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Jamie Andreson Universidade de California, Berkeley Tese Final, 2012
Edison Carneiro e Ruth Landes: Autoridade e Matriarcado nas Pesquisas de Candomblé A antropóloga Ruth Landes treinada pela Universidade de Columbia (EUA) chegou em Salvador, Brasil no ano 1938 com o motivo de comparar as relações raciais entre os Estados Unidos e Brasil. Em Salvador com uma população 80% afrodescendente Ruth Landes encontrou uma cultura bem diferente, especificamente nos candomblés. Seu livro, A livro, A Cidade das Mulheres (publicado em 1947 nos Estados Unidos e 1967 em Português no Brasil) explicou os candomblés como uma religião matriarcal. Muitos brasileiros praticam esta religião africana em todas as regiões do Brasil, mas a maioria são centralizados em Salvador, como a capital original do país e um centro histórico do tráfico dos escravos. Durante sua viagem, Landes encontrou o etnólogo baiano, Edison Carneiro. Ele servia como seu guia das pesquisas de campo e afirmou que, "ninguém, absolutamente ninguém, alfabetizado ou não, Brasileiro ou não, tem tido tanta intimidade com os candomblés da Bahia" (Carneiro 1964: 225). Obviamente estrangeira, Landes não podia acessar os espaços sagrados de candomblé sem a ajuda de d e Carneiro. Carneiro, um homem, baiano e acadêmico treinado neste assunto tinha acesso e relações públicas nos candomblés. O apoio de Carneiro durante ao longo da carreira de Landes permitiu que ela fosse uma autoridade transnacional e controversa nas áreas de candomblé. Suas publicações, informadas pelos seus trabalhos, provocaram muitos controversos controverso s entre acadêmicos brasileiros e estadunidenses sobre questões de raça, gênero e nacionalidade.
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Discussões académicas sobre a colaboração específica entre Carneiro e Landes geralmente têm sido esparsas, polarizadas e mal-entendidas. Além da atenção que A que A Cidade das Mulheres recebeu, os livros que exploram este assunto ignoram os trabalhos de Carneiro e focalizam mais nos trabalhos dos colegas Artur Ramos, Gilberto Freyre, e Melville Herskovits. O presente ensaio reconhece os limites pessoais de Carneiro e Landes mas clarifica com fontes primárias as falsidades e suposições que tinha caracterizado negativamente o legado de Landes e o silêncio de Carneiro. Para entender a estória de Carneiro e Landes em 1938-9, precisamos examinar o contexto e a situação que informaram suas perspectivas e decisões. Os dois trabalhavam nas tradições de suas respectivas universidades; a antropologia de Franz Boas para Landes e os estudos afro-brasileiros de Nina Rodrigues para Carneiro. A grande importância e o reconhecimento desses trabalhos podem ser entendidos dentro do contexto do estado da Bahia e das universidades baianas, e o governo federal dirigido por Getúlio Vargas durante esta época. Carneiro e Landes participavam num diálogo internacional na emergência de novos estudos da diáspora africana e conversas sobre relações raciais nas Américas. Essas condições particulares informaram as controversas, disputas e recepções variadas ao seus trabalhos. A existência e a grande importância dos Estudos Afro-Brasileiros explicam-se pela longa e intensa história da escravidão no Brasil Br asil e a formação da República Velha em 1889. O Brasil dependia da escravidão por mais tempo do que todos os países nas Américas; o tráfico começou no início do século XVI e só foi abolido no ano 1888. Esta história extensiva da importação de quase 4-6 milhões de africanos define muitos aspetos da economia, sociedade, política e cultura do Brasil1. O Nordeste, e o estado da Bahia
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especificamente, tem um legado bem forte da influência africana e do sistema escravo. A religião candomblé é uma das manifestações mais óbvias ligada com a África. Landes foi uma das primeiras estrangeiras a pesquisar o candomblé no Brasil, e só escolheu esta tema após ser rejeitada no Rio de Janeiro onde pretendia pesquisar os índios brasileiros (Grupioni 1998: 78-79). O assunto dos índios brasileiros era mais popular e desenvolvido entre os antropólogos americanos. Esta popularidade deixou espaço a Landes para criar e apresentar uma análise novo sobre o candomblé para os leitores nos Estados Unidos. Portanto, os estudiosos brasileiros como Nina Rodrigues, Artur Ramos, Edison Carneiro e Gilberto Freyre já tinham feito muitos trabalhos e pesquisas no mesmo assunto bem antes de Landes chegar. Os dois tipos de candomblés mas populares e controvérsias durante esta época eram o Nagô e o caboclo. caboclo. As diferenças entre os dois criaram debates e divisões nos anos 1930-50. A ênfase na pureza e verdadeira herança africana no Nagô contrasta com os elementos híbridos e indígenas no caboclo. Esses diferenças geraram concorrência entre autoridade e autenticidade nos candomblés e nas universidades. Carneiro e Landes apoiavam a tradição Nagô e degredavam o caboclo como uma corrupção da religião. Este processo de valorização começou na antropologia com a busca de “África no n o Brasil” nas primeiras Universidades no início do século XX. Este método reconheceu r econheceu a influência africana na cultura brasileira mas ao mesmo tempo criou uma hierarquia cultural dos afrodescendentes. Esta abordagem funcionou ao lado da idéia de Positivismo durante a República Velha que informava as práticas sociais e políticas. O governo usava Racismo Científico para melhorar o país no caminho da Europa e dos Estados Unidos com a política de Branqueamento. Apesar da nova atenção atençã o e o foco sobre afro-brasileiros, afro- brasileiros, a
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sociedade brasileira ainda tinha muitas desigualdades entre os brancos e os negros, que parecia como uma continuação do sistema escravista. escr avista. O branqueamento como uma política nacional propunha a imigração de europeus brancos para concertar o “problema” da população negra no Brasil. Br asil. Os políticos e elites viam os negros como inferiores culturalmente e politicamente e queriam elevar o Brasil a um país comparável à França, Inglaterra, Alemanha e os Estados Unidos. Para entender este processo de branqueamento, acadêmicos e funcionários do governo começaram a estudar afro-brasileiros para saber como poderam incorporá-los como cidadãos no país. Isso era uma pergunta difícil para todos os países que usavam labor escravista; até os Estados Unidos tiveram uma guerra civil para resolvê-la. O trabalho de Carneiro e seus colegas contribuíram nesta diálogo sobre relações raciais após a abolição. Eles examinaram muitas fontes sobre os sobreviventes da cultura africana no Brasil, especialmente nas manifestações de candomblé. para explicar a diversidade da população afrodescendente. Portanto, Carneiro, Landes e seus colegas tinham perspectivas, análises e conclusões bem diferentes. Os terreiros (sítios religiosos de candomblé) recebem a comunidade para atividades cotidianas, rituais e eventos especiais. Durante esta época, as atividades dos terreiros eram exclusivamente para os membros; acesso por estrangeiros e pessoas de fora era proibido. Os rituais de candomblé incluíam sacrifícios, percussão, cantigas na língua Ioruba e danças bem diferentes do que a cultura europeia que eram valorizada dos elites. Historicamente a polícia e o governo represavam a prática de candomblé e viam-na como uma forma de magia preta, superstição e uma ameaça à sociedade brasileira. O Código Penal de 1890 na Bahia discriminava as práticas culturais dos afro-brasileiros e proibia a
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capoeira, a percussão da moda africana e o “comportamento errante”dos errante”dos negros em público (Varela 2007: 35*). O governo tinha medo que os negros fossem organizar-se org anizar-se em grupos e, por exemplo, fazer rebeliões contra o sistema obviamente racista.2 Este Código só mudou com a formação da República Velha em 1930, mas as mesmas ideias e sentimentos continuavam. A intimidade que Carneiro, e especialmente Landes, tinham como pessoas fora do candomblé era bem especial e rara nesta época. Com suas pesquisas e abordagens, eles mostraram respeito e interesse verdadeiro verdad eiro nesta religião com raízes africanas. Para representar-se em público os terreiros elegem representantes de fora da comunidade que se chamam ogãs. Os ogãs fornecem apoio, dinheiro e proteção aos terreiros. Isso era muito importante nesta época quando o estado e a polícia estavam represando o candomblé. Dona Aninha, uma mãe de santo bem prestigosa e importante no terreiro Île Axé Opo Afonjá na década 30, reconheceu Carneiro como um homem com potencial de servir seu terreiro. Ela designou-o designou -o como um ogã e deu-lhe a autoridade de representar a comunidade em seus trabalhos acadêmicos e profissionais (Landes 1947: 35, 72). Carneiro usava esta designação em suas pesquisas nos terreiros, seus artigos no jornal O Estado da Bahia e seu relacionamento com Landes. Apesar do interesse que Carneiro tinha para Landes, seu trabalho com Landes era também uma estratégia para expandir informação sobre o candomblé aos Estados Unidos e no mundo inteiro. O livro que Landes escreveu sobre estas pesquisas, portanto, revela atitudes diferentes do que as idéias originais de Carneiro, e mudou as noções sobre o candomblé para sempre. Edison Carneiro cresceu numa família mulata de classe média nos anos 20 em Salvador. Seu pai era professor, e educação era a prioridade da família. Sua família tinha
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uma posição intermediária nas relações entre os elites e os pobres de Salvador. Os biógrafos, Biaggio Talento e Luiz Alberto Couceira escreveram escr everam que “a família de Edison Carneiro tem raízes na nobreza intelectual mestiça brasileira”, o pai “investiu todos os seus recursos na educação dos filhos” para “ascender[a] por mérito numa sociedade dominada por brancos” (Talento, Couceiro: 2009: 39-41). No livro A livro A Cidade das Mulheres, Mulheres, Landes descreve a família de Carneiro como “o tipo de família que às vezes pessoas chamam de ‘negro branco’ br anco’ porque era tão respeitada” resp eitada” (Landes 1947: 14)3. Carneiro também aprendeu falar e escrever inglês, e traduziu alguns livros do português ao inglês. A classe e educação de Carneiro ascendeu-se acima da maioria da classe baixa. Sua posição como um mulato trabalhando com acadêmicos maiormente brancos afeitou a situação e as oportunidades ao longo de sua carreira. Além disso, o relacionamento de Landes e Carneiro chamou muita atenção não só por causa da diferença entre suas nacionalidades e gêneros mas também a diferença entre suas raças. Após formar-se na faculdade de Direito na Universidade Federal da Bahia, Carneiro trabalhou como jornalista no jornal proeminente O Estado da Bahia. Ele escrevia sobre os problemas da comunidade de candomblé e afro-brasileiros em Salvador, revisando o “discurso hostil” com reportagens que “pareceriam ter marcado um novo perspectiva dos jornais e jornalistas sobre sobr e a cultura afro-baiana" (Braga 1999: 204*). Ele fazia trabalho de campo nos terreiros de candomblés, e formava conexões com os líderes e membros dos terreiros para entender melhor as perspectivas de seus sujeitos e interagir com sua vida cultural. Landes também acreditava nessa abordagem de pesquisar, ela preferia formar conexões com individuais para entender a cultura. Esta perspectiva pers pectiva mútua facilitou a forte ligação e colaboração entre eles.
