A Heráldica – Descubra suas raízes medievais
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Claudio Campacci
A Heráldica Descubra suas raízes medievais
Claudio Campacci Primeira Edição - 2013 3
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais
Sumário - Prefácio - Heráldica o que é? - Regras da Heráldica - Significado das cores nos escudos - Significado dos principais símbolos heráldicos - Surgimento dos primeiros sobrenomes ocidentais - Principais Títulos de Nobreza - A Nobreza Brasileira no período imperial - A perseguição dos judeus na península Ibérica - Os principais sobrenomes que os Cristãos-Novos adotaram - A Revolução Industrial do Século XIX e os principais ramos imigratórios europeus que vieram para o Brasil - Bibliografia e Referências.
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Claudio Campacci
Prefácio
A
Heráldica é um tema pouquíssimo conhecido entre os brasileiros. Raramente os professores de História comentam sobre o assunto. Não sei
dizer exatamente o motivo de isso acontecer, mas a falta de literatura no mercado pode ser um bom indício. Eu tenho feito pesquisas sobre as origens, história e o brasão de milhares de sobrenomes, durante um período de mais de dez anos. Tenho visto muitas publicações sobre o assunto em Portugal, Espanha, França, Itália e Reino Unido. As pessoas no Brasil dão grande valor ao significado dos seus prenomes e de maneira estranha muitos ignoram os sobrenomes. Muitos nem sabem que existe um brasão de família, em que muitas vezes seus ancestrais travaram guerras para conquistar o direito de usá-lo. Certamente eu escrevi uma obra direta e simples de se entender. Que nossas futuras gerações saibam mais sobre essa parte da História. Tenham uma ótima leitura, são meus votos. 5
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais
Heráldica, o que é?
D seu
e um modo geral as pessoas
dão extrema
atenção ao significado dos seus prenomes e dão pouca atenção a origem e a história do
sobrenome.
Seu
sobrenome diz muito mais sobre você que seu prenome. Vemos nas livrarias e bancas de jornal diversos livros e brochuras sobre o assunto, mas
concernente
aos
sobrenomes, há poucas obras disponíveis. Mesmo na internet não há muita matéria gratuita sobre o assunto. Vendo essa necessidade resolvi copilar mais de dez anos de pesquisas que eu realizei sobre o assunto e criar uma obra direta e fácil de entender. Voltemos no tempo e vivenciemos as fervorosas batalhas entre os reinos europeus da Idade Média. No auge das batalhas, viver ou morrer dependia muito em se distinguir 6
Claudio Campacci quem era seu aliado ou seu inimigo. Mas era algo muito difícil, pois os cavaleiros estavam vestidos por armaduras que eram muito parecidas. Era muito comum o fogo amigo, isto é, um aliado matar o outro. Guerras sempre existiram e os guerreiros estiveram presentes, quer nas pequenas vilas do interior, quer formando a guarda de reis e senhores feudais. Na idade média, os guerreiros usavam uma espécie de capa de metal, as armaduras, para lhes proteger, bem como um capacete ou elmo também de metal. Desta forma, tornavam-se irreconhecíveis e isto poderia gerar ataque por parte de seus próprios companheiros de batalha. Surgiu assim a necessidade de identificar suas armaduras e também seus escudos. O modo usual de identificação era a pintura nos escudos ou armaduras. Tais pinturas representavam as atividades exercidas pelo grupo de onde eram originários os guerreiros. A presença de plantas ou animais os identificava como agricultores ou criadores de gado, por exemplo. O animal mais utilizado indubitavelmente era o leão, pois simbolizava poder e força da família. 7
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais Mas à medida que a população crescia, surgiu uma nova dificuldade. Os moradores de um mesmo feudo exerciam atividades semelhantes e tinham suas armaduras com pinturas idênticas. Foi então necessário estabelecer bases para o direito de uso de determinados escudos. As famílias mandavam esculpir um modelo do escudo, geralmente em madeira pintada com as mesmas cores das pinturas das armaduras. Tais modelos eram dispostos nas casas dos membros daquela família. Nos casos em que havia grande disputa pelo direito de uso de determinado escudo, até lutas foram registradas pela história. Em muitos casos, os símbolos foram distribuídos entre os chefes de famílias locais, ficando estabelecido que a unidade entre eles permanecesse representada na cor de fundo. Desta forma, um sobrenome pode ser representado por uma planta típica da região, por um animal domesticado pela família ou por um
animal
feroz
vencido
por
um
dos
varões.
Posteriormente estes escudos passaram a ser gravados nos "livros de família", obra realizada por aqueles que ficaram conhecidos como heraldistas, ou especialistas na arte da heráldica. Apesar de todas as disputas para terem 8
Claudio Campacci este ou aquele símbolo, muitas famílias acabaram por utilizar o mesmo brasão sem terem nenhum laço entre elas. Nas famílias de origem italiana tem se notado isso, muitas deles têm por brasão um leão dourado com o escudo de fundo vermelho. Com o passar do tempo, os cavaleiros criaram o costume de decorar seu escudo e sua túnica com um distintivo único, assim ele se diferenciava dos seus inimigos
e
eram
reconhecidos
pelos
seus aliados. Com o tempo as famílias da nobreza
resolveram
criar símbolos que as representassem. Surge assim a Heráldica. A Heráldica é a ciência e a arte de descrever os brasões de armas ou escudos. O termo Heráldica deriva dos termos originais latinos heraldos ou arauto. A palavra Heraldo vem, segundo alguns pesquisadores, do germânico her, heer ou hold, 9
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais que quer dizer devotado, outros creditam que vem da raiz har do alemão haren, que significa gritar ou chamar. Essa arte que nasceu primariamente para atender a nobres e cavaleiros, expandiu-se com o surgimento dos reinos e cidades na Europa, onde cidadãos importantes, especialmente comerciantes, recebiam a sua cota de armas. Praticamente todas as famílias de origem européia ocidental têm o seu brasão registrado nos antigos livros de armas. Brasão ou Armas, em inglês o termo é coat of arms, teve inicio como citado acima na Idade Média, especialmente no período das Cruzadas à Terra Santa, quando houve uma disseminação mais ampla. O Brasão significa o conjunto de insígnias hereditárias compostas de figuras e atributos determinados, concedidos por príncipes, reis e rainhas em recompensa por serviços prestados pelo cavaleiro ou pessoa de destaque. A idéia de usar símbolos remonta ao antigo Egito e tinha motivação religiosa. Na Idade Média os primeiros registros sobre o uso da heráldica eram os religiosos 10
Claudio Campacci católicos que gravavam no túmulo ou às vezes numa capela construída devido à doação de algum nobre. O uso inicial desses símbolos estampados nos escudos e túnicas não somente servia para distinguir a qual exército o cavaleiro servia, mas também para facilitar a contagem dos mortos em batalhas. Os símbolos como sinais de honra e nobreza de uma família, que passavam de pais para filhos, começaram a ser empregados nas armarias dos cavaleiros em meados do século X. Sua regularização e determinação de regras para criação e uso foram sendo aperfeiçoadas com o passar dos séculos. Porém as regras finais para concessão de armas ou brasões e os termos próprios da Heráldica forma estabelecidos no final do século XV. O período de apogeu das concessões de armas foi durante as Cruzadas na Idade Média, devido ao ápice da figura dos Cavaleiros, do romantismo na arte, da exaltação da família e principalmente da nobreza. Posteriormente os símbolos e cores foram usados em torneios de Justa, que foram muito populares na época. Como as armas eram passadas de pais para filhos, com o passar dos anos se formou uma nobreza com escudo de 11
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais armas que raras vezes representavam feitos de guerras, conquistas
ou
heroísmo.
Os
descendentes
se
beneficiavam dos feitos de seus ancestrais. Também se criaram as armas de ordens militares e religiosas, como os Cavaleiros da Ordem de Cristo. Nos últimos tempos de concessões
de
armas,
elas
eram
quase
que
exclusivamente outorgadas a políticos pertencentes ao círculo de amizades da corte. Os heraldos tinham a função de anunciar publicamente os nomes dos concorrentes em torneios, levar declarações de guerra ou acordos de paz, contar e anunciar o número de mortos em batalhas, além disso, eles tinham que desenhar e criar os brasões ou armas dos cavaleiros ou nobres a quem serviam, proclamar casamentos, dirigir solenidades e determinar a colocação de insígnias e legendas nos túmulos dos nobres. Eram homens importantes, oficiais de guerra e cerimônias cívicas, conservando-se esta atividade até meados do século VIII na época de Carlos Magno. Pela sua importância social e política, o termo heraldo foi substituído pela designação Rei de Armas, e estes eram sempre escolhidos entre os heraldos mais antigos. 12
Claudio Campacci O Rei Carlos VIII foi quem criou o ofício de Mestre de Armas, figura que tinha função oficial de regulamentar a criação e uso de brasões. Nas pompas fúnebres os Mestres de Armas trajavam-se com grande luxo, levando sempre em suas mãos um bastão de nogueira que simbolizava a importância do seu cargo no reino. Ao ato de desenhar ou criar um brasão de armas dá-se o nome de brasonar. Os heraldistas como eram chamados os heraldos especializados em desenhar os brasões tinham que seguir uma série de regras. A primeira coisa que é descrita num escudo é o esmalte (cor) do campo (fundo), depois determinar qual figura ou detalhe heráldico será usado. Estes detalhes são postos numa determinada posição no escudo e costumam ser descritas de cima para baixo e da direita (dextra) para esquerda (sinistra). Na verdade, a dextra (do latim dextra, -æ, «direita») refere-se ao lado esquerdo do escudo, e a sinistra (do latim sinistra, -æ, «esquerda») ao lado direito. A razão disso acontecer é o fato da descrição se referir ao ponto de vista do portador do escudo, e não do seu observador. Embora a palavra escudo seja comumente 13
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais utilizada para se referir ao brasão de armas no seu todo, o escudo é apenas um dos elementos que compõem um brasão de armas. Numa descrição completa, o escudo pode ser acompanhado por outros elementos, como suportes, coronéis, listéis com motes (ou lemas).
Regras da Heráldica Escudo e Lisonja O foco da Heráldica é o brasão ou cota de armas, cujo elemento central é o escudo. O formato do escudo empregado numa cota de armas é pouco relevante, visto que no decorrer dos séculos elas evoluíram e foram sendo aperfeiçoadas pelos heraldistas. Tradicionalmente, as mulheres não iam á guerra, elas não carregavam escudos, em vez disso, as cotas de armas femininas eram ostentadas numa lisonja, que é um losango apoiado num de seus ângulos agudos. Há algumas exceções que são no formato oval, como na Escócia. O clero não combatente também fez uso da lisonja e de escudos ovais. 14
Claudio Campacci Partições do escudo O campo de um escudo, na Heráldica pode ser dividio em mais de um esmalte, e da mesma forma em várias figuras ou
símbolos.
Muitas
cotas
de
armas
consistem
simplesmente de uma divisão do escudos em dois constrastantes. A linha que divide os escudo em particções pode ser reta ou seguir outros padrões como: serrilhados, ondulados, dentados, etc. As variações de pintura seguem certos padrões de esmaltes. As partições mais comuns resultam num escudo: 1. Cortado (dividido na horizontal) 2. Partido (dividido na vertical) 3. Fendido (dividido diagonalmente a partir do canto direito) 4. Talhado (dividido diagonalmente a partir do canto esquerdo) 5. Franchado (fendido e talhado) 6. Esquartelado (cortado e partido) 7. em Asna (dividido por um "V" invertido) 8. Terciado (dividido em três 15
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais partes). Pode ser: 1. Em pala (três partes verticais) 2. Em faixa (três partes horizontais) 3. Em banda (três partes, a do meio diagonal a partir do canto esquerdo) 4. Em barra (três partes, a do meio diagonal a partir do canto direito) 5. Em mantel (como duas cortinas que se abrem da parte superior central da partição)
Peças ou Honrarias Nos primórdios da Heráldica, formas retilíneas muito simples e com traço grosso eram pintadas nos escudos. Estas eram facilmente reconhecidas à distância e lembradas. E elas eram o propósito principal do nascimento da Heráldica: Identificação. As peças ou honrarias de um escudo, são formas geométricas, no interior deste, que se utilizam para indicar uma honraria recebida pelo seu detentor. O escudo é tradicionalmente dividido em nove partes ou zonas, com vista à descrição da localização das peças no seu campo 16
Claudio Campacci
Conforme os escudos mais complexos passaram a ser usados, estas formas mais simples foram separadas numa categoria à parte, as peças ou honrarias. Existem peças
de
primeira
ordem (chamadas
também de
honrarias) e segunda ordem (ordinárias). Embora esta classificação não seja unânime, algumas normalmente são classificadas como de primeira ordem:
De 1ª ordem
Faixa - Armadura e cinturão do Cavaleiro. Tem de largura um terço da do campo (fundo do escudo). Pala - Lança do Cavaleiro. Tem de largura um terço da do campo (fundo do escudo). 17
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Banda - Correia ou cinturão do Cavaleiro. A peça oposta da banda, a barra ou contrabanda (diagonal da esquerda para a direita), pode significar correia, ou "desonra". Tem de largura um terço da do campo (fundo do escudo).
Cruz - Espada do Cavaleiro; concedida aos que já tinham participado em combates, tendo a sua espada ficada manchada de sangue. Cada uma das suas peças, tem de largura a quarta parte do bordo superior do escudo.
Aspa - Estandarte do Cavaleiro; também designada por Soter (ou Sautor), Cruz de Santo André ou Cruz de Boronha ou Borgonhona. Entre as que normalmente são classificadas como de seguda ordem:
De 2ª ordem
Cabria ou Asna. Botas e esporas do Cavaleiro. A peça é semelhante a um esquadro, com um ângulo inferior a 45º. 18
Claudio Campacci
Chefe. Tem de largura um terço da do campo (fundo do escudo). Bordura ou bordadura. Proteção, favor e recompensa; concedida aos que já tinham participado em combates, tendo a sua roupa ficado manchada de sangue. A sua área equivale a um sexto da largura do campo. Perla. Peça com dupla interpretação: Santíssima Trindade; ou as três devoções do cavaleiro: a sua dama, o seu Rei e o seu Deus. Flanco direito. Flanco esquerdo. Ponta ou contrachefe. Tem de largura um terço da do campo (fundo do escudo). Cantão. Equivale à nona parte do escudo.
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Elmo e Timbre A palavra timbre é usada para se referir a toda uma categoria de adornos heráldicos. O timpre jaz no topo de um elmo que, por sua vez, se apóia sobre a parte mais importante do escudo.
O timbre modernos evoluiu da figura tridimensional colocada sobre os elmos dos cavaleiros como meios adicionais de identificação. O timbre geralmente é encontrado num virol e algumas vezes dentro de um coronel. Timbres-coronéis geralmente são mais simples do que os coronéis de nobreza. Quando o elmo e o timbre são ostentados, costumam ser acompanhados
de
um
lambrequim.
Originalmente,
tratava-se de um tecido usado sobre o fundo do capacete como proteção parcial contra o aquecimento provocado pelo sol. Hoje sua forma é de uma capa estilizada pendendo do elmo. O lambrequim por vezes é ilustrado com as bordas rasgadas, como se houvesse sofrido dano 20
Claudio Campacci em combate, embora as bordas de muitos seja decorada à vontade do brasonador. Abaixo explicações mais detalhadas sobre os termos virol, coronel, coroa e lambrequim.
O virol é um termo que, em Heráldica, designa uma peça de tecido, colocada sobre o elmo e coroa. É feita de duas cordas entrelaçadas, com o mesmo esmalte e paquife, e do escudo, representando o metal e a cor principal. Serviría para manter o paquife no seu lugar.
Designa-se por coroa, a peça que se encontra por cima do elmo, num
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A Heráldica – Descubra suas raízes medievais brasão, ou cota de armas. Cada uma destas peças indica o grau de nobreza, a realeza, as armas militares, e os murais ou domicílios
Num brasão de realeza, designa-se por coroa a peça que se encontra representada. Nos restantes graus de nobreza, desde o Duque até o Barão, a coroa passa a chamar-se de coronel. Na heráldica o lambrequim é uma representação de um manto, uma capa, folhagens e plumagens, desenhadas acima e ao redor do elmo de um cada
brasão. um
lambrequim
Corretamente,
dos
ramos
do
heráldico
é
chamado paquife. No entanto, os dois termos são muitas vezes
usados,
indistintivamente. 22
Normalmente
o
Claudio Campacci lambrequim inclui as duas cores principais do brasão (o metal principal e o esmalte principal). Os lambrequins heráldicos pretendem representar os mantos de linho, que eram usados para proteger o elmo, dos cavaleiros, do calor, do frio e dos golpes de espada. Com o tempo, depois de serem, várias vezes atingidos por golpes de espada, os mantos ficavam recortados, com pedaços de tecido pendentes, semelhantes a folhagens.
