MILAGRE NA CELA JORGE ANDRADE ANDRADE
PREFÁCIO
No tempo em que os críticos procuravam descobrir qual seria a “faculdade mestra” de um escritor, talvez dissessem que a de Jorge Andrade é a tensão, a crispação apaionada com que afronta os problemas! num universo dram"tico onde o #umor e a leveza mal se mostram! $ondo entre par%nteses Os ossos do Barão, o que fica é de fato um mundo de intensa gravidade, construído por um autor que transforma a cada instante o relato em testemun#o e a cena em conflito! $ara Jorge Andrade as coisas t%m um grande peso, que d" a cada gesto o timbre dos momentos decisivos! &aí os temas obsedantes que recorrem no seu teatro e caracterizam os seus diferentes produtos! 'obretudo a terra e a família, marcados pela dimensão do passado! J" foi dito que ele é o primeiro primei ro grande escritor do mundo rural paulista, isto é, da decad%ncia das classes rurais dominantes, correspondendo ao arcabouço tem"tico do romance brasileiro dos anos () e *)! A sua obra nasce das relaç+es de avs, tios, primos- nasce do fato de alguém ser parente de alguém, num universo onde o parentesco define o lugar no espaço da sociedade! .as o espaço da sociedade pressup+e um espaço físico, que aqui é a terra, como posse e como finalidade da vida! “/s bens e o sangue”, 0 eis uma epígrafe possível para o seu teatro teatro,, que que,, não cronol cronolgi gica, ca, mas logicamen logicamente, te, começa começaria ria com O sumidouro, numa etapa quase mítica, para encontrar um marco real em Pedreira em Pedreira das almas, onde se prop+e a #istria de uma família fazendeira de .inas, que vem para 'ão $aulo buscar terras férteis e liberdade de agir, pela altura de 12*3! A moratória mostra o momento da queda, quase um século depois, e as outras variam, cada uma a seu modo, sobre o tema ostensivo ou implícito da perda do paraíso paternalista e rural, até o confinamento de A escada 0 escada 0 quando as glebas de cultura e os campos de caça se evaporam e se transp+em no confinamento de um modesto prédio de apartamentos! .undo de donos da terra e seus descendentes, amargurados pela mudança de vida! .undo até certo ponto sen#orial, descrito 4s vezes com uma amplificação de tom que faz pensar em sentimento de classe dominante! .as, se passou por aí, a obra de Jorge Andrade não ficou aí! .ostrou que, por cima da aparente visão de classe, tencionava penetrar com maior amplitude na vida de todos os #omens! Aquela casta de fazendeiros era um mundo, não o mundo, /s seus dramas podiam ser pungentes e tocar a todos ns, mas não resumiam os trabal#os do #omem! $or isso, no meio do painel sen#orial veio se engastar Vereda da salvação, salvação, ou se5a, o mundo dos sen#ores visto pelo avesso, pelo lado dos trabal#adores mise miser" r"ve veis is qu que, e, nã nãoo en enco cont ntra rand ndoo saíd saídaa na iniq iniq6i 6idad dadee do sist sistem emaa da terr terra, a, procuram uma abertura para o sistema do céu! 7sta peça patética e forte, ao mesmo tempo que completa, desvenda a intenção de testemun#ar sobre o #omemé uma contraprov contraprovaa que inverte inverte a perspecti perspectiva, va, passando da casa de fazenda para a
PREFÁCIO
No tempo em que os críticos procuravam descobrir qual seria a “faculdade mestra” de um escritor, talvez dissessem que a de Jorge Andrade é a tensão, a crispação apaionada com que afronta os problemas! num universo dram"tico onde o #umor e a leveza mal se mostram! $ondo entre par%nteses Os ossos do Barão, o que fica é de fato um mundo de intensa gravidade, construído por um autor que transforma a cada instante o relato em testemun#o e a cena em conflito! $ara Jorge Andrade as coisas t%m um grande peso, que d" a cada gesto o timbre dos momentos decisivos! &aí os temas obsedantes que recorrem no seu teatro e caracterizam os seus diferentes produtos! 'obretudo a terra e a família, marcados pela dimensão do passado! J" foi dito que ele é o primeiro primei ro grande escritor do mundo rural paulista, isto é, da decad%ncia das classes rurais dominantes, correspondendo ao arcabouço tem"tico do romance brasileiro dos anos () e *)! A sua obra nasce das relaç+es de avs, tios, primos- nasce do fato de alguém ser parente de alguém, num universo onde o parentesco define o lugar no espaço da sociedade! .as o espaço da sociedade pressup+e um espaço físico, que aqui é a terra, como posse e como finalidade da vida! “/s bens e o sangue”, 0 eis uma epígrafe possível para o seu teatro teatro,, que que,, não cronol cronolgi gica, ca, mas logicamen logicamente, te, começa começaria ria com O sumidouro, numa etapa quase mítica, para encontrar um marco real em Pedreira em Pedreira das almas, onde se prop+e a #istria de uma família fazendeira de .inas, que vem para 'ão $aulo buscar terras férteis e liberdade de agir, pela altura de 12*3! A moratória mostra o momento da queda, quase um século depois, e as outras variam, cada uma a seu modo, sobre o tema ostensivo ou implícito da perda do paraíso paternalista e rural, até o confinamento de A escada 0 escada 0 quando as glebas de cultura e os campos de caça se evaporam e se transp+em no confinamento de um modesto prédio de apartamentos! .undo de donos da terra e seus descendentes, amargurados pela mudança de vida! .undo até certo ponto sen#orial, descrito 4s vezes com uma amplificação de tom que faz pensar em sentimento de classe dominante! .as, se passou por aí, a obra de Jorge Andrade não ficou aí! .ostrou que, por cima da aparente visão de classe, tencionava penetrar com maior amplitude na vida de todos os #omens! Aquela casta de fazendeiros era um mundo, não o mundo, /s seus dramas podiam ser pungentes e tocar a todos ns, mas não resumiam os trabal#os do #omem! $or isso, no meio do painel sen#orial veio se engastar Vereda da salvação, salvação, ou se5a, o mundo dos sen#ores visto pelo avesso, pelo lado dos trabal#adores mise miser" r"ve veis is qu que, e, nã nãoo en enco cont ntra rand ndoo saíd saídaa na iniq iniq6i 6idad dadee do sist sistem emaa da terr terra, a, procuram uma abertura para o sistema do céu! 7sta peça patética e forte, ao mesmo tempo que completa, desvenda a intenção de testemun#ar sobre o #omemé uma contraprov contraprovaa que inverte inverte a perspecti perspectiva, va, passando da casa de fazenda para a
casa de colono! 8omo Moleque 8omo Moleque Ricardo no ciclo de José 9ins do :ego, ela amplia o panorama, acrescentando ao rico o pobre, ao dominador o dominado! $areceu então que Jorge Andrade encerrara a necessidade de falar sobre o mundo, por esgotamento do que tin#a para dizer, a partir da eperi%ncia de um certo mundo! A edição edição do seu teatro teatro completo completo como que materializou materializou um estado estado de ;nimo desse tipo, ao enfeiar num s volume tudo quanto tin#a escrito até então, e que pa>dia no nosso tempo de cidade grande! ?alvez o resultado não ten#a sido perfeito@ mas para o escritor, foi fundamental! uem acompan#ava a sua carreira sentiu logo que ele estava, ao seu modo, liquidando uma fiação e tentando confusamente definir outra, / resultado s veio aparecer aqui, nesta peça admir"vel sob qualquer aspecto que é Milagre é Milagre na cela, onde o grito da telenovela desigual aparece de outro modo e d" forma a um 5eito renovado de encarar as coisas! / passado est" arquivado e Jorge Andrade, refeito por ele mesmo, se instala pela primeira vez no presente puro, para ver o nosso mundo sob sob alguns dos seus aspectos mais cruciantes! BBB /grande personagem desta peça talvez não se5a nen#um dos figurantes, apesar da sua grande força- mas a tortura, abordada pela primeira vez entre ns como um fato com o qual é preciso conviver! ?endo sido durante quase toda a #istria do #omem um procedimento policial e 5udici"rio normal, ela acabou formalmente proscrita no século CDEEE! .as essa proeza da filosofia ilustrada parece esbarrar com tend%ncias profundas da nossa animalidade, que a troueram de volta oficiosamente e quase em triunfo nos dias que correm! F #orrível o fato de ela ser admitida e organizada, porque, isso posto! pode surgir, de todos e de cada um, o torturador tornado necess"rio! 9audisi diante do espel#o, em Cosí è se vi !are", de $irandello- “io dico- “tu”, e tu col dit dito indic#i me”! $ode #aver um torturador onde meno noss se espera@ reciprocamente! em cada um deles pode restar alguma coisa de #umanidade mel#or, que também #" em todos! A peça de Jorge Andrade é retrato de época e denGncia do mal@ mas também estudo do #omem! Não #" monstros e an5os! H" #om #o mens e mul#eres col#idos na rede do mal, orga gannizado e imposto cons co nsci cien ente teme ment nte, e, vive vivend ndoo as suas suas vida vidass atra atravé véss da dass mal# mal#as as!! / ag agen ente te da brutalidade se degrada ao degradar a vitima! 7ste é o preço mínimo! .as dentro do esquema podem surgir as mais inesperadas complicaç+es!
Aqui, uma freira é presa e acusada de ser subversiva, porque é realmente #umana! Dilipendiada! mac#ucada, resiste! Im policial afeito ao eercício da brutalidade leva uma dupla vida- em casa, pai e marido perfeito- no serviço, usu"rio da viol%ncia como forma de dever, que acaba modalidade de auto> realização e de prazer! 8onforme os usos, ele resolve fazer confessarKK 4 freira o que ela obviamente não fez- ou se5a, obrig">la a recon#ecer que o que fez não é o que quis fazer, mas aquilo que a Autoridade quer que signifique o que ela fez! A certa altura, ameaça violent">la com um pedaço de madeira! F nessa cena culminante, que decide todo o significado da peça, a freira l#e diz para usar o membro que &eus l#e deu para esse fim! Lravata ou reptoM :epto admir"vel, porque na verdade o que ela est" provocando é a supressão dos elementos intermedi"rios, para liberar o contacto direto entre dois seres! 7st" obrigando o policial a ser pelo menos um monstro #umano, não um monstro mec;nico! A conseq6%ncia é que o ato brutal mas apesar de tudo, natural na sua desnaturalidadeO aproima os dois seres, torturador e torturado! / carrasco se apaiona pela vítima- a vítima descobre por meio da viol%ncia carnal uma dimensão de eperi%ncia que não tin#a vivido! Nesse processo, ela aumenta paradoalmente a sua prpria #umanidade e converte em parte o carrasco a uma conduta #umana, semeando perturbação nos seus desígnios de aniquilamento pela força! A entrada do relacionamento natural desfigura, portanto, a inteireza da tortura, ao abalar o ;nimo do torturador! .as não suprime nem 5ustifica o sistema da viol%ncia organizada! / episdio se enquista 4 margem de um processo que continua! Nunca, no Lrasil, essa realidade sinistra dos nossos dias tin#a encontrado epressão liter"ria em nível tão alto@ ou mesmo, assim concentrada, em qualquer nível! .as a peça #istrica e terrível de Jorge Andrade vai mais longe e mais largo, abrangendo um dos dramas maiores da nossa condição, que é a tend%ncia para pse, limitando a autoridade, impedir a natureza #umana de se tornar escrava do orgul#o e da licença”! A conseq6%ncia foi que “cada um começou a demonstrar
mel#or as suas qualidades pessoais e os recursos de seus talentos”! 7sta passagem eemplar da Con#uração de Catilina mostra como os Antigos con#eciam bem o mecanismo da dominação! 'e os c#efes imp+em a lei, mas também a seguem, #" equilíbrio, os maus impulsos são contidos, porque o orgul#o e o arbítrio licençaO não predominam- em conseq6%ncia, reina um estado de coisas que permite a cada um tirar de si o mel#or! 'e a tirania se instala, tudo vira do avesso e, ao contr"rio do famoso verso de Laudelaire, do an5o entorpecido surge o bruto! 7ssas coisas perpassam na peça de Jorge Andrade, em cu5o subsolo se 5ogam os dramas da tirania e da liberdade, da dominação e da submissão e, para dizer tudo numa palavra, do #umano e do desumano, estreitamente entrançados! / leitor gostaria que o mundo descrito nela fosse incerto no tempo e no espaço, como o da “8ol
PERSONAGENS
$rmã %oana de %esus Cruci&icado &aniel, um delegado 8ícero, um carcereiro Jupira, uma !rostituta .iguel, um criminoso .arina, mul'er de (aniel Bis!o )reiras *omens ?r%s 8rianças , so+rin'as de Cícero CENÁRIO
alas, corredores e celas de uma !risão que lem+ra uma construção medieval- .uando inteiramente iluminado, assemel'a/se a uma catedral- Ao longo da !eça ouvem/se sons de sinos, +u0inas, +arul'o de !essoas !raticando o 1arat2, latidos de cães !oliciais e gritos indistintos- 3m todos os lugares, menos nas celas, '4 sem!re um cruci&i5o- As !aredes da cela de %oana são inteiramente ra+iscadas, mas não se distingue as !alavras, a não ser c'egando muito !erto A!arecem ainda a sala da casa de (aniel e a do conventoPRIMEIRO ATO
C36A 0 .uando se a+re o !ano, a!enas a sala do carcereiro est4 iluminada 3le assiste televisão, enquanto l2 uma revistin'a de quadrin'os- A televisão deve &icar ligada durante todo o desenrolar da !eça- 7ogo de!ois entra (aniel&ANE79 8 3ntrando" Lom dia, 8ícero! 8S87:/ 8 Lom dia, doutor &aniel! &ANE79 8 ?udo em ordem com os presosM
8S87:/ 8 7u sei trazer essa gente como é preciso! &ANE79 8 8laroU Doc% 5" foi um deles! 8S87:/ 8 Não gosto que me lembrem isto! &ANE79 8 Ho5e é um grande dia! 8S87:/ 8 $or qu%M &ANE79 8 8onseguimos pegar uma peça c#ave da subversão! &eve c#egar logo aqui! 8S87:/ 8 3s®a as mãos" ue bomU Esto estava ficando quieto demais! &ANE79 8 A resist%ncia tin#a sido silenciada, mas faltava esta pessoa! 7stou atr"s dela #" muito tempo! Agora caiu nas min#as garras! 8S87:/ 8 ue foi que ela fezM &ANE79 8 7ntre outras coisas, passou para fora do país documentos que dep+em contra ns, tentando provar que não respeitamos os direitos #umanos! Dive enrolada com padres e bispos da tal igre5a progressista! 8S87:/ 8 $adresU $ra mim são os piores! &ANE79 8 7la se diz freira! HummmU 'e fosse vivia no convento, vestia #"bito e agia como verdadeira religiosa! 8S87:/ 8 IaiU F freira e não vive no conventoM 8omo pode serM &ANE79 8 $ra voc% ver! 7ssa gente pensa que é muito esperta! .as vou ensinar a ela quem é que é esperto! 7 vai aprender que o sapateiro não deve ir além do sapato! (e re!ente" Aquela prostituta ainda est" aquiM 8S87:/ 8 JupiraM &ANE79 8 Aquela bem ordin"ria! 8S87:/ 8 F a Jupira! .ais ordin"ria não pode ser! .ora mais aqui do que l" fora! &ANE79 8 7st" sozin#a numa celaM
8S87:/ 8 7st"! &AN79 0 orri maligno" $on#a a freira de araque 5unto com ela! F por aí que vamos começar a dobrar a “peça”! Deremos até que ponto é religiosa mesmo! 8S87:/ 8 9ogo de cara esta puta vai esquentar o lombo dela! &ANE79 8 7m que cela est"M 8S87:/ 8 Na primeira! &ANE79 0 7 por que est" sozin#aM 8S87:/ 0 (is&arça, revelando certa ligação" A Jupira me serve pra amansar certos presos! F se prometer uma noite com ela, e eles ficam mansos como carneiros! &ANE79 8 7 elaM 8S87:/ 8 orri malicioso" Wosta muito de cooperar! &ANE79 8 $or que est" presaM 8S87:/ 8 8ortou o cacete de um ga5o com naval#a! &isse que o su5eito não funcionava! &ANE79 8 =oi feita sob medida para o que eu quero! (aniel sai- Cícero se volta !ara a televisão, &icando !reso a ela $lumina/se a sala do escritório de irmã %oana de %esus Cruci&icado %oana est4 !arada, 'irta, o+servando um 'omem revirar sua sala- 3le arrom+a, a+re, tira e arranca coisa das !aredes- lança dos arm4rios e das mesas livros e !astas !ara o c'ão, sacode, rasga, es!al'a montes de coisas e as !isa no seu camin'ar- 9 como se tudo &osse li5o- (aniel se a!ro5ima da cela de %u!ira e a o+serva- %u!ira est4 deitada e com a saia com!letamente levantada- %u!ira v2 (aniel e se e5!:e mais ainda, a+rindo as !ernas- (aniel sorri e desa!arece entre as celas- ó &ica iluminada a sala de %oanaJ/ANA 0 Con&usa" .as por que estou sendo presaM H/.7. 0 7sta pergunta não tem resposta! 7ntão, era aqui o “aparel#o da
igre5a! J/ANA > Não sei o que ; isso! H/.7. 0 Aparel#oM 9ugar onde voc%s tramam a subversão! Ol'a a sua volta" &evia ter pelo menos um crucifio pra disfarçar mel#or! J/AN A 0 F apenas u um escritrio de orientação pedaggica! H/.7. 0 &e orientação subversiva! J/ANA 0 Nunca fiz subversão! 'ou freira e professora! H/.7. 0 9ugar de freira é no convento e na igre5a, rezando! J/ANA > / meu " aqui, onde ensino e rezo também! H/.7.0 'ei qual é a tua reza! J/ANA 0 Ho5e, as coisas são diferentes! .uitos religiosos como eu ac#aram que deviam sair para o mundo e ver como os #omens viviam, #omens como voc%! H/.7. 0 7sta conversa eu não entendo! J/ANA 0 &urante séculos rezamos em nossas celas! .as com isto não a5udamos a resolver os problemas aqui fora! 7ntão, saímos para a5udar a resolver! F o que faço! H/.7. 0 =reira precisa rezar, s isto! J/ANA > 8oncluímos que s isso não bastava! H/.7. 0 A5udar comoM =azendo subversãoM J/A NA 0 Nunca tive a menor intenção! H/.7. 0 Esto voc% vai eplicar pro doutor &aniel! Não pra mim! J/ANA > .as eu não fiz nada! &ou apenas orientação educacional para alguns colégios! Disito favelas e a periferia da cidade para levar orientação espiritual! A penas isto! H/.7. 0 Disita favelas e a periferia, não éM 'abemos muito bem pra qu%! 7 c#ega de conversa que não entendo! J" ac#ei o que queria! DamosU Não
precisa levar nada! 9" dão de tudo! J/ANA 0 Não me separo do meu livro de oraç+es! H/.7. 0 3m!urra %oana" ?rate de andarU 3nquanto %oana e o 'omem saem- Cícero levanta/se e sai, a!ro5imando/se da cela de %u!ira que continua deitada e com o vestido levantado- A televisão !ermanece ligada- Cícero o+serva %u!ira e sorri8S87:/ 8 JupiraU JupiraU JI$E:A 0 /# meuU D% se não enc#e o saco! 8S87:/ 8 'abe que vai ter compan#iaM JI$E:A 0 alta no c'ão, e5citada" uemM / negrãoM 8S87:/ 8 Não! JI$E:A 0 ?raz o negrão pra mim, simpatia! ?razU 8S87:/ 8 7le não pode! 7st" na solit"ria! JI$E:A 0 7u amanso ele pra voc% mel#or que a solit"ria! 8S87:/ 8 F uma mul#er que vem pra ca! JI$E:A 0 At
JI$E:A 0 ualquer outroM 8S87:/ 0 ualquer! JI$E:A 0 7 voc% deia eu ver tudo pelado pra medir o calibreM 8E87:/ > Ri" &eio! JI$E:A 0 =ec#adoU Cícero se volta e sai- %oana entra na sala do carcereiro, acom!an'ada !or (aniel- Cícero entra e o+serva %oana- (aniel senta/se e acintosamente coloca o revólver so+re a mesa- Cícero sorri- %oana &inge não !erce+er a intimidação- (aniel a+re uma !asta e ol'a &i5amente %oana- 3sta ol'a = sua volta com serenidade, mas !erce+e/se o seu temor- Cícero o+serva %oana com um sorri0in'o de!reciativo&ANE79 0 'eu nomeM J/ANA 0 em entender" 8omoM &ANE79 0 >rita 4s!ero" 7stou perguntando o seu nome! J/ANA 0 Ermã Joana de Jesus 8rucificado! 8E87:/ 0 (e!reciativo" ErmãU ' esta que faltava! &ANE79 0 $rofissãoM J/ANA 0 $rofessora e freira! &ANE79 0 EdadeM J/ANA 0 ?rinta e cinco anos! 8S87:/ 0 'MU Não sabia que freira também escondia a idade! J/ANA 0 F a que ten#o! &ANE79 0 =inalmente a ilustre educadora est" em min#as mãos! / que ninguém conseguiu provar, vou provar agora!
