Era o Buda Um Pessimista? Acharya S.N. Goenka
Vipassana Research Institute
Do original: Was the Buddha a Pessimist ?, ?, 2001 Publicado por: Vipassana Research Institute
[email protected] www.vridhamma.org
Primeira Edição Eletrônica em Português, 2009 Publicado por: Associação Vipassana Brasil
[email protected]
2
SUMÁRIO Era o Buda um Pessimista? ........................................................... .................................... ....................... 7 A Falsa Crítica ao Pessimismo ………………………………….. ………………………………….. 17 O Médico Médico Promove a Doença? Doença? ...................................................... .............................. ........................ 30 A Disseminação Disseminação do Equívoco Equívoco …………………………………... 35 A Felicidade e o Bem-estar de Muitos ………………………….. 39 OD Distribuidor istribuidor de Felicidade………………… Felicidade…………………………………….. ………………….. 51 A Definição Definição de Felicidade Felicidade ………………………………………. ………………………………………. 88 A Ênfase Exagerada do Sofrimento …………………………….. 113 Era o Buda um Pessimista Extremo? ............................................ 120 As Duas Principais Técnicas de Meditação do Buda …………... 138 3
PREFÁCIO Dukkhavadi “Era o Buda um Pessimista?” é uma tradução do hindu “ Kya Buddha Dukkhavadi The?” publicado pela primeira vez no Nepal em maio de 2000. Nessa edição, o A-
charya S.N. Goenka, professor mundial de Vipassana, explicou as razões dos equívocos fundamentais que evoluíram ao longo dos tempos sobre o Buda e seu ensinamento e os esclareceu por intermédio de lúcidos exemplos. Tais equívocos surgiram quando os ensinamentos do Buda foram perdidos na Índia e em boa parte do mundo. Isto se deu em grande parte devido ao desaparecimento do ensino aplicado (a técnica de Vipassana). No entanto, mais tarde, até as palavras originais do Buda (a literatura canônica Páli) se tornaram menos acessíveis. Assim, erros de interpretação cresceram e se tornaram arraigados.
4
Felizmente, esta técnica libertadora foi preservada na sua pureza prístina em Mianmar (Birmânia) por uma inquebrantável tradição professor-aluno. Com o seu reaparecimento na Índia e no mundo, tem voltado a trazer esclarecimentos à eficácia dos reais ensinamentos do Buda, além de trazer grandes benefícios para a humanidade. Do mesmo modo, a literatura Páli inteira com seus comentários, sub-comentários e subitens foi publicada e tornada acessível na Índia e em outros países. Um Cd-Rom contendo esta literatura foi produzido com vários recursos para a pesquisa. Esta publicação será de grande interesse para aqueles que estão praticando o ensino aplicado do Buda e também para aqueles que estão familiarizados com os pontos de vista que prevaleceram no passado. O tradutor e os editores são os únicos responsáveis por quaisquer erros na presente edição. Que todos os seres sejam felizes! Vipassana Research Institute 5
Sabbe satt ā sukhī hontu, hontu, sabbe hontu ca khemino; Sabbe bhadr āni passantu, mā kiñci dukkhamā gamā. Sukhino vā khemino hontu, sabbasatt ā bhavantu sukhitatt ā.
6
Era o Buda um Pessimista? Durante séculos na Índia, o Buda e seus ensinamentos foram acusados de serem pessimistas. Até certo ponto, esta noção também se disseminou fora da Índia em direção aos países que não estão familiarizados com estes ensinamentos. Muitos filósofos ocidentais foram influenciados por este conceito. Na Índia, muitos eruditos e pesquisadores pesquisadores eminentes ficaram reféns desta crença e, como conseqüência, as massas acabaram aceitando isso como verdade. verdade. 7
No meu tempo de escola, meus amigos e eu também aceitávamos aceitávamos esta crença de que o Buda era um pessimista. Minha mentalidade naqueles dias era tal que onde quer que lesse qualquer trabalho escrito por qualquer poeta que enfatizasse o sofrimento, eu interpretava isso como um efeito do pessimismo do Buda. Em algumas ocasiões, eu mesmo cheguei a compor alguns poemas pessimistas. Contudo, mais tarde, decidi deixar de produzir tais trabalhos, por acreditar que criariam uma atmosfera danosa para as pessoas e para a sociedade. Decidi que, se escrevesse alguma coisa, somente diria respeito ao amor pela minha pátria, às melhorias sociais e à felicidade.
Como Fui Influenciado por Esta Crença? Quando olho olho para trás, em direção à minha infância, tenho a impressão impressão de ter sido quando eu entrei em contato com Arya Samaj pela primeira vez que fui influenciado pela crença de que os ensinamentos do Buda seriam pessimistas. Eu li Maharshi 8
Dayananda em seu famoso trabalho “ Satyarth Prakash” onde escreveu, “Segundo o Buda, não existe nada além de sofrimento no mundo inteiro – sarvasya saṃ sārasya duhkhātmakatvaṃ. Contudo, a verdade é a de que existem tanto felicidade quanto
sofrimento no mundo. É falso dizer que o universo inteiro está cheio de sofrimento.” Esta crença, recebida de Arya Samaj na Mianmar do pré-guerra, tornou-se profundamente enraizada em minha mente e foi, mais tarde, fortalecida quando vim para a Índia durante a Segunda Se gunda Guerra Mundial. Naqueles dias de formação de minha juventude, eu li muitos artigos e comentários sobre o ensinamento pessimista do Buda.
Dr. Radhakrishnan Os escritos do Dr. Radhakrishnan, um filósofo ilustre de nossa época e ex presidente da Índia, mais tarde influenciaram o meu pensamento pensamento com as suas observações de que: 9
“A insistência no sofrimento não é peculiar ao Budismo, embora o Buda o tenha enfatizado sobremaneira. Em toda a história do pensamento, ninguém pintou o sofrimento da existência humana em cores mais negras e com mais sentimento do que o Buda. Não podemos deixar de sentir de que o Buda superenfatizou superenfatizou o lado negro das coisas. A visão budista da vida parece deixar a desejar em coragem e em confiança. A sua ênfase no sofrimento, se não foi falsa, não é verdadeira. Existe uma tendência no budismo de enegrecer o que é escuro e de escurecer o que é cinza. Este ponto de vista é restrito em princípio a tudo o que é afiado, amargo e doloroso na vida. No plano teórico, a visão dos budistas se s e limita ao aspecto espinhoso, amargo e sofrido da vida.” Contudo, a despeito desses condicionamentos intelectuais iniciais, ficou bastante claro para mim, depois de ter lido as palavras originais do Buda e depois de ter ex10
perimentado Vipassana (a essência prática p rática dos seus ensinamentos), ensinamentos), que muitas alegações sem fundamento foram endereçadas endereçadas ao Buda e seus ensinamentos durante os últimos 1.000 a 1.500 anos. Isto ocorreu porque os acusadores não estavam realmente familiarizados com os ensinamentos do Buda. Suas alegações não tinham fundamento no que de fato o Buda ensinou. Ao longo dos séculos, a repetição dessas falsas acusações colaborou para que se tornassem mais fortes e dogmáticas. Os ensinamentos do Buda foram enegrecidos a tal ponto que nenhum traço da verdade sobre Ele ou os seus ensinamentos permanecia na Índia. Embora eu não acredite que o Dr. Radhakrishnan tenha feito isso deliberadamente e sim que essas distorções da verdade foram involuntárias, involuntárias, seus escritos revelam até que ponto a visão da Índia sobre o Buda se poluíra. Eu concluo que isso aconteceu porque as palavras originais do Buda haviam há muito tempo desaparecido da Índia. Portanto, o Buda era citado fora de contexto e, ainda pior, coisas que jamais disse foram colocadas na sua boca. Assim, a falaciosa e equivocada crença de que o Buda era um pessimista tornou-se cada vez mais forte. 11
A extensa coletânea das palavras originais do Buda ( Tipitaka) retornou à Índia durante o tempo do Dr. Radhakrishnan, logo após o Sexto Sínodo de Iangun, de 1954 a 1956. O Governo da Índia publicou os diversos volumes do Tipitaka pela Nava Nalanda Mahavihara, sob a coordenação do Venerável Jagdish Kashyap. O Dr. Radhakrishnan até escreveu um prefácio comum para todos os livros do Tipitaka. No entanto, era evidente que, enquanto Presidente da Índia, estava extremamente ocu pado e aparentemente aparentemente não dispunha de tempo para ler e apreciar o significado do contexto dos ensinamentos do Buda contidos nesses livros. Do contrário, ele certamente teria alterado sua crença inicial sobre o alegado pessimismo do Buda.
A Crítica Continua nos Tempos Tempos Modernos Modernos As coisas erradas ditas na Índia sobre o Buda e seus ensinamentos continuaram inalteradas por mais de mil anos. Ninguém jamais esclareceu a verdade sobre este assunto. Pelo contrário, cada vez mais gente reiterava estes equívocos. Era imprová12
vel que os críticos estivessem repetindo estas falácias por despeito pelo Buda. Como muitos eruditos, eles se baseavam em quaisquer coisas imprecisas já escritas sobre o Buda. A prática de descaracterizar até a motivação do Buda pela busca da verdade continua até hoje. Um místico indiano i ndiano disse recentemente sobre o Buda: “Se alguém diz que só existe sofrimento no início, no meio e no fim da vida humana está cometendo um erro. Está errado dizer que existe sofrimento em toda a parte ao olhar somente para a doença, a decadência, a morte, a dor e a lamentação. Está errado dizer que o sofrimento é uma nobre verdade. Um homem inteligente deveria negar tal alegação e dizer que o sofrimento não é tudo nesta existência. Quando o Buda era o Príncipe Sidarta ele viu que existia a doença, a decadência, a morte, a dor e a lamentação. Ao ver isso, ele chegou à conclusão de que isso era a verdade. Ele pensou que há, em última análise, somente a velhice e 13
a morte. Ele concebeu as Quatro Nobres Verdades baseado nesta crença. Segundo o Buda, estas quatro são as verdades supremas da existência humana. Na realidade, o conhecimento conhecimento do sofrimento sofrimento não é a única única verdade suprema. suprema. A vida humana não é nem uma eterna caravana colorida nem uma permanente tempestade de sofrimento. Ambas estão presentes... esta é a verdade. As Quatro Nobres Verdades segundo o ensinamento do Buda não são realidades naturais supremas. A filosofia pessimista (do Buda) não beneficiará quem quer que seja. Permanecer arraigado ao pessimismo é continuar a carregar o ferimento. O progresso da humanidade na direção do trabalho construtivo foi desencorajado com base no pessimismo criado criado há 2.500 anos. anos. Útil é a iniciativa daqueles ascetas que deixam as suas casas para errar pelo mundo afora com a intenção de auxiliar os outros.
14
Sidarta Gótama deixou o seu lar em busca da verdade. Por conseguinte, a sua iniciativa de levar uma vida de errante não era lógica. “A verdade” é a suprema e fundamental realidade, que está sempre dentro de si mesmo, consigo mesmo. Portanto, não é necessário deixar o seu lar para procurá-la. procurá-la. É uma teoria equivocada equivocada aquela que diz que que se tem de deixar o seu lar para buscar algo que pode ser encontrado dentro de si mesmo. O que é imutável é a verdade. Portanto, a verdade que o Buda procurava não era lógica. O Buda pensou que iria a Magadha para pregar tais ensinamentos que desafiariam os Vedas... Ele aprendeu a filosofia Kapil no Mosteiro de Sanjay. Por que ele foi tão longe de casa para aprender a filosofia Kapil? Isto foi causado pela confusão. O Buda não estudou sob a orientação de qualquer erudito que pudesse tê-lo impedido de renunciar à vida de chefe de família. Isto teve um efeito ruim nos tempos após o Buda. Os budistas forçaram muitas pessoas a 15
se tornarem monges contra a sua vontade e isto provocou um efeito indesejável na sociedade. Por conseguinte, o abandono do lar e a transformação em monge pelo Buda não foram apropriados.” Tais equívocos contemporâneos são inteiramente racionais à luz da sua longa história na Índia. Eu também teria mantido posição similar se não tivesse lido as palavras originais do Buda e praticado Vipassana seriamente, o aspecto prático do seu ensinamento.
16
A Falsa Crítica ao Pessimismo Um dos missionários de Arya Samaj veio da Índia para Mandalay, na Mianmar do pré-guerra. pré-guerra. Em uma de suas palestras, ele glorificou e tentou provar a grandeza do Dhamma de Arya, enquanto explicava como o budismo é uma fé menor. Ele disse, “O Buda ensinou somente quatro coisas – o sofrimento, a causa do sofrimento, a erradicação do sofrimento e o caminho para a erradicação do sofrimento. Ele só fala de sofrimento! Não existe felicidade em parte alguma. Não existe 17
qualquer vestígio de felicidade nos ensinamentos do Buda. Ele é um pessimista! O Buda ensinou somente pessimismo. Usar a palavra “Nobre” ( ārya) para este ensinamento é errado. Como o sofrimento pode ser nobre? A verdade, o êxtase e a absorção são chamados de ārya. Nos ensinamentos do Buda nenhum destes está presente.” Este missionário foi um poderoso orador. Sendo somente um adolescente, eu era bastante imaturo e seu discurso di scurso me impressionou. Achei seu ponto de vista bastante lógico: “Os ensinamentos do Buda estão cheios de sofrimento e completamente vazios de felicidade.” Anos mais tarde, quando experimentei por mim mesmo o verdadeiro significado das Nobres Verdades, eu fiquei envergonhado da minha falta de sabedoria na minha adolescência. Embora estas Nobres Verdades da vida tenham sido expostas em detalhes sistemáticos pelo Buda, somente Vipassana me ajudou a compreendê-las.
18
O sofrimento é uma das verdades da vida. Ele surge por causa do apego e da aversão, que, por sua vez, surgem de taṇhā (t ṛśṇā ṛśṇā ). Se tais causas forem erradicadas, então, a causa raiz do sofrimento é erradicada. Para tanto, existe uma técnica prática, um caminho e uma maneira: o Caminho Óctuplo, que nos ensina, enquanto vivermos uma vida moral e correta, a controlar a mente e a desenvolver pañña (sabedoria experimental). Se praticarmos pañña (prajña), então, novas impurezas não surgirão na mente e o velho estoque de impurezas é automaticamente removido. Afinal de contas, o que é a erradicação do sofrimento? É o resultado direto da purificação da mente, a experiência de nibbāna (nirvāṇa). O sofrimento, sua causa, sua erradicação e o caminho para a sua erradicação são chamados de Nobres Verdades do sofrimento. O objetivo final do ensinamento do Buda é o de erradicar todo sofrimento. A Nobre Verdade do sofrimento é explicada em quatro aspectos: 1.
Nissaraṇattha: sair de todas as impurezas acumuladas (contaminações);
19
2.
Vivekattha: livrar-se do hábito de gerar novas impurezas;
3.
Asaṅkhatattha: experimentar por si mesmo o estado de ausência de nascimen-
to onde nada surge; 4.
