Revisão de Literatura OS QUINTAIS AGROFLORESTAIS EM REGIÕES TROPICAIS – UNIDADES AUTO-SUSTENTÁVEIS AUTO-SUSTENTÁVEIS Marcia Aparecida de Brito 1, Maria de Fátima Barbosa Coelho 2
RESUMO - Os quintais agroflorestais são sistemas de uso da terra muito disseminados nos países tropicais, onde têm um importante papel no manejo e conservação da biodiversidade. Na presente revisão, são abordados diversos aspectos relacionados aos quintais, como conceitos, importância para a região amazônica e para as populações humanas, sistemas de uso tradicional da terra, introdução e domesticação de espécies, sustentabilidade, funções e usos, composição de espécies, estrutura espacial de seus componentes e mão-de-obra. Amazôn ônia ia,, Bras Brasil il,, Mato Mato Gros Grosso so,, quin quinta tais is,, sist sistem emas as Term Termos os para para Inde Indexa xaçã çãoo: Amaz agroflorestais, sustentabilidade. TROPICAL HOMEGARDENS - SUSTAINABLE SYSTEMS ABSTRACT: Homegardens are land use systems frequently used in the tropics and are an import imp ortant ant strate strategy gy for bio biodiv divers ersity ity conserv conservati ation. on. Many Many featur features es of homega homegarde rdens ns are discussed in this review: basic concepts, the role of homegardens in the Amazonian development, homegardens as a traditional land use system, their role in the survival strategies of human populations, functions of homegardens, species used, introduction and domestication of new species, sustainability, space structure of their components and labor use. Keywords: homegardens, agroforestry, sustainability, Amazon, Mato Grosso, Brazil. INTRODUÇÃO Os sistemas agroflorestais são formas de uso e manejo da terra, nas quais árvores ou arbustos são utilizados em associação com cultivos agrícolas e/ou com animais, numa mesma mesma área, área, de maneir maneiraa simult simultâne âneaa ou numa numa seqüênc seqüência ia tempor temporal. al. Uma das maiore maioress vantagens destes sistemas é, precisamente, sua capacidade de manter bons níveis de produção em longo prazo e de melhorar a produtividade de forma sustentável. Essa vantagem se deve, principalmente, ao fato de que muitas árvores e arbustos utilizados nestes sistemas têm também a função de adubar, proteger e conservar o solo. Os sistemas agroflorestais são quase sempre manejados sem aplicação de agrotóxicos ou requerem requerem quantidades quantidades mínimas dessas substâncias substâncias químicas. químicas. Os efeitos efeitos negativos negativos sobre o ambiente são, portanto, mínimos. (Viana et al., 1996) 1 2
Mestre em Ecologia e Conservação da Biodiversidade. Profª. Dra. do Departamento de Fitotecnia e Fitossanidade,UFMT/FAMEV, Av. Fernando Correa da Costa, s/n°. CEP 78060-900, Cuiabá-MT. e-mail:
[email protected]
O fato de esses sistemas dependerem de fontes de conhecimento e tecnologia locais, sendo, geralmente, compatíveis com as práticas culturais das populações, é uma vantagem. (Anderson et al .,., 1985) Como são geralmente baseadas em técnicas baratas e facilmente disponíveis, essas práticas são amplamente usadas pela comunidade e potencialmente transferíveis a outros ambientes similares. Os sistemas agroflorestais são típicos dos trópicos, e a palavra trópico é usada aqui em sentido geral. Incluem os países subtropicais em desenvolvimento que apresentam características agroecológicas, socioeconômicas e padrões de uso da terra similares aos dos países situados dentro dos limites geográficos dos trópicos. (Nair, 1993) Além disso, uma das características especiais dos trópicos, que não é conseqüência de seu clima e ecologia, refere-se ao seu “status” de sub-desenvolvimento e de pobreza econômica e social. A biodiversidade das regiões tropicais, tanto de espécies quanto de ecossistemas, permitiu que as populações locais desenvolvessem um sistema integrado de produção agrícola composto por atividades de coleta dessa grande diversidade de recursos vegetais e animai animais, s, pelo pelo manejo manejo e enriqu enriqueci eciment mentoo dos ecossi ecossiste stemas mas natura naturais is e pela pela lavour lavouraa de subsistência, principalmente de mandioca, arroz e milho, estando um dos componentes deste sistema integrado representado pelos quintais agroflorestais. (Castro, 1995) Na Amazônia, existem diversos sistemas agroflorestais em uso há muito tempo. Desenvolvidos por comunidades indígenas, caboclas e ribeirinhas, principalmente para fins de subsistência, muitos sistemas de produção, praticados por estes povos tradicionais, nunca foram bem-descritos e podem constituir um conhecimento que corre o risco de ser perdido para sempre. (Viana et al., al., 1996) Os sistemas sistemas agroflorestai agroflorestaiss estão representados representados por vários vários sistemas sistemas de uso da terra, terra, como como a “cul “culti tiva vati tion” on” (agr (agric icul ultu tura ra it itin iner eran ante te), ), sist sistem emaa de “Tau “Taungu nguia ia”, ”, cons consór órci cios os agroflorest agroflorestais ais comerciais comerciais,, sistemas sistemas agrosilvopa agrosilvopastor storis, is, agrosilvi agrosilvicultur culturaa para produção produção de lenha, quintais agroflorestais ou "home gardening", hortos caseiros, entre outros. Os sistemas de quintais agroflorestais são uma forma de uso da terra em propriedade particular, na qual várias espécies de árvores são cultivadas, juntamente com culturas perenes e anuais, e, ocasionalmente, criação de pequenos animais, ao redor da casa. (Wiersum, 1982) Essa forma de uso proporciona uma utilização mais eficiente dos fatores ambientais como luz, água e nutrientes e uma oferta diversificada de produtos durante todo o ano. Nair (1993) afirma que “home gardening” tem uma longa tradição em muitos países tropicais. Os “homegardens” tropicais consistem de uma reunião de plantas, incluindo árvores, arbustos, trepadeiras e plantas herbáceas, crescendo adjacentes às casas. Esses quin quinta tais is são são plan planta tado doss e mant mantid idos os pelo peloss memb membro ross da casa casa,, e seus seus prod produt utos os são são principalmente para consumo próprio. Em geral, a relação funcional desses sistemas de uso da terra é pouco entendida. Como exemplos de alguns desses sistemas, existem o “Malayan Kebun”, o “Kampung Indonesian”, o “Jardim Criole” do Oeste da Índia e o “Door Yard” da América Central. (Michon & Bompard, 1986) De acordo com Nair (1993), numerosos termos têm sido usados por vários autores para simbolizar essas práticas: “horticulture” (Terra, 1954), “mixed garden” ou “house
garden” (Stoler, 1975), “homegarden” (Ramsay & Wiersum, 1987), “compound farm” (Lagemann, 1977), “Kitchen garden” (Brierley, 1985), “household garden” (Vasey, 1985) e “homes “homestea teadd agrofo agrofores restry try”” (Nair (Nair & Sreodh Sreodhara aran, n, 1986; 1986; Leusch Leuschner ner & Khaliqu Khalique, e, 1987). 1987). Existem, ainda, as várias formas de “homegardens” javaneses, como o “Pekarangan” e o “Talunkebun”. (Gradwohl & Greenberg, 1988) Nair (1993) relaciona ainda a existência de outros tipos de “homegardens” em outros locais, cada qual com características próprias. De fato, os “homegardens” podem ser estabelecidos em quase todas as ecozonas tropicais e subtropicais, onde predominam os sist sistem emas as de uso uso da terr terra, a, base basead ados os na subs subsis istê tênc ncia ia.. No Méxi México co,, têmtêm-se se os “hor “horto toss familiares”, na América Central, “hortos caseros”, na Tanzânia, precisamente no Monte Kilimanjaro, os “Chagga homegardens”. De acordo com Torquebiau (1992), um melhor nome para quintais agroflorestais poderia ser “ tree home gardens” . No Brasil, o termo quintais é usado para se referir ao espaço do terreno situado ao redor da casa (Saragoussi et al., 1988; Ferreira, 1993), sendo definido, na maioria das vezes, como a porção de terra perto da casa, de acesso fácil e cômodo, na qual se cultivam ou se mantêm múltiplas espécies que fornecem parte das necessidades nutricionais da família, assim como outros produtos como lenha e plantas medicinais . Além disso, apresentam relevante importância sociocultural, ilustrada por Nunes (1994): Não foram os jardins que prepararam a nossa intimidade individual, mas os quintais. Últimos rincões das paragens edênicas, retiravam-nos cada dia, por momentos, do absorvente círculo de família, para a convivência com o quieto e mágico mundo vegetal. Colher frutas silvestres, subir nas árvores, plantar flores singelas como as de Bandeira, descobrir trilhas e veredas nesse mínimo bosque ou nessa fingida floresta cheia de perigos e de bichos fantásticos, eram exercícios poéticos da infância que suavizavam o privatismo adulto. Nunes (1994), ao tentar conceituar o termo quintal, inspira-se no poeta Manuel Bandeira: O que é um quintal? Quanto à extensão, variável ao extremo, o quintal é o terreno livre, que sobrou da construção da casa, em geral dos fundos, em certos casos dos dois lados dela e adjacente à rua. Em parte utilitário, prolonga, a céu aberto, o interior da casa: tem o seu tanto de horta, o seu tanto de jardim e o seu tanto de pomar − podendo também funcionar como saguão ou pátio − sem que de qualquer dessas funções, em conjunto ou isoladamente, receba identidade, porque também abriga serviços e coisas que não caberiam no âmbito doméstico, a exemplo das enumeradas por Manuel Bandeira, numa das poucas tentativas, até agora, de definição do quintal nas letras brasileiras, tomando por base o da rua da União, no Recife da meninice do poeta: o tanque de lavar roupa, a armação de madeira com folha de zinco, o coradouro ou quarador, a talha com água potável, e, de maneira muito particular e datada, o cambronne, a casinha do sanitário aqui no Norte denominado, à mesma época e um pouco depois, entre a classe média de retrete (retraite) ou comodidade. É inte intere ress ssant antee nota notarr que, que, em todo todo o mu mundo ndo trop tropic ical al,, este estess sist sistem emas as são são mu muit itoo parecidos, seja na Indonésia (Michon & Bompard, 1986), em Kerala - Índia (Salam & Sreekumar,1992), na África (Fernández & Nair, 1986), na América Central (Anderson, 1954; Rico-Gray et al., al., 1990) seja no manejo secular do cerrado brasileiro feito pelos índios
