UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS FACULDADE DE LETRAS LITERATURA BRASILEIRA 1 POLLYANNA MARQUES VAZ
RESUMO “DO ANTIGO ESTADO À MÁQUINA MERCANTE” – ALFREDO BOSI Neste texto Alfredo Bosi aborda alguns pontos da obra de Gregório de Matos fazendo uma correlação entre estes e alguns dados biográficos do poeta. O autor começa com uma análise do soneto “À Bahia” ressaltando dois movimentos básicos do poema. Um, presente nos dois tercetos, onde há a identificação do poeta com a cidade e seu triste destino destino e que traria segundo segundo o autor o lirismo lirismo do poema; e outro presente presente nos quartetos, quartetos, onde o poeta se afasta da cidade e passa agir como juiz, julgando-a por sua “futilidade”, sua falta de bom senso nas transações econômicas e sua abertura aos estrangeiros, condenando-a a resignação (capote de algodão). Ele demonstra que desde o inicio do poema está presente a contradição que é o mote do discurso, uma situação anterior, da cidade cidade e do poeta, frente à situação situação atual, pior que a anterior. Um jogo de espelhame espelhamento nto que desemboca também na acusação de quem deixou ambos assim, a máquina mercante, que troca tudo, que muda tudo. Para encontrar este antigo estado e porque ele seria melhor que o atual o autor recorre à biografia e ao contexto histórico vivido pelo poeta. Descendente de uma “nobreza luso-baiana” que perdeu o lugar privilegiado tradicionalmente sedimentado pela crise na produção de açúcar ele seria o que Gramsci chamou de intelectual eclesiástico. Esta classe, presente nestes momentos iniciais do sistema capitalista, que resiste aos novos valores se apegando às tradições, aos privilégios de sangue e nome. Agrega-se a isso o preconceito relacionado ao comércio, lugar do judeu, e do trabalho, lugar do escravo. Alfredo Bosi termina esta parte do texto argumentado frente a Araripe Jr, que atribui o sarc sarcas asmo mo e iron ironia ia do poet poeta a a uma uma cara caract cter erís ístic tica a pess pessoa oal.l. Com Com a cont contex extu tual aliz izaç ação ão
percebemos que aquelas têm objetos muito definidos, a língua ferina do poeta se volta ao comerciante estrangeiro, aos donos de empréstimos, aos senhores de engenho baianos que já eram mestiços com indígenas e principalmente aos mulatos. Não se trata de um nacionalismo, mas da indignação do fidalgo que desce frente às classes que em sua visão se beneficiam com o novo sistema, indignação com o fim das diferenças de berço, quando o dinheiro compra tudo. E esta sátira se torna especialmente cruel ao agregar a questão do preconceito de cor, sinal que seria mais distintivo da diferença. Além do escárnio mais ostensivo contra a população negra ressaltado segundo o autor pelas questões econômicas, há a uma reflexão específica sobre quando as mulheres negras e mestiças são alvo desta poesia, caracterizada da por uma espécie de amálgama de luxúria e escárnio. Cita as observações de Gilberto freire, porém discorda da conclusão otimista deste, exemplificando para isto os versos do poeta, e questionando se a fusão na pele e na carne significou alguma equiparação social. Neste ponto demostra como há na poesia de Gregório de Matos duas formas em que as mulheres são representadas, uma feitas em versos e nomes clássicos em que elas são belas, distantes, inacessíveis e brancas, onde se canta a renúncia; e outra onde são mulatas, negras, com imagens grotescas, palavreado chulo e se canta o carnal. E mesmo quando há certa ambiguidade o autor mostra que há uma predominância desta separação. Descarta também utilizar a teoria de “carnavalização” de Mikhail Bakhtin como explicação, argumentando que no poeta o discurso nobre e chulo não expressam o mesmo fenômeno, são formas diferentes para objetos diferentes. Por fim o autor ressalta também uma divisão na poesia sacra do autor, uma de caráter mais moralista, predominante e outra mais mística. A primeira se baseia na consciência culpada, no medo da danação e desemboca na confissão, na tentativa de negociação com deus e que mantem um “tom legalista e catastrófico”. A segunda se inspira no sacrifício da paixão de cristo e nas ideias de gratuidade e espontaneidade. Porém ressalta o autor que o moralismo é o mais presente e que esta veia mística não chega á poesia satírica onde poderia humaniza-la. BIBLIOGRAFIA: BOSI, Alfredo. Do antigo Estado à Máquina Mercante. In:________ Dialética da Colonização. 3ed. São Paulo: Cia das Letras, 1992.