Bernardino Coelho da Silva
A EXPLORAÇÃO E USO DO ESPAÇO E DAS RIQUEZAS NATURAIS DA LUA E DE OUTROS CORPOS CELESTES
2012 1
Bernardino Coelho da Silva
A EXPLORAÇÃO E USO DO ESPAÇO E DAS RIQUEZAS NATURAIS DA LUA E DE OUTROS CORPOS CELESTES
2012 2
Bernardino Coelho da Silva, 56 anos, Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito de Conselheiro Lafaiete (MG), Especialista em Gestão de Negócios pela FEAD (MG), Especialista em Gerenciamento de Projetos pela Fundação Getúlio Vargas (BH) e Mestrando em Administração de Empresas pela FEAD (BH). É Sócio e Diretor Comercial da Empresa BM Eletromecânica Ltda, situada em Congonhas (MG), que atua no ramo de Montagens de Obras Industriais, com vasta experiência nas áreas de Siderurgia, Mineração e Automobilística. Em suas horas de folga dedica-se a estudar sobre a área espacial e escrever sobre o assunto, tendo desenvolvido sua Monografia do Curso de Direito com o título: “A Exploração das Riquezas da Lua e o Direito Espacial de Hoje”, Hoje” , com orientação do Profº José Monserrat Filho, o maior especialista da área no Brasil e Assessor de Relações Internacionais da Agência Espacial Brasileira e VicePresidente da Associação Brasileira de Direito Aeronáutico e Espacial, dentre outros cargos. No Curso de Gerenciamento de Projetos, na FGV, fez o TCC com o título: “Lições Aprendidas pelas instituições ligadas ao planejamento, coordenação e execução do Programa Espacial Brasileiro depois do acidente com o foguete VLS-1 V03, em Alcântara (MA)”, fruto de quase dois anos de pesquisa de campo junto às instituições INPE, DCTA e AEB e estudo de literaturas disponibilizadas por diversas organizações internacionais e pessoas ligadas ao Programa Espacial Brasileiro.
3
A todos que alimentam o sonho de um dia o Homem, finalmente, conquistar o Espaço Sideral. 4
SUMÁRIO
Apresentação
6
Um passeio pela história
7
Panorama Geral
18
Voltando à Lua
35
Turismo Espacial
49
Poluição do Espaço
63
A Conquista do Planeta Marte
75
5
APRESENTAÇÃO “Diante da vastidão vastidão do tempo e da imensidão imensidão do universo, é um imenso prazer para mim dividir um planeta e uma época com vocês” (Carl Sagan)
Meu propósito, ao reunir neste trabalho as mais atualizadas informações disponíveis sobre a pesquisa e a exploração espacial foi o de demonstrar, de forma simples e compreensível para a maioria das pessoas que se interessarem por este assunto, os avanços tecnológicos que estão sendo conseguidos neste campo e sugerir para onde caminhará a humanidade nos próximos anos e décadas. Para permitir um entendimento cronológico da exploração espacial, o primeiro capítulo faz um passeio pela história e mostra como os nossos antepassados perseguiam a idéia de alçar altos vôos e irem até a Lua, nosso satélite natural que tanto os fascinava, até os dias atuais, quando ir e permanecer no espaço exterior já não é tão crítico e as longas viagens espaciais, em fase de planejamento e desenvolvimento de tecnologias. Veja, até coisa de cinco a seis anos atrás o Turismo Espacial era coisa pensada por poucos, pois os custos altos e a falta de uma tecnologia confiável para suportar a vida no espaço eram barreiras intransponíveis, o que hoje já não oferece tanta dificuldade e estamos a um passo de poder ir ao espaço, ficar em um hotel espacial e dar algumas dezenas de volta na órbita da Terra e retornar com segurança. Claro que ainda falta muito esforço em termos de tecnologia e dinheiro, mas em menos de uma década isto estará disponível. Apresentamos aqui empresas e projetos em andamento, e que farão do espaço um lugar para passear. Vamos mostrar também o que cada potência espacial tem de projetos em andamento e para o futuro, os problemas do lixo espacial depois de tantos foguetes e satélites lançados ao espaço e também apresentar as razões do porque voltar à Lua e ir para outros Planetas, além das pesquisas científicas em andamento e o que poderão trazer de benefício para a Humanidade.
6
UM PASSEIO PELA HISTÓRIA "Uau! Cara, talvez tenha sido um pequeno passo para o Neil, mas é um enorme para mim." (Charles "Pete" Conrad Jr., Comandante da missão Apollo 12)
O Ser Humano, em sua grande maioria, tem a capacidade de viver sem maiores questionamentos à cerca daquilo que passa além das fronteiras que conhece no seu cotidiano; pois o “céu” ainda continua sendo o limite, com a maioria se contentando com explicações bíblicas ou rudimentos de ensinamentos acadêmicos ou familiares. Mas, ter “asas” e ganhar a liberdade de voar tem povoado a imaginação de muitas pessoas, por séculos e séculos, levando-as a sonhar com outros mundos habitáveis e/ou habitados, que embora apenas sendo fruto da literatura de ficção possa conter algo do que, até então, somente existe no imaginário. Afinal, não queremos estar sós neste Universo que não vemos onde acaba e que cada dia mais nos apavora pela imensidão. Antes de irmos mais longe, vale registrar que, conforme o acervo digital do Jornal Folha da Noite, com data de 27/04/1953, em meados de fevereiro de 1953 era fundada em São Paulo a Sociedade Interplanetária Brasileira (SIB) com a finalidade de reunir estudiosos e interessados em futuras viagens interplanetárias. Os fundadores desta Associação acreditavam que o Brasil estaria na vanguarda da ciência espacial com a promoção de viagens para a Lua, para Marte e Saturno. E já vislumbravam, inclusive, que teria no País uma “Agência de passagens para os astros” e que, de Carapicuíba (SP) sairiam os transportes brasileiros para a Lua. E a história demonstra que o homem sempre esteve de olho nas estrelas e na possibilidade de alçar voos cada vez mais altos. Por exemplo, a mitologia grega nos reserva um primeiro exemplo disso com a aventura de Dédalo e seu filho Ícaro que, para escaparem do labirinto construído para aprisionar o Minotauro, onde foram encerrados por ordem do rei Minos, em punição por ter Dédalo ajudado Ariadne, a filha do Rei, a fugir com o herói ateniense Teseu utiliza asas, por eles fabricadas.
7
Dédalo, por ter sido o construtor do labirinto sabia que sua prisão seria intransponível, tanto por mar quanto por terra, dominados por Minos. Dédalo então, sabendo que as regiões do ar não eram dominadas por Dédalo, projetou asas, juntando penas de aves de vários tamanhos, amarrando-as com fios e fixando-as com cera, para que não se descolassem. Dédalo foi moldando as asas com as mãos e com ajuda de Ícaro, de forma que estas se tornassem perfeitas como as das aves. Depois do trabalho acabado, o artista, agitando suas asas, se viu suspenso no ar. Equipou seu filho e o ensinou a voar. Então Dédalo, antes do voo final, advertiu ìcaro de que deveriam voar a uma altura média para que o calor do Sol não derretesse a cera que colava as penas. Dédalo beijou seu filho com lágrimas nos olhos e as mãos tremendo, levantou voo e foi seguido por ele. Eles, primeiramente, se sentiram como deuses que haviam dominado o ar; passaram por Samos e Delos à sua esquerda, e Lebinto à sua direita. Ícaro deslumbrou-se com a bela imagem do sol e, sentindo-se atraído, voou em sua direção, esquecendo-se das orientações de seu pai, talvez inebriado pela sensação de liberdade e poder. A cera de suas asas começou rapidamente a derreter e logo caiu no mar. A lenda era um aviso sobre as tentativas de alcançar o céu, semelhante à história da Torre de Babel na Bíblia, e exemplifica o desejo milenar do homem de voar. Este desejo de voar está presente na humanidade, provavelmente, desde o dia em que o homem das cavernas passou a observar o vôo dos pássaros e de outros animais voadores, embora, com certeza, acreditassem que voar fosse uma coisa impossível, e que era um poder além da capacidade humana, mas várias civilizações contavam histórias de pessoas dotadas de poderes divinos, que podiam voar; ou pessoas que foram carregadas ao ar por animais voadores, sendo o exemplo mais bem conhecido o de Dédalo e Ícaro. Impulsionados por esse fascínio e curiosidade, os astros sempre foram motivo de observação e estudo dentre várias civilizações, como os Astecas, chineses, indianos e ainda outras como a Mesopotâmia, e povos como os gregos e os árabes, que registraram diversos eventos celestes, como eclipses solares e lunares e efetuaram medidas dos astros e de suas órbitas principalmente com o objetivo de manter calendários 8
precisos, embora estas primeiras observações astronômicas tenham sido feitas totalmente a olho nu, com toda a limitação existente. E, nesta ânsia por desvendar os mistérios do céu, o homem se debruçava em estudos e também na tentativa de se construir o futuro. E a Lua foi assim, por muitos séculos, o centro de atenção para gênero humano, mais que qualquer outro corpo celeste no céu. Nossos antepassados registraram a passagem de tempo observando as posições e as fases da Lua. Por exemplo, a ideia de que a Lua não era perfeitamente lisa remonta antes do ano 450 a.C., ao mesmo tempo em que o astrônomo grego, Hipparchus, usando, observações e fórmulas matemáticas, mediu a distância até a Lua, como também até o Sol, com precisões surpreendentes. Além da pré-história da aviação, sonho dos antigos egípcios e gregos, que representavam alguns de seus deuses por figuras aladas, e passando por sobre o vulto de estudiosos do problema, como Leonardo da Vinci, que no século XV construiu um modelo de avião em forma de pássaro, ou do visionário Júlio Verne, que anteciparia ao mundo uma tecnologia só concretizada quase um século à frente, pode-se localizar o início da aviação nas experiências de alguns pioneiros, desde os últimos anos do século XIX, em tentativas de voo com aparelhos mais pesados do que o ar. Exemplo marcante para muitas gerações de leitores foi Júlio Verne, um homem do século 19 com uma imaginação além do século 20. Ele foi um dos autores mais populares da geração dele porque levou os leitores para lugares com os quais eles só tinham sonhado, neste caso, na fantástica história Da Terra à Lua, onde Júlio Verne apresentou uma visão revolucionária da ciência espacial prevendo avanços que só viriam a se concretizar quase um século mais tarde. Da Terra à Lua é um romance de ficção científica, escrito em
1865, tendo um estilo leve e bem humorado, apesar de estar alicerçado em ciência sólida, contando a aventura de um grupo de homens que viaja até a Lua usando um gigantesco canhão. Os cálculos de Júlio Verne sobre a possibilidade de enviar um projétil à lua previram de forma muito acentuada várias constantes da conquista espacial. A cápsula lunar 9
idealizada por Verne tem uma forma muito semelhante às cápsulas utilizadas pelas missões Apollo. O local de lançamento escolhido por Verne foi a Flórida, devido à sua proximidade com o equador. Neste caso, nota-se a correção científica de seus escritos, pois é sabido que quanto mais próximo do equador for o lançamento, mais rapidamente o objeto entrará em órbita e com um dispêndio menor de combustível. Júlio Verne, em seu livro aplicou os mesmos cálculos, embora no seu caso não se tratasse do combustível para o lançamento de um foguete, como hoje o conhecemos, mas sim da quantidade de pólvora necessária para disparar o projétil em direção à Lua.
