ECNOCIENCIA E CULTURA
ensaias sabre a tempo presente
Hermetes Reis de Araujo (org.) Achim Seiler Seiler Gilbert Simondon Gilles Chdtelet Herminio Martins Mart ins Franfois Laruelle Stephane Huchet Paul Virilio Laymert Garcia dos Santos Santos Bruno Latour Cecile Schwartz Schwa rtz Florian Florian Charvolin
Copyright Achim Seiler. Bruno Latour. Cecile Schwanz. Florian Charvolin. F r a n ~ o i s Laruelle. Gilles Chateiet. Hermetes Reis de Araujo. Herminio Martins. Laymert Garcia dos Santos. Santos. Michdle Sir nondon. Stephane Huchet.
Projeto grdfico Foto da capa
Composifao Revisao
Antonio K e h l / E s t a ~ o Liberdade Radiotelescopio, Jodre11 Bank, Ingiaterra. Culture Technique. nO 9, fevereiro de 1983. Extrafda do artigo de Juliette Grange. "La commensurabilite". Todos os direitos reservados. Anita Cortizas Fred Navarro/Estat;:ao Navarro/Estat;:ao Liberdade
Dados Internacionais de Catalogat;:3.0 na Publicat;:3.o (eIP) (camara Brasileira do Livro, SF. Brasil) Tecnociencia e Cult ura: ensaios ensaios sobre tempo presente Hermetes Reis de Araujo (org.) ; Achim Seiler .. let. al. I. Sao Paulo: Estat;:ao Liberdacle, 1998 .
Sumario
11
Apresentayao
23
Tecnologia, Tecnologia, natureza e a "rede scoberta" do Brasil Laymert Garcia dos Santos
47
Biotecnologia e Terceiro Mundo: interesses econ6micos, opyoes tecnicas e impacto socioecon6mico Achim Seiler
65
0 mercado, a floresta e a ciencia do mundo industrial Hermetes lIeis de Araujo
91
Crises dos meios ambientes: desafios as ciencias humanas Bruno Latour, cecile Schwartz e Florian Charvolin
!
Bibliografia ISBN 85-85865-86-5 1. Cultura. 2. Tecnociencia. Tecnociencia. I. Araujo, Hermeres Reis de. II. Seiler, Achim.
CDD 306.4
14
0 deus dos artefatos: sua vida, vida, sua morte Hermfnio Martins
16
Do Caos e da Auto-organiza9ao como neoconservadorismo festivo Gilles Chatelet
Chatllada COPIAR ESTE L1VRO POR QUAISQUER MEIOS
E VIOLA
os
ILEGAL
D1REITOS PATRIMONIAIS DOS AUTORES
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Todos os direitos reservados Editora E s t a ~ a o Liberdade Ltda. Dona Elisa, II
R.
Os motores da hist6ria Entrevista com Paul Virilio
-/227
253
Para conceito de "nao-tecnologia" Pranfois Laruelle publica: maguina(ria)s B f t i ~ s e s t e t i c a s B f t i ~ s e s t e t i c a Stephane Huchet
Res
Sobre a tecrio-estetica: tecrio-estetica: Carta a Jacqu es Derrida
Esta publica.,ao s6 foi possive! g r a ~ s as colaborayoes dos autores aqui reunidos. Agradeyo especialmente a Laymert Garcia dos Santos. BRA.
