NATURAL MEDICINE
REVISTA CIENTÍFICA DE MEDICINA NATURAL
Centro de Investigação em Medicina Natural Instituto Português de Naturologia
•
O PAPEL DA FÁSCIA
Nas últimas décadas do século XX, a quantidade
mecanismo de funcionamento da acupunctura no
de estudos sobre a fáscia aumentou significativa¬
organismo, sem conseguir esclarecer totalmente I
NA MEDICINA CHINESA
mente, sendo que estes estudos nos mostraram
este mecanismo.
que este tecido tem um papel bastante mais com¬
Não é nenhuma surpresa que o Ocidente tenha
Parte l
plexo e abranjente no organismo, sendo essencial
dificuldade em aceitar qualquer metodologia que
para o crescimento e suporte do mesmo. No pri¬
não possa ser explicada em termos palpáveis. Li
Paola Augusta Kemenes
meiro InternationalFascia Research Congress em 2007,
Ping, em seu livro 'El Gran Libro de la Medici-\
[email protected]
a fáscia foi definida como: "a componente de tecido
na China" diz sobre este assunto: "enquanto no
mole do tecido conjuntivo que permeia o co rpo, formando
Oriente os conceitos podem ser abstratos, no Oci¬
uma matriz contínua, tridimensional que dá suporte es¬
dente existe uma necessidade de bases palpáveis e
Resumo:
trutural a todo o corpo. Ele interpenetra e envolve todos
científicas para que qualquer método de trabalho
os órgãos, músculos, ossos e fibras nervosas, criando uma
tenha credibilidade" (Li Ping, 2002)
Durante décadas a comunidade científica vem buscando encontr ar a explicação científica para o fun¬ cionamento da acupunctura, e a falta de respostas durante este tempo trouxe a esta prática milenar um olhar de desconfiança do Ocidente. Na última década, com a evolução dos estudos sobre o tecido conjuntivo e seu papel no organismo, muitos pontos começam a ser esclarecidos. Esta revisão mostra em 2 partes, as mais recentes descobertas que colocam a fáscia como a base física e energética para o funcionamento da acupunctura. Nesta 1 parte apresentam-se os estudos sobre o papel da fáscia no DeQQ e na localização dos pontos de acupunctura e em uma próxima edição a 2a parte mostrará a revisão sobre o trajecto dos meridianos. Com esta informação, mostra-se a acupunctura por uma visão palpável e compreensível para a mente ocidental relacionando esta prática milenar a estruturas anatómicas, mostrando assim que o uso da acupunctura pode estar perfeitamente inserido na prática da medicina moderna.
integração para o funcionamento dos sistemas do corpo."
A fáscia, segundo mostram os estudos mais re
(Findley & Shalwala, 2013)
centes (Myers, 2009; Findley, 2012; Langevin,
A fáscia promove suporte mecânico, movimento,
2009), pode ser uma espécie de "elo perdido" nos
transporte de fluidos, transporte celular, contro¬
estudos sobre o funcionamento da acupunctura,
a
la o metabolismo em outros tecidos e fornece
esclarecendo alguns conceitos em uma lingua¬
ao corpo globalidade. Ao conectar todo o corpo
gem palpável, de fácil compreenssão para a mente
em uma rede única sem interrupções, a fáscia é
ocidental, o que auxilia sobremaneira a aceitação
o tecido capaz de tran smitir informaç ões a lon¬
desta metodologia nos países Ocidentais, especial¬
ga distância. O equilíbrio e a integridade da fáscia
mente pela comunidade médica.
refletem-se na homeostase do organismo ou no
Com os dados obtidos nestes estudos mais recen¬
desequilíbrio do mesmo.
tes, pode-se dizer que a fáscia (rede de tecido con
Provavelmente o termo globalidade, ou rede única
• Introdução Há mais de 100 anos atrás, quando o Ocidente
juntivo) é a estrutura física por onde passa o Qi. E
sem interrupções, ou ainda outros termos indi¬
sobre este tecido que estão localizados os canais
cando a capacidade deste tecido percorrer todo o
energéticos ou meridianos, e quando algo não está
termo "fáscia" significa banda (um longo e estrei¬
corpo chamou a atenção de alguns membros da
bem com a fáscia o organismo irá estar em dese¬
to pedaço de material).
classe científica, especialmente os ligados a estu¬
quilíbrio (Langevin e Yandow, 2002) .
