se dirige sobretudo contra a propaganda que procura abertamente influir no pUblico ou emociona-lo por meio de apelos gerais aos sentimentos. As tentativas de excitar emo«6es difusas sao repelidas. Mas isto nao e mais que urn cepticismo parcial. Os mesmos aUdit6rios que erguem defesas contra os apelos veementes e Os sentimentos patri6ticos, mostram-se dispostos a aceitar as implica«6es de outro tipo de propaganda, que podemos nos aventurar a chamar propaganda tecnol6gica ou propaganda pelos fatos. Comecemos, novamente, com as observa«6es feitas durante 0 curso dos nossos estudos. Observamos imediatamente urn interesse centralizado nos fatos circunstanciais detalhados. 0 que predomina sao os fatos. 0 comentario de urn sUjeito dos nossos testes reflete esta atitude: Muita gente [sic] nao gosta d~sse bl"·bla·bla Eu, [sic] por exemplo, s6 gosto dos fatos reais.
de patriotismo
que procura excitar 0 povo.
Este desejo de informa«ao especffica, quase tecno16gica, assume as vezes formas ingenuas, como se pode ver pela seguinte observa«ao sabre urn filme documental que destacava 0 poderio dos nazistas: Fique! verdadeiramente estupefato. Quere dizer que nao acredito em ma!s na.da do que tonho lid~ nos jornais. Mas, 0 que voce ve com OS pr6prios olhos e e autentico, voce tern Que acredltar.
Uma das cenas mais impressionantes de urn programa de rlldio destinado a levan tar 0 moral, que mencionamos acima, descrevia com muitos detalhes como a velocidade de urn comboio nao esta necessariamente de<.
10.
~nteressa.nte e que, baseando seu estudo sabre materials de propaganda completamente dlferpntes, Ernst Kris tenha chegado quase a.s mesmas conclus6es. Ver seu elucidativo trabalho: ·Some, problems 01 war propaga.nda", The Psychoanalytic. Quarterly 1943 12 381-399.
'
"
. 'cia ela velocidade do barco mais lento, Envolta nessa capa d~ in~~::l:ao t~cnica, estava uma implica«ao eficaz e que os homens da ma~mha mercante se sacrificam voluntariarr:ente ~pelo~bem c,omum'd_ts,~orap:~~ . f tos _ "certamente meus sacrific'lOS nao sao 19uals aos e e , 0' a _, eliriam uma sug,estao direta do mesmo tlpo. " ser aceita pOl' aqueles que le~ batalha ou bombardeios redundam eficazes fHmes que mostram cenas e ~," ensase se focalizam os detalhes das opera«oes e nao sublmham ~a m gem" de propaganda direta para 0 audit6rio. Falam os jatos, nao 0 propagandista.
, mesmos' Qual a podemos perguntar agora a nos .~ _ 't "fatos"? Quais sac as fun«oes desse predomman e nos . '0 em detalhes circunstanciais, serve t
~ d0 1 'ntere-sse razao ' • ? 0 'ncimteresse. t
t6tipo au como pro dente concre 0, TtC d do em que modelo que ajuda a orientar a gente para uma parte 0 mun ~ , . Tem um valor de orientagao. Para grandes setores da popula«ao, os
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~ ompletamente de~concer· acontecimentos hist6ricos que experimenta:n s.a~ c. . ~ t 0 es Na oes que sac aliadas um dia, sac mlmlgas no ~a se~Ul:r~' ~~~~r~ neg;o de desespero ou brilhante de promessas. ~Ul.tOS mdlvl.duOS ~ tOm tempo ou capacidade para compreender as tendenclas e as forga~ ~~~ e:tao pOI' detnls dos fatos, mas sentem como es.tao es~rei~amente 11gadas as suas vidas. Tudo isto acentua a grande Importancla d: uma orienta«ao Os fatos concretos revestem 0 papel de modelos em ~ermos, segundo o~ quais, se podem explicar e atender os acontecimentos mals com· plicados. . 'd' d m programa Sao numerosos estes exemplos. Assim, um ep:so 10 ~.u de radio para levantar 0 moral fez notavel impress~o .aO pUblCO.:na ~er~~ d 1914 Franklin Delano Roosevelt, entao subsecretano da M~rmha, m~o. ~rou.s~ a tripula«ao de um submarino numa viagem e~penmental, lmleP . d t com lSt'bmarmos Isto resu diatamente depois de uma sene de esas res '. tou muito mais satisfat6rio e eficaz do que quaisquer palestra~ a :es~~t~ da. cora gem e das experiencias passadas do Presidente. Teve un«ao t gradora
e explicativa,
_ 'se os marinheiros mergulhavam de boa vontad~, Dem('nstrou que nao era covarde, que, 'd nte porque sentiu pessoalmente ele tambem i~, com eles; e 0 melhor homem para ser presl e , os fatos, pelas coisas que tem feito.
Assim quando os filmes poem em destaque especifico a am,e~cia ~irtual de divisoes blindadas na Inglaterra depois de Dunquerque, este tlPO. de fato unificara eficazmente uma diversidade ~e ?ontos s~ltoS: Sera men. cionado repetidamente nas entrevistas. ContnbUl par~ cr~s~a11zar,pOI'~s sim dizer, 0 engenho e 0 valor dos ingleses. perante ta~s dl.flCuldades. e:~ sulta ser eficiente, quando as avalia«oes dlretas dos mgl~s.es (com~ P It' "d Os jatos que umjtcam e expsoas) provocariam ceticismo e dUVI a, . . t t'tuem um componente tmporcam" um curso geral de acontectmen os, cons t
pelos jatos. . d pelos Podemos fazer outra observa«ao !Seral acerca da propagan a 0 fato que ficiente fatos. Temos observado que parece ser surnamen t e e
tante da propaganda
contem as implica«oes desejadas da propaganda. E este 0 jato surpreen-, dente, do tipo dos que exploram as sec«oes de "acredite se quiser" dos programas de perguntas. E eficiente pelo menos POI' tres razoes. Em primelro lugar, tem grande valor de atengao. 0 fa to surpreendente se destaca como uma "figura" sabre um "fundo". Em segundo lugar, esses bocados escoIhidos de informa«ao tem valor de dijusao. Transformam-se rapidamente em parte das conversas e comentarios correntes (Voce sabia que? .. ) As implica«oes propagandisticas desses fatos se transmitem, portanto, de baca em baca. Finalmente, esses fatos unificadores tem valor de conjianga. Sao "frios", como se diz adequadamente na linguagem coloquial. Provavelmente nao provocarao a desconfian«a que esta tao latente na popula«ao. A propaganda pelos fatos tern ainda outro carateI', que a distingue da propaganda que procura persuadir pelos apelos de clarim e pel a exorta«ao direta. A propaganda pelos fatos nao procura tanto dizer a gente aonde deve iI', mas procura de preferencia mostrar 0 caminho que deve tomar para ir all. Respeita 0 sentimento de autonomia do individuo. i: 0 individuo que toma a decisao. A decisao e voluntaria, nao imposta. A propaganda pel os fatos funciona POl' rodeias, nao POl' prescri«oes. Tem valor A far«a cumulativa dos fatos carrega seu pr6prio momendie orientagao. tum, POl' assim dizer. E, virtualmente, urn silogismo com uma conclusao implicit a - conclusao que deve ser tiradn pelo pr6prio publico e nao pelo propagandista. Tomemos urn caso muito oportuno: recentemente urn departamento subordinado ao Ministerio da Guerra, dirigiu as familias dos combatentes um panfleto exortando·as a nao espalhar 0 conteudo das cartas recebidas dos seus parentes em luta no Exterior. Pouco se insistia sabre 0 tema de que palavras descuidadas podiam provocar a perda de vidas e de navios, Pelo contrario, a malar parte do folheto era dedicada a uma exposi«ao detalhada dos metodos empregados pelo inimigo para obter uma informa«ao total, proveniente de peda«os e trechos, recolhidos POl' agentes de espionagem em diferentes ocasioes e diversos lugares. Os testes demonstraram que 0 folheto teve exito, permitindo que 0 leitor compreendesse as conclusoes inevitaveis dessa classifica«ao circunstanciada de fatos. Quando as conclusoes sac tiradas espontaneamente, e pouco provavel que se produzam os desenganos que tantas vezes acompanham a pro' paganda exortativa. A oratoria delirante do tipo de "dar socos na mesa" pode produzir um entusiasmo passageiro, seguido de posteriores recriminagoes ao passe que as decisoes autanomas, conseguidas pela pressao acumulada dos fatos, nao exigem esse prego. Interessante e que os nossos inimigos tambem descobriram 0 poder da propaganda tecnologica. Este tipo de propaganda, como qualquer outro instrumento, presta-se tanto ao usa como ao abuso. Os pseudofatos podem suplantar os fatos reais, Alguns observadores comentaram a "encenagao" Dizem que, pOl' exemplo, antes da invasao da praticada pelos nazistas. Belgica, urn oficial alemao fez uma aterrisagem forgada na Belgica. Em
seu poder, foram encontrados pIanos para a invasao, completamente diferentes dos realmente preparados. Temos ainda 0 caso da hist6ria da primeira noite de bombardeio de Berlim. Dizem que os nazistas publicaram l"£lat6rios de grandes destruic;6es em Berlim, em jornais suic;os e suecos, atribuindo-as a aviac;ao ingU\sa. Essas noticias da imprensa foram retransmitidas pela cadeia de emissoras alemas e a populac;ao local foi convidada a observar os danos reais e cons tatar, de visu, que as noticias eram falsas. Deste modo, e provavel que muita gente nao pode escapar a conclusao de que os ingU\ses haviam mentido. 0 efeito deste tipo de autodoutrinac;ao foi, talvez, muito maior que se a radio alema tivesse posto diretamente em duvida a veracidade dos ingleses. Pode-se observar, de passagem, que a 16gica da propaganda pelos fatos nao se afasta muito da 16gica da educac;ao progressiva. Tipico dessas escolas e que 0 professor nao indica 0 que as crianc;as devem fazer ou acreditar, mas cria situac;6es que as levam a decidir por si as condutas e as crenc;as que 0 professor considera apropriadas. A pr6pria experiencia dos leitores ha de demonstrar-lhes que a propaganda pelos fatos nao e urn conceito "novo"· 0 unico ponto que nos interessa e formular esta ideia em term os que possam ser de algum valor na planificac;ao de programas destinados a elevar 0 moral do povo. A desconfianc;a e 0 ceticismo generalizados, levados ao extremo do cinismo, saD forc;as corrosivas. Mas, ja que estao ai, devem ser analisadas. Se a propaganda se limita completamente a exortac;ao, corre 0 risco de intensificar a desconfianC;a. Pode-se utilizar a propaganda pelos fatos para suplantar o cinismo comum do modo de encarar os fatos. Nao queremos sugerir que as exortac;6es sejam coisas do passado. Valares e atitudes comuns devem ser estabelecidos numa parte consideravel da populac;ao, se desejarmos que a propaganda seja .efetiva. Mas nossas observac;6es podem ser uteis para aqueles dentre n6s que se interessam por uma era construtiva no ap6s-guerra· Nao devemos esperar que os problemas do ap6s-guerra exerc;am pressao sabre n6s para reconhecermos que a reunificac;ao das sociedades tera que se utilizar, ate certo ponto, dos instrumentos da propaganda. Finalmente, nao queremos exagerar 0 papel da propagand,a. A longo termo, nenhuma propaganda pode prevalecer se vai contra os acontecimentos e contra as forc;as subjacentes, como os fascistas tinham comec;ado a descobrir. A propaganda nao e um substitutivo da politica social e da ac;ao social, mas pode servir para enraizar tanto a politica como a ac;ao no entendimento dos povos.
Parte
IV
ESTUDOS SOBRE A SOCIOLOGIA DAS CIENCIAS
INTRODUCAO
A
PARTE IV E CONSTITUfDA de cinco trabalhos sabre a sociologia das ciencias,l campo especializado de pesquisa que pode ser considerado como subdivisao da sociologia do conhecimento, ao tratar, como 0 faz, do ambiente social desta classe particular do conhecimento que provem da experimenta<;ao e da observa<;ao controladas e voltada para elas. Em suas linhas gerais, a materia da sociologia da ciencia e a interdependencia dinamica entre a ciencia, como atividade social em movimento que faz nascer produtos culturais e de civiliza<;ao, e a estrutura social que a envolve. As rela<;6es reciprocas entre a ciencia e a sociedade constituem o objeto da pesquisa, como tiveram de reconhecer os que se dedicaram seriamente a estudos sabre a sociologia da ciencia. Mas, ate ha pouco, a reciproctdade dessas relac;6es recebeu atenc;ao muito desigual, pois dedicou muita aten<;ao a influencia da ciencia sabre a sociedade e pouca atenc;ao a influencia da sociedade sabre a ciencia. Possivelmente por ser' tao facilmente aparente, 0 imp acto da ciencia sabre a estrutura social, especialmente por intermedio dos seus subprodutos tecnol6gicos, tern side durante muito tempo objeto de interesse, senao de estudo sistematico. E facil constatar que a ciencia e uma farc;a dinamica de mudanc;a social, embora nem sempre de mudanc;as previstas ou desejadas. De vez em quando, durante 0 ultimo seculo aproximadamente, ate os ffsicos safram dos seus laborat6rios para reconhecer, com orgulho e surpresa, ou para repudiar, com horror e vergonha, as conseqtiencias sociais do seu trabalho. A explosao da primeira bomba at6mica sobre Hiroshima nada mais fez que comprovar 0 que todo 0 mundo sabia. A ciencia tern conseqtiencias sociais. 1.
Para uma explora~ao completa deste campo, ver Bernard Barber, Oder (Glencoe, Ill.: The Free Press, 1952); ver tambem Bernard ton, "Brief bibliogra.phy for the sociology of science", Proceedings demy of Arts Sciences, maio de 1952, 80, 140-154.
Science Barber of the
and the Social e R. K. Mer· American Aca·
Mas se as conseqiiencias da ciencia sabre a sociedade foram percebidas ha mUito tempo, as conseqiiencias de diversas estruturas sociais sabre a ciencia nao 0 foram. Muito poucos fisicos e nao muitos cientistas sociais prestaram atengao as diversas influencias da estrutu~a social sabre 0 ritrr;o de desenvolvimento, os focos de interesse e, talvez, sobre 0 propno conteudo da ciencia. E dificil dizer porque existe essa relutancia em explorar os efeitos do ambiente social sabre as ciencias. A resistencia pode provir da suposigao erranea de que admitir 0 fato ,sociologico seria compro meter a autonomia da ciencia. Talvez se pense que a objetividade, valor Uio fundamental no ethos da ciencia, seja ameagada pelo fato de que a ciencia e uma atividade social organizada, que pressup6e 0 apoio da sociedade, de que a medida desse apoio e os tipos de investigagao para os quais e dado, diferem em estruturas sociais diversas, da mesma forma que 0 recrutamento de talentos cientificos. Pode revelar-se aqui alguma coisa do sentimento de que a ciencia seria mais pur a e imaculada, se se produzisse um vacuo social. Da mesma forma que a palavra "politica" tem hoje para muita gente a conotagao de baixa corrupgao, tambem a frase "contextos sociais da ciencia" pode significar, para muitos fisicos, a intromissao de interesses alheios a ciencia pr6priamente dita. Ou talvez a resistencia proceda da crenga igualmente errada de que reconhecer as ligag6es da ciencia com a isociedade, e impugnar os moveis desinteressados dos cientistas. Pensar desse modo pareceria implicar que o cientista procura, acima de tudo, nao 0 progresso dos conhecimentos, mas ('. engrandecimento da sua pr6pria personalidade. Temos assinalado esse tipo familiar de erro em diferentes trechos deste livro: 0 erro se estriba em tomar erraneamente 0 plano de analise dos motivos pelo plano de analise institucional. Como se indica nos capitulos seguintes, os cientistas podem ser motivados' de maneiras muito variadas: pelo desejo desinteressado de aprender, pela esperanga de ganhos econamicos, pela curiosidade ativa (ou ociosa, como diz Veblen), pelo espirito agressivo ou de competigao, pelo egoismo ou pelo altruismo. Mas os mesmos motivos tomam express6es sociais diferentes em ambientes institucionais diferentes, assim como motivos diferentes podem tomar aproximadamente a mesma expressao social em determinado ambiente institucional. Num ambiente institucional, 0 egoismo pode induzir um cientista a fazer progredir um ramo da ciencia util para as artes militares, em outro ambiente institucional, 0 egoismo pode leva-Io a trabalhar em investigag6es que nao tem, evidentemente, aplicagao militar. Examinar como e ate onde as estruturas sociais canalizam a diregao da pesquisa cientifica, nao significa acusar 0 cientista pelos seuS motivos. Todavia tem tido exito acontecimentos historicos em que fracassaram os estudos ~ os escritos dos cientistas sociais. 0 curso da Historia recente tem tornado cada vez mais diffcil mesmo para os cientistas recolhidos em seus laboratorios e que poucas ~ezes tem contato com a sociedade civil e a polftica geral, esquecer 0 fato de que a propria ciencia depende em varia.!': modos da estrutura social. Para citar apenas alguns desses acon-
tecimentos, lembraremos primeiro a ernergencia da Alemanha nazista, com o seu impressionante impacto sabre a natureza, a qualidade e a orientagao da ciencia cultivada naquele pais. Antes de reconhecer isto como caso extremo e, portanto, instrutivo, de uma relagao mais geral, antes de encara-lo como testemunho de que a ciencia requer formas particulares de estrutura social para desenvolver seu proprio genio, alguns fisicos 0 assinalam como urn caso excepcional e patol6gico, sern implicag6es para a situagao mais geral. Mas, durante a guerra, a mobilizagao das fargas da ciencia levou maior numero de cientistas a reconhecer que a ciencia e a estrutura social se influenciarn mutuamente. E, em data muito recente, a politizagao da ciencia na Russia sovietica tambem levou outras pessoas a mesma tardia conclusao. Com os acontecimentos :sucedendo-se tao rapidamente, que uns pareciam pisar nos calcanhares dos outros, ate parecer que s6 se tratava de um s6 acontecimento continuo, vieram a reconhecer as conex6es entre a ciencia e a estrutura social muitas pessoas que, anteriormente, concebiam essas ligag6es - se e que pensavam nelas - como inveng6es da sociologia marxtsta. (Em seu excelente livrinho, On Understanding Science, por exemplo, James B. Conant ainda se refere as "interligag6es entre a ciencia e a sociedade" como assunto "de que tanto tem falado, nos ultirnos anos, os ~10SS0S amigos marxistas"). Pois bern, como vimos com certo vagar no Capitulo XIV, Marx e Engels, na realidade, expuseram uma concepgao geral dessas interligag6es e deploraram 0 costume de escrever "a hist6ria das ciencias como se elas tivessem caido do ceu". Mas, desde a epoca de Marx tJ Engels, s6mente houve, infelizmente, poucos estudos empiricos sabre as relag6es entre a ciencia e a estrutura social. Os mesmos velhos exemplos historicos veneraveis pela idade e gastos pelo usn, tem sido apresentados peri6dicamente para indicar que a necessidade tecnol6gica leva, as vezes, os cientistas a enfocar sua atengao sabre problemas distintivos de pesquisa. Mediante a excessiva conformidade com as primeiras concepg6es de Marx e Engels, rnanifestou'se a hipocrisia e se limitou 0 progresso da ciencia social. Ou velhas citag6es novamente "requentadas" foram tomadas erraneamente como pesquisas, Desenvolveu-se urn tipo de pensamento e de literatura que seria apropriado para um grupo religioso em que a tradigao imutavel e 0 que importa e onde a antiga revelagao deve permanecer intata. Mas esta norma e pouco apropriada par~ a ciencia, incluida a ciencia social, em que os precursores sao venera dos, nao pela zelosa repetigao dos seus primeiros achados, senao pelas amplificac;6es, modificag6es e amiUde, Na sociologia da pela rejeigao de algumas das suas ideias e resultados. ciencia, como em outros terrenos, podemos voltar com proveito a sabedoria -do apotegma de Whitehead: "Uma ciencia que titubeia em esquecer os seus fundadores esta perdida". Ha amplas provas institucionais desse malagro em acompanhar mediante pesquisas empiricas os nurnerosos e agora bern conhecidos problemas das relagoes entre a ciencia e a estrutura social: nao existe em qual-
quer das universidades deste pais urn departamento de pesquisas sabre as relacoes sociais da ciencia. Os cinco lutimos capitulos deste livro estao dedicados as relacoes entre a ciencia e 0 seu ambiente social. Escritos em varias ocasioes no decorrer de alguns anos estes trabalhos tern dois objetivos principais. Procuram, em primeiro lugar, inquirir os diferentes modos de interdependencia da ciencia e da estrutura social, tratando a propria ciencia como uma instituigao social relacionada de divers as maneiras com as outras instituigoes da epoca. Em segundo lugar, fazem uma tentativa de analise funcional dessa interdependencia, com referencia especial as questoes de boa ou ma integragao. Capitulo XVII expoe tipos de ligagao entre a estrutura social e 0 de' senvolvimento da ciencia, enfocando-se especialmente sabre as sociedades que tern urn nucleo politico altamente centralizado. Investiga os pontos de tensao entre as normas institucionais da ciencia e as normas institucionais da ditadura politica. Tambem assinala os atritos que se produzem em sociedades menos centralizadas, como a nossa, entre a alta avaligao da ciencia e a sml presente utilizagao para fins militares e para novos equipamentos de produgao industrial, que podem, certas vezes, produzir desemprego. Ilustra tambem a sugestao de que as conseqtiencias sociais do emprego moderno das ciencias poderao ,estar assentando as bases de uma rebeliao contra a. ciencia, POI' errada que possa ser essa rebeliao na escolha do seu objetivo. Entre as razoes dessa hostilidade para com as ciencias, ('.onta-se a que se expressa numa frase que ate ha pouco parecia duvidosamente figurada, mas que agora parece quase literal: "Considera-se a ciencia responsavel, em grande parte, pela criagao' dessas maquinas de destrui' gao humana que, ao que se diz, podem mergulhar nossa civilizagao numa noite e numa confusao eternas"· o Capitulo XVIII e urn trabalho complementar sabre 0 Capitulo XVII e estuda as relagoes entre a ciencia e a ordem social democratica. Considera-se que c ethos da instituigao social da ciencia compreende criterios universais de validez cientifica e de valor eientifico, abrangendo assim valares facilmente unificados aos va16res de uma sociedade livre em que o que importa sac os talentos e os triunfos dos homens, e nao a situagao ou as origens que se lhes atribuem. Outro ingrediente do ethos da ciencia e o "comunismo", no sentido especial de que as normas institucionais da clencia converteriam suas realizag5es em patrimonios da comunidade, compartilhados por todos e nao pertencendo a qualquer urn em particular. Nesse mesmo capitulo sac estudados rapidamente os confUtos entre este elemento da etica cientifica, com sua insistencia em que os conhecimentos devem ser postos a disposigao de todos os individuos preparados para assimila-los, e as exlgencias de segredo, muitas vezes impost as pelos organismos militares e, as vezes, pelas organizagoes econamicas. Tambem nesta, circunstancia, 0 recente desenrolar da historia tornou essas analises institucionais urn tanto academicas e afastadas dos assuntos da vida de todos Os dias. Pelo contrario, as tensoes aumentam e se tornam visiveis para
todos. Assim, por exemplo, Karl T. Compton, inaugurando em 1949 novos centros de p('squisas de armamentos da Armada julgou necessario lembrar aos seus ouv!ntes: "Infelizmente, 0 segredo e 0 progresso sac incompativeis entre si. Isto e sempre certo no caso da cii~ncia, seja para fins militares ou outros. A ciencia floresce e os cientistas fazem-na progredir num ambiente de investigagoes livre e de livre intercambio de ideias, com 0 estimulo mlituo e constante de cerebros ativos que trabalham no mesmo terreno ou em campos adjacentes. Impor segredo a ciencia equivale a aplicar urn freio ao progresso".
o Capitulo XIX continua a desenvolver a implicagao dos capitulos precedentes, no sentido de que os subprodutos econamicos da ciencia, sob a. forma de novas tecnologias e novos equipamentos de produgao, reagem sobre a situagao social da ciencia e, presumivelmente, sabre seu desenvolvimento sUbseqtiente. Esse trabalho e parcialmente urn inquerito sabre as origens das imagens que 0 publico faz da ciencia; do que a ciencia parece fazer para 0 povo e em favor do povo. Ha fortes indicagoes de que a reputagao social da cieneia, para a grande maio ria, repousa sabre os seus evi. dentes e poderosos sUbprodutos tecnologicos. Mas, devido a ausencia de pla~os para u adogao ordenada desses progressos da tecnologia, muitos ope. ranos vem a sofrer, em conseqtiencia da falta de empregos, da obsolescencia das suas habilidades, das interrupgoes de trabalho e do desemprego prolongado. TUdo isto ,pode tambem afetar a imagem que 0 publico faz da ciencia. E quando aceitam 0 papel de tecnicos, ou de peritos, em situagoes sUbalternas sujeitas a orientagao de "diretores executivos", os engenheiros e os tecnicos acham possivel abjurar de todo e qualquer interesse pelas conseqtiencias sociais dos diferentes metodos us ados para implantar as mudangas de tecnologia. Os ultimos capitulos deste livro, que refletem dois tipos de estudos empiricos sabre a sociologia da ciencia, foram os primeiros que se escreveram sabre 0 assunto. 0 Capitulo XX e dedicado a algumas das bases so' ciologicas que sustentam a ciencia como instituigao social como este conceito se formou na Inglaterra do seculo XVII. Adota e pr~cura testar uma ideia implfcita na hip6tese de Max Weber' sabre as relagoes do primitivo prot~stantismo ascetico e 0 capitalismo, a saber, que este mesmo protestantIsmo ascetico contribui para proporcionar motivos e canalizar as atividades dos homens na diregao da ciencia experimental. Esta e a forma historica da hipotese. Em sua forma mais geral e analitica, sustenta que 8 ciencia, como as outras instituigoes sociais, tern que ser apoiada por valares do grupo para poder desenvolver-se. Nao ha, por conseguinte, 0 menor paradoxo em crer que ate mesmo uma atividade tao racional como a investigagao cientifica se baseia em vaIOres irracionais. Esta prematura incursao no problema das raizes sociol6gicas do interesse pela ciencia necess.ita ser ampliada, suplementada e corrigida por estudos hist6ricos, relatlVOS a outros tempos e lugares. Desses estudos comparativos devera surgir urn conhecimento mais substancial deste importante setor cta sociologia da ciencia.
XVII Uma vez fundamentada com firmeza a instituigao social da ci€mcia, quais sac os determinantes, diferentes dos complementos cientific.os, dos focos de interesse para a pesquisa e para escolha dos problemas? E a esta questao que 0 capitulo final e dedicado, ainda com a Inglatel'ra como lugar e 0 seculo XVII como epoca. Desde que apareceu pela primeira vez este trabalho, aumentou e se tornou mais acalorada a controversia sobre a desorientadora e esteril questao de se saber se a escolha de problemas para a investigagao cientifica e afetada ou nao pelas necessidades prllticas (economicas e 1.ecnol6gicas) da ~oca. Sao os entusiastas de urn e de outro campo que conseguem converter urn problema de pesquisa sociol6gica em "slogans" politicos, em que as respostas ja sac dadas de antemao, antes de se iniciar 0 arduo trabalho da pesquisa. 0 problema importante, no fim das contas, nao e de saber se essas influencias praticas sobre 0 curso do desenvolvimento cientifico tiveram lugar alguma vez ou se permaneceram sempre detenninantes. Constitui, pelo contrario, assunto de multiplas perguntas, CRua. uma das quais exige longo e paciente estudo e nao rapidas e impacientes respostas. Em que medida essas influencias atuaram em diferentes tempos e lugares? Em que circunst~mcias socio16gicas resultaram ser mais determinantes e em que circunstancias menos determinantes? Encontram-se caracterl.sticamente nas primeiras etapas de uma disciplina ~ientffica? Quais sac as diversas conseqiiencias, tanto para a ciencia como para a estrutura social, das divers as normas mediante as quais se ado tam os problemas para a pesquisa? A medida em que os documentos concernentes a estas questaes forem se acumulando, outro setor da sociologia da ciencia ira ganhando em substancia. 0 ultimo capitulo deste livro destina-se a proporcionar alguns materiais rel2tivos a urn breve periodo dos primeiros dias da ciencia na Inglaterra.
A CIENCIA E A ORDEM SOCIAL'
Nos COMEQOS DO SECULO XX, Max Weber observou que "a crenga no valor da verdade cientifica nao procede d'a natureza, mas e urn produto de determinadas culturas".2 Hoje, podemos acrescentar: "e esta crenga se transforma facilmente em duvida ou incredulidade". 0 desenvolvimento continuo da ciencia somente ocorre em sociedades de certa ordem, submetidas a urn complexo peculiar de pressupostos tacit os e de coagaes institucionais. o que e hoje para n6s urn fenomeno normal que nao exige explicagao e garante muitos valores culturais evidentes por si mesmos, foi, em outras epocas, e ainda e hoje em muitos lugares, anormal e pouco freqiiente. A continuidade da ciencia requer aparticipagao ativa de pessoas interessadas e preparadas pura os empreendimentos cientificos. 0 apoio a ciencia s6 e assegurado pelas condigaes culturais apropriadas. Por conseguinte, e importante examinar os fatares que motivam as carreiras cientificas, que selecionam e dao prestigio a certas disciplinas cientificas e rejeitam ou embaragam as outras. Tornar-se-a evidente que as mudangas na estrutura institucional podem restringir, modificar ou possl.velmente :impedir 0 cultivo da ciencia.3
A hostilidode para com a ciencia pode nascer pelo menos de dois conjuntos dEl chcunstancias, embora os sistemas concretos de valores - humanitarios, economicos, politicos, religiosos - sobre os quais se baseia, pos· 1. Trabalho IJdo na "American Sociological Society Conference", em dezembro de 1937. 0 autor agradece a.os profess6re5 Read Bain e Talcott Parsons e aos Drs. E. Y. Hart· shorne e E. P. Hutchinson, pelas suas valiosas sugestoes. 2. Max Weber, Gesammelte Aufsatze zur Wissenschaftslehre, 213; ct. Sorokin, Social and Cultural Dynamics, especia.lmente II, cap. 2. 3. Cf. Merton, Science, Technology and Society in Seventeenth Century England, cap. XI.
sam variar consideravelmente. 0 primeiro contem a conclusao l6gica, embora nao necessariamente correta, de que os resultados eu metodos da ciencia sac contrllrios a satisfac;ao de importantes valares. 0 segundo consiste, em grande parte, de elementos nao l6gicos. Repousa no sentimento de incompatibilidade entre os conceitos encarnados na atitude cientifica e os que se Ecncontram em outras instituic;6es. Os dois conjuntos de circunstancias repousam, em grau varhlvel, na base das rebeli6es atuais contra a cii'mcia. Podemos acrescentar que essas reac;6es racionais e afetivas estao implicitas tambem na aprovac;ao social da cH!ncia. Mas nestes casos acredita-se que a ciencia facilita a consecuc;ao de finalidades aprovadas e se pensa que os valares culturais basicos sac congruentes com os da ciencia e nao emocionalmente incompativeis com eles. A posic;ao da ciencia no mundo moderno pode ser considerada, portanto, como resultante de dois conjuntos de farc;as contrarias, que aprovam e desaprovam a ciencia como atividade social em larga escala. Limitamos nosso exame a alguns casos not6rios de certas reavaliac;6es do papel social da ciencia, sem implicar que 0 movimento contra esta fique assim localizado, em qualquer sentido. Muito do que aqui se diz pode ser aplicado a casos ocorridos em outras epocas e outros lugares.4 A situac;ao na Alemanha nazista, a partir de 1933, e exemplo dos modos como convergem processos l6gicos e nao l6gicos para modificar ou reprimir a atividade cientifica. Em parte, os obstaculos a ciencia sao urn subprodut(l inesperado das mudanc;as na estrutura politica e no credo nacionallsta. De acardo com 0 dogma da "pureza de rac;a", praticamente tadas as personalidades que nao preenchiam os criterios politicamente ~mposto& de ascendencia "ariana" e de manifesta simpatia pelos objetivos nazistas, foram eliminadas das universidades e dos institutos cientificos.5 Como entre os expulsos figurava numero consideravel de cientistas eminentes, uma conseqtiencia indireta desse expurgo racial foi 0 enfraquecimento da ciencia na Alemanha. Implicita nesse racismo esta a crenc;a na contaminac;ao da rac;a mediante relac;6es reais ou simb6licas.6 Limita-se ou proibe-se a pesquisa cientifica aos individuos de impecavel ascendencia "ariana", mas que colaboraram com nao arianos ou aceitaram suas teorias cientificas. Criou· -se nova categoria politica-racial para esses arianos incorrigiveis: a cate0 individuo mais ilustre dessa nova rac;a e goria de "jud€uS brancos". Werner Heisenberg, Premio Nobel de Fisica, que persistiu em declarar
4.
A morte prematura de E.Y. Hartshorne interrompeu urn estudo projetado sabre a ciencia no mundo moderno nos moldes que se exp6e neste capitulo. 5. Ver Capitulo III de E. Y. Hartshorne, The German Universities and National Socialism (Cambridge: Harvard University Press, 1937), sabre 0 expurgo nas universidades; cf. Volk nnd Werden, 5, 1937, 320-1, que trata de alguns dos novos requisitos para 0 doutorado .. 6.
:ll:ste e UIU dos muitos aspectos da introduQao de um sistema de cast as na Alemanha. Como obscrvou R. M. MacIver, "a ideia de contaminaQao e comum em todo sistema de castas". Sodety, 172.
que a teoria cia relatividade, de Einstein, constitui uma "base 6bvia para ulteriores investigac;6es".7 Nestes casas, os sentimentos de pureza nacional e racial prevaleceram claramente sabre a racionalidade utilitaria. A aplicaQao desses criterios produziu uma perda proporcionalmente maior nas faculdades de ciencias naturais e de medicina das universidades alemas do que nas faculdades de teologia e de direito, conforme observou E. Y. Hartshorne.8 Em contraste as considerac;6es utilitarias passam para 0 primeiro plano, quando se trat; da politica oficial relativa a direc;ao que devem seguir as investigac;6es cientificas. 0 trabalho cientifico que promete beneficios praticos diretos para 0 partido nazista ou para 0 Terceiro Reich deve ser incentivado acima de tUdo e os funrlos destinados a pesquisa devem ser redistribuidos de acardo com essa politica.9 0 rei tor da Universidade de Heidelberg declara que "a questao da importancia cientifica (Wissenschajtlichkeit) de qualquer conhecimento e coisa absolutamente secundaria quando compara com a questao da sua utilidade".lO o tom geral de antiintelectualismo, com seu desprezo pelo sabio te6rico e sua glorificac;ao do homem de ac;ao,l1 pode ter efeitos a longo prazo, e nao imediatos, sabre 0 papel da ciencia na Alemanha. Porque, se chegarem a consolidar-se essas atitudes, pode-se esperar que os elementos melhor dota':Jos da populac;ao fujam das disciplinas intelectuais despres· Cf. 0 6rgao oficial das SS, 0 Schwarze Korps, 15 de julho de 1937,2. Nesse numero Johan· nes Stark. presidente do Physikalisch-Technischen Reichsanstalt, insiste na eliminaQao de ta-is coiaboraQ6es que ainda perduram e protesta pela nomeaQao de tre5 professares universitarios que foram "discipulos" de nao arlanos. Ver tambem Hartshorne. op. cit., 112-3; Alfred R08enberg, Wesen, Grundsiitze und Zicle dcr Nationalsozialistischell Dcntscbcn Arbeiterpartci, (Munique: E. Boepple, 1933), 45 e segs.; J. Stark, "Philipp Lenard al:; deutscher Naturforscher", Nationalsozialistischc Monatshefte, 1936,.71, 106-11, onde Heisenberg, Schrodinger, von Laue e Planck sac criticados por nao se terern sepa.rado da "fisica judia" de Einstein. 8. Os dados s6bre os quais se baseia est a afirmaQao procedem de urn estudo inedito de E. Y. Hartshorne. •. Cf. Wisser"'chaft nnd Vierjabresplan, Reden anHisslich der Kundgebung des NSD-Dozentenbunde8, 18 de janeiro de 1937; Hartshorne, op.· cU., 110 e scgs.; E. R. Jaensch, Znr N~ugestaltung des deutschen Studententums und der Hochschule, (Lipsla: J. A. Bart. 1937) esp. 57 e segs. No campo da hist6ria, por exemplo, Walter Frank, diretor do Reichsinstitut fiir Geschichte des neuen Deutschlands, "a primeira organizaQao cient/· fica alemu criada pelo espirito da revoluQao naciona-l-socialista",. declara que iIle e a ultima pessoa a abandonar a simpatia pelo estudo da hist6ria a,ntiga. "mesma ados povos estrangeiros", mas ta-mbem assinala que os fundos previamente concedidos ao Instituto Arqueol6gico devem ser redistribuidos para esta nova corporaQao hist6rica, que "tera a honra de escrever a hist6ria da RevoluQao Nacional-Socialista". Ver seu Zuknnft nnd Nation, (Hnmburgo: Hanseatische Verlagsanstalt, 1935), esp. 30 e segs. 10. Ernst Krleck, Nationalpolitisrhe Erziehung, (Lipsia: Armanen Verlag, 1935), (19.a ediQ8.o), 8. 11. 0 tc6rico na.zista Alfred Baeumler escreve: "Se urn estudante se recusa. hoje a subme· ter-se a norma politica, negando-se, por exemplo, a toma.r parte num 'acampamento de trabalho' eu de 'esporte militar', argumentando que com isso perderia tempo destinado aos estudos, estaria mostrando unicamente que nada compreendeu do que esta acontecendo ao seu redor. S6 perderia seu tempo se 0 dedicasse a urn estudo nbstrato, sem orientaQ8.o". Mannerbnnd nnd Wissenschaft, (Berlim: Junker & Diinnhaupt, 1934), 153. 7.
tigiadas. Nos fins da decada de 1930 ja se podia descobrir consequencias desta atitude antiteorica na distribui~ao dos interesses academicos nas universidade alemas.l2 Seria erroneo sugerir que 0 governo nazista repudiasse completamente a elencia e a inteligencia. As atitudes oficiais para com a ciencia sac claramente ::.mbivalentes e instaveis. (Por este motivo, t6das as declara\.'l6es sobre a ciencia na Alemanha nazista devem ser aceitas sob reservas). Por urn lade, 0 cetictsmo e 0 desafio as "verdades" convencionais, que sao pr6prios a ciencia, chocam-se com a imposi~ao de uma nova tabela de valores que exigem ilimitada aquiescencia. Mas a nova ditadura tern que reco1thecer, como fez Hobbes - 0 qual tambem afirmava que 0 Estado deve 5er tudo ou nada - que a ciencia e uma for~a. Por raz6es militares, economicas e politicas, a ciencla teorica - sem falar de tecnologia, seu rebento mais respeitavel - nao pode ser descartada sem risco_ A experi{mci", ti:I"'l demonstrado que as pesquisas mais esotericas tern encontrado ap1ica~6es importantes. A menos que a utilidade e a racionalidade sejam relegadas da mem6ria, nao- se pode esquecer que as especula~6es de Clark Maxwdl sobre 0 eter facilitaram a Hertz as descobertas que culminaram no telegrafo sem fio. E, na realidade, urn porta-voz nazista tambem observou: "Como a prMica de hoje se baseia na ciencia de ontem, tambem a investiga~ao de hoje e a pratica de amanha". 13 A enfase sabre a utilidade requer urn minimo inevitavel de interesse pela cHincia que po de ser posta a servi~o do Estado e da industria. 14 Ao mesmo tempo, essa enfase conduz a limita~ao das pesquisas de ciencia pura.
ridades politicas, estao em conflito com as do Estado.l5 As normas do ethos cient1fico devem ser sacrificadas, porquanto exigem 0 repudio dos criterios politicamente impostos de validez cientifica ou de valor cientifico. A ampl,aQao do contra Ie politico (;Tia lealdades antagonicas. A este respeito, as rea~5es dos catolicos praticantes que se op6em aos esfor~os da autoridade politic a em definir de novo a estrutura social, por se intrometerem em terrenos que pertencem tradicionalmente a religiao, sac da mesma orden:' que a resistencla dos cientistas. Do ponto de vista sociologico, 0 lugar aa ciencia no mundo totalitario e em grande parte 0 mesmo que 0 de Waas as demais institui~6es, exceto 0 E:stado, de predominio recente. A mudan~a basica consiste em colocar a ciencia em novo contexto social, onde, as vezes, parece competir com a lealdade ao Estado. Assim, a coopera~ao com os nao arianos vem a definir-se como urn simbolo de deslealciade politica. Num regime liberal a limita~ao da clencia r..ao surge desse modo, pois nessa estrutura, as institui~6es nao politicas gozam de uma esfera substancial de autonomia - naturalmente de extensac variavel. o conflito entre 0 Estado totalitario e 0 homem de ciencia nasce, pois, em parte de uma incompatibilidade entre a etiea da eiencia e 0 nOvo codigo politico que se Ihe imp6e, independentemente do credo profissional. 0 etho$ da ciencia16 implica a exigeneia funcionalmente necessaria de que as teorias ou generaliza~6es sejam avaliadas em termos da sua consistencin. logica e da sua consonancia com os fatos. A etica politiea introduziria os criterios ate entao irrelevantes da ra~a au do credo politico A eiencia moderna considerou 0 coeficiente pessoal como do teorico.l7 fonte potencial de erro e eriou criterios impessoais para circunscrever 0 erro. Hoje e invocada para sustentar que certos cientistas, devido as Isto e dlto claJamente por Bernhard Rust, Reichswissenschaftsminister, em Das natlonalsozialistische Deutsehland nnd die Wissenschaft (Hamburgo: Hanseatische Verlagsanstnlt, 1936), l-22 esp. 21. 16. 0 "ethos" da ciencia se refere a urn complexo de tom emoclonal de regras, prescriG6es costumes, c~en<;as, valores e pressupostos, que obrigam moralmente os cientistas. Algumas fases desse complexo podem ser metodologicamente desejaveis, mas ?d observancia das regras nao e dita somente por consideca<;6cs metodol6gicas. Este "ethos", como os c6digos f.Ociais em geral, e apoiado pelos sentimentos daqueles a quem se a,plica. A transgressao e reprimida por proibi<;6es admitidas pelo grupo e por rea<;6es emocionais de deSapr0Va<;aO,postas em movimento pelos que ap6ia,m 0 "ethos". Existindo urn "etho~" efetlvo de,se tipo, 0 ressentimento, 0 rancor e outras manifesta<;6es de antlpatia operam quase automaticamente para, estabilizar a estrutura vigente. Isto pode ser constatado na corrente Itsistencla dos clentistas alemaes em aceitar modificaG6es. profundas no conteudo de-sse "ethos". Pode·se considerar 0 flethos" como 0 ingrediente Ifcultural" da cUmcia, enquanto diferente do ingrediente de "civiliza<;ao", Cf. R. K. Merton "Civilization and cultnre", Soelology and Social Researeh, 1936, 21, 103-113. 17. Cf. Baeumler, op. clt .. 145. Ver tambem Krieck, que diz: "Nem tudo 0 que pode pretender justificadamenta ser considerado ciencia, encontl'a-se no mesmo nivel hierarqulco e de valor; as clencias protestante e cat6Iica" francesa a alema, germanica. e judia, humanista ou racista, sao em principio meras possibilidades, nao va16res ja cumpridos ou de gradua<;ao identlca. A decisao acerca do vaJor da ciencia provira da sua 'atualidade', do grau de sua fertllidade, da sua for<;a historicamente criadora ... " 15.
Uma an(tlise do papel da ciencia no Estado nazista revela os seguintes elementos e processos. A amplia~ao do dominio de urn setor da estrutura social - 0 Estado - pressupoe a exigencia de lealdade primordial para com ele. Exige-se do>;cientistas, assim como de toda a gente, que renunciem a adesao a todas as norm as institucionais que, nn. opiniao das auto-
Hartshorue, op. eit., 106 e segs.; Cf. Wissensehaft nnd Vierjahresplan, op. cit., 25-6, em que se diz que a presente "tregua na produtividade cientifica" se deve em parte ao fato de que urn mimero consideravel dos que puderam ter recebido preparo cientifico foram recrutados para 0 exercito. Embora isto seja uma duvidosa explica<;ao para uma situa<;ao particular, urn desvio prolonga,do de interesse da ciencia te6rica, produzira prova,'etmente urn declinio das realiza<;6es cientlificas. 13. 0 professor Thiessen, em Wissenschaft nnd Vierjahresplan, op. cU., 12. 14. Por exemplo, a quimica e altamente apreciada, devido a sua importancia pratica. Con.o disse Hitler, "continuaremos a caminhar para a frente porque temos a vontllode fanatica de nos ajudar a n6s mesrnos e porque temos na Alemanha os quimicos e os inventores que supr;rao as nossas necessidades". Citado em Wissenschaft nnd Vierjahresplan, op.cit., 6 et passim. 12.
suas afilia(;oes extracientificas, sac incapazes a priori .de t.udo 0 ~ue. nao . m teorias esptlrias e falsas. Em alguns casos, eXlge-se dos Clentlstas seJa _. .. . te . tentes que aceitem 0;:; juizos de chefes POht1CO,S. C1ent1flCamen mcompe , Essa tatlCa, aconselh~vel do pont~ ~e relativos a malerias cientijicas. . t politico choca-se contra as normas institucionahzadas da c1enCla, estas ~ormas sac condenadas pelo E'stado totalitari~ como precon.oeitos "liberais", "cosmopolitas", "burgueses",18 porquan.t~ nao se ~oadunaI.1 1acilmente com as campanhas a favor de urn credo POht1COque nao se pode discutir. . . De um I;onto de vista mais amplo, 0 confUto e urn aspecto da dmamica institucicnaL A ciencia, que adquiriu urn grau consideravel de autonomia e criou urn cOIi'lplexo institucional que conta com a lealdade dos cientistas, vtl agora amea(;ada sua autonomia tradicional e suas regra~ de jago - seu "ethos", em suma - por uma autoridade .externa. Os sentImentos incorporados no "ethos" da ciencia - caractenzados por expressoes como honradez intelectual, integridade, ceticismo ~rganizado, d~ sinteresse, impessoalidaG.e - ,se veem ultrajados ~10 c~nJu~to .de ~ent1mentos noyes que a Estado impoe na esfera da mvestlga(;ao CIentlflCa.. Com a deslocac,;ao da estrutura previa, em que diferentes campos da at1vidade humana sac investidos de limitados centros de poder, para urna estrutura em que nao ha mais que um foco centralizado de autoridade sabre todos os aspectos da conduta, os representantes de cad~. esfera atuam para !'esistir as mudan(;as e para conservar .a estrutura o:lgmal de autoridade plurdlistica. Embora seja costume cons1derar 0 Clentlsta como individuo de~apaixonado e impessoal - e isto pode ser exato r:o q~e concerne a sua atividade tecnica - e necessario lembrar que. 0 Cl~ntls:a, na cO'Illpanhia de todos os outros trabalhadores profissionais hbera1s, fez um grande investimento ernocional em seu modo de vida, de:i.nido pela~ normas institucionais que governam sua atividade. A es~ab111dade socIal da ciencia s6mente pode ~er conseguida se se levantam barreiras adec;u~d~ contra as nmdan(;as impostas de fora, POl' elementos estranhos a propna irmandade cientifica. :Este processo de conservar a integridade institucional e de opor resistencia a novas defi11i(;oes da estrutura social que podem impedir a autcnomia da dencia, encontra expressao em mais outra dire(;ao. Pressuposto basicD da ciencia moderna e que as proposi(;oes cientificas. "sao invariaveis em rela(;ao ao individuo" e ao grupo.l9 Mas numa soc1edade completamente politizada - na qual, como diz um te6rico nazista, "s~ reconhece 0 significado universal da politica"20 - esse pre~su,posto e
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18. Assim diz Ernst Krieck: "No futuro nao se adotara a ficCaode uma neutralida?eenfr~r quecid~na ciencia.pois nao e mais que urn,reflexodo metodo de governo".Nahonalpoh· tische Erziehung 6. Cf. Baeumler,op. c.it., 152;Frank, Zukunft und N at·o 1 n, 10' .' con· I" frontar com 0 "~reconceito"de Max Weberde que "Politikgehortnicht in den Horsall . 19. H. Levy,The Universeof Science,(Nova Iorque: Century Co., 1933),189. 20. Baeumler,Miinnerbundund Wissensehaft,152.
impugnado. As descobertas da Clencia sac consideradas mera expressao G.3ra(;a, da classe ou da na(;ao.21 Ao se infiltrarem essas doutrinas entre os leigos, convidam a uma desconfian(;a geral em rela(;ao a ciencia e a deprecia(;ao do prestigio dos cientistas, cuj as descobertas parecem arbitrarias e caprichosas. Esta variedade de antiintelectualismo, que ameaQa sua posi(;ao social, encontra resistencia caracteristica da parte do cientista. Tambem na frente ideol6gica 0 totalitarismo entra em confUto com os pressupostm:, tradicionais da ciencia moderna.
