Análise de Discurso
No texto “Análise de Discurso”, Rosalind Gill (2010), a
autora fala de tradições teóricas ligadas à análise do discurso: a primeira, linguística crítica, semiótica social ou crítica, estudos de linguagem; a segunda, teoria do ato da fala, etnometodologia e análise da conversação; e a terceira, o pós-estruturalismo. O pós-estruturalismo ou a análise pós-moderna da linguagem centram-se no discurso e na sociedade e em temas como poder e resistência. A análise do discurso se preocupa em mostrar além do conteúdo, como está sendo usado determinado conteúdo e qual a consequência deste uso. A análise do discurso é recomendada quando se quer mostrar a forma como se diz alguma coisa. Quando se quer apenas mostrar o que se fala a análise do conteúdo é o método recomendado. A análise do discurso envolve algo mais do que saber o que se fala, envolve saber quem fala, para quem fala, como falam e para que falem, pois o discurso pode ter inúmeras funções e significados. A análise do discurso permite-nos perceber como se fala, como se dá a interação entre emissor e receptor de uma mensagem, identifica o receptor, interpreta o discurso produzido pelos outros sem desconsiderar desconsiderar a subjetividade do pesquisador. Segundo Gill, esses diferentes estilos têm em comum, ao tomar como objeto o discurso, é que partilham de “uma rejeição da noção realista de que a linguagem é simplesmente um meio neutro de refletir, ou descrever o mundo, e uma convicção da importância central do discurso na construção da vida social ”( 2002, p. 244). É preciso observar que não existe apenas uma linha de Análise de Discurso. Segundo Gill (2002, p. 246), são conhecidas “ao menos 57 variedades de análise de discu rso” com enfoques variados, a partir de diversas tradições teóricas, porém, todas reivindicando o mesmo nome. Sobre a análise de conteúdo e a teoria do discurso, referindo-se a análise de conteúdo como sinônimo da análise de texto percebe- se “que antes de tudo a diferença entre a Analise doe Discurso e a Análise de Conteúdo é o modo de acesso ao objeto”.
A interpretação da Análise de Conteúdo poderá ser tanto quantitativa quanto qualitativa, enquanto que na Analise doe Discurso a interpretação será somente qualitativa. “A Análise de Conteúdo trabalha tradicionalmente com materiais textuais escri tos”. Existem dois tipos de textos que podem ser trabalhados pela Análise de Conteúdo: os textos produzidos em pesquisa, através das transcrições de entrevista e dos protocolos de observação, e os textos já existentes, produzidos para outros fins, como textos de jornais. Na Analise doe Discurso existe o corpus de arquivo e empírico. Quando se analisa em Analise doe Discurso material já existente como documentos, legislação, pronunciamentos pronunciamentos em jornal, livros e outros, refere-se ao corpus de arquivo; se o material é construído especialmente para a pesquisa, como por exemplo, através de entrevista, refere-se ao corpus empírico, experimental. A maior diferença entre as duas formas de análises é que a Analise do Discurso trabalha com o sentido e não com o conteúdo; já a Análise de Conteúdo trabalha com o conteúdo, ou seja, com a materialidade linguística através das condições empíricas do texto, estabelecendo categorias para sua interpretação. Enquanto a Analise do Discurso busca os efeitos de sentido relacionados ao discurso, a Análise de Conteúdo fixa-se apenas no conteúdo do texto, sem fazer relações além deste. A Análise do Discurso preocupa-se em compreender os sentidos que o sujeito manifesta através do seu discurso; já a Análise de Conteúdo espera compreender o pensamento do sujeito através do conteúdo expresso no texto, numa concepção transparente de linguagem. Na Analise do Discurso, a linguagem não é transparente, mas opaca, por isso, o analista de discurso se põe diante da opacidade da linguagem. O analista ao utilizar a Analise do Discurso fará uma leitura do texto enfocando a posição discursiva do sujeito, legitimada socialmente pela união do social, da história e da ideologia, produzindo sentidos. Na
utilização da Análise de Conteúdo “o que é vi sada no texto é justamente uma série de significações que o codificador detecta por meio dos indicadores que lhe estão ligados” “Os analistas de discurso, ao mesmo tempo em que examinam a maneira como linguagem é empregada, devem também estar sensíveis àquilo que não é dito – aos silêncios. Isso, por sua vez, exige uma consciência aprimorada das tendências e contextos sociais, políticos e culturais aos quais os textos se referem. Sem essa compreensão textual mais ampla.” (ob. Cit, p. 255, 2002)
Bibliografia: GILL, Rosalind. Análise do discurso. In: BAUER, Martin W.; GASKELL, George (ed.) Pesquisa quantitativa com texto, imagem e som: um manual prático. Petrópolis: Vozes, 2002.