O estudo da fáscia não avançou durante muito
dos de circulação de energia no corpo e os ligad os
Em condições normais a fáscia deve ser flexivel e
descobriu a Medicina Tradicional Chinesa, ou
tempo já que sua observação em cadáveres estava
a terapias manuais e holísticas.
deslizante. As restrições e aderências na fáscia que
quando Andrew Taylor Still fundou a Osteopa
longe de refletir a complexidade do seu papel no
Em 2000, em seu livro Energy Medicine, James Osh-
podem ocorrer por stress, traumatismos, más pos¬
tia (Still abriu a American School of Osteopathy em
organismo. Na verdade a própria fragilidade da
man diz que a trama do tecido conjuntivo é uma
turas, etc, tornam a fáscia mais rígida e encurtada,
1892), a fáscia era vista somente como um tecido
fáscia, sendo um tecido finíssimo tornava quase
rede de comunicação semicondutora que pode
levando a dor, restrição de movimentos e mau
de proteção e sustentação, um tecido que envolvia
impossível um estudo mais aprofundado.
transportar sinais entre todas as partes do corpo,
funcionamento dos órgãos. Qualquer problema
e ainda tem a capacidade de gerar energia já que
na fáscia afeta e muitas vezes cria problemas de
cada movimento e cada compressão do corpo faz
saúde para os quais não existe qualquer explicação
com que a grade cristalina do tecido conjuntivo
dentro dos métodos de diagnóstico da Medicina
gere sinais bioelétricos. Assim qualquer movimen¬
Ocidental.
outros tecidos. Na verdade, em latim clássico o
to do corpo produz e faz circular energia e infor¬
Os desequilíbrios da fáscia não aparecem em exa¬
mações. (Oschman, 2000)
mes e métodos complementares de diagnósticos,
Licenciada em Engenharia Zootécnica pela Universidade Estadual Paulista Especialização pela Universidade do Arizona.
Esta capacidade condutora da fáscia desperta a
e podem ser a razão pela qual, já há milhares de
Mestrado em Genética Molecular pela Universidade de São Paulo. Diplomada em Massagem e Medicina Chinesa pelo Ins
atenção de outro grupo de pesquisadores: aque¬
anos a Medicina Chinesa saber avaliar os desequi¬
tituto Português de Naturologia. Terapeuta da área de massagem e acupunctura.
les que há décadas vinham tentando perceber o
líbrios do corpo antes mesmo destes tornarem-se
* Síntese curricular:
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perceptíveis. Assim, apesar da acupunctura e das
cas demonstraram que nas regiões dos acu-
outras vias de transmissão (Mattos, 2010).
descobertas mais recentes sobre o tecido conjun¬
puntos existem numerosos ramos nervosos,
Uma série de estudos no final do século XX se¬
as outras substâncias são sintetizadas pelas célu¬
tivo e seu papel no corpo estarem separados por
plexos e terminações neurais. Estes estudos
guem mostrando o papel do tecido fascial na acu-
las do próprio tecido conjuntivo, os blastos, cuja
milhares de anos, a acupunctura e a fáscia parecem
falharam porém na compreenção das estrutu¬
punctura, e os cientistas viram aqui uma possibili¬
nomenclatura varia dependendo da localização do
estar intimamente relacionadas.
ras envolvendo os meridianos.
dade de através desta relação responder a dúvidas
tecido (osteoblastos, fibroblastos, condroblastos,
do lacunar. Com exceção do líquido lacunar, todas
no mecanismo de funcionamento da acupunctura
etc.) (Bienfait, 2004; Culav et al., 1999).
Modelo neuroquimico ou neurohumoral
que nunca tinham ficado totalmente clarificadas
A matriz extracelular formada então pelas proteí¬
— envolve o efeito mais estudado da acupunc-
nos modelos de estudo usados anteriormente.
nas estruturais fibrosas (colágeno e elastina), pelas
tura, o efeito analgésico. Este modelo mostra
Esta revisão pretende mostrar estes novos concei¬
glicoproteínas adesivas e pelo gel de proteinogli-
A acupunctura começou a ser praticada com mais
que a acupunctura estimula a produção de
tos e novas relações entre o conhecimento Oci¬
canos, é mais abundante que as próprias células
ênfase no ocidente a partir da década de 60, e a
substâncias como endorfinas e serotoninas ou
dental e a filosofia Oriental.
medida que a acupunctura vai conquistando espa¬
estimula a ligação destas substâncias a seus re¬
ço como uma opção terapêutica, cresce o interesse
ceptores, no entanto, a sua explicação para os
e a necessidade de explicar esta metodologia em
efeitos sistémicos da acupunctura carece ainda
termos científicos. No ocidente o método cientí
de confirmação.
• A Acupunctura e o Oci dente - A Necessidade de Confirmação
2.
fico visa dar objetividade as nossas observações
do tecido conjuntivo. E a matriz que determina as propriedades físicas do tecido e a forma do mes¬
• A Fáscia
mo em cada local e regula a actividade de suas próprias células. Essencial ainda é que a matriz
A palavra fáscia, usada no singular por ser um te¬
extracelular distribui as tensões dos movimentos e
cido único, representa um conjunto membranoso
da gravidade pelo corpo, gerando equilíbrio ou de¬ sequilíbrio, ou na linguagem da Medicina Chinesa
Modelo bioelétrico — este modelo surgiu
muito extenso no qual tudo está ligado em conti¬
alguns parâmetros enquanto se investigam outras
quando as análises anatomicas foram incapa¬
nuidade, uma entidade funcional que traz globa¬
variáveis.
