WU A ARTE
WE I
DE VI VE R D O T AO
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A ar te de viver bem
THEO FISCHER
WU A A RTE
DE
WE I V I V E R D O TAO
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Tít ulo o ri ginal: WuWei Die Lebensk unst Des Tao Aut or: T heo Fi scher ©19 9 2 by Theo Fi scher ©19 9 9 Ed i t ora Ár vor e da Te r r a pela pr esent e edi ção e t r aduçã o em por t uguês . Todos o s di r ei t os r eser vados . Edi t ora e c oor denadora: C andi da de Arr uda Bot elho Fotog r afias : Ana Morae s - 8 8 1 3 7 1 2 T r aduçã o: Ulr i k e Pfei ffer Capa: N i colau Fi guei r edo Revi são: L RMalta
Publi cado pela Edit or a Árvo re da Terr a Lt da Rua Veneza, 73 0 - Jard i m Pauli sta CEP 01 4 2 9 -01 0 São Paulo SP Bras i l Tel.: 5521 11.887 745 7 - Fax: 55211 1.88405 46 emai l: candi dam @uol .com.b r São Paulo, junho de 1 9 9 9 I mpr esso no Br asi l ISBN 349 91 917 41 –4 –
A ar te de viver bem
Quem na vid a já pa ssou por um a profund a crise existencial t alvez se lembre: a mud ança par a melhor iniciou-se exatamente na fase em que se parou de lutar . Par ar com esta lu ta sem senti do, viver o momento, seguir o fluxo da vid a – ist o signif ica w u w ei. Trad uzind o textualmente signifi ca “n ão fazer nada”, “não agir”. Isto não significa de maneira alguma que devemos ser i ndolentes, in decisos ou indiferentes, porém wu wei significa, que em nossas decisões não devemos ir contra a nossa autorid ad e int erior, o Tao. Wu w ei é uma ar te de fazer a coisa certa no momento certo. Este livr o tr az uma i ntr odu ção à apli cação prática da fil osofia de vida do Tao.
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Existe um apr end izad o que nos faz e ntend er o que somos. A partir desta compreensão surge uma maneira totalmente nova d e entender: w u w ei. Isto signifi ca fa zer atr avés da n ão interfe rência, deixa nd o acontecer. É a capacida de de de ixar o flu xo da vid a em poder da quele que é a própria dimensão de nós mesmos e que Lao-Tsé outr ora cham ou de Tao.
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Índice
Prefácio 11 I. Aar t edenãofazer 13 II. L i ber t e-se de seus compr omi ssos 24 III. Ofenômenoat enção 29 IV. Os pensament os eo pensador 37 V. Amanei r adevi verdoT ao 44 VI. Ta o em vez de pensamento positiv o 51 VII. O di álogo i nt er i or eo I -CHI NG 57 VII I. Nossa sociedade e o “eu” re negado 63 IX. Amorepar cer i a 70 X. Aar t ededesli gar -se 76 XI. O que Toéao? 81 XII. Aespi r i t uali dadenoT ao 88 XIII. Exer cíci os par a t odos os di as 95 XIV. Resumo 114 Posfácio 121 Bibliografia 125
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Prefácio
Pr ezada leitora, pr ezado lei tor, Não esper e encont r ar neste li vr o uma r et r ospecti va hi stór ica da or igem do t aoísmo. Di z-se que se or igin ou na Chi na e ai nd a hoje é encont r ado com gr ande par te de sua subst ância no zen-bud ismo japonês. Entr etant o, não mai s em sua f or ma or i gi nal e descomp li cada. Caso você se i nt er esse pela hi st ór i a de T ao você pode e ncont r á-la nas obr as de di ver sos aut or es (i nd i cadas no a nexo). A t r adução dos t ext os de L ao- t sé e Dschu ang Dsi ofer ece um a gr ande quant idade de conheciment os sobr e o si gni fi cado e cont eúdo e spi r i t ual do T ao. No s pr óxi mos capít ulos qu er o passa r par a vo cês a essênci a de T ao, ou se ja, a pr áti ca de vi ver . Be m ou mal t er ei de fer i r um t abu a o qu al t odos os mestr es de T ao se ati ver am r elat ar sobr e a ut i li dade li gada a uma v i da no e spír i t o do T ao. Esta r eser va pode ser o pr inci pal m oti vo par a que esta sabedor ia or i ent al mi lenar ai nd a não t enh a i ngr essado em noss o coti di ano. Por out r o lado, ocult ar a gr ande ut ili dade dest a for ma de vi da co mo qu e t em como moti vo o pr oble ma de que deve-se segui r est a fi losofi a sem u m m ot i vo - sem a exp ect at i va de um a r ecompe nsa, e la d eve fu nci onar . Est a é a ún i ca, ou se ja, u ma d as pou cas cond i ções que est ão r elaci onad as com o sucesso. Nã o é necessár i o nenh um a cr ença, não s e exi ge nenh um a r eli gi ão. T ao é a mai s pur a sabedor i a de vi da. Se eu t ent asse r esumi dament e defi ni r T ao, eu o form ular i a da segui nt e manei r a: “ Tao é uma di mensão sua e mi nha. El a não é acessível ao pensament o, mas pode ser vivida e reali zada por nós.” – 11 –
I. A ar t e d e n ão f azer
Nos sa at ual e xi st ênci a est á li gada a uma sé r i e de cond i ções. Par ece qu e somos li vr es, mas no fu nd o sent i mos qu e est a li ber dade é um sofi sma e qu e est amos li gados e m t odos os pon t os e cant os: às r egr as de jogo da soci edad e, ao pr econcei t o de nossa r aça, nação o u gr au de i nst r ução ao qu al pe r t encemos. T alvez n os li guemos a um par cei r o, o u este jamos pr ofi ssi ona lme nt e ou r eli giosa ment e li gados a a lguma for ma. Há mi lêni os o coti di ano est á r epl et o de di fi culd ades, pr eocup ações, necessi dad es, doe nças e mi sér i a. Me smo lá, onde o mun do par ece est ar em or dem, e xi st em p r oble mas. Ape sar do r ai o de sol t emp or ár i o em n ossa vi da, e m r egr a, os pr obl emas dom i nam . E se algué m se apr oxi masse de você com a ousada afi r mação de qu e você pod e afast ar t odas as di fi culdades e moment os di fíceis da vida apenas apr endend o a v i ver exclu si vament e o pr esent e e enx er gar os seus pr oblemas at ent ament e? E spont aneament e você di r i a que i st o é bobagem, consi der ando est a pessoa for a da r eali dad e. Consi der and o-a for a da r eali dade v ocê em par te t er i a r azão. Ist o é consi der á-la for a da s ua r eali dade, poi s aqu i lo qu e você consi der a r eali dade não t em r elaçã o nenh um a com a r eali dade obje t i va. No ssa vi da – 13 –
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se passa conf or me um m ode lo d e pensame nt o cr i ado por nós, no qu al se mani fest am as nos sas r eali zaçõ es ou exp er i ênci as apr end i das. C ada fe nôm eno ao nosso r edor é comp ar ado e anali sado conf or me o pont o de vi st a de st e mod elo d e pensame nt o. Só qu and o você compr eend er qu e est a sua for ma de a vali ar o mun do e a sua exi st ênci a é t ot alm ent e par ci al e fal sa: - você ser á capaz de que absoisto r versignifica a gr andenasabedor a da vexplicado i da no fl ux o de T ao. O prática i será det alhadame nt e em segui da. E m r egr a, solu ções geni ai s sedu zem p ela sua s i mp li cid ade. A soluçã o pr oposta par a todos os nossos pr oblemas de vi da par ece ser mu i to si mpl es, de man ei r a qu e par ece não haver nem ener gi a, nem efei t o por t r ás di sto, mas e sta i mpr essão enga na. O que é boni to no T ao é que você não pr ecisa acr edi tar em nada, não há exer cíci os obsc ur os pr escr i t os, não há r egr as mor ai s sever as par a alcançar o suce sso, m as vi ve-se o T ao e você pode sent i r o efei t o mai s for t e da mane i r a mai sPer si mp – t ent mi tles a-me voltando. ar r api dame nt e ao chi nês: WU WEI. Est as du as sílab as cont êm t odo o segr edo da ar t e de viver do Tao. Traduzi ndo t ext ualment e signi fi ca “não fazer nada ” , “ não agi r ” . Aqui de mane i r a alg uma s e di z que devemos s er i nd olent es, i nd ecisos ou i nd i fer ent es. É di fíci l defi ni r em pouca s palavr as a sut i leza do wu wei. No sent i do mai s pr ofund o, wu wei qu er di zer qu e em n ossas deci sões não devemos faz er nad a cont r a nossa aut or i dade i nt er i or, o T ao. Pr ocur emos enfr ent ar os de safi os da n ossa vi da com os e scassos r ecur sos de noss o i nt electo, da for noss r i êncisa.aoDenoss sta for ma nós in o, t eraqu fer ie-mos em çasai expe nacessívei o pensa ment las qu e não só r esolve m nosso s pr obl emas da m elh or for ma, m as que t amb ém est ão em cond i ções de r esolvêlos de o ut r a mane i r a. Se conse guísse mos apr end er a pr ati car o wu wei par arí amos i medi atame nt e de medi tar sobr e os nos sos pr oble mas, de a nali sá-los e pr ocur ar solu ções. É t ot alment e sufi ci ent e enx er gar mos o pr oblema sem r efl et i r sobr e ele, sem anali sá-lo. O r est o pode – 14 –
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mos dei xar tr anqü i lament e por cont a do T ao. Na medi da em qu e noss a i nt er fer ênci a se t or ne nece ssár i a, per ceber emos o i mp ul so de ação at r avés de um a for t e i nt ui ção. Send o que a palav r a i nt ui ção, como nor malm ent e a i nt er pr etamos, só faz uma de scr i ção in sufi cient e do fato, pois t r at a-se mui t o ma i s de um d i álog o in t er i or que se t or na hábi t o a aque le qu e apr end eu a v i ver no espír i t o de quando T ao. O exemp quvie vid daraeiem aqui só t .erPar á sent ido a v i dalofor suat ambém tot ali dade a domi nar est a vi da não s e exi ge nenh um a capac i dade qu e não exista em nós. Aliás, a maioria das pessoas desapr endeu a l i dar com u ma ou out r a destas c apacid ades. N enh um a das at i t ud es que eu l he most r ar no de cor r er dest e li vr o exi ge for ça; est as capac i dade s desenvolvem-se com u ma faci li dade i nd escr i tível se for em apl i cadas co r r et ame nt e. E ssa faci li dade é a exp r essão de uma e ner gia e xt r aor di nár i a que exi st e late nt e dent r o de cada um de nós. Se você segui r cor r et ament e os co nselh nal os dado ar quest e ráequ esfor ço,er ent ão éEm um si segurs eo const de qu eatvocê fazeernd o algo r ado. segui da n os ocup ar emos com pensa ment os, c om consci ênci a, com pr esent e, passa do e fu t ur o, send o que desde já qu er o me nci onar qu e o T ao só pode ser vi vi do e r eali zado no pr esent e, ou se ja, no i nst ant e. T alvez est a seja a úni ca t ar efa di fí ci l p ar a você, i st o é, não fi car vagand o com a sua me nt e nem no pass ado ne m n o fut ur o, por ém semp r e e const ant ement e per manec er no aqui e agora. Não é di fí ci l apenas por causa do noss o cost um e de est ar com o pe em t oodos o s porq lu garue es,nosso menos moment o im edinsament ato, ma somui di fícil cotno idi ano não nos par ece sufi ci ent ement e sat i sfatór i o par a desejar mos enx er gá-lo e vi vê-lo i nt ensame nt e. T amb ém não consegui mos co nt r olar os moment os que qu er emos mant er e vive r i nt ensi vament e, poi s no s tr azem ale gr i a ou pr aze r . Que r o, a t r avés de um a anedot a, mo st r ar a você como faz emos par a vi ver o pr esent e: um ôni bu s com t ur istas está pas sando por uma li nda pai sagem cam– 15 –
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pestr e. T odos estão c om as máqui nas fo t ogr áfi cas di ant e dos o lhos e fot ogr afam par a r egi str ar aquela i magem. Ape nas um ún i co t ur i sta e stá s ent ado t r anqüi lo o lhando p ela j anela. E les per gunt am: “ Por qu e você não e st á fot ogr afand o? ” El e r esponde : “ Eu vou a pr eci ar a pai sagem agor a mesmo” . Veja como a mai or i a dos s er es hu manos v i ve i gual a e ste s t ur i st as. Ent r e nós e a r eali dade, vi vê-la ão os nossos os,com assimecomo as m fotesmo, ogr afiest as nesta anedot a.pensament Nós estamos a ment e se movi ment ando const ant ement e, noss o pensament o se ocup a com aco nt eci ment os passa dos ou fu t ur os, um a alegri a ant ecip ada o r i ent a nos sa visão ou o medo de cer t os acont eci ment os, ou espr ei t amos c om esper ança . M as não a pr ovei t amos a qu ele mome nt o qu e estamos vive nd o. Est amos ment alme nt e mu i t o oc up ados c om t odo t i po de bobag em par a que pos samos nos ocup ar ai nd a com a r eali dade . Afi nal d e cont as essa r eali dade não s e per de, nosso c ér ebr o r egi st r ou est as cenas par a semp r e em n ossa memór i a como a s máqui nas fot ogr áfi cas. E se r ealme nt e olhar mos por acaso par a o mome nt o, par a o pr esent e, t ambé m não co nsegui r emos vê-lo di r etament e, de manei r a que r egistr amos uma cena, e ela i medi at ament e segue par a a nossa consc i ênci a. An t es de t er mos c onsc i ênci a de um acont eci ment o, ele pas sa, como de c ost um e, p or um pr ocesso de r aci ocín i o. No pensame nt o noss a me nt e t est a ant es, se na cena r egi st r ada se not a alguma coi sa semelh ant e a exper i ênci as ant er i or es, de poi s ela bu sca no a r qui vo da memór nom encont par aeest e fenôm ca est a ieta ioqu et aena ce na r–ado soment depoi s qu eeno t udeocoloi st o de fe i t o é qu e nossa comp r eensão pe r mi t e qu e nossa consci ênci a t ome conh eci ment o dest e acont eci ment o. Você pod e not ar qu e mesmo vi vi do espont aneament e, este acont eciment o ocor r e em segund a i nst ânci a. A m ent e hu mana nun ca per mi t e às i mp r essões dos sent i dos segui r em di r etament e à consciênci a (sendo que não quer o ati ngi r uma de fi ni ção especial qu ando di go “ ment e” , com – 16 –
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“ ment e” qu er o si mp lesment e exp r essar nossa pessoa, nosso ego, nosso “ eu” ). E i st o não pr eci sa ser assi m. E st e não é o nos so dest i no i r r evogável, t er de nos de svi ar mos, de svi ar -se du r ant e t oda a vi da do mome nt o pr esent e, da r eali dade. A r i gor , é um víci o que t emos, poi s ni nguém n os ensi nou como f azê-lo co r r et ament e. Wu w ei exi ge a pr esença d e espír t o nopar mome nt o pod pr esent e, asi nefi for ças qu esem modi fi cam as coii sas a o bem em ser cazes a nossa ação. Enq uant o não olhar mos di r et ament e de fr ent e as tr istezas de nosso cotidi ano, não se modi fi cará nada atr avés do T ao. Por ém, se consegui r mos co nt emp lar nossa exi st ênci a de for ma t ão sensat a e r eali st a como ela r ealment e é, sem esqui var -nos de nenh um r econh eci ment o – por mai s desagr adável qu e seja , ent ão não ser á necessár i o per mane cer por mu i t o temp o neste estado ci nz ent o. Como que , por um comand o à di st ânci a , em segui da sua v i da ser á domi nada por ener gi as com as quai s,você nemSobr ousari sonhai r a. de conseguí-lo – r efi r o-me a qu i à e aamane t écni ca – você t er á mui t os det alhe s nos pr óxi mos c apít ulos , quando tr at arm os da est r ut ur a do pensa ment o e da pe r sonali dade do pe nsa dor . Aqu i eu go star i a de lh e dar , i ni cialme nt e, uma i déi a mai s ger al sobr e o assunt o. Mas neste pont o já pode mos r egist r ar u m pr i ncípi o: os pensa ment os r esul t am semp r e da compar ação com element os da me mór i a, da le mb r ança ; eles per t encem, por consegui nt e, em pr incípi o do passado, i ndependent ement e daqui lo de qu e t r atam. A s i déi as e as per specti vas de fu t urém o toambém seabasei exp eri ind ênci as doent pass Por T ao, est noss aam di em mensão epend e deado. todos os tempos, só exi ste no p r esent e, neste pequeníssimo espaç o de te mp o ent r e o pass ado e o fu t ur o. O e fei t o conj un t o destas for ças ocor r e aqui e agor a, nun ca ant es ou de poi s. Ist o si gni fi ca qu e o pensame nt o semp r e nos t i r a do pr esent e e nos cond uz ao passado, m esmo send o por fr ações de segundos, quando i nt er pr etamos um acont ecim ent o i medi ato e m vez d e vi vê-lo di r et ament e. I sto – 17 –
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não que r di zer qu e o pe nsame nt o de ve ser eli mi nado. El e t em seu espaço o nd e é út i l e nec essár i o. Mas a ver balid ade i ni nt er r upt a de nos so espír i t o é um sér i o obst ácul o par a a vi da no pr esent e absolu t o. Não faz sent i do t ent ar mos domi nar e st a cor r ent e r epr i mi ndo todo s os pensament os. T al pr ocedi ment o é ext r emam ent e cansat i vo e, além d i sso, tot alment e i nú t i l. Nós soment e mu dar evi são. O pra ocesso de deslidegar o pe nsamentíamos o é juastprament e i gual um pr ocesso pensame nt o. Quem t ent a vi ver o aqu i e o agor a desta m anei r a está enganando a si mesmo e gast ando e ner gi a i nu t i lm ent e. Mesmo as si m não de sani me. E st a coi sa, n a ver dade , é bem f áci l – pr essup ond o a di sposi ção da pe ssoa. Aqu i também não são necessár ios desempenhos recor des, poi s vi ver no p r esent e sem p er der -se em p ensam ent os não é nenhu ma di sci pli na o lím pi ca. I nclusi ve no T ao, os empenh os par a alcançar algo não são consi der ados. É b om não t er um obj et i vo, ser ambi ci oso, nenh um m oti vo. O esfor or çodo huqu mano, deoualguma m me aneismos, r a, s emp ser melh e ospar out raos qu e nós no e rsteado pr esent e é r i dí culo. Acr edi t amos qu e toda pessoa na v er dade é bem m ais do qu e pode r i a s e t orn ar um di a. O est ado co mp let o da vi da e m w u we i é vi st o no ze n-bu di smo como uma i nspi r ação, uma r eali zação de Bu da. A per cepção di r et a e at ent a dos a cont eci ment os i medi atos é chamada de “ consci ênci a” sem d omi cíli o ou o espír i t o sem domi cíli o. Com est a consc i ênci a ou espír i t o a for ça cr i adora já fo i i ncluída na v i da do pr at i cant e. Ass i m qu e obsevar mos algun s segun dos at ent ament e o noss o ambi entateoe com os acont ment noss oEréedor r amos cont est aeci ener gi aos estao r anha. essaent que mod em i fi ca noss o cot i di ano, noss a vi da i nt ei r a, se conf i ar mos pl ename nt e nela. É co mo na br i ncade i r a que fazíamos de vez em q uand o na i nf ânci a e na ju vent ud e: abr em-se os br aços, f echam-se os o lh os e dei xamo-nos cai r nos br aços de um ami go qu e está atr ás nós. Est a br i ncade i r a nem é t ão fáci l, é um a sensação desagr adável d ei xar se cai r no i ncer t o, me smo sabend o qu e há algué m at r ás – 18 –
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de nó s que nos s egur ar á. A exp er i ênci a do espír i t o sem domi cíli o t em a me sma i mp ort ânc i a que a capac i dade de obser var nat ur alment e, não pa r t i ndo de ne nhu m cent r o i nt er i or - si mpl esment e obs er var , por exempl o, um pas sar i nho na jane la o u o g ato do v i zi nho. Ass i m q ue est a obse r vação est i ver li vr e de pensame nt os ela se r á i dênt i ca ao efei t o do T ao. I st o tu do so a est r anho e sem lógi Beem, l ógico? co não é. Mas r á qu e só á cor r ets-o aquica. lo qu é lógi A r eali dadeseobje t i va deest noss a exi t ênci a é mai s par adoxa l d o que lógi ca. A l ógi ca é um a mu let a que a r azã o humana ar r um ou par a não se desesper ar com as c oi sas r eai s. A l ógi ca é compr eensí vel e t ud o que c onse gui mos at r avés dela n os dá se gur ança, não é? Per mane cer r ealme nt e com o espír i t o no pr esent e, obse r var at ent ement e os acont eci ment os, r egi st r á-los sem análi se, ser i a o pr i mei r o passo par a a r eali zação do T ao na nos sa vi da. De i xar os acont eci ment os segui r em onaseu fl ux ção, o semi str esi o bserová-los, i st end o é agi não-a o éstwi ru, apenas w ei. Quand vo cê apr er ra pass ar seus di as assi m, sua vi da ser á como nos me lh or es tempos de sua i nf ânci a: sem pr eocupações, sem confl i t os, esqu ecend o ont em, n ão sabe nd o nada de amanh ã, pe r mane cer apenas no h oje r epl et o de fe li ci dade e ser eni dade . I sto é ar t e de vi ver , i st o é vi ver no espír i t o T ao. Qua l é a di stânci a de sta i déi a do quadr o de sua at ual exi st ência so fr i da? Ao c ont r ári o de todas as out r as pr egações e afi r mações, alcançar a mudança em sua vida, alca nçar est e est ado t ão posi t i vo, não é de man ei r a alguma u ma iqu ão de t emp quest ão de como você r áest pr oceder par ao.seÉliape bernas t ar um de i amagens com as quai s tem afi ni dade. O segun do (e ún i co) passo a di ci onal é a necessi dad e de se li ber t ar i nt er i or ment e de t odos os compr omi ssos, de t odo t i po de aut or i dade, i nd i fer ent ement e de elas sur gir em d o ext er i or ou de sua pr ópr i a i magem, de padr ões de pensame nt os enr ai zados, comp r omi ssos r eli gi osos, et c. Es t e segundo pas so pode fac i li t ar mu i t o a vid a no – 19 –
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pr esent e. A necessi dade de li ber t ação de comp r omi ssos não s i gni fi ca que v ocê t enha d e abr i r mão dos pr azer es da vi da, de pr opr i edade s, ou d e seu p ar cei r o. Na ver dade, não há u m ú ni co pr ocesso em n ossa v i da q ue s eja pr oble mát i co. Nem a espi r i t uali dade , nem a medi t ação, nem o bem-estar , nem o desejo d as comodi dad es da exi stênci a. O pr oblema é o “ apego” , como d i zem os chi neses. Não sãoape osnas pr aze r es da vi da nos am d Por o T ao, por ém o comp r omi ssoqu i nteer i orafas comteles. out r o la do, ser i a totalme nt e i nút i l a a ut ot or t ur a nest e i nst ant e se você di ssesse: “ Bem, a p ar t i r de agor a que r o est ar li vr e de qu alq uer apego” , e se você tent asse suger i r par a si est a li ber dade até c onse gui r um t i po de sensação de li ber dade. I nfeli zment e, não é tão fáci l. T alvez possamos i lu di r pessoas com t ai s medi das, mas não pode mos enganar o T ao. T al pr ocesso ser i a mui to est afant e e não dar i a cer t o, poi s novament e um a i magem d e pensament o foi apenas substi t uíd a por out r o modelo t ão compr ometedor qu ant o o pr i mei r o. Você ter ia apenas exor ci zado o di abo. Ex i ste m cami nh os mai s fá cei s par a conhecer a verdade sobre os seus compromissos e engajam ent os. Se você obser var per si st ent ement e e sem um a postu r a i nt er i or as s uas r eações di ant e dos acont eci ment os da vi da - i st o é, no mome nt o em q ue ocor r em, você logo pe r ceber á o t i po e a di mensão de seu comp r omi sso. Est a obser vação já é medi t ação que não e st á li gada a nenh um a fo r ma e xt er na e a ne nh um r i t mo de t emp o. Ess a medi t ação semp r e ocor r e qu ando os a cont ecim ent os a t orn am ne cessár i a. Ass i m esta for ma de medi t ação per mane ce semp r e vi va, nun ca cai na r ot i na ou ador mece a ment e. T ão logo o r econheci ment o de seus di ver sos comp r omi ssos est i ver pr ofun dame nt e vi vo em você, mu i t o além d a comp r eensão i nt elect ual do seu est ado, você const at ar á que esses comp r omi ssos per der ão por si mesmo o pod er sobr e você. Como nu m p asse de mági ca os cor dões com seus vín culos e st ar ão r ompi dos. Nat ur alment e, t udo i sso depende da v ontade i nt er i or de se li ber t ar de s eus di ver sos apê nd i ces e não pr ocur ar – 20 –
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secre t ament e pr ende r -se a um ou out r o como a nt er i ormente. Nesta r up t ur a de t odas li gações e comp r omi ssos exi st e um out r o pr oble ma: a que st ão da segur ança pessoal. Enqu ant o você est i ver li gado a qualque r t i po de i nst i t ui ção, i deologi a ou or gani zação você obt ém a segur ança por mei o dela. Voc ê se sent e i nt egr ado na so ci edadeopor e a sua adapt à suaoordedem r egr as de encont jogo lh rea pr ci ona umaação se nsaçã pr oteeção. Você apoi o em seu p ar cei r o, na sua pr ofi ssão, nos se us cos tumes coti di anos e habi tuais. Tu do ist o pr opor ciona uma apar ent e segur ança, de qu e as pessoas necessi t am, p or ém é a úni ca coi sa qu e adoç a um p ouco a mi sér i a da enor me falt a de li ber dade i nt er i or d a humani dade. Sendo est a li ber dade abso lu t ament e i lu sór i a, ela é r elat i va; na ver dade, ela exi st e apenas co mo i magi nação i nt elect ual ou e mocional, é um calmant e com efei t o cont ínu o. Por ém este efei t o cont ínu o não per du r a at é a mor t e. Em algum m ome nt o, ar maia ver s cedo s te.arPoi de,stuma odosconssão obr i gados a encar dadeoudemai fr ent t r ução ment al de segur ança não exi st e, e qu ando a v i da nos a pr esent a desafi os sér i os e a est r ut ur a de segur ança ao nosso r edor se des faz , ent ão fi camos nu s como um a concha cuj o invólu cr o desapar eceu. A pessoa à qual i st o acont ece – e acont ece di ar i ament e no m un do t odo – deve r econh ecer qu e fez u ma const r ução s obr e ar ei a. Sent e qu e per deu t odos os apoi os e pont os de or i ent ação. M as ger alm ent e é nest e mom ent o qu e ela vi ve um a exp er i ênci a que a mai or i a de nós ne m conse gue i nt er pr Se vocêatnaévid já nd pasament sou pos or de umsua a crexi i se st prênci ofun-a, daet quare. chegou aosafu ent ão v ocê lemb r ar á que a mudança par a me lh or ocor r eu j ust ame nt e naq uela fase em q ue s e ent r egou por est ar mui to exaus t o par a conti nuar a lut ar. Na quela época você si mp lesment e exp er i ment ou a mão do T ao, poi s ela sur ge com for ça em nossa v i da n aqu ele mome nt o em que ti r amo s a mã o do le me, qu ando de sist i mos . Ass i m est a enor me for ça est r anha pode t or nar -se efi caz, e pr e– 21 –
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cisame nt e com u ma i nt eli gênci a que oper a mui t o além do pensament o. N ossos pr oblemas exi st enci ai s soluci onam -se de um a for ma qu e depe nd e de um a sabe dor i a t ão pr ofunda q ue a nos sa r azã o não a pos sui . Aq ui você pod e per ceber como é i nsensat o pr end er -se a est as segur ança s apar ent es qu e o cot i di ano nos ofe r ece. Quem se dedi car à ar t e de vi ver do T ao, pr escr ever a si a ção i ntint ui er t i va enturr egar -se à segur da pr mesmo ópr ia auta or idade na,efut ament e enxer garança á a vida e o seu coti di ano c om out r os olhos. Est e comp or t ament o espi r i t ual é a verdadeira segur ança, mas, cur i osament e, o pensame nt o em segur ança pe r de a sua gr and e i mpor t ânc i a uma ve z q ue apr ende mos a dei xar nos sa vi da por cont a do fluxo do T ao. Poi s o flux o da v i da é i dênt i co ao T ao, assi m como nós t amb ém somos i dênt i cos a ele. A p ar t i r do mome nt o em q ue você per ceber i st o não ser á mai s necessár i o lut ar e esgot ar -se; ocup ar -se di a e noi t e com as su as pr eocup ações e necessi dades, e per cebermui á qut os e sua vi damas consi. Você st e napode mi struri scar a de qualque poucas alegr i as pr oble r t i po dee obj et i vo de seu p ensament o poi s se você segui r at ent ament e aqui e agor a o de cur so da v i da, e st e o le var á a t odo loca l desejado, a t odo obje t i vo, ant es me smo qu e você possa i magi ná-lo. Si m, é i nd i spe nsáve l qu e você desi st a de seus mot i vos, seu p r ópr i o esfor ço, seus desejos de ser algo qu e ai nd a não é. Você pr eci sa apr end er a não faze r mai s nada, a obse r var e ser at ent o. Est a é a ver dadeir a for ma da ação in teli gent e. “ Ele” agi r á por você melhor do qu e a sua r azão c onsegui r á. Uma pes soa qu e respi ealmr ient e ent endsier a verant dad vi ver seuestar m ei o t ual. I sso gniest fi ca, esede maiásalém na dadenão li gado a ne nhu ma di r eção. As sim você poder á, a par t i r e a r et or nar ao seu cent r o. Cent r o qu e não de ve ser compr eendi do como um luga r : mui to pelo cont r ár io, por m ais est r anho qu e soe, t al c ent r o t em di mensões un i ver sai s cósmi cas e não e st á li gado a um local na alt ur a de seu pl exo (e nt r elaçame nt o de ne r vos v eget at i vos ), d o seu cor ação, o u d a sua bar r i ga. U ma p essoa qu e vi ve além – 22 –
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do seu cent r o, pode estar r epleta de muita espi r ituali dade e semp r e ent r egar -se-á alegr e e ser enam ent e a t odo t i po de pr azer fí si co. Depoi s de t er acabado e le volt a ao seu cent r o sem q ue nenh um si nal d este acont eci ment o mant enh a o seu espír i t o pr eso. Est a é a exp r essão da ver dadei r a li ber dade . T odas as t ent ati vas de or i ent ar as pessoas un i lat er alme nt e, por e xemp lo, in di cand o-lh es um a vi eli gipe osa sever a,oie bi coloca es t odo pr azer de viddaa rcomo cado e pr ndo-ond s, o-lh tor nam q ualqu er pessoa i ncapaz de vi ver alé m d o cent r o. Ela e st á par ci alment e at r ofi ada. E aqu eles que lh e i nd i car am esta manei r a de v i da como ne cessár i a não sã o ne m um pouco melhor es. Nest e caso, loucos são or i ent ados por lou cos. Dei xe-me r esumi r o que foi coloca do at é agor a: o T ao não é um cami nho, mas é o pas so par a si pr ópr i o e par a a pr ópr i a aut or i dade i nt er na. Wu w ei signi fi ca não que r er agi r por si , mas de i xar a ação e a deci são par a esta autor i dade mencionada . Alé m d a di spo siçã o de t i r ar a mão do aleme dernossa davez exi st e asnecessi dad e dee.volt ar mos nos sa azão cviada mai par a o pr esent Na mesma p r opor ção em qu e nós – ao i nvés de c onst ant ement e ci r cul ar mos noss os pensame nt os pelo passa do e pelo fut ur o – obse r var mos o noss o cot i di ano, lh e dar mos t ot al at enção, nos sa vi da e nossa vi são de vi da mu dar ão. N est e caso não s e exi ge nenh um a per fei ção olím pi ca. Aqu i vale vi ver o aqu i e o agor a, no mome nt o e com se gur ança . A l i ber dade de opi ni ão e de qu alqu er li gação comple t a o quadr o de um a nov a for ma de v i da. T al li ber dade pode ser alc anç ada por qualq uer pessoa desde que s e man t enh a dent r o dos co nselh os dados.