Ilustração de uma antiga edição do livro 1 de Júlio Verne mostrando o interior do canhão
Embora constem experimentos em praticamente todo o mundo, buscando a realização prática do voo aeródino motorizado, os mais importantes foram creditados aos irmãos americanos Orville e Wilbur Wright e ao brasileiro radicado na França, Alberto Santos-Dumont. Embora a maior parte dos historiadores sérios permaneça neutra e se apegue somente aos fatos históricos, muitos autores, cada qual pelo seu motivo desenvolve as suas "preferências pessoais" e acaba por enaltecer exageradamente a contribuição de uns e por menosprezar a realização de de outros. Controvérsias à parte, o brasileiro Santos Santos Dumont foi o primeiro aeronauta que demonstrou a viabilidade do vôo do mais 1
Endereço: http://purl.pt/301/1/o-autores-estrangeiros/verne/capas/fialho-2075_0001_221_t0.jpg 10
pesado do que o ar. O seu voo no 14-Bis, em Paris, no dia 23 de Outubro de 1906 constituiu um marco na história da aviação. Este primeiro voo, que não duraria mais do que 7 segundos, um percurso de 60 metros e à uma altura de 2 metros do solo, façanha realizada por Santos Dumont Dumont para mais de mil mil expectadores, fez com que lhe conferíssemos a patente de Pai da Aviação e abrisse espaço para o desenvolvimento do avião, cada vez mais sofisticado e potente, tornandose uma mortífera arma de guerra. Mas a história da conquista espacial passa por outras vertentes. Na Europa renascentista, Galileo Galilei, Johanes Kepler, Nicolau Copérnico e Isaac Newton contribuíram para destruir mitos religiosos que colocavam o planeta Terra no centro do Universo. E, por discordar abertamente disso, Galileo quase morreu queimado nas mãos da Inquisição, pois aqueles que não acreditassem que a Terra era o centro do Universo eram tratados como hereges, eram torturados com ferros em brasa e queimados vivos em fogueiras. Já o filósofo Giordano Bruno, por suas idéias revolucionárias e contrárias aos dogmas da Igreja, foi aprisionado pela Inquisição nos fins do século XVI e, por manter-se intransigente em defesa de seus escritos e suas ideias, quando a Inquisição exigia que este as renegasse e foi queimado no ano de 1600. Em 1609 Galileo Galilei apontou para os céus o telescópio, recentemente inventado por Hans Lipperhey, um alemão naturalizado holandês, cuja patente data de 2 de outubro de 1608, sendo o primeiro homem a ver, com ferramentas primitivas, que existiam outros mundos, além do Planeta Terra. Na Lua, Galileo Galilei viu montanhas, planícies e crateras, o que provava que a Lua não era um disco de superfície plana, como a Igreja Católica afirmava. Também viu as fases de Vênus, os anéis de Saturno, além de Júpiter e quatro de seus satélites. No século XVII, Johanes Kepler estipulou as chamadas 3 Leis de Kepler, provando então que as órbitas dos planetas que giravam ao redor do Sol não eram circulares, como se supunha então, mas elípticas, com o Sol ocupando um dos focos fo cos da elipse. A seguir, vem Isaac Newton e demonstra que o Sistema Solar é, na verdade, uma máquina repleta de regras determinadas, onde 11
todo o movimento poderia ser explicado por uma lei geral e única: a Lei da Gravitação Universal, segundo a qual é possível explicar desde o mais simples fenômeno, como a queda de um corpo próximo à superfície da Terra, até, o mais complexo, como as forças trocadas entre corpos celestes, traduzindo com fidelidade suas órbitas e os diferentes movimentos. Segundo a lenda, ao observar a queda de uma maçã, Isaac Newton concebeu a ideia de que isto seria causado pela atração exercida pela terra. A natureza desta força atrativa, então, deveria ser a mesma que existiria entre a Terra e a Lua ou entre o Sol e os planetas. Portanto, a atração entre as massas seria, com certeza, um fenômeno universal, passível de explicação científica, o que Newton, apoiado pelas teorias de Kepler, observou que os planetas deviam estar sujeitos a uma força centrípeta, pois não sendo assim, suas trajetórias não seriam curvas. Logo Newton concluiu que essa força era devida à atração do Sol sobre os planetas, deduzindo as Leis de Kepler, que antes disso eram baseadas apenas em observações. Assim, a Lei da Gravitação Universal é uma expressão matemática baseada na força de atração do Sol nos planetas. O homem agora tinha bases mais sólidas para pensar sobre o Universo e nossa posição diante de sua magnitude e da possibilidade de, um dia, poder conhecer o que existia além da linha do horizonte. Embora todo o conhecimento acumulado até então, pode-se dizer que a ficção científica de Júlio Verne foi particularmente, a grande influenciadora das pesquisas sobre a exploração espacial. No final do século XIX, o russo Konstantin Tsiolkowski desenvolvia os primeiros trabalhos teóricos com propulsores a jato para viagens interplanetárias. Foi Konstantin Tsiolkowski quem desenvolveu a base teórica para a criação dos foguetes de combustível líquido, propondo ainda a solução para o problema do limite da velocidade de descarga dos gases, ou como um foguete poderia voar mais rápido que seus gases de escapamento. Interessante citar que Tsiolkowski nunca construiu foguetes, mas seu trabalho teórico revelou-se tão fundamental para seu progresso que ele é considerado pelos russos r ussos como o pai da Astronáutica. E, soma-se a Tsiolkowski, o físico norte americano Robert Goddard, idealizador do primeiro foguete com combustível líquido a subir 12
ao espaço em 1926, o francês Robert Peltirie e o alemão Werner Von Braun, este último, considerado o gênio dos foguetes. Entretanto, foi no século XX, que o Espaço deixou de ser uma fronteira inacessível para passar ser um domínio de novos desafios e, sobretudo, de vontade de ir mais longe e explorar e xplorar novos limites. Em outubro de 1957 a União Soviética inauguraria a era espacial com o lançamento do primeiro satélite artificial, o Sputnik 1 (que significa Companheiro). Era uma pequena esfera espacial, que tinha 83 kg de peso e 58 cm de diâmetro, mas como disse Sergei Korolev, a conquista do espaço tinha começado. Um mês depois a União Soviética lançaria o Sputnik 2, com a famosa cadela Laika a bordo. Quatro anos mais tarde a União Soviética voltou a fazer sensação quando lançou o primeiro homem no espaço a bordo da cápsula Vostok 1. Yuri Gagarin deu uma volta à Terra em 108 minutos e foi o primeiro humano a contemplar o planeta do espaço. Foi também o primeiro a comer lá em cima e a falar para a Terra a partir do espaço. O sonho de viajar no espaço tornava-se realidade. O regime soviético cobria-se de glória. De origem humilde, Yuri Gagarin tornava-se o protagonista de uma das melhores ações de propaganda soviética. Os Estados Unidos, que até então perdiam para os russos a corrida espacial, reagiram anunciando que iriam mandar um homem à Lua. A meta foi fixada pelo próprio Presidente Kennedy em 1961. Embora pouco percebesse do assunto, pois não existiam grandes empresas de foguetes no seu estado natal de Massachusetts, Kennedy já tinha tirado partido da questão na campanha eleitoral de 1960, quando dizia que: “os primeiros passageiros caninos do espaço que regressaram a salvo à Terra chamavam-se Strelka e Belka e não Rover ou Fido” (nomes vulgares de cães americanos). Quando assumiu a presidência em Janeiro de 1961, o problema estava nas mãos dele e teve que aguentar o sucesso do vôo do Gagarin. Pensou-se então em algo de grandioso em que a América pudesse ter êxito. Ir à Lua era uma boa ideia. Mas enquanto não chegavam lá continuavam a ser batidos pelos seus rivais. Os soviéticos conseguiram pôr a primeira mulher no espaço em 1963 e fazer o primeiro 13
passeio espacial em 1965. Por isso, a corrida espacial tinha que ter uma nova meta para que os americanos pudessem mostrar o que valiam. A Lua era o grande alvo. Decidida em cumprir o sonho de Kennedy, a NASA começou a preparar a grande viagem. Wernher Von Braun, um técnico alemão recrutado pelos americanos após a Segunda Guerra Mundial, concentrouse na construção do gigantesco Saturno que enviaria os primeiros homens em direção a Lua. Ao mesmo tempo, testavam-se em órbita terrestre as técnicas e as manobras necessárias para a difícil missão de descida na superfície da Lua, programa que custou aos cofres americanos a astronômica cifra de 28 bilhões de dólares, mas eles conseguiram o que queriam: em julho de 1969 Neil Armstrong e Edwin Aldrin estavam ao vivo para todo o mundo explorando a superfície lunar. Os americanos podiam finalmente esquecer as sucessivas humilhações impostas pelos soviéticos e fazer jus ao nome de astronautas, pois eram os primeiros humanos a visitar um astro além da Terra. No entanto, as viagens à Lua foram difíceis e estiveram perto da tragédia com a Apollo 13 em 1970, que teve que voltar depois de um problema grave ocorrido durante a viagem. Mas, mesmo assim, foi uma proeza considerável, pois demonstrou que o homem era capaz de aguentar uma viagem a um mundo diferente do nosso. Depois da chegada à Lua pelos americanos, estes passaram a ambicionar planos de viagens espaciais como uma viagem a Marte e, à época, especulava-se que seria possível visitar o Planeta Vermelho já em 1985. Mas tais especulações suscitavam grande resistência e o orçamento da NASA começava a encolher. Então estes planos ficaram pelo caminho e a exploração espacial teve de evoluir para as estações espaciais e os vôos habitados de longa duração com os soviéticos a bater sucessivos recordes de permanência no espaço. Os voos de longa duração começaram em 1971 com inauguração da estação espacial russa Salyut-1. Uma inauguração que ficaria tristemente famosa, pois no regresso à Terra os cosmonautas da primeira missão a bordo da estação morreriam devido a uma despressurização acidental na nave de retorno. Essas não seriam as primeiras nem as últimas vítimas da exploração espacial, pois acidentes 14
de maior gravidade aconteceriam com o Challanger em 1986 e com o ônibus espacial Columbia, em 2003. Mas os Estados Unidos não quiserem ficar para trás, e dois anos depois da primeira Salyut, em 1973, lançaram o Skylab, um laboratório espacial com 83 toneladas de peso. Com o Skylab os americanos queriam mostrar que também podiam estar no espaço durante meses seguidos, mas depois de apenas 3 missões realizadas, o Skylab reentrou na atmosfera em 1979, tendo sido destruída.
Vista do Skylab em órbita – crédito: NASA
Mas seria já na Estação Espacial MIR que os russos bateriam todos recordes de permanência no espaço com o recorde absoluto de Valeri Poliakov que esteve 437 dias seguidos a bordo desta estação. A MIR foi a primeira estação espacial habitada permanentemente, primeiro por soviéticos e russos e, posteriormente, por astronautas dos EUA e de outros países, como França e Japão, num total de 103 visitantes, em cerca de 55 missões, tendo sido 25 russas e 30 internacionais. A MIR, construída em 1986 e 1996, esteve operacional até março de 2001. 2 001.
A Estação Espacial MIR vista do ônibus espacial – crédito: NASA 15
Esta filosofia de compartilhar tecnologia e recursos ainda permanece hoje em dia em projetos como a Estação Espacial Internacional (ISS), da qual participam 15 Países 2. Este regresso à órbita terrestre foi também um adeus à Lua que nunca mais voltaria a ser explorada por astronautas. Depois de terem ido à Lua os americanos não sabiam o que fazer com ela, pois, na realidade, não havia um projeto científico de exploração de nosso satélite natural, mas uma disputa pela supremacia política com a União Soviética.
Ônibus Espacial em lançamento – crédito: NASA
Os Ônibus Espaciais americanos nasceram com a Administração Nixon na Casa Branca e, quando foi concebido no início dos anos 70, era essencialmente uma nave de carga com a grande vantagem de ser reutilizável e de poder levar vários astronautas. Como cada foguete Saturno V custava cerca de 400 milhões de dólares e a NASA não podia se dar ao luxo de continuar com um veículo lançador tão caro era preciso um veículo mais barato que pudesse ser reutilizado e cujo único elemento perdido fosse o propulsante. Devido à versatilidade do sistema, a NASA contava naquele tempo reduzir os custos das viagens espaciais e tornar as missões em órbita baixa uma rotina, pelo que optou pelo ônibus espacial como veículo para levar astronautas a missões na órbita terrestre.
2
O Brasil também aderiu ao Projeto da ISS, mas como cumpriu com suas obrigações, foi excluído, tendo deixado de contribuir com US$ 100 milhões, mas equipamento que deveria fabricar e entregar para montagem na n a ISS. 16
A primeira destas missões entregue a um ônibus espacial americano (Columbia) ocorreu em 12 de abril de 1981 e, até a aposentadoria destas naves em julho de 2011 (30 anos), os EUA realizaram 135 missões ao espaço, com os ônibus Columbia, Challenger, Discovery, Atlantis e Endeavour, tendo levado ao espaço mais de 740 astronautas.
Ônibus Espacial Atlantis em fase de desmontagem – crédito: NASA
Por muito tempo, as viagens espaciais eram cativas de Estados Unidos e a Rússia, mas hoje, mais de 30 países possuem satélites em volta do planeta, num verdadeiro engarrafamento espacial. Em 2000 havia 2500 satélites em órbita terrestre e desses apenas 500 estavam ativos, sendo o resto lixo espacial o que é um dos grandes problemas a ser enfrentado. Não se sabe ainda muito bem o que vai ser o Espaço no século XXI, mas é de se prever que novos limites serão alcançados e barreiras quebradas. Espera-se que seja possível mandar homens a Marte e instalar bases na Lua depois de 2020. É claro que tudo isto ainda são especulações e temos que ter cuidado com estas previsões, pois a conquista do espaço tem, na verdade, progredido devagar, mas não é nada daquilo que se pensava há vinte ou há trinta anos e é evidente que a exploração espacial continuará, com certeza, com grandes empreendimentos como o regresso à Lua e a ida a Marte.
17
PANORAMA GERAL “A persistência é o caminho do êxito” (Charles Chaplin)
O uso do espaço estará em muito breve, finalmente, deixando o campo das hipóteses para se tornar realidade, sendo apenas uma questão de mais alguns anos e algumas centenas de bilhões de dólares para que o homem domine com maior abrangência o espaço exterior como fonte de recursos e de entretenimento. Estamos falando em um espaço de tempo de 10 a 15 anos para que o homem, efetivamente, conquiste a Lua e tenha condições de ir a outros corpos celestes, especialmente o planeta Marte, tão sonhado por tantas gerações. O homem decidiu voltar à Lua, não fisicamente, depois de passados mais de 30 anos desde o último vôo da missão Apolo. Em 14 de janeiro de 2004 o Presidente George W. Bush dirigindo-se ao pessoal da NASA anunciava3 uma Nova Visão Espacial para os Estados Unidos: (...) A América está orgulhosa de nosso Programa Espacial. As pessoas ousadas e visionárias desta Agência têm expandido o conhecimento humano, revolucionado nosso entendimento sobre o Universo e produzido avanços tecnológicos que têm beneficiado toda a humanidade. Inspirado em tudo isso e guiado por objetivos claros, hoje estamos colocando em curso o novo Programa Espacial Americano. Nós daremoos à NASA um novo foco e visão para futura exploração. Nós construiremos novas naves apra levar o homem adiante no Universo, para estabelecer uma nova e segura posição na Lua e preparar para novas jornadas para além de nosso Planeta. (...)
Não era mais uma luta pela supremacia política, como nos tempos da Guerra Fria, quando Estados e União Soviética se digladiavam, num eterno maniqueímo, que produzia muita retórica ideológica e apreensão do Mundo em torno de uma possível guerra, de fato, embora tenha sido em torno deste ambiente hostil que se construiu avanços significativos em diversas áreas do conhecimento e, em especial, para a indústria espacial de ambas as potências. 3
Release distribuído pela Casa Branca em 14 de janeiro de 2004 (tradução livre do autor), depois que o Presidente Pre sidente George W. Bush ter anunciado a Nova Visão dos Estados Unidos para o Programa de Exploração Espacial, no endereço www.whitehouse.gov/news/releases/2004/01/200401 www.whitehouse.gov/news/releases/2004/01/20040114-3.html. 14-3.html. 18
Mas, àquela época, e, a despeito dos gastos volumosos com o Projeto Apolo – cerca de 20 bilhões de dólares, o Presidente Americano John F. Kennedy jogava para o público interno 4 e não propriamente tinha em mente estabelecer uma base definitiva na Lua, o que agora é diferente; a luta passou a ser pela expansão de nossas fronteiras e pela própria sobrevivência da espécie humana, visto que nossos recursos energéticos não renováveis se esgotam rapidamente e não se encontram alternativas potencialmente viáveis para suprir toda a demanda futura da população mundial, cada vez maior. Como divulgado pelo API – Instituto Americano de Petróleo 5 em artigo de 2006 “Porque é necessária uma Estratégia Nacional de Energia”: Nós estamos nos tornando mais e mais dependentes do óleo importado. Essa dependência agora soma 60% da demanda de óleo dos Estados Unidos; estera-se que estes números cresçam para 75% por volta do ano de 2025. (...) Uma vitoriosa Estratégia Nacional de Energia deve procurar assegurar suficiente energia para suportar o crescimento econômico promovendo responsável desenvolvimento de ambos, recursos internos e externos, sem o comprometimento do meio ambiente.
O API nos dava à época uma pista de que os Estados Unidos precisam, a todo custo de novas fontes de energia para movimentar suas indústrias e aquecer os lares americanos, além de “ prover uma fonte segura de combustível para as nossas forças armadas”.
Então, o cenário estaria posto e os atores, pelo que se percebia à época, se esforçariam para lançar ao espaço suas máquinas, homens e bandeiras, com a missão de estabelecer na Lua suas bases de exploração e de lá, se lançarem rumo a outros corpos celestes, a começar por Marte.
4
Numa linguagem jovem, dinâmica e desafiadora, Kennedy foi aplaudido 18 vezes no discurso de 25 de maio de 1961, chamado pela mídia de "Kennedy's Goal", no qual prometeu que os americanos pisariam na Lua, antes do final da década. Para acelerar a exploração do espaço, incluindo um vôo tripulado à Lua, o desenvolvimento de mísseis nucleares intercontinentais, satélites meteorológicos e de comunicação, a NASA gastou cerca de 20 bilhões de dólares. 5 O API – American Petrolium Institute, representa as indústrias de Petróleo e Gás Natural, tanto de extração como de refino, dos Estados Unidos, com cerca de 400 filiados, sendo responsável por liderar tal segmento econômico no tocante à produção em novas leis para o setor, no campo das pesquisas e da normalização técnica. As citações foram traduzidas pelo autor. 19
Os Estados Unidos, pelo seu poderio econômico e tecnológico, liderava, até então, esta corrida, seguidos da Rússia, China, Índia, União Européia e Japão - não necessariamente nesta ordem, num esforço para se chegar à Lua antes de 2020, que seria o marco nos planejamentos estratégicos estabelecidos pelas diversas agências espaciais. O Diretor da NASA, Michel Griffin divulgou em 19 de setembro de 20056 que quatro astronautas seriam enviados à Lua em 2020, lá permanecendo por uma semana. Este novo Programa Espacial norte-americano estava orçado, segundo a NASA em 104 bilhões de dólares7 e objetivava o estabelecimento na Lua de uma base de operações e que também deveria servir de ponto de parada para as viagens a Marte. Philip Metzger 8, um físico do Centro Espacial Kennedy afirmou em 18 de março de 2005 que: A Lua é o primeiro passo natural. Ela está mais próxima. Nós podemos praticar como viver, trabalhar e fazer ciência antes de fazer uma viagem mais longa e mais arriscada para Marte.
