A ARTE DA CONFRONTAÇÃO – Cura pela Palavra de Deus para o Conflito EXTRAÍDO DO LIVRO : “CURA PELA PALAVRA”. Autor: Pr. Marcelo Aguiar. Editora: Betânia (Livros que falam de Deus). Dados sobre o Autor: Autor : Pr. Marcelo Rodrigues de Aguiar, formado em teologia pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, e em psicologia pela Universidade Federal do Espírito Santo. Pastoreia a Igreja Batista em Paul, na cidade de Vila Velha – ES, e leciona Velho Testamento e Psicologia no Seminário Teológico Batista do Espírito Santo. CAPÍTULO 7 – A Arte da Confrontação: Cura pela Palavra de Deus para o Conflito (transcrição na íntegra) Texto Bíblico – Básico: Básico: “Falaram Miriã e Arão contra Moisés, por causa da mulher cusita que tomara; pois tinha tomada a mulher cusita. E disseram: Porventura, Porventura, tem falado o Senhor somente por Moisés? Não tem falado também por nós? O Senhor o ouviu. Era o varão Moisés mui manso, mais do que todos os homens que havia sobre a terra. Logo o Senhor disse a Moisés, e a Arão, e a Miriã: Vós três, saí à tenda da congregação. E saíram eles três. Então, o Senhor desceu na coluna de nuvem e se pôs à porta da tenda; depois, chamou a Arão e a Miriã, e eles se apresentaram. Então, disse: Ouvi, agora, as minhas palavras; se entre vós há profeta, eu, o Senhor, em visão a ele, me faço conhecer ou falo com ele em sonhos. Não é assim com o meu servo Moisés, que é fiel em toda a minha casa. Boca a boca falo com ele, claramente e não por enigmas; pois ele vê a forma do Senhor; como, pois, não temestes falar contra o meu servo, contra Moisés? E a ira do Senhor contra eles se acendeu; e retirou-se. A nuvem afastou-se de sobre a tenda; e eis que Miriã achouse leprosa, branca como neve; e olhou Arão para Miriã, e eis que estava leprosa. Então disse Arão a Moisés: Ai! Senhor meu, não ponhas, te rogo, sobre nós este pecado, pois loucamente procedemos e pecamos. Ora, não seja ela como um aborto, que, saindo do ventre de sua mãe, tenha metade de sua carne já consumida. Moisés clamou ao Senhor, dizendo: Ó Deus, rogo-te que a cures. Respondeu o Senhor a Moisés: Se seu pai lhe cuspira no rosto, não seria envergonhado por sete dias? Seja detida sete dias fora do arraial e, depois, recolhida. Assim, Miriã foi retida fora do arraial por sete dias; e o povo não partiu enquanto Miriã não foi recolhida. Porém, depois, o povo partiu de Hazerote Hazerote e acampou-se no deserto de Parã. Parã.”” ( Números Números 12.1-16). 12.1-16). INTRODUÇÃO “Anrão e Joquebede tinham filhos que deixariam orgulhoso qualquer casal. Eles tornaram-se pessoas de
grande projeção no reino de Deus: Moisés, o líder dinâmico e legislador incomparável, Arão, o primeiro sumo sacerdote da história de Israel; Miriã, a grande profetisa. Não obstante tantas virtudes, tantas qualidades, os três tiveram seus desentendimentos. E eles foram tão sérios que acabaram em desgraça. Nenhuma família, por mais que nela exista amor, está livre de discórdias, tensões e conflitos. Nenhuma igreja, por mais espiritual que seja, está isenta de desentendimentos e desacordos. Na verdade, os conflitos são inerentes à existência humana. Onde encontramos dois indivíduos, encontraremos, também, problemas de relacionamento. As pessoas são diferentes entre si, por isso é absolutamente normal que tenham as suas diferenças. E quanto mais íntimo e franco for o relacionamento, maiores serão as possibilidades de divergências. É mais fácil haver desentendimento desentendimento entre pessoas que estão próximas do que entre as afastadas. Da mesma forma, é mais provável haver guerra entre países limítrofes do que entre aqueles que estão separados por quilômetros de distância. Os conflitos fazem parte da vida. A maturidade de uma pessoa evidencia-se precisamente na sua aptidão em separar as divergências de maneira lúcida e construtiva. Precisamos, portanto, aprender a arte da confrontação. INSTAURANDO O CONFLITO
