Comentários Sobre a Literatura Em Perigo Todorov

 A Literatura Em Perigo é O Título De Um Dos Mais Recentes Livros De Tzvetan To Todorov. dorov. Bastante conecido entre críticos! "es#uisadores e alunos dos cursos de letras! Tzvetan Todorov é autor de livros te$ricos de literatura considerados leitura o%rigat$ria. Por e&em"lo' (ntrodu)*o + literatura ,ant-stica! "u%licado em /01. La littérature en "éril! Paris! 2110! em "ortugu3s' A literatura em "erigo é o título de um dos mais recentes livros deste escritor! istoriador e ensaísta %4lgaro! #ue vive na 5ran)a desde /67. 8onstituído "or oito "artes! res"ectivamente' 9 (ntrodu)*o: 2 9 A literatura reduzida ao a%surdo: 7 9 Além da escola: ; 9 : ? 9 Uma comunica)*o inesgot-vel! nelas Todorov comenta as"ectos da literatura desde a renascen)a aos nossos dias! real)ando verdades e %uscas de cada é"oca mencionada. Mas em todas o ensaísta dei&a "erce%er sua grande "reocu"a)*o "ela maneira como vem sendo construída a delicada rela)*o leitor@te&to liter-rio. 8a%e! "ois! dizer #ue o livro A literatura em "erigo é tam%ém o desa%a,o deste escritor #ue acredita no "oder umanístico da literatura e a ele assim se re,ere' re,er e' A literatura "ode nos estender a m*o #uando estamo estamoss "ro,u "ro,undame ndamente nte de"ri de"rimidos! midos! nos conduz conduzir  ir  em dire)*o dos outros seres umanos + nossa volta! nos ,azer com"reender melor o mundo e nos audar a viver. ...C e se! agora! eu me "ergunto so%re o motivo do meu amor "ela literatura! res"ondo "rontamente' a literatura me auda a viver.
resenha

A literatura em perigo Emmanuel Santiago

TODORO! Tzvetan. A literatura em perigo. Tradu)*o 8aio Meira. Rio de aneiro' D(5EL! 211/.  A literatura em perigo ! de Todorov! de,ende uma tese #ue

"ode assustar +#ueles #ue se a%ituaram a en&ergar o autor como um dos "rinci"ais re"resentantes do estruturalismo! método #ue! nos estudos liter-rios! %aseia9se numa an-lise estritamente imanente! sem a considera)*o de ,atores e&ternosN ao o%eto liter-rio. A i"$tese #ue Todorov a"resenta em tal livro é #ue a literatura est- "erdendo seu es"a)o na sociedade atual "or#ue n*o consegue mais em"restar  sentido + e&"eri3ncia "essoal de seus leitores! tanto "ela "rodu)*o liter-ria em si! orientada segundo tr3s tend3ncias "rinci"ais' o ,ormalismo! o niilismo e o soli"sismo! #uanto "or um ensino e#uivocado da literatura. Este segundo "onto "arece9me o #ue de mais "recioso o livro tem a o,erecer! e acredito #ue todos a#ueles #ue se "reocu"am com a #uest*o do ensino de literatura nos anos do ensino %-sico! ou melor' com o "a"el da literatura na ,orma)*o intelectual do indivíduo! deveria ler esse "e#ueno livro! de /6 "-ginas. Basicamente! o argumento de Todorov é #ue o #ue se ensina oe nas escolas é um misto de istoriogra,ia e teoria liter-rias! su%stituindo o contato direto com as o%ras e se desviando da#uilo o #ue seria o ,undamental' o estudo do sentido das o%ras! seu conte4do semntico. Ao invés de e&igir dos alunos #ue a"reendam o signi,icado da o%ra! o #ue les "ermitiria relacion-9la com o mundo a seu redor! e&ige9se deles #ue sai%am o"erar com categorias analíticas e istoriogr-,icas! das #uais a o%ra liter-ria seria a"enas mera ilustra)*o. O e#uívoco é evidente' estamos tentando ,ormar críticos liter-rios antes mesmo de ,orm-9los como leitores. Entretanto! o "rimeiro "onto! o da "rodu)*o liter-ria! rece%e! a meu ver! um tratamento "ro%lem-tico em diversos "ontos. amos a eles. Todorov a,irma #ue a literatura contem"ornea se a"resenta em tr3s vertentes #ue! cada uma a sua maneira! recusam o mundo em

#ue vivemos! im"edindo uma maior ,amiliariza)*o do leitor com a o%ra liter-ria. Tais vertentes seriam o formalismo! cuas o%ras cultivam a constru)*o engenosa! os "rocessos mecnicos de engendramento do te&to! as simetrias! os ecos e os "e#uenos sinais c4m"licesN ". ;2C: o niilismo! segundo o #ual os omens s*o "erversos! as destrui)es e as ,ormas de viol3ncia dizem a verdade da condi)*o umana! e a vida é o advento de um desastreN idemC: e o solipsismo! #ue leva o autor a descrever detaladamente suas menores emo)es! suas mais insigni,icantes e&"eri3ncias se&uais! suas reminisc3ncias mais ,4teisN ". ;7C. Para continuar citando! eis a conclus*o do autor' a cada vez mais! mas a "artir de modalidades di,erentes! é o mundo e&terior! o mundo comum a mim e aos outros! #ue é negado e de"reciadoN ". ;;C. eria esse o motivo "elo #ual os leitores atuais est*o se a,astando da dita alta literaturaN. <*o "osso dei&ar de dar raz*o a essa conclus*o! "ois! certamente! a literatura tem se tornado cada vez mais di,ícil "ara o leitor n*o es"ecializado.
engendramento! mas colocar a "re"onderncia da segunda so%re a "rimeira recai no mesmo erro identi,icado "elo autor no ensino de literatura nas escolas' a arte a"arece como mera concretiza)*o de categorias críticas e te$ricas. Mais dialético seria su"or #ue um mesmo su%strato ist$rico e social "ermitiu + arte e + teoria desenvolverem um conunto an-logo de "ro%lemas! mas a,irmar o "oder de determina)*o de um sistema e&"licativo so%re o o%eto #ue se "rocura e&"licar é colocar a carro)a na ,rente dos %ois. Logo em seguida! Todorov es%o)a outra e&"lica)*o com"lementar! in,elizmente n*o desenvolvida! #ue "ermitiria alguma "ro%lematiza)*o de suas concluses. Todorov relaciona a autonomiza)*o da arte com a "erda de sua antiga re"resentatividade "4%lica! sea ela eclesi-stica ou cortes*. Livre das antigas o%riga)es #ue le im"unam as estruturas do mecenato! a arte! agora su%metida +s leis de um mercado emergente! "assa a res"onder +s necessidades de um novo "4%lico! o %urgu3s! cua e&"eri3ncia social se constitui a "artir do m%ito "rivado' O artista deixa progressivamente de produzir suas obras mediante a encomenda de um mecenas, destinando-se então ao público que as adquire: é o público quem passa a ter as chaves de seu sucesso O que estava reservado a poucos torna-se acess!vel a todos" o que estava submetido a uma hierarquia r!gida, a da #gre$a e do poder civil, p%e em pé de igualdade todos os seus consumidores O esp!rito das &uzes é o da autonomia do indiv!duo" a arte que conquista sua autonomia participa do mesmo movimento 'e o artista se torna a encarna(ão do indiv!duo livre, sua obra também vai se emancipar ". =7C