Kayapó, criando ilhas de produtividade e aumentando a oferta de recursos. (Anderson & Posey, 1989)
IMPORTÂNCIA DOS SISTEMAS DE QUINTAIS AGROFLORESTAIS NA AMAZÔNIA A Amazônia é o maior ecossistema de floresta tropical do mundo e possui uma das mais altas diversidades de espécies. (Gentry, 1982, citado por Amorozo & Gély, 1988) Esse enorme ecossistema florestal amazônico funciona como um refúgio a numerosas tribos indígenas e protege, além disso, espécies medicinais, estimulantes e alimentícias. Schultes (1979), citado por Brücher (1988), afirma que a flora amazônica nos oferece um empório de germoplasma incrivelmente rico e variado, compreendendo centenas de gêneros de plantas. Além disso, a região apresenta uma considerável diversidade cultural humana, que se manifesta pela diversidade das práticas de manejo do solo, pela seleção das espé espéci cies es,, anim animai aiss e veget vegetai ais, s, tant tantoo para para a alim alimen enta tação ção como como para para aten atende derr a out outra rass necessidades básicas, do extrativismo ao artesanato local, na linguagem, bem como na estrutura social. Segundo Castro (1995), o uso sistemático da riqueza de recursos que a biodiversidade tropic tropical al oferec oferece, e, permit permitiu iu que div divers ersos os grupos grupos sociai sociais, s, como como os repres represent entados ados pelos pelos agricultores, pescadores e extrativistas da Amazônia, sobrevivessem acima da linha da miséria absoluta. A variedade de produtos de mercado e subsistência contribuiu para o sucesso de caboclos, em relação a colonos de outras regiões, no programa de colonização da Rodovia Transamazônica. (Moran, 1977) Apesar de serem freqüentemente citados como uma alternativa viável nos usos da terra na Amazônia, muito pouco se conhece sobre os sistemas agroflorestais existentes na região. Vários trabalhos relativos ao uso da biodiversidade por populações tradicionais vêm sendo desenvolvidos na Amazônia, com o objetivo de resgatar o conhecimento existente sobre o uso e manejo das espécies, para propor modelos sustentáveis de uso u so da terra. Porém, a maioria dos trabalhos se refere às populações indígenas. (Anderson et al., al., 1985) Os quintais de povos indígenas têm sido estudados por Posey (1987), que encontrou 86 espécies comestíveis junto aos Kayapó do Sul do Pará. Anderson & Posey (1989) registraram uma média de 58 espécies cultivadas por roça dos Kayapó. Os sistemas atualmente enfatizados na literatura foram desenvolvidos em grupos culturalmente distintos da maioria da população rural da região amazônica. (Anderson et al., al., 1985) Conforme Conforme afirmam afirmam Salam & Sreekumar Sreekumar (1992), (1992), as pesquisas científica científicass sobre os sist sistem emas as de quin quinta tais is agro agrofl flor ores esta tais is pare parece cem m ser ser rara raras, s, prov provav avel elme ment ntee devid devidoo à sua sua complexidade ou à inadequada apreciação de sua importância e potencial. É possível avaliar a importância dos quintais na região amazônica para a população rural, através dos dados apresentados em Saragoussi et al. (1988), ao se referirem a três localidades localidades situadas situadas no Estado do Amazonas: Rio Preto Preto da Eva, onde foram entrevistad entrevistados os 15 produtores rurais, dos quais 11 tinham quintais (73%); Bela Vista, onde dos 16 entrevistados 12 os tinham (75,5%); e em Juma, de 35 entrevistados, 14 tinham quintais (40%).
No Estado do Pará, Amorozo & Gély (1988) levantaram o uso de plantas medicinais por caboclos do Baixo Amazonas, relacionando um total de 220 espécies de uso medicinal, amostradas em diferentes ambientes, como os quintais, sítios, praias e capoeiras, próximo ao local de moradia, moradia, revelando a riqueza do sistema sistema terapêutico terapêutico do caboclo, caboclo, tanto ao nível da diversidade de recursos utilizados, como ao nível da utilização e da manipulação destes recursos, sendo a maior parte dessas espécies cultivadas cu ltivadas nos quintais. No No Esta Estado do de Mato Mato Gros Grosso so,, some soment ntee nos nos últi último moss anos anos,, vêm vêm sendo sendo real realiz izad adas as pesquisas com quintais, através de autores como Ferreira & Dias (1993), Gutberlet (1994), Neuburger (1994), Ferreira (1995), Da Silva & Silva (1995), apesar de seu uso ser uma prática antiga. Tanto é assim que o termo “cidade verde” para Cuiabá, Capital do Estado, se refere principalmente às plantas existentes nos quintais, representadas pelas frondosas mang manguei ueira ras, s, caju cajuei eiro ros, s, goi goiab abei eira rass e coque coqueir iros os.. Infe Infeli lizm zment ente, e, esse essess qui quint ntai aiss estã estãoo desapar desaparece ecendo ndo do cenári cenárioo cuiaban cuiabano, o, à medida medida que a especul especulaçã açãoo imo imobil biliár iária ia os vem substituindo, juntamente com as casas, pelos edifícios de concreto, com um mínimo de área verde disponível para amenizar o calor típico da região, além do espaço de convivência junto aos familiares e amigos. Como afirma Nunes (1994), com o desaparecimento dos quintais, morrerá um local privilegiado, senão uma das fontes principais de nosso imaginário, talvez entre nós o único espaço privado, domiciliar, limítrofe da cultura, que nos coloca em contato com o ilimitado espaço da natureza. Mesm Mesmoo nos nos lote lotess dos dos “sem “sem-t -ter erra ras” s”,, no perím perímet etro ro urban urbano, o, obse observ rvaa-se se gran grande de diversidade dos quintais, onde, até nos solos arenosos e pedregosos do cerrado, os quintais produzem com abundância. (Gutberlet, 1994) A presença de quintais quintais não se restringe restringe ao meio rural. (Castro, (Castro, 1995) Embora pouco estudado, o quintal é extremamente comum nas áreas urbanas brasileiras. Além da sua importância na mudança do microclima (a presença de árvores no quintal refresca a mora mo radi dia) a),, tem tem nas nas famí famíli lias as mais mais pobr pobres es a mesm mesmaa impo import rtân ânci ciaa na comp comple leme ment ntaçã açãoo nutricional e na oferta de medicamentos já vista na zona rural. Ferreira & Dias (1993), estudando a vegetação de quintais da área urbana da cidade de Cuiabá, destacam a diversidade de espécies introduzidas, caracterizada segundo sua forma de uso em plantas frutíferas, medicinais, hortaliças e ornamentais. Estes autores constataram ainda que os quintais representam um espaço de produção de alimentos, de remédios e de cultura. Os moradores plantam suas hortas nas proximidades da casa, protegidas por velhos jacás, onde predominam cebolinha, coentro, pimentão e tomate, usados para preparar principalmente o peixe. Entre estes condimentos, cultivam plantas usadas para cura de doenças como a losna, arruda, hortelã, anador e outras. De acordo com Neuburger (1994), no começo do Século XX, os posseiros das comunidades Engenho Velho e Miguel Velho, situadas ao longo do Rio Cuiabá, tinham o quintal como um local que fornecia as frutas para a complementação alimentar. Estes quintais estavam situados no dique marginal de 200 a 300m de largura, sedimentado pelo Rio Cuiabá, estendendo-se da margem ao terreno elevado. Os quintais em Mimoso, cidade situada no Pantanal Mato-Grossense, constituem pequ pequen enas as unid unidad ades es produ produti tivas vas.. Em gera geral, l, são são mu muit itoo bembem-cu cuid idad ados os,, mu muit itoo limp limpos os e apresentam grande diversidade. Várias plantas frutíferas são cultivadas, principalmente
mangueiras, cajueiros e mamoeiros. Eventualmente, fazem pequenas hortas com cebolinha verde, couve, salsa e coentro. Os quintais são também um espaço onde porcos, galinhas e outros animais domésticos (gatos e cachorros) convivem e dividem o espaço com o gado. Em geral, o solo é coberto com grama forquilha, plantada por eles. No quintal, também são feitos os poços de onde retiram água para o consumo e para os animais que vivem aí. (Da Silva & Silva, 1995) Os estudos estudos com os qui quinta ntais is agrofl agroflore oresta stais is em Mato Mato Grosso Grosso foram foram reali realizado zados, s, principalmente, na região da Baixada Cuiabana e da Planície do Pantanal Mato-Grossense. Na região norte do Estado, caracterizada pela floresta amazônica, existe apenas um estudo conduzido por Brito (1996), no município de Aripuanã, que comprovou a alta diversidade de espécies e de uso pela população, levantando 79 espécies de uso alimentício, 53 medicinais, 102 ornamentais e 14 para outros usos.
