Pontifícia Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais Programa de Pós-graduação em Direito Teoria do Direito Disciplina: Teoria da Justiça Prof. Dr. Júlio Aguiar Aluno: Henrique Gonçalves Neves Data: 16 de junho de 2011 MACINTYRE, Alasdair. Depois Alasdair. Depois da virtude. Um estudo em teoria moral . São Paulo: EDUSC, 2001.
POSFÁCIO À SEGUNDA EDIÇÃO p. 443 Crítica: Alguns identificaram asneiras ± de confusões com nomes a um erro factual sobre Giotto. Resposta: Todos os erros até agora a gora identificados foram corrigidos corrigidos nessa segunda edição. Crítica: (1) Alguns indicaram impropriedades na narrativa histórica que dá continuidade argumentativa a Depois da virtude; (2) alguns contestaram meu diagnóstico da situação da sociedade moderna e, mais em especial, da sociedade contemporânea ; (3) e alguns questionaram de diversas maneiras tanto a substância quanto o método de determinadas argumentações. a rgumentações. Resposta: Responder Responder aos outros tipos de crítica não é a penas uma tarefa mais difícil, mas requer que eu empreenda vários projetos de longo prazo, voltados para as diversas preocupações disciplinares dos meus críticos.
pp. 443-444 Duas preocupações prioritárias de M acIntyre: acIntyre: (1) elaborar a estrutura geral de uma única tese complexa sobre o lugar das virtudes humanas, mesmo que fazê-lo resultasse num esboço, e não no enunciado total dos argumentos subordinados contidos dentro da tese; e (2) fazê-lo de um modo que deixasse claro como a minha tese era profundamente incompatível com as fronteiras disciplinares acadêmicas convencionais, fronteiras que com tanta frequência compartimentalizam o pensamento de maneira a distorcer e obscurec er relações fundamentais.
p. 444 (...) Reafirmação mais adequada das posições, tanto as fundamentais quanto as pressupostas pelo esquema geral da argumentação. (...) é mais urgente em três áreas distintas.
A relação da Filosofia com a História Frankena O que me incomoda é não distinguir história de filosofia, ou dar a impressão de que uma pesquisa histórica pode estabelecer uma questão filosófica, como MacIntyre parece fazer. acIntyre M acIntyre Frankena ainda está falando em nome do que ainda é a ortodoxia acadêmica. Filosofia é, nessa perspectiva, uma coisa e a História é bem outra.
p. 445 Historiador das ideias, historiador político, dupla tarefa do filósofo.
Frankena (...) as próprias argumentações de MacIntyre contra o emotivismo são extraídas da filosofia analítica; e sua afirmação de que as tentativas modernas de justificar a moralidade fracassam e 1
tinham de fracassar é uma afirmação que só se pode fazer por meio da filosofia analítica, e não de algum tipo de história. M acIntyre (...) é somente dentro do contexto de determinado gênero de investigação histórica que tais argumentações (do tipo aprovado pela filosofia analítica) podem apoiar o tipo de afirmação acerca da verdade e da racionalidade que os filósofos normalmente aspiram justificar.
pp. 444-445 Referindo-se a V ico: os assuntos da filosofia moral não serão encontrados em lugar nenhum, a
não ser dentro da vida histórica de determinados grupos sociais e, assim, possuindo as características peculiares da existência histórica.
p. 446 M acIntyre A filosofia moral analítica de Frankena e o tipo de historicismo defendido por MacIntyre podem ser respostas às críticas da solução transcendental de Kant. Tese kantiana O bjeções (1) Hegel e historicistas posteriores: O que Kant apresentava como princípios universais e necessários do espírito humano revelaram-se, de fato, princípios específicos de determinadas épocas, locais e estágios da atividade e da investigação humanas ;
p. 447 (2) Não era possível sustentar os conceitos de necessidade, do a priori e da relação de conceitos e categorias com a experiência que o pr ojeto transcendental kantiano exigia.
pp. 447-448 Êxito da filosofia analítica: O progresso da filosofia analítica teve êxito ao definir que não há nenhuma base para se acreditar em princípios universais a não ser relativamente a algum conjunto de hipóteses. (...) A consequência é que a filosofia analítica se tornou uma disciplina cuja competência ficou restrita ao estudo das inferências.
p. 448 A filosofia analítica produz, muito ocasionalmente, resultados quase conclusivos do tipo negativo. (...) Mas não consegue nunca estabelecer a aceitabilidade racional de nenhuma posição particular em casos em que cada uma das posições alternativas adversárias disponíveis tenha abrangência e escopo suficientes e os adeptos de cada uma estejam dispostos a pagar o preço necessário para garantir a coerência e consistência.