 Aos "oucos vai ,icando claro #ue o "ro%lema n*o é a autonomia em si! mas o modo como essa autonomia "assa a ser em"regada a "artir de um dado momento! uma vez #ue! como Todorov demonstra nos ca"ítulos seguintes! mesmo os "ro"ositores de uma arte autossu,iciente "reocu"aram9se em manter um t3nue e#uilí%rio entre autonomia estética e conecimento! "rocurando conce%er o estético como um ti"o de conecimento es"ecí,ico e di,erenciado so%re o mundo. A ru"tura se daria! segundo ele! no come)o do século SS! so% o im"acto das ideias de
em entrar na "ol3mica #uanto + rela)*o das vanguardas com a vidaN! vemos #ue Todorov distingue entre autonomia estética e esteticismo! entre uma arte socialmente emanci"ada e uma arte centrada em si mesmo. egundo Peter BVrger em )eoria da vanguarda! a autonomia descreve a situa)*o da arte na sociedade %urguesa! mas n*o circunscreve necessariamente seu conte4do: teríamos esteticismo a"enas a "artir do momento em #ue a arte se trans,orma em conte4do de si mesmaN2.
8omo o o%etivo desta resena n*o é tra)ar um "anorama do desenvolvimento da literatura na sociedade %urguesa! %asta destacar  #ue o soli"sismo diagnosticado "or Todorov na literatura contem"ornea res"onde a um "rocesso ist$rico9social com"le&o! relacionado ao acirramento do individualismo em nossa sociedade. Do mesmo modo! o ,ormalismo "oderia ser e&"licado "ela crescente es"ecializa)*o do sa%er! relacionado com o desenvolvimento da ci3ncia moderna e do ca"italismo industrial! #ue instaurou uma divis*o do tra%alo intelectual institucionalmente organizada. O niilismo! "or  sua vez! "ode ser o resultado de uma ,rustra)*o ist$rica causada "elo "rogresso técnico e material da civiliza)*o ocidental! #ue! além de n*o realizar as maravilas #ue "rometia! ainda teve os desdo%ramentos ne,astos #ue todos conecemos.  Ao longo deste "ercurso "retendi mostrar #ue o ,enQmeno a%ordado "or Todorov é um tanto mais com"le&o do #ue sua an-lise ,az crer! e #ue! se oe a literatura mais so,isticada est- em "erigo! a res"onsa%ilidade n*o é a"enas dos intelectuais e dos escritores! devendo ser "artilada tam%ém com um "4%lico leitor cada vez mais indolente! condicionado "ela ind4stria cultural. O esteticismo n*o "ode ser "ensado sem se considerar o isolamento #ue a literatura! como atividade a "rincí"io n*o "rodutiva economicamente ,alandoC! e&"erimenta na sociedade atual  o esteticismo é! em certo sentido! uma rea)*o + total redu)*o da o%ra liter-ria a sua condi)*o de mercadoria no sistema ca"italista.  A crise da literatura! "ortanto! deve ser entendida dentro de um conte&to ist$rico mais am"lo! s$ assim "oderemos salv-9laN! se é #ue ela "recise ser salva ser- #ue! voando a%ai&o do radar! ela n*o estar- mais segura>C! e se é #ue talvez n*o sea "re,erível "erd39la a salv-9la ao "re)o da com"le&idade ad#uirida ao longo de seu "rocesso de desenvolvimento. O #ue me leva ao 4ltimo "onto. Todorov mostrou9se! ao longo de seu "e#ueno livro! com"rometido com uma conce")*o estrita de realismo #ue! logo de saída! im"ede a com"reens*o da literatura moderna e de seus desdo%ramentos! sendo #ue nas suas categorias de ,ormalismo! niilismo e soli"sismo se enreda muito do #ue de melor o século SS "roduziu' Proust! oKce! irgínia Wool,! Xa,Ya! BecYett! Borges etc.! autores #ue em sua nega)*o da realidade e&terior na verdade! uma nega)*o da realidade em seu as"ecto a"arenteC muitas vezes atingiram as"ectos mais "ro,undos do real do #ue se tivessem cedido a um realismo con,ormista e ing3nuo! o #ue certamente corres"onderia melor +s e&"ectativas de rece")*o do "4%lico médio. <*o dei&a de ser irQnico #ue em muitos "ontos Todorov convira com LuY-cs! "rinci"al re"resentante da#uela ortodo&ia mar&ista #ue o levou na uventude a se entrinceirar nas ,ileiras estruturalistas6.

Em tem"o! vale lem%rar #ue o livro n*o se destina a"enas ao "4%lico acad3mico! e sim a uma divulga)*o mais am"la! ao #ue "odem ser atri%uídos a es#uematiza)*o um tanto did-tica de alguns "ontos e o n*o desdo%ramento de alguns argumentos #ue ,icam a"enas sugeridos. Referências bibliográficas

BZRFER! Peter. Teoria da vanguarda. Tradu)*o osé Pedro Antunes. *o Paulo' 8osac
Emmanuel Santiago! mestre em Teoria Liter-ria e Literatura 8om"arada "ela Universidade de

*o Paulo UPC e ,ormado em Letras "ela Universidade 5ederal de Ouro Preto U5OPC! com Bacarelado em Estudos Liter-rios. e9mail' emmsantiago]Kaoo.com.%r 

 Para uma vis*o di,erenciada so%re o assunto! segundo a #ual as vanguardas seriam uma tentativa de reintegrar a arte + pr*xis vital! mas sem transigir no #ue se re,ere + autonomia estética! c,. BZRFER! Peter. )eoria da vanguarda. Tradu)*o osé Pedro Antunes. *o Paulo' 8osac
Literatura em Perigo Aut oreObr a

Tzvet anTodor ovéum fil ósof obúl gar or adi cadonaFr ançadesde1963.Escr eveudi ver sosl i vr os sobr et eor i al i t er ár i a,hi st ór i adopensament oet eor i adacul t ur a.Éum cr í t i codaf or macomoa l i t er at ur aéensi nadanasescol asf r ancesas,especi al ment enoscur sosmédi os. Br ev eResumo

Li t er at ur aem Per i gopodeserconsi der adoum l ongoensai oem queTodor ovcr i t i caosr umos queal i t er at uaassumi unamoder ni dade,r eflet i ndonapr ópr i af or macomoéensi nadanas escol as.Deumai mi t açãodar eal i dade,i déi acar aaoscl ássi cos,passouaadvogarumaf al sa aut onomi adaver dade,consol i dandosenopensament odaar t epel aar t e.Par ael e,ost r ês mai or esi ni mi gosdav er dadei r al i t er at uas ãoof or mal i s mo,oni i l i s moeos ol i ps i s mo.De poder osoi nst r ument opar adescober t adar eal i dadedascoi sasat r avésdoest udodesuas possi bi l i dades,t or nouseumamer adi st r ação,especi al ment edascl assesl et r adasque seduzi dapel asf or masi nt er nasdaar t edei xam deenxer garomundoquedever i ar epr esent ar . Pr i nci pai si déi as •