Amatattha: experimentar por si mesmo o estado de ausência de morte onde
nada desaparece. Tornou-se claro para mim que o sofrimento surge no momento em que a mente se contamina com o apego ou a aversão. E quando as contaminações são removidas, o sofrimento desaparece. Quanto mais contaminações forem removidas, o mesmo tanto de sofrimento é eliminado. Se todas as impurezas acumuladas do passado forem erradicadas e o hábito de gerar novas impurezas for quebrado, então, o sofrimento é totalmente erradicado – dukkha-nirodha. Na Índia de hoje, nirodha é usado para denotar “supressão”. No entanto, quando algo é suprimido, a qualquer hora no futuro pode levantar novamente a sua cabeça. Em contrapartida, o significado original de nirodha é “total desenraizamento, total 20
erradicação”. Aquilo que não pode surgir novamente é nirodha. Por conseguinte, dukkha-nirodha significa que dukkha (sofrimento) não pode surgir novamente. Isto
foi explicado usando-se o exemplo de uma palmeira. Quando a parte superior de uma palmeira é cortada, a árvore não desenvolve novas folhas, ela morre. Da mesma forma, o caminho de total erradicação do sofrimento é ensinado nas Quatro No bres Verdades. O sofrimento não pode surgir novamente. Isto foi chamado — Pahino, ucchinnamūlo, t āl āvatthukato, anabhāvaṅkato, ā yatiṃ anuppādadhammo
destruído, — destruído,
extirpado, como uma palmeira cuja cabeça é cortada, extinta, atingin-
do o estado do não-surgimento. Da mesma forma, hoje ārya simplesmente denota uma casta ou uma raça. Contudo, na época do Buda, ārya significava não somente casta ou raça, mas, sobretudo, qualidades. Se uma pessoa de qualquer raça, casta ou classe – caminhando na trilha de Dhamma (a Lei Universal) pelo desenvolvimento da moralidade, do controle da
mente e da experiência da sabedoria – atingiu o primeiro dos quatro estágios da lirya (um nobre). Este estágio é chamado de bertação, ele era chamado de Ā rya 21
sotapañña (aquele que entrou na corrente) – ou seja, esta pessoa entrou na corrente
da libertação completa do ciclo de nascimento e morte. Tal pessoa está parcialmente liberta. Está totalmente livre da possibilidade de futuras vidas em mundos inferiores por causa da erradicação de todos os kammas (karmas) que levariam uma pessoa a tais mundos inferiores, muito embora tal pessoa ainda possua alguns kammas remanescentes, que resultarão em, no máximo, sete vidas antes da libertação final de todo renascimento. Portanto, tal pessoa faz jus ao epíteto de ārya. Continuando a prática de Vipassana, o praticante na seqüência se torna um sakad ā g āmi ( aquele aquele que retorna uma única vez), anā g āmī (aquele (aquele que não retorna) e finalmente atinge o estágio de arahat (um ser completamente liberado). Assim, ārya-satya (Nobre Verdade) é a verdade por intermédio de cuja experiência qualquer um pode se tornar um ārya – um nobre.
22
Derivações Lingüísticas A língua dos Vedas era chamada de Chāndas na época do Buda. Aproximadamente dois séculos após o Buda, um gramático erudito chamado P ānini redigiu uma nova gramática e, por conseguinte, criou uma nova língua baseada na língua existente, mas bastante diferente dela. Era disciplinada por novas regras. A língua que foi criada foi chamada de Sânscrito (literalmente: composta, criada, adaptada ou artificial). rya era usado na literatura védica na época do Buda no sentido qualitativo, bem Ā rya
como para denotar casta. Na literatura do Sânscrito de P ānini também, ambos os sentidos eram aplicados a ārya. Mais tarde, um novo significado foi acrescentado: as pessoas das três classes (nominalmente, Brâmanes, Shatriyas e Vaishyas) começaram a ser chamadas de āryas.
23
O Buda proferia seus sermões em sua língua materna, que era o Kosali. Esta era a língua falada no Reino de Kosala e era a língua nativa falada pelo povo. Não era uma língua criada artificialmente como o Chãndas ou o Sânscrito. Esta língua Prakrit (literalmente, “natural”) protegeu as palavras do Buda durante séculos, portanto, foi chamada de Páli (“aquilo que protege”). Anos após o Buda, a inteira região do norte da Índia, junto com o Estado de Kosala, caiu sob o domínio do Imperador Ashoka de Magadha, que adotou não somente o ensinamento do Buda, senão tam bém a sua língua. Então, a língua começou a ser chamada de Magadhi. Nesta língua, ārya é ariya, um epíteto para todos aqueles que atingiram estágios de sot ā panna à arahat .
No ensinamento do Buda na vasta literatura Páli, ariya ( ārya) nem mesmo uma só vez denotou casta ou raça. O termo sempre se referiu r eferiu a qualidades. Por exemplo: Visuddho uttamoti ariyo
Aquele que é puro e supremo é um ārya.
24
Ariyoti kilesehi ārak ā ṭ hito hito parisuddho Aquele que está distante das máculas da paixão,
e então, supremamente puro, é um ārya. Anaye na iriyatiti ariyo Aquele que não segue o caminho insalubre é um ārya. Ahiṃ sā sabbapāṇānaṃ ariyotiti pavuccati
Aquele que é não-violento com relação a todos os seres é um ārya. Ariyaphalapaṭ il il ābhato ariyoti
Aquele que alcançou nibbāna é um ārya. Em contrapartida, aqueles que estão longe do fruto do ārya (nibbana) são chamados de puthujjana. É dito:
25
Hino gammo pothujjaniko pothujjaniko anariyo anatthasaṃhito
Aquele que é indigno, não-iniciado (rústico), longe de nibbāna e coleciona estados insalubres. Ariyoti putthujjanabhūmi atikkanto
Um ārya é aquele que cruzou o campo de putthujjana (aquele que está separado do caminho da Verdade). As Nobres Verdades (ariyasaccãni) são analogamente definidas. definidas. Ariyā imāni paṭ ivijjhanti ivijjhanti tasmā ariyasaccānī ti ti vuccant ī ti ī ti
Aquelas verdades que são conhecidas dos āryas são verdades arya (Nobres verdades).
26
A Verdade Última Sidarta Gótama (Sânscrito: Siddhārtha Gautama) alcançou a auto-iluminação última em Bodhi Gaya e se tornou uma pessoa perfeitamente auto-iluminada. Mais tarde, ele ensinou Dhamma aos cinco ascetas Brâmanes de Kapilavatthu, em Varanasi. Em seu primeiro sermão, ele expôs o aspecto prático das Quatro Nobres Verdades. Neste local, ele explicou como as Quatro Nobres Verdades Verdades levam à realidade última de nibbāna, que está além dos sentidos: eterno, duradouro e permanente. Ele esclareceu como as Quatro Nobres Verdades, se praticadas em todos os seus três aspectos (na maneira completa em doze partes) pode levar à experiência da realidade su prema. Segundo os ensinamentos do Buda, todas as Quatro Nobres verdades estão incluídas em cada nobre verdade. Qualquer um que for além do sofrimento fará isso por intermédio da compreensão de todo o campo do sofrimento. Assim, a nobre verdade do sofrimento inclui as outras três.
27
No prazo de uma semana, todos os cinco ascetas Brâmanes tinham alcançado a completa libertação pela prática deste ensinamento benevolente. Assim, eles se tornaram os cinco primeiros arahats após o Buda. Vipassana comprovou ser frutífera! Desde então, o Buda perambulou da fronteira oriental do Rajastão até a fronteira ocidental de Bengala, servindo as pessoas ininterruptamente. Ele ensinou como ex perimentar estas Nobres Verdades por intermédio da prática de Vipassana, o que resultaria na experiência da verdade eterna de nibbāna. Mesmo na época do Buda, milhares de monges e de monjas ( bhikkhus e bhikkhunis) se tornaram arahats. Além disso, centenas de milhares de bhikkhus e de chefes de família tiveram a experiência da realidade última quando se tornaram sot ā panna (aqueles que entraram na corrente). Muitos, mais tarde, se tornaram sakad ā g āmi e anā g āmi. Esta técnica de Vipassana beneficiou milhões de pessoas ao libertá-las do sofrimento nesta própria Vida, por intermédio da experiência das mesmas Quatro Nobres Verdades. Foi uma infelicidade que esta maravilhosa técnica e toda a sua literatura tenham sido perdidas por nosso país e que, conseqüentemente, ficássemos privados dos seus ilimitados benefícios. Ambas a prática e a literatura desapareceram. Com o en28
sinamento não mais disponível, as pessoas começaram a criticá-lo por ignorância, declarando que não aceitaram a nobre verdade do sofrimento. Diante desse infeliz desdobramento histórico, como alguém pode culpar o Buda, ou a Vipassana que ensinou, pelos equívocos correntemente aceitos sobre os seus s eus ensinamentos?
29
Um Médico Promove a Doença? Um médico especialista vem examinar um doente. Ele explica ao doente: “Esta é a sua doença; esta é a causa da sua doença; e tome – eu tenho um remédio para a sua doença. O remédio removerá a causa da doença e, por conseguinte, curará a doença”. O doente toma o remédio e fica saudável. Agora, podemos dizer que este médico está fomentando a doença ou fomentando a saúde?
30
Exatamente da mesma maneira, o Buda explica às pessoas sofredoras o que é o seu sofrimento, qual a causa fundamental do seu sofrimento; então, ele oferece a solução para erradicar todo o sofrimento. s ofrimento. Ele explica a todos claramente que, se praticarem a solução, sairão do seu sofrimento. As pessoas sofrem em decorrência das im purezas da mente. Quando seguem o conselho deste homem sábio, eles saem do sofrimento porque as impurezas da mente são removidas. É lógico dizer que o Buda está fomentando o sofrimento?
A Experiência das Nobres Verdades Gera Frutos Aqui Aqui e Agora Agora Diz-se daqueles que experimentaram diretamente as Nobres Verdades: …Catubbhi vātehi asampakampiyo… yo ariyasaccāni avecca passati
Aqueles que experimentam diretamente as Nobres Verdades permanecem ina balados pelo vento que chega de todas as quatro direções, semelhante à pilastra protetora erguida de forma correta na entrada de uma cidade. 31
Também era dito: Ye ariyasaccāni vibhāvayanti na te bhavaṃ aṭṭ ham hamādiyanti.
Aqueles que incorporam as Nobres Verdades, Tais pessoas (que entraram na corrente) não nascerão pela oitava vez. Em outras palavras, estas pessoas atingirão a libertação completa do estágio de arahat no no prazo máximo de sete vidas. O ensinamento se atingir as Nobres Verdades não é somente para monges e monjas. No Maṅ gala-sutta, o Buda instruiu em detalhe os chefes de família sobre o seu verdadeiro bem-estar: Tapo ca brahmacariyaṃ ca, ariyasaccāna dassanaṃ; nibbānasacchikiriyā ca, etaṃ maṅ galamuttamaṃ.
A meditação, levar uma vida de moralidade, experimentar as Nobres Verdades e atingir o nirvana ( nibbāna ) são grandes beatitudes.
32
Claramente, seus ensinamentos não são somente para monges, mas também para chefes de família.
Panjatali sobre o Sofrimento O Rei Pushyamitra Shung governou cerca de quatrocentos anos após o Buda. O sacerdote da sua corte, Pantajali, escreveu o Sutra do Ioga baseado em Vipassana. Ele usou sinônimos das palavras usadas pelo Buda para as Quatro Nobres Verdades. Pantajali usava heya, hetu, hãna e upãya. Estas palavras eram equivalentes às Quatro Nobres Verdades do Buda. Alguém chamaria Pantajali um pessimista por causa disso? Pantajali até chegou a dizer: Duhkhameva sarvaṃ vivekinah." (Sutra do Yoga 2.15) " Duhkhameva
Todo meditador sério experimenta que o campo completo do ciclo de nascimento e morte é sofrimento.
33
No entanto, o que é mais importante, também se sabe que existe um caminho para sair do sofrimento. Que equívoco é chamar o Buda de um pregador do sofrimento, quando na realidade ele nos deu um caminho para sair do sofrimento!
34
A Disseminação do Equívoco
A perda da literatura Páli e de seu aspecto prático de Vipassana na Índia gerou muita crítica falaciosa sobre o Buda e seu ensinamento. Este processo teve continuidade incessante por mais de mil anos. As pessoas ficaram extremamente confusas por
35
isso. De outra forma, como poderia um erudito místico com grande seguidores na Índia e no exterior ter dito: “A vida humana não é nem uma eterna caravana colorida nem uma permanente tempestade de sofrimento. Ambas estão presentes; esta é a verdade.” Como se o Buda não tivesse conhecimento dos dois estados! Também foi incorreto dizer sobre o ensinamento do Buda que “Nada existe além de sofrimento no princí pio, no meio e no fim da vida humana”, enquanto o Buda, na realidade, disse di sse mais de uma vez que experimentamos ambos a felicidade e o sofrimento na vida. Ele disse: Dukkhassantara Dukkhassantaraṃ sukhaṃ
A dor é seguida de prazer Sukhassantaraṃ dukkhaṃ
O prazer é seguido de dor.
36
Assim, o prazer e a dor seguem um ao outro como o dia segue a noite. Este ciclo de existência de dor-prazer e prazer-dor tem acontecido por tanto tempo! Nós sempre gostamos do prazer que vem após a dor. Contudo, este prazer sempre se transforma em dor. E esta dor é muito mais angustiante após a euforia de um prazer temporário. Este ciclo angustiante ocorre por causa dos saṅkhāras (condicionamento, karmas) nascidos de taṇhā (apego e aversão). Portanto, estaria o Buda errado ao dizer todos os condicionamentos condicionamentos são sofrimento? sabbe saṅkhār ā dukkhā — todos Todas as tradições espirituais da Índia pensam no ciclo de nascimento e morte como sofrimento. Quando o ciclo é visto como sofrimento, não deveria também a causa deste ciclo ser vista como sofrimento? Quando o Buda descobriu a causa do sofrimento e disse que esta causa (os saṅkhāras nascidos do apego e da aversão) tam bém era sofrimento, seu ensinamento inteiro foi censurado censurado com o rótulo sarvaṃ duhkhaṃ , sarvaṃ duhkhaṃ — tudo tudo sofrimento, tudo sofrimento. E este erro de interpretação foi aplicado a um ensinamento cujo único objetivo é o oposto do sofrimento: a total libertação do ciclo de nascimento e morte, e o atingimento da eterna e suprema felicidade! 37
Este atingimento da libertação última é o objetivo de todas as tradições espirituais do Oriente. O Buda ensinou um método que realmente leva as pessoas a este estado onde visaṅkhāragataṃ cittaṃ — a a mente está livre de todos os condicionamentos, e taṇhānaṃ khayamajjhag ā — todo taṇhā de apego e aversão está destruído. Ne-
nhum novo condicionamento, que possa causar novos nascimentos, é gerado. Khiṇaṃ pur āṇ todos os velhos condicionamentos são āṇaṃ navaṃ natthi sambhavaṃ — todos
erradicados e novos condicionamentos não podem ser gerados. O meditador se torna completamente livre do ciclo de nascimento e morte. O Buda diagnosticou e explicou o inteiro ciclo de vir a ser – o inexorável processo de constante transformação de dor e prazer e a causa raiz desse ciclo implacável. Ele deu a panacéia de Vipassana que nos liberta deste ciclo e nos leva para a suprema e eterna felicidade. É claro que este grande professor dos professores, conhecido em todo o mundo pela sua natureza compassiva, foi falsamente acusado de promover o sofrimento. O nosso bem-estar e o bem-estar de toda a humanidade repousam em não se repetir este equívoco. 38
A Felicidade e o Bem-estar de Muitos O místico indiano citado anteriormente também criticou a motivação original que deu início à busca do Príncipe Sidarta Gótama: “Útil é a busca somente daqueles ascetas que deixam o seu lar para errarem, com o objetivo de auxiliar os outros. Sidarta Gótama deixou seu lar em busca da verdade. Portanto, a sua busca em sua errância não era lógica.” 39
Em outras palavras, a assertiva é a de que o Buda não deixou seu lar para auxiliar os outros; ele escolheu errar pelo mundo afora somente para satisfazer a sua curiosidade ou para servir a si mesmo e, por conseguinte, a sua busca não foi lógica ou benéfica. Foi uma triste surpresa para mim quando me deparei com este comentário. Mesmo respeitados eruditos não sabiam muito sobre os fatos da vida do Buda. Isto se deu porque as palavras do Buda não estiveram disponíveis na Índia durante mil anos. Quando o Príncipe Sidarta compreendeu as realidades do envelhecimento, da doença e da morte ele ficou preocupado, mas não somente porque ele próprio teria de passar por este sofrimento. A verdade é a de que ele desenvolveu uma imensa com paixão pelos incontáveis seres que passam por este sofrimento. Então, a pergunta surgiu em sua mente: há um caminho para todos estes seres saírem do sofrimento? Ele acreditava que Yathā pi dukkhe vijjante, vijjante, sukhaṃ nāmā pi vijjati
Onde tanto sofrimento existe, haverá também a felicidade (última); 40
Evaṃ eva jāti vijjante, ajāt ī ī pi icchitabbakaṃ
Onde (repetidos) nascimentos existirem, haverá também o desejado estado de ausência de nascimento; Evaṃ kilesapariruddho, vijjamāne sive pathe
Para aqueles sobrecarregados por aflições provocadas por ações passadas, existe um Nobre Caminho de libertação; Pariyesissāmi taṃ maggaṃ bhavato parimuttiyā
Eu quero descobrir aquele caminho que leva à libertação do ciclo de vir a ser. Ele não investigou o caminho da libertação somente para si mesmo, mas para pa ra ajudar todos os seres aflitos no oceano de samsãra. Kiṃ me ekena tiṇṇena, purisena thāmadassinā; Sabbaññuta ṃ pā puṇitvā , sant āressaṃ sadevakaṃ.
