A Arrogância do Trader e o seu Ciclo de Perdedor postado em Psicologia do Trading por Hugo Teixeira
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A maioria dos livros sobre trading possui um exemplo mais ou menos assim: Alciono decidiu operar na bolsa de valores. Como se preparou bem, fez dinheiro desde o início. Continuou aumentando seus lucros e aos poucos, juntou uma quantia considerável. Porém, alguns meses depois, fez uma ou duas cagadas fenomenais e acabou perdendo tudo o que tinha. Tá, n00bs podem sofrer da maldita “sorte” do trader iniciante, iniciante, porém Alciono não é exatamente um iniciante. Ele tem experiência e sabe, de certa forma, o que está fazendo. Mas então, se esse operador consegue sempre tirar lucros respeitáveis do mercado, porque não foi capaz de mantê-los? Poderia oferecer várias respostas diferentes para essa pergunta. Talvez Alciono teve um problema momentâneo de disciplina. Ou então, tem medo do sucesso e por isso, sempre se auto-sabota quando está perto de conseguir alguma coisa boa. E é claro, ele pode apenas ter ficado arrogante.
E é esse o assunto deste post, a arrogância dos traders. E para explicar, usarei uma metáfora. Afinal, todos aqui já devem estar cansados das historinhas comuns Era uma vez uma Operadora da Bolsa…
...que queria salvar a França dos zumb... não, espera, filme errado...
Imagine se a Joanna d’Arc existisse em nossos tempos. Ao invés de Deus “mandá-la” salvar a França (mesmo porque agora já não dá mais, só em 2014), ele sugere que ela more na favela mais perigosa do Brasil por 1 mês. Deus diz que aqueles que fazem isso, se tornam ricos magicamente. E como a nossa d’Arc é tão esquizofrênica quanto a original, aceita logo a missão. Seus amigos a alertam que, para não cair na mão da bandidagem, ela precisa tomar muito cuidado. E é isso o que ela faz. Fica sem tomar banho por duas semanas, se veste como homem e passa excremento de antílope em seu cabelo para que não a ataquem. D’Arc não é boba e sabe que as coisas podem dar errado. E mesmo com todo o cuidado, entra na favela com medo. Mas nos primeiros dias, nada acontece. As pessoas da favela a recebem muito bem apesar de seu estado. Com o tempo, começa também a se socializar com os “chefes” do lugar. Eles carregam armas por todos os lados e d’Arc acha isso muito sexy. Aos poucos, todos os traficantes começam a gostar dela. E com isso, seu medo e cuidado vão desaparecendo. Só que Joanna não gosta do fato de que alguns dos caras mais barra pesada não estão mexendo com ela. Por isso, se achando a dona da favela, decide vestir várias correntes de ouro, uma mini-saia curtíssima e uma camiseta que diz: “Slut”. Aí então alguns traficantes a sequestram, roubam suas correntes de ouro, “etc” e a queimam viva enrolada em pneus, como no Tropa de Elite.
Sim, Isso Tem a Ver com Trading…
Eu precisando de pneus novos para o meu carro e você deixa esses FDPs os queimarem? 02, pega o saco!
A explicação da metáfora é realmente muito simples. A “Joanna d’Arc” é uma trader qualquer, seu cuidado com suas vestimentas representa seu bom senso na hora de seguir um sistema de trading e os traficantes são na verdade, o “Senhor Mercado” da história. Traduzindo: a doida francesa parou de seguir suas regras porque deixou de temer o mercado, começou a se “achar” e por isso, virou churrasco. O que eu poderia ter explicado em menos palavras e de uma forma muito mais tediosa é o seguinte: Vários operadores se tornam arrogantes depois de muitos sucessos. É fácil imaginar o porquê. O cara está tentando fazer dinheiro, sabe que não é fácil mas aí, consegue tirar ótimos trades, um atrás do outro. Sua confiança cresce mas ao mesmo tempo, ele começa a se descuidar. E é justo quando nos descuidamos, quando estamos com a “guarda baixa”, é o momento em que o mercado nos morde na bunda. Mas agora, porque Joanna d’Arc se descuidou tanto? Porque ela se sentiu segura, achou que estava no controle da situação. Só que, da mesma forma na qual ninguém manda nos traficantes, ninguém manda no mercado, seja no de ações, opções ou qualquer outra coisa. Seu “sucesso” temporário a fez acreditar que possuía uma habilidade especial, algo que os outros não tinham. Afinal, se a doida conseguiu e os outros não, ela deve ser melhor do que eles, não é? Da mesma forma, se todos os trades de um operador derem certo, logo ele pode pensar. “Eu não devo temer o mercado e sim, o mercado deve temer a mim!” E quem pensa assim não dura por muito tempo.
O Ciclo do Trader Perdedor e o seu Frágil Ego
EGO, eu disse EGO!
E quando o mercado acabar com o trader, ele acorda? Normalmente sim, mas nem sempre em pouco tempo. Nesse ponto, muitas vezes o ego do operador está envolvido. Se ele disser que não tem poder nenhum, que estava apenas alucinando e que deve voltar à respeitar o mercado para poder fazer algum dinheiro, basicamente, estará confessando que não passa de um trader comum. Mas se fizer isso, seu ego será ferido. Aceitando os fatos, ele destruirá sua identidade ilusória de trader fodão. Logo, poderá preferir manter-se ignorante e arrogante em relação ao mercado para tentar adiar um final que, inevitavelmente, o trará muita dor e prejuízos. E talvez nem seja o final permanente pois às vezes, um ciclo poderá se iniciar. Esse ciclo funciona mais ou menos assim: A “vítima” se recupera emocionalmente de sua primeira surra e voltar a lucrar. Só que aí ele novamente começa a se achar o máximo e perde. O ciclo se repete, ele se acha normal e ganha, se acha o máximo e perde e por aí vai. Porque isso acontece? Essa é a parte decepcionante, não dá para generalizar. Poderia chutar “baixa auto-estima”, mas a verdade é que varia de operador para operador. Para terminar, deixo aqui uma das melhores e mais realistas frases sobre psicologia do trading que já li. Tão importante que até a deixei, talvez para sempre, ao lado do logo do site. Por isso, sempre que começar a se achar um super operador e estiver ficando confiante demais, lembre-se das importantíssimas palavras do hedge fund manager bilionário Paul Tudor Jones:
Não seja um herói. Não tenha um ego. Sempre questione a si mesmo e as suas habilidades. Nunca pense que você é muito bom. O momento em que pensar. Você está morto.