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Al i t er at ur apr opor ci onasensaçõesquef azem omundor ealmai spl enodesent i doe mai sbel o.Mai squeumadi st r ação,per mi t equecadaum r espondamel horàsuacondi çãode serhumano. Asescol asset or nar am l ugar esondenãoseensi nam mai sosi gni ficadoeoquet r at a asobr asl i t er ár i asesi m dast eor i asl i t er ár i as.Osconcei t osabst r at os,f or j adospel acrí t i ca,se t or nam mai si mpor t ant esqueaobr aem si ,seusent i doeomundoqueenvoca. Of or mal i smo,umacr i açãodoest r ut ul ar i smo,col ocasecomocent r odacr i ação l i t er ár i a.O usodal i nguagem,osmar abal i smoscom aest r ut ur adanar r at i va,t or nar amsemai s i mpor t ant edoqueost emasqueasobr ast r at am. O ni i l i smocr i ouumanovavi sãodomundo,conf undi ndosecom or eal i smo,ondenão apenasmost r aseoserhumanonoquet em depi or ,massónoquet em depi or .O r esul t ado sãoobr asem quet odososper sonagenssãocor r ut posecépt i cos,dei xandodeseruma r epr esent açãodoquesevênomundor eal . O sol i psi smoconcent r out odoof ocodanar r at i vonopr ópr i oaut ordashi st ór i as,que passam aenxer garomundoapar t i rdeseupont odevi st aqueset or naaúni car epr esent ação dar eal i dadepossí velaol ei t or . Todor ovdef endeat eor i acl ássi cadapoesi a,queest abel ecequeexi st eumar el açãodo mundoext er i orcom aar t e,queseuval orest ánaobt ençãodaver dade,queset r aduzem bel eza.O bel oconf undesecom aver dade. Or ompi ment ocom ocl assi ssi mosedeuapar t i rdedoi spont osdamoder ni dade: ai déi adoar t i st acr i ador ,si mul andoum Deuscr i ador ,capazdecr i arobr as f echadasem simesmas,um uni ver sopar t i cul ar . adi f er enci açãodabel ezaedaver dade.Aobr adear t edest i nar sei aapenas par apr oduzi robel o,l i ber t andosedai déi adeexi st ênci adeumaver dade. Aver dadepodeseracessadai gual ment eporfil ósof os( ouci ent i st as)epoet as. Enquant oospr i mei r osconcent r amsenoabst r at o,nouni ver sal ,ospoet asdedi camseao par t i cul ar .Cabeaol ei t orchegaraoabst r at oapar t i rdahi st ór i aquel hef oiapr esent ada.

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Sur geum abi smoent r eal i t er at ur ademassa,queconect asecom ar eal i dadei medi at a dosl ei t or es,eal i t er at ur adeel i t e,quebasei aseem pr oezast écni cas,t ãodoagr adode l ei t or escomopr of essor es,crí t i cosl i t er ár i oseout r osaut or es. Concl usão

Todor ovr ef or çaai déi adequeexi st eumai deol ogi adomi nant enal i t er at ur a,enaar t e,at ual baseadanot r i nômi of or mal i smoni i l i smosol i psi smo.Al i t er at ur at em opoderdeseconst i t ui rem um i nst r ument odeconsol açãoecompr eensãodomundo,t r ansf or mandool ei t orapar t i rde dent r o.Exi st eumadi st i nçãoent r eol ei t orcomum,quebuscanal i t er at ur aal goquedêsent i doa suasvi daseoscr í t i coseacadêmi cos,queacr edi t am queal i t er at ur asót r at adesimesma. I mpõesehoj eanecessi dadedal i t er at ur asel i ber t ardeumaf al sai déi adei ndependênci ae ent enderqueseuval orest áem suaconexãocom omundor eal .Lerecompr eenderum l i vr oé ent enderoserhumano.

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Fichamento: TODOROV, Tzvetan. A literatura em perigo. Rio de Janeiro: DF!L, "##$. Apresentação à edição brasileira O fenômeno formalista impregnou o campo da teoria lite rária, assim como as produções acadêmicas relacionadas às ciências sociais. Apesar de ser considerado um dos principais expoentes de tal corrente, T!etan Todoro! modela sua argumentação ao redor da cr"tica à empregabilidade de tal modelo. O estruturalismo, #uando se apresenta radical e exclusi!o, $afasta a obra literária de toda relação poss"!el #ue ela possa ter com o mundo, com o real, com a !ida% &TO'O(O), página *+. Tentase a captação da !erdade intr"nseca do texto como um mundo à parte, buscandose alcançar a maior imanência poss"!el da obra. -ara Todoro!, o perigo #ue o/e ronda a literatura 0 $o de não ter poder algum, o de não participar da formação cultural do indi!"duo, do cidadão% &TO'O(O), página *+. 1sto #uer dier #ue não faltam aos estudantes de letras, por exemplo, capacidade intelectual ou esp"rito cr"tico, faltales atribuir à literatura um significado mais amplo, tal!e irredut"!el à dissecação estruturalista, onde a literatura fa parte tanto da formação intelectual #uanto tamb0m afeti!a. 2omo di 2aio 3eira, $o contato maior #ue #ual#uer aluno do ensino m0dio tem com o texto literário de fato se dá se/a nas abonações e exemplos #ue auxiliam na compreensão das regras e formações da l"ngua portuguesa, se/a nas pr4prias aulas de literatura, #ue se resumem principalmente ao ensino da ist4ria e dos gêneros literários% &TO'O(O), página 5+ A principal problemática #ue Todoro! apresenta 0 como a literatura tem sido apresentada aos /o!ens, desde a escola primária at0 a faculdade. O estudante não entraria em contato com os textos diretamente, a!eria uma in!ersão, faendo com #ue ti!esse contato primeiramente com alguma forma de cr"tica, de teoria ou de ist4ria literária, o #ue caracteriaria o acesso á literatura como algo disciplinar e institucional. Todoro! em nenum momento nega a contribuição estruturalista, apenas renegaa ao seu de!ido espaço. $Ou se/a, o #ue Todoro! rei!indica 0 #ue o texto literário !olte a ocupar o centro e não a periferia do processo educacional &e, por conseguinte, na nossa formação como cidadãos+, em especial nos cursos de literatura% &TO'O(O), página 66+. 7iteratura como algo, antes de tudo, social, e #ue tudo se/a lido e discutido por gosto e interesse antes de ser classificado ou periodiado. -r4logo