O homem, então estabelecido na Lua iria usar “suas riquezas” e utilizar o satélite natural para experimentar o que poderia vir a acontecer mais mais tarde tarde em solo marciano. marciano. E aí, aí, talvez, talvez, fosse a fase apropriada para a aplicação dos diplomas legais estabelecidos para o uso e exploração do espaço exterior, com ênfase para os benefícios que isto poderá trazer para toda a humanidade, pela exploração da Lua e demais corpos celestes, da proteção do seu meio ambiente, da cooperação entre nações no trabalho exploratório e na não proliferação de armas, conceitos preconizados no Tratado do Espaço9 e no Acordo da Lua 10. 6
(Trudy E. Bell; PHILLIPS Tony. Por que a NASA quer colonizar a Lua antes de ir a Marte? [S.I]. 2005;
). 7 NASA tem novos planos para a Lua. Jornal Estado de Minas. 20/09/2005, Internacional, Internacional, p.21. 8 METZGER Philip. Why colonize the Moon before going to Mars? NASA scientists give their reasons. http://science.nasa.gov/headlines/ http://science.nasa.gov/headlines/y2005/18mar_m y2005/18mar_moonfirst.htm. oonfirst.htm. Tradução livre do autor. 9 Em 13/12/63 a Assembléia Geral da ONU adotou, através da resolução 1962 (XVIII), a “Declaração dos Princípios Legais que Regulam as Atividades dos Estados na Exploração e Uso do Espaço Exterior”. Com base nesta Resolução e nas de números 1884 (XVIII) e 110 (II), além de considerações sobre os princípios de interesse e do bem comum da humanidade e da cooperação internacional, a Assembléia Geral da ONU aprovou o “Tratado do Espaço” que foi aberto à assinatura em 27/01/67, em Londres, Moscou e Washington, Washington, tornandose um instrumento de enorme relevância. re levância. 10 O Acordo que Regula as Atividades dos Estados na Lua e em Outros Corpos Celestes ou, simplesmente conhecido como Acordo da Lua, começou a ser discutido em 1971, por iniciativa da União Soviética. Esta discussão duraria até o ano de 1979, quando foi tomada por consenso e, com a adoção da Resolução nº 34/68, 20
Contudo, até que o homem volte a pisar em solo lunar, muito há que ser feito, seja na área tecnológica – com o desenvolvimento de novos materiais e construção de veículos espaciais mais seguros e reutilizáveis seja na área de pesquisas robóticas – com um mais apurado estudo da Lua, seus recursos naturais e de melhores locais para exploração, além, é claro, na área do Direito Espacial Internacional, que deve ser merecedor de ampla discussão sobre seus fundamentos atuais e, principalmente, quanto aos princípios que distanciam as grandes potências dos países em desenvolvimento, notadamente, no que diz respeito ao regime de exploração das riquezas da Lua, colocando em lados opostos potenciais nações exploradoras e as que não têm capacidade de exploração, mas que dependerão desta empreitada. A questão da exploração espacial está longe de ser pacífica; há de se estabelecer, por exemplo, regras para o aproveitamento ordenado e seguro dos recursos naturais da Lua e a gestão racional destes recursos e do meio ambiente lunar, já que o “ Acordo que regula as Atividades dos estados na Lua e em Outros Corpos Celestes” Celestes” não tem como partes os principais Estados detentores de tecnologia espacial e com condição de colocar em prática a arriscada missão de usar as riquezas da Lua. Mas, com ou sem acordo entre os Estados sobre a melhor forma de se usar e explorar o espaço exterior, o fato é que isto é uma realidade cada vez mais visível e não há, aparentemente, como impedir que Estados e empresas privadas usem e explorem as oportunidades que o espaço oferece em termos econômicos (turismo, energia, ciência). Mas o caminho seria longo e tortuoso e as incertezas enormes e os Estados Unidos que se lançaram à dianteira, demonstrariam logo à frente fraqueza frente ao desenvolvimento das novas naves espaciais, conforme noticiado pela Agência REUTERS 11 em 04/04/2008: WASHINGTON (Reuters) - O ambicioso plano de levar seres humanos à Lua e a Marte pode desabar antes mesmo de sair do chão devido a incertezas de planejamento e insuficiência de a decisão de abrir o Acordo à Assinatura. Entretanto, até agora, o Acordo só recebeu a ratificação de 12 Estados. 11 Disponível no endereço http://br.reuters.com/article/internetNews/idBRN0434742920080404, acessado em 05/04/2008. 21
verbas, afirmam diversos especialistas. Um relatório do Congresso norte-americano afirma que o substituto planejado pela Nasa para o ônibus espacial, o Programa Constellation, está em risco, e congressistas bem como pelo menos um ex-astronauta concordaram com a avaliação, em audiência sobre o assunto. O Government Accountability Office dos Estados Unidos afirmou que o programa Constellation, que deveria ser iniciado em 2015, está em risco devido a problemas de engenharia, de verbas e de mecânica. Por exemplo, o programa deveria usar o sistema de proteção contra o calor empregado pelo Programa Apollo, nos anos de 1960, mas os especialistas aparentemente não conseguiram replicar o material 12. Tanto o veículo de lançamento de tripulação Ares I quanto o veículo de exploração de tripulação Orion estão em perigo, de acordo com o relatório da divisão de investigação do Congresso. "Se algo de errado acontecer com o desenvolvimento do Ares I ou do Orion, todo o Programa Constellation pode ser tirado do rumo, e o retorno ao vôo espacial tripulado passará por atrasos", afirma o relatório. O estudo também aponta que as instalações de teste são insuficientes para testar o novo propulsor do Ares I, incluindo suas problemáticas vibrações. Ambos os veículos também enfrentam "problemas de peso", segundo o relatório. "Todas essas incógnitas, e outras mais, deixam a NASA em posição de ser incapaz de oferecer estimativas firmes de custo para os projetos, a esta altura", afirma o estudo. No começo da semana, funcionários da agência espacial norte-americana informaram que entre 5,8 mil e 7,3 mil funcionários seriam demitidos ao longo dos próximos três anos, com a aposentadoria dos ônibus espaciais, a maioria dos quais no Centro Espacial Kennedy, em Cabo Canaveral, Flórida. Os ônibus espaciais devem sair de operação em 2010.
Efetivamente, em março de 2009, o Governo Obama determinou a revisão do Programa de Vôos Espaciais tripulados dos EUA, que até então estava focado na volta do homem à Lua até o ano 2020. Esta revisão foi convocada para examinar o programa de foguetes Ares e a cápsula Orion, que estavam sendo projetados para o transporte de astronautas até a Estação Espacial Internacional e à superfície lunar, além de avaliar a prorrogação do apoio da NASA à ISS para além do ano de 2016 e uma possível iniciativa lunar. Em 1º de fevereiro de 2010, com a divulgação do orçamento enviado ao Congresso Americano, foi informado que o “painel independente” (Comissão de Revisão acima citada) teria descoberto que o 12
O que na realidade ocorre é que o fantástico foguete Saturno V, que levou o homem à Lua teve, juntamente com todo o Projeto Apolo, seu projeto destruído pela NASA, sem explicação plausível para ato tão drástico, o que impede os cientistas de recriarem aquela maravilha da engenharia espacial. 22
Programa da Lua estava atrasado em anos e, por isso, seria colocado ponto final ao Programa Constellation, que pretendia levar de volta o homem à lua. Ressalte-se que a NASA já havia investido cerca de 9 bilhões de dólares neste programa. No comunicado do governo Obama afirmou que Em vez disso, estamos lançando um esforço totalmente novo que investe a inventividade americana para o desenvolvimento de tecnologias mais capazes e inovadoras para a exploração espacial do futuro.
O orçamento proposto ao Congresso Americano, ampliava as operações da Estação Espacial Internacional para além da data planejada para a sua desativação, em 2016, sugerindo possíveis acréscimos como habitats espaciais infláveis e vida útil até o ano de 2020. Além disso, concedia mais operações espaciais ao setor privado comercial, com a alegação de que isso criaria milhares de empregos novos e manteria os custos dos programas baixos. Em 15 de abril de 2010, em discurso na NASA, o Presidente Americano Barack Obama disse que até 2025 a exploração espacial dos Estados Unidos iria além da Lua, avançando para dentro do Sistema Solar, afirmando ainda "queremos dar um salto no futuro, não continuar trilhando os mesmos caminhos do passado". Na ocasião, o Presidente Americano comentou sobre as críticas que recebeu, especialmente de ex-astronautas, por ter feito cortes drásticos no orçamento da NASA, garantindo aos funcionários da NASA que Ninguém está mais comprometido do que eu com as viagens tripuladas ao espaço. Mas temos que fazer isso de forma sábia, não como era feito no passado. Queremos mandar astronautas para Marte e trazê-los de volta com segurança.
Em 21 de julho de 2011 acabava, depois de 30 anos, a utilização dos ônibus espaciais para transporte de astronautas, equipamentos e suprimentos para a Estação Espacial Internacional. Desde esta data, os Estados Unidos estão dependentes de carona dos russos em sua capsula Soyuz para ir à ISS e esta situação deve perdurar até o ano de 2017. 23
Em novembro de 2011, o Congresso dos Estados Unidos aprovou no orçamento da NASA para aquele ano, uma previsão orçamentária para o desenvolvimento de voos comerciais e ajuda ao setor privado para o desenvolvimento de foguetes comerciais para colocar astronautas e cargas em órbita. O orçamento previa ainda o desenvolvimento de um novo foguete, crucial para o envio de astronautas a um asteróide ou para Marte, mas também para a Estação Espacial Internacional (ISS). Já o orçamento proposto pela NASA para o ano de 2012 destinaria mais de 8 bilhões de dólares para viagens espaciais tripuladas, em comparação aos cerca de 5 bilhões de dólares para a ciência espacial e isso, sem nenhum veículo especial dos EUA próprio para humanos num futuro imediato. O valor final aprovado pelo congresso americano foi de US$ 17,8 bilhões de dólares, quase US$ 1 bilhão de dólares menor do que a proposta enviada pelo Governo Obama e 37% menor do que o de 2007. Com o corte do orçamento da NASA para 2012 pelo Congresso americano - justificado pelo elevado déficit público dos Estados Unidos, o Administrador da agência Charles Bolden afirmou 13 que “um financiamento insuficiente do programa de naves espaciais comerciais poderia atrasar o início dos voos”, previstos para 2017. Sem dúvida, o corte do orçamento neste nível era potencialmente capaz de prejudicar o programa em curso da "nova geração" do sistema de voo espacial tripulado com o desenvolvimento da cápsula Órion e do Sistema de Lançamento Espacial. Ressalte-se que a NASA previra realizar uma prova de voo não tripulado com a Órion e o SLS em 2017, e a primeira missão tripulada em 2021. Mesmo em meio a controvérsias sobre o orçamento para 2012, a NASA anunciou em novembro de 2011 que manteria o planejamento de realizar o teste de vôo da cápsula Orion antes de 2014 e 13
Disponível no endereço http://www.aviacaonoticias.com/2011/11/corte-no-orcamento-pode-atrasarviagens.html. 24
também que manteria seu contrato com Lockheed Martin Space System, que é a indústria parceira deste projeto. Para transportar a Órion está sendo desenvolvido pelo Centro Espacial George C. Marschall da NASA, o SLS (Space Launch System), que é o novo sistema de foguetes americanos baseado em motores de hidrogênio e oxigênio líquido e impelidos inicialmente através de foguetes (boosters) alimentados a combustível sólido, que também foram desenvolvidos como parte do Projeto Constellation. A NASA define este novo sistema de foguetes como Seguro, Confiável e Sustentável, capaz de missões para ressuprimento da ISS, missões lunares e além, e até, eventualmente, a Marte. Numa primeira versão, o SLS terá capacidade de carga de 70 toneladas, que é mais do triplo da capacidade de carga que tinham os ônibus espaciais, para transporte até a uma órbita de 480 km da Terra e, as novas gerações do SLS terão capacidade de carga de 130 toneladas, estes para missões espaciais já previstas para um asteróide em 2025 e ao Planeta Marte, em 2030, como previsto pela NASA e Governo Obama.
Concepção artística do SLS – Primeira versão - crédito: NASA
Mas esta decisão da NASA teve impactos importantes, pois a agência tece de abrir mão de projetos que estavam sendo desenvolvidos pela iniciativa privada americana para substituir os ônibus espaciais, chamados pela NASA de “taxis” espaciais, fazendo com que a NASA continue dependente da Rússia e suas naves Soyuz para levar e trazer astronautas da ISS pelo menos até o ano de 2017, que tem menor capacidade de carga. 25
Mas, de certa forma, hoje os Estados Unidos estão a reboque dos russos se quiserem manter a ISS em operação. Este é um quadro que remonta aos anos 50, quando a União Soviética detinha a dianteira da corrida especial, depois do lançamento bem sucedido do Satélite Sputnik. Só para estes projetos privados a NASA previa para o ano de 2012 cerca de US$ 850 milhões e só recebeu do Congresso americano a aprovação para gastar UR$ 406 milhões, razão pela qual a NASA NA SA teve de decidir por dois projetos em andamento e que ela queria que vingasse, por acreditar em suas viabilidades iminentes. Um destes projetos é o Projeto CST (Crew Space Transportation), desenvolvido pela área de negócios da Boeing Launch Products and Services, pertencente à área de Defesa, Espaço & Segurança da Boeing, sediada em Houston (USA), formada por uma joint venture com a Lockheed Martin, onde têm cerca de 1.800 funcionários.
Concepção artística da operação da CST para acoplagem à ISS - Crédito: Cr édito: Boeing
Embora parte do projeto do CST seja financiada pela NASA, esta cápsula poderá ser utilizada, no futuro, por empresas e pessoas físicas para exploração do espaço e viagens de turismo, desde que tenha um lançador disponível, como os que estão também sendo desenvolvidos pela iniciativa privada americana ou pela própria NASA. Um desses projetos poderá ser o da Empresa Space-X (Sistema Falcon 9-X), que pretende levar astronautas e suprimentos para a Estação Espacial Internacional e trazer astronautas de volta à Terra e podendo também, pelo menos conceitualmente, servir em outras missões 26
espaciais, já tendo um contrato com a NASA de US$ 1,6 bilhões de dólares para desenvolvimento do sistema, devendo chegar a US$ 3,1 bi.
Concepção artística do Falcon 9 – crédito: Space X
O Falcon 9X é um foguete de dois estágios alimentado por Oxigênio Líquido (LOX) e Querosene, sendo o primeiro estágio com 9 motores e o segundo estágio com um único motor. Outro forte player que se apresenta disposto a competir nesta área é Paul Allen, co-fundador da Microsoft e que criou a Empresa Stratolaunch Systems e que até o momento não compete pelos recursos orçamentários da NASA, mas que promete um sistema revolucionário de lançamento de foguetes espaciais. Paul Allen baseia seu projeto na união de esforços de três empresas: a Space-X, que forneceria os foguetes e as cápsulas, a Scaled Composite's, que forneceria o meio de transporte até o limite da atmosfera, com seu sistema que já está preparado para fazer os vôos suborbitais e a empresa Dynetics, que faria a integração dos sistemas.
Concepção artística do Sistema – crédito: Stratolaunch Systems 27
Aparentemente é um negócio muito interessante para a Stratolaunch Systems, de Paul Allen, mas resta saber se isto prosperará vista a grande dificuldade a ser enfrentada nos campos técnicos e prático para integração destes três negócios e da tecnologia e prazos envolvidos. Falamos até agora de projetos capitaneados pela NASA, mas isto não dá fim às inúmeras possibilidades. Temos em andamento grandes projetos de exploração espacial liderados pela Rússia, China, Japão, União Européia e pela Índia, que em sua Visão 2025 prevê a continuidade do desenvolvimento de novos foguetes para permitir a exploração planetária, a fabricação de naves reutilizáveis e a realização de voos tripulados. Há de ressaltar que a Índia realizou de 2008 a 2009 sua primeira missão lunar não tripulada, com a espaçonave Chandrayaan-1, lançada com sucesso em 22 de outubro de 2008 e que manteve contato com a Terra até 1º de setembro de 2009, tendo cumprido uma missão de 312 dias em torno da Lua, com a utilização de 11 instrumentos para a realização de um mapeamento completo daquele satélite, para identificar seus recursos minerais e composição física e química do solo lunar. Devido a aposentadoria dos ônibus espaciais americanos, a NASA e a Agência Espacial da Federação Russa, em 14 de março de 2011, firmaram acordo de US$ 753 milhões para utilização da espaçonave Soyuz até o ano de 2016, para transporte de pessoal e recursos à ISS. A nave Soyuz já fazia este trabalho para a NASA, desde 2003, quando houve a explosão do ônibus espacial americano Columbia, quando retornava com sete tripulantes a bordo, todos mortos assume agora a hegemonia no transporte para a ISS, pelo menos até o final de 2016, quando a NASA pretende estar com seu novo sistema de transporte espacial de astronautas (CST) já operacional.
