DICIONÁRIO CRITICO PSCIHC A N Á L I S E ARLES RYCROFT
DICIONÁRIO CRITICO DE PSICANÁLISE A terminologia psicanalítica tem, quase sempre, levado à confusão, sobretudo entre o público leigo; além disso, ocorrem, ainda, os desentendimentos entre as várias escolas analíticas. O Dicionário Crítico de Psicanálise, de Charles Rycroft, é animado por dois objetivos. O primeiro consiste em fornecer definições claras tanto dos termos técnicos usados em psicanálise quanto das palavras que esta tomou de empréstimo à linguagem cotidiana, mas usandoos em seu próprio sentido preciso. O segundo consiste em dar ênfase aos problemas filosóficos, teóricos e semânticos, levantados por conceitos psicanalíticos particulares; em demonstrar a diferença no emprego desses conceitos por parte das diversas escolas, e em auxiliar o leitor a compreender e avaliar as interconexões que, não raro, existem entre conceitos aparentemente desconexos. Este Dicionário terá interesse imediato não só para psiquiatras, psicanalistas e estudantes sob sua orientação, mas também para o leitor em geral que queira estar bem informado. O autor não pretendeu que a principal ênfase fosse de ordem clínica; assim, suas claras definições de todos os conceitos analíticos básicos serão de imensa valia na superação das dificuldades de comunicação e de vocabulário — onde quer que elas possam, ou venham a, existir. Além de cada definição formal, o autor não descuidou de fornecer uma concisa exposição crítica, ampliando assim as dimensões de seu material, o que só acentua mais suas características já tão fecundas e estimulantes. Trata-se, portanto, de um livro que vem satisfazer uma profunda necessidade nesse campo do saber, contribuindo eficazmente para padronizar, canonicamente na medida do possível, a linguagem com que os 'cientistas' da mente humana expressam suas descobertas.
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DICIONÁRIO CRÍTICO DE PSICANÁLISE
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Título original: A Criticai Dictionary of Psychoanalysis. Traduzido da primeira edição inglesa, publicada em 1968 por Thomas Nelson and Sons Ltd, 36 Park Street London W I. Copirraite © 1968 de Charles Rycroft.
Editoração Coordenador: PEDRO PAULO DE SENA MADUREIRA Tradução: JOSÉ OCTÁVIO DE AGUIAR ABREU Revisão técnica: JOSÉ LUIZ MEURER Revisão tipográfica: FRANCISCO DE ASSIS PEREIRA Capa: PAULO DE OLIVEIRA
1975
Direitos para a língua portuguesa adquiridos por IMAGO EDITORA LTDA., Av. N. Sra. de Copacabana 330, 109 andar, que se reserva a propriedade desta tradução. Impresso no Brasil Printed in Brazil
CHARLES RYCROFT
DICIONÁRIO CRITICO DE PSICANÁLISE Coleção Psicologia Psicanalítica Direção de J A Y M E SALOMÃO
Membro-Associado da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro. Membro da Associação Psiquiátrica do Rio de Janeiro. Membro da Sociedade de Psicoterapia Analítica de Grupo do Rio de Janeiro.
IMAGO EDITORA LTDA. Rio de Janeiro
Introdução A psicanálise permanece assunto bastante controverso para que talvez seja necessário afirmar explicitamente que este livro não constitui um dicionário de críticas à psicanálise, mas um dicionário crítico de psicanálise. Seu objetivo não é fornecer munição àqueles que, por um motivo qualquer, querem demolir a psicanálise, mas auxiliar os que necessitam ou desejam informar-se sobre ela a fazê-lo de modo inteligente e crítico. Com vistas a esse fim, seus verbetes não consistem simplesmente em dicionarescas definições formais de termos técnicos utilizados na literatura analítica, mas fornecem também certa descrição de sua origem e vinculação com outros termos e conceitos empregados na teoria analítica, bem como das controvérsias a eles referentes, as quais ocorrem entre os próprios analistas. Fez-se amplo emprego das remissões, que, espera-se, capacitarão os leitores que procurem determinado verbete a descobrir a posição que este ocupa dentro da estrutura total de referência da teoria analítica. De uma vez que o autor é psicanalista clínico formado na escola freudiana e, ademais, de uma vez que este dicionário se desenvolveu a partir de um caderno de notas em que ele registrava suas perplexidades e dúvidas a respeito de certos aspectos da teoria freudiana, o termo 'psicanálise' referese inteiramente, exceto quando explicitamente ressalvado, à psicanálise freudiana. Isso não representa estreiteza de visão por parte do autor, mas conformidade ao uso geralmente corrente entre os profissionalmente envolvidos nesse campo. Para estes, o termo 'psicanálise' refere-se especificamente às teorias psicológicas e formas de tratamento diretamente derivadas de Freud e ensinadas aos estudantes que buscam formação em qualquer dos institutos filiados à Associação Psicanalítica Internacional. Outras escolas de pensamento, tais como a junguiana, a adleriana e a existencial, todas psicanalíticas 7
no sentido popular, possuem seus próprios termos e rótulos distintivos, cujo propósito é garantir que seus membros não sejam equivocadamente tomados por freudianos. Os analistas junguianos chamam-se a si mesmos de 'psicólogos analíticos' e, à sua teoria, de 'psicologia analítica'; os adlerianos são os 'psicólogos do indivíduo', ao passo que os existencialistas falam da 'psicanálise existencial'. Essas distinções constituem fonte de grande confusão para o público geral, que tende a ficar mais impressionado pelas semelhanças entre as diversas escolas psicoterapêutiças do que por suas diferenças; espera-se que os verbetes pertinentes, neste dicionário, contribuam para esclarecer a questão. Por motivos bastante semelhantes, incluí verbetes que explicam as diferentes funções dos psiquiatras, psicoterapeutas, psicanalistas e psicólogos. Trata-se de palavras que provocam considerável confusão para o público leigo, que frequentemente as emprega mal, para irritação dos profissionais dessas áreas, que, como a maioria dos profissionais, não gostam de ser incorretamente designados. Entretanto, e embora contenha descrições mais amplas dos conceitos freudianos que dos pertencentes a outras escolas, este dicionário está longe de ser exclusivamente freudiano. Seu âmbito é mais amplo do que, por exemplo, o Vocabulaire de la Psychoanalyse, de Laplanche e Pontalis (que constitui uma introdução à teoria psicanalítica elaborada sob forma de dicionário), já que inclui: 1. Definições de termos psiquiátricos, principalmente dos utilizados para descrever sintomas e fazer diagnósticos. Foram incluídos por dois motivos. Em primeiro lugar, os psicanalistas, em sua maioria, são médicos. Os distúrbios que tratam e sobre os quais escrevem são especificamente considerados, tanto pela sociedade em geral quanto pela profissão médica, como 'doenças', e, como tal, estão sujeitos aos mesmos processos de descrição em linguagem técnica e rotulação diagnostica que as doenças físicas. Por conseguinte, grande parte da literatura psicanalítica utiliza o vocabulário técnico, médico e psiquiátrico com que seus autores e os leitores a quem originalmente ela se destina, estão familiarizados. Em segundo lugar, nos últimos anos muitos desses termos psiquiá8
tricôs passaram a ser de uso geral, sem, contudo, manterem seus significados originais e exatos. Em consequência disso, leitores familiarizados com as conotações jornalísticas e literárias de palavras tais como 'maníaco', 'depressivo', 'esquizofrénico', 'compulsivo', 'ambivalente', estão sujeitos a confusão quando as encontram na literatura psicanalítica, onde quase sempre são utilizadas para designar fenómenos clínicos específicos. Alternativamente, o que é pior ainda, podem imaginar que estão compreendendo o que, de fato, não compreendem. A mesma consideração se aplica, é natural, a termos especificamente psicanalíticos que passaram para o uso geral. Por exemplo, 'narcisismo', termo inventado por Havelock Ellis para descrever uma forma de perversão sexual, foi tomado de empréstimo por Freud para descrever diversos fenómenos referentes ao relacionamento do indivíduo consigo mesmo, e, desde então, passou para a linguagem cotidiana como expressão depreciativa, que o Concise Oxford Dictionary define como: 's. (Psic.) Tendência à auto-adoração; absorção nas próprias perfeições pessoais.' Entretanto, quem quer que leia a literatura técnica psicanalítica com essa definição em mente, logo se verá em dificuldades, de uma vez que encontrará não só referências a feridas, traumas, identificações, depleções narcísicas, assuntos que evidentemente pouco têm a ver — se é que têm algo — com a auto-adoração, como também as distinções entre narcisismo primário e secundário, ou entre narcisismo sadio e defensivo, as quais obviamente não se relacionam a julgamentos morais. 2. Definições de uma série de termos especificamente médicos, os quais, pelas razões acima apontadas, a psicanálise utilizafcemmaiores explicações. 3. Definições de termos junguianos. De uma vez que o autor padece do defeito constitucional nada fora do comum, de ser incapaz de compreender os trabalhos de Jung, pareceu-lhe ser mais correto para o leitor, e para Jung, extraí-las da obra What Jung Really Said (O Que Jung Realmente Disse), da autoria de E. A. Bennet, do que compilá-las ele próprio. Bennet foi amigo íntimo de Jung e seu livro explica as idéias deste de modo claro e simples — na verdade, de modo 9
tão claro e simples, que deixa o leitor a imaginar por que Jung sempre foi encarado como místico ou obscuro. 4. Definições e descrições dos conceitos existenciais básicos. Foram incluídos por uma série de motivos. Em primeiro lugar, nos últimos anos os trabalhos de Sartre, R.D. Laing e Rollo May despertaram considerável interesse e debate tanto entre o público em geral quanto nas profissões psicoterapêuticas. Em segundo, muitas das críticas e dúvidas sobre a validade de uma série de suposições freudianas, recentemente enunciadas a partir de dentro da corrente freudiana, são de natureza essencialmente existencial. Refiro-me aqui especificamente às dúvidas expressas por Szasz, Home, Lomas, por mim mesmo e outros, quanto à validade das suposições causais-determinísticas da teoria freudiana, isto é, quanto a saber se é realmente possível sustentar que o comportamento humano possui causas no mesmo sentido em que os fenómenos físicos as têm, ou que a personalidade humana pode realmente ser explicada como sendo resultado de acontecimentos que lhe sucederam quando criança. Em terceiro lugar, as críticas existenciais à psicanálise freudiana via de regra são bem informadas, além de feitas por pessoas que entendem da natureza da relação psicoterapêutica e levam a sério os fenómenos subjetivos e o sofrimento. Por conseguinte, constituem um desafio maior do que as críticas de Eysenck e dos terapeutas do comportamento, derivadas de uma posição teórica (a fornecida pela teoria da aprendizagem) que se preocupa em afastar a psique da psicologia e que se esforça por entender a natureza humana através de sua desumanização. 5. Definições de uma série de conceitos biológicos necessários à compreensão dos conceitos de Freud sobre instinto e evolução. 6. Definições de uma série de conceitos antropológicos necessários à compreensão das incursões especulativas de Freud nesse campo. Tendo fornecido uma descrição sucinta do âmbito e dos objetivos deste dicionário, torna-se-me agora necessário des10
crever alguns dos empecilhos e armadilhas que obstruem o caminho daqueles que procuram descobrir aquilo sobre que trata realmente a psicanálise. Devo confessar que estou convicto de que há algo de desencorajador a respeito da literatura psicanalítica, e de que muitos dos que se aventuram a explorála ficam perdidos e confusos, às vezes permanentemente. Existem, conforme creio, três motivos principais para isso, que examinarei sob os títulos de linguística, dissensão e fontes. Linguística Já me referi a um dos obstáculos linguísticos à obtenção de acesso à literatura psicanalítica. Trata-se do jargão, ou seja, a existência de uma linguagem técnica elaborada por psicanalistas, para comunicação entre eles mesmos. Em princípio, certas pessoas se opõem ao jargão analítico, sustentando que deveria ser possível escrever sobre a experiência humana sem utilizar termos técnicos; duvido, porém, que os que assumem esse ponto de vista realmente apreciem quão distantes da experiência cotidiana são certos estados mentais anormais. Tampouco levam em consideração o fato de que as ciências se desenvolvem pela classificação dos fatos — processo que torna necessário fixar rótulos que definam as classes assim estabelecidas — e pela descoberta de vinculações latentes (entre fatos aparentemente desvinculados), as quais também exigem rotulações exatas. Expressões diagnosticas, tais como 'neurose obsessiva' e 'esquizofrenia', e termos descritivos, tais como 'fenómeno de Isakower' ou 'despersonalização', surgem da necessidade de classificar fatos, ao passo que os termos técnicos utilizados pela psicanálise para formular suas teorias de desenvolvimento infantil se originam da necessidade de conceitos que expliquem a vinculação oculta, relativa ao desenvolvimento, exis1tente entre a infância e a maturidade. O mau emprego do jargão pode, contudo, criar armadilhas para o incauto e, na verdade, o faz com frequência. Uma delas é criada pelo uso de conceitos explanatórios abstratos enquanto se descrevem fatos, tal como ocorre quando psicanalistas utilizam termos técnicos ao descreverem os dados que lhes são fornecidos pelos pacientes. As histórias clínicas, idealmente, são escritas na linguagem cotidiana, sendo os concei11
tos teóricos empregados apenas durante o subsequente exame dos dados; com muita frequência, porém, nem mesmo se visa a esse ideal e só se permite que o leitor perceba os fatos relatados através de um ténue véu de teoria. Por conseguinte, não se lhe concede oportunidade de considerar a possibilidade de que os fatos que lhe são apresentados poderiam ter sido explicados de outro modo. Outra armadilha é a facilidade com que o jargão técnico pode ser utilizado para construir teorias tautológicas, internamente coerentes e intelectualmente satisfatórias, não porque realmente expliquem os fatos, mas porque as definições dos termos técnicos envolvidos se entrelaçam elegantemente. Para mim, a fascinação exercida sobre certos analistas pela acalentada concepção de Freud, o 'aparelho psíquico', deriva não da precisão com que ela reflete o funcionamento da mente humana, mas da atração intelectual e estética de uma teoria internamente coerente. Suas peças se ajustam perfeitamente, e continuariam a se ajustar ainda que se provasse serem absurdas. Outra armadilha, ainda, é a criada pelo emprego do jargão para ocultar a ignorância. Palavras eruditas, particularmente se derivadas de uma língua antiga, soam de um modo que impressiona, e podem ser utilizadas tão-somente para impressionar os inocentes. Os psiquiatras, seguindo uma tradição médica há muito tempo estabelecida, são mais frequentemente culpados dessa forma de engano inconsciente do que os analistas, consistindo o processo ou o truque em traduzir a queixa do paciente em grego e, depois, assegurar-lhe que seus problemas são devidos a uma doença com um nome estranho e exótico. O paciente queixa-se de que perdeu a memória e aí o médico lhe diz que ele está sofrendo de amnésia; o paciente tem medo de espaços abertos e o médico lhe afirma que ele tem agorafobia. E, de modo bastante curioso, ambas as partes na transação sentem-se melhor com isso; o médico, por sentir que fez alguma coisa; o paciente, porque seu sofrimento encontrou um rótulo que o torna menos misterioso. O próprio Freud parece ter sido excepcionalmente isento da tendência a ser ludibriado por palavras, e uma das realizações menos decantadas da psicanálise foi resgatar a psiquia72
tria da preocupação com a arte da rotulação diagnostica, ao demonstrar que são os processos dinâmicos e não os estados mentais que têm importância.
Uma vez contornado o jargão, o leitor determinado a enfrentar a psicanálise tem, a seguir, de lutar, se for inglês, com as complicações advindas do fato de que a maior parte da literatura psicanalítica foi escrita em alemão e de que uma parte ainda maior dela foi originalmente pensada nessa língua. Infelizmente, as idéias não podem ser transportadas integralmente de uma língua para outra simplesmente traduzindo-as palavra por palavra, e há que considerar seriamente a possibilidade de algo de significativo acontecer a uma idéia ou a uma teoria, quando traduzidas para outra língua. Assim como acontece com os imigrantes, as idéias de uma língua estrangeira só são assimiladas com dificuldade, e, quando chega a ocasião de se naturalizarem, é provável que se tenham modificado. Geoffrey Gorer, num ensaio intitulado Cultural Community anã Cultural Diversity, assinalou que as quatro li berdades — liberdade de palavra, liberdade de religião, liberdade da necessidade e liberdade do medo — de que tanto ouvimos falar nos últimos dias da Segunda Guerra Mundial, de fato não fazem sentido em nenhuma outra língua que não seja a inglesa, pelo simples motivo de nenhuma outra língua possuir uma palavra análoga à nossa 'liberdade' (freedom), que pode abranger tanto 'não ser impedido de' quanto 'ser protegido de'.* De modo semelhante, uma série de conceitos psicanalíticos também não suportam bem as viagens e criam dificuldades para os leitores que têm de encontrá-los em segunda mão. * As "quatro liberdades" mencionadas pelo autor foram alguns dos princípios firmados por Roosevelt e Churchill na chamada "Carta do Atlântico", por ter sido assinada a bordo de belonaves aliadas, em pleno Atlântico Norte, durante a Segunda Guerra Mundial, a 14 de agosto de 1941. A imprensa da época traduziu-as do modo como adima transcrevemos, mas, rigorosamente falando, é certo que a observação do autor quanto à intraduzibilidade de freedom se aplica também ao português. (N. do T.)
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Um dos conceitos-chave da teoria freudiana é 'Angst', que todos os tradutores ingleses vertem por 'ansiedade'. Ninguém sugeriu uma tradução melhor do que essa, mas, infelizmente, a gama de significados abrangida por 'Angst' e 'ansiedade' não é idêntica. 'Angst' parece inextricavelmente envolvida com idéias de angústia, medo e sofrimento, e não estar tão estreitamente vinculada à noção de acontecimento futuro, ao passo que a 'ansiedade' é, como o Rogefs Thesaurus diz, uma das 'emoções prospectivas', podendo mesmo ser empregada para referir uma antecipação prazerosa: 'Estou ansioso para ver tal filme'.* Como resultado dessa discrepância linguística entre o inglês e o alemão, a ansiedade sempre se caracteriza na literatura analítica como uma experiência desagradável que o indivíduo procura evitar, ou dela livrar-se, e jamais como uma impaciente preparação para acolher o futuro. É também empregada, particularmente sob a forma de 'ansiedade primária', para designar experiências que um escritor inglês se inclinaria a descrever como susto ou terror. Uma curiosa e infeliz consequência de igualar ansiedade a Angst foi a disseminação da idéia de que a ansiedade é sempre um sintoma neurótico, e a de que a pessoa ideal, 'sadia', 'ajustada', seria 'isenta de ansiedade'. Essa idéia, contudo, pertence mais ao folclore popular psiquiátrico de variedade americana do que à teoria psicanalítica. Mas não são apenas palavras isoladas que causam dificuldades. É também a estrutura linguística e os hábitos de pensamento que são tanto engendrados quanto refletidos por ela. Os trabalhos de Freud estão impregnados pela idéia de opostos em conflito uns com os outros. Até a década de 1920, ele baseou sua teoria da neurose na suposição de que existiam dois grupos de instintos — os instintos sexuais (reprodutivos) e os instintos do ego (autopreservativos) — e sustentou que a predisposição humana à neurose derivava da tendência ine* "Ansiedade" tem em português ambos os sentidos que o autor menciona, sendo a tradução corrente do inglês anxiety, exceto nas expressões "neurose de angústia" e "histeria de angústia", já consagradas pelo uso. O Rogefs Thesaurus é uma espécie de dicionário analógico, muito popular nos países de fala inglesa. (N. do T.)
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rente dessas duas forças opostas para entrarem em conflito mútuo. Mas, por que, pode-se perguntar, Freud supôs que existiam dois grupos de instintos e não três ou quatro, e por que supôs que eram opostos e não mutuamente complementares? Foram realmente os fatos clínicos que o compeliram a fazer essas suposições, ou isso se deveu antes a que hábitos linguísticos de pensamento o tenham impelido a seguir Hegel e Marxi e a elaborar uma teoria dialética que lhe ocorreu naturalmente, mas que parece estranha a todos os que foram criados na língua inglesa e no empirismo inglês? A suspeita de que a última explicação seja correta, a de que a preocupação de Freud com os opostos tenha sido cultural e linguisticamente predeterminada, é aumentada e na verdade confirmada pelo fato de que, quando, na década de 1920, Freud propôs uma teoria inteiramente nova dos instintos, esta foi novamente uma teoria de dois grupos de instintos, os instintos de Vida e os instintos de Morte, que mais uma vez foram supostos como inerente e mutuamente opostos. Essa nova teoria era também francamente especulativa e, como hoje sabemos, totalmente mal orientada, já que se baseava numa compreensão errónea da segunda lei da termodinâmica e em deduções insustentáveis extraídas do fato de os organismos se envenenarem com suas próprias excreções. Como menciono em diversas passagens do texto principal deste livro, a psicologia animal contemporânea reconhece pelo menos sete instintos (ou padrões inatos de comportamento) e não vê necessidade de supor uma oposição inerente entre quaisquer dois grupos deles, embora, naturalmente, sustente que, em ocasiões específicas, quaisquer dois ou mais deles podem achar-se em conflito mútuo. Outro aspecto da teoria psicanalítica que, suspeito, é essencialmente germânico, é seu hábito de explicar o comportamento pela referência a forças hipotéticas, tais como 'Sexo', 'Agressividade', 'Amor' e 'Ódio', concebidas como capazes de impelir o indivíduo, como se, por assim dizer, estivessem a empurrá-lo por trás. Esses conceitos presumivelmente se originam, em primeira instância, da necessidade de generalizar experiências de amar, odiar e ser agressivo, e em inglês seu caráter gerundial (loving, hating and being aggressive, isto é, 15
o fato de serem substantivos derivados de verbos e se referirem a processos e ações, e não a coisas) é indicado pela ausência do artigo precedente. Em alemão, porém, os substantivos abstratos são frequentemente precedidos por um artigo definido e gramaticalmente tratados como coisas possuidoras de propriedades. Recentemente li um artigo meu traduzido para o alemão, onde se incluem frequentes referências a 'a infância', 'a consciência', 'a psicanálise', 'a cosmologia', etc, quando utilizei essas idéias de modo geral, sem me referir à infância ou à cosmologia de qualquer pessoa específica.* Parece-me que um dos efeitos dessa reificação gramatical de substantivos abstratos deve ser o incentivo à crença na existência real de abstrações e a propensão a invocá-las como agentes explicativos, como essências ou noumena** que se comportam de uma maneira que lembra a dos anjos que a cosmologia medieval invocava para explicar os movimentos dos planetas. Esses anjos permitiram que o problema de saber como objetos inanimados podiam movimentar-se fosse solucionado pela postulação da existência de criaturas vivas que os impulsionavam. De modo bastante similar, Freud supôs que o ego humano fosse uma entidade passiva a que faltava energia ou força própria, e, portanto, capaz de movimento somente na medida em que sobre ele atuassem forças que lhe eram externas, localizando-se elas ou no id (inconsciente) ou no meio ambiente. Mas a própria idéia de que cada indivíduo possui um 'eu', um ego, sobre o qual alguma outra parte inconsciente dele mesmo age, é um artifício de linguagem, que surge como resultado de considerar 'eu' primeiramente como um substantivo e, depois, como um substantivo concreto: o que se pode afirmar é que fazemos coisas, embora, ocasionalmente, nossos atos não sejam aqueles que pretendíamos; por exemplo, cometemos lapsos de linguagem ou somos forçados a nos darmos conta de que nossos motivos eram diversos daqueles que pensávamos. * Acontece, em português, a mesma coisa que em alemão. (N. do T.) ** Um campo de fenómenos que é irreconhecível pelos sentidos, mas concebível pela razão. (N. do T.)
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Outra dificuldade com que se defrontam os leitores ingleses da literatura psicanalítica advém do fato de que o inglês difere do alemão por possuir, na realidade, dois vocábulários: um deles principalmente de origem angio-saxônica, utilizado como veículo das relações sociais comuns, e outro em grande parte derivado do latim e do grego, utilizado na reflexão conceptual. Em alemão, a palavra para alguém referir-se a si mesmo é 'Ich' e a empregada para a reflexão conceptual sobre a idéia de si mesmo é 'das IcH; em inglês, porém, os termos equivalentes são 'eu' e 'ego' Por conseguinte, é fácil a um leitor inglês da literatura psicanalítica perder de vista o fato de que o ego, que tão frequentemente lhe é apresentado como se fosse uma estrutura impessoal, com propriedades e características, e, ocasionalmente, até mesmo com uma forma, na realidade nada mais é do que ele mesmo sendo pensado em termos conceptuais. O exemplo clássico dessa dificuldade específica é proporcionado pelo substantivo 'catexia' e seus verbos correlatos, 'catexizar' e 'descatexizar'. Essas palavras, que confundiram não poucos estudiosos ingleses de psicanálise, foram inventadas pelos tradutores ingleses de Freud a fim de verter o conceito de 'Besetzung'. Em alemão, 'Besetzung* é palavra comum, cotidiana, doméstica, relacionada a 'setzerí, 'localizar, pôr, colocar', podendo ser empregada para descrever atividades tais como guarnecer militarmente uma cidade, equipar com tripulantes um navio, apostar dinheiro num cavalo, colocar peixes num lago, para só citar exemplos extraídos de um dicionário escolar. Na teoria psicanalítica, contudo, é utilizada para descrever um dos mais obscuros e difíceis conceitos de Freud: a hipótese segundo a qual existe certa forma de energia mental 'que possui todas as características de uma quantidade (embora não tenhamos meio de medi-la), que é capaz de aumento, diminuição, deslocamento e descarga, e que se espalha sobre os traços de memória das idéias aproximadamente da maneira pela qual uma carga elétrica se espalha sobre a superfície de um corpo' (Freud, 1896). De acordo com essa hipótese, idéias (isto é, imagens mentais na mente) são 'besetzt', ou seja, investidas de certo tipo de energia mental, e alterações psicológicas, tais como deslocamentos de interes17
se ou ligações pessoais, se fazem acompanhar por mudanças na 'Besetzung9 ligada às idéias correspondentes às coisas ou pessoas envolvidas. Não é um conceito fácil de ser apreendido, mas, em alemão, as dificuldades do leitor devem provavelmente ser mitigadas pelo fato de 'Besetzung' constituir palavra familiar, que inevitavelmente desperta imagens que auxiliam a explicar seu significado em seu novo contexto. Em inglês, por outro lado, a palavra 'catexia' não evoca essas imagens e, efetivamente, dissocia o conceito teórico das metáforas que lhe poderiam fornecer vida e significado. Também falha por lembrar ao leitor que deve haver uma pessoa ou agente às ocultas, em algum lugar dentro da maquinaria, que está fazendo a catexização ou descatexização. Freud, incidentalmente, não ficou contente com a introdução desse neologismo no inglês, em 1922, mas deve ter-se reconciliado com o mesmo, já que posteriormente ele mesmo o empregou em alemão.* Ego e catexia não são, aparentemente, os únicos exemplos de termos técnicos psicanalíticos que soam mais impessoais e abstratos em inglês do que em alemão. Com efeito, segundo Brandt (1961), a maioria deles sofreu uma lamentável modificação em sua passagem do alemão para o inglês, tendo, em certos casos, perdido parte essencial de seu signifipado e, em outros, conotações associativas vitais. Não estou qualificado para dizer se Brandt está com a razão a respeito disso, mas decerto o argumento de que a psicanálise só é compreensível se lida no original alemão constitui um ardil não infreqúentemente utilizado pelos analistas continentais em controvérsia com os ingleses. Se está com a razão, contudo, isso contribuiria em muito para explicar a curiosa impressão com que às vezes se fica, a de que a psicanálise não firmou realmente os pés no chão e que de modo algum se refere a pessoas. No texto principal deste livro, chamei a atenção para as grosseiras discrepâncias entre as conotações inglesa e alemã, sempre que me dei conta delas. Talvez se devesse acrescentar que todos concordam que a tradução de Freud, feita * Ver nota de rodapé de James Strachey à pág. 63 da Standard Edition, volume III.
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por James Strachey, é excelente, tendo-lhe granjeado o Premio Schlegel-Tieck de 1966. Dissensão Constitui fato notório e melancólico faltar aos psicanalistas a capacidade de concordar entre si e que suas organizações profissionais apresentem tendência aparentemente inerente no sentido da divisão. Suas dilaceradoras controvérsias não são tipicamente da espécie menos importante e de natureza técnica que ocorre em toda ciência e ramo da medicina, mas se relacionam a princípios fundamentais, embora não raro se descubra, quando historicamente encarados, que eles envolvem embates de personalidade e temperamento. As dissensões originais entre Freud, Jung e Adler constituem hoje história passada, bem conhecida e talvez mesmo geralmente compreendida — tendo por base que Freud acreditava em Eros e na Razão, que Adler acreditava no poder e na auto-afirmação, e que Jung era um místico —, mas é provável que o investigador incauto da psicanálise contemporânea seja desencaminhado, a menos que se dê conta de que diferenças radicais de opinião existem dentro da própria corrente freudiana e que estas são de seriedade suficiente para se refletirem na estrutura das instituições psicanalíticas. Na Grã-Bretanha, por exemplo, as diferenças teóricas entre subescolas tornaram necessário o estabelecimento de convenções (o chamado 'Acordo de Cavalheiros') para impedir que a Sociedade Psicanalítica Britânica um dia venha a ser tomada por um dos três grupos em que está dividida, e partes de seu programa de formação são dadas em duplicata. Em alguns outros países, a ausência de uma índole nativa para a transigência conduziu à divisão completa, geralmente com um dos fragmentos resultantes retirando-se da Associação Psicanalítica Internacional ou dela sendo expulso. Aqui não é o lugar para estudar os motivos históricos e psicológicos dessas dissensões, mas diversos verbetes deste dicionário destinam-se a explicar os argumentos teóricos em debate. !Ver, particularmente, TEORIA ANALÍTICA CLÁSSICA, TÉCNICA ANALÍTICA CLÁSSICA, PSICOLOGIA DO EGO, TEORIA DOS INSTINTOS E TEORIA DOS OB19
JETOS, KLEINIANO, PSICOPATOLOGIA REVISTA DE FAIRBAIRN, PERSONOLOGIA E TEORIA PROCESSUAL. Sua existência, contudo, torna-me necessário alertar os prováveis leitores da literatura psicanalítica para uma série de riscos, dos quais, sob outros aspectos, poderiam não se dar conta. Em primeiro lugar, os livros e artigos que parecem ser simplesmente contribuições visando à compreensão de algum problema psicológico ou doença específicos, e que se lêem como se expressassem um ponto de vista geralmente aceito, podem, de fato, ser altamente controvertidos e constituir propaganda em favor da própria posição teórica do autor. Seria antipático citar exemplos disso, particularmente quando se sabe que demonstrar a capacidade de uma teoria científica para explicar fenómenos científicos, é naturalmente uma maneira legítima de fazê-la progredir. Em segundo lugar, as referências à literatura 'clássica' e as citações dos próprios trabalhos de Freud que ocorrem em artigos escritos por analistas contemporâneos, são às vezes ditadas não pela ética científica, que exige que um autor reconheça suas fontes, mas pela necessidade que este tem de fazer apelos encobertos à autoridade a fim de legitimar a linhagem de suas teorias ou afastar acusações de inortodoxia. Os motivos para que alguém deseje ou ache necessário ser assim tortuoso advêm de duas fontes: a história anterior do movimento psicanalítico, que o deixou com lembranças traumáticas e tribais de anteriores secessões primevas, e o fato de que todo analista foi analisado, durante os anos de formação, por algum analista mais antigo do que ele e mais próximo de Freud. Essa característica da formação psicanalítica conduziu ao desenvolvimento de uma mística análoga à da Sucessão Apostólica, mística que compele os analistas contemporâneos a fazerem remontar sua linhagem a um ou outro dos pais fundadores. Em geral os analistas se mostram bastante curiosos em descobrir por quem um colega pouco conhecido foi analisado, e com frequência se inclinam a julgar seu valor mais por sua ascendência do que por suas próprias qualidades. Os futuros historiadores da psicanálise indubitavel20
mente acharão necessário elaborar pedigrees que delineiem a linhagem analítica de analistas de terceira e quarta geração. De uma vez que muitas pessoas consideram esses aspectos da literatura psicanalítica bastante chocantes, talvez se devesse mencionar que a luta interna encoberta e a citação de autoridades para fornecer uma pátina de respeitabilidade académica a idéias novas mas impopulares, constituem fenómenos não desconhecidos em outras disciplinas. Tampouco seria sempre jdifícil elaborar árvores genealógicas académicas de mestres e discípulos. Em terceiro lugar, embora essas dissenções internas e divergências teóricas possam ser consideradas como sinais de vitalidade e prova de que a psicanálise não sucumbiu ao dogmatismo de que é tão frequentemente acusada, elas também tornam difícil para o não-iniciado saber quais os livros sobre psicanálise que são definitivos, autorizados e corretos, e quais os que são controversos, inortodoxos e mal informados, dificuldade realçada pelo fato de que a psicanálise possui suas fímbrias lunáticas e charlatãs, e de que muitos autores inescrupulosos se mostraram prontos a tirar vantagem financeira da voga da psicanálise e da ubiquidade do sofrimento neurótico. Forneci, portanto, através de todo este dicionário, referências bibliográficas que, espero, auxiliarão os leitores a encontrar seu caminho, seja às fontes originais, seja a exposições claras e fidedignas. As notas que se seguem também podem ser úteis como guia para as diversas escolas psicanalíticas: 1. A psicanálise clássica foi resumida por Freud em seu último trabalho, An Outline of Psyçho-Analysis (1940; Esboço de Psicanálise, IMAGO Editora, 1974). 2. A psicologia do ego recebeu seu impulso inicial em The Ego and the Id (1923), de Freud, e, desde então, foi elaborada por Anna Freud em The Ego and the Mecanisms of Defence (1937) e por Heinz Hartmann em Ego Psychology and the Problem of Adaptation (1937; tradução inglesa: 1958). 21
3. Psicanálise kleiniana: os próprios trabalhos de Melanie Klein não são para os não-iniciados, mas seus conceitos foram competentemente resumidos por Hanna Segal em lntroduction to the Work of Melanie Klein (1964; Introdução Obra de Melaine Klein, IMAGO Editora, 1975).
4. Teoria dos objetos (teoria das relações de objeto): até recentemente, esta foi uma escola de pensamento inteiramente britânica. Os Psychoanalytic Studies of the Personalit (1952), de W.R.D. Fairbairn, fornecem a exposição mais lúcida, e Personality Structure and Human Interaction (19 de H. Guntrip, a mais entusiástica. Os Collected Papers (1958), de D.W. Winnicott, e Trends in Psycho-Analysis (1951), de Marjorie Brierley, constituem também leitura essencial para todo aquele que deseje compreender a teoria dos objetos e suas vinculações com a psicanálise clássica e a psicologia do ego. 5. Psicanálise existencial: Psychology and the Human Dilemma (1967), de Rollo May, fornece uma descrição clara dos temas que separam a psicanálise freudiana e a existencial, mas os trabalhos de R.D. Laing constituem leitura mais vivaz. 6. Psicanálise junguiana (psicologia analítica): como já mencionei, o ponto de vista de Jung foi claramente resumido por E.A. Bennet em seu What Jung Really Said (1966). As numerosas controvérsias e dissensões dentro do movimento psicanalítico evidentemente levantam a possibilidade de que mesmo este dicionário seja propaganda em favor de algum ponto de vista teórico específico. É-me, portanto, necessário enunciar sucintamente minha própria posição e tornar explícita a direção de qualquer inclinação que este dicionário possa apresentar. Sob dois aspectos já o fiz. Em parágrafos anteriores, deixei claro que me alio àqueles analistas que se tornaram céticos quanto à aplicação de princípios causais-determinísticos derivados das ciências físicas ao estudo de seres 22
humanos capazes de consciência e de atividade criativa. Expressei também a opinião de que a teoria dos instintos freudiana é incompatível com as idéias biológicas contemporâneas sobre a natureza do instinto. Aqui, tenho de acrescentar, por motivos que se tornarão mais claros no correr da seção seguinte desta Introdução, que acredito que a teoria psicanalítica acabará por ter de ser reformulada como uma teoria da comunicação e que terá de refletir conceptualmente a fonte de seus próprios dados. Atualmente, a psicanálise é formulada como se fosse baseada na observação minuciosa, desapaixonada e objetiva de amostras isoladas da espécie Homo sapiens, feita por um observador totalmente desengajado; de fato, porém, ou assim me parece, suas compreensões internas (msights) surgem do relacionamento que se desenvolve quando duas pessoas se reúnem num cenário psicoterapêutico. Das teorias psicanalíticas existentes, a das relações de objeto indubitavelmente é a que mais se aproxima de levar em conta a comunicação interpessoal. De uma vez, porém, que a maioria dos dados e compreensões internas (insights) que os analistas acumularam durante os últimos setenta anos foram registrados na linguagem inventada por Freud e pela primeira geração de seus discípulos, toda pessoa que pretenda praticar psicoterapia, de qualquer espécie, ou que, por qualquer outra razão, esteja seriamente empenhada em adquirir uma compreensão da psicanálise, permanece na obrigação moral de aprender também essa linguagem. Fontes Resta-me referir o último empecilho colocado no caminho de todo aquele que deseja dominar a literatura psicanalítica. Trata-se do fato de que a fonte e origem das idéias psicanalíticas residem num processo que não é fácil de descrever nem de imaginar. Essa dificuldade é, na verdade, tão grande, que muitos analistas, inclusive o próprio Freud*, assumiram * "Podem crer-me quando lhes digo que não temos prazer em dar a impressão de sermos membros de uma sociedade secreta ou de praticarmos uma ciência mística. Contudo, fomos obrigados a reco-
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a opinião de que a psicanálise é incompreensível para qualquer pessoa que não tenha sido, ela própria, analisada. Embora isso constitua uma posição extrema que, se tomada a sério, nos compeliria a considerar a psicanálise como um culto esotérico com princípios só acessíveis aos iniciados, ela, não obstante, chama a atenção para um fato importante a respeito da psicanálise: seus dados derivam não da observação direta do comportamento humano na vida cotidiana, mas da experiência que o analista tem de um tipo específico de relação terapêutica inventado por Freud. Quando ele parou de hipnotizar seus pacientes e, em vez disso, permitiu-lhes, na verdade os incentivou, que conversassem com ele sem embaraço ou impedimento, iniciou um novo tipo de relação humana e pôs em ação uma série de processos totalmente inesperados que a teoria psicanalítica busca explicar. Um exemplo evidente da dependência da teoria psicanalítica para com a relação terapêutica é fornecido pelo conceito de transferência. Esse conceito procura explicar uma observação clínica específica, a saber, que os pacientes aos quais se permite que suas expressões verbais fluam livremente, sem serem disciplinadas por advertências quanto à natureza real da pessoa com quem estão falando, dão provas inequívocas de que a consideram como se fosse outrem que não a pessoa que é, sendo típico que essa outra pessoa seja um ou outro dos genitores do paciente. Para descrever esse fato, Freud introduziu a idéia de transferência, que lhe permitiu explicá-lo dizendo que os pacientes transferiam para ele emoções, idéias e expectativas que, em primeira instância, pertenciam a seu relacionamento com os pais. Entretanto, como essas emoções e expectativas são tipicamente de uma espécie que se esperaria que uma criança, e não um adulto, tivesse, e desde que, além disso, indicam um grau de preocupação com os pais maior do que aquele que os pacientes adultos prontamente admitem ter, o conceito de transferência conduz inevitavelmente a três ounhecer e expressar como convicção nossa que ninguém, que não tenha tido experiências específicas, as quais só podem ser obtidas sendo-se analisado, tem o direito de ingressar numa discussão sobre a psicanálise." (Freud, 1933)
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tros conceitos analíticos básicos: os de fixação, de resistência e de existência de processos mentais inconscientes, através dos quais a transferência pode ser explicada como sendo o resultado de uma fixação inconsciente em objetos significativos da infância do paciente. y Esse exemplo de transferência é particularmente notável, visto que, como sabemos por seus trabalhos, Freud inicialmente o encarava como um fator perturbador que interferia naquilo que, a princípio, ele acreditava ser o processo analítico essencial — o de reviver lembranças reprimidas e capacitar o paciente a descarregar as emoções enclausuradas associadas a elas. Na verdade, foi o reconhecimento definitivo por parte de Freud de que, 'ao final, todo conflito tem de ser resolvido na esfera da transferência', que transformou a psicanálise de teoria quase-neurológica sobre os efeitos patológicos da inibição, em investigação sobre a natureza e a origem dos relacionamentos interpessoais, y De modo bastante similar, o conceito de sexualidade infantil surgiu, não como resultado de observações diretas de bebés sendo amamentados ao seio, de crianças brincando ou sendo educadas em casa, mas como uma tentativa de explicar temas recorrentemente encontrados nas associações livres (declarações espontâneas) de pacientes adultos. A idéia de que os pacientes histéricos se fixavam no nível fálico, os obsessivos no nível anal e os melancólicos no nível oral, advém não de estudos efetuados sobre a infância de crianças que posteriormente desenvolveram doenças histéricas, obsessivas ou melancólicas, mas do fato de que os pacientes adultos com essas doenças recorrente e obsessivamente retornavam a lembranças de infância que sugeriam que eles haviam passado por fases em que!se tinham preocupado, tanto ansiosa quanto prazerosamente, com seus órgãos genitais ou suas funções intestinais, ou, no caso dos pacientes melancólicos, que se mostravam nostálgicos Ide certa felicidade não lembrada e se preocupavam curiosamente com a boca. Esse exemplo, contudo, difere do da transferência porque o conceito da sexualidade infantil e seu companheiro, o conceito dos estádios infantis de desenvolvimento libidinal, contêm uma concentração mais elevada de inferência. Ao passo 25
que os fenómenos transferenciais podem ser diretamente observados — pois o analista tem uma experiência pessoal imediata de seus pacientes que o tratam como figura paterna ou materna, e pode, na verdade, sentir reações paternais e maternais despertadas em si mesmo —, o conceito de sexualidade infantil constitui elaboração construída pela reunião de elementos fragmentários de prova, tais como recordações obsessivas, imagens oníricas recorrentes e pormenores de sintomas, reunião esta que assume configuração teórica. Em consequência disso, a teoria é, em princípio, suscetível de crítica, reavaliação e revisão, por dois modos diferentes: descobrindo se as crianças realmente se comportam do modo pelo qual o conceito sugere, ou considerando se a teoria é, de fato, a única ou a mais satisfatória explicação dos dados analíticos em que se baseia. Naturalmente, críticas, reavaliações e revisões dos conceitos de sexualidade infantil e dos estádios infantis de desenvolvimento, foram frequentemente feitas a partir desses dois pontos de vista; antes, porém, de considerar sucintamente algumas delas, é necessário chamar a atenção para o fato de que essas idéias sobre desenvolvimento constituem conceitos históricos que buscam explicar fenómenos encontrados durante o tratamento por meio da referência a acontecimentos presumidos no passado do paciente. Elas tentam explicar o presente clínico pela construção de uma teoria histórica que, por assim dizer, se desdobra para trás no tempo, localizando os diversos aspectos da doença e da personalidade do paciente em diferentes pontos de sua biografia, via de regra sem referência a qualquer prova documental ou oral extra-analítica que possa estar disponível. Um dos efeitos desse procedimento é que conceitos a que se chega por uma extrapolação para trás, a partir de adultos, tendem a ser formulados em função do desenvolvimento para a frente de uma construção teórica, 4o bebé' ou 'a criança' que tanto se agiganta na literatura analítica. O leitor incauto, que não se dê conta disso, pode, por conseguinte, ser desencaminhado, de uma vez que talvez não lhe ocorra que um capítulo intitulado, digamos, 'O Desenvolvimento Emocional da Criança', expresse idéias advindas do tratamento psicanalítico de adultos e não da experiência direta com crian26
ças, ou, então, que a descrição do analista sobre aquilo que se passa entre os bebés e suas mães possa advir tanto de sua experiêicia da transferência e contra-transferência na psicanálise de adultos, quanto de seu contacto direto com mães e bebés. Nos últimos anos, é verdade, muitos analistas observaram crianças ou as trataram psicanaliticamente; ainda assim, porém, continua a ser importante para os leitores da literatura psicanalítica entender que todos os conceitos básicos da psicanálise clássica são oriundos do tratamento de adultos, e que, por exemplo, as teorias de Melanie Klein sobre as origens da doença mental no primeiro ano de vida advêm não do trabalho com crianças, mas do tratamento psicanalítico de pacientes adultos esquizóides e depressivos, e de crianças depois que aprenderam a falar. Esse hábito psicanalítico de explicar seus dados por referência a acontecimentos que são inferidos como tendo ocorrido anteriormente ao início do tratamento, é, evidentemente, natural. Historicamente falando, deriva de uma forma direta de pensamento médico, a de supor que as doenças são devidas a algo que aconteceu ao paciente (trauma e infecção, por exemplo) ou a algum distúrbio de crescimento (doenças congénitas e má alimentação, por exemplo). O próprio Freud encarava as experiências de infância, que em sua opinião ocasionavam as neuroses, como traumas que interferiam no crescimento psicológico, numa visão da origem das neuroses que as capacitou a se ajustarem corretamente ao esquema médico das coisas. De modo comparativamente recente, entretanto, alguns analistas começaram a indagar se as neuroses são realmente doenças no sentido em que as doenças físicas o são, e assinalaram que, enquanto as doenças físicas constituem resultado de coisas que aconteceram ao corpo do paciente, ou, mais geralmente, a partes específicas dele, as neuroses parecem ser distúrbios da personalidade total, que surgem dentro do contexto de seu relacionamento com outras pessoas; a diferença essencial entre as duas é que, no caso da doença física, o paciente é claramente vítima de circunstâncias que incidiram em seu corpo sem que de modo algum sua vontade estivesse implicada, ao passo que, no caso das neuroses, o pa27
ciente sofre as consequências de relacionamentos em que ele deve ter sido, até certo ponto, pelo menos, um agente voluntário. Segundo esse ponto de vista, o ego humano não constitui uma entidade passiva, sobre a qual atuam forças ambientais e instintuais mas um agente ativo, capaz de dar início a um comportamento, inclusive àquelas formas de comportamento em última análise auto-invalidantes que conhecemos como neuroses. Se isso se provar verdadeiro, deixará de ser possível sustentar que tudo que se passa entre analista e paciente constitui uma repetição desordenada da infância deste último, com o analista agindo como um observador completamente à parte, ainda que benévolo. Das diversas revisões e elaborações dos conceitos de desenvolvimento de Freud, apenas duas precisam ser mencionadas aqui. A primeira é a mudança na ênfase do instinto e do prazer erótico para o ego e as relações de objetos. Nas formulações originais de Freud, o desenvolvimento era concebido como uma série de estádios durante os quais as crianças ficavam sucessivamente preocupadas com a boca, o ânus e os genitais, com esses órgãos (zonas erógenas) sendo primariamente encarados como fontes de sensações prazerosas. Durante os últimos trinta e cinco anos, aproximadamente, os analistas freudianos de todas as escolas tenderam cada vez mais a considerar esses órgãos como veículos através dos quais é mediado o relacionamento da criança com os pais. Por conseguinte, a fase oral é hoje encarada não apenas como um período durante o qual o bebé busca gratificação oral, como diz o jargão, mas como um período em cujo decorrer seu relacionamento com a mãe forma o centro de seu ser, e no qual ainda tem de enfrentar o fato de que ele e ela são seres independentes. De modo semelhante, atualmente, a fase anal não é considerada como simplesmente um período durante o qual a criança pequena se preocupa com suas fantasias anais, mas também como um período em cujo decorrer aprende o domínio de seu corpo e tem de enfrentar o problema de tornar seu comportamento aceitável para os adultos que a cercam, ao passo que, nas fases fálica e edipiana, a criança, conforme hoje se imagina, assimila suas primeiras impressões da existência a partir de uma forma de relacionamento entre os 28
pais da qual está totalmente excluída e que é suscetível de torná-la invejosa, ciumenta e agudamente cônscia de sua própria imaturidade física e emocional. É digno de nota que, embora ambas as escolas predominantes kia psicanálise contemporânea — psicologia do ego e teoria dos objetos — tenham modificado a teoria dos instintos de Freud nesse sentido, os caminhos que tomaram para fazê-lo foram inteiramente diferentes. A psicologia do ego progrediu dando ênfase ao crescimento do ego e da autopercepção, e relacionando os estádios de desenvolvimento libidinal descritos por Freud com o surgimento do sentimento de identidade, ao passo que a teoria dos objetos avançou enfatizando que a criança se desenvolve pela necessidade que tem dos objetos e pelo constante envolvimento com estes. É como se Freud tivesse fornecido os verbos para uma psicologia humana, e a psicologia do ego e a teoria dos objetos — ambas sentindo que a oração estava incompleta — se tivessem concentrado em fornecer lespectivamente o sujeito e o objeto. A notável confluência do que são, histórica e mesmo geograficamente, correntes de pensamento bastante diferentes, é exemplificada pelas semelhanças que podem ser encontradas nos trabalhos de Erik Erikson, analista americano formado em Viena, e nos de D.W. Winnicott, formado na Grã-Bretanha. A segunda elaboração das teorias de Freud, que exige menção, consiste no surgimento da depressão como conceito analítico central. Esta elaboração é secundária à que acabamos de mencionar, já que se baseia no reconhecimento de que a separação dos objetos (a perda de genitores, por exemplo) na tenra infância e na infância posterior conduz não apenas à ansieídade e à privação, mas também ao luto e ao pesar, processos a cuja respeito todos os analistas, desde Freud (1917) e Abraham (1912), concordaram que são os análogos normais da depressão patológica. Aqui, mais uma vez, escolas diferentes vieram dar na mesma conclusão por caminhos diferentes; 1 os kleinianos a ela chegaram aplicando ao desenvolvimento normal conceitos derivados do estudo de estados depressivos, âo passo que Bowlby e Spitz a alcançaram através de estudos de acompanhamento de crianças que se sabia terem sofrido falta de cuidados maternos durante a infância e pela 29
observação direta de crianças em orfanatos e hospitais. O leitor, contudo, é advertido de que duas teorias incompatíveis sobre a origem e a importância da depressão podem ser encontradas na lituratura psicanalítica: a escola kleiniana atribui a predisposição à depressão ao medo do bebe de que seus impulsos destrutivos inatos possam destruir o objeto (isto é, a mãe) do qual depende, ao passo que analistas de outras escolas a atribuem à experiência concreta de separação da mãe sofrida pela criança e pelo bebê.
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A AB-REAÇÃO DESCARGA D E EMOÇÃO ligada a uma experiência previamente reprimida (v. REPRESSÃO). NOS primórdios da psicanálise, sustentava-se que a ab-reação era terapêutica em si mesma, independentemente de o paciente compreender ou não o significado da experiência reprimida. V. Freud (1895). V. COMPREENSÃO INTERNA.
ABSTINÊNCIA Uma das regras da técnica psicanalítica é a chamada regra da abstinência, embora não esteja claro do que se deve fazer o paciente abster-se. Em Freud (1915), a frase 'o tratamento deve ser conduzido em abstinência' refere-se especificamente ao fato de que 'a técnica analítica requer do médico que negue ao paciente, que está ansiando por amor, a satisfação que exige'. Em Freud (1919), contudo, uma frase quase idêntica refere-se à necessidade de assegurar que o sofrimento do paciente não seja aliviado com demasiada rapidez. 'Se, devido aos sintomas terem sido dissolvidos e perdido seu valor, o sofrimento dele me mitiga, devemos restabelecê-lo alhures, sob a forma de uma apreciável privação; de outro modo, corremos o perigo de jamais alcançar quaisquer melhorias, exceto algumas muito insignificantes e transitórias.' A idéia de que a abstinência sexual por si mesma causa ANSIEDADE e NEUROSE só ocorre nos primeiros artigos de Freud. ACELERAÇÃO PSICOMOTORA Termo psiquiátrico para designar a aceleração de pensamento e ação que ocorre na MANIA.
ACESSÍVEL E INACESSÍVEL Diz-se que um paciente é acessível se o psiquiatra ou analista consegue estabelecer RAPPORT ou relação com ele, e inacessível, se fracassa nisso. O 31
ACT-ADA
termo é pseudo-objetivo, pois supõe que a capacidade de rapport é uma constante, idêntica em todo médico que examine. Em geral, os NEURÓTICOS são considerados como acessíveis e os PSICÓTICOS, como inacessíveis. ACTING OUT v. ATUAÇÃO. ADAPTAÇÃO Esse termo quase sempre se refere à adaptação ao M E I O A M B I E N T E como um todo, isto é, à capacidade de discriminar entre imagens subjetivas (FANTASIA) e objetos externos da percepção (v. PERCEPÇÃO), e à capacidade de agir efetivamente sobre o meio ambiente. De uma vez que a TEORIA CLÁSSICA supõe que o bebé satisfaz seus desejos por uma REALIZAÇÃO D E DESEJOS alucinatória (v. também A L U C I NAÇÃO) e que não possui EGO OU estrutura mental, a adaptação tende a ser encarada como uma função imposta ao indivíduo em desenvolvimento a partir de fora, como resultado de sua experiência da FRUSTAÇÃO. Para a opinião alternativa, a de que o bebé inicia a vida já adaptado ao meio ambiente que provavelmente irá encontrar, e a de que sua adaptação aumenta em complexidade na medida em que amadurece e adquire experiência, v. Fairbairn (1952), Winnicott (1958), Hartmann (1958). v. M E I O A M B I E N T E ; M E I O A M B I E N T E E X P E C T Á V E L MÉDIO; MÃE NORMAL DEDICADA; ADAPTAÇÃO ALOPLÁSTICA E AUTOPLÁSTICA.
ADAPTAÇÃO ALOPLÁSTICA E AUTOPLÁSTICA Termos introduzidos por F. Alexander (1930) para distinguir entre as reações adaptativas que alteram o M E I O A M B I E N T E e as que alteram o eu. Mecanismos de DEFESA, tais como os utilizados nas PSICONEUROSES, constituem exemplos clássicos de ADAPTAÇÃO autoplástica. ADAPTAÇÃO A REALIDADE Processo de adaptar-se ao M E I O A M B I E N T E externo. Para a força dada a esse conceito pela suposição da TEORIA CLÁSSICA de que o bebé é totalmente mal adaptado e obedece ao PRINCÍPIO D E PRAZER, sem referência à REALIDADE externa, v. ADAPTAÇÃO. 32
ADLAGA
ADLERIANO 1. Seguidor de Alfred Adler (1870-1937), um dos primeiros discípulos de Freud, que dele se separou e fundou seu próprio movimento em 1911. 2. Adjetivo referente às idéias por ele formuladas, v. COMPLEXO D E INFERIORIDADE; PROTESTO MASCULINO.
ADULTOMÓRFICO A falácia adultomórfica consiste em atribuir a bebés e a crianças pequenas pensamentos e sentimentos que um adulto teria sob condições análogas. A referência é feita geralmente a teorias sobre a psicologia de bebés, as quais o comentarista acredita que superestimam o nível de DESENVOLVIMENTO deles. AFANES IA Termo criado por Jones (1948) para descrever o terror extremo de perder toda a capacidade para o PRAZER. AFERENTE Adjetivo qualificativo dos nervos que conduzem IMPULSOS, mensagens, em direção ao centro, em contraste com os nervos E F E R E N T E S , que os transportam do centro para a periferia. AFETO Termo geral para designar sentimentos e EMOÇÕES. Não existe uma teoria psicanalítica dos afetos completamente aceita, mas faz-se distinção entre afetos de descarga, que acompanham a expressão de um impulso, e afetos de tensão, que acompanham o represamento de um impulso. Considera-se que os afetos estão ligados a idéias, e não o contrário. Os conceitos afeto e emoção diferem em que, enquanto o primeiro os considera como ligados a idéias, o último os considera como experiências independentes válidas. V. Glover, E. (1939), Brierley (1951) e Rapaport (1953). AFONIA Incapacidade de proferir sons. Quando PSICOGÊNICA, é um sintoma de CONVERSÃO HISTÉRICA. ÁGAPE (gr.: amor fraternal) Às vezes empregado em conjunção com EROS, para contrastar o AMOR altruístico (caritas) com o amor sensual. 33
AGE-AGR
AGENTE Muitos dos aspectos mais enigmáticos da teoria psicanalítica advêm do fato de que uma de suas premissas básicas, o DETERMINISMO PSÍQUICO, nega implicitamente a possibilidade de que os seres humanos possam ser agentes que tomem decisões e sejam responsáveis por suas próprias ações. Por conseguinte, temos não apenas enigmas gerais sobre as relações das teorias causais (ver CAUSALIDADE) do comportamento humano com conceitos morais e jurídicos, mas também enigmas psicanalíticos específicos, tais como: (a) Qual a significação que pode ser dada a atos de decidir, escolher, etc, se esses atos já estão predeterminados por forças inconscientes (v INCONSCIENTE)? (b) Quem ou o que inicia uma DEFESA? ( C ) Se o EGO é construído por INTROJEÇÃO, quem ou o que introjeta os introjetos iniciais? Para algumas das dificuldades envolvidas nas teorias causais aplicadas, oriundas da física e da química, ao comportamento de organismos vivos capazes de CONSCIÊNCIA, v. Szasz (1961), Home (1966), Rycroft (1966). V. também
CRIATIVIDADE; SIGNIFICADO.
AGITADO DEPRESSÃO e MELANCOLIA agitadas são termos diagnósticos PSIQUIÁTRICOS relativos a pacientes que estão ao mesmo tempo profundamente deprimidos e tensos, inquietos e ansiosos. AGORAFOBIA Forma de FOBIA em que o paciente evita os espaços abertos e se torna ansioso (v, ANSIEDADE) quando se defronta com um deles. AGRESSÃO
V. AGRESSIVIDADE.
AGRESSIVIDADE Força, INSTINTO ou princípio hipotético imaginado como acionando uma gama de atos e sentimentos. É frequentemente considerada como antitética a SEXO ou LIBIDO, caso em que é utilizada para referir impulsos destrutivos. Mesmo quando empregada como sinonimo de destrutividade, há controvérsia quanto a saber se ela é um impulso primário, isto é, se existe um instinto destrutivo, agressivo, ou se se trata de uma reação à FRUSTRAÇÃO. AS opiniões também divergem quanto a saber se é um instinto, com seus objetivos próprios, ou se 34
ALG-ALU
fornece a ENERGIA que capacita o EGO a superar obstáculos no caminho da satisfação de outros impulsos. A tendência quase universal dos analistas a equacionar AGRESSIVIDADE com ÓDIO, destrutividade e SADISMO choca-se tanto com sua etimologia (ad-gradior: movimento-me para a frente) quanto com seu significado tradicional de dinamismo, auto-afirmatividade, expansividade, impulso. O emprego psicanalítico advém dos últimos trabalhos de Freud, nos quais ele concebeu a agressividade como sendo um derivado do INSTINTO D E MORTE, A PSICOLOGIA DO EGO utiliza agressificação e desagressificação como hom gos de libidinização e deslibidinização. Para a biologia do com portamento agressivo, v. Lorenz (1966). ALGOLAGNIA
Fruição do SOFRIMENTO, prazer com o
SO-
FRIMENTO.
ALIENAÇÃO O estado de ser, ou o processo de tornar-se, alheio, seja (a) a si mesmo ou a partes de si mesmo, ou (b) aos outros. A psicanálise freudiana tende a interessar-se por (a); o EXISTENCIALISMO e o marxismo, por (b). Contudo, de uma vez que a auto-alienação limita a capacidade de relacionar-se com os outros e a alienação aos outros limita a capacidade de descobrir-se a si mesmo, (a) e (b) são interdependentes. ALIENISTA
Designação obsoleta de
ALOPLÁSTICO
V. ADAPTAÇÃO
PSIQUIATRA.
ALOPLÁSTICA E AUTOPLÁS-
TICA.
ALUCINAÇÃO 'PERCEPÇÃO aparente de um objeto externo que não está realmente presente' (O.E.D.). Imagem subjetiva que o paciente experimenta como fenómeno externo. Devido ao fracasso no ' T E S T E DA REALIDADE' envolvido na alucinação, ela tende a ser encarada como PSICÓTICA, embora nem sempre seja assim. Podem ocorrer alucinações em consequência de febre, doença cerebral, drogas e privação sensorial, assim como por motivos psicóticos. Podem ocorrer alucinações de todos os 35
AMB-AMO
sentidos, as táteis sendo conhecidas como 'HÁPTICAS. Os são as alucinações da pessoa normal.
SO-
NHOS
AMBIENTE
v. M E I O
AMBIENTE.
AMBIVALÊNCIA Termo introduzido por Eugen Bleuler para descrever a coexistência de IMPULSOS e EMOÇÕES contraditórios em relação ao mesmo objeto. Em geral, o termo se refere à coexistência de AMOR e ÓDIO. A ambivalência deve ser distinguida da posse de sentimentos mistos a respeito de alguém. Refere-se a uma atitude emocional subjacente em que as atitudes contraditórias se originam de uma fonte comum e são interdependentes, ao passo que os sentimentos mistos podem basearse numa avaliação realista da natureza imperfeita do objeto. Embora seja engendrada por todo CONFLITO neurótico, a ambivalência é mais facilmente observada na NEUROSE OBSESSIVA, em que se tenta equilibrar os dois lados da ambivalência na CONSCIÊNCIA; nas outras neuroses, um ou outro lado geralmente é reprimido (v. R E P R E S S Ã O ) . AMNÉSIA Perda da capacidade de recordar. A amnésia infantil é a perda das lembranças da infância e INFANTIS. A amnésia histérica constitui sintoma neurótico em que o paciente se queixa de perda de memória, geralmente com relação a um período circunscrito de tempo. AMOR Os psicanalistas encontram tanta dificuldade quanto as outras pessoas para definir conceito tão multiforme. Aparece na literatura como: (a) EROS, força ou princípio personificados; (b) INSTINTO ou grupo de instintos sujeito a entrar em CONF L I T O , quer com os instintos autopreservativos (v. A U T O P R E SERVAÇÃO), quer com os destrutivos; (c) A F E T O mais frequentemente contrastado com ÓDIO do que com MEDO; (d) capacidade ou função sujeita a INIBIÇÃO, PERVERSÃO e SUBLIMAÇÃO, A TEORIA DOS INSTINTOS presume que, em última análise, todas as formas de amar são derivadas do instinto e que sua função é proporcionar SATISFAÇÃO instintual; a TEORIA DOS O B J E T O S presume que todas elas constituem manifestações da necessidade de relacionar-se com objetos. A distinção entre o amor que re36
ANA
conhece as necessidades e a realidade da outra pessoa e o que nisso fracassa, é geralmente efetuada pelo contraste entre o AMOR O B J E T A L e o amor I N F A N T I L ou dependente (v. D E P E N DÊNCIA). Objeto amoroso é o objeto a quem o indivíduo ama, em contraste com (a) o objeto que ele odeia ou a que é indiferente, ou (b) o objeto que satisfaz necessidades. O amor edipiano é o amor por um dos pais ou substituto dos pais. O amor genital não constitui sinonimo de desejo sexual; é a forma de amor de que é capaz uma pessoa que atingiu o N Í V E L GENITAL.
ANACL1TICO (literalmente: que se apoia em) Freud (1914) distinguiu dois tipos de ESCOLHA D E O B J E T O : narcísica e anaclítica. A escolha de objeto narcísica (v. também NARCISISMO) ocorre quando uma pessoa escolhe um objeto com base em alguma semelhança real ou imaginada com ela própria, ao passo que a escolha de objeto anaclítica ocorre quando a escolha se baseia no padrão de uma DEPENDÊNCIA de infância de alguém diferente de si próprio. Segundo essa formulação, o HOMOSSEXUALISMO é narcísico, ao passo que o HETEROSSEXUALISMO é anaclítico. Isso implica que o homem redescobre uma mãe, e a mulher, um pai. Alternativamente — já que Freud considerou que a dependência infantil era uma manifestação do instinto autopreservativo (v. AUTOPRESERVAÇÃO) — , na escolha de objeto anaclítico a escolha sexual segue um caminho estabelecido por aquele instinto. V. também DEPRESSÃO anaclítica. ANAL-CARÁTER v. CARÁTER ANAL. ANAL-ERÓTICO
v.
EROTISMO ANAL.
ANAL-SÁDICO v. SADISMO ANAL. ANALISANDO Pessoa que está sendo analisada. A palavra deve a pequena circulação que possa ter ao fato de tornar possível evitar chamar de pacientes os candidatos a analista. 37
ANA
ANÁLISE DIDÁTICA Tratamento psicanalítico de pessoas que se estão preparando para se tornarem psicanalistas, em oposição à análise terapêutica de pacientes. ANÁLISE DIRETA Forma de PSICOTERAPIA defendida por Rosen (1953), em que o terapeuta ignora a qualidade 'como se' dos fenómenos da TRANSFERÊNCIA e afirma que é o pai, a mãe do paciente, etc. Originalmente proposta para a psicoterapia
das
PSICOSES.
