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COMENTÁRIO MATEUS TEUS & MARCOS MARCOS fSMÊÜSISMSMSMaiSIMSJSMSJSISEMISMa À Luz
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A. T. ROBERTSON
COMENTÁRIO MATEUS & MARCOS À
Luz
do
Novo
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Traduzido por Luís Aron de Macedo Ia Edição
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Rio de Janeiro 2011
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Todos os direitos direitos reser reservad vados. os. C opyrigh t © 2011 para a língua língua portuguesa da Casa Publicadora das Assemblei Assembleias as de Deus. Aprovado pelo C onselho de D outrina. Título do original em inglês: Word Pic Pictu tures res o f the N ew Testament Testament Kregel Publications, Grand Rapids, MI, EUA Primeira edição em inglês: 2004 Tradução: Tradução: Luís Luís Aron de Macedo Preparação dos originais: Daniele Pereira e Esdras Bentho Revisão: Marcos Braga Capa: Josias Finamore Adaptação de Projeto Gráfico e Editoração: Oséas E Maciel CDD: 225 - Novo Testamento ISBN: 978-85-263-1066-7 As citações citações bíblicas bíblicas foram extraídas extraídas da versão versão Almeida Revista Revista e Corrigida , edição de 1995, da Sociedade Bíblica Bíblica do Brasil, Brasil, salvo salvo indicação indicação em contrário. As citações bíblicas assinaladas pela sigla AEC referem-se a Alm A lm eid ei d a Edição Edi ção Co Conte ntemp mporâ orâne neaa (São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil/Vida, 1990). As citações bíblicas assinaladas pela sigla BJ referem-se a A B íblia íb lia de Jerusa Jer usalém lém,, Nova Edição, Revista e Ampliada (São Paulo: Paulus, 2002; Terceira Impressão, 2004). As citações citações bíblicas bíblicas assinalad assinaladas as pela sigla sigla N T L H referem-se a Nov N ovaa Tradução Traduçã o na Lin guag gu agem em de Ho je je (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2000). As citações bíblicas assinaladas pela sigla NVI referem-se a No N o va Versã Versãoo Int I nter ernn acio ac iona na l (São (São Paulo: Vida, 2001). As citações bíblicas assinaladas pela sigla ARA referem-se a Alm A lm eid ei d a Revista Rev ista e A tu a liza li za d a (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2002). Para maiores informações sobre livros, revistas, periódicos e os últimos lançamentos da CPAD, visite nosso site: http://www.cpad.com.br . http://www.cpad.com.br . SAC — Serviço Serviço de A tendim ento ao Cliente: Cliente: 0800-2 1-737 3 Casa Publicadora das Assembleias de Deus Caixa Postal 331 20001-970, Rio de janeiro, RJ, Brasil Ia edição: 2011 Tiragem 3.000
r e f á c io da d a E d d iç ã o R ev e v ist is t a P re
A edição original de Comentário Mateus e Marcos, da Marcos, da lavra de A. T. Robertson, foi publicada há mais de setenta anos. Esta obra tem pro p ropp o rcio rc ionn a d o u m m inis in isté téri rioo d u r ad o u r o e pro p rofí fícu cuoo a pasto pa stores res,, m issio iss io nários e estudantes do Novo Testamento. A revisão da obra clássica de Robertson atualiza informações e apresenta nova formatação. Compusemos a matéria do livro em tipos modernos e fizemos as seguintes mudanças: 1. Atualizamos e editamos o texto original publicado em 1930. A. T. Robertson usou a Canterbury Version, Version, versão bíblica N e w Ameri Am erica cann em inglês. Preferimos citar o texto bíblico da Ne StandardBible (edição StandardBible (edição de 1995; [NASB]), salvo indicação con trária. Dentro do escopo da revisão editorial, mudamos da or tografia tografia britânica b ritânica para pa ra a americana. 2. Cada página identifica o livro, capítulo e versículo que está sendo examinado. 3. O ptam pta m os pelo alfabeto alfabeto gre grego go no lugar da transli transliteração. teração. O gre gre go transliterado foi originalmente usado por causa da dificul dade de imprimir o texto grego. 4. Nas notas finais de capítulo, citamos outras versões bíblicas para pa ra efeito efei to de co com m pa para raçã çãoo e escla es clarec recim imen ento. to.
COM ENTÁ RIO MATEUS MATEUS & MARCOS MARCOS
5. Usamos um texto grego grego genérico do Novo Testamento. Testamento . Qua Q uand ndoo julg ju lgam amos os o p o r tu n o e esclareced escla recedor, or, ap apre rese sent ntam amos os as va vari rian antes tes que mostram leituras diferentes do texto grego crítico de 1881 de Brooke Brooke Fo Foss W estcott estcott e Fenton John Joh n A nthon y H ort or t (WH), (W H), Texto Majoritário (TM), Textus Textus Receptus R eceptus (TR) (TR) e leituras do TR feitas por Beza (TRb) e por Stephanus (TRs). 6. Algumas abreviaturas foram escr escrita itass por po r extenso — como Nov N ovoo T esta es tam m en ento to (N T ) e A ntig nt igoo T esta es tam m en ento to (AT) — , en en quanto outras foram mantidas, MSS para manuscrito e LXX par p araa Sept Se ptuu ag agin inta ta.. O p tam ta m o s p o r usar us ar as palavras palav ras p o r ex exten tenso so ao longo do texto e usar abreviações nas notas finais de capítulo. 7. Substituímos Sub stituímos os núm eros romanos rom anos pelos pelos núm eros arábic arábicos. os.
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r e f á c io da d a E d d iç ã o d e 1 P re 1930
Faz quarenta anos (1890) que o Dr. Marvin R. Vincent escre veu a utilíssima série de livros intitulada Word Studies in the New Testament (Estudos de Palavras do Novo Testamento). Ainda são livros livros úteis para o público ao qual se destina, destina, mas muita m uita coisa acon acon teceu no transcurso desses anos. Hoje em dia estão em uso métodos mais científicos de filologia. Já não explicamos os tempos verbais e preposições gregas em termos de traduções ou trocas conjeturais inglesas de acordo com o capricho do intérprete. A gramática com par p araa tiva tiv a elu el u cido ci douu m u itíss ití ssim imoo o v erd er d ad adei eiro ro signi sig nific ficad adoo de form fo rmas as e expressões idiomáticas do Novo Testamento. Deixamos de explicar os escritores do Novo Testamento através do uso de uma construção “por” “po r” outra. outra. As descobertas desco bertas de papiros no Egito nos deram novas nov as ex ex plic p licaç açõe ões. s. Pala Pa lavr vras as greg gr egas as inco in com m un uns, s, do p on onto to de v ista is ta do doss críti cr ítico coss literários ou dos eruditos em línguas clássicas, foram encontradas no uso cotidiano em cartas e documentos comerciais e públicos. Hoje sabemos que o grego do Novo Testamento não é um dialeto novo ou peculiar do idioma grego, mas a própria língua da época. O vernáculo Koivri, a língua falada no dia a dia, aparece no No N o vo Test Te stam amen ento to co com m o na nass suca su catas tas de pa papi piro ross de O xy xyrh rhyn ynch chus us e Koi vr\ literário nos papiros como tam de Fayum. Há exemplos do Koivr\ bé b é m no noss escr es crito itoss de Luca Lu cas, s, na nass ep epíst ístol olas as de Paul Pa ulo, o, na ep epís ísto tola la aos Hebreus. Um novo léxico grego-inglês do Novo Testamento será
COMENTÁRIO MATEUS & MARCOS
lançado no devido tempo que anotará as muitas descobertas sur pre pr e en endd en ente tess e inéd in édita itass qu quee os pa papp iro ir o s e insc in scri riçõ ções es greg gr egas as no noss têm oferecido. Essas descobertas desc obertas foram feitas em primeira mão pelo p elo Dr. Dr. Adolf Deissmann, então de Heidelberg, hoje de Berlim, em suas re lações com o Novo Testamento. Os estudantes pouco acostumados com os originais alemães dispõem dos livros Bib B ible le Stud St udie iess (tradu ção de Alexander Grieve, 1901) e L e Lig ighh t f r o m A n c ien ie n t E a s t (edição (edição revista traduzida por L. R. M. Strachan, 1927). Levando em conta os novos conhecimentos de hoje, não há dú vida da necessidade de uma nova série de livros. Muitos ministros solicitaram-me incisivamente que empreendesse tal tarefa até que, po p o r fim, co conc ncor orde deii em aten at ende derr-lh lhes es qu quan ando do m eu euss ed edito itore ress un unira iram m -se -s e à mesm me smaa voz. voz. Nosso desejo é que os leitores leitores destes livros livros sejam, em sua maioria, os que não saibam ou comparativamente pouco sai bam b am do idio id iom m a greg gr ego, o, m as qu que, e, a de desp spei eito to diss di sso, o, este es teja jam m áv ávid idos os de inteirar-se inteirar-se dos mais recentes recursos do estudo e studo de palavras e frases frases do Novo Testamento, por não terem acesso a livros exigentemente técnicos, como o Vocabulary of the Greek Testament (Vocabulário (Vocabulário do Testamento Grego), de Moulton e Milligan. Os estudiosos críticos apreciarão as distinções mais sutis de palav pa lavra ras. s. M as o fato fa to triste tri ste é que m uito ui toss m inis in istro tros, s, leigo lei goss e m u lhe lh e res que estudaram grego na faculdade, universidade ou seminário pe p e rmiti rm itira ram m que os cu cuid idad ados os do m un undo do e a fals fa lsid idad adee das rique riq ueza zass sufocassem o grego que eles outrora falavam. Alguns, por incrível que pareça, agiram assim no suposto interesse do próprio evange lho, cujas mensagens vívidas eles fizeram com que ficassem cada vez mais turvas turvas e vagas. Se alguns alguns destes muitos m uitos reavivarem reaviv arem o inte resse no grego do Novo Testamento, esta série série em seis volumes terá valido a pena. Outros dentre eles talvez fiquem animados — como Greek New muitos ficaram ao ler o meu livro The Minister an d His Greek Testament (O (O Pastor e seu Novo Testamento Grego) — a começar a estudar o grego do Novo Testamento sob a orientação educacional de um livro livro como B como Bee g inn in n e r s G ram ra m m ar o f the th e Gree Gr eekk N e w Testa Te stame ment nt (Gramática do Novo Testamento Grego para Iniciantes), de Davis. Aqueles que não têm inclinação para o grego ou careçam de opor 8
Prefá Prefácio cio da Edição de 19 1930 30
tunidade para estudar o idioma poderão seguir o rumo das observa ções e usá-lo usá-lo para aprimorar aprim orar sermões, lições lições de escola dominical dom inical ou pa p a ra ed edifi ifica caçã çãoo pe pess ssoa oal.l. Para desenvolvimento puramente exegético e expositivo, seria necessário seguir uma ordem mais cronológica. cron ológica. Estes livros não têm a pretensão de serem um comentário formal. Em nenhuma parte o texto é analisado por inteiro, mas em todos os lugares selecio nei para análise palavras que se me afiguraram ricas para atender as necessidades do leitor tendo em vista o conhecimento hodierno. Desta forma, grande parte da equação pessoal é inevitável. Minhas observações foram ora léxicas, ora gramaticais, ora arqueológicas, ora exegéticas, ora ilustrativas, qualquer coisa que a disposição do momento tenha me movido a escrever algo que lance luz aqui e ali nos termos e expressões idiomáticas do Novo Testamento. Outro escritor pode se sentir compelido a escrever detalhadamente sobre quesitos não tratados aqui. Este é o procedimento habitual até com comentários mais formais, por mais profícuos que sejam. Até certo pont po nto, o, o m esm es m o se dá qu quan ando do se trat tr ataa de léxico léx icos. s. N ing in g u ém sabe tudo, até na sua especialidade escolhida, ou tem a sabedoria para detectar o que todo leitor deseja que seja explicado. Contudo, até diamantes brutos são diamantes. É tarefa cabível ao leitor poli-los como desejar. Ele gira fazendo a luz deste ou daquele modo. Há certa repetição em alguns pontos, parte disso com o propósito de economizar tempo e enfatizar o ponto. Originalmente, intitulei estes livros Ilu Il u stra st raçõ çõee s do N ov ovoo Testamento Grego Grego pela razão óbvia de que o idioma grego era pu ramente pictográfico. Crianças gostam de ler olhando figuras, seja onde haja somente some nte figuras figuras seja onde as figuras figuras estejam entremeadas entremeada s com palavras simples. simples. A Pedra de Rosetta Rose tta é um exemplo famoso. O hieroglífico egípcio está no terço superior da pedra, a língua egíp cia demótica está no terço central com a tradução grega no terço inferi inferior. or. O segredo dos hieroglíficos ou pictogramas foi desvendado po p o r meio me io de desta sta pe pedr dra. a. Os cara ca ract cter eres es ch chin ines eses es tam ta m bé bém m são pict pi ctog ográ rá-ficos ou ideográficos. As imagens representavam primeiramente as ideias, depois as palavras, depois as sílabas, depois as letras. Ainda 9
COMENTÁRIO MATEUS & MARCOS
hoje no Alasca há índios que só usam figuras para com unicar ideias. ideias. “A maioria das palavras era originalmente metáforas, e as metáfo ras estão continuamente entrando no stat st atuu s de palavras” (professor Campbell). Mas não é verdade que as palavras são metáforas, às vezes com a imagem da flor ainda florescendo, às vezes com a ima gem da flor flor já murcha? As palavras p alavras jamais jam ais ficam ficam totalmente totalmente longe longe da fase de imagens. Estas antigas palavras gregas do Novo Testamento são ricas de significado. Elas nos falam do passado com imagens vivas para os que têm olhos para ver. E impossível traduzir tudo de uma língua par p araa a ou outra tra.. O trad tr aduu tor to r po podd e tra tr a n s m itir it ir m uito ui to,, m as nã nãoo tudo tu do.. Sutis Suti s nuanças de significado o desafiam. Mas ainda temos algumas das pala pa lavr vras as de Jesu Je sus, s, co como mo ele disse: diss e: “A “Ass pal p alav avra rass qu quee eu vo voss diss di ssee são espírito espírito e vida” (Jo 6.63). Jamais devem os esquece esq uecerr que lidar com com as pal p alav avra rass de Jesu Je suss é lidar lid ar co com m elem el emen ento toss qu quee têm tê m v ida id a e resp re spira iraçã ção. o. O mesmo ocorre com todo o Novo Testamento, que é o mais mara vilhoso de todos os livros de todos os tempos. Dá de sentir o pulsar do coração do Deus Todo-Poderoso no Novo Testamento, quando os olhos do nosso coração são iluminados pelo Espírito Santo. Que o Espírito de Deus pegue todas as coisas relacionadas a Jesus e as faça nossa, enquanto meditamos nas palavras de vida que falam so bre br e o no novo vo co conc ncer erto to qu quee ch cham amam amos os o Nov N ovoo Testa Te stam m en ento. to. - A. T. T. R o b e r t s o n Louisville, Kentucky O Evangelho segundo Mateus
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S umário
Prefácio Prefácio da Edição Revista Rev ista....................................................................... ....................................................................... Prefáci Prefácioo da Edição de 1 9 3 0 ....................................................................
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O EVANGELHO SEGUNDO MATEUS Introdução............................................................................................... 15 C a p ítu ít u lo 1 ................... ............................. .................... ................... .................. .................. .................. ................. ................ .............. ...... 21 C a p ítu ít u lo 2 ................... ............................. .................... ................... .................. .................. .................. ................. ................ .............. ...... 35 C a p ítu ít u lo 3 ................... ............................. .................... ................... .................. .................. .................. ................. ................ .............. ...... 47 C a p ítu ít u lo 4 ................... ............................. .................... ................... .................. .................. .................. ................. ................ .............. ...... 55 C a p ítu ít u lo 5 ................... ............................. .................... ................... .................. .................. .................. ................. ................ .............. ...... 65 C a p ítu ít u lo 6 ................... ............................. .................... ................... .................. .................. .................. ................. ................ .............. ...... 79 C a p ítu ít u lo 7 ................... ............................. .................... ................... .................. .................. .................. ................. ................ .............. ...... 91 C a p ítu ít u lo 8 ................... ............................. .................... ................... .................. .................. .................. ................. ................ .............. ...... 97 C a p ítu ít u lo 9 ................... ............................. .................... ................... .................. .................. .................. ................. ................ ................107 ........107 C a p ítu ít u lo 1 0 .................. .......................... ................ ................. .................. ................. ................ ................. .................. ................. ............ 115 C a p ítu ít u lo 1 1 ................... ............................ ................... .................... .................... ................... ................... .................... ................... ......... 127 C a p ítu ít u lo 1 2 .................. .......................... ................. ................. ................ .................. ................... .................. ................ ................ ........... 137 C a p ítu ít u lo 1 3 ................... ............................ ................... .................... ................... ................... .................... .................... ................... ......... 147 C a p ítu ít u lo 1 4 ................... ............................ ................... .................... ................... ................... .................... .................... ................... ......... 163 C a p ítu ít u lo 1 5 ................... ............................ ................... .................... ................... ................... .................... .................... ................... ......... 175 C a p ítu ít u lo 1 6 ................... ............................ ................... .................... ................... ................... .................... .................... ................... ......... 183 Capítulo 17.................................................................................................195
COMENTÁRIO MATEUS & MARCOS
Capítulo 18................................................................................................203 Capítulo 19................................................................................................215 Capítulo 20................................................................................................223 Capítulo 2 1 ................................................................................................231 Capítulo 2 2 ................................................................................................243 Capítulo 23................................................................................................251 Capítulo 24................................................................................................263 Capítulo 25................................................................................................275 Capítulo 26................................................................................................285 Capítulo 2 7 ................................................................................................309 Capítulo 2 8 ................................................................................................331 O EVANGELHO SEGUNDO MARCOS Introdução...............................................................................................341 Capítulo 1..................................................................................................345 Capítulo 2 ..................................................................................................361 Capítulo 3 ..................................................................................................371 Capítulo 4 ..................................................................................................383 Capítulo 5 ..................................................................................................397 Capítulo 6 ..................................................................................................411 Capítulo 7 ..................................................................................................431 Capítulo 8 ..................................................................................................441 Capítulo 9 ..................................................................................................453 Capítulo 10............................................................................................... 467 Capítulo 11................................................................................................481 Capítulo 12................................................................................................491 Capítulo 13................................................................................................503 Capítulo 14................................................................................................511 Capítulo 15............................................................................................... 527 Capítulo 16............................................................................................... 539
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Parte 1 O E v a n g e l h o s e g u n d o M a t e u s
M a t e u s : I n t r o d u ç ã o
Os estudiosos modernos têm levantado dúvidas a respeito da au toria do Evangelho de Mateus em grego. C onform e citado por Eusébio, Pápias registra que Mateus escreveu o Logia de Jesus em hebraico (ara maico). Mas será que o nosso Evangelho de Mateus foi baseado em uma tradução grega do Logia em aramaico junto com M arcos e outras fontes, como tendem a pensar tais estudiosos? Nesse caso, o tradutor foi o apóstolo Mateus ou outro discípulo? Considerando os fatos co nhecidos, não há modo de chegarmos a uma conclusão definitiva. Não há verdadeira razão para Mateus não ter escrito o Logia em aramai co e o nosso Mateus em grego, a menos que acreditemos que alguém editou Mateus e partes de Marcos para compor uma obra, colocando Marcos no mesmo nível que Mateus. O livro de Marcos apóia-se pri mariamente na pregação de Simão Pedro. Em 1927, Jack P. Scholfield publicou An Old Hebrew Text o f St. Matthew’ s Gospel (Um Antigo Texto Hebraico do Evangelho de Mateus). Tal obra tem de estar baseada em conjectura. Pouco sabemos sobre a origem dos Evangelhos Sinóticos para afirmarmos, de form a dogmática, que o apóstolo Mateus não foi o autor.
COMENTÁRIO MATEUS & MARCOS
Se o livro for genuíno, como creio, a data torna-se tema de inte resse. Também nesse ponto não há nada absolutamente decisivo pela pesquisa textual, a menos que Mateus tenha sido escrito depois do Evangelho de Marcos e, evidentemente, utilize Marcos. Se Marcos foi escrito em data recuada, então o livro de Mateus seria relativamente antigo. Muitos colocam o seu surgimento entre 70 e 80 d. C. Não te mos certeza se Lucas foi escrito depois de Mateus, embora seja bastante possível. Não há como comprovar terminantemente que Lucas usou Mateus. Uma suposição é tão boa quanto a outra, e cada um decide de acordo com predileções próprias. A minha opinião é que Mateus foi escrito em cerca de 60 d.C., e constitui-se uma posição tão boa quanto qualquer outra.1 No próprio Evangelho, encontram os “Mateus, o publicano” (M t 9.9; 10.3; cf. Mt 9.9), embora Marcos (Me 2.14) e Lucas (Lc 5.27) o chamem de “Levi”. E lógico que ele tinha dois nomes (um grego e um hebraico), como também João Marcos. É significativo o fato de Jesus ter chamado esse homem de negócios de tão má reputação para seguilo. Não há indicação de que Levi era discípulo de João Batista. Ele fôra especialmente escolhido por Jesus para ser um dos doze apóstolos. Era um homem de negócios como os pescadores Tiago, João, André e Simão. Nas listas dos apóstolos, ele consta em sétimo ou oitavo lugar. Os Evangelhos nada contam especificamente sobre ele, a não ser o fato de que fazia parte do círculo dos doze e que deu um banquete aos seus colegas publicanos para honrar o Mestre Jesus. Mateus exercia a função de administrar contas e cuidar dos livros fiscais, sendo possível que, por hábito, tomasse notas das declarações de Jesus enquanto as ouvia. De qualquer modo, ele prestava muita atenção aos ensinos de Jesus como mostra, por exemplo, o Sermão da Montanha nos capítulos 5 a 7, as parábolas no capítulo 13, a repre ensão pública aos fariseus no capítulo 23 e o grande discurso escatológico nos capítulos 24 e 25. Como morador da Galiléia e publicano (cobrador de impostos) que colaborava com Roma, ele não era um judeu intolerante, por isso não temos um livro inclinado a favor dos judeus. Ele não mede esforços para mostrar que Jesus é o Messias judeu e a esperança nacional, e faz citações frequentes do Antigo Testamento
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Mateus: Introdução
para confirmar e ilustrar a posição messiânica de Jesus. Contu do, não encontramos nacionalismo intransigente em M ateus. Jesus é o Messias dos judeus e o Salvador do mundo. Há dez parábolas em Mateus que não constam nos outros Evangelhos: 1) O Joio; 2) O Tesouro Escondido; 3) A Rede; 4) A Pérola de Grande Valor; 5) O Credor Incompassivo; 6) Os Trabalhadores na Vinha; 7) Os Dois Filhos; 8) As Bodas; 9) As Dez Virgens; e 10) Os Talentos. Os únicos milagres encontrados somente em Mateus são a cura de dois cegos (Mt 9.27-31) e a moeda na boca do peixe (Mt 17.24-27). A história de Bartimeu é relatada com o detalhe adicional de que um segundo cego também foi curado com ele (Mt 20.29-34). Contudo, Mateus faz a narrativa do nascimento de Jesus do ponto de vista de José, ao passo que Lucas conta essa história maravilhosa na perspectiva de Maria. H á certos detalhes da morte e ressurreição de Jesus que só aparecem em Mateus. O livro segue o mesmo plano cronológico geral que em Marcos, mas procura colocar em grupos as matérias relacionadas, como os mi lagres nos capítulos 8 e 9 e as parábolas no capítulo 13. O estilo é livre de hebraísmos e tem poucas peculiaridades indivi duais. O autor gosta da expressão “o Reino dos céus” e descreve Jesus como o Filho do Homem, mas também como o Filho de Deus. Às vezes, ele abrevia as declarações de Marcos e, outras, ele as amplia para ser mais preciso. Alfred Plummer mostra o plano geral e amplo de Marcos e Mateus: • Introdução do Evangelho: Marcos 1.1-13 corresponde a Mateus 3.1—4.11. • Ministério na Galiléia: Marcos 1.14— 6.13 corresponde a Mateus 4.12— 13.58. • Ministério nas circunvizinhanças: Marcos 6.14— 9.50 corres ponde a Mateus 14.1— 18.35. • Viagem pela Peréia a Jerusalém: Marcos 10.1-52 corresponde a Mateus 19.1—20.34. • Ultima semana em Jerusalém: Marcos 11.1— 16.8 correspon de a Mateus 21.1—28.8.
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COM ENTÁRIO MATEUS & MARCOS
O Evangelho de Mateus consta em primeiro lugar nas páginas do Novo Testamento, embora não esteja assim em todos os manus critos gregos. Por causa de sua posição, é o documento mais lido e mais influente do Novo Testamento. Tal honra é apropriada, embora Mateus tenha sido escrito depois de Marcos, não seja tão belo quanto Lucas e nem tão profundo quanto João. É uma descrição exata e direta da vida e ensinos de Jesus Cristo como Senhor e Salvador. O autor mostra persuasivamente que Jesus cumpre a esperança messiânica do Antigo Testamento. Desta forma, o livro serve de excelente ponto de ligação entre a profecia do Antigo Testamento e o cumprimento do Novo Testamento.
O TÍTULO O Textus Receptus traz “O Santo Evangelho segundo Mateus” ( tò « m á M k t Gklov áyiov EmyyéÀiov), embora os Elzevires omi tam “santo”, não concordando com Stephanus, Griesbach e Scholz. Só os MSS minúsculos (manuscritos gregos cursivos e todos mais recentes) têm o adjetivo. Outros MSS minúsculos e nove unciais, in clusive o W (Códice Washington do século V), o C, do século V (ma nuscritos palimpsestos), e o Delta, do século IX, junto com a maioria dos MSS latinos, trazem “Evangelho segundo Mateus” (EuayyéAaov Katà MoaGalov). Os MSS Aleph e B, que são os dois unciais gregos mais antigos do século IV, só têm “Segundo Mateus” (Koaà MaGGoâ ov; note a letra dupla G, theta). O manuscrito uncial grego D, do sé culo X ou XI, segue Aleph e B, como fazem alguns dos mais antigos manuscritos latinos e o Curetoniano Siríaco. Então, está claro que a forma mais antiga do título era apenas “Segundo Mateus” . Podemos duvidar que Mateus (ou o autor, caso não tenha sido Mateus) tivesse algum título. O uso de “segundo” deixa claro que o significado não é “o Evangelho de Mateus”, mas o Evangelho conforme foi dado por Mateus, secundum Matthaeum, para distinguir o relato feito por ele do relato feito por Marcos, Lucas e João. Não há a menor autorida de nos manuscritos para dizer “São Mateus”, uma prática católica romana observada por certos protestantes. 18
Mateus: Introdução
O termo evangelho (eúayyéÀLoy) veio a significar “boas novas” em grego, embora originalmente se referisse à recompensa pelas boas novas, como vemos na Odisséia de Homero, em 14.152, e na LXX, em 2 Reis 4.10. No Novo Testamento, trata-se das Boas Novas de salvação por meio de Cristo. Há quem pense imediata mente no uso do termo Palavra ou Verbo (Àóyoç) citado em João 1.1,14. Portanto, de acordo com o grego, não são as “Boas Novas de Mateus”, mas as “Boas Novas de Deus”, reveladas através de Cristo, a Palavra, o Filho de Deus, a Imagem do Pai, a Mensagem do Pai. Temos de estudar essa história conforme Mateus a descreve. A mensagem é de Deus e nos é tão nova e alvissareira hoje como o foi no período quando Mateus a escreveu originalmente. NOTAS ____________________________________________________ 1N. do E.: Desde que A. T. Robertson escreveu e sta introdução, muitas pesquisas contribuíram para datar os autógrafos do Novo Testamento, inclusive a desco berta dos Rolos do Mar Morto e outras evidências manuscritas. Os que estão dispostos a degradar a historicidade dos Evan gelhos têm se esforçado, sem êxi to, em achar evidências para colocar Mateus depois do século I. Contudo, há mais evidências para colocá-lo bem antes disso, possivelmente na década de quarenta ou início da de cinquenta.
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Capítulo
1 Mateus 1.1. Livro1 (Bípioç). Na abertura do Evangelho grego, não há artigo2 mas os genitivos que seguem a palavra pípioç a tornam definida. Esse termo helénico referiase originalmente a uma planta chamada papiro, cujas hastes ou cascas eram usadas para fazer folhas para se escrever. A palavra papel é derivada da palavra grega Tíáuupoç (pa piro). Pedaços de papiro eram juntados e macetados a fim de formar uma superfície plana para a escrita. Compravamse papiros em rolos de comprimentos variados, de acordo com a necessidade do escritor. Essa palavra consta no Novo Testamento dez vezes com o significado de “livro” ou “rolo”.3 BipÀÍov é o diminutivo de Bi(3Àoç, mas nas páginas do Novo Testamento não possui a força diminutiva, sendo sinônimo de pípioç.4A forma plural dessa palavra é Tà (3i(3Ala, da qual se deriva o termo Bíblia? Os cristãos primitivos usavam as palavras pípioç para referiremse aos livros do Antigo e do Novo Testamento. Mateus não está aplicando a palavra livro ao Antigo Testamento, nem ao livro que está escrevendo. Ele se refere à geração6 de Jesus Cristo (BípÀoç yevéaeGOc; TipoO Xploto u). Moífatt traduz por “o rolo do nascimento de Jesus Cristo”. Não temos meio de saber onde o escritor obteve os dados para compor essa genealogia. Difere radicalmente
COMENTÁRIO MATEUS & MARCOS
da genealogia que consta em Lucas 3.2338. Podemos apenas teorizar sobre a diferença. Pelo visto, em Mateus temos a genealogia de José, que seria a genealogia legal de Jesus de acordo com o costume judaico. Em Lucas, entretanto, temos a genealogia da realeza de Jesus através de Maria, que, como seria de se esperar, Lucas descreve por estar escrevendo para os gentios. Jesus Cristo (Ir|aoü Xplotou). A ausência de artigos é comum em títulos de livros. Mateus usa os dois nomes, Jesus Cristo. O primeiro é o nome Jesus (’Ir]ooOç), dado pelo anjo a José (Mt 1.21), descrevendo a missão da criança. O segundo nome era originalmente um adjetivo verbal (Tr|aoOç) que significa ungido, do verbo ungir. Na LXX consta frequentemente como adjetivo, por exemplo, “sacerdote ungido” (1 Rs 2.10 na LXX é igual a 1 Sm 2.10 na Escritura canônica), e depois como substantivo para traduzir a palavra hebraica Messias (Meooíaç). André disse a Simão: “Achamos o Messias (que, traduzido, é o Cristo)” (Jo 1.41). Nos Evangelhos, às vezes é o Ungido, o Messias, ou é um nome próprio com título, como aqui , Jesus Cristo. Nas epístolas, escritas perto do final de sua vida, Paulo grafa normalmente Cristo Jesus. Filho de Davi,7 Filho de Abraão (ulou Aauiõ8 uloO ’APpaá|i). Mateus propõe mostrar que Jesus Cristo é, no lado humano, filho de Davi, como o Messias tinha de ser, e filho de Abraão. Ele não era um mero herdeiro judeu das promessas abraâmicas; ele cumpria a promessa feita a Abraão. Mateus começa a linhagem messiânica com Abraão, ao passo que Lucas retrocede a linhagem de Cristo até chegar a Adão. O hebraico e o aramaico usam muito a palavra Jilho para referirse à qualidade ou caráter da pessoa, mas aqui a ideia literal é descendência consanguínea. Os cristãos são chamados filhos de Deus, porque Cristo nos deu essa dignidade (Rm 8.14; 9.26; G1 3.26; 4.57). O versículo 1 é a descrição da lista apresentada nos versículos 2 a 17. Os nomes apre sentamse em três grupos: primeiro, de Abraão a Davi (w. 26); segundo, de Davi à deportação babilónica (w. 611); terceiro, de Jeconias a Jesus (w. 1216). A deportação babilónica (|iexoiKeoíaç Ba|3uÀtóvoc;) ocorre no fim do versículo 11, no começo do versículo 12 e duas vezes no resumo do versículo 17. Mateus usa esse grande acontecimento para diferenciar as duas últimas divisões uma da outra. E excelente a ilustra-
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ção do genitivo quanto ao caso de gênero ou tipo. A deportação para a Babilônia pode significar “para a Babilônia” ou “da Babilônia”. Mas os leitores judeus conheciam os fatos do Antigo Testamento. Mateus quer dizer a deportação “para a Babilônia”.9 O versículo 17 faz um resumo das três listas, quatorze nomes em cada, contando Davi duas vezes e omitindo vários nomes, um tipo comum de dispositivo mnemónico. Mateus não quer dizer que só havia quatorze descendentes em cada uma das três listas genealógicas. Os nomes das mulheres (Tamar, Raabe, Rute e BateSeba, a mulher de Urias) também não são contados. Mas é uma lista muito interessante. 1.2. Gerou10 (éyévvr|oev). Como acontece em alguns dos primeiros capítulos de Gênesis, esta palavra ocorre com regularidade até o versículo 16, chegando ao nascimento de Jesus, quando há então uma mudança súbita. A palavra nem sempre significa ascendência imediata, mas meramente descendência direta. O artigo ocorre todas às vezes com o complemento direto 4yévvr|aev, mas não com o sujeito do verbo para distinguir os nomes próprios. Os nomes próprios indeclináveis (inflexíveis) têm normalmente o artigo se a situação não estiver clara. Note que aqui os nominativos não têm artigo, mas os acusativos têm. O artigo enfatiza a distinção entre o sujeito e o complemento direto. A conjunção de. funciona aqui como mero copulativo em lugar de atuar como oposição.11 1.216. Jessé gerou ao rei Davi... Jacó gerou a José... (Ieooal õe èyéwri oev tòv ôéavlô tòv Paca Aia...’Iaicàp õe kykvvv\o^v xòv ’Iwoqcjj ) No caso de Davi, o rei (Mt 1.6), e José, o marido de Maria (Mt 1.16), o artigo é repetido para mostrar justaposição. A menção dos irmãos de Judá (Mt 1.2) e de Perez e Zerá (Mt 1.3) indica que Mateus não estava copiando uma linhagem conhecida, mas compilava a sua própria lista. Da quefoi mulher de Urias (ék Tf|ç toü Oúpíou). No versículo 6, o artigo duplo ilustra o genitivo de relação. O tf|c; feminino se refere à esposa de toíj Oúp lod. As palavras da que foi mulher de Urias12estão indicadas no grego pelo artigo rf|ç. A tradução exige uma paráfrase ou expansão do artigo para que o texto seja compreensível (ver 2 Sm 11— 12). Em grego, a soletração dos nomes hebraicos é feita violandose as regras gregas para
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a terminação das palavras que não terminam em consoantes, exceto v, p, or ç. A ortografia grega dos nomes difere da ortografia hebraica. Uma das razões é que, em grego, o uso do som de h está limitado ao sinal diacrítico aspirado colocado no começo da palavra, ou às consoantes duplas x (“ch”), 9 (“th”) e (j) (“ph”). Assim, em grego, Abrão ou Abraão sempre é soletrado da mesma forma “'A(3paá|i” sem o som de h que tem em hebraico. Outro exemplo é Br|9À.ée^i (Mt 2.1ss.), que em hebraico tem o som de h na última sílaba. Além disso, as palavras gregas só podem terminar com vogal, ditongo, com as consoantes v, E, ou tjf ou com as consoantes duplas x e y . Isso força uma alteração em os nomes adaptados para o idioma grego. Por exemplo, a palavra hebraica Judah se tornaria Judas (’Ioúôaç ou ’Ioúôa), porque o grego não tem o som de h no fim da palavra como tem na palavra hebraica. Quando os substantivos próprios gregos terminam em letras que não sejam vogal, ditongo, as consoantes v ou ” ou as consoantes duplas, indicam que se trata de uma transliteração de nome estrangeiro para o grego. A maioria destes nomes próprios é indeclinável. 1.16. José, marido de Maria, da qual nasceu JESUS, que se chama o Cristo (xòv ’Ioooricj} xòv avôpa M apíaç, èE, rjç èyewiíGri ’IriooCç ó Xeyófieyoç X p io io ç).13 Todos os MSS gregos apresentam o versículo 16 como está acima, exceto o Grupo Ferrar dos manuscritos minúsculos que é apoiado pela Versão Sinaítica Siríaca. Esse grupo traz a leitura: “Jacó gerou José; José, que estava noivo da virgem Maria, gerou Jesus que é chamado o Cristo”. Mas um estudo mais minucioso desta leitura mostra que o escriba não tencionava negar o nascimento virginal de Jesus. A própria frase diz que Maria era virgem e a passagem sobre José (Mt 1.1825) fala que ela não foi tocada, que são dados que afirmam terminantemente o nascimento sobrenatural de Jesus. É provável que tudo que signifique essa leitura de “gerou” é que José era o “‘suposto pai’ (ou seja, pretenso, conhecido, reputado, comumente considerado) de Jesus”, como traduz Moffatt em New Translation o f the New Testament (Nova Tradução do Novo Testamento). É notável que o mais antigo fragmento de papiro (P’) de qualquer porção do Novo Testamento contenha o texto grego comum de Mateus 1.16.14
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1.18. Ora, o nascimento de Jesus Cristo (ToO ôe ’Iipou XpioxoG T) yéveoLÇ1"'). A palavra outjgoç, mostra que um novo tópico será apresentado em perfeita harmonia com o raciocínio precedente. No grego, Jesus Cristo vem antes de nascimento, indicando o assunto importante depois de 1.16.16 Mas é claro que a história do nascimento de Jesus Cristo será contada brevemente. “Foi assim” (outg)ç) é expressão idiomática grega habitual. Em vez de nascimento, os MSS mais antigos têm a palavra geração (yéveo iç) usada em 1.1, e não a palavra gerou como ocorre em 1.16 (èyéwr|aev). “Na realidade, é a palavra Gênesis. O evangelista está a ponto de descrever, não a gênese do céu e da terra, mas a gênese daquele que fez o céu e a terra, e que ainda fará um novo céu e uma nova terra.”17 Estando Maria, sua mãe, desposada com. José ([ivr|Gi;ei)9eíar|<;18 ufjç |ir|Tpòç aÚTOÍ) M apíaç tcô ’Icoar|4>).19Mateus passa a explicar a declaração feita em 1.16, que insinuara que José, embora pai legal de Jesus na linhagem da realeza, não era o pai biológico do filho de Maria. Estar desposado (noivo) era questão séria entre os judeus, em cujo estado civil não se entrava levianamente e nem se desfazia facilmente. “O homem que desposava uma moça era legalmente o seu marido (Gn 29.31; Dt 22.2328), sendo impossível o cancelamento informal do noivado.”20 Embora não vivessem juntos como marido e mulher até ao casamento, a quebra de fidelidade por parte de um dos noivos era tratada como adultério e punível pela morte. Mateus usa a construção do caso genitivo absoluto, uma expressão idiomática grega bastante comum.21 Do Espírito Santo (ék iTveúiiaToc; (xyíou).22 A descoberta de que Maria estava grávida foi inevitável e claro que ela não contara a José. Achou-se ter concebido (eupé0r| kv yompl ’éxouoa). Este modo de dizer, que é expressão idiomática grega costumeira, mostra nitidamente que foi a descoberta que chocou José. Ele ainda não sabia o que Mateus afirma claramente, que foi o Espírito Santo, e não José ou outro homem, o responsável pela gravidez de Maria. O nascimento virginal de Jesus tem sido um fato intrigante para certas pessoas ao longo de todos estes séculos e continua sendo uma dificuldade para quem não crê na preexistência de Cristo, o Filho de Deus, antes de encarnarse. Este é o fato primordial sobre o nascimento de Cristo. Paulo (2 Co 8.9; Fp 2.511; e implícito
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em Cl 1.1519) e João (Jo 1.14; 17.5) declaram abertamente a encarnação de Jesus. Quem admite francamente a preexistência e a Encarnação de Jesus deu o passo mais longo e mais difícil na questão do nascimento sobrenatural de Jesus. Sendo verdade, não há nascimento meramente humano, sem o elemento sobrenatural, que explique os fatos admissi velmente. A Encarnação é muito mais que a habitação de Deus pelo Espírito Santo no coração humano. Admitir a Encarnação e também o nascimento humano pleno, de pai e mãe, cria uma dificuldade maior que admitir a concepção pelo Espírito Santo. Só Mateus e Lucas contam a história do nascimento sobrenatural de Jesus, embora João 1.14 toque no assunto. Marcos não tem absolutamente nada relativo ao nascimento e infância de Jesus e, portanto, não pode ser usado como testemunha do caso. Mateus e Lucas insistem que Jesus não teve pai humano. Na natureza, há formas reprodutivas como a partenogênese entre animais de espécies inferiores de vida. Mas este fato científico não tem sustentação aqui. Vemos Deus enviando o seu Filho ao mundo para ser o Salvador do mundo. Ele lhe deu uma mãe humana, mas não um pai humano, de forma que Jesus Cristo é Filho de Deus e Filho do Homem — o Deus Homem. Mateus conta a história do nascimento de Jesus na perspectiva de José, como Lucas a conta do ponto de vista de Maria. As duas narrativas se harmonizam. Há quem atribua essas descrições do nascimento ao que se sabe sobre o amor e o poder do Deus TodoPoderoso de fazer o que bem quer. Para Deus, que tem todo o poder e conhecimento, não existe milagre. As leis da natureza expressam a vontade de Deus, mas Ele não revelou toda a sua vontade nas leis que descobrimos. Deus é Espírito. Ele é Pessoa. Ele mantém em seu poder toda a vida. Dizem que João 3.16 é o “Pequeno Evangelho”, porque apresenta resumidamente o amor de Deus pelos homens enviando o seu próprio Filho para viver e morrer por nós. 1.19. Como erajusto2i (õÍKcaoç wv). Este mesmo adjetivo é usado para qualificar Zacarias e Isabel (Lc 1.6) e Simeão (Lc 2.25).24 Ele tinha a consciência judaica para observar a lei que teria condenado Maria à morte por apedrejamento (Dt 22.23). “Como bom judeu, ele teria mostrado zelo caso a tivesse estigmatizado com desgraça pública.”25 Embora fosse um homem reto, José não faria isso.
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E [...] não queria26 (xm |_ir] BeÀcov). É como temos de entender Kfxí, aqui: “e mesmo assim”. Mateus faz distinção entre “dis posição” (9éA.G)v) e “desejo” (épouÀtí9r|).27 A distinção entre “pro por” (BÉÀgo) e “desejar” (poúA,o|ica) nem sempre é delineada, mas aqui ocorre. O propósito não era “a [...] infamar” (ô eiy |ia t[oai),28 da raiz (ôéÍkvu|íl “mostrar”), uma palavra rara (ver o uso em Cl 2.15).29 O substantivo (ôeiy[_iai;ia|j,ó<;) ocorre na Pedra de Roseta no sentido de verificação. Há algumas ocorrências do verbo nos papiros, embora o significado não seja claro.30 A form a composta (TTapaõeiYiiaTLÇGo) aparece em Hebreus 6.6. Curiosamente, há ocorrências mais antigas da forma composta do que da forma sim ples, mas podem surgir outras ocorrências do verbo simples quando se descobrirem textos mais antigos.31José planejava divorciarse dela reservadam ente.32 Ele poderia lhe dar a escritura de divórcio (aTTOÀOoai), o gêt formulado na ÀáGpa, sem fazer o julgamento pú blico. Ele tinha de lhe dar o escrito {gêt) e pagar a multa (Dt 24.1). Seu propósito era fazêlo secretamente (ÀáGpa)33 para evitar escândalo tanto quanto fosse possível. Somos obrigados a respeitar José e concordar com os seus motivos. É óbvio que ele amava Maria e ficou horrorizado ao descobrir a infidelidade dela. De acordo com a narrativa de M ateus, é impossível atribuir a ascendência de Jesus a José sem dizer que Mateus produziu uma lenda para encobrir o nascimento ilegítimo. O Talmude acusa Maria abertamente desse pecado. José teve “uma luta curta e trágica entre a sua consciência legal e o seu amor”.34 1.20. Em sonho, lhe apareceu um anjo do Senhor (ayyeÀoç Kupíou kctc’ ova p ecjráyr) ccòtgo). Nas páginas do Novo Testamento, esta ex pressão (ayyeÀoç Kupíou) sempre ocorre sem o artigo, exceto quando, como em 1.24, há referência a um anjo previamente mencionado. Este é um artigo anafórico. Às vezes, o Antigo Testamento usa essa frase para apresentar o próprio Jeová. E lógico que José precisava da ajuda de Deus, ainda mais em uma situação como essa. Se Jesus era realmente o Filho de Deus, José tinha o direito de saber esse fato supremo para que fosse justo com Maria e a criança. O auxílio veio em um sonho, mas a mensagem era nítida e decisiva para José. Ele é chamado “filho
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de Davi”35 como Mateus mostrara em 1.16. Maria é chamada “tua mulher” (rpv yuvcâicá aou).36 Não temas receber a Maria, tua mulher ([if| 43oPri0r|ç Tiapcdapeiv M apià|i TT)y yuvcâKá oou). “Não temas” é a segunda pessoa do singular aoristo primeiro passivo depoente ingressivo do subjuntivo em proibição: |ir] c|)oPr|9f|Ç. “Receber” (TrapaÀapeiv) é o infinitivo aoristo ingressivo ativo. O versículo 20 explica que, “projetando ele” (auxoü év0U|ir]9évxo<;), o genitivo absoluto (kv e 9Ú|íoç), ele ia mandála em bora com um escrito de divórcio. Ele ponderara e planejara fazer o que fosse melhor nessa situação, mas agora Deus o manda parar. Cabia a ele decidir se estava disposto a acolher Maria, casandose com ela, e tomar sobre si qualquer estigma ligado a ela. Pelo sonho, José fica sabendo que a criança foi gerada do Espírito Santo e que Maria era inocente de pecado. Mas agora quem acreditaria se ele contasse esses fatos a respeito dela? Maria sabia a verdade e não lhe falara, porque não esperava que ele acreditasse. 1.21. [Tu] lhe porás o nome de JESUS (KaÀéoeiç xò õvop,a auxoü ’Iriooúy).37 Os rabinos citam seis pessoas que receberam nome antes de nascer: “Isaque, Ismael, Moisés, Salomão, Josias e o nome do Messias, a quem o Santo, santificado seja o seu nome, envie em nossos dias”. José foi informado de que a criança seria chamada JESUS. Jesus é igual a Josué, contração de Jehoshuah (Nm 13.16; 1 Cr 7.27), que em he braico significa “Jeová é ajudante”, “Ajuda de Jeová”38 ou “Jeová Salva”. Jesus é a forma grega de Josué (Hb 4.8). Ele é outro Josué para levar o verdadeiro povo de Deus à Terra Prometida. O nome em si era bastante comum. Josefo fala que havia numerosos “Josués” no século I. “Jeová é salvação” atuou na liderança de Josué pelo deserto a favor dos hebreus e em Jesus a favor de todos os crentes. “O significado do nome se ex pressa no título de Salvador conforme se aplica ao nosso Senhor (Lc 1.47; 2.11; Jo 4.42).”39 Porque ele salvará (ocóoei) o seu povo dos seus pecados para, assim, ser o seu Salvador (acoxrp). Ele será Profeta, Sacerdote e Rei, mas Salvador resume tudo em uma palavra. A explicação se efetua na promessa, porque é Ele (aúxòç) que salvará (ooóoet com um toque no nome Jesus) o seu povo dos seus pecados. Mais tarde, Paulo explicará
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que, pelo povo do concerto, os filhos da promessa, Deus tem em vista o Israel espiritual — todos os que crerem, quer judeus quer gentios. Esta palavra maravilhosa atinge o âmago da missão e mensagem do Messias. O próprio Jesus mostrará que o Reino dos céus diz respeito a todos aqueles e só aqueles que têm o Reino de Deus no coração e na vida. Dos seus pecados (dorò xwv à|aapTicòv cujtwv), tanto pecados de omissão quanto de comissão. O substantivo (à|iapxía) é derivado do verbo (à\iap~áveiv) e significa “errar o alvo”, como com uma seta. Jesus salvará aqueles que caem “longe de” (coto), como também “fôra de” (ék) os seus pecados. Em Cristo, os pecados cairão em esquecimento e Ele os encobrirá, colocandoos fôra de vista. 1.22. Tudo isso aconteceu para que se cumprisse (toüto ôè òÀov yéyovev 'iva TTÀTpGoGri). Alford diz que “é impossível interpretar'iva em outro sentido que não para q u e\A0 Esta era a antiga noção, mas os gramáticos modernos reconhecem o uso nãofinal dessa partícula no koiné e até mesmo o uso sucessivo como o ut latino. Alguns até argumentam a favor do uso causal. Se o contexto pede resultado, não precisamos hesitar em dizêlo, como em Marcos 11.28, João 9.36, 1 João 1.9 e Apocalipse 9.20; 131341 Aqui se refere a propósito, o propósito de Deus. Mateus informa que o anjo disse: “foi dito da parte de” (ímó o agente imediato) o Senhor “por” (ôiá agente intermediário) o profeta. Quando dia, é acrescentado a ôiá írrró, fazse uma distinção entre o agente intermediário e o agente mediato. Tudo isso aconteceu (toúto ôe ÓÀov yéyovev, terceira pessoa do singular do perfeito ativo do indicativo). Baseiase no registro como fato histórico. Todavia, o nascimento virginal de Jesus não se deve a essa interpretação de Isaías 7.14. E desnecessário sustentar42 que o próprio Isaías viu algo mais quando profetizou que uma mulher, então virgem, daria à luz um filho e que, no decurso de alguns anos, os assírios libertariam Acaz dos reis da Síria e Israel. Essa ilustração histórica tem o seu cumprimento mais rico quando Jesus nasceu de Maria. “As palavras em si são vazias. Elas são úteis apenas como recipientes para carregar coisas de uma mente para outra.”43 A palavra hebraica para referirse à virgem é traduzida por mpGtvoç em grego. Mas não é necessário concluir que Isaías contemplou o nascimento sobrenatural de Jesus. Não temos de dizer
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que a ideia do nascimento virginal de Jesus procedeu de fontes judaicas. Claro que não veio dos mitos pagãos que eram completamente alienígenas a este ambiente, atmosfera e espírito. É muito mais simples admitir o fato sobrenatural que tentar explicar a invenção da ideia como mito para justificar a deificação de Jesus. O nascimento, vida e morte de Jesus esclarecem muitíssimo as narrativas e profecias do Antigo Testamento para os cristãos primitivos. Em particular, em Mateus e João vemos “que os acontecimentos da vida de Cristo eram divinamente ordenados para o propósito expresso de cumprir o Antigo Testamento”.44 1.23. Ele será chamado (KKÀéaouaiv).45 Homens, povos, chamarão o seu nome Emanuel,46 “Deus [está] conosco”.47 “O interesse do evangelista, como também dos escritores do Novo Testamento, na profecia, era puramente religioso.”48 Contudo, é lógico que a linguagem de Isaías ilustrava maravilhosamente a encarnação de Jesus. Esta é a explicação que Mateus oferece do significado de Emanuel, um título descritivo de Jesus Cristo, e mais que mera designação emblemática. Observemos que a ajuda de Deus, Jesus, é igual ao socorro de Deus. Jesus disse a Filipe: “Quem me vê a mim vê o Pai” (Jo 14.9). 1.24. E recebeu a sua mulher49 (apéÀapev50 xr\v yuvalKa aútou). O anjo lhe dissera que não tivesse medo de receber Maria como mulher (Mt 1.20). Quando ele despertou do sono, obedeceu ao anjo prontamente e “levou a sua esposa para casa” (Moffatt).51 Só ficamos a imaginar o alívio e alegria de Maria quando José nobremente assumiu o sublime dever para com ela.52 1.25. E não a conheceu até que deu à luz seu filho53 (kocI ouk èyLVOOOKey aúrr]V ecoç ou eteicev uióv). Note a ação contínua ou linear do tempo imperfeito. José viveu em continência sexual com Maria até ao nascimento de Jesus. Usase cgjç ou (“até”) com um ao risto indicativo, quando se registra um acontecimento, etekév (“deu à luz”). Mateus não diz que Maria não deu à luz outro filho exceto Jesus. “Primogênito” não é genuíno aqui, mas faz parte do texto de Lucas 2.7. Mateus não está ensinando a virgindade perpétua de Maria. Jesus tinha irmãos e irmãs, e o significado natural é que eram filhos mais jovens de José e Maria, e não filhos que José teve de um casamento anterior.