IMPORTÂNCIA DOS SISTEMAS TRADICIONAIS DE USO DA TERRA Gliessman (1992) define um agroecossistema como uma unidade agrícola particular, composta de entradas e saídas que se movem através de um caminho interativo de componentes bióticos e abióticos, manejado com a proposta de atender às necessidades humanas com respeito a alimento, forragem, combustível e fibras. Os estudos desses agroecossistemas tradicionais poderão contribuir para o desenvolvimento de práticas de manejo ecologicamente sustentáveis. Cons Consid ider eran ando do um agroec agroecos ossi sist stem emaa como como um sist sistem emaa func funcio iona nall de rela relaçõe çõess complementares entre organismos vivos e seu ambiente, manejado pelos homens com a propo proposta sta de estabel estabeleci eciment mentoo da produçã produçãoo agríco agrícola, la, tem-se tem-se uma base base para para integr integrar ar a sobreposição das características ecológicas e ambientais com o social, econômico, político e outros componentes culturais da agricultura. (Francis, 1986, citado por Gliessman, 1992) Dessa análise integrada, pode-se construir a base para o manejo sustentado de áreas da floresta tropical. (Gliessman, 1992) A agricu agricultu ltura ra tradic tradicion ional, al, segund segundoo McNeel McNeelly ly (1995) (1995),, adaptou adaptou-se -se a uma ampla ampla variedade de condições locais, produzindo um suplemento alimentar valioso e diversificado e reduzindo a incidência de pragas e doenças. Além disso, usou a força de trabalho de forma forma efi-ci efi-cient ente, e, intens intensif ifican icando do a produçã produçãoo com recurs recursos os lim limita itados dos.. Dessa Dessa forma, forma, a agricu agricult ltura ura tradic tradicion ional al tem forneci fornecido do produç produções ões susten sustentáv táveis eis por século séculos, s, atravé atravéss da experiência acumulada pelos agricultores, sem que estes tivessem dependido da informação científica, de entradas externas, de capital, créditos ou mercados. Na Amazôni Amazônia, a, as popula populaçõe çõess ind indíge ígenas nas desenv desenvolv olvera eram m sistem sistemas as de manejo manejo que integram integram a agricultur agriculturaa aos diversos ambientes ambientes e recursos recursos da região. região. Ainda hoje é possível possível encontrar, nas populações rurais amazônicas, a prática desses conhecimentos empíricos tradicionais integrada, em maior ou menor escala, com as práticas introduzidas. Porém, este estess conhe conheci cime ment ntos os se encon encontr tram am amea ameaça çados dos de exti extinç nção, ão, como como cons conseqü eqüên ênci ciaa da modernização do meio rural, da destruição das culturas indígenas e da transformação do modo de ocupação e de produção da região. (Pereira, 1992) Os agroecossistemas vêm sendo ameaçados em praticamente todas as partes do mundo. Em vez de um fluxo sustentável de recursos renováveis, a maioria fornecidos pela
natureza, os padrões recentes de desenvolvimento da agricultura estão exaurindo os solos e a diversidade genética e de espécies, tanto nas áreas de culturas como nos ecossistemas adjacentes a estas. (McNeelly, 1995) De acordo com Amorozo & Gély (1988), a desagregação dos sistemas de vida tradicionai tradicionaiss que acompanha a devastação devastação do ambiente, ambiente, e a introdução de novos elementos elementos culturais ameaçam muito de perto um acervo de conhecimentos empíricos e um patrimônio genético de valor inestimável para as gerações futuras. Como Como nos dema demais is sist sistem emas as trad tradic icio iona nais is de uso uso da terr terra, a, os qui quint ntai aiss tamb também ém apresentam uma alta diversidade de plantas. Segundo Torquebiau (1992), isso é valioso para o cotidiano do agricultor, pois fornece uma alta diversidade de alimentos e entradas, além de ser um bem valioso para programas futuros de cruzamento na forma de bancos de germoplasma, este último relevante para a sustentabilidade em longo prazo. Há uma boa utilização do espaço e do tempo pelas plantas e animais com diferentes ciclos biológicos e formas de crescimento. A alta diversidade de culturas, a baixa densidade por espécie e os diferentes ciclos biológicos das culturas são fatores que reduzem os riscos ligados às pragas e doenças. Um exemplo disso é apresentado por Fernández et al. (1992), ao se referirem aos hortos dos Chagga, no Monte Kilimanjaro, onde as distintas espécies e variedades de cultivos que lá se encontram, representam anos de seleção natural para sua sobrevivência e de seleção artificial para atingir uma melhor produção e qualidade. Estas espécies têm boa resistência contra pragas, competem bem com as invasoras e têm, geralmente, um nível alto de variabilidade genética. Os autores concluem que os hortos dos Chagga representam um valioso banco genético para ser usado em qualquer programa de fitomelhoramento de variedades de cultivos em sistemas de estratos múltiplos. Infelizmente, as ações voltadas para a modernização na agricultura consideram os povos nativos como seres primitivos, não tendo nada a oferecer à sociedade moderna. (Clement, 1988) Por outro lado, sabemos que esses povos são a origem da diversidade genét genétic icaa das das cultu cultura rass agrí agríco cola lass que que sust sustent entam am a soci socied edad adee mo mode dern rna, a, de comp comple lexos xos agroecossistemas que são ecologicamente sustentáveis para os trópicos úmidos, e são responsáveis pela conservação in situ da maioria do patrimônio genético do mundo. Os agricultores indígenas, em qualquer região do mundo, até recentemente, sempre mantiveram mantiveram um amplo limite de genótipos genótipos para protegê-los protegê-los contra contra flutuações flutuações climáticas climáticas e ecológicas. (Hawkes, 1983, e Posey, 1984, citados por Clement, 1988) Isto é especialmente verdadeiro nas florestas tropicais, devido à sua grande variedade ecológica. Por outro lado, a degradação dos recursos naturais, bem como a aculturação dos povos indígenas, acabou ocasionando severa erosão genética e cultural. Anderson & Posey (1989), ao estudarem os índios Kaiapó, observaram que essas comunidades utilizam tecnologias simples e baratas, no lugar de implementos caros. Em vez de virtua virtualme lmente nte elimin eliminarem arem a hetero heterogen geneid eidade ade própri própriaa do meio meio − como o faz a agric agricul ultu tura ra inte intens nsiv ivaa hoj hojee prat pratic icad ada, a, que que dest destró róii a flor floraa nati nativa va −, na real ealidad idade, e, a incrementam. É de fundamental importância que a prática tradicional seja vista como parte de um sistema holístico de manejo orientado para a conservação, de forma que o agricultor
tradicional tenha uma parte significativa da produtividade agrícola total de uma região, bem como contribua para a conservação de sua biodiversidade. Além disso, diversos trabalhos científicos realizados em vários países tropicais apontam para a importância fundamental dos múltiplos recursos da natureza para a vida de grande parte da população. O conhecimento do universo referente ao uso da biodiversidade por populações tradicionais poderá se reverter, segundo Amorozo & Gély (1988), em benefícios tanto para os caboclo caboclos, s, fornece fornecendo ndo subsíd subsídios ios para para a imp implan lantaç tação ão de progra programas mas de saúde saúde mais mais adaptados ao seu sistema cultural, como também para a sociedade envolvente, através da otimização do uso de plantas com ação farmacológica comprovada. Esses benefícios se darão através do resgate de um riquíssimo acervo de conhecimentos sobre o manejo e aproveitamento dos recursos vegetais e das implicações que isto poderá ter em longo prazo na conservação de um patrimônio genético valioso e na pesquisa de novas drogas com potencial terapêutico. Em geral, as populações locais são lembradas de forma utilitária nas discussões entre os vários setores envolvidos na questão da conservação ambiental, isto é, como fonte de informação para identificar recursos na natureza ou como auxiliares na proteção destes recurs recursos, os, atuand atuandoo como como “guard “guardiõe iõess da bio biodiv divers ersida idade”. de”. (Castr (Castro, o, 1995) 1995) Rarame Raramente nte se discute a conservação sob o ponto de vista da massa de excluídos da economia formal, que complementa os seus parcos ganhos com o uso e o manejo dos recursos naturais. Dessa forma, somente conciliando os interesses mundiais para preservação com os interesses das populações locais, de forma a garantir a sustentabilidade e o acesso a esses recursos, poderemos obter uma conservação duradoura e socialmente justa. Clement (1988) acredita que, ao longo do tempo, possa ser possível a obtenção de algum tipo de solução viável que satisfaça tanto a comunidade dos recursos genéticos como os povos nativos que desejam manter suas culturas, enquanto melhoram sua qualidade de vida. A conservação ex-situ como jardins botânicos, banco de germoplasma, torna-se difícil como como uma solução solução adapta adaptati tiva va em lon longo go prazo. prazo. (McNee (McNeelly lly,, 1995) 1995) Dessa Dessa forma, forma, fica fica evidente que, para preservar a variedade genética de um sistema agrícola, é importante preservar a produção junto com seu clima e solo e o conhecimento acumulado de seu cultivo e uso. A agricultura tradicional está sendo também ameaçada, atualmente, pela nova cultura global de consumo, que vem sendo difundida pela televisão, pelas regras de mercado e outros meios. Assim, sistemas de manejo que foram efetivos por centenas de anos, tornaram-se obsoletos em poucas décadas, sendo substituídos por sistemas de exploração que geram lucros em curto prazo para uns poucos e custos em longo prazo para muitos. (McNeelly, 1995)