ANÁLISE INFANTIL Psicanálise de crianças. Difere tecnicamente da análise de adultos porque o BRINQUEDO OU O JOGO substituem a ASSOCIAÇÃO L I V R E . Difere teoricamente porque os pais e os substitutos dos pais são ainda figuras externas concretas, reais na vida do paciente, e porque a DEPENDÊNCIA deles constitui um fato social e biológico, não um sintoma neurótico. Difere moralmente porque o relacionamento entre analista e paciente não é um relacionamento entre adultos que nele consentem; a decisão de se submeter a tratamento é tomada não pelo paciente, mas por seus pais. De acordo com Anna Freud, a dependência real que a criança tem dos pais torna necessárias modificações na técnica; segundo Melanie Klein, não. V. A. Freud (1962), Klein (1932). ANALISTA LEIGO PSICANALISTA não qualificado como médico. Embora na maioria dos países, à exceção da Inglaterra, a clínica psicanalítica esteja limitada aos membros da profissão médica, era opinião de Freud que a psicanálise deveria tornar-se uma profissão independente da medicina, 'uma profissão de pessoas leigas que curam almas, que não necessitam de ser médicos e que não devem ser sacerdotes'. Essa citação é excepcional porque 'leigo', aqui, significa 'não-clerical' e não 'não-médico'. ANAMNESE Termo médico para designar a história de uma doença tal como é fornecida pelo paciente em consulta, ou seja, sua rememoração do passado pertinente a seu caso. 38
ANE-ANS
ANEDONIA zer.
Ausência da capacidade de experimentar pra-
ANIMA, ANIMUS Termos JUNGUIANOS que descrevem a imagem Teminina inconsciente nos homens e a imagem masculina inconsciente nas mulheres. ANOREXIA Ausência de apetite. Anorexia nervosa: ausência PSICOGÊNICA de apetite, grave o suficiente para ameaçar a saúde ou a vida. ANORMAL
v. NORMA,
NORMAL E ANORMAL.
ANSIEDADE A definição usual de ansiedade como medo irracional aplica-se estritamente apenas à ansiedade fóbica (v. FOBIA), provocada por objetos e situações, tais como espaços abertos (ansiedade agorajóbica), espaços fechados (ansiedade claustro]óbica), alturas, aranhas, cobras, trovões, viagens, multidões, estranhos, etc, a tal ponto que está fora de qualquer proporção com seu perigo real. Ê mais bem definida copo reação a algum fator ainda não reconhecido, seja no M E I O A M B I E N T E seja no E U ( S E L F ) , e pode ser suscitada por alterações no M E I O A M B I E N T E ou por instigação de forças reprimidas (v. REPRESSÃO) INCONSCIENTES no eu (self). A psicanálise interessa-se principalmente pela última. Freud formulou três teorias da ansiedade. A primeira foi a de que se tratava de uma manifestação da LIBIDO reprimida; a segunda, a de que representava uma repetição da experiência do nascimento (1915), ao passo que a terceira, que pode ser considerada como a definitiva teoria psicanalítica da ansiedade, afirma que existem dufs formas: a ansiedade primária e a ansiedade sinalizadora. Ambas constituem reações do EGO a aumentos de TENSÃO instintual ou emocional (v. também INSTINTO e E M O ÇÃO), Sendo a ANSIEDADE SINALIZADORA um mecanismo de alerta que previne o ego de uma ameaça iminente a seu equilíbrio, ènquanto que a ANSIEDADE PRIMÁRIA é a emoção que acompaínha a dissolução do ego. A função da ansiedade sinalizadora consiste em assegurar que a ansiedade primária jamais seja experimentada, capacitando o ego a instituir precauções de39
ANS
fensivas (v. D E F E S A ) , e pode ser considerada como uma forma de VIGILÂNCIA dirigida para dentro. A ansiedade primária representa um fracasso da defesa e ocorre nos PESADELOS. Ver Freud (1926), Hoch e Zubin (1950), Rycroft (1968), Rosenberg (1949). Outras formas de ansiedade descritas na literatura são: (a) a ansiedade de castração, provocada por ameaças reais ou imaginadas à função sexual; (b) a ansiedade de separação, provocada pela ameaça de separação de O B J E T O S concebidos como essenciais à sobrevivência; (c) a ansiedade depressiva, provocada pelo medo da própria hostilidade para com 'objetos BONS'; (d) a ansiedade paranóide (persecutória), provocad pelo medo de ser atacado por 'objetos MAUS'; (e) a ansiedade objetiva, medo provocado por um perigo externo, real; (f) a ansiedade neurótica, termo que abrange todas as formas anteriores, à exceção de (e), ou (a) e (b) em contraste com (c) e (d), que são abrangidas por (g); (g) a ansiedade psicótica, a qual, contudo, às vezes se refere a ameaças à IDENTIDADE. V. também menções independentes em CASTRAÇÃO, SEPARAÇÃO, DEPRESSIVO, POSIÇÃO ESQUIZO-PARANÓIDE, PSICÓTICO.
ANSIEDADE DE CASTRAÇÃO OU ANSIEDADE CASTRATÓRIA V. CASTRAÇÃO, ANSIEDADE D E CASTRAÇÃO. ANSIEDADE DE SEPARAÇÃO ANSIEDADE sentida por estar (ante a perspectiva de ser) separado de alguém que se acredita ser necessário à própria sobrevivência. A ansiedade de separação pode ser objetiva, tal como ocorre na infância ou com adultos inválidos, ou neurótica, quando a presença de outra pessoa é utilizada como D E F E S A contra alguma outra forma de ansiedade. Em ambos os casos, dois fatores estão em jogo: pavor de algum perigo não especificado, proveniente do exterior ou de TENSÃO interna crescente, e pavor de perder o objeto que se acredita ser capaz de proteger ou aliviar. A TEORIA DOS INSTINTOS tende a dar ênfase às vinculações existentes entre a ansiedade de separação e a tensão instintual; a TEORIA DOS O B J E T O S realça o pavor de perder contacto com os objetos. 40
ANS-ANU
ANSIEDADE PARANÓIDE Pavor de ser atacado por internos, internos projetados (v. PROJEÇÃO) OU externos. Quando utilizada em sentido estrito, KLEINIANO, refere-se à ANSIEDADE que se infere como sendo resultado do fato de o paciente projetar para objetos os seus próprios impulsos (auto-) destrutivos negados, v. POSIÇÃO ESQUIZO-PARANÓIDE.
O B J E T O S 'MAUS',
ANSIEDADE PSICÓTICA Termo utilizado principalmente por analistas KLEINIANOS para referir-se à ANSIEDADE DEPRESSIVA e PARANÓIDE (persecutória). Essas duas formas são consideradas 'psicóticas' com base em dois fundamentos: (a) sustentase que se originam de níveis da personalidade e estádios do DESENVOLVIMENTO nos quais as PSICOSES também se originam, isto é, a POSIÇÃO DEPRESSIVA e a POSIÇÃO ESQUIZO-PARANÓIDE, e (b) o pavor é de aniquilação total. Quando não-kleinianos utilizam a expressão, ê provável que se refiram ao pavor da perda de IDENTIDADE. ANSIEDADE SINALIZADORA Uma das duas formas de ANSIEDADE descritas por Freud (1926) em sua terceira e última teoria da ansiedade; a outra forma é a ANSIEDADE PRIMÁRIA (ou automática). Na formulação de Freud, trata-se da reação do EGO ao perigo interno e o estímulo para a formação e a utilização de mecanismos de DEFESA. Na linguagem comum, é aquela forma de apreensão que alerta o indivíduo para mudanças internas que poderiam perturbar sua serenidade e que, por exemplo, normalmente o despertam antes que um SONHO possa transformar-se em PESADELO. Pode ser encarada como forma de VIGILÂNCIA voltada para dentro, o perscrutador estado de alerta que impede que seja tomado de surpresa por alterações em seu meio-ambiente. ANULAÇÃO (AL: ungeschehenmachen — fazer alguma coisa 'desacontecer') Mecanismo de D E F E S A através do qual o indivíduo procede como se algum pensamento ou ação anteriores não tivessem ocorrido. 'É, por assim dizer, uma magia negativa, e esfotça-se (...) por "dissipar" não só as consequências de algum evento (ou experiência ou impressão), mas o próprio evento (...) Na neurose obsessiva, a técnica (...) é 41
APA
encontrada primeiro nos sintomas "difásicos", em que determinada ação é cancelada pela segunda, de maneira que é como se nenhuma delas se tivesse efetuado, ao passo que, na realidade, ambas se efetuaram' (Freud, 1926). A anulação ocorre, tipicamente, nos rituais obsessivos, v. NEUROSE OBSESSIVA; ONIPOTÊNCIA; R I T U A L .
APARELHO MENTAL
v. APARELHO
PSÍQUICO.
APARELHO PSÍQUICO Conceito central da METAPSICOLOGIA freudiana. 'Presumimos que a vida mental é a função de um aparelho ao qual atribuímos as características de ser disposto especialmente e constituído de diversas partes [a saber, ID, EGO e SUPEREGO]' (Freud, 1940). As formulações que localizam a atividade mental em alguma parte do aparelho são denominadas TOPOGRÁFICAS; as que o definem em função da ação recíproca de suas partes ou de mudanças em sua forma são ESTRUTURAIS, ao passo que aquelas que postulam o movimento da ENERGIA dentro dele são chamadas de ECONÓMICAS. Os psicanalistas diferem nitidamente em sua atitude para com o aparelho psíquico, alguns alegrando-se com ele e outros achando-o um estorvo. Os primeiros encararam-no como o conceito que justifica a reivindicação da psicanálise de ser uma CIÊNCIA objetiva e impessoal tão exata e precisa em suas formulações quanto disciplinas mais antigas e mais bem estabelecidas; os últimos acham que ele elimina a pessoa e, portanto, alcança a objetividade pagando o preço de ignorar seu próprio tema principal, A TEORIA CLÁSSICA e a PSICOLOGIA DO EGO utilizam o conceito; a TEORIA DOS O B J E T O S O rejeita, tentando ao mesmo tempo salvar dele várias idéias classicamente formuladas em função do mesmo; o EXISTENCIALISMO O utiliza como ponto de partida de suas críticas à psicanálise. Para as próprias formulações freudianas, v. Freud (1900, 1917, 1940). Para um tratamento refinado do conceito, v. Rapaport (1951). Para uma crítica benévola do mesmo, v. Brierley (1951). Para sua rejeição completa, v. Guntrip (1961). Dever-se-ia talvez acrescentar que Freud foi sistematicamente claro quanto ao fato de o conceito constituir uma FICÇÃO, V. TEORIA DOS INSTINTOS E 42
APA-ASS TEORIA DOS O B J E T O S ; ONTOLOGIA; PROCESSUAL; FENOMENOLOGIA.
PERSONOLOGIA;
TEORIA
APATIA Ausência de toda e qualquer EMOÇÃO. Deve ser distinguida do DESESPERO, que é a perda da esperança, e do TÉDIO, oue se deve ao bloqueio da atividade expressiva, por motivos externos ou neuróticos. Segundo Greenson (1949), a apatia pode ser uma defesa preservadora da vida em situações extremas; colocando-se a mente, por assim dizer, em ponto neutro, pode-se evitar tanto o desespero quanto a exaustão que se segue à esperança injustificada. V. também Fenichel (1954). APETITIVO Adj. referente a desejo ou apetite. Ocasionalmente utilizado como antônimo de cognitivo. APRENDIZAGEM, TEORIA DA
v.
TEORIA DA APRENDI-
ZAGEM.
ÁREA DO EGO LIVRE DE CONFLITOS Formulação TOPOGRÁFICA segundo a qual as funções que não estão sujeitas a distúrbios pelo CONFLITO neurótico são imaginadas como ocupando uma área do ego. v. AUTONOMIA; E G O ; PSICOLOGIA DO EGO.
ARQUÉTIPO Termo JUNGUIANO para designar o conteúdo do inconsciente coletivo, isto é para idéias inatas ou a tendência a organizar a experiência em padrões inatamente predeterminados. ASSASSINATO DO CARÁTER Termo utilizado por Leslie Farber (1967) a fim de descrever o mau emprego da teoria psicanalítica para rebaixar o caráter e contestar motivos. Isto se faz |(a) pela interpretação do comportamento em função de motivos INFANTIS, sem referência às modificações destes produzidas pela SUBLIMAÇÃO, educação, refinamento, etc; (b) rotulando traços de caráter e relacionando-os com qualquer condição psiquiátrica que os apresente sob forma caricatural. A jprimeira técnica consiste tipicamente em interpretar o comportamento invejado (v. I N V E J A ) como DEFESA, sem con43
ASS
ceder à vítima o crédito de ter dominado o IMPULSO primitivo pela construção da defesa. Isso torna possível interpretar a bondade, a consideração e a delicadeza como FORMAÇÕES R E A TIVAS contra o sadismo, e a eficiência, a ordem e a limpeza como formações reativas contra a analidade (v. A N A L ) . A segunda técnica torna possível designar todas as qualidades mencionadas na frase anterior como obsessivas (v. OBSESSÃO); descrever a animação e a vitalidade como MANÍACAS; a capacidade de objetividade e imparcialidade como ESQUIZÓIDE; O ser observador como PARANÓIDE, e a espontaneidade e a emocionalidade como HISTÉRICAS. Embora os motivos subjacentes a esse abuso da psicanálise sejam a inveja, o ódio e a malícia, ele se torna possível porque — e apesar de a psicanálise reivindicar ser uma psicologia geral, capaz de explicar todos os aspectos da natureza humana — seus dados derivam da patologia. Em consequência dessas contradições, conceitos e sistemas classificatórios pertencentes ao consultório são facilmente aplicados, sem modificação, fora dele. As dificuldades para evitar o assassinato do caráter são claramente demonstradas pelos estudos psicanalíticos sobre artistas e personagens históricas; por exemplo, Freud e o estudo de Wilson feito por Bullitt (1967). v. PATOBIOGRAFIA.
ASSOCIAÇÃO LIVRE Tradução equivocada de Brill da 'freier EinfalV, de Freud, versão que, no entanto, se tornou o termo aceito em inglês. * Einfall significa 'irrupção', 'idéia repentina', e não 'associação', e o conceito refere-se a idéias que nos ocorrem espontaneamente, sem esforço. Quando utilizada como termo técnico, associação livre descreve o modo de pensar incentivado no paciente pela recomendação do analista de que deve obedecer à 'REGRA BÁSICA', isto é, comunicar seus pensamentos sem reserva e não tentar concentrar-se enquanto assim procede. A técnica da associação livre apóia-se em três suposições: (a) que todas as sequências de pensamento tendem a conduzir ao que é significante; (b) que as necessidades terapêuticas do paciente e o conhecimento de que está * E em outras línguas também. (N. do T.)
44
ATI
5
em tratamento conduzirão suas associações no sentido do que é significante, exceto na medida em que a RESISTÊNCIA operar; (c) que a resistência é minimizada pelo relaxamento e maximizada pela concentração. Foi a adoção, por Freud, da técnica da associação livre que lhe permitiu abandonar a HIPNOSE. A resistência manifesta-se durante as sessões por falhas na capacidade do paciente de associar livremente. Algumas descrições da técnica analítica fazem-na depender inteiramente da associação livre e do resultante surgimento do ' M A T E R I A L ' patogênico pertinente; isso, porém, constitui um exagêro de simplificação, de uma vez que (a) o analista faz INTERPRETAÇÕES e que as elocuções seguintes do paciente são associações à intervenção daquele, e não livres; (b) as intervenções do analista obrigam o paciente a examinar atentamente suas associações livres em IDENTIFICAÇÃO com o analista, isto é, o paciente faz duas coisas simultaneamente, ou em rápida oscilação: associação livre e reflexão. Uma formulação alternativa é que o paciente oscila entre ser o S U J E I T O e o O B J E T O de sua experiência, em determinado momento deixando os pensamentos fluir e, no seguinte, examinando-os. V. também DIVISÃO. ATIVO E PASSIVO Freud fez amplo uso da idéia de que existe i|ma polaridade entre atividade e passividade, com a MASCULINIDADE, a AGRESSIVIDADE, O SADISMO e o VOYEURISMO FEMINILIDADE, SUBMISSÃO, O MASOQUISMO EXIBICIONISMO, T E O R I A CLÁSSICA
sendo ativos, e a a eo passivos. Por conseguinte, existe uma tendência na a equacionar ativo e masculino, passivo e feminino, e a definir a masculinidade em função da capacidade de adotar um papel ativo e a feminilidade em função da capacidade de aceitar (sic) o papel passivo, bem como a encarar o sadismo como propensão masculina e o masoquismo como propensão feminina. A situação é, porém, complicada pela suposição adicional de que os instintos podem experimentar uma INVERSÃO em seu oposto, particularmente a suposição de que os instintos ativos podem tornarse passivos, sendo o sadismo e o voyeurismo geralmente citados como exemplos de instintos capazes dessa inversão. Ver Freud (1915). 45
m
*
ATO-AUT
A equação, feita por Freud, de passivo e feminino, foi muito criticada, especialmente por analistas do sexo feminino — Horney (1926), Klein (1948) e Payne (1935) —, sendo um exemplo do que Jones chamou de visão FALOCÊNTRICA que Freud tinha das mulheres. Somente Hermann (1935) colocou em questão a equação ativo-masculino. Tentativas de descrever relacionamentos heterossexuais em função de atividade masculina e passividade feminina podem conduzir ao absurdo, tal como quando Deutsch (1946) descreve 'a busca ativa de objetivos passivos' como característica feminina. Existe também uma tendência a supor que as mães são ativas enquanto seus bebés são passivos, e isso. apesar do fato de tanto o mamar quanto o amamentar envolverem atividade. Em ambos os casos, as formulações efetuadas em termos de papéis ativos e passivos supõem que os relacionamentos são mais colisões do que interações, e confundem atividade com início da ação, e passividade com capacidade de reação e receptividade. ATO FALHADO OU FALHO
v.
PARAPRAXIA.
ATUAÇÃO (ACTING OUT) Diz-se que o paciente está atuando se ele se empenha numa atividade que pode ser interpretada como substituto para a recordação de acontecimentos passados. A essência do conceito é a substituição do pensamento pela ação e implica que (a) o IMPULSO que está sendo atuado jamais tenha adquirido representação verbal, ou que (b) o impulso seja intenso demais para ser descarregado em palavras, ou, ainda, que (c) falte ao paciente a capacidade de INIBIÇÃO. De uma vez que a psicanálise é uma 'cura pela fala' realizada em estado de reflexão, a atuação é antiterapêutica. É característica da PSICOPATIA e dos DISTÚRBIOS D E COMPORTAMENTO, reduzindo a acessibilidade dessas condições à psicanálise. AUTÊNTICO E INAUTÊNTICO Termos existenciais (v. EXISTENCIALISMO) empregados para distinguir entre atos que são efetuados em boa e má fé, que são VERDADEIROS E FALSOS para o E U ( S E L F ) . A teoria psicanalítica não dispõe de meios para fazer essa distinção, e tampouco a distinção semelhante, 46
AUT
entre 'siicero' e 'insincero', ainda que a prática psicanalítica em grande parte dependa de que o terapeuta seja capaz de fazê-la. Entretanto, o comportamento inautêntico é normalmente interpretado como defensivo (v. D E F E S A ) , e a implicação disso élque os sentimentos e motivos 'reais' do paciente são outros que não aqueles de que ele mesmo se apercebe, ou, alternativamente, que ele foi insincero para evitar defrontar-se com algum aspecto da situação ou de si mesmo que o teria tornado ansioso (v. ANSIEDADE). São obscuros os critérios para decidir se o comportamento que se baseia em IDENTIFICAÇÕES é autêntico, ainda que aquele que se baseia numa identificação com um objeto amado tenha mais probabilidade de ser autêntico do que aquele que se fundamenta numa identificação com um objeto odiado ou temido. AUTISMO (literalmente, orientado para si mesmo) O pensar autista constitui um pensamento determinado unicamente pelos desejos e FANTASIAS do indivíduo, sem referência ao M E I O A M B I E N T E ou a considerações realistas (v. R E A L ) de espaço e tempo. O autismo infantil é uma PSICOSE da infância na qual falta ao paciente qualquer capacidade para confiar em alguém ou comunicar a alguém o que quer que seja; ele é mudo ou apresenta distúrbios complexos da fala, e seria diagnosticado como mentalmente deficiente, não fosse sua habilidade em manejar objetos inanimados. Não poucos psiquiatras, talvez a maioria, acreditam que se trata de doença orgânica herdada, mas v. 3ett Bettelheim (1967), para uma interpretação psicanalítica radical. AUTISTA
V. AUTISMO.
AUTO-ERÓTICO v. AUTO-EROTISMO. AUTO-EROTISMO Refere-se quer à atividade prazerosa em que o eu (self) é utilizado como objeto (a MASTURBAÇÃO, o chupar o polegar, por exemplo), quer a uma atitude, orientação ou estádio de DESENVOLVIMENTO LIBIDINAL. NO primeiro caso, as palavras são objetivamente empregadas para descrever um comportamento observável; no último, são, por inferência, 47
AUT-BEL
usadas para descrever uma hipótese a respeito do desprezo pelos objetos externos por parte do paciente ou do bebê. Segundo a TEORIA DOS INSTINTOS clássica, o bebê é auto-eroticamente orientado, isto é, sua atitude para com a MÃE baseia-se unicamente no amor de si mesmo, e sua necessidade dela, na capacidade desta de lhe proporcionar gratificação. Quando utilizado nesse sentido, auto-erótico é sinonimo de narcísico (v. NARCISISMO), A TEORIA DOS O B J E T O S opõe-se à idéia de uma fase auto-erótica na infância e assume o ponto de vista de que o bebê se relaciona com a mãe desde o início, e de que, para citar Fairbairn (1952), ele é 'buscador de objetos, não buscador de prazer'. Segundo esse ponto de vista, o comportamento auto-erótico é substitutivo, o indivíduo utilizando uma parte de si mesmo como equivalente simbólico de outra pessoa.
AUTONOMIA E HETERONOMIA A distinção de Piaget entre a heteronomia dos bebés e a autonomia dos adultos fazse, em psicanálise, pelo contraste entre a dependência I N F A N T I L e a independência adulta. A dependência neurótica constitui uma situação em que um adulto autónomo se imagina como heterônomo. 'Autonomia versus Vergonha e Dúvida' é expressão usada por Erikson (1963) para designar o segundo de seus oito ESTÁDIOS HUMANOS. Corresponde aproximadamente ao ESTÁDIO ANAL da TEORIA CLÁSSICA, com o controle dos E S F I N C T E R E S assinalando a consecução da autonomia. AUTOPLÁSTICO
v. ADAPTAÇÃO
ALOPLÁSTICA E AUTOPLÁS-
TICA.
B BELLE INDIFFERENCE Termo diagnóstico psiquiátrico que descreve a indiferença com que os pacientes HISTÉRICOS frequentemente parecem encarar os sintomas de conversão (v. 48
BIS-BOM HISTERIA DE CONVERSÃO), os quais, por sua aparência, deveriam s4r extremamente aflitivos.
BISSEXUAL v. BISSEXUALIDADE. BISSEXUALIDADE Apenas ocasionalmente se refere a pessoas que são bissexuais no sentido de se entregarem tanto a relações heterossexuais quanto homossexuais, designando geralmente a presença de atributos e atitudes psicológicas MASCULINAS E FEMININAS numa só pessoa. A teoria psicanalítica sempre jsupôs que todos os seres humanos são, constitucional e psicossexualmente bissexuais. Freud (1890) tomou essa idéia de seu ^migo Fliess; ela foi originalmente justificada por referência aos dados biológicos e anatómicos, os quais sugerem que os |ndivíduos do sexo masculino contêm órgãos femininos vestigiais (e vice-versa). A teoria contemporânea, contudo, tende a explicar a bissexualidade psicossexual por referência ao fato de os filhos se identificarem (em graus variáveis) com ambos os pais (v. IDENTIFICAÇÃO). A teoria da bissexualidade supõe <|ue é possível ligar uma conotação sexual a funções não-sexaais, designar como feminino o comportamento PASSIVO, SUBMISSO, MASOQUISTA, intuitivo e receptivo, e, como masculino, o comportamento ATIVO, afirmativo, SÁDICO, intelectual e penetrante, supondo, ainda, que deslocamentos de atitude implicam em alterações na orientação sexual. O problema da bissexualidade é confundido por preconceitos sociais a respeito dos papéis masculino e feminino. V. Margaret Mead (1935, 1949), para provas referentes à sua variabilidade de uma sociedade para outra. Qualquer análise satisfatória da bissexualidade teria de levar em consideração: (a) fatores biológicos e constitucionais, (b) identificações com os pais e com os ESTEREÓTIPOS sociais, j(c) confusões entre as dicotomias ativo-passivo e masculino-feminino, e (d) a relação dos modos de pensar intuitivo e analítico para com (a) e (b). BOM Quando empregado tecnicamente, 'bom' refere-se a uma classe específica de O B J E T O S INTERNOS, a saber, aqueles concebiáos como benévolos para o indivíduo, em contraste com os) objetos 'MAUS', imaginados como malevolamente dis49
BRI-CAR
postos para com ele. Os dois tipos de objeto, bom e mau, surgem como resultado da DIVISÃO do objeto primário ou original introjetado (v. INTROJEÇÃO), isto é, o indivíduo divide sua concepção do SEIO, da MÃE, do PAI, do PÊNIS, etc, em duas, o seio bom e o seio mau, etc, por esse meio defendendo-se da AMBIVALÊNCIA subsequente caso ele reconhecesse que experimentou SATISFAÇÃO e FRUSTRAÇÃO a partir do objeto e AMOR e ÓDIO para com o mesmo. Embora esse emprego deva sua ampla circulação aos trabalhos de Klein e Fairbairn, suas origens podem ser encontradas nos trabalhos de Freud, Abraham e Rado sobre melancolia. V. também IDEALIZAÇÃO; POSIÇÃO D E P R E S SIVA; POSIÇÃO ESQUIZO-PARANÓIDE; KLEINIANO; PSICOPATOLOGIA REVISTA D E FAIRBAIRN.
BRINQUEDO
v. JOGO
OU BRINQUEDO.
BUSCA DE IDENTIDADE
v.
IDENTIDADE.
c
CARÁTER Nos trabalhos /analíticos, o caráter refere-se geralmente não àqueles atributos de uma pessoa que são mais característicos dela como indivíduo exclusivo, mas sim àqueles que a capacitam a ser classificada em um dos diversos tipos de caráter. Isso se deve ao fato de que certos traços de caráter podem ser interpretados ou como (a) derivados de fases específicas do DESENVOLVIMENTO LIBIDINAL e DO EGO, OU como (b) análogos de SINTOMAS, isto é, como processos defensivos. De (a) derivam-se o caráter oral, o anal, o fálico e o genital. D (b) derivam-se o caráter histérico, o fóbico, o esquizóide e o obsessivo. Daí, neurose de caráter, distúrbio de caráter, do caráter. V. também menções isoladas em ORAL; ANAL; F Á L I C O ; G E N I T A L ; HISTÉRICO; FÓBICO; ESQUIZÓIDE; OBSESSIVO.
50
CAR
CARÁTER, ASSASSINATO DO v. ASSASSINATO
DO CARÁ-
TER.
CARÁTER ANAL Tipo de neurose de CARÁTER que se conclui ser o resultado de uma FIXAÇÃO no ESTÁDIO ANAL. O termo é geralmente utilizado para referir-se a FORMAÇÕES REATIVAS contra d EROTISMO ANAL, em particular à obstinação, ordem e parcimônia COMPULSIVAS; contudo, pode referir-se também a seus contrários, a saber, a submissão, o desleixo e a generosidade compulsivos, v. NEUROSE OBSESSIVA. CARÁTER GENITAL Caráter hipotético ou ideal apresentado por uma pessoa que tenha sido integralmente analisada, resolvido completamente seu COMPLEXO D E ÉDIPO, 'elaborado' (v. ELABORAÇÃO) sua ambivalência pré-genital e alcançado o NÍVEL GENITAL de desenvolvimento PSICOSSEXUAL pós-ambivalente (v. também AMBIVALÊNCIA). Um caráter genital, se tal pessoa existisse, seria totalmente liberto da DEPENDÊNCIA I N F A N T I L p seria distinguível de um CARÁTER FÁLICO pelo fato de dar igual importância à sua própria satisfação e à de seu objeto, pois dar mais importância a esta última do que à sua a revelaria como masoquista (v. MASOQUISMO). Embora exista algo de absurdo a propósito do conceito, que ilustra vividamente as dificuldades inerentes à descrição de fenómenos sadios em termos de uma linguagem enraizada na patologia, ele constitui uma necessidade lógica para qualquer pessoa que considere que a maturidade deva ser definível em função da TEORIA DOS INSTINTOS. Evans (1949) assinalou a estreita semelhança existente entre o ideal analítico do caráter genital e o ideal inglês de um gentleman. V. também GENITALIDADE. CARÁTER OBSESSIVO Pessoa cuja personalidade contém traços que podem ser interpretados como equivalentes a uma NEUROSE OBSESSIVA; que utiliza DEFESAS OBSESSIVAS, mas não possui sintomas obsessivos. A conscienciosidade, a metodicidade, a sopinice, o formalismo, a racionalidade, combinados com a falta indicações sobre as emoções humanas, o respeito mais pela letra que pelo espírito da lei, e pela burocracia mais do que pela realização criadora, estão todos sujeitos a serem 51
CAS
chamados de traços de caráter obessivos. O aspecto comum deles é que o controle é valorizado mais altamente do que a expressividade. A justificativa para chamá-los de obsessivos deriva-se da inferência teórica de que está por trás deles ANSIEDADE a respeito da perda de controle, v. CARÁTER ANAL. CASTRAÇÃO, ANSIEDADE DE CASTRAÇÃO Segundo a TEORIA CLÁSSICA, todos os homens e as crianças do sexo masculino estão sujeitos à ansiedade de castração, embora a natureza exata desse pavor tenha sido submetida tanto à controvérsia quanto à elaboração. O conceito só raramente se refere à castração em seu sentido cirúrgico, anatómico (remoção dos testículos), mas, mais frequentemente, a (a) perda do PÊNIS, tal como nas ameaças de castração utilizadas para intimidar meninos que foram apanhados se masturbando; (b) perda da capacidade para o prazer ERÓTICO; OU ( C ) desmoralização no que se refere ao papel MASCULINO. Embora, por razões óbvias, as mulheres não possam sofrer da ansiedade de castração em seu sentido primário, a teoria clássica afirma que também elas possuem complexo de castração, em consequência do qual se sentem 'castradas', sentem compulsão de provar que possuem um substituto simbólico adequado (v. SÍMBOLO) para o pênis, ou experimentam ansiedade em relação a qualquer órgão ou atividade que, para elas, se tenha tornado um equivalente do pênis. Os próprios trabalhos de Freud a respeito do complexo de castração das mulheres estão impregnados por sua convicção de que as sensações vaginais (v. VAGINA) não ocorrem até a puberdade e que, portanto, as meninas interpretam sua anatomia genital como prova de que lhes falta um pênis. Coube às analistas femininas afirmar que as meninas podem estar cientes de sua feminilidade desde os primeiros dias e assinalar que os meninos podem ser tão invejosos dos poderes reprodutores de suas mães quanto as meninas o são do pênis. v. FEMININO; I N V E J A DO PÊNIS; FALOCÊNTRICO. O conceito de ansiedade de castração levanta a questão de saber quem é o castrador, isto é, se ele tende a ser evocado por homens ou mulheres, e a saber se é ou não internalizado (v. INTERNALIZAÇÃO), isto é, se é evocado por O B J E T O S externos ou internos, A TEORIA DOS O B J E T O S in52
CAS-CAT
clina-se a interpretar a ansiedade de castração como variedade da
ANSIEDADE PERSECUTÓRIA.
CASTRADOR Palavra* frequentemente empregada por analistas, e|n conversação, mas só raramente em formulações teóricas. Refere-se a pessoas que habitualmente solapam a autoconfiança de outros. No primeiro caso, aplica-se a mulheres que padecei^ de I N V E J A DO PÊNIS e, portanto, depreciam os homens oii com eles competem. No segundo, aplica-se a pais que gradualmente prejudicam os filhos homens, mas, por extensão, pode sej utilizada mesmo para referir-se a homens que habitualmente fazem com que as mulheres se sintam sem atrativos ou incompetentes com os próprios filhos. CATARSE (literalmente 'purgação') A referência é geralmente feita não ao purgar pela piedade e pelo terror causado pela tragédia, mas ao efeito terapêutico da AB-REAÇÃO. CATATONIA Forma de ESQUIZOFRENIA caracterizada por períodos de excitação e estupor. CATE24IA NEOLOGISMO inventado pelos tradutores ingleses de Freud para verter o alemão 'Besetzung' (literalmente, 'invesmento') que Freud utilizou para descrever a QUANTIDADE de ENERGIA que se liga a qualquer REPRESENTAÇÃO D E O B J E T O OU a qualquer estrutura mental. Uma catexia é concebida como análoga a uma carga elétrica que pode deslocar-se de determinada estrutura — exceto na medida em que se torna presa —, ou análcga a tropas que podem ser deslocadas de uma posição para odtra. Daí os verbos catexizar, descatexizar e hipercatexizar, cèm o último referindo-se à manobra defensiva (v. DEFESA) de investir em determinado processo a fim de facilitar a REPRESSÃO de outro. Daí também retirada da catexia, para o processo de descatexizar. A catexia objetal refere-se à energia investida em objetos externos, em oposição ao eu. As catexias dolego e do id são ambíguas; referem-se quer a catexias pelo EGO e pelo ID OU do ego e do id. Daí, também, contracatexiaA anticatexia: a energia investida na manutenção da repressão de um processo catexizado. Em sua maioria, os 53
CAU-CHO
enunciados que utilizam a palavra 'catexia' podem ser reformulados em termos de 'interesse', 'SIGNIFICADO' OU 'REALIDADE'. CAUSALIDADE Concepção de que os acontecimentos podem ser explicados como a consequência necessária de acontecimentos anteriores, sendo estes as causas e aqueles, os efeitos. A psicanálise é geralmente considerada uma teoria causal, de uma vez que explica acontecimentos, sintomas, etc. atuais em função das experiências anteriores do indivíduo. Seu costume de explicar acontecimentos mentais CONSCIENTES e atuais em função de forças, motivos, etc, INCONSCIENTES constitui também exemplo da concepção de causalidade, de uma vez que se supõe que a 'causa' inconsciente já se encontrava lá primeiro, e que contém a dinâmica do passado. O conceito formulado por Freud do DETERMINISMO psíquico baseia-se na suposição de que processos inconscientes podem ser causa de processos conscientes, mas não o inverso. Certos aspectos da teoria psicanalítica, principalmente os que têm por centro a I N T E R PRETAÇÃO D E SONHOS e o emprego de SÍMBOLOS, interessam-se pelo SIGNIFICADO e pela gramática do pensar inconsciente e não pela causação. V. Rycroft (1966), Home (1966), Szasz (1961). CENSOR, CENSURA Nas primeiras formulações de Freud, a instância mental responsável pela deformação do SONHO e pela REPRESSÃO era chamada de censor. O censor constitui o antecessor teórico do SUPEREGO. CHOQUE 1. Choque fisiológico: estado de colapso, palidez, queda de pressão sanguínea, etc, que ocorre como reação (imediata) a um trauma corporal (machucadura, ferimento, grande cirurgia, etc). 2. Choque psicológico: reação a uma experiência totalmente inesperada, para a qual o indivíduo não se preparou através da VIGILÂNCIA OU da ANSIEDADE, e que o compele a orientar-se. Choques desagradáveis, de gravidade suficiente para causar sintomas ou, se ocorrem na infância, capazes de perturbar o DESENVOLVIMENTO, são conhecidos como TRAUMAS.
54
CHO-CIU
CHOQUE DE GRANADA
Termo obsoleto para designar
NEUROSE TRAUMÁTICA.
CIÊNCIA Como os críticos da psicanálise (Eysenck, 1965, por exemplo) frequentemente a rejeitam com o motivo de não ser científica, e como psicanalistas ocasionalmente argumentam (Home, 1966, por exemplo) que a psicanálise não é uma ciência, mas uma Humanidade, é preciso indicar que a proposição 'a psicajnálise não é uma ciência' pode ser encarada como verídica ou inverídica, segundo a escolha da definição apropriadafleciência. Se se define ciência de modo a tornar o conhecimento derivado do experimento e da mensuração parte essencial da definição, a psicanálise, evidentemente, não é uma ciência. Mas, se se define ciência em função da tentativa de estabelecer relações causais entre acontecimentos, a questão gira em itorno de acreditar-se ou não que as leis da CAUSALIDADE (DETERMINISMO)podem ser aplicadas a organismos vivos capazes de CONSCIÊNCIA como Freud acreditava, e Home não acreditai Se for definida tal coimo, por exemplo, o CO.D. a define, ou seja, como 'conhecimento sistemático e formulado', a psicaéálise é uma ciência e a questão se transforma na de decidir a que ramo da ciência ela pertence, isto é, se é uma ciência natural, biológica ou moral. V. Rycroft (1966) para a idéia de que a psicanálise constitui uma ponte entre as ciências biológicas e as humanidades, e Szasz (1951) para o ponto de vista de que ela é uma ciência moral. —
CIÚME Difere da I N V E J A pelo fato de envolver três partes — o S U J E I T O , um O B J E T O que o sujeito ama, e uma terceira, que desperta ANSIEDADE no sujeito sobre sua confiança na posse das afeições da segunda parte —, ao passo que a inveja envolve apenas duas partes: o sujeito e um objeto cuja boa sorte ou posses ele inveja. O ciúme se relaciona à posse do outro; a inveja, à comparação do eu com o outro. Segundo McDougall, o ciúmé é uma emoção complexa, implicando a existência do sentimetito de AMOR. É tipicamente provocado pelo triângulo edipiano e faz parte do COMPLEXO D E ÉDIPO. O ciúme patológico, isto é, o ciúme persistente, infundado, delirante (v. também DHLÍRIO) parece ter certa vinculação intrínseca com a 55
CLA-COM
e a PARANÓIA. Segundo Freud (1911), o ciúme e a paranóia são defesas contra a homossexualidade, mas a tendência contemporânea é encarar a paranóia como o membro primário da tríade.
HOMOSSEXUALIDADE
CLAUSTROFOBIA
Medo de espaços fechados. Sintoma da
H I S T E R I A D E ANGÚSTIA OU FOBIA.
COITUS Coito, relação sexual. Daí, coitus interruptus, no qual o indivíduo do sexo masculino se afasta antes da ejaculação; coitus prolongatus, em que o ORGASMO masculino é retardado, e coitus reservatus, no qual ele é evitado. CÓLERA
v. IRA.
'COMO SE', PERSONALIDADE
v. PERSONALIDADE
'COMO
SE'.
COMPLEXO Grupo de idéias e sentimentos conscientes e inconscientes intervinculados, que exercem efeito dinâmico sobre o comportamento. Os COMPLEXOS de CASTRAÇÃO e D E ÉDIPO são os únicos assim denominados na psicanálise freudiana. Os COMPLEXOS D E INFERIORIDADE e superioridade são ADLERIANOS.
COMPLEXO DE ÉDIPO NEGATIVO Forma do COMP L E X O D E ÉDIPO na qual o indivíduo deseja possuir o genitor de seu próprio sexo e encara o do sexo oposto como rival. COMPLEXO DE ÉDIPO, EDIPIANO OU EDIPICO Grupo de idéias e sentimentos em grande parte INCONSCIENTES, que se centralizam em torno do desejo de possuir o genitor do sexo oposto e eliminar o do mesmo sexo. O complexo surge, segundo a TEORIA CLÁSSICA, durante a fase edipiana do D E S E N VOLVIMENTO LIBIDINAL e DO EGO, isto é, entre as idades de três e cinco anos, embora manifestações edipianas possam estar presentes anteriormente — até mesmo, de acordo com Melanie Klein (v. K L E I N I A N O ) , durante o primeiro ano de vida. O complexo recebeu o nome do Édipo mítico, que matou o pai e se 56
COM
casou tom a mãe, sem saber que eram seus pais. Segundo Freud, o complexo de Édipo constitui fenómeno universal, filogeneticámente estabelecido (v. FILOGENÉTICO), responsável por grande parte da C U L P A inconsciente. A solução do complexo de Édipo é tipicamente conseguida pela IDENTIFICAÇÃO com o genitor do mesmo sexo e pela renúncia temporária (parcial) ao genitor! do sexo oposto, que é 'redescoberto' no objeto sexual adulto.) As pessoas fixadas no nível edipiano são fixadas na mãe ou fixadas no pai, e revelam isso ao escolherem parceiros sexuais com semelhanças evidentes com os pais. A rivalidade edipiana com o pai constitui uma das causas da ANSIEDADE D E CASTRAÇÃO.
Freud mencionou pela primeira vez o complexo de Édipo numa carta a seu amigo Fliess, em 1897, e a idéia originou-se da auto-análise que fez após a morte de seu pai. Seu primeiro aparecimento publicado ocorreu em A Interpretação de Sonhos (1900). Permaneceu uma pedra angular da teoria psicanalítica at£, digamos, 1930; desde então, porém, a psicanálise tornouJse cada vez mais voltada para a mãe e interessada no relacionamento pré-edipiano com a mãe. A tendência mod é considerar o complexo de Édipo mais como estrutura psíquica a exigir, ela própria, interpretação em função de conflitos anteriores, do que a fonte primária da própria neurose. Entretanto, mesmo os defensores mais entusiásticos dos sistemas psicopatológicos. (v. PSICOPATOLOGIA) centralizados em torno da MÃE têm de levar em consideração o fato de que as crianças possuem dois genitores; de que, em nossa sociedade pelo menos, elas crescem em estreita proximidade com ambos e se defrontam cdm indícios da vida sexual conjunta deles e com a sua própria exclusão dessa vida. COMPLEXO DE ELECTRA Termo raramente empregado para designar o COMPLEXO DE ÉDIPO das mulheres. COMPLEXO DE INFERIORIDADE Originalmente, termo adleriatio para descrever o grupo de idéias e sentimentos que surgem como reação ao sentimento de inferioridade de órgão. Hoje, :ermo popular para designar o sentimento de inadequação. 57
COM COMPORTAMENTO, DISTÚRBIO DE
v.
DISTÚRBIO D E
COMPORTAMENTO.
COMPORTAMENTO, TERAPIA DO
v. T E R A P I A
DO COM-
PORTAMENTO.
COMPREENSÃO INTERNA (INSIGHT) * 1. Em PSIQUIAcapacidade de apreciar que os próprios distúrbios de pensamento e sentimento são subjetivos e não-válidos. A perda da compreensão interna caracteriza a PSICOSE; sua retenção, a NEUROSE. 2. Em PSICANÁLISE: capacidade de compreender os próprios motivos, de dar-se conta da própria PSICODINÂMICA, de entender o SIGNIFICADO do comportamento simbólico (v. SÍMBOLO). OS analistas distinguem entre a compreensão interna intelectual, ou seja, a capacidade de formular corretamente a própria PSICOPATOLOGIA e dinâmica, e a compreensão interna emocional, isto é, a capacidade de sentir e apreender integral* Um dos termos psicanalíticos cuja tradução tem despertado muitas controvérsias, havendo mesmo profissionais (analistas e tradutores) que, por considerarem que dele inexiste versão vernácula precisa e sucinta, julgam que não deve ser traduzido, mas mantido em sua grafia original ou até mesmo aportuguesado para insaite. Vejamos o seu significado em inglês, segundo (a) o CO .D. e (b) o Webster's New Collegiate Dictionary, respectivamente: a) Penetração com a compreensão (no caráter, em circunstâncias, etc). b) 1. Poder ou ato de penetrar numa situação ou perceber uma situação = penetração; 2. ato de apreender a natureza interna das coisas ou de perceber intuitivamente; sinónimos: v. dis* cernimento. Examinando os sinónimos do discernimento, diz o Webster: '(...)> insight sugere profundidade de discernimento; (...)'. Muitas têm sido as traduções oferecidas para insight (discernimento, compreensão interna, percepção interna, introvisão, etc.) e talvez o ideal fosse empregá-las alternativa e especificamente, segundo o sentido particular da frase original. No entanto, como a natureza deste trabalho exige uma opção, e, além disso, visando a contribuir para a fixação de uma nomenclatura brasileira de termos psicanalíticos, decidiu-se pela acima registrada como título deste verbete, esclarecendo que se considera que percepção interna seria uma escolha tão válida quanto compreensão interna, e que ambas ficariam ainda mais bem designadas se a elas se pospusesse o qualificativo profunda. Assinale-se, finalmente, que se for o caso de traduzir o termo inglês por uma só palavra, a mais próxima será introvisão. (N. do T.)
TRIA:
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COM mente a significação de manifestações 'INCONSCIENTES' e sim-
bólicas. A comprensão interna intelectual é geralmente classificada como DEFESA OBSESSIVA, de uma vez que capacita o indivíduo a compreender e controlar aspectos de si mesmo dos quais permanece alienado (v. ALIENAÇÃO). A compreensão interna emocional, por outro lado, é prova de que se está livre de alienação e de que 'se está em contacto com o inconsciente'. É possível ter compreensão interna no sentido 1 e não possuí-la no sentido 2, isto é, ser são e, no entanto, não dispor de indícios. Embora a compreensão interna, no primeiro caso, refira-se à autopercepção (v. EU) e ao autoconhecimento, é também utilizada para referir-se à capacidadé de compreender outras pessoas. A compreensão interna constitui faculdade necessária à prática jda psicanálise. O objetivo do tratamento psicanalítico é às vezes definido em função da aquisição de compreensão interna, embora o próprio Freud nunca tenha empregado essa formulação, preferindo a idéia de que seu objetivo é tornar CONSCIENTE O INCONSCIENTE. Ambas as definições supõem que a consciência possui uma função integradora (v. INTEGRAÇÃO). COMPULSÃO À REPETIÇÃO Termo utilizado por Freud para descrever aquilo que ele acreditava ser uma tendência inata a reverter a condições anteriores. O conceito foi por ele empregado em apoio a seu conceito do INSTINTO DE MORTE. Como o animado se desenvolve do inanimado, existe, acreditava ele, um impulso inato, o instinto de morte, de retornar ao inanimado. O conceito também foi empregado para explicar o fenómeno geral de RESISTÊNCIA à mudança terapêutica. Segundo Freud (1926), a compulsão a repetir opera como 'resistência do inconsciente' que torna necessário um período de 'ELABORAÇÃO', mesmo depois que o paciente adquiriu compreensão interna da natureza e funções de suas defesas, e decidiu abandoná-las. Nesse contexto, o conceito pouco mais significa do que preguiça mental. Atualmente, a elaboração tende a ser encarada como análoga a LUTO, na medida em que toda mudança envolve o abandono de ligações a objetos — tais como, por exemplo, figuras parentais —, e de padrões habituais de comportamento. 59
COM-CON
COMPULSIVO Adj. referente a pensamentos e ações CONSCIENTES que o indivíduo se sente compelido a pensar ou efetuar e que não pode evitar (ou, pelo menos, cuja omissão conduz à ANSIEDADE). OS sintomas compulsivos são característicos da NEUROSE OBSESSIVA. Constituem manifestações de 'retorno do reprimido', isto é, correspondem a pensamentos e desejos que o paciente rejeita como incompatíveis com sua auto-imagem, ou são um meio de manter fora da mente tais pensamentos proibidos. Pode-se considerar os fenómenos compulsivos quer como devidos a falhas da REPRESSÃO, quer como uma indicação de ALIENAÇÃO, de uma vez que o elemento de impulso neles pressagia alguma força que busca expressão, ao passo que o elemento de involuntariedade indica que o indivíduo fracassa em reconhecê-los como parte de si mesmo. Os opostos de 'compulsivo' são 'livre', 'voluntário', 'espontâneo' e 'EGOSSINTÔNICO'.
COMUNICAÇÃO Conforme Szasz (1961) convincentemente indicou, grande parte da teoria psicanalítica poderia é deveria ser reenunciada em termos de comunicação e falhas de comunicação, de preferência a sê-lo em termos de funções e distúrbios de função de indivíduos isolados. Essa crítica, contudo, aplica-se mais diretamente à TEORIA DOS INSTINTOS do que à TEORIA DOS OBJETOS, visto que a ênfase concedida por esta última às RELAÇÕES DE OBJETO contém a idéia de que o indivíduo busca comunicação, e que as neuroses constituem fracassos quando não o consegue, v. TEORIA DOS INSTINTOS E TEORIA DOS OBJETOS; SIGNIFICADO; SEMÂNTICA; CAUSA; DETERMINISMO PSÍQUICO; PERSONOLOGIA; CONVERSÃO.
CONCEITO Os conceitos utilizados na teoria psicanalítica podem ser classificados segundo as hipóteses ou FICÇÕES subjacentes que sejam empregadas para organizar os fatos em formulações teóricas. Por exemplo: 1. Conceitos de 'princípio', que supõem que a vida menmental é, geralmente, ativada pelo CONFLITO entre forças ou princípios opostos; por exemplo, EROS e TÂNATOS, INSTINTOS DE VIDA e de MORTE, SEXO e AGRESSIVIDADE, OS PRINCÍPIOS DE PRAZER e REALIDADE. 2. Conceitos estruturais: supõem
60
que
CON
os proctssos mentais constituem funções de um organismo ou aparelho constituído por partes inter-relacionadas; por exemplo, o APARELHO PSÍQUICO e seus componentes, o ID, O EGO e o SUPEREGO. 3. Conceitos topográficos: supõem que os processés mentais são localizáveis num diagrama; por exemplo, id, ego e superego, FRONTEIRA DO EGO, camadas ou ESTRATOS de conteúdo mental pelos quais as LEMBRANÇAS, IMPULSOS, FANTASIAS, etc., são imaginados como se encontrando a distâncias variáveis da superfície. Nesse caso, as hipóteses sobre a acessibilidade dos fenómenos INCONSCIENTES à CONSCIÊNCIA são formuladas em função da distância a que se acham desta, presumindo-se geralmente que, quanto mais antigos, mais profundos. 4. Conceitos económicos: supõem a existência de certa fdrma de ENERGIA mental, cujos QUANTA podem ligar-se a ESTRUTURAS (energia vinculada) ou podem movimentar-se de uma estrutura para outra (energia livre), ou podem ser descarregados na ação (v. DESCARGA); por exemplo, LIBIDO, AGRESSIVIDADE, DESTRUDO, CATEXIA, contracatexia. 5. Conceitos dinâmicos: são os que descrevem a atividade mental em termos de processo, impulso e desenvolvimento; por exemplo, INSTINTO, IMPULSO 1 (DRIVE), IMPULSO 2 (IMPULSE), SUBLIMAÇÃO. 6. Conceitos de faculdade: constituem sobre vivências da psicologia pré-freudiana, tais como MEMÓRIA, COMPREENSÃO INTERNA (INSIGHT), ambos os quais podem ser — embora frequentemente não sejam — reenunciados em termos dinâmicos, isto é, lembrar, esquecer, e (talvez) INTROSPECÇÃO. Todos os seis tipos de conceitos violentam os fatos da experiência humana, na medida em que os formulam segundo MODELOS que não se originam diretamente de sua FENOMENOLOGIA, isto é, supõem ou que os dados subjetivos podem ser explicados como resultado da atividade de forças impessoais objetiváveis, ou que os acontecimentos não-localizáveis e organizados temporalmente podem ser formulados em termos de uma estrutura fictícia, que ocupe um espaço. É difícil conceber, contudo, como se poderia formular teorias sobre o efeito do passado na experiência atual e sobre a evolução de padrões adultos} de comportamento a partir de padrões INFANTIS, sem recorrer a conceitos estruturais, dinâmicos e económicos. 67
CON
CONCEPTUALIZAÇÃO Processo de fazer derivar conceitos a partir de observações, de formular enunciados gerais. Trata-se de uma palavra em voga, cuja virtude é permitir àquele que a emprega evitar ter de escolher entre formulação, generalização, abstração e pensamento. CONCILIAÇÃO, FORMAÇÃO DE, ou CONCILIATÓRIA FORMAÇÃO V. FORMAÇÃO CONCILIATÓRIA ou FORMAÇÃO
DE CONCILIAÇÃO.
CONDENSAÇÃO Processo pelo qual duas (ou mais) imagens se combinam (ou podem ser combinadas) para formar uma imagem composta que é investida de SIGNIFICADO e ENERGIA derivados de ambas. Constitui um dos PROCESSOS PRIMÁRIOS característicos do pensar INCONSCIENTE, sendo exemplificado nos SONHOS e na FORMAÇÃO DE SINTOMAS.
CONFIANÇA E DESCONFIANÇA BÁSICAS Termos empregados por Erikson, Winnicott e Balint para descrever os efeitos subjacentes das experiências boas e más de maternagem. A confiança básica, o primeiro dos oito ESTÁDIOS HUMANOS de Erikson, corresponde à FASE ORAL da TEORIA CLÁSSICA e à SEGURANÇA ONTOLÓGICA PRIMÁRIA dos existencialistas (v. EXISTENCIALISMO). A desconfiança básica corresponde, em certa medida, ao emprego da ANSIEDADE PARANÓIDE. CONFIANÇA versus DESCONFIANÇA BÁSICA O primeiro dos oito ESTÁDIOS HUMANOS, de Erikson. Corresponde à fase ORAL da TEORIA CLÁSSICA. Durante ele, o bebê aprende a sentir-se à vontade no mundo e a acreditar na existência da bondade tanto nos outros quanto em si mesmo, ou desenvolve um 'sentimento de mal e malevolência'. 'As mães, acredito, criam um sentimento de confiança nos filhos por aquele tipo de relacionamento que, em sua qualidade, combina o cuidado sensível das necessidades individuais do bebê com um firme sentimento de confiabilidade pessoal, dentro da estrutura digna de confiança do estilo de sua cultura' (Erikson, 1953). CONFLITO Oposição entre forças aparente ou realmente incompatíveis. O conflito interno ou psicológico pode dar-se 62
CON
entre IMPULSOS instintuais (LIBIDINAIS e AGRESSIVOS, por exemplo; v. também INSTINTO) OU entre ESTRUTURAS ( E G O e ID, por exemplo). A idéia de que todo conflito psicológico é N E U RÓTICO pão pertence à teoria psicanalítica; os conflitos só serão neurótkps se uma das partes for inconsciente, e/ou se forem solucionados pelo emprego de outras DEFESAS que não a S U B L I MAÇÃO.
CONFRONTAÇÃO Termo ocasionalmente empregado para descrever uma comunicação do analista em que ele chama a atenção do paciente para algum aspecto do comportamento deste, sem oferecer explicação ou INTERPRETAÇÃO do mesmo. CONSCIÊNCIA 1 (CONSCIENCE) Sistema de valores morais de uma pessoa ou aquela parte de uma pessoa que esta experiménta como porta-voz de valores morais. A palavra se refere, propriamente, apenas a valores CONSCIENTES e às "vozes da consciência", e não deve ser confundida com o SUPEREGO, que dela difere por ser parcialmente INCONSCIENTE e por conter imperativos que o indivíduo conscientemente não aceita. Os dois conceitos, de qualquer modo, pertencem a esquemas de referência diferentes. CONSCIÊNCIA 2 (CONSCIOUSNESS) 1. Estado de estar consciente, em contraste com o de estar adormecido, anestesiado ou em coma. 2. Faculdade de autopercepção, possuída pelo homem, em contraste com os outros animais. Quando empregado no sentido 2, nem sempre é claro se se refere à (auto) percepção primária, isto é, saber o que se está fazendo, ou à autopercepção reflexiva, isto é, prestar atenção aos próprios processos mentais. O artigo de Freud sobre a consciência, que deveria ter sido incluído em seus artigos sobre METAPSICOLOGIA (1915), desapareceu; como resultado disso, dispomos apenas de um conhecimento incompleto de seus pontos de vista a respeito dela. Sabemos, entretanto, que Freud (a) geralmente a assemelhava a um órgão sensorial capaz de perceber acontecimentos mentais INTERNOS e de discriminá-los das PERCEPÇÕES externas; a essa fufcção da consciência, deu ele o nome de T E S T E DA R E A 63
CON
(b) sustentava que a consciência diferia da INCONSpor tomar conhecimento das categorias de espaço e por não tolerar contradições e por utilizar vinculada (isto é, por atribuir às imagens um significado relativamente constante) (v. PROCESSOS PRIMÁRIO E SECUNDÁRIO); e (c) afirmava que 'ser posto em vinculação com imagens verbais' constituía pré-requisito essencial para o ingresso de um pensamento inconsciente na consciência. É também possível deduzir, a partir de seus pontos de vista sobre o tratamento e o valor terapêutico de tornar consciente o inconsciente, que sustentava que a consciência possuía uma função integradora (v. INTEGRAÇÃO). V. Freud (1915, 1923). V. R E LIDADE; CIÊNCIA (UNCONSCIOUSNESS) TEMPO, ENERGIA
PRESENTAÇÃO V E R B A L .
A tendência da psicanálise a encarar a consciência como sendo de importância secundária e a presumir que os fenómenos conscientes constituem efeito de fenómenos inconscientes, levou-a a negligenciar os problemas da consciência. Nessa negligência é que se funda grande parte da crítica existencial (v. EXISTENCIALISMO) à psicanálise freudiana. V. FENOMENOLOGIA; ONTOLOGIA.
CONSCIENTE Segundo a teoria psicanalítica, a atividade mental pode efetuar-se por duas modalidades, uma consciente, e outra INCONSCIENTE; OS dados da primeira modalidade são 'dados imediatos' que 'não podem ser mais plenamente explicados por qualquer tipo de descrição', e os da segunda são inferidos. A teoria também postula que as duas modalidades funcionam conforme normas diferentes; a atividade mental consciente obedece à 'gramática' dos processos secundários e a atividade men tal inconsciente obedece à dos processos primários (v. PROCESSOS PRIMÁRIO E SECUNDÁRIO). O Consciente, muitas vezes abreviado 'Cs.' é o sistema ou estrutura em que ocorre a atividade mental consciente que obedece aos processos secundários. Visto que pensamentos pertencentes ao consciente podem, às vezes, ser inconscientes, é possível que a atividade mental seja, de modo simultâneo, descritivamente inconsciente e dina micamente consciente; essa atividade é denominada de préconsciente (v. referência em PRÉ-CONSCIENTE). A situação inversa ocorre nos SONHOS, nos quais estamos conscientes das 64
COAT
manifestações do inconsciente. Contradições desse tipo contribuíram! para a mudança de terminologia feita por Freud na década Ide 1920, quando o consciente tornou-se o EGO e o inconsciente, o ID. CONSTRUÇÕES EM ANÁLISE Hipóteses concernentes a um acontecimento na infância de um paciente, reconstruído a partir de dados fornecidos por suas ASSOCIAÇÕES LIVRES, mas não rememorados por ele. A crença de Freud na importância de acontecimentos específicos (TRAUMAS) na causação das NEUROSES levou-o a conceder grande importância prática e teórica ; a construções precisas e convincentes, mesmo quando se refeÉam a acontecimentos tão primitivos na vida, que sua eventual recordação era improvável. As construções que são posteriormente confirmadas pela rememoração ou por informações adquiridas a partir de outras fontes, eram também altamente valorizadas por Freud, enquanto confirmação da exatidão histórica e científica da psicanálise (v, CIÊNCIA). v . CATEXIA.
CONTRAFÓBICO
v. CARÁTER FÓBICO.
CONTfcATRANSFERÊNCIA 1. TRANSFERÊNCIA do analista para seu paciente. Nesse sentido, que é o correto, a contratransfe^ência constitui elemento perturbador e deformador no tratamqnto. 2. Por extensão, a atitude emocional do analista para e$m o paciente, inclusive sua reação a itens específicos do comportamento deste. Segundo Heimann (1950), Little (1951), Gitelson (1952) e outros, o analista pode utilizar esse último tipo de contratransferência como prova clínica, isto é, pode stipor que sua própria reação emocional se baseia numa interpretação correta das verdadeiras intenções do paciente ou do que este quer dizer. CONTRAVONTADE
v. VONTADE e NEGATIVISMO.
CONVERSÃO Quando empregada como termo técnico, refere-se úo processo pelo qual um complexo psicológico de idéias, 65
COP-CRI
desejos, sentimentos, etc, é substituído por um sintoma físico. Segundo Freud (1893), é o AFETO ligado ao 'complexo ideacional, que se converte num fenómeno físico, e não o próprio 'complexo ideacionaP. Embora a descoberta de Freud de que os sintomas físicos 'HISTÉRICOS' são PSICOGÊNICOS, tenha constituído a observação seminal a partir da qual a PSICANÁLISE se desenvolveu, a hipótese da 'conversão' é insatisfatória, de uma vez que deixa inexplicado o que é às vezes chamado de 'o misterioso salto' do mental para o físico. O mistério se desvanece se os sintomas histéricos são encarados como gestos ou mímicas. V. Home (1966), Szasz (1961). COPRO- Prefixo referente a fezes. Por exemplo: coprofagia, comer fezes, sintoma que ocorre em crianças perturbadas e com privação, e na ESQUIZOFRENIA; coprofilia, prazer em tocar, olhar para, ou comer fezes. CORPORAL
v. EGO CORPORAL, IMAGEM CORPORAL, ESQUE-
MA CORPORAL.
CORPORIFICADO E DESCORPORIFICADO Termos empregados por Laing (1960) para descrever dois estados de ser; o estado corporificado é aquele possuído por pessoas com segurança ontológica primária (v. ONTOLOGIA), que 'sentem que começaram quando seus corpos começaram e que acabarão quando seus corpos morrerem'; o descorporifiçado é aquele possuído por pessoas a quem falta segurança ontológica primária e que têm a sensação de estarem desligadas de seus corpos. CRIATIVIDADE Capacidade de chegar a soluções novas e válidas para problemas. Capacidade de criar produtos da imaginação (v. IMAGINAÇÃO) que despertem interesse, sejam convincentes, significantes, etc. Desde seus primórdios a psicanálise tem sido tentada a oferecer explicações sobre a atividade criativa, baseando-se elas invariavelmente na demonstração da semelhança entre a atividade criativa e certos processos neuróticos. A versão mais simples desse procedimento consiste em demonstrar que o conteúdo dos romances e das pinturas pode ser interpretado como uma fantasia EDIPIANA e, então, 66
CRI
deduzir disso que a atividade criativa constitui uma forma de devaneia neurótico (Freud, 1908). O problema que surge com essa hipótese é que ela deixa de explicar por que nem todos os devaneios são criativos, envolvendo, portanto, hipóteses secundárias quanto ao modo pelo qual os aspectos formais e técnicos! do trabalho criativo capacitam 'criações' neuróticas privadas a se converterem em obras de arte publicamente aceitáveis e compreensíveis. Ao final de sua vida, Freud rejeitou a idéia de que a psicanálise tivesse algo com que contribuir para a (estética. (Mas v. Ehrenzweig [1967] para o ponto de vista contrário). Mais recentemente, e geralmente sob a influência das íidéias KLEINIANAS, houve tentativas de provar que a atividade criativa é ou DEPRESSIVA OU ESQUIZÓIDE, isto é, que representa um esforço de fazer REPARAÇÃO por FANTASIAS destrutivas |(Klein, 1948, Sharpe, 1950, Levey, 1939), ou é, de certa maneira, análoga à elaboração de sistemas delirantes dos ESQUIZOBRÊNICOS (V. também DELÍRIO). Aqui, mais uma vez, a razão jpor que certas pessoas são capazes de encontrar soluções criativas para seus problemas depressivos ou esquizóides permanece inexplicada. De uma vez que a psicanálise clássica designa a atividade imaginativa como primitiva, INFANTIL, e como uma função do ID, autores como Hartmann e Kris foram compelidos a descrever em termos de atividades de REGRESSÃO atividades que eles claramente, de fato, consideram como criativas e progressistas. Iáso levou ao emprego de expressões, tais como 'regressão a serviço do EGO', para descrever a 'capacidade negativa' (Keats) da atividade criativa. Como seus resultados são, por definição, novos, inesperados, e, portanto, impredizíveis, a criatividade constitui conceito difícil de incluir dentro de um esquema causal-determinista (v. CAUSALIDADE e DETERMINISMO) ; daí, presumivelmente, a AMBIVALÊNCIA da psicanálise para com a criatividade. O conceito também levanta problemas quanto a saber se leia constitui ou uma aptidão geral, caso em que qualquer um poderia tornar-se criador se suas INIBIÇÕES fossem removidas, ou um dom especial, caso em que a psicanálise teria de admitir a existência de exceções às suas categorias. Para o primeiro ponto de vista, v. Neurotic Distortion of the Creative Process, pe Kubie (1958); para o segundo, v. The Childhood of 67
CUL
the Artist, de Phyllis Greenacre, onde a autora argumenta que as pessoas dotadas são diferentes desde o princípio da vida, que buscam ativamente objetos que reconhecerão sua diferença e seus dons e que, se analisadas, exigirão uma técnica diferente da utilizada com outras pessoas. V. também SIGNIFICADO. CULPA A psicanálise interessa-se não pelo fato da culpa, mas pelo sentimento de culpa, isto é, pela EMOÇÃO que se segue à infração de um preceito moral. Mais especificamente, interessa-se pelo sentimento de culpa NEURÓTICO, isto é, por aquelas experiências de sentir-se culpado que não são explicáveis em função de infrações dos valores conscientes do paciente. Segundo a TEORIA CLÁSSICA, O sentimento de culpa neurótico surge como resultado do conflito entre o SUPEREGO e os desejos sexuais e agressivos INFANTIS (V. SEXO e AGRESSIVIDADE), sendo esse conflito uma REPRESENTAÇÃO e uma perpetuação internalizadas de conflitos entre a criança e seus pais (v. também INTERNALIZAÇÃO). A situação, contudo, é complicada pelo fato de o superego ser concebido como fazendo sua energia derivar da própria AGRESSIVIDADE da criança; em consequência, o sentimento de culpa é diretamente influenciado pela extensão em que o indivíduo expressa seus sentimentos agressivos, externando-os sobre si mesmo numa condenação moral. A culpa difere da ANSIEDADE pelo seguinte: (a) a ansiedade é experimentada em relação a uma ocorrência futura que é temida, ao passo que a culpa é experimentada em relação a um ato já cometido, e (b) a capacidade de experimentar culpa depende da capacidade de internalizar objetos, ao passo que a capacidade de experimentar ansiedade não depende disso: animais e bebés podem sentir-se ansiosos, mas apenas seres humanos com certa percepção de tempo e dos outros podem sentir-se culpados. A culpa neurótica e a ansiedade, contudo, podem ser indistinguíveis, devido ao fato de o sentimento de culpa neurótico estar associado com o pavor da punição e da retribuição. Os analistas que acreditam no instinto destrutivo inato também, inevitavelmente, acreditam num sentimento inerente de culpa, derivado da percepção do desejo de destruir aquilo 68
DEF
que é também amado, de desafiar aquilo a que também se deve submissão. Todas as DEFESAS utilizadas para reduzir a ansiedade também podem ser empregadas para reduzir o sentimento de culpa; contudo, uma determinada defesa, a REPARAÇÃO, OU seja, a restauração dos danos que se imagina já terem sido causados, é especificamente utilizada para reduzi-lo.