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[José] pôs-lhe o nome de JESUS (kKÚXeoev54 tò 8vo|ict ctíiToO ’IriooGy),55 conforme a orientação do anjo, e o filho era legítimo. José mostrou que era homem reto em situação muito difícil. NOTAS 1 “Registro” (NVI). 2 A. T. Robertson declara: Os títulos dos livros podem ficar sem artigo, porque já são bastante específicos (A Grammar o f the Greek New Testament in the Light ofH istorica l Research [Nashville: Broadman, 1934], p. 793). 3 Livro de Moisés (Me 12.26), livro de Salmos (Lc 20.42; At 1.20), livro dos profetas (At 7.42), livro das palavras do profeta Isaías (Lc 3.4), livro da geração de Jesus Cristo (Mt 1.1), livro da vida (Fp 4.3; Ap 3.5; 20.15) e livros das artes mágicas (At 19.19). 4 B ip io ç é usado em Lc 3.4 para referirse às palavras do profeta Isaías, e fiifilíov é usado em Lc 4.17 para referirse aos escritos do profeta Isaías. 5 O termo grego PiPÀÍoc foi transliterado para o latim bíblia, que foi transliterado para o francês antigo biblie, que foi transliterado para o português bíblia. 6 Aqui Robertson faz a sua própria tradução, “tabela genealógica”. “A referência específica é às considerações do nascimento de Jesus apresentadas nos capítulos 1e 2. Alguns a aplicam somente a 1.117. Cf. Gn5.1: ‘o livro das gerações de Adão’. O termo geração, como também o termo grego no original, é ambíguo, mas a tradução mais provável é linhagem; ‘o livro da linhagem de Jesus Cristo’” (Commentary on the Gospel According to Matthew [Nova York: Macmillan, 1911], p. 51). 7 “Não diz respeito meramente à descendência davídica; filh o de Davi era um termo messiânico (Mt 21.9; cf. também Mt 9.27; 15.22; 20.30,31; 22.42). Jesus não fez reivindicações à descendência davídica, provavelmente porque os judeus teriam entendido que ele estava reivindicando um reino político.” Robertson, Commentary on Matthew, pp. 51, 52. 8Aauíõ em Greek New Testament, editado por Eberhard e Erwin Nestlé, e Bárbara e Kurk Aland (abreviado daqui em diante por GN T/NA); Aaueíô em WH; Aapíô no TR e TM. 9 Tradução de Robertson: “a deportação (dos judeus) para a Babilônia”. “No tempo do exílio na Babilônia” (ARA). 10 “Foi pai de” (NTLH). 11 No grego clássico, õé, chamando atenção ao segundo de duas coisas, significa: 1 ) “no próximo lugar”, ou 2 ) “por outro lado”. O primeiro destes usos é o original e é copulativo. O segundo é adversativo. 12 “Cuja mãe tinha sido mulher de Urias” (NVI).
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“C hamado Messias” Me ssias” (NTLH). (NTLH). 13 “Chamado 14 Robertson discute o problema no Capítulo 14 de Studies in the Text Text o f the New Ne w Testament (Reimpressão, Joplin, Missouri: College Press, 1969), pp. 162173. 15 GNT/NA GNT/NA tem tem yé v ea iç e WH, WH, TR e TM TM têm y€yvr)0 iç. iç . N ão é certo ce rto se “Jesu “Je sus” s” faz fa z pa parte rte de deste ste text te xtoo aq aqui ui,, visto vi sto qu quee está es tá au ause sent ntee no si 16 Não ríaco antigo e no latino antigo, enquanto que o Códice Washington tem apenas “Cristo”. O Códice Vaticano tem “Cristo Jesus”. ra ctic ical al C om omm m en enta tary ry on the G ospe os pell A ccor cc ordi ding ng to St. 17 James Morison, A P ract Mat M atth thew ew (Londres: (Londres: Hodder Hodd er & Stoughton, 1899), 1899), p. 8.
18 TR e TM incluem a conjunção yáp depois de |ivr| 0 Tei)8eL0r|Ç. 19 “Maria, sua mãe, comprometida em casamento com José” (BJ). “Maria, sua mãe, estava prometida em casamento a José” (NVI). 20 Alan Hugh McNeile, The Gospel According to St. Matthew: The Greek Text with Introduction, Notes, and Indices Indices (Reimpressão, Grand Rapids: Baker, 1980), p. 7. 21 Um substantivo ou pronome e um participio anártrico (sem artigo) no caso genitivo funciona como oração subordinativa ou sem conexão gramatical com a oração principal. O substantivo ou pronome no genitivo funciona como o sujeito do participio genitivo. 22 “Pelo Espírito Santo” (ARA). 23 “O participio sugere a base (ou causa) de ação no verbo principal. Cf. “ôiKOtioç gov Kcd |_i |_if| Gé GéAtiOV õ e i y i a a t i o a i . ” Ro Robe bertso rtson, n, Grammar, Grammar, p. 1.128. Esta tradução dá corretamente um sentido causai: “Por ser José, seu marido, um homem justo ” (NVI) (NVI).. 24 “Um homem que sempre fazia o que era direito” (NTLH). McNeile, Mat 25 McNeile, M atth thew ew,, p. 7. 26 “E não [...] querendo” (ARA). 27 “Intentou” (ARC); “pretendia” (NVI). 2S“Denun S“D enunciála ciála publicam ente” (BJ); “expôla “expô la à desonra pública” (NVI). TR e TM têm irap tóe iy [taxi [taxi oca. 29 “Difamar” (NTLH); “traducere” (Vulgata Latina), “divulgare” (latim antigo), “publicar” “publica r” (Wycliffe), (Wycliffe), “desgraçar” “desg raçar” (Moffatt). (Moffatt). 30 James Hope Moulton and George Milligan, The Vocabular Vocabularyy o f the Greek Testament (Londres: (Londres: Hodder & Stoughton, 1952), p. 138. exemp los dos papiros dão uma um a amostra (P Tebt. Tebt. 5.75), “fazer julgame julga mento nto de” d e” 31 Os exemplos (P. Ryl. I. 28.32). O substantivo significa “exposição” em (P Ryl. I. 28.70). 32 “Pretendia” (NVI). 33 GNT/NA, WH e TM têm A.á9pa TR não tem o iota subscrito, ÀáOpa.
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34 McNeile, Mat M atth thew ew,, p. 8. 35 Robertson declara: “Este fato confirma esta interpretação: a genealogia é de José e referese tãosomente à genealogia legal de Jesus” ( Commentary on Mat M atth thew ew,, p. 58). 36 “Como sua esposa” (NTLH; NVI). Maria já era considerada legalmente esposa de José antes de ele a levar para a casa. Em 1.19, ocorre a mesma estrutura e ordem de palavras: “José, seu marido” (“Maria, tua mulher” m ulher”,, 1.20) 1.20).. 37 “Você deverá darlhe o nome de Jesus” (NVI). 38 John A. Broadus, Commentary on Matthew Matthew (Reimpressão, Grand Rapids: Kregel, 1990), p. 10. [Tradução Brasileira: BROADUS, J. A. Comentário do Evan Ev ange gelh lhoo de M ateus ate us.. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1949, V. I, II.] Testament, vol. 1, The 39 Marvin Richardson Vincent, Word Studies in the New Testament, Synoptic Gospels Gospels (Reimpressão, Grand Rapids: Eerdmans, 1946), p. 16. Testamen ment, t, with a Critically C ritically Revis Re vised ed Text, Text, 4 4 Volumes 40 Henry Alford, The Greek Testa em 2 Volumes; The Four Gospels, revisado Gospels, revisado por Everett F. Harrison (Chicago: Moody, 1958), vol. 1, p. 8. 41 Ver análise em Robertson, Grammar, pp. Grammar, pp. 997999. 42 Broadus, Commentary on Matthew, Matthew, p. 11. [Tradução Brasileira: BROADUS, J. A. Comentário do Evangelho de Mateus. Mateus. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1949, V. I, II.] 43 Morison, Pra P ract ctic ical al Co Comm mmen entar tary, y, p. 11. 44 McNeile, Mat M atthe thew w , p. 11. Ver também Mt 2.1518; 4.1217; 8.17; 12.1721; 13.1315; 21.4,5; Jo 12.38,39; 13.18; 19.24,28,36,37. 45 GNT/NA, WH e TRs têm KaÀéaouau' TRb e TM não incluem o v eufônico, Kodéoouoi. 46 Em a nu nuel el é a transliteração da soletração grega; Im an anue uel l é a transliteração da soletração hebraica. 47 “A palavra em si não denota encarnação. Na ocorrência em Isaías 7.14 foi uma visitação de Deus com poder em relação ao incidente. Mas aqui muito mais é posto po sto na frase, fra se, po porq rque ue a real rea l en enca carn rnaç ação ão de Deu D euss acon ac onte tece ceuu na pes p esso soaa de Jesu Je sus” s” (Robertson, Commentary Comm entary on Matthew, p. Matthew, p. 60). 48 Alexander Balmain Bruce, The Expositor's Greek Testament, Testament, vol. 1, The Synoptic Gospels (Grand Gospels (Grand Rapids: Eerdmans, 1951), p. 68. 49 “E recebeu Maria como sua esposa” (NVI; cf. NTLH). A palavra Mar M aria ia está claramente implícita no texto, embora não conste no original grego. 30 GNT/NA, WH e TRs têm irapéla|3ev TRb e TM não incluem o v eufônico, irapéÀape. 51 Esta tradução de M offatt é melhor me lhor (cf. BJ). BJ).
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COMENTÁRIO MATEUS & MARCOS
52 Os problemas de Maria estão esboçados em A. T. Robertson, Mar M aryy the M othe ot her r o f Jesu Je sus: s: H e r Prob Pr oble lem m s a n d He H e r G lory lor y (Nova York: Doran, 1925). 53 “Porém não teve relações com ela até que a criança nasceu” (NTLH; cf. NVI). 54 GNT/NA, WH e TRs têm 6KáÀeaev, TRb e TM não têm o V eufônico, 6KKÀ.eae.
55 “E ele o chamou com o nome de Jesus” (BJ). (BJ).
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Capítulo
2 Mateu Mateus s í£I2JS!Jmí3MS]^í3MM^ 2.1. E, tendo tend o nascid nas cidoo J e s u s 1 (Toü õè Tr|aou yeyyr^éytoç). O fato do nascimento de Jesus é declarado pela construção do genitivo absoluto (particípio passivo do aoristo primeiro do mesmo verbo yeyyvá ye váw w usado já duas vezes acerca do nascimen nasc imento to de Jesus, 1.16,2 1.16,20, 0, e na sua genealogia, 1.216). Mateus não propõe dar detalhes biográficos gráficos do nascimento sobrenatural de Jesus, por mais maravilhoso que seja e por mais descrido que é pelas pessoas que ainda hoje negam que Jesus nasceu ou tenha existido. São proponentes que falam do “Mito Jesus” ou “Mito Cristo”. “O propósito principal é mostrar a recepção que o mundo deu ao Rei messiânico recémnascido. Homenagem de longe, hostilidade de perto; presságio da sina do novo sistema de crenças: recepção pelos gentios, rejeição pelos jud ju d e u s .”2 Em Belé Be lém m d a J u d é ia (kv Br|9X r|9Xéeii éeii xrjç rjç ’Iouõaíac;3 Iouõaíac;3). ). N a Gali Galilé léiia, havia uma Belém que distava quase doze quilômetros a noroeste de Naza Na zaré ré.4 .4 Esta Es ta B elém el ém (o no nom m e signific sign ificaa “cas “c asaa do pã p ã o” o”)) de d e Judá Ju dá foi o palc pa lcoo da vida v ida de Rute R ute com Bo Boaz az (Rt (R t 1.1,2; Mt M t 1.5) e a casa ca sa de Dav Davi,i, descendente de Rute e antepassado de Jesus (Mt 1.5). Davi nasceu nesta cidade e foi ungido rei por Samuel (1 Sm 17.12). A cidade
COMENTÁRIO MATEUS & MARCOS
veio a chamarse “cidade de Davi” Da vi” (Lc 2.11 2.11). ). Jesus, que nasceu nesne ssa “Casa do Pão”, intitulouse “o pão da vida” (Jo 6.35), o verdadeiro maná do céu. Mateus pressupõe o conhecimento dos detalhes do nascimento nascime nto de Jesus em Belém, os quais quais são apresentados em Lucas 2.17, ou não os considera relevantes para o que tem em vista. José e Maria Ma ria foram para Belém B elém de Nazaré, porque era a casa ancestral de ambos. O primeiro alistamento promulgado pelo imperador César Augusto, como mostram os papiros, foi feito “por famílias” (kkt ’ oLklkv). Algum ). Algumaa razão deve ter levado José a adiar a viagem. Agora ele tinha de ir, e o tempo para o nascimento da criança estava se aproximado. No N o tempo tem po do rei H erod er odes es55 (èv rpépouç 'Hpcóôou toü paoiÀécoç6). Esta é a única data do nascimento de Cristo que Mateus fornece. A pass pa ssag agem em de Luca Lu cass 2.13 ofere of erece ce um u m a da data ta mais mai s pre p recis cisa. a. Era o tem te m po do prim pr imeir eiroo alis al ista tame mento nto feito feit o po porr Césa Cé sarr Augu Au gusto sto,, sendo sen do Cirên Cir ênio io o governador da Síria (ver análise no Volume Dois, “O Evangelho segundo Lucas”). Mateus conta que Jesus nasceu enquanto Herodes era rei. Esse He Esse Herod rodes es é chamado “Herodes, o Grande”, que morreu em 4 d.C.7No ano 47 a.C., ele foi nomeado governador da Galiléia, mas em 37 a.C. foi elevado a rei da Judéia sob o império de Antônio Antôni o e Otávio. Ele era notável em pecado e crueldade, e ganhara o favor do imperador.8A imperador.8A história história em Josefo é uma tragédia.9Mateus tragédia.9M ateus não estipula quanto tempo antes da morte de Herodes Jesus nasceu. A data de 1 d.C., d.C., outrora comumente comum ente aceita, aceita, está indubitavelmente indubitavelmente errada, errada, como mostra Mateus. É óbvio que o nascimento de Jesus não pode ser fixado em data posterior a 5 a.C. Os dados fornecidos por Lucas exigem a data de 7 ou 6 a.C. Magos Ma gos vieram vie ram do Orie Or iente nte (|iáyoi (|iáyoi árrò àvazokõv). A àvazokõv). A etimologia da palavra liáyos é bastante incerta. Pode derivar da mesma raiz in doeuropéia que néyocç, ainda que haja quem identifique uma origem babil ba bilón ónic ica. a. He Heród ródoto oto fala fal a de uma um a tribo tri bo de m ag agos os que ha havi viaa entre os habitantes da Média. Entre os persas havia uma casta sacerdotal de magos semelhante aos caldeus da Babilônia (Dn 1.4). Daniel era chefe de tal ordem (Dn 2.48). O vocábulo mágico deriva mágico deriva desse termo grego. A palavra transmite a ideia de mágica, como no caso 36
Mateus 2
do mágico Simão (At 8.9,11) e de Elimas Barjesus (At 13.6,8). Em Mateus, Mate us, a ideia é que os magos mago s eram astrólogos. Babilôn Ba bilônia ia era a casa da astrologia, mas só sabemos que os homens eram do Oriente. Isso significa que podiam ser da Arábia, Babilônia, Pérsia ou de outro lugar. lugar. A noção noçã o de que eles eram reis surgiu da interpretação interpre tação de Isaías 60.3 e Apocalipse 21.24. A concepção de que eram três devese à menção dos três tipos de presentes (ouro, incenso, mirra), mas não há a menor comprovação disso. A lenda acrescentou à história os nomes de Gaspar, Baltasar e Melquior, dizendo que representavam os filhos de Noé: Sem, Cão e Jafé. Jafé. Supõese que o caixão que está na catedral de Colônia, Alemanha, contenha o crânio desses três personagens. A frase grega traduzida por “do Oriente”, áirò àvaxolQv significa “dos levantes” (do sol). 2.2. Onde está aquele que q ue é nascido rei rei dos ju d e u s? 10 (IIou êoTiv êoTiv ó xexGelç xexGelç PocaiA.e iA.euuç tgòv tgòv ’Iouôoá Iouôoáwv;) wv;) Os m agos afirm ir m aram ra m que viram a estrela desse rei. A estrela era um milagre ou uma combinação de estrelas brilhantes ou um cometa. É possível que esses homens fossem prosélitos judeus e soubessem da esperança messiânica, pois até Virgílio, que viveu de 70 a 19 a.C., tinha um vislumbre disso. O mundo inteiro estava inquieto na expectativa de algo prestes pre stes a acontecer. acontecer. James Jam es Hope M ou oulto lton1 n11 informa inform a que os os magos criam que uma estrela era o congênere ou “anjo” (cf. Mt 18.10) 18.10) de um grande gra nde hom ho m em .12Eles foram adorar ador ar o Rei dos judeus jud eus recémnascido. Sêneca'3fala sobre magos que chegaram a Atenas com sacrifícios para Platão depois que este morrera. De alguma maneira, eles concluíram que a estrela que viram indicava o nascimento desse Rei messiânico. Cícero (De Divin. Divin. i. 47) referese à constelação pela qual, na noite do nascimento de Alexandre, os magos predisseram predisser am que o destruidor da Ásia na scera.1 sce ra.144 A lford1 lford 15 está convencido de que Mateus não está dizendo que os magos criam que um milagre ocorrera no céu noturno. Mas podemos dizer que o nascimento de Jesus, no momento em que o Filho único de Deus tornouse carne, é o maior de todos os milagres. Nem sequer os métodos utilizados pelos astrólogos precisam perturbar os que estão seguros deste fato. 37
COMENTÁRIO MATEUS & MARCOS
Por P orque que vimo vi moss a sua su a estrel est relaa no O rien ri ente te116 (e’íô (e’íôo| o|ie ieyy yàp yà p aíruo aíruoO zòv zòv áoxépa kv xfj àvaioÀ àvaioÀri). ri). Isso não significa signific a que eles viram uma estrela que estava no Oriente. Caso tivessem seguido uma estrela para pa ra o Orien Or iente, te, eles não teria te riam m ido pa para ra a Judéia. Judé ia. As pa pala lavr vras as no Oriente Oriente têm de ser consideradas com vimos, vimos, ou seja: “Nós estávamos no Oriente quando a vimos”, ou mais provavelmente: “Nós vimos a sua estrela na sua ascensão” ascensã o”.. Moffatt traduz “quando subiu”. subiu” . A forma singular if} àvazoXr\ àvazoXr\ às vezes significa “oriente” (ver Ap 21.13, NVI), embora o plural seja mais comum, como em Mateus 2.1. Em Lucas 1.78 1.78,, a forma form a singular singul ar significa “sol nascen nas cente” te” (ARA; “oriente”, ARC), como o verbo ávéxeiÀev significa em Mateus 4.16 (“raiou”). 2.3. Pe 2.3. Pert rtur urbo bouu -se, -s e,111 e toda to da a Jerus Jer usalé além, m, com ele el e (éTapáxQt] «ai TTâoa 'lepooó 'lepooóÀu Àufia fia |aet |a et’’ aírcoü). aírcoü). Quem Que m conhe con hece ce bem be m a hist hi stór ória ia de Herodes, o Grande, entende perfeitamente por que a cidade ficaria alarmada alarm ada com a notícia de um rei irritado.1 irritad o.18 Na sua fúria com as rivalidades e ciúmes entre os membros da sua família, Herodes matou os dois filhos filhos de M ariana (Aristóbulo (A ristóbulo e Alexandre), a própria Mariana, e Antípater, outro filho e outrora seu herdeiro, além do irmão e mãe de M ariana (Aristóbulo e Alexandra) e o avô dela, dela, João Hircano. Ele fazia um testamento depois do outro e agora padecia de uma doença fatal. A pergunta dos magos o deixou extremamente furioso. Ele externou a sua agitação, colocando a cidade inteira em alvoroço. As pessoas sabiam muito bem o que ele poderia fazer quando ficava com raiva por seus planos terem sido atrapalhados. “O estrangeiro e usurpador temia o rival, e o tirano receava que o rival fosse acolhido favoravelmen fav oravelmente.” te.” 19 Herodes era um detestável idumeu. 2.4. [Ele] perguntou-lhes onde havia de nascei20 o Cristo (êmjyGáveuo ™p’ airrwv ttou ô Xpioròç yevvâxca). Temos o presente profético (yevv (yevvcac caca), a), mostrando que Mateus registrou r egistrou as palavras exatas de Herodes. A terceira terce ira pessoa do singular do pretérito imperim perfeito ativo do indicativo (éiTuvBávÉTo) dá a entender que Herodes indagava repetidamente, de um e outro dos líderes reunidos, tanto dos saduceus (os príncipes dos sacerdotes) quanto dos fariseus (os 38
Mateus 2
escribas do povo). povo). Alan McNeile2 McNe ile21 duvida que Herodes tenha reure unido todo o Sinédrio, porque ele começara o reinado massacrando os membros do mesmo. “Ele poderia facilmente perguntar a um só escriba.”22 escriba.”22 Não obstante, já fazia trinta anos que Herodes mandara m andara assassinar os anciãos, e agora ele estava por demais ansioso para saber exatamente o que os judeus judeu s esperavam com relação à vinda do do Messias. Mateus não menciona os anciãos, donde concluímos que Herodes não convocou o Sinédrio, mas chamou apenas os líderes entre os príncipes dos sacerdotes e os escribas do povo. Esta teria sido uma assembléia facultativa para simples consulta, e não uma reunião formal. É lógico que ele já ouvira falar desse esperado rei, e engoliria bastante orgulho para maquinar o malogro de tais esperanças. 2.5. E eles ele s lhe disse di ssera ram m (ol ôe eiu e iuau au aÚ aÚT Ttò). tò).223 M esm es m o sem se m ter de pesquisar as Escrituras, os eclesiásticos dão a opinião judaica comum de que o Messias tinha de vir de Belém e da descendência de Davi (Jo 7.42). Citaram Miquéias 5.2 em “paráfrase livre”, como diz Henry Alford, pois não está exatamente nos termos do texto hebraico heb raico ou da LXX.2 LX X.244 Pode ser citação de um acervo ac ervo de testimonia testimonia que ficou conhecido pela pesquisa de J. Rendei Harris. Herodes consultou os peritos e ouviu a resposta: “O lugar é Belém da Judéia” . O uso da terceira pessoa do singular do perfeito passivo do indicativo (Yéypcanm) é a forma comum para citar as Escrituras: “está escrito”. 2.6. Que há de apascentar 25(ootlç 25(ootlç TToqiavei). “Homero chama os reis ‘os pastores do povo’.”26 Em Hebreus 13.20, Jesus é chamado o “grande Pastor das ovelhas”. Jesus se chama “o bom Pastor” (Jo 10.11). Pedro chama Cristo o “Pastor e Bispo da vossa alma” (1 Pe 2.25). “O Cordeiro que está no meio do trono os apascentará” (Ap 7.17). Jesus disse a Pedro: “Apascenta as minhas ovelhas” (Jo 21.16). 2.7. Ent 2.7. Então, ão, Herode Her odes, s, ch cham aman ando do secr se cret etam amen ente te os mag m agos os221 (Tóxe 'Hpcóôriç Xá XáQpa 28 KccAiaa iaaç tou t ouçç laáyou laáyouç). ç). Clar Cl aroo que Hero He rode dess não disse para os peritos judeus a razão do seu interesse pelo Messias. Semelhantemente, ele esconde os seus motivos dos magos. E com 39
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isso “inquiriu exatamente”29 (riKpißwoev Trap’ auxuv), ou “informou se com precisão” prec isão” . Ele estava ansioso para saber s aber se a profecia profec ia judaica juda ica do local do nascimento do Messias concordava com as indicações que a estrela deu aos magos. Ace A cerc rcaa do tempo tem po em qu quee a estrel est relaa lhes ap apar arec ecer eraa (uòv xpóvov Toü 4mvo|iévo 4mvo|iévoi) i) omépoç) não é “ o tempo tem po quando quand o a estrel est relaa apare apa re-ceu”, ceu ”, mas a época da aparição da estrela.3 estrela .30 2.8. E, en envi vian ando do-o -oss a Belém Be lém,, diss di ssee (kkI (kkI ué[_u [_u|jaç |jaç ctíit ctíitouç ouç elç el ç Bri9A.ée|i |i31e 1eíuev) íuev).. Par P artic ticip ipio io aorist aor istoo simult sim ultân âneo, eo, “ en envia viando ndo diss di sse” e” . Perg Pe rgun untai tai dilig di ligen ente tem m en ente te332 (klexáaate (klexáaate axpißuc;)3 axpißuc;)333 a respei res peito to do menino. Parti Pa rticip cipaiai-mo mo,, p a r a qu quee também tam bém eu vá e o ado adore re (áTTctyyeiÀaTé (áTTctyyeiÀaTé (0,0 1 , ottg ottgooç Káy áyòò) èA.9ò .9ò)y upo upooK oKuvrio uvrioco co aírctò) aírctò).. O artifício de H erodes era bastante plausível e teria sido bemsucedido, não fosse a intervenção de Deus para proteger proteg er o seu Filho da raiva invejosa do rei. rei. 2.9. Ia I a ad adia iant ntee de dele less 34 (irpof (irpofiye iyevv au autou touç) ç),, terc te rcee ira ir a p e ssoa ss oa do singular do pretérito imperfeito ativo do indicativo, “mantinhase à frente deles”. A estrela não era um guia para a cidade, visto que agora eles sabiam qual era a cidade, cidade, mas para pa ra o lugar onde o menino estava. De acordo com 2.11, o menino menin o estava esta va em uma um a casa.3 cas a.35 2.10. A 2.10. Ale legr grar aram am-s -see muito mu ito com c om grand gra ndee j ú b i lo 36(kxáp 6( kxápr\oav r\oav %apàv [ie [ieyáÀriv riv ocfió fióôpa), terc te rcei eira ra pess pe ssoa oa do sin s ingu gula larr do aoristo aori sto segund seg undoo pass pa ssiv ivoo do indic ind icati ativo vo co com m acusa acu sativ tivoo cog cognat nato. o. A ale a legri griaa de devia viase se ao sucesso da procura. 2.11. Abrind Abr indoo os seus tesouros tesour os (àvo (àvoíE íE.a .avx vxeeç touç Orioaupouç cdr.áv). Aqui, cdr.áv). Aqui, tesouros significa tesouros significa “caixas de jóias”. No grego vem do verbo uí9r||_ii, e significa um recipiente para objetos de valor. Nos escritores antigos antigos,, significava “tesouro”, “tesouro” , como em 1 Macabeus Macabe us 3.29. 3.29. Em Mateus 13 13.52 .52,, é um “depósito” “dep ósito”.. Significa “as coisas colocadas colocada s em estoque [armazenadas]”, “tesouros” no céu (Mt 6.20), “tesouros” em Cristo (Cl 2.3). Nas caixas de jóias, os magos tinham ouro, incenso e mirra. Naquele tempo, todos esses artigos eram obtidos na Arábia, embora se encontrasse ouro na Babilônia e em outros lugare lugares. s. 2.12. Sendo por divina revelação avisados em sonhos3 sonhos 37 (Xpr||ioaio9évT;ec; kcct’ bvap). bvap). O verbo significa “tratar de negócio” 40
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(XprpaTÍ(G) de xpfpa e este de %páo|ioa), “usar”. Daí “consultar”, “deliberar”, “dar resposta” como de magistrados ou um oráculo, “instruir”, “advertir”. Na LXX e nas páginas do Novo Testamento, ocorre com a ideia de ser avisado av isado por Deus De us e tem te m o mesmo me smo significado nos papiros.3 papiros .38 A tradução tradução de Wycliffe é: é: “Uma resposta recebida no sono”. Porq Po rque ue He Herod rodes es há de pro p rocu cura rarr o me menin ninoo pa p a r a o ma matar tar 2.13. (laéÀÀei yàp 'Hpcóõr|ç (r\ielv (r\ielv tò rnuôíov toO áuoÀéaai aírcó39). Os magos foram avisados em sonhos para que não informassem Herodes, e agora José é avisado em sonhos para que fugisse com Maria e o menino. A declaração grega acima pincela um quadro vívido do propósito de Herodes. mor te de Eferodes4 Eferodes400 (ecoç xrjç T€À.euxf|ç 2.15. [Ele] esteve lá até à morte 'Hpcóôou). No Egito, José teve de cuidar de Maria e Jesus até a morte de Herodes, o monstro. Mateus cita Oséias 11.1 para pa ra m ostra os trarr que se tratava do cumprimento do propósito de Deus para chamar o seu Filho do Egito.4 E gito.41A 1A citação pode p ode ter te r sido tirada de um acervo a cervo de testimonia, em vez de ser citação da LXX. Há uma tradição judaic jud aicaa no Talmude que diz que Jesus “trouxe consigo artes mágicas do Egito em uma um a incisão inc isão no corp c orpo” o”..42 “Essa tentati te ntativa va de atribuir a tribuir os milagres m ilagres do Senhor à agência satânica é independente de Mateus, e pode ter sido do seu conhecimento, de forma que um dos objetivos da sua narrativa nar rativa é combater comba ter essa ess a ideia.”4 idei a.”43 M ataa r todos todo s os me menin ninos os qu quee ha havi viaa em Belé Be lém m (dtvellev 2.16. Mat ravraç touç TToâôaç touç kv BriGX riGXéep éep).4 ).44A fuga fu ga de José Jo sé era jus ju stifi ti ficc a da, pois Herodes “irritouse muito” (è0u|acó9ri kíav) por kíav) por ter sido escarnecido ou iludido (èu
gout] ev 'Pa|ià r)KOÚa0r|, kà,(xu0[íÒí; 41
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Kcd óõuppòç; uoÀúç, ... o u oi)K eloív). A o que parece, o texto de Jeremias 31.15 foi citado da LXX. Originalmente, o texto profético foi escrito a respeito do cativeiro babilónico, mas tem pertinência notável neste caso. Macróbio46 observa que Augusto disse que era melhor ser a porca (uç) de Herodes do que o seu filho (ulóç), pois a porca tinha mais chance de sobreviver. 2.20. Porque já estão mortos os que procuravam a morte do menino41 (Te0vr|Kaoiv yàp ol Çtitouvtéç iln>xf)v T°t) ircuôíou48). Só Herodes procurara matar o menino, mas tratase de uma declaração geral de um fato particular, como na expressão idiomática: “Dizem que...” Os dizeres podem ter sido evocados pelo texto de Êxodo 4.19: “Porque todos os que buscavam a tua alma morreram”. 2.22. Mas, avisado em sonhos por divina revelação49 (Xpr||j,aTiG0eiç ôe kkt’ ovap). José ainda estava com medo de ir para a Judéia, porque era Arquelau50 que agora ali reinava (regia, embora não fosse tecnicamente rei — ßccoiAeuei). Em uma choradeira lamurienta pouco antes da morte, Herodes mudara o seu testamento de novo, desta vez colocando Arquelau, o pior dos seus filhos vivos, em lugar de Antipas. Por isso, José foi para a Galiléia. Mateus nada diz sobre José e Maria já terem morado em Nazaré. Sabemos dessa informação por Lucas, que não conta nada sobre a fuga para o Egito. As duas narrativas completam uma à outra e de modo nenhum são contraditórias. 2.23. Ele será chamado Nazareno (NaÇwpoâoç KA,r|0r|aeTca). Mateus diz que era para cumprir o que fôra dito pelos profetas (ottcoç uA.r|pa)0f| tò pr|0èv ôià tòjv TTpo4>r)T
Mateus 2
caso, em vez da profecia que cria a história, sabemos com certeza que o fato histórico propôs a referência profética”.53 Os paralelos feitos por Mateus entre a história de Israel e o nascimento e infância de Jesus não são mera fantasia. A história algumas vezes se repete, e os escritores da história encontram paralelos frequentes. É óbvio que Mateus não está fôra dos limites da razão ou dos fatos ao ilustrar, a seu modo, o nascimento e infância de Jesus pela providência de Deus na história de Israel. NOTAS _____________________________________________________ 1 “Depois que Jesus nasceu” (NVI). 2 Alexander Balmain Brace, The Expositor’ s Greek Testament, vol. 1, The Synoptic Gospels (Grand Rapids: Eerdmans, 1951), p. 69. Ver Js 19.15. 3 GNT/NA e TM têm Br|0A,ée(i, WH e TR acentuam a últim a sílaba Br|0Àeé|j.. 4 Josephus, Antiquities o f the Jews, 19.15. [Edição brasileira: Flávio Josefo, História dos Hebreus: Obra Completa (Rio de Janeiro: CPAD, 1998).] 5 “Em dias do rei Herodes” (ARA). 6GNT/NA, WH e TM têm o iota subscrito, 'Hpcóôou; TR não tem, 'Hpúôou. 7 Josephus, Antiquities o f the Jews, 17.6. [Edição brasileira: Flávio Josefo, História dos Hebreus: Obra Completa (Rio de Janeiro: CPAD, 1998).] 8 Robertson o chama “Herodes, o Grande Pervertido” , em Some M inor Characters in the New Testament (Reimpressão, Nashville: Broadman & Holman, 1976), p. 25. 9 Josephus, Antiquities o f the Jews, 14 — 18. [Edição brasileira: Flávio Josefo, História dos Hebreus: Obra Completa (Rio de Janeiro: CPAD, 1998).] Harold W. Hoehner menciona que Herodes, o Grande, chegou a fazer seis testamentos diferentes, causando dificuldades para a sucessão depois da sua morte, a qual ele sabia que não estava distante ( Herod Antipas: A Contem porary o f Jesus Christ [Grand Rapids: Zondervan, 1972], pp. 269276). Robertson declara: “Ele era idumeu, amigo dos romanos, aficionado pelos costumes gregos, odiado pelos fariseus e judeus por suas inovações e crueldades, mas homem de extremo vigor e força de caráter. Reconstruíra (ou mais exatamente, começara a reconstruir) o templo. Mudou o seu testamento muitas vezes por causa de suspeitas e ciúmes entre os seus numerosos filhos e esposas, mãe, irmã e sogra. Mesmo agora ele estava com a saúde debilitada e anormalmente sensível sobre qualquer dúvida”. A. T. Robertson, Commentary on the Gospel According to Matthew (Nova York: Macmillan, 1911), p. 62. 10 “Onde está o recémnascido Rei dos judeus?” (ARA).
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11 James Hope Moulton em Journal o f Theological Studies (1902): p. 524. 12 Alan Hugh McNeile, The Gospel According to St. Matthew: The Greek Text with Introduction, Notes, and Indices (Reimpressão, Grand Rapids: Baker, 1980), p. 14. 13 Epistle 58. 14 McNeile, Matthew, p. 14. 15 Henry Alford, The Greek New Testament, with a Critically Revised Text, 4 Volumes em 2 Volumes (Chicago: Moody, 1958), vol. 1, p. 10. 16 “Vimos sua estrela no seu surgir” (BJ; cf. NVI, nota de rodapé). 17 “Ficou muito preocupado” (NTLH); “alarmouse” (RA; cf. BJ). ISJosephus, Antiquities o f the Jews, pp. 14, 15. [Edição brasileira: Flávio Josefo, História dos Hebreus: Obra Completa (Rio de Janeiro: CPAD, 1998).] 19 Brace, Expositor s, p. 71. 2° “perguntou onde devia nascer o Messias” (NTLH). 21 McNeile, Matthew, p. 15. 22 Josephus, Antiquities o f the Jews, 14.9.4. [Edição brasileira: Flávio Josefo, História dos Hebreus: Obra Completa (Rio de Janeiro: CPAD, 1998).] 23 “Responderam eles” (ARA) à pergunta de Herodes. GNT/NA e WH têm: eíimv; TR e TM tem uma grafia diferente para o mesmo verbo: éittoi\ 24Alford, Greek New Testament, vol. 1, p. 13. 25 “Que, como pastor, conduzirá” (NVI). 26 Marvin Richardson Vincent, Word Studies in the New Testament, vol. 1, The Synoptic Gospels (Reimpressão, Grand Rapids: Eerdmans, 1946), vol. 1, p. 20 . 27 “Então Herodes chamou em secreto os magos” (AEC; cf. NTLH). 28 GNT/NA, WH e TM têm o iota subscrito em ambas as palavras, 'Hptóôr|ç ÀáGpa; TR omite o iota subscrito em ambas as palavras, 'Hpcóõr]ç ÀáOpa. 29 “Procurou certificarse com eles” (BJ); “informouse com eles” (NVI). 30 “O tempo exato em que a estrela havia aparecido” (NTLH; cf. NVI). 31 Ver comentários sobre Br|9/lég[i em 1.216. 32 “Procurai obter informações exatas” (BJ). 33 GNT/NA e WH têm ^eraoaxe (kpipwç; TR e TM têm as palavras em ordem invertida, àKpipwç kE,eláoaie. 34 “Ia à frente deles” (BJ). Robertson declara: “Não podemos deixar de supor que a estrela desaparecera depois do seu surgimento e que agora ela voltara a surgir. O que Mateus quer dizer é que a estrela continuava se movimentando a frente deles” {Commentary on Matthew, p. 66). 35 A. T. Robertson, Word Pictures in the New Testament, 6 Volumes (Nova York: Richard R. Smith, 19301933), vol. 2, p. 19, fala de “estalagem de acordo com
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Mateus 2 Lucas 2.7. Justino M ártir diz que era em um a caverna. A baia onde o gado e os jumentos ficavam podia ser um lugar situado em nível inferior à estalagem, do lado da colina” . Porém, Mateus 2.11 fala que o menino estava em uma casa. E improvável que Jesus e seus pais tivessem ficado em uma estalagem por dois anos. E lógico que eles se mudaram para uma casa. 36 “Alegraramse com grande e intenso júbilo” (ARA). 37 “Tendo sido advertidos em sonho” (NVI). 38 G. Adolph Deissmann, Bible Studies: Contributions, Chiefly fro m Papyri and Inscriptions, to the History o f the Language, 2a ed., traduzido por A. Grieve (Edimburgo: T. & T. Clark, 1923), p. 122. 39 GNT/NA, WH e TM têm o iota subscrito, ao passo que TR o omite, 'Hpcóôriç. 40 “Onde ficou até a morte de Herodes” (NVI). 41 Robertson declara: “Não existe profecia a respeito, mas é uma alusão ao fato histórico que Deus tirara do Egito os filhos de Israel (Israel é frequentemente chamado filho ou servo de Deus). Tratase de uso típico do evento famoso, uma coincidência projetada de acordo com o autor, que vê paralelo surpreendente entre a história de Israel e a vida de Jesus” (Commentary on Matthew, p. 67). 42 Shabb, 104b. Robertson declara: “Jesus ficou no Egito pouco tempo como bebê, não tendo chance de ser influenciado pelas artes mágicas praticadas naquele país. Celso fez esta acusação gratuita contra Cristo” (Commentary on Matthew, p. 67). 43 McNeile, Matthew, p. 19. 44Ver comentários em 2.1. 45 “Illusus esset” (Vulgata Latina); “havia sido enganado” (NVI; cf. BJ). 46 Sat., 2.4.11. 47 “Porque já morreram os que atentavam contra a vida do me nino” (ARA). 48 GNT/NA e WH têm o v eufônico em TeGviÍKotaiv, ao passo que TR e TM o omitem, Te9vr|Kaai. 49 “Tendo sido avisado em sonhos” (AEC). 50 Robertson declara: “Quando José deixara a Judéia, o testamento de Herodes estipulava que Antipas o sucedesse. À última hora, ele mudou o testamento (Josephus, Antiquities o f the Jews, 18.811 [Edição brasileira: Flávio Josefo, História dos Hebreus: Obra Completa (Rio de Janeiro: CPAD, 1998).]), determinando que ’ApxéA.aoç fosse o governador da Judéia e Samaria, Antipas, o tetrarca da G aliléia e Peréia, e Filipe, o tetrarca da Ituréia e Trachonito. José ficou sabendo dessas mudanças quando chegou às fronteiras da Judéia’ApxeA.aoç era um homem muito pior que Antipas. Por conseguinte, José hesitou em expor a criança à furia de outro homem de temperamento semelhante a Herodes, o Grande” (Commentary on Matthew, p. 69). 51 De início, supomos que diz “o que fôra escrito”. Mas não diz assim! Diz “o que fôra dito”. O fato é que há profecias que foram escritas e nunca foram
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ditas. Algumas foram escritas e ditas; ao passo que outras foram ditas e nunca escritas. Esta profecia se classifica no último grupo. Há grande diferença entre to pr|0év, “o que fôra dito”, e o yiÉYpcnnm, “o que fôra escrito” ! E. W. Bullinger, Figures o f Speech Used in the Bible (Reimpressão, Grand Rapids: Baker, 1968), pp. 710,711. 52 John A. Broadus, Commentary on Matthew (Reimpressão, Grand Rapids: Kregel, 1990), p. 28. [Tradução Brasileira: BROADUS, J. A. Comentário do Evangelho de Mateus. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1949, V. I, II.] 53 Bruce, Expositor’ s, p. 78.
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Capítulo
3 Mateus 3.1. Naqueles dias, apareceu João Batista (’Ev ôè mlç rpépaiç ètceívaiç mxpayíveToa ’Icoáwriç1ò pauTiotriç). Aqui a narrativa sinóti ca começa com o batismo de João (cf. Me 1.2; Lc 3.1) de acordo com a apresentação de Pedro em Atos 1.22: “Começando desde o batismo de João até ao dia em que dentre nós foi recebido em cima”.2Mateus não indica a data quando João Batista apareceu, como Lucas faz no capítulo 3 (o ano quinze do império de Tibério César). Isso ocorreu uns trinta anos depois do nascimento de João Batista, embora não saibamos precisamente quanto tempo foi depois do retomo de José e Maria para Nazaré. Moffatt traduz o verbo ™pay [vexea por “entrou em cena”, mas o verbo está no presente histórico e exige uma imaginação vívida por parte do leitor. Lá vem ele adiantandose, fazendo a sua aparição. O nome João quer dizer “Presente de Jeová” (cf. Gotthold, em alemão) e é uma forma encurtada de Joanã ou Joanão. “Batista”, que significa “aquele que batiza”, é o rito que o caracteriza. Os judeus tinham o batismo de prosélito, como mostra I. Abrahams,3 mas esse rito era exclusivo para os gentios que aceitavam o judaísmo. João Batista está tratando os judeus como gentios ao exigir que se deixem batizar por ele com base no arrependimento.
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Pregando no deserto da Judeia («ripúaaGJV' kv xfj èpr||ito xf|ç ’Iouôaíaç). Era a região escarpada que se estendia pelos montes próximos ao rio Jordão e o mar Morto. Havia algumas pessoas dis persas pelos penhascos áridos e estéreis. João Batista tinha contato estreito com pedras, árvores, cabras, ovelhas e pastores, cobras que fugiam da relva que queimava pelos cantos das pedras. Ele era o batista, mas também o pregador, anunciando a sua mensagem primeiramente pelos montes desnudos, onde havia poucas pessoas, mas logo a sua mensagem surpreendente atraiu multidões de perto e de longe. 3.2. Arrependei-vos (iiexavoeiTe). Há certa complexidade envolvendo a tradução desse termo. João Batista não está chamando as pessoas para “sentir tristeza de novo” (do latim repoenitet, [impessoal]), mas para mudar (pensar subsequentemente) de atitude mental (laeiavoeiTe) e conduta. A Vulgata Latina tem “fazer penitência”, e Wycliffe a segue. O Siríaco Antigo é melhor: “Voltar”. Esta é a grande palavra4 de João Batista cuja tradução é difícil. O detalhe trágico é que não existe palavra em outro idioma que reproduza o significado e a atmosfera que o grego transmite. Em grego, há uma palavra que significa “sentir tristeza de novo” (|iera[iéXo|ica), que corresponde a arrepender-se. E a palavra grega usada acerca de Judas (Mt 27.3). João Batista era um novo profeta, que voltou à chamada dos antigos profetas: “Torne” (Is 55.7), “converteivos” (Ez 33.11; Joel 2.12), “restituindo” (Ez 33.15). Porque é chegado o Reino dos céus (ríyyiKev5 yàp f] pomÀeía züv oíipavwv).6Observe a posição do verbo e o uso do tempo perfeito ativo. Era uma mensagem impressionante que João Batista trovejou pelos montes e fez ecoar ao longo da terra. Os profetas do Antigo Testamento anunciaram que chegaria no tempo certo de Deus. Como arauto do novo dia, João Batista proclama que estava se aproximando. O quanto estava próximo, ele não diz, mas com certeza ele quer dizer que estava muito perto — suficientemente perto para que se pudessem ver os sinais e a prova. Ele não explica o sentido da frase “o Reino dos céus”. Os outros Evangelhos usam “o Reino de Deus”, como às vezes Mateus também usa. Mateus 48
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menciona “o Reino dos céus” mais de trinta vezes. João Batista quer dizer “o reinado de Deus”, não a organização política ou eclesiástica que os fariseus esperavam. As suas palavras seriam entendidas de modo diferente por grupos diferentes. Apocalipses judaicos ligavam numerosas imagens escatológicas a “o Reino dos céus”. Não está claro que afinidade João Batista tinha com essas características escatológicas. O seu linguajar era denso e enérgico, mas não temos de limitar o horizonte intelectual e teológico de João Batista ao dos rabinos dos seus dias. Ele era um estudante original do Antigo Testamento no seu ambiente desértico. Não há evidências que comprovem que ele tenha entrado em contato com os essênios que também moravam no deserto. A sua voz é uma nova voz que causa terror entre os teólogos superficiais do Templo e da sinagoga. Certos críticos negam habitualmente a João Batista a concepção do conteúdo espiritual das suas palavras. Tratase de crítica totalmente gratuita e infundada. 3.3. Porque este é o anunciado pelo profeta Isaías1 (outoç yáp eoxiv ó pr|9e!ç ôià ’Hoaíou toO TTpo^rpuoi) 8). Mateus interpreta a missão e a mensagem do Batista servindose de Isaías 40.3, onde “o profeta se refere ao retomo de Israel do exílio, acompanhado pelo seu Deus”.9 O evangelista o aplica à obra de João Batista como a “voz do que clama no deserto” para que as pessoas preparem o caminho do Senhor que agora está próximo. Ele era só uma voz, mas que voz. Ele ainda é ouvido nos transcurso destes séculos. 3.4. E este João (aÚTòç ôè ó ’Icoáwr|ç 10). É assim que Mateus apresenta o homem, descrevendo distintamente as suas roupas (note ei%ev, no tempo imperfeito), hábitos e comida. Tal figura grosseira pode não ser adequada para o púlpito, mas no deserto esse quesito pouco importava. O seu estilo de vida era questão de necessidade, e não uma afetação, embora fosse o traje original de Elias. Elias usava vestes feitas de; pêlo de camelo (2 Rs 1.8). Alfred Plummer defende que “João tomou Elias conscientemente como modelo” .11 3.6. E eram por ele batizados ( k ch k^avzíÇovzo). O tempo im perfeito indica a repetição do ato. As multidões da Judeia e regiões circunvizinhas iam continuamente ter com ele (ècfopeúeTo); temos 49
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de novo o tempo imperfeito, mostrando um fluxo regular de pessoas que saíam para ouvilo. Moffatt entende como causativo médio, “foram batizados”, o que é possível. “O movimento do curso era gradual. Começou em pequena escala e foi aumentando cada vez mais até alcançar proporções colossais.”12É pena que hoje o batismo seja questão de tanta controvérsia. Deixemos que Plummer, notável comentarista anglicano, fale sobre o fato de João estar batizando essas pessoas que iam até ele em multidões: “O seu ofício é ligálas a uma nova vida, simbolizada pela imersão em águas”.13 Corretíssimo, simbolizada e não causada ou obtida. A palavra rio é a leitura correta, “o rio Jordão”. Eram batizadas “confessando os seus pecados” (&;0|j,0A.0Y0Ú|!ev0 i), provavelmente cada pessoa fazendo confissão imediatamente antes do batismo, “fazendo confissão aberta” (Weymouth). Era uma cena para nunca mais ser esquecida às margens do rio Jordão. João Batista estava chamando uma nação para uma nova vida. As pessoas vinham de todas as partes da Judeia e até da Pereia, que ficava do outro lado do El Gôr (o Desfiladeiro do Jordão). Marcos acrescenta que toda a Jerusalém acabou indo também. 3.7. Dos fariseus e dos saduceus (xcòv Oapioaíooy koc! EaôõouKmwv). Era raro esses dois partidos rivais entrarem em ação comum, mas eles se unem contra João Batista e, mais tarde, também contra Jesus (ver Mt 16.1). “Uma atração forte aqui, uma repulsão forte ali, fizeram com que se esquecessem momentaneamente das suas diferenças.” 14 João Batista viu esses eclesiásticos rivais “que vinham ao seu batismo” (èpxonivouç èttI tò páTrciopoc). Alford comenta que “os fariseus representavam a superstição hipócrita; os saduceus, a descrença carnal”.13Não podemos entender adequadamente a atmosfera teológica da Palestina vigente naqueles dias sem nos inteirarmos devidamente desses dois movimentos divergentes.16 João Batista compreendeu muito bem o que os eclesiásticos queriam dizer ao seguirem as multidões ao rio Jordão. Ele lhes expôs a hipocrisia diante do povo. Raça de víboras (rewrm ara exLÔvcõv). Jesus usará o mesmo linguajar contra os fariseus (Mt 12.34; 23.33). Era habitual João Batista ver ninhadas de cobras pelas tocas e fendas das pedras. 50
Mateus 3
Quando as cobras sentiam o calor do fogo, corriam (^uyeiv) para a segurança da toca. A ira futura (xr|ç |ieAAoúar|ç ópyf|ç) não se destinava somente para os gentios, como supunham os judeus, mas para todos os que não estivessem preparados para a chegada do Reino dos céus (1 Ts 1.10). Não há dúvida de que os fariseus e saduceus estremeceram pelo golpe certeiro dessa forte acusação. 3.8. Frutos dignos de arrependimento (KapTTÒv rrjç ^ÉTavoLocç). Antes de batizar esses homens, João exige que eles apresentem provas da nova vida. “Os frutos não são a mudança de coração, mas são os atos que resultam dela.”17 João Batista foi muito corajoso quando contestou a dignidade dos que se faziam de luzes e líderes da ética. “Qualquer um pode fazer atos externamente bons, mas só o homem bom pode fazer uma colheita de atos e hábitos certos.”18 3.9. E não presumais de vós mesmos (kcu |af| ôó£r|Te Àéyeiv év èauTOLç). João Batista tocou o ponto fraco do orgulho eclesiástico. Na opinião deles, os méritos dos pais, especialmente de Abraão, eram suficientes para todos os israelitas. O reformador deixou claro que existia uma ruptura entre o patriarca e os líderes religiosos no que tange ao valor da raça diante de Deus. Mesmo destas pedras (ék tíôv A.Í0gov toijtgov). “Apontando, enquanto falava, os seixos na margem do rio Jordão.”19 3.10. E também, agora, está posto o machado à raiz das árvo res20 (r|õr| 5è r] d^ívri Trpòç Tf|v pí(av tgôv õévõpcov kéltcu). Este verbo Keiioa é usado como o presente passivo de TÍ9r||ai. Na verdade, a ideia é: “O machado está na (/npóç, “diante da”) raiz das árvores”. Está lá, pronto para agir. O presente profético também ocorre com “é cortada” e “lançada”. 3.11. Mais poderoso do que eu21 (loxupói;epó<; |ioú). É o caso ablativo depois do adjetivo comparativo. O seu batismo é o batismo com água, mas aquele que vem “vos batizará com o Espírito Santo e com fogo”. “A vida na era vindoura está na esfera do Espírito. Espírito e fogo estão unidos por uma preposição como se fosse um batismo duplo.”22 Broadus23entende “fogo” no sentido de separação 51
COMENTÁRIO MATEUS & MARCOS
semelhante ao uso da joeira. Como o mais humilde dos servos, João Batista sentiase indigno de carregar as sandálias daquele que vem. (Acerca de PacraxCco, ver análise em Mt 8.17.) 3.12. Queimará a palha com fogo que nunca se apagará 24 (KataKaúoei uupi áapéaTtú). Note o uso do aspecto perfectivo de Kaxá. A eira, a pá, o trigo, o celeiro, a palha (axupov, palha, palhiço, restolho), o fogo são elementos de um quadro comum da vida. O “fogo” aqui é o julgamento do Messias que se aproxima, da mesma maneira que no versículo 1 1 .0 Messias “limpará a sua eira”25 (ÔLíXKaBapiei tqy alcova aúxoír6). Ele a varrerá de lado a lado para deixála limpa. 3.13. Então, veio Jesus (Tóxe uapaYÍ.veiai ô ’Irioouç). O mesmo presente histórico é usado em Mateus 3.1. Saindo da Galileia, Jesus se dirige ao rio Jordão “para ser batizado por ele”27 (toú PaiTtiaGf] va i Í)tt’ aíruoü). É o genitivo articular do infinitivo de propósito, uma expressão idiomática muito comum. A fama de João Batista alcançara Nazaré, determinando a hora pela qual Jesus esperava. 3.14. Mas João opunha-se-lhe2*(ó ôè ’Icoáwriç ôieKxóA.uev aircò v29). É o pretérito imperfeito conativo.30 Os dois homens de destino estão face a face, possivelmente pela primeira vez. Aquele que vem estava diante de João Batista, que o reconhece, mesmo antes ter ocorrido o sinal comprobatório. 3.15. Cumprir toda a justiça (uA.rípcôoaL uâoav ôiKaioaúvr|v). A explicação de Jesus satisfaz João. Ele, então, batiza o Messias, que não tem pecado para confessar. Isso “convém” (TTpéirov) fazer, se não o Messias dará a impressão de ficar de lado do precursor. Desta forma, unemse os ministérios de ambos. 3.16. Viu o Espírito de Deus descendo como pomba (eiõev31 to TTveü|aa xou 9eot) Kaxapaivov còoel 'nepunepàv). Não está claro se Mateus quer dizer que o Espírito de Deus tomou a forma de pomba ou veio sobre Jesus como desce uma pomba. Qualquer uma das opções faz sentido. Mas em Lucas 3.22, temos “em forma cor pórea, como uma pomba” (oo)|j,aTiKCÔ eíõei tóç TiepioTepáv). Esta é provavelmente a ideia aqui. Os cristãos consideram a pomba como símbolo do Espírito Santo. 52
Mateus 3
3.17. Uma voz dos céus (cjjcovr] ék tgôv oúpavwv). Era a voz do Pai para o “meu Filho am ado” (ó ulóç [íou ó áyauriTÓç). Assim, cada pessoa da Trindade (Pai, Filho, Espírito Santo) está representada nesta entrada formal de Jesus no seu ministério messiânico. Claro que João Batista ouviu a voz e viu a pomba. Foi ocasião muito importante para João Batista, para Jesus e para 0 mundo inteiro. As palavras são semelhantes a Salmos 2.7, e a voz semelhante à que soou no monte da transfiguração (Mt 17.5). O comprazimento do Pai é expresso pelo tempo aoristo (eúôÓKrioa). NOTAS _____________________________________________________ 1 GNT/NA, TM e TR têm ’Iwávvriç, ao passo que W H tem um único v ’Icoávriç. 2 A. T. Robertson declara: “Como habitualmente faziam muitos escritores antigos, há um enorme intervalo aqui entre o incidente do retomo de José para Nazaré e o aparecimento de João Batista como pregador. O escritor quer dizer que enquanto Jesus morava em Nazaré, João Batista começou o seu trabalho” (Commentary on the Gospel According to Matthew [Nova York: Macmillan, 1911], p. 72). 3 I. Abrahams, Studies in Pharisaism an d the Gospels (Reimpressão, N ova York: Ktav, 1967), p. 37. 4 Alexander Balmain Bruce, The Expositor’ s Greek Testament, vol. 1, The Synoptic Gospels (Grand Rapids: Eerdmans, 1951), p. 79. 5 GNT/NA e WH têm o v eufônico, líyyiKey, ao passo que TR e TM o omitem, r|yyiK 6. 6“Porque está próximo o reino dos céus” (ARA). 7 “Este é aquele de quem o profeta Isaías falou” (AEC; cf. BJ). 8 GNT/NA, TR e TM têm a diérese em ’Haocíou, ao passo que WH a omite, ’Haaíou. 9 Alan Hugh McNeile, The Gospel According to St. Matthew: The Greek Text with Introduction, Notes, and Indices (Reimpressão, Grand Rapids: Baker, 1980), p. 25. 10 Ver nota 1 do capítulo 3 relativa à ortografia de ’Iioávvriç. 11 Alfred Plummer, An Exegetical Commentary on the Gospel According to Saint Matthew (Reimpressão, Grand Rapids: Eerdmans, 1956), p. 27. 12 Bruce, Expositor’ s, p. 81. 13 Plummer, Matthew, p. 28. 14 McNeile, Matthew, p. 26.
