Álvaro de Campos - resumo Português - 12º Ano 2016-2017
Álvaro de Campos surge quando Fernando Pessoa sente “um impulso para escrever”. O próprio Pessoa considera que Campos se encontra no «extremo oposto, inteiramente oposto, a Ricardo Reis”, apesar de ser como este um discípulo de Caeiro. Campos é o “filho indisciplinado da sensação e para ele a sensação é tudo. O sensacionismo faz da sensação a realidade da vida e a base da arte. O eu do poeta tenta integrar e unificar tudo o que tem ou teve existência ou possibilidade de existir. Este heterónimo aprende de Caeiro a urgência de sentir, mas não lhe basta a «sensação das coisas como são»: procura a totalização das sensações e das perceções conforme as sente, ou como ele próprio afirma “sentir tudo de todas as maneiras”. Engenheiro naval e viajante, Álvaro de Campos é figurado “biograficamente” por Pessoa como vanguardista e cosmopolita, espelhando-se este seu perfil particularmente nos poemas em que exalta, em tom futurista, a civilização moderna e os valores do progresso. Cantor do mundo moderno, o poeta procura incessantemente “sentir tudo de todas as maneiras”, seja a força explosiva dos mecanismos, seja a velocidade, seja o próprio desejo de partir. “Poeta da modernidade”, Campos tanto celebra, em poemas de estilo torrencial, amplo, delirante e até violento, a civilização industrial e mecânica, como expressa o desencanto do quotidiano citadino, adotando sempre o ponto de vista do homem da cidade. O percurso de Álvaro de Campos evoluiu em três fases distintas. A primeira, decadentista é marcada por um certo tédio face à arte do passado considerado inconsciente e cuja principal fonte inspiradora era a Natureza. Tratava-se de uma arte em que a verdade era deturpada. Campos rompe então com o passado e busca novas sensações, saúde e infração a todas as regras: as da vida e as do verso. A sua vitalidade transbordante, o seu amor ao ar livre a ao belo feroz, a descoberta do futurismo e sensacionismo de Whitmas, levam Campos a defender a ideia da força, a exaltar a violência e o excesso, a fazer a apologia da civilização industrial. A liberdade formal da sua poesia, o primado do nome, a explosão da técnica, a exploração do movimento, a irreverência e a provocação marcam fortemente toda a segunda fase deste poeta, todo o virado para o exterior tenta banir o vício de pensar e acolhe todas as sensações: “Eu sinto tudo, de todas as maneiras. O exemplo de que
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acabo de referir são as “Ode triunfal” e “Ode Marítima”, cujo estilo torrencial e desleixado, associado à irregularidade métrica, estrófica e rimática evidenciam a ideia de força e agressividade neste Álvaro de Campos indisciplinado. Porém, o poeta ressente-se do seu pretenso dinamismo e insatisfeito perante toda a realidade mergulha numa profunda ansiedade, numa confusão emocional motivada pela sua incapacidade de realização. Campos sente tédio pela vida, é um poeta abatido, descontente consigo e com os outros. Deprimido, busca a solidão e o reconforto na infância perdida. É este o Campos intimista, o da terceira fase, em poeta cansado, perdido no labirinto do seu “eu” como constatemos nos poemas “O que há em mim é sobretudo cansaço” e “Lisboa revisited”.