D DEFEITO BÁSICO ou FALHA BÁSICA Termo empregado por Balint (1952) para descrever um aspecto da patologia de ícerto tipo de paciente cujo desenvolvimento global foi defeituòso e falso. Segundo Balint, o defeito básico só pode ser superado caso se permita que o paciente regrida (v. REGRESSÃO) a; um estado de DEPENDÊNCIA oral para com o analista (v. tanibém ORAL) e experimente um NOVO INÍCIO. Provavelmente, a metáfora é geológica, e não moral. DEFESA 'Designação geral para todas as técnicas que o ego utifza em conflitos que podem conduzir à neurose' (Freud, 1922).!A função da defesa é proteger o EGO. AS defesas podem ser motivadas por (a) ANSIEDADE devida a aumentos de TENSÃO instintual (v. também INSTINTO); (b) ansiedade devida a fuma CONSCIÊNCIA (CONSCIENCE) má (ameaças do SUPEREGO); ou (c) perigos reais. O conceito de defesa é geralmente enunciado em termos que implicam que o ego humano seja aséediado por ameaças à sua sobrevivência emanadas do ID, do superego e do mundo externo, e que ele esteja, portanto, perpetuamente na defensiva. O conceito, porém, é mais bem encarado, de modo menos negativo, e tomado para incluir todas as técnicas utilizadas pelo ego para dominar, controlar, Çanalizar e empregar forças 'que podem conduzir a uma NEUROSE'. Implica também que a neurose é devida a uma falha da defesa; de acordo com esse ponto de vista, as INIBIÇÕES 69
DEF
resultantes de uma REPRESSÃO bem sucedida não são sintomas neuróticos. Anna Freud (1937) relaciona nove defesas: a REGRESSÃO, a repressão, a FORMAÇÃO REATIVA, O ISOLAMENTO, a ANULAÇÃO, a PROJEÇÃO, a INTROJEÇÃO, a VOLTA CONTRA O EU (SELF) e a INVERSÃO, e mais uma décima, a SUBLIMAÇÃO,
'que concerne mais ao estudo do normal que ao da neurose'. A DIVISÃO e a NEGAÇÃO também são geralmente relacionadas como defesas. Como a psicanálise sustenta que a ansiedade constitui incentivo ao DESENVOLVIMENTO, algumas, talvez todas, defesas desempenham papel no desenvolvimento normal, e geralmente se supõe que certas defesas pertencem a fases específicas de desenvolvimento: a introjeção, a projeção, a negação e a divisão, à fase ORAL, por exemplo; a formação reativa, o isolamento e a anulação, à fase ANAL. V. também TÉCNICA. DEFESA MANÍACA Forma de comportamento defensivo (v. também DEFESA) apresentada por pessoas que se defendem contra a ANSIEDADE, a CULPA e a DEPRESSÃO por (a) NEGAÇÃO da ansiedade culposa e da depressão; (b) operação de uma FANTASIA de controle ONIPOTENTE, por meio da qual imaginam que se acham no controle de todas as situações que poderiam provocar ansiedade ou sentimentos de desamparo; (c) IDENTIFICAÇÃO com objetos dos quais pode ser tomado de empréstimo um sentimento de poder, e (d) PROJEÇÃO dos aspectos 'MAUS' do eu (self) em outras pessoas. As defesas maníacas trazem a sensação de se estar livre de culpa e de ansiedade às custas da profundidade de caráter e da consideração dos motivos e sentimentos dos outros. O emprego da defesa maníaca não se limita a pessoas sujeitas a desenvolverem uma MANIA OU uma PSICOSE MANÍACO-DEPRESSIVA. O conceito pertence à TEORIA DOS OBJETOS. Segundo Fairbairn, trata-se de uma defesa de emergência, colocada em funcionamento quando as TÉCNICAS não-específicas (PARANÓIDE, OBSESSIVA, HISTÉRICA e FÓBICA) falharam em proteger o EGO contra o desencadeamento de um estado depressivo (v. PSICOPATOLOGIA REVISTA DE FAIRBAIRN). DEFESAS OBSESSIVAS Termo que abrange a FORMAÇÃO REATIVA, O ISOLAMENTO e a ANULAÇÃO, defesas que possuem 70
DEF-DEM
em cor mm a tendência a manter o EGO incontaminado pelas forças nstintuais (v. INSTINTO), V. DEFESA. DEFIC [ÊNCIA DO EGO Ausência de uma FUNÇÃO DO EGO. DÉJÀ ÍVU (literalmente, 'já visto') A impressão subjetiva de que jjá se passou anteriormente por uma experiência nova e atual. f. Freud (1914). DELÍRIO Termo utilizado em psiquiatria para referir uma crença Manifestada por um paciente, a qual é tanto inverídica quanto jnão influenciada pela lógica ou pelas provas; uma idéia fixa. Conceito clínico pertencente ao senso comum que se mostra inesperadamente difícil no momento em que formulamos duas perguntas: (a) como é que o psiquiatra sabe que sua crença jcorrespondente é verdadeira? (b) Em que sentido o pacienté acredita em seu delírio? (a) só pode ser respondida se for possível descobrir a função das crenças na economia mental Ido paciente e do psiquiatra, (b) conduz à conclusão de que o delírio é manifestação de um distúrbio do pensamento, a sáber, perda da capacidade de distinguir entre categorias de pensamento — no exemplo mais simples, entre os enunciados metafóricos e os concretos. Se é possível descobrir a modalidade correta, pode-se quase sempre demonstrar que as idéias delirantes fazem sentido. Delírios de grandeza e perseguição ocorrem na ESQUIZO FRENIA e na PARANÓIA. Sistémas delirantes internamente coerentes caracterizam a paranóia. Delírios de indignidade, tais como, for exemplo, acreditar ter cometido um crime, ocorrem na MELANCOLIA, V. VÍNCULO DUPLO.
DEMENTIA PARANOIDES Demência paranóide; termo obsoleté para designar a ESQUIZOFRENIA paranóide e a PARA-
NÓIA.
DEME^íTIA PRAECOX Demência precoce; termo psiquiátrico oljsoleto, aproximadamente correspondente ao que é hoje chamado de ESQUIZOFRENIA. O termo foi criado por Kraepelin, pai da psiquiatria moderna, supondo que a doença era incurável, detieriorante, demenciante, e que começava na adolescência. 77
DEP
DEPENDÊNCIA INFANTIL E ADULTA A dependência INFANTIL refere-se (a) ao fato de as crianças serem desamparadas e dependentes dos pais, ou (b) ao fato de os neuróticos serem fixados nos pais e se imaginarem como dependentes destes (v. FIXAÇÃO). O emprego de 'dependência' e 'independência' para fazer distinção entre o desamparo do imaturo e a viabilidade do maturo (com que Piaget lidou utilizando 'heteronomia' e 'AUTONOMIA') levou a infindáveis confusões e bizantinismos; como os adultos necessitam de objetos para satisfazer suas necessidades adultas, pode-se argumentar que são dependentes desses objetos. Fairbairn definiu a maturação como uma progressão da dependência infantil para a dependência MADURA. Nesse sentido, dependência é a antítese do NARCISISMO, não da confiança em si mesmo. Dependência oral é a dependência que o bebê tem da MÃE (V. também ORAL). A dependência é quase sempre intencional (v. Fowler), embora se possa defender a idéia de que ela constitui manifestação de um estado de sujeição ou dependência. DEPRESSÃO Refere-se ou a uma EMOÇÃO OU a um DIAGNÓSTICO. Quando se refere a uma emoção, significa desanimado, triste; quando se refere a um diagnóstico, tem a ver com um SÍNDROME do qual a emoção 'depressão' constitui um dos elementos. A PSIQUIATRIA, atualmente, utiliza o diagnóstico 'depressão' para descrever o que costumava ser chamado de MELANCOLIA, OU seja, a condição em que o paciente padece de desânimo, RETARDAMENTO de pensamentos e da ação, bem como de autocensuras (v. EU) delirantes (v. também DELÍRIO). Trata-se de um dos distúrbios afetivos (v. DISTÚRBIO AFETIVO; PSICOSE), assim chamado porque o distúrbio é do HUMOR; a outra é a MANIA. Das pessoas que alternam entre a depressão e a mania, diz-se que têm uma PSICOSE MANÍACO-DEPRESSIVA. A psiquiatria faz distinção entre a depressão endógena e a exógena, supondo-se que a primeira seja o resultado de algum distúrbio constitucional (inespecifiçado) e a última uma reação compreensível, não obstante excessiva, face a algum acontecimento aflitivo (v. também os verbetes ENDÓGENO E EXÓGENO). A depressão involutiva é uma doença depressiva que ocorre na 72
DEP
segunda metade da vida; seu emprego implica a crença numa origem constitucional. A literatura psicanalítica é unânime em considerar a depressão melancólica como forma patológica de LUTO, sendo o objeto ferdido um 'OBJETO INTERNO', e não uma pessoa real. Esse otjjeto interno foi ambivalentemente investido (v. AMBIVALÊNCIA), de modo que a pessoa deprimida se sentia dependente 4e um objeto ao qual era, não obstante, hostil. Na depressão, ela imagina que destruiu esse objeto (daí as autocensuras), mas é incapaz de sobreviver sem ele (dai a depressão). Efsa visão da depressão melancólica supõe que as pessoas a ela sujeitas estão, mesmo na saúde, num estado de equilíbrio precário, já que sua estabilidade se baseia numa relação ambivalente e complexa com um objeto interno. Segundo Abraham (1927)* a depressão ocorre nas pessoas que utilizam DEFESAS OBSESSWAS, e as pré-condições INFANTIS necessárias para a depressão na vida adulta são (a) ambivalência para com o SEIO e FIXARÃO neste, cuja INTROJEÇÃO cria o 'objeto interno', e (b) um dano severo à auto-estima (v, EU), ocorrido na infância àpós o desmame, em consequência do qual o paciente não coúsegue alcançar a confiança em si mesmo e reverte à sua depiendência ambivalente para com o seio. V. também Freud (1917)^ Os pontos de vista de Abraham sobre a depressão formaram a base dos de Melanie Klein (v. KLEINIANO) sobre a POSIÇÃÚ DEPRESSIVA e o papel desta no DESENVOLVIMENTO normal, A depressão neurótica refere-se ao sintoma de que se queixam muitos neuróticos. Às vezes, é uma forma branda da condição acima examinada; outras, refere-se a um misto de ANSIEDADE, CULPA e sentimento de INIBIÇÃO. DEPRESSÃO ANACLÍTICA Termo criado por Spitz (1946)) para descrever o estado de DEPRESSÃO, privação o indiferdnça em que os bebés caem quando separados das MÃES. ÍAnaclítica' refere-se ao fato de a separação e a depressão resultante ocorrerem numa idade em que o bebê ainda e objetivãmente dependente da mãe. V. também ANACLÍTICO. DEPRÍSSIVO Quando aplicado a uma pessoa ou a seu CARÁTI R e/ou temperamento, implica que ela tende à DEPRES73
DES
SÃO ou que tem o tipo de temperamento que levaria o observador a supor que, se analisada, a pessoa demonstraria possuir uma PSICOPATOLOGIA semelhante à examinada no verbete depressão (v. acima). A ansiedade depressiva é a ansiedade referente ao efeito de nossa própria AGRESSIVIDADE sobre os outros ou sobre nossos OBJETOS INTERNOS. Doença depressiva é sinonimo de depressão em seu sentido diagnóstico. DESAGRESSIFICAÇÃO Processo pelo qual a ENERGIA agressiva INFANTIL (V. também AGRESSIVIDADE) perde sua qualidade primitiva e agressiva quando os IMPULSOS aos quais está ligada participam da SUBLIMAÇÃO. V. NEUTRALIZAÇÃO; FUNÇÕES AUTÓNOMAS DO EGO.
DESCARGA O conceito implica formação ou carga anterior de TENSÃO, ENERGIA, IMPULSO OU EMOÇÃO, cuja descarga diminui a tensão. O efeito terapêutico da AB-REAÇÃO foi explicado supondo-sc que o represamento da emoção reprimida (v. REPRESSÃO) conduzia a um estado de tensão interna que era descarregado pela experiência ab-reativa. A TEORIA DOS INSTINTOS pressupõe que os impulsos instintuais geram um estado de tensão que é descarregado pela atividade instintual. A descarga de afeto constitui formulação impessoal e teórica que se imagina ocorrer no APARELHO PSÍQUICO quando uma emoção é expressada. Um afeto de descarga é a emoção que ocorre enquanto um impulso está sendo descarregado, em contraste com o afeto de tensão, que acompanha o represamento de um impulso. V. também AFETO. DESCONFIANÇA BÁSICA
BÁSICAS.
DESCORPORIFICADO
V. CONFIANÇA E DESCONFIANÇA
V. CORPORIFICADO E DESCORPORI-
FICADO.
DESEJO, REALIZAÇÃO DE V. REALIZAÇÃO DE DESEJO. DESENVOLVIMENTO A psicanálise sustenta que o comportamento humano pode ser considerado do ponto de vista 74
DES
do desenvolvimento, isto é, que o comportamento adulto pode ser interpretado como uma elaboração ou evolução do comportamento INFANTIL, e que complexas formas 'superiores' de comportamento podem ser interpretadas como elaborações de padrões e impulsos de comportamento simples e primitivos. O process^ de desenvolvimento como um todo pode ser visto como ijesultante de dois fatores, a evolução de processos de desenvolvimento inatos e o impacto da experiência sobre esses processos. Os TRAUMAS são experiências que rompem ou pervertem o desenvolvimento; os PONTOS DE FIXAÇÃO são INIBIÇÕES circunscritas do desenvolvimento; não existem termos satisfatórios para experiências que acelerem o desenvolvimento (isto é, produzam a precocidade) ou para experiências negativas (privações de ESTÍMULO) que conduzam à ausência de desenvcjlvimento. Como a TEORIA ANALÍTICA CLÁSSICA está ligada à idéia de uma divisão da PSIQUE num EGO e num ID, ela é forçada a conceber duas formas paralelas de desenvolvimento, lo DESENVOLVIMENTO DO EGO e o DESENVOLVIMENTO LIBIDINÀL; o primeiro consiste na aquisição das FUNÇÕES DO EGO que aumentam a AUTONOMIA e o segundo na transformação de impulsos sexuais e agressivos PRÉ-GENITAIS (V. SEXO e AGRESSIVIDADE) em atividades sexuais adultas e sublimadas (v. SUBLIMAÇÃO)
DESENVOLVIMENTO DO EGO A suposição psicanalítica de que a psique é divisível num ID e num EGO obriga-a a fazer distinção entre o desenvolvimento libidinàl e o desenvolvimento do ego; o primeiro é o pregresso através das diversas fases libidinais, nas quais as fontes e formas de prazer sexual se modificam (v. LIBIDO), e o segundo é o crescimento e a aquisição d^ funções que capacitam o indivíduo cada vez mais a dominar seus IMPULSOS, a funcionar independentemente das figuras parentais e a controlar seu MEIO AMBIENTE. Fizeram-se tentativas de correlacionar fases do desenvolvimento libidinàl e do eáo, e descrever um ego ORAL, inteiramente dedicado à busca qo prazer e dependente da mãe; um ego ANAL, interessado no controle e no domínio dos impulsos, etc. A mais ambiciosa dessas tentativas é representada pelos ESTÁDIOS HU75
DES MANOS, de Erikson,
que divide toda a vida, do nascimento à morte, em oito estádios ou fases de desenvolvimento do ego. O desenvolvimento do ego pode também referir-se ao processo pelo qual o ego se diferencia do id. Segundo Glover (1939), isso sucede pela fusão de um certo número de núcleos do ego originalmente distintos. Por outro lado, de acordo com Fairbairn (1952), o bebê começa com um 'ego unitário e dinâmico', que reage à FRUSTRAÇÃO pela DIVISÃO em três partes: o ego central, o ego libidinàl e o ego antilibidinal ou SABOTAD INTERNO; O primeiro corresponde aproximadamente ao ego freudiano, o segundo ao id e o terceiro ao SUPEREGO (V. PSICOPATOLOGIA REVISTA DE FAIRBAIRN). Segundo Klein, o desenvolvimento do ego constitui um processo de INTROJEÇÃO de objetOS (V. KLEINIANO). DESENVOLVIMENTO LIBIDINÀL INFANTIL A TEORIA CLÁSSICA postula uma série de fases de desenvolvimento libidinàl pelas quais o indivíduo passa desde a infância até atingir o PERÍODO DE LATÊNCIA; essas fases são sincrônicas a uma série paralela de fases de DESENVOLVIMENTO DO EGO. Na maioria das formulações, as fases são a ORAL, a ANAL, a FÁLICA e a EDIPIANA, sendo as três primeiras, em conjunto, 'PRÉ-EDIPIANAS'. As fases oral, anal e fálica são assim denominadas porque durante elas a boca, o ânus e o pênis são respectivamente a fonte principal de prazer libidinàl; segundo certas formulações, são narcísicas (v. NARCISISMO), pelo fato de a capacidade de AMOR OBJETAL só surgir na fase edipiana. Em algumas formulações, a fase oral é subdividida nas subfases do sugar oral e do morder oral, e a fase anal dividida em anal-expressiva e anal-retentiva. A TEORIA DOS OBJETOS continua a empregar os termos 'oral' e 'anal' para descrever fases ou aspectos da relação MÃE-filho, apesar de ter abandonado a noção clássica de que o bebê é narcísico e busca prazer, e apesar de rejeitar a distinção entre um ID em que o desenvolvimento libidinàl ocorre e um EGO no qual o DESENVOLVIMENTO DO EGO se efetua. V. também TEORIA DOS INSTINTOS E TEORIA DOS OBJETOS; LIBIDO.
DESESPERO Ausência de esperança. Como fenómeno patológico, ocorre nos distúrbios ESQUIZÓIDES e esquizofrênicos 76
DES
(v. ESQUIZOFRENIA) — nos quais parece ser o resultado de sentimentos de insuperáveis ALIENAÇÃO e AMBIVALÊNCIA — e nas NEUROSES, nas quais constitui uma atitude defensiva (v. DEFESA) destinada a reduzir a ANSIEDADE. 'Não há esperança sem medo, nem medo sem esperança" (Spinoza). DESFUSÃO V. FUSÃO E DESFUSÃO. DESLOCAMENTO Processo pelo qual a ENERGIA (CATEXIA) é transférida de determinada imagem mental para outra. O deslocamento constitui um dos PROCESSOS PRIMÁRIOS e é responsável pelai fato de que, por exemplo, determinada imagem possa simbolizar outra (v. SÍMBOLO). De modo mais geral, é o processo pàlo qual o indivíduo desloca interesse de um objeto ou atividade para outro objeto ou outra atividade, de tal maneira que os (últimos se tornam equivalentes ou substitutos dos primeiros. IA simbolização e a SUBLIMAÇÃO dependem de deslocamentos feeriais. DESPERSONALIZAÇÃO Termo psiquiátrico utilizado para designa| o sintoma que leva um paciente a queixar-se de que se sente irreal. DESPRAZER Essa palavra (unpleasure), que não é um neologismo] pois foi utilizada por Coleridge em 1814, é empregada para traduzir o alemão 'Unlust', ou seja, o SOFRIMENTO OU desconforto da TENSÃO instintual, em oposição a 'Schmerz', isto é, a sensação de dor. O PRINCÍPIO DE PRAZER, corretamente, é o princípiè de prazer-desprazer. V. também PRINCÍPIO DE CONSTÂNCIA.
DESREjALIZAÇÃO Termo psiquiátrico empregado para designar sintoma que leva o paciente a queixar-se de que o mundo parece irreal. DESSEXUALIZAÇÃO Processo pelo qual a ENERGIA libidinàl INFANTIL perde sua qualidade ERÓTICA primitiva, quando os impulsos PRÉ-GENITAIS a que está ligada participam da SUBLIMAÇÃO e do DESENVOLVIMENTO DO EGO. V. DESENVOLVI-
77
DES-DIA MENTO LIBIDINÀL; INFANTIL; NEUTRALIZAÇÃO; FUNÇÕES AUTÓNOMAS DO EGO.
DESTRUDO
Termo raramente utilizado para designar a análogo, portanto, à LIBIDO
ENERGIA do INSTINTO DE MORTE; do INSTINTO DE VIDA.
DETERMINISMO PSÍQUICO Suposição feita por Freud de que os fenómenos mentais possuem CAUSAS, assim como as têm os fenómenos físicos. V. Jones (1953-7, Vol. I, Cap. XVII), para os pontos de vista de Freud sobre causalidade, determinismo e livre-arbítrio, e sua relação com o pensamento científico dessa época. Parece que ele sustentou que a demonstração da existência de processos mentais INCONSCIENTES provava a hipótese do determinismo, de uma vez que tornava possível afirmar que os processos conscientes constituíam efeitos de processos inconscientes. Contudo, não encarou a consciência como sendo um simples epifenômeno, mas como um mecanismo regulador capaz de 'controle e orientação mais estáveis do fluxo dos processos mentais' (Jones, op. cit.). A suposição do determinismo psíquico, pelo menos tal como geralmente enunciada, não deixa lugar, na teoria analítica, para um EU (SELF) OU AGENTE que inicie a ação ou a DEFESA, OU para a utilização de explicações que não sejam causais. A maioria dos analistas acredita que as reivindicações da PSICANÁLISE para ser considerada uma CIÊNCIA repousam em sua utilização de hipóteses causais-determinísticas, não querendo saber da idéia de que ela — ou, pelo menos, certas partes de sua teoria — se assemelha mais a disciplinas como a linguística e a sociologia, que identificam padrões, do que às ciências físicas. V. Szasz (1961), Home (1966), Rycroft (1966), Gorer (1966). V. também SIGNIFICADO. DIAGNÓSTICO ou DIAGNOSE Arte de aplicar denominações a doenças, de deduzir a natureza de uma doença a partir dos SINAIS e SINTOMAS apresentados pelo paciente. O diagnóstico diferencial é a relação de denominações dignas de consideração séria em qualquer caso específico de efetivação de um diagnóstico. A formulação diagnostica é o enunciado mais ou 78
DIF-DIS
menos c omplexo da PSICOPATOLOGIA de um paciente psiquiátrico. O! diagnóstico é conceito médico que implica que as doenças constituem entidades mórbidas específicas, suposição provavelmente não-válida quando aplicada às PSICONEUROSES. V. DOENÇA MENTAL.
DIFUSÃO DE PAPEL
V. IDENTIDADE versus DIFUSÃO DE
PAPEL.
DILIGÊNCIA versus INFERIORIDADE
O quarto dos oito
ESTÁDIOS HUMANOS, de Erikson. Corresponde ao PERÍODO DE LATÊNCIA da TEORIA CLÁSSICA. A 'diligência' refere-se à preo-
cupação com a aquisição de habilidades físicas que é característica dessa fase (8-13 anos de idade); e a 'inferioridade' se refere ao perigo de ser desencorajado por um sentimento de inferioridade em comparação com os adultos. V. Erikson (1953). DINÂMICO A psicanálise é uma psicologia dinâmica, de uma vez que seus conceitos de PROCESSO, INSTINTO e DESENVOLVIMENTO pressupõem movimento, em contraste com as psicologias estáticas, tal como a psicologia das faculdades, que simplesntnte enumera e define os atributos da mente. DISSOCIAÇÃO 1. Situação em que dois ou mais processos mentais coexistem, sem se vincularem ou se integrarem (v. INTEGRARÃO). 2. Processo defensivo (v. DEFESA) que conduz a 1. Nenhuma distinção rígida pode ser feita entre dissociação e DIVISÃO, embora exista a tendência a utilizar a primeira quando hos referimos a processos e a segunda quando a referência é a ESTRUTURAS; por exemplo, dissociação da CONSCIÊNCIA, quando se fala de duplas personalidades ou FUGAS histéricas (v. também HISTERIA), mas divisão do EGO. DISTÚRBIO AFETIVO Termo diagnóstico psiquiátrico para designar as psicoses que se caracterizam por distúrbio do
HUMOR. V. PSICOSE MANÍACO-DEPRESSIVA; DEPRESSÃO; MANIA.
DISTÚRBIO DE COMPORTAMENTO Termo diagnóstico psiquiátrico que abrange a PSICOPATIA, as PERVERSÕES e as 79
DIS-DIV
toxicomanias, condições que possuem em comum o fato de seus consistirem num comportamento desaprovado pela sociedade (e, às vezes, pelo próprio 'paciente', quando em estado de ânimo reflexivo). Os distúrbios de comportamento suscitam de forma aguda problemas sobre a natureza da DOENÇA MENTAL, já que os 'sintomas' são — em sua aparência, pelo menos — atos voluntários pelos quais a sociedade como um todo, e a lei especificamente, considera o paciente responsável. (Daí a completa falta de comunicação que tão frequentemente ocorre quando psiquiatras são chamados a depor como peritos nos tribunais). Teoricamente, podem ser considerados como o oposto das NEUROSES, porque se caracterizam por deficiência e não por excesso de INIBIÇÃO. São, em geral acessíveis à explicação psicanalítica, mas nem sempre ao tratamento psicanalítico.
'SINTOMAS'
DISTÚRBIO DE PERSONALIDADE
COMPORTAMENTO.
V. DISTÚRBIO DE
DIVISÃO Processo (mecanismo de DEFESA) através do qual uma estrutura mental perde sua integridade e é substituída por duas ou mais estruturas parciais. Descreve-se divisão tanto do EGO quanto do OBJETO. Após a divisão do ego, tipicamente apenas um ego parcial resultante é experimentado como 'EU' (SELF), constituindo o outro uma 'parte expelida do ego', geralmente inconsciente. Após a divisão de um objeto, a atitude emocional para com as duas estruturas parciais é tipicamente antitética; um dos objetos é experimentado como 'BOM' (aceitador, benévolo, etc.) e o outro como 'MAU' (rejeitador, malévolo, etc). A divisão tanto do ego quanto do objeto tende a vincular-se à NEGAÇÃO e à PROJEÇÃO, O trio constituindo uma defesa ESQUIZÓIDE pela qual partes do eu (e de OBJETOS INTERNOS) são repudiadas e atribuídas a objetos do meio-ambiente. A expressão 'divisão do ego' é utilizada em quatro sentidos confusamente diferentes: (a) para descrever uma divisão grosseira da personalidade em duas partes, como na personalidade dupla ou múltipla; nesse sentido, é sinonimo de 'DISSOCIAÇÃO'; (b) para descrever o EGO nas PERVERSÕES sexuais, particularmente o FETICHISMO. Segundo Freud (1927, 1938), o 80
DOE-DOR
ego do :etichista se divide na medida em que sua atitude para com seq objeto lhe permite não reconhecer a ANSIEDADE DE CASTRARÃO que outra parte de seu ego admite; (c) para descrever i autopercepção (v. EU) reflexiva; segundo Sterba (1934), o tratamento psicanalítico exige que o paciente divida seu ego com uma das partes identificando-se com o analista (v. IDENTIFICAÇÃO), observando as ASSOCIAÇÕES LIVRES produzidas pela outra e sobre elas refletindo; nesse sentido, longe de ser i m fenómeno patológico, a divisão é uma manifestação de auto >ercepção; (d) para descrever o processo de desenvolvimento! e de defesa acima descrito. DOENQA MENTAL Esse termo abrange as PSICOSES, as psicoNquROSES e os DISTÚRBIOS DE COMPORTAMENTO, três entidades c l íínicas que diferem em espécie. Pelo menos algumas das psicoses são doenças semelhantes em espécie às físicas; possuem CAUSAS físicas demonstráveis que explicam os SINTOMAS, sem referência quer à personalidade do paciente, quer a quaisquer motivos que este possa ter para desejar estar doente. As neuroses asseknelham-se às doenças físicas por possuírem sintomas, de queos pacientes se queixam, mas são inexplicáveis quando sem reffcrência à personalidade e aos motivos do paciente, isto é, sãoctiações do próprio paciente e não simplesmente o efeito de auspts que sobre ele operam. Os distúrbios de comportamento sjãocondições nas quais não há sintomas no sentido de fenómenos en de que o próprio 'paciente' se queixe; é a sociedade e não cpaciente que faz objeções ao comportamento perturbado. A.idéia de que as neuroses — e, a fortiori, os distúrbios de comportamento são doenças constitui uma convenção social u t iil,l pois permite que os fenómenos neuróticos sejam tratados terapeuticamente; baseia-se, porém, numa confusão de pensamento isto é, igualar motivos inconscientes com causas. V. Szasfc (1961), Home (1966), Rycroft (1966). DOR OÍJ SOFRIMENTO (PAIN) Segundo o contexto, 'dor' ou 'sofrimento' refere-se quer à sensação física familiar, quer à afliçãè associada à TENSÃO instántual; esta última é, de acordo COm O PRINCÍPIO DE PRAZER-DOR OU SOFRIMENTO, a COndição que a ação institual tenta aliviar. Nos trabalhos de Freud, 81
ECO-EGO
a dor (o sofrimento) física é 'Schmerz' e a dor (o sofrimento) mental devida à tensão, 'Unlusf, que Strachey traduz por 'DESPRAZER' ('UNPLEASURE'). Outras traduções, contudo, utilizam 'dor' ou 'sofrimento' para ambas as palavras alemãs. *
ECONÓMICO Quando empregado como termo técnico, económico é o adjetivo correspondente ao substantivo ENERGIA. Os conceitos e formulações económicos referem-se à distribuição da energia, da LIBIDO e das CATEXIAS dentro do APARELHO PSÍQUICO.
EDIPIANO EDIPICO
V. COMPLEXO DE ÉDIPO. V. COMPLEXO DE ÉDIPO.
ÉDIPO, COMPLEXO DE
V. COMPLEXO DE ÉDIPO.
EFERENTE Adjetivo qualificativo dos nervos que conduzem impulsos que se afastam do centro, em contraste com os AFERENTES, que os conduzem no sentido deste. EGO Conceito ESTRUTURAL e TOPOGRÁFICO referente às partes organizadas do APARELHO PSÍQUICO, em contraste com o ID não-organizado '(...) O ego é aquela parte do id que foi modificada pela influência direta do mundo externo (...) O ego representa o que pode ser chamado de razão e senso comum,
* No Brasil, em geral, traduz-se upain" por "dor" no primeiro dos casos mencionados no início do verbete, empregando-se "sofrimento" no segundo caso. A palavra que Strachey utilizou para traduzir "Unlust" foi "unpleasure" (aproximadamente, não-prazer) e não "d pleasure", como a leitura da tradução portuguesa poderia levar a pensar. V. DESPRAZER. (N. do T.)
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EGO
em contraste com o id, que contém as paixões (...) em sua relação!com o id, é como um homem montado a cavalo, que tem de (manter contida a força superior do cavalo, com a diferença dfe que o cavaleiro tenta fazê-lo com a sua própria força, ao pasto que o ego utiliza forças tomadas de 'empréstimo" (Freud 1923). Para os analistas que não concordam com a noção de rum id indiferenciado, a partir do qual o ego se desenvolve, d ego é ou (a) toda a psique ('A personalidade prístina da criaiça consiste num ego dinâmico unitário' — Fairbairn, 1952); ou (b) aquela parte da personalidade que se relaciona com objjetos e/ou é formada pela INTROJEÇÃO de objetos; ou (c) aquela parte da personalidade que é experimentada como sendo si mesmo (oneself), que se reconhece como 'eu' (/). Egjo e EU (SELF) são frequentemente confundidos; provavelmente pertencem a esquemas diferentes de referência, o ego pertencèndo a um esquema referencial OBJETIVO que encara a personalidade como uma estrutura, e o eu (self) pertencendo a um esquema de referência fenomenológico (v. FENOMENOLOGIA), que encara a personalidade como experiência. EGO, ©EFICIÊNCIA DO
V. DEFICIÊNCIA DO EGO.
EGO, DESENVOLVIMENTO DO EGO. EGO, FRONTEIRA DO EGO, FUNÇÃO DO
V. DESENVOLVIMENTO DO
V. FRONTEIRA DO EGO.
V. FUNÇÃO DO EGO.
EGO, FUNÇÕES AUTÓNOMAS DO NOMAS IDO EGO. EGO,
ÍDEAL
DO
V. IDEAL DO EGO.
EGO, RNSTINTO DO
V. INSTINTO DO EGO.
EGO, ÍNTEGRIDADE DO
EGO, LIBIDO DO
V. FUNÇÕES AUTÓ-
V. INTEGRIDADE DO EGO.
V. LIBIDO DO EGO.
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EGO-ELA
EGO, PSICOLOGIA DO V PSICOLOGIA DO EGO. EGO CORPORAL, IMAGEM CORPORAL, ESQUEMA CORPORAL Ego corporal é o termo utilizado por Freud para designar aquela parte do EGO que deriva das autopercepções do EU (SELF) (isto é, opostas às percepções de objetos externos). 'O ego é, primeiro e acima de tudo, um ego corporal, isto é, o ego em última análise deriva de sensações corporais, principalmente daquelas que se originam da superfície do corpo' (Freud, 1927). Imagem corporal constitui termo psicológico para a concepção que tem o eu (self) de seu próprio corpo. Esquema corporal é termo neurológico que designa a representação orgânica do corpo no cérebro. EGODISTÔNICO Diz-se que o comportamento e os desejos são egodistônicos quando se mostram incompatíveis com os ideais ou concepção de si mesmo do indivíduo, isto é, quando se referem a um juízo de valor feito pelo próprio indivíduo. EGOSSINTONICO Diz-se que o comportamento e os desejos são egossintônicos quando se mostram compatíveis com os ideais e a concepção de si mesmo que tem o indivíduo. EGOTIZAÇÃO Processo pelo qual um processo ou função mental se torna parte do EU (SELF), estruturado ou desagressificado e dessexualizado (v. ESTRUTURAL; DESAGRESSIFICAÇÃO; DESSEXUALIZAÇÃO).
ELABORAÇÃO Originalmente, processo pelo qual um paciente em análise pouco a pouco descobre, no decorrer de um amplo período de tempo, as implicações totais de alguma INTERPRETAÇÃO ou COMPREENSÃO INTERNA (INSIGHT). Daí, por ex-
tensão, o processo de acostumar-se a uma situação nova ou de superar uma perda ou experiência penosa. Nesse sentido ampliado, o LUTO constitui exemplo de elaboração, pois envolve o reconhecimento gradativo de que o objeto perdido não mais se encontra presente numa infinidade de contextos, onde era anteriormente uma figura familiar.
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ELA-EMO
ELABC RAÇÃO SECUNDÁRIA Processo através do qual um sormo é modificado pela necessidade que tem aquele que sonhou de dar-lhe maior coerência e harmonia interna. Representa a contribuição dos processos secundários ao texto de um sonho. V. PROCESSOS PRIMÁRIOS E SECUNDÁRIOS. 'ELE, O' V. 'O ELE'. ELECTRA, COMPLEXO DE V. COMPLEXO DE ELECTRA. EMOÇÃO Estado do corpo e da mente que consiste num sentimento subjetivo, agradável ou desagradável, mas nunca neutro, jque se faz acompanhar por comportamento ou postura expressivos e por mudanças fisiológicas. A teoria psicanalítica tende a supor que as emoções são AFETOS, isto é, que são QUANTA de ENERGIA ligados a idéias, que sua presença indica um distúrbio no equilíbrio psíquico, e que elas interferem na ADAPTAÇÃO. 'DO ponto de vista da psicologia das neuroses, a ação afletiva — em contraste com o ideal teórico da ação racional I— quase sempre aparece como um deplorável resíduo de confeições mentais primitivas e como um desvio do normal (. i .) Contudo, conhecemos o papel decisivo da afetividade na organização e facilitação de muitas funções do ego. Freud (1937] tinha isso em mente quando disse que não se espere que a análise libere o homem de todas as paixões' (Hartmann, 1958). Para algumas das complicações e paradoxos produzilos pelo 'ideal teórico da ação racional' e para a suposição* de que as emoções são primitivas e irracionais, v. Rycroft (J962). A psicanálise pouco se valeu da distinção de McDougalj (1908) entre emoções primárias (o medo, a ira, a ternura, por exemplo), emoções complexas (a admiração, a inveja, jpor exemplo) e sentimentos (o amor, o ódio e o respeito, j|or exemplo) e, como resultado disso, tende a interpretar emoções simples como manifestações de outras, complexas — a I|IA como manifestação do ÓDIO, por exemplo —, ou a supor < |ue emoções complexas possam estar presentes no começo c a vida, tal como, por exemplo, atribuindo INVEJA ao bebê reicém-nascido. Para uma exceção parcial, porém, v. Brierley (L'51). 85
EMPENE
EMPATIA (Einfuhlung) 'O poder de projetar a própria personalidade no objeto da contemplação (e assim compreendêlo plenamente)' (CO.D.). A capacidade de colocar-se no lugar de outrem. O conceito implica que tanto nos sentimos no objeto quanto permanecemos cônscios de nossa própria identidade enquanto outra pessoa. A palavra é necessária, pois 'simpatia' só é empregada para referir a comunhão de experiências desagradáveis *, não implicando que o simpatizante necessariamente retenha sua objetividade. A capacidade de empatizar constitui pré-condição essencial para a prática da terapia psicanalítica. Pode ser (mas raramente o é) citada como exemplo de IDENTIFICAÇÃO projetiva. ENDOGAMIA Costume ou lei que exige que o casamento só se realize com alguém pertencente à tribo ou grupo TOTÊMICO. V. também EXOGAMIA. ENDÓGENO
Que se origina de dentro. V. DEPRESSÃO.
ENERGIA 'A energia é a única vida e provém do corpo; e a razão é o limite e a circunferência externa da energia' (William Blake). 'Presumimos, como as outras ciências naturais nos ensinaram a esperar, que na vida mental esteja em ação algum tipo de energia, mas não dispomos de dados que nos capacitem a nos aproximarmos de um conhecimento dela por analogia a outras formas de energia. Parecemos reconhecer que a energia nervosa ou psíquica existe sob duas formas, uma livremente móvel e a outra, em contraste, vinculada' (Freud, 1940). A energia móvel é característica do ID; a energia vinculada, característica do EGO. O conceito freudiano de energia psíquica não se destina a explicar fenómenos tais como a fadiga mental, diferenças de vitalidade, etc, mas a elucidar problemas de deslocamentos de atenção, interesse e ligação, de determinado objeto ou atividade para outro objeto ou atividade. Eles são explicados postulandose que os QUANTA de energia são investidos nas REPRESENTAÇÕES mentais de OBJETOS e que esses quanta variam em sua * Acepção inglesa. (N. do T.)
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ENE
mobilidj ide. A energia vinculada é relativamente imóvel, sendo característica das partes estruturadas do APARELHO PSÍQUICO, isto é, do ego e dos PROCESSOS SECUNDÁRIOS, ao passo que o investir da energia móvel ou livre caracteriza partes não estruturadas do aparelho psíquico, ou seja, o id e os PROCESSOS PRIMÁRIOS. Em outras palavras, no pensar do processo primário, no SONIAR, por exemplo, as idéias e as imagens são relativamente intercambiáveis, de modo que determinada idéia ou imagem prontamente simboliza outra (v. SÍMBOLO), ao passo que, no peimr do processo secundário do pensamento racional consciente, as imagens, as idéias e as palavras possuem valor e significado relativamente constantes. É difícil evitar a conclusão de que a teoria freudiana de energia vinculada e móvel pouco tem a ver com o conceito de energia tal como utilizado pelas 'outras ciências naturais', sendo, na realidade, uma teoria do SIGNIFICADO disfarçada. Os motivos de Freud para tentar explicar o pensar em termos de movimentos de energia advêm de seu Prcjeto para uma Psicologia Científica (1895), onde tento explicai" processos psíquicos em termos de quanta de energia movimcntando-se de determinado NEURÔNIO (célula cerebral) para o atro. O adjetivo correspondente a 'energia' é 'ECONÓMICO'. OS quanta de energia investidos em representações mentais específicas são 'CATEXIAS'; como resultado disso, as representações a que a énergia se vincula são descritas como estando 'catexizadas', e aquelas das quais a energia foi retirada são descritas como estando 'descatexizadas'. Um problema de que se ocupou a psicanálise foi a questão defcaberse diferentes INSTINTOS OU ESTRUTURAS utilizariam formas diferentes de energia. Quando Freud defendeu o ponto de vistá de que havia dois grupos de instintos, os sexuais (v. SEXO) k os INSTINTOS DO EGO, sustentou que a energia dos instintos íexuais era a LIBIDO; jamais, porém, chegou a uma opinião clara quanto a saber se os instintos do ego também utilizam a libido ou alguma outra espécie de energia. De modo semelhante, quando acreditou que os dois grupos de instintos eram cs INSTINTOS DE VIDA e DE MORTE, sustentou que a libido era a energia dos instintos de vida, mas nunca criou um termo para energia do instinto de morte. Segundo os PSICÓLOGOS DO 87
ENG-ERO
EGO, o id está investido de energia sexual e agressiva, ao passo que o ego utiliza energia tomada de empréstimo ao id, que foi DESSEXUALIZADA e DESAGRESSIFICADA.
ENGOLFAMENTO Termo utilizado por Laing (1960) para descrever uma forma de ANSIEDADE sofrida por pessoas a quem falta segurança ontológica primária (v. ONTOLOGIA), nas quais as relações com outras pessoas são experimentadas como ameaças esmagadoras à sua IDENTIDADE. ENURESE Incontinência de urina. O molhar a cama, estritamente falando, é a enurese noturna. ENXAQUECA V. HEMICRANIA. EPINÓSICO Ocorre apenas na expressão 'ganho epinósico', sinonima de 'ganho secundário'. V. GANHO PRIMÁRIO E SECUNDÁRIO.
EPISTEMOFILIA Prazer em adquirir conhecimento. Há tendência a considerar a sede de saber quer como um derivado da ESCOPOFILIA, isto é, como uma extensão da curiosidade sexual, quer como uma SUBLIMAÇÃO de impulsos ORAIS. ERÓGENA, ZONA V. ZONA ERÓGENA. EROS Deus grego do Amor Sexual, utilizado por Freud para personificar a força da VIDA e os instintos sexuais. Em seus trabalhos posteriores, Eros foi contrastado com TÂNATOS, o deus da Morte, a personificação do INSTINTO DE MORTE. O emprego de Eros feito por Freud constitui mais metáfora poética do que ciência. A propriedade da metáfora deriva (a) do fato de que Eros era o amante secreto de PSIQUE e (b) de que 'seu papel era coordenar os elementos que constituem o universo. É ele que "traz harmonia ao caos" e permite que a vida se desenvolva. Essa divindade primitiva, personificação semiabstrata da força cósmica (...)' — Larousse Encyclopedia of Mythology. ERÓTICO Sexual, libidinàl, prazeroso (v. SEXO e LIBIDO). Segundo a psicanálise, todas as funções corporais acessíveis à 88
ERO-ESQ
consciêi cia podem ser fontes de prazer erótico, ao passo que as que envolvem as zonas erógenas habitualmente o são (v. também ZONAS ERÓGENAS). Daí, erotismo ORAL, ANAL, URETRAL, FÁLICO, GENITAL, etc. Funções corporais que não constituem normalmente fontes de prazer erótico, podem, por deslocamento, ornar-se erotizadas; se isso acontece, o órgão erotizado pode tcrnar-se o local de um sintoma NEURÓTICO ou PSICOSSOMÁTICO, pois está, por assim dizer, servindo a dois senhores. O emprego que a psicanálise faz de 'erótico' como conceitoponte efctre 'sexual' e 'prazeroso' pode produzir confusão; só de acorflo com o contexto é que se pode dizer se 'erótico' se refere a] um prazer que é experimentado como possuindo uma qualidade sexual ou a um prazer que se considera ter certa vinculação ! com sexo. EROTISMO ANAL de sensações anais.
Refere-se ao prazer sensual derivado
EROTISMO MUSCULAR Prazer na atividade corporal. ESCOPOFILIA Prazer em olhar. Relacionado pela teoria clássica como um dos INSTINTOS COMPONENTES infantis. A grafia 'escoptofilia' advém de equívoco cometido pelos primeiros tradutoras de Freud. V. VOYEURISMO. ESCOTOMIZAÇÃO Processo defensivo (v. DEFESA) através do qual o indivíduo deixa (conscientemente) de perceber (v. PERCEPÇÃO) áreas circunscritas ou de sua situação ambiental ou de si mesmo. (Derivado de escotoma: área em branco no campo ^sual). V. NEGAÇÃO. ESFINCTER Músculo em forma de anel que controla uma abertura] corporal. Menções à aquisição ou a perda do controle esfmcteriano ou dos esfincteres referem-se aos esfincteres que controlam a defecção e a urinação. ESQUECIMENTO Geralmente examinado sob os títulos de AMNÉSIA] e PARAPRAXIA. Há uma tendência a supor que todo esquecimento é devido à REPRESSÃO, embora, a priori, pareça im89
ESQ
provável a idéia de que, em saúde perfeita, recordaríamos todas as experiências de nossa vida inteira, por mais triviais que fossem. Se, como a teoria biológica sustenta, a função de recordar é tornar acessíveis experiências passadas enquanto se tomam decisões atuais, o esquecimento só será patológico se ocorrer com respeito a fatos que são importantes para o presente. ESQUIZOFRENIA Termo inventado por Eugen Bleuler para descrever a doença mental anteriormente conhecida como DEMÊNCIA PRECOCE e hoje utilizado de modo geral pela PSIQUIATRIA para descrever PSICOSES funcionais em que os sintomas são retraimento e pobreza de afeto (em contraste tanto com a capacidade de RAPPORT apresentada pelos sadios e neuróticos quanto com a DEPRESSÃO OU EUFORIA apresentada pelos MANÍACOS-DEPRESSIVOS), DELÍRIOS, ALUCINAÇÕES, confusão, pensamento AUTISTA e esquizofrénico (em que a sintaxe é rompida), e distúrbios no sentimento de IDENTIDADE. Para Bleuler, a essência da esquizofrenia era a separação entre as funções intelectuais e emocionais, tal como exemplificada pelo fenómeno conhecido por 'incongruência de afeto', no qual a idéia expressada e a emoção que a acompanha são incompatíveis. A psiquiatria descritiva distingue três variedades de esquizofrenia: HEBEFRENIA, CATATONIA e esquizofrenia PARANÓIDE. Para a atitude tanto da TEORIA CLÁSSICA quanto da TEORIA DOS OBJETOS sobre o problema da esquizofrenia, v. PSICOSE. Para a teoria de que a esquizofrenia é resultado de relações INTERPESSOAIS perturbadas dentro da família, v. VÍNCULO DUPLO. Para descrições pormenorizadas da psicanálise da esquizofrenia, v. Searles (1965), que inclui uma bibliografia exaustiva. ESQUIZOFRENÓGENO Adjetivo aplicado normalmente a genitor, tipicamente a MÃE, de cuja personalidade e comportamento se afirma (por aquele que emprega a expressão) que são capazes de induzir ESQUIZOFRENIA nos filhos. Também aplicado a famílias e situações. V. VÍNCULO DUPLO. ESQUIZÓIDE Adj. 1. Originalmente, referente a pessoas nas quais existe separação entre as funções emocionais e as 90
ESQ
intelecti ais. Esse emprego deve-se a Bleuler, que sustentava que essr separação constituía o distúrbio essencial na ESQUIZOFRENIA e nos tipos esquizóides de personalidade. 2. Por extensãc, referente a qualquer pessoa cujo caráter sugira a comparação com a esquizofrenia ou que (caso se tornasse PSICÓTICA) t( ria mais possibilidade de desenvolver esquizofrenia do que PSIC OSE MANÍACO-DEPRESSIVA. 3. Daí, por nova extensão, arredio, desconfiado, inclinado a ter uma vida de FANTASIA vívida. 4. Referente a pessoas cuja PSICOPATOLOGIA inclui o emprego de DEFESAS, tais como DIVISÃO, NEGAÇÃO, INTROJEÇÃO e PROJE £Ão, que permitem que a CULPA e a DEPRESSÃO sejam negadas 5. Utilizado para descrever essas defesas e a posição da infâicia da qual deriva o emprego das mesmas. Os empregos 4 e 5 derivam de hipótese formulada pela TEORIA ] os OBJETOS, a de que todas as pessoas são esquizóides ou DEPR ESSIVAS, sendo a diferença determinada por vicissitudes de desenvolvimento que ocorrem durante a POSIÇÃO ESQUIZOPARANÓI )E (Klein, v. KLEINIANO) ou esquizóide (Fairbairn, v. PSICOPATOLOGIA REVISTA DE FAIRBAIRN) e a POSIÇÃO DEPRESSIVA. DLÍ: Caráter esquizóide: 1. Pessoa desligada, arredia ou cujas
funções intelectuais e emocionais parecem estar separadas. 2. Pessoa cujas introjeções de objetos BONS e projeções de objetos MAJS (V. também OBJETO) e partes do eu (self) a tornam relativamente independente das outras e livre de culpa, às custas da desconfiança quanto aos outros e da superestimação de si mesma. Defesas esquizóides: esse termo refere-se ao uso combinado dal introjeção de objetos bons e da negação, divisão e projeção] dos aspectos maus do eu (self) como defesa contra a culpa,] a ansiedade e a depressão. Posição esquizóide: termo utilizado por Fairbairn para descrever a j situação que ocorre na infância primitiva e na qual o bebê interpreta a rejeição e a FRUSTRAÇÃO como provas de que seu amor é destrutivo, e reage pela divisão do EGO em três partes: d ego central (eu), o ego libidinàl, ligado a uma imagem boale 'aceitadora' do SEIO, e o ego antilibidinal (SABOTADOR INTERNO), ligado a uma imagem má e 'rejeitadora' do seio. O 91
ESS-EST
conceito assemelha-se à posição esquizo-paranóide de Klein, mas não utiliza a idéia de um INSTINTO DE MORTE. As dificuldades que cercam o conceito de 'esquizóide' advêm de duas fontes: (a) ele é utilizado em sentidos tanto descritivos quanto psicopatológicos; (b) o emprego psicopatológico é confundido, por derivar de duas versões diferentes da teoria dos objetos, a de Klein e a de Fairbairn, que concordam em acreditar que seja legítimo correlacionar estádios desenvolvimentais INFANTIS (v. também DESENVOLVIMENTO LIBIDINÀL) e processos psicóticos, mas diferem em suas suposições básicas sobre a natureza do INSTINTO; Klein utiliza a teoria freudiana de um INSTINTO DE VIDA e um instinto de morte, e Fairbairn concebe a AGRESSIVIDADE como reação à frustração e à rejeição. ESSENCIALISMO O oposto de EXISTENCIALISMO. A psicanálise freudiana é uma teoria essencialista, pois explica fenómenos em termos de essências, isto é, em termos de forças subjacentes aos fenómenos. ESTÁDIO ANAL V. FASE ANAL. ESTÁDIOS HUMANOS Segundo Erikson (1963), existem oito estádios humanos, durante cada um dos quais o indivíduo apresenta (ou deixa de apresentar) 'qualidades de ego — critérios pelos quais o indivíduo demonstra que seu EGO, em determinado estádio, é suficientemente forte para adequar o 'cronograma' do organismo à estrutura das instituições sociais'. Os oito estádios são: CONFIANÇA VS. DESCONFIANÇA BÁSICA, correspondente à fase ORAL da TEORIA CLÁSSICA; AUTONOMIA vs. VERGONHA E DÚVIDA, correspondente à fase ANAL da mesma teoria; INICIATIVA VS. CULPA, correspondente às fases FÁLICA e EDIPIANA; DILIGÊNCIA vs. INFERIORIDADE, correspondente ao PERÍODO DE LATÊNCIA; IDENTIDADE VS. DIFUSÃO DE PAPEL, correspondente à adolescência e início da idade adulta; INTIMIDADE vs. ISOLAMENTO, correspondente ao 'vigor dos anos'; GERATIVIDADE VS. ESTAGNAÇÃO, correspondente à meia-idade, e INTEGRIDADE DO EGO VS. DESESPERO, correspondente à velhice.
ESTEREÓTIPO Termo sociológico utilizado para designar a idéia popular ou convencional de como determinada classe de 92
EST
pessoas >e comporta, parece, etc. As idéias de que todos os judeus têm nariz adunco e são avarentos e de que os loucos são violentos constituem estereótipos evidentes. Mais sutis são os diversos! preconceitos sobre os tipos de comportamento apropriados ja homens e mulheres, jovens e velhos, etc, preconceitos càie pressupõem que os desvios desses tipos não são naturais] V. ATIVO E PASSIVO; MASCULINO; FEMININO. ESTIMULO Aquilo que provoca uma resposta ou reação no tecido vivo. Segundo a METAPSICOLOGIA freudiana, os estímulos são INTERNOS ou externos; os primeiros são IMPULSOS instintuais que provêm de dentro do organismo, mas incidem no APARELHO PSÍQUICO, e os últimos, impressões sensoriais derivadas do MEIO AMBIENTE. Os estímulos elevam a TENSÃO e produzem DESPRAZER (SOFRIMENTO), O qual é aliviado pela DESCARGA segundo o PRINCÍPIO DE REALIDADE. A barreira dos estímulos é aquela parte do aparelho psíquico que protege o EGO de lima estimulação excessiva; está voltada contra os estímulos tanto internos quanto externos. De acordo com certas descrições, las experiências traumáticas (v. TRAUMA) despedaçam a barreira dos estímulos. Fome de estímulos é anseio de estimu lação; a suposição subjacente ao conceito é a de que os organis mos exigem e buscam uma quantidade ótima de estimulação. Estímulo sinalizador é termo etológico (v. ETOLOGIA); referese ao comportamento que age como estímulo a comportamento complementar em outro membro da mesma espécie. Sorrir e chorar Ião estímulos sinalizadores. ESTRATOS Metáfora geológica através da qual lembranças, fases de DESENVOLVIMENTO, etc., são concebidas como tendo sido depositadas umas sobre as outras de maneira tal que as lembranças (v. MEMÓRIA) e fases mais primitivas se encontram màis ao fundo do que as posteriores. A metáfora insinua a idéia de que o 'MATERIAL' primitivo é mais inacessível do que o recenfe, e de que as doenças graves, intratáveis, têm origem mais primitiva do que as mais brandas. Quando, como pode acontecer, o 'material' primitivo se mostra mais facilmente acessível, recorre-se a uma outra metáfora geológica, a da 'falha'. 93
EST-EU
ESTRUTURAL As formulações estruturais descrevem a atividade mental em função da ação recíproca de estruturas psíquicas, tais como EGO, SUPEREGO e ID. Os 'OBJETOS INTERNOS' também são estruturas de uma vez que são concebidos como partes relativamente permanentes da mente. Os conceitos estruturais parecem ser inevitáveis nas teorias psicológicas que relacionam a experiência presente e passada e tomam conhecimento do CONFLITO. V. APARELHO PSÍQUICO; CONCEITO; DINÂMICO.
ETIOLOGIA E PATOLOGIA Termos frequentemente confundidos. Etiologia refere-se às causas da doença; patologia, aos processos anormais que se conclui serem responsáveis pelos sintomas manifestos. Por exemplo, a ANSIEDADE DE SEPARAÇÃO e a FIXAÇÃO ORAL podem fazer parte da patologia de um paciente, ao passo que uma história de SEPARAÇÃO da MÃE durante a fase oral pode constituir parte da etiologia de sua doença. ETOLOGIA Atualmente não é, como alguns dicionários dizem, a ciência da formação do caráter, mas sim o estudo do comportamento animal sob condições naturais. A relevância da etologia para a psicanálise origina-se (a) da possibilidade de fornecer-lhe uma teoria dos INSTINTOS baseada na observação de espécies não-humanas, e (b) da possibilidade de que algumas de suas técnicas se mostrem aplicáveis ao estudo de bebés e crianças, assim permitindo que as hipóteses psicanalíticas sobre o DESENVOLVIMENTO infantil sejam testadas pela observação direta. Pode-se argumentar que autores psicanalíticos, como Spitz (1959), que baseiam seu trabalho mais na observação direta de bebés do que no trabalho terapêutico, são mais etólogos humanos do que psicanalistas. V. On Aggression, de Lorenz (1966), para certos pontos de convergência entre a psicanálise e a etologia. EU (SELF) Quando utilizado simplesmente como nominativo da primeira pessoa do singular, 'eu' (/) não cria dificuldades; quando empregado substantivamente, porém, para referir-se a uma ESTRUTURA — a saber, 'o eu' —, suas relações 94
I EU
com 'o jeu' (self) e 'o EGO' nem sempre são claras. Em alemão, na verdade, 'o eu (/)' e 'o ego' são idênticos: 'das lch\ Contudo, dado o fato de a língua inglesa permitir uma escolha entre 'o eu' (/) e 'o ego', parece lógico utilizar 'o eu' (/) para o eu (yelf), quando ele é o SUJEITO da experiência, isto é, para aquela parte do eu (self) que pode afirmar 'eu sou', e o 'ego' para o eu (self) ou pessoa quando ele é o OBJETO da observação. Eu (self), portanto, é o SUJEITO encarado como AGENTE, como estando ciente de sua própria IDENTIDADE e de seu papel enquanto sujeito e agente. O eu (self) difere do EGO da teoria psicanalítica porque (a) o eu (self) se refere ao sujeito tal como ele se experimenta, ao passo que o ego se refere à sua personalidade como estrutura sobre a qual se podem fazer generalizações impessoais, e (b) o ego, tal como definido por Freud, contém partes INCONSCIENTES, reprimidas (v. REPRESSÃO), que não podem ser reconhecidas pelo eu (self) como partes de si mesmo. Uma das críticas existenciais (v. EXISTENCIALISMO) à TÉCNICA ANALÍTICA CLÁSSICA é a de que sua teoria, particularmente sua METAPSICOLOGIA, não deixa lugar para o eu (self) (v. ONTOLOGIA).
Quando o sujeito é encarado como o OBJETO de sua própria atividade, temos: Autopercepção: percepção de si mesmo como objeto da própria experiência. Autoconsciência: autopercepção, mas também percepção da possibilidade de que alguém esteja ciente de nós mesmos. Quando acompanhado pelo embaraço, isso implica falha na autopercepção. Teme-se que o outro nos perceba de maneira incompatível com nossa imagem de nós mesmos ou que nossa apresentação de nós mesmos seja inadequada à situação em que nos encontramos. V. IDENTIDADE; VERGONHA. Auto-estima: o valor que alguém concede a si mesmo. V. NARCISISMO. Auto-amor: amor a si mesmo. V. NARCISISMO. Auto-observação: observação de si mesmo. Relacionada por Freud como função do SUPEREGO, com fundamento no fato de que ela surge pela INTROJEÇÃO da experiência de ser 95
EVA-EXI
observado por outros, e de que é, em primeira instância, moralista. V. INTROSPECÇÃO. Autopreservação ou autoconservação: Anteriorme década de 1920, a teoria freudiana dos instintos (v. TEORIA DOS INSTINTOS) corria paralela às opiniões biológicas contemporâneas sobre instinto, os INSTINTOS DO EGO correspondendo aos instintos autopreservativos, e os sexuais, ao instinto reprodutivo. Autopunição: v. MASOQUISMO. Autocensuras: autocensuras e auto-acusações ocorrem na DEPRESSÃO e na fase DEPRESSIVA da PSICOSE MANÍACO-DEPRESSIVA, quase sempre sob formas delirantes e bizarras.* EVASIVA Termo utilizado por Laing (1961) para descrever o processo através do qual uma pessoa pode evitar a confrontação consigo mesma e com outras pela personificação de si mesma, isto é, pela representação do papel que de fato tem. Cita o garçom de Sartre e a Madame Bovary de Flaubert como exemplos de evasiva, a qual 'falsifica a verdade através de um fingimento duplo', ou seja, fingindo que a FANTASIA é REAL e, daí, fingindo que a realidade não passa de uma fantasia. EXIBICIONISMO 1. PERVERSÃO sexual que consiste na exposição, por parte de um indivíduo do sexo masculino, de seus órgãos GENITAIS a um indivíduo do sexo feminino. * Não é frequente a literatura psicanalítica em língua inglesa utilizar o pronome pessoal I (eu) no sentido de pessoa ou personalidade, caso em que prefere empregar self. Essa última palavra, porém, quase tanto quanto insight (v. COMPREENSÃO INTERNA), tem suscitado debates, não só em português, a propósito de sua tradução correta ou exata. O ideal, tal como sucede com insight, seria traduzi-la de diferentes maneiras, de acordo com seu sentido na frase: o eu, a pessoa, a própria pessoa, a personalidade, a individualidade, etc. Esse procedimento, entretanto, poderia dar origem a confusões e, visando a contribuir para a unificação de uma nomenclatura brasileira de termos psicanalíticos, optamos pela solução mais simples, lógica e sucinta, ou seja, traduzir self por "eu", mencionando entre parênteses, a palavra original empregada. Há, também, quem proponha a simples transliteração para "selfe". (N. do T.)
96
EXI-EXT
2. Comportamento semelhante, praticado por crianças do sexo masculino. 3. Por extensão, todo comportamento motivado pfelo prazer de ser olhado, da auto-exibição, do mostrar-se, ptc. Embora Freud relacione o exibicionismo como instinto jparcial e como componente normal da SEXUALIDADE INFANTIL, o exibicionismo nos sentidos 1 e 3 é normalmente interpretado como NEURÓTICO e defensivo (v. DEFESA), sendo sua função a de provar que se possui algo, obrigando-se algum objeto a reagir a esse algo, O exibicionismo generalizado das mulheres, que a sociedade, dentro de limites, tende a aceitar como normal, é quase sempre interpretado como um derivado da INVEJA DO PÊNIS, como se se baseasse na necessidade dejprovar que têm algo, a despeito de não terem um pênis. Os analistas atuais, contudo, mais provavelmente o consideram uma DEFESA MANÍACA contra a DEPRESSÃO, a FRIGIDEZ ou o medo da perda da IDENTIDADE ('Devo ser real, pois estou sendo olhada'). O exibicionismo verdadeiro dos órgãos genitais é quase desconhecido nas mulheres. Para dados sociológicos e FORENSES sobre o exibicionismo, v. Mohr e outros (1965). EXISTENCIALISMO Teoria filosófica que dá prioridade à FENOMENOLOGIA e à ONTOLOGIA, em vez de à CAUSAÇÃO, e que
rejeita as explicações dadas em termos de essências, que se imagina agirem sobre um comportamento a partir de dentro, em favor do estudo dos próprios fenómenos. Para exames gerais do relacionamento entre a psicanálise existencial e a freudiana, vi Hartmann (1964), Lomas (1967), May (1967) e os trabalhos de R. D. Laing. V. também ESSENCIALISMO. EXOGAMIA Costume ou lei que exige que o casamento se realize com alguém não pertencente à tribo ou grupo TOTÊMICO.! V. também ENDOGAMIA. EXÓGENO Oriundo de fora. V. DEPRESSÃO. EXTERNALIZAÇÃO Processo pelo qual uma imagem mental í imaginada como externa ao EU (SELF), e pelo qual 97
EXT-EXU
um 'OBJETO interno' (v. também INTERNO) é projetado para alguma figura do mundo externo. Nesse sentido, é sinonimo de PROJEÇÃO e oposto de INTROJEÇÃO, não de INTERNALIZAÇÃO. Fairbairn, contudo, utiliza externalização e internalização em sentido um tanto individual para descrever a localização de objetos fora e dentro do eu (self) durante o estádio transicional de desenvolvimento deste. V. PSICOPATOLOGIA REVISTA DE FAIRBAIRN; TÉCNICA; QUASE-INDEPENDÊNCIA.
