Professora Me. Adélia Cristina Tortoreli Professora Me. Priscilla Campiolo Manesco Paixão
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA
GRADUAÇÃO PEDAGOGIA
MARINGÁ-PR 2012
Reitor: Wilson de Matos Silva Vice-Reitor: Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração: Wilson de Matos Silva Filho Presidente da Mantenedora: Cláudio Ferdinandi
NEAD - Núcleo de Educação a Distância Diretoria do NEAD: Willian Victor Kendrick de Matos Silva Coordenação Pedagógica: Gislene Miotto Catolino Raymundo Coordenação de Polos: Diego Figueiredo Dias Coordenação Comercial : Helder Machado Coordenação de Tecnologia: Fabrício Ricardo Lazilha Coordenação de Curso: Márcia Maria Previato de Souza Supervisora do Núcleo de Produção de Materiais: Materiais: Nalva Aparecida da Rosa Moura Capa e Editoração: Daniel Fuverki Hey, Fernando Henrique Mendes, Luiz Fernando Rokubuiti e Renata Sguissardi Supervisão de Materiais: Nádila de Almeida Toledo Revisão Textual e Normas: Cristiane de Oliveira Alves, Janaína Bicudo Kikuchi, Jaquelina Kutsunugui e Maria Fernanda Canova Vasconcelos
Av. Guedner, Guedner, 1610 - Jd. Aclimação - (44) 3027-6360 3027-6360 - CEP 87050-390 - Maringá - Paraná - www.cesumar.br NEAD - Núcleo de Educação a Distância - bl. 4 sl. 1 e 2 - (44) 3027-6363 -
[email protected] [email protected] - www.ead.cesumar www.ead.cesumar.br .br
Ficha catalográfca elaborada pela Biblioteca Central - CESUMAR CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a distância: C397
Metodologi a no ensino de geografa/ Adélia Cristin Metodologia Cristina a Tortoreli ortoreli,, Priscilla Campiolo Manesco Paixão - Maringá - PR, 2012. 208 p.
“Curso de Graduação em Pedagogia - EaD”. 1. Didática. 2. Geografa. 3. Metodologia do ensino. 4.EaD. I.
Título. CDD - 22 ed. 372.89 CIP - NBR 12899 - AACR/2 “As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir do site PHOTOS.COM”.
METODOLOGIA DO ENSINO DE METODOLOGIA GEOGRAFIA Professora Me. Adélia Cristina Tortoreli Professora Me. Priscilla Campiolo Manesco Paixão
APRESENTAÇÃO Viver e trabalhar em uma sociedade global é um grande desafio para todos os cidadãos. A busca por tecnologia, informação, conhecimento de qualidade, novas habilidades para liderança e solução de problemas com eficiência tornou-se uma questão de sobrevivência no mundo do trabalho. Cada um de nós tem uma grande responsabilidade: as escolhas que fizermos por nós e pelos nossos fará grande diferença no futuro. Com essa visão, o Cesumar – Centro Universitário de Maringá – assume o compromisso de democratizar o conhecimento por meio de alta tecnologia e contribuir para o futuro dos brasileiros. No cumprimento de sua missão – “promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária” –, o Cesumar busca a integração do ensino-pesquisaextensão com as demandas institucionais e sociais; a realização de uma prática acadêmica que contribua para o desenvolvimento da consciência social e política e, por fim, a democratização do conhecimento acadêmico com a articulação e a integração com a sociedade. Diante disso, o Cesumar almeja ser reconhecido como uma instituição universitária de referência regional e nacional pela qualidade e compromisso do corpo docente; aquisição de competências institucionais para o desenvolvimento de linhas de pesquisa; consolidação da extensão universitária; qualidade da oferta dos ensinos presencial e a distância; bem-estar e satisfação da comunidade interna; qualidade da gestão acadêmica e administrativa; compromisso social de inclusão; processos de cooperação e parceria com o mundo do trabalho, como também pelo compromisso e relacionamento permanente com os egressos, incentivando a educação continuada.
Professor Wilson de Matos Silva Reitor
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
5
Caro aluno, “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção ” (FREIRE, 1996, p. 25). Tenho a certeza de que no Núcleo de Educação a Distância do Cesumar, você terá à sua disposição todas as condições para se fazer um competente profissional e, assim, colaborar efetivamente para o desenvolvimento da realidade social em que está inserido. Todas as atividades de estudo presentes neste material foram desenvolvidas para atender o seu processo de formação e contemplam as diretrizes curriculares dos cursos de graduação, determinadas pelo Ministério da Educação (MEC). Desta forma, buscando atender essas necessidades, dispomos de uma equipe de profissionais multidisciplinares para que, independente da distância geográfica que você esteja, possamos interagir e, assim, fazer-se presentes no seu processo de ensino-aprendizagem-conhecimento. Neste sentido, por meio de um modelo pedagógico interativo, possibilitamos que, efetivamente, você construa e amplie a sua rede de conhecimentos. Essa interatividade será vivenciada especialmente no ambiente virtual de aprendizagem – AVA – no qual disponibilizamos, além do material produzido em linguagem dialógica, aulas sobre os conteúdos abordados, atividades de estudo, enfim, um mundo de linguagens diferenciadas e ricas de possibilidades efetivas para a sua aprendizagem. Assim sendo, todas as atividades de ensino, disponibilizadas para o seu processo de formação, têm por intuito possibilitar o desenvolvimento de novas competências necessárias para que você se aproprie do conhecimento de forma colaborativa. Portanto, recomendo que durante a realização de seu curso, você procure interagir com os textos, fazer anotações, responder às atividades de autoestudo, participar ativamente dos fóruns, ver as indicações de leitura e realizar novas pesquisas sobre os assuntos tratados, pois tais atividades lhe possibilitarão organizar o seu processo educativo e, assim, superar os desafios na construção de conhecimentos. Para finalizar essa mensagem de boas-vindas, lhe estendo o convite para que caminhe conosco na Comunidade do Conhecimento e vivencie a oportunidade de constituir-se sujeito do seu processo de aprendizagem e membro de uma comunidade mais universal e igualitária. Um grande abraço e ótimos momentos de construção de aprendizagem! Professora Gislene Miotto Catolino Raymundo
Coordenadora Pedagógica do NEAD- CESUMAR
6
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
APRESENTAÇÃO Livro: METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA Professora Me. Adélia Cristina Tortoreli Professora Me. Priscilla Campiolo Manesco Paixão
É com grande satisfação que apresentaremos a você, caro(a) aluno(a) de Pedagogia, uma disciplina voltada para a compreensão do espaço ao qual pertencemos. Contudo, para iniciarmos nossa conversa, partiremos do princípio de que a maior parte do público tem uma ideia mais ou menos equivocada, quando não ignora a existência, das ciências geográficas. Para uns a Geografia é confundida com relatos de viajantes, para outros, é uma lembrança extremamente penosa da infância. Seu nome, na maioria das vezes, nos remete a listas de nomes de lugares ou dados numéricos, lições que deveriam ser memorizadas, como se fossem fotografias faladas de determinados espaços do nosso quadro natural. Lembramo-nos do nosso tempo de infância, quando precisávamos decorar nomes de Estados, Países e suas capitais, ou ainda listas de rios, extensões etc., isto porque a professora cobrava em forma de prova oral. E ai de quem não tinha uma boa memória para decorar tudo e reproduzir tal e qual tinha sido “ensinado”. Veremos ao longo da história que a produção acadêmica em torno da Geografia passou por momentos distintos. Em cada um desses momentos, as práticas de ensino voltadas para a disciplina sofreram influência. Em linhas gerais, em nossa primeira unidade “Os caminhos trilhados pela ciência geográfica”, nos proporemos a destacar tais tendências nascidas com a fundação da Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo e do Departamento de Geografia, onde, a partir da década de 40, a disciplina de Geografia passou a ser ensinada por professores licenciados, com forte influência da escola francesa de Vidal de La Blanche. Essa Geografia era marcada pela explicação objetiva e quantitativa da realidade. Foi essa escola que imprimiu ao pensamento geográfico o mito da ciência asséptica, não politizada, com o argumento da neutralidade do discurso científico. Tinha como meta abordar as relações do homem com a natureza de forma objetiva, buscando a formulação de leis gerais de METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
7
interpretação. É deste contexto a tradição que herdamos de uma Geografia memorística. Na segunda unidade, “A estrutura conceitual para o ensino de Geografia: o papel da escola, do professor e do aluno”, nos voltaremos para a responsabilidade social da escola enquanto microssistema inserido no macro – a sociedade; cabendo à escola conduzir seu alunado ao mais alto dos graus, em uma escala que desenvolva as habilidades básicas do pensamento: da observação à avaliação. E neste contexto, destacaremos o papel de mediador do professor, aquele que deve estimular a curiosidade do aluno, apresentar caminhos que conduzam ao conhecimento por meio da interrogação, do questionamento, da autonomia, do incentivo pela busca constante de respostas para os problemas que surgem no cotidiano. Mas devemos nos lembrar da responsabilidade do aluno nesta jornada. A ele cabe uma atuação viva e dinâmica. Na terceira unidade “Espaço geográfico: algumas considerações”, procuraremos discutir as noções de espaço para o ensino de Geografia do 1° ao 5° ano do Ensino Fundamental, compreendendo que o conceito de espaço é sempre reelaborado por meio do trabalho (ou da ação humana), assim como identificar como se constrói a noção de espaço pela criança para intervir de modo a elaborar seus primeiros conceitos. Também nos proporemos a apresentar algumas atividades que levarão o aluno a agir e refletir sobre esse espaço. Partiremos da distinção entre o espaço natural e geográfico, destacando a importância dos conceitos geográficos na vida cotidiana. Na sequência, pautadas em Piaget, analisaremos as etapas de desenvolvimento e a apreensão da noção de espaço pela criança: do espaço vivido ao espaço concebido. Na quarta unidade “A cartografia: algumas aproximações”, procuraremos pensar e compreender o espaço por meio do entendimento do mundo real. Veremos que a observação, a percepção, a análise e a síntese, por intermédio das representações cartográficas ,possibilitam pensar significativamente o conhecimento do espaço geográfico. Será possível perceber que o estudo da linguagem cartográfica vem, cada vez mais, mesmo que em passos lentos, reafirmando sua importância desde a mais tenra idade e que cabe à escola oportunizar momentos de apreensão desta linguagem. Veremos ainda que o estudo das representações cartográficas contribui não apenas para que os alunos compreendam os mapas, mas também desenvolvam capacidades relativas à representação do espaço. Nesta linha de pensamento,
8
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
estes alunos precisam ser preparados para que construam conhecimentos fundamentais sobre essa linguagem, como pessoas que representam, codificam o espaço e atuam como leitores das informações expressas. E na quinta e última unidade, “Tecnologia, informação, conhecimento: últimas Aproximações”, explicitaremos alguns recursos didáticos que favorecem a aprendizagem dos alunos considerando os avanços tecnológicos. Partiremos da apresentação da linguagem por meio das imagens – a fotografia, passaremos pelo cinema e depois apresentaremos a música como suporte pedagógico. Finalizaremos a unidade destacando a utilização dos jogos e o estímulo às brincadeiras como forma de apreensão do espaço vivido. Esperamos contribuir com a sua formação. Boa leitura!
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
9
10 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
SUMÁRIO
UNIDADE I OS CAMINHOS TRILHADOS PELA CIÊNCIA GEOGRÁFICA A GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA HUMANA ...........................................................................18 A HISTÓRIA DA GEOGRAFIA NO BRASIL ...........................................................................24 OS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS: OS CAMINHOS DO ENSINO DE GEOGRAFIA ...........................................................................................................................34 A METODOLOGIA VOLTADA PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA .......................................40 A GEOGRAFIA NO SÉCULO XXI ...........................................................................................45
UNIDADE II A ESTRUTURA CONCEITUAL PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA: O PAPEL DA ESCOLA, DO PROFESSOR E DO ALUNO A ESTRUTURA CONCEITUAL BÁSICA PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA: OS NÍVEIS DE APRENDIZAGEM....................................................................................................................55 DIRETRIZES METODOLÓGICAS PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA: OS PCN’S .............61 O PAPEL DA ESCOLA NO SÉCULO XXI PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA .....................68 O PERFIL DO PROFESSOR PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL .......................................................................................................74 O PAPEL DO ALUNO NO ENSINO DE GEOGRAFIA ............................................................79
UNIDADE III O ESPAÇO GEOGRÁFICO: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES O ESPAÇO GEOGRÁFICO X ESPAÇO NATURAL ................................................................89 A IMPORTÂNCIA DOS CONCEITOS GEOGRÁFICOS .........................................................94 PRODUÇÃO DE NECESSIDADES: TRANSFORMANDO A NATUREZA E O PRÓPRIO HOMEM.................................................................................................................................109 A CRIANÇA E AS RELAÇÕES ESPACIAIS: A EVOLUÇÃO DA NOÇÃO DE ESPAÇO .......112 AS ATIVIDADES LÚDICO-PEDAGÓGICAS NA AMPLIAÇÃO DO DOMÍNIO DE ESPAÇO 122
UNIDADE IV A CARTOGRAFIA: ALGUMAS APROXIMAÇÕES UMA BREVE EXPLANAÇÃO SOBRE O ASSUNTO ............................................................138 A LEITURA DE MAPAS ........................................................................................................144 AS ESCALAS: ENTENDENDO AS REDUÇÕES ..................................................................148 A CARTOGRAFIA E OS MAPAS MENTAIS .........................................................................150 AS MAQUETES: A SIMBOLIZAÇÃO DA REALIDADE .........................................................159
UNIDADE V TECNOLOGIA, INFORMAÇÃO, CONHECIMENTO: ÚLTIMAS APROXIMAÇÕES A FOTOGRAFIA COMO RECURSO DIDÁTICO NO ENSINO DE GEOGRAFIA .................178 O CINEMA COMO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO E EDUCACIONAL ..........................184 A MÚSICA ENRIQUECENDO AS AULAS DE GEOGRAFIA................................................188 OS JOGOS PARA DESENVOLVER NOÇÕES ESPACIAIS NAS CRIANÇAS .....................194
CONCLUSÃO........................................................................................................................204 REFERÊNCIAS .....................................................................................................................206
UNIDADE I
OS CAMINHOS TRILHADOS PELA CIÊNCIA GEOGRÁFICA Professora Me. Adélia Cristina Tortoreli Professora Me. Priscilla Campiolo Manesco Paixão
Objetivos de Aprendizagem • Analisar a Geograa como ciência da sociedade e da natureza. • Refazer a trajetória da Geograa no Brasil para compreendermos as mudanças e permanências quanto à concepção de disciplina escolar. • Identicar os princípios norteadores dos PCNs no ensino de Geograa para torná-los presentes em nossas salas de aula. • Analisar o papel da Geograa no século XXI , bem como suas implicações.
Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
• A Geograa como ciência humana • A história da Geograa no Brasil • Os Parâmetros Curriculares Nacionais: os caminhos do ensino de Geograa • A metodologia voltada para o Ensino de Geograa • A Geograa no século XXI
INTRODUÇÃO Olá, caro(a) aluno(a)! O nosso objetivo a partir desta unidade e por todo este livro é contribuir para a sua formação acadêmica, assim como estudar alguns princípios teórico-metodológicos que norteiam o processo de ensino-aprendizagem na disciplina de Metodologia do Ensino de Geografia. Nesse sentido, o nosso caminhar se dará, em primeiro lugar, em uma aproximação da definição de Ciência. Mas qual Ciência? As Ciências Humanas. Quando falamos em Ciências Humanas é preciso compreender ao menos duas questões que se correlacionam entre si: a primeira questão é o entendimento de que as Ciências Humanas decorrem de uma vasta área do conhecimento humano; que são oriundas do saber de outras ciências: Antropologia, História, Geografia, Sociologia, Economia, Política, entre outras. A segunda questão é que todas essas ciências aparentemente separadas têm como objeto de estudo “[...] o homem em suas relações: entre si, com o meio natural em que vive, com os recursos já criados por outros homens através do tempo [...]” (DUPAS, 1994, pp.17-18). Em síntese, podemos concluir que todas as ciências acima elencadas privilegiam o homem e as relações entre outros homens, mas sobretudo, a Geografia busca privilegiar o homem e compreender as características do espaço natural em que se encontra, que é uma preocupação da Geografia Física. Por outro lado, e como já citado anteriormente, como os homens fazem uso desse espaço. Por meio das relações que estabelecem entre si é o objeto do qual se ocupa a Geografia Humana. Diante do exposto e sem a pretensão de esgotar a complexidade do assunto, concordamos que cada uma das ciências citadas anteriormente possui uma vasta área de abrangência e especializa-se em determinados aspectos do seu objeto de conhecimento. Em específico com a Geografia é preciso retomar o que foi anunciado. Nesta perspectiva, é isto e mais um pouco que procuraremos discutir nesta primeira unidade. Vamos lá?
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
17
A GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA HUMANA Dizer que a geograa estuda a construção do espaço não é suciente. Não basta saber como vivem os homens. Kozel e Filizola
Me lembro bem quando ainda era uma menina e a primeira aula de Geografia sempre começava assim: a professora escrevia no quadro a palavra Geografia e então separava GEO de GRAFIA e dizia que GEO significava Terra e GRAFIA estudo, portanto, esta disciplina se comprometeria a estudar a Terra. Mas que Terra era essa que a professora mencionava? Ficávamos muitas vezes limitados a entender que esta disciplina estudava o mundo. E assim permaneciamos com um conhecimento abragente, mas de pouca complexidade. Penso que não há nada melhor do que começarmos nossa discussão reavivando a memória, para hoje, entendermos o quão esta ciência vai muito além do estudo da Terra.
M O C . S O T O H P : e t n o F
O DIA DA TERRA A TERRA É NOSSA MÃE !!! O Dia da Terra foi criado em 1970 quando o Senador norte-americano Gaylord Nelson convocou o primeiro protesto nacional contra a poluição. É festejado em 22 de abril e a partir de 1990, outros países passaram a celebrar a data. Sabe-se que a Terra tem em torno de 4,5 bilhões de anos e existem várias teorias para o “nascimento” do planeta. A Terra é o terceiro planeta do Sistema Solar, tendo a Lua como seu único satélite natural. A Terra tem 510,3 milhões de km2 de área total, sendo que aproximadamente 97% é composto por água (1,59 bilhões de km3). A quantidade de água salgada é 30 vezes a de água doce, e 50% da água doce do planeta está situada no subsolo. A atmosfera terrestre vai até cerca de 1.000 km de altura, sendo composta basicamente de nitrogênio,
18 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
oxigênio, argônio e outros gases. Há 400 milhões de anos a Pangéia reunia todas as terras num único continente. Com o movimento lento das placas tectônicas (blocos em que a crosta terrestre está dividida), 225 milhões de anos atrás a Pangéia partiu-se no sentido leste-oeste, formando a Laurásia ao norte e Godwana ao sul e somente há 60 milhões de anos a Terra assumiu a conformação e posição atual dos continentes. O relevo da Terra é inuenciado pela ação de vários agentes (vulcanismo), abalos sísmicos, ventos, chuvas, marés, ação do homem) que são responsáveis pela sua formação, desgaste e modelagem. O ponto mais alto da Terra é o Everest no Nepal/ China com aproximadamente 8.848 metros acima do nível do mar. A Terra já passou por pelo menos 3 grandes períodos glaciais e outros pequenos. A reconstituição da vida na Terra foi conseguida através de fósseis, os mais antigos que conhecemos datam de 3,5 bilhões de anos e constituem em diversos tipos de pequenas células, relativamente simples. As primeiras etapas da evolução da vida ocorreram em uma atmosfera anaeróbia (sem oxigênio). As teorias da origem da vida na Terra são muitas, mas algumas evidências não podem ser esquecidas. As moléculas primitivas, encontradas na atmosfera, compõem aproximadamente 98% da matéria encontrada nos organismos de hoje. O gás oxigênio só foi formado depois que os organismos fotossintetizantes começaram suas atividades. As moléculas primitivas se agregam para formar moléculas mais complexas. A evidência disso é que as mitocôndrias celulares possuam DNA próprio. Cada estrutura era capaz de se satisfazer suas necessidades energéticas, utilizando compostos disponíveis. Com este aumento de complexidade, elas adquiriram capacidade de crescer, de se reproduzir e de passar suas características para as gerações subseqüentes. A população humana atual da Terra é de aproximadamente 6 bilhões de pessoas e a expectativa de vida é em média de 65 anos. Para mantermos o equilíbrio do planeta é preciso consciência dessa importância, a começar pelas crianças. Não se pode acabar com os recursos naturais, essenciais para a vida humana, pois não haverá como repô-los. O pensamento deve ser global, mas a ação local, como é tratado na Agenda 21. Fonte:
. Acesso em: 11 ago. 2011.
Atualmente, compreendemos que o objeto de estudo dessa ciência privilegia as relações entre os homens, no espaço em que estes estão situados. Cabe ressaltar ainda que a análise desse estudo se dá analisando os aspectos já mencionados, a saber: a Geografia Física e a
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
19
Geografia Humana, acrescido de um terceito elemento o Fator Econômico. Comentados por Kozel e Filizola (1996, p.14): a) Geograa Física: Hidrograa (rios, bacias hidrográcas, redes uviais); Relevo (planícies, planaltos, serras); Clima (calor, frio, geada, neve); Vegetação (orestas, campo, cerrado, caatinga e a distribuição das espécies vegetais). b) Geograa Humana: o “encaixe” do homem e a sua ocupação na geograa física com todos os seus recursos de solo, água, animais, vegetais, minerais. c) Fator Econômico: tenta demonstrar como o homem explora e transforma o ambiente por meio das atividades econômicas como agricultura, pecuária, indústria, serviços, comércio e meios de transporte. Diante do exposto, fica evidenciado que a Geografia estudada nesses três aspectos oportuniza um conhecimento que só se efetiva quando apoiado na transversalidade, ou seja, M O C . quando faz uso de um conhecimento produzido S O T por outras áreas, conforme já anunciado O H P : anteriormente. Quando a Geografia preocupa-se e t n o F com o meio natural do homem e suas relações, seu campo de atuação necessita do conhecimento que é produzido por outras ciências, tais como: a Sociologia, a Antropologia e a História, que comentaremos a seguir: a) Sociologia: focaliza as relações dos homens entre si, travadas no seu espaço e no seu tempo. Busca compreender as relações familiares, de trabalho, religiosas, de poder, de lazer e as relações existentes na organização e seus funcionamentos simultâneos. Decorre daí conhecimentos de outras áreas das Ciências Humanas como, por exemplo, a Economia (que tem como objeto de estudos a relação de produção, assim como a distribuição dos bens necessários à sobrevivência) e a subordinação Política (relações de subordinação e resistência, relações de dominação que são desenvolvidas pelos humanos na sua convivência).
20 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
COMO SURGIU A SOCIOLOGIA? A sociologia, ciência que tenta explicar a vida social, nasceu de uma mudança radical da sociedade, resultando no surgimento do capitalismo. O século XVIII foi marcado por transformações, fazendo o homem analisar a sociedade, um novo “objeto” de estudo. Essa situação foi gerada pelas revoluções industrial e francesa, que mudaram completamente o curso que a sociedade estava tomando na época. A Revolução Industrial, por exemplo, representou a consolidação do capitalismo, uma nova forma de viver, a destruição de costumes e instituições, a automação, o aumento de suicídios, prostituição e violência, a formação do proletariado, etc. Essas novas existências vão, paulatinamente, modicando o pensamento moderno, que vai se tornando racional e cientíco, substituindo as explicações teológicas, losócas e de senso comum. Na Revolução Francesa, encontra-se lósofos a m de transformar a sociedade, os iluministas, que também objetivavam demonstrar a irracionalidade e as injustiças de algumas instituições, pregando a liberdade e a igualdade dos indivíduos que, na verdade, descobriu-se mais tarde que esses eram falsos dogmas. Esse cenário leva à constituição de um estudo cientíco da sociedade. Contra a revolução, pensadores tentam reorganizar a sociedade, estabelecendo ordem, conhecendo as leis que regem os fatos sociais. Era o positivismo surgindo e, com ele, a instituição da ciência da sociedade. Tal movimento revalorizou certas instituições que a revolução francesa tentou destruir e criou uma “física social”, criada por Comte, “pai da sociologia”. Outro pensador positivista, Durkheim, tornou-se um grande teórico desta nova ciência, se esforçando para emancipá-la como disciplina cientíca. Foi dentro desse contexto que surgiu a sociologia, ciência que, mesmo antes de ser considerada como tal, estimulou a reexão da sociedade moderna colocando como “objeto de estudo” a própria sociedade, tendo como principais articuladores Auguste Conte e Émile Durkheim. Fonte: . Acesso em: 1 jun. 2011.
b) Antropologia: o objeto de estudo tem como foco o homem e o que suas ações produzem. A antropologia se divide em adquirir conhecimentos sobre o ser humano enquanto espécie animal (campo da Antropologia Física) e analisar as criações e ações humanas (campo da
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
21
Antropologia Cultural). Na Antropologia ocorre também a interdisciplinaridade, pois essa necessita de conhecimentos produzidos por outras Ciências Humanas, tais como: a Sociologia, a História, a Economia, assim como conhecimentos produzidos pelas Ciências da natureza ou Ciências Físicas, a Química e as Biológicas. Antropologia (do grego άνθρωπος, transl. anthropos, “homem”, e λόγος, logos, “razão”/”pensamento”) é a ciência que tem como objeto o estudo sobre o homem e a humanidade de maneira totalizante, ou seja, abrangendo todas as suas dimensões. A divisão clássica da Antropologia distingue a Antropologia Cultural da Antropologia Biológica. Cada uma destas, em sua construção abrigou diversas correntes de pensamento. Pode-se afirmar que há poucas décadas a antropologia conquistou seu lugar entre as ciências. Primeiramente, foi considerada como a história natural e física do homem e do seu processo evolutivo, no espaço e no tempo. Se por um lado essa concepção vinha satisfazer o significado literal da palavra, por outro restringia o seu campo de estudo às características do homem físico. Essa postura marcou e limitou os estudos antropológicos por largo tempo, privilegiando a antropometria, ciência que trata das mensurações do homem fóssil e do homem vivo. Fonte: . Acesso em: 11 jun. 2011.
c) História: estuda-se o homem em seu contexto de espaço e tempo, assim como suas ações em diferentes lugares. Preocupa-se em compreender as permanências e, ao mesmo tempo, as mudanças ou transformações no modo de vida do homem. Essa compreensão só é possível pela interdisciplinaridade de outras Ciências Humanas, tais como a Sociologia, a Economia, a Antropologia, a Política etc. Dessa forma, fica evidenciado que o conhecimento produzido pelas diversas áreas das Ciências Humanas não são apenas um aglomerado de ciências estanques, que foram produzidas ao longo da Humanidade pelas necessidades dos homens em determinado período histórico, mas cabe a nós compreender que essas ciências constituem um todo maior e indivisível, o que nos leva a concluir, a priori , que o estudo da Geografia não pode ser entendido e compreendido apenas como a construção de um espaço. Encontramos respaldo dessa indivisibilidade e interdisciplinaridade nas palavras de Penteado (1994, p.19): A produção do conhecimento compreende, pois, um processo de trabalho, atualmente organizado por uma “divisão do trabalho” entre cientistas de diferentes especialidades.
22 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
No presente momento da história das ciências, essa divisão tem a função de viabilizar a ação humana de produção do conhecimento científico. Não impede, contudo, e chega mesmo a requerer, o recurso a saberes produzidos em outros campos, ou a construção de equipes interdisciplinares de trabalho. Isso porque a própria indivisibilidade da realidade exige sempre a volta ao todo, à compreensão abrangente.
O estudo da Geografia com base na interdisciplinaridade deve privilegiar o encontro e a recursividade de outras ciências, a fim de não fragmentar o conhecimento e não limitá-lo tão somente ao estudo temporal e espacial sem a compreensão das ações do homem sobre si, sobre os demais, os espaços que esses ocupam e os registros que o homem deixa ao longo de sua trajetória Humana. Pensando na interdisciplinaridade, Alexander Von Humbold (1769-1859), naturalista e explorador, considerado por sua obra o pai da Geografia, participou de inúmeras expedições pela Europa, Ásia, América Latina e América do Sul, incluindo Brasil. Seus estudos estavam focados na influência dos fatores naturais sobre a vida das sociedades vivas: vegetais, animais ou humanas. Dentre outras obras suas, destaca-se “Quadros da natureza e cosmos”.
Fonte: . Acesso em: 11 jun. 2011.
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
23
Dessa forma, concluimos que a Geografia como ciência constitui um ramo de conhecimento indispensável para a formação de professores que terão a responsabilidade de compreendê-la como um espaço natural, mas que sofreu modificações considerando as necessidades do homem com todas as suas contradições e relações estabelecidas entre os grupos sociais em espaços e tempos históricos distintos.
A HISTÓRIA DA GEOGRAFIA NO BRASIL A Geografia passou por diferentes momentos no Brasil, produzindo não só a sua própria história, mas gerando reflexões sobre a sua metodologia. Nesse sentido, faremos uma breve retrospectiva histórica, a fim de refletirmos sobre as práticas do fazer geográfico. No entanto, para uma melhor compreensão da Geografia, cabem-nos ao menos três perguntas: o que significa a palavra Geografia? Quem foram os primeiros a fazer esses registros? Quais eram os interesses que promoveram seu desenvolvimento?
Fonte:. Acesso em: 1 jun. 2011.
24 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
Kozel e Filizola (1996, p.11), nos guiarão: Os gregos foram os primeiros a fazer registros sistemáticos de geografia, pois sua intensa atividade comercial permitia-lhes explorar e conhecer diferentes povos e lugares ao longo da costa do mar Mediterrâneo. A própria origem da palavra geografia é grega (“geo = terra; “grafia” = escrita, descrição), embora esses conhecimentos iniciais pouco se assemelhassem ao que hoje consideramos geografia.
A síntese dos autores nos dá a compreensão de que a origem da palavra Geografia está diretamente ligada aos registros de uma atividade marítima com fins comerciais. Os escritores gregos foram significativos para os dados e informações com relação aos espaços e formas da Terra e as relações dos homens nesses meios para o desenvolvimento geográfico que se desenvolveria posteriormente. Cabe ressaltar ainda, que até o final do século XVIII esses dados e informações ficaram registrados em obras de estudos históricos e filosóficos. Nessas obras eram encontrados relatos de viagens, relatórios estatísticos, catálogos sobre continentes e países. A união entre os interesses comerciais e o desejo da expansão religiosa impulsionou essas navegações entre os italianos, árabes e portugueses. No entanto, devido às limitações técnicas dos mesmos e o pensamento predominante da Igreja Católica, essas navegações tinham caráter apenas quantitativo e descritivo dessas viagens.
Sugerimos o lme “1492 - A Conquista do Paraíso”, que auxiliará na compreensão do que foi abordado com relação à expansão marítima europeia.
Título original: 1492: Conquest of Paradise Título do lme: 1492 - A Conquista do Paraíso Lançamento/país: 1992/ Espanha/França/EUA/Inglaterra Direção: Ridley Scott Gênero: Drama
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
25
CONTEXTO HISTÓRICO A viagem de Cristóvão Colombo insere-se no cenário da expansão ultramarina liderada por Portugal e Espanha entre os séculos XV e XVI, constituindo-se em um dos principais acontecimentos na passagem da Idade Média para a Idade Moderna. Assim, para compreendê-la, é necessário inseri-la no quadro das transformações por que passou a Europa na Baixa Idade Média (século XII ao XV), durante transição do feudalismo para o capitalismo comercial. O desenvolvimento do comércio monetário associado à projeção da burguesia, que aliada ao rei, irá promover a formação dos Estados Nacionais, são as principais transformações estruturais para consolidação do Antigo Regime europeu. Nesse contexto a expansão marítima européia visava atingir as Índias (terra das valiosas especiarias), para atender as necessidades de ampliação dos mercados europeus afetados pela crise do século XIV (“guerra, peste e fome”), bem como, para eliminar o monopólio comercial italiano no Oriente. Com a conquista de Constantinopla pelos turcos em 1453, os preços das especiarias orientais elevaram-se bruscamente, o que incentivou ainda mais a busca de um novo caminho marítimo para as Índias. Disponível em: . Acesso em 01 jun. 2011.
Ao longo do processo de constituição do capitalismo que foi iniciado na Europa houve condições para uma sistematização dos conhecimentos geográficos, deixando de ser apenas relatos e dados para o estabelecimento de um estudo científico das questões geográficas. No início do século XIX, essas condições já estavam desenvolvidas a ponto de termos as seguintes sistematizações: • O conhecimento do planeta para dominar a dimensão e a forma dos continentes. • Informações sobre a superfície terrestre, a m de estudar e comparar os diferentes lugares. • Aprimoramento de técnicas cartográcas, que eram fundamentais para a representação dos fenômenos, dos elementos observados e da localização dos lugares. Acreditamos que respondemos, mesmo que de forma sintetizada, as três perguntas iniciais. Cabe a você, caro(a) aluno(a), pesquisar mais sobre o assunto, a fim de iniciar o seu acervo pessoal de informações e conhecimentos pertinentes a essa temática e que serão essenciais
26 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
para o trabalho pedagógico nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Nosso intuito, mais do que apresentar essas informações, é provocar esse desejo e ao mesmo tempo auxiliar na compreensão de que as mudanças ocorridas na Geografia foram em decorrência do processo histórico e dos conhecimentos acumulados pelas gerações anteriores. Ao tomarmos consciência de que a história da Geografia teve início na Grécia, que a sua expansão foi impulsionada por motivos comerciais e religiosos e que no século XIX as técnicas para a produção de uma Geografia sistematizada e científica estavam desenvolvidas, cabe-nos, agora a seguinte pergunta: como ocorreu a história da Geografia no Brasil? A Geografia no Brasil também passou por diferentes momentos, gerando reflexões acerca da metodologia do fazer geográfico. Refletir sobre o modo como se ensinava apresenta-se como fundamental para uma melhor compreensão de como foi implantada a Geografia no país em diferentes momentos históricos. Sendo assim, convidamos você para essa retrospectiva histórica. Mas antes disso, pense:
M O C . S O T O H P : e t n o F
• Que lembranças você guarda de seus tempos de estu dante dos anos iniciais do Ensino Fundamental, como hoje denominamos? • Recorda-se dos conteúdos que eram desenvolvidos? • De como eram as aulas? • E os livros didáticos? • E os recursos que os professores utilizavam? Na síntese elaborada por Kozel e Filizola (1996), no Brasil, até as primeiras décadas do século XIX, o ensino de Geografia se limitava a uma concepção tradicional. Os livros didáticos se
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
27
limitavam a uma Geografia descritiva e enumerativa como se fosse um simples catálago. Os textos eram verdadeiros relatos que mais se assemelhavam a fotografias faladas, tal a riqueza de detalhes utilizados na descrição das diversas paisagens. Ampliar essa concepção tradicional de ensino nos leva a compreender que a prática didáticopedagógica estava alicerçada por transmitir os conteúdos de forma estanque e sem a proposta de uma percepção crítica dessa Geografia e dos alunos. Pelo contrário, era exigido apenas memorização de nomes e números, sem, contudo estabelecer relações, analogias ou generalizações. Com a fundação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (1934), a Geografia no Brasil, passou a ser ensinada por professores licenciados, sob influência da escola Francesa de Vidal de La Blanche. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais: Essa geografia era marcada pela explicação objetiva e quantitativa da realidade que fundamentava a escola francesa de então. Foi essa escola que imprimiu ao pensamento geográfico o mito da ciência [...] não-politizada, como argumento da neutralidade do discurso científico. Tinha como meta abordar as relações do homem com a natureza de forma objetiva, buscando a formulação de leis gerais de intrepretação (BRASIL, 2000, p.103).
Os parâmetros curriculares nos indicam que a apropriação da Geografia adotada da escola Francesa e os seus desdobramentos deram início à chamada Geografia tradicional. Os parâmetros confirmam a valorização do homem como sujeito histórico, no entanto, ao estudar o espaço geográfico e a relação homem-natureza, as relações sociais não eram priorizadas, M imprimindo uma ciência e um pensamento geográfico não O C . S politizado, ou seja, sem a pretensão de uma análise crítica O T O da realidade social. Ao se estudar, por exemplo, a população, H P : e excluía-se a sociedade e as relações sociais; estudava-se t n o F as técnicas e os instrumentos de trabalho, mas excluía-se o processo de produção. Em síntese, as relações socias não eram discutidas, retirando
28 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
o homem de seu caráter social, articulando o ensino de Geografia de forma fragmentada e com víes neutralizante. Cabe lembrar, ainda, que a perspectiva de uma Geografia neutra dissociada do espaço vivido pela sociedade e das relações contraditórias de produção da organização desse espaço, marcou a produção de livros didáticos até meados da década de 1970 e, ainda hoje, alguns livros apresentam ideias e interpretações defendidas pela Geografia tradicional. A partir dos anos 1950, com o término da Segunda Guerra Mundial, a realidade tornou-se mais complexa com o desenvolvimento do capitalismo e a hegemonia dos Estados Unidos. Nesse sentido, a condição de (re)elaboração das condições de dependência do Brasil diante desse novo cenário leva as classes sociais brasileiras a participarem dos debates sobre os problemas nacionais; a urbanização acentuou-se, o espaço agrágrio sofreu modificações estruturais comandadas pela Revolução Verde, em função da industrialização e da mecanização das atividades agrícolas em várias partes do mundo. É nesse momento de transição que a Geografia tradicional torna-se insuficiente para apreender toda essa complexidade e, sobretudo, explicá-la, uma vez que as realidades locais passaram a ter dependência externa e de escala mundial. Encontramos respaldo nas palavras de Pontuschka, Paganelli e Cacete (2007, p.51) quando afirmam que: O espaço geográfico, mundializado pelo capitalismo, tornou-se complexo e as metodologias propostas pelas várias tendências da Geográfia Tradicional não eram capazes de apreender essa complexidade. Novas metodologias deveriam surgir para empreender tal tarefa [...].