Motes O mote, lema ou divisa armorial pe a frase ou conjunto de palavras que descreve a motivação ou intenção da pessoa ou corporação detentora das armas. Motes podem ser modificados a vontade e não são parte integrante do patrimônio
heráldico.
Eles
podem ser
encontrados
tipicamente em um pergaminho sob o escudo e recebem o nome de listel.
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A Heráldica – Descubra suas raízes medievais
Suportes e outras insígnias Suportes
são
humanos
ou
raramente inanimados,
figuras
de
animais,
ou
de quase
objetos sempre
colocados de cada lado de uma cota de armas, como se a estivessem
suportando.
Em
muitas tradições, o uso de suportes passou a seguir padrões estritos, que o limitavam a certas classes sociais. No continente europeu, costuma haver menos restrições ao uso de suportes. No Reino Unido, apenas os pares do reino, uns poucos baronetes, os membros sênior de ordens de cavalaria e algumas corporações têm o direito de usar suportes. Estes frequentemente têm um significado local ou uma ligação histórica com o detentor da cota de armas. Se o detentor das armas tiver o título de barão, cavaleiro hereditário ou maior, ele pode ostentar um coronel de nobreza em seu escudo. Outra adição que pode ser feita a uma cota de armas é a insígnia de um baronete ou de 24
Claudio Campacci uma ordem de cavalaria. Esta geralmente é representada por um colar ou faixa similar ao redor do escudo. Quando as armas do cavaleiro e de sua esposa são mostradas numa única apresentação, a insígnia de cavalaria cerca apenas as armas do marido, e as da esposa são costumeiramente
cercadas
tão-somente
por
uma
guirlanda ornamental de folhas, sem significado heráldico, tão-somente pelo equilíbrio estético.
Diferenciação e Brisuras Como as armas passam de pais para filhos, e a maioria dos casais têm mais de um filho, é necessário distinguir as armas dos irmãos e outros familiares das armas originais, passadas de primogênito a primogênito. Brisura (do francês, brisure ou briser, que significa romper ou quebrantar), em Heráldica é toda modificação introduzida no brasão ou cota de armas de uma família para
distinguir
as
armas
que
dela
procedem.
O
primogênito de uma família nobre tem direito de levar as 25
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais armas simples, puras e planas de seus antecessores. Contudo, os filhos posteriores devem modificá-las, alterando sua simplicidade para levá-las sem injúria ao herdeiro. A prática é denominada brisurar os brasões. E é de se notar que o herdeiro que já leva os brasões brisurados deve continuar com esta brisura enquanto seus irmãos têm que adicionar outras e assim vão se
Significado das cores nos escudos
O naturais,
s Esmaltes são as cores usadas na heráldica, embora haja certos padrões, chamados peles, e representações de figuras em suas cores ou
representáveis),
da
sua
que
cor
também
(distintas são
das
cores
tratados
como
esmaltes. Como a heráldica é, em sua essência, um sistema de identificação, a convenção heráldica mais importante é a regra da contrariedade das cores em prol do contraste e da visibilidade, metais (que geralmente são 26
Claudio Campacci esmaltes mais claros) nunca devem ser postos sobre metais, e cores (que geralmente são esmaltes mais escuros) nunca devem ser postos sobre cores. Quando uma figura sobrepõe uma parte do fundo do escudo, a regra não se aplica. Há também outras exceções — sendo a mais famosa a das armas do Reino de Jerusalém, que consistem numa cruz de ouro em fundo prata Os nomes usados na brasonaria lusófona para as cores e metais provêm principalmente do francês. Os mais comuns são Jalde ou Or (ouro ou amarelo), Argente (prata, branco ou cinza claro), Blau ou Azure (azul), Gules (vermelho), Sable (preto), Sinopla, Sinople ou Vert (verde) e
Purpure
(púrpura).
Outras
cores
são
utilizadas
ocasionalmente, normalmente para finalidades especiais. Certos padrões chamados peles podem aparecer num brasão, e são (de modo um tanto arbitrário) classificados como esmaltes. As duas peles comuns são o Arminho e o Veiro. O Arminho representa a pelagem hibernal do arminho (branca com a cauda preta). O veiro representa 27
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais um tipo de esquilo que tem o dorso azulado e o ventre branco. Costuradas lado a lado, formam um padrão alternado de formas azuis e brancas. Figuras heráldicas podem ser representadas em suas cores naturais. Muitos objetos da natureza, como plantas e animais, são descritos como de sua cor neste caso. Figuras de sua própria cor são muito freqüentes como timbres e suportes. O abuso do esmalte de sua cor é visto como uma prática viciosa e decadente. Na representação dos brasões de armas são utilizados dois tipos de metais, o ouro (amarelo) e a prata (branco ou cinza claro), e cinco tipos de esmaltes ou cores, vermelho, azul, verde, púrpura e negro. Os desenhos que representam o corpo humano podem usar suas cores naturais, esse termo é conhecido com carnação. O termo esmalte teve sua origem segundo alguns pesquisadores no hebraico hasmal, outros atribuem ao latim esmaltium, que se refere ao preparo de verniz vítreo com grande aderência, que era usado para evitar a oxidação de certos metais, especialmente o ferro. 28
Claudio Campacci
O metal ouro ou Amarelo pode receber outros nomes, em determinadas circunstâncias: nos escudos dos reis passa a ser chamado de sol; nos brasões da nobreza em geral é chamado de topázio. Aqueles que têm este metal no seu escudo estavam obrigados, na idade média, a fazer bem aos pobres e a defender seus senhores, lutando por eles até o final das suas forças.
O metal prata, Branco ou Cinza, quando presente nas armas dos soberanos, recebe o nome de lua. A prata está associada com a inocência e pureza, e aqueles que a tinham em seu brasão estavam obrigados a defender as donzelas e a amparar os órfãos. O metal vermelho é conhecido também como goles ou gules, recebendo este nome nas armarias da nobreza geral. Quando presente nos escudos dos príncipes passa a ser chamado de marte, enquanto nos brasões dos nobres titulados é chamado de rubi. Este esmalte é associado com o valor e a intrepidez e obrigava os seus portadores a socorrer os injustiçados e oprimidos. 29
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais
O metal azul chama-se júpiter quando aplicado às armas reais,
safira
nas
armas
dos
nobres
titulados
ou
simplesmente azul nos escudos da nobreza em geral. Este esmalte significa nobreza, majestade, serenidade e os seus portadores estavam obrigados a fomentar a agricultura e também a socorrer os servidores despedidos injustamente ou que se encontrassem sem remuneração.
O metal verde é conhecido na heráldica como sinople, quando aplicado às armas da nobreza em geral. Para os príncipes e reis passa a ser chamado de Vênus, enquanto para a nobreza titulada é referenciado como esmeralda. Um brasão que continha este esmalte obrigava o seu portador a socorrer os lavradores em geral, assim como aos órfãos e pobres oprimidos.
O metal púrpuro significa dignidade, poder e soberania, e aqueles que a usavam em sua cota de armas deveria proteger os eclesiásticos e religiosos.
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Claudio Campacci O metal preto é também chamado de sable nas armarias em geral, mudando o seu nome para saturno nas armas reais e para diamante nas armas da nobreza titulada. O sable está associado a ciência, a modéstia e a aflição. Aqueles que apresentavam esse esmalte em seus brasões estavam obrigados socorrer as viúvas, os órfãos e todas as pessoas dedicadas às letras.
Significado dos principais símbolos heráldicos
E
m Heráldica as figuras de um escudo designam todas as imagens que se encontram dentro deste. As figuras mais frequentes são a cruz,
com suas várias variações. Os animais mais comum são o leão e a águia, também são usados o alce, o javali, a abelha e peixes. Usam-se também figuras mitológicas como dragões, unicórnios e grifos. Usam-se também muitas plantas, especialmente a flor-de-lis e a rosa, além de árvores. 31
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Flores
Flor-de-lis
Rosa
Flor-de-lis A flor-de-lis é uma figura heráldica muito associada à monarquia francesa, particularmente, ligada com o Rei da França. Ela permanece extra-oficialmente um símbolo da França, assim como a águia napoleônica. Mas não tem sido usada oficialmente desde o fim da monarquia. A florde-lis é símbolo de poder e soberania, assim como de pureza de corpo e alma, candura e felicidade. A palavra lis, de fato, é um galicismo que significa lírio ou íris, mas também pode ser uma contração de "Louis", do francês, Luís, primeiro príncipe a utilizar o símbolo (ficando assim "fleur-de-Louis", ou "flor de Luís"). Assim, a representação desta flor, e seu simbolismo, é o que os elementos heráldicos querem transmitir, quando a empregam sob as 32
Claudio Campacci mais diversas formas. É uma das quatro figuras mais populares em brasonaria, juntamente com a águia, a cruz e o leão.
Figuras geométricas
Besante
Losango
Besante Os besantes ou dinheiros, cujo significado heráldico é o de resgate pago pela libertação do cavaleiro que os ostentar no seu escudo. Não é um símbolo dos mais honrados para um Cavaleiro.
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A Heráldica – Descubra suas raízes medievais
Animais e seres mitológicos
Leão
Cão
Águia
Dragão
Unicórnio
Peixe
Aves Também denominada habitantes do ar. O símbolo de ave mais
usada
por
sua
maior
antiguidade,
por
sua
importância e por sua força é a águia. Excluindo a águia que em geral se esmalta em sable (negro), o restante das aves usam sua cor original.
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Claudio Campacci
Águia. Das mais comuns e antigas figuras na heráldica. Pinta-se sempre de frente, com suas asas estendidas e levantadas, e sua calda esticada. A cabeça tem que situà-la à altura do chefe do escudo, e sua calda na ponta. Se esmalta de um único tom, de maneira geral de negro, também admite outros esmaltes e variantes. É símbolo de bravura e audácia.
Bicéfala. Também denominada, desdobrada ou imperial. Se pinta igual a anterior. Por suas duas cabeças representam o Oriente e o Ocidente. É símbolo de generosidade, magnanimidade e bravura de espírito.
Corvo. Pinta-se de sable (negro) ao natural, parado, de perfil, e mirando ao lado destro. É símbolo de espírito audaz e animado para arriscar-se em defender a seus benfeitores.
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A Heráldica – Descubra suas raízes medievais
Garça. Pinta-se de várias maneiras, sempre adestrada e normalmente de sua cor. É símbolo de prudência em prevenir os perigos.
Galo. Admite pintá-lo de várias maneiras, sempre ao natural e adestrado. É símbolo de vigilância e tenacidade na peleja. Procedente dos remotos Galos, os franceses os adotaram como insígnia nacional.
Pomba. Pinta-se algumas vezes parada e outras voando, sempre ao natural e adestrada. Sua simbologia está na fidelidade e no amor. Também é símbolo da Santísima Trindade.
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Pelicano. Pinta-se sempre de frente, com as asas estendidas, com a cabeça um pouco destra, o pescoço arqueado y picando as penas, do que sai sangue. É o símbolo dum senhor beneficente e piedoso com seus vassalos.
Cisne. Se pinta parado e adestrado. Simboliza ao antigo fidalgo sem mancha, que possui gloriosas virtudes.
Grifo O grifo (griffin, griffon ou gryphon, em inglês, griffon em francês, grifone em italiano, Greif em alemão) é um animal lendário com corpo e patas traseiras de leão; cabeça, asas e patas dianteiras de águia;
e
orelhas
pontudas.
Como
o
leão
foi
tradicionalmente considerado o rei dos animais e a águia 37
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais a rainha das aves, o grifo era considerado uma criatura especialmente poderosa e majestosa. O nome do animal deriva do latim medieval gryphus, derivado por um erro ortográfico comum do latim clássico grypus, do grego gryps, grypos, "curvo, de nariz aquilino", em referência ao bico. Alguns sugerem, porém, que a palavra grega tem origem semita e está relacionada ao hebraico kherub, "querubim" e ao acadiano karibu, um boi alado e colossal. Na Antiguidade, era um símbolo de poder divino e um guardião de tesouros. Segundo os gregos, vigiavam tesouros no país dos Hiperbóreos e a cratera de Dioniso, cheia de vinho até a boca. Serviam também para puxar os carros voadores de Apolo e de Nêmesis. Segundo Heródoto, um certo Aristeas de Proconeso, possuído por Apolo, foi levado a visitar a terra dos Issedones, para além da qual viviam os Arimáspios, um povo de um olho só que vivia em constante guerra com os grifos "que guardavam o ouro". Na Idade Média, por participar da terra e do céu, era considerado símbolo das duas naturezas, divina e humana, do Cristo e evocava a dupla qualidade de força e sabedoria. Segundo o autor irlandês 38
Claudio Campacci do século IX Stephen Scotus, os grifos são monógamos e se um parceiro morre, o outro continuará solitário para o resto da vida, o que faz do grifo também um emblema do casamento cristão ideal. Para Hildegarda de Bingen, monja do século XII, a mãe grifo procura uma caverna com uma entrada estreita, mas muito espaço no interior, protegida dos elementos e ali põe três ovos, sobre os quais monta
guarda. Segundo
Stephen,
o
Frade,
acreditava-se que uma garra de grifo tinha propriedades medicinais e que suas penas podiam restaurar a visão dos cegos. Cálices feitos de garras de grifo (na realidade, chifres de antílope) e ovos de grifos (na realidade, de avestruz) eram muito valorizados nas cortes medievais européias. Na
heráldica
medieval,
o
grifo
foi
um
símbolo
particularmente freqüente. De acordo com o Tractatus de armis de John de Bado Aureo (final do século XIV), "Um grifo levado nas armas significa que o primeiro a usá-lo foi um homem forte e combativo, no qual se encontravam duas naturezas e qualidades distintas, a da águia e a do leão." Além disso, devido à antiga tradição segundo a qual os cavalos têm horror aos grifos, acreditava-se que pintar 39
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais um grifo no escudo serviria para assustar os cavalos do inimigo. Na heráldica, um grifo sem asas, mas com grandes espinhos é chamado de grifo macho, o que pressupõe que apenas as fêmeas eram aladas.
Leão É o símbolo mais usado na heráldica. O Leão, o "rei dos animais", com sua reputação de força, de bravura, de nobreza, tão conforme com o ideal medieval, podia apenas seduzir aqueles que queriam escolher sua armaduras. E, de fato, o leão e o seu alterego, o leopardo, pululam, sobretudo na zona anglo-normanda O leão é classificado como uma figura heráldica natural, mas se encontra freqüentemente como representando uma figura heráldica imaginária, em particular na quimera ou no grifo, ou em forma híbrida com a águia, sua mais poderosa concorrente heráldica. 40
Claudio Campacci As várias posições que atualmente existem na heráldica são fruto da imaginação de heraldistas, resultante da necessidade cada vez maior de diferenciação. No entanto,
apenas
poucos
dessas
posições
eram
aparentemente conhecidas pelos arautos medievais. Uma distinção comumente feita (especialmente entre os heraldista franceses), embora possa ser de importância limitada, é a distinção de leões caminhantes como leopardos. A seguinte tabela sumariza as principais atitudes de leões na heráldica:
Atitude Atitude (termo (em original) português)
Exemplo
Descrição
Um "leão rampante" é representado em pé ereto de perfil, com as patas dianteiras levantadas. A posição das patas traseiras varia de acordo com os costumes locais: o leão pode estar em ambas as patas traseiras afastadas, ou em apenas sobre uma, com a outra também
Rampante Rampant ou de combate
41
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais levantada para o ataque; a palavra rampant é frequentemente omitida, especialmente nos brasões mais antigos, pois esta é a posição mais usual de um quadrúpede carnívoro. É a posição mais usada.
Passant
Um "leão passante" está caminhando, com a pata direita levantada e todas as demais no chão.[
Passante
Nota: Um leão assim representado pode ser chamado de "leopardo".
Um "leão statant" fica na posição parada, com todas as quatro patas no chão, geralmente com as patas dianteiras unidas. Esta postura é mais frequente em timbres do que na figuras do escudo.