EXTROVERSÃO E INTROVERSÃO 1. Tal como utilizados por Jung, tipos de personalidade que diferem na importância concedida às percepções externas e às idéias internas. 2. Tal como empregado por Eysenck, dimensão da personalidade, segundo a qual todos os indivíduos podem ser classificados em algum ponto situado ao longo de um eixo extroversão-introversão. Segundo Eysenck (1965), a extroversão corresponde ao temperamento colérico e sanguíneo, de Galeno, e a introversão, ao melancólico e fleugmático. Endossa também a igualação popular do extrovertido com 'desembaraçado' e do introvertido com 'introspectivo'. Nenhum dos termos é muito utilizado, quer por analistas quer por psiquiatras, embora haja tendência a igualar 'introvertido' com 'retraído' ou 'ESQUIZÓIDE'. De acordo com as descobertas de Eysenck, os psicopatas e os histéricos tendem a caracterizar-se em alto grau pela extroversão e os pacientes fóbicos e obsessivos muito marcados pela introversão. EXULTAÇÃO Sensação de animação e triunfo que ocorre tipicamente após um sucesso. Como termo patológico, emoção que acompanha a MANIA. A exultação patológica é geralmente interpretada como uma inversão do relacionamento entre o EGO e o SUPEREGO existente na DEPRESSÃO. Como resultado dessa inversão, o ego se sente como se tivesse triunfado sobre o superego (ou se fundido com ele); em vez de sentir-se oprimido e alienado, sente-se liberado e concorde com o mundo. V. Lewin (1951), para a psicopatologia da exultação e sua relação com o entusiasmo e o êxtase. 98
FAI-FAL
FAIRBAIRN, PSICOPATOLOGIA REVISTA DE V. PSICOPATOLOGIA REVISTA DE FAIRBAIRN.
FALHA BÁSICA V. DEFEITO BÁSICO. FALHADO OU FALHO, ATO V. PARAPRAXIA. FÁLICO V. PÊNIS E FALO. Daí: Caráter fálico: pessoa que apresenta traços de caráter COMPULSIVOS referíveis à fase fálica (v. abaixo); mais especificamente, pessoa que concebe o comportamento sexual como demonstração de potência, em contraste com o CARÁTER GENITAL, que o imagina como participação num relacionamento. Fase fálica: fase do DESENVOLVIMENTO LIBIDINÀL infantil (v. também INFANTIL), em que a criança se mostra preocupada com seu pênis, com as funções deste e com a idéia de potência em geral. Sucede a FASE ANAL e precede a FASE EDIPIANA. Mulher fálica: 1. idéia de uma mulher com atributos fálicos, geralmente uma concepção INFANTIL da MÃE durante as fases PRÉ-EDIPIANAS do DESENVOLVIMENTO LIBIDINÀL, ou uma concepção neurótica das mulheres, encontrada em homens com aversão às mulheres ou com atitude masoquista e submissa para com elas (v. MASOQUISMO; SUBMISSÃO). O conceito também é encontrado nas religiões primitivas, na mitologia e no folclore. 2. Mulher que é concebida por outras pessoas, ou por si mesma, como encarnação de tal idéia. Em ambos os casos, não está claro se a mulher deve ser encarada como masculina ou hermafrodita. FALO V. PÊNIS E FALO. FALOGÊNTRICA Termo utilizado por Jones para descrever a tendência da TEORIA CLÁSSICA a conceder importância
FAM-FAN
excessiva ao PÊNIS e, em particular, a explicar a psicologia das mulheres como reação à sua descoberta de que lhes falta um pênis. V. ATIVO E PASSIVO; CASTRAÇÃO; INVEJA DO PÊNIS. FAMÍLIA A família, na psicanálise, é sempre aquilo que os antropólogos chamam de família nuclear, formada do pai, mãe e filhos que se consideram a si mesmos, e são considerados pela sociedade, como uma unidade básica, e não a família ampliada do clã ou tribo. Por conseguinte, fenómenos tais como o COMPLEXO DE ÉDIPO e arivalidadeentre irmãos (v. N. do T. ao verbete SIB) são sempre definidos em termos que não fariam sentido se aplicados a culturas em que tios e avós não fossem menos significantes do que pais ou primos, e os irmãos não fossem claramente diferenciados. Também em consequência disso, fenómenos tais como crises de IDENTIDADE nos adolescentes, que, aparentemente, só ocorrem nas famílias nucleares, são definidos como se fossem inerentes à natureza humana. A terapia familiar é a PSICOTERAPIA que considera a família, e não o paciente individualmente, como objeto terapêutico. Family Process é o periódico americano em que são publicadas pesquisas baseadas na suposição de que as neuroses constituem distúrbios intrafamiliais. Romance familiar é a fantasia de infância de que os pais aparentes não são os verdadeiros, e de que se é, realmente, de nascimento nobre ou real. FANTASIA O conceito psicanalítico de fantasia compartilha das ambiguidades inerentes ao uso cotidiano da palavra. Num de seus sentidos, fantasia refere-se a imaginar, devanear, ver na fantasia, em contraste com o pensamento e comportamento adaptativos (v. ADAPTAÇÃO). Nesse sentido, é sinónimo do devanear neurótico. Em outro sentido, refere-se à atividade imaginativa subjacente a todo pensamento e sentimento. Nos trabalhos teóricos, visa-se geralmente a esse último sentido, daí a grafia 'phantasy' adotada pelos autores ingleses, mas não pelos americanos (v. FANTASY). Todas as escolas concordam que a atividade mental consciente é acompanhada, apoiada, mantida, animada e influenciada pela fantasia INCONSCIENTE, a qual começa na infância, se interessa primariamente (originalmente) 100
FAN
em processos e relações biológicas, e experimenta elaboração simbólica (v. SÍMBOLO). Existem, contudo, consideráveis diferenças de opinião quanto ao valor prático de fazer INTERPRETAÇÕES em função da fantasia inconsciente; os KLEINIANOS sustentam que só essas interpretações são eficazes, e os da corrente da psicologia do ego (v. PSICOLOGIA DO EGO) acreditam que elas têm probabilidade de serem 'fantásticas' (isto é, serem afirmações dramáticas sobre, digamos, querer atacar o SEIO OU O PÊNIS, que pouco sentido fazem para o EGO adulto do paciente). A teoria kleiniana utiliza a 'fantasia inconsciente' como cbnceito-ponte entre o INSTINTO e o pensamento. 'Sobre as opiíiões aqui desenvolvidas: (a) as fantasias são o conteúdo primário de processos mentais inconscientes; (b) as fantasias inconscientes versam primariamente sobre corpos e representam intuitos instintuais para com objetos; (c) essas fantasias são, em primeira instância, os representantes psíquicos de instintos libidinais e destrutivos (...); (j) a ADAPTAÇÃO à REALIDADE e o pensar de realidade exigem o apoio de fantasias inconscientes confluentes (...)' (Susan Isaacs, 1952). A teoria clássica demonstra quase a mesma proposição, ao localizar as fantasias no ID. As fantasias podem ser PROFUNDAS ou SUPERFICIAIS; ORAIS; ANAIS; -FÁLICAS; GENITAIS; CONSCIENTES; LIBIDINAIS OU agressivas (v. AGRESSIVIDADE); INFANTIS OU adultas; sádicas ou masoquistas (v. SADISMO e MASOQUISMO); CRIATIVAS (V. CRIATIVIDADE) ou NEURÓTICAS; HISTÉRICAS; OBSESSIVAS; DEPRESSIVAS; ESQUIZÓIDES; PARANÓIDES; etc. V. também IMAGINAÇÃO; SIMBOLISMO.
FANTASY e PHANTASY Segundo o O. E. D., 'no uso moderno, fantasy e phantasy, apesar de sua identidade de som e etimologia, tendem a ser compreendidas como palavras independentes, sendo o sentido predominante da primeira "capricho, extravagância, invenção fantasiosa", e o da segunda, "imaginação, ncfção visionária".' Como o conceito psicanalítico se aparenta liais à IMAGINAÇÃO do que ao capricho, os autores psicanalíticos ingleses invariavelmente utilizam phantasy e não fan101
FAS-FEM
tasy, mas poucos — se é que algum — autores americanos os acompanharam nesse proceder. * FASE ANAL Fase do (a) DESENVOLVIMENTO LIBIDINÀL infantil postulada pela TEORIA DOS INSTINTOS, na qual o ânus e a defecação constituem a fonte mais importante de prazer sensorial e formam o centro de auto-percepção (v. EU) dío bebê, e (b) do DESENVOLVIMENTO DO EGO infantil, na qual o domínio do corpo, particularmente dos ESFINCTERES, e a socialização dos impulsos são as principais preocupações do bebê. FEMINILIDADE, FEMININO Referente a padrões de comportamento, atitudes, etc., que se presume serem características sexuais secundárias psicológicas do indivíduo do sexo feminino. A TEORIA CLÁSSICA tende a supor que a feminilidade possui vinculação essencial com a PASSIVIDADE e o MASOQUISMO, e que a psicologia feminina se centraliza em torno das dificuldades envolvidas em assumir uma posição desamparada. Ao passo que, como diz o jargão, os homens 'adotam o papel masculino', as mulheres 'aceitam o papel feminino', relutantemente, e só depois de 'renunciarem ao PÊNIS'. Como Jones indicou, essa visão da feminilidade constitui exemplo da prevenção 'FALOCÊNTRICA' de Freud e foi criticada por muitas analistas, mas não por todas. V. Payne (1935), para um conceito de feminilidade baseado na idéia de receptividade. V. MASCULINO, para alguns dos obstáculos à descoberta de quais características mentais são inatamente masculinas ou femininas. V. também ATIVO E PASSIVO,* BISSEXUAL; CASTRAÇÃO.
FEMININO V. FEMINILIDADE, FEMININO. * Embora, como se sabe, exista uma só grafia portuguesa dessa palavra, que abrange ambos os sentidos que são distinguidos na Inglaterra, julgamos de interesse manter neste dicionário o presente verbete, a título de orientação para o leitor que venha eventualmente a ler no original obras psicanalíticas de autores de língua inglesa ou para tal idioma traduzidas. Seria possível manter a distinção em português, grafando-se "fantasia" e "phantasia". (N. do T.)
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FEN-FET
FENÓMENO DE ISAKOWER Experiência HIPNAGÔGICA descrita pela primeira vez por Isakower (1938), na qual o indivíduo imagina que massas macias e pastosas se movem na direção de seu rosto. Isakower interpretou esse fenómeno como revivescência da experiência do bebê de estar ao SEIO. V. em Lewin (1946) a exposição da relevância desse fenómeno para seu conceito de TELA ONÍRICA (OU DO SONHO) e para a psicologia do SONO. FENOMENOLOGIA Estudo da experiência. Os estudos fenomenòlógicos (a) restringem-se a experiências conscientes, sem postular que estas são efeito de processos subjacentes, nem explicá-las como manifestações de noumena, essências, princípios, etc, de que os sentidos não têm conhecimento; (b) formulam seus dados do ponto de vista do SUJEITO. Os psicoterapeutas e filósofos que adotam o ponto de vista fçnomenológico geralmente rejeitam a idéia do INCONSCIENTE e também aquelas partes da teoria psicanalítica, tais como a METAPSICOLOGIA, que são formuladas como se o sujeito pudesse ser observado a partir de fora, isto é, sem que o observador se identifique com ele (v. IDENTIFICAÇÃO). V. também EXISTENCIALISMO; ESSENCIALISMO; ONTOLOGIA; PERSONOLOGIA.
FETICHE 1. Objeto inanimado adorado pelos selvagens por causa pe seus poderes mágicos ou por ser habitado por um espírito. Daí, 2. objeto que um fetichista dota de significação sexual, e em cuja ausência é incapaz de excitação sexual. Um fetiche sexual é cu um objeto inanimado ou uma parte não-sexual de uma pessoa; os objetos inanimados são geralmente roupas, calçados ou artigos de adorno, e os animados são tipicamente pés ou cabelos. Pode-se dizer que os fetichistas consideram seu fetiche como 'habitado por um espírito', já que ele claramente se associa a uma pessoa, sem ser uma pessoa, e como possuidor de 'poderes mágicos', já que sua presença lhes fornece a potência que, de outra maneira, lhes falta. O fetichismo constitui exemplo clássico de um pensar segundo o processo primário, que influencia o comportamento, pois (a) o fetiche possui significados múltiplos, derivados de outros objetos através da CONDENSAÇÃO, do DESLOCAMENTO e 103
FEZ-FIX
da SIMBOLIZAÇÃO, e (b) o fetichista se comporta como se o fetiche realmente fosse esses outros objetos, não sendo mais perturbado pela incongruência ou absurdo do que o é alguém que sonha, enquanto sonha (v. SONHO). V. PROCESSOS PRIMÁRIO
E SECUNDÁRIO; DIVISÃO.
FEZES Excremento, merda. Como a fase ANAL é a segunda das fases PRÉ-GENITAIS do DESENVOLVIMENTO LIBIDINÀL, e como a aquisição do controle dos ESFINCTERES, OU seja, dos intestinos, é a conquista da fase correspondente do DESENVOLVIMENTO DO EGO, as palavras 'fezes' e 'defecação' figuram de modo proeminente em todas as histórias clínicas psicanalíticas. Quem quer que se incline a mostrar-se cético quanto ao fato de as fezes e a defecação desempenharem realmente um papel tão importante em nossa vida mental quanto a literatura indica, deveria refletir sobre até que ponto a linguagem obscena invoca termos fecais para expressar ofensas, desprezos e menoscabo. FICÇÃO Alguns, mas nem todos, CONCEITOS psicanalíticos são ficções, isto é formulam os fenómenos mentais como se fossem fenómenos de alguma outra espécie. A ficção central da TEORIA CLÁSSICA é o APARELHO PSÍQUICO, que permite que os processos mentais sejam concebidos como funções de uma coisa ou ESTRUTURA hipotética. A tendência a utilizar ficções parece derivar da suposição de que as formulações que soam de modo OBJETIVO são mais científicas (v. CIÊNCIA) do que aquelas que abertamente admitem serem subjetivos os fenómenos mentais. V. MODELO; REIFICAÇÃO. FILOGENÉTICO Relativo à evolução da espécie. V. ONTO-
GENIA E FILOGENIA.
FINAL OU TERMINAL, PRAZER V. PRAZER FINAL OU TERMINAL.
FIXAÇÃO Processo através do qual uma pessoa se torna ou permanece ambivalentemente (v. AMBIVALÊNCIA) ligada a um OBJETO, sendo este um objeto que foi adequado a uma fase anterior de DESENVOLVIMENTO. A fixação, portanto, constitui prova do fracasso em progredir satisfatoriamente através das 104
FOB
fases dd DESENVOLVIMENTO LIBIDINÀL. O conceito supõe que a pessoa fixada (a) tende a empenhar-se em padrões de comportamento ultrapassados, INFANTIS, OU a regredir (v. REGRESSÃO*) a tais padrões, quando sob tensão; (b) tende a escolher compulsivamente (v. COMPULSIVO) objetos, com base em sua semelhança com aquele em que está fixada; (c) sofre de empobrecimento da ENERGIA disponível, em consequência de seu investimento no objeto passado. A FRUSTRAÇÃO e a SATISFAÇÃO excessivas e o AMOR e o ÓDIO excessivos foram aduzidos como causas de fixação. Daí fixação oral, fixação materna, fixação anal, fiiação paterna (q. v. ). FOBIA 1. Sintoma que consiste em experimentar ANSIEDADE desnecessária ou excessiva em alguma situação específica ou na presénça de algum objeto específico. .Daí agorafobia, ansiedade sentida em espaços abertos (v. AGORAFOBIA); claustrofobia, ansiedade sentida num espaço fechado (v. CLAUSTROFOBIA); fobia dé aranhas, cobras, etc. 2. NEUROSE em que a fobia, no sentipo 1, constitui o sintoma predominante. Nesse sentido, sinônimt) de doença fóbica e HISTERIA DE ANGÚSTIA. Daí: Ansiedade fóbica: ansiedade provocada por algum objeto ou situação externos e inteiramente fora de proporção com sua real periculosidade. V. defesa fóbica (abaixo). Caráter fóbico: pessoa que habitualmente lida com aquelas situações que têm probabilidade de lhe causarem ANSIEDADE e CONFEITO, evitando-as tipicamente pela restrição de sua vida e pela lecusa em separar-se de um dos pais ou figura parental protetora e ideal. Daí caráter contrafóbico: pessoa que adota utna atitude contrafóbica para com a vida, executando e obtendo prazer em executar precisamente aquelas atividades que são perigosas e despertam ansiedade nas pessoas 'normais'. A atitude contrafóbica é geralmente considerada uma forma de DEFESA j MANÍACA, suas satisfações advindo do sentimento de triunfo e ONIPOTÊNCIA que é despertado pelo domínio bem sucedido dm ansiedade. Defesa fóbica: manobra defensiva (v. DEFESA) de evitar aqueles fobjetos e situações que dão origem à ansiedade fóbica. Todas is escolas concordam que o objeto (situação) fóbico (a) desperta ansiedade não por si mesmo, mas porque se 105
FOR-FRI
tornou o SÍMBOLO de alguma outra coisa, isto é, porque representa algum impulso, desejo, OBJETO INTERNO OU parte do EU (SELF) que o paciente foi incapaz de enfrentar. A TEORIA CLÁSSICA considera a doença fóbica como uma forma de HISTERIA e daí seu sinonimo, 'histeria de angústia' ou 'de ansiedade'; contudo, os livros didáticos de psiquiatria contemporâneos geralmente a vinculam à NEUROSE OBSESSIVA. Os terapeutas do comportamento (v. TERAPIA DO COMPORTAMENTO) encaram-na como uma condição apropriada para o tratamento por descondicionamento, como fundamento em que o sintoma é um fenómeno isolado passível de ser tratado sem referência à personalidade do paciente. FORENSE Utilizado em tribunais de justiça. Daí medicina forense ou legal, psiquiatria forense. FORMAÇÃO CONCILIATÓRIA ou FORMAÇÃO DE CONCILIAÇÃO Qualquer fenómeno mental que seja produto de CONFLITO e expresse parcialmente ambas as partes do conflito. Tipicamente, sintoma que faz conciliação entre o impulso reprimido e a instância repressora (v. REPRESSÃO). FORMAÇÃO REATIVA OU FORMAÇÃO DE REAÇÃO Processo defensivo (mecanismo de DEFESA) através do qual um IMPULSO inaceitável é dominado pela exageração (hipertrofia) da tendência contrária. A solicitude pode constituir uma formação reativa contra a crueldade; a limpeza, contra a coprofilia (v. COPRO); etc. A formação reativa é considerada, na TEORIA CLÁSSICA, como DEFESA OBSESSIVA, e geralmente se supõe que o impulso rejeitado e INCONSCIENTE sobrevive em sua forma original e INFANTIL, ÀS vezes, porém considera-se a possibilidade de a formação reativa constituir a base da SUBLIMAÇÃO (em cujo caso o impulso infantil não é mais reprimido — v. REPRESSÃO — , mas transformado). FRIGIDEZ Embora alguns autores utilizem a palavra 'frigidez' para descrever todas as inibições sexuais nas mulheres, inclusive a incapacidade de ter ORGASMOS vaginais (v. também VAGINA), ela se restringe melhor à incapacidade de ser, por 106
FRO-FRU
qualquer maneira, sexualmente excitada. De uma vez que muitas mulheres têm prazer com a relação sexual sem chegar a um clímax, a definição mais ampla conduz ao absurdo de designar como frígidas mulheres sexualmente capazes de reação. V. 'Medica' (1955), Gorer (1966). A frigidez só poderá ser encarada como sintoma neurótico (a) se for persistente ou (b) jse ocorrer mesmo nas circunstâncias mais favoráveis; de outro modo, trata-se de sinal ou de inexperiência ou de insinceridade (por parte da mulher ou de seu parceiro). FRONTEIRA DO EGO Conceito TOPOGRÁFICO pelo qual se imagina seja delineada a distinção entre EU (SELF) e não-eu. Diz-se que faltam a um paciente fronteiras do ego caso ele se identifique (v. IDENTIFICAÇÃO) prontamente com outros, fazendo isso às expensas de seu próprio sentimento de IDENTIDADE. Os analistas que sustentam que o BEBÊ vive em estado de identificação primária com a MÃE, postulam o desenvolvimento gradativo de uma fronteira do ego, isto é, a descoberta de que os objetos não fazem parte do próprio bebê. FRONTEIRIÇO Um caso fronteiriço é o constituído por um paciente que se encontra na fronteira entre a NEUROSE e a PSICOSE, isto é, um paciente cuja PSICOPATOLOGIA desafia a categorização, ou um outro cujos mecanismos são psicóticos, mas cujt) comportamento não autoriza que seja tratado como psicótico. A utilização surge do fato de os sistemas diagnósticos (v. DIAGNÓSTICO) presumirem que a neurose e a psicose são mutuamentUeE nexclusivas, ao passo que a observação clínica mostra 4 ^o são. FRUSTRAÇÃO Estado de ser, ou de ter sido, recusado, malogrado ou desapontado. A frustração e a PRIVAÇÃO são frequentemente confundidas, mas, estritamente falando, a primeira refere-se ao efeito da não-satisfação de um impulso ou do fracasso em atingir um objetivo, ao passo que a segunda se refere à falta do elemento necessário ou da oportunidade necessária para a satisfação. As teorias de frustração e de privação da neurose tendem, não obstante, a serem idênticas quando supõem que a privação conduz à frustração, esta à 107
FUG-FUN AGRESSIVIDADE, DEFESAS. . .
a agressividade à ANSIEDADE, a ansiedade a
Embora popularmente se suponha que a psicanálise sustente que a frustração é perniciosa, esta não é toda a verdade, pois ela sustenta também que o DESENVOLVIMENTO DO EGO é iniciado pela frustração. Na verdade, as teorias de frustração da neurose presumem que tanto a frustração quanto a privação, além de certo limiar de intensidade, são patogênicas (v. L
MIAR).
FUGA 1 (FLIGHT) O instinto ou padrão de comportamento inato da fuga não figura na teoria psicanalítica. V. MEDO; ANSIEDADE; INSTINTO.
FUGA 2 (FUGUE) Termo psiquiátrico para designar o processo pelo qual uma pessoa sai a vaguear, sem saber quem é ou onde se encontra. As fugas são geralmente classificadas como HISTÉRICAS e citadas como exemplos de DISSOCIAÇÃO da consciência. Condição rara, a maioria dos casos citados nos livros didáticos de psiquiatria ocorreram com pessoas tais como rapazes de internato e soldados conscritos, que se sentem apanhados em situações nas quais não são mais agentes livres. FUGA PARA A DOENÇA Expressão utilizada para descrever a fuga ao conflito, que é conseguida pelo desenvolvimento de sintomas. FUGA PARA A SAÚDE Expressão utilizada para descrever a rápida recuperação sintomática ocasionalmente apresentada por pacientes que desejam evitar a investigação psicanalítica. Provavelmente uma DEFESA MANÍACA. FUNÇÃO DO EGO Como a psicanálise atribui todas as funções ao ego, tudo o que o indivíduo possa fazer constitui função do ego. FUNÇÕES AUTÓNOMAS DO EGO Trata-se de funções que deixaram de ser diretamente influenciadas pelos INSTINTOS, dos quais derivam, e em que, portanto, os CONFLITOS não po108
FUR-FUT
dem interferir. Nas pessoas sadias, a fala, a respiração, o andar constituen funções autónomas do EGO e o conflito não lhes produz gagueira, asma ou paralisia das pernas. As atividades que se tornaram funcionalmente autónomas são exemplos de DESENVOLVIMENTO DO EGO e SUBLIMAÇÃO bem sucedidos, e utilizam ENERGIA desagressificada e dessexualizada (v. DESAGRESSIFIUAÇÃO e DESSEXUALIZAÇÃO) . Nas formulações TOPOGRÁFICAS , as funções autónomas ocupam a ÁREA DO EGO LIVRE DE CONFLITOS. Ver Hartmann (1958), FUROR THERAPEUTICUS Expressão depreciativa para designar! o entusiasmo terapêutico. Segundo Freud, o furor therapeuticus é contrário aos interesses a longo prazo dos pacientei que estão sendo analisados. Mas v. Malan (1963) para seu valor na terapia a curto prazo. FUSÃO IEDESFUSÃO * Segundo os trabalhos especulativos posterioijes de Freud, os INSTINTOS não apenas se encontram LITO, mas também são capazes de fundir-se e desfunem modo algum, jamais temos de lidar com INSTINTOS dir-se. DE VIDA e INSTINTOS DE MORTE puros, mas apenas com combinações deles, em diferentes graus. Correspondendo à fusão dos instintos, pode, em certas condições, ocorrer uma desfusão deles' (Fr^ud 1924). Os analistas que aceitam esse ponto de vista sufjõem que, na saúde, os instintos de vida e os de morte estão f u n d iidos, com preponderância dos instintos de vida; que nasperversões sádicas (v. SADISMO) e masoquistas (v. MASOQU|SMO), eles estão fundidos, com predominância do instinto demorte, e que, nas NEUROSES OBSESSIVAS, ocorre a desfusão, o instinto de vida do paciente tornando-se o objeto de seucom iástinto de morte. FUTILIDADE, SENTIMENTO DE
V. SENTIMENTO DE FU-
TILIDADE
* Nem o Webster's New Collegiate Dictionary, nem o Concise Dictionat y registram esse antônimo de fusão, o qual, entretanto, preferinu s acolher como neologismo a ter de utilizar outra palavra para tra luzir fusion e, consequentemente, defusion. (N. do T.)
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GAN-GEN
G GANHO PRIMÁRIO E GANHO SECUNDÁRIO (PARANÓSICO E EPINÔSICO) O ganho primário (paranósico) de um SINTOMA consiste em, por meio da formação desse sintoma, a pessoa ficar livre da ANSIEDADE e do CONFLITO. O ganho secundário (epinósico) consiste nas vantagens práticas que podem ser alcançadas usando o sintoma para influenciar ou manipular outras pessoas. Por exemplo, o ganho primário da AGORAFOBIA consiste em, ao ser incapaz de abandonar o lar, livrar-se da ansiedade e do conflito — referentes à AMBIVALÊNCIA para com as figuras parentais; o ganho secundário é a possibilidade de utilizar o sintoma para evitar compromissos desagradáveis ou obrigar outras pessoas a fazerem companhia ao indivíduo que sofre da fobia. Os parentes dos pacientes tendem a perceber perfeitamente os ganhos secundários da neurose, mas a esquecer seus ganhos primários. GENÉTICO Na literatura psicanalítica, quase sempre significa 'ONTOGENÉTICO', ou seja, relacionado com o desenvolvimento do indivíduo, e não 'filogenético', que se refere ao desenvolvimento da espécie. Daí dever-se ignorar as associações da palavra com 'genética' (ciência) e 'genes' e encará-la como sinonimo de 'desenvolvimental' (v. DESENVOLVIMENTO). GENITAL, CARÁTER V. CARÁTER GENITAL. GENITAL, NÍVEL V. NÍVEL GENITAL. GENITALIDADE 'Embora a psicanálise tenha, ocasionalmente, ido longe demais em sua ênfase à genitalidade como cura universal para a sociedade, e assim tenha fornecido uma nova inclinação e um novo elemento para muitos que desse modo quiseram interpretar seus ensinamentos, ela nem sempre indicou todos os objetivos que a genitalidade, realmente, de110
GER-GRU
veria etíevesubentender. A fim de ser de significação social duradoura, a utopia da genitalidade deveria incluir: 1. mutualidade de orgasmo 2. com um parceiro amado 3. do outro sexo 4. com quem se é apto e se está disposto a partilhar de uma confiança mútua e com quem se é apto e se está disposto a regular os ciclos de a. trabalho b. procriação c. recreação 6. de maneira a assegurar, também à descendência, todos os estádios de um desenvolvimento satisfatório' (Erikson, 1963). GERATIVIDADE versus ESTAGNAÇÃO Expressão de Erikson para designar o sétimo de seus oito ESTÁDIOS HUMANOS. Corresponde à meia-idade. 'Geratividade é, primariamente, o interesse em criar e orientar a geração seguinte ou o que quer que, em] determinado caso, possa tornar-se o objeto absorvente de um tipo de responsabilidade dos pais. Quando esse enriquecimento] fracassa, ocorre uma regressão da geratividade para uma necessidade obsessiva de pseudo-intimidade, marcada por momentos de repulsa mútua, não raro com um sentimento penetrante (e provas objetivas) de estagnação individual e empobrecimento interpessoal'. (Erikson, 1963). GLOBUS HYSTERICUS Impressão subjetiva de ter uma 'bola' nja garganta; ocorre na ausência de qualquer massa palpável. GRUPO Certo número de pessoas unidas para algum propósito ou possuindo interesses, aspirações, funções e temores 111
HAP-HEM
comuns, os quais permitem que elas sejam diferenciadas como entidade social tanto por si mesmas quanto pelos outros. Psicologia de grupo: ramo da psicologia interessado no comportamento dos grupos e na psicologia da filiação a grupos. Provavelmente, não distinguível de psicologia social ou Massenpsychologie. As formulações psicanalíticas acentuam a IDENTIFICAÇÃO entre os membros, a identificação dos membros com um líder e o relacionamento com o inimigo comum, desempenhando esses três fatores papel importante na diminuição dos efeitos desintegradores da rivalidade entre os membros. Psicoterapia de grupo: qualquer forma de PSICOTERAPIA em que mais de dois pacientes estejam presentes. Na maioria das formas de psicoterapia de grupo, o grupo é inicialmente um artefato criado pelo terapeuta ao selecionar os membros; presume-se, porém, que o relacionamento comum com este conduzirá à formação de uma situação grupai genuína. A psicoterapia de grupo de grupos 'naturais', de FAMÍLIAS inteiras, por exemplo, parece constituir uma raridade. Análise de grupo: Psicoterapia de grupo em que o terapeuta restringe suas atividades à INTERPRETAÇÃO da dinâmica do grupo. V. Foulkes e Anthony (1957).
HÁPTICO Referente ao tato. HEBEFRENIA Forma de ESQUIZOFRENIA caracterizada pelo retraimento, maneirismos bizarros e desleixo da pessoa. HETERONOMIA
V. AUTONOMIA E HETERONOMIA.
HEMICRANIA Corretamente, severa cefaléia unilateral, com fotofobia (dolorosa sensibilidade à luz) e castelações (imagens visuais semelhantes às ameias de um castelo). 112
HET-HIP
HETEROSSEXUAL, HETEROSSEXUALIDADE Referemse a coéiportamento, impulsos, desejos, etc, sexuais, em que o objeto é uma pessoa do sexo oposto. HIPNAGÓGICO Adjetivo referente ao estado de sonolência, que ocorre quando se está adormecendo (v. SONO), e a experiências, tais como ALUCINAÇÕES, que ocorrem durante esse estado. HIPNOANÁLISE Forma de PSICOTERAPIA na qual o paciente é deixado sonolento por sedação, antes da sessão terapêutica. Os motivos apresentados para tal tratamento baseiam-se na idéia de que a sonolência do paciente reduzirá a RESISTÊNCIA e o tornará mais receptivo às INTERPRETAÇÕES e sugestões do terapeuta. HIPNÓjDE Semelhante ao sono. Segundo Breuer, colaborador de Freud nos Estudos Sobre a Histeria (1895), os estados hiphóides ocorrem frequentemente em mulheres que se dedicam a atividades, tal como o trabalho doméstico, que não exigem toda a sua atenção e predispõem à HISTERIA. HIPNOPÔMPICO Adjetivo referente ao estado de sonolência por que se passa ao despertar do SONO, e a experiências, tais como ALUCINAÇÕES, que ocorrem durante esse estado. HIPNOSE SONO induzido artificialmente. Estado semelhante ao TRANSE, induzido pelo HIPNOTISMO. HIPNOTISMO Processo que consiste em colocar uma pessoa em estado de TRANSE, no qual fica desperta, mas experimenta Um empobrecimento de sua faculdade crítica e se torna dócil à sugestão hipnótica. Segundo Ferenczi (1909), o estado hipnótico constitui fenómeno transferencial (v. TRANSFERÊNCIA!), em que o hipnotizador temporariamente adquire a autoridade de um genitor, com algumas técnicas sendo paternais (a voz autoritária, imponente, à Svengali*) e outras, ma* Hipnotizador maligno, personagem do romance Trilby (1894), de George du Maurier. (N. do T.)
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HIP-HIS
temais (o acariciar da testa, a voz suave). O hipnotismo desempenhou papel importante na história da PSICANÁLISE, pois foi a insatisfação de Freud com ele que o levou a descobrir a técnica da ASSOCIAÇÃO LIVRE. Para uma descrição das técnicas hipnóticas, inclusive algumas passíveis de serem utilizadas em indivíduos relutantes ou inconscientes, v. Hartland (1966). HIPOCONDRÍACO Adjetivo referente ou a uma pessoa que imagina estar sofrendo de uma doença física ou aos DELÍRIOS ou FANTASIAS dessa pessoa. Daí hipocondria, PSICOSE da qual o principal sintoma é a crença do paciente em ter uma doença física incurável. HIPOMANIA Termo psiquiátrico para designar o estado de pessoas que apresentam, em forma branda, a EXULTAÇÃO e a ACELERAÇÃO PSICOMOTORA da MANIA. A diferenciação entre a hipomania e a vitalidade exuberante e infatigável depende de se demonstrar que o paciente utiliza DEFESAS MANÍACAS contra a DEPRESSÃO.
HISTERIA 1. Termo diagnóstico médico para designar doenças caracterizadas (a) pela presença de SINTOMAS físicos; (b) pela ausência de SINAIS físicos ou de qualquer prova de patologia física; (c) por um comportamento que sugere que os sintomas desempenham alguma função psicológica. A noção de histeria deriva dos antigos gregos, que aplicavam o termo apenas a doenças de mulheres, explicadas como devidas ao mau funcionamento do ÚTERO (hysteron). Segundo determinada teoria, o útero constituía um órgão móvel, capaz de movimentar-se pelo corpo e pressionar outros órgãos; de acordo com outra, a abstinência sexual conduzia à 'inanição do útero' ou à retenção de espíritos animais não utilizados, que saíam para fora do útero, provocando a perturbação de outros órgãos. Um dos efeitos da psicanálise foi demolir as teorias uterinas de causação da histeria, enquanto retinha a idéia de que, de certa maneira, ela se vincula à SEXUALIDADE. Para a história do conceito médico, v. Veith (1965). 2. A TEORIA CLÁSSICA distingue entre duas formas de histeria: a histeria de 114
HIS
conversão (v.), correspondente ao conceito médico tradicional, e a histeria de angústia (v.), hoje mais comumente conhecida como FOBIA. A histeria ocupa lugar importante na história da PSICANÁLISE, já que esta começou com a publicação dos Estudos Sobre a Histeria (1895), de Freud e Breuer, livro em que os sintomas histéricos são explicados como resultado de lembranças reprimidas (v. REPRESSÃO) e da CONVERSÃO de idéias em sintomas físicos. Embora ambos esses conceitos sobrevivam na teoria psicanalítica, nenhum analista contemporâneo sustentaria que eles fornecem uma explicação adequada da histeria. Um fato curioso, para o qual Wisdom (1961) chamou a atenção, é que Freud jamais formulou definitivamente seus pontos de vista sobre a histeria, e que é extremamente difícil descobrir qual seja a teoria clássica dessa doença. Existe, contudo, tendência a supor que essa teoria afirma que o PONTO DE FIXAÇÃO histérico ocorre durante a fase edipiana (v. COMPLEXO DE ÉDIPO) e que seus mecanismos de DEFESA característicos são a REPRESSÃO e a DISSOCIAÇÃO. Melanie Klein também silenciou sobre o tema da histeria, e o único adepto da teoria dos objetos a interessar-se por ela foi Fairbairn (1953), que denominou uma de suas TÉCNICAS defensivas de 'histérica' e sustentou que as origens da histeria residem na posição ESQUIZÓIDE (v. POSIÇÃO ESQUIZO-PARANÓIDE) Segundo Veith (1965), a histeria é doença quase extinta, que só ocorre entre 'pessoas sem instrução, dos estratos sociais inferiores', não influenciadas pela difusão das idéias psicanalíticas. (Os psicanalistas que trabalham em clínica particular, não obstante, estão bastante familiarizados com os fenómenos histéricos).
HISTERIA DE ANGÚSTIA Termo diagnóstico para designar o que é hoje geralmente chamado de FOBIA, OU neurose fóbica. HISTERIA DE ANSIEDADE V. HISTERIA DE ANGÚSTIA. HISTERIA DE CONVERSÃO Forma de psiconeurose em que os sintomas são queixas físicas. Os sintomas de conversã diferem dos sintomas físicos no seguinte: (a) a perda de fun115
HIS-HOM
ção corresponde à idéia do paciente de como seu corpo funciona e não aos fatos da anatomia e da fisiologia; por exemplo, uma anestesia histérica, digamos, da mão corresponde à área abrangida pelo conceito 'mão' (abrangida por uma luva), não à área servida pelos nervos da mão; (b) pode-se demonstrar que o sintoma desempenha uma função na vida do paciente; (c) este adota para com o sintoma uma atitude curiosa, tipicamente histriónica ou de indiferença. HISTÉRICO 1. Quando aplicado a um sintoma, v. HISTERIA. 2. Quando aplicado a uma personalidade, faz referência quer a uma predisposição a produzir SINTOMAS DE CONVERSÃO, quer a uma qualidade histriónica no comportamento do paciente. Em ambos os casos, a implicação é de que os fenómenos observados não devem ser tomados por sua aparência e que se destinam ou a atrair ou a desviar a atenção. 3. Quando aplicado a DEFESAS, faz referência quer à tendência a produzir sintomas de conversão, quer ao emprego da DISSOCIAÇÃO (DIVISÃO), quer ao uso simultâneo da IDEALIZAÇÃO e da REPRESSÃO. Segundo Fairbairn (1952), a técnica histérica consiste na EXTERNALIZAÇÃO do OBJETO BOM e na INTERNALIZAÇÃO do OBJETO MAU, em consequência do que a pessoa histérica considera algum objeto externo como idealmente bom e seus próprios impulsos como maus. 'HOMEM DOS LOBOS' Cognome dado na literatura analítica ao paciente descrito por Freud em seu Da História de uma Neurose Infantil (1918). 'HOMEM DOS RATOS' Cognome dado na literatura analítica ao paciente descrito por Freud em seu artigo Notas Sobre um Caso de Neurose Obsessiva (1909). HOMEOSTASE Tendência dos organismos a se manterem num estado constante. Segundo Cannon (1932), que cunhou o termo: 'Os organismos, compostos de material que se caracteriza pela máxima inconstância e instabilidade, de alguma maneira aprenderam os métodos de manterem constância e permanecerem estáveis na presença de condições que razoa116
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velmente se poderia esperar se mostrassem profundamente perturbadoras'. O PRINCÍPIO DE PRAZER-SOFRIMENTO, de Freud, e seu emprego do PRINCÍPIO DE CONSTÂNCIA, de Fechner, via de regra são encarados como conceitos psicológicos análogos ao conceito fisiológico da homeostase, isto é, pressupõem uma tendência interna a manter a TENSÃO psicológica num nível ótimo constante, semelhante àquilo que faz com que o corpo mantenha constantes sua química, temperatura, etc., sanguíneas. HOMOSSEXUAL 1. Adjetivo referente a um comportamento sexual no qual o objeto do indivíduo é uma pessoa do mesmo ísexo. Segundo Freud (1914), o amor homossexual difere do heterossexual por ser narcísico (v. NARCISISMO), pois o objeto é amado por causa de sua semelhança com o que o indivíduo é, foi ou espera algum dia tornar-se, em oposição ao amor heterossexual, que é ANACLÍTICO, ou seja, dependente do objeto que proporciona o que o próprio indivíduo não pode ser. 2. Por extensão, adjetivo referente a todas as atitudes, sentimentos, etc, dirigidos para pessoas do mesmo sexo. Daí homossexualidade (ou homossexualismo), que ser masculina, feminina (lesbianismo), ATIVA (na qual o indivíduo se comporta como homem e trata seu objeto como se fosse feminino), PASSIVA (na qual o indivíduo se comporta como mulher e trata seu objeto como se fosse homem), MANIFESTA, LATENTE, INIBIDA QUANTO AO OBJETIVO, e SUBLIMADA.
Os três últimos termos são utilizados para referência a fenómenos que pessoas leigas não encarariam como homossexuais. A homossexualidade latente é a mais singular das três, pois refere-se não a sentimentos homossexuais reprimidos (v. REPRESSÃO) que se tornam manifestos durante o tratamento psicanalítico, mas a atitudes submissas defensivas (v. DEFESA e SUBMISSÃO) adotadas para com indivíduos do sexo masculino mais poderosos ou potentes. A justificação do conceito advém da suposição teórica de que a defesa é regressiva (v. REGRESSÃO), de que ela consiste na reativação de desejos FEMININOS, passivos, pelo PAI, durante a fase edipiana negativa, (v. COMPLEXO DE ÉDIPO NEGATIVO). A homossexualidade latente, contudo, pède ser encarada como defesa contra a ANSIEDADE PA117
HOR-ID
RANÓIDE e como análoga à atitude intimidada,
apaziguadora e submissa adotada por animais, quando atacados por um membro de sua própria espécie. V. Timbergen (1951), Lorenz (1966). O prefixo 'homo' em homossexual deriva-se do grego 'homos', que significa 'o mesmo', e não do latim 'homo', homem; daí 'homossexual' poder ser aplicado tanto a mulheres quanto a homens. HORDA PRIMAL OU PRIMEVA V. PRIMAL. HUMOR A psiquiatria só reconhece dois humores: a EXULTAÇÃO e a DEPRESSÃO. Os distúrbios do humor caracterizam OS DISTÚRBIOS AFETIVOS. V. MANIA; PSICOSE MANÍACO-DEPRESSIVA.
I ID Palavra latina para designar 'ele' (como pronome pessoal neutro), utilizada pelos tradutores de Freud a fim de verter 'das Es', termo que ele tomou de empréstimo a Groddeck e empregou para designar partes não organizadas do APARELHO PSÍQUICO. (Os tradutores de Groddeck preferem 'o ELE' ['the IT'].) Historicamente, o id é o descendente do INCONSCIENTE, da mesma maneira que o EGO é o descendente do CONSCIENTE. Segundo a TEORIA CLÁSSICA, o id é evolutivamente anterior ao ego, isto é, o aparelho psíquico começa como um id não diferenciado, parte do qual se desenvolve em um ego estruturado. O id 'contém tudo que está presente no nascimento, que está fixado na constituição — acima de tudo, portanto, os instintos, que se originam da organização somática e que aqui [no id] encontram uma primeira expressão psíquica, sob formas que nos são desconhecidas' (Freud, 1940). 'É a parte obscura, inacessível de nossa personalidade; o pouco que dela sabemos aprendemo-lo a partir de nosso 118
IDE
estudo la elaboração onírica e da construção dos sintomas neurótic os, e a maior parte desse pouco é de caráter negativo e só pqde ser descrito como um contraste com o ego. Aproximamq-nos do id através de analogias; chamamo-lo um caos, um cale eirão cheio de excitações fervilhantes (...) acha-se repleto Ida energia que lhe chega dos instintos; contudo, não tem organização, não produz uma vontade coletiva, mas apenas um esforço para ocasionar a satisfação de necessidades instinuriiis sujeitas à observância do princípio de prazer (Freud, 1933). O conceito constitui um dos muitos exemplos da paixio de Freud por explicar fenómenos mentais em função da aposição de forças antitéticas. O id é primitivo; o ego, civilizaco; o id é não-organizado; o ego, organizado. O id observa o PRINCÍPIO DE PRAZER; o ego, o PRINCÍPIO DE REALIDADE. O id é emocional; o ego, racional. O id conforma-se aos PROCESSOS PRIMÁRIOS, que ignoram diferenças e esquecem as contradições, o espaço e o tempo; o ego conforma-se aos PROCESims SECUNDÁRIOS, que são analíticos e respeitam os princípios da contradição e as categorias de espaço e tempo. Para um resumo dos argumentos contra o conceito da vida mental em função dessas antíteses e em favor da opinião de que a osique possui uma estrutura desde o próprio início, v. Rycroft (1962). IDEALj DO EGO A concepção do EU (SELF) de como ele deseja ier. Às vezes utilizado como sinonimo de SUPEREGO, emboraj mais frequentemente, se faça a distinção de que o comportamento que está em conflito com o superego desperta CULPA, Ião passo que o que conflita com o ideal do ego pro-
voca VERGONHA.
IDEALIZAÇÃO Processo defensivo (v. DEFESA) através do qual um OBJETO (INTERNO) ambivalentemente encarado (v. AMBIVALÊNCIA) é dividido em dois (v. DIVISÃO), sendo um dos objetos resultantes concebido como idealmente BOM e o outro cpmo totalmente MAU. O conceito inclui duas noções: a constfução de um objeto perfeito e ideal e a REIFICAÇÃO de uma idèia. A idealização, em seu sentido mais amplo e não técnico Ide considerar certa pesosa como perfeita e maravilho119
IDE
sa, envolve tanto a PROJEÇÃO quanto a idealização. A idealização difere da admiração porque (a) a pessoa que idealiza necessita que exista uma pessoa perfeita, e ignora (nega, v. NEGAÇÃO) a existência daqueles atributos da pessoa idealizada que não se ajustam à imagem; (b) conduz à DEPENDÊNCIA da pessoa idealizada e à subserviência a esta, e não à emulação e à imitação. A idealização constitui uma defesa contra as consequências do reconhecimento da ambivalência; possibilita livrar-se da CULPA e da DEPRESSÃO à custa da perda da auto-estima (v. EU). O fracasso da defesa conduz à desilusão e à depressão. V. Rycroft (1955). IDÉIAS DE REFERÊNCIA Sintoma, frequentemente PSICÓTICO, que consiste em interpretar fenómenos indiferentes como se se referissem à própria pessoa. IDENTIDADE Sentimento que tem a pessoa de possuir continuidade, como entidade distinguível de todas as outras. Segundo Erikson (1953), muitos aspectos do DESENVOLVIMENTO DO EGO podem ser formulados em função do crescimento do sentimento de identidade; uma crise de identidade, de maior ou menor gravidade, é característica do final da adolescência e do começo da idade adulta O sentimento de identidade é perdido nas FUGAS (V. FUGA 2) e deformado nos DELÍRIOS esquizofrênicos de identidade (v. também ESQUIZOFRENIA), nos quais, tipicamente, um sentimento subjacente de não-entidade é compensado por delírios de grandeza. Muitos dos problemas a respeito da identidade centram-se em torno do papel desempenhado pela IDENTIFICAÇÃO na intensificação ou diminuição da identidade. Sustenta-se que o fracasso em identificar-se com os pais durante a infância, particularmente com o genitor do próprio sexo, diminui o sentimento de identidade; contudo, o fracasso em desidentificar-se deles na adolescência tem efeito semelhante. O sentimento de identidade é provavelmente sinonimo de autopercepção (v. EU) e pode ser considerado o equivalente subjetivo do EGO, que a teoria psicanalítica tende a utilizar apenas objetivamente. Não está claro se a busca de identidade, que preocupa não poucos autores americanos, constitui a busca de um papel ou de uma 120
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autopercepção intensificada. V. Erikson (1953), Wheelis (1958), Lynd (1958). V. também EU; IDENTIDADE versus DIFUSÃO DE PAPEL.
IDENTjIDADE versus DIFUSÃO DE PAPEL O quinto dos oito ESfrÁDios HUMANOS, de Erikson. Corresponde à adolescência Ç começo da idade adulta, e, durante ele, segundo Erikson, o i indivíduo tem de redefinir sua identidade, particularmente pm relação aos pais, de quem se está afastando pelo crescimento, e à sociedade, em que se está integrando. 'Difusão delpapel' refere-se à tendência adolescente a 'superidentificar-se^ até o ponto de uma aparente perda de identidade completa, com os heróis de "panelinhas" e multidões' (Erikson, 1953).
IDENTIFICAÇÃO Processo através do qual uma pessoa (a) estjende sua IDENTIDADE para dentro de outra pessoa; (b) toma ejmprestada sua identidade de outra pessoa; (c) funde ou confunde sua identidade com outra pessoa. Nos trabalhos analíticbs, o processo jamais significa estabelecer a identidade de si i^esmo ou de outra pessoa. Quatro tipos de identificação são distinguidos: primária, secundaria, projetiva e introjetiva. A identificação primária é a situação que se presume existir na infância, quando o indivíduo àinda tem de distinguir sua identidade da de seus objetos, qifendo a distinção entre 'eu' e 'tu' carece de sentido. A identificação secundária é o processo que consiste em identificar-se com um objeto cuja identidade independente foi descoberta. Diferentemente da identificação primária, a secundária constitui uma defesa, pois reduz a hostilidade entre o eu e o objeto, e permite que sejam negadas experiências de SEPARAÇÃO dele. Não obstante, sustenta-se que a identificação secundária dom figuras parentais faz parte do processo normal de desenvolvimento (v. DESENVOLVIMENTO). A identificação projetiva é o processo pelo qual uma pessoa se imagina como estand^ dentro de algum objeto externo a ela mesma. Trata-se tambérfi de uma defesa, pois cria a ILUSÃO de controle sobre o objeto e permite que o indivíduo negue sua falta de poder sobre o mesmo, obtendo uma satisfação indireta das atividades 121
ILU-IMA
do objeto. A identificação introjetiva é ou o processo de identificar-se com um INTROJETO OU O processo através do qual uma pessoa imagina outra como estando dentro de si e fazendo parte de si mesma. Em certas situações, é indistinguível da identificação secundária e da introjeção. A identificação é frequentemente confundida com a INTROJEÇÃO, a INTERNALIZAÇÃO e a INCORPORAÇÃO. V. Koff (1961) e Fuchs (1937), para tentativas de definir precisamente o termo. V. também EGO; DESENVOLVIMENTO DO EGO; FRONTEIRA DO EGO.
ILUSÃO 'Deformação subjetiva do conteúdo objetivo' de uma percepção. Difere da ALUCINAÇÃO por dever-se à má interpretação de uma experiência real, e do DELÍRIO pelo fato de não surgir a questão de crença. As ilusões não constituem fenómenos patológicos e são de mais interesse para os psicólogos, particularmente para os estudiosos da percepção, do que para psiquiatras e psicanalistas. A palavra, contudo, é empregada por Winnicott, em sentido um tanto especial, para descrever a experiência do bebê naquelas felizes ocasiões em que a MÃE consegue tornar reais suas expectativas, isto é, quando as alucinações realizadoras de desejos (v. REALIZAÇÃO DE DESEJO:) do bebê são atendidas pela maternagem real. Segundo Winnicott, o desenvolvimento sadio depende de tais experiências de ilusão. V. Winnicott (1958). Dos pacientes que utilizam a defesa da IDEALIZAÇÃO, também se pode dizer que se encontram num estado de ilusão. V. Rycroft (1955). IMAGINAÇÃO Processo ou faculdade de conceber REPRESENTAÇÕES de objetos, acontecimentos, etc, não realmente presentes. O processo produz resultados que são (a) imaginários, no sentido de serem fictícios, irreais, etc, ou (b) imaginativos, no sentido de proporcionarem soluções para problemas que anteriormente jamais haviam sido assim solucionados, ou, nas artes, de criarem artefatos que, não obstante, refletem ou aumentam a experiência. A literatura psicanalítica tende a colocar a imaginação sob a classificação de FANTASIA, e padece da mesma dificuldade que as artes quanto a decidir se e quando a fantasia (imaginação) é escapista ou criadora, defensiva, adaptativa (v. CRIATIVIDADE, DEFESA e ADAPTAÇÃO). Aceita-se 722
IMA-IMP
geralm* nte, entretanto, que a atividade imaginativa criadora envolve a participação da fantasia inconsciente, não-verbal. V. Rycroft (1956), Beres (1955). IMAGO
Palavra utilizada por Freud para descrever REPREobjetais (v. OBJETO) (inconscientes). Não deve ser coiifundida com um inseto, após sua metamorfose final.
SENTAÇÕES
IMATURO
V. MATURO E IMATURO.
IMPLOSÃO Termo utilizado por Laing (1960) para descrever o medo de ser aniquilado pela realidade, que é experimentado por pessoas a quem falta a segurança ontológica primária Kv. ONTOLOGIA). Tais pessoas sentem-se como se estivessem no vácuo, anseiam por serem preenchidas, mas temem que o ijue possa prenchê-las destrua sua IDENTIDADE. )TÍ IMPOTÊNCIA Quando descrevendo um sintoma, significa sempre a incapacidade sexual do indivíduo do sexo masculino. A impètência sexual pode dever-se a fatores físicos ou psicológicos! A psicanálise só se interessa pelos últimos. A impotência bsicogênica só poderá ser considerada sintoma neurótico se for persistente, se frustrar as intenções conscientes do pacientje, e se ocorrer mesmo nas condições mais favoráveis. De outro modo, constitui resultado ou da inexperiência ou da insinceridade. IMPU SO 1 (DRIVE) Nada de útil se obtém em tentar disting ir entre um INSTINTO e um impulso. Freud utilizou a palavr; 'Trieb'. V. o prefácio geral de Strachey à Edição Standardd Freud quanto a seus motivos para preferir 'instinto' a Tmipulso 2 (IMPULSE) O emprego psicanalítico dessa IMPU SO advém da NEUROLOGIA, onde se refere à onda de carpalavr; ica que passa ao longo de uma fibra nervosa. Na TEOét ga elCLÁSSICA concebe-se que, de modo semelhante, os impulRIA passam, a partir de algum ponto do ID, ao lonsos in^tianai ntuai ssque conduzem ao EGO, onde são (a) descarregago de 123
INA-INC
dos na ação (v. DESCARGA); (b) inibidos (v. INIBIÇÃO); (C) desviados pela operação de mecanismos de DEFESA; OU (d) sublimados (v. SUBLIMAÇÃO) para canais não instintuais. Quando utilizado corretamente, o conceito é ECONÓMICO, OU seja, empregado para descrever os movimentos da ENERGIA psíquica dentro do APARELHO PSÍQUICO; na realidade, porém, ele é frequentemente usado como sinonimo de desejo, anseio ou impulso (drive), que se referem a experiências subjetivas. INACESSÍVEL INAUTÊNTICO
V. ACESSÍVEL E INACESSÍVEL. V. AUTÊNTICO E INAUTÊNTICO.
INCESTO Relações sexuais entre parentes consanguíneos; o grau proibido de relacionamento é determinado pelo cânone religioso ou pela lei secular. Para as opiniões de Freud sobre as origens do TABU do incesto, v. Totem e Tabu (1913). O COMPLEXO DE ÉDIPO implica que todos os indivíduos têm fantasias incestuosas. Na conversação, os analistas e as pessoas que estiveram em estreito contacto com círculos psicanalíticos, habitualmente utilizam 'incestuoso', no sentido de 'consanguineamente cruzado', para se referirem, por exemplo, à atmosfera social criada pelo fato de todos os participantes e suas esposas terem estado em análise com outrem do mesmo círculo. INCORPORAÇÃO Embora, às vezes, empregada como sinonimo de INTERNALIZAÇÃO ou INTROJEÇÃO, a incorporação propriamente dita refere-se apenas a uma FANTASIA, a saber, à fantasia de que o indivíduo ingeriu um OBJETO EXTERNO. As fantasias de incorporação são tipicamente ORAIS, isto é, de que o indivíduo engoliu o objeto, embora também possam ocorrer com relação a outras aberturas do corpo, inclusive certos órgãos, por exemplo os olhos e os ouvidos, que podem ser imaginados como aberturas. A confusão com a introjeção origina-se do fato de que o processo estrutural da introjeção pode ser acompanhado pela fantasia de incorporação. Quando usada como termo técnico, a incorporação nunca se refere ao processo de assimilar algo numa estrutura previamente existente, ou à combinação de unidades para formar um corpo ou 124
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estrutum maior. As fantasias de incorporação foram primeiramente àescritas como ocorrendo em pacientes (DEPRESSIVOS) melancêlicos (v. MELANCOLIA), cujas introjeções (IDENTIFICAÇÕES) ocorrem durante a fase oral do DESENVOLVIMENTO LIBIDINÀL, e se fazem acompanhar por fantasias canibalísticas. V. Freitd (1917), Abraham (1927). INCONSCIENTE 1. Adjetivo referente a processos mentais de wue o sujeito não está cônscio. 'Concorda-se geralmente [que] os processos conscientes não formam séries inteiras que sejam completas em si próprias' (Freud, 1940), e a psicanálise supõe que os processos que preenchem as lacunas podem ser designados como 'mentais', em contraste com as teorias que sustentam que a idéia de processos mentais inconscientes é autocontraditória e que os processos 'completadores' intervenientes são apenas físicos. Em outras palavras, a Psicanálise supõe que os processos mentais podem diferir em qualidade, alguns sendo CONSCIENTES e outros, inconscientes. Supõe também que os processos inconscientes são de dois tipos: os quejse tornam facilmente conscientes e os que estão sujeitos a REPRESSÃO. Os primeiros são descritivamente inconscientes ou pré-conscientes (v. PRÉ-CONSCIENTE ); os últimos, dinamicamente inconscientes. Lembranças (v. MEMÓRIA), informações, habilidades, etc, que podem ser relembradas quando necessárias, são descritivamente inconscientes; lembranças, FANTASIAS, desejos, etc, cuja existência só pode ser inferida ou que só se tornam conscientes após o afastamento de alguma RESISTÊNCIA, são dinamicamente inconscientes. Os processos dinamicamente inconscientes estão sujeitos aos processos primários de pensamento, ao passo que os processos pré-conscientes e conscientes ajustam-se aos processos secundários (v. PROCESSOS PRIMÁRIOS E SECUNDÁRIOS).
2.1 S. O Inconsciente, ou Sistema Inconsciente, é aq parte da mente em que os processos mentais são dinamicamente inconscientes, em contraste com o CONSCIENTE. Na década dé 1920, Freud rebatizou o Inconsciente de ID e o Consciente, de EGO. Quando utilizado livremente, o inconsciente constitui conceito metafórico, quase antropomórfico, uma entidade que influencia o EU sem o conhecimento deste. Utilizado 125
INC-IND
com precisão, trata-se de uma estrutura com características específicas. Tara resumir: isenção da contradição mútua, processo primário (mobilidade de catexias), intemporalidade e substituição da REALIDADE externa pela realidade psíquica — tais são as características que esperamos encontrar nos processos pertencentes ao Sistema Inconsciente' (Freud, 1915). Embora a distinção de Freud entre processos conscientes e inconscientes — que operam de acordo com leis diferentes, os processos primários e secundários — possa ser considerada uma de suas descobertas fundamentais; trata-se de descoberta que se presta ao abuso, de duas maneiras pelo menos. Em primeiro lugar, pode ser, e é, utilizada para obliterar uma série de outras distinções, tais como, por exemplo, voluntário e involuntário, não-premeditado e deliberado, não-cônscio de si mesmo e cônscio. Em segundo, pode ser empregada para criar estados de confusão cética; se uma pessoa (paciente) aceita a proposição geral de que pode ter motivos inconscientes, pode, então, julgar-se incapaz de discordar de alguma afirmativa específica feita a respeito de si mesma, pois o fato de esta não corresponder a algo de que está cônscia, não exclui a possibilidade de que enuncie corretamente algo de que não está cônscia. Por conseguinte, a pessoa pode formalmente concordar com proposições (INTERPRETAÇÕES) sem, na realidade, assentir nelas ou com as mesmas concordar. Pacientes com propensão mental especulativa, se tiverem um analista descuidado, podem nutrir um número indefinido de hipóteses a respeito de seus motivos inconscientes, sem ter qualquer idéia de como decidir quais delas são verdadeiras. INCONSCIENTE COLETIVO Termo JUNGUIANO para designar a parte do Inconsciente que contém ARQUÉTIPOS, sendo, portanto, comum a todos os homens. INDIVIDUAÇÃO Processo de tornar-se um indivíduo ou de dar-se conta de que se é um indivíduo. Tal como empregado por Jung, o termo parece incluir não apenas a idéia de aperceber-se de que se é separado e diferente dos outros, mas também a idéia de que se é uma pessoa integral e indivisível. 126
INF-INI
Segundo Jung, a individuação é uma das tarefas da meia-idade. V. Bennet (1966). INFANTIL Quando aplicada a comportamento, emoções, fantasias, etc, a palavra 'infantil' significa PRÉ-GENITAL, e não pueril 011uim aturo. A sexualidade infantil abrange fenómenos sexuais « e s e supõe serem normais, onipresentes e inevitáveis durante as fases infantis do DESENVOLVIMENTO LIBIDINÀL, e que só persistem na vida adulta na medida em que (a) o COMPLEXO DE ÉDIPO não foi solucionado; (b) não ocorreram SUBLIMAÇÕES3 (c) as atividades não foram integradas no PRÉ-PRAZER da texualidade adulta. O emprego psicanalítico de 'infantil' para! significar pré-genital, PRÉ-EDIPIANO, não sublimados se faz acompanhar de um emprego análogo de 'infanf para significai qualquer criança abaixo de, digamos, quatro ou cinco anos Ide idade. Na literatura médica e estatística, 'infanf significarcriança de menos de um ano de idade'; no uso jurídico, qualquer pessoa com menos de 21 anos dte idade.* INFERIORIDADE, COMPLEXO DE V. COMPLEXO DE INFERIORIDADE.
INIBIÇÃO Diz-se que um processo ou função se encontra em estado de inibição se é mantido inativo pelo funcionamento de algum outro processo ou função. Em NEUROLOGIA, dizse que Jma reação reflexa inibe outra, se seu funcionamento evita a possibilidade de a outra ocorrer. Também se pode dizer que b medo inibe o apetite, o desejo sexual, etc. A essência da nèção é a de manter refreado. Em psicanálise, o termo via de régra é empregado para designar casos em que o estado de inibição pode ser encarado como um sintoma; a instância inibidora é normalmente o EGO OU O SUPEREGO, e o processo inibido é um IMPULSO INSTINTUAL OU um derivado sublimado deste (v. SUBLIMAÇÃO). Em certos contextos, porém, * No Brasil, infant é geralmente traduzido por "bebê", "criança pequena" e mais raramente, "infante". O uso jurídico mencionado pertence à Inglaterra. (N. do T.)
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INI-INS
inibição é contrastada com SINTOMA, aquela referindo-se a uma perda de função, e este a distúrbio de função. V. Symptoms, Inhibitions and Anxiety (Freud, 1926; Sintomas, Inibições Ansiedade). A inibição e a repressão diferem porque a primeira implica que algo é desligado e desviado; a segunda, que algo está sendo contido e mantido oculto. INIBIÇÃO QUANTO AO OBJETIVO Diz-se que um relacionamento é inibido quanto ao objetivo se o indivíduo não tem interesse ERÓTICO consciente no OBJETO. Exemplos comuns são as amizades, o amor platónico e as afeições domésticas entre parentes. O conceito supõe que, na ausência da inibição, as amizades seriam relacionamentos HOMOSSEXUAIS manifestos, o amor platónico se consumaria, e o INCESTO ocorreria. INICIATIVA versus CULPA Terceiro dos oito ESTÁDIOS HUMANOS, de Erikson. Corresponde à fase edipiana (v. COMPLEXO DE ÉDIPO) da TEORIA CLÁSSICA; a 'iniciativa' manifesta-se, entre outras coisas, na 'rivalidade esperançosa com aqueles que lá chegaram primeiro', levando 'a um clímax na disputa final por uma posição favorecida junto à mãe; o fracasso inevitável conduz à renúncia, à culpa e à ansiedade' (Erikson, 1953). INSÂNIA
V. SANIDADE E INSANIDADE OU INSÂNIA.
INSANIDADE
V. SANIDADE E INSANIDADE OU INSÂNIA.
INSIGHT V. COMPREENSÃO INTERNA. INSTINTO Impulso à ação, inato e biologicamente determinado. Segundo a TEORIA CLÁSSICA, O instinto possui (a) uma fonte biológica; (b) um suprimento de ENERGIA derivada dessa fonte; (c) um objetivo, a saber, a realização do comportamento peculiar ao instinto, que conduz à satisfação instintual (v. também SATISFAÇÃO) e à DESCARGA da energia nele investida; (d) um OBJETO, em relação ao qual o objetivo pode ser atingido. O fracasso na tentativa de encontrar um ob128
INS
jeto e ai ingir a objetivo instintual conduz à frustração instintua (v. também FRUSTRAÇÃO) e ao aumento de TENSÃO instintual; a tensão intensificada é experimentada como SOFRIMENTO. De acordo pom o PRINCÍPIO DE PRAZER, esse sofrimento leva ou ao aumento de atividade na busca de alívio, ou à introdução de mecànismos de DEFESA destinados a reduzir a tensão. O EGO reajge à ameaça de tensão instintual além de seu LIMIAR de tolemncia através da ANSIEDADE (ANSIEDADE SINALIZADORA), quie constitui o ESTÍMULO do ego para a instituição de medidas defensivas. Segundo Freud (1915), um instinto pode experimentar quatro vicissitudes, a saber: (a) a INVERSÃO em seu opofeto, tipicamente a substituição de um papel ativo por outro pàssivo; (b) a VOLTA CONTRA O EU (SELF), isto é, o emprego do eu como objeto instintual; (c) a REPRESSÃO, termo que, em 1915, incluía todos os mecanismos de defesa, posteriormente descritos; (d) a SUBLIMAÇÃO, em resultado da qual a energia instintual acaba por ser descarregada em atividades que poluem apenas uma vinculação simbólica (v. SÍMBOLO) com o pbjetivo instintual primário. Essa concepção de instinto, evidentemente, só é aplicável, com algum grau de plausibilidade, los impulsos sexual e agressivo (v. SEXO e AGRESSIVIDADE); tentativas de aplicá-la a outros padrões inatos de comportamento, tais como o sono ou a nutrição, conduziriam a absurdos imediatos e óbvios. Na verdade, ela foi construída tendo e^n mente os distúrbios sexuais dos histéricos (v. HISTERIA e HÍSTÉRICO), embora a relação da tensão instintual com a ansiedaie sinalizadora advenha do estudo das defesas contra a agressividade que ocorrem na NEUROSE OBSESSIVA. Fréud foi um proponente sistemático de uma teoria dua-
sustentando que estes podiam ser classificados em!dois grupos, que tendiam a ser antagónicos, e que os conflitos entre os dois grupos eram responsáveis pelas neuroses. Nao foi, contudo, firme em seu ponto de vista quanto ao que • eram os dois (grupos de) instintos. Até o começo da década Ide 1920, eles foram os instintos do ego (v. INSTINTO DO EGOÍ) e o instinto sexual, correspondentes respectivamente aos instintos autopreservativo e reprodutivo da biologia (v. AUTOPRESERVAÇÃO); mas, em seus trabalhos especulativos posteriores] foram os INSTINTOS DE VIDA e DE MORTE. A conceplista dos instintos,
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INS
ção acima delineada nunca se destinou a aplicar-se aos instintos do ego; não está claro se se pretendia aplicá-la ao instinto de morte, embora certamente exista entre os analistas uma tendência a supor que há um instinto e uma forma de energia, ambos chamados de 'agressividade', aos quais ela se aplica. Não poucos analistas assinalaram que, embora a noção de CONFLITO pressuponha a existência de, pelo menos, dois impulsos, não há razão específica para preferir uma teoria dualista dos instintos a uma tríplice ou mesmo múltipla. A psicologia animal contemporânea (ETOLOGIA) postula pelo menos sete instintos ou padrões inatos de comportamento: nutrição, SEXO, luta, genitorialidade, SONO, TERRITORIALIDADE e adorno. Os dois últimos não estão representados na teoria psicanalítica. INSTINTO COMPONENTE ou PARCIAL Segundo a TEORIA CLÁSSICA, o instinto sexual adulto 'desenvolve-se gradativamente a partir de contribuições sucessivas de uma série de instintos parciais que íepresentam ZONAS ERÓGENAS específicas' (Freud, 1940). INSTINTO DO EGO Nas formulações de Freud anteriores a 1920 havia dois grupos de INSTINTOS: OS autopreservativos ou instintos do ego (v. AUTOPRESERVAÇÃO), e os instintos reprodutivos ou sexuais (v. SEXO).