Concepção artística da ISS e Soyuz aproximando e foto da Soyuz acoplada – crédito: NASA 28
A Rússia foi quem inaugurou o Turismo Espacial levando sete turistas espaciais à ISS14, como forma de financiar parte de suas despesas com estas viagens; foram cinco americanos, um sul africano e um cidadão canadense. Não se tem previsão para ida de outros turistas na Soyuz. O Plano da Rússia (2006-2015) prevê, em linhas gerais 15: a) b) c)
d)
e)
Desenvolvimento dos veículos de lançamento avançados; Manutenção e melhorias da base de lançamento localizada em Baikonur; Desenvolvimento, acompanhamento, ampliação e manutenção da constelação de satélites orbitais para o benefício dos campos sócioeconômico, ciência e segurança do País (comunicação, televisãoradiodifusão, sensoriamento remoto da Terra, monitoramento ecológico, administração de emergência, pesquisas fundamentais do espaço, pesquisa em microgravidade); Desenvolvimento, expansão e manutenção da Estação Espacial Internacional (ISS) com segmentos para pesquisa fundamental e aplicada, implantação de projetos de longo prazo de pesquisa aplicada e experiências; Desenvolvimento de foguete e tecnologias espaciais sustentáveis, com características universais.
O Programa Espacial da Federação Russa, para o período de 2006 a 2015, aprovado em 22 de outubro de 2005, pela Resolução nº 635, com orçamento de 305 bilhões de rublos (cerca de US$ 9,5 bilhões) apresenta com suas maiores prioridades até o ano de 2015: a) b) c) d) e)
Ter um total de 50 satélites operacionais para monitoramento da Terra (tempo e ambiente), comunicação, televisão e rádio-difusão; A exploração da Lua, co com m uma nave não tripulada; Instalação de mais 8 módulos na ISS para ampliar as pesquisas; 2 satélites para o Sistema Internacional de Busca e Resgate; R esgate; 3 espaçonaves para estudo do Sol e da interação Terra-Sol.
14
Lista de turistas levados à ISS pela nave Soyuz: Dennis Tito (2001), Mark Shuttleworth (2002), Gregory Olsen (2005), Anousheh Ansari (2006), Charles Simonvi (2007), Richard Garriott (2008), Charles Simonvi (2009 – 2ª vez), Guy Laliberté (2009). 15 O Programa Espacial da Federação Russa completo está disponível no endereço http://www.federalspace.ru/main.php?id=85 29
A china é hoje um fortíssimo player na área espacial e mantém um Programa Espacial 16, com metas arrojadas de curta e longa duração, incluindo, dentre outras: a) b) c) d) e)
Construir sua própria Estação Espacial orbitando a Terra; Construir uma base lunar habitada; Realizar uma exploração profunda, não tripulada, do Sistema S istema Solar; Enviar missões não tripuladas a Marte entre 2014 e 2033 e missão tripulada àquele Planeta entre 2040 e 2060; Participar com a Rússia do Projeto de enviar uma sonda não tripulada a Marte e à sua lua Phobos para recolher e trazer de volta amostras de solo do satélite e de Marte.
A nave Shenzhou, desenvolvida nos anos 90 para levar um homem ao espaço é a maior realização do programa espacial chinês e já permitiu levar o homem ao espaço e até a fazer uma caminhada espacial.
A Nave Shenzhou, sendo a perte em cinza é o único que volta, tendo à direita este módulo recuperado depois de seu retorno à superfície da Terra – crédito: Wikipédia
A nave Shenzhou é lançada pelo foguete Longa Marcha, de fabricação chinesa e desenvolvido na década de 60 com tecnologia soviética, com quem a China manteve um contrato de transferência de tecnologia até o ano de 1960. Apesar do rompimentos das relações neste ano, os cientistas chineses continuam o desenvolvimento de seu Programa Espacial, que prospera, apesar doo embargo dos Estados Unidos.
16
Dados disponíveis em http://pt.wikipedia.org/w http://pt.wikipedia.org/wiki/Programa_espacial_chin%C iki/Programa_espacial_chin%C3%AAs 3%AAs 30
Foguete “Longa Marcha” pronto para lançamento na Base de Xichang - Crédito: Wikipédia
A Estação Espacial Chinesa, a ser montada no espaço até o ano 2020 deverá ter cerca de 60 toneladas e deverá estar operando quando a ISS já tiver sido desativada, previsto para 2016.
Concepção artística da futura Estação Espacial Chinesa Crédito: Dragon Space
Para comprovar sua capacidade na construção desta Estação Espacial, a China lançou com sucesso, no dia 29 de setembro de 2011, o módulo Tiangong-1, demonstrando ao Mundo que domina o conhecimento sofisticado necessário para tal empreendimento. O Tiangong-1 é um laboratório de 8,5 toneladas e foi projetado para uma vida útil de dois anos.
31
Concepção artística do módulo Thiangong-1 e a nave Shenzhou-8 - Crédito: Dragon Space
Modelo em escala do módulo Thiangong-1 acoplado à nave Shenzhou (também es escala) - Crédito: Wikipédia
A Índia, apesar de ser um País ainda com grande índice de pobreza é o 12º País em termos de economia, encontrando-se em ritmo acelerado de crescimento, além de se destacar por ter o 3º maior contingente militar do mundo, embora em termos de potência militar esteja lá pelo 7º lugar, já que este ranking não é tão preciso e está em mudança. No campo espacial, a Índia conta com a ISRO (Indian Space Research Organization), que coordena o trabalho de um batalhão de pesquisadores e técnicos em 19 centros de pesquisa, lançamento, operação, rastreamento, ensino, que desenvolvem, constroem e operam sistema espacial, dentro do atual programa. O Programa Espacial Indiano é arrojado e prevê a instalação de uma constelação de satélites para desenvolver e operar o seu próprio sistema de geoposicionamento (IRNSS), para não ficar dependente do GPS americano ou de outros sistemas como o europeu (GALILEO), chinês (BEIDOU - em construção) ou do sistema russo (GLONASS). Outra área que recebe grande esforço de capital e de tecnologia é a de grandes Lançadores, que pretende chegar ao GSLV-MK III, para transporte de cargas de até 4 toneladas e peso total de 630 toneladas.
32
Família de foguetes do Programa Espacial Indiano – crédito: ISRO
A Índia ainda trabalha com o projeto de retornar à Lua com uma missão não tripulada e o desenvolvimento de uma nave espacial reutilizável e missões tripuladas na órbita terrestre. Um País com grandes ambições na exploração espacial é o Japão, que atua através da JAXA (Japan Aerospace Exploration Agency).
Módulo KIBO acoplado à ISS – crédito: JAXA
Entre os projetos em desenvolvimento pela Jaxa está a utilização da ISS, onde tem o seu próprio laboratório (módulo Kibo), o desenvolvimento de um sistema de transporte de carga para abastecimento da ISS (o HTV2) com capacidade de carga de 5,3 toneladas, já tendo realizado uma missão com sucesso à Estação Espacial Internacional. 33
Sistema de transporte para a ISS (HTV2) – crédito: JAXA
34
VOLTANDO À LUA “O vôo até a Lua não é tão longe. As distâncias maiores que devemos percorrer estão dentro de nós mesmos”. (Charles de Gaulle)
Apesar de o Governo Obama ter dito que redirecionaria o Programa Espacial Americano e retirada a prioridade da volta à Lua em missão tripulada, nosso Satélite natural continua sendo o primeiro grande objetivo nesta nova fase de exploração espacial, que teve como um dos marcos o primeiro voo orbital de uma nave construída pela iniciativa privada americana 17, em 21 de junho de 2004 e que abriu, assim, uma maior perspectiva para a participação da indústria privada na exploração do potencial de recursos espaciais e de outros empreendimentos. Assim, os Estados Unidos devem dar continuidade ao projeto de voltar à Lua com uma expedição tripulada e isto, segundo o cronograma do Sistema SLS da NASA seria feito a partir de 2019, depois de uma primeira missão não tripulada em 2017. Temos ainda muito que aprender sobre a Lua, mesmo depois de mais de cem naves terem ido ao nosso Satélite artificial em busca de respostas, tendo esta série de voos não tripulados iniciada em 1959 com o envio da sonda soviética LUNA-1, que obteve as primeiras imagens de nosso satélite natural, a partir de sua órbita, inclusive seis levando astronautas dos EUA, entre 1969 e 1972. Mas falta saber ao certo o que a Lua e, para saber sobre o que a Lua tem em seu interior, a NASA, a partir do primeiro dia de 2012 colocou em sua órbita duas naves gêmeas (GRAIL – Laboratório de Recuperação da Gravidade e Interior, que também significa “graal”) para fazerem um mapeamento completo do interior da Lua, numa missão prevista para durar 82 dias, que poderá ter sobrevida. Inicialmente chamadas pela NASA de Grail-1 e Grail-2, agora foram rebatizadas de “Ebb” e “Flow”, nomes dados por alunos de uma escola americana, através de concurso da NASA.
17
SpaceShipOne construída pela Empresa Scaled Composites, situada em Mojave, Califórnia 35
Concepção artística das naves gêmeas (Grail) orbitando a Lua - crédito: NASA
Além desta, outras missões não tripuladas serão realizadas com o objetivo de se estudar a composição mineralógica da Lua e preparar-se para uma futura missão tripulada. Neste sentido, a Rússia informou em 24/01/2012 que planeja enviar o homem à Lua depois de realizar várias missões não tripuladas ao satélite natural da Terra, declarou à agência Interfix o Diretor Geral do Consórcio Aeroespacial Lavochkin, Victor Khartov: Existe no mundo um renascimento do interesse pela Lua. A Rússia também tem projetos neste sentido. Foram eleitos os locais para a aterrissagem das duas primeiras missões, os pólos norte e sul do satélite.
As duas primeiras missões não tripuladas - Luna Resurs e Luna Glob - são a repetição dos passos que já foram dados no passado, nos tempos da então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, mas as experiências adquiridas teriam se perdido e deverão ser recuperadas, explicou Victor Khartov. Feito exclusivamente pelos russos, o "Luna-Glob", prevê o lançamento e aterrissagem de um aparelho que uma vez no terreno irá recolher amostras de pó pó lunar, da mesma forma que a terceira terceira missão, "Luna-Grunt" que deverá trazer amostras de terra lunar.
Concepção das sondas (orbitadora e de superfície) Luna-Glob-1 – crédito: ROSCOMOS 36
O projeto "Lunas-Resurs" será executado em conjunto com a Índia, que irá fornecer à missão o foguete portador e o veículo lunar que será depositado na superfície da Lua por um módulo de descida fabricado pela Rússia. Esta Missão está prevista para 2013 e chamará Missão Chandrayaan-II. A sonda “Luna-Resus”, fabricada pela Rússia, com capacidade de pousar na superfície da Lua e que levará também um veículo robotizado para explorar a superfície lunar.
Concepção das sondas da Missão Luna=Resus – crédito: ROSCOMOS
Segundo afirmação do Diretor do Consórcio Aeroespacial Lavochkin, assim que todas as missões não tripuladas forem concluídas, a indústria aeroespacial russa dará início aos preparativos para enviar uma nave tripulada ao satélite, sendo esta missão antecedida por outras robotizadas com o fim de preparar a infraestrutura. Em outubro de 2011, o Diretor do Centro de Preparação de Cosmonautas Gagarin, Serguey Krikalhov, durante a realização do Fórum Espacial 2011, realizado em Moscou, que novos dados obtidos pelos cientistas sobre a Lua permitiriam a instalação de bases seguras no satélite. Segundo Krikalhov 18, alguns veículos de exploração lunar das agências espaciais haviam detectado na superfície lunar cavidades com diâmetro de 65 metros e profundidade de 100 metros, ocorrências que teriam surgido em consequência de erupções vulcânicas. Segundo o Cientista, a existência dessas cavidades deveria alterar a tecnologia de exploração da Lua, pois no interior desses buracos seria possível instalar compartimentos para habitação e trabalho da base, equipados para proteger os seus habitantes contra a radiação. Além disso, os cientistas também teriam verificado que a temperatura interna desses ambientes oscila entre 30 e 40 graus positivos.
18
Disponível no endereço anuncia-criacao-de-bases-na-lua/
http://www.diariodarussia.com.br/tecnologia/noticias/2011/10/20/russia37
Um dos interesses pela exploração da Lua é pelos seus recursos minerais e a possibilidade da obtenção de uma fonte de energia “limpa” a partir do hélio-3, a ser processado em sua superfície e, por isso mesmo, se justifica o porquê os Estados Unidos não deverão ficar fora de sua exploração, embora a negativa do Presidente Barack Obama, pois lá estarão os russos, chineses, japoneses e indianos, dentre outros. De forma mais clara, a Rússia, a China, a Índia e o Japão já divulgaram sua intenção em construir bases lunares e fazer o processamento da poeira lunar para extrair o hélio-3 e trazê-lo para a conversão em energia em reatores de fusão nuclear, em fase de desenvolvimento, já que ainda não temos tecnologia para tal. Ora, não é novidade, para a maioria das pessoas, que o Planeta Terra está a caminho do esgotamento de seus recursos naturais, entre os quais as reservas de petróleo, com previsão para perto de 2050 estas reservas esgotarem, embora se continue consumindo cada vez mais e não se investindo o suficiente para o desenvolvimento de novas tecnologias para produção eficiente de energias alternativas e o hélio-3 seria uma alternativa, embora cara sua produção e transporte. O que se percebe é que os Estados Unidos, embora tenha direcionado a proposta de exploração humana da NASA para Marte, dará suporte tecnológico e financeiro para que empresas provadas desenvolvam seus “taxis espaciais” para serviços junto à Estação Espacial Internacional e para a Lua, pois seriam mais adequados em termos de custo, já que a proposta da NASA é comprar serviço de transporte com as empresas privadas correndo parte do risco de desenvolvimento. E por que não conceder a empresas americanas a outorga de poderes para minerar na Lua em nome dos Estados Unidos? Aliás, esta questão já foi muito discutida no Congresso Americano, inclusive com propostas de legislação unilateral para tentar burlar o Tratado Internacional sobre o Espaço e o Acordo da Lua, que poucos países assinaram e nenhuma potência espacial. Além da questão energética, há de se considerar que o hélio-3 não é o único recurso que se sabe existir na Lua. Ela também poderá ser uma valiosa fonte de recursos minerais raros, como o európio e o tântalo, muito usados para equipar dispositivos eletrônicos e de energia limpa (painéis solares, carros híbridos), além do consumo pelas 38
indústrias espaciais e de defesa. Além desses, outros minerais estão disponíveis para serem minerados na Lua, como potássio, fósforo e tório, atualmente disponíveis em maior quantidade apenas na china.