J/ANA 0 $rovar o qu%M &ANE79 0 ?s!ero" ue é uma subversiva! ' isto! Ac#a que não bastaM J/ANA 0 Não vai conseguir! &AN179 0 $rse a admitir tudo, até mesmo o que nunca se son#ou! J/ANA 0 erena" ' admitirei a verdade! &AN179 0 $ois é a verdade mesmo que queremos! 'em força e sem tortura ninguém fala nada! 'abe o que é torturaM J/ANA 0 'ei! 9i muito sobre a inquisição e a vida dos santos martirizados! 8S87:/ 0 Ri" Dida dos santosU &ANE79 0 Doc%s subversivos são muito espertos, sabem contar muito babado e #istorin#as safadas! .as como esta nunca vi! J/ANA > ualM Não contei nen#uma #istria! &ANE79 0 =ingir que é freira! J/ANA 0 $ode procurar min#a congregação ou o sen#or Lispo! &ANE79 >rita, esmurrando a mesa" Não vou procurar fil#o da puta nen#um! Dou provar que voc% não é freira coisa nen#uma, como 5" provei que pelo menos uns dois não eram padres! Não vai ser tão difícil! J/ANA 0 $osso saber pelo menos qual o motivo da min#a prisãoM &ANE79 > Doc% é um elemento ativista da dita igre5a progressista! J/ANA > 7 isto por acaso é crimeMU &ANE79 0 $ra mim, é! J/ANA 0 $ertenço 4 igre5a, é verdade, sou uma freira! .as não sei o que est" querendo insinuar!
&ANE79 0 >rosseiro" Damos deiar de muito babado! Doc% não engana mais! F do tipo melancia- verde por fora e vermel#a por dentro! &esta vez ninguém vai escapar porque começamos a operação rapa igre5a! 8S87:/ > Ri" Damos levantar muita saia de freira e de padre! Até que vai ser divertido! J/ANA 0 .as o que foi que eu fizM &ANE79 0 Aqui quem pergunta é a autoridade! Ao preso cabe apenas responder, e responder a verdade admitindo a culpa! J/ANA 0 :eviraram o meu escritrio e nada encontraram! / que querem maisM &ANE79 0 Aquele escritrio não passa de um “aparel#o”! Aparel#o usado para enviar ao estrangeiro documentos contra o nosso governo! &ocumentos mentirosos que nos acusam de não respeitar os direitos #umanos! J/ANA > erena" 7 estão respeitando, prendendo>me sem nen#uma acusaçãoM &ANE79 0 &e subversiva! Ac#a poucoM J/ANA > Não tem nen#uma prova! &ANE79 > Esto é a coisa mais f"cil de arrumar! J/ANA 0 &irme" Waranto que não é! Não vai conseguir que eu admita o que nunca fiz!&ANE79 0 Na #ora certa vai ficar sabendo como é f"cil! /nde todo mundo tem que raste5ar, ninguém pode querer voar! Não sabia distoM 7 voc% vai raste5ar! J/ANA 0 Meio retesada" Deremos! &ANE79 0 Esto mesmo! santin#a! DeremosU Wosto dos que resistem!!!porque me dão mais prazer quando começam a raste5ar A Cícero" $ode levar! 7 vai pensando em tudo que pode acontecer! 7 ten#a bastante imaginaçãoU!!! porque aqui tudo est" além da imaginação! Cícero anda em volta de %oana e5aminando/a- (e!ois ol'a !ara (aniel, malicioso"
8E87:/ > Não deia de ser bem apan#adaU &ANE79 0 FU Não deia mesmo! ue é issoM J/ANA 0 .eu livro de oraç+es! &ANE79 0 $on#a em cima da mesa! J/ANA 0 A&lita" $or favorU Não me tire o livro! &ANE79 0 @oma o livro com +rutalidade" Dou tirar muito mais do que isto! ue é que est" pensandoM ue isto aqui é igre5a e vai fazer retiroM J/ANA 0 Ansiosa" Ainda não compreendi porque fui presaU &igaU!! $or favorU &AN179 0 Doc% vai acabar confessando por qu%U $ode levar 8ícero!! %oana sai acom!an'ando Cícero- (aniel &ica um instante !ensativo (e!ois, !ega o livro de %oana, a+re/o e c'eira//o- Cícero a+re a cela e em!urra %oana !ara dentro- %u!ira se volta no catre e ol'a %oana, a+rindo as !ernas sem nen'um !udor- " J/ANA 0 $or favorU $ode me arran5ar um sanduic#eM 8S87:/ 0 Arran5ar o qu%M J/ANA 0 Im sanduíc#e! 7stou sem comer até agora! 8S87:/ 0 $ensei que freira não sentia fome! JI$E:A 0 3rgue/se" / que foi que disseM 8S87:/ 0 =reira! =reira e professora! JI$E:A > NãoMU 7ra s o que faltava! 7m vez de trazer o negrão, traz uma freira!!! e ainda professoraM J/ANA 0 .e arran5e um sanduíc#e! 7stou com muita fome! JI$E:A 0 &eve ser cagaço! Ys vezes, parece fome! 8S87:/ > Dou mandar pedir umas #stias pro bispo! ?"M
Cícero se volta e sai- %oana encosta o rosto na grade e murmura-" J/ANA 0 .eu &eusU 7ntrego meu destino em suas mãos! Emploro que a5ude a me manter fiel a mim mesma até o fim! &%>me forças para ag6entar tudo o que acontecer! JI$E:A 0 A#U &isto voc% vai precisar!!! de muita força! %oana, meio desorientada, senta/se no c'ão, encol'endo/ se- Cícero entra em sua sala" 8E87:/ 0 Dai apertar a santin#a ainda #o5eM &ANE79 0 Não! 8E87:/ 0 $or que nãoM $ra que perder tempoM &ANE79 0 Não estou perdendo tempo! ?en#o muito tempo pela frente! 'ei a #ora certa, Ima noite no c#ão frio, entre baratas e ratos, vai amolecer esta freirin#a do pau oco! 8S87:/ 0 7la pediu um sanduíc#e! $osso darM &ANE79 0 Não d% nada! A fome e a sede são timas pra quebrar esta gente! Wente que nunca passou fome nem sede! Não deie a Jupira dar o catre! uero que durma no c#ão! 8S87:/ 0 7st" bem! &ANE79 0 Aman#ã começo os interrogatrios! orri" 7la é educada! parece sensível, não vai ag6entar meia dGzia de palavr+es! Nada como um bom palavrão, um insulto grosseiro, pra quebrar um preso de natureza sensível! (aniel sai- Cícero senta/se e &i5a os ol'os na televisão- -$u!íra ergue/se no catre e ol'a %oana, ainda encol'ida no canto da cela- %u!ira sai do catre e anda !ela cela- (e ve0 em quando !4ra e ol'a %oana- ! 6ervosa, %u!ira camin'a como se quisesse &alar, mas sem sa+er o qu2- (e re!ente, &a0 menção de di0er alguma coisa, mas desiste- 3la senta/se no catre, ol'a %oana, torna a se levantar e vai se encostar na grade- (e re!ente, incomodada, vai !egar no +raço de %oana"
JI$E:A 0 &eitaU J/ANA 0 7u fico aqui mesmo! JI$E:A 0 &eia de frescuraU &ormir aqui é muito importante! 7 voc% não sabe o que te espera! &eitaU J/ANA 0 (elicada" .uito obrigada! JI$E:A 0 /raU %oana deita/se no catre- (esa!arece a cena- $lumina/se a sala do convento, onde meia d0ia de &reiras estão reunidas" =:7E:A > $resa, madreM .A&:7 > Esto mesmo! =:7E:A 0 8omo uma criminosa qualquerM .A&:7 0 Ermã Joana não é uma criminosa, Ermã :os"rio! =:7E:A 0 7ntão, por que foi presaM .A&:7 0 Ainda não ficamos sabendo! =:7E:A 0 8om a vida que levava s podia dar nisto! .A&:7 0 $recisamos ter muita prud%ncia! Não conversem com ninguém que não con#eçam, nem citem o nome de Ermã Joana! =:7E:A 0 Aterrori0ada" A sen#ora ac#a que o convento pode ser devassadoM =:7E:A 0 Ben0e/se" &eus nos livreU .A&:7 0 Aman#ã falarei com o 8ardeal! Não precisam ficar com medo! =:7E:A 0 .as eu ten#o, madre! =:7E:A > ?en#o pavor do mundo l" foraU =:7E:A 0 A sen#ora não devia ter dado autorização para ela sair e continuar
como freira da nossa congregação! .A&:7 0 7la pediu autorização ao bispo e ele concordou! Ermã Joana se comprometeu a respeitar o espírito da congregação em qualquer trabal#o que viesse a fazer! 8ostuma prestar contas dos serviços que realiza, participa de nossos encontros religiosos e tem comparecido uma vez por ano ao retiro espiritual! =:7E:A 0 7 a sen#ora ac#a que isto bastaM .A&:7 > $ara mim basta! Além disto, o sen#or 8ardeal tem recomendado o escritrio dela a colégios e entidades catlicas! =:7E:A 0 7la não é freira como ns! =:7E:A 0 Nunca se sacrificou realmente! =:7E:A 0 Divia son#ando com o mundo l" fora! Nosso mundo é aqui! =:7E:A 0 Ainda devem estar em sua cela as marcas de suas orel#as e un#as nas paredes! Divia agarrada 4s paredes ouvindo sons de passos e de vozes que passavam e se distanciavam, de sinos tocando na cidade!!! como se esta estivesse c#amando>a! =:7E:A 0 $elo menos foi o que sempre disse, madre! .A&:7 0 Ermã Joana queria agir, fazer alguma coisa pelo primo! =:7E:A 0 7 ns não fazemos, madreM .A&:7 0 7la queria fazer de maneira diferente! $or isto freq6enta a periferia da cidade, trabal#ou em #ospitais e até em!!! em!!!U =:7E:A 0 Rete0ada" $rostíbulosU $rostíbulos e antros ainda piores! =:7E:A 0 A sen#ora vai intervir a favor dela!M .A&:7 0 Esto, s o bispo pode fazer! =:7E:A 0 Ainda bem! =:7E:A 0 Angustiada" .eu &eusU .A&:7 0 ue foiM
=:7E:A 0 ue gente #orrível ela não vai encontrar na prisãoU 'er" que as autoridades podem proteg%>laM .A&:7 0 8laro que vão proteger! 7la é uma freira, e não estamos no tempo da inquisição! Não se usa mais martirizar ninguém! &evemos nos voltar para &eus e rezar! A5oel#em>se e rezem comigo pela Ermã Joana de Jesus 8rucificadoU @odas se a#oel'am e começam a re0ar- As &reiras desa!arecem quando se ilumina a cela de %oana e %u!ira- Cícero est4 sentado no mesmo lugar, vendo televisão- %oana se a!ro5ima de %u!ira, ainda deitada no c'ão, e !assa a mão em seus ca+elos carin'osamente- " J/ANA 0 /brigada por ter deiado que eu dormisse em sua cama! ?en#o #orror de ratos e baratas! JI$E:A 0 $ncomodada" ?ira essa mão daqui! Wosto de carin#o de mac#o, não de mul#er, muito menos de freira! J/ANA 0 Doc% dormiu no c#ão por min#a causaU JI$E:A 0 Meio irritada" Wrande coisaU J" dormi até na sar5eta! J/ANA 0 &e qualquer maneira, obrigada! JI$E:A 0 /raU Não vamos agora ficar boque5ando sobre isto! J/ANA 0 $or que est" aquiM JI$E:A 0 8astrei um broc#a que andava me enc#endo o saco! Homem que não levanta o mastro pra que serveM $ra falar a verdade, estou aqui desde que tin#a quinze anos! Esto pega a gente e não larga mais! J/ANA 0 Antes, o que é que faziaM JI$J:A 0 Nada! .in#a mãe era lavadeira e meu pai trabal#ava num frigorífico! Num quarto, menor do que isto aqui, dormia mais de dez, fora as visita que aparecia! .eu pai tin#a umas parte de errar de cama e dormia com min#a tia! J/ANA > 7 sua mãeM JI$E:A 0 Loque5ou, perdeu dois dente e pronto! Im dia, uma das visita errou
também de cama e me empren#ou! Amiguei com quinze anos, depois vivi de um lado pra outro e vim acabar aqui! J/ANA 0 7 seu fil#oM JI$E:A 0 Não sei onde foi parar! ue podia fazer com um fil#oM =il#o é trambol#o! =iquei s com a min#a buceta!!!e é com ela que ten#o me virado!! !que dobro esse carcereiro fil#o da puta! J/ANA 0 &efendendo a vidaM JI$E:A 0 Esto mesmo! 8omo sabeM J/ANA 0 ?rabal#ei muito tempo como faineira num bordel! JI$E:A 0 7u vendo o meu corpo e ten#o o que quero! J/ANA 0 8obrandoM JI$E:A 0 Ali, na nota! ?ambém pode ser uma cerve5in#a! J/ANA 0 / carcereiro paga alguma coisaM JI$E:A 0 8laro que não! .as um dia ele pode me soltar! uer preço mel#orM 7 de vez em quando me traz uns mac#o! Não sei viver sem um mac#o entre as perna! J/ANA 0 Wosta da liberdadeM JI$E:A 0 ue conversa é estaM uem é que não gostaM J/ANA 0 ue faz com sua liberdadeM JI$E:A 0 Ando pelas ruas, sento nas praça, bebo uma cerve5in#a bem gelada! paquero uns mac#o pra forrar o est
de voc%! Dou te ensinar uns macete pra ag6entar a parada! A barra aqui é pesada! 8omece fazendo gin"stica pra ag6entar as porrada! Win"stica é muito importante! 'e oferecerem pra tomar sol, não in5eite! F um solzin#o de merda, mas faz bem! Agora, importante mesmo é trepar! 'aber treparU F o que quer esses fil#os da puta! 7 é o que precisa fazer, se tem amor na vida! J/ANA 0 C'ocada" .as!!!U JI$E:A 0 Não tem mais nem menos! Doc% pode ser professora l" fora! Aqui dentro eu é que sou! 7stou nesta de dar, pra me defender, #" muito tempo! J" amansei su5eito fera, ruim como o tin#oso, s com a buceta! A#U J" ia me esquecendo- palavrão também é muito importante! D" tratando de su5ar a boca! J/ANA 0 $or qu%M JI$E:A 0 $orque é a conversa que eles entende! /l#a!!!U As vo0es desa!arecem, mas %u!ira continua aconsel'ando %oana 3ntra um 'omem na sala do carcereiro- 3le !u5a Miguel !ela !onta da corda que amarra suas mãos- Miguel !4ra no meio da sala e ol'a a sua volta, com!letamente con&uso- 9 um 'omem ainda #ovem, atarracado, revelando mente o+tusa- eu rosto est4 inc'ado e &erido-" 8S87:/ 0 uem é a “peça”M H/.7. 0 F o marginal que quebrou os vidros das viaturas policiais! 8S87:/ 0 uebrou ondeM H/.7. 0 Aqui em frente! 8E87:/ 0 .as que atrevidoU H/.7. 0 &esamarre as mãos dele s depois que estiver dentro da cela! F elemento perigoso! 7st" sendo procurado #" muito tempo, desde que violentou uma menor na favela! 8E87:/ 0 LandidoU H/.7. 0 ?ome cuidadoU F capaz de estrangular até uma pedra! ?em força de vinte cavalos!
8S87:/ 0 'e facilitar eu solto os cac#orro em cima dele! $or que est" mac#ucado assimM H/.7. 0 orri" ?omou umas liç+es de Qarat%! F pra colocar sozin#o numa cela! 'e não!!!5" viu- logo aparece “presunto” por aí! O *omem sai- Cícero segura a !onta da corda e anda em volta de Miguel-" 8E87:/ 0 'eu nomeM .EWI79 0 Al#eioO HeinM 8E89:/ 0 'eu nome, animalU .EWI79 0 .i!!!.iguel! 8E87:/ 0 .iguel de qu%M .EWI79 0 ' .iguel! 8E87:/ 0 EdadeM WritaO uantos anos temM .EWI79 0 Não sei, não sen#or! 8S87:/ 0 Nome do paiM .EWI79 0 Não ten#o! 8S87:/ 0 ?odo mundo tem pai! .EWI79 0 Não con#eci o meu! 8E87:/ 0 Nome da mãeM .EWI79 0 orri in&antil" 'empre tive vontade de ter uma, mas não tive, não sen#or! 8S87:/ 0 uem criou voc%M Não lembraM .EWI79 > ' lembro do reformatrio!
