Corpo + Arte = Arquitetura. As proposições de Hélio Oiticica e Lygia Clark
David Sperlig
Hélio Oiticica e Lygia Clark, expoentes do experimentalismo nas artes plásticas nos anos 1960 e 1970 no Brasil constr!ram percrsos "e nasceram na pintra e se pro#etaram para o espa$o tridimensional% Cada m a se modo constri intenso cr&amento arte'(ida e am)os ntriram grande admira$*o m+ta% Como (etor motri& comm, o conceito de n*o'o)#eto- .ormlado pelo cr!t cr !tic ico o /e /err rrei eira ra llllar ar os ar artitic cla la na s spe pera ra$* $*o o de m ma a ar arte te de c cn no o geomét geo métric rico'r o'repr eprese esenta ntacio cional nal par para a a pro propos posi$* i$*o o de ex exper peri2n i2ncia ciass art art!st !stica icass (i(enciais centradas no corpo% 3 no sentido desses .lxos "e aparecem em sas o)ras as no$4es de ar"itetra-% O texto centrará .oco em m corte estratégico "e passa por proposi$4es reali&adas em torno de 19695 estas n*o s apresentam inegá(el sincro sin cronic nicida idade de "a "anto nto s "e "est4 st4es es rel relati ati(as (as ao asp aspect ecto o ar" ar"it itet etral, ral, com como o constitem (isadas pri(ilegiadas da totalidade das re.lex4es "e os artistas proc pr oces essa sara ram% m% O re rec crs rso o re re.e .er2 r2nc ncia ia a al alg gma mass o) o)ra rass an ante teri rior ores es " "e e reali&aram decorre do entendimento "e se tem delas como desdo)ramentos de to tota talilida dade dess 8 8er erle lea a': ':on onty ty,, 19 1990 90;; e, co como mo ta tais is,, s* s*o o ge germ rmin ina$ a$*o *o em pot2ncia das proposi$4es .oco deste texto%
Hélio Oiticica e o espaço das possi!ilidades a!ertas de co"porta"eto
e senses sen ses po pointi inting ng to? to?ard ardss a ne ne? ? tra trans. ns.orm ormati ationon- ap apres resen entad tado o no sim simp psio sio internacional @>oc Art@, na ni(ersidade da Cali.rnia em #lo do mesmo ano, em "e sinteti&a o estado da arte- de sas proposi$4es, como Crela&er e 3den, cote#ando criticamente com as de Lygia Clark% A designa$*o pro#eto"e Oiticica con.ere para 3den "estiona "al"er nomenclatra art!stica a rotlá rot lá'la% 'la% Ao lar largo go de cat catego egori& ri&a$4 a$4es es nor normat mati&a i&ador doras as 8in 8incl clsi( si(e e da rel rela$* a$*o o p+)lico'o)ra;, apresenta'se como algo a ser concreti&ado- para além do ato de
pro#etar% ais ainda, re.ere'se ao ato de pro#etar8'se; como o lan$ar'se em proposi$4es .tras, experimentar o experimental@ 1% Oiticica procra ressaltar o "e á de (i(encial nos processos por meio das expe ex peri ri2n 2nci cias as
de
antiti'a an 'art rte e
am)i am )ien enta tall
8/a( 8/ a(ar aret etto to,,
199 19 9D1 D1EF EF;, ;,
.oca .o cand ndo o
primordialmente as possi)ilidades a)ertas do comportamento ' mais "e as estrtras a)ertas do o)#eto ', "est*o central de >e senses pointing to?ards a ne ne? ? tra trans ns.o .orm rmat atio ionn- 81 8196 969; 9;%% :o :orr o otr tro o la lado do,, " "an ando do Oi Oititici cica ca p pro ro#e #eta ta-, -, tratando'se da montagem de espa$os como sportes para acontecimentos, é a par arti tirr da dass es estr trt tr ras as a)er erta tass " "e e sg ger ere e e espe pera ra a oc oco orr rr2n 2nci cia a de comportamentos di(ersos% G*o
é
poss!(el
deixar
de
notar
a
proximidade
do
termo comportamento tili&ado por Oiticica e as no$4es de gesto e estilo s sad ados os po porr e erl rlea ea' ':o :ont ntyy% :a :ara ra es este te,, os gestos corpo corporais rais prpr prprios ios comp co mp4e 4em m
m estilo +nico
do
corpo
de
ser
no
mndo,
criando