Statant
42
Claudio Campacci
Salient
Sejant
Sejant erect
Saliente
Um "leão saliente" fica na posição de salto, com ambas patas traseiras unidas no chão, e ambas patas dianteiras unidas no ar. Esta é uma posição muito rara para um leão, mas também é utilizado de outros animais heráldicos.
Sentado
Um "leão sejant" fica na posição sentada, com as patas dianteiras no chão.
Sentado ereto
Um "leão sejant erect" fica na posição sentada, mas com seu corpo ereto e suas patas dianteiras erguidas na posição "rampant" (esta posição é algumas vezes denominada "sejant-rampant").
Um "leão couchant" fica na posição deitada, mas com a cabeça levantada.
Couchant Deitado
43
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais
Dormant
Um "leão dormant" fica na posição deitada, com olhos fechados e cabeça abaixada sobre as patas dianteiras, como se estivesse dormindo. Raro ser utilizado.
Adormecido
Astronomia
Lua
Estrela
Peles
Arminho
Veiro 44
Claudio Campacci
Arminho Em heráldica, arminho é uma das duas peles usadas em brasões. Representa a pele do arminho. No inverno o arminho
possui
pelagem cauda
branca
negra;
o
uma com
a
arminho
heráldico é composto por um número de peles cosidas, formando assim um padrão de marcas sables em argent. O arminho (Mustela erminea) é um carnívoro mustelídeo de pequeno porte pertencente ao grupo das doninhas (Mustela spp.). A espécie ocupa todas as florestas temperadas, árticas e sub-árticas da Europa, Ásia e América do Norte. Há 38 sub-espécies de arminho, classificadas de acordo com a distribuição geográfica. O arminho não corre de momento qualquer risco de extinção, mas algumas populações estão ameaçadas sobretudo por perda de habitat. O tempo de vida desses animais é de 7 a 10 anos, tendo casos de arminhos que chegaram a viver 14 anos, embora sejam muito raros. 45
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais
Veiro Em heráldica, veiro é uma das duas peles usadas em brasões. Veiro representa pele de esquilo, uma pele de grande valor na Idade Média. O esquilo em questão era de cor variada: cinzento-azulado nas costas e branco por baixo, sendo utilizado para confeccionar mantos. Era cosido alternando as partes escuras com as partes claras, o que resultava num padrão cinzento-azulado e brancoacinzentado, que, quando transposto para heráldica, tornou-se azul e branco alternadamente. A espécie exata de esquilo nunca foi claramente identificada. O nome veiro, vem do latim: "de variis coloribus": de cor variada, donde passou ao francês: vair, ao espanhol: vero e ao português: veiro.
46
Claudio Campacci
Arquitetura
Torre
Castelo
Coluna/Pilar
Castelo Os castelos tiveram uma importância muito grande nos tempos medievais, pois eram poderosos baluartes de defesa e residência de imperadores e reis. No seu interior reuniam-se os exércitos, camponeses e vassalos, além dos rebanhos e toda produção da terra, que ficava a salvo da cobiça dos inimigos. Esses castelos tinham meios próprios de subsistência, visto que muitas vezes eram assediados e cercados por longo tempo. A figura do castelo, por tais condições e por seu simbolismo, é muito empregada na heráldica, obedecendo a determinados critérios para seu desenho. Uma regra 47
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais geral, nem sempre observada na prática, estabelece a composição entre metais e esmaltes: se o castelo for desenhado com um esmalte (cor), as suas portas devem ser de metal; quando o castelo é desenhado em ouro, as aberturas (portas e janelas) deverão ser representadas em vermelho; se o castelo for de prata, as aberturas devem ser representadas em preto. O castelo não deve ser confundido com a torre. O seu desenho deve apresentar-se rigorosamente em um só bloco, com uma porta e duas janelas, o todo sobreposto por três torres, geralmente com a do meio maior que as das laterais. A presença do castelo em um brasão de armas significa que o seu portador participou com destaque em tomadas de
assalto,
ou
despojos
conquistados.
Quando
representado de portas abertas indica sucesso na defesa ou tomada. Tanto nos brasões portugueses quanto nos espanhóis o castelo representa, muitas vezes, aliança com a casa real de Castela. Nos brasões portugueses concedidos na segunda dinastia, os castelos são alusivos a feitos de armas praticados no ataque ou defesa de praças de 48
Claudio Campacci guerra do norte da África e outras conquistas. Os castelos sobre
ondas representam feitos ligados a
praças
marítimas. Finalmente, se o castelo por representado em prata sobre um campo de azul, pode-se afirmar que o seu possuidor era pessoa de grande virtude.
Torre A torre tem seu desenho próprio, não devendo ser confundida com um castelo. A palavra provém do latim "turre". É uma peça que se apresenta isolada e, conforme o seu desenho, tem sua significação. A torre é parte de destaque do castelo e geralmente é representada com uma porta e duas janelas. A torre mais alta ou de maior proeminência do castelo é chamada de torre de homenagem;
quando
aparece
com
três
torres
sobrepostas se diz donjonada; quando podem ser notadas as janelas, esclarecida; quando aparece o teto, coberta; quando tem a porta com grade e pontas na parte inferior, é gradeada; quando a torre vem com chamas nas janelas e sobre as ameias ou seteiras se diz ardente. A torre apresenta o seu corpo na forma arredondada. Já o torreão constitui uma derivação da torre original, pois a 49
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais forma do seu corpo é quadrada ou retangular, com uma porta e quatro ameias Ser humano
Mão
Cabeça
Militar e religioso
Cavaleiro
Santo
50
Claudio Campacci Cruz
Cruz latina Cruz florenciada Na heráldica, a aplicação da cruz é muito ampla. Isto decorre
principalmente
da
enorme
quantidade
de
formatos que a ela são dados na confecção dos brasões. Além disto, há um vasto uso na heráldica religiosa, tumular e na confecção de condecorações, bandeiras e insígnias. A correta definição de cruz é a de uma figura formada por uma pala e uma faixa cruzadas, mas sem continuidade entre elas. Um dos formatos mais primitivos da cruz foi usado pelos gregos e pelos egípcios há 5 mil anos e tinha a forma de um "T" encimado por um anel, símbolo de divindade, e que se chamava Cruz de Ankl. A primeira vez que a cruz foi oficializada como símbolo, neste caso de fé, aconteceu no reinado de Constantino. Isto ocorreu devido ao 51
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais imperador ter sido, surpreendentemente, vencedor da batalha contra Mexêncio. Daí por diante, na vanguarda do exército Constantino, o Grande, sempre era conduzido por um estandarte composto por uma cruz com a legenda "IN HOC SIGNO VINCES" (com este sinal vencerás). O uso da cruz como elemento de brasão de armas nasceu com as cruzadas. As grandes ordens de Cavalaria como São João, dos Templários, de Calatrava, de Malta e outras escolheram a cruz como seu símbolo. Os duques de Saboya trazem em seu escudo uma cruz branca como lembrança de terem socorrido a Rhodes contra os turcos. Muitas famílias da nobreza européia trazem a cruz em seus escudos, como lembrança de terem tomado parte nas
cruzadas.
Os
contingentes
das
cruzadas
de
diferentes países distinguiam-se no uso da cruz; os escoceses usavam a Cruz de Santo André; os ingleses, uma cruz de ouro; os alemães, de negro, os italianos, de azul e os espanhóis de vermelho. Eduardo III da Inglaterra, reivindicando a Coroa da França, adotou a cruz vermelha para seu exército em 1335 e a França, para evitar confusão, ficou com o branco. Enfim, ainda hoje a Cruz Vermelha de São Jorge caracteriza a Inglaterra, 52
Claudio Campacci assim como, depois de outra mudança, a cruz branca caracteriza a Itália. Portugal ficou caracterizado pela cruz azul que o conde de São Henrique trouxe para a Terra Santa. Na heráldica portuguesa, desde 1459, encontra-se a cruz em muitos brasões. Quanto a heráldica brasileira, muitas famílias apresentam a cruz sob várias formas. Entre os barões, encontra-se, por exemplo, a cruz nos sobrenomes Abadia, Alegrete, Catumbi, Guarulhos e Saquarema, entre outros.
Tipo de Cruz
Descrição
Cruz heráldica
A cruz heráldica simples apresenta braços de mesmo comprimento, acompanhando as proporções do escudo.
Cruz em trevo
Com as extremidades dos braços em forma de trevo.
53
Imagem
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais
Cruz recruzada
Cada um dos braços da cruz é barrado.
Cruz de Jerusalém
Foi a insígnia do Reino latino de Jerusalém, que existiu por cerca de duzentos anos após a Primeira Cruzada. As quatro cruzetas nos cantos simbolizariam ou os quatro Evangelhos ou as quatro direções nas quais a Palavra de Cristo se espalhou, a partir de Jerusalém. Ou as cinco cruzes podem simbolizar as cinco chagas de Cristo durante a Paixão. O símbolo pode ser visto no filme ― Cruzada‖ (―Kingdom of Heaven‖, em inglês), de 2005.
Cruz florenciada
As extremidades dos braços têm forma semelhante à flor-delis.
Cruz bifurcada (fourchée)
Com as extremidades em forma de garfo.
54
Claudio Campacci
Seus braços estreitam na direção do centro e são Cruz de Malta chanfrados nas extremidades. Também conhecida como Cruz de São João.
Cruz ancorada (moline)
Suas extremidades são divididas e as pontas resultantes são curvadas.
Intermediária entre a cruz pátea
Cruz patonce e a florenciada. Algumas fontes a chamam de Cruz floreada.
Cruz Pátea
Seus braços estreitam na direção do centro, mas não apresentam extremidades chanfradas.
Cruz bordonada (pommée)
Com as extremidades em forma de bordão.
55
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais
Cruz potenteia
Quadrática
Cruz românica de consagração
Suas extremidades são barradas.
Uma cruz com um quadrado no ponto de intercessão. Pouco usada na heráldica.
Tripla e entrelaçada.
Cruz oca
Também conhecida como Gammadia, é uma Cruz Grega com a parte central dos braços removida. ―Gamadia‖ vem da aparência de quatro letras gama do alfabeto grego agrupadas.
Cruz de Santo André (decussata)
A cruz decussata, conhecida também pelos nomes de sautor ou cruz de Santo André, é um símbolo heráldico na forma de cruz diagonal ou na letra X. Segundo a tradição cristã, o apóstolo André foi martirizado em uma cruz desta forma. Este símbolo também está presente em várias bandeiras, brasões e
56
Claudio Campacci selos como nas bandeiras da Escócia e Jamaica. Também conhecida como cruz ansata, era na escrita hieroglífica egípcia o símbolo da vida. Conhecido também como símbolo da vida eterna. Os egípcios a usavam para indicar a vida após a morte. É altamente ligada à cultura asetiana (Aset kA) simbolizando vampirismo.
Ankh
Surgimento dos primeiros sobrenomes ocidentais
A
proximadamente até 800AD o povo europeu usava apenas um nome para identificar cada indivíduo. Isto ainda acontece entre alguns
povos primitivos da atualidade. À medida que a população crescia, tornou-se complicado viver numa aldeia em que talvez um terço da população tivesse o mesmo primeiro 57
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais nome e muitas vezes a mesma profissão, visto que a maioria eram agricultores. Os sobrenomes (também chamados de segundo nome ou apelido) surgiram com o objetivo de melhor identificar os indivíduos. Imagine se não houvesse sobrenomes, e você tivesse que achar na cidade de São Paulo um homem de nome João, casado com Maria, filho de José e Aparecida e que trabalha como pedreiro. Seria praticamente impossível! Mesmo com o uso do sobrenome encontramos diversas pessoas com o mesmo nome. Uma pesquisa realizada no início dos anos 80 pelo PIS (Programa de Integração Social), chegou-se ao dez nomes mais utilizados no Brasil, por ordem decrescente: José dos Santos, José Carlos da Silva, João Batista da Silva, José Francisco da Silva, Maria José da Silva, José Ferreira da Silva, José da Silva e, finalmente, Maria Aparecida da Silva. As seis principais fontes para o segundo nome foram: ocupação
(profissão),
localização
(chamados
toponímicos), característica pessoal, nobreza e o nome do 58
Claudio Campacci pai (os chamados patronímicos). Citaremos alguns exemplos para melhor esclarecer:
Ocupação: Zimmermann, (alemão) significa Carpinteiro; Schumacher (alemão) significa sapateiro; Taylor (inglês) significa alfaiate; Maurer (alemão) significa pedreiro; Schafer (alemão) significa tosqueador de ovelhas; Fisher (inglês) significa pescador; Oliveira (português) plantador ou
comerciante
de
azeitonas
ou
azeite;
Pereira
(português) plantador ou comerciante de peras.
Toponímico: Roberto Carlos Braga, cantor e compositor brasileiro. Braga é uma cidade portuguesa. Outros exemplos: Lisboa, Coimbra, Milanesi, Padovani, Lombardi e Modenesi. Os sobrenomes Oliveira, Pereira, Silva, Nogueira entre outros se pode referir a lugares que havia muitas árvores ou plantas de nosso nome, assim sendo, sobrenomes de origem toponímica.
Característica Pessoal (Alcunha): Delgado sobrenome originário de uma família espanhola de pessoas magras. 59
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais Outros exemplos: Leitão, Coelho, Salgado, Passarinho, Leite, Valente, Branco e Goulart. Patronímico: Inúmeros seriam os exemplos a serem citados. Ficaremos apenas com o Fernandes de origem portuguesa,
que
significava
"filho
de
Fernando".
Inicialmente os primeiros a utilizar este sobrenome eram conhecidos como ―Fulano Filius Quondam Fernandus‖ ou seja ―Fulano filho do senhor Fernando―, já a segunda geração, ou seja, os netos do senhor Fernando utilizavam o nome do avô como sobrenome Outros exemplos: Paoli, Rodrigues, Paula, Afonso, Veras e Lopes. A maioria dos sobrenomes escandinavos é patronímica. Religiosa: A maioria dos sobrenomes de origem religiosa não possui brasão, visto que os filhos bastardos não tinham pai legal, as mães acabavam por acrescentar um nome em devoção a algum santo católico ou símbolo religioso, as pessoas achavam que isso poderia trazer proteção e sorte. Alguns exemplos: Santos, Cruz, Sacramento, Neves, Jesus e Nascimento.
60
Claudio Campacci Nobreza: São sobrenomes em que o patriarca que iniciou a linhagem tinha algum título de nobreza. Baroni (italiano) o patriarca era um Barão; Marques (português e espanhol) o patriarca era um Marquês; Duque (português) o patriarca era um Duque.
Observe-se, entretanto que, para se chegar à origem do sobrenome, é necessário remontar a primeira pessoa que o utilizou e identificar claramente a língua falada na época e local onde tal pessoa residia.
Principais Títulos de Nobreza
U
tiliza-se este substantivo para
denominar
um
conjunto de indivíduos
que gozam, devido à transmissão legal
hereditária,
de
privilégios
políticos e direitos superiores aos da maioria da população. O princípio de tudo está nas 61
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais sociedades primitivas, quando os homens mais fortes e hábeis
tornavam-se
chefes
de
tribos
ou
clãs.
Frequentemente havia um corpo de indivíduos que o apoiava e que adquiria prestígio em virtude do poder do chefe. Mais tarde essa casta especial transmitia aos seus descendentes os privilégios de que gozava. Em fase mais avançada da história, a riqueza ou a influência política muitas vezes permitia aos homens ganhar o estado de nobreza. Nas nações da moderna Europa, a nobreza teve origem na aristocracia feudal. A partir do século XI os nobres tomaram os nomes de seus domínios territoriais, de seus castelos ou de povoações sob seu domínio. Daí a partícula "de", para os franceses e portugueses, ―di‖ para os italianos, ―del‖ para os espanhóis e "Von ou Van" para os povos germânicos.
