O ?acto de a nossa religião ou visão do mundo ser de in(cio largamente determinada pela nossa eHperi8ncia nica de in?Qncia con?ronta;nos com um pro$lema central! a relação entre
Z 're>uentemente mas nem sempre- a ess8ncia da in?Qncia de um doente e conse>uentemente a ess8ncia da sua visão do mundo R recolhida da Kprimeira memriaK. Peço muitas vezes aos meus doentes, KDiga;me >ual R a primeira coisa de >ue se consegue lem$rar.K Podem protestar >ue não conseguem ?az8;lo, >ue t8m v5rias memrias iniciais. Mas >uando os ?orço a escolher uma, a resposta varia entre K:om, lem$ro;me de a minha mãe me pXr ao colo e me levar para a rua para me mostrar um pXr;do;sol lindoK e K*em$ro;me de me sentar no chão da cozinha. %inha ?eito chichi nas calças e a minha mãe estava minha ?rente a agitar uma grande colher e a gritar comigoK. V prov5vel >ue estas primeiras memrias, como o ?enmeno das memrias selectivas, >ue R o >ue são tantas vezes, seam recordadas precisamente por>ue sim$olizam eHactamente a natureza da primeira in?Qncia da pessoa. 9ão R de admirar, portanto, >ue o sa$or destas memrias iniciais sea ?re>uentemente o mesmo >ue o dos sentimentos mais pro?undos do paciente so$re a natureza da eHist8ncia.
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a religião e a realidade. V o pro$lema do microcosmo e do macrocosmo. # visão do mundo de SteJart como um lugar perigoso, onde lhe podiam cortar o pescoço se não tivesse cuidado, era per?eitamente realista em termos do microcosmo do lar da sua in?QnciaW vivia so$ o dom(nio de dois adultos cruRis. Mas nem todos os pais são cruRis nem todos os adultos são cruRis. 9o mundo maior, no macrocosmo, h5 muitas espRcies di?erentes de pais, pessoas, sociedades e culturas.
Para desenvolver uma religião ou uma visão realista do mundo ; ou sea, adaptada realidade do cosmo e ao papel >ue nele temos, tanto >uanto conhecemos essa realidade temos constantemente >ue rever e aumentar o nosso entendimento para compreender novos conhecimentos do mundo maior. Nstamos então a lidar com as >uest@es da ela$oração de mapas e trans?er8ncia, >ue discutimos alargadamente na primeira secção. O mapa da realidade de SteJart era eHacto no microcosmo da ?am(lia, mas tinha trans?erido erradamente esse mapa para um mundo maior adulto, onde estava consideravelmente incompleto e portanto de6ciente. #tR certo ponto, a religião da maior parte dos adultos R um produto de trans?er8ncia.
]KCollected ^orks o? C.C. Lung, :ollingen :ollinge n Ser., Ser., 9K. , a ed. Princeton, 9.L.! Princeton Univ. Press, /0F-, trad. ).'.C. _ull,
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nos eHigem. V esta a razão por>ue nas doenças mentais crnicas deiHamos de evoluir, 6camos $lo>ueados. N sem se curar, o esp(rito humano começa a mirrar.
ue acarretam. #6rmei >ue a disciplina R o ogo de ?erramentas de $ase de >ue necessitamos para resolver os pro$lemas da vida. %ornar;se;5 ornar;se;5 claro >ue estas ?erramentas são tRcnicas de so?rimento, meios atravRs dos >uais eHperimentamos a dor dos pro$lemas de ?orma a analis5;los e resolv8;los com sucesso, aprendendo e evoluindo ao mesmo tempo. 3uando ensinamos a ns prprios e aos nossos 6lhos a disciplina, estamos a ensinar;lhes e a ns prprios a so?rer e tam$Rm a crescer. crescer.
3ue ?erramentas são estas, estas tRcnicas de so?rimento, esta e sta ?orma construtiva de passar pela dor dos pro$lemas a >ue chamo disciplina[ _5 >uatro! o adiamento da grati6cação, a aceitação a ceitação da responsa$ilidade, a dedicação verdade e o e>uil($rio. Como R evidente, não são ?erramentas compleHas cua utilização re>ueira um treino apro?undado. Pelo contr5rio, são ?erramentas simples e >uase todas as crianças estão aptas a utiliz5;las >uando chegam aos dez anos. 9o entanto, presidentes e reis muitas vezes se es>uecem de as utilizar, causando a sua prpria >ueda. O pro$lema não est5 na compleHidade destas ?erramentas mas na vontade de as usar. Por>ue são ?erramentas em >ue a dor R en?rentada e não evitada e, e , se se procura evitar o so?rimento leg(timo, evita;se a utilização destas ?erramentas. Portanto, depois de analisar cada uma destas ?erramentas, eHaminaremos no prHimo cap(tulo a vontade de as utilizar, >ue R o amor.
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#o orientar outros psicoterapeutas, tenho veri6cado duma maneira geral >ue não prestam muita atenção, se R >ue prestam alguma, visão >ue os pacientes t8m do mundo. _5 v5rias raz@es para isso, mas entre elas est5 a convicção de >ue se os pacientes não se consideram religiosos por ?orça da sua ?R em Deus ou 6liação numa igrea, não t8m religião e portanto não R necess5rio analisar mais o assunto. Mas a >uestão R >ue toda a gente tem um conunto de ideias e crenças, eHpl(citas ou impl(citas, >uanto natureza essencial do mundo. Os pacientes encaram o Universo como $asicamente catico e sem signi6cado, portanto s tem sentido aproveitarem todos os pe>uenos prazeres >ue podem e >uando podem[ <8em o mundo como um lugar em K>ue se comem uns aos outrosK e em >ue a crueldade R essencial para a so$reviv8ncia[ Ou v8em;no como um lugar de acolhimento em >ue acontece sempre >ual>uer coisa $oa e em >ue não t8m >ue se preocupar muito com o ?uturo[ Ou um lugar >ue lhes deve uma ?orma de vida independentemente de como orientam a sua[ Ou um Universo de leis r(gidas em >ue serão a$atidos e marginalizados se pisarem o risco[ Nt caetera. #s pessoas t8m todas as espRcies di?erentes de vis@es do mundo. Mais cedo ou mais tarde, no decurso da psicoterapia, a maior parte dos terapeutas reconhece a visão >ue o paciente tem do mundo, mas se estiver atento a ela, t8;la;5 mais cedo. N R essencial >ue os terapeutas detenham esse conhecimento, por>ue a visão do mundo dos doentes R sempre uma parte essencial dos seus pro$lemas, sendo necess5ria uma correcção dessa visão do mundo para se curarem. Portanto digo >ueles >ue oriento! KDescu$ram a religião dos vossos doentes, mesmo >ue eles digam >ue não t8m nenhuma.K
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9ormalmente a religião ou visão do mundo de uma pessoa R, na melhor das hipteses, apenas incompletamente consciente. Os pacientes não t8m muitas vezes a noção de como v8em o mundo, e por vezes atR pensam >ue possuem uma religião >uando de ?acto são possu(dos por outra coisa muito di?erente. SteJart, um engenheiro industrial de sucesso, teve uma depressão grave na casa dos cin>uenta. #pesar do seu sucesso pro6ssional e do ?acto de ter sido um marido e pai eHemplar, sentia;se intil e mau. KO mundo estaria melhor se eu estivesse morto,K dizia ele. N ?alava a sRrio. SteJart ?ez duas tentativas de suic(dio eHtremamente graves. 9ão havia tran>uilização realista >ue rompesse o irrealismo da sua auto;imagem de inutilidade. Para alRm dos sintomas normais das depress@es pro?undas, como insnia e agitação, SteJart tinha muita di6culdade em engolir a comida. K9ão R s a comida sa$er mal,K dizia. K&sso tam$Rm. Mas R como se
tivesse uma lQmina de aço espetada na garganta e s pudessem passar l(>uidos.K #s radiogra6as e an5lises não conseguiram mostrar uma causa ?(sica para essa di6culdade. SteJart não escondia a sua posição relativamente religião. KSou um ateu, simplesmente,K declarava. KSou um cientista. #s nicas coisas em >ue acredito são a>uelas >ue posso ver e tocar. Pode ser >ue ?osse melhor para mim se tivesse ?R num Deus tolerante e a?ectuoso, mas ?rancamente não aguento esse tipo de asneiras. 'artei;me >uando era criança e ainda $em >ue me livrei disso.K SteJart tinha crescido numa pe>uena comunidade do Oeste Central, 6lho de um r(gido pregador ?undamentalista, e de uma mulher igualmente r(gida e ?undamentalista e tinha sa(do de casa e a$andonado a igrea na primeira oportunidade.
#lguns meses depois de iniciar o tratamento, SteJart relatava o sonho seguinte! KNra na casa da minha in?Qncia no Minesota. Nra como se eu ainda ?osse criança e l5 vivesse, no entanto, sa$ia >ue tinha a idade >ue tenho agora. Nra de noite.
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Um homem entrou na casa. &a cortar;nos o pescoço. 9unca tinha visto a>uele homem antes, mas, estranhamente, eu sa$ia >uem ele era! o pai de uma rapariga com >uem eu tinha sa(do umas vezes no tempo do liceu. 'oi tudo. 9ão houve conclusão. #cordei cheio de medo, sa$endo >ue este homem nos >ueria cortar o pescoço.K
Pedi a SteJart >ue me contasse tudo o >ue pudesse so$re o homem do sonho. K9ão tenho nada para lhe contar,K disse ele. K9unca conheci o homem. S sa( com a 6lha umas duas vezes ; não ?oi mesmo sair, s a acompanhei porta de casa depois das reuni@es do grupo de ovens da igrea. )ou$ei;lhe um $eio, s escuras, atr5s duns ar$ustos, num desses passeios.K #>ui SteJart deu uma risada nervosa e continuou, K9o sonho, tinha a sensação de nunca ter visto o pai, em$ora sou$esse >uem ele era. De ?acto, vi;o na vida real ; distQncia. Nra o che?e da estação da nossa cidade. De vez em >uando, via;o >uando ia estação ver os com$oios a chegar, nas tardes de
#lgo disparou na minha mente. Nu tam$Rm tinha passado tardes preguiçosas de uais eram os lugares long(n>uos de onde vinham os grandes com$oios >ue passavam pela nossa cidadezinha e os lugares distantes para onde eles iam. #ccionava os interruptores, os sinais. )ece$ia o correio e eHpedia;o. N >uando não estava a ?azer essas coisas maravilhosas, sentava;se no escritrio a ?azer uma coisa ainda mais maravilhosa! a $ater numa tecla m5gica numa linguagem r(tmica misteriosa, enviando mensagens para todo o mundo.