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L i b er t e- s e de s
II. eu s co mp r o mi s s o s
Há mi lêni os a estr ut ur a da s oci edade é semp r e di r i gi da por u m peque no gr up o de pode r osos, i nd ependent e do t i po de g over no qu e t al soc i edade acei t ou. E est e gr up o gover nant e di ta ao povo o qu e é bom par a ele, ou seja, o povo de ve acei t ar o qu e bene fi ci a os poder osos. Em nossa época pode mos consi der ar a globali zação fi nance i r a como o pode r . Est e gr up o re ge o quadr o que mar ca a nos sa s oci edade . A t ualm ent e pode mos votar par a escolh er nosso gover no, m as a r i gor a escolh a não é mu i t o gr ande , poi s t emos a penas a escolha e nt r e mu i t o pouca s i deologi as qu e, em p r i ncípi o, são mui t o semelh ant es e qu e, ju nt as, no fu nd o, de alguma mane i r a est ão no flux o do gr up o gover nant e. Alé m di sso, por fi m, qu em gov er na é um par t i do que é bem vi st o no máxi mo pela met ade dos elei t or es. I st o si gni fi ca qu e pelo menos a out r a met ade dos c i dadão s de um a democr aci a fi cou par a tr ás apesar da li ber dade domi nant e na form ação de seu gover no. E lá ond e r ealm ent e se est abele ce o poder dur ado ur o, na s gr ande s i ndú str i as, nos banc os e segur ador as com suas mu lt i par t i ci pações, qu e i mp õem todo o sistema financeiro apesar de todas as leis ant icar téi s – estes não são elei tos por ni nguém. E les simplesmente existem, eles decidem, independente da – 24 –
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legi slat ur a, do de st i no e da pr osper i dade da naç ão. Par t i ndo de lá é for mada a opi ni ão púb li ca; devemos pr ocur ar l á a ori gem e o mo t i vo da natur eza do qua dr o da soci edade . Cada i nd i vídu o, vo cê ou eu mesmo, or i ent ase nest a or dem desde a i nf ânci a. Nós est amos de t al f or ma p r esos a deci sões, or dens e lei s qu e não t emos mai s consci ênci a de como nos conduz em p or toda par te. Nunca vi vemos m rt or egrnass as. No i nímemb ci o osrpai s cui ado davam p ar auma quevio fidalhse o se e um o adapt à soci edad e sob o pon t o de vi st a deles, depoi s vi nh a a escola, a for maçã o pr ofi ssi onal ou o e st ud o na fac ul dade. Aq ui o jov em t ambé m foi for çado a uma for maç ão volt ada à adapt ação ao atu al pr i ncípi o domi nant e. Após iniciar-se na vida profissional, seja autônoma ou emp r egatíci a, o ent ão adul t o const at ava com t oda clar eza c omo a sua pr osper i dade dependi a da hi er arq ui a da sociedade. Ao i nvés de evadi r -se desesper adament e desta li mi t ação e da co nst ant e pr essão, a hu mani dade encontas r ou umeroi ênci ut r oas cami nho de : r epr i mi r or ostcont exp consci entfuga ement e i nsup ávei eúdos s par aeo i nconsc i ent e. Eu n ão est ou exager ando quand o afi r mo – e sei qu e a mai or i a dos s oci ólogo s e psi cólogos são da mes ma op i ni ão – qu e a nossa co nsci ênci a ace ssíve l à nos sa lemb r anç a é fi lt r ada de t al for ma de mane i r a qu e nela não fi qu e r egi st r ada nenh um a exp er i ênci a que não est eja em conf or mi dade com as r egr as de jogo váli das da soci edad e. T ão amp lam ent e age o mecani smo d e r epr essão, o órgão de controle de nosso mecanismo de aut oconser vação! Por i st o hoje , nas c ond i ções de nosso espír i t o, so s de r ceber a ver dade ela r ealm entmos e é. iOncapaze qu e consi derpeamos a ver dade sãoc omo apenas fr ações da r eali dad e. I magens d o noss o pensame nt o, ain da po r cim a di stor cid os pela ó t i ca do no sso pr econcei t o. T odos os nossos s ent i dos s ão cont r olados di a a di a; suas pe r cepções são fi lt r adas e penei r adas, nada de nov o, desconh eci do, p ode chegar à consci ênci a. Est e mecani smo cui da mui t o be m p ara qu e nenhu m n ovo conh eci ment o, por mei o de algum a obser vação, penet r e – 25 –
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em n ós. T ud o é cui dadosa ment e desvi ado par a o i nconsci ent e onde a sua e xi stê nci a i nco nve ni ent e fi ca ju nt ament e com out r as exp er i ênci as t r aumát i cas da época da p r é-i nfânci a. Nunca so mos capaz es de ver mai s e além daqui lo qu e apr end emos. S ó i sto p ode mos a cei t ar em noss a par ci ali dade , e é assi m q ue nos o r i ent amos e or gani zamos co m base ni sso, a nos sa vi da. A ssi m noss o espír E i t oaei st asonos sas le r ançantsoest em boas c ondi ções. o nosso pemb nsame se ão r emete co nst ant e-ment e. Dest a mane i r a abso r vemos um a i magem mu i t o censur ada da r eali dade. Um out r o cami nh o de fu ga da r eali dade é a afi li ação a or gani zaçõ es e a comun i dade s r eli gi osas i nclu i nd o os di ver sos gr up os com fi loso fi a de vi da pr ópr i a (e dos empr esár ios esper tos que vi vem na onda d a Nova Er a). J á a consc i ênci a de est ar i nt egr ado na so ci edad e e de possui r um I d na me sma, nos pr oporci ona um a sensaç ão de segur ança. As v er dad es i mp opu lar es est ão todas bem guar nosi eja ncoela nsci a i sto a firliece ação comudadas ni dade, atent i vae.ouPar passi va,aofe umaauma boa garantia complementar para manter-se a posição alcançada. Fe cha-s e os o lh os par a o hor r or ao nos so r edor , par a o qu adr o mund i al escasso, par a a lo ucur a qu e acont ece no pr ópr i o país, a Ale manha ( no qu al, por exemp lo, não s e pr oíbe m ali ment os cont ami nados, por ém d e t emp o em t emp o se aume nt a o li mi t e máxi mo de apli cação de pr odut os t óxi cos!). A pr ot eção, a par ent e, qu e est as or gani zaçõe s e i nst i t ui ções ofer ecem, é paga por nós at r avés do r econh eci ment o de sua aut or i dade e poss i velmme ent sua e pors nor or gani sas vie por das asua pars tent es confor maszar , e i mos nt er inos or ment eses. Da fal t a de li ber dad e eleme nt ar qu e cada pe sso a vi ve, em conse qü ênci a à sua adapt açã o à so ci edad e, nasce um a out r a, poi s nós, s er es hu manos, s i mp lesment e não co nse gui mos e nt end er qu e exi st em coi sas qu e não tê m p r eço. J á que nos dei xamos condi ci onar acr edi t amos t er adqui r i do mai s segur ança na so ci edade . Nós fazemos aqu ilo e acr edi tamos naqui lo que os out r os tam– 26 –
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bém acr edi t am e fazem, e achamos i st o cor r et o. E se um di a o desti no a t uar e ent r ar mos em ver dade i r os apur os vamos c onst at ar qu e em l ugar nenh um exi st e a ver dadei r a segur ança, mes mo est and o desesper adament e em busca dela. P ar a t or nar -se li vr e, par a uma vid a no moment o pr esent e, é necessár i o r omper com t odas o s compr omi ssos deste ti po. Nã o podemos acei tar nenh um a autnos or i tdade , niPa ngué m q ue nos di ga er daou orn ar. r a consegui r mos noscomo li berde t arvemos d e autsori des ext er nas, é necessár io nossa di sposi ção. Apenas esta. Não é necessár i o uma br i ga i nt electu al co m u ma i déi a nova, c om a de ci são de li vr ar -se, à for ça, de coi sas qu e nos pr end em at ualm ent e. Pa r a mui t as coi sas, ne m é necessári o um pas so espet acular par a um r ompi ment o ext er no – i st o, ger alment e, não é necessár i o. I mp or t ant e é a nos sa posi ção i nt er i or em r elaçã o à aut or i dade . T emos de ent ende r qu e a vi da pode ser di fer ent e daqui lo qu e pensáv amos a t é agor a. O pas so par a a li ber dade iprntomi er i or , i ni eciéa-se com oiroeconh mentatoéde nossos comssos, necessár obsereci vá-los poder i dent i fi car se us per i gos. Est e pr ocesso já é suf i ci ent e. Com a noss a at enção , q ue não de ve ser per t ur bada p or pensament os, este s co mp r omi ssos pe r dem a sua i nfl uênci a sobr e nós. N ós nos t or namos li vr es e despr end i dos. Em hi pót ese nenh um a você deve anali sar seus compr omi ssos baseado nas suas análi ses int elect uai s. Se fi zer i st o, não faz mal, mas t ambé m não t er á vant agens. O que pode a cont ecer é você conf un di r est a análi se com a obser vação e se admi r ar p or qu e est es compr omi ssos qu e desfi zemos t ãoeuconsci osament e ai nd a exi mi t am. Ali ás, qu er oenci di zer qu e você alca nçarst áem mae ilisfaci lm ent e a nov a mane i r a de vi ver , de r ealm ent e est ar pr esent e aqu i e agor a, se esqu ecer qu alq uer t i po de conh eci ment o. T ud o aqu i lo qu e você apr end eu at é o moment o at ual não s er ve par a a pr áti ca de vi da do T ao. O conh eciment o pode ajud á-lo n a pr ofi ssão ou q uand o você qu er pr egar um pr ego na p ar ede. Mas par a o seu d esenvolv i ment o espi r i t ual e le só es t ar á at r apa lhand o. Você – 27 –
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deve r ealme nt e olhar par a a sua vi da co m olhos i nocent es, com os olhos i ngênu os de um a cr i ança . En t ão per ceber á que as coi sas mu dam , qu e os seus di as t r anscor r er ão de manei r a di fer ent e. Você estar á i ncorp or ado a um pr ocesso que por si far á com gr ande i nt eli gênci a aqui lo qu e é o cor r et o par a você. Voc ê de man ei r a algu ma per de a sua pr ópr i a vont ade , mas a s ua açã o ser á mai de s sábi poidos cot você assideci sões cor r et asonai di ants.e dos safiaos i dit omar ano eáem t uações excepci Então fi que sabendo: é necessár io descobr ir todas as somb r as de seus co mp r omi ssos, obse r vá-las, dar at enção a elas, at é qu e você t enh a comp r eend i do pr ofu nd ament e a ext ensão de seu apr isionament o. Só pr estar atenção, já t r az m ud anças. Como em t odo pr ocesso, é cond i ção que você faça as suas obser vações exclusivament e no pr esent e. Não é impor tant e como você er a ont em ou quais comp r omi ssos o in comodav am ant es, o i mp or t ant e e essessi al é o seu est ado at ual. Est e est ado você deve esta cepção p r pr esent é o passo par -a apercebê-lo. mu dança E , par a aper q ual , vocênonão eciesajámai s se esfor çar . Sua ver dad ei r a vont ade, sua di sposi ção, seu desejo veement e de se t or nar li vr e já são sufi ci ent es.
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III. O f e nôm eno at
e nçã o
Na poesia e na pi nt ur a da Chi na ant iga o Tao tem um papel i mp or tant e. Os poet as menci onam, que s e tr ansfer em a um estado de ausênci a total de pensament os quando cr i am as suas obr as. Chan g Chu ng-yuan e scr eve: “ Do mu nd o da i nconsc i ênci a ascend em p ar a a consci ênci a as est r ut ur as de sua poe si a” . Nest e est ado de ausênci a do i nt elect o eles vi vi am pl enament e o ser do T ao. E qu ando, hoje, a pós t ant o t emp o, ler mos as suas poesi as é i mp ossíve l u ma pessoa sensíve l esqui var -se dest e encant o, mesmo t r atand o-se de uma t r aduçã o ond e a di ver sid ade da li nguage m d e símb olos chi neses foi for çosament e li mi tada pela in evi tável i nt er pr etação do tr adut or . A ausênci a de pensame nt os est á r elaci onada t ambém com o i mpor t ant e i nstr ument o descr i t o nos capít ulos nt erai or á ào.noss a diutspos i ção par a domi naramos vides, a:que a ateest nçã Est ou i li zando a qui uma exp r essão da li nguage m d o cot i di ano, poi s ela é a que mais se aproxima deste fenômeno, entretanto sem abr angê-lo co mp let ament e. Est a at enção não é algo que podemos si mp lesment e consegui r , como p or exemp lo, a concent r ação. A concent r ação é r elat i vament e cansat i va, poi s exi ge for ças espi r i t uai s, t emos de ju nt ar n osso cér ebr o e noss os sent i dos par a consegui r mos nos fi xar – 29 –
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no objeto da conce nt r ação. A conce nt r ação volt a-se par a um det er mi nado pont o e par t e do cér ebr o. É um p r ocesso do pensament o e por i sto mat er i al, já que todo t i po de pensame nt o é mat ér i a, como em segui da ai nd a vou lh es esclar ecer . A at enção não t em n ada a ve r com o pe nsament o. Mui t o pelo co nt r ár i o. O s pensa ment os sempr e falsi fi cam a concent r ação, ele s sem qu er er a t r ansfor mam e mralgum a out r asse coi sa mu i t oe semelh eà concent ação. Eu j á di antqu er ei oré ment qu e a atant enção exp r essa mai s do que est a palavr a de nossa li ngu agem. Na ver dade, não e xi st e nenh um concei t o em n ossa lí ngua pa r a este in str ume nt o pode r oso de nos so espír i t o, par a este po nt o t ão pr óxi mo a di mensões estr anhas , que faça ju s ao seu efei t o. P or i sso, be m ou m al t er emos de ut i li zar a exp r essão “ at enção ” . Como eu j á di sse, não s e consegue si mp lesment e a “ atenção” . I st o é cer to. A at enção sur ge por si pr ópr i a quando de t er mi nadas condi ções são pr eench i das. Uma das cond i ções eu a d escr evi no segund ber qu alqu erori comp r o-. mi sso in t ero icapí or out ule o: xt éerai lior, a lit ação ber tde ação de aut dade Nós a alcançamos a t r avés da ob ser vação detal had a de nossos di ver sos compr omi ssos, e a part i r daí a li ber dade sur ge por si . Obser var é a segunda co nd i ção par a que a at enção ent r e em n ossa vi da. Nos so espí r i t o, em n osso cér ebr o em seu at ual e st ado pr egui çosos, i nd olent e, i nsensí vei s. No ssos pensam ent os se movi ment am constant ement e em cír culo, ru mi nand o semp r e acont eci mentos sem i mpor t ânci a ou apar ent ement e i mpor t ant es. Os pensame nt os não par am n enh um segund o, e não co nh ecemos out r o estent ado q ue não aqui oele mecani smo pensament o t otalm e desnecessár e cor r i qu ei r o. de Obser var n ão é um pr ocesso i nt elect ual . Na ver dade, é um a coi sa mu i t o si mp les: nós not amos algo, t alvez uma bor bole t a ou u ma nuve m com um form ato i nt er essant e, e olh amos par a ela. Na da mai s. I st o ser i a obser var . Par ece mu i t o fáci l. M as vou l he di zer o que r ealment e faz emos. Não é ver dad e qu e si mp lesment e olh amos par a ela: i nfeli zm ent e apenas acr edi t amos ni sto. Quan– 30 –
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do r epent i nament e sur ge uma li nda bor bolet a di ante de nos sos olhos , i sto oc or r e dur ant e o pr ocesso habi t ual dos noss os pensame nt os cor r i qu ei r os. O est ím ul o do nosso s ent i do ch ega ao nos so cér ebr o. Nest e mei o t empo ( exage r and o um pouco) a bor bolet a se afast ou u m t ant o de nós e desapar eceu d e nossa vi são par a t r ás de um a ár vor e. Some nt e com est a de mor a a noss a me nt e rolhos, eage.pr O cér o assum a pr ojeção r et st i na nossos ocurebr a em n ossaelemb r ança da se exi emd ei magens semelhant es a e st a, co mp ar a-as, p r ocur a na se ção de vocabu lár i o o concei t o, t ambé m compar a est e concei t o com a i magem e r econhe ce: Ah ! Um a bor bolet a! Some nt e agor a o s eu consci ent e r ecebe a i nf or mação de que você vi u u ma bor bolet a boni ta. Aqui não se pode falar de vid a espo nt ânea, di r et a. Como já di sse, ca r i cat ur ei um pouco a c oi sa par a esclar ecer melh or , mas co nt i nua exi st i nd o o fat o de qu e mesmo est e pr ocesso compar at i vo de pensa ment os ocor r end o em f r ação de segun dos, t ão r ápi do qu e nem r egibole st r amos nsamos que oé noss moment o com a bor t a que, pe “ obse r vamos” i medio ato. Per demos a capaci dad e de olh ar par a algu ma co i sa ao nosso r edor sem colocar noss os pensame nt os a fu nci onar . Est e pr oble ma de ve ser solu ci onado par a que haja per spect i vas da e nt r ada de a t enção e m noss a vi da. Quando no pr i mei r o capít ulo de scr evi como os pr obl emas sã o solu ci onados, i st o é, ape nas at r avés dest a obser vação, i sto d eve ter -lhe par eci do mu i t o si mp les. Eu acr edi t o que a os poucos fi ca clar o que a coi sa não é t ão si mp les assi m. A ação é e cont i nu a send o r elat i vament e fáci l. O que. Não comp li ca a hi ser stórdii afer é nosso r ívelde costu mei de pensar sabemos ent es,tter emos exam nar e anali sar t udo. Este compo r t ament o está t ão ar r aigado e m nós q ue ne m per cebemos mai s est e mecani smo. Ope r amos g r ot escament e com est a for ma d e exami nar as c oi sas afa st ando-nos da r eali dade da me sma mane i r a que os t ur i stas no ôni bus que fot ogr afa m em vez d e olhar . O que obser vamos em n ossa for ma habi t ual n ão é a r eali dade , p or ém a lemb r ança que temos dela. – 31 –
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Vi vemos os acont eci ment os ao nosso r edor semp r e no pass ado poi s nos tor namos i ncapaze s de olhar e obser var no pr esent e. Nós t emos de r eapr end er a si mp lesment e cont empl ar coi sas sem comp ar á-las com as nossa s lemb r anças ou i dent i fi cá-las com et i qu et as. T ent e um a vez, olhe a o seu r edor , obse r ve a mos ca na vi dr aça ou a c or t i na, e como o vee pr nt oocesso br i ncacom comose seus la. C ont emp lent sem nh ar est p ensame os.acomp É di fí cia-l, não é? Não é fáci l li vr ar -se de víci os que penet r ar am em noss a vi da de sde o i ní ci o, pelos quai s ni ngué m n os chamou at enção, poi s t odos est ão pr esos aos mesmos cos t um es e não os c onsi der am e r r os. M as é poss íve l. Da mesma for ma qu e se habi t uou a obse r var as coi sas da mane i r a at ual, você pode a dapt ar -se a est a nova mane i r a de – agor a r ealm ent e – cont emp lar e obser var espontaneament e. Ap r end a e acostum e-se a obser var tud o com olhos c ândi dos, s eja no co t i di ano c i nz ent o ou em p assei os, não anali se os acont eci nãoanha, coment e, não pense “ mont anha” q uando v iment r um aos, mont apenas olhe par a ela, nada mai s. E pr i nci palm ent e: não se cont r ai a, não fi qu e pensando: “ eu t enh o de obse r var , não posso pe nsar ” . Caso você começasse dest a man ei r a, t er i a se afas t ado de out r a for ma das c oi sas obse r vadas como se desde o i ní ci o t i vesse cont i nu ado no se u ant i go método. Obse r var é um pr ocesso qu e oco r r e de for ma b em descont r aída, não exi ge esfor ço e nem out r o t r abalho ment al. Se você não consegui r logo apenas obser var , não se r ave. É pi rga efer ue vi você i nu evoc ai nd umatt emp emt sua ant forível maqde da –cont afi nal, ê a pr i couo dur ante mui t o te mpo e alguns di as a ma i s nã o fa r ão di fer ença. Po i s se conse gui r de r epent e de manei r a descont r aíd a e não for çada, se m d esejo d e mu dan ça ou melh or a, se m ambi ção, t or nar -se out r a pe ssoa, alca nçar est e obj et i vo, voc ê o consegui r á de mão s be i jad as. No in íci o eu já havi a di t o que o bser var é o segundo p asso ne st e pr ocesso de v i da n o T ao. V ocê dev e ant er i or – 32 –
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ment e t er pr ocur ado , par alelame nt e, esta li ber t ação de qualqu er t i po de compr omi sso. Quando e sta li ber dade é efi caz, a sua me nt e já r eage mai s faci lm ent e a t ud o. Assi m q ue você se li ber t ar de t odas est as car gas, de i xar por cont a do T ao de semb ar açar as coi sas, e apenas vi ver o aqu i e o agor a, só haver á pouco mat er i al par a o seu pensament o se ocupar . A t r anqüi li dade tomar á cont a de sua a eur deosua e. lo O qu passa do n ãoe est ar á pr vocêalm e o fut per m deent aqui e assusta é i ncer t o.eso Poias logo você per ceber á por exp er i ênci a pr ópr i a (par a uma pessoa do T ao não há nad a qu e acr edi t ar – ela apenas vi ve) qu e t odos os s eus assunt os est ão be m r esolvi dos. Como obse r vador es nós ati ngi mos o ní vel de efei t o do T ao. E pr i nci palm ent e medi ant e a obse r vação dos pr ópr i os pr ocessos i nt er i or es, t ambém essa obser vação sem um a t omada d e posi ção ou u ma avali ação, conse gui mos t er um a vi são de nosso ver dade i r o est ado. Assi m per cebemos o que r ealm ent e est á, ou n ão, aco nt ecend o conosco. Caso cont r ár i o, semp r e t emos um a i magem de nós me smos , t emos uma opi ni ão fo r mada de nossa s fr aqu ezas e for ças, acr edi t amos s aber e conhe cer o suf i ci ent e sobr e o nos so car át er e noss os li mi t es, qu and o na ver dad e nad a sabemos s obr e nós mes mos. O qu e sabe mos d e nós m esmos p er cebemos at r avés das comp ar ações. Par a t odas as car act er íst i cas que exi gi mos d e nós m esmo m edi mos e m out r as pe ssoas: só sabemos c omo somos e m comp ar açã o a out r os. N ós nos comp ar amos c om aqu i lo q ue apr end emos e ao que nos foi di t o sobr e como uma pe ssoa cor r et a deve ser , como tcomo er sucesso, qu e se deve er par a adevemos sua for mação, our . out r as opessoas imagifaz nam como ser e agi Por i st o nossas ações t ambém são r elat i vas. Elas se or i ent am em par âmet r os bem li mi t ados . É mui t o i mpor t ant e qu e você, logo de i níci o ent end a esta r elat i vi dade . Poi s só ent ão pod er á com suas o bser vações encont r ar e per ceber confi r mações de como sua vida at ual ment e está cond i ci onada. Acr edi t e, o Home m n ão t em n em a va ga noção do que ele r ealment e é. Em todo o passado, o pont o – 33 –
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i mp or t ant e da a vali ação da quali dade hum ana , foi d epos i t ado no níve l d e sua i nt eli gênci a. J á na e scola o in t electo foi cult i vado, o Home m f oi i ndu zi do a c onc ent r ar -se t ot alme nt e na aqui si ção de conh eci ment o e desemp enh ar algo no c ampo d o pensament o. I gnor a-se qu e possa exi sti r alguma co i sa além di sto. Hoje , t alvez, com a nos sa ci vi li zaçã o não consi gamos mai s volt ar ao est ado dahápopul or oi gin alme nt noss e li gada natt aurpar eza.a Não mai sação espaç sufialcitotent e em o pl àane essa mass a de pessoas. Mas o r et or no espi r i t ual a um a for ma de exi st ênci a natur al li gada ao fl ux o da vi da opõese à noss a par ci ali dade e i gnor ânci a. Nós mesmos a chamos qu e não é mai s poss íve l, ou est amos a pont o de achar qu e pr ocessos ment ai s qu e vão além d e nosso i nt elect o são bobag em t ot al, ade qu ados par a sonh ador es ou fr ei r as. Por ém esta e spi r i t uali dade no T ao não t em nada de r eli gi oso. A vi da é li gada à ter r a, acont ece aqui e ent r e pr ocessos mat er i ai s. A suavObse e ar trevar de obser é o prmat i ncípi paro adea at enção. é o pr var ocesso er i oalbási por co mei nossos sent idos. Tato, audi ção, sabor e olfat o fazem parte do me smo c ampo que a vi são, nos so sent i do mai s ut i li zado. Obse r var é um pr ocesso que i nclu i t odo o camp o dos sent i dos, não de ve haver o mal-e nt end i do d e se consi der ar apenas o c ampo vi sual. Quando vo cê t i ver apr endi do a obse r var a sua de pend ênci a, seus compr omi ssos, seu p r econce i t o sem m ot i vo e sem u ma análi se i nt elect ual, sur gi r á a at enção . Essa a t enção é o obje t o ment al da ob ser vação. Vo cê não conse gue cr i ar at enção de st e tcamp i po poo esti r si pr i o. Ela c hegar r si, anão você, quando o verópr pr epar ado. E, porá po favor se qu esti one, agor a, sobr e como voc ê per ceber á qu e a at enção s ur gi u. Você o per ceber á com ce r t eza! Você pod e confi ar par a que funci one fi cand o at ent o. Com os s ent i dos de si nt er essados e i nsensí vei s você não conse gue nem obser var , nem ser at enci oso. Q uand o o seu espír i t o est i ver t r anqü i lo e você consegui r apr ovei t ar os seus di as di r et ament e e sem i nt er pr et ações, li ber t ado das c ons t ant es – 34 –
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pr eocupaçõe s e necessi dad es, você li ber t ar á um a enor me ener gi a qu e, ent ão, você desper di çava. E st a ener gi a conce nt r a-se por si no p r ocesso de obser vação e é r ealment e a pr ópr i a at ençã o. É mu i t o di fíci l de scr ever i sto com palavr as adequ adas, poi s o pr ocesso em si já consi st e de concei t os. Os poet as e pi nt or es do T ao, em seu t emp o cr i ar am obr ásticas. Nenhudo m lTivro, neHomem nhu m t ext o pode falar tão as clarfant ament e do efeito ao no co mo as obr as dest es ar t i st as geni ai s. Pr ocur e o acesso à ar t e chi nesa e à poesi a dest a época. Cont empl e um a vez as aqu ar elas r epr esent ando um bamb uz al co ber t o de neve, ou le i a um a poesi a de L i Po ou de Wang W ei e dei xe-se sensi bi li zar pela m agi a, pela espont anei dade de sua mensagem. Cr i ati vi dade e i nspir ação pros per am no s olo nut r i ti vo do w u we i , da aç ão sem agi r . Aq ui , ag i r é obs er var , agi r é at enção. C om a p er cepção de um pr ocesso nós o i nf lu enci amos , o modi fi camos. Ess e pr ocesso ocor r e a noss , não as ne coi cessi o de for ça par aodifavo r ecironar sast amos par a adedinenh r eçãoum ceratt a. Comece hoj e a não dar at enção ao seu conh eci ment o, esqu eça t ud o qu e lh e ensi nar am e m r elação a como o Home m deve enf r ent ar os acont eci ment os de sua vi da. T ud o que lh e foi ensi nado at é hoje é r elat i vo, é fr aco e i nadequ ado. A ver dadei r a for ça está na pr ofund eza de seu espír i to. A par t i r daí e ssa for ça ent r a em ação , ne cessi t a de seu conselh o i nt elect ual, não de s ua análi se, p oi s ela se mpr e t em um a vi são de t ud o, enq uant o que par a você só r esta a v i são de um aspecto mu i t o li mi t ado de sua exi stmi ênci gado ao sem espaço e ao, tope emp T ao,de a sua e ao, nh a, a dili mensão espaço r ao.noOAlém t emp espaço e pensame nt o. Ser i a bom você apr end er a conf i ar o seu d est i no se m r eser vas a est a for ça. E – por fi m: Não se dei xe i lu di r pela apar ent e si mp li ci dade do mé t odo. Atrás dos conceitos desgastados de “ observação, atenção, p er cepção” escond e-se, sob n osso pon t o de vi st a, todo o pr ocesso cr i ador . (Não fi que i r r i t ado , se nos úl t i mos capít ul os eu o – 35 –
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aconse lh ei a alca nçar a li ber dade i nt er i or at r avés da obse r vação de seus comp r omi ssos e dar -lh es at enção, mai s t ar de exp li co qu e a at enção só sur ge at r avés da li ber t ação de t oda aut or i dade comp r ometedor a. As duas coi sas est ão cor r etas. Est e pr ocesso t em algo de par adoxal em si , como a i mage m d e du as mãos qu e est ão s e desenh ando r eci pr ocament e, de man ei r a que um a deve a suarexi a. Você e pr apenas obse varst; pênci elo aj eià tout o, ar ate nçãor sealment ur ge ant eseci mesasmo qu e você est eja l i ber t ado d e seus comp r omi ssos. Como e st a for ça oper a no Al ém d e espaço e de t emp o, aqui a lei da causa e do e fei t o não é anul ada, mas par a i st o não de pend e da c ont i nu i dade do t empo. J á na fas e i ni cial e t ím i da a pe ssoa que conf i a a s ua vi da ao T ao pe r cebe qu e a at ençã o age a pa r t i r do fut ur o na sua exi st ênci a e lh e possi bi li t a comp r eensão e, assi m, li ber t ação at r avés do p r ocesso de obser vação de seus comp r omi ssos.