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Os trabalhos de Carneiro e Landes nos Estudos Afro-Brasileiros responderam aos teóricos de Nina Rodrigues, Artur Ramos e Gilberto Freyre. Rodrigues, um médico baiano e pesquisador na década de 1900, foi o primeiro acadêmico a colecionar data d ata empírica de campo para analisar fenómenos medicais na população afro-baiana. O racismo biológico guiou seus estudos e ele acreditava na igualdade de raça e genética para explicar a inferioridade dos negros. ne gros. Ele produziu trabalhos importantes e complicados com uma atitude como historiadora Anadelia Romo descreve como "pessimismo racial e envolvimento cultural" (Romo 2010: 29*). O estudante de Rodrigues, Artur Ramos, continuou com seu legado com a perspectiva pisco-analítico. Ramos focalizou nas particularidades da população afrodescendente em termos da psicologia e preservação dos traços traç os africanos no contexto brasileiro. Este assunto as sunto eram muito relevante para a formação da República Velha, e Rodrigues, Ramos, e Carneiro eram os autoridades baianos. Mas a tradição formada por Rodrigues encontrou novos teóricos do Pernambucano Gilberto Freyre, que era estudante de Franz Boas nos anos 20. Freyre usava a sociologia em vez da biologia para explicar as relações raciais e com este método criou uma teoria nova sobre o papel do "africano no Brasil". Esta teoria fazia parte do idealismo da democracia racial apoiado por Vargas. A democracia racial sugeria que o Brasil não tivesse problemas de raça por causa da longa história de manumissão e mestiçagem entre as heranças portugueses, indígenas, e africanos. Com a influência de Boas, Freyre aproximou seus estudos com a visão de raça como separada da cultura. Seu livro mais importante, Casa Grande e Senzala (1933) enfatizou a importância dos fatores físicos e ambientais para explicar as relações raciais e a influência positiva dos africanos no desenvolvimento do Brasil. Sua análise cabia no
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projeto de nacionalismo e identidade nacional do presidente e ditadura d itadura Getúlio Vargas nas décadas de 1930 e 1940.4 O trabalho de Freyre apoiou o Regionalismo nas décadas 1920-30 que enfatizava que as regiões no Brasil, principalmente o Nordeste, o Interior, a Amazônia e o Sul, tinham sociedades diferentes por causa das fontes de imigração e raça. O regionalismo começou com a Semana de Arte Moderna em São Paulo em 1921, e coincidiu com a intensificação de imigração europeia no Sul para promover o desenvolvimento econômico e a política de branqueamento. O otimismo e as explicações simples de Freyre criaram controvérsias e conflitos em relação a esta teoria. Muitos ativistas afro-brasileiros contemporâneos reconhecem que a teoria da “democracia racial” oferece uma visão utópica da sociedade misturada e não prove um caminho para conversar sobre ou melhorar os problemas verdadeiros de racismo e desigualdade no Brasil. Outros, geralmente acadêmicos e funcionários do governo, acreditam que Freyre explicou a “combinação, fusão, e mistura” única do Brasil como diferente e mais próspera do que outros países americanos. Para promover e discutir seus trabalhos e novos métodos, Freyre organizou o Primeiro Congresso Afro-Brasileiro em 1934 no Recife. O Congresso reuniu líderes acadêmicos do mundo inteiro sobre a tema do “negro no Novo Mundo” e queria desconstruir os estudos de determinismo racial. A nova ênfase em cultura como mais importante do que biologia aumentou a estratégia de identificar os traços africanos que sobreviviam nas culturas das Américas. Esta tendência ficou cada vez mais importante nos Estados Unidos após a Reconstrução e introduziu novos teóricas em antropologia e sociologia. Esta ideologia promoveu a busca de “africanismos” dirigido principalmente
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por Melville Herskovits, antropólogo da Universidade de Columbia e forte f orte crítico de Landes (Romo 2007). Mesmo tendo enviado um ensaio ao Primeiro Congresso, Carneiro não participou. Ele viu a organização e as atividades do Congresso de Freyre como elitistas e inacessíveis à população estudada, os afrodescendentes. Para contestar a autoridade dos métodos e as conclusões de Freyre, Carneiro organizou o Segundo Congresso Afro-Brasileiro em Salvador em 1937 para reunir “as massas populares, os acadêmicos e os especialistas” (O Negro no Brasil 1940: “Palavras Inaugurais Inaug urais do Congresso da Bahia”). Os participantes discutiram com uma “orientação democrática” ensaios e teorias apresentados pelos líderes de candomblé, artistas baianos, e acadêmicos brasileiros e estadunidenses. O Congresso teve o foco de incluir os membros de candomblé nestas conversas académicas para incorporar esta conversa conver sa em público. Terreiros de candomblé receberam re ceberam os membros do Congresso e ofereceram-lhes performances e festas para celebrar a cultura afroBahia, ele explica como “Todo brasileira. Num artigo escrito por Carneiro no Estado no Estado da Bahia, o 'terreiro' estava aberto á visita dos congressistas. A festa do Opô Afonjá encantou sobremaneira os Congressistas” (Carneiro, 14/1/1937).Os 14/1/1937). Os dois Congressos queriam legitimar o candomblé como uma religião válida e verdadeiramente brasileira. Apesar desta intenção, as representações dos afro-brasileiros nos Congressos tiverem um afeito de folklorização e apropriação de candomblé para a cultura nacional e comercial em vez da espiritualidade e autenticidade da religião para o povo (Matory 2005:165). Esta colaboração direta com os membros de candomblé durante o Congresso de 1937 inspirou a criação da União das Seitas Afro-Brasileiras—o primeiro grupo no estado da Bahia para representar o candomblé em público. A União foi a proposta da “mãe de santo
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mais honorável da Bahia” Dona Aninha, do terreiro Nagô Ilê Axé Opô Afonjá e foi organizada por Carneiro. A União foi fundada para organizar-se e representar-se na comunidade de candomblé contra a repressão de candomblé dirigida pelo Estado. Enquanto os membros da União tinham idéias diferentes sobre tradição, a herança africana e pureza Nagô, todos queriam revisar as noções populares que o candomblé era magia negra e os membros eram “estrangeiros” da sociedade baiana. A União serviu os Direitos e Garantias Individuais da Constituição de 1934 que diz, “É inviolável a liberdade de consciência e de crença e garantido o livre exercício dos cultos religiosos, desde que não contravenham à ordem publica e os bons costumes. As associações religiosas adquirem personalidade jurídica nos termos da lei civil” (Inciso 5 do artigo 113, accessado em Talento, Couceiro 2009: 61). Carneiro e os líderes da União reconheceram que o Estado estava violando esta liberdade civil com a repressão de candomblé. Eles organizavam-se para melhorar esta situação mas tinham restrições como mobilização, apoio e recursos. As reações de Carneiro e Freyre Congresso do outro demonstram a competição entre os acadêmicos neste assunto durante esta época. Numa entrevista, Freyre criticou o Congresso de Carneiro (que nem ele nem Artur Ramos assistiram), explicando que “receio muito que vá ter todos os defeitos das coisas improvisadas... que só estejam preocupados com o lado mais pitoresco e mais artístico do assunto: as rodas de capoeira e de samba, os toques de candomblé, etc.” (Freyre em Carneiro 1940: 98). Carneiro se defendeu diretamente num artigo em 1940 e clarificou como “esta ligação imediata com o povo negro, que foi a glória maior do Congresso da Bahia, deu ao certame ‘um colorido único’” (Carneiro 1940: 99). Enquanto Carneiro simpatizava com os negros pobres e
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queriam incluir os membros dos candomblés, ele também participava nas relações dos elites que não representavam nem ajudavam a vida da maioria dos afrodescendentes. Essas questões ocuparam os Estudos Afro-Brasileiros e contextualizaram os trabalhos de Landes e Carneiro. Carneiro e Landes desconcordam sobre o valor e mérito das teorias de Freyre; Carneiro rejeitou seu idealismo e simplicidade, e Landes abraçou suas ideologias como atraente para um leitor norte-americano. Carneiro não concordava com a visão de Freyre da democracia racial, e queria mudar a direção dos Estudos Afro-Brasileiros fora desta teoria central. A idéia da democracia racial desencorajava conversações sobre raça por causa da ilusão da harmonia racial no país, portanto permitiu a perpetuação dos problemas do povo negro. Em seus artigos e livros, Carneiro chamou uma mudança, para “encarar o negro como um ser vivo, atuante, brasileiro, em todos os aspectos do seu comportamento na sociedade. Ou seja, não apenas o legado da África, mas a contribuição que o negro deu no passado e está dando no presente” (Carneiro 1953: 105). Carneiro via a escravidão como uma “imposição histórica” na população afro-brasileira em vez de uma instituição paternalista que ajudava na aculturação dos negros à sociedade branca e europeia. Ele acreditava que estava reconstruindo história para incorporar a agência e a influência negra. Apesar destas intenções, às vezes Carneiro também usou discursos que apoiavam democracia racial, como a idéia que “a assimilação do negro, que já indicava, ainda não se completou” (Carneiro 1957: 5). No início dos anos 30, Carneiro entrou no Partido Comunista do Brasil e o grupo comunista literária, a Academia dos Rebeldes. A missão da Academia era “valorizar a cultura popular, particularmente, a cultura africana e afro-baiana, que foram
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marginalizadas durante a colonização do Brasil” (Review Soares, 2005: Intro). Os escritores baianos mais famosos desta época incluindo Jorge Armado, Sosígenes Costa, Áydano Ferraz, Guilherme Dias Gomes, João Alves Ribeiro, Walter da Silveira, Da Costa Andrade, De Souza Aguiar and Clóvis Amori colaboraram e publicaram a revista, O Momento para incorporar a vida e os problemas dos afro-brasileiros em seus trabalhos literários. Carneiro e suas colegas faziam parte dos, intelectuais e os artistas do PCB [que] colocavam em prática a política cultural do partido, baseada no realismo socialista, modelo estético stalinista que chegou che gou ao Brasil na segunda metade dos anos 1940. A produção de uma arte "genuinamente" proletária era um dos principais instrumentos de educação política das massas (PCdoB, 2011). Mesmo que Carneiro tenha-se identificado como comunista e tenha participado no PCdoB, sua análise nos trabalhos etnográficos e históricos não têm um argumento principalmente marxista. Como o partido mais revolucionário nesta época, épo ca, o PCdoB seria uma boa opção para Carneiro, um mulato que representava os afro-brasileiros e os candomblés. Seu desdém pelo governo, especialmente da ditadura federal de Vargas poderia ter motivado sua procura por um partido alternativo como PCdoB. Mas o marxismo como forma de análise não estava bem presente em seus trabalhos como seria para um acadêmico verdadeiramente marxista5. Contudo, este contexto informou os trabalhos de Carneiro e a orientação que ele deu a Landes. Seu livro mais influente e impressionante, Os Candomblés da Bahia (publicado em 1948, um ano após A Cidade das Mulheres), Mulheres), explica a história, heranças e rituais de candomblé num texto bem compreensivo e sistemático. Este livro já tem 6 edições publicadas, e ainda se usa nas Universidades Univer sidades e por intelectuais que trabalham neste assunto. Este livro tentou revisar a idéia da superioridade das culturas sudaneses