Conta a Bíblia que, certo dia, Arão e Miriã foram procurar Moisés para repreendê-lo. O motivo da discórdia aparentemente era o fato de que Moisés havia desposado uma mulher cusita. Não sabemos quem era ela. Alguns comentaristas afirmam que era Zípora, com a qual Moisés se casara quarenta anos antes, na terra de Midiã. Outros dizem que era outra, e que Moisés a desposara enquanto estava no deserto. Seja lá como for, não havia impedimento, na legislação da época, para que Moisés procedesse assim. Por que, então Arão e Miriã se incomodaram tanto com isso? Seria pelo fato de a mulher ser cusita, ou seja, africana, possivelmente negra? Estariam os irmãos dele dando mostra de racismo? Na verdade, a reclamação não passava de um pretexto para brigar, apenas uma cortina de fumaça. O que estava realmente em jogo era o prestígio e a autoridade da liderança. O que de fato acontecia ali era uma luta pelo poder. “Porventura, tem falado o Senhor somente por Moisés? Não tem falado também por nós?” disseram (v. 2). Arão e Miriã sentiam-se preteridos. Estavam com ciúmes do irmão mais famoso e da sua projeção. Ficaram bastante aborrecidos. Por quanto tempo os dois irmãos alimentaram aquele ciúme? Tempo suficiente para que o desgosto crescesse, envenenasse o coração, minasse a relação deles. Quando finalmente foram procurar Moisés, não falaram com ele, mas, contra ele (v. 1). É por agirmos assim que deixamos de procurar a pessoa com a qual estamos insatisfeitos, e não fazemos como Jesus mandou: “Se teu irmão pecar [contra ti], vai arguilo entre ti e ele só. ” (Mateus 18:15). Constantemente falamos contra o irmão, do irmão, para o irmão, sobre o irmão... e quase nunca falamos com o irmão. Essa atitude frequentemente não resolve nada. Só faz a situação piorar. EVITANDO O CONFLITO Qual foi a resposta de Moisés aos ataques de Arão e Miriã? Com certeza ele ficou triste, talvez tenha ficado até zangado. Mas como ele manifestou isso? O texto diz que ele não respondeu nada, porque “Era o varão Moisés mui manso, mais do que todos os homens que havia sobre a terra ” (v. 3). A mansidão é uma qualidade, é um fruto do Espírito e devemos cultivá-la. Pode acontecer, entretanto, que nosso silêncio nada mais seja do que uma fuga para evitar o confronto. E assim não superamos o conflito. Moisés recusou-se a discutir com os irmãos. Mas será que dali em diante o relacionamento entre eles continuaria o mesmo? Se não expusermos as nossas diferenças, não poderemos examiná-las e resolvêlas. Perdemos, então, a chance do encontro e deixamo-nos alienar. “Aquilo que há de único e de mais pessoal, Em cada um de nós É o mesmo senmento que, se fosse parlhado ou expresso, Falaria mais profundamente aos outros.” (Carl Rogers) O fato de existir um desacordo, em si, não é errado. Contudo será que não estamos reagindo a ele de maneira errada? Às vezes brigamos, explodimos, trocamos insultos, passamos a olhar as pessoas de cara feia. Algumas vezes nos afastamos, em outras, abaixamos a cabeça numa atitude de medo e frustração. De vez em quando não nos sentimos com força suficiente para um confronto e fingimos que está tudo bem. Interiormente, porém, nos revolvemos em mágoa. A maneira certa de agir quando nos deparamos com problemas de relacionamento é procurar resolvê-los, é enfrenta-los. Certa ocasião, fui procurado por um homem desesperado. Sua esposa saíra de casa sem que tivesse ocorrido nenhuma briga, nenhum desentendimento. Aparentemente tudo estava bem. E, de repente, ela abandonou o lar. Ele não podia entender tal atitude. Depois de muita insistência (a princípio ela nem queria vê-lo), a mulher finalmente concordou em conversar com ele. E passou a expor uma série de fatos que, ao longo dos anos, haviam-na aborrecido no casamento. O marido ficou admirado, porque durante todo aquele tempo ela nunca se queixara de nada daquilo. Se tivesse feito, eles poderiam ter consertado o que estava errado, reestruturado a relação, ou mesmo buscado ajuda. Mas agora, dizia ela, era tarde