sa modulação exis existenci tencial al 8erl 8erlea': ea':onty onty,1 ,199D 99D 06' 06'1;% 1;% Oitici Oiticica ca em >e sens se nses es po poin intiting ng to to? ?ar ards ds a ne ne? ? tr tran ans. s.or orma matition on-- ap apro roxi xima ma a no no$* $*o o de comportamento da totalidade dos sentidos manos no mndo e cita o prprio erlea':ontyD m camino em dire$*o a esta a)sor$*o comportamentalD ol.ato'(is*o'paladar'adi$*o e tato sentidos s*o esta)elecidas em m contexto mano, como m IcorpoJ de signi.ica$4es e n*o
para otra no espa$o'tempo presente da participa$*o do p+)lico, como tam)ém no processo de matra$*o dos conceitos "e comp4em a tra#etria do artista% Como "est*o germinal em sa tra#etria .igra a compreens*o da o)ra como ma estrtra orgnica, organismo (i(o-, "ase'corpo- o ainda m nãoobjeto, o "e signi.ica a spera$*o da dicotomia s#eito'o)#eto presente na arte de representa$*o por m campo inters)#eti(o con.ormado pela (i(2ncia do s#eito, no$*o "e gerará di.erencia$4es o )rotamentos di(ersos em sa o)ra e na de Lygia Clark% O sentido cmlati(o "e imprime em sas a$4es M @as proposi$4es nascem e crescem nelas mesmas e notras- 8Oiticica, 19E6D 11N; ' re(ela a compreens*o "e poss!a da dpla condi$*o de cada ma delasD teorema e corolário, ser e (ir'a'ser, exist2ncia e pot2ncia, a$*o e di.erencia$*o, )roto e )rotamento, cada ma como m per.il o (is*o- 8Oiticica, 19E6D 11N; da totalidade da re.lex*o do artista, o "al, como "e por aprimoramento, a cada (e& seleciona melores nglos para sa (isali&a$*o e experiencia$*o% Com etaes!uemas, Bilaterais, "nvenç#es e $elevos %spaciais processam'se os primeiros )rotamentos da sa o)ra pictrica em dire$*o s constr$4es tridimensionais em "e a maior participa$*o do p+)lico é solicitada% A expans*o espacial prennciada clminará na proposi$*o de N&cleos e Penetráveis, no(as possi)ilidades de andar entre lgares- 8Oiticica, 1969D N;, estrtras'cor em "e o p+)lico circla e é en(ol(ido% A cada participa$*o do até ent*o espectador, trans.ormado pela experi2ncia em s#eito agente, corresponde a constr$*o de percep$4es +nicas da totalidade am)iente's#eito nm determinado tempo%
/igra 1D Blide Caixa 11 8196;5 Blide idro , >erra 8196;% Cortesia :ro#eto HO% Os Bólides tra&em a di.erencia$*o da no$*o de trans'o)#eto% Peali&ados a partir de o)#etos identi.icados- '' n*o encontrados- '' e recolidos pelo artista% Ao serem identi.icados, no momento mesmo de sa identi.ica$*o, #á se encontram impl!citos na idéia e, nessa condi$*o, tensionam a rela$*o s#eito' o)#eto%F A associa$*o de materiais )rtos prop4e ati(ar a percep$*o e o retorno do s#eito s coisas mesmas% Com o conceito Parangolé e a proposi$*o das capas o parangolés, o grande salto da cria$*o do o)#eto para a proposi$*o (i(encial do corpo é a di.erencia$*o% Como resposta aos condicionamentos impostos pela cltra e pelo sistema da arte e instiga$*o desprograma$*o do s#eito, o parangolé se e.eti(a na dra$*o de sa apropria$*o pelo p+)lico camado a (esti'lo e assisti'lo coleti(amente% /orma, tempo e limites espaciais n*o s*o dados pré(ios, s*o con"istas do processo de a$*o coleti(a% Q#eito e parangolé .ormam m todo centr!.go, "e extra(asa para o exterior, em limites .lidos desenados pela experi2ncia%
'ropicália prop4e mais ma di.erencia$*o ao reali&ar a o)ra como totalidade propositi(a de m estado )rasileiro da arte de (angarda, con.rontadora dos condicionamentos da arte de representa$*o, a "al Oiticica #lga(a alienante% Como ápice de se programa am)iental, 'ropicália sgere a participa$*o do s#eito e a ati(a$*o do corpo como +nica .orma poss!(el de desnatrali&a$*o de á)itos e descoloni&a$*o do imaginário% A a$*o do s#eito torna'se totalidade sensorial, s!gnica e pol!tica% Com (uprassensorial a di.erencia$*o prod&ida é a )sca da dilata$*o das capacidades sensoriais a)itais do s#eito, em dire$*o ao "e camo spra' sensa$*o-% :rescindindo mitas (e&es do o)#eto, prop4e exerc!cios criati(os em "e o "e conta é a simltaneidade da (i(2ncia com a percep$*o do (i(er% >al processo (isa a desco)erta do comportamento indi(idal, mo(endo o s#eito do condicionamento inconsciente% Q#eito e a$*o sprassensorial processam ma meta'(i(2ncia, o)#eto- da proposi$*o art!stica% Otra