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Os pens
I V. am ent os e o pens
ador
Ao l er est e t ext o at é aqui , vo cê deve t er per cebi do qu e o T ao não t em m ui t o a ver com o pe nsar . De fat o, os sábi os chi neses não nos t r ans mi t i r am dur ant e doi s e mei o mi lêni os nada qu e se pu desse alcançar com os pensament os. Em t odos text os, fala-se muito de vazi o quando se tr ata de di mensões espi r i tuai s. Vazi o aqui não signi fi ca de man ei r a algum a nada, a não ser qu e suponh amos qu e nada é a lgo, algo c om cont eúd o ou algo de gr ande signi fi cado. No sent i do fi los ófi co or i ent al o v azi o é o est ado o r i gin al do C osmos , um vazi o que pot enci alme nt e cont ém t oda a cr i ação em si . A m ent e hu mana no e st ado do si lênci o, ou se ja se m pensame nt os, é c omp ar ada a est e vazi o. Dschu ang Dsi escr eve: “ Quand o se per man ece lênci o absolut ão sur geoaseu luz ver di vidade na. Aqu ele qu no e i rsir adi a esta lu z dio,vient na enx er ga i r o eu. Quem p r eser va o seu ver dad ei r o eu, est e r eali za o absolut o”. A r eali zaç ão do a bso lut o si gni fi ca vive r no nada , no vazi o, no T ao. Par a esclar ecer i sto, t emos de emp r egar algumas obser vações mui t o cr ít i cas sobr e a nos sa man ei r a de pensar em ge r al. S ão t otalm ent e i nút ei s as te nt ati vas de cont r ola r o pensa ment o, re pr i mi -lo . Após a lgum t empo – 37 –
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de tor tur a todos desist em destas tent ati vas; sim ples, poi s assi m não d á. As lei s da mecâni ca, que , cur i osament e, t ambém t êm um a cer t a vali dade no campo espi r i t ual, di zem que pr essão e for ça ger am cont r apr essão, r eação. Na medi da em que tent amos alcançar algo com esfor ço, a r esistênci a aument a, e essa coisa se afast a de nós. Soment e quand o consegui r mos nos solt ar , as po r t as do ac ont eci ment o se abr i r ão. E aqui lo que não consegui ut i li zando t odo s os mei os, ag or a nos cai nasmos mãoatis.ngi N or budi smo Zen enfrent amos o pr oblema do K oan, q ue é uma tar efa d e pensar i nsolúvel par a a compr eensão, e que contém um par adoxo. O a luno-Zen deve dedi car -se com todas as for ças ment ais di sponíveis à reali zação desta t arefa. Em algum m oment o ele alcança com o pensame nt o o li mi t e máx i mo d e esfor ço, e ent ão i st o ocor r e – ele pár a de pensar , vi venci a o Sat or i , qu e é um est ado de i lu mi nação (ou ele enl ouq uece ant es, o que já deve ter acont eci do). Os pensam ent os e o eu, ou o e go, depe ndem u m do out r o. Amb os são pr ocessos de nat ur eza mat er i al. El es par t em do cé r ebr o, que é um a mat ér i a. Alé m de noss os cin co sent i dos di spo mos de um gr ande nú mer o de out r os i nst r ument os par a consegui r mos vi ver . Ent r e esses est á a lembr ança, o u seja nossa memór i a. Pr eci samos dela qu ando e st amos andand o e qu er emos v olt ar par a casa. Não ser i a poss ível qu e não lembr ássemos mai s de nosso e nd er eço ou n úm er o de t elefone . A lembr ança é o r epos i t ór i o de t odas as exper i ênci as vi vid as por nós. A soma d est a exp er i ênci as somos nós, i st o é o eu. T ud o qu e sabemos so br e nós g uar dam o-lo de algum a for ma em noss a me mór i a, se ja d e pr ocessos c ot i di anos o u o qu e absor vemos de di fer ent es est ados de pr ocessos de apr endi zado. De qualqu er for ma, e xi ste a i mag em q ue for mam os de nós me smos e com a qu al n os c omp ar amos aos out r os, exclu si vament e pelo ar mazename nt o de acont eci ment os do passa do, m esmo qu e sejam bem r ecent es. Me smo que o últ i mo ac ont ecim ent o que in flu i u em n ossa i mage m, se ja a de um mi nu t o at r ás, ele já é ant i go. Por conseqü ênci a só s abemos de c oi sas so br e – 38 –
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nós at r avés de pr ópr i a vi vênci a dest es fa t os ou aqui lo qu e apr end emos de segund a ou t er cei r a mão . Di zemos si mp lesme nt e: noss o eu é um pr odut o que é mant i do por pensame nt os; pe nsame nt os qu e ext r aem sua pr ópr i a subst ânc i a da memór i a. E essa memór i a, por sua vez, é for mada no p assar do t emp o por acont eci ment os qu e for am ment alment e anali sados, compar ados e adapt ados pu dessem no de dasolembr ançaant s viesa que co nsci ênci a. Oent e gor ar c onsi st pósi e emt toodo co nh eci ment o sobr e nós me smos, e m um a sér i e de acont eci ment os qu e ocor r er am e m u m cír culo fe chado de acont eci ment os – pensament os – anál i ses – memór i a – e exper i ênci as. Um ver dade i r o cír culo in fer nal. C onsi der e os pr econce i t os que for çosament e i nf lu enci am noss o pensame nt o, poi s apr end emos de st a for ma e não de out r a, e i nt er pr et amo s nos sas expe r i ênci as desta for ma. Ent ão fi ca clar o que capt amos de t odo t i po de r eali dade ape nas a qu ela ca r i cat ur a for mada por nós me smos. pi oropiniões de t ud ode é qu e alé m dcujo i ssoprocesso nós nos ode r i ent amos O pelas pessoas consci ent i zação é t ão c onfu so c omo o noss o, qu e t êm t ão pouca ca paci dade co mo n ós de r econh ecer a ver dade quan do ela est á di ant e de nós. Mas nós e st amos e m comp anhi a dest a vi são de vi da, co m a opi ni ão sobr e nós mesmo. Se for er r ada, p elo m enos n ão est amos só s. Nós, hu manos, segui mos em fr ent e baseados em uma ilu são qu e temos par a a nossa vi da, sendo qu e é apenas a nossa vida i magi nada, censur ada pelo pr econceito de nossas exper iênci as e do conhecim ent o por nós adqui r ido. Agor necessár vocêado. ent end qu e eest a vi daé,n aa memór i a aé éum a vi da n ioopass O preresent mesmo r i gor , como uma fi cção do pe nsament o, for mado, art i fi ci al, um concei t o. O passa do é clar o e i nequ ívoc o; par a i st o é necessár i o ape nas obse r var o pont ei r o de s egundos do n osso r elógi o. Com cada p equ eno p asso no r elógi o ele dei xa o pas sado par a t r ás. E o fu t ur o está do out r o lado do pont ei r o, ond e ele ai nd a não est eve, mas par a o qu al ele segue const ant ement e. E onde fi ca o pr e– 39 –
A ar te de viver bem
sent e? Veja: n a ver dade , n em exi st e o pr esent e. E xi st e ape nas e st e mi nú scul o mome nt o, ne m m ai s compr i do nem m ai s lar go do qu e o pont ei r o de segund os do r elógi o. S e r epar ar mos be m, i st o é t ud o que r est a de noss a cr i ação do p r esent e, segund o, se não fi car mos at ent os, em qu e se esconde a r eali dade da vi da, a r eali dade de nossa exi st ênci a. Na ver dad e, o pr esent e não se t r anspõe pr – apenas r elógi noss i déi a deetempo mp ostr e, a nos opor ci oona est aoieluasão – oa pr esent exi st ei semp i nd epende nt ement e do lu gar em qu e est amos. S e nos movi ment ar mos o pr esent e se movim ent a t ambé m, se fi car mos pa r ados ele fi ca par ado tamb ém. Em qu alque r lu gar qu e fi car mos exi st e o pr esent e. Mas nós não not amos o pr esent e devi do ao s eu car át er sut i l. Nós faze mos as c ont as em d ecadas, anos, m eses, e na melh or das hi pót eses em d i as. As hor as t em algum si gni fi cado par a nós quando se t r ata de pegar um t r em ou u m ôni bus, ou par a i r a alg um a festa. O e t er no ag or a, o pr esent e est á lit egado i nt.iM mament quePr oordicausa zer que par -de nós as nós oe conosco, i gnor amos. deéstuma e péssi mo cos t um e est amos c onst ant ement e ocupad os com os nosso s pensame nt os no p assado e dest a mane i r a per demos t ot alm ent e o pr esent e, o campo d e ação do T ao. Nós nem per cebemos o ve r dadei r o acont eci ment o at ual. Se nosso cér ebr o não anot asse aut omat i cament e t odos os acont eci ment os de manei r a que fi qu em n a memór i a à nossa di sposi ção par a poder mos nos or i ent ar neles, eles nos e scapar i am como e m u m h ome m q ue v olt a da e mbr i aguez ao seu est ado de luci dez e não sabe como che gou aoelunão gartonde Fi car alment e desor t ados er íamestosá.noç ãoíamos do qu tot e aco nt eceu n o pri enesent e, poi s fomos de sat ent os e est ávamos em q ual qu er lu gar menos naque le onde n ossa vi da est á ocor r end o. Os pensam ent os são semp r e passado por causa de sua c ondi ção – e eles são mat ér i a, poi s são um p r odut o fi nal d e nossos cér ebr os qu e t amb ém é mat ér i a. O nosso eu, o nosso ego é um a cr i ação for mad a pelo p ensament o e exi st e soment e em pensame nt os. Por est e mot i vo tam – 40 –
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bém é um a cr i ação de cér ebr o, e por i st o é mat ér i a. E é pass ado ! O e u n un ca pode exi st i r no mome nt o pr esent e, já q ue o pr esent e nu nca pode ser alcançado por pensament o e ego, p elo eu. Nós t emos qu e nos mant er ni st o se qui ser mos dar um p asso par a nos apr oxi mar mos mai s de nós mesmo. É import ant e mant er este r econheciment o bem d ent r o de nós: nos so eu, est a cr i ação si nt ét i ca da coleta exppas er iênci lemb anças e pensament ume-a cri atu rde a do sado,as, jama i srser á possível exi sti ros noépr sent e. Ago r a, nat ur alme nt e, você per gunt ar á: “ En t ão qu em exi st e no p r esent e? Não há le mb r ança do pr esent e ? E nt ão é poss íve l vi ver no pr esent e ou i st o é um a cri ação t eóri ca par a nos confu ndi r ?” Qualq uer um pode vi ver no pr esent e, no aqui e agor a. Mas par a i st o é necessár i o at enção, pe r cepção. Sempr e qu e você pu der obser var a sua v i da sem r eali zar em pensament os o qu e est á vi vend o naqu ele mome nt o, se r epar ar , você aut omat i cament e está no pr esent e, vivendo ot omome o, e nenhu fori ça mun do pode – vocêntmesmo, qu ma ando ni do ci ar novame nt et iar á-lo fugadinaslemb r ança e na i lu são. A at enção sur ge at r avés da obser vação, por si pr ópr ia. Você não pr ecisa lut ar por essa atenção. I sto é a t é um pr ocesso aut omáti co pr essup ondo que você passe a obse r var em vez d e t ecer const ant ement e pensame nt os i nú t ei s. Agor a vo cê deve est ar pensando chei o de dú vi das, c omo é possível q uebr ar esta b ar r ei r a, poi s ao que par ece não há alt er nat iva par a chegar ao pr esent e se não abr i r mão de qu alque r t i po de pensament o. Por out r o lado a co i sa não é t ão g r ave como p ar ece no imesmo níci o. Exi um t no r uqu e de como cê pode e assiste m viver p r esent e: vocêvoobser va ospensa seus prensament os! Est e pr oced i ment o t em d oi s efei t os. Se você obser var os seus p ensament os (volu nt ar i ament e, sem se t r avar ), i st o é, ant es qu e eles sur jam, você os aguar da. En t ão pe r ceber á qu e os seus p r ocessos de pensame nt o est ão se t or nand o cada vez m ai s di sci pl i nados, e qu e depoi s de um t emp o de obser vação par am compl et ament e. E o segund o efei t o é est up end o: co mo p ela obse r vação, – 41 –
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você vai ao encont r o de seus pensam ent os e os capt a ao sur gi r em, voc ê os atu ali za; de sta m anei r a você os t r ansfor ma em p r esent e. Assi m conse qü ent ement e, você obser vou e pensou se m ent r egar -se ao pe nsam ent o e ao pass ado, s em d esvi ar -se par a a hi st ór i a. Quand o a sua vi da é deter mi nada p ela at enção e não pelo p ensament o, você pode cump r i r despr eocup adament e as suas obr i gações pr ofiessi onainão s, ose nddie astmemór i a e oum pensar imu lados, você anci a nem pass osão do est pr esent e gr aças ao efei t o da at enção. Vamos sup or qu e você ent endeu q ue o eu, o ego, os pensament os, a memór ia são element os do passado. Você deci de acabar com a a nt i ga cond ut a er r ada e vi ver fut ur ament e t ão pr óxi mo ao pr esent e qu ant o possível. Como ser á o pr óxi mo pass o? É b em f áci l, j á menci onei -o ant er i or ment e. A p ar ti r de agor a obser ve em seus pensament os o pr ocesso t odo. Se m n enh um a opi ni ão, sem avali ação, sem q ual i fi cação. Ap enas obse r ve. Você per ceber á como hav er á pr api dament os e um anqü li dade em você, caos de s eus ensament cora rtri qu ei r ios se esclar ece, oe i ni ci a-se um si lênci o. Você não pr eci sa mant er esse si lênci o at r avés de algum mei o. Quand o a sua ment e est i ver t r anqüi la, o s i lêncio se r á um e lement o i mpor t ant e de sua pe r sonali dade . Você agi r á e vi ver á a par t i r dest e estado de paz e de tr anqü ili dade. Você pode consi der ar a obser vação de seus p ensament os como m edi t ação. Mas par a i sto vo cê não pr ecisa ne nhu ma pos t ur a física, i sto não adi ant a nada se a sua ment e for pr egui çosa e acomodada de mai s par a obser var . Est e esfo r ço, no i níci o, pr ecium saes pari nsensíve t i r de você, sa i r dorestado le tpar ár gia co de seus cost i s, encont ar âni mo a sua nov a vi da. Co mo você not ou d epende se mp r e da ob ser vação: é t ão si mp les e, ao me smo t emp o t ão comp li cado. O q ue r est a se você coloca o pensam ent o em seu lu gar e dei xa o seu n o passa do? Você est ar á vi vend o na sua o r i gem, n o T ao, e est á t ot alm ent e concent r ado em sua e ner gi a e suas for ças. E a par t i r dest e mome nt o a sua v i da t em abso lu t ament e um a out r a quali dade. O seu – 42 –
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desti no mud a dr ast i cament e. Não exi stem m ais pr eocupaçõe s, nem d oenças, nem m edos e i nse gur anças . J á no i níci o qua ndo vo cê ain da não souber li dar t otalme nt e com o i nst r ument o da ate nção, quando, fr eqüent ement e ain da, v olt ar aos ant i gos cost ume s, mas i nt er i orm ent e t i ver a di spos i ção de vi ver no T ao, vo cê per ceber á que est as for ças já t êm u m efei t o em você. En qu ant o per manecer ualVo , você estaráásepar adoo pelo t empo,o do T aonest e dee est seuado efeiatt o. cê est vi vend no t emp mes mo esco lh i do p ela sua for ma d e pensame nt o, e o T ao só exi st e for a do t emp o. O pr esent e não est á no t empo, o pr esent e, o a gor a, o mome nt o faz par t e da et er ni dad e, o pr esent e não aca ba n un ca. O t emp o passa , as hor as somem, e nad a pode r ecup er á-las. N ós não qu er emos fi loso far – est e é um li vr o pr át i co qu e deve ajud á-la ser aqui lo q ue você r ealme nt e é, e qu er li ber t á-lo dos er r os do pr econcei t o. Resum i nd o, o pensam ent o cr i a o eu, o ego, e est e, por out lado, el pam elanaforformação pe onsament os.r oAm bosésreesponsáv movi ment ma dedos t emp do pass ado. Me smo o fut ur o é um a for ma de pas sado, poi s ele é um pr odu t o do pensame nt o e se for ma b aseado em expe r i ênci as do pass ado . Pa r a li mi t ar o pensa ment o e colocá -lo no se u lu gar é sufi ci ent e obser var os seus p r óprios pensamentos. Assim eles diminuirão gr adat i vament e e mu i t as vezes at é sumi r ão – sem se vi olent ar. Re pr i mi r não adi ant a na da. Q uando e u r esolvo cont r olar meus pe nsame nt os, i st o já é um pr ocesso de pensa ment o, e eu m e movi ment o em cír cul o. Obser var os medi tarpostu . Est ar medi ação não exi geonenh pensament um a for ma os extéer na ou a físi tca. Obser vand os pensa ment os, a me nt e ati nge a t r anqüi li dade , t orn a-se mai s clar a, mai s capaz de desemp enh o, e pr i nci palm ent e mai s re cept ível p ar a a si lenci osa voz da i nspi r ação qu e, por out r o lado, v em d o t emp o e do pe nsame nt o. Assi m o Home m p ode vi ver t ot alment e no pr esent e. É apenas um a qu est ão de ser conseqü ent e, sup er ar a sua i nér ci a e começar a obser var . – 43 –
A manei
V. r a de vi ver
do T ao
Como vi ve um a pessoa do T ao? Va mos ant es di zer as palavr as de Dschuan g Dsi : Elas sã o sincera s e justa s, sem sa ber que esta ação constitui integridade. Elas se ama m uma s às outr as sem saber que isto é bondade. Elas são sinceras e não sabem q ue isso é leald ad e. Elas cumprem as sua s prome ssas sem saber que assim elas vivem em crença e confiança. Elas se ajudam sem pensar em dar ou receber presentes. Assim a sua ação não deixa r ast ros. di alétda i ca“ made do t aoísmo, de pessoas e t êm a quaNa li dade i r a br utf ala-s a” . Oemundo da maqudei ra br ut a é um m und o chei o de nat ur ali dade , s em i nt enções, sem m ot i vos e esfor ços. As pess oas vi vem, est ão abe r t as par a os movi ment os da e xi st ênci a e r ecebem t odos o s ac ont eci ment os de br aços a ber t os. A pessoa t oma suas de ci sões espont aneament e. E la n un ca anali sa a sit uação, ela co mp r eend e o seu cont eúd o i nt ui t i vament e, e a par t i r dest a i nt ui ção nas ce a ação. De st a – 44 –
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manei r a é i mp ossível a compr eensão calcul i st a, opor -se ao flu xo d o T ao. Que m per mane ce no T ao sabe qu e não pr eci sa mai s r esponde r com l ut a, pode r ou esfor ços aos desafi os da vi da, suas necessidades e pr oblemas. El a também n ão pr eci sa qu ebr ar a cabeça par a saber como r esolver as coi sas. Se fi zesse i st o ela i r i a ao encont r o dest es pr oble mas com me i os i nsufi ci ent es e abr i r i a assi m as t asi ea por t ei r as par a a cont i nuaçã o do sofr i ment o e da por mi sér em sua vi da. A pessoa do T ao vi ve t ot alme nt e no pr esent e. El a poss ui a ple ni t ud e de suas lemb r ança s, mas ela não ut i li za essas lemb r anças . Nã o fi ca pensa nd o nos pr oblemas. Ela pens a quand o pr eci sa de conh eci ment os par a r eali zar seus afaze r es. For a i st o ela dei xa os pensame nt os vi r em e i r em, da mane i r a que sur gem, se m ocupar se com eles, ou qu er er segur á-los. Est a pessoa não pe r mite que você se estabeleça neles e neles per maneça como ant i gament e. El a é como o v ent o de out ono quan do movi a asafolhas le ae se tse oca, asment leva par longeav . El er asmelh caemadas d a ár. Evor t or mas namnão t er r a nova ment e. Assi m é a cond ut a da pe ssoa do T ao com os pensame nt os. É clar o que ela não pode desi st i r di st o t otalme nt e, i sto par ecer i a uma a mnésia e t orn ar i a a pessoa i ncap az d e vi ver . Mas e la envi a os pensam ent os ao lu gar qu e eles per t encem. No lu gar do co nst ant e pensament o desenfr eado ent r a a ate nção . E la est á t ot alme nt e ate nt a e não lhe escapa n enh um det alhe do co t i di ano. Ela r evê o seu coti di ano c om out r os olhos . Al i onde out r or a a sua compr eensão r egulame nt ada e cond i ci onada censur ou ne os nhum sent i dos ela ênc vi vei aagor di r et ament e aora. r eali dade sem a i nflu di staorci da, c orr et Asua v i são de mu nd o mud a e t or na-s e a cada di a mai s r enovada e menos ve lh a. A pessoa do T ao não s abe o qu e é i mp aci ênci a. Em t odo lu gar em qu e se encont r a, e la che gou, e est á no objetivo, i sto é, consi go mesma. Não está esper ando nada. O qu e acont ece, acont ece, e ela ac ei t a. Assi m com o a cer ejei r a fl or esce na pr i maver a e t r az os fr ut os no ver ão – 45 –
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e nem p or i st o esper a da pr i maver a at é o ver ão, at é qu e fi nalm ent e as cer ejas e st ejam m adur as, mas si mp lesment e est á lá, e xi st e, ass i m vi ve a pessoa do T ao de um di a pa r a o out r o. El a nã o que r nada mai s do que já é . Não há nada qu e ser i a melh or ela ser , ela não t em amb i ção po r honr a e glór i a. Par a ela a sua pr ópr i a vi da c ompl et a já é sufi ci ent e. Pa r a ela é i nd i fer ent e como a s ua vi da é avali out r as si e não p arada a aspor pe ssoas aopessoas, seu r edorafi. nal, e la vi ve par a A p essoa do T ao não t ent ou eli mi nar seus pr ópr i os er r os como cobi ça, i nveja, ci úm e, ambi ção, medo, ou seja qu al for o nome . El a os acei t ou co mo se fi zessem p ar t e dela e os i dent i fi cou como alg o fami li ar , hum ano. El a os obse r vou at ent ame nt e, fi cou at ent a a c omo r eagi a no pr esent e a pr ovocações. E as si m, adq ui r i u conhe ci ment o sobr e si , um a vi são na pr ofun deza do se u se r . So b est a suave at enção houve coi sas qu e se t r ansfor mar am do s eu i nt er i or p ara for a. Nat ur alme nt e ela não está li vr e dearde mas n são depe nde de les. é capaz alegr -sesejos, com posse mat er i ai s, mas elaEplaossui e nãodeé a pr opr i edade qu e a pos sui . El a não se cont r ola c onst ant ement e se possui a pos t ur a espi r i t ual c or r et a, mas pode dar-se ao luxo de deixar correr, viver bem descont r aída, se m n enh um a t ensão . El a não acei t a i nst r uções de ni ngu ém, n ão pad ece de sofr i ment os e não se ent r ega a nenhu ma in sti t ui ção que que i r a atu ar co mo deve ser a sua vi da i nt er i or , o seu car át er , ou co mo de ve se comp or t ar com out r as pe ssoas. Ela vi ve conf or me a aut or i dade i nt er i or do T ao, mas me smo esta não é consci entcor e.rEletaament não r eeflquetando e sobr be qu âe age seet mor r ata al d ee iju mpstiulça, sossa espont neos qu e semp r e ocor r em n o mome nt o cer t o. Est a pessoa não t em p r eocup ações. O passa do com hi pot ecas de er r os comet i dos e i nsuf i ci ênci as já pas sou, e st e não e xi st e mai s, e nu nca a pe sso a do T ao fi ca r evir ando s uas lembr anç as e pr ocur ando v elhar i as. El a se r esponsabi li za pelas coi sas gr aves que r eali zou ant er i or ment e, i dent i fi ca-se com elas s em m edo, – 46 –
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e r econh ece os er r os comet i dos. Mas é só i st o. El a não fi ca se t or t ur ando co nst ant ement e e se machucando com aut o-r epr eensõe s e vi ngança i nú t i l. E la r econh ece os pr obl emas logo no i ní ci o e dedi ca- lh es, se m vaci lar , t ot al atençã o e os cont emp la de t alhadame nt e. Depoi s ela se dedi ca a os a cont eci ment os do di a e esque ce os pr oble mas no vament e. A i li mi t ada in t eli gênci a at r avés la e ncont r a apode solur ição par pr a ela mui t ouant ma i seratápi do e de melhor do que a o seu ópr i o in t electo li mi t ado . De st a fo r ma a s coisa s ent r am em m ovi ment o po r si pr ópr i as. Ela e nt r a em açã o quando o i mp ul so lh e di z i st o, e sem vac i lar , sem dú vi das, se suas açõe s são cor r et as. A p essoa do Tao não conh ece depr essão, neur ose ou doenças psi cossomát i cas. Cada vez mai s o seu i nconsc i ent e se abr e par a ela. Ne st e campo n ão oco r r em m ai s r epr essões. Po i s t ud o o qu e ela vi venci a ela o as si mi la di r etament e at r avés dos sent i dos par a o consci ent e, sem qu a compa. r eensão vesse a poss bi li dad e de suae censur Por i st toi ela é equ i li br iada, a sua di exer sposicer çãoa está r epleta de har moni a e tr anqü ili dade. Como ela apr endeu a não se comprometer com nada, absolutament e nada, como ela se solt ou, r eside nela u ma ser eni dade tot al. Nun ca fi ca ner vosa ou r eage i r r i t ada por causa de fat os desconh eci dos ou i nesper ados. E la é capaz d e apr ovei t ar as mai s belas facetas da vi da n aqu ele moment o em q ue elas se ofer ecem, ela não t ent a segur ar a alegr i a ou o mome nto. Ela n ão se ent r ega a est e moment o e per de aqu i lo q ue cont i nu a a acont ecer neste t emp o. EstEla a pessoa é fanát balho. també émapli nãocada, ut i limas za o não t r aba lho coi ca mopelo fugat r, ae não s e lan ça a out r as at i vi dad es exager adas par a compensar uma falha. Ela tr abalha pe lo pr azer do t r abalho, não par a ac abá- lo o mai s r ápi do poss íve l. E la não se dei xa pr essi onar . E as si m m esmo ela t em m ai or capacidade de desemp enh o do que mu i t os qu e t r abalham sob mai or empr ego de ener gia. Exat ament e por cumpr i r o seu t r aba lho di ár i o t ão li vre e descompr omi ssada , pelo – 47 –
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pr azer do t r aba lho e não pe lo r esult ado, ela t em u m ót i mo r esult ado. A pessoa do T ao é pr odut i va. Sua cr i at i vi dade não é li mi t ada a alguma habi li dade – ela atr avessa sua vid a i nt ei r a, e é vi síve l em t odas a s co i sas qu e ela t oca. El a não te m cons ciê nci a desta cr i ati vid ade, qu e alg um di a ent r ou em su a vi da e desde ent ão ela at ua at r avés dest a pessoa e t ambé m d et na taaquali di asp eessodas obr as. Est a pessoa esterámi aber par a dade cont atdos o com as e most r a-se desemb ar açada, a ber t a e li vr e. El a di z a sua o pi ni ão, mas t ambé m d ei xa va ler a opi ni ão dos o ut r os (é clar o qu e sem se or i ent ar nelas). El a não é t ei mosa, mas de fend e bem o seu pon t o de vi st a sem ser agr essiva o u qu er er domi nar os out r os. Ela não li da c om polí t i ca. Mas o bser va os acont eci ment os do mu nd o com mu i ta at enção. Ela se consi der a r esponsáv el p elos acont eci ment os e não t ent a r epr i mi r esta r espons abi li dade . El a t i r a a vi são de guer r as e massacr es, da fa lt a de li ber dadev ieda, t i reani Elaaac ei t á-las a est as sas como o bj etaos de sua pr a. ocur mud de coi di cand o at enção elas. El a não pensa só nos pr aze r es da v i da, m as t em mu i t a alegr i a em vi ver . Quando a pr ovei t a algo, e la vi ve i nt ensament e o pr azer . Quando a pr ovei t ou algo , e o pr azer pass ou, e la n ão fi ca pr esa à di ver são nem no p ensament o e nem n o desejo. El a cont i nu a em f r ent e at é qu e um out r o mot i vo a leve ao pr azer . El a mesma não fi ca à pr ocur a dest es acont eci ment os, ela não de t er mi na o seu decur so de vi da. Pa r a ela não e xi st e mot i vo par a esconder -se atr ás de cost um es que lhe pr opo r ci onem pr azer , er adesvi sua mi sér a da vit ada. r utd ua suaem vi ada seamt enção m edo,da e não nei cessi deElstaeest t i po e di st r ação. Se mesmo assi m ela a acei te agr adeci da, ser á ent ão por qu e est a acei t ação faz p ar t e das c oi sas mai s belas e agr adáv ei s do cot i di ano, assi m co mo t r abalhar , comer . Descansa r e dor mi r . A p esso a do T ao t em u ma r elação des compl i cada com os seus se nt i ment os. El a os acei t a e os de i xa fl ui r li vr ement e sem fazer nenhu ma t ent ati va de r epr i mi r sen– 48 –
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t i ment os ou at é enver gonh ar -se deles. Par a ela ale gr i a é alegr i a, e sofr i ment o e t r i ste za é t r i ste za. O s sent i mentos exi st em p ar a ela não co mo concei t os ver bai s, ela não fi ca à espr ei t a do qu e est á sent i nd o e depoi s const at a: “ Ah, estou amando.” Par a ela os s ent i ment os t amb ém n ão s ão ape nas opostos de out r os sent i ment os, como por exemp lo o ódi o é o contr legrie raealme o contrntári eza. Par a ela ár alei ogrdei aamor é aqui, aloa qu e é,o edet rtirsti steza a mesma coi sa. Nada é o opost o de out r a coi sa. E a pes soa do T ao vi ve os sent i ment os de sua v i da n o mei o, ela r ecebe aqui lo q ue pr opor ci ona a legr i a e o acei t a, da me sma for ma que supor t a a tr i st eza quando e sta sur ge. Ela vive estes sent i ment os di r et ament e, não i nt er pr et ando, como a m ai or i a das pe ssoas. (Quem apr end e a sent i r os sent i ment os pu r ament e per ceber á qu e t em em si um a di mensão t ot alme nt e nova da pe r cepção da r eali dade ). El a não pr ocur a te r i nf lu ênci a na s oci edade e não t endsuce e a desemp ar um apel irmp Se t ei ver sso – e i enh st o oco r r epsemp e – or elat ant ser eá nela. lou vada, est a honr a não lh e sobe à c abeça. E la e st á com o cor ação chei o de hu mi ld ade, poi s r econhec eu q ue o seu d est i no é det er mi nado pe lo T ao e acei t o volu nt ar i ament e por e la, por ém di r i gid o por um a mão i nfi ni t ament e sábi a. Caso devesse assum i r fu nções pú bl i cas ou ser chefe em um a gr and e emp r esa, ela nu nca se esqu ece que é um a ent r e mu i t as pe sso as, e qu e seus se melhan t es assi m como e la - ne cessi t am d e dedi cação, amor , e t r at ament o hum ano. El a age baseand o-se nest as nor mas. O nãoe tem mpfor or tânci parsasabe ela. Ela delucr lu croos, nemi de t un a,apoi qu não e est está e objatr et i ás vo t i r ar i a a sua li ber dade . Me smo s em esfor ço as coi sas boas da vi da fl uem p ar a ela co r r et ament e, poi s ela não t ent a alca nçá- las à for ça. Em um r elac i ona ment o de amo r , uma par cer i a, ou um casament o ela mant ém a sua i nd epend ênci a e li ber dade int er ior . O que nã o signi fi ca que essa li ber dade deva ser ent endida como i nfideli dade – a pessoa do T ao é cons– 49 –
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tant e, si gni fi ca qu e ela r espei ta a i nt egr i dade e as necessi dade do par cei r o da me sma for ma qu e as suas . El a é capaz d e amar , sem qu er er poss ui r . El a não e nx er ga o par cei r o como pr opr i edade pr i vada, mas per mi t e ser cobr ada da me sma for ma. Pr eser va a sua i nd epend ênci a e mesmo ass i m é capaz d e vi ver um gr and e amor . Na ver dad e, o amor só pod e evolu i r nest as condi ções. A p za essoa T ao e. vi ve umsea or vi da p r ioblemas . El a se r eali no prdoesent Não i entsem a por nst i t ui ções, or gani zaçõ es ou r eli gi ões. De i xa q ue t odos s ejam como são, mas e la m esma se man t ém f or a de t oda confu são. Ela não se engaja, também aqui fica livre e descompr omi ssada . Ela não t ent a im por a sua o pi ni ão par a out r os, não t ent a conv er t er os out r os a sua fi loso fi a de vi da. A ut omat i cament e ela é um exemp lo, e esse exemp lo é visto pelos out r os. Nós per cebemos a sua t r anqü i li dade , a paz qu e i r r adi a, sua vi t ali dade – e sucesso i nvejável q ue ocor r e com f aci li dade em sua vi da. Que m a er rvas. ogarA sobr e seu á umae iaos nf or o sem ri nt eser pessoa do suc T aoesso não teerscond i ntmaçã er essados o mét odo que colabor ou par a a sua t r ansfo r maçã o. Mas ela não que r ser um gur u, ou um di t ado r , pois sa be que cada um t em d e achar o cami nh o po r si mesmo. O out r o que lhe mos t r ar o c ami nho, na me lhor das hi pót eses pod e ser um map a, o u u ma r osa-dos -vent os. O cami nho, o mapa , a est r ada , i sto é o pr ópr i o in di víduo .