KSteJart,K disse eu, Kdisse;me >ue era ateu, e eu acredito em si. _5 uma parte da sua mente >ue acredita não eHistir Deus. Mas começo a suspeitar >ue h5 outra parte da sua mente >ue acredita em Deus ; um Deus perigoso e $andido.K
A
# minha suspeita estava certa. 4radualmente, medida >ue tra$alh5vamos em conunto, relutantemente, lutando contra a resist8ncia, SteJart começou a reconhecer em si uma ?R estranha e ?eia! um pressuposto, para alRm do seu ate(smo, de >ue o mundo era controlado e dirigido por uma ?orça malRvola, uma ?orça >ue não s lhe podia cortar o pescoço como estava ansiosa por o ?azer, ansiosa por o punir pelas suas transgress@es. 4radualmente, começ5mos a concentrar;nos nas suas Ktransgress@esK, na sua maior parte incidentes seHuais menores sim$olizados pelo Krou$o de um $eioK 6lha do che?e da estação. Mais tarde, tornou;se evidente >ue entre outras raz@es para a depressão- SteJart ?azia penit8ncia e cortava o pescoço em termos 6gurativos, na esperança de >ue, ao ?az8;lo, impedisse Deus de o ?azer literalmente.
Donde veio a noção de SteJart de um Deus cruel e de um mundo malRvolo[ Como evoluem as religi@es das pessoas[ O >ue determina a visão do mundo de uma pessoa em particular[ NHistem v5rios compleHos de determinantes, mas não vamos eHplor5;los em pro?undidade neste livro. Mas o ?actor mais importante na evolução da religião da maior parte das pessoas R, o$viamente, a cultura. Se somos europeus, acreditamos provavelmente >ue Cristo era um homem $ranco, e se somos a?ricanos, >ue era um homem
negro. Um indiano nascido e criado em :enares ou :om$aim, provavelmente tornar;se;5 hindu e ter5 o >ue R descrito como uma visão pessimista do mundo. Para um americano nascido e criado no &ndiana, R mais prov5vel vir a ser cristão do >ue hindu e ter uma visão do mundo algo mais optimista. %endemos a acreditar no >ue as pessoas >ue nos rodeiam acreditam e tendemos a aceitar como verdade o >ue essas pessoas nos dizem da natureza do mundo, >uando as ouvimos ao longo dos nossos anos de ?ormação.
Mas menos $vio eHcepto para os psicoterapeutas- R o ?acto de a parte mais importante da nossa cultura ser a nossa
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?am(lia. # cultura mais $5sica em >ue nos desenvolvemos R a da nossa ?am(lia e os nossos pais são os Kl(deres da culturaK. #lRm disso, o aspecto mais signi6cativo dessa cultura não R o >ue os nossos pais nos dizem so$re Deus e a natureza das coisas, mas a>uilo >ue ?azem ; como se comportam um com o outro, com os nossos irmãos e, acima de tudo, connosco. Por outras palavras, o >ue aprendemos so$re a natureza do mundo en>uanto crescemos R determinado pela verdadeira natureza da nossa eHperi8ncia no microcosmo da ?am(lia. 9ão R tanto o >ue os nossos pais dizem >ue determina a nossa visão do mundo, mas o mundo nico >ue criam atravRs do seu comportamento. KConcordo >ue tenho essa noção de um Deus $andido,K disse SteJart, Kmas donde vem[ Os meus pais acreditavam mesmo em Deus ; ?alavam nisso incessantemente ; mas o deles era um Deus de #mor. Lesus ama;nos. Deus ama;nos. #mamos Deus e Lesus. #mor, amor, amor, era s o >ue eu ouvia.K
K%eve uma in?Qncia ?eliz[K perguntei.
SteJart 6Hou;me nos olhos. K9ão se ?aça de parvo,K disse ele. KSa$e $em >ue não. Sa$e >ue ?oi in?elic(ssima.K
KPor>ue ?oi in?elic(ssima[K
O Caminho Menos Percorrido
M. Scott Peck
Uma nova psicologia do amor, dos valores tradicionais e do desenvolvimento espiritual
Digitalização e arranos! "ngelo Miguel #$rantes
%radução %radução Maria &sa$el Cardoso
CD Sinais de 'ogo
%(tulo original! %he )oad )oad *ess %raveled %raveled Cop+right c- M. Scott Peck, Peck, M.D., /01 &ntrodução Cop+right c- M. Scott Peck, M.D., /12 %radução! Maria &sa$el Cardoso )evisão! )ita 3uintela
Proecto 4r56co! 4raça Castanheira 7 &n8s 9ogueira 'oto da capa! &mage :ank ; *uis
)eservados todos os direitos para Portugal incluindo o direito de reprodução do todo ou de partes so$ >ual>uer ?orma, por! Sinais de 'ogo Pu$licaç@es, *da.
)ua Diogo Dias, lote A ; rBc 02;A C#SC#&S %el. %el. E1 FF 22BA G 'aH 'aH E1 FF 20
e;mail. geralIsinaisde?ogo.pt
site! JJJ.sinaisde?ogo.pt JJJ.sinaisde?ogo.pt
! edição, Março; /// a edição, 9ovem$ro ; FK edição, Laneiro ;
Depsito legal n.K 02FB &S:9! /0;12E;;0
#os meus pais, Nliza$eth e David, cua disciplina e amor me deram olhos para ver a graça
%o %o m+ parents, Nliza$eth and David, Jhose discipline and love gave me the e+es to see grace
(ndice
&ntrodução Secção &; Disciplina F Pro$lemas e Dor 2 #diamento da 4rati6cação / Os Pecados do Pai )esolução de Pro$lemas e %empo 1 )esponsa$ilidade )esponsa$ilidade FE
#diamento da 4rati6cação
9`O _T MU&%O %NMPO, uma analista 6nanceira com cerca de trinta anos >ueiHava;se;me, durante alguns meses, da sua tend8ncia para procrastinar na sua ?unção. %(nhamos analisado os seus sentimentos em relação aos patr@es e como se relacionavam com os sentimentos so$re a autoridade em geral e especi6camente com os pais. NHamin5mos as suas atitudes ?ace ao tra$alho e ao sucesso e como se relacionavam com o seu casamento, a sua identidade seHual, o seu deseo de competir com o marido e os seus receios dessa competição. 9o entanto, apesar de todo este tra$alho psicanal(tico minucioso, ela continuava a procrastinar na mesma me sma medida. 'inalmente, um dia, atrevemo;nos a encarar o >ue era $vio. K4osta de $olo[K, perguntei; lhe. )espondeu;me >ue sim. KDe >ue parte do $olo gosta maisK, continuei, Kda massa ou da co$ertura[K KOh, da co$erturaK, respondeu com entusiasmo. KN como R >ue come uma ?atia de $olo[K, in>uiri, sentindo;me o mais pateta dos psi>uiatras >ue 5 eHistiu. KComo primeiro a co$ertura, claroK, respondeu ela. Dos h5$itos de comer $olo pass5mos para os h5$itos de tra$alho e, como era de esperar, desco$rimos >ue, diariamente, ela dedicava a primeira hora metade mais grati6cante do seu tra$alho e as outras seis horas ao restante, de >ue não gostava. Sugeri;lhe >ue, se se ?orçasse a eHecutar a parte desagrad5vel do tra$alho na primeira hora, 6caria livre para tirar partido das restantes seis. Parecia;me, disse;lhe eu, >ue uma hora de dor seguida de seis de prazer era pre?er(vel a uma hora de prazer seguida de seis de dor. dor. Nla concordou e, sendo $asicamente uma pessoa dotada de ?orça de vontade, deiHou dei Hou de procrastinar. procrastinar.
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O adiamento da grati6cação R um processo de programação da dor e do prazer da vida de ?orma a aumentar o prazer, en?rentando e vivendo primeiro a dor e aca$ando com ela. V a nica ?orma decente de se viver vi ver..
Nsta ?erramenta ou processo de programação R aprendida pela maior parte das crianças numa ?ase precoce da vida, por vezes atR por volta dos cinco anos. Por eHemplo, ocasionalmente, uma criança de cinco anos, ao ogar com um companheiro, sugerir5 ao companheiro >ue sea o primeiro a ogar para poder ter o prazer de ogar mais mai s tarde. #os seis anos, as crianças poderão começar a comer o $olo primeiro e a co$ertura depois. Nm todo o
percurso escolar prim5rio esta capacidade precoce de adiar a grati6cação R eHercitada diariamente, particularmente atravRs dos tra$alhos de casa. Por volta dos doze anos, as crianças 5 conseguem, ocasionalmente e sem ser por ordem dos pais, sentar;se e ?azer os tra$alhos de casa antes de verem televisão. Pelos >uinze ou dezasseis anos este R o comportamento esperado do adolescente e considerado normal.
%orna;se %orna;se evidente para os educadores educadores >ue, nesta idade, um nmero nmero su$stancial de adolescentes 6cam a>uRm desta norma. Nn>uanto muitos det8m uma capacidade $em desenvolvida de adiamento da grati6cação, alguns, na casa dos >uinze ou dezasseis anos, parecem >uase não ter desenvolvido essa capacidadeW de ?acto, alguns parecem nem a ter de todo. Nstes são os estudantes pro$lem5ticos. #pesar de possu(rem uma intelig8ncia mRdia ou mais elevada, t8m notas $aiHas, simplesmente por>ue não se es?orçam. 'altam 'altam s aulas ou mesmo escola por capricho momentQneo. São impulsivos e a sua impulsividade re\ecte;se tam$Rm na sua vida social. Nnvolvem;se ?re>uentemente em lutas, nas drogas, e começam a ter pro$lemas com a pol(cia. 4oza agora, paga depois, R o seu lema. #(, entram os psiclogos e os psicoterapeutas. Mas, a maior parte das vezes, parece demasiado tarde. Nstes adolescentes reagem
negativamente a >ual>uer tentativa de inter?er8ncia no seu estilo de vida de impulsividade e, mesmo >uando essa reacção consegue ser ultrapassada com uma atitude calorosa e amig5vel e não de ulgamento por parte do terapeuta, a sua impulsividade R ?re>uentemente tão ?orte, >ue os impede de participar no processo de psicoterapia de uma ?orma signi6cativa. 'altam s consultas. Nvitam todas as >uest@es importantes e dolorosas. Portanto, Portanto, ha$itualmente estas tentativas de intervenção ?alham e estas crianças a$andonam a escola, para prosseguir um padrão de insucessos >ue os leva ?re>uentemente a casamentos desastrosos, acidentes, hospitais psi>ui5tricos ou cadeia.