FUNgoES
DAS NORMAS DA CIENCIA PURA
Urn sentimento que 0 cientista assimila desde 0 ];)r6prio come(;o da sua prepara(;ao wlaciona-se com a pureza da ciencia. A ciencia nao deve resignar-se a ser a eriada da teologia, da economia ou do Estado. A fun(;ao desse sentimento e provavelmente de manter a autonomia da ciencia, pois, se se adotam criterios tao extracientificos do valor da ciencia, como a pres:'imivel consonancia com doutrinas religiosas, ou a utilidade flconamica, ou a afilia(;ao politic a, a ciencia torna-se aceitavel s6mente na medida em que 6atisf~z a esses criterios. Em outras palavras, ao ser eliminado 0 sentimento da ciencia pura, a ciencia fica submetida ao con. trale dire to de outras organiza(;oes institucionais e 0 seu lugar na sociedade torna-se cada vez mais incerto. 0 reptldio persistente, POI' parte dos cientistas, a aplicac,;ao de normas utHitarias ao 5eu trabalho tern POl' fun(;ao principal evitar esse perigo que e particularmente marcante nos tempos presentes. 0 reconhecimento tacito dessa fun(;ao talvez possa explicar 0 brinde posslvelmente ap6crifo, levantado durante um banquete de cientistas em Cambridge: "Levanto minha ta(;a para as matematicas puras, e para que nunca sejam l.lteis a ninguem!" Assim se ve que a exalta(;ao da ciencia pura constitui uma defesa contra a invasao de nOrmas que limitam as dire(;oes do progresso potencial e amea(;am a estabilidade e continuidad'e da pesquisa cientifica como atividade 50cial digna de estima. Naturalmente, 0 criterio tecnol6gico das r'ealiza(;oes cientificas tambem tem uma fun(;ao social positiva para a ciencia. As crescente3 comodidades e satisfa(;oes derivadas da tecnologia e, em definitivo, da ciencia, incitam 0 apoio social a pesquisa cientifica. Tambem atestam a integridade do cientista, ja que teorias abstratas e dificeis, que os leigos nao podem compreender e avaliar, sac demonstradas 21. :e de cQnsiden1vei interesse 0 fato de que os te6ricos totalitll.riostenham adotado as doutrinas relativistas radicais da Wissenssoziologie como recurso politico para desprestigiar a ciencia "liberal",
ou "burguesa",
ou "nao ariana".
Uma sa-Ida para este beeD sem
salda e [lroporcionadapor uma "alav2illcade Arquimedes":a bfalibilidade do Fiihrer e do seu Volk. Cf. General Hermann Goering,GermanyReborn,(Londres:Mathews&: Marrot, 1934,79). Variac6es"pollticamenteeficazes"do "relacionismo"de Kaul M~nnheim (por exemplo,Ideologyand Utopia),tern sido usadas,para fins propagandlsticos, por te6ricosnazistas tais comoWalter Frank, Krieck,Rust e Rosenberg.
de uma maneira que, presumivelmente, pode ser entendida por to dos, is to mediante suas aplicagoes tecnol6gicas. A disposigao em aceitar a autor~dade da cienci·a repousa, em medida considenlvel, na sua demonstragao dhlria de poder. Se nao f6ssem essas demonstrag6es indiretas, 0 con5tando ponto de vista te apoio socwl a essa ciencia, que e incompreensivel intelectual para 0 publico, dificilmente poderia ser alimentado apenas
e
pela
fe. Ao mesmo tempo, esta insistencia s6bre a pureza da ciencia, teve outras conseqiiencias, que mais ameagam que protegem a origem social da ciencia. Dizem muitas vezes que os cientistas deveriam ignorar, em suas pesquisas, t6das as consideragoes que nao f6ssem 0 progresso dos conhecimentos.22 A sua atengao deve ser focalizada exclusivamente s6bre a importancia cientifica do seu trabalho, sem se preocupar com os usos praticos a que se possa aplicar, nem as suas repercussoes sociais em geral. A costumeira .iustifica~ao deste lema - que, em parte, tern suas raizes na realidade23 e que, em qualquer caso, tern fungoes sociais definidas, como acabamos de ver - pretende que a nao adesao a este requisito estorvara a investiga~ao, aumentando a possibilidade de preconceitos e de erros. Mas este ponto de vista metodol6gteo esquece os resultados sociais de tal atitude. As conseqtiencias objetivas desta atitude proporcionaram mais uma base de rebeliao contra a ciencia, rebeliao incipiente que se da virtualmente em t6da sociedade em que a ciencia chegou a alto grau de desenvolvimeilto. Como 0 cientista nao controla, ou nao po de controlar, a diregao em que aplica.m suas descobertas, transforma-se em objeto de censuras e reagoes mais violentas na medida em que ditas aplicagoes sac ciesaprovadas pelos agentes da autoridade ou por grupos de pressao. A antipatia para com os resultados da tecnologia projetam-se s6bre a pr6pria ciencia. Assim, quando gases ou explosivos recem-inventados se aplicam como instrumentos militares, os individuos cujos sentimentos humanitarios sac atingidos censuram a quimica em geral. Considera-se que a ciencia e culpada, em grande parte, por produzir essas maquinas oe destruigao humana que, segundo se diz, podem submergir a civilizagao na noite e na confusao eternas. au, para citar outro exemplo notavel, 0 22. Por exemplo Pareto esereve: "A buse", de uniformldades experimentais e urn fim ~m si mesm'l". Veja-se tambem uma deelara~ao tipiea de George A Lundberg: "Nao eabe ao quimico que inventa urn poderoso explosivo, deixar-se influir na sua tarefa por considera~6es rel",tivas a utiIiza~ao que sera dada a seu produto, seja destruir catedrais ou cavar tuneis nas montanhas. Tambem nao cabe ao cientista social, que chega as leis dn conduta relativa a urn grupo, preoeupar-se em saber se as suas conclus6es coincidiri\o com as irleias vigentes, ou qual sera 0 efeito das suas descobertas sabre a ordem social". Trends in American Sociology (reda~ao de G. A. Lundberg, R. Bain e N. Anderson), (Nova, Iorque: Harper, 1929),404-5. Comparar com as observa~6es de Read Bain sabre "Scientist as Citizen", Social Forces, 1933,11, 412-415. 23. Uma justifica~ao neurol6gica desta opiniao encontra-se num ensaio de E. D. Adrian, em Factors Determining Human Behavior, (Harvard Tercentenary Publications, Cambridge, 1937),9. "Para a condutl!. discriminadora ... deve haver algum interesse, mas seeste for demasiado, a conduta deixara de ser discriminadora. Sob 0 efeito de uma tensao emocional intensa a conduta tende a ajustar-se a urn dos diferentes tipos estereotipados".
rapido desenvolvimento da clencia e da tecnologia relacionada com ela deu origem a urn movimento implicitamente anticientifico por parte de certos interf::;ses criados que se sentem ameagados em seu sentido de justiga econ6mica. 0 eminente "Sir' Josiah Stamp e muitas outras pessoas menos ilustres propuseram uma morat6ria nos inventos e nas descobertas,24 a !'fm de que os horn ens tenham tempo de respirar para adaptar sua estrutura social e econ6mica ao ambiente em perpetua mUdanga que Ihe e imposto pela "embaragosa fecundidade da tecnologia". Estas propostas live!am grande divulgagao pela imprensa e foram expostas com infatigavel msistencia ante corporagoes cientificas e organizagoes estatais.25 A oposigao procede tanto dos representar.ttes das classes operarias que receiam a perda das habilidades adquiridas e que se tornam antiqua~ das ante a corrente de novas tecnicas, como dos capitalistas que se opoem a·o envelhecimento prematuro das suas maquin::iS industriais. Ainda que estas propostas nao se transformem em agao num futuro imediato, constituem urn passivel nucleo ao redor do qual pode tomar corpo uma reo beliao contra a ciencia. Nao importa muito que as opinioes que respOn~l\lblHZam dellliitivamerte a ciencia por situ9.goes indesejaveis sejam valil1as ou nao. a teorema. 1loej,,16gico de W. 1. Thomas foi repetidameD'.e comprovado: "Se os homens 0~finem as situagoes como reais, elat, tern c01J~:eqtiencias reais". 24. Nao e este, naturalmente, urn movimento oposto a ciencia como tal. Alias, a destrui, ~ao das maquinas pelos operarios e a supressao dos inventos pelo capital ja ocorreram no passado, Cf. R. K. Merton, "Fluctations in the rate of industrial invention", Quar. terly Journal of Economics, 1935,49, 464e segs. Mas esse movimento sensibiliza a opiniao nosentidn de que a ciencia deve ser considerada eotritamente responsavel pelas suas conseqiiencias sociaJs. A sugestao de "Sir" Josiah Stamp pode ser encontrada em seu discurso Tia Associa~aoBritfmica para 0 Progresso da. Ciencia, Aberdeen, 6 de setempro de 1934_ Morat6rias deste tipo tambem foram propostas por M. CaiIIaux (Cf. John Stra. chey, The Coming Struggle for Power, Nova Iorque: 1935,183); por H. W. Sumners n,1, Camara de Representantes dos Estados Unidos e por muitos outros. Em termos dos crtterios correntes, humanitarios, sociais e econ6rnicos, a1guns dos produtos da ciencia sac mais perniciosos que beneficos. Esta avalia~ao pode (1estruir a base ra.cional do trabalho cientifico. Como dizia pateticamente urn cientista: "se 0 homem de cif-nciEldeve pedir desculpa pelo seu trabalho, entao desperdicei a minha vida!'. Cf, The Frustration of Science (reda~ao de F. Soddy), (Nova Iorque: Norton, 1935),42 et passim. 25. Os cientistas ingleses tem-se destacado na rea~ao contra a "prostitui~ao do esf6r~o cien. tifico para fins belicos". Discursos presidenciais na Associa~ao Britanica para 0 Progresso dElCiencia" freqiientes editoriais e cartas puolicadas em Kature, comprovam este movimento, destinado a provocar "nova consciencia de responsabilidade social entre a gera~ao 2.,cendente de trabalhadores cientlficos". "Sir" Frederick Gowland Hopkins, "Sir' John Orr, 0 professor SOddy, "Sir" Daniel HaJI, 0 Dr. Julian Huxley, J. B. S. Haldane e o professor L. Hogben figuram entre os chefes do movimento. Veja-se, por exemplo, a carta assiI'.ada por vinte e dois cientistas da Universidade de Cambridge, preconizando, com urgc,ncia, urn movimento para dissociar a ciencia dl!. guerra (Nature, 1936,137,829'. Essas tentativas de a~ao organizada por parte dos cientistas ingleses contra.stam agudamente com a apatia dos cientistas norte-americanos em rela~ao a esse problema. (Es';a observa~ao e valida para 0 periodo anterior a bomba atamiea). Os motivos dessa diferen~a de p.titudes poderiam ser pesquisados com proveito. De qualquer ;"'aneira" ainda que este movimento talvez provenha de fontes sentimentais, pode desempenhar a fun~ao de eliminar uma causa de hostilidade contra l!. ciencia em regimes democraticos.
.l1:msuma, esta base para a reavaliac;;ao da ciencia, provem do que chamei em outras passagens 0 "imperioso imediatismo do interesse".26 0 interesse pela meta primordial, que e a promoc;;ao dos conhecimentos, une-se a indiferenc;;a pelas conseqiiencias que caem fora da zona do interesse imediato, ~as os resultados sociais perturbam os objetivos originais. Esta conduta pode ser racional no Rentido de que se pode esperar que conduza a satisfac;;ao do interesse imediato, mas e irracional no sentido em que anula outros valares que nao sao, no momento, supremos, mas que, nem pOl" iSso, deixam de formar parte integrante da escala social de valares. Precisamente porque a pesquisa cientifica nao se faz num vacuo social seus efeitos se ramificam em outras esferas de valares e interesses. Na medida em que esses efeitos sejam considerados socialmente indesejaveis, atribuiu-se a responsabilidade a ciencia. Ja nao s,e consideram os beneficios da riencia como uma benc;;aosem limites. Visto desta perspectiva, 0 lema da ciencia pura e do desinteresse contribuiram para preparar seu epitafio. As linhas de batalha estao trac;;adas de acardo com esta pergunta: Pode uma arvore boa dar urn fruto mau? Os que gostariam de derrubar a arvore ds, ciencia ou impedir 0 seu crescimento devido aos seus frutos malditos, S80 obstados pela alegac;;aode que 0' fruto mau foi enxertado na arvore boa pelos representantes do Estado e das farc;;as econamicas. Pode salvar a conscienria do homem de cil~ncia individual a afirmac;;ao de que uma estrut:lra social inadequada perverteu as suas descobertas. Mas isto rlificilmente sera Suficiente para satisfazer uma oposic;;ao rancorosa. Assim como os motivos dos cientistas podem ir desde 0 apaixonado desejo de prom over os conhecimentos ate urn interesse profundo em adquirir fama pessoal, e assim como as junqoes da investigac;;ao cientifica podem variar desde proporcionar racionalizac;;6es prenhes de prestigio da ordem vigente ate reforc;;ar nosso dominio da natureza, assim tambem outras conseqilencias sociais da ciencia podem ser consideradas perniciosas a sociedade ou redundar na modificac;;ao do "ethos" cientifico. Ha entre os cientistas uma tendencia a supor que os efeitos sociais da ciencia tern que ser beneficos a curto ou a longo prazo. Este artigo de fe desempenha a func;fic de proporcionar uma justificac;;ao racional da pesquisa cientifica mas nao e, evidentemente, a expressao de urn fate inconteste; implica na confusao da verdade com a utilidade social, que se encontra de maneira caracteristica na penumbra nao l6gica aa ciencia.
CIENCIA ESOTERICA CONSIDERADA COMO MISTICISMO POPULAR
investigac;;ao cientifica, necessita-se de urn longo programa de rigorosa preparac;;ao para testar ou mesmo para compreender os novos achados da ciencia. 0 culto da ininteligibilidade tern side inevitavelmente endossado pelo cientista moderno. Dai resulta urn abismo cada vez maior entre 0 cientista e 0 leigo. 0 leigo tern de aceitar, como artigos de fe, as declalac;;6es publit;adas acerca da relatividade ou dos quanta, ou outras mate· rias igualmente esotericas. Fe-Io de boa vontade, pois se the afirmou repetidament9 que os progressos tecno16gicos dos quais provavelmente se beneficiou, procediam, em definitivo, daquelas investigac;;6es. Nao obstante, essas estranhas teorias ainda the causam certo receio. Vers6es popularizadas e amiude desvirtuadas da nova ciencia p6em em destaque certas teorias que pare cern chocar-se com 0 bom, sensa. Para a mentaIidade publica, a ciencia e a terminologia esoterica estao entrelac;;adas de modo indissoluvel. As declarac;;6es presumidamente cientificas dos por· ta-vozes totalitarios sabre as rac;;as,a economia ou a hist6ria, sao, para os leigos ignora.ntes, da mesma ordem que as declarac;;6es concernentes a urn universo em expansao ou a mecanica ondular. Num e noutro caso, o profano nao esta em situac;;ao de compreender essas concepc;;6es, nem de testar sua validez cientffica e, em ambos os casos, elas podem nao ser compativeis com 0 senso comum. 0 mais provavel e que os mitos dos te6ricos totalitarios parec;;am mais adInissiveis e, sem duvida, sac mais compreensiveis para 0 grande publico, do que teorias cientificas fundamentadas, uma yeZ que aqueles mitos se ajustam mais ao sentido comurr. e ao preconeeito cultural. Portanto, em parte como conseqiiencia do progresso cientifico, 0 povo em geral tornou·se maduro para novos misticismos revestidos de urn jargao aparentemente cientifico. E isto que facilita 0 cxito da propaganda em geral. A autoridade da ciencia, tomad a de emprestimo, transforma-se em simbolo poderoso de prestigio para as teorias anticientificas.
HOSTILIDADE PUBLICA CONTRA 0 CETICISMO ORGANIZADO Outra caracteristica da atitude cientifica e 0- ceticismo organizado que, freqiientemente, se converte em iconoclastia.27 A ciencia pode parecer que esta desafiando os "confortaveis pressupostos de poder" de outras instituic;;6es,28 pelo simples fato de submete-Ios a urn exame imparcial. 0 ceticismo organizado implica a discussao latente de certas bases da rotina consagrada, da autoridade, dos procedimentos estabelecidos e da esfera do sagrado em geral. E certo que, logicamente, demons'l:1. Frank
Outro aspecto relevante das conex6es entre a ciencia e a ordem social, poucas vezes tern sido reconhecido. Com a crescente complexidade da
H. Knight, "Economic psychology and the value problem", Quarterly Journal Ilf Eeonomics, 1925, 39, 372-409. 0 cientista nao experimentado, esquecendo que 0 ceticismo e principalmente um canon metodol6gico. deixa. que 0 seu ceticismo invada a area do valor em gera!. Ignora a fungao social dos simbolos e os impugna por "falsos". Confunde·se mais uma vez a utilidade' social e a verdade. 28. Charles E. Merriam, Politieal Power, (Nova Iorque: Whittlesey House, 1934), 82-3.
l.rar a genese empiric a das crenc;as e dos valares nao e negar sua validade, mas e este muitas vezes 0 efeito psico16gico sabre as mentes ingenuas. Os simbolos e os valares institucionalizados exigem atitudes de lealdade, solidariedade e respeito. A ciencia, que coloca problemas de fato, relativos a todos os aspectos da natureza e da sociedade, entra em conflito psico16gico, ntio 16gico, corn outras atitudes para corn os mesmos dados que foram cristalizados e amiude ritualizados por outras instituic;6es. A maior parte das instituic;6es exige uma fe ilimitada, mas a instituic;ao da ciencia faz do ceticismo uma virtude. Tada instituic;ao abrange, neste sentido, uma area sagrada, que resiste ao exame profane em termos de observac;ao 16gica e cientifica. A pr6pria ciencia, como instituic;ao, implica a solid:uiedade emocional a certos valares; mas, quer se trate da sagrada esfera das convicc;6es politicas, ou da fe religiosa, ou dos direitos econamicos, 0 pesquisador cientifico nao se conduz na forma acritica e ritualista prescrita; nao mantem a distancia entre 0 sagrado e 0 profano, entre 0 que exige urn respeito acrftico e 0 que pode ser objetivamente analisado.29 E isto que, ern parte, esta na raiz dos repudios a chamada intromis::.ao da ciencia em outras esferas. No passado, eSSa resistencia procedia em sua maior parte da Igreja, que restringia 0 exame cientlfico das doutrinas santH.icadas. A critic a textual da Eiblia ainda e suspeita... Esta resistencia por parte da religiao organizada perdeu a importancia quando o foco do POOH social passou para as instituic;6es econamicas e politicas, as quais, por sua vez', mostram urn franco' antagonismo a esse ceticismo generalizado que, ao que se diz, ameac;a as bases da estabilidade institucional. Esta 'Jposic;ao pode existir completamente a parte da introduc;ao de certas descobertas cientificas que parecem invalidar dogmas especiais da Igreja, da E'conomia ou do Estado. E, antes, urn reconhecimento illruso, muitas vezes vago, de que 0 ceticismo ameac;a 0 status quo. E conveniente ::;ublinhar, mais uma vez, que nao ha necessidade 16gica para o conflito entre 0 ceticismo, dentro Ga esfera da ciencia e as solidari~ dades emocicr.ais exigidas por outras instituic;6es; mas, como derivado pSico16gico, este conflito aparece inevitavelmente sempre que a ciencia leva suas investig8c;6es a novos terrenos para os quais existem atitudes institucionali:t.adas, ou quando outras instituic;6es ampliam sua zona de contra Ie. NIt sociedade totalitaria, a centralizac;ao do contrale institucional e a principal fonte de oposic;ao a ciencia; em outras estruturas, a extensao da pesquisa cientifica e de maior importancia. A ditadura orgar niza, centraliza e, em conseqiiencia, intensifica fontes de rebeldia contra a ciencia que, numa estrutura liberal, esta desorganizada, difusa e amiude latente. Numa sociedade liberal, a integrac;ao pro cede, antes de mais nada. do conjunto de r!ormas culturais para as quais se orienta a atividade huma29,
Para um estudo of the Religions
geral do "sagrado" nestes termos, Life, 37 e segs., et passim.
ver Durkheim,
The
Elementary
Forms
na. Numa estrutura ditatorial, a unificac;ao efetua-se primordialmente pela organi7.ac;ao formal e a centralizagao do contra Ie social. A disposigao a aceitac;ao desse contrale e instilada pela acelerac;ao d,o processo de impregnar 0 corpo politico com novos valares culturais, substituindo pela propaganda a alta pressao 0 processo mais lento da inculcac;ao difusa ({as normas wciais. Estas diferenc;as nos mecanismos mediante os quais se efetua tipicamente a integrac;ao, permite urna latitude para a auto determinac;ao e a autonomia de divers as instituic;6es, entre as quais a cienCIa, maior numa estrutura livre do que numa totalitaria, Mediante uma organizac;ao rigorosa, 0 Estado ditatorial intensifica seu dominio sabre as instituic;6e'; nac politicas, ate produzir uma situac;ao diferente ern tipo e em grau. For exemplo, as represalias contra a ciencia podem encontrar mais facil eX[Jressao no Estado nazista do que nos Estados Unidos, onde os interesses nao estao organizados de modo a impor limitac;6es a ciencia, quando essas sac julgadas necessarias. Sentimentos incompativeis devem ser isolados um do outro ou integrados entre si, para que haja estabilidade social; mas este isolamento torna-se virtualmente impossivel quando ha urn contrale' centralizado, sob a egide de urn setor da vida social, que imp6e e procura fazer respeitar a obrigac;ao de solidariedade aos seus valares e sen~imentos como condic;ao de continuidade da existencia. Nas estruturas liberais a ausencia de tal centralizagao perrnite 0 grau necessario de isolamento, garantindo a cada esfera direitos restritos de auto nomia e permitindo assim a integrac;ao gradual de elementos temporariamente incOl1fI'uentes.
As prindpais conclus6es deste trabalho podem ser rapidamente resumidas. Existe urna hostilidade latente e ativa contra a ciencia em mUItas sociedades, embora 0 grau desse antagonismo ainda nao possa ser bem precisaclo. 0 prestigio que a ciencia adquiriu nos tres ultimos seculos e tao grande, que as tentativas para reduzir seu campo de ac;ao ou para rechac;a-la em parte, costumam estar unidas a afirmac;ao da mtegridade imperturbada da ciencia ou ao "renascimento da verdadeira ciencia". Estas formas de respeito verbal aos sentimentos pr6-cientificos, diferem com freqiiencia da conduta dos que as manifestam. Em parte, 0 movimento anticientifico nasce do conflito entre 0 "ethos" da ciencia e 0 de outras instit1Ji\ioes sociais. Urn corolario desta proposic;ao e que as revoltas contemporaneas contra a ciencia sac formalmente analogas as anteriores, embora as fontes concretas sejam diferentes. 0 conflito produz-se quando os efeitos sociais das aplicac;6es dos conhecimentos cientificos se consideram indesejaveis, quando 0 ceticismo do homem de ciencia Se dirige para os valares fundamentais de outras instituic;oes, quando a ampliac;ao da autoridade politica, religiosa ou econamica limita a autonomia do cientista, quando 0 antiintelectualismo discute 0 valor e a inte-
XVIII gridade da t;lencia, e quando se introduzem criterios nao cientificos para escolher 0 campo da pesquisa cientifica. ~ste trabalho nao apresenta um programa para fazer frente as amear gas contra 0 desenvolvimento e a autonomia da cH~ncia; mas e possivel sugerir que, enquanto 0 foco do poder social residir numa instituigao que nao seja a ciencia, e enquanto os proprios cientistas nao estiverem seguros a respeito de qual seja a sua lealdade primordial, a posigao deles se enfraquecera e se tornara incerta.
A CIENCIA E A ESTRUTURA SOCIAL DEMOCRATICA
A
cmNCIA, COMO QUALQUER OUTRA ATIVIDADE que envolve colaboragao social, esta sujeita a mudangas de fortuna. Por diffcil que esta simples ideia possa parecer as pessoas criadas numa cultura que da a cHlncia um lugar proeminente, senao de predominio, na ordem das coisas, e evi· dente que a ciencia nao e imune aos ataques, a restrigao e a repressao. Veblen, que descreveu ja faz bastante tempo, pode observar que a fe da cultura oCldental na ciencia era ilimitada, indiscutivel e sem igual. A rebeliao contra a ciencia, que entao parecia tao improvavel, que somente interessava ao intelectual timido acostuma;do a pesar t6das as contingencias, por remotas que f6ssem, agora se impos a atengao tanto do cientista como do leigo . Os contagios locals de antiintelectualismo ameagam tornar-se epidemicos.
Os ataqucs incipientes e reais a integridade da cIencia tem levado os cientistas a reconhecerem sua dependencia de certOs tipos de estru· tura social. Manifestos e declarag6es de associag6es cientificas sac dedicados as relag6es entre a ciencia e a sociedade. Uma instituigao que so· fre ataques tem que examinar de novo seus fundamentos, revisar seus objetivos, buscar sua explicagao racionaI. As crises convidam a autocrftica. Agora que tem que enfrentar ameagas ao seu modo de vida, os intelectuais foram langados a um est ado de aguda conscientizagao: conscil~ncia da propria personalidade como elemento integrante da sociedrude, e das obrigag6es e fnteresses correspondentes.l A tone de marfim e inde1.
Como esse trabalho foi escrito em 1942, Ii evidente que a explosao de Hiroshima contribuiu patra que maior numero de cientistas percebesse as consequencias sociais das BURS descobertas.
fensavel quando suas muralhas sac assaltadas. Depois de prolongado periodo de relativa seguran~a, durante 0 qual 0 culto a ciencia e a difu· sac dos conhecimentos tinham chegado a uma posic;ao de destaque, senao de primeiro plano, na escala de va16res cUlturais, os cientistas se veem obrigados a justificar os caminhos da ciencia para os homens. Assim eles fecharam 0 circulo, levando'o de volta ao ponto e momento em que a (jencia reapareceu no mundo moderno. Tres seculos atras, quando a instituic;ao da ciencia pouca justificac;ao podia apresentar para conseguir o apoio da sociedade, os fil6sofos naturais eram levados assim mesmo a justificar a ciencia como urn meio para fins culturalmente validos de uti, lidade econamica ou de glorificaC;ao de Deus. 0 cultivo da ciencia nao era entao urn valor evidente por si mesmo. Mas, com a interminavel corrente de exitos obtidos pela ciencia, 0 instrumental se transformou em final, os meios se transformaram em fins. Assim fortalecido, 0 <;ientista chegou a considerar-se independente da sociedade e a encarar a ciencia como empresa que se justifica por si mesma e que "esta" na sociedade, mas nao "faz parte" dela. Era necessario que se desse um ataque frontal contra a autonomia da ciencia, para transformar esse isolacionismo otimista em participac;ao realista do conflito revolucionario das culturas. A conse· quencia dessa associac;ao leva a clarificar e reafirmar 0 "ethos" da ciencia moderna. A palavfil ciencia e urn vocabulo enganosamente amplo, que design a grande diversidade· de coisas diversas, embora relacionadas entre sf. E usada geralmente para indicar: (1) urn conjunto de metodos caracteristicos por meio dos quais os conhecimentos sao comprovados; (2) um acervo de conhecimento,; acumulados, provenientes da aplicac;ao desses metodos; (3) um conjunto de valares e costumes cUlturais que governam as atividades chamadas cientificas; ou, (4) qualquer combinac;ao dos itens anteriores. Aqui estamos tratando, preliminarmente, da estrutura cultural da ciencia, iS~o e, de um aspecto limitado da ciencia como instituic;ao. Assim, pois, exammaremos nao os metodos da ciencia, mas os costumes que os circundam. Sem duvida, os canones metodol6gicos sac muitas vezes expedientes tee. nicos e, ao mesillO tempo, obrigac;6es morais, mas sac apenas estas ultimas que agora nos interessam. Este e urn ensaio sabre a sociologia da ciencia, nao uma incursao da metodologia. De modo ana-logo, tampouco trataremos dr:.s descobertas concretas da ciencia (hip6teses, uniformidades, leis), salvo quando forem pertinentes aos sentimentos sociais padroniza. dos em relaQ2.v a ciencia. Nao se trata de uma aventura de polimatia. o "ethos" da ciencia e esse complexo de valares e norm as afetivamente tonalizado, que se considera como constituindo uma obrigac;ao moral As norm as sac expressas em forma de prescric;6es, para 0 cientista.la Ill..Sobre 0 rOllceitodo "ethos",ver Sumner,Folkways,36 e segs.; Hans Speier,"The social determinationof ideas", SocialResearch,1938,5, 196e segs.; Max Scheler,Schriftenaus dem Nachlass (Berlim, 1933),1, 225-62.Albert Bayet, em seu livro sobre este assunto,
proscric;5es, preferencias e permiss5es, que se legitimam em relac;a0 00m valares instit·~cionais. Esses imperativos, transmitidos pelo preceito e pelo exemplo e reforc;ados por sanc;6es, sao assimilados em graus variaveis pelo cientista, formando assim sua consciencia cientifica ou, se preferirmos usar a palavra moderna, seu superego. Embora 0 "ethos" da ciencia nao tenha side codificado,2 pode ser inferido do consenso moral dos cientistas expresso nos usos e costumes, em numerosas obras sabre 0 espirito cientifico e na indignac;ao moral que suscitam as contravenc;5es do "ethos" . o estudo do "ethos" da ciencia moderna nada mais e que uma intro' c1uc;aolimitada a um problema maior: 0 estudo comparativo da estrut1..lra institucional dr, ciencia. Ainda que as monografias detalhadas, reur.indo os materialo; comparativos necessarios sejam poucas e espalhadas, propor· cionam alg'.l.ma base para 0 pressuposto provis6rio de que "a ciencia tern oportunidade de desenvolvimento, numa ordem democratica, integrada, com 0 "ethos" da pr6pria ciencia". Isto nao significa que 0 cultivo da ciencia estej a restrito as democracias.3 As estruturas sociais mais diversas tem prcporcionado certo apoio a ciencia. Basta lembrarmos que a "Accademia del Cimento" foi patrocinada por dois Medicis; que Carlos II tern direito ao reconhecimento da hist6ria por ter concedido carta de privilegio a Real Sociedade de Londres e por ter patrocinado 0 Observat6riO rlo Greenwich; que a Academia de Ciencias em Paris foi funduda sob os auspicios de Luis XIV, mediante a recomendaC;ao de Colbert; que, pressionado por L€ibniz, Frederico I fundou a Academia de' Berlim, ao passo que a Academia de Ciencias de Sao Petersburgo foi instituida por Pedro, o Grande (para refutar a opiniao de que os russos eram barbaros). Mas estes fatos hist6ricos nao implicam uma ligac;ao fortuita da ciencia e da estrutura so~ial. Resta ainda a questao da proporc;ao entre 0 desenvolvimento cientifico e as potencialidades cientificas. E certo que a ciEmcia se desenvolve em diversas estruturas ::;ociais, mas quais fornecem melhor contexto 'inst.itucional para seu maior desenvolvimento?
A meta institucional da ciencia e a ampliac;ao dos conhecimentos comprovados. Os metodos tecnicos empregados para este fim proporcionam logo abandona a descriQaoe a analise e se poe a moralizar; ver sua La morale de Ill. science, (Paris, 1931). 2. Conformediz Bayet: "Cette morale [de Ill.scienceJn'a pas eu ses theoriciens,mais e11O' a eu ses artisans. Elle n'a pas exprimeson idea,l,mais elle I'll.servi: il est impliquedans I'existencememe de la science".Op. cit., 43. 3. Tocquevillefoi maio longe: "0 futuro provara se essas paixoes[para a cienciaJraras e fecundasao mesmotempo, nascem e se desenvolvemtao facilmenteentre as sociedades democraticascomonas comunistasaristocratica,s.Quanto a mim, confessoque me custa acreditar ni~so". Democracyin America(Nova Iorque. 1898).II, 51. Veja-seoutra ex· pressao da mesma ideia: "f: imposslvelestabeleceruma relaQaocausal entre a demoera·
a definigao relevante do con h'eClmento: predig6es empiricamente madas e 16gicarnente congruentes. O. .. confirres") derivam do alvo e dos metodos sT:~peratlvos mstitucionais ("mocas e morais leva a consecugao do ~bje~iV~afiest~utura de nor~as. tecniprova empirica, sUficiente , valid'a e di gna de fe. ~a. tecmca da e urn A ro>norma "t a . comprovac;.iio das prt'vis6es exata s,. a norma . tecnlCa . . "qUISl0 prevlO para. da • glCa, urn requisito pr~vio para a p d' _. . congruencla 10re Os "mores" da cienria tern uma eXPlicar--O 19.ao SlStematlCa e valida. ",a raclOnal metodo16gi mente obrigat6rios, nao s6mente or _. ca mas sac moralprocedimento mas tambem porq p ~ue sao. eflCazes do ponto de vista do .' ue saD conslderados J'ustos b . como tecmcas . . eons. E um conJunto rJe prescrig6es tanto mo ralS . Quatro passos de imperativos institucionai -'. . msmo, desinteresse e ceticism . s umversallsmo, comucHincia moderna. 0 orgamzado - compreendem 0 "ethos" da
o ~nivnrsalism04 encontra expressao imediata no canon pretensoes a verdade, quaIsquer que se'am . • de que as ~etidas a criterios impessoais reestab J l . sua.s ongens, tern que ser subCIa com a observar-a-o e com op h: eC'ldos. devem estar em consonan", con eClmento .. ., d' Ja prevlame~te confirmado. A aceitagao ell a rejeigao dos ed" nao devem c'iepender dos atrib~to laos e ~ngresso ~~s reglstros da ciencia tern importancia em'. s pessoals ou sOCIalsdo requerente; nao rd Sl mesmas a raga a . qualidades de classe ou pessoais A '.. ~aclOna 1 a~e, a religiao e as A circunstancia de que a f . _obJe~lvldade exclUJ 0 particularIsmo. s ormulagoes Clentificament T ferem a. seauencias e corr 1 _ .. even lCadas se retivas de impnr criterios P: ;gO~S obJebvas, milita contra todas as tenta· berg nao DOde invalidar 0 prr10CU aresHde validez. Urn decreto de Nurem_ cesso aber nem a leI' d .':leI'revogada POI' anglofob' 0 .. ' a gravltagao pode 1 a tistas estranr-eiros nos ma n . . dChauvlmsta pode riscar 0 nome dos cien. -=- • ualS e hist· . ridos cienttslas continuam sendo indi orIa,. m~s as formulag6es dos refe10gia. Sej2, echt-deutsch ou cern spensavels para a ?iencia e a tecnofinal de urn f.xperimento al POI' cen.to norte-amencano 0 resultado . guns estrangelros semp . t . quer novo pre gresso tecnico 0 i . .re m .ervem em qual· profundas n0 carateI' impess'oal dam~:~~~~~o de umversallsmo tern raizes --:cl~'a~e-a~c:i:-:':--:==~----:------------------------enCla e afirmar que somente a socieda . adequado para 0 desenvolvimento ds. ... de democratlca pode proporcionar 0 solo de ser mera. coincid~ncia . que C1enCla. Todavia ,po nao ". a cl'enc 1a. na realldade. tenha florescl SCIence and democracy" S. do e.rn epocas dernocratlcas". Henry E. Sigel'1st . 4. Para uma anallse ba" C1enc~ and SOCiety, 1938, 2, 291. sIca do n as re I-a90es socials, vel' Talcott Parsons. .Th e Social System. Para umaumversallsmo ex re _ mdependente das fronteiras nacion~is ss;o da cren9a de que a "cl~ncia e completamente selho da Assoc 9ao Americana pa . ;s ra9as e dos credos", vel' a resolu9aO do Conia bem "The advancement of sCienc:a 0 rogresso da C1~ncla, Science, 1938. 87, 10; tam· 1938, 141, 169. and socIety: proposed world a.ssociation", Nature,
Todavia, ft instituigao da Clencia e apenas parte de uma estrutura social maior, com a qual nem sempre esta integrada. Quando a cultura maior se op6e ao universalismo, 0 "ethos" da ciencia e submetido a fortes 0 etnocentrismo nao e compativel com 0 universalismo. Partens6es. ticularmente, em epocas de confUtos internacionais, em que a situagao sublinha fortemente as lealdades nacionais, 0 cientista esta sujeito aos imperativos antagonicos do universalismo cientifico e do particularismo etnocentrico.4a A estrutura da situagao em que se encontra determina 0 papel social que esta chamado a desempenhar. 0 homem de ciencia pode ser transforn:ado em homem de guerra e atuar em consequencia. Assim, em 1914, 0 manifesto de 93 cientistas e professores alemaes - entre os quais Baeyet, Brentano, Ehrlich, Haber, Eduard Meyer, Ostwald, Planck, Schmoller e Wassermann - desencadeou uma polemic a em G.ueindividualidades alemas, francesas e ingH~sas recobriram seus sentimentos politicos com 0 manto da ciencia. Cientistas desapaixonados impugnaram as contribuig6es do "inimigo", acusando-o de tendencias nacionalistas, contuber-5 nios, desonestidade intelectual, incompetencia e falta de talento criador. Mas este mesmo desvio dessa norma do universalismo pressupunha realmente, sua legitimidade. Porque 0 preconceito nacionalista s6 e vergonhoso 490.Isto foi escrito em 1942. Em 1948. os IIderes politicos da Russia sovietica acentuaram a importr.ncla que concedem 900nacionalismo russO e come9aram a insistlr no carateI' '';IncionaJ." da ci~ncia. Num editorial intitulado "Contra a ideologia burguesa no cosmopolltlsrno", Voprosy filosofii 1948.N.o 2, traduzldo no Current Digest of the soviet 'PTess de 1.0 de fevereiro
(HaJ.le, 1933).
quando jUlgado de acordo com a norma do universalismo; dentro de outro contexto institucional e definido como virtude: e 0 patriotismo. Assim, pelo pr6prio fato de condenar sua v.iolac;ao, sac reafirmadas as normas morais. Mesmo sob as press6es em contrario, cientistas de todas as nacionalidades solidarizaram-se com 0 padrao universalista usando as palavras mais francas. Foi reafirmado 0 carater internacional, impessoal, virtualrn.ente anonimo, da ciencia.6 (Pasteur disse: "Le savant a une ;;atrie, la science n'en a pas"). A negac;ao da norma se considerava uma quebra da
fe. o
unive::-f:alismo encontrou nova expressao, ao exigir que todas as carreiras fossem abertas ao tal ento . A base racional e fornecida pela meta institudcnal. Restringir as carreiras cientificas por outros motivos que a falta de competencia e prejudicar a promoc;ao do saber. 0 livre acesso as atividades cientfficas e um imperatb,-o funcional. Coincidem a wnveniencia e a moral. Dai a anomalia de urn Carlos II, a invocar a moral da ciencia para censurar a Royal Society pela suposta exclusao de John Graunt, 0 aritmetico politico e as suas instruc;6es no sentido de que "se encontra£sem mais comerciantes assim, os admitissem imediatamente € sem disc:1ssao". Por ai ,~e ve tambem que 0 "ethos" da ciencia pode nao concordar com 0 da sociedade em geral. Os cientistas podem assimilar normas de casta e cerrar suas fileiras a individuos de classe julgada inferior (como, na epoca, 0 comerciante acima citado), independentemente do seu t.alento e realizac;6es. Mas isto provoca uma situac;ao instavel. Recorre-se a ideologias complicadas para esconder a incompatibilidade entre a moral de casta e a meta institucional da ciencia. E necessaria demonstrar que os individuos de casta inferior sao intrinsecamente incapazes de trabalha cientifico au, pelo menDs, que suas contribuic;6es devem ser depreciadas de maneira sistematica. "Pode-se aduzir, pela hist6ria da ciencia, que os fundadores cll1pesquisa em fisica e as gran,l€s descobridores, desde Galileu e Newton ate os fisicos inovadores de nossos dias, foram quase exclusivamente arianos, sobretudo de rac;a n6rdica". As palavras modificativas "quase excl'.lsivamente" constituem base de todo insuficiente para negar aos "p:hias" todos as direitos ao exito cientifico. E'ntao a ideologia e "arredondada" pelo conceito de ciencia boa au ma: a ciencia realista e pragmatic a aDs arianos op6e-se a ciencia dogmatica e formal dos nao arianos.7 Ou se procuram fundamentos para a exclusao, no fato extra6.
7.
Ver a profissao de fe do professor E. Gley (em Pettit e Leudet, op. cit., 181):"... il ne peut y avoi.r une verite allemande, anglaise, ita.lienne ou japonaise pas plus qu'une fran· ~aise. Et parler de science allemande, anglaise ou fran~aise, c'est enoncer une proposi· tion contradictoire a I'idee meme de la sci.ence". Ver tambem a.s afirma~6es de Grasset e Richet, ibid.\ Johannes 8tark, Nature, 1938,141,772; "Philipp Lenard als deutscher Naturforscher", 7, 106·112. Isto me lembra 0 contraste de Duhem Nationalsozialistische Monatshefte, 1936, entre a ciemcia "alema" e a ciclI1cia 4'francesa".
cientifico d~ que os cientistas sejam 1rumigos do E'stado ou da Igreja.8 Assim. os expoentes de uma cultura que abjura os padr6es universalistas se sent em obrigl:ldos a prestar homenagem, de boca para fora, a este valor no campo da ciencla. 0 universalismo e tortuosamente louvado em tearia mas suprimido na pratica. Por inadequadamente que seja posta em pratica, 0 "ethos" da democracia compreende 0 universalismo como principio-guia predominante. A democratizac;ao equivale a eliminac;ao progressiva de restric;6es ao exercfcio e desenvolvimento de talentos socialmente valorados. Os criterios impessoais de realizac;ao e a nao estabilidade de status caracterizam a sociedadade democr:itwa. Na medida em que persistem restric;6es, sac consideradas como obstaculos no caminho da democratizac;ao total. Assim, na medida em que a democracia do "laissez-faire" permite a acurnulac;ao de vantagens diferenciais para certos setores da populac;ao, diferenciais que naa estao vinculadas com diferenc;as demonstradas de capacidade, 0 processo dem0cratico conduz a crescente regulagem pela autoridade polftica. Em circunstancias cambiantes, e necessario introduzir novas formas tec· nicas de organizac;ao para conservar e ampliar a igualdade de oportp.nidades. 0 aparelho politico destinado a par em pratica os valores democraticos pfJd(', em consequencia, variar, mas as normas universalistas sac mantidas. Na medida em que uma sociedade e democratica, oferece opor· tunidade para 0 exercicio de criterios universalist as na ciencia,
o "comunismo", no sentido nao tecnico e amplo de propriedade comum dos bens, e um segundo elemento integral do "ethos" cientifico. As des· cobert as substantivas da ciencia sac produto da colaborac;ao social e estao destin ados a comunidade. Constituem heranc;a comum em que os lucros do produtor individual estao severamente limitados. Uma lei au teoria n!'in e propriedade exclusiva do descobridor e dos seus herdeiros, nem os costumes Ihes concedem direitos especiais de uso e disposic;ao. Os direitos de propriedade na ciencia sao reduzidos ao minimo pelas raz6es e principios dp. etica cientifica. 0 direito do cientista a sua propriedade intelectual limita-se a gratidao e a estima que. Se a instituic;ao funciona com um minima de eficacia, sac mais ou menos proporcionais aos aumentos trazidos ao fundo comum de conhecimentos. A eponimia - par exemplo, 0 sistema de Copernico, a lei de Boyle - e, portanto, a,o mesmo tern· po, recurso mnerEonico e comemorativo. 8. "Temos afastado [os 'negadores marxistas'J nao como represent antes da ciencla, mas como partidarios de uma doutrina polltica que inscreveu em sua bandeira a destrui~ao de tOdas as ordens. Com ta.nta maior decisao tivemos de agir, quando a ideologia dorM· nante de uma ciencia livre de valOres e de condi~6es, Ihes servia de resguardo par& prosseguirem em seus pianos. Nao fomos n6s que violamos a dignidade da ciencia livre ... n Bernha.rd Rust, Das nationalsozialistische Deutschland und die 'Wissenschaft (Hamburgo, 1936),13.
Dada a importancia institucional de gratidao e da estima como 0 u~ co direito de propriedade do cientista sabre os seus descobrimentos, 0 interesse pela prioridade cientifica e uma rea<;:ao"normal". As controversias sabre prioridade que marc am a hist6ria da ciencia moderna sac produto Surge uma da importancia institucional concedida a originalidade.9 coopera<;:ao competitiva. Os resultados da competi<;:ao sac comunizadosl0 As na<;:6es alegam direitos a priorie a estima cresce para 0 produtor. dade10"e ::IS novas entradas na comunidade da ciencia sac rotuladas com os nomes dos nacionais: serve de testemunho a controversia sabre as pretens6es rivais de Newton e de Leibniz acerca do calculo integral. Mas tudo isso nao amea<;:a a situa<;:ao do conhecimento cientifico como propriedade COG11lm. o conceito institucional da ciencia como parte do dominio publico esta. ligado ao imperativo da comunica~ao dos resultados. 0 segredo e a antitese dessa norma; a plena e franca comunica<;:ao e 0 seu cumprimento.ll A
9. Newton falllva por dura experiencla quando observou que ·a filosofla [natura]) e uma dama tao impertinentemente lItigiosa. que um homem sofrerla tanto, em se envolver num processo jUdicial, quanto ter que tratar com ela". Robert Hooke, Indlvlduo socialmente m6vel, que subiu de situa~ao i.micamente por suas reallza~6es clentlfica.s, era notavel· mente "lItigioso". 10. Embora possa estar marcada pelo comerciallsmo dominante na sociedade em geral, Ver R. uma proflssao como a medicina admite que 0 saber e de propriedade comum. H. Shryock, "Freedom and interference in medicine", The Annais, 1938, 200, 45.•... a. profissao medica... natur2·1mente franzia 0 sobrolho ante as patentes tlradas por medIcos ... A proflssao regular tern ... mantido essa posi~ao constantemente, contra os monop6Iios privados, desde 0 advento da lei de patentes do seculo XVII". Agora est~ surgindo uma sltua,ao amblgua, em que '" sociallza~ao da pr~tica medica e combatlda em clrculos onde nao se discute a sociaIiza~ao dos conhecimentos. 10". Agora que os russos adota,ram oficlalmente tao profunda reverencia pela patria, chegam a insistir na importfmcia de detcrminar as prioridades nos descobrimentos cientWcos. "A madS Iigeira desaten~ao a quest6es de priorldade na ciencia, 0 Assim, dizem eles: mais leve descuido devem pois ser condenados, porque deles se aproveltam nossos Inimlgos, que en cobrem sua agressao ideol6gica com uma conversa cosmopolita sabre a suo posta inexistencia de quest6es de prioridade na ciencia, Isto e, a.s quest6es relativas aos Indiv·lduos que fazem contribui~6es ao acervo geral da cultura universal". E prosseguem: "0 povo russo tern a hist6ria mais rica. No curso da sua hist6ria criou a cultura mals rica e todos os demais palses do mundo se abebedaram nela e continuam a faze-Io ainda hoje". Voprosy filosofii, op. cit., pp. 10; 12. Isto lembra as reivlndica~6es nacionalistas que se fiz,eram na Europa ocidental no seculo XIX e as dos nazlsta~ 0 nacionalismo pa.rtlcularlsta n5,0 faz no seculo XX. (Cf. nota 7 do mesmo trabalho). aprecia~6es imparcials sabre 0 curso do desenvolvimento cientifico. 11. Cf. Bernal, que observa: "0 desenvolvimento da ciencia moderna coincldiu com a rejel,ao definitiva do segrtdo". Bernal cita uma pa£sagem not:'wel de Reaumur (L'Art de convertir Ie forge en acier) no qual a obriga<;ao moral de publicar as pesquisas e~tl\ explicltam~mte relacionada com outros elementos do "ethos" da ciencia. P. ex.: • .. n y eut gens qui trouverent etrange que j 'eusse pub lie des secrets, qui ne devoient pas etre reveles ... est-il bien sur que nos decouvertes soient si fort a nous que Ie F'ublic n'y ait pas droit, qU'elles ne lui appartiennent pas en quelque sorte? .. resterait il bien de" Nous nous circonstances, oil nous soions absolument Maitres des nos decouvertes?.. a notre Patrie, mals nous devons aussi au reste du monde; devons premierement
pressao para a difusao dos resultados e refor<;:ada pela meta institucionaI de amp liar as fronteiras do saber e pelo incentivo da fama, a qual depende, naturalmente, da publicidade. Urn cientista que nao comunica suas importantes descobertas a irmandade cientifica - por exemplo, urn Henry Cavendish - converte-se em alvo de rea<;:6es ambivalentes. E estimado pelo seu talento e, talvez, pela sua modestia; mas, do ponto de vista institucional, sua modestia esta gravemente deslocada tendo-se em conta a obriga<;:aomoral de compartilhar a riqueza da ciencia. Embora partindo de urn leigo, 0 comentario de Aldous Huxley sabre Cavendish e instrutivo a este respeito: "Nossa admira<;:ao pelo seu genio e mitigada por alguma desaprova<;:ao; parece-nos que urn homem assim e egoista e anti-social". Os epitetos sac particularmente instrutivos porque implicam a viola<;:ao de urn imperativo institucional definido. Ainda quando nao se liga a urn motivo Ulterior, a oculta<;:ao das descobertas cientificas e condenada. o carater comunal da ciencia reflete-se tambem no leconhecimento por parte dos cientistas de que dependem de uma heran<;:a cultural a qual nao tern direitos diferenciais. A observagao de Newton - "se enxerguei mais longe foi porque estava sabre as ombros de gigantes" - exprime ao mesmo tempu 0 sentimento de estar em divida com a heran<;:a comum e c;, confissao do carater essencialmente cooperativo e acumulativo das realiza<;:6escientificas.12 A humanidade do genio cientifico nao e somente culturalmente adequada, mas e tambem a conseqtiencia da compreensao de. que 0 progres~o cientifico implica a colabora<;:ao das gera<;:6espassadas €' presentes. Foi Carlyle, e nao Maxwell, que se entregou a uma concep<;:ao criadora de mitos da hist6ria. o comunismo do "ethos" cientifico e incompativel com a defini<;:ao da tecnologia como "propriedade privada" numa economia capitalista. Obras recentes sabre a "frustra<;:ao da ciencia" refletem este conflito. As patentes registram direitos exclusivos de usa e, muitas vezes, de nao uso. A supressao da imen<;:ao nega a explica<;:ao racional da produ<;:ao e da difusao cientificaE', como se deduz da senten<;:a de urn tribunal no caso do Estados Unidos contra a American Bell Telephone Co. "0 inventor e urn individuo que descobriu algo de valor. E sua propriedade absoluta. Pode subtrair do publico seu conhecimento ... "13 As rea<;:6es a essa situa<;:ao cQnflitante tern side diversas. Cumo medida defensiva, alguns cientistas chegaram a patentear sua obra para garantir que seria posta a disposi<;:ao ceux qui travaillent pour perfectionner les Sciences et les Arts, doivent meme se regarrler comme les citoyens du monde entier". J. D. Bernal, The Social Function of Science, 150-151.