)enerar a leitura possibilita adentrar no uni!erso dos escritores, se/am eles clássicos ou contempor8neos. O estudo das ciências umanas se mostra imparcial #uando d ominado por alguma ideologia &o ideal socialista, por exemplo+. 'e!ese tratar os ob/etos sem nenum cerne ideol4gico, mas não limitarse a analisar um texto simplesmente a partir de sua materialidade, seus recursos ling9"sticos, pois isso limitarseia a uma simples análise de t0cnica literária. :uando mudouse para a -aris por moti!os de estudos, e em contato com (oland ;artes, professor da ?>6+. A partir de então, a influência da democracia pluralista francesa mostrouse predominante sobre o totalitarismo b@lgaro a #ue esta!a acostumado. 2omo ele mesmo di $minas escolas de abordagem da literatura o pensamento e os !alores contidos em cada obra não se !iam mais aprisionadas numa coleira ideol4gica preestabelecidaB não a!ia mais raões para pôlos de lado e ignorálos. As causas de meu interesse exclusi!o pela mat0ria !erbal dos textos a!iam desaparecido. 'e meados dos anos C? em diante, perdi o interesse pelos m0todos de análise literária e passei a me dedicar à análise em si, isto 0, aos encontros com os autores. A partir da", meu amor pela literatura não se !ia mais limitado à educação recebida em meu pa"s totalitário. 'e imediato, ti!e #ue procurar dominar no!as ferramentas de trabaloB senti necessidade de me familiariar com elementos e conceitos da psicologia, da antropologia e da ist4ria. Dma !e #ue as id0ias dos autores recupera!am todas as suas forças, #uis, para melor compreendê los, mergular na ist4ria do pensamento #ue concerne ao omem e suas sociedades, na filosofia moral e pol"tica. Eendo assim, o pr4prio ob/eto desse trabalo de conecimento se ampliou. A literatura não nasce no !aio, mas no centro de um con/unto de discursos !i!os, compartilando com eles numerosas caracter"sticasB não 0 por acaso #ue, ao longo da ist4ria, suas fronteiras foram inconstantes. Eentime atra"do por essas formas di!ersas de expressão, não em detrimento da literatura, mas ao lado dela% &TO'O(O), páginas >6>>+. $=o/e, se me pergunto por #ue amo a literatura, a resposta #ue me !em espontaneamente à cabeça 0 por#ue ela me a/uda a !i!er. &...+ A literatura amplia o nosso uni!erso, incitanos a imaginar outras maneiras de concebêlo e organiálo. &...+ A literatura abre ao infinito essa possibilidade de interação com os outros e, por isso, nos enri#uece infinitamente. Fla nos proporciona sensações insubstitu"!eis #ue faem o mundo real se tornar mais pleno de sentido e mais belo. 7onge de ser um simples entretenimento, uma distração reser!ada às pessoas educadas, ela permite #ue cada um responda melor à sua !ocação de ser umano% &TO'O(O), páginas >G>H+. 'esta maneira, o autor destaca a possibilidade de a literatura ser pass"!el de uma utiliação sub/eti!a, para a formação indi!idual de cada indi!"duo como tal. A literatura reduida ao absurdo Ao analisar a literatura ensinada nos col0gios, Todoro! e!idencia o papel contro!erso #ue a mesma ad#uire. 2ompreende #ue os estudos literários, primeiramente, têm como ob/eti!o de nos faer conecer os instrumentos do #uais se ser!em. $7er poemas e romances não condu à reflexão sobre a condição umana, sobre o indi!"duo e a sociedade, o amor e o 4dio, a alegria e o desespero, mas sobre as noções cr"ticas, tradicionais ou modernas. Ia escola não aprendemos acerca do #ue falam as obras, mas sim do #ue falam os cr"ticos. &...+ O ensinar uma disciplina, a ênfase de!e recair sobre a disciplina em si ou sobre seu ob/etoJ% &TO'O(O), página >C+. O pleno sentido do estudo literário, segundo o autor, 0 a obra em sua essência. $Todos esses ob/etos de conecimento são construções ab stratas, conceitos for/ados pela análise literária, a fim de abordar as obrasB nenum di respeito ao #ue falam as obras em si, seu sentido, o mundo #ue elas e!ocam. Fm sua aula, na maior parte do tempo, o professor de literatura não pode se resumir a ensinar, como le pedem as instruções oficiais, os gêneros e

os registros, as modalidades de significação e os efeitos da argumentação, a metáfora e a meton"mia, a focaliação interna e externa etc% &TO'O(O), página >*+. Iotase sua intenção em um estudo da literatura capa de conduir a um ob/eto exterior &o mundo+, em contraposição a busca da construção arcaica da disciplina. As teorias a respeito das obras sobrepõemse à abordagem da pr4pria obra. Todoro! não tira a import8ncia da análise estruturalista, apenas colocaa em seu de!ido lugar. $-ode ser @til ao aluno aprender os fatos da ist4ria literária ou alguns princ"pios resultantes da análise estrutural. Fntretanto, em nenum caso o estudo desses meios de acesso pode substituir o sentido da obra, #ue 0 o seu fim. -ara erguer um pr0dio 0 necessária a montagem de andaimes, mas não se de!e substituir o primeiro pelos segundos. &...+ As ino!ações traidas pela abordagem estrutural &...+ são bem!indas com a condição de manter sua função de instrumentos, em lugar de se tornarem seu ob/eti!o pr4prio. &...+ Os ganos da análise estrutur al, ao lado de outros, podem a/udar a compreender melor o sentido de uma obra. < preciso ir al0m. Ião apenas estudamos mal o sentido de um texto se nos atemos a uma abordagem interna estrita, en#uanto as obras existem dentro e em diálogo com um contextoB não apenas os meios não de!em se tornar o fim, nem a t0cnica nos de!e faer es#uecer o ob/eti!o do exerc"cio% &TO'O(O), páginas G6 G>+. Antes de tudo, lêse a literatura por praer, buscando a realiação pessoal e um maior ordenamento e compreensão do omem e do mundo em si. < isso #ue gera o amor à mesma. Fntendido isto, somase o uso de estruturas #ue auxiliem &e não ditem+ sua análise. $O conecimento da literatura não 0 um fim em si, mas uma das !ias r0gias #ue conduem à realiação pessoal de cada um% &TO'O(O), página GG+. Al0m da escola O ensino nas escolas nada mais 0 #ue um reflexo do mesmo nas uni!ersidades, conclui o autor. Fsta tendência ad!0m desde os anos de 65K?L65C?, sob a bandeira estruturalista. -rincipalmente na Mrança, a explicação do texto era calcada a partir de um contexto ist4rico e nacional. $Antes de se interrogarem longamente sobre o sentido das obras, os doutorandos prepara!am um in!entário exausti!o acerca de tudo #ue as cerca!a biografia do autor, prot4tipos poss"!eis das personagens, !ariantes da obra, al0m das reações pro!ocadas por ela em seu tempo. &...+ A meu !er, tanto o/e #uanto na#uela 0poca, a abordagem interna &estudo das relações dos elementos da obra entre si+ de!ia completar a abordagem externa &estudo do contexto ist4rico, ideol4gico, est0tico+. O aumento da precisão dos instrumentos de análise permitia estudos mais agudos e rigorososB o ob/eti!o @ltimo, por0m, permanecia a compreensão do sentido das obras% &TO'O(O), página GK+. Fm outro estudo seu, antecedente a este li!ro, T!etan Todoro! di #ue $a des!antagem desse tipo de trabalo 0, digamos, sua mod0stia, o fato de não ir longe o suficiente, não passando de um estudo preliminar, #ue consiste precisamente em constatar e identificar as categorias em /ogo no texto literário, e não a nos falar do sentido do texto% . 'epois de maio de 65K* as estruturas uni!ersitárias e as ierar#uias at0 então existentes modificaramse profundamente, no entanto, não ou!e u m e#uil"brio, rumandose assim ao extremo oposto passouse a pre!alecer as abordagens internas e as categorias da teoria literária &embora esta mutação não possa ser considerada causa exclusi!a da influência do estruturalismo+. At0 este momento, !aloria!ase o estudo das causas sociais #ue conduissem o surgimento da obra, as forças &sociais, pol"ticas, ideol4gicas, entre outras+ #ue direcionassem o texto literário, inclusi!e seu impacto no p@blico. $A preferência, assim, era concedida à inserção da obra literária numa cadeia causal. &...+ Fsse estudo era criticado por nunca poder se tornar cient"fico o bastante, sendo então abandonado a outros comentadores, des!aloriados, a escritores ou a cr"ticos de /ornais. A tradição uni!ersitária não concebia a literatura como a encarnação de um pensamento e de uma sensibilidade, tampouco como