A complexidade comentada pelos autores estava alicerçada por uma nova ordem mundial que privilegiava as relações mundiais e análises de ordem econômica, social, política e ideológica. Por outro lado, o desenvolvimento dos meios técnicos e científicos impulsionaram o estudo do espaço geográfico globalizado. Os geógrafos passaram a utilizar de modo mais expressivo a leitura de imagens de satélites, sobretudo na metereologia e na climatologia. A crítica à Geografia Tradicional surge a partir da década de 1960 sob a influência das teorias marxistas, cujo eixo de preocupação está alicerçado sobre as relações entre a sociedade, o
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
29
trabalho e a produção do espaço geográfico. A partir desse momento, os geográfos passam a estudar a sociedade por meio das relações de trabalho e da apropriação humana para a produção e distribuição dos bens necessários. “Surge a crítica ao Estado e as classes sociais dominantes tendo como proposta uma Geografia que atendesse aos interesses coletivos, propondo, assim, uma luta de classes” (BRASIL, PCNs, 2000, p.105). Diante dessa nova perspectiva teórica, explicar o mundo não é mais suficiente, é preciso também transformá-lo. “[...] Marx e seus seguidores afirmavamque só a perspectiva de transformar o mundo permitia sua compreensão, só a visão crítica permitia apreender a essência e o movimento dos processos sociais” (PONTUSCHKA; PAGANELLI; CACETE, 2007, p.54). Nesse sentido, a Geografia deixa de ser neutra e ganha contornos e conteúdos políticos que são significativos na formação do cidadão. A implicação dessa transformação teórica e metodológica marxista influenciou a produção da Geografia no Brasil, sobretudo nas décadas de 80 e 90 do século passado, influenciando também uma nova geração de pesquisadores. No entanto, para Andrade (2004), essa nova proposta teórica trouxe inovações para o pensamento geográfico nacional, mas também promoveu graves distorções com relação à dominação quantitativista, predominantemente após a democratização do país. M O C . S O T O H P : e t n o F
Tanto a Geografia Tradicional quanto a Geografia Marxista não atenderam à complexidade do momento histórico, pois não contemplaram a relação do homem com a natureza, produzindo uma lacuna pelas duas propostas ao não considerarem a dimensão da sensibilidade de
30 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
percepção do mundo. Por um lado, a Geografia Tradicional negligenciou um conhecimento que passasse pela subjetividade, uma vez que sua proposta estava alicerçada na visão positivista de mensurar, quantificar e ordenar. E, por outro lado, a Geografia Marxista considerava alienante qualquer explicação subjetiva (BRASIL PCNs, 2000). Cabe lembrar que, se por um lado, enquanto nas universidades na década de 1970 os debates acalourados se detinham na busca de novos paradigmas teóricos para o ensino de Geografia, o mesmo não acontecia com a escola pública de primeiro e segundo graus, hoje Ensino Fundamental e Médio com a promulgação da Lei 5.692.71 que significou: “[...] a criação de Estudos Sociais com a eliminação gradativa da História da Geografia da grade curricular” (PONTUSCHKA; PAGANELLI; CACETE, 2007, p.59). Qual o impacto dessa lei para o ensino de Geografia? Para responder a essa pergunta, caro (a) aluno (a), não podemos esquecer que essa medida legal foi tomada em plena Ditadura Militar, o que significa que a discussão dos problemas do país era praticamente ausente e restrita a um círculo fechado, eliminando assim qualquer possibilidade de diálogo com a sociedade.
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL PERÍODO DO REGIME MILITAR (1964 - 1985) Alguma coisa acontecia na educação brasileira. Pensava-se em erradicar denitivamente o analfabetismo através de um programa nacional, levando-se em conta as diferenças sociais, econômicas e culturais de cada região. A criação da Universidade de Brasília, em 1961, permitiu vislumbrar uma nova proposta universitária, com o planejamento, inclusive, do m do exame vestibular, valendo, para o ingresso na Universidade, o rendimento do aluno durante o curso de 2° grau. (ex-Colegial e atual Ensino Médio).
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
31
O período anterior, de 1946 ao princípio do ano de 1964, talvez tenha sido o mais fértil da história da educação brasileira. Neste período atuaram educadores que deixaram seus nomes na história da educação por suas realizações. Neste período atuaram educadores do porte de Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo, Lourenço Filho, Carneiro Leão, Armando Hildebrand, Pachoal Leme, Paulo Freire, Lauro de Oliveira Lima, Durmeval Trigueiro, entre outros. Depois do golpe militar de 1964 muito educadores passaram a ser perseguidos em função de posicionamentos ideológicos. Muito foram calados para sempre, alguns outros se exilaram, outros se recolheram a vida privada e outros, demitidos, trocaram de função. O Regime Militar espelhou na educação o caráter anti-democrático de sua proposta ideológica de governo: professores foram presos e demitidos; universidades foram invadidas; estudantes foram presos, feridos, nos confrontos com a polícia, e alguns foram mortos; os estudantes foram calados e a União Nacional dos Estudantes proibida de funcionar; o Decreto-Lei 477 calou a boca de alunos e professores; o Ministro da Justiça declarou que “estudantes tem que estudar” e “não podem fazer baderna”. Esta era a prática do Regime. Neste período deu-se a grande expansão das universidades no Brasil. E, para acabar com os “excedentes” (aqueles que tiravam notas sucientes para serem aprovados, mas não conseguiam vaga para estudar), foi criado o vestibular classicatório. Para erradicar o analfabetismo foi criado o Movimento Brasileiro de Alfabetização - MOBRAL. Aproveitando-se, em sua didática, no expurgado Método Paulo Freire, o MOBRAL propunha erradicar o analfabetismo no Brasil... não conseguiu. E entre denúncias de corrupção... foi extinto. É no período mais cruel da ditadura militar, onde qualquer expressão popular contrária aos interesses do governo era abafada, muitas vezes pela violência física, que é instituída a Lei 5.692, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em 1971. A característica mais marcante desta Lei era tentar dar a formação educacional um cunho prossionalizante. Dentro do espírito dos “slogans” propostos pelo governo, como “Brasil grande”, “ame-o ou deixe-o”, “milagre econômico”, etc., planejava-se fazer com que a educação contribuísse, de forma decisiva, para o aumento da produção brasileira. A ditadura militar se desfez por si só. Tamanha era a pressão popular, de vários setores da sociedade, que o processo de abertura política tornou-se inevitável. Mesmo assim, os militares deixaram o governo através de uma eleição indireta, mesmo que concorressem somente dois civis (Paulo Maluf e Tancredo Neves). Para que você possa compreender mais sobre os caminhos trilhados pela educação durante esse período da Ditadura Militar vale a consulta na íntegra deste texto no site: . Acesso em: 11 ago. 2011.
32 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
Com a promulgação da Lei 5.692/71 foi extinto o antigo ginásio e realizada a fusão deste ao primário (antigo grupo escolar), ficando então constituída a escola de primeiro grau de oito anos. Com um olhar atento sobre essa fusão observa-se um retrocesso com relação às verbas educacionais, que se mostravam insuficientes diante do número de alunos a ser escolarizado. As mudanças chegaram inevitavelmente ao currículo e à grade curricular com a criação dos Estudos Sociais e Educação Moral e Cívica. O que significaram essas mudanças no ensino de Geografia e na formação dos alunos? Tais mudanças oriundas da Lei já citada transformou o ensino de Geografia em uma disciplina inexpressiva no interior do currículo, significando uma fragmentação do conhecimento e por consequência a má formação de uma geração de alunos. As repercussões da Lei 5.692/71 influenciaram também a formação docente, pois não havia a reflexão profunda sobre os fundamentos epistemológicos e metodológicos das disciplinas, retirando assim a possibilidade de preparar o futuro docente para estar no mundo, agir sobre ele e participar efetivamente da construção da realidade social não só no momento presente, mas também futuro. Você também poderá ler na íntegra esta Lei 5.692/71 pelo sítio: . Como fruto das discussões para a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394/96, mudanças signficativas ocorreram na educação brasileira e as propostas curriculares dos estados foram debatidas com o objetivo de gerar uma nova proposta, que se dá agora pelo nome de Parâmetros Curriculares Nacionais. Com a nova LDB, o Ministério da Educação (MEC), por via da Secretaria, toma decisões com relação ao currículo das escolas públicas no país. O governo criou um novo currículo para o ensino de primeiro e segundo graus, dando uma nova nomenclatura a esses níveis, passando a denominá-los Ensino Fundamental e Médio. É o que veremos a seguir.
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
33
OS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS: OS CAMINHOS DO ENSINO DE GEOGRAFIA Os parâmetros curriculares de Geografia (tendo sua primeira edição em 1997) permitem uma visão não só da realidade que nos circunda (local), mas para além do nosso espaço geográfico (global) com uma percepção ampliada da realidade que nos leva a refletir e intervir sobre esses espaços em tempos e lugares diferenciados. Nosso intuito não é explorar em todos os detalhes o que contempla esse documento, mas permitir que você, enquanto futuro educador, possa conhecê-lo e tê-lo como um auxílio para o seu trabalho pedagógico na formação dos seus alunos enquanto futuros cidadãos conscientes de seu papel na sociedade e para a conquista de sua cidadania. M O C . S O T O H P : e t n o F
Nesse sentido, os estudos dos PCNs para o ensino da Geografia no Ensino Fundamental têm entre suas propostas uma reformulação e renovação da proposta curricular, bem como a participação de toda equipe como ação conjunta na promoção de uma educação com qualidade. Reconhecendo a complexidade da prática educativa, esse documento busca auxiliar os professores na tarefa de assumirem o seu importante papel no processo de formação dos cidadãos brasileiros. Considerando a abrangência dos assuntos abordados, os PCNs podem ser utilizados com objetivos diferenciados e como instrumentos essenciais para a compreensão e intervenção na realidade social. O PCN para a Geografia no Ensino Fundamental propõe um trabalho pedagógico visando à ampliação das capacidades dos alunos no sentido de observar, explicar, conhecer, comparar e representar. Não somente as características do lugar em que se vive, identificando paisagens
34 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
e espaços geográficos, como também estabelecendo relações com outros lugares distantes no tempo e no espaço no sentido de perceber as marcas do passado no presente. [...] podemos compreender como diferentes sociedades interagem com a natureza na construção do seu espaço, as singularidades do lugar em que vivemos, o que o diferencia e o aproxima de outros lugares e, assim, adquirirmos uma consciência maior dos vínculos afetivos e de identidade que estabelecemos com ele (BRASIL, PCNs, 2000, p.99).
As abordagens atuais do ensino de Geografia buscam práticas pedagógicas com o intuito de apresentar aos alunos uma compreensão cada vez mais complexa da sociedade, desenvolvendo no educando a capacidade não só de identificação, mas sobretudo da reflexão sobre os diferentes aspectos dos espaços geográficos para a compreensão de relação sociedade-natureza. A relação sociedade-natureza não envolve apenas descrição, observação, registro, mas é preciso focar a dinâmica das suas transformações. Para tanto é necessário buscar explicações para aquilo que em uma determinada paisagem permaneceu ou foi alterado e os elementos do passado e do presente que nela convivem e podem ser compreendidos a partir de uma análise do processo de produção e organização do espaço. Não podemos esquecer que o espaço geográfico é produzido e alterado pelo homem, e agindo sobre esse espaço ele o modifica para atender as suas necessidades econômicas, culturais e sociais. Para tanto, as noções de sociedade, cultura, trabalho e natureza são fundamentais e podem ser abordadas por meio de temas nos quais as dinâmicas e determinações existentes entre sociedade e natureza sejam estudadas de forma conjunta (BRASIL PCNs, 2000, p.117).
O estudo da Geografia com base na relação entre sociedade e natureza contribui para a compreensão e explicação mais complexa da realidade do nosso dia a dia, do local em que estamos inseridos e o que acontece em outros lugares, pois a sociedade na qual vivemos hoje passa pela demanda de uma compreensão maior e interdependente, abrangendo os problemas sociais, econômicos, a consciência conservacionista e ambiental, a distribuição de renda etc.
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
35
Para a compreensão e reflexão acerca da relação entre sociedade e natureza é preciso buscar um trabalho interdisciplinar, ou seja, outras fontes para o estudo da Geografia que podem ser encontradas, por exemplo, na Literatura por meio de obras de autores brasileiros (Jorge Amado, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, Érico Veríssimo entre outros), considerando que suas obras retratam paisagens diferenciadas do Brasil abordando seus aspectos sociais e culturais. Assim também músicas, a fotografia, o cinema, o jornal poderá auxiliar professores e alunos a obter informações, fazer comparações, interpretar e construir conhecimentos sobre o espaço geográfico. Como sugestão para um trabalho interdisciplinar e para a compreensão e reflexão acerca da relação entre sociedade e natureza e as mudanças ocorridas no espaço geográfico por intervenção do homem, sugerimos a leitura da letra da música “Sobradinho” de autoria de Sá e Guarabra:
O homem chega, já desfaz a natureza Tira gente, põe represa, diz que tudo vai mudar O São Francisco lá pra cima da Bahia Diz que dia menos dia vai subir bem devagar E passo a passo vai cumprindo a profecia do beato que dizia que o Sertão ia alagar O sertão vai virar mar, dá no coração O medo que algum dia o mar também vire sertão Adeus Remanso, Casa Nova, Sento-Sé Adeus Pilão Arcado vem o rio te engolir Debaixo d’água lá se vai a vida inteira Por cima da cachoeira o gaiola vai, vai subir Vai ter barragem no salto do Sobradinho
36 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
E o povo vai-se embora com medo de se afogar. Remanso, Casa Nova, Sento-Sé Pilão Arcado, Sobradinho Adeus, Adeus ... Disponível em: . Acesso em: 01 jun. 2011.
A interdisciplinaridade acontece na letra da música de Sá e Guarabra com a disciplina de História. Observe a frase “E passo a passo vai cumprindo a profecia do beato que dizia que o Sertão ia alagar”. A profecia mencionada pelos autores diz respeito ao beato Antônio Conselheiro e seus seguidores que ergueram a cidade de Canudos em Outubro de 1897. Segue um trecho do livro “Os sertões” de Euclides da Cunha que nos permite confirmar essa interdisciplinaridade:
Em 1902, numa choupana à beira do rio, em São José do Rio Pardo, Euclides da Cunha terminou seu livro, contando a verdadeira história sobre o extermínio de Canudos: uma luta desigual e vergonhosa, em que o exército brasileiro se cobriu de infâmia. O inimigo invencível anal de contas não passava de gente sofrida das secas. Mulheres, velhos e crianças que resistiram até o m, numa luta inglória. Negros e índios que buscavam criar um espaço em que pudessem ser admitidos como integrantes da nação. Profecia do deserto: "O sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão".
Euclides da Cunha revelou que “sertão” é sinônimo de solidão do homem na terra, onde o abrigo da salvação está apenas nas poucas veredas. Ao criticar o beato, foi o primeiro que apregoou que a “terra é do homem, não é de Deus nem do diabo”. E a frase atribuída a Antônio Conselheiro, “o sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão” é uma profecia que ecoa por todo o deserto nordestino, desde bem antes do Conselheiro. E sobrevive na esperança e na alma do sertanejo.
Disponível em: . Acesso em: 01 jun. 2011.
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
37
Nas palavras de Castellar e Vilhena (2010) é preciso uma educação geográfica no sentido de uma compreensão por parte dos alunos com relação à ação social e cultural de diferentes lugares, às interações entre as sociedades e à dinâmica que ocorre em diferentes momentos históricos, levando em consideração que a própria vida em sociedade é uma dinâmica que implica alterações no comportamento e na cultura dos povos dos diferentes lugares, e considerando ainda que as inovações no campo da informação e da técnica são absorvidas pelo espaço geográfico, não de forma linear, mas com todas as suas contradições advindas dessas inovações. M O C . S O T O H P : e t n o F
Nesse sentido, de acordo com os PCNs (BRASIL 2000), o objetivo geral, ao longo dos anos fundamentais, é que os alunos construam um conjunto de conhecimentos referentes a conceitos geográficos que lhes permitam inferir no ambiente social e natural de forma harmônica. Apresentaremos os principais conjuntos de conhecimentos abordados por esse documento (BRASIL, PCN, 2000, p.121):
38 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
Conhecer a organização do espaço geográco e o funcionamento da natureza em suas múltiplas relações, de modo a compreender o papel das sociedades em sua construção e na produção do território, da paisagem e do lugar; Identicar e avaliar as ações dos homens na sociedade e suas conseqüências em diferentes espaços e tempos possibilitando uma participação nas questões socioambientais locais; Compreender a espacialidade e a temporalidade dos fenômenos geográcos estudados em suas dinâmicas e interações; Compreender que a melhorias nas condições de vida, os direitos políticos, os avanços técnicos e tecnológicos, as transformações socioculturais são conquistas decorrentes de conitos e acordos, que ainda não são usufruídas por todos os seres humanos e, dentro de suas possibilidades, emprenhar-se em democratizá-las; Conhecer e saber utilizar procedimentos de pesquisa da Geograa, a m de compreender o espaço, a paisagem, o território e o lugar, assim como seus processos de construção, identicando suas relações,problemas e contradições; Fazer leitura de imagens, de dados, documentos de diferentes fontes de informação, de modo a interpretar, analisar e relacionar informações sobre o espaço geográco e as diferentes paisagens; Saber utilizar a linguagem cartográca para obter informações e representar a espacialidade dos fenômenos geográcos; Valorizar o patrimônio sociocultural e respeitar a sociodiversidade, reconhecendo-a como um direito dos povos e indivíduos e um elemento de fortalecimento da democracia.
Com a abordagem de alguns tópicos contemplados nos PCNs de Geografia e do conjunto de conhecimentos esperamos que você, caro(o) aluno(a), construa o seu próprio conhecimento com relação ao estudo da Geografia pautado na compreensão de que as relações entre sociedade e natureza não podem ser vistas separadamente, assim como as alterações sofridas no espaço geográfico atendem às necessidades do homem que ocupa esses espaços. Embora muito já se tenha criticado e mereça revisão, segundo nosso parecer, os PCNs podem contribuir para sua formação profissional desde que se compreenda que se trata de
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
39
um parâmetro e não um guia didático. Você também pode lê-lo na íntegra por intermédio do site do MEC: .
A METODOLOGIA VOLTADA PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA No ensino de Geografia é preciso refletir e utilizar metodologias que previlegiem a inserção do aluno no contexto social por meio de diálogos, com a finalidade de integrar esse aluno à realidade existente, na qual nossos educandos façam parte. Nesse sentido, no processo de ensino-aprendizagem é certo que teremos os conteúdos e também métodos. No entanto, esse processo terá como eixo norteador uma relação de diálogo entre professor e aluno, cada qual assumindo o seu papel diante dele. Ao professor cabe a responsabilidade do planejamento e desenvolvimento dos conteúdos, criando situações que favoreçam a aprendizagem do aluno. Para que essa aprendizagem ocorra é preciso que o professor tenha clareza do processo pedagógico e, sobretudo, conhecimento dos conteúdos a serem trabalhados com o aluno. Tratando-se de uma relação de mão dupla, ao aluno cabe a responsabilidade de assumir para si o desejo de aprender, sendo questionador e intervindo no processo de aprendizagem como um sujeito ativo. M O C . S O T O H P : e t n o F
No entanto, a maneira mais comum de se ensinar Geografia tem sido com o professor apoiado no livro didático, e a abordagem dos conteúdos é feita, na maioria das vezes, descontextualizadas do contexto ao qual o aluno está inserido. “Usualmente após um
40 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
trabalho de leitura ou de uma exposição, o professor avalia também de forma fragmentada pelos exercícios de memorização” (BRASIL, PCNs, 2000, p.115). A nossa concepção de metodologia para o ensino de Geografia converte para uma prática pedagógica que possibilite ao aluno compreender a complexidade de cada conteúdo tratado. Nesse sentido, ao abordar um conteúdo é preciso que o professor promova a capacidade de reflexão sobre diferentes aspectos da realidade. Essa abordagem exige do professor uma atitude problematizadora que permita a observação, o registro e relação desses conteúdos com a realidade na qual o aluno está inserido. É preciso ainda que o aluno tenha participação ativa nos conteúdos, considerando o conhecimento que esse traz consigo, e que saia desse processo diferente de quando entrou. Essa mudança conceitual terá a participação direta do professor ao fazer a abordagem dos conteúdos, a fim de que os alunos possam mudar a sua prática social. “[...]Quando o aluno apenas memoriza, ou não vê objetivos no que aprende, acaba esquecendo os conteúdos[..]” (CASTELLAR; VILHENA, 2000, p.5). Com relação a uma nova metodologia para o ensino de Geografia, Castellar e Vilhena (2010, p.9) confirmam o nosso posicionamento diante do processo ensino-aprendizagem: “Propomos, então, construir ideias em outras perspectivas, o que significa ressaltar um processo de aprendizagem com base no conhecimento prévio, nos conteúdos científicos e na realidade, proporcionando um novo olhar para a geografia escolar [...].” Não temos dúvida de que o caminho metodológico a percorrer no ensino de Geografia esteja pautado na dialogicidade entre professor e aluno, reafirmando o importante papel do professor como mediador no processo de ensino-aprendizagem. Nessa perspectiva o professor não caminha pelo aluno, mas caminha junto com ele no sentido de promover a ascenção dos conhecimentos prévios que ele já traz consigo. Interessa-nos, sobretudo, a ação docente, assim como a dinâmica da própria sala de aula que
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
41
deve ser levada em conta, o densevolvimento atual do educando e a faixa etária dos alunos. Nesse sentido, se a proposta final da prática pedagógica é o ensino e aprendizagem, é preciso que sejam levados em consideração esses fatores dos educandos. M O C . S O T O H P : e t n o F
Vale ressaltar que diante de todos os avanços da Tecnologia da Informação e Comunicação, as chamadas TICs, os computadores ligados em rede e as informações sendo produzidas em tempo ininterrupto e simultaneamente, o livro didático ainda continua sendo um dos suportes mais utilizados na realidade da maioria das escolas. Nesse sentido, quando mencionamos o livro didático não estamos fazendo uma crítica a esse suporte, mas a forma como ele tem sido utilizado por algumas instituições tanto pelos autores quanto pelos próprios professores. Em muitas situações o livro é utilizado como um fim e não como um meio no processo de ensino-aprendizagem. Entendemos que ele deve ser utilizado como um apoio e a partir dele o professor amplie os conteúdos. A abordagem metodológica está diretamente relacionada com a concepção que o autor e o próprio professor tem tanto do processo de ensino-aprendizagem quanto da abordagem do conteúdo. Não podemos esquecer que o livro traz uma abordagem teórica, pois aquele que o escreveu tem um posicionamento teórico que pode ser tradicionalista ou socioconstrutivista, por exemplo. Nesse sentido, é preciso que você, futuro(a) professor(a), tenha clareza da linha teórica na qual você subsdiará a sua prática pedagógica, pois dessa forma você saberá escolher e utilizar a obra escolhida. Fechamos esse assunto deixando para você, caro(a) aluno(a), uma reflexão acerca da metodologia a ser utilizada na sua prática docente independente do suporte utilizado. Tratamos aqui do livro didático, no entanto, sabemos que outros suportes estão à disposição dos professores, tais como jornais, revistas, filmes, reportagens, a própria internet que já faz parte da vida dos alunos.
42 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
Nesta perspectiva, lançamos a questão que poderá ser respondida a partir da leitura do excerto abaixo: por que ensinar Geografia nos anos iniciais? Pautado em uma perspectiva atual de ensino, o conhecimento ocorre pelas relações entre professor e alunos e mediatizado pelo mundo que os cerca. Na unidade II deste material trataremos de forma mais abrangente os papéis de professor e aluno diante do conhecimento geográfico.
POR QUE ENSINAR GEOGRAFIA NOS ANOS INICIAIS? Iniciar o estudo de Geograa no início da escolarização é poder fazer uma relação com o espaço vivido. É trazer para sala de aula a compreensão deste espaço. Pois com Straforini (2004), pude observar que o ensino da Geograa nos anos iniciais permite vermos o mundo de outro modo, não apenas centralizado na mercadoria e no dinheiro, como nos passam as imagens construídas pelo capitalismo e divulgadas pela mídia. Ensinar Geograa nos anos iniciais é inserir o dia-a-dia dos alunos nas atividades de sala de aula. É transformar as dúvidas que os alunos possuem sobre os fenômenos que eles vêem ou os questionamentos que surgem em nossa aula em objetos de estudos. Assim começamos a construir as noções de espaço e tempo. Isso ocorre quando nós professores formamos em nossos alunos a criticidade, um componente importante no desenvolvimento da cidadania. A importância do ensino de Geograa nos anos iniciais se dá quando possibilitamos ao estudante a compreensão de que ele é parte integrante das relações da sociedade com o meio natural. Quando realizamos atividades de observação do lugar vivido, reetimos sobre os fatos que ocorreram ou ocorrem, produzindo mudanças do ambiente natural e social. À medida que o aluno aprende sobre o lugar onde vive, ele se coloca diante dele. E somente sentindo-se participante poderá perceber que as suas ações individuais ou coletivas podem trazer conseqüências para si ou para o meio em que está inserido.
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
43
Quando se ensina geograa no início da escolarização possibilita-se ao estudante que ele compreenda a sua atuação como contribuinte nesta construção da sociedade pois, segundo Callai (2005), uma forma de fazer a leitura do mundo é por meio da leitura do espaço, ou seja, através do que se vê e de como se participa do meio. Para isso é necessário aprender a ler o espaço. Essa compreensão demanda uma série de condições, como a necessidade de aprender as noções de espaço desenvolvendo a localização e a representação gráca. Pois como explicita Straforini, Não podemos mais negar a realidade ao aluno. A Geografia, necessariamente deve proporcionar a construção de conceitos que possibilitem ao aluno compreender o seu presente e pensar o futuro com responsabilidade, ou ainda, preocupar-se com o futuro através do inconformismo com o presente (STRAFORINI, 2004. p. 51) Sendo assim, este é um processo que devemos iniciar desde o momento em que a criança começa a ter curiosidade sobre o meio onde está inserida. Neste momento a criança demonstra já está reconhecendo lugares e conseguindo identicar as paisagens. (CASTELAR, 2000, p30). Portanto esta é uma questão que devemos considerar quando vamos planejar nossas atividades nos anos iniciais, pois ensinar geograa não é apenas realizarmos um texto com o tema proposto. É antes de tudo conhecer como nossos alunos compreendem o lugar onde vivem. Como percebem o espaço onde moram. Fonte: DORNELLES, M.B.L. O ensino de Geograa nos anos iniciais do ensino fundamental. Porto Alegre. 2010. Disponível em: . Acesso em: 23 Jan 2012.
44 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
A GEOGRAFIA NO SÉCULO XXI A sociedade do século XXI da qual somos todos partícipes tem passado por inúmeras transformações ocorridas no campo da economia, da política, da saúde entre outros. Na educação não ocorre de modo diferente, pois considerando as constantes mudanças ocorridas no campo da tecnologia e da informação, essa instituição tem sido questionada sobre o seu real valor na sociedade onde todos têm acesso a informações a qualquer tempo e espaço.
Fonte:. Acesso em: 11 jun. 2011.
Muitos desafios são reinaugurados com o início deste século; um deles seria o próprio papel da escola uma vez que ela não é mais a única detentora do saber, pois a televisão, a internet e os dispositivos móveis, tais como celular, Ipod , Tablet transmitem a informação a qualquer momento e em qualquer lugar. Essa revolução tecnológica altera também nossos padrões de comportamento e de aquisição do conhecimento. Não é preciso mais esperar o telejornal preferido para saber das notícias do dia, pois as informações estão disponibilizadas no momento em que são produzidas e distribuídas em escala planetária.
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
45
No entanto, cabe ressaltar que a escola, assim como o próprio professor não tem a função apenas de transmitir a informação ou o conhecimento, mas promover a reflexão crítica acerca da mensagem ou conteúdo. Essa sociedade exige ainda que os cidadãos sejam criativos, pró-ativos, que saibam trabalhar em coletividade para atender às expectativas pessoais, assim como atender às exigências do mercado de trabalho. Para sobreviver no século XXI, a sociedade contemporânea e as gerações futuras requerem um novo tipo de indivíduo e trabalhador que desenvolva capacidades e competências múltiplas, a saber: gestão do próprio conhecimento, adaptabilidade, flexibilidade, responsabilidade, trabalho colaborativo (BELLONI, 2008; RAMAL, 2002). Todas essas questões acima elencadas não serão discutidas neste material, mas elas são de fundamental importância para refletirmos sobre o ensino de Geografia na sociedade atual, pois não poderemos ignorar tais mudanças e nem as pedagógicas que o nosso tempo requer. Sen (2005, p.9) nos dá subsídios para repensar o papel da escola e do ensino de Geografia ocorridos na sociedade. Será que o ensino de geografia vai conseguir sobreviver – ou talvez até se fortalecer – com essas mudanças no sistema escolar? Acreditamos que a resposta para essa questão [...] não se encontra completamente determinada, isto é, ela está “em-sefazendo” e dependerá muito de cada realidade nacional específica. Fundamentalmente será concretizada pelas nossas ações – como geógrafos e professores e como cidadãos – e também pelo processo econômico, cultural e político de cada sociedade [...].
O questionamento de Amartya Sen (2005) é muito oportuno, sobretudo porque ciente das transformações ocorridas no século XXI tem a compreensão de que a escola enquanto uma instituição social pertence ao todo maior que é a própria sociedade. Nesse sentido, todas as questões econômicas, culturais e políticas permeiam e estão intrinsecamente ligadas. É oportuno, também, levar em consideração que esse sistema escolar representado pelo diretor, o pedagogo, o psicólogo, o aluno e a comunidade como um todo, deve se fortalecer diante dos
46 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
desafios existentes. O sistema escolar deve estar renovado e preparado para as exigências e desafios do século XXI que se propagam agora em escala global e local, tendo a compreensão do espaço e tempo, assim como da expansão dos direitos humanos e da necessidade do educando aprender a lidar com o diferente e também com as questões ambientais. Esses e outros temas passam a ser identificados como pertencentes à Geografia e tenderão a ser cruciais no Ensino Fundamental e Médio, porque mais do que conhecer esses espaços em que vivemos, é preciso refletir sobre os problemas urbanos, étnicos, culturais, no intuito de estabelecer relações entre a sociedade e a natureza. Como docentes comprometidos não podemos ignorar essas mudanças. Elas devem envolver a interdisciplinaridade e transdisciplinaridade, promovendo a superação dos conceitos da Geografia Tradicional da primeira metade do século XX. No âmbito de cada ciência e também da geografia, apesar de toda a discussão sobre a interdisciplinaridade, ainda se realiza um trabalho compartimentado e isolado com pouca interlocução entre os responsáveis pelos vários ramos do conhecimento (PONTUSCHKA; PAGANELLI; CACETE, 2007, p.144).
Em relação aos pressupostos acima elencados pelos autores, compreendemos que a interdisciplinaridade, apesar de ser proclamada, ainda não se efetiva no ensino de Geografia, tornando-a uma disciplina estanque. Para que essa ocorra de fato, é preciso uma maior aproximação com a realidade social e o espaço geográfico considerando os temas de interesse e necessidades. Pensar e agir interdisciplinarmente não são tarefas fáceis, pois é preciso passar de um trabalho que se realiza individualmente no interior de uma escola para assumir uma nova postura de trabalho coletivo, o que, em muitas vezes, faz emergir diferenças e contradições nesse espaço social. O pensamento interdisciplinar não está alicerçado no fragmentado ou o desconectado, mas na tentativa de unir esses fragmentos, diminuindo o isolamento tão característico das
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
47
especializações, promovendo o intercâmbio entre professores e alunos como idealizadores do mesmo projeto (PONTUSCHKA; PAGANELLI; CACETE, 2007). Considerando que uma prática interdisciplinar requer reflexões e trabalho coletivo, de que forma essa ação se concretiza na escola? Faremos uma síntese de algumas atitudes que promovem essa nova postura no corpo escolar baseadas nas autoras Pontuschka, Paganelli, Cacete (2007). • Nas reuniões de planejamento, o professor explicita os objetivos e conteúdos escolares a partir da sua área de conhecimento, a m de promover um diálogo entre os diferentes professores de diferentes áreas. • Os momentos para o planejamento devem ser momentos de reexão, de diálogo e fortale cimento das relações interpessoais. • O tema gerador deve ser escolhido com base nas relações dos homens com o mundo. Uma prática interdisciplinar implica que nas reuniões pedagógicas e de planejamento os professores se coloquem à disposição de outros no sentido da promoção do diálogo, privilegiando o fortalecimento das relações interpessoais que são de extrema importância para o fortalecimento de novos espaços de saberes. O tema gerador pode ser trabalhado na geografia com a finalidade de contribuir para que os alunos superem o senso comum para chegar a um conhecimento mais elaborado e científico acerca da realidade que os circunda. Esses temas surgem após o estudo da realidade, e o próprio conceito de aula vai ganhando novos contornos no sentido de que ela não acontece mais apenas dentro de quatro paredes, mas pode ser desenvolvida em outros espaços físicos e com a participação de outras pessoas, seja na visita à favela, a museus, parques e diversos espaços existentes.
48 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
SUGESTÃO DE TEMAS GERADORES: TEMA GERADOR “A ocupação irregular nos morros brasileiros” QUESTÃO GERADORA: De que forma a ocupação irregular reete na vida dos moradores? TEMA GERADOR “A violência nas cidades brasileiras” QUESTÃO GERADORA: A violência pertence apenas às grandes cidades ou estão em todo lugar? TEMA GERADOR “O trânsito nas grandes cidades” QUESTÃO GERADORA: Como conciliar espaços democráticos entre motoristas e pedestres? Fonte: (PONTUSCHKA; PAGANELLI; CACETE, 2007, pp.145-146).
A escolha deve ser por temas geradores comuns à sociedade do século XXI, que devem ser tratados de forma interdisciplinar uma vez que permeiam a sociedade como um todo e não podem ser analisados de forma simplificada e isolada. Gasparin (2003) na sua obra Uma Didática para a Pedagogia Histórico-Crítica traz uma importante contribuição que é a implementação da prática da Pedagogia Histórico-Crítica proposta por Saviani em seu livro Escola e Democracia. Dessa obra resultam os cinco passos nos quais se tenta explicitar um novo processo dialético da aprendizagem: Prática Social Inicial, Problematização, Instrumentalização, Catarse e Prática Social Final. Não comentaremos aqui esses cinco passos, pois você já os estudou no primeiro ano do seu curso de Pedagogia. O que nos interessa aqui é a contribuição do autor ao tratar da Geografia propondo um projeto de trabalho docente e discente na perspectiva histórico-crítica. A obra de Gasparin nos dá uma visão de interdisciplinaridade, uma vez que compreende várias dimensões possíveis de serem encontradas no conteúdo a ser trabalhado, tais como: afetiva,
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
49
emocional, religiosa, social, filosófica, econômica, política entre outras. Ao trabalhar os temas geradores é preciso levar em conta essas dimensões.
Livro: Uma Didática para a Pedagogia Histórico-Crítica. ANEXO 6 – Plano de Unidade – Geograa: Relevo de Maringá. Autor : João Luiz Gasparin Editora: Autores associados
Não resta dúvida de que uma Geografia do século XXI deve levar em conta os problemas da sociedade que não pertencem mais a um contexto local, mas à escala global; e a necessidade de professores e educandos trabalharem com temas que tendem a ser cruciais, tais como: conhecer o espaço em que vivemos, analisar as relações entre sociedade e natureza, refletir sobre os problemas urbanos, ambientais, étnicos etc.
CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro(a) aluno(a), chegamos ao fim de nossa primeira unidade e espero que este contato inicial com a Geografia escolar tenha lhe agradado. Fizemos um passeio pela história e reconhecemos que a Geografia é uma ciência que merece todo o reconhecimento pela contribuição dada ao conhecimento acumulado pela humanidade Depois vimos que ela está presente no Brasil há mais de 100 anos. Essa Geografia ensinada em nossas escolas servia para moldar uma nacionalidade, ou seja, após a Independência política do Brasil (1822) o foco era formar uma identidade de fato brasileira. Convém lembrar, que as aulas eram expositivas, privilegiando a memorização de fatos e dados, assim como os conteúdos eram estruturados por “gavetinhas”, de forma linear e estanque.
50 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
Contudo, trilhando seus próprios caminhos ou se unindo à História em alguns momentos nos chamados Estudos Sociais, a Geografia dita tradicional mostrou-se incapaz de responder aos anseios da sociedade vigente, trazendo mudanças em seu bojo e repercutindo diretamente nos conteúdos, bem como nos métodos de ensino. Assim, nosso intuito foi de clarificar, a princípio, a sua tarefa de construir uma educação crítica, sendo agente transformador da sociedade, bem como de ajudar seus alunos a desvendaram a realidade social do mundo que os circundam para nele agir em de forma consciente.
ATIVIDADE DE AUTOESTUDO 1. Procure pesquisar o conceito dado a Geograa da atualidade para estabelecer diferenças e semelhanças com a Geograa tradicional explicitada nesta unidade. 2. Compare o currículo de Geograa dos PCNs com o proposto pelo município em que você vive, tomando como base de comparação o conjunto de conhecimentos referentes a conceitos e procedimentos relacionados à Geograa elencados nesta primeira unidade. 3. Procure reetir sobre como podemos ensinar Geograa às crianças de forma sig nicativa. Registre sua reexão. Tudo o que precisa para responder se encontra nesta unidade I. 4. A partir do planejamento proposto por Gasparin em seu anexo 6 - Geograa: Relevo de Ma ringá – elabore você também um planejamento com um tema de Geograa. Lembre-se de especicar a série que se destina tal planejamento.
Uma importante leitura se faz necessária quando queremos compreender como era percebida a Geografia dita tradicional que perpetuou durante séculos em nosso país. É a carta de Pero Vaz de Caminha – o escrivão da frota de Cabral – dando conta do “achamento” do Brasil. A célebre “Carta do Achamento do Brasil” foi escrita em Porto Seguro, entre 26 de abril e 2 de maio de 1500. O escrivão só interrompeu o trabalho no dia 29, quando ajudou o capitão-mor a reorganizar os suprimentos da frota. Enquanto o restante da armada seguiu para a Índia, o navio de Gaspar de Lemos foi despachado por Cabral para Lisboa, ao fim da estadia no Brasil, em 2 de maio. Por meio METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
51
dele, a carta chegou ao seu destinatário. Das mãos de dom Manuel I, passou à secretaria de Estado como documento secreto, pois se queria evitar que chegasse aos espanhóis a notícia do descobrimento. Há quem defenda que esta carta é o primeiro registro geográfico das terras brasileiras, tal a riqueza de detalhes descritos pelo escrivão. Algumas editoras brasileiras se prestaram a editar tal carta com comentários, uma delas foi a Editora Moderna.