zes de explicar os meridianos da acupunctura
lidade ao organismo. Este tecido se espalha por
Na área da saúde normalmente os estudos seguem
e seu trajecto. O modelo bioelétrico revelou
todo o corpo, formando uma rede ou teia contí¬
duas linhas: o estudo dos mecanismos de ação e
que as áreas cutâneas onde se situam os pon¬
nua desde o alto da cabeça até a ponta dos dedos
a eficácia terapêutica, e no caso da acupunctura
tos de acupuntura, assim como a trajetória dos
dos pés, envolvendo fibras musculares, grupos
O colágeno e a elastina são as duas fibras prin¬
ambos trouxeram grandes dificuldades para a co
canais energéticos, apresentam maior conduti¬
musculares, vasos sanguíneos, nervos, e todos os
cipais da matriz extracelular. A proporção entre
munidade científica. Neste trabalho nos interessa
vidade elétrica. A base deste modelo foi a já
componentes do corpo, desde grandes órgãos até
colágeno e elastina varia dependendo da localiza¬
o papel da fáscia no mecanismo de ação da acu-
descoberta ligação dos pontos de acupunctura
a mais pequena célula formando o tecido conjun¬
ção do tecido conjuntivo, sua função principal e
punctura e por isso os trabalhos sobre a eficácia
com áreas de concentração do sistema nervo¬
tivo, que representa 70% dos tecidos do corpo
estímulos externos sobre este tecido.
terapêutica poderão ser consultados em outras
so. O funcionamento do sistema nervoso, cria
humano (Bienfait, 2004). Promove suporte me¬
A elastina, proteína de longa duração, é estável e
empregando a experimentação com controlo de
3.
saúde ou doença.
• Colágeno e Elastina
fontes.
um campo eletromagnético, pois a condução
cânico, movimento, transporte de fluidos, trans¬
tem baixa taxa de renovação. E responsável pela
Até antes de 2000, os trabalhos existentes podem
dos impulsos nervosos envolve uma grande
porte celular, controla o metabolismo em outros
maior parte da elasticidade dos tecidos permitindo
a grosso modo ser divididos em 3 grandes grupos:
movimentação de íons a pequenas distâncias e
tecidos e fornece ao corpo globalidade. E preciso
aos seus filamentos deformarem-se quando ten
os estudos de anatomia; o modelo neuroquímico
cargas elétricas oscilando que geram um cam¬
ter a noção inequivoca que este tecido fornece in¬
sionados, podendo estender-se 150% e retomar
e o modelo bioelétrico (Jayasurya, 1995; Lewith,
po eletromagnético.
tegridade ao organismo, sem a qual seríamos um
sua forma anterior. Não é conhecido qualquer
aglomerado de células e tecidos desorganizados e
mecanismo que estimule a produção de elastina,
1985): 1.
18
Apesar de estes modelos de estudo evidenciarem
sem comunicação entre si.
mas sabe-se que a quantidade de elastina encon¬
Estudos de anatomia — envolvendo normal¬
e esclarecerem algumas das propriedades terapêu¬
O tecido conjuntivo é formado pelas células do
trada no tecido reflete a quantidade de stress me¬
mente dissecação anatómica, onde os cientis¬
ticas da acupunctura, longe estão de substanciar
tecido conjuntivo e por sua matriz extracelular,
cânico imposto a este e a solicitação de deforma¬
tas procuraram relacionar a anatomia do cor¬
muitos dos resultados obtidos pelos acupuntores.
sendo que ao contrário de outros tecidos como
ção reversível (Culav et al., 1999).
po, tanto macroscópica como microscópica,
Por exemplo, o modelo bioeléctrico não é capaz
a pele, ou os músculos que dependem prioritaria¬
O colágeno, proteín a de curta duração, modifi¬
em busca de estruturas que correspondessem
de explicar porque o sinal causado pela estimula¬
mente das suas células constituintes, as proprie¬
ca-se a vida toda. E secretado de acordo com a
aos meridianos e aos pontos de acupunctura.
ção de um ponto de acupunctura chega ao córtex
dades do tecido conjuntivo dependem principal¬
tensão produzida pelo tecido. Tensões mais pro¬
Diversos trabalhos conseguiram relacionar
visual no cérebro mais rapidamente do que seria
mente da quantidade, tipo e organização da sua
longadas levam a deposição de colágeno em série
grande parte dos pontos de acupunctura com
capaz através dos circuito s neurol ógicos conheci¬
matriz extracelular, formada por fibras (colágeno
e assim os feixes de tecido conjuntivo ficam mais
o sistema nervoso. Observações microscópi-
dos, mostrando que provavelmente o sinal utiliza
e elastina), proteinoglicanos, glicoproteinas e líqui-
longos, já tensões curtas e intermitentes densifi-
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cam o cam o colágeno e sua deposição dá-se em para¬
no tecido. O tecido conjuntivo vai ter mais destas
lelo fo formando feixes conjuntivos mais resistentes ^1 lelo
cadeias de glicoproteínas e portanto mais hidrata¬
e compactos, porém com menos elasticidade. e con
ção quanto mais sujeito for a cargas de compres¬
• Fluido Intersticial e Circulação de Agua Livre
efeito biomecânico do De Qi pode ser chamado de compressão da agulha (needle grasp ) (Helms, 1
1995).