p. 449 C onclusão dos historicistas acerca da filosofia analítica : Para o historicista os filósofos analíticos parecem decididos a continuar analisando argumentações como objetos de investigação em abstração dos contextos social e histórico da atividade e da pesquisa aos quais pertencem e dos quais provém sua importância particular. Herança dos precursores kantianos. Ex.: física newtoniana e física galilena e aristotélica.
p. 450 As filosofias morais, embora possam ter aspirações mais pretensiosas, sempre expressam a moralidade a partir de algum ponto de vista social e cultural. (...) Mas esse modo de expor a questão é inadequado, pois ainda trata a moralidade como uma coisa e a filosofia moral como outra. (...) embora qualquer moralidade seja sempre mais do que a filosofia nela implícita, não há adesão à moralidade que não envolva alguma posição filosófica, explícita ou implícita. As filosofias morais 2
são, antes de mais nada, as articulações explícitas das reivindicações de determinadas moralidades à adesão racional. E é por isso que a história da moralidade e a história da filosofia moral são uma única história.
p. 451 A história da moralidade-e-da-filosofia-moral é a história dos sucessivos desafios a alguma ordem moral pré-existente, uma história na qual a questão de qual corrente derrotou a outra na argumentação racional deve sempre distinguir-se da questão de qual corrente manteve ou conquistou hegemonia social e política. E é somente pela menção a essa história que se pode resolver as questões da superioridade racional. ( Frankena) parece afirmar que os métodos da filosofia analítica são suficientes para definir o que é verdadeiro ou falso e aquilo em que é razoável acreditar na filosofia moral, e que a investigação histórica é irrelevante. ( M acIntyre) afirma que não só a investigação histórica é necessária para se decidir o que significa determinado ponto de vista, mas também que é no seu confronto histórico que qualquer ponto de vista define ou deixa de definir sua superioridade racional com relaçã o a seus rivais em contextos específicos. Ao fazê-lo, empregam-se muitas técnicas da filosofia analítica. Historicismo como meio para verificação da superioridade racional de moralidades rivais . P. 452 Réplica do M acIntyre depois considerada fracassada : MacIntyre diz que padrões trazidos à história servem para julgar a superioridade racional de uma teoria com relação à outra. Esses padrões exigem uma justificativa racional, que não pode ser dada por uma história que só possa ser escrita depois que se forneceu a justificativa. apelo a padrões não-históricos.
p. 453 S uperação da réplica anterior : (...) a nossa situação com relação às teorias sobre o que torna uma teoria racionalmente superior a outra não difere da nossa situação relativa às teorias científicas ou às moralidades-e-filosofias-morais. Tanto no primeiro quanto no último caso o que tenho de aspirar não é uma teoria perfeita, com a qual qualquer ser racional tenha de concordar necessariamente, porque invulnerável ou quase invulnerável a objeções, mas, pelo contrário, a melhor teoria a surgir até o momento na história dessa classe de teorias. Esse historicismo consiste numa forma de falibilismo, já que exclui todas as pretensões de conhecimento absoluto. Questão: o que é a melhor teoria?
pp. 453-454 Conquista atribuída ao esquema moral fundamental de Aristóteles em Depois da virtude: (1) transcendeu com êxito as limitações de seus antecessores e, ao fazê-lo, proporcionou os melhores meios disponíveis para o entendimento desses antecessores até o momento ; (2) enfrentou sucessivas refutações de inúmeras perspectivas adversárias, mas em todos os casos conseguiu se modificar nos modos exigidos para absorver os pontos fortes dessas perspectivas e, ao mesmo tempo, evitou suas fraquezas e limitações.
p. 456 C rítica do modo como a filosofia e a história se relacionam em Depois da virtude: O tipo de história filosófica que desejo criar rompe, em certos pontos, com os cânones da filosofia analítica, e em outros pontos viola os da história socia l acadêmica e isso, talvez, de duas maneiras. Primeiro, do ponto de vista que assumo as empreitadas teóricas e filosóficas, seus êxitos e fracassos, têm muito mais importância na história do que os historiadores acadêmicos costumam acreditar. (...) Em segundo lugar, as narrativas da história social acadêmica costumam ser escritas de um modo que pressupõe exatamente o tipo de distinção lógica entre questões de fato e questões de valor que a teoria da narrativa oferecida em Depois da virtude me obriga a negar. E a história filosófica que 3
constitui a narrativa principal de Depois da virtude é escrita do ponto de vista da conclusão a que chega e que ela própria sustenta.