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T ao em vez
de
VI . pensa ment o po s i t i vo
Se ant es de le r est e li vr o vo cê já se ocupou com as i déi as de pensa ment o pos i t i vo, pr ocur ar á um p ar alelo ent r e a ar t e de vi ver o T ao, como eu a descr evi aqu i , e as i nst r uções que di ver sos aut or es for necer am par a domi nar os pr oble mas da v i da. A mi m m esmo já foi i ndi cado o li vr o de Nor man Vi ncent Peale , qu e t r ata d este te ma t otalme nt e do pont o de vist a do cr i sti ani smo do N ovo T est ament o. Ou seja – nat ur alme nt e em sua qu ali dade de t eólogo – Peale se r efer e em ger al a d i t ados bí bl i cos. Mai s t ar de, me o cupar ei com di fer ent es vari ant es deste apr end i zado. E d e fat o há a lgo em comum ent r e o pensament o pos i t i vo e o cami nho do T ao, mas e xi stem t ambém gr andes di fer enças. O qu e há em comu m nos d oi s é qu e eles se r efer em a um pode r qu e age em noss a vi da. E nq uant o Peale se r efer e a um De us oni pot ent e, em u m l ocal i nat i ngível, os out r os aut ores suger em, o que é cor r et o, o pr ópr i o i nt er i or d as pessoas e o in di cam como o pont o de par t i da de ener gi as est r anhas, t r anspessoai s. Par a t odos os apr endi zados do pensame nt o posi t i vo, há um r econh eci ment o comum , qu e o pensar por si não c ausa nenh um efei t o. Se us de poi ment os s ão mui t o mai s a e xp r essão de um mét odo novo qu e nega tu do qu e é negat i vo par a en– 51 –
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xer gar a r eali dade do coti di ano. Par a solucionar pr oblemas c oti di ano s pr opõ e-se não o lhar par a o pr oble ma, mas si m, par a a solu ção. E de t al mane i r a, i magi namos o pr obl ema em su a for ma j á solu ci onada, e se possíve l pr at i cament e e vi sível. Al ém di sso, r ecomend a-se qu e se for mul e a soluçã o fut ur a na fo r ma pr esent e, i sto é , na sua i magi nação enx er gar o est ado de sejado como j á alcançado. E nt ão, se desejar di nh ei r o você não dev e pensar e i magi nar “ Eu t er ei di nhei r o” , po r ém “ Eu t enho dinhe i r o” ou “ Eu sou r i co” . Com estas fó r mu las de pensa ment o vo cê se di r i ge a um end er eço que por sua ve z r esi de em sua consci ênci a. Peale si mp lesment e o denomi na De us, os out r os o chamam d e i nconsc i ent e, subconsci ent e, ou o se u eu mai s elevado. A pr i ncíp i o, sã o si nôni mos do g r ande T ao (qu e por sua v ez é si nôni mo daqu i lo qu e é i nexp r i mí vel, como de scr evem os sábi os chi neses). Nomes s ão sons e fu maça, for mações de nosso pensame nt o li mi t ado, e nu nca se ade qu am ao c ont eúd o que eles i nd i cam. Par a os pai s do pe nsame nt o pos i t i vo, estava c lar o qu e a comp r eensão não t em acesso a e st a di mensão . Você pode pensar et er name nt e e mu r mu r ar : “ Eu est ou saud ável” , mas e nq uant o est a i déi a não sai r de alguma manei r a do cír culo mat er i al da c onsci ênci a e pensame nt o, não have r á mud ança e m se u est ado. É n ecessá r i o encont r ar algo compl ement ar ao pr ocesso de pensament o, qu e consi ga faze r os pe di dos e desejos do p ensador passar em por aquela ár ea onde est á a aut or i dade. Como solu ção, foi ofer eci da a aut o-suge st ão, ou e m f or ma d e exer cíci o i nt ensi vo de concent r ação, send o qu e a pessoa se do práre oblema, e o compda lexo cconcent aia por r asina p rsolução ópr i o, para as maiatséprquofundas consc i ênci a; ou at r avés do pe nsame nt o pr at i cado nu m estado de r elaxa ment o pr ofundo, a tingid o por si pr ópri o; ou at r avés de um a uma m edi t ação semelh ant e ou i dênt i ca a uma or ação, com a qu al se pode consegui r um a fé i nabaláv el. Na v er dade , a r ejei ção a todo t i po de dúvi da é mu i t o i mp or t ant e par a o sucesso do jog o com os pensament os de desejos e a i nfl uênci a do pr ópr i o de sti no – 52 –
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at r avés de um mét odo. De fat o, não é ape nas No r man Vi ncent Peale qu e pr omove esta fé no su cesso: ele é apr esent ado por t odos os i nt ér pr et es da escola do pe nsament o pos i t i vo, co mo ne cessár i o par a o seu f un ci onament o. E assi m chegamos à falh a gr ave do m ét odo (mas eu n ão posso afi r mar qu e não fun ci one se algué m se esforçar). t ãocovamos seqü ênci a.oOposi pont i vo t o em mu mEn b ási ent r e osegui T ao er oa pensament estácona or i gem do poder , do qual , esper amos mu dan ças em nossa si t uação de vi da – e qu e elas r ealm ent e ocor r am. E st a for ça é um a di mensão que exi st e dent r o de t odas as pessoas. Cada pessoa t em t al f or ça desde o i ní ci o e não pr eci sa esfor çar -se par a conse gui -la de alguma out r a for ma. Out r o pont o em comum é o r econh eci ment o de qu e não se alcança esta di mensão medi ant e mer o pensament o, o u por um p r ocesso i nt elect ual. E a pa r t i r daí, o s cami nhos se separ am. Est es, no fi nal, com efeito, se unem nova no pe r cur i ntt er medi i o não s e-e melh ment ança.e, Nomas pe nsame nt oso posi i vo, supárõe-se quhá e est pode r est r anho se ja um t i po de aut omati smo, que devemos det er mi nar a solu ção desejad a já no modelo de pensament o e de de sejo. Ou dei xam os de t alh es em aber t o, não nos concent r amos no pr oble ma pr opr i ament e di t o, mas no est ado fi nal. Os aut or es do pensament o posi ti vo sempr e cham am a at enção de qu e aqu i não se pod e comet er er r os, poi s senão fac i lm ent e pode ocor r er o cont r ár i o do de sejado. T r ata-s e de i dent i fi car -se com a so lu ção e não c om o pr oble ma. Di sfar çadame nt e aqui , a ida nt pe eli gênci r econheci é tiídr aada dafuaut ori dade nt eri pai or ssoas,a ou l he é at da r i bu com nção est erieot da. De fat o, estas for ças par ecem r eagi r de for ma r ígi da e i mpassíve l n as pessoas qu and o se t ent a t ocá-las ape nas c om o pensame nt o, r epr i mi nd o a ver dade i r a necessi dade , i mag i nando da r conti nui dade a mudanç as já r eali zadas na v i da e à const ant e fu ga da r eali dade . Est a é a falha gr ave da fi loso fi a. O pe nsame nt o posi ti vo i mp õe for malme nt e ao pr at i cant e que se desvi e da – 53 –
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r eali dad e. As pes soas já na j uvent ud e se desvi ar am de seus se nt i ment os. O qu e at ualm ent e sent i mos e i nt er pr et amos como sent i ment os, na ver dade é apenas o pe nsament o sobr e os sent i ment os, mas não s ão os pr ópr i os sent i ment os. Nós nun ca apr end emos di r ei t o a obser var nossas emoções in ter iores, nos colocar mos i li mi tadament e par a elas, e vi vê-las . En t r e o sent i ment o e nós, e xi sti a o pensament Emcom vezeles, de cont emp“ sim lar nossos sentsemp i mentr eos e i dent i fi caro.-se di zer ” par a eles, as pessoas repr imem aqu ilo que é desagr adável par a elas. A p essoa não pe r cebe que com est a cond ut a vi ve o out r o lado dos cont eúd os posi t i vos dos sent i ment os, poi s for mou co ncei t os i nt electu ais par a amo r , feli cid ade, pr azer , ou os c onsi der a amor . Com p ensame n t o pos i t i vo, a pessoa i gnor a a mi sér i a e sua exi stê nci a, e atr i bui -lhe em sua c r i ati vid ade, em sua i magi nação em seus sonh os di ár i os, desvai r adament e ou com um obje t i vo, um out r o cont eúdo, di fer entcomp e daqr uele ent dade, e. Umapoi ve sz ela q uesóest pe sso já n ão eendexi e ast r eali t ora na ace assíve là consci ênci a aqu eles pr ocessos comp at ívei s com as di r et r i zes ger ai s da ci vi li zaçã o na qual vi ve, ela se di st anci a t ot alm ent e de si e de seus p r obl emas. C om est e pensa ment o ela valor i za e r efor ça o seu ego. Po i s o eu h um ano, o e go, é um pr odut o do pe nsame nt o. N o mome nt o em q ue a pessoa do T ao pr ocur a se despr end er , envi ar os pensame nt os ao lu gar cer t o, est a li gação a pr ocessos mat er i ai s é for malm ent e r efor çada. Vi ver apenas de st a for ma, r epr i mi ndo os meus pr oblemas, i gnor ando- os ou tblr ansfor o-os, suger a esti es emas omand u condi ções de vii nd da,oésolu um ações obr par a malfe t a.pr Euoestar ei assi m me di stanci ando da t ot ali dade da per cepção da vi da. Di st anci o-me na fuga da r eali dade , não da r eali dade r elat i va como eu a ve jo basi cament e, mas da r eali dad e absolu t a. Est a, nun ca posso per cebê-la se m desvi r tuações, se eu me movi ment ar const ant ement e em um a névoa de i lu sões. O T ao nos ensi na a so lt ar mo-nos de t odo s os compr omi ssos e a r ejei t ar t oda aut or i dade – 54 –
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est r anha. Um a pessoa do T ao não se subm et e a nenh uma i deologi a, a n enhuma r egulament ação. Quem se pr escr ever o pensame nt o pos i t i vo, co nt i nu ar á na e sfer a de seus compr omi ssos e depend ênci as. E st e t i po d e pensament o não li ber t a ni ngué m. Po de ocorr er que medi ant e a fé adequ ada, algun s pr obl emas se solu ci onem, m as o medo e a fa lt a de car i nho co nt i nuar ão a de t er mi nar a vi dapdes t a pessoa, epende nt ecidaq ui loent quee,aipassa emseu ensame nt o. Eicnd omo ela adi onalm nd a cor r i ge a r eali dade subje t i va, i gno r a aspectos pa r ciai s de nat ur eza negativa, sempr e sur gir ão dúvidas se a sua ação é cor r et a. Cr ença e dú vi da, são amb as cr i ações do pe nsament o. S ão mat ér i a e só t êm efei t o di r et o em n ossa exi st ênci a. Nor mas de cr enças (ou co nst ant e dú vi da ou pessi mi smo ) só t em u m efei t o no c oti di ano quand o do pensament o do fi el r esult ar um a sugest ão qu e t enh a um efei t o ma i s pr ofund o que o pr ópr i o pensa ment o. S ó o pr ocesso t i r ado de noss a consc i ênci a mud a ou d et er mi na destai de no.i Endaepend pe ssoa nt o, pos t i vo estnosso á à pr ocur êncideapensame e segur ança i nt rioduzi nd o a fé no pode r de seu pr ópr i o eu à s ua a ut or i dade i nt er i or ou a Deus. Mas , com i sto e la não se t or na li vr e. El e apenas acr escent ou u ma n ova di mensão à sua de pend ênci a e cond i ções de s ua exi st ênci a, ou se ja, a d ependênci a dest a fé. Não se exi ge nenh uma fé das pessoas do T ao. El a é. Nada mai s. El a po de cr er ou duvi dar , enq uant o ela for o que é, ne m u m n em o out r o pode fazer efei t o nela. El a se movi ment a pela vi da li vr e de depend ênci as e aut or i dades . At r avés dest a li ber dade ela enx er ne ga co e las ealm e são, se engana, m ti sas em icluomo sões. Elar co nf ent i a no podeela r atnão r avés da exp er i ênci a e não por fé. Quand o a s ua vi da e st á so mbr i a, r epl et a de di fi culd ades e pr eocup ações, ela p er cebe i sto e não o ignor a. Est a pessoa di z “ si m” par a a vi da da m ane i r a qu e ela se apr esent a. Ela ac ei t a os lad os somb r i os da me sma mane i r a que os i lu mi nados . Ela se i dent i fi ca com o seu m edo ao i nvés de r epr i mi -lo ou p assar por ci ma d ele at r avés de mecani smos de fu ga. E as– 55 –
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si m, e la adq ui r e poder sobr e o medo. E sse medo some da vid a, just ament e por não te r medo do me do. Veja, car o lei t or , est e é o segr edo. A t r avés da acei t ação de t odas as co i sas que a vi da of er ece, a p essoa do T ao nun ca ent r a em confli t o com a r eali dade. El a obser va os pr ocessos sem qu er er mexer neles ou m odi fi cá-los com os pensame nt os. A mu dan ça – e é i mpor t ant e saber i stoT–ao. i nflNão ui por si mde esma oda i ntr eli gênci a do t emos gostem ar tde t uda oenor queme o cor e em n ossa vi da, o qu e enx er gamos o bj et i va e hon est ament e. Podemos dei xá-lo t ambém compl et ament e sem come nt ár i os. Nossa i nt eli gênci a, exi stent e em nossa comp r eensão, r econh ece as coi sas des agr adáve i s, os pr obl emas, o s conf li t os, ant es mesmo q ue eles cheguem à consc i ênci a. Por i sto não t em sent i do t er i déi as, com n ossa capaci dade li mi t ada, de como de ve ser a vi da, e depoi s nos pr ender mos a elas . As for ças do Tao que r em fl ui r li vr ement e e sem obst ácul os. Com qualq uer medi da de i ni ci ati va pr ópr i pr a só estar íamoespont s cont rânea ari ando o efei o. Além d i por sso, nossa ópr i a ação só ser i a taceler ada esta cr i ati vidade excepci onal, de manei r a que nossa vi da já t oma um r um o bem d i fer ent e do que o at ual e m conseqü ênci a dest a ener gi a pr opul sor a. De mane i r a ger al: pr ocur e lembr ar o que foi i mpor t ant e par a você na vi da at é hoj e. Se os seus sonh os se r eali zar am, ou se você semp r e foi capaz de t omar as deci sões cer t as. Se você for si ncer o, const at ar á qu e desejo s não re ali zados r ar ament e causar am danos ; mu ito pelo cont r ár i o: à s vezes foi at é bom qu e um desejo não se r eali zasse . Bem m ai s deci si vo na vi da de cada pe ssoa são as conse qü ênci as das d eci sões qu e ela t oma. Ne st es casos, os er r os pod em t er um a conseqü ênci a devast ador a par a o r est o da v i da, e a ação cor r et a pode ser um a enor me bênção .
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VI I . O d i ál o g o i n t er i o r e o I Ch i n g
O espír i t o do T ao é por nat ur eza po si t i vo. Quem vi ver da me lh or man ei r a que consegui r no pr esent e e volt ar os seus sent i dos àqu i lo qu e est i ver lh e acont ecend o, fi car á li vr e das car gas do passa do. O pas sado r epr esent ar á par a est a pessoa um a for mação de lemb r anças que ela ut i li za s ó para fi ns de se or i ent ar. A pessoa do T ao não t em pr eocupaçõe s, poi s ela d á at enção a os pr obl emas a ssi m qu e eles sur gem, ao i nvé s de r epr i mi -los e dar -lhe s a poss i bi li dade de faze r const ant e pr essão sobr e ela. Quando vo cê domi nar est a mar avi lh osa ar t e de enxer gar todas as coisas, poder á sent ir como a vid a pode ser bela e si mp les. Desafi os, que pode m ser at é gr and es, não apr esent am mai s uma ame aça para a t r anqüi li dade int er i or masasão encar ados como ealm entEe estas são, ou seja, desafi os, par as possib ili dades i ntrer i ores. pos sibi li dade s nun ca são mai s fr acas ou me nor es do que a pr essão ext er na q ue sofr emos. Ex i ste um m ei o de ent r ar e m co nt ato co m esta di mensão de out r a mane i r a que at r avés do pe nsame nt o, apesar de vi ver mos separ ados de la d esde a nossa i nf ânci a, par a que st i oná- la, e pedi r conselh o. Q uem sabe da vi da do me i o do T ao t ambé m sabe qu e há mi lêni os o – 57 –
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li vro das t r ans for maç ões, chamado I Chi ng, e stá li gado i nt i mame nt e com o T ao. Exi ste um n úme r o in cont ável de li vros s obr e o I Chi ng e que r o evi t ar r epet i r aqui o cont eúdo desses li vr os. Se você decidi r apr oveitar as possi bi li dade s realme nt e exi stent es no I Chi ng, não pode r á dei xar de compr ar u m bom li vr o sobr e este assunt o, poi s par a o tr aba lho co m o I Chi ng é i ndi spensá vel u ma boa t r adução obrt er a de consul Confor me do t r adut como or você á, em suast a.mãos , um l iavravali o, quação eé consi der ado um or ácul o, por algumas pessoas uma br i ncadei r a, por di scípul os sér i os do T ao um i nstr ume nt o segur o com o qual vo cê pode par t i cip ar da i nfi ndáve l sabedor i a desta for ça estr anha. E, por exper i ênci a pr ópr i a, posso assegur ar -lhe que esta últ i ma pos sib i li dade é t ot alm ent e vi ável. Com o t emp o você desenvolve r á um r elaci oname nt o de conf i ança com o I Chi ng e como o método de conseguir um conhecimento sobre a pr ofunde za do se u i nt er i or e dar -lhe semp r e mai s espa seus ane jam i stpe emr gunt p essoas e r elatço amem que pa rpla cada di aent do os. a noEx elas am aoquI Chi ng e faze m anot ações. Depoi s comp ar am r espect i vament e ao acont eciment o atual at é que pont o os acont eciment os pr evi stos pelo I Chi ng estavam cer tos; ou seja, se as ações r ecomendadas e r am co r r et as. E las t este mu nham a i mpr essi onant e exat i dão das r ecomend ações dest e li vr o. Em bor a os text os de Lao-tsé e Dschuang Dsi tenh am sur gid o apenas nos últ i mos doi s ou doi s e mei o mi lêni os, a hi stór i a do Tao é signi fi cat i vament e mai s ant i ga, per dend o-se na di stânci a do temp o. Os doi s aut or es aci ma s não menci r amgiouI some Chi ngnteemmai se us it os;ciatrado elaçã o com o T ona ao sur s tearscr de, mas me smo a ssi m a fi loso fi a do I Chi ng e st á com sua part i culari dade li ga da à fil osofi a do Tao de forma i nsepar ável. Os pr i mei r os i ndíci os da ut i li zação do or áculo s ão bem ant i gos. El as r emont am a at é 3 0 0 0 anos ant es de noss a cr onolog i a. Hoje a s per gunt as são fei t as at r avés de tr ês moedas qu e jogamos se i s vezes e a par t i r do nú mer o de r elação de car a e cor oa r esul t a em u m – 58 –
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t r aço cont ínu o (-) ou i nt er r ompi do (—). O t r aço cont ínu o si mb oli za o masc ul i no, c hamado de Yang, e o in t er r ompi do s i mboli za o fe mi ni no, c hamado de Yin . Destes sei s t r aços sobr epos t os r esult a um hexag r ama . O máxi mo de hexagr amas possívei s são 6 4 e o li vr o da tr ansfor mação cont ém exat ame nt e t ant os di t ados ou me nsag ens quant o são cit ados nele. Ant i gament e, no i níci o, ut i li zavam-se ossost rpar a i st tant o: esses er am neles est avam açadas o asossos per gunt as cj ogados omo as er espostas. A i nd a hoje , ao ar ar a t er r a, os campon eses encont r am t ai s ossos ar que oló gi cos em gr ande qu ant i dade . Nã o que r o cont i nuar a tr atar da a pli cação do s hexagr amas, i st o você encont r a bem m elh or em q ualqu er li vr o sobr e o I Chi ng, e se você qu i ser pode pr ocur ar lá. Par a mi m é i mpor t ante expor como o di álogo i nt er i or pode fun ci onar-lh e com a s ua estr anha a ut or i dade e como você pod e alcançar est e aux íl i o par a deci sões qu e lh e gar ant i r ão ações segur as em t odas a s si t uaçõe s da vi da. Est e di álog o i nt er i or t ambé m é poss íve l se m a i nt er medi ação do I C hi ng, mas i sto e xi ge mu i t a expe r i ênci a, poi s neste caso semp r e haver á o per igo de se aut oenganar em conse qü ênci a de pensa ment os qu e i nt er fer i r am. T ai s pensament os são pr ati cament e excluí dos na ut i li zaç ão conse qüe nt e dos li vros da tr ans for maç ão. Mesmo assi m, mai s t ar de eu ai nd a t r atar ei da apl i cação do assi m chamado di álogo i nt er i or , do di álogo com o seu T ao, mas ant es que r o fami li ari zá-lo com a s possi bi li dades do I C hi ng em sua apli cação pr át i ca. Quem consi der supe a o I Chi como um i ncadei enx er gou as coi sas r fi cingalment e, easóbrsabe sobrr aesó si mesmo c oi sas que se encont r am na par t e mai s ext er na de sua p er sonali dade. Poder íamos a t é consi der ar os text os do li vr o da t r ans for maç ão ambíguos ou míst i cos se os encar arm os supe r fi cialm ent e. Aqu i o pr oble ma t ambém é a t r adução. O chi nês é um a li nguage m d e símb olos e dei xa um e spa ço mai or par a a i nt er pr et ação pr ópr i a do tr adut or . I sto vo cê pode per ceber melh or em p o– 59 –
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esi as qu e for am t r aduz i das do chi nês. Mu i t as vezes nem se consegue r econh ecer um a mesma poe si a, t r adu zi das por di fer ent es t r adut or es. Ap esar dest as suas defi ci ênci as o I C hi ng pr eenche a sua fi nali dade . Que m t ent ar vi ver no espír i t o do T ao per ceber á log o que a i nt ensi dade e for ça da sua i nt ui ção aum ent ar am. E, se m esta i nt ui ção, o I Chi ng ser á par a você um li vr o fechado a set e i nu ar á imncapaz descobr i r o sentchave i do - es,mou forvoc maêdcont e mensage - par ade você. A m ane i r a de i nt er r ogar o or áculo é r elat i vament e fáci l. Sup onham os qu e t emos um p r oblema (e qu em n ão t em? ). A gor a, em seus p ensame nt os, ocupe- se i nt ensi vament e com est e pr oblema. De poi s par e de pensar sobr e eles, mas pr ocur e enx er gar mesmo a ssi m o pr oblema, de st a vez d e for ma be m n eut r a, sem d ar -lhe a lgum signi fi cado, s em l he pr ocur ar uma so lução . Eu sei que no i níci o i sto é di fíci l, você ter á a i mp r essão de qu e abandon ando o pensament o estar á per dendo a r efer ênci a com est e prament oblema. Mas i st o sóo par eceeser assi r dader é exat e no m oment em qu você parm.ouNa d evepensa no p r obl ema, e ele só est á vagand o em sua m ent e, você chegou o m ai s per t o possível d ele. A par ti r deste pr oblema sur ge a per gunt a que você qu er fazer ao I Chi ng (qu e at ua r epr esent ando o se u T ao). A not e essa pe r gunt a, clar ament e e sem du pl o sent i do, não de for ma “ devo” ou “ não de vo” , sem si m ou n ão. Nã o é necessár i o anot ar a per gunt a, mas exi ste esta possibi li dade um a vez q ue você já e st á t r abalhand o com lápi s e pape l p or causa dos hexagr amas qu e t em de anotar . Depoi croble i adoma, umajogue for t et rr ês elaç ão das comquai a suasper gunt a, so de u set er u pr moe qu er por sei s vezes . En t ão você pod e dese nh ar o seu hexagr ama: sã o aque les sei s t r aços c ont ín uos ou i nt er r ompi dos s obr epost os. Nesse mome nt o você pr eci sa do seu I Chi ng. Em cada um d est es li vr os há um a t abela co m 6 4 hexagr amas poss ívei s e um nú mer o cor r espond ent e qu e lh e dá um a exp li cação sobr e o t ext o da r espos t a de sua pe r gunt a. V ocê t er á uma das 6 4 r es– 60 –
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pos t as. (Na pr áti ca o núm er o é bem mai or por causa das t r ansfor maçõ es, mas i st o é melh or você ler em um a obr a especi ali zad a.) Você escolh e a r espost a adequ ada e pode a pr ofun dar -se nest e t ext o. Eu mesmo, e m r egr a, só obse r vo a s poucas li nh as do a ss i m chamado par ecer , qu e ger alme nt e est ão bem no i ní ci o. Mas ist o fi ca por cont a da sensi bi li dade e avali ação de cada um . É brem ossívael q ue sua r espos t arconsi st al enum a úni ca eferp ênci que s eaesconde de nt o de mi qui nh en-t as folhas im pr essas. Mas agor a a sua i nt ui ção ent r a em jogo. Nor malm ent e você logo sabe qu al é exat ament e a r espos t a par a você. Com a mi nh a exp er i ênci a est e sist ema de pe r gunt ar fun ciona abso lut ament e cer to. Nas r espos t as você dever i a pr i nci palm ent e lev ar em c ont a qu e em conse qü ênci a da man ei r a como você vi u o se u pr oblema, da f or ma q ue você o enfr ent ou, pr ovavelm ent e a solu ção já f oi desaper cebi dament e encami nh ada. Po i s cada pr oble ma já co nt ém em si a sua so lu ção por par adoxal q ue a pos parent ecer . É fut di fer ent e depode quando você faz p erest gunt as rsa efer es ao ur o. Você par t i r do pr i ncípi o de que esta di mensão - que é par t e i nt egr ant e sua - não e st á li gada ao t emp o. S ua for ma de ação ocor r e semp r e no pr esent e qu e abr ange a t ot ali dade daqui lo qu e você chama de fu t ur o. Aqu i há se mpr e i nt er pr et ações absur das , quando a lgué m di z qu e não s e pode t er i nf or maçõ es do fut ur o poi s as coi sas ai nd a não acont ecer am e ni ngu ém p ode saber como acont ecer i am, ou sup or qu e só s e pode r i a sa ber hoje , um aco nt eci ment o fut ur o se o noss o compor t ame nt o foss er misão nado, e que não pos suímos vo nteade pr ópre pr i a.edet Am bas in t er pr et ações comp let ament absur das. S e est e pode r est á bem alé m d o t emp o, si gni fi ca que o qu e vo cê fi ze r vo lun t ar i ame nt e no fut ur o é pr evi síve l. E st á escr i t o que o sábi o do T ao enx er ga o r as t r o do pás sa r o no a r ant es me smo que ele t enh a voado por lá. É i sto qu e eu qu er o di zer quand o falo que o seu es pí r i t o, aqu ele qu e não é acessíve l ao se u i nt elect o, t em um a vi são de suas a ções fut ur as ant es mes– 61 –
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mo qu e elas t enh am oc or r i do. É e xat ament e aí qu e est á o gr ande valor e o si gni fi cado do I Chi ng. Quando fi zer mu i t o t emp o que você já esti ver vi vendo no e spír i t o do Tao , i st o é, fi cando mui t o te mpo no pr esent e, a sua i nt ui ção te r á um e fei t o mui t o ma i s fo r t e do q ue a gor a. As suas açõe s ser ão mai s espont âneas, você apr end e a co nf i ar na sua i nt ui ção ao i nvés de enfr ent aresce os desafi os do co t ém i di ano i ntper electu ai s. Cr em você t amb a carc om act aná er ístlii ses ca de gun-tas qu e você se faz i nt er i or ment e encont r ar em a r espost a espont aneament e na sua me nt e, par t i nd o da me sma for ça que no I Chi ng. Ist o eu chamo de di álo go i nt er i or. Se no i ní ci o as r espos t as sur gem h esi t ando, log o vi r á o t emp o em q ue a pe r gunt a e a r espos t a for mam u ma un i dade fechada. A sua capaci dade de supor t ambé m t er á uma nova di mensão . Em mu i t os assunt os você desenvo lve r á um se nt i ment o, um i nsti nt o par a o fut ur o decor r er da coi sa, sem m ai or es per gunt as ou pensame nt os. Est e i nst o apar porant si e, só, cêar não eciele. sa faze r nada maii nts do que ,ece co nfi orvo i ent -seprpor Est a é a essênci a da ar te de vi ver no T ao, ond e em vez d o pensame nt o, da análi se i nt elect ual, são as nos sas ca r act er íst i cas lo cali zadas em noss o in t er i or que t êm u m valor bem m ai or . D epend e apenas de você mesmo, e m que medi da dei xar á estes dons nat ur ais t r abalh ar em em você. E nq uant o coloca r em t odas a s ocasi ões a sua r azão c om t odos os pr econce i t os, qu er end o sabe r t ud o melh or , e com suas i nf or maçõ es er r adas sobr e a r eali dade , você não c onsegui r á li ber t ar -se da mi sér i a da sua existência.
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VI I I . Noss a s oci edad e e o “eu”
r eneg ado
Você i magin ava que os pr i mei r os hippies da co st a cali for ni ana no P acífi co er am t aoíst as? E st as pessoas levavam a sér i o a r ejei ção do co ndi cioname nt o por par t e da soc i edade – mas qu ando a cont r a-cult ur a se espalhou, a id éi a do w u w ei se di lui u. I sto de gener ou e pas sou a si gni fi car “ não fa zer nada”. Desta for ma ca da vez mai s vadi os uni r am- se ao cír culo dos hippies , dos pr egui çosos e das p essoas qu e se desli gavam d a soci edade por causa do s pr ópr i os deli t os. Est e t i po de pessoas r eduzi am a s abedori a do T ao a um áli bi par a uma v i da boêmi a. Cer t ament e sur ge a per gunt a sobr e nossa posi ção nos me cani smos da s oci edade, na vi da pr ofi ssi onal, quando i nt er i orm ent e nos lib er t amos da a ut ori dade estdade r anha gamos li vr ement e sem d iqu st orerções a ver-i r aerenx ealier dade de nossa vid a.ePor i sto o ocupar me ne st e capí t ul o co m outsiders , co m a i déi a de um a vid a alt er nat i va. Vamos aver i guar se “ alt er nat i va” não é apenas um out r o no me, um si nôni mo par a um mé t odo mai s secundár i o de estar compr ome t i do. T oda i déi a, nobr e e li ber al pôr mai s que par eça, r eque r um a clas sifi cação em suas r egr as ou não-r egr as. Não-r egr as si gni fi ca segui r a r enegação, ou seja, a exi gênci a de não fazer – 63 –
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i sto ou aqui lo (por exempl o, de faze r a barb a ou vesti r se bem). Quem r econhecer como foi post o sob t ut ela por t odos o s lados, c omo a s ua exi st ênci a é cond i ci onada, como s e t or nou co r r up t o – poi s acei t ou por i nt er esse coi sas que r epu gna – est e cer t ame nt e t em o des ejo d e dar as cost as a est a li mi t ação e r egulam ent ações. Est a pessoa se r ebela e pr ocur a cami nh os par a sai r dest e estatado . Natada, ur alme e aqui si t uaç polítpor i car mund r apalh a sentpar açãoa das pe ão ssoas aças ei al na-é ções, o ó di o, a falt a de paz, as i deolog i as sem sent i do, o fana t i smo, e o horr or globa l t êm um pape l mui t o i mpor tant e. E ai nda mai s o cont r ast e com t oda esta mi sér i a: o bem-e st ar dos paíse s economi cament e r i cos qu e se i nt r omet em nos acont eci ment os mu nd i ai s com fr ases vazi as sem r ealme nt e contr i bui r par a a melhor a. Di ante de t odas est as car ênci as algum as pessoas pr ocur am u m bu r aco par a pode r se esconde r at é qu e t oda est a confu são fei a, qu e se cham a vi da, t enh a passa do. s, ou. Ele gr up osiisolar nt ei ram os, ext pr ocur ar am ee acharPessoas am tai sisolada “ bu r acos” s se er nament da soc i edade, mu dar am p ar a o camp o, e desenvolve r am lá o que i magin avam par a uma v i da c oti di ana . Neste s gr upos, pode mos constatar os mai s di ver sos mot i vos bási cos fi losófi cos e r eli gi osos. A devastação do mei o amb i ent e foi um mot i vo for t e t ambé m, e o fato de qu ase não ser em mai s pr oduzi dos ali ment os i ndust r i ai s que não sejam mai s ou menos envenenados. Est e movi ment o par a for a da s oci edade deve ser consi der ado a bsolu t ament e hon est o, e est a saída é a ut ênt i ca – pelas suas co nseqü ênci er a. i orBast es. Lai pensar ber t ar -se nor mas, s egur faci lias t aext a vid na de r oupa e na vi da prament ofi ssi -e onal. N ão dá par a i magi nar um cai xa de banco usando um a r oupage m ár abe em u m d i a de ver ão mu i t o que nt e, se bem q ue i st o é o mai s r azoá vel, como os habi t ant es de r egi ões mui t o que nt es já r econh ecer am. O pobr e homem q ue fi zesse i st o t er i a de cont ar com as co nseqü ências, da s quai s uma di spensa o u f ér i as obr i gat óri as ser i a a mai s suave. Pode-se i nd agar : qu em t em a cor agem – 64 –
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de and ar descalço pela c i dad e?! As pes soas mode r nas per der am t odos os mode los de cond ut a nat ur al, e mesmo qu ando vã o pr ocur ar a nat ur eza em seus pass ei os já per der am a r elaçã o com ela. Ne st e pont o a vi da alt er nat i va no campo ofe r ece est ím ul os e ofer ece um r et or no a cost um es de vi da d e velh os t emp os. Por ém a saída da so ci edade, a volt a à vi da mai s si mpl es nu am o obr as e nq uant for emcont apeinas umspend r ocesso extmal-aca er i or de badas desli gament o doo modo de v i da at ual. T odos qu e saem l evam t oda a s ua baga gem i nt er i or . Seja lá par a ond e for , levar ão ju nt o as car gas e t r aumas emp ur r ado s para o i nco nsc i ent e, o amor não c or r espond i do de s ua i nfânci a, e a r ai va desaper cebi da por si mesma po r causa da s ubm i ssão que pr ati car am na é poca par a não per der o amor dos pai s. E assi m chegamos a o cer ne do pr obl ema. Poss o encont r ar i nú mer os cami nh os de fu ga dos c ompr omi ssos com as convençõe s soci ai s, mas e nq uant o eu n ão me li ber t ar , ao mesmo pr àópr omiersso nha monstr uostaempo, ada ptdo ação auti oorcompr i dade ext i orda (e imi nt er i or es apr end i das ne st e mei o t emp o), e não co mp r eend er a sua ori gem, ne nhu m l uga r no mun do me ser vir á como espaço li vr e par a a fuga do me u p r ópr i o eu. Sa i r da so ciedade e vi ver um a vi da alt er nat i va só t em sent i do se eu pr ocur ar a li ber dade de dent r o pa r a for a, em vez de um at o ext er no de mu dança. S e eu alcança r a li ber dade i nt er i or, o nív el ext er i or t em uma i mpor t ânci a bem menor par a o me u b em-est ar , enq uant o que est e ní vel é mui t o i mpor t ante pa r a uma s aída ape nas ext er i or. emqu p oucas pedissoas emenaossa edad e,pasn est es t Exi empstos, e podem zer qu sua i soci nf ânci a se sou sem confl i t os emoci onai s e qu e t i ver am um a mesma educação psiquicamente saudável. A maioria pode afi r má-lo p oi s não co nh ecem nada m elh or e se convencem d i sto, mas a re ali dade é di fer ent e. Pr ati cament e a Hu mani dade t oda de sde a i nf ânci a se separ a do seu p r ópr i o “ eu” . Aq ui lo qu e vi ve aqui , ag e e pensa , é um a formaç ão art i fi cial cr i ada e m u m l ong o pr ocesso de ada p– 65 –
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t açã o às r egr as do jogo – o ego o u o e u. O “ eu” exi st e apenas em n ível d e pensament o. As pes soas est ão t ot alment e separ adas de seus se nt i ment os. O qu e elas consi der am hoje s ent i ment os, sã o os pensame nt os sobr e sent i ment os, não s ão mai s os pr ópr i os sent i ment os. Não est amos mai s em cond i ções de r econh ecer a r elat i vi dade de nosso s pe nsame nt os e sent i ment os, e i s qu e não poss s par âmet de ncomp açãospar o aut ênt iuí co.mos Ne mai m n ossos pai s reos nem ós t i ar vemos entai ment os aut ênt i cos. I st o soa mui t o dur o, mas i nfeli zme nt e é a r eali dade . Que r o cit ar -lhe s um ún i co exemp lo: se você escut a no not i ciár i o do r ádi o ou da t elevi são que na Et i ópi a i mp er am nov ame nt e a fo me e a mi sér i a e qu e i nú mer as pessoas est ão cond enadas à mor t e, a mi sér i a t er i a de acabar . O que você sent e? L ogo após a not íci a você sent e um choq ue e um cer t o espan t o qu e, ao me smo t emp o, est á emp ar elh ado com um sent i ment o de gr at i dão por você não estar pas sando por i sto. Mai s tar de, ao a ssiletstos i r fami o fi lmnteos daque n oi um t e, voc e squec euas. aque lesé esque di a êfojár am c r i anç I sto possí vel, poi s você desenvolve a compai xão apenas no pensame nt o: a ver dade i r a compai xão é est r anha par a você por causa dos mai s di fer ent es mot i vos (qu e r ealment e não são cul pa sua) . Assi m ocor r e não ape nas com a comp ai xão, mas com o amor , com a de di cação, com a bene volê nci a, com a ami zad e, q ue voc ê só conh ece em for ma de pensament o. Os sent i ment os cont r ár i os, como ciú mes, ódi o, i nveja, r ai va, sur gem p or causa da fa lt a de ver dade i r as vir t ude s como a ci ma as enum er ei . Ódi o e vi olênci i nfe li zm entpessoas e são sent êntp ri cos em nós, elesa,exi st em n as pori ment causaosdeautum ocesso que r et orn a à i nfância e são um si nt oma de r aiva po r si mesmo. Mas qu er o falar aqui sobr e o T ao e não e nt r ar na psi cologi a pr ofu nda, uma v ez qu e exi stem cami nhos par a sai r deste di lema sem ser o di vã do psi canali st a. O cami nho do T ao é t ambé m um cami nho da c ur a ps íqu i ca, é o cami nh o de volt a par a o “ eu” i solado. Esse “ eu” é a ver dadei r a pessoa aut ênt i ca dent r o de – 66 –
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nós, e qu e r enegamos, p oi s não o conh ecemos e nem consegui mos pe r ceber a sua e xi st ênci a. Por causa de st a r enegação qu e pr at i camos co m noss a mane i r a de pe nsar e de vi ver est amos t ot alm ent e separ ados de noss os sent i ment os aut ênt i cos, já qu e est es exi st em ape nas dent r o de st e eu. Um passo ousado par a a s aída d est e esquema é a separ ação r igor osa e total de nossos pseudosent os doet conf i po iint electneual – eNest assiem sãoext quoase t odos, ei ment dor avant amos les. cont só nos r est a a alt er nat i va de colocar -nos à di spos i ção dos sent i ment os aut ênt i cos ao i nvés de r epr i mi -lo s. Ass i m q ue par ar mos de pensar sobr e nosso s sent i ment os, e t ent ar mos s ent i -los, obser vá-los e dar -lh es at enção, sent i r emos a s ua exi st ênci a. Po i s eles exi st em, m as não nos alca nçam ne stas c ondi ções. É mui t o dolor oso usa r mos sent i ment os aut ênt i cos, poi s não conh ecemos est a confr ont ação e semp r e fugi mos de la. A mai or i a das pe ssoas t êm m edo d e seus se nt i ment os. Elas pr efer em es conder ás de seusr apensa constemoci r oemonal. u maMas par ede-se pr at ot retor a cont a aparment ent e os, ameaça par a tor nar -se li vr e nenh um cami nh o pa ssa po r noss os sent i ment os, por mai s dolo r oso e i nsupor t ável q ue seja no i níci o. Assi m qu e você decid i r dei xar vir à tona todos os sent i ment os exi st ent es em você, cont emp lá-los i nt ensi vament e, vi vê-los, c r escer á um a for ça colos sal de cuj a exi st ênci a você não t i nh a noç ão. E nest a mud ança de sent i ment os v i vi dos e acei t os, e for ça cr escent e, vo cê consegue r esgat ar um a r elação com o seu “ eu” , achar o cami nho d e volt a par a o seu ser or i gi nal, d o qual voc ê se di stanci Car ou tacter anto.íst A i cas pessoa t orn ou-doseseu estrpranha si a mesma. de car át er ópr i opara eu est pessoa consi der a fr aqu eza, e as r ejei ta poi s não conhece a sua for ça. Você não deve conclui r por est as afi r mações qu e os sent i ment os têm cont eúd os apenas negat i vos: est ou falando na me sma pr opo r ção de comp ai xão , amor , alegr i a, et c. Mesmo so and o como u m p ar adoxo, as pe ssoas dos nos sos t emp os se fecham t ambém p ar a sent i ment os t ão posi t i vos como a mor e comp ai xão. El as t êm – 67 –
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medo de t odo ti po de sent i ment o, tant o faz qual é o seu cont eúdo, sendo q ue est as pessoas não conh ecem est a di mensão, poi s elas são car acter íst i cas de car át er de seu eu ocul t adas de sde a sua i nf ânci a. O ego, o eu, n un ca é capaz de sent i ment os aut ênt i cos, ele i nt er pr et a apenas as r eações int electuai s sobr e acont eciment os de uma manei r a det er mi nada e apr endi da. r ecei os t a da ar sent t e doi ment T ao éos, a segui e: deisxe espaç o par aAt odos seus per mintt a-lhe desenvolver -se t ot alme nt e dent r o de você. No fu t ur o não fu ja de nenhu ma e moção qu e venh a de de nt r o de v ocê. E st e é um p asso mui t o dur o, poi s no i níci o estar á li gado c om medo. É o me do da r eali dade , do “ eu” , da i dent i fi cação qu e o seu eg o t em d e enf r ent ar como se u ad ver sár i o, seu m ai or i ni mi go. Mas esse medo de ve di mi nu i r logo , dar espaço par a aqu ela for ça da qu al fale i . Est a ener gi a li ber ada vai aument ando na me di da em que você se abr i r par a os seus sent i ment os e per mi t i r qu e este medo i ni ci al aum e em si .á, Senão você agi r assi segur ament est e medo de ent sapar ecer a penas naqmuele i nst ant e,emas di mi nui r á cada vez m ais e em p ouco t empo não te r á mai s espaço e m sua vi da. Sai r da soci edade si gni fi ca, na sua ver dade i r a fun ção, em p r i mei r o luga r o r ompi ment o cons cient e de sua li gação a falsos s ent i ment os, ao vazi o e à falt a de cont eúd o de pr ocessos i nt elect uai s emoci onalment e deci si vos, e a dedi cação a sent i ment os ver dade i r os que sur gem em você. Assi m você ent r a em cont at o consi go mesmo e a par t i r daí r esult a uma e nor me ener gi a. S e além di sso ivocê tem est cond i ções r ever seus comp ssos,ramane r a como á pr eso de à sua co nd i ção de vir omi da, obse var e sent i r t udo i sto, c ons egui r á bas t ant e li ber dade e aut onomi a. Mas aqui não c ar ece nenh um a r ebeli ão qu e se exp r esse em t r aje di fer ent e ou fant asi a est r anha. Voc ê ent ão é bem d i fer ent e dos se us se melh ant es, mas e st e ser di fer ent e vem d o seu i nt er i or , é aut ênt i co, e não é i mp ost o como uma fi loso fi a de vi da pur ament e volt ada par a o ext er i or . Aí ent ão você pode mu dar par a o campo, – 68 –
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plant ar a sua pr ópr i a ver dur a, t orn ar -se veget ar i ano e fi li ar -se ao mov i ment o da paz – ou t ambé m não . Onde você est á, e o qu e você faz não é mai s i mp or tant e. Assi m qu e começar a sent i r , a par t i r do s eu “ eu” , vi ver a cada di a no pr esent e, vo cê estar á no ca mi nho d a aut o-r eali zação: o pr ópr i o cami nh o e o seu cot i di ano são est a r ealização.