Por>u8 isto[ Por >ue razão a maioria desenvolve a capacidade de adiar a grati6cação, en>uanto uma minoria su$stancial não consegue, muitas m uitas vezes irrecuperavelmente, desenvolver essa capacidade[ # resposta não R a$soluta nem cienti6camente conhecida. O papel dos ?actores genRticos não R claro. #s vari5veis não são su6cientemente control5veis para servirem
de prova cient(6ca. Mas a maior parte dos sinais aponta claramente para a >ualidade do acompanhamento parental como determinante.
Os Pecados do Pai
9`O V 3UN NM C#S# destas crianças auto;indisciplinadas não eHista >ual>uer espRcie de disciplina parental. 9a maioria dos casos, estas crianças são ?re>uente e severamente punidas durante a in?Qncia ; rece$em $o?etadas, murros, pontapRs, pancada e chicotadas dos pais, atR por in?racç@es menores. Mas esta disciplina não tem signi6cado. Por>ue Por>ue R uma disciplina indisciplinada.
Uma das raz@es por >ue não tem signi6cado R >ue os prprios pais são auto;indisciplinados e servem portanto de modelos de indisciplina para os 6lhos. São os pais K'az como eu digo, não ?aças como eu ?açoK. ? açoK. Provavelmente, em$e$edam;se ?re>uentemente na presença dos 6lhos. Discutem em ?rente s crianças sem comedimento, dignidade ou racionalidade. São desleiHados. 'azem promessas >ue não cumprem. #s suas prprias vidas estão $via e ?re>uentemente ? re>uentemente em desordem e desarrano, e as suas tentativas de ordenar as vidas v idas dos 6lhos são por eles vistas como sem sentido. Se o pai espanca a mãe regularmente, >ue sentido ?az para um rapaz a mãe $ater;lhe por>ue ele $ateu na irmã[ 'az sentido >uando lhe dizem >ue tem >ue aprender a controlar;se[ Se não temos o $ene?(cio da comparação en>uanto pe>uenos, os nossos pais são semelhantes a deuses aos nossos olhos. 3uando os pais ?azem as coisas de determinada maneira, para a criança essa R a maneira de as ?azer, a maneira como devem ser ?eitas. Se a criança v8 os pais comportarem;se no dia;a;dia com auto;disciplina, comedimento, dignidade e capacidade de ordenar as suas vidas, sentir5 nas mais (ntimas 6$ras do seu ser >ue essa e ssa R a maneira de viver. Se a criança v8 os pais viverem o dia;a;dia sem auto; dom(nio ou auto;disciplina, vir5 a acreditar no mais (ntimo do seu ser >ue essa R a maneira de viver. viver. #inda mais importante do >ue os modelos R o amor. amor. Por>ue mesmo em lares caticos e desordenados de sordenados o amor est5 por vezes presente, e desses lares podem resultar crianças auto;disciplinadas. N, não poucas vezes, os pais com pro6ss@es li$erais mRdicos, advogados, mulheres dirigentes de associaç@es e 6lantropos ; >ue levam vidas rigidamente ordenadas e decorosas mas onde ?alta o amor, trazem ao
mundo crianças >ue são tão indisciplinadas, destrutivas e desorganizadas como uma criança de um lar po$re e catico.
9o limite, o amor R tudo. O mistRrio do amor ser5 o$ecto de eHame mais adiante neste tra$alho. 9o entanto, por uma
>uestão de coer8ncia, poder5 ser til ?azer;lhe ?azer;lhe uma re?er8ncia $reve, ainda >ue limitada, $em como sua relação com a disciplina, neste ponto.
3uando amamos alguma coisa, ela tem valor para ns, e >uando algo tem valor para ns gostamos de passar tempo a t8;lo connosco, a apreci5;lo e a trat5;lo. O$serve;se um adolescente apaiHonado pelo seu carro e repare;se no tempo >ue ele gasta a admir5;lo, poli;lo, repar5;lo e a6n5;lo. Ou uma pessoa mais velha com um roseiral amado, e o tempo passado a podar, a adu$ar, a ?ertilizar e a estud5;lo. #ssim R >uando amamos as criançasW passamos tempo a admir5;las e a tratar delas. Damos;lhes o nosso tempo.
# $oa disciplina re>uer tempo. 3uando não temos ou não estamos na disposição de dar tempo aos nossos 6lhos, nem se>uer os o$servamos su6cientemente de perto para perce$er >uando a necessidade >ue t8m da nossa auda disciplinar R su$tilmente eHpressa. Se a sua necessidade de disciplina ?or tão \agrante >ue colida com a nossa consci8ncia, podemos ainda ignorar essa necessidade com o argumento de >ue R mais m ais ?5cil ?azer; lhes a vontade ; K_oe K _oe não estou com energia para os con?rontar.K con?rontar.K Ou, 6nalmente, se somos compelidos a agir pelo seu mau comportamento ou pela nossa irritação, imporemos a disciplina, muitas vezes $rutalmente, mais pela ira do >ue por deli$eração, sem analisar o pro$lema ou se>uer perder tempo a considerar >ue ?orma de disciplina R a mais ade>uada >uele pro$lema em particular.
Os pais >ue dedicam tempo aos 6lhos, mesmo >uando não R solicitado por notrio mau comportamento, aperce$em;se de necessidades de disciplina su$tis, a >ue responderão com insist8ncia, reprimenda, cr(tica construtiva ou elogio, ministrados com sensatez e a?ecto. O$servam como os 6lhos
comem $olo, como estudam, >uando dizem pe>uenas mentiras, >uando ?ogem dos pro$lemas em vez de os en?rentar. en?rentar. Dedicarão tempo
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a ?azer estas pe>uenas correcç@es e austes, ouvindo os 6lhos, respondendo;lhes, apertando um pouco a>ui, alargando um pouco ali, al i, ?azendo;lhes pe>uenas prelecç@es, contando;lhes histrias, dando;lhes pe>uenos a$raços e $eios, pe>uenos ralhetes, palmadinhas nas costas.
# >ualidade da disciplina ministrada por pais >ue amam R superior disciplina de pais >ue não amam. Mas isto R apenas o princ(pio. #o disporem do tempo para o$servar e pensar so$re as necessidades dos 6lhos, os pais >ue amam com ?re>u8ncia se angustiam >uanto a decis@es a tomar e, num sentido muito real, so?rem untamente com os 6lhos. Os 6lhos não estão cegos em relação a isto. #perce$em;se >uando os pais estão e stão na disposição de so?rer com eles e, em$ora possam não corresponder com gratidão imediata, aprenderão igualmente a so?rer. KSe os meus pais estão na disposição de so?rer comigo,K dirão a si prprios, Ko so?rimento não pode ser assim tão mau, e eu tenho >ue estar disposto a so?rer comigo mesmo.K Nste R o princ(pio da auto;disciplina.
O tempo e a >ualidade do tempo >ue os pais lhes dedicam indicam s crianças o grau de avaliação >ue os pais lhes atri$uem. #lguns pais >ue $asicamente não amam, na tentativa de enco$rir a sua ?alta de a?ecto, ?azem ?re>uentes declaraç@es de amor aos 6lhos, em >ue lhes dizem, repetitiva e mecanicamente, como os apreciam, mas não lhes dedicam tempo de elevada >ualidade. Os 6lhos nunca se deiHam enganar totalmente por tais palavras ocas. Conscientemente, podem agarrar;se agarrar;se a elas, >uerendo acreditar >ue são amados, mas, su$conscientemente, sa$em >ue as palavras dos pais não condizem com os seus actos.
Por outro lado, as crianças verdadeiramente amadas, em$ora possam, em momentos de ressentimento, sentir conscientemente ou proclamar >ue estão a ser negligenciadas, no su$consciente sa$em >ue são apreciadas. Nste conhecimento vale mais >ue
E
ouro. 3uando as crianças sa$em >ue são apreciadas, >uando se sentem verdadeiramente apreciadas no mais pro?undo do seu ser, sentem;se v5lidas.
O sentimento de ser v5lido ; KSou uma pessoa v5lidaK ; R essencial sade mental e um pilar da auto;disciplina. V um produto directo do amor parental. Nssa convicção deve ser ad>uirida na in?QnciaW R eHtremamente di?(cil ad>uiri;la na idade adulta. &nversamente, >uando os 6lhos aprendem a sentir;se sentir;se v5lidos atravRs do amor dos pais, R >uase imposs(vel >ue as vicissitudes da vida adulta lhes destruam o esp(rito.
Nste sentimento de ser v5lido R um pilar da auto;disciplina por>ue, >uando nos consideramos v5lidos, tomamos conta de ns de todas as ?ormas necess5rias. # auto;disciplina R auto;estima.
Por eHemplo ; 5 >ue estamos a discutir o processo de adiamento da grati6cação, de programar e ordenar o tempo eHaminemos a >uestão do tempo. Se nos sentimos v5lidos, sentimos >ue o nosso tempo R valioso, e se sentimos >ue o nosso tempo R valioso, >ueremos utiliz5;lo $em. # analista 6nanceira >ue procrastinava não valorizava o seu tempo. Se o 6zesse, não se teria permitido passar a maior parte do dia in?eliz e improdutiva. 9ão deiHou de ter conse>u8ncias para ela o ?acto de, durante toda a sua in?Qncia, ter sido KeHportadaK durante todas as ?Rrias escolares para as passar com pais KalugadosK, apesar de os pais poderem per?eitamente ter tomado conta dela se >uisessem. Nles não a apreciavam. 9ão >ueriam tomar conta dela. Portanto, ela cresceu sentindo;se sem valor, v alor, sem merecer >ue se importassem com elaW portanto, não se importava consigo prpria. 9ão achava >ue valesse a pena auto;disciplinar;se. #pesar de ser uma mulher inteligente e competente, necessitava da instrução mais elementar em auto;disciplina, por>ue lhe ?altava a avaliação realista do seu prprio valor e do valor do seu tempo. 3uando se aperce$eu de >ue o seu
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tempo era valioso, a se>u8ncia natural ?oi >uerer organiz5;lo, proteg8;lo e tirar dele o m5Himo proveito.