INSTINTO DE MORTE Em Beyond the Pleasure Principie (1922; Além do Princípio de Prazer), Freud introduziu o conceito de um instinto de morte: 'Fomos (...) levados a distinguir dois tipos de instintos; os que procuram conduzir o que é vivo à morte, e outros, os instintos sexuais, que se encontram perpetuamente tentando e conseguindo uma renovação da vida'. Apesar do fato de, como indica Jones (1957), 'não se poder encontrar qualquer observação que apoie a idéia de um instinto de morte, a qual contradiz todos os princípios biológicos', ela ainda possui certa aceitação e constitui parte essencial da teoria KLEINIANA, que concebe a AGRESSIVIDADE como uma PROJEÇÃO do próprio impulso autodestrutivo inato do indivíduo. Tentativas de elaborar pormenorizadamente o instinto de morte, postulando uma forma de ENERGIA de instinto de morte 130
INS-INT
análoga à LIBIDO, nunca foram além de sugerir nomes para essa enqrgia, tais como MORTIDO, DESTRUDO. O conceito precisa ser cuidadosamente diferenciado do de instinto agressivo ou destiiitivo, pois o conceito de instinto de morte postula um desejo dk dissolver-se, de aniquilar-se a si mesmo, ao passo que o conceito de instinto destrutivo pressupõe um desejo de matar os outros. INSTINTO PARCIAL
V. INSTINTO COMPONENTE.
INSTINTO DE VIDA Em seus trabalhos especulativos posteriores, Freud abandonou sua primitiva idéia de que os dois grupos ie INSTINTOS eram os instintos sexuais (v. SEXO) e os INSTINTOS DO EGO, correspondentes, respectivamente, aos instintos rqprodutivo e autopreservativo da biologia (v. AUTOPRES E R V A ç á o ) , em favor do INSTINTO DE VIDA e do INSTINTO DE MORTE; o primeiro inclui tanto o instinto sexual quanto o autopreservativo, e o segundo é o impulso a retornar ao estado inanimaio. INTEGRAÇÃO Processo através do qual as partes se combinam num todo. De acordo com a TEORIA CLÁSSICA, a psique humana começa como um ID não integrado e não organizado, tornandfc-se integrada em consequência do DESENVOLVIMENTO DO EGOJ Segundo a TEORIA DOS OBJETOS, O bebê inicia a vida num estpdo de integração primária. 'A personalidade primitiva da criança consiste num ego unitário e dinâmico' (Fairbairn, 1952). ÍTodas as DEFESAS, à exceção da SUBLIMAÇÃO, operam às expeásas da integração, conseguindo livrar-se da ANSIEDADE ao preço da expelição (v. DIVISÃO) OU REPRESSÃO de partes do EU «SELF) integrado potencial. O tratamento psicanalítico visa a restaurar as partes perdidas do eu (self) e a aumentar a integração. V. Fairbairn (1952), Rycroft (1962), Storr (1960). INTEGRIDADE DO EGO O último dos oito ESTÁDIOS HUErikson é a integridade do ego versus DESESPERO. Embora! Erikson não utilize a expressão, 'integridade do ego' parece fignificar 'a serenidade da velhice' e a aceitação da MANOS pe
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INT
própria morte como natural e fazendo parte da ordem das coisas. INTENÇÃO Embora a psicanálise sustente que grande parte do comportamento que parece acidental é, na realidade intencional, o conceito não é empregado teoricamente. V. PARAPRAXIA; VONTADE.
INTERNALIZAÇÃO Embora às vezes empregada como sinonimo de INTROJEÇÃO, é mais bem utilizada para descrever apenas aquele processo pelo qual os objetos do mundo externo adquirem uma REPRESENTAÇÃO mental permanente, isto é, através do qual os OBJETOS DA PERCEPÇÃO são convertidos em imagens que fazem parte de nosso conteúdo e estrutura mentais. INTERNO Frequentemente empregado como sinonimo de 'psíquico', 'mental', na suposição de que os processos mentais se localizam num espaço interior. Daí realidade interna, conflito interno, objeto interno (v. também REALIDADE; CONFLITO; OBJETO), todos concebidos e definidos em contraste com seus equivalentes 'externos'. INTERPESSOAL 1. As teorias e conceitos interpessoais interessam-se pelo modo como as pessoas agem umas sobre as outras, em contraste com as teorias intrapessoais da TEORIA CLÁSSICA, que se interessam pelo modo como os indivíduos isolados se desenvolvem e se comportam. 2. Relacionamentos interpessoais são os que se verificam entre pessoas; o prefixo 'inter' é redundante, a menos que se faça um contraste com os relacionamentos entre partes de uma pessoa. A relação de um homem com seu chefe é interpessoal; com seu SUPEREGO, é intrapessoal. INTERPRETAÇÃO Processo de elucidar e expor o SIGNIFICADO de algo intrincado, obscuro, etc. As interpretações psicanalíticas são afirmações feitas pelo analista ao paciente, nas quais aquele atribui a um SONHO, um SINTOMA OU a uma cadeia de ASSOCIAÇÕES LIVRES um significado mais amplo e profundo do que o que lhes dá o paciente. O paradigma da inter752
INT
pretaçã) é a interpretação de sonhos, ou seja, a atividade de descobrir o conteúdo LATENTE do significado de um sonho pela análise Ide seu conteúdo MANIFESTO. AS hipóteses subjacentes a essa atividade são: (a) que o sonho possui significado; (b) que estí pode ser elucidado por uma pessoa familiarizada com o simbolismo (v. SÍMBOLO) e com os PROCESSOS PRIMÁRIOS (as rejras que dirigem a atividade mental INCONSCIENTE), com as circunstâncias da pessoa que sonhou e com as associações que esta fez com relação ao sonho; (c) que a pessoa que sonhou pode confirmar a exatidão da interpretação por sua reação a esta; no exemplo mais simples, pela rememoração de alguin acontecimento correspondente a um outro conjecturado pela pessoa que interpreta. É a hipótese (c) que impede que a interpretação de sonhos se transforme num procedimento arbitrário d dogmático. Aè interpretações transferenciais relacionam o comporta-
mento è as associações do paciente a seu relacionamento com o analista. As interpretações de conteúdo referem-se a IMPULSOS e FANTASIAS inconscientes, sem referência aos processos defensivos qme as mantiveram inconscientes. As interpretações diretas baseiaiR-se apenas no conhecimento que o analista tem do simbolismo, sem referência às associações do paciente. As interpretações correias são aquelas que tanto (a) explicam adequadamente o 'MATERIAL' que está sendo interpretado, quanto (b) são forinuladas de maneira tal e comunicadas numa ocasião tal, que possuem realidade para o paciente (fazem sentido para ele), lís interpretações prematuras são interpretações 'verdadeiras', comunicadas ao paciente antes que possam fazer sentido pára ele. As interpretações mutativas alteram o paciente. (V. Stfachey [1934] para uma explicação de por que as interpretações possuem efeito terapêutico e para as pré-condições necessárias a que uma interpretação seja eficaz.) A função da interpretação é aumentar a AUTOPERCEPÇÃO e, portanto, facilitar a INTEGRAÇÃO, ao tornar o paciente CONSCIENTE de processos deiitro dele mesmo, processos dos quais anteriormente não tinha consciência. Os analistas via de regra falam como se todas as suas intervenções fossem interpretações; estritamente, porém, não é este p caso. Algumas são CONFRONTAÇÕES, isto é, observações 133
INT
que chamam a atenção do paciente para algo, sem explicá-lo, ao passo que outras refletem o que o paciente está dizendo e lhe mostram que o analista ainda se acha 'com' ele. V. Freud (1900, 1902), para a descrição original da interpretação de sonhos psicanalítica. V. Sharpe (1937, 1950), para vívidos relatos de um analista em ação. V. Rycroft (1958), para o exame da significação emocional das interpretações. INTIMIDADE versus ISOLAMENTO Sexto dos oito ESTÁDIOS HUMANOS, de Erikson. É durante esse estádio que o indivíduo sadio atinge o NÍVEL GENITAL da psicanálise clássica (v. TEORIA CLÁSSICA) e se torna capaz de amor íntimo e trabalho
criativo. Dura, aparentemente, do começo dos vinte anos até o início da meia-idade. O risco dessa fase é 'o medo da perda do EGO em situações que exigem auto-abandono' e o resultante sentimento de isolamento. V. GENITALIDADE para uma citação extensa da descrição que Erikson dá dessa fase. V. Erikson (1953). INTRAPS1QUICO Adjetivo referente a processos que ocorrem dentro da mente. Conflito intrapsíquico refere-se ao CONFLITO que ocorre entre duas partes da mesma mente, em contraste com o conflito entre pessoas. INTROJEÇÃO
Processo através do qual as funções de um assumidas por sua REPRESENTAÇÃO mental, e o relacionamento com um objeto que se encontra 'fora' é substituído pelo relacionamento com um objeto imaginado como estando 'dentro'. A estrutura mental resultante é variavelmente chamada de introjeto, objeto introjetado ou objeto interno. introjeção é precedida pela INTERNALIZAÇÃO, pode ou não fazer-se acompanhar pela FANTASIA de INCORPORAÇÃO, e pode ser sucedida pela IDENTIFICAÇÃO secundária. O SUPEREGO é formado pela introjeção de figuras parentais e pode ser decomposto numa série de introjetos componentes (o PAI [a MÃE] INTERNO [A] BOM [BOA] [MAU] [MÁ]). A introjeção constitui tanto uma DEFESA quanto um processo normal de desenvolvimento; defesa porque diminui a ANSIEDADE DE SEPARAÇÃO;
OBJETO EXTERNO são
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INT-INV
processo de desenvolvimento porque torna o indivíduo cada vez
mais AUTÓNOMO.
INTROSPECÇÃO Olhar para dentro de si, examinar os próprios pensamentos e sentimentos. É às vezes distinguida da auto-ob\ervação (v. EU), empregando-se a primeira para descrever a autopreocupação inquieta ou narcísica (v. NARCISISMO); a última, o auto-escrutínio objetivo. Segundo essa distinção, uií dos objetivos do tratamento psicanalítico é diminuir a introspecção e aumentar a capacidade de auto-observação. INTROVERSÃO, INTROVERTIDO V. EXTROVERSÃO E INTROVE RfcÃO.
INVEJÀ 'Contemplação ressentida de pessoas mais afortunadas" — CO.D. Segundo McDougall (1931), trata-se de um 'compotto binário de sentimento negativo do eu e de ira'. De acordo com Freud, a inveja do pênis ocupa posição central na psicologia das mulheres (v. INVEJA DO PÊNIS), ao passo que, segundo Melanie Klein, a inveja inata do SEIO da MÃE e de sua CRIATIVIDADE é uma causa primária de todas as doenças mentais (v. KLEINIANO). Ambas as proposições criam mais do que resolvem problemas. A primeira levanta a questão de saber como qs sentimentos de inacabamento corporal podem surgir num c^rpo intacto, isto é, formula problemas a respeito da iMAGEty CORPORAL das meninas, ao passo que a segunda suscita questões de saber como uma EMOÇÃO, uma emoção complexa, pode sér inata e estar presente desde o nascimento. Os pontos de vista de Freud sobre a inveja do pênis constituem exemplo de sua visão FALOCÊNTRICA das mulheres, e estão vinculados a sua coitvicção de que as sensações vaginais (v. VAGINA) jamais ocorrer! nas mulheres antes da puberdade. V. CASTRAÇÃO. INVEJA DO PÊNIS INVEJA do pênis que ocorre nas mulheres, com respeito aos homens em geral, ou em meninos, com respeito a homens adultos. Segundo Freud, a inveja do pênis é universal nas mulheres, é responsável por seu COMPLEXO DE CASTRAÇÃO, e ocupa uma posição central na psicologia da mulheil A tendência de Freud a interpretar negativamente a 135
INV-ISO
psicologia das mulheres como sendo uma reação à descoberta de que não possuem pênis, isto é a tendência a encará-las como hommes manqués, foi estigmatizada por Jones como 'FALOCÊNTRICA'. O próprio Jones interpretava o próprio desejo que a menina tem de possuir um pênis como uma DEFESA contra a ANSIEDADE relativa a desejos femininos experimentados para com o PAI. V. também ATIVO E PASSIVO. INVERSÃO
1. Vicissitude dos instintos. De acordo com a
TEORIA CLÁSSICA, os instintos podem experimentar inversão, de modo que o SADISMO pode transformar-se em MASOQUISMO, O VOYEURISMO em EXIBICIONISMO, etc, com a inversão sendo via de regra, embora nem sempre, de ATIVO para PASSIVO. 2. Mecanismo de DEFESA que explora a possibilidade da inversão no sentido 1. Segundo Anna Freud, a FORMAÇÃO REATIVA
constitui uma defesa na qual 'o ego se vale da capacidade de inversão que o instinto tem' (Anna Freud, 1937). INVERSÃO SEXUAL, INVERTIDO SEXUAL Inversão sexual é um termo que se vem tornando obsoleto para designar a HOMOSSEXUALIDADE masculina; daí invertido, para designar o homossexual masculino. IRA
EMOÇÃO primária, tipicamente provocada pela FRUSTRAÇÃO. É, com surpreendente frequência, confundida com o ÓDIO, apesar de se tratar de uma emoção de curta duração,
facilmente experimentada para com pessoas por quem sentimos passo que o ódio é um SENTIMENTO duradouro.
AMOR, ao
ISAKOWER, FENÓMENO DE V. FENÓMENO DE ISAKOWER.
ISOLAMENTO Mecanismo de DEFESA através do qual o indivíduo isola uma ocorrência, impedindo-a de tornar-se parte do continuum de sua experiência significativa. 'Quando algo desagradável sucedeu ao indivíduo, ou quando ele fez algo que possui significação para sua neurose, ele interpola um inervalo durante o qual nada mais deve acontecer — durante o qual não deve perceber nada nem fazer nada (...) a expe136
JOA-JOG
é esquecida, mas, em vez disso, despojada de seu nencia iãosuas vinculações associativas são sufocadas ou interAFETO, s, de modo que ela permanece como que isolada, não rompid da nos processos normais de pensamento' sendo eproduzi 1926). O isolamento é utilizado tipicamente pelos (Freud, neuróti q os obsessi vos (v. NEUROSE OBSESSIVA), nos quais deneurótic a o mesm papel que a REPRESSÃO na histeria. Tem sencul mpean
J
JOÃOZINHO' ('LITTLE HANS') O paciente criança descnto naAnalysis of a Phobia in a Five-Year-Old Boy (1909 de uma Fobia num Menino de Cinco Anos de Idade Análise de Freud JOGO OU BRINQUEDO Atividade em que as pessoas se empenham, pela atividade em si mesma, pelo prazer que dá, sem referência a objetivos e fins sérios, tipicamente em contraste com o TRABALHO ou o desempenho de outros atos social ou biologicamente necessários. O jogo interessa aos psicanalistas por diversos motivos. Trata-se de uma atividade em que se empregam simultaneamente funções que a teoria tende a opor, visto que la) o sujeito está simultaneamente expressando a FANTASIA e jadaptando-se ao mundo externo (v. ADAPTAÇÃO), e (b) a IMAGINAÇÃO (FANTASIA) particular, individual do sujeito se acha eiipenhada numa atividade comunal (ou, pelo menos, no caso do jogo ou brinquedo solitário, numa atividade que é observáyel por outras pessoas). Sendo uma atividade que, em certos sentidos, não importa ('consistindo em 'fingir' ou 'fingir' que é ráaT) e na qual as ações são 'representadas' e não reais, a INIBIÇÃO e a CULPA ficam temporária e parcialmente inativas. Em consequência disso, o jogo ou brinquedo fornece provas de desejos, ANSIEDADES, etc., que de outro modo são reprimidos (v. REPRESJ|ÃO). Ele é, portanto, utilizado pelos analistas de crian137
JUN-KLE
ça em substituição à ASSOCIAÇÃO LIVRE; OS jogos que a criança constrói, com os brinquedos fornecidos pelo analista, são utilizados como prova para inferir a natureza de suas fantasias inconscientes. Mesmo a psicanálise de adultos possui semelhança com o jogo ou brinquedo, porquanto a situação clínica é separada do restante da vida, o analista não age de acordo com as elocuções do paciente, e a associação livre concede campo livre à imaginação. A terapia pelo brinquedo (ou pelo brincar) geralmente se refere à terapia não interpretativa das crianças. A expressai) jogos sexuais constitui não raro um eufemismo para designar as carícias mútuas ou uma descrição do comportamento sexual pré-púbere ou da infância. JUNGUIANO 1. S. Seguidor de CG. Jung (1875-1961), psiquiatra suíço que foi discípulo de Freud, de 1907 a 1913, mas posteriormente fundou sua própria escola e sistema de PSICOPATOLOGIA. OS terapeutas junguianos são corretamente chamados de psicólogos analíticos, e não psicanalistas, embora isso esteja longe de constituir uso geral. 2. Adj. referente às idéias propostas por Jung. V. Bennet (1966) para um bom resumo das idéias junguianas,
KLEINIANO 1. S. Seguidor de Melaine Klein (18821960), pioneira da ANÁLISE INFANTIL e da pesquisa dos estados DEPRESSIVOS e ESQUIZÓIDES. 2. Adj. referente às idéias e teorias formuladas por Melanie Klein. Embora a escola kleiniana de psicanálise permaneça dentro da corrente freudiana, suas teorias diferem, em diversos aspectos fundamentais, da TEORIA CLÁSSICA. AS principais diferenças são: (a) o INSTINTO DE MORTE é tomado seriamente como conceito clínico; supõe-se que há uma AMBIVALÊNCIA inata, sendo o componente destrutivo da ambivalência interpretado como uma PROJEÇÃO defensiva para fora (v. também DEFESA) do instin138
KLE
to autodestrutivo inato, (b) o DESENVOLVIMENTO DO EGO é encarado como um processo de INTROJEÇÃO e PROJEÇÃO contínuas de objetos, e não como um progresso do eu (self) através de Rma série de fases nas quais várias defesas são usadas, (c) Sus|tenta-se que as origens da NEUROSE residem no primeiro aio de vida e não nos primeiros anos, e que consistem em fracassos em transpor a posição depressiva, e não na FIXAÇÃO numa série de fases (PONTOS DE FIXAÇÃO) através da infância. Em consequência disso, a posição depressiva desempenha na teoria kleiniana o mesmo papel que o COMPLEXO DE ÉDIPO na teoria clássica, (d) A teoria kleiniana é uma TEORIA DOS OBJETOS, e não uma TEORIA DOS INSTINTOS, porquanto atribui importância central à solução da ambivalência para com a MÃE, O SEIO, e considera o desenvolvimento do ego como baseado primariamente na introjeção da mãe e/ou do seio. Difere, contudo, das teorias dos objetos de Fairbairn (V. PSICjOPATOLOGIA REVISTA DE FAIRBAIRN) e de Winnicott
por conceder pouca importância à experiência concreta que o bebê tem da maternagem, o que seria obscurecido, segundo o ponto] de vista kleiniano, pelas dificuldades do bebê em superar sua ambivalência inata para com o seio. Achando-se dotado lanto de INVEJA inata do seio quanto da necessidade de utiliza-lo como recipiente de seu próprio instinto de morte projetado, o bebê tem de, primeiramente, elaborar seu medo e desconfiança do seio (a POSIÇÃO ESQUIZO-PARANÓIDE) e, depois, elaborar sua descoberta de que o seio que odeia e o seio que ama são o mesmo seio (a POSIÇÃO DEPRESSIVA), (e) A teoria kleiniana supõe que o bebê possui uma vida de FANTASIA muito mais vívida e violenta do que a teoria clássica acredita, e que a principal tarefa da análise é interpretar fantasias inconscientes, de preferência a interpretar DEFESAS contra impulsos inconscientes. As fantasias, contudo, são consideradas os representantes psíquicos dos instintos libidinais e destrutivos; elas também seriam os processos contra os quais as defesas são usadas. Em resumo, a análise kleiniana assemelha-se à clássicja ao aceitar uma teoria dualista dos INSTINTOS e, na verdade,] por ser mais freudiana do que os freudianos em sua utilizaçãò do instinto de morte; difere, porém, dela ao rejeitar os conceitos de fases de desenvolvimento e pontos de fixação, 759
LAM-LAT
em favor de uma teoria de posições, e ao atribuir maior importância ao primeiro ano de vida do que à infância como um todo. V. Segal (1964), para a exposição da teoria kleiniana, e Glover (1945), para uma aguda crítica a ela, a partir do ponto de vista clássico.
LAMARCKISMO ou LAMARCKIANISMO Teoria evolucionista, enunciada pela primeira vez por Lamarck (17441829). Afirma que as características adquiridas pelo indivíduo podem ser herdadas por seus descendentes. Sustenta-se geralmente que essa teoria da 'herança das características adquiridas' é incompatível com a teoria darwiniana de que a evolução ocorre por seleção natural, isto é, pela sobrevivência e transmissão de variações fortuitas. Para embaraço da maioria de seus seguidores, Freud era lamarckista. 'Apesar de inumeráveis censuras semelhantes, Freud permaneceu, do princípio ao fim da vida, o que se deve chamar de obstinado adepto desse lamarckismo desacreditado', escreveu Jones (1957). Essa adesão explica sua teoria antropológica de que o sentimento de culpa do homem contemporâneo deriva do PARRICÍDIO cometido em tempos pré-históricos; explica também sua teoria histórica de que a consciência de CULPA que impregna a história judaica constitui lembrança herdada e inconsciente da culpa sentida pelos assassinos de Moisés. Jones (1957, vol. III, Cap. 10, vê-se embaraçado para explicar essa aberração de Freud). V. Freud (1913, 1939). V. ONTOGENIA E FILOGENIA; TOTEM; TABU; PRIMAL.
LAPSOS DE LINGUAGEM
V. PARAPRAXIA.
LATÊNCIA, PERÍODO DE V. PERÍODO DE LATENTE 140
V. MANIFESTO E LATENTE.
LATÊNCIA.
LEI-LIB
LEIGO ANALISTA V. ANALISTA LEIGO. LEMBRANÇA ENCOBRIDORA Lembrança de infância que, eml si própria, é trivial, mas que pode ser tratada como um SONMO; a INTERPRETAÇÃO de seu conteúdo MANIFESTO revela um! conteúdo LATENTE significativo. Sua aptidão para simbolizar a situação de infância do paciente é presumivelmente responsável por ter sido lembrada e por se repetir, nas ASSOCIAÇÕES LIVRES do paciente, de modo suficientemente frequente para chamar a atenção. LIBIDINÀL E LIBIDINOSO A primeira é a forma correta do adjetivo correspondente ao termo técnico LIBIDO. LIBIDO Forma hipotética de ENERGIA mental de que os processos, as ESTRUTURAS e as representações oòjetais ou do objeto dv. OBJETO) são investidos. Concebe-se que a libido possui ilna fonte, o corpo ou o ID; que existe sob várias formas relacionadas a ZONAS ERÓGENAS específicas (isto é, libido ORAL, AliAL, GENITAL); que se acha distribuída entre diversas, estruturas ou processos, que são libidinizados (ou, alternati vãmente, possuem uma catexia libidinàl — v. CATEXIA). Nas primeiras formulações de Freud, libido era a energia especificamente! ligada aos instintos sexuais (v. SEXO); posteriormente, porém, supôs-se que o EGO possuía libido e que essa libido do ego era oriunda da libido ligada a representações objetais (libido objetal ou do objeto). Essa formulação bastante curiosa provém de duas outras, a saber: (a) que o ego se diferencia a partir do id; daí a energia do ego ter de ser uma forma diferenciada da energia do id; (b) que o desenvolvimento do ego constitui o resultado de FRUSTRAÇÃO por objetos parentais e sei faz acompanhar da IDENTIFICAÇÃO com eles e da sua INTROJEÇÃO; daí a libido originalmente ligada a eles ligar-se ao ego, bom o auto-amor e a autopercepção (v. EU) aumentando à medida que a ligação com os pais decresce. Essa formulação implica que o ego é seu próprio objeto, e daí a distinção e etuada por Federn (1952) entre libido do sujeito, ou 141
LIB-LUT
seja, a energia acessível ao eu (self) na qualidade de sujeito, e libido objetal ou do objeto, ou seja, a energia disponível para investimento em objetos. A libido objetal investida no ego é a libido narcísica. Os que acreditam no INSTINTO DE VIDA e no INSTINTO DE MORTE são logicamente compelidos a contrapor libido, energia dos instintos de vida, a outra forma de energia específica do instinto de morte. Embora se tenham efetuado tentativas para introduzir 'MORTIDO' e 'DESTRUDO', a fim de preencher essa lacuna, nenhuma das duas tornou-se popular. LIBIDO DO EGO LIBIDO investida no EGO. Nem sempre fica claro se se refere à energia disponível para as FUNÇÕES DO EGO ou para o auto-amor (v. EU) OU amor de si mesmo. LIMIAR Em fisiologia e psicologia, é aquela intensidade do estímulo apenas suficiente para provocar uma reação ou dar origem a uma SENSAÇÃO; as intensidades inferiores são subliminares e as mais altas, supraliminares. As teorias psicanalíticas de INSTINTO, ANSIEDADE, FRUSTRAÇÃO, etc, implicam (geralmente sem afirmá-la) a idéia de limiar; por exemplo, a TENSÃO instintual causa DESPRAZER, O que só conduz à DESCARGA, segundo o PRINCÍPIO DE PRAZER OU O PRINCÍPIO DE REALIDADE, se a tensão ultrapassou certo limiar. A frustração só causa ansiedade ou AGRESSIVIDADE no caso de se achar acima de certa intensidade ou durar mais do que certo período de tempo. Só a ansiedade além de um certo limiar de intensidade é que conduz à ativação dos mecanismos de DEFESA. LIMINAR
Subliminar, supraliminar V. LIMIAR.
LIVRE DE CONFLITOS, ÁREA DO EGO
V. ÁREA DO
EGO LIVRE DE CONFLITOS.
LOBOS, HOMEM DOS
V. HOMEM
DOS LOBOS.
LUTO 'Processos psicológicos que são postos em andamento pela perda de um objeto amado e que comumente condu142
MAD-MAE
zem aoabandono do objeto' (Bowlby, 1942). Segue-se à desolação, é acompanhado pelo PESAR e pode ou não ser acompanhado da ligação a um novo objeto; é tipicamente acompanhado pior (certo grau de) IDENTIFICAÇÃO com o objeto perdido. Embora a terminologia difira, o luto parece ser divisível em três estádios: (a) o de protesto ou NEGAÇÃO, no qual o indivíduè tenta rejeitar a idéia de que a perda ocorreu, se sente incrélulo, e experimenta ira, censurando-se a si mesmo, à pessoa morta ou a seus médicos assistentes por terem permitido que a perda ocorresse; Darwin chamou esse estádio de 'pesar frenético'; (b) o de resignação, aceitação ou desespero, no qual k realidade da perda é admitida e sobrevêm a MÁGOA; (c) o de desligamento, no qual o indivíduo renuncia ao objeto, desaiega-se dele e adapta-se à vida sem ele. Se o luto decorre 'nèrmalmente', o indivíduo 'supera' a perda e torna-se capaz de religar-se a um novo objeto. Todas as escolas da psicanálise encaram o luto como o análogo normal da DEPRESSÃO; a perda, nesta última, não é a perda Ide uma pessoa real, mas a de um 'OBJETO INTERNO' ambivalentemente investido (v. também AMBIVALÊNCIA). V. Freud 01917), Abraham (1927). Segundo Bowlby (1951, 1961), pebês e crianças reagem à separação de suas mães através de processos de luto que predispõem à doença psiquiátrica na -vida posterior.
M MADURO V. MATURO E IMATURO. MAE Como a teoria psicanalítica é formulada em função daquilo nue os antropólogos chamam de família nuclear, que consiste km pai, mãe e filhos, ela presume que a pessoa que serve de mãe a uma criança e a pessoa que a deu à luz são 143
MAE
idênticas. Daí as formulações a respeito da maternagem serem enunciadas em função do 'relacionamento com a mãe'. As complicações da vida real surgem das contribuições de avós, tias, babás, irmãs mais velhas e moças semelhantes com que se lida — se é que isso acontece — pelo fato de chamá-las de 'figuras maternas'. Até mesmo o pai pode, ocasionalmente, ser uma figura materna. Segundo a maioria das formulações, a mãe é a pessoa central na vida da criança, através das fases PRÉ-EDIPIANAS do DESENVOLVIMENTO, embora Melanie Klein (v. KLEINIANO) date o início do COMPLEXO DE ÉDIPO no primeiro ano de vida, isto é, durante aquilo que a TEORIA CLÁSSICA sustenta ser a FASE ORAL. Mais uma vez, de acordo com a maioria das formulações, mas não de todas, a mãe é um OBJETO QUE SATISFAZ NECESSIDADES OU um OBJETO PARCIAL durante os primeiros meses de vida, isto é, ela é 'amada' unicamente por sua capacidade de proporcionar SATISFAÇÃO, e só posteriormente se transforma num OBJETO TOTAL, cuja própria personalidade e necessidades são, de alguma maneira, reconhecidas pelo bebê. As expressões 'mãe boa' (v. também BOA), 'mãe má' (v. também MÁ), 'mãe ideaV e 'mãe perseguidora' referem-se concepções da mãe que existem na mente do bebê, formadas pela DIVISÃO da imagem materna. A mãe fálica (v. MULHER FÁLICA) é também, estritamente falando, uma concepção da mente do bebê, embora o termo seja, às vezes, aplicado a mulheres cuja personalidade incentiva tal concepção. A 'mãe rejeitadora' e as mães eàquizofrenogênicas e 'superp são mães reais, assim descritas por psiquiatras e analistas que lhes atribuem efeitos patogênicos sobre sua prole (v. SUPER e ESQUIZOFRENOGÊNICO). Mãe normal dedicada é o termo empregado por Winnicott (1958) para descrever a mãe que proporciona ao filho uma maternagem adequada ao desenvolvimento deste, e que é capaz de preocupação materna primária Para os efeitos da privação materna e da separação da mãe,, v. PRIVAÇÃO; SEPARAÇÃO MÃE-FILHO.
MÃE-FILHO, SEPARAÇÃO 144
V. SEPARAÇÃO
MÃE-FILHO.
MAG-MAN
MAGIA Práticas primitivas e supersticiosas, baseadas na suposiçío de que os processos naturais podem ser afetados por ações que influenciam ou propiciam instâncias sobrenaturais, 01, tal como no caso da magia simpática, por ações que se assetielham àquelas que o mágico deseja induzir. V. ONIPOTÊNCIA; NEUROSE OBSESSIVA; RITUAL.
MÁGOA Segundo McDougall (1908), a mágoa é 'uma emoção derivada, uma das emoções retrospectivas do desejo; [que], cm resumo, é uma forma especial de pesar (regret), essench lmente um pesar que se origina do sentimento do amor e, portento, um pesar terno'. V. TRISTEZA, PESAR, LUTO. MALK rNO Em medicina, os crescimentos cancerosos são chamac os de malignos, em contraste com os não cancerosos, que sãc benignos. A histeria grave é às vezes denominada de histeria maligna, em parte, possivelmente, por causa da malignidade inconsciente que não raro nela está contida. MANIA PSICOSE caracterizada por EXULTAÇÃO, ACELERAÇÃO PS COMOTORA — isto é, grande aceleração tanto da ati-
vidade 'ísica quanto da mental, levando à excitação, à insónia grave d à exaustão final, e à fuga de idéias, isto é, pensamento rápido em que as vinculações entre determinada idéia e a seguinh se baseiam em associações superficiais, e que não é disciplii lado pela autocrítica. Existem descrições de formas agudas e crónicas da mania e a doença é considerada como uma fase da PSICOSE MANÍACO-DEPRESSIVA. Os poucos estudos psicanalíticos feitos sobre a mania sugerem que sua PSICOPATOLOGIA constitui o inverso da DEPRESSÃO, e que a exultação se devei a um sentimento de triunfo por ter-se vencido o SUPEREGO (DBJETOS INTERNOS), cuja hostilidade imaginada é responsável pela depressão da fase DEPRESSIVA da psicose. V. Abraham (1927), Lewin (1951). MANÍACA, DEFESA
V. DEFESA MANÍACA.
MANÍACO-DEPRESSIVA, PSICOSE
V.
PSICOSE MANÍA-
CO-DEPUESSIVA.
145
MAN-MAS
MANIFESTO E LATENTE O conteúdo manifesto de um o sonho tal como relatado pela pessoa que sonhou; o conteúdo latente é seu significado tal como revelado pela interpretação. Freud parece ter acreditado que os sonhos possuem, por assim dizer, um texto original, cuja publicação se defronta com a CENSURA, de maneira que o sonho tem de ser reescrito sob uma forma que o censor não possa compreender. O rascunho original é o conteúdo latente; o que é reescrito, a ELABORAÇÃO ONÍRICA ou DO SONHO; a versão final e publicada constitui o conteúdo manifesto. A distinção entre manifesto e latente também pode ser aplicada a um SINTOMA e a seu SIGNIFICADO inconsciente. A distinção entre homossexualidade manifesta e latente, contudo, é anómala; a homossexualidade manifesta refere-se a um comportamento HOMOSSEXUAL franco, ao passo que a homossexualidade latente se refere a atitudes submissas adotadas por homens neuróticos para com outros homens imaginados como mais poderosos ou potentes (v. SUBMISSÃO). De uma vez que o comportamento homossexual manifesto é considerado como defensivo (v. DEFESA), seu equivalente latente não é a homossexualidade, mas o medo tanto de homens quanto de mulheres. Desde que a homossexualidade latente descreve uma forma de comportamento, ela não pode ser latente. O que acontedeu foi que se introduziu na sua descrição uma hipótese sobre a causa da submissão, a saber, que ela é uma manifestação de homossexualidade latente (isto é, inconsciente).
SONHO é
MASCULINIDADE, MASCULINO Referente a padrões de comportamento, atitudes, etc, que se supõe serem características psicológicas sexuais (v. SEXO) secundárias do indivíduo do sexo masculino. A TEORIA CLÁSSICA tende a supor que a masculinidade possui vinculação inerente com a atividade, a AGRESSIVIDADE, o SADISMO e o espírito de competição, e, ademais, que todas essas propensões estão relacionadas com o sexo; por exemplo, a agressividade e o espírito de competição estão mais relacionados com o COMPLEXO DE ÉDIPO do que com um instinto não sexual, tal como a TERRITORIALIDADE. A questão referente a saber quais formas de comportamento e características mentais são inatamente masculinas, é obscurecida (a) 146
I
MAS
pela supjosição de que todas as características têm de ser ou masculinas ou femininas; (b) pela ausência de sociedades humanas em que algum indivíduo chegue à MATURIDADE sem ser influfcnciado por ESTEREÓTIPOS sociais; (c) pela ausência de qualcfier indivíduo neutro para encarar o assunto sem prevenção. ATIVO E PASSIVO; FEMININO; BISSEXUAL. MASCU LINO V. MASCULINIDADE, MASCULINO. MASOQUISMO 1. PERVERSÃO sexual em que o indivíduo alega obter prazer erótico do sofrimento que lhe é infligido. 2. Traço de caráter apresentado por pessoas que aplicam maus tntos, humilhação e sofrimento a si mesmas. 3. Masoquismo moral: termo empregado por Freud para descrever a tendência a submeter-se ao próprio SUPEREGO sádico (v. SADISMO). 0 conceito gira em torno da idéia de que o superego deriva sua força moral da ENERGIA instintual agressiva (v. também INSÍINTO e AGRESSIVIDADE), a qual é descarregada 'externando-a' sobre o EGO. O masoquismo constitui uma exceção, real ou áparente, ao PRINCÍPIO DE PRAZER. Tende a ser explicado em! função de (a) INVERSÃO do sadismo; (b) IDENTIFICAÇÃO cêm o parceiro sádico; (c) mitigação da CULPA por experimentar-se punição e sofrimento simultaneamente com o prazer; fld) erotização de um papel submisso (v. ERÓTICO e SUBMISS3O), originalmente adotado para apaziguar figuras de autoridacle; (e) o INSTINTO DE MORTE. A TEORIA CLÁSSICA supõe que existe vinculação intrínseca entre p masoquismo, a passividade (v. PASSIVO) e a FEMINILIDADE] Assim procedendo, confunde o abandonar-se à VONTADE de í outrem com o experimentar sofrimento. MASTURBAÇÃO Embora a palavra, literalmente, signifié empregada apenas para designar a exque excitação genital, auto-i n duzi da. Daí: genital citação Fantasia masturbatória: atividade imaginativa que acompanha a masturbação. Masurbação infantil: masturbação que ocorre na infância. 147
MAT-MED
Equivalente ou substituto masturbatório: atividade que supõe constituir equivalente ou substituto para a masturbação. MATERIAL Os analistas frequentemente se referem ao material trazido por pacientes; isso significa aquilo que estes falaram. O uso dessa palavra provém do fato de que aquilo que o paciente diz é utilizado pelo analista como prova na qual baseia as INTERPRETAÇÕES. Em consequência disso, pode-se pensar que o paciente produz material para que o analista interprete; assim, o material ORAL seria uma prova que torna possíveis interpretações ao nível oral, etc. Embora essa elisão das noções de elocução e prova seja conveniente e natural, também incentiva a tendência que os analistas têm a pensar em seu trabalho mais como inspecção de algo do que como COMUNICAÇÃO com alguém. MATURO E IMATURO Embora essas palavras tendam à ser expressões de louvor ou condenação, possuem, em biologia, significados precisos. Um indivíduo (organismo) maturo é aquele em que o DESENVOLVIMENTO está completo; um indivíduo imaturo é aquele em que o desenvolvimento está incompleto: uma criança é imatura; um adulto é maturo. Quando aplicado a processos e comportamentos psicológicos, seu emprego sempre parece implicar comparação com NORMAS, cujas origens não são claras. Chamar alguém de imaturo pressupõe que se saiba qual espécie de comportamento é apropriada à sua idade, e que esse alguém esteja, na verdade, comportando-se de modo apropriado a alguém mais jovem.
MAU Ao qualificar OBJETO, SEIO, PÊNIS, MÃE, PAI, referese a uma das duas imagens ou representações objetais (v. O JETO) formadas pela DIVISÃO do objeto, seio, etc, INTERNALIZADO. Mau, nesse contexto, é palavra geral que abrange 'frustrador', 'odioso', 'temido', 'malévolo', 'perseguidor'. É às vezes impresso 'mau', entre aspas. MEDO EMOÇÃO primária provocada por perigo iminente e acompanhada do desejo de fugir. Embora o medo seja uma das experiências humanas elementares, e a fuga, indubitavel148
MEI
mente, ima das reações biológicas básicas, a psicanálise pouco tem a d izer a respeito do medo. Isso por dois motivos. Em primeirc lugar, o interesse primário dela foi pela patologia e, por conseguinte, o medo foi eclipsado pela ANSIEDADE, embora às vízes esta seja definida como medo irracional; alternativamenl e, o medo é algumas vezes definido como 'ansiedade objetiva . Em segundo, a insistência de Freud nas teorias dualistas dos instintos (v. INSTINTO) não deixou lugar para um terceiro instinto primário e, em consequência, a psicanálise muito Um a dizer sobre como o AMOR e o ÓDIO podem entrar em conllito (v. CONFLITO) um com o outro, inibir-se (v. INIBIÇÃO) mutuamente e até mesmo, às vezes, reforçar-se mutuamente < v. SADISMO) ; contudo, pouco tem a comentar sobre como o medo pode interagir com o amor e o ódio. Em vista da paixiio de Freud por antíteses e opostos, vale a pena notar que seria possível defender o ponto de vista que considera o medo como o oposto tanto do amor quanto do ódio. MEIO AMBIENTE Aquilo que se encontra fora do organismo du da pessoa em consideração. É necessário fazer uma distinção, especialmente quando se considera a psicologia de animais e bebés, entre o meio ambiente total, tal como é perceptível pelo observador, e o Merkwelt (meio ambiente perceptivo) do indivíduo que está sendo observado. O último consiste aptnas naqueles aspectos do meio ambiente total que são perceptí/eis pelo indivíduo e a ele pertinentes. A falha em perc apreciar essa distinção conduz a falácias antropomórficas e ADULTOtfÓRFICAS. Na literatura psicanalítica, as expressões REALIDADE externa' e 'MUNDO externo' são frequentemente utilizadas :omo sinónimos de meio ambiente. A psicanálise tende a int sressar-se unicamente pelos aspectos humanos do meio ambienta, mas v. Searles (1960). MEIO | AMBIENTE EXPECTÁVEL MÉDIO Termo utilizado por Hartmann (1958) para descrever o tipo de meio ambientfe em relação ao qual o bebê possui expectativas e ao qual osprocessos de amadurecimento estão ligados. Sob certos aspectos corresponde à MÃE NORMAL DEDICADA, menos abstraía de Winnicott. O conceito rompe com o ponto de vis149
MEL-MEN
ta de Freud de que o bebê inicia a vida totalmente mal adaptado e presume, pelo contrário, que ele nasce com uma série de padrões internos de reação e comportamento, e que o desenvolvimento 'pode contar com estimulações expectáveis médias (deflagradores ambientais)'. MELANCOLIA Termo que se está tornando obsoleto para designar o que é hoje chamado de DEPRESSÃO (particularmente a depressão ENDÓGENA), doença DEPRESSIVA OU fase depressiva da PSICOSE MANÍACO-DEPRESSIVA. Quando melancólico qualifica depressão, isso significa que o paciente não se encontra apenas abatido, mas que também apresenta retardo psicomotor, tendência suicida e autocensuras (auto-acusações) (v. RETARDAMENTO; SUICÍDIO; autocensuras — v. EU). MEMÓRIA A memória desempenha a função biológica de permitir que os organismos reajam a circunstâncias atuais à luz da experiência passada e, por esse meio, substituam reações 'instintuais', simples, automáticas, por outras complexas, seletivas, aprendidas. A teoria freudiana da memória é, na realidade, uma teoria do ESQUECIMENTO. Ela supõe que todas as experiências, ou, pelo menos, todas as experiências significativas, são registradas, mas que algumas deixam de ser acessíveis à CONSCIÊNCIA em consequência da REPRESSÃO, mecanismo que é ativado pela necessidade de diminuir a ANSIEDADE. Embora essa teoria explique os casos de esquecimento em que se pode demonstrar a existência de relação com o CONFLITO neurótico, outros fatores presumivelmente contribuem para o fato de que a AMNÉSIA em relação à infância mais primitiva e à primeira infância seja universal e não seja atenuada nem mesmo pela análise mais 'profunda'. MENARQUIA
Início da menstruação na puberdade.
MENTE Na tradução das obras de Freud feita por James Strachey, 'mente' é a versão oferecida para 'Seele\ e 'psique', para 'Psyche'. Os dois termos, contudo, são sinónimos, bem como 'psíquico' e 'mental'. Conforme Brierley assinalou, a psicanálise encara a mente como um processo e não como uma 150
M.ET-MOD
coisa, gpesar do hábito que Freud tinha de relacionar os fenómenos mentais a um APARELHO PSÍQUICO. 'A teoria geral da psicam lise, em sua definição mais abstraía, é uma psicologia de pro :essos mentais e de sua organização. Para tal psicologia, a riente deixou de ser uma estrutura estática ou com coisa substancial, tornando-se uma entidade dinâmica, um nexo de atividades, e uma sequência de reações adaptativas' (Brierley, 19)1). A psicanálise também considera a mente (processos mentais) como estando, de alguma maneira, intrinsecamente vinculada ao corpo (processos corporais). Apesar de conformar-se às convenções linguísticas que nos obrigam a falar de jim corpo e de uma mente que são diferentes, mas que interatuam, a psicanálise contém uma série de conceitos que ligam sua psicologia à fisiologia e à biologia. Entre estes, encontrai! L-se: INSTINTO; ID; INCONSCIENTE; AFETO; sexualidade (v. SEXD), ZONAS ERÓGENAS e SIMBOLISMO.
META ^ICOLOGIA Termo inventado por Freud para descrever p que outras ciências chamam de 'teoria geral', isto é, enunciados feitos no mais alto nível de abstração. As formulações netapsicológicas descrevem os fenómenos mentais em função do APARELHO PSÍQUICO fictício (v. FICÇÃO), e idealmente uontêm referências aos aspectos TOPOGRÁFICO, DINÂMIco e ECONÔMICO do fenómeno em tela; o aspecto topográfico refere se à localização do fenómeno dentro do aparelho psíquico, isto é, se no ID, no EGO ou no SUPEREGO; O dinâmico, aos INSTINTOS envolvidos; o económico, à distribuição da ENERGD K dentro do aparelho. A metapsicologia faz parte da TEORIA CLÁSSICA e não é utilizada pelos seguidores da teoria dos objfetos (v. OBJETO). MNEM5 MEMÓRIA. Daí, imagem mnêmica, o equivalente psicológico de um traço de memória. MODELO Quando os analistas falam em construir modelos, refárem-se à formulação de um sistema de conceitos que pode ser diagramaticamente expresso. O exemplo clássico de modelo I psicanalítico é o APARELHO PSÍQUICO de Freud, no qual as relações entre o ID, EGO e SUPEREGO e o MEIO AMBIENTE são topograficamente representadas (v. TOPOGRÁFICO). 757
MO RNAR
O perigo dos modelos é que podem ser tomados demasiadamente a sério;; o fato de que a atividade mental e o conflito podem ser concebidos em função de um diagrama visível, do qual certas partes são chamadas de id, ego e superego, conduz, com presteza excessiva, à convicção de que existem realmente coisas chamadas id, ego e superego. V. REIFICAÇÃO. MORTIDO Termo criado por Federn (1936) para descrever uma forma de ENERGIA pertencente ao INSTINTO DE MORTE e análoga à LIBIDO. "Embora um conceito desse tipo seja logicamente necessário para os analistas que acreditam nos INSTINTOS DE VIDA e de morte, nenhum deles, nem mesmo o próprio Federn, atreveu-se a elaborar as implicações de conceber um APARELHO PSÍQUICO em que dois instintos opostos estejam simultaneamente em ação, e no qual circulem duas formas diferentes de energia, MOTIVO Aquilo que impulsiona uma pessoa em direção a um fim ou objetivo. O conceito não faz distinção entre fatores 'internos', tais como os instintos, e 'externos', tais como os incentivos. V. VONTADE. MUNDO Quando interno (interior) e externo (exterior) são empregados antiteticamente, mundo interno é sinonimo de REALIDADE interna, realidade psíquica, e mundo externo, sinonimo de MEIO AMBIENTE, realidade externa. Catástrofe mundial é a idéia de que o mundo acabou ou foi destruído; frequentemente faz parte de DELÍRIOS esquizofrênicos (v. ESQUIZOFRENIA).
NARCISISMO 1. PERVERSÃO sexual em que o objeto preferido do indivíduo é seu próprio corpo (usado pela primeira vez, nesse sentido, por Havelock Ellis e Nácke). 2. por extensão, qualquer forma de auto-amor. 152
NAR-NEC
A TEORIA CLÁSSICA distingue entre o narcisismo primário, o amor io eu que precede o amar outras pessoas, e o narcisismo secu idário, o amor do eu que resulta da introjeção de um OBJETO e da identificação com ele (v. também INTROJEÇÃO e IDENTIFICAÇÃO). O último constitui ou uma atividade ou uma atitude defensiva (v. DEFESA) — pois permite ao indivíduo negar (y. NEGAÇÃO) que perdeu o objeto introjetado — ou faz partè do processo de DESENVOLVIMENTO. Uma das principais dificuldades do conceito é que, por um lado, a palavra 'narcisismo' possui inevitáveis conotações depreciativas, ao passo que, por outro, é utilizada como termo técnico para classificar tolas as formas de investimento de ENERGIA (LIBIDO) no EU. pai as referências não infrequentes a 'narcisismo sadio', pata distinguir o auto-respeito propriamente dito da 'supervalorização do ego'. A escolha de objeto narcísica baseia-se na semelhança do objeto cbm o sujeito. Uma ferida narcísica é um dano à autoestima. Uma neurose narcísica é aquela em que o paciente é incapaz Ide constituir uma TRANSFERÊNCIA. Provisões ou suprimento narcísicos são indicações de afeição, lisonja, louvor, etc., que realçam a auto-estima. Narcisismo, ocasionalmente, significa também egocentrismo ou SOLIPSISMO, isto é, pode designar a tendência a utilizar-se a si mesmo como ponto de referência] em torno do qual a experiência se organiza. Nesse sentido, a descoberta de que pessoa alguma é o único seixo existente na praia e de que o mundo não foi construído unicamentej para seu próprio benefício envolve uma perda de narcisismo. V. AUTO-ERÓTICO.
NARCC ANÁLISE Forma de PSICOTERAPIA na qual o paciente recebe a INTERPRETAÇÃO enquanto se acha sob a influência de uma droga hipnótica (v. HIPNOTISMO). NASCIMENTO, TRAUMA DO V. TRAUMA DO NASCIMENTO.
NECES 5IDADES, OBJETO QUE SATISFAZ
V.
OBJETO
QUE SA' ISFAZ NECESSIDADES.
153
NEG
NEGAÇÃO Mecanismo de DEFESA pelo qual (a) alguma experiência penosa é negada, ou (b) algum impulso ou aspecto do EU é negado, (a) e (b) não configuram certamente o mesmo processo. Segundo Freud, a negação de PERCEPÇÕES penosas constitui manifestação geral do PRINCÍPIO DE PRAZER, com a negação fazendo parte da REALIZAÇÃO DE DESEJOS alucinatória (v. também ALUCINAÇÃO). Em resultado disso, todas as percepções penosas têm de superar a resistência do princípio de prazer. A negação de aspectos do eu é algo mais complicado, visto que, segundo Klein, ela é seguida de DIVISÃO e PROJEÇÃO, em consequência do que o paciente nega possuir tais ou quais sentimentos, mas prossegue afirmando que outrem os possui (v. KLEINIANO) . A negação da realidade psíquica é manifestação da DEFESA MANÍACA; consiste em negar a significação interna da experiência e, em particular, dos sentimentos DEPRESSIVOS (V. também REALIDADE). A negação tem de ser distinguida da NEGATIVA, na qual uma percepção desagradável é anunciada pela afirmação do que lhe é negativo; por exemplo, o primeiro sinal de uma dor de cabeça é o pensamento: 'Que sorte eu não ter tido dores de cabeça há tanto tempo.' NEGATIVA S. Processo pelo qual uma PERCEPÇÃO OU pensamento é admitido à CONSCIÊNCIA sob forma negativa; assim, por exemplo, o começo de uma dor de cabeça é registrado pelo pensamento: 'Que sorte eu não ter tido dores de cabeça há tanto tempo'; o fato de uma figura num sonho representar a mãe é admitido pela afirmação: 'De qualquer modo, não era a minha mãe'. (O ponto principal aqui, não obstante, é que a idéia de que poderia ser a mãe deve ter ocorrido para que fosse negada.) Não deve ser confundida com NEGAÇÃO; NEGATIVISMO.
NEGATIVISMO Contra-sugestibilidade; obstinação; rejeição de propostas de auxílio. Atitude apresentada por pacientes que têm compulsão a opor sua VONTADE à dos outros, mesmo a ponto de se prejudicarem para se vingarem de alguém, e que reagem à perspectiva da mudança terapêutica como se 154
NEG-NEU
esta coàstituísse uma derrota. Não é sinónimo de REAÇÃO TERAPÊUT CA NEGATIVA.
NEGATIVO Adj. Não raro empregado como sinonimo de 'hostil', mas v. COMPLEXO DE ÉDIPO NEGATIVO; REAÇÃO TERAPÊUTICA NEGATIVA; NEGATIVISMO.
NEOFE EUDIANO Termo utilizado para descrever uma série d< autores americanos que tentaram reenunciar a teoria freudiara em termos sociológicos e eliminar suas vinculações com a biologia. Karen Horney, Erich Fromm e Harry Stack Sullivan são os neofreudianos mais conhecidos. Horney e Fromm interessaram-se, e interessam-se, pelas relações da personalidade e do desenvolvimento individual com a estrutura social. Sullivan interessou-se pelo papel das relações INTERPESSOAIS na determinação do comportamento e da personalidade, e poderia ser classificado como adepto da teoria dos objetos (vi OBJETO). V. Brown (1961). NEURALGIA nervo.
Dor geralmente devida à inflamação de um
NEURASTENIA 1. Termo médico e psiquiátrico, em vias de tornr-se obsoleto, para designar um estado de fatigabilidade e alta de vigor excessivos, outrora suposto como devido à exaustão ou má nutrição dos nervos. 2, Nos trabalhos de Freu uma das NEUROSES ATUAIS. NEURITE Inflamação de um nervo. NEUROLOGIA Ramo da medicina que estuda os distúrbios do sistema nervoso. Freud foi neurologista antes de tornar-se psicanalista e muitos conceitos psicanalíticos são oriundos da neurologia, principalmente IMPULSO, INIBIÇÃO, DESCARGA e CATEXIA; este último é uma transposição, para o campo da psicclogia, da idéia de que a atividade neural consiste no movimento de QUANTA de ENERGIA de um NEURÔNIO (célula nervosa) para outro, de modo que 'idéias', 'REPRESENTAÇÕES mentais'] e 'imagens' são tratadas como sendo as estruturas uni155
NEU
tárias (neurónios) de um APARELHO PSÍQUICO análogo ao sistema nervoso. V. o Projeto Para Uma Psicologia Científic (1895), de Freud, para sua tentativa de basear uma psicologia diretamente no movimento de energia de neurônio para neurônio. O Projeto jamais foi publicado em vida de Freud e hoje só possui interesse por mostrar até que ponto a psicanálise se desenvolveu a partir da neurologia. NEURÔNIO Célula nervosa, unidade estrutural básica do sistema nervoso central, consistindo num corpo celular e seus prolongamentos ao longo dos quais passam os IMPULSOS. NEUROPSIQUIATRIA Ramo da medicina que estuda o tratamento dos distúrbios nervosos e psicológicos. O neuropsiquiatra é versado tanto em NEUROLOGIA quanto em PSIQUIATRIA e primariamente se interessa pelas inter-relações das duas disciplinas. NEUROSE Esse termo, que data da segunda metade do século xvin, significava originalmente uma doença dos nervos. Depois, mais tarde, no século XEX, foi utilizado para descrever 'distúrbios funcionais', isto é, doenças que se acreditava serem devidas a distúrbios funcionais do sistema nervoso que não se faziam acompanhar por mudanças estruturais. Desde que Freud descobriu que uma das neuroses, a HISTERIA, constituía um distúrbio da personalidade e não dos nervos, o termo foi empregado para descrever exatamente os distúrbios mentais que não são doenças do sistema nervoso. A TEORIA CLÁSSICA distingue os seguintes tipos de neuroses: Psiconeuroses: devidas a causas passadas e explicáveis apenas em função da personalidade e história da vida do paciente. Existem três tipos de PSICONEUROSES: a HISTERIA DE CONVERSÃO, a HISTERIA DE ANGÚSTIA (FOBIA) e a NEUROSE OBSESSIVA.
Neuroses atuais: devidas a causas atuais e explicáveis em função dos hábitos sexuais do paciente (v. também NEUROSE ATUAL).
156
NEU
Neiroses traumáticas: devidas a choques (v. também IUROSE TRAUMÁTICA).
Neiroses narcísicas: neuroses nas quais o paciente é incapaz dí formar TRANSFERÊNCIA (V. também NARCISISMO). Ne iroses de caráter: neuroses nas quais os 'SINTOMAS' são traç os de CARÁTER OU caracterológicos. Neuroses de órgão ou organoneuroses: termo raramente utilizado para designar doença PSICOSSOMÁTICA (V. também NEUROSÇ DE ÓRGÃO OU ORGANONEUROSE ).
Ne iroses infantis: neurose da infância (v. também INFANTIL). A teoria clássica supõe que todas as neuroses da vida adulta íoram precedidas por outra na infância. Ne irose de transferência ou transferencial é ou uma rose em que o paciente é capaz de TRANSFERÊNCIA, OU O interesse ot sessivo pelo analista que o paciente desenvolve durante o cujso do tratamento psicanalítico. Uria neurose de angústia ou de ansiedade é ou qualque neurose em que a ANSIEDADE é o sintoma principal, ou uma das neif-oses atuais (v. também NEUROSE DE ANGÚSTIA). NEUROSE ATUAL Em seus primeiros trabalhos, Freud fazia di itinção entre PSICONEUROSES e neuroses atuais, as primeiras levendo-se a CONFLITOS psicológicos e acontecimentos passad 10 e as últimas sendo as consequências fisiológicas de distúrbios atuais no funcionamento sexual. Distinguiu posteriormente duas formas de neurose atual: a neurastenia, resultado de exce ;sossexuais, e a neurose de angústia, resultado de estimulaçêo sexual não-aliviada. V. Freud (1894). V. também NEURASTENIA e NEUROSE DE ANGÚSTIA.
NEUROSE DE ANGÚSTIA 1. Uma das duas NEUROSES ATUAIS. 2. Qualquer PSICONEUROSE em que a ANSIEDADE constitu i o sintoma predominante. NEUROSE DE ANSIEDADE
V. NEUROSE
DE ANGÚSTIA.
157
NEU
NEUROSE DE ÓRGÃO OU ORGANONEUROSE Termo utilizado na TEORIA CLÁSSICA para designar o que hoje é mais geralmente chamado de doença PSICOSSOMÁTICA.
NEUROSE OBSESSIVA Forma de PSICONEUROSE cujos sintomas predominantes são os pensamentos obsessivos e o comportamento compulsivo (rituais obsessivos; v. também TUAL). Os pensamentos obsessivos diferem dos 'normais' porque são experimentados, pelo próprio paciente, como forçados, atordoantes, repetitivos, ruminativos e como que provindos de outro lugar que não ele mesmo; seu tema principal é tipicamente absurdo, bizarro, impertinente e obsceno. O comportamento compulsivo é repetitivo, estereotipado, ritualístico e supersticioso. Segundo a TEORIA CLÁSSICA, a PSICOPATOLOGIA das neuroses obsessivas centraliza-se em torno da REGRESSÃO à fase ANAL-SÁDICA e da AMBIVALÊNCIA para com figuras parentais e os INTROJETOS destas. As formulações mais recentes põem em relevo o alto
NEU
pensador tema da pesquisa analítica', escreveu ele no último dos trabalhos citados. NEUROSjE TRAUMÁTICA Doença psiquiátrica cujos sintomas (a) se desenvolvem pouco após alguma experiência inesperadR e chocante (v. CHOQUE); (b) não são explicáveis como resultado físico de dano ao cérebro ou a qualquer outra parte po corpo; (c) incluem ações estereotipadas ou 'acessos', nos quais partes do evento traumático são repetidas, e/ou sonhos estereotipados, que repetem a experiência. A neurose traumáticí difere das outras neuroses porque seus sintomas, inclusive ps SONHOS traumáticos, não são acessíveis à INTERPRETAÇÃO. Em outras palavras, a neurose traumática não possui siGNiijCADO inconsciente (v. também INCONSCIENTE). Entretanto, èla tem uma função, a saber, capacitar o paciente a assimilar (retrospectivamente uma experiência inesperada, colocando-at por assim dizer, à sua frente novamente e elaborando-a (v. ELABORAÇÃO). AS neuroses traumáticas curam-se espontaneamente, ou tornam-se crónicas, ou transformam-se em PSICONEUROSES. A última hipótese só tem probabilidade de ocorrer sd os sintomas se mostrarem vantajosos; por exemplo, concederepi ao paciente direito a uma pensão ou, se for soldado, torparem-no incapaz para o serviço ativo. NEURÓTHCO 1. Adj. derivado de NEUROSE. Segundo o contexto, é empregado para afirmar que o fenómeno assim qualificadb não é SADIO (NORMAL), não é ORGÂNICO (físico), não é PSICÓTICO, e é passível de explicação psicológica. 2. Popularmente: 'nervoso', 'ansioso', 'tenso', 'muito nervoso*, com a implicação de que o estado a que se faz menção possui explicação psicológica. NEUTRAjLIZAÇÃO Processo através do qual os IMPULSOS e ENERGIAS sexuais e agressivos (v. SEXO e AGRESSIVIDADE) são c essexualizados e desagressificados (v. DESSEXUALIZAÇÃO e DES AGRESSIFICAÇÃO), perdendo sua qualidade INFANTIL. As atividades sublimadas (v. SUBLIMAÇÃO) e as FUNÇÕES AUTÓNOMAS DO EGO utilizam energia neutralizada. O conceito pertence à PSICOLOGIA DO EGO. V. Hartmann (1958). 159
NEV-NOR
NEVRALGIA
V. NEURALGIA.
NEVRITE V. NEURITE. NÍVEL GENITAL Segundo a TEORIA CLÁSSICA, a última fase do DESENVOLVIMENTO LIBIDINÀL; após progredir ou ascender através dos estádios PRÉ-GENITAIS de desenvolvimento e passar pelo período de latência, o indivíduo consegue ou alcança o nível genital, presumivelmente um planalto a partir do qual nenhuma ascensão posterior é possível. Erikson (1963), contudo, examina a GENITALIDADE em vinculação com o sexto de seus oito ESTÁDIOS HUMANOS, INTIMIDADE versus ISOLAMENTO (Estado Adulto Jovem) e reserva a MATURIDADE para o oitavo deles, que só é atingido na velhice. V. CARÁTER GENITAL; INTEGRIDADE DO EGO.
NORMA BÁSICA
V. REGRA OU NORMA BÁSICA.
NORMA, NORMAL E ANORMAL Norma é o membro de uma classe em comparação com o qual os outros membros são descritos. Em medicina, psicanálise, psicologia e sociologia, existe uma tendência a utilizar como norma algum membro ideal da classe e designar como anormal qualquer membro que se desvie apreciavelmente dessa norma. Em medicina, a norma é a 'saúde', e os sinais e os sintomas são anormais (daí a abreviatura médica 'N.A.D.' — nada de anormal detectado*). O comportamento é designado como anormal por psicólogos, sociólogos e psicanalistas caso se desvie do comportamento considerado normal pela sociedade era que o indivíduo vive ou pela teoria que o cientista aceita. Por exemplo, o comportamento HOMOSSEXUAL pode ser descrito como anormal ou porque a sociedade considera a HETEROSSEXUALIDADE a norma, ou porque a teoria o encara como uma PERVERSÃO do DESENVOLVIMENTO. NO primeiro caso, 'anormal' * Utilizada nos países de linga inglesa. Pode significar também no appreciable disease, "nenhuma doença digna de menção". (N. do T.)