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apresentada por Nina Rodrigues, e incorporar a importância das culturas Jeje-Nagô e Bantu a fim de representar a diversidade das heranças africanas e a mistura racial no Novo Mundo. Mundo. Candomblés da Bahia reforçou a superioridade da cultura nagô em relação ao caboclo e apresentou rituais de nagô como a forma para todos os candomblés. O livro foi completado após sua colaboração com Landes e incorpora suas idéias do matriarcado e diminui o papel dos homens nos candomblés. Ainda que ele quisesse fazer uma análise além das hierarquias raciais, este livro e livros parecidos de Artur Ramos durante esta época enforcaram-se em uma hierarquia de cultura, valorizando algumas culturas africanas mais do que outras. Carneiro é reconhecido mais por seu apoio à pureza Nagô e a tese de matriarcado de Landes, mas isso limita a gama e a significação de sua carreira. Carneiro escreveu histórias reconstrutivas para representar a população negra dum jeito mais justo e representativo. Seus trabalhos mais notáveis incluem A incluem A Trajetória de Castro Álves (1947), A Cidade do Salvador 1549: Uma Reconstituição Histórica (1956) (19 56),, A Insurreição Praieira (1961), e O Quilombo dos Palmares (1946). Seu livro sobre Castro Álves, abolicionista do século 19, descreveu-o como um “poeta republicano” e um “burguesa revolucionário”. Carneiro reviu os poemas de Álves sob a perspectiva que “a revolução que ele pregava ainda não foi realizada, embora tenhamos abolição e uma república” (Carneiro 1947: Intro). Numa carta que ele escreveu a Landes, Carneiro caracterizou este livro como tendo o sucesso de um best-seller por causa de sua “interpretação política, completamente nova no Brasil” (EC to RL, 7/28/47, CNFCP)6. Seu outro livro, A livro, A Cidade do Salvador 1549, 1549, incorpora o papel do africano e do afro-brasileiro na criação e no sucesso da cidade, em vez de focalizar nos funcionários e proprietários de escravos como
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os líderes da história. Mais tarde na sua vida, Carneiro escreveu sobre a revolta liberal, a Insurreição Praieira, Praieira, no estado de Pernambuco que era uma luta entre a latifundiária, o governo e o povo sem-terra para controlar os recursos nacionais após a Independência do Brasil. Talvez seu livro mais importante, o Quilombo dos Palmares (1946), seja um dos primeiros relatos históricos compreensivos sobre s obre este quilombo famoso em Alagoas no século 17. Carneiro apresentou o processo da formação, os líderes e a organização do quilombo contra o sistema escravista opressivo. Por ser revolucionário, este texto foi proibido pela ditadura de Vargas, e foi publicado no México pelo Fundo De Cultura Econômica com o título Guerra de los Palmares (1946). Numa revista, o professor estadunidense Samuel Putnam escreveu que, Este livro é um trabalho cuja importância não deve ser esquecida por todos que têm interesse no sujeito do negro e a história do negro... Parece que no passado tinha uma conspiração de silêncio neste assunto... tanto Gilberto Freyre em seu Casa Grande e Senzala como o professor norte-americano Donald Pierson em seu livro Negros livro Negros no Brasil , deram-no apenas uma citação mínima” (Putnam 1947*7). Todos esses trabalhos de Carneiro revelam a gama do seu ponto de vista e sua intenção de elevar a população negra e inclui-la na narrativa histórica de Salvador, de Bahia e do Brasil. Essas idéias de Carneiro informaram sua atitude e motivos quando ele trabalhou com Landes em 1938. Na década de 50, Carneiro colaborou com o ativista negro, Abdias do d o Nascimento, com a organização do Primeiro Congresso Negro e o Teatro Experimental do Negro (TEN). O TEN foi um grupo revolucionário que apresentava arte, estórias e peças de teatro sobre a herança africana numa época em que a ditadura proibia tais manifestações culturais. Carneiro também escreveu para o jornal O Quilombo no qual descreveu “a vida,
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os problemas e as aspirações do negro” (Nascimento 2003) e tentou inverter e rever idéias da democracia racial de Gilberto Freyre para uma nova de “emancipação social, cultural, política e econômica dos negros no Brasil” (Guimarães 2002: 11). Um dos artigos de Carneiro em O Quilombo que se chama “A Liberdade do Culto” discute como “nenhuma das liberdades civis tem sido tão impunemente desrespeitada no Brasil com a liberdade de culto.. esta violência [da repressão de candomblé] já se tornou um hábito”. Este artigo chamou ao público para ver a religião não como inferior e estrangeiro, mas como “a religião mais popular, mas praticada das massas” (Carneiro 1950: 64). Carneiro transformou a direção de sua carreia após mudar-se para Rio de Janeiro. Cada vez mais ele mudou seu foco de ativismo negro para prestar mais atenção aos estudos do folclore brasileiro. Ele dirigiu a Campanha de Defesa do Folclore, que procurou legitimar o Folclore como uma disciplina acadêmica. Este poder po der como um líder de folclore de criar narrativas de identidade e cultura nacional levou Carneiro afastar-se suas intenções originais. Ele ficou mais preocupado com autoridade e financiamento no sistema acadêmico em vez de seu trabalho no PCdoB ou com a defesa de candomblé como era na Bahia. Depois de resignar-se como diretor da Campanha de Defesa do Folclore, seu projeto final foi ajudar na tradução de A de A Cidade das Mulheres que foi publicado em português no Brasil em 1967, antes de seu falecimento em 1972. Em geral, as concepções da carreira de Carneiro são simplificadas e não representam sua visão nem sua experiência inteira. Só seus biógrafos Biaggio Talento e Luiz Alberto Couceiro reconhecem a importância própria na história da Bahia e nos Estudos Afro-Brasileiros, e dizem que ele não recebeu a atenção merecida em relação a este assunto. Carneiro tinha particularidades como um acadêmico baiano, incluindo sua
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participação no Partido Comunista do Brasil (PCdoB), sua su a rejeição da teoria da democracia racial, seu acesso único aos terreiros de candomblé, e seus livros sobre a reconstrução da história afro-brasileira. Esta explicação de candomblé e a participação de Carneiro nos Estudos Afro-Brasileiros facilita nosso entendimento do ponto de vista que Landes tinha quando chegou na Bahia em 1938. Mas para entender sua perspectiva também, temos que examinar sua origem e sua preparação na antropologia de Boas antes de viajar ao Brasil. A identidade de Landes como americana, mulher e antropóloga de Columbia se diferenciou dos acadêmicos brasileiros Carneiro, Ramos e Freyre. Landes cresceu numa família judeu imigrante com um pai socialista. Após formar-se na graduação da New York University (NYU), ela trabalhou como assistente social num bairro principalmente negro, Harlem em Nova York. Ela comentou numa palestra que “eu socializei, ou meus pais socializaram, em círculos que incluíam estudiosos, artistas, sindicalistas, s indicalistas, jornalistas, todos negros” (Landes Palestra: 4*). Ela começou sua pesquisa antropóloga de doutorado na Universidade de Columbia com um foco nos papéis de gênero numa comunidade indígena norte-americana, o Ojibwa. Seus livros influentes, Sociologia Ojibwa, As Ojibwa, As Mulheres Ojibwa, e A Cidade das Mulheres evidenciaram “os papéis, anteriormente esquecidos, que mulheres, como individuais, ocupavam na sociedade” (Nord: 5*). Como seus mentores no doutorado, Franz Boas e Ruth Benedict influenciaram muito o trabalho de Landes. Boas, como “o pai da antropologia americana”, transformou a disciplina com uma focalização na evolução cultural e o “ponto de visto nativo”. Ele enfatizou o trabalho de campo empírico, relativismo cultural e aculturação como “um resultado do crescimento dos ‘contatos entre culturas’ caracterizados pelo mundo
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moderno” (Cole 2003: 91*). A teoria principal de Ruth Benedict no seu livro Padrões livro Padrões de Cultura argumentou que todos os aspetos de cultura são sujeitos às emoções e os padrões básicos do povo naquela cultura. Esta suposição su posição foi conhecida como configuralismo, e foi criticada como determinismo cultural, por causa da intenção de caber todos os elementos duma cultura em termos lógicos e consistentes. Uma parte do doutorado de antropologia na Universidade de Columbia incluía pesquisa de campo numa cultura estrangeira. A ambiente dessas culturas novas frequentemente distraíam os pesquisadores das intenções originais de seu treino fornecido pelo Boas. Uma carta de Ruth Benedict a Landes depois que ela voltou da Bahia demostra a maneira em que as pesquisa e conclusões de Landes serviram para a criação da “ciência de cultura” da antropologia de Boas (Healey 1998: 91). Benedict escreveu, Estou bem animada sobre o que você escreveu de suas sacerdotisas vudu... Pode determinar se grupos indígenas nestas regiões foram expostos aos negros e possivelmente influenciados? Este estudo na Bahia tem que ser usado na reportagem do Conselho SA, com a maior ênfase nas repercussões no povo índio nativo (mas claro que isso não é sua ênfase na reportagem sobre a cultura baiana). Como é a cultura material? Você está prestando atenção se a influência negra está alastrando-se a Amazônia? (RB a RL, 12/1/1939, NAA*). A atitude de Benedict enfatizou o primitivismo das “sacerdotisas vudu” e uma grande ênfase nas populações indígenas em vez da população afrodescendente. “Primitivismo” durante esta época referia-se à idéia que o homem antigo (ligado aos índios americanos) tinha uma pureza nas civilizações simples que foi corrupta nas complexidades e inovações da vida moderna. Esta teoria procurou pesquisar os elementos africanos da cultura brasileira em comparação com a cultura europeia, para entender o processo de contatos de raças em países com uma variedade de raças. Com frequência, pesquisas antropólogas durante esta época tinha ideias pré-concebidas para caber nos padrões e
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filosofias. Landes percebeu isso quando escreveu que, “Boas apressou seus estudantes no campo para recolher os restos de culturas primitivas nas américas, porque ele achava que estavam chegando ao fim” (Landes: “Comment on Field Research”*). Durante esta época, a Antropologia como disciplina acadêmica abriu-se para mulheres, porque Boas “enfatizava habilidade, não gênero”. Boas entendia que para interpretar “como mulheres numa cultura particular sentem ou por que atuem dum jeito” (Nord: 9), a pesquisadora tem que ser uma mulher também. Sua identidade como mulher influenciava suas temas, sites, estilos de pesquisar, e a direção de suas carreiras porque era sua responsabilidade de avaliar as mulheres de culturas diferentes (Cole 2003: 55). A acadêmica proeminente, Margaret Meade, uma estudante de Benedict (e depois sua namorada também), não apoiava os métodos e as conclusões dos artigos que Landes escreveu sobre o candomblé e a Bahia em 1940. Meade considerou “Landes exasperante, porque ela sempre confundia a homossexualidade ho mossexualidade passiva com ativa, e mais ainda, não se se comportava nem como senhora nem uma acadêmica ordinária e própria” (Cole 2003: 282-3). Segundo Mark Healey, a abordagem antropológica de Meade e Benedict tinha “gênero e sexualidade no centro de suas análises” (Healey 1998: 91, 88). Esta sensibilização feminina criou às vezes conclusões distorcidas que procuravam apoiar o feminismo dos Estados Unidos em vez da realidade de matriarcados ou relações de gênero progressivas nas culturas estudadas. Healey notou que suas “construções idealizadas naturalmente diminuíram a violência e a dominação” (Healey 1998: 93). Isso é evidente em A em A Cidade das Mulheres quando Landes idealiza o poder feminina e a harmonia racial na Bahia como uma realidade absoluta.