Quanto mais feixes de colágeno o tecido tiver,
são como é por exemplo o caso das articulações.
O fluido intersticial preenche todos os espaços
menos elástico ele será. De qualquer forma a ca¬
Desta forma os proteinoglicanos tem a função de
livres entre as células do tecido conjuntivo, entre
a compressão da agulha era a contração da mus¬
pacidade de alongamento do colágeno é bastante
dar rigidez a matriz extracelular, resistindo a com¬
os feixes de colágeno e entre a rede de elastina.
culatura esquelética (Gunn e Milbrandt, 1977) o
restrita, menos de 10% (Mattos, 2010).
pressão e preenchendo espaços.
Este líquido, possui intensa actividade metabólica
que entretanto não era suportado pelos resultados
Esta capacidade de modificação das fibras de
Existem fortes evidências mostrando que a altera¬
com importante papel na nutrição dos tecidos e na
quantitativos das pesquisas, já que a compressão
colágeno parece ser a grande responsável pelos
ção da fisiologia do tecido conjuntivo associada ao
eliminação de substâncias. E a partir deste líquido
da agulha acontecia mesmo em locais onde não
desequilíbrios no organismo, já que uma das ca¬
stress mecânico, provoca uma mudança da quan¬
que se forma a linfa (Moore e Persaud, 2005).
há musculatura esquelética como no pulso ou em
racterísticas fundamentais da fáscia é que o menor
tidade e do tipo de cadeias de proteinoglicanos,
Como foi colocado anteriormente, a densifica-
punturas superficiais apenas atingindo a pele. No
tensionamento, seja ele activo ou passivo, repercu¬
o que altera também a forma habitual do tecido
ção dos feixes de colágeno em resposta a tensões
início dos anos 2000, Helene Langevin e sua equi¬
te sobre o conjunto. Todas as peças anatómicas do
(Bienfait, 2004).
constantes, reduz o espaço extracelular e conse¬
pa na Universidade de Vermont, começaram a tra¬
quentemente o volume disponível para a circula¬
balhar com uma nova proposta: a de que o tecido
ção do fluido intersticial.
envolvido na compressão da agulha era o tecido
Pelo fluido intersticial ocorre a circulação de água
conjuntivo (Langevin et al., 2001). Langevin propôs que a compressão da agulha
corpo desta forma estão ligadas entre si. As fibras de colágeno tornam-se mais densas numa tenta¬
• Glicoproteínas e Integrinas
tiva de defenderem o tecido de tensões, e desta
Durante algum tempo a explicação fisiológica para
forma o tecido fica mais sólido e menos elástico,
As glicoproteínas assim como os proteinoglicanos
livre, diferente da circulação de fluidos chamada
deixando de cumprir sua função mecânica e rece¬
possuem papel estrutural e metabólico no tecido
circulação de água associada. A circulação de água
se dá porque as fibras de colágeno e elastina do
bendo desta forma uma maior carga de tensões,
conjuntivo. Formam o muco de tecidos e secre¬
livre é uma circulação rápida, que ocorre utilizan¬
tecido conjuntivo se enrolam e comprimem a
voltando a se densificar. Além da redução na mo
ções. Estas moléculas tem um importante papel
do as mucinas hidrófilas dos feixes de colágeno
agulha durante a rotação da mesma. Desta forma
bilidade e na elasticidade, a densificação do colá¬
em promover a conecção entre os componentes
como "conductos", uma vez que a fisiologia das
uma ligação mecânica entre tecido e agulha é es¬
geno deixa as fibras mais largas e reduz o espaço
da matriz celular e entre o interior das células e a
mucinas permite trocas osmóticas mediante alte¬
tabelecida e um sinal mecânico é transmitido. A
extracelular prejudicando a circulação dos fluidos
matriz extracelular. Através deste papel, tem uma
ração de densidade no meio interno. Marcell Bien¬
subsequente tradução deste sinal mecânico para a
(Culav et al., 1999).
importante função de regulação, sendo capazes de
fait diz sobre esta circulação: "...Não é ridículo
resposta celular pode explicar os efeitos locais e
promover mudanças não só no formato das célu¬
pensarmos que essa circulação vital poderia ser
distais da acupunctura.