E interessante saber que 0 aforismo de Newton e uma frase estereotipada, conhecida Pareceria confirmar que a dependencia das descober. pelo menos desde 0 secu10 XII. tas e das Inven~6es sabre as bases culturals existentes jn fora notada muito tempo antes dos enunciados dos modernos soci610gos. Ver Isis, 1935, 24, 107-9; 1938, 25, 451-~. 13. 167 U. S. 224 (897), citado por B. J. Stern, "Restraints upon the utilization of inventions", The Annals, 1938, 200, 21. P",ra estudo mais aprofundado, cf. outros trabalhos de Stern citados na mesma revista; ver tambem Walton Hamilton, Patents and Free Enterprise (Temporary National Economic Committee Monograph N.D 31, 1941). 12.
do uso publico. Einstein, Millikan, Compton, Langmuir tiraram patentes.H Fizeram-se press6es sabre os cientistas para que se convertessem em promot ores de novas empresas economicas,15 outros procuram resolver 0 conflito invocando 0 socialismo,16 Estas propostas - as que pedem remuneracao economica para os descobrimentos cientificos e as que pedem uma mudanga do sistema social para deixar que a ciEmcia prossiga em sua tarefa - refletem as discrepancias no conceito da propriedade intelectual.
A ciencia, como ocorre com as profiss6es liberais e cientificas em geral, inclui 0 desi.nteresse como elemento institucional basico. Nao se deve considerar 0 desinteresse igual ao altrui&mo, nem a aQao interessa.da igml.l ao egoismo. Essas equivalencias confundem niveis institucionais e de motivaQao na an:Hise,17 Ao cientista tern side atribuido a paixao de 5aber, uma curiosidade ociosa, urn interesse altruista pelo beneficio da humanidade e muitos outros motivos especiais. A procura das motivag6es di5· tintivas' pareee ter side mal orientada. E antes um padrao tipico de con· trale institucional r]e umQ; ampla margem de motivar;oes 0 que caracteriza o comportamento {Ios cientistas. Pois uma vez que a institufQao imp6e uma atividade desinteressada, e do interesse do cientista conformar-se, sob pena cie sangoes e, na me did a em que a norma foi assimilada, sob pena de conflito psicol6gico. A ausencia virtual de fraudes nos anais da ciencia, que parece excepcional quando comparada com outras esferas de atividade,' foi atribuida as qualidades pessoais dos cientistas. Por implicaQao. os cientistas se reo crutam entre as fileiras dos que apresentam urn grau pouco habitual de integridade moral. Nao ha, na realidade, provas satisfat6rias de que isto seja assim; T-'ode-seencontrar uma explicaQao mais admissivel em certas caracteristicas distintivas da pr6pria ciencia. Ao implicar, r,omo implica, a verificabilidade dos reSUltados, a pesquisa cientifica esta debaixo do controle exigente dos colegas peritos. Em outras palavras - e a observagao podera sem duvida ser interpretada como lesa majestade - as atividades dos cientistas estao submetidas a urn policiamento rigoroso, sem paralelo, talvez, em qualquer outro campo de atividade. A exigencia de desinteresse tern firme al;cerce no carater publico e testavel da ciencia e podemos su, por que esta circunstancia contribuiu para a integridade do homem de ci~ncia. Existe competigao no campo da ciencia, competiQao que se intensi14. Hamilton, op cit., 154; J. Robin, L'oeuvrescientifique,sa protection·juridique,Paris, 1928. 15. VannevarBush, "Trends in engineeringresearch",Sigma XI Quarterly,1934,22,49. 16. Bernal, op. cit., 155e segs. 17. Talcott Parsons, "The professionsand social structure", Social Forces, 1939,17, 458-9; cf. GeorgeSarton, The Historyof Scienceand the NewHumanism(NovaIorque,1930, 130e segs. A distin~aoentre obrigac6ese motivosinstitucionaise, natura1mente,0 conceitochave da. sociologiamarxista.
fica pel a importancia que se da a prioridade como criterio de realizagao e. em condig6es competitivas, podem surgir incentivos para eclipsar os rivais por meios ilicitos. Mas esses impulsos encontram escassas oportunidades para se manifestarem no campo da pesquisa cientifica. Cultismo, camarilhas informais, publicag6es prolificas mas banais - podem-se usar essas e outras tecnicas para a promogao pessoal.18 Mas, em geral, as, pretens6es espurias pare~em ser negligiveis e ineficazes. A transformagao da norma de desinteresse Am pratica e firmemente apoiada pela necessidade que os ci.entistas tern, mais cedo ou mais tarde, de prestar contas perante os seus colegas. Coincidem em grande parte os ditames do sentimento socializado e da convenitncia, situagao esta que conduz a estabilidade institucional. Ocampo da ciencia difere bastante a este respeito, daquele de outras profiss6es. 0 cientista nao lida com uma clientela leiga, como 0 fazem 0 medico e 0 advogado. A possibilidade de explorar a credulidade, a ignorancia ou a necessidade do leigo esta assim consideravelmente r.eduzida. A fraude, a chicana e as pretens6es irresponsaveis (charlatanismo) sao ainda menos provaveis do que entre as profiss6es de 'servigo'. Na medida em que as relag6es entre os cientistas e os leigos adquirem importancia superior, desenvolvem-se incentivos para burlar a moral da ciencia. 0 abuso da autGridade dos peritos e a criagao de pseudociencias entram em campo qu:mdo a estrutura de controle exercida por colegas qualificados se torna ineficien te,19 E provavel que a reputagao da ciencia e sua elevada posigao eti~a na estima dos lcigos sejam devidas, em grande parte, as realizag6es tecna16gicas. 19a Toda nova tecnologia atesta a integridade do cientista. A ciencia realiza suas pretens6es. Mas sua autoridade pode ser e e 3proveitada para propo£itos interessados, precisamente porque os leigos nao estao amiude em sltt:aQao de distinguir as pretens6es espurias dessa autoridade. das l~gitimas. As declarag6es presumlvelmente cientificas dos porta-vozes totalitarios sabre a raQa, a economia ou a hist6ria sao, para os leigos incultos, da mesma ornem que as informaQ6es dos jornais sabre urn universe em expansao ou a mecanica de ondas. Em ambos os casos declarag6es e informaQoes tais nao podem ser testadas pelo homem da rua e, em ambos Os casos, podem ser contrarias ao bom-senso. Talvez os mitos possam parecer mais admissiveis, e seguramente mais compreensiveis ao publico em geral, que as teorias cientificas acreditadas, ja que estao mais perto da experiencia de sentido comum e da tendencia cultural. Por isso, em parte Jevido as conseqtiencias dos triunfos cientificos, a populaQao em geral torna-se mais suscetivel a misticismos novos expressos em termos aparente-
18. Ver 0 re!at6riode LoganWilson,The AcademicM~n, 201e segs. Cf. R. A. Brady,The Spirit and Structureof GermanFascism(NovaIorque,1937),Cap. II; Martin Gardner, In the Name of Science(Nova Iorque: Putnam's, 1953). 19a.Francis Bacon formulouurn dos primeirose mais suscintosEIDunciados deste pragmatismo popular. "0 que e mais util na pratica e 0 mais correto na teoria". No\'um Organum.Livro II. 4.
B.
XIX mente cientHiros. A autoridade, tomada de emprestimo tigio a teoria anticientifica.
a.
o TRABALHADOR
ciencia, da pres-
Como temos visto no ~apitulo anterior, 0 ceticismo organizado se inter··relaciona de diversas maneiras com os outros elementos do "ethos" cientffico. E um mandato ao mesmo tempo metodol6gico e institucional. A suspensao do jUlgamento ate que "os fatos estejam a mao" e 0 exame imparcial das cren<;as de acardo com criterios empiricos e l6gicos, tem envolvido peri6dicamente a ciencia em conflitos com outras illstituiQoes. A ciencia, que coloca questoes de fato, incluidas as potencialidades, concernentes :a todos os aspectos da natureza e da sociedade, pode entrar em conflito com outras Hiitudes em rela<;ao a esses mesmos dados que foram cristalizados e, amhlde, ritualizados por outras institui<;oes. 0 pesquisador cientffico nao respeita a separaQao entre 0 sagrado e 0 profano, entre 0 que exige respeito sem critica e 0 que pode ser objetivamente analisado ("Ein Professor ist ein Mensch der anderer Meinung ist")· Esta parece ser a fonte das rebelioes contra a chamada intromissao da ciencia em outras esferas. A resistencia por parte da religiao organizada tem perdido importancia em compara<;ao com ados grupos econamicos e po' liticos. A oposi<;ao pode tambem existir completamente a parte da introduGao de descobertas cientlficas especificas que parecem invalidar dogmas par· ticulares da Igreja, da economia ou do Estado. E antes uma apreensao difusa, muitas vezes vaga, de que 0 ceticismo amea<;a a distribui<;ao de poder ·.-:gente. 0 conflito acentua-se sempre que a ciencia leva sua pesquisa a zonas novas nas quais ja existem atitudes institucionalizadas, ou ~emnre que outras institui<;oes ampliam sua area de contrale. Na sociedade totalitaria modema, 0 anti-racionalismo e a centraliza<;ao do contrale institucional servem ambos para limitar 0 campo deixado a atividade cientffica.
A MAQUINA,
S
E
a ENGENHEIRO
USPEITAR T6DA A MAGNITUDE cia nossa ignorancia e 0 primeiro passe para suplantar essa ignorancia por conhecimentos. 0 que se conhece acerca dos efeitos das mudan<;as nos metodos de produ<;ao sabre os problemas, conduta e perspectivas do trabalhador e verdadeiramente pouco; ainda h~ muito a conhecer. Um rapido ensaio dedicado a este importante ussunto nao pode fazer mais, no melhor dos casos, que tra<;ar um simples esba<;o dos contornos da nossa ignorancia. E apenas possivel aludir a ordem dos resultados das pesquisas de que agora se disp'oe, as circunstancias necessarias para a adequada amplia<;ao desses resultados e a organiza<;ao social das pesquisas ulteriores necessarias para alcan<;ar novas conclusoes. Tao divulgada e tiio profundamente arraigada e a cren<;a de que 0 progresso Mcnico e urn bem evidente por si mesmo, que os homens pres:indiram, em grande parte, de investigar as condit:;Oes 'da socied:zde ~m ~ue este e realmente 0 caso. Se a tecnologia e boa, assim 0 e pelas ImpllCa<;oeshumanas, porque grande numero de homens situados em posi<;oes diferentes tern ocasiao de considera-la como tal a luz da sua experiencia. E 0 fato de que isto ocorra, depende nao tanto do carMer intrinseco de um.a t~cnologia progressiva, que aumenta a capacidade de produzir abundancIa ~e bens como da estrutura da sociedade que determina quais grupos equals indi~fdUOSganham com 0 aumento e produ<;ao e quais os que s~frem a~ desloca<;oes e os custos humanos que a nova. tecnologia tra:: consI.go._MU~ tos indivfduos em nossa sociedade moderna, Julgam que estao mUlto long de serem vantajosos os numerosos efeitos sociais da introdu<;ao progressiva de uma tecnologia que economiza a mao-de-obra. Embora sejan: poucas as estatisticas sabre desemprego tecnol6gico, deslocamento de mao~d~-obra, obsolescencia de habilidades, descontinuidades no trabalho ~ dimInui<;ao das tarefas por uniciade de produto, tudo indica que os operanos su.., - planeJamen . t 0 par a a introduf'ao ordenada portam as consequencIas do nao " das descobertas nos processos de produ<;ao.
A pesquisa desses assuntos nao e, naturalmente, panaceia para as des· locae6es sociai::, atribuiveis aos metodos atuais de implantaeao dos pro. gressos tecnol6gicos; mas pode indicar os fatos pertinentes do caso, isto e, pOde assentar as bases para as decis6es das pessoas diretamente afetadas pelos multiformes efeitos das mudaneas tecnol6gicas. A pesquisa social neste terren::> tern ,sido limitada de maneira impressionante e sera interessante examinar por que isto acontece. Revisaremos primeiro a ordem de resultados obtidos pela pesquisa so~ial neste campo geral; depois examinaremos alguns fatores que afetam o papel social dos engenheiros - especialmente dos diretamente interessados no desenho e construeao dos equipamentos de produeao - e as reper. cuss6es do seu trabalho criador; finalmente, indica-remos alguns dos problemas e potencialidades mais evidentes de novas pe&quisas s6bre as eonsequencias sociais da tecnologia que poupa mao-de-obra.
CONSEQDENCIAS SOCIAlS DAS MUDAN<;AS NA TECNOLOGIA A pesquisa descobriu algumas das repercuss6es sociais das mudaneas tecnol6gicas, algumas das quais serao mencionadas adiante. Estendem-se desde os efeitos mais diretos s6bre a natureza da vida de trabalho - a ana tomia social da tarefa - ate os que afetam as normas institucionais e as estruturas da sociedade em gera!.
Tornou-se not6rio que os novos processos de produeao e os novos equipamentos afetam inevitavelmente a rede de relar;oes sociais entre os trabalhadores ocupados na produeao. Para os homens que trabalham nas fabricas, nas minas ou nas fazendas, as mudaneas nos metodos de produeao provocam mudaneas nas rotinas de trabalho, que modificam 0 ambiente social imediato do trabalhador. As modificae6es do tamanho e da composieao dos grupos de trabalho; 0 alcance, carater e frequencia do contato com companheiros e superiores; a situaeao do operario na organizaeao, ::. E\xtensao da mobilidade fisica de que disp6e, t6das e cada uma dessas coisas podem ser efeitos colaterais das mudaneas tecnol6gicas. Ainda que essas mudaneas na estrutura local das relaeoes sociais afetem de maneira destacada 0 grau de satisfaeao do openlrio com a sua tarefa sac amiude imprevistas ou nao sac levadas em conta. As condi~'6es em que essas mUdaneas se introduzem, tambem determinam, como se observou, seus efeitos s6bre os trabalhadores. Ao reagir a circunstancias econ6micas de crise pela introdueao da tecnologia que poupa mao-de-obra, a direeao das empresas pode estar ampliando e aprofundando a falta local de desemprego, exatamente no momenta em que os operarios tern poucas possibilidades de encontrar trabalho. as empresarios podem, assim, estar aumentando ~ inseguranr;a de emprego e a inquiet~iio
dos operanos. Tais circunst~mcias levam, muito compreensivelmente, os trabalhadore.s organizados a procurarem ter maior participaeao no plane· jamento para a introdueao de novos equipamentos e processos. A este respeito 0 lapso de tempo para a introdueao das mUdaneas tee· nol6gicas, e d.e importancia critica, embora nao exclusiva. as operarios,' da mesma forma que os gerentes, procuram exercer algum grau de contr6le s6bre a sua vida de todos os dias. As mudaneas que se lhes imp5em sem 0 seu cunhecimento e consentimento previos sao consideradas como ameaea ao seu bem·estar e se parecem muito com as reae6es dos homens de neg6cio sujeitos as vicissitudes do mere ado ou as decis6es, que reputam imprevisiveis, "dos burocratas da capital federal". Nao e raro que a interesse do trabalhador pelas decis6es tenha sido, conscientemente e sem sentido da r~alidade, esquecido por uma diretoria que implanta nova teenologia destinada a reduzir a mao-de-obra, com 0 intuito de manter ou melhorar a capacidade de concorrencia da empresa. Tern side observado qu~ urn ambiente de incerteza, temor e hostilidade .pode ser habilmente criado, acelerando-se a velocidade das mudaneas tecnol6gicas imprevistas. Mediante a obsozescencia provocada .das habilidades, a tecnologia que reduz a mao-de-obra, provoca problemas psicol6gicos e socials profundos A dificuldade nao reside unicamente na necessidade para 0 trabalhador. de aprender !lovas tecnicas de trabalho. A necessidade de abandonar destrezas adquiridas e, amiude, a queda simultanea de status, destr6i a imagem positiva que de si mesmo fazia 0 trabalhador, nascida do uso confiante daquelas habilidades. Ainda que este custo humane dos metodos novos de produeao possa ser, as vezes, reduzido para os trabalhadores individualmente, mediante a redistribuieao planejada de tarefas, isto nao impede que haja mudaneas basicas na estrutura ocupacional da indUstria em gera!. Com 0 progresso tecnol6gico, a crescente subdivisao do trabalho cria inumeras ocupae6es novas para as quais, segundo observou Roethlisberger, "nao existem nomes profissionais que tenham algum significado social fora da industria especifica, da Hi.brica ou ate mesmo do departamento em alguns casos". A divisao do trabalho implica a perda da identidade publica da tarefa. Quem, senao alguns poucos iniciados, por exemplo, pode distinguir urn fixador de aletas numa fabrica de autom6veis, de outros montadores de centros de radiadores? au, para citar urn exemplo mais domestico, c;uem pode comparar 0 orgulho inerente ao trabalho de adornar habil· mente os "sonhos" com uma geleia, atraves de uma seringa, daquele de simplesmente polvilha-Ios com aeucar? Para 0 mundo exterior, essas especiaIizae6es esotericas sac t6das iguais e, em consequencia, devem apresentar outros sinais de status e de atividade importante, para serem notadas. A alieEaeaO dos operarios da sua tarefa e a importancia dos salarios como pr;ncipal simbolo do status social, sac ambas saIientadas pela ausencia de significado social atribuido a tarefa. A maior especializaeao da produeao conduz inevitavelmente a uma necessidade maior da previsibilidade do comportamento no trabalho e, por-
tanto, de uma disciplina maior no local de 'trabalho. A engrenagem de numerosas tareias limitadas exige que a margem de variaQao do comportamento se reduza ao minimo. Esta tendencia, qus se fez sentir pela primeira vez nos prim6rdios do sistema fabril pelas revolt as de operarios co;ntra a entao desconhecida disciplina da vida nas fabricas, tornou-se rapidamente mais perceptive!. Na pratica, isto equivale a significar um "quantum" cada vez maior de disciplina que, em certas circunstancias, chega a ser coercitiva para 0 cperario.
Os sUbprodutos politicos e sociais assim como os econOmicos de uma tecnologia sempre em marcha, afetam diversamente a estrutura 'da sociedade em gera1. 1tste contexto mais amplo indica que as atitudes dos trabal~adores para com a nova tecnologia nao san determinadas por ela em si, senao pelos usos colaterais que dela podem ser feitos, e as vezes foram 1eitos, como instrumentos de poder social. A tecnologia tern sido empregada, nao samente para produzir bens, mas tambem para manejar os operarios. De fato, tern sido definida muitas vezes como arma para submeter o trabalhador, ameaQando-o de desemprego, se nao aceitar as condiQoes de trabalho que se the oferecern. Nos dias atuais, este emprego tatico da tecnologia na "guerra de pregos" entre a c)ireQaoe a mao-de-obra nao precisa ser vista como ameaga senao simplE'smente como observaQao do funcionamento independente d~ mercado. Num discurso proferido na Conferencia do Bicentenario de Prin0eton, por exemplo, foi dito que "entre as maiores pressoes que agora estimulam as empresas a aumentar a mecanizagao e a aperfeigoar os processos tecnicos de produgao, figuram os fantasticos aumentos de salarios em dinheiro, 0 abandono ou a eficiencia reduzida dos salarios de incentivos, a intransigencia de muitos grupos operarios e uma oferta abundante de dinheiro barato. as engenheiros de processos, os desenhistas de maquinas e seus fabricantes, estarao agora e num futuro pr6ximo, gozando de uma procura que nunca antes tiveram. Havera premios e incentivos sem precedentes para a invenQao e a inovaQao". Cern anos atras, as implicagoes politic as da tecnologia (e do papel destinado aos ellgenheiros) eram compreendidas de modo muito primario pelos empresarios e seus porta-vozes. Andrew Ure, por exemplo, enaltecia as maquinas c.~ fiar recentemente descobertas como uma "invenQao desti. nada a restabelecer a ordem entre as classes laboriosas... 1tste invento confirma a grande doutrina ja exposta de que quando 0 capital poe 1\ ci~ncia a seu servigo, a mao-de-obra refrataria recebe sempre uma ligao de docilidade". Seria instrutivo veri1icar se 0 usa confessado ou tacito da tecnologia como arma nos con11itos de trabalho quebranta de fato a "intransigencia" dog trabalhadores ou lhes ensina a virtude da "docilidade"· E passivel, naturaImente, que a e1iciencia planejada de uma nova maquina ou de um
novo processo nao seja as vezes percebida, quando sua funQao colateral e de "manter 0 operario em seu lugar". E muito concebivel que se descubra que 0 exercicio do puro poder nao produz na industria, bem como em outros setores da atividade humana, uma estrutura estavel das relagoes sociais. as progressos dos metodos de produQao, como bem 0 assinalaram Elliott Dunlap Smith e Robert S. Lynd entre outros, podem amp liar a brecha Podem produzir um~ social entre Os operarios e os gerentes-executivos. estratijicac{io social da industria mais aguda. Como as complexidades da nova tecnologla convertem a preparaQao tecnica em requisito previo para os gerentes-executivos, e cada vez mais obscura para os operarios a perspectiva de ascender de categoria. Alem disso, na medida em que as oportunidades para adquirir urn preparo superior estao socialmente estratifiradas, os gerentes se recrutam cada vez mais em camadas sociais muito afastadas dos estratos operarios. Ademais, como 0 pessoal tecnicamente preparado entra na industria num nivel relativamente alto, tern pouca oportunidade de compartilhar da experiencia de trabalho dos operarios numa etapa. inicial de carreira e em consequencia, tends a ter urn conhecimento abstrato mas nao uma jamiliaridade concreta com 0 ponto de vista dos trabalhadores. Finalmente, com a crescente racionalizaQao dos metodos de administraQao, as relaQoes entre os diretores-executivos e os operarios se formalizam e se despersonalizam cada vez mais. 1tstes difp.rentes fenomenos - fechamento progressivo de oportunida· G.es para promoQoes sUbstanciais, crescente diferenQa de origens sociais entre os opera,rios e os gerentes, afastamento do pessoal diretivo dos pontos de vista d.os operarios devido a mudanQas nas normas tipicas das suas carreiras, despersonalizaQao das relaQoes individuais - podem, em conjunto, contribuir a uma tendencia secular para tensoes cada vez maiores entre os individuos que dirigem e os que san dirigidos. as efeitos da tecnologia sabre a situaQao social nao se limitam, e claro, a estas tendencias profundas na estrutura de classe. A interdepen-' den cia da estrutura industrial, cada vez mais estreita em virtude das aplicaQoes da cji:ncia a industria, conferem inter~sse publico as decisoes das grandes firm as industriais. Em consequencia, 0 Estado regulamenta e vigia cada vez mais essas decisoes, pelo menos nos aspectos que afetam claramente a comunidade em gera!. Esta tend{mcia para 0 "governo forte" imp6e a atenQao popular aquilo que os observadores analiticos ha muito tempo reconheceram: asesferas da conduta economica e politic a, longe de tereJn apenas relaQoes tangenciais, se sobrepoem umas as outras r.onsideravelmente. A mao-de-obra e a gerencia nao samente tratam diretamente uma r.om a outra mediante a negociaQao coletiva e as decisoes administrativas, como tambem indiretamente exercendo pressao sObre o Estado. Acompanhando as pegadas dos empresarios e dos gerentes, tambem os openlrios ingressam na politica, por intermedio dos sindicatos.
As cresce:ltes exigencias de disciplina no trabalho, derivadas da unificagao tecnol6gica, contribuiram muito a explicar 0 papel estrategico das "grandes uni6es" (sindicais) em nossa sociedade. A "grande industria" foi achando mais conveniente e mais pratico tratar com os sindicatos do que com as gran des massas de operarios desorganizados. Porque a industria chegoLl a compreender que a disciplina muitas vezes se consegue mais facilmente com a ajuda das decis6es dos sindicatos de trabalhadores do que recorrendo exclusivamente a autoridade da diretoria e os inspetores. Alem disso, 0 estado de sutileza tecnol6gica, em que a paralisagao de qualquer setor da produgao ameac;a paralisar tada a industria, modifica a constel~A.gaodas relac;6es de poder. Tudo isso da aos trabalhadores maiores respollsabilidades e poderes. Esta rllp.\da revisao de certas consequencias das mudanc;as nas tecnicas de prodUl;ao contribui a tornar mais agudo 0 dilema moral implicito na escolha de problemas para a pesquisa social neste terreno. A pesquisa enfocada unicamente sabre os efeitos da nova tecnologia na situagii.o imediata de trabalho numa fabrica, conduz primordial, senao exclusivamente, a resultados que podem ser facilmente adotados, tornando as mudangas tecnol6gicas mais aceitaveis para 0 trabalhador individual, embora possa, de fat 0, tel' consequencias adversas para ele. 0 problema cientifico pode ser confuncliclo com a problema de se descobrirem metodos para adaplar a trabalhador a mudanga, quase independentemente do mosaico de consequencias qu~ essa adaptagao pode trazer para eIe e seus companheiros. 0 capital pode tambem utilizar a ciencia social para ensinar ao trabalhador o valor da docilidade. Par outro lado, e unicamente mediante este estudo profunda dos efeitos imediatos sabre a vida de trabalho, que se podera provavelmente descobrir meios de introduzir modificagoes nos metodos de produc;ao, que possam atenuar consideravelmente as consequencias desfavoraveis ao trabalhador. A atengao dirigida unicamente aos efeitos sabre a estrutura social geral tambem tem ,seus limites. A pesquisa orientada total mente para tendencias seculares - par exemplo, a padrao de incremento da produtividade sendo mai;; n\pido au acompanhando a incremento do emprego total afasta a atenr.ao dos modos e meios de reduzir ao minima as impactos presentes das mUdanc;as tecnol6gicas sabre a operario. Mas este tipo de pesquisa localiza a problema sociol6gico central, distinguindo as caracte· risticas de nossa organizagao social, que militam contra a progresso, tecno' 16gico, resultando "maior seguranc;a nos meiDs de vida e niveis de vida mais satisfatGrios".
As novas aplicagoes da ciencia para a produgao que 0 engenheiro faz, nao afetam, pois, simplesmente os metodos de produc;ao. Constituem de. cis5es sociais inevitav,eis que afetam as rotinas e as satisfac;5es dos ho-
mens que trabalham na maquina e, em suas maio res repercussoes, dao forma a pr6pr!a organizagao da economia e da sociedade. o papel central dos engenheiros no "Estado Maior" dos nossos sistemas de produgao, nada mais faz que sublinhar a grande importancia de suas orientac;oes sociais e politicas: as camadas sociais com as quais se identificam; 0 tecido de lealdades de grupo formado pela sua posigao econamica e pelas suas carreiras ocupacionais; os grupos ao" quais se dirigem em busca de orientac;ao; as tipos de consequencias sociais de seus trabalhos que levam em conta; em suma, unicamente explorando todo 0 campo das suas lealdades, perspectivas e interesses, podem as engenheiros realizar a aut·)clarificagao do seu papel social, que possa levar a sua participac;ao plenamente responsavel na sociedade. Todavia, dizer que isto coloca problemas sociol6gicos para "0" engenhei' ro, e fazer uma referencia tao ampla e tao vaga, que quase nada significa. A grande e multipla familia dos individuos chamados engenheiros esta unida por extenso parentesco, mas tambem apresenta muitas diferengas, de um subgrupo para outro. Ha engenheiros militares, civis, mecanicos, quimicos" eletricistas, metalurgicos e assim por diante, ao longo das centenas de titulos que se encontram entre as membros das sociedades nacionais de engenheiros. Mas, qualquer que seja sua especialidade, na medida em que se dedicam ao desenho, construgao au funcionamento dos equipamentos e processos de produc;ao, defrontam-se com as implicac;oes suciais e poUticas da sua posigao em nossa sociedade. Vma tendencia nascente para a plena reconhecimento dessas implicac;oes, e reprjmida por diversos obstacu!os, dos quais as mais importantes parecem ser (1) a marcante especializagao e divisao do trabalho cientificD; (2) as aplicac;oes de c6digos profissionais que governam as perspectivas sociais dos engenheiros e (3) a incorporagao dos engenheiros as fileiras das burocracias industriais.
A extensa QlV1SaO do trabalho tem·se convertido em esplendido recurso para escapar das responsabilidades sociais. Ao se subdividirem as profissoes, cada grupo de especialistas acha cada vez 'ma-is facil "langar a responsabilida-:le sabre outros", no que se refere as consequencias sociais do seu trabalho, supondo, aD que parece, que nesse complicado "jago de empurra" das responsabilidades, nao havera um ultimo individuo ou grupo que servin\ de bode expiat6rio. Quando se apavora pelas deslocac;oes sociais resultantes, cada especialista, segura de que executou sua tarefa oa melhor mUlleira possivel, pode facilmente denegar qualquer responsabilidade. Naturalmente, nenhum grupo de especialistas, e as engenheiros mais que os outros, dao inicio isoladamente a essas consequencias. Acontece, to davia, que dentro da nossa estrutura econamica e social, cada contribuigao tecnol6gica se engrena num conjunto cumulativo de efeitos,
alguns dos quais nao foram desejados
POl' r..inguem, mas foram produzi-
dos pOl' todos.
Devido, pm parte, a especializaC;ao de func;6es, os engenheiros, da mesma forroR, que os cientistas, sac doutrinados num sentido etico de responsabilidades limitadas. 0 cientista, ocupado em sua tarefa especifica de extrair novos conhecimentos da esfera dJ. ignorancia, repeliu, durante muito tempo, qualquer responsabilidade acerca dos modos em que se aplicaram os conhecimentos. (A hist6ria cria seus pr6prios simbolos. Foi necessaria a bomba atomica para que muitos cientistas renegassem essa teoria longamente sustentada). Assim, em muitos setores, considemva-se absurdo responsabilizar 0 engenheiro pel os efeitos sociais e psicol6gicos da tecnologia, ja que e perfeitamentn claro que estes nad correspondem ao seu territ6rio especial. Afinal de contas, a "tarefa" do engenheiro - observe-se como isto define eficazmente cs limites do papel de cada um e, portanto, sua responsabilidade social --- consiste em aperfeic;oar os processos de produC;ao, "nao sendo de sua incumbencia" levar em conta as ramificac;6es dos seus efeitos sociais. 0 c6digo profissional enfoca a atenc;ao dos engenheiros sabre os primeiros aneis da cadeia de consequencias da inovaC;ao tecno16gica e atasta suas atenc;6es, como especialistas e como cidadaos, dos aneis seguintes da cadeia, como, POl' exemplo, as consequencias sobre 0 nivel de salario e as oportunidades de trabalho. "Mas, temos que incluir as consequencias imparcialmente" - disse John Dewey, formulando a questao em "E deliberada insensatez fixar a vista sobre algum forma mats geml. alvo ou fim unico que sac desejados e permitir que essa visao obscurec;a a percepC;ao de outras consequencias nao desejadas ou indesejaveis"_
o emprego de grande numero de engenheiros e tecnicos nas buro· cracias indu5triais, contribui ainda mais para formal' suas perspectivas SOCIalS. Entrelac;ados numa maquina burocratica muitos engenheiros ocupam seu 1ugar como peritos num papel subalterno com esferas fixas de competencia e autoridade e com uma orientaC;ao severamente delimitada, para com 0 sistema social geral. Neste status, sao retribuidos para considerarem a si mesmos como auxiliares tecnicos. Como tais, nao Ihes cabe tomar em conta as consequencias humanas e sociais da introduC;ao dos seus eficJentes equipamentos ou processos, ou decidir como e quando devem ser implantados. Estas sac materias que incumbem a administrac;ao e a gerencia. As raz6es para atribuir essas incumbencias aos administradores das organizac;6es comerciais e industriais raramente tern sido formuladas de maneira Hio lucida e instrutiva como no seguinte trecho de Roethlisber-
gel': H... as !isico&, os quimicos e os engenheiros mecamcos, CIVIS e quimicos tern urn modo utH de pensar sabre os fenomenos de suas classes e urn metodo simples para tratar deles. Dentro dessa area, seus juizos sac provavelmentE' razoaveis. Fora dela, sac mais discutiveis. Alguns deles reconhecem claramente essa limitac;ao. Nao querem tel' nada que vel' com 0 fator humano; querem desenhar 0 melhor instrumento, a melhor maquina para realizar certos objetivos tecnicos. Que a introduC;ao desse instrumento ou dessa maquina provoque a dispensa de certos empregados, isto nao Ihes diz respeito, muito logicamente, como engenheiros ... Individuos desse genero sac de valor inapreciavel para a diretoria de uma organizaC;ao industrial". Max Weber e Thorstein Veblen entre outros assinalaram 0 perigo de que esta perspectiva profissiona1, que sup6e' a abdicaC;ao racionalizada da responsabilidade social a favor do diretor, possa ser transferida pelos engenheiros para aJem da empresa economic a imediata. Dessa transferencia de perspectiva e da incapacidade cultivada que dai resuIta para tratar assuntos humanos, nasce urn papel passivo e dependente para 05 engenheiros e os tecnicos na area da organizaC;ao politica, nas instituic;6es economicas e na pOlitica social. A pessoa do cidadao corre 0 risco de ficar 8ubmer5a sob a pessoa do pro fissional. Uma vez que os especialistas tecnicos cuidam somente de "suas pr6prias" e lit11_ltadastarefas, 0 efeito geral da tecnologia sobre a estrutura social se converte, por negligencia, em assunto de ninguem.
Os engenheiros podem muito bem continuar renunciando a todo interesse direto pelos efeitos socials de uma tecnologia em marcha, enquanto os ditos efeitos nao possam ser previstos e tidos em conta. Na medida em que os cientistas sociais deixaram de tratar deste problema, nao ha base de informaC;ao para que os tecn610gos mais socialmente orientados atuem com a devida responsabilidade social. Somente quando os que estao equipados com as habilidades da pesquisa social puserem a nossa disposiC;ao um corpo adequado de conhecimentos cientificos, poderao os que trabal!;J.am com as pericias da engenharia amp liar seus pontos de vista, estendendo-os do ambito da empresa particular de neg6cios para 0 sistema social geral. Assim como durante seculos ignoraram os homens os problemas da erosao do solo, em parte porque naQ sabiam que a erosao constituia pro· blema import ante, assim tambem ignoram ainda hoje a erosao social atritJUivel aos metodos atuais de introduzir rapidas mudanc;as tecno16gicas. Ha um mercado rigorosamente limitado para as pesquisas neste setor. E Hcito supor que, a pesquisa intensa dos problemas centrais da nossa epoca tecno16gica" dedicam-se menos homens-horas de atividade investigadora do que, digamos, ao desenho de frascos atraentes para perfumes ou outros
produtos basicos parecidos, ou ao planejamento de anuncios espalhafatosos para os fabricantes de cigarros. A instaura~ao de urn vasto programa de pesquisa social proporcionado a dimens13,Odo problema, n13,onecessita aguardar novos metodos de inves· tigac;ao. Os metodos de pesquisa social tern progredido constantemente e, com certeza, se desenvolver13,oainda mais, mediante a experimentaC;13,o Qisciplinada. 0 desenvolvimento efetivo deste programa esta, porem, a espera de decJs6es concernentes a organizac;ao das equipes de investigac;ao, do patrocinio das pesquisas e da orientac;13,oa ser dada ao inquerito.
As pesquisas dispares e descoordenadas feitas por grupos de diferente preparo nao tleram resultados suficientes. Os problemas desta area ne· cessltam da pericia e dos conhecimentos complement ares de engenheiros, economistas, psic610gos e soci6logos. Uma vez admitido este foco de pesquisa conjunta, poderiam iniciar-se as tentativas sistematicas para instituir urn program a de pesquisa, com a colaboraC;13,o de representantes das varias sociedades profissionais. Ambientes comuns de entendimento faltariam, provavelmente, de inicio mas, como sugere a experiencia da "Tennessee Valley Administration", padr6es de colaboraC;13,oentre engenheiros e r.ient.istas sociais poderiam ser estabelecidos. As muralhas que isolam as diferentes ciencias, levantadas pela divis13,odo trabalho cientifico, podem ser superadas, desde que se reconhec;a que sac apenas expedientes provis6rios dentro da totalidade da ciencia.
A maior parte do limit ado volume de pesquisa social na industria tern sido ~rientada para atender as necessidades da gerencia. Os problemas escolhldos como foco da investigaC;13,O - alta mobilidade da m13,o-de-obrae b~ixa pro dw;;i';,o, por exemplo - foram, portanto, em grande parte, defi.~l~OS pela gerencia; foi ela que, tipicamente, patrocinou a pesquisa; os nmltes e 0 carater das modificac;6es experimentais na situac;13,odo trabalho foram decididos pela gerencia e os relat6rios peri6dicos foram entreO'ues pri~ordialme!1te a gerencia. Por melhor e mais evidente que seja :sta razao, devemos observar que esta e a perspectiva tipica da pesquisa social na industria e que tal situac;13,orestringe a execUc;13,o efetiva da pesquisa. E'stas ob[,'ervac;6es n13,oimpugnam, naturalmente, a validez e a utilidade da pesquisa orientada para satisfazer as necessidades da gerencia. Do fato que a pesquisa tenha sido sempre patrocinada pela gerencia, nao podemos concluir sen13,oque foi considerada eminentemente utH e valida dentro dos :lJnites da definiC;13,o dos problemas. Mas uma equipe de pes.' quisa que trabalha para urn estrato comercial ou industrial da comuni· dade pode, em determinado momento, focalizar sua atenc;13,osabre proble-
mas que n13,o1:13,0 os que interessam principalmente a certos setores da populaC;13,o.Pode acontecer, por exemplo, que a procura de metodos ten· centes a r8dnzir as inquietudes dos openlrios, mediante amistosas e pro· longadas entrevistas ou por uma conduta apropriada dos diretores, n13,o seja considerada pelos operarios como coisa importante para os seus interesses. Podem estar mais interessados em que os pesquisadores des· cubram as varias consequencias, para eles openirios e para os outros, de pIanos alternativos regulando a introduC;13,odas mudanc;as tecnol6gicas. Isto nos faz lembrar que a pesquisa social em si, realiza-se dentro de urn meio social. 0 cientista social que n13,oreconhece que suas tecnicas de observac;ao-participante, de entrevistas, de sociogramas etc., representam para os trabalhadores e os gerentes uma inovaC;13,o talvez maior que as ,pr6prias mUdanc;as tecno16gicas na fabrica, seria certamente urn crente duvidoso dos seus pr6prios achados. A resistencia a esta inovaC;13,o pode ser prevista, qwmdo mais n13,oseja porque e muito estranha as experiencias rotineiras da maio ria da gente. Aqueles que participam de pesquisas sociais entre operarios e pessoal administrativo, n13,osera preciso lembrar a mistura de receio, desconfianc;a, burla inquieta e, amiude, franc9. hostilidade cern que foram recebidos a principio. A falta de familiaridar de com este tipOi de inquerito, unida a sua aparente curiosidade excessiva em areas d0 tens13,oe em assuntEls privados" produz certo grau de reo sistencia. Quando Go pesquisa e subvencionada pela gerencia e quando os problemas tratados s13,oda maior importancia para ela, a resistencia dos openirios 6 muito maior. Nao 6 de estranhar que em certos setores de qpenirios sindicalizados, as tentativas preliminares de pesquisa social na industria sejam encaradas com urn grau de receio e desconfianc;a, comparavel ao que acompanhou a introduc;ao dos estudos de gerencia cientlfica na decada de 1920. Porque se os operarios tern ocasi13,ode identificar 0 lJrograma de pesquisa como urn meio academico recem-inventado para se opor as organizac;6es sindicais, ou para substituir cientificamente as remunerac;6es materiais por remunerac;6es simb6licas, isto criara novos problemas, em vez de localizar os antigos . A pesquisa social na industria, portanto, deve ser realizada sob os auspfcios conjuntos da gerencia e dos trabalhadores, independentemente da origem dos fundos para a investigaC;13,o.N13,ose conseguira a cooperaC;aode grande numero de openirios, a menos que saibam que ser13,obeneflCiados pela aplicaC;13,o do metodo cientlfico a urn campo onde prevaleciam as regras empiricas.
A tarefa inicial 1essas equipes de pesquisa consistiria em descobrir 09 problemas que exigen atenc;ao. 0 pr6prio fate de empreenderem a pesquisa indicaria que nao estao possuidos da f6 cega de que os progresSios da tecnologia, como quer que se apliquem, levam sempre ao bem comum.
xx Seriam acusadas de alimentar pensamentos perigosos. Nao pretenderiam que os axiOlP_asculturais e institucionais estivessem isentos da pesquisa. o foco da sua atenQao seriam os dispositivos institucionais adequados pal:a integrar jcdas as potencialidades de produQao de uma tecnologia que progride desigual mas constantemente, com uma distribuiQao equitativa dos ganhos E, das perdas contidas nesse progresso. Durante 0 ultimo deci'mio, houve uma reaQao entre os peroquisadores sociais cont-ra a tendencia anterior a enfocar a atengao sabre as conseqtiencias economicas dos progressos tecnol6gicos. 0 centro de atenQao das pesquisas transferiu-se aos sentimentos dos trabalhadores e as suas relaQoes sociais no trabalho. Mas esta nova atitude tern os defeitos das suas qualidades. Nao san apenas os sentimentos dos trabalhadores que san afetados pelas mudanQas tecnol6gicas; nao s6mente os seus vinculos sociais e sua situaQao: tambem san afetados seus rendimentos, suas probabilidades de trabalho e seus interesses economicos. Para que as novas pesquisas sobre as relaQoes human as na indUstria atinjam a maxima importancia, deverao engrenar-se com as constantes pesquisas sabre as implicaQoes {'conomicas da tecnologia que economiza mao-de-obra. A pesquisa nao pode limitar-se de maneira eficaz a estudos sabre "0 trabalhador" . Escolher 0 trabalhador como se representasse urn setor independente da populaQao industrial, e forQar a estrutura das relaQoes sociais que na realidade predominam na industria. E de presumir que nao s6mente 0 operario esta sUjeito a preocupaQoes, sonhos obsessivos, defeitos e distorQoes de atitudes e antipatias irracionais a companheiros de t.rabalho e superiores. Pode tambem acontecer que a conduta e as decisoes da gerencia sejam apreciavelmente afetadas por estados psicol6gicos analogos e que estes, assim como urn claro sentido dos interesses economicos, contribuam a determinar as decisoes sabre a instauraQao de uma tecnologia visando a poupar mao-de-obra. Na falta de pesquisas patrocinadas conjuntamente pelo patronato e pelos trabalhadores, dedicadas a problemas em que costuma haver acordo, concernente ao papel da tecnologia em nossa sociedade, a alternativa e continuar com 0 tipo pl'esente de pesquisas fragmentarias, orientadas para os problemas especiais que certos grupos tern interesse em examinar. E possivel, naturalmente, que esta alternativa pareQa preferivel a alguns. It perfeitamente possivel que os diferentes grupos interessados nao encont.rem base para 0 acordo sobre 0 patrocinio e a direQao da pesquisa soci31 neste campo. Mas entao isto tambem serviria aos prop6sitos inconfessados. Se a pesquisa de tecn610gos, e de cientistasl sociais sob os auspicios conjuntos dos patroes e dos empregados fosse rejeitada por essas razoes, isto seria urn sintoma, importante do estadQl a que teriam chegado as relac;oes operario-patrona1s.
PURITANISMO , PIETISMO E CIENCIA
EM SEUS PROLEG6MENOS a uma sociologia cUltural, Alfred Weber distinguiu os processos da sociedade, da cultura e da civilizaQao.l Como seu interesse primordial era diferenciar as categorias de fenomenos socio16gicos Weber ignorou em grande parte suas inter-relaQoes especificas, campo de e:.,tudo que e fundamental para 0 soci610go. E precisamente esta interac;a.o entre certos elementos da cultura e da civilizaQao, com referencia especial a Inglaterra do seculo XVII, que constitui 0 tema do presente ensaiC!.