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Amor
e
I X. C om pa nhe i r i s mo
O r elaci oname nt o mai s comp li cado, e com mai s facet as ent r e os r elaci oname nt os, é aqu ele qu e desi gnamos de amor ou r elaci oname nt o amor oso. At r ás dest e conce i t o escond e-se um a ver dad ei r a font e de r elaçõe s ext r emam ent e di fer enci adas de r elaci oname nt os e dependê nci as hu manas , e t ambé m uma f ont e de mui t o sofr i ment o e conf usão. Não há nenh um out r o campo que nos t r ansmi t a uma quant i dade t ão gr ande de bobag ens hor r end as do pass ado e de t r adi ção, e não há ne nh um t ema qu e t enha t ant os si gni fi cados fa lso s como o amo r . Na li nguage m do p ovo o a mor de mãe é a mai or encar naçã o dest e sent i ment o. A I gr eja pr ega o amor de Deus pelos hu manos, o cr i st i ani smo r efer e-se ao sacr i fí ci de Jpe esus queaent r egou a sua dapoe port as amor hum ani odade cador e sua salva ção.viOs cantàam com t odo o in st r um ent al de sua poe si a o amor e nt r e o ho mem e a mul her , o amor aci ma da m or t e como em Romeu e Julieta, e o suicídio de Werther por amor não cor r espondi do. S e cont emp lar mos t odas est as for mas de apar i ção com a r azão, r econhe cer emos nelas mode los de pensame nt os qu e glor i fi cam aqui lo qu e as pessoas nu nca t i ver am, e suas for mas de ação, poder íamos – 70 –
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achar uma ce r t a ver dade ni st o. Enqu anto i magi nar mos o amor , e pe nsar mos q ue a mam os e somos amados, a coi sa está co r r et a super fi ci alment e. Ass i m é fáci l faze r mos comp ar açõ es co m casos exempl ar es, suge r i mos dedi cação r ecípr oca e nos sent i mos amados , qu ando na ver dade o que det er mi na é o egoísmo, se nt i ment o de posse em r elação a o out r o, e pr est ígi o pessoal d o noss o sent Eu i ment e da ossa a ção. ac r oedi t o nque a mat er ni dade possib i li t a à mul her a est ar mai s pr óxi ma de sua c apac i dade de amar e – gr aças a Deus – em m ui tos casos ela t r ansmi te est e amor à cr i ança. Ex at ament e nest e t ão celebr ado amor de mãe est á escondi da a r aiz de t ant o sofr i ment o no mun do. A fa lt a de amor , ou seja a sua fal si fi cação, o seu i nt er esse são a ori gem do atu al r ompi ment o do home m consi go mesmo; a sua i ncapaci dade de se exp or aos sent i ment os ver dadei r os, o de samp ar o e a pr ovável d epend ênci a das ci r cunst ânci as,e por a condu t a da decidad de qu ase exclu si vament sobrqu e ae saúd e ment al mãe e capaci e de amar da cr i ança. S e um a cr i ança r ecebe amor de mãe ver dadei r o, que est eja li vr e de cond i ções, i st o é aqu ele qu e não é ut i li zado para c onduz i r a cr i ança a uma det er mi nada di r eção par a que a pr end a a o bedecer , apr end a a ada pt ar -se, ou é condi cionado mui t o c edo par a mai s tar de pr ocur ar o poder e a i nfl uênci a – est a cr i ança cr esce em um a si t uação t ot alment e saud ável. Est es ca sos hoje ocor r em ge r alme nt e em p ovos nat i vos que ai nd a est ão li gados à sua o r i gem. E m n ossa ci vi li zaçã o fi cou qu asedei mpossíve l dar aoum jovea imntqu e se des envol estãoe calor ni nh o, sem n enh enção. J á os pai ve s est mui t o li gado à s obr i gações da lut a exi ste nci al, à lut a pelo s uce sso na soc i edad e, par a qu e possam se nt i r e saber o que r ealment e é bom p ar a o seu f i lh o. E as si m pr ovavelm ent e foi dest i no par a t odos nós, qu e noss os pai s, bem-i nt enci onados, mas mesmo assim er r ados, nos edu car am em u ma li nh a que nos a fas t ou de sent i ment os aut ênt i cos, do a mor desi nt er essado, e por i sso a – 71 –
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mai or i a de nós ca r r ega danos e moci onai s (mesmo qu e o i nd i víduo i solado nã o acei t e i sto) . No lu gar do amor desi nt er essado de mãe ent r ou um pad r ão de pensament o sobr e amor de mãe, qu e pelo vi st o que r o melh or par a o fi lho. No decor r er da edu cação na in fância é fei to um t er r ori smo com a cr iança, por m ei o da d edi cação. Se ela se comp or t a conf or me a i magi naçãoper dosder p aiosamor ela r ecebe amor or , enq o qu é ameaçada de se se comp t ar uan conft or meeos seus pr ópr i os estí mu los i nt er i or es. Assim o jov em já é cond i ci onad o desde cedo. E le apr end e qu e r ecebe amor qu and o se ada pt a, quando é submi sso. Ass i m a cr i anç a já se separ a mui t o cedo dos pr ópr i os esfor ços e sent i ment os. I nconsc i ent ement e cr esce um a r ai va de si mesma pe la subm i ssão às cond i ções da mãe , qu e só dá amor qu ando o fi lho d esi ste da s i déi as pr ópr i as e se comp ort a confor me o desejo da mãe . A r elaçã o i nfant i l co m o pr ópr i o “ eu” nu nca pode ser r eali zada. E como a dul t o esta p essoamou só pode sarEpar o outé rcapaci o sexo dade aqui lo e se for d entr ráopas de le. i st oa não dequ a mor ver dadei r o, é mu i t o mai s um p adr ão de pensame nt o sobr e o amor , e est e est á t ão be m, qu e a sua de di cação depende novame nt e da co r r espond ênci a adequ ada do parceiro. Como os pai s não sa bem o qu e o home m r ealment e é, e par a que e le vi ve, passa m p ar a os fi lh os a sua pr ópr i a opi ni ão sobr e a vi da, que por sua vez é o r esult ado da pr ópr i a edu cação qu e r eceber am dos pai s, comb i nada com a exp er i ênci a de vi da e com a soma de i nf lu ênci as ext er sejam dos tepar i po rados eli gi oso, i co, oui osoci E assi mnas, cr escemos, de nopolít sso pr ópr “ eu”al., separ ado s da pr ópr i a pe ssoa, di r i gid os pelo “ eu” , esta for maç ão sin t ét i ca da i magin ação que for mamos sobr e nós. Noss a ver dad ei r a or i gem se escond e de nós. Ve mos o sent i do da vi da na co nst ant e bu sca de r econh eci ment o, suce sso e pod er . Poder nem q ue seja pequeno, mesmo t r at ando ape nas da i nflu ência nos pr ópr i os fi lhos o u no pa r cei r o. I déi as espi r i t uai s pode m ou nã o ser i mpor – 72 –
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t ant es par a nós . Mas me smo quando t emos uma r eli gi ão, est a cont i nu a send o uma for mação de pensame nt os e não t em m aior efei t o, do que um a pe ndê nci a do ti po comp lement ar . Com o t emp o não consegui mos mai s sent i r a r eali dade . Nosso pensame nt o fi lt r a t odos os conh eci ment os qu e soam di fer ent e daqu i lo qu e apr end emos. P or est e mot i vo não pode mos faze r exp er i ênci as que levem aono caminho dade. idoa de exi stnos ênci a fi ca e scur o,das óver nos r estOasent a i déi do nossa v ale das lág r i mas e a r ai va r epr i mi da e i nconsci ent e da nos sa fr aqu eza e depend ênci a. Ao i nvés de nos declar ar mos par t i dár i os desta fr aque za, e acei t á-la e m t oda a sua ext ensão e r eali dad e, est amos semp r e fu gi nd o dest e r econh eci ment o que ser i a um confi ssão da noss a fr aqueza e i ncapaci dad e. Ex at ament e est e est ado de acei t ação da f r aqu eza é o est ado em q ue pessoas em cr i se de vi da, desesper adas par ar am de lu t ar consci ent es de sua i mpot ênci a, o nd e de r epent e a mud ança ocor r e vi olent ament e. A qu i você pod e r econhe cer a for ça do poder d o T ao, i st o é, qu ando a pe ssoa est á di spos t a a a cei t ar a sua im pot ênci a em vez d e r elu t ar . Veja, t odos e st es est ados aco mp anh am o h ome m em par cer i a e det er mi nam a sua quali dade. Se você consegui r acei t ar as afi r maçõ es pr ecedent es, não s e admi r ar á qu e nest as co nd i ções não poss a r esult ar m ui t a coi sa s ensat a da r elaçã o de um homem e de uma m ulh er . Com i st o eu n ão ne go de mane i r a alguma o amor ou est a r elaçã o, ami zade , par cer i a, casament o. Mu i t o pelo co nt r ár i o. Mas t odos est es encont r os de du as pessoas dever i am oc or r er em u m est ado de i nd epend ênci a i nt er i or p r ópr i a e em um pont o de aba ndono re cípr oco. Obse r ve como é a sua adapt açã o ao seu p ar cei r o ou par cei r a, e como você vê est a pessoa t ão pr óxi ma, e por qu e você a ama. Ao cont emp lar melh or você encont r ar á um a sér i e de i magi naçõ es e i déi as, mot i vos e ju st i fi cat i vas, por qu e você t em u ma p ar cer i a com est a pessoa e não com out r a. Mas o que voc ê r ealm ent e sabe dela, dest a pessoa ao seu l ado? Ni ngu ém p ode enx er gar den– 73 –
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t r o do out r o. G er alme nt e a pe ssoa qu e oper a no noss o t emp o supe r fi cial n ão se dá ao t r aba lh o de pr ocur ar pr ofundi dade no out r o. S i m, p r ovavelme nt e ela pr ocur a est a pr ofun di dade , mas é, e fi car á send o um pr ocesso de pensame nt o. E a pr ofun di dade não s e encont r a nu nca no pensament o, pr ofund i dade vem d o sent i ment o ver dade i r o. A sua i magi naçã o sobr e o seu companh ei r o é umcrai co ução dos p ensame ass i mEcomo foi adanst a ri mage m qsueeus você t em d entsios, mes mo. e nqu ant o per manecer nesta m anei r a de pr ocedi ment o você jamai s sabe r á r ealm ent e quem é v ocê, e qu em é o seu comp anhe i r o. Par a descobr i r i st o é necessár i o que obser ve sem p ensam ent os est a pessoa ao seu l ado. A qui e agor a, não b aseado e m cenas do p assa do. O passado passou. Só exi ste o agor a. A par ti r desta dedi cação at r avés da obse r vaç ão, que v ocê pod e r eali zar como par a um est r anho, voc ê conse gui r á conhe cer o ver dade i r o car áte r de seu p ar cei r o ou p ar cei r a. r elaçõe sur gem u ma p co essoa quea qu erAs emos co nhsecer melhpor or . qu Nóse vemos i magi namos mo est pessoa é. T r avamos conh eci ment o e aí conh ecemos m elh or a out r a pessoa. Por ém, n ós nos mant emos, t alvez a vid a toda, naquela pr i mei r a im agem, di gamos i lusã o i ni ci al. No i ní ci o há uma atençã o r ecípr oca, caut elosament e pesqui samos o car át er do out r o, a mb os são li vr es e descompr omi ssados. Por ém com a fami li ar i dade, com a i nt i mi dade , in i cia-s e a apr opr i ação do out r o. Onde ant es hav i a li ber dade , r espei t o pelas pa r t i cula r i dade s do out r o, i nt r oduz- se fur t i vament e um poder i ncont r olável. O r o deve per t encer nt ei r ament , mas outour oladout o não n os nos colocamos nasi cond i çõesede posspor e do tro. A opinião que formamos do nosso parceiro se enr i jece, nos ac ost um amos a est a i magem, ela faz par t e i nt egr ant e do r eper tór io de nossas lemb r anças. Se a pessoa ao nosso lado sofr e com n ossa t omad a de posse, se ela m ud a com o pass ar do t emp o, se ela r ealm ent e nos ama ou a penas di z i sto, no fund o nã o é mai s tão i mpor t ant e. I mp or t ant e é um a conste laçã o que se cr i ou um – 74 –
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di a, que t ambé m n os dá um a cer t a segur ança , as si m como t ent amos dar segur ança ao out r o. Ex i ste uma s ér i e de mot i vos pelos quai s um r elaci oname nt o se i ni cia e per dur a. V ár i os mot i vos ser vem d e ar gument o para a li gação com um p ar cei r o do out r o sexo: desde o sexo como ún i co moti vo, qu e pode ser conf un di do facil ment e com amor , at é a amb i ção pelo pode r sobr e cei rdoeou a exi gêncioua,aou p oder possComo e do out o par desejo dedi cação; fuoga da sode li dão. r egrr o; a, par a t odos os r elaci oname nt os o amor , como o ent end emos, ne st es ca sos é mu i t o mai s o pe nsame nt o so br e o amor , mas não o amor ver dade i r o. De for ma par adoxal nós hu man os dei xam os de saber o qu e é o amor já na fase da i nf ânci a sob a i nf lu ênci a do t ão valor i zado a mor de mãe. J á aqui foi coloca da a pr i mei r a pedr a na constr ução da nossa exi stênci a condi cionada, que agora tr ansfer i mos pa r a nosso r elacioname nt o de par cei r o, poi s não conhecemos nada di fer ent e. O ver dade i rAopamor sódo pode sentece i do, v i vipdo, masr o nu nca pensado. essoa T aoser conh o seu ar cei por qu e se abr e par a ele, o obse r va, e por conse qü ênci a conhec e e acei t a as suas ca r act er íst i cas e seu car át er , sem t er o desejo de qu er er mu dar algo . El a dei xa o o ut r o ser como e le é. A pes soa do T ao abr e mão d o jogo de papéi s, ela é aut ênt i ca, e o seu par cei r o sabe que m ela é. Amor é uma di mensã o que ent r a na v i da se m mot i vo e domi na. O a mor não pode est ar li gado a ne nh um a condi ção, poi s senão ele ser i a r edu zi do a um negóci o, ser i a um obje t o de t r oca para qu alque r ut i li dade . Respei t ar o pr óxi mo, qu se emse q uer er manda liarvrnele, vi ever mi t i r -lhe desenvolv ement na com vid a,ele ist eoper si mé amor .
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X. A ar t e d e d esl i g ar - se
Você r eali zou t ot alme nt e a vi da no T ao no mome nt o em q ue se t or nou ca paz d e não fo r mar mai s opi ni ão sobr e si mesmo, i st o é, você si mp lesment e est á aí, só e xi st e, fi ca feli z com a v i da, e abr e mão de t odas as i nt er pr et ações da vi da e de sua e xi st ênci a qu e apr end eu e lh e foram t r ansmi tidas. I sto s i gni fi ca que você cri a em si um estado que já exi st i u em sua i nfânci a ant es do i ní ci o do apr endi zado , e no q ual - s ob di ver sas in fl uênci as e cor r ent es - você cr i ou a i magem da r eali dade qu e ai nd a hoje det er mi na a sua e xi st ênci a. Pa r ece gr ot esco e i nacei t ável: m as nad a qu e nos foi ensi nad o sobr e nós me smos e sobr e o mun do ao nosso r edor é absolu t ament e cor r et o. L evamos uma v i da na r elat i vi dade dos pa r âmetr os qu e o nosso o nos . Epor est es t ambém mi nam ospensame nosso s lintmi t es.cEoloca est es, nós me smodecot er locados, nos acompanh am como um a jaula i nvi sível q ue nos pr end e, m as que é móvel, de mane i r a qu e t emos a falsa i mp r essão de li ber dade espi r i t ual. Ass i m qu e um a pessoa é capaz de conse gui r di st ânci a de seus p r econcei t os, ela conse gui r á saber coi sas sobr e si qu e em segui da lhe pr opor cionar ão uma r elação totalme nt e di fer ent e consi go mesmo e com sua s ver dad ei r as for ças – est e conhe– 76 –
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ci ment o acont ece por si só. A pessoa do T ao não se submet e às exi gênci as da apar ênci a ext er i or , ela qu er conh ecer as coi sas como e las r ealm ent e são. E as coi sas ger alme nt e não s ão aqui lo qu e a apar ênci a mos t r a. T odos o s estados do c ot i di ano que nos i nf lu enci am sã o ger alm ent e ci nzent os – com exceção de poucos auge s. O medo do fut ur o, medo de pr eju íz os e per das de pr est ígi o eacomp i nf lu ênci em casa, medo éminosso anh a, antdee.um E n assalt ossas oações est ãoest deeconfor dad e com est a si t uação . Em nossa s deci sões semp r e nos or i ent amos vi sand o mant er a nossa segur ança, pond er amos se faze mos mal a nós me smos quand o i mp omos a nos sa o pi ni ão e nos r ecolh emos r api dame nt e qu ando sur ge est a i mp r essão. E st amos c onst ant ement e ocup ados em m ant er a posi ção na vi da ou nas r elações hum anas , ou co nsegui r uma mai s alt a do que a at ual, é i ndi fer ent e se em n ível p essoal ou com er ci al. Na vid a do T ao domi nam out r as r egras, ist o é, na ver exiamos stemlirvr egr as, poi a arado t e de vert ação , nós nosdade mov inão ment ement e, snunest m est de vilevi como boi ando na á gua o u l onge da gr avi dade da T er r a, obede cend o apenas à nossa i nsp i r ação, a voz d e nossa autor i dade i nt er i or , à qual não no s subm et e, mas c onsi der amos par t e de nós, a melh or par t e de nós. Aq ui não exi ste nada pa r a poli ciar e nada po r qu e lu t ar. A s coi sas si mp lesment e acont ecem. O de st i no hu man o acont ece de uma for ma mar avi lhosa e sim ples, bem n atu r al e har mon i oso no seu pr ocesso. Você ver á a enor me di fer ença ent r e uma v i da com tot al li ber dade i nt er i or, de i xando- se levar pela r ent. Aq e douiT sur ao, egesua exir gunt stência:asinsati e t ensa a tcor é hoje a pe e comsfatór t ant ai a li ber dade i nt er i or, se m obedecer a uma a ut ori dade, ai nda é possíve l u ma vi da nor mal em n ossa soci edad e? No penúl t i mo c apít ulo e u t r ate i do a ssunt o out si der e no fi nal suge r i qu e cada um p ode mant er aqui lo que consegue. A p ossi bi li dade de vi ver no T ao não de pend e de nenh um a condi ção ext er na. I st o você pode faze r at é na pr i são, s e for necessár i o. Pa r a o efei t o dest a nova ma– 77 –
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nei r a de vi ver t ant o faz se você aspi r a por esfo r ços e i ndepend ênci a mat er i al a pont o de afast ar -se da conf usão dos ne góci os, ou se você fi ca dent r o. A i nd epend ênci a i nt er i or, de t er mi na a quali dade de seu co t i di ano . Não qu er o consi der ar d epend ênci a de par cei r os comer ci ai s, de cli ent es ou de c hefes nas r elaçõe s de t r abalh o como autor i dade s da s quais t emos de nos li ber t ar par a no s apr ofundar mosrei al méni ós . Est out rmud o t i po pendênci a mate nsimesmo gni fi cant e eepode arde ou deser substituído. Ela não tem mais o importante papel r epr essor e amedr ont ador de ant es. Quem vi ve no espír i t o do T ao pos sui uma out r a vi são da r eali dade . T al vi são cr i ou-s e desaper cebi da na pessoa. E vi vend o com est a vi são as c ondi ções ext er i or es de poder per der am o seu efei t o assustador . E sta p essoa vi ve ser enam ent e e sem i nf lu ênci as, e cum pr e as t ar efas e scolhi das por ela me sma. S er i a uma gr ande bobage m dar t ambém e xt er name nt e as cost as à s oci edad e, qu edenão nselh o a ne nh um a pessoa, qu eco vi ve esta foro ma exiaco stênci a com li ber dade . Mu i t o pelo nt r ár i o, é exat ament e esta aç ão de dent r o par a for a que pode dar i mp ulsos par a mudar esta t er r ível cons t elação à qu al as pe ssoas est ão pr esas no cot i di ano. Se você cump r i r as suas t ar efas ne st e espír i t o, não pr eci sar á se pr eocup ar com o de sdobr ame nt o de sua exi stênci a. T r abalho de qualq uer espécie é reali zação para você. Você r eali za este tr abalho por vont ade pr ópr i a, não com u m d eter mi nado fi m. I sto é uma c ar acter ísti ca mui to i mpor t ant e do T ao: não fa zer nada por causa de alg um mot vo arb i t r sem ári o.arVive sempar uma as obje t i vo ambi ciosNós o, sem imotivos, gummos ent os nossas ações. si mp lesment e agi mos, e acabou. E é t ambé m assi m qu e encar amos o nosso t r abalho. Nós o fazemos. Be m f ei t o e cui dadosament e, sem obr igação e pr essão vindo de cima. Quem está na li nha de mont agem e faz um t r abalho mui to monót ono que e mp obr ece o espír i t o, mas que depend e deste salár i o par a sobr evi ver , pode r eali zar a sua t ar efa sem a ansi edade i nt er i or dos s eus co legas de t r abalh o, – 78 –
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se for um a pessoa do T ao. Com t oda a t r anqüi li dade esta pessoa far á as coi sas com faci li dade, e no fi m p er ceber á qu e mesmo com es t a for ma d e vi da se m t ensão, e la f oi capaz d e excelent e desemp enh o. Pelo cont r ár i o, eu acr edi t o que pr i ncip alment e um t r abalho ba seado no pr i ncípi o de desemp enh o pode ser r eali zado me lh or por aquele que não dá i mpor t ânc i a a este pr i ncípi o. i çãoanão exi st e para por a a pessoa T ao. Par El aanão par t A i ciamb pa dest concor r ênci poder edo posse. ela bast a ser ela m esma, e aqui lo qu e ela p r eci sa na v i da vem ao encont r o dela, se m t er de par t i ci par da elevação do out r o. Mesmo se est a pessoa possui r um a loja e est i ver di ar i ament e na compe t i ção, ela saber á adm i ni str ar esta compe t i ção de for ma di fer ent e. Com a sua r i qu eza i nt er i or ela nun ca t ent ar á alcançar algo atr avés da força ou pe r fíd i a. Ela não t em n ecessi dade di st o. Quand o negoci a, ela o faz co m t r anqüi li dade, ela ope r a com a for ça do me i o e ger alme nt e consegui r á aqu i lo que ti nh a pr evi Selesment excepcieonalm e algum dái onar c er t o, elastsio.mp acei t aent o fat o, semadcoi epoisas não quest o por quê , po i s alg um d i a mai s t ard e ver i fi car á como fo i bom q ue a coi sa t er mi nas se di fer ent e do que e la t i nha imaginado. Ass i m que t i ver apr endi do a v i ver no a qui e agora você poder á par ar d e lutar. Par a sempr e. Quem lu ta per de for ça, poi s na me di da e m q ue me esfo r ço par a at i ngi r um objeti vo, est e se afast a de mi m e sur gem f or ças opost as qu e aume nt am a sua i nf lu ênci a na medi da em qu e aume nt o a mi nh a for ça. Que m p er cebeu i st o, o u m elh em conhe cer um aofor mai l.melh or der acr alcançar abrorir, qu á mão desta confusã in út Por favo edi te, algo, t udo aqui lo qu e você deseja vi r á por si par a você, assi m q ue par ar de lut ar por elas . J á não acont eceu n a sua vid a, qu e você desejasse mu i t o um a co i sa e fi zesse t odos os esfor ços par a conse gui -la ? E ape sar d e t odos o s seus esfor ços par eci a qu e todas as for ças est avam cont r a você e seu d esejo? E m ai s t ar de, quand o fi nal ment e você desi st i u, se di st anci ou de st e desejo, de r epent e a r eali za– 79 –
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ção dele est ava bem pr óxi ma de você e você só pr eci sava pegá-la? Po r exp er i ênci a pr ópr i a eu sei que ne st a si t uação aqu ela coi sa desejad a ar dent ement e não e r a mai s tão importante. Se de início pudermos olhar com di st anci ament o os nossos de sejos e ansei os, vê-los com seu si gni fi cado abs olut o e obje t i vo, ou s eja sem si gni fi cado, e nt ão di mi nui r ão as di fi culdade s da exi gênci a; seraqui emoslocapaze obsero var e deci r com r anqü de que ques de r emos u n ão. É udima ca rtact er ísti liidaca das pessoas qu e quan do as coi sas são alcançadas se m esfor ços, elas pe r dem o seu valor e seu si gni fi cado m at er i al e espi r i t ual. Po r i sto a pe ssoa do T ao t em p ouc os desejos além d aqu eles de qu e necessi t a p ar a a sua su bsi st ênci a no cot i di ano. Ela s abe qu e nenh um desejo é i mp ossível p ar a ela se levá-lo a sér i o. Mas e xat ament e por i st o nas ce um est ado de espír i t o mai s elevado, ac i ma d e qu alq uer coi sa. Você logo pe r ceber á est e desli gament o de necessi dade s mat er i ai s, que r esult ar á da autonomi a. A suc const anteerbu sca dos antr ies feli cid ade, esso i queza nosnossos faz darsemelh um sor sopor i ndulgent e. Pudemos par ar com estes esfor ços i núteis, poi s ent end emos qu e não é est e o sent i do d a vi da.
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O que
XI . é o T a o?