Qual é a utilidade de eu sozinho s ozinho ganhar a libertação e experimentar experimentar a verdade por intermédio intermédio de tais esforços extenuantes? extenuantes? 41
Depois de atingir a iluminação perfeita, eu devo ser útil aos homens e deuses em sua libertação. Era natural que tivesse esta intenção. Foi por causa desta volição saudável que ele passou por tantas vidas como um Bodhisatta e foi adquirindo seus pãramis (méritos, qualidades) por ajudar aqueles com quem entrou em contato. Agora, esta era a última vida daquele Bodhisatta. Ao atingir a iluminação, ele se tornou liberto e ajudou outros a se libertarem. Obviamente, foi prioritariamente im portante se libertar a si mesmo. Como um homem cego pode mostrar o caminho para outro homem cego? Como um deficiente físico pode ajudar outro deficiente físico? Como alguém preso em uma armadilha pode ajudar outros presos a se libertarem? O objetivo de deixar a vida de chefe de família não foi somente o de matar a sua curiosidade sobre a verdade última, mas o de se libertar, com vistas a também ajudar muitos outros. Portanto, é incorreto e muito infeliz concluir que o Buda escolheu a vida de errante para servir a si mesmo.
42
A Verdade Está Dentro de Si: Por que Deixar o Seu Lar para Descobri-lo? Mais uma crítica comumente dirigida contra o Buda é a de que não havia qualquer necessidade para ele deixar deixar a vida de chefe de de família para para buscar a libertação. É sabido que a verdade última da realidade está dentro de cada pessoa. Contudo, esta acusação não leva em consideração o fato de que a trilha para experimentar a realidade última dentro de si mesmo tinha sido perdida. Portanto, era necessário buscar e redescobrir a técnica. Se Vipassana estivesse disponível naquela época, não teria havido qualquer necessidade de descobri-la. No entanto, um Iluminado surge somente quando a técnica de Vipassana está perdida e somente alguns jhãnas(técnicas de absorção ou de concentração, envolventes jhãnas mundanos até o oitavo jhãna) permanecem. permanecem. Estes jhãnas são também encontrados dentro de nós mesmos e podem ser enganosos e provocar delusões. As pessoas encaram o êxtase de qualquer um desses jhãnas como se fosse a felicidade última, e não praticam para ir além. A téc43
nica de Vipassana que leva o meditador ao estágio além do campo mundano de todos os sentidos, inclusive a mente, se perde. Um Bodhisatta a re-descobre por intermédio de seus próprios esforços. Vale a pena notar que depois de ter testemunhado os três estados de sofrimento da shrama ṇa; um asceta, especialmente aquevida, o Príncipe Sidarta viu um sama ṇa ( shrama
le que acredita em seus próprios esforços de libertação). Como é possível que o Príncipe – atormentado por sua compreensão do sofrimento inerente nos três estados – não tenha falado com este sama ṇa, que pareceu ser tão sereno? O Príncipe talvez tivesse aprendido com o asceta que a verdade última é para ser investigada dentro de si mesmo. No entanto, deve-se praticar metodicamente, pela prática de uma técnica sistemática de meditação. Isto não pode ser feito meramente ao permanecer em casa. Para praticá-la, tinha-se de deixar a vida de chefe de família e procurar diversos professores da tradição samaṇa.
44
A influência da tradição sama ṇa era muito evidente na Kapilavastu da época do Buda. Havia pagodes erguidos em comemoração a dois dos três Budas anteriores a Buda Gótama neste evo (Kakusandha e Konãgamana). Muito embora a meditação Vipassana da tradição sama ṇa tivesse sido esquecida naquela altura, várias técnicas de concentração ( jhãnas) continuaram. Ãlãra Kãlãma da República de Kãlãma, que se localizava a leste do Reino de Shakya, foi um professor famoso de jhãnas. Enquanto o principal centro de seus ensinamentos era em Magadha, havia uma filial também em Kapilavastu. O Príncipe Sidarta deve ter sabido de um sama ṇa que encontrou que Ãlãra Kãlãma estava em Magadha naquele período. Para aprender a técnica de introspecção, era necessário ao Príncipe Sidarta deixar seu lar. Então, ele foi para Magadha aprender as concentrações de absorção até o sétimo jhãna. Por intermédio dessa prática ele experimentou o êxtase da profunda absorção, mas não a libertação l ibertação última. Portanto, ele foi a outro professor da tradição sama ṇa, Udakka Rãmaputta e aprendeu o oitavo jhãna. Mesmo assim, a mais ele-
45
vada prática conhecida naquela época, não resultou na sua libertação de todo sofrimento. Depois disso, ele tentou estremas e automortificantes penitências durante seis anos. Isto também mostrou ser infrutífero. Então, pelos seus próprios esforços, ele descobriu o Nobre Caminho Óctuplo de moralidade, concentração e sabedoria experimental. Por intermédio desse Caminho ele atingiu a perfeita iluminação e se sammãsambuddha. A perfeita iluminação não é alcançada pela leitura tornou um sammãsambuddha
das escrituras ou pela indulgência em acrobacias intelectuais de crenças filosóficas. O Buda não podia recebe-la de professor algum porque naquela época o caminho da libertação se tinha perdido para o mundo. Quando alguém atinge a iluminação, seu coração e a sua mente ficam cheios de infinito amor incondicional e infinita compaixão. compaixão. Ele quer distribuir esta prática benévola para um número cada vez maior de pessoas. Esta volição compassiva o trouxe ao Parque dos Cervos em Sarnath, próximo de Varanasi, onde ele ofereceu o Ensinamento pela primeira vez aos cinco ascetas que vieram de Kapilavastu. Eles se tornaram arahats (literalmente, aqueles que destruíram todas as suas contaminações) e 46
experimentaram a verdadeira felicidade eterna. Ele ficou lá durante três meses e mostrou o caminha da libertação para mais de 55 seguidores. Eles também se tornaram arahats, completamente iluminados. Assim, quando 60 pessoas se tinham tornado arahats, ele lhes declarou a exortação histórica tão conhecida: Caratha, bhikkhave, cārikaṃ
Sigam o seu caminho, oh monges! Bahujanahit ā ya bahujanasukh bahujanasukhā ya lok ānukampā ya
Pelo bem-estar de muitos, pelo benefício de muitos, por compaixão compaixão pelo mundo. Ele declarou, “Que dois de vocês não sigam a mesma direção.” Dois bhikkhus não deveriam viajar juntos. Eles deveriam ir separadamente s eparadamente a locais diferentes, para que cada vez um número maior de pessoas pudesse aprender e se beneficiar de Dhamma. Ele os exortou a: “Ensinem o Dhamma que é benéfico no princípio, benéfico no
meio e benéfico no fim; absolutamente íntegro e totalmente puro.” 47
Se alguém pratica somente sila (moralidade), (moralidade), o ponto de partida deste caminho puro em Dhamma, se torna feliz nesta vida e obtém a felicidade divina após a morte. Se alguém pratica a parte do meio de Dhamma, samãdhi (concentração da mente), ex perimenta o êxtase da absorção e, após a morte, obtém a felicidade brahmic. E se alguém se livra de todos os kammas (condicionamentos) por intermédio da prática de paññã (sabedoria penetrante) – a parte final do Caminho – então, experimenta a felicidade infinita do nibbãna e, após a morte, atinge o estado eterno, permanente da ausência de morte. Desta forma, o Nobre Caminho Óctuplo é absolutamente completo; não há necessidade de acrescentar nada a ele. Ele é totalmente puro; ele não contém qualquer impureza que precise ser removida. Desta forma, estes 60 arahats, com corações compassivos, auxiliaram muitos outros ao longo de suas vidas. Eles tinham somente um objetivo: Bahujanahitãya Bahujanahitãya bahujanasukhãya
O benéfico e a felicidade de muitos.
48
Durante os restantes 45 anos de sua vida, o Buda treinou milhares de arahats a guiar outros; e ele mesmo viajou incessantemente para muitos lugares a fim de distri buir o néctar de Dhamma. A sua vida inteira foi investida na distribuição da felicidade. Esta tradição Samana continuou a ensinar Vipassana, que libertou inúmeras pessoas por séculos depois depois do Buda. Estes comentários infelizes – de que o motivo do Buda ao deixar seu lar não foi o de auxiliar os outros; que ele deveria ter procurado a verdade última ao permanecer em casa – como eles serão compreendidos pelos habitantes dos países vizinhos da Índia que conhecem os fatos sobre a Vipassana benévola? Por intermédio daqueles que conhecem as palavras do Buda e sabem que ele trabalhou noite e dia pelo bem, pelo benefício e pela felicidade de muitos? Nós estamos produzindo um estoque de risadas sobre nós mesmos diante de nossos vizinhos que conhecem a verdade sobre o Buda. Que nós não repitamos estes erros pelo bem de nosso bem-estar e de nossa honra.
49
O Buda também foi criticado por ter abandonado a sua jovem e bela esposa e a criança recém-nascida e seus pais chorosos. Os críticos se esqueceram de que Sidarta, após ter atingido a iluminação, ajudou-os a obter a felicidade infinita da libertação. Se ele tivesse permanecido em casa, ele teria sido somente capaz de lhes dar a felicidade menor do conforto mundano e da companhia. Em vez disso, sua família inteira atingiu a libertação total. Durante séculos, sérios meditadores de Vipassana conheceram, conheceram, por intermédio de sua s ua experiência pessoal, que esta felicidade de libertação das contaminações é enormemente superior à felicidade mundana.
50
O Distribuidor de Felicidade A partir da assertiva de que a sua filosofia e seus ensinamentos nada mais eram do que sofrimento e infelicidade, a analogia é a de que o próprio Buda era sofredor e infeliz. Nada podia estar mais distante da Verdade. Como um perfeito Iluminado, o Buda saiu de todos os sofrimentos do mundo e viveu uma vida cheia de contentamento e infinita felicidade em todos os momentos. Aos outros ele só deu felicidade.
51
O Buda Estava Sempre Feliz Uma vez ele dormia em uma cama de folhas secas caídas de uma árvore em uma avī . Naquela hora, um príncipe da linhagem Āḷ avaka avaka chamado trilha de gado em Aḷ av
Hatthaka saiu para dar um passeio. Quando ele avistou o Buda, ele perguntou, “Venerável senhor, o Senhor dormiu feliz?” O Buda respondeu, “Sim, meu jovem eu dormi bem. Eu sou uma daquelas pessoas no mundo que dorme feliz.” A isto, Hatthaka disse, “Esta é uma noite fria de outono, na estação das nevadas. Os cascos das vacas fizeram a terra revolta e irregular. A cama de folhas está fina. Existem muito poucas folhas nas árvores. Um vento frio sopra de todas as direções e o Senhor veste somente andrajos. Como o Senhor pôde dormir feliz?” O Buda respondeu, 52
“Um chefe de família, ou o filho de um chefe de família, dorme em uma casa de verdade em uma cama macia com travesseiros e cobertores. No entanto, o fogo do desejo pelo prazer sensorial talvez esteja queimando dentro dele. Neste caso, na lenta combustão do calor do desejo, ele dorme no sofrimento. Um Buda extinguiu toda a sua avidez – destruiu, extraiu, eliminou-a para sempre, como o tronco decepado da palmeira, de onde novas folhas não poderão crescer. Não existe desejo no Buda. A avidez não pode surgir em um Buda. O Buda é um arahat . Um arahat dorme dorme feliz.” Um incidente semelhante: Quando Anāthapiṇḍika foi ver o Buda em R ā jagaha pela primeira vez, era tarde da noite. O Buda caminhava do lado de fora. An āthapiṇḍika perguntou-lhe: “Venerável Senhor, Senhor, Nobre Senhor, Senhor, o Senhor dormiu feliz?” feliz?” O Buda respondeu: respondeu: Sabbad ā ve sukhaṃ seti, br āhmaṇo parinibbuto; Yo na limpati k āmesu, sī tibh tibhūto nir ū padhi.
53
Desligado e dissociado de todos os desejos sensoriais e calmamente, calmamente, o br āhmaṇa (arahat) tendo experimentado experimentado nibbāna sempre dorme feliz. Então, ele acrescentou: Sabbā ā sattiyo chetvā , vineyya hadaye dara daraṃ; Upasanto sukhaṃ seti, santiṃ pappuyya cetasā.
Tendo destruído todo desejo, tendo removido o medo do coração, tendo adquirido verdadeira paz da mente, um arahat liberto e desligado de fato dorme feliz. Não somente arahats, todos os seguidores de Dhamma dormem felizes. Por conseguinte, se diz: ī sukha Dhammacār ī sukhaṃ seti
Um praticante de Dhamma dorme feliz. Ascetas que renunciaram à vida mundana e estão estabelecidos na trilha de Dhamma sempre dormem felizes — sukha sukhaṃ supanti muniyo. 54
Todos aqueles cujas mentes vibram com o êxtase arrebatador de Dhamma certa Dhammapī ti ti sukhaṃ seti, vippasannena vippasannena cetasā. mente dormem felizes — Dhammap
Bem contentes com a ambrosia de Dhamma dorme-se sempre feliz — sukhito dhammarasena appito.
Um Buda é dhammabhūto (personificado em Dhamma), brahmabhūto (personificado em Brahma); completamente calmo. Ele sempre dorme feliz. Todos os arahats que seguiram o seu ensinamento e atingiram a libertação alcançaram a felicidade. Mais um exemplo: Bhaddiya era da família real dos S ākyas. Ele foi ordenado pelo Buda. Ele sempre proferia as palavras Aho sukha, aho sukha! — Oh Oh felicidade, oh felicidade! espontaneamente sob a sombra de uma árvore ou na escuridão de sua cela de meditação. O Buda o chamou e perguntou-lhe, “Bhaddiya, por que profere estas palavras tão cheias de alegria?” Bhaddiya respondeu, 55
“Venerável Senhor, antigamente, quando eu era rei, os guardas reais estavam constantemente perto de mim – nos meus aposentos ou no exterior; na cidade ou fora de seus limites; no município ou além dele. Venerável Senhor, eu vivi escondido atrás desses guardas com constante medo e preocupação em minha mente. Agora, por outro lado, compreenda! Eu vivo sozinho na floresta, ao pé de uma árvore ou em uma cela, sempre livre do medo, sereno, livre da dúvida, sem desejar nada, com a mente calma e confiante, satisfeito com o que quer que receba por intermédio de esmolas. Venerável Senhor, ao observar esta mudança em mim, eu profiro estas palavras de alegria Aho sukha, aho sukha!”
Um discípulo do Buda está sempre feliz. Aḍ ahyam ahyamānena k ā yena, aḍ ahyam ahyamānena cetasā; Divā vā yadi vā rattiṃ , sukhaṃ viharati t ādiso.
Ele não experimenta a queimação do desejo sensorial nem na mente nem no corpo. Assim, dia e noite, ele vive feliz.
56
Arahat bhikkhu Aṅgulimāla, que se libertou, declarou: Sukhaṃ sayāmi ṭ hā yāmi, sukhaṃ kappemi jī vita vitaṃ; Ahatthapā so mārassa, aho satthānukampito.
Eu durmo feliz, estou feliz e vivo a minha vida na n a felicidade. Eu estou livre da prisão da morte. Ah, isso iss o ocorreu por causa da compaixão do Senhor. Enquanto houver a queimação da avidez ou do ódio, não haverá felicidade. Vive-se uma vida feliz somente após conquistar a libertação da avidez e do ódio. Qualquer um que gere ódio sofrerá. Mas com a prática de Vipassana tal qual ensinada pelo Buda, a mesma pessoa: Kodhaṃ chetvā sukhaṃ seti, kodhaṃ chetvā na socati
Tendo colocado um fim ao ódio, dorme feliz; tendo colocado um fim ao ódio, vive sem remorso.
57
A Felicidade Eterna do Nibbāna Hārita era um bikkhu que veio de um clã brâmane de S āvatthi. Estas são as suas palavras de regozijo ao atingir a libertação Susukhaṃ vata nibbānaṃ , sammā sambuddhadesita sambuddhadesitaṃ; Asokaṃ virajaṃ khemaṃ , yattha dukkhaṃ nirujjhati.
De fato, o nibbāna ensinado pelo perfeitamente Iluminado é a felicidade suprema. Ele é sem remorso, sem vício, seguro. Todos os sofrimentos lá terminam por completo e por fim.