A primeira parte deste trabalho esboQa 0 complexo puritano de va16. res, em sua relaQao com 0 notavel aumento de interesse pela ciencia na ultima parte do seculo XVI1(, ao passe que a segunda apresentRi os materiais empiricc-s relevantes, concernentes ao cultivo diferencial da ciencia natural pelos protestantes e os afiliados a outras religioes. A ~ese deste ,estudo e que a etica puritana como expressao tipica ideal das abtudes para com os va16res fundamentais do protestantismo ascetico em geral, eanalizou os interesses dos ingleses do seculo XVII de maneira a ccnstituirern urn elemento 1mportante no cultivo da ciencia. Os arraigados interesses2 religiosos na epoca eXigiarn, em suas inelutaveis impli1. Alfred Weber. "Prinzipielles zur Kuitursoziologie: Gesellschaftsprozess Zivili'sationsprozess und Kulturbewegung", Archiv fiir Sozialwisseoschaft uod Sozialpolitik, XLVII, 1920, 47, 1-49. Ver a classificaQao analoga de R. M. MacIver, Society: Its Structure and Changes, cap. XII; e a discussao desses estudos por Morris Ginsberg, Sociology, (Londres: 1934), 45·52. ~. "Nao e a teorla etica dos compendios teol6gicos, que s6 serve de meio cognoscitivo (em ocasi6es sem duvida importantes), 0 que se deve considerar [como 'etica economica' de uma religiaoJ. mas os impuIsos praticos para a aQao, fundament ados nos nexos psico· 16gicos e praogmaticos das relig16es". Max Weber, Gesammeite Aufsiitze zur Religion.·
- s 0 estudo sistematico, racional e empirico da natureza para gloricagoe , Add rupto : ficar a Deus em suas obras e para 0 controle 0 mun 0 c.or E possivel determinar 0 grau em que os va16res da etlCa pun:an~ est'mularam 0 interesse pela ciencia observando as atitudes dos clentlstas d~ epoca. Ha, naturalmente, forte possibilid~de de que, ao. est~da~_ motivos con1essados dos cientistas, estejamos lldando com r~clOnallza.<;oes, derivac;ces e nao com enunciados exatos clos verdadelro~ motlvos. ~: tais caso·", embora possam ser casos isolados esp.ecificos, 0 .valor ~o nosso estudo nao result a viciado de modo algum, POlS as pr6pnas rac!Onalizag6es crncebiveis sac provas (Erkenntnismitteln, de Weber) dos motivos que 88 consideravam socialmente aceitaveis, uma vez que, como .dlZ Kenneth Burke, "uma terminologia de motivos e moldada em nossa onentac;ao geral, quanto a prop6sitos, meios, a vida correta et~.': Robert Boyle foi um dos cientistas que tentaram expl1~ltamente. entrelagar 0 lugar da riencia na vida social com 0 de outros valo~es, partlCuI~rmente em su
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soziologie, (Tubinga, 1920), 1. 238. Como Weber justamente indica, 0 indivlduo reconhece 'livremente 0 fato de que a religii'io nao e mais que urn elemento na determmagao da Hica religiosa; nao obstante, na atualidade, seja uma tarefa insuperavel e, pa~a nossos prop6sitos, desnecessaria, determinar todos os eiementos componentes dessa etica. E um problema que aguarda analise ulterior, fora do campo dfste. estudo. d~ Cf C L Sonnichsen The Life and Works of Thomas Sprat (Harvard Umverslty, tese do~to~a~ento inedita' 1931) 131 e segs., on de se apresentam provlOssubstanciais do fat a • ' , a.s opmlOes . .• "do maior interesse que as de que a Histori" representa da S'oc!cda de. '" declaragoes do livro de Sprat, concernentes aos fins da Sociedade, conservem grande an.alogia em todos os pontos com as caracteriz2>goes que faz Boyle dos m6veis e dos obJetivos dos cientistas em gera!. Esta analogia e prova do predominio do ethos que compreendia essas atitudes.
qne e 0 para que correspondiam ponto POI' ponto com os ensinamentos puritanos Sabre 0 mesmo assunto. Uma forga tao predominante como era a religiao naqueles dias nao foi, e nem podia ser, dividida em compartimentos c delimitada_ Assim, na tao elogiada apologia da ciencia, ~scrita POI' Boyle, sustenta-se que 0 estudo da natureza tem POI' Qbjeto a !naior gl6ria de Deus e 0 bem do homem.4 Este e 0 m6vel que se repete C'onstantemor1te. A justaposigao do espiritual e do material e caracterisca. Esta cultura repousava firmemente sabre um substrato de normas utilitarias quI') constituiam a vara de medigao da desejabilidade das diversas atividades. A definigao de agao destinada a maior gl6ria de Deus era debil e vaga, mas os padr6es utilitarios podiam ser facilmente aplicados. Em principios do seculo, esta nota tonica tinha ressoado na eloqiiencia de Francis Bacon, "verdadeiro ap6stolo das sociedades cultas". Sem ser pessoalmente iniciador de descobertas cientificas, incapaz de apreciar a importancia dos seus gran des contemporaneos Gilbert, Kepler e Galileu, crente ingemio na possibilfdade de urn metodo cientifico que "colocasse todos os engenhos e compreens6es quase no mesmo nive!", empirico radical que sustentava que as matematicas nao eram uteis a ciencia, Bacon teve, nao obstante, exito muito grande como um dos principais protagonistas de uma avaliagao social positiva da eiencia e da renuncia a urn escolasticismo esteril. Como se podia esperar do filho de uma mulher "culta, eloqiiente e religiosa, cheia de fervor puritano", que foi reconhecidamente irlfluenciatlo pelas atitudes maternas, diz ele, em sua obra .4.'dvancement of Learning, que 0 verdadeiro fim da atividade cientifica e a "gl6ria do eriador e 0 alivio do estado do homem". Como se depreenda clar'-tmente de muitos documentos oficiais e privados, os ensinamentos baconianos constituiram os principios basicos sabre os quais se (ormou a "Royal Society"; POI' isso. nao e de estranhar que 0 mesmo sentimento f6sse expresso nos estatutos da Sociedade. Ao redigir seu testamento e suas ultimas vontades, Boyle faz eco a mesma atitude, manifestando seus desejos aos colegas da Sociedade, nos seguintes tf)rr~iOs: "Desejando-Ihes tambem feliz exito em suas louvaveis tentativas p8.ra descobrir a verdadeira natureza das obras de Deus, e roo gando-Ihes que eles e todos os outros pesquisadores das verdades fisicas possam dedlCar de coragao suas descobertas a gl6ria do Grande Autor da r.atureza e ao bem-estar da humanidade".5 John Wilkins proclamava que G estudo experimental da natureza era um meio muito eficaz para susci-
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4. Robert Boyle, Some Considerations touching the Usefulness of Experimental Natural Phtlosophy, (OXford. 1664), 2 e segs Ver tambem as cartas de William Oughtred, em Correspondence of Scjentific Men of the Seventeenth Century, compiladas por S J. Rigaud, (OXford, 1841), XXXIV et passim; ou as cartas de John Ray na Correspondence of John Ray, pUblicada por Edwin Lankester, (Londres, 1848), 389, 395, 402 et passim. 5. Citado por Gilbert, lorde-bispo de Sarum, em A Sermon preached at the Funeral of the Hon. Robert Boyle (Londres, 1692), 25.
tar noS homens a veneragao POl' Deus.6 Francis Willughby consentiu em publicar suas obras - que considerara indignas de publicagao - somente 7 l,luando Ray insistiu que 0 fizesse para glorificar a Deus. A obra Wisdom of God, de Ray, tao bem recebida qu~, num periodo de vinte anos :se fizeram cinco copiosas edig6es, e um panegirico daqueles que "0 glorificam estudando Suas obras".8 Para um homem moderno, relativamente insensivel as forgas religiosas e que ad-"erte a separagao quase completa, senao a oposigao, entre a ciencia e a reHgiao' em nossOS dias, a repetigao dessas frases piedosas pode significar apenas um uso habitual, nada tendo a vel' com convic<;6es fundamente arraigadas. Para ele, essas express6es pareceriam ser nada mais que urr. caso de qui nimium probat nihil probat. Mas esta interpretagao e possivel unicamente se a gente nao se transporta a estrutura de valores de seLulo XVII. E certo que urn homem como Boyle, que gastou somas consideraveis para fazer traduzir a Biblia, em rnuitas linguas, nao dizia as coisas da boca para fora, conforme muito bem observou G. N. Clark: Ha ... sempre clificuldade em av2Jiar 0 grau em que aquilo que chamamos de religiao, entra em tudo 0 que se disse no seculo XVII em linguagem religiosa. Essa dificuldade nao e resolvida descontando t6das as palavras teo16gicaS e tratando·as simples mente como uma forma comum de expressao. Ao contrario, e mals freqUentemente necessario que nos lembremos que essas palavras raramente se usavam sem ser acompanhadas de sentido e .que seu usa implicava, geralmente, um ref6r~o da intensidade do sentimento.9
o segundo lema dominante no "ethos" puritano acentuava 0 bem-estar social, 0 bem da maio ria, como um alvo que devia estar sempre presente. Tambem ai 05 cientistas da epoca adotavam urn objetivo prescrito pelos valores vigentEs. A eiencia devia ser incrementada e alimentada porque conduzia ao dominio da natureza, mediante a invengao tecno16gica. Segundo noS relata seu digno historiactor, a Real Sociedade "nao pretende deter-se em nlgum beneficio particular, mas quer chegar as raizes de todas as nobres inveng6es".lO Mas aquelas experiencias que nao trazem consigo um ganho imediato nao devem ser condenadas pois, como declaTOU 0 "nobre Bacon", as .experiEmcias sobre luz produziram finalmente toda uma sene de inventos uteis para a vida e 0 estado do homem. E:ste poder da cH\ncia para melhorar 0 estado material do homem:, acrescenta Bacon, alem do seu valor puramente mundano e um bem a luz da doutrina evangelic~ de .Tesus Cristo. E assim, em todos os principios do ,puritanismo, havia a mesma correlagao, ponto por ponto, entre eles e os atributos, alvos e resultados
epoca. 0 pLllitanismo nada mais fez que articular os va16res f t' d 1 t undamen· alS aque e empo. Se 0 puritanismo exige trabalho sistem"'t' t6d'co r _ ""ICOe meI . '. ap l~aGao constante nos deveres de cada um, a que ha de . atlvo, mdusrrloso e sistematico, pergunta Sprat que a arte d .malS ,a experlment ,.- 0 " a.•.a, que nunca pode terminar pelos trabalhos perpetuos de ho '~lgum e tampouc 0 pe 10 es f'orgo sucessivo da maior assembleia?"ll mem o A' encontra ocupag,ao suficiente para 0 labor mais incansavel, "ja que 1a~: as tesouros ()cultos da natureza, que estao mais longe da vista, podem ser c1escobertos com trabalho e paciencia".l2 ~oge 0 puritano do 6cio porque conduz a pensamentos pecami 0 (ou Im~ede q~C 0 individuo siga sUa vocagao)? "Que lugar pode ~a~~~ para COlsas baIxas e pequenas numa mente empregada tao uti! e fel' mente e l'lvros d e coIZ "d' [como' .na filosofia natural] ?"I3 Sao as com"'dl'as '" ~e Ias perillclO~os ~ agradaveis a carne (e destruidores de atividades mais senas).l4 Entao e a "ocasiao mais adequada para que os experimentOB aparegam, p~ra nos ensinar uma sabedoria que brota das profundezas d~ saber,. ~ar~ dispersar as sombras e para dissipar as nevoas [das distragoes espintuais provocadas pelo teatro] "15. Finalmente u 'd d . r t t"'d ' ma VI a e dI1gen e a IVl ade no mundo e preferivel ao ascetismo monastico? Entao ~ue se _reconhega 0 fato de que 0 estudo da filosofia natural "nao "nos pre~ara dt~~6 bem para os segredos de urn gabinete, mas nos torna uteis 310 r.i~~:S~·o t.El.mt }esumo, a cier:~ia encarna dois va16res altamente apre. . U I 1 adsmo e 0 empirismo. . Em certo sen~ido, esta coincidencia implicit a entre os principios pul"ltano~ e as Q.ualldades da ciencia como vocagao, e casuistica. E uma tentatlva expressa para situar 0 cientista qua piedoso leigo dentro do mar~ dos valores sociais vigentes. E solicitar a autorizagao religiosa e socIaL, pois que tanto a posigao constitucional como a autoridade pessoal . dot't-d clero eran' muito mais importantes entao do que hOJ'e. Ma SaInao es a 0 a ~ €xplicagao. Os esforgos justificativos de Sprat, Wilkins, Boyle ou R~y nao repr~sentam simplesmente obsequiosidade oportunista, como t~mb:m urn:;;. sena tentativa para justificar as caminhos da ciencia em dlregao a Deus. A reforma havia transferido da Igreja para 0 individuo o
•
11. 12. 13. 14.
Ibid .. 341-342. Ray, Wisdom of God, 125. Sprat, op. cll., 354-345. Richard Baxter, Christian Directory (Londres, 1825; publica do pala primeira. vez em 1664), I, 152; II, 167. Cf. Robert Barclay, 0 apologlsta quaker que aconse1ha especlficamente lias expe nenClas ... ,t. • ' . geomdncas e matematicas" como divers6es inocentes pref~r1velS as comMias perniciosa.s. An Apology for the True Christian Divinity, (p~iladelfia, 1805 - escn ta pela primeira vez em 1675), 554-555. 15. Sprat, op. cit., 362. 16. Ibid., 365-366. Sprat sugere, com perspicacia, que 0 ascetismo monastico produzldo POI escrUP~los religiosos, era responsavel, em parte, pela falta de empirismo dos escola~ti· cos. Mas que 1amentaveis tip os de filosofia tem necessidade de produzir os escolast1~os, quando era. parte da sua religiao afastar-se 0 mais possivel do trato da huma· mdade? Quando estavam tao longe de ser capazes de descobrir os segredos da natu· reza, que mal tinham oportunidade de observar algo de seus trabalhos comuns.· Ibid., 19.
o peso da salvagao individual e e esta "sensagao acabrunhadora e esmagadora da responsabilidade da pr6pria alma" 0 que explica 0 agudo interesse religio.so, Se a ciencia nao f6sse demonstravelmente uma vocagao legitima e desejavel, hao ousaria reclamar a atengao daqueles que se sentern "semprc 80b os olhos do Grande Capataz", T6das essas apologias eram devidas aquela intensidade de sentimento, A exaltagu,o da faculdade da razao no "ethos" puritano - baseada, em parte, no conceito da racionalidade como dispositivo para refrear as paix5es - condez, inevitavelmente, a uma atitude de simpatia para com as atividades que exigem a aplica<;ao constante do raciocinio rigoroso, Ainda mais, contrast an do com c racionalismo medieval, considera-se a razao subordinada ao empirismo e auxiliar seu, Sprat apressa-se a acentuar a preeminente adequac;ao da ciencia a este respeito,17 E provavelmente neste ponto que 0 puritanismo e a atitude cientifica estao mais notariamente de ac6rdo, pois a combinac;ao de racionalismo e empirismo, tao pronunciada na etica puritana, forma a essencia do espirito da ciencia mo0 puritanismo estavaembebido de racionalismo neoplat6nico, derna. derivado em grande parte atraves de uma modificagao adequada dos ensinamentos de Santo Agostinho, Mas ai nao se detinha, Associada com a especifica necessidade de tratar com sucesso dos assuntos praticos da vida neste mundo - derivagao da distorgao peculiar largamente disseminada pela doutrina calvinista da predestinac;ao e da certitudo salutis mediante uma atividade terrena bem sucedida - estava a enfase dada ao empirismo, E:;:tas duas correntes, levadas a convergir mediante a l6gica de urn sistema de va16res intrinsecamente congruentes, estavam associadas aos demais val6res da epoca, de maneira que prepararam 0 caminho para a aceitagao de uma combinagao parecida na ciencia natural, o emplrismo e 0 racionalismo foram, por assim dizer, canonizados e beatificados, E possivel que 0 "ethos" puritano nao tivesse influenciado diretamente e que f6sse simples mente urn desenvolvimento paralelo na hist6ria interna da ciencia, mas e evidente que, mediante a compulsao psicol6gica para certos modos de pensamento e conduta, este complexo de va16res tornou recomendavel uma ciencia empiricamente fundamentada, e nao, como no periodo medieval, repreensivel ou apenas tolerada, Isto serviu para orientar aos campos cientificos alguns talentos que, de outro modo, ter-se-iam dedicado a profiss5es mais estimadas, 0 fato de que hoje a ciencia esta em grande parte, senao totalmente, divorciada das sanc;5es religlosas, e interessante em si mesmo como exemplo do processo de secularizar,ao,
17. Sprat. op. cit., 361. Baxter vituperou. de urn modo representativo dos puritan03, a inva SaD do "entusiasmo"
na religiao.
A razao
deve
"conservar
sua autoridade
no comapdo
e governo dos nossos pensamentos". Christian Directory, II, 199. Num estado de esplrito analogo, os que em casa de Wilkins estateleciam os alicerces da Royal Socie,y nestavam irresistivelmente armadas contra todos as encantamentos do entusia.smo·'. Sprat, op. cit. 53.
As origens desta secularizagao, fracamente perceptiveis no fim da Idade Media, sac. evidentes no "ethos" puritano, Foi neste sistema de val6res que a razao e a experiencia foram nitidamente consideradas, pela primeira vez, como meios independentes para averiguar ate mesmo crengas reIigiosas. A fe que nao duvida e que nao e "comprovada racionalmente''" diz Baxter, nao e fe, mas apenas sonho, fantasia ou opiniao. Na pratica, isto d:i a ciencia urn poder que, em definitivo, pode limitar 0 da teologia. Assim, pois, uma vez claramente compreendidos esses processos, nao e surpreendente nem inconsequente, que Lutero especialmente, e Melanchthon meno:;o rigorosamente, tivessem execrado a cosmologia de Copernico e que Calvino tivesse franzido os sobrolhos ante a aceitagao de muitas descobertas cientificas da sua epoca, isto ao mesmo tempo em que a etica religiosa que procedia desses lideres convidava ao estudo da ciencia natural,18 Na medida em que as atitudes dos te610gos dominavam a etien religiosa, de fato subversiva - como a autoridade de Calvino em Genebra ate principios do seculo XVIII -, a ciencia p6de ser reprimida. Mas, quando s(: afrouxou esta influencia hostil e quando floresceu uma ~tica derivadft dela (porem muito diferer,te), a ciencia adquiriu nova vida, como aconteCeU em Genebra. Talvez 0 elemento mais diretamente eficaz da etica protestante para sancionar a ciencia natural foi 0 que sustentava que 0 estudo da natureza permite uma apreciac;ao mais completa das Suas obras 0 que nos leva a admirar 0 Poder, a Sabedoria e a Bondade de Deus, manifestados em Sua criac;ao. Ainda que ;esta concepgao nao f6sse desconhecida do pens amento medievD!. as consequ€mcias que dela se tiraram foram completamente diferente,:;, Assim, Arnaldus de Villanova, ao estudar os produtos da Divina Oficina, atem-se estritamente ao ideal medieval de determinar as propriedades dos fen6menos mediante tabelas (nas quais' se registram todas as combinag5es de a(;6rdo com os canones da l6gica). Mas no secula XVII, a enfase dada ao empirismo resultou <:lmque a investigac;ao da natureza f6sse feita primordialmente mediante a observagao. 19 E'sta diferen'·--r""·
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18. Na base desta analise, e surpreendente observar a afirma~ao atribuida a Max Weber de que a oposi~ao dos reformadores era razao suficiente para nao enla~ar 0 protesta.ntismo com os interesses cientlficos, Ver Wirtschaftsgeschichte (Munique, 1924), 314, Esta observa~ao e absolutamente imprevista, ja que nao esta, em absoluto, de acordo com o estudo de Weber sabre 0 mesmo ponto de vista em sua,s outras obras, Cf. Religionssoziologie, I, 141. 564; Wissenschaft 'lIs Beruf (Munique, 1920, 19-20. A explica~ao provavel e que a primeira afirma~ao nao e a de Weber, ja que a Wirtschaftsgeschichte foi compilada de notas de aula por do,is dos seus alunos que podem nao ter feito a,s necessarias distin~6es. E improvavel que Weber tenha incorrido no eno e1ementa.r de confundir a oposi~lio dos reformistas ~ certas descobertas cientificas com as conseqiiencias imprevistas da etica protest ante, visto que em sua Religionssoziologie advertiu expressamente co;}tra a falha de se fazer tais discrimina~6es, Para pressagios penetrantes. porem vagos, da hipotese de Weber, veja-se 0 Cours de phiIosophie positive, de Auguste Comte (Paris, 1864), IV, 127-130. 19. Walter Pagel, "Religious motives in the medical biology of the seventeenth century", Bulletin of the Institute of the History of Medicine, 1935, 3, 214.-215,
ga na interpretagao substancial da mesma doutrina pode apenas ser compreendida a luz dos diferentes va16res que embebiam as duas culturas. Para Barrow, Boyle ou Wilkins, ou para Ray ou GreWj, a ciencia encontra sua justifi'cagao racional no fim supremo da existencia: a glorificagao de Deus. Assim, dizia Boyle :20 .. , Amar a Deus, como 1!:lemerece ser respeitado com t6das as nossas faculdades, e em conseqilenciaser glorificadoe rcconhecidopelos atos da Razao, como pelos da. Fe; .cgu· ramente d:,V9haver uma grande disparidade entre a ideia geral. confus!! e pesada. que temos comumGntede Se:l Poder e Sabedoria, e as no~5es claras, ra.cionais e comovedctas desses atributos, que se formam pela inspe~ao atenta das criaturas em que sac mais legi· veis, C que foram feitas especiR,lmentepa~a esse mesmo fim. Ray leva esta concepgao a sua conclusao l6gica, pois, se a natureza e a. martifestagao do Seu poder, entao nada na natureza e demasiado baixo para 0 estudo cientifico.21 0 universo e 0 inseto, 0 macro cosmo ,e 0 microcosmo, sac iguais indicios da "razao divina que corre como urn veio de aura ao longo de toda a mina de chumbo da natureza bruta". Ate agJru, temo-nos interessado principalmente pela sangao diretamente sentida da ciencia mediante valores puritanos. Embora isto tenh3 exercido grande influencia, houve outro tipo de reagao que, ainda que sutil e dificil de perceber, foi talvez da maior importancia. Referimo-nos a preparagao de urn conjunto de pressupostos em grande parte implicitos, que produziram a rapida aceitagao da atitude cientifica caracteristica dos seculos XVII e seguintes. Nao e somente que 0 protestantismo aprovasse 0 libre examen ou vituperasse 0 ascetismo monastico. Esimplicitamente tas coisas sac importantes, mas nao esgotam a materia. Tornou-se evidente que cada epoca possui urn sistema cientifico que repousa sabre urn conjunto de pressupostos, geralmente implicitos e raramente postos em duvida pelos cientistas dessa epoca.22 0 pressuposto basieD na ci£ncia moderna "e a convicgao generalizada e instintiva da existencia de uma Ord:em de Coisas e, especialmente, de uma Ordem da Na1.ureza".23 Esta crenga, esta fe, que pelo menos desde Hume deve ser a exigencia de uma reconhecida como tal, e simplesmente "impermeavel racionalidade conseqtiente". Nos sistemas de ideias cientificas de Galileu, Newton e sew; sucessores, 0 testemunho da experimentagao e 0 criterio definitivo de verda de, porem, se exclui a pr6pria nogao de experimentagao sem 0 pressuposto de que a natureza constitui uma ordem inteligivel, de20. Usefulnessof Experimental Natural Philosophy, 53; ct. Ray, Wisdom of God, 132;Wil· kins, Natural Religion, 236 e segs.; Isaac Barrow, Opuscula, IV, 88 e segs.; Nehemiah Grew, Cosmologiasacra (Londres, 1701),que indica que "Deus e 0 fim original e que "estamos obrigad06a estudar Suas obras". 21. Ray, Wisdom of God, 130e segs. Max Weber cita como de Swammerdamas seguinte~ palavras: "Aqui the e.presentoa prova da prevlsao de Deus na anatomia de urn piolho", Wissenschaft als Beruf, 19. 22. A. E. Hea.th, em Isaac Newton: A MemorialVolume, compiladopor W. J. Greenstreet (Londres, 1927),133e segs.; E. A. Burtt, The MetaphysicalFoundations of Modern Physical Science (Londres, 1925). :l3. A. N. Whitehead, Science and the Modern World, (Nova Iorque, 1931),5 e segs.
modo que quando se lhe fagam perguntas apropriadas ela respondera por assim dizer. Portanto, este pressuposto sera final e absoluto.24 Como disse 0 professor Whitehead, "esta fe na possibilidade da ciencia, nascida antericrmente ao desenvolvimento da teoria cientifica moderna, e urn derivado inconscien"te da teologia medieval". Mas esta convicgao, embora seja requisito previa da ciencia modern a, nao era bastante para desencadear I"eu desenvolvimento. 0 que se necessitava era urn interesse constante em investigar essa ordem da natureza de uma maneira empirico.racional, isto e, urn interesse ativD por este mundo e seus fenomeno&; mais uma estlutura mental especifica. Com 0 protestantismo, a religiao proporcionou eSSe interesse: imp as, na realidade, a obrigagao de se concentrar intemcamente na atividade secular, dando especial importfmcia a experiencia e a raza.o como bases para a agao e a crenga. Ate mesmo a Biblia, como autoridade decisiva e complet.a, .est~ve submetida a intetpretagao do individuo sabre essas bases. A slllliandade de enfoque e de &titude intelectual entre este sistema e. aquele _da cie~cia con· temporanea tern algo mais que interesse passagelro. Nao POdl~ fazer menos que moldar uma atitude para observar 0 mundo dos fenomenos sensiveis que levou, antes de mais nada, a aceitar de born grado e, na realidade, a, preparar, a mesma atitude na cHlncia. Que a analogia te~ fundas raize:' e nao e superficial pode ser deduzido do seguinte comentaria sabre a teologia de Calvino:25 Os pensamentos se objetivam e dlsp5em num sistema doutrinario objetivo. esse 6is~ema adquire verdadeiro aspecto cientlfico-natural; e claro, inteligivel e de. facil formula~ao, pois tudo 0 que pertence ao mundo exterior pode estrutur2,r-secom malOr clareza que 0 que se desenvolvenas profundidades. na teoria da pre· A convicc,;ao de uma lei imutavel e tao pronunciada destinagao corno na investigagao ciantifica: "a lei imutavel ai est~, e tern que ser reconhecida".26 A analogia entre esta concepgao e 0 pressuposta cientifico e indicado claramente por Hermann Weber.27 ... atinge-se a doutrina da predestina~ao em seu mais profundo cerne se se a entende como fato natural s6 que 0 prinoipio supremo Que e~ta igua.lmentena base de todo com· plexo fenomenico'cientifico.natural e, neste caso, a "gloria dei" intensamente vivida.
o ambiente cultural estava impregnado desta atitude para com os fenomenos naturais, que se derivava tanto da ciencia como da religiao e
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21. Cf. E. A. Burtt em Isaac,Newton: A Memorial Volume, 139. Para a exposicaocla~sic~ desta fe cientifica, ver, de Newton "Rules of Reasoning in Philosophy",em seus PrIDCIpia (Londres, edi~ao de 1729),II, 160e segs. 25. Hermann Weber, Die Theologic Calvins (Berlim, 1930),23. 28. Ibid. 31. A importancla da teori2>da presciencia de Deus para refor~ar a cren~a na lei da.tural e assinalada por H. T. Buckle, History of Civilizationin England (Nova lor· que, 1935),482. 27.
Op.
cit.,
31.
que reforc;ava a continua vigencia de concepc;6es caracteristicas da nova ciencia. Ainda falta terminal' uma parte muito importante para este ensaio. Que as atituaes culturais induzidas pela etica protest ante fassem favora.eis a cieneia. nao e comprovac;ao suficiente da nossa hip6tese. Nem, tampoueo, qUe as motivac;6es conscientemente expressas de muitos eientistas eminentes fassem proporcionadas pOl' essa etica. Nem sequel' que a forma de pCllsamento que e caracteristica da ciencia modern a, a saber, a combinac;ao de empirismo e racionalismo e a fe na valida de de urn pos~,ulado bas:eo, numa ordem eompreensiva da natureza, tenha uma congruencia algo mais que fortuita com os valares implicitos no protestantismo. Tudo isto pode apenas proporcionar algumas provas de uma certa probabilidade da conexao que estamos estudando. A prova mais importante da hip6tese deve ser procurada no confronto dos resultados dJeduzidos da hip6tese com dados empiricos relevantes. Se a etica protestante impllcaT:a urn conjunto de atitudes favoraveis, em muitas maneiras, a eiencia e a tecnologia, encontraremos entre Os protest antes uma propensao maior para esses campos de trabalho do que se poderia esperar simplesmente na base de sua representac;ao na populac;ao total. Alem disso, se, come' tern sido sugerido com frequencia,28 a marca deixada pOl' essa etica dur0U ate muito tempo depois de tel' sido repelida em grande parte" entao, mesmo em epocas posteriores ao seculo XVII, esta conexao entre protestantismo e eiencia haveria de persistir ate certo grau. A parte seguinte sera, portanto, dedieada ao teste adieional desta hip6tese.
Nas origlms da "Royal Society", ha urn nexo muito estreito entre a cH!neia e a sociedade. A pr6pria Real Sociedade naseeu de urn interesse previa pela cHmeia e as subsequentes atividades dos seus membros proporcionaram lipreciavel impulso ao progresso cientifico posterior. 0 comeQo deste grupo encontra-se nas reuni6es fortuitas de devotos da ciencia, no ana de 1645 e seguintes. Entre os Hderes encontravam-se espiritos tais como John Wilkins, John Wallis e, pouco depois, Robert Boyl'.l e "Si~" William Petty; sabre todos eles, parece que as f6rc;as religiosas exerClam uma influencia singularmente intensa. Wilkins, que chegou a ser mais tarde bispo anglicano, criou-se na casa de John Dod, seu ava materno, nota vel te610go nao ,conformista; «sua primeira educaQao havia-Ihe mculcado forte inclill'aQao para as
28. Como diz Troeltsch: "0 mundo de hoje nao vive mais pela consistencia 16gica do Clue qualquer ~utro; as farQas espirituais podem exercer influ('ncia predominante, mesmo quando sao abertamente repudiadas". Die Bedeutung des Protestantismus fiir die Enls· tehung der modernen Welt (Munique, 1910, 22; cf. Georgia Harkness, John Calvin: The Man a.nd his Ethics (Nova. Iorque, 1931),7 e 5egs.
prmclplOs puritanos".29 A influencia de Wilkins como diretor do Colegio, de Wadham foi profunda, sendo sentida pOI' Ward, Rooke, Wren, Sprat e Walter Pope (seu meio-irmao), todos os quais foram membros fundadores da "Royal Society".30 John Wallis, a cuja Arithmetica Injinitorum confessou Newton dever muitos dos seus principais principios matematicos, TamMm foi era urn eclesil~stico com forte inclinaQao a etica puritana. assinalada a devoQao de Boyle; a unica razao POl' que nao recebeu ordens sagradas foi, como ele mesmo disse, "a ausencia de vocaQao interior".31 Theodore Haak, 0 virtuose alemao que desempenhou papel tao imp 01'tante na formac;ao da Real Sociedade, era convencido calvinista. Denis Papin, que durante sua longa estada na Inglaterra contribuiu notavelmente para a ciencia e a tecnologia., era urn calvinista frances obrigado a abandonar seu pais para evitar perseguiQ6es religiosas. Thomas Sydenham, denominado as vezes "0 Hip6crates ingles", era urn ardente puritano qu<' lutou nas fileiras das tropas de Cromwell. "Sir" William Petty era de espirito religioso liberal, mas em seus escritos manifestava claramente fir, influencias do puritanismo. De "Sir" Robert Moray, considerado POl' Huyghens como "a alma da Real Sociedade"," pode-se dizer que "u rellgiao era a principal mol a da sua vida e que, entre tribunais e acampamentos, passava em oraQao muitas horas POl' dia".32 Dificilmente pode ser circunstancia fortuita 0 fato de que as principais figuras deste grupo nuclear da Real Sociedade fassem te610gos ou homens profundamente religiosos, ainda que nao seja completamente exato sustentar, como 0 fez 0 DT. Richardson, que as origens da Sociedade se deram num pequeno gropo de sabios, entre os quais predominavam os te6logos puritanos.33 Mas e absolutamente certo que os espiritos que criaram a Sociedade estavam profundamente influenciados pelas concepQ6es puritanas. A decann universitaria Dorothy Stimson, num trabalho publicado reeentemente, chegou a mesma conclusao, POl' caminhos independentes.34 Faz notal' CJ.uedos dez individuos que formavam 0 "colegio invisivel" em 1645, somente urn, Scarbrough, era comprovadamente nao puritano. Entre 29.
Memorials of John Ray, 18-19;P. A. ,W. Henderson, The Life and Times of John WiI· kins (Londres, 1910),36. Alem disso, depois que Wilkins tomou ordens sacras tornou-se capelao do Lorde Visconde Say e Seale, puritano convicto e pratico. 30. Henderson, op. cit., 72-73. 31. Dictionary of National Biography, II, 1028. Esta razao, que atuou tamhem para que "Sir" Samuel Morland se dedicasse as matem:Hicas em vez do sacerd6cio, e urn exempIO da aQao direta da etica protestante que, como a explicava Baxter, por exemplo, sustentava que somente os que senti am urn "apelo interior" deviam ingressar no clerc e que os outros podiam servir melhor a sociedade adota.ndo outras atividades secula· res merit6rias. Sabre Morland, ver a "Autobiography of Sir Samuel Morland", em J, O. Halliwell-Phillipps, Letters Illustrative of the Progress of Science in England, (Lon· dres, 1840, 116e segs. 32. Dictionary of National Biography, XIII, 1299. 33. C. F. Richardson, English Preachers and Preaching (Nova Iorque, 1928),177. 34. Dorothy Stimson, ".Puritanism and the new philosophy in seventeenth century England", Bulletin of the Institute o.r the History of Medicine, 1935, 3, 321-334.
os demais, ha alguma duvida sabre dois, embora Merret tivesse recebido educa<;ao pur:tana. OutrossiIDj, da lista original de membros da Sociedade em 1663, 42 entre os 68 sabre os quais possuimos alguma informa~ao acerca da sua orienta~ao religiosa, eram manifestamente puritanos - Tendo-se em conta que os puritanos constituiam minoria relativamente pequena na popula~ao inglesa, 0 fate de constituirem 62% dos fundadores da Sociedade torna-5e ainda mais notave!. A Sra. Stimson conclui: "Se a ciencia experimental se difundiu tao rapidamente na Inglaterra, no seculo XVII, parece-me que isto foi devido, pelo menos em parte!, ao estimulo que lhe foi dado pelos puritanos moderados".
A INFLU£.NCIA CIENT1FICA
PURITANA
SOBRE
A EDUCACAO
Esta relac;ao nao se manifesfava somente entre os membros da Real Sociedade. A importancia dada pelos puritanos ao utilitarismo e ao empirismo, manifestou-se igualmente no tipo de educa~ao que implantaram e fomentaram. 0 usa rotineiro de "aprender de cor grande quantidade de materias" nas escolas, foi criticado POl' eles da mesma forma que 0 formalismo da Igreja. Entre as puritanos que tanto insistiram em introduzir na Inglaterra vma educa~a0 nova, realistica e empirica, destacou-se Samuel Hartlib. Formou 0 trac;;o de unHio entre os divers os educadores protestantes da Inglaterra e da Europa que cuidavam encarecidamente de difundir 0 estudo academico da ciencia. Foi a Hartlib que Milton dedicou seu tratado sabre a educa~ao e tambem foi a ele que "Sir" Wilham Petty dedicou seu "':,rabalho: "Conselhos ... para 0 progresso de alguns ramos particular,es do saber", ou seja, a ciencia, a tecnologia e os oficios manuais. Outrossim, Hartlib serviu de veiculo para dlvulgar as ideias educativas de Comenio e leva-las para a Inglaterra. o reformista boemio (tcheco-eslovaco) Joao Am6s Comenio f()~ am dos educadorcs mais influentes daquela epoca. No sistema educativo que promulgou, Gram fundamentais as normas do utilitarismo e do empirismo: valares que so podiam conduzir a uma enfase sabre 0 estudo da ciencia e da tecnologia, da Realia.35 Resumiu suas opini6es em Didactica Magna, sua obm mais influente.36 A tarefa do aluno sera facilitada, se 0 professor, quando the ensina alguma coisa. mostrar lW mesmo tempo sua aplica~ao pratica na vida diaria. Esta regra. deve ser cuidadosa· mente observada ao ensinar idiom as, diah,tica" aritmetica, geometria, flsica etc . . . .a verdade e a certeza da ciencia dependem mais do testemunho dos sentidos qu~ de qualquer outra coisa, pois as coisas se imprimem diretamente nos sentidos, e, no entenclimento, somente mediatamente e atraves dos sentidos ... A ciencia, portanto, aumenta, com certeza., proporcionalmente ao que depende da percepga.o sensorial. 35. Wilhelm Dilthey, "Plidagogik: Geschichte und Grundlinien des Systems", Gesammelte Schriftcn (Lipsla. e Berllm, 1934), 163 e segs. 36. J. A. Comenius, The Great Didac.tic, tradugflO de M. W. Keatinge, (Londres, 1896), 292,337;vel' tambem 195,302,329e 341.
Comenio achou boa acolhida entre os educadores protestantes da Inglaterra, que .se solidarizavam com os mesmos va16res: personalidades como Hartlib, John Dury, Wilkins e Haak.37 A convite de Hartlib, veio para a Inglaterra corr. 0 prop6sito expresso de transformar em realidade a "Casa de Salomao" de Bacon. Conforme observou 0 pr6prio Comenio: "Nada parecia mais certo que seria levado a efeito aquele projeto do grande Bacon de verulam, de abrir em algum lugar do mundo urn colegio universal, cujo unico objeto seria 0 progresso das ciencias".38 Mas este prop6sito foi frus· trado pela desordem social que se seguiu a rebeliao irlandesa. Nao obstante, 0 objetivo puritano do progresso da ciencia nao foi completamente esteril. Cromwell fundou a 'unica nova universidade inglesa instituida entre a Idade Media e 0 seculo XIX, ou seja, a Universidade de Durham, "para t6das as ciencias".39 Em Cambridge, durante 0 auge da influencia puritana ali exercida, 0 estudo da dencia foi consideravelmente incrementado.40 No mesmo senti do, 0 puritano Hezekiah Woodward, amigo de Hartlib, insistiu no roalismo (coisas, nao palavras) e no ensino da ciencia.41 A fim de incentivar 0 estudo da ciencia nova em escala muito mais ampla que l:mteriormente, os puritanos instituiram numerosas "Academias Dissid'entes". E'ram escolas de nivel universitario que se abriam em diversas partes do reino. Uma das primeiras foi a Academia de Morton, na qual se concedeu primordial importancia aos estudos cientificos. Charles Morton transferiu-se mais tarde para a Nova Inglaterra (Estados Unidos), onde chegou a vice-presidente da Universidade de Harvard, ali "introduzindo os sistemas de ciencia que usara na Inglaterra".42 Na influente Academia de Northampton, outro centro educativo fundado pelos puritanos, tiveram relevante lu' gar no curricUlo a mecanica, a hidrostatica, a fisica, a anatomia e a astronomia. Tais estudos eram feitos em grande parte com 0 auxilio de experimentos e observa~6es reais. Mas a grande enfase dada pelos puritanos it ciencia e a tecnologia, talvez seja melhor apreciada se compararmos as academias puritanas com as universidades ja existentes. Estas ultimas, mesmo depois de terem introduzido algumas disciplinas cientificas em seus curriculos, continuaram ministrando uma educa~ao essencialmente classica; os verdadeiros estudos cUlturais eram, senao completamente inuteis, pelo menos de finalidade definitivamente nao utilitaria. As novas academias, ao contra rio, sustentavam que uma educa~ao verdadeiramente liberal era a que se mantinha "em contato com a vida" e que, em consequencia, devia abranger 0 maior numero de materias uteis quanto possive!. Como diz a Dra. Parker :43 F. Young, Comenius in England, (Oxford, 1932),5-9. Didactica Omnia (Amsterdao, 1657),Livro II, prefaclO. Hayward, The Unknown Cromwell (Londres, 1934),206-230, 315. 40. James B. Mullinger, Cambridge Characteristics in the Seventeenth Century (Londres, 1867),180-181 et passim. 41. Irene Parker, Dissenting Academies in England (Cambridge, 1914),24. 42. Ibid., 62. 43. Ibid., 133-134.
27. Robert 38. Opera 39. F. H.
Secielegia ... a diferen,a, entre os dois sistemas educativos observa-se nao tanto na introdu,fio n"s academias de materias e metodos "modernos", como no fato de que, entre os inconformistas, funcionava um sistema de trabalho completamente diferente daquele das universida.des. 0 esp,irito que animava os dissidentes era aquele que tinha impulsionado Ramus e Comenio, na Fran,a e na Alemanha e que, na Inglaterra, tinha. atuado s6bre Bacon e, mais tarde, s6bre Harthb e seu circulo. Esta muieo justificada esta comparaQao das academias puritanas da Inglaterra com os progressos educativos protestantes no Continente europeu. As academias protestantes da FranQa dedicaram as materias cientifi' cas e utilitarias muito mais atenQao que as instituiQoes cat6licas.44 Quando os cat6licos se apoderaram de muitas das academias protestantes, diminuiu consideravelmente 0 estudo das ciencias.45 Alias, como veremos, mesmo na FranQa predominantemente cat6lica, grande parte do trabalho cientifico foi feito por protestantes. Entre os protest antes desterrados da FranQa encontravam-se muitos cientistas e inventores importantes.46
Naturalmente, 0 simples fato que urn individuo seja nominalmente cat.6lico ou protestante nao tern influencia em suas atitudes para com a C'iencia. Somente quando adota os lemas e as implicaQoes dos ensinamentos religiosos e que adquire importancia sua afiliaQao religiosa. Por exemplo, so mente quando Pascal se converteu plenamente aos ensinamentos de Jansenius, percebeu a "vaidade da ciencia"; pois Jansenius sustentava, caracteristicarm;nte, que acima de tudo devemos saber, que 0 vao amor a ciencia, embora aparenteme.nte inocente, c', na realidade, uma armadilha que "afasta as horn ens da contemplaQao das verdades eternas, para repousar na G:1tisfaQao da inteligencia finita".47 Logo que Pascal se converteu a essas cr,enQas, resolveu "por fim a todas as pesquisas cientfficas n que Se dedicara ate entao".48 E a firme aceitaQao dos va16res ba.sicos dos dois credol> 0 que explica a diferenQa nas respectivas contribuiQoes cientificas dos cat6licos e dos protestantes. Tambem no Novo Mundo foi assinalada a mesma associaQao de protestantismo e de ciencia. Os correspondentes e os membros da "Royal Society' que viviam na Nova Inglaterra, eram "todos treinados no pensamento calvinista".49 Os fundadores da Universidade de Harvard procediam dessa cultura calvinista, nao da era literaria do Renascimento au do mo44. P. D. Bourchenin, Etude sur lcs academies protestantes en France au ]lVIe et au XVlIe siecles (Paris, 1882),445 e segs. 45. M. Nicholas, "Les academies protestantes de Montauban et de Nimes", Bulletin de la societe de I'histoire du protestantisme fran~ais, 185e. 4, 35-48. 46. D. C. A. Agnew, Protestant Exiles From France (Edimburgo, 1866),210e segs. 47. Emile Boutroux, Pascal, tradu,ao de E. M. Creak (Manchester, 1902), 16. 48. Ibid., 17; cf. Jacques Chevalier, Pascal (Nova Iorque, 1930), 143; Pascal, Pensees, tradu,ao de O. W. Wright (Boston, 1884),224,N.o XXVII. "Vanity of the Sciences. A ci~n· cia das coisas exteriores nao me consolara da ignorancia da etica em tempos de afl!· ~ao; ma.s a ciencia da moral me consolara da ignorancia das coisas exteriores". 49. Stimson, op. cit., 332.
Teena e Estrutura
vimento cientifico do seculo XVII est . . " uas men es Se de' facllmente pelo mais recente canal de lxaram levar mais . . pensamento do q e I . Esta predlleg8.o dos puritanos pela cien' . t b' u pe 0 antIgo.5o professor Morison que declara' "0 Clcla, e am ern posta em relevo pelo t . ' . ero pun ano d aceltaQao da teoria de Copernico, foi 0 princi al ' em. vez e se opor a ~atr?~mador e promotor aa nova astronomia e de outros descobrim' terra".51 E significativo que John Winthr t,n os ?le:ntIflcOS na Nova Ingla. que foi mais tardE' membro da Real So . 0jP'd0 tJ~vem, de Massachusetts, , Clef a e lvess 'd 1641 e provavelmente passao.'c algum t ' e lOa Londres em ., empo com Hartl'b D • em Londres. Consta que sugeriu a C " I, ury e Comenio omemo que se t f' Nova Inglaterra e ali f d '. rans ensse para a un asse uma umversldad . .. anos depois Increa~e Math (. ~ Clentlflca.52 Al!!'uns er preSIdent d U'. ~ 1684 a 1701) fundou em Boston uma "s . e a .m'VerSldade Harvard de d . . ., oCle ade FlloS6fica" 53 o conteudo lOlentlflCO do programa educativo de .' . grande parte do protestante Peter Ramus 54 R Harv.ard provmha, em plano de estUdos que em contrast d' amus havla formulado Urn . ' e com 0 as univer 'd .. grande Importancia ao estudo d '" Sl ades catollcas, dava . as crenclas.55 Suas • d .. lhldas nas universidades protestantes d C t. :J. eras foram bem aco' bndg~ (que tinha urn elemento puritano ~ Ci:~.lz:ente ~uropeu, em Came malS tarde em Harvard mas fora f' IflCO malOr que OXford), 56 . t· . ,m lrmemente den . d . IllS ItUlQoes cat6licas 57 0 . 't unCIa as nas dlversas . . espln 0 reformador de t·· . llsmo" explica em grande parte a acolhid f . U llItansr.n0 e de "reaRamus. a avorav,el dada as opinioes de
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DE VALORES DO PIETISMO
E DA CIENCIA
A Dra. Parker observa que as academias puritan as da " dem comparar-se com as escolas dos pietist:as na Alema h Inglaterr~ pon a, as quaIS, sob 50. Porter G. Perrin, "Possible sources of Techn I . terly, 1934,7, 724. 0 ogla at early Ha:rvard", New England Quar. 51. Samuel E. Morison, "Astronomy at colonial Harvard" N 3-24; ve.r tambem Clifford K. Shipton, "A I ' ew ~ngland Quarterly, 1934,'I, cal ReView, 1935,40, 463-464. P ea for Puntanisz:u", The American Histori. R._F. Young, Comenius in England, 7-8. Ibid., 95. Perrin, op. cit, 723-724. Theobald Ziegle,·, r,eschichte der Padago"ik (Muni uc que enquanto as institui,6es cat6l' f~ q . 1895), I, 108. Ziegler faz notar Icas rancesas contemporan . , par t e do curriculo a ciencia Ram d ed' ea.s so dedlCavam a sexta 56. David Masson chama aprop'riad us t Iccavaa ~etade aos estudos cientificos. N 2.mene ambnc1ge de "aIm uma !ista de vinte Iideres ecleshisticos purita,nos d ,a mater" dos puritanos. que dezessete tinham sido alunos de C b'd a Nova Inglaterra, Masson anotou OXford. Ver sua Life of Milt (L damn ge, ao passo que samente tres procediam de on on res, 1875) II 563' citaq , 332. Ver tamlJem A History of th U .t ' , , 0 por Stimson, op. cit., 1924),II, 147. e mverSIy of Oxford, por Charles E. Mallet (Londres, 57. Heinrich Schreiber, Gcschic,hte der Albert L d' g . '" 1857-68),II, 135. Por exemplo na u~'versl'd d' u. Wl s-Umvcrsllat zu Freiburg (Friburgo, R amus para refuta-Io e "nao' 0e ..•• t a e Jesu jta de Fnbur".",0, so. se podia. mencionar estudante algum". " encon ravam exemplares de seus Iivros nas maos de
SOciologia -
a orientacao de Francke e seus discipulos, prepararam 0 caminho para as Realschulen, pois nao pode haver duvida de que, assim como os pietistas continuaram a obra de Comenio na Alemanha, os dissidentes puseram em pratica as teorias de Hartlib, Milton e Petty, seguidores ingleses e profundo, pois, como de Comenio" ,08 0 significado desta comparacao se observou amiude, os valares e os principios do puritanismo e do pietismo sac quase identicos. Cotton Mather havia reconhecido a estreita semelhanca dos dois movimentos protestarites, quando disse que "0 puritanismo nortc-americano se parece tanto com 0 pietismo fredericano" que :oe podem considerar virtualmente identicos.59 0 pietismo, salvo pelo seu maior "entusiasmo", quase podia chamar-se 0 equivalente continental (europeu) do puritanismo (ingles). Dai que, se far justificada nossa hipotese e 0 interesse pela ciencia e pela tecda associacao entre 0 puritanismo nologia, poder-se-ia esperar encontrar a me~ma corr.elacao entre os pietistas. E tal foi, muito certamente, 0 caso. Os pietistas da Alemanha e de outros paises firmaram estreita alianca com a "educacao nova": 0 estudo da ciencia e da tecnologia, das Realitt.60 Os do is movimentos tin ham ,em comum 0 ponto de vista realista e pratical, combinado com intensa aversao as especulacoes dos filosofos aristotAlicos. Nos pontos de vista educativos dos pietistas, eram fundamentais os mesmos valares l~tilitarios e empiricos proiundamente arraigados que moviam aos puritanos.61 Sabre a base desses va16res, destacaram a imporAugust Hermann Francke, tancia da ciencia nova os lideres pietistas Comenio e seus discipulos. Francke indicou repetidamente a conveniencia de familiarizar os estuTanto Francke como dantes com os conhecimentos cientificos praticos.62 seu colega Christian Thomasius se opuseram ao forte movimento educativo patrocinado por Christian Weise, 0 qual propugnava principalmente a preparacao na oratoria e nos classicos e procurava, ate certo ponto, "introGuzir as descuidadas disciplinas modernas, que serviam mais adequada-
Teoria e Estrutur:a
m~nte a seus propositos, isto e, estudos como mla etc. "63 a biologia ' a fisica , a ast ronoEm todos os lugares on de " _ . tema educativo, seauiu-se a int 0 P1E:.tIsmo exerceu lllfluencia sabre 0 sis-' tificas e tecnicas ;0 curriculo 6:oduca.o em grande escala de materias cien~lICerces da Universidade de Halle A~~mf ~ranc~e ~ Tho~asius lancaram os 1z:troduzir uma preparacao com l'e e 01 ~_pr~me1ra Ulllversidade alema a sores, como Friedrich Hoffman PEr~~ em ClenClas.65 Os principais professo pela sua teoria da flogiStic~) S t Sta~l (professor de qUimica, famomantinham estreitas reI a _ ,amuel. ,::>trYk,e, naturalmente, Francke " coes com 0 mov1mento . to t ' aavam caracteristicamente d d pIe IS a. Todos eles cuie esenvolver 0 ensino d .- . c1enc1a as aplicac6es pnl.ticas. a c1enc1a, aliando a 0_
0
_
Nao s6m<>nte Halle, mas outras universid d .. o mesmo in~cresse. Kani b _ a es pletIstas, manifestaram g Universidade de Halle med~s etr , qU~ ?a1ra sob a influencia pietista da k 1 Ian e as at1v1dades de Geh d' . c e, ogo ado tau as ciencias natu' . . r, lSClpulo de FranCUle XVII.66 A Universidade d ~~~st.e f1s1cas, no sentido moderno do sefamosa especinlmente pel os g e dO lllgen, rebento da de Halle, tornou-se das ciencias,C7 A universidad ranI ~s. progressos que realizou no cUltivo est b . e ca Vlllista de Heid Ib a elec1mento de grande n . " e erg notabilizou-se pelo 2 U· . umero de d1Sclplinas . t'f' lllversidadt- de Altdo f. Clen 1 lCas.68 Finalmente . t r , que fOl naquele tern , In eresse na ciencia era uma un"d po a maIS reputada pelo seu eo, ' 1vers1 ade protest t nCla p1etista.69 Heuba an e sUbmetida a influ. urn resume os fatos at' sencIal no ensino da ciencia e da tecn .' 1rmando que 0 progresso esnas Pl' °t~Otglaocorreu nas universidades protestantes e, mais exatamente , e IS as.70
AFILIA<;Ao
RELIGIOSA
DOS RECRUTAS
DA Clf:NCIA
Esta associacao de p. t· Ie lsmo e de ciencia zera preYer, nao se limita as '. ' que nossa hipotese nos flJ,.ela .UlllverSldades A me ClenCla e pela tecnologia e °d .' sma predileci'io pietista cunda ° VI enc1avn-se no . enslllO da escola serIa. 0 Piidagogium de Hall . t. de ciencias naturais, insistindo ,ernet~~orsoduzlU as disciplinas matematicas e os casos no usa de lic6es objetivas 0
58. Parker, op. cito, 135. 59. Kuno Francke, "Cotton Mather and August Hermann Francke", Harvard Studies ani! Notes, 1896,5, 63. Sobre este ponto, vel' tambem 0 estudo convincente de Max Weber, Protestant Ethic, 132·135. 60. Friedrich Paulsen, German Education: Past and Present, traduQao de T. Loren2 (Londres, 1908),104e segs. H. Alfred Heubaum, Geschichte des deutschen Billiungswesensseit del' Mitte des siebzehnten Jahrhunderts (Berlim, 1905),1, 90; "A meta. da educaQao[entre os pietistasJ e a possibilidadede emprego pr:Hico do educando para 0 bem da comunidade. A notavel influencia do aspecto utilit·arista... diminui 0 perigo de exagero do aspecto religiosoe assegura ao movimento sua. significaQaopara 0 futuro proximo". 62. Durante os passeios pelo campo, diz Francke, 0 professor cuidara de "relatar hist6rias uteis e moralizantes ou, ao falar de questoes de fisica. referir-se as criaturas e as obras divinas"... 0 gabinete de objetos naturais servira para familiarizar os educandos, durante suas horas livres e sob a direQaodo medico da instituiQao,com os fenomenos natu· ra.is, com os minerais, traQosorograficose uma ou outra experiencia". CitaQaode Heuba.um, op. cit., I, 89,94.