O que é afi nal e ste T ao? É um Deus? Ou algum a out r a coisa i nde scr i t ível? L ao-t sé escr eve: “ O T ao qu e pode mos t ocar não é o T ao” . Cer t ament e é um a exp er i ênci a sem p ar ale los e m n íve l d a comp r eensão lógi ca. Nest e pon t o não exi st e um a anal ogi a com D eus u ma vez que a qu i no Oc i dent e ent ende -se por Deus um a aut or i dad e qu e r esi de for a de sua cr i ação e dot ada de t odas as quali dade s humanas pos i t i vas, c omo o amo r , a bondade, et c. Ist o em t otal p er fei ção – um t i po e st r anho de super-homem. O Tao não existe fora da criação. Dsc huang Dsi di z q ue não e xi ste na da que o T ao t ambém n ão seja; i sto que r di zer que o T ao é a pr ópr i a cr i ação, cada de t alh e dela. É a mai or ação e for ça do un i ver so, o mot i vo deéser de por não ém s eré. O segr edo T aode é qu ele me smo não at ievo, a ação, o c dr ioador t o-e das as c oi sas, ele não faz n ada, por ém não de i xa n ada por faze r . Não se pode de fi ni -lo co m palavr as, m as ele é i nt ui t i vament e palpáv el, p ois é ao mesmo te mpo um a di mensão de nós me smos, é nosso pr ópr i o “ eu” , do qu al nos se par amos de sde o nosso nas ci ment o: En t ão, em pr i mei r o luga r , o T ao é a na t ur eza c om a s ua o r dem e com as s uas le i s tão s ábi as da aut o-or gani zaçã o. A for – 81 –
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ma de ação do T ao é de uma t r ansfor mação i ni nt er r upt a, mar cada por um a constant e modi fi cação. No T ao est á t ud o no flu xo. T ao é a vi da em si . El e pode ser comp ar ado co m u m gr ande r i o, c om um a cor r ent e que s e moviment a i ncont r olavelm ent e ao seu obj et i vo, e mesmo assi m semp r e cont i nua a s ur gir de sua font e, sem par ar nenhu ma vez. No er Tao xi ste a separ ação e o mu nd o iTntao er éi or e ext i ornão . Ume de pend e do out r o.ent A er ssênci a do acabar com t odos os ant agoni smos. Seus movi ment os são o conj un t o cont ín uo de sses ant agoni smos. Acont eci ment os e t r ans for maç ões são o r esult ado da for ma de ação do Yi n e do Yang, os element os or i gi nai s femi ni nos e mascul i nos, qu e i nf lu enci am t odos os acont eci ment os de for ma polar . Os velh os sábi os do T ao comp ar am a for ma d e ação do Yi n e Y ang co m o so l ou a lu a. El es exp li cavam q ue quand o a lua p assou o seu est ado che i o, ela se movi ment a nova ment e à sua for ma d e apar eci ment o de a nova e qu andontoesol ao me ,ieo movi di a alca nça o zêni t e, elalucome ça, novame a descer ment a-se em d i r eção ao pôr -do- sol. E m out r as palavr as, alca nçar um estado s i gni fi ca a t r ans pos i ção par a um a fase nov a de exi stê nci a, pois na m or t e está fu ndame nt ada uma nova vi da, as si m como a mor t e apadr i nh a o r ecém-nascid o. Par a os sábi os a m ort e não é em p r i mei r o luga r a desin t egr ação do co r po. A mor t e signi fi ca o fi m d o ego, um pr ocesso que a pessoa do T ao t ent a r eali zar ai nd a em vi da. Q uando e st a fo r maç ão art i fi cial do “ eu” sumi r de nos sa exi st ênci a, pode mos vi ver além do n osso “ eu” , equi sto é ver a vi da, s r esult e não de dade pend ier mai s d poi o t emp o. a de um a di mensão Vi ver sem ego si gni fi ca um a vi da nat ur al. Q uem se opu ser a t odas a s ações cont r a a nat ur eza, n ão se colocar no cont r a-flu xo do T ao, não desist i r de fi car ao lado do f lu xo d e man ei r a qu e ele pass e ao seu lad o e ao lado da vi da (o qu e ele faz qu ando e st á const ant ement e pr eso aos pe nsame nt os do passa do e do fu t ur o), est e est ar á em har moni a com o cos mos, e t odas as suas aç ões se– 82 –
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r ão bem-suc edi das. S e fi co par ado e nq uant o t ud o se movi ment a ao meu r edor , est e não é um est ado de t r anqü i li dade , e ai nd a estar ei em oposi ção à vi da. So ment e quando e u segui r confor me o flux o, na dar jun t o, ha ver á uma t r anqüi li dade e har moni a plenas. Fi si cament e i st o r evela: as si m q ue eu est i ver dent r o de um car r o que t em a mesma v eloci dade qu e o flu xo do t r ânsi t o t er ei a sensação est ar T emos mesns. maOi avi mp rão essão em um a vide agem d epar avi ado. ão sobr e as anuve par ece estar par ado po i s não exi ste m mai s par âmet r os pelos qu ai s poss amos me di r a veloci dade e o movi ment o. Com a nossa vi da é par eci do. Nossos par âmetr os, nossos pont os de apoi o, o s quai s me di mos nos so movi ment o, s ão r elat i vos. Eles cor r esponde m ao nos so conh eci ment o sobr e o nos so mu nd o – e são er r ados . T r anqü i li dade , paz e est ar par ado s ó é poss ível d ent r o do movi ment o par alelo de t odo o a cont eci ment o. J á Her ácli t o de Éf eso r econh eci a: “ T ud o flu i ” . In feli zm ent e pouca s fr ases dele conse vadas, asneses. par ece qu e pensa va na m esma lifornham a que o s tr aoíst asmchi A f or ma de vid a do T ao é mar cada pe la li gação ínt i ma co m t odos os acont eci ment os nat ur ai s. A pe ssoa do T ao vi ve sem oposi ção aos acont eci ment os do cot i di ano. Sua a r t e consi ste em d ei xar o leme em sua pr ópr i a i denti dade est r anha. Se m exager ar pode-se consi der ar o Tao a i nt eli gência t ot al d a fo r ma nã o-ma t er i ali st a. Ela flui de boa v ont ade a nós Home ns se est i ver mos aber tos par a as sua s i nspi r ações. E que m ag i r a par t i r desta i nt eli gênci a elevada não cometer á er r os. É mu i to di fíci l ent r egar t ot alment e a est Para.a Par nós tsi mp lesment falt a-se r econh eci ment o e ai ntforeliça. gênci i mos de noss ae visão de mun do pr econcei t uos a e li mi t ada o nde do mi nam o egoísmo e a r azão, e nest e quad r o o T ao não s e encai xa. E ass i m, e nsi nam os ve lh os sábi os, qu e o uni ver so é um a un i dad e pod er osa e fechada e m si , e não um agr up ament o de i nú mer as par t es isolada s. T emos aqui de ent end er um ser vi vo enor me e i mensur ável, q ue ao me smo t emp o é chamado d e T ao. ( A f ísi ca nucl ear – 83 –
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conf i r ma e st a fi loso fi a ao pé da le t r a, o s me nor es element os de noss a mat ér i a não sã o clas si fi cado e m nenh um obje t o, eles se r efer em m ui t o mai s a um a ação de t r ans for maç ão conju nt a comple xa de todas a s par t ículas dent r o do uni ver so.) Você e eu não somos ap enas nós m esmo com o sujei t o, como i ndi víduo, s omos mui t o mai s. Dent r o de nós nósdesomos e ao mesmo tempoent umend er tvive odo.oCTao, ada eum nós. Anós, r azão não co nsegue i st o. Mas dá par a sup or . Nossa i nt ui ção é capaz d e compr eend er est as coi sas. Quem par ar de obser var t odas a s coi sas ao seu r edor separ ado de si , consegui r á logo um sent i ment o par a as li gações mais pr ofund as. Par ar com a separ ação nos pe nsame nt os é um dos t emas pr i nci pai s do Zen-budi smo . O Zen é o her dei r o espi r i t ual do t aoísmo. Quando naqu ela época vei o um m onge i nd i ano de nome Boddh i dhar ma co m e nsi no de Bud a par a a Chi na, este foi mu i t o in flu enci ado pelo conheci ment o do T Comoent a lém doelement nome nãosoda r esult neanhdaum gr ande diao. fer ença r e os est rou ut ur crai ação eo t i po d e car át er do cr i ador ( que uns c hama vam de T ao e out r os de Nat ur eza-Bud a), o ensi no de G aut ama, c hamado Buda, e o ensino de Lao-Tse, chamado de Dschuang Ds i (T schuang Tz u) se fun di r am. Os pat r i ar cas do b ud i smo e os sábi os do T ao – e os gr andes fí si cos nu clear es, afi r mam un âni mes a me sma co i sa: Não exi st em p ar t es em noss a cr i ação, t ud o fa z par t e or gani cament e de um todo fechado em si . Pode soar i nacr edi tável e par adoxal p ar a você – mas co r r espond e si mp lesment e emos de for mama comov os. Nóqu s ape nassaapr endenede for d i ferent entee,aos d efat pessoas e não bi am si nar out r a coi sa. Ass i m qu e nos t or nar mos capaze s de r ompe r os li mi t es ent r e nós e o r est o do mu nd o, e nos i dent i fi car como uma uni dade com o r est o do uni ver so, dar emos um e nor me passo para mai s pr óxi mo da v er dade. Acei t ar este r econh eci ment o faz par t e do fl ux o com a cor r ent e do T ao, faz p ar t edo rompi ment o da post ur a da oposi ção à ver dad e. – 84 –
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O T ao só pode confi gur ar e i nfl uenci ar nos sa vid a na me di da em qu e per mi t i mos . Vamo s no s abr i r t ot alment e a est e r econhe ci ment o, de qu e somos par t es de um enor me todo, de qu e nossa i dent i dade i nd i vid ual t em um si gni fi cado me nor do qu e o fato de c ada um d e nós r epr esent ar a Hum ani dade toda, todos os membr os desta espéci e. A acei t ação e at enção a e st e fat o r econh eci do há norsos fazolhos e nx .erÉgar acont eciesta mentforosma desta T ermir alêni comosout clar os o que com de enx er gar não se per de a pr ópr i a pessoa com se us conteúdos de acont eciment os, mas nós no s sent i r emos mui to mai s r esponsáv ei s pelos ac ont eci ment os no nosso pl anet a. Que m r econhe cer i sto nu nca mai s i r á de i xar de enx er gar ou d e escut ar qu ando se r elat a sobr e as coi sas r ui ns, mas sent i r á no fund o de seu âmago a r esponsabi li dade pe los ac ont eci ment os de nosso pl ane t a e um a compai xão pe las c r i atu r as ati ngi das . Que m p ude r est end er a sua i dent i dade à Humani dade t oda estar á r ealment e liavrc eorde suasdefalsas naçõament es. E ase si maqoue iver mos agem olhari magi i mp i edos par citnzent o qu e sur ge em t odos o s lu gar es, e sent i -lo ao i nvés de r epr i mi -lo ou i gnorá-lo, sent i r emos a enor me for ça est r anh a dest a ação, e est a sensação de li gação, de faze r par te de todas estas cr iat ur as r estant es cr escer á em n ós, e ao mesmo t emp o nos dar á segur ança. N aci onali dades, fr ont ei r as e suas li mi t ações não são na t ur ai s. Elas são for maç ões ar t i fi ciai s cr i ada s por pessoas que estão no pode r . Pr econcei t o de r aças, naci onali smo, i solame nt o, seja l á qu al f or o nome de st as i deologi as, le vam as pessoas só benefi ci am uan t o queà mi o rsér esti oa,éesub ju gado. Estp aoucas é um pessoas a ver dadenq e, seja r econhecida ou n ão pela mai or ia das pessoas cegas. Você como um só não poder á mudar mui t a coisa g lobal ni sto. Mas v ocê pode mu dar , r epr esent ando o r est o da Hum ani dade. I st o t em efei t o, mesmo que v ocê não o s i nt a i mediatamente. Não separ ar , não faze r di fer ença , s ão os sant os di zer es, que os velh os sábi os do T ao semp r e ensi nar am. É – 85 –
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um si nt oma de noss os te mp os nos desli gar mos não s oment e de nós i nt er i or ment e, mas t ambé m d as coi sas ext er nas . Chegamos a o pont o de r epr i mi r nos sos pr obl emas de for ma t al como se não fi zessem par t e de nós . Na ver dade s omos nós pessoalm ent e, qu e li mi t amos a ação do T ao em n ossa vi da, de man ei r a que nosso cot i di ano s e t ornou uni form e e t r i ste . Vi ver no espír i t o do comÉtaodos nossem os sua sentmai i ment os éfor umma. a coi sa mu i tToao vi va. v i t aliosdade s bela Nos sa vi da se gue confor me a exp ect at i va que nós mesmo cr i amos . E essa exp ect at i va est á mar cada p or noss as exp er i ênci as qu e t i vemos dur ant e a nos sa vi da. Nós esper amos um di a ci nz ent o e o t emos. É um ci ículo di abóli co de exp er i ênci as e exp ect at i vas no qu al nos movi ment amos e do qu al não consegui mos s ai r enq uant o t ent ar mos c om os me i os de pe nsame nt o e da memór i a. O que r ealment e i nfl uenci a o decor r er da vid a ai nda não sabemos a t é hoj e, p oi s nenh um a pessoa pode nos di zer i stot opor de sua pr ópr ignor a. Por concei de causa i gnor ânci a apar ecei aem i nú ânci mer as manii sso festoações dos velh os mest r es e pat r i ar cas. As afi r mações são un âni mes quand o se di z q ue afas t ando-s e a i gnor ânci a, a vid a i medi atame nt e t em um a out r a quali dade , bem melh or . Ass i m q ue você for capaz d e separ ar -se r i gor osament e de sua s exp er i ênci as, t i r ar -lhe s o v alo r par a o decor r er de sua e xi stê nci a, ent r ar ão out r as fo r ças em sua vi da qu e at é hoj e você mant eve afast adas, se m saber , mas com mu i t o efei t o, por causa da s ua pr ópr i a aut or i dade . Pa r e de qu er er ser algo . Pa r e de faze r li gações exp ect at iétvas o fufoit urcapaz o. Parde e de lu t ar nest esti lo.das N enhu mm odocom a t ual li ber t á-lo dee medos e li mi t ações. Mas as si m q ue você se separ ar de t odo t i po de mot i vação, de i déi as, do que você ai nd a poder i a se t or nar , ent ão t er á dado o passo cer t o par a a sua ver dadeir a i dent i dade; uma i dent i dade que se sent e i gual a t oda cr i ação e ao T ao, e qu e vi ve e age a par t i r dest e conh eci ment o pe la u ni dade de t oda s as coi sas. O di a qu e você i ni ci ar vi vend o no pr esent e, sem exp ect at i vas – 86 –
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r esult ant es de suas exp er i ênci as, ser á um bom d i a. O di a não pode tr anscor r er di fer ent e de mu i to bom, se você não i nt r oduzi r o seu co nheci ment o destr ut i vo do pa ssado, e qui ser t oma r o leme par a o seu p r ópr i o bem.
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A espi
XI I . r i t u al i d ad e n o T ao
Após te r li do t udo i sto você per gunt ará se ain da exi st e algo além d a vi da de scr i t a no pr esent e. Uma e xp er i ência que seja mui t o espi r i t ual, mui t o di vi na. Exi st e. Na ver dade e st a exp er i ênci a é o est ado pl eno d a vi da n o Tao. Domi nar o c oti di ano par tindo desta nova form a pur a de obse r vação nos t r ar á um a sér i e de acont eci ment os feli zes, mesmo do mi nando ape nas pa r cialm ent e a pr áti ca do T ao e semp r e nos dei xand o alcança r e di st r ai r pela velh a for ma de vi ver . Est a exi st ênci a não t em n ada de sant a ou r eli gi osa, ne nh um a feli ci dade físi ca é r enegada, nada é ne gado à p essoa do T ao. Uma p essoa qu e se ori ent a na sua pr ópr i a mor ali dade arr aigada agi r á sempr e cer t o, não sur gir ão confl i t os ent r e espi r i t uali dade e pr . Quando vi ver sua vi da s oucada me nos peraze fei trament e novop rcê esent e, eaqu ando semai t or nar vez mai s capaz d e negar o seu p r ópr i o conhecim ent o adqu i r i do, a s exper i ênci as di ári as de ant i gament e, e t udo que lh e é di t ado de for a, quan do voc ê pass ar os s eus di as despr eocup adame nt e, ent ão estar á vi vend o no e spír i t o do T ao e t er á cont ato i medi ato c om o seu pr ópr i o “ eu” . No campo e spi r i t ual e xi stem i núm er os ensi name nt os e mét odos s obr e: como a pe ssoa pode alca nçar a i lu mi na– 88 –
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ção. No zen-bud i smo a i lu mi naçã o si gni fi ca Sat or i , e alcançar Sator i é logo de i níci o o objeti vo de todo pr ati cant e. J á no concei t o “ pr ati cant e” fi ca clar a a di fer ença ent r e o T ao e t odas as out r as fi loso fi as: o T ao é vi vi do, nest e sent i do não co nh ece nenh um a di sci pl i na especi al como, por exemp lo, a me di t ação sent ada dur ant e det er mi nado t emp o ao di a, e t ambé m n ão poss ui nor mas s obr compdo” or t.ament o mor e afas ament de di verapr sões “ doe mun Na vi são do Talao t ai s tnor masoapenas esent am out r as for mas de li gação das quai s a pessoa deve se li ber t ar caso que i r a r eali zar o T ao. O T ao t ambé m conhec e a medi t ação, e na sua for ma e ação mai s har moni osa e comp let a. Eu ai nd a fa lar ei sobr e i sto. Mas, esta i lu mi nação, i nd i fer ent e de como ela é ent end i da, no T ao é um acont eci ment o obr i gatór i o, que vem ao encont r o de t odos o s que s e movi ment am n o pr esent e hone st ament e, aber t os e li vr es de pr essões e pr eocupaçõe s, e que dei xa a vi da ser di r i gi da po r suas força s in t er i or es. Exe r cíc i os do t i po me di t ati vo – já me nci one i no t ext o ant er i or – são exclu si vament e pr ocessos no co t i di ano, cont êm a obse r vação dos acont eci ment os em nós m esmos, e ser vem p ar a cr i ar a at enção. Est as medi das espi r i t uai s nã o estão li gadas a nenhu m h orár i o e a nenhu m r i t mo. N ós nos ser vi mos de las par a consegui r a li ber dade i nt er i or , e i st o qu ant as vezes for necessár i o. Como foi d i t o, o S ator i ou a i lum i naç ão ocor r e um di a de per si, sem qu e você t enh a de faze r mu i t o esfor ço par a ist o. Est e estado de i lum i naç ão (um a pa lav r a mui t o ut i li zada, mas não conheço nenh um a melh or ) não te m nada de sant o ou h i pócr i t a em si , nenh um a pessoa ser á i mp edi da de t er um a vi da nor mal – apenas , esta vi da, a par t i r de agora, t er á uma quali dade t otalme nt e di fer ente, mu i to melhor . É ext r emament e di fíci l d escr ever como um a pessoa i lu mi nad a r ealm ent e se sent e. Você conh ece est e per fu me especi al q ue a nat ur eza exala às ve zes em l i ndas noit es de pr imaver a? Nós o denomi namos sim pl esment e per fu me d e pr i maver a. T ent e descr ever esse – 89 –
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per fu me par a que um a out r a pessoa qu e não o conhe ça possa sent i -lo. I mp ossível, n ão é? A ssi m ocor r e com est a i lum i nação. Ela pe r t ence a uma di mensã o para a qual a noss a li nguage m ai nd a não encont r ou palav r as. E o Hom em só sabe r econh ecer e sent i r o co nh eci do. E le não encont r a r elação com co i sas além d e sua exp er i ência. Po r i sto que r o t ent ar pas sar -lhe uma i mpr essão da coi saos. base o-me m fenôm ecipar dosaeque se ntdei ment Euand di sse pr eopo sit almeenos nt econh “ coi sa” maneira alguma alguém tenha a impressão de que est amos faland o de r eli gi ão. O Home m vi ve a i lu mi nação na for ma co r r et a de vi ver , acr edi t ando ou não ne la. Est a exp er i ênci a não est á li gada a nenh um dogma o u padr ão de cond ut a ext er i or , ela t ambé m n ão acei t a ser exi gi da, ne m at r avés de or ações ou const ant es medi t ações. Est a for ma d e consegui r as coi sas – e mu i t as pessoas o faz em assi m – pod e ser comp ar ada com o e mpr eend i ment o i nú t i l de sent ar -se ao volant e de um car r o de mot or desli gadocoe tent ar o veículo das de i mp ulso nt r aar o cmovi i nt oment de segur anç a. c om bat i No capí t ul o ant er i or eu exp us qu e o T ao (e t ambé m o Ze n) não vê o un i ver so c omo u ma coleç ão de par t es i ndi vid uai s, ma s como um t odo fecha do. A pe ssoa i lumi nada se nt e espont aneament e a uni fi cação ent r e ela e o r est o da cr i ação, ela se sent e t ot alment e i nt egr ada no todo. É a comp r eensão de como o cosmos é for mado ant es ant es qu e ele em f or ma de mat ér i a, ac essíve l à n oss a r azão . I st o não é exp er i ênci a da comp r eensão , o i lu mi nad o t em acesso a ár eas do se u i nconsci ent e, p or ém ele não as se at r avés p ensame os,cmas at rcomavés de sua i ntnt uieção. El e side mpseus lesment e sabentdas oi sas, pr eend e-as , sem p ode r exp li cá- las ou sa ber a sua or i gem. Re sumi nd o, é o conhe ci ment o di r et o de um t odo i nd epend ent e, qu e não pode ser desmemb r ado. Nosso “ eu” é um a for mação de r ecor dações e pensament os que pul sam i ni nt er rupt ament e. Por efeito de tr oca os pensament os cr iam o pensador , o ego, e este, por out r o lado, pr oduz os pensame nt os, atr avés dos qu ai s exi st e. – 90 –
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No est ado de i lu mi naçã o o pensame nt o pár a na for ma qu e er a até hoje . O Hom em ai nd a fi ca com as s uas r ecor daçõe s, co nh ece o end er eço do se u dom i cíli o, e di spõe ili mi tadament e de suas habi li dades apr endi das, mas sua v i da co t i di ana nã o é mai s di r i gid a pelos pe nsament os, e si m p ela i nt ui ção. Os pe nsament os ai nda sur gem, mas se movi ment am l onge da consci ênci a, co mo se o r efer i doos seest movi mentensos asse em vale larcent go er seus p ensament ão susp lon um ge do seu o passa ndo si lenci osament e bei r ando as mont anhas. O pensament o está mu i t o long e do i lu mi nado. E co m o pe nsament o o “ eu” t ambé m p ára de exi sti r . E o nos so ego não consegue mai s nos do mi nar assi m qu e o solo a li ment ício lh e for ti r ado. E assim é sent i da a re ali dade com at enção li vr e, sem opi ni ões di st or ci das e pr econcei t os. A for ça origin al do “ eu” pode agir li vre e desimpedi da. Eu que r o exp r essá -la com u ma m et áfor a. Voc ê conh ece o at ual est ado dos r i os alemães. Do lado di r ei t o e do esque r do eles sãoeliveloci mi t ados pelos diali qunh es,adas, as suas r egular dades, cur vas dades são e asi r suas ág iuas est ão qu ase mor t as, t ot alme nt e polu íd as. Semelh ant e a i sso é a nos sa vi da. L i mi t ada pe los di qu es de r egulament ações ext er nas e opi ni ões pr ópr i as falsas , ali nh ada, os c ant os e qu i nas e nd i r ei t ados pela edu cação que só ser vi a par a o obje t i vo de nos a dapt ar às nor mas da soci edad e em q ue vi vemos. Um r i o dest es não consegue mais se despoluir, está entregue ao lixo que é i ni nt er r upt ament e jogado dent r o dele. A vid a dent r o dele se ext i ngu e. Se dest r uí ssemos os di qu es, dei xássemos a corr ent eza ocur óprnti oe cami nhovas, pe lapode na t urr ieza, logo e leprcor r erari ao se novu pr ame em cur a despol ui r -se e ser i a saud ável. A mesma coi sa ocor r e com nossa vi da. Se for mos capazes de dest r ui r mos os di qu es qu e nos sã o colocados, e nos de senvolve r mos espi r i t ualme nt e e dei xar que a v i da t ome o seu r um o nat ur alment e – ent ão ser emos i guai s a um a cor r ent eza qu e fl ui li vr ement e. Nós sar amos e t oda a i mu nd i ce ser á coloc ada par a fora pe la for ça da c orr ent e da pr ópr i a vi da. E – 91 –
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est e est ado t ot alme nt e li vr e, est a vi da sem l i mi t ações é pr ópr i a do i lumi nado. A i lumi naç ão é o encont r o di r et o, o cont ato di r et o com o Ab solu t o. Ent ão cessa a separ ação da r eali dade em i nú mer as man i fest ações i soladas, qu e são a obr a da r azão, e a pessoa não t ent a mai s compr eend er a r eali dade dest a for ma. Os mome nt os par alelos qu e o pr esent e foresent ma são ao mesmo o ae et ni dade. Et er ni dade éo pr e const ant e,t eemp nest preresent e vi ve a pe ssoa do T ao. Por consegui nt e a i lu mi naçã o t ambé m é uma e xp er i ênci a do pr esent e abs olut o. E a i lu mi naç ão abr e os olhos da p essoa par a a r eali dade, e la p oder á ver as coi sas como elas r ealm ent e são, aqu i , em pl eno p r esent e. Ex i ste uma pos sib i li dade , um mé t odo, pa r a apoi ar o passo par a a i lu mi nação? Ex i st e, mas ela est á li gada a um a sér i e de cond i ções, ela dev e fu nci onar . O T aoísmo conh ece um t i po d e i oga. Est a i oga t em gr ande s emelh ança com a i oga i nd i ana, mas a sua or i gem é chi nesa. Ela coa-s mo eocom bje t idivofer pr ent i ncies palt écni uma cas longdea rvid a treração, r est r e teem ocup espi qu e pode m cr i ar estados semelhant es ao ku ndali ni . Mas não que r o falar dessa i oga. A m edi t ação é um cami nho qu e segur ament e o levar á mai s pr óxi mo à per fei ção. I sto é, a meditação de uma qualidade especial. Citarei Dsc huang Dsi : Se per mane cer mos em si lênci o t ot al, e nt ão sur gi r á a luz di vi na. Q uem i r r adi a esta luz di vi na, e st e ver á o seu ver dade i r o “ eu” . Que m p r eser var o seu ver dade i r o “ eu” , r eali zar á o absolut o. Não t em n enh um sentvoc sent ar agor a, t ent ar r epr i misent r osi do seus pensame os,ê eseper mane cer um t emp o de per nas cru zadas , vi nt e mi nut os ou uma hor a. I st o é bobage m t ot al, e na me lh or das hi pót eses pode r á lhe dar uma i mpr essão de t r anqüi li dade. Ant es de i ni ci ar a medi t ação do si lênci o, você deve t er consci ênci a de t odos o s seus compr omi ssos, e t ê-los a fast ado um a um . Quem qu i ser medi t ar corr etament e ter á de estar li vre de t odos os seus co mp r omi ssos, l i vr e dest es di qu es que li – 92 –
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mi t am t ant o o seu espír i t o e a sua saúd e ment al. Me nci onei vár i as vezes como você pode s ai r dest e di lema d e comp r omi ssos. Est a obser vação dos pr ocessos em você já foi um a for t e medi t ação – e ela f un ci ona. Se você vi ver um estado de espír i to despr eocup ado, alegr e e hoj e cheio de vi t ali dad e, no aqui e agor a, s em se qu er pensa r em ont em ou am anh ã – ent ão chegou a hor a da v er dadei r a meditação. Você pode r eali zar o exer cício d o si lênci o em q ualquer lugar. E m u m cant o tr anqüi lo de casa, em um passei o na natu r eza, o u at é mesmo de nt r o de um t r anspor t e pú bl i co. Voc ê pode e scolher se qu er ou n ão fechar os olhos, a mesma coi sa com a sua postu r a cor por al. A m edi t ação ou fu nci ona, ou não. O suce sso não de pend e da post ur a fís i ca. E não fi xe um h orár i o par a a sua medi t ação. E não pl aneje a du r ação dela. Obse r ve um gat o. O ani mal se dei t a ou sent a em seu l ugar e fi ca par ado dur ant e um t emp o. Quand o ele achar qu e é sufi ci ent e, ele levant e de passa fazer out r a co i sa. E le enão nsa e m sent ar aou i t ara, ele si mp lesment e o faz, parpea quando for sufi ci ent e. Assi m você dever i a exer cer a sua me di t ação, como est e gat o. Sem p r opósi t o, sem obr i gação, na post ur a que lh e for conf or t ável, andand o, sent ado, ou dei t ado. Me di t e o t emp o que lhe for agr adáv el, n ão se for ce a nada. Um mi nu t o de medi t ação bem f ei t a vale mai s do q ue mu i t as hor as de medi t ação qu e você exer ce no espír ito er r ado. O co nt eúd o de s ua m edi t ação é o si lênci o. Nã o é o si lênci o re sult ant e de estí mu los r epr i mi dos, ou de pensament os br iecados e. Natnturosalment sua ment e dever a est arfor li vrçadament e de pensame qu e ater aapalh em. E st a li ber dade você alca nçar á de mane i r a at é fáci l, qu ando apar ecer si mp lesment e como obse r vador de seus p ensam ent os, e esper ar por eles ant es mesmo q ue apar eçam. Ne st e exer cíci o você logo per ceber á qu e os seus pe nsame nt os se acalm am, se t or nam m ai s r ar os, at é qu e um di a par em comp letament e. Você pr eci sa apenas mant er di stânci a de les, e deve par ar de o cupar -se – 93 –
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com eles. E st a obser vação, a sua at enção você só consegue mant er dur ant e a sua me di t ação. Fi que t r anqüi lo e seja at enci oso. Esc ut e o seu i nt er i or com t odos os seus sent i dos. Nã o é necessár i o mai s nada. Se est a medi t ação for pr ati cada e m u m estado de li ber dade i nt er i or, lhe r esult arão e ner gias mui t o fo r t es, e i nco r por a uma i nt eli gênci a que por out r o lado e stá e st abeleci da no se u pensa ment r aciefei onal. E um a, bem d espres,etcomo ensi osament e eosem t os co latcer er taiosdiespet acular por exemp lo, p er cepção de lu z ou out r as v i sões, vo cê vi ver á uma i magem abr angent e da ver dad e. A ver dade, t ambé m chamada d e i lu mi naçã o, i nst alou-s e em você.