IMPORTÂNCIA DOS QUINTAIS PARA A POPULAÇÃO, SUAS FUNÇÕES E USO Os quintais agroflorestais apresentam uma série de funções, que podem ser resumidas em quatro itens principais: econômica, ecológica, agrícola e sociocultural. A função econômica dos quintais agroflorestais está representada, principalmente, pela produção de alimentos para autoconsumo e para comercialização, podendo contribuir para a melhoria da alimentação das populações rurais e urbanas de baixa renda. Saragoussi et al. (1988) afirmam que os quintais agroflorestais de tamanho suficiente e constituídos
por um grande número de espécies perenes podem oferecer uma grande parte dos alimentos consumidos pelo agricultor e sua família. Além de ser usado na complementação da alimentação e da renda familiar, o quintal pode ajudar na auto-suficiência do produtor, e a variedade de espécies plantadas permite uma produção ao longo de todo ano. Os quintais são uma importante fonte de nutrientes, e Covich & Nicherson (1966), citados por Soemarwoto (1987), registraram que o consumo de 100 gramas de Manilkara sapotilla, sapotilla, Persea americana, americana, Manihot esculenta e Guilielma utilis em quintais situados em Darién, Panamá, foi equivalente a aproximadamente 10, 12, 150, 5.5, 31, 25 e 13% dos requerimentos mínimos diários de proteína, cálcio, caroteno, tiamina, riboflavina, niacina e ácido ascórbico, respectivamente. Quintais estudados no Oeste de Java produziram uma média diária de 398,4 calorias, 22,8 g de proteína, 185 g de carboidratos, 818,4 mg de cálcio, 555 mg de fósforo, 14 mg de ferro, 8,362 IU de vitamina A, 1181,2 mg de vitamina B e 305 mg de vitamina C. Resultados similares foram registrados nas Filipinas e Nigéria, por Fernández & Nair. (1986) Em Bangladesh, devido à má nutrição das populações rurais e de baixa renda, o HKI (Helen Keller International), instituição que trabalha em nível global, com o objetivo de reduzir a incidência da cegueira provocada pela carência de vitamina A no organismo, realiza um projeto visando à melhoria da qualidade alimentar na dieta dessas populações. Uma das estratégias utilizadas por esta instituição foi a implantação de um projeto piloto de quintais, onde espécies como amaranto, mamão, espinafre, batata-doce, entre outras, todas ricas em vitamina A, foram introduzidas, combinando essas atividades com a educação sobre nutrição. Eles verificaram que houve uma melhora substancial na dieta das pessoas participantes do grupo em estudo, com um maior consumo de frutas e verduras, inclusive pelas crianças e jovens. (Marsh, 1994) No Brasil, apesar de inexistirem estudos relacionados com a avaliação nutricional dos componentes alimentícios produzidos nos quintais, estes, geralmente, representam para as populações de baixa renda uma contribuição significativa na dieta alimentar familiar. Conforme Castro (1995), praticamente em todas as regiões do país, os quintais assumem um importante papel na “subsistência sustentada” da população brasileira. Em um estudo feito em Java, Stoler (1975), citado por Soemarwoto (1987), verificou que a produção dos quintais era influenciada pelo tamanho da unidade, sendo os de menor tamanho considerados relativamente mais produtivos. Diversos sistemas de quintais são aptos para fornecer produtos para uso local, bem como como contri contribui buirr para para a econom economia ia region regional, al, enquant enquantoo ao mesmo mesmo tempo tempo mantêm mantêm uma cobertu cobertura ra vegetat vegetativa iva div divers ersif ifica icada da sobre sobre o solo. solo. Comple Complexo xo de cultur culturas as div divers ersif ifica icadas, das, rotação rotação e prátic práticas as desenv desenvolv olvida idass pelos pelos propri proprietá etário rioss locais locais podem podem fornec fornecer er proteç proteção ão ambiental sob condições tropicais, bem como uma farta colheita de produtos alimentícios. (Wilken, 1988, citado por Gliessman, 1992) Ferreira (1995) afirma que, para o homem rural, as plantas estão intrinsecamente ligadas ligadas à sua subsistência. subsistência. Integrado Integrado à natureza, natureza, ele supre suas necessidades necessidades utilizando utilizando os produtos que a generosa terra oferece. A longa experiência lhe proporciona a vantagem de conhecer e utilizar as espécies vegetais em seu próprio benefício e as converte em muitos artigos e produtos usados na alimentação, na cura de doenças, na construção de objetos e benfeitorias.
Soemarwoto et al . (1985) (1985) afirmam afirmam que o horto horto caseiro caseiro pode ser visto visto como como uma atividade atividade dinâmica mais que uma área definida, definida, que varia de tamanho, números e tipos de espécies e na sua estrutura, sendo o resultado das condições agroecológicas, do espaço disponível e de aspectos sociais, culturais e econômicos. Esta dualidade entre autoconsumo e mercado foi caracterizada por Denen (1993), citado por Nasser et al. (1993), que encontrou em Choluteca, Honduras, que as aves domésticas são produzidas para autoconsumo (somente 7% é para venda), enquanto que os porcos são basicamente para a comercialização (86%), porque é um animal muito grande para o autoconsumo e somente se dispõe de um quando se sabe que os vizinhos têm interesse em comprar carne ou quando ocorrem festas. As hortaliças, frutas e outros produtos dos hortos, ainda que sejam produzidos em pequena escala, também geram renda através da venda. De fato, no mesmo estudo, Denen verificou que a venda de frutas representava ao redor de 25% da renda familiar, e que uma proporção significativa era comercializada pelas mulheres. No baixo baixo Amazon Amazonas, as, Saragou Saragoussi ssi et al. al. (1988) (1988) verifi verificar caram, am, atravé atravéss do Projet Projetoo INPA/FAO, que o plantio, nos quintais, de café e de cana-de-açúcar teve por objetivo substituir produtos caros comprados nos mercados. Da Silva & Silva (1995) observaram nos quintais de Mimoso a venda do excedente da produção de frutas, como a manga e a laranja. Por outro lado, Ferreira (1995) observou, nos quintais de ribeirinhos do Rio Cuiabá, que a produção excedente era utilizada para alimentar animais domésticos e, de certa forma, contribuía no enriquecimento do solo, como matéria orgânica. Nasser et Nasser et al. (1993) afirmam que, ainda que sejam enfatizados aspectos produtivos com orientação de mercado, não deve ser ignorado e nem menosprezado o fato de que os hortos caseiros são sistemas complexos que cumprem uma multiplicidade de funções, além do fornecimento de produtos alimentícios. Os qui quinta ntais is agrofl agroflore oresta stais is desemp desempenha enham m várias várias funçõe funçõess ecológi ecológicas cas,, inclui incluindo ndo benefícios benefícios hidrológicos, hidrológicos, modificações modificações microclimá microclimáticas ticas e controle controle da erosão erosão do solo, além da conser conservaç vação ão de recurs recursos os genéti genéticos cos.. (Soem (Soemarw arwoto oto,, 1987) 1987) Os culti cultivos vos perenes perenes que compõe compõem m esse essess sist sistem emas as,, segun segundo do Nass Nasser er et al. (1993) 3),, mo modi difi ficam cam o ambi ambien ente te,, al. (199 proporcionando sombra, funcionando como quebra-ventos, melhorando a infiltração da água, produzindo biomassa que se transforma em matéria orgânica, criando, desse modo, um microclima que permite manter uma variedade mais ampla de espécies. As funçõe funçõess socioc sociocult ultura urais is dos qui quinta ntais, is, segundo segundo Soemar Soemarwot wotoo (1987) (1987),, não têm recebido muita atenção. Porém, em muitas regiões, os quintais fornecem uma variedade de plantas que são empregadas em rituais e cerimônias, como em Bali e Tailândia. Thaman (1985) (1985),, citado citado por Soemar Soemarwot wotoo (1987) (1987),, verifi verificou cou a imp import ortânci ânciaa das planta plantass sagrad sagradas as prese presente ntess nos qui quinta ntais, is, listan listando do 35 espéci espécies es conside considerad radas as sagrad sagradas as ou supost supostame amente nte possuidora possuidorass de poderes mágicos ou místicos. místicos. Os quintais quintais da população população brasileir brasileiraa também são locais onde várias espécies consideradas como “protetoras” são cultivadas, sendo posicionadas, geralmente, no espaço do quintal que dá para a frente da casa, de forma a proteger seus moradores do mau-olhado. Essas plantas desempenham uma importante função na vida das pessoas.