interpretação do mundo% &TO'O(O), página G*+. A partir da ruptura estruturalista, $a obra impõe o ad!ento de uma ordem em estado de ruptura com o existente, a afirmação de um reino #ue obedece a suas leis e l4gicas pr4prias% , ou se/a, a obra literária passa a ser representada como um ob/eto de linguagem fecada, autosuficiente, absoluta em si. 1sso refletiu no ensino da literatura no ensino m0dio &a literatura não teria relações com o restante do mundo, pass"!eis seriam as relações dos ele mentos da obra entre si+, o #ue agra!aria o desinteresse dos estudantes pelo texto literário em geral. 'a corrente estruturalista de análise originase uma !ariante. $'i!ersamente do estruturalismo clássico, #ue afasta!a a #uestão da !erdade dos textos, o p4sestruturalismo #uer de fato examinar essa #uestão, mas seu comentário in!ariá!el 0 #ue ela nunca receberá #ual#uer resposta. O texto s4 pode dier uma @nica !erdade, a saber #ue a !erdade não existe ou #ue ela se mant0m sempre inacess"!el% &TO'O(O), página H?+. :uase como o bea!iorismo em relação ao acesso ao inconsciente. Ao analisar o ensino da literatura no ensino m0dio, Todoro! não mede pala!ras pala classificar o mesmo como promotor de uma $concepção redutora da literatura% &TO'O(O), página H6+. Tais fatos atentam para outro ponto crucial o de #ue muitos escritores na !erdade esperariam por elogios da cr"tica literária &o #ue ditaria um rumo artificial da sua obra, como algo pr0moldado segundo tendências e influências+. $Iumerosa obras contempor8neas ilustram e ssa concepção formalista da literaturaB elas culti!am a construção engenosa, os processos mec8nicos &grifo meu+ de engrendamento do texto, os ecos e os pe#uenos sinais c@mplices. &...+ Outra tendência influente encarna uma !isão de mundo #ue poder"amos #ualificar de niilista, segundo a #ual os omens são tolos e per!ersos, as destruições e as formas de !iolência diem a !erdade da condição umana, e a !ida 0 o ad!ento de um desastre. Ião se pode mais, nesse caso, afirmar #ue a literatura não descre!e o mundo mais do #ue uma negação da representação, ela se torna a representação de uma negação. O #ue não a impede de permanecer como ob/eto de uma cr"tica formalista /á #ue, para essa cr"tica, o uni!erso representado no li!ro 0 autosuficiente, sem relação com o mundo exterior, abremse as portas para sua análise sem #ue se tena de interrogar sobre a pertinência das opiniões expressas no li!ro, nem sobre a !eracidade do #uadro #ue ele pinta. A ist4ria da literatura o mostra bem passase facilmente do formalismo ao niilismo ou !ice!ersa, e podemse mesmo culti!ar os dois simultaneamente. &...+ Outra prática literária pro!0m, com efeito, de uma atitude complacente e narcis"stica #ue le!a o autor a descre!er detaladamente suas menores emoções, suas mais insignificantes experiências sexuais, suas reminescências mais f@teis #uanto mais repugnante, mais fascinante 0 o mundoN Malar mal de si, aliás, não destr4i esse praer, /á #ue o essencial 0 falar de si  o #ue se di 0 secundário. A literatura &nesse caso, dise preferencialmente, a PescritaQ+ tornouse apenas um laborat4rio no #ual o autor pode estudar a si mesmo a seu belpraer e tentar se compreender. < poss"!el #ualificar essa terceira tendência, ap4s as do formalismo e do niilismo, de solipsismo, de acordo com essa teoria filos4fica #ue postula #ue o si mesmo 0 o @nico ser existente. A falta de !erossimilança dessa teoria, de fato, a condena à marginalidade, mas isso não impede #ue ela se torne um programa de criação literária% &TO'O(O), páginas H>HG+. 'esta maneira, $niilismo e solipsismo são claramente solidários. Ambos repousam na id0ia de #ue uma ruptura radical separa o eu e o mundo, isto 0, de #ue não existe mundo comum. &...+ o niilismo omite a inclusão de um lugar para si mesmo e para os #ue le são semelantes no #uadro de desolação por ele pintadoB o solipsismo negligencia a representação do contexto umano e material #ue o torna poss"!el. Iiilismo e solipsismo mais completam a escola formalista do #ue a refutam a cada !e, mas a partir de modalidades diferentes, 0 o mundo exterior, o mundo comum a mim e aos outros, #ue 0 negado e depreciado. &...+ A criação contempor8nea francesa 0 solidária da id0ia da literatura #ue se pode encontrar na base do ensino e da cr"tica uma id0ia absurdamente restrita e empobrecida% &TO'O(O), página HH+.