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Para preparar-se para a viagem ao Brasil, Landes estudou na Universidade Fisk no estado de Tenessee sob a direção do sociólogo Robert Park onde ela se orientou com o conceito “do negro no novo mundo”. Ela foi enviado ao Brasil pela Universidade de Columbia “para o objetivo ostensivo de aprender por que nesta terra vasta de mulatos com uma mistura de sangue branco, indígena e africano, não mostra problemas de prejuízo nem racismo” (Landes Lecture: 5). 5) . Esta noção da harmonia racial formado por po r Freyre já informava o que ela antecipava na sua vida na Bahia. Ela tinha idéias préconcebidas da matriarcado também, num artigo de 1970 ela refletiu, “eu imaginava que, segundo os materiais que Park e Pierson me deram na Universidade Fisk, que as mulheres negras iriam servir um papel importante no Brasil, como as regiões do Ibo e no oeste da África, de onde elas maiormente são derivadas”. Landes admitia sua ingenuidade da história brasileira e a língua portuguesa, porque ela achava que “era quase impossível encontra-las em Nova York” (Landes 1970: 122, 120*). Essas preparações e suposições informaram o contexto que Landes pesquisava, mesmo antes de ela chegar ao Brasil. Claro que o Brasil tinha condições inesperadas que desafiaram Landes e forçaram-na a adaptar-se de maneiras imprevisíveis na Bahia. Os materiais de pesquisa de Landes frequentemente referenciaram as idéias e trabalhos de Freyre em relação a história brasileira, a democracia racial e regionalismo (Landes Notebooks: 1938). Em A Em A Cidade das Mulheres, Mulheres, Landes apoia a idéia que o Brasil “não tem um problema de raça” e só às vezes a referiu como “uma questão de classe, não de raça”. Esta idéia refere-se ao trabalho de Freyre, que Landes e a maioria de acadêmicos nesta época apoiavam. Numa resenha de A de A Cidade das Mulheres, o escritor Bertram Wolfe apresentou a ideologia da democracia racial de Freye, explicando para os
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leitores norte-americanos, “sociólogos e funcionários do estado cada vez mais têm o motivo de enriquecer a civilização brasileira com a absorção de todos os componentes, negro, indígena, português, numa cultura única e variada, uma raça brasileira cósmica” (Wolfe 1947*). Esta referência à democracia racial, ligada com à análise de Landes, apelou aos leitores norte-americanos, sugerindo uma sociedade idealística do Brasil após escravidão. A metodologia de Landes e sua prática de trabalho de campo causaram as maiores controvérsias em sua carreia. Landes trabalhava “concretamente na tradição que definiu observação e encontros cara-a-cara como o ponto inicial da investigação social” (Gacs et al 1988: 212). Como estudante de Benedict “desviante” (Lapsley: 226), Landes fez seu trabalho de campo com um foco nos individuais influenciados pela cultura, e não como culturas completos e uniformados como Benedict (Gacs et al 1988: 212). Numa resenha pessoal de seu livro A livro A Cidade das Mulheres, Mulheres, Landes explica sua metodologia como uma abordagem pessoal e emocional. Ela acreditava que a Antropologia era “destinada a entender como pessoas vivem... para ver e compreender o que pessoas fazem, sentem, o que passa nas suas mentes e emoções”. Vinte-cinco anos depois numa resenha, Landes apoiou este método ainda, explicando, Frequentemente escritores negligenciam as individualidades de seus informantes, as personalidades; a implicação metodológica, então, é que todos são iguais. Talvez porque escritores pensem em termos de ‘estratégias’ em vez de ‘criatividade’... Eu mesmo não posso falar sobre o mundo afro-brasileiro que eu conheci sem ouvir, ver, cheirar imediatamente os atuantes vividos dentro” (Landes 1971: “Book Review of Afro-American Afro-American Anthropology*). Anthropology*). Os críticos rejeitaram sua tese de candomblé como matriarcal porque ela não baseou suas conclusões em observações científicas. Essas explicações de Landes mostram que ela nunca considerou a ciência convencional nem como o meio nem o fim de seu trabalho de
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campo. Sua imersão na cultura estudada deu-lhe uma perspectiva envolvida, mas também a colocou em situações inaceitáveis para mulheres de seu estado durante esta época. A promiscuidade de Landes nessas comunidades negras, pobres e de candomblé atraiu crítica e atenção de funcionários brasileiros e colegas norte-americanas. Esta compreensão da origem, o treinamento, e as intenções pessoais de Landes racionaliza seu processo, suas conclusões e a recepção pública para além da dicotomia que só apoia ou crítica seu trabalho. Este contexto das vidas e das perspectivas pessoais e acadêmicas de Carneiro e Landes dá um caminho para examinar os detalhes de suas pesquisas e seu relacionamento. Um exame do período juntos nos terreiros de candomblé em agosto de 1938 a fevereiro de 1939 clarifica como Carneiro influenciou Landes em seu processo e produto final, o livro A livro A Cidade das Mulheres. Mulheres. Landes entendeu e reconheceu a ajuda indispensável que Carneiro lhe deu durante sua pesquisa na Bahia. Em A Em A Cidade das Mulheres, Mulheres, Landes explica, Nesta terra, onde a tradição bloqueava mulheres solteiras dentro de casa ou as jogava nas ruas, teria sido impossível para eu andar sem um guia com autoridade... Ele era a melhor garantia aos negros que eu nem era uma espiã rica nem uma intrometida; e até certo ponto, ele destruiu o desconforto que eles sentiam com estrangeiros (Landes 1947: 14*). Landes preferia ficar longe da “colônia americana na Bahia, de mais ou menos 200 pessoas”. Ela não se relacionou com c om esta vida luxuria, e explicou como “eles não queriam quer iam nada da Bahia, do povo, da vida... Eu me voltei para Edison e a vida do culto nos absorvia.” Quando ela chegou à Bahia, seu primeiro guia, Jorge, “odiava e detestava” os candomblés, e tentou convencer Landes que os candomblés “matam! O candomblé é magia negra! É superstição! Eles não são civilizados! Não, me perdoe, mas não posso te
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acompanhar lá” (Landes 1970: 130, 133). Isso era uma atitude comum na colônia americana e suas colegas e ajudantes. Landes encontrou Carneiro nos círculos acadêmicos baianos, apresentados por Artur Ramos. Ela imediatamente reconheceu Carneiro como uma boa autoridade e colega, explicando que “ele só tinha vinte e sete anos, mas o número e a originalidade de seus estudos sobre os negros brasileiros e os candomblés e a solidez de sua reputação me levavam esperar um homem bem mais velho.” Landes relacionou-se e ligou-se com Carneiro bem rápido, e percebeu “como vou entender a Bahia sem aprender por experiências direitas o candomblé?”. Eles decidiram trabalhar juntos, para reunir “seus recursos, sua sabedoria, seu tempo, e suas observações” (Landes 1947: 13, 35, 14). Carneiro guiou Landes com seu conhecimento da etnologia baiana e sua ligação especial com os terreiros. Em A Em A Cidade das Mulheres Landes descreveu a opinião de Carneiro sobre a tradição das pesquisas em candomblés, A classe aristocrática sempre condescende...e quando alguns decidem estudar candomblé, eles chamam os negros a seus escritórios porque eles têm orgulho ou preguiça demais para visitar os terreiros terreiro s pessoalmente no campo. Mas você, você, tem que ir. Você não pode esperar que eles se comportem naturalmente num escritório ou num hotel. E eles vão te respeitar mais se você for visitá-los. Vou te apresentar (Landes 1947: 19). Esta atitude complementou as idéias de Landes em relação às conexões individuais e pessoais no processo de pesquisar. p esquisar. Ela entendeu que para ela e para p ara outros estrangeiros, o campo “não é a vida real... Mas para Edison, ao contrário, ‘o campo’ era sua vida e seu trabalho também” (Landes 1970: 133). Como guia, Carneiro abrangia um limite difícil e interessante de ser ao mesmo tempo dentro e fora da comunidade que ele estava estudando, por ser mulato na Bahia.
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Embora Carneiro se identificasse como separado e diferente da classe aristocrática, Landes o via de um jeito diferente. Ela escreveu que ele “claramente não era um homem do povo... ele nunca aparecia sem um chapéu, casaco, colar, gravata...mas ao contrário aos costumes do mundo anglo-saxónico, o fato de ser uma pessoa de cor não o prejudicava de ser aristocrático” (Landes (Lan des 1947: 60, 61). Numa carta pessoal pessoa l Carneiro respondeu, “Não estou sempre satisfeito com seu retrato, em relação a minha aristocracia, divertem-me as coisas que você relembra” (EC a RL, 28/8/1947, CNFCP)8. Os colegas de Carneiro concordaram com respeito a seu comportamento, observando que ele só tinha amigos brancos e conscientemente apresentava-se de um jeito burguês. Talvez Carneiro reconhecesse distorcidamente seu estado na sociedade baiana, ou talvez ele tivesse que comportar-se assim para manter seu estado numa comunidade elite, branca e acadêmica. Nas cartas entre eles, é claro que Carneiro e Landes tiveram um relacionamento romântico enquanto estiveram juntos na Bahia. A literatura neste assunto em geral não valoriza muito este aspecto de seu relacionamento, mas este fato criou uma ligação fundamental entre eles, facilitando uma conexão e uma colaboração mais profundas e duradouras. Seu romance guiou-os juntos em o que Carneiro chamou “tantos dias lindos nos candomblés da Bahia” (EC a RL, 22/2/1946, CNFCP), para ajudar Landes a escrever um conto controverso sobre o candomblé, apresentado para o mundo inteiro. Juntos eles tornaram-se autoridades internacionais nos estudos afro-brasileiros. Ele era o protetor de Landes, seu ogã, negociando sua percepção, e as publicações sobre o candomblé em público. Apesar das emoções fortes que Carneiro sentia por Landes9, ele sempre valorizava seu “nosso belo contato intelectual” em vez de seus sonhos irrealistas de casar-se e criar uma família (EC a RL, 18/11/1939, 14/7/1939, NAA).