8E87:/ 0 8ompreendoU Den#aU 'e fizer qualquer movimento suspeito, eu trago os cac#orro! 8ompreendeuM .EWI79 0 7u gosto de cac#orro! 8E87:/ 0 .as destes eu aposto que não vai gostar nada! Cicero sai !u5ando Miguel e !4ra quando !assa en&rente 4 cela de %oana-" JI$E:A 0 /baU 8omo é que c#ama a “peça”M 8S87:/ 0 .iguel! JI$E:A 0 $or que est" amarradoM 8S87:/ 0 F muito perigoso! JI$E:A 0 F dos que eu gosto! $ode p
JI$E:A 0 Não precisa ter medo! 7u tomo conta dele pra voc%! J/ANA 0 Não estou com medo! ?en#o pena! ' isto! JI$E:A 0 $enaM &aquele bic#oM J/ANA 0 $ara mim é um #omem! =il#o de &eus! JI$E:A 0 Esto eu sei! .as eiste #omem que é pior que animal! 8omo os que vivem aqui! J/ANA 0 Consigo mesma" $ara mim!!! &eus est" em todos! JI$E:A 0 &eusMU Num bic#o daqueleM Doc% diz cada coisaU Nem parece que é freira! (e re!ente" Doc% é freira mesmoM J/ANA 0 'ou! JI$E:A 0 8omo é que t" vestida assimM J/ANA 0 $orque fica mais f"cil de ser aceita onde preciso trabal#ar! &epois, o #"bito não faz o monge! JI$E:A 0 .as serve pra indicar o ga5o que é! uando ve5o padre, corro léguas! F #omem e veste saia, é servido e não funciona! Passada" 7u não entendo como pode serU J/ANA 0 .uitos não vestem mais batina, como eu não uso meu #"bito! JI$E:A 0 $ncisiva" .as continuam não funcionando! uanto #omem perdido, meu &eusU %u!ira se volta no catre- %oana se a!ro5ima da !arede e começa a ler o que est4 escrito nela- (esa!arece a cena quando se ilumina a sala da casa de (aniel- A sala ; +em arrumada, revelando em tudo um am+iente essencialmente &amiliar- (aniel est4 sentado = mesa, escrevendo- Marina entra com um vaso de &lores e vai colocar em cima de um móvel- 3nquanto &a0 isto, o+serva (aniel, revelando ter alguma coisa a di0er- (aniel !arece ser um outro 'omem, com!letamente di&erente do que a!arece na !risão- A atmos&era na sala ; de !a0 e amor-"
.A:ENA 0 ue est" fazendoM &ANE79 0 :esolvendo alguns problemas de matem"tica para 9uís =elipe! .A:ENA 0 F ele quem precisa resolver, não voc%! &ANE79 0 Não custa! .A:ENA 0 Doc% protege demais seu fil#o! &ANE79 0 orri" F a “rapa do tac#o”! .A:ENA 0 7st" mal acostumado, isto sim! &ANE79 0 .atem"tica é muito importante! Ac#o que precisa de professor particular! .A:ENA 0 Lasta estudar! ' isto! &ANE79 0 Doc% é muito severa com ele, .arina! .A:ENA 0 9uís =elipe est" ficando malandro! 7 a culpa é sua, &an! &ANE79 0 8ulpa de qu%M .A:ENA 0 Doc% é rigoroso no trabal#o, mas sempre foi mole com seus fil#os! &ANE79 0 Meio em guarda" uem disse que sou rigoroso no trabal#oM /uviu algum coment"rioM .A:ENA 0 Não! .as todo mundo sabe! /s 5ornais 5" comentaram tanto que ninguém brinca com voc%! &ANE79 0 Apenas cumpro o meu dever! $ara isto sou pago! .A:ENA 0 (e re!ente" ?en#o uma novidade pra voc%! Dai gostar muito! &ANE79 0 3screvendo" 7ntão, diga logo! .A:ENA 0 'ua fil#a Adriana est" gr"vida! &ANE79 0 J"MU NãoU
.A:ENA 0 $assou #o5e aqui s pra contar! &ANE79 0 8oitadaU .A:ENA 0 8oitada por qu%, &anM 7st" casada #" um ano! J" era tempo! 7la nasceu dez meses depois que casamos! Não se lembraM &ANE79 0 Adriana s tem dezoito anos, .arina! F uma criança ainda! .A:ENA 0 ?em dezoito anos e est" casada! &ANE79 0 7u bem que não queria que se casasse tão cedo! .A:ENA 0 Doc% sempre teve ciGme de Adriana! 7sta é a verdade! Ali"s, voc% tem de todos os fil#os! &ANE 79 0 Não é ciGme! 7la podia aproveitar mais a vida, para depois pensar em fil#os! Agora, não vai parar mais! .A:ENA 0 Carin'osa" uem é que vivia son#ando com um netoM &ANE79 0 7u, mas não queria tão cedo! Dai dar trabal#o pra Adriana! F tão 5ovem, coitadaU .A:ENA 0 orri" 7st" aborrecido porque vai ser av
.A:ENA 0 / seu trabal#o, &an! Doc% não fala nunca sobre ele! &ANE79 0 $orque não ten#o nada a falar! 7le não tem nada com nossa vida particular! .A:ENA 0 7st" certo! 7ntão, não fale! &ANE79 0 orri" Doc% ac#a que se for #omem vão p 8onvencidoU &ANE79 0 3s®ando/se em Marina" 'empre gostou!
.A:ENA 0 oltando/se" Doc% é insaci"vel, #einU Não bastou a noiteM &ANE79 0 Não! Não bastou! .A:ENA 0 aindo" J" é av< e com este fogoU &ANE79 0 7 não se esqueça- não procure saber nada do meu trabal#o! F um mundo que eu não quero que entre nesta casa! .A:ENA 0 Nunca entrou! &ANE79 0 Nem vai entrar! 7ntendidoM .A:ENA 0 7st" certo! Não toco mais no assunto! &ANE79 0 =oi o que combinamos #" muitos anos! 7st" na #ora! $reciso ir! Ho5e ten#o muito serviço! .A:ENA 0 Preocu!ada" Algum trabal#o perigosoM Doc% vive envolvido com criminosos! &ANE79 0 Não! 'erviço de rotina! (aniel +ei#a Marina e sai- $lumina/se a cela de %oana- %u!ira continua deitada- %oana ol'a a !arede como se estivesse lendo ainda- (e!ois !assa as mãos !ela !arede, acariciando/a-" J/ANA 0 JupiraU J" leu o que est" escrito nas paredesM JI$E:A 0 7u não! $ra qu%M J/ANA 0 H" coisas lindas escritas aí! JI$E:A 0 ?entei mas não man5ei nada! ' li os palavr+es! J/ANA 0 Passa a mão na !arede" F o que tem me a5udado a suportar esta cela! JI$E:A 0 uem ser" que escreveuM J/ANA 0 Não sei! Algum prisioneiro que esteve aqui! 7 era poeta! Im grande poeta! JI$E:A 0 8omo sabeM
J/ANA 0 Lasta ler o que escreveu! ?ente lerU H" recados muito importantes! JI$E:A 0 Não gosto de poeta! J/ANA 0 $or qu%M JI$E:A 0 Não sei! Não é o meu tipo! J/ANA 0 'into a presença dele de maneira quase físicaU JI$E:A 0 ' por causa dos escritoM Doc% tem cada uma! J/ANA 0 orri" 'abe como o ve5oM JI $E:A 0 7u s consigo ver um #omem depois que ele t" na min#a frente! 7 s ve5o no duro mesmo depois que tira a roupa! J/ANA 0 Emagino que ele é magro, fr"gil, cabelos compridos, barba e ol#os que são nin#os de bondade! Emagino que tem um livro na mão, um sorriso no rosto e uma promessa de amor em cada gesto! JI$E:A 0 Não é o meu tipo! Wosto de #omem parrudo! J/ANA 0 'abe por que penso assimKM $orque escreveu na parede“Wuardo teu nome nas paredes da cela! Nas cartas escritas!” 7 acrescenta“Não serei a tua paz, antes o sobressalto, a imprevista solidão!” H" pelo menos umas trinta poesias! JI$E:A 0 7screveu tudo isto aíM A troco de qu%M J/ANA 0 F um grito que ele queria que fosse perpetuado!!! para os outros ficarem sabendo que esteve nesta cela por causa de ideais! /s criadores de idéias que triunfam costumam morrer obscuramente! JI$E:A 0 $ois perdeu tempo! uem é que vai saberM Lasta pintar esta porcaria e tudo desaparece! J/ANA 0 9endo!!! comecei a não me sentir tão sU J" decorei algumas! uando pensei que estava completamente abandonada, encontrei voc%!!! e ele vive nestas paredes! JI$E:A 0 Meio ansiosa" Wosta de mimM 8omo freiraM
J/ANA 0 Acaricia o rosto de %u!ira" Doc% é uma das mel#ores pessoas que con#eci em min#a vida! JI$E:A 0 7uM Ima puta da boca su5aM J/ANA 0 As palavras não su5am nada! 7las não t%m mais nen#um significado no mundo de #o5e! / que su5a é o que fazem aqui! Dagina, bunda, seco!!! são mais limpas do que opressão, viol%ncia, preconceito e desamor! 7ntende a diferença! JI$E:A 0 Lunda eu sei o que é! .as que é vaginaM J/ANA 0 F o que voc% usa pra gan#ar a vida! JI$E:A 0 DaginaM ue nome mais besta! J" imaginou um negrão c#egando pra mim e dizendo- “quer me dar a sua vaginaM” Não combinaU As duas riem distantes do mundo que as cerca- Cícero a+re a !orta da cela-" 8S87:/ 0 Den#aU J/ANA 0 7uM 8S87:/ 0 Doc% mesma! J/ANA 0 /nde vai me levarM 8S87:/ 0 Não faça perguntas! &outor &aniel quer ter uma conversin#a com voc%! FU F isto mesmo! / samba vai começar! $ensou que ia ficar aqui nesta vida mansaM Cícero tira %oana da cela e desa!arece !elo corredor- $lumina/ se a cela de Miguel- 3le est4 sentado no canto da cela e encol'ido como um animal- Ol'a &i5amente !ara a &rente !arecendo não ouvir a vo0 de %u!ira-" JI$E:A 0 >rita" .iguelU .iguelU Doc% não escutaM 'e vier aman#ã eu durmo com voc%! uerM D/[7' 0 .ue v2m de todos os lados" 7u quero! &orme comigo, Jupira! 8ala a bocaU 7u quero dormirU uem é este .iguelM $or que não responde este putoM 7u quero, JupiraU &orme comigoU
JI$E:A 0 7st" bem! 7u durmo com todos! %u!ira sorri carin'osa enquanto desa!arece a cena- $lumina/se a sala do interrogatório- 3la ; inteiramente +ranca com uma nica cadeira no centro, onde est4 sentada %oana ! 6uma das !aredes, um enorme cruci&i5o- eis 'omens estão !arados em volta da sala e não &a0em nen'um movimento- 3les mant2m os ol'os &i5os em %oana- omente (aniel se movimenta- %oana, erecta na cadeira, mant;m/se serena e segura de si mesma- Ouvem/se agora, +em mais nítidos, os sons de latidos de cães e de !essoas !raticando 1arat2- @em/se a im!ressão de que os sons v2m das salas vi0in'as-" &ANE79 8 >rosso" Dai falandoU J/ANA 0 =alar o qu%M &ANE79 0 Doc% sabe muito bem o qu%! J/ANA 0 8omo posso saber, se estou cansada de perguntar por que estou presa e ninguém respondeM &ANE79 8 7sta pergunta não tem resposta! J/ANA 0 )irme" Até agora não me mostrou nen#um documento que determinasse a dilig%ncia em meu escritrio e min#a prisão, assinado por autoridade policial ou 5udicial! &ANE79 8 ?s!ero" Não preciso mostrar merda nen#uma! A autoridade sou eu! J/ANA 0 .as este é um direito elementar! &ANE79 0 Aqui, voc% não tem direito nen#um! J/ANA 0 J" percebi! &ANE79 8 Mostrando" Esto foi encontrado em seu escritrio! J/ANA > / que éM &ANE79 0 :ecortes de 5ornais! &ezenas de recortes de 5ornais! J/ANA 0 ue tem isto demaisM
&ANE79 0 Ac#o muito estran#o que num escritrio de educação ten#a esse tipo de material! J/ANA 0 9er 5ornal é obrigação de todo cidadão, mais ainda dos educadores! &ANE79 0 Ninguém l% 5ornal e recorta! J/ANA 0 :ecortamos o que interessa aos trabal#os que desenvolvemos! &ANE79 8 $or eles podemos calcular que tipo de trabal#o desenvolve! J/ANA 0 $or qu%M &ANE79 8 Mostrando recorte !or recorte" =avela, periferia, saGde pGblica, problema do desemprego, in5ustiça social e por aí afora ! J/ANA 0 'ão problemas que os alunos analisam em 7studos 'ociais =azemos o levantamento dos locais para determinar estudos do meio! &ANE79 8 $or que um aluno precisa ficar sabendo distoM J/ANA 0 $orque são problemas da nossa cidade, da sociedade a que pertencemos! ?odos precisam ficar sabendo do que se passa, para terem consci%ncia da realidade que nos cerca, dos problemas que nos afligem! ' assim um cidadão pode a5udar a vencer esses problemas! Não é o dever de todosM &ANE79 0 &as autoridades, não de fedel#os! J/ANA 0 .as são eles que serão as autoridades aman#ã! &ANE79 8 F assim que pessoas como voc% fazem subversão- contaminando a nossa 5uventude! J/ANA 8 Esto nunca me passou pela cabeça! 7 se são assuntos publicados pela imprensa, é porque podem ser tratados e discutidos! &ANE79 8 F pela forma com que tratam, que contaminam os 5ovens! &epois, a imprensa é também um nin#o de comunistas! J/ANA 0 Não sei se é! 7u não sou! 'ou uma freira educadora! Nada mais! &ANE79 8 (e re!ente" 7 o documento que mandou para o estrangeiroM
J/ANA 0 .andei um trabal#o que foi solicitado pelo 8onsel#o .undial de Egre5as! Apenas isto! &ANE79 8 $rritado" 8onsel#o .undial de Egre5as uma porraU &ocumentos de igre5a, manifestos de bispos!!! tudo servindo pra esconder a subversãoU!!! (aniel !ara de re!ente, ouvindo- !Aumentase o som dos que gritam !raticando o 1arat2- Os latidos dos cães tornam/se mais evidentes como se stivessem se a!ro5imando-" &ANE79 8 'abe o que é istoM J/ANA 0 erena" 9atidos de cac#orro! &ANE79 8 7 os outros sonsM J/ANA 0 Não sei do que se trata! Nunca ouvi antes! &ANE79 8 Nossos lutadores de Parat%! A!onta os 'omens em volta de %oana" 7sses aqui também são! 7 são os mel#ores! $nsinua" 8om meia dGzia de golpes transformariam voc% numa pasta! $asta para os cães! J/ANA 0 )irme" Não vai me infundir medo! &ANE79 8 $ois vou fazer voc% sentir! uer verM (e re!ente- (aniel $a uni sinal- $nstantaneamente, os 'omens começam a simular uma luta de Darat2 em volta de %oana- 3les saltam no ar %ogando os !;s e !un'os na direção do rosto de %oana, ao mesmo tem!o em que gritam- Os !;s e os !un'os &ec'ados !assam a um !almo do rosto e do cor!o de %oana- 3sta, em+ora temerosa mant;m/se &irme na cadeira- A luta simulada se trans&orma num +ailado sinistro- O rosto dos 'omens são m4scaras odientas- eus gritos, sons !rimitivos- (aniel ol'a !ara eles como se &ossem &eras domesticadas- (e re!ente, os 'omens !aram e voltam aos seus lugares, est4ticos- Ol'am %oana co um dese#o assassino, como se &ossem ca+eças da mesma 'idra, do mesmo dragão- (aniel sorri-" &ANE79 8 7ntãoM J/ANA 0 'irta, so&redora" $or um momento!!! me fizeram lembrar o grande dragão vermel#o, que tin#a sete cabeças e dez corpos, e que ameaçou Nossa
'en#oraU 8omo ela, também não senti medo! Doc% s disp+e de força animal, mas nada vai destruir min#a liberdade interior! &ANE79 8 Ri" Acredita mesmo nisto, santin#aM J/ANA 0 Acredito! 8om o uso da força pode fazer comigo o que dese5ar, até mesmo uma pasta! 'ou a parte fraca e não posso reagir! .as medo não pretendo sentir! 'e me troue aqui para isto, pode me mandar de volta para a cela! (e re!ente" Doc% tem medoM &ANE79 8 8laro que não! J/ANA 0 7ntão, por que não sai a rua sozin#o, sem guarda pessoal, sem armas e sem estar cercado de policiaisM Doc%s tem medo de tudo e de todos! ?%m até uns dos outros! .as eu não ten#o medo de nada! 7stou disposta, neste instante, a responder perante &eus! &ANE79 0 Retesado" 8omo sabe que saio assimM J/A NA 0 Di fotografias num 5ornal! Ataca" Esto é ter medo e ser covarde, como esta sendo agora comigo! 3n&irecido, (aniel &a0 sinal a um dos 'omens- 3ste se adianta e d4 uma +o&etada em %oana- 3n&urecida, %oana investe valente contra o 'omem, tentando devolver a +o&etada- Os 'omens em!urram %oana, um !ara o outro, como se &osse !eteca- 3nquanto rodo!ia, entre os 'omens que se divertem, %oana grita sem temor-" J/ANA 0 8ovardesU F a Gnica força que voc%s t%m! 'oltem os cãesU Não são piores do que voc%s! Não vou admitir nunca o que não fiz! uero saber porque estou presa!!!U (esa!arece a cena- 7ogo em seguida, %oana surge no corredor das celas, tra0ida !or um dos 'omens- 3le a+re a cela e em!urra %oana %oana anda meio desorientada- u+itamente cai a#oel'ada, o+servada !or %u!ira " J/ANA 0 .eu &eusU $erdoe>me pelo dio que senti! &evia ter oferecido a outra face, me lembrado de seu martírio!!! mas não pude, não pude, não pudeU 'ei que preciso aceitar tudo com coragem e não temer a tortura! )r4gil" .as eu temiU 7u temi, meu &eusU
JI$E:A 0 =icou assim com a primeira investidaM Doc% não sabe até onde eles podem c#egar! 8omece a fazer gin"stica e prepare o corpo! :eza aqui não adianta! 'e adiantasse!!! muitos não teriam comido o que o diabo amassou com o eu! %oana continua re0ando- %u!ira se volta !ara o canto- (aniel agitado, entra na sala do carcereiro" 8S87:/ 0 ue foi, doutorM &ANE79 8 Nada, nada! 8S87:/ 8 7la não deu o “serviço”M &ANE79 8 No começo é sempre assim! .as ela vai confessar! 8omo freira não pode estar preparada para o que vai enfrentar! Ainda não nasceu aquele que eu não possa dobrar! 8E87:/ 0 $nsinua" 7ssa aí, não sei nãoU 'e for mesmo freira, deve ser dura na queda! &ANE79 8 $ode ser que sela freira! .as se for, é mul#er como outra qualquer! 'ofre, grita e geme da mesma maneira! .as eu quero ter o prazer de dobrar pouco a pouco, de mansin#o! 8E87:/ 0 Ac#o que vai perder tempo! &ANE79 8 Não ten#o pressa! uanto mais lentamente sai o grito, mais profunda a dor !!!e mais satisfação eu sinto de conseguir o que quero! Dou começar pela frmula 1! 7 não deie ela dormir! 9eve>a para a sala de interrogatrio! (aniel sai- Cícero se dirige !ara a cela de %oana-" 8S87:/ 8 Doc% aí! Den#a comigo! JI$E:A 0 /utra vezM 8S87:/ 8 7 vai ter muitas outras! JI$E:A 0 E#iiiU J" sei! A %oana" 7les sempre começam pela formula 1! Dão tentar vencer voc% pelo cansaço, pela fome e pelo sono! A+ai5a a vo0" 7u guardo um pouco da sopa de abbora!