Nm resultado da eHperi8ncia do amor e carinho parentais slidos durante a in?Qncia, essas crianças a?ortunadas chegarão idade adulta não s com um pro?undo sentido do seu prprio valor, mas tam$Rm com um sentido pro?undo de segurança. %odas as crianças sentem o terror do a$andono, e com razão. Nste medo do a$andono surge por volta dos seis meses, logo >ue a criança se reconhece como um indiv(duo, em separado dos pais. Por>ue com esta percepção da sua individualidade, aperce$e;se de >ue, como indiv(duo, R completamente vulner5vel, totalmente dependente e est5 totalmente merc8 dos pais para todas as ?ormas de sustento e meios de so$reviv8ncia. Para a criança, o a$andono pelos pais R e>uivalente morte. # maior parte dos pais, mesmo >uando relativamente ignorantes ou rudes noutros aspectos, são instintivamente sens(veis ao medo do a$andono dos seus 6lhos e, no dia;a;dia, centenas e milhares de vezes, tran>uilizam;nos! KSa$es >ue a mamã e o pap5 não te deiHam 6carKW KClaro >ue a mamã e o pap5 te v8m $uscarKW K# mamã e o pap5 não se es>uecem de tiK. Se estas palavras corresponderem aos actos, m8s aps m8s, ano aps ano, por altura da adolesc8ncia a criança ter5 perdido o seu medo do a$andono e, por sua vez, ter5 um pro?undo sentido de >ue o mundo R um lugar seguro e de >ue a protecção est5 presente >uando R precisa. Com este sentido da solidez da segurança do mundo, essa criança sente;se vontade para adiar >ual>uer espRcie de grati6cação, sentindo;se segura por>ue sa$e >ue a grati6cação, tal como a casa e os pais, est5 sempre ali, dispon(vel >uando R preciso.
Mas muitas não t8m essa sorte. Um grande nmero de crianças R a$andonado pelos pais durante a in?Qncia por morte, por deserção, por pura neglig8ncia ou, como no caso da analista 6nanceira, por simples ?alta de a?ecto. Outras, em$ora não
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a$andonadas de ?acto, não rece$em dos pais a tran>uilização de >ue não serão a$andonadas. _5 pais, por eHemplo, >ue no deseo de aplicar a disciplina da ?orma mais ?5cil e r5pida, utilizam mesmo a ameaça de a$andono, a$erta ou su$tilmente, para conseguirem esse o$ectivo. # mensagem >ue passam aos 6lhos R! KSe não 6zeres eHactamente a>uilo >ue eu mando, não gosto mais de ti e podes adivinhar o >ue isso >uer dizer.K
3uer dizer, evidentemente, a$andono e morte. Nstes pais sacri6cam o amor pela necessidade de controlar e dominar os 6lhos e a retri$uição são 6lhos >ue t8m um medo eHcessivo do ?uturo. N R assim >ue estas crianças, a$andonadas psicologicamente ou de ?acto, chegam idade adulta sem o pro?undo sentido de >ue o mundo R um lugar seguro e protector. Pelo contr5rio, v8em o mundo como perigoso e assustador e não estão na disposição de prescindir de >ual>uer grati6cação ou segurança no presente em troca da promessa de maior grati6cação e segurança no ?uturo, uma vez >ue, para elas, o ?uturo aparece deveras duvidoso.
Nm suma, para >ue as crianças desenvolvam a capacidade de adiar a grati6cação, R necess5rio >ue tenham modelos de auto;disciplina, sentido de valor pessoal e um grau de con6ança na segurança da sua eHist8ncia. Nstes K$ensK são ad>uiridos, idealmente, atravRs da auto;disciplina e do a?ecto slido e genu(no dos paisW são as d5divas mais preciosas >ue mães e pais podem legar. 3uando estas d5divas não partem dos nossos pais, podemos o$t8;las de outras ?ontes, mas, nesse caso, o processo de a>uisição R, invariavelmente, um enorme es?orço, muitas vezes dura a vida inteira e R muitas vezes in?rut(?ero.
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)esolução dos Pro$lemas e %empo
%N9DO #:O)D#DO #*4UM#S das ?ormas em >ue o amor parental, ou a sua ?alta, pode in\uenciar o desenvolvimento da auto;disciplina de uma ?orma geral, e a capacidade de adiamento da grati6cação em particular, vamos analisar algumas das maneiras mais su$tis mas, no entanto, devastadoras, como as di6culdades de adiamento da grati6cação a?ectam a vida da maior parte dos adultos. Nn>uanto a maior parte de ns, ?elizmente, desenvolve a capacidade su6ciente de adiamento da grati6cação para completar os estudos liceais ou universit5rios e iniciar a vida adulta sem ir parar cadeia, o nosso desenvolvimento tende, no entanto, a ser imper?eito e incompleto, e, em resultado, a nossa capacidade de resolver os pro$lemas da vida continua a ser imper?eita e incompleta.
#os trinta e sete anos aprendi a arranar coisas. #tR l5, >uase todas as minhas tentativas de ?azer pe>uenas reparaç@es de canalização, arranar $rin>uedos ou montar mveis em$alados de acordo com a ?olha de
instruç@es hierogl(6cas >ue os acompanhavam, terminavam em con?usão, insucesso e ?rustração. #pesar de ter conseguido so$reviver atR ao 6m do curso de Medicina e sustentar uma ?am(lia como eHecutivo e psi>uiatra mais ou menos $em sucedido, considerava;me um idiota em termos de mecQnica. Nstava convencido de >ue tinha uma de6ci8ncia em >ual>uer gene, ou >ue, por maldição da 9atureza, me ?altava a >ualidade m(stica respons5vel pela aptidão pela mecQnica. #tR >ue um dia, no 6nal do ano em >ue 6z trinta e sete anos, ao passear num Domingo de Primavera, dei com um vizinho >ue estava a arranar uma m5>uina de cortar relva. Depois de o cumprimentar, comentei, KSa$e, tenho grande
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admiração por si. 9unca consegui arranar esse tipo de coisas nem ?azer nada do gRnero.K O meu vizinho, sem nenhuma hesitação, ripostou K&sso R por>ue não lhe dedica tempo.K Continuei o meu passeio, algo in>uieto com a simplicidade, espontaneidade e determinação da resposta. KSer5 >ue ele tem razão[K, perguntei a mim mesmo. De >ual>uer maneira, 6cou;me na memria, e na primeira oportunidade >ue surgiu de ?azer uma pe>uena reparação, lem$rei;me >ue era preciso dar;lhe tempo. O travão de mão do carro de uma doente tinha colado e ela sa$ia >ue havia >ual>uer coisa >ue se puHava por $aiHo da consola para o soltar, mas não sa$ia o >u8. Deitei; me no chão, por $aiHo do assento da ?rente do carro. *evei o tempo necess5rio a acomodar;me. 3uando me senti con?ort5vel, eHaminei a situação tran>uilamente. Olhei durante alguns minutos. &nicialmente s vi uma con?usão de ca$os e tu$os e hastes cuo signi6cado não conhecia. Mas gradualmente, sem pressa, consegui ?ocar o olhar no dispositivo de travagem e seguir o seu percurso. Nntão tornou;se claro >ue havia uma pe>uena alavanca >ue não deiHava soltar o travão. Nstudei a alavanca vagarosamente atR se tornar claro >ue, se a empurrasse para cima com a ponta do dedo, a movimentaria com ?acilidade e soltaria o travão. 'oi o >ue 6z. Um nico movimento, alguns gramas de pressão de um dedo, e o pro$lema 6cou resolvido. Nu era um mestre mecQnico 9a verdade, nem tenho conhecimentos ; nem se>uer tempo para os ad>uirir ; >ue me permitam resolver a maior parte das avarias mecQnicas, dado >ue escolhi concentrar o meu tempo em assuntos não mecQnicos. Portanto, continuo a ir a correr o6cina mais prHima. Mas agora sei >ue R uma escolha ?eita por mim, >ue não ?ui amaldiçoado, nem tenho uma de6ci8ncia genRtica, nem sou de outra ?orma incapaz ou impotente. N sei >ue eu ou >ual>uer outra pessoa, >ue não sea de6ciente mental, podemos resolver >ual>uer pro$lema se nos dispusermos a dedicar;lhe tempo.
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# >uestão R importante, principalmente por>ue muitas pessoas não se disp@em simplesmente a gastar o tempo necess5rio para resolverem muitos dos pro$lemas intelectuais, sociais ou espirituais da vida, tal como eu não o gastava para resolver pro$lemas mecQnicos. #ntes da minha iluminação mecQnica, teria en6ado a ca$eça desastradamente por $aiHo da consola do carro da minha doente, teria imediatamente puHado por uma data de 6os sem ter a menor ideia do >ue estava a ?azer e depois, não o$tendo nenhum resultado construtivo, deitaria as mãos ca$eça e diria, K9ão sou capaz.K N esta R precisamente a ?orma como muitos de ns a$ordamos outros dilemas da vida do dia;a;dia. # analista 6nanceira >ue 5 ?oi re?erida era, $asicamente, uma mãe a?ectuosa e dedicada para os dois 6lhos pe>uenos, mas pouco e6caz. Nra su6cientemente atenta e preocupada para perce$er >uando os 6lhos tinham >ual>uer pro$lema emocional ou algo não ?uncionava na ?orma como os educava. Mas depois, inevitavelmente, actuava de uma de duas maneiras! ou ?azia a primeira alteração >ue lhe vinha ca$eça numa >uestão de segundos ; o$rigando;os a comer mais ao pe>ueno;almoço ou mandando;os para a cama mais cedo, independentemente do ?acto de essa alteração ter ou não ter alguma coisa a ver com o pro$lema, ou então chegava sessão seguinte de terapia comigo o mecQnico-, e desesperava! K9ão sou capaz. O >ue hei;de ?azer[K Nsta mulher tinha uma mente per?eitamente lcida e anal(tica e, >uando não procrastinava, era per?eitamente capaz de resolver pro$lemas compleHos no seu tra$alho. 9o entanto, >uando con?rontada com um pro$lema pessoal, comportava;se como se não possu(sse >ual>uer espRcie de intelig8ncia. # >uestão era de tempo. #ssim >ue se aperce$ia de um pro$lema pessoal, sentia;se tão pertur$ada >ue eHigia uma solução imediata e não estava disposta a tolerar esse descon?orto o tempo su6ciente para analisar o pro$lema. # solução do pro$lema representava a grati;
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6cação, >ue ela não era capaz de adiar mais de um ou dois minutos, com o resultado de >ue as suas soluç@es eram ha$itualmente inade>uadas e a ?am(lia vivia em tur$ilhão crnico. 'elizmente >ue, perserverando na terapia, conseguiu aprender gradualmente a auto;disciplinar;se de ?orma a dedicar o tempo necess5rio an5lise dos pro$lemas ?amiliares para poder aplicar soluç@es ponderadas e e6cazes.