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COMENTÁRIO MATEUS & MARCOS
15 Henry Alford, The Greek Testament, with a Critically Revised Text, 4 Volumes em 2 Volumes; The Four Gospels, revisado por Everett F. Harrison (Chicago: Moody, 1958), vol. 1, p. 22. 16 Há numerosos livros, artigos e verbetes em dicionários bíblicos. Robertson descreveu os fariseus nas primeiras Conferências Stone (1916), realizadas na Universidade de Princeton. Esta série de palestras foi publicada em livro com o título de The Pharisees and Jesus (Nova York: Scribner, 1920). 17 McNeile, Matthew, p. 27. 18 Bruce, Expositor s, p. 83. 19 Marvin Richardson Vincent, Word Studies in the New Testament, vol.l, The Synoptic Gospels (Reimpressão, Grand Rapids: Eerdmans, 1946), p. 24. 20 “O machado já está pronto para cortar as árvores pela raiz” (NTLH). 21 “Mais forte do que eu” (BJ). 22 McNeile, Matthew, p. 29. 23 John A. Broadus, Commentary on Matthew (Reimpressão, Grand Rapids: Kregel, 1990), pp. 51, 52. [Tradução Brasileira: BROADUS, J. A. Comentário do Evangelho de Mateus. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1949, V. 1, II.] 24 “Queimando a palha com fogo que nunca se apagará” (AEC). 25 “Limpará completamente a sua eira” (RA). 26 Futuro ático de i(w e nota õia. 27 “Para ser batizado por João” (NVI). O nome João não se encontra no texto grego. 2S“João, porém, tentou impedilo” (NVI). 29 Ver nota 1 do capítulo 3 relativa à ortografia de ’Iwávvriç. 30 O conativo significa que ele tentou ou tencionou, mas a ação foi incompleta. 31 GNT/NA e WH têm o v eufônico, eíôev ao passo que TR e TM o omitem, eiõe.
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Capítulo
4 Mateus 4.1. Para ser tentado pelo diabo (ité ipaaGrjvoa ÚttÒ toü ôiapóÀoi)). Mateus situa a tentação em um tempo definido: “então” (totê), e em um lugar específico: “ao deserto” (elç xf|v eprpov). É a mesma região geral na qual João Batista estava pregando. Não admira que Jesus fosse tentado pelo Diabo imediatamente depois do batismo, que representava a sua entrada formal na obra messiânica. Esta é uma experiência comum para os que se expõem por Cristo. Mateus diz que “foi conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo”. Marcos usa uma palavra mais forte, dizendo que o Espírito “impeliu” (èi<(3áAA€i) Jesus para o. deserto (Me 1.12). Foi um impulso forte do Espírito Santo que levou Jesus ao deserto para refletir sobre a profunda significação do grande passo que dera. Este passo abriu a porta para Satanás e implicou em conflito inevitável com o caluniador (toíj õux(3óA.oi)). Esse termo é aplicado a Judas (“diabo”, Jo 6.70), a homens (“caluniadores”, 2 Tm 3.3) e a mulheres (“caluniadoras”, 1 Tm 3.11 [NVI]; Tt 2.3) que fazem a obra do arquicaluniador. Hoje em dia, há aqueles que não crêem que exista o Diabo em pessoa, mas ao mesmo tempo não oferecem uma explicação adequada para a existência do pecado. Certamente Jesus
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nunca diminuiu ou negou a realidade da presença do Adversário. O verbo tentar (ueipá(a)) aqui e em Mateus 4.3 significa originalmente “testar”, “experimentar”. Esse é o significado habitual no grego antigo e na LXX. Ocorre um sentido ruim do verbo (na forma èieneipá(cú) em 4.7 e em Deuteronômio 6.16, versão da LXX. Por conseguinte, veio a significar, como se dá na maioria das vezes no Novo Testamento, “solicitar para pecar” . “E difícil de entender que Jesus, como o Filho de Deus, pudesse ser tentado. Mas é da mesma maneira difícil ver que Ele, como ser humano, pudesse escapar da tentação. E lógico que nesta e em todas as tentações de Cristo o propósito de Deus era preparar Jesus para, mediante a experiência que teve, ser um Salvador que entendesse os nossos sentimentos (Hb 2.10,18; 4.15; 5.79). A realidade da tentação não implica pecado na natureza de Jesus. Ele sentiu a tentação muito mais, porque resistiu até a última gota. Ele era um verdadeiro homem, embora livre de pecado.”1O sentido ruim do verbo vem do seu uso para o propósito mau. 4.2. Tendo jejuado2 (yrioteúoaç). Não um jejum cerimonial su perficial, mas a abstinência de comida durante certo tempo de comunhão com o Pai. Moisés fizera tal jejum durante quarenta dias e quarenta noites (Êx 34.28). “O período do jejum, como no caso de Moisés, foi gasto em enlevo espiritual, durante o qual os desejos do corpo natural foram suspensos.”3 Depois teve fome'1' (uouepov èiTeívaoev) ao fim dos quarenta dias. 4.3. Se tu és o Filho de Deus (El uiòç e! toO 0eoü). Mais exatamente: “Se tu és Filho de Deus”, pois não há artigo antes de “Filho” (cf. BJ; ARA). O Diabo, porém, está se referindo às palavras que o Pai disse a Jesus no batismo: “Este é o meu Filho amado” (Mt 3.17). Ele desafia esse modo de tratamento usando uma situação de primeira classe. Ele presume que a situação é verdadeira e, com ha bilidade, exige que Jesus exercite o seu poder como Filho de Deus para saciar a fome. Tais ações provariam, para ele e para todos, que Jesus realmente era o que o Pai o chamou. Se tornem em pães (aptoi yévcovTOi). Literalmente, “que estas pedras (redondas e lisas, as quais possivelmente o Maligno apontou 56
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ou quem sabe até as apanhou e segurou) se tomem em pães” (cada pedra um pão). Era tudo tão simples, óbvio e fácil. Satisfaria a fome de Jesus e estaria tudo dentro do seu poder. 4.4. Está escrito (yéypcnTtoa). Terceira pessoa do singular do perfeito passivo do indicativo, “permanece escrito e ainda está em vigor”. Todas as três vezes, Jesus cita Deuteronômio para repelir a tentação sutil do Tentador. Aqui as palavras são de Deuteronômio 8.3, da LXX. O pão é um mero detalhe5de nossa dependência de Deus. 4.5. Então o diabo o transportou (Tóte ™,paA.a|j,pávei aútòv ó ôiápoÀoc;). Mateus gosta de usar o advérbio temporal tó te (ele já usou em 2.7; 3.13; 4.1,5). Note como é vívida a imagem mental do presente histórico. Lucas coloca esta tentação em terceiro lugar, organizandoas em ordem geográfica. Alford opina que o Maligno recebeu a permissão de ter ao seu dispor a pessoa de Cristo.6 Sobre o pináculo do templo (cit! tò utepúyiov toü lepou). Literalmente “asa”. A palavra pináculo vem do latim pinnaculum, que é diminutivo de pinna (asa). “O templo” (tou lepou) aqui inclui a área total do Templo e não só o santuário (ó vaóç): o Lugar Santo e o Lugar Santíssimo. Não está claro em que lugar ficava essa “asa”. Pode ser alusão ao pórtico real de Herodes, o qual se projetava sobre o vale de Cedrom que distava uns cento e quarenta metros abaixo, uma altura vertiginosa.7Esta ala se situava no sul do pátio do tem plo. O historiador Hegesipo diz que Tiago, irmão do Senhor, foi lançado abaixo da asa do Templo. 4.6. Lança-te daqui abaixo (pá/U oeautòv Kcítto). A atração para atirarse abaixo ao abismo intensifica o medo nervoso que as pessoas sentem quando estão em um lugar alto. O Diabo insistiu na confiança presunçosa em Deus e citou a Bíblia para fundamentar a sua opinião (SI 91.11,12). Fazendo isso, ele omitiu uma cláusula e tirou conclusões errôneas da Palavra de Deus para fazer o Filho de Deus tropeçar. Se a população o visse planando até ao chão como se tivesse vindo do céu, não haveria quem não acreditasse que Jesus era o Messias. Este seria um sinal do céu em concordância com a expectativa messiânica popular. Os anjos seriam um tipo de “pára quedas espiritual” para Cristo. 57
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4.7 Não tentarás o Senhor, teu Deus&(Oúk eKTTeipáaeiç KÚpiov tÒv Qeóv oou). Jesus cita Deuteronômio mais uma vez (Dt 6.16) para mostrar que o Adversário usou de maneira totalmente errada a promessa de proteção dada por Deus. 4.8. E mostrou-lhe (Wi õeiKvuoiv aurto). Esse panorama maravilhoso tinha de ser parcialmente mental e imaginativo, visto que o Tentador fez passar em revista “todos os reinos do mundo e a glória deles”. Mas esse fato não prova que todas as fases das tentações sejam subjetivas ou que o Maligno não estivesse verdadeiramente ali. Temos aqui mais uma vez o presente histórico (õeÍKvuoiv) que nos proporciona uma imagem mental vívida. Agora o Maligno tem Cristo em um monte muito alto, seja o tradicional monte Quarantânia seja outro lugar. Do ápice do monte Nebo, Moisés teve a visão da terra de Canaã (Dt 34.13). Lucas diz que o panorama ocorreu “num momento de tempo” (Lc 4.5). Portanto, é óbvio que houve um elemento de visão. 4.9. Tudo isto te darei9 (Tauxá ooi vávicc ôcóoco). Satanás afirma que governa o mundo, até as regiões que estejam fôra da Palestina ou do Império Romano. Jesus não contesta o que ele afirma. “Os reinos do mundo” (Mt 4.8) estavam sob a sua influência. Kóopou salienta o arranjo ou disposição metódica do universo, ao passo que t) 0 lK 0U(iévri apresenta a terra habitada. Ainda que Satanás possa cumprir o que prometeu, Jesus repele a condição:10“Se prostrado, me adorares”11 (TTeooov irpooKwriariç poi). Lucas (4.7) diz: “Se tu me adorares, tudo será teu” (TTpoaKuviícrflç èvGÓrriov époO), que é linguagem menos ofensiva, mas mesmo assim implica adoração ao Diabo. Desta forma, a ambição de Jesus é imposta ao custo do reconhecimento da primazia do Diabo no mundo. Esse acordo teria implicado na rendição do Filho de Deus ao príncipe mundial das trevas. “A tentação era tripla: ganhar domínio temporal e não espiritual, ganhálo imediatamente e ganhálo por um ato de homenagem ao príncipe deste mundo, que tomaria o autoconstituído Messias no viceregente do Diabo e não de Deus.”12 4.10. Vai-te, Satanás13Ç' Ymr/e, Earavâ). As palavras “para trás de mim” (óttlogj pou) pertencem a Mateus 16.23 e não são originais 58
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aqui. Esta tentação é o limite da sugestão diabólica e argumenta a favor da ordem lógica em Mateus. Satanás significa “adversário”, e é como Cristo identifica o Diabo. Jesus cita Deuteronômio 6.13 para repelir a sugestão infame pelo uso da citação da Bíblia. Mais tarde, Jesus advertirá os homens a não servirem a Deus e a Mamom (Mt 6.24). O Maligno, como senhor do mundo mau, constantemente tenta ganhar os homens para o servirem. A palavra em Mateus 4.10 traduzida por servirás é ÂaTpeúaeiç, de Àátpiç, que significa “servo contratado”, aquele que trabalha por contrato. 4.11. Então, o diabo o deixou (Tóxe á^írioiv cojtov ó ôiápoÀoç). Note o uso mais uma vez de então (tÓté) e do presente histórico. O movimento é rápido. E, eis ( kou íôoú), como frequentemente ocorre em Mateus, são palavras que dão prosseguimento à cena. Chegaram os anjos e o serviram 14 (ayyeÀoi TTpoafjÀGov «ai ôir|KÓvouv auTcò). IIpoof|À0oy é um aoristo constativo, terceira pessoa do plural do aoristo ativo do indicativo. Alt|kÓvoi)v descreve ação pitoresca imperfeita e linear. A vitória foi ganha apesar do je jum de quarenta dias e os ataques repetidos do Adversário que experimentara todas as possibilidades de abordagem. Os anjos o animaram por causa da inevitável reação nervosa e espiritual da tensão do conflito, e também lhe deram comida, como no caso de Elias (1 Rs 19.6,7). As questões em jogo eram de suma importância, visto que os defensores da luz e das trevas lutaram por domínio. Lucas (4.13, ARA) informa que o Diabo deixou Jesus somente “até momento oportuno” (axPLKcapoü). 4.12. Jesus,15 porém, ouvindo (AkoÚoccç ôé). Arazão de Jesus ter voltado para a Galiléia é que João Batista fôra preso. Os Evangelhos Sinóticos pulam um ano inteiro: da tentação de Jesus ao seu ministério galileu. Mas da passagem de João 1.19— 3.36, não saberíamos nada sobre o “ano da obscuridade”.16A obra de Cristo na Galiléia começou depois do fim do ministério ativo de João Batista, cuja obra se estendeu na prisão por um ano ou muito mais. 4.13. [Ele] fo i habitar em Cafarnaum17(èÀQoòv kktgÓktioév eiç Kacjjapvaoup.). Jesus foi primeiro para Nazaré, o seu antigo lar, mas 59
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ali o rejeitaram (Lc 4.1631). Em Cafamaum (provavelmente o sítio arqueológico de Tell Hum), Jesus estava em uma cidade grande, um dos centros da vida política e comercial da Galiléia, que tinha um comércio de peixes. Muitos gentios dirigiamse a Cafamaum. Ali, a mensagem do Reino teria melhor chance que em Jerusalém, com seus preconceitos eclesiásticos, ou em Nazaré, com seus ciúmes locais. Assim, Jesus “foi habitar” (KaxcÓKr|oev) ali. 4.16. Viu uma grande luz 18(4>(3ç eíôev |aéya). Mateus se refere a Isaías 9.15 e aplica ao Messias as palavras a respeito do libertador da Assíria. “O mesmo distrito achavase em trevas e morte espiritual e o novo tempo amanheceu quando Cristo foi para lá.” 19A luz resplandeceu “aos que estavam assentados na região e sombra da morte” (kv %cópa KCCL 0KLÍ Qaváxou). A morte foi personificada. 4.17. Começou Jesus a pregar (r\ pactuo ô Tr|ooOç icrpúcaeiv) na Galiléia. Já fazia um ano ou mais que ele estivera pregando em outro lugar. A sua mensagem levou avante as palavras de João Batista sobre “arrependimento” e a proximidade do “Reino dos céus” (Mt 3.2). A mesma palavra traduzida por “pregar” (KTpúoaeiv), derivada de Kfjpui;, aquele que anuncia, é usada em pertinência a Jesus como também a João Batista. Ambos proclamaram as Boas Novas do Reino. Mateus descreve Jesus mais frequentemente por Mestre (ó ôiôáaKcdoç) que ensinava (èõíõaoKev) o povo. Ele era anunciador e professor. 4.18. Lançavam as redes ao mar 20 (páAAovraç á|i4>ípÀr|aTpov elç xr]y 0áA.aaaav). O te m o usado se refere a uma rede de arremesso (compare á|i(t)ipáXX(jO em Marcos 1.16, lançando em ambos os lados). A rede era lançada por cima do ombro e espalhada em um círculo (á[i4>í). Em Mateus 4.20, 21, ocorre outra palavra, õíicrua, e referese a redes de qualquer tipo. A grande rede de arrasto (oayrivr]) consta em Mateus 13.47. 4.19. Pescadores de homens (áÀielç àvGpcÓTTOúv). André e Simão eram pescadores profissionais. Eles já tinham se tomado discípulos de Jesus (Jo 1.3542), mas agora a chamada é para deixar o trabalho secular e seguir a Jesus nas suas viagens e atividades ministeriais. Esses dois irmãos prontamente (eúBécoç) atenderam a chamada e desafio de Jesus. 60
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4.21. Con Conser sertand tandoo as redes1 red es111 (KarapTiÇovTaç m õlktw oojtqv). Estes dois irmãos, Tiago e João, estavam preparando as redes para a pesca. pes ca. O verbo ve rbo (Kc (Kcrca rcapríCc íCco) sign s ignific ificaa “aj “ ajus usta tar” r”,, “artic “ar ticul ular ar”” a homens hom ens se necessário (Lc 6.40; 6.40; Rm R m 9.22; 9.22; G16.1). G16.1). Assim, imediatame im ediatamente nte deide ixam o barco e o pai para seguir a Jesus. Eles também já tinham se tomado discípulos de Jesus. Agora há quatro homens que o seguem perm pe rman anen ente tem m en ente te.. 4.23. Perc Pe rcor orri riaa Jesu Je suss toda tod a a Ga Galil liléi éia2 a222 ('iTepirp/ey l v tf) rcdiAaía). Literalmente, Jesus “estava circulando (imperfeito) por toda a Galiléia” Ga liléia”.. Esta é a primeira das três excursões da Galiléia Ga liléia que Jesus fez. Dessa vez, ele levou os quatro pescadores que chamara para pa ra pres pr esta tare rem m servi se rviço ço pe pess ssoa oal.l. N a segun se gunda da vez, vez , Ele levou lev ou os doze. Na N a terc te rcei eira ra visita, vis ita, en envio viouu os doze do ze à frente fre nte,, de dois d ois em dois. Ele en ensi si-nava e pregava o evangelho do Reino principalmente nas sinagogas, mas também nas estradas e mas onde os gentios poderiam ouvir. Curando todas as enfermidades e moléstias moléstias (GepaneÚQv Tiâaav vóaov Koà Trâaa râaavv liaÀaKiav liaÀaKiav). ). A do doen ença ça oca o casi sion onal al é [lakaKÍav, ao pass pa ssoo que a doe d oenç nçaa crôn cr ônic icaa ou séria sé ria é vóaov. 4.24. A sua (áuf|X0ev X0ev r] (xk (xkoti su a fam fa m a correu corr eu p o r toda tod a a Síri Sí riaa 23 (áuf| aÚTOu elç oÀr|v tí]v üupíctt'). O boato (ckori) espalha as novidades quase como a telegrafia sem fio ou o rádio. Os gentios de todas as part pa rtes es da Síria, que fica ao norte, nor te, ou ouvi vira ram m o que esta es tava va acon ac onte tece cenndo na Galiléia. O resultado era inevitável. Jesus tinha um hospital ambulante de pacientes provenientes provenie ntes de todas todas as regiões da Galiléia e Síria. Todos os que padeciam (coí (coíjjç KaK aKdò dòçç ’éxov éx ovia iaç) ç),, literalmente “os que tinham mal”, m al”, casos que os médicos não puderam pud eram cu cura rar. r. Acom Ac omet etid idos os de vá vária riass en enfe ferm rmid idad ades es e torme tor mento ntoss (TTOiKÍlaiç vóooiç Kctl pa paaá aávo voiç iç au auve vexo xo[ié [iévo vou< u<;) ;).. “Man “M antitido doss u nido ni dos” s” ou “com “c om- prim pr imid idos os”” é a ideia id eia do pa parti rticí cípi pioo grego. gre go. Usan Us ando do a m esm es m a pa pala lavr vra, a, Pedro se refere à multidão que apertava Jesus (Lc 8.45); o Senhor Jesus diz que estava angustiado (Lc 12.50) e Paulo fala que estava em aperto (Fp 1.23 1.23). ). As pessoas pess oas levavam levav am os casos difíceis e crônicos (tempo presente do particípio) para Jesus, “várias” (ttoiklàixiç) dificuldades de saúde como febre, lepra, cegueira. O adjetivo significa 61
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que os problemas problema s de saúde eram, literalmente, “muito coloridos” color idos” ou “matizados”, como flores, pinturas ou icterícia. Algumas pessoas tinham “tormentos” (Paoávoiç), um termo de origem oriental que significava significava uma pedra pe dra de toque para testar testa r o ouro ouro.. Quando se esfregava ouro puro nessa pedra ficava uma marca m arca peculiar. peculiar. Portanto, era usada para exame exam e por tortura. tortura. A doença era considerada conside rada como tortutortu ra. Mateus descreve essas doenças “em escala descendente de violência”24 (ôai|ioviÇo|iévoi)ç kocI oeÀ.r|via(o|iévouç Kod 'napaA.UTiKOÚc;), como faz Moffatt: “endemoninhados, lunáticos e paralíticos”, e como faz Weymouth: “endemoninhados, epilépticos e paralíticos”. O vocábulo lunático, lunático, derivado do latim luna (lua), luna (lua), evoca a mesma imagem que o vocábulo grego o(-h~\viá(o\sai, o(-h~\viá(o\sai, derivado de oeA.r\vr\ oeA.r\vr\ (lua). Outrora, até os epilépticos eram chamados “lunáticos” ou “aluados”, porque supunham que os ataques epiléticos acompanhavam va m as fases fase s da lua2 lua 25 (ver (ve r esse uso em e m Mt 17.15). 17.15). O vocábu voc ábulo lo p paa r a lítico é lítico é a transliteração da palavra grega com o mesmo significado. Estas doenças são chamadas “tormentos”. 4.25. Seguia-o uma grande multidão (r|KoA.oú0r|Gav multidão (r|KoA.oú0r|Gav autó) o^Iol N otee a form fo rmaa plur pl ural al em AEC, AE C, BJ, NTLH NT LH,, NV NVI, I, ARA; AR A; ttoAA o I ) . Not não era só uma multidão, mas multidões. E de todas as partes da Palestina, inclusive Decápolis, a região das Dez Cidades Gregas situadas a leste do rio Jordão. Jordão. Não há campanh c ampanhaa política que se iguale a essa inundação de pessoas para ouvir e ser curadas curadas por po r Jesus. Jesus.
________ ________ ________ _________ _________ ________ _________ _________ ________ ________ ______ __ NOTAS ____ 1A.
T. T. Robertson, Robe rtson, Commentary on the Gospel According to Matthew ( Matthew (Nova Nova York: Macmillan, 1911), p. 83. 2 “Depois de jejuar” (ARA). 3 Henry Alford, A lford, The Greek Testamen Testament, t, with a Critically Revise Re visedd Text Text , 4 Volumes em 2 Volumes; The Four Gospels, revisado Gospels, revisado por Everett F. Harrison (Chicago: Moody, 1958), vol. 1, p. 28. 4 “Estava com fome” (NTLH). 5 Alexander Balmain Brace, The Expos Ex positor itor s Greek Testamen Testament, t, vol. 1, The Synoptic Gospels (Grand Gospels (Grand Rapids: Eerdmans, 1951), p. 89. 6Alford, Greek Testament, p. Testament, p. 29.
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7 Josephus, Anti An tiqu quiti ities es o f the th e J e w s , 15.11.5. [Edição brasileira: Flávio Josefo, His H istó tóri riaa dos d os He Hebr breu eus: s: Ob Obra ra Co Comp mple leta ta (Rio (Rio de Janeiro: CPAD, 1998).] 8“Não ponha à prova o Senhor, seu Deus” (NTLH). 9 GNT/NA GNT/N A e WH têm T aü iá aoi irávra irávra ôcóaw mas TR e TM têm uma um a ordem ordem diferente de palavras, Taüra irávia aoi õcóocü. 10,Eáv e aoristo do subjuntivo, segunda classe indeterminada com probabilidade de determinação. 11 “Se você se ajoelhar e me adorar” (NTLH). 12 Alan Hugh McNeile, The Gospel According to St. Matthew: The Greek Text with Introduction, Notes, and Indices Indices (Reimpressão, Grand Rapids: Baker, 1980), p. 41. 13 “Retirate, Satanás” (ARA). 14 “E cuidaram [dele]” (NTLH). 15 O nome Je nome Jesu suss não se acha no texto grego de GNT/NA e WH (cf. BJ). Temos, poré po rém m , ó ’Ir|aoüç em T R e TM. TM . 16 James Stalker, The Life o f Chri Christ st (Nova (Nova York: Revell, 1891), pp. 4953. 17 TR e TM têm uma soletração diferente para a cidade, KaTrepvaoúii. 18 GNT/NA, WH e TM têm a palavra com o u móvel, ao passo que TR tem eíôe eíôevv sem o v eufônico. 19 McNeile, Mat M atth thew ew,, p. 44. 20 “Lago” (NTLH), em lugar de mar. 21 “Preparando as suas redes” (NVI). 22 GNT/NA e WH têm kv 0A13 tr) FaAiAaía, ao pa passo sso que TR e TM têm oÀr|v xx ]v xx raA.iA.aíctv. 23 “Espalhouse “Espalho use por toda a Síria” (BJ). (BJ). 24 McNeile, Ma McNeile, Matth tthew ew,, p. 48. 25 Bruce, E Bruce, Exp xpoo sito si torr s, p. s, ’ p. 94.
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Capítulo
5 Ma M ateu teus 5.1. Subiu a um monte monte (ávé(3r| elç to õpoç). Não a um um monte, monte, mas ao ao monte (ARA). A maioria das versões bíblicas lida muito mal com o artigo grego. Não sabemos que monte era. Foi aquele em que Jesus e as multidões estavam. “Delitzsch diz que o monte das Beatitudes é o monte Sinai do Novo Testamento.”1Ao que parece, “vendo a multidão”, Jesus subiu ao monte para ficar em contato mais estreito com os discípulos. Lucas diz que ele “subiu ao monte a orar” (Lc 6.12), e Marcos fala que ele “subiu ao monte e chamou” os doze (Me 3.13). Todos os três propósitos são verdadeiros. Lucas acrescenta que, depois de passar uma noite inteira em oração e ter escolhido os doze, doze, Jesus desceu a um lugar plano no monte para falar às multidões da Judeia e Fenícia. As multidões m ultidões são grandes tanto em Mateus quanto em Lucas. Não há dificuldade que nos impeça de identificar o Sermão do Monte, em Mateus, com o Sermão da Planície, em Lucas.2 5.2. Ab 5.2. Abri rind ndoo a boca, os ensin en sinav avaa ( è ô í ô a o K e v aurouç). Imperfeito incoativo (inceptivo). Ele sentouse no lado do monte, à maneira dos rabinos judeus, em vez de ficar de pé. Era uma cena muito im pres pr essi sion onan ante, te, en enqua quanto nto Jesus Jes us falava fal ava sufic su ficien ientem temen ente te alto pa para ra ser
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ouvido pela grande multidão. Estavam ali os doze apóstolos que Jesus recentemente escolhera, “um grande número de seus discípulos, e grande multidão do povo” (Lc 6.17). 5.3. 5.3. “Bemaven “Bem aventurados turados”” (Maicápioi). (Maicápioi). A palavra bendito t r duz mais precisamente o eúÀayrrcoí verbal grego, como em Lucas 1.68 (no louvor de Zacarias a Deus: “bendito”); ou o particípio pas p assi sivo vo pe perf rfee ito it o eúÀoyruievoç como em Lucas 1.42 (na saudação de Isabel a Maria: “bendita”) e em Mateus 21.9 (o clamor das multidões enquanto Jesus entrava em Jerusalém: “bendito”). Ambas as formas vêm de eúÀoyéoo “falar bem de” (eu Àóyoç). Maxápim é um adjetivo que significa “feliz”. “Claro que bemaventurança é algo infinitamente mais sublime e melhor que mera felicidade”, segundo afirmou Weymouth. Weymouth. Desta forma, elevamos o termo bemaventurados aventurados (ou benditos) benditos) a um patamar mais alto que feli fe lizz e s . Mas o que Jesus disse foi “felizes”.3A palavra grega é tão antiga quanto Homero e Píndaro. Era usada para caracterizar os deuses gregos e também os homens, mas na maioria das vezes em alusão à prosperidade externa. Em Apocalipse 14.13, é aplicada aos que morreram no Senhor. O Antigo Testamento na versão LXX usa a palavra para referirse à qualidade moral. “Livrandose de todos os pensamentos de bem exterior, tomase o símbolo expresso de uma felicidade identificada com o caráter puro. Por trás disso, achase a cognição clara do pecado, como a origem principal de toda miséria, e da santidade, como a cura final e eficaz para toda desgraça. Quanto ao conhecimento como a base da virtude e, portanto, da felicidade, essa palavra substitui a fé e o amor.”4 Jesus põe põ e a pa p a lavr la vraa fe f e liz li z e s em um ambiente am biente repleto de significado. significado. “Esta é uma das palavras que foram transformadas e enobrecidas pelo uso do Novo Testamento; por associação, como nas Beatitudes, a situações incomuns, consideradas ruins pelo mundo, ou por associação a situações raras e difíceis.”5Pena que não mantivemos a palavra fe palavra fe l i z e s no patamar alto e santo onde Jesus a colocou. “Já que vocês conhecem esta verdade, serão felizes (iiaicápioi) se a praticarem” (Jo 13.17, NTLH). “Felizes ([ictKápioi) são os que não viram, mas assim mesmo creram!” (Jo 20.29, NTLH). Paulo 66
Mateus 5
aplica esse adjetivo a Deus: “Conforme o evangelho da glória do Deus De us feliz ([iatcápioi)” ([iatcápioi)” (1 Tm 1.11 1.11,, tradução traduçã o minha; minha ; ver ve r também Tt 2.13). O termo beatitude (latim, beatitude (latim, beatus) beatus) chega perto do significado que Jesus dá aqui a |iaKápioi. Será recompensador fazermos um estudo meticuloso de todas as “beatitudes” no Novo Testamento, onde consta a palavra |iai<ápioi. Ocorre nove vezes em Mateus 5.311, embora as beatitudes nos versículos 10 e 11 sejam muito semelhantes. Nestas nove ocorrências não constam o elemento de ligação. Em cada caso, é dada uma razão para a beatitude, “porque” (ôti). Isso mostra a qualidade espiritual envolvida em cada beat be atitu itude de.. A lgum lg umas as das fras fr ases es que Jesu Je suss empr em preg egaa aq aqui ui oc ocor orre rem m nos Salmos; outras estão no Talmude, um escrito judaico rabínico surgido depois do Novo Testamento. Este fato não é de pouca monta. “A originalidade de Jesus achase em dar o devido valor a estes pensamentos, reunindoos e tornandoos tão proeminentes quanto os Dez Mandamentos. Não há maior serviço que se faça à humanidade do que resgatar da obscuridade os conceitos morais comuns que são menosprezados .”6 Jesus repetia as suas declarações muitas vezes, como fazem os grandes mestres, mas este sermão tem unidade, progresso e acabamento. Não contém tudo que Jesus ensinou, mas se destaca como o maior sermão de todos os tempos em sua perspicácia, pungência e poder. Os pob pobres res de espírito (ol espírito (ol tttwxo! xq uveú|_i(m). Em Lucas, consta apenas “os pobres” (Lc 6.20), mas ele quer dizer o mesmo que essa expressão em Mateus. Diz respeito aos “piedosos em Israel, a maior maio r parte pobre, a quem os ricos irreligiosos irreligiosos menosprezav meno sprezavam am e perseguiam ” .7 Em Lucas Luc as 16.20,22, a palav pal avra ra ttx ttxccoxóç é usad us adaa em conexão cone xão ao mendigo Lázaro. Lázaro. Derivada De rivada de 11X000000, “abaixarse”, “agacharse”, a palavra grega denota privação espiritual. O substantivo alternativo para pa ra referir refe rirse se a “pob “pobre re”” , uev uevriç, riç, é derivado deriv ado de Tiév iévo|io |ioa, que significa signif ica “trabalhar pelo pão diário” . A referência é àquele que trabalha trab alha para viver. ver. O termo ter mo ttxgoxó<; é mais freque fre quente nte na nass pági pá gina nass do Novo No vo Testa Te stament mentoo e denota pobreza mais profunda que o termo grego néyrjç. “O Reino dos céus” aqui significa o reinado de Deus no coração e na vida do crente. Este é o sum o summu mum m bonu bonum, m, ou ou seja, o que mais importa. 67
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5.4. Os que choram choram (oi Trev revGoüvTeç). Este st e é outr outroo apa a pare rent ntee pa p aradoxo. Esse verbo grego “ocorre muito frequentemente na LXX para pa ra alud al udir ir ao cho choro ro pel p elos os morto mo rtos, s, e pelos pe los infor in fortún túnios ios e peca pe cado doss dos outros ” .8 “Não pode haver consolo onde não haja aflição .”9 A tristeza deve nos fazer buscar o coração e a mão de Deus para, assim, encontrarmos o consolo latente na afliçã aflição. o. 5.5. Os mansos manso s 10 (ol upoceiç). “Bemaventurados os brandos” (Wycliffe). (Wycliffe). Os antigos usavam a palavra pala vra para aludirem à conduta externa. Eles não a classificavam como virtude. Tratavase de uma equanimidade e quanimidade moderada qu quee poderia ser negativa ou positipos itiva. Mas Jesus elevou a palavra a certa dignidade. As Beatitudes pre p ress ssuu p õ e m um c oraç or ação ão n ov ovo, o, p o is o ho hom m e m n a tura tu rall nã nãoo e n c o n tra felicidade nas qualidades mencionadas aqui por Cristo. A palavra manso manso perdeu a sua referência a uma mistura fina entre po p o rte rt e e forç fo rçaa e spir sp irit ituu a l, qu quee foi fo i o qu quee o M estr es tree qu quis is dizer. diz er. Ele El e se autointitula “manso e humilde de coração” (Mt 11.29) e Moisés também se chama “manso” (Nm 12.3). É a mansidão da força e não a efeminaçã efem inação. o. Por Po r “a terr te rra” a” (tt|v yfjv yfjv), ), ao que que parece, pare ce, Jesus dá a entender a Terra da Promessa (SI 37.11), embora Bruce 11 opine que seja a terra inteira. Podia ser a terra firme em vez do mar ou do ar? 5.6. Bem Be m-av aven entu tura rado doss os que têm fo f o m e e sede se de de ju j u s tiç ti ç a (ol Treiv reivwvTec; ec; Kcd ÕLTjxGJvxeç tf tf]v õiK( õiK(uo uoaaúv úvrr|v). |v). Je J esus di dire ciona um dos dos elementares instintos humanos ao uso espiritual. espiritual. Há H á em todos todos os homens fome por comida, por amor, por Deus. Tratase de uma fome e sede ardentes de bondade, de santidade. santidade. A palavra grega traduzida tradu zida por po r fa f a r t o s , xopraoGiíoo xopraoGiíoovrai, vrai, significa alimentar alim entar ou engordar engor dar o gado. É derivada das palavras referentes a forragem ou erva verde usadas em Ma M arcos 6.39, xA xA.co .copò<; xó xópT pTO Oç. 5.7. Eles El es alcan alc ança çarã rãoo m iser is eric icór órdi diaa12 (èÀer)0iíoovT(xi). “Uma lei automática do mundo moral .”13 O que às vezes é verdadeiro acerca dos homens é a lei do Reino dos céus .”'4 5.8. E 5.8. Ele less ver v erão ão a Deu D euss (aúxol ibv ib v 0eòv ôi|rovrai). Sem a santificação ningué ni nguém m verá o Senhor Sen hor (Hb 12 12.14 .14). ). A visão beatífica somente é possível aqui na terra para os limpos de coração. Hoje, ninguém 68
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pode po de ve verr o Rei. O pe peca cado do con confun funde de e an anuvi uviaa o coraç cor ação ão,, de forma form a que não podemos ver a Deus. A limpeza ou pureza (cf. AEC; NVI) tem aqui o sentido mais amplo e inclui tudo. 5.9. Os pacificadores (ol elprivouoioí). elprivouoioí). Não meramente merame nte “ho“homens pacíficos” (Wycliffe), (Wycliffe), mas “as pessoas que trabalham pela paz” paz ” (NTLH; cf. BJ). É muito difícil manter mante r a paz. Mais Ma is difícil ainda é levar paz onde não há. “O pacific pac ificado adorr per p erfei feito to é o Filho de Deus (Efésios (Efési os 2.14,15).” 2.14, 15).”115Assim, seremos como o nosso “Irmão mais velho” velh o”.. 5.10. Os que sofrem perseguição por causa da justiça (ol ôeôiwy|iévoi evecev evecev 5iKo iKoao aoaú aúvvr|c; r|c;). ). As veze ve zes, s, as pesso pes soas as tent te ntam am gag anhar atenção e simpatia agindo como se estivessem sendo perseguidas. O Reino dos céus pertence aos que sofrem, porque eles estão seguindo a Cristo Cristo sem fazer concessões de qualquer qualque r tipo; tipo; são pessopess oas que não são culpadas de erro. 5.11. Mentin Me ntindo do [ ...] .. .]pp o r minha minh a cau causa sa (i|íeuô (i|íeuôó|J,evoi ó|J,evoi ev eveicev eicev è|i è|ioü) oü).. O Códice Beza muda a ordem dessas duas últimas beatitudes, mas esse fato é irrelevante ao significado. Dois critérios são estabelecidos para pa ra recebe rec eberm rmos os no céu a co coroa roa de márti má rtirr e o “galar “ga lardã dão” o” ([ii ([iiooGóc Mt Mt 5.12). As coisas ruins ditas a respeito dos seguidores de Cristo têm de ser inverídicas e eles devem suportar a calúnia pela causa de Cristo. Não há recom rec ompen pensa sa para p ara que quem m mere m ereça ça a opinião opiniã o má m á dos outros. 5.13. Se o sal sa l fo r insípido16 insípido16 (khv (khv ôè tò aXac, fioopa fioopavQ vQfj). fj). O ver bo é deriva der ivado do de [awpóç (“es (“ estú túpi pido do”” , “indo “in dole lent nte” e”,, “ lerd le rdo” o”,, “bo “bobo bo”” , “tolo”) e significa “bancar o bobo”, “fazerse de tolo”. Aqui se refere ao sal que ficou insípido ou sem gosto (Me 9.50). Na Síria e Palestina, é comum haver pilhas de sal espalhadas por toda parte porq po rque ue o sal sa l ficou fi cou insoss ins ossoo (cf. Mt 5.13, BJ; NTLH). NTL H). O sal sal se tom ou a coisa mais inútil que se possa pos sa imaginar. E po posssível que que Jesus tenha usado um provérbio pr ovérbio em vigor nos seus dias. dias. 5.15. Se coloca debaixo do alqueire 17 (xiGéaaiv aúròv írrrò tòv lióõiov). Do lióõiov). Do alqueire é a tradução correta, e não de um um alqueire (cf. AEC; NTLH; NVI). “A ilustração é tirada da vida humilde em cabanas. Havia Ha via na na parede uma um a pedra saliente na qual se colocava a candeia ou lâmpada. A casa era de um único compartimento, de forma que a luz minúscula bastava para iluminar todo o ambiente .”18 A candeia 69
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não era colocada debaixo do alqueire (o único que havia na cabana), exceto para apagála ou escondêla. escondêla. O alqueire era um artefato artefato de barro que servia de unidade de medida de capacidade para secos. O velador (tt]v Xu^víav) Xu^víav),, e não “cas “c astiç tiçal” al”.. É um suport su portee de candeia ou lâmpada em cada uma das doze ocorrências na Bíblia. Havia um único suporte de candeia para cada ambiente. 5.16. A 5.16. Ass s im 19 (oíjtgoç). O advérbio aponta retrospectivamente à candeia ou lâmpada. Deste modo, os homens têm de deixar brilhar a sua luz e não glorificar a si mesmos, mas ao “vosso Pai, que está nos céus” céu s”.. A luz brilha para que os outros vejam por ela, e não para chamar a atenção em quem a tem. 5.17. Não N ão vim ab-rogar, mas cu cum m prir pr ir ( o ú k fjÀGov K o c r a l ü oca ctXXà TTÀripôa ripôaca) ca).. O verbo ab-rogar significa “soltar”, “desatar”, “desprender” como se faz com uma casa ou tenda (2 Co 5.1). Cumprir significa significa “encher por comple c ompleto” to” ou “completar” “com pletar”.. Foi o que que Jesus fez com a lei cerimonial, que o apontava. apontava. Ele também guardou a lei moral. “Ele veio completar a lei, revelar a total profundidade do significado que estava ligado a quem a guardava .”20 5.18. Um iota ou um til21 (Lcôra ev r] (a ia K e p a ía ) . “Nem um iota, nem uma vírgula” (Moffatt). “Nem a menor letra, nem uma partícula” (Weymouth). O iota é a menor vogal grega que Mateus usa para representar o iode hebraico, a menor letra he bra b raic icaa . “ T ítu ít u lo” lo ” vem v em do lati la tim m titulus, titulus , que veio a significar o traço pa p a ra ind in d ica ic a r a b rev re v iaç ia ç ã o de p a lav la v r a e, p o r c o n seg se g u inte in te,, q ua ualq lque uerr pe p e q u e n a m arca ar ca.. N ão é cert ce rtoo se K e p a ía quer dizer um pequeno chifre, o mero ponto que distingue algumas letras hebraicas de outras, ou a letra “gancho” vau. As vezes o iode e o vau eram difíceis de serem distinguidos. “Em Yay. R. Yay. R. 19, a culpa de alterar uma delas é tão grande que, se ocorresse a alteração, o mundo seria destruído .”22 5.19. Aquele Aqu ele,, po poré rém m , que os cu cum m prir pr ir e en ensin sinar ar 23 (ôç 5’ av uoiiíar) Kcà ô iôá^ iô á^ ). Jesus Jesus põe a prática antes antes da pregaç pregação. ão. O professor tem de viver a doutrina antes de ensinála ensiná la aos outros. Os escribas e fariseus eram homens que “dizem e não praticam” (Mt 23.3), que preg pr egam am e não nã o fazem. faz em. Este Es te é o teste te ste da gran gr ande deza za que Crist Cr istoo faz. 70
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5.20. Exce Ex cedd e r (ire (irepL pLoooeú eúooi] ... ... Tilelov). Tran Tr ansb sbor orda darr co como mo as águas do rio rio transbordam as margens. margens. Depois, Jesus acrescenta “em muito” mu ito” (ARA) seguido seguido por um ablativo não expresso (genitivo, xf\ xf\çç ôiKcaooúvri), braquilogia (brevidade). Tratase de uma declaração ousada da parte de Cristo dizer que eles tinham de ser melhores que os rabinos. Tinham de superar muitíssimo os escribas, o pequeno número de mestres regulares (Mt 5.3248), e os fariseus (Mt 6.1 18), que eram os separados, os pietistas ortodoxos. 5.22. Eu, poré po rém, m, vos digo dig o (èyà) õè Aiyoo í)|ilv). E em seis quesitos, sitos, Jesus assume um tom de superioridade em relação aos regulamentos mosaicos e aos seus intérpretes. Ele vai mais fundo que a lei ao âmago da questão. questão. “Ele encontra o princípio por po r trás do preceito e o endossa .”24 Raca... Rac a... louco louc o ('P ('PoocKá ... ... Mco copé pé). ). A prim pr imei eira ra pala pa lavr vraa é aram ar amai ai ca, significa “vazio”, “fútil”, “simplório” ou “cabeçadura ”,25 sendo usada para expressar o desprezo por alguém. A segunda palavra é grega (“tolo”, “estúpido”) e é um equivalente exato de “raca”. Alguns defendem que |icopé é uma palavra hebraica, mas Field (Otium Norvicense) objeta Norvicense) objeta tal ideia. “A palavra para expressa des prez pr ezoo pe pela la cabe ca beça ça do homem hom em:: estúpido! estúp ido! A pa pala lavr vraa |_i |_i(jpé ex expr pres essa sa desprezo pelo coração e caráter do homem: ordinário .”26 O fogo do inferno 27 (rf|v yéevrnv toü trupoç), “a geena de fogo” (BJ). O caso genitivo (toü mjpóç) é o caso de gênero que descreve a geena como marcada pelo fogo. A geena é o vale de Hinom, onde o fogo ardia continuamente. continuamente. Outrora, os judeus jude us idólatras ofereciam ali os seus filhos a Moloque (2 Rs 23.10). Jesus considera a linguagem abusiva como caso de assassinato. Devemos distinguir cuidadosamente a geena do hades (aôr|<;), que nunca é o lugar de punição. O inferno é o lugar dos espíritos de pessoas falecidas, sem referência à condição moral .28 .28 O lugar de tormento está no hades (Lc 16.23), mas aii também está o lugar de bênção — o “paraíso”. 5.24. Vai reconciliar-te primeiro primeiro (ijTraye TipwTov ôiaAAáyr|9i), segunda pessoa do singular do aoristo segundo passivo do imperativo: “fique reconciliado” (aoristo ingressivo: “tome a iniciativa”). Esta é a única ocorrência dessa combinação no Novo Testamento. 71
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Em geral, KaTcdÀáaoa> ocorre com essa combinação .29 Certo filho pródigo, Longinus, escreveu à sua mãe, Nilus: “Eu te peço, mamãe, seja reconciliada (ôicdáyr|Ti) comigo” . O rapaz não escreve corretamente, mas, com coração partido, ele usa a forma idêntica que Jesus usa. “O verbo denota concessão mútua depois de hostilidade mútua, uma ideia ausente de KcacdÀ.áooco”, de acordo com Lightfoot. E por causa de ôiá (“dois; entre dois”). 5.25. Concilia-te depressa com 30 fíoGi ewodòv), um imperativo presente ativo perifrástico. O verbo é derivado de euvooç (“amigável”, “amavelmente disposto”). “Entra em acordo sem demora com o teu adversário” (ARA). Entrar em acordo é melhor do que ir para a prisão, quando não há princípio em questão, mas só interesse pessoal. É muito fácil ver um princípio vital quando a questão envolve o orgulho. O oficial (tcô ímripéTfl). 'Yttó “debaixo de”, e qpéao«, “rem ar”. Esta palavra se referia originalmente ao escravo de galera que era o “remador debaixo” ou remador de fundo em um navio com vários níveis de remadores. Veio a significar qualquer criado, inclusive o ajudante na sinagoga (Lc 4.20, “ministro”, ARC; “assistente”, ARA). É como Lucas descreve João Marcos na relação deste com Bamabé e Saulo (At 13.5, “cooperador”). Em Lucas 1.2, ele aplica o termo aos “ministros” da palavra. 5.26. O último ceitiP 1 (tòv eoxatov Koôpávxriv), uma palavra latina, quadrans, um quarto de asse (áoaápiov) ou duas pequenas moedas (Me 12.42), um quadro bem claro de castigo inevitável por dívida. Isso é enfatizado pela forte dupla negação oú p,f| com o sub juntivo aoristo. 5.27. Não com eterás adultério 32 (Oü (joixeúaeiç). Estas citações (vv. 21,27,33) do Decálogo da LXX (Êx 20 e Dt 5) usam oi) e a segunda pessoa do singular do futuro do indicativo ativo (futuro volitivo, expressão idiomática grega comum) Em 5.43, ocorre a forma positiva (ou afirmativa), futuro volitivo (áYaTníoeiç). No versículo 42, é usada a segunda pessoa (ôóç) do singular aoristo segundo ativo do imperativo. No versículo 38, não ocorre o verbo. 72
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5.28. Em seu coração (kv tf| Kctpôía aírroü). O homem interior, inclusive o intelecto, o sentimento e a vontade. Não é só o centro da circulação sanguínea, embora também signifique isso, nem é só a natureza emocional. Esta palavra é extremamente comum no Novo Testamento e sempre deveria ser reservada e anotada para estudo minucioso. E derivada de uma raiz que significa “tremer” ou “pal pitar” . Jesus situa o adultério nos olhos e no coração antes do ato externo. Wunsche (Beitrage) cita duas declarações rabínicas pertinentes ao tema traduzidas por Bruce: “Os olhos e o coração são os dois corretores do pecado ”.33 Por conseguinte, eis o perigo para os puros as imagens e peças teatrais lascivas e libertinas. 5.29. Te escandalizar (aKavôodí.íei oe). A tradução te fa z tro peçar é muito melhor (ARA). A noção não é de escandalizar ou ofender, mas de armar uma armadilha. O substantivo (oKKVôcdov, derivado de OKdcvôodqGpov) significa o pau na armadilha que salta e fechaa, quando o animal o toca. Arrancar o olho quando se trata de armadilha, cortar a mão, mesmo que seja a mão direita. Não devemos considerar essas imagens mentais literalmente, mas como apelos vigorosos e veementes ao domínio próprio. Jesus não está ordenando a mutilação do corpo, mas o controle do corpo contra o pecado. Quem brinca com fogo se queima. A cirurgia moderna ilustra primorosamente o ensino de Jesus. Se as amídalas, dentes ou apêndice estiverem infectados e não forem retirados, o corpo aca bará perecendo. Corteos a tempo e a vida será salva. “O que Jesus tem em mente é a cirurgia espiritual”.34 Marvin Richardson Vincent comenta que “as palavras escândalo e difamação são derivadas de OKávôaÀoy.”35 Wycliffe traduz: “Se o teu olho direito te difamar'. Ficou claro que a difamação é um escândalo e pedra de tropeço, uma armadilha e cilada. 5.31. Carta de desquite (àv:oamaiov), “certificado de divórcio” (Moffatt), “notificação escrita de divórcio” (Weymouth). O grego é uma abreviação de pipxíov áiT0cn;a0 L0i) (Mt 19.7; Me 10.4). Aqui, a Vulgata Latina tem libelhtm repudii. Os papiros usam ouyypa^n áTToataoLOU nas transações comerciais como “contrato de liberação”.36 A notificação escrita (ptPAiov) era uma proteção para a mu73
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lher contra o capricho do marido irado. Afinal, ele poderia mandá la embora sem lhe dar um documento comprobatório da sua nova condição civil. 5.32. A não ser p or causa de prostituição 37 (uapeKtòç Xóyou TTopveíaç). Uma frase incomum que talvez signifique “exceto com base na falta de castidade” (Weymouth), “a não ser por infidelidade” (Goodspeed), sendo equivalente a ètrl uopveía em Mateus 19.9. McNeile nega que Jesus tivesse feito esta exceção, porque Marcos e Lucas não a têm .38 Ele afirma que os cristãos primitivos abriram a exceção para atender a uma necessidade premente. Entretanto, não vemos a força dessa acusação contra o relato que Mateus fez das palavras de Jesus. Parece crítica para satisfazer as necessidades hodiernas. 5.34. De maneira nenhuma, jureis7'9 (i_if) òfióoai oàgoç) é a tradução correta (ordem indireta e infinitivo aoristo). Claro que Jesus não proíbe juramentos em tribunais, porque ele mesmo respondeu a Caifás sob juramento (Mt 26.63,64). Paulo fez apelos solenes a Deus (1 Co 15.31; 1 Ts 5.27). Jesus proíbe todas as formas de profanação. Os judeus eram mestres na arte de perderse em minúcias sobre juramentos permissíveis ou formas de profanação, exatamente como fazem os cristãos de hoje sob o pretexto de uma grande variedade de “palavras de baixo calão”. 5.38. Olho po r olho e dente por dente (’OijjQodiiòv òvxx óc^OaX |ío0 Km óôóvra àvxi óôóvtoç ).40 Note àvxí com a noção de troca ou substituição. Como no divórcio, esta lex talionis (lei de talião) é uma restrição à vingança desenfreada. “Limitava a vingança fixando uma compensação exata pelo dano .”41 A Mishná permite pagamento em dinheiro. Ainda hoje a lei de talião vigora em alguns países. 5.39. Não resistais ao mal (|if| àvxiaxr\va.v x<2> Tioyrípcô). Nesta passagem, novamente ocorre o infinitivo (aoristo segundo ativo) em ordem indireta. Mas é o “homem mau” ou o “ato mau”? O caso dativo é a mesma forma para o masculino e para o neutro. “Não resistais a um (o) homem mau” (Weymouth). “Não resistais a um dano” (Moffatt). “Não resistais ao dano” (Goodspeed). Os exemplos concordam com qualquer visão. Jesus protestou quando levou uma bo 74
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fetadano rosto (Jo 18.22); acusou abertamente os fariseus (Mt 23.1 39) e sempre lutou contra o Diabo. O linguajar de Jesus é ousado e pitoresco, e não deve ser considerado de forma extremamente literal. O propósito das expressões que parecem paradoxais é chamar a nossa atenção e nos fazer pensar. Jesus espera que preenchamos o outro lado do quadro. Uma coisa é certa: Jesus queria dizer que a vingança pessoal é tirada de nossas mãos. O Senhor também condena a guerra agressiva ou ofensiva que as nações fazem entre si, mas não necessariamente a guerra defensiva ou a defesa contra o roubo e assassinato. O pacifismo profissional pode ser mera covardia. 5.40. A vestimenta... a capa42 (xòv xL™vá oou ... Koà to 1[!(xtiov). A “túnica” é realmente um tipo de vestimenta, ou roupa de baixo, e seria pleiteada em juízo. O ladrão agarraria primeiro a peça de roupa exterior ou o “manto” (capa). Se a pessoa perdesse em ju ízo a roupa de baixo, a peça de roupa exterior também seria perdida (a mais valiosa). “Melhor deixálo levar também a peça de roupa exterior que é cara. Teremos menos incomodação, economizaremos os honorários do advogado e, talvez, envergonharemos o agressor com o nosso procedimento .”43 5.41. Se qualquer te obrigar (òotlç oe áyyapeúoei). A Vulgata Latina tem angariaverit. A palavra é de origem persa e significa mensageiros públicos ou mensageiros a cavalo (ctyyapoi). Esses mensageiros ficavam em pontos estratégicos, com cavalos prontos para, a qualquer momento, levarem as mensagens do rei. O viajante que passava por tal estação de correios poderia ser abordado ines peradamente por um funcionário, que o forçaria a voltar para outra estação a fim de cumprir uma incumbência ao rei. Isso se chamava “recrutamento forçado em serviço”. Foi exatamente o que aconteceu com Simão cireneu que, desta forma, foi compelido a levar a cruz de Cristo (Mt 27.32, rjyyápeuaav). 5.42. Não te desvies (|if| àuooipac^fic;). Segunda pessoa do singular do aoristo segundo do subjuntivo passivo em proibição. “Este é um dos exemplos mais claros da necessidade de aceitar o espírito e não a letra dos mandamentos do Senhor (ver Mt 5.32,34,38). Os atos indiscriminados de caridade pouco fazem, como também causam 75
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danos para a sociedade. Todavia, as palavras têm de abranger muito mais que atos filantrópicos.”44 Não esqueçamos que Jesus é um mestre popular que espera que os ouvintes entendam os seus paradoxos. 5.43. E aborrecerás o teu inimigo ( k í x i |iicnía€iç t ò v exQpó oou). Essa frase não consta em Levítico 19.18. Tratase de uma conclusão rabínica que Jesus repudia firmemente. O Talmude nada diz sobre amor pelos inimigos. Em Romanos 12.20, Paulo cita Provérbios 25.22 para provar que devemos tratar os nossos inimigos amavelmente. Jesus nos ensinou a orar pelos nossos inimigos e ele mesmo o fez quando estava pendurado na cruz. Nesta perí cope, a palavra grega uÂrpíov tem a conotação de “aquele que está próximo”. Contudo, a proximidade, por vezes, significa conflito, e não amor. Os que possuem fazendas ou casas adjacentes podem ser positivamente de espírito hostil. Os judeus consideravam que os membros da mesma tribo ou os judeus de todos os lugares eram os seus próximos. Mas eles odiavam os samaritanos por serem meio judeus e habitarem entre a Judeia e a Galileia. Na Parábola do Bom Samaritano (Lc 10.2937) Jesus ensinou aos homens como agir com 0 próximo. 5.48. Sede vós, pois, perfeitos 45 (’'EoeoGe ouv í)(ielç télgioi). TéÀeioi vem de xéloç que significa “fim”, “meta”, “limite”. É a meta que está diante de nós, o padrão absoluto do nosso Pai Celestial. A palavra também é usada para referirse à perfeição relativa, como a dos adultos em comparação às crianças. NOTAS ___________________________________________________ 1Marvin Richardson Vincent, Word Studies in the New Testament , vol. 1, The Synoptic Gospels (Reimpressão, Grand Rapids: Eerdmans, 1946), p. 33. 2Ver análise completa em A. T. Robertson, Harmony o f the Gospels fo r Students o f the Life o f Christ (Nova York: Harper & Row, 1922), pp. 273276. 3Há diversas traduções e paráfrases bíblicas do século XX que usam a tradução “felizes” (BJ; NTLH). 4 Vincent, Word Studies, p. 35. 5 Alexander Balmain Bruce, The Exp ositor’s Greek Testament, vol. 1, The Synoptic Gospels (Grand Rapids: Eerdmans, 1951), p. 97. 6Ibid., vol. 1, p. 96.