A carta de Pero Vaz de Caminha Coleção Travessias Autor : Douglas Tufano Número de páginas: 64 ISBN: 8516023141 Sobre a obra A Carta de Pero Vaz de Caminha é considerada a “certidão de nascimento” do Brasil. Embora se saiba, atualmente, que Pedro Álvares Cabral não foi o primeiro navegador a chegar à costa brasileira, seu desembarque converteu-se numa espécie de cerimônia de posse ocial da terra em nome de Portugal. Dentre os três textos que conhecemos sobre o “achamento” da terra brasileira, a carta de Caminha é, sem dúvida, o mais vivo e interessante. É o único que se dedica a analisar, com atenção, o comportamento dos índios, e a simpatia inegável que Caminha revela pelos primeiros habitantes de nossa terra permite-nos vê-lo como um exemplo do humanista da época, intelectualmente curioso, tolerante com os costumes diferentes dos seus e honesto em suas armações, não hesitando em revelar as dúvidas que a observação dos fatos, algumas vezes, provoca. Esta publicação tem o objetivo de pôr ao alcance do leitor comum uma versão em português moderno da carta de Caminha, acompanhada por comentários e ilustrações que ajudam a esclarecer o seu conteúdo e o contexto histórico em que foi escrita. Fonte:
Caso você não tenha acesso a este material, também poderá realizar uma pesquisa na internet. Boa leitura e após fazê-la poderá ainda registrar sua impressão. Este é um bom exercício.
52 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
UNIDADE II
A ESTRUTURA CONCEITUAL PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA: O PAPEL DA ESCOLA, DO PROFESSOR E DO ALUNO Professora Me. Adélia Cristina Tortoreli Professora Me. Priscilla Campiolo Manesco Paixão
Objetivos de Aprendizagem • Analisar a estrutura conceitual básica para o ensino de Geograa como critério norteador das situações signicativas de aprendizagem. • Analisar os PCNs com o objetivo de explicar e compreender as relações existentes entre a sociedade e a natureza. • Identicar o perl do professor como mediador para o ensino de Geograa. • Analisar o papel da Geograa no século XXI. • Identicar o papel do aluno como sujeito histórico e social.
Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
• A estrutura conceitual básica para o ensino de Geograa: os níveis de apren dizagem • Diretrizes metodológicas para o ensino de Geograa: os PCNs • O papel da escola no século XXI para o ensino de Geograa • O perl do professor para o ensino de Geograa nos anos iniciais do Ensino Fundamental • O papel do aluno no ensino de Geograa
INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), nesta segunda unidade procuraremos refletir sobre a estruturação conceitual básica para o ensino de Geografia nos anos iniciais do Ensino Fundamental, bem como os níveis de aprendizagem, isto porque acreditamos que a faixa etária e o nível cognitivo de nosso aluno interfere diretamente em seu processo de aprendizagem. Isso é o mesmo que dizer que ele somente transformará informação em conhecimento se tiver uma maturidade cognitiva, portanto, é papel da escola e mais precisamente do professor proporcionar condições para que esse aluno alcance os mais elevados níveis de conhecimento. Verificaremos, ainda, as diretrizes metodológicas para o ensino de Geografia a partir dos Parâmetros Curriculares Nacionais, os chamados PCNs, documento elaborado pelo Ministério da Educação em 1997 sob orientação da nossa última LDB 9394/96. Para finalizarmos, buscaremos o entendimento do momento que ora vivenciamos, correlacionando-o a responsabilidade da Escola neste século XXI e ao papel do professor e do aluno.
A ESTRUTURA CONCEITUAL BÁSICA PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA: OS NÍVEIS DE APRENDIZAGEM Ao abordar a estrutura conceitual básica para o ensino de Geografia e os níveis de aprendizagem nos anos iniciais do Ensino Fundamental, interessa-nos discutir essas condições na perspectiva do professor mediador como aquele que auxilia o processo de ensino-aprendizagem, fazendo uso das experiências e conhecimentos que os alunos já possuem e trazem para a sala de aula. Antes de abordamos o perfil do professor no ensino de Geografia, faz-se necessário esclarecer que a vida do homem se passa dentro de um espaço natural que possui características próprias
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
55
e que é transformado através do tempo por agentes naturais. Por outro lado, é no encontro dos homens, por meio do trabalho, com esse espaço natural que se define o espaço sociocultural de sua existência, que surge em decorrência das transformações e criações que esse mesmo homem, por meio das suas relações sociais humanas, promove nesse meio. De posse da afirmação acima é possível selecionar uma estruturação conceitual básica que forma a estrutura do campo de conhecimento que é, por sua vez, gerador de outros conhecimentos. A estrutura desse campo de conhecimentos se dá sobre conceitos básicos que podem ser expressos da seguinte forma: as relações sociais humanas como eixo central e nas suas extremidades a natureza, o espaço, a cultura e o tempo. É preciso considerar ainda que os conceitos básicos são instrumentos de trabalho para a análise e compreensão da realidade na qual o homem está inserido e que esses conceitos possuem uma interligação. [...] Cada um dos conceitos, por si, constitui um eixo conceitual, que se amplia e desdobra em outros conceitos a ele relacionados, à medida que o processo de compreensão dos mesmos caminha. Todos mantêm, ao longo de seus desdobramentos, relações entre si. A esses conceitos inter-relacionados denominados corpo conceitual (PENTEADO, 1994, p. 36).
Apresentaremos a expressão gráfica proposta por Penteado (1994) desse corpo conceitual como eixos que se ampliam e se inter-relacionam. Vejamos:
56 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
Fonte: (PENTEADO, 1994, p.36).
A expressão gráfica acima nos permite uma aproximação das condições de aprendizagem e os níveis de ensino, como critério norteador de situações significativas de aprendizagem, levando em consideração um trabalho escolar quese desenvolverá em três níveis diferentes de realização, de acordo com Penteado (1994): 1. Nível do desenvolvimento de conceitos especícos da série : explorará em todas as séries
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
57
as experiências que os alunos já têm ao chegar à escola, ou seja, o conhecimento prévio com relação aos conceitos especícos com que vai se trabalhar e privilegiará, também, o trabalho com alguns conceitos especícos de cada série. 2. Nível de ampliação dos conceitos: os conceitos já trabalhados especicamente são reto mados e ampliados nas séries seguintes. 3. Nível exploratório de formação de conceitos: nesse nível são proporcionadas experiências em todas as séries possibilitando aos alunos condições para a formação de conceitos a serem trabalhados nas séries subsequentes. Com relação aos níveis de ensino apresentados, observamos que o ponto de partida sempre é o aluno e suas experiências vividas fora do âmbito escolar. Essas experiências seriam as condições externas de aprendizagem. Gasparin (2005) considera de extrema importância a valorização dos saberes que os alunos trazem da sua prática social inicial ou conhecimentos cotidianos. A denominação conhecimentos cotidianos é pertinente em substituição ao senso comum, por acreditarmos que senso comum designaria conhecimentos de todos, o que nem sempre é uma verdade, e conhecimentos cotidianos estão ligados às experiências diárias das pessoas, no nosso caso, dos alunos. Sendo assim, a escola e a ação do professor são os principais agentes que promoverão novos espaços de saber para que ocorra gradualmente a mudança dos conceitos cotidianos para os conceitos científicos. Ainda com relação aos três níveis abordados acima, esses serão distribuídos nos cinco anos iniciais do Ensino Fundamental. A tabela a seguir, explicitada em Penteado (1994, p.43) e adaptada por nós, permite-nos identificar a distribuição dos conceitos de: natureza, cultura, espaço e tempo, esses que são os eixos
58 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
M O C . S O T O H P : e t n o F
centrais da programação do primeiro ao quinto ano, assim como os três níveis (exploratório, específico de cada série, ampliação). NÍVEL / ANOS
1° ano
2° ano
3° ano
4° ano
5° ano
Exploratório Relações sociais Relações sociais Relações sociais Relações sociais Relações sociais - Espaço
- Espaço
- Tempo
- Tempo
Específico da - Natureza série
- Natureza
- Tempo
- Espaço
- Cultura
Ampliação
- Espaço
- Tempo
- Tempo - Natureza
- Natureza
- Natureza
- Cultura
- Cultura
- Cultura - Espaço
Fonte: Tabela adaptada (PENTEADO, 1994, p.43).
No nível exploratório são tratados os conceitos que os alunos já trazem de suas experiências de vida ou seus saberes cotidianos. O conceito de tempo, por exemplo, não é tratado apenas no nível exploratório justamente pela sua complexidade na dimensão sócio-histórico-cultural, pois tal conceito desempenha uma relação entre fatos e não simplesmente de um fato em si. Advém, daí, a necessidade de se trabalhar no primeiro, segundo e terceiro anos e depois retomá-lo como item específico nos anos seguintes. O conceito de relações sociais permanece em todos os cinco anos, levando em consideração a vivência entre os próprios alunos na escola e a experiência que esses já trazem de suas relações sociais anteriores em diferentes tempos e espaços. Essas relações sociais entrelaçam-se com os conceitos de cultura, nesse sentido a complexidade desses conceitos se dá por conta das “relações de relações”. Sendo assim, eles se entrelaçam na maioria dos primeiros anos do Ensino Fundamental.
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
59
No terceiro nível, de ampliação dos conhecimentos de menor complexidade, natureza, cultura e espaço são retomados nos anos subsequentes, o que permite que uma maior compreensão seja trabalhada. É importante ressaltar, caro(a) aluno (a), que mais do que uma simples disposição esquemática dos conceitos e eixos geradores nos cincos primeiros anos do Ensino Fundamental, como explicitado na tabela, o que deve ser levado em consideração e o que se propõe é uma nova metodologia de trabalho com a Geografia. Nas palavras de Penteado (1995, p. 44): Nessa perspectiva, os “fatos” ou “conteúdos” selecionados constituem a matéria-prima do trabalho de ensino-aprendizagem; os conceitos são os instrumentos de trabalho a ser feito com estes fatos; o conhecimento do fato numa perspectiva mais ampla do aluno, do agente, é o resultado esperado.
Essa nova metodologia deve ter como ponto de partida o aluno e suas experiências vividas anteriormente, ou seja, a realidade concreta que o circunda ou as suas condições externas de aprendizagem. Outro fator que deve ser levado em consideração é de que nessa nova metodologia o processo de ensino-aprendizagem não encerra o conteúdo na sua memorização, dificultando dessa forma a ultrapassagem do conhecimento cotidiano para o conhecimento científico. Devido às constantes revoluções nas áreas da comunicação, sabemos que a escola não é o único lugar de acesso à informação e ao conhecimento, no entanto, ela tem papel fundamental para a transmissão dos conhecimentos acumulados M O C . pela humanidade e deverá ser transmitida às S O T O gerações que a sucedem com o critério e rigor H P : e científico. t n o F
Nesse sentido, tanto a escola como o professor tem papel fundamental, pois cabe a eles a função de
60 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
transformar a informação ou o conhecimento que o aluno traz da sua experiência cotidiana em conhecimento científico, a fim de que esse aluno possa alterar a sua prática com um novo conhecimento agora sistematizado e reelaborado à luz dos saberes científicos. Assim, os conceitos apresentados, bem como a sua disposição em eixos nos anos iniciais de acordo com a tabela apresentada e comentada, estão em consonância com as diretrizes para o ensino da Geografia a partir das propostas dos PCNs.
DIRETRIZES METODOLÓGICAS PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA: OS PCNs De acordo com as diretrizes metodológicas dos Parâmetros Curriculares Nacionais, a escolha dos conteúdos do ensino de Geografia deve levar em consideração a realidade do aluno de forma mais ampla, possibilitando que esses interfiram nessa realidade de forma mais consciente. No entanto, para que esses alunos tenham essa visão ampliada é necessário que eles adquiram conhecimentos, dominem categorias e conceitos (BRASIL, PCNs, 2000, p.108). A síntese elencada acima nos dá a compreensão do que já anunciamos anteriormente, levando em consideração que o conteúdo de Geografia deva ser parte integrante da realidade do aluno, devemos ter a compreensão de que esse é o primeiro passo para uma mudança conceitual e uma visão mais ampla dessa realidade. O segundo passo se daria a partir dos conhecimentos que esse aluno vai adquirir no espaço escolar com o auxílio do professor. O trabalho escolar permite levar o aluno não apenas à compreensão das relações socioculturais das quais historicamente ele pertence, mas que ele se perceba enquanto sujeito histórico no espaço geográfico no qual está inserido. Nesse sentido, a sua inserção histórica e cultural individual faz parte de uma integração de outros lugares e espaços e outras culturas.
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
61
Fonte: . Acesso em: 25 jun. 2011.
Castellar e Vilhena (2010, p.2) nos auxiliam na compreensão de uma visão ampla da realidade: “Diante de fatos e relações, perguntamos: qual é o papel do ensino nas séries do fundamental [...]? Se for para contribuir para a formação do aluno e ajudá-lo a entender o mundo em que vive, estabelecer relações entre a sociedade e o meio físico [...]”. Não podemos duvidar que, para responder a essa pergunta, é importante compreender que os conteúdos da Geografia privilegia uma formação com base no reconhecimento do quê ensinamos e para quê ensinamos, em outras palavras, significa que os princípios epistemológicos da Geografia têm uma função social ao estabelecer relações entre a sociedade e o meio físico ao qual o educando pertence. Assim, ao escolher os conteúdos e abordá-los de forma pedagógica, entendemos que esses não devem ser aplicados de maneira mecânica ou decorativa, mas que eles estejam em consonância com a realidade que circunda os alunos. O objetivo da Geografia é explicar e compreender as relações existentes entre a sociedade e a natureza. Trata-se, portanto, de uma abordagem relacional, onde se pretende trabalhar com diferentes noções espaciais e temporais, assim como os fenômenos sociais, culturais e
62 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
naturais de cada paisagem, a fim de permitir uma compreensão processual e dinâmica de sua constituição (BRASIL, PCN, 2000). Uma abordagem relacional significa, portanto, não isolar os fenômenos em si mesmos como se esses pudessem ser explicados e compreendidos na sua individualidade ou apenas nas suas características e particularidades. Uma abordagem processual exige um pensamento complexo. Pensar complexamente não é tarefa fácil, principalmente porque estamos arraigados as nossas tradições, crenças e valores que constituíram o nosso ser e a nossa visão de mundo e de saber fragmentados. Entretanto, se nos propussermos a uma mudança, poderemos compreender o mundo de outra forma, ou seja, “recontextualizar o objeto, o elemento no contexto, isso implica em dizer que é preciso vê-lo existindo no sistema e interagindo com outros sistemas ou interligações. Trata-se, portanto, de um exercício de amplidão de foco” (VASCONCELLOS, 2002, p.112). Dessa forma, uma abordagem relacional não abarca apenas o contexto presente no qual o aluno está inserido, assim como analisar cada fenômeno na sua individualidade não permitirá uma análise contextualizada do espaço geográfico; é preciso, portanto, levar o aluno a compreensão de que os espaços geográficos representam as heranças das sucessivas relações e mudanças ocorridas na própria natureza e por intervenção do homem no decorrer da sua história entre a sociedade e a natureza. Sendo assim, a análise dos espaços geográficos deve estar pautadas na dinâmica de buscar explicações para o que em determinado espaço geográfico permaneceu ou foi transformado, indo além da mera descrição de fatos observáveis. A compreensão dessa dinâmica abarca a possibilidade de diálogos entre o presente e o passado, que podem ser compreendidos de posse de uma análise do processo de produção e organização do espaço.
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
63
Vamos para um exemplo prático desse diálogo entre o passado e o presente na transformação do espaço geográfico? As imagens abaixo nos permitem uma reflexão acerca das transformações do espaço geográfico que foi construído e alterado pelo homem. A figura à esquerda apresenta algumas dessas transformações realizadas pelo homem, mas ainda é possível identificar os aspectos físicos ou naturais nessa paisagem, tais como: árvores, relevos e poucos edifícios. A figura à direita apresenta a mesma avenida completamente urbanizada com arranha-céus que dominam a paisagem. Essa mudança gradual ao longo de 88 anos se deu por um conjunto de fatores, mas com a Primeira Revolução Industrial essa paisagem foi sendo alterada para atender às necessidades dos homens. Essas transformações nem sempre respeitam a natureza e, muitas vezes, tem provocado uso irracional dos espaços, comprometendo não só a vida no presente, mas para as futuras gerações.
Imagem: Av.Paulista, em 1920, São Paulo
Imagem: Av. Paulista, em 2008, São Paulo
Disponível em: .
64 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
Dando continuidade às propostas dos PCNs para o ensino de Geografia, não podemos deixar de mencionar a importância de uma vida participativa em sociedade, e em especial à formação do cidadão nessa sociedade. Não sendo campo específico somente da História, também a Geografia se ocupa do compromisso de uma formação para a cidadania. Desde as primeiras etapas da escolaridade, o ensino de Geografia pode e deve ter como objetivo mostrar ao aluno que cidadania é também o sentimento de pertencer a uma realidade na qual as relações entre a sociedade e a natureza formam um todo integrado – constantemente em transformação – do qual ele faz parte e, portanto, precisa conhecer e sentir-se como membro participante, afetivamente ligado, responsável e comprometido historicamente (BRASIL, PCN, 2000, p. 121).
Nesse sentido, enfatizamos que os conteúdos de Geografia devem contemplar temáticas de relevância social que levem o aluno a uma formação consciente para o desempenho de suas funções de cidadania. E o que significa desempenhar as funções de cidadania? M O C . S O T O H P : e t n o F
Significa que o aluno seja capaz enquanto cidadão de reconhecer as características culturais, sociais e naturais não só do lugar onde se vive, mas de outros lugares, a fim de poder explicar, comparar e compreender as múltiplas relações em diferentes sociedades e épocas na construção do espaço geográfico (BRASIL, PCN, 2000, p.123). Desta forma, pensar sobre as múltiplas relações entre sociedade e natureza, estabelecendo uma relação com a cidadania, implica em um comprometimento histórico e em uma aquisição de
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
65
conhecimentos que levem o aluno à construção de uma consciência de limites e possibilidades, não apenas a partir de uma ação individual, mas sobretudo coletiva com relação não apenas ao seu espaço, e a contextos mais amplos. Nas palavras de Damiani (2004, p. 50), “compreendo a cidadania envolvendo, claramente, a questão da sociedade civil e suas formas de apropriação do mundo produzido por ela, para além das formas de representação política, que se desenvolveram [...]”. A noção de cidadania seria definida quando o homem vivesse o seu espaço social em um reconhecimento de sua produção e, ao mesmo tempo, se reconhecendo nela. O contrário também existe, na definição de infracidadão que é o homem que não se reconhece na sua obra e vivencia de forma alienada as suas relações humanas, reduzindo o seu espaço vivido a um simples espaço geométrico. Essa restrição de vivência no espaço atinge os mais pobres de forma mais acentuada, mas a qualidade desses espaços são vivenciados por todos que dele fazem parte, restringindo os espaços de vida, das relações sociais e afetivas. M O C . S O T O H P : e t n o F
Para finalizar e consolidar a importância da cidadania no espaço geográfico é preciso, enquanto futuros educadores, refletir que quando se retira o direito ao espaço fica comprometida a vivência material das pessoas, mas sobretudo, as suas condições de reuniões sociais ficam reduzidas. Em síntese, é fundamental relacionar os estudos dos espaços geográficos ao exercício da cidadania.
66 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
O ESPAÇO DO CIDADÃO de Milton Santos Autor : Milton Santos ISBN: 852130501X Ano: 1987 Edição: 1ª Editora: Nobel Milton Santos foi professor da Universidade Federal da Bahia, da USP e de Universidades na Europa, na África, na América do Sul e do Norte, pelas quais recebeu o título de doutor honoris causa. Foi consultor da ONU e da OIT, de cujo Comitê para o Estudo da Urbanização e do Emprego foi membro diretor. A atividade econômica e a herança social distribuem os homens desigualmente no espaço fazendo com que noções como rede urbana ou sistema de cidades não tenham validade para a maioria das pessoas. O acesso efetivo delas aos bens e serviços depende de seu lugar socioeconômico e também do lugar geográco, tema que Milton Santos explorou anteriormente em O Espaço Dividido. Aprofundando a discussão, o autor se propõe aqui a tratar a questão da cidadania pelo ângulo geográco, mostrando como a mobilidade ou o imobilismo tornam-se assim categorias de análise. Com a pretensão de contribuir para o debate da redemocratização brasileira, as análises são feitas a partir da realidade do país, mas tentam abarcar também a de outros países subdesenvolvidos. A reedição desse volume, agora publicado pela Edusp, resgata mais uma importante obra de um dos mais conhecidos geógrafos brasileiros. Fonte: . ao>.
METODOLOGIA METODOL OGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
67
O PAPEL DA ESCOLA NO SÉCULO XXI PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA Da minha aldeia vejo quanta terra se pode ver do Universo... Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer Porque eu sou do tamanho do que vejo E não do tamanho da minha altura... Fernando Pessoa
O poema de Fernando Pessoa nos dá o tom da discussão. Vivemos em uma época de profundas pr ofundas transformações e de avanços científico-tecnológicos, com incomensurável capacidade de produzir, armazenar e distribuir informações em tempos cada vez menores e em velocidade jamais vista anteriormente; anteriormente; e essas mudanças nos fazem refletir sobre o papel da escola e sua função social. O advento das transformações teve início início com mudanças radicais no final do século XX X X e início do século XXI, alterando as relações no n o campo social, econômico e político po lítico;; com repercussões na cultura e nas ciências. O final do século XX presenciou pr esenciou o fim da Guerra Guerr a Fria, a derrocada do socialismo soviético, assim como a queda do muro de Berlim. Para Toffler (1985), velhos modos de pensar, antigos dogmas e ideologias, por mais úteis e confortáveis que tenham sido no passado, não se adaptam mais aos novos fatos. O mundo está emergindo do choque de novos valores e tecnologias, novos estilos de vida, novos modos de comunicação, novas relações geopolíticas, exigindo novas formas de conhecimentos. Outras mudanças podem ser observadas na estrutura da família nuclear, no ganho de poder da juventude na sociedade contemporânea, na modificação modificaç ão dos valores morais e éticos, assim como no impacto dos avanços tecnológicos e meios de comunicação e informação que estão cada vez mais acelerados. Durante muito tempo, sobretudo, nas décadas de 1970 e 1980 vivemos sob a iminência de uma guerra nuclear que ameaçava a história da humanidade no planeta. Hoje não vivemos mais
68 METODOL METODOLOGIA OGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação E ducação a Distância
sob essa ameaça, mas ainda presenciamos uma nova forma de extinção com a aceleração, ocupação humana e produção industrial, assim como temos observado a solidariedade, a ética, os valores morais cedendo espaço para a competitividade e o individualismo. Diante desse cenário de transformações, o que podemos esperar da educação? Qual seria o papel da escola para o ensino de Geografia? Para ilustrar a gravidade da situação atual, leia a charge e procure analisá-la com um olhar crítico diante do que vê.
Fonte: . Acesso em: 28 jun. 2011. 2011.
METODOLOGIA METODOL OGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
69
Hoje estamos diante da globalização, do ciberespaço, do fim das verdades absolutas e isso, muitas vezes, nos leva a questionar essa instituição social chamada escola, que parece não atender mais as nossas expectativas enquanto partícipes de uma sociedade altamente competitiva, potencializadora de exclusão social com regras e valores nem sempre definidos para a maioria. Parece que ela parou no tempo, ou melhor dizendo, anda em descompasso com o nosso tempo, sendo considerada por muitos, ainda, como mera transmissora de conteúdos estáticos e desconectada de uma finalidade social dos conteúdos escolares. Porém, se entendermos que a escola nunca é neutra, mas comprometida ideológica e politicamente, isso vale dizer que a cada momento histórico ela procura responder as necessidades da sociedade à qual está inserida. Sendo assim, a educação de nossas crianças nos anos iniciais necessita ter uma função social para o século XXI. Por isso mesmo, presos a nossa aldeia, devemos ter o distanciamento necessário para ver a amplidão do mundo e a partir daí formar cidadãos não apenas para uma cidade ou um país, mas educarmos para um mundo com todas as suas possibilidades e contradições. Segundo as palavras do professor e filósofo f ilósofo espanhol Fernando Savater (2002, p.1) p.1),, A escola deve reforçar as qualidades sem as quais ninguém consegue sobreviver no mundo contemporâneo, contemporâne o, [...] [...] mas creio que a educação é a que mais nos preocupa, pois falar sobre ela significa refletir sobre o destino do homem, nosso lugar na natureza e a relação com os nossos semelhantes [...].
A escola deve ser, então, um espaço de reflexão que nos leve a perceber que cada fenômeno, assim como a nossa relação r elação com os nossos n ossos semelhantes, não está separado, mas articulado. Sendo assim, o elemento-chave da escola, bem como c omo da sobrevivência do homem contemporâneo, está na compreensão e na relação do homem com a natureza. Nesse sentido, o papel da escola para o ensino de Geografia, Geogr afia, nos anos iniciais, deve ser visto visto como instrumento de conscientização. Em outras palavras, significa dizer que não basta que o aluno observe, analise, interprete como o homem produz o espaço geográfico, mas é preciso perceber que esses espaços são desiguais.
70 METODOL METODOLOGIA OGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação E ducação a Distância
Assim, a educação geográfica contribui para a compreensão do mundo e para a formação do conceito de identidade, que pode ser expresso de diferentes maneiras, de acordo com Castellar e Villhena (2010, p.15): • Na consciência de que somos sujeitos da história. • Nas relações com lugares vividos (incluindo as relações de produção). • Nos costumes que resgatam a nossa memória social. • Na identicação e comparação entre valores e períodos que explicam a nossa identidade cultural. • Na compreensão perceptiva da paisagem que ganha signicados, à medida que, ao obser vá-la, nota-se a vivência dos indivíduos. Desta forma, ensinar Geografia significa possibilitar ao aluno raciocinar e levá-lo à compreensão da formação do conceito de identidade e ao estudo do território com seus usos, hábitos, costumes, culturas e etnias em uma dimensão cultural, econômica, ambiental e social. O saber geográfico tem também um caráter político, pois é por meio do trabalho que os homens se apropriam da natureza. Nesse sentido, não é possível ignorar a relação do homem com a natureza, assim como não é possível considerar o homem como um ser abstrato e desconectado da sociedade. “[...] Estes são homens concretos que se relacionam com a natureza, sob determinadas condições sociais” (KOZEL; FILIZOLA, 1996, p.63). São justamente nessas relações sociais que se desenvolvem o trabalho e o processo de transformação da natureza para atender em às necessidades humanas não de forma individual, mas dentro de determinados objetivos que são definidos socialmente com influência significativa daqueles que controlam os meios de produção. Assim, o trabalho é o elementochave que integra as relações do homem com a natureza. Diante das considerações elencadas com relação ao papel da escola no século XXI,
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
71
constatamos que a mesma deve estar comprometida ideológica e politicamente, pois essa tem como finalidade responder às necessidades de cada período histórico, levando em consideração os homens que vivem na sociedade e suas formas de produção. Pensar uma educação para a Geografia nessa mesma sociedade significa pensar o homem na sua relação com a natureza e a transformação que o mesmo produz como forma de organizar a sua vida social. Uma educação para a Geografia deve levar em consideração não somente o espaço presente, mas o que queremos deixar para as gerações futuras, considerando que a Terra é, ao menos por hora, o único espaço que abriga a vida humana. Encerramos essa seção com alguns trechos da música “O Sal da Terra”, de autoria de Beto Guedes, que nos leva a refletir sobre o mundo que deixaremos para as próximas gerações. O SAL DA TERRA Anda! Quero te dizer nenhum segredo Falo nesse chão, da nossa casa Vem que tá na hora de arrumar... Tempo! Quero viver mais duzentos anos Quero não ferir meu semelhante Nem por isso quero me ferir Vamos precisar de todo mundo Prá banir do mundo a opressão [...] Terra! És o mais bonito dos planetas
72 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
Tão te maltratando por dinheiro Tu que és a nave nossa irmã Canta! Leva tua vida em harmonia E nos alimenta com seus frutos Tu que és do homem, a maçã... Vamos precisar de todo mundo Um mais um é sempre mais que dois Prá melhor juntar as nossas forças É só repartir melhor o pão Recriar o paraíso agora Para merecer quem vem depois...
Beto Guedes
Caso prefira, também poderá acessar ao link: e assitir ao vídeo. Agora é com você! M O C . S O T O H P : e t n o F
Pense, reflita e expresse sua opinião: a) Como é apresentada a relação homem-natureza nessa música? b) As sociedades modicam a natureza em graus de intensidade de acordo com seus níveis de desenvolvimento e interesses. Sendo assim, o que o autor da letra quis dizer com “tão te maltratando por dinheiro”? c) Que mundo é esse que deixaremos para as gerações futuras?
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
73
d) Segundo a letra da música, como é possível “recriar o paraíso agora”? Isto reverteria a situação atual? Explique.
O PERFIL DO PROFESSOR PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL Na prática educativa interessa-nos a ação docente, ou seja, a didática e a forma como o aluno se apropria do conhecimento. Castellar e Vilhena
Temos observado que os Parâmetros Curriculares Nacionais têm como direcionamento em um dos seus objetivos que a escola e o professor oportunizem para as crianças conhecimentos necessários para: [...] crescerem como cidadãos plenamente reconhecidos e conscientes do seu papel na sociedade (BRASIL, 2000, p.6). Para crescer em como cidadãos conscientes de seu papel na sociedade, faz-se necessário que os alunos compreendam que a cidadania trata-se de uma participação social e política e que, no dia a dia, exerçam seus direitos e deveres assumindo e internalizando atitudes de solidariedade, de cooperação, de negação às injustiças, de respeito e exigindo para si o mesmo respeito. Complementando essa formação inicial, a Geografia, segundo o mesmo documento, deve oferecer instrumentos a fim de que os alunos possam compreender e intervir na realidade social, compreendendo como as diferentes sociedades interagem com a natureza e também com as transformações ocorridas nessa natureza em diferentes lugares e tempos (BRASIL, 2000, p.99). Considerando os objetivos dos Parâmetros Curriculares Nacionais, que perfil deve ter o professor para o ensino de Geografia nos anos iniciais do Ensino Fundamental, a fim de que os alunos possam construir uma formação com base na cidadania, assim como compreender e intervir na realidade que os circunda?
74 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
No nosso entendimento, o perfil do professor para o ensino de Geografia não pode ser aquele que apenas transmite o conhecimento para o aluno como se este fosse um mero depositário, recebendo-o de forma passiva e sem intervenção de forma crítica sobre esse. Por outro lado, acreditamos que o conhecimento sistematizado não ocorre de forma espontânea por parte dos alunos, tendo em vista que na sociedade atual, devido às grandes transformações tecnológicas, a sala de aula tem se tornado pouco atrativa para uma expressiva parcela de alunos em todas as séries. Cabe ao professor adequar o seu conteúdo com a realidade do aluno tanto local quanto global, uma vez que esse e é considerado um nativo digital já nasceu e cresceu com essas tecnologias presentes em sua vida. “[...] Afinal, o professor também é um cidadão que vive no mesmo mundo pleno de mudanças do educando e ele também deve estar a par e participar das inovações tecnológicas [...]” (VESENTINI, 2004, p.30). O professor como partícipe dessa sociedade e das suas transformações tecnológicas que impulsionaram o uso da internet, dos celulares, Ipods, da mídia televisiva e eletrônica por parte dos alunos, está ciente de que esses recebem informações no exato momento em que elas são produzidas, pois essas não trafegam apenas por jornais e livros didáticos, mas estão sendo publicadas, distribuídas e atualizadas em tempo real no ciberespaço. Nesse sentido, é preciso que o aluno esteja inserido na sua realidade local, assim como em outras realidades, outros espaços, outros tempos, e comece a estabelecer relações entre os acontecimentos e os efeitos que esses produzem efeitos em lugares diferentes dos que foram produzidos inicialmente. Nesse momento, caro(a) aluno(a), você deve estar se perguntando: se o aluno recebe a informação no exato momento em que essa é produzida e atualizada, qual seria, então, o papel do professor de Geografia?
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
75
Para responder a pergunta é preciso em primeiro lugar compreender a diferença entre informação e conhecimento, pois são palavras que aparentemente apresentam o mesmo significado e muitas vezes são utilizadas sem a devida diferenciação. INFORMAÇÃO
CONHECIMENTO
Um ou mais fatos conhecidos, pré-organizados, produzidos fora do espaço escolar, completos e acabados e que devem ser assumidos pelos alunos.
Produto de uma interação entre o indivíduo (aluno), a informação que lhe é exterior e que chega trazida pelo professor ou por outras fontes que instiga o aluno a acessar e incorporar significado para essa informação.
O professor que não transforma a informação em conhecimento torna-se o responsável por sua transmissão, tal como o faz um texto, um vídeo, uma emissora de rádio ou outra mídia, e, portanto, pode por ela ser substituído. Em sua aula, o aluno é apenas ouvinte e espectador.
O professor que transforma informação em conhecimento faz de seu aluno um protagonista que descobre como associar informações que já possui, para atribuir significado às informações que recebe.
Fonte: .
Diante do quadro, a informação pode ser obtida por meio de vários suportes de leitura e de comunicação extrassala de aula, mas também dentro dela, quando o professor propõe uma atividade sem um significado intencional para o aprendizado do aluno e este se torna apenas um espectador passivo dessas informações. Essa constatação se dá pelos avanços científico-tecnológicos que facilitam o acesso à informação fora da escola, assim o papel do professor no processo de ensino-aprendizagem vem sendo questionado, pois à primeira vista, parece que ele perdeu a sua função de transmissor e construtor dos conhecimentos e pode ser substituído por computadores e outros recursos midiáticos por meio dos quais o aluno adquire informação. Segundo o professor Gasparin (2003, p. 1), ”[...] Não se dispensam as tecnologias, pelo contrário, exige-se, cada
76 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
vez mais sua presença na escola, mas como meios auxiliares e não como substitutos dos professores”. M O C . S O T O H P : e t n o F
Desta maneira, o professor de Geografia deverá ser o mediador entre a informação e o processo de construção do conhecimento, que deixa de ser o senso comum para ascender ao conceito científico, o que ocorre pela prática intencional do professor. Partindo desse princípio o professor nunca será substituído, pois ele será a ponte que possibilitará esse novo conhecimento sistematizado pelo espaço escolar, considerando o processo de ensino-aprendizagem como uma via de mão dupla, incluindo aquele que ensina (o professor), aquele que aprende (o aluno) e as interações que ocorrem entre eles. Se por um lado o professor de Geografia precisa ser a ponte de interação entre o conhecimento sistematizado e o conhecimento cotidiano que o aluno traz consigo antes de adentrar ao espaço escolar, ao mesmo tempo esse professor deve refletir sobre o real objetivo da Geografia nos anos iniciais do Ensino Fundamental, contribuindo para a construção da cidadania e de uma sociedade mais justa. Nesse sentido, o aluno precisa estar em contato com os acontecimentos a sua volta na sociedade na qual está inserido, a fim de que ele vá aos poucos construindo a sua noção de cidadania e de leitor crítico desses acontecimentos. Sendo assim, a tecnologia pode contribuir como auxílio ao professor na construção dessa cidadania e leitura crítica, indo além das imagens que são transmitidas pela televisão como forma de captar audiência ou pela internet, ultrapassando a mera descrição dos fatos ou dos acontecimentos sem que esses explorem toda a complexidade de fenômenos e suas consequências políticas, econômicas e sociais.
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
77
Isto porque acreditamos que o senso crítico polariza a construção do conhecimento geográfico significativo e se expressa pelo discernimento que o aluno exerce frente aos fenômenos e às informações, raciocinando e questionando sobre o que observa, analisa e compreende. O senso crítico que é construído a partir das observações e análises do aluno para a construção do conhecimento geográfico deve ser incentivado pelo professor desde os primeiros anos, fazendo com que o aluno, pouco a pouco, vá se envolvendo com determinado conteúdo trazendo o seu conhecimento já elaborado antes da sala de aula. Nesse sentido, a preocupação do estudo da Geografia nos anos iniciais deverá ser o de proporcionar ao aluno a inserção progressiva de forma mais ampla e abrangente da realidade geográfica, possibilitando a construção e a conscientização em relação à natureza e ao meio ambiente, assim como a compreensão da noção de paisagem, de lugar, de território, com base na leitura do espaço geográfico nos seus diversos segmentos: relevo, clima, fauna, flora, vegetação, espaço natural e espaço construído. Do ponto de vista da aprendizagem entendemos que o professor, assim como a escola, é o agente no processo de ensino-aprendizagem e que a construção do conhecimento é resultado de um processo construído e realizado pelo próprio aluno mediado pelo professor. Trata-se, portanto, de um processo relacional em que a dinâmica da sala de aula exigirá do professor um olhar atento para o conhecimento que o aluno traz consigo do seu cotidiano e a apropriação do conhecimento sistematizado e elaborado, a fim de que o aluno saia da situação de ensino-aprendizagem diferente da forma que entrou na escola. Assim, faz-se necessário que o professor tenha clareza dos caminhos que nortearão o processo de ensino e aprendizagem, ou seja, a didática que irá subsidiar e estruturar os conteúdos que possibilitarão uma educação geográfica com base na construção da cidadania e da visão crítica da sociedade. Nosso propósito nessa seção foi de apresentar o perfil do professor de Geografia para os anos
78 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
iniciais, assim como interessou-nos a sua prática docente com a finalidade da apropriação do conhecimento por parte do aluno considerando a experiência que esse traz da sua prática social inicial. Sendo assim, entendemos que é a partir da observação, da análise, da construção da cidadania que levaremos esses alunos a compreenderem a sua realidade, assim como transformá-la.
O PAPEL DO ALUNO NO ENSINO DE GEOGRAFIA Nesta unidade abordamos o papel do professor como sendo o mediador nas condições externas e internas no processo de ensino-aprendizagem. Dando continuidade a essa seção, comentaremos o papel do aluno no ensino de Geografia como sendo um sujeito que chega ao espaço escolar com um conhecimento prévio de mundo, adquirido em outros espaços e vivências extrassala de aula. Isso equivale a dizer que o aluno é um sujeito sociocultural inserido em um determinado tempo e espaço. Conceber esse aluno como um sujeito sociocultural é levar em consideração que os seus conhecimentos são fruto de uma história social e cultural vivida em parceria com sua família, amigos, comunidade entre outras instituições sociais, e perceber que esse sujeito por meio da escola e da mediação do professor atuará em um espaço com vistas a modificá-lo. Essa visão da realidade, contudo, é ainda sincrética de acordo com as palavras de Gasparin (2003, p.18): “A visão dos alunos é sincrética porque, apesar dos conhecimentos que possuem sobre o assunto, a partir do cotidiano, ainda não realizaram, no ponto de partida, a relação da experiência pedagógica com a prática social mais ampla de que participam [...]”. Assim, compreendemos que o aluno de fato chega à escola com um conhecimento, no entanto, é por meio da mediação pedagógica e dos conteúdos escolares sistematizados que o aluno abandonará aos poucos esse conhecimento precário para, em confronto com esse novo saber sistematizado, lançar um novo olhar sobre a realidade que o circunda.