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XI I I . E x er cí ci o s p ar a t o d o s o s d i as
L ogo no i níci o, no pr efáci o, me nci onei que uma das mai or es di fi culd ades na coi sa er a a falt a de mot i vo com a qual e la de ver i a ser movi da. Se m m oti vo, qu er di zer , vi ver a sua vi da sem m ot i vo det er mi nado, s em o obj et i vo de t or nar -se algo ou alcança r algo. O s sábi os do T ao encont r aram u ma comp araçã o mui t o deli cada par a esta for ma des pr eocup ada de passa r o seu d i a: em l ago uma andor i nh a sobr evoa a super fíci e li sa da água, se espelh a na ág ua, mas ne m a andor i nh a nem o l ago chamam p r oposi t alm ent e est e espelh ar -se. Nest e est ado i deal, n ossa vi da d eve ser leve como u ma p ena. E u sei mu i t o bem qu e é mai s fáci l f alar do qu e fazer . É i nt er essant e qu e eu pude c onst atar por exper i ênci a pr ópr i a, que os i nt er esses mate i ai s,tooube seja, asdados sunt o finonance i r os e pr de ofi ci ssido onai s, sãor mui m cui T ao qu ando ener gicament e viver a par tir de agor a e fut ur ament e desta for ma. Pa r ece qu e um a mão do fut ur o pas sand o pe lo t emp o i nt er fer e em m i nh a exi st ênci a e qu e me pr esent ei a com u m est ado de espír i t o e ment e qu e só alcança r ei atr avés das exp er i ênci as mu i to posi t i vas desta for ma de vid a. U ma e xpe r i ênci a boa a pós o ut r a confi r ma e m seqü ênci a qu e mi nh a deci são est á cor reta; até as peque– 95 –
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nas n ecessi dad es e pr eocupaçõe s cot i di anas de sapar ecem. E u m e t or no capaz d e vi ver e agi r aqui e agor a bem consc i ent e e com t odos o s sent i dos ag uçados. Quand o t enh o de t omar um a deci são não fi co pensando e anali sand o a melh or solu ção. Escut o o meu i nt er i or e capt o de lá o i mpu lso com cl ar eza espont ânea – e ajo se m hesit ar ( send o que agi r só pode si gni fi car uma r espo sta enér ca,dadosa enér giment ca e cor ajosa onddee eu t es t er i a agiObdo mai sgicui e por causa uman a avali ação). ser vei em m i m qu e est a falt a de i nt enção sur ge a qualquer hor a por si, q uando as coi sas que eu ant es pr ati cava cont r olada ment e agor a ent r anhar am-s e em mi m. Desta mane i r a qualque r t i po de avali ação pár a na ho r a de agi r . Eu mesmo pr eciso de i xar de ser cor r upt o. Le mbr e-se qu e a vid a da mai or i a das pe ssoa é i mp r egnada de cor r upção , já de sde a i nfânci a. Cor r up ção si gni fi ca qu e eu faço algo, p oi s r ecebo algo e m t r oca. T alvez eu vá à i gr eja p oi s lá algué m p er doa os meus p ecados, ou m e pr omet e que de poi s da mort e não ir ei par a o i nfer no – ou qualq uer out r a bobag em. T ambé m ajo co r r up t ament e quand o dei xo de faze r algo qu e gost ar i a de faze r , poi s t enh o medo do ca st i go ameaçado. De sta f or ma i ni ci am-se em n ossa vi da os pr i meir os pr ocessos de adapt ação. Nós nos esfor çamos par a ser mos um a cr i ança obedi ent e, par a qu e a mãe nos ame, e par a não r eceber mos palm adas ou out r os castigos como por exempl o nos ti r ar cer t os pr i vil égios ( não poder sai r ). Agi r não c or r upt ament e exi ge cor agem e for ça par a r esponsabi li zar -se. Nós t odos ger alment e t emos a t end ênci de pr delegar r os a nos sa rlo esponsabi li dade, mesmoa ao eço deatout er de faze r aqui q ue aqu ele que assumi u a r esponsa bi li dade qu er . A p essoa qu e vi ve no T ao não t em m edo de ssa r esponsabi li dade . El a est á aber t a par a toda t ar efa que a vi da lhe coloc ar . E, por que r er a vant agem, ela nun ca far á coi sas que, no fun do, não qu er faze r . Seus di as não s er ão mai s di t ados pelo me do de pr eju ízo ou pe la ambi ção de lu cr o. Ela vive r ealme nt e tr anqüi la. A r aíz da pala vr a tr anqui li dade cont ém o co n– 96 –
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cei t o de solt ar, solucionar . Com i sto que r o di zer que os nos sos compr omi ssos ma t er i ai s são li gados a i déi as. Ass i m qu e esti ver mos li ber t ado s deles i nt er i orm ent e noss a vi da t r ansc or r er á t otalm ent e sem pr eocup ações. Que m r ealm ent e vi veu como a m ão do T ao t eceu por t r ás mar avi lh osament e os fi os da vi da, não se pr eocup ar á mai s, i nde pende nt ement e do qu e t er á de enfr ent ar. Ap esar mi nh anç a t ent ser clantreono v ocê per gunt as ede i nsegur as,ati pr va i ncidepalme quet er diáz r espei to à r eali zação pr át i ca de nossos pensament os em noss a vi da. Po r i sso que r o pas sar -lhe t odas as i nf or mações a r espei t o de algun s exer cíci os qu e lh e faci li t ar ão a ent r ada na v i da do T ao. Os exer cíci os est ar ão for çosament e mar cados por i nt enções, ant es deles dever á ocor r er um at o de desejo p elo bem ou pelo mal. M as assi m, você t em a pos si bi li dade de exer ci t ar est a coi sa no co t i di ano quant o t emp o qui ser , até ela estar ent r anhada e m você e depoi s, r ealm ent e ser pr at i cada se m i nt ençõe s, t otalm ent e sem mot i vo Recon h eça os seus co mp r omis sos
T oda pe ssoa t em se us co mp r omi ssos, un s mai s, out r os menos. M as t odos nós de t emos de at end ê-los. An t es de conse gui r se li ber t ar de seus co mp r omi ssos at r avés d a obse r vação, r econhec end o-os, você pr eci sa t er um a vi são de t ud o qu e o pr end e e segur a. Vo cê deve faze r uma li st a e i r mar cando t udo que enco nt r ar de comp r omi ssos em você. J á est a r elação é um at o de o bser vaç ão:t at dela você per cebe p r end mee, e onde não emr lavés i ber dade. I st o pode ser oprqu opre ioedades r ament e mat eriais como i móveis, ações, aut omóveis, jói as ou di nh ei r o, ou v alor es i deai s como o r elaci oname nt o com o p ar cei r o, a mi zade s, a sua posi ção na e conomi a, ou na vi da pú bl i ca, ou a s ua posi ção quant o a qu est ões polít icas, r eli giosas e fi losófi cas. Você deve saber que par a a pe ssoa do T ao a opi ni ão pr ópr i a, que ela t i nha so br e si , não v ale mai s nada. Ant es di sto, e la não é t otalm ent e – 97 –
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li vr e. O comp r omi sso com fenômenos da pr ópr i a aut or i dade i nt er i or, d o pr ópr i o eu, sã o os mai s di fícei s de apagar . Mas são exat ament e eles que det er mi nar am at é hoje nosso est i lo d e vi da, e m p ar t e at é sem q ue t i véssemos consci ênci a di st o. Se você for capaz d e consi der ar como comp r omi sso t udo qu e enfr ent ou até ho je, e t ud o, que desde ent ão g ost a e dá valor (em par t e pu r a suspe i t a), mai tarede r enegar nadoada i nfânci at é shoj como a ve rt udo dadeque de lhe suafoi e xiensi st ênci e da vi da,a ent ão você deu u m ve r dade i r o pas so par a a li ber dade i nt er i or. Que r o re ssalt ar, m ais uma ve z, que ni ngué m t em d e abandonar o seu m ar i do ou a sua e spos a par a ser li vr e. Comp r omi sso é um pr ocesso qu e vem d e dent r o, e mu i t o ocult ament e. T ão ocul t o que você pr ovavelment e não c onsegui r á faze r a sua li st a de um a vez, p oi s exi st em m ui t as coi sas qu e est ão em você secr et ament e, sem que você sai ba. Na li ber dade é mui to mai s fáci l amar os out r os. Se amar mos o out r o a par t i r de noss os compr omi ssos, hav er á mui t a i nt enção e cor r up ção. Mas jamai s quando o amor r esult a da li ber dade i nt er i or. L eia di ar iament e a sua li sta um a ou mai s vezes, compl et e-a com o q ue lh e ocor r er – e obser ve. Ob ser ve-se no di a a di a, co mo você r eage a coi sas, p essoas ou i déi as com as qu ai s você t em u m comp r omi sso e qu al é o efei t o da su a r eaçã o, e da su a açã o em conse qü ênci a des t e comp r omi sso. L ogo compr eend er á que mui t as coi sas ser i am di fer ent es, você deci di r i a di fer ent e, se pu desse vi ver sem est es compr omi ssos. Vo cê só per ceber á como a sua exi st ênci a é li mi t ada po r est as cond i ções, quando olhar a da mi sér i a,fasem esvi ar o olhçar ar , com colocar -sedi ant enadacar r eali dade , dos t os,dsem di sfar i nt er pr et ações pensadas. Obse r ve qu e du r ant e t oda a obse r vação vo cê não é per t ur bado por nenh um pensame nt o par alelo. E abst enh a-se de qu alqu er coment ár i o sobr e os fenôm enos q ue você per ceber . E st es são condi ci onados e par ci ai s em q ualq uer pessoa. I nf eli zm ent e nós gost amos de mai s de nos or i ent ar pelas r egr as de jogo e lei s qu e a soci edad e nos i mp ôs, or i ent amos o nosso pensa– 98 –
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ment o segundo a opi ni ão pú bl i ca, em vez d e confi ar em noss os sent i ment os pr ofun dos.. En qu ant o você t omar deci sões volt adas à visão da o pi ni ão públ i ca em vez de ori ent ar -se por sua i nt ui ção, você ain da está mui t o li gado, e t alvez n ão r egi st r e est e seu compr omi sso com t odo vi gor . De for ma alguma e stou p r egand o aqu i um a r ebeli ão ou i déi as r evoluci oná r i as, poi s a úni ca r evolução qu eádeve , acont á dent de você, e nãoe ser vi st aocor p orr er foraqu a. Ai pe ssoaecer do Tao autr ooma t i cament agi r á cer t o e mu dar á para as r egr as váli das sem q ue ni nguém t enh a de ensi nar -lh e i st o. Mas a or dem em q ue ela vive é natu r al, não i mposta. A sua morali dade é aut ênt i ca, não é nenh um a beat i ce qu e é colocada par a i lu di r os out r os. Você pode i lud i r qualq uer out r a pessoa, mas c om o Tao est e jogo não fun ci ona. Aq ui só é possível a hon esti dade t ot al. H onest i dade consi go mesmo. Se você vê um comp r omi sso e o r enega, esse comp r omi sso cont i nu a a exi sti r , i ndi fer ent e da sua pos tur a, quer você acei te a sua fr aque não. Ist onem é a pa r t e boni t ant nai rvia.da do T ao – não exi za steofau lsi dade, i lusão ou me Quant o mai s você acabar com seus compr omi ssos e dependênci as, mai s per sistent e ser á a atenção e a capaci dad e de vi ver aqu i e agor a, li vr e de pr essões e pr eocup ações, e de det er mi nar os seus di as. É pr efer ível ser det alhado demai s do que r elaxado. E mai s um conselho: a vida no T ao é um a coisa alegr e, e não sér i a ou sever a. Consi der e a sua exi st ênci a mai s como um jogo, ao em vez de vê-la com auto-piedade como um andarilho no vale das lament ações. E n ão pr ati que este exer cício de descobr ir o seu i si onament o for çosament tudt oe.com levezaapr como se você fosse um a penae,ffaça lu t uan A ssium m, aobser var e dar atenção não se tor nam u ma t ar efa pesada. As coisas acont ecem por si, pode ser tão simples e tão fáci l, se você ent ender como lar gar. Um consolo é saber que o pr ocesso de lar gar os compr omi ssos não pr ecisa ser admi ni str ado por nós mesmo. Esta t ar efa podemos tr anqüi lamente deixá-la por cont a da for ça do T ao. O que resta par a nós é a par te de olhar , dar at enção e obser var . – 99 –
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A ar te de vive r n o pr ese nt e
“ Quando e st ou come nd o, e u como; q uand o est ou bebend o, eu bebo ; quand o est ou dor mi nd o, eu du r mo.” Assi m u m sá bi o da Chi na a nt i ga exp r essou a sua manei r a de vi ver no pr esent e. Soa mui t o si mp les, você deve pensar qu e também f az i st o. Mas devo lh e di zer qu e você não faz icomendo st o, c ome r qu ando e st imesmo, ver comend est i ver – obser ve você comoo.i Q stuando o ocor r e. Enq uant o esti ver dand o a gar fada, mas t i gand o e engoli nd o, a sua me nt e est á em out r o lugar . No café da man hã os seus pensame nt os já est ão no local d e t r abalh o; enq uant o i st o, v ocê pass a mant ei ga no pão, mas nem pe r cebe. V ocê est á a pon t o de se pr epar ar par a os tr abalh os e desafi os do di a qu e começa, e est á avali ando as suas poss i bi li dad es e pensand o nas suas r eações. I st o é o qu e você r ealm ent e faz qu and o t oma o ca fé. E nas out r as r efei ções t ambé m não é di fer ent e. Se for fr anco com você mesmo, adqmi a qu e r arnd ament você estant á com os sent i dos naqu i lo uetest á faze o. Ouevoc ê se eci pa a ac ont eci ment os que vi r ão, o u d epoi s se per de em seus p ensament os e anali sa as le mb r anças de a lgu ns acont eci ment os, qu e par ecem, n o mome nt o, s er mai s r elevant es do qu e aqu i lo q ue você est á faze nd o naqu ele i nst ante . Em out r as pala vras: a sua v i da no pr esent e não acont ece. Poi s os pensament os sur gem d a at i vi dad e do cér ebr o. O cér ebr o é mat ér i a, e do passa do. E m conseqü ênci a os nos sos pensame nt os t amb ém são de nat ur eza m at er i al e do p assado. C omo o pr ocesso de pensament o semp r e comp a t ud valore –es dados passado – mesmo op erarand o noo com p r esent oueseja, p rdo eci sa ut i li zar o ar qui vo da lembr ança em t udo que faz, v ocê se movi ment a basi cament e no p assado ass i m q ue começar a pensar (ou não par ar de pensar ). I st o é um fat o. Eu admi t o que é mui t o, mui t o di fíc i l, fi car com t odos os seus sent i dos no pr esent e. T odos o s noss os i mpu lsos nos emp ur r am semp r e par a o pass ado. N ós t ambém não somos c apaz es de ocupar nosso pe nsam ent o – 100 –
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com a at i vi dade do mome nt o, const ant ement e o desvi amos par a camp os qu e não t êm n ada a v er com o m oment o at ual. Dest a for ma a p essoa semp r e se desvi a do acont eci ment o r eal qu e ocor r e di ant e de seus olh os, e vi ve em u ma di mensão menos atual. E st e defei to de nu nca encar ar a r eali dade já nos a pr i si ona de sde a juve nt ude. É um cost um e qu e não c onse gui mos pe r der , poi s não t emos a dele. Nós r and ealmo ent t emosr aei bempr essão deco qunsci e estênci amos nos ocup come come ber enqu ant o estamos fa zendo i sto. En t ão o seu p r i mei r o exer cíc i o cons i ste em, fut ur ament e, di r i gir sua at enção ao acont eci ment o do mome nt o. N o i níci o jun t e os seus p ensam ent os e os le ve à sua at i vi dad e do m oment o. Como a noss a ment e não est á pr epar ada par a vi ver no pr esent e é necessár i o sup er ar com ener gi a a i nér ci a dos velh os cost um es enr ai zad os. An t es de mai s nada, é necessár i o qu e você se i nt er esse pelo pr esent e. A qu i já está a pr i mei r a gr ande di fi culdade . O no sso coti di ano , como r ealm desagr adaaomu e éos monótono, ele r epet i ti vo,ent ume é, d inaos quas e i gual outi t ro.o,Elaté nossos pensa ment os se movi ment am em cír cul o, e se r epetem const ant ement e. À s vezes nos sent i mos como t alvez um a plant a se si nt a, cuj a sement e o dest i no le vou a um lu gar somb r i o e desagr adáve l, ond e ela d eve se desenvolver enq uant o exi st i r . Nós não r econhe cemos em n ossa vi da ne nh um sent i d o agr adáv el – e por i st o est amos semp r e fu gi nd o da r eali dade . A noss a ment e, os nos sos pensame nt os est ão semp r e ocup ados em nos t i r ar da t r i ste za do mome nt o e nos pa ssar par a uma v i são da exi st ênci os melhor es.mE as asst amb i m p ém assam-se os anos, passaaem a vicamp da. Nós v i vemos, não vi vemos. Foi um a const ant e fuga, um desvi o das pr ovávei s du r ezas da r eali dad e. Se ent ão vem al guém e que r nos destr ui r este cami nho, e xi gi r qu e nos coloque mos na mi sér i a de noss a vi da, e nt ão aut omat i cament e t end emos a r ejei t ar est a exi gênci a. Q uem agüe nt a enf r ent ar est as condi ções desamp ar ado, olhá-las de fr ent e, i dent i fi car -se com elas, acei t á-las, sem r eser vas? Nós apr en– 101 –
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demos a r epr i mi r desde a nos sa i nf ânci a o medo de st es sent i ment os hor r ívei s. A ún i ca alte r nati va que enco nt r amos é a dedi cação a pensame nt os e sonhos qu e t emos ac or dad o, nos quai s nos v emos be m suce di dos e for t es. E n a pr áti ca da vi da nós t ent amos, o melh or possív el, p ar t i cip ar um pouco deste po der , poi s nos dá se gur anç a e nos per mi t e supor t ar m elhor a no ssa vi da li mi t ada. Poant r estement e pr eço ançade , nós et emos c onst e àda auts egur or i dade outnos r assubm pessoas, acei t amo- las, e nos c ondu zi mos c onfor me as suas i nst r uçõe s, apesar de mu i t as vezes i st o i r cont r a a noss a mai s pr ofun da convi cção. Nós co mp ensamos e st es est ados afa st ando-nos e m pensame nt o daqu i lo qu e est á acontecendo. T r at amos os noss os pr oble mas da me sma for ma. Nós os a ssi mi lamos me nt alme nt e, os anali samos, pr ocur amos poss i bi li dade s de solu ci oná- los – e nos movi ment amos em cír culos at é achar mos um a saída. Nos sos pensame nt os acomp os prs oblemas m iviment sõesode vit óri a e grande za, e ianham magi namo afast ar oco sofr e a t r i ste za di ar i ament e, r epet i dame nt e, e enga namos a nós pr ópr i os. E além d i sso, busc amos assi duame nt e um sent i do e objeti vo par a nossa vi da. Nó s apr end emos que t udo na v i da t em d e t er um moti vo, um obje t i vo, de alguma mane i r a deve t er uma fi nali dade. Est a i magi nação é um a for mação da r azão, e é er r ada. No ssa exi st ênci a não t em n enhum obje t i vo de t er mi nado , ne nhum moti vo, nenhu ma fi nali dade. É di fíci l par a você imaginar , mas é ver dade . Se m d úvi da falt a t ambé m o mot i vo par a a subli no vatle mas. Aavichei da não eleii ta paro.a dei xarmação o Homem erdas umlág a exir i stênci a deésofr ment Nós devemos de i xar noss a vi da t r ansc or r er como ela é, nada mais. Mas v i ver da mane i r a cer t a. E vive r de for ma cer t a nós não co nse gui mos de sde o moment o em qu e come çamos a vi ver o pr esent e at r avés do passa do, em pensa ment os de lembr anças , em anál i ses, mas não di r etament e. Quem vi ve t ot alm ent e no pr esent e deve olh ar de fr ent e as suas di fi culdade s, a mono t oni a, e t odos os – 102 –
A ar te de viver bem
fat os i nfeli zes, i nd i fer ent e de gostar ou nã o daqui lo que per cebe. Não pe nse qu e logo de i ní ci o t emos de g ost ar e acei t ar t ud o aqui lo qu e vim os como r eali dade de nos sa vi da. Est amos i solados e m n osso eu, d o nos so ser or i gi nal, q ue const i t ui noss a ver dade i r a pessoa. O que consi der amos a pess oa, é o nosso e u, o ego mal -afam ado. Est e eu é uma for mação qu e semp r e é cr i ada por pensament c onhe ment o, exp er i ênci a eesr ecor daçãado. o, eNã qu oe r elacio, ona a s uaci exi st ênci a com valor do pass é possível p ar a o ego vi ver totalm ent e no p r esent e. Quando voc ê consegui r est ar t ot alment e pr esent e e obser vando cada m oment o de s eu di a, vo cê est ar á vi vend o o seu eu or i gin al, o “ eu” ver dade i r o de Dsc huang Ds i . Esta vi da at r avés do eu ocor r er á quand o você pu der volt ar os seus pe nsam ent os a o pr esent e e ao me smo t empo ob ser var esses pe nsame nt os. Faça i st o pe la sua pr ópr i a feli ci dad e e bem-est ar . T enh a est a per cepção co nsci ent e do p r esent e como um exeros cício r manent e did ár i o.á-lo Fi qu e at o aos sament qu pe e t ant o quereem esvi e di stent r aí-lo do penpr esent e, do mome nt o. Enfr ent e est as cenas fei as i ni ci ai s e encar e os fat os de fr ent e. Poi s assi m, você, ao me smo t emp o, mu da a sua si t uaçã o. Aqui lo de qu e você deci di dament e não g ost a, não fi car á em sua vi da. C om a li ber t ação do seu eu or i gi nal você coloc a for ças em m ovi ment ação, qu e agem p ela sua fe li ci dade e modi fi cam f un dame nt alme nt e a s ua sit uaç ão par a mui t o me lhor do qu e você podi a i magi nar at r avés de exer cíci os de pensament o po sit i vo. Dei xe o fut ur o de sua vid a po r cont a do T ao.faAjr áa er espont não r os. aneament e conf or me a sua i nspi r ação, e Os seus pe nsa ment os se t or nam m ais i nsi gni fi cant es no pr esent e e di mi nu i r ão cada ve z m ai s com a s ua ment e obse r vador a, soar ão mai s longe do seu n úcl eo e sumi r ão. Vo cê só pr eci sa apr ovei t ar aque les i mp ul sos qu e lh e são út ei s par a domi nar as t ar efas mome nt âneas. I déi as e i magi nações qu e at i ngem a sua va li osa pessoa fut ur ament e ser ão dr ast i cament e esque ci das. P oi s – 103 –
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logo v ocê não t er á mai s necessi dad e de faze r um a i magem de você mesm o, você se acei t ou , sem desejos de mu danças , sem q uer er ser di fer ent e daqu i lo qu e você é – uma pessoa qu e vi ve o aqu i e o agor a. Como você ant er i or ment e já se esfor çou p or r econhe cer os seus compr omi sso s e já se li ber t ou de les , os pensa ment os não conseguem m ai s ci r cular ao r edor dest es fenôm enos e di str aí-lo. gir á por mesma anqüi dadeiet os haremoni a nestSur a ment e at si é hoje t ãouma conftrusa. O sliconfl as conf usõe s se di lu i r ão e não ter ão mai s for ça par a retornar. Co mo e nf renta r fu tu ra me nt e o s seus pr oblemas
A r ecei t a é mu i t o si mp les. Di fí cei s são as cond i ções qu e podem l he possi bi li t ar a apl i cação da r ecei t a. J á falamos de t alhad ament e sobr e essas cond i ções: li ber t ação de t odo t i po de comp r omi ssos i nt er i or es e vid a no pr esent é necessár i o mai s nad a – mas com m enos do que i e. stoNão t ambé m n ão dá. Você deve consi der ar m ui to i mp or tant e o segui nt e: a dú vi da ou a he si t ação não i nf lu em em abso lu t ament e nada no e fei t o da for ça do T ao. As du as coi sas são pr ocesso s de pensame nt o qu e não t êm con t at o com campos opost os aos do pensament o. Quem vi ve di r ei to a vi da do T ao, ou se ja, de mom ent o a mom ent o, não ser á t or t ur ado por i déi as de dú vi das e hesi t ações, está li vr e de i mag i naç ões ar t i fi ciai s. Esta pe ssoa vive na r eali dade , ela p er cebe o q ue é e o q ue acont ece, e não coi sas qu e event entes, e pode ont ecer . Est as úl t i mas ão i nsi gniualm fi cant e nãor ivam aleac a pena fi car pensando ne slas. A vi da t amb ém n ão pou pa a pe ssoa do T ao com as suas exi gênci as, mas e la enf r ent a est es desafi os com out r os mei os do q ue os das p essoa s qu e só ag em confor me a sua r azão. Nós hu man os t emos, alé m d a noss a r azão lógi ca, uma i nt eli gênci a sut i l, pr ofundame nt e ocult a, at é agora escondi da da mane i r a de t r aba lh o do i nt electo. Na vi da – 104 –
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cot i di ana, esta i nt eli gênci a é atr opelada pe los in úmer os pr ocessos na cabe ça das pe ssoas. Em mom ent os de cr i se ext r ema br i lh a um pouco de sta e ner gi a, mas nó s não somos capazes de ut ili zar mos os seus mei os. El a se afasta de t odo t i po de pe nsame nt o. Po de soar como um par adoxo di zermos que a verdadeira in teli gênci a não tem nada em comum com o pe nsame nt o. Se você par t i r do pr i ncípi o de queausa amo s, odade concei o i nt eli logi gênci a, fo r ma it r ár i a par capaci de tpensar cament e e arb const r ut i vament e, mas e sta l ógi ca não t em n ada a v er com a i nt eli gênci a que é est r anha, vo cê t er á dado um pass o a fr ent e. A i nt eli gênci a da qual falo aqui , r eali za na nat ur eza co i sas t ão s ábi as c omo, por exemp lo, as plant as qu e espal ham as suas sement es at r avés do est ômago de pássa r os. Se em n ossa v i da sur ge um pr obl ema, se ja com u ma doe nça , um a di fi culdade fi nance i r a, o u u m confl i t o em u m r elac i ona ment o humano, e nt ão com o auxíli o da i nt eli gênci a pode mos e li mi nar em t oda s as pessoas pr oblema exi st entoeéna i nt elient gênci a mater al. P ar a iest stoenos so pensament t otalm e i nút i l. En i-qu ant o fi car mos pensando e m poss i bi li dade s, esforçar mos noss a cabeça, e t ent ar mos co m mei os pr ópr i os encont r ar o cami nho par a fora da mi sér i a t empor ári a, est are mos a ut oma t i cament e bloque ando qu alqu er outr o t i po de for ça em n ós. El a nun ca ent r ar á em açã o enquant o o Home m ope r ar com o i nst r um ent o do e go. Só quand o par ar mos de t ent ar soluci onar e ste pr oble ma, est a i nt eli gênci a poder á desenvolve r a sua for ça e eli mi nar est es pr obl emas da noss a vi da. Est e pr ocesso ocor rde e por si . Ape emos cuil evada dar parpar a que a sub pr oble ma,nas da t tar efa, de se ja a per t o dostânci noss ao mai s pr ofund o eu. E i sto co nsegui mos a t r avés de atenção, de o bser vação.T emos de c ont emp lar o noss o pr obl ema nova ment e, vi r á-lo e r evi r á-lo par a t odos os lados, não de svi ar o olh ar se a pr ópr i a cul pa é o moti vo da mi sér i a ou d o pe r i go qu e ame aça a noss a exi st ênci a. Olhar de fr ent e, detalhadame nt e. E não de sper di çar pensament os so br e o pr obl ema, só obser vá-lo. V ocê t er á a – 105 –
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i mp r essão de qu e olhar e sent i r o pr oble ma não s er ve par a nada. T ud o i st o soa tão sem efeit o, fr aco, sem ação! E é exat ament e nest a fr aqu eza, nes t a acei t ação de i mpot ênci a, da fr aque za di ant e das coi sas, qu e sur gi r á a ação espont ânea do T ao. T r ata-se de descobr i r o pr oblema, s ent i -lo , ent r et ant o sent i -lo de um a mane i r a t otalment e di fer ent e daqu ele sent i ment o “ pensado ” descr i t o nos c apít rulum os ant i or es.oVocê pr oeci sa se exer ci tpr ar oblepar a consegui senteri ment honest sobr e os seus mas e sit uações de vid a. Ac r edi t e, quando t i ver apr endi do a ver os pr oble mas de st a for ma, por exp er i ênci a pr ópr i a bem-suc edi da, nunca mai s t ent ar á alc ança r algo de out r a mane i r a. Você nu nca de ver i a quebr ar a cabeça pensando e m como s oluci onar um pr oblema. Cer tament e você se ant eci par i a ou for mar i a uma e xp ect ati va compl etament e falsa e m você. A sua r azão li mi t ada não pode enf r ent ar os desafi os da vi da, seja qu al for a espéci e, da mane i r a tão e sper t a e det alhada c om o faz e st a i nt eli gênci a em T alvez a se i r rpode i t adorqu ando escr evi quvocê. e a dúvi da e avocê hesit tenh ação não i am i nfl eu-u enci ar est as ações. Mas r efl i t a, est a i nt eli gênci a além d o pensame nt o lh e per t ence , ela e st á aí, e scondi da, m as exi st ent e. Você pode r enegar , i gnor ar, r ejeitar as suas capaci dad es mei o i nconsci ent es, mas elas exi st em m esmo assi m. Por i sso a he si t ação e a dú vi da n ão conse guem ati ngi r esta r eali dade , Só a sua cond ut a, a sua di spo si ção, de no se u l uga r dei xar a i nt eli gênci a do Tao a gi r , essa for ça cr i ador a exi st ent e em voc ê, solu ci onar ão os pr oble mas da vi da, nada mai s. En qu ant o você agi r com for pr ópr e pode r , você estatr ar apalha á apenas for rt ieali fi cand oo seuça ego, estai afor mação qu e só a sua zação. Com q ual qu er t i po d e desejo voc ê deve agi r como com os pr oblemas . Dei xe os det alhes por cont a da sa bedor i a do T ao, dê-lh e apenas o ass un t o. Obser ve os desejos se m p ensar , adi vi nh e-os e r eali ze-os – par a i st o são necessár ios apenas pequenos i mpulsos, e você ver á como é fáci l r eali zar a sua vi da co m m ei os da for ça do T ao em vez d a conf usão qu e o seu ego i magi na. – 106 –
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Cuid e be m d e se u cor po
O T ao não co nh ece li mi t ações par a pr azer es e não pr escr eve di et as ou r egr as ali ment ar es. Como vo cê t em em si todas as capacidades descr itas, ni nguém p ode tir álas de vo cê, você pode ape nas n egá-las, p oi s não ach a poss ível a sua e xi st ênci a ape nas at r avés de exp er i ênci as, a cond utgi a ext erri anha. or qu ase efei tam o sobr ação de sua ener a est Os não beatt er osáador nosei amp or r egr as de como de vemos vi ver , n os exp li cam o qu e é pecado e o qu e não é , sendo q ue eles me smos são t ão t r avados e pr esos qu e dá p ena. E st e t i po de pe ssoa est á t ão lo nge do se u i nt er i or , i solada do se u eu, q ue lh es ser á mui t o di fíci l li ber t ar-se desta v i são par cial de sua existência. Em r elaç ão à sua v i da espi r i t ual, vo cê pode pr ati car sexo di ar i ament e, até ver dade i r as or gi as, acomp anh adas at é de um a ou d uas g ar r afas de bebi da alco óli ca, fu mar sessent a ci gar r os e comer los de ne.rEssa manei r a de vi da com excessos só i nfqui lu enci ar ácar a cor ent e do T ao de um a mane i r a: far á mal par a o seu cor po. Nó s, pessoas da c i vi li zaçã o, já pe r demos há mui t o t emp o a r elação com o nosso cor po. Não e st ou f alan do d e uma vener ação nar ci si st a por n osso cor po. Est a r elaçã o per di da s e expr essa da segui nt e for ma: somos di spli cent es com o nosso or gani smo, não lh e damos at enção , e semp r e lh e i mpomos c oi sas que ele supor t a dur ant e algum t emp o sem r eclamar , m as que lh e faze m mal. A pessoa do T ao encont a por si cum elaçã iot com o se u cornão po,est poiá ssepar este éaum a runi dade omaor espír o da pe ssoa, do de la, por ém for ma um or gani smo de ação r ecípr oca que é mui t o suscet ível a co r r ent es não mat er i ai s e i nfl uênci as. Eu acr edi t o – e nest e pon t o não est ou só – qu e a doença, basicame nt e, é de nat ur eza p sicossomát i ca, q ue qualque r t i po de sofr i ment o te m ant es o seu so lo nut r i ent e espi r i t ual, e depoi s começa a apar ecer em for ma de algum di st úr bi o or gâni co. É mui t o i mport ant e não con– 107 –
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si der ar mos nos so cor po co mo par t e i solada de nós. É er r ado consi der ar a pessoa exclu sivament e um cor po com um cér ebr o que r epr esent a i soladam ent e o nosso espír i t o, se ambos tê m um pape l i mp ort ant e par a nos so bemest ar e par a a capaci dad e de desemp enh o ment al e espi ritual. Por i st o, que r o dar -lhe a lgum as r ecomend ações de como ê pod e desenvolve um aor elação ín t i ma, melh orvoc e mai s comp r eensí velr com seu cormai po essuas necessidades. Se obser var bem, você ver ifi car á que dos seus sent idos a visão é ut ili zada de for ma mai s conscient e, em segund o lu gar a audi ção, e os out r os sent i dos depend endo d a necessi dad e, send o qu e o t at o qu ase não é mai s consi der ado um a fun ção i mp or tant e na vi da. Quem qu er vi ver a nat ur eza comp letament e, dever i a apr end er a senti-la com t odos os sent i dos, com um todo do s ent iment o e do acont eci ment o, que não é i nt er pr et ado pela r azão ant es de chegar no nos so i nt er i or . É t ão i mpor t ante que apr endemos anemanete e dide r etament a ut nossos sent i espont dos. Pense em cenas a ci dentees deilit rzar ânsiosto, quando t estemun has dão depoi ment os cont r adi tóri os do m esmo acont eciment o. Est as pessoas r ealment e acr edi tam qu e vi r am as coi sas da manei r a que estão colocando. Cada um u m pouco di fer ent e, ou t ot alment e di fer ent e do qu e todos os out r os. O pr ocesso de pensament o i nf lu i for t ement e a nossa vi são de acont eci ment os qu e ocor r er am di r et ament e em n ossa fr ent e. O seu exer cíc i o cons i ste e m apr ende r a ut i li zar os seus se nt i dos c omo um a uni dad e. Devi do ao pr ocesso de pensament o acionado es tornar conscient e, você separ a aut omati cament eant a aud i ção da-se vi são, do palada r, do t ato, e do olfat o. E nós de mos uma nome nclat ur a par a a sensaçã o dos noss os sent i dos, ca da u m t em u m nome pr ópr i o. E e xat ament e est a di fer ença, s epar ação das sensaçõe s é t ão er r ada. O s er or i gi nal , qu e dever íamos ser , ut i li za t odos os sent i dos si mul t aneament e, absor ve espont aneament e os acont eci ment os, não se concent r ando ape nas nos olhos, por ém em t oda a sua uni – 108 –
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dad e, sem pensar , sem elab or ar as suas i mp r essões. Na t ent ati va de assim i lar a r eali dade como um t odo com t odos os seus sent i dos, você per ceber á r api dam ent e qu e i st o não é possíve l i nt elect ualm ent e. Você não conse gue admi ni str ar pr ocessos si mul t âneos destes com a r azão, mu i t o menos e nt endê -lo . Fi cou p ar a a sua in t ui ção, o s seus sent i ment os, per ceber com u m t odo as i mp r essões depseus sent o você não sá ent muiq ue t o ivocê sto. É r eci so t eri dos. paci No ênciina.íciMas chegar o dii raáem aut omati cament e não re agi r á mai s a estí mu los e xt er nos c om ape nas um se nt i do, mas s i m com mu i t os, e o qu e vai admi r á-lo mai s é qu e a i nt ensi dade com a qu al você escut a, sent e t at o e sabor , ganh ou um a di mensão e qu ali dade bem d i fer ent e. En tão ser á mai s fáci l a deci são de s e você deve ou n ão fum ar 6 0 ci gar r os e faze r com qu e a mucosa nasal par e de t r abalh ar em r elação à capaci dade de sent i r odor . Em r elaçã o à ali ment ação o T ao não te m r egr as e i nst rouçõe nt osent t aoíst asseles sã o veget ar i m anos, que s.é No musi tconve o conveni e, poi os monge s pode plant ar n os jar di ns do convent o a sua pr ópr i a ali ment ação de mane i r a bar ata, e assi m ser em r elat i vament e i ndepend ent es. Po r out r o lado a per manê nci a nest es convent os mui t as vezes é li mi t ada, não se pode comp ar ar o status de monge com o de padr e qu e at r avés de seu vot o deve fi car o r est o da vi da n o conve nt o. Mas me smo as si m vale a pena r efl et i r sobr e a ali ment ação veget ar i ana. Há mui t os anos eu co nh eci u m Yog ue-Maha r i shi qu e er a um veget ar i ano mu i t o assídu o, ele r ejei t ava qualque t i poos. deEprleodut mal, não caos omiseus a nem m lact ircíni semporani e exp li cava ouviovo nt sesneque os ani mai s mai s fort es da T er r a, o elefant e e o búfalo, er am veget ar i anos e di spunh am d esta f or ça i mensa. El e comp ar ava a ali ment ação veget ar i ana c om o comb ust ível d e um avi ão a jat o, qu e qu ei ma f áci l e é et ér eo, enqu ant o que a car ne pod e ser comp ar ada co m ól eo di esel, chei o de r esíd uos e cont eúd os qu e pesam n o or gão di gest i vo. Em gr ande par t e eu d ou r azão a est e home m. – 109 –
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Al i ment ação vegetar i ana é r ealment e mai s saudável. E st as clín i cas de r eabi li t ação par a doent es de câncer pr escr evem uma ali ment ação vegetar i ana como fun dament al par a uma possíve l cur a. Caso você vá r efl et i r sobr e um a ali ment ação veget ar i ana, vo cê dever i a saber o segui nt e (poi s aqui falham mu itas tent ati vas): ser vegetar iano nã o signi fi ca nem f i car nas s uas a t uai s r ecei t as, co mer os acompanh e dei car ne. Mas bém n ão si ament gni fi caosdei xarxar est de es comer acomp aanhament osteamencont r ar alg o que substi t ua a c ar ne, por exempl o estas fr i tur as obscur as. Nada di sto t em sent i do. Ser vegetari ano signi fi ca um a mud ança t otal d e pensament o em r elação à comp osi ção de sua ali ment ação. Os pr atos que você vai come r são comp ost os base ados e m p ont os de vi st a bem d i fer ent es do qu e os acompan hament os de sua cozi nh a até hoje. É b om qu e você adqu i r a algun s bons li vr os sobr e ali ment ação de alt o valor nut r i ent e, eu sa i r i a do nosso assunt o se eu escr evesse aqu i r ecei tas de cozi nh a. Par a mi é im t ant ete.que você endateode pr competição i ncípi o. E pmr ati qupor e espor Não esteent espor qu e levado pe la ambi ção pr eju di ca a pessoa mu i t o mai s do que benefi ci a. Pr at i qu e espor t es qu e di vi r t am e r elaxam. Eu escr evi qu e não est ou mu i t o li gado co m a i oga chi nesa, poi s ela se concent r a em p r áti cas de K und ali ni , send o qu e os mé t od os que s e ocup am com a m edi t ação do si lênci o conse guem r esul t ados be m m elh or es, sem que o pr ati cant e t enha qu e cor r er os r i scos psi cológicos da t écni ca K und ali ni . Mas a ioga i ndi ana Hat ha- yoga é um a coi sa mu i to boa. Você não deve consi der ar a Hat hayoga merdoo espor e, ela abreange maiesta s coii oga sas.para Mas par a acomo pessoa T ao é tsufi cient ut i li zar for ti fi car e mant er a sua vi t ali dade. E se você qui ser pr at i car a i oga não a consi der e como um espor t e de comp et i ção. P r at i qu e com cui dado, e não se esfor ce demai s. L i gament os e múscul os pode m r ompe r -se t ão r ápi do e demoram t ant o par a sar ar. Aq ui também é bom c ompr ar um bom li vr o, hoje em d i a já e xi st e uma grande quant i dade deles nas li vr ar i as. – 110 –
A ar te de viver bem
Apre nd a a c onfi ar n a sua i ntu iç ão
Ai nd a hoje você r eage aos acont eci ment os cot i di anos de sua vi da exami nand o com a r azão cada pr ocesso, mai s det alh adame nt e em cas os mai s gr aves, e mai s li gei r ament e em ass un t os si mp les. Mas de qu alqu er for ma voc ê pr eci sa de t emp o par a deli ber ar . E a cada v ez qu evocê vocêblest i ver uma ecido são enaest ouegr de oqu ei adioant efeie tde o da fordça T pequ ao com pranocesso de pensament o qu e o pr epar a par a a sua r eação. A sabedor i a qu e exi st e em nós não t em chance de a gi r ou d ar -lhe um i mp ul so par a a ação se você nem escut ar e se est i ver ocupado e m encont r ar você mesmo a d eci são. Send o que você pod e t r anq üi lam ent e confi e nest a i nt eli gênci a pode r osa, t ant o nas pequ enas c omo nas gr andes coi sas da vi da, q ue deci dem sobr e o bem e a dor do f ut ur o. T orn e um e xer cíc i o di ári o não despe r di çar mai s nt os com t odos safii ntosuiou acontpensame ecim ent os. A ja co nfor meoso ipequenos mp ulso dedesua ção que ent r a em açã o para t odo a cont eci ment o por menor qu e seja, e i medi at ament e, sem pausa. Ap r end a a pe r ceber est e i mpu lso – e depoi s aja ade qu adam ent e, sem p ensar no qu e é cer t o ou er r ado. Acr edi t e, e é cer t o, nada pode ser er r ado par a você, se você conf i ar nest a aut or i dade . Como se t r at a de peque nas co i sas, no i ní ci o vo cê não est á ar r i scando t ant o, se você t i ver a condu t a que lh e foi r ecome nd ada. Vo cê logo t er á a exp er i ênci a de c omo é bom vi ver dest a man ei r a espont ânea, e você t er á sucesso. r esul ados ações espon t âneas most ami asabe dor Os i a cr i ati tva e prde odut i va que você nun ca obtr er comt odo o pensament o da for ça e do conhec i ment o do s eu eu. Co m a r azão v ocê ava li a as coi sas par ci alm ent e e li mi t adament e. Por exper i ênci a pr ópr i a eu sei que mui t as ve zes um i mpu lso me leva a dar um passo , qu e eu dou, m as logo em segui da a coi sa par ece t er si do t ocada de for ma er r ada. Ve m u ma r eação que apr esent a a deci são espont ânea como aç ão er r ada, qu and o por exemp lo – 111 –
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dou u ma r espo sta m al- cr i ada pa r a uma pe ssoa da qu al eu d epend o e o at i ngi do me t i r a o fav or qu e me pr est a. Mas mai s t ar de eu se mp r e descobr i qu e est a de ci são i medi ata, que vei o do s ent i ment o pr ofundo, fo i corr et a. Eu nu nca so fr i conseqü ênci as de um passo como est e. Quando você tiver adqui r ido confi ança sufi cient e nas suas pr ópr i as capaci dades, você pode ut i li zar o pr ocedi ment o t deve ambése mtpar a coi maia,orou es,casa como por est exemp lo se você or nar autsas ônom r com a pessoa, ent r egar o seu i móvel, i mi grar , t orn ar-se jar di nei r o – ou seja l á qual for a coi sa. Coloque a s gr andes decisões e as ações vit ai s de sua vi da t r anqü i lament e nas mesmas mão q ue as pequenas. Você nunca se ar r epender á. Se por causa de um er r o de deci são (apar ent e) a sua ca sa se i ncend i ar , ent ão t enh a cer t eza qu e i st o acont ece apenas par a qu e você depoi s consi ga uma cas a melh or . Exe rcite- se e m n ão di sti ngui r
T ant o os taoíst as como os zen-bud istas pr egam u nânimes que o mundo que eu percebo é uma peça i nsepar ável d e mi m. Por i st o nos pensame nt os eu n ão devo fazer nenh um a separ ação ent r e o “ eu” e o meu m eio. O uni ver so e o ser qu e vi ve nele for mam u ma un i dade fechada. A f ísi ca nucle ar neste a nos no s mos t r ou i ndí cios i ndi scut ívei s par a este fat o, por mai s i nco mp r eensívei s que t ai s afi r mações possam ser par a a nossa r azão. E os s ábi os do T ao e do Ze n exp li cam u ní ssono c lar ament e qu e o passo para o S at or i , par a a i lu mi nação, não rpessoa esult aeapenas do r econh eci ment o de st a uni dade de cr i ação. Nosso exer cíc i o nest a “ di sci pl i na” t em d e ser det er mi nado pe lo s ent i ment o, po i s nã o po demos t r ansmi t i r esta t are fa à r azão , por m ais di sci pli nada que esta seja. T ent e um a vez, qu and o você esti ver passeand o pela nat ur eza. Você vê pássa r os qu e alegr am com o seu cant o, vo cê vê um r i acho com água c or r end o sobr e as pedr as no fu nd o, você vê ár vor es, ar bu st os e t odo t i po de – 112 –
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plant as, desde um capi m at é uma mar gari da. Ago r a i magi ne qu e t odas est as coi sas vi st as, ouvi das, c hei r adas sejam u m ú ni co or gani smo, s ejam m emb r os de seu p r ópr i o cor po e est ejam t ot alme nt e li gadas c om voc ê, mesmo qu e i st o não o atr apalh e em seus movi ment os. Quando você pu der sent i r i st o, est a r elação, ent ão você sent i r á algo qu e r ealment e é assi m. Quand ão você di ant e dep um ár vor e, est a não ser áoaent palav r a “ árest vori ver e” , ser á uma ar tea de você, est a ár vor e faz par t e de você. T ent e ver o seu mei o dest a maneir a, por mai s ilógico que isto poss a lhe par ecer . Par e de class i fi car as coi sas qu e você vê no esqu ema q ue você apr end eu, p ar e de dar nome às apar i ções na nat ur eza, a não ser qu e seja o seu p r ópr i o nome. Acr edi t e, você sent i r á est a r elaçã o, a li gação ori gi nal e nt r e você e est as coi sas ao s eu r edor . No e st ado de i lu mi nação est e conhecim ent o da uni dade do Home m, do i ndi víduo c om o un i ver so, exi ste c lar ame nt e. Est a r elaçã o de mane i r a nenhu mi nuient a sua capaci dade viver e agi um serma i nddiepend e. Você vi ver á umdever dadei r o rcrcomo esci ment o, uma a mpl i ação da sua r i queza in t er i or. Você pode segui r e dei xar de lado um ou out r o conselho. Se você apr ender a vi ver no pr esent e, os seus sent i ment os, a s ua i nt ui ção lhe pr opo r cionaá uma visã o mai or no ver dadei r o acont eci ment o, os mode los de condut a r esult ar ão em par t e por si só .