9ão ?alamos a>ui de de6ci8ncias esotRricas na resolução de pro$lemas associadas apenas a pessoas >ue mani?estam pertur$aç@es psi>ui5tricas. # analista 6nanceira R toda a gente. 3ual de ns pode a6rmar >ue dedica in?alivelmente tempo su6ciente an5lise dos pro$lemas ou tens@es das crianças da ?am(lia[ 3ual de ns R tão auto;disciplinado >ue nunca diga resignadamente ?ace aos pro$lemas, K9ão sou capazK[
De ?acto, eHiste uma de6ci8ncia na a$ordagem da resolução de pro$lemas, mais primitiva e destrutiva do >ue as tentativas precipitadas de encontrar soluç@es instantQneas, uma de6ci8ncia ainda mais omnipresente e universal. V a esperança >ue os pro$lemas desapareçam por sua prpria iniciativa. Um vendedor de trinta anos, solteiro, >ue ?azia terapia de grupo numa pe>uena cidade, começou a sair com uma mulher, recentemente separada de um dos outros mem$ros do grupo, um $an>ueiro. O vendedor sa$ia >ue o $an>ueiro era um revoltado crnico >ue se ressentia pro?undamente por a mulher o ter deiHado. %am$Rm sa$ia >ue era >uase inevit5vel >ue, mais cedo ou mais tarde, o $an>ueiro viesse a sa$er da sua relação. Sa$ia >ue a nica solução para o pro$lema seria con?essar a relação ao grupo e suportar a zanga do $an>ueiro com o apoio do grupo. Mas não ?ez nada. Passados tr8s meses, o $an>ueiro desco$riu a amizade, 6cou ?urioso como era de prever e aproveitou o incidente para deiHar a terapia. 3uando con?rontado pelo grupo >uanto ao seu comportamento destrutivo, o vendedor disse! KNu sa$ia >ue ?alar so$re o assunto ia criar uma
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con?usão e achei >ue, se não 6zesse nada, talvez escapasse sem con?usão. #cho >ue me convenci >ue, se esperasse o tempo su6ciente, o pro$lema desapareceria.K
Os pro$lemas não desaparecem. %8m >ue ser resolvidos, caso contr5rio permanecerão, constituindo sempre uma $arreira evolução e desenvolvimento do esp(rito.
O grupo mani?estou ao vendedor em termos muito claros >ue a sua tend8ncia para evitar a resolução dos pro$lemas, ignorando o pro$lema na
esperança >ue ele desaparecesse, constitu(a em si o seu maior pro$lema. 3uatro meses mais tarde, no in(cio do Outono, o vendedor concretizou uma ?antasia, despedindo;se do lugar de vendedor e montando o seu prprio negcio de reparação de mo$ili5rio, >ue não o o$rigava a viaar. O grupo criticou o ?acto de ele estar a pXr os ovos todos num s cesto e pXs em causa a sensatez de ?azer a mudança tão prHimo do &nverno, mas o vendedor assegurou;lhes >ue ganharia o su6ciente para, so$reviver com o seu novo negcio. O assunto caiu no es>uecimento. 9o in(cio de 'evereiro, ele anunciou >ue teria de deiHar o grupo por>ue não podia continuar a pagar a mensalidade. Nstava sem um tostão e tinha >ue começar a procurar outro emprego. Nm cinco meses, tinha consertado um total de oito peças de mo$ili5rio. 3uando lhe perguntaram por>ue não tinha começado a procurar emprego mais cedo, a resposta dele ?oi! K_5 seis semanas >ue sa$ia >ue o dinheiro se estava a esgotar rapidamente, mas não >ueria acreditar >ue chegaria a este ponto. %udo isto não parecia muito urgente mas agora, caram$a, R mesmo urgente.K %inha, claro, ignorado o pro$lema. 4radualmente, ?oi;se aperce$endo de >ue atR resolver o pro$lema de ignorar os pro$lemas não passaria da estaca zero ; mesmo com toda a psicoterapia do mundo.
Nsta tend8ncia para ignorar os pro$lemas R, mais uma vez, uma simples mani?estação de relutQncia em adiar a grati6cação.
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# con?rontação dos pro$lemas R, como 5 disse, dolorosa. Para en?rentar um pro$lema de in(cio, de livre vontade, antes de sermos ?orçados a ?az8;lo pelas circunstQncias, signi6ca trocar algo agrad5vel ou menos doloroso por algo mais doloroso. V escolher so?rer agora na esperança da grati6cação ?utura, em vez de escolher a continuação da grati6cação do presente na esperança >ue o so?rimento ?uturo não venha a ser necess5rio.
Pode parecer >ue o vendedor >ue ignorava pro$lemas tão $vios era emocionalmente imaturo ou psicologicamente prim5rio, mas mais uma vez vos digo, ele R toda a gente e a sua imaturidade e primitivismo eHistem em todos ns. Um grande general, comandante de um eHRrcito, disse;me uma vez! KO maior pro$lema neste eHRrcito, ou creio eu, em >ual>uer organização, R >ue a maior parte dos eHecutivos sentam;se a olhar para os pro$lemas nas suas unidades, encarando;os de ?rente, sem ?azer nada, como se os pro$lemas desaparecessem se eles l5 6carem tempo su6ciente.K
O general não se re?eria a dR$eis mentais ou anormais. 'alava de outros generais e coronRis, homens maduros com capacidades comprovadas e treinados em disciplina.
Os pais são eHecutivos e, apesar de normalmente não estarem muito $em preparados para ela, a sua tare?a pode ser tão compleHa como dirigir uma companhia ou uma empresa. N, como os eHecutivos militares, a maior parte dos pais aperce$e;se dos pro$lemas dos seus 6lhos ou da sua relação com eles durante meses ou anos antes de agirem, se o chegam a ?azer. KPens5mos >ue lhe passasse com a idade,K dizem os pais >uando consultam um psi>uiatra in?antil devido a um pro$lema >ue dura h5 cinco anos. N com respeito compleHidade da acção parental, devo dizer >ue as decis@es dos pais são di?(ceis e muitas vezes os pro$lemas in?antis Kpassam com a idadeK. Mas >uase nunca ?az mal algum tentar aud5;los a ultrapassar o pro$lema ou analis5;lo mais de perto. N en>uanto h5 crianças a >uem
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Kpassa com a idadeK, outras h5 a >uem ?re>uentemente não passaW e, como com tantos pro$lemas, >uanto mais tempo os pro$lemas das crianças ?orem ignorados, maiores se tornam e mais dolorosos e di?(ceis de resolver.
)esponsa$ilidade
9`O PODNMOS )NSO*uRm da compreensão de grande parte da raça humana. &sto por>ue temos >ue aceitar a responsa$ilidade por um pro$lema antes de o conseguirmos resolver. 9ão podemos resolver um pro$lema dizendo, KO pro$lema não R meu.K 9ão podemos resolver um pro$lema tendo esperança de >ue alguRm o resolva por ns. S posso resolver um pro$lema >uando digo KNste pro$lema R meu e compete;me resolv8;lo.K Mas muitos, tantos, tentam evitar a dor dos seus pro$lemas dizendo para consigo! KNste pro$lema ?oi;me causado por outros, ou por circunstQncias sociais ?ora do meu controle, portanto compete aos outros ou sociedade resolver;me este pro$lema. 9ão R um pro$lema pessoal meu.K
O ponto a >ue as pessoas chegam psicologicamente para ?ugir a assumir a responsa$ilidade de pro$lemas pessoais, em$ora sempre triste, R por vezes >uase rid(culo. Um sargento de carreira no eHRrcito, destacado em OkinaJa e numa situação grave devido a eHcesso de consumo de 5lcool, ?oi;me enviado para avaliação psi>ui5trica e, se poss(vel, eventual tratamento. 9egou >ue era alcolico, e atR >ue o seu consumo de 5lcool ?osse um pro$lema pessoal, dizendo, K9ão h5 nada para ?azer noite em OkinaJa eHcepto $e$er.K
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K4osta de ler[K, perguntei;lhe.
K#h, sim, claro, gosto de ler.K
KNntão por>ue não l8 noite, em vez de $e$er[K
K_5 $arulho a mais no >uartel para se conseguir ler.K
K:om, então por>ue não vai para a $i$lioteca[K
K# $i$lioteca 6ca muito longe.K
K# $i$lioteca 6ca mais longe >ue o $ar onde costuma ir[K
K:em, não sou grande leitor. %enho outro tipo de interesses.K
K4osta de pescar[K perguntei então.
KClaro, adoro pescar.K
KPor>ue não vai pesca em vez de $e$er[K
KPor>ue tenho de tra$alhar o dia todo.K
K9ão pode ir pesca de noite[K
K9ão, não se ?az pesca noite em OkinaJa.K
KOlhe >ue ?az,K disse eu. KConheço v5rias organizaç@es >ue pescam a>ui noite. 3uer >ue o ponha em contacto com elas[K
K:om, na verdade, eu não gosto de ir pesca.K
KO >ue o ouço dizer,K resumi, KR >ue h5 outras coisas para ?azer em OkinaJa sem ser $e$er, mas o >ue voc8 mais gosta de ?azer em OkinaJa R $e$er.K
KV, acho >ue sim.K
KMas $e$er est5 a causar;lhe pro$lemas, portanto voc8 tem um pro$lema para en?rentar, não tem[K
KNsta maldita ilha conduz sea >uem ?or a $e$er.K
Continuei a tentar durante algum tempo, mas o sargento não estava minimamente interessado em encarar o seu h5$ito de $e$er como um pro$lema pessoal >ue podia resolver com ou sem auda, pelo >ue comuni>uei, lamentando, ao seu comandante >ue ele não estava receptivo a assist8ncia. Continuou a $e$er e ?oi dispensado do serviço a meio da carreira.
Uma ovem esposa, tam$Rm em OkinaJa, cortou o pulso ligeiramente com uma lQmina de $ar$a e ?oi conduzida ao serviço de urg8ncia, onde a vi. Perguntei;lhe por>ue o tinha ?eito.