Nas cidades, principalmente, principalmente, a função estética estética dos quintais é considerada considerada relevante. relevante. Nair (1993) afirma que os jardins têm considerável valor ornamental. O embelezamento e a regulação do ambiente em torno da casa são elementos importantes para a família. A parte da frente da casa às vezes está ocupada por flores e outras plantas ornamentais que embelezam a entrada, sendo comum ao redor da casa a presença de árvores que fornecem somb sombra ra e out outro ross usos usos soci sociai ais. s. O qui quint ntal al é um impo import rtant antee espa espaço ço onde onde as cria criança nçass desenvolvem suas brincadeiras e, para os adultos, um local de encontro com os familiares e amigos. Em Barranco Alto, como também em outras comunidades ribeirinhas, os quintais se prolongam através das roças (Ferreira, 1995), mas o espaço adjacente à casa tem um tratamento especial e sua função é, além de espaço para plantas úteis, espaço de trabalho, de encontros, de festas e de cultura. Grande parte das atividades domésticas do ribeirinho, assim como da maioria dos homens de vida rural, ocorre fora do espaço da casa, de tal forma que a residência, o rancho ou a varanda e o quintal se transformam em um pequeno sistema de moradia. (Cândido, 1979, citado por Ferreira, 1995) Dessa forma, os quintais são mais do que somente um sistema de produção. (Soemarwoto, 1987) Cada sistema de quintais apresenta particularidades que lhe são próprias, definidas pelas condições agroecológicas ou por suas características socioculturais. Dessa forma, para os moradores de Barranco Alto, situado às margens do Rio Cuiabá, segundo Ferreira (1995), é no quintal que se encontra o rancho que protege o engenho e a fornalha de fazer rapadura; que se encontra o varal de secar peixe; que se abrigam as ferramentas. É no quintal que se prepara o fumo, a comida da festa e o mastro do santo. No quintal, encontrase o pilão onde se pila o arroz, transforma-se o milho em fubá e soca-se a “paçoca”. É no quintal da casa que se constroem os empaliçados para as rezas, os bailes, o cururu e o siriri.
INTRODUÇÃO E DOMESTICAÇÃO DE ESPÉCIES As plantas cultivadas são elementos essenciais à civilização. São, de certa forma, obra do homem e têm influenciado decisivamente no desenvolvimento histórico da humanidade. (Léon, 1987) Graças aos ameríndios, os exploradores etnobotânicos, fito-genéticos, virólogos e entomólogos tiveram acesso aos genes preservados nos “ genocentros” de variedades e raças primitivas, conservados nos hortos familiares. (Brücher, 1988) São numerosos os exemplos de como este antigo patrimônio fitogenético tem sido utilizado na criação de modernos cultivares de plantas alimentícias, industriais e medicinais, produzindo, assim, riquezas que ultrapassam em muito os tesouros roubados pelos conquistadores. Todas as espécies domesticadas derivaram, direta ou indiretamente, de espécies silvestres, algumas das quais estavam entre o grande número de espécies usadas pelos caçadores-col caçadores-coletore etores, s, por incontáveis incontáveis e desconhecidos desconhecidos milênios. milênios. A diversidad diversidadee genética genética de plantas cultivadas se derivou das espécies ancestrais silvestres, modificadas por adaptações, em resp respos osta ta aos aos cult cultiv ivos os em cond condiç içõe õess dist distin inta tass das das natu natura rais is e aos aos fato fatore ress físi físico cos, s, biológicos, culturais e econômicos do ambiente. (Frankel & Soulé , 1981)
Os sistemas agroflorestais podem conservar um grande número de espécies de plantas ou variedades de plantas cultivadas, porém ainda pouco conhecidas pelos cientistas. Na Amazônia, Amazônia, os índios domesticaram domesticaram dezenas de espécies espécies e variedades variedades de plantas plantas que, hoje, são cultivadas por seringueiros e ribeirinhos em suas roças e quintais. Essas espécies fazem parte da biodiversidade da região, e sua conservação depende, em parte, da conservação e aprimoramento dos sistemas tradicionais de produção. Clement Clement (1988), (1988), estudando estudando as espécies espécies de árvores árvores frutífera frutíferass amazônicas, amazônicas, afirma que há inferência de que o processo de domesticação levou milênios nestas espécies, devido à demora para atingir o estado reprodutivo e por este sistema ser geralmente alógamo (utiliza a polinização cruzada). Na realidade, pouco se sabe sobre as interações entre espécies e sobre o manejo e os múltiplos usos a que os quintais são destinados. Têm-se, no entanto, indícios do seu papel fundamental, tanto na introdução de novas espécies na Amazônia, quanto na economia dos produtores rurais e no estabelecimento de uma agricultura adaptada à região. (Saragoussi et al., 1988) Segundo Castro (1995), nas regiões de colonização mais antiga, os quintais estari estariam am em uma fase fase de estabi estabilid lidade ade em sua compos composiçã ição, o, manten mantendodo-se se soment somentee as espécies mais adaptadas. Como exemplo desse fato, tem-se, em Amorozo & Gély (1988), o registro de 12 espécies de plantas ruderais e de 14 espécies de mata de terra firme e várzea, cultivadas nos quintais e sítios. Dessa forma, o quintal é provavelmente um campo de aclimatação e experimentação de espécies para posterior utilização em plantios maiores: as frentes de colonização serviriam de porta de entrada de novos plantios e os quintais, de campos experimentais. (Saragoussi et al., 1988) O processo de domesticação criou diversidade genética dentro de uma dada espécie, enquanto a ocupação cultural contínua em uma determinada área aumentou o número de espécies usadas, manejadas, cultivadas e domesticadas. (Harlan, 1975) Comparado com as espécies usadas pelos caçadores-coletores, o número de espécies usadas sob domesticação declino declinou, u, enquant enquantoo a div divers ersida idade de intraintra-esp especí ecífic ficaa tem aument aumentado ado como como resul resultad tadoo da expansão geográfica, através da migração e do comércio (Frankel & Soulé, 1981). Desde o início deste Século, quase 75% da diversidade genética das culturas mais importantes desapareceram dos campos agrícolas. (McNeelly, 1995) Isto levou ao aumento da vulnerabilidade das espécies em relação às pragas e a mudanças climáticas e reduziu a variedade essencial das dietas dos povos rurais. A simetria entre o desenvolvimento de áreas rurais, bem como a conservação de muitas formas de uso da terra já estabelecida, é um tema tema crít crític icoo que o plane planeja jame ment ntoo regi region onal al nece necess ssit itaa cons consid ider erar ar para para asse assegu gura rarr a manutenção da biodiversidade em longo prazo, pois, uma vez que essas variedades tradicionais cionais estão desaparecendo, desaparecendo, o conhecimento conhecimento relativo relativo ao seu cultivo e uso também está se perdendo. Infelizmente, as variedades uniformes produzidas nos centros de pesquisa, com sua dependência em fertilizantes químicos e pesticidas, estão substituindo as variedades que vêm sendo produzidas tradicionalmente.
SUSTENTABILIDADE Sust Sustent entab abil ilid idade ade,, segu segundo ndo Glie Gliess ssma mann (199 (1992) 2),, se refe refere re à capac capacid idade ade de um agroecossistema fornecer e manter produção por várias gerações, em face dos contrastes ecológicos e perturbações, bem como c omo em resposta às pressões socioeconômicas. Dessa forma, os sistemas de quintais agroflorestais ou “tree home gardens” são classificados como sistemas de uso da terra eficientes e sustentáveis. Porém, há pouca evidê evidênci nciaa quant quantit itat ativ ivaa e análi análise se detal detalhad hadaa de form formaa a compr comprov ovar ar tal tal afir afirma mati tiva va.. (Torquebiau, 1992) Por outro lado, apesar ap esar das diversas definições de sustentabilidade, ainda não há um claro acordo sobre o que exatamente é, e como medi-la. Nair (1993), baseando-se em Lundgren & Raintree (1983), cita que um conceito importante na pesquisa agroflorestal é a sustentabilidade, que é determinada pela estrutura do sist sistem ema, a, suas suas funç funçõe õess ecol ecológ ógic icas as e sua sua cont contín ínua ua habi habili lida dade de em pree preenc nche herr as necessidades básicas das pessoas, combinando as funções ecológicas da floresta com aquelas funções de prover as necessidades socioeconômicas dos povos. Alguns critérios poderiam auxiliar na avaliação da sustentabilidade de um sistema de uso da terra: (1) baixa dependência sobre entradas adquiridas externamente; (2) função primá primária ria sobre sobre o uso de recurs recursos os renováv renováveis eis,, bem como como dispon disponíve íveis is localm localment ente; e; (3) apres apresen enta taçã çãoo de benef benefíc ício ioss ou impa impact ctos os negat negativ ivos os míni mínimo moss sobr sobree o ambi ambient ente; e; (4) (4) foca focali liza zaçã çãoo da capac capacid idade ade produ produti tiva va em long longoo praz prazo; o; (5) (5) cons conser ervaç vação ão biol biológ ógic icaa e diversidade diversidade cultural construídas construídas sobre o conhecimento conhecimento e cultura cultura dos habitantes locais; (6) forn fornec ecim imen ento to de bens bens domé domést stic icos os e expor exportá távei veis. s. (Gli (Glies essm sman an,, 1992) 1992) A agri agricul cultu tura ra sust sustent entáv ável el depe depende nde da inte integr graçã açãoo de todos todos esse essess comp compon onent entes es,, e isso isso envol envolve ve o entendimento do agroecossistema em todos os níveis de organização, da planta ou animal individualmente no campo, à unidade de produção inteira, à região ou entorno. Os “hort “hortos os famili familiare ares” s” permit permitem em aos agricu agriculto ltores res a obt obtenç enção ão de uma produç produção ão sustentada com um mínimo de insumos externos. Representam, portanto, um bom modelo de uso da terra para ser extrapolado a outros lugares com características ecológicas e socioeconômicas similares. (Fernández et al., 1992) De acordo com Gliessman (1992), o fato de eles ainda estarem em uso é uma forte evidência de que esses sistemas apresentam estabilidade social e ecológica. A cobertura contínua do solo e um alto grau de reciclagem de elementos nutritivos são os principais fatores que permitiram que os hortos dos Chagga fossem sustentáveis nas encostas propensas à erosão do Monte Kilimanjaro. (Fernández et al., al., 1992) Apesar de esses sistemas de cultivo terem sido estáveis durante pelo menos um século, recentemente, eles estão sendo submetidos, como um todo, à pressão populacional, devido ao rápido crescimento demográfico e, conseqüentemente, à diminuição do recurso terra e também às trocas nos hábitos dietéticos (o milho está substituindo a banana banan a como alimento principal). O Comitê de Agricultura Sustentável para os Países em Desenvolvimento (1987) descreve sustentabilidade de um sistema agrícola como sendo “sua habilidade para reunir as necessidades humanas sem destruir e, se possível, melhorar a base de recursos naturais sob a qual ele depende”. (Torquebiau, 1992) Um sistema de produção rural sustentável é apenas um dos elementos no conceito global de sustentabilidade, que inclui uma série de condições fora fora do sist sistem emaa rura rural, l, clas classi sifi fica cada da como como econô econômi mica ca,, soci social al,, ecol ecológ ógic ica, a, polí políti tica ca e institucional.