8S87:/ 8 DamosU / doutor est" esperando! :"pidoU %oana sai acom!an'ando Cícero e desa!arece no corredor- %u!ira encosta/se = !arede e, !ouco a !ouco, adormece- As lu0es a+ai5am e tornam a se elevar- %oana a!arece no corredor, acom!an'ada !or Cícero- Perce+e/se que est4 cansada, mas ainda determinada- Cícero a+re a cela e em!urra %oana- (e!ois sai-" JI$E:A 0 R4!ida" &eitaU &eitaU J/ANA 0 Não quero! JI$E:A 0 F preciso! J/ANA 0 7u sei que eles vão voltar! JI$E:A 0 $or isto mesmo! Im minuto de sono aqui vale por dez #oras l" fora! &eitaU 7scute o que estou falando! A5ude seu corpo a resistir! %oana deita/se- .uando aca+a de se deitar, Cícero volta-" 8S87:/ 8 DamosU Abra os ol#osU Doc% não pode dormir! %oana levanta/se e, cansada, acom!an'a Cícero- %u!ira encosta/se 4 !arede e adormece- As lu0es a+ai5am e tornam a se elevar- %oana a!arece no corredor, acom!an'ada !or Cícero- Perce+e/se que ela anda com certa di&iculdade- Cícero a+re a cela e introdu0 %oana- (e!ois sai- %u!ira !ula do catre-" JI$E:A 0 /l#a a sopa de abbora! 8oma alguma coisa! J/ANA 0 Não quero comer! JI$E:A 0 'e não comer, não vai ag6entar! J/ANA 0 Meio al'eia" uando começaram com a frmula 1M JI$E:A 0 /ntem de man#ã! 8ostuma durar de tr%s a quatro dias! $or isso precisa comer! J/ANA 0 (eses!erada" 7stou com o est
JI$E:A 0 &eie isto pra l" e pense no est
gan#ou a primeira parada! F preciso dormir! 35amina o rosto e o cor!o de %oana" Ac#o que voc% é freira mesmo! ?ão brancaU!!! e com um corpo que não foi feito pra ag6entar a dureza da vidaU A+raça %oana" 8oitadaU Doc% ainda vai sofrer muitoU As lu0es vão a+ai5ando, enquanto %u!ira acaricia a ca+eça de %oana $lumina/se a sala da casa de (aniel- 3le entra e5austo e cai numa cadeira- Marina entra !reocu!ada- (urante a cena e5!lode em (aniel um dese#o animal, incontrol4vel-"E .A:ENA 0 Den#a dormir, &an! $arece tão cansado! &ANE79 0 (istante" J" vou, .arina! .A:ENA 0 H" tr%s dias que não dorme! Assim não é possível! &ANE79 0 Meio retesado" $reciso dobrar uma pessoa! 7 vou dobrar! .A:ENA 0 ue est" acontecendoM Anda atr"s de algum criminosoM &ANE79 0 J" disse que é serviço de rotina! .A:ENA 0 'erviço de rotina é durante o dia, não a noite inteira! &ANE79 0 $recisava obter uma confissão! ' isto! .A:ENA 0 A+raça (aniel" &eve pensar um pouco em voc%, &anU &ANE79 0 entindo o cor!o de Marina" 7u penso! .A:ENA 0 Não fique s se preocupando com criminosos! &ANE79 0 Damos mudar de assunto! Não gosto de falar do meu trabal#o! Arran5ou o professor particular para 9uís =elipeM .A:ENA 0 Arran5ei! .as estudar não é o forte dele! &ANE79 0 Acariciando a !erna de Marina" 9 um bom garoto! Dai estudar! Adriana apareceuM .A:ENA 0 $assa aqui todos os dias! 7st" feliz com o fil#o! 7la sempre gostou muito de crianças!
&ANE 79 0 Passando o rosto nos seios de Marina" 7u sei! Dai ser tima mãe! .A:ENA 0 8omo euM &ANE79 0 Acaricia o ventre de Marina" Esto mesmo- como voc%! .A:ENA 0 'abe que não dormi direitoM A cama fica tão fria sem voc%! &ANE79 0 35citado" =ica mesmoM Ho5e, vou esquentar pra voc%! .A:ENA 0 Fntima" Acordo toda #ora pensando que voc% vai entrar no quarto! &ANE79 0 ensual" Nesta noite vou entrar em voc%! uantas vezes quiser! .A:ENA 0 Antes!!!ven#a comer alguma coisa! &ANE79 0 Agarra Marina com certa +rutalidade" Não! Não quero! Damos para o quarto! .A:ENA 0 .as !!! U &ANE79 0 Atormentado" ' voc% consegue me aliviar de tudo que sou obrigado a fazer! (aniel, +rutal, entesado, começa a +ei#ar, morder Marina- 3sta se es!anta e tenta resistir-" .A:ENA 0 &anielU &ANE79 0 Como se Marina &osse %oana" Doc% vai confessarU ?em que confessarU .A:ENA 0 ue é isto, meu bemM 8onfessar o queM &ANE79 0 (escontrolado" 7u te violento!!!se for precisoU .A:ENA 0 Não precisa fazer assimU &aniel!!!por favor!!!U Com viol2ncia, (aniel sai arrastando Marina- 3le lem+ra um animal c'eio de dese#o- 3nquanto a cena desa!arece, ilumina/se a solit4ria- F um cu+ículo de um metro !or dois, onde só e5iste uma !rivada- %oana est4 encostada no canto- Perce+e/se que ela se sente su&ocada- Cícero
est4 encostado na !orta do lado de &ora, es!erando- 6ão aguentando mais, %oana começa a esmurrar a !orta-" J/ANA 0 $or favorU Abram a portaU 7stou sufocadaU 8S87:/ 0 Volta/se em e5!ectativa" J/ANA 0 7u sei que tem alguém ai! AbraU 8S87:/ 0 ue querM J/ANA 0 $or favorU &% descarga na privada! 8S87:/ 0 7st" entupida! J/ANA 0 F mentiraU 8E87:/ 0 7st" entupida, 5" disse! J/ANA 0 A descarga fica do lado de fora! 7perimente, quero ver! 8S87:/ 0 7st" entupida! J/ANA 0 =azem isto pra me torturar! 8S87:/ 0 :esolveu confessarM J/ANA 0 Não ten#o nada a confessar! 8S87:/ 0 7ntão, fique respirando o ar fresco! J/ANA 0 &% descarga!!!pelo amor que tem em &eus! 8E87:/ 0 Não sou muito amigo dele, não! J/ANA 0 Angustiada" 7u sei que não est" entupida! $or favorU 8S87:/ 0 F merda sua mesmo, portanto pode ag6entar! J/ANA 0 Não #" nen#uma 5anela!!!U / mau c#eiro é insuport"velU 8S87:/ 0 ue é que queriaM Im aparel#o de ar condicionadoM 8onfesse e eu dou descarga! 'ão ordens do doutor!
J/ANA 0 .as confessar o qu%M / qu%M 8S87:/ 0 Doc% é que sabe! Cícero se volta e sai-" J/ANA 0 .eu &eusU $or que todo este dioM ue mais não inventarão em nome deleU ue fizestes com os #omens, meu &eusUM!!!sua maior criaçãoU %oana encosta o rosto na !orta, angustiada- $lumina/se a sala de Cícero, onde ele est4 assistindo televisão- Ouvem/se tiros e gritos que v2m da televisão- Cícero ri e5citado, go0ando com as viol2ncias que assiste- " 8S87:/ 0 3s®ando as mãos com !ra0er" ?omouM 7nc#a ele de bala até virar peneira! Landido fil#o da puta! 8uidadoU /l#a no tel#adoU 7le est" l"! AíU AíU Joga ele pra baio! &eia esborrac#ar no c#ão! (aniel entra na sala- Perce+e/se que '4 alguma coisa di&erente em (aniel uma certa ansiedade, um dese#o se5ual não satis&eito- Cícero se volta !ara (aniel-" 8S87:/ 0 ?omou pelo menos uns trinta tiros, o que merecia! A televisão ensina muito, doutorU A turma é uma naval#a pra tratar criminoso! 'abem cada golpeU Não escapa umU &ANE79 0 /nde est" elaM 8E87:/ 0 Doltou pra cela! &ANE79 0 $assou os dois dias na solit"riaM 8E87:/ 0 $assou! .as s a privada entupida não deu resultado! $nsinua" 7ra uma boa #ora pra interrogar! $or que não veioM &ANE79 0 Meio nervoso" ?ive compromissos! 8E87:/ 0 Ca!cioso" $erdeu uma tima oportunidade! &ANE79 0 (e re!ente" 8íceroU ?ire a prostituta da cela! &eie Joana sozin#a! 8E87:/ 0 $or qu%M &ANE79 0 3nervado" $orque eu quero! Esto bastaU A presença da prostituta não deu resultado! $elo contr"rio- Jupira est" a5udando ela a resistir! (is&arça"
uero esta mul#er completamente sem defesa! 8S87:/ 0 ?r%s dias de interrogatrios, dois na solit"ria e não confessou nadaM $nsinua" ue est" acontecendo, doutorM &ANE79! 0 3m guarda" $or qu%M 8E87:/ 0 orri com certa malícia" / sen#or não costuma perder nen#uma presa! Ninguém resiste o sen#or mais do que dois diasU 'er" porque é freiraM &ANE79! 0 $rritado" &eie de falar besteira! 7la vai confessar! 8E87:/ 0 $nsinua" 'ei de um meio que ela confessaria f"cil, f"cil! &ANE79 0 ualM 8E87:/ 0 Di na televisão! &ANE79 0 .as qualM 8E87:/ 0 ?iro a Jupira e coloco o marginal l" dentro! &ANE79! 0 Violento" Não se atreva a fazer istoU 8S87:/ 0 $or que nãoM &eu resultado no filme da televisão! 8om ela daria mais ainda! Não é freiraM 8om o marginal l" dentro!!!ela fica com medo de ser violentada! =reira tem pavor disto! 7 ele violenta mesmo, um animal! &ANE79 0 ?ire a Jupira de l"! ' isto! 8S87:/ 0 (escon&iado" Não estou entendendo! &ANE79 0 Não é mesmo pra entender! =aça o que estou mandando! 8S87:/ 0 /u est" querendo entrar no lugar do marginalM A freira é bem apan#ada! (aniel d4 uma +o&etada em Cícero- 3ste encol'e/se e ol'a &i5o !ara (aniel, revelando seu adio-" &ANE79 0 =ec#a esta boca su5a! D" tirar a JupiraU (aniel se volta e sai- Cícero &ica ol'ando e retesa/se c'eio de
ressentimento- $lumina/se a cela de %oana- %u!ira est4 sentada no c'ão %oana acorda e senta/se no catre-" !JI$E:A 0 &escansouM J/ANA 0 $arece que sim! uantas #oras dormiM JI$E:A 0 /uvi o sino da igre5a bater! &eve ter dormido umas tr%s #oras! J" t" bom! .uito bom! J/ANA 0 Na solit"ria não tin#a lugar pra deitar!!!e o mau c#eiro era #orrívelU JI$E:A 0 7u sei! .as deia isto pra l"! Damos fazer um pouco de gin"sticaM 8S87:/ 0 A+re a !orta" DamosU JI$E:A 0 Dai começar tudo outra vezM 8S87:/ 0 Não é ela, é voc%! 'aiaU JI$E:A 0 /nde vai me levarM 8E87:/ 0 $ra outra cela! 7 não faça perguntas! JI$E:A 0 / negrão 5" saiu da solit"riaM 8S87:/ 0 J"! JI$E:A 0 Dai me levar pra eleM &iga que vai! 8E87:/ 8E87:/ 0 F 8apaz! Ol'ando Ol'ando &i5o !ara %oana" 7u vou ; levar outro!!! mas em outra cela! Den#aU JI$E:A 0 Retesado, ol'a %oana" / que que voc% est" querendo dizerM 8S87:/ 0 Nada! D" andando! JI$E:A 0 A %oana A %oana e saindo" Não saindo" Não esqueça da gin"stica e coma tudo que vier, se5a l" o que for! %u!ira %u!ira sai acom!an'ando acom!an'ando Cícero, Cícero, desa!arecend desa!arecendoo no corredor ó as !aredes da cela de %oana &icam iluminadas- 3las t2m uma !resença
estr estran an'a 'a co como mo se &oss &ossem em viva vivas, s, !a !al! l!it itan ante tess- %o %oan anaa a!ro5i a!ro5ima ma/s /see da !arede e l2-" J/ANA 0 lendo" “'obre meus ol#os, min#a pele, se tece esta mural#a de sil%ncios! 'ei que se faz #o5e mais espessa#" um nome a mais gravado em sua noite! H" nomes que não cicatrizam, sangram de sua sombra lentas gotas de aman#ã!” %oana continua re!etindo re!etindo as !alavras, !alavras, tentando decor4/las- $lumina/se $lumina/se a cela de Miguel que continua sentado no mesmo lugar- Cícero entra e o+serva Miguel que não d4 sinal da !resença do carcereiro-" 8E87:/ 0 .iguelU .iguelU .EWI79 0 Ol'a Cícero como se não o en5ergasse-" 8E87:/ 0 'abe que tem se comportado muito bemM .EWI79 0 )a0 um gesto de de&esa-" de&esa-" 8E87:/ 0 Não vou te fazer mal! 7stou dizendo que tem se comportado muito bem! uer sair um pouco daquiM .EWI79 0 uero! 8S87:/ 0 9embra do que eu prometiM .EWI79 0 Não! 8S87:/ 0 ue levava voc% naquela cela, cela, se comportasse comportasse bem! Não foiM .EWI79 0 Ac#o que foi! 8E87:/ 0 uer irM .EWI79 0 7evanta/se-" 8S87:/ 0 Den#aU
A cela desa!arece- %oana tira o avental de !ro&essora e começa a gin4stica- 3nquanto &a0 a gin4stica, vai re0ando uma oração-" J/ANA 0 “$adre Nosso que estais no céu, santificado se5a o vosso nome, ven#a a ns o vosso reino, se5a feita a vossa vontade assim na terra como no céu! / pão nosso de cada dia (e re!ente, ela !4ra !ensativa" $erdoai>os, 'en#or, porque não sabem o que fazemUKK Retes Retesada ada"" NãoU Não é verdadeU Aqui todos sabem muito bem o que estão fazendo! F o sadismo a serviço de ob5etivos definidos! 'ão dem
J/ANA 0 $iores do que fazem aqui comigo, com voc% e com outrosM .EWI79 0 =alam que fiz!!!por isto 5udiaram de mim! J/ANA 0 $or que o seu rosto est" mac#ucado assimM .EWI79 0 Im mundo de su5eito, não sei quanto, gritava, pulava e sentava os pé na min#a cara, em toda parte do corpo! J/ANA 0 Com!reende" $raticaram o Qarat% em cima de voc%, não éM .EWI79 0 Não sei o que é isto! 'ei que doeu pra danar! J/ANA 0 a+endo que !recisa &alar !ara distraí/lo" 7les me ameaçaram também! .EWI79 0 8om aquelas porrada na caraMU J/ANA 0 F! ueriam que eu sentisse medo e confessasse o que não fiz! 'altando e gritando 4 min#a volta, pareciam cabeças de uma #idra odienta! Na sua dança!!! .EWI79 0 ue é #idraM J/ANA 0 Ima cobra enorme com muitas cabeças! Na sua dança sinistra, lembravam o dragão que tentou devorar!!!U P4ra de re!ente, lem+rando/se" 'eu nome não é .iguelM .EWI79 > F! J/ANA 0 'abe que tem nome de an5oM .EWI79 0 An5oM 7uM J/ANA 0 .iguel foi o an5o salvador de Nossa 'en#ora! .EWI79 0 Ben0e/se" 8omo era eleM J/ANA 0 7ra um an5o de asas imensas que podiam cobrir o mundo! .EWI79 0 Meio in&antil" 8omo foi que salvouM 8ontaU Nunca contaram uma #istria pra mim! J/ANA 0 egura e #4 sem temor- 3nquanto %oana &ala, ouvem/se latidos de
cães !oliciais e gritos de quem !ratica o 1arat2" Nossa 'en#ora apareceu no céu vestida de sol, com a lua debaio dos pés e uma coroa de doze estrelas na cabeça! Dindo das profundezas do inferno, apareceu um enorme dragão vermel#o, que tin#a sete cabeças e dez cornos! 7ra o fil#o das trevas! 7le pode tomar qualquer forma! Nossa 'en#ora estava gr"vida, e o dragão queria devorar seu fil#o! =oi quando surgiu o an5o .iguel! Houve uma grande batal#a no céu!!!e o an5o .iguel, com a espada c#eia de labaredas de fogo, venceu o dragão e os an5os da maldade, salvando Nossa 'en#ora! Miguel anda meio agitado !ela cela- Perce+e/se que ele tenta com!reender a 'istória, mas sem grandes resultados, Hma confusão de sentimentos estam!a/se em seu rosto- 3le ol'a %oana tentando entender %oana sorri, +ondosa-" J/ANA 0 'ente>se aqui ao meu lado! Não querM .EWI79 0 Não tem mesmo medo de mimM J/ANA 0 orri maternal" Não! Agora, não! Doc% tem nome de an5o, não de dragão! Miguel vacila- (e!ois senta/se e !ega no avental de %oana-" J/ANA 0 F meu avental de trabal#o! Disto quando dou aulas! =oi a Gnica coisa que deiaram comigo! .EWI79 0 uemM J/ANA 0 7sta gente que praticou Qarat% em cima de voc%! .EWI79 0 $nconscientemente" / dragãoM J/ANA 0 orri" FU F uma espécie! .EWI79 0 ' con#eço o dragão de 'ão Jorge! ?in#a na parede do Enstituto! J/ANA 0 'ão todos da mesma família! /u são apenas um, aparecendo em formas diferentes! $or que foi presoM .EWI79 0 Não sei!!!ac#o que porque quebrei o vidro de uns carro! orri in&antil" 8arro da políciaU J/ANA 0 $or que fez istoM
.EWI79 0 7stavam me perseguindo, me batendo!!! s porque vivo enc#endo a cara, fumando macon#a e roubando! J/ANA 0 Amarga" ' podia mesmo andar por este camin#oU .EWI79 0 8omo é que sabeM J/ANA 0 'ou educadora e me interesso muito pelos problemas dos menores abandonados! .EWI79 0 7ntão, é por isto que est" presa aqui! Ninguém quer que a5udem a gente! J/ANA 0 /nde estão seus paisM .EWI79 0 Não con#eci! orri in&antil" ?" vendo, donaM ?odo mundo tem pelo menos mãe! 7u não ten#o nada! J/ANA 0 Perce+endo" F o que mais gostaria de ter, não éM Ima mãeM .EWI79 0 Ac#o que sim! (e re!ente" 7 depois!!!U J/ANA 0 / qu%M &igaU $ode dizer! .EWI79 0 'abe aqueles sacos que enfiam travesseiroM J/ANA 0 =ron#aM .EWI79 0 Não sei! Ac#o que é! Wostaria de ter uma bordada com flores! J/ANA 0 Ima fron#a com floresM .EWI79 0 Im dia assaltei uma casa!!!e nos quarto tin#a fron#a bordada!!!brinquedoU!!!tudo limpin#oU Nunca mais esqueci! J/ANA 0 Dou bordar uma pra voc%! .EWI79 0 (e re!ente" $osso!!!deitar no seu coloM J/ANA 0 &eiteU $ode deitarU Mansamente, Miguel deita a ca+eça so+re as !ernas de %oana- 3sta, carin'osamente, !assa a mão !or seus ca+elos Miguel a#eita/se como
um garoto no colo de sua mãe-" .EWI79 0 $ode contar a #istria outra vezM J/ANA 0 ual #istriaM .EWI79 0 A do dragão! J/ANA 0 Nossa 'en#ora apareceu no céu vestida de sol e de estrelas!!!U 8E87:/ 0 C'egando diante da !orta" 8omo éM 'erviço prontoM Cícero com!reende a situação- 3le a+re a !orta da cela e tira Miguel com +rutalidade-" 8S87:/ 0 A %oana" Doc% pra mim é #omemU A Miguel" 7 voc% é uma bic#aU J/ANA 0 'omos mais gente do que voc%! Cícero em!urra Miguel- 3ste se volta, ameaçador-" 8S87:/ 0 Damos andando! uer que eu v" buscar os cac#orrosM $or aí, não! $or aqui! .EWI79 0 /nde vai me levarM 8S87:/ 0 .andaram soltar voc%! .EWI79 0 Ol'a %oana" Não quero! 8E87:/ 0 Doc% não tem querer! Dai sair! .EWI79 0 Pondo/se diante da cela de %oana" uero ficar aqui! 8S87:/ 0 uer que c#ame a turma do Qarat%M Com relutIncia, Miguel segue Cícero- Antes de sair, Miguel se volta e ol'a na direção de %oana, ansioso- $lumina/se a sala do interrogatórioOs 'omens continuam em volta da sala, !arados e imóveis- (aniel ; o nico que se movimenta- Por;m, os movimentos de ca+eça e de +raços de (aniel são re!rodu0idos e5atamente iguais !elos seis 'omens que o rodeiam- 9 como se &osse a!enas um cor!o comandando sete ca+eças e quator0e +raços- Os movimentos de +raços são lentos lem+rando tent4culos que se agitam-"
H/.7. 0 $móvel" .as até agora não deu resultado! &ANE79 0 ue mais devo fazerM H/.7. 0 ?raga aqui e interrogue como fez com a universit"ria! &ANE79 0 $rre&letidamente" NãoU H/.7. 0 $or que nãoM ' porque diz que é freiraM H/.7. 0 'e for, mel#or ainda! 7la confessa! &ANE79 0 Doc%s ac#amM H/.7. 0 F o Gnico meio! 7sta mul#er precisa ser dobrada! H/.7. 0 Não pode continuar desafiando a autoridade! &ANE79 0 Resolve" ?raga ela aquiU H/.7. 0 &aquele 5eitoM &ANE79 0 &aquele 5eito! H/.7. 0 8omo foi com a universit"riaM &ANE79 0 Esto mesmo! 'aiam todos! Não quero ninguém presente! Os 'omens saem em &ila como aut Den#aU
O *omem sai- Cícero sai com Miguel- .uando !assam !ela cela de %oana, Miguel corre e ol'a !ara dentro-" .EWI79 0 A&lito" /nde est"M $or que não est" aquiM 8E87:/ 0 =oi para a sala do interrogatrio! 9ogo estar" de volta! .EWI79 0 Aliviado" $ensei que tin#am levado embora! 8S87:/ 0 Dai ser interrogada de maneira muito especial! 7u também queria assistir, mas o delegado não deiou! 'ei muito bem o que ele est" pretendendo! A mim ele não engana! (e re!ente" Doc% quebrou a viatura s pra voltar, não foiM 7st" querendo ficar perto dela, não éM $nsinua" 8on#eço mais alguém que também sente tesão por ela! Ri" Damos ver no que vai dar! .EWI79 0 @enso" uemM 8S87:/ 0 Na #ora certa eu digo! Den#aU Miguel acom!an'a Cícero- ilumina/se a sala do interrogatório, onde (aniel est4 so0in'o- 3le anda de um lado !ara outro- A !orta se a+re e %oana ; em!urrada !ara dentro- Hm dos 'omens entrega a (aniel as rou!as de %oana- A !orta se &ec'a, &icando a!enas os dois na sala %oana est4 quase nua, tra0endo a!enas a calcin'a- 3la não !rocura esconder o cor!o com os +raços, como se a nude0 não signi&icasse nada %oana camin'a, segura de si mesma, !arando no meio da sala- Alguma coisa de muito !ro&undo modi&icou/se nela- %oana não !arece mais a mesma- Hm !ro!ósito e uma determinação transcendentes !arecem di/ rigir seus !assos, estam!ando/se em seu rosto- (urante a cena, quase tudo da &reira desa!arece, surgindo uma mul'er sensual, de grande +ele0a e &orça- (aniel &ica &ascinado !elo cor!o de %oana- 3la sustenta a ol'ar dele com serenidade, como se estivesse inteiramente vestida Pouco a !ouco, um dese#o !ro&undo vai se re&letindo nos ol'as de (aniel-" J/ANA 0 Com !ro&unda intensidade" .eu &eusU /fereço o meu martírio, não por mim, mas por todos que estão sendo #umil#ados no mundo! ?u que estiveste sempre comigo!!! não me abandones agora! (aniel anda = volta de %oana, e5aminando/a e segurando suas rou!as %oana, em !lena agonia, !rocura não demonstrar o que sente&ANE79 0 Malicioso" Não devia ser freira! Esto é que é pecadoU
J/ANA 0 *irta" .as sou! &ANE79 0 Doc% é uma mul#er! J/ANA 0 'ou freira, mas também mul#er! &ANE79 0 Im mul#eraçoU Ca!cioso" Encomodo, eaminando seu corpoM J/ANA 0 )irme" Não! &ANE79 0 Não sente uma puta vergon#aM J/ANA 0 Não ten#o de qu%! &ANE79 0 orri meio de+oc'ado" F pena não terem tirado toda a roupa! 3 a ordem era pra tirar tudo! .as isto ; coisa que posso dar 5eito! J/ANA 0 Contrai/se, ligeiramente, com e5!ressão de angstia" &ANE79 0 O&erecendo" uer suas roupasM Lasta que confesse! J/ANA 0 Não ten#o nada a confessar! &ANE79 0 7sta resist%ncia é inGtil! Dai acabar raste5ando! J/ANA 0 Não posso admitir o que não &i0&ANE79 0 J" con#eço este papo furado! ?odos começam assim e acabam dando o serviço! J/ANA 0 'e dissesse alguma coisa estaria mentindo! 8omo freira não posso mentir! &ANE79 0 uer que eu mande meus #omens entraremM 7les 5" fizeram uma demonstração de Qarat% pra voc%! 7 obedecem como feras amestradas! J/ANA 0 $ode mandar entrar! J" ofereci meu martírio a &eus, a todos que sofrem neste mundo! &ANE79 0 3n&urecendo/se" &ecida logo, antes que eu arranque o resto da sua roupa! 7 isto nem &eus poder" impedir! $nsinua" Nem outras coisas que podem te acontecer!