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NOV-NUC
significa 'socialmente desviado'; no segundo, 'não-sadio'. Os profissioricais que aceitam os valores da sociedade ficam tentados acinfundir essas duas concepções de normalidade, a encarar copio 'não-sadio' todo comportamento que seja desviado e a igualar 'saúde' com conformidade e ajustamento. Os vínculos enre a psicanálise e a biologia obrigam os psicanalistas a definir normalidade em função da SAÚDE (isto é, em função da INTEGRAÇÃO e da ausência de CONFLITOS), e não em função do (justamento bem sucedido a alguma sociedade específica. V NEOFREUDIANO. NOVO tOMEÇO ou NOVO INICIO Termo utilizado por M. Balint para descrever o começo do processo de recuperação que ocorre em pacientes cuja cura torna necessária uma REGRESsfeo à DEPENDÊNCIA extrema em relação ao analista. Correspènde ao que Winnicott (1958) chama de surgimento do verdadeiro eu (v. VERDADEIRO E FALSO). V. DEFEITO BÁSICO.
NÚCLEO 'Parte ou coisa central em torno da qual outras se reúnam'; 'começo destinado a receber acréscimos' — CO.D, Segundo Glover (1939), o EGO começa como um certo número de núcleos isolados que se fundem durante o DESENVOLVIMENTO, OU seja, subjetivamente, a experiência do EU é, a princípio, fragmentária e descontínua, com ilhas de autopercepção apenas gradativamente fundindo-se para formar um sentimento de IDENTIDADE contínuo; objetivamente, os padrões integrados de comportamento são inicialmente parciais e só gradativamente se fundem para formar uma pessoa integrada. Éssa idéia pertence à TEORIA CLÁSSICA e à PSICOLOGIA DO EGO I e está — aparentemente, pelo menos — em notável contraste com a hipótese da TEORIA DOS OBJETOS de um ego unitário original, sujeito à fragmentação. V. também PSICOPATOLOGIA REVISTA DE FAIRBAIRN.
O complexo nuclear, raramente encontrado, refere-se à constelarão de idéias e sentimentos — relacionados aos pais e originados na infância — que constitui o centro da PSICOPATOLOGIA! do indivíduo. V. COMPLEXO DE ÉDIPO. 161
0-OBJ
o 'O' 'o PAI', 'a MÃE', geralmente, e 'o SEIO', 'O PÊNIS', referemse sempre às idéias dessas pessoas ou órgãos, idéias estas existentes na mente do indivíduo, e não ao objeto real, externo; isto é, são 'OBJETOS INTERNOS' que fazem parte da estrutura psíquica do indivíduo. 'O ELE' Os tradutores ingleses de Groddeck (1866-1934), de quem Freud tomou emprestado o conceito do ID ('das Es'), utilizam 'o ELE' * para referir-se ao conceito original de Groddeck, que Freud modificou consideravelmente. Embora 'o Id' e 'o Ele' possuam em comum a idéia de força impessoal interna, com a qual o EGO tem de entrar em acordo, diferem no fato de 'o id' ser um conceito psicológico, a parte do APARELHO PSÍQUICO dentro da qual o instintivo e o inato se encontram mentalmente representados e da qual o ego surge, ao passo que 'o Es' é um conceito psicossomático: 'o corpo e a mente são algo conjunto que abriga um Ele, uma força pela qual somos vividos, enquanto pensamos viver (...) O Ele, que está misteriosamente vinculado à sexualidade, Eros, ou como quer que queiramos chamá-lo, modela o nariz e a mão do ser humano, tal como modela seus pensamentos e suas emoções (...) E assim como a atividade sintomática do Ele na histeria e na neurose exige tratamento psicanalítico, assim também o exigem os problemas cardíacos e o câncer. V. Grossmann (1965). OBJETIVO E SUBJETIVO 'São termos da filosofia e da fisiologia para distinguir os conceitos e sensações que possuem * Cabe lembrar que os tradutores espanhóis de Freud verteram das Es por el ello. (N. do T.)
762
OBJ
causa ex erna daquelas que surgem apenas na mente' (Fowler, 1965). J)aí a dor física ser um fenómeno objetivo; os sonhos e as au l
OBJETl) Aquilo em cujo sentido uma ação ou desejo é dirigidos aquilo que o SUJEITO exige, a fim de alcançar SATISFAÇÃO ijistintual; aquilo com que o sujeito se relaciona. Nos trabalho^ psicanalíticos, objetos são quase sempre pessoas, partes de pessoas, ou SÍMBOLOS de umas ou outras. Essa terminologia confunde os leitores que estão mais familiarizados com 'objeto' jno sentido de 'coisa', ou seja, aquilo que não é uma pessoa. t)aí: Amor objetal ou de objeto: amor de um objeto que é reconhecido como uma pessoa diferente de nós mesmos, em contraste cèm o auto-amor (v. EU) e a IDENTIFICAÇÃO. Objeto amorosa: objeto que é amado, que é o objeto do amor objetal. Catexia objetal ou de objeto: investimento de ENERGIA num ob ieto externo, em contraste com seu investimento no eu (CATEXÍA narcísica; v. também NARCISISMO). 163
OBJ
Constância objetal ou de objeto: capacidade de manter um relacionamento duradouro com um objeto único e específico, ou, inversamente, a tendência a rejeitar substitutos para um objeto familiar; por exemplo, um bebê que apresente constância objetal rejeita a maternagem por parte de qualquer outra pessoa que não seja sua MÃE e sente falta específica desta quando está ausente. Escolha objetal ou de objeto: a escolha objetal narcí baseia-se na IDENTIFICAÇÃO com um objeto semelhante ao sujeito. A escolha objetal anaclítica baseia-se na diferença que o objeto apresenta em relação ao sujeito (v. também ANACLÍTICO).
Libido objetal ou de objeto: LIBIDO investida em objetos, em oposição à libido narcísica, investida no eu. Objeto bom: objeto a quem o sujeito ama, que é experimentado como benévolo. O objeto bom pode ser INTERNO ou EXTERNO.
Objeto externo: objeto reconhecido pelo sujeito como externo a si mesmo, em contraste com um objeto interno (v. abaixo). Objeto total: objeto que o sujeito reconhece como sendo uma pessoa, com direitos, sentimentos, necessidades, etc, semelhantes aos seus. Objeto transicional: objeto que o sujeito trata como se estivesse a meio caminho entre ele mesmo e outra pessoa, tipicamente uma boneca ou um pedaço de pano que a criança considera um tesouro e utiliza como algo confortador, mas que não tem de ser tratado com a consideração devida a uma pessoa. O conceito é de Winnicott (1958), que considera que tais objetos auxiliam a criança a fazer a transição do narcisismo INFANTIL para o amor objetal, e da DEPENDÊNCIA para a autoconfiança. Objeto interno: representação objetal (v. abaixo) que adquiriu o significado de um objeto externo (v. acima). Os objetos internos são fantasmas, isto é, imagens que ocorrem em FANTASIAS às quais se reage como se fossem 'REAIS'. Derivam dos objetos externos pela INTROJEÇÃO e são concebidos como localizados na realidade (psíquica) interna. 164
OBJ
Objeto mau: objeto que o sujeito odeia ou teme, que é experimentado como malévolo. O objeto MAU pode ser um objeto interno ou externo (v. acima). Objeto parcial: objeto que faz parte de uma pessoa; por exemplo o PÊNIS OU O SEIO. A distinção entre objeto total e objeto parcial é às vezes empregada para efetuar o que, à primeira vista, parece ser uma distinção muito diferente, ou seja, a distinção entre reconhecer um objeto como uma pessoa cujos sentimentos e necessidades são tão importantes como os nossos, e tratar lim objeto como existindo unicamente para satisfazer nossas próprias necessidades. V. objeto total (acima) e objeto que satisfaz necessidades (abaixo). Objeto que satisfaz necessidades: objeto que o sujeito 'a unicamente por causa de sua capacidade de satisfazer necessidades è que o sujeito não reconhece como pessoa. O termo é empregado unicamente quando se examina a natureza da ligação de um bebê com sua MÃE. Perda objetal ou de objeto: via de regra, perda de um objeto bpm externo. Acontecimento que precede a introjeção e/ou o LUTO.
Relação objetal (de objeto) ou relacionamento ob objeto) : relação do sujeito com seu objeto, não a relação entre o sujeito e o objeto, que constitui um relacionamento interpessoal. Isso se deve ao fato de a psicanálise ser uma psicologia do indivíduo e, portanto, examinar objetos e relacionamentos apenas do ponto de vista do indivíduo isolado. O relacionamento objetal pode ser com um objeto externo ou interno (v. acima). Representação objetal ou de objeto: representaç tal de um objeto. Estritamente falando, todos os conceitos ECONÓMICOS, tais como, por exemplo, a CATEXIA objetal, a LIBIDO objetal, referem-se às representações mentais dos objetos e não aos próprios objetos; de outra maneira, ter-se-ia de considerar a possibilidade de a energia mental estar ligada a ESTRUTURAS situadas fora do APARELHO PSÍQUICO, e talvez mesmo a possibilidade de a energia passar de um aparelho para OUtro. V. INTERNALIZAÇÃO. 165
OBJ-OBS
Teoria objetal {dos objetos) ou teoria das relações (de objeto): teoria psicanalítica na qual a necessidade do sujeito de relacionar-se com objetos ocupa a posição central, em contraste com a TEORIA DOS INSTINTOS, que se centraliza em torno da necessidade que o sujeito tem de reduzir a TENSÃO instintual. OBJETO PARCIAL V. OBJETO; OBJETO TOTAL E OBJETO PARCIAL.
OBJETO QUE SATISFAZ NECESSIDADES OBJETO que é 'amado' unicamente por sua capacidade de satisfazer necessidades instintuais, sem que se tome conhecimento das necessidades ou personalidade dele. OBJETO TOTAL E OBJETO PARCIAL OBJETO total é uma pessoa a quem o sujeito se relaciona de uma maneira que toma conhecimento do fato de que ela (o objeto) é uma pessoa. Objeto parcial é um órgão corporal a quem o sujeito se relaciona como se ele existisse unicamente para safistazer suas necessidades, ou uma pessoa a quem trata como se ela fosse um órgão existente unicamente para satisfazer as necessidades do sujeito, 'o SEIO' é o objeto parcial por excelência. OBSESSÃO Quando utilizada como termo técnico: idéia, ou grupo de idéias, que persistentemente se impõe à CONSCIÊNCIA do paciente, apesar de sua VONTADE e do fato de ele próprio reconhecer a anormalidade delas. As obsessões (sin.: idéias obsessivas ou COMPULSIVAS) são o principal sintoma da NEUROSE OBSESSIVA.
OBSESSIVO, CARÁTER, DEFESAS, NEUROSE, PENSAR, TÉCNICA. V. CARÁTER OBSESSIVO; DEFESAS OBSESSIVAS; NEUROSE OBSESSIVA; PENSAR OBSESSIVO; TÉCNICA OBSESSIVA.
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OCE-ONI
OCEÂNICO, SENTIMENTO V. SENTIMENTO OCEÂNICO. ÓDIO 1. Princípio ou força interna que se supõe acionar o comportamento. 2. AFETO caracterizado por um desejo duradouro de danificar ou destruir o objeto odiado. O ódio é não raro confundido pelos analistas com a IRA, embora esta seja uma emoção passageira, não duradoura, e que pode ser sentida em relação a alguém que se ama. Segundo McDougall (1908), o ódio é um SENTIMENTO e a ira uma EMOÇÃO primária, simAles. Segundo Freud (1915), o ódio é a reação a ameaças ao EGO, mas, em seus trabalhos especulativos posteriores, o ódio (foi considerado como manifestação do INSTINTO DE MORTE. Os analistas influenciados por essas idéias posteriores tendem la considerar o AMOR e o ódio como contrários, e a encarar a psique como um campo de batalha entre esses dois instintos opostos. ONIPOTÊNCIA Fantasias onipotentes são FANTASIAS de que o indivíduo é onipotente. Onipotência do pensamento refere-s à crença de que os pensamentos podem, por si próprios, alterar o jmundo externo. Segundo certas descrições, todos os bebés acreditam na onipotência do pensamento e aprendem, através pe sua experiência da FRUSTRAÇÃO, a aceitar o PRINCÍPIO DE REALIDADE. Segundo outros, ela constitui um sintoma de ALIENAÇÃO e a DISSOCIAÇÃO da fantasia de qualquer contacto com o jmundo externo. Segundo Freud (1912), a crença na onipotêicia do pensamento é subjacente ao animismo, à MAGIA, às práticas religiosas (v. RELIGIÃO) e à NEUROSE OBSESSIVA, constitujndo-se os RITUAIS das duas últimas em tentativas de controlar a onipotência de Deus, no primeiro caso, e, no segundo, Ido próprio indivíduo (isto é, da parte alienada dele próprios v. ALIENAÇÃO). A onipotência do pensamento também é invocada como explicação do fato de os desejos poderem despertar tanta culpa quanto as ações. ONIROMANCIÃ Adivinhação por meio de SONHOS; não confundir com a INTERPRETAÇÃO de sonhos, que não reivindica sei profética e utiliza o sonho apenas como prova do estado mental do indivíduo que sonha. Onirologia é palavra 167
ONT
raramente empregada para designar o estudo científico dos sonhos. ONTOGENIA E FILOGENIA A primeira refere-se ao desenvolvimento do indivíduo; a segunda, ao desenvolvimento da raça ou espécie. Em biologia, a formulação 'a ontogenia recapitula a filogenia' é empregada para descrever o fato de que o padrão geral de desenvolvimento embriológico no indivíduo só é explicável em função da evolução da espécie. A idéia de que essa fórmula também poderia ser aplicável ao desenvolvimento psicológico humano foi responsável pelas incursões de Freud pela antropologia e por seu traçado de paralelos entre as FANTASIAS e modos de pensar INFANTIS e os do homem primitivo. Como Jones (1930) escreve: '(...) quando métodos psicanalíticos são aplicados a dados obtidos de raças selvagens e da mitologia e arqueologia, torna-se difícil resistir à conclusão de que existe ampla semelhança entre as fantasias e as peculiaridades mentais de nossos filhos pequenos e as que se deve inferir terem sido características da raça como um todo, em épocas primitivas; as idéias de canibalismo, incesto e assassinato do pai são predominantes entre as muitas a que me refiro. O próprio Freud encara essas conclusões, talvez de modo bastante pouco crítico, à maneira lamarckista'. A referência ao LAMARCKISMO tem a ver com a crença de Freud de que características adquiridas podiam ser herdadas, e de que, portanto, o sentimento neurótico de CULPA do homem moderno podia ser atribuído a crimes ancestrais, cometidos em épocas pré-históricas. V. ONIPOTÊNCIA; PARRICÍDIO; INCESTO; TOTEM; HORDA PRIMEVA.
ONTOLOGIA Ciência ou estudo do ser. Segundo Rollo May (1967), analista existencial americano (v. EXISTENCIALISMO), o homem possui quatro características ontológicas: (a) 'ele busca preservar algum centro'; (b) 'a centralização do ser humano depende de sua coragem em afirmá-la', isto é, o centro não é automaticamente mantido, como nas plantas e nos animais; (c) '(o homem) tem a necessidade e a possibilidade de sair de sua centralização, para participar de outros seres'; (d), a autoconsciência (v. EU), esse desenvolvimento 168
ORA
da percepção, possuída por animais, que permite ao homem dar-se conta de que ele é o ser que tem um centro, que afirma e que participa de outros seres — e que lhe permite utilizar abstrações e SÍMBOLOS para transcender a situação imediata. Os filósofos e analistas existencialistas criticam a psicanálise freudiana com fundamento em que ela negligencia a ontologia e que sua preocupação com o passado e com o INCONSCIENTE conduziu à desconsideração dos problemas da CONSCIÊNCIA e autoconsciência. Essas críticas são caracteristicamente dirigidas à TEORIA DOS INSTINTOS e à PSICOLOGIA DO EGO, não à TEORIA DOS OBJETOS. V. May (1967), Sartre (1956), Laing (1967). V. TEORIA DOS INSTINTOS E TEORIA DOS OBJETOS; IDENTIDADE.
Daí: segurança ontológica primária, termo empregado Laing (1960), para descrever a posição existencial de uma pessoa com um 'sentimento centralmente firme de sua própria realidade e identidade e da realidade e identidade das outras pessoas'. Segundo Laing, é isso que, basicamente, falta ao psicótico (JV. PSICOSE). ORAL Que diz respeito à boca. Daí: Caráter oral: caráter apresentado por pessoas com FIXAÇÕES na fase oral (v. abaixo). Traços caracterológicos orais típicos Ião o OTIMISMO e o PESSIMISMO, a generosidade, as variações frequentes do humor, a DEPRESSÃO, a EXULTAÇÃO, a loquacidade, a voracidade e a tendência a empenhar-se num pensar dirigido pelo desejo. Erotismo oral: prazer sensório derivado da boca. Fase oral: na TEORIA CLÁSSICA, a primeira fase tanto do DESENVOLVIMENTO LIBIDINÀL quanto do DESENVOLVIMENTO DÓ EGO, na qual a boca constitui a principal fonte de ' prazer e, por isso, o centro da experiência. Segundo Abraham, a fase oral pode ser dividida em duas subfases, a do sugar oral e a do moMer oral. A fase começa com o nascimento, embora não seja claro se termina com o desmame ou na idade em que seria nétural para o bebê desejar ser desmamado. As pessoas fixadas po nível oral não apenas tendem a manter a boca como suai ZONA ERÓGENA primária (geralmente inconsciente) e a serem fixadas na MÃE, mas também a se inclinarem a osci769
ORG
lações de HUMOR maníacas e depressivas (v. PSICOSE MANÍACO-DEPRESSIVA e DEPRESSÃO), bem como a se identificarem com outras pessoas, de preferência a se relacionarem a estas como outras pessoas. O motivo disso é que a DEPENDÊNCIA inconsciente do seio se encontra associada à sobrevivência de uma IDENTIFICAÇÃO primária com ele; como resultado, reagese às experiências satisfatórias como se elas confirmassem a FANTASIA de fusão com a mãe (oscilação maníaca), e aos desapontamentos como se constituíssem uma perda da mãe (oscilação depressiva). V. Abraham (1927) para os trabalhos pioneiros sobre a fase oral e sua importância na PSICOPATOLOGIA da mania e da depressão. V. Lewin (1951), para uma exposição mais recente dos efeitos da fase oral. Devido a razões históricas, a TEORIA DOS OBJETOS ainda utiliza a expressão 'fase oral' para se referir à época em que 'o seio' e 'a mãe' constituem o objeto primário do bebê. Sadismo oral: prazer em causar danos através do morder. Prazer em FANTASIAS de morder e comer destrutivamente (canibalismo). Segundo Abraham (1927), há uma fase sádicooral do DESENVOLVIMENTO LIBIDINÀL INFANTIL que se segue à dentição. ORGÂNICO Relacionado a um organismo, a uma estrutura viva e dinâmica, ou, como em doença orgânica, sintom orgânico, origem orgânica, ao corporal em oposição ao ps lógico. Esse último emprego, estritamente falando, é médico e não psicanalítico. Na psicose orgânica, a diferenciação que se faz é da psicose funcional, referindo-se ao fato de a PSICOS ser o resultado de doença do cérebro. ORGANONEUROSE V. NEUROSE DE ÓRGÃO. ORGASMO O ponto culminante na relação sexual; momento em que os afetos de tensão são substituídos pelos afetos descarga. V. AFETO; PRÉ-PRAZER; PRAZER FINAL. A palavra é ocasionalmente utilizada para designar um momento equivalente em atos PRÉ-GENITAIS; daí, orgasmo gastrintestinal para o saciamento do instinto ORAL e, por extensão ainda mais am170
ORT-PAR
pia, orgasmo farmacotóxico (Rado, 1933), para a reação a drogas (Jriadoras de dependência. ORTOPS1QUIATRIA Escola de psiquiatria interessada no desenvolvimento sadio e em seus distúrbios. OTIMISMO E PESSIMISMO Segundo Frieda Goldman Eisler (1953), citada por Carstairs em suas Conferências Reith de 1963, o otimismo está significantemente associado à amamentaçãb prolongada e o pessimismo, com o desmame precoce. Clinicamente, o otimismo, no sentido de subestimação dos obstáculos, tende a ser encarado como traço maníaco (v. PSICOSE M(ANÍACO-DEPRESSIVA), e o pessimismo, no sentido de superestimá-los, como traço depressivo (v. DEPRESSÃO).
PAI pmbora os próprios escritos de Freud concedam importância central ao pai e ao COMPLEXO DE ÉDIPO, quase toda a literatura analítica contemporânea centraliza-se em torno da MÃE e das fases PRÉ-EDIPIANAS do desenvolvimento, permanecendo incerto se isso constitui um reflexo da mudança social ou um progresso real em conhecimento. 'O pai', significa ou o pai dp paciente ou sua imagem interna do pai; esta é 'o pai INTERNÍ)', que pode, pela DIVISÃO, existir sob duas formas: 'o pai BOM' e 'o pai MAU'. O 'PAI PRIMEVO ou PRIMITIVO é o líder da 'HORDA PRIMEVA OU PRIMITIVA', cujo assassinato pelos filhos cjespertou o sentimento de CULPA primevo e herdado; v. TOTEM ;e TABU. Daí, figura paterna, complexo paterno. PAI PRIMEVO OU PRIMITIVO V. PRIMAL. PARÂMETRO Termo tomado de empréstimo à matemática para* descrever os aspectos da técnica psicanalítica que podem (qiscutivelmente) ser modificados para atender às necessidades! de classes específicas de pacientes. A frequência e a 171
PAR
duração das sessões, o grau de orientação da vida do paciente e de interferência nela, a insistência na utilização ou não do divã, são parâmetros que se pode fazer variar para atender às necessidades clínicas de adolescentes, PSICÓTICOS, crianças ou outros pacientes que não pertençam às categorias para as quais a TÉCNICA ANALÍTICA CLÁSSICA foi projetada. PARANÓIA PSICOSE funcional caracterizada por DELÍRIOS de grandeza e perseguição, mas sem deterioração intelectual. Nos casos clássicos de paranóia, os delírios estão organizados num sistema delirante coerente e internamente harmónico, segundo o qual o paciente está preparado para agir. Essa sistematização a diferencia da esquizofrenia paranóide. V. ESQUIZOFRENIA.
PARANÓIDE 1. Relativo a PARANÓIA. 2. Inclinado a utilizar mecanismos projetivos (v. PROJEÇÃO). 3. Imprecisamente: suscetível, desconfiado. A tendência contemporânea a empregar 'paranóide' para descrever pessoas que utilizam a projeção como DEFESA origina-se de duas fontes: (a) a INTERPRETAÇÃO freudiana dos delírios de perseguição (v. DELÍRIO) como sendo projeções de desejos HOMOSSEXUAIS inconscientes, e (b) o conceito formulado por Melanie Klein da POSIÇÃO ESQUIZO-PARANÓIDE, durante a qual, na opinião dela, o bebê lida com sua destrutividade inata atribuindo-a ao (projetando-a no) SEIO pelo qual se sente perseguido (v. também KLEINIANO).
PARANÓIDE, ANSIEDADE, POSIÇÃO ESQUIZO —, TÉCNICA V. ANSIEDADE PARANÓIDE; POSIÇÃO ESQUIZO-PARANÓIDE; TÉCNICA PARANÓIDE.
PARANÓSICO Encontrado apenas na expressão ganho paranósico, sinonima de 'ganho primário'. V. GANHO PRIMÁRIO E SECUNDÁRIO.
PARAPRAXIA Ato falho devido à interferência de algum desejo, conflito ou seqUência de pensamentos inconsciente. Os lapsos de linguagem e de escrita constituem as parapraxias 772
PAR-PAT
clássicas^ V. The Psychopathology of Everyday Life (1901 A Psicopatologia da Vida Cotidiana), de Freud, onde ele u za as parapraxias para demonstrar a existência de processos mentais inconscientes nas pessoas sadias. PARCIAL, INSTINTO, OBJETO V. INSTINTO COMPONENTE; OBJETO; OBJETO TOTAL E OBJETO PARCIAL.
PARRIC1DIO Assassinato do próprio pai. Na literatura analítica, é mencionado em vinculação quer com o COMPLEXO DE ÉDIPO do indivíduo e os resultantes desejos de morte do pai, quer com o assassinato do PAI PRIMEVO da HORDA PRIMEVA. V. também TOTEM. PASSIVO 'Que sofre ação; sobre o qual se age' (CO.D.). Quando aplicado a uma pessoa: relutante em iniciar ação; inclinado a tornar-se dependente (v. DEPENDÊNCIA) de outra pessoa; que busca relacionamentos em que possa transformar-se em passivo-receptivo ou passivo-dependen Quando aplicado ao comportamento sexual: papéis que são dependentes da atividade da outra pessoa, por exemplo, a HOMOSSEXUALIDADE passiva ou a HOMOSSEXUALIDADE feminina, ou os papéis que podem ser interpretados como INVERSÕES dos próprios instintos ativos do indivíduo: por exemplo, o MASOQUISMO e o EXIBICIONISMO são, segundo a TEORIA CLÁSSICA, formas passivas do próprio SADISMO e VOYEURISMO do indivíduo. VJ ATIVO E PASSIVO para o uso que a análise clássica fez dos conceitos de ativo e passivo. PATOBIOGRAFIA Estudo psicanalítico de uma personagem histórica, baseado nas provas biográficas disponíveis e não na observação clínica direta. Esse género — do qual o Leonardo da Vinci, de Freud, constitui um dos bons exemplos, e o estudo de Wilson efetuado por Freud e Bullit (1967), um dos maus — padece da grave limitação de não poder contar com um dos critérios clínicos da INTERPRETAÇÃO correta, ou seja, a concordância (final) do paciente com ela. PATOLOGIA V. PSICOPATOLOGIA. V. também ETIOLOGIA E PATOLOGIA.
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PAT-PEN
PATONEUROSE NEUROSE cujos sintomas estão localizados numa parte do corpo anteriormente afetada por doença ORGÂNICA.
PEDERASTIA Sodomia. V. HOMOSSEXUALIDADE. PEDOFILIA Literalmente, amor por crianças, mas, na prática, denominação reservada para a tendência a cometer delitos sexuais contra elas. Não existem estudos psicanalíticos da pedofilia, mas as provas sociológicas sugerem que (a) só raramente ela se mostra associada a violência para com a vítima; (b) não se trata de uma PERVERSÃO no sentido de ser a forma preferida de comportamento sexual do indivíduo; (c) a 'vítima' quase sempre se mostra complacente. V. Mohr e outros (1965). PÊNIS E FALO Estritamente falando, pênis é termo anatómico que se refere ao órgão gerador masculino, e o falo, termo antropológico e teológico referente à idéia ou imagem do órgão gerador masculino, isto é, o pênis é um órgão com funções biológicas e o falo, uma idéia venerada em diversas religiões como SÍMBOLO do poder da natureza. Daí a observação (provavelmente apócrifa) de Jung de que o pênis é apenas um símbolo fálico. A literatura psicanalítica utiliza tanto 'o pênis' quanto 'o falo' para referir-se à idéia (REPRESENTAÇÃO mental) do pênis, mas prefere o adjetivo 'fálico' à expressão 'do pênis'. Por exemplo, diz-se que os meninos passam por uma FASE FÁLICA, durante a qual se mostram não apenas preocupados com seu pênis, mas também com a idéia de potência, virilidade, masculinidade, força e poder em geral. PENSAR 1. Qualquer forma de atividade mental em que estejam envolvidas idéias. 2. Mais especificamente, atividade mental que se interessa pela solução de problemas. A principal contribuição da psicanálise à psicologia do pensar foi a distinção feita por Freud (1900, 1911, 1917) entre os PROCESSOS PRIMÁRIOS E SECUNDÁRIOS: aqueles são a forma de pensar (funcionamento mental) característica do INCONSCIENTE (ID), e estes, a que é característica da CONSCIÊNCIA (EGO). 174
PEN-PEQ
O pensar autista é realizador de desejos (v. REALIZAÇÃO DE DESEJOS), egocêntrico e não considera as categorias de espaço e TEMPO. O pensar obsessivo (v. OBSESSÃO) é explicado pela AM BIVALÊNCIA, com as consequentes tentativas de conci-
liar pro >osições contraditórias e de evitar fixar-se num dos lados da questão; manifesta-se, na fala e na escrita, por uma alta inc: dência de 'mas' e 'se'. O pensar esquizofrénico (v. ESQUIZOFEENIA) apresenta uma grosseira interferência no pensar do >rocesso secundário por irrupções do processo primário e dó pensar autista, levando a frequentes elipses e neologismos, ruptura da sintaxe e saltos bizarros no assunto geral — tipicamente 'jogadas de cavalo',* isto é, temas que se sucedem de maneira que o ouvinte sente que são vinculados, mas é incapaz de perceber de que modo. Parece provável que todas as NEUROSES e PSICOSES apresentam distúrbios específicos do pensar, e que estes se revelam em hábitos gramaticais e sintátiDos característicos; contudo, apenas os tipos patológicos de pensar, acima mencionados, são geralmente reconhecidos. V. Lorenz e Cobb (1953), Lorenz (1953). V. também SÍMBOLC .
PENSAR OBSESSIVO Esse termo não se refere aos pensamentos obsessivos (v. NEUROSE OBSESSIVA), mas a uma forma de pensar apresentada tipicamente por caracteres (v. CARÁTER) I OBSESSIVOS e por eles aceita como forma válida de atividade mental. Sua função consiste em conciliar atitudes ambivalèntes (v. AMBIVALÊNCIA); tende, portanto, a consistir em formulações altamente abstratas, destinadas a conciliar contradiçõel, ou em afirmações, tipicamente vinculadas por 'mas', que tenlem a cancelar-se mutuamente. Alternativamente, todas as Rfirmações podem ser de tal modo ressalvadas por referência! a exceções, condições ou sugestões quanto à possibilidade oe outra formulação melhor, que o indivíduo na realidade evita comprometer-se com essas mesmas afirmações. 'PEQUENO HANS'
V. 'JOÃOZINHO'.
* Alusão ao jogo de xadrez. (N. do T.)
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PER
PERCEPÇÃO Processo de tornar-se cônscio, de dar-se conta de algo. A psicanálise distingue entre a percepção externa e a interna; a primeira baseia-se em SENSAÇÕES derivadas de órgãos sensórios e a última baseia-se na CONSCIÊNCIA (CONSCIOUSNESS) que se dá conta de processos mentais 'internos'. Esse emprego provém do fato de Freud encarar a consciência como um órgão sensório capaz de ser dirigido em dois sentidos: para dentro, no sentido da atividade mental, e para fora, no sentido do MEIO AMBIENTE. Em geral, a percepção precisa ser distinguida da sensação, ou seja, do processo de dar-se conta dos dados sensórios, isto é, da estimulação daqueles órgãos sensórios que dão origem às sensações de tato, calor, luz, som, etc; da apercepção, ou seja, do processo de reconhecer ou identificar o que foi percebido; e da concepção, ou seja, do processo de formar idéias gerais (CONCEITOS), baseadas no reconhecimento dos aspectos comuns a uma série de objetos que foram percebidos durante certo período de tempo. A teoria psicanalítica da DEFESA envolve a hipótese da percepção INCONSCIENTE com referência tanto às percepções internas quanto às externas, pois afirma que as defesas são instituídas para impedir que IMPULSOS, LEMBRANÇAS, etc, se tornem conscientes. Isso implica que a instância mental que dá início à defesa, deve perceber o percepto ameaçador antes que este se torne perceptível à consciência. Este foi um dos motivos que levou Freud a substituir 'o Consciente' por 'o EGO'. Anteriormente a essa mudança de terminologia, foi necessário afirmar que o Consciente estava inconscientemente consciente de certo impulso proibido. O Ego, contudo, é definido como parcialmente inconsciente, e afirma-se que é capaz de fazer ajustes automáticos e inconscientes a mudanças de TENSÃO interna. Entretanto, não é difícil encontrar trabalhos analíticos que caem na armadilha de afirmar que um paciente estava inconscientemente consciente (ou cônscio) de algo. PERCEPÇÃO INTERNA
V.
COMPREENSÃO INTERNA.
PERÍODO DE LATÊNCIA Fase do desenvolvimento postulada pela psicanálise, em que a maturação psicossexual mar776
PER
ca passd. Ocorre após a fase EDIPIANA e termina na puberdade, constituindo um período de quiescência emocional entre os dramas |e inquietações da infância e da adolescência. Não se esclareceu se o período de latência constitui fenómeno inato e univeisal, relacionado com o prolongamento da imaturidade biológica que caracteriza o desenvolvimento humano, ou se está confinado a culturas repressivas (v. REPRESSÃO), nas quais o comportamento sexual INFANTIL e imaturo está sujeito a restrições. O período de latência corresponde ao quarto dos oito ESTÁDIOS HUMANOS, de Erikson, DILIGÊNCIA versus INFERIORIDADE, formulação que dá ênfase à preocupação desse estád o com a aquisição de habilidades. PERSEGUIÇÃO Delírios de ser perseguido ocorrem na PAe na ESQUIZOFRENIA paranóide. Idéias persecutórias: são suspeitas de que se é perseguido que não equivalem a crenças fixai;. Ansiedade persecutória é sinónimo de ANSIEDADE PARANÓIDE. Mania de perseguição é termo obsoleto para designar a paranóia. PERSONA Termo junguiano para designar 'a maneira de proceder que corresponde às exigências da vida cotidiana do indivídu i V. Bennet (1966). Literalmente, a palavra significa 'máscara PERSO VALIDADE 'COMO SE' Tipo de caráter ESQUIZÓIDE que se comporta como se tivesse reações emocionais normais a (situações. PERSONALIDADE, DISTÚRBIO DE, TIPOS DE V., respectivamente, DISTÚRBIO DE COMPORTAMENTO, TIPOS DE PERRANÓIA
SONALIEUDE.
PERSONOLOGIA Termo tomado de empréstimo por Marjorie Biierley ao General Smuts* para descrever o estudo da Jan CAristiaan Smuts (1870-1950), estadista, militar e filósofo sulafricano, primeiro-ministro da União Sul-Africaná de 1919 a 1924 e, novamen e, de 1938 a 1948. Sua principal obra filosófica é o tratado Holism 4nd Evolution, publicado em 1926 (N. do TV);
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PER
personalidade 'não como uma abstração ou feixe de abstrações psicológicas, mas antes como um organismo vital, como o todo psíquico orgânico que, por excelência, ela é' (Smuts); a mesma autora utilizou o termo para distinguir a ciência da personalidade da METAPSICOLOGIA, a diferença consistindo em que a primeira retém a pessoa e sua experiência, ao passo que a segunda a concebe como o resultado da ação recíproca de estruturas impessoais. PERVERSÃO SEXUAL Qualquer forma de comportamento sexual adulto em que a relação heterossexual não constitui o objetivo preferido. A literatura psicanalítica prefere 'perversão' a desvio' ou 'anomalia', já que tal comportamento é o resultado da perversão e da deformação tanto do DESENVOLVIMENTO LIBIDINÀL quanto do DESENVOLVIMENTO DO EGO, isto é, já que se trata de perversões do DESENVOLVIMENTO. Em consequência, a psicanálise sustenta que ás perversões sexuais possuem uma função defensiva (v. DEFESA) e permitem ao indivíduo evitar ou dominar a ANSIEDADE, com a fonte desta variando de uma perversão para outra. Segundo Freud (1916), as perversões são o negativo das NEUROSES, pois o perverso encena impulsos que o neurótico reprime (v. REPRESSÃO). Uma formulação alternativa é a de que o perverso regride à SEXUALIDADE INFANTIL (v. REGRESSÃO), ao passo que o neurótico utiliza outras defesas, ou em lugar da regressão ou após esta; ambas as formulações pressupõem que o comportamento perverso na vida adulta constitui uma revivescência de um ou outro dos INSTINTOS COMPONENTES que compreendem a sexualidade infantil e a partir dos quais o instinto heterossexual adulto se desenvolve. Outra maneira de expressar isso é a formulação de que o bebê é polimorficamente perverso (v. PERVERSIDADE POLIMÓRFICA), e a de que as perversões representam regressões a uma ou outra das propensões perversas da sexualidade infantil. V. Freud (1916). Apesar dessa e de outras formulações da diferença entre neurose e perversão, não existe nenhuma explicação satisfatória de por que certos indivíduos se tornam perversos, enquanto outros desenvolvem neuroses ou, em particular, enquanto alguns 'capitalizam, como Fairbairn (1952) diz, precisamente aquelas pro178
PER-PES
pensões que outros se esforçam arduamente por reprimir. A masculina é a única perversão para a qual fatores constitucionais foram seriamente aduzidos como explicação. A psiquiatria contemporânea classifica as perversões como DISTÚRBIOS DO COMPORTAMENTO, com fundamento em que os 'sintomas' são antes um comportamento, em que o paciente alega tor prazer, do que incapacidades que, por si mesmas, lhe causam sofrimento. A alegação de obter prazer num comportamento que a PSICOPATOLOGIA considera defensivo suscita problemas quanto à autenticidade do comportamento e dos relacionamentos perversos (v. AUTÊNTICO E INAUTÊNTICO). Para as perversões específicas, v. HOMOSSEXUALISMO; EXIBICIOHOMOSSEXUALIDADE
NISMO; VOYEURISMO; NARCISISMO; SADISMO; MASOQUISMO; PEDOFILIA
PERVERSIDADE POLIMÓRFICA Segundo a TEORIA CLÁSSICA, O bebê é polimorficamente perverso, isto é, seus desejos se mais INFANTIS não são canalizados em nenhuma direção determinada e ele considera as diversas ZONAS ERÓGENAS como intercambiáveis. Segundo certas versões desse conceito, existe uma fase polimorficamente perversa específica do DESENVOLVIMENTO LIBIDINÀL, embora não esteja claro onde essa fase deve ser localizada na cronologia do desenvolvimento infantil. PESADELO 1. SONHO de que um monstro feminino está sentado em cima de alguém, pondo-o em perigo de sufocação. 2. O próprio monstro feminino; um incubo. 3. Imprecisamente^ qualquer sonho aterrorizante. Os pesadelos constituem enemplo de um evidente fracasso da DEFESA contra as forças internas e, em consequência desse fracasso, a pessoa que sonha experimenta terror e não ANSIEDADE. OS pesadelos são mais comuns na infância do que na vida adulta. O monstro sufocante constitui bom exemplo de um OBJETO interno MAU 0. também OBJETO MAU; OBJETO INTERNO), por ser uma REPRESENTAÇÃO mental, um fantasma (uma imagem de FANTASIA), ao qual o EGO do indivíduo que sonha reage como se fossej uma pessoa. V. Jones (1931), Rycroft (1968). 179
PES-POS
PESAR MÁGOA; a emoção que acompanha o LUTO. PESQUISAS PSÍQUICAS Parapsicologia; estudo dos fenómenos paranormais (percepção extra-sensorial, psicocinese). V. a biografia escrita por Jones, Vol. 3 (1957), para uma descrição do interesse que Freud teve, durante toda a vida, pelas pesquisas psíquicas e pelo oculto, e de sua AMBIVALÊNCIA para com eles: 'O desejo de crer lutou arduamente com a advertência para descrer'. PESSIMISMO
V. OTIMISMO
E PESSIMISMO.
PETRIFICAÇÃO Termo utilizado por Laing (1960) para descrever um dos processos pelos quais as pessoas, a quem falta SEGURANÇA ONTOLÓGICA PRIMÁRIA, se defendem contra ameaças à sua IDENTIDADE. Ele emprega o termo para incluir tanto o despersonalizar-se a si mesmo (transformar-se em pedra) para se impedir de ser sobrepujado pela outra pessoa, quanto o despersonalizar outra pessoa para impedir que esta o afete. O termo tem relações com os termos psiquiátricos DESPERSONALIZAÇÃO e DESREALIZAÇÃO.
POSIÇÃO Termo utilizado pela teoria KLEINIANA para descrever certas configurações de RELAÇÕES DE OBJETO e distribuição de LIBIDO, pelas quais o indivíduo passa durante o DESENVOLVIMENTO. As duas posições que se tornaram firmadas na teoria kleiniana são a ESQUIZO-PARANÓIDE e a DEPRESSIVA, embora ocorram também referências a uma posição MANÍACA. O conceito tem afinidade com o conceito clássico de 'fase de DESENVOLVIMENTO LIBIDINÀL', mas dele difere pelo fato de referir-se mais a complexos padrões de FANTASIA e relacionamento de objeto do que à ligação a determinado objeto e ZONA ERÓGENA específicos. Ambas as posições ocorrem durante o primeiro ano de vida, isto é, durante a fase ORAL da TEORIA CLÁSSICA.
POSIÇÃO DEPRESSIVA Conceito KLEINIANO. Descreve a posição atingida (na concepção de Melanie Klein) pelo bebê (ou pelo paciente em análise) quando se dá conta de que tan180
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to seu AMOR quanto seu ÓDIO estão dirigidos para o mesmo objeto,la MÃE; torna-se cônscio de sua AMBIVALÊNCIA e fica preocupado em protegê-la de seu ódio e em fazer REPARAÇÃO por quàlquer dano que imagina que esse ódio tenha causado. Como 0 sistema de Klein inclui o INSTINTO DE MORTE, a hostilidade e a INVEJA inatas em relação à mãe, acredita-se que essa crjjse desempenha papel essencial no desenvolvimento de todo bíbê, independentemente da qualidade da maternagem e sustei ita-se que seu desfecho determina todo desenvolvimento posterior. Considera-se que as pessoas sadias e neuróticas ultrapassaram a posição depressiva, ao passo que as que possuem problemas depressivos estão nela fixados e as que têm problemas ESQUIZÓIDES e PARANÓIDES fracassaram em atingila. V. >OSIÇÃO ESQUIZO-PARANÓIDE. V. Segal (1964). POSIÇfO ESQUIZO-PARANÓIDE Configuração psíquica postula 1a por Melanie Klein, na qual o indivíduo lida com seus impulssos destrutivos inatos (a) dividindo (v. DIVISÃO) tanto seu EGO quanto suas representações obfetais (v. OBJETO), em partes BOAS e MÁS, e (b) projetando (v. PROJEÇÃO) OS impulsos destrutivos no objeto mau pelo qual se sente perseguido Segundo Klein, a posição esquizo-paranóide constitui a primeiratentativa do bebê de dominar seu INSTINTO DE MORTE e piecede a POSIÇÃO DEPRESSIVA. O fracasso em abandonar a posiçfo esquizo-paranóide (isto é, em atingir a posição depressiv^ ) é responsável, na opinião de Klein, não apenas por muitos distúrbios ESQUIZÓIDES e PARANÓIDES, mas também por problemas obsessivos (v. NEUROSE OBSESSIVA), nos quais o 'objeto mau perseguidor' é introjetado (v. INTROJEÇÃO), formando o cerne do SUPEREGO. V. Segal (1964). POSITIVO E NEGATIVO São geralmente sinónimos de amar e odiar, mas o complexo de Édipo positivo refere-se ao amor pelo genitor do sexo oposto e rivalidade com o genitor do mesjno sexo, ao passo que o complexo de Édipo negativo refere-sè ao amor pelo genitor do mesmo sexo e rivalidade com o genitor do sexo oposto. V. também COMPLEXO DE ÉDIPO; REAÇÃO TERAPÊUTICA NEGATIVA; NEGATIVISMO.
m
POSPRE
POSTUROLOGIA Estudo da postura. Em psicanálise, estudo das maneiras pelas quais o caráter, as defesas, as atitudes sexuais e os conflitos se revelam na postura. V. Deutsch (1947). Sua acompanhante lógica, a gestologia, não ocorre. PRAZER FINAL OU TERMINAL
V. PRÉ-PRAZER E PRA-
ZER FINAL OU TERMINAL.
PRAZER, PRINCIPIO DE
V. PRINCÍPIO DE
PRAZER.
PRÉ-CONSCIENTE Adj. referente a pensamentos que são INCONSCIENTES no momento específico em questão, mas que não são reprimidos (v. REPRESSÃO) e, portanto, são capazes de se tornarem CONSCIENTES (acessíveis à rememoração). PRÉ-EDIPIANO
Adj. referente às fases de DESENVOLVIque precedem a fase EDIPIANA e ao concomitante relacionamento com a MÃE. MENTO LIBIDINÀL
PRÉ-GENITAL Adj. referente às fases do DESENVOLVIMENTO LIBIDINÀL infantil (v. também INFANTIL) que precedem a fase GENITAL, e aos IMPULSOS e FANTASIAS delas derivados.
PRÉ-PRAZER E PRAZER FINAL OU TERMINAL Esses termos permitem que o PRAZER associado à atividade ERÓTICA seja dividido em (a) o associado com a TENSÃO crescente, o pré-prazer, e (b) o associado com a redução da tensão, o prazer final ou terminal; o primeiro é um afeto de tensão e o segundo, um afeto de descarga. Segundo Freud (1905), o pré-prazer da relação heterossexual, isto é, o beijar e o acariciar, representa a sobrevivência, na vida adulta, daquelas formas de SEXUALIDADE INFANTIL que são esteticamente aceitáveis. Argumentou também que o pré-prazer oriundo das ZONAS ERÓGENAS infantis (v. INFANTIL) preenchia a 'nova função* de criar uma tensão suficiente para permitir que a SATISFAÇÃO genital fosse alcançada. 'Esse prazer, portanto, conduz a um aumento de tensão que, por sua vez, é responsável pela produção da energia motora necessária à conclusão do ato sexual'. 182
PRI
Estritamente, o pré-prazer refere-se apenas àquelas atividades que intensificam o desejo do prazer final e não àquelas que deste o desviam. O pré-prazer constitui exemplo notável de um fenómeno que é extremamente difícil conciliar com o PRINCÍPIO DE PRAZER freudiano, visto que (a) a tensão por ele produzida é prazerosa e não penosa, e (b) ele mostra que o desejo pode depender da estimulação externa e não unicamente da pressão interna. Para um estudo etológico da inter-relação de í comportamento inato (INSTINTO) e estimulação externa, e <$a dependência da atividade instintual quanto à deflagração ! de mecanismos e reações em cadeia, v. Tinbergen (1951)j. V. também ETOLOGIA. PRIMÂDO OU PRIMAZIA Nos trabalhos psicanalíticos, signific* prevalência, não preeminência. Diz-se que uma pessoa alcknçou o primado ou primazia genital (v. GENITAL), se sua capacidade para RELAÇÕES DE OBJETO heterossexuais (v. HETEROSSEXUAL) e para a AUTONOMIA mental é suficiente para suportar quaisquer tendências regressivas (v. REGRESSÃO) ou INFANTIS que ainda possam estar presentes; se seus INSTINTOS componentes PRÉ GENITAIS e infantis se subordinaram ao instinto sexual genital, isto é, se foram incluídos no PRÉ-PRAZER, rorimidos ou sublimados (v. REPRESSÃO e SUBLIMAÇÃO). PRIM4 L Primitivo, primevo, primordial, primário. Frequentei lente utilizado em referência a idéias que possuem uma qualidade legendária ou originadora de mitos. A cena primária ou primordial é a concepção que o paciente (a criança) tem dos pais mantendo relações sexuais, considerada mais como uma idõia em torno da qual se teceram FANTASIAS, do que como unia rememoração de algo realmente percebido. Horda primeva ou primitiva é o termo utilizado por Freud para designar h tipo de comunidade que Darwin, com base em relatórios sobre os costumes dos macacos, imaginou ter sido a estrutura original da sociedade humana, a saber, um grupo que consistia num macho dominante, o pai primevo ou primitivo, certo nftmero de fêmeas, que ele reservava para si, e certo número de machos, que ele mantinha em sujeição. Freud utili183
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zou essa hipótese para explicar (a) a origem da EXOGAMIA e rio TABU do INCESTO: O pai primevo guardava as mulheres para si e expulsava os outros machos potentes para fora do grupo; (b) a origem da CULPA: os filhos, combinados, assassinaram o pai e dividiram as mulheres entre eles, mas sentiram e transmitiram aos descendentes sua culpa por terem cometido PARRicÍDio e incesto; (c) o totemismo: o animal totêmico (v. TOTEM) simboliza (v. SÍMBOLO) O PAI assassinado. V. ONTOGENIA.
PRIMÁRIO Quando utilizado como parte de um termo técnico, significa 'pertencente ao primeiro estádio de DESENVOLVIMENTO'. Os processos primários foram assim denominados por Freud porque ele acreditava que eram mais primitivos e que se manifestavam num estádio de desenvolvimento anterior aò dos processos secundários. V. PROCESSOS PRIMÁRIOS E SECUNDÁRIOS. Ansiedade primária ou automática é a forma de ansiedade provocada pela experiência da SEPARAÇÃO de um objeto necessário ou pela dissolução do EGO (desde o exterior, como no TRÁÚMA, ou desde o interior, como num PESADELO verdadeiro); o mecanismo da ANSIEDADE SINALIZADORA, posteriormente, se desenvolve para evitar essa forma de ansiedade. O objeto primário é aquele OBJETO, isto é, o SEIO OU a MÃE, com o qual o bebê inicialmente se relaciona. Amor objetal primário é a forma de AMOR experimentada pelo bebê em relação a seu objeto primário. Identificação primária é o sentimento de unidade que o bebê tem para com a mãe, antes de descobrir a alteridade dos objetos, em contraste com a identificação secundária, que ocorre depois que o bebê aprendeu a distinguir entre o EU e os outros. Narcisismo primário é a forma de auto-amor que está presente no nascimento, em contraste com o NARCISISMO secundário, qtue só ocorre depois que o amor objetal (v. OBJETO) se desenvolveu. Ganho primário é o alívio da ansiedade e do CONFLITO que se obtém pelo desenvolvimento de uma NEUROSE, em contraste com o ganho secundário, ou seja, as vantagens que podem ser extraídas do fato de se ter uma neurose. 184
PRI
PRINCIPIO DE CONSTÂNCIA Termo que Freud tomou de emjréstimo a Fechner para descrever a tendência que os organis nos têm para manter um nível constante de tensão. Corresponde ao conceito fisiológico da 'HOMEOSTASE', de Cannon. Enbora às vezes utilizado por Freud para fazer supor que os organismos buscam abolir toda TENSÃO interna, isto é, que ' íles têm um INSTINTO DE MORTE, é mais bem empregado par* designar a necessidade de manter um nível ótimo de tensão. V. Freud (1920). V. PRINCÍPIO DE PRAZER. PRINCIPIO DE PRAZER Segundo Freud (1911, 1917), a psique é inicialmente acionada unicamente pelo prazer ou princípio de prazer-sofrimento; este a leva a evitar o SOFRIMENTO ou DESPRAZER despertado por aumentos de TENSÃO instintu il, e a leva a fazê-lo pelo mecanismo que consiste em alucinai (v. ALUCINAÇÃO) a SATISFAÇÃO necessária para reduzir a teisão. Só mais tarde, depois que o EGO se desenvolveu, é que <> princípio de prazer é substituído pelo PRINCÍPIO DE REALIDJ DE, que leva o indivíduo a substituir a REALIZAÇÃO alucinatpria DE DESEJOS pelo comportamento adaptativo (v. ADAPTA :ÃO).
Su i forma costumeira e abreviada, 'princípio de prazer', é engadadora, pois o conceito não implica que o prazer seja positiva nente perseguido, mas que o desprazer é evitado. O conceitc pode ser encarado como análogo à HOMEOSTASE, de Cannon> pois postula uma tendência interna a manter a tensão inslintual num nível ótimo ou mínimo. (Freud às vezes escrevia como se quisesse significar 'mínimo', mas 'ótimo' corresponde à maioria das interpretações contemporâneas do conceito.) Para um resumo das dificuldades envolvidas em supor que o princípio de prazer e o princípio de realidade estão sempre opostos um ao outro, ou que só o princípio de prazer é operant^ na infância, v. Rycroft (1962). PIO DE REALIDADE Segundo Freud, a atividaPRINC: de men:al é governada por dois princípios: o PRINCÍPIO DE
PRAZER e o princípio de realidade; o primeiro conduz ao alívio da TENSÃO instintual pela REALIZAÇÃO alucinatória DE DE-
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PRI-PRO
(v. também ALUCINAÇÃO), e o último, à gratificação instintual pela acomodação aos fatos do MUNDO externo e aos objetos nele existentes. De acordo com as formulações originais de Freud, o princípio de realidade é adquirido e aprendido durante o DESENVOLVIMENTO, ao passo que o princípio de prazer é inato e primitivo.
SEJOS
PRIVAÇÃO Experiência que consiste em receber uma quantidade insuficiente de um bem necessário. A psicanálise interessou-se por duas formas de privação: materna e sexual. Ambas, mas especialmente nos últimos anos a primeira, foram aduzidas como causas da NEUROSE, particularmente na Inglaterra, por Bowlby (1951). A teoria de privação materna da neurose existe em diversos graus de refinamento, conforme a maneira pela qual o bem insuficiente é definido. Teorias estatísticas de privação materna necessariamente devem definir a privação em função da duração da ausência física da MÃE. Teorias como as de Winnicott, que se baseiam tanto em observações pediátricas quanto em CONSTRUÇÕES analíticas, podem definir a privação em função de amor recebido e não recebido, e até mesmo dividir o conceito de maternagem em subcategorias, tais como alimentação, manejo, aconchego, sorriso, tepidez, em resultado do que uma mãe pode fracassar em ser uma MÃE NORMAL DEDICADA OU 'suficientemente boa' em determinada subcategoria, enquanto alcança êxito em outras. As teorias de privação da neurose implicam que a privação além de um certo LIMIAR produz efeitos relativamente irreversíveis, seja por retardar o DESENVOLVIMENTO, seja por dar início a DEFESAS. De acordo com um dos esquemas possíveis, a sequência é: privação FRUSTRAÇÃO ^ AGRESSIVIDADE ANSIEDADE DEFESA INIBIÇÃO * retomo do reprimido FORMAÇÃO DE SINTOMAS; outro esquema é: privação FIXAÇÃO desenvolvimento inibido persistência da necessidade INFANTIL de maternagem e comportamento REGRESSIVO. Para os efeitos da privação materna completa, V. SEPARAÇÃO MÃE-FILHO.
PROCESSOS PRIMÁRIOS E PROCESSOS SECUNDÁRIOS Dois tipos de funcionamento mental: o primeiro, caracterís186
PRO
tico da atividade mental INCONSCIENTE; O segundo, característico do pensar CONSCIENTE. O pensar do processo primário apresem a a CONDENSAÇÃO e o DESLOCAMENTO — isto é, as imagens tendem a fundir-se e podem prontamente substituirse e si mbolizar-se mutuamente (v. SÍMBOLO) —, utiliza a ENERGIA móvel, ignora as categorias de espaço e TEMPO, e é governajdo pelo PRINCÍPIO DE PRAZER, ou seja, reduz o desprazer da TENSÃO instintual pela REALIZAÇÃO alucinatória DE DESEJOS I V. também ALUCINAÇÃO). Nas formulações TOPOGRÁFICAS, constitui a modalidade de PENSAR operante no ID. O pensar do processo secundário obedece às leis da gramática e da lógica formal, utiliza energia vinculada, sendo governado pelo PBINCÍPIO DE REALIDADE, isto é, reduz o DESPRAZER da tensão Instintual pelo comportamento adaptativo (v. ADAPTAÇÃO). Freud acreditava que os processos primários fossem ontogenéti:a (v. ONTOGENIA) e filogeneticamente mais antigos do que os secundários — daí a terminologia — e encarava-os como inerentemente não-adaptativos, sendo todo o DESENVOLVIMENTO DO EGO secundário à REPRESSÃO deles. Os processos secundários, em sua opinião, desenvolviam-se pari passu com o EGO C com a adaptação ao MUNDO externo, possuindo vinculação íntima com o pensar verbal. Os processos primários são exemplificados pelo sonhar (v. SONHO); OS secundários, pelo pensamento. O devaneio, a atividade imaginativa e criadora (v. IMAGINAÇÃO e CRIATIVIDADE), e o pensar emocional contêm uma mistura dos dois processos, que se assemelham ao simbolismo discursivo e não-discursivo descrito por Suzanne Langer (1951). Pata um resumo de algumas das objeções à opinião de que os processos primários e secundários são mutuamente antagónicos e que os primários são não-adaptativos, v. Rycroft (1962) V. Freud (1900, 1911, 1917) para suas próprias descrições das dois processos. V. também VERBALIZAÇÃO; REPRESENTAÇÃO VERBAL.
PROCESSOS SECUNDÁRIOS PROCES ;os SECUNDÁRIOS.
V. PROCESSOS PRIMÁRIOS E
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PROCESSUAL, TEORIA V. TEORIA PROCESSUAL. PROFUNDO E SUPERFICIAL Qualificativos tanto de MATERIAL quanto de INTERPRETAÇÕES. Quando se refere ao primeiro, 'profundo' significa que o material trazido pelo paciente (isto é, aquilo sobre o que fala) provém ou do início de sua vida ou de áreas reprimidas de sua personalidade (v. REPRESSÃO), ao passo que 'superficial' significa 'recente' ou 'facilmente acessível'. Quando referindo-se às interpretações, 'profundo' significa que a interpretação refere-se ou a acontecimentos primitivos ou a idéias a que se resiste fortemente (v. RESISTÊNCIA). O emprego desses qualificativos deriva do uso de metáforas geológicas para descrever diferenças de acessibilidade e resistência. A metáfora tende a insinuar a hipótese de que os acontecimentos antigos são de acesso mais difícil e de maior importância que os recentes. PROGNÓSTICO Prognose; previsão do curso de uma doença. Os prognósticos são de dois tipos, isto é, estimativas de como uma doença decorrerá com e sem tratamento. A psicanálise presume que as NEUROSES possuem um mau prognóstico, isto é, constituem doenças crónicas que não têm probabilidade de conduzir a uma recuperação espontânea, e sua origem na infância é aduzida como motivo teórico para essa suposição. Os fatos em que ela se baseia são, contudo, notavelmente difíceis de serem conseguidos e o assunto é, de qualquer maneira, obscuro, de uma vez que os acompanhamentos psiquiátricos (v. PSIQUIATRIA) registram o curso dos sintomas, ao passo que os psicanalistas pensam em termos da personalidade total do paciente. O desaparecimento de sintomas, que as estatísticas psiquiátricas registram como recuperação, pode ser avaliada, por um psicanalista, como sendo o resultado de uma modificação insignificante na psicopatologia do paciente. V. Eysenck (1965), Malan (1963). PROJEÇÃO Literalmente, arrojar-se à frente de si mesmo. Daí sua utilização em psiquiatria e psicanálise para significar 'encarar uma imagem mental como REALIDADE objetiva'. Em psicanálise, dois subsignifiçados podem ser distinguidos: (a) 188
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a má in erpretação geral da atividade mental como eventos que acontecdm a uma pessoa, como nos SONHOS e nas ALUCINAÇÕES, e I (b) o processo pelo qual se imagina que IMPULSOS, desejos t aspectos específicos do EU OU de objetos INTERNOS são localizados em algum OBJETO externo a alguém. A projeção de aspectos de si mesmo é precedida pela NEGAÇÃO, isto é, nega-se que se sinta tal ou qual emoção, que se tenha tal ou qual desejo, mas afirma-se que outrem os sente ou tem. Às vezej;, o desejo ou emoção projetados permanecem dirigidos a seu objeto original — 'Não amo (odeio) x, mas Y ama (odeia) — embora, talvez com mais frequência, se façam acompai har pela INVERSÃO — 'Não amo (odeio) x, mas x me ama (odeia)'. A projeção de objetos internos consiste em atribuir i alguém de nosso próprio meio ambiente sentimentos para co íosco que, historicamente, provêm de algum objeto externo passado que introjetamos (v. INTROJEÇÃO); por exemplo, ima ^inar que x nos ama (odeia) da maneira que imaginamos c ue Y nos amou (odiou) no passado. Como os próprios ot jetos introjetados podem ser depositários de projeção, a projeçio de objetos internos pode fazer com que se atribua ao recip ente aspectos não apenas de nossos objetos passados, mas tanfbém de nosso eu passado. A irojeção foi, pela primeira vez, descrita em vinculação com osDELÍRIOS de PERSEGUIÇÃO, que Freud (1911) interpretava :omo resultado de negação, projeção e inversão. Sua hipótese era a de que o paciente PARANÓIDE negava seus sentimentos HOMOSSEXUAIS, projetava-os em outrem e, depois, invertia-os duplamente, por esse meio transformando e disfarçando oimpulso homossexual no delírio de ser odiado, isto é, negava imar o indivíduo do sexo masculino x, mas afirmava, ao invés, que x o odiava. Mais recentemente, em grande parte devidp à influência de Melanie Klein (v. KLEINIANO), a tem sido aceita como um processo normal de DESENVOLVIMENTO e a maioria das descrições do desenvolvimento INFANTIL supõem que o bebê normalmente atribui a seus objetos im oulsos que são, de fato, dele mesmo, e depois introjeta objetos deformados por essas projeções, adquirindo assim objetos internos que possuem suas próprias qualidades. Segundo Kleii, na verdade, todo o temor à MÃE na infância e to189
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das as idéias paranóides na vida posterior originam-se, em última análise, não de qualquer experiência real de ser odiado, rejeitado ou maltratado, mas da projeção, sobre o SEIO, do próprio INSTINTO DE MORTE autodestrutivo do bebê. V. POSIÇÃO ESQUIZO-PARANÓIDE.
PROPÓSITO
V. INTENÇÃO.
PROTESTO MASCULINO Termo ADLERIANO para designar um comportamento reativo em mulheres que sentem serem membros de um sexo inferior. V. INVEJA; INVEJA DO PÊNIS.
PSEUDO Falso ou enganador. Daí: Pseudociese: falsa gravidez. Condição na qual a paciente acredita que está grávida, apresenta alguns dos sinais de gravidez, tipicamente amenorréia e aumento do abdome, embora não esteja realmente grávida. Pseudomutualidade: fenómeno apresentado por famílias e casais em que os membros são unidos por sua capacidade de satisfazer as necessidades neuróticas uns dos outros. V. Wynne (1958). Pseudologia fantástica: condição em que o indivíduo habitualmente conta mentiras circunstanciais de um tipo que tem probabilidade de realçar perante outros sua própria importância e interesse. PSICANÁLISE 1. Forma de tratamento das NEUROSES inventada por Freud na década de 1890 e desde então elaborada por ele, por seus discípulos e seguidores. Os conceitos-chave que a definem são: (a) a ASSOCIAÇÃO LIVRE, que substituiu a HIPNOSE; (b) a INTERPRETAÇÃO, que substituiu a sugestão; (c) a TRANSFERÊNCIA. A técnica psicanalítica consiste essencialmente em instruir e auxiliar o paciente a associar livremente, em interpretar tanto suas associações quanto os obstáculos que encontra ao tentar associar, e em interpretar seus sentimentos e atitudes para com o analista. As formas de PSICOTERAPIA que utilizam a teoria freudiana em combinação 190
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com ou ras técnicas são, estritamente falando, psicoterapia de orientação psicanalítica e não psicanálise. 2. Teorias psicológicaà da origem das neuroses e (posteriormente) do DESENVOLVIMENTO mental geral, formuladas por Freud, por seus discípulas e seguidores, concomitantemente com a invenção e elaboração do tratamento psicanalítico. Os conceitos-chave que as definèm são: (a) o INCONSCIENTE, ou seja, a idéia de existir uma atividade mental de que o indivíduo não se acha cônscio, mas que exerce um efeito dinâmico em seu comportamento; Ib) a RESISTÊNCIA, a idéia de que a CONSCIÊNCIA resiste ao [surgimento de tendências INCONSCIENTES na consciência, e que o faz pelo emprego de DEFESAS; (C) a TRANSFERÊNCIA, la idéia de que o relacionamento do individuo com seus objptos atuais é inconscientemente influenciada por seu relacionâmento com objetos passados e que, em particular, o relacionimento do paciente com o analista recapitula seus relacionamentos de infância com os pais 3. Embora 1 e 2 definam a psicanálise em termos que são (espero eu) aceitáveis aos analistas freudianos de todas as escolas, os leigos utilizam a palavra num sentido muito mais amplo, para incluir as teorias e terapias de todos os PSICOTERAPEUTAS que seguem Freud, Jting e Adler, e isso apesar do fato de os JUNGUIANOS se chambrem a si mesmos de psicólogos analíticos e à sua teoria, de psicologia analítica, ao passo que os ADLERIANOS se chamam! de psicólogos do indivíduo. Para a psicanálise existencial, ¥. EXISTENCIALISMO. PSICANALISTA Qualquer pessoa que tenha recebido formação om PSICANÁLISE, em instituto psicanalítico reconhecido, e exfcrça a clínica psicanalítica.* PSICOBIOLÓGICO 1. Relacionado a problemas psicológicos, em biologia, ou a problemas que exigem consideração tanto psicológica quanto biológica. 2. Relacionado especificamente à escola psicobiológica de psiquiatria, fundada nos E.U.A. por Adolf Meyer. * São as condições necessárias ao exercício da profissão na GrãBretanha, mas tais requisitos variam segundo os países. (N. do T.)
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PSICODINÃMICA 1. Estudo dos processos mentais a partir de um ponto de vista DINÂMICO. 2. Formulação teórica da atividade (dinâmica) mental de alguma pessoa específica, sem implicar que os processos sejam anormais. PSICODRAMA Forma de PSICOTERAPIA em que se pede ao paciente para desempenhar um papel em alguma peça composta com referência especial a seus sintomas e problemas, sendo os outros papéis assumidos por membros da equipe terapêutica. PSICOGÊNESE mentais.