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A participação de Carneiro no PCdoB colocou ambos como pesquisadores de candomblés, que já eram sujeitos à repressão da polícia, numa posição precária. Embora Carneiro nunca trabalhasse como militante comunista antagônico à ditadura em público, ele percebia os perigos de sua pesquisa e trabalho. Numa redação apresentado no primeiro Congresso Afro-Brasileiro Afro-Bras ileiro em 1934, Carneiro reconheceu que muitos membros membr os negros, e dos candomblés, contribuíam ao partido comunista (Dantas 1988: 92). Seu trabalho eventualmente levou-o à prisão e ao exílio, ameaçando a sua liberdade e a de Landes como pesquisadores e escritores de questões afro-brasileiras. As atividades e a repressão do PCdoB fornecem um contexto histórico à ditadura e ao estado autoritário, o Estado Novo de Getúlio Vargas durante esta época. Em 1936, com a promessa de mais autoridade pela nova constituição de 1934, Vargas criou a Comissão Nacional da Repressão de Comunismo com a intenção de encarcerar imediatamente todos os militantes comunistas, incluindo Carneiro (Talento, Couceiro 2009: 74). A suspeita e a repressão dos terreiros do Estado Novo resultaram da sua isolação e alteridade dos candomblés na sociedade branca, em vez de ameaças ou ligações verdadeiras com o partido comunista. Como Dantas explica, “a repressão legal, facultada por este artigo, era uma tentativa de garantir aos dominantes o controle sobre os negros livres, cujos centros de culto, localizados sobretudo nas cidades, constituir-se-iam em núcleos virtuais de ‘perigo’ e ‘desordem’” (Dantas 1988: 166). Ainda que os terreiros não apoiassem a plataforma do comunismo, eles protegiam seus colegas comunistas, como Carneiro, durante tempos perigosos. O terreiro tradicional Nagô, Ilê Axé Opô Afonjá protegeu Carneiro e suas colegas quando os precisavam, demonstrando a profundidade e a força de sua s ua ligação e colaboração. A pesquisa do antropólogo da
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Universidade Harvard, James L. Matory, revela que “Opô Afonjá protegeu jornalista Edison Carneiro, que era um fugitivo comunista, de ser encarcerado pela polícia de Vargas...disse que Mãe Aninha, a fundadora de Opô Afonjá, interveio com o Presidente Vargas para proteger os terreiros de candomblé em geral” (Matory 2005: 162). Como acadêmico mulato e comunista trabalhando em terreiros perseguidos, Carneiro e sua parceria Landes, trabalhavam em condições condiçõe s bem precárias10. Sete anos depois de sair da Bahia e um ano antes da publicação de A de A Cidade das Mulheres, Mulheres, que fornece detalhes sobre seu exílio e sua atividade presumida de comunismo na Bahia, Landes e Carneiro discutiram abertamente sua participação no PCdoB. Carneiro escreveu numa carta, “Eu suponho que você imaginou na Bahia que éramos todos comunistas. Pois, éramos, e somos” (EC a RL, 28/5/1946, NAA). Landes respondeu, Não, não sabia que você era comunista, co munista, na Bahia, embora todo o mundo dissesse que você era. Mas você negou isso, você lembra, e eu não queria inquirir. Eu acho que Pierson também sabia. Eu mesmo sou uma Rooseveltian New Dealer 11, e sou contra muitas coisas no programa comunista—mas isso não tem nada a ver com meus relacionamentos pessoais (RL a EC, 19/6/1946, CNFCP). Essas cartas sugerem que Carneiro não falou sobre este aspecto de sua identidade com Landes apesar de ser seu confidente e apoio em quase todas as outras situações durante seu tempo juntos. Guardando este segredo poderia servir para proteger-se, proteger suas colegas, e Landes, mas colocou sua pesquisa e seu bem-estar numa posição perigosa. A ignorância presumível de Landes sobre a participação de Carneiro no PCdoB possivelmente não foi genuína, mas foi uma reação reaç ão a sua própria persecução. persecuçã o. Em 1941, pouco tempo depois de ter voltado do Brasil e do começo co meço das alegações, o Bureau de Investigação Federal dos Estados Unidos (FBI) fez um inquérito pessoal sobre Landes.
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Esta prática era comum durante a época de McCarthy12 nos Estados Unidos quando “O FBI investigava vários antropólogos por causa do ativismo ou das afiliações dos maridos, pais ou irmãos” sendo marxistas ou não. não . No caso de Landes, o FBI estava preocupado p reocupado com o radicalismo de seu pai, que era ativista socialista sindicalista (Price 2004: 225, 228). Durante a investigação, o FBI entrevistou vários colegas de Landes. Suas respostas revelam como seus colegas acadêmicos viam-na. Um supervisor do projeto de Myrdal disse ao FBI que “de seu contato mínimo de Landes, ele recebeu a impressão que ela era inclinada ao comunismo... principalmente pelo jeito de vestir-se e suas idéias”. Uma pessoa da Universidade de North Carolina Car olina que trabalhou com o projeto de Myrdal também disse que seus colegas “não aprovavam a ideologia liberal que ela estava alastrando em relação ao problema dos negros” e que “ela era muito incorreta em seu trabalho, tinha a reputação de ter pouca moral”. Um outro antropólogo entrevistado no Bureau de Etnologia disse que ele ouviu que pessoas no Brasil não gostavam dela por causa de “sua atitude agressiva” (Price 2004: 230, 231). Essas impressões de Landes demostram como a comunidade antropóloga a recebeu e a afinidade desta fofocar sobre ela e usar suposições injustificadas para incriminá-la. Mesmo que permaneça incerto se o Governo Federal tenha lido ou tido intenções de ler as cartas entre Carneiro e Landes, esta explicação da ignorância falsa na parte de Landes é possível. Este tipo de vigilância não seria rara na ditadura de Vargas da época. Como o autor Price nota sobre os Estados Unidos nas décadas 40-50, “O comunismo associa-se cada vez mais com o ativismo pela igualdade racial... em muitas situações foi o compromisso dos comunistas com o ativismo progressivo que atraiu antropólogos ao partido por seu compromisso declarado da igualdade racial” (Price 2004:12*). Por causa
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do racismo rígido e violento nos Estados Unidos nas décadas de 30-50, as posições dos antropólogos nas questões de raça às vezes apareciam revolucionárias e problemáticas, ameaçando a ordem da sociedade. Por esse critério, Landes e Carneiro poderiam ser considerados como comunistas, mas com a visão do século 21, nem os trabalhos de Carneiro nem os de Landes demostram os elementos fundamentais de uma análise propriamente marxista13. Landes voltou aos Estados Unidos do Brasil em 1940 e como ela explicou numa carta a Carneiro, “não era muito estudiosa por causa da Guerra Mundial”. Ela publicou dois artigos bem influentes e controversos que utilizam a análise de sua pesquisa com Carneiro na Bahia, que se chamam “A Cult Matriarchate and Male Homosexuality” (“O Culto Matriarcal e Homossexualidade Masculina”) e “Fetish Worship in Brazil” (“Adoração Fetiche no Brasil”)14. Landes escreveu sobre o papel dos homossexuais “passivos” no candomblé, como eles negavam seu gênero por seus desejos de ser mulheres, aproximando-se à mãe de santo matriarcal. Ela explica como alguns se vendiam na rua como prostitutos, enquanto outros “restringem seu feminismo cada vez mais para as ocasiões do culto, enquanto na vida secular tentam imitar as ações dos homens” (Landes 1940: 394). Seus artigos também elaboram a degradação da tradição do caboclo em contraste com o prestígio do nagô. Esses artigos apresentam informações e análises condensadas, que são mais alongadas e explicadas em A em A Cidade das Mulheres (1947). Landes também traduziu o artigo que Carneiro escreveu que se chama “The Structure of African Cults in Bahia” (“A Estrutura dos Cultos Africanos na Bahia”), que apareceu no Journal of American Folklore (Jornal de Folclore Americano). Estes artigos
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escritos por Landes e Carneiro facilitaram a propagação de suas idéias na antropologia e nas comunidades acadêmicas nos Estados Unidos. Durante a Segunda Guerra Mundial e antes de escrever seu livro A livro A Cidade das Mulheres, Mulheres, Landes trabalhou no governo para o President’s Committee on Fair Employment (Comité do Presidente para Justo Emprego). Seu trabalho consistia em “assegurar que não tivesse discriminação de emprego nem na indústria da guerra nem no governo por causa de raça, credo, cor ou origem nacional” (RL a EC, 13/4/1946, CNFCP). Ela também trabalhou para um artigo que se chama “The Ethos of the Negro in the New World” (“O Etos do Negro no Novo Mundo”) para a Comissão de Carnegie dirigido por Gunnar Myrdal. Seu artigo nunca foi publicado no livro final, An final, An American Dilemma (Uma Dilema Americana) Americana) porque seu colega e crítica, Melville Herskovits, escreveu uma carta a Myrdal declarando que Landes não era capaz nem de pesquisar nem de analisar este assunto. De fato, seu artigo final, disponível National Anthropological Archives (nos Arquivos Nacionais de Antropologia) parece disperso, ambíguo, e mal-pesquisado. Depois de voltar, Landes teve dificuldade de encontrar um bom emprego, em parte por causa das percepções perce pções que seus colegas americanos americano s tinham sobre seu jeito de pesquisar no Brasil e seu comportamento nas na s comunidades negros. Isso afetou seu relacionamento com a antropóloga proeminente Margaret Meade, que disse em 1940 que “toda esta besteira que está circulando sobre ligações e fidelidades e partidos e lados deveriam ser desencorajados... não deixe que ninguém a coloque na situação de ser a responsabilidade de qualquer um” (MM a RL, 5/3/1940, MPP), possivelmente aludindo a seu relacionamento íntimo com Carneiro. Em uma aparente carta de recomendação, Meade opina sobre Landes que “suas deficiências mais conspícuas são no campo de
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organização.... ela cabe melhor como membro dum time de pesquisa ou num departamento como membro menor, em vez de ter toda a responsabilidade” (MM a RL, 1940, MMP). Esta falta de apoio dos colegas como Meade deixou Landes “em Nova York, para um tempo indefinido, sem nada para fazer” (RL a MM, 20/9/2948, MMP). Sete anos depois de voltar do Brasil, Landes contou a Carneiro numa carta “depois da guerra eu finalmente comecei com o livro sobre Bahia!” (RL a EC, 27/2/1946, CNFCP). A Segunda Guerra Mundial não só afetou as oportunidades professionais de Landes e Carneiro, mas também a possibilidade de eles se reencontrarem. Carneiro se candidatou para um emprego com a esperança de morar com Landes em Londres, mas a Embaixada Britânica respondeu a Carneiro que “por causa da situação na Europa, o British Broadcasting não quer assinar um contrato nem comigo nem com ninguém”. Ele perguntou a Landes, “Você acha que q ue eu posso ir a Nova York?”. Quando Quan do seus planos não deram certo, ele a avisou, “temos que renunciar a nosso casamento.... Não vejo horizontes lindos, só caminhos sombreados” (EC a RL, 7/7/1939, 14/7/1939, NAA). Ele também se sentia alienado na comunidade americana, reclamando como o Instituto Brasil-Estados Unidos estava cheio de “gente cretina, que só quer estar bem vestida e conversar sobre coisas sem interesse” (EC a RL, 31/7/1939, NAA). Carneiro pediu para conselhos e contatos de Landes com a intenção de solicitar para uma bolsa do Museu Guggenheim, mas ele aprendeu que “eles só têm uma vaga, e ela é prometida a Anisio Teixeira, que é, sem dúvida, mais qualificado do que eu para recebê-la” (EC a RL, 22/12/1939, NAA). Os obstáculos para um brasileiro inibiram inibiram Carneiro de chegar aos Estados Unidos, mas ao mesmo tempo aparece que Landes não o deu o mesmo apoio incondicional que ele lhe tinha oferecido. Eventualmente ambos se desistiram com suas
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aspirações de ficar juntos, eles casaram-se com outras pessoas e focalizaram em outros objetivos na vida, mas sempre mantiveram contato um com o outro. A explicação fornecido por Landes sobre seu processo de pesquisar e escrever Mulheres, demostra como os editores, Macmillan Company, seu livro, A livro, A Cidade das Mulheres, influenciaram seu tom e ponto de vista. Numa carta a Carneiro ela explicou, “eles querem publicá-lo, se eu escrever na primeira pr imeira pessoa. Está vendo, eu me revelei... eles querem as identidades verdadeiras” (RC a EL, 27/2/1946, CNFCP). Landes e Carneiro tinham discutido o processo de publicação enquanto estavam juntos na Bahia, como Carneiro escreveu numa carta logo depois que Landes foi embora, “Naturalmente você deve me propor como colaborador, simplesmente... o redator é que deve ter a última palavra” (EC a RL, 14/8/1939, NAA). Ele se sentia como ele se merecesse uma dedicação de Landes, como ele fez em seu Antologia seu Antologia do Negro Brasileiro, Brasileiro, sabendo que um crédito duma antropóloga como Landes da Universidade de Columbia seria uma honra e ajudaria com seu estatuto e suas possibilidades para o futuro. Em 1940, Carneiro lembrou a Landes de criar um produto final de sua pesquisa, exclamando, “estou esperando o seu livro—e esperando também que a dedicatória não seja prejudicada por este ano de silêncio... ou por um novo amor” (EC a RL, 24/10/1940, NAA). Landes La ndes teve a intenção de dedicar seu livro a Carneiro, mas os editores consideraram uma dedicação imprópria, dado que ele é o personagem principal do livro. Os publicadores disseram a Landes que Carneiro parece um personagem “compassivo e compreensivo” (RL a EC, 13/4/1946, CNFCP). Eles não elaboraram, e quase não reconheceram, sua orientação acadêmica que facilitou a pesquisa de Landes para escrever este livro.
