Tema 5 A animação de leitura na biblioteca escolar Subtema 5.1 Estratégias gerais de animação de leitura na biblioteca escolar Pela nossa experiência temos constatado que para fazer os jovens ler é preciso criar estratégias de animação que os estimulem para o prazer da leitura. Segundo Díaz (1997) são três os factores que levam os jovens a aproximar-se dos livros: NECESSIDADE PESSOAL OU CURIOSIDADE - O aluno aproxima-se dos livros porque advém de si uma necessidade de encontrar dentro de um livro algo de que precisa, ou então por mera curiosidade de percorrer o que o autor inscreveu nas páginas em branco. EXEMPLO - é determinante para o aluno que o professor, os pais e familiares se interessem por ler, lhes demonstrem a sua importância e partilhem com eles experiências de leitura. EXPRESSÃO - Devem criar-se condições para que o aluno fale acerca das suas leituras, recebendo da parte de quem os ouve empatia e reconhecimento pela actividade desenvolvida. As estratégias de animação que em seguida apresentamos fundamentam-se nestes pressupostos e procuram desenvolver esses factores acima apresentados. Como se trata de um curso de bibliotecas escolares consideramos que a biblioteca escolar ou mediateca deverá ser o pólo difusor destas actividades, embora se pressuponha uma grande interacção com a sala de aula, quer no que respeita à aula de português quer numa perspectiva transversal com as outras disciplinas do curriculum. Para Glória Bastos (1999) deve fazer-se uma distinção entre a leitura individual e a animação. Se a leitura é um acto individual, voluntário, silencioso, que exige esforço, atenção e concentração num ambiente calmo, a animação de leitura é um acto colectivo, social, dirigido que implica ruído, mobilidade com um carácter lúdico, festivo e gratuito. Desta forma, a animação implica estratégias como a leitura em voz alta, da parte de professor e dos alunos bem como momentos partilha de leitura e debate em grupo e até elaboração de textos diversos sobre as leituras feitas. Segundo esta autora neste domínio não há "receitas infalíveis nem fórmulas mágicas, mas é na variedade das experiências tentadas e na troca de conhecimentos, que cada animador vai ganhando confiança" O animador deve ser um entusiasta na leitura e um trabalho de animação deve ser um trabalho sistemático, recorrendo a uma grande diversidade de estratégias. Para Mercedez Manzano (1985) "a criança é capaz de criar a sua própria linguagem, em que os gestos, a mímica e o movimento ocupam um lugar tão importante como a palavra". Segundo a sua perspectiva é muito importante cultivar, ao mesmo tempo que a capacidade de leitura e a expressão oral, as capacidades que compõem a linguagem da acção: expressão gestual, corporal, mimo, pantomina e dramatização. Apresentamos algumas estratégias de animação para os mais pequenos (educação de infância ou 1º ciclo) que poderão ter sede na sala de aula num cantinho de animação, vulgarmente designado por "cantinho da leitura"ou atelier de histórias ou na própria biblioteca.
Actividades de animação a realizar no atelier de histórias: • Narração estruturada e a discussão orientada de experiências vividas individual ou colectivamente. • Narração de histórias do quotidiano da criança. • Descrição de acções a realizar - questionamento e resposta formal sobre o que foi ouvido. Compreensão e Expressão oral: • Audição de histórias (contadas e lidas) • Esta actividade deve ser precedida da criação de um ambiente de expectativa: o Observação da capa do livro e do título o Exploração das ilustrações e do aspecto gráfico o Comentário livre, por parte da criança, do conteúdo da história ou reinvenção da mesma o Memorização de fórmulas iniciais e finais dos contos o Compreensão e comentário do conteúdo das histórias o Identificação das sequências da narração, personagens o Recontar contos ouvidos o Brincar com diferentes inflexões e ritmos o Jogar com rimas o Marcar o ritmo de um poema com palmas ou gestos Expressão Dramática: • Reconhecer personagens pelos gestos e movimentos • Compreender e reconhecer momentos da narrativa pelo gesto e andar • Reconhecer personagens pelo ritmo do andar • Mimar personagens em acção • Dramatizar cenas narradas • Encenar o conto • Construir e representar a sucessão lógica do conto Expressão Plástica: • Desenhar personagens ou modelagem em argila • Recortar personagens para sombras chinesas • Construir fantoches Expressão Musical: • Criar a música para uma história ou poema dados • Acompanhar a leitura da história ou do poema com um instrumento musical Estas actividades devem constituir para a criança verdadeiros momentos de prazer e de desenvolvimento interior. Algumas delas poderão ser realizadas na biblioteca de forma a que se familiarize com este espaço. A renovação dos livros do cantinho de histórias pode ser feito com ela, através do livros da biblioteca que deverá começar a manusear e aprender a estimar e conservar. Se pais e professores a estimularem a ter a sua biblioteca pessoal , ela poderá, também, trazer os seus livros para a escola e fazer intercâmbio com os colegas através da biblioteca da sala de aula. Apresentamos, seguidamente, diversos tipos de animação de leitura, a partir de uma tipologia feita por Christian Poslaniec (1995). Estas actividades são sobre o livro em geral e deixamos para o capítulo seguinte outras propostas de animação com uma vertente mais didáctica. Elas são preferencialmente direccionadas para o domínio da
leitura recreativa, podendo haver algumas delas que se ajustem a projectos de leitura orientada numa articulação estreita com a disciplina de português.