A Alegre Trilha para a Verdadei Verdadeira ra Felicidade Felicidade Aggika Bhāradvā ja, um brâmane de Ukatthā, era um adorador do fogo. Ele costumava realizar penitências penitências severas na floresta por intermédio da tortura do seu corcor po. Após ter entrado em contato com o Buda, ele aprendeu Vipassana. E, após al58
guns dias de prática da técnica, ele se tornou liberto e atingiu o estágio de arahat . Quando amigos perguntaram a ele sobre isso, ele respondeu: Yaṃ sukhena sukhaṃ laddhaṃ , passa dhammasudhammata dhammasudhammataṃ; Tisso vijjā anupatt ā , kataṃ buddhassa sā sanaṃ.
(Ao deixar o caminho da tortura) eu atingi a verdade (suprema) de nibbāna usando este método feliz. Olhe a grandeza de Dhamma! (Ao alcançar o estado de arahat ) eu atingi os três poderes sobrenaturais. sobrenaturais. Completei a prática do ensinamento do Buda!
A Felicidade até para os Chefes de Família Quando um chefe de família estabelecido no ensinamento do Buda deu a mão de sua filha em casamento, deu a ela este conselho: Sente-se com felicidade; coma com felicidade; durma com felicidade. 59
E ele explicou como fazê-lo. Cumprir as responsabilidades de uma nora no novo lar é motivo de felicidade. Se alguém mais velho (a nora pode ter vinte anos e a sogra quarenta, acho que não cabe chamar de idosa) está de pé, uma pessoa deve: sentarse somente após ele se ter sentado; fazer as refeições somente após ter servido comida aos mais velhos; deitar-se somente após ter servido e atendido às necessidades dos membros mais velhos da família – todos estes conselhos conduzem à felicidade. felicidade. Para os chefes de família, as palavras do Buda estão cheias de bênçãos abundantes de felicidade. Alguns exemplos: Sukhā metteyyat ā loke, atho petteyyat ā sukhā
Servir à sua mãe ou ao seu pai traz felicidade para o mundo. Sukhāṃ yāvajar ā sī la laṃ
Seguir a moralidade até a idade avançada traz a felicidade.
60
Sukhā saddhā patiṭṭ hit hit ā
Confiar na Verdade traz a felicidade. Sukho paññā ya paṭ il il ābho
Desenvolver a sabedoria traz a felicidade. P ā pānaṃ akaraṇaṃ sukhaṃ
Abster-se de fazer o mal traz felicidade. Athamhi jātamhi sukhā sahā yā
Receber ajuda dos amigos e dos parentes quando se precisa traz felicidade. Tuṭṭ hī sukh sukhā yā itar ī tarena ī tarena
Contentar-se Contentar-se com o que se tem traz felicidade. Puññaṃ sukhaṃ jī vitasa vitasaṅkhyamhi
Praticar boas ações traz felicidade até após a morte.
61
Sabbassa dukkhassa sukhaṃ pahānaṃ
Erradicar todo sofrimento (por intermédio da prática de Vipassana) traz felicidade. É evidente que o ensinamento do Buda transmite não só a felicidade última da liberli bertação do ciclo de nascimento e de morte, mas também traz felicidade na vida mundana. Quanta falta de conhecimento chamá-lo de pessimista! Um Buda surge no mundo para distribuir felicidade. Buddho loke samuppanno, asamo asamo ekapuggalo; ekapuggalo; So pak ā seti saddhammaṃ , amataṃ sukhamuttamaṃ.
O incomparável, o extraordinário Buda surge no mundo e traz à tona a verdade, v erdade, o Dhamma. O Buda traz à tona a eterna e suprema felicidade. Portanto. Diz-se: Sukho buddhānaṃ uppādo, sukhā saddhammadesan saddhammadesanā; 62
Sukhā saṅ ghassa sāmagg ī ī , samagg ānaṃ tapo sukho.
Feliz é o surgimento de um Buda, feliz é o ensinamento de Dhamma, feliz é a reunião da Sangha e feliz é meditar m editar em grupo! Quando um Buda surge, ele distribui somente felicidade. O que dizer de um Buda, mesmo o surgimento de qualquer santo no mundo é raro: Dullabho purusā jañño, na so sabbatthaj sabbatthajā yati
Raro é um santo neste mundo. Ele não nasce em qualquer lugar. Yattha so jā yato dhī ro, ro, taṃ kulaṃ sukhamevat ī ī
Onde um homem santo nasce, a felicidade daquele clã aumenta. Uma pessoa comum virtuosa é uma causa de bem-estar para seu clã. Contudo, um Buda é uma causa de bem-estar para a humanidade. Ele prega o ensinamento benévolo que, quando seguido, pode proporcionar uma vida de paz e felicidade, repleta de Dhamma, com base na n a verdade.
63
Dhammār āmo dhammarato, dhammaṃ anuvicintayaṃ; Dhammaṃ anussaraṃ bhikkhu, saddhammā na parihā yati
Vivendo Dhamma, absorto em Dhamma, pensando somente somente em Dhamma e sempre consciente de Dhamma, um meditador bhikkhu nunca se afasta do caminho do mais verdadeiro Dhamma. Tal monge meditador é: Santak ā yo santavāco, santavā susamāhito; Vantalok āmiso bhikkhu, upasanto ti pavuccati.
Pacífico de corpo, pacífico de discurso, possuidor de uma mente concentrada, deixando para trás os vícios mundanos; tal bhikkhu pacífico é verdadeiramente verdadeiramente chamado “acalmado”. Aquele que é assim acalmado vive feliz e dorme feliz. 64
Upasanto sukhaṃ seti
O “acalmado” sempre dorme feliz. Aquele que atingiu a paz suprema atingiu a felicidade suprema. A paz suprema é a felicidade suprema. Aquele que atingiu o nibbāna atingiu o êxtase supremo. Natthi santi paraṃ sukhaṃ
Não há felicidade felicidade maior do que a paz de de nibbāna . Tais meditadores, tendo atingido a paz suprema, vivem felizes mesmo em circunstâncias adversas. Susukhaṃ vata jī vāma
Nós vivemos felizes; felizes; Veriyesu averiyo
Sem inimizade em meio aos inimigos;
65
turesu anāturo Ā turesu
Sem tribulações em meio aos aflitos Ussukesu anussako
Sem apego em meio àqueles cheios de apego. Como alguém alcança este estado de êxtase supremo? Pavivekarasa Pavivekarasaṃ pī tv tvā , rasaṃ upasamassa ca
A meditação solitária e a absorção profunda da paz que advém da mente serena. Niddaro hoti nippā po, dhammap dhammapī tirasa tirasaṃ pivaṃ
Enlevado pela alegria de Dhamma, um meditador se torna livre do medo e sem qualquer maldade.
66
Tal meditador sempre vive feliz. Aquele que não tem inimizades se torna destemido. Se alguém possui uma mente violenta, cheia de inimizades, então, sofrerá a dolorosa aflição que advém do ódio. Yato yato hiṃ samano nivattati, tato tato sammati evaṃ dukkhaṃ.
Quando a mente desiste da violência, o sofrimento é extinto. Quando o sofrimento é erradicado, a vida estará cheia de felicidade. Para atingir esta paz cheia de êxtase, é essencial praticar meditação. Deve-se meditar em uma cela isolada: Suññā g āraṃ paviṭṭ hassa, hassa, santacittassa bhikkhuno; bhikkhuno; Amānusī rat rat ī ī hoti, hoti, sammādhammaṃ vipassati.
Um bhikkhu que se retirou para uma cela isolada e, com uma mente serena, pratica Vipassana da forma correta, usufrui a felicidade divina. 67
P ī t isukhena vipulena, pharamāno samussayaṃ ītisukhena
Seu corpo inteiro é repleto desse êxtase sem limites limit es Quando se pratica Vipassana adequadamente, experimenta-se não só o êxtase na mente e a euforia no corpo, mas também a felicidade da paz infinita da ausência de morte. Yato yato sammasati, khandhānaṃ udayabbayaṃ; Labhati pī ti ti pāmojjaṃ , amataṃ taṃ vijānataṃ .
Sempre que dirigimos a nossa atenção a qualquer parte dentro do corpo (compreendendo (compreendendo o contato da mente e do corpo), estamos conscientes somente do surgir e do desaparecer. Usufruímos o êxtase e o regozijo e experimentamos a ausência de morte (que é o campo dos Nobres). Esta é a felicidade suprema de nibbāna: esta é a paz suprema.
68
Como o Buda Pode Ser Chamado de Melancólico? Se alguém for melancólico, ele só pode espalhar o sofrimento. Ele não pode e não consegue sustentar o bem-estar de todos. Em contrapartida, contrapartida, o Buda desejou o bem a todos com estas palavras: Sabbe satt ā sukhī hontu hontu
Que todos os seres sejam felizes. Um episódio da sua vida: Um jovem brâmane chamado Ambattha insultou o Buda com muitas palavras injuriosas. Quando Pokkharasãti , , o professor de Ambattha, soube desses impropérios, pediu desculpas desculpas ao Buda em nome de de seu discípulo. Naquela Naquela ocasião, o Buda disse: Sukhī hotu hotu br āhmaṇa, Ambaṭṭ ho ho māṇavo
Oh, brâmane, deixe (o seu discípulo) Ambattha ser feliz.
69
Outro episódio: Suppavāsā , do estado de Koliya , carregou um filho no ventre por mais tempo do que o normal. Ela sofreu dores intensas no momento do parto. Enviou uma mensagem ao Buda sobre a sua condição. Uma grande compaixão surgiu no Buda e ele enviou a sua bênção: Sukhinī hotu hotu Suppavā sā Koliyadhī t tā . Arog ā arogaṃ puttaṃ vijā yat ū.
Suppavāsā, filha dos Koliyas , que você possa ser feliz. Que você possa ser saudável e dar à luz um menino saudável. As suas bênçãos geraram frutos. Tal era a compaixão do Buda e tais eram as suas palavras de bendição. Embora seja chamado de pessimista por aqueles que o criticam. Outro episódio:
70
Após a sua aposentadoria, o sacerdote real do Rei de Kosala partiu em direção ao Sul e se fixou às margens do Godavari. Este sacerdote, o brâmane B āvari, tinha 100 anos quando soube que um Sammā Sambuddha (um Auto-Iluminado) aparecera no estado de Kosala. Ele enviou os seus 16 discípulos principais a fim de investigar a alegação. Quando chegaram a Sāvatthi, estes discípulos ficaram satisfeitos e reconheceram que Samaṇa Gótama era efetivamente o Buda. Quando um dos discípulos d iscípulos saudou o Buda e apresentou as suas saudações em nome de seu professor B āvari, o Buda proferiu estas palavras de bendição. ī hotu, hotu, sahasissehibr āhmaṇo; Sukhito Bāvar ī Tvaṃ cā pi sukhito hohi, ciraṃ jī vāhi māṇavo.
Que o brâmane Bāvari possa ser feliz f eliz juntamente com seus discípulos! Que vocês também possam ser felizes, oh aprendizes de brâmane! Que possam ter vida longa! Um pessimista que acredita que a vida é só sofrimento daria uma bênção por uma vida longa (que seria uma praga de sofrimento a longo prazo)? Acredito que não. 71
A mente do Buda estava sempre cheia de amor generoso. Ele ensinou a seus discí pulos a praticar a meditação do amor generoso generoso – ou seja, amor compassivo, dirigido ao bem-estar de todos os seres: Sabbe satt ā bhavantu sukhī tatt tatt ā
Que todos os seres possam ser felizes dentro de si mesmos. Onde quer que as pessoas pratiquem Vipassana em cursos de 10 dias em todo o mundo, eles têm a experiência desse amor compassivo. Após terem purificado a sua mente o mais que que possível durante durante 10 dias de de intensa meditação meditação Vipassana, aprendem a prática do amor compassivo ( mettã bhãvanã). Mesmo durante o curso, o local onde ocorre o curso de meditação é carregado de vibrações da declaração benévola: Bhavatu sabba sabba maṅ galaṃ!
Que todos os seres sejam felizes!
72
Como pode um um povo de um país que perdeu perdeu a técnica de meditação Vipassana absorver adequadamente o fato de o Buda ser o distribuidor de Dhamma, de bemestar, de felicidade?
O Amor Generoso Generoso Quando um chefe de família convida um bhikkhu a fim de lhe oferecer comida e, assim, se dá a oportunidade de ganhar méritos, o bhikkhu normalmente canta um mettasutta (versos de amor generoso). Sente-se grande alegria ao ouvir tais palavras de bênção. As mesmas palavras de amor generoso são ouvidas nos cânticos cedo pela manhã em um curso de Vipassana de 10 dias, gerando amor desinteressado e criando uma atmosfera maravilhosa para a meditação. Na ca khuddam khuddamācare kiñci, yena viññū pare upavadeyyuṃ; sukhino va khemino khemino hontu, sabbasatt ā bhavantu sukhitatt ā. 73
Não se deve praticar praticar qualquer ação ação mesquinha que possa gerar censura dos sábios. Que todas as criaturas possam ser contentes, seguras e felizes por dentro. Ye keci pāṇabhūtatthi, tasā vā thāvar ā vanavasesā;
ī gh ā vā ye va mahant ā , d ī majjhimā rassak ā aṇukathūl ā. diṭṭ hā vā ye va adiṭṭ hā , ye va‚ d ūre vasanti avid ūre; bhūt ā va sambhavesī va‚ va‚ sabbasatt ā bhavantu sukhitatt ā.
Quaisquer criaturas criaturas vivas que sejam, capazes ou não de se moverem, sem exceção, exceção, compridas ou amplas, amplas, de altura altura média ou baixas, baixas, pequenas ou grandes, visíveis ou invisíveis, distantes ou próximas, 74
que existam ou que ainda venham a existir, que todas as criaturas possam ser s er felizes por dentro. Na paro paraṃ nikubbetha nātimaññetha katthaci na kañci. byārosanā paṭ ighasaññ ighasaññā , nāññamaññassa dukkhamiccheyya. dukkhamiccheyya.
Um homem não deve humilhar outro homem; não se deve desprezar ninguém em qualquer lugar. Ninguém deve deve desejar o sofrimento de outra pessoa por ódio ou repugnância. M āt ā yathā niyaṃ puttaṃ , ekaputtamanurakkhe; ā yusā ekaputtamanurakkhe; evampi sabbabhūtesu, mānasaṃ bhāvaye aparimāṇaṃ.
Tanto quanto uma mãe protegeria com a sua vida o seu filho, 75
seu único filho, da mesma forma se deve cultivar infinito amor desinteressado com relação a todos os seres. Mettañca sabbalokasmi, sabbalokasmi, mānasaṃ bhāvaye aparimāṇaṃ; uddhaṃ adho ca tiriyañca, asambādhaṃ averamasapattaṃ.
Todo amor generoso em direção ao mundo inteiro. i nteiro. Deve-se cultivar uma mente sem fronteiras, acima e abaixo e através, sem obstrução, sem inimizades, sem rivalidades. Tiṭṭ ha haṃ caraṃ nisinno va‚ sayāno yāvat ā ssa vitamiddho. etaṃ satiṃ adhiṭṭ heyya, heyya, brahmametaṃ vihāramidhamāhu.
De pé ou caminhando c aminhando ou sentado ou deitado, 76
enquanto se estiver livre do torpor, s e deve praticar a plena atenção. Isto (se diz) é o estado brahma. Palavras maravilhosas similares são encontradas em muitos lugares na literatura Dhammapada, uma minúsPáli. Mesmo que este país tivesse preservado somente o Dhammapada cula fração dessa enorme literatura, eles não teriam visto o Buda de forma tão equivocada como uma pessoa negativa e pessimista. Os dois primeiros versos do Dhammapada são: Manopubba Manopubbaṅ gamā dhammā , manoseṭṭ hā manomayā; Manasā ce paduṭṭ hena, hena, bhā sati vā karoti vā; Tato naṃ dukkhamanveti, cakkaṃ va vahato pada ṃ.
Todas as ações de corpo e de mente têm a mente como sua precursora, a mente como a sua líder suprema; de mente são feitas. Se alguém fala ou age com uma mente impura, sofrimento o segue como as rodas seguem o rastro do animal atrelado à carroça. 77
Manopubba Manopubbaṅ gamā dhammā , manoseṭṭ hā manomayā; Manasā ce pasannena, bh ā sati vā karoti vā; Tato naṃ sukhamanveti, chā yā va anapā yinī .