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Mateus 5 7Alan Hugh McNeile, The Gospel According to St. Matthew: The Greek Text with Introduction, Notes, a nd Indices (Reimpressão, Grand Rapids: Baker, 1980), p. 50. 8Ibid., p. 50. 9Bruce, Expositor s, p. 98. 10“Os humildes” (NTLH; NVI). 11 Bruce, Expositor’ s, p. 98. 12Literalm ente, “Eles serão misericordiados”. 13Bruce, Expositor’ s, p. 99. 14A. T. Robertson, Commentary on the Gospel According to Matthew (Nova York: Macmillan, 1911), p. 94. 15 McNeile, Matthew, p. 53. 16 “Se o sal se tomar insosso” (BJ); “se o sal perde o gosto” (NTLH); “se o sal perder o seu sabor”, (NVI). 17 “Se coloca debaixo de uma vasilha” (AEC; cf. NVI); “para colocála debaixo de um cesto” (NTLH). 18Bruce, Exposito r’ s, p. 102. 19 “Do mesmo modo” (BJ). 20 McNeile, Matthew, p. 58. 21 “Nem a menor letra, nem qualquer acento” (NTLH); “a menor letra ou o menor traço” (NVI). 22 McNeile, Matthew, p. 59. 23 “Aquele, porém , que os observar e ensinar” (ARA). 24 Robertson, Commentary on Matthew, p. 98. 25Ibid., p. 99. 26 Brace, Expositor's, p. 107. 27 “O inferno de fogo” (ARA). 28Vincent, Word Studies, p. 40. 29 Adolph Deissmann, Light from the Ancient East (Reimpressão, Grand Rapids: Baker, 1978), p. 187, dá um exemplo de papiro do século II d.C. 30 “Assum e logo uma atitude conciliadora” (BJ). 31 “O último centavo” (ARA). 32 “Não adulterarás” (ARA). 33 Brace, Expositor’ s, p. 108. 34 Robertson, Commentary on Matthew, p. 100. 35Vincent, Word Studies, p. 41. 36 James Hope Moulton and George Milligan, The Vocabulary o f the Greek Testament (Londres: Hodder & Stoughton, 1952), p. 69.
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37 “A não ser por causa de infidelidade conjugal” (AEC); “exceto em caso de relações sexuais ilícitas” (ARA). 38 McNeile, Matthew, p. 66. 39 “Não jureis em hipótese nenhuma” (BJ). 40 De Êx 21.24; Dt 19.21; Lv 24.20. 41 McNeile, Matthew, p. 69. 42 “A túnica... o manto” (BJ); “a túnica... a capa” (AEC; NTLH; NVI; ARA). 43 Robertson, Commentary on Matthew, p. 102. 44 McNeile, Matthew, p. 70. 45 “Portanto, deveis ser perfeitos” (BJ).
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Capítulo
6 Mateus 6.1. Guardai-vos dex(IIpooéxeTe), isto é, “mantende a mente na questão”, “esforçaivos”, “prestai cuidado”. A expressão idiomática grega é antiga e ocorre na LXX em Jó 7.17. Na literatura neotesta mentária, o substantivo voüç está implícito. Esmola (tr|y õiKcaooúvriv2) não é o texto correto neste versículo, mas “justiça” (ARA). “Jesus acabara de analisar a teoria da justiça em contraste com a dos escribas. Agora, ele se volta à prática da justiça em contraste com a dos fariseus.”3 O Senhor dá três exem plos da “justiça” dos fariseus (esmola, oração, jejum). Para serdes vistos por eles (upoç to 9ea9f]vca (xütolç), aoristo primeiro passivo infinitivo de propósito. A palavra teatro é derivada dessa palavra grega, que diz respeito a um desempenho espetacular. Junto de vosso Pai (/napà tcÔ wupi í)|icôv). Literalmente, “ao lado do vosso Pai”, estando ao lado dele, enquanto ele olha. 6.2. Não faças tocar trombeta diante de t f (iii) aodnio^c; e|iTTpoo0év aou). O sentido é literal ou metafórico? Não encontramos exemplo de tal conduta nos escritos judaicos. Alan McNeile propõe que se refere ao toque de trombeta nas ruas por ocasião das festas públicas .5 Marvin Richardson Vincent opina que são as
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treze arcas em forma de trombeta que ficavam na tesouraria do Templo para receber as contribuições do povo (Lc 21.2 ).6 Em um centro de conferência de verão realizado no lago Winona, Indiana, certo missionário da índia, chamado Levering, declarou que ele vira os sacerdotes hindus agirem exatamente assim para que a multidão observasse as suas beneficências. Os rabinos também poderiam ter procedido da mesma maneira; não há dúvida de que estava de acordo com o gosto que tinham por elogios. Jesus diz expressamente que é isso que os hipócritas (ol ÒTTOKpiTcá) fazem. “Hipócrita” vem de í)iT0Kptv0|aca, que significa “responder em ré plica” a palavra para o ator, intérprete ou alguém que representa o papel de outrem. A forma grega ática era átroKpívonai, “fingir”, “dissimular”, “imitar”, “ludibriar”, “agir o hipócrita” ou “usar uma máscara”. Esta é a palavra mais severa que Jesus usa para caracterizar qualquer classe de pessoas. Ele a emprega para esses impostores piedosos que se fazem de perfeitos. Já receberam o sen galardão 7 (áuéxouaiv uòv |iia9òv aÜTWv). ’Atto/jÍ significa “recibo”. O presente verbo é muito comum nos pa piros para descrever a obtenção de um recibo. “Eles já receberam o recibo de quitação plena e rasa”, de toda a recompensa que tinham de receber. Com essa notoriedade pública, “eles podem assinar o recibo do galardão adquirido ”.8 O mesmo também ocorre no versículo 5. 6.4. Ocultamente (kv xcô Kpwmô). O Textus Receptus e o Texto Majoritário têm as palavras adicionais kv tcô cjmvepw (“publicamente”) ao término desse versículo e também ao término de 6.6 (a tradução consta apenas na ARC e somente em 6.4, estando ausente em 6 .6). Essas leituras não são genuínas. Jesus não promete uma recompensa pública por uma devoção oculta. 6.5. Se comprazem em orar em pé nas sinagogas e às esquinas das ruas (kv raiç auvayGúyaiç koc! kv xa lç y w v ía tç t q v TiÀaTeicôv ecrucÔTeç upooeúxeoGcti). As sinagogas eram os lugares habituais de oração, e nas esquinas das ruas as multidões paravam para negociar ou conversar. Se a hora de oração colhesse um fariseu na ma, ele assumiria uma atitude de oração. Os mulçumanos ajoelhamse e to80
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cam a testa no chão da calçada para fazer as suas orações; este seria um exemplo semelhante. 6 .6 . Entra no teu aposento 9 (eioeÀGe eíç tò tajielóy oou). A palavra grega traduzida por “aposento” é uma forma sincopada recente de lafictoi', derivada de xcqaíaç, “mordomo”, “camareiro”, e a raiz xoqi, “cortar”, de xé|ivco. O significado é um depósito, despensa, apartamento particular, quarto de dormir, quartinho ou “gabinete”, onde a pessoa pode retirarse e fecharse do mundo para comungar com Deus. 6.7. Não useis de vãs repetições 10 (|af| PattaÀoyTÍoriTe). Palavra usada para referirse aos gagos que repetem as palavras, portanto, mero palavrório ou tagarelice, palavreado oco, conversa tola, re petição vazia. A etimologia é incerta, mas provavelmente é um vocábulo onomatopéico (substantivos cujos sons reforçam o significado), como a expressão popular “blábláblá”. Os adoradores de Baal no monte Carmelo (1 Rs 18.26) e de Diana no anfiteatro em Éfeso, que ficaram gritando durante duas horas (At 19.34), entregaramse a tagarelice repetitiva. A Versão Sinaítica Siríaca tem: “Não fiqueis dizendo coisas fúteis”. Lógico que Jesus não quer condenar toda repetição na oração, visto que ele mesmo orou três vezes no jardim do Getsêmani “dizendo as mesmas palavras” (Mt 26.44). “Como os gentios”, esclarece Jesus. “Os pagãos pensavam que por meio de repetições infinitas e muitas palavras eles informariam os deuses sobre o que estivessem precisando e os cansariam (fatigare deos) para que lhes concedessem os pedidos .”11 Mas a intenção dos fariseus não era ganhar os ouvidos de Deus, mas os olhos dos homens .”12 6.9. Portanto, vós orareis assim (Oíkcoç ouv TTpooeúxeoGe ò|i6Lç). “Vós” está em contraste com “os gentios”. Esta oração deveria ser chamada “oraçãomodelo” e não “Oração Dominical”. Portanto, oremos conforme o modelo que apresentado por Jesus. O próprio Cristo não a usou como liturgia (cf. Jo 17). Não há prova de que Jesus desejasse que a oraçãomodelo fosse liturgicamente usada pelos outros. Mais tarde, em Lucas 11.24, Jesus apresenta aos apóstolos, em resposta ao pedido para que lhes ensinasse a 81
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orar, praticamente a mesma oração, embora um pouco mais curta. McNeile defende que a forma em Lucas é a original, à qual Mateus fez adições: “A tendência das fórmulas litúrgicas é o enriquecimento, e não a abreviação ”.13 Mas não há qualquer tipo de evidência que confirme que Jesus pretendia fazer dessa oração uma fórmula estabelecida. Não há mal algum em uma fórmula litúrgica se a pessoa gosta, mas ninguém deve orar seguindo sempre uma única fórmula de invocação. Faz muito bem às crianças quando elas aprendem essa nobre oração. Pai nosso (n átep rpuv ). Algumas pessoas ficam incomodadas com as palavras “Pai nosso”. Dizem que ninguém que não tenha nascido de novo tem o direito de chamar Deus de “Pai”. Mas isso significa que o pecador não convertido não pode orar até que se converta, o que é uma contradição absurda. Deus é o Pai de todas as pessoas em um sentido: reconhecêlo como “Pai” no pleno sentido do termo é o primeiro passo para o pecador regressar a Deus, em regeneração e conversão. Santificado seja o teu nome (áytaoGritcú tò òvo|_iá aou). No grego, o verbo vem em primeiro lugar, como nos pedidos constantes no versículo 10. Todos eles são imperativos aoristos, ação que expressa urgência. O pão nosso de cada dia dá-nos hoje 14 (Tòv aptov fi|ió)v 6.1 1 . t ò v èiuoúoiov ôòç fifilv cnípepov). No grego, este adjetivo “de cada dia” (èTTioúaiov), após a frase “dános hoje” (õòç rp iv cní|j.epov), tem causado muita dificuldade aos comentaristas. Fizeram a tentativa de deriválo de èrrC e wy (oüoa). Está claro que vem de €ttl e lcòv (êiú e elpi) como Tfj...érri.oúar| (“no dia seguinte”, Atos 16.11). Mas o adjetivo éTTioúoioç é raro. Orígenes disse que os evangelistas Mateus e Lucas cunharam a palavra para reproduzir a ideia de uma palavra original aramaica. Em 1919, Moulton e Milligan escreveram: “Até agora, os papiros ainda não elucidaram essa palavra difícil (Mt 6.11; Lc 11.3), que com toda a probabilidade foi cunhada pelo autor do grego Q para traduzir o aramaico original ”.15 Deissmann advoga que só podemos reconhecer cerca de cinquenta palavras puramente neotestamentárias ou “cristãs” 82
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entre as mais de cinco mil usadas. “Mas quando uma palavra não é imediatamente reconhecível como de formação judaica ou cristã, temos de considerar que se trata de uma palavra grega comum até provar em contrário. Segundo as aparências, êTTioúoioç é uma palavra que se originou nos intercâmbios comerciais da vida cotidiana .16 Essa opinião foi confirmada quando Albert Debrunner desco briu 17 a palavra êTuoúoioç em um livro antigo sobre administração doméstica .”18 Não é uma palavra cunhada pelo evangelista ou por Q para expressar um original aramaico. A palavra também ocorre em três recentes manuscritos (MSS) depois de 2 Macabeus 1.8, xouç eTTLOúoioç depois de xouç apxouç. O significado, em virtude do particípio relacionado (èmoriori) que ocorre em Atos 16.11, é “para o próximo dia”, uma oração diária pelas necessidades do dia seguinte. Toda empregada encarregada dos assuntos domésticos, inclusive aquela que escreveu as palavras descobertas por Debrunner, entendia esse conceito .19 6.12. Perdoa-nos as nossas dívidas (ac))eç rplv xà óc^elAtujoítoí fi[icòv). Lucas 11.4 tem “pecados” (áiactpxíaç). No grego antigo, ôcJjeíÀriiia era um termo muito comum para designar as dívidas legais, como ocorre em Romanos 4.4. Mas nesta perícope, o vocá bulo é usado para aludir as dívidas morais e espirituais para com Deus. “Transgressões” é uma tradução errada que se tornou comum pelo Livro de Oração Comum , da Igreja Luterana. Ajustase bem a Mateus 6.14 no argumento de Jesus sobre a oração, mas não é a palavra usada na oraçãomodelo. Em Mateus 18.28,30, Jesus descreve novamente o pecado “como dívida e o pecador como devedor ”.20 Assim, a Bíblia descreve o pecado como se nós prejudicássemos a Deus, à semelhança com que um devedor prejudica o seu credor. Outrora, pensávamos que a palavra ò^eiÀrí, que se refere à obrigação moral, fosse peculiar ao Novo Testamento. Mas hoje descobrimos que é comumente usada nesse sentido nos papiros .21 Pedimos perdão “assim como” (tòç) também perdoamos os que estão em dívida conosco — uma reflexão muito solene. “Jesus presume que o homem que pede perdão a Deus já perdoou os que estão em dívida com ele .”22 Ac|)tíkcc[iév é um dos três aoristos com 83
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k (kappa):
eOr^a, eõcoKoc e T]K(x. Significa “despachar”, “despedir”, “demitir”, “esfregar para fôra” . 6.13. E não nos induzas à tentação 23 (k
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ou cantada na adoração pública. Evidentemente, não fazia parte da oraçãomodelo conforme foi dada por Jesus. 6.14. Se perdoardes aos homens as suas trangressões 26 (’Eàv yàp à(|)f|te tolç ávBpcóuoiç xà TrapaTTTOÓiiara carucôv). Esse trecho não faz parte da oraçãomodelo. A palavra transgressão é, literalmente, “queda para um lado”, um lapso ou divergência da verdade ou retidão. Os antigos às vezes a usavam para mencionar a queda ou ataque intencional ao inimigo. Mas a ideia comum no Novo Testamento é “deslize” ou “falta” (G1 6.1). IlapápaoLç (Rm 5.14) é uma violação positiva, uma transgressão, passar conscientemente de um lado para outro. 6.16. Contristados (okuGpgottol).27 No Novo Testamento, só ocorre aqui e em Lucas 24.17. É uma combinação de oKU0pót; (taciturno) e oijjtç (semblante). Esses atores ou hipócritas “assumem um olhar triste” (Goodspeed) e, se necessário, até mesmo “desfiguram o rosto”2S(àcfjavLCoucHv ... zà. npÓGCoua aÓTOÒv), para que pareça que estão jejuando. E essa simulação de devoção que Jesus tão nitidamente ridiculariza. Há um trocadilho nas palavras gregas àcjmvíÇouoiv (desfigura) e tjjavwcuv (figura). Eles escondem o seu verdadeiro olhar para que pareçam estar jejuando, em uma hipocrisia consciente e afetada. 6.18. Que está ocidto (kv tcô Kpixtxúcp).29 Aqui, como nos versículos 4 e 6 , o Textus Receptus tem a frase adicional kv tcô cjxy. vepw (“no aberto”, “publicamente”), mas não é genuína (não consta, por exemplo, em AEC; BJ; NTLH, NVI; ARA; ARC). A palavra Kpucjmoç só ocorre nessa passagem em todo o Novo Testamento, mas aparece quatro vezes na LXX. 6.19.Não ajunteis tesouros (Mq 9r|oaupí(eTe óntv Oricraupouç). Não tenhais esse hábito (pq — o imperativo presente). Ver em Mateus 2.11 a análise da palavra tesouros. Aqui há um trocadilho com a palavra Gqaaupoúç. “Não entesoureis para vós mesmos tesouros.” O mesmo tipo de trocadilho ocorre no versículo 20 com o acusativo cognato. Em ambos os versículos, úptv está no dativo de interesse pessoal e não é reflexivo, mas o pronome pessoal comum. “Não entesoureis para vós tesouros” (Wycliffe). “Onde a traça e a 85
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ferrugem tudo consomem” (ottou oriç Kcd ppcôoiç àfjjcaáCei). Algo que “come” (PippGÓaKw), ou “rói”, ou “corrói”. Minam 30 (ôiopúaoouaiv). Literalmente, “cavar através de”, “furar”. Era fácil cavar as paredes de barro ou os tijolos secos ao sol. Os gregos chamavam um assaltante de “cavador de barro” (TOixópuxoç). Cofres de aço não são totalmente seguros, mesmo que a blindagem seja de trinta centímetros de espessura. 6.22. Se os teus olhos forem bons 31 (éàv o i j v 13 ó ó(J)9aÀ|ióç aou áTTA.oOç). A palavra grega cxttàoOç é usada para referirse a um contrato de casamento no qual 0 marido tinha de pagar 0 dote “puro e simples” (tt|v c|)epvriv áiTÀriv) na ocasião do divórcio. No caso de não fazêlo tão prontamente, ele tinha de pagar juros .32 Há vários exemplos de tal uso. Nesta perícope, os olhos são chamados “bons” e em Lucas 11.34, “simples”, ambos os termos em sentido moral. A palavra significa “sem dobras”, como um pedaço de pano desdobrado (em latim, simplex). Na opinião de Bruce, esta parábola dos olhos é difícil. “A ilustração e o significado ético parecem estar misturados, pois atributos morais são atribuídos aos olhos físicos que, com eles, ainda dão luz ao corpo. Essa confusão pode ser pelo fato de que os olhos, além de serem o órgão da visão, são o lugar da expressão, revelando as disposições interiores .”33 Os olhos “maus” (uovrpóç) podem estar enfermos, e a LXX usa 0 termo grego para mencionar a mesquinhez. Assim, àiTA.oü<; pode referirse à liberalidade, como argumenta Hatch .34 A passagem pode ser elíptica, para a qual temos de acrescentar algo. Se os nossos olhos estiverem saudáveis (cf. BJ), veremos nitidamente e com um foco simples (sem astigmatismo). Porém, se estiverem doentes (ruins, maus), eles podem ser estrábicos. Temos visão dupla e ficamos confusos com 0 que vemos. Mantemos um olho fixo nos tesouros acumulados na terra, e dirigimos o outro orgulhosamente ao céu. A visão du pla é inconstância, como mostra 0 versículo 24. 6.24. Ninguém pode servir a dois senhores (Oúôeiç õúvarai ôuoi Kupíoiç ôouÀeúeiv). Muitos tentam, mas 0 fracasso os aguarda. Os homens querem “servir a Deus e a Mamom” (Gecô ôouleúeiv kou 86
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|ia|!G)vâ). Mamom é uma palavra caldeia, siríaca e púnica, como Pluto é a palavra grega para o deus (ou Diabo) da riqueza. O servo de Mamom obedecerá a Mamom ao mesmo tempo em que finge obedecer a Deus. Quando um cego conduz outro cego, ambos aca bam caindo no buraco. Aquele que não sabe diferenciar a estrada do buraco é porque vê ilusoriamente. [Ele] se dedicará a um (cvòç àvQk^exai). A palavra significa “alinharse, face a face” (dcvtí) com um homem, e, por meio dele mesmo, contra o outro. 6.25. Não andeis cuidadosos quanto à vossa vida 35 (i_ir] |_ie p lavette xf| ij/uxti ú|i(5v). Há pessoas que citam esta passagem “como objeção ao ensino moral do Sermão do Monte, pois dizem que, na prática, incentiva e até manda sermos despreocupada mente negligentes quanto ao futuro ”.36 O verbo (lepiiaváco é derivado de iiepíç, iiepíÇoú, porque o cuidado ou a ansiedade distrai e divide. A palavra ocorre na reprimenda de Cristo à Marta por ela estar excessivamente preocupada em ter algo para comer (Lc 10.41). A noção de cuidado pertinente e premeditação apropriada aparece em 1 Coríntios 7.32, 12.25 e Filipenses 2.20. Esta passagem está no imperativo presente com o negativo, um mandamento para não termos o hábito da preocupação petulante quanto ao que comer e vestir. O mandamento diz que paremos com tal preocupação ou que não comecemos a viciarnos nessa prática. No versículo 31, Jesus repete a proibição com a segunda pessoa do plural do aoristo ingressivo ativo do subjuntivo: “Não andeis, pois, inquietos”. Quanto à vossa vida (xr) ijruxrj). Nesta perícope, \|n)xií representa o princípio comum de vida para os homens e animais que estão encarnados no 0041a: O primeiro precisa de comida; 0 último precisa de roupa .37 Nos Evangelhos Sinóticos, o(ô|i(j,a (Lc 12.46; cf. Jo 12.27, 13.21). Terceiro, é o que constitui o verdadeiro eu (Mt 10.28, 16.26). Em Mateus 16.25 (Lc 9.24), ij/ux1! ocorre em dois 87
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sentidos, salvando a vida física e perdendo a vida mais alta e im portante. Pelo que haveis de comer... pelo que haveis de beber... pelo que haveis de vestir (ií cj)áyr)T;e [rj t i TrCrixe]... xí êvõúcrr|a9e). Neste versículo, com cada verbo ocorre a pergunta direta com o subjuntivo deliberativo (4)ctyco|j.aiv, itÍgoiígov, TTepipaA.ú|j,e0(x). Este subjuntivo deliberativo da pergunta direta é retido na pergunta indireta utilizada no versículo 25. Nos versículos 25 e 31, ocorrem verbos diferentes, embora ambos no indireto médio, para aludir à roupa. IIepipaÀcó|j,e9c(;, “lançar em volta de nós mesmos”, no versículo 31 (“haveis de vestir”) está em aposição a 6v5úor]o9e, “pôr em nós mesmos”, no versículo 25 (“nos vestiremos”). 6.27. A sua estatura (eni xr\v r]ÀiKÍccv aikoü). ApalavraijAiKÍav é usada para aludir à altura (estatura) ou à extensão da vida (idade). Qualquer uma das duas acepções faz bom sentido aqui, embora “estatura” se ajuste melhor ao contexto. É lógico que a ansiedade não contribui em nada para qualquer um dos dois tipos de crescimento. Não se trata de defesa em favor da inatividade, pois até os pássaros são diligentes e as flores crescem. 6.28. Os lírios do campo (to Kpí.voc toü àypou). O significado se estende além dos lírios e abrange outras flores silvestres .39 6.29. Nem mesmo Salomão... se vestiu (oúõè Soào|í,gÒv ... TTepiepáA.eTO). A voz média e, portanto, “não se vestiu”, “não pôs em volta de si”. 6.30. A erva do campo (tov xóp^ov toü àypoú). E a erva comum do campo. Isso realça a comparação. “Ainda hoje na Palestina usase erva seca para acender fogo para assar pão .”40 6.33. Buscai, pois, em primeiro lugar, o seu remo [ARA] (Cr)xei to ôè TTpoòTOv xr\v paoLÀeiav ... corroü). “Mas buscai primeiro o Reino de Deus” (ARC). Esta é uma resposta aos que só veem comentários éticos no Sermão do Monte. Nas Beatitudes, Jesus descreveu o homem de coração novo. Ele coloca o Reino de Deus e a sua justiça antes da comida e do vestuário temporal. 6.34. Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã (jaf) ouv laepilWiariTe elç ifiv aüpiov). Este é o último recurso da alma an
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siosa quando todos os outros medos lhe são aquietados. O fantasma do amanhã ataca à espreita, com todos os espectros da dúvida e desconfiança. “Afinal de contas, as pessoas se preocupam mais com males imaginários do que com os males reais .”41 NOTAS ___________________________________________________ 1“Tenham o cuidado de não” (NVI). 2TR e TM têm if|v èA.er||ioaúvr|i'. 3A. T. Robertson, Commentary on the Gospel According to Matthew (Nova York: Macmillan, 1911), p. 104. 4“Não anuncie isso com trombetas” (NVI). 5Alan Hugh McNeile, The Gospel According to St. Matthew: The Greek Text with Introduction, Notes, and Indices (Reimpressão, Grand Rapids: Baker, 1980), p. 74. 6 Marvin Richardson Vincent, Word Studies in the New Testament, vol. 1, The Synoptic Gospels (Reimpressão, Grand Rapids: Eerdmans, 1946), p. 43. 7“Eles já receberam sua plena recompensa” (NVI). 8 G. Adolph Deissmann, Bible Studies: Contributions, Chiefly from Papyri and Inscriptions, to the History o f the Language, 2a ed., traduzido por A. Grieve (Edimburgo: T. & T. Clark, 1923), p. 229. Ver também Adolph Deissmann, Light from the Ancient East (Reimpressão, Grand Rapids: Baker, 1978), pp. 11 0, 111.
9“No teu quarto” (ARA). 10“Não fiquem sempre repetindo a mesma coisa” (NVI). s Greek Testament, vol. 1, The 11 Alexander Balmain Bruce, The Expositor’ Synoptic Gospels (Grand Rapids: Eerdmans, 1951), p. 119. 12Robertson, Commentary on Matthew, p. 106. 13McNeile, Matthew, p. 76. 14“Dános hoje o nosso pão de cada dia” (NVI). 15 James Hope M oulton and George Milligan, The Vocabulary o f the Greek Testament (Londres: Hodder & Stoughton, 1952), p. 242. 16Ver as sugestões de Deissm ann em Neutestamentliche Studien Georg Heinrici Dargebracht (Leipzig, 1914), pp. 118, 119. 17Albert Debrunner, Theol. Lit. Ztg. (1925), col. 119. 18Adolph Deissmann, Light from the Ancient East (Reedição, 1927), p. 78, nota 1. 19Albert Debrunner, A Greek Gramm ar o f the New Testament and Other Early Christian Literature (Edição Revisada, Chicago: University of Chicago Press, 1961), Bp. 123.1.
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20 Vincent, Word Studies, p. 43. 21Deissmann, Bible Studies, p. 221, e Light from the Ancient East, Reedição, p. 331. 22 Robertson, Commentary on Matthew>, p. 108. 23 “E não nos deixes cair em tentação” (ARA). 24 Vincent, Word Studies, pp. 43, 44. 25 L‘Livranos do Maligno” (BJ). 26 "Se perdoardes aos homens os seus delitos” (BJ). 27“Um ar sombrio” (BJ); “uma cara triste” (NTLH); “uma aparência triste” (NVI). 28“Mudam a aparência do rosto” (NTLH). 29 Esta é a leitura do texto em GNT e WR. TR e TM têm a leitura kv xw Kpinrao, igual a em 6.9. 10 “Arrombam” (NVI). 31 “Se teu olho estiver são” (BJ). 32 Moulton and Milligan, Vocabulary, p. 58. 33Bruce, Expositor s, p. 124. 34 Hatch, Essays in Biblical Greek, p. 80. 35 “Não vos preocupeis com a vossa vida” (BJ). 36 Vincent, Word Studies, p. 48. 37 McNeile, Matthew, p. 86. 38 Ibid. 39 Ibid., p. 89. 40 Robertson, Commentary on Matthew, p. 112. 41 Ibid., p. 113.
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7 Mateus 7.1. Não julgueis (Mi) Kpíveue). É o hábito da disposição de condenar e criticar; a crítica acentuada e injusta. A palavra crítica vem desta palavra grega. Significa “separar”, “distinguir”, “discriminar”. 7.3. O argueiro (tò Kápcjioç). Não um grão de pó, mas um pedaço de madeira seca ou palhiço, lasca (Weymouth, Moffatt), uma partícula muito pequena que irrita. A trave 1 (ôokòv). É um cepo no qual se apóiam as tábuas da casa (segundo os papiros), travessa, viga, barrote, prancha (Moffatt); uma estaca que se ressalta grotescamente do olho. É possível que Jesus estivesse citando um provérbio semelhante a “quem tem telhado de vidro não joga pedra no telhado dos outros”. Tholuck cita um provérbio árabe: “Como tu vês a lasca no olho do teu irmão, e não vês a vigamestra no teu olho ? ”2 7.5. Cuidarás (ôiapA.ó[íei<;). Nas páginas neotestamentárias, só ocorre neste versículo. Em Lucas 6.42 e Marcos 8.25: “Olhar através de”, “penetrar”, em contraste com piémEiç, “fitar”, “contemplar”, no versículo 3. Tire o cepo do seu olho para você ver claramente (ARA) e poder ajudar o irmão a tirar a lasca (éKpcdetv) do olho dele.
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7.6. Não deis aos cães as coisas santas 3 (Mfj ôcòte zo ayiov ToXç kixhv). Não está claro a que coisas santas a determinação se refere, se aos brincos ou aos amuletos. Os cães não sentem atração pelo que seja santo. Richard Trench diz que a referência é a carne oferecida em sacrifício que não deve ser arremessada aos cães: “Não é que os cães não a devorariam, pois o fariam com muita gana; mas seria uma profanação dála a eles, desta forma tomandoa um GKÚpkxÀov, Êxodo 22.31”.4 Os cães ganindo pulariam em cima disso. Os cães são aparentados aos lobos e infestam as mas das cidades orientais. Nem deiteis aos porcos as vossas pérolas (xoüç [iapyapÍTaç u(ícòv 6|_iTTpoo0£:V x(òv xoípoov). Na palavra grega traduzida por p é rola temos o nome Margarita (ou Margarete). As pérolas parecem ervilhas ou bolotas e enganariam os porcos até que descobrissem que foram ludibriados. Os javalis selvagens pisoteiam e dilaceram com as presas qualquer coisa que os enfureça.5 7.9. Pedra... pão (aptov ... ÀÍGov). Certas pedras parecem pães. 0 Diabo sugeriu que Jesus transformasse pedras em pães (Mt 4.3). 7.10. Peixe... serpente (LjcGuv ... õcfnv). O peixe é um gênero alimentício comum, sendo facilmente substituído por cobra d ’água. Há anacoluto nesta oração em grego. 7.11. Quanto mais (71000) |iâAAov). Jesus gosta de raciocínios “com tanto mais razão”, indo do menor para o maior.6 7.12. Vós quereis que os homens vos façam (Í vcl ttolgòolv ú|iiv 01 avGpornoL). Lucas (6.31) põe a Regra Áurea em confronto com Mateus 5.42. A forma negativa consta em Tobias 4.15: “Não faças a ninguém o que não queres que te façam” (BJ). Este dito era usado por Hillel, Fílon, Isócrates, Confucio. “A Regra de Ouro é a essência refinada do ‘cumprir’ (Mt 5.17) ensinado no sermão.”7Jesus 0 coloca na forma positiva. 7.13. Pela porta estreita (õià xíjç oTevqç uúÀriç). A ilustração dos dois caminhos desfrutava de ampla circulação nos escritos judaicos e cristãos (cf. Dt 30.19; SI 1.16; Jr 21.8).8Aporta estreita é repetida no versículo 14 com 0 acréscimo de íe0A.i[j,|iévr|. O caminho é “apertado”, estreito como uma passagem estreita por entre mon92
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tanhas ou rochas altas, um lugar bem apertado como óxeyoxupía em Romanos 8.35. “O caminho que conduz à vida envolve apuros e tribulações .”9 Vincent cita Pinax ou Tablet de Cebes, um contemporâneo de Sócrates : 10 “Estás vendo uma pequena porta e um caminho que sai da porta. O caminho não está muito cheio, pois são muito poucos os que trafegam por ele. Este é o caminho que leva à verdadeira cultura”. Toda cidade, vila, aldeia tem um caminho “espaçoso” (eúpúxwpoç) com luzes brilhantes que seduzem para a destruição. 7.15. Falsos profetas (tgõv i|/euõoupocJ)r|i;côv). Havia falsos profetas nos tempos do Antigo Testamento. Jesus prediz a vinda de “falsos cristos e falsos profetas” (Mt 24.24) que desviarão a muitos. No tempo determinado, eles surgirão como se fossem anjos de luz, assim como Satanás o faz. Entre eles haveria judaizantes (2 Co 11.1315) e protognósticos (1 Tm 4.1; 1 Jo 4.1). No momento em que Jesus falava, já existiam os falsos profetas (cf. At 13.6; 2 Pe 2.1). Por fôra, parecem “ovelhas”, mas por dentro são “lobos devoradores” (Aúkol aprayeç), ávidos pelo poder, ganho e orgulho. É uma tragédia que tais homens e mulheres tenham reaparecido ao longo dos séculos e sempre encontrem vítimas. Lobos são mais perigosos do que cães e porcos. 7.16,20. Por seus frutos os conhecereis11 (crrrò tgòv KapTicôv aí)Tcòv èTTiyyGÓoeoBe aúxoúç). A partícula ém, está acoplada ao verbo conhecer (yiycóoKw), significando “conhecer completamente”. As ilustrações da árvore e da vinha têm muitos paralelos nos escritores antigos. 7.21. Nem... mas (Oú ... cúJJ). Nítido contraste entre o mero falador e o fazedor da vontade de Deus. 7.22. Não profetizamos nós em teu nome? (oú tcô oco óyófmxi èTTpoc(jr|T6Úoa|iey12). O uso de oú na pergunta pede a resposta afirmativa. Eles afirmam ter profetizado ou pregado em nome de Cristo e feito muitos milagres. Mas Jesus lhes arrancará a pele de ovelha e exporá o lobo voraz. 7.23. Nunca vos conheci (Oúô6ttoté eyvtov ú|iâç). “Nunca me fui pessoalmente conhecido de vós” (conhecimento experimental). O sucesso, segundo estimação do mundo, não é um critério de co93
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nhecer Cristo e ter uma relação com ele. “Eu lhes direi abertamente” (ô[ioA.oyiíoco aÚTOiç); o mesmo vocábulo usado para confessar Cristo diante dos homens (Mt 10.32). Esta expressão Jesus usará para o anúncio público e franco do destino dessas pessoas. 7.24. E as pratica 13 («ai uoiel airuouç). Este é o ponto central da Parábola do Construtor Prudente e do Construtor Insensato. O construtor prudente “cavou, abriu bem fundo, e pôs os alicerces so bre rocha” (Lc 6.48). 7.25. Estava edificada14 (TeGeneAiorro). Terceira pessoa do singular do pretérito perfeito passivo do indicativo de conclusão no passado. Fôra edificada sobre a rocha e ainda estava de pé, simplesmente. 7.26. E as não cumpre 15 («od (j.r) ttolgôv aúuouç). O construtor insensato edificou a casa sobre a areia que, como é sabido, não dá firmeza na tempestade. Lembremonos das palavras de Jesus ditas no começo do sermão sobre “cumprir e ensinar” (Mt 5.19). Ouvir sermões é um negócio perigoso se não os pusermos em prática. 7.28. A multidão se admirou da sua doutrina (è^eTTÀr|Ooovi;o oi òxA.01 4ui x\\ õiôaxíí aírcou). As pessoas ouviram encantadas e ficaram pasmas. Note o tempo imperfeito, um rumor de assombro. O verbo significa literalmente “estavam chocados e fôra de si”. 7.29. E não como os escribas 16 (kocI oí)% coç oi ypcwoaelç auxGÒv).17 As pessoas estavam habituadas aos sermões dos rabinos nas sinagogas. Há exemplos desses discursos registrados na Mishná e na Gemará, o Talmude judaico. Essas obras apresentam uma coleção surpreendente de comentários curtos, enfadonhos e deslocados, que tratam de todo tipo de problema concebível na história. Os escribas citavam os rabinos na presença deles e tinham medo de expressar uma ideia sem têla apoiado devidamente em algum antecessor. Jesus falava com a autoridade da verdade, a realidade e o frescor da luz matutina e o poder do Espírito de Deus. Este sermão, que causou tão forte impressão, terminou com a tragédia da queda da casa que fôra edificada sobre a areia, como o estrondo de um gigantesco carvalho na floresta. Não houve a mínima suavização quanto ao resultado. 94
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NOTAS 1“Viga” (NVI). 2 Citado em Marvin Richardson Vincent, Word Studies in the New Testament, vol. 1, The Synoptic Gospels (Reimpressão, Grand Rapids: Eerdmans, 1946), p. 49. 3“Não dêem para os cachorros o que é sagrado” (NTLH). 4 Richard Trench, Exposition o fthe Sermon on the Mount drawn from the Writings o f St. Augustine, 4a edição revisada (Londres: Kegan Paul, Trench & Company, 1886), pp. 301, 302, nota 4. 5 Uma versão bíblica na qual o quiasmo (repetição de palavras em ordem revertida) ajuda a interpretação é: “Não dêem o que é sagrado aos cães, nem atirem suas pérolas aos porcos; caso contrário, estes as pisarão e, aqueles, voltandose contra vocês, os despedaçarão” (NVI). A NVI apresenta os cães e os porcos pisoteando as coisas santas e atacando a pessoa. A NTLH desfaz o quiasmo de forma que só os cães atacam, enquanto que os porcos pisoteiam. 6A. T. Robertson, Commentary on the Gospel According to Matthew (Nova York: Macmillan, 1911), p. 115. 7Alan Hugh McNeile, The Gospel According to St. Matthew: The Greek Text with Introduction, Notes, an d Indices (Reimpressão, Grand Rapids: Baker, 1980), p. 93. s Ver Didaquê 1— 6; Epístola de Bam abé 18— 20. 9McNeile, Matthew, p. 94. 10Vincent, Word Studies, p. 50. 11 “Vocês os reconhecerão por seus frutos” (NVI; cf. BJ). 12 Assim é a leitura de GNT/NA e WH, ao passo que TR e TM têm TTpOecj)r)T€ÚGCqj,£V. 13“E vive de acordo com eles [os ensinamentos]” (NTLH). 14“Estava alicerçada” (BJ); “tinha seus alicerces” (NVI). 15“E não as pratica” (ARA). 16“E não como os mestres da lei” (NVI). 17TR e TM omitem o pronome aúxâv.