Origem e desenvolvimento dos processos
PSICOGÊNICO Qualificativo de doenças e sintomas que se supõe serem de origem mental.
PSICOLOGIA Tradicionalmente definida como 'a ciência da mente', mas, nos últimos anos e cada vez mais, definida como 'a ciência do comportamento'. Essa última definição passa por alto problemas filosóficos sobre a natureza da mente, mas torna necessário considerar o PENSAR como forma de comportamento. Os qualificativos de 'psicologia' referem-se quer a ramos especializados do assunto — anormal, normal, animal, humana, infantil, genética (desenvolvimental), ind trial, social, clínica, académica, educacional —, quer a mas diferentes de pensamento — behaviorista, da Gestalt, psicanalítica, freudiana, junguiana, adleriana. A psicologia f diana é a psicanálise; a psicologia JUNGUIANA é a psicologia analítica; a psicologia ADLERIANA é a psicologia do indivíduo. V. PSICOLOGIA PROFUNDA; PSICOLOGIA DO EGO.
PSICOLOGIA DO EGO Designa ou 'a psicologia do ego', ou, talvez com mais frequência, aquela forma de teoria psicanalítica que se desenvolveu a partir de The Ego and the Id (1923; O Ego e o Id), de Freud e de The Ego and the Mechanisms of Defence, (1936; O Ego e os Mecanismos de fesa), de Anna Freud. Nesse último sentido, há um contraste explícito ou implícito, seja com a TEORIA DOS INSTINTOS, que 192
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a precedeu, seja com a TEORIA DOS OBJETOS, que se desenvolveu contemporaneamente a ela. Conceitos-chave da psicologia psicanaliica do ego são as 'FUNÇÕES AUTÓNOMAS DO EGO', a 'ÁREA DÒ EGO LIVRE DE CONFLITOS', a 'DESSEXUALIZAÇÃO', a 'DESAGRBSSIFICAÇÃO'. V. Hartmann (1958), para uma enun-
ciação definitiva. PSICOLOGIA PROFUNDA Termo obsoleto para designar a PSICANÁLISE OU a psicologia do INCONSCIENTE. PSICÓLOGO Pessoa habilitada em qualquer forma de PSICOLOGIA ou que exerça clínica psicológica de qualquer tipo. PSICOMOTOR, ACELERAÇÃO, RETARDAMENTO
V.
ACELERAÇÃO PSICOMOTORA; RETARDAMENTO PSICOMOTOR.
PSICObfEUROSE Termo técnico psicanalítico utilizado para designar determinado grupo de NEUROSES, OU seja, aquelas em que os sintomas são interpretáveis como manifestações de CONFLITO entre EGO e ID. A psiconeurose difere da PSICOSE pelo fato de o TESTE DA REALIDADE não estar prejudicado, isto é, o paciente possui COMPREENSÃO INTERNA do fato de estar doente e de seus sintomas serem inadequados; difere das PERVERSÕES pelo fato de os sintomas serem, em si mesmos, aflitivos, e Ide o ego achar-se intacto; difere da neurose de CARÁTER pelp fato de o conflito ter produzido sintomas e não traços de caráter, e difere das NEUROSES ATUAIS pelo fato de o conflito I datar do passado. As três subdivisões da psiconeurose são histeria de conversão, histeria de angústia (FOBIA) e n rose obsessiva. Elas possuem em comum não apenas as características acima citadas, mas também o fato de serem acessíveis aé tratamento psicanalítico. (V. HISTERIA DE ANGÚSTIA; HISTERIA DE CONVERSÃO; NEUROSE OBSESSIVA).
PSICOPATA Pessoa cujo comportamento o torna sujeito ao diagnóstico psiquiátrico de PSICOPATIA. PSICOPATIA Termo psiquiátrico e médico-legal para designar o que costumava ser chamado de imbecilidade moral. 193
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É definida pela Lei da Saúde Mental, de 1959, como 'um distúrbio ou incapacidade persistente da mente (incluindo ou não subnormalidade de inteligência) que resulta em conduta anormalmente agressiva ou seriamente irresponsável por parte do paciente, e necessita ou é suscetível de tratamento médico'. A 'promiscuidade ou outras condutas imorais' são especificamente excluídas das formas de conduta que tornam um paciente sujeito a esse diagnóstico. O conceito constitui um híbrido lógico, pois combina critérios médicos e legais, desempenhando, porém, a útil função de permitir que os infratores sejam tratados em hospitais especiais. O conceito não é reconhecido pela lei escocesa. Psiquiatricamente, a condição é relacionada como um dos DISTÚRBIOS DE COMPORTAMENTO. PSICOPATOLOGIA 1. O estudo do funcionamento mental anormal, ou 2. A formulação teórica da atividade anormal da mente de alguma pessoa específica. Frequentemente utilizado de modo impreciso, de maneira a incluir PSICODINÂMICA.
PSICOPATOLOGIA REVISTA DE FAIRBAIRN Fairbairn (1941), em Revised Psychopathology of the Psychose and Psychoneuroses, descreve o DESENVOLVIMENTO mental em função das RELAÇÕES DE OBJETO e afirma que as diversas PSICOSES e NEUROSES não diferem, como a TEORIA PSICANALÍTICA CLÁSSICA sustenta, em REGRESSÕES a distintas fases de DESENVOLVIMENTO LIBIDINÀL, mas sim na utilização de TÉCNICAS diferentes durante o segundo estádio de desenvolvimento, conforme Fairbairn propõe, o Estádio de Transição ou QUASEINDEPENDÊNCIA. Durante seu primeiro estádio, o de DEPENDÊNCIA INFANTIL, O bebê é total e objetivamente dependente da MÃE (SEIO), com a qual tem, inicialmente, um relacionamento não-ambivalente (v. AMBIVALÊNCIA). AS inevitáveis experiências de FRUSTRAÇÃO e rejeição, contudo, levam à POSIÇÃO ESQUIZÓIDE, durante a qual o EGO do bebê se divide em três partes, duas das quais, o ego libidinàl e o ego antilibidina (SABOTADOR INTERNO), se vinculam a duas concepções antitéticas do seio, respectivamente o objeto aceito (excitante) e o objeto rejeitado (rejeitador). A terceira parte do ego do 194
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bebê setorna o ego central, que corresponde ao ego da análise clássica. O ego libidinàl corresponde ao ID e o ego antilibidinal, nenos precisamente, ao SUPEREGO. A ESQUIZOFRENIA e a DEPRESSÃO, segundo Fairbairn, são etiologicamente (v. ETIOLOGIA) relacionadas a distúrbios do desenvolvimento ocorridos durante o Estádio de Dependência Infantil, mas as outras neuroses refletem a operação de técnicas diferentes durante o estádio seguinte, o de Transição ou Quase-independência, durante o qual a criança consegue uma independência parcial da mãe através de manipulações dos objetos aceitos e rejeitados criados durante a posição esquizóide. Na TÉCNICA OBSESSIVA, ela imagina ambos como estando dentro de si mesma; por esse meio consegue certo grau de independência às custas de ter de controlar um OBJETO INTERNO 'mau' (o objeto rejeitado); na defesa histérica (v. HISTERIA), ela imagina o objeto aceito como estando fora de si mesma, e o objeto rejeitado,flentro;na defesa fóbica (v. FOBIA), concebe tanto o objeto rejeitado quanto o aceito como exteriores a si, e, na defesa PARANÓIDE, O objeto aceito é tido como interno, e o rejeitado, como externo. O terceiro e último estádio de Fairbairn é p de Dependência Madura. V. também SENTIMENTO DE FUTILIDADE.
PSICOSÈ Tanto a psiquiatria quanto a psicanálise utilizam esse termo para descrever as doenças mentais sujeitas a tornar suas vítimas non compôs mentis*, em contraste com NEUROSE, que designa aquelas em que a sanidade do paciente nunca é colocada em dúvida. As definições psiquiátricas geralmente sto formuladas em função da falta de COMPREENSÃO INTERNAI do paciente quanto ao fato de estar doente; as definições psicanalíticas geralmente incluem uma referência a fracasso nd TESTE DA REALIDADE. A psiquiatria distingue entre as psicoses orgânicas, devidas a doença orgânica demonstrável, geralmente do cérebro, e as psicoses funcionais, nas quais nenhuma lesão orgânica é demonstrável. Há controvérsias "Não sfenhor de sua mente", lunático, insano. Uso jurídico e também ger; .1, conforme o C.O.D. (N. do T.)
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quanto a saber se as psicoses funcionais são devidas a causas físicas e constitucionais, ainda não descobertas, ou se são doenças PSICOGÊNICAS, diferindo das neuroses apenas quanto à sua maior gravidade; essa controvérsia é um dos temas que dividem as escolas ORGÂNICA e PSICODINÂMICA de psiquiatria. Tanto esta quanto a psicanálise reconhecem três psicoses funcionais: a ESQUIZOFRENIA, a PSICOSE MANÍACO-DEPRESSIVA e a PARANÓIA (embora, às vezes, a última seja considerada uma variedade da primeira). Segundo a TEORIA CLÁSSICA, as psicoses, mesmo se de origem psicogênica, são inacessíveis ao tratamento psicanalítico; a razão apresentada é o fato de se tratar de distúrbios narcísicos (v. NARCISISMO), nos quais o paciente é incapaz de constituir uma TRANSFERÊNCIA. O pequeno e heróico grupo de analistas que tenta analisar psicóticos sustenta, contudo, que tais pacientes formam transferências, embora estas difiram qualitativamente da transferência neurótica. Em vez de considerar o analista como um OBJETO (e, até certo ponto, um objeto BOM), O psicótico o considera como parte de si mesmo ou como um inimigo (transferência identificatória e persecutória — v. IDENTIFICAÇÃO e PERSEGUIÇÃO). NOS últimos anos, a distinção teórica entre psicose e neurose foi confundida pela idéia de que processos psicóticos fazem parte da PSICOPATOLOGIA das neuroses, e, até mesmo, que o bebê normal passa por estádios psicóticos de desenvolvimento. Essa idéia, que constitui parte essencial do sistema KLEINIANO de pensamento, provém, em primeira instância, da obra de Abraham, que postulava que tanto a ESQUIZOFRENIA quanto a PSICOSE MANÍACO-DEPRESSIVA eram REGRESSÕES à fase ORAL do DESENVOLVIMENTO LIBIDINÀL e DO EGO. V. POSIÇÃO ESQUIZO-PARANÓIDE; POSIÇÃO DEPRESSIVA.
PSICOSE AFETIVA
V.
DISTÚRBIO AFETIVO.
PSICOSE MANÍACO-DEPRESSIVA PSICOSE em que se alternam períodos de MANIA e DEPRESSÃO. Segundo Kraepelin, as principais doenças mentais podiam ser divididas em dois grupos, a DEMÊNCIA PRECOCE e a psicose maníaco-depressiva, sendo esta uma doença cíclica em que o paciente sofre de uma 196
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série de crises de EXULTAÇÃO e depressão, com intervalos normais intervenientes. O conceito é descritivo e prognóstico (v. PROGNÓÍTICO), não tendo implicações psicopatológicas (v. PSICOPATOLOGIA). A psiquiatria contemporânea tende a preferir PSICOSE AFETIVA ou distúrbio afetivo, termos que excluem a implicaçio de haver um ciclo interno do humor. PSICOSSEXUAL Relacionado com os aspectos mentais dos fenómenos SEXUAIS. A literatura frequentemente emprega 'sexual' qulando pretende significar 'psicossexual'. PSICOSSOMÁTICO Doenças e sintomas são designados como 'psicossomáticos' se (a) os sintomas se fazem acompanhar por distúrbios fisiológicos de função demonstráveis, e (b) os lintomas e a doença como um todo podem ser interpretados como manifestação da personalidade, dos conflitos, da história da vida, etc, do paciente. A condição (a) distingue a doença psicossomática da NEUROSE, particularmente da HISTERIA DE CONVERSÃO. A condição (b) distingue-a da doença ORGÂKICA pura e simples. A delimitação do campo da doença psicossomática se torna confusa por dois fatores: a facilidade com que a condição (b) pode ser atendida pela especulação entusiástica e pela possibilidade de fatores constitucionais poderem predispor a tipos específicos de doenças tanto físicas cbmo mentais. Grande parte da literatura a respeito das doenças psicossomáticas consiste em demonstrações de que os paciente^ que sofrem de uma doença física específica partilham dd aspectos comuns de personalidade. Talvez a asma brônquida, a úlcera péptica e a colite ulcerativa sejam as doenças psicossomáticas mais bem comprovadas. PSICOTERAPEUTA 1. Qualquer pessoa que exerce a clínica psièoterápica (v. PSICOTERAPIA) de qualquer espécie, independentemente de ser LEIGO, médico, ou da escola a que pertence. 2. Qualquer pessoa que exerce a psicoterapia mas não é PSICANALISTA. O último, e ilógico, emprego advém de duas fontes: (a) a existência de pessoas que exercem a clínica ; isicoterápica, mas que, por qualquer razão, desejam 197
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tornar claro que não são psicanalistas, e (b) a reivindicação por parte da PSICANÁLISE (e em grande parte aceita) de ser uma forma de tratamento mais profunda, intensa e completa do que outras formas de psicoterapia, constituindo assim uma classe por seu próprio direito. Um psicoterapeuta de orientaçã psicanalítica é uma pessoa que alega utilizar teorias e técnicas psicanalíticas sem reivindicar que foi formada por um instituto psicanalítico. PSICOTERAPIA Qualquer forma de 'cura pela fala' (em todas as formas de psicoterapia, uma ou outra das partes fala e, na maioria, ambas o fazem). A psicoterapia pode ser individual ou de GRUPO, superficial ou profunda (v. PROFUNDO E SUPERFICIAL), interpretativa (v. INTERPRETAÇÃO), de apoio ou sugestiva, com as três últimas diferindo na intenção subjacente às intervenções do terapeuta. Intensiva refere-se quer à frequência do comparecimento do paciente, quer ao zelo demonstrado pelo terapeuta. O termo sempre estabelece distinção com relação a tratamento físico, mas, segundo o contexto, inclui ou exclui a PSICANÁLISE (V. PSICOTERAPEUTA), apesar do fato de esta poder ser corretamente descrita como uma psicoterapia intensiva, interpretativa e a longo prazo. V. também TERAPIA FOCAL.
PSIQUE Mente. A literatura psicanalítica, seguindo Freud, utiliza psique e MENTE (Seele) como sinónimos. Seu adjetivo, psíquico, é também sinonimo de 'mental' (não possuindo qualquer vinculação com as 'PESQUISAS PSÍQUICAS', no sentido de investigação de fenómenos paranormais, percepção extra-sensorial, etc). Contudo, enquanto o termo 'mente' tende a ser empregado em contraste com 'corpo', o termo 'psique' é geralmente contrastado com 'SOMA'. PSIQUESSOMA De uma vez que os trabalhos psicanalíticos se sujeitam à convenção de que as pessoas consistem em duas partes, corpo (SOMA) e mente (PSIQUE), utiliza-se às vezes psiquessoma, quando é necessário afirmar a unidade do organismo. V. PSICOSSOMÁTICO. 198
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PSIQUIATRA Médico que se especializa em PSIQUIATRIA. Um PSICANALISTA pode ou não ser psiquiatra. Os ANALISTAS LEIGOS não são psiquiatras, pois não estão qualificados como médicos. É improvável que um analista qualificado como médico aleije também ser psiquiatra, a menos que tenha experiência ce psiquiatria geral, isto é, do tratamento de formas de DOENÇA MENTAL para as quais a psicanálise não é indicada. PSIQUIATRIA Ramo da medicina voltada para pacientes cujos sintomas apresentados são mentais (v. DOENÇA MENTAL), independentemente de serem de origem física ou mental esses sintomas, A tendência popular de igualar a psiquiatria com a psicanálise não tem fundamento, por diversas razões: (a) a clínica psiquiátrica inclui o tratamento de uma série de doenças que se sabe serem de origem física, tais como, por exemplo, a paralisia geral progressiva, a DEMÊNCIA senil, as PSICOSES orgânicas, a [deficiência mental; (b) seu repertório de tratamentos inclui uma série de técnicas que não são psicanalíticas nem psicoterajpêuticas, tais como, por exemplo, a terapia eletroconvulsiva d o uso de tranquilizantes, antidepressivos e sedativos; (c) muitos psiquiatras opõem-se ativamente à psicanálise e nunca aj recomendam, mesmo para aqueles tipos de doenças para os |quais os psicanalistas a consideram apropriadas; (d) permanece problemática a natureza das psicoses funcionais, a ESQUIZOFRENIA e a PSICOSE MANÍACO-DEPRESSIVA, que, entre elas, são as responsáveis pela maior parte das internações nos hospitais psiquiátricos; a escola orgânica alega que são devidas a causas físicas ainda não descobertas e a escola de orientação dinâmica afirma que são PSICOGÊNICAS (sem, contudo, reivindicar, dd modo geral, que são tratáveis pelas técnicas da psicanálise ejda psicoterapia); (e) neste país, pelo menos, apenas uma pequena proporção de psiquiatras tiveram alguma formação em] psicanálise. * O autdr, evidentemente, refere-se à Inglaterra, mas a proporção citada, d )m pequenas variações, é também diminuta no resto do mundo, i N. do T.)
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PSI-QUA
PSIQUIATRIA SOCIAL Ramo da psiquiatria que se interessa pelos aspectos sociais da doença mental e pela transformação dos hospitais psiquiátricos em comunidades terapêuticas, em oposição a lugares em que os indivíduos são tratados separadamente. V. Martin (1963). PSÍQUICO
V. PSIQUE;
MENTE.
PSÍQUICO, APARELHO, DETERMINISMO, PESQUISAS V. APARELHO PSÍQUICO; DETERMINISMO PSÍQUICO; PESQUISAS PSÍQUICAS.
PUERPÉRIO, PUERPERAL (As semanas imediatamente) após o parto. Daí psicose puerperal e depressão puerpera designar a PSICOSE e a DEPRESSÃO que se seguem ao parto e, por inferência, são por ele causadas ou precipitadas.
Q. (QUANTIDADE) Em seu Projeto Para Uma Psicologia Científica, escrito em 1895, mas só publicado postumamente em 1950, Freud utilizou 'Q' para representar tudo o que distingue a atividade do repouso, no sistema nervoso, e que é capaz de ser quantificado. 'Q' foi concebido como estando ligado aos NEURÓNIOS e como sendo capaz de passar de um neurônio para outro. Constitui o precursor do conceito posterior de Freud de ENERGIA psíquica, e possui interesse por demonstrar que esse último conceito foi originalmente concebido em termos neurológicos. V. ENERGIA; CATEXIA. QUANTUM, QUANTA Literalmente, uma quantidade, mas geralmente, como em física quântica ou dos quanta, a unidade isolada em que uma entidade quantificável é divisível. (A teoria quântica da física afirma que, na radiação, a energia dos elétrons é descarregada não de modo contínuo mas em quanta isolados). A TEORIA CLÁSSICA postula a existência de quanta 200
QUA-RAC
de ENERGIA psíquica, gerados no ID, capazes de serem descarregados na ação e de serem vinculados (ligados) àquelas estruturas mentais que constituem o EGO. Referências a quanta de LIBIDO p AFETO são também encontradas na literatura. Como a psicanálise não dispõe de meios de medir a energia psíquica, a idéia de que esta consiste em quanta isolados é noção puramente especulativa, e tampouco os que utilizam analiticamente a palavra 'quantum' desejam sempre indicar essa hipótese. V. também Q. (QUANTIDADE). QUASIÍ-INDEPENDÊNCIA O segundo dos três estádios de desenvolvimento de Fairbairn (v. PSICOPATOLOGIA REVISTA DE FAIRBAIRN). Sueedb à DEPENDÊNCIA INFANTIL, na qual o bebê se acha objetivamente dependente do SEIO real, e precede a dependência madura, na qual o adulto MADURO se relaciona genitalijiente (v. CARÁTER GENITAL) com uma pessoa (um OBJETO tdtal). Durante o estádio db quase-independência, a criança alcança uma independência parcial do seio através de uma ou outija das TÉCNICAS intermediárias que lhe permitem relafcionar-íie com uma idéia do seio localizado quer dentro dela mesma (TÉCNICA PARANÓIDE e TÉCNICA OBSESSIVA), quer fora (TÉCNI ÍA HISTÉRICA e TÉCNICA FÓBICA). Essa concepção de desenvolvimento difere da da TEORIA CLÁSSICA pelo fato de (a) os estádios de desenvolvimento serem definidos em função da relação com um objeto e não em função de ZONAS ERÓGENAS, e (b) as diversas NEUROSES serem encaradas não como REGRESSÕES a níveis diferentes de DESENVOLVIMENTO LIBIDINÀL, ITMS como soluções alternativas ao problema de conseguir desapegar-se do seio.
R RACIONALIZAÇÃO Processo através do qual um curso de ação n cebe razões ex post facto que não apenas o justificam, mas também ocultam sua verdadeira motivação. 201
RAI-REA
RAIVA V. IRA. RAPPORT * 'Aquele misterioso contacto afetivo' entre analista e paciente, sem o qual o tratamento psicanalítico é impossível. É, talvez, característico da inclinação intelectualista da psicanálise que o rapport deva parecer misterioso. O conceito pressupõe que a atitude natural de determinado ser humano para com outro é observá-lo com isenção, como se este último fosse uma coisa, e que algum processo misterioso e extraordinário tem de se realizar para que ambos se comuniquem (v. COMUNICAÇÃO). Mas, talvez aconteça realmente o contrário e o rapport ocorra naturalmente, a menos que seja inibido (v. INIBIÇÃO) por fatores tais como a ausência de SÍMBOLOS compartilhados, desconfiança por parte de um ou de ambos os participantes, ou falta de IMAGINAÇÃO por parte do terapeuta. V. AFETO; EMPATIA. 'RATOS, HOMEM DOS' V. 'HOMEM DOS RATOS'. REAÇÃO, FORMAÇÃO DE, TIPO DE V. FORMAÇÃO REATIVA; TIPO DE REAÇÃO.
REAÇÃO TERAPÊUTICA NEGATIVA Termo técnico que designa um risco felizmente raro do tratamento psicanalítico, ou seja, a exacerbação dos sintomas do paciente em reação precisamente àquelas INTERPRETAÇÕES as quais se espera que os mitiguem. Embora o fenómeno tenha sido utilizado como prova da existência de um MASOQUISMO primário, é mais geralmente explicado em função da CULPA provocada pela perspectiva de saúde conseguida às expensas de outra pessoa. REAL, REALIDADE A psicanálise associa-se ao dever de obediência ao senso comum ou ao ponto de vista científico * Por se tratar de termo há muito tempo fixado na terminologia psicanalítica, preferimos deixá-lo no original francês, tal como incorporado pelo inglês, e também porque sua tradução não conseguiria transmitir as conotações que a palavra apresenta. Diz o Webster, definindo-a: "Relação, especialmente relação assinalada pela harmonia, conformidade, acordo ou afinidade".( N. do T.)
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REA
natural de que se pode fazer distinção entre fenómenos externos que são 'reais' ou se mostram 'realmente evidentes' e fenómenos mentais que são imagens subjetivas, com a convicção de jjue os fenómenos mentais são de consequência dinâmica e, portanto, num outro sentido, também reais. Em consequência,; ela utiliza 'real' para significar ou objetivamente presente 01 subjetivamente significante. Presume também que todos os fenómenos objetivos ocupam um espaço externo ao indivíduo, que é chamado de realidade externa (ou, menos frequentemente, realidade objetiva), e que as imagens, os pensam* ntos, as FANTASIAS, OS sentimentos, etc, ocupam dentro do indivíduo um espaço que é chamado de realidade interna 01 realidade psíquica, com as realidades interna e externa sendo anbas domínios em que existem coisas e ocorrem processos. K suposição de um reino interno de realidade é uma FICÇÃO, visto que os processos mentais não podem, em sentido algum, ler considerados como espacialmente relacionados uns aos outfos; suas vinculações são todas temporais. Embora o emprego dessa ficção corresponda ao uso geral — todos nós localizamos nossos pensamentos e sentimentos dentro de nós próprioà —, ele permite à psicanálise contornar problemas de significado pelo igualamento de 'significante' e 'real', e ignorar as difeijenças entre pensamentos criados pelo homem e fenómenos èxternos, tratando a ambos como objetos existentes no espaço, procedimento este que capacita a psicanálise a reivindicar sor uma CIÊNCIA natural e não uma ciência moral. A psicanálise, portanto, postula dois domínios da realidade: $ realidade externa (objetiva) e a realidade interna (psíquida, subjetiva). Nas expressões teste da realidade, adaptação à\ realidade e princípio de realidade, 'realidade' signi 'realidape externa'; a desrealização, contudo, refere-se à realidade pfcíquica, visto que os pacientes com esse sintoma se queixam de que, embora percebam corretamente o mundo externo^ este não lhes significa mais nada, parece-lhes 'irreal' (v. DESREALIZAÇÃO) .
Os processos de INTERNALIZAÇÃO, INTROJEÇÃO e INCORsão geralmente definidos de maneira a indicar que os objeltos podem ser transferidos da realidade externa para a internai ao passo que a PROJEÇÃO e a EXTERNALIZAÇÃO são PORAÇÃO
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REA
definidas em termos de movimentos de objetos na direção oposta, embora, de fato, esses termos se refiram a modificações no grau de significância de que se revestem os objetos externos (objetos da percepção) e as imagens mentais (CONCEITOS). V. OBJETIVO E SUBJETIVO; INTERNO; SIGNIFICADO; NEUROLOGIA; ADAPTAÇÃO À REALIDADE; PRINCÍPIO DE REALIDADE; TESTE DA REALIDADE.
REALIZAÇÃO DE DESEJOS A teoria dos sonhos (v. SONHO) como realização de desejos, de Freud (1900, 1902), afirma que os sonhos expressam os desejos como realizados. 'Um pensamento expresso no modo optativo foi substituído por uma representação no presente'. A teoria supõe (a) que os sonhos têm SIGNIFICADO psicológico, suposição que, em 1900, foi revolucionária; (b) que a qualidade alucinatória dos sonhos (v. ALUCINAÇÃO) permite, ao indivíduo que sonha, representar como expressos os desejos que, de outra maneira, o teriam despertado; (c) que os desejos expressos são, em geral, inaceitáveis ao EU desperto do indivíduo que dorme, ou por serem incompatíveis com os valores dele (desejos de morte em relação às pessoas mais caras e chegadas), ou por serem INFANTIS e, portanto, enunciados de maneira disfarçada e deformada. A suposição (c) é necessária, porque apenas poucos sonhos são, manifestamente, realizadores de desejos. Os PESADELOS e os sonhos de ANSIEDADE constituem fracassos da elaboração onírica, que normalmente converte o desejo onírico LATENTE e inaceitável num sonho MANIFESTO 'inofensivo'. Os sonhos traumáticos (v. TRAUMA), nos quais a experiência traumática é simplesmente repetida, constituem exceções admitidas à teoria. Como os sonhos manifestamente realizadores de desejos constituem raridade (os exemplos mais habituais são os sonhos de crianças e os 'sonhos de conveniência', isto é, aqueles obviamente provocados pela tensão sexual, por uma bexiga cheia ou por outro desconforto físico), a insistência de Freud na teoria é enigmática, a menos que se compreenda que o interesse dele pelos sonhos não se devia a estes próprios, mas sim ao fato de acreditar que eles exemplificariam uma tendência psíquica geral no sentido do pensamento realizador de dese204
REF-REG
jos. Em outras palavras, Freud sustentava que existem dois tipos dej atividade mental, os PROCESSOS PRIMÁRIOS e os PROCESSOS SECUNDÁRIOS — os primeiros sendo INCONSCIENTES e realizadores de desejos; os segundos, CONSCIENTES e realistas — e que os sonhos são um fenómeno normal, familiar a todos, no qual os processos primários se manifestam. Em verdade, a distinção entre processos primários, realizadores de desejos, e processos secundários, realistas, baseou-se no estudo dos SINTOMAS neuróticos e só depois foi transferida para a INTERPRETAÇÃO de sonhos. Os sonhos, nessa teoria, assemelham-se aos sintomas por serem FORMAÇÕES DE CONCILIAÇÃO; OS elementos realizadores de desejos provêm do reprimido (v. REPRESSÃO), e a elaboração onírica deformadora, das partes repressoras da men e. So ) determinado aspecto, a formulação de Freud é quase certame ite errada. Pesquisas fisiológicas recentes sugerem que não sorhamos a fim de preservar o SONO, mas que, ao contrário, < ormimos a fim de sonhar. REFERÊNCIA, IDÉIAS DE V. IDÉIAS
DE REFERÊNCIA.
REGRA ou NORMA BÁSICA A regra básica ou fundacanálise rege o paciente e não o analista; recomental dalhpsi que deve esforçar-se ao máximo para contar ao menda--$e-o eque quer que lhe venha à mente, sem reservas, analista é um consel ho de perfeição; a RESISTÊNCIA e a DEFESA A regra mani festam-se clinicamente pelo fracasso em cumpri-la. V. ASSOCIARÃO LIVRE.
REGRA FUNDAMENTAL V. REGRA BÁSICA. REGRESSÃO Em geral, reversão a um estado ou modo de funcionamento anterior. Especificamente, processo defensivo (v. DEHESA) através do qual o indivíduo evita (ou procura evitar) a ANSIEDADE pelo retorno (parcial ou total) a uma fase artterior de DESENVOLVIMENTO LIBIDINÀL e DO EGO; a fase para a qual a regressão ocorre, é determinada pela existência de PONTOS DE FIXAÇÃO. A teoria da regressão pressupõe que, exjceto em casos ideais, as fases INFANTIS do desenvolvi205
REG
mento não são inteiramente ultrapassadas, de maneira que os padrões anteriores de comportamento permanecem disponíveis, como modalidades alternativas de funcionamento. Não se sustenta, porém, que a regressão seja com frequência um processo defensivo viável ou eficaz; pelo contrário, trata-se geralmente de sair da frigideira para cair no fogo, pois a regressão obriga o indivíduo a reexperimentar a ansiedade própria da fase para a qual regrediu. Por exemplo, a regressão do nível FÁLICO ou EDIPIANO para o nível ORAL, empreendida como defesa contra a ANSIEDADE DE CASTRAÇÃO, deixa o paciente exposto à experiência da ANSIEDADE DE SEPARAÇÃO. Em consequência disso, a regressão tende a ser acompanhada de outras medidas defensivas, destinadas a proteger o EGO dos efeitos dela. As SUBLIMAÇÕES também podem experimentar regressão, isto é, podem reverter a seus precursores infantis, tornando-se, por exemplo, a pintura um lambuzar, e a curiosidade intelectual, VOYEURISMO ou voracidade. Há controvérsia quanto ao valor das regressões terapêuticas, isto é, um comportamento regressivo que ocorre durante o tratamento e em relação a este, tipicamente com aumento de DEPENDÊNCIA para com o analista. Por ura lado, assim se argumenta, ela pode capacitar o analista a conseguir acesso a fases e níveis de desenvolvimento primitivos, e facilitar a reorganização da personalidade segundo um novo padrão; por outro, pode, argumenta-se também, criar uma dependência irreversível para com o analista e lutar contra a VERBALIZAÇÃO e a sublimação das tendências infantis. Segundo a TEORIA CLÁSSICA, a posição relaxada no divã analítico e as oportunidades fornecidas para ASSOCIAÇÃO LIVRE proporcionam a regressão necessária para o tratamento das PSICONEUROSES. V. Balint (1952) e Winnicott (1958) para a defesa da regressão terapêutica nõ tratamento de distúrbios de CARÁTER e pacientes FRONTEIRIÇOS. V. DEFEITO BÁSICO; NOVO COMEÇO; E U VERDADEIRO E FALSO.
O termo 'regressão' é também utilizado, em sentido bastante especializado, na teoria dos SONHOS, para fornecer explicação do fato de que eles são fenómenos alucinatórios. A teoria afirma que a ENERGIA, que na vida desperta iria para á musculatura e seria descarregada em ação, é compelida, pelas 206
REI-REL INIBIÇÕI s
operantes no SONO, a 'regredir' para os órgãos sensórios, provocando ALUCINAÇÕES. A hipótese subjacente aqui é a de que a psique é construída como um arco reflexo, com os impulsos psíquicos 'normalmente' movimentando-se das extremidades sensórias para as motoras, e somente no sono seriam obrigados a se movimentarem na direção oposta, regressiva. REIFIGAÇÃO Processo de tratar CONCEITOS como se fossem coibas (substantivos abstratos como se fossem concretos). Os conceitos ESTRUTURAIS metapsicológicos (v. METAPSICOLOGIA) prestam-se à reificação por aqueles que confiam neles, pois é fiicil esquecer que SUPEREGO, EGO e ID são conceitos destinados a explicar processos e examinar seus atributos físicos e relações espaciais. De modo semelhante, na TEORIA DOS OBJETOS, conceitos como 'a MÃE boa' (v. também BOM) OU 'O SEIO mau' (vi também MAU) podem ser estudados como se fossem objetos bu pessoas habitando o indivíduo. V. FICÇÃO; MENTE; PERSONÒLOGIA; TEORIA PROCESSUAL; FENOMENOLOGIA.
RELAQÃO Para relação objetal ou de objeto, v. OBJETO. Para relações interpessoais, v. INTERPESSOAL. A relação ou relacionamento analítico refere-se ao relacionamento interpessoal entre paciente e analista, em contraste com a TRANFERÊNCIA do kaciente para o analista ou a CONTRATRANSFERÊNCIA deste. Em relação médico-paciente, relação mãe-filho, et relação refere-se às transações entre as duas partes e não a relações de status ou parentesco, isto é, a palavra é utilizada de modo psicológico e não sociológico. RELAÇÃO EU-TU Expressão empregada por Martin Buber para descrever experiências mútuas de reciprocidade, de relações partilhadas em que o eu (self) se descobre em relação ao outro. A relação 'eu-tu' é constrastada, pelos autores existencialistas (v. EXISTENCIALISMO), com a concepção da TEORIA CLÁSSICA das relações de objeto (v. OBJETO) entre caracteres (v.j CARÁTER) genitais (v. também GENITAL) cujos EGOS são entidades distintas. 'A ênfase dada por Buber à relação entre eus (selves), de preferência ao eu individual em suas relações < com o mundo, constitui uma diferença óbvia para 207
REL-REP
com a psicologia freudiana'. V. 'Martin Buber and Psychoanalysis', em Farber (1966). RELACIONAMENTO
V. RELAÇÃO.
RELIGIÃO Para o ponto de vista de Freud de que as idéias religiosas são 'ilusões, realizações dos mais antigos, fortes e prementes desejos da humanidade', v. The Future of an Illusion (1927O Futuro de Uma Ilusão, IMAGO Editora, 1974), no qual interpreta a crença em Deus como uma reação ao reconhecimento do desamparo humano: ' ( . . . a aterrorizante impressão de desamparo na infância despertou a necessidade de proteção — de proteção pelo amor — que foi fornecida pelo pai, e o reconhecimento de que esse desamparo dura por toda a vida tornou necessário aferrar-se à existência de um pai, dessa vez, porém, de um pai mais poderoso'. Para seu ponto de vista de que as emoções religiosas são REGRESSÕES 'a uma fase primitiva de sentimento do EGO', V. Civilization and its Discontents (1930; O Mal-Estar na Civilização, IMAGO E tora, 1974), e, também SENTIMENTO OCEÂNICO. Para os pontos de vista de um pastor protestante e psicanalista sobre a atitude de Freud para com a religião, v. Psycho-Analysis and Faith (1963) (as cartas de Sigmund Freud e Oskar Pfister). Desde a época de Freud, a psicanálise tornou-se cada vez mais voltada para a MÃE e os novos teólogos ocuparam-se em eliminar a idéia de um Deus 'lá em cima'; por conseguinte, é difícil avaliar a pertinência dos trabalhos de Freud quanto ao cenário religioso contemporâneo. Para os paralelos entre os RITUAIS religiosos e obsessivos (v. também OBSESSÃO), V. Ações Obsessivas e Práticas Religiosas de Freud (1907), onde escreveu: 'Em vista dessas semelhanças e analogias, poderíamos aventurar-nos a encarar a neurose obsessiva como o correspondente patológico da formação de uma religião, descrever essa neurose como uma religiosidade individual e a religião como uma neurose obsessiva universal'. V. NEUROSE OBSESSIVA.
REPARAÇÃO Processo (mecanismo de DEFESA) que consiste em reduzir a CULPA através de ação destinada a reparar o 208
REP
dano que se imagina ter sido causado a um objeto investido de ambivali ncia (v. AMBIVALÊNCIA); processo de recriar um objeto int< rno que, na FANTASIA, foi destruído. Nos trabalhos KLEINIA] ÍOS, há tendência a encarar toda atividade criativa (v. CRIATIVA)ADE) como reparadora, e a considerar a reparação um doslprocessos normais pelos quais o indivíduo soluciona sua amlivalência inerente para com os objetos. V. POSIÇÃO DEPRESSIVA.
REPETÇÃO, COMPULSÃO
À
V . COMPULSÃO À REPE-
TIÇÃO.
REPRE SENTAÇÃO Aquilo que permite à mente apresentar a si me;ma a imagem de algo não realmente presente. Uma representação mental é uma imagem relativamente permanente de algo que foi previamente percebido (v. PERCEPÇÃO), OU, alternativamente, o processo pelo qual tais imagens são construídas i adquiridas). Sinonimo de 'imagem mental', 'imagem da memórií ', 'imagem mnêmica', e de certos empregos de 'INTERNALIZAÇÃO'. Uma representação objetal ou do objeto é a representação mental de qualquer pessoa que constitua um OBJETO para o SUJEITO, isto é, com quem ele esteja psicologicamente relacioi^ ado. Estritamente falando, todos os 'objetos' são 'representaçõi s objetais'. Representação simbólica é o processo pelo qual a i nuagem mental de determinado objeto vem a representar (a imagem mental de) outro, de modo que o primeiro se torna S MBOLO do segundo. REPRESENTAÇÃO VERBAL A imagem mental de uma palavra, Segundo Freud (1915, 1923), a diferença essencial entre os processos mentais INCONSCIENTES e os PRÉ-CONSCIENTEÍ ou CONSCIENTES reside em que os últimos foram vinculados! a representações verbais; em que uma idéia inconsciente é uma representação do próprio objeto, uma representação de coisa, ao passo que uma idéia consciente tem ligada a ela umi imagem verbal; essa imagem verbal foi adquirida (aprenc ida) de outros. Essa noção só é explicável se nos recordarmos de que Freud acreditava que a psique humana começa como io não estruturado, parte do qual se diferencia para formar o EGO, em consequência do impacto do MEIO AMBIEN209
REP
TE. 'O ego é a parte do id que foi modificada pela influência direta do mundo externo'. A vinculação de representações verbais a processos mentais é prova de que estes foram modificados pela influência direta do mundo externo. Não está claro se Freud achava que, quando conscientes, sempre pensamos com palavras, ou se achava que o pensar consciente nãoverbal (tal como ocorrre no sonhar, nos devaneios, nas divagações, etc.) constitui uma irrupção do inconsciente na consciência. As representações verbais desempenham papel nos pontos de vista de Freud sobre o PENSAR esquizofrénico. Sustentava ele que, na ESQUIZOFRENIA, o paciente retira CATEXIA das representações de coisas (isto é, despoja-as de significação) e depois trata as representações verbais como se fossem coisas, construindo um mundo delirante na base de palavras, não de objetos (v. DELÍRIO). NO pensar equizofrênico, as palavras estão sujeitas ao pensar do PROCESSO primário, isto é, são tratadas como as pessoas normais tratam as imagens visuais nos sonhos. REPRESSÃO Processo (mecanismo de DEFESA) através do qual um IMPULSO ou idéia inaceitável é tornado INCONSCIENTE. Freud fazia distinção entre a repressão primária, através de que o surgimento inicial de um impulso instintual é impedido, e a repressão secundária, através de que os derivados e as manifestações disfarçadas do impulso são mantidos inconscientes. 'O retorno do reprimido' consiste na irrupção involuntária, na consciência, de derivados inaceitáveis do impulso primário, não na dissolução da repressão primária. Segundo Freud, todo o DESENVOLVIMENTO DO EGO e a ADAPTAÇÃO ao MEIO AMBIENTE dependem da repressão primária; na ausência desta, os impulsos são imediatamente descarregados pela REALIZAÇÃO alucinatória DE DESEJOS (V. também ALUCINAÇÃO). Por outro lado, a repressão secundária excessiva conduz ao desenvolvimento deficiente do ego e ao surgimento de SINTOMAS, não de SUBLIMAÇÕES. A repressão pressupõe uma instância repressora, o EGO ou o SUPEREGO, e um ESTÍMULO, que é a ANSIEDADE, e conduz à divisão da personalidade em duas partes. Nos primeiros trabalhos de Freud, o INCONSCIEN210
RES-RET
TE é àsj vezes chamado de 'o reprimido'. A repressão difere da INIBIÇÃO por pressupor a oposição de dois QUANTA de ENERGIA: a [investida no impulso reprimido, que se esforça por liberar-re, e a investida na instância repressora (a CONTRACATEXIAI), que se esforça por manter a repressão. A repressão assemelia-se a uma represa que retém o fluxo de um rio, ao passè que a inibição, ao desligar de uma luz elétrica. RESISTÊNCIA Quando utilizada como termo técnico, é a oposição que se verifica existir durante o tratamento psicanalítico, contra o processo de tornar CONSCIENTES OS processos INCONSCIENTES. Diz-se que os pacientes se encontram em estado de resislência caso se oponham às INTERPRETAÇÕES do analista, e quetihnresistências fracas ou fortes conforme achem fácil ou difíc 1 permitir que seus analistas os compreendam. A resistência é uma manifestação de DEFESA; uma possível exceção é a 'resist meia do inconsciente', a COMPULSÃO À REPETIÇÃO. RESTE UIÇÂO 1. Processo defensivo (v. DEFESA) que consiste em reduzir a CULPA pela efetivação de atos reparadores a um objko ambivalentemente (v. AMBIVALÊNCIA) investido (v. REPARAÇÃO). 2. Processo através do qual um paciente ESQUIZOFRÉNICO OU PARANÓIDE constrói DELÍRIOS que restauram seu sentimento de significância. Segundo Freud (1911), o paranóide experimenta uma catástrofe interna, não raro simbolizada (v. SÍMBOLO) pela idéia de uma catástrofe mundial (v. MUNDO' , em consequência da qual tudo se torna indiferente e irrele vante para ele. Constrói então delírios que devolvem significado ao mundo. 'A formação delirante, que presumimos ser proc uto patológico, é na realidade uma tentativa de recuperação, um processo de reconstrução'. RETAI .DAMENTO Sintoma de DEPRESSÃO em que os processos ( e pensamento e os movimentos físicos do paciente se tornam bastante retardados. Às vezes utilizado para diferenciar a depretèãoENDÓGENA da EXÓGENA, alegando-se que o retardamento çonstitui prova de que a depressão possui causa fisiológica. V. MANIA; PSICOSE MANÍACO-DEPRESSIVA; ACELERAÇÃO PSICOM< >TORA.
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RET-SAB
RETARDAMENTO PSICOMOTOR Termo psiquiátrico para designar o retardamento grosseiro dos processos mentais e físicos que ocorre na DEPRESSÃO profunda. Frequentemente considerado como prova de que a depressão é ENDÓGENA, isto é, de origem constitucional e não psicogênica.
RITUAL Originalmente, cerimonia ou procedimento religioso ou mágico; expressão tomada de empréstimo pela psiquiatria e pela psicanálise para descrever uma forma de comportamento apresentada por pacientes que sofrem de NEUROSE OBSESSIVA, na qual o paciente tenta reduzir a ANSIEDADE pela realização de uma série de ações mais ou menos complexas e estereotipadas. Os rituais obsessivos podem ser encarados como um sistema privadamente construído, de contraMAGiA, através do qual o paciente se esforça por desviar medos fantásticos através de ações igualmente fantásticas; a lógica de ambos é animista e depende do pensar do PROCESSO PRIMÁRIO. Nos rituais de lavagem ou de ablução, os pacientes sentem-s compelidos a se lavar de acordo com uma rotina rigidamente prescrita e complexa, a fim de apaziguar o pavor de ser infectado ou de infectar outras pessoas, sendo que o medo da infecção é um medo que sua própria inteligência não endossa. Nesse aspecto, os rituais obsessivos diferem nitidamente dos rituais dos ignorantes, supersticiosos e religiosos. Diferem também dos rituais religiosos por serem privados e solitários. V. RELIGIÃO.
RORSCHACH, TESTE DE V. TESTE
DE RORSCHACH.
s SABOTADOR INTERNO Termo utilizado por Fairbairn (v. PSICOPATOLOGIA REVISTA DE FAIRBAIRN) para descrever o que também chama de EGO antilibidinal, um dos três egos parciais em que o ego unitário original se divide (v. DIVISÃO); os outros dois são o ego central (o eu [self]) e o ego LIBIDINÀL. 212
SAD-SAN
Segund )Fairbairn, a perturbação inevitável da atitude original unfcamente libidinàl do bebê para com a MÃE conduz primeir) à AMBIVALÊNCIA em relação a esta e, depois, leva-o a expelr duas partes de seu ego: uma libidinàl, ligada a uma imagen BOA ou 'aceitadora' do SEIO, e outra agressiva (antilibidinal, v. também AGRESSIVIDADE), ligada a uma imagem MÁ ou Tejitadora' do seio. O ego libidinàl de Fairbairn corresponde o ID de Freud, ao passo que o Sabotador Interno contribui para a formação do SUPEREGO. V. POSIÇÃO ESQUIZO-PARANÓID] POSIÇÃO ESQUIZÓIDE. SADISÍ40 1. PERVERSÃO sexual em aue o indivíduo alega obte prazer • erótico quando inflige sofrimento a seu objeto. 2. Prazer na crueldade. 3. Sadismo oral: prazer em morder (v. também ORAL). 4. Sadismo anal: prazer em crueldade d* um tipo teoricamente associado à fase ANAL do DESENVOL| CIMENTO LIBIDINÀL. Não está claro se o sadismo é um INSTINTjO COMPONENTE infantil puro e simples, ou se se trata de uma fuão de impulsos libidinais e agressivos (v. AGRESSIVIDADE), ou se, no último caso, o elemento agressivo nele constitui manifestação de tendências agressivas ou destrutivas inatas ou ére açaoà FRUSTRAÇÃO e/ou à humilhação. Também não está claro se o 'prazer' derivado da atividade sádica reside na visão do sofrimento da outra pessoa ou no sentimento de poder por ser-se capaz de infligir sofrimento. Afirmava Freud, anteriormente a 1920, que o sadismo é capaz ce inverter-se (V. INVERSÃO) em MASOQUISMO, mas, posteriormente, ele utilizou este último como prova em favor do INSTINTO DE MORTE e sustentou que o masoquismo era a tendênc a primária, experimentando inversão em sadismo. V. ATIVO q PASSIVO.
SADISlllO ANAL Refere-se a fantasias sádicas (v. SADISMO) qi|e são tidas como oriundas da FASE ANAL. SADOhfASOQUISMO V. SADISMO; MASOQUISMO. SANIDADE E INSANIDADE OU INSÂNIA Trata-se de termos aopulares e médico-legais, que os PSIQUIATRAS e P S I 213
SAT-SEI
utilizam apenas quando lidam com a justiça, sendo pessoa sadia aquela que é compôs mentis*, capaz de pleitear num tribunal de justiça, e pessoa insana, alguém que é incapaz de fazê-lo. No entanto, existe tendência a igualar insanidade a PSICOSE.
CANALISTAS
SATISFAÇÃO Emoção que acompanha a consecução de um objetivo. Satisfação instintual: emoção que acompanha a descarga de um IMPULSO instintual. A TEORIA clássica dos INSTINTOS (v. também TEORIA CLÁSSICA) vê-se obrigada, por sua adesão ao PRINCÍPIO DE PRAZER, a definir a satisfação em função da diminuição da TENSÃO instintual. V. INSTINTO; PRÉPRAZER E PRAZER FINAL.
SAÚDE Saúde e normalidade (v. NORMA) são frequentemente confundidas, mas, estritamente falando, saúde refere-se a estados de integridade e INTEGRAÇÃO, ao passo que normalidade refere-se a estados correspondentes a qualquer norma que o autor esteja tomando como seu padrão de comparação. Quando, contudo, o autor toma como norma o ideal da saúde mental, os dois termos tornam-se sinónimos. Em expressões como 'o movimento da saúde mental', saúde significa estar livre de DOENÇAS MENTAIS determináveis. Saúde é termo tanto médico quanto religioso; v. o Book of Common Frayefs **: 'Deixamos por fazer as coisas que deveríamos ter feito, e fizemos aquelas que não deveríamos, e não há saúde em nós'. SEIO Palavra relativa ou ao próprio órgão anatómico ou à idéia (representação objetal — v. OBJETO) que dele existe na mente do indivíduo. 'O seio' é o objeto de desejos, IMPULSOS, FANTASIAS e ANSIEDADES ORAIS, e sinónimo de 'a MÃE considerada como OBJETO PARCIAL' ou 'a mãe considerada como OBJETO QUE SATISFAZ NECESSIDADES', isto é, o conceito não se refere apenas ao seio como órgão de amamentação, mas tam* Literalmente, "que tem domínio da própria mente"; na posse das faculdades mentais. (N. do T.) ** O livro litúrgico da Igreja Anglicana. (N. do T.)
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SEM-SEN
bém a< > fato de o bebê não considerar a pessoa da mãe. A 'divisai do seio' refere-se ao processo psicológico através do qual o (bebê divide sua imagem de um seio completo em duas partes; uma torna-se 'o seio BOM', concebido como perfeito, digno 4e amor e capaz de satisfazer tudo; a outra parte é imaginada como odiosa e rejeitadora ('o seio MAU'). A DIVISÃO do seio constitui DEFESA contra o reconhecimento de que o AMOR y\ o ÓDIO são dirigidos ao mesmo objeto; ela possibilita ao bebê livrar-se da AMBIVALÊNCIA ao preço da ansiedade persecutória (v. PERSEGUIÇÃO). V. POSIÇÃO ESQUIZO-PARANÓIDE; POSIÇÃO DEPRESSIVA. Nos trabalhos de Fairbairn e Klein, ambos os quais sustentam que toda PSICOPATOLOGIA se origina do relacionamento com a mãe, 'o seio' não raro significa 'o objeto primário', com apenas uma implicação teórica de que fazia (Jaz) parte do corpo da mãe. SEMÂNTICA Originalmente, ramo da filologia que se interessa pelo significado das palavras. Atualmente, com frequência, estudo do SIGNIFICADO em geral. Segundo Szasz (1961,) Home (1966), Rycroft (1966), a psicanálise, ou, pelo mimos, algumas partes dela, é uma teoria semântica, pois demonstra que os SONHOS e os SINTOMAS neuróticos possuem significj ido. SENSAÇÃO Elementos irredutíveis da experiência, a partir dos quais as PERCEPÇÕES e as concepções se constroem; exemplos: luz, som, olfato, tato, gosto, dor, calor, frio. As sensaçc esdependem do órgão estimulado, não do objeto que o estiirula SENSÚpUO V. SENSUAL E SENSÓRIO. SENSUjAL E SENSÓRIO Em trabalhos não analíticos, sensual geralmente refere-se a auferir prazer excessivo ou voraz dos seii tidos, ao passo que sensório não possui conotações morais. O ponto de vista psicanalítico, segundo o qual todo prazer, em certo sentido, é SEXUAL, confunde essa distinção, e isso apei ar do fato de a teoria da SUBLIMAÇÃO incluir a idéia de que os ^prazeres derivados das atividades sublimadas e das nãosublinqdas diferem em qualidade.
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SEN-SEP
SENTIMENTO 'Um sistema organizado de disposições emocionais centralizadas em torno da idéia de algum objeto' (McDougall, 1908). Segundo esse autor, existem três sentimentos: o amor, o ódio e a autoconsideração ou egoísmo. V. AMOR, ÓDIO, AFETO e EMOÇÃO, para algumas das consequências da hipótese da teoria psicanalítica segundo a qual o amor e o ódio são instintos e não 'sistema(s) organizado(s) de disposições emocionais'. SENTIMENTO DE FUTILIDADE Expressão utilizada especialmente por Fairbairn para descrever o efeito predominante nos distúrbios ESQUIZÓIDES. SENTIMENTO OCEÂNICO Expressão utilizada por Romain Rolland, em carta a Freud, para descrever a emoção cósmica e mística que (segundo Rolland) constitui a verdadeira fonte dos sentimentos religiosos (v. RELIGIÃO). Freud não pôde descobrir esse sentimento em si. V. Freud (1930), onde ele oferece uma interpretação do mesmo, a saber, que se trata de uma regressão 'a uma fase primitiva do sentimento do EGO' e revive a experiência do bebê ao SEIO, antes de ter aprendido a distinguir seu ego do mundo externo. SENTIMENTOS DE IRREALIDADE
V.
DESREALIZAÇÃO;
DESPERSONALIZAÇÃO.
SEPARAÇÃO, ANSIEDADE DE V. ANSIEDADE
DE SEPA-
RAÇÃO.
SEPARAÇÃO MAE-FILHO Durante os últimos vinte anos, principalmente como resultado do trabalho de Bowlby e Winnicott, a idéia de que grande parte das doenças psiquiátricas se dbve à separação da MÃE durante a tenra infância e a infância propriamente dita alcançou considerável aceitação. A hipótese não é simplesmente a de que a separação cause aflição na ocasião ou mesmo infelicidade mais tarde, mas a de que ela é a causa de DOENÇAS MENTAIS específicas, principalmente a PSICOPATIA, a FOBIA e a DEPRESSÃO. AS explicações de como a separação produz esses efeitos variam em refinamento e complexidade; por exemplo: (a) ela causa inse216
SEX
gurança, (b) aumenta a hostilidade e a AMBIVALÊNCIA; ( C ) interfere nos processos introjetivos e identificatórios (v. INTROJEÇÃO e IDENTIFICAÇÃO) e, através destes, no DESENVOLVIMENTO DO EGO; (d) institui processos de LUTO numa idade em que a criança é imatura demais para completá-los, deixando-a, pér assim dizer, 'atolada' na fase do DESESPERO ou DEPRESSÃO. A hipótese (d), de Bowlby, possui a vantagem de ser capaz de incluir as outras. Entre os conceitos psicanalíticos, a hipótese constitui uma raridade pelo fato de ser capaz de manipulação estatística, pois as kausas mais flagrantes da separação mãe-filho — hospitalizai ão da mãe ou do filho, morte da mãe, abandono por parte da mãe — são fatos determináveis. Parece, contudo, que as descobertas estatísticas não são suficientemente nítidas pari fazer jus ao assentimento geral. (V. 'Parental Deprivation and Mental Health', artigo de fundo da revista Lancei de 5 de agosto de 1966, para um retrospecto da literatura). O conceito de separação é menos simples do que parece, pd is (a) a separação completa é possível de ser claramente distinguida da PRIVAÇÃO materna, que pode, naturalmente, icontecer sem separação física; (b) envolve a consideração!! de duas variáveis: a idade da criança, quando a separação ocorre, e a duração desta. V. ANSIEDADE DE SEPARAÇÃO, k Bowlby (1951, 1961).
SEXO 1. Biologicamente: todos os organismos, exceto os mais siiiples e primitivos, existem sob duas formas (sexos), uma másculina e outra feminina, e os novos membros da espécie surgem pela fusão de duas células sexuais, uma produzida por um macho, a outra por uma fêmea. Daí reprodução sexual, relações sexuais, órgãos sexuais, todos referindo-se estruturas e funções necessárias à criação de novos indivíduos. Características sexuais são aquelas que permitem que o sexo seja identificado; podem ser primárias, isto é, diretamente relacionadas com a reprodução, ou secundárias, isto é, em geral associadas a um dos sexos, mas não diretamente envolvidas naj reprodução. 2. Psicologicamente: sexual refere-se a impulsos, padrões de comportamento, emoções e sensações observadas ou inferidas como sendo intrinsecamente vincula217
SEX-SIB
das à atividade reprodutora (ou ao emprego dos órgãos reprodutores como fonte de sensações). 3. A psicanálise derrubou os conceitos tradicionais de sexo, ao afirmar: (a) que o comportamento sexual adulto possui precursores INFANTIS — a SEXUALIDADE INFANTIL, O erotismo ORAL e ANAL (v. EROTISMO), INSTINTOS COMPONENTES, etc. — que desempenham um papel no desenvolvimento não só do instinto sexual adulto, mas também da personalidade como um todo; (b) que os impulsos sexuais infantis e adultos têm efeitos sobre o comportamento não sexual, e que esses efeitos são mediados pela SIMBOLIZAÇÃO e pela SUBLIMAÇÃO. Em consequência, a literatura psicanalítica utiliza 'sexo', 'sexual' e 'sexualidade' para referir-se a fenómenos manifestamente não sexuais, mas que são, latente (ou inferencialmente), derivados ou análogos dos fenómenos sexuais (v. MANIFESTO E LATENTE). Ernest Jones recomendava que se tomasse precaução contra as confusões criadas por essa extensão do conceito de 'sexo', e se empregasse 'sexo' em seu sentido restrito e tradicional, reservando-se 'sexualidade' para a diversidade mais ampla de fenómenos. Daí, segundo o contexto, 'sexual' significar 'relacionado à diferenciação masculino-feminino', 'relacionado ao comportamento, instintos ou órgãos reprodutores', 'erótico, prazeroso'. SEXUAL V. SEXO. SEXUALIDADE V. SEXO. SEXUALIDADE INFANTIL Abrange não só o comportamento manifestamente SEXUAL que ocorre na infância, mas também todo o prazer derivado das ZONAS ERÓGENAS e todas as manifestações dos INSTINTOS COMPONENTES. SIB, SIBLING Antigas palavras inglesas utilizadas para designar parentes ou filhos dos mesmos pais, revividas por psicólogos e sociólogos para evitar a necessidade de especificar o sexo dos irmãos e irmãs do indivíduo. Daí rivalidade fra218
SIG
terna (iibling-rivalry): rivalidade com imãos e/ou irmãs. Sibship é pm conjunto de irmãos e/ou irmãs.* SIGNIHICADO Embora a psicanálise seja geralmente apresentada! como uma teoria CAUSAL, que explica os fenómenos psicológicos como consequências de acontecimentos anteriores, uma série de analistas, principalmente Szasz (1961), Home (1966)1 e Rycroft (1966), argumentaram recentemente que ela (ou certos aspectos dela) é realmente uma teoria do significada, e que a observação decisiva de Freud, de que os sintomas HISTÉRICOS eram psicogênicos, foi realmente a descoberta ce que eles possuíam significado, isto é, que podiam ser interpretados como gestos e COMUNICAÇÕES. Os defensores dessarioria argumentam que as teorias da causalidade só são aplicáve is ao mundo dos objetos inanimados, e que a tentativa de Freud, de aplicar ao comportamento humano princípios determi íísticos, derivados das ciências físicas, deixou de levar em con:a o fato de o homem ser um AGENTE livre, capaz de tomar cecisões, fazer escolhas e ser criativo (v. CRIATIVIDADE). Sustentbm também (a) que Freud estava equivocado ao supor qu« sua descoberta dos processos mentais INCONSCIENTES e dos 'PROCESSOS PRIMÁRIOS' que os governam, provava que a vida nental demonstrava o princípio do DETERMINISMO psíquico, b que, (b), assim supondo, ele envolveu a psicanálise numa contradição, a saber, a de afirmar, ao mesmo tempo, que os processos CONSCIENTES são determinados por processos inconscientes e que tornar conscientes os processos inconscientes ampliava a liberdade de escolha e ação do indivíduo. Em ceitos aspectos de sua obra, Freud deu-se conta, claramente, de que estava interessado em significados, não em causas; asf m, intitulou seu livro mais famoso A Interpretação de Sonhos,e não 'A Causa dos Sonhos', e o capítulo sobre sintomas, em suas Conferências Introdutórias, denomina-se 'O Sentido dos Sintomas'. * Visanão a auxiliar o leitor que porventura venha a ler no original a litera ura psicanalítica em inglês, mantivemos neste Dicionário o presente verbete, que quase sempre é difícil de traduzir de modo conciso. (N. do T.)
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SIM
SIMBIOSE Em biologia, 'união permanente entre organismos, cada um dos quais, para sua existência, depende do outro' (CO.D.). A psicose simbiótica, de Mahler, ocorre em crianças e se caracteriza por uma dependência total e exclusiva da MÃE; o que o nome subentende é que a mãe necessita da dependência tanto quanto o filho. O relacionamento mãe-bebê, particularmente durante as primeiras semanas, é, às vezes, descrito como simbiótico, com fundamento no fato de a mãe necessitar do bebê tanto quanto este necessita dela. Os relacionamentos que apresentam pseudomutualidade (v. PSEUDO) são às vezes descritos como simbióticos, embora sejam, na realidade, reciprocamente parasitários.