demais. A decepção e a mágoa haviam atingido níveis insuportáveis. Não o amava mais, não queria mais aquele casamento. E não tinha a mínima atenção de investir numa reconciliação. Só queria o divórcio. Abordar os conflitos de maneira adequada nos possibilita melhorar e redirecionar as nossas relações. Não há dificuldade que não possa ser superada com o diálogo e a boa vontade. Há problemas que não são muito graves e podemos ignorá-los, pois não temos a mínima necessidade de brigar por coisas insignificantes. Via de regra, no entanto, é necessário encarar o conflito. ENFRENTANDO O CONFLITO A Palavra diz que o Senhor ouviu toda aquela discussão (v. 2) Ele sempre ouve! E não ficou nem um pouco satisfeito com o que acontecia. Deus não gostou de ver Moisés ser magoado e acusado injustamente. Mas ele também não se alegrou em ver uma amizade de tantos anos chegar ao fim daquele jeito. Resolveu, então, de uma só vez, sair em defesa do seu servo e incentivar a reconciliação entre os irmãos. Chamou-os de forma majestosa (vv. 4,5) e repreendeu-os de forma vigorosa (vv. 6-9). Não colocou panos quentes! Enfrentou o conflito, deixou tudo às claras, pois as cartas na mesa. Confrontou-os com as suas atitudes, seus motivos, seus sentimentos. E depois o Senhor saiu da tenda. Mas não saiu sem, antes, deixar um probleminha para os três irmãos resolverem... “A nuvem afastou-se de sobre a tenda; e eis que Midiã achou-se leprosa, branca como neve... (v. 10).
E agora? Deus dissera tudo o que precisava dizer e havia imposto um castigo a Miriã (Arão não sofreu o mesmo castigo, provavelmente, porque era o sumo sacerdote e a sua impureza cerimonial prejudicaria toda a nação). O castigo promoveu uma mudança de atitude por parte dos três irmãos. Miriã, que estava falando, ficou muda. Arão, que estava acusando, pediu desculpas e disse a Moisés: “Ai! Senhor meu, não ponhas, te rogo, sobre nós este pecado, pois loucamente procedemos e pecamos. ” (v. 11). E Moisés, que estava calado, falou. Intercedeu pela irmã querida: “Ó Deus, rogo-te que a cures. ” (v. 13). A família estava unida de novo! Eles perceberam que o amor que os unia era mais forte que o ciúme que os separava! Nós, que enfrentamos desavenças com pessoas próximas e amadas, poderemos chegar à mesma conclusão. Mas será necessário um castigo de Deus para que cessem as brigas e resolvam-se os conflitos? O fato é que, confrontando Arão, Miriã e Moisés com a sua discórdia, Deus gerou as condições para que eles a assumissem e a superassem. Façamos o mesmo. Se enfrentarmos os conflitos com coragem, tratando as pessoas com cortesia e sinceridade, evitando as generalizações, as acusações e as projeções, procurando enxergar o ponto de vista alheio, poderemos superar os desentendimentos. Teremos condições de resgatar relações valiosas que andavam estremecidas. SUPERANDO O CONFLITO A iniciativa de Arão e a intercessão de Moisés trouxeram esperança para o caso de Miriã. Ela seria curada. Mas a lepra era uma doença que tornava as pessoas cerimonialmente impuras. O procedimento de purificação durava sete dias. Ela precisou, assim, ficar uma semana no deserto, fora do acampamento, até poder voltar ao convívio do povo (v. 14). Aconteceu, então, algo muito bonito: “... o povo não partiu enquanto Miriã não foi recolhida. ” (v.15). Aquela gente nômade, que vivia viajando, que raramente passava duas noites no mesmo lugar, que tinha pressa em chegar à terra prometida, esperou sete dias pelo retorno de Miriã. Evidenciaram assim o seu carinho e consideração para com ela. Às vezes é preciso esperar alguém. Pode ser alguma pessoa que ainda não avançou tanto na fé. Talvez ainda cometa muitos erros, os mesmos que um dia nós também cometemos. E é nessa hora que demonstramos amor e consideração. Paulo aconselha: “Irmãos, se alguém for surpreendido nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi-o com espírito de brandura, e guarda-te para que não sejas também tentado. Levai as cargas uns dos outros e, assim, cumprireis a lei de Cristo. ” (Gálatas 6:1,2).