Todas as ações de corpo e de mente têm a mente como sua precursora, mente como a sua líder suprema, de mente são feitas. Se com uma mente pura alguém fala ou age, felicidade o seguirá como a sua sombra que nunca o deixa. Está claro que o que quer que seja feito com uma mente impura será insalubre e definitivamente resultará em sofrimento. Da mesma forma, o que quer que seja feito com uma mente pura será saudável e definitivamente resultará em felicidade. Estes dois versos sozinhos teriam esclarecido a todos que o ensinamento do Buda não é fatalista e que ele está declarando d eclarando verdades verdades sobre o sofrimento e a felicidade. f elicidade. Dhammapada, encontram-se 26 capítulos sobre vários aspecSe alguém consulta o Dhammapada
tos de Dhamma, que ensinam a viver com alegria no presente e no futuro. Um desses capítulos é o Sukka Vagga (Capítulo sobre a Felicidade). Notamos não existir 78
um capítulo sobre o sofrimento! Isto deveria evitar que alguém pudesse dizer que o Buda foi um pessimista ou que lhe faltasse uma atitude positiva. Onde quer que o Buda tenha falado sobre sofrimento, ele o fez somente para trazer à luz as suas causas fundamentais e para encorajar pessoas a erradicar tais causas. Sempre que o Buda falou sobre felicidade, ele o fez para trazer à luz os seus fundamentos e para encorajar as pessoas a desenvolvê-lo. Em vez de falar sobre a causa do sofrimento e a sua erradicação, se o Buda tivesse dito: “Só existe sofrimento em toda a parte agora e somente haverá sofrimento no futuro; é fútil até mesmo tentar sair dele. Não se deve desperdiçar a sua energia neste esforço - Então, ele poderia sim ser chamado de fatalista, de pessimista e de cínico sem atitude positiva e defendendo a inatividade. Se tivesse sido assim, certamente o Buda teria causado dano não somente ao seu país, senão ainda a toda a sociedade humana. Nesse caso, teria sido recomendável pôr fim a este ensinamento ensinamento não só na Índia Índia mas no resto do mundo mundo também.” 79
Mas a verdade é a de que o Buda nunca disse: “Não existe saída para o sofrimento”. Em vez disso, ele deu um método prático para sair de todo sofrimento aqui e agora. Nós, na Índia, perdemos o aspecto experimental de seu ensinamento. A nossa distorção repetitiva do aspecto teórico de seu ensinamento nos privou dos seus benefícios. Quem quer quer que o tenha preservado, preservado, mundo a fora, fora, pôde se beneficiar dele. É chegada a hora de entendermos os fatos reais, de prestarmos atenção à sua lição l ição manifesta e seguirmos o caminho prático ensinado pelo Buda.
A Causa do Sofrimento e a Sua Erradicação O Buda quis criar na mente das pessoas uma inclinação para se livrarem do sofrimento. Esta foi a razão pela qual ele ensinou a verdade sobre o sofrimento, a sua causa e o caminho para sair dele. À luz desse fato, como pode se sustentar a declaração a seguir? “A visão do Buda sobre a Vida parece carecer de coragem e confiança. A sua ênfase na tristeza profunda, se não é falsa, não é verdadeira...” Se é que 80
essa declaração prova alguma coisa, prova a ignorância do escritor sobre os ensinamentos do Buda. Quem pode negar a realidade do sofrimento associado ao nascimento, à decadência, à doença e à morte, a associação com o desagradável e a dissociação do agradável; de coisas desejadas não acontecerem, ac ontecerem, e de coisas não desejadas acontecerem? Não são estas realidades verdadeiras? Nós nos apegamos aos cinco agregados pensando, “Esta é a minha mente”, “Este é o meu corpo”, e nós nos agarramos a eles como “eu” e “meu”. Esse apego profundo a estes cinco agregados leva ao ciclo repetitivo de nascimento e morte. Quem pode negar a verdade desta realidade do sofrimento? Pelo menos, todas as tradições espirituais da Índia aceitam o ciclo de vir a ser como sofrimento e estão focadas no mesmo objetivo da libertação deste ciclo, a fim de atingir a ausência de morte. O Buda disse neste contexto: Dukkhā jāti punappunaṃ
(antes de me libertar) eu tive repetidos nascimentos neste sofrimento. 81
Antes de atingir o estado de Buda, um Bodhisatta assim pensa: Kicchaṃ vat ā yaṃ loko ā panno
Oh, todos sofrem tanto! J ā yati ca jī yati ca mī yati ca cavati ca upapajjati upapajjati ca
Nascimento, decadência, decadência, morte, surgir e desaparecer desaparecer novamente. novamente. Atha ca panimassa panimassa dukkhassa nissaraṇaṃ nappajānāti jar āmaraṇassa
Não se sabe como sair sair do sofrimento ou dos dos repetidos nascimentos nascimentos e mortes. Um Bodhisatta procura pela resposta e re-descobre o Nobre Caminho Libertador de sī la-sam la-samādhi-paññ ā (moralidade, concentração e sabedoria experimental) por inter-
médio do qual ele se liberta e ajuda muitos a se libertarem. Portanto, diz-se: Punappunaṃ gabbhamupeti mando
Uma pessoa ignorante repetidamente cai no útero (tem repetidos nascimentos). 82
Punappunaṃ sivathikaṃ haranti
De novo e de novo se é levado ao cemitério. Quão inútil é passar pelo sofrimento de dukkhā jāti punappunaṃ repetidamente, movido pela ignorância! Ainda: Maggaṃ ca laddhā apunabbhavā ya
Descobrindo o caminho para sair do ciclo de vir a ser na punappuna ṃ jā yati bhūripañño
Tendo grande sabedoria, (o Buda) não nasce de novo e de novo. Muitos outros além do Buda se tornaram libertos ao terem tomado este mesmo caminho. Nós temos um tesouro de alegres proclamações de centenas de bhikkhus e de bhikkhunis, que declararam terem atingido a libertação. li bertação. Alguns exemplos:
83
Ekadhammassavaṇiya Ekadhammassava ṇiya foi o filho de um homem de negócios de Setabba. No seu estado de alegria da libertação, ele declarou: Kilesā jhā pit ā mayhaṃ
A minha paixão foi extinta. Bhavā sabbe samūhat ā
Todo vir a ser foi erradicado. Vikkhīṇo jāti saṃ sāro
O processo de (repetidos) nascimentos terminou. Natthi d āni punabbhavo
Agora não existe mais nascimento para mim.
84
Bhikkhu Menḍhasira Bhikkhu Menḍhasira entrou para a vida de mendicante vindo de uma rica família de Saket. Ele proclamou: Anekajātisaṃ sāraṃ , sandhāvissaṃ anibbisaṃ
Por incontáveis vidas eu corri por este ciclo interminável de vir a ser. se r. Tassa me dukkhajātassa dukkhakkhandho uparaṭṭ ho ho
Do sofrimento de (repetidos) nascimentos eu me libertei. O estoque acumulado de sofrimento foi destruído.
Padmãvati Padmãvati era uma cortesã de Ujjain e a mãe de Abhaya. Ela foi ordenada pelo Buda como uma monja e, por intermédio de sua prática séria de meditação, se tornou uma arahat . Padmãvati Padmãvati compartilhou estas palavras:
85
Evaṃ viharamānā ya
Assim, seguindo o ensinamento do Buda, Sabbo r ā go samūhato
removendo removendo todo desejo por prazeres sensoriais, s ensoriais, Pariḷāho samucchinno
extinguindo o arder da paixão, ītibh S ī t ibhūtamhi nibbut āti
(Eu atingi) nibbāna e me tornei transcenden t ranscendentalmente talmente calma e pacífica.
Apar ā Uttamā Ther ī Apar ā Uttamā Ther ī nasceu nasceu em uma família brâmane importante de Kosala. Ao descrever a sua meditação e a sua s ua resultante libertação, ela declara alegremente: Suññatassa nimittassa, l ābhinī ha haṃ yadacchika;
86
Orasā dhī t tā buddhassa, nibbānābhirat ā sad ā.
O meu sonho de experimentar o estado onde nada existe a quê se agarrar (nibbāna ) foi realizado. Eu, uma filha aplicada do Buda, usufruo o êxtase de nibbāna. Ye ime satta bojjhaṅ g ā , magg ā nibbānapattiyā; Bhāvit ā te mayā sabbā , yathā buddhena desit ā.
Para atingir nibbāna eu conclui o desenvolvimento de todos os 7 bojjhangas (fatores de iluminação) tal qual ensinado pelo Buda. Sabbe k āmā samucchinnā , ye dibbā ye ca mānusā; Vikkhīṇo jātisaṃ sāro, natthi d āni punabbhavo.
O meu desejo por todos os prazeres sensoriais (deste mundo e do céu) foi erradicado. O ciclo de vir a ser cessou. Agora, não existe renascimento para mim. Se os eruditos de nosso país tivessem lido algumas citações das centenas de declarações do Buda e de seus discípulos, não teriam cometido o grave erro de caracterizar o ensino libertador desta suprema e histórica pessoa como fatalista e pessimista. pess imista. 87
A Definição de Felicidade O Buda é acusado de ser “dukkha-vādi”. Nas línguas indianas, a palavra vādi é usada de três formas: 1.
Para denotar aqueles que criam uma filosofia e brigam para provar a sua eficácia. O Buda não criou a filosofia do sofrimento e do pessimismo e, por conseguinte, não não precisou brigar por isso. Ele sempre disse que brigar por uma filosofia é errado: Vivādaṃ bhayato disvā , avivādaṃ ca khemato. 88
2.
Para denotar aqueles que se dedicam cegamente a uma crença tradicional e que utilizam quaisquer meios para disseminá-la – tais como os fundamentalisfundamentalistas que estão prontos para usar o terrorismo em benefício de sua causa. Ninguém pôde acusar o Buda de disseminar o sofrimento desta forma.
3.
Para denotar aqueles que falam ou pregam sermões. O Buda costumava pregar muitos sermões e, assim, podia ser chamado vādi nesse sentido. Contudo, o Buda sempre ensinou Dhamma, a verdade. Por conseguinte, nós vemos que, ao longo de sua vida, ele era sempre chamado sacca-vādi, tathavādi, kammavādi, kiriyavādi, k ālavādi, piyavādi, hitavādi, yathāvādi tathāk āri. (falando
somente a verdade; falando somente os fatos; falando sobre a Lei do Kamma; falando sobre uma ação desinteressada; falando na hora adequada; falando palavras adequadas; adequadas; falando em benefício benefício (do ouvinte); e um orador que pratica o que prega e prega o que pratica). Ele sempre falou as palavras da verdade; por conseguinte, mesmo os seus oponentes o chamavam de dhammavādi, aquele que falava em Dhamma, aquele que falava a verdade. 89
Um episódio em sua vida: Um famoso brâmane, Ashwal ā yana, foi contemporâneo de Buda. Ele foi um pesquisador erudito e um líder brâmane. Quando outros brâmanes sugeriam que promovesse uma discussão com o Buda, ele recusava a proposta, dizendo dizendo não poder poder discutir com um dhammavādi (aquele que fala a verdade). Até mesmo os oponentes do Buda, durante a sua vida, não o chamavam “aquele que falava do sofrimento” ou “pregador do pessimismo”. Ele teria sido caracterizado assim se falasse somente de sofrimento e não de felicidade. No fundo, não existe ninguém mais no mundo que seja o maior dos sukkhavādi (pregador da felicidade). O Buda efetivamente falava sobre o sofrimento, mas somente para erradicá-lo. Ele falava sobre a felicidade para que a verdadeira felicidade pudesse ser atingida. Ele explicou como surge a massa de sofrimento. (… evametassa kevalassa dukkhakkhandhassa samudayo hoti.)
90
E, então, ele explicou como a massa de sofrimento era extinta, eliminada (… evametassa kevalassa dukkhakkhandhassa nirodho hoti. )
Descrevendo o sofrimento sistematicamente, ele explicou: J āti pi dukkha. Enquanto houver o ciclo de vida e de morte, tem-se de suportar o sofrimento. A verdadeira libertação do sofrimento é estar livre deste ciclo de nascimento e de morte. Para este fim ele ensinou a simples, a lógica e a prática técnica de Vipassana, que dá resultados concretos aqui e agora. É completamente diferente de todos os argumentos e de todas as crenças filosóficas superficiais. O Buda realizou um estudo analítico de suas próprias experiências da verdade e encorajou os seus discípulos a praticarem fundamentados em sua própria e direta experiência. Todo o ensinamento do Buda é baseado na própria experiência do indivíduo. No seu ensinamento, não há lugar l ugar para a fé cega nas escrituras.
91
Diferentes Tipos de Sensações Hoje em dia, na Índia, a palavra vedanā significa “dor”. No entanto, na época do Buda, vedanā significava “a própria experiência do indivíduo”. Ele classificava vedanā de uma maneira analítica científica. Em uma classificação, ele descobriu dois
tipos de vedanā: k ā yika e cetasika (corporal e mental). Em outra classificação, ele descreveu três tipos de vedanā: Tisso, imā vedanā , bhikkhave Bhikkhus, existem três tipos ti pos de experiência. Katamā tisso?
Quais são as três? Sukhā vedanā , dukkhā vedanā , adukkhamasukh adukkhamasukhā vedanā
A sensação agradável, a sensação desagradável e uma terceira, que nem é agradável gradável nem n em é desagradável. 92
Nós encontramos esta referência a três tipos de sensações muitas vezes nas palavras do Buda. Ele nunca falou exclusivamente sobre sensações desagradáveis ( dukkha vedanā). Aqueles que estão sob a falsa impressão de que os ensinamentos do Buda
são somente sobre o sofrimento, compreenderão isso por si mesmos se lerem as palavras do Buda. O Buda comumente se referia a estes três tipos de sensações. Contudo, ele detalhou muitas outras classificações de sensações, baseado nas suas próprias experiências sutis conquistadas pela análise introspectiva profunda. Às vezes, ele descrevia as sensações que experimentava, de cinco tipos distintos. Outras vezes, ele as dividia em 6, às vezes em 18, às vezes em 36, às vezes em 108 tipos. Disso, aprendemos ser evidente que ele não n ão descreveu somente sensações desagradáveis.
93
Dukkha Vedanā Na famosa passagem que começa com J āti pi dukkha..., o Buda enumerou 11 tipos de experiências desagradáveis. Ele também descreveu três aspectos do sofrimento: 1.
dukkhadukkhat ā – o que quer que seja percebido diretamente como dor ou
sofrimento corporal ou mental. 2.
saṅkhāradukkhat ā – o que quer que seja experimentado como um resultado
de kammas é o sofrimento do condicionamento. condicionamento. Kammas fortes têm a capacidade de gerar novos nascimentos. Mesmo se alguém
nasce no reino Brahma da forma ou da ausência de forma, este nascimento resultará certamente na morte. Se no momento da morte ainda existir um estoque de kamma, certamente causará renascimento: assim, o ciclo do vir a ser s er continua. Continua-se a
94
nascer em qualquer dos 31 reinos e o ciclo do sofrimento continua. Por conseguinte, é chamado de sankhāradukkhat ā. 3.
vipariṇāmadukkhat ā – o que quer que seja desfeito a cada momento (isto é, o
que quer que continue a mudar) continuará a gerar doenças corporais e mentais. Esta mudança finalmente gera a morte.
Sukha Vedanā Contudo, ele também descreveu muitas sensações agradáveis: os cinco prazeres sensoriais resultantes das experiências dos olhos, dos ouvidos, do nariz, da língua e da pele. As pessoas ignorantes em Dhamma consideram estes prazeres sensoriais como a felicidade suprema. O Buda explicou que mais importante do que estes prazeres nascidos do desejo sensorial é a felicidade do primeiro jhāna (primeiro dhyāna ou
95
ti- sukha sukha: Savicāraṃ savitakkaṃ vivekajaṃ pī tisutisuabsorção) que é chamado de pī ti khaṃ.
Na época do Buda, dhyāna-sukha (a felicidade da absorção) não era chamada de ānanda. Chamava-se piti-sukha. Na literatura védica, igualmente, não era usada pa-
ra designar qualquer elevada experiência espiritual. Nos Vedas, era usada para descrever prazeres básicos ou inferiores, tais como: Ā nand īśakhaṃ (Yajurveda 30, 6) nand ā yastr īś
Ajudar uma mulher a usufruir (prazeres sensoriais). Nos Vedas, sukha era uma experiência elevada, tanto quanto ānanda. O Buda também usou ānanda para descrever uma forma inferior inferior de felicidade. Ko nu hā so, kimānando, niccaṃ pajjalite sati!