Sistema PILOT de produção de oxigênio a partir do solo lunar para suas futuras bases (NASA)
E é justamente estes recursos minerais da Lua o foco principal dos programas espaciais de diversos Países – como a China, Rússia, Índia e Japão, embora seja sabido de que para isto, serão necessários recursos financeiros altíssimos para o desenvolvimento de tecnologias de lançamento, pouso, sobrevivência e para os trabalhos de escavação e processamento dos minerais “in-situ” (no local), razão pela qual as potências espaciais começam a trabalhar em conjunto em alguns projetos de exploração.
Equipamento de extração sendo projetado pela Escola de Minas de Colorado (USA) - NASA
Por tudo de estratégico que existe na exploração da Lua, depois de quase 40 anos, este será um novo momento da exploração espacial, com as grandes potências colocando em definitivo seus homens e equipamentos na Lua e construindo em nosso Satélite natural suas bases de exploração e tirando da superfície e subsolo da Lua os valiosos 39
minerais para a vida na Terra e também para construir nos engenhos que partirão da Lua para buscar outros mundos.
Concepção artística da base lunar americana divulgada em 2006 – crédito: NASA
Em 2007 a NASA apresentaria protótipos de sua futura base lunar, prevista para estar concluída em 2024.
Módulo de sobrevivência para a base lunar americana – crédito: NASA
Com o tanto que a NASA já investiu em projeto para a Lua fica difícil acreditar que os norte-americamos realmente desistiram de sua exploração, razão pela qual, fica sempre patente que esta tarefa será delegada a empresas privadas, aproveitando o que já foi desenvolvido e o que ainda está em desenvolvimento pela NASA. 40
Projeto de veículos lunares para serviço na n a base lunar americana – crédito: NASA
Os cientistas russos informaram em janeiro de 2012 que a Rússia irá instalar na Lua uma base científica, a Estação Lunar, que poderá ficar em solo ou orbitando a Lua. Para tanto, a Rússia está mantendo entendimentos com a NASA e a ESA (Agência Espacial Europeia) para discutir um possível acordo para a construção e utilização conjunta das instalações lunares. A ideia, segundo o que disse o Chefe da Roscomos – a Agência Espacial Russa, em entrevista Vladimir Popovkin, é que, dentro de 20 anos, turistas espaciais vejam como algo absolutamente normal passar temporadas de alguns dias na Lua. Juntamente com o passeio lunar, os turistas poderiam conhecer o trabalho a ser desenvolvido pelos cientistas russos no satélite da Terra. A Agência Espacial Russa trabalha com a perspectiva de que a base lunar russa comece a funcionar a partir dos anos 2030, primeiro com a instalação no satélite dos cientistas encarregados de estudar as suas propriedades físicas, biológicas e geológicas e, aos poucos, iria se desenvolvendo a infraestrutura necessária para a vida regular, incluindo a infraestrutura turística. Para os cientistas russos, a vida humana na Lua é perfeitamente viável porque lá não existe a radiação cósmica que representa perigo mortal para o ser humano. Além disso, a força da gravidade corresponde mais ou menos ao nível a que os terrestres estão habituados. Já a base lunar seria uma necessidade estratégica, para o estudo de outros planetas, além de permitir o desenvolvimento e teste de novos sistemas espaciais para voos rumo a Marte e outros planetas.
41
Concepção artística de Base Lunar Russa divulgada por Popovkin – crédito: ROSCOMOS
Juntamente com o passeio lunar, os turistas, segundo Vladimir poderiam conhecer o trabalho desenvolvido pelos cientistas russos no satélite da Terra. Assim, a ROSKOSMOS trabalha com a perspectiva de a base lunar russa começar a funcionar a partir de 2030. Inicialmente, conta Vladimir Popovkin 19, vão-se instalar no satélite cientistas encarregados de estudar as suas propriedades físicas, biológicas e geológicas. Aos poucos, irá se desenvolvendo a infraestrutura necessária para a vida regular, incluindo a infraestrutura turística. Em tom de provocação Vladimir Popovkin ainda disse: "Nós não queremos que o homem dê apenas um passo na lua … Hoje, sabemos o suficiente sobre isso, sabemos que há água em suas áreas polares … estamos agora discutindo como começar a exploração com a NASA e o Parlamento Europeu", disse ele.
Para os cientistas russos, a vida humana na Lua é perfeitamente viável porque lá não existe a radiação cósmica que representa perigo mortal para o ser humano, quando, por exemplo, em viagem para outros Planetas. Além disso, a força da gravidade corresponde mais ou menos ao nível a que os o s terrestres estão habituados. 19
Disponível no endereço instala-base-lunar-ate-2020/
http://www.diariodarussia.com.br/tecnologia/noticias/2012/01/22/russia42
Já a base lunar é necessária para objetivos estratégicos, afirma o conselheiro científico da Corporação CósmicoBalística Energhia, Aleksandr Aleksandrov. Ele explica que a criação de uma base na Lua é tarefa necessária para o estudo de outros planetas a partir do satélite da Terra. Além disso, a base lunar permitirá desenvolver e testar novos sistemas espaciais para voos rumo a Marte e outros planetas, e os astrônomos poderão estudar melhor o Sol e as estrelas. Aleksandr Aleksandrov diz ainda que, em seguida a esses objetivos mais próximos, a humanidade chegará à fase da exploração industrial da Lua. O cientista afirma que poderá ser organizada no satélite a extração de minérios, e diversas construções poderão ser realizadas, inclusive a de um cosmódromo para lançamentos espaciais a partir da Lua rumo às áreas remotas do universo. O Chefe da Roscomos disse acreditar que, em seguida a esses objetivos mais próximos, a humanidade chegará à fase da exploração industrial da Lua e que poderá ser organizada no satélite a extração de minérios, e diversas construções poderão ser realizadas, inclusive a de um cosmódromo para lançamentos espaciais a partir da Lua rumo às áreas remotas do universo . Sabe-se também que a previsão de construção da base lunar russa está contida em um plano de desenvolvimento do programa espacial russo até 2040, elaborado pela agência, possuindo três fases: A primeira delas — até 2015, estaria focada na conquista do espaço próximo à Terra e incluiria a finalização da construção do segmento russo da Estação Espacial Internacional (ISS), onde a Rússia está anunciando que fará a segunda fase do experimento Mars 500, para conhecimento dos efeitos do prolongado isolamento dos astronautas e, na ISS, sob os efeitos da radiação solar. Entre os planos de longo prazo da Roscosmos estaria também a criação de um sistema de proteção da Terra contra asteroides, tarefa que pode começar a ser feita a partir de 2026. Em 2015 será a vez dos japoneses (JAXA) lançarem a Missão Selene-2, que terá uma sonda na órbita da Lua e uma sonda na superfície, também com um veículo robotizado para exploração de nosso satélite natural. Depois desta, outras sondas da família Selene estão 43
previstas, como preparativo para uma futura missão lunar tripulada. Neste sentido, a JAXA (Agência Espacial do Japão) realiza estudos conceituais, inclusive para uma futura estação permanente em solo lunar. Embora a JAXA não divulgue datas firmes para suas futuras missões tripuladas para a Lua e não tripuladas para o Planeta Marte, demonstra que está se preparando e, em seu site, é possível conhecer as pesquisas que estão desenvolvendo para a construção de veículos robotizados para explorar a Lua e outros corpos celestes, equipamentos de perfuração de solo para extração de minerais, robôs que sejam capazes de montarem as estruturas da futura estação lunar, células de combustíveis e outros equipamentos para suportar tais missões. Os Japoneses, contudo, prevêm iniciar a construir de sua base lunar por volta de 2020, com a utilização de missões robóticas e, para 2020 o início das missões tripuladas para habitar a base lunar.
Concepção artística da base lunar japonesa com robês e humanos – crédito: JAXA
Em 2013, os chineses tentarão pousar na superfície da Lua com a sonda “Chang’e 3”, que deverá levar um veículo robotizado para explorar a superfície da Lua. Esta Missão chinesa sucederá às duas primeiras missões bem sucedidas na exploração da Lua através de sua órbita, a “Chang’e-1” (2007-2009) e a “Chang’e-2” (2009-2011). Segundo divulgado pelo site China Daily, a China iniciará a construção de uma base lunar entre 2025 e 2030, que seria precedida do envio de um robô em 2017. Outras fontes já falam que a base lunar chinesa só estaria pronta operacionalmente para o ano de 2049, mas nada do que se fale hoje pode ser levado ao pé da letra, pois o que está envolvido é muito 44
grande para que as potências espaciais falem abertamente e muito deve estar sendo desenvolvido e construído de forma secreta. se creta.
Concepção artística de uma futura base lunar chinesa – crédito: cr édito: People’s Daily Online
Mas não são somente as Agências Espaciais que planejam ocupar a Lua com suas bases científicas. A iniciativa privada também caminha neste sentido, como é o caso da Bigelow Aerospace, que planeja utilizar habitats infláveis para construção de uma futura base. E a ideia de se fazer instalações espaciais infláveis não é nova e vem dos anos 60, quando a NASA desenvolveu e colocou em órbita dois satélites que funcionavam como retransmissores passivos internacionais e intercontinentais de voz (rádio e telefone) e de sinais de televisão. Eram balões enormes – o primeiro (Echo 1) de 30,48 m de diâmetro e 180 kg de massa e o segundo (Echo 2) com 41,1 m de diâmetro e 256 kg de massa, incluindo as baterias e os painéis solares.
Os satélites Echo 1 e 2 durante testes de resistência à pressão – crédito: NASA 45
Em 2000, a NASA desistiu de utilizar este material e o dono da rede de hotéis Budget Suites comprou os direitos de execução do projeto e contratou diversos funcionários da NASA para aprimorar a tecnologia descartada. O resultado desse investimento foi a criação de um tecido de 16 polegadas de espessura, mais resistente que três polegadas de alumínio. A composição do material que vai revestir a primeira estação privada da história é mantida em segredo. A Bigelow Aerospace produziu duas versões de seu “habitat inflável” – o Gênesis I e o Gênesis II, e os colocou na órbita da Terra, lançados por mísseis russos, respectivamente em 2006 e 2007.
Configuração da Gênesis I e Gênesis II – crédito: Bigelow Aerospace
As espaçonaves Gênesis I e II continuam operacionais e transmitindo para o Centro de Controle da Missão, instalado em Las Vegas, imagens e dados de voo, com monitoramento 24 horas por dia. Depois de comprovada a viabilidade técnica do projeto, a Bigelow Aerospace desenvolve agora a terceira geração de seu habitat inflável, que é a BA 330, que é 30 vezes maior em termos de volume interno (330 m3) e quase o dobro do volume de um módulo da ISS.
Concepção artística do módulo BA 330 – crédito: cr édito: Bigelow Aerospace 46
A BA 330 foi concebida para ser utilizada como uma Estação Espacial independente ou com módulos acoplados, sendo que cada módulo poderia abrigar até seis pessoas por longo período. A Empresa planeja lançar o primeiro módulo ao espaço em 2015. A Bigelow Aerospace mantém acordos com diversos países e instituições para futura utilização de seus habitats infláveis, como Reino Unido, Austrália, Estados Unidos, Arábia, dentre outros.
Concepção da BA 330, módulo independente in dependente e acoplados – crédito: Bigelow Aerospace
A NASA, que tem interesse na aquisição destes habitats infláveis já conheceu um protótipo em escala original exposto pela Bigelow B igelow Aerospace em suas instalações de Las Vegas (USA).
Visita de representante da NASA às instalações in stalações da Bigelow – crédito: Bigelow Aerospace
47
Outra utilização prevista para os “habitats infláveis” da Bigelow Aerospace é a instalação de bases na Lua e também para a expansão da ISS, cujos entendimentos estão sendo feitos com a NASA.
O Empresário Robert Bigelow (esquerda) discute o layout de uma futura base lunar com Eric Haakonstad, um dos Engenheiros Líderes da Bigelow Aerospace - crédito: Bigelow Aerospace
48
DA LUA A MARTE O homem ainda em preparativos para retornar à Lua, já faz planos ousados de ir a Marte. Entre os principais candidados a aportarem no Planeta Vermelho com suas máquinas e homens, estão Estados Unidos, Rússia e China, que já trabalham intensamente para isto. A Rússia, através do Diretor de Programas de Voos Tripulados da Roscomos, Aleksei Krasnnov, anunciou que para preparar seus astronautas para a longa viagem até Marte deverá fazer a segunda experiência científica Marte 500 na Estação Espacial Internacional. Ele declarou que a escolha da ISS como sede da experiência não é gratuita. “Como a Estação Espacial Internacional será desativada em 2020, nada mais justo do que aproveitarmos ao máximo as suas potencialidades”. Faltando oito anos para a desativação da Estação Espacial Internacional, esta deverá ser usada pela Rússia para a simulação de um voo interplanetário entre Terra e Marte, a exemplo do que ocorreu em Terra, na primeira experiência marte 500, c oncluída em 4 de novembro de 2011. Com o nome original em inglês de “Marte 520 dias”, a experiência foi conduzida em contêineres instalados no Instituto de Problemas Médico-Biológicos da Academia de Ciências da Rússia. Nestes contêineres, foram reproduzidas as condições de ida e volta de um voo tripulado a Marte, assim como as condições ambientais em que os tripulantes encontrariam naquele Planeta. Durante a experiência Marte 500, que na realidade foram 520 dias, os seis voluntários permaneceram isolados de qualquer contato externo, ao contrário de experiência similar feita pela NASA, mas que os voluntários eram orientados. Na Rússia os voluntários foram monitorados, sem interferência, por cientistas, biólogos, astrônomos, astrofísicos, engenheiros e médicos de várias especialidades, inclusive psiquiatras, que analisaram o comportamento de seis homens submetidos a confinamento durante um ano e meio, num mesmo ambiente. Com a experiência sendo feita na ISS, os voluntários estariam submetidos à radiação cósmica, não existente na maquete da cosmonave, construída no Instituto de Problemas Médico-Biológicos da Academia de Ciências da Rússia, sendo considerado um ambiente mais adequado para repetir a experiência.