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Capítulo 8
Mateus 8.2. Senhor, se quiseres (Kúpie, kav 0éÀr)ç). O leproso sabia que Jesus tinha o poder para curálo. A dúvida era sobre a vontade de Jesus. “Os homens acreditam mais facilmente no poder milagroso do que no amor milagroso .”1 Esta é a condição da terceira classe (indeterminada, mas com prospecto de ser determinada). O leproso tinha uma dúvida esperançosa. Jesus aceitou o desafio dando a garantia de “quero”. O mandamento: “Não o digas a ninguém”, visava a suprimir a excitação e prevenir a hostilidade. 8.5. Chegou junto dele um centurião (TTpoof|À0ey aúxcô èKaióvTapxoç). Dativo apesar do genitivo absoluto eloeÀGóvuoç au ’ ToCr como no versículo 1 , uma expressão idiomática grega não rara, sobretudo no koiné. 8 .6 . Violentamente atormentado 3 (õeivwç paoccvaÇó^ievoç). Particípio passivo presente no nominativo masculino singular da raiz pacrávoç (ver Mt 4.24). O menino (uatç), escravo (õoOÀoç, Lc 7.2), estava acamado (péplr|Tcu, perfeito passivo do indicativo de páÀÀco), um paralítico crônico .4 8.7. Eu irei e lhe darei saúde 5 (’Eycò èÀ0còv OeptxTTeiJoa) autóv). Primeira pessoa do futuro do singular ativo do indicativo, não um
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subjuntivo deliberativo em questão .6 A palavra aqui traduzida por “darei saúde”, Gepaneijoco, significa primeiro “servir com atenção médica”, daí “curar” ou “restabelecer a saúde”. No versículo 8 , o centurião usa a palavra mais definida para curar (íaGrjoeim), como Mateus usa no versículo 13 (íá0r|). Lucas (9.11), como médico, diz que Jesus sarava (Lâuo) os que necessitavam de cura (GepaTreíocç), mas a distinção nem sempre é observada. Em Atos 28.8, Lucas usa Láacao para falar sobre as curas milagrosas que Paulo fazia na ilha de Malta. Em Atos 28.9, ele emprega o termo éGepcnreiJovTo, ao que tudo indica pela prática do médico Lucas (segundo opina William M. Ramsay). Mateus diz que o próprio centurião falou com Jesus, ao passo que Lucas conta que dois comitês do centurião levaram as suas mensagens, sendo esta claramente uma narrativa mais detalhada. O que alguém faz pelos outros é como se ele mesmo tivesse feito, como Pilatos que “açoitou a Jesus” ordenando que ele fosse açoitado. 8.9. Pois também eu sou homem sob autoridade (kcu yàp èycò avBpwTTÓç el|ii úttò è^ouoíav). “Também” está no texto, ainda que Km aqui possa significar “até mesmo”. Se esta foi a intenção, o sentido seria: “Mesmo eu em minha posição subordinada tenho soldados sob meu comando” . Como militar, ele aprendera a ser obediente aos superiores e, por conseguinte, esperava obediência imediata aos seus comandos (imperativos aoristos e indicativos aoristos do presente). Por conseguinte, a fé que ele tinha na autoridade de Cristo sobre a doença do meninoservo o levou a presumir que Jesus só precisava dizer uma palavra para que a cura fosse realizada. 8 .10. Tanta fé (toaaÚTriv ttÍociv). A convicção demonstrada por um centurião romano era maior que a convicção de um judeu. Da mesma forma, Jesus ficou surpreso com a grande fé da mulher cana néia (ver Mt 15.2228). 8.11. Assentar-se-ão à mesa1 (ávaKliGiíaovTCu). Reclinarse à mesa em sofás como os judeus e romanos faziam. Por conseguinte, o famoso quadro A Ultima Ceia, pintado por Leonardo da Vinci, é um anacronismo, porque apresenta todas as pessoas sentadas em cadeiras. 98
Mateus 8
8.12. E osfilhos do Reino&(ol õè ulol xf|ç paoiÀcíaç). Expressão idiomática hebraica cuja força e sentido semelhase em intensidade a “filho do inferno” (Mt 23.15) e “filhos deste mundo” (Lc 16.8). Os judeus sentiam que tinham direito aos privilégios do Reino por serem da descendência de Abraão. Todavia, o mero nascimento natural não ocasiona filiação espiritual, como já ensinara João Batista (Mt 3.9). Nas trevas exteriores9 (eiç xò okotoç xò é^cóxepov). Um adjetivo comparativo como “mais avançado para fôra”. A referência é à escuridão que havia fôra dos limites do palácio iluminado, uma metáfora do inferno ou punição (Mt 25.30). O artigo repetido toma o adjetivo mais ousado e mais impressivo, “as trevas do exterior”, lá onde se ouvem o gemido e o ranger dos dentes na densa negridão da noite. 8.14. Jazendo com febre10(p^pirpevriv kcu uupéooouaav). Dois particípios, “acamada” ([ARA], acusativo feminino singular do perfeito passivo de páAAw) e “ardendo em febre” ([ARA], acusativo feminino singular do presente ativo). O texto não informa quanto tempo fazia que ela estava febril, mas a febre pode ter sido súbita e severa (Me 1.30), visto que Jesus, ao chegar à casa de Pedro, é avisado imediatamente a respeito do estado da mulher. A febre em si era considerada uma doença. “Febre” em grego é tíOp. 8.15. E tocou-lhe na mão (ríij/axo xf|ç xeipòç aúxfj), em ato de compaixão tema e amorosa por ser o grande Médico. Serviu-osn (õiriKÓvei auxw).12 Ela “começou a servir” ([cf. ARA], imperfeito conativo ou inceptivo) a Jesus imediatamente em gratidão e amor. 8.16. E chegada a tarde ('Oi|iíaç õè yevo[j.évr|c;), um genitivo absoluto. Mateus desenha um belo panorama de pôrdosol ao fim do dia de sábado, como faz Marcos 1.32. Multidões vão a Jesus quando ele ficou à porta da casa de Pedro (Mt 8.16; ver também Me 1.33). A cidade toda se juntou lá com “todos os que estavam enfermos” (ver Mt 4.24), e ele os curou “com a sua palavra” (A.óyco). Tratavase de uma cena inesquecível para os que a viram. 99
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8.17. Ele tomou sobre si as nossas enfermidades e levou a nossas doenças13(Amòç xàç àaQeveíac, rptòv ’ éXocfiev «m làç vóoouç èpáotaoev), citação de Isaías 53.4. Não está claro em que sentido Mateus aplica as palavras de Isaías, se no sentido preciso do hebraico ou de maneira independente. Moffatt traduz: “Ele tirou as nossas enfermidades e carregou o fardo de nossas doenças”. Goodspeed traduz: “Ele tomou a nossa enfermidade e levou embora as nossas doenças”. Deissmann opina que Mateus fez uma interpretação livre do hebraico, descartou a tradução da LXX e transpôs os dois ver bos hebraicos. Neste caso, Mateus quer dizer: “Ele levou sobre si as nossas dores e carregou as nossas doenças ”.14 Alfred Plummer advoga que “é impossível e também desnecessário entender o que o evangelista entendia por ‘tomou’ (éXafiev) e ‘levou’ (ê(3áaxaoev). Pelo menos, tem de significar que Jesus retirou os sofrimentos dos sofredores. Dificilmente ele quis dizer que as doenças foram transferidas para Jesus”.15 A palavra paotáCu ocorre largamente nos papiros com o sentido de levantar, levar, carregar, suportar, levar embora (o significado mais comum ).16 Em Mateus 3.11, temos o uso comum do vernáculo “levar as suas sandálias”. O grego ático não usava a expressão no sentido de “levar embora”. “Esta passagem é a base da teoria da cura pela fé (evangelho da saúde e da prosperidade) que afirma que a expiação de Cristo inclui a provisão para a cura física não menos que para a cura espiritual, e, por conseguinte, teima em traduzir ‘levou embora ’.”17 Vimos que a palavra PaoraÇco permite esse significado, mas concordo com McNeile: “A passagem, como Mateus a emprega, não tem influência na doutrina da expiação”. Mas Jesus mostra a sua compaixão por nós. “A compaixão de Cristo pelos sofredores era tão intensa que ele realmente sentia as suas enfermidades e dores .”18 Em nossos fardos, Jesus se põe debaixo da carga junto conosco e nos ajuda a carregar. 8.19. Um escriba (etc ypafi^iateúç). Um (<áç), numeral, é igu a “um”, artigo indefinido. Já era discípulo como mostra a expressão “outro de seus discípulos” (étepoç ôè tmv |ia 0Tyuájv [aírcou]) em 8.21. Ele chama Jesus “Mestre” (õiõáoKode), mas ao que parece é irmão “presunçoso”, extremamente autoconfiante e plenamente sa100
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tisfeito consigo mesmo. “Era um membro dessa classe difícil de impressionar, em espírito e tendência completamente opostos aos caminhos de Jesus .”19 Contudo, Jesus lida gentilmente com ele. 8.20. As raposas têm covis (Al áÀGÓiTeKeç cjjcoÀeouç exouoiv), toca ou buraco escondido. As aves do céu têm ninhos (zà irezeivà zov ovpavov KazaoKrivúcKELç). “Poleiros, ou seja, folhados, OKr|vcá para pousar à noite (tabernacula, habitacula), e não ninhos .”20 O verbo (KaTaoKT|vóoo) consta na LXX em Salmos 103.12 (104.12) falando sobre os pássaros. O Filho do Homem (ó ulòç toü òcvGpoÓTToi)). Esta expressão notável, que Jesus costumava aplicar a si mesmo, surge aqui pela primeira vez em Mateus. Muitos estudos já foram feitos sobre as suas nuanças de significado. A expressão “significa muito para o orador, que a escolheu deliberadamente em concordância com reflexões privadas, cuja natureza só nos resta adivinhar pelo estudo das muitas ocasiões em que o nome é usado .”21 Na maioria das vezes, quer dizer “o homem representativo”. Pode ter o significado do vocábulo aramaico barnasha, “o homem”, mas em grande parte das ocorrências não terá essa ideia. Jesus usa a expressão como título messiânico oculto. E possível que este escriba não tenha entendido nada da expressão. Bruce opina que Jesus quis dizer “o Homem nãoprivi legiado” que é pior do que as raposas e as aves .22 Jesus falava grego como também aramaico. E inconcebível que os Evangelhos nunca tivessem dito que Jesus é “o Filho do Homem” e sempre creditassem a expressão a Ele mesmo falando nas suas próprias palavras se Ele não se chamasse assim. O termo é usado nos Evangelhos cerca de oitenta vezes, sendo que trinta e três vezes constam em Mateus. Nos primeiros tempos do seu ministério, exceto bem no começo em João 4, Jesus privase de chamarse Messias. Este termo se ajustava perfeitamente ao seu propósito para fazer com que as pessoas se habituassem ao título especial de Messias, quando então ele estaria pronto para dizêlo abertamente. 8.21. Senhor, permite-m e que, primeiramente, vá sepultar meu pai 23 (Kúpie, kziízp^óv [ioi upcôiov áire/lGeiv Kcà Gcajjcu tòv natépa 101
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(íou). O primeiro homem era um entusiasta. Este é excessivamente cauteloso. De modo algum é conclusivo que o pai estivesse morto. Tobit exortou o filho Tobias que se assegurasse de enterrálo: “[Filho], quando eu morrer, darmeás uma digna sepultura ”.24 A probabilidade é que esse discípulo estivesse dizendo que, depois que o pai estivesse morto e enterrado, então ele estaria livre para seguir a Jesus. “Em nossos próprios dias, sabese de um oriental sentado ao lado de seu pai, falando dos seus projetos futuros: ‘Mas primeiro tenho de enterrar o meu pai !’”25 Jesus desejava que as coisas mais importantes fossem feitas primeiro. Mesmo que o pai do homem não estivesse morto, o serviço a Cristo vem em primeiro lugar. 8.22. Deixa aos mortos sepultar os seus mortos (acj)eç xoij veKpoiiç 0ái|m xoi)ç èauxwv veKpoúç). Os espiritualmente mortos sempre estão por perto para enterrar os fisicamente mortos, se o nosso verdadeiro compromisso estiver com Jesus. Crisóstomo diz que, ainda que seja uma boa ação enterrar os mortos, a melhor é pregar Cristo .26 8.24. Ele, porém, estava dormindo 27 (aúxòç ôè eKá0euôev); terceira pessoa do singular do pretérito imperfeito ativo do indicativo, “estava dormindo” — uma cena pitoresca. O mar da Galiléia fica a duzentos e dez metros abaixo do nível do mar Mediterrâneo. Essas rajadas súbitas vêm do pico do monte Hermom com força surpreendente (oeia|iòç |iéyaç), semelhante a um terremoto. Marcos 4.37 e Lucas 8.23 dizem respectivamente que foi um “grande temporal”, uma “tempestade de vento” (A,oâÀai[r) com rajadas fortes. 8.25. Senhor, salva-nos, que perecemos (Kúpie, ogxjov, áTToAAú[ie0a).28 Mais precisamente: “Senhor, salvanos imediatamente (aoristo); estamos perecendo (presente linear)”. 8.27. Até os ventos e o mar lhe obedecem?29 (kocI oi ave|_i Kcd f) Qákaooa aúxcô útokoúouoiv). Um milagre da natureza. Nem uma gota ao sabor do vento se acalmaria no mar de um momento para o outro. “J. Weiss explica que por ‘incrível coincidência’ a tempestade acalmou no momento exato em que Jesus falou !”30 Certas pessoas pensantes se satisfazem facilmente com a sua pró pria estupidez. 102
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8.28. A provínciados gadarenos31(xf]v xcopav i( 2>vrtóapr|voôv ).32 Este é o texto correto em Mateus, ao passo que em Marcos 5.1 e Lucas 8.26 é a “região dos gerasenos” (BJ). Thompson descobriu às margens do lago as ruínas de Córsia (Gerasa). Essa aldeia está no distrito da cidade de Gadara, poucos quilômetros para o sudoeste, de forma que pode ser chamada por Gerasa ou Gadara .33 Mateus fala de “dois endemoninhados”, ao passo que Marcos e Lucas mencionam só um principal. Os sepulcros (xC)v |_ivrpe ícov) eram câmaras entalhadas na encosta das montanhas. No lado oriental do lago, os penhascos íngremes são de formação de pedra calcária e estão cheios de cavernas. E uma das provas de que é maníaco quem assombra os sepulcros. As pessoas evitavam a região por considerála perigosa por causa dos loucos. 8.29. Filho de Deus (ulè xoü Geou). E surpreendente o fato de os demônios reconhecerem Jesus. O assunto da demonologia é difícil. Há quem defenda que é apenas o modo antigo para descrever as doenças. Mas isso não explica situações como esta. Jesus trata os demônios como seres reais. Ele separa a existência deles da personalidade humana. Certos missionários afirmam ver demônios quando estes são expulsos. O Diabo conhecia muito bem a Jesus, e não é estranho que o Senhor seja reconhecido pelos agentes do Adversário. Eles sabem que não há nada em comum entre eles e o Filho de Deus (r||!iv kocI ooí — dativo ético) e temem que o tormento chegue “antes do tempo ”34 (irpò Kaipou). Tà ôoa|_ióvia é a palavra normalmente usada nas perícopes do Novo Testamento para referirse aos demônios; mas no versículo 31 temos ol ôaí|j.oveç — a única ocorrência exata deste termo no Novo Testamento. Aaqióviov é diminutivo de ôcáfiwv. Em Homero, ôctí^cov é sinonimamente usado com Geóç e Geá. Hesíodo empregou o termo Saíjauv para referirse aos homens da idade de ouro como deidades tutelares. Homero usa o adjetivo ôaqióvLOç em sentido mau. Empédocles opinava que os demônios eram tanto ruins quanto bons. Eram usados para aliviar os deuses e as deusas das muitas baixarias e falta de escrúpulos. George Grote comenta que, sendo este o uso pagão, os cristãos estavam justifica103
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dos em dizer que a idolatria era adoração a demônios 35 (ver 1 Co 10.20,21; 1 Tm 4.1; Ap 9.20; 16.13,14). Nos Evangelhos, os demônios são comparados a espíritos imundos (Me 3.22,30; 5.12,15; Lc 4.33). Os demônios são perturbadores de todos os aspectos da vida do homem (Vincent; Mt 12.45; Me 5.25; 7.25; Lc 13.11,16). 8.32. Toda aquela manada de porcos se precipitou no mar por um despenhadeiro (up[ir|oev moa f] ày€A.r| Karà xoü Kprujvoí)); pelo precipício abaixo (caso ablativo) até ao mar, aoristo constativo. Hoje entendemos melhor a influência da mente sobre a matéria, mas temos o domínio da mente do Mestre sobre a mente dos maníacos, o poder de Cristo sobre os demônios, o poder dos demônios sobre a manada de porcos. Existem dificuldades em excesso para quem só vê folclore e lenda, mas tudo fica bastante claro se considerarmos que Jesus é verdadeiramente o Senhor e o Salvador. Não precisamos ficar preocupados com o extermínio incidental dos porcos, quando estamos tão acostumados com tragédias da natureza que nos são incompreensíveis. 8.34. Rogaram-lhe que se retirasse do seu território36 (TiapeKáÀeoccy òttwç fiecapri c o t ò 'coôv ópíoov omcòv). A cidade em peso ficou em polvorosa com a ruína total dos porcos e implorou que Jesus se retirasse. Preocupados com a perda da propriedade, esqueceram a cura dos endemoninhados. Importaramse mais com os porcos do que com as almas humanas. NOTAS ___________________________________________________ 1 Alexander Balmain Bruce, The Expositor s Greek Testament, vol. 1, The Synoptic Gospels (Grand Rapids: Eerdmans, 1951), p. 137). 2 No lugar do genitivo absoluto, TR e TM têm um dativo absoluto EioelGovii aÚTcò. 3“Sofrendo horrivelmente” (ARA). 4A. T. Robertson, Commentary on the GospelAccording to Matthew (Nova York: Macmillan, 1911), p. 121. 5“Eu irei curálo” (ARA). 6Alan Hugh McNeile, The Gospel According to St. Matthew: The Greek Text with Introduction, Notes, and índices (Reimpressão, Grand Rapids: Baker, 1980), p. 104.
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Mateus 8 7“Tomarão lugares à mesa” (ARA). 8“Mas os súditos do Reino” (NVI). 9“Para fôra, nas trevas” (ARA). 10“Estava de cama e com febre” (AEC). 11“Começou a servilo” (NVI). 12No lugar da forma singular, TR tem oanmç. 13 “Ele levou as nossas doenças e carregou as nossas enfermidades” (NTLH; cf. BJ). 14 G. Adolph Deissmann, Bible Studies: Contributions, Chiefly fro m Papyri and Inscriptions, to the History o f the Language, 2a ed., traduzido por A. Grieve ( Edimburgo: T. & T. Clark, 1923), pp. 192, 193. 15 Alfred Plummer, An Exegetical Commentary on the Gospel According to Saint Matthew (Reimpressão, Grand Rapids: Eerdmans, 1956), p. 128. 16 James Hope Moulton e George Milligan, The Vocabulary o fthe Greek Testament (Londres: Hodder & Stoughton, 1952), p. 106. 17 Marvin Richardson Vincent, Word Studies in the New Testament, vol. 1, The Synoptic Gospels (Reimpressão, Grand Rapids: Eerdmans, 1946), p. 53. 18McNeile, Matthew, p. 108. 19Bruce, Expositor s, p. 142. 20 McNeile, Matthew , p. 109. 21 Bruce, Expositor s, p. 142. 22Ibid. 23 “Senhor, primeiro deixe que eu volte e sepulte o meu pai” (NTLH). 24 Tobias 4.3 (BJ). 25 Plummer, Matthew, p. 130, nota 1. 26 The Nicene and Post-Nicene Fathers, Vol. 10, “The Works of St. Chrysostom”, Homily 27 (Nova York: Christian Literature Company, 1894), p. 188. 27 “E Jesus estava dorm indo” (NTLH). O substantivo próprio Iriaoüç não se acha no texto grego, mas consta o pronome Aíruóç, que obviamente se refere a Jesus. 28 TR e TM incluem o pronome: “Salvanos” (owaov íp âv ), ao passo que GNT/ NA e WH não incluem o pronome. 29 “Que homem é este que manda até no vento e nas ondas?!” (NTLH). 30 McNeile, Matthew, p. 111. 31 “País dos gadarenos” (BJ); “região dos gadarenos” (NVI); “terra dos gadare nos” (ARA). 32 GNT/NA e WH têm raõctpr]v(3v, ao passo que TR e TM têm repyearivúv. 33 William M. Thompson, The Lan d and the Book (Grand Rapids: Baker, 1954), p. 375.
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34 “Antes do devido tempo” (NVI). 35George Grote, History o f Greece (Nova York: American Book Exchange, 1881), pp. 255, 256. 36 “Pediram com insistência que fosse embora da terra deles” (NTLH).
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Capítulo
9 Mateus 9.1. [Jesus] chegou à sua cidade1(rjÀGev elç xr\v lôíav ttóàlv). Cafamaum se tomou a casa de Jesus2 (Mt 4.13; Me 2.1). E eis que lhe trouxeram um paralítico 3 (upooé^epov aikcô TTapaÀutLKÒy). O pretérito imperfeito “estavam trazendo” apresenta uma cena visualmente nítida. Os detalhes expostos em Marcos 2.14 e Lucas 5.17 dão ainda mais vivacidade. Deitado numa cama4 (èul KÀÍvr|c; (3epA.r|[aévov). Esticado em uma maca, um particípio passivo do pretérito perfeito no acusativo masculino singular. KÀivíôiov referese a uma pequena cama ou maca em Lucas 5.19; é “um catre” (KpápaiToç) em Marcos 2.4,9,11. 9.2. Perdoados tesão os teus pecados (á4>íevra í5 oou ai á|j.a;pTía l). Terceira pessoa do presente do plural passivo do indicativo (presente do aoristo). Em Lucas 5.21 consta àfalvai, o pretérito perfeito passivo do indicativo do grego dórico e jónico para o grego ático à^elvrai, uma das formas dialéticas que aparecem no grego Koivr|. 9.3. Ele blasfema6 (Outoç piao^rmei). Note a zombaria indicada pelo uso de “este” (ARA). “Do ponto de vista convencional, o profeta sempre é um blasfemador escandaloso e irreverente .”7
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9.6. Ora, para que saibais (iva ôè elõíyue). Jesus aceita o desafio apresentado pelos pensamentos dos escribas e opera o milagre da cura do paralítico, que até ali só teve os pecados perdoados. A cura física tornouse o sinal visível para provar o poder messiânico de Jesus de, na Terra, perdoar pecados como Deus perdoa. A palavra èçouoía significa poder ou autoridade. Na verdade, ele tinha ambos. Note a mesma palavra em 9.8. Disse então ao paralítico (xóte Aiyei tcô uapaA.i)TiKtò). Claro que estas palavras não foram ditas por Jesus. Curiosamente, Mateus as insere direito no meio das declarações de Jesus em resposta ao desprezo dos escribas. Ainda mais extraordinário é o fato de Marcos (2 . 10 ) colocar as mesmas palavras exatamente no mesmo lugar, salvo pela adição de tóxe em Mateus — uma palavra muito frequente no vocabulário mateano. Marcos, como sabemos, relata em grande parte as palavras de Pedro e vê conforme a ótica de Pedro. Lucas (5.24) tem a mesma ideia no mesmo lugar sem o presente histórico vívido Àéyei (eluev TTapaA.eÀ.u|iévoo) com o particípio no lugar do adjetivo. Esta é uma das muitas evidências que comprovam que Mateus e Lucas usaram o Evangelho de Marcos. Toma a tua cama 8 (apov aou tt)v KÀívriv). Arrume de uma vez (segunda pessoa do singular do aoristo ativo do imperativo) o catre de enrolar. 9.9. Viu assentado na alfândega um homem9 (eíõev ay9pGOTTOv KaGr|[ievov èul tò TeÀúviov). A alfândega ou secretaria de impostos de Cafamaum recebia o pagamento de impostos dos barcos que cruzavam o lago para sair do território de Herodes ou de pessoas que iam de Damasco para o litoral. Esta cidade ficava numa rota de caravana. Chamado Mateus 10 (MaGGalov leyó[ievov). Nesta passagem e no capítulo 10.3, Mateus é nomeado entre os doze apóstolos. Ele tinha dois nomes, como era comum. Marcos 2.14 e Lucas 5.27 o chamam Levi. Os publicanos (leXoôvai) eram homens que cumpriam deveres públicos. Não era designação muito precisa. Eram detestados, porque praticavam extorsão. Até Gabínio, procônsul da Síria, foi acusado por Cícero de roubar dinheiro dos impostos legítimos 108
Mateus 9
dos sírios e judeus. Jesus já falara acerca do publicano (Mt 5.46), mostrando, de certo modo, o desfavor público dessa classe. 9.10. Muitos publicanos e pecadores 11 (ttoAAo! TeÀwvai «m (X|iapTCóÀ.oI), quase sempre são citados juntos, demonstrando o des prezo comum e contrastandoos com os justos (ôlkcuoi em Mt 9.13). Era uma estranha mistura de gente no banquete de Levi: Jesus e os quatro discípulos pescadores junto com Natanael e Filipe; Mateus Levi e seus excompanheiros de trabalho, publicanos e pecadores. Os fariseus com os seus escribas (ou estudantes) observavam juntamente com os discípulos de João Batista, que estavam jejuando no mesmo momento em que Jesus estava banqueteando com essas pessoas. Os fariseus criticam (“o vosso Mestre”) rispidamente por tal quebra de etiqueta social por “reclinarse à mesa” junto com pu blicanos no banquete de Levi. 9.12. Mas sim, os doentes (àAA’12 ol kkkíôc; exovteç). Provavelmente um provérbio sobre médicos vigente na época de Jesus. Como médico do corpo e da alma, Jesus viase compelido a entrar em estreito contato com os desterrados sociais. 9.13. Ide, porém, e aprendei (TTopeuGévTeç õè |iá9ere). Segunda pessoa do plural do aoristo ativo ingressivo do imperativo ([láB&ic). Com sarcasmo aguçado, Jesus convida esses pregadores a aprender o significado de Oseias 6 .6 . O convite é repetido em Mateus 12.7. 9.14. Os discípulos de Jo ão u (ol |j.(x9r|Tal ’Iwávvou l4). Ficamos suipresos por achar alguns discípulos de João Batista junto com os fariseus a fim de criticar a Jesus. João Batista estava preso, e talvez eles culpassem ao Senhor Jesus por não fazer nada a respeito. O Batista não teria ido ao banquete de Levi em um dia judaico de je jum. “Os discípulos de João Batista imitaram o asceticismo rígido de seu mestre (Mt 11.18) e dos rabinos fariseus (Lc 18.12).”'5 9.15. Os filhos das bodas 16 (oi uioi t;oü vu|i(j)(I)voc;). E uma expressão idiomática hebraica recente para referirse aos convidados de casamento, “os amigos do noivo e todos os filhos da câmara nupcial”17 (cf. Jo 3.29). 9.16. Pano novo (pctKouç áyvácjjou), um tecido de lã rústico e sem pregas que, quando molhado, encolhe e rasga, ocasionando 109
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um buraco maior do que o rasgo primitivo. Assim, “fazse maior a rotura ”18 (xeipov oxío^a yívetai). O “semelhante” remendo (tò uÀiípcofia) faz mais mal que bem. 9.17. Odres velhos (áoKouç ucdcaoúç). Odre é uma espécie de receptáculo feito de pele de cabra com a parte peluda para dentro. “A palavra garrafa significa etimologicamente ‘utensílio para trans portar água’. Em espanhol, bota significa garrafa de couro, pipa, barrica. Na Espanha, ainda hoje o vinho é transportado para o comércio em peles de porco .”19 O vinho novo fermenta e rebenta a pele ressecada. “Entomase o vinho ”20 (ó oívoç éic/eiiai). 9.18. Minha filh a faleceu agora mesmo ('H Guycmp |_iou apu èxeÀeÚTrioey), tempo aoristo com ápxi: “faleceu agora mesmo”, “morreu há pouco” (Moffatt), “está moribunda” (Me 5.23), “estava à morte” (Lc 8.42). Nem sempre é fácil para os médicos contarem quando a morte veio. Em Mateus 9.24, Jesus diz explicitamente: “A menina não está morta, mas dorme”, dando a entender que sua morte não foi definitiva. 9.20. Tocou a orla da sua veste2X (tÍi}jcít;o toC KpaoTíéôou tou L|acaíou amou), a bainha ou franja da roupa, borla ou tufo que fica pendurado da barra da roupa de acordo com Números 15.38. Era feito de lã trançada. Jesus usava a roupa exterior comum dos seus dias, com essas franjas nos quatro cantos. Os judeus contavam as palavras Jeová Um de acordo com os números das linhas brancas trançadas, um refinamento que não teria interessado a Jesus. Na sua fé, essa pobre mulher tinha um elemento de superstição como muitas pessoas hoje têm, mas Jesus lhe honra a fé e a cura. 9.23. Os instrumentistas (touç auAxiiác;). A menina havia acabado de morrer, mas “o povo em alvoroço ”22 (tòv bxXov 9opupoú|aevov) já se reunira no pátio externo com lamentos extravagantes e gritos frenéticos. Tais pranteadores estavam “reunidos por motivos diversos: pena, dinheiro, desejo de tomar parte da comida e bebida em tal ocasião”.23 Entre os instrumentistas (voluntários ou contratados), havia também “algumas carpideiras (Jr 9.17) praefcae, que eram contratadas e pagas para cantar naenia em enaltecimento ao morto ”.24 Estes, quando foram expulsos por Jesus, “riramse dele ”25 110
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(KmeyéÀGúv kútoú) em sonoras e repetidas gargalhadas de desprezo (imperfeito). Jesus superou esse ambiente repugnante. 9.27. Partindo Jesus dali (napáyovui 6Ket0ev tcò ’Ir|oou), caso instrumental associativo com r]KoA,oú0rioay. Era a oportunidade su prema para os dois cegos. Note dois endemoninhados em Mateus 8.28 e dois cegos em 20.30. Ver a mesma palavra uapáXojv usada em 9.9 acerca de Jesus. 9.29. Tocou, então, os olhos deles (rjiJ/aTo tcòv ó
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lavra para referirse aos dardos não afiados .35 Outros a aplicaram a embotamento mental. 9.34. Pelo príncipe dos demônios 36 (’Ev zQ ap%ovti tgôv ôca|_iovÍG)v). Demônios, não diabos. O Códice Beza omite este versículo, mas provavelmente é genuíno. Os fariseus estão ficando desesperados. Incapazes de negar a realidade dos milagres, eles procuram desacreditálos tentando relacionar Jesus com o próprio Diabo, o príncipe dos demônios. Mais tarde, eles repetirão essa acusação (Mt 12.24), quando então Jesus a refutará com sarcasmo cortante. 9.35. Percorria Jesus71(Kcà TrepiíiYev ô ’Iriooüç), tempo pretérito imperfeito descritivo desta terceira excursão por toda a Galileia. 9.36. Andavam desgarrados e errantes 3S (rjoav èoKDÀfiévoi39 Kcà èpp i|i[iévo L), pretérito perfeito perifrástico com o pretérito im perfeito do indicativo. Era um estado triste e lamentável em que estava a multidão, como se tivesse sido despedaçada ou mutilada por animais selvagens. Nos papiros, okúàA.oo ocorre no sentido de “pilhagem”, “juro”, “vexação”. “Usada aqui para referirse aos homens comuns, a palavra descreve a condição religiosa deles. Eram pessoas molestadas, importunadas, desnorteadas por quem deveria têlas ensinado; impedidas de entrar no Reino dos céus (Mt 23.13), carregadas com os fardos que os fariseus colocavam sobre elas (Mt 23.3). ’Eppi|j,|iévoi denota homens lançados para baixo e prostrados ao chão, quer por embriaguez ,40 quer por feridas mortais .”41 Este particípio perfeito passivo é derivado de pímco, “jogar ao chão”. O povo estava em estado de abatimento mental que moveu Jesus com compaixão (èoTTÀayxyíoBri). 9.38. Que mande ceifeiros (ottcoç eKpáA/fl èpyáraç). Jesus muda da figura das ovelhas sem pastor para o campo de plantações maduras e prontas para a ação dos ceifeiros. O verbo éKpáAAoo significa “pôr para fôra”, “empurrar para fôra”, “tirar para fôra com ou sem violência”. A oração é o remédio oferecido por Jesus para essa crise da falta de mestres. Como é raro ouvirmos oração por mais pregadores.
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NOTAS 1O substantivo próprio ’It)ooíjç não ocorre no texto grego, porém, é óbvio que o sujeito se refere a Jesus (consta em AEC; NVI; ARA). 2A. T. Robertson, Commentary on the Gospel According to Matthew (Nova York: Macmillan, 1911), p. 130. 3“Alguns homens lhe trouxeram um paralítico” (AEC). 4“Deitado em sua maca” (NVI). 5TR e TM têm ácjjçcovTcu, terceira pessoa do plural do pretérito perfeito do indicativo. 6 “Este blasfema” (ARA). 7 Alexander Balmain Bruce, The Expositor’ s Greek Testament, vol. 1, The Synoptic Gospels (Grand Rapids: Eerdmans, 1951), p. 149. 8“Pegue a sua maca” (NVI). 9 “Viu Jesus um homem chamado M ateus, sentado na coletoria de impostos” (BJ). 10 GNT/NA e WH escrevem o grego com um teta duplo (90), ao passo que TR e TM têm McrcGaiov. 11A NVI coloca a palavra “pecadores” entre aspas. 12GNT/NA, TM e TR têm àXX ’, ao passo que WH tem klXú.. 13“Os discípulos de João Batista” (NTLH). 14Só WH soletra “João” com um v, Twávou. 15 Alan Hugh McNeile, The Gospel According to St. Matthew: The Greek Text with Introduction, Notes, and Indices (Reimpressão, Grand Rapids: Baker, 1980), p. 120. 16“Os amigos do noivo” (BJ); “os convidados do noivo” (NVI); “os convidados para o casamento” (ARA). 17 Tos. Berak., ii.10. 18“Aumentando o buraco” (NTLH). 19 Marvin Richardson Vincent, Word Studies in the New Testament, vol. 1, The Synoptic Gospels (Reimpressão, Grand Rapids: Eerdmans, 1946), p. 55. 20 “Derramase o vinho” (ARA). 21 “Tocou na barra da capa dele” (NTLH). 22 “A multidão numa confusão geral” (NTLH). 23 Bruce, Expositor’ s, p. 127. 24 Ibid. 25 “Todos começaram a rir dele” (NVI).
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26 “A visão deles foi restaurada” (NVI). 27 “Jesus, porém, os advertiu severamente” (ARA). 28 TR e TM têm a grafia àyeú%9r|oav. 29 Ésquilo, Theb., p. 461. 30 McNeile, Matthew, p. 97. 31 Inclusive TR e TM. 32 McNeile, Matthew, p. 127. 33Bruce, Expositor s, p. 155. 34 “Um homem que não podia falar” (NTLH). WH não inclui av9pcoirov. 35 Ilíada 11.390. 36 “Pelo maioral dos demônios” (ARA). 37 “Jesus ia passando por” (NVI). 38 “Estavam aflitas e exaustas” (ARA). 39TR tem èKÀeXunévoi.. 40 Políbio, 5.48.2. 41 Willoughby G. Allen, A Critical and Exegetical Commentary on the Gospel According to Matthew, International Critical Commentary ( Edimburgo: T. & T. Clark, 1912), p. 99.
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Capítulo
10 Mateus 10.1. Os seus doze discípulos (touç ôcÓôékcí |j,a0r|Tàç oarroO). Na primeira vez que Mateus menciona o grupo dos “aprendizes”, usa o artigo para mostrar que o grupo já estava estabelecido (ver Me 3.1417). Foram escolhidos antes do Sermão do Monte, mas Mateus não cita este fato. Marcos (3.1319) e Lucas (6.1216) declaram que Jesus os escolheu ou nomeou depois de uma noite de oração e desceu com eles a certo lugar plano do monte para entregar o Sermão do Monte (Lc 6.17). Deu-lhes poder (íéõgúkév ccutoiç è^ouoíay). “Poder” (Moffatt, Goodspeed). Ficamos um tanto surpresos que Mateus só fale sobre o trabalho de cura, ao passo que Lucas fala sobre “pregar o Reino de Deus” e “curar os enfermos” (Lc 9.2). E Mateus diz: “E, indo, pregai” (Mt 10.7). Por conseguinte, não é justo dizer que Mateus só soubesse da incumbência de curar os enfermos, por mais importante que fosse como sinal de que Jesus era o Cristo. A aflição física era grande, mas a espiritual era maior. Poder é a ideia mais provável de kífiXioía aqui. O ministério de cura chamava a atenção e fazia muito bem. Hoje, temos hospitais, médicos e enfermeiras. Mas não neguemos o poder de Deus para abençoar essas agências e curar doenças
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como ele quiser. Jesus ainda é o Mestre da alma e do corpo, mas a fé inteligente não se priva de buscar a ajuda de médicos experientes. 10.2. Os nomes dos doze apóstolos (Tcôv ôè õúôeKa áiroaxóA.wv xà óvó|iaiá). O apostolado é a função oficial dos discípulos, correspondendo ao trabalho de missionários. O nome “Simão” sempre aparece em primeiro lugar nas listas, inclusive na lista das pessoas que se reuniram no cenáculo em Atos 1.13. Ele foi o principal discípulo até o começo da igreja no Dia de Pentecostes (At 2—3). Em todas as listas, “Judas Iscariotes” consta em último lugar até sua morte ser informada em Atos 1.1518 e ele ser substituído (At 1.20 26). Mateus o descreve: “Aquele que o traiu” (ô TTapaôoúç). Pensa se que Iscariotes signifique “o homem de Queriote”, referindose a uma cidade perto de Edom citada em Josué 15.25. “Filipe” vem em quinto lugar e “Tiago, filho de Alfeu”, em nono. “Bartolomeu” é outro nome de Natanael. “Tadeu” é outro nome de Judas, irmão de Tiago. “Simão, o Zelote”, também é chamado Simão, o Cananeu (zelote é derivado de uma palavra hebraica). Esta é a primeira excursão de pregação e cura que eles fazem sem Jesus. Ele os envia de dois em dois (Me 6.7). Mateus os cita aos pares, provavelmente segundo a dupla como foram enviados. 10.5. Jesus enviou estes doze (Toúxouç xouç ôgóôékíx áTréoxeLlev ó ’Irioouç). A palavra áuéoxeiÂev, traduzida por “enviou”, vem da mesma raiz da palavra grega traduzida por “apóstolos” . Esta palavra reaparece no versículo 16. Caminho das gentes 1 (óôòv eQvãv), genitivo objetivo, o caminho que conduz aos gentios. A proibição de ir aos gentios e samaritanos só se aplicou a esta aventura inicial. Os apóstolos tinham de dar a primeira oportunidade aos judeus e não se envolver com tensões interraciais que prejudicariam a causa nesta fase. Mais tarde, Jesus os enviou a fazer discípulos de todas as nações (Mt 28.19, ARA). 10.6. As ovelhas perdidas da casa de Israel (xà Tipópaxa xà á 7TOÀQA.óxa olkou ’Ioparil), as ovelhas, as que estão perdidas, são mencionadas aqui pela primeira vez em Mateus. Jesus está expressando compaixão e não censura .2 John Bengel comenta que Jesus 116
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diz “perdido” e assemelhados mais frequentemente do que “desviado” e assemelhados .3 “Se a nação judaica pudesse ser levada ao arrependimento o novo tempo despontaria .”4 10.7. Indo, pregai (Tropeuóp,evoi õè Kripúooete), particípio presente e imperativo presente. Eles eram pregadores itinerantes — “arautos”, “anunciadores” (icfjpui;) que proclamavam as Boas Novas. A mensagem sumária é a de João Batista (Mt 3.2) que assustara o país com as palavras: “E chegado o Reino dos céus”. Esse sermão ecoara pelo vale do Jordão em todas as direções. Agora chegou a vez de eles sacudirem a Galiléia com essa mensagem, como fizera Jesus inicialmente (Mt 4.17).5 10.9. Não possuais ouro 6 (Mf] KTT|or|o96 xpuoòv). Não é: “Não possuais” ou “não tenhais”, mas: “Não obtenhais” para vós mesmos, segunda pessoa do plural do aoristo médio indireto do subjuntivo. “Ouro”, “prata”, “cobre” aparecem em escala de valor descendente, que também abrange o metal mais insignificante, o bronze. Em vossos cintos (elç mç Çwyaç ú|icôv). Usavase os cintos ou as faixas para levar dinheiro. 10.10. Nem alforjes (|if) mpav). Pode significar uma maleta de viagem para carregar pertences ou um lugar para os viajantes guardarem o pão. Deissmann opina que Tripa se refira ao saco que os mendigos usavam para coletar esmolas, segundo diz certa inscrição encontrada em um monumento na cidade de Kefr Hanar, Síria: “Nos primórdios do cristianismo, os sacerdotes pedintes faziam as suas andanças pela terra da Síria em nome da deusa nacional ”.7 Deissmann também cita um jogo de palavras em AiôaaKaAia8 acerca de viúvas itinerantes que diziam que elas não estavam tanto xrjpai (sem esposo) como urjpoa (sem bolsa). Também cita Shakespeare :9 “Há tempo, meu senhor, uma bolsa às costas, na qual ele põe esmolas para cair no esquecimento ”.10 Porque digno é o operário do seu alimento 11 (cc£ioç yàp ó èpYcarjç Tf|ç Tpo
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Escritura (ri 7 p(xcj)ií) ou declaração comum. A palavra grega traduzida por “operário”, kpyáxr\cé usada por Jesus quando ele manda que os seus seguidores orem pelo envio de trabalhadores (Mt 9.38). O Didaquê, documento dos Pais da Igreja, mostra que no século II os líderes ainda tinham certa cautela em receber pagamento por pregar. Os sofistas ambulantes também desprestigiaram o trabalho de mestres itinerantes .13 A sabedoria dessas restrições tinha justificativa levandose em conta a Galiléia daqueles dias. Marcos 6.613 e Lucas 9.16 variam ligeiramente de Mateus em certos detalhes concernentes às instruções de Jesus. 10.13. Se a casa fo r digna 14 (èàv (ièv rj r) o i K Í a áÇía), uma condição de terceira classe. O que torna a casa digna? “ Seria logicamente a prontidão em receber os pregadores e sua mensagem .”15 10.14. Sacudi o pó dos vossos pés (kKiiválaxe xòv Koviopuóv). “Sacudir”, um gesto vigoroso de desfavor. Os judeus tinham preconceitos ardentes contra as menores partículas do pó pagão. A questão não era a existência de germes no pó. Tal fato não se conhecia na época. Os judeus consideravam que qualquer coisa relacionada aos gentios estava contaminada com a putrescência da morte. Se os apóstolos fossem maltratados, eles tinham de tratar os impiedosos donos da casa como se eles fossem gentios (cf. Mt 18.17; At 18.6). Essa instrução também era restrita a esta excursão, com seus perigos peculiares. 10.15. Menos rigor 16 (àveKTÓiepov). Os papiros usam esse adjetivo para caracterizar um convalescente. Os galileus tiveram muitas mais oportunidades para ouvir a verdade do que tiveram Sodoma e Gomorra. 10.16. Como ovelhas ao meio de lobos 17 (ooç TTpópara êv |aéoo) À.Úkü)v). A presença de lobos era um fato de então como é de hoje. Algumas dessas ovelhas de Israel (Mt 10.6) mostrariam que eram lobos quando exigiram a crucificação de Cristo. A situação requeria sabedoria e coragem. Portanto, sede prudentes como as serpentes e símplices como as pombas (yíveaGe ouv 4)póvi|_ioi ooç oi ocj^iç «ai ««épaioi wç ai TTepLocepaí) A serpente simbolizava sabedoria ou intelecto astuto e 118
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perspicaz (Gn 3.1; SI 58.5), a pomba era símbolo de simplicidade (Os 7.11). Tratase de um provérbio que dizia respeito a uma com binação difícil de virtudes a dominar. Uma sem a outra ocasionava problemas. A primeira parte da frase com apvaç em lugar de Trpópocra ocorre em Lucas 10.3.18 A combinação de cautela e inocência é necessária para a proteção das ovelhas e a derrota dos lobos. Por “símplices” (cképoaoi) Moffatt e Goodspeed:traduzem por “sinceros”, “ingênuos” . A palavra significa “não misturado” (a privativo e Kepávyu[ii), “não adulterado”, “genuíno”, “simples” ou “puro”. 10.17. Acautelai-vos, porém, dos homens19 (upoaéxeTe õè
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está a diferença entre fazer-se de mártir ou procurar a coroa e fé autêntica de mártir nas quais a total lealdade a Cristo induz o verdadeiro heroísmo. 10.22. Odiados de todos sereis 24 (eoeo9e iiiaoú|ievoi), futuro perifrástico passivo, ação linear, com um sentido infinito. Isso continuará ao longo dos séculos. Por causa do meu nome2' (õià xò õvo|iá |aou). No Antigo Testamento, como nos targums e no Talmude, “o nome” representa a pessoa (Mt 19.29; At 5.41; 9.16; 15.26). Aquele que perseverar até ao fim 26 (ó ôè ínTOfj.eívaç eíç xéA.oç). Este é um particípio aoristo efetivo, com o futuro do indicativo se guindoo. 10.23. Sem que venha o Filho do Homem 27 (ecoç a\v eÀGri ó ulòç xoü àvSpcÓTTOU2S). Moffatt traduz: “Antes de o Filho do Homem chegar”, como se Jesus se referisse a esta excursão especial pela Galiléia. Jesus poderia alcançálos. Isso é possível, mas não está perfeitamente claro. Os exegetas ligam as palavras de Jesus ao monte da transfiguração, à vinda do Espírito Santo no Dia do Pentecostes e à segunda vinda. Alguns defendem que Mateus pôs a declaração no contexto errado ou que Jesus estava enganado, uma acusação muito séria. O uso deecoç com um subjuntivo aoristo para um evento futuro é uma boa expressão idiomática grega. 10.25. Belzebu 29 (BeeCepouÀ de acordo com B ;30 BeeA.(epouA. 31 segundo a maioria dos manuscritos gregos; Beelzebube 32 de acordo com muitos MSS não gregos). A etimologia da palavra é desconhecida. É um termo de repreensão, quer signifique “o senhor de habitação” com um jogo de palavras com “pai de família” (oLkoôéottÓxtiv) ou “senhor das moscas”, ou “senhor do esterco”, ou “senhor dos sacrifícios idólatras”. É “um epíteto ultrajante; a forma exata da palavra e do significado do nome tem dado mais dificuldade aos comentaristas do que vale a pena ”33 (ver Mt 12.24). 10.26. Portanto, não os temais 34 (Mf] ouv cf)opr|0fjxe aüxoúç). As palavras são repetidas nos versículos 28 e 31 ([iri c|)opeia0x€, presente médio do imperativo aqui em contraste com um aoristo passivo do subjuntivo nas proibições precedentes). Note também o caso 120
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acusativo com o aoristo passivo do subjuntivo, transitivo embora passivo. A mesma construção é usada em Lucas 12.5. Em Mateus 10.28, a construção está com àm e o ablativo, uma tradução do he braísmo encontrada em Lucas 12.4 .35 10.28. Perecer no inferno a alma e o corpo (kou kccl om lia cboÀéaai kv yeévvr)). Aqui, “alma” significa o espírito etemo e não somente a vida no corpo. “Perecer” não é aniquilação, mas o castigo etemo na geena, o verdadeiro inferno (ver Mt 5.22). Bmce opina que a alusão seja ao Diabo como tentador, e não a Deus como juiz ;36 contudo, o seu raciocínio não é convincente. Temos a tendência a evitar pensar meditativamente sobre o temor de Deus, e não há nada mais importante do que aprendermos isso. 10.29. Dois passarinhos (õúo otpouGía). O diminutivo de otpouGóç significa qualquer pássaro pequeno, em particular par dais. Por um centiP1 (àooapíou), genitivo de preço, no Novo Testamento encontrase somente aqui e em Lucas 12.6. É um diminutivo da designação monetária romana: o asse. Sem a vontade de vosso Pai 38 (aveu tou mrcpòç úp,G)v). O Pai que sabe sobre os passarinhos sabe e se preocupa conosco. 10.31. Do que muitos passarinhos (ttoãàwv oipouGícov), caso ablativo de comparação com ôiacjjépete. 10.32. Qualquer que me confessai29 [...] eu o confessarei:4Ü (oütlç òiioÀoyrjoei kv ê|_iol ... ò(ioÀoynoco Kaycò kv caruô). Esta é uma expressão idiomática aramaica, não é hebraica (ver também Lc 12.8). Essa expressão idiomática aramaica reproduzida em grego significa, literalmente, “confessar em mim”, denotando um sentido de unidade com Jesus e de Jesus com o homem que toma posição aberta por ele. 10.33. Qualquer que me negar41 (ootiç ô’ a\v àpvr\or\xaí |ie), terceira pessoa do singular do aoristo médio do subjuntivo aqui com ootlç, embora o verbo ó(j,oÀoyr|oei, citado acima, esteja na terceira pessoa do singular do futuro do indicativo ativo. Note o uso do acusativo como o caso de extensão. Dizer não a Jesus ocasiona uma ruptura completa. Essa divisão feita por Jesus de alguém que o re121
COMENTÁRIO MATEUS & MARCOS
pudi pu diaa é uma um a lei solene sol ene,, não uma um a m era er a de desc scon onex exão ão social. socia l. É púb p úblic licoo e final. 10.34. Não N ão vim traz tr azer er pa paz, z, mas espad es padaa ( o u k rjA.0ov Podetv elpr|vr)v àXXà |iáxaipav). |iáxaipa v). Este é um clímax arrojado arrojado e dramático. O infinitivo aoristo significa uma estocada súbita de espada onde se esperava paz. Jesus traz paz, mas não como o mundo a dá, porque a paz pa z do m un undo do ve vem m pe pela la de derro rrota ta da inimi ini miza zade de,, não pe pelo lo acord ac ordoo co com m o mal. Este é o triunfo da cruz sobre Satanás. Ao mesmo tempo, a causa de Cristo significa infalivelmente divisão em famílias, em comunidades, em estados. estados. Não é sentimentalismo piegas que Cristo prega pre ga,, nem ne m paz pa z a qual qu alqu quer er preço. pre ço. A cruz de d e Crist Cr istoo é a respo res post staa à ofer of er-ta do diabo de fazer concessões ao domínio mundial. Para Cristo, o Reino de Deus é retidão viril e não mero sentimentalismo. 10.35. Pô P ô r em disse dis sens nsão ão 42 (õixáoai), literalmente, “dividir em dois”, ôixa. Jesus usa Miquéias 7.16 para descrever a mesma podridão que vigorava na época que Miquéias condenara. Os laços familiares e as relações sociais formadas neste contexto não podem barr ba rrar ar o cam c aminh inhoo à lealda lea ldade de a Crist Cr istoo e à vida vi da íntegra. ínte gra. Nor N oraa (vú[ii})r|v), literalmente “noiva”, “jovem esposa”, que frequentemente mora na casa da sogra e sob as normas desta. E uma tragédia ver um pai ou mãe entre o filho ou a filha e Cristo. 10.38. Nã 10.38. Nãoo toma tom a a sua su a cruz cr uz (oi) A.a|i(3áv .a|i(3ávei ei t o v oxaupòv caitoO). Esta é a primeira menção de “cruz” em Mateus. Os criminosos eram crucificados crucificados fôra de Jerusalém. Jerusalém. Era costume o condenado levar a pró pria pri a cruz, como com o Jesus Jes us fez até Simão cirene cir eneuu ser press pr ession ionado ado a ajudá lo. lo. Os judeus jud eus estavam familiarizados com crucificação crucificação desde os dias, dias, ou antes, de Antíoco Epifânio. Um governante macabeu, Alexandre Janeu, crucificara oitocentos fariseus. Não é certo que Jesus estivesse pensan pen sando do na sua crucificaç crucif icação ão que se aproxima apro ximava va quando qua ndo ele e le usou uso u essa ilustração. Os discípulos dificilmente pensariam nesse fim, a menos que alguns deles tivessem tivesse m notável presciência. 10.39. Pe 10.39. Perd rdêê-lala-áá (áTTOÀéaei ax>zr\v). De ax>zr\v). De acordo com Willoughby Allen ,43 parado xo ocorre em quatro formas: 1) Marcos Mar cos ,43 este aparente paradoxo 8.35 é igual a Mateus 16.25, que é igual a Lucas 9.24; 2) Mateus 10.39; 3) Lucas 17.33; 4) João 12.25. Temos em A Sa Sabe bedo dori riaa de 122
Mateus 10
Siraque Siraque (texto hebraico [ou Eclesiástico]), em 51.26: “Aquele que dá a vida acha a [sabedoria]”. Cristo repete essas declarações profundas em ocasiões múltiplas. Platão 44 diz algo semelhante, embora não de forma tão categórica. O artigo e particípios em aoristo (ó eúpdw, ó (ZTToAiaa<;) são sã o atem te m porais ra is em e m si m esm os, exa exatam ta m ente com co mo ó õe õexó|ie |ievvo<; no noss ver ve rsícu íc ulos lo s 40 e 41. 10.41. Na N a qu qual alid idad adee de profe pr ofeta' ta' 45 (elç òvo\xa up upo4 o4)r|i;ou )r|i;ou). ). Nos papir pa piros os de O xy xyrh rhyn ynch chus, us, da data tados dos de 37 d.C., en enco contr ntram amos os òvò\io~i èÀeuGépou em virtude virt ude de ser se r nascid nas cidoo livre. “A “Aque quele le que rece r ecebe be um prof pr ofet etaa po porr ne nenh nhum um m otivo oti vo ulterior ulte rior,, senão sen ão simple sim plesm smen ente te qua qua pro profeta (utprophetam , Jer. Jer.)) receberá re ceberá recompe rec ompensa nsa na era vindoura igual ao do seu convidado .”46A palavra dç aqui é simplesmente simplesmente kv com kv com o mesmo significado significado.. Não é correto que a palavra elç elç tenha de ser traduzida por p or “em “ em”” . Além Alé m desses exemplos exem plos de elç elç õvo|i( |i(x nos versículos ve rsículos 41 e 43, ver também Mateus 12.41, elç tò Kipuyijx^ltovà ;47 10.42. A um de deste stess pe pequ quee no noss (eva tcôv |iiKp«v ioÚtjgov). Os “pequenos” são crentes simples que não são apóstolos, profetas ou parti pa rticu cula larm rmen ente te justo jus tos. s. São meros me ros ap apre rend ndiz izes es “ em nom n omee de disc di scíp ípuulo”48 ”48 (elç õvo[iC6 |ia0r|TOÜ). Alford opina que as crianças (os “pequenos”) no s”) estavam esta vam presentes presen tes (cf. (cf. Mt M t 18.26).4 18.26).49 NO N O TAS TA S ______________ _____________________ _______________ ______________ ____________ ______________ __________ __ 1“Rumo aos gentios” (ARA). 2 Alexander Balmain Bruce, Bruce, The Expos Ex positor itor s Greek Testament, Testament, vol. 1, The Synoptic Gospels Gospels (Grand Rapids: Eerdmans, 1951), p. 159. 3 John Albert Bengel, N Bengel, New ew Testa Te stame ment nt Word Stud St udie ies, s, vol. 1 (Reimpressão, Grand Rapids: Kregel, 1971), p. 156. 4 Alan Hugh McNeile, The Gospel According to St. Matthew: The Greek Text with Introduction, Notes, and índices índices (Reimpressão, Grand Rapids: Baker, 1980), p. 134. 5Bruce, E 5Bruce, Exx p o s ito it o r’ s, s, p. 159. 6“Não leveis ouro” (AEC); “não vos provereis de ouro” (ARA). 7Adolph Deissmann, Lig L ighh t fro fr o m the A nc ncie ient nt E a st (Reimpressão, (Reimpressão, Grand Rapids: Baker, 1978), pp. 108, 109. 8AiõaaKaA.ía é igual a Const. Apost. Apost. 3.6. 9 Tróilo e Cressida Cre ssida 3.3.145.