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KPara me matar, claro.K
KPor>ue se >uer matar[K
KPor>ue 5 não aguento esta estpida ilha. %em >ue me mandar de volta para os Nstados Unidos. ui mais tempo.K
KO >ue R >ue tem viver em OkinaJa de tão doloroso para si[K, perguntei.
Nla começou a chorar, en>uanto se lamentava K9ão tenho c5 amigos e estou sempre sozinha.K
K&sso R mau. Mas como R >ue ainda não conseguiu arranar amigos[K
KPor>ue tenho de viver numa estpida zona residencial OkinaJiana e nenhum dos meus vizinhos ?ala ingl8s.K
KPor>ue não vai atR zona residencial americana ou atR ao clu$e das senhoras durante o dia, para ?azer algumas amizades[K
KPor>ue o meu marido tem de levar o carro para o tra$alho.K
K9ão pode lev5;lo ao serviço, 5 >ue est5 sozinha e a$orrecida o dia inteiro[K
K9ão. V um carro com caiHa de velocidades e eu não sei guiar carros com caiHa de velocidades, s autom5ticos.K
KPor>ue não aprende a conduzir um carro com caiHa de velocidades[K
K9estas estradas[ O senhor deve ser doido.K
9euroses e Pertur$aç@es de Personalidade
# M#&O) P#)%N D#S pessoas >ue vem consultar um psi>uiatra so?re da>uilo a >ue se chama uma neurose ou uma pertur$ação de personalidade. Posto da ?orma mais simples, estas duas condiç@es são pertur$aç@es de responsa$ilidade e, como tal, são estilos opostos de relacionamento com o mundo e os seus
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pro$lemas. O neurtico assume demasiada responsa$ilidadeW a pessoa com uma pertur$ação de personalidade não assume a su6ciente. 3uando os neurticos entram em con\ito com o mundo, assumem automaticamente >ue a culpa R sua. 3uando os >ue t8m pertur$aç@es de personalidade entram em con\ito com o mundo, assumem automaticamente >ue a culpa R do mundo. Os dois indiv(duos atr5s descritos tinham pertur$aç@es de personalidade! o sargento achava >ue o seu h5$ito de $e$er era culpa de OkinaJa e não sua, e a mulher via;se como não tendo papel nenhum no seu prprio isolamento. Uma mulher neurtica, por outro lado, >ue tam$Rm so?ria de solidão e isolamento em OkinaJa, >ueiHava;se! KDesloco;me todos os dias ao Clu$e das Mulheres de Sargentos procura de amizades, mas não me sinto l5 vontade. #cho >ue as outras mulheres não gostam de mim. Deve haver algo de errado comigo. Devia ser capaz de ?azer amigos com maior ?acilidade. Devia ter mais iniciativa. 3uero desco$rir o >ue me ?az ser tão pouco procurada.K Nsta mulher assumia responsa$ilidade total pela sua solidão, sentindo >ue a culpa era toda sua. O >ue desco$riu no decurso da terapia ?oi >ue era uma pessoa invulgarmente inteligente e am$iciosa e >ue se sentia pouco vontade com as outras mulheres de sargentos e com o seu marido, por>ue era consideravelmente mais inteligente e am$iciosa >ue eles. Passou a ser capaz de ver >ue a sua
solidão, em$ora sendo um pro$lema seu, não era necessariamente devido a um erro ou de6ci8ncia da sua parte. Por 6m, divorciou;se, tirou um curso universit5rio ao mesmo tempo >ue educava os 6lhos, tornou;se produtora de revistas e casou com um editor de sucesso.
#tR os padr@es de discurso dos neurticos e os dos doentes de pertur$aç@es de personalidade são di?erentes. O discurso do neurtico R marcado por eHpress@es tais como KNu deviaK e KNu não deviaK, >ue indicam a imagem >ue o indiv(duo tem de si como um homem ou mulher in?erior, 6cando sempre a>uRm
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do o$ectivo, ?azendo sempre as escolhas erradas. O discurso de uma pessoa com uma pertur$ação de personalidade, no entanto, est5 recheado de Knão possoK, Knão pudeK, Ktenho deK e Ktive deK, demonstrando a imagem de um ser >ue não tem poder de escolha, cuo comportamento R completamente orientado por ?orças eHternas totalmente ?ora do seu controle. Como se pode imaginar, R ?5cil tra$alhar com neurticos em psicoterapia, em comparação com pessoas com pertur$aç@es de personalidade, por>ue assumem a responsa$ilidade das suas di6culdades e portanto reconhecem;se como tendo pro$lemas. V muito mais di?(cil, senão imposs(vel, lidar com os >ue t8m pertur$aç@es de personalidade, por>ue não se v8em como tendo pro$lemasW v8em o mundo, e não eles, a necessitar de mudança, e portanto não reconhecem a necessidade de autoan5lise. 9a verdade, muitos indiv(duos t8m uma neurose e uma pertur$ação da personalidade e são designados por Kneurticos de personalidadeK, >ue indica >ue nalgumas partes das suas vidas se v8em carregados de culpas por terem assumido responsa$ilidades >ue na realidade não são deles, en>uanto >ue noutras 5reas não assumem uma responsa$ilidade realista. 'elizmente, >uando a ? R e a con6ança desses indiv(duos no processo de psicoterapia são esta$elecidas pela auda >ue ela lhes presta no lado neurtico das suas personalidades, consegue;se ?re>uentemente lev5;los a eHaminarem e corrigirem a sua indisponi$ilidade para assumir responsa$ilidades onde R necess5rio. Poucos de ns escapamos a ser neurticos ou a ter pertur$aç@es de personalidade pelo menos atR certo ponto razão por>ue essencialmente toda a gente pode $ene6ciar da psicoterapia se estiver seriamente disposta a participar no processo-. # razão para isso R >ue o pro$lema de distinguir entre a>uilo por >ue somos ou não somos respons5veis nesta vida R um dos maiores pro$lemas da eHist8ncia humana. 9unca 6ca completamente resolvidoW durante toda a nossa vida, temos de avaliar
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e reavaliar continuamente onde estão as nossas responsa$ilidades no decurso constantemente em mudança dos acontecimentos. # avaliação e a reavaliação não deiHam de ser dolorosas por serem ?eitas ade>uada e conscienciosamente. Para eHecutar >uer um >uer outro processo ade>uadamente, devemos possuir a vontade e a capacidade de nos su$metermos a uma auto;avaliação cont(nua. N essa capacidade ou vontade não R inerente a nenhum de ns. 9um certo sentido, todas as crianças t8m distr$ios de personalidade, pela sua tend8ncia instintiva de negar a responsa$ilidade por muitos con\itos em >ue se encontram envolvidas. #ssim, dois irmãos >ue lutam culpar;se;ão sempre mutuamente por ter começado a $riga e cada um negar5 peremptoriamente ter sido o culpado. Da mesma ?orma, todas as crianças t8m neuroses, uma vez >ue instintivamente assumirão a responsa$ilidade por certas privaç@es por>ue passam mas >ue ainda não compreendem. #ssim, a criança >ue não R amada pelos pais assumir;se;5 sempre como não sendo pass(vel de ser amada em vez de reconhecer nos pais uma de6ciente capacidade de amar. Ou os adolescentes mais ovens >ue ainda não são convidados para sair ou não são $em sucedidos nos desportos, >ue se v8em como seres humanos gravemente de6cientes e não como as \ores tardias mas per?eitamente normais >ue normalmente são. S atravRs de uma grande eHperi8ncia e de uma longa e $em sucedida maturação ad>uirimos a capacidade de ver o mundo e o nosso lugar nele de uma ?orma realista e assim somos capazes de avaliar realisticamente a nossa responsa$ilidade por ns e no mundo.
Os pais podem ?azer muito para audar os 6lhos neste processo de maturação. Ocorrem milhares de oportunidades, en>uanto os 6lhos crescem, em >ue os pais os podem con?rontar com a sua tend8ncia para evitar ou escapar responsa$ilidade pelos seus actos ou em >ue podem tran>uiliz5;los em como certas situaç@es não decorrem de ?alta sua. Mas agarrar
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essas oportunidades, como 5 disse, re>uer dos pais sensi$ilidade s necessidades dos 6lhos e disposição de lhes dedicar o tempo e o es?orço,
muitas vezes descon?ort5vel, de ?azer ?ace a essas necessidades. O >ue, por sua vez, eHige amor e vontade de assumir a responsa$ilidade ade>uada pela melhoria do desenvolvimento dos 6lhos.
Por outro lado, mesmo para alRm da simples insensi$ilidade e neglig8ncia, h5 muito >ue os pais podem ?azer para preudicar este processo de maturação. Os neurticos, pela sua disposição de assumir responsa$ilidade, podem ser pais eHcelentes se as suas neuroses ?orem relativamente ligeiras e não estiverem tão so$recarregados de responsa$ilidades desnecess5rias >ue pouca energia lhes reste para as responsa$ilidades necess5rias da paternidade. #s pessoas com pertur$aç@es de personalidade, no entanto, tornam;se pais desastrosos, per?eitamente alheios ao ?acto de muitas vezes tratarem os 6lhos duma ?orma terrivelmente destrutiva. Diz;se >ue Kos neurticos tornam;se in?elizesW os >ue t8m pertur$aç@es de personalidade tornam todos os outros in?elizesK. #cima de tudo, os pais com pertur$aç@es de personalidade tornam in?elizes os seus 6lhos. Como noutras 5reas das suas vidas, não assumem a devida responsa$ilidade pela paternidade. %endem a sacudir os 6lhos de mil e uma maneiras, em vez de lhes prestarem a atenção de >ue precisam. 3uando os 6lhos são delin>uentes ou t8m di6culdades nos estudos, os pais com pertur$aç@es de personalidade automaticamente atri$uirão a culpa ao sistema da escola ou a outras crianças >ue, insistem, eHercem Km5 in\u8nciaK nos seus 6lhos. Nsta atitude, claro, ignora o pro$lema. Por ?ugirem responsa$ilidade, os pais com pertur$aç@es de personalidade servem de modelos de irresponsa$ilidade aos 6lhos. 'inalmente, nos seus es?orços de ?ugir responsa$ilidade pelas suas prprias vidas, os pais com pertur$aç@es de personalidade muitas vezes atri$uem;na aos 6lhos! K
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razão por>ue continuo casada com o vosso pai ou casado com a vossa mãe- R por vossa causaK, ou K# vossa mãe tem os nervos em ?rana por vossa causaK, ou KPodia ter tirado um curso e ser uma pessoa de sucesso se não tivesse >ue vos sustentarK. Desta ?orma, os pais estão de ?acto a dizer aos 6lhos, Kualidade do meu casamento, pela minha sade mental e pela minha ?alta de sucesso na vida.K Uma vez >ue não t8m a capacidade de avaliar >uão inade>uada R essa atitude, as crianças aceitam muitas vezes a responsa$ilidade, e na medida em >ue a aceitam, tornam;se neurticas. V assim >ue os pais com pertur$aç@es de personalidade >uase invariavelmente dão origem a crianças com
pertur$aç@es de personalidade ou neurticas. São os prprios pais >ue ?azem recair os seus pecados so$re os 6lhos.
