ESCOLA SECUNDÁRIA DA BAIXA DA BANHEIRA Ensino Secundário - Cursos Científico-Humanísticos PORTUGUÊS (12º ano) - Prova de Avaliação Escrita nº1 Formação Geral – PORTUGUÊS Prof.as Etelvina Falcato e Vicência Bate Ano letivo 2017-2018 Aluno(a) _________________________________________________________ _________________________________________________________ Nº_____ 1º período - 30-10-2017 Classificação obtida ____________________ [_______ pontos / ________________ valores] Antes de responder re sponder às questões, faça uma leitura atenta de todo o enunciado e nunciado da prova de modo a adquirir o respetivo sentido global.
GRUPO I - 100 pontos PARTE A
Leia o poema de Fernando Pessoa (ortónimo) (ortónimo) e responda às questões propostas. PEDROUÇOS1
1 Quando eu era pequeno não sabia Que cresceria. Pelo menos não o sentia. Naquela idade o tempo não existe. 5 Cada dia é a mesma mesa Com o mesmo quintal ao fundo; E quando se sente tristeza Está tristeza, mas não se está triste. Eu era assim 10 E todas as crianças deste mundo Assim foram antes antes de mim. O quintal grande estava dividido Por uma frágil grade, alta, de tiras Cruzadas, de madeirinha, 15 Em horta e em jardim. Meu coração anda esquecido, Mas não minha visão. De ela não tires, Tempo, esse quadro onde o feliz que eu fui Dá-me uma felicidade ainda minha! 20 Inútil o teu frio curso flui Para quem das lembranças se acarinha. PESSOA, Fernando, 2008. Poesia do Eu . 2.ª ed. Lisboa: Assírio & Alvim (p. 344)
1. Zona de Lisboa entre Belém e Algés onde, em agosto de 1901, Fernando Pessoa, a viver na África do Sul, veio com a família passar uns meses de férias na pequena propriedade das irmãs da sua avó materna.
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1. Explique o modo como o sujeito poético perceciona a infância, de acordo com o conteúdo das duas primeiras estrofes. 2. Comente o sentido do dístico final enquanto conclusão do texto, relacionando-o com a apóstrofe presente na quinta estrofe. 3. Atendendo ao assunto do poema, apresente uma possível interpretação do título.
PARTE B
Leia com atenção a esparsa de Luís de Vaz de Camões para, em seguida, responder às questões.
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Os bons vi sempre passar no mundo grandes tormentos; e, para mais me espantar, os maus vi sempre nadar
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em mar de contentamentos. Cuidando alcançar assim o bem tão mal ordenado, fui mau, mas fui castigado. Assi que, só para mim
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anda o mundo concertado.
Luís de Camões, Rimas, texto estabelecido e prefaciado por Álvaro J. da Costa Pimpão, Coimbra, Almedina, 2005, p. 102.
4. Indique justificadamente o tema do poema. 5. Identifique a presença da antítese no poema, explicitando a expressividade decorrente do seu uso.
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GRUPO II – 50 pontos
Leia o texto proposto e, em seguida, selecione a opção correta para cada item e responda às questões de índole gramatical. Todo o mundo é um palco E os homens e as mulheres só atores William Shakespeare
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Gostava de ter sido ator. Passei grande parte da infância a falar sozinho, numa conversa a várias vozes. Ainda o faço, de vez em quando, mas já não em voz alta. O palco em que as minhas várias personagens se confrontam é agora silencioso. Aprendi, de tantas vezes mo terem repetido, que “os malucos é que falam sozinhos”; e depois de ler a famosa primeira frase d' Os Passos em Volta , de Herberto Helder, no final da adolescência, decidi – de forma consciente e solene, em diálogo comigo próprio – que não queria enlouquecer. Dois dos lemas que me têm acompanhado ao longo da vida escondem mal um desejo permanente de transfiguração; ser outro, uma vez por outra – não é isso um ator? Em ambos os casos, os responsáveis são poetas: Rimbaud 1 e Whitman2. A primeira dessas frases tutelares é um parêntesis do Canto de Mim Mesmo : “(I am large, I contain multitudes.) 