1ª FASE DE ÁLVARO DE CAMPOS –
DECADENTISMO (“Opiário”,
somente) -
abulia, tédio de viver
- procura de sensações novas - busca de evasão
“E afinal o que quero é fé, é calma/ E não ter estas sensações confusas.” “E eu vou buscar o ópio que consola ”
2ª FASE DE ÁLVARO DE CAMPOS
Futurismo
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elogio da civilização industrial e da técnica (“Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno!”, Ode Triunfal )
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rutura com o subjetivismo da lírica tradicional
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atitude escandalosa: transgressão da moral estabelecida Sensacionismo
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vivência em excesso das sensações (“Sentir tudo de todas as maneiras” – afastamento de Caeiro)
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sadismo e masoquismo (“Rasgar-me todo, abrir-me completamente,/ tornar-me passento/ A todos os perfumes de óleos e calores e carvões...”, Ode Triunfal )
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cantor lúcido do mundo moderno
3ª FASE DE ÁLVARO DE CAMPOS – PESSIMISMO
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dissolução do “eu”
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a dor de pensar
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conflito entre a realidade e o poeta
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cansaço, tédio, abulia
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angústia existencial
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solidão
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nostalgia da infância irremediavelmente perdida (“Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!”, Aniversário)
TRAÇOS ESTILÍSTICOS Verso livre, em geral muito longo Mistura de níveis de língua Construções nominais, infinitivas e gerundivas Assonâncias, onomatopeias, aliterações Enumerações excessivas, exclamações, interjeições, pontuação emotiva Metáforas ousadas, oxímoros, personificações, hipérboles, ironia Estrangeirismos, neologismos Estética não aristotélica na fase futurista – a ideia de beleza assenta na ideia de
força Desvios sintáticos (“fera para a beleza de tudo isto”; “de todos os nervos dissecados fora”)
O Futurista – 2ª fase Ode Triunfal Vaidade e orgulho por poder conviver com aquilo que os antigos não conseguiram – poeta extasiado A fúria do exterior reflete-se dentro de si e espalha-se por todas as suas sensações – é o que lhe permite escrever Humanização das máquinas (“Grandes trópicos humanos de ferro e fogo e força”) O presente é a concentração de todos os tempos: o presente existe porque houve passado e é o presente que permite que haja futuro Desejo de materialização, de funcionar como uma máquina pois elas funcionam sem sofrer, sem pensar
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Denúncia dos aspetos negativos da sociedade da civilização moderna: ócio, inutilidade, riqueza, luxo (dos que não trabalham), superficialidade e falta de sinceridade e isenção da imprensa, corrupção (política) Prazer obtido através das máquinas Agora devem ser exaltadas outras coisas que são tão belas como a natureza (“Um orçamento é tão natural como uma árvore”) Alucinação provocada por todo o movimento das máquinas Quebra abrupta no ritmo acelerado: ele para para pensar, recordar a infância e constata a efemeridade da vida e as próprias mudanças que se operaram nele – infância é a idade da felicidade Termina com um grito de Sensacionismo
anulação do eu
viver tudo de
todas as maneiras, por toda a gente e em toda a parte Novo conceito de homem – insensível, livre e amoral Irregularidade estrófica, métrica e rítmica; utilização de palavras agressivas; linguagem técnica; realidades antilíricas; muitas onomatopeias, apóstrofes e interjeições, enumerações, discurso caótico – recursos estilísticos em excesso
O pessimista – 3ª fase Lisbon revisited (1923) –
campo disfórico, cansado, rejeitando até as ciências e a
civilização moderna (oposição à ode triunfal); reclama o direito à solidão e à indiferença; evocação da infância como momento de felicidade que antecede a dor de pensar e a consciência – felicidade perdida; agressividade e incompatibilidade entre o eu e os outros (sente-se marginalizado, incompreendido, não há aceitação em relação aquilo que ele é); valorização de certos elementos através de maiúsculas, tal como Ricardo Reis; oxímoro; paganismo “Aniversário”, “Dactilografia”, “Esta velha angústia”.
Linhas Temáticas O canto do Ópio; O desejo dum Além; O canto da civilização moderna; O desejo de sentir em excesso; A espiritualização da matéria e a materialização do espírito; O delírio sensorial;
a)
b) c)
d)
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Expressividade da linguagem Nível fónico Poemas muito extensos e poemas curtos; Versos brancos e versos rimados; Assonâncias, onomatopeias exageradas, aliterações ousadas; Ritmo crescente/decrescente ou lento
O sadomasoquismo; O pessimismo; A inadaptação à realidade; A angústia, o tédio, o cansaço; A nostalgia da infância; A dor de pensar.
nos poemas pessimistas
Nível morfossintático a) Na fase futurista, excesso de expressão: enumerações exageradas, exclamações, interjeições variadas, versos formados apenas com verbos, mistura de níveis de língua, estrangeirismos, neologismos, desvios sintáticos; b) Na fase intimista, modera o nível de expressão, mas não abandona a tendência para o exagero. Nível semântico a) apóstrofes, anáforas, personificações, hipérboles, oximoros, metáforas ousadas, polissíndetos.
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