J/ANA 0 /s camin#os de &eus são insond"veisU 'e for da vontade &ele, saio desta sala como entrei!!! ou como 7le dese5ar que eu saia! &ANE79 0 Dontade dele uma porraU Aqui quem tem vontade sou eu! Dai sair s depois que confessar! J/ANA 0 Não estou pedindo pra sair! &ANE 79 0 $arece que gosta de ficar pelada na frente de #omem! Esto prova que não é freira coisa nen#uma! J/ANA 0 Armando o laço" 'ou freira, mas também mul#er! 7 quantas voc% não troue nuas nesta salaM $osso sofrer o que sofreram! &ANE79 0 =reira não sabe o que é ser mul#er! $nsinua" 7 é um #omem que ensina a ser! 7 não é muito difícil de aprender!!! e é muito gostosoU J/ANA 0 @omando uma decisão interior" Agora sei que ninguém vai sair desta sala!!! até que cada um consiga o que quer! Não foi para isto que me troue nua aquiM &ANE79 0 Esto mesmo! $ara admitir que não passa de uma subversiva disfarçada de freira! J/ANA 0 $ensa que a nudez vai me fazer confessar o que nunca fizM A nudez nada significa pra mim! $elo menos nesta situação! .eu corpo pertence a &eus, não a mim! &ANE79 0 Meio sensual" &eus não pode fazer nada com ele! 7u possoU J/ANA 0 7u sei! Doc% pode descer até o fundo da sua indignidade! .as s assim eu posso conseguir o que é preciso! &ANE79 0 Meio retesado" 8onfesse, vista sua roupa e saia daqui enquanto é tempo! J/ANA 0 Mais segura" AgoraU no ponto em que o mundo e os #omens c#egaram, o tempo é para medir cada um! &ANE79 0 >rita" .edir o qu%M / qu%M J/ANA 0 Até que ponto uns podem torturar, e outros resistirem as torturas!
&ANE79 0 F voc% mesma quem vai determinar a medida das torturas, a da sua resist%ncia e a sua prpria sorte! J/ANA 0 Não sei até onde pode ir min#a resist%ncia! Damos ver até que ponto voc% vai na torturaU &ANE79 0 8onfesseU!!! enquanto não fica sabendo até onde posso ir! Doc% não me con#ece, santin#a do pau oco! Não sabe de que sou capaz! J/ANA 0 $ois eu quero saber! Assuma a sua viol%ncia, como estou disposta a suport">la! 7stamos aqui para nos medirmos! ?en#a coragem de ser o que é, como eu ten#o de ser o que sou! Doc% também não sabe até onde posso ir! &ANE79 0 Meio e5citado" Doc% é uma boa parada pra mim! Wosto de quem sabe resistir! A resist%ncia me ecita, me d" maior prazer! J/ANA 0 (e re!ente, insinua" 'omente #o5e percebi que ten#o corpo bem feito! / corpo de uma mul#er, não de uma freira! Im corpo para dar vida! .andando tirar a min#a roupa, voc% me fez sentir a beleza do meu corpo! 7le agora eiste e deve ser usado! &ANE79 0 IsadoMU J/ANA 0 Esto mesmo! .as bem usado! uantos corpos como o meu 5" não #umil#ou, deiando de usar como um verdadeiro #omemM Im #omem que ama e dese5a o corpo de uma mul#er, não um corpo para ser torturado! &ANE79 0 Não me provoque, freirin#a de merda! J/ANA 0 Esto! =ale bastante palavrão! F a sua linguagem! $ode ol#ar a vontade! .eu corpo não tem import;ncia! ' a min#a consci%ncia! Não me sinto nua! Não estou nua! $elo menos não estou nua como voc% com toda esta roupa! F assim que nascemos!!! e assim muitos morrem! =oi como 8risto morreu numa cruz! ?ambém posso morrer! &ANE79 0 $rrita, magní&ica" Doc% 5" me matou! .atou a pessoa que entrou nesta prisão do inferno! .as quantos, como eu, não morreram aquiM Não sou mel#or do que os outros, não posso escol#er lugar pra morrer, nem forma mel#or de morte!
&ANE79 0 35aminando/a" Doc% est" bem vivaU 'e est"U J/ANA 0 3nigm4tica" $orque matou uma!!! para que nascesse outra no lugar! &ANE79 0 Nunca matei ninguém! J/ANA 0 Começa a rir descontroladamente" &ANE79 0 $areU $are 5" disseU J/ANA 0 Ainda rindo" Nunca matou ninguémU 7ntão, que é a vida pra voc%M ue entende de vida, se vive mortoM 'e anda pelo mundo como a prpria morteM &ANE79 0 $osso mostrar agora mesmo que não estou morto! 8omo voc% também não est"! /s mortos não gritam de dorU J/ANA 0$ois mostreU 8omoM $nsinua" Diolentando>meM &ANE79 0 Retesado" $osso violentar voc% com um cabo de vassoura, com um instrumento qualquer! J/ANA 0 3rgue os +raços" NãoU $or favor, nãoU &ANE79 0 7 é isto que vou fazer! (aniel &a0 menção de sair- %oana corre e se !:e em &rente = !orta- Ao correr, seus ca+elos se des!rendem co+rindo/l'e !arte dos seios e tornando/a mais +ela, ainda mais dese#4vel-" J/ANA 0 Provocante" Ise o seu instrumento natural para istoU &ANE79 8omoMU J/ANA 0 Esto mesmo! / instrumento que &eus l#e deu! Aquele que faz nascer a vida! $rove que entende de vida e não somente de morte! &ANE79 0 35citado" Doc% me dese5aU Passando a mão no se5o" J" percebeu que sou bem servido, não é mesmoM Doc% também é! 'e éU .e dese5ou desde o começo, como dese5ei voc%! J/ANA 0 &ese5o agora!!! porque escol#i a vida, não a morte!
&ANE79 0 &eie de conversa fiada! 7st" é querendo saber o que é ter um mac#o entre as pernas! J/ANA 0 Im #omemU Apenas um #omemU &ANE79 0 &esistiu de ser freiraM /u nunca foiM J/ANA 0 Não desisti! .as como freira também posso dar vida! / que não posso é dar morte! ?ome o meu corpoU 7le não me pertence mais! Agora!!! deve pertencer a uma causaU &ANE79 0 Y causa da subversão, não éM J/ANA 0 Y causa de &eus neste mundo abandonado! Ise o seu instrumentoU Não um cabo de vassoura! 'e fizer isto, ser" a prpria morte! Nunca poder" c#egar a ser um #omem! Den#aU ?ransforme meu corpo de freira, no corpo da mul#er que dese5a! 'e5a um #omem, um instrumento da vida, não da morte! &ANE79 0 (ominado !elo dese#o" Dou fazer voc% gemer, gritar de prazerU J/ANA 0 'e eu o transformar num #omem!!! terei feito muito a &eus, a todos que agonizam nesta prisão! Den#aU!!! e prove que ainda pode ser um #omem! u+itamente, (aniel agarra os ca+elos de %oana e a +ei#a com viol2ncia, !ossessivo- Angustiada, %oana se entrega-" J/ANA 0 .eu &eusU F o Gnico camin#o!!! o GnicoU Os dois caem no c'ão CORRE A CORTINA
SEGUNDO ATO
3nquanto se a+re a cortina, ilumina/se a sala do convento onde estão a Madre e as mesmas &reiras-" =:7E:A 0 Nen#uma notícia, madreM .A&:7 0 Nen#uma! =:7E:A 0 .as 5" faz dois mesesU .A&:7 0 Não procurei saber! 'eria perigoso para todas! =:7E:A 0 ?ambém ac#o! =:7E:A 0 Ac#a que irmã Joana envolveria a congregaçãoM .A&:7 0 &epende! =:7E:A 0 &epende do qu%M =:7E:A 0 @emerosa" Ac#a que seria possívelM .A&:7 0 Não sabemos os métodos que usam para fazer uma pessoa admitir!!! até o que nunca fez! =:7E:A 0 uanto mais a irmã Joana que fez tanta coisa! =:7E:A 0 ue foi que ela fezM =:7E:A 0 Andava envolvida com gente tão esquisita! .A&:7 0 Ermã :os"rioU ue é que tem contra irmã JoanaM =:7E:A 0 Não é freira como ns! Nunca se sacrificou! 'on#ava com o mundo l" fora! Divia agarrada 4s paredes da cela ouvindo sons de passos e de vozes que passavam e se distanciavam, de sinos tocando como se a cidade estivesse c#amando>a-
D:7E:A 0 8#amados do demla na prisão! =:7E:A 0 DaiMU .A&:7 0 7le nos dir" como devemos proceder! =:7E:A 0 8oitado do sen#or LispoU Er num lugar daquele! .A&:7 0 F um santoU 7 os santos podem ag6entar tudo, irmã! =:7E:A 0 A&lita" .adreU $eça pra ele dizer que não temos nada com a irmã Joana! Nossa igre5a, o colégio!!! são muito mais importantes! =:7E:A 0 $ensamos, rezamos para a #umanidade! 8asos assim não servem para resolver nada! .A&:7 0 =alarei com o sen#or Lispo! Não se esqueçam que a oração pode remover montan#as! &evemos nos voltar para &eus e orar! A5oel#em>se e rezem comigo pela Ermã Joana de Jesus 8rucificadoU @odas se a#oel'am e começam a re0ar- As &reiras desa!arecem quando se ilumina a sala da casa de (aniel- 3le est4 sentado, tentando ler #ornal- Marina anda !ela sala varrendo o c'ão- u+itamente, (aniel do+ra o #ornal, !:e de lado e ol'a as mãos- 3le contrai os dedos como se estivesse segurando os ca+elos de %oana- (e!ois &ec'a os ol'os, meio atormentado- 7evanta/se e anda !ela sala- (e re!ente- tenta !egar os ca+elos de Marina como &e0 com %oana, mas não consegue-" .A:ENA 0 Não me atrapal#e! &an! $reciso limpar o tapete! &ANE79 0 $or que não deia crescer seus cabelosM .A:ENA 0 &" muito trabal#o! &ANE79 0 Meio distante" ?udo que d" trabal#o é bom! orri" 7u, por
eemplo, gosto de quem sabe resistir! .A:ENA 0 Wosta de cabelos compridosM &ANE79 0 Wosto! .A:ENA 0 Nunca disse isto! &ANE79 0 Meio irritado" /ra, .arina! H" sempre uma primeira vez! .A:ENA 0 uer que deie crescer os meusM &ANE79 0 uero! .A:ENA 0 Ac#a que ficaria mel#or pra mimM &ANE79 0 &eve ficar! Meio evocativo" As mul#eres com cabelos longos são mais dese5"veis! .A:ENA 0 Não me ac#a mais dese5"velM &ANE79 0 8laro que ac#o! Não torça as coisas! 7u disse que ficam mais dese5"veis, além do que 5" são! .A:ENA 0 (escon&iada" Doc% est" diferenteU &ANE79 0 $rritado" 'anto &eusU ' porque disse que gosto de cabelos compridosM LomU Damos mudar de assunto! (e re!ente" 9uís =elipe 5" fez a primeira comun#ãoM ?odo mundo &a0--- ele também precisa fazer! F ruim ser diferente dos outros! .A:ENA 0 8laro, &anielU 7le 5" est" com quinze anos! =ez #" muito tempo! &ANE79 0 uem preparou 9uís =elipe para a primeira comun#ãoM =reira ou padreM .A:ENA 0 =oram as irmãs do colégio! &ANE79 0 &essas que usam #"bitoM .A:ENA 0 Não con#eço freira que não use #"bito! &ANE79 0 Ho5e, muitas não usam!