di.erencia$*o,
o
desen(ol(imento
do
conceito
de Probjeto é
considerado por /a(aretto o momento de completde da a)ertra estrtral do programa (i(encial de Oiticica 8/a(aretto, 199D 17E;% O o)#eto ampliado em escala, proposi$4es de Ninhos, tendas e camas, é conce)ido como receptáclo de (i(2ncias e comportamentos% O o)#eto n*o é o al(o da participa$*o, mas campo comportamental, espa$o destinado cria$*o coleti(a% Q#eito e :ro)#eto .ormam ma totalidade centr!peta, dirigida a m mago, espa$o interno protegido% Com )pocalipopóteseN tem'se a di.erencia$*o da experi2ncia de mani.esta$*o p+)lica coleti(a, integrada por a$4es de m+ltiplos agentes M artistas e p+)lico M de modo simltneo e descont!no, em diálogo n*o linear% >ática de descentramento e constr$*o de m+ltiplos sentidos .rente a a)itali&a$*o do cotidiano% O s#eito con.igra'se como agente trans.ormador de ma realidade m+ltipla% Éden, mais "e a s!ntese de sa tra#etria, o "e pela primeira impress*o a montagem de di(ersas de sas o)ras no recinto da =itecapel allery deixaria spor, gera m no(o )rotamento% O prprio artista re(ela "e a experi2ncia con.irmo algmas idéias e derr)o otras, indicando'le a meta do "e pensar- e de para onde ir- 8Oiticica, 19E6D 11N;% Com ele .ormla a idéia de *rela+er , o pro la&er'pra&er'.a&er- inerente ao (i(er n*o'programado
e n*o'plane#ado, ao la&er criador acessado em estados de reposo% O (i(er desinteressado, n*o o)#eti(ado, torna'se a sena para o ato criador, dispon!(el a "al"er s#eito sem a media$*o do o)#eto, n*o "e se#a pré(io a este, mas "e deste prescinde% O s#eito na a$*o mesma do (i(er é o ser criador e o prprio o)#eto- da arte%
/igra D :lano e imagens de 3den na =itecapel allery, 1969% Cortesia :ro#eto HO%
Éden n*o é conce)ido como exposi$*o de arte destinada a apresentar a tra#etria de m artista em terra estrangeira o ainda como cenogra.ia extica para am)ientar- o)ras e p+)lico% Gem mesmo como aposto s o)ras o se complemento% 3den é m pro#eto, )rotamento de )rotamentos, patamar extremo
das
re.lex4es
do
artista
na"ele
momento, planejamento
ambiental 8Oiticica, 196E in /igeiredo, 1996D ;D i$*o no se sentido tradicional #á mda, pois de nada signi.ica IexporJ tais pe$as 8seria a! m participa$*o e in(en$*o criati(a do espectador% 8Oiticica, 19E6D 76; A dimens*o de pro#eto em Éden nasce do dese#o de re'.ndar o espa$o da galeria como recinto'participa$*o, espa$o'comportamento, promo(endo a cria$*o de li)erdade no espa$o dentro'determinado- 8Oiticica, 19E6D 1E6;% O
espa$o pro#etado M e desenado em planta M .oi proposto como m exerc!cio para o crela&er e circla$4es-6% Go deseno s*o alocadas algmas de sas proposi$4es, gradientes de re'proposi$*o da rela$*o s#eito'o)#eto M Bólides, Penetráveis, Parangolés, Ninhos M e áreas de circla$*o em pisos de areia e pedra% Rmporta(a antes a proposi$*o da participa$*o coleti(a a)erta "e a delimita$*o de ma .orma r!gida7% Os espa$os de circla$*o, (a&ios dispon!(eis para percrsos di(ersos 8indiciados por setas no deseno; e para a percep$*o 8deri(ada do contato com os materiais e da posi$*o relati(a no espa$o;, apresentam'se simltaneamente como possi)ilidades da apropria$*o li(re do 3den e como prel+dio da experi2ncia das proposi$4es%