•
las, como na proliferação e diferenciação celular
a circulação energética dos acupuntores. Ambas
O enrolar das fibras do tecido conjuntivo ao redor
(Ingber, 1998).
as circulações de água livre e de água associada,
da agulha, resulta numa grande ampliação da co¬
Segundo componente mais abundante na matriz
As integrinas constituem a principal família de
dependem do movimento da fáscia e confirmam
nexão mecânica entre a agulha e o tecido conjun¬
extracelular. São macromoléculas solúveis com
receptores da superfície celular que intervém na
a noção de globalidade deste tecido" (Bienfait,
tivo no local da inserção.
um papel estrutural e metabólico. Algumas fun¬
fixação da célula à matriz extracelular. A impor¬
2004).
no início da inserção, uma força que estimula as
ções metabólicas importantes destas moléculas
tância das integrinas é reforçada pelas funções
são a hidratação da matriz, a manutenção da esta¬
que desempenham numa ampla variedade de
bilidade da rede de colágeno e assim a habilidade
processos bilógicos. As integrinas transmitem
de resistir a forças de compressão (Bienfait, 2004;
informações de tensão e compressão da matriz
Um dos fenômenos ligados a prática da acupunc-
(Langevin et al., 2001). Uma vez que o tecido
Culav et al., 1999).
extracelular para o interior das células inclusive
tura e que intriga os cientistas há décadas é a cha¬
conectivo é formado por células envolvidas pela
Os proteinoglicanos ligam-se de forma covalente
para o núcleo, e com isso regulam a organização
mada sensação de De Qi. Esta sensação é descrita
matriz extracelular contendo fibras de colágeno
a uma ou mais cadeias de glicosaminoglicanos. As
do citoesqueleto e modulam processos celulares
de muitas formas pelos pacientes: na forma de
e elastina associadas a glicoproteinas e proteino-
cadeias de glicosaminoglicanos tem carga negati¬
como proliferação e diferenciação celular, migra¬
ardor, pressão, choque, calor, etc e muitos auto¬
glicanos de carga negativa (Aumailley e Gayraud,
va e criam um potencial osmótico que faz com
ção e posicionamento das células, ou simpesmente
res consideram o De Qi essencial para o resultado
1998), a atração elétrica deve ocorrer entre o metal
que a matriz extracelular absorva água das áreas
o tamanho e formado das mesmas (Dieter, 2005).
positivo da prática da acupunctura. Enquanto o
da agulha e as cargas do tecido. Esta força de atra-
Proteinoglicanos
fibras a começarem a se enrolar na agulha, sen¬
• A Fáscia e a Sensaç ão de De Qi
paciente sente o De Qi, o terapeuta sente como se
tação da matriz, sendo que o grau de absorção vai
o tecido em volta da agulha se tivesse contraído e
depender do número de cadeias de glicoproteínas
segurasse a agulha com mais força, sendo que este
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Vol. 2
do que esta força parece ser derivada da tensão superficial da agulha, somada a atração elétrica
envolventes o que auxilia na manutenção da hidra¬
20
Existe porém logo
1 Nos trabalhos científicos utilizados neste capítulo o termo utilizado pelos autores é "needle grasp", que traduzi como compressão da agulha na falta de um termo mais correcto, já que o termo grasp i lustra melhor a capacidade do tecido em envolver a agulha durante o estímulo da acu punctura.
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21
çãoé ção é fr fraca, mas com força suficiente para iniciar o enrolamento das fibras na agulha especialmente dado ao pequen diâmetro da mesma. pequeno Uma vez que a agulha de acupunctura esteja acoplada ao tecido, os movimentos feitos na agulha enviam um sinal através do tecido conjuntivo pela deformação da matriz extr acelular como mostra a Figura 1 e a Figura 2. Langevin observou que depois da manipulação da agulha, as fibras de colágeno estavam mais retas, mais pró ximas e mais paralelas. E esta alteração no formato das fibras que causa uma transmissão de sinal mecânico através da matriz extracelular e através do citoesqueleto dos fibroblastos e de outras células do tecido que sofrem uma reorganização activa, este sinal atinge o interior das células, o que deve contribuir para os efeitos terapêuticos da acupunctura (Lavengin et al, 2007). A reorganização do citoesqueleto em resposta ao sinal mecânico recebido pela matriz extracelular pode induzir contração celular, migração ou síntese de proteínas (Maniotis et al., 1997).
Figura 2: Formação de uma espiral no tecido conjuntivo com a rotação da agulha em tecido conjuntivo observado ao microscópi o. Os números de 0 a 7 mostram o número de rotações efectuadas na agulha (Langevin e Yandow, 2002).
A tradução do sinal mecânico para o interior das células com a subsequente resposta celular e seus efeitos em cadeia, podem explicar o porquê dos tratamentos de acupunctura terem efeitos que duram por muitos dias ou semanas, ou mesmo resolvem o problema de forma permanente.
Além da acupunctura, outras formas de terapia manual tem a capacidade de causar deformação no tecido conjuntivo, e assim produzir um sinal mecânico pelo tecido. Uma das técnicas dentro da Medicina Chinesa com esta capacidade além da acupunctura é o Gua Sha, usado pelos terapeutas para aplicar força de com¬ pressão ao paciente. Esta aplicação de força concentrada e localizada não é possível apenas com as mãos. A estimulação mecânica feita neste caso nos tecidos moles, resulta em uma produção de factores mecânicos de crescimento que activam e modificam células musculares e o tecido conjuntivo (Findley et al., 2012)
• A Fáscia e os Pontos de Acupunctura O ideograma Chinês que representa o ponto de acupunctura também significa "buraco", o que dá a idéia que os pontos são como fendas no tecido onde a agulha pode penetrar mais profundamente e ter acesso a componentes mais profundos do tecido (O'Connor e Bensky, 1981) (Figura 3).