.A:ENA 0 $ra mim não são mais freiras! &ANE79 0 $ncisivo, querendo se convencer" ?ambém ac#o! 'aíram para o mundo, portanto devem aceitar tudo o que o mundo tem de pior! / lugar delas é no convento, rezando! /u fazendo caridade nos #ospitais! 'e escol#eram viver aqui fora, devem ag6entar a vida como ela é! Doc% não ac#aM .A:ENA 0 8laro que ac#o! ?odo mundo não ag6entaM &ANE79 0 7u digo ag6entar tudoU!!! tudo mesmoU Diver não é f"cil e elas precisam aprender isto! .A:ENA 0 Não s as freiras, &an! /s padres também! &ANE\9 0 $rritado" 7 não é o que estou falandoM .A:ENA 0 Não! Doc% est" se referindo s 4s freiras! &ANE79 0 (is&arça" uero dizer todos! Aqui fora precisam passar o que os outros passam, sofrer o que todos sofrem! Não saíram pra ser gente como todo mundoM $ra comer o que o diabo amassou!!!U (e re!ente" .arinaU 9eve esta vassoura pra l"! .A:ENA 0 $or qu%M &ANE79 0 Não #" nada que me irrite mais do que barul#o de vassoura em tapete! .A:ENA 0 Admirada" /raU ue novidade é estaMU &ANE79 0 Não gosto! $ronto! .A:ENA 0 $reciso limpar o tapete, &anU &ANE79 0 9impe depois que eu sair! Assim não podemos conversar! Arrume esta casa em outra #ora! .A:ENA 0 ue est" acontecendo, &anielM &ANE79 0 $rritado" Nada, .arina! &eve estar acontecendo alguma coisa s porque não gosto de barul#o de vassouraM
.A:ENA 0F a primeira vez que ouço falar nisto em dezenove anos de casadaU &ANE79 0 LomU Não vamos passar a man#ã inteira falando em vassouras! .A:ENA 0 F a Gnica #ora que ten#o pra varrer! Não posso!!! (aniel arranca a vassoura das mãos de Marina e a que+ra no #oel'o (e!ois ol'a o !edaço em sua mão e o #oga longe, saindo da sala Marina, e5tremamente admirada, &ica ol'ando- $lumina/se a cela de %oana- O Bis!o est4 !arado diante de %oana- *4 nela qualquer coisa di&erente que o Bis!o não entende- 9 que, !ouco a !ouco, a mul'er vai &a0endo a &reira desa!arecerLE'$/ 0 J" est" aqui #" dois meses, irmã Joana! Não bastaM J/ANA 0 =icarei quantos forem necess"rios, sen#or Lispo! LE'$/ 0 $or qu%M Não compreendoU J/ANA 0 Aqui, sobretudo aqui, eistem #omens que precisam ser salvos! Agora ve5o que viver l" fora é muito f"cil, principalmente vivendo como vivia! / difícil é viver aqui e não se transformar em agente do dem
LE'$/ 0 Não diga istoU J/ANA 0 Não ten#o direito de ser diferente dos que estão aqui! LE'$/ 0 .as é, Doc% ; uma freiraU J/ANA 0 =oi aqui que con#eci a mul#er que eiste nesta freira! LE'$/ 0 F a mesma que sempre eistiu! J/ANA 0 .as não a con#ecia! Não sabia do que era capaz! LE'$/ 0 Doc% sempre foi uma freira acima de tudo! J/ANA 0 (e re!ente" .as agora!!! sou uma freira gr"vida! LE'$/ 0 Recua" ue disseMU J/ANA 0 Ima freira gr"vida, sen#or Lispo! LE'$/ 0 7st" loucaM J/ANA 0 =ui violentada! LE'$/ 0 At
inGteis! LE'$/ 0 $ois era preferívelU J/ANA 0 $referi a vida, não a morteU LE'$/ 0 &evia ter resistido até a morte! Assim procederam os santos! J/ANA 0 'e tivesse feito o que o sen#or diz, teria continuado imvel diante das coisas!!! tão imvel quanto um santo num altarU $referi perder>me e tornar>me agente do meu prprio destino! Ho5e em dia!!! pra que servem os m"rtiresMU LE'$/ 0 'ão eemplosU J/ANA 0 EnGteisU LE'$/ 0 Passado" J" não a con#eço mais!, irmã JoanaU J/ANA 0 Nem eu! uando me lembro do que aconteceu, meu sangue se enc#e de agul#as envenenadas!!! e ainda não sei se envenenadas pelo dio ou pelo prazer! LE'$/ 0 &eus perdoe voc%, Ermã JoanaU J/ANA 0 =iz tudo por 7le! C'eia de dvidas" ?eria sido mesmoM Agitada" 7ste pensamento começa a entrar em mim como um espin#o dilacerando min#a mente! LE'$/ 0 7ste #omem contaminou voc%U J/ANA 0 J" não recon#eço tantas coisas em mimU 8oisas que parecem tão fortes quanto a vidaU 8oisas que eu não sabia que eistiam!!! e que aquelas mãos fizeram brotar em meu corpo! LE'$/ 0 $or eemplo, irmã JoanaM F preciso confessar! J/ANA 0 'into meus seios 5" se enc#endo de leite e gostaria que viessem mamar neles, cac#orros, gatos, porcos!!! todo o ser vivo que precisasse de alimento para sobreviver! LE'$/ 0 8onfesseU Doc% sentiu prazer seual! Doc% est" em pecado! J/ANA 0 =oi na agonia que aprendi que eu era também uma mul#er! Não se
tratou de prazer seual, sen#or Lispo! =oi muito mais profundo, mais grave e aterrorizador do que uma simples relação carnal!!! mesmo lembrando que o prazer ten#a sido tão intenso! LE'$/ 0 Aterrori0ado" ue est" dizendoMU J/ANA 0 $ara mim, foi uma questão de vida ou de morte, de eist%ncia ou não> eist%ncia! LE'$/ 0 Recua" Não posso absolv%>la, irmã Joana! J/ANA 0 $or que nãoM LE'$/ 0 7st" gr"vida pelo prazer e não pela viol%ncia! 'omente esta poderia absolv%>la! J/ANA 0 8ompreenda, sen#or LispoU LE'$/ 0 8ompreendo muito bem! F um fil#o de prazer, não do martírio! J/ANA 0 F um fil#o da dor, da min#a dorU &a dor do mundoU LE'$/ 0 3n;rgico" ue est" querendoM J/ANA 0 uero mergul#ar até o fundo de tudo que não é con#ecido, para encontrar e compreender o que é novo! 'e para isto for necess"rio a morte, que ela guie meus passos! LE'$/ 0 / .al contaminou voc%, min#a fil#a! J/ANA 0 $ode ser! .as esta força que sinto em meu ventre! vem de um fil#o meu e de meu carrasco! =il#o de contradiç+es que acompan#am o #omem, que estão sempre presentes!!! e que levam ao aman#ã! / que é certo não é certo, sen#or Lispo! As coisas não ficarão como estão nem como estarão! ' os cristais são est"ticos! LE'$/ 0 $ensa que com seu fil#o vai conquistar seu carrascoM /s carrascos são inconquist"veis! J/ANA 0 @ensa" Dou conquistar o meu!!! com meu corpo! LE'$/ 0 *irto" 8onquistar pra qu%M
J/ANA 0 @rans&igurada" ?alvezU!!! para destruí>loU A viol%ncia no mundo precisa ser vencida e destruídaU LE'$/ 0 *orrori0ado" Isando o prprio corpoMU J/ANA > 'imU!!! se for preciso! O Bis!o se volta e sai 'orrori0ado- A cena desa!arece enquanto se ilumina a sala do carcereiro no momento em que entra (aniel- *4 qualquer coisa de !ro&undamente di&erente em (aniel, que se re&lete em seus ol'os em &orma de ansiedade- 3le anda !ela sala o+servado !or Cícero-" &ANE79 8 (e re!ente" 7la pediu alguma coisaM 8E87:/ 0 ' para falar com Jupira! &ANE79 0 Doc% deiouM 8S87:/ 0 &eiei! 7stão 5untas! &ANE79 0 =ez bem! &eu a ela a t"bua que pediuM 8S87:/ 0 &ei! 7 sei que o sen#or deu lin#as e agul#as! Esto não é proibidoM &ANE79 0 7la quer apenas trabal#ar! 8S87:/ 0 $ode querer se matar! &ANE 79 0 =reiras não se matam! 8S87:/ 0 Retesado" =reiraU F puta como a Jupira, por isso ficaram tão amigas! &ANE79 0 $nsinua" &epois!!! começo a desconfiar que ela não tem culpa de nada! ' pode não ter! Não é possível ag6entar as torturas que ag6entou sem confessar! Nudez, solit"ria, dezenas de interrogatriosU 8S87:/ 0 7st" esquecendo de uma! &ANE79 0 3m guarda" ualM 8S87:/ 0 Não violentou essa mul#erM 7 parece que ela gostou! 'e não tivesse gostado, não teria deitado com o sen#or mais vezes!
&ANE79 0 )urioso" 8omo sabeM 8S87:/ 0 Não sou o carcereiroM Não ten#o obrigação de saber de tudo que se passa aquiM 7ntãoU &ANE79 0 /rdin"rioU Doc% não faz isto por obrigação! F dos tais que gostam de ver, porque não conseguem fazer! =rouo! $ensa que não sei que gosta de 5ogar prisioneiros na cela da Jupira, s pra ver o que aconteceM 7 o que se passava entre voc% e os outros prisioneiros quando vivia na celaM 8E87:/ 0 3rgue/se tenso como se tosse !ular em cima de (aniel" &ANE79 0 @ira o revólver" uer ficar com a testa estreladaM Não se esqueça que est" aqui por min#a vontade, porque seu lugar é no presídio! =ui eu que permiti que esperasse sua condicional como carcereiro! Den#aU!!! e ser" mais um “presunto” de criminoso! 'e me espionar mais uma vez, voc% volta para o presídio! Dai direto para a solit"ria! 7 fica l" até apodrecer! 7ntendeuM Cícero senta/se lentamente- (aniel se volta e sai- $lumina/se a cela de %oana- 3nquanto conversa, %oana +orda uma toal'a-" JI$E:A 0 ' posição eu con#eço umas trintaU ?obogã, bola na caçapa, cata> cavaco, frango assado, coqueiro, beirada da cama,sessenta e nove, biquin#a, dois patin#os na lagoa!!!U )a0endo o gesto c'ulo" Doc% nunca mesmo!!!M Nem com um padre gostosãoM J/ANA 0 7u me dediquei a outras causas, Jupira !!! consigo mesma"!!! antes de entrar nesta prisão! JI$E:A 0 Não sabe o que est" perdendo, compan#eira! Homem é a mel#or coisa que &eus esqueceu neste mundo fil#o da puta! 8on#eci cada um que vou te contarU 7 os mel#ores encontrei aqui dentro! ?em um negrão que é uma paradaU J/ANA 0 Homem não é s pra isto, Jupira! JI$E:A 0 $ra mim, é! $ode ser alto ou baio, gordo ou magro, feio ou bonito, sem pelo ou cabeludo,! com dente ou desdentado! Não pergunto no que trabal#a, não ve5o cor, não me importo com a religião e pode ser gringo ou nacional! ?anto fazU J/ANA 0 orri" Não tem preconceitoU JI$E:A 0 Não sei o que é isto! 'ei que precisa ser bem servido de cacete e que saiba fazer o serviço! F o que importa!
J/ANA 0 Com!reensiva" =oi o que a vida ensinou a voc%! JI$E:A 0 Ainda bem! ?rabal#ando na #orizontal como trabal#o, era s o que precisava aprender- meer pra segurar um mac#o entre as pernas! orri vaidosa" 'abe que todos me c#amam de c#upetaM J/ANA 0 8#upetaM / que é istoM JI$E:A 0 'eguro o mac#o e não solto até o infeliz cair desmaiado! Orgul'osa" Não é qualquer uma que sabe fazer isto, não! J/ANA 0 F a forma que usa pra defender a vida! JI$E:A 0 7 ten#o defendido muito bem! J/ANA 0 &efender a vida é a primeira obrigação de cada um! JI $E:A 0 Não deia de ser um bom trabal#o! J/ANA 0 $orque para voc% s restou o corpo e a arte de fazer amor! JI$E:A > 7 daíM J/ANA 0 7stou querendo dizer que esse corpo precisa ser respeitado, porque é ele que defende sua vida! JI$E:A 0 ?rato ele com muito carin#o! J/ANA 0 'e ele defende voc% da morte, ele é o seu mel#or amigo! Diver é o que importa! 3nigm4tica" 7u também usei o meu para continuar a viver! JI$E:A 0 =ez muito bem! J/ANA 0 7 vou viverU Consigo mesma" Aprendi aqui, na dor e na tortura, no que eu pensava ser a suprema #umil#ação, que é em nosso corpo que a vida nasce!!! e vida é presença de &eus, onde quer que ela se manifeste! 8risto não nasceu!!! %oana !ara quando v% (aniel c'egar diante da cela-" &ANE79 0 A+rindo a !orta" $ode voltar para a sua cela, Jupira!
JI$E:A 0 A conversa t" tão boaU &ANE79 0 $or #o5e c#ega! %u!ira sai acom!an'ada !or (aniel- %oana do+ra a toal'a- $lumina/se a sala de Cícero- 3le est4 diante de tr2s crianças de cinco a oito anos Perce+e/se que ele sente um grande carin'o !or elas- Cícero distri+ui !a!el e l4!is !ara as crianças" 8S87:/ 0 'abem qual o dia que mais gostoM .7NEN/ 0 ual, tioM 8S87:/ 0 &omingo! 'abem por qu%M $orque 4s vezes voc%s deiam de ir no zoolgico s pra vir me ver! .7NENA 0 Ns fomos no Jardim [oolgico ontem, tio! 8S87:/ 0 Ainda bem! &esen#em sem fazer barul#o! / doutor est" numa das celas! 7le não pode perceber que estão aqui! .7NEN/ > $or qu%M 8S87:/ 0 $orque é proibido vir aqui! $rincipalmente crianças! &eitem no c#ão e façam seus desen#os! .7NENA 0 A gente não vai ver as celas, tioM .7NEN/ 0 uero ver os presos, tio! .7NEN/ 0 $arecem os bic#os do zoolgico! 8S87:/ 0 &epois que o doutor sair, eu deio voc%s irem! Agora, desen#em e não façam barul#o! As tr2s crianças deitam/se no c'ão e começam a desen'ar- (e ve0 em quando uma delas levanta/se, corre a mesa de Cícero e !ega outro !a!el- (aniel volta = cela de %oana- .uando ele c'ega, %oana est4 colocando uma t4+ua e uma toal'a em cima da !rivada- (aniel o+serva, revelando sua atração !or %oana- Pro!ositadamente, durante a cena, %oana vai se trans&ormando de uma !er&eita religiosa em uma mul'er !rovocante, sensual e lasciva-
&ANE79 0 ue est" fazendoM J/ANA 0 erena" Arrumando meu altar! &A NE 79 0 AltarMU J/ANA 0 F! &ANE79 0 =oi para isto que pediu a t"buaM J/ANA 0 7 o pano, a agul#a e a lin#a! $recisava bordar uma toal#a para ele! Ol'a a !rivada" 7le est" sobre uma privada entupida e mal>c#eirosa, eu sei! .as e este o meu sacr"rio! &ANE79 0 Doc% reza diante distoMU J/ANA 0 :ezo! No mundo de #o5e, #" pessoas que rezam em lugares piores! F diante dele que o pão seco e o caldo ralo da sopa se transformam em eperi%ncia litGrgica! &ANE79 0 Doc% não sabe o que dizU J/ANA 0 F com a sobra da sopa de abbora de s"bado que celebro min#a liturgia! 7 neste momento me lembro que no mundo inteiro, pessoas rezam pela paz! pelo fim do sofrimento!!! porque onde o #omem não est" sofrendo ou sendo perseguidoM Ho5e não é domingoM /u 5" perdi a noção do tempo neste subterr;neo de ferroM &ANE79 0 $oderia ter um altar verdadeiro se cooperasse! J/ANA ] 8ooperasse, comoM &ANE79 0 Admitindo pelo menos uma das acusaç+es! J/ANA 0 Não posso admitir mentiras! 'ou uma freira! &ANE79 0 $rritado" &eie distoU Doc% não é mais uma freira! J/ANA 0 'ou mais do que nunca! &ANE79 0 JoanaU Den#a aquiU Doc% é min#a! J/ANA 0 &eie>meU 'e não consegue me respeitar como religiosa, respeite seu
fil#o! &ANE79 0 $or que não age como qualquer mul#erM J/ANA 0 $orque não sou uma mul#er qualquer! &ANE79 0 Doc% não é uma religiosa! 'abe muito bem como se entregou a mim!!! gemendo de prazer! J/ANA 0 7stou como o poeta que passou por esta cela e escreveu nas paredes! &ANE79 0 7screveu o qu%M J/ANA 0 A!onta" De5aU 72" “?rago as mãos enegrecidas pelo vento podre dos por+es, o riso das algemas, a fagul#a dos dínamos, o açoite!” &ANE 79 0 Dou mandar apagar essas besteiras! J/ANA 0 J" decorei quase todasU Justamente quando mais impura me sinto, é que começo a perceber o que é sagrado! 'ou uma mul#er de quem todos devem se afastar com #orror, mas ao mesmo tempo, pela primeira vez, sou digna de respeito! &ANE79 0 JoanaU J/ANA 0 NãoU &eie>meU &ANE79 0 Meio ansioso" $or que voc% tem tanto medo de mim, se 5" foi min#a tantas vezesM J/ANA 0 Meio !rovocante" $orque seu ol#ar lembra os ol#os de um agonizante! &ANE79 0 JoanaU Admita sua culpa e darei 5eito no seu processo Den#a comigo para o mundo e se5a min#a mul#er! 7u arran5o um apartamento para ns dois! J/ANA 0 Mais !rovocante ainda" 'ou uma freira! &ANE79 0 Ima mul#er gr"vida não pode ser freira! Admita sua culpa e tudo ficar" f"cil! J/ANA 0 8ulpa de qu%M &e amar o primo mais do que a mim mesmaM ensual" &e dese5ar até mesmo o meu torturadorM (e re!ente, terrível"
Doc% é belo como o demme com todas as maldades do mundo! fil#as do prazer e da luGriaU %oana re+ola, sensual, l+rica, diante de (aniel" &ANE79 0 ue é istoM 7st" loucaM J/ANA 0 Jupira me ensinou! &ANE79 0 Não faça istoU J/ANA 0 $or que nãoM 7sta é a mul#er que descobriu embaio do #"bito! / que est" esperandoM Doc% s pode vencer pela viol%ncia, e eu também! =oi voc% mesmo quem ensinou! 'e um dia sair daqui, vou fazer aquilo de que me acusa, que nunca fiz, mas que agora ve5o que é necess"rio fazer! Bela, magní&ica, %oana solta os ca+elos e e5!:e seu cor!o diante de (aniel- 3ste, c'eio de dese#o, a+raça %oana- Os dois caem no c'ão As lu0es a+ai5am e tornam a su+ir- .uando a cela ; iluminada novamente, (aniel est4 deitado no c'ão e dorme !ro&undamente, %oana est4 de #oel'os diante de seu altar- ^ J/ANA 0 .eu &eusU &ai>me paci%ncia, porque é de paci%ncia que preciso! $aci%ncia para vencer a viol%ncia, dobrar os dem
8E87:/ 0 orri amoroso" J" acabaram os desen#os, meus bic#in#osM .7NENA 0 7u 5", tio! .7NEN/ 0 $odemos brincar nas celasM 8S87:/ 0 Agora podem / delegado saiu! .7NENA 0 ue bom, que bomU 8S87:/ 0 .as não c#eguem perto da cela quatro! /uviramM .7NEN/ 0 $or que, tioM 8S87:/ 0 uando vão no zoolgico, voc%s se aproimam da 5aula do leão ou do tigreM .7NENA 0 &eus me livre! 8S87:/ 0 7ntão! F a mesma coisa! .7NEN/ 0 uem est" l", tioM 8S87:/ 0 Im #omem muito ruim! .7NENA 0 8omo c#amaM 8S87:/ 0 .iguel! .7NEN/ 0 A gente não c#ega perto! DamosU As crianças saem e correm entre as celas, +rincando de !egador- uas vo0es, gritos e risadas in&antis dão uma nota insólita a !risão som+ria A garotin'a menor leva o seu desen'o- Brincando, ela se a!ro5ima da cela de %oana- %oana o+serva as crianças e sorri carin'osa- *4 qualquer coisa de maternal em sua e5!ressão-" J/ANA 0 Lom dia! .7NENA 0 Lom dia! !J/ANA 0 8omo é que voc% se c#amaM
.7NENA 0 &aniela! J/ANA 0 &anielaM ue nome bonitoU .7NENA 0 7u não gosto! $refiro 7laine 8ristina! J/ANA 0 8#egue mais perto! .7NENA 0 $or qu%M J/ANA 0 Wosto muito de criança e voc% é linda! .7NENA 0 / tio disse que é perigoso! J/ANA 0 $erigoso por qu%M .7NENA 0 Doc% não come criança, comeM J/ANA 0 8laro que não! .7NENA 0 / tio disse que voc% é comunista e que comunista come criança! J/ANA 0 Não sou nem nunca fui comunista! ue é istoM .7NENA 0 A!ro5ima/se" .eu desen#o! J/ANA 0 .ostre para mim! Pega o desen'o" F sua casaM 7la é assimM .7NENA 0 .ais ou menos! &evia ter uma "rvore, mas não tem! No meu desen#o tem! J/ANA 0 7stou vendo! A min#a devia ter um 5ardim, mas também não tem! / sol que voc% fez é muito bonito! Aqui, onde estou morando, não tem sol! ?en#o muita saudade dele! .7NENA 0 Nem podia ter! J/ANA 0 $or que nãoM .7NENA 0 Doc% não merece! J/ANA 0 Ac#a que nãoM
.7NENA 0 Ac#o! Doc% quer fazer mal pro c#efe do meu tio! J/ANA 0 /l#e bem pra mimU Ac#a que eu seria capaz de fazer o malM .7NENA 0 Ac#o! Wente ruim deve ficar na cadeia e sem sol! =oi o que o meu tio disse! 7le é muito bom e, se disse isto, é porque é verdade! Cícero entra e !u5a a so+rin'a de !erto de %oana" 8S87:/ 0 Não disse pra não c#egar perto, &anielaM DamosU 7ntrega o desen#o da min#a sobrin#a! J/ANA 0 A#U F voc% o tioU ' podia ser! 8S87:/ 0 D" brincar com seus irmãos! A garotin'a sai correndo- Cícero &ica vigiando- A cela de %u!ira ; iluminada- 3la arranca a rou!a e nua continua sua dança, atingindo um verdadeiro &renesi- 3nquanto dança, grita-" JI$E:A 0 7u quero #omem! 7u preciso de um #omem! .eu &eus! $on#a um #omem na min#a cela! $ode ser até este puto do carcereiro! ualquer um! Ao mesmo tem!o ilumina/se a cela de Miguel- 3le continua se atirando contra as !aredes e gritando- eus grito, agora, lem+ram uivos de um animal- As crianças correm entre as celas, a!arecendo em todo o cen4rio- Cícero ri, divertido- As crianças c'egam correndo-" .7NEN/ 0 ?ioU ?em uma mul#er pelada dançando! .7NENA 0 7 um #omem batendo a cabeça na parede! .7NENA 0 F o que o sen#or falouM .7NEN/ 0 $arece aquele bic#o que a gente viu no zoolgico! 'e tivesse um pedaço de pau eu tin#a cutucado ele, tio! 8S87:/ 0 orri" Ainda bem que não tin#a! .7NEN/ 0 $or qu%M 8S87:/ 0 7le teria mac#ucado voc%, ou feito coisa pior!