A experi2ncia do ser imanente "e é o corpo, do estar das coisas no mndo, so)re(eio a Oiticica por meio do sam)a, o corpo'cria$*o'mo(imento% Qendo o espa$o a condi$*o existencial do corpo, a cria$*o pelo ato corporal tra& consigo a trans.orma$*o do prprio espa$oD
ato corporal, a cont!na trans.orma)ilidade% Te otro lado, porém, re(elo'me o "e camo de e é a"i o gesto da iman2ncia do ato corporal expressi(o, "e se trans.orma sem cessar%
O ato corporal, o mo(imento para além do pro cinetismo, trans.orma o espa$o e trans.orma o corpo e a percep$*o de si% A a$*o art!stica torna'se, por essa (ia, a sensi)ili&a$*o de m campo inters)#eti(o estrtrado por corpos m(eis e estáticosD á(el, "e se estrtra pelo ato do espectador e o estático, "e é tam)ém trans.ormá(el a se 76; A promo$*o da li)erdade no espa$o dentro'determinado- proposta por Hélio Oiticica reali&a a desprograma$*o do s#eito, camado a ma participa$*o a)erta, e do coleti(o, sensi)ili&ado a perce)er sa exist2ncia, por meio da desprograma$*o do espa$o, des.ncionali&ado e re.ndado, e da a$*o art!stica, .lidi.icada no espa$o'tempo da exist2ncia% O espa$o experimental da arte am)iental M como é o 3den M de(eria ser, para ele, con.ormado pela articla$*o de elementos prontos-, áreas de estar "e estrtram ar"itetonicamente caminos e espa$os a percorrer5 de elementos trans.ormá(eis- "e re"erem a participa$*o in(enti(a do espectador 8como a manipla$*o e a incorpora$*o;5 e de elementos para .a&er-, o se#a, materiais (irgens para a constr$*o li(re estimlada pelo prprio estar no am)iente 8Oiticica, 19E6D 76;% Com Éden e com >e senses pointing to?ards a ne? trans.ormation-, Oiticica se op4e de.initi(amente ao sistema da arte como representa$*oD a prod$*o de o)#etos de representa$*o "e re"erem espa$os expositi(os para serem contempladas por m s#eito% Go cerne de sa concep$*o de maniestação ambiental e da incorpora$*o do espa$o (i(encial como matéria primeira, está a constr$*o ar"itetral do espa$o% Assim como o corpo, ser espacial proposto por erlea':onty, a ar"itetra para Oiticica tende a dilir'se no espa$o e incorporá'loD nde a dilir'se no espa$o ao mesmo tempo "e o incorpora como m elemento se% 8Oiticica,
O ar"itetral e o am)iental participam da tra#etria de Oiticica como sentidos estrtrais de sa o)ra e como instncias de re'.nda$*o da arte e do s#eito% A concep$*o de ar"itetra M e o espa$o decorrente "e pro#eta- M extra(asa o sentido art!stico, mas n*o se contém no entendimento restrito do espa$o ar"itetKnico-% Ao contrário, ao repensar o espa$o na arte, é poss!(el a)sor(2' lo como re'proposi$*o de ma ontologia do espa$o em ar"itetra% A ar"itetra como maniestação ambiental Te sa!da, a concep$*o de ar"itetra "e se extrai de Éden é a de @corpo@% Como o corpo em erlea':onty, para Oiticica, a ar"itetra n*o está no espa$o, ela é no espa$o, isto é, ela é con.ormadora de espa$o5 ela di& dele% Como corpo, a ar"itetra é ma totalidade espacial trans.ormá(el% ais "e s)missa a ma .orma r!gida, a ar"itetra de(eria ser m campo estrtrado por elementos m(eis e estáticos, am)os, cada m a se modo, trans.ormá(eis% A dimens*o espacial da ar"itetra torna'se a)erta, .lida e em direta rela$*o com ma dimens*o temporal n*o mais relati(a perman2ncia de ma .orma de.inida em pro#eto, mas s plsa$4es das trans.orma$4es processadas no espa$o pelo contato entre os componentes% Ao espa$o geometri&ado con.ormado por limites claramente esta)elecidos 8representa$*o'o)ser(ador, dentro'.ora;, se contrap4e m espa$o topolgico cont!no con.ormado por gradientes de a)ertras de participa$*o e circla$4es, "e se estrtram mtamente% As (ariadas conex4es poss!(eis entre os gradientes s*o o solo so)re o "al desenam'se malas de experi2ncias% Caráter de la)irinto, am)iente a)erto para o (i(er 8Oiticica, 1969D N;% Como componente ati(o desse campo estrtrado está o ser participante M se corpo M antes na arte denominado espectador e na ar"itetra sário%