49
TURISMO ESPACIAL "O mundo passará a visitar o cosmo com pacotes turísticos que serão fechados como se fôssemos conhecer outros países." (Richard Branson)
Embora ainda distante de se tornar uma rotina, o que os russos preveem para dentro de 20 anos, a verdade é que o turismo espacial já é uma realidade, embora só acessível àqueles que se dão ao luxo de gastar algumas dezenas de milhões de dólares pela aventura. Foi o caso do multimilionário americano Dennis Tito 20 primeiro turista espacial, com passagem paga, 21 e que permaneceu sete dias na Estação Espacial Internacional, levado pela nave russa Soyus TM 32, em 28/04/2001. Depois dele foram ao espaço o Sul Africano Mark Shuttleworth, 22 em 25 de abril de 2002, o também empresário americano Gregory Hammond Olsen, em 11 de outubro de 2005, a empresária Anousheh Ansari 23, em 18 de setembro de 2006, o Programador da 20
O empresário da área de mercado e turista espacial Dennis Anthony Tito nasceu em New York (USA) em 06/06/1940, Bacharel em Ciência da Astronomia e Astronáutica pela Universidade de New York, Mestre em Ciência da Engenharia pelo Instituto Politécnico de Rensselaeer (New York), cientista formado pelo Laboratório de Propulsão a Jato da NASA e Doutor “Honoris Causa” pelo Instituto Politécnico Rensselaer. Dados obtidos nos endereços: http//www.spacefacts.de /bios/astronauts/Tito_dennis.htm e http//www. Wikipédia.org/wilshire_ associates, em 22/07/2006. 21 De fato, a primeira turista espacial foi Helen Sharman, uma química britânica que venceu um concurso promovido por uma rádio inglesa, para escolher um cidadão comum do país para participar do Projeto Juno, uma joint venture entre empresários britânicos e a Agência Espacial Russa destinada a colocar um britânico no espaço. Seu vôo ocorreu em 18 de maio de 1991 e ela subiu ao espaço na missão Soyuz TM-12 e passou uma semana a bordo da estação Mir. 22 Mark Shuttleworth é um programador de computadores sul-africano que se tornou milionário depois de vender sua empresa de segurança de Internet, a Thawte, para a Verisign. 23 Fluente em inglês, francês e persa (sua língua materna), tornou-se executiva no ramo das telecomunicações, e é hoje sócia, co-fundadora e CEO da empresa Telecom Technologies, que fundou com seu marido e seu cunhado nos anos noventa. A empresa de sua família, Prodea Systems, anunciou a formação de uma sociedade com a Space Adventures- a empresa que faz os acordos comerciais com a agência espacial russa para levar turistas ao espaço - com a intenção de criar uma frota de veículos espaciais sub-orbitais para uso comercial ao redor do mundo. Como principal contribuinte financeira da Fundação X-Prize, Anousheh Ansari dá nome ao prêmio Ansari X Prize, oferecido pela fundação a quem fizesse o primeiro vôo espacial sub-orbital independente da história; o prêmio, de dez milhões de dólares, foi conquistado pela equipe do engenheiro e astronauta 50
Microsoft Charles Simonyi 24, em março de 2007 e o empresário Richard Garriott 25, em outubro de 2008. Estes voos terminaram em 2009. A NASA e a Agência Espacial Européia (ESA), entretanto, incentivam a indústria privada a empreender neste promissor negócio que, segundo mostra o artigo “Space Tourism” 26 envolverá o projeto e construção de instalações na Lua para hospedagem e recreação de milhares pessoas, tendo empresas americanas e japonesas 27 já se manifestado dispostas a investir nesta área, dependendo de acordos a serem firmados com a NASA para transporte de equipamentos e materiais, além do suporte de vida na superfície lunar. Empresas estão sendo criadas para atuar nesta nova área de negócios, seja em hotelaria, em esportes espaciais, em transporte regular de passageiros e em toda a cadeia de infraestrutura (construção, geração de energia, produção de oxigênio, produção de propelentes para as naves espaciais, comunicação e muitos outros ramos), para a implantação destes projetos na Lua e na órbita terrestre. E a lista de oportunidades não para por ai. Podem-se enumerar alguns mais: consultoria, software e integração de sistemas, segurança, direitos de propriedade intelectual, educação, entretenimento e outros. Mike Melvill e o protótipo espacial SpaceShipOne, do Projeto Tier, entre os vinte e seis concorrentes ao prêmio. 24 Charles Simonyi (Budapeste, 10 de setembro de 1948) é um dos mais antigos programadores da Microsoft, famoso por ter criado a Notação húngara. Na Universidade de Oxford foi criada a Cadeira Charles Simonyi para a Compreensão Pública da Ciência . Simonyi foi o criador do Bravo, a primeira aplicação WYSIWYG. Deixou a Xerox para trabalhar para a Microsoft em 1981. Trabalhou na primeira versão do Word e no predecessor do Excel, o Multiplan. Em 2007, tornou-se o quinto turista espacial a visitar a Estação Espacial Internacional após pagar algo entre US$ 20 milhões para uma estadia de 10 dias na ISS. Recebeu o treinamento na Cidade das Estrelas e viajou através da empresa de turismo espacial Space Adventures no dia 7 de Abril, a bordo da nave Soyuz TMA-10, retornando com um dia de atraso no dia 21 de abril, após uma estadia de 14 dias na ISS. 25 Richard Allen Garriott (Cambridge, 4 de julho de 1961) é um empresário da área de jogos eletrônicos, que se tornou o sexto turista espacial ao ir ao espaço na missão Soyuz TMA-13, em outubro de 2008, através da Space Adventures, empresa criada para proporcionar a ida ao espaço de pessoas comuns, do qual ele é diretor. Nascido na Grã-Bretanha, Garriott cresceu no Texas, onde assumiu a cidadania norte-americana. Seu pai, Owen Garriott, foi um astronauta da NASA, participante das missões Skylab e dos primeiros vôos do ônibus espacial, nas décadas de 70 e 80. Desde criança, demonstrou grande interesse por computação, desenvolvendo programas de jogos para computadores e os oferecendo de graça aos amigos. No começo de década de 80. 26 Endereço:www.aerospacesholars.jsc.nasa.gov/HÁS/cirr/em/6/7.cfm, acesso em 20/07/2006. 27 É o caso da empresa Nishimatu Japanese Company, que projeta construir na Lua o Escargot city, um resort que deverá ter suporte para uma comunidade de 10 mil pessoas, inclusive com uma imensa fazenda para produção local de alimentos. 51
Um hotel em pleno espaço sideral, a possibilidade de voar em torno da Terra e se aproximar da Lua e a chance de ir à Estação Espacial Internacional como um visitante qualquer, sem ser astronauta ou cosmonauta – tudo isso está prestes a se tornar realidade em muito pouco tempo. É o que prometem os representantes das empresas Energhia, a fabricante de naves espaciais russas, e Orbital Technologies, que está estruturando o turismo espacial. As ideias foram apresentadas em Zhukovski, a cidade nos arredores de Moscou que sediou o Salão Aeroespacial Internacional MAKS-2011, entre os dias 16 e 21 de agosto. A Energhia e a Orbital Technologies deram-se as mãos para fabricar, até 2016, um hotel orbital com quartos para sete hóspedes. E outros planos incluem voos turísticos para o lado escuro da Lua e, até 2030, para Marte. Percebendo o filão que têm nas mãos, as empresas decidiram trabalhar na estruturação do turismo espacial, e já contam com as primeiras reservas, embora ainda caríssimos. Os compromissos assumidos com a NASA, a agência espacial dos Estados Unidos, com a Agência Espacial da União Europeia (ESA) e com a do Japão (JAXA) e de outros países obrigam a Rússia a não transportar turistas espaciais até 2013. Até lá, os lugares garantidos nas naves Soyuz, as que chegam até a Estação Espacial Internacional (ISS), são dos cosmonautas russos e dos astronautas de outros países. Conforme já mostrado no capítulo anterior, o americano Robert Bigelow, proprietário da rede de hotéis Budget Suítes, que nasceu, enriqueceu e continua vivendo na Cidade, investiu cerca de US$ 100 milhões - e gastará outros US$ 400 milhões - para ter uma estação espacial privada e um complexo de hospedagem espacial. Bigelow pretende seduzir as dezenas de países que desenvolvem programas de exploração fora da Terra ou aqueles que já possuem agências espaciais, mas que estão longe na fila para viajar até a Estação Espacial Internacional. A iniciativa permite que cada país tenha um local alugado em órbita adaptado às suas necessidades. Na indústria farmacêutica, de comunicação e biotecnologia, o americano planeja garimpar corporações interessadas em realizar experimentos em micro gravidade (cabos de fibra ótica produzidos nessa condição, por exemplo, ganham mais eficiência). Interessados terão de desembolsar cerca de U$ 12 milhões por quatro semanas de estadia. 52
Outro projeto de Hotel Espacial foi anunciado Rússia em 2011, cujos planos representam construir um hotel espacial para receber turistas interessados em experimentar a gravidade zero e ver a Terra do espaço, com previsão de inauguração para 2016. Esta estação espacial comercial deve custar cerca de US$ 60 milhões e, além de receber hóspedes, também servirá como base de apoio para a ISS, caso os tripulantes da estação internacional precisem. As diárias provavelmente custarão algo em torno de US$ 148 mil, mas o transporte até o hotel é bem mais salgado. Atualmente, um voo nas naves russas Soyuz até a ISS IS S sai por US$ 50 milhões.
Concepção artística do futuro hotel especial da Rússia – Crédito: Orbital Technologies
É sabida as dificuldades existentes para o turismo espacial frente aos vultosos custos envolvidos e as barreiras tecnológicas e logísticas. Mas só de imaginar sair da Terra para um “final-de-semana” no espaço, mesmo que seja a apenas 100 km de distância, o que se denomina vôo suborbital, é algo maravilhoso. Mas, em pouco tempo - talvez coisa de menos de 10 anos, isto poderá se tornar realidade, pois parece haver uma conjugação de fatores que impulsionam tal ambição, como o desenvolvimento de espaçonaves reutilizáveis e de menores custos por parte da iniciatiova privada, o apoio da NASA para que a iniciativa privada desenvolva projeto 53
de acesso ao espaço, de forma comercial, o aumento da concentração da riqueza nas mãos de uma maior parcela da população e o sonho de liberdade que sempre embalou o homem e o fez pensar em ter asas e se libertar da gravidade terrestre.
Diversos projetos em andamento para naves reutilizáveis para uso em voos suborbitais
Embora ainda muito cara, a idéia de se usar o espaço como uma extensão turística da Terra pode se tornar viável e atrativa, relativamente em curto prazo, para muitos – empreendedores e turistas, que veem nesta possibilidade, a grande chance de estabelecer um novo nicho de mercado de alta tecnologia e alto faturamento, embora de igual monta de riscos e a vivência de uma emoção inigualável. Esta possibilidade está levando ao surgimento de algumas empresas que desenvolvem arrojados projetos turísticos. Pioneira nesta área, a Virgin Galactic 28 foi ganhadora, em 2005, com o SpaceShipOne, do “Ansari X-Prize”, prêmio no valor de 10 milhões de dólares, pelo feito de atingir a marca de 100 km de altitude, duas vezes no espaço de uma semana.
28
A Virgin Galactic é o braço “espacial” do grupo Virgin, do bilionário empresário britânico Richard Branson, um conglomerado que reúne 350 empresas de setores variados como aviação, megalojas de varejo, telefonia celular e trens. Contato no Brasil: [email protected]. 54
a
b
c
SpaceShipOne – avião para 5 passageiros – a) Levado pela nave-mãe b) Separação c) Voo livre
Sir Richard Branson, fundador da Virgin Group, anos atrás teve o sonho quase absurdo de colocar turistas no espaço, e hoje com o apoio e dinamismo do designer Burt Rutan e o apoio financeiro de Paul Allen, está à beira de tornar esse sonho s onho numa realidade. A nave SpaceShipOne foi o primeiro veículo espacial tripulado financiado pela iniciativa privada a passar dos 100 quilômetros de altitude, considerada a fronteira do espaço. Paul Allen, o financiador Parceiro de Bill Gates na criação da Microsoft é o sócio desta empreitada apostando US$ 20 milhões para levar a SpaceShipeOne ao espaço. Já o engenheiro Burt Rutan é conhecido pelo design leve, mas arrojado de suas criações, que fizeram dele uma lenda da aviação. Em 1986, um de seus modelos, o Voyager, quebrou o recorde de volta ao mundo sem reabastecimento. Agora, a Virgin Galactic está na fase final de desenvolvimento e testes da nave SpaceShipTwo, em Mojave, México. A SpaceShipTwo terá oito lugares (seis passageiros e dois pilotos)e será levado pela pela nave-mãe, White Knight Two (WK2). A Virgin Galactic promete aos turistas espaciais uma experiência inesquecível e já credenciou uma Agência de Turismo de São Paulo a vender reservas para futuros voos.
55
SpaceShipTwo sendo transportado pela nave-mãe WK2 em voo experimental
Os passageiros vão embarcar na SpaceShipTwo, que será transportada pela nave-mãe até uma altura de 15 quilômetros. Em seguida, começa a contagem regressiva para a viagem da nave ao espaço. Em questão de segundos, os passageiros poderão vivenciar a força de uma velocidade três vezes superior à velocidade do som. A nave vai atingir a altitude de 110 km e, durante cerca de cinco minutos, os turistas vão poder deixar seus assentos para viver a experiência da ausência de gravidade e observar o espaço através de grandes janelas circulares situadas nas paredes e no teto da fuselagem. A nave iniciará em seguida o retorno à atmosfera. Serão, portanto, vôos suborbitais, que atingirão o espaço, mas não chegam a realizar uma evolução completa em torno do planeta. Em outra iniciativa da Virgin Galactic, a partir de 2012, turistas poderão ser lançados ao espaço na Suécia através do espetacular show de luzes da aurora boreal – o fenômeno visual que ocorre no céu do Pólo Norte. A Virgin Galactic está neste projeto em parceria com o consórcio sueco Spaceport Sweden. A ideia da Virgin é fazer de Esrange, situada a 200 quilômetros do Círculo Ártico, a base européia do turismo espacial de Richard Branson. Os testes de voos na base sueca devem começar ainda este ano. Os testes para os voos para a aurora boreal serão realizados na base sueca de Esrange e deverão ser imediatamente após os testes nos Estados Unidos, e talvez até ao mesmo tempo. Na concepção 56
da Virgin Galactic, a base sueca vai oferecer aos turistas um atrativo extra: viajar através das luzes brilhantes da aurora boreal 29. A viagem da nave espacial rumo ao espaço através da aurora boreal terá 2h30 de duração. O espetáculo da noite polar poderá ser admirado através de grandes janelas circulares, localizadas nas paredes e no teto da fuselagem da nave espacial. Com o desenvolvimento dessas novas naves reutilizáveis, fazer turismo no espaço poderá se tornar viável para um maior número de pessoas, pois os custos, hoje ainda vultosos poderão se tornar acessíveis a muita gente. Mas a tendência é o preço de viagens para espaço cair drasticamente nos próximos anos, já que várias empresas e até agências espaciais estão percebendo a viabilidade econômica e tecnológica de tais projetos e estão investindo no desenvolvimento de suas próprias naves reutilizáveis. A Space Adventures, com sede Los Angeles, nos Estados Unidos, foi a primeira Agência de Turismo Espacial e que já possibilitou a ida de diversos turistas à Estação Espacial Internacional, em voos “fretados” da Agência Espacial Russa, em missões com a espaçonave Soyuz. Outra empresa envolvida no Turismo espacial é a inglesa Bristol Spaceplanes Limited 30, baseada em Bristol, Inglaterra, fundada em 1991 para fornecer assistência técnica e consultoria para organizações comerciais e companhias aeroespaciais interessadas nas oportunidades comerciais do espaço.
29
Também conhecida como noite polar, a aurora boreal é um fenômeno ótico que transforma o céu das regiões polares num espetáculo de cores luminosas (como nas fotos acima).Os dramáticos raios de luz que rasgam o céu polar são produzidos em função do choque dos ventos solares com o campo magnético da Terra. No hemisfério sul, o fenômeno é conhecido como aurora astral. A aurora boreal ocorre geralmente nos meses de agosto a abril, e pode ser vista a olho nu durante a noite.
30
A Bristol Spaceplanes tem sido uma indústria líder em projetos de aeronaves. Entre seus clientes inclui a Agência Espacial Européia. Contato: [email protected]. 57
Concepção do Ascender – crédito: Bristol Spaceplanes
A BSP está desenvolvendo o projeto ASCENDER, que é uma nave para voos suborbitais, para cinco passageiros, que operará como um avião. Entretanto, tem um motor-foguete que o leva até a altitude de 100 km. Durante seu voo, será possível experimentar no Ascender a Gravidade Zero, além de ver a Terra abaixo e as estrelas acima, constituindo-se numa experiência inimaginável. A nave para voos suborbitais batizada de New Shapard fabricada pela empresa Blue Origin, do bilionário Jeff Bezos, fundador do Amazon.com, ainda sem data para lançamento.
Concepção do sistema de voo suborbital – crédito: Blue Origin
58
A empresa californiana XCOR Aerospace 31 divulgou imagens da Lynx, uma nave com dois lugares que deverá estar nos céus em 2012, em voos suborbitais que podem chegar a altitudes de até 61 km, já com passagens à venda. A empresa já definiu o preço do “passeio espacial”: US$ 95 Mil devendo, quem se inscrever agora, depositar um sinal de US$ 20 Mil e pagar o restante na época da viagem.