Por quê gratificar-se com o júbilo e a folia! Por quê gratificar-se com ānanda! Observe a incessante queimação no interior! 96
Igualmente, ele falou sobre taṇhā (t ṛśṇā ṛśṇā, sede) Y ā yaṃ taṇhā ponobbhavik ā nand ī r ā gasahagat ā tatratatr ābhinandinī … īr
Este desejo causa nascimento de novo e de novo, acompanhando a ānanda dos prazeres sensoriais, às vezes sentindo prazer aqui, às vezes sentindo prazer acolá. Em outro exemplo: O Buda renunciou aos prazeres do mundo. Em oposição a isso, M āra (o malvado) diz: Nandati puttehi puttim puttimā
Aquele com filhos sente prazer (ānanda) com filhos. Gomiko gohi tatheva nandati
Aquele com muitas vacas sente prazer (ānanda) com elas.
97
Upadhī hi hi narassa nandanā
Prazeres sensoriais são a verdadeira verdadeira felicidade do homem. Na hi so nandati yo nir nir ū padhi
Aquele que nega os prazeres sensoriais não tem ānanda em sua vida. Na época de Pantajali, ānanda adquiriu um significado mais elevado e piti-sukha se tornou rebaixado. Quando Pantajali fala do primeiro jhāna, que foi descrito previamente pelo Buda, ele substitui piti-sukha por ānanda. Vitarka-vicāra-ānanda-asmit ā r ū pānugamāt samprajñātah (Yogasūtra 10)
O Buda descreveu a felicidade do primeiro jhāna (dhyāna) usando o termo piti sukha. Piti-sukha é maior do que a felicidade dos prazeres sensoriais. Algumas pes-
soas acreditam ser este piti-sukha a felicidade suprema, o que é errado. Mais do que isso é a felicidade do segundo jhāna (dhyāna) – piti-sukha que é desprovido de vitakka (aplicação inicial da mente ao objeto) e vicāra (aplicação sustentada da mente ti sukhaṃ. ao objeto): avitakkaṃ avicāraṃ samādhijaṃ pī ti 98
Considerar isto a felicidade suprema também é errado. Superior a isto é a felicidade da equanimidade do terceiro jhāna: upekkhako satimā sukhavihār ī ī. Algumas pessoas acreditam ser isso a felicidade suprema; isto também é errado. Maior é a felicidade do quarto jhāna – quando a consciência pura, com equanimidade, dá vazão à experiência do nem prazeroso nem desagradável do adukkhamasukhaṃ upekkhā satipārisuddhaṃ.
Algumas pessoas acreditam ser isso a felicidade suprema; isto é errado. Maior do que isso é a experiência do espaço infinito do quinto jhāna: āk ā sānañcā yatanaṃ. Algumas pessoas acreditam ser isso a felicidade suprema; isto é errado. Maior do que isto é a felicidade da experiência da consciência infinita do sexto jhāna: viññāṇañcā yatanaṃ.
Algumas pessoas acreditam ser isso a felicidade suprema; o que é errado. Maior felicidade do que esta é a experiência de nada a que se apegar do sétimo jhāna: ākiñcaññā yatanaṃ. 99
Algumas pessoas acreditam ser esta a felicidade suprema, o que é errado. Uma felicidade maior do que esta é a experiência nem da percepção nem da não-percepção do oitavo jhāna: nevasaññ ānā saññā yatanaṃ.
Algumas pessoas acreditam ser esta a felicidade suprema. Uma felicidade superior a esta é a experiência que está além de todas essas experiências, a experiência sublime onde vedaña e sañña (sensação e percepção) são extintas: saññāvedayitanirodhaṃ.
Esta é a felicidade nirvânica que está além da mente e da matéria, além do ciclo da existência, além de todos os reinos da existência, além dos sentidos, eterno, duradouro, permanente. Portanto, o Buda disse: Nibbānaṃ paramaṃ sukhaṃ. Experimenta-se a felicidade suprema de nirvana quando todo o estoque dos saṅkhāras é erradicado. Um bhikkhu que atingiu este estágio e stágio declara:
100
Pamojjabahulo bhikkhu, pasanno pasanno buddhasā sane; Adhigacche Adhigacche padaṃ santaṃ , saṅkhār ū pasamaṃ sukhaṃ.
Com o coração satisfeito pelo ensinamento do Buda, o alegre bhikkhu, tendo atingido a paz suprema e a felicidade suprema do nibbāna, aquietou todos os saṅkhāras. A mera prática dos oito jhānas não dá esta experiência a seja quem for. Nós sabemos disso pela experiência do Bodhisatta. No período logo após ter abandonado a sua vida de príncipe em Kapilavastu e decidido viver uma vida de errante mundo afora, Bodhisatta Sidarta Gótama foi a Magadha para aprender a técnica dos jhānas. Muito embora houvesse uma filial do Centro de Meditação de Ā l l āra K āl āma
em Kapilavastu (pertencente à tradição Samana), Gótama foi ao centro em Magadha porque era o principal centro e o professor titular estava lá. No prazo de dois a três dias, o Bodhisatta alcançou o sétimo jhāna. Ele descobriu que, embora fossem muito prazerosos, a sua prática não lhe trouxe a libertação suprema. Portanto, ele deixou o Acharya Ā l lā ra K āl āma e foi aprender com o Acharya Uddaka Rāmaput101
conta que este professor professor só tivesse ouvido ouvido falar da da experiência do oita. Tendo em conta tavo jhāna e pudesse descrevê-lo e explicá-lo aos seus alunos, ele não o tinha alcançado. Após ter escutado a descrição do professor, o Bodhisatta atingiu o estágio do oitavo jhāna no prazo de dois a três dias. Após isto, Uddaka Rāmaputta também atingiu o oitavo jhāna. O Bodhisatta compreendeu que este estágio era muito mais prazeroso do que o sétimo jhāna, mas não era o estágio supremo que procurava. Velhos saṅkhāras (condicionamentos), ainda adormecidos no nível mais profundo de sua mente, poderiam novamente se tornar a causa de nascimento. Enquanto não tivessem sido completamente erradicados, esta elevada experiência meditativa não podia ser chamada chamada de libertação suprema. suprema. Nessa altura, ele começou a praticar severas penitências de autoprivações, uma prática comum naqueles dias na tradição Samaṇa. Ele deu continuidade a isso durante cerca de seis anos, mas concluiu tudo isso ser em vão. Por fim, ele re-descobriu, re-descobriu, por intermédio de seus próprios supremos esforços, a antiga técnica de Vipassana, perdida há tempos. Por intermédio de sua prática, ele alcançou a libertação total. O Bu102
da explicou clara e detalhadamente todos os métodos que adotou, do momento em que renunciou à vida de chefe de família até o momento em que atingiu a libertação total. Quando as palavras do Buda foram perdidas na Índia, espalharam-se falsidades que distorceram a verdade sobre ele. Por exemplo, sobre os seus esforços na meditação antes de atingir a iluminação, a visão falaciosa de que havia aprendido a filosofia Kapil de um erudito de nome Sanjay. Isto não foi assim. É totalmente falso que Si-
darta Gótama tenha atingido o estado de Buda pelo estudo de qualquer filosofia. Ele disse repetidamente: “Eu fui além de todas as crenças filosóficas.” Ele não teria dito isso se estivesse seguindo uma crença filosófica. No segundo jhāna, as cetasikas (concomitantes mentais) cessam. No quarto jhāna, as funções corporais cessam. Após isso, somente a mente continua. Do quinto jhāna ao oitavo jhāna, diferentes técnicas são usadas para expandir a mente ao infinito.
Após atingir este estágio, alguns saṅkhāras ainda restam. Até mesmo a experiência
103
de absorção no oitavo jhāna não é permanente ou além da causa e efeito. O estado de total erradicação de taṇhā (sede) – a completa extinção dos kammas – não pode ser atingido somente por intermédio da prática dos jhānas, por mais elevada que seja, porque no estado de extinção do desejo, a mente pára de funcionar e o nirvana é atingido. A iluminação do Buda foi a sua compreensão desta incomparável experiência por intermédio da prática de Vipassana: nirvana, a erradicação de de todo sofrimento. Portanto, o Buda declarou: Yañca k āmasukhaṃ loke, yañcidaṃ diviyaṃ sukhaṃ; Taṇhakkhayasukhassete, hakkhayasukhassete, kalaṃ nā gghanti soḷ asin’ti. asin’ti.
Esta felicidade de prazeres sensoriais e dessa divina alegria não é nem um milésimo da felicidade suprema que vem da extinção de taṇhā. Quando o Bodisatta atingiu a iluminação total, ele proferiu estas palavras: Visaṅkhāragataṃ cittaṃ , taṇhānaṃ khayamajjhag ā
A mente ficou livre do condicionamento; o fim do desejo foi atingido. 104
Tendo atingido o nirvana – o permanente, o eterno, estado permanente da realidade suprema – o Buda continuou, pelo resto de sua vida, a ensinar o mesmo caminho a outros buscadores. Com imensa compaixão, tendo libertado a si próprio, ele se em penhou de forma forma determinada a auxiliar os outros a atingir atingir a felicidade verdadeira. verdadeira.
O Uso do Termo sukha (felicidade) O Buda usou o termo sukha para se referir a diferentes tipos de felicidade por não haver palavras adequadas disponíveis, na língua daqueles dias, para descrever os diferentes tipos de felicidade. Ele às vezes qualificava o uso deste termo; por exem plo, enumerou quatro tipos de felicidade mundana para o chefe de família convencional: 1.
nanya sukha – A felicidade de estar livre da dívida. Todo chefe de família Ā nanya
honesto sabe que sofrimento é o de estar sobrecarregado de dívidas. Quando a dívida é saldada, ele fica feliz. 105
2.
Atthi sukha – A felicidade de possuir riqueza e propriedade, mesmo que não a
use ou não a usufrua. “O meu lucro está aumentando; o meu negócio está se expandindo; o preço de minha propriedade está aumentando; o valor das minhas ações está aumentando.” Esta sukha é a alegria de possuir. 3.
Bhoga sukha – Quando a alegria de possuir se transforma na alegria de usu-
fruir as suas posses. Quando isso acontece, a felicidade do indivíduo cresce. Em razão de sua riqueza, usufrui-se de vários confortos. Com os olhos se tem uma visão agradável; com os ouvidos se ouve uma música melodiosa; com o nariz se sente a doce fragrância; com a língua se degusta uma comida deliciosa; com o corpo se experimenta contato físico agradável. Tudo isso, faz o indivíduo sentir felicidade. 4.
Anavajjasukha Anavajjasukha – Abster-se de ações que são contra Dhamma. Para um chefe
de família, esta felicidade é maior do que as três precedentes. Um chefe de família se examina e tenta se abster de condutas insalubres: ele se abstém de
106
matar, de roubar, de conduta sexual incorreta, de mentir e de enganar os outros, de discurso duro, de falar mal dos outros pelas costas e de discurso injurioso que possa ferir os outros. Ele tenta se abster do uso de intoxicantes. Ele tenta não se envolver em profissões que lidem com armas, venenos, animais para abate, carne e intoxicantes como o álcool. A sua mente se regozija nisso. Ele fica livre do medo de leis do governo ou da censura da sociedade na vida presente, tanto quanto do medo de descer aos mundos inferiores em vidas futuras. Ele também fica livre da agonia do remorso. Ao permanecer alegre, calmo e destemido uma tal pessoa dotada de mente pura experimenta um tipo de felicidade que é indubitavelmente superior a outros prazeres mundanos. mundanos. Não é possível dar um nome diferente a cada tipo t ipo de felicidade. Mesmo assim, enquanto se comparam diversos tipos de felicidade, o Buda uma vez explicou, em detalhe, qual a felicidade é menor e qual é maior:
107
1.
A felicidade de ter um lar e a felicidade de não possuir um lar (de um monge ou de uma monja) – dentre as duas, a felicidade de não possuir um lar é maior.
2.
A felicidade dos prazeres sensoriais e a felicidade da renúncia – dentre as duas, a felicidade da renúncia é maior.
3.
A felicidade de vários reinos e a felicidade além de todos os reinos da existência – dentre as duas, a felicidade além dos reinos da existência é maior.
4.
A felicidade acompanhada de asānas (impurezas intoxicantes) e a felicidade não acompanhada de asānas – dentre as duas, a felicidade não acompanhada acompanhada de asānas é maior.
5.
A felicidade dos confortos materiais e a felicidade diferente daquela dos confortos materiais – dentre as duas, a felicidade diferente daquela dos confortos materiais é maior.
108
6.
A felicidade dos anariyas (aqueles que não são nobres) e a felicidade dos ari yas (aqueles que são nobres) – dentre as duas, a felicidade dos ariyas é maior.
7.
A felicidade do corpo (aquela que advém do conforto físico) e a felicidade da mente – dentre as duas, a felicidade da mente é maior.
8.
ti (sensações agradáveis no corpo) e a feliciA felicidade acompanhada de pī ti ti (além das sensações agradáveis no corpo) – dentre as duas, a dade sem pī ti
felicidade sem pī ti ti é maior. 9.
A felicidade da indulgência e a felicidade da restrição (comedimento) – dentre as duas, a felicidade da restrição é maior. m aior.
10.
A felicidade de uma mente dispersa (de uma mente não em jhāna) e a felicidade de uma mente concentrada (de uma mente em estado jhānic) – dentre as duas, a felicidade de uma mente concentrada é maior.
109
11.
ti (sensações agradáveis no corpo) por objeto e a felicidaA felicidade com pī ti ti – dentre as duas, a felicidade cujo objede cujo objeto está para além de pī ti ti é maior. to está além de pī ti
12.
A felicidade dependente da indulgência como seu objeto e a felicidade de pendente da restrição como seu objeto – dentre as duas, a felicidade dependente da restrição como seu objeto é maior.
13.
A felicidade com a forma forma como objeto e a felicidade com a ausência de forma como objeto – dentre as duas, a felicidade com a ausência de forma como seu objeto é maior.
O Buda enumerou muitos tipos de felicidade como esta, por exemplo: k ā yikasukhaṃ , cetasikasukhaṃ , dibbasukhaṃ , mānusakasukhaṃ , l ābhasukhaṃ , sakk ārasukhaṃ , yānasukhaṃ , sayanasukhaṃ , issariyasukhaṃ ,
ādhipaccasukhaṃ , gihisukhaṃ , sāmaññasukha ṃ , sā savasukhaṃ , anā savasukhaṃ , upadhisukhaṃ , nir ū padhisukhaṃ , sāmisasukhaṃ , 110
nir āmisasukhaṃ , sappī tikasukha tikasukhaṃ , nippī tikasukha tikasukhaṃ , jhānasukhaṃ , vimuttisukhaṃ , k āmasukhaṃ , nekkhammasukha nekkhammasukhaṃ , vivekasukhaṃ , upasamasukha ṃ , sambodhasukhaṃ.
Mesmo de outra forma, o uso de sukha (felicidade) significa diferentes coisas em contextos diferentes. Assim, vemos que este grande sábio enumerou diferentes tipos de felicidade ao prover explicações detalhadas e analíticas em palavras. Mas, muito mais importante, ele ensinou um método claro a fim de permitir aos seus praticantes experimentar os tipos superiores de felicidade: Cittaṃ dantaṃ sukhāvahaṃ
A restrição da mente traz a felicidade. Cittaṃ guttaṃ sukhāvahaṃ
A proteção da mente traz a felicidade.
111
Dhammo ciṇṇo sukhāvaho
A prática de Dhamma traz a felicidade. Onde quer que ele falasse sobre dukkha, era para explicar em profundidade a sua causa e como erradicar esta causa, e como ensinar a prática real para a sua erradicação. Qualquer um que afirme ser o Buda um pessimista que falava nada mais do que sobre o sofrimento, está somente mostrando a sua ignorância sobre o ensinamento original do Buda.