SÍMBOLO, FORMAÇÃO SIMBÓLICA, SIMBOLIZAÇÃO,
SIMBOLISMO Em geral, símbolo é algo que se refere a outra coisa ou a representa, em contraste com SINAL, que indica a presença de algo. Nesse sentido, palavras, emblemas, insígnias são símbolos, pois derivam sua significação do fato de se referirem a outras coisas, seus referentes; a vinculação entre eles e os referentes baseia-se na associação de idéias e, geral(1) que o processo é completamente inconsciente (...) e mente, é estabelecida por convenção. Em todos essses exemplos, contudo, a conexão entre símbolo e referente é CONSCIENTE, ao passo que a teoria psicanalítica do simbolismo interessa-se pela substituição INCONSCIENTE de determinada idéia, imagem ou atividade por outra. Jones (1916) estabeleceu distinção entre simbolismo 'verdadeiro' e 'simbolismo em seu sentido mais amplo' e escreveu: 'Se a palavra simbolismo é tomada em seu sentido mais amplo, vê-se que o tema abrange quase todo o desenvolvimento da civilização, pois o que é esta senão uma série infindável de substituições evolutivas, uma substituição incessante de determinada idéia, interesse, capacidade ou tendência por outra?' O verdadeiro simbolismo, por outro lado, 'origina-se do CONFLITO intrapsíquico [v. também INTRAPSÍQUICO] entre as tendências repressoras [v. REPRESSÃO] e o reprimido (...) apenas o que é reprimido é simbolizado; só o que é reprimido necessita ser simbolizado (...) As duas características cardeais do simbolismo nesse sentido estrito são
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SIM
(2) que o afeto, de que se acha investida a idéia simbolizada, no que concerne ao simbolismo, não se mostrou capaz daquela modificação em qualidade que é denotada pelo termo 'SUBLIMAÇÃO". Segundo essa definição de simbolismo, as substituições envolvidas na criação de imagens oníricas (v. SONHO) OJIAS são exemplos de formação simbólica, ao passo e que asen volvidas na sublimação não o são. O simbolismo 'verdadeiro' ou psicanalítico, em verdade, assemelha-se ao sonhar e àform ação de sintomas, por constituir construções privadas, cujo sigqificado pode ser descoberto apenas em função da experiência individual da pessoa e não por referência a dicionários ou ;onvenções sociais. As exceções aparentes a isso, os chamado|s símbolos universais, encontrados nos sonhos, na mitologia no folclore, são explicadas pela 'uniformidade dos interessei; fundamentais e perenes da humanidade' e pela uniformidaqe da capacidade humana de ver semelhanças entre objetos. A simbolização é geralmente relacionada como um dos PROCESSOS PRIMÁRIOS que governam o PENSAR inconsciente, tal come exemplificado nos sonhos e na formação de sintomas, embora não pelo próprio Freud (v. Freud, 1900, 1917,. 1940), )resumivelmente porque os processos envolvidos na formação simbólica são o DESLOCAMENTO e a CONDENSAÇÃO. Segundo parece, Freud também não teria concordado com ai idéia de que as palavras não são símbolos 'verdadeiros', pois, em sua última obra (1940), escreveu: 'Os sonhos fazem usoilimitado dos símbolos linguísticos, cujo significado é, na maior parte, desconhecido da pessoa que sonha. Nossa experiência,, contudo, permite-nos estabelecer seu sentido. Eles originamse provavelmente de fases anteriores no desenvolvimento da fala'. Em suas Conferências Introdutórias (1916), descreveu também Io simbolismo como um 'modo de expressão antigo mas obspleto'. Para as suposições teóricas subjacentes a ambas as afirmações, v. ONTOGENIA E FILOGENIA. A teoria de Jones, entretanto, é a teoria analítica 'clássica' (v. TEORIA CLÁSSICA) dc simbolismo. V. Rycroft (1956) para uma tentativa de conciliar os empregos analíticos e não analíticos na basedo simbolismo de processo primário e secundário, e Segal
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SIN
(1957), para a distinção entre símbolos que representam processos instintuais e os que lhes servem de substitutos. A teoria psicanalítica afirma que o objeto ou atividade simbolizados são sempre de interesse básico, instintual ou biológico, a substituição ou deslocamento fazendo-se sempre para algo afastado do corpo, isto é, facas, aeroplanos e armas de fogo, por exemplo, podem ser interpretados como símbolos fálicos, mas o pênis nunca poderia ser um símbolo de faca. Os deslocamentos na direção oposta, centrípeta, são 'REGRESSÕES'. Uma exceção é o simbolismo funcional, de Silberer, que ocorre quando uma pessoa fatigada ou sonolenta põe-se a pensar em abstrações e, ao invés, descobre imagens visuais vindolhe à mente. SINAL, SINTOMA E SÍMBOLO Um sinal indica a presença de algum processo ou fenómeno; ele exige diferenciação de SINTOMA e de SÍMBOLO. Em medicina, sinal é um fenómeno observado pelo médico examinador, que lhe indica a presença de algum processo patológico, e que permite afirmar que o paciente tem (ou não tem) os sinais de tal ou qual doença, ao passo que sintoma é um fenómeno que causa aflição ao paciente e do qual este pede para ser aliviado. O sinal pode ou não ser perceptível ao paciente, e, se perceptível, pode ou não causar-lhe aflição. O sintoma também pode ou não ser um sinal. Na HISTERIA DE CONVERSÃO, O paciente queixa-se de sintomas físicos, mas o médico não consegue descobrir quaisquer sinais de doença física — mas, se afortunado, descobrirá sinais de doença neurótica. Um sinal patognomônico indica, por si próprio, a presença de uma doença específica. Na teoria psicanalítica, sinal indica a presença de alguma coisa, ao passo que símbolo se refere a alguma coisa diferente dele próprio, derivando sua significação dessa coisa. Gritos inarticulados, gestos e expressões não aprendidos e manifestações físicas de ANSIEDADE são sinais daquilo que o indivíduo está experimentando, enquanto que imagens oníricas (v. SONHO), sintomas neuróticos de CONVERSÃO são símbolos, pois só se pode chegar a seus referentes pela INTERPRETAÇÃO. Os sinais revelam seu significado diretamente (aos membros da mesma espécie); os símbolos exigem decodificação. Se222
SIN
gundo o uso comum, mas não de acordo com a TEORIA CLÁSque define símbolos num sentido especial (v. SIMBOLISMO), as palavras, as bandeiras nacionais e os emblemas são símbolos, pois derivam sua significação unicamente do conhecimento Aprendido de que se referem a alguma coisa diferente deles prcprios. SÍNDROMA OU SÍNDROME Grupo de SINAIS e SINTOMAS que í se sabe ocorrerem juntos, mas não constituindo em si mesmas uma doença, seja porque as vinculações entre os itens quel o compõem são desconhecidas, seja porque ele pode constituir manifestação de diversas doenças. Síndrome de esforço é um termo que se está tornando obsoleto para designar unia variedade de NEUROSE na qual o paciente se queixa de fa< iga e falta de ar após um esforço, mas não apresenta sinais físicos que apoiem sua convicção de que está sofrendo de dcença cardíaca. SÍNDROME DE YAVIS Segundo Schofield (1964), os jovens psiq uiatras americanos tendem a selecionar para PSICOTERAPIA pacientes femininas que apresentam o SÍNDROME DE 'YAVIS', isto é, são jovens (Young), atraentes (y4ttractive), verbalmeite fluentes (Ferbally fluent), inteligentes (/ntelligent) e >em sucedidas (Successful), assim como possuidoras dos mesnos antecedentes e aspirações que aqueles. Esse comentário irónico sobre o cenário psiquiátrico e psicanalítico americano faz parte de um ataque geral à tendência a gastar tempo e capacidade profissional em pacientes que não estão doentes um nenhum sentido clínico, às expensas da pesquisa dos principais distúrbios psiquiátricos. SICA,
SINTÉTICO O que sempre se tem em mente é 'sintetizador', não 'artificial'. As 'funções sintéticas do ego' descritas por Hartmann (1958) referem-se todas à INTEGRAÇÃO. SINTOH\ Qualquer desvio da SAÚDE do qual um paciente se queixe. Fortftação de sintomas: a TEORIA CLÁSSICA considera a formação NEURÓTICA de sintomas como análoga à elaboração onírica (v. SONHO); O sintoma efetua uma CONCILIAÇÃO entre 223
SOF-SON
o desejo reprimido (v. REPRESSÃO) e os ditames da instância repressora. V. também SINAL, SINTOMA E SÍMBOLO. SOFRIMENTO V. DOR. SOLIPSISMO Corretamente, teoria filosófica de que apenas o eu é cognoscível, ou de que o mundo externo aparente consiste em nossos próprios pensamentos. Às vezes empregada, principalmente por Suttie (1935), para descrever o que a TEORIA CLÁSSICA chama de NARCISISMO do bebê, isto é, a suposição de que o mundo externo existe apenas para satisfazer os desejos dele e a sua incapacidade de perceber que seus objetos são pessoas, com seus próprios desejos e necessidades. SOMA, SOMÁTICO Corpo, corporal. Geralmente, em contraste com PSIQUE, psicológico; mas, ocasionalmente, todas as células do corpo, com exceção das células germinais, isto é, a parte do corpo que constitui o indivíduo mortal, em contraste com a parte que assegura a continuação da espécie. A condescendência ou submissão somática refere-se a algum físico que determine o local de um sintoma neurótico; por exemplo, a localização de um SINTOMA de CONVERSÃO num órgão anteriormente afetado por uma doença física.
SONHO, SONHAR Atividade mental que ocorre no SONO; uma série de quadros ou acontecimentos imaginados durante o sono. A psicanálise presume que os sonhos possuem um SIGNIFICADO psicológico, ao qual se pode chegar através de INTERPRETAÇÕES. Segundo as formulações originais de Freud, os sonhos têm (a) um conteúdo manifesto, que é o sonho ta como experimentado, relatado ou relembrado (v. MANIFESTO), e (b) um conteúdo latente, o qual é descoberto pela interpretação (v. LATENTE). Sustentava ele também que o indivíduo que sonha realiza um trabalho (a elaboração onírica) ao traduzir o conteúdo latente no conteúdo manifesto e que, portanto, a interpretação do sonho é o inverso da elaboração dele. De acordo com sua teoria dos sonhos como REALIZAÇÃO DE DESEJOS, o conteúdo latente é um desejo, realizado no sonho sob forma alucinatória (v. ALUCINAÇÃO); a tradução do desejo para o conteúdo manifesto se torna necessária por dois fa224
SON
tores: (ja) as condições fisiológicas do sono, que determinam que o sonhar seja, em geral, um processo visual, não verbal, e (b) due o desejo é inaceitável para o EGO desperto, tendo, portantê, de ser disfarçado a fim de passar pela CENSURA. OS PESADEÍOS e os sonhos de ansiedade constituem fracassos da elaboraèão onírica; os sonhos traumáticos (v. TRAUMA), nos quais d sonho simplesmente repete a experiência traumática, são exceções a essa teoria. O Hnteresse de Freud pelos sonhos derivou-se do fato de serem ales processos normais, com os quais todos estão familiarizadas, mas que exemplificam os processos em ação na formaçáo dos sintomas neuróticos. A esses processos — a CONDENSAÇÃO, O DESLOCAMENTO, a SIMBOLIZAÇÃO, a exclusão das categorias de espaço e TEMPO e a tolerância de contradições —| Freud chamou processos primários, em contraste com os processos secundários do pensamento desperto. A interpretação 4o sonho, portanto, é em grande parte uma questão de traduzia um pensar do processo primário num pensar do processo sécundário, de ampliar a imagística condensada, não-discursiva-e predominantemente visual do sonho, no simbolismo discursivo da linguagem. V. PROCESSOS PRIMÁRIO E SECUNDÁRIO.
Sefeundo Freud (1900, 1902), a função dos sonhos é preservar í> SONO, representando como realizados os desejos que, de outaa maneira, despertariam o indivíduo que sonha. Pesquisas fisiológicas recentes, contudo, sugerem que há duas espéciesfiesono, o sono sem sonhos e o sono com sonhos (a fase paradoxal do sono), que as fases do último ocorrem recorrentemente em todos os períodos prolongados de sono, e que a função do sono com sonhos consiste em processar a absorção isensória de períodos anteriores de vigília. SONO Embora os próprios trabalhos de Freud tomem o sono cpmo evidente, supondo simplesmente que existe uma necessidade fisiológica de dormir e que a função dos SONHOS é impepir que tendências reprimidas (v. REPRESSÃO) INCONSCIENTES o perturbem, o trabalho de Lewin e outros sugere que o próprio sono pode ter uma PSICOPATOLOGIA que deriva de iguiilamento inconsciente do sono à fusão com o SEIO 225
SUB (IDENTIFICAÇÃO primária com a M Ã E ) . Como resultado disto, o dormir excessivo pode ser manifestação de REGRESSÃO ao nível ORAL, e a insónia pode dever-se quer à AMBIVALÊNCIA para com a mãe (interna) e ao pavor de fundir-se com ela (com o seio), quer, como na MANIA, à presença de uma FANTASIA de fundir-se com a mãe que torna o sono (psicologicamente) supérfluo. Pesquisas fisiológicas recentes demonstraram que existem dois tipos de sono — sono normal, ou ortodoxo, e sono com sonhos, ou paradoxal — e também que o sonhar ocorre apenas na última forma, que pode ser identificada, entre outras coisas, por movimentos dos olhos (sem abertura das pálpebras) e ondas (cerebrais) eletroencefálicas de voltagem lenta. Parece também provável que a função do sono com sonhos seja capacitar o cérebro a processar os estímulos recebidos no dia anterior (faz-se a analogia com computador, o cérebro sendo programado durante o dia). Se isso for correto, a idéia freudiana de que sonhamos a fim de preservar o sono deve ser invertida — dormimos a fim de sonhar. Sua teoria de que tendências INFANTIS se expressam em sonhos é conciliável com essas idéias fisiológicas caso se suponha que os desejos, as fantasias, etc, reprimidos constituem uma provisão de material a esforçar-se por ser processada. Essa suposição concorda com as próprias idéias de Freud sobre o papel do TRAUMA, as experiências traumáticas sendo aquelas que o indivíduo é incapaz de assimilar enquanto ocorrem. V. Oswald (1966).
SUBCONSCIENTE Sinónimo de INCONSCIENTE, nunca utilizado em trabalhos analíticos. SUBJETIVO
Concernente ao sujeito. V. OBJETIVO
E SUB-
JETIVO.
SUBLIMAÇÃO Processo desenvolvimental (v. DESENVOLVIMENTO) pelo qual ENERGIAS instintuais (v. INSTINTO) são descarregadas (v. DESCARGA) em formas não instintuais de comportamento. O processo envolve (a) deslocamento de energia de atividades e objetos de interesse (biológico) primário 226
SUB
para out as de menor interesse instintual; (a) transformação da qualic ade da EMOÇÃO que acompanha a atividade, de maneira qu£ ela se torne 'dessexualizada' e 'desagressificada' (v. DESS] :XUALIZAÇÃO e DESAGRESSIFICAÇÃO), e (c) a atividade se liberta das imposições da TENSÃO instintual. Algumas definiçõe$ incluem um elemento social, a saber, que as sublimações verdadeiras são socialmente aceitáveis. A curiosidade intelectual é considerada como sublimação da ESCOPOFILIA na medida Im que (a) se dirige para tópicos não-sexuais; (b) o prazer que a acompanha não é sexual; (c) suas variações de intensidade são independentes da tensão instintual. O conceito procura explicar a evolução das 'funções superiores' a partir das inferiores. As provas em que se baseia são de dois tipos: primeiro, o surgimento de novos interesses e aptidões durante $ curso do tratamento psicanalítico; segundo, o surgimento de sintomas 'regressivos' (v. REGRESSÃO) em pessoas que estão tendo um colapso neurótico. No exemplo da curiosidade imelectual, a sublimação significa o aumento de curiosidade injtelectual que se segue à análise das inibições infantis da curiosidade sexual e a recrudescência de tendências voyeuristas (v, VOYEURISMO) ou de alimentação excessiva num paciente que, anteriormente ao colapso, possuía uma mente in* quisitivaJ Tocfas as sublimações dependem da SIMBOLIZAÇÃO e todo o DESENVOLVIMENTO DO EGO depende da sublimação. A maior parte das descrições do conceito afirma que os instintos passíveis de sublimação são os INSTINTOS COMPONENTES pré-genitais (v. também PRÉ-GENITAL), de preferência aos instintos sexuais adultos. Em outras palavras, o conceito é desenvolvimental e evolutivo. Anna Freud (1937) relaciona a sublimação como uma DEFESA (embora uma defesa 'que pertence mais ao estudo do normal do que da neurose'), com fundamento no fato pe fornecer solução progressiva a CONFLITOS infantis (v. também INFANTIL) que, de outra maneira, poderiam conduzir à PEUROSE. SUBMISpÂO Ato de submeter-se a outras pessoas. A literatura aialítica tende a classificar a submissão sob passividade 227
SUI-SUJ
e MASOQUISMO. Segundo os etólogos (v. ETOLOGIA), OS gestos de submissão inibem automaticamente as ameaças agressivas (v. AGRESSIVIDADE) de outros membros da mesma espécie. V. ATIVO E PASSIVO.
SUICIDA, SUICÍDIO Pessoa que intencionalmente se mata e ato de matar-se, respectivamente. Segundo Stengel (1964), 'em média, 1/3 das pessoas que cometem suicídio sofreu de NEUROSE, PSICOSE OU DISTÚRBIO DE PERSONALIDADE grave'; a doença DEPRESSIVA OU MELANCOLIA é o distúrbio mental com o mais elevado risco de suicídio. Esse autor faz distinção entre o suicídio, em que a autodestruição é a única ou principal intenção, e a tentativa de suicídio, em que entram outros motivos. 'Um certo aviso da intenção suicida quase invariavelmente foi dado. Os que tentam o suicídio tendem, no ato suicida, a permanecer perto de outras pessoas ou a mover-se em direção a elas. As tentativas de suicídio funcionam como sinais de alarme e possuem o efeito de um apelo de ajuda, ainda que tal apelo possa não ter sido conscientemente subentendido'. Calcula-se que a tentativa de suicídio é seis a oito vezes mais comum do que o suicídio que logra êxito. As teorias psicanalíticas do suicídio interpretam o impulso à autodestruição como ataque a um objeto introjetado (v. DEPRESSÃO) ou como derivado do INSTINTO DE MORTE. (V. também INTROJEÇÃO).
SUJEITO Pessoa cuja experiência e comportamento se acham em consideração. Todos os trabalhos psicanalíticos, mesmo os mais abstratos, versam, em última análise, sobre determinada pessoa, que é o sujeito, sendo todas as outras pessoas mencionadas os OBJETOS dele. Nos trabalhos teóricos, essa pessoa constitui uma abstração, mencionada como 'o sujeito', 'o indivíduo', 'o paciente', 'o bebê', imaginada como se relacionando com ou tendo impulsos dirigidos para diversos objetos tais como 'o SEIO', 'a MÃE', 'os pais', etc. O paralelo com a gramática é exato: o sujeito é a pessoa a quem se refere a oração, generalização ou teoria; o verbo (mais o advérbio) descreve a natureza do IMPULSO (INSTINTO) ou relacio228
SUP
namento lem exame, e o objeto é a pessoa com quem o sujeito lida (pu deseja lidar). SUPER De uma vez que muitos sintomas psiquiátricos são a ocorrêicia, em alto grau de intensidade ou frequência, de experiências comuns à humanidade, o prefixo 'super' é não raro empregado para designar um comportamento considerado patológico unicamente por causa de sua frequência ou intensidade excessivas. Daí a superansiedade dos FÓBICOS, a superconèfcienciúsidade dos OBSESSIVOS, a superprotetivid das MÃE^ que esmagam os filhos com um amor sufocante, etc. O conceito pressupõe que é possível estabelecer um nível normal de ANSIEDADE, conscienciosidade, etc. SUPERDETERMINAÇÃO Diz-se que um sintoma, imagem onírica oji qualquer outro exemplo de comportamento é superdetermin|do se possui mais de um só SIGNIFICADO ou expressa impulsos |e conflitos derivados de mais de um só nível ou aspecto da personalidade, ou, alternativamente, e talvez preferivelmente, se fornece um 'caminho final comum' a uma série de tendências convergentes. De uma vez que a psicanálise presume a pjresença de um resíduo acumulado de desejos que datam do passado, e que as várias fases de DESENVOLVIMENTO se superpiõem umas às outras em camadas, todo comportamento é considerado superdeterminado, no sentido de ser possível interfretá-lo como resultado da atividade simultânea em diversos níveis. SUPEREGO A parte do EGO em que a AUTO-OBSERVAÇÃO, a autocrítica e outras atitudes reflexivas se desenvolvem; a parte do ego em que introjetos parentais (v. INTROJEÇÃO) estão localizados. Como Freud sustenta que a auto-observação depende da INTERNALIZAÇÃO dos pais, essas duas definições se harmonizam. O superego difere da CONSCIÊNCIA por (a) pertencef a um esquema de referência diferente, isto é, à METAPSICOLOGIA e não à ética; (b) incluir elementos INCONSCIENTES; (c) as injunções e inibições que dele emanam derivarem do passado do indivíduo e poderem estar em CONFLITO com seus valores atuais. Não se sustenta que o superego seja uma répl ca exata das figuras parentais que foram introjetadas, 229
SUP
já que se afirma que as internalizações correspondentes ocorrem cedo, na infância, quando o bebê dota os objetos com suas próprias características. Como resultado disso, a severidade ou intolerância do superego provém (em parte, pelo menos) da violência dos próprios sentimentos do indivíduo na tenra infância. Supõe-se também que as energias do superego provêm do ID, isto é, que a tendência a auto-atacar-se do superego fornece escoadouro para os próprios impulsos agressivos do indivíduo (v. AGRESSIVIDADE), constituindo um exemplo da VOLTA CONTRA o EU. Embora as formulações anteriores concedessem ao PAI O papel central na formação do superego, a maioria das descrições contemporâneas postula precursores do superego que ocorrem nas fases PRÉ-EDIPIANAS do DESENVOLVIMENTO, esses precursores sendo os 'OBJETOS INTERNOS' da TEORIA DOS OBJETOS. O conceito aparece pela primeira vez em The Ego and the Id (1923; O Ego e o Id), de Freud, e a maior parte das descrições dele são marcadas pela preocupação de Freud com a NEUROSE OBSESSIVA de que o livro está impregnado. Algumas exposições sobre tratamento psicanalítico dão como sendo um dos objetivos deste a modificação do superego no sentido de maior tolerância e realismo, ao passo que outras descrevem a transferência de funções do superego para o ego. Essa ambiguidade deriva do fato de o conceito incluir elementos díspares, o elemento 'arcaico' dos introjetos INFANTIS e o elemento refinado da AUTOPERCEPÇÃO reflexiva. Em outras palavras, ele é tanto um recipiente do passado quanto um nível mais elevado de funcionamento (do ego). Corrupção do superego refere-se à tentativa de diminuir a CULPA pela sedução ou corrupção de alguma figura identificada (v. IDENTIFICAÇÃO) com nosso próprio superego, isto é, reduzir nosso próprio sentimento de indignidade rebaixando uma figura de superego a nosso próprio nível. Lacunas do superego são falhas no sentimento moral de um paciente. SUPRESSÃO A supressão via de regra refere-se à INIBIÇÃO da atividade CONSCIENTE e voluntária, em contraste com a REPRESSÃO, que é inconsciente, automática e instigada pela ANSIEDADE, não por
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um ato da VONTADE.
TAB-TEC
T TABU 1. Termo antropológico para designar a colocação à parte de um objeto ou pessoa, ou a proibição absoluta de certa c asse de atos, com fundamento em que constituiriam uma vi ilação de todo o sistema de pensamento (WELTANSCHAUW G) da cultura; isto é, um objeto será tabu se for intocável, e um ato será tabu se for 'impensável' em função da estrutur* da cultura. 2, Daí, por extensão, qualquer ação que seja proibida pela autoridade ou pela pressão social pode ser desdrita como 'tabu'. Na literatura psicanalítica, os tabus mais frequentemente mencionados são o do INCESTO e o de matar d animal totêmico (v. TOTEM), exceto em ocasiões cerimoniais. V. Totem and Tàboo (1913; Totem e Tabu, IMAGO Edftora, 1974), onde ele especulou sobre o surgimento do tabuldo incesto como resultado da necessidade dos machos da HORDA PRIMEVA de evitar que lutassem entre si, após terem assassinado o PAI PRIMEVO, que, anteriormente à sua morte, reservava todas as fêmeas para si. A teoria supõe que o tabu impediu os filhos de possuírem exatamente as mulheres por cuja posse eles haviam assassinado o pai. V. ONTOGENIA E FILOGENIA, para a teoria biológica geral que levou Freud a acrecitar que tais teorias especulativas eram legítimas. V. também] COMPLEXO DE ÉDIPO. TÂNATOS Deus grego da Morte, utilizado por Freud para personificar o INSTINTO DE MORTE. Cf. EROS e INSTINTO DE VIDA.
TÉCNICA Termo utilizado em sentido um tanto especial por Fairbairn (1952) para descrever processos bastante semelhantes às DEFESAS, mas por ele considerados como processos adaptativos normais durante seu segundo estádio de desenvolvimento^ o da transição ou QUASE-INDEPENDÊNCIA. V. HISTE231
TEC RIA; TÉCNICA OBSESSIVA; TÉCNICA FÓBICA; TÉCNICA PARANÓIDE; PSICOPATOLOGIA DE FAIRBAIRN.
TÉCNICA ANALÍTICA CLÁSSICA Diz-se que um analista utiliza a técnica clássica se ele (a) vê seus pacientes diariamente; (b) fá-los deitar num divã; (c) abstém-se de todo fornecimento de conselhos, prescrição de remédios, orientação da vida deles; (d) limita suas próprias intervenções a INTERPRETAÇÕES; (e) instrui os pacientes a obedecerem a REGRA BÁSICA ou fundamental da ASSOCIAÇÃO LIVRE. É possível utilizar a técnica clássica sem endossar a TEORIA CLÁSSICA, pois a teoria determina o que o analista diz e não o contexto ou ambiente em que o diz. Contudo, alguns dos que utilizam a teoria clássica incluiriam (f) a interpretação da DEFESA de preferência à interpretação da FANTASIA inconsciente, como componente essencial da técnica clássica. Os analistas KLEINIANOS conformam-se a (a)-(e), mas não a (f). A técnica clássica foi projetada para o tratamento de psiconeuróticos adultos. Há controvérsia quanto a saber se e como ela deveria ser modificada quando se analisam crianças, adolescentes e psicóticos. Desvios planejados da técnica são às vezes chamados de PARÂMETROS. Para uma exposição da técnica clássica, v. Fenichel (1941). TÉCNICA FÓBICA
Um das quatro técnicas descritas na Essas técnicas são utilizadas pelo indivíduo para fazer a transição da DEPENDÊNCIA INFANTIL para a dependência madura. Segundo Fairbairn, o bebê constrói duas imagens da MÃE (SEIO), de quem se acha, originalmente, totalmente dependente, uma como OBJETO BOM e que satisfaz, a outra como OBJETO MAU e frustrador. As quatro técnicas diferem quanto a designar onde o indivíduo localiza esses dois objetos. Na técnica fóbica, localiza ambos fora de si — na terminologia de Fairbairn, EXTERNALIZA tanto o objeto aceito quanto o objeto rejeitado —, imaginandose como protegido pelo objeto bom, mas em risco de sofrer ataques por parte do(s) objeto(s) mau(s). Em consequência, alcança um sentimento de segurança à custa da ANSIEDADE FÓBICA. O CONFLITO entre essa técnica e o impulso progressiPSICOPATOLOGIA REVISTA DE FAIRBAIRN.
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TEC
vo à maturação conduz à oscilação entre desejos de evitar a proteção sufocante do objeto bom (CLAUSTROFOBIA) e desejos de retornar a ele para fugir a um mundo imaginado como povoado por objetos maus (AGORAFOBIA). V. Fairbairn (1952). V. tambjém TEORIA DOS INSTINTOS E TEORIA DOS OBJETOS. TÉCNICA OBSESSIVA Uma das quatro TÉCNICAS descritas por Fairbairn em A Revised Psychopathology of the Psychoses hnd Psychoneuroses (v. PSICOPATOLOGIA REVISTA DE FAIRBAIRN). Essas técnicas são utilizadas pelo indivíduo para fazer a transição da DEPENDÊNCIA INFANTIL para a dependência madura. Segundo Fairbairn, o bebê constrói duas imagens da MÃE (SEIO), de quem é originalmente dependente, uma como OBJETO BOM e que satisfaz, e outra como objeto MAU e frustràdor. As quatro técnicas diferem quanto a designar onde o indivíduo localiza esses dois objetos. Na técnica obsessiva, lodaliza ambos dentro de si — na terminologia de Fairbairn, imernaliza tanto o objeto aceito quanto o objeto rejeitado (v| INTERNALIZAÇÃO) — , identificando-se com o objeto bom (vi IDENTIFICAÇÃO), mas encarando o outro como um 'conteúdo' estranho dentro dele, o qual tem de controlar. Em consequência, o indivíduo consegue uma 'QUASE-INDEPENDÊNCIA' da piãe, baseada na identificação com esta, mas só atinge o estácto da 'dependência madura' se a identificação com aquela é substituída por um relacionamento com a mesma, ou, de preferência, algum equivalente adulto, 'genital'. De uma vez que essa técnica, como as outras três, pode ser considerada uma DEFESA contra a ANSIEDADE DE SEPARAÇÃO, ela tende a ser clamada de defesa obsessiva, embora fique claro, pelo próprio texto de Fairbairn, que este a considera um processo normal Ide desenvolvimento. V. Fairbairn (1952). TÉCNICA PARANÓIDE Uma das quatro TÉCNICAS descritas Jor Fairbairn em A Revised Psychopathology of the Psychoses an Psychoneuroses (v. PSICOPATOLOGIA REVISTA DE FAIRBAIRN). Essas técnicas são utilizadas pelo indivíduo para fazer a [transição da DEPENDÊNCIA infantil (v. INFANTIL) para a deperdência madura (v. também MATURO E IMATURO). Segundo Fairbairn, o bebê constrói duas imagens da MÃE (SEIO), 233
TED-TEL
de quem é originalmente dependente, uma delas como objeto BOM, que satisfaz, e a outra como objeto MAU e frustrador. As quatro técnicas diferem quanto a designar onde o indivíduo localiza esses dois objetos. Na técnica paranóide, ele localiza o objeto bom dentro de si, e o mau, fora — ou, na terminologia de Fairbairn, internaliza o objeto aceito e externaliza o objeto rejeitado (v. INTERNALIZAÇÃO e EXTERNALIZAÇÃO) — , identificando-se com o objeto bom (v. IDENTIFICAÇÃO), mas imaginando-se sujeito a PERSEGUIÇÃO por objetos externos a si. Pelo emprego dessa manobra, o indivíduo conquista uma 'QUASE-INDEPENDÊNCIA' da mãe ao preço da sujeição à ansiedade paranóide. De uma vez que essa técnica, como as outras três, pode ser considerada uma DEFESA contra a ANSIEDADE DE S E PARAÇÃO, ela tende a ser chamada de defesa paranóide, mas fica claro, segundo o próprio texto de Fairbairn, que este ã considera um processo normal de desenvolvimento. V. Fairbairn (1952). V. TEORIA DOS INSTINTOS E TEORIA DOS OBJETOS.
TÉDIO Emoção que surge quando um indivíduo fracassa em encontrar interesses e atividades que o ocupem plenamente. Pode surgir quer como resultado de limitações externas, tais como o confinamento solitário, a privação sensória ou o trabalho monótono, quer como resultado de inibição interna. Segund Fenichel (1954), o tédio neurótico constitui um estado de TENSÃO instintual (v. também INSTINTO), no qual falta o objetivo instintual. Em consequência, a pessoa entediada procura um objeto 'não a fim de sobre ele agir com seus impulsos instintuais, mas antes para ser por este auxiliado a encontrar um objetivo instintual que lhe falta'. Sabe que quer algo, mas não sabe o que seja. Daí a irritabilidade e a inquietação, inseparáveis do tédio, ausentes na APATIA. TELA ONÍRICA A tela em que as imagens visuais de um sonho podem ser imaginadas como projetadas (v. PROJEÇÃO). Segundo a hipótese original de Lewin, todos os sonhos são projetados sobre uma tela que apenas ocasionalmente é visível. Essa tela foi por ele interpretada como um símbolo tanto do próprio SONO quanto do SEIO, com o qual o sono é incons234
TEL-TEM
cientenjente igualado, isto é, a tela representa o desejo de dormirJe as imagens visuais representam os desejos que perturbam! o sono (v. SONHO). De acordo com Rycroft e outros, a tela onírica não constitui componente de todos os sonhos, mas fenómeno que ocorre apenas nos sonhos de pessoas que estão ingressando na fase MANÍACA; ela simboliza o sentimento maníaco de fusão extática com o seio (MÃE) e a negação da hostilidade para com este. V. Lewin (1946), Rycroft (19511, Boyer (1960). Em seus artigos posteriores, Lewin distinguiu entre sonhos :J>m tela e sonhos em branco; estes são sonhos caracterizados por duas convicções, por parte de quem sonha: (a) que el< teve um sonho e (b) que o sonho não teve conteúdo visual. TELElATIA Comunicação à distância e independentemente de txlas as vias sensórias conhecidas. V. PESQUISAS PSÍQUICAS.
TEMO (RÈVERENCIAL) DO PÊNIS Termo utilizado por Plyllis Greenacre para descrever a emoção evocada pela visão c o pênis, em certos pacientes, alguns dos quais o descrevera m como circundado por um halo. V. Greenacre (1953). TEMPO O tempo e os enigmas filosóficos a ele associados incidem, na teoria psicanalítica, em três pontos específicos: (a) a distinção entre os PROCESSOS PRIMÁRIOS e os PROCESSOS SECUNDÁRIOS é parcialmente feita com base no fato de os primeiros desprezarem a categoria de tempo, ao passo que os segundos tomam conhecimento dela. Visto que, segundo certas teo|:ias sobre a origem do sentido de tempo, este surge em consequência de se haver experimentado demora entre o desejo e a SATISFAÇÃO, as propensões realizadoras de desejo (v. REALIZAÇÃO DE DESEJOS) dos processos primários negam o tempoJ ao passo que as propensões adaptativas (v. ADAPTAÇÃO) ios processos secundários conduzem à descoberta dele; (b) a [teoria freudiana da MEMÓRIA supõe que todas as experiência ; passadas estão representadas no presente e são capa235
TEN-TEO
zes de exercer efeito sobre ele; (c) todas as definições do EU e do sentimento de IDENTIDADE incluem inevitavelmente uma referência ao tempo. V. Whitrow (1961) para a filosofia do tempo. TENSÃO Para afetos de tensão, v. AFETO; PRÉ-PRAZER. Estado de tensão é termo diagnóstico psiquiátrico para designar a condição em que o paciente se mostra tenso, sob tensão, etc, em consequência de tensão externa ou de CONFLITO interno. As concepções freudianas do PRINCÍPIO DE PRAZER e DE CONSTÂNCIA tornam a tensão instintual o agente motor de todo o comportamento. V. PRINCÍPIO DE CONSTÂNCIA; INSTINTO. TEORIA (ANALÍTICA) CLÁSSICA Embora esse conceito seja frequentemente encontrado na literatura, é difícil, a menos que já se esteja familiarizado com a posição teórica do autor, saber precisamente a que se refere. O conceito pressupõe que existe uma 'norma' teórica e que outras posições teóricas podem ser colocadas, em relação àquela, quer como desvios, quer como avanços. Como resultado disso, o conceito tende a ser empregado tendenciosamente, significando ou uma 'teoria que está de acordo com as compreensões internas básicas de Freud', ou 'uma teoria, tal como era entendida por aqueles analistas vienenses fora de moda, por volta da década de 1920'. Entretanto, a teoria clássica sem dúvida possui certa relação com a TÉCNICA ANALÍTICA CLÁSSICA e inclui os seguintes conceitos: (a) as formulações ESTRUTURAL, TOPOGRÁFICA e ECONÓMICA da METAPSICOLOGIA; (b) os conceitos de fases do EGO e do DESENVOLVIMENTO LIBIDINÀL infantil, com esses estádios referindo-se à primazia de ZONAS ERÓGENAS específicas; (c) a idéia de que as NEUROSES constituem fenómenos REGRESSIVOS, nos quais o paciente regride a PONTOS DE FIXAÇÃO infantis. Anna Freud, na Inglaterra, e Heinz Hartmann, nos E.U.A., são tanto os herdeiros quanto os expoentes da teoria clássica. TEORIA DA APRENDIZAGEM 1. Qualquer teoria que tente explicar a aprendizagem. 2. (Mais geralmente) o corpo de teoria psicológica que busca explicar o comportamen236
TEO
to em (função de reações aprendidas a estímulos ambientais, em contraste com as teorias DINÂMICAS, tais como a psicanálise, que] o explicam em função de processos desenvolvimentais inatos tm instintuais. No sentido 2, a teoria da aprendizagem é herdáira do trabalho de Pavlov sobre reflexos condicionados e do behaviorismo de Watson, aos quais se assemelha ao rejeitar 0s dados introspectivos e ao encarar a PSICOLOGIA como um 'ramo experimental puramente OBJETIVO da CIÊNCIA natural'. A teoria da aprendizagem fornece a base teórica para a TERAPIA DO COMPORTAMENTO, que se origina da suposição de que o jcomportamento neurótico constitui o resultado final de uma aprendizagem defeituosa, mal adaptada, e pode, portanto, ser modificado por técnicas de descondicionamento e reaprendizageni. Os teóricos da aprendizagem alegam que o apoio em experimentos e em técnicas estatísticas refinadas concede a ela uma respeitabilidade científica que lamentavelmente falta à psicaná ise, com suas origens clínicas. V. Eysenck (1965). TEORIA DUAL DOS INSTINTOS
V. INSTINTO.
TEORIA DOS INSTINTOS E TEORIA DOS OBJETOS Termos empregados para distinguir entre as formulações que se inteiessam pelos INSTINTOS e suas vicissitudes e as que se interessam pelas relações do indivíduo com seus OBJETOS. Formalmei te, a distinção é falsa, visto que os instintos se dirigem para objetos e estes só podem ter significação se o indivíduo possui algum impulso para relacionarse com eles. Na prática, contude, trata-se de uma distinção real, a saber, uma distinção ente as teorias que supõem que o indivíduo adquire a capacidade de relacionar-se com objetos em certa fase do DESENVOLVIMENTO e as que supõem que ele nasce relacionado com um objeto (a MÃE); entre as teorias que supõem que a ADAPTAÇÃO constitui um processo relutantemente aprendido e as que suoõem que o bebê nasce adaptado; entre as que supõem que o 4alor dos objetos reside em sua capacidade de fornecer prazer instintual e as que supõem que o valor do prazer está em sua capacidade de enriquecer re acionamentos. A teoria dos instintos provê a psicanálise de um vínculo com a biologia; a tzoria dos objetos fornece-lhe uma ligação com as ciên237
TEO-TER
cias sociais. A psicanálise clássica é uma teoria dos instintos; os sistemas KLEINIANO e fairbairniano (v. PSICOPATOLOGIA R E VISTA DE FAIRBAIRN) são teorias dos objetos. A PSICOLOGIA DO EGO, de Hartmann, possui alguns aspectos de ambas. V. Klein (1948), Fairbairn (1952), Hartmann (1958). TEORIA DA LIBIDO TEORIA OBJETAL
V. LIBIDO; V.
TEORIA DOS INSTINTOS.
TEORIA DOS INSTINTOS E TEORIA
DOS OBJETOS.
TEORIA PROCESSUAL Afirmações de que a psicanálise é ou deveria ser reconhecida como uma teoria processual constituem geralmente protestos contra as formulações TOPOGRÁFICA e ESTRUTURAL — que tendem a pressupor que a mente é uma coisa com partes, por exemplo, um APARELHO PSÍQUICO consistente em três segmentos, um ID, um EGO e um SUPEREGO — e reivindicações de que a psicanálise seja formulada em função dos processos mentais e de sua organização. V. PERSONOLOGIA.
TERAPIA Processo que consiste em tratar um paciente. Deve ser distinguido da terapêutica, ramo da medicina que se interessa pela teoria do tratamento, pelo modo de ação dos agentes e processos empregados no tratamento. Daí PSICOTERAPIA, fisioterapia, radioterapia, terapia ocupacional, etc. TERAPIA DO COMPORTAMENTO Forma de PSICOTERAPIA baseada na TEORIA DA APRENDIZAGEM. Supõe que os sintomas se devem a uma aprendizagem e a um comportamento defeituosos e visa a removê-los por procedimentos descondicionantes e recondicionantes. Sua base teórica difere nitidamente da psicanálise pelo fato de rejeitar a idéia de existir qualquer processo ou doença subjacentes, cujos sintomas constituem mera manifestação superficial. Afirma, pelo contrário, que o sintoma é a doença. A maior parte dos êxitos reivindicados pela terapia do comportamento ocorreram com FOBIAS e DISTÚRBIOS DE COMPORTAMENTO, condições em que é possível isolar um sintoma específico como alvo da intervenção te238
TER-TES
rapêuticá. Embora teoricamente seja uma técnica impessoal, começar! im a aparecer recentemente artigos sobre o papel da TRANSFERÊNCIA na terapia de compoitamento; por exemplo, Crisp (1966). Difere da psicanálise por ser aplicável a pacientes que não desejam tratar-se. V. Eyserck e Rachman (1965). TERAPIA FOCAL Modificação di terapia psicanalítica, em que leterminado problema específico apresentado pelo paciente é escolhido como foco da INTERPRETAÇÃO. V. Malan (1963).) TERMINAL OU FINAL, PRAZER V. PRAZER FINAL OU TERMINA.
TERRITORIALIDADE Conceito etológico (v. ETOLOGIA) referente ao fato de que, em muitas esaécies animais, os indivíduos estabelecem áreas que defendem contra a intrusão de membros de sua própria espécie. Esse padrão de comportamento provavelmente desempenha duas funções: disseminação da espécie pelo MEIO AMBIENTE dispon vel e redução das ocasiões para luta entre membros da mesma espécie (controle da AGRESSIVIDADE intra-específica). A psicanálise tende a interpretar o (comportamento, em indivíduos humanos do sexo masculino, que é (discutivelmente) territoral como sendo de origem SEXUAL e EDIPIANA.
TESTE DA REALIDADE Capacidade de distinguir entre imagens mentais e objetos externos da PERCEPÇÃO, entre FANTASIA e REALIDADE externa, de corrigi * impressões subjetivas pela referência a fatos externos. Segundo a TEORIA CLÁSSICA, falta ao bebê qualquer capacidade de testar a realidade. Os DELÍRIOS ie as ALUCINAÇÕES que ocorrem na PSICOSE são definidos como fracassos no teste da realidade. V. PRINCÍPIO DE PRAZER.
TESTE pE RORSCHACH Provavelmente o mais refinado TESTE PRÍDJETIVO, no qual o indivíduo é convidado a descrever o que pdde ver numa série de borrões de tinta simétricos, al239
TES-TOT
guns dos quais coloridos; suas respostas são utilizadas como prova de sua vida de fantasia, estrutura de personalidade, diagnóstico psiquiátrico e até mesmo inteligência. Projetado na década de 1920 por Rorschach, psicanalista suíço. TESTES PROJETIVOS OU TESTES DE PROJEÇÃO Testes psicológicos que procuram determinar traços de personalidade pelo convite que se faz ao sujeito para interpretar figuras ou formas indeterminadas, tais como borrões de tinta, à luz de sua imaginação.
TIPO DE REAÇÃO Termo utilizado em sistemas classificatórios psiquiátricos que tentam definir as DOENÇAS MENTAIS como reações características à tensão (stress). Na Classificação Internacional de Doenças (1955), a HISTERIA figura como 'reação histérica sem menção à reação de ansiedade'. TIPOS DE PERSONALIDADE Para os pontos de vista de Jung e Eysenck sobre os tipos de personalidade, v. EXTROVERSÃO E INTROVERSÃO. A literatura psicanalítica estuda a tipologia de personalidade sob o título de CARÁTER e utiliza dois sistemas para classificá-la, o clínico e o desenvolvimental. Os tipos clínicos de caráter são denominados com referência à condição psiquiátrica à qual se infere que são análogos ou à qual mais se assemelham; daí, caráter HISTÉRICO, OBSESSIVO, FÓBICO, ESQUIZÓIDE, DEPRESSIVO, MANÍACO. Os tipos desenvolvimentais de caráter são denominados com referência à fase de DESENVOLVIMENTO LIBIDINÀL da qual se infere que as características derivam; daí, caráter ORAL, ANAL, FÁLICO, GENITAL. TOPOGRÁFICO Adjetivo para designar conceitos e formulações que utilizam a FICÇÃO de um APARELHO PSÍQUICO estendido no espaço, isto é, que pode ser descrito por um diagrama onde os processos mentais podem ser localizados. V. METAPSICOLOGIA.
TOTEM Termo antropológico para designar um animal, planta ou outro objeto, venerado por uma tribo ou comuni240
TOT-TRA
dade esèecífica e que esta trate como símbolo dela própria ou como seu protetor. V. Totem and Taboo (1913; Totem e Tabu, IMAGO Editora, 1974), de Freud, para sua teoria especulativa de que o totem simboliza o PAI PRIMORDIAL que foi assassiní do quando os filhos se rebelaram contra seu domínio da HORDA j PRIMEVA. V. também COMPLEXO DE ÉDIPO. TOTÊfttlCO
V. TOTEM.
TRABA|LHO Atividade séria, geralmente em contraste com o JOGO ou com o AMOR. Nos primórd os da psicanálise, a recuperação da capacidade de amar e trabalhar era considerada como o critério do tratamento analítico bem sucedido. TRANSE Estado de DISSOCIAÇÃO que ocorre em pacientes sob HIPNOSE e em médiuns quando passam por estar em contacto com o mundo dos espíritos. Estados semelhantes a transes ocoiuem na HISTERIA, embora sejam geralmente chamados de acessos, ataques ou estados oníricos, e na infância, sob a forma de sonambulismo. A característica comum a todos é que algijma parte do EGO (ou EU) se encontra fora de ação, de modc que o indivíduo submete sua VONTADE a outra pessoa ou age íegundo desejos e FANTASIAS que de outra maneira se mostram inibidos (v. INIBIÇÃO). TRANSFERÊNCIA 1. Processo através do qual o paciente desloca para seu analista sentimentos, idéias, etc, que derivam de figurus anteriores de sua vida (v. DESLOCAMENTO); através do qualj ele se relaciona com o analista como se este fosse algum objeto anterior de sua vida; atrevés do qual projeta sobre o analista representações objetais (v. OBJETO) adquiridas por INTLOJEÇÕES anteriores (v. PROJEÇÃO); através do qual dota o analista da significação de outro objeto, geralmente anterior. 2. O estado mental que é produzido por 1 no paciente. 3. Imprecisamente, a atitude emocional do paciente para coin o analista. Noi primórdios da psicanálise, a transferência era encarada coifio um fenómeno lamentável, que interferia na recupe241
TRA
ração de lembranças reprimidas e perturbava a objetividade do paciente. Por volta de 1912, contudo, Freud veio a considerá-la parte essencial do processo terapêutico: 'ao final, todo conflito tem de ser resolvido na esfera da transferência'. Naturalmente, não se supõe que o analista seja a única pessoa para quem os indivíduos tendem a transferir sentimentos derivados do passado, mas que a isenção do analista — sua recusa em portar-se de acordo com os preconceitos do paciente ou em reagir de acordo com as expectativas deste — cria uma situação nova em que é possível interpretar para o paciente que ele está se comportando como se o analista fosse seu pai, mãe, irmão, irmã, etc. (v. INTERPRETAÇÃO). Essas afirmações explícitas feitas pelo analistas são interpretações transferenciais; o volvimento emocional do paciente com o analista é a neurose transferencial ou de transferência. O relacionamento do pacie com o analista como pai, mãe, etc, é a relação transferencial em oposição à relação analítica, que é a totalidade do relacionamento entre analista e paciente, inclusive do reconhecimento, por parte deste, da natureza real do contrato e transação entre eles e da personalidade real do analista. A resistência transferencial é o emprego da transferência como RESISTÊNCIA contra o relembrar o passado ou enfrentar a ANSIEDADE vinculada à perspectiva de terminar o tratamento e ter de renunciar ao sentimento de segurança (na realidade e em grande medida, ilusório) proporcionado por estar em tratamento. A transferência pode ser paterna, materna, EDIPIANA, PRÉ-EDIPIANA, PASSIVA, DEPENDENTE, ORAL, etc, segundo o objeto transferido e a fase de DESENVOLVIMENTO que está sendo recapitulada; OBJETAL OU NARCÍSICA (identificatória — v. IDENTIFICAÇÃO), segundo o paciente conceba o analista como pessoa externa de quem é dependente, a quem odeia, etc, ou como parte de si mesmo; positiva ou negativa, segundo ele conceba o analista como figura benigna ou malévola. A maior parte dos relatos de transferência incluem a idéia de que relacionamentos objetais, (v. OBJETO) precoces, que o paciente não tem possibilidade de recordar como tais, podem, não obstante, ser reconstruídos a partir das reações transferenciais do paciente. Em vez de recordar sua tenra infância e seu 242
TRA
relacionimento com o SEIO, o paciente reencena-o 'na transferência' O trabalho de Fairbairn, Klein e Winnicott é inexplicável, a menos que se compreenda que eles acredit(av)am que as1 eações de seus paciente a eles próprios constituem provas álidas em que basear teorias a respeito da origem das rela$<ões de objeto na tenra infância (v. PSICOPATOLOGIA REVISTA IDE FAIRBAIRN; KLEINIANO). A maioria dos trabalhos também presume que os efeitos terapê áticos da análise se devem em grande parte à oportunidade por ela fornecida para solucionar 'dentro da transferência', conflitos que datam da e da infância propriamente dita, e concede tenra ã a a aspectos novos do relacionamento analíportânci pouca íni1manci tico, tais como o encontro com uma pessoa que combina interesse j;om não-possessividade e cuja compreensão interna do paciente é provavelmente mais nítida e possivelmente maior, na real dade, do que a dos pais reais. TRAUMA 1. Em medicina geral, dano estrutural ao corpo, causado pelo impacto de algum objeto ou substância. O termo inclui feri>mentos, fraturas, queimaduras, etc. 2. Em PSIQUIATRIA e SICANÁLISE, qualquer experiência totalmente inesperada que o indivíduo é incapaz de assimilar. A reação imediata a um trhuma psicológico é o CHOQUE; os efeitos posteriores são a recuperação espontânea (análoge à cura espontânea dos ou o desenvolvimento de uma NEUROSE TRAUtraumas físicos) 3. Em psicanálise, por extensão, qualquer experiência MÁTICA. domi nada pelo emprego de DEFESAS. O trauma, nesse sentido, produz ANSIEDADE, à qual se segue a recuperação espontânea ou o de!envolvimento de uma PSICONEUROSE. As teorias traumáticas la origem da neurose geralmerte têm em mente o terceiro, n\\o o segundo tipo de trauma. 4. Imprecisamente, incorretanlente, mas com frequência, qualquer experiência aflitiva ou perturbadora, independentemente de seus efeitos serem duradouros u não. Trauma infantil é um trauma que ccorreu na tenra infância ou na irfância propriamente dita e que se infere ter desempenhado papel causativo no desenvolvimento da NEUROSE em foco. Os trauijias infantis podem ser do tipo 2 ou 3, e o termo veio a incluir 1 ião apenas experiências únicas e isoladas, tais como 243
TRA
ataques sexuais, operações cirúrgicas sem preparação psicológica ou a morte ou desaparecimento súbitos de um dos pais, mas também situações a longo prazo, tais como a PRIVAÇÃO oral (v. também ORAL), a separação dos pais, uma educação doméstica severa ou até mesmo relacionamentos familiares anormais na infância. O conceito de trauma é estritamente causal (v. CAUSALIDADE). Qualificar um acontecimento como traumático é afirmar que ele aconteceu ao indivíduo sem que este de qualquer maneira o desejasse ou fosse conivente com sua ocorrência (v. VONTADE), e que seus efeitos são consequências causalmente determinadas. Em consequência, a prova de que as neuroses resultam de traumas justificaria a hipótese freudiana do princípio do DETERMINISMO psíquico. Segundo Freud (1940), todas as doenças neuróticas resultam de traumas infantis: 'Em todos os casos, a doença neurótica subsequente tem esse prelúdio na infância como seu ponto de partida (...) Podemos facilmente explicar essa preferência pelo primeiro período da infância. As neuroses são, como sabemos, distúrbios do EGO, e não é de admirar que o ego, enquanto é fraco, imaturo e incapaz de resistência, fracasse em lidar com problemas que posteriormente poderia manejar com a máxima facilidade (...)' Entretanto, prossegue ele, 'nenhum indivíduo humano é poupado dessas experiências traumáticas; nenhum escapa às REPRESSÕES a que elas dão origem'. Na mesma passagem, refere-se também às exigências instintuais oriundas de dentro como sendo 'traumas', especialmente se se deparam, no caminho, com 'certas disposições'. Em outras palavras, sua teoria da origem traumática das neuroses só se sustenta caso se suponha (a) que todos são neuróticos e (b) que a suscetibilidade a ser traumatizado é afetada por 'disposições'. 'Como podemos ver, é fácil a um bárbaro ser sadio; para o homem civilizado, a tarefa é árdua' (Freud, 1940). V. também SIGNIFICADO; AGENTE. TRAUMA DO NASCIMENTO A idéia de que o nascimento é uma experiência traumática (v. TRAUMA) foi originalmente proposta por Otto Rank. Desfrutou de certa voga por alguns anos e foi empregada, por Freud (1915) por exemplo, 244
TRA-TRI
para ti plicar a predisposição humana à ANSIEDADE. Hoje possui apenas interesse histórico. A teoria segundo a qual a ansiedade é uma repetição da experiência traumática do nascimento :>arece ter devido sua atração ao fato de permitir que determinada experiência universal, a saber, a ansiedade, fosse explicada em relação a outra, o nascimento, e ao fato de haver ornado possível considerar as PSICONEUROSES como uma fc rma especial de NEUROSE TRAUMÁTICA. TRAUMÁTICA, NEUROSE
V. NEUROSE
TRAUXMÁTICA.
TRAU 4ATÓFILO Termo às vezes utilizado para descrever pacient s que parecem ter o dom dc colecionar experiências traumáticas (v. TRAUMA). OU TRAVESTISMO PERVERSÃO sexual em que o indiv duo alega obter prazer sexual em se vestir com as roupas do sexo oposto. A palavra operacional, nessa definição, é sexual; gostar simplesmente de vestir se com roupas do sexo oposto eu preferir usá-las não está incluído no termo. Virtualmente \ estrito aos homens, não é, em si mesmo, indicação de HOMOSSEXUALIDADE, sendo compatível com a atividade HETEROSSEXUAL. Segundo Fenichel (1954), o travesti (inconscientemente) acredita que vestir roupas de mulher realça sua virilidade, ppr permitir-lhe identificar-se com uma MULHER FÁLICA. TRAV] LSTI
TR1ADP ORAL Termo utilizado por Lewin (1946) para designar os desejos combinados de ser aleitado pelo SEIO, dormir (v SONO) com ele e por ele ser devorado, desejos que, a seuver, estão subjacentes à PSICOPATOLOGIA da MANIA. V. EXULTAÇÃO; TELA ONÍRICA. TRISTEZA Humor tranquilo, semelhante à MAGOA e ao PESAR, orovocado pela aceitação de que alguma perda ocorreu, pelo recolhimento da transitoriedade de todas as fontes de satisfação, Difere da DEPRESSÃO porque o conflito não faz parte da tristèza 245
URE-VER
u URETRA Dueto pelo qual a urina é esvaziada da bexiga. Daí erotismo uretral: prazer associado à micção e FANTASIAS derivadas disso. UTERUS Otero. Daí, fantasia uterina: FANTASIA a respeito de como era (seria) no útero. Não é incomum o SONO ser considerado como REGRESSÃO uterina. 'Nossa relação com o mundo, a que chegamos de modo tão relutante, parece envolver nossa incapacidade de tolerá-lo ininterruptamente. Assim, de tempos em tempos, nos afastamos para o estado pré-mundano, para a existência no útero' (Freud, 1916).
VAGINA (lit., 'bainha'). Passagem genital feminina. Não existe palavra que tenha com vagina a mesma relação que FALO tem com PÊNIS. Daí 'vagina' ter de servir tanto para o órgão anatómico quanto para a idéia dele. Daí vaginismo: espasmo dos músculos vaginais, geralmente um sintoma neurótico. VERBAL, REPRESENTAÇÃO
V.
REPRESENTAÇÃO VERBAL.
VERBALIZAÇÃO Processo que consiste em expressar por palavras. Geralmente, palavra empolada para designar o falar ou o formular, ainda que ocasionalmente usada para referir-se especificamente à transformação das imagens visuais em palavras ou à conversão do pensar 'onírico' (v. SONHO) do processo primário (v. PROCESSOS PRIMÁRIOS E SECUNDÁRIOS) no pensar 246
VER
verbal la CONSCIÊNCIA. A psicanálise constitui uma tentativa de verbilizar o inverbalizável, já que seu tema principal, a atividade mental INCONSCIENTE, é intrinsecamente não-verbal, sendo, portanto, deformada pelas formulações verbais. V. REPRESENTAÇÃO VERBAL.
VERDADEIRO E FALSO Winnicott (1958) faz distinção entre um eu verdadeiro e um falso eu; este é uma estrutura defensiva (v. DEFESA), uma ADAPTAÇÃO 'falsa' a um MEIO AMBIENTE que não atendeu ao eu 'vei dadeiro' durante os meses forijiativos da tenra infância. Durante o tratamento psicanalítico, os pacientes com um falso eu devem regredir a um estado lie DEPENDÊNCIA do analista, no decorrer do qual o último pode reagir ao verdadeiro eu emergente. Para um conceito ba;tante semelhante de Balint, v. NOVO COMEÇO e DEFEITO BÁSICO.
VERGONHA A vergonha é a Gata Borralheira das emoções desagradáveis, pois recebeu muito menos atenção do que a ANSIEDADE, a CULPA e a DEPRESSÃO. Freud (1896) interpretou-a cimo medo doridículo,ao passo que Piers (1953) a interpre a como a reação ao fracasso em viver de acordo com o próprio IDEAL DO EGO (isto é, ao passo que a culpa ocorre se transgredimos uma recomendação oriuida de fora de nós mesmos, m^s representada no SUPEREGO, Z vergonha surge quando fracassamos em alcançar um ideal de comportamento que estabeleceihDs para nós). Segundo Lynd (1958), que não é psicanalista, a vergonha possui vinculação estreita com o sentimento de IDENTIDADE e a COMPREENSÃO INTERNA. Ela é provocada por experiências que colocam em questão nossos preconceitos sobre nlis mesmos e nos obrigam a aos vermos através dos olhos dt outros — e a reconhecermos a discrepância entre sua pereepção de nós e nossa própria concepção supersimplificada e egoísta de nós mesmos. Se enfrentadas, as experiêncais que causam vergonha aumentam a compreensão interna e a autopercepção (v. E U ) ; se negadas, provocam o desenvolvimento de uma carapaça defensiva. V. Rycroft (1968), para a sugeslão de que a vergonha como sintoma neurótico persistente o( orre em indivíduos ESQUIZÓIDES que tanto se superva247
VIG-VIN
lorizam (vêem-se na fantasia) quanto possuem uma compreensão interna de que sua auto-supervalorização não é partilhada pelos outros. Os sociólogos distinguem entre culturas de culpa e culturas de vergonha, com a civilização ocidental judio-cristã constituindo exemplo das primeiras, e a cultura japonesa tradicional e a das classes aristocrático-militares européias sendo exemplos das segundas. A vergonha difere da culpa por estar mais estreitamente vinculada a sensações corporais, tais como, por exemplo, o enrubescer, e por ser, como Lynd aponta, mais facilmente provocada por fracassos em se conformar a normas sociais não codificáveis. Enquanto a transgressão de códigos e leis morais produz a culpa, a falta de tato e os erros de discernimento induzem a veigonha. VIGILÂNCIA Termo neurológico (v. NEUROLOGIA) e fisiológico para designar o estado continuado de alerta que permite que os organismos notem mudanças em seu MEIO AMBIENTE. Uma função 'perscrutadora' de sentinela que alerta o organismo para a presença de perigo ou de oportunidades, e o prepara para a ação apropriada. A vigilância pode variar de intensidade, mas nunca está inteiramente inativa, mesmo durante o sono. A ANSIEDADE SINALIZADORA pode ser considerada uma forma de vigilância voltada para dentro, através da qual o indivíduo é alertado para alterações em seu estado interno. A ansiedade fóbica (v. FOBIA) pode ser considerada como uma perversão da vigilância, na medida em que o paciente reage a seu objeto fóbico como se este fosse perigoso e, depois, empreende a ação evitante que seria apropriada, se o fosse. V. Rycroft (1968) para um exame da relação da apreensão, preocupação e expectativa com a vigilância. VINCULO DUPLO Segundo Bateson e outros (Towards a Theory of Schizophrenia), a infância dos futuros ESQUIZOFRÊNICOS se caracteriza pelas repetidas experiências de serem colocados em vínculo duplo, tipicamente por suas MÃES. Essa experiência consiste em ser tornado o objeto de exigências emocionais incompatíveis e contraditórias, numa situação em 248
VOL-VON
que naohá caminho de fuga e na qual nenhum outro membro da famíla resgata a criança do vínculo, seja compensando ou corrigindo o comportamento da mãe, seja elucidando-o à criança. A r iação do esquizofrénico ao vínculo duplo é a perda da capacidade de distinguir o status lógico dos pensamentos, Em outias palavras, sua DEFESA contra a confusão e a AMBIVALÊNCL l de sua mãe e a sua própria, é perder a capacidade pjreender aqueles matizes que nos capacitam a ter COMde com INTERNA dos motivos e a apreciar as discrepâncias PREENSÃD j significados manifestos e ocultos. Em linguagem leiga, entre os duplo é uma posição 'impossível'. Estritamente fao vínculbvínculo duplo não constitui :onceito PSICANALÍTICO, lando, ovez que se refere a uma situação INTERPESSOAL e não de uma CONFLITO ou processo desenvolvimental interno. Ema um inalmente formulado como teoria da esquizofrenia, boraaduzi ( do como explicação do comportamento neurótico. A foi possibili iade de que um analista possa colocar um paciente em vínc lio duplo também foi considerada. V. Family Process (periódico americano), Laing (1961), Lidz (1964). VOLTA CONTRA O EU Uma das quatro vicissitudes instintuais |(v. INSTINTO) descritas por Freud (1915); as outras são a INVERSÃO em seu oposto, à REPRESSÃO e a SUBLIMAÇÃO; relacionjida por Anna Freud (1937) como um dos mecanismos de |DEFESA. O conceito parece ser utilizado apenas para explicar o MASOQUISMO moral, fenómeno observado mais claramente nas NEUROSES OBSESSIVAS, em que o paciente dirige seu SAD SMO contra si mesmo. 'O desejo de torturar transformou-se ím autotortura e autopunição' (Freud, 1915). VONTADE Embora os primeiros trabalhos de Freud contenham referências à vontade e à contravontade, particularmente dhi vinculação com a HISTERIA, o conceito de vontade não faz parte da teoria psicanalítica, >endo incompatível com a hipótese do DETERMINISMO psíquico e com a idéia de que as DOENÇA! í MENTAIS são causadas por processos inconscientes, aos quais a noção de vontade é obviamente inaplicável. Não obstante, frequentemente se fazem PROGNÓSTICOS com base na avaliação c a vontade de curar-se, embo*a esse fato seja quase 249
VOY
sempre ocultado pelo emprego de expressões tais como 'alta motivação'. A atitude psiquiátrica e psicanalítica habitual para com a vontade está resumida na frase: 'O paciente diz que não pode, os parentes dizem que ele não quer, mas o psiquiatra diz que ele não pode querer'. A noção de vontade, entretanto, é por demais fundamental à experiência humana para que seja eliminada inteiramente, e ela se afirma em pelo menos três pontos da teoria psicanalítica: (a) o conceito de NEGATIVISMO é utilizado para descrever a voluntariedade, isto é, a asserção do poder da vontade pela recusa em seguir a liderança de outros ou em cooperar com outros, mesmo ao ponto de prejudicar-se a si mesmo para vingar-se de alguém. O comportamento negativista pode ser encarado como o modo pelo qual se expressa a vontade em pessoas que experimentam a concordância e a cooperação com outros como ameaças à sua IDENTIDADE; (b) o termo 'ATIVO' é empregado para descrever não simplesmente a capacidade de executar ações, mas também a disposição de iniciar a ação, ao passo que 'PASSIVO' é utilizado para descrever não meramente a inatividade, mas também a disposição a sujeitar-se à vontade de outrem. Quando Freud (1937) mencionou a capacidade de, quando apropriado, aceitar a posição passiva como critério de saúde em homens, referia-se à capacidade de submeter a própria vontade a outrem sem sentir que a própria identidade está ameaçada; (c) o conceito de motivação (v. MOTIVO) pode ser utilizado para unir a brecha entre a idéia de vontade e a de impulso (INSTINTO). Se uma pessoa é descrita como altamente motivada numa direção específica, isso significa que ela está preparada para gastar tempo e energia na consecução de seu objetivo, mas a formulação não revela se isso se dá porque seus instintos a impelem fortemente ou porque seu poder de vontade é grande. V. The Ways of the Will, de Leslie Farber (1966), para o exame geral do problema da vontade e descrições de sua patologia — e para as absurdas consequências de tentar querer reação sexual. V. ATIVO E PASSIVO. VOYEURISMO PERVERSÃO sexual em que a forma preferida de atividade sexual do indivíduo é olhar para as partes ou 250
WEL-ZOO
atividade > sexuais dos outros. Segundo a TEORIA CLÁSSICA, O voyeurisi10 constitui um derivado da ESCOPOFILIA infantil, um dos INST NTOs COMPONENTES infantis i v. também INFANTIL). Ela tamtém considera o voyeurismo e o EXIBICIONISMO como emparelhados, sendo o primeiro a versão ATIVA do último e este, a v!rsão PASSIVA do primeiro. A TEORIA DOS OBJETOS dá ênfase àFANTASIA de controle sobre o objeto olhado e à negação d \ estar excluído do relacionamento que está sendo espionad).
w WELTA síSCHAUUNG (al.) Conceição, visão do mundo; concepçí o da realidade; filosofia de v da.
Y YAVIS, SÍNDROME DE V. SÍNDROME
DE YAVIS.
z ZONA ERÓGENA Qualquer área do corpo da qual possam originar- >e sensações ERÓTICAS. Tipicamente, os órgãos sexuais e a membrana mucosa que circunda as aberturas corporais. ZOOFILÍA
Bestialidade; amor excessivo aos animais. 257
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WINNICOTT,
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AGRADECIMENTOS Desejo expressar minha gratidão ao Sr. James Mitchell, que me su ^eriu construir este dicionário e que deu todo o seu apoio noral enquanto eu o fazia, e ao Sr. Peter Ford, que teve o imenso trabalho de criar ordem naquilo que não passava dfc um manuscrito excepcionalmente caótico.
NOTA DO AUTOR As remissões são indicadas pelo emprego de maiúsculas menores (versalete). A abreviatura CO.D. é utilizada para referir-se ao Concise Oxford Dicúonary; O.E.D., ao Oxford English Dicúonary.
PEQUENA COLEÇÃO DAS OBR DE FREUD Livro 1 — CINCO LIÇÕES DE PSICANÁLISE E CONTRIBUIÇÕES À PSICOLOGIA DO AMOR Livro 2 — TRÊS ENSAIOS SOBRE A TEORIA DA SEXUALIDADE Livro 3 — SOBRE OS SONHOS Livro 4 — TOTEM E TABU Livro 5 — OS CASOS CLÍNICOS Livro 6 — A HISTÓRIA DO MOVIMENTO PSICANALÍTICO Livro 7 — ESBOÇO DE PSICANÁLISE Livro 8 — 0 MAL-ESTAR NA CIVILIZAÇÃO Livro 9 — O FUTURO DE UMA ILUSÃO Livro 10 — MOISÉS E O MONOTEÍSMO Livro 11 — METAPSICOLOGIA Livro 12 — PROJETO PARA UMA PSICOLOGIA CIENTIFICA
LANÇAMENTOS DA IMAGO EDITORA Sexualidade e Agressividade na Maturação de H. Sydney Klein (org) Introdução à Obra de Melanie Klein de Hanna Segal Conferências Brasileiras I — São Paulo 1973 de W.R. Bion Autismo e Psicose Infantil de Frances Tustin O Brincar e a Realidade de D.W. Winnicott A Possessão da Mente de William Sargant Introdução à Epistemologia da Psicologia de Hilton Japiassu O Anti-Edipo de Gilles Deleuze e Félix Guattari KAFKA: Por Uma Literatura Menor de Gilles Deleuze e Félix Guattari A Parte Maldita de Georges Bataille Speculum da Outra Mulher de Luce Irigaray Semiologia Psicanalítica de Ernesto Cesar Liendo, Maria Carmen Gear e Luis J. Prieto Narrativa da Análise de Uma Criança de Melanie Klein Freud — Jung: Correspondência Completa Freud — Lou-Andreas Salomé: Correspondência Completa