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
79
Cabe ressaltar que a proposta de considerar a realidade social do aluno e sua vivência antes do seu ingresso escolar é, algumas vezes, mal interpretada justamente por não se ter o entendimento dessa proposta pedagógica, que tem como referência epistemológica a teoria dialética do conhecimento, cujos objetivos são entrelaçados: fundamentar a concepção metodológica, o planejamento de ensino-aprendizagem e a ação docente-discente. Em outras palavras, essa teoria constrói-se a partir da base material. “[...] Assim, o conhecimento, segundo essa teoria epistemológica, resulta do trabalho humano no processo histórico de transformação do mundo e da sociedade, através da reflexão desse processo [...]” (GASPARIN, 2003, p.4). A nossa intenção nesta seção não é adentrar na teoria dialética do conhecimento, no entanto, caro(a) aluno(a), julgamos necessária essa intervenção uma vez que na unidade I deste livro e ainda na unidade II foi ressaltada a importância de analisar o homem como um ser social e histórico que não apenas atua sobre a natureza, mas a modifica para atender as suas necessidades, interferindo na sua paisagem por meio do trabalho. A interpretação dessa teoria e da prática social inicial do aluno é, por vezes, inadequada, pois em algumas situações o aluno não consegue ultrapassar esses conhecimentos imediatos e cotidianos pela não intervenção nessa realidade inicial. Nesse sentido, é preciso compreender que o aluno possui um conhecimento prévio que se dá a partir da sua PRÁTICA SOCIAL INICIAL, sendo que a escola e o professor, por meio da mediação pedagógica, proporcionará a esse aluno um novo conhecimento sistematizado (TEORIA), que promoverá uma nova atitude diante do novo conhecimento (PRÁTICA SOCIAL FINAL). Nessa última, o aluno deve sair com um conhecimento diferente do que quando entrou no espaço escolar. Podemos exemplificar tal situação com nós mesmos. Você, aluno, está estudando a disciplina Metodologia do Ensino de Geografia, para isto está lendo este material, assistindo às aulas gravadas, realizando as atividades diversas e, ao fim deste estudo, você precisará sair transformado, ou seja, com uma nova visão de mundo. Caso não façamos a contento, é sinal
80 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
de que nosso trabalho não obteve êxito, portanto a prática social final ficou comprometida. Nesse sentido, é de suma importância que o professor conheça quais são os conhecimentos que seus alunos têm sobre o lugar em que vivem, como também sobre outros lugares e, o mais importante, a relação entre eles. Pois “mesmo que os alunos não tenham tido um contato com o conhecimento geográfico de forma sistematizada e organizada, os alunos possuem ideias e informações que são oriundas do meio no qual estão inseridos; conhecimento esse produzido pelos seus familiares, pessoas próximas e pelos meios de comunicação” (BRASIL, PCN, 2000, p.128). São justamente esses conhecimentos que o professor deve investigar para que crie intervenções significativas na promoção e no avanço das concepções do aluno. “É preciso, também, cuidado para avançar naquilo que os alunos já sabem, evitando as ideias e temas que esses já dominam e muito pouco promovem para a ampliação do seu conhecimento acerca da presença do papel da natureza na paisagem local” (BRASIL, 2000, p.123). O documento em questão confirma o que já anunciamos nesta seção com relação ao entendimento de que é preciso avançar naquilo que o aluno já sabe para que ocorra a internalização do conhecimento sistematizado. Partir do conhecimento do aluno não significa que devemos acatar todas as ideias e hipóteses desse sem intervenção, mas justamente o contrário, o papel do professor é imprescindível nesse processo de ensino-aprendizagem intervindo naquilo que o aluno ainda não é capaz de realizar, analisar, abstrair ou reconhecer sozinho. Dessa forma, caro(a) aluno(a), você já deve ter percebido que embora o papel da escola, do professor e do aluno para o ensino de Geografia esteja separado nas unidades I e II deste livro, é preciso uma compreensão de que eles estão relacionados e interligados. Não podemos falar do processo ensino-aprendizagem sem levar em consideração esses três componentes que são o tripé que sustenta o processo ensino-aprendizagem.
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
81
Cabe ainda ressaltar, conforme expresso pelo documento e o que já foi discutido por nós anteriormente, que os meios de comunicação também contribuem para o conhecimento prévio do aluno. Não podemos desconsiderar essas fontes de informação, mas cabe-nos retomar aqui que muitas dessas informações só serão de fato transformadas em conhecimento pela intervenção da escola e do professor. Para exemplificarmos o que estamos querendo afirmar, façamos um exercício: Observe as fotografias a seguir. Tratam-se do Terremoto do Japão ocorrido em 2011.
O terremoto que aconteceu hoje, dia 11 de março de 2011, já é considerado um dos piores desastres naturais já ocorridos no Japão. O tremor conseguiu superar todos os outros que por ventura já abalaram o território japonês e recebeu a classificação de 7º pior terremoto da história, segundo constam as pesquisas do Serviço Geológico dos EUA. Agora mais de 50 países do Pacífico se encontram em estágio de alerta. Fonte:. Acesso em: 28 jun. 2011.
Fonte:.
82 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
Agora pense: a) Que relação podemos estabelecer entre este terremoto e o espaço geográco? b) Como a paisagem foi alterada, após o terremoto seguido do Tsunami? c) A mídia se concentrou em passar as informações pelo imediatismo da tragédia, mas o que veio depois? d) Como caram as paisagens, a orla marítima, as casas das pessoas? De fato, com a ampliação do acesso à mídia e às TICs - Tecnologias da Informação e Comunicação, as informações multiplicaram-se em escalas exponenciais e muitas vezes o conhecimento geográfico está sendo transmitido por esses suportes de comunicação. No entanto, nas palavras de Castellar e Vilhena (2010, p.10), “[...] A geografia é mais do que possuir essas informações e estudá-las, significa relacioná-las aos métodos de análise e processos de aprendizagem”. Nesse sentido, interessa-nos que o aluno possa não só dar significado ao novo conhecimento, mas compreender, de fato, o quê e para quê determinado conteúdo está sendo ensinado. Se esse conteúdo encerra-se apenas em uma atividade avaliativa que também é uma exigência do nosso sistema escolar sem uma contribuição para a realidade que o cerca, é muito provável que esse conhecimento deixe de existir, pois o aluno não consegue estabelecer relações com a sua própria vida e com as vidas das demais pessoas que o circundam e que fazem parte do mesmo espaço geográfico que o seu. [...] Optando por uma metodologia de ensino que envolva o aluno na construção do conhecimento, espera-se que ele estude a partir de situações do cotidiano e relacione o conhecimento aprendido para analisar a realidade, que pode ser global ou local [...] (CASTELLAR; VILHENA, 2010, p.6).
Ao nos referirmos à construção do conhecimento por parte do aluno, é preciso levá-lo à compreensão de que não existe apenas uma única realidade, ou seja, a realidade a qual ele pertence, mas que outras realidades em diferentes lugares também existem e que a intervenção
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
83
feita pelo homem, assim como as mudanças naturais nessas paisagens distantes dele, podem interferir na vida de muitas pessoas, transformando não só a paisagem local, como também a realidade de quem vive nesse determinado espaço. Esse reconhecimento equivale a dizer que a escola tem um papel significativo ao possibilitar a difusão do conhecimento em um determinado contexto social, cultural e histórico. M O C . S O T O H P : e t n o F
Nesse sentido, os conteúdos escolares não devem ser fechados em si mesmos, como algo permanente e estático, ao contrário, devem dialogar com as mudanças ocorridas no mundo científico e tecnológico.
84 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
CONSIDERAÇÕES FINAIS Acredito que nosso propósito nesta unidade foi cumprido no sentido de levar até você, caro(a) aluno(a), a compreensão de que o aluno para o ensino de Geografia já possui antes do seu ingresso escolar conhecimentos que são oriundos de sua vivência na família, nas suas relações mais próximas e nos próprios meios de comunicação. Coube-nos aqui, também, levá-lo à compreensão de que mais do que identificar e respeitar a realidade social imediata do aluno, é necessário que essa realidade seja ultrapassada, possibilitando ao estudante um conhecimento sistematizado e científico que ocorrerá de modo intencional e sistematizado por meio da escola e da mediação do professor. Trata-se, portanto, caro(a) aluno(a), de compreender que o processo ensino-aprendizagem de Geografia parte da realidade social do aluno, mas essa deverá ser modificada pela escola por meio de seu conhecimento científico produzido e acumulado pela humanidade, como seres históricos, culturais e sociais. Por último, cabe ressaltar que diante das transformações ocorridas no campo da tecnologia e da informação, é preciso que o professor proporcione ao seu aluno não apenas um conhecimento geográfico que tenha um fim em si mesmo, mas uma educação geográfica, cujo fim é levar à compreensão de que o aluno está inserido nos seus espaços e meios, mas também em paisagens e regiões que não são suas, contribuindo para o reconhecimento da ação social e cultural de diferentes lugares, assim como as interações entre as sociedades e a dinâmica da natureza em diferentes momentos históricos. Na próxima unidade abordaremos os conceitos de natureza, cultura, espaço e tempo; esses são os eixos centrais dos cinco primeiros anos do Ensino Fundamental. Conto com você. Um abraço e até lá!
ATIVIDADE DE AUTOESTUDO 1. Reetindo sobre tudo que foi discutido nesta segunda unidade, procure estabelecer a relação entre Sociedade e Escola, elencando o papel do professor e do aluno no processo de construção do conhecimento. METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
85
2. Reita e responda, utilizando-se de exemplos práticos: qual a contribuição que o Ensino de Geograa pode dar à construção da cidadania?
3. Leia os Parâmetros Curriculares Nacionais de História e Geograa (segunda parte do livro – especíco de Geograa) e sintetize as ideias apresentadas na obra, relacionando com o que foi discutido até aqui.
4. Pesquise na Internet informações complementares sobre a diferenciação entre INFORMAÇÃO e CONHECIMENTO. Em seguida, faça sua própria síntese sobre o assunto.
Leia o livro “A Geograa – isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra ” de Yves Lacoste. Publicado pela Editora Papirus.
Título: Geograa - Isso Serve, em Primeiro Lugar, Para Fazer A Guerra Autor : Yves Lacoste Gênero: Geograa Editora: Papirus Para que serve a geograa e qual sua função social? Nesse livro, Yves Lacoste responde a tais questões e alerta para as consequências que ocorrem nas populações atingidas pela “organização” de seus espaços, conclamando os geógrafos a assumir uma posição militante contra a instrumentalização da Geograa pelos interesses estatais ou privados. Fonte: . Acesso em: 12 ago. 2011.
86 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
UNIDADE III
O ESPAÇO GEOGRÁFICO: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Professora Me. Adélia Cristina Tortoreli Professora Me. Priscilla Campiolo Manesco Paixão
Objetivos de Aprendizagem • Discutir as noções de espaço para o ensino de Geograa do 1° ao 5° ano do Ensino Fundamental. • Compreender que o conceito de espaço é sempre reelaborado por meio do trabalho (ou da ação humana). • Identicar como se constrói a noção de espaço pela criança para intervir de modo a elaborar seus primeiros conceitos. • Apresentar algumas atividades que levarão o aluno a agir e reetir sobre o espaço.
Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
• O espaço geográco x espaço natural • A importância dos conceitos geográcos • Produção de necessidades: transformando a natureza e o próprio homem • A criança e as relações espaciais: a evolução da noção de espaço • As atividades lúdico-pedagógicas na ampliação do domínio de espaço
INTRODUÇÃO Olá, caro(a) aluno(a)! Estamos dando início a nossa terceira unidade e, juntamente com ela, nos aproximando de alguns conceitos que são fundamentais para o ensino da Geografia na Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental. Dentre esses conceitos para o ensino de Geografia destacam-se o espaço, tempo, necessidades e transformações que se inter-relacionam e estão ligados aos conceitos de trabalho, sociedade, natureza e cultura. Cabe ressaltar que, para a compreensão e a discussão do conceito de espaço, é necessário um trabalho conjunto de professores e alunos, no entanto, a prioridade conforme já abordado na unidade anterior deve ser sempre a realidade do aluno partindo “[...] do concreto ao abstrato, do específico ao mais amplo, num contínuo movimento de ir-e-vir” (KOZEL; FILIZOLA, 1996, p.24). Isto porque precisamos ter claro que o espaço geográfico é produto humano e por isto mesmo requer uma reflexão quanto a essa ação humana sobre o espaço natural. Nesta terceira unidade, nos propomos a distinguir o espaço geográfico e natural, bem como compreender os conceitos ligados à Geografia e suas implicações. O ponto de partida será a criança e as relações espaciais, ou seja, a evolução da noção de espaço na criança, finalizando com a proposta de algumas atividades lúdico-pedagógicas para ampliar este domínio de espaço pela criança em idade escolar.
O ESPAÇO GEOGRÁFICO X ESPAÇO NATURAL A história não se escreve fora do espaço, e não há sociedade a-espacial. O espaço, ele mesmo, é social. Milton Santos
Para estudarmos o espaço geográfico e seu contínuo movimento de “ir-e-vir” é preciso
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
89
compreendê-lo e entendê-lo na sua dinamicidade, indo além de seu conteúdo físico ou natural, questionando como esse espaço surgiu e por que ele é dessa forma. São essas as indagações que nos distanciam das simples aparências levando-nos à compreensão de um espaço geográfico que foi transformado pelo homem. “[...] Compreender o conceito de espaço é entender como o homem transforma a natureza por meio do trabalho, produzindo o chamado ‘espaço geográfico’” (KOZEL; FILIZOLA, 1996, p.24). Santos (1996, p.24) afirma que o espaço é “um conjunto de formas representativas de relações sociais do passado e do presente e por uma estrutura representada por relações sociais que estão acontecendo diante dos nossos olhos”. Com certeza, caro(a) aluno(a), o espaço geográfico no período habitado pelos nossos ancestrais, os homens de Neandertal, possuía características muito peculiares com relação a sua organização, pois esses se organizavam em grupos, viviam da coleta de alimentos. Esses homens se distanciaram de outros primatas ao longo da evolução humana, criando a capacidade de produzir instrumentos que os auxiliavam na luta por sua sobrevivência e criando, ao mesmo tempo, a sua cultura, o seu modo de pensar, de viver, de criar e de agir diante da natureza, não como um simples observador, mas como um agente capaz de transformá-la para atender as suas necessidades por meio do trabalho. M O C . S O T O H P : e t n o F
Milhões de anos nos separam desde as primeiras necessidades desse homem que dominou o fogo para se manter aquecido e afugentar os grandes animais e com isso estabeleceu os laços unindo-se a grupos cada vez maiores à procura de lugares com climas menos inóspitos e alimentos. Conclui-se então que, quanto mais conhecimento os homens adquiriam, maiores eram as intervenções do mesmo sobre a natureza. Aqui nos cabe a compreensão sistemática de alguns conceitos
90 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
geográficos essenciais para darmos continuidade as nossas discussões: • Espaço geográco: é todo o espaço que, sendo originalmente natural, sofre a ação humana, transformando-se, portanto, em espaço geográco, espaço humanizado ou, ainda, cultural. • Paisagem: é tudo o que nossa visão alcança. Qualquer lugar que é apreendido pela visão do observador, independentemente de ser feio ou bonito, agradável ou não. Constitui-se por elementos naturais e humanizados, por elementos xos, pelos uxos que existem no lugar, pelas cores, sons, cheiros; enm, é um momento captado pelos nossos sentidos. • Lugar: esse conceito se refere à relação estabelecida pelo sujeito com o meio. Está associado à relação e aos sentimentos que existem entre ambos. • Território: está diretamente ligado a posse, limite, disputa de poder. São exemplos os municípios, estados, países etc.
A palavra território refere-se a uma área delimitada sob a posse de um animal, de uma pessoa (ou grupo de pessoas), de uma organização ou de uma instituição. O termo é empregado na política (referente ao Estado Nação, por exemplo), na biologia (área de vivência de uma espécie animal) e na psicologia (ações de animais ou indivíduos para a defesa de um espaço, por exemplo). Há vários sentidos gurados para a palavra território, mas todos compartilham da idéia de apropriação de uma parcela geográca por um indivíduo ou uma coletividade e etc.
Território na geograa humana Na geograa humana, o conceito de território surge inserido na proposta de geograa política de Friedrich Ratzel, sendo assim denido como o espaço sobre o qual se exerce a soberania do Estado. De fato, Ratzel sustenta que o Estado surge quando uma sociedade se organiza para defender seu território, sendo essa sua função primordial. Nesse sentido, ele pode ser tanto o Estado nacional contemporâneo (cuja origem se dá no século XVIII) quanto formas de organização política próprias de povos tradicionais, como aborígenes africanos ou americanos. Na geograa tradicional, portanto, o conceito de território é usado para estudar as relações entre espaço e poder desenvolvidas pelos Estados, especialmente os Estados nacionais.
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
91
A geograa quantitativa não trabalhava muito com o conceito de território, pois o estudo da organização espacial enfatizava principalmente fenômenos econômicos e sociais sem uma relação direta com questões de poder. Uma possível exceção eram estudos sobre as formas de organização política do Estado, como a delimitação de distritos eleitorais, por exemplo. A geograa humanista também não usa muito esse conceito, pois, tendo como objeto de estudo os valores e atitudes relacionados ao espaço e à natureza, não trabalha diretamente com relações de poder. Essa corrente da geograa trabalha principalmente com os conceitos de espaço vivido e de lugar . A geograa crítica, por sua vez, dá uma grande importância ao conceito de território, já que tem nas relações de poder um dos seus temas privilegiados de estudo. A maioria dos autores atuais utiliza esse conceito para tratar das relações entre espaço e poder, mas, à diferença dos geógrafos tradicionais, enfatiza que o Estado não é o único agente que exerce poder. Nesse sentido, os geógrafos críticos armam que a geograa não pode car restrita ao estudo da geopolítica dos Estados nacionais, pois deve pesquisar qualquer grupo social que, ao manter relações de poder com outros grupos, produza e/ou reivindique territórios. Disputas entre quadrilhas de tracantes, as reivindicações de “sem-terra” e “sem teto”, políticas de imigração, a divisão informal feita por prostitutas e travestis dos “pontos” em que ofertam seus serviços, as interdições aos deslocamentos de pessoas criadas pelo preconceito racial ou religioso, etc. Segundo o geógrafo Rogério Haesbaert, os estudos atuais utilizam vários conceitos de território, os quais se diferenciam por enfatizar mais uma dimensão ou outra das relações entre espaço e poder. Alguns enfatizam principalmente a dimensão material dessas relações (conformação de infraestruturas, planejamento urbano, etc.), enquanto outros podem enfatizar mais a dimensão simbólica (os locais sagrados de Jerusalém, por exemplo). Por m, vale ressaltar que, segundo esse autor, não há e nem deve haver uma distinção rígida entre os conceitos de espaço geográco e de território. Fonte . Acesso em: 29 jun. 2011.
Como já anunciamos anteriormente, a construção destes conceitos deverão partir da realidade do aluno e do concreto para o abstrato gradativamente. Em outras palavras, essa apropriação gradativa dar-se-á de acordo com o espaço concreto vivido pelo aluno ou com sua experiência. Somente a partir desses espaços vividos e próximos é que o aluno construirá ao longo das séries escolares a noção de espaço percebido mais abstratos e que não são vivenciados diretamente. “[...] Pode, então, perceber as distâncias - se curtas ou longas - sem que precise percorrer o espaço” (KOZEL; FILIZOLA, 1996, p.26).
92 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
Na Educação Infantil e anos iniciais, o trabalho com o conceito de espaço envolve duas noções, orientação e localização, tais como: perto-longe, na frente-atrás, em cima-embaixo, ao lado-entre, esquerda-direita, pontos cardeias. Essas noções implicam emrepresentações que ocorrem pelo uso de globos, maquetes, mapas e o estudo dos elementos do espaço sendo eles naturais e culturais. Os naturais são relevo, clima, vegetação e os culturais são cidade, bairro, fábricas, além de sua distribuição no espaço, ou seja, a localização desses elementos. Destacamos as expressões acima a fim de que você, caro(a) aluno(a), observe que a atividade escolar com o conceito de espaço não se esgota na sua simples orientação e localização como fatos isolados em si mesmos, mas que estão com correspondência como se fossem eixos ou ciclos ao alcançarem as suas representações, distribuições e localizações. Tratase, portanto, de um trabalho complexo e gradual e à medida em que o concreto vai cedendo espaço ao abstrato se estabelecem as inter-relações entre esses conceitos. Mas como deve ser trabalhado o conceito de espaço em sala de aula? Onde vamos encontrar o espaço concreto? Como já foi discutido anteriormente, é a partir da observação do meio mais próximo do aluno que serão construídos os conceitos que levarão a criança a compreender sua realidade e transformá-la, e, gradativamente ao longo das séries, os níveis de abstração tornar-se-ão mais amplos. As crianças, sobretudo, as nascidas no contexto da globalização e da tecnologia, estão imersas em informações visuais por meio de jogos eletrônicos, desenhos que a cada dia tornam-se mais interativos e o próprio mundo que as circunda está rodeado por informações. Sendo assim, devemos aproveitar essa experiência acumulada de observação dos alunos e que ele já possuem antes do ingresso escolar “[...] Essa experiência acumulada constituiu um rico material a ser explorado pelo professor” (KOZEL; FILIZOLA, 1996, p.37). Observe, caro(a) aluno(a) e futuro(a) professor(a), o quão importante é a mediação do professor
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
93
para o processo de construção dos conceitos que vai muito além da simples observação que o aluno já possui ao ingressar na escola. É o momento de transformar a informação em conhecimento como já anunciamos na unidade anterior. Unindo a mediação do professor e a capacidade de observação dos alunos, vamos apresentar alguns conteúdos que poderão ser ampliados de acordo com a realidade deles, ou mesmo reformulados em diferentes circunstâncias da prática pedagógica das crianças. Nesse sentido, o espaço da escola é o ponto inicial a ser explorado na proposta didático-pedagógica. Você deve se recordar dos níveis (exploratório, específico da série, ampliação) propostos por Penteado (1994) que foram trazidos por nós na unidade II e que esses níveis formam a espinha dorsal para a construção dos conceitos por parte dos alunos do 1° ao 5° ano do Ensino Fundamental, não é mesmo?
A IMPORTÂNCIA DOS CONCEITOS GEOGRÁFICOS Há uma pedagogia indiscutível na materialidade do espaço. Paulo Freire
Apropriaremo-nos agora de algumas atividades propostas pelos autores referenciados Kozel e Filizola (1996), a fim de contribuirmos com você, futuro(a) professor(a), no exercício de sua futura ação docente na construção do conceito de espaço. Essas atividades não são as únicas, podendo ser modificadas levando em consideração as necessidades da escola e da realidade dos alunos. Sugerimos que esse livro elaborado por nós não se encerre com o fim dessa disciplina, mas, sobretudo, que ele seja usado como um instrumento didático que o ajude no exercício da sua prática docente. Vamos, então, para alguns conteúdos propostos por Penteado (1994) para a construção dos
94 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
conceitos de espaço? Organizamos esses conteúdos em tabelas ao longo dos cinco anos iniciais do Ensino Fundamental (adaptadas), assim como fizemos um resumo dos principais objetivos de cada série para a construção do conceito de espaço. Cabe lembrar, que fizemos um recorte somente do conceito de espaço nas tabelas abaixo, pois esse é o nosso assunto específico, mas não poderíamos deixar de mencionar que esse conceito ao longo das séries está atrelado no nível (exploratório, específico da série, ampliação) com os conceitos de relações sociais, tempo, natureza e cultura. Ao final de cada série você encontrará também os principais objetivos. 1° ANO (NÍVEL EXPLORATÓRIO)
IDENTIFICAÇÃO DO ESPAÇO ESCOLAR (CONCEITO – ESPAÇO):
·
Localização da própria sala
·
Localização dos banheiros
·
Localização da diretoria
·
Localização da secretaria
O objetivo deste primeiro ano é explorar os conteúdos com relação ao espaço interno da escola. Toda exploração feita junto aos alunos é registrada por meio de desenhos (mapas). 2° ANO (NÍVEL EXPLORATÓRIO) IDENTIFICAÇÃO DO ESPAÇO ESCOLAR (CONCEITO – ESPAÇO): ·
Localização da própria sala
·
Localização dos banheiros
·
Localização da diretoria
·
Localização da secretaria
·
Localização da escola
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
95
O principal objetivo dos conteúdos com relação ao espaço no segundo ano é a exploração e o uso organizado do espaço da escola e identificação da sua localização (endereço), estabelecendo as primeiras noções de espaço escolar. 3° ANO (ESPECÍFICO DA SÉRIE)
DESENVOLVIMENTO DO CONCEITO DE ESPAÇO (ESPECÍFICO DA SÉRIE)
·
Divisões espaciais: domínios e fronteiras
·
Representação espacial: construção e leitura
·
Leitura de representações convencionais do espaço terrestre: globo e mapa-múndi
·
Estado, município, zona rural, urbana
·
Água: oceanos, mares, rios, lagos.
No terceiro ano o objetivo é levar o aluno à compreensão de que existem divisões no espaço, identificar as divisões do espaço terrestre, ler mapas e globos e construir representações dos espaços. 4° ANO (ESPECÍFICO DA SÉRIE)
DESENVOLVIMENTO DO CONCEITO DE ESPAÇO (ESPECÍFICO DA SÉRIE)
·
·
Orientação espacial O espaço escolar, segundo os pontos cardeais
·
O espaço em movimento e suas consequências
·
O movimento de Rotação da Terra: dia e noite
·
Translação: ano, estações
O objetivo no quarto ano será o conhecimento, a compreensão e a utilização de pontos de orientação, assim como conhecer e relacionar os movimentos da Terra com suas consequências naturais e culturais e ler as horas.
96 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
5° ANO (ESPECÍFICO DA SÉRIE)
DESENVOLVIMENTO DO CONCEITO DE ESPAÇO
·
Mapa do Brasil
·
Localização dos índios no Brasil
·
Os negros no tempo do Brasil colônia e hoje
·
Cultura: costumes, alimentação, moradia, vestuário, religião, crenças, rituais, trabalho, lazer, educação, saúde
E, por último, no quinto ano o objetivo é a utilização de mapas, a fim de localizar a distribuição dos homens dispersos geograficamente e em diferentes tempos históricos. É importante ressaltar que o trabalho com o conceito de espaço do 1° ao 5° ano inicia-se justamente na escola pela sua referência de função socializadora. É nesse espaço que devem ser trabalhadas a desigualdade sociolinguística, econômica, social, profissional, sexual etc. Considera-se a importância dos alunos observarem juntos às diferenças e às discriminações que marcam as relações sociais. A criança passa a perceber que faz parte de grupos em que a heterogeneidade é uma realidade que está a sua volta (KOZEL; FILIZOLA, 1996). O início da discussão pode ocorrer a partir das diferenças entre os próprios alunos, sendo essa uma oportunidade para dar início a discussões mais amplas que marcam as relações sociais. É o momento em que a criança começa a descobrir que ela faz parte de um grupo que é diferente dela. Selecionamos para você, caro(a) aluno (a), algumas perguntas sugeridas por Kozel e Filizola (1996), que promoverão uma discussão sobre as diferenças existentes na escola e no próprio grupo de alunos.
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
97
Quantos meninos e meninas existem na sala? Em que cidade e estado nasceram? Quem estudou em escola particular ou pública? Como está distribuído o espaço da escola onde o aluno estuda? Como eram os espaços das escolas estudadas anteriormente? Tamanho da escola, distribuição das salas, pátios, áreas de lazer?
Para os autores, na escola também é possível observar as relações de trabalho. Essa observação se dá a partir dos diferentes profissionais que atuam na escola, tais como a zeladora, a bibliotecária, o professor, o diretor entre outros. Uma vez identificados todos os profissionais existentes na escola, o professor inicia o trabalho de listar a profissão e o salário aproximado de cada um desses profissionais, a fim de que os alunos percebam que a diferença não está apenas no salário que recebem, mas que nesse salário está embutida uma questão maior que é a divisão social do trabalho. O itinerário da casa para a escola também deve fazer parte da construção de conceito nos anos iniciais. O trabalho a partir desse itinerário tem o objetivo de levar a criança a observar os arredores da escola, assim como progressivamente possibilitar aos alunos a aquisição de conhecimentos que estão relacionados à ocupação humana, à construção e à organização dos espaços. Os espaços que devem ser contemplados para o estudo do espaço geográfico em sala de aula devem partir dos mais familiares às crianças. Nesse caso, seu estudo deve contemplar os espaços mais familiares às crianças, como a escola e seus arredores, e aqueles que lhes são parcialmente conhecidos, como o município, o estado, o país ou o mundo de forma geral, facilitando a compreensão da sociedade, que afinal, produz o espaço (KOZEL; FILIZOLA, 1996, p.45)
De acordo com o exposto, o estudo dos espaços tem origem nos arredores do espaço vivido
98 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
pela criança, no entanto, para uma compreensão de que a construção desses espaços na sociedade é fruto da intervenção humana, ou seja, das transformações que o homem faz na natureza, se faz necessário gradativamente ampliar o conhecimento dos alunos para outros espaços que estão além do seu dia a dia ou do seu itinerário casa-escola. Mais uma vez, recorremos a Kozel e Filizola (1996) que contribuem com alguns exemplos para o trabalho de observação do espaço na escola, no itinerário casa-escola, assim como a sua ampliação para outros espaços que não fazem parte do cotidiano do aluno. • Espaço da escola: a escola é grande ou pequena? É arborizada? Há biblioteca? Quantas salas tem? • Itinerário casa-escola: o percurso é feito a pé, de ônibus ou de carro? A que horas o aluno sai de casa? No caminho há árvores, pontes, viadutos, prédios, lojas? Há rios? Postes de iluminação? A partir dessas informações trazidas pelos alunos, é possível iniciar um trabalho que os leve a compreender que o trajeto percorrido por eles até a escola é muitas vezes diferente de seus colegas de sala. Nesse momento, inicia-se um trabalho de exploração quanto aos serviços que existem nesses diferentes lugares, tais como o lazer, a saúde, o transporte. Exemplificando:
ITINERÁRIO DE CASA A ESCOLA Nível: 1° ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL O que o aluno poderá aprender com esta aula As crianças poderão expressar conhecimentos sobre os pontos de referências que elas conhecem quando trafegam da casa até a escola. Duração das atividades Cada atividade será desenvolvida em diferentes momentos com duração aproximada de 15 minutos cada.
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
99
Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno
Pontos de referências. Estratégias e recursos da aula Atividade 1 – Observar os pontos de referências que vê no percurso da casa até a escola. 1º Momento: De acordo com a atividade realizada anteriormente sobre posição espacial (direita, esquerda, a frente, atrás) o professor deverá questionar sobre os pontos de referências (objetos) com relação ao corpo da criança. Assim, para situar as crianças na atividade, o professor deverá iniciar a aula perguntando quais os pontos de referências (objetos) que estão mais próximos a cada criança, deixando que cada criança aponte sua referência, depois o professor deve sugerir que caminhem pela sala de aula e falem sobre a referência dos objetos com relação ao seu corpo. • Armários? • Mesas? • Quadro negro? Em seguida, o professor irá indagar as crianças sobre os pontos de referências que elas vêem quando vem para a escola. • Supermercados? • Farmácia? • Padaria? • Restaurantes? • Escolas? OBS: O professor deverá explicar que as referências têm que ser xas, pois um carro, um animal ou uma pessoa não pode ser referência, uma vez que no dia seguinte não estarão no mesmo lugar. 2º Momento: O professor irá registrar no quadro ou cartolina o percurso e os pontos de referência do caminho de casa até a escola de cada criança. Após esse registro o professor irá dar para cada criança um papel e solicitará desenhem o seu percurso, tentando lembrar todos os pontos de referência.
Imagem - Percurso e pontos de referências num trajeto realizado por uma criança
Avaliação
100 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
O professor deverá avaliar se as crianças: • Perceberam os pontos de referências que os localizam no trajeto casa/escola; • Consegue expressar por meio da oralidade e desenho os pontos de referência. Pesquisa realizada no Portal do Professor pelo site: . Acesso em: 02 ago. 2011.
No quinto ano, para Kozel e Filizola (1996), as crianças gradativamente devem ser levadas à compreensão de que os homens se relacionam pelo trabalho. Essa compreensão se dá pela observação dos espaços mais próximos e, em seguida, a os espaços mais abrangentes começando, por exemplo, pelos produtos que são consumidos sendo que eles em geral passam por transformações até chegar nas mãos dos consumidores. Para os autores, algumas perguntas ajudam a despertar o aluno para a observação do mundo do trabalho, que elencaremos a seguir: • Quais os produtos consumidos todos os dias? • De onde vêm esses produtos? Da loja, do supermercado, da feira? • Como é feito o transporte desses produtos até o estabelecimento comercial? O tema cidade-campo também faz parte do conteúdo do terceiro ano e deve ser abordado a partir das situações concretas. O objetivo é que os alunos percebam a relação de complementaridade entre esses espaços. Essa relação justifica um trabalho que abranja um conteúdo a fim de privilegiar os dois espaços simultaneamente sem isolá-los, e levar à compreensão de que esses espaços estão em constante contato, um influenciando o outro mutuamente “[...] Os espaços não existem por si mesmos, mas em permanente contato, influenciando-se mutuamente [...]” (KOZEL; FILIZOLA, 1996, p.55). Passemos a destacar um plano de aula sugerido pela Revista Nova Escola sobre o tema discutido e encontrado no site:
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
101
paisagens-campo-cidade-olhares-427054.shtml>. Acesso em: 02 ago. 2011.
Paisagens do campo e da cidade: olhares 1.Conteúdo: Espaços urbano e rural 2.Introdução : A paisagem pode ser compreendida como tudo aquilo que a nossa vista alcança, a fração do território que é possível abarcar com a visão. Trata-se de um conjunto heterogêneo de formas naturais e articiais, em que cada vez mais predominam estes últimos. Tal heterogeneidade é dada pela multiplicidade e diversidade de usos e funções dos objetos e reete em boa medida as atividades de diferentes períodos que caracterizaram ou caracterizam a vida humana. Desse modo, como assinala o geógrafo Milton Santos, ela é uma combinação de objetos criados em momentos históricos distintos, porém coexistindo no momento atual (SANTOS, 1997). Por meio da leitura da paisagem, os estudantes poderão observar, identicar, descrever ou comparar os elementos que a compõem e seu arranjo, atribuindo-lhes signicado. O ponto de partida são os espaços familiares à criança, em que se imbricam representações, valores e identidades, como os de vivência - a rua, a praça, o bairro ou a escola -, ou aqueles que ela já teve a oportunidade de conhecer ou visitar. Esta seqüência didática propõe a observação de paisagens do campo e da cidade por meio de obras de arte e fotograas, assim como a sua representação pelos alunos, por meio de desenhos, croquis e painéis ilustrados. Com isso, eles poderão questionar, indagar e formular explicações sobre fenômenos e acontecimentos e reetir sobre variados aspectos de sua realidade cotidiana. 3.Objetivos: a) Identicar, descrever e comparar os elementos de origem natural e cultural que conguram as diferentes paisagens. b) Observar, descrever e analisar elementos de paisagens urbanas e rurais em pinturas, fotograas, desenhos e ilustrações. 4.Conteúdos especícos: Paisagem, campo, cidade, urbano, rural 5.Ano: 3º ou 4º ano 6.Tempo estimado: Duas aulas de uma hora 7.Material necessário: Texto de apoio ao professor e guras sugeridas abaixo. 8.Desenvolvimento das atividades:
102 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
Primeira aula Converse com os alunos sobre os espaços que eles costumam freqüentar, visitar ou usar para brincadeiras. Pergunte quais são os de que mais gostam e o que se pode encontrar nesses locais: árvores, brinquedos como balanço ou gangorra, gramado, campo de futebol, casas e outras edicações etc. Solicite a cada aluno que represente esses espaços por meio de desenhos, deixando -os à vontade também para representar o que gostariam que fosse melhorado em cada um deles. Em seguida, peça aos alunos que contem para os colegas que outros espaços eles já tiveram a oportunidade de conhecer ou visitar, seja na cidade ou no campo. É importante que eles procurem também mostrar diferenças entre esses espaços e os de sua freqüência ou convivência habitual. Aproveite a oportunidade para saber mais dos alunos quais diferenças eles percebem entre o campo e a cidade e como seria a vida em cada um deles. Ouça os relatos e opiniões e esclareça que nas próximas aulas eles poderão examinar com mais detalhes como eles se organizam, o que poderá ajudá-los a melhor compreender os seus próprios espaços de vida. Proponha que a turma se organize em duplas ou pequenos grupos para observar as pinturas 1 e 2 (ver Anexos). Considere o roteiro a seguir: a) Se julgar conveniente, antes de apresentar as imagens mostre o título de cada uma delas e procure saber dos alunos se já ouviram falar dos autores, período e local em que foram produzidas e o que esperam ver retratado nelas; b) Com as guras em mãos, peça que observem cada uma delas e descrevam características e deta lhes dos objetos, nomeiem e descrevam cada um deles e assinalem sua posição na paisagem. Peça que observem também as cores, formas e volumes dos objetos. Procure saber que sensações a visão de cada uma das paisagens sugere ou provoca no observador; c) A seguir, solicite que comparem as duas imagens e estabeleçam as diferenças e semelhanças entre elas; d) Depois, proponha que identiquem quais elementos são de origem natural e quais foram criados pelos grupos humanos em cada uma delas. Essas informações deverão ser organizadas em um quadro com duas colunas e algumas linhas. Se necessário, desenhe um modelo no quadro-de-giz.
Segunda aula Converse com toda a turma sobre os resultados da observação feita na aula anterior. Para a discussão, considere que a observação das duas obras de arte permite considerações sobre alguns conteúdos e características do campo e da cidade. A paisagem urbana é de evidente articia lidade, enquanto a que mostra uma cena do campo deixa à vista elementos de origem natural, ainda que parcialmente modicados pela ação humana. A paisagem urbana mostra elementos inerentes à própria idéia de cidade, como a densidade, diversidade e concentração de pessoas e objetos. Há também contigüidade entre os objetos, se comparados aos que aparecem na gura do meio rural. Vale a pena ressaltar também as diferenças evidentes entre os sistemas de circulação nos espaços
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
103
retratados. Questione os estudantes se poderíamos encontrar novos elementos em outras paisagens urbanas e rurais. Por exemplo, a presença de indústrias no campo, atividades que costumam ser encontradas mais frequentemente nos núcleos urbanos. Você pode propor aos estudantes que coletem, observem e comparem outras imagens de paisagens do campo e da cidade para serem observadas, como fotograas, obras de arte, desenhos e ilustrações. Com a participação de todos, anote as principais conclusões na lousa e solicite que todos anotem no caderno.