As diferenças entre Moisés e seus irmãos foram superadas. Os empecilhos emocionais que se colocaram entre eles foram removidos, de forma que poderiam gozar novamente da proximidade e da estima que lhes eram tão caras. Só depois disso o povo de Deus pôde seguir em frente. A existência de conflitos não é indício de falta de saúde numa relação. A incapacidade de resolvê-los, sim, é doentia. Muitas vezes deixamos de enfrentar os desentendimentos de forma madura quando eles aparecem. Negamos, lamentamos, postergamos, comentamos, remoemos, agravamos o problema. Mas não o confrontamos, nem o resolvemos. O pastor de uma certa igreja passou a tratar muito mal suas ovelhas. Ele sempre fora um ministro amigo e correto. Nos últimos meses, porém, tornara-se um tirano insuportável. Vivia de cara amarrada, brigava com todo mundo; tratava os crentes com aspereza. Seus irmãos transformaram-se numa repetição de queixas amargas e agressivas. A membresia, inconformada, já cogitava em substituí-lo. Não se falava em outra coisa nos corredores do templo, nas salas da escola dominical e nas casas dos irmãos. Todos reclamavam da situação. Mas ninguém tinha a coragem de tomar a atitude certa: ir ao pastor e conversar com ele (claro, cada um dos irmãos tinha uma ótima desculpa para não fazer isso!). Assim, a situação ia só piorando. Por fim, um experiente diácono, vendo o rumo perigoso que as coisas estavam tomando, decidiu abordar aquele ministro. Foi até a sua casa e, de forma polida, porém firme, falou-lhe que não concordava com suas atitudes e com o comportamento que vinha tendo. Disse-lhe também que os irmãos estavam muito descontentes com o que estava acontecendo e poderiam até exonerá-lo. Perguntou a ele se estava passando por algum problema e ofereceu-se para ouvi-lo e ajudá-lo. O pastor, então, em meio de lágrimas, começou a abrir-lhe o coração e falar-lhe de uma série de dificuldades que vinha enfrentando, em silêncio, nos últimos meses. Passava por uma grave crise conjugal, problemas financeiros, enfermidade na família. Sentia-se irritado, confuso e esgotado. Abatido, confessou que pensava até mesmo em abandonar o ministério. Essa não foi a última vez em que os dois homens oraram e choraram juntos na presença do Senhor. Mas foi o momento em que, de fato, as coisas começaram a mudar. Sentindo-se amparado, podendo contar com a correção e o auxílio de um amigo, o pastor começou, a partir dali, a ter uma atitude diferente com relação às ovelhas. Os problemas que o afligiam também foram resolvidos, graças ao envolvimento de irmãos mais chegados e à intercessão de toda a congregação. Não apenas a paz foi restaurada no seio daquela igreja, como a vida de todos os envolvidos naquela crise foi profundamente abençoada. Aqueles crentes, acostumados a receber o cuidado do pastor, descobriram que também podiam – e precisavam – ministrar cuidados a ele e à sua família. E o ministro descobriu que não era um super-homem, um solitário dono da verdade acima de qualquer dúvida, fraqueza ou necessidade, mas, sim, alguém que precisava – e podia – contar com o amor e o auxílio dos irmãos. A situação de conflito acabou se revelando, assim, uma oportunidade de crescimento para toda a família de Deus. Aquele que aborda com liberdade e sabedoria suas diversidades com os amigos, tem maiores chances de manter as amizades antigas e construir novas. É uma pessoa que sabe defender suas posições e respeitar as alheias. É alguém que sabe conviver com a diferença. É um promotor da saúde e da reconciliação. É um defensor da justiça e da paz. Tudo isso faz dele uma pessoa notável. Dediquemo-nos, pois, a aprender e a exercitar a arte da confrontação. ” Graça e Paz! Colaboração do Ir. Paulo Afonso.