A Segunda Nobreza A aristocracia ou segunda nobreza é definida como abaixo da grande nobreza. Nos séculos VIII à XI dividia-se em ricos-homens, fidalgos, cavaleiros e escudeiros. 62
Claudio Campacci Ricos-homens: os senhores mais poderosos, pois reuniam a fidalguia de nascimento, a autoridade e prestígio de cargos públicos mais elevados. Fidalgos: nobres de raça, mas não revestidos de magistratura civil ou militar Cavaleiro: todos que eram admitidos à confraria militar medieval da cavalaria e também homens livres que podiam custear por si cavalos e armas e ir à guerra, recebendo, por isso, certos privilégios. Escudeiros: eram nobres ou não, que tinham por dever seguir, cada um, o seu cavaleiro, ajudando-o a vestir as armas e combatendo na retaguarda dele. A idade que se passava a escudeiro era a de 14 anos. Antes disso os jovens nobres costumavam servir como pagens ou "donzéis" nos paços dos grandes senhores.
A grande nobreza Imperador é nominalmente um monarca e governante de um
império
Imperadores
ou são
qualquer
outro
geralmente
estado
imperial.
reconhecidos
como
superiores aos reis em honra. Seu posto pode ser obtido 63
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais por hereditariedade, ou por força, como num golpe de estado. No caso de haver uma imperatriz reinante, seu marido não recebe título de imperador, sendo chamado simplesmente de consorte. O título de imperador pode ter outras designações, em alemão Kaiser, nas cultura eslavas, especialmente na Rússia o termo usado é Czar, ambos
derivam
do
título
romano
César.
Atualmente o único país que possui um imperador como chefe de estado é o Japão.
Rei é um chefe de Estado que pode ou não, dependendo do estilo de governo de uma nação, o exercício de poderes monárquicos sobre um território, normalmente chamado de reinos. Um rei é o segundo maior título soberano, a seguir ao de Imperador. O equivalente feminino do Rei é a Rainha embora o termo "rainha" pode referir-se a uma monarca de seu próprio direito, a uma rainha reinante, ou à esposa de um rei, uma rainha consorte. O marido de uma rainha reinante é, por vezes, tratado como rei consorte, mas é mais comumente denominado de príncipe consorte. Muitas vezes, o rei não 64
Claudio Campacci tinha só uma função política mas, ao mesmo tempo, uma religiosa, atuando como sumo sacerdote ou divino rei. Príncipe é a denominação dada ao chefe de estado de um principado (Príncipe reinante) ou a um membro de uma família reinante. Atualmente existem três principados independentes: Andorra, Mônaco e Liechtenstein. Na maioria das monarquias o título de príncipe é dado a todos os filhos de um chefe de estado. Em algumas monarquias o título príncipe é as vezes concedido a nobres não pertencentes diretamente à família real. Nas monarquias de Portugal e Espanha contudo, o título de príncipe só é dado aos herdeiros do trono, recebendo os restantes
filhos
do
monarca
o
título
de
Infante.
O termo foi usado pela primeira vez pelo imperador Otávio Augusto em 27 A.C. e vem do Latim "principis", "princeps", que significa ‗‗o primeiro cidadão do estado‘‘, e era atríbuido anteriormente ao chefe do senado romano como principes senatus. Duque é um título que se refere ao chefe de estado de um Ducado. Pode ser também um título nobiliárquico 65
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais integrado ou não numa casa real. É um título hereditário, mas pode ser também atribuído a uma pessoa, neste caso normalmente a um filho do monarca reinante ou a uma pessoa cujos serviços o monarca queira recompesar. A origem da palavra "duque" vem ou do grego bizantino douka,
ou do latim duce, que significa chefe. Para
outros, a origem da palavra está no substantivo latino dux, que significa "o que conduz", usado no Império Romano como comandante militar. A mulher de um duque ou a chefe de um ducado chama-se "duquesa". Os duques recebiam dos reis o tratamento de primos, com todas as dignidades e honrarias inerentes. Na Idade Média, o título foi primeiro instituído entre os monarcas germânicos, a designar os regentes de províncias logo acima dos Condes, figurando no mais alto ranque da hierarquia nobiliárquica. Havia, no entanto, variações em seu significado entre os diversos feudos e reinos, sendo mesmo usado por príncipes. Esse hábito foi perpetrado por algumas monarquias, que ainda hoje intitulam seus príncipes mais importantes – especialmente o herdeiro aparente – com algum título de duque, como nas
66
Claudio Campacci nobrezas britânica, belga, dinamarquesa, espanhola, holandesa e sueca.
Marquês é um título nobiliárquico da nobreza européia, que foi utilizado em outras monarquias originárias do mundo ocidental, como o Império do Brasil no século XIX. O título vem do germânica Markgraf, possui variantes em diversas culturas da Europa. Na hierarquia o termo marquês foi introduzido pelo imperador Carlos Magno. Os territórios do império que coincidiam com a fronteira eram denominados "marcas", e o responsável pela defesa e administração dessas "marcas" era o margrave. Muito depois, ainda no Sacro Império Romano-Germãnico fundado por Carlos Magno, esses territórios de fronteira começaram a
ser
cedidos aos principais
condes,
passando esses então a marqueses, responsáveis pelos marquesados. A partir do século XV, o título passou a não mais ser necessariamente relacionado a jurisdição ou a soberania de um território ou a alguma função pública, somente como grau de nobreza. Dependendo do de cada nação monarquica, é comumente um título hereditário, 67
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais que todavia não costuma ter a possibilidade de honras de grandeza. Conde vem do latim comes, comitis, que significa companheiro é um título nobiliárquico existente em muitas monarquias. Inicialmente, na Idade Média, era o senhor feudal, dono de um ou mais castelos e de terras denominadas Condado, mas posteriormente, a partir do século XIV,
o título foi utilizado apenas como grau de
nobreza. Alguns pesquisadores afirmam que inicialmente era um título militar do Império Romano do Ocidente, associado à autoridade militar e civil, do cônsul, que, mais tarde, passou aos bárbaros germânicos especialmente, assim designando seus principais colaboradores e seus representantes. A partir do século XIV, como a sociedade passou a organizar-se em países, os nobres que moravam em castelos foram pouco a pouco mudando-se para as cidades, mudando-se para palacetes urbanos, formando cortes de nobres. No século XVII, os Condes praticavam ofícios elitistas e alguns desses nobres detém propriedade
rurais.
Sendo
descendem da nobreza antiga. 68
que,
na
sua
maioria,
Claudio Campacci Visconde é um título nobiliárquico de categoria superior à de Barão e inferior à de Conde. Vem do latim "vicecomes" (viceconde). Dado principalmente aos filhos caçulas dos condes e sua descendência Barão é um título nobiliárquico existente na maioria das monarquias. Os barões pertencem a nobreza do estado, e portando, fazem parte da elite, tendo propriedades rurais, ocupando cargos políticos e por vezes descendem da nobreza antiga, tendo às vezes uma formação cultural elevada. Hoje, se sabe, foi título criado pelo Imperador Adriano para premiar soldados e administradores que se destacavam em suas atribuições, mas que não tinham direito a se assentar na alta nobreza em Roma. Com o início da Idade Média e o início do sistema Feudal, houve toda uma mudança na sociedade nobiliárquica. Barão se refere a homem, varão, pessoa poderosa pela posição ou riqueza. Baronete (Baronet) é o mais baixo título de nobreza hereditário britânica. É inferior ao de Barão (Baron) e superior ao de Cavaleiro (Knight). Usa-se comumente o 69
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais prefixo Sir seguido do primeiro nome, para homens e Lady seguido do último nome, para mulheres.
Cavaleiro é também um título nobiliárquico dado aos
fidalgos
vassalos do rei que, juntamente com os homens de armas que os senhores
das
obrigados
a
terras
apresentar
eram como
lanças, os escudeiros e cavaleiros nobres, os cavaleiros das ordens religiosas e dos concelhos que Nomeação de um Cavaleiro também
eram
conhecidos
por
cavaleiros-vilãos constituíam a Cavalaria. Na Idade Média, especialmente na época das Cruzadas, com a instituição da Cavalaria o cavaleiro ficou intimamente ligado a um código de conduta e honra, que definia não só a arte da guerra, mas também envolvendo o comportamento social.
70
Claudio Campacci
A Nobreza Brasileira no período Imperial
A
Nobreza Brasileira compreende os detentores dos títulos nobiliárquicos agraciados agraciados durante o Império
do Brasil no século XIX, sendo
que
nobres
brasileiros
ascendência
alguns na
dos
tinham nobreza
portuguesa. Sua formação inicial teve como base os títulos
de
nobreza
de
Portugal, sendo constituída dos
principais
títulos
de
nobreza. Hierarquicamente, os membros da elite do país
Foto do século XIX da família imperial brasileira
que detivessem títulos nobiliárquicos, encontravam-se acima da elite não pertencente a nobreza, pois tal título 71
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais servia como forma de ostentação de poder político e/ou origem familiar ilustre. Ao transferir-se para o Brasil, em 1808, Dom João VI deu início a nobreza brasileira, distribuindo títulos de nobreza, tendo, até 1821, tendo agraciado 28 marqueses, 8 condes, 16 viscondes e 21 barões, quatro deles brasileiros natos: baronesa de São Salvador de Campos, barão de Santo Amaro, barão de São João Marcos e barão de Goiânia. Em seus primeiros oito anos no Brasil Dom João VI outorgou mais títulos de nobreza do que em todos os trezentos anos anteriores da história da monarquia portuguesa, fato que não teve continuidade, pois nos outros anos da época imperial brasileira, apenas uma vez ao ano que o Imperador do Brasil agraciava membros da nobiliaquia com títulos nobiliárquicos. Para além desses títulos nobiliárquicos, a nobreza era formada por um grande número de aristocratas menores, que compunham a corte brasileira exercendo, no mais das
vezes,
diferentes
funções:
camareiros-mores,
mordomos-mores, capitães-mores, fidalgos, damas-de72
Claudio Campacci honra,
veadores
etc.
Pessoas
que
recebessem
condecorações das imperiais ordens honoríficas também eram incluídas, em diferentes graus, à nobreza. O título nobiliárquico não dava nenhum privilégio especial ao agraciado, além do status perante a sociedade. Os filhos de nobres, entretanto, tinham o direito de entrar na Marinha diretamente no posto de aspirante, no Exército como cadete; um privilégio concedido também aos filhos de oficiais da Guarda Nacional. Os títulos nobiliárquicos serviam como ostentação de poder político e status entre a elite, notadamente os grandes proprietários rurais. Muitos dos nobilitados, entretanto, eram descendentes diretos da nobreza portuguesa especialmente as famílias chegadas nos primeiros séculos da colonização nos estados da Bahia, Pernambuco, Sergipe, São Paulo e mais intensamente no Rio de Janeiro. Entre 1831 a 1840 sob a Regência Trina Provisória não houve nomeação alguma a títulos e honrarias. A partir do Segundo Império, sob o imperador Dom Pedro II e o advento do ciclo comercial do café, foram os 73
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais grandes cafeicultores que passaram a colecionar tais títulos, na sua maioria recebiam apenas títulos de barão, ficando conhecidos como os barões do café. O baronato acabava por ser uma espécie de legitimação de poder local, muito aos moldes dos coronéis da extinta Guarda Nacional, fazendo-os intermediários entre o povo e o Governo. Vale ressaltar que muitos barões apoiaram o golpe republicano de 1889, principalmente após a abolição da escravatura em 1888 assinada pela princesa Isabel, sendo dois dos principais focos dessa insurgência Itu e Sorocaba no estado de São Paulo. Durante este período a família imperial procurou amainar os sentimentos republicanos com uma ampla distribuição de títulos, principalmente entre importantes líderes políticos nas províncias e descendentes de nobres, foram 114 no ano de 1888 e 123 em 1889. República Com a proclamação da República em 15.11.1889 extinguiram-se os foros de nobreza brasileiros. Também, 74
Claudio Campacci ficou proibida, sob pena de acusação de alta traição e a suspensão de direitos políticos, a aceitação de foros de nobreza e condecorações estrangeiras sem a devida permissão
do
Estado.
Por
respeito
e
tradição,
especialmente aos nobres de maior destaque, foi permitido uso de seus títulos mesmo durante o regime republicano; exemplo notório é o barão do Rio Branco. Maior repressão sofreu o grupo de ativistas monarquistas, que precisaram manter o diretório monárquico de maneira não-oficial. O núcleo da família imperal que havia sido exilada na Europa também não pôde retornar ao Brasil em 1921, quando foi autorizado o seu retorno, no governo do presidente Epitácio Pessoa. O processo de escolha Os títulos nobiliárquicos não eram hereditários, mas mesmo assim, os candidatos não poderiam apresentar em sua genealogia nenhum dos impedimentos da época: Bastardia : os direitos e o estatuto legal dos bastardos foi variado em diversas culturas, em diversas épocas. Estes geralmente não tinham direito à herança dos pais ou das 75
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais mães, mas frequentemente recebiam doações ou honras dos pais ou irmãos legítimos, ou os testamentos dos pais podiam determinar uma herança específica. Na maioria dos casos dava impedimento a recebimento de títulos de nobreza. Também as acusações de bastardia serviam para retirar rivais do caminho das sucessões ou heranças dos pais. Por exemplo Isabel de Castela, Espanha usou esta arma para afastar Joana de Castela do trono castelhano
e
Filipe
I
de
Portugal
argumentou
a
ilegitimidade Dom António, Prior de Crato. Lesa Majestade: O crime de lesa-majestade foi definido dentro das Ordenações Filipinas e abrangia variadas situações. Os condenados eram punidos com execução pública por meio de tortura, seus bens se tornariam propriedade da Coroa e sua família condenada a infamia. As Ordenações Filipinas elaborada por Filipe I da Espanha em 1595, serviu de base do direito português até o século XIX, e muitos termos tiveram vigência no Brasil até o advento do Código Civil de 1916. Texto original do século XIX da Lesa Majestade: "Lesa-majestade quer dizer traição cometida contra a pessoa do Rei, ou seu 76
Claudio Campacci Real Estado, que he tão grave e abominável crime, e que os
antigos
Sabedores
tanto
estranharão,
que
o
comparávão á lepra; porque assi como esta enfermidade enche todo o corpo, sem nunca mais se poder curar, e empece ainda aos descendentes de quem a tem, e aos que com elle conversão, polo que he apartado da communicação da gente: assi o erro da traição condena o que a commette, e empece e infama os que de sua linha descendem, posto que não tenham culpa". Ofício mecânico: Era um dos impedimentos para receber títulos nobiliárquicos no Brasil e em Portugal durante o Império. Discriminava pessoas que trabalhavam (ou haviam trabalhado) com as mãos ou exerciam ofícios mecânicos como: sapateiro, ferreiro, latoeiro, marceneiro, carpinteiro, etc, atividades consideradas inferiores. Sangue infecto: era a característica dada aos judeus, mouros, africanos e seus descendentes. Esta prática denominação surgiu em Portugal e Espanha no final da Idade Média e servia para discriminar estas populações, sendo utilizada como motivo para proibir seu acesso a 77
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais cargos públicos e religiosos e títulos honoríficos. Os interessados nestes cargos eram investigados pelos menos até a quarta geração. Esta prática foi também adotada no Brasil, em relação aos títulos de nobreza. Aqueles que recebiam os títulos de nobreza no Império eram cuidadosamente escolhidos por um conjunto de atos prestados e ascendência nobre familiar, além disso, a maioria dos galardoados tinham de pagar uma vultosa quantia pela honraria nobiliárquica, mesmo se para seus filhos perpetuarem os títulos. Isso não inclui os últimos dois anos do Segundo Império sob a regência de Dom Pedro II, quando a Coroa brasileira, desesperada em função dos rumores de golpe de Estado por parte dos republicanos,
passou
a
distribuir
mais
títulos
nobiliárquicos, a alguns cidadãos da elite do país pertencentes
a
oligarquia,
mas
que
não
tinham
ascendência na nobreza. Para ser nobre, segundo a tabela de 02.04.1860, custava, em contos de réis
Duque: 2:450$000
Marquês: 2:020$000 78
Claudio Campacci
Conde: 1:575$000
Visconde: 1:025$000
Barão: 750$000
Além desses valores, havia os seguintes custos:
Papéis para a petição: 366$000
Registro do brasão: 170$000
Uma
lista
agraciados ministério
dos era
do
possíveis elaborada
Império,
com
sugestões de seus colegas, dos presidentes das províncias e de outras pessoas influentes.