Para um sistema agrícola ser sustentável, deverá preencher vá-rias exigências. Em primeiro lugar: a) conservação do solo, incluindo controle da erosão e manutenção da fertilidade; b) uso eficiente e conservação dos recursos existentes (água, luz, energia, recursos genéticos, trabalho); c) uso de interações biológicas entre os diferentes elementos do sistema agrícola (por exemplo, fixação de nitrogênio, controle biológico de pragas e doenças); doenças); d) uso de entradas entradas que estão facilmente facilmente disponíveis disponíveis e de entradas e práticas práticas que asseguram a saúde humana e a conservação ambiental. Em segundo lugar, especialmente para o caso distinto de produtores de pequena escala, que dependem tanto das culturas comer-ciais quanto das culturas de subsistência, um sistem sistemaa susten sustentáv tável el deveri deveriaa preenc preencher her exigênc exigências ias rigor rigorosa osas, s, como: como: a) atender atender às necessidades necessidades de energia energia do agricultor agricultor (combustível, (combustível, aquecimento, aquecimento, trabalho); trabalho); b) atender atender às necessidades do agricultor para subsistência, assegurando que ele possa ter uma dieta adequada e balanceada; c) fortalecer a cooperação entre os membros da comunidade local; d) asse assegu gura rarr que que eqüi eqüida dade de soci social al,, inte integr grid idade ade cult cultur ural al,, étni étnica ca e de gêner gêneroo seja sejam m consideradas consideradas adequadamente. adequadamente. Essas exigências exigências podem ajudar os agricultor agricultores es em períodos períodos de dificuldades, causados por estresse climático ou econômico, e melhorar as condições de vida vida em área áreass rura rurais is,, enqua enquant ntoo atra atrave vess ssam am o espaç espaçoo entr entree as esta estaçõ ções es de produ produçã ção, o, cuida cuidando ndo de vári vários os inte intere ress sses es soci sociai aiss e asse assegur gurand andoo a sobr sobrevi evivê vênci nciaa dos sist sistem emas as tradicionais rurais.
COMPOSIÇÃO DE ESPÉCIES NOS QUINTAIS AGROFLORESTAIS Apesar de a seleção das espécies ser determinada por uma grande extensão de fatores socioeconômicos e ambientais, bem como hábitos de dieta e demanda do mercado local, Nair (1993) afirma que há uma similaridade notável com respeito à composição de espécies entre diferentes quintais agroflorest agroflorestais ais distribuído distribuídoss na região região tropical, tropical, especialment especialmentee com relação aos componentes herbáceos. Essa similaridade se deve ao fato de a produção de alimentos ser a função predominante da maioria das espécies herbáceas. Por outro lado, a prese presença nça de um subdos subdossel sel requer que as espéci espécies es sejam sejam tolera tolerante ntess à sombra sombra,, sendo sendo selecionado, selecionado, assim, um grupo restrito restrito de espécies espécies que apresenta apresenta caracterís características ticas ecológicas de adaptação a esses ambientes. A magnitude e o padrão de produção, bem como a facilidade e o ritmo de manutenção manutenção dos sistemas sistemas de quintais, quintais, dependem da sua composição composição de espécie. A seleção seleção das espécies está também relacionada com o aspecto cultural do produtor. Dessa forma, Ferreira (1995) afirma que as plantas remanescentes de matas e cerrados, presentes nos quintais, quintais, desempenham funções específicas, específicas, que fazem parte do cotidiano cotidiano da comunidade comunidade como integrantes da cultura destes homens e mulheres, integrantes da paisagem ribeirinha. Assim, o novateiro que cresce no fundo do quintal, no futuro será transformado em mastro de santo para comemorar uma determinada festa. O chico-magro terá suas cascas usadas na fervura da garapa, no processo de produção de rapadura. Com as cascas do tronco do jatobá, será preparado um “lambedô” para alguém que estiver com tosse. O babaçu fornece constantemente cocos, cujas castanhas deliciam as crianças, e suas folhas servirão para renovar a cobertura do rancho ou constituir o empaliçado de algum evento. O ingá, a bocaiuveira, o siputá e o tarumã oferecem frutas saborosas. O jenipapo e o coquinho são usados na pesca do pacu. Os sarãs, as figueiras e o louro serão transformados em utensílios
de uso diário do ribeirinho. As demais plantas têm a sua serventia e, em última instância, qualquer pedaço de pau se transforma em lenha. Ferreira & Dias (1993), estudando a vegetação de quintais da área urbana da cidade de Cuiabá, destacam a diversidade de espécies introduzidas, caracterizada segundo sua forma de uso em plantas frutíferas, medicinais, hortaliças e ornamentais. Os quintais representam um espaço de produção de alimentos, de remédios e de cultura. Um dos aspectos mais assinaláveis da agronomia e da botânica indígenas é sua preoc preocupaç upação ão em manter manter a hetero heterogene geneida idade de genéti genética ca das planta plantas, s, tal como ocorre ocorre na natureza. (Kerr, 1988) Isso foi observado por Anderson & Posey (1989), ao estudarem os Kayap Kayapó, ó, que que ao inic inicia iarem rem um umaa roça roça intr introd oduze uzem m um gran grande de núme número ro de espé espéci cies es e variedades, em média 58 espécies por roça. A compos composiçã içãoo de espéci espécies es dos qui quinta ntais is agrofl agroflore oresta stais is permit permitee a combin combinação ação de cultu cultura rass agríc agrícol olas as e árvor árvores es de mú múlt ltipl iplos os usos usos,, de form formaa a aten atende derr à maio maiori riaa das necessidades básicas das populações locais, enquanto a configuração e a alta diversidade de espécies dos quintais ajudam a reduzir a deterioração ambiental, comumente associada aos sist sistem emas as de produ produçã çãoo mo monoc nocul ultu tura rais is.. Além Além diss disso, o, os sist sistem emas as agro agrofl flor ores esta tais is vêm vêm produzindo colheitas sustentáveis por séculos, utilizando os recursos ambientais, na maioria das vezes, de forma eficiente.