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Depois de ter lido o livro final, Carneiro percebeu uma distorção de suas intenções originais de 1938 na Bahia e respondeu a Landes, “Não posso me acostumar com a idéia de que você não criou o livro que você poderia ter escrito—um livro científico. Não estou sempre satisfeito com meu retrato.” Em geral ele concedeu que ela “fez um livro honesto, verdadeiro, bom, e inteligente” (EC a RL, 28/7/1947, CNFCP). Num artigo publicado em 1953, “Os Estudos sobre o Negro Brasileiro”, Carneiro declarou que “embora Ruth Landes não tivesse podido publicar a memória científica que as suas pesquisas lhe permitiram fazer, e tivesse de usar o material recolhido para compor um livro de impressões da viagem, o seu The City of Women pode enquadrar-se bem na lista de estudos da ‘escola baiana’”. Embora Carneiro não tenha culpado explicitamente os editores pelas limitações de seu livro, com frequência ele expressou descontentamentos como “Ruth Landes teve de usar as suas notas de campo ‘de uma maneira mais popular’ para compor o volume” (Carneiro 1964: 108, 227), como se o produto final estivesse fora do seu controle. Ele manteve a credibilidade de Landes como uma autoridade apesar de seu estilo de narrativa, que parece mais um diário de viagem, que às vezes caracterizou os candomblés em vez de qualificar suas observações e conclusões como científicas e portanto verdadeiras. Um dos mistérios desta história é que Carneiro não percebeu, ou decidiu não reconhecer a resposta bem negativa de Ramos em relação ao trabalho de Landes. Em 1953, Carneiro ainda presumia que Landes, Herskovits, Ramos e ele se concordavam nas teorias e direções dos estudos afro-brasileiros. No entanto, Ramos tinha publicado um artigo chamado, “Pesquisas Estrangeiras sobre o Negro Brasileiro” em 1942 que completamente descreditou os artigos de Landes em relação à sua tese de
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homossexualidade e matriarcado no candomblé. Este artigo de Ramos praticamente difamou a credibilidade e autoridade de Landes como antropóloga. Em seu artigo, Ramos declara que “é lamentável que algumas dessas conclusões, como por exemplo, do ‘matriarcado’ negro e controle da religião pelas mulheres, na Baía, e do homossexualismo ritual, nos negros brasileiros já estejam correndo os meios científicos e até anunciadas para publicação em revistas técnicas”. Ele afirma que “as observações e pesquisas dos estudiosos brasileiros bras ileiros infirmam essas conclusões fantasiosas” fantasiosa s” (Ramos 1942: 188-190). Este artigo seriamente prejudicou os relacionamentos futuros de Landes com Margaret Meade, Melville Herskovits e empregadores potenciais, mas aproximou-a Carneiro, que a defendeu e apoiou até seu falecimento em 1972. Em seu artigo Ramos nunca menciona o guiamento que Carneiro deu a Landes no processo de sua pesquisa. Enquanto Carneiro se ligou a Landes com tanto orgulho or gulho de ser seu guia, Ramos excluiu Carneiro como responsável pelas conclusões falsas. Ramos notou que inicialmente ela, Trouxe-me várias cartas de recomendação de amigos norte-americanos e por isso não tive dúvidas em apresentar por cartas a Dra. Landes a vários amigos, inclusive às autoridades e pessôas responsáveis que poderiam auxiliá-la no seu projetado trabalho... Não a vi mais, não tive mais contato com os seus s eus planos. (Ramos 1942: 184) Contudo, Ramos enviou as cartas de introdução e recomendação de Landes para Carneiro, que durante esta época era seu estudante com quem mantinha contato frequento. Carneiro escreveu a Ramos, “Eu encontrei miss Ruth Landes—e com ella tenho andado pelos candomblés. Ella é admirável—e muito mais intelligente do que nós podiamos imaginar./Você nunca mais escreveu...” (Freitas, Lima 1987: 180). Ramos diminuiu seu contato com Carneiro após que ele se ligou a Landes. O relacionamento entre Carneiro e
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Ramos mudou passou por dificuldades durante os anos, no início como mentor, colega, e mais pela frente como crítico enquanto Carneiro amadurecia além de sua posição como seu acadêmico menor. Num artigo publicado em 1964 chamado “Uma Falseta de Artur Ramos”, Carneiro respondeu publicamente ao artigo de Ramos e defendeu seu trabalho com Landes como legítimo e vantajoso. Ele escreveu 20 anos depois de Ramos, “para reparar uma injustiça que veio do orgulho e vaidade de Artur Ramos”. Carneiro qualificou seu guiamento, provando que “nunca, absolutamente nunca, letrado algum, brasileiro ou não, tivera tanta intimidade com os candomblés da Bahia”, enquanto Ramos “que se considerava e era considerado no passado o dono do assunto”, nunca fez pesquisa no campo, e seu “contato pessoal com os candomblés da Bahia era superficial” (Carneiro 1964: 225). Para concluir, Carneiro marcou sua posição; “fui amigo de Artur Ramos, sou amigo de Ruth Landes” (Carneiro 1964: 227). Durante toda sua carreira, Carneiro escolhia lados e formava ligações como essas, que poderiam ter machucado sua credibilidade e autoridade ao longo prazo, e se ligou ao lado de Landes sempre. Em 1970, após da segunda viagem de Landes ao Brasil em 1967, Landes candidamente e publicamente refletiu sobre seu relacionamento e trabalho com Carneiro num artigo chamado “Uma Mulher Antropóloga no Brasil”. Ela afirma, Tenho certeza que na história de pesquisa do campo, ninguém tinha sido mais afortunado do que eu com minha associação com Edison. Apesar da reputação de Carneiro como estudioso e escritor... o fato era que eu não podia andar na Bahia sem sua “proteção” de homem... Eu sei que os negros me aceitaram porque ele me garantiu, e eu dependia nele inteiramente” (Landes 1970: 128, 129, 131). Esta confiança e ligação estreita tiveram consequências positivas e negativas pelo futuro de Landes e Carneiro, mas sem dúvida aproximou-os e suas idéias aos olhos do público.