.7NENA 0 / sen#or pode bater neleM 8S87:/ 0 $osso, se quiser! .7NEN/ 0 7ntão, vamos l"! Late nele pra gente ver! .7NENA 0 Late, bate, tioU 8S87:/ 0 Agora, não! 8#ega! NE9NEN/ 0 7ntão, bate nela! 7la t" peladaU!!! mostrando coisa feiaU .7NENA 0 $elada parece a macaca do zoolgicoU J/ANA 0 >rita, revoltada" F assim que criam e ensinam suas criançasM 8S87:/ 0 8ala a bocaU J/ANA 0 'ão seres #umanos, sofredores, não bic#os do zoolgico! 8S87:/ 0 F o que são- bic#osU 7 cala a boca, senão é voc% que apan#a! .7NEN/ 0 Late nela, tioU LateU J/ANA 0 $odem ser bic#os!!! porque são crias do que voc% representa, fil#o da putaU Doc%s fedem mais do que aquela privada entupidaU 8E87:/ 0 7 mente que é freiraU =reira não fala palavrão! J/ANA 0 Até 8risto falaria diante disto! .7NENA 0 Late nela, tioU LateU .7NEN/ 0 uero ver como é! Nunca vi bater em gente grande! J/ANA 0 'aia daqui com seus monstrin#osU J" revelaram o que vão ser aman#ã! (e re!ente" 7spere aíU Dou dar a eles uma lição! 8S87:/ 0 @enso" ue liçãoM J/ANA 0 Começa a tirar a rou!a" Ima lição de anatomia #umana, sobre coisas feias!
8E87:/ 0 )urioso" ue quer dizerM J/ANA 0 $recisam aprender que o ser #umano não é bic#o, nem tem coisas feias! 8E87:/ 0 Não se atrevaU As crianças se a!ro5imam, curiosas- %oana se coloca diante delas quase nua e &ala com naturalidade, a+rindo ligeiramente os +raços, e5!ondo o cor!o, 3la &ica imóvel, sem &a0er nen'um gesto !ara indicar- " J/ANA 0 De5amU 7sse é o corpo #umano!!!com pés para camin#ar e não para agredir, mãos para trabal#ar e não para torturar, ol#os para observar e não para espreitar, boca para educar e não para acusar, com seios para alimentar e não para deboc#ar, um seo para dar a vida e não para corromper!!! e a cabeça onde est" o cérebro, rgão que ensina a pensar, a protestar!!! 8S87:/ 0 Pu5ando os so+rin'os" 7la é a pior de todos porque é loucaU Damos embora! :"pido!U As crianças saem correndo e desa!arecem- Cícero sai atr4s- %oana encosta/se = !aredeJ/ANA 0 3nquanto &ala, acaricia a !arede com as mãos" “As mãos sedentas de gritos, de pris+es, de c#agas, arrastam teu corpo ao territrio da treva! .as não est"s sozin#o, nunca mais estar"s sozin#o!” Com determinação" Nunca mais estar"s sozin#oU Murmura" Agora eu sei que não vou estarU 3nquanto %oana di0 sua ltima &rase, ilumina/se a sala da casa de (aniel- 3le est4 diante da televisão, mas !erdido em si mesmo, não !erce+endo nada do que se !assa no vídeo- ó Marina, &a0endo tric<, !resta atenção- (e re!ente, voltando a si, (aniel se volta !ara Marinaeu rosto é uma mascara de tormento-" &ANE79! 0 'er" que eles casam, .arinaM .A:ENA 0 8laro! 'empre se casam no final da novela! Acaba tudo bem! &ANE79 0 Não me refiro a isto! .A:ENA 0 A quem, entãoM &ANE79 0 /s padres e freiras que abandonam a igre5aM
.A:ENA 0 7ste assunto novamente, &anMU Até parece uma obsessão! &ANE79 0 8asam ou não casamM .A:ENA 0 .uitos padres se casaram! =reira, nunca ouvi dizer! &ANE79 0 Meio irritado" 'e eles casam, elas também! Não ve5o qual a diferença! .A:ENA 0 ?ambém não ve5o! .as nunca ouvi falar que uma freira ten#a se casado! &ANE79 0 F mul#er como outra qualquer! 'e sai para o mundo é porque est" querendo #omem! WarantoU .A:ENA 0 Não se5a maldoso! $ode ser por outro motivo! J" ouvi dizer que muitas saíram para trabal#ar entre os pobres, nas favelas! &ANE79 0 Retesado" 8onversaU 'e um #omem pegar uma a força e levar para cama, pode trepar pior que uma vagabunda, virar mul#er>c#upetaU $rre&etidamente" 8oisa que voc% nunca foi comigo! .A:ENA 0 C'ocada" ue linguagem, &anielU &ANE79 0 Meio violento" 'e é freira é freira! 7 é porque quis ser! 'e abandona a igre5a é porque est" querendo saber!!! o que é ter um #omem entre as pernas! Não um #omem qualquer! Im mac#o que sabe fazer o serviço! .A:ENA 0 $or que est" bravoM 7stamos apenas conversandoU &ANE79 0 Não estou bravo coisa nen#uma! .A:ENA 0 Doc% anda grosseiro comigo! ue foiM &ANE79 0 Não foi nada, .arina! Doc% é que est" com a sensibilidade " flor da pele! .A:ENA 0 $or que anda tão preocupado com freiras e padresM H" dois meses que não fala em outra coisa! &ANE79! 0 $orque não são diferentes dos outros! &ebaio da batina e do #"bito!!! é #omem e mul#er que eiste! 7u ainda vou provar a voc% que uma
freira pode casar!!! ou até amigar! .A:ENA 0 7 daiM ue importa istoM &ANE79 0 'ou um #omem da lei e preciso desconfiar de todos! ' isto! :eprimir a subversão não é nada f"cil! A noite, todos os gatos são pardos! Bate na ca+eça" 'ubversão é idéia que se esconde aqui! uando voc% pensa que eterminou, brota corno erva danin#a! 7les são capazes de tudo, até de usar batina ou #"bito! .A:ENA 0 (escon&iada" Doc%s prenderam alguém da igre5aM &ANE79 0 Não! 8laro que não! .as eu digo pra voc%- uma freira solta no mundo é mul#er como outra qualquer! 7 pode ser até mais ordin"ria do que uma puta! .A:ENA 0 7 que se5aU / que isto pode nos afetarM &ANE79 0 7m nada, oraU .A:ENA 0 $ois est" parecendo que pode! &ANE79 0 ?s!ero" Não diga asneiras! .A:ENA 0 Magoada" &anielU &ANE79 0 35!lode" D% se não me enc#e com suas insinuaç+es! .A:ENA 0 )erida" 7sta maneira de falar voc% aprendeu na prisãoM &ANE79 0 Aprendi! 7 daíM .A:ENA 0 7spero que não ten#a aprendido a ser criminoso também! (aniel d4 uma +o&etada em Marina- 3sta encol'e/se, amedrontada-" &ANE79 0 )urioso" Não se atreva a falar comigo assim! (aniel se volta e sai- Marina esconde o rosto nas mãos e começa a soluçar- $lumina/se a cela de Miguel- 3le esta sentado num canto, concentrado em si mesmo- Cícero entra e o+serva Miguel-" 8S87:/ 0 .iguelU
.EWI79 0 Não quero conversa! 8S87:/ 0 Wostou de ter ido na cela da =reiraM .EWI79 0 7evanta/se meio ansioso" 8S87:/ 0 7la tratou voc% com carin#o, não foiM .EWI79 0 orri in&antil" $assou a mão na min#a cabeça! Nunca ninguém fez isto comigo! ' levei porradaU 8E87:/ 0 Mente" 7u não gostava dela, mas agora gosto muito! .EWI79 0 Ansioso" Dai me levar l" outra vezM 8S87:/ 0 F prov"vel! .EWI79 0 ?en#o ficado quieto! 8S87:/ 0 7u sei! Doc% voltou por causa dela, não ; mesmoM .EWI79 0 F! 8E87:/ 0 $or queM .EWI79 0 ueria ter uma mãe!!! como ela! 8S87:/ 0 Ca!cioso" 7la tem sofrido muito! =ica sozin#a na cela e precisa de muita força pra se defender! ?em dia que quase não ag6enta! .EWI79 0 Meio retesado" &efender do qu%M 8E87:/ 0 9embra que eu disse que alguém est" apaionado por elaM .EWI79 0 @enso" uemM 8S87:/ 0 ?ambém 5" estive numa cela e sei o que um preso sofre! Ainda mais uma mul#er! .EWI79 0 uem est" fazendo ela sofrerM 8E87:/ 0 $nsinua" 'ei do que é capaz um delegado!
.EWI79 0 &iga logo quemU 8S87:/ 0 Joana é freira, mas é uma mul#er muito bonita! Alguém est" querendo trepar com ela! .EWI79 0 Passado" ?reparMU Numa freiraMU 8S87:/ 0 $ra voc% ver do que ; capaz um su5eito mau! .EWI79 0 uem est" querendo istoM 8E87:/ 0 / delegado &aniel! Miguel &ec'a os !un'os, contrai o cor!o como se &osse saltar !ara matar-" 8S87:/ 0 .as ela é valente! :esiste como uma verdadeira santa! 'abe o que ele &e0 para torturar essa coitadaM ue é uma freiraM .andou arrancar sua roupa e a interrogou completamente nua! .EWI79 0 NuaMU 8S87:/ 0 Nuazin#a! $or isto est" com uma puta tesão por ela! .EWI79 0 Concentrado" 7u mato!!! eu mato eleU 8S87:/ 0 orri maligno" Ys vezes!!! ac#o que merece mesmo morrer! Retesado" 7le pensa que vai me mandar para o presídio, mas est" muito enganado! . EWI79 0 &eia eu ir na cela da freira! $or favor! 8E87:/ 0 Aman#ã, quando for levar voc% pra tomar sol, eu deio falar com ela! .EWI79 0 &eia mesmoM 8S87:/ 0 &ou min#a palavra! Aman#ã ou outro dia qualquer! $nsinua" .as se o delegado &aniel estiver l", não entre! .EWI79 0 .as!!! não é o que t" querendo fazer mal pra elaMU 8S87:/ 0 F
.EWI79 0 7ntão! 8E87:/ 0 .as ele é perigoso! 7strela a testa de um su5eito f"cil, f"cil! .EWI79 0 )ria concentrada" 'e tivé l", eu acabo com ele! 8S87:/ 0 $nsinua" ' mesmo assim ela ficar" livre daquele!!! .EWI79 0 &ragãoU Cícero sorri e sai- $lumina/se a cela de %oana- 3la est4 &a0endo gin4stica com energia do+rada- 7ogo em seguida, ilumina/se a sala de interrogatório- (aniel est4 so0in'o no meio da sala e res!onde =s VOJ3 que v2m de todos os lados- Vo0es de 'omens, mul'eres e crianças- (aniel !arece acuado- (urante a cena ouvem/se, indistintamente, !assos e conversas de muitas !essoas- 3sses ruídos devem &a0er &undo a cena e vão num crescendo at; a+a&ar a vo0 de (aniel- Os sons dos lutadores de 1arat2 e os latidos dos cães !oliciais dominam tudo no &inal- %oana acom!an'a a cena &a0endo gin4stica e sorrindo com determinação-" D/[ 0 ue foi que disseM &ANE79 0 ue não ten#o mais dGvidas- irmã Joana de Jesus 8rucificado é inocente! D/[ 0 (e mul'er" 7 meu fil#o que ela desencamin#ou 5ogando na subversãoM &ANE79 0 J" esclareci isto! 'eu fil#o acusou>a porque foi reprovado! D/[ 0 7 os documentos que mandou para o estrangeiroM &ANE79 0 .andou documentos religiosos! F uma freiraU D/[ 0 (e mul'er" 'abemos muito bem o que se passou na prisãoU &ANE79 0 ue quer dizerM D/[ 0 7stamos informados de tudo, dos .7E/' que usou para tentar lev">la 4 confissão! &ANE79 0 ?odos os meios são v"lidos quando se trata de dobrar agitadores
perigosos! 7sses meios 5" foram empregados e deram resultado! Não consegui agora porque ela não tem nada a confessar! D/[ 0 (e mul'er" Doc% é pago para nos defender! D/[ 0 $ara defender a sociedade! D/[ 0 (e mul'er" &efender nossas famílias! D/[ 0 (e mul'er" Nossos fil#os! D/[ 0 (e criança" A mul#er tava pelada e dançavaU D/[ 0 ueremos dormir em paz! D/[ 0 (e criança" &ançava mostrando coisa feiaU D/[ 0 ue adiantam os muros em volta das casas, se voc%s não cumprem com o deverM D/[ 0 $odemos multiplicar os guardas e assim mesmo nossas casas serão invadidas! &ANE79 8(eses!erado" AcreditemU Nada dobra essa mul#er porque é inocente! D/[ 0 'er" que nãoM D/[ 0 7m vez de empregar a tortura, o que foi que empregouM D/[ 0 'eu prprio corpo! 8aiu na armadil#a dela! &ANE79 0 $ensei que como é freira!!! esta seria a pior tortura! D/[ 0 =reira que vive no mundo é mul#er como outra qualquer! D/[ 0 =reira vive nos conventos e nas igre5as! D/[ 0 F uma mul#er e est" dobrando voc%! D/[ 0 9eve>a na represaU A "gua apaga todos os vestígios! &ANE79 0 Esto nãoU Não possoU
D/[ 0 $recisa poder! D/[ 0F seu dever! &ANE79 0 .as isto eu não faço! D/[ > Doc% s pensa em deitar com esta mul#erU D/[ > &iga se não e verdadeU D/[ 0 &igaU O +arul'o do 1arat2 e dos cães a+a&am as vo0es- %oana senta/se e começa a +ordar uma &ron'a- (e ve0 em quando ol'a !ara cima, ouvindo o +arul'o dos e5ercícios de 1arat2 %oana começa a cantar- Pouco a !ouco eleva a vo0- 3nquanto canta, ilumina/se a cela de %u!ira e de Miguel- %u!ira, Miguel e Cícero ouvem a vo0 de %oana que invade toda a !risão-" J/ANA 0 Canta" F preciso sobreviver, 7 sobreviveremos $ara o aman#ã que vir"! Não importa o cerrar da boca, ou que a voz camin#e incerta na garganta dolorida! se aman#ã o protesto sair" da boca de mil#+es! =icou a crença no aman#ã, #o5e proibidoU F preciso sobreviver! $ara o aman#ã que vir"! Cícero interrom!e o canto a+rindo a cela" 8S87:/ 0 ue musica e estaM J/ANA 0 erena" 7st" escrito aí! 8E87:/ 0 Ai, ondeM
J/ANA 0 Na parede! 9eiaU 8S87:/ 0 Não vou ler coisa nen#uma! =oi aquele poeta fil#o da puta que esteve aqui! J/ANA 0 Retesada" =il#o da puta e voc%! 8S87:/ 0 =rouoU Não ag6entou e se atirou do terceiro andar! J/ANA 0 /u foi atiradoM 8E87:/ 0 8om um pano mol#ado vou apagar toda esta merda! J/ANA 0 Não adianta! J" est" escrito na alma, na carne e no sangue! 8E87:/ 0 Dou mostrar se adianta ou não adianta! Cícero sai %oana continua +ordando e sorri- .uando Cícero entra em sua sala, (aniel tam+;m entra- Perce+e/se que (aniel !rocura dis&arçar sua agitação8S87:/ 0 F preciso fec#ar a boca desta mul#er! &ANE79 0 ue foi que ela fezM 8S87:/ 0 7ncontrou uns escritos na parede da cela, coisa rabiscada por aquele poetin#a, e começou a cantar! F preciso dar um 5eito nela! Dinte dias na solit"ria vai quebrar esta mul#er! &ANE79 0 $nsinua" F mel#or aplicar a frmula (! 8S87:/ 0 Maravil'ado" Esto mesmoU 8omo não pensei nisto! Amedrontar com a "gua da represa! &ANE79! 0 F o que vou fazer! A noite volto para lev">la! (aniel sai- Cícero &ica ol'ando descon&iado- %oana continua +ordando (aniel se a!ro5ima e a contem!la longamente- (e re!ente, !ressentindo, %oana se volta e encara (aniel- (urante a cena, Cícero se a!ro5ima e &ica o+servando, escondido-" &ANE79 0 A+re a !orta da cela" ue est" fazendoM
J/ANA 0 Lordando uma fron#a! .iguel me pediu! &isse que seu maior son#o é dormir numa fron#a bordada! &ANE79 0 'e pensa que isto vai fazer esquecer dos crimes que praticou, est" muito enganado! J/ANA 0 7le nem tem consci%ncia deles! ?alvez não tivesse praticado nen#um, se tivesse dormido numa fron#a bordada! &ANE79 0 Meio ansioso" JoanaU 7scuteU 7ncontrei um meio de tirar voc% daqui! 7 s aplicar a frmula (! J/ANA 0 7 o que é eatamente a frmula (!M &ANE79 0 9evamos o prisioneiro na represa e ameaçamos afog">lo! J/ANA 0 A imaginação de voc%s não tem limites, quando se trata de matar! &ANE79 0 Y noite eu levo voc% e poder" fugir! &igo que me irritou demais e que atirei voc% na "gua! J/ANA 0 )irme" Não faço isto! &ANE79 0 Doc% se esconde! &epois darei um 5eito para que saia do país! J/ANA 0 ' sairei daqui livre, sem nen#uma acusação! 7u sou inocente! &ANE79! 0 Não percebe que est" seriamente ameaçadaM $rocure compreender! J/ANA 0 8ompreendo que eu não fiz nada! uero sair daqui como entrei- dona de mim mesma! Não pretendo viver como fugitiva! 'e fizer isto, estarei admitindo uma culpa que não ten#o! &ANE79 0 $ense em seu fil#o! J/ANA 0 F porque penso nele que não posso confessar o que não fiz! =ui presa sem nen#uma culpa! (e re!ente, agressiva" Aprendi nesta prisão o que deveria ter feito e que nunca fiz! Divia alienada, mentindo a mim mesma que os #orrores que acontecem aqui, não aconteciam, não podiam acontecer! Ho5e, sou um produto da sua viol%ncia! Cícero se a!ro5ima e se esconde, o+servando-" &ANE79 0 Meio a&lito" =ale baioU As paredes escutamU