ESTRUTURA ESPACIAL DOS COMPONENTES VEGETAIS DOS QUINTAIS A estrutura está intimamente ligada à função e, apesar de seu grau de relação ser óbvio, freqüentemente é ignorada. (Soemarwoto, 1987) Dessa forma, manipulações na estrutura freqüentemente levaram à perda de funções valiosas, ou vice-versa, e, em troca, resultaram em condições contrárias às expectativas ou mesmo ao colapso do sistema. O horto caseiro pode ser visto como uma atividade dinâmica, mais que uma área definida, que varia de tamanho, número e tipo de espécies, bem como na sua estrutura, sendo o resultado das condições agroecológicas, do espaço disponível e de aspectos sociais, culturais e econômicos. (Soemarwoto et al .,., 1985) Base Basean ando do-s -see nas info inform rmaç ações ões leva levant ntad adas as no Inven Inventá tári rioo Globa Globall dos dos Si Sist stem emas as Agroflorestais (ICRAF’s), Fernández & Nair (1986) realizaram uma avaliação da estrutura e função de 10 sistemas de quintais selecionados em diferentes partes do mundo. Estes sistemas são caracterizados por apresentar uma alta diversidade de espécies, distribuídas, geralmente, de 3 a 4 estratos, resultando em uma forte associação de plantas. Algumas espécies herbáceas e lenhosas são também características do sistema. (Nair, 1993) O espaço do quintal é dividido com as pessoas componentes da família, com a criação (porcos, aves de terreiro e cachorros) e uma grande variedade de plantas, em uma composição onde componentes da paisagem humana se integram à paisagem natural e onde plantas da mata, fruteiras e plantas medicinais se misturam. (Ferreira, 1995) Para Nair (1993), na maioria das vezes, o tamanho médio de um quintal é muito menor que 1 hectare, indicando a natureza de subsistência desta prática. Dessa forma, Viana et al. (1996) afirmam que os sistemas agroflorestais podem contribuir para a melhoria da alimentação das populações rurais, e os quintais agroflorestais, de tamanho
suficiente e constituídos por um grande número de espécies perenes, podem oferecer boa parte dos alimentos consumidos pelo agricultor e sua família. Nos quintais multiestratificados da América Central há uma exploração completa dos espaços vertical e horizontal, podendo parcelas menores de 0,1 ha conter duas dezenas ou mais de diferentes diferentes plantas econômicas, econômicas, cada uma com sua própria necessidade necessidade de espaço. espaço. (ILEA, 1992) Wielken (1987), citado por ILEA (1992), descreve, de forma didática, a estrutura de um quin quinta tall loca locali liza zado do em Pueb Puebla la,, Amér Améric icaa Cent Centra ral, l, onde onde a parc parcel elaa disp dispun unha ha,, aparent aparenteme emente nte,, de uma distri distribui buição ção horizo horizonta ntall ao acaso, acaso, porém porém tão cuidado cuidadosam sament entee arranjada, arranjada, verticalmen verticalmente, te, em 4 estratos, estratos, representados representados por árvores altas, altas, como mangueira, mamoeiro e leucena; numerosas árvores de altura média; e arbustos, incluindo a bananeira, pessegueiro, abacateiro, citrus, Eritrina, Annona; Annona; e o estrato inferior era ocupado por culturas agrícolas como milho, feijão, tomate, intercalados com flores, ervas medicinais e condimentos condimentos.. As trepadeiras trepadeiras de valor econômico, econômico, incluindo o feijão, feijão, ocupavam, por outro lado, os espaços restantes. Todo o quintal era cercado por plantas ornamentais e de adicional produtivo, como o colorau, o bambu e o jacarandá. Ainda tinham galinhas e perus vive vivend ndoo entr entree as plan planta tass e cont contri ribu buin indo do,, na sua sua form forma, a, para para o prod produt utiv ivoo espa espaço ço tridimensional do quintal. Uma característica estrutural proeminente dos quintais agroflorestais é a grande diversidade de espécies, representada por muitas formas de vida, variando de ervas como a batata a árvores de 10 metros ou mais, além das trepadeiras, criando uma estrutura do dossel multiestratificada nos quintais. (Soemarwoto, 1987) Fernández e Nair (1986) afirmam que a disposição no espaço dos componentes é irregular e parece ser feita ao acaso, com árvores, arbustos e cultivos alimentícios em íntima íntima combin combinaçã ação. o. Por out outro ro lado, lado, vertic verticalm alment ente, e, é possív possível el distin distingui guirr várias várias zonas zonas relativamente diferentes, havendo uma considerável sobreposição de estratos, assim como um contínuo recrutamento de espécies nas diferentes zonas. Estes autores apresentam uma estratificação para os sistemas de quintais agroflorestais em quatro zonas: Zona 1- (0-1m): cultivos alimentícios; Zona 2-(1-2,5m): café com árvores e arbustos jovens, assim como plantas medicinais; Zona 3-(2,5-5m): banana, com algumas árvores frutíferas e forragem; Zona 4- (5, 30m): árvores de madeira valiosa e outras espécies para forragem e lenha. De acordo com Nair (1993), um equilíbrio dinâmico pode ser esperado com respeito à matéria orgânica e nutrientes de plantas sobre o solo, devido à adição contínua do "litter" foliar e sua constante remoção através da decomposição, ficando um acúmulo de raízes absorv absorvent entes es de tod todas as as espéci espécies es próxim próximoo da superf superfíci íciee do solo. solo. Nas profun profundid didade adess inferiores do solo, a distribuição das raízes das várias espécies, provavelmente, segue uma configuração vertical aproximadamente proporcional aos estratos do dossel. Entretanto, os estudos relacionados com os padrões de enraizamento e configurações em sistemas de quintais com espécies de múltiplos usos são escassos, permanecendo a questão como um aspecto importante para ser investigado.
As características estruturais dos quintais agroflorestais apresentam muitas vantagens, que são atribuídas atribuídas às associações associações de espé-cies espé-cies em estratos estratos múltiplos, múltiplos, como a conservação conservação do solo, a reciclagem de nutrientes e a maior eficiência no seu uso, o melhoramento do microclima e outros benefícios, como eficiência de mão-de-obra, minimização do risco e produção contínua. (Fernández et al., al., 1986)
INTERAÇÃO ENTRE OS COMPONENTES DOS QUINTAIS Segundo Nair (1993), a interação dos componentes se refere à influência de um componente de um sistema sobre o desempenho dos outros componentes, bem como do sistema como um todo. Entretanto, para Jacob & Allens (1987), apesar de ser óbvia a existência de interações entre as plantas e entre as plantas e seu ambiente, tal como nos sistemas de profunda associação de plantas, ainda não há nenhum dado disponível sobre este aspecto. Fernández et al. (1992) afirmam que a íntima distribuição dos componentes presentes nos quintais agroflorestais resulta em interações tanto no tempo como no espaço, e a natureza das interações varia, podendo ser: direta: forragem e gado, árvores e abelhas, adubo orgânico e cultivos; cíclica: resíduos de cultivo e gado; e competitiva: banana e café, árvores e cultivos. Segundo Nair (1993), os principais tipos de interações positivas na interface árvorecultura estão relacionados com o melhoramento do microclima e balanço dos nutrientes. Em sistem sistemas as agrofl agroflore oresta stais, is, a melhor melhoria ia do clima, clima, envolv envolvend endoo relaçõ relações es de umi umidade dade e temperatura do solo, resulta, primeiramente, do uso das árvores para sombra ou como cercas vivas ou quebra-vento. Willey (1975), citado por Nair (1993), afirma que a sombra ocasiona um efeito líquido de interações complexas que ultrapassa a mera redução de calor e luz. As mudanças estabelecidas no ambiente têm uma influência direta no aumento da produção. As inumeráveis práticas que os agricultores tradicionais desenvolveram para atingir esse objetivo, atestam a importância atribuída ao manejo microclimático. Outra interação potencialmente positiva em sistemas agroflorestais, segundo Nair (1993), está relacionada com a supressão das invasoras. O efeito da sombra é mais severo para as plantas heliófilas do que para as tolerantes à sombra. Por outro lado, as plantas podem apresentar entre si interações negativas, como a competição, sendo comum estarem utilizando a mesma reserva dos recursos de crescimento, como luz, nutrientes, água e gás carbônico.
A MÃO-DE-OBRA NOS QUINTAIS AGROFLORESTAIS Os sistemas de quintais agroflorestais têm evoluído através da utilização eficiente da mão-de-obra familiar. Conforme os trabalhos relacionados abaixo, verifica-se que a mulher tem sido a principal responsável pela manutenção desses sistemas, especialmente nas áreas do quintal destinadas ao cultivo de plantas medicinais e de alimentícias herbáceas, que necessi necessitam tam de cuidado cuidadoss freqüen freqüentes tes,, e na criaçã criaçãoo de animai animaiss para para autoco autoconsu nsumo mo e/ou e/ou comercializ comercialização. ação. A mulher tem desempenhado desempenhado uma importante importante função no aprimorame aprimoramento nto desses sistemas.
Na África "sub-sahariana" e no Caribe, as mulheres produzem de 60 a 80% dos alimentos básicos. Na Ásia, mais de 50% do trabalho dedicado ao cultivo de arroz é realizado pelas mulheres. Na Ásia sul-oriental, no Pacífico e na América Latina, os hortos famili familiare aress cultiv cultivados ados pelas pelas mul mulher heres es repres represent entam am um dos mais mais comple complexos xos sistem sistemas as agrícolas. As mulheres são, evidentemente, "agricultoras" por direito próprio e contribuem de forma decisiva na conservação e ordenação globais dos recursos fitogenéticos para a alimentação e a agricultura. Os hortos familiares das mulheres são, às vezes, "centros experimentais não oficiais" que elas utilizam para transferir, fomentar e cuidar de espécies autóct autóctone ones, s, experi experiment mentando ando-as -as e adapta adaptandondo-as, as, para para fornec fornecer er produt produtos os especí específic ficos os e, possivelmente, variados (FAO, 1996). Na região rural da América Central, o cuidado do horto caseiro e das espécies de animais de criação, dentro de um contexto de horto misto, constitui parte do trabalho realizado pela mulher para o benefício familiar, considerado por ela mesma como tarefa doméstica, porque a efetua ao redor da casa. (Nasser et (Nasser et al., 1993) Amorozo & Gély (1988) observaram uma certa diferenciação entre os conhecimentos do homem e da mulher com relação às plantas que crescem em ambientes manejados ou não. De modo geral, a mulher domina melhor o conhecimento das plantas que crescem próximo à casa, no quintal e no sítio, enquanto o homem conhece mais as plantas do mato. Lubbers Lubbers (1993), (1993), citado citado por Nasser et Nasser et al. (1993), (1993), afirma que, quando os hortos hortos estão relacionados relacionados com o trabalho trabalho da mulher, mulher, estes se encontram encontram tradicionalment tradicionalmentee limi limitados tados ao entorno da casa, área na qual a mulher dedica grande parte de seu tempo de trabalho. Os peque pequeno noss produ produto tore ress da plan planíc ície ie do médi médioo rio rio Cuia Cuiabá, bá, espe especi cial alme ment ntee os moradores de Barranco Alto, fazem uso predominantemente da mão-de-obra familiar. (Ferreira, 1995) A unidade de produção está constituída pelo chefe da família, sua esposa e seus filhos. Quando o homem se dedica à pesca como única atividade econômica, em geral a responsabilidade pela roça é transferida para a mulher e os filhos menores. Estes, enquanto pequenos, participam do processo produtivo como força de trabalho adicional, ajudando no plantio, na colheita e em outras atividades, como a produção de rapadura e a pesca.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMOROZO, M.C. de M., GÉLY, A. Uso de plantas medicinais por caboclos do Baixo Amazonas. Barcarena, PA, Brasil. Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi , Sér. Bot. 4, 1988. ANDERSON, A.B., POSEY, D.A. Reflorestamento Indígena. Ciência Hoje, v.6, n.º 1, p. 45-50, 1989. ANDERSON, A.B., GÉLY, A., STRUDWICH, J. et al . Um sistema agroflorestal na várzea do estuário amazônico (Ilha das Onças, Município de Barcarena, Estado do Pará). Acta Amazônica, Supl., v.15, n.º 1-2, p. 195-224, 1985. ANDERSON, E. Reflections on certain Honduran gardens. Landscape, v.4, p. 21-23, 1954. BRITO, M. A. Uso social da biodiversidade em quintais agroflorestais de AripuanãMT, Cuiabá:UFMT, 1886, 108 p. (Dissertação de Mestrado).