3”. Fernando Pessoa entendeu-o de forma radical, encenando a partir daqui o seu drama em gente, num espelho quebrado de que ainda andamos a tentar apanhar os cacos. Em Saudação a Walt Whitman , a dívida de Pessoa é saldada por Álvaro de Campos: “Tu sabes que eu sou Tu e estás contente com isso”. Foi a poesia, antes da psicanálise, que nos tornou conscientes desta perturbante verdade existencial: somos múltiplos, habitados por heróis e vilões que se digladiam em silêncio dentro de nós. O poeta latino Terêncio escreveu no século II a.C. [...]: “Sou homem: nada do que é humano me é estranho”. Quase dois milénios mais tarde, outro poeta, Teixeira de Pascoaes, alargaria ainda mais o espetro de possibilidades humanas: “Eu sou todas as criaturas e todas as cousas. Eu, na verdade, não sou eu”. O que não temos dentro de nós, experimentamo-lo por empréstimo. Ouvimos os outros, reais ou imaginários, para vivermos outras vidas, escapando momentaneamente à nossa. Desdobramo-nos em incontáveis existências paralelas na permanente vertigem de ficção que saciamos, melhor ou pior, com literatura, cinema, telenovelas, noticiários, entrevistas, reportagens, conversas de café e mexericos. Com maior ou menor consciência disso, eu é outro. Até a gramática se opõe a uma afirmação tão escandalosa. [...] Somos grandes, contemos multidões. Somos, cada qual à sua maneira, depósitos de histórias verdadeiras e inventadas, mas também fabricantes de realidades fantasmáticas: sonhos, fantasias e alucinações. Temos fantasmas tão educados que adormecemos no seu ombro. É também assim que nos reinventamos: plagiando. Absorvemos modas, modelos e tendências – o zeitgeist 4; mas igualmente máximas e ideias e versos que nos conduzem ao que não sabemos dizer. MARQUES, Carlos Vaz, 2016. “Editorial”. Granta Portugal , n.º 7, maio de 2016 (pp. 7-8)
1. poeta francês do século XIX; 2. poeta norte-americano do século XIX, precursor do movimento do Futurismo (início do século XX) e frequentemente considerado o introdutor do verso livre na poesia; 3. “Eu sou grande, eu contenho multidões”; 4. termo alemão que significa “espírito da época”.
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1. A transcrição de palavras de William Shakespeare, no início do texto, constitui, enquanto manifestação de intertextualidade, uma
(A) alusão. (B) epígrafe. (C) paráfrase. (D) paródia. 2. No primeiro parágrafo, o autor associa a metáfora do “palco silencioso” (ll. 2-3)
(A) ao tempo da sua infância. (B) às suas ambições profissionais. (C) aos receios experimentados na adolescência. (D) às suas vivências presentes. 3. O autor recorre às citações de Terêncio e Teixeira de Pascoaes (ll. 17-20) para
(A) reforçar o ponto de vista defendido. (B) apresentar um novo ponto de vista. (C) introduzir um contra-argumento. (D) ilustrar a sua perspetiva com um caso concreto. 4. As formas verbais “plagiando” (l. 30) e “Absorvemos” (l. 30) remetem, no final do texto, para a ideia de
(A) imitação acrítica. (B) inspiração. (C) cópia literária. (D) ficção. 5. No contexto em que ocorrem, a palavra “lemas” (l. 7) e a expressão “frases tutelares” (l. 9) exemplificam o processo da coesão
(A) referencial. (B) lexical por reiteração. (C) lexical por substituição (sinonímia). (D) lexical por substituição (hiperonímia). 6. As orações introduzidas por “que” nas linhas 6 e 29 são
(A) subordinadas substantivas completivas, em ambos os casos. (B) subordinada adjetiva relativa, no primeiro caso, e subordinada adverbial causal, no segundo caso. (C) subordinada substantiva relativa, no primeiro caso, e subordinada adjetiva relativa, no segundo caso. (D) subordinada substantiva completiva, no primeiro caso, e subordinada adverbial consecutiva, no segundo caso. 7. As expressões “por Álvaro de Campos” (l. 13) e “com isso” (l. 14) desempenham as funções sintáticas de
(A) complemento do adjetivo e complemento do nome, respetivamente. (B) complemento agente da passiva e complemento do adjetivo, respetivamente. (C) complemento do adjetivo e modificador, respetivamente. (D) complemento oblíquo e predicativo do complemento direto, respetivamente. Página 4 de 5
8. Identifique o antecedente do pronome usado na frase “ Ainda o faço, de vez em quando, mas já não em voz alta.” (l. 2). 9. Refira o tipo de dêixis assegurado pelo determinante possessivo presente na linha 3. 10. Indique a função sintática desempenhada pela oração subordinada introduzida por “que” , na linha 16.
GRUPO III – 50 pontos
Atente agora numa passagem do texto de Carlos Vaz Marques, apresentado no Grupo II: “ [...] somos múltiplos, habitados por heróis e vilões que se digladiam em silêncio dentro de nós.” (linhas 16-17)
Num texto bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas palavras, defenda uma perspetiva pessoal sobre a ideia apresentada na citação. Fundamente o seu ponto de vista recorrendo, no mínimo, a dois argumentos e ilustre cada um deles com, pelo menos, um exemplo significativo.
Observe os seguintes tópicos na elaboração da sua produção escrita: - vocabulário claro e diversificado; - estrutura tripartida do texto ( introdução – apresentação do tema; desenvolvimento – articulação das ideias/argumentos e sua fundamentação/exemplificação; conclusão – reforço do tema / ideias). (poderá utilizar livremente o espaço vazio desta página para delinear o plano da sua produção escrita)
Bom trabalho! Página 5 de 5