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COMENTÁRIO MATEUS & MARCOS
10D 0Deissm eissmann, ann, L Lig ighh t from fro m the An A n cie ci e n t East, Ea st, p. 109. 11 “Pois “Po is o trabalh trab alhado adorr é digno do seu susten su stento” to” (NVI). 12TR e TM tornam to rnam o verbo êotlv explícito, ao passo que GN T/NA e WH o deixam implícito ou elíptico. elíptico. 13 Dida Di daqu quêê 13. 13. 14 “Se as pessoas daquela d aquela casa receb erem vocês bem” be m” (NTLH). 13 McNeile, Mc Neile, Matth Ma tthew ew,, p. 136. 16 “Deus terá mais m ais pena” pen a” (NTLH). (NTLH ). 17 “Como “Co mo ovelhas o velhas entre lobos lo bos”” (BJ). (BJ). 18 Bernard P. Grenfell Gren fell and Arthur S. Hunt, editores, Ne N e w Sa Sayi ying ngss o f Jesu Jes u s a n d Fra F ragm gm en entt o f a Lo L o st G ospe os pell fro fr o m Ox Oxyr yrhy hync nchu huss (Nova York: Oxford University Press, 1904). 19 “Gu “Guardai ardaivos vos dos home ho mens” ns” (BJ). 20 “Aos tribunais” (ARA). 21 McNe Mc Neile, ile, M Mat atthe thew w , p. 140. 22 Alfre Al fredd Plumm Plu mmer, er, A Ann Exeg Ex eget etic ical al Co Comm mmenta entary’ ry’ on the G ospe os pell Acco Ac cord rdin ingg to Sa Sain int t (Reimpressão, Grand Gra nd Rapids: Eerdmans, Eerdman s, 1956 1956), ), p. 15 152. 2. Mat M atth thew ew (Reimpressão, 23 “Naquele “Naque le m omento” ome nto” (BJ). (BJ). 24 “Todos odiarão vocês” (NTLH). 25 “Por “Po r minha causa” (NVI). (NVI). 26 “Mas quem ficar firme até o fim” (NTLH). 27 “An “Antes tes que qu e venha venh a o Filho do Hom Ho m em” em ” (NTLH). 28 WH não inclui av. 29 “Beelzebu” (BJ). 30 De acordo com WH. 31 De acordo com GNT/NA, GN T/NA, TRs e TM. 32 De acordo com TRb. 33 Bruce, Bru ce, Ex Expo posi sito torr s, s, p. 165. 34 “Portanto, não tenham medo med o de d e ninguém ning uém”” (NTLH). 35 Ver A. T. Robertson, A Robertson, A Gram Gr amm m ar o f the Greek Gr eek N ew Testamen Testa mentt in the L igh ig h t o f His H isto tori rica call Rese Re sear arch ch (Nashville: Broadman, 1934), p. 577. 36 Bruce, Ex Bruce, Expo posi sito torr s, s, p. 166. 37 “Por um a moed m oedinha inha”” (NVI); “por “p or um asse” a sse” (ARA). (AR A). 38 “Se o Pai de vocês não deixar” (NTLH). 39 “Todo aquele [...] que se declarar por mim” (BJ). 40 “Eu me m e declara de clararei rei po r ele” ele ” (BJ).
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Mateus 10 41 “Aquele “Aqu ele [...] [...] que me renegar” rene gar” (BJ). 42 “Causar divisão entre” (ARA). 43 Willoughby G. Allen, A Critic Cr itical al a n d Exeg Ex eget etic ical al C om omm m en enta tary ry on the Go Gosp spel el Acc A ccor ordd ing in g to M atthe at thew, w, International Critical Commentary ( Edimburgo: T. & T. Clark, 1912), p. 111. 44 Gorgias 512. 45 Moffatt e a NV NVII traduzem: “Porque ele é profeta”. profeta” . 46 McNeile, M McNeile, Mat atth thew ew,, p. 150. 47 Robertson, Grammar, p. Grammar, p. 593. 48 “Porque ele é meu m eu discípulo” d iscípulo” (NVI); “por ser se r este meu discípulo” (ARA). 49 Henry Alford, The Greek Testament, with a Critically Revised Text, 4 Text, 4 Volumes em 2 Volumes; The Four Gospels, Gospels, revisado revisado por Everett F. Harrison (Chicago: Moody, 1958), vol. l,p. 112.
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Capítulo
11 Ma M ateus 11.1. E ac acont ontec eceu eu que, ac acab aban ando do Jesu Je suss (K al èy èyév éveT eTO O oie oie éxéÀeoev ó ’Ir|oouç) Ir|oouç).. Cinc C incoo vezes veze s em Mateu Ma teus, s, oco ocorre rre uma um a fórmu fór mula la de transição entre os grandes discursos da narrativa: “E aconteceu que, concluindo Jesus” (7.28); “e aconteceu que, acabando Jesus” (11.1); “e aconteceu que Jesus, concluindo” (13.53); “e aconteceu que, concluindo Jesus” (19.1) e “e aconteceu que, quando Jesus concluiu” (26.1).1A divisão de capítulo não deveria estar aqui, pois 11.1 pertence à seção precedente. De D e da darr instr in struç uçõe ões2 s2 (ôuraxoowv, particípio complementar com èxéÀeoev), significa “dar ordens em detalhes” (ôloc). Note a expressão “ensinar e [...] pregar”, como ocorre em Mateus 4.23. Para onde Jesus foi? Ele seguiu atrás dos doze como fez com os setenta (Lc 10.1)? Bruce, concordando com Crisóstomo, afirma que Jesus evitou os lugares onde eles foram, dandolhes lugar e tempo para fazefaz erem a obra .3 Mas, se o próprio Jesus foi para as principais cidades da Galiléia, ele necessariamente visitou muitos dos mesmos pontos. Jesus os teria seguido a certa distância. Os apóstolos se reuniram em Cafamaum e contaram a Jesus tudo que fizeram e ensinaram (Me 6.30). Mateus acompanha o esboço geral de Marcos, mas os eventos
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não se agrupam em ordem cronológica. O registro bíblico diz que ele “partiu “par tiu dali dal i a ensi en sina narr e a preg pr egar ar”” ((ie ((ieié iépr prii êice iceiBe iBev toíj ôiôáoKeiv Kcd KT|piJOG€LV).
11.2. E 11.2. E João, Joã o, ouv ouvind indoo no cárce c árcere re fala fa lar r ('O õe ’Icoávvriç àKoúoaç èv t ú õeoiio iiooTqpícp ícp4). Isso Iss o prova pr ovave velm lmen ente te coinc co incide ide com co m a ress re ssur urre reiição do filho da viúva de Naim (Lc 7.18). A palavra traduzida por “cárcere”, ÕÉa|Jtornpiov, é o lugar onde o indivíduo era mantido encarcerado carce rado (At 5.21,23; 16.26 16.26;; ver Mt 4.12). 4.12). Era em Maqueros, Maquer os, a leste do mar Morto, que nessa época estava sob o governo de Herodes Antipas .5 Os discípulos de João Batista tinham acesso a ele. Assim, ele fez uma pergunta “por” (ôiá) eles a Jesus, não por “dois” (õúo) deles, como consta em Lucas 7.19. 11.3. Es E s tu aq aque uele le qu quee hav havia ia de vir vi r [...]? [... ]? (2u eí ó èpxófievoç [;]). Esta frase referese ao Messias (SI 118.26; Dn 7.13; Me 11.9; Lc 13.35; 19.38; Hb 10.37). Certos rabinos aplicavam a frase ao prec pr ecur urso sorr do rein re inoo .6 Tinha de haver “outro ”7 (étepov) depois de Jesus? João Batista tinha estado “bastante tempo na prisão para desenvolver uma mentalidade de prisão ” .8 Outrora estivera claro para ele, mas agora o seu ambiente era deprimente, e Jesus nada fizera para pa ra tirál tir áloo de M aq aque uero ross.9 João Batista ansiava por restauração da confiança. 11.4. As 11.4. As coisas coi sas que q ue ouvis ou vis e vedes vede s (a àKoúftg Kai pAeueie). Quem tinha de interpretar esta mensagem simbólica era João Batista, e não não os seus emissários. 11.5. Os mortos são ressuscitados (yeKpol (yeKpol èYeípovToa). èYeípovToa). O filh filhoo da viúva de de Naim fôra ressuscitado. Será que que ele também ressuscitou mortos nessa ocasião? “Contai esta história a João repetidamente e fazei com que ele se lembre destes textos proféticos ” 10 (cf. (cf. Is 35.5; 61.1). Os elementos da história eram convincentes e mais claros que mero simbolismo escatológico. “Os pobres” em particular têm “o evangelho” evange lho”,, um clímax. clímax. 11..6 . Aque 11 Aq uele le qu quee se não n ão esca es cand ndal aliz izar ar em m imu im u (oç (oç kkv kkv [ar] OKtxv õaA.ia9fj kv q a o í12 í12). Oração gramatic gra matical al relativa relat iva indefinida com aoris a oris to passivo primeiro primeiro do subjuntivo. subjuntivo. Esta beatitude é uma reprimenda a João por duvidar, duvidar, embora estivesse na prisão. A dúvida não é propro 1288 12
Mateus 11
va de superioridade intelectual, erudita ou devocional. João estava mentalmente confuso, e esse não é o momento para tomar decisões sérias. “De certo modo, até João Batista achara motivo de tropeço em Jesus .”13 11.7. Então, Entã o, em p a r tin ti n d o e les le s 14 (Toúxcov ôè uopeuo|_iévuv), par ticípio presente em genitivo absoluto. Jesus o elogiou depois que os dois discípulos de João Batista foram embora. Não é lamentável eles não terem ouvido as palavras elogiosas de Jesus para com elas alegrarem o coração de João Batista? “Poderíamos dizer que este foi o discurso fúnebre de João Batista, pois pouco tempo depois Herodias maquinou sua morte .”15 Uma cana agitada pelo vento? (KáÀoc[iov úuò avé^iou craÀeuo|iévov;). KáÀajiOí; (em latim, calamus) referese calamus) referese às canas que crescem em abundância no vale do Jordão onde João Batista pregava. A palavra é usada para aludir a um bastão feito de cana (Mt 27.29), à pena do escrito es critor(3 r(3 Jo 13 13), ), ou ou uma vara de m ed edir( ir(A A p 11.1). .1). As canas que havia pelas margens do rio rio Jordão dobravamse dobrava mse com o vento, mas João Batista não era assim. E muito mu ito mais m ais do que qu e pro pr o feta fe ta (kou Trepiaoóuepov tTpo4)r|tou). 11.9. Ablativo de comparação. A palavra TrepLooótepov é em si comparativa, significando “excedente”, “circundante por” ou “transbordan te”. João Batista tinha todas as grandes qualidades dos verdadeiros profe pro fetas tas:: “ con convic vicçã çãoo mora mo rall vigo vi goro rosa sa,, inte in tegri grida dade de,, forç fo rçaa de vont v ontad ade, e, zelo destemido pela verdade e justiça jus tiça ”.16 Ele também era o precursor do Messias (Ml 3.1). 11.11. Mas aquele que q ue é o meno m enor r (ò (ò ôe liiKpÓTepoç). O artigo com o comparativo estava se tomando forma aceitável de superlativo no grego Koivr| vernacular. No grego moderno, é a única expressão idiomática para o superlativo .17 .17 Os papiros e as inscrições mostram a mesma constru c onstrução. ção. Essa declaração parece paradoxal. João Batista é maior (laeíCoov) do que todos os outros em caráter, mas no Reino ocorre uma troca qualitativa. Hoje, todo crente em Deus goza de posição superior e privilégio maior. João Batista está no fim de uma era (ver Mt 11.14), e outra era está despontando. Todos os que vêm depois de João Batista ficam acima dele. João Batista é o auge entre o velho e o novo. 1299 12
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11.12. Se fa z violên violência cia18 (picc(emi). No Novo Testamento, ess verbo ocorre só aqui e em Lucas 16.16. Pelo visto, está na voz média em Lucas. Deissmann 19 cita uma inscrição “na qual PidcCo|iai é, sem dúvida, reflexivo e absoluto”, como em Lucas 16.16. Mas em numerosos exemplos nos papiros, está na voz passiva .20 .20 “Há pouca coisa que promete ajuda decisiva para o Logio Lo gionn difícil de Mateus 11.12 ser igual a Lucas 16.16.” 16.16.” Em Mateus M ateus 11 11.1 .12, 2, a forma pode ser na voz média ou passiva, e qualquer voz faz sentido, embora os significados respectivos não sejam os mesmos. A ideia da voz passiva é que o Reino é atacado violentamente ou tomado por homens violentos 21 (Piao (Pi aotoà toà àp àpT TíáC íáCou ouooiy oorcq rcqv) É como um u m a cidade cid ade con conqui quist stada ada.. A voz média pode significar “sofre violência” ou “força seu caminho” , como o vento forte e impetuoso. Essas palavras difíceis de Jesus significam que a pregação de João Batista “levou o povo em tropel violento e impetuoso a reunirse reunirse em tomo tom o de Jesus e dos dos seus discípulos ”.22 11.14. É este es te o Elia E liass 23 (aútóç kox w ’HÀíaç2 HÀía ç244). A qu qui,i, Je J esus su s id ide tifica João Batista como o “Elias” prometido em e m Malaquias. As pessoas entendiam que Malaquias 4.1 significava que Elias voltaria. João Batista negou que ele fosse o Elias renascido (Jo 1.21). Mas Jesus afirma que João Batista desempenhou o papel de Elias (Mt 17.1 17 .12) 2).. E enfatiza o ponto: ponto: “Quem “ Quem tem ouvidos para par a ouvir ouça” ouça ” . 11.16. É sem se m elha el hant ntee aos me meni nino noss qu quee se asse as sent ntam am nas p r a çass25 (ó|ioía èoxlv Traiôíoiç Ka9r||iévoiç kv ça kv Tcâç áyopaic;26). Lucas 7.31,32 também apresenta esta parábola de meninos assentados nas praça pra ças. s. E qua quando ndo era er a m en enin inoo em Na Naza zaré ré,, não brin br inca cara ra Jesu Je suss com outras crianças? Ele deve têlas observado muitas vezes, já que se importou muito com elas. De fato, Jesus criou o mundo da criança modema. Ele rejeitou a indiferença que até então se dava às crianças. Essas metáforas nos Evangelhos são vívidas. Em casamentos ou funerais, crianças não fingem atitudes a titudes de choramingas irritantes. irritantes. A cr/opá era originalmente a assembléia, depois passou a referirse ao foro foro ou praça pública, onde as pessoas se reuniam para comerciar come rciar ou conversar (At 17.17). O foro romano servia de mercado, e ainda hoje vemos bazares ao longo das mas, embora não tanto em praças públic púb licas as.. A pal p alav avra ra trad tr aduz uzid idaa po porr “lam “la m en enta taçõ ções es”” , éK éKÓ\|/a \|/aaa0e, signif sig nifii1300 13
Mateus 11
ca “bater o coração”. É a voz média direta, segundo o costume das lamentações fúnebres no Oriente. 11.19.A 11.19 .A sabedoria sabedoria é justificada justificada por p or seus seus filhos2 filho s211 (éôiKmoóOr] f] ooctua kttò tjgôv epytov aúrfjc;28), um aoristo infinito na voz passiva .29 .29 Just Ju stifi ifica cada da significa significa “concertada” “concer tada”,, “colocada em ordem” orde m” . Em Lucas 7.35, consta const a a frase: “Por todos os os seus filhos”, filhos” , a qual alguns manusman uscritos acrescentam em Mateus, presumivelmente para harmonizar Mateus a Lucas. Essas palavras são difíceis, mas compreensíveis. A sabedoria de Deus planejou uma conduta para João e outra para Jesus. O seu desejo não é que tudo seja exatamente igual em tudo. “Esta geração” (Mt 11.16) é infantil, não pueril, e cheia de inconsistências caprichosas em suas reclamações. Eles exageram. João não tinha demônio e Jesus não era comilão nem beberrão. “E, pior que qualquer um dos dois, pois (j)ÍÀoç é usado em sentido ameaçador e insinua que Jesus era companheiro de pessoas da pior reputação e tinha conduta igual a elas. No princípio, era um apelido malicioso, mas hoje é um nome honroso: amigo de pecadores ”30 ”30 (cf. Lc 15.2). O plano de Deus está justificado pelos resultados. 11.20. A 11.20. A m aior ai or p a r te dos seus se us prod pr odíg ígio ioss (ai 'nÀgiatai ôuvá|i€L<; aikoí)). Literalmente, “as suas muitas obras poderosas”, se está no caso elativo como ocorre habitualmente nos papiros .31 .31 Mas o superlativo faz sentido s entido aqui. aqui. A pa palav lavra ra ôu ôuvcqiiç iiç traduzid trad uzidaa por “prodígio “prod ígios” s” apresenta a noção de poder, como a palavra dinâmico. dinâmico. A palavra uépaç significa “maravilha” ou “portento”. É miraculum miraculum (milagre), como aparece em Atos 2.19 (“prodígios”). Só ocorre na forma plural e sempre com ornaeta. A palavra orpeiov quer dizer “sinal” (Mt 12.38) e é comum no evangelho de João ao lado de epyoy, “obras”, como em João 5.36. Outras palavras usadas são TOpáõo^oç, que está etimologicamente relacionada com para pa radd ox oxoo (Lc 5.26); evòoçoç, “gloriosas” (Lc 13.17); e Gaufiáoioç, “maravilhas” (Mt 21.15). 11.21. Chorazim Chorazim (Xopa(í.v32) é mencionado aqui e em Lucas 10.13. O pouco que sabemos dessa cidade indica a “escassez do que sabemos sobre o judaísmo no tempo de Jesus ”33 ”33 e as muitas coisas não contadas nos Evangelhos (Jo 21.25). 21.25). Sabemos algo de Betsaida e mais de Cafamaum além de serem lugares de privilégio. 131
COMENTÁRIO MATEUS & MARCOS
11.22. Po P o r issoi iss oi44 (uA.fiv). Nenhuma dessas cidades se arrependeu e mudou de conduta. Note nos versículos 21 e 23 a condição de segunda classe, dada como não realizada. realizada. 11.25. Naq N aque uele le tempo, respo re sponde ndendo ndo Jesus, Jes us, disse dis se ( ’Ev eceívco tcô KmpGÒ (riT (riTO OKpiBe iBelç; lç; ó ’Irioo Irioouç uç eiire iirev) v).. Jesus fal fa lou com co m o Pai em voz audível. Mesmo não sabendo quando e onde isso aconteceu, temos um vislumbre de Jesus em adoração. “É comum dizer que essa conversa maravilhosa é uma oração, mas é ao mesmo tempo oração, louvor e autocomunhão em espírito de devoção .”35 Os críticos sentemse incomodados, porque essa passagem do Logi Lo giaa de Jesus ou “Q” “Q ” da crítica sinótica s inótica (Mt 11.253 11.25300 é igual a Lc 10.21 .21 24) 24) é de espírito e linguagem tão manifestadamente joanina, “o Pai” (ó mrcrip rcrip), ), “o Filho” Filho ” (ó (ó ulóç). O qua quarto rto Evangel Evan gelho ho foi escrito es crito perto pert o do fim do século I, e qualquer Lo qualquer Logi giaa que tivesse existido foi escrito antes dos Evangelhos Sinóticos. A única explicação satisfatória acha se no fato de que Jesus tinha uma linha de ensino que foi preservada no Evangelho de João. Aqui está Jesus comungando com o Pai de modo exatamente sublime conforme vemos em João 14 a 17. Até Adolf Ad olf Hamack Ham ack está propenso a aceitar este Lo este Logi gion on como como declaração genuí ge nuína na de Jesus. Jesus . “ Graça Gr aças” s” (ô|i (ô|iooA.oy .oyoíj[i íj[iai ai)) é mais bem be m tradu tr aduzid zidoo por po r “louvores” (Moffatt). Jesus louva ao Pai “não porque oo(|joÍ eram ignorantes, mas porque viÍttloi sabiam ”.36 11.26. Porq Po rque ue assim ass im te aprouv apr ouvee 37 (eúõo (eúõoKÍa KÍa èyéve èyévexo xo ’é|j/íTpo é|j/íTpoa9év a9év ooi) 38). “Porque assim é segundo a tua vontade benevolente” (Weymouth). 11.27. Todas as coisas me foram entregues por meu Pai 39 (Etávra jioi rrapeõóOri uttò toíj uatpóç iaou). Esta declaração sublime não será retalhada ou destrinchada por explicações. E o aoristo aoristo infinito passivo, como eõó9r| em Mateus 28.28, e “aponta um momento do passado na eternidade, indicando a preexistência do Messias ” .40 .40 A consciência messiânica de Cristo está claramente declarada nesse momento de suprema comunhão. Note a ocorrência dupla de êiTLyivGJOKÉi para dizer “conhecer”. Note também poúÀrpm, que quer dizer “quiser; estiver disposto”. O Filho detém o poder e a vontade para revelar o Pai. Pai. 1322 13
Mateus 11
11.28. Vinde a mim (Aeúte upóç [íé). Os versículos 28 a 30 não constam em Lucas, mas estão entre as preciosidades especiais do Evangelho de Mateus. Esta chamada de Jesus para os cansados e oprimidos é sublime. Os chamados estão em estado de cansaço (IIec|)optLoiiéyoL), nominativo plural masculino do particípio perfeito passivo. E eu vos aliviarei (kct/gò txvaTTaúoco ú|iâ<;). Aqui é rejuvenescimento e não apenas descanso. A palavra grega é composta àva uaúoo. E a voz ativa causativa. 11.29. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim (apaTe tòv (uyóv k(xl |_ux0ete dar’ è|_ioú). Os rabinos usavam o termo ju go para referiremse à escola. A palavra escola está eti mologicamente relacionada à palavra grega o/oai], “lazer”. Mas, na sua escola, Jesus oferece refrigério (àváTrauoiv) e promete tornar o fardo leve, porque Ele é um professor manso e humilde. A humildade parecia servil aos antigos; não era uma virtude. Jesus tom ou esse vício em virtude. Ele glorificou essa atitude. Paulo exorta: “Cada um considere os outros superiores a si mesmo” (Fp 2.3). Em certas regiões do mundo, ainda hoje as pessoas usam jugos no ombro para tomar os fardos mais fáceis de carregar. Jesus promete que desco briremos que o seu jugo alivia grandemente o fardo. “Suave” é a tradução correta de xpiptóç; “ameno” (Moffatt). Este é o significado do termo quando a Septuaginta a usa no Antigo Testamento. Não temos adjetivo que transmita totalmente a noção de “ameno e bom”. 0 jugo de Cristo é útil, bom e suave (cf. Ct 1,10). 11.30. Porque o meu ju go é suave (ô yàp (uyóç |_iou xpriGtòç). “Os rabinos chamavam o jugo da lei pesado. Era um fardo que ninguém podia suportar. Jesus faz exigências que são comparativamente leves.”41 NOTAS 1 Alan Hugh McNeile, The Gospel According to St. Matt.hew: The Greek Text with Introduction, Notes, and índices (Reimpressão, Grand Rapids: Baker, 1980), p. 99. 2 “De instruir” (AEC).
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COMENTÁRIO MATEUS & MARCOS
3 Alexander Balmain Bruce, The Expositor’ s Greek Testament , vol. 1, The Synoptic Gospels (Grand Rapids: Eerdmans, 1951), p. 169. 4 WH tem só um v,Twcor|<;. 5 Josephus, Antiquities o f the Jews, 18.5.2. [Edição brasileira: Flávio Josefo, História dos Hebreus: Obra Completa (Rio de Janeiro: CPAD, 1998).] 6McNeile, Matthew, p. 151. 7“Algum outro” (NVI). 8Bruce, Exp ositor’ s, p. 169. 9 Ver A. T. Robertson, John the Loyal: Studies in the Ministry o f John the Baptist (Nashville: Broadman, 1977), cap. 9. 10Bruce, Exp ositor’s, p. 170. 11“Aquele que não achar em mim motivo de tropeço” (ARA). 12WH tem a variante &v. 13Alfred Plummer, An Exegetical Commentary on the Gospel According to Saint Matthew (Reimpressão, Grand Rapids: Eerdmans, 1956), p. 161. 14“Quando os discípulos de João foram embora” (NTLH). 15Plummer, Matthew, p. 161. 16Bruce, Expositor’ s, p. 172. 17 A. T. Robertson, A Grammar o f the Greek New Testament in the Light o f Historical Research (Nashville: Broadman, 1934), p. 668. 18“É tomado por esforço” (ARA). 19 G. Adolph Deissmann, Bible Studies: Contributions, Chiefly from Papyri and Inscriptions, to the History o f the Language, 2a ed., traduzido por A. Grieve (Edimburgo: T. & T. Clark, 1923), p. 258. 20 James Hope M oulton e George Milligan, The Vocabulary o f the Greek Testament (Londres: Hodder & Stoughton, 1952), p. 109. 21 “E violentos se apoderam dele” (BJ). 22 Fenton John Anthony Hort, Judaistic Christianity: A Course o f Lectures (Londres: Macmillan, 1894), p. 26. 23 “Ele mesmo é Elias” (ARA). A NTLH acrescenta o nome “João” , embora não conste no texto grego. 24 WH tem uma grafia diferente,’HÀeíaç, e TRb tem o sinal diacrítico para indicar aspiração 'H lía ç. 25 “Ela é como crianças sentadas nas praças” (BJ). 26 TM tem uma ordem de palavras diferente além de grafias diferentes, êaxí TTcaõíoiç kv áyouoâç Kcc0ri|iévoi,; TRs usa o v eufônico em èoxlv e ttcuõíolç kv áyopcâç KaGrpevoii;; TPP tem kaxl iraiõapícaç KaGvuévoiç. 27“Mas a sabedoria é justificada por suas obras” (ARA).
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Mateus 11 s> v em lugar de epytov. 28 TR e TM usam tíkv < 29 Robertson, Grammar, pp. 836, 837. 30 Bruce, Expositor s, ’ p. 175. 31 Moulton and Milligan, Vocabulary, vol. 1, p. 79, e Robertson, Grammar, p. 670. 32WH tem uma soletração diferente, XopaÇeíi> . 33 Plummer, Matthew, p. 164. 34“Mas” (B.T; NVI); “pois” (NTLH); “e, contudo” (ARA). 35 Bruce, Expositor’ s, p. 177. 36McNeile, Matthew, p. 161. 37“Porque assim foi do teu agrado” (ARA). 38 TR e TM têm uma ordem de palavras diferente que não afeta a tradução, èyéveto eúõoKÍa. 39 “O meu Pai me deu todas as coisas” (NTLH). Esta declaração é igual a que Jesus fez aos discípulos depois da ressurreição (Mt 28.18). 40 Plummer, Matthew, p. 168. 41A. T. Robertson, Commentary on the Gospel According to Matthew (Nova York: Macmillan, 1911), p. 155.
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Capítulo
12 Mateus 12.1. Naquele tempo (’Ev eKeívcú xcõ Kcupw), uma declaração geral sem ideia clara de tempo específico (também ocorre em Mt 14.1). Este parágrafo começa com a mesma indicação de prazo como em Mateus 11.25. A palavra Kcapóç significa que isso aconteceu em um momento definido e particular, mas não podemos determinálo. Pelas searas, em um sábado (xote; oáppaaiv ôià xtôv auopíiicov1). Os campos eram de trigo ou cevada, as únicas plantações de grãos. Era costume os viajantes arrancarem grãos. Tal ato não era considerado roubo (Dt 23.25).2 1 2 .2 . Os teus discípulos fazem1, (ol laaGrixoú oou ttoioüoiv). Esses críticos estão esperando pela menor chance, e, quando a vêem, atacam repentinamente essa violação das normas farisaicas da observância sabática. Os discípulos estavam arrancando espigas de grãos e esfregandoas entre as mãos para separar o núcleo da palha. Os fariseus consideravam que essas ações eram, respectivamente, colher e trilhar (Lc 6.1). O Talmude proíbe “colheita” de qualquer tipo no sábado .4 12.3. O que fe z Davi (xí èuoír|aev Aauiô5), movido pela necessidade da fome. Cristo apela para a conduta de Davi (1 Sm 21.6).
COMENTÁRIO MATEUS & MARCOS
Davi e os que estavam com ele fizeram “o que não era lícito” (o oí)K k^ov rjv), que era a exata acusação feita contra os discípulos (o oòk ê £ e m v ) no versículo 2. “Todos os argumentos usados por Jesus voltamse contra a verdadeira significação do dia como dia de descanso e adoração. O significado não é ser uma escravidão, mas uma bênção. [...] No caso de Davi, o apelo é a um exemplo histórico onde a necessidade supera as regras de adoração .”6 12.6. Quem é maior do que o templo1 ( tou kpoü |ieiÇóv8), abla tivo de comparação, roü lepoü. Qual é o maior? Jesus pode estar se referindo a si mesmo como o Cristo. Pode ser que ele queira dizer que “a obra de Cristo e seus discípulos era de maior importância do que o Templo ”.9 “Se o Templo não tinha de ser subserviente às normas sabáticas, quanto menos o Messias !”10 12.7. Os inocentes ( touç ávcuTÍouc;). ’Av + aUíoç, não há “nenhuma base contra; nenhuma acusação”. O mesmo termo, comum no grego antigo, é usado nos versículos 5 e 7. Jesus cita Oséias 6.6 como fez em Mateus 9.13. Esta é uma profecia pertinente que escapara da atenção dos defensores da literalidade cerimonial e da letra da lei. “No Antigo Testamento a verdadeira adoração sempre era mais importante do que as formas de adoração. Os fariseus não entenderam este ponto .”11 12.8. Porque o Filho do Homem até do sábado é Senhor (icúpLoç yáp èoTiv12 toü aappáxou ó uíòç toíj àvGpcÓTrou). A declaração de Jesus de que o Filho do Homem é o Senhor do sábado e, portanto, está acima dos regulamentos dos fariseus, naturalmente os enfureceu ao extremo. Com a expressão Filho do Homem, Jesus precipita a reivindicação ao messiado, e como o Homem representativo ele afirma a sua solidariedade com a raça humana, “representando os interesses humanos”.13 12.10. E lícito curar nos sábados? (El eçeonv toiç oáppaoiv G c - p a T T t Í j a c a 1 4 ) . O uso de el nas perguntas diretas está elíptico e tam bém parece uma imitação do hebraico .15 Ver também Mateus 19.3. Não é traduzido. 12.12. Quanto mais vale um homem do que urna ovelha? ( ttÓoco ouv õic4>épei ayGpcoTroc; upopátou). Esta é outra das perguntas en 138
Mateus 12
genhosas de Jesus que vão direto à raiz das coisas. É um raciocínio “com tanto mais razão”: “Por quanto difere um ser humano de uma ovelha? Esta é a pergunta que nem mesmo a civilização cristã respondeu adequadamente ”.16 Os pobres fariseus são deixados na “cova”. 12.13. Estende a mão (’'EKxeivóv oou rnv xelpa17). Provavelmente o braço não estava mirrado, embora não se tenha certeza. Mas Jesus fez o impossível. “E ele a estendeu”, em linha reta, espero, apontando diretamente os fariseus que observavam Jesus (Me 3.2). 12.14. Formaram conselho contra elen (au|ißoi)A,iov elaßov Kat’ aúxou). Uma imitação do latim concilium capere e encontrada em papiros do século II d.C .19 Este incidente marca uma crise no ódio que os fariseus nutriam por Jesus. Eles trancafiaram a sinagoga e foram conspirar com os seus odiados rivais, os herodianos, para matar Jesus (Me 3.6 é igual a Mt 12.14, que é igual a Lc 6.11). “Matarem” (óhToÀéouoiv). 12.15. Sabendo isso (yvouç), particípio ativo no nominativo singular masculino do aoristo segundo de yivoÓGKto. Jesus leu os pensamentos dos fariseus que estavam claros a qualquer um que visse os seus semblantes raivosos. 12.17. Para que se cumprisse (Iva 20 TTÀr|pco0r)). Este uso final de 'iva referese a todas as obras curativas de Jesus por essa época, conforme estão resumidas no versículo 16. A passagem citada é Isaías 42.14, “uma reprodução bastante livre do original hebraico com ocasionais olhares laterais à Septuaginta ”,21 possivelmente de um acervo aramaico de testimonia.22 Mateus aplica a Cristo a profecia sobre Ciro. 12.18. O meu amado 23 (ó áyauriTÓç |aou). Esta frase lembra a frase usada em Mateus 3.17, as palavras que o Pai disse no batismo de Jesus. 12.20. A cana quebrada 24 (KáÀap,ov ouviexpipiiévov). “A cana esmagada ele não quebrará”, uma cena de compaixão. Notemos o curioso acréscimo silábico em Kaieá^ei (terceira pessoa do singular do futuro ativo do indicativo). Os copistas mantiveram o acréscimo silábico que não pertencia a esse verbo ,25 como em Platão. 139
COMENTÁRIO MATEUS & MARCOS
O morrão que fumega26 (Xívov Tucj)ó|j.evov), o pavio da lâmpada, fumegando, chamejando e apagando. Ocorre só aqui no Novo Testamento. Linho (de que era feito o morrão ou pavio) ocorre em Êxodo 9.31. Imagens vivas que pintam Jesus na mesma tendência que as suas notáveis palavras registradas em Mateus 11.2830. 12.23. Não é este o Filho de Davi?21 (Mqti oíkóç èonv ô ulòç Aauíô28). A forma da pergunta espera a resposta “não”, mas eles a fizeram assim por causa da hostilidade dos fariseus contra Jesus. As multidões estavam admiradas 29 ou “salientavamse de si mesmas” (fçíotavxo), pretérito imperfeito, descrevendo a situação vivamente. Estavam quase fôra de si de tanta emoção. 12.24. Mas os fariseus, ouvindo isso (oi ôè í ap io aio i áKoúaavTeç). Mateus 9.3234 apresenta a acusação de que Jesus estava em conluio com o príncipe dos demônios, embora o incidente possa ser posterior a este. Sobre “Belzebu”, consulte os comentários em Mateus 10.25. Os fariseus perceberam que o estado de entusiasmo das multidões e a disposição manifesta em crer que Jesus era o Messias (o Filho de Davi) requeriam uma resposta estrénua. Não havia como negar o fato dos milagres, pois o homem que era cego e mudo agora vê e fala (Mt 12.22). Desesperados, sugerem que Jesus faz milagres usando o poder de Belzebu, príncipe dos demônios. 12.25. Jesus, porém, conhecendo os seus pensamentos, disselhes^ (elôcòç õè xàç, èv9u|_rr|oeiç oarrây eiTTev oarcoiç31). Agora eles descobrem que oponente forte é Jesus. Por parábolas, por uma série de condições (de primeira classe), por sarcasmo, por pergunta retórica, por lógica impiedosa, Ele lhes expõe a insinceridade oca e a futilidade dos argumentos. 12.26. Se Satanás expulsa a Satanás, está dividido contra si mesmo (ei ó Ikrravâç tòv Saxavâv èK(3áÀA.ei, êcj)’ ècarcòv êfiepía9r|). Satanás não expulsa Satanás. Note o aoristo infinito passivo è[j.ep ío9r|, equiparandose com o aoristo passivo ecfrôaoev de 4)9ávoo no versículo 28 (ver Fp 3.16). As alternativas são especificadas pelos aoristos. Ou Satanás dividese contra Satanás, ou o Reino de Deus chegou. 12.29. Ou como pode alguém entrar em casa do homem valen te e furtar os seus bens [...]? (t] ttojç ôúvaraí xiç eioeA.9eiv eiç tt]v 140
Mateus 12
Cristo está engajado em conflito mortal com Satanás, o homem valente. “Bens ”32 (aKeuri) significa utensílios domésticos, mobília ou equipamentos, como em Lucas 17.36 e Atos 27.17, as velas do navio. 12.30. Quem não é comigo (ò |íti gj|v |iex’ éfioü). Com estas palavras solenes, Jesus traça a linha divisória entre Ele e os seus inimigos, de então e de hoje. Jesus ainda tem inimigos que o odeiam, assim como odeiam todas as palavras e ações do Espírito. Essas palavras e ações atormentam a consciência rebelde de quem odeia a Deus e põem lenha na fogueira da furia. Cada incrédulo pode ter a escolha. Ou juntamos com (ouváycov) Jesus ou espalhamos (oKopTTtCei) para os quatro ventos. Jesus é o imã dos séculos. Ele atrai ou repele. “Satanás é o perito em espalhar, Jesus é o perito em ajuntar, o Salvador .”33 12.31. Mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada aos homens (n õè xoü TTVfúfiaxoç |3Àaa4>r||iía), um genitivo objetivo. Este é o pecado imperdoável. 12.32. Mas, se alguém falar contra o Espírito Santo ( kuzu , xot> Tiyeú|iatoç xoü àyíou). A forma do pecado imperdoável fica mais clara. Qual é a blasfêmia contra o Espírito Santo? Estes fariseus tinham atribuído as obras do Espírito Santo, por cujo poder Jesus fizera os milagres (Mt 12.28), ao Diabo. Isso era imperdoável, quer nesta vida quer na vindoura (Mt 12.32). Os crentes sempre perguntam se eles podem inadvertidamente cometer o pecado imperdoável. Lógico que nem todos ridicularizam a obra manifesta que o Espírito de Deus faz na vida das pessoas e a atribuem ao Diabo. 12.34. Raça de víboras ( y e v v r p a r a è x i ô v w v ) . João Batista usara essas mesmas palavras terríveis para condenar os fariseus e saduceus (Mt 3.7). Esses fariseus tomaram o partido de Satanás. A acusação de que Jesus estava em conluio com Satanás revela o coração mau que havia neles. 12.35. O homem bom tira boas coisas do seu bom tesouro (ò àya9òç avBpconoç èk tou àyaGoü 9r|oaupoú èi
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35 é similar a Mateus 7.1719. Jesus repetia as suas declarações concisas e pungentes. 12.36. Toda palavra ociosa ( u â v p r p a à p y ó v ) . A palavra ineficaz e inútil (a privativo e è p y ó v ) . A palavra que não faz bem e, portanto, é perniciosa. É um pensam ento solene. Jesus, que conhece os nossos pensamentos (Mt 12.25), insiste que as palavras revelem os pensamentos e formem a base justa para a interpretação do caráter (Mt 12.37). Aqui temos o julgamento pelas palavras como em Mateus 25.3146, onde Jesus apresenta o julgamento pelas ações. Ambos são provas reais do caráter. Homero falou que as “palavras têm asas” ( u x e p ó e v T a ê u é a ) . As palavras que dizemos aqui podem ser ouvidas ao redor do planeta. Quem sabe onde elas param? 12.38. Da tua parte algum sinal 34 (octtò ooíj arpciou). Ficamos boquiabertos com a audácia dos escribas e fariseus. Depois de terem acusado Jesus de expulsar demônios por estar em conluio com Satanás, eles gentilmente lhe pedem um “sinal”, como se os outros milagres não fossem sinais. “O pedido era descarado, hipócrita, in sultante .”35 12.39. Uma geração má e adúltera pede um sinaP6 ( r e v e à tto vrpà Kcà |!0 ix a À .iç orpetov è iu (r )T e l). Eles eram adúlteros no que tange a terem rompido os laços matrimoniais que ligavam Israel a Jeová 37 (ver SI 73.27; Is 57.3ss.; 62.5; Ez 23.27; Tg 4.4; Ap 2.20). 12.40. A baleia (toG Kiycouç), um monstro marinho, um peixe p e y c d ó ) . Na linenorme. Em Jonas 2.1, a LXX usa a palavra guagem popular, “três dias e três noites” pode simplesmente significar três dias. Jesus ressuscitou “ao terceiro dia” (Mt 16.21), não “ao quarto dia”. Tratase de mera forma mais completa de dizer “depois de três dias” (Me 8.31), “ao terceiro dia” (Me 10.34). 12.41. No Juízo (kv rf) Kpíoei). Nos versículos 41 e 42, Mateus fala de “o Juízo”. Em todas as outras referências, Mateus se refere ao “Dia do Juízo” (rpépa Kpíoecoç; ver Mt 10.15; 11.22,24; 12.36). Lucas 10.14 usa a frase kv ifi Kpíoei. [Eles] se arrependeram com a pregação de Jonas. E eis que está aqui quem é mais do que Jonas ( f i e x e v ó r i o a v e í ç t ò K i jp u y i a a 142
Mateus 12
’Icovâ, Kcd Lôoí) uXeíov ’Icovâ coôe). Os ninivitas se arrependeram, ao passo que os fariseus ficam criticando desfavoravelm ente Jesus. Note que aqui elç é equivalente a kv. Mateus usa o neutro iT/leíov, que quer dizer “o que é mais”, e não o masculino ule ícov, que quer dizer “quem é mais”. A mesma linguagem ocorre nos versículos 6 e 48. Jesus é maior que o Templo, maior que Jonas, maior que Salomão. “Vós continuareis descrendo independente de tudo que eu diga ou faça, e, no fim, vós me matareis. Mas eu ressuscitarei, sinal que vos deixará confusos, caso não vos converterdes.”38 12.44. Para a minha casa 39 (Elç uòv olkov [íou). E como o demônio descreve o homem em quem ele habitara. “A descrição é irônica, visto estar implícito que ele deixou a vítima voluntariamente, como sai um homem de casa para dar um passeio .”40 “Piores do que o primeiro” é um provérbio. 12.46. Sua mãe e seus irmãos (f| [ir|i:r|p kcu ol áõeA4)oi aikoü). Os irmãos de Jesus, filhos mais jovens de José e Maria. Os discípulos de Jesus não creram na acusação dos fariseus de que Jesus estava em conluio com Satanás. Mas alguns dos seus amigos pensaram que ele estava fôra de si, transtornado (Me 3.21), por causa da agitação e tensão. Era natural que Maria quisesse leválo para casa para que ele descansasse e restaurasse as forças. A cena apresenta a mãe e irmãos parados no lado de fôra da casa (ou da multidão). Eles enviam um mensageiro a Jesus. 12.47. As versões Aleph, B, L e a Siríaca Antiga omitem este versículo, como fazem WH .41 É texto genuíno em Marcos 3.32, que é igual a Lucas 8.20. Foi copiado em Mateus de Marcos ou Lucas. 12.49. Eis aqui minha mãe e meus irmãos42 (’Iôou f) |ir|rr|p [íou Kcd oi KôcÂcfjoí |j,ou). Um dramático gesto de mão em direção aos discípulos (os aprendizes) acompanhou essas palavras. Jesus amava sua mãe e irmãos, mas eles não deveriam interferir na obra messiânica. A verdadeira família espiritual de Jesus abrangia todos que o seguissem. Mas era difícil Maria voltar para Nazaré e deixar Jesus com a multidão numerosa e entusiasmada que não lhe dava tempo nem para ele se alimentar (Me 3.20). 143
COMENTÁRIO MATEUS & MARCOS
NOTAS ___________________________________________________ 1TRb e TM omitem o v eufônico, oáfSpaai. 2A. T. Robertson, Commentary on the Gospel According to Matthew (Nova York: Macmillan, 1911), p. 155. 3“Os teus discípulos estão fazendo” (NVI). 4 Robertson, Commentary on Matthew, p. 156. 5WH grafa o substantivo próprio assim AaueCõ, e TR e TM o grafa assim Aapíô. 6Robertson, Commentary on Matthew, p. 156. 7“Algo maior do que o Templo” (BJ); “o que é maior do que o templo” (NVI). 8TR tem |iei(cov„ mas o neutro é o correto. 9Alfred Plummer, An Exegetical Commentary on the Gospel According to Saint Matthew (Reimpressão, Grand Rapids: Eerdmans, 1956), p. 173. 10 Willoughby G. Allen, A Critical and Exegetical Commentary on the Gospel According to Matthew, International Critical Commentary ( Edimburgo: T. & T. Clark, 1912), p. 128. 11Robertson, Commentary on Matthew, p. 157. 12TR acrescenta kcíl aqui. 13 Alexander Balmain Bruce, The Expositor’ s Greek Testament, vol. 1, The Synoptic Gospels (Grand Rapids: Eerdmans, 1951), p. 183. 14WH, TR e TM têm o infinitivo presente Gepairgúeiv. 15 A. T. Robertson, A Grammar o f the Greek New Testament in the Light o f Historical Research (Nashville: Broadman, 1934), p. 916. 16Bruce, Expositor’ s, p. 184. 17TR e TM têm a ordem inversa:’'E ktê Lvov ttiv x€~LP“ oou 18“Tramaram contra ele” (BJ). 19 G. Adolph Deissmann, Bible Studies: Contributions, Chiefly from Papyri and Inscriptions, to the History o f the Language, 2a ed., traduzido por A. Grieve ( Edimburgo: T. & T. Clark, 1923), p. 238. 20 TR e TM têm ouwç em lugar de Iva. 21 Bruce, Exp ositor’ s, p. 185. 22 Alan Hugh McNeile, The Gospel According to St. Matthew: The Greek Text with Introduction, Notes, and Indices (Reimpressão, Grand Rapids: Baker, 1980), p. 172. 23 “Aquele que amo” (NTLH). 24 “Não quebrará o caniço rachado” (BJ). 25Robertson, Grammar, p. 1.212.
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Mateus 12 26 “O pavio fumegante” (NVI). 27 “Será que este homem é o Filho de Davi?” (NTLH). 28 TR e TM têm a grafia Aa(3í5, e WH tem a grafia AaueíS. 29 “Toda multidão ficou espantada” (BJ). 30 “Mas Jesus conhecia os pensamentos deles e disse” (NTLH). O nome Jesus encontrase nas versões AEC, BJ, NTLH, NVI, ARA, ARC e no TR, mas não no texto grego de WH e GNT/NA. 31 TR e TM incluem ó ’Ir|ooi)Ç aqui. 32 “Pertences” (BJ). 33Bruce, Expositor’ s, p. 188. 34 “O senhor fazer um milagre” (NTLH); “um sinal miraculoso feito por ti” (NVI). 33 Bruce, Expositor’ s, p. 191. 36 “Uma geração má e adúltera busca um sinal milagroso” (BJ). Para inteirarse de prova da maldade que vigorava na época, ver Josephus, Wars o f the Jews, 5.10.5. [Edição brasileira: Guerras dos Judeus. Volumes I ao VIII (Curitiba: Juruá, 2002).] 37 Plummer, Matthew, p. 182. 38 Bruce, Expositor’ s, p. 191. 39 “Para a casa” (NVI). 40 McNeile, Matthew, p. 183. 41 Este versículo está incluído entre parênteses em GNT/NA. TR e TM o incluem. 42 “Aqui estão minha mãe e meus irmãos” (AEC).
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Capítulo
13 Mateus 13.1. Naquele dia 1 (’Ev Trj niiépa èiceívi]2). Mateus coloca este grupo de parábolas no mesmo dia em que foi feita a acusação blasfema e a visita da mãe de Jesus. Conhecemos esse dia como “o dia cheio”, porque Mateus conta muita coisa sobre esse dia. Serve de exemplo de muitos outros dias cheios de estresse e tensão. Estava assentado junto ao mar3(eK«0r|TO uapà Qálaaoav). O caso acusativo não é problema. Jesus saiu da casa sufocante e tomou assento na orla da praia. “Estava assentado”, èf<á0r|TO, é a terceira pessoa do singular da voz média/passiva depoente do imperfeito do indicativo. Nesta cena pitoresca, as pessoas estavam espalhadas para cima e para baixo ao longo da praia. 13.2. E toda a multidão estava em pé na p raia4 (kkI uaç ó õxAoç 6ttí tòv aiYi.aA.0y elaTtÍKei.. Tempo pretérito perfeito com sentido de imperfeito, “tinha ficado de pé” e, portanto, “estava parada” . Note o acusativo com èui, “em” a praia onde as ondas quebram. A palavra aL.YiaA.0c; é derivada de aAç, “mar”, e ayvi)|j.L, “quebrar”, ou de aíoaco, “apressar”. Jesus teve de sentarse em um barco para escapar da compressão da multidão.