9.Avaliação: Para avaliar as aprendizagens dos alunos, leve em conta toda a produção realizada ao longo da seqüência didática, como os desenhos produzidos e os trabalhos realizados em grupos. Leve em conta os objetivos previstos inicialmente para avaliar a evolução do aluno no que diz respeito a sua capacidade de expressão, escrita, compreensão do tema e da leitura e interpretação das imagens. Considere também a participação de todos nos trabalhos individuais e coletivos e nas rodas de conversa, assim como o modo como divisão de trabalho e participação individual nos grupos. 10. Anexos Pintura 1 Paisagem urbana, de Manuel Martins, 65 x 54 cm, óleo sobre tela, s.d. (Pode ser substituída por imagem similar) Manuel Martins (1911-1979). Pintor paulistano. Em sua pintura é possível observar as radicais transformações da paisagem paulistana sem a perda da pureza primitivista em sua obra. Conforme o crítico Mario Schenberg, “paradoxalmente, essas paisagens evocadas pela memória do artista transmitem vigorosamente vivências de aqui-agora”. Pintura 2 Paisagem rural, de João Batista da Costa, de 1895. (Pode ser substituída por imagem similar) João Batista da Costa (1865-1926). Nascido em Itaguaí-RJ. Pintor e professor da Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, que dirigiu de 1915 até o ano de sua morte. Um mestre paisagista, tem com marca registrada a percepção da natureza brasileira. A partir de 1906, elimina progressivamente das telas as guras humanas e passa a se ocupar, exclusivamente, com a descrição da paisagem rural. A leitura da paisagem: Ao promover a leitura da paisagem é necessário ter em conta que essa é uma
104 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
atividade que requer alguns procedimentos especícos que precisam ser desenvolvidos nos alunos ao longo de sua vida escolar, como apreensão de informação, seletividade, compreensão etc. Uma imagem de paisagem possibilita o estudo de muitos conceitos, tanto mais complexos quanto maior a maturidade intelectual de quem a observa. Por isso, o trabalho com esse recurso é muito importante para a aprendizagem em Geograa. Para analisar a paisagem é preciso obedecer a alguns estágios, como: Observação: – Descrever o que se vê; quanto maior domínio conceitual possuir o observador, maior será a capacidade de discriminação do que é observado. Análise: – Estabelecer relações entre os objetos presentes na paisagem, sejam naturais ou articiais. Interpretação: – Atribuir signicado ao aparente caos em que se encontram os objetos na paisagem. Avaliação: Avaliar a disposição dos objetos, suas inter-relações e as outras possibilidades de rearranjo espacial. Fonte: São Paulo (SP). Secretaria Municipal de Educação. Diretoria de Orientação Técnica. Referencial de expectativas para o desenvolvimento da competência leitora e escritora no Ciclo II do Ensino Fundamental: caderno de orientação didática de Geograa. São Paulo: SME/DOT, 2006, p. 58 (texto adaptado ).
Mais sobre paisagens no site da Revista Nova Escola Vídeo: Bertioga - Macau: diversidade cultural e intercâmbio postal Plano de aula: Olhe essa paisagem; Lado bom; O modo de vida no meu bairro ou na minha cidade. Reportagens: Êxodo rural, aqui e agora; A favela como espaço da cidade. Fonte:. Acesso em: 02 ago. 2011.
A indústria é outro elemento importante para a compreensão da organização do espaço geográfico que deve ser trabalhada desde as primeiras séries de forma cíclica e sempre retomando o tema para que esse seja abordado de forma mais abrangente. Ao tomar contato com esse tema o aluno vai reconhecendo os processos de produção das mercadorias. Em momentos distintos, o aluno vai tomando contato com o tema primeiro pela distribuição geográfica de fábricas e indústrias, e depois discutindo as diferentes profissões ligadas a essa atividade, pela observação dos rótulos dos produtos.
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
105
[...] O mais importante é que a criança perceba que o modo como a sociedade produz o espaço geográfico depende de como o trabalho é realizado. A criança de quarta série ainda está ligada ao próximo concreto, mas já pode compreender que o mundo é hoje urbano e social (KOZEL; FILIZOLA, 1996, P. 67).
Cabe ressaltar que estudar o concreto não se limita a estudar as aparências de um determinado espaço geográfico desprovido de interesses e de trabalho humano. Ao se observar, por exemplo, a área central da cidade é preciso mais do que considerar esse espaço como um agrupamento de pessoas e concentração de comércio, serviços e pontos de lazer, túneis, viadutos, linhas de ônibus, sobretudo, nas grades cidades. Olhar esse espaço para além de sua aparência estática é fazer perguntas, tais como: por que a cidade se localiza nessa parcela de território? Onde vivem e o que fazem as pessoas que circulam por essa cidade? Como e por que o espaço foi transformado? De que modo continua a ser construído todos os dias? São essas e outras perguntas que revelam a dinâmica não só de uma cidade, mas do estado e do país. Além de desvendar o espaço geográfico, o mais importante é compreender o modo como ele foi produzido. Nesse sentido, o nível da aparência deverá ser ultrapassado. Essa compreensão de espaço modificado deve ser adotada para qualquer outro espaço ou parcela da superfície terrestre seja ela urbana ou rural, deserto, floresta, rio ou mar. M O C . S O T O H P : e t n o F
Um último fator a ser considerado para o estudo geográfico desde os primeiros anos e aprofundado no quinto diz respeito ao desenvolvimento das tecnologias. Não se pode
106 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
desconsiderar que no mundo globalizado existem os países que possuem mais tecnologia para o desenvolvimento de pesquisas, enquanto outros vivem o atraso tecnológico sem condições de competir tanto no mercado interno como no externo, e também não contribuem para a nova agenda do planeta do século XXI, que é a preocupação com a preservação do meio ambiente. “[...] essas tecnologias ultrapassadas geralmente não são ‘limpas’, ou seja, poluem o ambiente (por emissão de resíduos no ar ou na água por desperdício de subprodutos)” (KOZEL; FILIZOLA, 1996, p.72). Cabe lembrar que são os países mais ricos e industrializados os maiores poluidores do meio ambiente. Apesar de disporem de recursos financeiros e tecnologias de última geração, não conseguem cumprir o compromisso de elaborar e implementar acordos firmados para o desenvolvimento sustentável do planeta no século XXI.
O que é Agenda 21?
A Agenda 21 é o principal resultado da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento – UNCED/Rio-92. Este documento foi discutido e negociado exaustivamente entre as centenas de países ali presentes, sendo portanto um produto diplomático contendo consensos e propostas. Agenda 21 é um documento estratégico, um programa de ações abrangente para ser adotado global, nacional e localmente, visando fomentar em escala planetária, a partir do século XXI, um novo modelo de desenvolvimento que modique os padrões de consumo e produção de forma a reduzir as pressões ambientais e atender as necessidades básicas da humanidade. A este novo padrão,
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
107
que concilia justiça social, eciência econômica e equilíbrio ambiental, convencionou-se chamar de Desenvolvimento Sustentável. A Agenda 21 Global é atualmente o documento mais abrangente e de maior alcance no que se refere às questões ambientais, contemplando em seus 40 capítulos e 4 seções temas que vão da biodiversidade, dos recursos hídricos e de infra-estrutura, aos problemas de educação, de habitação, entre outros. Por esta razão tem sido utilizada na discussão de políticas públicas em todo o mundo, tendo em vista a sua proposta de servir como um guia para o planejamento de ações locais que fomentem um processo de transição para a sustentabilidade. Em 1994, o Senado Federal publicou a versão deste documento em português. Para ter acesso ao texto integral da Agenda 21, acesse . Acesso em: 12 ago. 2011.
Para concluir é preciso considerar que ao produzir o seu espaço, o homem modifica a natureza. No entanto, o desenvolvimento da sociedade industrial e a produção voltada para o consumo em larga escala resultaram no desrespeito aos ritmos de renovação da natureza. [...] Em poucas palavras, pois assim que a sociedade moderna produziu uma crise ambiental sem precedentes, que deixa de herança para as gerações futuras a preocupação com o efeito estufa, o buraco na camada de ozônio, a desertificação das áreas verdes e a extinção de espécies de animais (KOZEL; FILIZOLA, 1996, p.74).
Considerando que as crianças da geração atual estão em contato com os mais diversos meios de comunicação e informação, a questão do meio ambiente ou a preservação da natureza já faz parte da vida dessas criança antes do ingresso escolar. Sendo assim, cabe ao professor no espaço escolar levar o aluno a perceber a ligação de espaço e questões ambientais ao longo de todas as séries. Além do mais, o estudo de Geografia possibilita: Aos alunos, a compreensão de sua posição no conjunto de relações da sociedade com a natureza; como e por que suas ações individuais e coletivas, em relação aos valores humanos ou à natureza, têm conseqüências – tanto para si como para a sociedade. [...] e perceber a importância de uma atitude de solidariedade e de comprometimento com o destino das futuras gerações (BRASIL, PCN, 2000, p.113).
Progressivamente durante os anos iniciais, é preciso levar o aluno a observar que existe uma inter-relação entre o todo e as partes e que o espaço é construído e modificado segundo
108 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
padrões de determinada sociedade atendendo às necessidades dos homens que nela vivem. Sendo assim, o modo como a sociedade produz o espaço geográfico depende de como o trabalho humano é realizado; quanto mais capitalista for essa sociedade maior será a intervenção humana sobre o mesmo sentido de modificá-lo para satisfazer os desejos dos homens, que às vezes estão em desacordo com a própria natureza, e com graus de intensidade que variam de acordo com seu nível de desenvolvimento tecnológico.
PRODUÇÃO DE NECESSIDADES: TRANSFORMANDO A NATUREZA E O PRÓPRIO HOMEM Dizer que o homem vive da natureza é dizer que a natureza é seu corpo, com o qual ele deve estar em trocas constantes, a fim de não morrer. Karl Marx
O homem cria permanentemente as suas necessidades e transforma a natureza para que essa satisfaça os seus desejos. Na medida em que essas não os satisfazem ou não os atendem mais, novas necessidades são criadas. Nesse sentido, o espaço é sempre reelaborado por meio do trabalho (ou da ação humana), mas os espaços não se desenvolvem igualmente, sendo assim, alguns se ampliam e outros não. São diversos os motivos que levam a essa diferença entre os espaços que vão desde a cultura do povo, o próprio espaço físico natural, mas, sobretudo, pela economia e a política. Esses dois últimos têm papel fundamental na construção e ampliação de alguns espaços considerando que dependem do investimento financeiro, isenção de impostos e industrialização. Dentro do processo de formação do sistema capitalista, a sociedade se urbanizou e se industrializou, para atender às necessidades crescentes de produção. Com a modernização do campo, parte significativa dessa produção migra para as cidades atendendo também a uma necessidade de trabalho, espaço de sobrevivência (KOZEL; FILIZOLA, 1996, p.27).
O capitalismo cada vez mais acirrado altera a vida das pessoas e dos espaços geográficos
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
109
que as circundam. Tais mudanças são observadas no campo com a substituição da mão de obra humana pelas colheitadeiras mecanizadas. Essas pessoas sem trabalho e sem qualificação migram para as cidades procurando uma alternativa de vida e de sustento para a sua família. Ao chegarem às grandes cidades, essas vão em busca de trabalho e por não serem mão de obra qualificada acabam muitas vezes por não encontrar, nesse sentido vão em busca de uma necessidade de trabalho, espaço e sobrevivência. M O C . S O T O H P : e t n o F
Todas essas mudanças percebidas no campo e na cidade são decorrências do processo de industrialização que teve início a partir da Primeira Revolução Industrial. Deste modo, as cidades passam a atrair pessoas para trabalharem nas fábricas, com a urbanização crescente exigiu-se a expansão do comércio e dos serviços, em consequência dessa urbanização houve a necessidade de criar transportes, energia, abastecimento e distribuição de água, coleta de lixo e os meios de comunicação. Todas essas mudanças produzem também um conceito que é o de transformação. O conceito de transformação está presente em todo o estudo do espaço, uma vez que a sociedade humana, ao satisfazer as necessidades que ela mesma cria, atua sobre a natureza e modifica o seu espaço. Essa intervenção se dá com a apropriação da natureza, ou seja, o homem não se submete ao espaço natural, cada vez mais ele altera por meio do trabalho (KOZEL; FILIZOLA, 1996, p.28).
110 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
O conceito de transformação deve estar presente em todas as atividades de observação e análise do espaço desde os primeiros anos, ampliando aos poucos a percepção dos alunos até que eles se vejam como agentes transformadores, e não apenas como observadores dos espaços vividos. Visto sob este ângulo, cabe ao professor observar e acompanhar os conhecimentos geográficos dos alunos sendo que espaço, tempo, produção de necessidades e transformação são ampliados e inter-relacionados com os conceitos de sociedade, trabalho, natureza e cultura e espaço vivido. A criança vai construindo o espaço percebido e depois concebido. Sendo assim, o propósito do ensino de Geografia é desenvolver nos alunos uma perspectiva de totalidade. Em suma, a espinha dorsal para a compreensão da relação do homem com a natureza se dá pelo trabalho. Os conceitos de tempo, espaço, transformação da natureza e produção das necessidades articulam-se em torno de um eixo temático, em um “ir-e-vir” entre o conhecimento sistematizado e o cotidiano, do amplo para o genérico, do espaço mais próximo e concreto (corpo, casa, rua, escola) Para os mais distantes do aluno considerados como abstratos ou simbólicos (bairro, cidade, estado, país, mundo, mapa, escalas, gráficos entre outros). “[...] Os conceitos e conteúdos são retomados, comparados e ampliados na sua relação com a complexidade da organização econômica e social do mundo de hoje” (KOZEL; FILIZOLA, 1996, p.36). Como encerramento do que nos propomos a discutir até aqui, caro(a) aluno(a), gostaríamos que compreendesse que os autores acima elencados foram os mesmos que sustentaram nossa base teórica nas unidades I e II, como também produziram a afirmação acima há dezesseis anos, isso significa que não podemos trabalhar os conceitos de tempo, espaço, produção de necessidades, transformação na natureza sem levar em conta as determinantes econômicas do mundo atual. O homem a cada dia altera a natureza e a paisagem para atender às necessidades que não
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
111
se resumem mais à caça, à pesca e à sobrevivência em climas inóspitos como os nossos ancestrais. Na sociedade contemporânea, o homem se vê atrelado às questões econômicas e sociais para dar continuidade a sua existência que sabemos não ser linear, excludente e vivendo à margem da sociedade. São esses os contornos que dão a dinâmica da sociedade tal qual ela se apresenta hoje e que devemos proporcionar aos nossos alunos.
A CRIANÇA E AS RELAÇÕES ESPACIAIS: A EVOLUÇÃO DA NOÇÃO DE ESPAÇO É por isso que, hoje, seja qual for a escala, o território constitui o melhor revelador de situações não apenas conjunturais, mas estruturais e de crise. Milton Santos
Como você já deve ter percebido ao longo da Unidade II e na continuidade da Unidade III, o espaço geográfico é considerado como território que, por sua vez, é historicamente produzido e modificado pelos homens que atuam sobre a natureza modificando o espaço a sua volta. Os estudos de diferentes representações, linguagens e imagens levam a análises, interpretações da formação do espaço e à construção de conceitos geográficos. Mas como se constrói a noção de espaço pela criança? A construção de noção de espaço requer longa preparação e está associada à liberação progressiva e gradual do egocentrismo. O espaço apresenta-se para a criança do nascer aos 2 anos, mais ou menos, como sendo o espaço da ação [...] (CASTROGIOVANNI, 2000, p.15).
Esse é o espaço vivido pela criança, que é também construído pelos deslocamentos que ela faz por meio do seu rastejar, engatinhar, andar, procurar e pelos sentidos que estruturam as relações de próximo, de acima, embaixo, ao lado, dentro, fora etc. Nesse período, inicia pela criança a construção da função simbólica, ou seja, a substituição de uma ação ou objeto por um símbolo, imagem ou palavra. Com isso ocorre a construção do espaço representativo. As ações que a criança excuta são interiorizadas, embora não representadas (CASTROGIOVANNI, 2000, p.16).
112 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
A construção do espaço representativo é constituída por dois momentos, sendo eles o intuitivo e o operatório. O intuitivo é manifestado por representações estáticas e irreversíveis e o operatório é o que operacionaliza os elementos espaciais. É do operatório que surge a possibilidade de ordenação e a reversibilidade das relações. No entanto, é preciso estabelecer distinção entre os espaços da ação ou perceptivos e o espaço representativo. O espaço de ação é construído em contato com o objeto, em outras palavras, esse espaço é construído por meio dos sentidos. Com relação ao espaço representativo, esse é construído ao contrário, ou seja, na ausência do objeto, portanto, reflexivo. Cabe ressaltar que são as relações espaciais que possibilitam as construções e as representações do espaço. Mas de que forma isso acontece? Para que ocorra a construção das relações espaciais é preciso que haja condições específicas. Uma delas é a interação do sujeito com o meio em que ele vive, e essa interação realizase com a liberação progressiva e gradual do egocentrismo primitivo. “[...] A criança passa a localizar os objetos a partir das relações que estabelece entre eles, pela própria coordenação de diferentes pontos de vista ou de sistemas de coordenadas [...]” (CASTROGIOVANNI, 2000, p.16). Para Almeida e Passini (2004), desde os primeiros meses de vida a criança vai delineando as impressões e as percepções com relação ao domínio espacial e essas só ocorrem mediante sua interação com o meio. Por isso é importante reafirmar que muito antes da criança ingressar no período de escolarização o desenvolvimento da concepção da noção de espaço já acontece. No entanto, é na escola que deve ocorrer a aprendizagem espacial que leva a compreensão das formas pelas quais a sociedade organiza o seu espaço. A noção de espaço passa por níveis próprios de evolução das crianças na construção do conhecimento do espaço, que pode ser expresso da seguinte maneira: vivido – percebido – concebido. Cada um desses espaços tem suas características específicas, a partir da
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
113
contribuição de Almeida e Passini (2004, p.26): O espaço vivido (grifo nosso) refere-se ao espaço físico, vivenciado através do movimento e do deslocamento. É apreendido pela criança através de brincadeiras ou de outras formas ao percorrê-lo, delimitado ou organizado segundo seus interesses. Daí a importância de exercícios rítmicos e psicomotores para que ela explore com o próprio corpo as dimensões e relações espaciais.
Nota-se o quanto é importante para a construção do espaço vivido que a criança se locomova e brinque, a fim de que ela perceba os espaços que estão a sua volta, assim como reconhecer o seu próprio corpo. Nesse sentido, mesmo antes do ingresso no primeiro ano do Ensino Fundamental, é de extrema importância que a criança esteja em contato com outras e a partir do seu meio, das relações que ela estabelecer com este e com a interação com as outras crianças, ela começa a construir essa identidade espacial. Com relação ao espaço percebido as autoras se posicionam da seguinte forma: O espaço percebido (grifo nosso) não precisa mais ser experimentado fisicamente. Assim, a criança da escola primária é capaz de lembrar-se do percurso de sua casa à escola, o que não se dava antes, pois era necessário percorrê-lo para identificar os edifícios, logradouros e ruas (ALMEIDA; PASSINI, 2004, p.26).
Nessa fase a criança já é capaz de distinguir as distâncias e a localização, por exemplo, ao olhar uma foto. Antes ela só percebia o aqui, agora ela já é capaz de identificar o distante. Nesse período entre o espaço vivido e o espaço percebido deu-se tanto a ampliação do espaço empírico da criança, quanto a análise desse espaço que passa a ser feito agora por meio da observação. Esse é o momento em que se inicia, para a criança, o estudo da Geografia. Por isso é importante que o professor dos primeiros anos, ao trabalhar o conteúdo, dê preferência e se preocupe em elaborar atividades que desenvolvam conceitos e noções de espaço. Com relação ao espaço concebido cabe definir: Por volta de 11-12 anos o aluno começa a compreender o espaço concebido (grifo nosso), sendo-lhe possível estabelecer relações espaciais entre elementos apenas
114 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
através de sua representação, isto é, é capaz de raciocinar sobre uma área retratada em um mapa, sem tê-la visto antes (ALMEIDA; PASSINI, 2004, p.27).
Observa-se que desde o espaço vivido, passando pelo espaço percebido até chegar ao espaço concebido houve um processo evolutivo na construção do espaço pela criança. Isso equivale a dizer que o professor deve desenvolver um trabalho que privilegie desde os anos iniciais uma estruturação desse espaço, pois para a criança os objetos e o espaço que eles ocupam são indissociáveis, ou seja: “[...] a posição de cada objeto é dada em função do todo no qual ele se insere. E a criança percebe esse todo e não cada parte distintamente [...]” (ALMEIDA; PASSINI, 2004, p.27). É por essa percepção do todo e não de cada parte distintamente que a criança, até aproximadamente os seis anos, define tanto a localização quanto os deslocamentos de objetos a partir dos próprios referenciais, a em outras palavras, da sua própria posição. Essa percepção que ela tem do espaço a sua volta dificulta a distinção de categorias de localização espacial, tais como: perto de, abaixo, no limite de; tanto para a própria criança situar-se quanto para situar os objetos de forma objetiva. Nesse sentido, é tarefa do professor auxiliar o aluno na compreensão dessas categorias para chegar a estruturas de organização espacial. M O C . S O T O H P : e t n o F
Já foi abordado nessa seção que a exploração do espaço pela criança ocorre desde o seu nascimento, por meio das experiências que ela realiza ao seu redor. Acrescentamos ao que já foi dito que ao ser tocada, acariciada, sustentada no colo, amamentada a criança inicia o processo de aprendizagem do espaço, pois ficam registrados na sua memória os referenciais de lados e das partes do corpo, sendo que esses servirão de base para os referencias espaciais. “[...] Nesse processo de conscientização do espaço ocupado pelo próprio corpo há dois aspectos essenciais: o esquema
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
115
corporal e a lateralidade” (ALMEIDA; PASSINI, 2004, p.28). O esquema corporal depende tanto das funções motoras quanto da percepção do espaço imediato. Gradualmente, a criança vai tomando consciência do seu corpo seja pelo estado de repouso ou de movimento. Esse reconhecimento se dá pela inter-relação das partes do seu corpo e na relação com o espaço e os objetos que a rodeiam. Essa consciência começa ao nascer e vai se desenvolvendo até a adolescência, sendo que neste estágio ocorre a elaboração completa do esquema corporal, juntando-se a essa elaboração o desenvolvimento do sistema nervoso e da relação que o adolescente faz em relação a ele mesmo e ao mundo que o rodeia. À medida que a criança for crescendo ela reconstruirá o espaço que é próprio dos adultos. Isso ocorre porque ela está voltada para o espaço externo desses, que são os móveis, as casas, as ruas, as praças, os campos. Esse espaço não corresponde as suas pequenas dimensões físicas e à sua pouca vivência do mundo. “[...] A reconstrução desse mundo será feita, inicialmente, a partir de suas próprias dimensões e capacidade de percebê-lo p ercebê-lo [.[.....]”]” (ALMEIDA; PASSINI, PA SSINI, 2004, 200 4, p.29). Outro aspecto a ser considerado na organização espacial diz respeito ao predomínio de um lado do corpo. [...] Existe um melhor adestramento de uma mão, um olho, uma perna e pé, e isto implica em viver, mesmo sem ter consciência. Uma divisão do espaço em duas partes assimétricas, a qual será a raiz da futura análise do espaço percebido (ALMEIDA; PASSINI, 2004, p.30).
Nesse momento é preciso uma intervenção do professor para auxiliar a criança a lateralizar-se. Em outras palavras, significa auxiliá-la para que ela tome consciência de seu predomínio lateral para esquerda ou para a direita. Essa ação do professor é necessária para que a lateralização ocorra de forma clara e completa. A partir dos 5 até os 7 anos é que a criança vai tomando gradativamente consciência do seu
116 METODOL METODOLOGIA OGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação E ducação a Distância
corpo e de suas partes distintas, iniciando o processo de identificação. É no decorrer desse período que surge lentamente a possibilidade de projetar para outros objetos e outras pessoas o que ela já havia comprovado em si mesma. Cabe ainda ressaltar que as primeiras relações espaciais que a criança estabelece são chamadas relações topológicas. topológicas. Dessas relações espaciais derivam posteriormente as relações projetivas e euclidianas (CASTR (CASTROGIOVANNI, OGIOVANNI, 2003). As relações topológicas são aquelas relações espaciais que se estabelecem no espaço próximo, usando referenciais, tais como: na frente, atrás, dentro, fora, perto, longe etc. Essas relações começam a ser estabelecidas pela criança desde o seu nascimento e são a base das relações espaciais mais complexas. Observe os exemplos abaixo para compreender melhor:
Figura 1: Representação da relação topológica de ordem espacial aplicada aos pares de elementos Fonte: .
Neste desenho de uma criança de 3 anos aproximados, os dois olhos e as duas pernas estão ordenados entre si. O que parece uma coroa em cima da cabeça, na verdade é uma mão; embora os dedos representados também guardem uma ordenação espacial, a mão em si não está na posição (ordem) real. Disponível em: . Acesso em: 01 jul. 2011.
METODOLOGIA METODOL OGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
117
Figura 2. Representação da relação topológica de ordem espacial aplicada ao conjunto dos elementos Fonte: .
“Desenho de criança de 4; 6 meses aproximadamente, retratando cena de um castelo. A ordem espacial está presente em cada elemento em si, bem como encontra-se representada na coordenação dos elementos entre si”. Fonte: . Acesso em: 01 jul. 2011.
No caso do espaço topológico, as relações espaciais se dão no plano perceptivo e se processam na seguinte ordem: vizinhança, separação, ordem ou sucessão, envolvimento ou fechamento, continuidade ou contínuo que servem de ponto de partida para as noções representativas, ou espaço espaço pré-lógico, pré- lógico, mais ou menos na faixa entre os 6-7 anos que coincide com o início da atividade escolar. De acordo com Castrogiovanni (2003, p.18) p.18),, as relações espaciais topológicas, são as primeiras a serem construídas, mas estão sempre sendo ressignificadas ressignific adas e empregadas no cotidiano. Vizinhança : relações em que os elementos são percebidos no mesmo campo, próximos uns Vizinhança: dos outros. Separação: as crianças percebem que os objetos, embora vizinhos, estão dissociados, Separação: ocupam posições distintas no espaço.
118 METODOL METODOLOGIA OGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação E ducação a Distância
Ordem ou Sucessão: Sucessão: relações que se estabelecem entre elementos vizinhos e separados. Envolvimento ou fechamento: fechamento: estabelecem-se no sentido das noções de interior, exterior, centralidade, proximidade, contorno. Continuidade ou contínuo: contínuo: envolve o conhecimento de pontos colocados em sequência no espaço, o desenho de uma paisagem, por exemplo. Para se estabelecer tais relações, empregam-se todas as outras noções de vizinhança, separação, ordem ou sucessão e envolvimentoo ou envolviment o u fechamento. Nas palavras de Castrogiovanni (2003, p.18): Relações projetivas são as que permitem a coordenação dos objetos entre si na atividade de um sistema de referência móvel, dado pelo ponto de vista do observador. Inicialmente o ponto de referência está centrado na própria criança, aos poucos é transferido para outras referências, ou seja, ocorre a descentração [...].
projetivas têm seu fundamento na noção da reta, em outras palavras, em pontos As relações projetivas têm alinhados ou ordenados em uma direção, segundo um ponto de vista. É por meio da atividade perceptiva e da inteligência sensório-motora que a criança aprende a manejar certas cer tas relações projetivas, no entanto, são necessários muitos anos para a criança organizar um sistema de referência operatório de referência projetiva que leve a total coordenação da perspectiva e a reversibilidade dos pontos de vista. As noções fundamentais que envolvem as relações projetivas são: frente e trás, em cima e embaixo, direita e esquerda. A construção da projetividade se dá em três fases, sendo que na primeira a criança consegue dar a posição de objetos a partir do seu ponto de vista (5-8 anos), logo após a partir do ponto de vista do outro colocado a sua frente (8-11 anos) e, por último, colocando-se no lugar dos objetos distintos, quando solicitado a situá-los entre eles (12 anos). anos). Com as relações projetivas é possível iniciar a transposição da orientação corporal para a geográfica, estabelecendo as relações Norte-Sul-Leste-Oeste.
METODOLOGIA METODOL OGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
119
FIGURA 3 - Associação entre hemisférios corporais e os hemisférios do “corpo Planeta Terra” Fonte: Callai e Kaercher (2003, p.20).
As relações euclidianas, de acordo com Castrogiovanni (2003, p.20): “São representadas pelas relações que têm como base a noção de distância e permitem situar os objetos uns em relação aos outros, considerando um sistema fixo de referência. O espaço euclidiano deriva do espaço topológico e do projetivo.”
Figura 4 - Desenho que demonstra a solução dos problemas projetivos e euclidianos na transformação de um objeto tridimensional em representação bidimensional Fonte: .
Elaborado por criança de 10 anos e 1 mês. Repare-se a proporção exata, a perfeita conservação de ângulos e paralelas - todos coordenados pelo mesmo ponto de vista.
120 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
Observe-se, por outro lado, que as árvores não guardam o mesmo nível de excelência daquele apresentado na figura do trem, porque não conservam a linha vertical. É muitíssimo comum o desenho infantil apresentar dois ou mais níveis de grafismo numa mesma representação. Fonte: . Acesso em: 01 jul. 2011.
As primeiras conquistas da atividade perceptiva, assim como as primeiras constatações de grandeza e de forma pela criança, são organizadas no nível da inteligência sensório-motora (permanência do objeto ausente). Somente no nível das operações concretas surgem as primeiras conservações verdadeiras, tais como: superfície, distância, comprimento tão necessárias para o progresso do espaço métrico e quantificado. Para finalizarmos esta seção apresentamos um quadro explicitado em . Acesso em: 01 jul. 2011. Quadro 1 - Relações envolvidas na representação através do desenho
Fonte: .
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
121
AS ATIVIDADES LÚDICO-PEDAGÓGICAS NA AMPLIAÇÃO DO DOMÍNIO DE ESPAÇO Com o intuito de aproximar você, caro(a) aluno(a), das questões aqui elencadas com relação à construção da noção de espaço pela criança, apresentaremos algumas atividades que gradualmente levarão o aluno a agir e refletir sobre o espaço.
Atividade 1: mapear o eu Como primeira proposta de atividade, as autoras Almeida e Passini (2004, pp.47-48) sugerem mapear o próprio corpo, pois a partir daí ele toma consciência de sua estatura, posição dos membros e dos lados do seu corpo. “[...] Ao representá-los terá necessidade de se utilizar de procedimentos de mapeador – generalizar, observar a proporcionalidade, selecionar elementos mais significativos -, para que a representação não perca a característica de sua imagem”. Os materiais necessários para essa atividade são: papel de embrulho do tamanho do aluno, giz de cera, caneta hidrocor, giz, papel sulfite, barbante, globo terrestre.
Procedimento No primeiro momento os alunos devem se colocar em pares para fazer o mapa do próprio corpo. Na sequência, o aluno A deita-se sobre a folha de papel, enquanto o aluno B risca o seu contorno. Em seguida, os papéis se invertem podendo, também, riscar o contorno no chão com giz escolar. No segundo momento, cada aluno com o contorno do próprio corpo nomeia as partes desse corpo e escreve ou cola etiquetas. No momento seguinte, a atividade deverá ser repetida para trabalhar a lateralidade e o contorno do corpo dos alunos que é feito com giz no chão. A partir
122 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
daí duas sequências de atividades podem ser desenvolvidas. Primeira sequência: com os alunos em pé sobre o traçado da cabeça no contorno. Nesse caso em específico, a projeção da lateralidade se dá sem espelhar, a direita do aluno coincide com a direita do contorno. Em seguida, a professora cola um barbante na testa dos alunos com durex e solicita que cada as criança identifique o seu lado direito, colocando uma marca (com giz na mão direita ou com durex no peito direito etc.). O barbante, como linha demarcatória do eixo de lateralidade, deverá ser traçado também no contorno. M O C . S O T O H P : e t n o F
Uma vez identificados os lados do corpo no contorno, a professora solicita que os alunos identifiquem as partes de cada lado do corpo no contorno, por exemplo: Pularem no ombro direito. Pularem no joelho esquerdo. Pularem no pé direito. Pularem no braço direito etc. A segunda sequência é idêntica à primeira, no entanto aqui a lateralidade é espelhada, sendo assim o aluno posiciona-se em pé sobre os pés do contorno. Com a lateralidade espelhada a sua direita corresponde ao lado esquerdo do contorno, seguindo para o lado contrário de seu corpo.
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
123
Atividade 2: o banho de papel Trata-se de uma atividade que pode ser desenvolvida a fim de levar o aluno a identificar as partes do próprio corpo, antes mesmo de mapeá-lo, ou seja, projetá-lo no papel. Tal atividade consiste em fazer com que os alunos simulem um banho. Para as crianças que não possuem as noções de direita e de esquerda corporais, é indicado que se trabalhe com a ideia espacial de “lado do coração” e lado “oposto do coração”. De posse de um objeto simulando um sabonete, a criança lava o corpo sob a orientação do professor, com as seguintes solicitações: Lavar a testa. Lavar o braço situado no lado do coração (esquerdo). Lavar o braço situado ao lado oposto do coração (direito). Lavar a perna situada no lado do coração (esquerdo) de cima para baixo etc. A atividade possibilita o emprego de noções espaciais, tais como: lado esquerdo, lado direito, centro, acima, embaixo e também noções temporais: antes, depois, rapidamente, suavemente etc. Essa atividade, por usar a estimulação tátil, leva a criança a sentir e gravar na sua memória corporal as partes e lados do seu corpo.
Atividade 3: lavando o corpo hemisferizado: o equador corporal Essa atividade deve ser trabalhada para desenvolver os hemisférios corporais das crianças. Para essa atividade é necessário dois metros de cordão (barbante). A intenção é representar o Equador Corporal no corpo da criança, como se esse fosse o Planeta Terra, passando um
124 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
cordão à volta do corpo da criança. A atividade deve ser desenvolvida de acordo com a proposta de Castrogiovanni (2003, pp. 32-33): Interrogue a criança sobre o quê o cordão estabeleceu. É importante já ter trabalhado as noções de “acima” e “embaixo” com o auxílio de objetos e de uma mesa. Discuta o que deve ser entendido como “em cima” e “embaixo de”, considerando o corpo apoiado pelos membros inferiores sobre o chão, questionando-a sobre que parte do seu corpo está agora para baixo e qual está para acima. Discuta a idéia de que, estar “acima de” ou “embaixo de”, depende do ponto de apoio-ponto de vista, portanto, é relativo a uma situação. Trabalhe com o globo terrestre, mostrando que a Terra está “solta” no espaço e, portanto, não existe “acima de” e “embaixo de” quando se trata de representações do planisfério (mapas), pois a Terra não está sobre alguma coisa. Com o cordão em torno da cintura (Equador Corporal), crie um novo roteiro para o “banho”, agora considerando o nome dos hemisférios corporais atribuídos pelo grupo. É fundamental manter presente um globo e fazer associação: globo-Equador, criação de dois hemisférios terrestres – Norte e Sul, com o corpo–cintura, criação de dois hemisférios corporais.
Figura 5 - Associação entre os “paralelos corporais” e os paralelos da Terra Fonte: Callai e Kaercher (2003, p.33).
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
125
Atividade 4: lavando o corpo hemisferizado: meridiano corporal e a lateralidade Nessa atividade devem empregar mais dois metros de cordão. O professor propõe para que a criança passe o cordão pelo seu corpo no sentido vertical. Essa linha “traçada verticalmente” deve ser passada na frente, sobre o nariz, umbigo e nas costas, sobre o centro da coluna, estabelecendo assim dois hemisférios (direito-esquerdo). O professor auxilia nessa atividade chamando a atenção dos alunos para a simetria corporal, ou seja; os braços, pernas, mãos, orelhas são duplos e estão “cada um de um lado”. O coração está no centro suavemente voltado para a esquerda, sendo assim, temos dois hemisférios que é o esquerdo (coração) e o direito (outro lado). O professor orienta o banho considerando os dois hemisférios verticais, após, ainda com o cordão na cintura das crianças, também os horizontais, ou seja, os quatro hemisférios, mas sempre relacionando o corpo da criança com o Planeta Terra (Globo Terrestre) (CASTROGIOVANNI, 2003, p.34).
A ideia dessa atividade é de que a criança, a partir das representações de seu próprio corpo, transporte para outras referências espaciais, no caso o Planeta Terra.
Figura 6 - Associação entre os “meridianos corporais” e os meridianos da Terra Fonte: Callai e Kaercher (2003, p.35).
126 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
Atividade 5: quem é o vizinho? Essa atividade foi proposta por Castrogiovanni (2003, pp.26-27) e trata das relações de vizinhança e continuidade. Ela poderá ser realizada por meio do estudo dos bairros. A atividade deve iniciar com a localização e a posição do bairro da escola, empregando as relações topológicas e, no momento seguinte, os pontos cardeais.
Procedimentos da atividade Distribua para cada aluno um mapa (planta do traçado urbano) de sua cidade já com os respectivos bairros assinalados. Peça que localizem no mapa o bairro que moram, o bairro da escola e o bairro centro. Discuta o porquê do nome “centro”. Distribua também o quadro. Solicite que localizem o bairro em relação aos bairros vizinhos. Trabalhe com noções tais como: vizinho de, perto de, longe e muito longe. Discuta critérios para adotar essas referências. Preencha os espaços com os critérios no lugar reservado no quadro (CASTROGIOVANNI, 2003).
Construa com os alunos o quadro a seguir: BAIRRO
VIZINHO
PERTO
LONGE
MUITO LONGE
Fonte: (CALLAI e KAERCHER, 2003, p.26).
Em seguida, os alunos devem ser orientados para que coloquem o nome do bairro em que moram no centro da rosa dos ventos.
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
127
Figura 7 - Rosa dos Ventos: a referência é o bairro no qual reside o aluno Fonte: Castrogiovanni (2003, p.27).
E, sucessivamente, coloquem os outros bairros de acordo com as direções cardeais: Norte, Sul, Leste, Oeste. Nessa atividade é possível trabalhar com os pontos colaterais: Nordeste, Sudeste, Sudoeste, Noroeste. Em seguida, faça a inversão, em outras palavras, solicite que os alunos coloquem a rosa dos ventos sobre cada bairro fazendo com que identifiquem onde está localizado o bairro em que a escola está situada e assim pôr outras referências. Essa atividade pode ser ampliada para outros municípios, estados brasileiros, continente etc.