Figura 1: A imagem da esquerda mostra a inserção da agulha no tecido conjuntivo e a direita mostra que com a rotação da agulha as fibras de colágeno representadas pelo ama relo enrolam-se na agulha. Os fibroblastos são atraídos por este sinal mecânico e o sinal chega ao citoesqueleto representado pela área rosa escuro da figura (Langevin et al., 2001).
Figura 3: ideograma Shu simplificado, usado de maneira geral para representar todos os pontos do corpo. O termo Shu tem diversas representações e diversos significados. (Zhang, 2006)
22
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23
Os textos de acupunctura mais recentes relacionam a localização dos pontos a estruturas anatómicas e me-
I didas específicas, mas apesar destas referências a melhor forma de encontrar o ponto exacto é através da
• A Fáscia e o Trajecto dos Meri¬ dianos
palpação, durante a qual o acupuntor procura por uma depressão leve ou mesmo pela sensação de ceder do
I tecido a uma pressão suave (Langevin e Yandow, 2002).
dianos" ou trilhos miofasciais formam linhas pelo corpo por onde são distribuidas trações, tensões, fixações, compensações e a maioria dos movimen
Os meridianos tão procurados por anatomistas,
tos do corpo. Ao todo Myers descreve 12 linha
parecem afinal estar relacionados a linhas miofas-
tensionais que se interconectam e dão sustentação
ciais de tensão criadas ao longo do corpo.
biomecanica a todo corpo . (Myers, 2009)
Este tema ficará para a 2 parte desta revisão, onde
Um dos fundamentos básicos utilizados por
dem sobre lâminas de tecido fascial entre os músculos ou entre músculos e tendões. Seguindo esta estrutura,
se irá destacar o trabalho de dois autores que pa¬
Myers para definir os trilhos miofasciais foi a di
quando a agulha é inserida no ponto correcto, irá penetrar primeiro através da derme e tecido subcutâneo
recem ser se não os únicos, mas os primeiros a
recção e profundidade das fibras fasciais encon¬
e em seguida no tecido conjuntivo intersticial, enquanto que por outro lado se a agulha for inserida fora do
desenvolver um conceito mais profundo relacio¬
tradas. Segundo ele, os trilhos miofasciais devem
ponto correcto irá penetrar a derme e o tecido subcutâneo e depois chegar a uma estrutura como um osso
nando a fáscia com a regulação e movimentação
prosseguir em uma direção e profundidade con¬
ou um músculo, como mostra a imagem na Figura 3
do corpo, assim como com o equilíbrio do corpo
sistente através de conexão directa pela membra¬
de forma global.
na fibrosa ou indirecta, conectadas por meio de
Phillip Beach é um Osteopata australiano que na
uma junção óssea interposta. Mudanças bruscas
década de 80 começou a estudar Medicina Tra¬
de direção ou profundidade acabariam por anular
I Tradicionalmente a acupunctura é feita em pontos específicos do corpo, os pontos de acupunctura ao longo de meridianos descritos á milhares de anos. Muitos destes locais como os estudos anteriores mostram resi¬
a
2
dicional Chinesa e desenvolveu alguns conceitos
a capacidade do trilho miofascial em transmitir a
interessantes sobre os meridianos da acupunctura.
tensão para o próximo elo da cadeia. Segundo a
Em seu livro "Muscles an Meridians — The Manipu¬
noção de globalidade da fáscia, qualquer lesão no
lation of Shape", Beach diz que os meridianos são
trilho miofascial pode gerar problemas em toda a
linhas que parecem não seguir nenhuma estrutura
cadeia e atrapalhar a transmissão de tensão. Em
anatómica, alguns seguem em linha reta, outros
termos clínicos, ele conduz a um entendimento
em zigue-zague. Nesta altura este autor já suge¬
diretamente aplicável de como problemas doloro¬
ria que os meridianos deveriam seguir as linhas da
sos em uma área do corpo podem estar ligados
fáscia, porém ele próprio comenta que uma vez
a uma região totalmente "silenciosa" e até certo
que a fáscia está em toda a parte, naquela altura
ponto distante desse problema. Dessa forma o co¬
Figura 3: O ponto VB 32 (Zhongdu) situado no tecido conjuntivo de conexão entre os músculos
esta afirmação acabava significando zero. (Beach,
nhecimento dos trilhos permite ao terapeuta defi¬
bíceps femoral e vasto lateral, e em preto o ponto de controle. Da mesma forma na figura da
2010)
nir uma estratégia de tratamento global em todo o
direita o IG 14 (Binao) entre os planos fasciais e o ponto de controle (Lavegin e Yandow , 2002)
Uma década depois, outro terapeuta, Thomas
trilho afetado, uma estratégia holística.