p. 457 As virtudes e a questão do relativismo Crítica: uma consequência dessa teoria é que alguma versão do relativismo é inescapável.
pp. 457-458 Minha explicação das virtudes percorre três estágios: (1) O primeiro, que trata das virtudes como qualidades necessárias para se obter os bens internos às práticas; (2) O segundo, que as analisa como qualidades que contribuem para o bem de uma vida inteira ; (3) O terceiro, que as vincula à procura de um bem para os seres humanos, cuja concepção só pode ser elaborada e possuída dentro de uma tradição social continuada.
p. 458 Porque começar com as práticas? (...) A importância de começar com as práticas em qualquer análise de virtudes é que o exercício das virtudes não vale a pena só por si, mas tem sentido e finalidade mais profundos e, de fato, é ao compreender esse sentido e essa finalidade que viemos, caracteristicamente, a valorizar inicia lmente as virtudes.
pp. 459-460 Objeção de S cheffler à tese sobre a ligação entre as virtudes e as práticas : (...) embora MacIntyre negue que se deduz dessa teoria que os grandes jogadores de xadrez possam ser mal-intencionados, não estou totalmente convicto de que ele tenha o direito de negá-lo (...) Réplica: Relação das virtudes com as práticas e relações das ha bilidades com as práticas: Para MacIntyre, o que caracteriza uma prática é a habilidade (ex.: jogador de xadrez). O que caracteriza um jogador de xadrez enquanto tal é o fato de possuir habilidades para jogar xadrez. E mesmo que não vise um bem específico (interno à prática) do xadrez passa a ser um jogador de xadrez mal-intencionado, uma vez que ³as virtudes não têm relação com os bens que lhes proporcionam sentido e finalidade mais profundos (...) os bens internos às práticas que não se pode adquirir, pois os bens internos às práticas que não se pode adquirir sem o exercício das virtudes não são os fins procurados pelos indivíduos particulares em determinadas situações, mas são as excelências específicas a esses tipos de práticas que se adquire ou se deixa de adquirir (...) excelências cuja concepção que fazemos delas muda com o tempo conforme nossas metas transformam. O jogador de xadrez não é mal-intencionado pois os bens internos à prática do xadrez não são os
fins procurados por ele, mas as excelências específicas a esse tipo de prática. Assim, o jogador de xadrez não age visando os bens internos, motivo pelo qual não se pode dizer que a partir da teoria de MacIntyre não pode haver jogadores de xadrez mal-intencionados. p. 460-461 C rítica de S cheffler : (...) as virtudes são provisoriamente caracterizadas como relação à noção de prática, e essa explicação provisória é, então, modificada e complementada em estágios posteriores. (...) não se deve considerar virtude nenhuma qualidade humana, a não ser que satisfaça as condições especificadas em cada um dos três estágios (ver p. 457)
p. 462 Possibilidade de existência de tradições de virtudes das virtudes distintas, incompatíveis e rivais. Suposição de confronto de duas tradições morais rivais e incompatíveis se confrontem numa situação histórica específica. 4
Ou (1) será possível apelar algum conjunto de princípios racionalmente fundamentados e independentes de ambas as rivais ; ou (2) não é possível nenhuma resolução racional de suas
discordâncias. C onsequências da opção de (1) e (2) : Aceitar (1) é aceitar a existência de princípios racionais universais, apartados de qualquer tradição. Aceitar (2) é aceitar que a racionalidade moral é interna e relativa a determinada tradição.
p. 465 A relação da filosofia moral com a Teologia C rítica: impropriedades na narrativa argumentativa principal de Depois da virtude. A mais notável delas é a falta de algo semelhante a um tratamento adequado da relação entre a tradição aristotélica das virtudes e a religião da Bíblia e sua teologia.
p. 466 Desde o momento em que a religião bíblica e o aristotelismo se confrontaram, a questão da relação das afirmações acerca das virtudes humanas com as afirmações acerca da lei divina e dos mandamentos divinos exige uma resposta. Qualquer reconciliação da teologia bíblica com o aristotelismo deveria sustentar uma defesa da tese de que somente uma vida constituída fundamentalmente pela obediência à lei exibiria as virtudes sem as quais os seres humanos não podem alcançar seu telos. Qualquer rejeição justificada de tal reconciliação deveria dar motivos para negar tal tese. A natureza complexa e variada das reações protestante e jansenista à tradição aristotélica e, numa consequência, posterior, a tentativa de Kant de fundar, com uma base racional secular, uma moralidade da lei que pressupõe a existência de Deus, mas que, além de não só implicar a rejeição do aristotelismo, também implica sua identificação como uma fonte principal de erros morais.
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