Iascimento da est0tica moderna O autor enumera etapas para melor compreender a tese segundo a #ual a literatura não mant0m ligação significati!a com o mundo &e #ue, por conseguinte, sua apr eciação não de!e le!ar em conta o #ue ela nos di do mundo+. Iuma !isão clássica, a poesia caracteriase por agradar e instruir, ao mesmo tempo em #ue 0 uma imitação da naturea. )isto isso, sua $relação com o mundo encontrase, assim, tanto do lado do autor, #ue de!e conecer as realidades do mundo para poder imitálas, #uanto do lado dos leitores e ou!intes, #ue podem, 0 claro, encontrar praer nessas realidades, mas #ue delas tamb0m tiram lições aplicá!eis ao restante de sua existência. &...+ A partir do (enascimento, pedese à poesia #ue se/a bela, mas a pr4pria belea se define pela !erdade e sua contribuição ao bem% &TO'O(O), página HK+. A modernidade abala essa concepção. -rimeiro, $consiste em retomar e re!aloriar uma antiga imagem o artista criador, compará!el ao 'eus criador, engrenda con/untos coerentes e fecados e si mesmos. O 'eus do monote"smo 0 um ser infinito #ue produ um uni!erso finitoB ao imitálo, o poeta se assemela ao deus #ue fabrica ob/etos finitos% &TO'O(O), páginas HK HC+. Fxigese coerência nas criações, não uma correspondência #ual#uer da obra com algo #ue ela não 0. $O poeta ilustra essas categorias, /á #ue cria um mundo paralel o ao mundo f"sico existente, um uni!erso tão independente #uanto coerente% &TO'O(O), página HC+. Io segundo caso, consistese em dier #ue o ob/eti!o da poesia não 0 imitar a naturea, muito menos instruir e agradar, mas produir o belo. $O belo se caracteria pelo fato de não conduir a nada #ue este/a para al0m de si mesmo. &...+ Ião 0 mais o criador #ue, em sua liberdade, se aproxima de 'eusB 0 a obra em sua perfeição% &TO'O(O), página H*+. 2omo resultado disso, nos s0culos R)11 e R)111, o contemplar est0tico, o /u"o de gosto e o sentido do belo passam a ser institu"dos como entidades autônomas. $O #ue  á de re!olucionário nessa abordagem 0 #ue ela condu ao abandono da perspecti!a do criador para adotar a do receptor, #ue, por sua !e, s4 tem um @nico interesse contemplar belos ob/etos. &...+ )isto a partir da perspecti!a da criação ou da fabricação, o artista 0 apenas um artesão de melor #ualidade os dois praticam o mesmo of"cio, com um pouco mais ou um pouco menos de talento. Ora, se nos situamos do lado de seus produtos, o artesão se opõe ao artista, pois, se um cria ob/etos utilitários, o outro cria ob/etos a serem contemplados apenas pelo praer est0tico proporcionadoB um obedece a seu interesse, e o outro permanece desinteressadoB um se situa sob a l4gica do usar, e o outro na do fruirB e, por fim, um permanece puramente umano, e o outro se aproxima do di!ino% &TO'O(O), página S?+. Assim, notase #ue as artes exigem um local em #ue podem ser consumidas &museus, galerias, etc+, o #ue caracteria o ob/eti!o @nico de serem contempladas e apreciadas por seu !alor est0tico. $Os dois mo!imentos #ue transformam no s0culo R)111 a concepção de arte, isto 0, a assimilação do criador a um deus fabricante do microcosmo e a assimilação da obra a um ob/eto de contemplação, ilustram a progressi!a seculariação do mundo na Furopa ao mesmo tempo em #ue contribuem para uma no!a sacraliação da arte. Iesse momento da ist4ria, a arte encarna tanto a liberdade do criador como a sua soberania, sua autosuficiência e sua transcendência com relação ao mundo. &...+ A ausência de finalidade externa 0, de algum modo, compensada pela densidade das finalidades internas, ou se/a, pelas relações entre as partes e os elementos da obra% &TO'O(O), página S>+. Assim, á uma maior significação e potencial de análise da obra #uando !ista atra!0s do prisma interno &caracteres externos de formação da mesma são ignorados+. A est0tica das 7ues 2om a deterioriação do mecenato, o artista destina suas obras ao p@blico #ue as ad#uire 0 o p@blico #ue passa a ter as ca!es do seu sucesso. O #ue se reser!a!a a poucos, agora tornase

acess"!el a todos. -õemse em p0 de igualdade todos os consumidores. $O esp"rito das 7ues 0 o da autonomia do indi!"duoB a arte #ue con#uista sua autonomia participa do mesmo mo!imento% &TO'O(O), página SG+. $O #ue 0 belo 0 armonioso e proporcional. O #ue 0 armonioso e proporcional 0 !erdadeiro, e o #ue 0 ao mesmo tempo belo e !erdadeiro 0, por conseguinte, agradá!el e bom. O processo de percepção e a ação dos sentidos não esgotam a experiência dita est0tica, e menos ainda por#ue a arte considerada abitualmente como exemplar, a poesia, não 0 em sua essência relati!a à !isão nem à audição, mas exige a mobiliação do esp"rito a belea da poesia sustentase em seu sentido e não pode ser separada da !erdade. Fsses pensadores não renunciam, portanto, a ler as obras literárias como um discurso sobre o mundo, mas procuram, especialmente, distinguir entre duas !ias, a dos poetas e a dos cientistas &ou fil4sofos+, cada uma delas com suas !antagens, sem #ue uma se/a inferior à outra duas !ias #ue conduem ao mesmo ob/eti!o, uma melor compreensão do omem e do mundo, uma sabedoria mais ampla% &TO'O(O), páginas SHSS+. O poeta 0, assim, concebido como o criador de um mundo poss"!el entre outros &legitimando a perspecti!a est0tica, pri!ilegiando a percepção em detrimento da criação+. 'esta maneira, a !erdade à #ue condu 0 de naturea di!ersa da#uela das ciências, $&...+ O nome #ue le con!0m 0 o de P!erossimilançaQ, e seu efeito 0 Pproduido pela coerência interna do mundo criadoQ. A abstração apreende o geral ao custo, por0m, de um empobrecimento do mundo sens"!elB a poesia capta sua ri#uea, mesmo #ue as conclusões às #uais cega careçam de clareaB o #ue ela perde em acuidade, gana em !i!acidade% &TO'O(O), página SK+. O grande autor do iluminismo alemão, 7essing, di #ue a especificidade da obra de arte 0 produir o belo, e este se define como uma armonia de seus elementos constituti!os sem submissão a um ob/eto exterior. -or outro lado, $a obra participa de um con/unto mais amplo de práticas #ue têm como ob/eti!o buscar a !erdade do mundo e de conduir os omens em direção à sabedoria% &TO'O(O), página SK+. Assim, o autor alemão não renuncia a alocar a arte no centro das ati!idades representati!as &$essa imitação #ue 0 a essência da arte do poeta%, ele escre!e+. O escritor criaria um mundo coerente, por0m autônomo e a obra, de uma forma ou de outra, acaba por escapar a seu autor. < bom lembrar, como /á foi dito, #ue a !erdade po0tica, no entanto, 0 diferente da do mundo cient"fico, pois tem mais a !er com a !erossimilança. Ião se trata de uma !erdade puramente e#ui!alente a uma realidade. $O belo não pode ser estabelecido ob/eti!amente, uma !e #ue pro!0m de um /u"o de gosto e reside, portanto, na sub/eti!idade dos leitores e espectadoresB mas ele pode ser reconecido pela armonia dos elementos da obra e tornarse ob/eto de consenso. &...+ A arte pela arte, e sem ob/eti!oB todo ob/eti!o desnatura a arte. 3as a arte atinge o ob/eti!o #ue não tem% &TO'O(O), páginas S* e S5+. < notá!el #ue a obra !ena a agir sobre o esp"rito do leitor, embora, $a instrução não será o ob/eti!o, mas o efeito do #uad ro% . 2omo o pr4prio 2onstant enfatia, $a literatura referese a tudo. Ião pode ser separada da pol"tica, da religião, da moral. < a expressão das opiniões dos omens sobre cada uma das coisas. 2omo tudo na naturea, ela 0 ao mesmo tempo efeito e causa. 1maginála como fenômeno isolado 0 não imaginála% . Todoro! complementa sua fala ao dier #ue $poesia pura não existe toda poesia 0 necessariamente impura, pois necessita de id0ias e !aloresB ora, tanto um #uanto outro não le pertencem propriamente% &TO'O(O), página K?+ 'o (omantismo às !anguardas A est0tica iluminista deslocara o centro da gra!idade da imitação à belea, afirmando assim a autonomia da obra de arte. -or0m, esta est0tica não ignora as relações #ue ligam as obras ao real. )isto isso, 0 notá!el destacar #ue a est0tica rom8ntica, imposta a partir do in"cio do s0culo R1R, não introdu nenuma ruptura exorbitante. $'e!e ser lembrado, no entanto, #ue 0 nesse mesmo momento #ue o prest"gio da ciência começa a crescer !ertiginosamenteB 0 sem surpresa #ue se !ê a rei!indicação rom8ntica não encontrar nenum eco fa!orá!el na