a)stra$*o pro#etal% Ta representa$*o- para a presenti.ica$*o-% ai além do espa$o pronto-, pois comp4e'se de elementos trans.ormá(eis- e para .a&er-, gradientes de a)ertra para a continidade processal%
Lygia Clark e o espaço da li!erdade do corpo
Go mesmo ano de 1969, em "e Hélio Oiticica monto Éden e escre(e >e senses pointing to?ards a ne? trans.ormation-, Lygia Clark este(e en(ol(ida com as )r!uiteturas Biológicas, as %struturas .ivas e o texto O corpo é a casa-% A grande a.inidade de Oiticica e Clark "anto spera$*o da arte como representa$*o e necessária in(estida da a$*o art!stica no espa$o da (ida cotidiana M impressas de modos particlares em sas tra#etrias, mas acompanadas por certa sincronia em sas proposi$4es M delineia a constiti$*o de m pensamento de (angarda na arte )rasileira nos anos 1960' 70% A re.ta$*o de ma realidade mediada pela representa$*o prod&ida pela arte e a in(oca$*o da percep$*o imediata da realidade como sendo o)#eto da arte delineia a totalidade da o)ra de Lygia Clark, da "al cada proposi$*o é ma (isada% A estrtra$*o da percep$*o dos .enKmenos montada por erlea' :onty 81990;, a partir da "al toda totalidade é apreendida por per.is é instrmento ade"ado para a descri$*o da concep$*o e das a$4es da artista% Cada proposi$*o sa, desde a a)ertra das pintrasE, processa ma di.erencia$*o da anterior, a "al, por sa (e&, #á contém otra em pot2ncia5 e todas s*o mani.esta$*o imanente de sa concep$*o de a$*o art!stica% isada em per.is, di.erencia$*o, ad(ento e )rotamento 8erlea':onty, 19E; s*o em certo sentido sinKnimos para descri$*o da "alidade de m .enKmeno imanente reter em si o no(o, a transcend2ncia% :ara /erreira llar, a a$*o de Lygia Clark trata'se de ma cora#osa tentati(a de dar na prpria experi2ncia percepti(a a transcend2ncia dessa experi2ncia%- 8llar in Clark, 19E0D E; >al aporte da .enomenologia permite a compreens*o do encadeamento de a$4es, o "e n*o implica em linearidade de pensamento, na tra#etria de Lygia Clark M como a "e desen(ol(e Hélio Oiticica e "e se mani.esta em Éden% A$*oUconcep$*o "e )rota e gera di.erencia$*o em no(as a$4esUconcep$4es de incorpora$*o do gesto do participante e de se espa$o'tempo (i(encial%
Como .rase')rotamento da totalidade de sa in(estiga$*o, Lygia Clark a.irmaD A o)ra 8de arte; de(e exigir ma participa$*o imediata do espectador e ele, espectador, de(e ser #ogado dentro dela%- 8ClarkD 19E0D 16; Clark prop4e, como .ormlo /erreira llar com o não-objeto, s)stitir os )inKmios estan"es artista'criador e espectador'receptor pela proposi$*o de m campo art!stico (i(encial ati(ado pelo ato do participante, no "al s#eito' o)#eto se identi.icam essencialmente- 8Clark, 19E0D ;% >al redeseno do campo em "e artista, p+)lico, a$*o, espa$o e tempo est*o implicados e s*o interdependentes, tra& a impossi)ilidade de "al"er aproxima$*o anal!tica, pois "e os termos est*o sempre entrela$ados% Os nomes con.eridos pela artista, por si, #á re(elam a consci2ncia "e poss!a da matra$*o "e processa(a como ma se"V2ncia de )rotamentos o processo
de
desen(ol(imento
de
m
organismo
(i(o-% /vo 819NE;
e 0nidade 819NE;, pintras de planos "e extra(asam os limites do "adro s*o estágio anterior aos *asulos 819NE;, placas'cor "e oscilam entre o )i e o tridimensional%
e o participante d2 m sentido a se gesto e "e se ato se#a ntrido de m pensamentoD a