As
listas eram enviadas à aprovação do
Imperador,
sendo
apresentadas, dois períodos ao ano: 2 de dezembro, aniversário do Imperador;
14 ou 25 de
março, respectivamente, aniversário da Imperatriz e aniversário do juramento da Constituição. 79
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais O alto custo é um dos motivos pelos quais os baronatos geralmente restringiam-se a uma pessoa, ou porque, no caso de haver mais de um nobre com o mesmo título, raramente eram da mesma família. Outra razão pela brevidade dos títulos é porque tal sistema nobiliárquico não durou mais do que três gerações, sendo logo derrubado
pela
proclamação
da
República
em
15.11.1889. Alguns nobres brasileiros, recebiam a distinção "com grandeza", que os autorizava a usar em seu brasão de armas a coroa do título imediatamente superior – por exemplo, um barão poderia usar em seu brasão a coroa de visconde. Também, um "grande do Império" desfrutava de outros privilégios e precedências que o título imediatamente superior gozava. A grandeza foi conferida a 135 barões, que usavam a coroa de visconde em seus brasões, e a 146 viscondes, que usavam a coroa de conde.
80
Claudio Campacci Registros de nobreza Os registros eram feitos nos livros do antigo Cartório de Nobreza e Fidalguia. Porém, é possível encontrar vários registros com erros e contradições, variando desde brasões imprecisos a datas e nomes errados, denotando a
falta
de
intimidade
brasileira
com
tal
sistema
nobiliárquico, herdado da nobreza portuguesa. Em 1848 desapareceram misteriosamente todos os documentos do Cartório de Nobreza e Fidalguia, que à altura era de responsabilidade de Possidônio da Fonseca Costa, então o rei de Armas Principal, fato que dificulta em muito o registro de títulos nobiliárquicos concedidos durante o Primeiro
Reinado
sob Dom Pedro
I.
Luís
Aleixo
Boulanger, seu sucessor, buscou reaver parte dessa documentação, produzindo um único livro com parte da primeira geração da nobreza brasileira. No total, ao longo dos dois reinados, foram criados 1211 títulos de nobreza: 3 ducados, 47 marquesados, 51 condados, 235 viscondados e 875 baronatos. O número total de agraciados, contudo, foi menor com cerca de 980 81
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais pessoas, pois muitos receberam mais de um título. Esses números não são totalmente precisos, pois há dúvidas sobre a validade e mesmo a existência de alguns títulos. Muito dessa dúvida se deve à perda
A perseguição dos judeus na península Ibérica
A
ntes de listar os sobrenomes que os judeus adotaram, é importante esclarecer o que são os Cristãos-Novos
perseguidos
e
até
e
mortos
portuguesa e espanhola. 82
porque na
muitos
Inquisição
foram católica
Claudio Campacci Num período em que o poder papal e religioso católico confundia-se com o poder real, o Papa Gregório IX, em 20 de abril de 1233 editou duas bulas que marcam o início da Inquisição, instituição da Igreja Católica Romana que perseguiu, torturou e matou vários de seus inimigos, ou quem ela entendesse como inimigo, acusando-os de hereges,
por
vários
séculos.
A
bula
"Licet
ad
capiendos", a qual verdadeiramente marca o início da Inquisição, era dirigida aos inquisidores, e era do seguinte teor: "Onde quer que os ocorra pregar, vós estais facultados, se os pecadores persistem em defender a heresia apesar das advertências, a privar-los para sempre de seus benefícios espirituais e proceder contra eles e todos os outros, sem apelação, solicitando em caso necessário a ajuda das autoridades seculares e
vencendo sua
oposição, se isto for necessário, por meio de censuras eclesiásticas inapeláveis" No mesmo ano, foi nomeado inquisidor da região de "Pays de la Loire", Robert el Bougre, que com saques e execuções em massa, logo após dois anos foi promovido a responsável pela inquisição em toda a França. Em 83
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais 1252, o Papa Inocêncio IV editou a bula "Ad extirpanda", a qual instituiu o Tribunal da Inquisição e autorizava o uso da tortura. O poder secular era obrigado a contribuir com a atividade do tribunal da igreja. Nos processos da inquisição a denúncia era prova de culpabilidade, cabendo ao acusado a prova de sua inocência.
O
acusado
era
mantido
incomunicável;
ninguém, a não serem os agentes da Inquisição, tinha permissão de falar com ele; nenhum parente podia visitálo. Geralmente ficava acorrentado. O acusado era o responsável pelo custeio de sua prisão. O julgamento era secreto e particular, e o acusado tinha de jurar nunca revelar qualquer fato a respeito dele no caso de ser solto. Nenhuma
testemunha
era
apresentada contra
ele,
nenhuma lhe era nomeada; os inquisidores afirmavam que tal procedimento era necessário para proteger seus informantes. A tortura só era aplicada depois que uma maioria do tribunal a votava sob pretexto de que o crime tornara-se provável, embora não certo, pelas provas. Muitas vezes a tortura era decretada e adiada na esperança de que o medo levasse à confissão. A confissão podia dar direito a uma penalidade mais leve e 84
Claudio Campacci se fosse condenado à morte apesar de confesso, o sentenciado podia "beneficiar-se" com a absolvição de um padre para salvá-lo do inferno. A tortura também podia ser aplicada para que o acusado indicasse nomes de companheiros de heresia. As testemunhas que se contradiziam podiam ser torturadas para descobrir qual delas estava dizendo a verdade. Não havia limites de idade para a tortura, meninas de 13 anos e mulheres de 80 anos eram sujeitas à tortura. As penas impostas pela inquisição iam desde simples censuras (leves ou humilhantes), passando pela reclusão carcerária (temporária ou perpétua) e trabalhos forçados nas galeras, até a excomunhão do preso para que fosse entregue às autoridades seculares e levado à fogueira. Castigos
esses
normalmente
acompanhados
de
flagelação do condenado e confiscação de seus bens em favor da igreja. Podia haver privação de herança até da terceira
geração
de
descendentes
do
condenado.
Obrigação de participar de cruzadas também foi pena durante o século XIII. Na prisão perpétua, considerada um gesto de misericórdia, o condenado sobrevivia a pão e água e ficava incomunicável. Nem o processo nem a pena 85
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais suspendiam-se com a morte, pois a inquisição mandava "queimar os restos mortais do herege e levar as cinzas ao vento", confiscando as propriedades dos herdeiros. Havia também, muito comum na inquisição portuguesa e na espanhola, a execução em efígie, onde era queimada a imagem do condenado, quando este fugia e não era encontrado. Livros também eram levados à fogueira. Entre esses inimigos os judeus eram o principal alvo. Até fins do século XV os judeus portugueses viveram em relativa paz social, apesar de vários períodos de comoção onde a minoria judaica pôde sentir o peso da opressão da Igreja Católica. Foi no período entre 1450 e 1480 que houve maior estabilidade comunitária, quando então alcançaram significativas projeções no reino português, como
ministro
de
Estado,
médicos,
advogados,
procuradores, mercadores, financistas, intelectuais e geógrafos. Após esta fase, começam os três séculos de grandes perseguições e sofrimentos que os conduziram a três diferentes caminhos: manter-se no judaísmo e assim serem condenados pela Inquisição, muitas vezes a pena de morte numa fogueira, fugirem para estados mais liberais como os Países Baixos e Inglaterra ou que a 86
Claudio Campacci maioria optou em se converterem como ―Cristãos-Novos‖, isto é, serem batizados como novos Católicos. Após 1480 as relações judaico-cristãs deterioram-se rapidamente,
agravadas
pela
chegada
de
aproximadamente 60.000 fugitivos judeus perseguidos pela Inquisição espanhola e expulsos da Espanha em 31.03.1492 pelos Reis Fernando e Isabel, pelo fato de se converterem ao catolicismo Dom
João
importantes
II
(imagem),
na
influenciado
por
judeus
Corte,
acolhe-os, mas impõe-lhes o pagamento de oito ducados de ouro, quantia deveras elevada para a época, para permanecerem lusitanas
(os
em que
terras não
podiam pagar este valor viam metade dos seus bens confiscados para a Coroa). Pretendia-se a fixação de operários especializados, que faltavam em Portugal. Falecido Dom João II, sucede-lhe seu filho Dom Manuel I, 87
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais monarca que se revelou tolerante para com os judeus que não podiam pagar. Em Portugal a situação se agrava com o contrato de casamento entre Dom Manuel I e Isabel, princesa espanhola filha dos reis católicos. A influência do inquisidor geral Torquemada, orientador espiritual da princesa, determina a obrigatoriedade da cláusula de expulsão dos judeus de Portugal, como já o eram na Espanha.
Neste período, algumas leis portuguesas, apesar de discriminá-los. Objetivavam assimilar esta parte do povo; o filho de judeu que se convertesse ao catolicismo tinha desde logo o direito de receber sua parte da herança, supondo-se falecidos os pais, para este efeito. Era proibido ao judeu deserdar seu filho por mudanças de crença. Em 1496, no Mês de dezembro, estando Dom Manuel I em Muge, expediu-se o édito de expulsão dos judeus, dando-se o prazo de 10 meses, sob pena de morte e confisco de todos os seus bens, para a saída definitiva do país. Este édito obrigou os judeus a vender suas 88
Claudio Campacci propriedades e negócios muito abaixo do preço de mercado e muitos casos nem receberam o valor pedido. Por determinação real, todos os portos portugueses, exceto o de Lisboa, foram fechados para a emigração judaica. A secreta decisão oficial de não deixá-los partir, mesmos expulsos, e a não existência de navios disponíveis e mantimentos necessários às viagens ocasionou grande concentração de hebreus nesta praça. Em abril de 1497, expediram-se ordens para que se tomassem os filhos menores de quatorze anos dos judeus que, à conversão ao catolicismo, houvessem optado pelo desterro. E que as crianças judias fossem distribuídas pelas cidades e aldeias, para que se criassem e se educassem no seio de famílias católicas. Quando a notícia deste decreto transpirou entre o povo banido, o terror grassou por todos os pontos do país. Gritos de mães, de cujos braços arrancavam os filhos; gemidos e desespero de país e irmãos; reações e lutas dos mais fortes e audaciosos; lágrimas e inúteis súplicas dos mais fracos e tímidos convertiam o reino português no cenário de um drama diabólico. Muitos pais, no delírio da resistência, preferiam matar os filhos e, logo após, 89
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais suicidar-se a entregá-los aos oficiais do rei. No decurso desta perseguição, os judeus conheceram a dura sorte que os esperava. Queriam compeli-los a qualquer custo, à aceitação do batismo católico. Em outubro de 1497, aglomeravam-se em Lisboa, mais de vinte mil judeus, quando então se celebrou a mais desumana manifestação de opressão e violência. Uma macabra
festa
onde
a
comunidade
portuguesa,
encabeçada por padres e protegida por oficiais régios, caiu sobre homens, mulheres e velhos judeus e, depois de batizar violentamente os jovens judeus, passaram a batizar adultos e velhos. Os que resistiam eram golpeados e arrastados pelos cabelos à pia batismal. Oprimidos, humilhados, expulsos, espoliados, violentados, sem direito a qualquer justiça terrestre, alquebrados pela fome, pelos maus tratos, com suas mentes já no limites da loucura, suas almas despedaçadas, postos entre a possibilidade da morte a que a lei os condenava se não saíssem de Portugal e os obstáculos levantados pelo legislador para que sua saída do país se tornasse impossível,
estes
infelizes
curvavam
submeteram-se ao batismo católico. 90
a
cabeça
e
Claudio Campacci O sacrifício estava consumado. Os batizados, agora não mais judeus e sim ―cristãos novos‖, continuaram expostos à malevolência popular que não tardaria a acusá-los da ―criminosa‖ atitude de voltar, no segredo de seus lares, à prática do Judaísmo. Tal clima desencadeou em 15 de abril de 1506, o morticínio de milhares de judeus no ―pogrom‖ de Lisboa. No Domingo seguinte, ao meio-dia, celebrados os ofícios examinavam o povo a suposta Maravilha, isto é, o aparecimento de uma estranha luz, contra cuja autenticidade recrescia suspeita no espírito de muitos espectadores. Achavam-se entre estes um cristãonovo, ao qual escaparam da boca
manifestações
imprudentes de incredulidade acerca do milagre. A indignação dos crentes, excitadas, provavelmente pelos autores da burla, comunicou-se à multidão. O miserável blasfemador arrastado para o adro, assassinado e queimado o seu cadáver. Seguiu-se um longo drama de anarquia. Os cristãos-novos que andavam pelas ruas, desprevenidos, eram mortos ou feridos, e arrastados para as fogueiras que rapidamente se tinham armado, tanto no Rossio como nas Ribeiras do Tejo. Nesta praça foram queimadas, nesta tarde, cerca de trezentas pessoas. 91
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais Alguns, porém, ao longo de todas as perseguições, conseguem fugir e assim, judeus portugueses fundam, em 1593, as primeiras comunidades de Amsterdam, nos Países-Baixos. Gaspar de Lemos, o judeu, também conhecido como Gaspar da Gama (por ter sido adotado por Vasco da Gama,
nas
Índias)
ou
Gaspar das Índias, capitãomor
de
Pedro
Álvares
Cabral, do navio que levava os
mantimentos
da
expedição que descobriu o Brasil
em
1500,
era
Gaspar de Lemos (Gama)
homem que falava muitos idiomas, recebia cartas diretas do rei Dom Manuel I, era respeitado pelos seus conhecimentos marítimos, e segundo Afrânio Peixoto e Alexandre von Humboldt é considerado co-descobridor do Brasil. Fernando de Noronha, dois anos após o descobrimento do Brasil, lidera um grupo de judeus portugueses e apresenta a Dom 92
Claudio Campacci Manuel I a primeira proposta de colonização do Brasil, que é aceita e firmada em 1503. Quando em 1531 Dom João III decide mandar Martim Afonso de Souza chefiando a primeira expedição colonizadora ao Brasil, este já encontra dois interessantes núcleos de desenvolvimento, um no nordeste e outro no sul. Na Bahia é recebido por Caramuru (Diogo Álvares Correia), de notória família judaico-portuguesa, rodeado de filhos e casado com a índia Paraguaçu, filha do cacique Taparicá. Tão
grande
a
importância
de
Caramuru, que o rei Dom João III redige, 19.11.1548, carta pedindo que ajude ao primeiro governador geral do Brasil, Tomé de Souza. Sua aldeia, ―Vila Velha‖, transforma-se no ano seguinte na primeira capital do Brasil – Salvador. No sul, em 1532, Martim Afonso de
João Ramalho
Souza, encontra João Ramalho, cuja lendária chegada ao Brasil remonta a 1497, época da expulsão dos judeus de Portugal.
Torna-se
verdadeiro 93
líder
dos
índios
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais Guayanazes casando-se com Bartira, filha do cacique Tibiriçá. Nutria verdadeira aversão aos padres. Recebeu de Martim Afonso de Souza o cargo de capitão-mor e sua aldeia transformou-se na primeira cidade brasileira fora do litoral – Piratininga, depois Santo André da Borda do Campo, atualmente Santo André, cidade pertencente à região do Grande ABC. Foi também co-fundador de São Vicente. Extremamente curiosa é a letra hebraica que João Ramalho usava no meio de sua assinatura. Alguns cristãos-novos, porém, permaneceram fieis à sua religião original (sendo assim denominados de marranos ou criptojudeus) e inventaram formas de esconder a sua convicção
religiosa.
As
alheiras, um tipo de enchido de carne de galinha e outras aves, foram por exemplo criadas para imitar os tradicionais chouriços de carne de porco, proibida aos judeus. Visto que muitos cristão-novos não se converteram plenamente fez com que Dom João 94
Claudio Campacci III mandasse instalar a Inquisição em Portugal em 1536 e ao estabelecimento de uma política de distinção em relação aos cristãos-novos. Sob o espectro da Inquisição, nunca mais os cristãos-novos, na sua maioria judeus, tiveram paz em Portugal. Continuaram, de maneira clandestina, a fugir para os Países-Baixos, Norte da África, Inglaterra, Salônica, Itália e especialmente para o Brasil, mantendo laços secretos e apoiando os cristãosnovos portugueses. Muitas das cerca de 1.500 vítimas mortas na Inquisição portuguesa eram cristãos-novos, assim como boa parte dos seus 25.000 processos. Com a saída dos judeus de Portugal e Espanha, nota-se um declínio dessas potencias, visto que eles estavam na dianteira do comércio, medicina e finanças. Justamente os países que os acolheram, em especial os PaisesBaixos e Inglaterra tiveram um crescimento muito grande nessas áreas e entraram no rol de países com possessões em outros continentes. Além do confisco de bens, os cristãos-novos foram também vítimas dos atestados de sangue infecto nas candidaturas a cargos públicos, militares ou da Igreja, o 95
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais que os afastava por possuírem confirmação inquisitorial ou na sua árvore genealógica parentesco judeu ou mouro.Muitos judeus portugueses foram degredados para o Brasil no início da colonização, a maioria deles se fixando na Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo. O golpe mortal na Inquisição portuguesa foi dado em 1774, quando o Marquês de Pombal transformou o tribunal do “santo ofício” Marquês de Pombal
em
um
tribunal
régio
comum. Formalmente, o “santo
ofício” só foi extinto em Portugal e no Brasil através do decreto de 31.03.1821.