6~. Ibid., I, 136. 64. Ibid., I, 176 e segs. 65. Koppel S. Pinson, Pietism as a Factor' . que, 1934),18; Heubaum op 't I In the RIse of German Nationalism (Nova loruma estrutura cientifica'e . CI., , 118; "Halle foi a primeira un' 'd Heubau . naclOnal mUltopeculiar " Iv,erSIade alemll com ... m, op. Clt., I, 153. Paulsen, op. cit., 12(1-121. Heubaum, op. cit., I, 60. S.. Gunther' "D'Ie mathematischen StUd , glschen Universitat Altdorf" M'tt '1 len und NaturwlsSe:lschaftenan der nUrnlJ~rfasciculo, III, 9. ,I el ungen des Vereinsfur Geschichteder Stadt Niirnberg. 't I, 241;ver tambem PaUl 70. Heubaum .. ' 0 p. CI., . ~ent uber die protestantischen Univer "t"'tsen,.op. C1t 122; J. D. M,chae:,s Raisonne. Qao36. Sla en In Deutschland (Frankfurt, 1768),I, see-
SociOlog'ia -
Teoria
e EstrutuTia
propensao dos protestantes nicos Estaest' maior d aos E:studos cientT ' , a e acordo com as im r _ 1 lCOS e te"buigao e tipica. pois outros pes p. lC~gOeS cia nossa hip6tese. E'sta distriem outros case's 78 Adema' qUlsa ores observaram a mesma tende-ncl'a . IS essas di t 'b . relagao espul'ia resultante d' d'f s n Ulgoe~ nao represent am uma corcomo se od e 1 erengas na dlstribuigao rural-urbana das duas religi6es A
e de aplicag6es pr::1ticas,71 Johann Georg Lieb, Johann Bernhard yon RhoI' e Johann Peter Ludewig (chanceler da Universidade de Halle), todos eles sofrendo a inflnencia direta de Francke e do pietismo, propugnavam escolas de fisica, de matematica e de economia, a fim de estudar tie manufatl1raS, \Como "podia a manufatura ser cad a vez mais aperfeigoada e avantajada".72 Esperavam que 0 resultado dessas sugest6es pudessem constituir urn assim chamado Fato
Collegium importante,
physicum·mechanicum e uma werlcschulen. que da mais peso a nossa hip6tese, e que a i5konomisch-
_mathematische Realschule, foi urn produto exclusivo do pietismo. escola, que se centralizava no estudo das matematicas, das ciencias rais e da economia, e que era de carateI' reconhecidamente utilitario lista,
foi planejada
por
Francke.73
Alias,
foi um
pietista
e antigo
Esta natue re9,-
aluno
de
vez organizou uma Reale co_organizadGres desta 75 74 primeira escola, eram toaos pietistas e ex-alunos de Francke. Todas as provas de que se disp6e assinalam a mesma diregao. Os protestantes, sent excegao, fornecem urn contingente cada vez maior de estu· l dantes das escolas que dao relevo ao ensino cientifico e tecno 6gico,76 ao passo que os cat6licos concentram seuS interesses sobre 0 ensino classico e teol6gico. N3. Prussia, por exemplo, toi encontrada a seguinte distribuigao :77 estudaiJ.tcs dos religinsas divididas por afili:l~oes secundarias Assistencia a escolas Prussia, 1875-1876 Total populaH6heren OberRealgao geral Gymnasium BUrger Pro-gymRez,lsch, Afiliagao schule nasium 64,9 73,1 reiigiosa 80,7 75,8 33,6 79,8 17,3 69,7 49,1 14,2 6,7 1.,3 Protesta,ntes 11,4 9,6 20,2 5,1 39,1 17,5 Cat6licos 8,8 10,1 11,2 Judeus
Franeke, sdhule
Joh9,n JuliUS Hecker, quem pela primeira Semler, Siberschlag e Hahn, diret.ares
71. Paulsen, op. cit., 127, 72, Alfred Heubaum, op. cit.,"Christoph I, 184, 73. Heubaum, Semlers Realschule und seine Beziehung zu A. H. Francke", Neue Jahrbiicher fiir Philologie und p1\dagogik, 1893, 2, 65-77; ver tambem Ziegler, Geschichte der p1\dagogik, I, 197, que observa: ". "de fnto, IlaO faltava um nexo in· terno entre a escola 'real' dirigida ao pratico ,e a piedade iguaJmente dirigida ao pratico dos pietistas; somellte uma concepgao inteiramente religiosa e teol6gica do pietismo pode ignorar esse fato; em seu espirito de utilidade pratica para 0 bem comum 0 pietismo adiantou.se ao racionalismo, uniu·se a tHe e, gragas a este espirito, nasceu em Halle, nos tempos de Francke, I" escola 'real'''. usam 74, Paulsen, 133.outros fatos, Ziegler passa a trag2,r uma estreita "Kausalz '75. Na base op. destecU., e de · menhang" entre 0 pietismo e 0 estudo da ciencia. Ver sua Gcschichte, I, 196 e segs. ?6. 0 trago caracter:stico dos Gymnasien e a base classica do seu currlculo, Destas esCOlas estao separadas as Realschulen, onde predominam as ciencias e onde as \,\nguas clas' sicas sao substituidas por Iinguas modernas, 0 Realgymnasium e um!> transigao entre ~sses dois tipos, com menos ensino chlssico que 0 gymnasium e mais ,ensino de ciencias e matematicas. As Oberrealschulen e a.s hoheren Biirgerschulen sao Realschu1en, aquelas com nove anos de estndos e estas com seis anos. Cf. Paulsen, German Education, 46 passim. 77, t'tAlwin Petersilie, "zur
Statistik
des koniglich Preussischen
der h6heren
statistichen
Lehranstalten
en in preuss ",
Bureaus, 1877, 17, 109.
Zeitschrilt
de Basileia-Ci'dade. CO~O :eV,::~el:S d:dOS p:rtinentes do subcantao sufgo mais que a rural as fileiras da . _' . p pulagao urbana tende a contribuir' 1910' e segumtes ClenCla e da tecnolog' la. M as, para 0 ana de _ perfodo lesultados an:Uogos aos quea quebse refere 0 estudo de Edouard Borel com' f . ' aca amos de 'prese t ' Gt n a:: para a Prussia - os; r~ endos protestantes constitufam 6 0 somente 57,1% da populagao de B~:i~i da pop.ulagao total do cantao, mas; 84,7% da nopulagao rura1. a (a cldade propriamente dita) e 79 Minu(;,050 estudo de Martin Offenb h ' entre a afillill;;aO religiosa e a distribu~cer con~em ~ analise da relagao Baden, Baviera, Wiirttemberg Prussi gao. dos mteresses educativos em tados estatisticos dos difere~tes I a, AlS~Cla-LOrena e Hungria. Os resultant ugares sac do mesm .< es, proporcionalmente a sua _ 0 car""ter: os protesuma freqiiencia muito mal'or _ rde~resentagao na populagao em geral teAm , . as lVersas e I ' C'lalmente marc ante a diferen sco as secundarias, sendo espe,._. _ ga nas escolas dedic d .. elenClas e a tecnologia Em B d 8 a as prmclpalmente as , . a en 0 por exemplo t numeros para os anos de 1885-95 oman do as medias dos ________ ' emos 0 segumte quadro:
t
.'
Protest
antes
%
Cat6licos
Judeus
%
%
46 31
9,5" 9 7 11
41 40 37 42 61,5
12 10 1,5
Deve-se observar, po rem, que embora os curriculos das Realschulen caracterizem-se principalmente pela importaneia que concedem as clencias e as matematicas, em contraste com a pouca atengao relativa que se da a essas materias nos Gymnasien, este ultimo tipo de escolas, todavia, prepara Lambem para carreiras cientificas e de erudigao. Mas, em geral, a assistencia de protestantes e cat6licos aos Gymnasien e motivada por diferentes interesses. 0 numero relativamente grande de cat6licos nos Gymnasien deve-se a que essas escolas preparam tambem para a teologia, enquanto os protestantes em geral usam-nos como preparagao para outras profiss6es eruditas. Assim, nos tres anos letivos 1891-4,226 ou seja, mais de 42% dos 533 graduados cat6licos dos Gymnasien de Baden, estudaram teologia, enquanto que dos 375 graduados protestantes somente 53 (14%) 0 fizeram, enquanto que 86% se decUcou a outras profiss6es eruditas.81 De modo analogo, 0 apologista cat6lico Hans Rost, embora querendo demonstrar a tese de que "a Igreja Cat6lica foi em todos os tempos amiga apaixonada da ciencia", ve-se obrigado a admitir, na base de seus dados" que os cat6licos evitam as Realschulen, que mostram "certa indiferenga e aversao para com estas instituig6es". A razao di,sto, acrescenta, e "que a escola real superior e 0 ginasio real nao dao direito ao estudo da teologia, e que esta e com f;:equencia 0 m6vel, entre os cat6licos, para seguir estudos superiores".82 Assim, pois, os dados estatfsticos indicam acentuada tendencia dos protestantes, diversamente dos cat6licos, para seguir estudos cientfficos e tecnicos. Isto se depreende tambem das estatfsticas de Wiirttenberg, onde a media dos aHOS 1872-9 e 1883-98 fornece as seguintes cifras :83 Protestantes % Gymnasien Lateinschulen Realschulen PopulaC;ao total, 1880
. . . .
68,2 73,2 79,7 69,1
Cat6licos %
Judeus %
28,2 22,3 14,8 30,0
Os protestantes nao evidenciam estes focos de interesse so mente na educagao. Diferentes estudos tern constatado uma representagao anormalmente 81. H. Gemss, Statistik der Gymnasialabiturienten im deutschen Reich, (Berlim, 1895), 14·20. B2. Hans Rost, Die wirtschaftliche und kulturelle Lage der deutschen Katholiken, (Colonia, 1911),167e segs. 83. Offenbacher, op. cit., 18. Corrobora estes dados 0 estudo de Ludwig Cron rela-tivoa Alemanha, para os anos de 1869-93, Glaubenbekenntnisund hiiheres Studium (Heidelberg, 1900), Ernst Engel tambem constatou que nas provincias de prussia, Posen, Branden· burgo, Pomerania, Saxonla, Westfalla e Reno ha uma propor<;li.o maior de estudantes evangelicosnas escolas que ofereeemum maximo de ciencla natural e de materias tecni·
grande de protest antes entre os cientistas notaveis.84 Se os dados anteriores proporcionam apenas ligeiras probabilidades de que predomine realmente a conexao que temos indicado, a famosa Histoire des scienoes et des savants, de Candolle, aumenta consideravelmente essas probabilidades. Candolle acha que embora houvesse na Europa, exclUida a Franga, 107 milh6es de cat6licos e 681 milh6es de protestantes, na lista dos cientistas estrangeiros, (;hamados "membros correspondentes" pela Academia de Paris, de 1666 a 1883 havia somente 18 cat6licos contra 80 protestantes.85 Mas como sugere 0 pr6prio Candolle, esta comparagao nao e concludente, ja que omite os cientistas frances€s, que deviam ser cat6licos em sua maio ria. Para corrigir este erro, torr.a a lista de s6cios estrangeiros da Real Sociedade de Londre5, em dois periodos em que figuravam nela mais dentistas franceses do que em nenhum outro momenta: 1829 e 1869. No primeiro ana, 0 numero total de cientistas protestantes e cat6licos (que eram membros estrangeiros da Sociedade) e aproximadamente igual, enquanto em 1869 0 numero de protest ante" excedia realmente 0 de cat6licos. Mas, fora do Reino Unido da Gra-Bretanha e Irlanda, havia na Europa 139 milh6es e meio de cat6licos e somente 44 milh6es de protestantes.86 Em outras palavras, embora na pl'pulagao geral houvesse acima de tres vezes mais de cat6licos que de protest.antes, na realidade havia mais cientistas protestantes que cat6licos. Mas ha dados ainda mais importantes que as que se baseiam em populag6es de paises diferentes, em que se pode suspeitar que a influencia da economia, do regime politico e outros fatares nao religiosos prevalece sabre a influencia real da religiao. A comparagao de populag6es estreitamente ligar!a". serve, em larga medida, para eliminar os fat6res "estranhos", mas os resultados sao os mesmos. Assim, na lista de s6cios estrangeiros da Academia de Paris nao ha urn s6 cat6lico irian des ou ingles, embora sua proporgao na populagao do Reino Unido ultrapassasse a quinta parte. Da mesma forma, tampouco ,esta representada a Austria cat6lica e tambem, em ?,eral, a Alemanha cat6lica est a igualmente ausente na produGao de cientistas notaveis, em relagao com a Alemanha protestante. Finalmente, a Suiga, onde as duas religi6es estao em grande parte diferenciadas por cant6es, ou misturadas em alguns deles, e onde os protestantes cas. Ver seu "Beitrage ZUl' Geschichte und Statistik des Unterrichts", em Zeitschrift des kiiniglich Preussisc,henstatistischen Bureaus, 1869,9, 99·116,153-212. 84. Havelock Ellis. p. ex., em Study of British Genius, 66 e segs., Rcha que a Esc6cia pro· testante produziu vinte e urn dos cientistas notaveis da sua lista, contra urn da Irlanda cat6lica. Alfred Odin descobreque entre os autores da sua lista, os protestantes predo· minam nas materias cientificas e tecnicas e nao na litera-tura pr6priamente dita. Vel' sua Genesedes grands hommes, (Paris, 1895),I, 477e segs., II, Tabelas XX·XXI. 85. Alphonse de Canoolle,Histoire des sc.ienceset des savants, (Genebra·Basileia,1885),329. 86. Ibid., 330.Ct. J. Facaoaru, Soziale Auslese (Klausenberg, 1933),138·9."A religiao tev~ grande influencia no desenvolvimentoda ciencia. Em t6da parte os protestantes con· taram
com maior
quantidade
de homens
notaveis'".
estao na relac;ao de tres a dois com os catolicos, havia fornecido catorze associados e~trangeiros, nenhum dos quais catolicos. A mesma diferenciac;ao existe para os suic;os e para os ingleses e os irlandeses das duas religi6es, nas lisLas da Real Sociedade de Londres e da Real Academia de Berlim.87 Com a ap'esentac;ao desses dados, encerramos a apresentac;ao empirica da nos sa hipotese. Em qualquer caso, a ligac;ao do protestantismo com interesses e Iealizac;6es cientificos e tecnologicos e pronunciada, mesmo quando se eliminam 0 mais possivel as influencias extra-religiosas. Tal ligac;ao e compreensivel, em grande parte, de acordo com as normas que Informam ambos os sistemas. A estimac;ao positiva por parte dos protestantes de um utilitarismo muito pouco dissimulado, de interesses intramundanos, de um empiricismo total, do direito e ate do dever do livre exame e da discussao individual explicita da autoridade eram atitudes afins co~ os valores que se encontram na ciencia moderna. E talvez por cima de tudo estiYesse a importancia do impulso ascetico ativo, que exigia 0 estudo da natureza para poder controla-Ia. Isto explica porque os dois campos estavam bem unificados 61, no essencial, se apoiavam mutuamente, nao somente na Inglaterra do seculo XVII como tambem em outros tempos e lugares-.
A hipotes':! de Max Weber sobre 0 papel do protestantismo ascetico no incremento ao capitalismo moderno deu origem a consideravel bibliografia de obras de erudic;ao e de polemica sabre a materia. Pela metade da decada de 1930, por exemplo, Amintore Fanfani pade aproveitar varias centenas de publicac;6es em seu estudo das provas: Catholicism, Protestantism and Capitalism (Nova Iorque: Sheed & Ward, 1935). 0 proprio Weber nao fez uma investigaGao analoga sobre as rela-g6es entre 0 protestantismo ascetico e 0 desenvolvimento da ciencia, mas concluiu seu classico ensaio assinalando como uma das "tarefas imediatas", a de investigar "a irnportancia do racionalismo ascetico, que somente foi tocado de leve no esboc;o que pre[para] 0 desenvolvimento do empirismo filosofico e ci.entifico, e [pacede ra] 0 desenvolvimento tecnico". (The Protestant Ethic, 182-183). PubHcado pela primeira vez em 1936, 0 capitulo n,d.rna foi concebido como urn esforc;o para cumprir esse mandato de amp liar a linha de pesquisa que W,eber havia aberto. Os livros e as trabalhos citados neste capitulo foram suplementados desde entao por outros, relativos a uma ou outra parte da hipotese que liga 0 puritanismo, 0 pi:etismo e a ciencia. Numerosas obras tem ~sclarecido muito as diferenc;as e as sombras da teoria e dos valores contidos no
puritanismo;
E'ntre elas pareceram-me mais uteis as seguintes: The History and Character oj Calvinism, por John Thomas McNeill (Nova Iorque: Oxford University Press, 1954)" que mostra que 0 calvinismo formava 0
nucleo do puritanismo Ingles e estuda suas diversas conseqtiencias para a sociedade e 0 pensamento; The Ris,e oj Puritanism, por William Haller (Nova Iorque: Columbia University Press, 1939), descrevendo com ricos f' convincentes detalhes como a propaganda puritana pela palavra impressa e pelo pulpito contribuiu a preparar 0 caminho para a rebelHio parlamentar, para 0 radicalismo dos "igualitarios", para numerosas dissidencias sect arias" parJ, uma etica burguesa incipiente e para a ciencia experimental; "A social interpretation of English Puritanism", por Charles H. George, em The Journal oj Modern History, 1953, 25, 327-342, que procura descobrir as principais componentes e os principais tipos de puritanismo; From Puritanism to the Age oj Reason, por G. R. Cragg (Cambridge University Press, 1950), "estudo das mUdanc;as de pensamento religioso na Igreja da Jnglaterra, 16'30-1700". Estes e outros trabalhos tern demonstrado mais uma vez que 0 puritanismo, como a maior parte dos credos reiigiosos-sociais, nao era de urn so bloco. Praticamente totios os eruditos que estudaram intensamente a materia estao de acordo em que a maior parte das numerosas seitas que formam 0 protestantismo ascetico, proporcionaram uma orientac;ao para ,alores que estimularam 0 trabalho cientHico. (V,er tambem a nota de Jean Pelseneer, intitulada "L'Origine Protestante de la science moderne". Mas ai termina a semi-unanimidade. Alem Lychnos, 1946-47, 246'248). guns tem coocluido que foram os mais ,sectarios entre os puritanos os que mais fizeram para desenvolver e ampliar 0 interesse pela ciencia; veja-se, por exemplo, "Left-wing Puritanism and science", por George Rosen, em Bulletin
oj the Institute
oj the History
OJ
Medicine,
1944, 15, 375-380.
0
bioquimico e historiador da ciencia, Joseph Needham, comenta as estreitas conex6es entre os "sapadores", ala civil dos "igualitarios" e 0 novo e crescente interesse pela ciencia experimental, em sua colec;ao de ensaios Time: The Rejreshing River (Nova Iorque: The Macmillan Company, 1943), 84-103. Qutros sustentam que 0 clima de valores mais conducente ao interesse pela ciencia se encontrava entre os puritanos moderados, de que e exemplo Robert Boyle. Veja-se "The advancement of learning during the Puritan Commonwealth", por James B. Conant, em Proceed'ings oj the Massu,chusetts Historical Society, 1942, 66, 3-31; e para urn estudo geralmente mais acessivel, embora menos detalhado, On Understanding Science, pelo mesmo 3utor (New Haven: Yale University Press, 1947), 60-62. R. Hooykaas, distinto historiador holandes da ciencia, diz que sua biografia das orientac;6es cientificas e religiosas de Boyle, confirm a os principais resultados expostos no capitulo anterior: Robert Boyle: een studie over Natuurwetenschap en Christendom (Loosduinen: Kleijwegt, 1943), capitulos 3-4, que analisam as convicc;6es de Boyle de que 0 estudo da filosofia natural e uma obrigac;ao
moral de bases religiosas (em especial, tal como se desenvolvem em The
to iatrochemistry
Christian Virtuoso, shewing, that by being addicted to experimental phylosophy a man is rather assisted than indisposed to be a goo.d Christian, de Boyle, 1960), de que necessita 0 empirismo e nao somente 0 racionalismo,
Annals of Science, 1953, 9, 64-87, 154-75)·
para compreender as obras de Deus e que a tolerancia, nao a perseguic-;ao, e a politica que govern a apropriadamente as relac-;oes,mesmo com as seitas mais famHicas. As provas em apoio das duas premiss~.s em contraste - se 0 principal foco de interesse se encontra entre os puritanos radicais ou entre as moderados -- ainda sao insuficientes para justificar uma conclusao segura. Distin<,;()esde pormenores entre as diversas seitas puritanas servem, naturalmente, para espeeificar mais rigorosamente a hip6tese, mas os dados de que se dispoe nao permitem afirmar, com alguma confianc-;a,qual delas csiava mais disposta a fazer progredir a cHlncia da epoca. R"cente grupo de estudos fornece documentac-;ao importante s6bre a maneira como 0 "ethos" de uma das seitas puritanas - os quakers contribuiu a cristalizar urn claro interesse pela ciencia. Em termos muito parecidos aos usados no capitulo anterior deste livro, Frederick B. Tolles, em Meeting House and Counting House (Chapel Hill: University of North Carolina Press, 1948), 205-13, faz remontar,o ace.ntuado interesse dos quakers pela ci(;ncia ao seu "ethos" religioso. Menos analiticamente e as vezes ate tendenciosamente, Arthur Raistrick, em Quakers in Science and Industry, being an account of the Quaker contributions to science and inrtustryduring the 17th and 18th centurves (Londr,es: The Bannisdale Press, 1950), destacava 0 fa to de seu extenso trabalho na ciencia. Mas,
como observa apropriadamente 0 professor Hooykaas, os fatos nao analisados nao indicam pOl' si mesmos que a participac-;ao distintiva dos quakers na atividacie cientifica procedesse de sua etica religiosa; podia muito hem ser que refletisse a generalizada tendencia dos ingleses bem acomodados, entre os quais se contava um mimero desproporcionalmente grande de quakers, a dirigirem seu interesse a materias de filosofia natural (R. Hooykaas Archives Internationeles d'Histoire des Sciences, janeiro de 1951). Mas, num trabalho compacta e instrutivo, Brooke Hindle passa a demons' trar que a etica religiosa desempenhou esse papel entre os quakers de uma zona colonial; cf. seu "Quaker background an science in colonial Philadelr,hia", em Isis, 1955, 46, 243-250; e sua excelente monografia The Pursuit of Science in Revolutionary America, 1735-1789 (Chapel Hill: University of North Carolina Press, 1956). Pode-se rf;cordar que uma das principais hip6teses do capitulo precedente dizia que foram as conseqiiencias inesperadas e em grande parte imprevistas da etica religiosa formulada pelos grandes lideres da Reforma que se converteram progressivamente em sistema de va16res favon'iveis ao cultivo da ciencia. (580; cf. "The scientific revolution and the Protestant RelOrmation. I. Calvin and Servetus in relation to the new astronomy and the theory of the circulation of the blood. II. Lutheranism in relation
and German nature philosophy", POl' F. S. Mason. em A formac-;ao hist6rica desta etica foi, indubitavelmente, em parte como reac-;ao as circunstancias sociais culturais e econ6micas cambiantes; mas, tambe:n em parte, foi urn dl'lsenvolvimento imanente das pr6prias ideias e va16res da religiao (como observou claramente Wesley, mais que qualquer outro lider protestante). Isto s6 quer dizer, mais uma vez, que 0 papel do protestantismo ascetico em impulsionar 0 desenvolvimento da ciencia nao ficou fixo e imutavel. 0 que apenas estava implicito no seculo XVI e comec-;osdo XVII, tornou-se explicito 6 visivel para mUitos em fins do seculo XVII e no XVIII. Diversos estudos recentes confirm am esta interpretac-;ao. Baseada sabre urn rigoroso exame de fontes primarias e de pesquisas atuais, a obra Science and Religion in Elizabethan England, de Paul H. Kocher (San Marino, Calif6rnia: The Huntington Library, 1953), da testemunho da grande distancia que percorreram os eruditos, desde 0 tempo em que levavam em conta as fontes de oposic-;aoentre ciencia e religiao somente como se 0 conflito f6sse claramente a unica relac-;ao que pUdesse "l:bsistir, e historicamente subsistisse, entre essas instituic-;oes sociais. Pelo I.:cntrario, esta monogtafia revela que havia amplo espac-;opara que a ciencia da Inglaterra elizabetana se desenvolvesse dentro dos limites marc ados pela doutrina religiosa da epoca. E' nao se tratava simplesmente que a religiao tolerasse a ciencia. Para 0 periodo anterior a 1610, Kocher nao p6cre encontrar provas convincentes "a favor ou contra" a hip6tese de que 0 puritanismo proporcionou urn "solo mais fertil para a ciencia natural ... que as religioes que foram suas rivais na Illglaterra". (17) Os dados para este periodo inicial sao insuficientes para chegarmos a uma conclusao s6lida. Mas, acrescenta, "da nossa vantajosa posic-;aodo seculo XX podemos vel' que a mundanidade puritana, em definitivo, ia ajudar a ciencia, mais que a ultramundanidade puritana a ia estorvar, em proporc-;aotalvez maior (embora isto seja muito manos seguro) do que 0 poderiam tel' feito a doutrina e a pratica anglicana. Mas os efeitos desse impulso s6 iriam tornar-se visiveis gradualmente, a medida que 0 puritanismo ~e desenvolvia. A epoca de Elizabeth chegov depress a demais para oferecer provas concretas que permitam distinguir e avaliar entre si as contribuic-;oes dos puritanos e dos anglicanos a ciencia". (19) Mas, visto em relac-;aocom a dinamica imanente do "ethos" religioso, 0 contraste de Kocher entre a "mundanidade" e a "ultramundanidade" de gerac-;oes sucessivas de puritanos e mais aparente que real. Porque, como Weber p6de demonstrar com pormenores, a "mundanidade" era engendrada historicamente pelos va16res originariamente "ultramundanos" do puritanismo, que exigiam urn esf6rc-;0ativo e sustentado neste mundo e subvertiam assim a orientac-;ao axio16gica inicial (constituindo este processo urn exemplo do que ele chamava Paradoxie der Folgen).· A conformidade manlfesta a esses va16res produzia conseqiiencias latentes que estavam muito longe, quanto ao seu carater, dos va16res que as liberavam.
No seculo XVIII este processo de mUdanga havia dado por resultado o que Basil Willey descreveu como "a santa alianga entre a ciencia e a religiao". (The Eighteenth Century Background, Nova Iorque: Columbia University PleSS, 1941). Da mesma forma que Robert Boyle no seculo XVII, Joseph Priest.ley, 0 cientista e apostolo do unitarismo, simbolizou e atualizou esta alianga no seculo XVIII. As conex6es posteriores entre ciencia e religiao na Inglaterra de fins do seculo XVIII a meados do XIX, foram laboriosamente examinadas na monografia de Charles C. Gillispie, intitulada Genesis and Geology: a study in the relations of scientific thought, natural theology and social opinion in Great Britain, 1790-1850. (Cambridge: Harvard University Press, 1951). Menos interessado pelo papel da religiao no recrutamento e motiva-
<;ao dos cientistas do que pelos fundamentos s6bre os quais os achados da geologia eram considerados congruentes com os ensinamentos religiosos, Gillispie estuda 0 processo mediante 0 qual ambas as coisa5 tendiam a uni· ficar-se culturalmente. Quando Q trabalho que forma 0 presente capitulo foi escrito em 1936, ative-me quuo:e totalmente ao estudo pioneiro (1914) de Irene Parker, s6bre 0 papel das academias "dissidentes" no progresso da nova educac,;ao cientifica do ileculo XVIIL88 0 conteudo do seu estudo nao se modificou fundamentalmente, mas se desenvolveu de modo consideravel e foi um pouco retoca::lo no notavel estudo de Nicholas Hans, intitulado New Trends in Education in the Eighteenth Century, (Londres: Routledge and Kegan Paul, 1951). Hans baseia parte do seu estudo numa analise estatistica das origens sociais, educac,;ao formal e carreiras subseqtientes de 3500 individuos que formaram a elite intelectual daquele seculo, tendo sido recolhidos sistematicamente os dadas, fundamental mente nas biografias individuais dessa quase inesgotavel mina de materiais para a sociologia hist6rica, que e 0 Dictionary of National Biography.89 Resumiremos apenas alguns dos Se me perguntassem porque nao me utilizei do livro posterior e amplamente documentado de M. McLachlan, intitulado English Education under the Test Acts, (1931) s6 poderia responder com as palavras de outro colega: "Ignorancia, senhora, pura ignorancia"_ Mas poderia acrescentar que McLachlan esta fundamentalmente de ac6rdo com as conclus6es de Irene Parker. 89. Os estudos de sociologia apenas comeQaram a explorar 0 rico material disponivel em a.mplas coleQ6es de biografias e outras provas hist6ricas. Ainda que as analises estatisticas dos referidos materiais nao possam ocupar 0 lugar das analises qualitativa.s deralhadas das provas hist6ricas, oferecem uma. base sistematica para resultados novos e, amiude, para a corregao de pressupostos admitidos. Pelo menos, esta foi minha pr6pria experiencia, ao empreender analises esta.tisticas de umas 6.000 biografias (do Dictionary of National Biography) de pessoas que formavam a elite da Inglaterra do seculo XVIl: das listas dos descobrimentos e inventos importantes registraodos no Handbuch zur Ges· chichte del' Naturwiss'enschafen und del' Technik, de Darmstadter; e de 2.000 artigos public ados nas Philosophical Transactions, no terceiro tergo do sec. XVIII. (Cf. Science, Technology and Society in Seventeenth Century England, da minha a.utoria, 1938, capitulos II-III). Emprego mais extenso de tais analises estatisticas se encontra em P. A. Sorokin, Social and Cultural Dynamics (Nova Iorque: American Book Co., 1937). E na· tura.! que a preparagao de resumos estatisticos dessa especie tenha seus perigos; as com8E.
seus numerosos resultados pertinentes. Verifica, por exemplo, que as escolas e as academias dissidentes produziram aproximadamente 10% da elite, 0 que, como observa Hans, "estava muito acima da sua f6rga relativa na populagao total da Inglaterra do seculo XVIII". (20) Observa, todavia - e temos vlStO que este e 0 caso -, que os "motivos" religiosos nao eram os unicos que produziram a aparigao da educagao moderna (especialmente ~a educagao cientifica) nesse periodo; a religiao se juntavam motivos "intelectuais" e "utilitarios". Assim, enquanta "os puritanos promoviam a ciencia como um apoio adicional da fe crista s6bre a revelagao, os deist as olhavam a ciencia como base de t6da crenga em Deus". (12) Os tres tipos de motivagao tendiam a reforgar-se entre si: "Os dissidentes, da mesma forma que muitos puritanos dentro da Igreja, representavam 0 motivo religioso para a reforma da educagao. A ideia da propagatio fidei per scientia encontrOll muitos partidarios entre os dissidentes. As raz6es intelectuais e utilHarias foram postas em pleno movimento pelas corporag6es e mestres seculares, antes que as academias dissidentes as aceitassem cordialmente". (54) A este respeito, Hans julga necessario dissentir da tese sustentada por Irene Parker (que eu adotei em meu proprio trabalho), a qual atribui influencia quase exclusiva as academias no progresso da educagao moderna no seculo XVIII. Sua modificagao corretiva parece, por numerosas provas, estar completrmente justificada. Alem disso., serve para aclarar um problema que - pelo menos pode dizer um estudioso do assunto - durante muito tempo preocupou e ficou sem resolver, e e 0 bem conhecido fato de que certas formas extremas de dissidencia calvinista, foram durante muito tempo, inimigas do progresso da ciencia e nao conducentes a ele. Como observa agora Hans, "ainda que a tradigao calvinista f6sse essencialmente progressiva, degenerou facilmente em dogmatismo estreito e intolerante". (55). Os batistas, por exemplo, eram completamente "adversos ao n6vo saber por convicgao e so mais entrado 0 seculo uniram-se a outros dissidentes [em particular aos presbiterianos e aos inc.ependentesJ para promover a reforma"· (55) Em suma, uma ala do inconformismo aderiu ao pe da letra a certos lemas restritivos do calvinismo e foi este subgrupo que manifestou a hostilidade a ciencia que durante longo tempo se encontrou em certas seitas ortodoxas do protestantismo. Pode-se dizer, em sentido tigurado, que "0 calvinismo continha uma semente de educagao liberal, pilag6es rotineiras nao controladas pelo conhecimento dos contextos hist6ricos pode levar a conclus6es infundadas_ Para um estudo de alguns desses perigos, veja-se "The course of Arabian intellectual development: a study in method". de P. A. Sorokin e R. K. Merton, em Isis, 1935, 22, 516-524; Merton op. cit., 367 e segs., 398 e segs.; e para uma reo visao mais completa dos problemas do procedimento, Content Analysis, de Berna.rd Berelson (Glencoe: The Free Press. 1951). Numerosos estudos recentes das origens sociais da' minoria dos neg6cios no passado hisi6rico teln utilizado materiais desta especie: vejam-se os estudos de Wiliam Miller, C. W. Mills e Suzanne Keller, instrutivamente, resumidos pOl' Bernard Barber em La estratificaci6n social (Mexico: Fondo de Cultura Econ6mica. 1964).
mas que pr{'cisava de urn ambiente adequado para germinal' e crescer". (57). Como temos visto, semelhante ambiente social e cultural foi surgindo pouco a pouco na Inglaterra daquela epoca. Suplementando 0 estudo das cambiantes relag6es do puritanismo e da ciencia na Inglaterra existe 0 notavel estudo de Perry Miller s6bre essas relag6es, nas circunstancias especiais que ofere cia a Nova Inglaterra. (The New England MindJ: The Seventeenth Century. Reedigao: The New England Mind: From Colony to Province. Cambridge: Harvard University Press, 1954)· Este amplo trabalho demonstra a notavel receptividade para a ciencia que existia entre os chefes teocraticos da col6nia e 0 subseqiiente processo de secularizagao, com sua insistencia no utilitarismo. Para uma breve, porem elucidativa comparagao da interpretagao formulada POl' Perry MUleI' e a que apresentamos no capitulo anterior, veja-se Leo Marx, em Isis, 1956, 47, 80-81. Como vimos pelos dados reunidos POl' Alphonse de CandCJlIe - vel' pags. 638-9 deste livro as conex6es entre 0 protestantismo ascetico e 0 interesse pela ciencia evidentemente persistiram em alguma medida ao longo do secul0 XIX. Os dados de Candolle foram reexaminados recentemente, chegando-se a mesma conclusao. Veja-se "Ascetic Protestantism and the development of science and technology", POl' Isidor Thorner, em American Journal of SOciology. 1952. 58-, 25-33, esp. 31-32. Thorner analisou tambem os dados apresentados POl' P. A. Sorokin como base para discutir esta hip6tese e achou que os dados estao, na realidade, de ac6rdo com ela; ibid .., 28-30. Para <), critica de Sorokin, veja-se seu Social and Cultural Dynamics, II,
150-52.
Em outra estimulante revisao dos materiais de CandolIe, Lilley assinaIou suas limitag6es, assim como sua utilidade. S. Lilley, "Social aspects of the history 01 science", Arc;'!ives Internationales d' Histoire des Sciences, 1949, 28, 376-443, esp. 333 e segs. Observa Lilley que as correlag6es entre protestantismo e ciencia podem ser falsas, ja que "em media, as classes comerciais " industriais [que tern maior interesse pela cienciaJ tendiam a ser de confissao protest ante, enquanto os call;.lponeses e os tipos feu dais rle proprietarios eram predominantemente cat6Iicos". Tomamos nota desta limitagao (582) e em consequencia, comparamos 0 interesse pelas materias cientificas de protestantes e cat6licos das mesmas zonas (582, 584). Lilley critica tambem 0 trabalho de CandolIe, POl'nao tel' levado em conta as mudangas hist6ricas nessas relag6es, ao tomar em conjunto, "sem disting6es, todo 0 periodo de 1666 a 1868". E de presumir que as afiliag6es religiosas no ultimo e mais secularizado periodo nao tenham a mesma significagao de compromissos doutrinarios e de val6res que no periodo anterior; a filiagao religiosa puramente nominal tenderia a prevalecer. Esta critica tambem tern f6rga, como temos visto. Mas, como observa Lilley, as novas provas de que se disp6e confirmam, todavia, a relagao subjacente entre protestantismc ascetico e cienc~a, ainda que essa relagao possa ser obs-
curecida ou acentuada POI' outras mudangas sociais e econ6micas independentes. Essa relagao persiste ate hoje nos Estados Unidos, como indica urn estudo completo dos antecedentes sociais de cientistas norte-americanos, de ]880 e 1940. Origins of American Scientists, POl' R. H. Knapp e H. B. Goodrich (Chicago: University of Chicago Press, 1952). Suas provas s6bre este ponto sac resumidas da seguinte maneira: "Nossos dados revelaram a acentuada inferioridade das instituig6es [academicas] cat6licas na produgao de c;entistas [mas nao de outros profissionais; POl'exemplo, advogados] e, pOI' outro lado, indicaram que algumas das nossas instituig6es menores mais produtivas estao estreitamente ligadas a denominag6es proOutestantes e servem a uma clientela preponderantemente protestante. trossim, os dados apresentados POl' Lehman e Visher sabre os cientistas consagrados [isto e, os registrados no American Mien of Science e que sac julgados de n:erito relevanteJ, embora limitados, indicam muito claramente que a proporgao de cat6licos neste grupo e excessivamente baixae que, na realidade, algumas denominag6es protestantes estao representadas em proporg6es centenas de vezes maiores. Estas estatisticas, tomadas juntamente com outras provas, deixam pouca duvida de que os cientistas procedem desproporcionadamente de familias protestantes norte-americanas". (274) Impressao muito parecida, embora sem apoio sistematico de dados, e dada pelos pr6prios cientistas cat6licos. "0 padre Cooper diz que "estaria pouco disposto a defender a tese de que 5%, ou mesmo 3%, das personalidades cientificas e eruditas norte-americanas sejam cat6licas. Mas n6s, os cat6licos, constituimos mais au menos 20% da populagao total'''. J. M. Cooper: "Catholics anrl scientific research", em Commonw~alth, 1945, 42, 147-149, citado POI' Bernard Barber em Science and the Social Order, 136. Barber cita tambem uma observagao parecida de James A. Reyniers, diretor dos Laborat6rios Lobund de Notre Dame University, e de Joseph P. Fitzpatrick, S. J.; ibid, 271. Esta revisao da bibliografia mais recente sabre a materia confirma, COmbastante uniformidade, a hip6tese de uma relagao positiva observavel entr·e protestantismo ascetico e ciencia. Os riados que proporcionam qualquer dos estudos estao, tipicamente, longe de ser rigorosos. Mas esta e, afinal, a situagao da maior parte das provas relativas a relag6es historicamente mutaveis entre instituig6es. Tendo em conta nao este ou aquele estndo, mas todo 0 conjunto, baseado em provas tiradas de diversas fontes, poderiamos dizer com bastante certeza que na realidade, existe a relagao empirica sugerida no estudo que precede. Mas, naturalmente, a relagao empirica bruta e apenas 0 comego, e nao o fim, do problema intelectual. Como observou Weber no inicio do seu famoso ensaio sabre A etica protestamte, "uma olhada as estatisticas de qualquer pais de composigao religiosa mista evidencia com notavel frequencia urna situagao que provocou em diversas ocasi6es discuss6es na
imprensa 'a na literatura cat6licas e nos congressos cat6licos na Alemanha, a saber, 0 fata de que os chefes de neg6cios e os capitalistas, assim como as categorias mais altas do trabalho especializado e, mais ainda, 0 pessoal das empresas modernas mais altamente preparado tecnica e comercialmente, Mio protestantes em proporgao acabrunhadora".(35) 0 fato de que nao se disponha de estatisticas comparaveis entre si sabre a composigao religiosa dos circulos cientificos, os quais devem ser laboriosamente reunidos para 0 presente e em parte "armados" para 0 passado, nao contribui a que 0 resultado empiric'o seja mais importante em si mesmo (ainda que talvez r,ecomende a nossa respeitosa atengao os arduos trabalhos dos que fazem as pesquisas preliminares). Parque, como temos visto ao exam inar a situagao das generalizag6es empiricas (no capitulo IV), isto s6 faz colocar 0 problema da analise e da interpretaga.o da uniformidade obser· vada e a este problema esteve dedicado 0 ensaio precedente. E de pr.esumir que nao sej a necessario repetir os principais componentes da intr:rpretagao exposta neste ensaio. Todavia, uma critica recen· ie do estudo proporciona oportunidade para revisar certos elementos empiricos e te6ricos da interpretagao que podem, evidentemente, perder-se de vista. Em sua critica "Merton's thesis on English science", American Journal of Economic and SociolOgy, 1954, 13, 427-432,James W. Carroll indica os que considera descuidos de formulagao. Sugere que a heterogeneidade .:'ids crengas compreendidas no protestantismo em geral e no puritanismo em especial, foi desconhecida ou imperfeitamente reconheclda. Se a 9.c:usagao fasse certa, seria certamente merit6ria. Mas deve 5er observado que a hip6tese em questao e exposta num capitulo que comega. por assinalar "a diversidade de doutrinas teol6gicas entre os grupos protestantes da Inglaterra do seculo XVII" e prossegue examinando os valares, creni(~s e interesses que sac comuns as numerosas seitas derivadas do calvinismo (Merton: Science, Technology and Science in Seventeenth-Century England, Cap. IV, 415 e segs.). E como se pode obSf.lrvar por oste p6s-escrito bibliografico, a erudigao hist6rica determinou de modo muito completo as analogias, e nao s6 as diferengas, entre as seitas puritan as oriundas do calvinismo ascetico. Diz Carroll que as provas da conexao entre as normas do puritanismo e as das ciencias s6 proporcionam uma analogia empiric a entre ambas (0 que se descmve como uma "correlagao de asserg6es" comteana). Mas isto e ignorar 0 faio demonstrado de que os pr6prios cientistas ingleses Invo< caram repetidamc:nte os "alares puritanos e os traduziram expressamente na pratica. (cf. ibid., Capitulo V). Que os valares puritanos foram real mente expressos por cientistas, esta implicito de fato na seguinte sugestao de Carroll, segundo a qual 0 referido estudo nao proporciona base para distinguir entre as "raci
tuno repetir parte do que foi dito no estudo anterior. "Os estudos atuais rie, 'racionalizagao' e de "derivagao' costumaram obscurecer certas quest6es fundamentais. ~; verdade que as 'raz6es' aduzidas para justificar os atos arniude nao explicam satisfatoriamente aquela conduta. Tambem e hiP6: tese admissivel que as ideologias [sozinhas] raramente originam a agao e que, tanto a ideologia como a agao, sac antes produtos de sentimentos e valares comuns. sabre os quais reacionam por sua vez. Mas cstas ideia3 nao podem ser ignoradas, por duas raz6es. Proporcionam pistas para descobrir os valares fundamentais que motivam a conduta. Nao e proveitoso ignorar tais marcos. De maior importancia ainda e 0 papel das ideias na orientagao da agao para canais particulares. E 0 sistema pre dominante de ideias que determina a escolha entre modos diferentes de ar;ilo Que silo igualmente compativeis com os sentimentos subjacentes". (ibid., 450).
Quanto a distinguir entre a expressao de raz6es que sac meramenta mani~estag6es acomodaticias de b6ca para fora, e as que express am orientag6es basicas, a comprova~ao, neste, como em outros casos, deve ser procurada nn conduta que esteja de acardo com essas raz6es, ainda quando haja pouca 0'..1 nenhuma esperanga de recompensa mundana egoista. Caso claro e bem documentado e 0 de Robert Boyle que pode representar 0 de outros cientistas puritanos que, em graus diversos, expressaram seus sentimentos religiosos em suas vidas privadas e em suas atividades como Clentistas. Seria inverossimil que Boyle nao estivesse fazendo outra coisa senao "meramente racionalizar", quando disse que "os trabalhos para dissuadir 0<; homens de fazerem diligentes pesquisas sabre a natureza, tomam urn raminho (acredito que nao intencionalmente) que ten de a vencer a Deus ... " (Robert Boyle: Some Considerations Touching the Usefulness of Experimental Natural Philosophy, OXford, 1664, 2." edigao, 27) . Pois e este mesmo Boyle que escreveu ensaios religiosos aos vinte e um anos que, apesar da sua aversao ao estudo de idiomas. manifeston sua veneragac pelas escrituras, aprendendo hebraico, grego, caldeu e siriaco, para poder le-Ias em suas primeiras vers6es; que proporcionou uma balsa de estudos a Robert Sanderson, para the permitir continuar escrevendo livros sabre casuistica; que pagou do seu balso grande parte das despesas de impressao de biblias em hindu, em irlandes e em gales e, como se nan fasse bast ante, do Novo Testamento em turco e da versao malaia dos Evangelhos e dos Hedros; que chegou a ser Governador da Corpora~ao para a Difusao do Evangelho na Nova Inglaterra e, como diretor da Companhia das fndias Orientais dedicou sua pessoa e seus recursos a ditusao do cristianismo naquelas regi6es; que contribuiu com grandes somas para imprimir a History of the Reformation, de Burnet; que pliblicon sua profissao de fe em The Christian Virtuoso e que, finalmente, deixou em seu testamento urn legado para as "conferencias Boyle", com 0 prop6sito de defender 0 cristianismo contra os incredulos. (Esta
Sociologia -
e
a compacta infonnagao constante na biografia de Boyle POl' A. M. Clerke no Dictionary of National Biography.) Ainda que Boyle Se tivesSe destacado como crente entre os cientistas puritanos, nao foi senao 0 primeiro entre outros, tais como atestam Wilkins, Willughby e Ray entre muitos (,utros. Na medida em que urn registro hist6rico de palavras e atos no-10 permite dizer, parece que cientistas como Boyle simplesmente uao "racionaiizavam". A critica final de Carroll, se pensada de forma conscienciosa e nao frivola, exibe urn triste grau de imunidade ao lugar comum e aos fatos hist6ricos in:)portunos. Observa que ao demonstrar que os membros fundadores da Real Sociedade foram preponderantemente protestantes, 0 ensaio em nwisao nao examina a possibilidade de que 0 "coll~gio invisivel" de onde saiu a Sociedade fonnava parte de urn difundido movimento protestante de refonna e que, em consequencia, negou a afiliagao de cat6!icos not6rios. Que os protest antes formaram 0 primeiro pessoal da Real Sociedade, e de supor que nao era necessario dize-Io; naquela epoca de 1660, apesar das relagoes politicas posteriores de Carlos II com 0 catolicismo de Luis XIV, dificilmente se teria concedido a cat6licos a prerrogativa de participar na fundagao de uma sociedade sob os auspicios da Coroa. 0 fato que oferece urn interesse que nao e s6. de passagem oao e, naturalmente, que a Sociedade fosse predominantemente protestan'be, mas preponderantemente puritana. Quanto a observagao de que eram excluidos dos pastos academicos os cat6licQs confessos, e evidentemente necessario recorda)" que a Lei de Pro va de 1673, ainda que nao tenha sido depois aplicada ocasionalmente em casos particulares, ,excluia os Inconfonnistas e nao somente os cat6licos e judeus, das umversidades. Todavia, ainda Clue a lei cstiuesse em vigor no seculo XIX, 0 numero de inconformistas entre os homens de ciencia continuou sendo grande. Esta breve revisao das provas acumuladas recentemente indica que, ao contrario do que podiam tel' sido as intengoes dos grandes reformadores, as seitas protest antes asceticas desenvolveram uma clara predilegao pelo traballlo no campo da ciencia. Em vista das poderosas correntes contrarias de outras f6rQas hist6ricas, que poderiam tel' desviado esta primeira orientaQao para a ciencia, e notavel que a aBsociaQao entre 0 protestantismo ascetico e a ciencia haja persistido ate agora. Pode-sa presumir que se tenb.am tornado menos comuns as entregas profundas aos val6res do protestantismo ascetico, mas a orientaQao, despojada de seus Como qualquer outra hip6significados teol6gicos, sem duvida perdura. tese, principalmente na sociologia hist6rica, esta deve ser considerada pro' vis6ria, sujeita a revisao a medida que forem aparecendo mais provas. Mas, tal como elas sac agora, 0 fato est a razoavelmente bem assent ado e tern implica~6es definidas para 0 problema mais amplo das conexoes entre u ciencia e outras instituigoes sociais. A primeira dessas implicaQoes e que, pelo menos neste caso, as cone· xoes manifestac.as entre a ciencia a a religiao foram indiretas e nao deli-
Teoria e Estrutur.a
beradas' ' pois , com 0 f'01 dit 0 repetidamente os homens 0. eram entu'3il:l,stas da ciencia Lut t' a reforma nao indiferente' . .' ero mos rou-se, no melhor dos casos tarios sabr' no p1,or,hosh!. Calvino, .em suas Instituic;oes e em seus Cornert: ao intel ,e.o G~nese, mostr~u-se ambivalente e concedia alguma virtudevelad ect~ _prahco, mas m~lto menos que a devida ao conhecimento re-o. Nail obstante, a et1ca religiosa que nasceu de Calvino p urn estado de C" • ·t. romoveu,It. 0. " . ~p1n 0 e uma onentaQao axiol6gica que convldavam a eu 1VO a C1enC1anatural. (); Parece, em segundo 1 . l' . ugar que, uma vez estabelecida uma orientagao ~X10oglCa des-sa cl~sse: ela produz algum grau de autonomia funcional' .~ sorte tque a pred1legao pela ciencia pode persistir muito depois de teren;; 51 0 cor adas suas amarras teol6gicas originais. Em ter.::eiro lugar, este tipo de orienta , . gao: que amda agora pode ser Ciescoberto estatisticamente pd' , 0 e ser mconsClente e est· b . umbrais 0.'3 conhecimento de muitos dos envolvidos par e~e.por alXO 0.03 goes Ec: ~i~~l;.:~~u~:r e rfi~almente, a interagao muito visivel das institui~eculo XIX ~ re 19lao - como na chamada guerra entre ambas no ~a1'S'm t -tPOde obscurecer a relagao menos visivel, indireta e talvez ! 1 por:.m e entre as duas,
XXI
CIENCIA E ECONOMIA NA INGLATERRA DO SECULO XVII
o~ urn problema MUTUa social; J6Ga
ENTRE 0 desenvolvimento s6cio-econamico e 0 cientifico
mas falar de influencias s6cio-econamicas sabre a ciencia em termos gerais nao anallsados, nao, coloca muito bem 0 problema, a soci6Jogo da ciencia se interessa de maneira especifica pelos tipos de injluencia que intervem (facilitadora e obstrutiva), a medida em que esses tipos resultam eficazes em diferentes estruturas sociais e pelos process os mediante os quais operam, Mas estas quest6es nao podem ser respondidas, nem mesmo tentativamente, sem esclarecer os instrumentos conceptuais empregados, Com excessiva freqUencia, 0 soci610go que repudia a interpretac;ao mit6gena ou her6ica da hist6ria da ciencia cai num materialismo vulgar que procura encontrar paralelos simp list as entre o desenvolvimento social e cientifico. Estes esforc;os mal dirigidos redundam invarHwelmente nurn estudo muito tendencioso e insustentavel.