Atividade 6: disco voador A proposta da atividade do disco voador é trabalhar com as noções topológicas de contém, está contido, secção, continuidade e, ainda com a posição relativa de interioridade e exterioridade. “[...] Auxilia na construção das estruturas lógicas que leva a criança a entender as relações de tamanho e proporcionalidade entre os diferentes territórios, como o município em um Estado e esse inserido em um país [...]” (CASTROGIOVANNI, 2003, pp. 29-30). Desenvolvimento da atividade: Construa com as crianças, em uma folha de papel ofício, discos voadores que empreguem círculos concêntricos. Cada disco deve ter uma cor diferente das demais. O espaço é o todo, portanto, envolve os demais subespaços, formando a “continuidade territorial”. O “todo territorial” pode ser associado à casa da criança, ao bairro, à cidade,
128 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
ao município, a uma região, ao país, ao continente e ao próprio Planeta Terra. Proponha desafios que operem com simulações de situações geográficas, empregando as relações espaciais. Por exemplo, considere inicialmente como sendo o território o pátio da escola. Questione: o que representariam as outras letras nesse caso? Observe que a idéia é sempre lidar com as noções “contém” e “está contido”, ou seja, a continuidade territorial. Problematize empregando a ordem inversa e mesmo a ordem intermediária. Por exemplo, se o B for o município X, o que será o território A? E o território C? O território D pode ser a nossa escola? Por quê? (CASTROGIOVANNI, 2003).
Os círculos abaixo, do menor para o maior, são representados pelas sequências do alfabeto: A-B-C-D-E-F.
Figura 8 - Cada um dos segmentos territoriais representa um lugar Fonte: Castrogiovanni, 2003.
CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta terceira unidade procuramos compreender o espaço e seu contínuo movimento de “ir-e-vir”, ou seja, sua dinamicidade, indo além de seu conteúdo físico ou natural. Lembremo-nos de que, para Santos (1996), o espaço é todo conjunto de formas representativas de relações sociais do passado e do presente e que acontecem diante dos nossos olhos. Vimos que as impressões e percepções com relação ao domínio espacial começam muito cedo. Desde os primeiros meses de vida a criança adquire-as por meio de sua interação com o meio. Essas noções de espaço passam por níveis próprios de evolução que podem ser expressos por meio do vivido; percebido e concebido, cada um deles com suas características específicas. Assim, é preciso destacar que muito antes da criança ingressar na escola o desenvolvimento da concepção da noção de espaço já acontece. No entanto, é na escola que deve ocorrer a aprendizagem espacial que leve a compreensão das formas pelas quais a sociedade METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
129
organiza o seu espaço, cabendo à Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental o trabalho com o conceito de espaço que envolve a orientação e localização, bem como sua representação. Progressivamente, é preciso levar o aluno a observar que existe uma inter-relação entre o todo e as partes, e que o espaço é construído e modificado segundo padrões de determinada sociedade atendendo às necessidades dos homens que nela vivem.
ATIVIDADE DE AUTOESTUDO 1. Segundo Kozel e Filizola (1996, p. 24-25), “compreender o conceito de espaço é entender como o homem transforma a natureza por meio do trabalho, produzindo o chamado ‘espaço geográco’”. Neste sentido, este conceito maior de espaço somente pode ser entendido a partir de alguns conceitos-chaves essenciais para o domínio geográco. Assim: a) Conceitue espaço geográco. b) Dena lugar, território e paisagem. 2. Vimos nesta terceira unidade como a criança vai construindo a noção de espaço. Deste modo, procure explicar como a criança passa do espaço vivido ao concebido, passando pelo espaço percebido. Dê exemplos para elucidar sua explicação. 3. Ao utilizar as dimensões: em cima, na frente, atrás, à direita, à esquerda, a criança está usando as relações projetivas. Além dessas, há outras duas essenciais ao desenvolvimento infantil. A) Estabeleça um contraponto entre as relações topológicas, projetivas e euclidianas em um quadro comparativo, destacando as principais características de cada uma delas. B) Destaque os benefícios ao desenvolvimento infantil trabalhando essas relações supracitadas.
130 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
Leia o Caderno Cedes, Campinas, vol. 25, n. 66, pp. 209-225, maio/ago. 2005. Disponível em: . Os Cadernos CEDES são publicações de caráter temático, dirigidas a prossionais e pesquisadores da área educacional, com o propósito de abordar questões que se colocam como atuais e signicativas neste campo de atuação. Vêm sendo editados desde 1980, mantendo de 3 a 6 novos títulos por ano.
Apresentação Sonia Maria Vanzella Castellar Artigos - Resumos
EL SPACIO POR APRENDER, EL MISMO QUE ENSEÑAR: LAS URGENCIAS DE LA EDUCACIÓN GEOGRÁFICA Marcelo Garrido Pereira La presente reexión intenta indagar en las posibilidades del discurso pedagógico cuando se considera el saber espacial informal como un antecedente de prácticas transformativas. El saber espacial informal ha sido ampliamente negado por los currículos nacionales e incluso menospreciado por las apuestas didácticas que los profesores de geografía desarrollan. En tal sentido urge identicar las relaciones entre un saber que es experiencia y que es al mismo tiempo parte de un proyecto de actor y de sujeto en crisis. Con todo ello se proponen espacios de intervención pedagógica, categorías de síntesis de la experiencia espacial y caminos problematizadores para el desarrollo de una educación geográca signicante. Palavras-chave: Saberes geográcos informales; Reconstitución de la experiencia espacial; Espacios
de intervención pedagógica.
O MÉTODO INTUITIVO E A PERCEPÇÃO SENSORIAL COMO LEGADO DE PESTALOZZI PARA A GEOGRAFIA ESCOLAR Beatriz Aparecida Zanatta O artigo é uma contribuição para o entendimento da história da prática pedagógica da geograa escolar. Busca subsidiar a formação de professores com elementos que permitam a compreensão das concepções pedagógicas que, a partir do século XIX, passaram a nortear a prática de ensino de geograa. O principal objetivo é apresentar uma reexão a respeito das contribuições de Pestalozzi acerca da metodologia de ensino de geograa, assim como, da repercussão dessas idéias no ensino da geograa brasileira. A conclusão aponta para o entendimento de que muitas das idéias e princípios pestalozzianos encontram-se presentes nas atuais propostas de ensino, porém enriquecidas pelas METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
131
reexões de renomados teóricos do pensamento pedagógico e geográco contemporâneo. Palavras-chave: Ensino de geograa; Metodologia de ensino; Método intuitivo.
COTIDIANO, MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA E FORMAÇÃO DE CONCEITOS: UMA CONTRIBUIÇÃO DE VYGOTSKY AO ENSINO DE GEOGRAFIA Lana de Souza Cavalcanti Este texto faz uma síntese da teoria vygotskyana sobre o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores, destacando alguns conceitos dessa teoria, tais como internalização, mediação semiótica, Zona de Desenvolvimento Proximal, conceitos cotidianos e conceitos cientícos, que são especialmente instrumentalizadores da análise dos processos educativos e de sua relação com o desenvolvimento dos processos psicológicos. A partir de uma síntese do pensamento de Vygotsky, o texto busca especicar possíveis contribuições dessa teoria para o ensino de geograa, particular mente para a formação de conceitos geográcos. Palavras-chave: Psicologia histórico-cultural; Formação de conceitos; Ensino de geograa. EDUCAÇÃO GEOGRÁFICA: A PSICOGENÉTICA E O CONHECIMENTO ESCOLAR Sonia Maria Vanzella Castellar Este artigo tem como objetivo tratar da aprendizagem e da didática no âmbito da geograa escolar, respaldado nas concepções teóricas da psicogenética. Para tanto, apresentamos alguns aspectos do pensamento geográco, articulando-o com o saber pedagógico. A partir dos pressupostos da teoria piagetiana propusemos uma nova leitura da didática no ensino da geograa. Palavras-chave: Educação; Geograa; Aprendizagem; Saber pedagógico e formação. APRENDENDO A LER O MUNDO: A GEOGRAFIA NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL Helena Copetti Callai Este artigo discute a possibilidade e a importância de se aprender geograa nas séries iniciais do ensino fundamental, a partir da leitura do mundo, da vida e do espaço vivido. Para tanto, aborda o papel da geograa nesse nível do ensino e a necessidade de se iniciar, nessa fase, um processo de alfabetização cartográca. Considera também os conteúdos da geograa presentes nos currículos escolares como uma das maneiras de contribuir na alfabetização da criança. Tendo em vista esse objetivo, discute as exigências teóricas e metodológicas da geograa para referenciar o ensino e a aprendizagem. Palavras-chave: Geograa; Ensino; Aprendizagem; Séries iniciais e espaço. O OFÍCIO, A OFICINA E A PROFISSÃO: REFLEXÕES SOBRE O LUGAR SOCIAL DO PROFESSOR Manoel Fernandes de Sousa Neto Este breve ensaio discute o papel social do professor buscando compreender a dimensão social e
132 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
histórica da prossão, uma vez que articula a relação entre os ofícios que se executam e a dimensão pessoal e política das escolhas pela prossão de professor. Palavras-chave: Ofício; Prossão; Professor; Educação e lugar social.
Fonte: . Acesso em: 02 ago. 2011 .
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
133
UNIDADE IV
A CARTOGRAFIA: ALGUMAS APROXIMAÇÕES Professora Me. Adélia Cristina Tortoreli Professora Me. Priscilla Campiolo Manesco Paixão
Objetivos de Aprendizagem • Compreender o conceito de cartograa para aplicá-lo adequadamente durante a prática docente. • Destacar a leitura e produção de mapas, bem como suas especicidades. • Identicar as etapas de desenvolvimento espacial das crianças segundo a proposta de Piaget. • Reconhecer a importância da construção de maquetes como simbolização da realidade pelas crianças dos anos iniciais do Ensino Fundamental.
Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
• Uma breve explanação sobre o assunto • A leitura de mapas • As escalas: entendendo as reduções • A cartograa e os mapas mentais • As maquetes: a simbolização da realidade
INTRODUÇÃO Nesta unidade, caro(a) aluno(a), trabalharemos o estudo da linguagem cartográfica (os mapas) destacando a sua importância desde o início do ingresso escolar com o objetivo de não apenas utilizar essa ferramenta básica da Geografia, mas sobretudo desenvolver as capacidades relativas à representação dos espaços. Mas, para iniciarmos nossa conversa queremos que você se remeta ao tempo em que era criança e pense: - Como a professora ensinava mapas? - Você tem boas lembranças dessas aulas? - Quais são as imagens mentais que faz desse tempo de escolarização? Não queremos assustá-lo, mas infelizmente para a grande maioria dos estudantes até bem pouco tempo atrás, ou mesmo na atualidade, as aulas de Geografia, mais precisamente aulas que envolviam mapas, eram apenas memorísticas. O professor entregava uma folha de papel de seda ou manteiga e solicitava aos alunos que colocassem sobre um mapa para reproduzilo. E ainda precisavam tomar cuidado para que a folha não saísse do lugar, caso contrário, o mapa sairia errado. Ou ainda, pediam para que os alunos decorassem países, continentes etc., e realizavam uma prova oral sobre o assunto. Bem, se opondo a tudo isso, aqui nos propomos a envolvê-lo em um fazer dinâmico da cartografia. Quem disse que produzir ou ler mapas não pode ser satisfatório? Precisamos quebrar este paradigma de que os mapas, as escalas, os croquis, as maquetes são bichos de sete cabeças. Pois então, está preparado? Vamos lá?
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
137
UMA BREVE EXPLANAÇÃO SOBRE O ASSUNTO Mapas já eram utilizados pelos homens das cavernas para expressar seus deslocamentos e registrar as informações quanto às possibilidades de caça, problemas de terreno, matas, rios etc. (MONTEIRO, 2005).
A cartografia enquanto uma linguagem é um conhecimento que vem se desenvolvendo desde a pré-história até os dias atuais. “[...] O mapa já era utilizado pelos homens das cavernas para expressar seus deslocamentos e registrar as informações quanto às possibilidades de caça [...]” (ALMEIDA; PASSINI, 2004, p.16). Por meio dessa linguagem é possível sintetizar informações, assim como expressar conhecimentos, dedicar-se às explorações por terras e lugares desconhecidos, entre outras coisas com o intuito de envolver a ideia da produção do espaço: sua organização e distribuição. Em resumo, o mapa é de suma importância para todos que necessitam e se interessam por deslocamentos, assim como para a compreensão e organização dos espaços, a fim de que se possa não apenas se informar, mas utilizá-lo para uma visão de conjunto.
O QUE É MAPA? Mapa, representação de uma área geográca ou parte da superfície da Terra, desenhada ou impressa em uma superfície plana. Contém uma série de símbolos convencionais que representam os diferentes elementos naturais, articiais ou culturais da área delimitada no mapa. Seu tipo básico é o mapa topográco, que mostra os elementos naturais da área analisada e também certos elementos articiais, além das fronteiras políticas. Entre os mapas temáticos mais importantes encontram-se as cartas de navegação marítima (náuticas) e as cartas de navegação aérea (aeronáuticas). As cartas de navegação marítima cobrem a superfície dos oceanos e de outras grandes massas de água, bem como suas costas. As cartas de navegação aérea contêm a situação dos radiofaróis, dos corredores aéreos e das áreas cobertas pelos campos de transmissão das estações de rádio.
138 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
Para que um mapa possa conter uma grande quantidade de informação de fácil leitura, deve-se empregar um sistema de símbolos, que são denidos nas legendas (convenções). A localização de um ponto no mapa pode ser denida com precisão pelos graus, minutos e segundos de latitude e longitude. Os mapas são orientados de modo que apresentam uma rosa-dos-ventos que indica a direção do pólo magnético. A escala em que um mapa é desenhado representa a relação entre as dimensões dos elementos representados no mapa e as dimensões reais desses mesmos elementos na superfície da Terra. As formas das curvas de nível são uma representação exata das formas das elevações e das depressões, e as curvas propriamente ditas mostram as altitudes reais. Os diversos métodos usados para se obter um mapa plano da superfície terrestre são denominados projeções e são classicados como projeções geométricas e projeções analíticas. A elaboração de mapas, ou cartograa, recebeu grande ajuda dos avanços tecnológicos. Exemplos disso são a fotograa aérea (com a fotograa baseada em infravermelho) e as imagens obtidas de satélites. A triangulação dos dados obtidos a partir da localização de um ponto por pelo menos três satélites, como a realizada pelo Sistema de Posicionamento Global (GPS), reduziu signicativamente a margem de erro ao determinar a localização exata dos pontos da superfície terrestre. Atualmente, os levantamentos aerofotogramétricos (Reconhecimento aéreo) são usados em conjunto com as informações tradicionais do levantamento topográco do terreno (Geodésia). Mais recente mente, o aperfeiçoamento da fotograa feita desde satélites fornece imagens exatas de regiões bas tante amplas, mas a confecção de mapas continua exigindo o uso das projeções. Os mapas mais antigos existentes foram elaborados pelos babilônios por volta de 2.300 a.C. Acredita-se que o primeiro mapa que representava o mundo conhecido foi elaborado no século VI a.C. pelo lósofo grego Anaximandro. Um dos mapas mais famosos da época clássica foi traçado pelo geógrafo grego Eratóstenes por volta de 200 a.C. Por volta de 150 d.C. Ptolomeu escreveu sua Geographia que continha mapas feitos com base num método matemático preciso de projeção cônica. O geógrafo árabe al-Idrisi criou um mapa do mundo em 1154 que foi o mais completo conhecido até o século XVI. No século XIII, os navegantes mediterrâneos criaram cartas marítimas ou portulanos. A projeção que Gerardus Mercator concebeu para seu mapa-múndi foi de extremo valor para todos os navegantes. A precisão dos mapas posteriores aumentou muito devido à determinação mais precisa da latitude e longitude. No nal do século XVIII, quando o espírito explorador deu lugar ao desenvolvimento do nacionalismo, um grande número de países europeus começou a realizar estudos topográcos detalhados em nível nacional. O mapa topográco completo da França foi publicado em 1793, apresentando uma forma
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
139
mais ou menos quadrada e medindo aproximadamente 11 m em cada lado. A Inglaterra, Espanha, Áustria, Suíça e outros países seguiram o seu exemplo. Nos Estados Unidos foi organizado em 1879 o Geological Survey (informe geológico) com o objetivo de elaborar mapas topográcos de grande escala de todo o país. Em 1891, o Congresso Internacional de Geograa propôs a elaboração de um mapa do mundo inteiro em uma escala de 1:1.000.000, porém, essa tarefa não foi concluída. No século XX, a cartograa passou por uma série de importantes inovações técnicas. A fotograa aérea e os satélites estão realizando estudos geodésicos completos da superfície terrestre. Fonte: . Acesso em: 05 jul. 2011. Para ler o artigo na íntegra acesse: .
Mas como é trabalhada a linguagem cartográfica nas escolas? Esta é uma pergunta pertinente, pois nossas lembranças, e acreditamos que também a sua, é o de saber de cor nome de países, continentes, rios, clima etc. As formas mais usuais de se trabalhar a linguagem cartográfica na escola é por meio de situações nas quais os alunos têm de colorir mapas, copiá-los, escrever os nomes de rios ou cidades, memorizar as informações neles representadas. Mas esse tratamento não garante que eles construam os conhecimentos necessários, tanto para ler mapas quanto como para representar o espaço geográfico (ALMEIDA; PASSINI, 2004, p.19).
Uma proposta de linguagem cartográfica que ultrapasse as atividades acima mencionadas requer da escola levar o aluno à compreensão de que essa linguagem trata-se de um sistema de símbolos que envolvem: a proporcionalidade, o uso de signos ordenados e técnicas de projeção. É importante também destacar a importância da linguagem cartográfica no dia a dia das pessoas atendendo a diversas necessidades, desde as mais cotidianas até as mais específicas. As necessidades cotidianas são aquelas nas quais é preciso deslocar-se de um lugar a outro que não se conhece quando, por exemplo, não conhecemos o trajeto. Quanto às necessidades mais específicas tratam-se, por exemplo, de delimitar áreas de plantio ou compreender as
140 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
zonas de influência do clima. Nesse sentido, a escola tem papel fundamental, pois deve criar oportunidades para que os alunos construam conhecimentos sobre essa linguagem nos dois sentidos: “Como pessoas que representam e codificam o espaço e como leitores das informações expressas por ela” (BRASIL, PCN, 2000, p.119). Dessa forma, o professor tem papel significativo no início do processo de construção da linguagem cartográfica oportunizando o trabalho com diferentes tipos de mapas, globo terrestres, plantas e maquetes atualizadas, a fim de que os alunos possam interagir com eles e ter situações significativas de aprendizagem, ou seja, fazer uso de forma adequada dessa linguagem cartográfica. Mas, de que forma o professor deve abordar o processo de construção da linguagem cartográfica? Essa abordagem do professor deve ocorrer simultaneamente por dois eixos, sendo eles: a leitura e a produção da linguagem cartográfica. [...] A compreensão desse sistema de representação ocorre quando há sucessivas aproximações dos dois eixos, não sendo o primeiro condição para o segundo, isto é, para se fazer mapas não é necessário que se aprenda a lê-los antes [...] (BRASIL, PCN, 2000, p.158).
A simultaneidade dos dois eixos, leitura e produção de textos, dão conta de nos comunicar a complexidade que envolve esses dois sistemas de representação, assim é preciso que o professor tenha a compreensão de que os alunos nos anos iniciais do Ensino Fundamental não conseguem realizar esses sistemas de uma única vez, considerando o que já foi dito na unidade III com relação a definição de outros referenciais espaciais que não estejam vinculados a si mesmos. Assim, como em qualquer outra linguagem, é preciso que o professor gradativamente crie diferentes situações que priorizem um a outro aspecto com relação à produção e à leitura, a fim de que gradualmente os alunos possam coordená-los, apropriando-se tanto das convenções
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
141
(sistema de projeções vertical ou oblíqua, a proporcionalidade, os símbolos etc.) como do funcionamento dessa linguagem. Outro fator não menos importante, e que foi amplamente discutido por nós nas unidades anteriores, é que o professor leve em consideração as ideias que os alunos já possuem sobre a representação do espaço. Mesmo que ainda sem o domínio da organização espacial, as crianças já sabem descrever os trajetos que percorrem a organizar um cômodo com seus móveis e pertences. Partindo das ideias iniciais do aluno, o professor deverá problematizar essa situação e ir além daquilo que o aluno consegue fazer sozinho. Nesse momento o professor deve fazer uma intervenção na representação espacial do aluno, inserindo novas informações e exigências, tais como: a inserção de símbolos, legendas, a manutenção de algum tipo de proporcionalidade, orientação, distância etc. É preciso considerar que a linguagem cartográfica tem uma função social, em outras palavras, significa dizer que essa função é a de comunicação e informação sobre o espaço, a fim de que a atividade desenvolvida seja significativa para o aluno e que ocorra a aprendizagem. “[...] A situação caracteriza-se dessa forma quando há alguma informação espacial sendo representada e comunicada para algum interlocutor dentro de um contexto social” (BRASIL, PCN, 2000, p.159). Por último, a compreensão e a utilização cartográfica criam possibilidades aos alunos para comunicar e analisar informações, sobretudo, contribui para a estruturação da noção espacial abrangente e complexa. As primeiras aproximações da leitura cartográfica nos comunicaram que mais do que produzir mapas, é preciso que essa leitura tenha uma função social e que seja significativa para o aluno, auxiliando-o nas suas necessidades cotidianas e mais amplas. Nesse sentido, o que significa ler mapas?
142 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
Como vimos nesta seção, os mapas acompanham os homens desde a pré-história. Mas os mapas, assim como a própria humanidade, também evoluíram. Vejamos essa evolução, por meio dos exemplos a seguir:
Mapa-múndi de Psalter - século XIII
Mapa-múndi de Henricus Martellus, produzido em Florença no ano de 1489
Mapa-múndi atual com dados enviados por satélites
Fonte: Informações retiradas do livro didático História Temática: diversidade cultural e conitos. 7° ano. Dos autores Cabrini, Catelli e Montellato. Editora Scipione, 2010, pp. 44 e 45.
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
143
Para exercitar, observe com atenção as imagens que seguem. São mapas dos séculos XIII, XV e XXI, respectivamente, e mostram como se representava o mundo em épocas diferentes. O primeiro trata-se do mapa-múndi de Psalter do século XIII. O segundo feito por Henricus Martellus foi produzido em Florença, em 1489. Por fim, o mapa-múndi político, tal qual o conhecemos. A partir da análise de cada um desses mapas, procure refletir: 1. Os detalhes que compõem cada imagem. 2. As diferenças e semelhanças que se pode estabelecer entre eles. 3. A mentalidade de uma época e de um lugar inuenciando a maneira de “ver o mundo”. Que tal registrar suas conclusões? Este é um bom exercício de síntese.
A LEITURA DE MAPAS A leitura de mapas é mais do que localizar um rio, relevos, uma cidade ou uma estrada. O Mapa é uma representação codificada de um espaço real, assim é possível chamá-lo de um modelo de comunicação. “[...] A informação é transmitida por meio de uma linguagem cartográfica que se utiliza de três elementos básicos: sistema de signos, redução e projeção” (ALMEIDA; PASSINI, 2004, p.15). Nesse sentido, ler mapas significa dominar esses três elementos, ou seja, essa linguagem cartográfica, com o propósito de preparar o aluno para a leitura que deve ser compreendida e tratada com a mesma preocupação metodológica de ensinar a ler, escrever e realizar cálculos matemáticos. Considerando que a leitura de mapas é tão importante quanto aprender a ler, escrever e realizar cálculos, o processo de decodificação envolve algumas etapas consideradas simples, mas que devem ser seguidas com o intuito de se assegurar uma leitura significativa para
144 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
aqueles que usufruem dessa linguagem.
Fonte: . Acesso em: 05 jul. 2011.
Passini e Almeida (2004, p.27) nos auxiliam nessas etapas que comentaremos a seguir: O início da leitura de mapas se dá pela leitura do título, pois é a partir dele que obteremos as informações do espaço representado no mapa e os seus limites. A próxima etapa se dá pela legenda (simbologias utilizadas para representar um fenômeno qualquer no mapa) que pode ser de fácil compreensão, utilizando cores e símbolos diferenciados que produzam um significado para o leitor. Por último, é possível observar a escala gráfica ou numérica para cálculo de distância, a fim de se estabelecer comparações ou interpretações. Vale lembrar, ainda, que existe uma variedade de mapas, com escalas e usos diversos, atendendo às necessidades de utilização desde as recreativas, militares, imobiliários, metereológicas ou geológicas. A vantagem desses mapas é que suas cores e símbolos, escalas, espessuras das linhas, entre outros são definidos por uma norma mundial que é determinada pela Federação Internacional de Orientação (International Orienteering Federation – I. O.F). Toda essa simbologia auxilia as pessoas, independente de seu país origem, a entender a representação gráfica de determinada região.
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
145
Mas, para a compreensão dessa linguagem cartográfica, é preciso decodificar esses símbolos, ou seja, interpretá-los. Os símbolos mais usados são: as linhas, as cores e o grafismo. Com relação às linhas, elas podem ser lineares e isorritmas. As linhas lineares servem para representar fenômenos contínuos, tais como: rodovias, estradas, rios, córregos, fronteiras etc. No entanto, esse tipo de linha surge no mapa com aspectos diferenciados. Um exemplo é o rio que pode ser representado com larguras diferenciadas, pois um rio sofre variações na sua largura real e assim deve ser representado no mapa. Com pontes, túneis, ferrovias, oleodutos, estradas etc., o procedimento é parecido. Se uma linha tracejada substitui seu traço contínuo, provavelmente representa a perenidade ou intermitência desse rio. Se um canal artificial foi construído perpendicularmente ao rio, uma linha reta contínua vai representá-lo (DECICINO, 2011, p.1).
Com relação às linhas issoritmas, nos atentemos para a explicação: “[...] são linhas que unem pontos de um local em que determinado fenômeno tem intensidade igual. Uma das mais utilizadas é a isoípsa, que interliga pontos de mesma altitude; é também conhecida como curva de nível” (DECICINO, 2011, p.1). Abaixo, segue uma tabela com alguns tipos de linhas mais utilizadas e seus pontos de união. TIPOS
UNEM PONTOS DE IGUAL...
Isoalinas
SALINIDADE
Isóbaras
PRESSÃO ATMOSFÉRICA
Isóbatas
PROFUNDIDADE
Isóclinas
INCLINAÇÃO MAGNÉTICA
Isoietas
PLUVIOSIDADE
Isoípsas
ALTITUDE
Isotermas
TEMPERATURA
Fonte: Decicino (2011, p.1).
146 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
Fonte: .
As cores geralmente são utilizadas na representação de fenômenos de intensidade variável, tais como zonas de diferentes altitudes ou profundidades. Essas cores são convencionadas internacionalmente e utilizadas por todos os países. AMARELO: representa áreas abertas, tais como: campos, clareiras, desertos etc. AZUL: representa águas na superfície terrestre, mares e oceanos e a sua tonalidade depende da profundidade. BRANCO: representa uma floresta limpa (sem vegetação rasteira). MARROM: utilizado em mapas de relevo. Abarca tudo que está relacionado com altitudes diferenciadas, tais como: depressões, ravinas, montanhas etc. PRETO: utilizado em nomenclaturas, como nomes de cidades, portos etc. Essa é a cor mais utilizada, pois representa objetos variados , assim como as características do terreno, artificiais ou rochosos (caminhos, estradas, edifícios, linhas de alta tensão, precipícios e rochas).
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
147
Fonte: .
AS ESCALAS: ENTENDENDO AS REDUÇÕES Ainda com relação aos mapas, sabemos que esses são resultado de uma redução proporcional da realidade. Nesse sentido, são as escalas que estabelecem quantas vezes o espaço real sofreu redução. Citaremos algumas dessas reduções baseadas em Almeida e Passini (2003, p.20): ESCALA de 1:100 – Lê-se um por cem. Todas as medidas foram reduzidas 100 vezes. Cada centímetro no mapa tem equivalência a 100 centímetros na realidade. Trata-se de uma escala que permite retratar detalhes de imóveis. ESCALA de 1:500 a 1:5000 – Lê-se um por quinhentos e um por cinco mil. Todas as medidas foram reduzidas 500 ou 5000 vezes. Cada centímetro no mapa tem equivalência a 500 centímetros ou 5000 centímetros na realidade. Trata-se de uma escala para as plantas das cidades e planos cadastrais. Evidencia-se a localização exata, sem deformações, conservando os ângulos e a relatividade das distâncias.
148 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
ESCALA DE 1:20.000 até 1:250.000- Lê-se um por 20.000 e um por 250.000. São as cartas cartográficas consideradas escalas grandes que possuem como limites, geralmente, as coordenadas geográficas e raramente os limites políticos. ESCALA DE 1:500.000 - Lê-se um por quinhentos mil. São as chamadas cartas corográficas, fornecendo uma visão geral de uma região. ESCALA DE 1:1.000.000 - Lê-se um por um milhão. São os denominados mapas, pois a representação tem um menor número de detalhes e os limites das áreas representadas são os limites políticos. ESCALA DE 1:205.000.000.000 - Lê-se um por duzentos e cinco bilhões. São os planisférios, a forma do globo com traçado dos meridianos e paralelos. O mapa é um modelo plano e reduzido, uma representação da Terra ou de parte dela. Dependendo da escala adotada, o número de detalhes ou de informações sobre o espaço representado será maior ou menor. Compreender essa redução é saber o que significa, por exemplo, a distância de 1,5 centímetros entre São Paulo e Brasília e poder concluir se ela é pequena ou grande, se as localidades estão distantes ou próximas entre si. Apenas um trabalho gradativo desenvolve na criança a noção de escala, mas a nomenclatura correta é usada desde o início: escala e não tamanho (KOZEL; FILIZOLA, 1996, p.41).
O professor pode sugerir algumas atividades que auxiliarão os alunos no processo de aquisição gradativa da noção de escala, por exemplo: ele pode solicitar que os alunos tragam fotos e, em grupos, verifiquem as diferenças de tamanhos dessas fotos, assim como de pessoas, paisagens, objetos etc. Essa atividade possibilita a construção da noção intuitiva de escala. Em resumo, quanto mais se diminui a escala e a área a ser representada se torna maior, mais ocorre a perda de informação, havendo a necessidade de se interpretar as generalizações. Durante o processo de mapeamento houve uma classificação das informações, assim como um minucioso trabalho para selecionar as mais significativas para determinada representação.
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
149
A CARTOGRAFIA E OS MAPAS MENTAIS A produção dos mapas ocorre desde a pré-história, sendo que o primeiro mapa que se tem registro remonta entre 2400 a 2000 a.C. em placa de barro no sul da Mesopotâmia e, em seguida, em papiro. Na pré-história, a cartografia era utilizada para delimitar territórios de caça e pesca. Na Babilônia, os mapas eram impressos em madeira, no entanto foram Eratosthenes de Cirene e Hiparco no século III a.C. que construíram as bases da cartografia moderna, ou seja, com o sistema de latitudes e longitudes. Ptolomeu desenhava os mapas em papel, colocando o mundo dentro de um círculo, modo esse imitado na maioria dos mapas feitos na idade média. No entanto, somente as navegações e os dados coletados nessas viagens é que tornaram os mapas mais precisos. A importância de estudar Geografia e, paralelamente os mapas, deu-se segundo Capel (1981), de forma acelerada após 1870, quando os franceses, após serem derrotados pelos alemães, sentiram a falta do conhecimento geográfico e promoveram reformas no ensino, principalmente o ensino primário, com a obrigatoriedade de realizarem excursões geográficas, estudando-se previamente os mapas e realizando croquis (FRANCISCHETT, 2011, p.1).
No século XX o mapa passa a ser trabalhado como figura ilustrativa para estudar o lugar de interesse do conteúdo a ser trabalhado. A cartografia nesse período se torna cada vez mais ausente da Geografia, com uma queda significativa no uso dos mapas, mesmo diante das necessidades existentes. Somente com a Geografia Crítica (já comentada na unidade I deste livro) é que o uso dos mapas passa a ser visto como essencial para o ensino de Geografia. Em específico no Brasil, os indígenas, nos fins do século XIX, traçavam cartas dos rios e seus afluentes, sendo que essas cartas orientaram as primeiras expedições dos portugueses em nosso país. No final dos anos 70 e início da década de 80, surgem as pesquisas sobre o ensino de Geografia e Cartografia, sendo precursora Lívia de Oliveira (1978) que elaborou sua
150 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
tese de livre docência sobre o estudo metodológico e cognitivo do mapa, priorizando os métodos interdisciplinares (FRANCISCHETT, 2011, p.3).
A partir dos estudos de Oliveira, dissemina-se no Brasil a Educação Cartográfica com um grupo de pesquisadores como Goes (1982), que trata do ensino-aprendizagem nas noções de latitude e longitude no primeiro grau (as noções que abordamos na unidade III) e a tese de Doutorado de Maria Elena Ramos Simielli (1986), sobre a comunicação geográfica no ensino do primeiro grau. Esses e outros pesquisadores tratam do ensino e dos conhecimentos cartográficos. Em suma, o ensino da cartografia vem se desenvolvendo desde a pré-história, e por meio da linguagem é possível reunir informações e conhecimentos. Na escola, as formas mais usuais de se trabalhar com a linguagem cartográfica é encorajando os alunos com a ideia de que essa é um sistema de símbolos que envolve proporcionalidade, uso de signos e técnicas de projeção. Mas, qual a definição para a cartografia? Conforme a Associação Cartográfica Internacional, a cartografia é definida como o conjunto de estudos e operações científicas, artísticas e técnicas baseado nos resultados de observações diretas ou de análise de documentação, com vistas à elaboração e preparação de cartas, planos e outras formas de expressão, bem como a sua utilização (CERQUEIRA; FRANCISCO, 2011, p.1).
A cartografia engloba, ainda, elementos da ciência e ao mesmo tempo da arte. É considerada ciência porque a confecção de um mapa necessita de técnicas para a representação de aspectos naturais e artificiais, trabalho de campo e conhecimentos específicos para a obtenção de um trabalho eficaz.
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
151
CARTOGRAFIA Cartograa, arte e ciência que tem por objeto traçar mapas. A confecção de mapas requeria tradicionalmente: 1) Habilidade para encontrar e selecionar informações sobre os diferentes aspectos da geograa; 2) Técnicas e habilidades de desenho com o objetivo de criar um mapa nal capaz de representar com delidade as informações; 3) Destreza manual para desenhar as informações através do uso de símbolos, linhas e cores; 4) Técnicas de desenho para simplicar os desenhos. Existem diferentes tipos de mapas; os topográcos mostram as características naturais ou articiais da paisagem, os temáticos mostram temas especícos e geralmente se baseiam em um mapa topográco. Os mapas também podem ser classicados como de grande e de pequena escala. A distinção entre eles é arbitrária, portanto, alguns países consideram como grande escala a partir de 1:10.000, enquanto outros a consideram a partir de 1:25.000. Durante cinco séculos, os cartógrafos criaram os mapas em papel. Nos últimos trinta anos, esse procedimento mudou com a introdução dos computadores, que automatizaram as técnicas cartográcas. Fonte: . Acesso em: 05 jul. 2011.
A cartografia enquanto arte apresenta elementos estéticos, necessita de distribuição de forma organizada dos seus elementos como, por exemplo, símbolos, traços, letras, legendas, margem, títulos, e cores que devem estar em harmonia e de acordo com a sua especificação. Pode-se dizer, ainda, que se trata de uma ciência em constante processo de desenvolvimento em consequência da revolução e da utilização dos recursos tecnológicos. Nesse sentido, a atividade cartográfica passa por constantes revoluções que ocorrem em razão do desenvolvimento de fotografias digitais, satélites, informática e tecnologias que proporcionam uma maior exatidão aos mapas, assim como maior eficiência na interpretação espacial. De acordo com Simielli (2004), a ideia é educar os alunos nos anos iniciais do Ensino Fundamental para a visão cartográfica; para isso é necessário aproveitar o interesse natural das crianças pelas imagens. Para alcançar esse objetivo, é preciso oferecer diversos recursos
152 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
visuais, tais como fotos, desenhos, plantas, maquetes, mapas, imagens de satélites, tabelas, figuras, jogos e representações feitas pelas crianças, dando início a uma linguagem visual. Esses recursos devem ser aprofundados de forma crescente, acompanhando ao mesmo tempo o conteúdo da Geografia e o desenvolvimento natural da criança. Nesse sentido, a cartografia nos anos iniciais do Ensino Fundamental deve ter como prioridade o trabalho com espaço concreto do aluno, o mais próximo dele. Em outras palavras, o espaço da escola, do bairro, para progressivamente falar em espaços maiores como os municípios, estados, países e planisfério. Nesta etapa, o objetivo deve ser a alfabetização cartográfica. Essa alfabetização, de acordo com Simielli (2004, p.98), supõe o desenvolvimento das seguintes noções: - visão oblíqua e visão vertical; - imagem tridimensional, imagem bidimensional; - alfabeto cartográfico: ponto, linha e área; - construção da noção de legenda; - proporção e escala; - lateralidade-referências, orientação.
O desenvolvimento dessas noções vem contribuir para o que já anunciamos em momentos anteriores quanto à utilização dos mapas; elas cooperam para a desmistificação da cartografia e os mapas prontos e acabados. O objetivo final é transmitir informações, e não apenas ser um objeto de produção. Nesse sentido, consideramos a importância da cartografia como ferramenta básica da Geografia, cuja linguagem gráfica (o mapa) contribui para que os alunos avancem na leitura e na representação do espaço. Nas palavras de Iberti (2011, p.2): “O mapa é uma simplificação da realidade, confeccionada a partir da seleção de elementos representados por símbolos e sinais apropriados, favorecendo
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
153
a conscientização do ser humano e do seu papel enquanto sujeito que interage com o mundo em que vive.” Os mapas adquirem status de linguagem tanto quanto a linguagem escrita e são caracterizados como forma eficiente de armazenamento e comunicação de informações que possuiem características espaciais com ênfase nos aspectos físicos, culturais, sociais, econômicos e políticos. Em outro conceito dos mapas são caracterizados como representações planas da superfície terrestre. Por outro lado, o mapa pode ainda ser considerado como uma abstração da realidade geográfica e utilizado como ferramenta para a representação de uma informação de forma visual, mental, digital, tátil ou mental. Passini (1994), em sua obra “Alfabetização cartográfica e o livro didático: uma análise crítica”, elabora um quadro como referência para a leitura eficiente de mapas, que está dividido em quatro etapas, a seguir: Períodos de Desenvolvimento
Operações Mentais Relações Construídas
- estágio intermediário do operatório para o formal
- proporcionalidade - relações espaciais - escalas - horizontalidade euclidianas - coordenadas - verticalidade geográficas - conservação da forma - coordenação de pontos de vista - descentração espacial - orientação do corpo
Elementos Cartográficos
- relações espaciais - projeções projetivas cartográficas - orientação geográfica
- operatório
- inclusão/ exclusão - relações espaciais - limites e fronteiras - interioridade/ topológicas exterioridade - proximidade - ordem - vizinhança
- pré-operatório
- função simbólica
- relação significante/ significado
- símbolos/ legenda
Fonte: Baseado em PASSINI, Elza Yasuko. Alfabetização cartográfica e o livro didático: uma análise crítica. Belo Horizonte: Ed. Lê, 1994.