BRÜCHER, H. Difusión transamericana de vegetales útiles del Neotrópico en la época précolombina. Ethnobiology: Implications and applications, v.1, p.265-283, 1988. CASTRO, CASTRO, C.F.A. Biodiversidade Biodiversidade e quintais. quintais. Rio de Janeiro: FASE, 1995. (Cadernos (Cadernos de Proposta, 3). CLEMENT, C. Origin, domestication and genetic conservation of Amazonian fruit tree species. In: Ethnobiology: Implications and Applications, v.1, p. 129-266, 1988. DA SILVA, C.J. da; SILVA, J.A.F. No ritmo das águas do Pantanal, São Paulo: NUPAUB, USP, 1995, 210 p. FAO. La mujer y los recursos fitogenéticos para la alimentación y la agricultura, Roma: FAO, 1996. (no prelo). FERNÁNDEZ, E.C.M.; NAIR, P.K.R. An evaluation of the structure and function of tropical homegardens. Agricultural Systems, v.2, p.73-86, 1986. FERNÁNDEZ, E.C.M.; OKTINGATI, A.; MAGHEMBE, J. Los huertos familiares de los Chagg Chagga: a: Un sist sistem emaa agro agrofo fore rest stal al de cult cultiv ivoo en estr estrat atos os mu mult ltip iple less en el mo mont ntee Kili Kilima manj njar aroo (nor (norte te de Tanz Tanzan ania ia). ). In: In: MONT MONTAG AGNI NINI NI,, F. (Coo (Coord rd.) .).. Sistemas Agroforestales: Principios y aplicaciones en los trópicos, Costa Rica: OET, 1992. FERREIRA, M.S.F.D. A comunidade de Barranco Alto: diversificação de saberes às margens do rio Cuiabá, Cuiabá: UFMT, 1995, 137 p. (Dissertação de Mestrado). FERREIRA, M.S.F.D.; DIAS, F.M. de S. Comparação da forma de uso do espaço destinado aos quintais em dois bairros da cidade de Cuiabá-MT. In: Encontro Nacional de Estudos sobre Meio Ambiente, 4, 1993, Cuiabá. Anais . Cuiabá: 1993. FRANKEL, O.H.; SOULÉ, M.E. Conservation and Evolution, Nova York: Cambridge University Press, 1981, 327 p. GLIESSMAN, S. R. Agroecology in the Tropics: achieving a balance between land use and preservation. Environmental management, v.16, n.º 6, p. 681-689, 1992. GUTBERLET, J. Pequena produção nos cerrados cerrados e transformações transformações sócio-ambientais. sócio-ambientais. O caso do Município de Acorizal na baixada Cuiabana, Cuiabá: EdUFMT, ICHS, UFMT, 1994. Cadernos do NERU 03. HARLAN, J. Crops and man, Madison: Wiscosin, 1975, 295p. ILEA. Using vertical and horizontal space in homegarden. Farming for the future. An introduction to Low-External-Input and sustainable agriculture.. In: Basic ecological principles of LEISA, McMillan: ILEA, 1992. JACOB, V.J.; ALLENS, W.S. Kandyan Gardens of Sri Lanka. Agroforestry System, v.5, p. 123-137, 1987. KERR, W.E. Agricultura e seleções genéticas de plantas. In: Ribeiro, B. G. (Coord.). Etnobiologia, SUMA Etnológica Brasileira. Petrópolis: VOZES, 1988. LÉON, J. Botânica de los cultivos tropicais, San Jose: Costa Rica, IICA, 1987, 445 p. MARSH, R. Nutritional benefits from home gardening. ILEA, v.10, n.º 4, p. 14-15, 1994.
McNEELLY, J.A. Biodiversity Conservation and Traditional Agroecosystems. In: R.E. Saunier e R.A. Meganck (Eds.). Conservation Conservation of Biodiversity Biodiversity and the New Regional Planning, EUA: IUCN, OEA, 1995. MICHON, G.; BOMPARD, J. Multistoried agroforestry garden system in West Sumatra, Indonésia. Agroforestry System, v.4, p. 315-338, 1986. MORA MORAN, N, E.F. E.F. Estr Estrat atégi égiaa de sobr sobrev eviv ivên ênci cia: a: uso uso dos recur recurso soss ao longo longo da rodov rodovia ia Transamazônica. Acta Amazônica, v.7, n.º 3, p. 363-379, 1977. NAIR, P.K.R. An introduction to Agroforestry, ICRAF/ Kluwer Academic Publishers, 1993. NASSER, R.; VELÁSQUEZ, C.; VELASCO, C.; RUÍZ, J.; SÁNCHEZ, E.; CASTILLO, A.M.; RADULOVICH, R. Huertos Caseros: una actividade productiva con amplia participación de la mujer. In: RADULOVICH, R. (ed.). Tecnologias Productivas para Sistemas Agrosilvopecuarios- la ladera con sequia estacional, Turrialba-Costa Rica: CATIE, 1993. comunidad dades es ribeir ribeirinh inhas as em NEU NEUBU BURG RGER ER,, M. Enge Engenho nho Velh Velhoo e Migu Miguel el Velho Velho:: comuni transformação, Cuiabá: EdUFMT, ICHS, UFMT, 1994, p. 107-130. (Cadernos do Neru 03). NUNES, N. Casa, praça, jardim e quintal. Ciência e Trópico, Recife, v.22, p. 253-264, 1994. PEREIRA, H. dos S. Extrativismo e agricultura: as escolhas de uma comunidade ribeirinha do Médio Solimões, Manaus: INPA, 1992. (Dissertação de Mestrado). POSEY, D.A. Manejo da floresta secundária, capoeiras, campos e cerrados (KAYAPÓ). In: Etnobiologia, Suma Etnológica Brasileira, Petrópolis: v.1, p. 173-185, 1987. RICO-GRAY, V.; GARCIA-FRANCO, J.G.; CHEMAS, A.; PUCH, A.; SIMA, P. Species comp compos osit itio ion, n, simi simila lari rity ty,, and and stru struct ctur uree of Maya Mayann Home Homega gard rden enss in Tixpe Tixpeua uall and Tixcacaltuyub, Yucatan, México. Economy Botany, v.44, n.º 4, p. 470-487, 1990. SALAM, M.A.; SREEKUMAR,D. Kerala homegardens. A traditional agroforestry system from Índia. Agroforestry Today, p. 10-16, jul.-set., 1992. SARAGOUSSI, M.; MARTEL, J.H.I.; RIBEIRO, G. de A. Comparação na composição de quintais de três localidades de terra firme do Estado do Amazonas. In: Ethnobiology: Implications and Applications, v.1, p. 295-303, 1988. SOEMARWOTO, O. Homegardens: a traditional agroforestry system with a promising futu future re.. In: In: STEP STEPPL PLER ER,, H.A.; H.A.; NAIR NAIR,, P.K. P.K.R. R. (ed. (ed.); ); Agrof Agrofore orestr stryy a decad decadee of development, Nairobi: ICRAF, 1987, p. 157-170. SOEMARWOTO, O. The Javanese home-garden as an integrated agroecosystem. Food and Nutrition Bolletin, v.7, n.º 3, p. 44-47, 1985. TORQUEBIAU, E. Are tropical agroforestry home gardens sustainable? Agricultura, Ecosystems and Environment, v.41, p. 189-207, 1992. VIAN VIANA, A, V.M. V.M.;; DUBO DUBOIS IS,, J.C. J.C.L. L.;; ANDE ANDERS RSON ON,, A. A impo import rtân ânci ciaa dos dos Si Sist stem emas as Agroflorestais para a Amazônia. In: REBRAF/ FUNDAÇÃO FORD (ed.). Manual agroflorestal para a Amazônia, Rio de Janeiro: REBRAF, 1996, v.1.
WIERSU WIERSUM, M, K.F. K.F. Tree Tree gardeni gardening ng and Taungy Taungyaa on Java: Java: exempla exemplales les of agrofo agrofores restry try techniques. Agroforestry System, v.1, p. 53-70, 1982.