Comecemos por assinalar tres postulados comuns, mas nao salidamente fundamentados. a primeiro e mais enganoso e a identificac;ao da motivac;ao pessoal dos cientistas com as determinantes estruturais da sua pesquisa. a segundo e a crenc;a de que ha fatares s6cio-econamicos que servem para explicar exaustivamente todo 0 complexo da atividade cientifica; e 0 te;:ceiro e a imputac;ao de "necessidades sociais" quando nao existem tais necessidades em nenhum sentido importante. A recente critica de ClarkI sabre 0 ensaio de Hessen pode ser tomada • como exemplo da confusao que nasce da vaga conceitualizac;ao concernen1.
G. N. Clark, Science and Social Welfare in the Age of Newton (Oxford, bem B. Hessen, "The social and economic roots of Newton's Principia", Cross Roads, (Londres, 1931).
1937). Ver' tamScience at the
~ociologia -
!te as relaQces entre a motivaQao e as determinantes estruturais da condu:ta dos cientistas, Clark tende a restringir 0 papel dos fatores s6cio-econo,micas na ciencia ao dos m6veis utilitarios dos cientistas e, correlativamente, a identificar "0 desinteressado desejo de saber, 0 impulso da mente a If'xercitar-se de maneira met6dica sem nenhum prop6sito pratico", com uma atividade cientifica nao condicionada por elementos s6cio-economicos.2 Assim, como exemplo do desinteresse (neste sentido da palavra) de Newton, cita uma anedota, freqtientemente referida, segundo a qual urn amigo, a quem "havI:3. enviado urn exemplar dos Elementos de Euclides, the perguntara 'de que utilidade au beneficio na vida' podia ser 0 estudo daquele livro. Ao que se diz, foi essa a unica ocasiao em que se riu Newton".3 Aceita a ver9.cidade des5a hist6ria, sua pertinencia para 0 ass unto e desprezivel, sa1\'o se supormos que as pessoas sabem invariavelmente quais 10rQas sociais condicionam sua conduta e que seu comportamento s6 pode ser compree{)(iido em relaQao com seus m6veis conscientes. Os m6veis podem ir des de a desejo de engrandecimento pessoal ate "urn desejo totalmente desinteressado de saber", sem necessariamente impugnar 0 fata demons travel que a tematica da ciencia na Inglaterra, do seculo XVII, estava em grande parte determinada pela estrutura social da epoca. Os motivos de Newton nao alteram 0 fato de que as observa~6es astronomicas, de que tanto usa fez,4 eram produto do trabalho de Flamsteed no Observat6rio de Greenwich, que foi construido por ordem de Carlos II, para beneficia da Marinha Real.5 Tampouco negam a notavel influencia sobre a obra de Newton, de cientistas orient ados para as investigaQoes praticas, como Halley, Hooke, Wren, Huyghens e Boyle. Ainda a respeito da questw das motivaQoes, e discutivel a tese de Clark, em vista do conhecimento explicito de muitos cientistas da Inglaterra do seculo XVII acerca das implicaQoes praticas de suas pesquisas na ciencia pura. Nao e generalizaQao ociosa e incauta dizer que todo cientista ingles daquele tempo, sUficientemente ilustre para poder ser mencionado nas 2. Ibid" 86 e to do 0 cap. 3. 3. Ibid., 91. A versao original, ligeiramentc diferente, esta na Portsmouth Collection. 4. Ver a corrcspondencia entre Newton e Flamsteed, citnda extcnsamente por L. T, More em Isaac Newton (Nova. Iorque, 1934), cap. II. .5. Havia no melhoramento da navega.9ao um Inten:'Sse que, nos dlzeres de Flamsteed, pr!melro astronomo real, levou it constru9ao do Observat6rio de Greenwich. (Dlgamos, de passagem, que 0 ministro Colbert propOs a cria9ao do Observat6rio de Paris, para 0 mesmo prop6sitol. Um frances, 0 senhor de St. Pierre, visitou a Inglaterra e prop6s Flamsteed Indicou, num metodos aperfei90ados para determinar a longitude no mar. Telat6r!0 oficial, que 0 projeto nao era praticavel, uma vez que "as ta.belas lunares dire· riam conforme os ceus", Entregue 0 relat6rio ao rei Carlos, "ele estranhou a afirma·
Teoria e Estrutura
hist6rias gerais d
.• . a clenCla, relacionava em forma ex r ' mMomento,Suas investigaQoes cientifica~ com probler:a~Cp1~~t~cuom. ou di~outro as em todo caso ' . . . S 1me atos 6 (atribuidos) (; gra~e~:~:lI:~::~t:S:O::~~~edO ponto de vista dos ~6vei~ modos de influencia s6cio-econo'ml'ca so'b ~_o~scurecer a questao dos , reaCl~~7 E .1m~o~tante distinguir as atitudes pessoais d~s homens d .• , como md1vlduos do 1 . e CIenCla Evictentemente ~lgU~aPC~ StOC~aldesempenhado pelas suas investigaQoes a sua materia: para cUlti~~t= ~o estavam bastante entusiasmados co~ 6 veze.s , pouca preocupaQao pelas s:a:u~o::e:~~c~:sn~~a~~:onsEtran~o, as t oeSSIamos SUpor que t'd . . _ . nao ne· mente enla.;adas com t~r~;a:Stem~estIgaQoes par_ticulares estejam direta. ::ecessidada5 wciais e dupla' dir:t~lC~S~ A tir;la~ao entre a ciencia e as se realizam premeditada e delib ~ sen a e. que algumas pesquisas ta na medid era amente para fIllS utilit::irios e indire, a em que certos problemas t' , impoem a aten"ao dos . t' t . e ma erIaIS para sua soluQao se y Clen IS as, amda que est . cer as conseqtiencias praticas das q . es nao necessltem conhe. ualS nascem A este respeito a gente sent . . ' (le Sombar-t, segundo a qual a teec-sneOIlm~elIdda a. discutir a generalizaQao . ogla 0 seculo XVII e t cumpletamente divorciada8 da c~encia da eo> . ~ ava quase "entor haviam seguido caminho' p ca, e qUI. a Clentlsta e a ins separados, desde a t d aLe a secuIa XVIII. Nao ha d' 'd ' empo e Leonardo igualmente
certa
em t6das as ~:~r~t~~:s aso~::~~ar:~tr:
o:fi:i:Q:aao d:
1 Sombart ~e,autros) de que a tecllologia do seculo XVII era ess' a do emplIlCO, parece exagerad~, tendo-se em conta os m 't enc~a ~ente que r . Ul as clentIstas ap lcaram seus conhecimentos te6ricos a fins praticos W H Newton, Boyle, :auyghens, Halley e Flamsteed _ para '. ren, . ooke, •I d '. menclOnar somente a guns os malS Jlustres - dedicaram-se ao cultivo . , ' t· t da teona e da pratlCa. E 0 mais importante e que a fua constante laboriosidade pr~d~~i~i: ~: acredita~am uniformemente que completamente separada da questd tos pratJ.cos. Era esta convicQao, . ao a sua vahdez que em . rt ' ~~~~a e:~Ol~a~de prOblemas: A semente de verdade da tese Pd: ~o~~ n. a .de que aqueles horn ens de ciencia se interessavam us:~ ~:r~:zer ~rOgre~l~t a d:senvolvimento da maquinaria industrial par~ J que e., e.! nao estavam bastante desenvolvidos para atrair
;':~~:e
6. ~~~~::l~tacao em a~oio .desta afirmacao pode ser encontrada em minha obra Science, P gy and SOCIety In 17th.Century England, (Bruges 1938) ara urn estudo sIstematico de t b ,. the advancement of sciences asS e pro lemllo, ver Joseph Needham, "Limiting factors In b 0 Biology and Medicine 1935 8 1 served III the hIstory of embriology", Yale Jonrnal of
7. 8
'
,,-
18.
. Ver Werner Sombart Der M d K" e sumamente apropri~da e 0 er~e aPltaltSmllS..• (Munique, 1921), I, 466-7. A metll.fora Real Sociedade segund' m VISa da. observacao de Oldenburg, antigo secretario da na.tureza e da ~rte [d 0 d a qual os fH6sofos naturais procuravam "0 matrimOnio dllo J vida humana" Phi;o.o 0;:' e PTudesse :esultar uma feliz prole para uso e beneficio da , plea l ransachon., 1665, I, 109.
seuS interesses -, mas para inovac;oes que pudessem melhorar 0 comercio, a mineralogia e a tecriica militar.9 . Dentro deste contexto, a critica de Clark a Hessen reduz-se a repelir a tese de que as fatores economicos sao as unicos deter~in~~s do desenvolvimento da ciencia. Apresso-me a concordar com esse JUlZO, ao lado de Hessen. A tese primitiva de que nao ha outras determinac;oes que as economicas nao e mais intrinseca a analise de Hessen, como ele mesmo . . indica (op. cit., 177) do que a obra de Marx e Engels.. Resta a terceiro problema - averiguac;ao das necess1dades SOCIalS_ que se pod.) tratar melhor (lm term os empiricos especificos. A ~o<;ao amp1amente aceita, de que a necessidade acelera os inventos apropnados e encaminha as interesses cientificos, exige meticulosa revisao. Casos de urgencia focalizaram, as vezes, a aten<;ao sobre certos terrenos,. mas e igualmente certo que uma multidao de necessidades human as delXou de ser satisfeita. atraves dos tempos. Na esfera tecnica, as ne.cessidades, longe de s~rem excepcionais, sac tao gerais que explicam mUlt~ po~co. Cada invento de facto satiEfaz uma necessidade au procura sat1sfaze-l~. Tambem e neces:,;ario levar em conta que certas necessidades podem nao existir para a sociedade sob exame, precl..,amente par ca'usa da sna (,l~ltU' Somente quando a objetivo e parte mtera e da sua estrutura social.lO grante da r:altura em questao, somente quando e sentida como tal por ~lguns individuos da sociedade, pode-se di2:er propriamente q~e uma ne· ~d~cessidade dirige 0 interesse cientifico e tecnico para certos cammhos. mais as necessidades economic as podem ser satisfeitas nao s6 tecnolog1cam~nte como tambem mediante mudan<;as na organiza<;ao social. Mas dada a ~otina de satisfa:i:er certos tipos de necessidades com inventos tecno16gicos, norma que come<;ou a se estabelecer no seculo XVII;. da~? 0 requisito previo da acumula<;ao de conhecimentos tecnicas e c1entlf1cos que proporcionam 0 fundo basico para as inova<;~es; .dada (neste caso? 1 uma economia capitalista em expansiio, pode-se entao, d1zer que a nec:ss dade e a mae (ou ama-de-leite) das inven<;oes, ou av6 do progresso C1entifica.
relativamente baixo do transporte pela agua,11 levaram ao rapido d~sen~olv!m~nto. da marinha mercante. Mais de quarenta por cento da proau<;ao mglef>a de carvao era transportada por agua. Da mesma forma o comercio interno intensificou a necessidade de melhores servi<;os d~ transporte, terrestres e fluviais. No decorrer de todo 0 seculo, foram freqilentes as propostas para a constru<;ao de caminhos de baldea<;ao (entre dois rios) e de canais. o comercio exterior ia assumindo propor<;oes mundiais. As melhores embora precarias, estatisticas disponiveis, atestam esses progressos. A~ importa<;oes e as exporta<;oes aumentaram de quase 300% entre 1613-1700.12 Wheeler, escrevendo em principios do seculo, observou que durante sesnao haviam navegado sequer pelo Tamisa senta anos aproximadamente, quatro barcos mais de 120 toneladas de capacidade de carga.13 Na morte da rainha Elizabeth s6 havia na Inglaterra quatro barcos de 400 toneladas cada um)4 0 numero de barcos, especialmente as de grande tonelagem, durante 0 Commonwealth, em parte como resposta aumentou rapidamente ao impulso proporcionado pela Guerra com a Holanda. No prazo de dez anos 0649-59) construfram-se noventa e oito barcos, com urn deslocamento total liquido de' mais de 40.000 toneladas,15 Assim Anderson observa que a tonelagem dos navios mercantes ingleses em 1688 era 0 dobro daq1Jela de 1666,16e Sprat sustenta que tinha mais que duplicado nas duas decadas anteriores.l7 0 relat6rio oficial sobre a Armada Real apresentado po:•.•Samuel Pepys em 1695, comenta a notavel expansao naval qua se dera duralite 0 seculo. Em 1607 a Armada Real contava com quarenta navios de 50 toneladas ou mais; 3. capacidade total era de umas 23.600 toneladas e as tripula<;oes alcan<;aram 7.800 homens; em 1695, as cifras correspondentes eram de mais de 200 navios, com uma tonelagem superior a 112.400 toneladas, com tripula<;ao de mais de 45.000 homens. Elemento importante na acelera<;ao do ritmo de constru<;ao de barcos e no aumento da tonelagem dos mesmos for am, como indicou Sombart, as necessidades militares. Ainda que 0 crescimento da marinha mercante tenha sido ccnsideravel, nao igualou 0 da Armada Real,18 como f'videnciam A diferen~a no custo dos transportes por terra e agua e assinalada por Petty de modo surpreendente, embora talvez exagerado: "0 transporte pela agua, de mer· cadonas, ao redor do globo da terra nii.o e senii.oaproximadamente 0 dabro do pre~o do transporte por terra das mesmas mercadorias, de Chester a Londres". Phil. Trans., ~84, 14, 666. 12. Ver as cifras reais em E. Lipson, The Economic History of England, (Londres, 1930, 11, 189. 13. John Wheeler, Treatise of Commerce,(Middelburgh,1600 23. 14. "Sir" William Monson, Naval Tracts (Londres, 1703),294.' 15. As cifras de tonelagem nao compreendem17 navios sabre os quais nii.ose disp6e de da· dos. Extraldo de M. Oppenheim, A History of the Administration of the Royal Navy anp of Merchant Shipping, (Londres, 1896),330·37. 16. Adam Anderson, Origin of Commerce,(Dublim, 1790),III, 111. 17. Thomas Sprat, The History of the Royal Society of London, (Londres, 1667),404. 18. Werner Sombart, Krieg und Kapitalismus, (Munique, 1913),179.e segs. 11.
A proliferac;ao das empresas capitalistas na Inglaterra do seculo XVII intensificou 0 interesse pelos meios de transporte e de comunica<;ao mais adequados. Santa Helena, Jamaica, America do Norte eram apenas os come<;os da grande expansao colonial da Inglaterra. Tudo isto, e 0 custo 9. Franz Borkenau percebeu esta distin~ao necessaria: "A ciencia natural do seculo XVll nii.ose achava a servi~oda produ~ii.oindustrial, por mais que 0 desejasse desde os tem· pos de Bacon", Der Uebergang vom feudalen ZUIll biirgerliehenWeltbild (Paris, 1934),3. (0 grifo e do autor). 10. Para um llici.doestudo das necessida.des,ver a introdu~ii.ode Lancelot.Hogben ao seu trabalho intitulado Political Arithmetic (Nova Iorque. 1938).
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comparadas
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progressos
da
por
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arquitetura
As exigencias
Sombart.
dos
de velocidade
barcos,
Anderson
militares assim
~o
naval.
A constru~ao de barcos fol Incrementada pelos interreses militares de tres maneiras; eram precisos mais barcos e de tamanho maior e, sobretudo, era.m necessarios dentro de urn prazo muito curto, As exigencia~ da marinha mercante poderiam ter sido satisfeitas pelos metodos de artesanato de constru~ao naval durante ainda. mais urn seculo; mas estes metodos tornaram-se obsoletos pelas crescentes exigencias da guerra mantima; primeiro, na constru~ao de navios de guerra e, depois, na constru~lio de barcos de t6das as ca.tegorias, quando a marinha mercante entrou na corrente do desenvolvimento_ .. 19 Embora militares
no
evidente
das
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militar,
acompanhados
a numerosos
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de novo
a necessidade
e rapidos
para
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Os
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fizeram
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cada
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'
s0br~rimeirame_nte, desejamos encareclda.mente que t6das as observa~5es que ja foram 'e,las . A-vana~ao da agulha magnetica em qualquer parte do mundo, possam ser notificactas .1Unt2oIllentecom t6d~S as circunstanclas notadas quando foram feitas; observa~5es celeste~ para conhecer 0 veraadelro meridiano, ou quaisquer outros meios pelos quais possa ser Cil contrado. : " Mas ' de u ma consl'cter",vel ' - dessas observa~5es, pode acontecer que a. cole~a.o astro~Olma dlsP,onha. desse admiravel efeito do corpo da terra tocado por uma pedra ima, que oe (como e provavel. .. ) pode ser uti! para a dire~ao dos naveg~ntes ou outros oro enc~ntrar a longitude dos lugares, as observa~5es recolhidas, juntamente com a. boa ~'~e. ga~ao, que ela [a Real SOCiecladel se compromete a compilar tao logo tenha mime f' clente de ditas observa.<;5es ... 26 ro su 1-
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Gresham
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escrita
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-
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Adam
.Reunindo-se cafes
e casas
~~o~lemas 19. Ibid., 191. 20. A. O. Johnson, "Nossas investiga.<;5es [haseadas nos exames dos livros portuarios] clemonstram claramentc que 0 comerclo e a naveglWiI.oda Ing1aterra fazlam grandes progressos em fins do seculo XVI e durante a primelra metade do seculo XVII. Pouco oe exagera em dlzer que a navega~ao inglesa quadrupl1cou senao qulntupl1cou. de 1580 a 1640". "L'acte de navigation anglals du 9 octobre 1651", Revue d'histoire moderne, 1~34, 9, 13. 21. Hessen, op. cit., 157-58. 22. Num trabalho lido ante a Real Sociedade, diz 0 Dr. Bainbridge 0 seguinte: "Nullum est In tot a fere mathesi problema, quod mathematicorum ingenia magis exercet, nullum, quod astronomiae magis conducit, quam problema. Inveniendl meridianorum sive longitudlnum differentias". Das at as da Real' Sociedade transcritas na His10ry of the Royal Society of London, de Thomas Birch (Londres, 1757), IV, 311. Entre OS fins da Soclp., dade, enuncia.dos por Oldenburg no prefacio do volume IX (1674) das Philosophical Transactions, constam os segu.intes: "A difusao das matematicas pratlcas em t6das as nossas cidades comercia.ls e portos; tornar navegaveis 05 grandeS rios; ajudar a pescAe a navega~lio; Inventar meios para tomar ferteis as terras esterels e cultivar as ter· ras ba.ldias; aumen tar 0 comercio do linho; produzlr latlio, sat e salitre nossos". 23. Publicada. em seu Mirifici logarithmorum canonls descriptio (Edimburgo, 1614). E de se notar que Briggs, que foi 0 primeiro que fez apreclar a obra de Napier e que, em 1616, sugeriu a base 10 para 0 sistema de logaritmos, tambem escreveu varlas obra.s 86·
oficialmente particulares.
tecmcos
a~ano
.de
Hooke,
sobre
ele
eXPl'ciam
de
como 0 grupo
interesse
recentemente a Sociedade,
Real de
Soc.iedade, cientistas
imediato pUblicado, 0 rei
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e os nobres
ou discutia
0 as
congregando-se
em
infinds.velmente
progresso
do
pais.
diversas
press6es
interessados
em
0 que
que
Og
bre .n.avega~ao. E tam bern, que Gellibrand fei provavelmente 0 primeiro ingles que corrrglU a conclusil.o de Gilbert segundo a qual a. declina~ao magnetica e "constanta num dado. lugar", ao descobrir a varia~~o secular da declina~ao. Ver seu Discourse ~ath~matrcal on the Variation of Magneticall Needle (Londres, 1635). :M. p. Clt., II: 346. Anderson assinala tambent a "nobre dota~ao" estabelecida por "Sir" . Henry Savlle [em 1630] "de dais profess6res de matematica. na Universidade de Oxford' Dois ramos da matematica bel~ urn pa.ra a geometria e outro para. a astronomia... conhecldos como altamente benefices para a navega,gao e 0 comercio". Ibid. I 177. Sprat, op. cU., 150. ' , ~o~e:st ~O?ke, Paper~, British Museum, Sloan MSS, 1039, f. 112. Ver tambem Hookp., . crrptlOn of Heho9Copes, and Some Other Instruments (Londres, 1676), p6s-escrlto. 27. In: praise of the choice company of Philosophers and Witts who meet on Wednesdays weekly, at Gresh am C0IIege, por W[illiam?l G[lanville). ' Cf. "Ballad of Gresham ' Colledge", por Dorothy Stimson, em Isis, 1932, 18, 103-117, onde se augere que 0 autor fol provavelmente Joseph Glanville.
estudos fossem dedicados as "coisas uteis".28 Devia ser freqtientador do Garaways ou dio Jonathans, Os cafes de Change Alley, onde, com Christopher Wren e (Jutros amigos, "dissertava acerca dos movimentos celestes", em volta de urn bule de cha, enquanto nas mesas vizinhas, especulac;6es mais mundanas ocupavam a atenc;ao dos corretores de balsa e dos aposta· dores de corridas de cavalo. Os problemas tocados em Garaways, amiude se transformavam em objeto de pesquisa especial pela Sociedade. Em suma, o panorama. que predominava nao era 0 de urn, grupo de "homens econo· micos" que :Jrocurassem, cada urn de per si, melhorar a sua situac;ao economic a., senao 0 de uma reuniao de estudiosos curiosos que sondavam, em trabalho cooperativo, os arcanos da natureza. As exigencias de neces· sidades origiradas pela vida economica colocavam problemas novos e acen· tuavam os antigos, abrindo caminhos novos de pesquisa, sujeitos a persis· tente pressao para a soluc;ao dos problemas. Isto resultava muito eficaz, uma vez que 0 sentido do exito dos cientistas nad, sEl ajustava exclusivamente a criterios cientfficos. Os cientistas nao eram imunes ao interesse pelo aplauso social e as descobertas que prometiam aplicac;6es proveitosas 0 fJram apregoadas muito alem do circulo restrito dos virtuosi (peritos). sucesso cierAtffico implicava 0 raro privi!egio (as vezes nao desejado), de tratar com IJessoas de alta categoria social; era, de certo modo, urn caminho para a mobilioade social. E bem conhecido 0 caso de Graunt. .Da ~esma forma, Hooke, filho de urn modesto vig:hio de Freshwater, fOl amIgo de nobres e node vangloriar·se de freqtientes conversac;6es com 0 rei. As l'eac;6es ig~Orantes dos leigos as diferentes ordens de investigac;ao cientffica podem ser exemplificadas pelas de Carlos II ao "peso do aI''', trabalho funda· mental sabre a pressao atmosferica que, a limitada inteligencia do rei nao ~arecia mals que urn divertimento infanti! e urn passatempo ocioso, ao passo que "mui graciosamente se comprazia" com as pesquisas diretamente utilitarias para encontrar a longitude no mar. Atitudes comoessas ser~em para oriental' uma consideravel parte do trabalho cientffico nos palses nos quais podem produzir frutos imediatamente.29
28.
H. W. Robinson e W. Adams, redatores, The Diary of Robert Hooke, (Londres, 1~35)' Observem-se por exemplo as seguintes anota<;6es: "Em casa de "Sir" Fr. Chaplams: Lodowick al{ sobre a. IOng;tucte. Confirmou urn premio de 3.000libras e 600libras mals dos Estados". 160. "Em Garaways com "Sir" Ch: Wren. encontramos Clark e SeIgnlOr: discussao sobre relogios de bolso e para a longitude... Resolvido terminar (a medl' <;ao?) do grau. Novo barco de clepsidra, nova teoria do som". 221. "Em casa de "Sir" J. Willia.mson. Chamou-me muito atenciosamente 11sua residencia. Falou-me do experimento ... , aconselhou-me a trabalhar muito este ano em coisas uteis, em fazer 0 barometro do rei. .. ", 337. _. d'" eus 29. Ver, a este respeito, as observa<;6es de Adam Anderson sobre a Reai Socleda e. . .. s_ progressos em astronomia e geografia bast am por si s6s para assegurar sua rep.uta<;ao e para. demonstrar sua grande utilid~de tambem para 0 mundo mercanti!, sem mSlsttr em suas muitas e gran des melhorias em outras artes e ciencias, algumas das quaIs tambem se relacionam com 0 comercio, a. navegaQao, as manufaturas, as mInas, a agricultura etc." Origin of Commerce, II, 609.
OM TEMA: 0 PROBLEMA DA LONGITUDE Este abs"1vente problema de encontrar a longitUde, e talvez 0 melhor exemplo de como as considerac;6es praticas enfocavam I) interesse cientffico sabre certo:3 campos. Nao pode haver duvida de que os astronomos da epoca estavam profundamente impressionados com' a importancia de descobrir urn modo satisfat6rio de mediI' a longitUde, particularmente em alto mar. Uma ou mais vezes, esse interesse predominante foi manifestado POl' R~oke, Wre:l, Hooke, Huyghens, Henry Bond, Hevelius, William Molineux, NIcolaus Mercator, Leibniz, Newton; Flamsteed, Halley, La Hire, G. D. Cassini, BoroIli etc. : praticamente todos os astronomos e virtuosi (peritos) principais da epoca atestam repetidamente este fato. Os diversos metodos propostos para achar a longitUde levaram as seguintes investigac;6es: 1. Ciilculo de distancias lunares desde 0 sol ou desde uma estrela fixa. Muito usado na primeirru metade do seculo XVI e. de novo, nos fins do seculo XVII. 2. Observa<;6es dos eclipses dos satelites de Jupiter. Propostas pela primeira vez por Galileu em 1610:adotadas por Rooke. Halley. G. D. Cassini, Flamsteed e outros. 3. Observa<;6es da passa,gem da lua pelo meridiano. Habituals. geralmente. no seculo XVII. 4. Uso de rel6gios de pendulo e de outros cronometros no mar, apoiado por Huyghens, Hooke. Halley. Messy, SUlly e outros.
Newton esboc;ou com clareza esses procedimentos, assim como os pro. blema~ cientfficos que implicavam, na ocasiao em que Ditton requereu 0 premio pela descoberta de urn metodo exato de determinal' a longitude no mar.30 0 profundo interesse dos cientistas ingleses POl' essa materia e indicado POl' urn artigo no primeiro volume das Philosophical Transactions, quedescreve 0 usa de rel6gios de pendulo no mar.31 Como disse Sprat, a Sociedade tinha tornado 0 problema "sob seus especiais cuidados". Hooke t.entou aperfeic;oar 0 rel6gio de pendulo e, como diz ele, "0 exito dos ensaios me fez per.sar mais em melhora-lo para averiguar a longitUde e ... me levou rapidamente a usaI' molas em vez ds. gravidade, para fazer vibrar urn ('orpo em qualquer posigao ... "32 ProdUZiu-se entao acirrada controversia 30.
William Whiston, Longitude Discovered (Londres, 1738).prefaclo hist6rico. 31. Major Holmes, "A Narrative concerning the Success of Pendulum Watches at Sea for the Longitude, Phil. Trans., 1665,I, 52-58.
32.
Richard Waller, The Posthumous Works of Robert Hooke (Londres, 1705),Introdu<;ao. Nao ha duvida que Galileu descrevera urn rel6gio de pendulo em 1641;0 invento de concebido independentemente. Huyghens dedicou-se mals Huyghens em 1656,fora tarde a Inventar 0 rel6gio com mecanisme de mola. Ver sua descri,ao do invento em Phil Trans., 1675.11.272; reimpresso no Journal des S<;avans, 25 de fevereiro de 1675. Isto provocou a conhecida disputa entre Hooke e Oldenburg, este ultimo defendendo a prioridade de Huyghens; na constru,ao efetiva do a,parelho. Quanto 11questao da motiva<;ao pecuniaria. e interessante saber que Hooke, na reuniao da Sociedadp. posterior aquela em que se leu a comunica<;ao de Huyghens referente 300 seu "novo relogia de bblso", mencionou que tinha urn invento para encontrar a longitude pa,ra urn minuto de tempo, ou quinze minutos celestes, que daria a conhecer e tornarb utilizavel pratica.mente, se recebesse por ~le alguma compensa<;ao". Ao que "Sir" James lf
Sociologia -
acerca de Hooke e Huyghens, referente a prioridade na construgao de urn re16gio com molas de equilibrio em espiral. De qualquer maneira que se resolvesse a questao da prioridade, 0 simples fa to de que dois homens de ciencia tao eminentes enfocassem sua atengao sabre esta area de pesquisa e importante em si mesmo. Esses inventos simultaneos resultavam de duas fargas: a intrinsecamente cientffica, que proporcionava os materiais te6ricos empregados em resolver 0 problema em questao, e 0 interesse nao cienti!ico, que servia para dirigir a atengao ao problema geral. A limitada margem de possibilidades praticaveis levava a inventos, em duplicata, independences. Este problema continuou animando as pesquisas cientfficas tambem em outras direc;Cles. Assim,Borelli, da Real Academia de Ciellcia de Paris (organizada por sugestao do perspicaz ministro Colbert), publicou uma oferta no Journal des Sr,;avans e nas Philosophical Transactions, para expor seu metoda de fabricar grandes lentes para telesc6pios, ou tambem para enviar lentes as pessoas que nao estivessem em situagao de faze-las, a fim Oe que pudessem "observar os eclipses dos satelites de Jupiter, que se proel.uzem quase todos os dias e ofere cern urn modo tao perfeito para estabelecer as longitudes em toda a terra". Alem disso, "uma vez exatamente conhecidos por este meio as longitudes dos lugares no mar, de cabos, promont6rios e diversas ilhas, seria, sem duvida, de consideravel ajuda e utilidade para a navegagao".33 Sao precisamente estes epis6dios, com suas reconhecidas implicaGoe~ praticas, que ilustram claramente 0 papel dos elementos utilitarios no incremento dos progressos cientificos. Pode-se dizer, na base de amplas provas docmi1entais, que os descobrimentos astronamicos de Giovanni Domenico Cassini foram em grande parte resultado de interesses utilitarios. Em quase todos seus trablllihos publicados nas Transactions, Cassini destaca valor
°
Shaen prometeu que "Ihe consegUlrJa mll libras esterlinas de uma vez, ou cento e cin· qiienta libras por ano. Tendo 0 Sr. Hooke declarado que preferla a ultima alternativa, o Conselho insistiu para que ele fizesse urn relat6rio detalhado e pusesse em execu Qiio 0 seu Invento", Cf. Birch, 0)1. cit., Ill, 191. Pa,ra mais detalhes, ver Waller, op. cit., IntroduGiio. 33 Phil. Trans., 1676, 11, 691-692, 34. Ver Leonard Olschki, GaIileo IInd seine Zeit (Halle, 1927), 274 e 438 e 0 capltulo slibre "Die Briefe iiber geographische Ortbestimmung". 1':ste metodo niio permltia pree!siio sUficiente para ser de muit", utilidade pratica. No trabalho em que estuda sua descoberta de uma mancha incomum em Jupiter e fixando 0 tempo de rotaQao do planets, Cassinl observa que "urn vlajante, .. pode fazer usa del a (a rotsGiio) para encontrar as longitudes dos lugares mals remotos da terra", Phil Trans., 1672, 7, 4042. Em seu estu· do slibre a desigualdade do tempo de rotaQao das manchas sem diferentes latitude", assinala a Importl\ncia deste fato para uma. determlnaQiio mals precisa da longitude, ibid., 1676, 6, 683. A comunicaQao da sua descoberta do terceiro e quarto sateIltes de Saturno comeQa ","sim: "A grande variedade de descobertas maravilhosas que se fizcram neste seculo no ceu, desde 0 invento do telesc6pio e a grande utilidade que, posslvelmente, se pOde tirar desses inventos, para aperfeiQoar 0 conhecimento da natureza c
Teoria e Estrutura
por meio do metodo sugerido pela . . vez nao seja demais lembrar que, desse i~;;:~~:a r por GaIiIeu.34 Talvez da rotagao de Jupiter do ,du'plo IdS t' esultou seu clescobrimento , ane e a umo e do tAl' quarto, qUinto sexto e oitavo d 1 s sa e Ites terceiro, , 0 mesmo p aneta 35 pois -I as observagoes astron6micas dessa e' '".' como e e sugeria, das suas implicagoes praticas. Lawre~cecl~ erarn eStIm~lantes", por causa do grupo de onde Sur . . e. oo~e, que fO! urn dos membros das observagoes.36 Fl~~s~e~~a: Socledade, .mdlC~u amiude 0 "valor nautico" Os satelites de Jupite embrou mUltas vezes a utiIidade de observar mente ainda sac r, . porque seus eclipses "tern side estimados, e certaque qualquer do; ~O::;~i:O:r:t~ ~;~~:~,r:~ento da longitude, mUito melhor Newton interessou-se tambe . geraI. No inlGio da sua carrei am profundamente pelo mesmo problema selhando seu amiCYoFranci A;' escreveu .uma carta agora famosa, acon:=. S s on, que proJetava uma viagem pela Europa
as ",rtes necessarias ao comerclo e r. socledade exammar mais rigorosamente se niio havla al 0 humana. estimulou os a~trOnomos a percebldo". Traduzido do fo I d • g consideravel que ate entao niio fOra PIJiI. Trans., 1696 16 79 N'a urna cs ~~avans, 22 de a,bril de 1685: reimpresso em , ,. apresentaQao das t b I primeiros satelites de Jupit t a e as de Cassini para os eclipses dos . er, no a·se que sem duvid I echpses facilitam 0 usa de telesc6 . ta a a guma as observaQoes dos satelites pudessem ser observados pIos por teis para encontrar a longitude. "E se ess~~ ridiano em que se achasse com a no dm",r, urn barco no mar poderla encontrar 0 meh C .. , aJu a das tabelas que 0 nesse volume I:Reeueuil d'ob t'. sen or assml nos fornec~lI IOns faltes en plus!eu V' I'A s t·ronomle & la Geographie)serva de b' d rs olages Ilour pertectionner sco rm 0 com muita exatiddl d o que podemos esperar fazer ' com I ao os tos eclipses, alem , a ua, embora ela pare~~a nos d ar 0 unico mp.io M pra t'lC"vel para 0 marinheiro de encontrar a longitUde se;a as p~r~ que os navegantes POss",m fazer .uso da arte , necc<;s"rJo qne a costa de t d narmente levantada, em mapas e pa ' 0 0 0 Oceano seja prelimi. . E pode estar descoberta na data ' e ra ISSO,0 metodo dos s a t'l't c 1 es e mUlto apropriado. . m que os mapas esteja t . o mventQ de telesc6pios mais t '. m ermmados; ou tambem que cur os, maneJavels a bordo d para fazer ver os eclipses dos sateIltes no ma,r" . e urn navio, possa bastar tIma parte desta citaQiio esclarece def' 'd .,." ' PhIl. Trans., 1694, 17, 237-38. A I'll. d d . 1m a e lucldamente 0 d a es pratlc"," "requeriam" a invest· _ . mo 0 em que as necessifato de que Halley foi comissionado ~:~Qa~l c~entltica ,: tecnica. Convem assinaJar 0 tanta freqiiencia como possa a. mlrantado para continuar 0 meridiano com ser convemente de urn lad c h a, a fim de levantar exatamente ' 0 no outro do Canal da Manmapa assim como para observar "0 c °d das duas costas, uma em frente da outra" 1 . urso as mares no mes C" , I de Junho de 1701 a Burchett C mo ana.I., , Ver sua carta d~ digida por E. E. MacPlke (OXf~r~a 19;;:esir~ndenc.e and Papers of Edmond Halley, re35. Os sateIites terceiro (Tetls ,. '. -18. (Rea), em 1672; 0 sex to (T)t- e) quarto (DIOne) foram descobertos em 1684; 0 quilltn I a c 0 Oltavo (Japeto) em 1671. 36. Ver "Mr. Rook's Discourse concern in th . of Jupiter", reimpresso em S t g : ObservatIOns of the Eclipses of the Satellites pra, op. C1t. 183-190 Rook f I f ' . e 0 professor de astronomia em Gresham de 1652 a 1657 sua morte em 1662. e pro essor de geometria na. mesma unlversidade de 1657 ate 37. Phil. Trans 1683 12 3 t . -. ., ,,22. Flamsteed elaborou em outros trabalhos slibre 0 es '" opmlao malS pormenorizadamente 199; XIII (683) 4057 D mesmo assunto. Ver Phil. Trans., 1685, 15, 1215' XVI (686) ., '. e passagem pod I " gio portatil "destinado prine! It' emos embrar que Leibniz inventou urn rel6]'/ Ill. ' Trans., 675, 10, 285,288.pa men e a encontrar a 10ngl't u d e." Ver seu trabalho em
Sociologia _
continental, nn qual sugeria que "se informasse se os re16gios de pendulO eram de alg'.lma utilidade para encontrar a longitude". Numa correspon· dencia que noS parece ter levado Newton a completar os Principia, Halley e Hooke insistiam para que prosseguisse em certos aspectos das suas 38
jnvestiga<;60~, devido a sua utilidade para a navega<;ao. Em 1694,Newton mandou sua bem conhecida carta a Nathanael Hawes, esbo<;ando um novo curso de ensino matem::1tico para os aprendizes de navegantes dll escola "Christ's Hospital", na qual criticava 0 curriculo em uso, dizendo, em parte, que "ali se omitiam tambem a verifica<;ao da diferen<;a de longitude, amplitude, azimutes e varia<;6es da bussola, ainda que essas coisas sejam muito uteis em longas viagens, como as que se fazem as fndias Orientais, e 0 navegante que nao as conhece e um ignorante" .39 Em agasto de 1699, Newton tornou publica uma forma aperfei<;oada do seu sextante (inventado independentemente por Hadley em 1731) que em conjunc;.3.(;com as observa<;6es lunares, podia permitir a determina<;ao dn longitude no mar. Ja havia apresentado os lineamentos da sua teoria lunar na primeira edi<;ao dos Principia. Ademais, por recomenda<;ao de Newton, foi promulgada a lei de 1714 para premiar as pessoas que40invenNo tassem um metodo eficaz para determinar a longitude no mar. curso dessas atividades, demonstrava Newton que conhecia as implica<;6es utilitarias, nao somente de grande parte do seu pr6prio trabalho cientifico, senao tambem daquele dos seus contemporaneos. 38. Jl:ste e 0 tipo de prova que G. N. Clark esquece completamente quando escreve que "3 (mica prova que se pode aduzir para demonstrar que durante seu grande periodo cna, dor. ~le [Newton) foi movido por interEsse em quest6es tecno16gicas e a carta a Fran· cis Aston ...••• op. cit., 67. Ver a carta de Hooke ll> Newton (6 de Janeiro de 1680) em que escreve: ••... a descoberta das propriedades de uma curva formada pelos ditos d,)l, principios [urn dOes era a hip6tese de que a atra~lio vlJ,riava inversamente ao quadrado da distr.nela!) s~ra de grande inter~sse para a humanidade porque a determina~lio dn longitude pelo ceu e uma conseqil~ncia necessaria disso", Ver a caorta em W. W. Rouse Ball, An Essay on Newton's Principia (Londres. 1893), 147. Da mesma forma, em sua carta de 5 de julho 'de 1687 escreve Halley: HEspero .. , que tenta.reis aperfei~oar a tea' ria lunar. que sera de prodigiosa utilldnde na navega~lio, assim como de profunda e sutil especula~lio". A cartl> completa esta citada em ibid., 174. 39. As cartas de Newton a Hawes estlio publicadas em J. Edleston, Correspondence of Sir Isaac Newton and Professor Cotcs (Londres, 1850), 279·299. 0 exame do preparo cienti!ico que Newton considerava necessaria para 0 navega.nte bem treinado. mostra que inclui urn verniz de uma parte importante das pesquisas f[sicas mais proeminentemente realizada.s durante aquele perlodo. Nessa lista, Newton menclona as materias e os problemas em que nlio s6mente est~ve ~ie principalmente interessado no curso de sua atividade. como tambem as seus colegas. Indica tambem que ~le estava muito longe de ignorar s.s conseqil~ncias praticas da maior parte dos seus abstrusos estudos dos Principia: par exemplo, sua tea ria das mares, a determina~ao da trajet6ria dos projeteis. a teoria lunar, 40.
seus trabalhos sObre hidrostaticao e hidrodinftmica. Edleston, op. elt .• LXXVI. A importftncia atribulda a solu~lio d~ste problema pode ser medida pelas recompensas oferecidas tambem par outros gov,ernos. 0 da Holanda tinha procurado persuadir Galileu n. empregar seus esfor~os para resolv~·lo: Filipe In da Espanha tambem ofereceu uma recompensa e, em 1716. 0 regente da Fran~a, Duque de Orleans criou urn pr~mio de 100.000 francos para. quem descobrisse urn metodo pratico.
Teor;n "'" e E s t ru t ura
. A t" teoria lunar de Newton foi 0 resultado culminante Glen lflca sabre este assunto, Como sugere Whewell:
da
concentra<;ao
progresso astronomia mas o havia outrasda raz6es ue t a.1VtZ podena. ter sido motivo suficiente para ~st t b a teoria ud q 0 Impunham vigorosamente e ra alho' p esse ser aperfei~oada prometi . . Umn. teoria lunar perfeita s; tude de qualqucr lugar da superii'cie d a .p~oporclOnar um metodo para encontrar a lo~ 1cIa estar completa em seus fund am a ten a, e aSSlm 2., verifica~lio de uma teoria g Imedlata p:ua os nave t entos, IdentlflCava-se com um objeto d que paregan es e reconhecidamente de grande valor. 41 e utilidade pratlca
Halley, que havia decidido ue er . diversos para cleterminar a Ion i~U am ~efeltuosos todos os metodos seria possivel alguma vez dete g, de e havl~ declarado que "dificilmente rmmar a longitude no para usos maritimos ate 0 m t mar como suficiente , omen 0 em que estiv s t t <;oada a teoria lunar" insist. . e se 0 almente aperfei. ' la constantemente com Ne t contmuasse seus trabalhos.42 Fla w on para que este tambem se esfor<;aram para ret'f.msteed, e (desde 1691 ate 1739) Halley 1 lcar as tabelas lun . , para alcanGar "0 grande ob' t' d ares suflclentemente . _ . Je IVO e encontrar a 10 't d exatldao requerido". A Real S oCle 'd ade com 0 mesmo ngl .u e com d ' , 0 grau de ava as observa<;6es dos eclipses d 1 '43 proposlto, recomen· o t a ua. u ro campo de pesquisa que receb . provavel utUi(lade foi 0 estud d ,eu espec1al aten<;ao, devido a sua . ' 0 a bussola e do m . t· ' agne dlsmo em geral. AsSlm, Sprat relaciona , especif"lCamen t e as Investiga"necessidades presentes quandd l' ".oes e Wren com as _ ' 0 ec ara que "no q ue se refere a navega<;ao ele [Wren] realizou cuidadosame t .. o proprio Wren , em seu discurso Inaugural ~ e mUltos experiment os magneticos" 44 como pr f . em Gresham , fala no mesmo to m. 0 estudo ' 0.-essor de astronomia da ser levado a-"ante com muita d'l" . vana<;ao magnetica creve 1 1gencla porque pode d d 1 re un ar em grande T~'a ~r para 0 Davegante, que assim estar~ c. "POlS a 'industria' precedente dif' '1 apacltado a encontrar a longitude. 1Clmente havia deixad 't. como essa para ser procurada pela at" 45 • 0 COlsa ao gloriosa e tao inqUletante nas longas viage r e. La HIre, observando que nada 'lh d' '" t ns como aJ varia<;ao da IS 0 me mOVt'Ua encontrar algum " d agu a. lZ que para descobrir as varia"oes no ~~:~ m ependente mediante observa<;6es M ". mar. Henry Bond H l' e ercator estiveram igualment . t ' eve lUS, Molineux magneticos, tendo em vista' 0 me:~n eressa~os no estudo dos fenamenos 47 Halley, no famoso t.rabalho em que (leu a conhece 0 tPrO~oslto gera1. _, . r sua eona dos quatro p61 ' . ao mOVlmfmto peri6dico da linh a magne't.lea sem declinac- os. magnetlCos . t' ,, e l1a conventencia utilitaria d d ,ao, InSlS lU amlUde . . e es~u ar a varia<;ao db' 1 mvestiga<;ao "e d t.• a usso a, porque esta e ao grande mteresse na arte da navega<;ao, que 0 seu L
C William Whewell ' H'ISt ory of the Inductive Sciences or.respondence and Papers of Edmond Halley , ' 212. PhIl, Trans., 1693, 16, 453-54 History. of the Royal Society, '315-16. Chnstopher , Wren ' Pt· aren aha, (Londres, 1750) 206 PhIl. Trans" 1687. 16. 344,350. ' . Ver Phil . Tran s., paSSIm, . esp. 1668, 3, 790; 1670, 5,
Sociologia .
abandono tornari[). pouco menos que inutil um dos mais nobres inventos que a hum~mjdade tenha jamais feito". Esta grande utilidade, continua, parece ser incitagao suficiente "para que t6das as cabegas filos6ficas e matematicas tomem em seria consideragao os diferentes fenamenos ... " Apresenta sua nova hip6tese a fim de acicatar os fil6sofos da natureza da epoca, ao para que possam "aplicar-se com mais atengao a esta utH especulag ".48 parece fora de duvida que 0 trabalho assiduo nesse terreno nao era suficiente para satisfz.zer a procura. Com 0 objetivo de melhorar essa utH pesquisa, 0 rei concedeu a Halley 0 titulo de capitao-de-mar-e-guerra e 0 comando do barco Paramour Pink, no qual realizou tres viagens. Um dos resultados [.1i 0 desenho feito pOl' Halley, do primeiro mapa is6gono. Somos ~ssim levados a vel' que os problemas cientificos sublinhados pelo valor e.vidente de um metodo para encontrar a longitude, eram m'lltiplos. Se \) estuco cientifico dos diferentes meios possiveis de alcangar e:>te objetivo nao era ditado invarHwelmente pela utilidade pn1tica do resultado desejado, e E.vidente que, pelo menos, parte da incessante diligencia exerci· da nesses terrenos tinha esse prop6sito. E impossivel, em ultima analise, ueterminar. f;orn exatidao, a medida em cNe 0 interesse pn1tico enfocou a atengae- cientifica sabre certos problemas. 0 Ciuese pode sugerir razoiwelmente e alguma correspondencia entre os assuntos mais intensamente investigados pelos cientistas da epoca e os problemas colocados ou acentuados pelo desenvolvimento econamico. Que as exigencias econamicas ou, mais apropriadamente, as necessidades tecnicas delas derivadas, dirigissem as pesquisas pOI'caminhos particulares, nao e mais que uma inferencia, apoiada habitualmente pelas declarag6es explicitas dos pr6prios cientistas. A determinl:1l;aOda longitude era um problema que, monopolizando a atengao de muitos cientistas, in~rementou acentuadoll progressOs na astronomia, na geogn;fia, nas matematicas, na mecanica e na invengao de rel6gios de pendul\) e de bc,lso.
NA VEGAGAO E CIENCIA outro prob!lema da navegagao daquele tempo era a determinagao do horario das wares. Conforme indicou Flamsteed numa nota anexa a sua primeira tabela das mares, 0 erro nos almanaques atingia a umas duas horas: 0 que tornava imperativa uma corregao cientifica para a Armada Real e a navegag em gera1.49 Em consequencia, ele fez, de vez em ao quando, divers as tabelas de mare's adaptadas aos portos, nao 56 da Inglaterra, mas tambem da Franga e da Holanda. Este trabalho era uma continua(300 do interesse em formular uma teoria das mares, snblinhada pela Real Sociedade desde as suas pr6prias origens. oprimeiro volume das Tran48.