sociedade contempor8nea% &TO'O(O), página K>+. 2omo o pr4prio ;audelaire instiga!a, a poesia não se submeteria à procura da !erdade ou do bem, /á #ue 0 detentora de uma !erdade e de um bem superiores à#ueles #ue podemos encontrar fora dela &em frase sua, $a imaginação 0 a mais cient"fica das faculdades por#ue apenas ela pode compreender a analogia uni!ersal%+. Assim, a arte e a poesia não deixam de ter algo a !e r com a !erdade, mas esta não tem a mesma naturea #ue a#uela inspirada pela ciência. $&...+ Dma relação se estabelece entre as pala!ras e o mundo, mas as duas !erdades não se confundem% &TO'O(O), página KH+. O copiar e o interpretar encontramse assim em campos opostos. $Tratase a#ui de uma !erdade de correspondência ou de ade#uação. &...+ A pr4pria belea não 0 uma noção nem ob/eti!a &#ue possa ser estabelecida a partir de ind"cios materiais+ nem sub/eti!a, ou se/a, #ue dependa do /u"o arbitrário de cada umB ela 0 intersub/eti!a, pertencente, portanto, à comunidade umana% &TO'O(O), páginas KHKS+. $A função da literatura 0 criar, partindo do material bruto da existência real, um mundo no!o #ue será mara!iloso, mais durá!el e mais !erdadeiro do #ue o mundo !isto pelos olos do !ulgo. Ora, criar um mundo mais !erdadeiro implica #ue a arte não rompe sua relação com o mundo% &TO'O(O), página KK+. Assim ela 0 autônoma, ao mesmo tempo #ue dependente do cenário #ue a cerca, do mundo em si. Io começo do s0culo RR notase uma ruptura. A partir de então, a pretensão da literatura ao conecimento não deixa de ser leg"tima &e os discursos da filosofia e da ciência !êemse marcados pela mesma suspeita+. $'esse momento em diante, ca!ase um abismo entre a literatura de massa, produção popular em conexão direta com a !ida cotidiana de seus leitores, e a literatura de elite, lida pelos profissionais  cr"ticos, professores e escritores  #ue se interessam somente pelas proeas t0cnicas de seus criadores. 'e um lado, o sucesso comercialB do outro, as #ualidades puramente art"sticas. Tudo se passa como se a incompatibilidade entre as duas fosse e!idente por si s4, a ponto de a acolida fa!orá!el reser!ada a um li!ro por um grande n@mero de leitores tornarse o sinal de seu fracasso no plano da arte, o #ue pro!oca o despreo ou o silêncio da cr"tica% &TO'O(O), página KC+ 2om as !anguardas, ad!0m uma no!a concepção da arte em si. Tal mo!imento se manifesta pela primeira !e na (@ssia, em 656?, e tratase do in"cio da abstração na pintura e das in!enções futuristas na poesia. Assim, es#uecese o mundo material, a arte agora obedece às suas pr4prias leis. $2omo conse#9ência, o mundo fenomenal, o mundo acess"!el aos olos de todos deixa de ser le!ado em consideração. &...+ A intersub/eti!idade, #ue repousa na existência de um mundo comum e de um sentido comum, dá lugar à pura manifestação do indi!"duo% &TO'O(O), páginas K*K5+. $Ios regimes totalitários instalados no p4sguerra, &...+ á a preocupação de colocar a arte a ser!iço de um pro/eto ut4pico, o da fabricação de uma sociedade inteiramente no!a e de um omem no!o. O realismo socialista, a arte do Ppo!oQ e a literatura de propaganda ideol4gica exigem a manutenção de uma relação de força com a realidade circundante e, sobretudo, tamb0m impõem a submissão aos ob/eti!os pol"ticos do momento, o #ue se mostra diametralmente oposto a toda proclamação de autonomia art"stica e a toda procura solitária do belo. A arte de!e, como exige a est0tica clássica, agradar &um pouco+, mas sobretudo, instruir. 3uitos artistas !irão responder com tanto entusiasmo e com tanta adesão a essa #uestão, #ue eles pr4prios passarão a camála de a re!olução dos seus anseios. Ao mesmo tempo, mas em locais onde reina a liberdade de expressão, iniciase um combate a essa usurpação da autonomia do indi!"duo, afirmandose #ue a arte e a literatura não mant0m nenuma ligação significati!a com o mundo. &...+ Tudo se passa como se a recusa em !er a arte e a literatura sub/ugadas à ideologia acarretasse necessariamente a ruptura definiti!a entre a literatura e o pensamentoB como se a re/eição das teorias marxistas do $reflexo% exigisse o desaparecimento de toda relação entre a obra e o mundo. Ao utopismo de uns corresponde o formalismo dos outros% &TO'O(O), páginas K5C?+. Ios dias atuais, a sociedade caracteriase pela coexistência mais ou menos pac"fica tanto de ideologias diferentes #uanto