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Muitos jornais e professores dos Estados Unidos reviram seu livro A livro A Cidade das Mulheres depois da publicação em 1947. As manchetes demostram a percepção exótica e primitivo dos norte-americanos em relação ao Brasil Bra sil nesta época, incluindo manchetes como “Sacerdotisas da Selva Governam 400,000 Homens”, “Negros Vivendo sem Racismo”, “Conto Semisselvagem Retrata um Culto Vudu”, e “Exploradora Conta Segredos do Culto Selva”. Estes artigos refletem como o público percebia a experiência e as conclusões de Landes. Em geral, pessoas reconheciam o mérito de seu livro como “um livro completamente legível”, e “um conto popular escrito sobre o candomblé”, mas que Landes “era uma menina impressionável” que “assumiu uma abordagem turística” com “deficiências metodológicas”15. Esta resposta mista sobre Landes como uma mulher e uma pesquisadora perpetua nas discussões sobre seu trabalho até hoje. Os ataques mais severos vieram de Melville Herskovits, Artur Ramos e seus apoiadores, que se reuniram para “virtualmente fechar sua carreia acadêmica” (Matory 2004: 246). Herskovits fez uma resenha de A de A Cidade das Mulheres no jornal American jornal American Anthropologist em Anthropologist em 1947, e usou os defeitos de Landes como uma oportunidade de discutir a questão: “Que tipo de treinamento devemos dar para estudantes que vão pesquisar no campo?”. Declarando-se Declarando- se como a autoridade, Herskovits exige que pesquisadores do campo “têm que esforçar-se es forçar-se por obter uma imparcialidade”, impar cialidade”, contrariando diretamente a metodologia de Landes que promove ligações pessoais e individuas no processo de pesquisar. Ele reclamou explicitamente que “Landes não estava adequadamente equipada de maneira nenhuma para encontrar os problemas práticos da pesquisa do campo nos trópicos” tró picos” e que “ela sabia tão pouco da origem or igem africana do que iria estudar nem perspectiva ela tinha”. Ele também notou
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definitivamente que “a tesa básica é errada”. Herskovits, Ramos e agora o antropólogo Matory procuravam a desaprovar sua tese de matriarcado e homossexualidade do candomblé e mantinham que “os homens ocupam espaços tão importantes como os das mulheres” (Herskovits 1948: “Review of City of Women”*). Muitos acadêmicos subsequentes apoiaram o ponto de vista de Herskovits em vez de Landes como mais verdadeiro e valioso. O revisor Wilton M. Krogram escreveu sobre A Cidade das Mulheres que “este livro, como um estudo dos sobreviventes africanos no Novo Mundo, não se compara com estudos similares de Herskovits da Universidade Northwestern. O livro falta sua escrita clara e concisa, conc isa, e sua visão intensa nos problemas relativos”. Similarmente, Betram D. Wolfe apoiou a crítica principal de Herskovits que ela sofria da falta de preparação adequada no assunto. Ele criticou, Parece que ela teria aproximado sua tarefa com bastante ingenuidade para uma antropóloga profissional, porque, em vez de preparar-se com uma dominação da língua portuguesa, a língua parente das civilizações africanas e a literatura rica da etnologia brasileira no assunto, ela estudou por um ano na Universidade Fisk... ‘para acostumar-se aos negros’. Esta mesma falta de preparação preliminar é evidente em suas referências esporádicas e inadequadas sobre a ditadura de Vargas (Wolfe: 1947*). Isso foi uma resposta negativa comum à A à A Cidade das Mulheres e sua forma de pesquisar. Acusações sobre sua ignorância e a falta de preparação como essas em muitas formas invalidaram sua tese central e a credibilidade de seu livro em geral. Landes era inconsciente da severidade dos ataques de Herskovits e Ramos até bem mais tarde na sua vida. Décadas pela frente f rente num discurso ela reclamou, “Parece “Parec e que isso [o criticismo de Ramos] apareceu em publicações em português e francês há 25 anos ou mais, embora eu não soubesse até que um colega brasileiro [Edison Carneiro] escreveu ensaios sobre o assunto” (Landes Lecture: 6). Perto do final de sua carreira,
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Landes foi solicitada a responder à crítica no artigo “A Woman Anthropologist in Brazil” (1970). Neste artigo ela finalmente enfrentou a acusação que ela era “sem formação e duvidosa”, “usou iscas sexuais para segurar informantes”, até que ela “dirigiu uma bordel no Brasil” (Landes 1970: 129). Enquanto muito disso pode ser diminuído a boatos e lealdades pessoais, as críticas de Landes têm preocupações legítimas em relação a suas metodologias, conclusões e seus efeitos na sociedade Baiana. Como fonte primeira, A primeira, A Cidade das Mulheres é muito valiosa e inevitavelmente subjetiva. Em geral, seu estilo narrativo estabelece um jeito acessível de examinar o candomblé e acessar suas experiências nas cerimônias raras que poucas pessoas gravaram naquela época. Sem dúvida Landes exagera sua tese do matriarcado e não contextualiza sua análise na tradição Nagô que ela e Carneiro valorizaram. De muitas maneiras, sua análise derivou de suas intenções predeterminadas de estudar gênero e elevar o estado de mulheres no mundo. Além disso, seu tratamento de raça neste trabalho parece simples e curto, aceitando a tese de democracia racial de Freyre em vez de desafiar a questão de raça baseada em sua ambiente verdadeira na Bahia. Embora seus métodos de pesquisar facilitassem ligações significativas com individuais, sua decisão de trabalhar sozinha fora da colônia americana era ousada e potencialmente perigosa. Enfim, após ter examinado o trabalho e a carreira inteira de Carneiro, parece que o tratamento dele em A em A Cidade das Mulheres nem lhe dá o crédito merecido nem representa sua visão progressiva como devia dado seu relacionamento tão profundo. Acadêmicos contemporâneos tiveram reações variados com respeito aos trabalhos de Carneiro e Landes, variadas entre defensa e criticismo. Este ensaio focaliza nos trabalhos mais desenvolvidos e controversos na literatura em relação a Landes e Carneiro,
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mas referenciou muito mais no processo de pesquisar. As fontes mais relevantes na academia nos Estados Unidos incluem Religião incluem Religião da Atlântica Negra (2001) escrito por o ex-professor na Universidade de Harvard, James Matory e a biografia escrita pela professora canadense, canadense , Sally Cole chamado Ruth chamado Ruth Landes: Uma Vida na Antropologia (2003)16. As fontes da academia brasileira incluem Vovó Nagô e Papai Branco: Usos e Abusos da África no Brasil (1998) Brasil (1998) de Beatriz Góis Dantas e o artigo escrito por Mariza Corrêa “O Mistério das Órixas e as Bonecas: Raça e Gênero na Antropologia Brasileira” publicado no jornal Etnografia jornal Etnografia no ano 2000. O autor Matory invalida a tese do matriarcado de Landes e discute como sua análise errada tem efeitos negativos para o candomblé e a sociedade baiana. Embora seu livro aborde sujeitos e detalhes maiores sobre o candomblé e a Atlântica Negra em geral, Matory argumenta que Carneiro e Landes manipularam o candomblé para adiantar suas teorias e motivos em vez de representá-los verdadeiramente. Ele explica como eles criaram comunidades imaginadas como no caso de Carneiro “uma comunidade regional do nordeste ancorada numa inocência imutável e pré-moderna” e de Landes, “uma comunidade transnacional de mulheres que são suficientemente similares na sua essência que o matriarcado ou a igualdade de gênero que elas experimentam num lugar é também possível em outros lugares”. Ele também afirma que Landes criou “a proposição antissexista que o candomblé representava um potencial para a igualdade das mulheres no mundo” (Matory 2005: 195, 190). Matory acha que a representação manipulada por Landes convencia gerações no Brasil e fora que as mulheres tinham um papel seguro e poderoso na sociedade brasileira bras ileira em vez da realidade da cultura machista. Ele reclama também que Carneiro traiu seu país com a promoção da tese de Landes apesar da
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evidência ao contrário do papel obviamente importante dos homens no candomblé. Ele escreve sobre Carneiro, “em defesa da reputação internacional de seu país, seu próprio veneno excede o de Landes” (Matory 2005: 197). Em sua crítica, Matory usa uma linguagem intensa e vindicativa, demostrando seu desdém pela prominência da idéia do matriarcado após a publicação de A de A Cidade das Mulheres. Mulheres. Embora James L. Matory explique as falhas nos trabalhos de Landes e Carneiro, sua atitude severa ataca o processo deles. Matory critica intensamente a tese de Landes mas ao mesmo tempo usa seu livro como evidência das tradições e praticas do candomblé na década dos 1930’s. Ironicamente ele usa o trabalho que ele acha destrutivo e prejudicial como primeira fonte na construção de sua s ua própria pesquisa. Apesar dos do s defeitos e concepções errôneas, A errôneas, A Cidade das Mulheres é como socióloga Stefania Capone concorda “um retrato vívido, no qual achamos o mais conhecido candomblé tradicional na Bahia” (Capone 2010: 215). Em geral, Matory trata Carneiro e Landes em termos excessivamente simples e negativos17. O tom de Matory não supreende dado que este livro ganhou o Prêmio Memorial de Melville Herskovits e perpetua as críticas similares do trabalho de Landes e a valorização de Herskovits. Em defesa de Landes contra a tradição de Herskovits e Matory, o biógrafo Sally Cole fornece um visto amplo e compreensivo da carreia e vida dela, enquanto focalizando na legitimação do seu trabalho. Cole escreve especificamente sobre os aspetos de gênero na crítica contra Landes e as concepções errôneas fundadas em sua atitude progressiva em respeito ao gênero e pesquisa de campo. As fontes que Cole usa revelam a atitude de Mead também, que foi apoiada por Herskovits e Ramos, especificamente que Landes não atuava “nem como uma Senhora nem uma acadêmica” e que ela atuava como uma nativa,
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namorando um baiano. No texto inteiro Cole faz uma vitimização de Landes como “a outra e a deslocada na antropologia americana” (Cole 2003: 202). Em geral, Cole apela por uma revisão das concepções concepçõe s tradicionais de Landes que a consideram consider am como uma mulher descarada e ousada na sociedade baiana. Embora a análise de Cole justificadamente transfira a concepção negativa do trabalho de Landes, às vezes seu livro chega a ser defensivo e idealizado. Cole vê o trabalho de Landes “no coração da Antropologia”. Ainda que Landes seja uma antropóloga importante, esta declaração exagere sua posição e seu valor na antropologia. Cole qualifica as críticas contra Landes como focalizadas em seu formalismo, que ela não atuava como uma senhora norte-americana (Cole 2003: 242, 224). Isso designa a feminidade de Landes como o problema em vez de reconhecer as falhas na sua tese de matriarcado. Seu tratamento de Carneiro no livro em geral diminui sua importância em vez de Ramos como a autoridade internacional nos estudos afro-brasileiros. As preocupações na literatura brasileira são diferentes e concentram nos detalhes da representação falsa de candomblé e as consequências no contexto brasileiro que Carneiro e Landes criaram. A autora Beatriz Góis Dantas explica o legado da pureza nagô apoiado nos trabalhos de Carneiro e Landes. Ela não explora a carreira inteira de Carneiro, mas reconhece seus esforços além de só a questão da pureza nagô. Ela também reconhece sua tentativa verdadeira para “mostrar o candomblé como verdadeira religião por oposição à magia, particularmente à magia negra” negra ” (Dantas 1988: 184), ainda que Carneiro só tenha apoiado a legitimação dos terreiros nagô. Ela examina como Carneiro revisava o racismo científico e a superioridade sudanesa de Nina Rodrigues, mas ainda achava o trabalho de Rodrigues como importante e fundamental. Dantas reconhece que
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intelectuais como Carneiro não são somente responsáveis pela valorização da pureza nagô, e que este processo também depende na participação dos membros dos terreiros a aceitar e fazer cumprir esta hierarquia. Como estudante de doutorado Maria Ferreira explicou em sua dissertação, ele era bem influenciado pelos líderes da tradição nagô como Martiano do Bonfim e Mãe Menininha (Ferreira 2010: 114). Dantas usa as “argutas observações” de Landes em A em A Cidade das Mulheres como evidência primária para sua tese no livro. Dantas prova facilmente que Landes afortalezou a divisão entre o nagô e caboclo, mas que ela não era completamente consciente nas consequências de suas ações e palavras. Mais interessante ainda é a análise de Dantas em relação às perspectivas de Landes sobre o racismo no Brasil. Segundo Dantas, Landes “tão perspicazmente percebera a utilização do negro baiano como símbolo nacional, termina por proclamar a nossa democracia racial e cultural... difundindo uma falsa idéia da igualdade dos negros, mascaram o racismo e a intolerância cultural, tornando-os mais difícil combate” (Dantas 1988: 183, 206). Dantas, portanto, concorda com Matory em relação ao impacto negativo do trabalho de Landes. Não só por causa da questão da tese do matriarcado mas por sua perpetuação da teoria da democracia racial como um obstáculo maior pelo povo negro brasileiro do que e a pureza nagô. O artigo escrito por Mariza Corrêa explica como a tese e a imagem de Landes contribuíram à consciência global do candomblé e das baianas como matriarcados. Ela explica que para entender a história da mulata baiana, é preciso começar com os trabalhos de Ruth Landes e Carmen Miranda. Esta comparação com uma mulher tão sexual e controvérsia como Carmen Miranda já é problemática para uma mulher e mais ainda para uma acadêmica. Mas Corrêa liga as duas com seus impactos na cultura baiana, levando as
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baianas ao cenário internacional, tornando o caso c aso brasileiro crucial nos no s assuntos mundiais. Corrêa considera Landes como “a primeira pesquisadora a, explicitamente, feminizar os cultos afro-brasileiros. A baiana, é claro, não foi criação sua, mas a revolta que essa explicitação causou em alguns círculos brasileiros sugere que, antes de se transformar em símbolo, ela era uma realidade intratável” (Corrêa 2000: 252). Landes só chamou mais atenção internacional a este símbolo. Isso teve um efeito involuntário por Landes, na comercialização da baiana e do candomblé como símbolos culturais do Brasil, apropriados na indústria turística hoje em dia18. Corrêa fornece uma descrição detalhada da carreira de Carneiro e “sua relação amorosa” com Ruth Landes (Corrêa 2000: 242). Mas dá o crédito a Dona Heloisa, que “era a madrinha dos estudos etnológicos no país... assim como Arthur Ramos era o padrinho dos estudos sobre o negro” (Corrêa 2000: 241). No artigo ela representa Carneiro como “o jovem mulato baiano procurando o apoio do professor de medicina branco [Ramos], já consagrado.” consagra do.” (Corrêa 2000: 247). Isso Iss o não reconhece o guiamento pessoal e útil que ele deu a Landes durante duran te sua pesquisa. Deve ser notado que quase nunca se discute Carneiro na literatura sem pelo menos uma referência ou uma seção dedicada a Landes. Em menor medida isso é também verdade na literatura sobre Landes. Eles são ligados inextricavelmente como vozes unidas nos estudos afro-brasileiros. Até este próprio ensaio começou como uma pesquisa sobre os trabalhos e a carreira de Carneiro, mas transformou-se transf ormou-se num exame detalhado sobre sua colaboração com Landes. Isso é porque antes deste ensaio ninguém tinha estudado especificamente os detalhes deste relacionamento tão interessante e controverso.