112
A Ênfase Exagerada do Sofrimento Eu ouvi defender o ponto de vista de que o Buda é um pessimista com este argumento: ”De fato, existe sofrimento no mundo, mas o Buda deu-lhe uma ênfase exagerada”. No entanto, apesar de ter pesquisado e analisado cuidadosamente, eu não consegui encontrar nas palavras do Buda tal ênfase exagerada no sofrimento. O Buda fala das realidades óbvias do nascimento, do envelhecimento, da doença, da morte e da dor somente para mostrar o caminho da libertação disso tudo. Tais sofri113
mentos foram tratados em muitas escrituras em nosso país. Por exemplo, o Buda diz, jãtipi dukkha (o nascimento é sofrimento). A título de comparação, as linhas escritas abaixo dão estes sangrentos detalhes: “Embrulhado pela membrana do útero da mãe, o feto de corpo delicado se encontra no meio dos excrementos, ingerindo paladares amargos, salgados e quentes, encurvado em função da flexão da coluna vertebral, incapaz de respirar, embora esteja vivo e consciente; sofre da conseqüência da estada no útero enquanto relembra as suas vidas passadas. Na hora do nascimento, também, a sua face está lambuzada de excrementos, sangue e muco e o corpo inteiro está torturado e traumatizado pelo nascimento. A sua face é forçada para baixo e é com muito custo que sai do útero de sua mãe. Ao emergir, é atormentado, em seguida, pelo contato com a atmosfera externa. Logo após, desce à terra como uma larva de inseto saída de uma ferida. É absolutamente absolutamente indefeso, totalmente dependente dos outros até para tomar banho e para se alimentar. Descansando sobre uma cama suja, é um alvo fácil para mosquitos e outros insetos morde114
dores. Ele nem pode espantar os mosquitos. Portanto, assim sofre um ser no momento do nascimento e após o nascimento com as adversidades mundanas.” Enquanto o Buda se limitou a parar no jarãpi dukkha (a idade avançada é sofrimento), o Vishnu Purana continuava a pintar um quadro cheio de tristeza e de desesperança: “Quando chega a idade avançada, os sentidos ficam fracos, os dentes caem, a pele começa a ficar fi car enrugada, as veias e os tendões t endões ressaltam. Os olhos afundam e a visão se torna fraca. Começa a sair cabelo do nariz. O corpo treme, as costas se curvam. O corpo fica esquelético. A capacidade digestiva desaparece, nossa energia se esgota. Há enorme dificuldade para se caminhar e para se levantar; os ouvidos e os olhos ficam fracos e a boca cheira mal e a saliva pinga para fora. Perde-se o controle das funções corporais. No leito de morte, nem se consegue recordar do que se viu ou ouviu no passado. Cada palavra é
115
falada com grande dificuldade. A falta de ar faz do sono uma coisa impossível. Depende-se de ajuda até para levantar. Não se pode fazer mais nada sozinho.” Enquanto o Buda parou no maraṇampi dukkhaṃ (a morte é sofrimento), o Vishnu Purana mostra um quadro horroroso: “A voz fica fraca, as pernas ficam frágeis, o corpo treme. Delírio e inconsciência se alternam com a consciência. Nessa hora, ele fica extremamente agitado, enquanto anseia pela riqueza e pelo seu lar, esposa e filhos, amigos e parentes. Adicionadas a este sofrimento, estão as dores de diversas enfermidades que machucam como espinhos agonizantes e flechas terríveis. Os olhos se revoltam, os lábios e a garganta se ressecam. As mãos e as pernas se agitam com selvageria em razão das dores. Tudo isso leva à dificuldade de respirar; o indivíduo só consegue respirar superficialmente. Calor intenso, falta de ar, fome e sede o fazem se sentir desgraçado. Ele abandona o corpo em estado de angustiante dor mortal.”
116
Esta descrição do Vishnu Purana não está errada e descreve corretamente o sofrimento associado ao nascimento, à idade avançada e à morte. Contudo, esta descrição é muito mais desalentadora do que as declarações do Buda. No entanto, as pessoas continuam a censurar o Buda como um extremo pessimista. O Vishnu Purana continua: “Na sua tolice, o homem acredita que o saciar de sua fome, sede e proteção contra o frio por si só é a felicidade; enquanto tudo isso nada mais é do que, na realidade, sofrimento.” O Purana acrescenta: Sarvaṃ duhkhamayaṃ jagat
O mundo todo está cheio de sofrimento. Em contrapartida, nós vemos as palavras dos gratos discípulos do Buda (que é acusado de disseminar a dor). Te appamatt ā sukhino, diṭṭ hadhamm hadhammābhinibbuta; 117
sabbaverabhay sabbaverabhayātit ā , sabbadukkha sabbadukkhaṃ upaccagunti.
Estes indivíduos vigilantes vivem felizes, experimentando nibbãna (aqui e agora). Eles estão além da hostilidade e do medo; porque cruzaram o campo do sofrimento. Da mesma forma, um meditador destemido declara: Anubhomi sukha sukhaṃ sabbaṃ
Eu experimento cada felicidade. O Buda ensinou o treinamento prático de como sair de todo o sofrimento e como experimentar a felicidade completa. Quão injusto é fazer alegações de que o Buda expôs o aspecto mais sombrio da existência e enfatizou somente o sofrimento! Que ultraje enganador e equivocado é tudo isso! É tão claro quanto a luz do dia que, na Idade Média dos conflitos dilacerantes, os nossos ancestrais corromperam a verdade sobre o Buda. O que dizer dos equívocos 118
defendidos pelas massas, quando quando a repetição dessas inverdades inverdades por centenas centenas de anos enganou até mesmo os filósofos mais respeitados de nossos tempos! Venham, deixem-nos corrigir este grave erro e compreender as autênticas e originais palavras do Buda a fim de que possamos corrigir os equívocos do passado.
119
Era o Buda um Extremo Pessimista? Foi dito, “O Buda era um extremo pessimista, escurecendo mais ainda o cinza do pessimismo.” Todavia, todos os esforços para tentar encontrar qualquer base para tal declaração nas palavras e nos ensinamentos verdadeiros do Buda se têm revelado infrutíferos. O que teria feito do Buda um pessimista? Teria ele dito que:
120
“Não existe nada além do sofrimento na vida. Não existe qualquer felicidade a ser encontrada em lugar algum; estamos aprisionados em uma masmorra escura de desespero onde nem um raio de sol penetra e de onde não existe escapatória; precisamos enfrentar a dor deste encarceramento ao longo da vida toda.” Então, de fato, o Buda deveria ter sido estigmatizado não somente como um pessimista, senão ainda como um extremo pessimista! As palavras Sarvaṃ dukkhaṃ dukkhaṃ (tudo é sofrimento, sofrimento) foram colocadas em sua boca ou por um motivo egoísta ulterior ou por absoluta ignorância. Subseqüentemente, esta calúnia foi repetida por mais de mil anos. No entanto, o Buda nunca disse coisa parecida. Uma pesquisa e uma análise detalhadas, por intermédio da tecnologia digital, do exaustivo Cânone Páli contendo as palavras originais do Buda, determinou que tal declaração jamais foi pronunciada pronunciada por ele.
121
É verdade que o Buda expôs o lado triste da vida. No entanto, enquanto fazia isso, ele também explicava o caminho para sair do sofrimento. Não existe tradição espiritual na Índia que refutará o que o Buda tinha a dizer sobre o sofrimento. Todas aceitam que os seres sofrem da doença, da decadência e da morte; da dissociação de situações ou de pessoas agradáveis e da associação a situações e a pessoas desagradáveis; de coisas desejadas que não acontecem e de coisas indesejáveis que acontecem. O Buda disse que este sofrimento continuará enquanto durar o ciclo de nascimento e de morte. Sempre que um ser nascer, passará pass ará por este sofrimento. Teria sido ele chamado de pessimista por alegar que o ciclo de nascimento e de morte não tem início? Anamataggoya Anamataggoyaṃ , bhikkhave, saṃ sāro pubbākoṭ i na paññā yati
Oh monges, o início deste universo não pode ser determinado. A tradição Samaṇa acredita que a libertação somente pode ser atingida por meio da força de seu próprio esforço. A tradição Samaṇa não acredita que o Universo tenha 122
sido criado por um Deus ou por um brahma. No entanto, mesmo aquelas tradições indianas que acreditam ter sido o Universo criado por um brahma aceitam que o Universo passa por ciclos repetidos de criação e de destruição. Mesmo tais tradições não alegam saber quando o Universo surgiu pela primeira vez. Portanto, a declaração do Buda de ‘ Anamataggoyaṃ...’ não pode ser encarada como uma base para acusar o seu ensinamento ensinamento de ser pessimista. (No entanto, aqueles que escolhem escolhem acreditar nisso, logicamente deveriam incluir as outras tradições como igualmente culpadas desta acusação!). O que quer que o Buda tenha explicado não foi baseado em qualquer escritura, crença tradicional ou teoria especulativa. Ele anunciou tais palavras com base base na sua própria direta direta experiência. Quando atingiu a perfeita iluminação, o Buda desenvolveu seis poderes sobrenaturais, dos quais um era chamado de pubbenivā sānussati (o recordar vidas passadas). O Buda viu que quatro asaṅkheyya (literalmente incalculáveis, um imenso período de tempo) e cem milhares de kappas (um evo, duração de um ciclo de mundo) atrás, apareceu um Buda chamado Dipankara. Naquela época, Gótama era um asceta brâ123
mane chamado Sumedha. Sumedha ficou extremamente impressionado com o Buda Dipankara e surgiu um desejo em sua mente: “Que eu possa me tornar um Buda como o Buda Dipankara. Em vidas incontáveis, que eu também possa servir outros seres e desenvolver meus pāramis. Assim, não somente eu me tornarei liberto, mas também terei condições de ajudar muitos outros a conseguir a libertação.” O Buda Dipankara compreendeu o que acontecia na mente de Sumedha e profetizou: Passattha imaṃ t ā pasaṃ , jaṭ ila-uggat ila-uggat ā panaṃ; Aparimeyyito kappe, kappe, buddho loke bhavissati. bhavissati.
Vejam este asceta, com estes cabelos longos e emaranhados, emaranhados, que se submeteu a severas penitências. Após evos incontáveis, ele se tornará um Buda. Tendo cultivado ações virtuosas por incontáveis evos e conquistado pāramis. (virtudes) suficientes, Sidarta Gótama se tornou o quarto na corrente dos cinco Bu124
das no presente auspicioso kappa. Graças ao poder sobrenatural de conhecer vidas passadas se s e lembrou da bênção do Buda Dipankara. Retrocedeu no tempo e desco briu não existir qualquer início para este Universo. Ele se cria e se destrói a todo o momento. O ciclo inexorável do sofrimento continua em conformidade com a lei natural. Para sair disso, tal qual outros Samma Sambuddhas, ele descobriu o caminho libertador da iluminação. Seres incontáveis se tornaram libertos de todo sofrimento graças a estes esforços. Terá sido o Buda acusado de ser um pessimista por ter dito que o sofrimento se origina do nascimento e da morte contínuos desde tempos imemoriais? Algumas tradições espirituais fora da Índia não acreditam em nascimentos e mortes repetidos. Acreditam somente na vida presente. Acreditam que após a morte existe ou o céu eterno ou o inferno eterno. Nós não sabemos se as tradições espirituais da Índia que acreditam em nascimentos e mortes repetidos já tinham esta crença mesmo antes da época do Buda ou se somente passaram a acreditar nisso após o Buda.
125
Esta crença talvez tenha existido nos Vedas antes do Buda. Para este fim, foi preciso realizar pesquisa nos Vedas (escritos na língua Chãndas). Eis aqui algumas referências que encontramos: Ved āhametaṃ puru śaṃ mahāntam,
ādityavar ṇaṃ tamasah parast āt; Tameva viditvāti mṛ tyumeti, tyumeti, nānya panthā vidyateyanā ya. (Yajurveda 31-18)
Conheço aquele grande homem cujo rosto irradia luz e que se encontra inteiramente afastado da escuridão da ignorância. Somente ao conhecê-lo se pode transcender a morte. Não existe outra maneira. Outra referência afirma: ī r ī yate saṃrabhadhvam, A śmanvat ī utti śṭ hata pratarat ā sakhā yah; śṭ hata Atr ā jahāma ye asannasevāh, 126
śivān vayam uttaremābhivā jān. ( Ṛ gveda 10-53-8)
Levantem-se, Levantem-se, oh amigos! Unam-se para atravessar a corredeira rápida do rio repleto das pedras do sofrimento. Mantenham-se Mantenham-se afastados das coisas proscritas (mundanas). Quando tivermos atingido a outra margem, receberemos energia energia de toda espécie. Aqui está uma clara indicação do desejo de atingir o
ś iva iva (o
estado eterno). No en-
tanto, não está claro se isto implica a travessia do rio do sofrimento desta vida somente ou de nascimentos repetidos. Em outro trecho está dito: īrayadhva V ī r ayadhva ṃ pra tarat ā (Atharveda 12.2.26)
Somente aqueles dotados de muita energia podem nadar (e) atravessar o rio. Aqui também não está claro se a referência é à travessia do rio de uma vida ou de vidas repetidas. Talvez faça referência a nascimentos repetidos. 127
Se antes do Buda havia uma crença predominante em uma só vida – ou seja, que a pessoa se libertava de todo sofrimento após a vida presente – talvez seja aceitável dizer que o Buda ensinou a crença de vidas repetidas (onde se sofre sem descanso). Intensa pesquisa deve ser realizada sobre este aspecto. Na Índia, na antiguidade e até mesmo hoje em dia, o reino dos homens é chamado de “reino da morte” e o reino divino é chamado de “reino da ausência de morte”. Consoante tal crença, se um ser do reino da morte vai para um reino divino, ele vive para sempre s empre (ele não morre). Por exemplo, no culto devocional a Vishnu, acreditase que se alguém vai para o reino de Vishnu após a morte, então, não se morre novamente. No entanto, o Buda disse que até mesmo os Deuses de reinos divinos não são eternos – eles estão sujeitos à morte; todos os reinos da existência estão sujeitos à morte. Somente o estado além desses reinos é eterno e privado de morte. Mesmo nos planos mais elevados da existência existe o medo da morte. Terá sido por ter proclamado esta verdade que o Buda Buda foi taxado de pessimista? pessimista?
128
No entanto, nós compreendemos compreendemos que algumas tradições t radições após o Buda também aceitaram esta verdade. O Vishnu Purana diz: Svargepi pātabhī tasya tasya k śayi śṇ rita nivṛ ttih. ttih. śṇonī rita
Mesmo em um reino celestial, um ser é constantemente atormentado pelo medo de cair do céu. Se a crença for a de que o reino divino é eterno, ou a de que o reino de brahma é eterno, ou a de que somente somente o estado para além disso é eterno – hoje em dia, a existência de nascimentos repetidos é pouco discutida pelas tradições indianas. Bem, se isto for pessimismo, todas as tradições compartilham esta culpa. Por que apontar somente o Buda? Todas as tradições espirituais na Índia querem ajudar os seres a sair do ciclo de nascimento e de morte. Tradições diferentes expressam diferentes crenças, mas o objetivo básico é o mesmo. Eu me lembro que, em criança, costumava cantar um verso devocional a Vishnu: 129
V ā sudevasya bhakt ānām, a śubham vidyate kvacit; Janma, mṛ tyu, tyu, jar ā , vyādhi, bhayaṃ te nappajā yate.
Mesmo que os devotos do Senhor Vasudev tenham de enfrentar o sofrimento de vez em quando, o medo do nascimento, da morte, do envelhecimento e da doença não surge s urge neles. De fato, serão libertos do ciclo de nascimento e de morte. Eles não terão qualquer medo disso. Então, a menos que que se esteja liberto, liberto, a preocupação preocupação com o nascimento nascimento e a morte morte é aceita mesmo nessas tradições espirituais. Mirã, a famosa devota de Krishna, diz: ī dh Yo saṃ sāra bahyo jāta hai, lakha caur ā sī r r ī dhāra; M ī rā ke prabhu giradhara nā gara, āvā gamana nivāra. ī r
Este ciclo de nascimento e de morte continua infinitamente. Oh, Senhor Krishna, livre-me deste ciclo! 130
Em seguida, ela acrescenta: M ī rā ke prabhu giradhara nā gara, k āṭ phāṃ sī ī r āṭ o jama k ī ī ph
Oh Senhor de Mira, elimine o cadafalso do nascimento. Tulsidas, devoto de Ram, aconselha a repetição de um nome a fim de cruzar o oceano do vir a ser: N āmajapa, nāmajapa, nāmajapa bāvare! Ghora bhava nī ranidhi, ranidhi, nāma nija nāva re!