"A Theory
of the
Variation
of the
208-221. ver tamMm seu adendo, 49. Phil. Trans., 1683. 13, 10-15; para 15, 1226; 1686, 16, 232 e 428.
Magnetical
Compass",
Phil.
ibid., 1693, 17, 563·578. tabelas posteriores, ver ibid.,
Trans.,
XIII,
1683, 13,
1684, 14, 458 e 821; 1685,
Teoria e Est ruum t
sactions conEnha va flOS . , trabalhos c b mares em diferentes POl't os. 0 servag6es sabre a hora das H Boyl' om S .alle , Henry Powle e, mai . e, ,amuel Colepress, Joseph Child y goes a este assunto. s que mnguem, John Wallis, fizeram contri~~~:
Newton assumiu a tare fa co . lei geral da atragao e, como 'ObS:~ malS uma ~,ase para a verificagao da e menos not.avel por sua saga .d a Thomson, sua teoria das mares nnavegagao". Sua teoria eXPlic~ :de do que POl' sua importa-ncia para a~ as diferenQas entre mare's vivas . ve mares o.s aspectos ' m t mais not6rios das ma res: e vespertinas, 0 efeito da d l' _ or as e entre mares matutin e ec magao e parala d as xe a lua e do sol, as ma ' m certos Jllgares, fazend Qutros 0 usa das observag6es d H res para testar seus resultados bt'd e alley, Colepresse e 50 Halley curando como sempre cont 'b . 0 1 os pelo calculo. t~'dOU'~ ;nfo'rn" ao ao, "pon,,', da ;"oda , da p,atto~, ~.::; 1.oda especie de navegaf'aO" Lorde Almlrante da "ut~lidade geral para 51 qu' .,. ,que resultaria des < e surglssem os trabalnos d E sas pesquisas. Mas at' "o,m~nt', d, Lapla", LUbbO:k,U~~;B"~OUlli '. d, D'Al,mb"t " ;O",' precIsao snfidcnte para que r ~'. nao se. pode aplicar a ieoria com podem ser reJacionados os inteO~se Utl~ aos fms praticos. Alem disso u resses clentifico ' m assunto trIo esoterico como .. s - no caso 0 estudo de . xlgenclas . econamicas a teOfla dru atra<;ao - com as e ..
G':~::
Outro problema de grande interesse esgotamento das reservas florestais t' para os assuntos maritimos era 0 lanc;o~ mao de madeiras ainda ve;d:s e 0 ponto em que, finalmente, se madeIra tornara-se relativament para a construgao de navios A bustivel, como pelo seu rapido e escassa, tanto pelo seu uso como ~om tru' gao de Londres, . consumo nas gue rras navais e na recons depois do grand . foi resol .d e mcendio • _ VI 0, em parte, pelo usa do _ '. 0 p r obIema do combustivel fundlgoes de latao e de cobre fa'b ~arvao em divers as industrias tais como ferr 0, mas 11ao _ para a produga ' flcas de cerve'JU, t·mturarla, . artefatos ' d de deira amea"W/a de t 1 f 0 0 ferro-gusa. 0 esgotument d " a orma a constru 300d' 0 a mada Real Armada se dirigiram a socied:d e navlOS, que os comissarios 1 n~ntes a "me:horia e produgao de made~ e~ busca de sugest6es concerWmthr~p, Ent e Willughby, contribuira ra. Evelyn, Goddard, Merret, a solugao clesLeproblema e os s t m com .sua sabedoria bota-nica para dos a famosa Sylva, de Evelyn eu~ frabalhos mdividuais foram incorporadad~s" da Sc:ciedade fasse a ';mult' ~~o d_eque uma das "principais ativi' desllgado rlo,C1ueles obJ'etl'vos pra't.lCOS lp lCagao .. Ale das. arvores" nao est a ' pOlOs, as membros da Sociedade "em . m dlSS0, conforme diz Sprat gao de barcos a forma de pregaram muito tempo examinando a constru' 1 _ " suas velas de sua 'lh a p antac;ao de abetos 0 melho ' s qUi as, os tipos de madeira __ . ,ramento do alcatrao, do breu e da aparelha~ A
~O. ePrincipia XXXVI1. Malhematica 51.
Correspondence,
116.
(Londres
1713; segunda
¥ ediciio),
Llvro .
III,
Prop.
XXIV,
XXXVI
SOciologia -
gem".5~ Isto conduziu nao somente ao estudo da silvicultura e pesquisas botanicas afins, como tambem a investigag6es de mecanica, hidrostatica e hidrodinamica; pois, como indicou Newton em suas cartas a Hawes, a solugao de problemas tais que a determinagao da tensao das cordas ~ das madeiras, a forga dos ventos e das mares, e a resistencia dos fluidos a corpos submerslJs de diferentes formas, seria de grande utilidade para os navegantes. Outrossim, quando se comparam os requisitos de urn navio de guerra, enumerados POI' "Sir" Walter Raleigh em suas Observations On the Navy, de inicio do seculo, com os tipos de pesquisa realizados pela Real Sociedade, torna-se evidente que todos m, problemas importantes haviam c~egado a ser objeto de estudo cientifico. Raleigh enumera seis qualidades desej{weis d(~ urn barco de guerra: construgao forte, rapidez, !T.adeir~me s6lido, capacic1ade de disparar os canh6es corn qualquer tempo, capacidade para agtientar facilmente uma borrasca e capacidade em manter-se firme Os cientistas da epoca procuraram fmcontrar num lugar deierminado. meios para satisfazer todos esses requisites. Em muitos casos se vi!"a,m obrigados c, resolver problemas derivados em "cienda pura", com a expecAssim, Goddard, tativa de empregar seu saber para esses prop6sitos. Petty e Wnm pesquisaram metodos de construgao de barcos, com 0 objetivo de melhorar os processos existentes. A Sociedade ordenou a Hooke que descobrisse 0 "madeiramento mais s6lido", experimentanl10 a resistencia das "mesrna,!; especies de madeira, de diterentes idades, produzidas em diversos lugares e cortadas em diferentes estag6es do ano".53 Colaborando, as ve2es, com Buyle, Hooke fez nurnerosas experiencias para testar a "resistencia da madeira" e dos cabos retorcidos e nao retorcidos. Estas experiencias estavam' em andamento quando Hooke d,escobriu a lei que leva seu nome (ut t,ensio sic vis~.
Para se descobrir os meios a,e aumentar a velocidade dos barcos, e necessario est,udar 0 movimento dos corp.os num meio resistente, 0 que e uma das tareIas basicas da hiurodin~mica.54. POl' esse motivo, Moray, Goddard, Brou.ncker, Bcyle, Wren e Petty se interessararn POl' esse problema.55 Neste caso, a cone}~ao entre a tarefa tecnica determinada e a pesquisa "pi.l1.'amente cientifica" adequada era explicita. Petty, na ocasiao ",m que escrevia que "os ajustes do [barco de] duplo fundo me preocupavam acentuadameme", fazia experiencias de hidrodinamica para determinar a velocidade des "corpos flutuantes". Sprat estabelece a conexao geral quando descn-we os instrumentos da Sociedade: [Ha] varios instrumentos para achar a velocidadedos corpos flutuantes de diversas [or" mas ,e movidospor f6rQasdiferentes, e para tests,r quais forma.ssac menos expostas a em, 52. Sprat, op. clt., 150. 53. Birch, op. clt., I, 460. 54. Ct. Hessen, op. elt., 158,159. 55. The Petty-Southwell Correspondence,redigido pelo Marques de Lansdowne, (LondTC~, 1928),117;Birch, op. elt., I, 87.
Teoria e Estrutur:a
borcar, com 0 objetivo de pa.ra todos os usos. 56 formular uma verdadeira teoria das tormas de barcos e
navios Christopher Wren que, para Newton er ". do nosso temDC" tambem p' . a urn dos malO res geometras . , esqUlSOu as leIS da hidrod' - . IDamICa, precisamente POl' causa un sua possivel utTd d dos barcos.57 E Newton d 1 ~ a e para melhorar as qualidades nauticas , epOlS de enunciar seu te como a resistGncia de Urn meio fl 'd d orema sobre a maneira c U1 0 epende da form d "f: . _ a 0 corpo que nele .,0 move, ar.rescenta' . uma proposlgao que J'ulg construgao de navios".58 0 possa ser litH na A Sociedacle mantinha urn inte . ticos, desde redomas par resse constante nos artefatos subaquaa mergUlhadores ate urn b . propos to POl' Hooke que' su marmo completo , se movena no rio Tam' . barco comum Uma com' Isa com a velocidade de urn . Issao para estudar os me lh de mergUlho" de chumbo "d rgu os examinou "caixas I ,e re omas para mergulhado ". FIa ley, que foram testadas no 1'1' T- . . res Imaginadas POl' , d 0 amlsa e tambem p . aa e para os espectadores (!U ' , ara malOr comodi· instalada para esse fim n~a p~:a ~s m~:gUlhadores> numa grande tina nas Possibilidades e nas' van tag ~ eUIlIoes ~emanals, Wilkins persistiu indubitavel utilidade na guer ens' a .nave~agao sUbmarina, que seria de t ana a Incerteza d . ra, eVl . ser utilizada para descobrir tesou b _ as mares e poderia ros su mersos ~9 Hook l' t,as das suas experiencias sobr . _ . . e re aClOnava mui· dos desses inventos. e reSplragao com problemas tecnicos deriva. Wilkins apresentou a Sociedade a ,,"fixar urn barco numa torm . t "ancora guarda-chuva", instrumento Wren propos urn modo como do en a. 56. Sprat, op. cit, 250. Ver a carta de Hooke a B 57. "Sendo uma questao' entre os pro blemas da navegat>oyle, em Works, deste ultimo V 537 . soIVIda,a saber, a que f6rea.s me ~ao, que merece muito bem ser 1". [Wren] demonstrou ~ c"mcas era reduz!vela navegaQao(especialmentecontra o vento); ele transit6ria s6bre urn plano I'n I' qdueera uma cunha, e demonstrou como uma [Orca . ~, c ma 0 produziria 0 meiro m6bil. E fez urn instrumento ue ' movlmento do pla.no contra 0 pr;. demonstrou a razao de na,vegarcom t ~ produzla mecanicamente 0 mesmo efeito " "Demonstrou ., 0 os os ventos. ' que a mecamca geometrica d ,6 remar era uma. alavanca s6bre urn fUlcr" movel ou cedente. Para' t f' p ansae - do corpo era contra 0 obstaculo "' e 1m 'aofez momstrument ' os pa.ra determinar que a exde impedimento era produzido por I Vllnentonum meio liquido equal grau os elementos necessarios pa,ra form qua grau de expansao' com outras coisas que sib " o voo . e a constrUQaode barcos" S uIar - a nataQao 0 remo t' a geometna da n avega9ao, tecnica imediata conduz ao est~d:r~'e' op. C,lt.,316. :vrais uma vez vemoscom~ a mela' problemas denvados na ciencia.. 58. Princjpla Mathematica, Livro II 6 observaQaode Newton nao foi ' t edc.VII, Prop. XXXIV, Scholium. Pelo que sei a "Q ' uam quidem propositionem no m a a ate agora ' a este respel'tO. Esta assim redigida: censeo". construendls Navibus non inutilem tuturam esse 59. John Wilkins, Mathematical MagiCI' (Lond Tartaglia tinha sugerido urn ' '. ,res, 1707,5.a edi9ao), cap. 5. Ja em 1551 mdudlto eflclente pa.ra trazer a tona barcos afundadO~ Varias patentes tinham side mcoelno I'10 de uma dessa.smaquinas e "boa ce I as ".para "aparelhos de mergulho". Com 0 auxl-. cerca de 200mil Iibras esterlina sorte , dt2;Anderson, "Sir" William Phipps "pescou. afundada nas fndia.s Ocidentai s em V moedas ' . de oito' de uma t rota espanhola que torr. alguns outros, responderam a s. er Ol'lgm of Commerce, I II, 73. Hooke e Halley f st ro, aful1dados nos mares. 'e sucesso com novos dispositivospara recuperar tes~l1~ para
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para usaI' a artilharia a bordo de urn navio e Halley, afirrnando que II Inglaterra "tern que ser senhora dos mares e superior em fcm;a naval a qualquer dos seus vizinhos", descreveu urn metoda que permitia a uma belonave carrlOgaI"seus canh6es com mau tempo.60. (Isto e, ao abrigo da umidade em tempo de chuva, pois era muito importante "manter a p61vora seca" - N. do trad.) Petty, acariciando a esperanga de "prosseguir no aperfeigoamento da navegagao sob novos principios", construiu varias de suas embarcag6es de fundo duplo, que muito agradaram a Sociedade. Infeliz· mente, sua tentativa mais ambiciosa, a barco st. Michael the Archangel, fracassou rni.~eravelmente a que 0 levou a concluir que as fados e 0 rei estavam contra ele. A Sociedade discutia periodicamente os meios para proteger as barcos "c'ontra as tormentas", problema este que era muito inquietante tanto para as comissarios da Armada Real como para as armadores particulares. Newton havia demonstrado interesse por esse mesmo angustioso problema e pediu a Aston que investigasse "se os holandeses tinham algum artificio para impec1ir que seus navios fassem tragados pelas tormentas". Desses estudos nao resultou progresso algum apreciavel. Em geral, portanto, podemos dizer que as homens de ciencia do seculo XVII, desdn a infatigavel virtuoso (perito) Petty ate a inigualavel Newton, focalizaram definidamente sua atengao sabre tarefas tecnicas tornadas urgentes peles problemas da navegagao e sabre pesquisas cientificas derivadas. Esta ultima categoria e dificil de delimitar. Ainda que seja certo que grande numero de investigag6es cientificas se possam atribuir diretamente a exigencias tecnicas, parece igualmente evidente que algumas dessas investigag6es foram conseqiiencias 16gicas do progresso cientifico anterior; porem e fora de duvida, a luz do que as pr6prios cientistas tiveram de dizer acerca das implicag6es praticas de seus trabalhos, que os Ate mesproblemas praticos exerceram apreciavel influencla orientadora, mo a mais "pura" das disciplinas, a matematica, era de primordial interesse para Newton, quando destinada a ser aplicada a problemas fisicoS.61 Alguma atengao tambem foi dedicada aos transportes terrestres, embora em menor proporgao que os maritimos, possivelmente POI' causa de malar impn:rtancia destes ultimos. 0 crescente tratego interior exigia consideraveis melhoramentos. Esses melhoramentos, disse Defoe, sao "uma grande ajuda para as neg6cios e promovem uma correspondencia universal, sem a qual nosso comercio interno nao s~ poderia realizar",62 Os comerciantes ambulantes, que podiam carregar ate mil libras-peso de panos, estendiam seu comercio par t6da a Inglaterra63 e precisavam de maiores facilidades. POI' causa do "grande aumento de carras, carrog6es etc., devido ao a'lmento geral do nosso comercio", ctiz Adam Anderson, a rei 240; Correspondence,., of Halley, 165. Wren, Pa.renlalia, E. A. Burtt, The Metaphysical Foundations of Modern Physical Science, 210. 62. D[aniel] D[efoe], Essays upon Several Projects (Londl'es, 1702), 73e segs. 63, Daniel Defoe, Tour of Great Britain, (Londres, 1727),III, 119-120.
60. 61.
(urn pouco otimisticamente, sem duvida), ordenou em 1662 que todos as c~mi~hos !6ssem aumentados para oito jardas. Caracteristicamente, os c1entlstas da epoca procuraram tambem sobrepujar as dificuldades tecnicas. ~~tty, com seu acentuado interesse pelos assuntos econamicos, desenhou f1~v:rsos car"og6es garantidos para "ultrapassar caminhos rochosos, preciP1CWSe passagens muito sinuosas."64 Wren esforgou-se em melhorar as carruagens em "comodidade, f6rga e ligeireza" e, como a fez Hooke mventou urn "pilato" para registrar a distancia percorrida par urn veicUlo6; ~ilkins, possivelmente acompanhando urn invento feito pOI' Stevin, meio seculo antes, descreveu urn "carro a vela que, sem caval as, pode ser impulsian ado em terra pelo vento, como as barcos no mar."66 Da mesma forma a Sociedadc delegou a Hooke, por sugestao dele, realizar "0 experiment; de urn veicuL:>terrestre e de urn transporte rapido de noticias".67 Estes esforgos demonstram as tentativas dos cientistas para trazer apoios tecno16gicos as empresas de neg6cio; nestes caso& especificos, faziam isso com o fim de far:ilitar a possivel ampliagao dos mercados, urn dos requisitos primordiais do capitalismo nascente.
Em certo sentido, a estudo precedente fornece materiai& que somente esclarecem as conex6es que temos estudado. Ainda temos que determinar 0 grau em que foram operantes as influencias s6cio-econamicas. As atas da R:eal Sociedade, transcritas na History of the Royal Society de Birch, pro' porcwnam uma base para esse estudo. Urn procedimento possivel, embora em alguns a~pectos inadequado, consistiria na classificagao e tabulagao das ,pesquisas discutidas nas reuni6es, juntamente com 0 exame do ambiente em que vieram a luz as divers os problemas. Isto ofereceria algum fundamenta para determinar a medida aproximada em que funcionavam fat6res ext rinse cas. Examinaremos as sess6es que tiveram lugar durante quatro anos: 1661, 1662, 1686 e 1687. Nao ha razao para se supaI' que esses quatro anos nao deem uma ideia tipica das reuni6es que se efetivaram no periodo gera!. A classificagao empregada esta ordenada de forma mais empirica que 16gica. Os itens sao classificados como "diretamente relacionad.os" com demandas s6cio-econamicas, quando a membra que fez a investigagao indicou de modo Petty-Southwell Correspondenee, 41, 51 e 125. "E me parece [escreve Petty], que esta carreta. pode permitir transportar mercadorias fin as entre Chester e Londres por me. nos de 3 pence por libra-peso. Com a devida honradez, Petty admite que esse veiculo nao esta livre de emborcar", mas acrescenta, a titulo de consolo "ainda se virasse (sobre urn montao de pederneir2S), nao consigo ver como 0 condutor poderia receber algum dano ffsico". 65, p'arentalia, 199,217e 240, 66, Wilkins, op. cil., Livro II, cap. 2.
64,
67.
Birch, op. cit., I, 379e 385;Hooke, Diary, 418. J;:ste assunto reuni6es da Sociedade, num perlodo de tres anos.
foi discutldo
numas
qu!nze
, . a conexao desse tipo, ou quando a discussao imediat~ da invesexplIclto urn . _ previa de dita relac;ao. Os · - evidenciou uma aprecrac;ao . Itens. clas_ t~~~c;a:o como "indiretamente relacionados" compreendem as mvestlgac;oes Sl lca.tm ~ decidida conexao com as necessidades praticas. corrent~s, que am b' nte mas que nao foram definidamente aSSlm relaclOinsinuadas no, am .le do~es As pesquisas que nao evidenciaram relac;6es nadas pelos pesqmsa. ._ . Nesta categoria se deste tipo foram classificadas como ClenCla pura. . 1 -0 . t( observador atual> uma re ac;a classificaram Illuitos Itens que em. para 0 _0 foram consideradas concebivel com as exigencias pratIcas, mas que na. 0 da camp raassim explicitamente no seculo XV II. A ,s. sim ' as pesqmsas no niencia meteorologia podiam ser relacionadas facllmen~e c~m c,?nve 1 p '0: 'sao do tempo mas quando as investlgac;oes nao foram re aCl . tICa de pren r.t' om problemas praticos especificos, foram classlnaclas de modo .,exp'. lCl 0 c Da mesma forma , grande parte dos trabalhos · pura .'. ral a medicina e a cirurgia, mas flCadas como clenc~a. f;obre anatomia e fls1010gla tlllh.a, v.alor pa 1 'f" -0 desses conceitos. d os mesmos cnterlOs para a c aSSl lCac;a foram empre"a os h' 19uma tend en cia nessa classificac;ao, ela E provavel, portanto, que, ~e a a reno da "ciencia pura". seJ'a no sentiLlo de superestImar 0 ter " nl'dade" E" evidente f ." tada" como uma u . Cada pesquisa estudada 01 co~ mal's que uma t6sca aproximac;ao ' d' e to nao proporclOna que este prace ~m n que atuaram influencias extrinsecas sabre a escolha "'. uando e impossivel maior prequanto a extensao em de assuntos para 0 estudo clentlflc~ '. ~as q nos Os resultados, · - e' necessario contentar-se provlsonamente com me . clsao; f)"
sele~ao ~ de problemas Extensao aproximada das l'nfluencias s6cio-econOmica.sso'b red a Londres cientificos por mcmbros da Real SOCleda"e e 1661·62e 1686-87 1
Total nos quatro anos Porcentagem Ci~ncia pura ..................................... CHincia relacionada com necessidades socioecon6micas ................................. TranSpoltes maritimos ...................... Diretamente relacionadas ................. Indiretamente relacionadas ............... Minera~ao ................................. Diretamente relacionadas ... . ........... . . Indiretamente relacionadas ............... Tecnoiogiamilita.r ........................... Diretamente relacionadas ................. Inctiretamente relacionadas ............... Indi1stria textil .............................. Tecnologia geral e agricultura ............ TOTAL ................................
41,3
333
58,7
473
16,0
129
8,R
6jl
60
7,4
20,6
166 25 141
10,8
87 58 29
7,2
3,6 3,2 8,1
26 65 806
3,1 17,5
100,0
resumidos na seguinte tabela, apenas sugerem a extensao relatlva das innuencias que trac;amos num grande mlmero de casos concretos.68 como "ciencia pura" Parece, vor esta tabela, que sac classificaveis menos da metade (41,3%) das investigac;6es feitas nos quatro anos em questao. Se a isto acrescentarmos os itens que s6 indiretamente foram relacionados com necessidades praticas, veremos que aproximadamente setenta por cento dessas pesquisas nao tiveram associac;6es praticas exp!i. citas. Como f'stas cifras sao apenas mais ou menos aproximadas, podemos resumir os resultados dizendo que de quarenta a setenta por cento cor. a ~ategoria de ciencia pura e, correlativamente, de trinta a responderam sessenta por ~ento foram provocadas por necessidades praticas. Outrossim, considerando somente as pesquisas diretamente relaciona. cas com necessidades praticas, parece que a maior parte da atenc;ao foi dirigida aos ;Jroblemas de transporte maritimo. Isto esta de acordo com a ideia de que os cientistas ingleses da epoca conheciam muito bem os problemas apresentados pel a situac;ao insular da Inglaterra _ problemas de carater tanto militar como comercial - e desejavam ardentemente resolv6-10s.69 Quase de igual importancia foi a influencia das exigencias militares. Nao somente houve cinqilenta anos de guerra durante aquele seculo, mas ainda as auas gran des revoluc;6es da hist6ria inglesa. Os problemas de carater militar deixaram sua marca sabre a cultura da epoca, incluido o desenvolvimento cientifico. De modo analogo, exerceu influencia apreciavel a minerac;ao, que tanto Se desenvolveu nesse periodo, como podemos ver pelos estudos de Nef e outros historiadores da economia. Neste caso a maior parte das investigac;6es cientificas, se e que se podem separar das tecno16gicas, se fizeram nos campos da mineralogia, e da metalurgia, com 0. prop6sito de descobrir novos minerais utilizaveis e novos metodos para extrair metais das minas. E releva,nte notar que no ultimo periodo de dois anos obser'lado neste resumo, houve crescente proporc;ao de pesquisas no campo da ciencia pura. Nao e dificil encontrar uma explicac;ao conjetural. E provavel que, a principio, os membros da Sociedade estivessem ansiosos de justificar suas atividades (perante a Coroa, e perante 0 publico lei go em gera!), apresentando resullados praticos 0 mais depressa possivel; dai, portanto, a orien . tac;ao inicialmente mUito acentuada para os problemas praticos. Alem disso, muitos dos problemas que a principio foram deliberadamente pesqui-
68. Para urn estudo m3is completo do processo usado e uma c1assifica~aodetalhada d~t.S categorias, ver minha obra Science, Technologyand Society in Seventeenth.CenturyEn. gland, cap. 10. 0 apendice A tornece exemplos dos itens classificados nas varias categorias. 69. Ver, por exemplo, a observa~aode Edmond HaJJey: "Que os habitantes de uma lIha, au fodo Estado que tenha que defender uma. ilha, devem ser donos do mar, e superiores em for~a naval a qualquer vizinho que se jUlgue preparado para ataca-Ios, e coisa que nao precisa ser demonstrada Com argumentos". Em seu trabalho lido perante It Real Sociedadee reimpressoem Correspondence ... of Halley, 164-165.
a sua importfmcia utilitaria, podem ter sido reestudados sa dos por causa d . b d . tarde sem levar em conta as suas implica«oes pratlcas. Na ase os malS '1 ~ 19umas das .te 'os (talvez tendenciosos) adotados nesta compl a<;ao, a ~:lsq~sas ulteriores poderiam ser classificadas arbitrariamente como ci€mcia pura. Sobre a base proporcionada por este estudo, pa:ece campo cle problemas pesquisados pelos cientlstas estava apreciavelmente influenciado pela estrutura
i;I~
f:poca.
. .~. f' J~stl:ICado a l:mar mgleses do ~eculo s6cio-econoIDlca da Agrade~o aos seguintes edit6res as autoriz~6es de trabalhos que figuram neste volum'e:
pam utilizar
trechos
Editores da American Sociological Review "The bearing of empirical research upon the development of social theory", 1948.,volume 13. Editores do American Journal of Sociology "Sociological theory", 1945,volume 50. Harper and Brothers
"Social structure and anomie", de The Family: Its Function and Destiny, Ruth N. Anshen (editora), 1949. "Patterns of influence: a stUdy of interpersonal influence and of communications behavior in a local community", de CommuniCations ResearCh 1948-49, Paul F. Lazarsfeld e Frank Stanton (editores), 1949. Editores
de Social Forces
"Bureaucratic structure and personality", 1940, volume 18. "The role of the intellectual in public bureaucracy", 1945, volume 23. Edit6resl da A ntioch Review "The self-fulfilling prophecy", verao de 1948. The Philosophical
Library
"The sociology of knowledge", de Twentieth Gurvit~h e W. E. Moore (editores), 1945.
Century
Sociology,
G.
Editores do Journal of Liberal Religion "Karl Mannheim and the sociology of knowledge", 1941, volume 2. New York Academy of Sciences
"StudIes in radio and film propaganda", de Transactions .York Academy of Sciences, 1943,serie II, volume 6. Editores de Philosophy of Science "Science and the social order", 1938,volume 5.
of the
Ne1Jl
Edit6res
do JournaD of Legal and Political
"Science
and technology
Edit6res de Science "The m:lChine,
the worker
order",
and the engineer",
Editores de Sociological Review "purit.anism, Pietism and Science", Edit6res de Science and Society "Science and the economy' volume
Sociology
in a democratic
of
1947, volume
1936, volume
the
1942, volume
1.
105.
fNDICE
W. H. Auden. 1945.
para
extrair
trechos
NOMES
28.
17th-century
England",
1939,
3.
Random House Por sua autoriza<;ao
DE
de The Collected
Poetry
ot
Abe, J., 72 Abegglen, J. Co, 282 Abel, No, 49 Abel, T., 18, 341, 379, 403, 427 Adams, J. L., 601 Adams, R., 126 Adler, Ko P., 485 Adorno, T. W., 262 Adrian, E. Do, 644 Agger, R. Eo, 508 Agnew, C. A., 687 Alexander, F., 255 Alinsky, S., 415 Allen, R. Go D., 26 Allport, F. H., 468 Allport, G. Wo, 30, 31, 276, 335, 354 Almond, G. A., 280, 382 Alpert, Ho, 161 Anderson, A., 713, 716, 726 Anderson, B., 17, 72 Anderson, N., 227, 644 Andreeva, G. Mo, 77 Angell, R. Co, 170 Ansbacher, H. Lo, 236 Arber, Ao, 22 Arensberg, C. M., 156 Arist6teles, 34 Arnold, T., 276 Arthus, M., 157 Asch, S. Eo, 417 Aston, F., 720 Aubert, V., 252, 253 Auden, W. H., 196 Back, K., 409 Bacon, F., 19, 21, 24, 44, 68-70, 662 Baeumler, Ao, 639 641 Bailey, S. K., 444' Baily, F., 710 Bain, R., 644 Bakke, E. W., 170, 222, 279, 280, 396 Balchen, B., 276 Baldamus, Wo, 264 Baldwin, J. M., 33, 52 Bales, R. F., 237, 261
Ball, W. W. R., 720 Barbano, F., 71, 152 Barber, B., 130, 151, 260, 266, 402, 41~ 492, 511, 581, 631, 701, 703 Barber, E. G., 173, 267-268 Barclay, R., 679 Barcroft, Jo, 114 Barker, R. G., 478 Barnard, C. 1., 399, 427, 428 Barnes, Ho E., 37, 553, 585 Barron, Mo L., 253 Barrow, 1., 682 Barth, Po, 40 Barton, A., 51, 53 Barzun, Jo, 21 Bates, F. Lo, 459 Bateson, Go, 94, 615 Bavelas, Ao, 408 Baxter, R., 679, 680 Bay, C., 152, 266 Bayet, A., 652 Bayliss, W. M., 88 Becker, F. Bo, 561, 585 Becker, Ho, 17, 37, 278, 396, 485, 553, 561, 585 Beecher, H. W., 243 Bell, Do, 269, 270 Bendix, R., 193, 245, 282, 379, 511 Benedict, R., 476 Bennis, W. G., 257 Benoit-Smullyan, Eo, 511, 572 Berelson, Bo, 164, 187, 325, 330, 344, 421, 512, 615, 701 Berger, J., 17, 72 Berger, M., 341, 379, 403, 427 Bernal, J. Do, 581, 585, 596, 658 Bernard, C., 114 Bernard, Eo, 45 Bernard, J., 18 Bernard, L. L., 18 Bertalanffy, Lo van, 88, 114 Bettelheim, B., 379 Bierce, A., 215, 217 Bierstedt, R., 74, 75, 427 Birch, T., 714, 727
Blau, P. M., 72, 130, 196, 261, 391, 409 Blau, Z. S., 265 Block, R., 417 Blumer, R., 163, 446 Bobrow, D., 485 Bock, K. E., 17 Boissier de Sauvages, 59 Bolyai, J., 25 Borel, E., 693 Borgatta, E. F., 396 Boring, E. G., 29 Borkenau, F., 596, 712 Bossuet, Bispo, 516 Boulding, K., 152 Bourchenin, P. D., 687 Bourquet, L., 20 Bowman, C., 285 Boyle, R., 52, 53, 677, 682, 698, 706 Brady, R. A., 662 Branford, V., 18 Bredemeier, R. C., 151 Breed, W., 152 Brentano, L., 26 Briggs, 714 Broadus, R. N., 42 Brodbeck, A., 496 Brookes, R. R., 236, 237 Broom, L., 375 Browm, B. W., 395 Brown, E., 196 Brown, J., 59 Bruner, J. S., 438 Buckle, R. T., 40, 683, 693 Bukharin, N., 567 Burgess, E. W., 170 Burke, K., 274, 676 Burton, P. E., 42 Burtt, E. A., 682, 683, 726 Bush, V., 219, 660 Butler, S., 265 Butterfield, R., 68, 363 Cabot, R., 102 Cahen-Salvador, E. G., 272 Caillaux, M., 645 Cajori, F., 81 Campbell, L., 44 Candolle, A. de, 695, 696, 702 Cannon, W. B., 88, 114, 116, 173 Caplow, T., 389, 410 Cardozo, B., 114 Cargill, 0., 216 Carlson, R. 0., 211 Carlyle, T., 225 Carnegie, A., 211 Carr, R., 114 Carr, W. G., 464
Carrel, A., 114 Carroll, J. W., 704, 705, 706 Cassini, G. D., 718 Caswell, R. L., 465 Catton, W. R., 17 Chapin, F. S., 184 Chapman, D., 152 Chapman, J., 152 Charles II, 656, 706 Chevalier, J., 688 Child, A., 574 Chinoy, E., 264 Chowdhry, K., 408, 426 Christie, R., 262, 263, 438, 496 Churchill, W. S., 112-113 Clagett, M., 19 Clark, E., 226 Clark, G. N., 678, 709, 710, 720 Clark, R. F., 209 Clark, J. T., S. J., 23 Clinard, M. B., 217 Cloward, R., 257 Coates, C. R., 412 Cochran, T. C., 498 Coghill, G. E., 114 Cohen, A. K., 253, 254-255 Cohen, F. S., 115 Cohen, 1. B., 585 Coleman, J., 72 Comenius, J. A., 686, 687, 688 Compton, K. T., 635 Comte, A., 17, 18, 38, 43, 47, 48, 58, 681 Conant, J. B., 51, 633, 697 Cook, S. W., 130 Cooley, C. R., 19, 2.2, 33, 43, 447, 448, 455 Cooper, J. M., 703 Coser, L., 37, 403, 407 Cottrell, L. S., Jr., 305, 396 Cragg, G. R., 697 Creak, E. M., 688 Cressey, D. R., 217 Croly, R., 140 Crombie, A. C., 19 Cron, L., 694 Crowther, J. G., 581 Crozier, M., 72 Curtis, A., 133, 178, 224, 321 Cuvillier, A., 71 Dahlke, R. 0., 553, 561 Dahrendorf, R., 76, 151 Damle, Y. B., 152 Darwin, C., 25, 48, 52, 583 Davis, A., 225 Davis, A. K., 70, 130 Davis, K., 95, 130, 282, 511, 512
del Campo, S., 71 Defoe, D., 726 de Morgan, A., 29 Denney, R., 236 Dennis, W., 184, 535 De Roberty, E., 38 Descartes, R., 20 Devinney, L. C., 305 Dewey, J., 164, 274, 670 Diamond, S., 243, 267 Dickens, C., 215, 216 D~ckson, W. J., 133, 166, 224, 278 Dllthey, W., 589, 686 Dollard, J., 169, 213, 219, 225, 281 Donald, D., 521 Doris, J., 444 Drabkin, 1. E., 23 Dubin, R., 196 Dubois, R. E., 40 Duhem, P., 155 Durkheim, E., 19, 43, 48, 49, 71, 74, 79, 128, 156, 166, 176, 185, 186, 235, 236, 238, 264,279, 334, 562, 563, 57~ 571, 57~ 581, 587 588 594, 648 ' , Eaton, R. M., 604 Eckstein, M., 152 Edleston, J., 720 Eggan, F., 123 Einstein, A., 60, 114, 372 Eisenstadt, S. N., 391, 416, 418, 476, 498 Ellis, R., 695 Engel, E., 694 Engels, F., 2.2, 38, 39, 40, 108, 556, 559, 560, 565, 566, 574, 575, 588, 589, 605 Erickson, M. C., 225 Escalona, S. K., 169 Eubank, E. E., 395 Eucken, R., 41 Euclides, 21 Fliclioaru, J., 695 Fallers, L. A., 260 Fanelli, A. A., 498 Fanfani, A., 696 Faraday, J., 41 Faris, E., 281 Fearing, F., 161 Fenichel, 0., 390 Fernandes, F., 152 Festinger, L., 225 409 509 Feuer, L. S., 584' , F~ynman, R., 60 Fichter, J. R., 58 405 Firth, R., 151 ' Fishwick, M. W., 243
Fiske, M., 133, 178, 184 Fitzpatrik, J. P., 703 Flamsteed, J., 719, 722 Fletcher, J. M., 114 Florence, P. S., 86 Flowerman, S. R., 257 Fontaine, W. T., 584 Forman, R., 410 Fowler, H. F., 441 Francis, E. K., 76 Francis, R. G., 196 Franke, K., 690 Frank, W., 639, 643 Frazier, E. F., 359 Freind, J., 46 Frenkel-Brunswik, E., 263 Freud, S., 26, 29, 33, 34, 175, 203, 206, 213, 21~ 555, 583 Fromm, E., 191, 213, 226, 583 Furstenberg, F., 22 Galileu, 41, 45 Galton, Sir F., 27 Gans, R. J., 410 Gardner, M., 662 Garrison, F. R" 59 Gassendi, P., 34 Gaudet, R., 164, 325, 512 Gelhorn, W., 470 Gellibrand, R., 714 Gemss, R" 694 George, C. R., 697 George, W. R., 172 Gerard, R. B., 509 Gerth, R. R., 76, 511 Gerver, 1., 62 Giddings, F. R., 39, 58 Gilbert, Lord Bispo de Sarum, 677 Gilbert, W., 52 Gillispie, C. C., 19, 41, 700 Gini, C., 159 Ginsberg, M., 70, 675 Glanvill, J., 567 Glaser, D., 252 Glazer, N., 23, 236, 310, 330 Gleeck, L. E., 444 Gley, E., 656 Goering, R., 643 Goldhamer, R., 509, 512 Goldstein, S., 498 Goode, W. J., 22, 118, 198, 335 Goodrich, R. B., 703 Gordon, N. S., 245 Gosnell, R. F., 222 Gould, R., 225 Gouldner, A. W., 23, 62, 72, 130, 195, 427, 492 Gourmont, R. de, 623
Granet, M., 562, 563, 571 Granick, R. B., 259 Gray, A. P., 195 Grazia, S. de, 237 Gre de, G., 581 Greenblum, J., 379 Greenwood, E., 239 Grew, N., 682 Griswold, A. W., 211 Grodzins, M., 444 Gross, N., 55, 460 Groves, E., 164 Griinbaum, A., 200 Griinwald, E., 587, 590 Giinther, S., 691 Guerlac, H., 19 Guetzkow, H., 408 Gumplowicz, L., 58 Gurvitch, G., 152 Guttman, L., 161, 543 Halbwachs, M., 164, 588 Hall, A. R., 36 Hall, C. S., 30 Hall, M. B., 19 Hall, O. M., 170 Hall, R., 19 Haller, W., 697 Halley, E., 719, 720, 721, 722, 725, 729 Halliwell-Phillips, J. 0., 685 Hallowell, A. 1., 160, 594 Hamerton, P., 34 Hammond, P. E., 22 Hamilton, W., 291, 659 Hankins, F., 70 Hans, N., 700, 701 Harkness, G., 684 Hartley, E. L., 368 Hartshorne, E. Y., 585, 638, 639 Harvey, W., 36, 45, 62 Hatt, P. K., 335, 444 HJavighurst, R. J., 219, 225 Hawkins, E. R., 147 Hay, J., 521 Hayward, F. H., 687 Heath, A. E., 682 Hegel, G. F., 58, 605 Heise, G. A., 408 Heisenberg, W., 638-639 Heller, H., 114 Hemphill, J. K., 396 Henderson, A. R., 511 Henderson, L. J., 59, 483 Henderson, P. A. W., 685 Hertzman, M., 417 Herzog, H., 443, 610
Hessen, B., 567, 581, 596, 709, 712, 714 Heubaum, A., 690, 691, 692 Hexter, J. H., 27 Hicks, G., 495 Hicks, J. R., 157 Hiller, E. T., 276 Hillery, G., 73 Hindle, B., 698 Hitler, A., 436, 640 Hobbes, T., 46, 48, 191, 587 Hockey, B., 195 HQgben, L., 712 Hoijer, H., 161 Hollingshead, A. B., 511 Holmes, M., 717 Homans, G. C., 370, 430 Hooke, R., 658, 716, 717, 718, 725, 727 Hooykaas, R., 697, 698 Hopkins, H., 142 Horney, K., 213, 255, 280 House, F. N., 33 Hovland, C. 1., 543 Howton, F. W., 62 Hubert, H., 594 Hughes, C. C., 152 Hughes, E. C., 276, 278 H;ull, C. L., 161, 169 Hume, D., 583 Hunt, J. MeV., 225 Hunter, F., 411, 485 Huntington, M. J., 198, 459 Husserl, E., 589 Huxley, A., 265-266, 433, 435, 623, 658 Huxley, J., 585 Hyman, H. H., 52, 72, 193, 245, 246, 247, 248, 249, 331, 359, 360, 361 HYmovitch, B., 509 Inkeles, A., 218 Jaensch, E. R., 639 Jahoda, M., 22, 130, 133, 247, 262, 263, 328, 343, 383, 398, 438, 444 James, W., 33, 36, 52, 225, 454 Jandy, E. C., 33 Janet, P., 224 Janis, 1. L., 305 Janne, H., 151 Janowitz, M., 379, 416 Jacques, E., 427 Jaspers, K., 589 Jefferson, T., 403 Johnson, A. B., 47 Johnson, A. 0., 714 Johnston, E., 286 Jones, E., 203
Joyce, J., 22 Kahl, J. A., 246 Kahn, R. L., 55, 72 Kant, 1., 58 Kaplan, N., 369, 393, 421, 425 Kardiner, A., 213, 228 Katz, D., 55, 72 Katz, E., 198, 416, 482, 486, 502, 506 Kaufman, H. F., 511 KaUfmann, F., 154 Keatinge, M. W., 686 Keebler, R. W., 42 Keller, S., 392 Kellerman, H., 655 Kelley, H. H., 368, 457, 509 Kelsall, R. K., 282 Kelsen, H., 563 Kendall, P. L., 333, 344, 346, 459,
616 Kennedy, J. F., 457 Kepler, J., 59, 60 Kerr, C., 422 Kessler, M. M., 41 Key, V. 0., 443 Keynes, J. M., 583 Kherkhof, K., 655 Killian, L. M., 419 Kimball, S., 156 Kingsley, D., 95, 99 Klineberg, 0., 126 Kling, W. B., 396 Kluckhohn, C., 90, 97, 255 Knapp, R. H., 703 Knight, F. H. 647 Kobrin, S., 253 Kocher, P. H., 699 Koehler, W., 114 Koestler, A., 583 Koffka, K., 280 Kolb, W. L., 75 Komarovsky, M., 170 Kotinsky, R., 252, 257, 389, 459 Kracauer, S., 615 Kraft, J., 589 Krieck, E., 583 639 641 Kriesberg, M.,' 444 ' Kris, E., 615, 625 K~hn, T. S., 19, 25, 28, 80 Kulpe, 0., 604 Lalo, C., 588 Lamb, C., 265 Landecker, W. S., 402 Lander, B., 239-240 Langer, S. K., 186 Langland, W., 265 Lankester, E., 677 La Piere, R., 105-106
Lashley, K. S., 101 Laski, H., 113-114, 273 Laswell, H. D., 213, 272, 275 280 286, 408, 543, 615 " Lazarsfeld, P. F., 22, 62, 155, 170 185, 187, 198, 240, 266 325 330' 333, 344, 346, 379, 396: 403: 409: 416, 421, 482, 506, 543, 546 580 609-628 ' , Le Dantec, F., 655 Le~bniz, G. W. von, 20, 21, 41, 719 Le~ghton, A. H., 152 LeIt~s, N. C., 543, 615 Lemn, V. 1., 378, 567 Lerner, D., 408 Le Shan, L. L., 478 Lesser, A., 87 Leudet, M., 655 Levy, H., 642 Levy, M. J., Jr., 151 Levy-Bruhl, L., 587 Lewin, K., 169, 225 Lewis, C. S., 356 Lewis, G. C., 18, 69 Lewis, G. F., Jr., 444 Liddell, H. S., 261 Lilley, S., 702 Lincoln, A., 199 521 Lindzey, G., 30,' 427, 439 Linton, R., 53-54, 281 458-459 Lippit, R., 169 ' Lippmann, W., 34 L~pset, S. M., 69, 193, 195, 245, 379 LIpson, E., 713 Litt, T., 114 Littlewood, J. E., 32 Lobaschevsky, N., 25 Lobel, L. S., 130, 260 Lockwood, D., 151 Loeb, M. B., 219 Lohman, J. D., 218 Loomis, C. P., 37, 485 Loomis, Z. K., 37 Lorenz, T., 690 Lovejoy, A., 35 Lowe, A., 70 Lowell, A. L., 278 Lowenthal, L., 259, 546 Lowie, R. H., 88 Lukacs, G., 574, 588 Lumsdaine, A. A., 305, 543 Lumsdaine, M. H., 305 Lundberg, G. A., 154, 172, 396, 644 Lunt, P. S.,264, 411, 511 Lynd, H. M., 230, 521 Lynd, R. S., 230, 521 Lynn, K. S., 242
Mach, Eo, 21 MacIver, R. Mo, 40, 129, 154, 236, 275, 385, 40~ 51~ 596, 63~ 675 Mack, R. Wo, 72, 246 MacLean, Mo So, 210 MacPike, E. F., 719 Major, R. Ho, 59 Malewski, Ao, 72 Malinowski, B., 88, 97, 99, 101, 120, 156, 178, 572 Mallet, C. Eo, 689 Mandelbaum, M., 569 Mandeville, 35, 515 Mangan, So, 286 Mannheim, K., 69, 271, 272, 276, 286, 290, 299, 449, 554, 562, 567, 574, 576, 583, 588-600 March, J. Co, 72, 509, 510 Marden, O. So, 244 Margenau, H., 60 Marsh, Ro, 75 Marshall, T. H., 63, 70, 74, 75 Martindale, D., 37, 81 Martineau, H., 403 Martov, Lo, 378 Marwick, D., 282 Marx, K., 19, 22, 34, 38-40, 43, 56, 79, 106-108, 120, 176, 556, 559, 565, 566, 573, 574, 575, 576, 580, 581, 588, 589 Marx, Lo, 702 Mason, Fo S., 698 Mason, Wo So, 55 Masson, Do, 689 Mauss, Mo, 562, 594 Maxon, L. R., 298 Maxwell, J. C., 28, 44, 60 Mayo, Eo, 134, 166, 207 McCurdy, A. Co, 242 McDougal, M. So, 286 McGill, V. J., 229 McKay, H. D., 255 McKeon, R. P., 470 McLachlan, M., 700 McNeill, To, 697 McPhee, W. N., 187, 330, 344, 421 Mead, G. H., 34, 52, 128, 293, 313, 319, 320, 323 Mead, M., 224 Meadows, P., 264 Mendelsohn, E., 19 Merei, F., 428 Merriam, C. E., 647 Merz, J. T., 58 Meyers, G., 221 Meyerson, A., 266
Michaelis, J. Do, 691 Michels, R., 286, 381, 583 Mill, Jo S., 32, 34, 68, 69, 70, 288 Miller, G. A., 408 Miller, P., 702 Miller, So Mo, 62 Miller, W., 654 Mills, C. W., 71, 76, 511, 583, 584, 599 Mills, D. L., 402 Mills, T. M., 468 Mira y Lopez, Eo, 262 Mitchell, J. C., 392 Mitchell, L., 22 Moles, A. A., 21 Monson, Sir W., 713 Moore, G. Eo, 26 Moore, W. E., 95-96, 405, 435 More, L. T., 710 Moreno, Jo Lo, 414 Morison, S. Eo, 689 Morland, S'ir S., 685 Morton, C., 687 Mosier, R. D., 243 Mowrer, O. H., 130 Mueller-Freienfels, R., 583 MUir, R., 273 Mullinger, Jo B., 687 Murchison, C., 114, 266 Murphy, Go, 27 Murphy, R. J., 246 Murray, G., 225, 229 Murray, Ho A., 114, 213 Myrdal, Go, 104, 518, 582 Nagel, Eo, 152 Napier, J., 714 Needham, Jo, 114, 697, 711 Nehru, Jo, 109 Nelson, Bo, 76 Nevins, A., 19 Newcomb, T. Mo, 361, 368, 408, 425, 426, 446, 449, 459 Newman, S. S., 160 Newton, 36, 41, 42, 48, 60, 659, 710, 717, 720, 724, 725, 726 Nicholas, Mo, 688 Nicolay, J. G., 521 Niemeyer, Go, 114, 235 Nietzsche, 340 Nisbet, R. A., 422 Oberschall, A., 23 Odin, Ao, 695 Offenbacher, M., 693, 694 Ogburn, W. F., 24, 164, 302 Oldenburg, H., 714 Olschki, L., 718
Opler, Mo E., 123 Oppenheim, M., 713 Ore, 0., 49 Organski, K., 450 Ortega y Gasset, J., 407 Orwell, Go, 433, 435 Osgood, Co Eo, 43 Osipov, Go, 77 Oughtred, W., 677 Owen, R., 433 Page, Co Ho, 341, 379, 385, 403, 429 Pagel, W., 681 Pareto, V., 19, 43, 644 Parker, Go Ho, 93 Parker. 1., 687, 690, 700 Parsons, To, 51, 55, 56, 64, 79, 100, 109, 110, 114, 130, 150, 151, 183, 237, 25~ 261, 272, 373, 380, 384, 395, 404, 449, 511, 583 596 654 660 ' , , Pascal, 52, 688 Pastore, N., 584 Paulsen, F., 690, 692 Pavlov, 1. P., 26 Pearlin, L. 1., 257, 379 Peirce, C. S., 163, 174 Pellegrin, R. J., 72, 412 Pelseneer, J., 697 Penrose, Eo, 27 Perrin, P. G., 689 Petersilie, A., 692 Petrie, Jo, 692 Petrovievics, B., 25 Pettee, G. S., 230 Pettit, Go, 655-656 Petty, W., 713, 727 Piaget, J., 172 Pieris, R., 256 Pinner, F. Ao, 256 Pinson, K. S., 691 Plant, Jo So, 205 Platao, 23, 68 Pledge, H. T., 386 Poggi, F., 72 Pool, 1. de S., 615 Popper, J., 26 Pratt, C. Co, 604 Prescott, 0o, 173 Price, D. J. de So, 19, 41, 42 Quastler, H., 408 Rabany, Co, 272 Radcliffe-Brown, Ao R., 88, 91-92 Raistrick, Ao, 698 Raleigh, Sir W., 724 Ramus, P., 689 Ranulf, S., 229, 452