Myers que nos anos 90 ensinava Anatomia Mio-
O conceito de que a fáscia conecta o corpo como
Helene Lavegin analisou imagens de cortes transversais do braço com a localização de pontos dos 3 me¬
fascial no Instituto Rolf começou a exclarecer o
um todo em uma trama sem fim não é antagô¬
ridianos Yin que por aí passam (Coração, Pulmão e Pericárdio) e dos 3 meridianos Yang (Intestino Grosso,
paradigma de Beach e mostrar que apesar da fáscia
nico ao conceito músculo — osso apresentado na
Intestino Delgado e Sanjiao) e verificou que 80% dos pontos de acupunctura deste meridianos localizam-se
estar em todo o corpo e em cada célula, a pos¬
descrição anatómica usual, ao contrário, é comple¬
em clivagens de planos fasciais, onde a agulha ao ser inserida encontrará uma maior quantidade de tecido
sibilidade de relação com os meridianos da acu-
mentar. Quando uma parte do corpo se movimen¬
conjuntivo em relação aos pontos de controle.
punctura era real. Myers começou a desenvolver
ta, o corpo responde como um todo e funcional¬
James Fox junto com Helene Lavegin, em 2008 (Fox et al., 2008) fez um estudo através de imagens de ul-
junto com seus alunos um trabalho exaustivo na
mente o único tecido ao qual se pode atribuir essa
trasom durante a puntura no ponto VB 32 (Zhongdu) e num ponto controle próximo (Figura 3). Para evitar
área das cadeia miofascia. Nesta altura todos os
resposta é o tecido conjuntivo.
qualquer alteração mecânica na puntura, a mesma foi feita de forma computadorizada, por isso sempre igual
livros mostravam a teoria de músculos individual¬
Phillip Beach corrobora este conceito em sua te¬
em todos os locais.
mente, mas Ida Rolf dizia sempre que tudo estava
oria de "campos contrácteis", onde desenvolve
Os resultados deste trabalho mostraram que a capacidade das fibras do tecido conjuntivo se enrolarem na
conectad o através da fáscia. Este trabalho resul¬
um modelo de compreensão biomecânica de todo
agulha de acupunctura é maior no ponto de acupunctura em relação ao ponto controle, e que o estímulo
tou na publicação em 2001 da primeira edição de
o corpo, não só da musculatura, mostrando que
mecânico criado pela agulha, se propaga por mais tempo e a maior distância no ponto de acupunctura.
seu livro "Anatomy Trains". Myers, desenvolveu as relações diretas e indiretas entre músculos e movi¬ mentos, e no seu trabalho mostra que estes "meri-
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2 Para evitar equívocos, uma vez que Myers chama suas linhas de me ridianos miofasciais, neste trabalho as linhas de Myers receberão o nome de trilhos e o uso do termo meridianos será exclusivamente para os me¬ ridianos da medicina chinesa.
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cada célula cé individual tem elementos contrácteis,
Partindo-se do princípio que mesmo uma ener¬
imobilizada, pode afetar outras áreas ou mesmo
A acupunctur a é capaz de proporci onar uma al¬
já que tudo t está envolvido pela fáscia, sugerindo
gia subtil precisa de um meio físico para fluir e
afetar o corpo inteiro já que o suave fluxo de Qi
teração no tecido fascial através do enrolamento
que des desde a pressão sanguínea até a função dos
se manifestar, e baseado nos estudos que foram
ficará comprometido. Da mesma forma quando
das fibras de colágeno ao redor da agulha e da ca¬
rins afeta os padrões de movimento e forma do
apresentados, pode-se definir que a fáscia é a base
um bloqueio ou uma cicatriz é tratada, ela libera
deia de eventos gerados por esta transmissão de
corpo. Desta forma o modelo de Beach segue me¬
física por onde o Qi circula, e suas fibras são es¬
o fluxo de energia, transmissão ner vosa e circula¬
sinal mecânico. Ainda está por ser determinado a
nos a anatomia da fáscia (como o de Myers) e mais
senciais para a transmissão do sinal de acupunctu-
ção sanguínea.
maneira como cada uma das diferentes formas de manipulação da agulha de acupunctura afecta as
a lógica dos movimentos, relacionando posturas
ra tanto em termos locais como à distância, pode¬
A circulação de água pela fáscia é essencial para
corporais com a facilidade em palpar os pontos
mos dizer que a condição da fáscia será essencial
a saúde do próprio organismo, assim como a hi¬
diferentes respostas celulares possíveis.
correspondentes a determinados meridianos da
para um bom fluxo de Qi no organismo.
dratação da própria fáscia, uma vez que a matriz
A conexão entre mente e corpo tão importante na
acupunctura e sua relação superficial e profun¬
Em termos funcionais, a fáscia molda e dá forma
extracelular deve estar banhada pelo fuido inters¬
Medicina Chinesa e por tanto tempo deixada de
da. Em seu trabalho Beach mostra ainda como a
ao corpo. A estrutura da fáscia aumenta a resis¬
ticial. Assim quando este aspecto do corpo não
lado pela medicina Ocidental é fundamental para
punctura de certos pontos altera a posição subtil
tência, melhora a circulação sanguínea e absorve
está bem, surgem bloqueios e com eles sinais de
o bom funcionamento da fáscia e consequente¬
do corpo e diz que a escolha dos pontos é uma
choques, além de manter o corpo estruturado,
desequilíbrio do organismo. Edemas que surgem
mente a boa circulação do Qi. Imagine-se no papel
maneira de manipular a forma, sendo que forma e
protegido e lubrificado. Permite que a estrutura
pela imobilização, manchas na pele, espinhas, fu¬
dos pulmões tentando respirar plenamente numa
função estão profundamente correlacionadas.