J/ANA 0 $ois que escutemU &ANE79 0 7stou apenas tentando salvar voc%! J/ANA 0 $ara saciar seu instinto animal! 7u vou me salvar para o mundo! 7stas paredes me indicaram o camin#o! &ANE79 0 Dou mandar pintar esta merdaU J/ANA 0 Não adianta mais! $elo menos para mim Bate na ca+eça" 7st" tudo gravado aqui! &ANE79 0 $oetin#a de merda que não ag6entou o tranco e se matou! J/ANA 0 7 por que deveria ag6entarM H" um limite para cada um, além do qual é preferível a morte! Doc%s sabem matar de muitas maneiras!!! até pelo suicídioU &ANE79 0 @enso" 7stou começando a compreenderU J/ANA 0 Doc% sabe torturar, sabe matar, mas #" #omens que sabem pensar! Doc% não pode destruir a idéia, nem mesmo matando os que pensam! &ANE79 > &urioso" Doc% 5" o con#eciaU 7ra seu compan#eiro de subversão, não eraM J/ANA 0 Não! 8on#eci aqui! =elizmente! &AN179 0 7le est" morto e voc% vai ser min#a! J/ANA 0 7u posso ser torturada, #umil#ada, violentada em nome de uma intoler;ncia ab5eta! .as não ouse pensar que compartil#aria de sua vida! u+itamente, (aniel cai de #oel'os, a+raça as !ernas de %oana e en&ia o rosto em seu se5o, !risioneiro-" &ANE79 0 =oi voc% quem me fez pensar nisto! 7m todas as vezes que se entregou, me acariciou, me bei5ou, gemeu!!! dese5ando>me como #omem! 7 ainda me dese5a! &iga que dese5aU @riun&ante, %oana se a&asta, encostando/se = !arede- (aniel !ermanece de #oel'os-"
J/ANA 0 Assim como Jupira usa o corpo para sobreviver, eu usei o meu! 7u disse que ele não tem import;ncia, s a min#a consci%ncia! 7 esta continua limpa, intoc"velU &ANE79 0 Doc% dese5a a min#a morte, não éM J/ANA 0 Doc% 5" est" morto! 'e não estivesse, não torturava os vivosU A tortura é fil#a da mente em decomposiçãoU &ANE79 0 Doc% sabe que estou vivo porque traz um fil#o meu! 7st" presa em mim para sempre! J/ANA > (e re!ente" Naquele dia recebi não sei quantos! &ANE79 0 7evanta/se" ue est" dizendoM J/ANA 0 'aiu da sala e se esqueceu de que voc% e seus #omens são iguais! 8om as pernas abertas como me deiou, com elas abertas continuei! 7les apenas entraram!!! e se debruçaram sobre mim com membros da mesma #idra! Não representou nada para mim! 7u estava morta para a morte, como estou agora viva para a vida! &ANE79 0 Possesso " &iga que isto é mentiraU J/ANA 0 8om voc% ainda tive a sensação da dor, da vergon#a, da #umil#ação! 8om eles, não tive sensação nen#uma! 7ra apenas a tortura que se prolongava! $ode a $ode afirmar agora que o fil#o é seuM (esa&iante" F meu! 'omente meuU (escontrolado, (aniel agarra %oana- Cícero corre !ara a cela de Miguel, soltando/o- (aniel domina %oana e começa a +ei#4/la- Cícero !u5a Miguel at; a &rente da cela de %oana e mostra a cena- Com um salto Miguel agarra (anie$ e em !ouco tem!o o estrangula- Cícero sai correndo-" J/ANA > evera" $or que fez istoM .EWI79 0 (esorientado" 7le!!! ele!!! J/ANA > 7u sei me defender! 8omo c#egou até aquiM .EWI79 0 / outro!!! disse que ia me levar pra tomar sol! 8ontou também que o
delegado queria!!! queria!!! não me lembro de nada! J/ANA 0 F agora que voc% vai sofrerU .EWI79 0 J" fui preso tanto sem saber porqu%! Agora, eu seiU orri in&antil" .atei um dragãoU J/ANA 0 3ntrega a &ron'a" 7sconda na camisa! =iz pra voc%! F sua! Miguel, maravil'ado admira a &ron'a- (e re!ente, esconde o rosto na &ron'a e começa a soluçar- Cícero e dois 'omens entram correndo-" 8E87:/ 0 Den#a aqui, assassino! J/ANA 0 7le não sabe o que fez! 8E87:/ 0 'abe muito bem! J" roubou, estuprou, danificou, agrediu!!! e agora assassinou! J/ANA 0 9evem preso, mas não maltratem! F uma criança infeliz que não tem noção do que faz!! Hm dos 'omens sai levando Miguel- Antes de sair, ele se volta e ol'a %oana com ansiedade.EWI79 0 6um murmrio" .in#a mãeU Miguel sai- Cícero e o outro 'omem carregam o cor!o de (aniel %oana a#oel'a/se diante de seu altar e começa a re0ar- $lumina/se a sala da casa de (aniel- Marina est4 de luto &ec'ado e com e5!ressão so&redora- 3la ; sincera na sua dor- Hm 'omem +em vestido e de maneiras distintas anda !ela sala, consolando/a" .A:ENA 0 3n5ugando as l4grimas" Não posso me conformar! F muito doloroso pra mim H/.7. 0 7u compreendo! .A:ENA 0 uando &an se ausentava por uma semana, tudo ficava tão frio! 7ra ele quem dava calor #umano a esta casa! 7 agora!!!U 8omo posso viver sem eleU H/.7. 0 $ara ns também foi uma terrível perda! &eiou um grande vazio!
.A:ENA 0 Nossa vida não foi nada f"cil! .oramos em lugares #orríveis no começo da carreira dele! Divi sentindo medo de que acontecesse alguma coisa! ' andava atr"s de criminosos, caçando subversivos, envolvido com gente perigosa!!! mas voltava pra mim! 7 quando c#egava, por mais tarde que fosse, tin#a um gesto de carin#o comigo! H/.7. 0 $orque p Esto prova sua integridade! .A:ENA > 8omo era eleM H/.7. 0 No trabal#oM 7ra um delegado cora5oso, implac"vel e eficiente! 'ubversivos, marginais, todos que não respeitavam a lei, tin#am pavor dele! As autoridades o respeitavam e os criminosos da pior espécie o temiam! .A:ENA 0 Con Conte tend ndoo as l4gr l4grim imas as"" 7 aqui!!! era religioso, bom c#efe de famí famíli lia, a, pa paii afet afetuo uoso so 0 esta estava va muit muitoo preo preocu cupa pado do co com m as liç+ liç+es es de matem"tica do fil#o e com a gravidez da fil#a! H/.7. 0 7 caiu vítima de um monstroU .A:ENA 0 Retesada" ue devia ser mortoU H/.7. 0 7st" seriamente ameaçado! 7les não perdoam o criminoso que mata um delegado!
.A:ENA 0 $ois é o que merece! $ra que serve um su5eito assim! $ra continuar matandoM H/.7. 0 'e não morrer, vai ficar o resto da vida na prisão! A sen#ora est" vingada! .A:ENA 0 ue adianta, se nunca mais o meu querido &an vai voltar! Nunca mais maisUU F tão tão difí difíci cill de acei aceita tarU rU =ora =oram m de deze zeno nove ve an anos os de feli felici cida dade deUU (e re!e re!ent nte" e" .as ultimamente!!!U 'abe se ele prendeu algum padre ou freiraM 7specialmente freiraM H/.7. 0 Mente" ue eu saiba não! .A:ENA 0 .as os 5ornais noticiaram que o marginal tentava violentar uma freira quando &aniel c#egou na cela! H/.7. 0 F uma presa que se diz freira, mas que não passa de subversiva escondida embaio de um #"bito! .A:ENA 0 Lem que &aniel disse que costumam fazer isto! &epois de tudo que fez e do que foi, pra mim s resta o consolo de sua memriaU H/.7. 0 $ara ns também! Ima de nossas salas ter" seu nome e seu retrato! .A:ENA 0 Angustiada" .as continuo sentindo sua presença de maneira quase físi ísica! ca! Ac Ac#o #o qu quee a po porrta va vaii se ab abrrir!! ir!!!! ele ele en enttra, ra, me ab abra raça ça e mei meio atormentado diz- “7stou cansado! ' voc% consegue me aliviar de tudo que sou obrigado a fazer!” .as nunca dizia o que era! 7 4 noite, parecia que seu corpo ficava tomado por dems (eses!erando>seO eO .eu .eu &eus &eusUU A5ude>meU Marina começa a c'orar e ; con&ortada !elo *omem- $lumina/se a sala do convento, onde as &reiras estão reunidas-"
=:7E:A 0 uem disse, madreM .A&:7 0 / sen#or Lispo acabou de telefonar! =:7E:A 0 =oi declarada inocenteM .A&:7 0 =oi! =elizmente para ns! =:7E:A 0 7 a sen#ora vai permitir que ela volte pra c"M .A&:7 0 'e é inocente, não ve5o porque não permitir, irmã :os"rio! =:7E:A 0 'er" mesmo, madreM .A&:7 0 ue quer dizerM =:7E:A 0 /nde #" fumaça #" sempre fogo! Alguma coisa ela deve ter feito! .A&:7 0 Não se descobriu nada! $ortanto é inocente! =:7E:A 0 Wraças a &eus nen#uma ameaça paira sobre nossa congregação! =:7E:A 0 Curiosa" $odemos pedir a ela que conte tudo que se passouM .A&:7 0 A curiosidade é pecado, irmã! =:7E:A 0 Maldosa" 'e ela viveu l" e não pecou, se é inocente!!! pode contar tudo que aconteceu, madre! .A&:7 0 'ua língua est" c#eia de veneno, irmã :os"rio! 'ua língua e sua alma! =:7E:A 0 F que vivia son#ando com o mundo l" fora! ?en#o curiosidade de saber se é o que ela esperava! .A&:7 0 'e não for, ela voltar" para o nosso meio! 7 ten#o certeza de que vai voltar! Nada aconteceu com irmã Joana! =elizmente não foi martirizada! Afinal, vivemos num pais civilizado! Nosso #omem tem bom coração! 'e é severo, 4s vezes, é porque o povo precisa trabal#ar e viver em paz! 7 devemos agradecer a &eus por isto! Nem devem acreditar em tudo que ela disser! Emaginação é o que nunca l#e faltou! Doc%s con#ecem irmã Joana e sabem que ela sempre foi meio revoltada, querendo consertar o mundo! Esto a &eus pertence! 8antem comigoU
Hm canto religioso se eleva- %oana, !ro&undamente concentrada em si mesma, !ermanece a#oel'ada diante do altar- %u!ira anda em sua cela como uma &era en#aulada- Cícero continua vendo televisão- As &reiras desa!arecem quando um 'omem entra na sala de Cícero- 9 o mesmo 'omem que a!arece consolando Marina-" H/.7. 0 F aqui que est" encarcerada a Ermã Joana de Jesus 8rucificadoM 8S87:/ 0 (e+oc'ando" ErmãU H/.7. 0 evero" Esto mesmo! ErmãU F uma freira e não devia falar assim! 8S87:/ 0 $or que quer saberM H/.7. 0 Não foi apurado nada contra ela! F inocente! ?en#o mandato para solt">la! (e re!ente, recon'ecendo" Não ; voc% a testemun#a que prestou depoimento sobre o assassinato do delegado &anielM 8S87:/ > =ui eu mesmo! H/.7. 0 .el#orU 9eve>me até ela! Cícero e o 'omem saem e c'egam diante da cela de %oana- Cícero a+re a !orta e o 'omem entra- %oana continua a#oel'ada, sem &a0er nen'um movimento-" H/.7. 0 'en#oraU 'en#oraU Não me ouveM J/ANA 0 3rgue/se e se volta com e5!ressão determinada-" H/.7. 0 F a Ermã Joana de Jesus 8rucificadoM J/ANA 0 Ol'a !ara &rente e &inge não ouvir-" H/.7. 0 :espondaU F a Ermã Joana de Jesus 8rucificadoM 8E87:/ 0 F ela mesma! Coc'ic'a" F meio louca! H/.7. 0 Res!eitoso" Nada se apurou contra a sen#ora! ?en#o mandato para solt">la! A sen#ora est" livre! J/ANA 0 Contendo/se" 9ivreM
H/.7. 0 ?udo não passou de um terrível engano! J/ANA 0 Dou sair para viver livreM H/.7. 0 J" disse que nada se apurou contra a sen#ora! J/ANA 0 Absolutamente nadaM Nada de nadaM H/.7. 0 3stran'a" 'e #ouvesse alguma coisa não poderia solt">laU J/ANA 0 7 como se eplica a min#a prisãoM H/.7. 0 J" disse que se tratou de um terrível engano! J/ANA 0 =ui presa, #umil#ada, torturada, violentada!!! e tudo por um terrível enganoMU H/.7. 0 Am4vel" Enfelizmente! J/ANA 0 $ara voc%s o ser #umano não significa nada! 7 por que deveria significarM $ara se respeitar um #omem, é preciso ser #omem em primeiro lugar! .as a que espécie voc%s pertencem, se não são #omens e estão além das ferasM H/.7. 0 Não ten#o nada com o que aconteceu! J/ANA 0 7u seiU No fim ninguém é respons"vel e tudo continua na mesma! /utro ser" preso, torturado e solto sem culpa formada! ?udo por um terrível enganoU 7 se alguém perguntar pelos direitos #umanos, receber" como resposta uma gargal#ada! /ra, aqui não eistem #omens, s animais que devem ser tratados a c#icoteU 7 se contar l" fora o que se passa nestas celas, ninguém vai acreditar! Dão dizer que sou louca, que isto não acontece aqui nem em parte alguma, que o nosso povo é de muito boa índoleU!!! e por aí afora! $referem não acreditar para não se sentirem culpados- (e re!ente, determinada" $osso sair agoraM H/.7. 0 Dim para buscar a sen#ora e lev">la em sua casa! /u prefere o conventoM $nsinua" 8reio que seria o mel#or!!! nesta situaçãoU J/ANA 0 Pega a t4+ua e a toal'a" .in#a casa é o mundo! H/.7. 0 Não precisa levar nada!
J/ANA 0 $reciso! 'ei que vou armar meu altar em outros lugares! H/.7. 0 9" fora eistem muitos altares e verdadeiros! J/ANA 0 .as este é o meu! H/.7. 0 Den#aU J/ANA 0 $ode me esperar l" em cimaM uero ficar um minuto sozin#a nesta cela! H/.7N 0 $ensei que quisesse sair imediatamenteU J/ANA 0 ' quero me despedir! H/.7. 0 Volta/se da !orta" A#U J" ia me esquecendo! Antes de sair precisa assinar uma declaração! J/ANA 0 3m guarda" ue declaraçãoM Não fui considerada inocenteM H/.7. > =oi, mas!!! J/ANA 0 .as o qu%M H/.7. 0 &eve assinar uma declaração, dizendo que nada de anormal aconteceu enquanto esteve aqui!!! entre a sen#ora e uma autoridade! J/ANA 0 Retesada" Nada anormalMU 7ntre outras coisas fui engravidadaU H/.7. 0 $or isto mesmo! A sen#ora é freira! J/ANA 0 Cortante" ue devo dizerM ue foi obra do 7spírito 'antoM H/.7. 0 $ncisivo" &e um marginal que invadiu sua cela! J/ANA 0 .iguelMU H/.7. 0 Esto mesmo! A declaração 5" est" pronta! Nela fica esclarecido que o delegado &aniel foi assassinado quando tentava defend%>la! Volta/se !ara Cícero" Não foi istoM 8S87:/ 0 =oi! $resenciei tudo!
J/ANA 0 Contendo sua &ria" 7 se eu não assinarM H/.7. 0 Não posso prever o futuro! $nsinua" ?udo pode acontecer! J/ANA 0 Retesada" ?udo o qu%M H/.7. 0 ?udoU $rovocar um aborto, por eemplo, é muito f"cil! J/ANA 0 7eva os +raços ao ventre num gesto de de&esa" H/.7. 0 / que resolveM J/ANA 0 7 assim!!! aquele que foi monstro aqui dentro, vai se transformar em #eri, l" foraM H/.7. 0 Derdade e mentira muitas vezes se confundem! &epende do lado em que se est"! 7m todo caso, a declaração est" pronta e deve assinar se quiser sair! J/ANA 0 Resoluta" 7u assino! $refiro mesmo dizer que o fil#o é do meu an5o salvador, do que de um monstro! Aprendi aqui que eles podem ser vencidos e destruídos! 9" fora também #" muitos!!! que precisam ter o mesmo fim! H/.7. 0 orri descrente e su!erior" 9" fora, ninguém acredita mais em monstros! 7u a compreendoU A sen#ora é uma freira e isto faz parte da mitologia cristã! Nunca eistiram monstros! An5os 5usticeiros, muito menos! J/ANA 0 Magní&ica" Aqui!!! um an5o fez 5ustiçaU 3ntra um 'omem tra0endo uma lata e uma +roc'a" H/. 7. 0 ual parede que é pra caiarM 8E87:/ 0 7stas aqui! uero tudo limpin#o! O 'omem se volta e sal acom!an'ado !or Cícero, desa!arecendo- O outro 'omem começa a caiar a !arede- %oana ol'a e sorri-" J/ANA 0 Adeus, poetaU Dou encontrar pessoas como voc% em muitos lugares! Não importa que apaguem seus versos! 7les vão surgir em novas paredes! 'ão como os nomes que não cicatrizam, sangrando nas sombras, lentas gotas de aman#ã! F por isto que vou assinar a declaração! &escanse em pazU
%oana sai e se a!ro5ima da cela de %u!ira-" J/ANA 0 Dou embora, Jupira! JI$E:A 0 9ivreM 9ivrin#a da silvaM J/ANA 0 9ivre! JI$E:A 0 8onseguiu, #emM J/ANA 0 $rocure>me quando sair! JI$E:A 0 Passada" No conventoMU ?" loucaM J/ANA 0 Não é l" que vai me encontrar! JI$E:A 0 /ndeM J/ANA 0 Doc% ver"! JI$E:A 0 'e quiser fazer alguma coisa por mim!!! me manda um mac#o bem calibrado! .as bem calibrado mesmo! Aquele calibreU J/ANA 0 Acariciando/a atrav;s da grade" Adeus, min#a boa amiga! JI$E:A 0 Comovida" 7#%%%U Não me faça c#orar! 7 não gosto de carin#o de mul#er! %oana se volta com resolução e sai- 3la !4ra no meio das celas e a+re os +raços numa entrega total- K medida que começa a cantar, uma lu0 estran'a ilumina o cen4rio- O am+iente !arece milagroso, c'eio de mist;rios- Pouco a !ouco, vo0es que v2m de outras celas, acom!an'am %oana- A msica se trans&orma num sam+a com ritmo intenso- %u!ira entra numa dança &ren;tica, acom!an'ada !or %oana- As duas são !er&eitos !assistas- om+ras dançando surgem em todos os cantos- O coro se eleva cada ve0 mais, ate que se &ec'a a cortina-"
J/ANA 0 Canta" F preciso sobreviver