Parte do material promocional no site da XCOR Aerospace
A NASA selecionou a XCOR Aerospace para prover voo suborbital e integração de carga útil para pesquisa e missões científicas em um programa que oferecerá $10 milhões de dólares em contratos. A Lynx é menor que um jatinho – 7,4 m de largura e 8,5m de comprimento, e é a terceira nave desenvolvida pela XCOR. Ela é capaz de transportar com segurança um piloto e um passageiro até a fronteira do espaço e retornar em torno de 25 minutos depois, pousando como um avião.
Imagens da Lynx – crédito: XCOR
O que torna possível a realização de voos suborbitais a este preço é que a nave Lynx tem apenas dois assentos e não precisa de foguete para ser lançado o que 31
A XCOR Aerospace , sediada na Califórnia (USA) é presidida por Jeff Greason, exfuncionário da NASA. 59
reduz, enormemente, o custo operacional. E, apesar de voar a 61 mil quilômetros de altitude – portanto, não sai da órbita, dá uma linda visão da Terra a seu passageiro, sentado na cadeira do co-piloto.
Plano de vôo da Lynx – crédito: XCOR
O Prêmio da Fundação X-Prize motivou John Carmack, co-fundador da ID Software (Programadora de Jogos) a criar a Armadillo Aerospace com a intenção de produzir uma espaçonave tripulada para vôos sub-orbitais a ser empregada em turismo espacial.
Um dos modelos experimentais da Armadillo – crédito: Armadillo
Estes são apenas alguns exemplos, mas diversas outras organizações privadas e governamentais estão envolvidas com a produção de projetos de naves reutilizáveis para voos suborbitais e, com certeza, 60
em breve isto deixará de ser um sonho para se tornar rotina para muita gente endinheirada, que queira desfrutar de um passeio ao espaço e, quem sabe, por lá passar um final-de-semana. O sucesso da SpaceShipOne deu fôlego extra para investidores como Sir Richard Branson. Proprietário da Virgin, Galatic, o empresário inglês planeja há uma década a construção do primeiro aeroporto espacial privado.
Concepção artística do SpacePor América
Branson deu início às obras e pretende concluí-las em no máximo dois anos. O Spaceport América está sendo erguido no Estado do Novo México, nos Estados Unidos. Outro projeto de Spaceport é o de Dubai, nos Elmirados Árabes Unidos, cujos investimentos para sua construção serão capitaneados pela empresa Space Adventures com apoio da PRODEA. 32
Ilustração do Spaceport de Dubai 32
A Prodea é uma empresa de investimentos e pertence à mesma família Ansari que financiou o "Ansari X Prize" de 10 milhões de dólares que permitiu o desenvolvimento e lançamento do SpaceShipOne, o primeiro veículo comercial privado a alcançar a órbita terrestre. 61
Singapura também entrou na briga para ter o seu Spaceport, com a Autoridade de Aviação Civil negociando com um consórcio liderado pela Space Adventures a implantação do projeto, a partir de 2009, ao custo estimado de 115 milhões de dólares.
Ilustração do prédio principal do Spaceport de Singapura
Outra área de destaque é a Gravidade Zero. São cerca de 20 segundos, mas de uma intensa sensação e para poucos, por enquanto; assim é a experiência em micro gravidade (próximo de zero). Quem se aventura à esta experiência pode contatar a Zero-G 33, pagando a quantia de US$ 5.176,50. A Zero-G Zero Gravity Corporation, empresa sediada em Las Vegas e Flórida (USA) opera desde 2004, com cerca de três voos por mês, com até 35 passageiros e tripulação. O voo parabólico, realizado à bordo de um Boeing 727-200F dura cerca de 90 minutos, durante o qual se experimenta a Gravidade Marciana (1/3 da gravidade da Terra), a Gravidade da Lua (1/6 da Gravidade da Terra) e a Gravidade Zero.
Boeing 727-200 da Zero-G 33
Airbus A-300 - ESA
Zero Gravity Corporation (ZERO-G®), 5275 Arville Street • Suite 116 • Las Vegas, NV
89118, Contato: Edwin Lorse – fone: 1-800-937-6480 Ext 701. Ver www.GoZeroG.com. 62
A NASA utiliza um DC-9 para experiência em gravidade reduzida, que é um avião bem menor que o da empresa Zero-G, em cerca de 50%. A Agência Espacial Europeia (ESA), por sua vez, realiza seus experimentos em micro gravidade com a utilização de um avião Airbus A300.
Fotos de turistas em gravidade zero, com destaque para o Prof. Stephen Steph en Hawking (2007)
Apesar do lado divertido dos voos parabólicos, estes também servem para a realização de experimentos científicos, tais como: ciência dos materiais, mecânica dos fluidos, biologia, medicina, física geral, mecânica, robótica e outras aplicações tecnológicas.
Gráfico que representa o voo parabólico – elaborado pela Zero Gravity Corporation
Para que os passageiros de um avião experimentem a queda livre com segurança, o avião deverá subir em um ângulo bem inclinado, nivelar, e então mergulhar, criando uma rota chamada arco de parábola, parábola, também chamada de Trajetória de Kepler ou rota de queda livre. Em um arco de parábola verdadeiro, a única força de aceleração é a gravidade puxando no sentido vertical - a velocidade horizontal permanece constante. Devido à resistência do ar, os objetos na atmosfera terrestre só navegam em arcos que se aproximam de uma parábola verdadeira. 63
Normalmente o avião da ZERO-G, chamado de GFORCE-ONE, voa a uma altitude entre 7.315 m e 9.754 m. Isto fornece espaço suficiente para manobrar o avião com segurança ao longo da sua rota de vôo. A descida do avião deve começar a uma grande altitude, havendo uma distância segura para que o piloto saia do mergulho. Assim que o avião chega ao pico de seu arco, o piloto orienta-o em um ângulo de 45 graus. Durante a subida, a aceleração do avião e a força da gravidade criam uma força de 1,8 vezes a força da gravidade - os passageiros pesam temporariamente quase o dobro do normal. À medida que o avião ultrapassa o topo do arco, a força centrífuga exercida no avião, e em tudo dentro dele, cancela a força gravitacional que puxa para baixo. Neste ponto os passageiros sentem a microgravidade - parece que você não tem peso porque somente forças gravitacionais desprezíveis estão presentes. A sensação de ausência de peso dura aproximadamente 30 segundos. Como o avião protege os passageiros da força do vento, eles podem sentir a queda livre sem nenhuma interferência da resistência do ar. O piloto tira o avião do mergulho, de modo que o mergulho entre um arco e o próximo seja de aproximadamente 7.315 m de altitude. Assim que o avião sai do mergulho e começa a subir novamente, os passageiros experimentam a força de 1,8 vezes a gravidade. Um voo típico da ZERO-G inclui 15 destes arcos de parábola, enquanto os da NASA podem chegar a 100.
64
Marte: a próxima Parada “Não há passageiros passageiros na Nave espacial Terra, Somos todos tripulantes” (Marshall McLuhan)
Marte, o quarto Planeta a partir do Sol, também conhecido como Planeta Vermelho, sempre foi visto com muita curiosidade por povos antigos como os Romanos, que lhe atribuíram o nome Vermelho em homenagem ao deus da guerra e dos egípcios que o chamavam “Her Descher”, que também significava vermelho. Marte era considerado, antes de ser explorado por sondas espaciais americanas, como uma possível morada de seres inteligentes. Esta expectativa de vida em Marte alimentou, anos a fio, a imaginação popular, de ficcionistas e também de famosos cientistas como é o caso de Carl Sagan (cientista e escritor) que, ao longo de sua carreira cultivou um fascínio especial por Marte, tendo influenciado gerações de cientistas a continuarem as pesquisas sobre o Planeta Vermelho. Para Sagan, Marte seria, possivelmente, a salvação da Humanidade. Em 1938, quando Oscar Welles transmitiu uma novela por rádio baseada num clássico de ficção científica “A Guerra dos Mundos”, muita gente acreditou na história da invasão da Terra por marcianos, o que chegou a iniciar uma situação de pânico. O projeto de ir a Marte também vem de muitos anos, tendo influenciado enormemente o cientista alemão Wemher von Braun – o principal engenheiro de foguetes de Hitler e que o abandonou em 1945 ao se desiludir com a máquina de guerra nazista. Von Braun, quando ainda estava na prisão, concebeu um projeto de ir a Marte, que foi publicado em inglês, na forma de livro, no ano de 1953 sob o título “The Mars Project”. Esta obra tornou-se um clássico e não podia ser considerada como mera ficção, pois continha um projeto realista e um verdadeiro manual de instruções de como enviar gente a marte. Embora von Braun tenha errado em suas previsões para a viagem, já que esperava que ela se tornasse realidade em 1970, a grandiosidade de seus planos inspiraria os futuros projetos espaciais americanos, possibilitando ao homem ir à Lua e continuar sonhando em atingir e colonizar outros corpos celestes, em e m especial Marte. 65
Depois de várias tentativas e incursões ao Planeta Vermelho, utilizando-se naves robóticas, finalmente a NASA ousaria definir uma data para a primeira viagem do homem a Marte. Isto ocorreu em 2001 quando da visita ao Brasil do físico e astronauta da NASA Franklin Ramón Chag-Diaz, quem confirmaria que a NASA tinha planos para enviar uma missão tripulada a Marte no ano de 2018. Mas hoje, vêse que isto não será possível e só deverá ocorrer depois de 2025. Mas ir para um dia para Marte é mais realista do que se pode pensar, pois o Planeta Terra não dará conta de sua superpopulação que se estima estará na casa dos 9 bilhões de pessoas em 2050 contra cerca de 7 bilhões de hoje. Teremos então de alimentar quase duas Chinas a mais em 2050, o que não será tarefa fácil diante de um Planeta em fase de esgotamento de seus recursos naturais. Já em abril de 1968 o problema da escassez futura de recursos naturais no Planeta Terra era colocado em debate pelo Clube de Paris quando afirmou em documento: “Se as atuais tendências de crescimento da população mundial – industrialização, poluição, produção de alimentos e diminuição de recursos naturais, continuarem imutáveis, os limites de crescimento neste Planeta serão alcançados algum dia dentro dos próximos cem anos. O resultado mais provável será um declínio súbito e incontrolável tanto na população quanto na capacidade produtiva”
Vê-se que Marte então extrapola a ficção e se torna um objetivo a ser perseguido, o que será, certamente, de caráter extremamente estratégico para a própria sobrevivência da espécie humana. Estabelecer em marte uma colônia e proceder aos necessários esforços de revitalização daquele Planeta até o mesmo tornar-se plenamente habitável demandará décadas e décadas de investimentos fabulosos. Contudo, talvez seja a única esperança para a espécie humana que não soube até então preservar a Terra mãe e está levando este Planeta ao rápido esgotamento de seus recursos naturais e a uma iminente catástrofe ambiental que determinará, mais dia menos dia, o fim inexorável da vida neste Planeta. Lógico que a Humanidade deverá esperar ainda muitas décadas para esta aspiração de “morar em Marte” se tornar viável. O que existe em mente ainda é apenas a possibilidade de se criar condições favoráveis para a futura vida em marte, o que está sendo pesquisado por 66
diversas agências espaciais que mantém em seu portfólio de projetos o envio de missões tripuladas a Marte e, a descoberta de que existe água congelada nos polos e no subterrâneo de Marte renovou o fascínio que este nosso vizinho sempre exerceu sobre a Humanidade. Embora tenha muitas características parecidas com as vistas na Terra, o Planeta Marte, por estar mais distante do Sol, é muito frio (-63 a -140ºC). Além disso, tem uma alta concentração de Dióxido de Carbono em sua atmosfera, que é muito rarefeita, podendo na prática ser considerada vácuo, sem qualquer possibilidade de vida humana sem que esteja portando um traje espacial. Outro grande problema é a falta de um campo geomagnético como tem o Planeta Terra. Com isto a radiação solar atinge o Planeta, mesmo que de forma moderada, o que poderia trazer problemas à saúde das pessoas mandadas para lá. Este é o tamanho do desafio: reverter esta caótica situação produzindo oxigênio a partir do CO 2 e/ou de plantio de vegetação em Marte, aquecer o Planeta para descongelar as calotas polares e se obter água para a manutenção da vida. Isto será, sem dúvida, uma missão quase impossível e caríssima, mas de outra forma, selar-se-á o fim do sonho de um novo lar para os humanos, depois de a Terra ter chegado ao esgotamento completo de seus recursos recurso s naturais. Entretanto, existem cientistas que sempre apostaram na viabilidade deste projeto, como é o caso de Zecharia Sitchin – Consultor da NASA, que afirmou em seu livro “Gênesis Revisitado”: “De fato, alguns cientistas acreditam que apesar de ter sido criado junto com os outros Planetas do Sistema Solar há 4,6 bilhões de anos, Marte está no estágio em que a Terra se encontrava pouco antes das plantas começarem a expelir oxigênio, o que causou a modificação da atmosfera de nosso Planeta. Esta hipótese serviu de base para a teoria de Gaia, cujos componentes afirmam que o homem poderia acelerar a evolução de marte levando vida par lá e tornando o Planeta hospitaleiro para nós”
Para dar início à esta hercúlea tarefa de colonizar o Planeta Marte, deverão ser enviadas ao para lá diversas missões robóticas para um melhor estudo científico de suas condições ambientais e depois uma missão tripulada pioneira – talvez sem regresso, e que ficará incumbida dos primeiros trabalhos de doma d oma da atmosfera marciana. Nesta primeira fase, os astronautas terão a dura missão de cultivar grãos experimentais, analisar a atmosfera, as 67
tempestades de poeira e a radiação solar, perfurar o solo para colher amostras geológicas e explorar a superfície, procurando sinais de vida passada e presente. Assim, nesta fase inicial, os astronautas deverão cultivar plantas geneticamente modificadas e que terão a função de sinalizar sobre as condições ambientais e de fazer a fotossíntese, base para o “sequestro” do carbono da atmosfera marciana e a geração de oxigênio para, futuramente, tornar a atmosfera do Planeta respirável, o que poderia ser obtido em cerca de 115 anos de trabalho. Antes, porém, será preciso aquecer o Planeta Vermelho fazendo com que a temperatura média suba de – 60ºC para – 40ºC – tarefa talvez tão difícil quanto derreter as geleiras da Antártida. À medida que a temperatura aumente, a atmosfera deverá se tornar mais densa, embora talvez nunca seja denso o suficiente para proteger seus habitantes dos mortíferos raios ultravioletas, o que na Terra o ozônio se encarrega. Então um substituto para o ozônio teria de ser fabricado em Marte e bombeado para a atmosfera marciana, com a finalidade de se criar um “guarda-sol” planetário. Bastariam talvez uns 50 anos para isto! Outra hipótese defendida para esta fase de preparação do Planeta Marte para estar habitável, pelos cientistas James Lovelock e Michael Allaby (1984) e relatada por Zecharia Sitchim em sua obra “Gênesis Revisitado” (p244) seria a utilização de naves espaciais para enviar até o Planeta Marte microorganismos para iniciar a cadeia biológica e gases de “halocarbono” com o propósito de se criar um cinturão de proteção com o propósito de se evitar a perda de calor interno e provenientes dos raios solares, induzindo a criação de um “efeito estufa”. e stufa”. Segundo Zecharia “uma vez mais quente e densa a atmosfera, esta derreteria parte das águas congeladas favorecendo o crescimento da vida vegetal, que então resultaria no aumento da presença de oxigênio”. Em seguida e durante cerca de 15 anos haveriam significativas alterações climáticas, à medida em que a atmosfera fosse se desenvolvendo e a temperatura média de Marte subisse para 0ºC. Aí então a vida humana poderia desenvolver-se ainda mais rapidamente, já podendo existir alí um invejável comunidade de terráqueos e marcianos. Mas, para que Marte possa ter plena vida, seria preciso um esforço adicional de mais uns 20 anos, quando a temperatura média 68
do Planeta poderá se elevar a cerca de 4ºC. E então, mais outros 20 anos seriam suficientes ára que houvesse no Planeta Marte condições de fornecer oxigênio suficiente para uma grande população. O que se espera é que dentro de uns 150 anos ou pouco mais, haja uma população de marcianos, fruto da gênesis
69
POLUIÇÃO DO ESPAÇO Uma das grandes revelações da exploração e xploração espacial é a imagem da Terra, finita e solitária solitári a acomodando toda a espécie humana através dos oceanos do tempo e do espaço. (Carl Sagan)
A poluição ambiental, tão recorrente e grave que se prolifera no solo, água e ar de nosso Planeta Terra, atinge também o espaço e, se não receber um tratamento urgente dos países que utilizam o espaço, poderá se tornar tão sério que inviabilizará, a médio prazo, as atividades espaciais nas órbitas próximas da Terra. O chamado lixo espacial é, na realidade, formado por toneladas de pedaços de satélites, naves, estágios de foguetes e outras coisas que as missões espaciais, principalmente, americanas e russas deixaram no espaço. A estimativa é de que existam 150.000 fragmentos em órbita, que vão de partes de foguetes a chaves de fenda perdidas por astronautas ao realizar reparos em caminhadas espaciais. De acordo com a ESA (Agência Espacial Européia), 34 desde o primeiro lançamento, do soviético Sputnik, em 1957, pelo menos seis mil satélites foram enviados para a órbita da Terra. Desse total, 45% estariam a uma distância de até 32 mil quilômetros da superfície terrestre e só 800 estariam ativos. Esse lixo (cerca de 2 mil toneladas no total) torna-se um perigo para as estações espaciais e para os ônibus espaciais, além de ser um problema para as comunicações, pois podem destruir satélites, interrompendo as comunicações aqui na Terra.