96
Claudio Campacci
Os principais sobrenomes que os Cristãos-Novos adotaram
O
s judeus sefaradim. sephardim ou sefarditas dão a seus filhos o nome dos avós, que geralmente estão vivos. Assim, numa árvore
genealógica sefaradí vão encontrar o mesmo nome uma geração em média. Ao lermos a história da Espanha e Portugal não saberemos às vezes quem morreu, e quem continua vivo. Será o avô, ou o neto? Outras vezes encontram o filho com o mesmo nome que o pai, mas é um costume cristão que se encontra entre os judeus sefaradim depois que deixaram a Espanha e Portugal, por causa da inquisição Católica. Diferentemente dos aristocratas e das pessoas ricas, os judeus não tinham sobrenomes na Europa Oriental e parte da Ocidental até os anos napoleônicos, nos princípios do século XIX. A maior parte dos judeus dos países conquistados por Napoleão Bonaparte, Rússia, Polônia, e Alemanha receberam a determinação de adotar 97
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais sobrenomes para cobrança de impostos. Após a derrota de Napoleão, muitos judeus retiraram estes nomes e voltaram ao "filho de", surgindo então nomes como: Mendelsohn, Jacobson, Levinson, etc. Son é o termo germânico para filho. Através do Edito de Tolerãncia de 1781, o imperador Joseph II, do Sacro
Império
Germânico
Romano
concedeu
a
liberdade de culto a todos os cristãos, embora os protestantes não obtivessem todos os direitos.
Imperador Joseph II
Os judeus deixaram de ser obrigados de trazer sinais distintivos
nas
roupas
e
puderam
frequentar
as
universidades. Apesar de muito apegado ao catolicismo, não hesitou em colocar a Igreja sob sua autoridade, exercendo uma política religiosa autônoma de Roma que 98
Claudio Campacci ficou conhecida por "josefismo". Suprimiu as ordens contemplativas e vendeu os bens destas em proveito das obras assistenciais em 1781, fez com que os clérigos seculares se tornassem funcionários civis e instituiu seminários estatais. Limita o culto das relíquias, os feriados e as peregrinações. Joseph II fez os judeus tomar sobrenomes em 1788. As "listas de sobrenomes" do Sacro Império Romano Germânico, em geral, usavam palavras em alemão, muito parecidas com iídiche. A Polônia ordenou os sobrenomes em 1821 e a Rússia em 1844. É provável que algumas das famílias judias já tivessem recebido seus sobrenomes nos últimos 175 anos ou menos. Na França e nos países anglo-saxônicos os sobrenomes voltaram no século XVI. Também os judeus sefarditas recuperaram seus sobrenomes após longos séculos. A Espanha antes de Fernando e Isabel foi uma época de ouro para os judeus. Eles foram expulsos por Isabel no mesmo ano em que Colombo partiu para a América. Os primeiros judeus americanos eram sefarditas..
99
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais
Significado dos sobrenomes
O
s sobrenomes judaicos nos países anglosaxões.
Cores: Roit, Roth (vermelho); Grun, Grin (verde); Wais, Weis, Weiss (branco); Schwartz, Swarty (escuro, negro); Gelb, Gel (amarelo).
Natureza: Berg (montanha); Tal, Thal (vale); Wasser (água); Feld (campo); Stein (pedra); Stern (estrela).
Metais, pedras preciosas, mercadorias: Gold (ouro), Silver (prata), Kupfer (cobre), Eisen (ferro), Diamant, Diamante (diamante), Rubin (rubi), Perl, Pearl (pérola), Glass, (vidro),
Vegetação: Baum, Boim (árvore); Blat (folha); Blum (flor); Rose (rosa); Holz (Madeira), Orange (laranja); Lemon (limão). 100
Claudio Campacci
Características físicas: Shein, Shen (bonito); Hoch (alto); Lang (comprido); Gross, Grois (grande), Klein (pequeno), Kurtz (curto); Adam (homem). Profissões:
Beker
(padeiro);
Schreiber (escriturário);
Singer
Schneider (cantor).
(alfaiate); Holtzkocker
(cortador de madeira), Geltschimidt (ourives), Kreigsman, Krigsman, Krieger, Kriger (guerreiro, soldado), Eisener (ferreiro), Fischer (peixeiro, pescador), Gleizer (vidreiro). Utilizaram-se as palavras de forma simples, combinadas e com a agregação de sílabas como son, filho; man, homem;
er:
que
designa
lugar,
agregando-se
preferencialmente após o final do nome da cidade. Em muitos
países
adaptaram-se
as
terminações
dos
sobrenomes ao uso do idioma do país como o sufixo "ski", "sky" ou "ska" para o caso de mulher, "as", "iak", "shvili" , "wicz" ou "vich" para os homens. Então, com a mesma raiz, temos por exemplo: Gold, que deriva em Goldman, Goldrossen, Goldanski, Goldanska, 101
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais Goldas, Goldiak, Goldwicz, etc. A terminação indica que idioma falava-se no país de onde é o sobrenome. Sobrenomes espanhóis: Entre os sobrenomes judaicos espanhóis é fácil reconhecer ofícios, designados em árabe, ou em hebraico, como: Amzalag (joalheiro); Saban (saboneiro); Nagar (carpinteiro); Haddad (ferreiro); Hakim (médico). Profissões relacionadas com a sinagoga como: Hazan (cantor);
Melamed
(maestro);
Dayan
(juiz).
Cohen
(rabino). Levy, Levi (auxiliar do templo). Títulos honoríficos: Navon (sábio); Moreno (nosso mestre) e Gabay (oficial). Muitos sobrenomes espanhóis adquiriram pronuncia ashkenazi na Polônia, como exemplo, Castelanksi, Luski (que vem da cidade de Huesca, na Espanha). Ou tomaram como sobrenome Spanier (espanhol), Fremder (estranho) ou Auslander (estrangeiro). Na Itália a Inquisição se instalou depois que na Espanha, de modo 102
Claudio Campacci que houve também judeus italianos que emigraram para a Polônia. Aparece o sobrenome Italiener e Welsch ou Bloch, porque a Itália é também chamada de Wloche em alemão. Nomes de cidade ou país de residência: Exemplos: Berlin, Berliner, Frankfurter, Danziger, Oppenheimer, Deutsch ou Deutscher
(alemão),
Pollack
(polonês),
Breslau,
Mannheim, Cracóvia, Warshaw, (Varsóvia). Nomes comprados: Exemplos: Gluck (sorte), Rosen (rosas), Rosenblatt (papel ou folha de rosas), Rosenberg (montanha de rosas), Rothman (homem vermelho), Koenig (rei),Koenigsberg (a montanha do rei), Spielman (homem que joga ou toca), Lieber (amante), Berg (montanha), Wasserman (morador da água), Kershenblatt (papel de igreja), Kramer (que tenta passar como não judeu). Nomes
designados
(normalmente
indesejáveis):
Exemplos: Plotz (morrer), Klutz (desajeitado), Billig (barato). Sobrenomes oriundos da Bíblia: Uma boa quantidade de sobrenomes judeus deriva dos nomes bíblicos, ou de 103
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais cidades européias da Ásia Menor. Isto muitas vezes fez os judeus levarem consigo as pegadas dos lugares em que se originaram. Tomemos como exemplo de "raiz de sobrenome" o nome de Abraham (Abrahão). Filho de Abraham se
diz
diferentemente
em cada
idioma.
Abramson, Abraams, Abramchik em alemão, ou holandês. Abramov ou Abramoff em russo. Abramovici, Abramescu em rumeno. Abramski, Abramovski nas línguas eslavas. Abramino em espanhol, Abramelo em italiano. Abramian en armênio, Abrami, Ben Abram em hebraico. Bar Abram em aramaico e Abramzadek ou Abrampur em persa. Abramshvili em georgiano, Barhum ou Barhuni em árabe. Os judeus de países árabes também usaram o prefixo bin. Os cristãos também passaram a
usar seus
sobrenomes com agregados que significam "filho de". Os espanhóis usam o sufixo "ez", os suecos e ingleses o sufixo "son", os portugueses “es”, os dinamarqueses “sen” e os escoceses põem "Mac" no início do sobrenome. Os sobrenomes judaicos não tomaram a terminação dinamarquesa nem o prefixo escocês.
104
Claudio Campacci Também há sobrenomes derivados de iniciais hebraicas, como Katz ou Kac, que em polonês se pronuncia Katz. São duas letras em hebraico, K e Z iniciais das palavras Kohen Zedek, que significa "sacerdote justo". Sobrenomes adquiridos em viagens: Nos sobrenomes que derivam de cidades a origem é clara em Romano, Toledano, Minski, Kracoviac, Warshawiak (de Varsóvia). Outras vezes o sobrenome mostra o caminho que os judeus tomaram na diáspora. Por exemplo, encontramos na Polônia sobrenomes como Pedro, que é um nome ibérico. O que indica? Foram judeus que escaparam da Inquisição espanhola no século XV. Existem muitas histórias nas mudanças dos sobrenomes. Durante as conversões forçadas na Inquisição Católica na Espanha e em Portugal, muitos judeus se converteram adotando novos sobrenomes, que as paróquias escolhiam para os "cristãos novos" como Salvador ou Santa Cruz. Outros receberam o sobrenome de seus padrinhos cristãos.
105
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais Mais tarde, quando muitos fugiram para os Países-Baixos, América ou ao Império turco, para praticarem a religião judaica, eles conservaram seu novo sobrenome.
Ostentar algum sobrenome da lista abaixo não garante que a pessoa tenha origem judaica, porque muitos dos sobrenomes
escolhidos
pelos
Cristãos-Novos
já
pertenciam aos Cristãos-Velhos (aqueles que nunca tiveram passado judeu e sempre foram católicos). Especialmente no Brasil tem-se a idéia que todo sobrenome ligado a natureza, como Oliveira, Silva, Pinheiro, Rocha, etc são todos de origem judaica. Na realidade são sobrenomes muito antigos e muitos judeus simplesmente o adotaram, como o fizeram com os sobrenomes Nunes, Lopes, Fernandes, Rodrigues, etc.
Abaixo a lista dos principais sobrenomes portugueses e alguns
espanhóis
adotados
pelos
judeus.
Muitos
sobrenomes portugueses terminados em “ES” têm o equivalente espanhol “EZ”
106
Claudio Campacci
A Abreu, Abrunhosa, Affonseca, Affonso, Aguiar, Ayres, Alam, Alhertú, Albuquerque, AlÍaro, Almeida, Alonso, Alvade, Alvarado, Alvarenga, Alvares, Aivarez, Anelos, Alveres, Alves, Aivim, Alvorada, Alvres, Amado, Amaral, Andrada, Andrade, Anta, Antônio, Antunes, Arailjo, Araújo, Arrahaça,Arroyo, Arroja, Aspalhão, Assumpção, Athayde, Avila, Avis, Azeda, Azeitado, Azeredo, Azevedo.
B Bacelar, Balão, Baihoa, Balíeyro, Balteiro, Bandes, Baptista, Barata, Barbalha, Barhosa, Barhoza, Bareda, Barrajas, Barreira, Barreta, Barreto, Barros, Bastos, Bautista, Batista, Beirão, Belinque, Belmonte, Bello, Bentes, Bernal, Bernardes, Bezerra, Bicudo, Bispo, Bivar, Bocarro, Boned, Bonsucesso, Borges, Borralho, Botelho, Bragança, Brandão, Bravo, Brites, Brito, Brum, Bueno, Bulhão.
C Cahaço, Cahral, Cahreíra, Cáceres, Caetano, Calassa, Caldas, Caldeira, Caldeyrão, Callado, Camacho, Câmara, Camejo, Caminha, Campo, Campos, Candeas, Capote, 107
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais Cárceres, Cardoso, Cardozo, Carlos, Carneiro, Carrança, Carnide, Carreira, Carrilho, Carrollo, Carvalho, Casado, Casqueiro, Cásseres, Castanheda, Castanho, Castelo, Castelo Branco, Castelhano, Castilho, Castro, Cazado, Cazales, Ceya, Cespedes, Chacla, Chacon, Chaves, Chito, Cid, Cobilhos, Coché, Coelho, Collaço, Contreíras, Cordeiro, Corgenaga, Coronel, Corrêa, Cortei., Comjo, Costa, Coutinho, Couto, Covilhã, Crasto, Cruz, Cunha.
D Damas, Daniel, Datto, Delgado, Devei, Diamante, Dias, Diniz, Dionísio, Dique, Déria, Dona, Dourado, Drago, Duarte, Duraes.
E Eliate, Escobar, Espadilha, Espinhoza, Espinoza, Esteves, Évora.
F Faísca, Falcão, Faria, Farinha, Faro, Farto, Fatexa, Febos, Feijão, Feijó, Fernandes, Ferrão, Ferraz, Ferreira, Ferro, Fialho, Fidalgo, Figueira, Figueiredo, Figueiró, Figueiroa, Flores, Fogaça, Fonseca, Fontes, Forro, Fraga, 108
Claudio Campacci Fragozo, França, Frances, Francisco, Franco, Freire, Freitas, Froes, Frois, Furtado.
G Gabriel, Gago, Galante, Galego, Galeno, Gallo, Galvão, Gama,
Gamboa,
Gançoso,
Ganso,
Garcia,
Gasto,
Gavilão, Gil, Godirtho, Godins,Goes, Gomes, Gonçalves, Gouvea, Gracia, Gradis, Gramacho, Guadalupe, Guedes, Gueybara,
Gueyros,
Guerra,
Guerreiro,
Gusniao,
Guterres.
H Henriques, Homem. I Idanha, Lscol, Isidro..
J Jordâo, Jorge, Jnbim, Julião.
L Lafaia, Lago, Laguna, Lmy, Lara, Lassa, Leal, Leão, Ledcsma, Leitão, Leite, Lemos, Lima, Liz, Lobo, Lodesma, Lopes, Loução, Loureiro, Lourenço, Louzada , Louzano, Lucena, Luíz, Lima, Luzarte. 109
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais
M Macedo,
Machado,
Machuca,
Madeira,
Madureira,
Magalhães, Maia, Maioral, Maj, Maldonado, Malheiro, Manem,
Manganês,
Manhanas,
Manoel,
Manzona,
Marçal, Marques, Martins, Mascarenhas, Mattos, Matoso, Medalha, Meddros, Medina, Melão, Mello, Mendanha, Mendes, Mendonça, Menezes, Mesquita, Mezas, Miffio, Miles, Miranda, Moeda, Mogadouro, Mogo, Molina, Mot,forte, Monguinho, Moniz, Monsanto, Montearroyo, Monteiro, Montes, Montezinhos, Moraes, Morales, Morão, Morato,
Moreas,
Moreira,
Moreno,
Motta,
Moura,
Mouzinho, Munhoz.
N Nabo, Nagera, Navarro, Negrão, Neves, Nicolao, Nobre, Nogueira, Noronha, Novaes, Nunes.
O Oliva, Olivares, Oliveira, Oróbio.
P Pacham,
Pachão,
Paixão,
Pacheco,
Paes,
Paiva,
Palancho, Palhano. Pantoja, Pardo, Paredes, Parra, Páscoa,
Passos,
Paz,
Pedrozo, 110
Pegado,Peinado,
Claudio Campacci Penalvo, Penha, Penso, Penteado, Peralta, Perdigão, Pereira,Peres, Pessoa, Pestana, Picanço, Pilar, Pimentel, Pina,
Pineda,
Pissarro,
Pinhâo,Pinheiro,
Piteyra,
Pizarro,
Pinto,
Ponheiro,
Pires,
Pisco,
Ponte,
Porto,
Pouzado, Prado, Preto, Proença.
Q Quadros, Quaresma, Queiroz, Quental.