Animação de Informação Um dos primeiros factores é permitir o acesso da criança aos livros . Consiste sobretudo em apresentar livros, de forma variada e atractiva. Com este objectivo propomos as seguintes actividades: • Actividades para identificação do acervo de livros: o elaboração de quadros e etiquetas informativas para salientar os temas dos livros. o dossier com as fotocópias das últimas novidades. o catálogos das várias editoras com as últimas novidades editoriais. o pesquisa por autor ou por tema. o Preenchimento de uma ficha dos aspectos paratextuais do livro (capa, contracapa, lombada, autor, editor, ilustrador). Exposição dos livros da biblioteca alusivos a: • efemérides - poderão aproveitar-se os dias nacionais ou mundiais para celebração de diversos temas para expor livros alusivos. O aproveitamento de determinados acontecimentos como "o caso Prestige" poderá ser uma excelente motivação. • temas definidos para trabalho na sala de aula ou nos projectos interdisciplinares. Jogos com roteiro de identificação dos livros Caça ao livro nas estantes: Os alunos deverão procurar os livros através de: • TEMAS RECORRENTES - fadas, anões, bruxas, animais são temas repetidos nas histórias. • PERSONAGENS EM CARTÃO - distribuem-se cartões referentes às personagens dos livros escolhidos. • OBJECTOS IDENTIFICADORES - colocam-se numa mesa diferentes objectos referentes a uma história ( navalha, viola, pincel do barbeiro, o macaco - História do macaco com o rabo cortado ). • CAPAS DOS LIVRO SEM PUZZLE - o animador deverá levar materiais para a construção de puzzles alusivos a diferentes histórias seleccionadas. O livro / o autor/ o ilustrador do mês - na organização desta animação dever-se-á recorrer a material bastante diversificado: • informações sobre o autor ( recolhidas em enciclopédias, brochuras e livros publicados por editoras) • bibliografia: expor outras obras do autor existentes na biblioteca ou fotocopiar as capas numa cartolina; • prémios, críticas recortes em suplementos (Expresso, Público, D.N, Revista Malasartes) • cassetes vídeo ou filmes ou outros espectáculos relacionados com a obra • promover a troca de correspo dência com escritores e ilustradores • elaborar e ir actualizando na biblioteca um ficheiro de nomes, moradas, etc. • afixar um mapa com as livrarias da zona
afixar cartazes e listas de selecção de livros (IPBL). Trocar informações com o livreiro local, informá-lo sobre as preferências dos alunos ou sobre as obras do programa; discutir possibilidades de promoções e descontos. A roda dos livros - trata-se de uma actividade de exposição de vários livros que interessem à criança de forma dinâmica, falando sobre a história, as personagens, lendo excertos significativos, mostrando as ilustrações sem obrigatoriedade de leitura. Esta actividade pode ser feita pelo educador, professor ou pela criança. • •
Levar a biblioteca aos leitores - consiste em criar pequenos núcleos de biblioteca, com carácter temporário. Uma pequena banca de livros dinamizada pelos próprios alunos (no átrio da escola ou no refeitório ou bar). A biblioteca pública pode implementar uma pequena biblioteca no jardim, na praia ou na piscina. Na banca poderão ser vendidos materiais feitos pelos alunos, alusivos aos livros: marcadores, postres, cartazes, t-shirts, etc. Animação lúdica - este tipo de actividades procura estabelecer uma mediação entre o livro e o leitor .Elas poderão ter um carácter temporário ou prolongar-se no tempo. O museu dos contos - consiste em criar um museu com objectos retirados dos contos. Os alunos terão de trazer objectos que apareçam nos contos, como a flauta de Hamelim, a maçã da Branca de Neve ou a vassoura da Gata Borralheira. É importante que os objectos tenham alguma autenticidade para que o projecto seja credível. Uma vez recolhidos os objectos deve ser feita uma ficha do objecto e do respectivo dono. A entrada no museu far-se-á mediante o pagamento prévio de uma entrada, que poderá consistir na entrega de uma poesia, uma trava-língua, uma adivinha. O álbum de cromos - trata-se de uma boa forma de tornar populares as personagens dos livros. Consiste em ir formando uma colecção de cromos com diversas personagens de livros e de contos que existam na biblioteca. Primeiro, seleccionam-se os livros que vão fazer parte do álbum. Os títulos escolhidos devem ser conhecidos dos alunos . O animador organiza o álbum de acordo com as histórias escolhidas deixando o espaço para colar os cromos ilustrativos de cada história. Os cromos foram anteriormente feitos pelo professor ou pelos alunos ( se possível com a colaboração do professor de plástica ou educação visual). A exploração das inúmeras possibilidades destes materiais com o intuito de animar a leitura das histórias ficará entregue à imaginação de cada animador. O conto proibido -o professor leva para a aula, durante vários dias, um livro oculto por um papel de embrulho ou de jornal. Sem fazer referência ao livro, vai despertando a curiosidade dos alunos. Quando houver curiosidade por parte das crianças, pode ir-se lendo parágrafos ou excertos da obra. O livro será lido na aula e em seguida colocado na biblioteca. A maleta do indiano - Numa maleta velha e usada colocam-se uma série de objectos, uns vulgares, outros exóticos. Leva-se a mala para a aula e vai-se tirando um objecto, a partir do qual se começa uma narrativa. Em seguida tira-se outro e continua-se a história. Termina-se convidando os alunos a retirar um objecto e a prosseguir, até não restarem mais objectos na maleta. Uma das múltiplas variantes desta actividade é
substituir os objectos por cartas. Cada carta pode consistir numa ilustração, numa palavra ou numa frase que remetam para personagens, objectos (mágicos) e paisagens ou ambientes. Os contos das avós - Os avós contavam antigamente contos à lareira. Pode recuperar-se essa magia, levando os mais velhos à escola para contar as suas próprias histórias ou as que eles ouviram. Nada melhor para valorizar a cultura dos mais velhos. À volta dos contos - são fornecidos contos aos alunos, com diversas propostas de actividades: completar a história, dar um final diferente, transformar o enredo em notícia de radio ou anúncio publicitário, descobrir outro final para a história, dramatizála, fazer uma banda desenhada. Livros vivos- consiste em tornar reais - através do recurso ao disfarce - as personagens e situações do livro. Esta actividade pode ser concretizada de acordo com diferentes oportunidades: desfile ou baile de Carnaval, o dia do livro, o dia da árvore (coordenando com livros/ histórias sobre a natureza), numa festa de fim de ano (em função dos projectos de leitura realizados). Para isso basta organizar uma festa de mascarados, protagonizada por personagens dos livros de contos. Uma boa maneira de criar uma atmosfera lúdica na escola em qualquer época do ano. Uma versão simplificada desta animação é escolher uma etiqueta de uma personagem (peça de vestuário alusivo à personagem: chapéu da bruxa ou do anão, capa do capuchinho vermelho, etc) e usá-la para contar a história. Jornadas literárias - Durante uns dias propõe-se que o trabalho escolar se centre única e exclusivamente na literatura. Para essas datas pode ter-se programado alguma das actividades mencionadas anteriormente. Realizar cartazes, ensaiar dramatizações, fazer visitas à biblioteca municipal, organizar ateliers de escrita ou recitações, contar contos… podem ser algumas das ideias. A poesia poderá invadir a escola, com palavras, sons e rimas. Exposições - podem ser temáticas à semelhança do museu dos contos. Deve-se seleccionar o tema (proposto pelo professor de português ou do projecto interdisciplinar), elaborar um itinerário da exposição, com etiquetas informativas, conceber a disposição dos materiais. Concursos - As regras dos concursos deverão ser previamente concebidas e publicitadas na biblioteca. Sugerem-se dois tipos : • Concursos de leitura - Selecção prévia de uma obra de acordo com o interesse manifestado pelos alunos e acessibilidade à maioria. Definição dos prazos de leitura. Elaboração das perguntas sobre o livro (individualmente, em grupo, com o apoio do professor). Encontro das equipas concorrentes. Atribuição e afixação dos nomes dos vencedores. • Concursos literários - conto, crónica ou poesia. Afixação de prémios e afixação dos nomes dos vencedores. Poderão realizar-se sessões de leitura dos trabalhos premiados com a participação dos pais e encarregados de educação. Animação de Aprofundamento