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XVI . R e s u mo
Ass i m che gamos a o fi nal d as i nst r uçõ es pr áti cas. No t ext o, eu r epeti algum as vezes um p r oblema vi st o por out r o lado, eu pr ocur ei sali ent ar t ão cla r ament e quant o poss ível as pouca s r egr as da vi da no e spír i t o do T ao, de man ei r a qu e qu alq uer pessoa pode e nt end ê-las ape sar de sua s i mp li ci dade apar ent e. Por favo r não tome o que foi di t o como uma nov a fo r ma de alg um ensi no de cur a. O fa t o de que o descr i t o nos foi t r ans mi t i do de velh os t emp os da Chi na, não que r di zer nada. T oda pe ssoa escond e est e conh eci ment o da nat ur eza d o seu eu em si e pode r i a obt er este c onhe ci ment o por si mesmo a t r avés de um a obser vação det alh ada. Se em algu ns pon t os i mpor t ant es eu m e r efer i vár i as vezes à obser vação, at enção, foie por e a li nguag t em palav adas qu cor rqu espondam ao em t eornão espi r i tual dasr as afiadequ r mações do T ao. Eu t i ve qu e me cont ent ar com o noss o vocabul ár i o – e como eu j á di sse ele é i nsu fi ci ent e. À s vezes eu me sin t o di ante de uma t arefa como ensi nar por escr i to uma pessoa a andar de bi cicleta. I magi ne este pr oblema. Como você qu er exp li car at r avés de si mp les palav r as as lei s da di nâmi ca do movi ment o par a uma pe ssoa, par a que est a não t ombe quand o esti ver sobr e a bi ci clet a, mas si m f aça – 114 –
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um movi ment o est ável. A ssi m semelh ant e são os sent i ment os qu e o lei t or e a lei t or a devem sent i r ao ler est e li vro. Ensi nam- lhe a “ anda r de bi cicle t a” sem l he mos t r ar um a bi cicle t a. As le i s do wu wei , de não ag i r , est ão for a de qu alque r i nt er pr et ação i nt electu al. N ão se pode compr eendê-las totalment e. Mas pode-se muito bem vi vêlas. Vo cê pr eci sa apenas exp er i ment ar ó que leu na sua pr a vi da,ser atéum measmo e xper fi mópr sóipode vi dadequsconfi e sentando. e os Aacont ecii ênci menta no os do di a no pr esent e e não s e pr eocup a com a pr óxi ma hor a, c om o pr óxi mo di a. V ocê per ceber á que pr eocupar -se com o di a segui nt e é i nút i l, p oi s o T ao olha e já age par a você mu i t o mai s além d o que o pr óxi mo di a. A vi da no aqui e agor a é agi r , é movi ment o, e faz d i fer ença se eu apenas falo do m ovi ment o, i magi no em m e movi ment ar , ou se eu nest e sent i do exer ço o movi ment o, e eu mes mo sou o movi ment o, e o pr esent e. T enh a semp r e em vi st a: a i dent i fi cação compl et a com a sua v i da, co m os seus pl ano s, c om o se u coti di ano , de i xa flu i r li vre ment e as sua s fo r ças i nt ui t i vas no c ampo po sit i vo da vi da. A ssi m o b om r esul tado e o sucesso são um a conseqüência n at ur al de sta i dent i fi cação. Quando vo cê medi t a ou se dedi ca a um ou out r o exer cíci o r ecomendado, voc ê deve saber qu e tud o aqui lo qu e é pr at i cado consci ent ement e du r ant e est e exer cíci o, cont i nuar á a t er um e fei t o no di a a di a mesmo quando você já t i ver acabado o exe r cíci o. Sem qu e você per ceba, você dei xa cada ve z m ai s a ação no espír i t o do T ao, e a sua co nf i ança ne st as for ças cr escem a ca da di a at r avés de exp er i ênci as. Hoj e você ai nd a acha q ue deve se adapt ar às cond i ções do se u mei o, so b as qu ai s você vi ve e pr ovavelm ent e também so fr e. Na r eali dade as cond i ções se for mam depend end o da man ei r a qu e você se cond uz di ant e da vi da. Vo cê sozi nh o é o causa dor de t odos o s fat os que de t er mi nam a sua fe li ci dade e o seu bem-est ar . De i xar as coi sas acont ecer e vi ver o seu p r ocesso posi t i vo exi ge mu i t a i noc ênci a. Eu ent endo por i noc ênci a a li ber t ação do egoísmo, co nd ut a pensada po r um a – 115 –
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vantagem, ou um lucro, estar livre de todo tipo de cor r up ção qu e det er mi na a noss a vi da a t ual, me smo qu and o não a per cebemos. E lemb r e-se, se mp r e qu e t odo t i po de for ça ger a um a cont r a-for ça, uma r esi stênci a, e semp r e na i nt ensi dad e em q ue v ocê t ent a co m a e ner gi a alcançar o seu obje t i vo. A ação das for ças do T ao é si lenci osa, mui t o leve, mpr as de a enor ca. Você se padmi r arna sua át i um ca de vi dame co di monâmi a soluçã o devai seus r oble mas é alcançada c om exat i dão e dr ast i cament e. Quando um nó é desfei t o, ele est á desfei t o. Nã o fi cam m ai s pont as pend ur adas , como na noss a vi da, qu ando pass amos chei o de me do d e um a so lu ção de emer gênci a par a out r a, e abr i mos um bur aco par a tapa r out r o. Es t e t i po de ação fr aca e cont or ci da no fut ur o nã o ser á mai s obje t o de sua açã o t er r est r e. Os sábi os do T ao e do Ze n nos tr ansmi t i r am que for am co mp anhei r os mu i t o alegr es. Ele s não levavam nemdade a vi da, suada fi loso fi ae mui t o éa asér Elevisver er am ver i r osnearmt iastas v i da, o T ao arito. e de ,a ar t e do wu wei, da ação at r avés da n ão-ação. A pessoa é o ar t i sta, se us i nst r um ent os, ou s eja a t ela, o pi nce l, t om e a espát ul a sã o o s eu cor po, se us se nt i dos e seus sent i ment os. A vi da com as suas a ções é a ar t e execut ada, e dei xar acont ecer as coi sas t or na-s e a obr a. Ai nda é i mpor t ante sali ent ar: a vid a no wu w ei pode ser fac i lme nt e confun di da c om o “ vi ver o di a a di a” de cer t as pessoas louca s. T ambé m p ar a você foi di t o par a não se pr eocup ar com o di a segui nt e, e o co nsi der em ar t i staam dai vi da. Mui t oement bem,ealguns é pode ser ,oereles achar nconscient o camiatnho cer to.mMas esto dest as pessoas se di fer enci am b em das p essoas do T ao, poi s estes pr egui çosos são egoíst as, eles concentr am seus pensame nt os semp r e em opor t un i dades que possam lh e t r azer vant agens e poss i bi li t em este esti lo de v i da, e les de mane i r a algum a est ão li vr es de mot i vos e obje t i vos. Vi ver no T ao é di fer ent e. T ambé m é estar li vr e de pr eocupaçõe s e de pensament os sobr e o amanh ã, m as a – 116 –
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pessoa do T ao a ge a par t i r do se u m ei o, e la sabe qu e dent r o dela exi stem for ças at i vas, cuja r esist ênci a a pr i var i a de t odo o be nefí ci o. El a age sem objeti vo, sem mot i vo, par a ela a v i da é sufi ci ent e como obje t i vo e mot i vo, ela não pr eci sa mai s de sua s or t e. El a não est á i nt er essada em p oder , mas t ambém n ão supor t a ser domi nado. El a est á li vr e de t odos o s compr omi ssos, ela não é submi ssa a nenhu sa ou na t ur al. ma autor i dade , i ndi fer ent e de ser r eli gioFalan do em f alt a de li ber dade . Eu d escr evi como o ego se for ma at r avés do pe nsam ent o e o cont eúd o da memór i a. Quem t ent ar fi car pr eso a este ego, não esti ver di spost o a dei xá-lo de sapar ecer par a o seu pr ópr i o bem, estar á pr ati cando algo que s i gni fi ca um enor me obs t áculo par a a r eali zaçã o do T ao. O pr oble ma é qu e a mai or i a da s pessoas nem q uer em ser t ot alme nt e li vr es. L i ber dade nos t r az r espo nsa bi li dade . Respo nsa bi li dade pela nossa pr ópr i a ação e pelas noss as dec i sões. En quant nós nos subme mos a umpassa a aut or no s di z o qoue devemos fazert er , podemos r ai dade ela a rque esponsabi li dad e pelos nossos at os e seus r esul t ados. Mas a ssim que r ejei t ar mos esta aut or i dade, assum i r mos a responsabi li dade , est ar emos mui t o sós. Assim nós nos excluí mos da co mu ni dade daqu eles que s e adapt am, d os cond i ci onado s, nós nos separ amos i nt er i or ment e desta massa de pessoas par a as quai s subm i ssão e obedi ênci a são si nôni mos de s egur ança . Pode sur gi r medo da vi são de li ber dade . Eu acho qu e não exi st e nada no mu nd o que t emos mai s medo do qu e da soli dão. Nqui nguém gost aamos da soli E quand o te-i mos a sensação e nos separ dadão. adapt ação colet va, i st o pr ovoca um a sensação de aband ono. Nã o for am os adapt ados que nos abandonar am, n ós nos afast amos deles. Mas a or i gem da separ ação não t em i mp or t ância par a a sensaçã o de soli dão. Vo cê t em qu e enf r ent ar est e medo d o i solame nt o se você r ealme nt e qu er ser li vr e. Como consolo, posso di zer -lh e qu e est a segur ança qu e é obt i da at r avés da s ub mi ssão, não é um a segur ança ver – 117 –
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dadei r a, é só a i magi nação dela. A ver dadei r a segur ança a pessoa só pode a lcança r com a li ber dade de espír i t o, qu ando e la se t or nou ca paz de ver a r eali dade i mp ar ci alment e, ass i m como ela é, n ão como os o ut r os que r em lh e i mp or qu e seja. A sensaçã o de segur ança at r avés da par t i cip ação de um co let i vo, in di fer ent e por q ual mo t i vo ou p r egação, só o cor r e poi s as for ça que le vam a e st as un õesêsabem assar esto adesensação massa. do ivoc t i ver apsensaçã soli dão, par aceai tae-a comoQuanpar t e de você, acei t e-a como car act er íst i ca e abr a-se cor ajosament e a est a sensação. O medo desapar ecer á. E q uan do você t i ver medi do a pr ofun deza do T ao. além d o w u w ei, os r econh eci ment os vi r ão ao seu encont r o da for ma cor r et a, v ocê ent end er á qu e não e st á nem u m p ouco s ozi nh o. Você saber á qu e você é um a un i dad e com o mu nd o t odo, n ada é separ ado d e você, t ud o faz par t e de você e é par t e sua. Voc ê é o t odo, e nu nca pod e ser excl uí do, abandon ado, ou de i xado só, poi s as coi sas per t encem a você f un ções er medi i as separntador tudo.sem I solado, e semi ntsaber , pr ár ofundame e solias tár–ivocê os sãoé a mai or i a das pes soas, p oi s elas e st ão i soladas d o seu eu. El as não t em r elação co nsi go me smas, e las só se per cebem em for ma de st a for maçã o si nt ét i ca de falsas i magi naçõ es, qu e chamamos de eu. E assi m abr em-se as por t as par a t odas a s necessi dad es, me dos, pr eocupações, sofr i ment os e desesper os sobr e a afl i ção e fal t a de saída da e xi stê nci a humana . E t ão in út i l, poi s tu do só acont ece dest a for ma t er r ível poi s a Hu mani dade é i gnor ant e há m i lh ões de anos – e nes t e lon go per íod o não euno nada. Nóãos do somos e tude,o qu e apr nãoend ca be p adr c onhtão ecidout mentr ionados da so qu ci edad é r ejei t ado. Como é possível m odi fi car algo de st e jei t o? Aqu i cada um só pode agi r par a si , não pode faze r nada pe lo out r o. En t r et ant o: t odos nós pode mos s er ant ecedent es, dar exempl o. i st o pode fazer efe i t o. E as sim , de got a em go t a faze r t r ans bor dar um b arr i l, e m um a que st ão de t emp o, de qu ando u m n úm er o de pessoas sufi ci ent e t er á ent end i do co mo a noss a exi st ênci a – 118 –
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pode ser boa e feli z. Par a nós t or nou-se i mp ensável ver a vid a como objeti vo, si mp lesment e par a exi sti r , e ser feli z com a sua exi st ênci a. Em t odos os lu gar es somos aper tados e li mi t ados . E m t odos o s lu gar es se pensa no b enefí ci o da açã o. Não exi st e mai s qu ase nada q ue as pessoas façam sem m ot i vo. Semp r e elas pr eci sam d e um est ímu lo, e qu ant o mais pr oble mát i co é o campo do di a a di a, mai es devem serrest es nest ul os. Porsifor st ot você está ent ando estíme est i lo d e vi da sem mot i vo. Aj a at r avés da não- ação, de i xand o acont ecer , confi e na d i mensã o dent r o de você, q ue esper a qu e você a conheça. Ab r a-se par a est a sabedor i a mi lenar do T ao. Não se fi xe no nome T ao. L aot se di zi a que o T ao qu e di zemos não é o T ao. E ele t em r azão. No mes são sons e fu maça . O co nt eúd o é qu e vale . E st e voc ê pode vi ver . L i ber t e-se, r esgat e a sua i nocê nci a da i nf ânci a obser vand o e avali ando a v i da, par e de se cor r omper . Desi st a de seus obje t i vos ambi cioso s, não te nha m oti vos fut ur ament Você do assi ceber e é tabr ão fáci l vi ver – e não exi st ee.nada, qumeper você t enhá qu a que i r mão. Vou conclui r est e li vr o com o t ext o de um a cançã o chi nesa ant iga: Assim que o sol nasce, começamos a trabalhar; assi m qu e o sol se põe, descansa mos. Nós fazemos o poço e bebemos, nós ar amos a terr a e comemos – O que temos a ver com o poder do Ti? (T i é o co ncei t o par a as le i s vige nt es)
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Pósfacio
Tudo o que eu descr evi neste li vro, são fat os que todos podem vivenci ar se fi zer em um esfor ço para segui r os conselhos dados. Cada pessoa vai complement á-lo com acont eci ment os e exp er i ênci as – e encont r ar á por si o equ i lí br i o, a si met r i a de sua vi da. Mas além do noss o conheci ment o exi st em coi sas que pode mos supor . Ex pr essá-las nos leva aut omat icament e ao campo d a especulação. Mas como eu lhe passei tant as r egr as apl i cávei s, posso agor a no fi m ser um pouco fís ico-metafísico. Exi stem hoje descober as ciaent íf i medi cas sobr nossa mat éri dade. i a e a sua ação,o quetaind não r ameaasua pr ofund Elascrleivam espectador a r efleti r , um a r azão não pr econcei tuosa, que já e xi st e, se r enova, se abr e par a descober tas não habi tuais, e podem cr iar uma i magem b oa das possibi li dades da r eali dade objetiva de nossa cr iação. Em exp er i ênci as subat ômi cas na físi ca nu cle ar const at ou-se qu e est es pr ocessos só ocor r em q uan do alg uém os obse r va. Ex i ste uma r elaçã o ínt i ma e nt r e o obser vador e o pr ocesso da exp er i ênci a. O r esult ado da exp er i ênci a depend e t ot alm ent e do obse r vador , do pe squ i sador .nucle Sem paressoa eferos ênci a não r e nenh pr ocesso . Al émded ri sso fí si cos tio cor ver am qu e um r econhe cer , qu e o menor element o da mat ér i a pr ova ni t i dame nt e qu e nem exi ste a mat ér i a na for ma not ada por nós. T r at a-se, na me lh or das hi pót eses, de apar i ções de ener gi as no espaço vazi o qu e for ma a n ível da assi m chamada t eor i a de camp o como um t odo de fun do par a a cr i ação mat er i al. E di ant e deste fun do de vazi o absolu t o aco nt ece algo qu e põe de c abe ça par a bai xo t odas as – 121 –
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t eor i as de pr ocesso de cr i ação. Par t ícul as do nú cleo at ômi co sur gem., passa m e se r enovam novame nt e em i nt er valos de un i dade s de t emp o da ve loci dade da lu z, em bi li onési mas fr ações de segund os. Não há n ada de est ável, f i r me. T ud o que po ssa ser mat ér i a está e m constant e mov i ment o de nt r o de um p r ocesso mui t o r ápi do de decadênci a e r esur gi ment o. Uma out r a conclusão da fí si ca gia nucdlear é mui o im podem port antser e: Afi me norcomo part ícula ener a maté r i at não xadas par tede de um d et er mi nado o bj et o. El as r ompe m t odo camp o de t emp o e espaço. Na r eali dade não exi st e nenh um a par t ícul a (pod e-se compr ovar ) qu e per tença di r etament e a um pedaço de made i r a, um ca r r o, o u à lu a. A uni dade de ener gi a qu e o ci ent i st a descr eve como pr obabi li dade de par t ícul a subat ômi ca r efer e-se basi cament e a t odo o uni ver so, nun ca a um obje t o i solado. E co m i sto fi ca confi r mado por part e de uma di scipl i na c i ent ífi ca r econh eci da aqui lo qu e os velh os sábi os da Chi na e do Or i ent e jásmo sa bem h ái tmi os:i núm o unierver é um umque ún itco organi const uídlêni o por as so apar i ções, em i nflu ênci a r ecípr oca. Cr i açã o é o vazi o do e spaço, o absolu t o, no qu al pot enci alme nt e t odos nós est amos c omo apar i ções. Eu acho qu e nós H omens se m o nosso c onh eci ment o co nt r i buím os in volunt ari ament e par a o pr ocesso de cr i ação. O un i ver so par ece nem exi sti r em for ma de mat ér i a, há x-mi lhões de anos. T r ata-s e mu i t o mai s si mp lesment e do pl ano de const r ução do un i ver so, qu e est á conso li dado no cé r ebr o hum ano c omo uma e spéci e de pr ot ocolo deadame DNS, entqu e no dosecor er da e mod i fi caadequ e com cér rebr os.evolução O un i versso não sur gi u devagar p or si p r ópr i o, e nem foi cr iado em um úni co at o. Ele e xi st e na for ma de um p r ocesso pe r mane nt e, qu e ocor r e semp r e no p r esent e, e c om colabor ação de nós Home ns. Nó s mesmo c r i amos di ar i ament e, a t odo mom ent o at r avés de me i os da nossa per cepção a mat ér i a, est a for maçã o si mp les, est a il usão de ener gi a pur a. Nós não t emos co nsci ênci a d est e pr ocesso , e a nossa – 122 –
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r azão ( gr aças a Deus) não t em i nf lu ênci a sobr e o acont ecim ent o. Mas a cr i ação de mat ér i a faz par t e das c apaci dade s hu manas, às quai s o Home m não t em acesso at r avés de pr ocessos de pe nsament o. Se cada pes soa modi fi car o seu un i ver so semp r e atr avés da s ua i nt er ação i nvo lun t ári a e i nt er valos velocíss i mos, e la p er mane nt ement e est ar á cr i ando e la mesma e seus t es. Vend o est e par adox do no budi smosemelhan de Sut r en a me t áfo r a da r ede daoI edrlena, ond e o pr ocesso de cr i ação é descr i t o pela vi são de um a pessoa i lu mi nada, a s coi sas fi cam um pouco mais clar as. Est a met áfo r a compar a o un i ver so com u ma r ede pode r osa. E e m cada pont o de nó d est a r ede encont r ase um a pér ola. E e m cada pér ola espelh am-se as out r as pérolas da r ede. Vamos colocar uma pessoa em cada lugar de um a pér ola e t omamos o pr ocesso esboçado, e nt ão em cada um d e nós est á cont i da pot enci alment e t oda a Hu mani dade , nós for mamos co m ela e com o r esto d a cr iando açãoneos st aé un i dade feado chada qur di alfer se enci mp ração, e se fala qu r ecomend nãoda faze n ão faz er separ ação das apar i ções per cebi das. E at r ás de t ud o está o T ao, o T ao mant ém t ud o em si , a apar i ção da Na t ur eza as si m como dos Home ns. Na ver dade não há nada a não s er o absolut o, que é ci t ado nest e li vr o e há mu i t o t emp o no T ao. Nós somos o T ao, e o T ao é nós. O T ao é a alma da H um ani dad e, mas não da mane i r a que cada pe ssoa poss ui um a alm a pr ópr i a, é um a úni ca alma q ue per t ence colet i vament e a t odas as pe ssoas. E m esmo as si m não se per de o i nd i vi du alit ismo Mas ooi enddoi víduo r i a capaz par ,ci pardas dopessoas. c onhe ci ment s ent se i ment o de stedet odo ele poder i a na sua c onsci ênci a i nt egr ar -se colet i vament e e ent end er a sua vi da co mo a v i da de t oda a Hu mani dade: e vi ve-la. Eu qu er o comp ar ar est e fenôme no com um a colme i a de abelh as. Est a fo r ma um ú ni co or gani smo qu e consi st e de i nú mer os ser es vi vos que mor r em em i nt er valos de t emp o r elat i vament e cur t os e semp r e dei xando espaç o par a nova ni nh ada, qu e se i nt egr am – 123 –
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nest e ci clo. Mas t oda a c onsc i ênci a da co lm ei a é pr ópr i a de cada a belh a, é um ser vi vo par a si com m ui t o corp os. Esta c ompar ação t ambé m i lum i nar i a por out r o ângul o o fenôm eno de vi da e mor t e, de nasci ment o e mor t e na e xi st ênci a hum ana. A e spé ci e Homem é um ser . Que m est i ver li vr e dos c omp r omi ssos do se u eu, dever i a est ar em cond i ções de pe r ceber a exi st ênci a dest a espé e deeseout r esr os estnasc r anhos u mênci t odo. Os cor pos mor cir em, em.como A consci a das pessoas fi ca s emp r e guar dada de nt r o do se r vi vo, de mane i r a que a mor t e só si gni fi ca um a que da na e xt r emi dade, e o nas ci ment o uma co mp lement ação do co r po com cé lu las novas. Nós mesmos nos coloca mos obs t ácul os na par t i ci paçã o do espír i t o colet i vo segur ando- se no pr ópr i o ego. Como não há nad a em cr i ação além dest e or gani smo, do qu al somos par t ícul as, e qu e eu chamo de T ao, fi ca clar o o qu e acont ece com as pe ssoas após a mor t e. Aq ui est a pessoa eu” ér (eipode r i a ser ). El ar ecor mor daçõ r e, mes orqu r eeoo “ eu” , poiésoé“ mat a, constr uí dasicom cér ebr o gr ava par a ela, que tamb ém é mat ér i a e t r ans i t óri a. Obr i gat ori ament e o Home m se t orn a em seu estado a gr egado modi fi cado a qu i lo qu e er a ant es do nasc i ment o: o T ao. En t ão ele sabe coleti vament e, o qu e é vi da como um gr ande or gani smo. Quem r eali zar o T ao aqui dur ant e a vi da. e alc ançar a i lu mi naçã o como e u d escr evi , pe r ceber á o mun do como um t odo, assim como os out r os que nã o são i lum i nados só per ceber ão i st o ant es do nas ci ment o e depoi s da mort físieuca. Assiem acho qu e é o ci clo da cr i ação. O autor realiza seminários em fins de semana. Endereço de contato para informações e principiantes: Theo Fischer 15 1, Rue du Cham ps Thomas F-88600 Yvoux França – 124 –
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Bibliografia
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Existe um aprendizado, que nos faz compreender, o que somos. Desta compreensão surge uma maneira totalmente nova de agir: wu wei. Isto significa agir através da não-ação, deixando acontecer. É a capacidade de deixar o leme da vida para a força que é uma dimensão.