A .ri$*o da o)ra como m processo de experi2ncia 8exW.ora, perasWlimite, per!metro;, re"er do participante o colocar'se diante da realidade para além dos limites do conecido o do pré'conce)ido% Pelatando a intera$*o do participante com o Bico 8Clark, 19E0D 17;, a artista di& do primeiro ato "e este n*o tem a (er com o o)#eto, pois "e é carregado de pré'concep$4es 8mo(imento de exterioridade;% O segndo, completamente a)erto a$*o do instante 8mo(imento de interioridade; em sintonia com as rea$4es da estrtra, é capa& de constrir ma no(a rela$*o s#eito'o)#eto, "e se processa no tempo% <, ao mesmo tempo em "e se re.ere a ma estrtra, (ai prod&indo di.erencia$4es5 o "e para erlea':onty 81990; e"i(ale ao ser "e é ele mesmo sendo sempre otros% :edrosa atenta exatamente para a "alidade dos Bichos M "e pode ser estendida a todas as proposi$4es 10 M, de serem sistemas (irtaisD srpreendentes aparecem, e aca)am exarindo a criosidade do espectador antes mesmo de da simetria%
A no$*o de experi2ncia é ainda mais e.eti(a na proposi$*o de *aminhando, no "al o participante é le(ado a encontrar'se com as caracter!sticas de toda a$*o cotidianaD a escola, o impre(is!(el, a trans.orma$*o de ma (irtalidade em m empreendimento concreto- 8Clark, 19E0D N;% O ato do participante, ati(ador deste no(o campo art!stico, "e é a experi2ncia, por sa (e& altera as (ariá(eis tempo e espa$o da o)ra- art!stica para o tempo'espa$o sitado da prpria experi2ncia% Lygia Clark relata "e do *aminhando, a experi2ncia de m tempo sem limite e de m espa$o cont!no- 8Clark, 19E0D 6;, nasceram algmas tentati(as ar"itetrais, como possi)ilidades de liga$4es com o mndo coleti(o, cria$4es de m espa$o'tempo no(o, concreto 8Clark, 19E0D 6;% Xá esta(a claro, pois, "e o tempo em "est*o era o da participa$*o re.lexi(a e a e.emeridade do ato como +nica realidade existencial5 e o espa$o como a"ela por$*o espacial de extens*o do corpo onde se reali&a(am sas a$4es, diretamente (inclado ao tempo destasD o espa$o pertence ao tempo continamente metamor.oseado
pela a$*o- 8Clark, 19E0D ;% :ela a$*o, o tempo se espaciali&a, o espa$o se temporali&a- 8llar in Clark, 19E0D 1;, o "e signi.ica a estrtra$*o de ma totalidade espa$o'tempo concernente experi2ncia% O espa$o gana re.erenciais temporais pela ati(a$*o de por$4es sas em cada momento do processo da experi2ncia5 e o tempo se espala no espa$o, no percrso reali&ado drante o processo% Ao incorporar o espa$o (i(encial do participante a o)ra deixa de estar no espa$o para ser no espa$o% ana "alidade de corpo, no sentido con.erido por erlea':onty 8199D 0N;, pois o espa$o é sa dimens*o ontolgica% O espa$o deixa de ser re.erenciado por sas caracter!sticas geométricas, mas distingVido como m certo entorno onde a a$*o se processa% :ara ário :edrosa o espa$o contemplati(o é s)stit!do pelo espa$o circndante 8:edrosa in Clark, 19E0D 17;%
geométrica, e o segndo, o omeomor.ismo1 de m sistema de rela$4es espaciais% A distin$*o "e marcam "anto posi$*o do corpo no espa$o é essencial para a compreens*o do entendimento "e Lygia Clark constri de ar"itetra% Como possi)ilidade de spera$*o de m espaço continente permanente, "e rece)e o corpo como conte+do 4espaço ar!uitet3nico5, ela in(estiga o espaço-estrutura e.2mero, sempre trans.ormado pela experi2ncia li(re do corpo 8espaço ar!uitetural ;% O corpo, na experi2ncia das )r!uiteturas Biológicas ' como em %struturas .ivas e $ede de %lásticos ', é o n+cleo de ma ar"itetra cellar% Gela, o gesto é o cerne da .orma$*o das céllas5 é o corpo "e se comnica, "e se relaciona com otros con.ormando m tecido cellar, ma ar"itetra (i(a, "e existe en"anto existe a experi2ncia da mani.esta$*o coleti(a% :ara a artista, o a)itar torna'se o e"i(alente do comnicar, o relacionar'se% O corpo e sas potenciais rela$4es é a ca(e do espa$o topolgico, espa$o'estrtra relacional, con.ormado por elementos relacioná(eis e redes de rela$4es%