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No presente ensaio revela as complexidades da carreira de Carneiro e seu relacionamento com Landes como complicado e às vezes ambíguo. Landes chegou no Brasil em 1938 com uma perspectiva informada por questões de gênero, pressões da tradição de Franz Boas e estruturas antropólogas que influenciaram seu processo e suas conclusões. Embora sua tese seja exagerada e pré-determinada, seu processo é útil para entender porque sua experiência tinha um impacto tão grande no Brasil. Um foco em Carneiro como individual que guiou Landes permite que ele seja entendido como um acadêmico baiano significante e bom membro da comunidade do candomblé. Carneiro começou sua carreira de comunista, jornalista e historiador para apoiar e representar a comunidade negra brasileira como um aliado, um mulato. Mas as pressões dos elites, a competição pela autoridade autoridad e e o oportunismo distraíram Carneiro de suas intenções primárias. Possivelmente sua atitude inconsistente e sua disposição a formar aliados deixou-o nas sombras de colegas mais orgulhosos e ousados. Dentro de todas essas opiniões e reações conflitivas sobre Landes e Carneiro, este ensaio procura neutralidade sem envolver emoções, usando a evidência fundada em pesquisas originais. Contextualizei este ensaio em minha experiência exper iência própria vivendo em Salvador, Bahia e visitando os mesmos terreiros, espaços e universidades onde Carneiro trabalhou e Landes visitou. As sugestões que os professores e funcionários baianos me deram para pesquisar este relacionamento sugere que pessoas ainda estão pensando e lembrando o legado profundo de Ruth Landes na Bahia.
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A quantidade de escravos que eram transportados durante o tráfico de escravos é bem disputada e incerta. Em minha pesquisa encontrei números entre 2-8 milhões de pessoas. Em geral, parece que 40% dos escravos importados de África pelos Américas foram para o Brasil. 2
Rebeliões e revoltas já aconteceram várias vezes na história da Bahia e do Brasil. Os exemplos mais conhecidos são a Rebelião Malê e o rei Zumbi do quilombo dos Palmares. 3
Eu comecei esta pesquisa em Inglês e usei a versão inglês do livro, The City of Women de Ruth Landes publicado nos Estados Unidos Uni dos em 1947. Minhas citações c itações são desta de sta versão publicada public ada em 1947, traduzidas traduzi das por este ensaio ensai o em Português pela autora. As fontes fonte s não são do livro publicado public ado em Português, A Português, A Cidade das d as Mulheres traduzido por Maria Lúcia do Eirado Silva no ano 1967. 4
Getúlio Vargas fez uma junta militar no ano 1930 e serviu como o chefe dum governo provisional até 1934. Ele continuou como a presença maior nos políticos brasileiros pelos próximos 20 anos como um presidente eleito ele ito de 1934-1937, como uma ditadura dita dura no Estado Novo de 1937-1945, e voltado mais uma vez ve z como o presidente constitucional de 1951-1954. 6
As citações das cartas entre Edison Carneiro e Ruth Landes vieram de duas fontes. A primeira, o Centro Nacional de Folclore Folclor e e Cultural Popular Popula r (CNFCP) no Rio de Janeiro. Ja neiro. A segunda, o National Anthropological Archives (NAA) (Arquivos Nacionais de Antropologia) do Instituto Smithsonian em Washington, DC. Usei abreviaturas EC (Edison Carneiro) e RL (Ruth Landes) com a data da carta e o lugar onde eu acessei a fonte. 7
Todas as citações com * foram traduzidas de inglês ao Português pela autora.
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Todas as cartas acessadas no CNFCP foram escritas em Inglês, e eu traduzi-las para este ensaio. Todas as cartas acessadas no NAA foram escritas em Português salvo os seguintes que eu traduzi: RB a RL, 12/1/1939, EC a RL, 28/5/1946, 7/7/1939, 14/7/1939, 22/12/1939. 9
Depois que Landes saiu da Bahia em 1939, Carneiro escreveu a ela com um tom mais desesperado, dizendo coisas como “Eu te preciso”, “Eu te amo, porque não está me escrevendo?”, “Eu preciso ter você de novo para ser feliz... meu amor sempre está te protegendo e te guardando” (EC a RL, 18/11/1939, 11/11/1939, 8/6/1939, NAA) 10
Outros acadêmicos e ativistas trabalhando em público também encontraram dificuldades da ditadura de Vargas. Gilberto Freyre também era encarcerada para organizar o Primeiro Congresso Afro-Brasileiro em 1934. 11
Esta referência a “New Deal” é ligado com o presidente estadunidense Franklin D. Roosevelt que é conhecido como o presidente que escapou a Grande Depressão com uma expansão do governo com projetos públicos e sua liderança durante a Segunda Guerra Guer ra Mundial. Landes se chamando duma “Rooseveltian New Dealer” significa que ela apoia o governo democrático e não é nem uma revolucionária nem uma comunista. 12
A época de McCarthy nos Estados Unidos era durante a década 1950 na Guerra Fria quando tinha muitos julgamentos de pessoas pess oas perseguidas como comunistas. Tinha muito vigilância do governo e todo o mundo estava com medo de expressar suas opiniões políticas. 13
Minha pesquisa e conhecimento de historiadores marxistas são limitados. Não encontrei discussões ou análises na literatura especificamente sobre as orientações marxistas nem de Carneiro nem de Landes. Este sujeito ainda merece mais desenvolvimento, mas minha pesquisa mostra que não era um foco central em seus argumentos. 14
Não encontrei estes artigos publicados em Português.
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As citações destas manchetes são incompletas. Acessei nos National Anthropological Archives (NAA) Box 59: Reviews of City of Women. As citações mínimas estão na bibliografia. 16
Eu não consegui encontrar essas fontes publicadas em Português, todas as citações são traduzidas de Inglês pela autora. 17
Matory faltou de referenciar muitas fontes importantes que clarificam o processo de Carneiro e Landes. Ele só usa os livros seguintes de Carneiro: Candombles da Bahia, Religioes Negras e Negros Bantos, “Candomble da Bahia” no Antologia no Antologia do Negro, Negro, e o artigo “The Structure of African Cults in Bahia”. Ele nem usa seu livro de artigos importantes, Ladinos importantes, Ladinos e Crioulos, que discute muitas das questões que Matory critica. 18
A indústria turística hoje em dia comodifica muitos objetos simbólicos de candomblé como bonecas, colares, atabaques, etc. Turistas podem pagar para uma excursão nos terreiros mais comerciais de Salvador e pagar as mães de santos para jogar as conchas e determinam sua orixá. A comunidade de candomblé tem respostas variadas ao este fenômeno, alguns participam e outras estão lutando contra.
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Caixa 2: Série 1 Correspondências: Cartas Recebidas EC to RL, Mio 28, 1946, NAA EC to RL Junho 8, 1939, NAA EC to RL Julho 7, 1939, NAA EC to RL, Julho 14, 1939, NAA EC to RL Julho 31, 1939, NAA EC to RL, Agosto 14, 1939, NAA EC to RL, Outubro 24, 1940, NAA EC to RL, Novembro 18, 1939 EC to RL, Novembro 11, 1939 EC to RL Dezembro 22, 1939, NAA Caixa 59: Resenhas de City of Women (Citações incompletas) “Priestesses Rule 400,000 in Brazil: Women of Cults Dominate Jungle, Anthropologists Reports” (Boston Sunday Post, August 6, 1939), 7-10-39 “Review of City of Women”, Macmillan Company, 5-20-47
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Things. Gannett, Lewis. “Book Review: City of Women” in Books in Books and Things. Herald Newspaper, “Review of City of Women”, 6-22-49. Herskovits, Melville J. “Review of City of Women” in American in American Anthropologist , Jan-Mar 1948. Landes , Ruth. Book Review of Afro-American Anthropology: Contemporary Perspectives. By Norman E. Whitten and John f. Swed. 1971. Landes , Ruth, “Comment on Field Research” in Western Canadian Journal of Anthropology [undated]. Moorhead, Max L. “Review of City of Women”, University of Okahoma. Poznanksi, Gitel, “A Study of Folk Life of Brazil" New York Times, Aug 3, 1947. Shackelford, Nevyle. “Review of City of Women”, 7-13-47. Wolfe, Bertram D. “Review of City of Women” in New in New York Herald Tribune, Tribune, August 24, 1947. Outros Series nos Papeis de Ruth Landes Nord, Peter. “Ruth Landes: Women as Individuals” [date?] [ date?] from National Anthropological Archives, Ruth Landes Papers. Box 60: Biographical and Personal Files. Landes, Ruth. “The Author Review His Book”, 1948. Box 59: Publications, Reviews of City of Women. Landes, Ruth, “Comment on Field Research” in Western Canadian Journal of Anthropology Landes, Ruth. “Afro Brazilian Culture and New World Racism” [date?] from National Anthropological Archives, Ruth Landes Papers Box 47, Series 3: Writings. Landes, Ruth, Notebooks. Brazil IV, Bahia. Box 9: Series 2: Research materials. Acessado no Library of Congress, Manuscripts, Margaret Meade Papers (MMP)
Carta de Margaret Meade a Ruth Landes Março 5, 1940, Caixa C3. Margaret Meade, sem data, sem endereço, 1940, Caixa C5.