Este tipo de animação tem como principal característica o seu prolongamento no tempo. Caberá a cada animador elaborar com os alunos o seu projecto, podendo articular algumas das seguintes sugestões: O clube de leitura ou a associação dos amigos da biblioteca poderá ser uma forma interessante de criar um núcleo de alunos para dinamizar estas actividades de aprofundamento da leitura na biblioteca. Os alunos poderão sensibilizar o grupo para a necessidade de conservação e reparação dos livros. Os planos de leitura - esta actividade é constituída por múltiplas ideias de animação e criação em torno de um conjunto concreto de livros, que durante um determinado período de tempo vão ser lidos pelos alunos. Trata-se de uma actividade que deve ser negociada entre professor e alunos. Estes planos de leitura englobam três momentos: antes, durante e depois da leitura. • Contextualização da obra, autor, época. • Criar na biblioteca um Kit de materiais alusivos à obra e outros livros do autor ou sobre o mesmo tema, documentação sobre o autor, a época, cassetes-vídeo, etc. Como já dissemos a animação de leitura deverá ser um acto socializador. Depois da leitura deverão criar-se actividades de forma a valorizar a interpretação de leitura: • Leitura e debate em grupo. • Troca de correspondência sobre o que se leu. • Valorização das conversas em família. O aluno é um potencial leitor através da conversa sobre leituras feitas. Projecto do Tipo Leitor - esta actividade pode permitir ao aluno aprofundar a seu perfil como leitor. Esse projecto poderá incluir quatro etapas: • leitor acidental • leitor interessado • bom leitor • leitor autêntico O aluno poderá sentir-se estimulado e tentar progredir nesta espiral, que inclui objectivos em cada etapa. Pretende-se que o aluno comece por ter prazer na leitura, se abre a uma diversidade de autores, estabeleça comparações e se identifique com as leituras feitas. Convém que o animador não seja impositivo na selecção das leituras dos alunos, ele deverá ler obras literárias e paraliterárias, curriculares e não curriculares, o que é importante é que o aluno através da leitura alargue o seu conceito de alteridade e possa fazer as suas sínteses. Num interessante estudo sobre a leitura para os adolescentes Leonor Cadório diz "Para que a leitura seja significativa deve ser possível ao aluno fazer hipóteses de relacionação entre o que se lê, o que se sabe e se vive, para que ele se aproprie da informação e a interiorize" (2001). Recriações a partir de leituras - podem concretizar-se através da expressão plástica, dramática, expressão oral / escrita. Ou seja, pode-se apenas contar uma história ou partir daí para para outro tipo de actividades como a construção de um projecto de animação articulando o livro, a imagem e som. A técnica do powerpoint poderá ser uma sugestão, com possível instalação no átrio da escola. O livro em jogo - Sugerem-se actividades que podem inspirar-se nos moldes dos jogos que o jovem gosta e cujas regras já domina como: jogo da glória, caça ao tesouro ,mímica, trivial pursuite, pictionnary, bingo, etc. Este tipo de actividades poderão partir
das actividades de leitura orientada e envolver uma ou mais turmas; deverão realizar-se em espaços comuns da escola para participação de todos os alunos. O livro-fórum - realização de um fórum na aula ou na biblioteca. Requer que se seleccione bem o livro que deve ser interessante e atractivo e rico em possibilidades de exploração. Animação Responsabilizante Jovens como mediadores de livros - aproveitar a leitura dos alunos e criar condições para a sua expressão aos colegas. Partilha de leituras. Responzabilizar por actividades - Dar-se tarefas no supervisionamento da circulação de livros ou na obtenção de obras. Os grandes lêem aos pequenos - pode acontecer dentro da mesma escola, ou constituir um intercâmbio entre escolas. As crianças / os jovens júris de prémios literários - trata-se de uma actividade que desenvolve o sentido crítico - concurso de quadras, de poesia, contos. Programa de rádio / suplemento literário - Trata-se de uma actividade de aprofundamento porque exige uma actividade de pesquisa.
Outros tipos de animação Feiras do livro - Organização de uma feira do livro em colaboração com o livreiro local e em colaboração com os encarregados de educação. Levar as crianças a visitar a exposição - feira primeiro com os professores depois sozinhos. Aproveitar os períodos de reuniões com os encarregados de educação para estas iniciativas. • Promover visitas orientadas à biblioteca pública com a colaboração dos bibliotecários - sensibilizar para a importância da biblioteca, para a sua organização e para a forma de requisitar e utilizar o livro. • Organizar visitas orientadas a editoras e livrarias. • Promover intercâmbios entre turmas e/ou entre escolas. • Organizar encontros com escritores, ilustradores, editores e livreiros. Actividades: 1. A partir dos tipos de animação apresentados, elabore um projecto de animação de um livro, ajustado ao nível etário com que trabalha.
2. Não se esqueça de fundamentar o seu projecto, tendo em conta, as características dos seus alunos, o tempo que lhe vai dedicar e as competências que pretende desenvolver.