peri2ncia, se dissol(e% s*o constr!dasS8S;
e se mistra a otro% 8S; 3 o omem "e, penetrando'a, a cria e trans.orma pois desen(ol(e rpora a idéia de a$*o atra(és de sa express*o gesticlar% 8S;
O corpo como casa1F de "e .ala Clark denota a "alidade do corpo, pelo gesto, gerar sa espacialidade% O habitar-comunicar torna'se a$*o criadora do espa$o da exist2ncia% :edrosa 8Clark, 19E0D 1; para se re.erir aos Bichos sa
das idéias (incladas ao espa$o ar"itetral "e podem ser estendidas para as proposi$4es posteriores da artista, como as )r!uiteturas BiológicasD a de má"ina de constrir espa$o- e a de nidade ar"itetKnica-% O processo "e prescinde do o)#eto e con.ere cada (e& mais centralidade ao ato trans.ere para o corpo a condi$*o de estrtra articlada M antes o Bicho% < como tal, o corpo é a di(ersidade de espa$os em pot2ncia% A ar"itetra como espaço ar!uitetural de Lygia Clark retoma a condi$*o existencial do espa$o e a condi$*o espacial da exist2ncia, le(antadas por erlea':onty 8199;% A a$*o existencial'espacial do corpo de relacionar'se com otros corpos é, em si, a constr$*o de m sistema espacial'existencial, de m espa$o topolgico e.2mero, composto por estrtras articladas e em articla$*o% O espaço ar!uitetural , pois, n*o é ma entidade pré'existente, mas ma con"ista no instante mesmo da exist2ncia%
Arte e corpo# u"a $eo"eologia de situações arquiteturais
Gas o)ras de Oiticica e Clark, o "estionamento da condi$*o s#eito'o)#eto é estrtrante de ma otra rela$*o artista'o)ra'espectador% A proposi$*o de instrmentos para a participa$*o n*o'programada do p+)lico (isa potenciali&ar a re'inagra$*o dos sentidos% Gos percrsos dos dois artistas as experi2ncias ar"itetrais n*o marcam m in!cio a partir do "al processariam a desmateriali&a$*o do o)#eto em dire$*o a in(estiga$*o das a$4es cotidianas% al tra#eto, em dire$*o ar"itetra s se e.eti(o pela reconsidera$*o ontolgica da prpria ar"itetra, como entrecr&amento de rela$4es espaciais e (i(enciais geradas pelo corpo ati(o, a contrapelo da rei.ica$*o do o)#eto ar"itetKnico% Qe s*o e(identes as concordncias de posi$4es .rente ao sistema da arte (igente e as similaridades das tra#etrias percorridas, o s*o tam)ém os caracteres extremamente pessoais "e imprimiram em sas mani.esta$4es% O "e n*o signi.ica a arte como express*o indi(idal do artista M o "e re.ta(am M mas decorrente da intensa retroalimenta$*o entre arte e (ida "e processaram% Qe para o programa ambiental de Hélio Oiticica .oram decisi(os
se contato com a angeira, o sam)a e a .a(ela, para as proposiç#es vivenciais de Lygia, o s*o se interesse pela psicologia e a pedagogia, o "e, de antem*o, con.ere s sas a$4es en.o"es distintos em rela$*o ao corpo% Qe Oiticica e Lygia Clark n*o reali&am ma arte corporal, mas a 6descoberta do corpo mesmo, não a do corpo como suporte7 8Oiticica, 19E0 apd /a(aretto, 199D 1E;, Oiticica imprime m en.o"e da percep$*o do corpo por sa M cada (e& mais M extro(ers*o e Clark, ao contrário, da percep$*o do corpo por sa M cada (e& mais M introversão%
ar"itetKnica como contentor representati(o para a .orma como campo estrtral de a$4es inters)#eti(as5 e o entendimento do espa$o como espa$o espaciali&ado em "e as rela$4es .oram instit!das e geometri&adas para o espaço espaciali+ante, em "e as rela$4es est*o ati(amente em constr$*o% A considera$*o do corpo e de sas a$4es como estrtrantes do espa$o ar"itetral aproxima a ar"itetra da no$*o de sita$*o e o pro#eto de ma proposi$*o sitacional% G*o se trata da (incla$*o s experi2ncias art!sticas de site speci.icity, pois "e nestas é a o)ra "e está sitada em lgar espec!.ico, e n*o remete ar"itetra sitada, em "e a .orma e os materiais s*o representati(os do arca)o$o cltral do lgar M como de.ini [ennet /rampton, o regionalismo cr!tico, em Histria Cr!tica da Ar"itetra oderna 8artins /ontes, 1997;% Ga sita$*o ar"itetral de Oiticica e Clark as a$4es é "e s*o sitadas em m contexto pessoal e coleti(o em "e o espa$o e o tempo