Foto divulgada pela ESA – Agência Espacial Européia em 15/04/2008 34
Divulgado pelo portal J B Online, em 15/04/2008. 70
Quando a orbita desses corpos se aproximam muito da atmosfera terrestre eles acabam entrando na atmosfera, sendo que a maioria queima na reentrada ou cai no mar. Pode acontecer de atingirem a Terra. A probabilidade dos destroços caírem no mar é maior apenas porque o mar representa perto de 74% da superfície terrestre e a maioria dos continentes tem poucas áreas habitadas. Quando qualquer nave espacial tem uma avaria ou fica, simplesmente, sem combustível, transforma-se automaticamente em ‘lixo espacial’. O número é tão surpreendente que os pesquisadores americanos Donald Kessler 35 e Philip Anz-Meador 36, que estudam o lixo espacial estimam que em duas décadas, poderá não ser mais possível realizar operações em órbitas mais próximas da Terra. Até fins de 2003 a ESA (Agência Espacial Européia) mapeando o lixo espacial concluiu que 93% do que circula na atmosfera da Terra é lixo e apenas 7% constituem objetos operacionais, sendo o total assim dividido: 41% - fragmentos diversos 22% - espaçonaves desativadas 13% - objetos relativo a missões espaciais 7% - espaçonaves em atividade 7% - corpo de foguetes A ESA, para este monitoramento, utiliza um Telescópio “de detritos espaciais”, que fica situado no Observatório Teide, na ilha de Tenerife, Espanha. Este telescópio é a estação ótica em terra da ESA, que faz parte do experimento Artemis.Como grande parte do tempo das observações feitas ao telescópio é dedicada à análise de detritos espaciais, em especial a observação de detritos no anel geoestacionário e na órbita de transferência geoestacionária; o termo Telescópio de detritos espaciais da ESA, tornou-se muito frequente. São realizadas várias pesquisas sobre os detritos mensalmente.
35 36
Pesquisador da NASA e que trabalha no Johnson Space Center, Houston, Texas (USA) Pesquisador da Lockheed Engineering and Sciences Co., Houston, Texas (USA) 71
Além do Telescópio de Detritos Espaciais da Agência Espacial Européia, atuam no monitoramento do lixo espacial , a NASA, as Forças armadas estadunidenses, o MIT (Massachusetts Institute of Technology), através dos radares Goldstone e Haystack e o sistema de radar Cobra Dane, operado pelo FAS (Federation of American Scientists. Outro importante trabalho nesta área tem sido desenvolvido, nos últimos oito anos, pelo cientista suíço professor Schildknecht a swissinfo 37 e sua equipe. Através de telescópios óticos a equipe vem monitorando o espaço a partir de Berna e de Tenerife, nas Ilhas Canárias espanholas, em colaboração com Agência Espacial Européia. O objetivo é fazer um inventário dos detritos de pequeno porte que circulam pelo espaço a altas altitudes. Em 2004, um Relatório da NASA identificou a Rússia como fonte do maior número de itens considerados “lixo espacial”, vindo em seguida os Estados Unidos. Outras fontes foram a França, China, Índia, Japão e a Agência Espacial Européia. A NASA estima que a nuvem de detritos orbitais ao redor da Terra contém mais de 22.000 peças tão grandes como uma bola de baseball e mais de 500 mil maiores do que uma bola de gude. Apenas 1.100 desses objetos são satélites ativos, de acordo com um comunicado do Departamento de Estado. A Secretária de Estado Americano Hillary Clinton declarou que há interesse dos Estados Unidos na cooperação com outros países em um esforço para se chegar a um acordo sobre diretrizes para ajudar a manter a sustentabilidade das viagens espaciais no futuro. No dia 11 de março de 1978 partes de um foguete soviético reentraram na atmosfera acima da cidade do Rio de Janeiro e caiu no Oceano Atlântico, com inúmeros fragmentos, entrando em ignição devido ao atrito com a atmosfera. Se, porém, a reentrada tivesse acontecido alguns minutos depois, poderíamos ter presenciado uma tragédia de grandes proporções, pois a queda seria na área urbana do Rio e não no oceano.
37
Instituto de Astronomia da Universidade de Berna, 72
Em janeiro de 1979 um satélite militar soviético portando um pequeno reator nuclear ficou descontrolado, vindo a cair no Canadá; felizmente em área desabitada. O que mais deixou os cientistas apreensivos foi a estação espacial norte-americana SKYLAB, de 69 toneladas, que em julho de 1979 caiu quase que totalmente descontrolada na Terra. Várias de suas partes atingiram o oeste da Austrália e o Oceano Índico. No dia 22 de janeiro de 1997, o principal tanque de combustível de um foguete Delta, com cerca de 250 kg, fabricado em aço inoxidável e praticamente intacto, apesar da reentrada na atmosfera da Terra, caiu perto de Georgetown, no Texas (USA) 38.
(E) Tanque do 2º estágio do Foguete Delta que caiu em Georgetown, Texas (USA) e (D) Restos de outro foguete Delta que caiu na África do Sul
Outro exemplo é um tanque de combustível de um foguete Delta mais dois outros objetos espaciais que caíram na África do Sul no dia 27 de abril de 2000. Em março de 2001 a estação espacial russa Mir, de 120 toneladas, voltou ao nosso planeta em uma queda controlada. Várias partes, algumas com várias toneladas, caíram no Oceano Pacífico Sul, a leste da Nova Zelândia — área essa designada por tratados internacionais como nosso “lixão” espacial.
38
Informação /recovered.html
e
foto
extraídas
do
endereço:
http://orbitaldebris.jsc.nasa.gov/reentry 73
A sonda Phobos-Grunt em testes antes do lançamento – crédito: Roscomos
Concepção artística da sonda Phobus-Grunt - crédito: IKI – Space Research Institute
Estes exemplos demonstram o potencial destes objetos deixados pelas missões espaciais, que circulam perigosamente ao redor de nosso planeta e que, vez ou outra, resolvem entrar na atmosfera terrestre, com poucas, mas com chance de atingir regiões povoadas. É importante frisar que nem todos os objetos são inofensivos, sendo vários deles constituídos de materiais radioativos ou tóxicos. 74
Detalhes de um depósito de “ferro-velho” espacial em Los Angeles (USA)
39
Em fevereiro de 2008 um satélite norte americano desgovernado (usado para espionagem) foi destruído por um míssil lançado pela Marinha Americana, antes que caísse na Terra. O grande risco era que tal satélite estava carregado com hidrazina 40, elemento altamente tóxico. A queda desse satélite em área habitada poderia levar a um número incalculável de mortes. Surpreendente colisão entre dois satélites de comunicação - um da Rússia e um dos Estados Unidos – ocorrido no dia 10 de fevereiro de 2009 é a primeira registrada na história, conforme informação da NASA 41. O choque se deu a cerca de 780 km acima do território da Sibéria, na Rússia.
39
O depósito é da Norton Sales Inc., situada em North Hollywood, Los Angeles (USA), onde parafusos, motores e todo tipo de estrutura que um dia esteve no espaço, termina. Uma mistura de museu com ferro-velho e é o paraíso de colecionadores de memorabília espacial. Dados do endereço:http://images.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.updateordie.com/wp/wpcontent/uploads/28605674.j pg&imgrefurl=http://updateordie.com/updates/tecnologia/2007/03/lixoespacial/&usg=__UPqnywnC-IkWPxlZkag40ZrR48=&h=400&w=253&sz=38&hl=pt&start=11&um=1&tbnid=rPGvPRTZhAeSEM:&tbnh=124&tbnw=78&prev=/images%3Fq%3Dlixo% 2Bespacial%26um%3D1%26hl%3Dpt-BR 40 A Hidrazina é um produto químico altamente tóxico. Seu manuseio exige o uso de roupas especias de proteção. A hidrazina é utilizada como combustível para foguetes, removedor de oxigênio de caldeiras e de sistemas de calafetação, polimerização de catalisadores e removedores de gases. Também entra na composição de explosivos como a Astrolite, por exemplo. 41
Baseado em artigo publicado pela BBC no endereço: http://noticias.terra.com.br/ ciencia/interna/0,OI3511573-EI238,00-Colisao+entre+satelites+e+ primeira+da +historia + diz+ Nasa.html 75
Um dos satélites pertencia à companhia americana Iridium, e orbitava em alta velocidade quando bateu em um satélite militar russo desativado. A empresa americana e as autoridades russas explicaram que o acidente é bastante incomum e "extremamente raro" e "muito pouco provável", destacou a Iridium. A companhia americana comunicou que adotará "as medidas necessárias para substituir o satélite danificado" e garantiu que o acidente não foi provocado por uma eventual falha de seu satélite. A Iridium possui uma frota de 66 satélites de telecomunicações. teleco municações. Segundo o repórter da BBC Andy Gallacher: o satélite russo que estaria desativado foi lançado em 1993 e pesava 950 kg, enquanto o Iridium pesava 560 kg e foi lançado em 1997. A Nasa acredita que ainda vai levar algumas semanas para conhecer melhor a magnitude da colisão. Mas as centenas de destroços já estariam sendo rastreadas.
Williams Lotte, de Tulsa, Oklahoma foi a primeira e única pessoa a ser vítima de um detrito espacial. Dia 22 de janeiro de 1997 quando caminhava em um parque em Tulsa, ela foi atingida por um objeto metálico de 15 cm (sem ferimentos), posteriormente confirmado como uma peça do tanque de combustível c ombustível de um foguete Delta II, lançado pela aeronáutica dos Estados Unidos em 1996. Outro caso de lixo espacial caindo no Brasil aconteceu no dia 22 de março de 2008, quando um tanque de combustível de um foguete espacial caiu na Fazenda Montividu, no Estado de Goiás.
Lixo espacial caído na Fazenda Montividu, em Goiás
76
Outra ocorrência foi no dia 23 de fevereiro de 2012, no Município de Anapurus (Maranhão), onde caiu uma esfera metálica, com cerca de 30 kg. Segundo o astrofísico da UFSCar, Gustavo Rojas, a esfera metálica seria parte de um foguete Ariane 4, usado para o lançamento de cargas pesadas, pela ESA (Agência Espacial Europeia).
A esfera que caiu em uma u ma fazenda – crédito: Folha.com
Há uma grande dificuldade em se recolher satélites desativados da atmosfera terrestre e toda a série de detritos ali acumulada. Mas isto pode estar prestes a mudar, graças a um novo sistema desenvolvido por uma equipa de cientistas e engenheiros da Queen’s University 42. A equipe do docente Michael Greenspan, responsável pelo projeto, está desenvolvendo um novo sistema que poderá reparar os cerca de oito mil satélites que atualmente se encontram orbitando em volta da Terra, mas fora do alcance das operações de reparação terrestres. A solução proposta pela equipe de Greenspan é o desenvolvimento de um novo programa de localização, que tornará possível que um veículo de reparações espaciais autônomo localize e capture satélites avariados, que depois de colocados no interior destes veículos serão reparados por máquinas controladas à distância. Um dos assuntos mais proeminentes será reduzir a quantidade de lixo espacial que está sendo depositado em órbita.
42
Ontário, Canadá. 77
"Quando começamos este trabalho, os Estados Unidos deixou claro aos nossos parceiros que nós não vamos entrar em um código de conduta que de alguma forma possa limitar a nossa segurança nacional com eventos relacionados as atividades no espaço ou a nossa capacidade de proteger os Estados Unidos e nossos aliados ", disse Clinton. A corporação russa de pesquisas espaciais Energhia confirmou para 2015 o lançamento, no Cosmódromo de Baikonur, da nave especialmente projetada para realizar consertos de satélites e recolher o chamado “lixo espacial”. O voo inaugural da nave não será tripulado, para que os cientistas possam observar suas condições funcionais e operacionais no espaço. A “nave gari” só deverá ganhar tripulantes em 2018, e o seu primeiro lançamento poderá ser feito no cosmódromo que a Rússia pretende inaugurar naquele ano, na Região do Amur. Viktor Siniavski, Diretor-Presidente da Energhia, revelou que existem atualmente no espaço mais de 600 mil objetos, entre satélites e restos de foguetes e naves espaciais que precisam ser recolhidos por colocar em risco a pesquisa espacial e os seus executores no cosmos. Há também propostas para "varrer" o lixo orbital de volta para a atmosfera da Terra, utilizando rebocadores automatizados, vassouras de laser para vaporizar ou amontoar as partículas em órbitas de queda rápida, ou mesmo bolhas de aerogel para absorver detritos que colidam com essas bolhas, e, eventualmente, cair na Terra com o lixo dentro. Outras idéias, ainda, incluem a reunião dos objetos mais largos numa espécie de "aterro orbital", onde poderiam ter alguma utilidade futura, enquanto se mantêm fora de vista. Por exemplo, em altitudes orbitais onde não seria economicamente viável provocar a fuga de um satélite, como no anel geoestacionário, estes seriam levados para uma órbita cemitério, onde não há presença de satélites em operação. Entretanto, a maior parte do esforço está sendo direcionado para a prevenção de colisões, acompanhando os detritos de maior largura, prevenindo a formação de mais detritos, além de atuação 78
da ONU na área jurídica, embora ainda tímidas. 43 Assim, os problemas com o "lixo espacial" e suas consequências, aliados à disputa pela exploração do espaço, estão convergindo para que haja estudos e criação de novos conceitos na área jurídica, com seus consequentes desdobramentos, inclusive científicos. Entre os novos conceitos está o do meio ambiente espacial, o qual por sua importância e necessidade de preservação já é uma questão ambiental presente e merecedora de atenção dos estudiosos do direito, tanto do direito ambiental quanto do novo direito espacial, bem como da atenção dos países que têm investido e explorado este novo ambiente, ao qual a humanidade está se inserindo direta ou indiretamente.
43
Em fevereiro de 2007 a ONU deu um passo importante nesse sentido, aprovando as “Diretrizes para a Redução dos Dejetos Espaciais”, em reunião do Subcomitê TécnicoCientífico do Comitê da ONU para o Uso Pacífico do Espaço (COPUOS). 79