R Rabelo, Rabocha, Raphael, Ramalho, Ramires, Ramos, Rangel,
Raposo,
Rasquete,
Rehello,
Rego,
Reis,
Rezende, Ribeiro, Rios, Robles, Rocha, Rodrigues, Roldão, Romão, Romeiro, Rosário, Rosa, Rosas, Rosado, Ruivo, Ruiz.
S Sá, Saldanha, Salvador,Samora, Sampaio, Samuda, Sanches, Sandoval, Santarém, Santiago, Santos, Saraiva, Sarilho,
Saro,
Sarzedas,
Seixas,
Sena,
Semedo,
Sequeira, Seralvo, Serpa, Serqueira, Serra, Serrano, Serrão, Sorveira, Silva, Silveira, Simão, Simões, Siqueira, Soares, Sodenha, Sodré, Soeyro, Sola, Solis, Sondo, Soutto-Mayor, Souza. 111
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais
T Tagarro,
Tareu,
Tavares, Taveira, Teixeira,
Telles,
Thomás, Toloza, Torres, Torrones, Tola, Tourinho, Tovar, Trigillos, Trigueiros, Trindade.
U Uchôa.
V Valladolid, Valle, Valença, Valente, Vareja, Vargas, Vasconcellos, Vasques, Vaz Veiga, Velasco, Vellez, Velho,
Veloso,
Vicente,Viegas,Vieira,Vigo,
Vergueiro, Vilhalva,Vilhegas,
Vianna, Villena,
Villa, Villalão, Villa-Lobos, Villanova, Villar, Villa-Real, Villella, Viseu.
X Xavier, Ximenes.
Z Zuriaga.
112
Claudio Campacci
A Revolução Industrial do Século XIX e os principais ramos imigratórios europeus que vieram para o Brasil
A
Revolução Industrial ocorrida na Inglaterra integra o conjunto das ―Revoluções
Burguesas‖ XVIII,
do
responsáveis
século pela
crise do Antigo Regime, na passagem do capitalismo comercial para o industrial. Os outros dois movimentos que a acompanham são a Independência dos Estados Unidos e a Revolução Francesa, que sob influência dos princípios iluministas, assinalam
a
transição
da
Idade
Moderna
para
Contemporânea. Em seu sentido mais pragmático, a Revolução Industrial 113
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais significou a substituição da ferramenta pela máquina, e contribuiu para consolidar o capitalismo como modo de produção dominante. Esse momento revolucionário, de passagem da energia humana para motriz, é o ponto culminante de uma evolução tecnológica, social, e econômica, que vinha se processando na Europa desde a Baixa Idade Média. Foi no século XIX que a Europa sentiu os maiores efeitos dessa industrialização.
O Processo de produção Nessa evolução, a produção manual que antecede a industrial conheceu duas etapas bem definidas, dentro do processo de desenvolvimento do capitalismo. O artesanato foi a forma de produção característica da Baixa Idade Média, durante o renascimento urbano e comercial, sendo representado por uma produção de caráter familiar, na qual o produtor (artesão), possuía os meios de produção ( era o proprietário da oficina e das ferramentas) e trabalhava com a família em sua própria casa, realizando todas as etapas da produção, desde o preparo da matéria-prima, até o acabamento final; ou seja 114
Claudio Campacci não havia divisão do trabalho ou especialização. Em algumas situações o artesão tinha junto a si um ajudante, porém não assalariado, pois realizava o mesmo trabalho pagando uma ―taxa‖ pelo utilização das ferramentas. É importante lembrarmos que nesse período a produção artesanal estava sob controle das corporações de ofício, assim como o comércio também encontrava-se sob controle de associações, limitando o desenvolvimento da produção. A manufatura predominou ao longo da Idade Moderna, resultando da ampliação do mercado consumidor com o desenvolvimento
do
comércio
monetário.
Nesse
momento, já ocorre um aumento na produtividade do trabalho, devido a divisão social da produção, onde cada trabalhador realizava uma etapa na confecção de um produto. A ampliação do mercado consumidor relacionase diretamente ao alargamento do comércio, tanto em direção ao oriente como em direção à América, permanecendo
o
lucro
nas
mãos
dos
grandes
mercadores. Outra característica desse período foi a interferência
do
capitalista 115
no
processo
produtivo,
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais passando a comprar a matéria prima e a determinar o ritmo de produção, uma vez que controlava os principais mercados consumidores. A partir da máquina, fala-se numa primeira, numa segunda e até numa terceira e quarta Revolução Industrial. Porém, se concebermos a industrialização, como um processo, seria mais coerente falar-se num primeiro momento (energia a vapor no século XVIII), num segundo momento (energia elétrica no século XIX) e num terceiro
e
quarto
momentos,
representados
respectivamente pela energia nuclear e pelo avanço da informática, da robótica e do setor de comunicações ao longo dos séculos XX e XXI, porém aspectos ainda discutíveis.
O pioneirismo da Inglaterra A Inglaterra industrializou-se cerca de um século antes de outras nações, por possuir uma série de condições históricas favoráveis dentre as quais, destacaram-se: a grande quantidade de capital acumulado durante a fase do mercantilismo; o vasto império colonial consumidor e 116
Claudio Campacci fornecedor de matérias-primas, especialmente o algodão; a mudança na organização fundiária, com a aprovação dos cercamentos (enclousures) responsável por um grande êxodo no campo, e consequentemente pela disponibilidade de mão-de-obra abundante e barata nas cidades Outro fator determinante foi a existência de um Estado liberal na Inglaterra, que desde 1688 com a Revolução Gloriosa. Essa revolução que se seguiu à Revolução Puritana (1649), transformou a Monarquia Absolutista inglesa
em
Monarquia
Parlamentar,
libertando
a
burguesia de um Estado centralizado e intervencionista, que dará lugar a um Estado Liberal Burguês na Inglaterra um século antes da Revolução Francesa.
Desdobramentos sociais A
Revolução
Industrial
alterou
profundamente
as
condições de vida do trabalhador braçal, provocando inicialmente um intenso deslocamento da população rural para as cidades, com enormes concentrações urbanas. A produção
em larga escala 117
e dividida em etapas
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais distanciava cada vez mais o trabalhador do produto final, já que cada grupo de trabalhadores dominava apenas uma etapa da produção. Na esfera social, o principal
desdobramento da revolução foi o surgimento do proletariado urbano (classe operária), como classe social definida. Vivendo em condições deploráveis, tendo o cortiço como moradia e submetido a salários irrisórios com longas jornadas de trabalho, a operariado nascente era facilmente explorado, devido também, à inexistência de leis trabalhistas.
118
Claudio Campacci O desenvolvimento das ferrovias absorveu grande parte da mão-de-obra masculina adulta, provocando em escala crescente a utilização de mulheres a e crianças como trabalhadores nas fábricas têxteis e nas minas. O agravamento dos problemas sócio-econômicos com o desemprego e a fome foram acompanhados de outros problemas, como a prostituição e o alcoolismo. Os trabalhadores reagiam das mais diferentes formas, destacando-se o movimento ―ludista‖ (o nome vem de Ned Ludlan), caracterizado pela destruição das máquinas por operários, e o movimento ―cartista‖, organizado pela ―Associação
dos
Operários‖,
que
exigia
melhores
condições de trabalho e o fim do voto censitário. Destacase ainda a formação de associações denominadas ―tradeunions‖,
que
evoluíram
reivindicações,
originando
lentamente os
primeiros
em
suas
sindicatos
modernos. O divórcio entre capital e trabalho resultante da Revolução Industrial, é representado socialmente pela polarização antagonismo
entre define
burguesia a
luta 119
e de
proletariado. classes
Esse
típica
do
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais capitalismo, consolidando esse sistema no contexto da crise do Antigo Regime. E foi a Revolução Industrial a grande motivadora da imigração européia para o Novo Mundo, devido a falta de trabalho no século XIX, agravada pelo grande aumento da população. Estados Unidos, Brasil e Argentina foram os países que mais receberam imigrantes. No caso do Brasil em particular, com o fim da escravatura praticamente anunciada, muitos barões do café se veem obrigados a recorrer a mão de obra européia paga. O interessante como a população do Brasil cresceu devido a essa leva de europeus que vieram nos anos finais do século XIX. O primeiro censo geral do Brasil de 1872 a população era de 9.930.478 pessoas, já no censo de 1890 a população tinha quase que dobrado, o país tinha 17.438.430 pessoas, no censo de 1920 após o auge da imigração européia
a população
brasileira era de
30.635.605 pessoas. Dos povos europeus os italianos vieram em maior número. No período de 1880-1889 chegaram ao Brasil 730.511 imigrante, sendo 276.724 italianos. No período 120
Claudio Campacci republicado e após a abolição da escravatura 1890-1899, chegam ao Brasil 1.901.441 imigrantes, sendo 690.365 italianos. Nas décadas seguintes em média um milhão de imigrantes chegam ao Brasil até o final dos anos 20. Mas por que tantos europeus vieram para o Brasil?
Os principais ramos imigratórios europeus que vieram para o Brasil Italianos
A
imigração italiana no Brasil foi intensa, tendo como ápice a faixa de tempo entre os anos de 1880 e 1930. A maior parte dela se concentrou
nas regiões do estado de São Paulo, Rio Grande do Sul e Espírito Santo Os italianos começaram a imigrar em número significativo para o Brasil a partir da década de 1870.
Foram
socioeconômicas
impulsionados em
curso
pelas no
transformações
Norte
da
Itália,
especialmente na Lombardia, Vêneto e o Trentino Alto 121
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais Adige que afetaram sobretudo a propriedade da terra. Um aspecto peculiar à imigração em massa italiana é que ela começou a ocorrer pouco após a unificação da Itália em 1861, razão pela qual uma identidade nacional desses imigrantes
se
forjou,
em
grande medida, no Brasil. O século XIX foi marcado por uma
intensa
expulsão
demográfica na Europa. O alto crescimento da população, ao lado do acelerado processo de pela
industrialização
iniciada
Inglaterra,
afetaram
diretamente as oportunidades de emprego naquele continente. Estima-se que, entre 1870 e 1970, em torno de 28 milhões de italianos emigraram (aproximadamente a metade da população da Itália). Entre os destinos principais estavam diversos países como Estados Unidos, México, Brasil, Uruguai, Argentina e Austrália.
122
Claudio Campacci Para compreender a imigração italiana no Brasil, é necessário analisar os aspectos do país durante o século XIX. Na primeira metade deste século, a Inglaterra pressionou fortemente o Brasil para acabar com o tráfico negreiro que supria as necessidades de mão-de-obra com a importação de escravos da África. Em 1850 a Lei Eusébio de Queirós proibiu o tráfico de escravos e, a partir deste momento, começou a falta de mão-de-obra nas zonas em que se expandia a cultura cafeeira, especialmente
no
estado
de
São
Paulo.
Isto
foi
temporariamente resolvido com a importação de escravos da regiçao do Nordeste. Nesta época, surgiu no Oeste Paulista um grupo de fazendeiros que, pressionados pela falta de mão-de-obra escrava, defendeu o uso da mão-deobra
livre
nas
plantações
de
café,
opondo-se
politicamente aos fazendeiros do Vale do Paraíba, donos de grandes plantéis de escravos. A nação brasileira passou então por um período de fermentação das idéias abolicionistas. Novas leis foram promulgadas tentando adiar ao máximo a plena abolição, como a Lei do ventre Livre de 1871, onde os nascidos daquela data em diante eram livres e a Lei do Sexagenários de 1885, onde o 123
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais escravo ao completar 60 anos estava livre, anunciavam o fim próximo da escravidão. Ao mesmo tempo, a população escrava envelhecia durante a segunda metade do século XIX sem que a reprodução natural da população fosse suficiente para suprir a necessidade de mão-de-obra nas lavouras que se expandiam ou para colonizar as terras ainda inexploradas no sul do Brasil. É comum afirmar-se erroneamente que a libertação dos escravos em 1888 desencadeou a falta de mão-de-obra nas lavouras quando os escravos libertos saíram das fazendas para as grandes cidades. Isto aconteceu em pequena escala, e somente no Vale do Paraíba onde a lavoura cafeeira estava em franca decadência de produção. Enquanto isto, nas regiões Oeste e de Campinas da província de São Paulo, as plantações de café prosperavam e necessitavam cada vez mais de mãode-obra em quantidade muito superior à existente. Seguindo o caminho oposto, a Itália passava pelas guerras pela Unificação, tendo Garibaldi como grande líder. Após o fim destas, a economia italiana se encontrava debilitada, associada a problemas de alta taxa demográfica e desempregos. Os Estados Unidos que era 124
Claudio Campacci o maior receptor de imigrantes, passaram a criar barreiras
Colonos italianos chegando de trem e indo para a Hospedaria de Imigração em São Paulo-SP
para a entrada de estrangeiros. Tais fatores levaram, a partir da década de 1870, ao início da maciça imigração de italianos para o Brasil.
A política de imigração foi
planejada não apenas com o propósito de suprir a mãode-obra necessária ou de colonizar territórios pouco ocupados, especialmente no Sul do Brasil, mas também para "branquear" a população brasileira. Neste projeto social,
negros
e
mestiços
iriam
paulatinamente
desaparecer da população brasileira por 125
meio da
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais miscigenação
com
as
populações
de
imigrantes
europeus. Neste contexto, o imigrante italiano era considerado um dos melhores, pois além de ser branco, falava um idioma próximo ao português e também era católico. Deste modo, sua assimilação seria fácil na sociedade brasileira e ele colaboraria para o "branqueamento" da população em geral. Deve-se ressaltar não foi apenas o Brasil que implantou políticas de imigração que privilegiavam os grupos de imigrantes conforme as características racias ou religiosas desejadas. Vários países do mundo preferiam até mesmo o imigrante do norte da Europa em vez dos que vinham do sul. A imigração italiana para o Brasil atingiu seu ápice no final do século XIX. Porém, por volta de 1900, aparecem na imprensa italiana notícias de péssimas condições de vida de emigrantes italianos que não podiam abandonar as fazendas de café onde trabalhavam, pois tinham dívidas principalmente relativas ao pagamento dos custos de suas viagens. Eram escravos-brancos. Isto fez com que, em 1902, o governo da Itália emitisse o decreto Prinetti proibindo a imigração 126
Claudio Campacci subsidiada de cidadãos italianos para o Brasil. O fluxo de imigrantes diminui bruscamente já que, a partir de então, cada cidadão italiano que quisesse emigrar para o Brasil deveria ter dinheiro para pagar a própria passagem.
Germânicos
A
imigração alemã (germânica) no Brasil foi o movimento migratório ocorrido nos séculos XIX e XX de alemães para várias regiões do Brasil.
As causas deste processo podem ser encontradas nos freqüentes problemas sociais que ocorriam na Europa e a fartura de terras no Brasil. Atualmente, estima-se que dezoito milhões ou quase 10% dos brasileiros têm ao 127
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais menos um antepassado alemão. Os primeiros imigrantes não portugueses foram os suíços, trazidos ao Brasil a mando de Dom João VI. Em 1818, o governo assenta esses imigrantes nas serras fluminenses. Estes fundam o município de Nova Friburgo. No mesmo ano, colonos alemães são mandados para a Bahia. Em 1820, chegam os primeiros suíços a Nova Friburgo, onde Dom João VI tentava atrair mais imigrantes. Em 1823, após a independência,
foram
criados
os
batalhões
de
estrangeiros, para garantir a soberania nacional. Então, a busca oficial por colonos, nesse período eram alemães, passaram a ser uma política imperial. Em maio de 1824, Nova Friburgo recebe a primeira leva de imigrantes alemães, trazidos ao Brasil pelo Imperador Dom. Pedro I, devido ao grande número de suíços que haviam abandonado as terras friburguenses. Em julho de 1824, os primeiros alemães chegam ao Sul do Brasil, sendo assentados à margem sul do Rio dos Sinos, no vale do mesmo nome, no Rio Grande do Sul, onde a antiga Real Feitoria do Linho Cãnhamo fora adaptada para servir como sede temporária dos recém-chegados, na atual cidade de São Leopoldo. Em 1828 colonos alemães se 128
Claudio Campacci instalaram em Santo Amaro na zona sul da cidade de São Paulo.