s*o
sas
(ariá(eis
constitti(as%
A sita$*o
ar"itetral
é
constantemente estrtrada pela experi2ncia (i(encial de m tempo e de m lgar, tendo em si como pot2ncia otras sita$4es% 3 a dilata$*o do ser no mndo, extens*o do corpo o, tomando erlea':onty 8199;, (olminosidade%
ma (ers*o deste texto .oi apresentada no R Qeminário Arte e Cidade 8sess*o temática Arte e Cenário :+)lico;, ni(ersidade /ederal da Baia, Qal(ador, em maio de 006%
Ta(id Qperling é pro.essor do Tepartamento de Ar"itetra e r)anismo da <
Ta(id Qperling, @Corpo ] Arte W Ar"itetra% As proposi$4es de Hélio Oiticica e Lygia Clark,@ (oltos8 caminhos na pes!uisa sobre 9élio /iticica 8org%; :ala Braga, edi$*o especial da Permanente 8???%.ormpermanente%org; 8ed%; artin rossmann%
p)lica$4es
on'line,
por
.a(or
acrescente
tam)ém
para ???%.ormpermanente%orgUpainelUcoletnea^o &e$er'cias (i!liogr)$icas
Brett, %, 81969;% 9élio /iticica% LondresD =itecapel allery% Brito, P%, 81999;% Neoconcretismo .értice e ruptura do projeto construtivo brasileiro% Q*o :aloD Cosac _ Gai.y, % ed% 81%edD 19EN;% Clark, L%, 819E0;% ;extos de /erreira llar, ário :edrosa e Lygia Clark% Pio de XaneiroD /narte% ^^^^^^^, 8199;% Gostalgia o. te Body-% /ctober , n%69, pp%E'109% /a(aretto, C%, 8199;% ) invenção de 9élio /iticica% Q*o :aloD tos (elecionados% >rad$*o de % Q% Ca!5 G% A% Agilar5 :% Q% oraes% Q*o :aloD A)ril Cltral% Cole$*o Os :ensadores-% ^^^^^^^^^^^^^^,81990;% / Primado da Percepção e suas conse!?@ncias ilosóicas% >rad$*o de C% arcondes César% CampinasD :apirs% ^^^^^^^^^^^^^^, 8199;% :enomenologia da Percepção% >rad$*o de C% A% P% de ora% Q*o :aloD artins /ontes% Oiticica /o%, C% 800F;% 9élio /iticica8 cor, imagem, poética% Pio de XaneiroD Centro de Arte Hélio Oiticica% Oiticica, H%, 81969;% @>e Qenses :ointing >o?ards a Ge? >rans.ormation@% 8U1U1969;% :rograma HO% `tom)o 0E6U69% ^^^^^^^^^, 819E6;% )spiro ao grande labirinto% Pio de XaneiroD Pocco% 8199;% 9élio /iticica% :arisD alerie Xa de :ame% 8catálogo da exposi$*o Hélio Oiticica no =itte de =it, Center .or Contemporary Art, Potterdam, 1995 na alerie Gationale Xa de :ame, :aris, 1995 na /ndaci Antoni >pies, Barcelona, 1995 no Centro de Arte oderna da /nda$*o Caloste l)enkian, Lis)oa, 199F5 no =alker Art Center, inneapolis, 199F'9;
1 8S; a pala(ra IexperimentalJ é apropriada, n*o para ser entendida como descriti(a de m ato a ser #lgado posteriormente em termos de scesso e .racasso, mas como m ato c#o resltado é desconecido%- 8Oiticica,197 apd /a(aretto, 199D 1;%
O termo tili&ado a"i sege o sentido proposto por erlea':onty, para "em cada a$*o tra& em)tida em si no(idades o, ainda, cada a$*o é ad(ento de otras "e t2m potencialmente em si% 8erlea':onty, 19E; F A di(erg2ncia do conceito de trans-objeto de Oiticica em rela$*o ao de read
a)sor(e, trans.orma e de(ol(e o espa$o, incessantemente%- 8llar in Clark, 19E0D 7'E; 11 A ar"itetra como espaço ar!uitet3nico #á se re.letia em sas pintras pela desco)erta do "e denomino de lina orgnica- M lina de encontro de sper.!cies na ar"itetra, como a lina de do)radi$a de ma porta o a interse$*o de paredes% 8Clark, 19E0D 1F; M "e estrtra(a a constr$*o das sper.!cies nos "adros-% 1
8Tisserta$*o de mestrado;% Tispon!(el na !ntegra emD ttpDUU???%teses%sp%)rU 1F m ano antes, em 196E, a artista reali&o ) casa é o corpo% A experi2ncia consisti na constr$*o de m espa$o'la)irinto de oito metros de comprimento para criar a experi2ncia do 8re;nascimento%