9ão R apenas no seu papel de pais >ue os indiv(duos com pertur$aç@es de personalidade são ine6cazes e destrutivosW estes mesmos traços de car5cter re\ectem;se normalmente no casamento, nas amizades e nos negcios ; em todas as 5reas da eHist8ncia em >ue eles recusam assumir responsa$ilidade pela respectiva >ualidade. &sto R inevit5vel 5 >ue, como ?oi dito, nenhum pro$lema pode ser resolvido atR >ue o indiv(duo assuma a responsa$ilidade de o resolver. 3uando os indiv(duos com pertur$aç@es de personalidade culpam uma outra pessoa ; cXnuge, 6lho, amigo, pai, patrão ; ou outra coisa ; as m5s in\u8ncias, as escolas, o governo, o racismo, o seHismo, a sociedade, o KsistemaK ; pelos seus pro$lemas, eles persistem. 9ada se conseguiu. #o reeitar a responsa$ilidade eles podem sentir;se $em consigo prprios, mas deiHaram de resolver os pro$lemas da vida, de crescer espiritualmente e tornaram;se um peso morto para a sociedade. Passaram a sua dor para a sociedade. # ?rase dos anos sessenta atri$u(da a Nldridge Cleaver- ?ala a todos ns para sempre! KSe não ?azes parte da solução, ?azes parte do pro$lema.K
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'uga da *i$erdade
3U#9DO UM PS&3U%)# diagnostica uma pertur$ação de personalidade R por>ue o padrão de evasão responsa$ilidade R relativamente \agrante no indiv(duo so$ diagnstico. 9o entanto, >uase todos ns, de vez em >uando, tentamos escapar ; por ?ormas por vezes $astante su$tis ; dor de assumir a responsa$ilidade dos nossos pro$lemas. Pela cura da minha prpria pertur$ação de personalidade, aos trinta anos, estou em d(vida para com Mac :adgel+. 9a altura, Mac era director da cl(nica de Psi>uiatria am$ulatria onde eu estava a ?azer o est5gio. 9essa cl(nica, os doentes eram distri$u(dos pelos outros internos e por mim, em regime de rotação. %alvez por>ue eu ?osse mais dedicado aos meus doentes e minha prpria ?ormação do >ue a maior parte dos meus colegas internos, dei por mim a tra$alhar muito mais horas do >ue eles. Nles normalmente viam doentes s uma vez por semana. Nu, muitas vezes, via os meus doentes duas ou tr8s vezes por semana. Nm conse>u8ncia, via os meus colegas sairem da cl(nica todas as tardes s >uatro e meia para irem para casa, en>uanto >ue eu
tinha consultas marcadas atR s oito ou nove da noite, o >ue me enchia de ressentimento. b medida >ue me ?ui ressentindo cada vez mais e 6cando cada vez mais eHausto, perce$i >ue havia alguma coisa a ?azer. 'ui ?alar com o Dr. :adgel+ e eHpli>uei;lhe a situação. Perguntei;lhe se podia ser dispensado da rotação na aceitação de novos doentes durante algumas semanas de maneira a poder recuperar, se ele achasse >ue era poss(vel, ou se ele via outra solução >ual>uer para o pro$lema. Mac ouviu;me atenta e receptivamente, sem me interromper uma nica vez. 3uando terminei, aps um momento de sil8ncio, ele disse;me, simpaticamente,
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K:om, veo >ue tem mesmo um pro$lema.K
Sorri amplamente, sentindo;me compreendido. KO$rigado,K disse eu. KO >ue acha >ue se deve ?azer[K
#o >ue Mac respondeu, KL5 lhe disse, Scott, voc8 tem um pro$lema.K
Nsta não era $em a resposta >ue eu esperava. KSim,K disse eu, ligeiramente a$orrecido, Keu sei >ue tenho um pro$lema. 'oi por isso >ue vim ?alar consigo. O >ue acha >ue devo ?azer a esse respeito[K
Mac respondeu! KScott, parece;me >ue não ouviu o >ue eu lhe disse. Nu ouvi;o e estou de acordo consigo.
KCaram$a,K disse eu, Keu sei >ue tenho um pro$lema. L5 sa$ia >uando a>ui cheguei. # >uestão R, o >ue R >ue vou ?azer[K
KScott,K respondeu Mac, K>uero >ue ouça. Ouça com atenção e eu vou repetir. Concordo consigo. %em um pro$lema. Nspeci6camente, tem um pro$lema de tempo. O seu tempo. 9ão o meu tempo. V o seu pro$lema, com o seu tempo. ue vou dizer so$re o assunto.K
ue ele tinha uma pertur$ação grave de personalidade. Senão, como podia ter sido tão insens(vel[ Nu tinha ido ter com ele humildemente para lhe pedir uma pe>uena auda, um pe>ueno conselho, e o estupor nem se>uer tinha >uerido assumir a responsa$ilidade de tentar audar;me, atR como director da cl(nica. Se não lhe competia audar a gerir este tipo de pro$lemas como director da cl(nica, então >ue dia$o lhe competia[
Mas, tr8s meses depois, l5 me aperce$i de >ue Mac tinha razão, >ue era eu, e não ele, >ue tinha a pertur$ação de personalidade. O meu tempo era da minha responsa$ilidade.
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Competia;me a mim e s a mim decidir como >ueria utilizar e organizar o meu tempo. Se >ueria investir mais tempo no tra$alho >ue os meus colegas, a escolha era minha e as conse>u8ncias dessa escolha eram da minha responsa$ilidade. Podia ser doloroso para mim ver os meus colegas sair duas ou tr8s horas antes de mim, e podia ser doloroso ouvir as reclamaç@es da minha mulher por eu não me dedicar su6cientemente ?am(lia, mas essas eram as conse>u8ncias da escolha >ue eu tinha ?eito. Se eu não as >uisesse so?rer, tinha a li$erdade de escolher não tra$alhar tanto e de organizar o meu tempo de maneira di?erente. O meu es?orço no tra$alho não era uma carga imposta por m5 sina ou por um director cl(nico sem coraçãoW era a ?orma como eu tinha escolhido viver e ordenar as minhas prioridades. De ?acto, escolhi não mudar o meu estilo de vida. Mas com a mudança de atitude, desapareceu o ressentimento contra os meus colegas. L5 não ?azia sentido continuar ressentido com eles por terem escolhido um estilo de vida di?erente do meu, >uando eu tinha toda a li$erdade de escolher ser como eles se >uisesse. )essentir;me com eles era ressentir;me com a minha escolha de ser di?erente deles, uma escolha >ue me satis?azia.
# di6culdade >ue temos em aceitar a responsa$ilidade do nosso comportamento est5 no deseo de evitar a dor das conse>u8ncias desse comportamento. #o pedir ao Mac :adgel+ >ue assumisse a responsa$ilidade da estruturação do meu tempo, eu estava a tentar evitar a dor de tra$alhar
muitas horas, ainda >ue tra$alhar muitas horas ?osse a conse>u8ncia inevit5vel da minha escolha de me dedicar aos meus doentes e minha ?ormação. 9o entanto, ao ?az8;lo, eu estava inconscientemente a tentar aumentar a autoridade de Mac so$re mim. Nstava a dar;lhe o meu poder, a minha li$erdade. Com e?eito, estava a dizer;lhe, K%oma conta de mim. S8 o che?eK Sempre >ue procuramos evitar a responsa$ilidade pelo nosso comportamento, ?azemo;lo tentando passar essa responsa$ilidade
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para outro indiv(duo, organização ou entidade. Mas isto signi6ca >ue estamos a entregar o nosso poder a essa entidade, sea o KdestinoK ou a KsociedadeK, o governo, a empresa ou o che?e. Nsta R a razão por>ue Nrich 'romm atri$uiu o t(tulo, tão $em escolhido, de 'uga da *i$erdade ao seu estudo so$re o 9azismo e o autoritarismo. #o tentar ?ugir dor da responsa$ilidade, milh@es e atR $ili@es de pessoas tentam diariamente ?ugir da li$erdade.
Conheço um indiv(duo $rilhante mas reservado >ue, >uando o deiHo, ?ala elo>uentemente e sem parar das ?orças opressivas na nossa sociedade! o racismo, a desigualdade entre os seHos, o sistema militar;industrial e a pol(cia local, >ue em$irra com ele e com os amigos por causa do ca$elo comprido. )epetidamente, tenho tentado ?azer;lhe ver >ue ele não R uma criança. 3uando crianças, em virtude da nossa real e enorme depend8ncia, ou nossos pais t8m um real e enorme poder so$re ns. De ?acto, t8m uma grande responsa$ilidade pelo nosso $em;estar e encontramo;nos na verdade, em grande medida, sua merc8. 3uando os pais são opressivos, como R ?re>uente, os 6lhos não t8m praticamente nenhum poder de reacçãoW as escolhas são limitadas. Mas como adultos, >uando 6sicamente saud5veis, as nossas escolhas são >uase ilimitadas. &sto não >uer dizer >ue não seam dolorosas. Com ?re>u8ncia, as nossas escolhas situam;se entre o menor de dois males, mas continua a estar ao nosso alcance ?az8;las. Sim, concordo com o meu conhecido, eHistem ?orças opressivas em acção no mundo. %emos, no entanto, a li$erdade de escolher a cada passo a ?orma como vamos responder e mano$rar essas ?orças. Nle escolheu viver numa zona do pa(s onde a pol(cia não gosta dos Ktipos de ca$elo compridoK e continua a deiHar o ca$elo crescer. V livre de se mudar para a cidade, ou de cortar o ca$elo, ou atR de se candidatar a comiss5rio da pol(cia. Mas, apesar do seu $rilhantismo, ele não reconhece essas li$erdades. Opta por se lamentar
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da sua ?alta de poder pol(tico em vez de aceitar e eHultar com o seu imenso poder pessoal. 'ala do amor li$erdade e das ?orças opressivas >ue o restringem, mas de cada vez >ue ?ala de como R vitimado por essas ?orças est5 de ?acto a entregar a sua li$erdade. Nspero >ue um dia, em $reve, ele deiHe de se revoltar contra a vida s por>ue algumas das escolhas são dolorosasZ.