Raven, B., 509 Ray, J., 677, 679, 682 R~ader, Go Go, 459 Reaumur, R. de, 658 Redfield, R., 115 Reed, S. W., 17 Reissman, Lo, 264 Rey, A., 588 Reymond, Ao, 588 Reyniers, Jo Ao, 703 Rice, S. Ao, 168 Richards, 1. A., 595 Richardson, C. F., 685 Richet, C., 46 Rickert, Ho, 589, 604 Riecken, Ho, 34, 78 Riesman, Do,.27, 71, 76, 236, 492 499 Rigaud, S. J., 677 ' Rigaud, So P., 46 Riley, J. W. Jr., 379, 396 Riley, M. W., 257, 379, 396 Ritter, W. E., 114 Rivers, W. Ho R., 92, 572 Roberts, Ao H., 239 Robin, J., 660 Robin, L., 588 Rockefeller, J. Do, 266 Roethlisberger, Fo J., 133, 166, 224, 278, 670 Rogow, A., 496 Rokeach, M., 239 Romano, Jo,261 Rooke, L., 719 Roper, Eo, 247 Rosen, B. Co, 418 Rosen, Go, 697 Rosenberg, Ao, 639 Rosenberg, Bo, 37, 62 Rosenberg, Mo, 155, 185, 240 Rosenfeld, Eo, 410 Rosenthal, Co S., 257 Ross, E. Ao, 22 Rossi, A. So, 198, 305 Rossi, P. Ho, 71, 218 Rost, Ho, 694 Rosten, Lo Co, 209 Rosenzweig, S., 213 Rousseau, J. J., 48 Royal Society, 676-678, 680, 685-686, 695, 696, 715-719, 721, 727, 729 Rush, B., 59, 253 Russell, Bo, 26, 58, 583 Russell, E. So, 114 Rust, Bo, 657 Ryan, Bo F., 497
Saenger, G., 245 Saintsbury, G., 37 Saint-Simon, C. H., 18, 48 Sait, E. M., 140 Salvemini, G., 49 Samuel, H., 444 Sandburg, C., 445, 456 Sandow, A., 583 Sapir, E., 205 Sarton, G., 17,36,660 Savile, Sir H., 715 Sayre, J., 443 S'chachter, S., 409 Schaxel, J., 114 Scheler, M., 229, 561, 565, 569, 577, 583, 589, 591, 599, 652 Schelting, A. von, 595, 601, 605 Schlick, M., 588 Schillp, P. A., 518 Schneider, C. M., 255 Schneider, L., 130, 496 Schofield, R., 19 Schreiber, H., 642 Schuhl, P. M., 587, 588 Schumpeter, J. A., 158 Sears, R. R., 184 sec;ao de Pesquisas da Divisao de Informac;6es e Educac;ao do Ministerio da Guerra dos E.U.A., 183,305,306,311,312, 321-322, 353 Selvin, H. C., 195 Selznick, P., 72, 130, 195 Sewell, W., 62 34, 41 Shakespeare, Shapiro, M., 457 Shaw, C. R., 255 Sheffield, F. D., 543 Sherif, C. W., 374, 473 Sherif, M., 176, 361, 374, 425, 478 Sherrington, C. S., 114 Sherwood, R. E., 142, 446 Shibutani, T., 366, 368 Shils, E. A., 22, 134, 237, 438, 508, 512, 590, 596, 598 Shipton, C. K., 689 Shryock, R. H., 585, 602 Sigerist, H. E., 585, 654 Sills, D., 398 Simmel, G., 19, 32, 38, 43, 48, 56, 231, 373, 376, 377, 396, 399, 406, 407, 435, 4!l7 Simon, H. A., 72, 408, 509 Simpson, G. E., 110, 405 Singer, C., 386 Slutsky, E., 26 Small, A. W., 33, 497
Smith, A., 33, 104 Smith, B., 337 Smith, E. D., 619 Smith, K., 179-180 Smith, M., 305 Smith, M. W., 478 Soddy, F., 645 Sombart, W., 711, 713 Sonnichsen, C. L., 676 Sorel, G., 588 Sorokin, P. A., 37-38, 44, 56, 64, 73, 79, 156, 167, 220, 225, 370, 377, 396, 398, 554, 563, 564, 572, 573, 579, 585, 594, 596, 599, 700, 701, 702 Spearman, C., 27 Speier, H., 573, 615, 652 Spencer, H., 22, 34, 43, 46, 56, 58, 401, 402 Spencer, J. C., 253 S'pengler, J. J., 34-35, 39 Sperling, 0., 261 Spier, L., 160 Spiro, M. E., 151, 410 Spitzer, L., 207 Sprat, T., 676, 678, 679, 680, 713, 715, 717, 724, 725 Sprott, W. J. H., 241, 253 Srole, L., 239 Stalin, J., 301 Stamp, Sir J., 645 Stanton, F. N., 259, 543, 546 Star, S. A., 305 Stark, J., 639, 656 Steffens, L., 143, 280 Stein, M. R., 22, 71, 76 Stephen, L., 33 S'tern, B. J., 584, 585, 659 Stern, E., 391, 392 Stern, G., 601 Stern, W., 276 Sterne, L., 22 Stevenson, R. L., 302, 610 Stewart, D. D., 195 Stewart, F., 480, 508 Stimson, D., 685, 688, 713 Stogdill, R. M., 396 Stoltenberg, H. S., 40 Stone, R. C., 196 Stone quist, E. V., 348 Stouffer, S., 52, 172, 183, 302, 305, 325, 334, 419, 45~ 49~ 499 Strachey, J., 33 Straus, M. A., 497 S'uchman, E. A., 305 Sullivan, H. S., 224
Sumner, W. G., 19, 43, 129, 279, 361, 383, 645, 65.2 Sussmann, L., 444, 445, 446 Sutherland, E. H., 22 90 158 217 278 ' , , , Swammerdam, J., 682 Swanson, G. E., 368 Tagiuri, R., 439 Talland, G. A., 427 Tandy, J., 216 Tarde, G., 39, 183 Temple, Sir W., 45 Terrien, F. W., 403 Thackeray, W. M., 434 Theodorson, G. A., 403 Thiessen, Prof., 640 Thomas, D. S., 24, 498 Thomas, W. 1., 34, 129, 515, 516 Thomson, T., 723 Thorndike, E. L., 26 Thorner, 1., 130, 702 Thrasher, F. M., 255 Thurstone, L. L., 610 .Tillich, P., 601 Timascheff, N. S., 37 Timeniev, A. 1., 567 Timms, N., 264 Toby, J., 396, 419 Tocqueville, A. de, 104, 653 Tolles, F. B., 698 Tolman, E. C., 30 Tonnies, F., 38, 485 Toynbee, A., 585 Thoeltsch, E., 589, 684 Trotsky, L., 378 Trotter, W., 59 Thow, M., 72 Tumin, M. M., 435 Turner, F. J., 593 Turner, R. H., 253, 266, 368, 376, 417 Tylor, E. B., 40 Uexkiill, J. von, 114 Ungerer, E., 114 Van Nieuwenhuijze, C. A. 0., 69 Veblen, T., 60, 136, 137, 166, 215, 275, 582 Vico, G., 46 Vidich, A. J., 22, 82 Vierkandt, A., 546 Vincent, G., 33 Von Wiese, L., 38, 278, 384, 485 Walker, E. R., 168 Wallace, A. R., 25 Waller, R., 717
Waller, W., 22, 147, 286 Wallerstein, J. S., 217 Waples, D., 163, 615 Ward, L. F., 22, 58 Warner, R. A., 219 Warner, W. L., 219, 264, 282, 4II, 511 Warnotte, D., 274 Weber, A., 40, 568, 596, 675 Weber, H., 683 Weber, M., 19, 22, 42, 48, 49, 79, 86, 272, 273, 275, 280, 296, 463, 475, 511, 559, 576, 589, 601, 637, 642 675, 676, 681, 69~ 69~ 703 ' Wedemeyer, J., 40 Weinberg, A. M., 67 Weiner, C., 19 Wells, F. L., 101, 224, 225, 265 West, P. S., 247, 328, 343, 383, 398 West, R., 184, 265 Whatmough, J., 161 Wheeler, J., 713 Whewell, W., 721 Whiston, W., 717 Whitehead, A. N., 17,25,28,35 43 114, 166, 682, 683 " Whorf, B. L., 160, 161 White, L. D., 71 Whyte, L. L., 46 Whyte, W. F., 22, 145, 218, 269 Wilensky, H. L., 62, 196 Wilkins, J., 677, 682 725 Williams, L. P., 19 ' Williams, R. Jr., 266, 305, 405 Willey, B., 700 Wilson, E., 49 Wilson, E. B., 114 Wilson, L., 285, 582, 667 Wirth, L., 168, 582, 590, 596. Witmer, H. L., 252, 257, 389, 459 Wolff, K. H., 32, 373, 407, 564 Wolpert, J. F., 427 Wood, A., 25 Wood, M. M., 260 Woodger, J. H., 114 Woodward, J. L., 303, 446 Woodworth, R. S., 276 Woolf, V., 22 Wootton, B., 62 Wren, Sir C., 721, 725, 726, 727 Wright, F. L., 114 Wright, H. F., 478 Wright, O. W., 688 Wundt, W., 275 Wyant, R., 444 Wyle, J., 217 Wyllie, 1. G., 241, 243, 244, 245
Xhignesse,
Lo V., 43
Yellin, So, 246 Yinger, J. M., 110, 405 Young, D., 110, 111, 219 Young, R. F., 687, 689 Young, T., 25 Yovchuck, Mo, 77 Zawadski,
B., 266
Zdravomyslov, A. G., 77, 78 Zeisel, R., 22 Zelditch, Mo, Jr., 17, 72 Zetterberg, R., 72, 459 Ziegler, T., 689, 692 Zimmerman, C. C., 164, 485 Znaniecki, F., 129, 163, 164, 186, 285, 287, 384, 569, 582 Zorbaugh, H. W., 228
,
INDICE
ANALITICO
Agao, teoria dos grupos, 55 Acidia, 265 Acumulagao, na ciencia fisica, 28, 36, 41 e prefiguragao na ciencia social, 37, 41-42, 48 Adaptagao individual, 212-214 Admissibilidade e inadmissibilidade para pertencer ao grupo, 374, 375, 382 definido e extensivo aos grupos, 377-378 graus de, 371 Afastamento das normas, 257 Agrafas, sociedades, 96, 124 Agressao, 208, 621 Alienagao, 238 compulsiva, 380 Alternativas funcionais, 100-103, 119 autonomia, 30-32 consequencias, 98-103 equivalentes, 118-119 pre-requisitos, 99-101 requisitos, 119 substitutos, 64 unidade, 92-94, 102-103 Altruismo, 455 Ambigao, 74, 220, 233, 244, 262 Ambiguidade, intolerancia da, 262,
263 Ambivalencia, 208 em membro do grupo, 380-381 America Legion, 57 Amizade, 353, 357, 409 Analise, comparada ao metodo do materialismo dialetico, 106, 108 como ideologia conservadora, 105, 106, 108, 120 comparativa, 108 da amizade, 409 de reagao na propaganda, 616624
funcional, 55, 67, 80, 87, 96, 103, 118, 122, 191, ver tambem Funcional, analise ideol6gico, 555-557 qualitativa, 82, 482 sociol6gica, 80, 138 Anarquismo, 191 Anedonia, 265 An6malo, dado, 172 Anomia, 55, 179, 181, 192, 207, 239240 aguda, 192, 237 como parte do processo social, 256 como resultado das restrigoes da mobilidade, 256 conceito psicol6gico da, 236, 239 conceito sociol6gico, 235-237 diferentes classes na, 237 distingao de valor-conflito, 266, 267 e as formas de comportamento divergente, 252 elaboragao de dados, 239 escala de objetivos, 239, 251 escala subjetiva, 239, .249 fator an6mico, 239 grau de, 251 indicador de, 238-240 inovagao como resposta, 252-254 ritualismo como adaptagao, 261 simples,237 Ansiedade no processo de desagrupamento, 357 Antecipagao, 39 Antiescolaticismo, 44 Antigos e modernos, conflito entre, 32-34 Apatia, 266 Aposentados, 265 Aristocracia intelectual independente, 297-298 Arrivista, 352
Aspiragao, nivel da, 262 Associagao, diferenga de, 232 Associagao diferencial, 283 Audiencia, 580 bases sociais dn conhecimento, 579-580 medida das comunicag6es, 547548 nas investigagoes das comunicagoes, 546-548 Ausencia de grupo, 302 Autismo, 449 Auto-avaliagao, 227, 294, 320-321, 335, 338, 360, 418 Auto-estimagao, ver tambem Autovaloragao, 266, 268, 279 Autonomia do grupo, 410 Autoridade no grupo, 427-428, 430, 431, 435, 436, 437, 439, 442 Autoridade, teoria da, 53 Autovaloragao, ver tambem auto-estimagao, 244, 268, 279 Behaviorismo, 55 Biologica, diregao, 203-204 Bumerangue, efeito na propaganda, 170 Burguesia, 267-268, 560, 574 Burocracia, 195, 272, 277, 278, 290296, 404 como estrutura social racionalmente organizada, 271-272 de organizagao formal, 281-282 deslocagao de objetivos, 275-277 disciplina na, 275, 276 disfungao da, 274-276 f6rga na, 270 incapacidade na, 273-275, 279281 na norma da personaltdade, 279-280 nos tipos de personalidade, 282283 segregagao na, 273 teorias da, 72 Burocracia, 281 Burocraticas, relagoes com 0 publico, 279-280 disfungoes, 194 estrutura, 193-194 modelo puro, 272 personalidades, 193-194 sentido pejorativo, 274 Burocratizagao, 273, 274 Camarilha politica, 145 "Carreirista social", 391
Casamentos entre diferentes castas, 126, 130 Categorias, 543-577 de algumas sociedades bases, 569-572, 576-577, 587-588 morfologia, 593 sociais, definigao, 385 Cat6licos e ciencia, 694-696, 703 Cerim6nias, 105, 126 sociais, 123, 131-132 Chefe politico, 140 Ciencia, acumulagao na, 682, 683 como organizagao cepticista, 647, 649, 650, 662 desinteresse, 660-661 doutrina, de carater nacional, 654-666 determinantes sociais, 709-711, 716, 718, 727-729 empirismo, 680, 683, 690 e estrutura social, 584-585 e necessidades tecnicas, 635, 714718, 719-721, 726-727, 729 e necessidades militares, 640, 711. 728-729 ethos, 634, 641-642, 651-662 fungao pura, 643-646 hostilidade, 637-638, 644, 645, 647-650 imagens publicas, 646-647 na Alemanha nazista, 585, 632633, 637-640, 648-649 prioridade nas descobertas, 657658, 660-661 propensao dos grupos religiosos para, 690, 694-696, 698, 702, 703, 706-707 racionalidade na, 680 selegao dos problemas, 716-722, 723, 724, 728 sociologia do, 631-634, 652-653 status social, 634-635, 637-638 tabu, secreto, 634-635, 658 Civilizagao, 40-41 Classe, social, 40n., 111 conflito, 73-74, 286-287 e ideologia, 560, 573-575 e religiao, 110 estrutura, 217, 221, 589 media, 267-268, 574 Classicos na ciencia, 41, 47 ambivalencia dos cientistas em relagao a erudigao, 44 em sociologia, 47-48 Codificagao, 72-73, 169, 170 da qualidade da analise, 82 definida, 79-80
profissional, 470 "Coeficiente humanistico" 156 Coesao social, 342-343 401-403 413 " Coletividades, 384-385 Complexo de ~dipo, 156, 388 Complementagao do grupo 373 375-376, 400-402 ' , Complexo do amor romantico 124 Comportamento social 191 ' 192 213 '" Comunicagao, da opiniao publica 443-444 ' entre organizagao de grupo, 43043~, 435-436, 437, 439-440 Comunidade, estrutura da 496498 ' Comunismo na ciencia 634 657659 " "Conceito chave", 88 Conceito sociol6gico, 157-158 Configuragoes hist6ricas 593 Conflito,208-209 ' de grupos de referencia, 321-326 papel, 419-420 racial, 517-519 social, 65, 65n., 66, 79 Conformidade, 191, 203-204, 20620~,212, Z14, 237-238,258,336 Conformlstas, 448 em normas do grupo, 447-448 e mobilidade dos soldados norte-americanos, 344-350 social, 346-347 Conhecimento, base existencial do 554-564 ' relag6es com a base existencial ' 573-580 tipos de" 564-574, 594-597, ver tambem Sociologia do conhecimento Consciencia falsa, ver Falsa consciencia Consequencias imprevistas 118 128-129, 133, 199 664 '698 ' Consequencias mUltipl~s, 1i8 agregado de, 118 desantecipadas, 118, 128-130,133 _ 198-199, 664, 698 ' nao reconhecidas (imprevistas) 118, 12~ 133, 198-199 664 698 ' , Cons~m? ostensivo, 125, 136-137 Contmmdade na teoria social 23-29 ' Conversao ao grupo 351-352 381 441 ' "
Costumes, 205, 406 estereotipado, 34 Craftown, organizagao social 174176 ' Crengas sociais e relag6es sociais 518 ' Crime, 158-159 d~finig6es do, 158-159, 252 dlferenga de comportamento desviado, 218-221 ~o coh::rinho branco, 159, 217 movagao do conceito, 252-254 na estrutura social americana 279-282 ' CUltur~, 40-41, 126-127 padrao, 126-127 popular, 504 sensitiva, 563 Dedugao, 169 Definigao de situagao, 515-516,518519, 645-646 Delinquen.cia juvenil, 252-253, 254 e anomIa, 251-252, 261 Democracia, "ethos", 651, 657 Democratizacao 657 Demografia, ·untformidade 72 Dependencia, grupo de 40'9-410 Derivag6es e COdificag~o formalizada, 168-170 Descobertas multiplas independentes, 24-25 Descontinuidade na teoria social 23-29, 168 ' Des~mpenho do papel, 261 Desmteresse na ciencia, 660 Desmoralizagao, 208 Desonestidade 281 Despersonaliz~gao 279-281 Desvio das norma's 258 Dialetico, materiallsmo, ver Materialismo dialetico Disciplina, na burocracia 275-276 nas fabricas, 666 ' Discriminagao racial, 405-406 Disfuncional, consequencias das formas sociais, 102-103 525 Disfung6es, 103, 118-120, 525 ' definigao, 118 relag6es com a dinamica social 120 ' Disposigao subjetiva, ver Motivos Dissonfmcia, teoria, 75 Doengas, como desvio, 257 Efeito Hawthorne, 34, 133-134 Elites, 377, 572, 597
Elmira, ver Estudo de Elmira Empatia, 454 Engenharia, como tecnica, 668670 Entrevistas, 543, 617, 621 Epitetos, 281 Erro (observac;ao banal) freudiano, 175 Erudic;ao, 42-47, ver t~~bem Or~ginalidade cientIflCa, amblvalencia, 44-46 Escalas (interpretac;oes) de atitudes, 170 Espirito, 322 Estrutura da influencia, 504 religiosa e social, 111-112 Estrutura social, 53-56, 123, 176, 465, 472-473 alternativa, 99-100 comportamento, 195-196 comportamento produzindo, 192193, 204, 208, 212, 213, 221223, 228-230 e conhecimento, conectivos entre, 596-597 e ciencia, 584-585 e esfarc;o auanico, 238 e perspectivas, 553-602 e tecnologia, 635 inconsistencia, 219-220 integrado, 91-92 interdependencia dos elementos, 119-120 Estudo de Elmira, 420, 421 Estudo de Hawthorne (Western Electric) 133-134 "Ethos", 438, 558, 606, 656, 657 Etnioos, grupos, 132: Etnocentrismo, 383, 522-523, 619620, 655 Eunamico individual, 240-241 Evasao institucionalizada, 405, 432433, 434 Ex post facto, interpretac;ao, 310 Falacia Falacia
filos6fica, 602 16gica de afirmar, ou formulac;ao concreta, 604 Familia individual, 94 Familia-problema, 263-264 Falsa consciencia, 341, 548, 574, 591 Fins, heterogeneidade dos, 275-276 Fisica e biologia, cientistas, 41 Foco de atenc;ao, 598 "Folkways", 406
Farc;a, 140, 186, 192, 205, 642, 668669 de grupo, 411 do ponto de vista marxista, 575576 na burocracia, 271-280 nas pessoas envolvidas num grupo de papeis, 463 "Forma ideoI6gica", 564 Freudiano, erro, 174 Frustrac;ao, 213 da ciencia, 659 Funcao conotac;oes da, 86-88, 113. 1i4 como contribuic;ao analise sociol6gica, 135-136 da maquina politica, 138-140 definic;ao da, 118, 129 distinguida da func;ao manifesta, 128-133 foco de pesquisa, 133-134 indispensabilidade da, 109, 113114 latente, 118, 128-134, 135-136, 198 na analise da produc;ao mental, 553 social do castigo, 128 Func;oes da teoria classica, 53, 54 definidas, 113, 130 manifestas, 118, 128-138 na analise da produc;ao mental, 518 Funcional, analise, 55-56, 80 como conservador ideol6gico, 103-104, 105-106, 109, 121 comparada ao metodo do materialismo dialetico, 106-103 da religiao, 109-111 definic;ao, 87 16gica nas ciencias biol6gicas, 116 paradigma para, 117-122
a
Gemeinschaft, 404, 485, 569, 577 Generalizac;oes empiricas, 77, 163170 Gesellschaft, 404, 485, 569, 577 "Gradac;oes de papel", 477 Grupo, 343-344, 365-370, 410-411 afiliados, 377-379, 396-400 autonomia ou dependencia, 409411 autoridade no, 427-429, 430, 431, 434-436, 437, 439, 442-443 durac;ao e tamanho, 398-400
filiac;ao, 335-337, 380 func;oes psicol6gicas e sociais, 353-359 integridade do, 372-376, 400-402 normas e valares do, 351 Grupos de associados, 346 classificac;ao dos tipos, 394-396 como grupos referenciados, 316322, 344-345, 390-391 conceito de, 369-370, 371 selec;ao, 444 sentido contrario, 325-326 Grupos informais, 127, 181-182, 404-405, 431 ambigiiidade do associado, 370371 na burocracia, 277-278, ver tamhem Grupos primarios Grupos primarios, 127, 134-135, 182, 404, 421-422, 423 Grupo de referencia, 313, 387 como conceito, 305 conflito, 298-299 contexto, 330 distinc;ao, 368, 369 referencia, 369 mt'utiplo, 321 negativo, 380, 385, 386, 388, 389 positivo, 386, 440 processo de selec;ao, 331, 387-394, 397-398, 414-424 sedimentaria, 417 teoria de, 51, 52, 75 Habito do povo, "folkway", 406 efeito, ver Efeito HawHawthorne, thorne Hawthorne, estudo de, ver Estudo de Hawthorne Hip6teses sociol6gicas, desenvolvimento das, 156-157 Hist6ria da ciencia, 18, 19, 29, 63 Hist6ria oral, 19, 19n. distinta do recorde, 20-22 Hist6ria e sistematica da teoria sociol6gica, 17-50 Homem marginal ("The marginal man"), 348, 375 Homem de saber, papel do, 582 Hopi, os efeitos da cerimania sabre a chuva, 132-134 Humanistico, ver "Coeficiente humanistico" Ideias,
determinantes 556, 559-564
sociais, 555-
Identificac;ao, 387, 390 Ideologia, conceito do perspectivismo na, 602 base existencial da, 559-561 e estrutura social, 593-595 estrutural, garantia de valida de na, 604-607 hip6tese do interesse na, 598 relativista, 600-601 sob 0 ponto de vista marxista, 574, 576, 591 teoria da, 590-592, 601-602 Ignorancia pluralistic a, 468 Imagem publica, 179-180 Incapacidade cultivada, 33,34, 194, 273-274, 278-279, 671 Inconf'ormismo, 455 distinguido do crime, 449-452 Inconformista, 452, 453, 455 Indeterminac;ao nos descobrimentos dos cientistas sociais, 288-290 Indices das variaveis na pesquisa, 185-187 Indispensabilidade da func;ao, 99, 102, 103 Individuo de varias personalidades, 186 da coisa, 99 da estrutura social, 99 postulado, 99, 102, 103 Induc;ao, 154 Influencia, formas de, 512-513 interpessoal, 481-482, 494-495 como relac;ao social assimetrica, 510 conceito de, 508-509 relagao diferencial, 503-505, 506-507 monom6rfica, 415, 507 Informac;ao, acerca das normas do grupo e valares, 425-429, 439 atraso da, 437 Ininteligibilidade, culto da, 647 Inovac;ao, 214-219, 238-239 anomia, 252-256, em resposta 257 "Insight", 50 Instituicoes sociais, 192-193 Integragao dos organism os biol6gicos, 93 social, 91, 94, 102-103, 343, 578579 Intelectual desviado, 293, 294-295, 296, 297-298 como tipo profissional, 286-287, 582
a
definigiio da, 287-288 distingiio entre burocratico e independente, 290-292 e conflito-valor com orientadores politicos, 298, 302-303 e frustragiio surgida da burocracia, 302-303 em relagiio com orientadores politicos, 293-298 nas tecnicas burocraticas, 290294 recrutamento pela burocracia, 290-291 "Interesse, hip6tese", 597-598, ver tambem Perspectivas Interveniencia de oportunidades, teoria da, 34 Intercorrencia varia vel, 161, 166 Intolerancia da ambigiiidade, 262, 263 Invengoes multiplas independentes, 566 Inventarios proposicionais, 80 Inventos, 717-718 "Isolado" social, 352, 391 e orientagiio dos valores aos grupos a que nao se pertence, 350-354 Isolamento em grupos, 431-435
Legitimidade, 210 atribuida aos acertos institucionais, 349, 350, 353 de forga, 192 Lei natural, 451-452 Leis sociol6gicas, conceito de, 165 Lideranga, 415 Lider, ineficiencia dos nativos, 438 do grupo, 427, 431 Macro-sociologia, 72, 75, 79 Magica, 100-101, 122-123, 177-178 Maquinas politicas, 183, 268-2'69 Marginal, homem, 347-348, 375-376 MartiI', 454 Marxismo, 559-560, 567, 575-576 Marxista, teoria ver Teoria marxista Massa, cultura, 547 comunicagoes, 546-547 persuasiio das, 178-179 Materialismo dialetico, implicagoes ideol6gicas, 106
Mecanismo de retorno, 194-195,374 Membro nominal do grupo, 371 Metas culturais, 213, ver tambem Objetivo Metodologia (l6gica do procedimento) 154-155 da analise social, 85 Micro-sociologia, 72, 79 Milieu, social, 389 Mirriri, reag6es estandardizadas do, 123 Modelos variaveis, 404 Monitor silencioso, 432 Motivos, 127, 136-137 autonomia funcional dos, 275276 distinto de fungiio, 89-90, 126 dos cientistas, 632, 637, 660-661, 709-712 por conformidade ou dissidencia, 126 transformagiio dos, 275-276,277278 Mudanga cultural, 114 estrutural, 107 social, 106, 114-115, 149, 192-194 tecnol6gicas, 663 como instrumento de poder social, 666-667 conseqiiencias sociais na, 664665 necessidades das pesquisas, 671672 Niio afiliagiio, conceito de, 372-473 com referencia ao grupo, 390394 fungoes de orientagiio positiva, 347-351, 366 grupos de, 346, 369, 370, 371 Niio membros, status de, 375 tipologia, 373-382 . _ Necessidades na determmagao da pesquisa cientifica, 581 social, 597 Negativa, referencia, 387 .. Negros e assimilagiio do prestlglO, 249 e movimento, .219, 248 e traidor da classe, 518 Neofobia, 206 Neurose compulsiva, 261 Niveis de aspiragao, 223-225 Noblesse oblige, 442 Normalidade, ver Anomia
Normas, 257-258, 384-385, 447-448 dinamicos, 267-268 e anomia, 236-237,244 e conversiio, 441 e objetivos culturais, 204-205, 214, 222-223, 226-227, 228229, 230-231, 233-234 Nulificabilidade, 162 Objetivos, 220 alternativas culturais, 259 desencanto com a America, 266267 deslocamento de, 275-276 e anomia, 279, 287-288 e normas institucionais, 204213, 214, 222-223, 227, 229, 233 receptividade, 251 Observabilidade, 328, 465-466, ver tambem Visibilidade Observag6es, papel criativo das, 173-174 protocolos dos, 118, 127 Ocupagoes, pesquisa cumulativa na, 207-208 especializagiio nas, 659 mobilidad8 social, 144-145 serie (relaciio) de, 218 significagiio funcional das, 235236 Operacionalismo, 185 Opiniiio publica, como foco de pesquisas de comunicagoes das massas, 537 observabilidade da, 442-447 Ordem das bicadas, 271, 280n. Orientagoes gerais na sociologia, 155-157,169 sociais, 426 te6ricas, 64, 155-157, 168-169 Orientadores politicos, 298-301 Originalidade, 42-47 Padriio de serendipidade, 172 Painel, tecnico da entrevista, 182 Pais da ciencia, 18n, Panaceistas psicol6gicos, 519 Papel desempenho, 407-409, 410 "Papel modelo", 388 Papel sequencia, 264-265 Papeis: conflito, 52, 186-187 multiplos, 54, 56, 459-460 perda dos, 264-266
social, 53, 54 Paradigma, da analise funcional, 150 categorias envolvidas no, 117-118 prop6sitos, 118-119, 121-122 Paradigmas, codificagiio da teoria, 79-83 de desvios de comportamento social, 80n, fungiio dos, 80-84, 121-122 na analise funcional, 117-121, 150 na sociologia do conhecimento, 80n. nos casamentos inter-raciais, 80n. Paradoxic der Folgen, 275, ver tambem "Consequencias imprevistas" Parcimonia, conceito de, 341 Participagiio, diferencial, 127 Pathos, 279n. "Pesquisa de Elmira", 420 Pesquisa nos grupos referenciados, 198, 328, 384 conceito da privagiio relativa em, 312 contextos de grupo, 330 descontinuidades na, 168, 361 empirica, 160-161 fungiio criativa, 318n. hip6teses, 168-169 indices de qualidade, 185-187, 340 modelos comparativos, 312 na psicologia social, 335 orientagiio pelos grupos a que o individuo pertence, 214 papel na fungiio de analise, 86 sociologia funcional, 306-307, 365 Percepgiio, 439 "Periferico", membro de grupo, 371 Personalidade ocupacional, 195 reflexiva, 33 Perspectivas, 295-296, 298-299, 300, 341, 536, 546, 567, 598, 602, 603, 604 Perspectivismo, 598 Pietismo, na ciencia, 689-694 Plausibilidade, 161-163 Pluralismo, 422 Polarizagiio, processo de, 65-68 "Policia de pensamentos", 432 Post factum, 161-163, 169
Pre-descobertas e antecipagoes, 29, 34 definigao, 24 e redescobertas, 24, 28 identificagao, 30 Preexistentes, regras, 271 Predigao, 162-163, 166-167,200, 602 campo de, 198, 411-412 problema sociol6gico, 288 suicida, 198, 201, 517-518 Pressao de grupos, 443-445 Prestigio social, relativo dos grupos, 411 Previdencia social, 270 Primarios grupos, 127, 134-135, 182, 404, 421-422, 423 Produgao, concentragao de ferramentas, (instrumentos) e equipamentos, 273 relagao dos, 559 Profecia, 34, 200, 515-531 Proletariado, 574-575 Propaganda, 175-176, 181-182, 609612 como explanagao, 176 contida na analise de simbolos, 398, 399, 615-616 definigao, 609 de respostas inesperadas (imprevistas), 611-612 efeito de bumerangue, 617-622 tecnol6gica, 624-628 Protestante, etica, em relagao as empresas e aos neg6cios 475 ' Protestantes, propensao ao estudo cientifico, 698-702 Pseudo-Gemeinschaft, 178, 556 Puritano "ethos", 675-684 e ciencia, 676-678, 679 influencia na educagao cientifica, 681-684, 686, 688 valor cientifico, 688-689, 697-698, 704, 706 Puritanismo e ciencia, 74n., 675 Puritanos na Real Sociedade, 684686 "Quakers" e crencia, 698 Qualitativa, analise, ver Analise qualitativa Quantificagao, 186 Racionalizagao, 206n., 555 Radicalismo, 449 Reabilitagao das observagoes, 545
Reagao, analise, 616 Reacionario, 448 "Reacionarismo", 448 Rebeliao, 221, 229-230, 238 como adaptagao a anomia, 266268 na adolescencia, 267-263 Reducionismo, 454 Referencia, modelo de, 318-319, 420, 570 Referencia individual, 368 individuo bem sucedido, 321 selegao, 387-388 Relagao industrial e papel do governo, 657-658 Relacionismo, conceito de Mannheim, 602 Relagoes entre pretos e brancos nos E.U.A., 126 Relativismo, 602 Religiao, 95-96 analise funcional, 96, 103 como contra Ie social, 352 fungao integradora, 95 indispensabilidade, 99-100 teoria marxista da, 111 Renegado, 352 Representa<;oes coletivas, 160-161, 634-635 Ressentiment, 229 Retraimento, 226, 263, 264-265 como adaptagao a anomia, 264 definido, 260 na burocracia, 275 Riqueza acumulada, 208-209 Sacrificios, 326-327 relacionados com a privagao relativa, 308, 309, 310 Sagrado, 277-278, 648, 662 escolas de pensamento, 569 normas, 205 Sangoes, 271 Santificagao, processos de, 278 Satisfac;ao da Arte, 278-279 Secularizagao, 680-681 processo de, 278-279 Secundario, grupo, 404 Segredo burocratico, 435 Serendipidade, 174 Servidores do povo, 174, 280 Simbolo da analise de propaganda, 615 Sistema social, 53 indices estatisticos de, 342-343
Sobrevivencia social, 97, 98 Social: mudanga, 106-107, 148-149, 193, 568 circulo, 579 coesao, 165, 166, 167, 176 contrale, 425-430, 437-439, 440, 451-452 diferenciagao, 193 equilibrio, 194-195 homeostase, 194-195 percepgao, 439 pr6prio, 293-294 relacionado com os trabalhadores, 664-665 "Socializagao antecipat6ria", 347, 351 da crianga, 224-225, 231-233 Sociologia comparativa, 64, 108 Sociologia do conhecimento: bases culturais, 558 conectivos do conhecimento e sociedade na, 596-597 contexto social da, 554-557 e ocupagoes, 596-597 produgao mental analisada na, 558 teoremas na, 486-488 Sociologia integral, 55-56, 79 Sociologia sovietica, 77, 78 Sociometria, 414 Solidariedade social, 92, 187, 277278 Subculturas, 174-175 Subgrupos, 192-193, 267-268, 371372, 402-403 Sucesso, 218, 220 do culto, 207-208 monetario, 208, .209-210,215, 231, 241-243, 244 prot6tipos, 210-211 Suicidio, profecia, 198, 200-201, 205-206 SUicidios, relagao, 143-150 "Superconformidade", 257 "Supersubmissao", 226, 257 Stande, 278 Standesystem, 472 Status, 206-207, 330, 332, 458-460 acabado, 473-475 atribuido, 475 burocratico, 670 fungao do, 469-470 mudanga no, 156, 157 relatado como fungao conspicua, 136-137
Tabu na exogamia, 126 Tabus hist6ricos, 205 Tecnica, engenharia como, 668-669 social de natureza apolitica, 290292 Tema de sucesso, 241-242, 243, 244, 245, 246 Tematica na analise da propaganda, 615 Tensao, 208-210 Teorema de Thomas, 34, 515, 516, 519 Teoria da informagao, 407-408 Teoria da opiniao publica, 72 Teoria de medio alcance, 19-72 atributos da, 78-80 base politica, 68-73 consolidagao da, 63, 72, 76, 79 estere6tipo dos teoristas, 65 e teoria sociol6gica geral, 62-64 exemplos sociol6gicos, 51-52, 53, 72
raizes hist6ricas, 68-69 rejeigao da, 73-74 uscs da, 51 Teoria econamica do valor, 26 Teoria do grupo de referencia e mobilidade social, 344 auto-avaliagao, 360 conformismo de valares, 344 elementos estruturais, 316, 317 categoria nos status impessoais, 326-327 inconformidade na, 447 orientagao aos nao pertencentes ao grupo, 312 rela<;ao entre tipos de grupo, 361 socializacao disfuncional antecipat6ria, 348, 349 observabilidade, 408-409 Teoria marxista, 39-40, 55-56, 67, 70-72, 79 Teoria sociol6gica, codificagao na, 168-169 coerencia intern a, 168 comparada a outras ciencias, 154-155 conceito na clarificagao devida a pesquisa, 184-187 consolidagao, 363-364, 416 dados extraidos da pressao, 171177 de medio alcance, 19-83 fungoes da, 165-166 generalizagoes empiricas da,
163-164 hist6ria da, 34 interligagao com metodologia e tecnica, 154-156 orientagao sociol6gica geral, 156157, 169 papel do desenvolvimento da pesquisa empirica, 153, 168170, 177-181, 305, 309, 310, 317-318, 329-330, 480-481 post factum, interpretag6es, 161163, 168-170 Trobriand, ilheus, 125, 178, 524 Unidades de especificagao, 102103 Universalismo na ciencia, 654-657 Universal, funcionalismo, 103 Urbanizagao, 528 utopia, 601-602 Utopismo, 449, 519, 594 Validade, criterios dinamicos da, 601-607 garantias estruturais, 605-606 Valor, 204-205, 599-600 Valor-assimilagao, 351-352 Valor-conflito, 215-216 distinguido de anomia, 266-267 Valores, classe de neg6cios, 210-2'11
culturais, 599 grupo, 263, 422-423
process os na assimilagao, 362363 social, 194, 381, 417, 604 Varias personalidades, 186 Variaveis intercorrentes, 161 intervenientes, 166 Verdade, socialmente condicionada,556-557 tipos de, 572-573 Vicio, como "neg6cio", 145-147 "Virtuose", 226 Visibilidade, 53, 406-409 da opiniao publica, 443-447 de grupos de normas e va16res, 424-428 de normas de papel desempenho, 429-435, 436, 437, 439 obstaculos a, 436-437 resistencia a, 431-432, 433 tipos de individuos pr6prios a manter, 437, ver tambem Observabilidade Vit6ria de Pirro, 545 Votagao, comportamento, 187,420424
INDICE
GERAL
PREFACIO DA EDIQAO AMPLIADADE 1968 PREFACIO DA EDIQAO REVISTA DE 1957 AGRADECIMENTOS Parte I -
. . .
Teoria Sociol6gica
SaBRE A HIST6RIA E A SIS,TEMATICADA TEORIA SOCIOL6GICA . A ingenua fusao da hist6ria e da sistematica . o registro publico da teoria sociol6gica . Continuidade e descontinuidade na teoria sociol6gica . Aspectos humanistic os e cientificos da sociedade . Erudigao versus originalidade . As fungoes da teoria classic a .
Weltanschauung, 567-568, 592, 493, 599 Wertbeziehung, 580n., 589n., 602, 605 "Wishful Thinking", 34 Wissenssoziologie, ver Sociologia do conhecimento
SaBRE AS TEORIAS SOCIOL6GICAS DE MEDIO ALCANCE Sistemas totais de teoria sociol6gica . Press6es utilitarias para sistemas de sociologia . Sistemas totais de teoria e teoria de medio alcance . Respostas polarizadas as teorias de medio alcance . Processo de polarizagao . Assentimento a politica da teoria . Rej eigao da teoria de medio alcance . Sumario e retrospecto . Paradigma: A codificagao da teoria sociol6gica . III.
FUNQOES MANIFESTAS E LATENTES Abordagem a codificagao da analise funcional na sociologia Os vocabularios na analise funcional Postulados que prevalecem na analise funcional Postulado da unidade funcional da sociedade Postulado do funcionamento universal Postulado da imlispensabilidape Analise funcional como ideologia A analise funcional como elemento conservador A analise funcional como elemento radical A ideologia e a analise funcional da religHio A l6gica do procedimento Urn paradigma da analise funcional na sociologia !tens sujeitos a analise funcional
85 85 86 91 92 97 99 103 103 105 109 113 117 122
Fungoes manifestas e latentes Propostas heuristicas da distin ••ao Observagoes finais P6s-escrito bibliograJico IV.
V.
. . . .
127 131 150 150
INFLUENCIA DA TEORIA SOCIOL6GICA S6BRE A PESQUISA EMPfRICA . Metodologia . Orientagoes sociol6gicas gerais . Analise de conceitos sociol6gicos . Interpreta<;oes sociol6gicas do post factum . Generaliza<;oes empiric as em sociologia . Teoria sociol6gica . Deriva<;oes e codificagoes formais .
153 154 156 157 161 163 165 168
INFLUENCIA DA PESQUISA EMPfRICA S6BRE A TEORIA SOCIOL6GICA . . As fungoes te6ricas da investiga<;ao o padrao de serendipidade . Refundi<;ao da teoria . Reenfoque do interesse te6rico . Clarifica<;ao dos conceitos .
171 172 172 177 181 184
Parte II -
VI.
VII.
Estudos sabre a Estrutura
.
ESTRUTURA SOCIAL E ANOMIA Padroes e metas culturais e normas institucionais Tipos de adaptagao individual Conformidade Inova\iao Ritualismo Retraimento RebelHio " Tenctencia a anomia o papel da familia Notas finais
. 203 . 204 . 212 . 214 . 214 . 223 . 226 . 229 . 231 . 231 . 233
CONTINUIDADE NA TEORIA DA ESTRUTURA SOCIAL E DA ANOMIA . o conceito ampliado de anomia . Indicadores da anomia . o tema de sucesso na cultura american a . Diferenciais na assimil~gao dos valares do exito . A anomia e as formas de comportamento divergentes . Inovagao . Conjecturas uIteriores da teoria . Ritualismo . Retraimento . . RebeIili.o Estrutura social em transigao e desvio de comportamento ..
. 271 . 272 . 274 . 276 . 279 . 282
PAPEL INTELECTUAL NA BUROCRACIA PUBLICA intelectual como tipo profissional status do intelectual e a politica social Intelectuais burocraticos e independentes Recrutamento dos intelectuais pela burocracia publica Posigao burocratica e perspectiva Os orientadores politicos e os intelectuais Frustragoes do intelectual na burocracia
. . . . . . . .
o o
CONTRIBUIQAO A TEORIA DO COMPORTAMENTO DO GRUPO DE REFERENCIA (com ALICE S. ROSSI) . o conceito da privagao relativa . Privagao relativa ou privagao relativa . o grupo a que a pessoa pertence considerado como grupo de referencia . Grupos multiplos de referencia . Uniformidades de comportamento derivadas da teoria do grupo de referencia . indices estatisticos da estrutura social . Teoria do grupo de referencia e mobilidade social . . Fungoes psicol6gicas e fungoes sociais Conceitos relacionados com a teoria dos grupos de referencia
Social e Cultural
INTRODUQAO
ESTRUTURA BUROCRATICA E PERSONALIDADE A estrutura da burocracia As disfun<;oes da burocracia Fontes estruturais de superconformidade Rela<;oes primarias versus relagoes secundarias Problemas para pesquisa
191
316 321 331 342 344 354 359
CONTINUIDADE NA TEORIA DOS GRUPOS DE REFERENCIA E ESTRUTURA SOCIAL . A problematica da teoria dos grupos de referencia .
,.,
Conceitos basicos
1.1. 235 235 238 241 245 252 252 256 260 263 266 268
285 286 287 290 290 293 298 301
1.2. 1. 3. 1.4. 1. 5.
. Clarificagao do conceito do grupo de referencia . Tipos funcionais dos tipos de referencia .. Conceito de grupo e afiliagao ao grupo .. o conceito de nao afiliagao . Conceitos de intragrupo e extragrupo . Conceito de grupos, coletividades e categorias sociais . Grupos de referencia, positivos e negativos
A sele<;ao do grupo de referencia Problema 2. Problema 3.
determinante
.
Selegao entre grupos de referencia potenciais: individuos de referencia . Selegao entre grupos de referencia potenciais, grupos de afiliagao versus grupos de nao afiliagao .
366 367 369 372 382
4.2. 4.3.
Comportamento turais Problema 5. 5.1.
5.2.
do grupo de referencia:
elementos
Parte III -
Observabilidade ou visibilidade . 424 Mecanismo de observabilidade . 429 Observabilidade da opiniao publica pelos individuos que decidem . 443 A inconformidade como tipo de comportamento do grupo de referencia .... 447 Contexto estrutural do comportamento do grupo de referencia: grupos de desempenho de papeis, grupos de status e sequencia de status . 458 Fontes estruturais de instabilidade nos grupos de desempenho de papeis .... 461 Mecanismos sociais para articulac;ao de papeis . 462 Conflito residual no grupo de desempenho de papeis . 471 Dinamica social de adaptac;ao do grupo de status . 472 ..
476
.
476
PADRaES DE INFLUENCIA: INFLUENTES LOCAlS E COSMOPOLITAS . Conversao de pesquisa aplicada em pesquisa te6rica . Tipos de influentes: 0 local e 0 cosmopolita . Estrutura e relac;6es sociais . Caminhos para influencia interpessoal . o status social em ac;ao: Influencia interpessoal . o comportamento de comunicac;6es dos influentes . Padr6es de a valiac;ao reciprocas . o influente e 0 influenciado . Esferas de influencia: Monom6rficos e polim6rficos . Adendo: 0 conceito provis6rio de influencia interpessoal ..
479 480 485 487 494 494 499 502 503 507 508
A PROFECIA QUE SE CUMPRE POR SI MESMA o teorema de Thomas Uma panl.bola sociol6gica Crenc;as sociais e realidades sociais
515 515 516 518
As func;6es e disfunc;6es
. . . .
. . .
A sociologia do conhecimento e as comunicac;6es de massa .
533 535
estlru. 424
Conseqiiencias do compo,rtamento do grupo de referencia Problema 8.
Virtudes do intragrupo e VIClDS do extragrupo Func;6es e disfunc;6es sociais Mudanc;as institucionais por decreto
Selec;ao de grupos de referencia entre os grupos de afiliac;ao . 393 Classificac;ao dos tipos de grupos de afiliac;ao . 394 Lista provis6ria das propriedades do grupo 397 Variac;6es dos grupos de referencia quanto aos valares e normas diferentes .. 414 Selec;ao de grupos de referencia entre categorias de status ou subgrupos, envolvendo constante interac;ao . 420
XIV.
Wissenssoziologie e pesquisa das comunicac;6es de massa .. Materia e definic;ao de problema . Perspectivas de dados e de .f'atos . Tecnicas e processos de pesquisa . Organizac;ao social da pesquisa . Outros problemas e interrogac;6es .
536 536 538 549 549 551
A SOCIOLOGIA DO CONHECIMENTO o contexto social Paradigma para a sociologia do conhecimento A base existencial Tipos de conhecimento Relac;6es do conhecimento com a base existencial Func;6es do conhecimento existencialmente condicionado Outros problemas de estudo recente
553 554 558 559 564 573 580 582
. . . . . . .. .
KARL MANNHEIM E A SOCIOLOGIA DO CONHECIMENTO 587 Antecedentes te6ricos . 588 Teoria de ideologia . 590 Teoremas substantivos . 592 Tipos de conhecimento . 594 . 596 Conex6es entre conhecimento e sociedade Relativismo 600
J'.
ESTUDOS SaBRE A PROPAGANDA NO RADIO E NO CINEMA (com PAUL F. LAZARSFELD) . Modos da aml.lise da propaganda . Analise de conteudo . Analise de reac;ao . Propaganda tecno16gica ou propaganda pelos fatos . Parte IV -
609 610 612 616 624
Estudo sabre a Sociologia das Ciencias ..
629
INTRODUgAo
.
631
A CIENCIA E A ORDEM SOCIAL Fontes de hostilidade em relac;ao a ciencia Press6es sociais sabre a autonomia da ciencia Func;6es das normas da ciencia pura Conclus6es
. . . .
637 637 640 647 649
A CIENCIA E A ES'TRUTURA SOCIAL DEMOCRATICA Ciencia e sociedade o "ethos" da ciencia "Comunismo" Desinteresse
. . .
651 651 653 657 660
Cepticismo organizado
.
A MAQUINA, 0 TRABALHADORE 0 ENGENHEIRO Consequencias sociais das mudangas na tecnologia Anatomia social do emprego Efeitos institucionais e estruturais Implicag6es para 0 engenheiro Especializa~iio A etica profissional Status burocratico As necessidades de pesquisa social Organiza~iio da equipe de pesquisa Patrocinio da pesquisa As dire~oes da pesquisa
. 663 . 664 . 664 . 666 . 668 . 669 . 670 . 670 . 670 . 672 . 672 . 673
PURITANISMO, PIETISMO E CIENCIA o "ethos" puritano o impulso puritano a ci€mcia A influencia puritana sabre a situagiio cientifica Integragao de valares do puritanismo e da ciencia Integragao de valares do pietismo e da ciencia Afiliagao religiosa dos recrutas da ciencia Pos-escritos bibliograficos
. . . . . . . .
675
CIENCIA E ECONOMIA NA INGLATERRA DO SECULO 17 Formulagao do problema . Transporte e ciencia . Urn tema: 0 problema da longitude . Navegagao e ciencia . A extensao da influencia econamica .
709 709 712 717 722 727
NOTA BIBLIOGRAFICA
731
fNDICE DE NOMES
733
fNDICE ANALfTICO
743
662
675 684 686 688 689 691 696
753
Estrada de Vila Ema, 722 - Fone: 63-8938 Vila Prudente -
Sao Paulo