Ele diz o mesmo neste verso Kaliyuga kevala kevala nāma adhār ā , Sumara-sumara Sumara-sumara bhava utarehu ut arehu pār ā.
Kabir pede às pessoas que prestem atenção (e) cessem o ciclo do vir a ser. Kahata kabī ra ra suno bhaī s sādho, āvā gamana miṭā-ūṃ.
E um de seus discípulos diz: 131
Lakha caur ā sī bha bhaṭ aka aka manuja tana pā yala ho.
Para evitar ter de percorrer 8.400.000 vidas, faça bom uso desta vida humana. Sant Gulal diz que o mestre o fará compreender a verdade e que o ciclo de vir a ser parará automaticamente: automaticamente: ho-ihaiṃ , satguru satta lakhāvai. Ā vā gamana na ho-ihai
Foi Shankaracharya Também um Pessimista? Mesmo Adi Shankaracharya ensina a libertação do ciclo do vir a ser e aconselha caminhos para sair dele. Ele diz: Punarapi janana jananaṃ punarapi maraṇaṃ , punarapi jananī jaṭ hare hare śayanam
Nascer repetidas vezes, vezes, morrer repetidas repetidas vezes, permanecer permanecer no útero da mãe repetidas repetidas vezes.
132
Iha saṃ sāre bahudust āre, k ṛ ṛ pay ā pāre pāhi mur āre
Oh Senhor, por favor tire-me deste oceano estafante do saṃ sāra. Que lógica existe nisso? Shankaracharya não é chamado de pessimista mesmo quando reza a deus para tirá-lo deste espinhoso saṃ sāra , no entanto, o Buda é chamado de pessimista, muito embora ele ensine uma técnica moderna para erradicar toda avidez e para atravessar o oceano do vir a ser! Como algumas tradições após o Buda, Shankaracharya também aceita que a causaraiz do ciclo do vir a ser é a avidez. Assim, ele também aconselha os seres a se livrarem da avidez: M ūḍ ha jahī hi hi dhanā gamat ṛśṇāṃ sadbuddhiṃ manasi vit ṛśṇā ūḍ ha ṛśṇāṃ , kuru sadbuddhi ṛśṇām
Oh, tolo, deixe para trás a avidez pela riqueza. Desenvolva a sabedoria para gerar o desapego. Verdadeiramente ignorante é o homem aprisionado na roda de saṃ sāra. Aṅ gaṃ galitaṃ palitaṃ muṇḍ aṃ , 133
da śanavihī na naṃ jātaṃ tuṇḍ am. am.
Cada órgão está dilacerado e exausto; o cabelo ficou branco; a boca perdeu todos os dentes. V ṛ ddho yāti g ṛ tvā daṇḍ aṃ , ṛ ddho ṛh ī tv tadapi na muñcaty āśā piṇḍ am. am.
Tão velho que ele tem dificuldade para andar, mesmo com o auxílio de uma bengala, ainda assim, o seu apego e a sua avidez não vão embora. Para se livrar dessa avidez, Shankaracharya aconselhou a oração: Bhaja govinda govindaṃ , bhaja govindaṃ , bhaja govindaṃ mūḍ hamate hamate
Cante o nome de Govinda, cante o nome de Govinda, cante o nome de Govinda, oh tolo! Às vezes, ele também aconselha esforços na meditação:
134
Arthamanartham bh bhāvayanityam
Medite sobre “o que é benefício e o que é prejudicial” ou seja, “o que é essencial e o que é supérfluo” – e compreenda que: N ā sti tatah sukhale śah satyam
Não existe qualquer qualquer felicidade no mundo mundo (ou seja, o mundo é cheio de sofrimento). É prejudicial ver um mundo repleto de sofrimento como felicidade quando não existe felicidade de fato. Fica claro que no que toca ao sofrimento de repetidos ciclos de nascimento e de morte, Shankaracharya Shankaracharya e o Buda têm a mesma opinião. Se há qualquer discrepância, é esta: o Buda não nos torna dependentes de algum poder invisível imaginário. imaginário. Ele ensinou o caminho caminho da libertação de todo todo o sofrimento pela utilização do método prático da meditação Vipassana. Ele compartilhou a
135
sabedoria de que enquanto considerarmos os cinco agregados (ou seja, o corpo e a mente) como “eu” ou “meu”, continuaremos a desenvolver profundo apego a eles. Isto, o Buda disse, é a causa principal do sofrimento: saṅkhittena pañcupād ānakkhandh ā dukkhā
(em suma, o apego aos cinco agregados é sofrimento). Um agregado é o agregado do corpo. Os outros quatro agregados são os agregados da percepção, da cognição, da sensação e da reação. A prática dos ensinamentos do Buda erradica esta causa básica do sofrimento. Neste caminho, o meditador deixa para trás o mal-entendido de que este corpo e de que esta mente seja “eu”. Assim, começa-se a sair do apego ao “eu” e ao “meu”, começa-se a sair da aversão e da avidez. Quaisquer sensações de avidez e de aversão que sejam removidas por intermédio da sabedoria experimental de Vipassana, o indivíduo se livra do sofrimento na mesma proporção. Estabelecido firmemente na sabedoria experimental, o meditador erradica toda avidez e toda aversão e, então, sai de todo o sofrimento da existência. 136
O Buda ensinou uma técnica cujos efeitos benéficos foram evidentes no passado e também podem ser vistos hoje. Mesmo assim, nós rotulamos o Buda como sendo “extremamente pessimista”. Qualquer pessoa que aprenda o aspecto prático desse ensinamento e leia as suas palavras originais, deixará de cometer este erro. Tal pessoa não poderá aceitar esta crítica injustificável de mais ninguém.
137
As Duas Principais Técnicas de Meditação do Buda Para viver uma vida feliz e harmoniosa e para erradicar todo sofrimento, o Buda ensinou muitas técnicas de meditação. De todas elas, dois principais métodos são: Vipassana e Mettã Bhãvanã.
138
1.
A Meditação Vipassana
Vipassana permite aos meditadores obter o controle da mente com base na moralidade e desenvolver a sabedoria experimental para erradicar todas as impurezas da avidez e da aversão. É uma técnica prática que oferece resultados benéficos aqui e agora, tal como ela produziu no passado. Na época do Buda, milhões de pessoas sofredoras atormentadas pelos sobressaltos da vida foram aliviadas deste fardo do sofrimento por intermédio de Vipassana. Um exemplo:
Kisã Gotami Durante anos após o seu casamento, Kisã Gotami sofreu pelo doloroso fardo de não poder gerar filhos. Quando ela finalmente deu à luz um filho, a sua felicidade não teve limite. Era como se um tesouro divino lhe tivesse sido doado. No entanto, após somente alguns anos, seu único filho morreu em conseqüência de uma picada de 139
cobra. O seu coração naufragou no mais profundo sofrimento. sofrimento. As pessoas à sua volta não podiam suportar a sua extrema lamentação. Quando esta mulher angustiada encontrou o Buda e aprendeu Vipassana, ela foi aliviada não só da sua dor pela morte de seu filho, mas também de todo o sofrimento de repetidos nascimentos e mortes. Ela passou o resto de sua vida ajudando outras mulheres sofredoras sofredoras a se s e tornarem livres do sofrimento. Outro exemplo:
Paṭācār ā Paṭācār ā era filha de uma família extremamente rica de S āvatthi. Ela nasceu e foi criada no luxo extremo. Infelizmente, ela escorregou e caiu na areia movediça da paixão e fugiu com um jovem serviçal de sua família. Muitos anos passaram antes dela empreender empreender a viagem de volta para encontrar encontrar os seus pais. Diversas Diversas circunstâncias resultaram na perda catastrófica não somente de seu marido, senão ainda de seus dois filhos. Tomada pela dor e pela lamentação profundas, em razão da perda 140
do marido marido e dos filhos, ela alcançou alcançou Sāvatthi, somente para encontrar três piras funerárias a arder nos arredores da cidade. Imagine o seu choque profundo quando descobriu que nessas piras ardiam os corpos de sua própria mãe, do seu pai e de seu único irmão. (Na noite anterior, a sua casa havia desmoronado em conseqüência de um terremoto). Agora, esta mulher desafortunada não tinha mais parentes no mundo. Em razão razão deste trauma insuportável, perdeu por completo a razão. razão. Quando ela ela entrou em contato com o Buda, aprendeu Vipassana. Ao praticá-la, percebeu que esta técnica benéfica a libertou não só da dor da perda dos seus entes mais queridos, senão ainda de todo o sofrimento advindo do ciclo de nascimento e de morte. Ela começou a servir os outros e auxiliou muitas pessoas a levar vidas felizes. Mesmo hoje, esta prática gera os mesmos resultados com cada passo dado no Nobre Caminho de Vipassana. Aqueles que a praticam vivem felizes e em paz mesmo quando enfrentam a complexidade dos problemas mundanos. A experiência de milhares de meditadores é uma prova concreta disso. Pessoas em todo o mundo, de todas as origens, freqüentam cursos de Vipassana. Suas mentes estão cheias de dor 141
pela perda de entes queridos: suas mães, pais, filhos, filhas, maridos, esposas. Ou eles estão perturbados pela depressão ou pela insônia em razão do estresse da vida moderna. Sofreram perdas de dinheiro, de posição, de prestígio ou decepções em relacionamentos relacionamentos pessoais. Estão Estão desmotivadas desmotivadas e frustradas por uma grande variedade de coisas. Ainda assim, nós percebemos que, ao final de seu curso de Vipassana de 10 dias, os seus rostos se iluminam de paz e de felicidade. Existem tantos momentos em que meditadores sérios de Vipassana enfrentaram a dor de doenças terminais, tais t ais como o câncer, com grande coragem, recusando analgésicos fortes ou drogas que os deixariam inconscientes. Eles escolheram enfrentar a morte com total consciência e morrer com a sua mente em paz e alerta. Qual medicamento poderia curar melhor a dor do sofrimento! Milhares de presidiários que ardiam nas brasas brasas da vingança vingança experimentam retiros de Vipassana todos os anos. Nós os observamos, todas as vezes, ao final da exploração da realidade profunda dentro de si mesmos durante 10 dias. Eles confessam,
142
com lágrimas nos olhos, os erros cometidos. Em vez de se remoerem em pensamentos de vingança, começam a gerar compaixão compaixão por todos. todos. Estes exemplos, exemplos, experiexperimentados todos os dias, comprovam a praticidade única do ensinamento do Buda. Tais exemplos são a confirmação direta dos resultados gerados aqui e agora.
2. A Mettã Bhãvanã: O Amor Compassivo O ensinamento do Buda não constrói castelos no ar. Não oferece falsas esperanças. Ele nos ensina a prosseguir com cada passo firmemente arraigado na verdade da experiência de cada um sobre a realidade interior. Um meditador olha para dentro – para a âncora do seu ou da sua experiência direta – para descobrir por si mesmo que, cada vez que ele gera ódio ou animosidade contra quem quer que seja, nesse exato momento, ele fica agitado e perde a paz de sua mente. A śāntasya kuto sukhaṃ?
Aquele que perdeu a paz em sua mente não é feliz. 143
Quando eles encontram uma oportunidade de se tornarem nirvairah sarvabhūtesu sem inimizade por qualquer ser e colocam em prática sarvabhūtahite rat āh – dedicados ao bem-estar de todos os seres – eles se enchem de alegria. Um coração grato e cheio de alegria dá lugar ao desejo de que todos possam receber esta paz e esta k ā hoya. felicidade – Mere sukha meṃ śānti meṃ , bhā ga sabhī k
Que todos os seres – sukhino v ā khemino hontu – possam ser felizes, possam estar seguros! Ye keci pāṇabhūtatthi, tasā vā thāvar ā anavasesā; Dī ghā vā yeva mahant ā vā , majjhimā rassak ā aṇukathūl ā. Diṭṭ hā vā yeva adiṭṭ hā , ye ca d ūre vasanti avid ūre; Bhūt ā vā sambhavesī v vā , sabbe satt ā bhavantu sukhitatt ā.
Quer tais seres estejam parados ou em movimento; grandes, médios e pequenos em tamanho, grosseiros ou sutis em corpo; visíveis ou invisíveis; distantes ou próximos; já nascidos, ou ainda no útero – que todos possam possam ser felizes! 144
“Que todos os seres possam ser felizes! Que todos os seres possam alcançar a paz! Que todos todos os seres possam se libertar!” Toda a atmosfera do centro de meditação fica carregada dessas vibrações saus audáveis de boa-vontade e de compaixão. Que todos os seres possam ser felizes...ser felizes...ser felizes...s er felizes! Que todo o mundo possa ser feliz! Que todos os seres visíveis e invisíveis possam atingir o bem-estar! Que todos os seres da água, da terra e do céu possam ser felizes! Que todos os seres de todas as dez direções possam ser felizes! Que todos possam estar sem medo, sem inimizades, sem aflição! Quando se pratica o amor compassivo, se recebem muitos benefícios: 1.
Dorme-se contente
145
2.
Acorda-se feliz
3.
Não se têm maus sonhos
4.
Nosso rosto irradia luz (a aparência fica agradável)
5.
Somos queridos por muitos
6.
Morremos com uma mente alerta cheia de paz e de felicidade
7.
Nos libertamos do ciclo do vir a ser Diṭṭ ha haṃ va anupagamma
Porque ele não se deixa influenciar por uma falsa crença; S ī l avā dassanena sampanno īlav
Sendo dotado de um caráter honrado e de sabedoria, ou seja, de Vipassana; K āmesu vineyyagedhaṃ
Tendo erradicado a avidez por prazeres sensoriais e estando apto para praticar brahmacariya (uma vida de celibato), ele renasce no reino de brahma após a 146
morte; e ao praticar Vipassana, se liberta disso. Ele, então, experimenta a felicidade suprema além de todos os reinos. Por conseguinte: Na hi jātu gabbhaseyya gabbhaseyyaṃ punareti
Porque está livre do ciclo do vir a ser, ele está livre do sofrimento de punarapi jananī ja jaṭ hare hare śayanam – de cair repetidamente repetidamente em um útero. ∗ ∗ ∗
Este ensinamento generoso do Buda – que permite a quem o pratica viver e morrer feliz e alcançar a felicidade suprema da libertação completa – foi chamado não só de pessimista, mas de extremamente pessimista. Seu caráter foi considerado não só maculado mas inteiramente enegrecido. enegrecido. Quando uma pessoa de boa vontade que tenha experimentado o benefício concreto da herança luminosa do Buda lê l ê essas palavras de seu próprio conterrâneo:
147
“A insistência do sofrimento não é peculiar ao Budismo, embora o Buda o tenha enfatizado sobremaneira. Em toda a história do pensamento ninguém exagerou exagerou tanto o sofrimento negro da existência humana quanto o Buda. Nós não podemos deixar de sentir que o Buda enfatizou em excesso o lado escuro das coisas. A visão budista da vida parece carecer de coragem e de confiança. Sua ênfase na dor, se não for falsa, não é verdadeira. Existe uma tendência no Budismo de enegrecer o que é escuro e de escurecer o que é cinza. A perspectiva é restrita em princípio a tudo o que é afiado, amargo e doloroso na vida. No plano teórico, a visão dos Budistas é limitada ao espinhoso, ao amargo e ao aspecto infeliz da vida.” – não se pode deixar de sentir dor. Quando Quando alguém como eu (que foi tão perniciosaperniciosamente iludido por tais crenças perniciosas), cuja própria vida foi transformada por Vipassana e que viu outras pessoas ficarem felizes pela prática de Vipassana, lê tais 148
distorções da verdade, se sente envergonhado e cheio de desapontamento. Que crime monstruoso foi este de castigar o imaculado ensinamento do Buda. Seguimos enegrecendo as manchas colocadas no seu ensinamento porque tínhamos perdido a bênção incomparável incomparável que trouxe a luz para o mundo mundo escuro e sofredor. sofredor. O que quer que tenha ocorrido no passado faz parte do passado. Felizmente, as palavras originais do Buda e a prática de Vipassana foram preservadas em sua pureza prístina pelos nossos países vizinhos e agora retornam à Índia. O ensinamento do Buda tem sido aceito não somente na Índia, mas também no resto do mundo. Venham! Deixem-nos Deixem-nos novamente dar as boas vindas e re-estabelecer o ensinamento incomparavelmente benéfico deste grande ser em nosso próprio benefício e em benefício de tantos outros. Nisto repousa a glória e a honra de nosso país.
149