COMENTÁRIO MATEUS & MARCOS
13.3. E falo u-lh e de mintas coisas por parábolas 5 (kcíI klálr\o£v aikoLç uoAla èv rapapoÀcuc;). Esta é a primeira vez que tantas parábolas são registradas juntas e com esta extensão. Diversas constam em Lucas 12 a 18 e Mateus 24 a 25. Mateus já nos deu a parábola do sal e da luz (Mt 5.1416), das aves e dos lírios (Mt 6.2636), do argueiro e da trave (Mt 7.35), da árvore boa e da árvore ruim (Mt 7.1719), dos construtores prudentes e dos construtores insensatos (Mt 7.2427), do pano novo em vestido velho e do vinho novo em odres velhos (Mt 9.16,17) e dos meninos nas praças (Mt 11.16,17). Não sabemos quantas parábolas Jesus falou nessa ocasião. Mateus menciona oito parábolas: do semeador, do joio, do grão de mostarda, do fermento, do tesouro escondido, da pérola de grande valor, da rede e do pai de família. Marcos acrescenta a Parábola da Candeia (Me 4.2123 é igual a Lc 8.1618) e a Parábola da Semente (Me 4.2629). Marcos 4.33 e Mateus 13.34 dão a entender que houve outras parábolas. A palavra parábola (TiapaPoÀrí derivada de Tiap(xpáÀA.(jo) significa “colocar ao lado para medida ou comparação como parâmetro”. Ela ilustra a verdade espiritual ou moral. A palavra é ocasionalmente empregada para ditos sentenciosos ou provérbios (Mateus 15.15; Marcos 3.23; Lucas 4.23; 5.3639; 6.39) ou uma figura ou tipo (Hebreus 9.9; 11.19). Os Evangelhos Sinóticos usam com parações parabólicas, como a Parábola do Semeador, e ilustrações nãocomparativas, como a Parábola do Rico Insensato e a Parábola do Bom Samaritano .6 O discurso do Oriente Médio “se expressa em uma multiplicidade de tais formas de expressão ”.7 O Antigo Testamento e o Talmude contêm parábolas, mas as de Jesus estão em uma categoria própria. Jesus segurou o espelho bem alto na natureza para lançar luz sobre a verdade. A fábula descreve coisas que não existem. A parábola pode não ser fato, mas poderia ser. Está em harmonia com a natureza do caso. A alegoria (áÀÀTiyopía) é uma parábola expressiva que é autoex plicativa. O Peregrino, de John Bunyan, é um exemplo clássico. Todas as alegorias são parábolas, mas nem todas as parábolas são alegorias. O filho pródigo é alegoria (Lc 15.1132), como é 148
Mateus 13
a videira verdadeira (Jo 15.111). Em vez da palavra parábola, João recorre a um ™pot|iía, “um dito de passagem” (Jo 10.6; 16.25,29). Cada parábola de Jesus ilustra um ponto principal e os detalhes são incidentais. Se os detalhes tiverem significado, Jesus os explica. Muita heresia tem surgido de esforços fantásticos de ler excessivamente as parábolas. No caso da Parábola do Semeador (Mt 13.38), Jesus dá a exposição cuidadosa (Mt 13.1823). Na mesma ocasião, Jesus explica por que se serviu de parábolas (Mt 13.917). Eis que o semeador saiu a semear s (’Iôoi) è^f|À0ev ó OTTeípGJv xou aireípeiv). Mateus gosta muito desta palavra exclamativa ’lôoú. (“eis”). E “o semeador” e não “um semeador”. Jesus espera que vejamos o homem adiantandose para começar a espalhar sementes com a mão. As parábolas de Jesus são imagens verbais vívidas. Para entendêlas, temos de vêlas com os olhos de Jesus. Cristo compunha as parábolas de acordo com objetos e situações bem conhecidos. 13.4. Quando semeava9 (év tcô aneípeiv auuòv). Literalmente, “na semeadura quanto a ele”, linguagem distintamente grega. O caso locativo com o infinitivo ativo articular do presente. Ao pé do caminho 10 (irapà xr\v óôóv). Caminhos de acesso que cercam os campos. Na agricultura mais primitiva, os campos não eram tão claramente esquematizados ou profundamente arados. Por isso, as pessoas faziam caminhos pelo meio dos campos arados. As sementes caiam e ficavam nas trilhas compactadas pelo uso frequente. E comeram-na11 (Kaié^ayev aútá). Literalmente, “comeram na toda”. Terceira pessoa do singular do aoristo segundo ativo do indicativo Kaxeo0ío) (um verbo defectivo ou depoente). 13.5. Pedregais (tà netpióôri). Nesse país de pedra calcária, bordas de pedra sobressaemse e são cobertas por camadas rasas de terra. Logo nasceu 12 (ev>0éa)ç è^avéTeiÀev). “Cresceu de um a vez” (Moffatt). Palavra composta dupla (è£, para fôra do solo, àva, para cima). Aoristo ingressivo de k^avazéXXo). 149
COMENTÁRIO MATEUS & MARCOS
13.6. Mas, vindo o solu (rjÀíou õè ávaTeíÀavxoç). O mesmo verbo que ocorre no versículo 5, com exceção da ausência de è£, um genitivo absoluto de ãvaTéÀÀ.Go. “Tendo o sol se levantado de um salto”. 13.7. E outra caiu entre espinhos, e os espinhos cresceram14 e sufocaram-na15 (4ttl xàç ài<áv9aç, «ai à.vk$r\ouv ai aKavGai «ai eirvi£av 16 aútá). Os espinhos não “nasceram” como no versículo 5, pois aqui ocorre um verbo diferente, que significa “vieram para fôra” do solo. As sementes dos espinhos já estavam na terra. Os espinhos tiveram um começo rápido, como têm as ervas daninhas, e, literalmente, “sufocaramna” (eirvitav, o aoristo efetivo de àuoTTyLyco; ver Mt 18.22). Lucas usa òlví ^ v Í ^ acerca do afogamento dos porcos (Lc 8.33). 13.8. Deu fr uto (êôíôou Kapiróv). O tempo verbal muda para o pretérito imperfeito de ôÍõgo[_ii, “dar” . Havia frutificação contínua. Um, a cem (o [ièv eKaxóv). A produção centuplicada significa que foram colhidos cem grãos para cada um plantado. Pelos padrões atuais, não é produção tão grande, mas para a agricultura antiga da Palestina era muito boa (cf. Gn 26.12). Wetstein dá exem plos de produção centuplicada na Grécia, Itália e África. Heródoto diz que na Babilônia os grãos produziam duzentas e até trezentas vezes mais .17 Claro que esse fato ocorria em virtude da irrigação, como no vale do Nilo. 13.9. Quem tem ouvidos para ouvir, que ouça (ó e^cov wxa aKOuéxco18). Frase que também ocorre em Mateus 11.15 e 13.43. Até Jesus teve de exortar as pessoas para prestarem atenção e entenderem as suas declarações, especialmente as parábolas. As palavras de Jesus exigem reflexão e são enigmáticas. 13.10. Por que lhes fa la s por parábolas?19 (Alà xí2ü kv Tiapa(3oA.atç ÀaXeiç aúxoiç). Já os discípulos estavam confusos quanto ao significado desta parábola e à razão para ensinar com essas histórias. Por isso, perguntaram. Jesus estava acostumado com perguntas e sobrepujava aos outros mestres nas respostas que dava. 13.11. Conhecer os mistérios21 (yvGJvai xà |iuaxripta). Aoristo segundo do infinitivo ativo de ylvgÓokgú. A palavra |iuatripiov é 150
Mateus 13
derivada de ^uoTriç, “o iniciado”, e daí derivada de |auéu (jiúoo), “fechar” ou “trancar” (latim, muíus). As religiões de mistério do Oriente tinham todos os tipos de segredos e sinais, como as sociedades secretas ainda têm hoje. Mas os iniciados os conheciam. Assim, os discípulos eram iniciados nos segredos do Reino dos céus. Paulo fala do mistério outrora oculto, mas que hoje é revelado ou tornado conhecido em Cristo (Rm 16.25; 1 Co 2.7). Em Filipenses 4.12, Paulo diz que aprendeu ou foi iniciado ([ie[iúr||_uu) no segredo de viver em dependência do que Deus provê. Jesus ex plica que as parábolas estão abertas aos discípulos, mas fechadas aos fariseus hostis. Nos Evangelhos, a palavra puoTipiov só é usada aqui e nas passagens paralelas de Marcos 4.11 e Lucas 8.10. 13.13. Por isso, lhes falo por parábolas (õià toüto év TTapa[3o7aiç kijtolç Xaltô). Jesus pode continuar pregando os mistérios do Reino que os fariseus jamais compreenderão o que Ele está dizendo. Por outro lado, Ele está ansioso que os discípulos recebam conhecimento pessoal (yvcôvai, Mt 13.11) desses mesmos mistérios. Assim, Ele explica em detalhes o que quer ensinar pelas parábolas. Note a posição de úpeiç. Ele insiste que prestem atenção nas explicações que dá. Porque eles, vendo22 (òti pAiTTovteç). Nas passagens paralelas em Marcos 4.12 e Lucas 8.10, encontramos a palavra 'iva com o subjuntivo. Isso não significa necessariamente que em Marcos e Lucas a palavra 'iva seja igual à palavra ôtl com o sentido causal, embora haja alguns exemplos raros de tal uso no grego recente .23 Mateus tem “uma adaptação de Isaías 6.9,10, que é citado por inteiro nos versículos 14 e 15” .24 Mateus apresenta um aparente paradoxo: As pessoas vêem por fôra, mas não em realidade (cf. Jo 9.41).25 A linguagem em Mateus não dá problema, salvo em comparação com M arcos e Lucas. A forma ouvioüoiv é uma forma verbal em co (ouvíoo) em lugar do verbo em |ii (auví.r||j.i) comum no grego Koivr|. 13.14. Se cumpre26 (àvauAripoÜTai). Terceira pessoa do singular do presente aoristo passivo do indicativo. Jesus mostra o cum primento. A fórmula 'iva ou ottoúç TrÀwpfíGri tò pf|9ev (“para que as 151
COMENTÁRIO MATEUS & MARCOS
palavras se cumprissem”; por exemplo, Mt 1.22) não é habitual de Mateus. O verbo óvctnA.ripóco ocorre nas Epístolas Paulinas, mas em nenhuma outra parte nos Evangelhos. Significa “encher completamente como um copo”, “encher o lugar de outro” (1 Co 14.16), ou “encher completamente o que está faltando” (Fp 2.30). Aqui, significa que a profecia de Isaías 6.9,10 se satisfaz na conduta dos fariseus. Há dois modos de reproduzir a expressão idiomática he braica (infinitivo absoluto), um por áicor), o outro por PÂÍttovtéç. Note a negação forte oí) \ir\ com um subjuntivo aoristo. 13.15. Está endurecido 27 (eiTaxúvGri). Terceira pessoa do singular do aoristo passivo do indicativo. Derivado de Tráxuç, “grosso”, “gordo” ou “robusto”. O significado é que o coração se degenera com calos ou com gordura. Ouviu de mau grado com seus ouvidos 28 (toiç woiv Papéwç TÍKOuaav), outro aoristo. Literalmente, “ele ouviu (ou ouve) pesadamente com os ouvidos”. Fechou os olhos (xouç òc|)9aA.|_ioí)<; airucôv éicáf 4 ii)aav). O verbo épico e vernacular Koqi|iú«, “fechar”. O verbo hebraico em Isaías 6.10 significa “cobrir em cima de”. Os olhos podem ser cobertos com cera ou catarata e, assim, são fechados. “Lacrar os olhos era um castigo oriental ”29 (ver Isaías 29.10; 44.18). Para que não (iiiÍitoxé). Este propósito negativo como julgamento é deixado na citação de Isaías. Tratase de um pensamento solene para todos que lerem ou ouvirem a Palavra de Deus. E eu o cure (Kcd láoo|ioa oojtoÚç). A Septuaginta muda para o futuro do indicativo em lugar do subjuntivo do aoristo, como antes. 13.16. Mas bem-aventurados [felizes] os vossos olhos (u|icôv ôè [Micápioi ol ócj)9cd[ioi). Uma beatitude para os discípulos em contraste com os fariseus. Ver em Mateus 5.3 para inteirarse da análise de “bemaventurados” ou “felizes”. 13.18. Escutai vós, pois, a parábola 30 ('Y|iei<; o5v aKoúoaTe •ur)y irapapoÀTÍv). Em Mateus 13.13, Jesus apresentou uma razão para o uso de parábolas. Por serem estagnados espiritualmente, os fariseus trouxeram sobre si este julgamento de não entenderem a palavra anunciada por Jesus. 152
Mateus 13
13.19. Ouvindo alguém (ttkvtcx; àKoúovxoç). Particípio presente do genitivo absoluto, “enquanto todo o mundo está ouvindo e não está entendendo” (|ifi ouviévioç, “não pondo junto” , “não juntando” ou “não agarrando”, “não segurando”). Talvez, naquele preciso momento, Jesus observou um olhar confuso em alguns rostos. Vem o maligno e arrebata (ep^erai ô uovripòç Kal ápTTá(ei). Os pássaros apanham as sementes enquanto o semeador semeia. O Diabo está sempre ocupado arrebatando ou apoderandose, como um bandido, da palavra do Reino antes que ela tenha tempo de germinar. O que foi semeado no seu coração (tò koi\ap[iévov kv tr| Kapôía aikoü). Particípio no acusativo neutro singular do perfeito passivo de oueípco, “semear” . Este é o que (oíkóç èoxiv ó). Mateus, como Marcos, fala das pessoas que ouvem as palavras como a própria semente. Isso cria certa confusão nesta forma condensada do que Jesus de fato disse, mas a lição que Ele quer ensinar permanece clara. Foi semeado ao pé do caminho 31 (ó rapà ir]v òõòv cmapeíç), Particípio no nominativo masculino singular do aoristo passivo. A semente no coração não é responsável por esta perda ao longo do caminho. Em termos humanos, a culpa é de quem deixa o Diabo arrebatar a verdade. 13.21. Mas não tem raiz em si mesmo32 (oúk exeL õe píÇav kv èctUTÚ; cf. éppiÇcóiievoL em Cl 2.7 e Ef 3.17). A pessoa não tem a estabilidade de uma árvore com raízes profundas e fortes. Houve durante a noite “crescimento em forma de cogumelo” que durou por certo tempo (upóoKaipoç). Mas o que teve germinação rápida foi temporário, e a pessoa se ofendeu (oKavôaA.íCerai,). Essa é descrição de pessoas que, em um momento de emoção, querem seguir a Jesus Cristo. Mas, de um dia para outro, afastamse e desistem, porque não houve a realidade da fé salvadora. Angústia 33 (0Àí\|/ecjç). Derivado de GAip«, “apertar”, “oprimir”, “espremer” (cf. Mt 7.14). A palavra tribulação, usada em algumas traduções (BJ; NVI), vem do latim tribulum, que era o 153
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rolo usado pelos romanos para amassar trigo. “De acordo com a antiga lei da Inglaterra, os que voluntariamente se recusassem a defenderse recebiam pesos pesados no peito, e eram apertados e esmagados até a morte. Isso era literalmente GÀLij/ic;.”34 13.22. Sufocam a palavra (ai)|iTTvíyei33 tòv Àóyov). No versículo 7, Mateus usou a palavra “sufocar para fôra” (“sufocaram”). Aqui, o termo é ou|_iTrvíyeL, “sufocar junto”. Ambos os sujeitos são agregados no presente histórico do singular. “O desejo ardente por dinheiro e as preocupações desta vida estão juntos e entre eles saqueiam de muitos a natureza religiosa séria ”;36 são de fato “espinhos”. Os espinhos surgem, e o caráter adoece e morre, sufocado até à morte pela falta de alimento, ar e sol espirituais. 13.23. E dá fruto 37 (oç ôf) KctpiTocjiopei). Alguns, na verdade (õrj), frutificam (cf. Mt 7.1620). O fruto revela o caráter da árvore e o valor do caule como talo de trigo. O caule, que não for nada mais que palhiço e palha, é inútil. As primeiras três classes não dão fruto, mostrando que elas são não salvas. Toda pessoa que pertence ao Semeador é frutífera. A lição da parábola explicada por Jesus é precisamente esta: a diversidade nos resultados da semente semeada de acordo com a terra onde cai. Todos os professores e pregadores sabem que as coisas são assim. É tarefa do professor, como semeador, semear a semente certa, a palavra do Reino. A terra determina o resultado. Hoje em dia, certos críticos desprezam a interpretação dada por Jesus a esta parábola, porque julgamna demasiadamente alegórica, muito rica em detalhes. A explicação dada por Jesus não era essa. O problema é que os estudiosos não estão de acordo quanto ao ponto principal da parábola. O propósito dessa parábola não era explicar todos os problemas da vida humana; ela apenas prova o seu ponto de vista. 13.24. [Jesus] propôs-lhes outra parábola 38 (”AA,Àr|v uapaPoÀriv TTapé0r|Kev Kiruoiç). Esta introdução ocorre novamente no versículo 31. Ele colocou outra parábola ao lado de (uapá) uma já dada e ex plicada. O mesmo verbo, TTapocOeivou, ocorre em Lucas 9.16. E semelhante 39 ('Q|_ioiG$0 r|). Aoristo infinito do indicativo e uma maneira comum de introduzir essas parábolas do Reino, onde 154
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se faz uma comparação (Mt 18.23; 22.2; 25.1). O caso de
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13.32. Uma árvore (ôévôpov). “Não de natureza, mas de tamanho.” “Um exagero desculpável no discurso popular .”44 13.33. O Reino dos céus é semelhante ao ferm ento45 ('Ofioía êotlv ri paoiAeia tgôv oúpavwv Cú|ifl), em seu poder de penetração. Curiosamente, há pessoas que negam que Jesus aqui compare o poder expansivo do Reino dos céus com o fermento, porque, dizem, o fermento é símbolo de corrupção. Mas a linguagem de Jesus não tem de ser explicada por tal malabarismo exegético. O Diabo é comparado a um leão (1 Pe 5.8), mas Jesus é “o Leão da tribo de Judá” (Ap 5.5). A natureza do fermento é introduzirse na farinha (áÀeúpou) até que tudo fique fermentado. Não há sim bolismo oculto no fato de que há três medidas. Era apenas uma quantidade comum para assar pão. T. R. Glover propõe que Jesus pode ter se lembrado de sua mãe usando três medidas de farinha de trigo para fazer pão .46 Procurar uma referência à Trindade aqui é errar totalmente. A palavra traduzida por fermento, (ú|JT), é derivada de (<égú, “ferver” ou “fervilhar”. Era comum à fermentação, outro processo de penetração. 13.35. Publicarei (èpeú^o|icci). Expedir como um rio, gargare jar, vomitar, a paixão de um profeta (dos SI 19.2; 78.2). O salmista afirma que profere “coisas ocultas desde a criação do mundo”, e Mateus aplica essa linguagem às palavras de Jesus. Certamente, a vida e ensino de Jesus lançaram uma torrente de luz nos propósitos de Deus que há muito tempo estavam ocultos (KeKpu|_i|j,év(x). 13.36. Explica-nos (Aiaaá^riaov 47 t](j,lv). Tempo aoristo de urgência, também ocorre em Mateus 18.31. “Explique tudo com pletamente agora mesmo”. Os discípulos esperaram até que eles estivessem a sós com Jesus em casa para pedirem ajuda com a Parábola do Joio e do Trigo. Lógico que eles tiveram menos dificuldade com as Parábolas do Grão de Mostarda e do Fermento. 13.38. O campo é o mundo (ó ôè áypóç êoTiv ó koo|j,oç). No grego, o artigo com as duas palavras “campo” e “mundo” significa que o sujeito e o predicado são de extensão ou duração igual e, portanto, intercambiáveis. A semente boa e o joio são semeados no mundo, não no Reino, a igreja. 156
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13.39. A ceifa é o fim do mundo (ó ôè Gepiopòç awxéleia altô vóç kauiy48). A separação ocorrerá na consumação dos séculos, o tempo da colheita. Enquanto isso, todas as sementes crescem juntas no campo, que é o mundo. 13.41. Do seu Reino ( c- k r f |ç p a a iÀ e ía ç a m o u ) . Para fôra do meio do Reino, onde o governo de Deus se estende e onde os bons e os maus estão misturados (cf. ék [iiaou twv õiKaícov em Mt 13.49, “dentre os justos”). Da mesma forma que o trigo e o joio estão misturados no campo até serem separados na colheita, assim o mau e o bom estão misturados no mundo até serem separados. Jesus não quer dizer que a semente ruim que “causa escândalo” ( t à GKávôaÀa) seja os membros do Reino. Mais exatamente, as sementes ruins estão misturadas no campo com o trigo, e Deus as deixa até que chegue o tempo da separação. O destino delas é “a fornalha de fogo” (tf|v Ka^uvov toü uupóç, Mt 13.42). 13.43. Os justos resplandecerão como o sol (Tóte ol ôÍKatoL èKÀ.cqa\|/oiKJiv óç ó í]Àio<;). Brilhar como o sol que aparece de trás de uma nuvem 49 e afugenta as trevas depois que ocorreu a separação (cf. Dn 12.3). 13.44. E escondeu 50 (eKpmj/ev «aí). O tesouro foi escondido novamente até que a pessoa tivesse o direito a ele; não se trata de falta de integridade. “Escondeuo talvez para evitar que fosse rou bado, ou impedir a si mesmo de antecipar a compra do cam po.”M Mas mesmo que tivesse sido uma prática questionável, esse não é o ponto. O Reino de Deus tem um valor enorme para o qual não há sacrifício que seja demasiadamente elevado para fazer. 13.45. Negociante (è|iuópco). Esse tipo de negociante é um agente comercial ambulante, ou um vendedor de porta em porta do tipo “caixeiroviajante”, um “tocador de tambor”, porque ele tocava um tambor para anunciar a chegada quando se aproximava dos limites de uma casa. 13.46. Foi, vendeu (árreÀBGÒy TT<ÉTTpaKev). Literalmente, “ele foi embora e vendeu”. O presente perfeito do indicativo, o perfeito dramático de quadro vívido. Então, ele a comprou. Os tempos presente perfeito, imperfeito e aoristo misturado com ação viva. 157
COMENTÁRIO MATEUS & MARCOS
13.47. Uma rede (aayr|vr]). Em latim, sagena. As pontas eram estendidas e juntadas. Este é o único uso da palavra no Novo Testamento. Da mesma maneira que o campo é o mundo, assim a rede de arrastão pega todo tipo de peixe que esteja no mar. A separação vem depois. Marvin Richardson Vincent cita pertinentemente Odisséia, de Homero (22.384389), onde os litigantes mortos nos corredores de Odisseu são comparados a peixes na praia apanhados por redes com miríades de armadilhas .52 13.48. Cestos53(ayyr|54).Aúnica ocorrência no Novo Testamento, embora em Mateus 25.4 ocorra um termo semelhante para referirse a um frasco de óleo, a|yyeíov. 13.52. Instruído acerca do Reino dos céus 55 (|ioc0r|T€i)0el<; tf) PaoLÀeía56 ucôv oüpavów). Nominativo singular masculino do aoris to primeiro do particípio passivo. O mesmo verbo é usado na forma transitiva na Grande Comissão (Mt 28.19). Aqui um escriba toma se instruído acerca do Reino. “O mero escriba, de espírito rabínico, produz só o velho e o rotineiro. Semelhante ao Mestre, o discípulo do Reino sempre é voltado para o novo. Contudo, ele sabe avaliar todos os antigos tesouros espirituais da Escritura Sagrada ou da tradição cristã .”57 Esse escriba crente tem um tesouro especial, guardando o que vale a pena preservar da tradição (raAmá) e substituindo o que é obsoleto por coisas novas (icoavá). Essa pessoa “tira” (ètcpctAlei) ambos os tipos de coisas. 13.55. Não é este o filho do carpinteiro? (oí)% outóç koxiv ó toü xéKTOvoc; ulóç). José pode ter sido o famoso, o principal ou até o único carpinteiro/pedreiro de Nazaré até Jesus começar sua profissão. As pessoas de Nazaré não compreendem como alguém proveniente dessa origem e ambiente respeitáveis e medíocres poderia possuir a sabedoria que Jesus demonstrava por seus ensinos (èõíõacJKev, Mt 13.54). Eles conheceram José, Maria, os irmãos (quatro deles citados por nome) e as irmãs (nenhuma citada por nome). Como o filho de José, Jesus passou por aqui e estes eram os seus irmãos e irmãs mais novos (tecnicamente, meiosirmãos e meiasirmãs). 13.57. E escandalizavam-se nele (kocÍ êaKavôaÀLCovTO kv uv ’xô). Pretérito imperfeito gráfico passivo. Literalmente, “eles tro158
Mateus 13
peçavam nele”, “eles foram repelidos por ele” (Moffatt), “eles vi raramse contra ele” (Weymouth). Era imperdoável que Jesus não fosse tão comum quanto eles. Não há profeta sem honra (OÚk eoxiv Trpod)r|xr|c; aTi|ioç). Este provérbio comum achase na literatura dos escritores judeus, gregos e romanos, como também no Logia de Jesus .58 13.58. Muitas maravilhas (ôuvá|j.eiç TroAAáç). Literalmente, Jesus não mostrou “muito poder” em Nazaré. Jesus não faria milagres no meio de tal “incredulidade” (caucruíav) entre os habitantes da cidade. NOTAS 1“Naquele mesmo dia’ (AEC; NTLH; NVI; ARA). 2TR e TM incluem õrj aqui. 3“ Sentouse ali [...] a beira do lago da Galiléia” (NTLH). 4 “Ao povo reunido na praia” (NVI). 5“Jesus usou parábolas para ensinar muitas coisas” (NTLH). 6 John A. Broadus, Commentary on Matthew (Reimpressão, Grand Rapids: Kregel, 1990), p. 283. 7Alan Hugh McNeile, The Gospel According to St. Matthew: The Greek Text with Introduction, Notes, and índices (Reimpressão, Grand Rapids: Baker, 1980), p. 185. s “Certo homem saiu para semear” (NTLH). 9“Quando estava espalhando as sementes” (NTLH). 10“À beira do caminho” (ARA). 11 “Comeram tudo” (NTLH). 12“Logo brotou” (NVI). 13“Mas, ao surgir o sol” (BJ). 14“Espinhos, que cresceram” (NVI). 15“Sufocaram as plantas” (NVI). 16WH, TR e TM têm o verbo soletrado assim: áiTéiTviÇav. 17 Herodotus, History, 1.93. [Edição brasileira: História: O Relato Clássico da Guerra entre Gregos e Persas (São Paulo: Prestígio Editorial, 2002).] 18TR e TM têm áKoúeiv àKouétw. 19“Por que falas ao povo por parábolas?” (NVI). 20 TR tem Aiaxí.
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COMENTÁRIO MATEUS & MARCOS
21 “O conhecimento dos m istérios” (NVI). 22 “Porque vêem sem ver” (BJ). 23Para inteirarse de uma análise sobre o problema, veja A. T. Robertson, “The Causal Use of 'iva”, in: Studies in Early Christianity, editor S. J. Case (1928). 24 McNeile, Matthew, p. 190. 25 Ibid. 26 “Acontece” (NTLH). 27 “Se tom ou insensível” (BJ). 28 “Eles taparam os ouvidos” (NTLH). 29 Marvin Richardson Vincent, Word Studies in the New Testament, vol. 1, The Synoptic Gospels (Reimpressão, Grand Rapids: Eerdmans, 1946), p. 79. 30 “Ouçam o que significa a parábola do semeador” (NVI). 31 “Foi semeado à beira do cam inho” (ARA). 32 “Todavia, visto que não tem raiz em si mesm o” (NVI). 33 “Tribulação” (BJ; NVI); “sofrimentos” (NTLH). 34 Richard Trench, Synonyms o f the New Testament (Reimpressão, Grand Rapids: Baker, 1989), pp. 202204. 35 Somente W H soletra esta palavra assim: auvTTvíyei. 36 Alexander Balmain Bruce, The Expositor’ s Greek Testament, vol. 1, The Synoptic Gospels (Grand Rapids: Eerdmans, 1951), p. 197. 37“E dá uma colheita” (NVI). 38 “Jesus contou outra parábola” (NTLH); “Jesus lhes contou outra parábola” (NVI). O nome Jesus não consta no texto grego. 39 “É como” (NTLH; NVI). 40 “Quando todos estavam dormindo” (NTLH). 41 "Semeou [...] uma erva ruim” (NTLH). 42 TRs tem eoireipev, mas TRb e TM têm ’É0TTei,pe. 43 “Um homem tomou e plantou” (ARA). 44 Bruce, Expositor’ s, p. 201. 45 “O Reino do Céu é como o fermento” (NTLH). 46 T. R. Glover, Jesus o f History (Londres: Student Christian Movement, 1927), pp. 27, 28. 47 TR e TM têm $páoov. 48 TR e TM têm toC alwvóç eativ. 49 Vincent, Word Studies, p. 81. 50 “E toma a esconder” (BJ); “e esconde de novo” (NTLH).
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51Alfred Plummer, An Exegetical Commentary on the Gospel According to Saint Matthew (Reimpressão, Grand Rapids: Eerdmans, 1956), p. 197. 52Vincent, Word Studies, p. 81. 53 “Vasilhas” (BJ). 54TR e TM têm áyyeta. 55 “Que se tomou discípulo do Reino dos Céus” (BJ); “que se toma discípulo no Reino do Céu” (NTLH). 56TR e TM têm elç ir]v paoileíav. 57Brace, Expositor s, p. 204. 58 Oxyrhynchus, Papyrus 1.3.
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Capítulo
14
Mateus 14.1. Herodes, o tetrarca ('Hpcóõriç ò Texpaápxriç1). “Aqui, tetrarca, mas ‘rei’ no versículo 9 como em Marcos 6.14. Tetrarca estava tecnicamente correto. Era um título inferior a rei, e indicava um governante nativo sujeito a Roma, mas de poder considerável.”2 Herodes Antipas era administrador da Galiléia e da Peréia, um quarto do domínio de Herodes, o Grande. Ouviu Herodes, o tetrarca, a fam a de Jesus 3 (r|KOuae:u ... "cr|v (XKOTiv ’Iipou — ver análise em Mt 4.24). Este é um cognato feminino singular acusativo. Ele “ouviu a audição ou rumor”, seguido por um genitivo objetivo. E bastante surpreendente que ele não tivesse ouvido falar de Jesus antes. 14.2. Disse aos seus criados4 ( e í u e v t o l ç u c c l o I v atJToO), literalmente “meninos”, mas aqui são os cortesãos ou bajuladores, não os serviçais do palácio. Maravilhas operam nele5 (öuvcqjei<; èvepyouoiv kv oanjoò). A palavra èyepyéco está relacionada com a palavra energia e energizar. “Os poderes do mundo invisível, vastos e vagos na imaginação do rei.”6Herodes pensou que Jesus poderia ser a reencamação de João Batista. Embora João Batista não tivesse realizado nenhum milagre,
COMENTÁRIO MATEUS & MARCOS
alguém que voltasse da morte estaria sob o controle de poderes invisíveis. Assim arrazoava Herodes, os seus medos estimulados por uma consciência culpada. Talvez ele até tivesse pesadelos com a cabeça de João andando em um cavalo de batalha. “ Será que o rei só pensa em João Batista?”7Josefo contou a história que os fantasmas de Alexandre e Aristóbulo assombravam o palácio de Herodes, o Grande, depois que ele os assassinara.8Há muitas conjeturas sobre Jesus em resultado da excursão que fez pela Galiléia, e Herodes Antipas temia esta. 14.3. No cárcere (èv cj)u/.aKf}). Literalmente, “na casa da guar da”, “prisão militar” . Josefo fala que a fortaleza prisional se chamava Maqueros.9 Situavase em uma colina alta onde fôra construída uma fortaleza inconquistável. H. B. Tristram faz uma descrição inicial sobre o local, descrevendo as ruínas de “dois calabouços, um deles fundo com as paredes em bom estado”, contendo “buracos pequenos, ainda visíveis na construção, onde estiveram os grampos e argolas de madeira e ferro para fixação das correntes. Com certeza, um desses calabouços deve ter sido a cadeia de João Batista”.10 “No alto deste cume, Herodes, o Grande, construíra um palácio es paçoso e bonito.”11 “As janelas dominavam uma paisagem ampla e vasta, incluindo a vista do mar Morto, do curso do rio Jordão e de Jerusalém.” Por causa de Herodias (ôià 'Hpcoôiáôa12). A morte de João Batista acontecera algum tempo antes. Aqui, os aoristos gregos (eôrioey, àueGeio) não são usados para o pretérito perfeito. O aoristo grego narra o evento sem fixar distinções no tempo passado. Esta Herodias era a esposa ilegal de Herodes Antipas. Era descendente de Herodes, o Grande, e casarase com Herodes Filipe de Roma, não o Filipe, o Tetrarca. Ela se divorciou de Filipe para casarse com Antipas depois que este se divorciara da sua esposa, a filha de Aretas, rei da Arábia. O seu primeiro marido ainda estava vivo, e, para os judeus, era proibido o homem casarse com a cunhada (Lv 18.16). João Batista condenou a união. Por causa disso, Herodes Antipas o lançara na prisão em Maqueros. O fato puro e simples é mencionado em Mateus 4.12 sem citar o nome do lugar (ver tam164
Mateus 14
bém em Mt 11.2 para inteirarse de uma análise sobre o desânimo de João Batista “no cárcere”, kv Tfj ô ^ a m p íc o ). 14.4. Porque João lhe dissera (eleyev yàp ô ’Icoávvriç autw13). Os fariseus podem ter proposto que Herodes induzisse João para Maqueros em uma das suas visitas ali para expressar uma opinião concernente ao seu casamento com Herodias, e o tempo imperfeito (eÀeyev) significa que João dizia isso reiteradamente.14O julgamento de João acerca de Herodes e Herodias foi brusco e violento. A sua proclamação inflexível lhe custou a cabeça, mas é melhor ter uma cabeça como a de João e perdêla do que ter uma cabeça comum e mantêla. Herodes Antipas era um político e refreou o seu ressentimento para com João Batista, porque as pessoas ainda consideravam (terceira pessoa do plural do pretérito imperfeito ativo do indicativo) que João fosse profeta. 14.6. Festejando-se, porém, o dia natalício de Herodes 15 (yeveaíoiç õe yevo|aévoiç toO 'Hpúôou l6). Este é um locativo de tempo (cf. Me 6.21) sem o genitivo absoluto. Os gregos mais antigos usavam a palavra yeveaía para referiremse a comemorações fúnebres (aniversários de pessoas mortas), yeveGÀÍíx que é a palavra para referirse a comemorações natalícias de pessoas vivas. Mas, pelo visto, essa distinção desapareceu com o passar do tempo, como mostram os papiros. A palavra yeveoía nos papiros17 sempre é um banquete de aniversário, como é em Mateus e Marcos. Fílon usa ambas as palavras pertinentes a banquetes de aniversário. Pérsio, um escritor satírico romano, descreve um banquete feito no Dia de Herodes.18 Dançou [...] diante dele 19 (wpxiíoaTo' kv xcô [léoco). Tratavase de Salomé, filha de Herodias do seu primeiro casamento. A raiz do verbo significa algum tipo de movimento rápido. “Saltou no meio” (Wycliffe). Era uma dança vergonhosa e lasciva arranjada de antemão por Herodias para conspirar contra a vida de João Batista. Salomé se baixara ao nível de um almeh, ou seja, uma dançarina comum. 14.7. Prometeu, com juramento (|aeô’ ò p K O U GÒ|ioA.óyr|aev). Literalmente, “confessou com juramento”. Quanto a este verbo no sentido de promessa, ver Atos 7.17. 165
COMENTÁRIO MATEUS & MARCOS
Tudo o que pedisse (o kkv aíxrímTuai). Note a voz média de aitr|or|Tai. Herodes quis dar algo que a jovem pedisse (cf. Et 5.3; 7.2). 14.8. Instruída previamente (Trpopipao0€laa). Ver Atos 19.33 para um verbo semelhante (tTpopaA.óvxcúv), “impelindoo”. “Deve ter exigido bastante ‘educação’ para levar uma jovem a fazer tal pedido cruel e satânico.”20 Aqui (coõe), neste mesmo lugar, aqui e agora. “Num prato” (êni ttlvixkl), chapa, prato grande, bandeja. 14.9. Afligiu-se 21 (Àimr|0el<;22). No versículo 5, lemos que Herodes quis (GéÀcov) matar João Batista (kttoktcIvki). Porém, diante dos problemas de relações públicas que essa demonstração covarde de brutalidade e crueldade desencadearia, ele retrocedeu. Homens que fazem o mal sempre têm desculpas esfarrapadas pelos pecados que cometem. “Por causa do juramento” (õlò; touç òpKOUç), Herodes cometera o assassinato judicial do tipo mais revoltante. “Foi mais semelhante a um juramento profano do que a uma declaração deli berada e definitiva de um juramento solene.”23Ele estava levemente embriagado pelo vinho e um tanto quanto estonteado pela presença dos convidados. 14.10. Mandou degolar João (áTreice(J)áA.i.aÉV ’Iooávvr|v24). Um tempo causativo ativo de um verbo recente àvoKtfyaXÍCj.,), ele tirou a cabeça dele. 14.11. Ela a levou a sua mãe (rjveytcev zr\ nr|Tpl aúxfiç). Esta é uma cena horrível, quando Herodias testemunha com satisfação diabólica o triunfo do seu ódio implacável contra João Batista por ousar reprovar o casamento dela com Herodes Antipas. A lenda diz que Salomé desejava sexualmente João Batista, mas não há prova disso. 14.12. E foram anunciá-lo a Jesus ( koc! èÀGóvueç áirriYYeiÀav tcò TipoO). Depois que enterraram João Batista, os discípulos contaram a Jesus o ocorrido, que era o único que sabia realmente como João era grande. O destino de João prefigurava o que Jesus enfrentaria. De acordo com Mateus 14.13, assim que ficou sabendo do assassinato, Jesus retirouse ao deserto para ficar sozinho. Só por 166
Mateus 14
conta da tensão da recente excursão feita, Ele já estava precisando de descanso. 14.13. Num barco 25 [...] a pé (4v ttA.oí.0) ... TreÇrj). Em lugar de TTe£f}, alguns MSS têm Tre(tò. Note o contraste entre o lago e a rota por terra.
14.14. Os seus enfermos (touç àppúoTOUç oaiiwv). “Sem força”, ptóvvu[ii e a que indica negação ou privação. Intima compaixão (èoTTÀayxvíoGr)), um depoente passivo. O verbo dá a concepção judaica tradicional de os intestinos (a-nláyyva) serem o lugar da compaixão. 14.15. Sendo chegada a tarde 26 (ói)úaç ôè yevo[iévr|ç). Este é um genitivo absoluto. Os judeus marcavam o pôrdosol em cerca das seis horas da tarde, como em Mateus 8.16 e 14.23, mas a “tarde” começava às três horas da tarde. O lugar é deserto (wEpr||ióç kaxiv ó tóttoç). Para ficar sozinho, Jesus se dirigiu a um lado da montanha em uma região que estava relativamente despovoada, sem cidades grandes por perto. Agora muitas pessoas já o ouviram. Havia “aldeias” (Któp.aç) onde as pessoas poderiam comprar comida, mas elas teriam de ir andando agora para chegar lá enquanto houvesse luz do dia. Por isso que os discí pulos salientaram que “a hora é já avançada”27 ( t ) copa rjõr| rapfi XQev). Jesus deveria despedir as pessoas enquanto ainda houvesse tempo para acharem o que comer. 14.16. Dai-lhes vós de comer (ôóxe ocútoiç í)|ieiç cjjayeiv). A ênfase está em í)|_ieiç em contraste (note a posição) com o “despede” (áiróÀuaov). E o aoristo urgente de ação imediata (ôóte). Era uma ordem estarrecedora. Os discípulos tinham de aprender que “não há situação que lhe seja desesperadora, nem há dificuldade que lhe seja intratável”.28 14.17. Eles lhe disseram29 (ol ôè A.éyouaiv oartcô), terceira pessoa do plural do presente ativo do indicativo como presente histórico. Os discípulos prontamente apresentam as razões óbvias para explicar por que a tarefa imposta por Jesus não é praticável. 14.18. E ele disse (ó ôè eiTTtv). Aqui está o contraste entre a dúvida impotente dos discípulos e a ousadia confiante de Jesus. Ele 167
COMENTÁRIO MATEUS & MARCOS
usou “cinco pães e dois peixes” (Mt 14.17), que eles haviam mencionado como razão para não fazerem nada. Trazei-mos aqui (Oépexé [íol toôe auxoúç30). Eles não levaram em conta o poder de Jesus nesta emergência. 14.19. & assentasse sobre a erva (ávaKÀi0r|uoa èifi xoí> xópxoir31). Claro que a palavra significa “reclinar”, aoristo primeiro passivo do infinitivo. Um belo cenário no sol da tarde, eles assentados sobre a relva na encosta da montanha que dava para o oeste. A organização em centenas e cinquentas (Me 6.40)32 tornava fácil contar e alimentar as pessoas. Jesus estava em pé onde todos podiam vêlo partindo (KÃáaaç) os pães achatados judaicos e, em seguida, distribuindoos pelos discípulos. Este é o único milagre de natureza registrado por todos os quatro Evangelhos. Era impossível a multidão entender mal ou enganarse sobre o que estava acontecendo. Se Jesus é mesmo o Senhor do universo (Jo 1.118; Cl 1.1520), aquEle que criou tem poder para continuar criando o que quiser. 14.20. Saciaram-se (èxopxáaGriaav), terceira pessoa do plural do aoristo efetivo passivo do indicativo xopxá(o) (ver Mt 5.6). Derivado do substantivo xóptoç, “erva”. O gado se saciou com erva e as pessoas com outra comida. Todos ficaram satisfeitos. Dos pedaços que sobejaram doze cestos cheios (xwv KÀao|iáTGov ÔGÓÔÉKa Kocj)lvouç TrA.r|p6lç). Não os restos fragmentários espalhados pelo chão, mas os pedaços partidos por Jesus e que ainda estavam nos “doze cestos” (ôoóôékoc ko^lvouç) e não foram comidos. Cada um dos doze ficou com um cesto cheio de sobra (xò uepiaaeüov). Esperamos que o menino que tinha os cinco pães e dois peixes iniciais (Jo 6.9) tenha ficado com alguns dos alimentos extras. Cada um dos Evangelhos usa a palavra para cestos feitos de vime (ko^ívoç). A tradução de Wycliffe usou o termo “caixões”. Juvenal diz que o pomar de Numa, perto da porta Capeniana de Roma, era “deixado para os judeus cuja mobília compunhase de uma cesta ( cophinus) e um pouco de feno” (para uma cam a).33 Descrevendo a multiplicação dos pães, Mateus e Marcos usam a palavra orrupíç, referindose a um tipo de cesto ou cesta grande para provisões. 168
Mateus 14
14.21. Além das mulheres e crianças (xwpU y w a i K G Ô v Kod tolôícov). Talvez nessa ocasião não houvesse tantas mulheres e crianças como sempre por causa da pressa da multidão em torno da cabeceira do lago. Mateus acrescenta este detalhe. Ele não quer dizer que as mulheres e crianças não foram alimentadas, mas que entre “os que comeram” (ol êa0íovT€<;) incluíamse cinco mil homens (avôpeç), além das mulheres e crianças. 14.22. E logo ordenou Jesus que os seus discípulos entras sem no barco e fo ssem adiante, para a outra banda (Kod eú0éoo<; riyáyKaoey t o u ç )ia9r|xàç34 ê^pfjvai eíç t ò tt X o l o v k«1 Trpoáyeiv aikòv 6lç tò uépav). Literalmente, ele “compeliu” ou “forçou” (cf. Lc 14.23) os discípulos a partir. João 6.15 apresenta a ex plicação para esta palavra forte aqui e em Marcos 6.45. A multidão entusiasmada pretendia tomar Jesus à força para fazêlo o rei nacional. Esse procedimento teria desencadeado uma revolução política e a derrota de Jesus. Os discípulos poderiam ter se deixado levar por essa psicologia das multidões, porque eles compartilhavam a esperança dos fariseus de um reino político. Talvez Jesus tivesse mandado os discípulos saírem do caminho para acalm álos e permitir que Ele controlasse a multidão mais facilmente. Enquanto despedia a multidão 35 (ecoç ou áTToXúoi] touç ox^ouç). O uso da terceira pessoa do singular do aoristo ativo do subjuntivo com ecoç ou ecoç ou é uma linguagem grega comum, na qual o propósito ainda não é percebido (ver também M t 18.30; 26.36). A tradução às vezes poderia ser “enquanto” . O subjuntivo é retido depois de um tempo passado em vez da mudança para o optativo antigo grego ático. De qualquer forma, o optativo é muito raro, mas Lucas o usa com irplv í] em Atos 25.16. 14.23. Ao monte 36 (elç tò õpoç). Depois de despedir a multidão, Jesus subiu só ao monte, no lado oriental do lago, para orar como frequentemente fazia. Se alguma vez ele precisou da compreensão terna do Pai, foi agora. As multidões estavam se descontrolando no seu entusiasmo, e os discípulos o entenderam totalmente errado. Só o Pai poderia oferecerlhe ajuda. 169
COMENTÁRIO MATEUS & MARCOS
14.24. Açoitado pelas ondas 37 (PaoaviÇóiaevov ímò tcôv KU|acaa)v), como um homem com demônios (Mt 8.29). E possível ver, como Jesus viu (Me 6.48), o barco subindo e descendo no mar agitado. 14.25. Caminhando por cima do mar3* (n6p nnxTCÔv êirl rí]v Qákaaoav 39). Este é outro milagre da natureza. Certos estudiosos tentam explicálo insistindo que Jesus só estava caminhando ao longo da praia, e não sobre as águas, uma interpretação impossível, a menos que a narrativa de Mateus seja mito. No versículo 25, Mateus usa o acusativo. (extensão) com èni, e no versículo 26, o genitivo (especificando o caso). 14.26. Assustaram-se (4xapáx0r|oav). São traduções mais fortes: “Ficaram atemorizados” (BJ); “ficaram apavorados” (NTLH); “ficaram aterrorizados” (NVI); “ficaram aterrados” (ARA). Um fantasma (ávTao|ioc), “uma aparição” ou “um espectro”. O substantivo é relacionado a cj)avi;áÇcú, “aparecer” ou “fazer visível”, e daí de cfmvo), “brilhar” ou “dar luz”. Eles clamaram “com medo” (éíTÒ roí) (|)ópou). “Um pequeno toque de superstição de marinheiro.”40 14.28. Por cima das águas (eià xà üôotra). Pedro, como sem pre, é impulsivo. Mateus só dá este detalhe. 14.30. Mas, sentindo o vento forteAX (PAíttcov ôè iòv ave|j,ov). Esta é a fala popular (cf. Êx 20.18 e Ap 1.12, “ver a voz”, tt|v § íòvt \v ). Pedro viu o efeito do vento nas ondas.42“Uma coisa é ver uma tem pestade do convés de um navio robusto; outra, é vêla do meio das ondas.”43 Pedro estava começando a afundar (KaTairovTÍÇeaBou) no mar, embora, por ser pescador, fosse um excelente nadador.44 Senhor, salva-me (Kúpie, owoóv |ie). Era um momento dramático que arrancou um grito de Pedro. Com o aoristo, o significado era: “Faze depressa”. Ele caminhou sobre as águas até que viu o vento rodopiar as águas ao seu redor. 14.31. Por que duvidaste? (elç xí êôíaxaoaç;). No Novo Testamento, o verbo grego ocorre somente aqui e em Mateus 28.17. A palavra kôíoiaoaç é derivada de ôiaraÇw, que está relacionada a ôíç (duas vezes). Significa “puxado [por] dois caminhos”. A con 170
Mateus 14
fiança de Pedro no poder de Cristo deu lugar ao medo do vento e das ondas. Jesus, que estava em pé e parado sobre as águas, agarrou Pedro (6TTeA.ápeTO, voz média) e o levantou. 14.32. Acalmou 45 (èKÓTOaev), derivado de KÓTroç, “labutar”. O vento ficou cansado ou exausto. Ele se exaurira na presença do seu Senhor (cf. Me 4.39). Não é mera coincidência que o vento tivesse se acalmado exatamente nesse momento. 14.33. Adoraram-no (iTpoaeKÚvriaay aikcõ). Jesus aceitou a adoração dos discípulos. Eles estavam crescendo em apreciação da pessoa e poder de Cristo desde a atitude demonstrada em Mateus 8.27. Logo estarão prontos para a confissão que farão em Mateus 16.16. Já podem dizer: “És verdadeiramente o Filho de Deus”46 (’AA/r|0c3ç 0eoü ulòç et). A ausência do artigo perm ite que signifique um Filho de Deus, como o centurião diz em Mateus 27.54. Mas eles quiseram dizer “o Filho de Deus”, como Jesus afirmava ser. 14.34. Genesaré (rewrioapét), uma planície rica de sete quilômetros de comprimento por três quilômetros de largura no lado ocidental do lago.47Ao que parece, a prim eira visita de Jesus despertou a habitual empolgação por suas curas. 14.36. E todos os que a tocavam ficavam sãos4S (kcò. oooi TÍi|/avTO ôieoG)0rioav). Completam ente (ôi) curados. As pessoas estavam ansiosas em tocar a bainha do manto de Jesus, como fez a mulher em Mateus 9.20. Jesus honrou essa fé.
NOTAS ___________________________________________________ 1TR tem Hpcóôr)ç; TR e TM têm ó Tetpápxnç. 2A. T. Robertson, Commentary on the Gospel According to Matthew (Nova York: Macmillan, 1911), p. 175. 3“Herodes, o tetrarca, ouviu os relatos a respeito de Jesus” (NVI). 4“Oficiais” (BJ); “funcionários” (NTLH). 5“Nele operam forças miraculosas” (ARA). 6 Alexander Balmain Bruce, The Expositor s Greek Testament, vol. 1, The Synoptic Gospels (Grand Rapids: Eerdm ans, 1951), p. 206. 7Ibid.
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COMENTÁRIO MATEUS & MARCOS
8 Josephus, Wars o f the Jews, 1.30.7. [Edição brasileira: Guerras dos Judeus. Volumes I ao VIII (Curitiba: Juruá, 2002).] 9 Josephus, Antiquities o f the Jews, 17.5.2. [Edição brasileira: Flávio Josefo, História dos Hebreus: Obra Completa (Rio de Janeiro: CPAD, 1998).] 10H. B. Tristram, The Land o f Moab: Traveis an d Discoveries on the East Side o f the Dead Sea and Jordan (Nova York: Harper & Brothers, 1873). 11 John A. Broadus, Commentary on Matthew (Reimpressão, Grand Rapids: Kregel, 1990), p. 316. 12TR tem 'Hpcoõuxõa sem o iota subscrito. 13WH tem só um v errilwávriç. 14Broadus, Commentary on Matthew, p. 317. 15“Ora, por ocasião do aniversário de Herodes” (BJ). 16TR tem 'Hpcóôou, sem o iota subscrito. 17 Fayum Towns, 114(20), 115(8), 119(30). 18Persius, Sat. V., pp. 180183. 19“Dançou [...] diante de todos” (ARA). 20 Bruce, Expositor’ s, p. 207. 21 “Entristeceuse” (ARA). 22 TR e TM têm èÀinrr|9r|. 23Bruce, Expositor’ s, p. 207. 24 TR e TM incluem o artigo com o substantivo próprio, tòv ’lu>ávvr\v; WH tem só um v com o substantivo próprio,’Icoávr|v. 25 “De barco” (BJ). 26 “Ao cair da tarde” (ARA). 27 “Já está ficando tarde” (NVI). 28 Bruce, Expositor’ s, p. 209. 29 “Eles responderam” (ARA). 30 TR e TM têm uma ordem diferente de palavras, aútouç uõe. 31 TR e TM têm um caso e número diferente com a preposição: eiri toüç XÓpTOOUÇ. 32Robertson, Commentary on Matthew, p. 178. 33Juvenal, Satires, 3.14. 34TR inclui o sujeito específico do verbo e o pronome pessoal, fiváyKaaev o Irpoüç Touç iia0r|xáç aúxoü; TM inclui o mesmo que TR, com a exceção do pronome pessoal, aúroí) no fim. 35 “Até que ele despedisse a multidão ” (BJ); “enquanto ele mandava o povo em bora” (NTLH).
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36 “A um monte” (NVI). 37 “Fustigado pelas ondas” (NVI). 38 “Andando em cim a da água” (NTLH). 39 TR e TM têm um caso diferente com a preposição, €ttl xf\ç 9ccÀáaar|<;. 40 Bruce, Expositor’ s, p. 210. 41 “Mas, observando o vento forte” (AEC). 42 Robertson, Commentary on Matthew, p. 180. 43 Bruce, Expositor’ s, p. 211. 44 John Albert Bengel, New Testament Word Studies, vol. 1 (Reimpressão, Grand Rapids: Kregel, 1971), p. 197. 45 “Cessou” (ARA). 46 “Verdadeiramente és Filho de Deus!” (ARA). 47 Robertson, Commentary on Matthew, p. 180. 48 “E todos os que tocavam nela ficavam curados” (NTLH).