154 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
A coluna Períodos de Desenvolvimento está fundamentada nas fases de desenvolvimento propostas por Jean Piaget, que considera que esse se dá por estágios. Cada um desses estágios é uma forma de evolução. Todos nós, em algum momento, construímos imagens espaciais de lugares conhecidos que podem ser vivências do dia a dia, ou mesmo do passado, sendo essas formandas a partir de acontecimentos culturais, sociais, históricos, econômicos e pela mídia. Essas imagens espaciais são denominadas de mapas mentais (IBERTI, 2011, p.1). De acordo com Oliveira (2011, p.1), os mapas mentais são: Representações do vivido são os mapas que trocamos ao longo de nossa história com os lugares experienciados. No mapa mental, a representação do saber percebido, o lugar se apresenta tal qual como ele é, com suas formas, históricas concretas e simbólicas, cujo imaginário é reconhecido como uma forma de apreensão do lugar.
Com o mapa mental é possível observar se o aluno tem a percepção da ocorrência de um fenômeno do espaço e, sobretudo, condições de fazer a transposição desse fenômeno para o papel. Com os mapas mentais é possível, ainda, analisar todos os elementos que são indispensáveis em uma representação cartográfica. Na concepção de Simielli (2004, p.107), os mapas conceituais possibilitam: analisar a representação oblíqua e a representação vertical, o desenho pictórico ou abstrato, a noção de proporção, a legenda, as referências utilizadas (particular, local, internacional e inexistente) e o título. O mapa mental é uma ferramenta de anotação de forma não linear, onde “a ideia principal é inserida no centro de uma folha de papel em branco (sem pautas) na horizontal para proporcionar maior visibilidade e as ideias são descritas apenas com palavras chaves e ilustradas com ícones, imagens e cores” (OLIVEIRA, 2001, p.5). Tendo por base o imaginário e sua representação por meio do mapa mental, é possível levar a criança a novas descobertas redimensionando a experiência com o seu próprio lugar e,
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
155
também, redescobrindo seu lugar no mundo. É nesse lugar que estão todas as representações da vida cotidiana, as representações pessoais, os valores, as coisas e os lugares que unem e separam pessoas. É preciso, ainda, a compreensão de que o lugar é algo inacabado, em constante processo de alteração e em movimento. A partir daí ocorre a necessidade da ampliação do entendimento do vivido para o concebido, levando em consideração que as pessoas sentem e concebem o espaço e o lugar de forma diferenciada, ou seja, a forma como as pessoas experenciam e entendem o mundo a sua volta é de extrema importância para a construção da identidade enquanto sujeitos. [...] o mapa mental pode ser o instrumento ideal a ser utilizado pelos profissionais da geografia, para a compreensão dos lugares, uma vez que, através dessas representações, pode-se compreender o lugar das experiências e das vivências (OLIVEIRA, 2011, p.12).
É necessário considerar que não existem generalizações simplificadas de como as pessoas se relacionam com o lugar, pois esses lugares são únicos e têm particularidades específicas, paisagens e espaços particulares e individuais para cada cidadão. Devemos considerar, ainda, que cada cidadão ao estar em determinado lugar o vivencia com intenções, vontades e experiências que são modificadas pelos seus interesses. As palavras de Relph (1979, p.17), reforçam as concepções de lugar apresentadas até o momento: “Lugar significa muito mais que o sentido geográfico de localização. Não se refere a objetos e atributos de localizações, mas o tipo de experiência e envolvimento com o mundo, a necessidade de raízes e de segurança.” Esse tipo de experiência e envolvimento com o mundo significa, também, considerar a compreensão subjetiva da paisagem como lugar, assim, a paisagem vai ganhando significado para os indivíduos que a vivem e a constroem. As percepções que os indivíduos, grupos ou sociedades têm do lugar nos quais se encontram as relações singulares que com ele estabelecem fazem parte do processo
156 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
de construção das representações de imagens do mundo e do espaço geográfico (BRASIL, PCN, 2000, p.110).
Ao falarmos de lugar, não podemos esquecer que esse está diretamente ligado à categoria de paisagem, pois pertencer a um lugar ou a um território e, consequentemente, a sua paisagem, significa fazer desse seu lugar de vida e de estabelecimento da identidade. É nesse contexto que a categoria lugar faz a sua correspondência com os espaços subjetivos e mais afetivos, por exemplo: recordações de onde brincam as crianças, a janela de onde se vê uma paisagem, o alto de uma colina, a rua onde mora, o lugar que gosta de frequentar etc. São as imagens e as lembranças que as pessoas constroem desses lugares e dos laços afetivos que elas estabeleceram com eles que ganham significado nas suas experiências vividas. O “lugar” não é apenas individual e único, mas se torna coletivo na medida em que vivemos esses espaços compartilhados com outras pessoas e com outras relações. “[...] O lugar é onde estão as referências pessoais e o sistema de valores que direcionam as diferentes formas de perceber e constituir a paisagem e o espaço geográfico” (BRASIL, PCN, 2000, p.112). Os mapas mentais ou os desenhos são representações em que não há preocupação com a perspectiva ou qualquer convenção cartográfica. O aluno pode usar sua criatividade ou estabelecer critérios junto com a classe, pois as representações ocorrem a partir da memória. [...] Os mapas mentais são representações que revelam os valores que os indivíduos têm dos lugares, dando-lhes significados ou sentido ao espaço vivido (CASTELLAR; VILHENA, 2010, p. 25).
Ainda para Castellar e Vilhena (2005), nos mapas mentais observa-se a concepção que o aluno tem do espaço e as noções que ele possui sobre proporção, visão vertical e visão oblíqua. Essas noções são fundamentais para que o professor perceba como o aluno lê o espaço e compreende as noções cartográficas. A seguir, apresentaremos dois exemplos de mapas mentais.
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
157
Figura 9 - Mapa Mental I Fonte: Baseado em Castellar e Vilhena (2005, p.26).
Figura 10 - Mapa Mental II Fonte: Baseado em Castellar e Vilhena (2005, p.26).
158 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
Para educar os alunos a fim de que tenham uma compreensão cartográfica, consideramos que os seus desenhos são o ponto de partida para explorar o conhecimento que têm da realidade e dos fenômenos que querem representar. Esses desenhos são considerados representações gráficas ou mapas mentais elaborados a partir da memória, não havendo necessidade de utilizar as convenções cartográficas (CASTELLAR; VILHENA, 2005, p.28).
Nesse sentido, o mapa mental pode ser um instrumento a ser utilizado pelos professores de Geografia para levar o aluno à compreensão dos lugares, pois por intermédio dessas representações, constrói-se a compreensão do lugar das experiências e das vivências.
AS MAQUETES: A SIMBOLIZAÇÃO DA REALIDADE Pontuschka, Paganelli e Cacete (2007), baseados na teoria de Piaget, informam que a realidade vivida pela criança é representada por meio de uma dramatização ou construção tridimensional, por um processo de assimilação e acomodação diante da realidade vivida. Nessa imitação a criança apropria-se dos objetos, modificando-os a uma nova situação e, ainda, nessa reprodução a criança adapta a realidade aos seus anseios, medos, desejos etc. Essas construções espontâneas surgem de peças miniaturas de pessoas, de casas, de Igrejas, de carros, de trens, de cidades inteiras. Portanto, é na brincadeira, nos jogos simbólicos que a criança não apenas manipula objetos, mas tem o poder sobre eventos e fatos. É com a entrada na escola que a criança é estimulada a compreender vários tipos de construções e, progressivamente, construir maquetes da sala de aula, da rua, da escola, do bairro, do relevo etc. É momento também em que o aluno vai deparar-se com questões relativas à variedade de tipos, à proporcionalidade dos objetos e de suas relações uns com os outros em escalas qualitativas (ex.: cidades) e quantitativas (maior e menor). No entanto, a construção da maquete em sala de aula requer alguns cuidados do professor, pois o mesmo deve enfatizar a criatividade na busca de materiais, no exercício coletivo e na
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
159
representação dos objetos.
Fonte:.
De acordo com Kozel e Filizola (1996), os mapas e as plantas são representações planas (bidimensionais) da realidade (tridimensional). Nesse sentido, a criança precisa de amadurecimento para compreendê-las e certo domínio de informações sobre o meio que será representado. Uma das grandes dificuldades encontradas pelas crianças é a transferência dos elementos tridimensionais para uma superfície plana, com apenas duas dimensões (largura e comprimento). Dessa forma, como o professor poderá auxiliá-las? Na passagem do tridimensional para a representação bidimensional, o professor poderá trabalhar, inicialmente, com a construção de uma maquete da sala de aula, empregando sucata e uma caixa de papelão (cerca de 50 x 30 cm). Nessa atividade, ele irá trabalhar com a escala intuitiva, ou seja, a percepção do que é maior ou menor, de modo que as carteiras não fiquem menores que o cesto de lixo (KOZEL; FILIZOLA, 1996, p. 39).
Após a construção da maquete, os alunos vão construindo a compreensão da representação bidimensional do espaço. Algumas perguntas poderão ser feitas a partir da construção dessa maquete: o que é maior? O que é menor? O que está à direita da mesa do professor? O que
160 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
está de frente para a mesa? Por último, juntos, professor e alunos farão a conferência da disposição dos objetos na maquete, a fim de verificar se ela corresponde à realidade da sala de aula. Cabe lembrar que só por volta dos 9 ou 10 anos é que a maioria das crianças consegue ter uma imagem mental do espaço, inter-relacionando seus vários elementos, tais como: lugar, posição, distância, direção, dados físicos, territoriais, populacionais etc. Nesse sentido, a construção das relações espaciais é gradativa e o trabalho deve ser retomado em todas as séries em um ir e vir para que a cada passo possa se acrescentar mais abstrações (KOZEL; FILIZOLA, 1996). Almeida e Passini (2004), também baseadas na teoria de Piaget, comunicam que a criança na idade do pensamento concreto necessita agir sobre o objeto para a aquisição da construção dos conceitos e a edificação dos conhecimentos. Assim, é mediante a ação que o aluno alcançará a noção de redução de espaço e necessidade progressiva de proporcionalidade. [...] para Piaget todo conhecimento deve ser construído pela criança através de suas ações. Essas ações, em interação com o meio e o conhecimento anterior já organizado na mente, proporcionam acomodação dos conhecimentos percebidos que passam a ser assimilados (ALMEIDA; PASSINI, 2004, p.22).
Desse modo, fica evidenciado que para Piaget é a ação do aluno sobre o objeto que proporcionará a construção do conhecimento. No entanto, a interação social é condição necessária para o desenvolvimento intelectual, pois para ele o sujeito traz o social dentro de si quando se coloca em interação com os demais, havendo uma socialização do pensamento. Portanto, para Piaget, a criança não poderia se desenvolver sem a interação social. É justamente na possibilidade de confrontos com diferentes pontos de vista que se dá a produção do progresso e do desenvolvimento intelectual, pois são esses confrontos e diferentes concepções que se traduzem em um conflito sociocognitivo mobilizando o progresso intelectual.
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
161
Contudo, as interações sociais podem ser geradoras desses conflitos a ponto de perturbar o equilíbrio cognitivo, no entanto, o desenvolvimento está no sujeito e não na interação social, pois a criança já possui internalizados os organismos de assimilação que permitem a ela receber esses conflitos. Para que ocorra esse conhecimento é preciso que o aluno consiga dar significado aos significantes. Nesse sentido, a criança (ou o leitor de mapas, maquetes, plantas, cartas) deve buscar informações e ligações entre esses. Mas, o que seria, então, os significados e os significantes? O significante é o traço, o desenho, a representação cartográfica. O significado é o conteúdo do desenho. No caso do mapa o conteúdo é o espaço. Segundo Piaget, é fundamental a criança construir símbolos através da relação significante-significado, para então atribuir significações a futuras leituras cartográficas (CALLAI; KAERCHER, 2003, p.50).
Sendo assim, para que o aluno consiga dar significado aos significantes é preciso que ele viva o papel de codificador, antes de decodificador. Desse modo, três aspectos devem ser considerados: a função simbólica, o conhecimento da utilização do símbolo e o espaço a ser representado (ALMEIDA; PASSINI, 2004). Para Piaget, a função simbólica surge por volta dos dois anos de idade com o aparecimento da linguagem. No caso específico desse trabalho, interessa-nos a compreensão dos “símbolos” como representação gráfica que ocorre por meio dos mapas e maquetes, em outras palavras, dos símbolos que representam uma ideia ou um objeto. Respeitando a teoria construtivista de Piaget a oportunidade de a criança codificar levará, quando da capacidade de reversibilidade, a decodificar. Assim, consideremos o espaço de ação cotidiana da criança, o espaço a ser representado. A partir dele serão construídas as noções espacias. A criança perceberá o seu espaço de ação antes de representá-lo, e, ao representá-lo usará símbolos, ou seja, codificará (ALMEIDA; PASSINI, 2004, p.23).
Para Gomes (2005, p.209), a maquete é um importante recurso de apoio didático-pedagógico. “Ao trabalhar com as informações em relevo, permitindo a visão tridimensional do espaço,
162 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
ela aproxima o abstrato do real e ao mesmo tempo, possibilita a construção dos conceitos necessários para o entendimento de representação bidimensional”. bidimensional”. A construção da maquete além de servir ser vir como um modelo tridimensional tr idimensional do espaço funciona, também, como um “laboratório” geográfico, onde as interações sociais do aluno no seu dia a dia podem ser percebidas. Concordam, ainda, que no decorrer do trabalho ocorre a ação do sujeito sobre o objeto e desse sobre o primeiro, acontecendo o processo interacionista. O trabalho com a maquete mistura o real com o possível imaginário. É justamente na possibilidade dessa amálgama que se desenvolve a criatividade individual ou trocas coletivas. A interação do sujeito com o objeto intensifica-se na medida em que ocorrem os desequilíbrios provocados pelos exercícios (propostas) de contextualizações - Por quê? Para quê? Para quem? Como? Quando? Onde? Tais atividades aceleram e tornam complexos os movimentos reflexivos (abstração – ação reflexão), favorecendo um processo construtivo (CALLAI; KAERCHER, 2003, p.75).
Para que possamos vislumbrar na prática o que estamos afirmando, passemos a explicitar uma atividade com maquete:
ATIVIDADE COM A MAQUETE A atividade com maquete é uma proposta de Almeida e Passini (2004), e serve como base para se explorar a projeção dos elementos do espaço vivido (a sala de aula) para o espaço representado (planta); assim como as relações espaciais topológicas desses em função de um ponto de referência dos mesmos em relação aos alunos. MATERIAIS UTILIZADOS (SUCATAS) • Caixas de papelão do formato que se aproxime da forma da sala; • Caixas de fósforos vazias; • Retalhos; • Copos de iogurte; • Caixas de remédios; • Régua;
METODOLOGIA METODOL OGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
163
• Lápis e materiais de pintura; • Cordão ou barbante; • Tesoura.
1º Momento: Os alunos deverão observar a sala de aula para identicarem os objetos que se encontram em seu interior e estabelecerem sua localização em função dos pontos de referência (porta, janela, etc.). 2º Momento: Os alunos deverão confeccionar a maquete com os objetos em seu interior, conservando a mesma posição que ocupam na sala. Antes deverão fazer o reconhecimento: - andando pela sala de aula para observar o seu tamanho, objetos, mobílias; - escolhendo a caixa cujo tamanho e forma possa representar a sala; - recortando as janelas e portas (observar a posição); - contando o número de carteiras para preparar as caixas de fósforos. Localizando a mesa do professor, armários, cesto e escolhendo a forma de representação: caixas e copinho de iogurte etc. É importante que o professor conduza os alunos a observarem a localização exata do mobiliário: à direita da porta, à esquerda do quadro negro etc. Esse exercício de localização levará o aluno a situar um objeto de forma exata, utilizando-se de pontos de referência xos.
3º Momento Uma vez pronta a maquete, o professor pode explorar os elementos de localização, através de deslocamentos pela própria maquete. Podem ser utilizados bonequinhos, palitos de fósforos, bonecos recortados de cartolina etc. A partir da localização de sua posição na sala de aula, o aluno projeta-a e passa a localizar a posição de seus colegas em relação, primeiramente, aos referenciais de seu próprio corpo, identicando quem senta à sua frente, atrás, à sua direita e à sua esquerda. Em seguida, deverão desenvolver a atividade observando a maquete e não a sala de aula. Recomenda-se que os alunos realizem-na em grupos e com as carteiras fora do lugar de costume. Posteriormente, podem ser usados outros referenciais de localização, descentralizados de seu próprio corpo. O professor traça uma linha no centro da classe no sentido do comprimento, dividindo a sala em duas partes, por exemplo, o lado da porta e da janela. Em seguida, traça outra linha no sentido da largura, dividindo o lado da frente e o lado de trás. Desta forma, a classe ca dividida em quatro quadrantes. A localização das posições será feita pela projeção dessas linhas na maquete. Assim, cada aluno identica sua posição em relação aos quadrantes, por exemplo: sua carteira está do lado da frente e da porta. Passa, então, a localizar a posição de seus colegas, da mesa do professor etc.
164 METODOL METODOLOGIA OGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação E ducação a Distância
As autoras sugerem que os quadrantes também sirvam de referência para possíveis deslocamentos, como: se o se fulano trocar de lugar com sicrano em que quadrante ele vai car? A professora deve levar o aluno a perceber que o quadrante mais distante é o que ca diametralmente oposto. E que quem senta no centro da sala tem t em praticamente a mesma distância em relação aos extremos de todos os quadrantes. A divisão da classe em quadrantes, iniciada com referenciais topológicos elementares, deve passar para referenciais mais abstratos, primeiro substituindo-se os lados porta-janela por direita-esquerda, e, depois, usando-se os pontos cardeais. O aluno também deve localizar a sua carteira, e conseguir expressar esta localização utilizando-se de linhas coordenadas: “minha carteira ca na segunda la, terceira coluna”. Esta observação é uma preparação para a leitura das coordenadas geográcas: a latitude e a longitude. Embora a latitude e a longitude sejam medidas angulares, a noção de se localizar um ponto na superfície, através de cruzamento de duas linhas ou medida, já j á ca construída. Fonte: adaptado de (PASSINI; (PASSINI; ALMEIDA, 2004).
A seguir, a planta da sala onde estão registrados re gistrados os pontos de orientação. O desenho foi feito por um menino de 8 anos e 8 meses.
Figura 11- Planta da sala de aula Fonte: Baseado em Almeida e Passini (2004).
METODOLOGIA METODOL OGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
165
Em resumo, o trabalho com a maquete além de simbolizar a tentativa de representação e tradução do real concreto do aluno, ocorre ao mesmo tempo com o espaço da ação e da interação desse. Nesse sentido, o seu cotidiano sofre alterações na medida em que ele se coloca a encontrar respostas para as suas perguntas acelerando o processo de inserção nas questões sociais na qual ele está inserido. Trata-se, portanto, não somente da percepção espacial de cada c ada criança, mas do resultado das suas relações afetivas, cognitivas e dessas referências socioculturais. Sendo assim, o espaço deve ter uma interatividade processual com os fatores naturais, culturais, sociais, históricos, econômicos, políticos, ou seja, a totalidade que está a sua volta. Para finalizarmos nossas discussões desta quarta unidade, apresentaremos um plano de aula de Geografia proposto pela Revista Nova Escola. No site da Revista você encontrará outros planos de aula que podem ser utilizados ou até adaptados conforme a realidade.
Ensine cartograa para a turma usando o Google Earth Bloco de Conteúdo: Geograa Conteúdo: Representação da Paisagem Objetivos: Desenvolver a noção espacial e a representação cartográca; Comparar diferentes tipos de representação da superfície terrestre: mapas, fotos de satélite e imagens aéreas e tridimensionais. Conteúdos: Cartograa e Localização espacial. Material necessário: Papel, régua, lápis, computador com acesso à internet e o programa Google Earth Desenvolvimento: 1ª etapa Oriente os alunos a observar o trajeto desde a casa até a escola, identicando pontos para a localização. Peça que transformem a observação num croqui, cuidando para representar as refe-
166 METODOL METODOLOGIA OGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação E ducação a Distância
rências.
2ª etapa Diante do computador, divida a turma em grupos e solicite que explorem este site (). Explique que o desao é encontrar, entre os mapas disponíveis, um que mostre a localização da escola. Oriente-os a comparar os croquis com os mapas: os pontos de referência são os mesmos? Como são identicados? Explique que os desenhos disponíveis são representações bidimensionais de espaços tridimensionais, com símbolos, legendas e escala especícos. 3ª etapa Hora de visualizar a localização em imagem real. Abra o programa Google Earth e convide a turma a buscar uma imagem da escola. Siga o seguinte procedimento: clique no botão “Mostrar a barra lateral” e em “Voar para”. Digite “Brasil”, espere a imagem “voar” até o país. Introduza o nome da cidade e oriente os estudantes a aproximar a imagem até o objetivo. Pergunte aos alunos o que estão vendo. É a mesma visão que temos ao caminhar pelas ruas? Leve-os a perceber que imagens aéreas e de satélite são a real visualização da superfície no plano vertical. 4ª etapa Peça que comparem a imagem do Google Earth com o croqui que haviam elaborado e observem o que querem acrescentar ou modicar. Avaliação : Verique se os alunos compreendem as diferentes formas de representação da superfície terrestre e se sabem se localizar em um mapa virtual. Para reforçar o entendimento, repita a sequência de atividades com outros pontos signicativos, possibilitando que explorem os recursos de aproximação e distanciamento da visão no Google Earth para desenvolver a noção de pertencimento espacial desde o nível do bairro até o planeta. Fonte:. Acesso em: 05 jul. 2011.
CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta quarta unidade nos propomos a mergulhar em um tema que aparentemente é concebido, por muitos, como “bicho-papão” pela falta de conhecimento, ou seja, a linguagem cartográfica. Vimos que desde a pré-história a cartografia vem se desenvolvendo e por meio desta linguagem é possível reunir informações e conhecimentos. A linguagem cartográfica tem uma função social. Por isso mesmo requer da escola levar o aluno à compreensão de que se trata de um sistema de símbolos que envolve a proporcionalidade, o uso de signos ordenados e técnicas de projeção. Também destacamos a importância da linguagem cartográfica no dia a dia das pessoas atendendo a diversas necessidades, desde as mais cotidianas até as mais específicas. As necessidades cotidianas são aquelas em que é preciso deslocar-se de um lugar a outro que METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
167
não conhecemos. Já as necessidades mais específicas tratam, por exemplo, de delimitar áreas de plantio ou compreender as zonas de influência do clima. Finalizamos a unidade destacando o valor da produção de mapas, croquis, plantas baixas e maquetes pelas crianças dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Isto porque, por meio da realidade vivida pela criança, é possível representar seja por meio de uma dramatização ou construção tridimensional, a por um processo de assimilação e/ou acomodação da realidade vivida. Assim, conclui-se que por intermédio das brincadeiras, jogos simbólicos e faz de conta a criança não apenas manipula objetos, mas tem a possibilidade de reconstruir espaços. Na nossa próxima e última unidade nos propomos a apresentar algumas estratégias didáticas para as aulas de Geografia. Mas antes disso, faça as atividades de autoestudo e procure ler a indicação dada na leitura complementar.
ATIVIDADE DE AUTOESTUDO 1. Vimos que as noções cartográcas são essenciais para o desenvolvimento e domínio da espacialidade por parte dos alunos. Neste sentido, partindo da leitura da unidade procure denir: a) Mapa. b) Maquete. c) Cartograa. d) Mapas mentais. 2. Segundo Almeida e Passini (2004, p.15), “o mapa é uma representação codicada de um determinado espaço real. Podemos até chamá-lo de um modelo de comunicação, que se vale de um sistema semiótico complexo. A informação é transmitida por meio de uma linguagem cartográca que se utiliza de três elementos básicos”. Enumere esses três elementos básicos, caracterizando-os. 3. Reita e registre: como o professor dos anos iniciais do Ensino Fundamental pode trabalhar com mapas para que os alunos tenham uma aprendizagem signicativa? 4. Apresente uma estratégia didática para alcançar os ns traçados por você na questão anterior.
168 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
Sugerimos a leitura da obra explicitada para complemento de seus estudos sobre o assunto:
Livro:Teoria e prática de Geograa: Memórias da terra Autores:Roberto Filizola e Salete Kozel Disciplina: Geograa Nível: Ensino Superior Lançamento: 2010 Editora: FTD Sinopse :A proposta da obra é ensinar as crianças a perceber as relações entre a Geograa e o seu cotidiano fora da sala de aula. Fazendo uso do conhecimento que o aluno já possui, sugere a articulação entre a teoria e a prática, entre a ciência e a metodologia de pesquisa e de ensino, entre os objetivos e os melhores meios de transmitir os conteúdos, mostrando que a aprendizagem resulta da atividade conjunta entre professor e alunos. A obra oferece bases para a leitura e a compreensão do espaço vivido, contribuindo para o Ensino Fundamental de Geograa. Fonte: . Acesso em: 03 ago. 2011.
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
169
UNIDADE V
TECNOLOGIA, INFORMAÇÃO, CONHECIMENTO: ÚLTIMAS APROXIMAÇÕES Professora Me. Adélia Cristina Tortoreli Professora Me. Priscilla Campiolo Manesco Paixão
Objetivos de Aprendizagem • Destacar a relevância dos recursos tecnológicos, da informação e do conhecimento para a prática docente e a construção de uma aprendizagem signicativa por parte dos alunos. • Especicar a contribuição que a fotograa, o cinema e a música podem oferecer ao Ensino de Geograa. • Reconhecer o quão importante é a utilização dos jogos para o desenvolvimento das noções espaciais nas crianças em idade escolar.
Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
• A fotograa como recurso didático no ensino de Geograa • O cinema como conhecimento geográco e educacional • A música enriquecendo as aulas de Geograa • Os jogos para desenvolver noções espaciais nas crianças
INTRODUÇÃO É caminhando que se faz o caminho... Titãs
Olá, caro(a) aluno(a)! Estamos chegando ao final do nosso caminho teórico-metodológico da disciplina de Geografia, caminho esse que acreditamos ter sido percorrido em parceria com você, que também está construindo uma estrada pessoal e acadêmica. As possibilidades percebidas pela revolução tecnológica e informacional que rompem as barreiras geográficas e encurtam distâncias, interligando as pessoas em rede, não somente produzem, mas compartilham e atualizam as informações e conhecimentos no exato momento em que esses são produzidos. Por outro lado, essa explosão comunicacional e tecnológica interligada em rede possui seus limites e contradições, pois apesar de todo desenvolvimento tecnológico produzido, nem todos têm acesso à informação e ao conhecimento em função das desigualdades econômicas, políticas e sociais e, ainda, de acordo com Pontuschka, Paganelli, Cacete (2007, p.261), “[...] pode-se dizer que tal situação não tem garantido a inserção crítica dos indivíduos na sociedade, uma vez que, via de regra, as informações são descontextualizadas e fragmentadas”. As contradições dão-se justamente pela impossibilidade de manter o conhecimento em constante atualização, pois a todo o momento novas informações são produzidas acrescentando e modificando saberes. Nesse sentido a incompletude se dá pela necessidade de busca contínua pelo conhecimento como ferramenta imprescindível para a formação acadêmica e a prática docente. Diante do exposto até o momento, as nossas últimas aproximações dar-se-ão levando em consideração os avanços tecnológicos, a linguagem cinematográfica, a imagem (fotografia) e a música como possibilidades pedagógicas para o ensino de Geografia. Nesse sentido, para uma aproximação dessas linguagens nas aulas de Geografia, nos pautaremos em Pontuschka,
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
173
Paganelli, Cacete (2007, p.261), que nos auxiliam nessa reflexão: No mundo atual, é possível identificar ampla diversidade de linguagem num contexto marcado por uma infinidade de informações. A sociedade é cada vez mais uma sociedade da informação, fruto da revolução tecnológica responsável pela rapidez cada vez maior dos meios de comunicação. [...] Diante do avanço tecnológico e da enorme gama de informações disponibilizadas pela mídia e pelas redes de computadores, é fundamental saber processar e analisar esses dados.
O exposto pelas autoras corrobora com o que ora anunciamos no tocante ao impacto da revolução tecnológica em nossa sociedade e os seus desdobramentos informacionais e comunicacionais por meio da mídia e dos computadores interligados em escala global possibilitando uma diversidade não somente de informação, mas de linguagens. No entanto, a quem caberia o desafio de processar e analisar os dados anunciados acima? Cabe à escola o desafio de processamento de análise de dados com relação à apropriação das diferentes linguagens como instrumentos de comunicação, a análise e interpretação dessas, assim como desenvolver nos alunos a capacidade de assimilação das mudanças tecnológicas, que em resumo significa novas formas de aprender. Trata-se, portanto, de potencializar o aluno para a constante leitura do mundo que agora se apresenta por outras formas de linguagem. Nesse sentido, a escola enquanto instituição social com fins e objetivos intencionais, comentada nas unidades anteriores, assume o importante papel de levar o aluno à reflexão não somente do seu espaço local ou regional, mas global, levando-o a ter uma visão articulada e interligada do mundo. Reforçamos, ainda, que é papel da escola transformar toda a informação recebida do mundo exterior em conhecimento, promovendo o reconhecimento da importância e do uso das novas tecnologias. No mesmo grau de importância para o processo de transformação está o professor, que atua como mediador entre o aluno a informação recebida levando-o ao desenvolvimento da capacidade de contextualiza-la, assim como conferir significado a essas informações
174 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
promovendo o “pensar sobre”. Promover o “pensar sobre” pode ser traduzido na corresponsabilidade entre a escola e o professor no processo de desenvolvimento crítico da “avalanche informacional” que o aluno recebe por meio das redes de comunicação. Um exemplo que confirma a quantidade de informação produzida e a necessidade de selecioná-la e transformá-la em conhecimento pode ser obtido por meio da consulta no portal do Google ao digitarmos a palavra “GEOGRAFIA” entre aspas, o resultado é de 61.000.000 (sessenta e um milhões de resultados). Tente realizar essa mesma pesquisa e você observará que o número de páginas provavelmente teve um aumento expressivo levando em consideração que a informação e a produção do conhecimento não cessam. No caso da Geografia é preciso selecionar o que é produzido e relevante em termos acadêmicos e científicos. Em suma, as informações nessa sociedade nos chegam por meio de vários formatos que vão desde a internet, a televisão, o cinema, a imagem etc., reforçando o papel da escola e do professor na utilização desses recursos para levar o aluno à compreensão do mundo em que vive. Todo professor sabe do valor indiscutível que o computador e a internet têm do ponto de vista do desenvolvimento de pesquisa acerca de determinado tema ou assunto. A relativa facilidade de acesso permite obter uma série de informações sobre um determinado tópico, facilitando enormemente uma pesquisa que, em outros tempos, demoraria para ser realizada. Entretanto, comumente, a utilização desses meios é mal direcionada, sem contar que a internet possui muitas informações repetidas e banalizadas, não havendo garantia de procedência e credibilidade (PONTUSCHKA; PAGANELLI; CACETE, 2007, p.263).
O nosso intuito ao trazer a citação acima foi tão somente confirmar o exemplo que apresentamos com relação às informações que são obtidas junto à internet. Para além da constatação imediata da quantidade de informações geradas a partir da seleção de uma palavra, o avanço significativo deve ser considerado no sentido de selecionar as informações que possuem procedência e credibilidade.
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
175
Portanto, é imprescindível que o professor enquanto mediador do conhecimento auxilie os alunos na seleção dos materiais pesquisados, a fim de que esses materiais não sejam um amontoado de páginas das quais o aluno se apropria sem uma análise ou uma ponderação. Diante do exposto até o momento, de que forma a Geografia contemporânea tem privilegiado esse saber? A Geografia o tem priorizado a partir da análise de diversas fontes documentais, assim como diferentes linguagens que são oriundas das revoluções tecnológicas. Trata-se, portanto, de uma Geografia que considera a construção histórico-social, em outras palavras, significa que essa provém das relações estabelecidas entre sociedade e natureza. O ensino de Geografia de acordo com os PCNs (1998) é composto por vários eixos temáticos que apresentam temas variados: a construção do espaço, território e lugares, mudanças nas relações sociais e de trabalho abordando a vida no campo e na cidade, conquista da cidadania, migrações, natureza etc. A evolução da tecnologia também é contemplada, assim como dos transportes, globalização, desemprego, urbanização, pobreza, questões com o meio ambiente, indústria etc. O Google Maps é uma evolução tecnológica e uma ferramenta muito útil para o ensino de Geografia e principalmente para o uso da cartografia. Por meio do endereço é disponibilizado o saiba mais sobre o Google Maps Brasil. Para utilizar essa ferramenta é preciso acessar , que possibilita a pesquisa de endereços, serviços, empresas, traçar rotas além de compartilhar mapas personalizados. Trata-se de uma ferramenta para a exploração do mundo usando mapas interativos.
176 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
Nova versão do Google Maps avisa a hora de descer do ônibus Publicada em 07 de julho de 2011 às 17h49
Usuário que quiser seguir por transporte público terá seu itinerário acompanhado pelo aplicativo, que o alertará para que não passe do ponto. Novidade anunciada nesta quinta-feira (7/07) pela Google deve agradar em cheio quem utiliza transporte público. O aplicativo de mapas da empresa (Google Maps), se já era capaz de exibir quais ônibus ou trens o internauta teria de pegar para chegar ao seu destino, resolveu deixar as coisas ainda mais fáceis: passará a avisá-lo sobre o momento de descer do veículo. A função será importante para usuários que precisam, por exemplo, descer do ônibus em determinado ponto para pegar outro. O aplicativo acompanhará o itinerário do passageiro e, quando chegar a hora, exibirá um alerta no smartphone para que ele saia da condução. Como o vídeo explicativo destaca, o programa funciona normalmente em segundo plano, portanto, mesmo que o navegador ou um game esteja aberto, a noticação aparecerá. O Transit Navigation – nome dado ao recurso – já pode ser usado no Brasil. Ele possui as informações de transporte público de cinco cidades: Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília e Recife. Quem quiser aproveitá-lo, deve ter em mente que ele ainda está em estágio de testes, portanto, erros podem acontecer. Matéria disponível em: . Acesso em: 12 ago. 2011.
Nesse sentido, entendemos que os recursos didáticos advindos da revolução da tecnologia e da informação a partir do uso da internet e da intercomunicação mundial dos computadores podem auxiliar o professor no trabalho com o ensino de Geografia, e diferentes abordagens podem ser utilizadas a partir do uso da internet. Nesse espaço virtual estão disponíveis todos os recursos necessários para o professor explorar leitura, imagem, texto, vídeo. Dessa forma, o uso de recursos advindos da tecnologia devem ser utilizados tanto pela escola quanto pelos professores, considerando o universo midiático em que os alunos estão inseridos.
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
177
Encerrando a nossa análise confirmamos a importância do papel do professor em saber lidar com as diversas linguagens oriundas da revolução da internet (imagem, fotografia, cinema, música etc.) para um estudo geográfico e sua aplicação didático-pedagógica com os alunos. Considerando que a escola é uma expressão da sociedade, faz-se necessário que essa se aproprie dos avanços produzidos.
A FOTOGRAFIA COMO RECURSO DIDÁTICO NO ENSINO DE GEOGRAFIA A sociedade contemporânea passa por um processo de transformação jamais visto anteriormente na trajetória da humanidade, exigindo um contato cada vez maior das pessoas com diferentes tecnologias. Na esteira dessas transformações, a imagem cada vez mais popularizada em todas as classes sociais devido ao acesso e ao custo mais reduzido dos equipamentos eletrônicos vem alterando o modo de vida das pessoas. No entanto, toda essa transformação tecnológica não é sinônimo de democratização do conhecimento e equalização social, pois pode servir para os interesses voltados para o mundo capitalista. Diante desse contexto de transformações e contradições, é imprescindível o papel da escola como base fundamental para proporcionar uma leitura do mundo, onde a imagem desempenha um papel fundamental. A escola divide essa responsabilidade com os professores no [...] “processo de formação dos sujeitos que enfrentarão os novos paradigmas da sociedade contemporânea” (MUSSOI; SANTOS, 2008, p.1). No entanto, o processo dessas transformações na escola ocorre de forma lenta exigindo condições de acesso, superação de obstáculos, assim como desenvolvimento de novas linguagens educacionais e novos procedimentos metodológicos. Uma dessas linguagens educacionais pode ser representada pela fotografia, que se constitui em um importante recurso didático auxiliando na construção de conceitos básicos de Geografia com relação ao espaço
178 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
aliados ao desejo do aluno em aprender uma nova linguagem visual. Dessa forma, alguns procedimentos metodológicos devem ser adotados pelos professores nas aulas de Geografia por meio da leitura e interpretação de paisagens oriundas da fotografia. Os procedimentos exigidos para a leitura de imagem devem ser desenvolvidos em três etapas, a saber: observação – análise – interpretação, a fim de possibilitar a relação das técnicas de leitura visual com os conteúdos a serem trabalhados. Para a aplicação da fotografia em sala de aula é necessário que os professores se atentem para os seguintes aspectos como fontes de pesquisa fotográfica: direitos autorais sobre fotografias - banco de imagens - fotografias aéreas verticais - fotografias artísticas - fotografias antigas. Antes de comentarmos cada um desses procedimentos e aspectos com relação ao tratamento da fotografia, cabe a seguinte pergunta: qual o papel da Geografia e da imagem na formação do aluno? Para respondermos nessa pergunta, nos apoiaremos em Mussoi e Santos (2008, p.5): Como área do conhecimento comprometida em tornar o mundo compreensível, a Geografia deve envidar esforços no sentido de empreender um ensino para que o aluno ao se apropriar do conhecimento possa “ler e interpretar criticamente o espaço, sem deixar de considerar a diversidade das temáticas geográficas e suas diferentes formas de abordagem”. Nesse sentido, a função da Geografia na escola é “desenvolver o raciocínio geográfico”, isto é, “pensar a realidade geograficamente” e “despertar uma consciência espacial”.