Apresentay8.0
comum a afirmac;ao de que as ciencias e as n:cnicas con temporaneas provocaram uma r uptura na hist6ria das socieda sociedades des industriais, gerando urn sistema tecno-cientffico mundializado, imerso no reino do operat6rio. Fala-se hoje em tecnociencia, ou tecnociencias, no plural, para tentar nomear fenomeno. 0 ter mo se apresenta como uma caracterizac;ao do movimento de ino va<;:ao permane nte e investimento financeiro que recobre plane ta de novos artefatos tecnol6gicos e de novos mercados, e visa sobretudo assinalar uma interdependencia entre as ciencias e as tecnicas no saber contemporaneo. Uma grande muta<;:ao ffsica espiritual estaria transformando mundo. A ciencia perde sua anterioridade n a ordem do saber, saber, a natureza e a paisagem se tor nam definitivamente humanas. Uma tal din amica nao po deria deixar de investir na refle refle xao sobre os modos de produc;ao do saber e do poder nas socieda: des contempodneas. Afinal, que esta em jogo nessa rede inter nacionalizada de satelites, partfculas atomicas, computadores, no vos materiais, biotecnologias e bolsas de valores, sao as possibili dades mesmas de uma gestao coletiva d a sociedade e tam bern pr6prio estatuto do sabe[i Esta reflexao e pont o de partida deste livro. Ele integra, reutiliza e redistribui conceito de tecnociencia
APRESENTAQAO
APRESENTAC;AO
mos a seguir as perspectivas gerais que informam conceito de tecnociencia. Elas sao basicamente duas. A primeira constata que saber tecnico e ciendfico con temporaneo difere completamente do saber contemplativo e dis cursivo que dizia sentido do mundo, tradicionalmente chamado de ciencia ou filosofia, onde razao, natureza e liberdade consti tuiam urn fundo com urn, sem r e l a ~ a o direta com a a ~ o eficaz. A tecnica ai era era aquilo que favorecia favorecia a liberdade humana, na medi da em que proporcionava os meios para a a ~ o . Mas ela nao influia na integridade do sujeito, ela nao falava falava logos, nao podendo ser, portanto, um teo ria. A ciencia modema assinala declinio dessa forma de saber. saber. 0 metodo experimental e f o r m a l i z a ~ o mate matica passam a determinar as modalidades de o b s e r v a ~ a o e de d e s c r i ~ a o dos fenomenos . 0 saber cientifico se toma urn produto cada vez mais tecnicizado e separado da experiencia natural, desa lojando a filosofia como discurso da verdade. Mas a m a t e m a t i z a ~ o da ciencia nao representa apenas a subs fim t i t u i ~ o de urn discurso por Outro. Ela caracteriza justamente da linguagem como modo privilegiado de reflexao pelo qual ho mem dizia a verdade verdade.. Desde enti o, que estrutura saber cientifico, mesmo aquele aquele d.a "ciencia pura"
ou
"teo rica"
quase exclusivamente
o cilculo matematico, onde urn simbolismo nao discursivo discursivo e utiliza do para resumir uma o p e r a ~ o ou uma r r a n s f o r m a ~ o . Hoje, investida pelo formalismo matematico, pela m o d e l i z a ~ o pd experimenta ~ o , a ciencia e urn saber que estabelece uma r e l a ~ o r ativa e l a ~ o com mundo, e ela desapareceria se Fosse dissociada dissociada dos instrumento s, das habilidades (tecnicas) e dos procedimentos operacionais. Dessa for ma, em nossos dias, uma teoria ciendfica significa, essencialmente, urn instrumento para a a ~ o a sobre ~ o a realidade, e a filosofia nao fala mais do mundo, ela fala do discurso. A t r a n s f o r m a ~ o na ordem do
A segu nda perspectiva relativiza a visao visao de que a mo dern i dade tecnociendfica teria gerado esta inversao do saber, cuja con sequencia maior foi urn "desencantamento"
do mundo.
Aqui, 0
saber que constitui as ciencias e as tecnicas nao se apresenta como realidade a urn sistema ope um l6gica instrumental, reduzindo a realidade racional, no qual as matematicas sao urn estoque de enunciados formais que descrevem e prescrevem mundo. As ciencias e as tecnicas tecnicas nao teriam urn poder demiurgico. As formas contempo raneas raneas do poder resultam das r e l a ~ 6 e s que os homens estabelecem entre eles com a natureza. A quan tidade e a qualidade dos ele mentos, tanto aqueles da sociedade dos homens como aqueles do reino da natureza, que cada individuo ou grupo pode investir nes tas r e l a ~ 6 e s , e que imp6em estabelecimento dos fatos e da verda de. Exatamente porque uma de suas principais caracteristicas e a c r i a ~ a o de novas realidades, as ciencias e as tecnicas, assim como os laborat6rios, as i n s t i t u i ~ 6 e s as politicas de pesquisa, sao urn empreend imento coletivo coletivo,, cuja racionalidade racionalidade nao e n em mais uni versal nem mais racional do que aquela que circula no conjunto das r e l a ~ 6 e s humanas. Mundialmente instituidos e altamente in vestidos po saberes especializados, os fatos ciendficos e os obje tos tecnicos sao a c o n c r e t i z a ~ a o de redes de r e l a ~ 6 e s , de tama nh variavel, constantemente mantidas e atualizadas, qu li gam entre eles os homens as coisas. 0 q ue, po d e f i n i ~ a o , nao exclui os interesses politicos e economicos e tampouco os valores .
SOCIalS e moralS.
ciendficos teriam assi um dimensao so Os conteudos ciendficos cial, nao seriam a e n c a m a ~ a o de uma p ura racionalidade racionalidade aplicada. aplicada. determinismo tecnico tecnic o e ciendfico, nem determinismo socia Ne e politico, a tecnociencia aparece como vetor dinamico da cul tura material contemporanea, em seu movimento que se ramifica