Causas da imigração Como no caso dos outros países europeus, no início do século
XIX
a
Alemanha
passava
por
novos
desenvolvimentos econômicos: a industrialização teve um grande
impulso,
necessitando
de
mão-de-obra
especializada, o que causou a ruína de muitos artesãos e trabalhadores da indústria doméstica. Sem poderem desenvolver
suas
atividades
artesanais,
esses
trabalhadores livres começaram a formar um exército de mão-de-obra barata e assalariada para a indústria que estava nascendo. Com os novos maquinários, também houve o aumento de produtividade no campo junto à diminuição de mão-de-obra, causando o desemprego de camponeses. Como a Alemanha passava por uma desintegração
de
sua
estrutura
feudal,
muitos
camponeses que eram apenas servos ficaram sem o trabalho e sem o direito de morar nas terras, ao mesmo tempo em que a população aumentava. Sem a terra para viver, migravam para as cidades e somavam ao número 129
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais de proletariados. A imigração não aconteceu somente por insatisfação social com as novas perspectivas do século XIX. Nessas mudanças econômicas que agitavam o continente europeu, a indústria desenvolveu as cidades e causou o despovoamento dos campos. À medida que a riqueza aumentava, a saúde e o acesso a novos gêneros alimentícios melhoravam, e a população aumentava. Então a princípio, os governos europeus incentivavam e encorajavam a emigração, como válvula de controle do aumento da população. Com a introdução da máquina a vapor e inovações como o transatlânticos com propulsão a hélice, milhões de pessoas se movimentavam entre os continentes, em uma emigração que não obedecia a nenhum planejamento, dependendo somente de decisões pessoais, entre elas a insatisfação, o medo, ou o desejo de uma vida melhor. O governo alemão também encorajava grupos de empreendedores a conhecer novas terras para conseguir mercado para os produtos alemães. Para algumas colônias, chegou-se a fazer o planejamento, e a contratação de administradores e profissionais liberais 130
Claudio Campacci para a formação das colônias, que vinham para o Brasil e formavam sua vida aqui. Embora desejadas, as relações comerciais entre as supostas colônias alemãs e a Alemanha foram modestas, muitas vezes restando somente aos colonos a identificação cultural com a terra de origem, pois não mais tinham contato com ela. Os alemães que imigraram para o Brasil eram normalmente camponeses insatisfeitos com a perda de suas terras, exartesãos, desejando
trabalhadores exercer
livres
e
livremente
empreendedores suas
atividades,
perseguidos políticos, pessoas que perderam tudo e estavam
em
dificuldades,
pessoas
que
eram
"contratadas" através de incentivos para administrarem as colônias ou pessoas que eram contratadas pelo governo brasileiro para trabalhos de níveis intelectuais ou participações em combates. Diferentemente dos italianos que foram para os serviços braçais. Nesse ãmbito germãnico podemos acrescentar os suíços, austríacos, luxemburgueses, pomeranos, holandesas e belgas. Os germãnicos
se
fixaram
e
desenvolveram
cidades
importantes, especialmente no Sul do Brasil, como Blumenau, Joinville, Brusque, Novo Hamburgo, São 131
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais Leopoldo,
Nova
Friburgo.
No
Espírito
Santo
especialmente na região serrana há uma importante comunidade germãnica.
Espanhóis
E
stima-se que quinze milhões de brasileiros sejam descendentes de imigrantes espanhóis, a maioria vivendo no estado de São Paulo. A
grande imigração espanhola só começou em fins do século XIX, devido ao agravamento dos problemas sócioeconômicos naquele país que não tinha uma política boa. 132
Claudio Campacci Além da própria industrialização do continente europeu. A presença espanhola em terras brasileiras acontece desde o início da colonização do Brasil. Os primeiros espanhóis chegaram ao Brasil na década de 1880. Até o final do século XIX, a grande maioria era de galegos, que se fixaram principalmente em centros urbanos brasileiros da época na região Sudeste. Devido à grande semelhança entre galegos e portugueses, sobretudo no idioma, aqueles eram muitas vezes confundidos como lusitanos. No começo do século XX passaram a predominar os andaluzes. Com a decadência da imigração italiana no Brasil, os espanhóis foram atraídos aos milhares para o Brasil a fim de substituir a mão-de-obra italiana no café. Outros grupos importantes foram os catalões, valencianos e bascos. Formou-se rapidamente uma comunidade espanhola de operários, trabalhando nas nascentes indústrias brasileiras. Cerca de 78% dos espanhóis ficaram concentrados no estado de São Paulo. Estima-se que, entre 1880 e 1960, mais de 750 mil espanhóis imigraram para o Brasil. Apenas os portugueses e italianos chegaram em maior número. A Guerra Civil 133
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais Espanhola formou um novo fluxo de imigrantes que fugiram para o Brasil. O crescimento da economia espanhola após a guerra fez o número de imigrantes cair e passou a ser pouco significativa.
Portugueses
O
s
portugueses
constituíram
o
segundo grupo que
mais povoou o Brasil, atrás apenas dos negros africanos. Durante mais de três séculos de
colonização,
imigração os
somada
pós-independência,
portugueses
profundas
à
heranças
deixaram para
a
cultura do Brasil e também para a etnicidade do povo brasileiro. Hoje, a maioria dos brasileiros têm alguma ancestralidade portuguesa. O Brasil foi descoberto pelos portugueses em 22.04.1500. Logo após o fato, os colonos passaram a se estabelecer 134
Claudio Campacci na colônia, porém, de forma pouco significativa. De início, aqui foram deixados degredados (pessoas indesejáveis em Portugal, como ladrões, judeus e traidores, que tinham como pena o degredo no Brasil. Esses primeiros colonos foram abandonados à própria sorte e acabaram sendo acolhidos pelos grupos indígenas que viviam no litoral. Os degredados chegaram a compor de 10 a 20% da população da Bahia e Pernanmbuco que na época eram as áreas mais próspreras. Em contrapartida, nas regiões periféricas, como o Maranhão, os degredados eram entre 80 e 90%. Durante os séculos XVI e XVII, a imigração de portugueses para o Brasil foi pouco significativa. A Coroa Portuguesa preferia investir na sua expansão comercial na Asia, especialmente na Índia e pouco valorizava as suas possessões no Brasil e África. Porém, durante o século XVI, piratas franceses de outras nacionalidades começaram a rondar o território brasileiro e a fazer tráfico de pau-brasil dentro das terras lusitanas. Essa situação obrigou a Coroa Portuguesa a começar efetivamente a colonização do Brasil. Os primeiros colonos portugueses começaram a chegar ao Brasil em maior número após 1530. A colônia foi dividida em capitanias hereditárias e 135
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais as terras foram divididas entre nobres lusitanos. Para promover a colonização desses grandes lotes de terra, a Coroa Portuguesa passou a incentivar a ida de colonos para o Brasil, que recebiam sesmarias e tinham um prazo de tempo para desenvolver a produção. Nesse período, vieram para o Brasil portugueses de todos os tipos: ricos fazendeiros, aventureiros, mulheres órfãs, degredados, empresários falidos e membros do clero. O foco inicial da imigração foi a Região Nordeste, já que as plantações de cana-de-açucar estavam em pleno desenvolvimento. Essa imigração colonizadora ficou marcada pela masculinidade da população: as mulheres portuguesas raramente imigravam, pois na Europa o Brasil possuía a imagem de uma terra selvagem e perigosa, onde apenas os homens poderiam sobreviver. No Nordeste brasileiro nasceu uma sociedade
açucareira
rígida,
formada
pelo
colono
português e seus escravos africanos. Para suprir a falta de mulheres portuguesas, a Coroa Portuguesa passou a enviar para o Brasil mulheres órfãs que, ao invés de seguirem o caminho religioso, iam se casar no Brasil. Todavia,
os
esforços
não
foram
suficientes
e
a
miscigenação ocorreu em larga escala: as mulheres 136
Claudio Campacci indígenas e africanas acabaram por substituir a falta das mulheres portuguesas. Surge, então, o "branco da terra": filho do colono português com as índias locais. Mais tarde, surge a figura do mulato: filho do europeu com as africanas. Desembarcaram também na colônia judeus degredados, muitos cristãos-novos e ciganos. Sob o domínio holandês no Nordeste centenas de judeus de Portugal e Espanha se instalaram, sobretudo, em Pernambuco, acrescentando à diversidade étnica do Brasil colonial.
137
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais Imigração de transição (1700-1850) A partir do século XVIII, a imigração portuguesa no Brasil alcança cifras jamais vistas. Os fatores para esse crescimento imigratório foram: a descoberta de ouro nas Minas Gerais, e o aprimoramento dos meios de transporte aquáticos. No início do século XVIII, as minas de ouro tornaram-se
a
principal
economia
da
colônia.
O
desenvolvimento e riqueza trazidos pelo ouro atraiu para o Brasil um grande contingente de colonos portugueses em busca de riqueza. Nessa época, surge o mineiro, que era o colono português que enriqueceu no Brasil graças ao ouro e as pedras preciosas. O surto urbano que se deu na colônia graças à mineração fez crescer as ofertas de emprego para os portugueses. Antes, os colonos eram quase que exclusivamente rurais, dedicando-se ao cultivo da cana-de-açúcar, mas agora surgiriam profissões como de pequenos comerciantes. A maior parte da imigração foi de pessoas originárias do Minho. De início, a Coroa Portuguesa incentivou a ida de minhotos pobres para o Brasil, onde se fixaram principalmente na região de Minas Gerais e Centro Oeste foram encontradas minas de ouro. 138
Claudio Campacci Porém, a imigração tomou proporções altíssimas, e a Coroa passou a controlar a ida de portugueses para o Brasil. Pela vinda em larga escala de colonos, a língua portuguesa tornou-se dominante no Brasil em meados do século XVIII, em substituição ao tupi-guarani. Outro fator importante na imigração portuguesa durante o século XVIII foi a imigração açoriana para a Região Sul. Essa colonização
açoriana
tornou-se
o
único
foco
de
colonização de povoamento durante o Brasil colônia, já que para o resto do país chegavam colonos em busca de enriquecimento, e não de uma vida melhor, como foi o caso dos açorianos. Santa Catarina, especialmente a região litorânea, recebeu 4.612 pessoas em 1748, 1.666 em 1749, 860 em 1750 e 679 em 1753. Outros tantos rumaram para o Rio Grande do Sul. Esses colonos portugueses se fixaram ao longo do litoral, onde fundaram pequenas vilas e lugarejos, vivendo da produção de trigo e da pesca. No início do século XIX, fugiram para o Brasil a Família Real Portuguesa e toda a corte, fixando-se no Rio de Janeiro, em 1808, após a invasão de Napoleão Bonaparte em Lisboa. Chegaram ao Brasil 15 mil nobres e pessoas da alta-sociedade portuguesa naquele ano. 139
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais Imigração de massa (1850-1960). Com a decadência da mineração, no final do século XVIII, a imigração portuguesa teve uma queda, mas voltou a crescer no início do século XIX com a vinda da monarquia portuguesa. Após a Independência do Brasil, em 1822, criou-se
no
país
uma
certa
xenofobia
contra
os
portugueses, ficando a imigração decaída. Mas, com o passar do tempo, o fluxo de imigrantes portugueses para o Brasil, ao invés de diminuir, cresceu drasticamente. Em grande parte, isto se deve ao fim do tráfico de escravos africanos em 1850. Com o fim do tráfico, adveio uma carência de mão-de-obra no Brasil, e ao mesmo tempo ocorreu a expansão das plantações de café no país, sobretudo no estado de São Paulo, necessitava de trabalhadores.
O
governo
brasileiro
começou
um
processo de substituição da mão-de-obra escrava pelo trabalho assalariado de imigrantes europeus. A partir da metade do século XIX, a imigração portuguesa no Brasil tomou caráter quase que exclusivamente urbano. O perfil do imigrante português também se alterou: antes, a maioria era composta por homens 140
Claudio Campacci solteiros. A partir do final do século XIX, as mulheres portuguesas também chegaram ao Brasil em grande número. As crianças menores de 14 anos eram 20% dos imigrantes. A situação econômica também se alterou. Na época colonial, muitos portugueses ricos e até nobres migraram ao Brasil. No final do século XIX, os que chegaram
eram
extremamente
pobres
e
sem
escolaridade, vindos de aldeias do interior de Portugal. As cidades do Rio de Janeiro e São Paulo receberam a maioria desses imigrantes de Portugal. Uma expressiva parcela
dessa
população
era
oriunda
de
regiões
interioranas do norte de Portugal, notadamente entre Beira Alta e Alto Trás-os-Monter e eram, em sua maioria, extremamente pobres, vindos em família, com grande número de mulheres e crianças. Ao chegarem ao Brasil, procuravam parentes ou se instalavam em pequenos cortiços. A maior parte desses imigrantes se dedicou ao comércio: pequenas vendas e padarias, chegando ao ponto de dominarem essas duas atividades em várias regiões do Brasil. Outros, tornaram-se operários nas nascentes indústrias brasileiras.
141
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais Quantos
brasileiros
possuem
ascendência
portuguesa? Não existem números concretos sobre o número de brasileiros com ascendência portuguesa. Dada a antiga imigração lusitana ao Brasil, remontando ao século XVI, seria
impossível
obter
um
número
exato.
Muitos
brasileiros de origem portuguesa desconhecem suas origens ou, pelo fato de estarem enraizados no Brasil há gerações, se consideram apenas como sendo brasileiros. Em 1872, havia no Brasil 3,7 milhões de pessoas brancas. Por fatores históricos, quase a totalidade dessa população era de origem portuguesa, tendo em vista que a imigração maciça de outros povos europeus para o Brasil, em especial italianos, espanhóis e alemães só começou após o ano de 1875. A população parda, quer dizer, mestiça de português com africano ou índio era de 4,1 milhões de pessoas e os negros totalizavam 1,9 milhões. Desta forma, viviam no Brasil, na década de 1870, 80% de pessoas com alguma ascendência portuguesa,
entre
portugueses,
luso-brasileiros
e
mestiços. No século XIX e por grande parte do século XX, 142
Claudio Campacci uma nova onda de imigrantes portugueses chegou ao Brasil. Entre 1881 e 1991, mais de 1,5 milhão de pessoas imigraram de Portugal para o Brasil. Em 1906, por exemplo, viviam 133.393 portugueses na cidade do Rio de Janeiro, compondo 16% da população. O Rio de Janeiro é
hoje a "maior cidade portuguesa" fora de
Portugal.
Estudos
genéticos
também
confirmam a forte influência racial
portuguesa
nos
brasileiros. De acordo com uma pesquisa, pelo menos metade
de
cromossomos
todos Y
os da
população brasileira é
Pequenos jornaleiros cariocas retratados em 1899
oriunda de portugueses. Os negros brasileiros possuem, em média, 48% de genes não africanos, provavelmente oriundos de antepassados vindos de Portugal.
143
A Heráldica – Descubra suas raízes medievais
Sobre o autor da obra Claudio Campacci, brasileiro nascido em Santo André, estado de São Paulo
em
1968.
Desde
1998
pesquisador sobre Heráldica e das origens dos sobrenomes. Já fez trabalhos para mais de 2 mil pessoas no Brasil e no exterior. amador
e
Músico.
Fotógrafo
Tem alguma
músicas gravadas sob o pseudônimo, Underleven.
.
Especialista em Cosmética, fez um curso de perfumaria na Universidade de Versailles, França em 2010 e um curso de Cosmética na Novexpert Paris no mesmo ano em Gometz de la Ville, França, além um curso sobre a História da Perfumaria na Drom Fragances em São Paulo. Fez centenas de palestras e treinamentos sobre Mercado, Vendas, MLM, Perfumaria e Indústria do Bem estar. Não deixe de ler as obras do autor. ―Os sobrenomes mais populares do Brasi – volume I e II ‖ , ―Século XIX, O século
que
mudou
a
humanidade‖,
―A Heráldica-
Descubra suas raízes medievais ‖, ― O Diário de Hanna‖, 144
Claudio Campacci ―As Encrenqueiras – o Livro‖. ―Marketing Multinível – Golpe ou Grande Negócio‖, "Top 20 das empresas de MLM e Vendas Diretas", "Se eu..." Em breve o autor publicará seus romances, poesias e contos infantojuvenis. Também publicou livros na Espanha, Portugal, Reino Unido, Suécia e Estados Unidos. Atualmente o autor é casado e vive em Pelotas no Rio Grande do Sul onde é diretor de marketing em uma empresa de assistência médica.
Em 2014 lançara mais um livro. A História do Cinema- Volume I – 1890 a 1899.
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145
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