Portanto, o ensino de Geografia deve privilegiar diversas linguagens e conduzir o aluno no processo de leitura e interpretação do mundo de forma significativa. O professor comprometido com essa nova realidade deve priorizar momentos que vão além da simples exposição oral do conteúdo, leitura do livro didático e memorização tão característicos do ensino tradicional e que não atendem mais às exigências e transformações da sociedade. Essa nova postura metodológica oportunizará a aprendizagem dos alunos para diferentes olhares. Dessa forma, ao pensarmos na fotografia como uma nova linguagem devemos nos remeter
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
179
ao conceito de paisagem e seus elementos que merecem uma leitura além da simples observação, abarcando uma leitura perceptiva que sofre variações de acordo com a seleção feita pelo olhar do observador. Diferentes leituras podem ser exploradas na mesma imagem, pois o observador (aluno) traz consigo sua história de vida, suas experiências. Nesse sentido, a leitura de uma imagem pode trazer recordações de momentos vividos e de verdades construídas que estão enraizadas na vida das pessoas. A instantaneidade do clique de uma máquina consegue captar o visível diante dos olhos, mas a leitura dessa instantaneidade estará diretamente ligada aos sentimentos e emoções, podendo ser enxergada além dos aspectos visíveis. Uma vez identificado o papel da Geografia e da imagem na formação do aluno, a pergunta seguinte nos permite uma aproximação conceitual dessa linguagem: o que é fotografia e qual o seu conceito enquanto recurso didático no ensino de Geografia? De modo geral, podemos dizer que a fotografia é o registro visual e instantâneo de um espaço a paisagem em um determinado momento histórico, do ponto de vista do observador do fenômeno. “[...] ela não é, nem pretende ser um raio-X dos objetos ou das personagens retratadas”, no entanto, pelas possibilidades que oferece para a leitura do espaço, certamente é um bom indicativo dessa realidade (KOSSY, 1999, p.43). Nesse sentido, a fotografia pode ser entendida como uma fonte inesgotável de dados, fatos, informações, seleções e exclusões do olhar do observador sobre determinado objeto, fenômeno, paisagem, pessoas. O enquadramento da câmera é feito a partir da importância definida pelo fotógrafo. Utilizada como recurso didático no ensino de Geografia, a fotografia desenvolve no aluno sua percepção visual sobre o espaço retratado. Ela não substitui textos ou outras fontes de informação geográficas, mas se agrega a estes recursos cabendo ao professor fazer uso de diferentes linguagens. Por outro lado, a utilização da fotografia no contexto de sala da aula não deve ser entendida como uma mera ilustração de textos escritos, como frequentemente ocorre nos livros didáticos, nem como a expressão da verdade absoluta de uma determinada época ou lugar (MUSSOI; SANTOS, 2008, p.7).
180 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
Diante dessa nova linguagem que exclui os demais recursos didáticos, o professor deve seguir um roteiro para a utilização da Geografia, por meio da qual se podem fazer leituras diferenciadas da paisagem, em outras palavras, com pontos de vista diversos, e a sua utilização dependerá do enfoque dado pelo professor. Anteriormente anunciados e partindo da premissa de que o conceito de “ler” uma paisagem, um fenômeno ou objeto consiste em observar, analisar e interpretar diferentes expressões atribuindo significados variadas aos elementos que a compõem, comentaremos a seguir os passos que poderão auxiliar os professores no planejamento e encaminhamento das suas atividades didático-pedagógicas para a leitura de paisagens a partir da fotografia. Nos apoiaremos em Mussoi e Santos (2008): a) Observação: é o passo inicial nas atividades que envolvem a leitura de imagens, assim como denir e identicar as diferentes unidades da paisagem e o ponto de vista do ob servador, podendo ser realizada de forma espontânea seguindo os critérios de relevância para o expectador. Nesse sentido, algumas perguntas devem ser feitas previamente para o encaminhamento da atividade: o que a foto está mostrando? Que lugar é esse? Quais os elementos constitutivos da paisagem? Quais foram construídos pela natureza? Quais foram construídos ou sofreram intervenção humana? Essas são algumas perguntas prévias, mas tantas outras poderão ser feitas no sentido de aproximar o aluno da realidade que o circunda. b) Análise: nessa fase o objetivo é dar signicado aos elementos constituintes da paisa gem, sejam eles hidrograa, relevo, campos, cultivos, estradas, portos etc., assim como as intervenções humanas e as grandes obras realizadas pelo homem na paisagem natural relacionadas com os interesses políticos, econômicos, regionais, nacionais etc. c) Interpretação: último passo na leitura de imagens. O objetivo é procurar explicações para os diferentes elementos observados, não somente de forma isolada, mas sobretudo em conjunto. Se essa última fase for realizada numa perspectiva problematizadora, levará o aluno a reconhecer os elementos que não são visíveis, por exemplo, ao fotografar uma favela outras questões podem surgir e novas perguntas podem ser feitas: quais as condições de vida da população? A partir desse primeiro questionamento outras reexões surgirão tais como as questões ambientais, de transporte, de moradia, segurança, condições sanitárias, quais os interesses que estão em jogo.
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
181
Para finalizar, é preciso considerar que a fotografia não é uma representação da verdade absoluta, tratando-se de um ponto de vista e necessitando ser complementada com outras fontes de informação. Cabe lembrar que para utilização de fotografias é necessário um olhar cuidadoso no tocante aos direitos intelectuais do autor da imagem que são resguardados no Brasil pela Lei 9.610.98 de 19 de Fevereiro de 1998 (direitos autorais). Da mesma maneira, quando for utilizada a imagem de terceiros é preciso autorização prévia colhida na forma de assinatura sob pena de responder por apropriação indevida do uso de imagem e sujeito às sanções da lei acima mencionada. Gostaríamos de destacar o trabalho do fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado que é um dos fotógrafos contemporâneos mais respeitados. O seu trabalho é dedicado a fotografar a vida dos deserdados do mundo e sua obra está documentada em vários livros e exposições mundiais. Para o fotógrafo, a maior contribuição que ele pode atingir é que as pessoas, ao visitarem suas exposições, saiam diferente de quando entraram. Salgado aposta que cada um pode ajudar de determinada forma, não apenas material, mas tomando parte pelo que acontece ao redor do mundo. Ao digitarmos no Google Web as palavras “fotografias de Sebastião Salgado”, é apresentado 117.000 páginas sobre o assunto contendo as fotos do fotógrafo. Isso reforça o nosso entendimento de que a pesquisa na internet é uma fonte de recursos inesgotável e que devem ser selecionados pelo professor para o desenvolvimento de suas atividades pedagógicas. As fotografias de Sebastião Salgado exploram toda a fragilidade humana, a segregação, a miséria, a pobreza, o trabalho escravo entre outras questões que perpassam pelo ensino de Geografia.
Fonte: .
182 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
A fotografia abaixo foi retirada do banco de dados do Google Imagens. Ao digitar “fotos de Sebastião Salgado”, várias imagens são apresentadas. Algumas delas chocam pela condição de muitos seres humanos. Selecionamos uma fotografia que pode ser utilizada no ensino de Geografia, pois apresenta a caracterização de uma paisagem desfigurada, sem vida e sem identidade pós-guerra. A imagem pode possibilitar várias leituras não apenas visíveis aos olhos, mas subjetivas estabelecendo uma relação entre os seres humanos e a natureza. • O que signica os destroços dessa construção? • O que signica as pessoas fotografadas em tamanho menor que a paisagem? • Qual a condição humana dessas pessoas? • O que restou a essas pessoas além da união expressa pelo abraço entre elas?
Imagem disponível em: .
Seria impossível reunir neste trabalho todos os sites e vídeos que disponibilizam informações sobre a linguagem fotográfica, assim como as linguagens do cinema e da música que serão apresentadas a seguir. Nesse sentido, o objetivo dessa abordagem tem como prioridade despertar em você, caro(a) aluno(a) e futuro(a) docente a utilização dos recursos tecnológicos
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
183
como aliados para o trabalho com conteúdos do ensino de Geografia. A nossa intenção não foi esgotar as discussões sobre a fotografia, assim como as duas outras linguagens que trataremos a seguir, mas sim analisá-la como uma contribuição para a prática pedagógica de diferentes linguagens na Geografia oriundas das revoluções tecnológicas e que não pretendem excluir os outros recursos didáticos, tais como o livro, mas que devem ser incorporadas às atividades curriculares, aproximando escola e sociedade, nesse sentido, mais uma vez ressaltamos a importância do professor no processo como mediador do conhecimento.
O CINEMA COMO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO E EDUCACIONAL A linguagem do cinema também está inserida nas aulas de Geografia, mas não podemos desconsiderar que enquanto alguns professores fazem uso adequado dessa linguagem, outros ainda sentem dificuldade em utilizar esse recurso didático (PONTUSCHAKA; PAGANELLI; CACETE, 2007, p.265). Ao realizar uma reflexão sobre o uso dessa linguagem na disciplina de Geografia é preciso lembrar que o filme é composto de múltiplas linguagens integradas na constituição de um todo. Nesse sentido, trata-se de uma produção cultural relevante para a formação das pessoas, pois nela estão contempladas questões artísticas, afetivas, sociais, políticas, ambientais etc. Ao se trabalhar com filmes em sala de aula é preciso uma organização prévia com relação à apresentação dos mesmos. O elemento de maior importância está relacionado à aplicação do filme no decorrer das aulas, pois o papel do professor é de suma importância tanto na orientação dos alunos, quanto nos objetivos a serem alcançados com esse recurso. Para o alcance desses objetivos é necessário que o professor tenha uma intenção prévia e um direcionamento para a atividade com o filme. A seguir, elencamos alguns desses direcionamentos propostos por Machado (2001, p.1):
184 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
• Seleção por parte do professor do lme; se ele será exibido na íntegra, trechos e quais seriam as sequências. • A relação entre o lme e os conteúdos que estão sendo trabalhados em sala de aula. • Elementos principais que devem ser destacados antes, durante e depois da apresentação. • As atividades que serão realizadas em função da utilização do lme. • Não é aconselhável que os alunos façam anotações durante o lme, a m de não dispersar a atenção. Para Campos (2011), a linguagem cinematográfica não deve ser somente para suprir a falta de assunto ou a ausência de professores na sala de aula. O filme não pode ser substituto do professor, assim como o seu uso não pode ser aleatório, considerando que o mesmo tem uma finalidade educacional, deve sempre haver reflexão sobre a sua utilização. Nesse sentido, o autor elenca alguns critérios para que essa linguagem obtenha resultados positivos: • O cinema apresenta melhores resultados na sala de aula na forma de documentários ou curtas-metragens. • Apresentação do lme e discussão do mesmo na sala de aula pelo professor. • Não é indicado utilizar duas ou três aulas para passar o lme discuti-lo depois. Os critérios que elencamos acima podem ser utilizados pelo professor para qualquer tipo de filme ou documentário sobre os conteúdos de Geografia, considerando que não existe uma regra a se seguir no desenvolvimento com a linguagem cinematográfica, mas é essencial que o professor tenha definido alguns procedimentos didático-pedagógicos que auxiliarão não só na aplicação desse recurso, mas sobretudo no objetivo ao ser alcançado. O filme deve estar inserido em um processo de buscas e interpretações com base no saber escolar e o saber do mundo. A seguir, como exemplo sugerimos o filme “A era do gelo 1, 2 e 3” para a aula de Geografia.
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
185
Algumas temáticas podem ser consideradas, tais como: • temática ambiental; • derretimento das geleiras e suas possíveis consequências para o planeta; • aquecimento global; • tempo e clima.
Fonte: .
Ao acessar a página do YouTube em e digitar as palavras “A Era do Gelo”, 2.700 resultados são encontrados. Isso demonstra a infinidade de vídeos que poderão ser selecionados de acordo com a finalidade do trabalho em Geografia. Seguem algumas sugestões de perguntas que servirão como auxílio para a condução das atividades com relação ao filme “A era do gelo 1, 2 e 3”. • O lme trata de qual problema presente na sociedade atual? • Em que lugar (espaço) a história se passa? • Quais as consequências do problema retratado no lme para os habitantes da Terra?
186 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
• Qual a importância do trabalho em equipe para a resolução dos problemas ambientais? • Qual foi o resultado obtido com a utilização do lme como material de apoio? • Qual atividade foi proposta após a exibição do lme? • Com quais conteúdos da Geograa o lme dialogou? O filme “Os Sem-Floresta” também poderá ser utilizado para abordar conteúdos de Geografia, conforme sinopse abaixo:
Fonte:,
Sinopse: A primavera chegou, o que faz com que os animais da oresta despertem da hibernação. Ao acordar eles logo têm uma surpresa: surgiu ao redor de seu habitat natural uma grande cerca verde. Inicialmente eles temem o que há por detrás da cerca, até que RJ (Bruce Willis) revela que foi construída uma cidade ao redor da oresta em que vivem, que agora ocupa apenas um pequeno espaço. RJ diz ainda que no mundo dos humanos há as mais diversas guloseimas, convencendo os demais a atravessar a cerca. Entretanto esta atitude desagrada o cauteloso Verne (Garry Shandling), que achava melhor permanecer onde estavam inicialmente. Disponível em: . Acesso em: 03 ago. 2011.
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
187
As perguntas relacionadas ao filme “A era do gelo” possibilitam um direcionamento para o trabalho com outros filmes, contudo elas não encerram as possibilidades de procedimentos e atividades, ao contrário servem como direcionamento e condução do trabalho com a linguagem cinematográfica. É importante ressaltar que caberá ao professor a seleção de filmes de acordo com a faixa etária e o conteúdo a ser ministrado na disciplina de Geografia.
A MÚSICA ENRIQUECENDO AS AULAS DE GEOGRAFIA A música é um recurso didático que poderá ser adotado como metodologia nas aulas de Geografia. O professor poderá escolher uma letra de música e trabalhar concomitantemente com o conteúdo da disciplina. A utilização da música no ensino de Geografia aprimora as relações de comunicação entre professor e aluno. M O C . S O T O H P : e t n o F
Vários gêneros musicais podem ser trabalhados, dentre eles o sertanejo por sua aproximação com os problemas rurais e a vida difícil no campo, assim como relações entre a cidade e o campo. O estilo e as letras do hip hop e do rap retratam denúncias, fato, acontecimentos, diferenças sociais, preconceitos raciais entre outros. O pop rock, a MPB, música folclórica e demais gêneros musicais podem ser utilizados levando em consideração a realidade dos alunos e o encaminhamento do professor para esse recurso didático. Nesse sentido, a música tem um contexto dentro da história da própria vida do país e dos cidadãos. Os estilos mencionados acima pertencem a um contexto histórico em que a liberdade de cultura e de expressão aceita como legítima e como conquista e emancipação de um país e seu povo.
188 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
No entanto, algumas músicas retratam um período em que as letras eram censuradas, por exemplo, no regime militar quando muitos cantores, artistas, intelectuais foram exilados do Brasil, justamente por estarem retratando por meio de suas músicas seus ideais políticos e de liberdade, assim como a injustiça social, a violência etc.
CURIOSIDADE: Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos é uma música composta por Roberto e Erasmo Carlos em homenagem a Caetano Veloso, que encontrava-se no exílio, em Londres, para onde fora deportado em 1969 pela Ditadura Militar. Disponível em: . Dicas de livros: ARAÚJO, Paulo César de. Roberto Carlos em Detalhes . Editora Planeta, 2006. ARAÚJO, Paulo César de. Eu não sou cachorro, não. Editora Record, 2005 (o livro trata de importante capítulo da história brasileira e da música popular brasileira que foi a década de 70, marcada pela ditadura militar).
Considerando alguns dos gêneros musicais acima elencados e outros que não foram abordados por nós, é preciso que o professor identifique quais são os mais pertinentes para o trabalho com os seus alunos, levando em consideração também a realidade deles. No entanto, cabe também ao professor apresentar a variedade de gêneros musicais a fim de promover a diversidade cultural entre os alunos. A faixa etária dos alunos também deve ser respeitada. Nesse sentido, a adequação entre gênero musical, e faixa etária deve ter um planejamento para que o trabalho pedagógico seja bem claro. A nossa proposta neste trabalho não é explorar cada um dos gêneros musicais. O nosso objetivo é proporcionar o entendimento de que a tecnologia rompe barreiras, une pessoas e possibilita uma leitura heterogênea do espaço, lugar, paisagem, relações de trabalho,
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
189
preocupações com o planeta e com a sobrevivência humana. Música 1:
M O C . S O T O H P : e t n o F
Para acessar o vídeo da música “O planeta azul”, acesse o site: .
Planeta Azul (Chitãozinho e Xororó) A vida e a natureza sempre à mercê da poluição Se invertem as estações do ano Faz calor no inverno e frio no verão Os peixes morrendo nos rios Estão se extinguindo espécies animais Nem tudo que se planta, colhe O tempo retribui o mal que a gente faz Onde a chuva caía quase todo dia Já não chove nada O sol abrasador rachando o leito dos rios secos Sem um pingo d’água Quanto ao futuro inseguro Será assim de norte a sul A terra nua semelhante à lua O que será desse Planeta Azul?
190 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
O que será desse Planeta Azul? O rio que desce as encostas já quase sem vida Parece que chora um triste lamento das águas Ao ver devastada a fauna e a ora É tempo de pensar no verde Regar a semente que ainda não nasceu Deixar em paz a Amazônia, preservar a vida Estar de bem com Deus! Letra disponível no site: . Acesso em: 03 ago. 2011.
Música 2: Medo que algum dia mar também vire sertão
M O C . S O T O H P : e t n o F
Para acessar o vídeo da música “Sobradinho”, acesse o site: .
Sobradinho (Sá e Guarabyra) O homem chega, já desfaz a natureza Tira gente, põe represa, diz que tudo vai mudar O São Francisco lá pra cima da Bahia Diz que dia menos dia vai subir bem devagar E passo a passo vai cumprindo a profecia do beato que dizia que o Sertão ia alagar O sertão vai virar mar, dá no coração O medo que algum dia o mar também vire sertão
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
191
Adeus Remanso, Casa Nova, Sento-Sé Adeus Pilão Arcado vem o rio te engolir Debaixo d’água lá se vai a vida inteira Por cima da cachoeira o gaiola vai, vai subir Vai ter barragem no salto do Sobradinho E o povo vai-se embora com medo de se afogar. Remanso, Casa Nova, Sento-Sé Pilão Arcado, Sobradinho Adeus, Adeus . Letra disponível no site: . Acesso em: 03 ago. 2011.
Curiosidade: Sobre a letra da música “Sobradinho”, Sá e Guarabyra em algumas excursões feitas no Rio São Francisco perceberam uma grande movimentação de caminhões rio abaixo e a construção de uma barragem às escondidas. A música nasceu considerando o ponto de vista dos sertanejos do lugar. Disponível em: . Acesso em: 03 ago. 2011.
Música 3:
M O C . S O T O H P : e t n o F
Para acessar o vídeo da música “Planeta água”, acesse o site: .
192 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
PLANETA ÁGUA (Guilherme Arantes) Água que nasce na fonte Serena do mundo E que abre um Profundo grotão Água que faz inocente Riacho e deságua Na corrente do ribeirão... Águas escuras dos rios Que levam A fertilidade ao sertão Águas que banham aldeias E matam a sede da população... Águas que caem das pedras No véu das cascatas Ronco de trovão E depois dormem tranqüilas No leito dos lagos No leito dos lagos... Água dos igarapés Onde Iara, a mãe d’água É misteriosa canção Água que o sol evapora Pro céu vai embora Virar nuvens de algodão... Gotas de água da chuva Alegre arco-íris Sobre a plantação Gotas de água da chuva
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
193
Tão tristes, são lágrimas Na inundação... Águas que movem moinhos São as mesmas águas Que encharcam o chão E sempre voltam humildes Pro fundo da terra Pro fundo da terra... Terra! Planeta Água Letra Disponível no site: . Acesso em: 03 ago. 2011.
Curiosidade: A música “Planeta Água” cou em 2º lugar no Festival MPB-SHELL -1981. A vencedora do prêmio foi a música “Purpurina” interpretada por Lucinha Lins (de autoria de Jerônimo Jardim) . A cantora sobe ao palco e é vaiada pelo público. Disponível em: . Acesso em: 03 ago. 2011.
O trabalho com diversos gêneros musicais pode ser explorado pelo professor de acordo com a faixa etária dos alunos, assim como o conteúdo a ser abordado em sala de aula. O significado do trabalho com a música está na elaboração gradual do conceito de que a música é uma expressão da sociedade e das possíveis abordagens para o ensino de Geografia.
194 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
OS JOGOS PARA DESENVOLVER NOÇÕES ESPACIAIS NAS CRIANÇAS A atividade lúdica por intermédio de jogos e brincadeiras é de fundamental importância, uma vez que possibilita o desaparecimento da fronteira entre o trabalho, que é obrigatório e exige esforço, e o divertimento, prazeroso e alegre, levando os alunos a se envolverem, se arriscarem, se interessarem e aprenderem com satisfação, prazer e autoconfiança. Os jogos utilizados com fins didáticos devem apresentar regras criadas pelo professor ou juntamente com os alunos M O C . para trabalhar determinadas habilidades, S O T atitudes, conteúdos e valores. Devem ser O H P : atividades orientadas, onde a criança e t n o utiliza-se do faz de conta que é próprio das F brincadeiras e da recreação nas quais o aluno é espontâneo, tem autonomia para imaginar e desenvolver atividades e onde, em geral, não há interferência do professor. Além disso, o lúdico deve proporcionar maior socialização e integração entre o grupo de alunos, entre professor-aluno, e, acima de tudo, o estabelecimento de valores que venham a contribuir na formação de cidadãos responsáveis, críticos, construtores de um mundo melhor. São inúmeras as vantagens dos jogos educativos que envolvem aspectos motores, afetivos, morais e sociais. Cabe ao professor utilizar os jogos que deem oportunidades aos alunos para desenvolverem esses aspectos que estão, na realidade, interligados. Apresentaremos a seguir seis sugestões de jogos/brincadeiras que auxiliarão na socialização e na integração entre os grupos: pega lugar, grandes e pequenos grupos, corrida maluca, pular corda, cabra-cega sem direção e jogo do comando.
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
195
1. Pega lugar Procedimentos: Em uma quadra serão colocados 10 bambolês espalhados distantes um do outro no qual cada um deverá conter uma dupla de pessoas. Será traçada uma linha horizontal paralela aos bambolês, onde será colocado o restante das pessoas que sobrar. Execução: Ao dar o sinal por um apito, as duplas obrigatoriamente deverão trocar os bambolês e os outros que estão na linha terão que tentar entrar em algum bambolê, quem ficar de fora retornará a linha. Critério para a brincadeira, as duplas não poderão estar com o pé de fora do bambolê e nem em cima do limite do bambolê, deverão obrigatoriamente estar com os dois pés dentro do bambolê. Objetivo A brincadeira propicia oportunidades para trabalhar noções de lateralidade e noções de espaço dentro e fora.
2. Grandes e pequenos grupos Preparação/execução: Será colocada uma música e enquanto isso os alunos focarão andando pela sala de aula, quando a música parar a professora dará um comando, ex.: grupo de 3, os alunos terão que se
196 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
reunir em grupos de 3, quem não conseguir formar um grupo, ou seja, aquele que sobrar sairá do jogo e quem conseguir ficar por último é o vencedor. Objetivo: Por meio da brincadeira grandes e pequenos grupos é possível desenvolver o raciocínio lógico e a percepção auditiva, conhecer os números pares e ímpares e trabalhar a capacidade de fazer agrupamentos e interações sociais.
3. Corrida maluca Procedimentos: Traça-se a giz 4 grandes círculos, dois lado a lado e dois em frente a eles e no interior dos primeiros coloca-se 5 bolinhas em cada. Os dois círculos serão separados por um espaço de 2 metros e distantes por 6 metros dos círculos da frente. Os jogadores serão divididos em dois grupos e formarão quatro colunas (uma coluna atrás de cada círculo com bolinhas). Execução: Dado o sinal de início, o número 1 de cada coluna pega uma bolinha do seu círculo e corre até chegar ao círculo da frente e deposita uma bolinha de cada vez. Faz isso com as cinco bolinhas e quando acabar o próximo jogador do seu grupo fará a mesma coisa. O primeiro grupo em que todos os integrantes terminarem essa ação será o vencedor.
4. Pular corda Procedimentos: Os materiais necessários são duas cordas grandes e espaço físico plano. Para a realização
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
197
da brincadeira, é preciso que a atividade seja iniciada com a explicação para os alunos ainda em sala, desenhando no quadro a brincadeira, depois com a divisão da sala em dois grupos de alunos e a distribuição de uma corda para cada grupo. Execução: A partir do sinal de início, cada grupo deve formar uma fila com três metros de distância dos alunos que baterão a corda. Em seguida, cada aluno deve saltar a corda individualmente, um de cada vez, até que todos tenham saltado, inclusive os alunos que bateram a corda. A definição do ritmo lento e rápido é realizada individualmente a cada aluno. Os pontos serão obtidos a partir do momento em que a criança der o primeiro pulo até que ela erre, então será marcada a quantidade de pulos que cada aluno deu e no final será somada junto com os pontos do restante da turma. Vence o grupo que no final da participação de todos conseguir mais pontos. Com essa brincadeira, pode-se trabalhar variações do ritmo, habilidades motoras como o salto, o equilíbrio, a motricidade grossa entre outros. Sugestão de atividades: Há vários tipos de atividades que podem ser realizadas com a corda, como montar um grupo pequeno de crianças para pular ao mesmo tempo a corda. Também individual ou em grupo pular cantando várias músicas como “Um homem bateu a sua porta...” “Com quem você pretende se casar...” “Salada saladinha...”entre outros. É possível também a criança pular fazendo gestos como agachar, girar, saltar com um pé.
198 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
5. Cabra-cega sem direção Procedimentos: Separam-se dois grupos, ex.: meninos e meninas. Esses grupos ficarão em duas filas na horizontal, voltados para a quadra, ou o espaço onde ocorrerá a brincadeira. No espaço dentro da quadra, ou um grande retângulo traçado a giz no chão, em cada ponta deverá haver um cesto. Também é necessário duas vendas e duas bolas.
Execução: Cada grupo deverá escolher um jogador para representá-lo. Esses jogadores se colocarão dentro do espaço onde ocorrerá a brincadeira, os olhos destes participantes serão vendados e eles partirão do mesmo ponto em busca das bolas que em seguida serão colocadas dentro do cesto. Para que os jogadores obtenham sucesso cada grupo deverá orientar seu representante somente com palavras: frente, atrás, para baixo, para direita, para esquerda e joga. Quem conseguir acertar primeiro a bola dentro do cesto, marca ponto. Ganha o jogo a equipe que marcar mais pontos. As jogadas deverão acontecer até que todos os jogadores de ambas as equipes tenham participado, podendo ocorrer duas vezes, caso o número de jogadores das equipes não sejam iguais. Objetivo: Ter a percepção de local e de espaço, aprendendo a observar de forma intencional e orientada. Saber onde está e que relações espaciais podem estabelecer.
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
199
6. A DANÇA DOS CARANGUEJOS Procedimentos/execução: Dramatizar com os alunos a seguinte situação: “eu não sei o que está acontecendo, estou um pouco tonto. Vou para frente, para trás, para um lado e para o outro”. Pedir para que eles experimentem, fazendo todos juntos. Todos para frente, para trás, para um lado e para o outro. Questionar as crianças sobre o lado direito e o lado esquerdo, frente e trás. Pedir aos alunos para esticarem os braços para frente, para trás, para um lado e para o outro. Dar três saltos nas mesmas direções, frente, trás, lado. Olhar para frente, trás e lado. Distribuir saquinhos de areia e jogá-los também para frente, trás e lados direito e esquerdo. Formar três equipes com os alunos. Todos serão caranguejos. Uma equipe deverá andar só para frente, a segunda só para trás e a terceira só para os lados. Colocar as equipes em três fileiras separadas. Quando a professora disser: “para frente”, só a equipe que pode andar nessa posição deverá se movimentar. Em seguida, serão dadas ordens diferentes, para trás e para os lados.
Objetivo: A brincadeira permite desenvolver a percepção espacial, lateralidade, coordenação motora global e psicomotricidade, possibilitando a produção e apropriação de conhecimento a partir de processos interativos em atividades de experimentação ativa.
200 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
CONSIDERAÇÕES FINAIS Chegamos ao fim de nossas discussões. Nesta quinta e última unidade enfatizamos que enquanto partícipes da sociedade do conhecimento e dos avanços produzidos no campo da tecnologia e da informação, os saberes não são mais produzidos em décadas, anos ou meses, mas se renovam a cada dia. Diante disto e levando em conta toda essa avalanche dos avanços tecnológicos, nos propomos a apresentar recursos didáticos diferenciados: a linguagem cinematográfica, a música e a fotografia como possibilidades pedagógicas para o Ensino de Geografia. Isto porque atualmente as diversas classes sociais têm acesso às diferentes linguagens marcadas por uma infinidade de informações. Pertencemos a uma sociedade tecnológica e desta maneira os sistemas educacionais não podem se manter imparciais diante das mudanças. Trata-se, portanto, de potencializar o aluno para a constante leitura do mundo que agora se apresenta por outras formas de linguagem. Nesse sentido, o ensino de Geografia precisa privilegiar as diversas linguagens e conduzir o aluno no processo de leitura e interpretação do mundo de forma significativa. O professor comprometido com essa nova realidade deve priorizar momentos que vão além da simples exposição oral do conteúdo, leitura do livro didático e memorização. Essa nova postura metodológica oportunizará a aprendizagem dos alunos para diferentes olhares e competências. Outra possibilidade, não tão recente, mas tão importante quanto, é a utilização dos jogos e brincadeiras para a internalização de noções e conceitos geográficos pela criança. Desta maneira, não esperamos que o conhecimento aqui expresso em formato de livro seja transformado em um saber completo e acabado, mas ao contrário, em um saber incompleto e em constante caminho a percorrer. Essa incompletude nos remete ao significado do nosso tempo atual com todas as suas possibilidades, limites e contradições.
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
201
ATIVIDADE DE AUTOESTUDO 1. Na conclusão de nossa quinta unidade pudemos ler que “enquanto partícipes da sociedade do conhecimento e dos avanços produzidos no campo da tecnologia e da informação compreendemos que os saberes não são mais produzidos em décadas, anos ou meses, mas se renovam a cada dia”. Assim, reita e destaque os motivos que levaram ao encurtamento das distâncias. 2. Como os recursos tecnológicos podem contribuir com as aulas de Geograa nos anos iniciais do Ensino Fundamental? Produza um texto e, para elucidar sua resposta, retire trechos das seções desta unidade. 3. Considerando o que leu na seção “O cinema como conhecimento geográco e educacional”, elenque os cuidados que devemos ter ao utilizarmos um lme como recurso didático. 4. Elabore um argumento convincente para utilizarmos os jogos na construção das noções espaciais nas crianças em idade escolar. Depois apresente outro jogo destacando quais conhecimentos serão incorporados pelas crianças durante sua aplicação.
SITES PARA PESQUISA Apresentamos, a seguir, alguns sites que poderão ser utilizados na elaboração de suas aulas de Geograa. . Informações sobre o ambiente e mudanças climáticas . Site italiano dedicado à Geograa . Informações, fotos, depoimentos, análises, entrevistas que poderão subsidiar os educadores no desenvolvimento de projetos, por meio de um trabalho multi e interdisciplinar, sobre questões referentes à região amazônica. . Informações sobre o litoral brasileiro em uma viagem da foz do Rio Parnaíba, no Maranhão, passando pela Ilha de Trindade, o ponto mais distante do mar territorial brasileiro, até chegar à foz da Lagoa dos Patos, no Rio Grande do Sul. . .
202 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
. . .
METODOLOGIA METODOL OGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
203
CONCLUSÃO Olhando para trás vemos o quão difícil e ao mesmo tempo deslumbrante foi produzirmos este material para que você, caro(a) aluno(a), aluno(a), pudesse ter uma formação geográfica completa. c ompleta. Não queremos aqui nos gabar do que foi produzido e nem tão pouco formarmos geógrafos, mas sim contribuirmos singelamente com a formação de mais docentes compromissados com a educação atual e a sociedade vigente. São tantos os desafios impostos atualmente à formação docente que não teríamos páginas suficientes para discutirmos tudo o que gostaríamos e que achamos relevante no que tange o Ensino da Geografia Geograf ia destinado à Educação Infantil e anos ano s iniciais do Ensino Fundamental. Mas acreditamos que conseguimos cumprir com nossa missão. Assim, queremos finalizar apresentando um trecho de um poema de Cecília Meirelles. Ele será nosso ponto de partida para as despedidas finais.
A PAISAGEM “Pela janela aberta, eu vejo lá embaixo uma curva de caminho abandonado. Faz muito sol. É meio-dia. Parece que o céu está muito cansado, que as árvores estão cansadas e que o riozinho que passa ao longe, de tão cansado, se esquece de correr... Os pássaros movem-se lentamente no ar. Ouve-se um canto monótono de galos distantes... Na curva do caminho abandonado, um vendedor de frutas adormeceu, com o cesto transbordante de laranjas. E os pardais andam-lhe ao redor; e os besouros e as borboletas... E o vendedor de frutas parece tão feliz, sonhando, que as borboletas, os besouros, os pardais fazem-se ainda mais leves, para não despertarem o vendedor de frutas...” Fonte: MEIRELES, Cecília. Criança meu amor. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1977, p. 69.
A personagem criada pela autora da história olha uma paisagem pela janela. Nesta paisagem há elementos naturais e geográficos repletos de formas, cores e sons.
204 METODOL METODOLOGIA OGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação E ducação a Distância
Como é a paisagem que a personagem da história vê pela janela? É possível descrevê-la por meio da história que leu? Você já parou para perceber a paisagem que tem ao olhar pela janela de sua casa? Do seu carro? De seu ambiente de trabalho? É muito diferente da descrita no n o texto? texto? Todos os dias vemos paisagens cotidianas e outras tantas novas. Paramos para vislumbrá-las? Conhecemos as diferentes paisagens que compõem nosso cenário local, nacional e até mesmo mundial? A vida corriqueira não nos permite vislumbrar tudo o que nossos olhos podem contemplar. Podemos fazer algo para mudar esta situação? Pense nisto e quem sabe a partir de agora passe a olhar o espaço ao seu redor com outros olhos. Um forte abraço.
METODOLOGIA METODOL OGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
205
REFERÊNCIAS Distância. 3. ed. Campinas: Autores Associados, 2008. BELLONI, Maria Luiza. Educação Luiza. Educação a Distância. 3. Nacionais: História e Geografia. Secretaria de Educação BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Fundamental.. 2. ed. Rio de Janeiro: DP&A, Fundamental DP&A, 2000. geografia . São Paulo: Cengage Learning, CASTELLAR, Sônia; VILHENA, Jerusa. Ensino de geografia. 2010. Coleção idéias em ação. CASTRO, Moysés. Moysés. Os Mapas e as Crianças. Crianças. Disponível em: . Acesso em: 01 jun. 2011. CASTROGIOVANNI, Antonio Carlos. Apreensão e compreensão do espaço geográfico. In: CASTROGIOVANNI, Antonio Carlos (org.). Ensino de geografia: práticas geografia: práticas e textualizações no cotidiano. Porto Alegre. Mediação, 2000. Cartografia.. Disponív CERQUEIRA E FRANCISCO, Wagner. Cartografia Disponível el em: com/geografia/cartograf ia.htm>.. Acesso em: 30 jun. 2011. 2011. DAMIANI, Maria Luiza. A geografia e a construção da cidadania. In: CARLOS, Ana Fani aula . 6. ed. São Paulo: Contexto, 2004. Alessandri (org. (org.)) A geografia na sala de aula. DECICINO, Ronaldo. Conven Convenções ções gráficas ajudam a compreender os mapas. mapas. Disponível em:. Acesso em: 29 jun. 2011. geografia . FRANCISCHETT, Mafalda Nesi. A cartografia no ensino-aprendizagem da geografia. Disponível em: . Acesso em: 01 jun 2011. Histórico crítica. crítica . 2. ed. Campinas, GASPARIN, João Luiz. Uma didática para a pedagogia Histórico GASPARIN, Autores Associados, 2003. Coleção educação contemporânea. GOMES, Marquiana de Freitas Vilas Boas. Paraná em relevo: proposta pedagógica para GEOGRAFIA Revista do Departamento de Geociências: a construção de maquetes. GEOGRAFIA Universidade Estadual de Londrina, v.14, n.1, jan. jun. 2005. Disponível em:
206 METODOL METODOLOGIA OGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação E ducação a Distância
uel.br/revista.htm>. Acesso em: 01 jul. 2011. IBERTI, Ana Rosa Do Carmo. A Utilização dos Mapas Mentais na Representação do lugar. Disponível em: . Acesso em: 25 jun. 2011. KOZEL, Salete; FILIZOLA, Roberto. Didática de geografia: memórias da terra: e espaço vivido. São Paulo: FTD, 1996. MONTEIRO, Cássio Murilo. Os mapas e as crianças. 2005. Disponível em: . Acesso em: 20 jun. 2011. OLIVEIRA, Nilza. A. S. Mapas Mentais – Uma forma de representar a compreensão e interpretação do lugar. Disponível em: . Acesso em: 01 jul. 2011. PASSINI, Elza Yasuko; ALMEIDA, Rosângela Doin. O espaço geográfico: ensino e representação. 13. ed. São Paulo, Contexto, 2004. PENTEADO, Heloísa Dupas. Metodologia do ensino de história e geografia. São Paulo: Cortez, 1994. Coleção Magistério. 2º grau. Série formação do professor. PONTUSCHKA, Nídia, Nacib; PAGANELLI, Tomoko Iyda; CACETE, Núria Hanglei. Para ensinar e aprender geografia. São Paulo: Cortez, 2007. Coleção docência em formação. Série ensino fundamental. RAMAL, Andréa Cecilia. Educação na cibercultura: hipertextualidade, leitura, escrita e aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2002. RELPH, Edward. As Bases Fenomenológicas da Geografia. Geografia, Rio Claro,: Unesp v.4, n.7, abril de 1979, p.3. SAVATER, Fernando. Da ética como método de trabalho. Revista Fala mestre. Ed. N. 153, jun. jul. 2002. SIMIELLI, Maria, Elena, Ramos. Cartografia no ensino fundamental e médio. In: CARLOS, Ana Fani Alessandri (org.) A geografia na sala de aula. 6. ed. São Paulo: Contexto, 2004. METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA | Educação a Distância
207