de concepções concorrentes da arte. O #ue pode a literaturaJ Dm li!ro pode expressar muito bem os sentimentos do leitor #ue o usufrui. Os personagens se tornam mais importantes #ue os de carne e osso encontrados no diaadia, !isto #ue são inesgotá!eis em suas possibilidades. $A literatura pode muito. Fla pode nos estender a mão #uando estamos profundamente deprimidos, nos tornar ainda mais pr4ximos dos outros seres umanos #ue nos cercam, nos faer compreender melor o mundo e nos a/udar a !i!er. Ião #ue ela se/a, antes de tudo, uma t0cnica de cuidados para com a almaB por0m, re !elação do mundo, ela pode tamb0m, em seu percurso, nos transformar a cada um de n4s a partir de dentro. A literatura tem uma papel !ital a cumprirB mas por isso 0 preciso tomála no sentido amplo e intenso #ue pre!aleceu na Furopa at0 fins do s0culo R1R e #ue o/e 0 marginaliado, #uando triunfa uma concepção absurdamente reduida do literário. O leitor comum, #ue continua a procurar nas obras #ue lê a#uilo #ue pode dar sentido à sua !ida, tem raão contra professores, cr"ticos e escritores #ue le diem #ue a literatura s4 fala de si mesma ou #ue apenas pode ensinar o desespero. Ee esse leitor não ti!esse raão, a leitura estaria condenada a desaparecer num curto prao. &...+ A literatura 0 pensamento e conecimento do mundo ps"#uico e social em #ue !i!emos. A realidade #ue a literatura aspira compreender 0, simplesmente &mas, ao mesmo tempo, nada 0 assim tão complexo+, a experiência umana. Iesse sentido, podese dier #ue 'ante ou 2er!antes nos ensinam tanto sobre a condição umana #uanto os maiores soci4logos e psic4logos e #ue não á incompatibilidade entre o primeiro saber e o segundo% &TO'O(O), páginas CKCC+. 'esta maneira, a literatura nos fa !i!er experiências singulares. $O escritor não fa a imposição de uma tese, mas incita o leitor a formulála em !e de impor, ele propõe, deixando, portanto, seu leitor li!re ao mesmo tempo em #ue o incita a se tornar mais ati!o% &TO'O(O), página C*+. A obra literária produ um tremor de sentimentos, abalando o aparelo da interpretação simb4lica, despertando assim a capacidade de associação #ue continuam muito tempo ap4s o contato inicial &elemento este #ue o leitor do texto cient"fico não encontra+. A literatura contribui assim para nossa compreensão do mundo. A leitura de romances nos possibilita contatos com personagens, analisando suas ações e dieres, interpretandoos. $2onecer no!as personagens 0 como encontrar no!as pessoas, com a diferença de #ue podemos descobrilas interiormente de imediato, pois cada ação tem o ponto de !ista do seu autor. :uanto menos essas personagens se parecem conosco, mais elas ampliam nosso orionte, enri#uecendo assim nosso uni!erso. &...+ O #ue o romance nos dá não 0 um no!o saber, mas uma no!a capacidade de comunicação com seres diferentes de n4sB nesse sentido eles participam mais da moral do #ue da ciência% &TO'O(O), páginas *?*6+. O autor #uer #ue se aceite a forte relação da literatura com o mundo, assim como a contribuição da mesma para a formação moral do indi!"duo. Mecando o cap"tulo, Todoro! complementa #ue $0 por isso #ue de!emos encora/ar a leitura por todos os meios  inclusi!e a dos li!ros #ue o cr"tico profissional considera como condescendência, se não com despreo, desde Os Três 3os#ueteiros at0 =arr -otter não apenas esses romances populares le!aram ao ábito da leitura milões de adolescentes, mas, sobretudo, les possibilitaram a construção de uma primeira imagem coerente do mundo, #ue, podemos nos assegurar, as leituras posteriores se encarregarão de tornar mais complexas e nuançadas% &TO'O(O), página *>+. Dma comunicação inesgotá!el A !eracidade seria a @nica exigência leg"tima a se faer à literatura. :ue se submeta a !erdade ou a moralJ < necessário primeiro alocar o escritor na sua pr4pria obra, al0m de a!eriguar a naturea da !erdade à #ual ela ascende. Assim, uma preocupação com a !erdade

resultará necessariamente em um efeito moral &não se trata de uma moral puramente exposta, mas percebida, e assim possa ser aceita ou re/eitada+. Ee isso não ocorre, das duas uma ou o li!ro 0 muito ruim ou o leitor 0 um imbecil. $O ob/eti!o da literatura 0 representar a existência umana, mas a umanidade inclui tamb0m o autor e o seu leitor. P)ocê não pode se abstrair dessa contemplaçãoB pois o omem 0 !ocê, e os omens são o leitor. -or mais #ue faça, sua narrati!a sempre será uma con!ersa entre !ocê e esse leitorQ. A narrati!a está necessariamente inserida num diálogo do #ual os omens não são apenas o ob/eto, mas tamb0m os protagonistas% &TO'O(O), página *K+. Ião se procura algo durante a leitura, simplesmente se aca algo #ue identifi#ue o leitor à obra #ue lê, tendo como conse#9ência uma !isão mais definiti!a e ampla da !ida em geral. $A !erdadeira realidade 0 uma mistura de belea e fei@ra, de palide e luminosidade. Assim, a#ueles #ue num certo momento foram camados de realistas fieram uma escola #ue trai a realidade eles obedecem a uma con!enção arbitrária #ue les exige representar unicamente a face negra do mundo% &TO'O(O), página *C+. A literatura anseia, sobretudo, por uma forma de !erdade, no entanto, debates são constru"dos ao redor da !eracidade destas narrati!as. O #ue 0 certo 0 #ue a obra literária transforma o ser de cada um dos seus leitores a partir de seu interior. 1sto liberta a literatura do espartilo asfixiante #ue a prende, percorrerseiam assim oriontes mais amplos, retirandoa do gueto formalista #ue interessa apenas aos cr"ticos, proporcionando à obra literária em si a abertura para o grande debate de id0ias do #ual participa todo conecimento do omem. 2oncluindo a problemática anteriormente apresentada, $a análise das obras feitas na escola não de!eria mais ter por ob/eti!o ilustrar os conceitos rec0mintroduidos por este ou a#uele ling9ista, este ou a#uele te4rico da literatura, #uando, então, os textos são apresentados como uma aplicação da l"ngua e do discursoB sua tarefa de!eria ser a de nos faer ter acesso ao sentido dessas obras  pois postulamos #ue esse sentido, por sua !e, nos condu a um conecimento do umano, o #ual importa a todos% &TO'O(O), página *5+. $O estudo da obra remete a c"rculos concêntricos cada !e mais amplos o dos outros escritos do mesmo autor, o da literatura nacional, o da literatura mundialB mas seu contexto final, o mais importante de todos, nos 0 efeti!amente dado pela pr4pria existência umana. Todas as grandes obras, #ual#uer #ue se/a a sua origem, demandam uma reflexão dessa dimensão. O #ue de!emos faer para desdobrar o sentido de uma obra e re!elar o pensamento do artistaJ Todos os Pm0todosQ são bons, desde #ue continuem a ser meios, em !e de se tornarem fins em si mesmos. &...+ A#uilo de #ue nos damos conta, gradualmente, 0 #ue todas as perspecti!as de um texto, longe de serem ri!ais, são complementares  desde #ue se admita de in"cio #ue o escritor 0 a#uele #ue obser!a e compreende o mundo em #ue !i!e% &TO'O(O), página 56+. Todoro! prega o entendimento da literatura de uma maneira ampla e, embora se reconeçam as !irtudes das obras literárias, não 0 certo #ue a !erdadeira !ida 0 a literatura ou #ue tudo no mundo existe para se conduir a um li!ro. $Eendo o ob/eto da literatura a pr4pria condição umana, a#uele #ue a lê e a compreende se tornará não um especialista em análise literária, mas um conecedor do ser umano% &TO'O(O), páginas 5>5G+.