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Capítulo
15
Mateus 15.1. Escribas e fariseus ($
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pois de comer. Os mais rigorosos o faziam no meio das refeições. As mãos devem ser imersas. Depois, a própria água deve ser “limpa” e os copos ou potes usados devem ser cerimonialmente limpos. Os recipientes eram mantidos cheios de água limpa para pronto uso (ver Jo 2.68). Desta forma, levantase uma disputa central entre Jesus e os rabinos, muito mais do que um pormenor de etiqueta ou uma questão de higiene. Os rabinos consideravam a impureza ritual um pecado mortal. A confrontação pode ter atingido o ponto culminante na casa de um fariseu. 15.3. Vós também1 (xcà u|ieiç). Jesus reconhece que os discí pulos transgrediram as tradições rabínicas. Jesus trata este assunto como de pouca importância. A verdadeira questão era pôr a tradição dos anciãos no lugar dos mandamentos de Deus. Quando as duas observâncias conflitavam, os rabinos transgrediam o mandamento de Deus “pela vossa tradição” (ôià tfiv rrapáôooiv í)|ioôv). O acusa tivo com 5 iá significa “por causa de”, e não “por meio de”. A tradição não é boa ou ruim em si mesma. E meramente o que é passado de um para o outro. Os costumes tendiam a tomar as tradições tão obrigatórias como a lei. O Talmude é um monumento à luta com a tradição. Não podemos transigir neste assunto. Jesus apóia a verdadeira justiça e a liberdade espiritual, e não a escravidão à mera cerimônia e tradição. Os rabinos colocavam a tradição (a lei oral) acima da lei de Deus. 15.5. Mas vós dizeis (ò[iei<; õè Xéyexe). Essa expressão está em nítido contraste com o mandamento de Deus. Jesus citara o quinto mandamento (Mt 15.4; cf. Êx 20.12; Dt 5.16) com a penalidade: “Que morra de morte”3 (Gctvcao) teleutíruG)), “prossiga ao seu fim pela morte”, em imitação da linguagem hebraica. Esquivavamse deste mandamento divino sobre a penalidade por desonrar o pai ou a mãe através da tradição de K orba’n (no gr. KopP&v, Me 7.11). Tudo que se tinha de fazer para evadirse do dever ao pai ou à mãe era dizer “korba ’n ” ou “dádiva” (ôcôpov), com a ideia de usar o dinheiro para Deus. Através de um juramento inflamado de recusa em ajudar os pais, o juramento ou voto se tomava obrigatório. Por meio dessa “palavra mágica”, o indivíduo ficava livre (oi> |_if] xqrrioei, ele não 176
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honrará, Mt 15.6) da obediência ao quinto mandamento. Às vezes, filhos não filiais pagavam suborno aos legalistas rabínicos para usufruir de tal escape. Será que esses críticos que levantaram a questão do lavar as mãos não eram eles mesmos culpados disso? 15.6. Invalidastes [...] o mandamento de Deus 4 (r|Kupoóacae xòv A.óyoi' uou Geou5). Era uma acusação cortante que expunha a aspiração oca da questiúncula sobre lavar as mãos. A palavra KÚpoç quer dizer “força” ou “autoridade”, daí ckupoç significa “sem autoridade”, “nulo e sem valor”. E um verbo recente, áKupóco, mas na LXX, em Gálatas 3.17 e nos papiros, o adjetivo, o verbo e o substantivo ocorrem na fraseologia legal, como o cancelamento de um testamento. Jesus acusa que detalhes técnicos excessivamente minuciosos e conduta imoral anularam a força moral da lei de Deus. 15.7. Bem profetizou Isaías a vosso respeito6 (koíXgòç èfipocjjTÍ-ueuaey u e p i ú(ia)v 'Haaíaç 7). Há sarcasmo nesta aplicação expositiva das palavras de Isaías (Is 29.13, na LXX) a esses rabinos. A descrição era um retrato fiel de uma vida “ensinando doutrinas que são preceitos dos homens” (Mt 15.9). Na verdade, eles estavam longe de Deus se imaginassem que o Senhor se agradaria de tais dádivas à custa do dever para com os pais. 15.11. O que contamina o homem* ( t o ü t o kolvol t o v avGptoiTov). Esta palavra é derivada de koivÓç, que é usada em dois sentidos, ou o que é “comum” a tudo e geral, como o grego Koivri, ou o que é impuro e cerimonialmente “comum”, como na vida cotidiana. A “comunidade” cerimonial perturbou Pedro no terraço da casa em Jope (At 10.14; ver também At 21.28; Hb 9.13). Aquele que é religiosamente comum ou impuro está excluído de fazer atos religiosos. A “contaminação” era um assunto sério para os cerimonialis tas rabínicos. Jesus apela à multidão (Mt 15.10): “Ouvi e entendei” ('A K O Ú e t e K a ! a u v í e t e ) . Ele estabelece uma grande distinção. A im pureza moral é o que contamina ou torna comum. E o que deve ser temido, e não encoberto. “Isso vai além da tradição dos anciãos e praticamente abroga as distinções levitas entre puros e impuros.”9 Vemos os hipócritas e impostores tremerem diante dessas palavras contundentes. 177
COMENTÁRIO MATEUS & MARCOS
15.12. [Os fariseus] se escandalizaram (èoKavôcdíoGriaav), terceira pessoa do plural do aoristo primeiro passivo do indicativo. “Foram levados a tropeçar”, “ficaram ofendidos” (Moffatt), “se viraram contra ti” (Weymouth), “ficaram chocados” (Goodspeed).10 Ofenderamse (ficaram ressentidos e desgostos) por conta da repreensão pública, com a picada de escorpião da verdade. As faces carrancudas dos fariseus deixaram os discípulos intranquilos. 15.14. São condutores cegos (tucJjàoÍ. eíoiv óôriyoL11), um quadro vivo. Certa vez, em Cincinnati, um cego me apresentou ao seu amigo cego. Disse que ele estava “lhe mostrando a cidade”. Jesus não tem medo dos fariseus. Deixeos que continuem causando males. É uma expressão proverbial de que os líderes cegos e as vítimas cegas cairão no buraco no fosso. 15.15. Explica-nos essa parábola (3>páoov rpLV zr\v 'napapoA.iív za\Kr\i>). Os discípulos lhe pediram que explicasse a declaração ex pressa no versículo 11 e não a que está no versículo 14. Eles ficaram preocupados por causa da exposição extremamente incisiva de Cristo acerca da fraude relacionada à “korba >?” e das palavras sobre a “contaminação” (Mt 15.11). 15.16. Até vós mesmos estais ainda sem entender?12 (’Ak^V Kcd í)fj,eiç áoúvÉTOí ècrce). A palavra Ak[ít|v é um acusativo adver bial (o clássico cd%r|vr|, “ponta de uma arma”) é igual a ck[jf|v xpo voü (“neste ponto de tempo”, “agora mesmo”), que é igual a eiu. A palavra áK|iT}v ocorre em papiros e inscrições, embora seja condenada pelos gramáticos tradicionalistas. Jesus estava perguntando: “Apesar de todos os meus ensinos, vós também estais, como os fariseus, sem percepção e entendimento espiritual?” Nunca devemos esquecer que os discípulos viviam em um ambiente dominado pelos fariseus. A cosmovisão religiosa dos discípulos era determinada pelos fariseus. Estava faltandolhes inteligência ou sentimento espiritual, eram “totalmente ignorantes” (Moffatt). 15.17. Não compreendeis f...] ?'3 (oú voeiie [;]14). Cristo es pera que usemos o nosso youç, intelecto, não para sermos orgulhosos, mas para termos compreensão profunda e íntima das coisas. A mente não trabalha como quem nunca erra, mas deveríamos usála 178
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para o propósito determinado por Deus. A preguiça ou flacidez intelectual não faz parte do mérito de quem é temente a Deus. 15.18. Sai da boca (4k toü otóiíocuoç). As palavras faladas saem do coração e, portanto, são verdadeiros indicadores do caráter. Por “coração” (Kctpõíaç), Jesus não quer dizer só a natureza emocional, mas toda a vida interior dos “maus pensamentos” (ôiaÂoyio|iol ttõ vrpoí, Mt 15.19) que resultam em palavras e ações. “Isso contamina 0 homem”, e não o “comer sem lavar as mãos” . As evasivas capciosas dos fariseus, por exemplo, partiram de corações maus. 15.22. Uma mulher cananéia (yuvf) Xavavaía). Os fenícios eram descendentes dos habitantes cananitas originais da Palestina. Eram pagãos semitas. Tem misericórdia de mim (’EA.ér)oóv |ie). Ela se identificou com a situação da filha.15 15.23. Que vem gritando atrás de nós 16 (ott KpcéÇei ouioBev rilicôv). Os discípulos não gostaram da atenção pública que essa mulher estrangeira, gritando atrás deles, estava despertando. Eles não davam a mínima se a mulher fosse embora sem que a filha fosse curada. 15.24. Eu não fu i enviado (Oúk ài\eoxáXr\v), primeira pessoa do singular do aoristo passivo do indicativo de àuoo~.t)jM. Jesus toma uma ação diferente com essa fenícia pondo em teste o seu pedido e, desta forma, servindo de caso que estabelece precedente. Ela representava o problema do mundo gentio. Os judeus ainda eram as “ovelhas perdidas da casa de Israel”, apesar da conduta dos fariseus. 15.27. Mas também os cachorrinhos (kocI ... xà Kuvápia). Ela não se ofendeu por ser chamada um cachorrinho gentio. Pelo contrário, com veloz sagacidade, usou em vantagem própria a mesma palavra que Jesus usou para dizer “cachorrinhos” («wápia). Os cachorrinhos comem os pedacinhos de pão, as “migalhas” (i|jixlcov, outro diminutivo), que caem da mesa das criancinhas (Kupíoov). 15.28. Seja issofeito para contigo, como tu desejas 17(yevr|0r|TCú 001 gòç GéÂeiç). A sua grande fé e réplica perspicaz fizeram com que ela passasse no teste. 179
COMENTÁRIO MATEUS & MARCOS
15.29. Assentou-se lá (èncáGrixo èicel). Jesus estava assentado no monte perto do mar da Galiléia, possivelmente para descansar e desfrutar a visão, porém, mais provavelmente para ensinar. 15.30. E os puseram aos pés de Jesus (Wi €ppu|/oa> aüuoix; uapà Toijç TTÓõac ooitoü18). Uma palavra muito forte que poderia ser traduzida por “e os lançaram ao chão”. Os doentes não foram colocados de qualquer jeito, mas com pressa. Havia tantos que chegavam.19 Era um grande dia, porque “a multidão [...] glorificava o Deus de Israel” (Mt 15.31). 15.32. Três dias (rpépca xpelç 20). Um nominativo parentético feminino plural.21 Não tem o que comer (ouk exouoLv z í (Jxxywoiv). Esta é uma pergunta indireta com o subjuntivo deliberativo retido. Na primeira multiplicação dos pães e dos peixes, Jesus teve compaixão das pessoas e curoulhes os enfermos (Mt 14.14). Aqui, a fome da multidão o move à compaixão (oiTÀayxvíCofiai, em ambos os exemplos). Ele está pouco disposto (oi) Gélco) a mandar as pessoas embora com fome. Para que não desfaleça no caminho (èKÀuGoõoLv). Soltos, (èKÀúw) exaustos. 15.33. E os seus discípulos disseram-lhe 22 («m Àéyouoiv aúicò ol (j,aGr|T(xí23). Terceira pessoa do plural do presente ativo do indicativo como presente histórico. Em tão pouco tempo se esqueceram da primeira multiplicação dos pães e dos peixes (Mt 14.1321). Jesus os lembra de ambas as demonstrações do seu poder (Mt 16.9,10). Eles esqueceram as duas. Certos estudiosos ridicularizam a ideia de dois milagres tão semelhantes, embora ambos sejam narrados em detalhes por Marcos e Mateus e ambos sejam citados depois por Jesus. Era comum Jesus repetir pontos de ensino e fazer muitas curas semelhantes. Por que Ele não deveria usar a mesma estratégia milagrosa para satisfazer a uma necessidade semelhante? Agora ele está na região de Decápolis. 15.34. Uns poucos peixinhos (ólíyoc IxGúôia), outra vez um diminutivo. 15.35. No chão (êiu xf|v ynv). Em Mateus 14.19, a palavra usada traduzida por “abençoou” é eúÀóyrioev. Vincent comenta que 180
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o costume judaico era o dono da casa dar graças somente se ele fosse comer também, a menos que os convidados fossem os de sua própria casa.24 Mas não precisamos pensar que Jesus ficasse preso aos costumes judaicos. 15.39. Ao território de Magdala25 (elç rà òpia Mayaõáv26). No lado oriental do mar da Galiléia e, assim, mais uma vez na Galiléia. Marcos diz que a região era Dalmanuta (Me 8.10). Talvez seja, afinal de contas, o mesmo lugar que Magdala, como consta na maioria dos manuscritos.
NOTAS ______________________________________________ 1 Alexander Balmain Bruce, The Expositor’ s Greek Testament, vol. 1, The Synoptic Gospels (Grand Rapids: Eerdmans, 1951), p. 212. 2A BJ tem apenas “vós” (cf. NTLH; NVI). 3“Certamente será morto” (AEC); “terá que ser executado” (NVI). 4 “Vocês anulam a palavra de Deus” (NVI). 5TR e TM têm riKupwaaTE tr)v kvxoXr\v io0 Geou. 6“Isaías estava certo quando disse a respeito de vocês” (NTLH). 7TRs tem Trpoej)r|Teuaev; TRb e TM não incluem o v eufônico: irpO€r|Teua€. 8“Isto sim é o que contamina o homem” (AEC). 9Brace, Expositor s, p. 214. 10“Ficaram escandalizados” (BJ; NTLH). 11 TRs tem a ordem inversa de palavras: óõtiyol eloiv lutJiÀoí; TRb e TM eliminam o y eufônico: eloi. 12“Nem mesmo vós tendes inteligência?” (AEC). 13“Não percebem [...]?” (NVI). 14TR e TM têm oJjttw voetxe. 15“Minha filha está endemoninhada e está sofrendo muito” (NVI). 16“Pois vem clamando atrás de nós” (ARA). 17“Seja feito como queres” (BJ). 18TRtemnapà xouç tt óõaç touTrioou. 19 Marvin Richardson Vincent, Word Studies in the New Testament, vol. 1, The Synoptic Gospels (Reimpressão, Grand Rapids: Eerdmans, 1946), p. 89. 20TR tem fpépaç ipetç. 21 A. T. Robertson, A Grammar o f the Greek New Testament in the Light o f Historical Research (Nashville: Broadman, 1934), p. 460.
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COMENTÁRIO MATEUS & MARCOS
22 “Os seus discípulos responderam” (NVI). 23TR e TM têm o pronome pessoal, oi' maqhtai. a uvtou/. 24 Vincent, Word Studies, p. 90. 25 “Para a região de Magadã” (AEC). 26 TR e TM têm a grafia do substantivo próprio: Magdala.
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Capítulo
16
Mateus
ÍSMMSMtlM3JÊ!MMM3M5faMSf3M3MSMSM3J 16.1. Os far ise us e os saduceus (oí Oapiaoâoi Kcà SaõôouKaí 01 ). E a primeira vez que temos a combinação dos dois partidos que se detestavam um ao outro excessivamente. O ódio une estranhos aliados. Eles odiavam Jesus mais do que uns aos outros. A hostilidade não diminuiu durante a ausência de Jesus; só aumentou. Para o tentarem, pediram -lhe{ (iTeipáCovTeç éuripcóxriaav caruòv). O motivo deles era mau. Algum sinal do céu (arpeiov ék toü oúpotvoü). Os escribas e fariseus já tinham pedido um sinal (Mt 12.38). Agora esse novo agrupamento partidário acrescenta “do céu”. O que será que eles tinham em mente? Talvez não tivessem nenhuma ideia definida so bre como envergonhar Jesus. Os apocalipses judaicos falavam de espetaculares demonstrações de poder feitas pelo Filho do Homem (o Messias). O Diabo sugerira que Jesus deixasse as pessoas verem no caindo do pináculo do Templo, e o povo esperava que o Messias viesse de uma origem desconhecida (Jo 7.27) e que fizesse grandes sinais (Jo 7.31). Crisóstomo2propõe a detenção do curso do sol, o ato de embridar a lua ou o ribombo de trovão.
COMENTÁRIO MATEUS & MARCOS
16.2. Bom tempo (Eúôíct). Uma antiga palavra poética derivada de eu e Zeúç, como o regente do ar e o doador de bom tempo. Assim, hoje os homens dizem “quando o céu está vermelho ao pôrdosol”. Ocorre na Pedra de Rosetta e em um papiro de Oxyrynchus do século IV para descrever “tempo calmo” que toma impossível velejar de barco.3 16.3. Sombrio4 (azuyvá(tov), um céu coberto de nuvens. A palavra grega também é usada em relação a um semblante sombrio, como o do jovem rico em Marcos 10.22. Não consta em nenhuma outra parte do Novo Testamento. Este é o mesmo sinal de dia chuvoso que usamos hoje. A palavra grega traduzida por “tempestade” (-/i i[J.G.)v)5é a palavra comum para aludir a inverno e temporal. Os sinais dos tempos (zu ... orpeia z(òv Kcapwv). Os fariseus e saduceus entendiam muito pouco da situação. Em breve, Jerusalém seria destruída e o estado judeu acabaria. Nem sempre é fácil “diferençar”6(õiaKpíveiv, “discriminar”) os sinais de nosso tempo, mas não precisamos ser cegos quando os outros forem ingênuos. 16.4. Uma geração má e adúltera pede um sinal (T eveà Trovripà içai [ioixodiç orpeiov èTTiÇriTei). A exigência de um sinal é exatamente a que ocorre em Mateus 12, exceto que agora os oponentes de Jesus querem um sinal “do céu”. Assim, Jesus dá a mesma res posta exata como em Mateus 12.39, uma das verdadeiras parelhas da Bíblia. A única diferença é que Mateus 16.4 omite a descrição de Jonas como “o profeta”, toü irpo^riToO.7 16.5. Passando 8(èAGovieç). Isso provavelmente significa “foi”, como em Lucas 15.20 (o mesmo ocorre em Me 8.13, caTf|À0ev). Tinham-se esquecido9 (èneA.á0ovi;o). Talvez na pressa de deixar a Galiléia, provavelmente no mesmo barco em que vieram de Decápolis. 16.7. Eles arrazoavam entre siw (ôieÀoyíCovTo). Eles o mantiveram, terceira pessoa do plural depoente da voz média/passiva do im perfeito do indicativo. Era digna de pena a incapacidade de os discípulos entenderem a advertência parabólica de Jesus contra o “fermento dos fariseus e saduceus” (Mt 16.6), depois do confronto com ambos os partidos em Magdala. É “pães” (aptouç) em lugar de “pão”.11 184
Mateus 16
16.811. Não compreendeis ainda, nem vos lembrais [...]? (oüuoo voeiTe, oijôè lavrpoveúeTe). Jesus faz quatro perguntas contundentes, criticando a estagnação intelectual dos discípulos. Ele se refere à primeira multiplicação dos pães e peixes, e usa a palavra Kocjúvouç para aludir aos cestos usados para juntar os pães que so braram (Mt 16.9; cf. Mt 14.20). Ele se refere aos cestos maiores, aiTupíôac;, usados para juntar as sobras depois que os quatros mil foram alimentados (Mt 16.10; cf. Mt 15.37). Depois de esclarecer esse malentendido, ele repete a advertência para se guardarem do fermento dos fariseus e saduceus (Mt 16.11). Quem é professor entende que a paciência desse Professor estava no máximo. 16.12. Então, compreenderam (tóté ouvfjKav), terceira pessoa do plural do aoristo primeiro ativo do indicativo de ouvlt|)íl, “agarrar” ou “entender”. Depois dessa reprimenda e explicação elaborada, eles perceberam que por “fermento” Jesus queria dizer “ensino”. 16.13. Cesaréia de Filipe (Kaiaapelaç xf|ç OiAÍttttou). Sobre um dos picos do monte Hermom, essa cidade pertencia à administração do governante Herodes Filipe. Interrogou'2 (rípcóta), começou a perguntar, tempo imperfeito incoativo ou inceptivo. Jesus estava fazendo um teste com eles. A primeira pergunta dizia respeito à opinião dos homens sobre o Filho do Homem. 16.14. E eles disseram 13(oi òt e l m v 14). Os discípulos estavam prontos a responder, porque sabiam que a opinião popular estava dividida sobre esse ponto (Mt 14.1,2). Dão quatro opiniões. Jesus não mostrou muito interesse nessa resposta. Ele sabia que os fariseus e saduceus lhe eram amargamente hostis. As multidões só o estavam seguindo superficialmente, e nutriam expectativas vagas acerca dEle como um Messias político. O seu interesse concentravase mais nas observações feitas pelos discípulos e na fé em desenvolvimento. 16.15. E vós, quem dizeis que eu sou? ('Y|ielç ôè uiva |ie A.éyete eivai;). E o que importa. E o que Jesus queria ouvir. Note a posição enfática da palavra fyieiç: “E vós, quem dizeis [vós] que eu sou?” 16.16. Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo (Si) et ô Xpiauòç ó uiòç toD QeoO toü (wvto<;). Pedro fala por todos. Tratavase de uma 185
COMENTÁRIO MATEUS & MARCOS
nobre confissão, mas não uma nova declaração. Pedro já a fizera antes (Jo 6.69), quando a multidão abandonara Jesus em Cafamaum. Desde o início do seu ministério (Jo 4), Jesus evitara usar a palavra “Messias” por causa das conotações políticas ligadas ao título. Mas agora Pedro claramente o chama “o Ungido, o Messias, o Filho do Deus, o vivo” (note os quatro artigos definidos). Essa sublime confissão de Pedro significava que ele e os outros discípulos criam que Jesus era o Messias e eram verdadeiros, a despeito da deserção da populaça galiléia (Jo 6). 16.17. Bem-aventurado és tu (MaKápLoç el), uma beatitude para Pedro. Jesus aceita a confissão como verdadeira. Assim, nessa ocasião, Jesus reivindica ser o Messias, o Filho do Deus vivo; em outras palavras, Ele confirma a sua deidade. Os discípulos expressam a crença positiva no messiado ou qualidade messiânica de Jesus em contraste com as opiniões divididas da populaça. “Os termos que Jesus usa para falar de Pedro são característicos — ternos, generosos, irrestritos. O estilo não é de um editor eclesiástico que põe o fundamento para o poder da igreja e as pretensões prelatícias, mas de um Mestre magnânimo que, em termos comoventes, elogia um discípulo leal.”15O Pai ajudara Pedro nessa percepção espiritual so bre a pessoa e obra do Mestre. 16.18. Pois também eu te digo16(Kàyò õé ooi Àéyco). “A ênfase não está em ‘Tu és Pedro’ em contraste com ‘Tu és o Cristo’, mas em KayGÓ: ‘O Pai te revelou uma verdade, e eu também te conto outra’.”17Aqui, Jesus chama Pedro pelo nome que dissera que ele teria (Jo 1.42). Pedro (Iléxpoç) é simplesmente o correspondente grego de Cephas (aramaico). Outrora era profecia, agora é fato. No versículo 17, Jesus se dirige a ele por “Simão Barjonas”, o seu nome patronímico completo (aramaico). Mas agora Jesus tem um propósito especial para usar o nome que dera a Simão — “Pedro”. Jesus faz um incrível jogo de palavras com o nome de Pedro, um trocadilho que tem causado controvérsia numerosa e discussão teológica infindável. Sobre esta pedra ( cit ! tocÚ t t ] xfj uérpa), uma saliência de rochedo, ou um rochedo íngreme, ou uma pedra como em Mateus 7.24, no 186
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qual o homem prudente construiu a sua casa. Normalmente, uérpoç é um desmembramento menor de um rochedo maciço. Mas não devemos nos apegar excessivamente a esse quesito, visto que Jesus falou com Pedro em aramaico, que não tem tal distinção (Kr^âç). èKKA,r|oíav). O Edificarei a minha igreja (oLkoôo|ítÍooo |iou que Jesus quis dizer com esse jogo de palavras? É a ilustração de uma construção, de um edifício. Ele usa a palavra êKicA,r|aí.av, que em geral se refere a uma organização local no Novo Testamento. Entretanto, pode assumir um sentido mais amplo. Originalmente, a palavra significava “ajuntamento” (At 19.39; “assembléia”, ARA), mas veio a ser aplicada a uma “assembléia não reunida”, como em Atos 8.3, onde se refere aos cristãos que eram perseguidos por Saulo de casa em casa. “E o nome para o novo Israel, èKKÀrioLa, na sua boca não é um anacronismo. E um nome antigo bem conhecido para aludir à congregação de Israel encontrado em Deuteronômio (Dt 18.26; 23.2) e Salmos (SI 22.36), ambos livros que Jesus conhecia muito bem.”18 E interessante observar que a maioria das palavras importantes empregadas por Jesus nessa ocasião ocorre no texto do Salmo 89 na versão da LXX. Assim, ol«oôo|j,r|aGú em Salmos 89.5; eKKÀr|oía no versículo 6; KirrioxÚG) no versículo 22; Xpicnjóç nos versículos 39 e 52; aôqc; no versículo 49 ( é k xetpoç aôou). Se ficarmos intrigados com a conexão entre a palavra edificar e a palavra éKKÀrioía, 1 Pedro 2.5a explicanos: “Vós [...] também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual” (olKoõofietoGe oikoc; TTveuiiaTiKÓç). Pedro, o mesmo com quem Jesus está falando aqui, está escrevendo aos cristãos das cinco províncias romanas da Ásia (1 Pe 1.1). É difícil resistir à impressão de que Pedro está pensando nas palavras de Jesus. Mais adiante (1 Pe 1.9), Pedro diz que esses cristãos são parte de uma “geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa”. A edificação espiritual de Pedro é geral, e não local. Não há dúvida de que esta é a imagem que Jesus tem em mente em Mateus 16.18. A grande casa espiritual é o Israel de Cristo, e não a nação judaica. Qual é a pedra sobre a qual Cristo edificará o seu vasto tem plo? Não era só em Pedro. Por meio de sua confissão, Pedro fornece a pedra sobre a qual a igreja cristã firmará. Jesus edificará sobre o 187
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mesmo tipo de fé que Pedro confessou. Está garantida a perpetuidade dessa igreja geral. As portas do inferno não prevalecerão contra ela 19(núlcu aôou ou Koaiaxúoouoiy ai>Tf|<;). Cada uma dessas palavras cria dificuldade. Tecnicamente, o inferno (“Hades”, BJ; NVI) é o mundo não visto, o sheol hebraico, a terra dos mortos, que é a morte. Em 1 Coríntios 15.55, Paulo usa a palavra Gávate ao citar Oséias 13.14 referindose a aõr|. Não é termo comum nos papiros, mas é comum nas lápides espalhadas pela Ásia Menor, “indubitavelmente uma sobrevivência do uso feito na antiga religião grega”.20 Os pagãos antigos dividiam o Hades (palavra composta por a, elemento de negação, e íôeiv, ver, “domicílio dos não vistos”) em Elísio e Tártaro. Os judeus identificaram as partes de sheol em o seio de Abraão e a geena (cf. Lc 16.25). Jesus esteve no Hades (At 2.27,31), não na geena. Temos aqui a figura de dois edifícios. Primeiro, há a Igreja de Cristo sobre a sua pedra e, segundo, há a Casa da Morte (Hades). “No Antigo Testamento, ‘as portas do Hades’ (sheol) nunca tem outro significado (Is 38.10; cf. nos livros apócrifos de Sabedoria 16.3 e 3 Macabeus 5.51) senão a morte”, afirma McNeile21 (ver também SI 9.13; 107.18; Jó 38.17 (TTiJÀca Oaváxou uulcàpoi aôou). Cristo não fala sobre a possibilidade de o Hades vir a atacar a igreja. Mais exatamente, a questão é se a morte pode prevalecer ou obter uma possível vitória sobre a igreja. “A 6KKÀr|oí.a é edificada sobre o messiado do seu Mestre, e a morte, as portas do inferno, não prevalecerão contra ela mantendoo preso. Tratase de uma verdade misteriosa que logo Ele lhes contará usando termos mais claros (Mt 16.21); essa verdade é repercutida em Atos 2.2431.”22 A igreja de Cristo prevalecerá e sobrevirá, porque ele arrebentará as portas do inferno e aparecerá o conquistador. Ele viverá para sempre e será o fiador da perpetuidade do seu povo ou Igreja. O verbo Kaxioxúoo significa, literalmente, “ter força contra” (loxúoo derivado de ioxúç e koct ’). Também ocorre em Lucas 21.36 e 23.23. Aparece no grego antigo, a LXX, e nos papiros com o acusativo e é usado no grego moderno com o sentido de ganhar o domínio sobre algo. A riqueza de imagens em Mateus 16.18 toma difícil determinar cada detalhe, mas 188
Mateus 16
o ponto principal está claro: A èKKÀr|aía, que se compõe daqueles que confessam Cristo como Pedro acabou de fazer, não cessará. As portas do inferno ou barras do sheol não a fecharão, encerrando as atividades. Cristo ressuscitará e manterá a sua Igreja viva. “Porta Sublime” era o nome que os turcos davam ao seu centro de poder, a cidade de Constantinopla. 16.19. As chaves do Reino (zàç KÃelõaç rf|ç (3aaiA,eía<;). Temos novamente a ilustração de uma construção, um edifício com chaves para abrir pelo lado de fôra. Imediatamente levantamos a questão se Jesus não está querendo dizer a mesma coisa que “reino” como disse por “igreja” no versículo 18. Em Apocalipse 1.18 e 3.7, Cristo, o Senhor ressurreto, tem “as chaves da morte e do inferno”. Ele também tem “as chaves do Reino dos céus”, as quais entrega a Pedro como “porteiro” ou “mordomo” (oIkovÓhoç), contanto que não entendamos como prerrogativa especial e peculiar pertencente a Pedro. O mesmo poder aqui dado a Pedro pertence a todos os discí pulos de Jesus em todas as eras. Os defensores da supremacia papal insistem na primazia de Pedro aqui e no poder de Pedro passar essa suposta soberania a outros. Mas essa concepção erra o alvo. Logo veremos os discípulos disputando entre si (Mt 18.1) sobre qual deles é o maior no Reino dos céus. Eles ainda estarão nessa disputa na noite anterior à morte de Cristo (Mt 20.21). Está claro que nem Pedro nem os demais entenderam que Jesus quis dizer que Pedro tinha de ter autoridade suprema. O que vem a seguir esclarece a questão. Pedro tem as mesmas chaves dadas a todo pregador e pre letor bíblico. Tudo o que ligares na terra será ligado nos céus (o èctv ôipflç éttí tf|ç yf|<; ecnm ôeôe^évov kv toIç oíipavotç). Na linguagem ra bínica, “ligar” é proibir, “desligar” (A.úofl<;) é permitir. Pedro seria como um rabino que passa muitos pontos de lição. Os rabinos da escola de Hillel desligavam muitas coisas que os rabinos da escola de Shammai ligavam. O ensino de Jesus é o padrão para Pedro e para todos os pregadores de Cristo. Note o particípio futuro perifrástico perfeito (eoTca õeõe|_iévov, èarai A.eA.u|iévov), um estado de conclusão. Lógico que tudo isso presume que o fato de Pedro usar 189
COMENTÁRIO MATEUS & MARCOS
as chaves estará de acordo com o ensino e mente de Cristo. Em Mateus 18.18, Jesus repete ligar e desligar para todos os discípulos (Mt 18.18). Depois da ressurreição, Cristo usará essa mesma linguagem para com todos os discípulos (Jo 20.23). Pedro só era “o primeiro entre iguais”, primus inter pares, no quesito em que nessa ocasião ele falou pela fé de todos. É um violento salto na lógica entender que a linguagem rabínica técnica que Jesus empregou seja uma declaração de que Pedro recebeu poder para perdoar pecados. Todo crente que verdadeiramente proclama os termos da salvação em Cristo usa as chaves do Reino. A proclamação desses termos quando aceitos pela fé em Cristo tem a sanção e aprovação do Deus Pai. Quanto mais pessoais tomarmos essas grandiosas palavras, mais perto chegaremos da mente de Cristo. Quanto mais eclesiásticas as tomarmos, mais nos afastaremos dEle. 16.20. Que a ninguém dissessem 23 (iva [ir|ôevi éittüjoiv). Jesus tinha o cuidado de não fazer essa declaração em público. Ele era o Messias (ó Xpiouóç), mas as pessoas não entendiam o que isso significava. Elas viam o Messias necessariamente como uma figura política. É óbvio que Jesus ficou profundamente comovido com a importante confissão de Pedro como representante dos discípulos. Ele estava grato e confiante no resultado final. Mas previu perigos a todos. Pedro o confessara como Messias, e sobre esta pedra de fé assim confessada Ele edificaria a Igreja ou o Reino. Todos eles teriam e usariam as chaves deste maior de todos os edifícios, mas agora era hora de ficar em silêncio. 16.21. Desde então, começou Jesus (’AttÒ tóte rp&rro ó Triooüç). Era tempo apropriado para a revelação do maior segredo da sua morte. Restavam meros seis meses antes da cruz. Os discí pulos tinham de estar prontos. A grande confissão de Pedro mostrou que o tempo era apropriado. Ele enfatizará os avisos (Mt 17.22,23; 20.1719) que ele agora “começou” a ensinar. Só a duras penas eles entenderiam a necessidade ( õ e t , “convinha”) de ele morrer pela ação dos eclesiásticos de Jerusalém e ser ressuscitado “ao terceiro dia” (urj ipí^r] r][iépa).24 Muito vagamente os chocados discípulos compreenderam alguma coisa do que Jesus disse. 190
Mateus 16
16.22. Pedro, tomando-o de parte (upoola|3ófj,evoç aÚTÒv ó néijpoç). Voz média, “tomando para si mesmo”, à parte e separadamente, “como por um direito seu próprio. Ele agiu com maior familiaridade depois que recebera o símbolo de reconhecimento. Jesus, porém, o coloca no seu lugar” .25 “Pedro está com nova personalidade; há um minuto ele falou sob a inspiração do céu, agora estava sob a inspiração do extremo oposto.”26 A Versão Sinaítica Siríaca de Marcos 8.32 tem “como que tendo pena dele” . Mas essa exclamação e objeção de Pedro foram imediatamente obstadas por Jesus. Senhor, tem compaixão de ti;21 de modo nenhum te acontecerá isso ('lÀecóç col, KÚpie oú [ir] earai ooi xouxo). Fornecer eu] ou eotco ó 9eóç. E o tipo mais forte de negação, como se Pedro não o deixasse acontecer de jeito nenhum. Pedro tinha absoluta certeza; ele estava perfeitamente seguro. 16.23. Ele, porém, voltando-se 28 (ó ôè oxpacfiÈÍc;). Nominativo masculino singular do aoristo segundo do particípio passivo, ação ingressiva rápida, para longe de Pedro em revulsão e em direção aos outros discípulos (Me 8.33 tem êTTiOTpactjeú; koci iôcbv toÍjç |_ia0r|Tàç cakoü). Para trás de mim, Satanás ("YTraye Óttlooú |aou, Saravá). Pedro desempenhara o papel de pedra na nobre confissão e recebera o lugar de liderança. Agora ele desempenha o papel de Satanás e é mandado para a retaguarda. Pedro estava tentando Jesus a não ir à cruz, da mesma maneira que Satanás tentara Jesus no deserto. “Não há instrumentos de tentação mais temíveis do que amigos bemintencionados, que se importam mais com o nosso bemestar do que com o nosso caráter.”29 “Em Pedro, Satanás, que fôra expulso, voltara mais uma vez.”30 Que me serves de escândalo (oKavôaÀov ei è|iot>31). Genitivo objetivo. Pedro estava agindo como instrumento de Satanás, sem saber, mas verdadeiramente estava. Ele armara uma armadilha para Cristo que arruinaria toda a sua missão na terra. “Tu não és, como antes, uma pedra nobre, colocada na posição certa como sólida pedra de fundação. Pelo contrário, tu és agora uma pedra totalmente 191
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fôra do seu lugar adequado e colocada bem no caminho pelo qual devo andar — colocada como pedra de tropeço.” Não compreendes as coisas 32 (oú (JjpoveLç). “A tua perspectiva não é a de Deus, mas a do homem” (Moffatt). Você não pensa os pensamentos de Deus. Claro que a consciência da cruz não é uma ideia nova para Jesus. Não sabemos quando Jesus previu esse resultado não mais do que sabemos quando lhe surgiu a consciência messiânica. Os primeiros indícios dessa consciência lhe ocorreram quando Ele era um menino de doze anos, na ocasião em que falou sobre “a casa de meu Pai” (Lc 2.49, ARA). Agora ele sabe que tem de morrer na cruz. 16.24. Tome sobre si a sua cruz (ápáxco tov cnaupòv aúxou), tome de uma vez, tempo aoristo. Esta mesma declaração consta em Mateus 10.38. Mas aqui é pertinente na explicação da reprimenda que Pedro recebeu de Jesus. Apropria cruz de Jesus está à sua frente. Pedro ousara afastar Jesus de sua missão. Seria melhor o apóstolo enfrentar diretamente a própria cruz e, carregandoa, seguir a Jesus. Como figura de linguagem, os discípulos estavam habituados com carregar a cruz, visto que os criminosos eram crucificados fôra de Jerusalém. Siga (áKoAouGeiTCjo), terceira pessoa do singular do presente ativo do imperativo. Continue seguindo. 16.25. Salvar a sua vida (tt}v vJjuxtiv aúxoíj ocôoai). Jogo de palavras paradoxal com vida ou alma, usandoa em dois sentidos. O mesmo é verdade acerca de salvar e perder (ánoÀéo^). 16.26. Ganhar [...]perder (Kepôriar} .... (rpicoQíi ). Ambos na terceira pessoa do singular do subjuntivo aoristo (um na voz ativa, o outro na voz passiva), condição de terceira classe, indeterminada, mas com prospecto de determinação, apenas um suposto caso. O verbo grego traduzido por “perder” ocorre no sentido de ser multado ou punido com pagamento em dinheiro. E como consta nos papiros e inscrições. Em recompensa (ÒM~á.XAay\±a), como troca, acusativo em justa posição com tC. A alma não tem preço de mercado, embora o Diabo pense que tenha. “O homem tem de dar, entregar, renunciar a vida 192
Mateus 16
e nada menos a Deus; não há è.vxáXXa.y\xa que seja possível.”33Esta palavra òivxáXhv{\WL ocorre duas vezes em Sabedoria de Siraque: “Amigo fiel não tem preço” (Eclesiástico 6.15a, BJ). “Não existe preço para a que é bem educada” (Eclesiástico 26.14b, BJ). 16.28. Alguns há, dos que aqui estão (xiveç x(òv coõe eotcótcov34). Está Jesus se referindo à transfiguração, à ressurreição, ao Dia de Pentecostes, à destruição de Jerusalém ou à Segunda Vinda e julgamento? Tudo que sabemos é que Jesus tinha certeza da sua vitória final, que seria tipificada e simbolizada de muitas maneiras. O sim bolismo escatológico apocalíptico empregado por Jesus aqui não predomina no seu ensino. Ele o usou de vez em quando para descrever o triunfo do Reino, e não para apresentar o ensino completo sobre esse tema. O Reino de Deus já estava no coração dos homens. Haveria pontos culminantes e consumações.
__________________________________________________ NOTAS 1“Pediramlhe, para pôlo à prova” (BJ). O substantivo próprio ’ IrpoCç não consta no texto grego. 2 Chrysostom, Homily 53. 3Aleph e B e alguns outros manuscritos omitem os versículos 2 e 3. W omite parte do versículo 2. Esses versículos são semelhantes a Lucas 12.5456. McNeile os rejeita aqui. Alan H ugh McNeile, The Gospel According to St. Matthew: The Greek Text with Introduction, Notes, and índices (Reimpressão, Grand Rapids: Baker, 1980), p. 235. WH os coloca entre parênteses. Jesus repetia as declarações que fazia. Theodor Zahn propõe que Pápias acrescentou essas palavras a Mateus. Geschichte des neutestamentlichen Kanons (Erlangen: 18881892). 4 “Nublado” (NVI). 5“Chover” (NTLH). 6“Discernir” (ARA). 7TR e TM incluem toü upotj)r|TOu; GN T/NA e WH não incluem toü irpo(j)r|TOÍ). 8“Tendo [...] passado” (ARA); “indo” (NVI). 9“Esqueceramse” (ARA). 10“Discutiam entre si” (AEC). 11“Pão” (AEC; NTLH; NVI; ARA; ARC); “pães” (BJ). 12“Perguntou” (ARA). 13“E eles responderam” (ARA).
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COMENTÁRIO MATEUS & MARCOS
14 TR e TM têm Oi õè elirov. 15 Alexander Balmain Bruce, The Expositor’ s Greek Testament, vol. 1, The Synoptic Gospels (Grand Rapids: Eerdmans, 1951), p. 223. 16“E eu lhe digo” (NVI). 17 McNeile, Matthew, p. 240. IS Bruce, Expositor s, pp. 223, 224. 19“As portas do Hades não poderão vencêla” (NVI). 20 James Hope Moulton and George Milligan, The Vocabulary o f the Greek Testament (Londres: Hodder & Stoughton, 1952), p. 9. 21 McNeile, Matthew, p. 242. 22 Ibid. 23 “Que não contassem a ninguém ” (NVI). 24 “Ao terceiro dia” e “depois de três dias” são termos claramente equivalentes. Em liberdade de expressão, “depois de três dias” pode ainda ser no terceiro dia, mas não pode significar no quarto dia. Ver T. Robertson, Commentary on the Gospel According to Matthew (Nova York: Macmillan, 1911), p. 193. 25 John Albert Bengel, New Testament Word Studies, vol. 1 (Reimpressão, Grand Rapids: Kregel, 1971), p. 214. 26 Bruce, Expositor’ s, vol. 1, p. 226. 27 “Deus não o permita, Senhor!” (BJ; cf. NTLH); “nunca, Senhor!” (NVI). 28 “Jesus virouse” (NVI). O substantivo próprioTriaoüç não consta no grego texto. 29 Bruce, Expositor s, vol. 1, p. 226. 30 Alfred Plummer, An Exegetical Commentary on the Gospel According to Saint Matthew (Reimpressão, Grand Rapids: Eerdmans, 1956), p. 234. 31 TR e TM têm OKávòaXóv |iou el. 32 “Não compreendes as coisas” (AEC); “[você] não pensa nas coisas” (NVI); “não cogitas das coisas” (ARA). 33 McNeile, Matthew, p. 247. 34 TRtem Tiveç tcõv cSôe êcn;r|KÓTWv; TM tem xiveç uõe èoTCÔxeç.
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Capítulo
17 Mateus 17.1. Seis dias depois (|ie0’ rpépaç e£). Pode ser no sexto dia, mas, como Lucas diz, “quase oito dias depois” (Lc 9.28), só podemos concluir que foi aproximadamente uma semana. Não há por que tentar ser preciso, visto que o número exato de dias é irrelevante para a narrativa. Tomou Jesus consigo (irapo'Acqj.ßcti'ei ó Trioouç), tradução literalmente correta. Note o presente histórico. Pedro, Tiago e João formam um círculo interno dos apóstolos de Jesus. Esses três mostraram que entendiam mais o Mestre. Os mesmos três estariam no jardim do Getsêmani. Os conduziu em particular a um alto monte (àvax\)( pc i aikouç úq òpoQ ínjrriÀòv), provavelmente de novo ao monte Hermom, em bora não saibamos. “O monte da transfiguração não diz respeito à geografia”, de acordo com Holtzmann. Em particular (kcct’ Lõíav); Marcos 9.2 acrescenta “sós” (laóvouç). 17.2. E transfigurou-se diante deles (|a.eTe|aopc|3CÓ0ri <É|iTTpocf9ev carcGJv). A palavra grega é igual a metamorfosear 1da mitologia pagã. Lucas, falando aos gentios, não a usa. A ideia é mudança (jiera) de
COMENTÁRIO MATEUS & MARCOS
forma (|aopct>r|). Apresenta a essência real de uma coisa em distinção a oxrj|j,a (modelo), o acidente externo. Em Romanos 12.2, Paulo usa os dois verbos, (ir] auaxrnurcíCeoGe (“não vos conformeis”) e [letaiiop (jjoGoGe (“transformaivos”). Em 1 Coríntios 7.31, Paulo usa oxrpa para referirse à “aparência” do mundo, ao passo que em Me 16.12 |iop4>ií é utilizada para aludir à forma de Jesus depois da ressurreição. Em 2 Coríntios 11.1315, ele usa a palavra |ietaaxr|^ai:íao|J.oa para descrever os falsos apóstolos (“transfigurandose”, “se transfigura” e “se transfigurem”). Em Filipenses 2.6, èv |iop4>fj (“forma”) diz respeito ao estado préencamado de Cristo, e em Filipenses 2.7, liopcf^v òoijÃou (“forma”) alude ao estado encarnado, ao passo que apítiaTL úç av0p(i)TToç enfatiza o fato de ele fazerse “semelhante aos homens”. Traduzir por “metamorfoseouse” em Mateus 17.2 é incorreto por causa de suas associações pagãs. “Transfigurouse”, da Vulgata Latina transfiguratus est é melhor. “Vemos a força mais profunda de |ieicqiop4)oíja0ca em Romanos 12.2 e em 2 Coríntios 3.18 (com referência ao brilho no rosto de Moisés [“transformados”]).”2A palavra ocorre em um papiro do século II acerca dos deuses pagãos que são invisíveis. Mateus se previne da ideia pagã, acrescentando e explicando que o rosto de Cristo era “como o sol” e que as suas vestes eram “como a luz”. 17.3. Lhes apareceram Moisés e Elias3(âxj)0r| oorcolç Ma)i}af|<; «m ’H/áaç4). Terceira pessoa do singular do aoristo passivo do indicativo com Moisés (também entendível com Elias), mas o particípio avllà ÀouvTeç é plural, concordando com os dois. “A visão é desfrutada por todos os três, fato que garante objetividade suficiente.”5Os apocalipses judaicos revelam as expectativas populares de que Moisés e Elias reapareceriam. Ambos tiveram aspectos misteriosos relacionados à morte de cada um. Um representava a lei, o outro, a profecia, ao passo que Jesus representava o evangelho (a graça). Eles “falavam da sua morte” (Lc 9.31). A cruz era o tema mais sublime na mente de Cristo. Os discípulos não estavam compreendendo, por isso Jesus recebe o consolo necessário pela companhia de Moisés e Elias. 17.4. Pedro, tomando a palavra, disse a Jesus (áuoKpiOeiç 5è ó néxpoç eÍTTev tu Tr|ooO). “Pedro se destaca novamente, mas não 196
Mateus 17
tanto para a sua honra.”6 Não está claro o que Pedro quer dizer com a declaração: “Bom é estarmos aqui” (Kcdóv éoiiv fpâç coõe eívai). Lucas acrescenta: “Não sabendo o que dizia”, visto que “estavam carregados de sono” (Lc 9.32,33). Portanto, não é bom levar Pedro muito a sério nessa ocasião. De qualquer forma, ele faz uma proposta clara e específica. Façamos1 (ttoltíoco 8), primeira pessoa do singular do futuro ativo do indicativo, embora o subjuntivo aoristo tenha a mesma forma. Três tabernáculos 9(Tpetç OKr\váç,), tendas, barracas. A Festa dos Tabernáculos não estava longe. Pedro pode ter pretendido dizer que eles deveriam ficar no monte e não ir a Jerusalém durante a festa. 17.5. Lvr) Uma nuvem luminosa os cobriu 10 (vecjxÉÀri êrreaKÍaaey aúroúç). Eles estavam em um lugar elevado, lugar de nuvens, quando uma nuvem os engolfou em volta e por cima deles. Ver este verbo usado acerca de Maria (Lc 1.35) e acerca da sombra de Pedro (At 5.15). Este é o meu Filho amadou (OutÓç etmv ô ulóç pou ó áyairr|TÓç). No batismo de Jesus (Mt 3.17), essas palavras foram dirigidas a Ele. Aqui, a voz que saiu da nuvem luminosa fala com esses três discí pulos acerca de Jesus. Escutai-o (dcKoúexe carcoü), mesmo quando Jesus falar sobre a sua morte. É uma repreensão mordaz a Pedro por querer consolar Jesus sobre a sua morte. 17.7. E, aproximando-se Jesus, tocou-lhes12 ( k k 'l TTpoof|A.9ev ó ’Ir|oouç Kcà à\|já|j,evoç auiGÒv 13), ternura e afeto no momento em que eles sentiam medo. 17.8. E, erguendo eles os olhos 14(empaviec; õè touç ócj)6aA.|iouc; airccôv), depois do toque tranquilizador de Jesus e de suas palavras de alegria. Ninguém viram, senão a Jesus'5 (oüôéva eíõov el pf| oíijtÒv ’IriooOv [ióvov16). Moisés e Elias tinham ido embora com a nuvem luminosa. 17.9. Até que o Filho do Homem seja ressuscitado dos mortos (écoç ou ó uLòç Tot) ávGpúuou <èk veKpwv eyepGfj). Essa conjunção 197
COMENTÁRIO MATEUS & MARCOS
é comum com o subjuntivo para dizer um acontecimento futuro, a sua ressurreição (éyepGfi). Mais uma vez eles ficaram sem entender o que significavam essas palavras (Me 9.10). Lógico que Jesus esperava que a sua glória e essa visão de Moisés e Elias prestassem um bom serviço referente à sua morte. 17.10. É mister que Elias venha primeiro (’HÀÍav17õet éÀGei rrpákov). Essa questão teológica os interessava mais que qualquer outra coisa. Eles haviam acabado de ver Elias, mas Jesus, o Messias, viera antes de Elias. Os escribas usavam Malaquias 4.5. Jesus tam bém falara de novo sobre a sua morte e ressurreição. Eles não conseguiram juntar todos esses elementos para entender. 17.12. Elias já veio (’HAÍaç18f|ôr) r|/,0ev). Jesus identifica João Batista com a promessa em Malaquias, embora não com a pessoa de Elias (Jo 1.21). Não o conheceram (oúk énéyvwaav aúxòv), terceira pessoa do singular do aoristo segundo ativo do indicativo de èiuyivGXJKGO, “reconhecer”. Da mesma maneira que eles não reconheceram Jesus (Jo 1.26), não reconheceram João. Por conseguinte, João morrera e Jesus logo morreria. 17.13. Então, entenderam os discípulos (totc auvf|Kav oi \iã 0rpm). Um dos três aoristos de k . Ficou bastante claro para eles. João Batista era como Elias em espírito e preparara o caminho para o Messias. 17.15. [Ele] é lunático19 (aeÀ.r|viáÇeToa). Significa, literalmen te, “afetado pela lua”. Supunhase que os sintomas da epilepsia se agravassem com as mudanças da lua (cf. Mt 4.24). E sofre muito 20 ( kcc I kockcoç 7 r á a % < H ) como ocorre frequentemente nos Evangelhos Sinóticos. 17.17. O geração incrédula e perversa!21 (TQ yeveà enuaxoç Kcà òL6axpa[ifiéyr|), torcida, tortuosa, trançada em duas, corrupta. Nominativo singular feminino do particípio perfeito passivo de ôiaoTpécjjGO.
17.20. Por causa da vossa pequena fé 22(Aià xf]v óA.LyoTTiaiía ò[iGÕv23), uma boa tradução. Era menor que “um grão de mostarda”24 (còç kokkov oLvánewç, Mt 13.31). Eles não tinham a fé de milagre. 198
Mateus 17
De acordo com Bruce, “este monte” é o monte da transfiguração para o qual Jesus apontou.25Se for verdade, então ele está ensinando em uma parábola. O nosso problema sempre é com “este monte” que obsta o nosso caminho. Passa (Merapa26). Uma forma de |iexápr|Qi, imperativo de [iecapcávci), “mudar de lugar”. 17.23. is eles se entristeceram muito27 (kocI éA.u'írr|6r)aav ocjjóôpa). Finalmente, os discípulos entenderam que Jesus estava falando so bre a sua morte e ressurreição. 17.24. Os que cobravam as didracmas2S (ol zà ôiõpaxMa Ãa[ipávoyieç). Esse imposto do Templo perfazia uma dracma ática ou meio siclo judaico,29 cerca de um terço de dólar. Todo judeu de vinte anos de idade para cima tinha de pagar essa importância para a manutenção do Templo. Mas não era um imposto compulsório como o cobrado pelos publicanos para o governo romano. “O imposto era como uma taxa eclesiástica voluntária; ninguém era obrigado a pagar.”30A mesma palavra grega ocorre em dois papiros egípcios do século I d.C. para aludir ao recibo do imposto do templo de Suchus.31 Esse imposto do Templo de Jerusalém era recolhido no mês de adar (março); agora fazia quase seis meses que estava vencido e não fôra pago. Mas na maior parte deste tempo, Jesus e os doze tinham estado fôra da Galiléia, daí a pergunta dos cobradores de impostos. O pagamento só podia ser feito com o meio siclo judaico, assim os cambistas tinham um negócio próspero cobrando uma pequena porcentagem pela moeda judaica. O lucro chegava a quarenta e cinco mil dólares por ano. E significativo eles terem abordado Pedro em vez de Jesus, talvez não desejando envergonhar “o vosso mestre”, fato que “indica indiretamente que o imposto estava vencido e não fôra pago”.32 Evidentemente, Jesus tinha o hábito de pagar o imposto de Pedro. 17.25. Jesus se lhe antecipou33 (iTpoécjjGaoev aútòv ò ’Iipoüç Àéyuy). A palavra TTpoécjíGaaev só ocorre aqui no Novo Testamento. Achouse uma ocorrência em certo papiro datado de 161 d.C.34 O antigo uso idiomático de cfiGávco com o particípio sobrevive nessa ocorrência de TTpocj)9áv(o no versículo 25, significando “antecipar 199