corpórea se mova facilmente, deslizando as lâmi¬
rúnculos, vermelhidão, são exemplos de estase do
pessoa deprimida, curvada, sobre tensão. Imagi¬
Ambos os autores citam-se mutuamente em seus
nas fasciais uma sobre a outra à medida que nos
líquido lacunar; dores agudas sem gravidade, do¬
ne-se no papel dos rins tentando filtrar o sangue
dobramos e nos movemos.
res que se irradiam ou 'queimam', a retração e o
quando os seus ductos e vasos internos tem o es¬
entre os conceitos que desenvolveram sugerindo-
As restrições e aderências na fáscia e entre os te¬
encurtamento muscular, são bloqueios da fáscia.
paço limitado porque a postura está contraída ou
-os como complementares, como ainda a relação
cidos adjacentes, como no caso de traumatismos,
Marcell Bienfait diz que a osteoartrose (densifi-
o corpo caído para baixo. Imagine-se no papel do
entre seus trabalhos e a Medicina Chinesa.
stress, processos inflamatórios, cirurgias, más pos¬
cação, calcificação e degeneração da cartilagem)
fígado tentando purificar o sangue e eliminar de¬
turas, etc, torna a fáscia mais sólida e encurtada,
ocorre pelo mal funcionamento da bomba articu¬
tritos tóxicos ou metabólicos enquanto seu dono
criando pressões em áreas sensíveis, levando à dor,
lar causada pela perda da elasticidade cápsulo-liga-
está frustrado, enrijecido e afundado na cadeira.
restrições de movimento e mau funcionamento
mentar-comum no processo de envelhecimento e
Ajustar a postura corporal, trabalhar a mente de
Nesta primeira parte da revisão sobre o papel
dos órgãos. Num trauma ou irritação o corpo cria
pela ociosidade do homem moderno. De facto o
forma positiva otimiza todos os aspectos do fluxo
da fáscia na Medicina Chinesa, pode-se ver que
um tecido cicatricial para ajudar a reparar e a imo¬
próprio processo de envelhecimento do homem
natural interior, o fluxo de Q melhora quando se
trabalhos e comentam não só a estreita relação
• Conclusão
apesar de a acupunctura e as descobertas mais
bilizar a área, tal qual uma bandagem. Ela liga as
é a densificação progressiva do tecido conjun¬
relaxa a postura corporal e aquieta a consciência e
recentes sobre o tecido conjuntivo e seu papel no
estruturas como se fosse uma cola e se torna parte
tivo, reduzindo o volume dos espaços lacunares
esta capacidade de trabalhar em conjunto corpo
corpo estarem separados por milhares de anos, a
estrutural da fáscia. A porção da fáscia que forne¬
e a circulação dos fluídos (Bienfait, 2004), o que
e mente é fundamental na Medicina Chinesa, nas
acupunctura e a fáscia parecem estar intimamente
ce lubrificação para a mobilidade, agora pode tor¬
na Medicina Chinesa chamamos de vazio de Yin
Artes Marciais e em todas as terapias holísticas.
relacionadas.
nar-se uma substância pegajosa e sólida. Isto pode
causado pela idade e esgotamento dos fluidos or¬
Actualmente os estudos mostram que funcional¬
inibir a circulação do sangue e da linfa, reduzir os
gânicos.
mente a rede de tecido conjuntivo não promove
movimentos do corpo, inibir a força dos músculos
apenas suporte para o corpo, mas também man¬
e comprometer as funções orgânicas. O fluxo de
tém o balanço do organismo ao regular os reflexos
Qi será debilitado ou irregular e desequilíbrios irão
neurais, a actividade neuroendócrina, a imunidade e através da reparação de danos em células e tecidos. Desta forma coloca-se a hipótese de que existe um sistema de auto vigilância no corpo humano que difere essencialmente dos nove sistemas funcionais
aparecer no organismo. Estudos mostraram que pacientes com dores lombares crônicas possuem a fáscia na região lombar mais densa e com fibras mais desorganizadas do que pacientes sem dor
PALAVRAS-CHAVE: Fascia, Tecido conjuntivo, Meridianos, Tensegridade, De-Qi.
lombar (Langevin et al., 2009).
(sistema digestivo, nervoso, respiratório, circulató¬ rio, estrutural, glandular, urinario, imunológico e
Temos que nos lembrar que a fáscia é continua
linfático) que regula através da fáscia o equilíbrio e
ao longo do corpo, assim como a circulação de
a homeostase do organismo (Wang, 2007).
Qi, assim quando uma seção dela se retrai ou fica
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