# Dra. _ilde :ruch, no pre?5cio do seu livro #prendendo Psicoterapia, a6rma >ue, $asicamente, todos os doentes vão ao psi>uiatra com Kum pro$lema comum! a sensação de desamparo, o receio e a pro?unda convicção de ser incapaz de ]lidar] com as coisas e mud5;lasKZZ. Uma das ra(zes desta Ksensação de impot8nciaK na maioria dos pacientes R o deseo de escapar, parcial ou completamente, dor da li$erdade e, portanto, a ?alta, parcial ou total, de aceitação da responsa$ilidade pelos seus pro$lemas e pelas suas vidas. Sentem;se impotentes por>ue, de ?acto, alienaram o seu poder. Mais cedo ou mais tarde, se se >uiserem curar, terão >ue aprender >ue toda a vida adulta consiste numa sRrie de escolhas e decis@es pessoais. Se aceitarem isso na totalidade, tornar;se;ão pessoas livres. Nn>uanto não o aceitarem, sentir;se;ão v(timas para sempre.
Z O psi>uiatra #llen ^heelis ?oi, a meu ver, >uem mais elo>uentemente e atR mais poeticamente de6niu a >uestão da li$erdade de escolha entre dois males, no cap(tulo K'reedom and 9ecessit+K do seu livro _oJ People Change 9ova &or>ue! _arper C )oJ, /0F-. Nstive tentado a citar o cap(tulo na totalidade, e recomendo;o a todos os >ue >uiserem eHplorar esta >uestão mais a ?undo. 9otaZZ *earning Ps+chotherap+, Cam$ridge, Mass., _arvard Univ. Press, /0E, p. iH.
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Dedicação )ealidade
O %N)CN&)O &9S%)UMN9%O de disciplina ou da tRcnica de gerir a dor da resolução dos pro$lemas, >ue tem >ue ser continuamente aplicada se >ueremos >ue as nossas vidas seam saud5veis e >ue os nossos esp(ritos evoluam, R a dedicação verdade. Super6cialmente, isto seria $vio. Por>ue a verdade R a realidade. #>uilo >ue R ?also, R irreal. 3uanto mais claramente virmos a realidade do mundo, melhor preparados estaremos para nos relacionarmos com ele. 3uanto menos clara ?or a nossa visão da realidade do mundo ; >uanto mais a nossa mente ?or con?undida por ?alsidades, mal;entendidos e ilus@es ; menos capazes seremos de determinar as linhas de actuação correctas e de tomar decis@es acertadas. # nossa visão da realidade R como um mapa com o >ual transpomos o terreno da vida. Se o mapa ?or verdadeiro e rigoroso, sa$emos em geral onde estamos e, se decidirmos para onde >ueremos ir, sa$emos em geral como l5 chegar. Se o mapa ?or ?also e pouco preciso, em geral perdemo;nos.
Nm$ora tudo isto sea $vio, constitui algo >ue a maioria das pessoas, em maior ou menor grau, tende a ignorar. &gnoram;no por>ue o nosso caminho para a realidade não R ?5cil. Primeiro, não nascemos com mapasW temos >ue os ?azer, e ?az8;los eHige es?orço. 3uanto mais es?orço 6zermos para apreciar e compreender a realidade, tanto maiores e mais precisos serão os nossos mapas. Mas muitos não >uerem ?azer esse es?orço. #lguns deiHam de o ?azer no 6m da adolesc8ncia. Os mapas deles são pe>uenos e mal desenhados, a sua visão do mundo estreita e enganadora. 9o 6m da meia; idade, a maior parte das pessoas desiste. %8m a certeza de >ue os seus mapas estão com;
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pletos e >ue o seu ^eltanschauung est5 correcto na verdade, atR sacrossanto-, e deiHam de se interessar por novas in?ormaç@es. Como se estivessem cansadas. #penas relativamente poucas e a?ortunadas pessoas continuam, atR ao momento da morte, a eHplorar o mistRrio da realidade, sempre aumentando, re6nando e rede6nindo o seu entendimento do mundo e do >ue R verdadeiro.
Mas o maior pro$lema da ?eitura dos mapas não R ter de começar do zero, mas o ter de os rever constantemente, se >ueremos >ue seam rigorosos. O
prprio mundo est5 em constante mudança. Os glaciares vão e v8m. #s culturas vão e v8m. _5 muito pouca tecnologia, h5 demasiada tecnologia. Duma ?orma ainda mais dram5tica, o ponto privilegiado de onde vemos o mundo est5 constante e rapidamente em mudança. 3uando somos crianças, somos dependentes, desamparados. Como adultos, podemos ser poderosos. 9o entanto, por doença ou velhice, podemos tornar;nos novamente desamparados e dependentes. Nn3uanto temos crianças de >uem cuidar, o mundo parece;nos di?erente do >ue >uando não temosW >uando criamos $e$Rs, o mundo R di?erente de >uando criamos adolescentes. 3uando somos po$res, o mundo parece di?erente de >uando somos ricos. Somos diariamente $om$ardeados com novas in?ormaç@es >uanto natureza da realidade. Se >ueremos incorporar essa in?ormação, temos de rever os nossos mapas continuamente, e, por vezes, >uando se acumula in?ormação su6ciente, temos >ue proceder a revis@es alargadas. O processo de ?azer revis@es, principalmente revis@es alargadas, R doloroso, por vezes tremendamente doloroso. N eis a maior ?onte de muitos dos males da humanidade.
O >ue acontece >uando se lutou longa e arduamente para desenvolver uma visão ?uncional do mundo, um mapa aparentemente til e utiliz5vel, e se R depois con?rontado com nova in?ormação >ue sugere >ue essa visão est5 errada e >ue o mapa
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tem de ser su$stancialmente re?eito[ O doloroso es?orço eHigido parece assustador, >uase inultrapass5vel. O >ue ?azemos, na maior parte das vezes, e normalmente inconscientemente, R ignorar a nova in?ormação. Muitas vezes, este acto de ignorar R muito mais do >ue passivo. Podemos denunciar a nova in?ormação como ?alsa, perigosa, herRtica, um acto do dia$o. Podemos ?azer campanha contra ela e atR tentar manipular o mundo para o austar nossa visão da realidade. Nm vez de tentar mudar o mapa, o indiv(duo pode tentar destruir a nova realidade. *amentavelmente, essa pessoa pode gastar muito mais energia, no limite, a de?ender uma visão ultrapassada do mundo, do >ue a >ue seria necess5ria para a rever e corrigir desde o in(cio.
%rans?er8ncia! o Mapa Ultrapassado
NS%N P)OCNSSO DN SN agarrar activamente a uma visão ultrapassada da realidade R a $ase de muitas doenças mentais. Os psi>uiatras designam;na por trans?er8ncia. NHistem provavelmente tantas variantes su$tis da de6nição de trans?er8ncia como h5 psi>uiatras. # minha de6nição pessoal R! trans?er8ncia R o conunto de ?ormas de percepção e reacção ao mundo, >ue R desenvolvido na in?Qncia e >ue normalmente R totalmente ade>uado ao am$iente da in?Qncia na verdade, muitas vezes vital-, mas >ue R inade>uadamente trans?erido para o am$iente adulto.
#s ?ormas de mani?estação da trans?er8ncia, em$ora sempre invasoras e destrutivas, são muitas vezes discretas. 9o entanto, os eHemplos mais claros devem ser eHpl(citos. Um desses eHemplos ?oi o de um doente cuo tratamento não resultou por ?orça da sua trans?er8ncia. Nra um tRcnico de computadores $rilhante, mas mal sucedido, com trinta e poucos anos, >ue me consultou por>ue a mulher o tinha deiHado, levando com ela
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os dois 6lhos. Nle não estava especialmente in?eliz por a ter perdido, mas estava destroçado pela perda dos 6lhos, a >uem era pro?undamente dedicado. 'oi na esperança de os reaver >ue iniciou a psicoterapia, uma vez >ue a mulher tinha declarado 6rmemente >ue não voltaria para ele se não se su$metesse a tratamento psi>ui5trico. #s suas maiores >ueiHas contra ele eram de >ue ele mani?estava continuamente um cime irracional a seu respeito, no entanto mantinha;se simultaneamente indi?erente, ?rio, distante, não comunicativo e não a?ectuoso. %am$Rm se >ueiHava das suas mudanças de emprego ?re>uentes. # vida dele desde a adolesc8ncia tinha sido marcadamente inst5vel. Durante a adolesc8ncia, tinha;se envolvido repetidamente em pe>uenas altercaç@es com a pol(cia, e tinha sido detido tr8s vezes por em$riaguez, $eligerQncia, Kvaga$undagemK e por Kinter?erir com os deveres de um pol(ciaK. 9ão aca$ou a universidade, onde estava a tirar o curso de engenharia elRctrica, por>ue, dizia ele, KOs meus pro?essores eram uma cam$ada de hipcritas, pouco di?erentes da pol(cia.K Devido ao seu $rilhantismo e criatividade no campo das tecnologias de in?ormação, os seus serviços eram muito procurados pela indstria. Mas nunca tinha sido capaz de progredir ou conservar um emprego durante mais de um ano e meio, sendo despedido ocasionalmente, mas despedindo;se muitas vezes na se>u8ncia de disputas com os che?es, >ue descrevia como Kmentirosos e traidores, interessados apenas em se protegerem a si prpriosK. # sua eHpressão mais ?re>uente era K9ão se pode con6ar em ninguRmK. Descrevia a sua in?Qncia como KnormalK e os pais como KmedianosK. 9o $reve per(odo >ue passou comigo, no entanto, re?eriu
casualmente e sem emoção inmeras situaç@es em >ue os pais lhe tinham ?alhado. Prometeram;lhe uma $icicleta pelo anivers5rio, mas es>ueceram;se e deram;lhe outra coisa >ual>uer. Uma vez, es>ueceram;se completamente do seu anivers5rio, mas ele não achava >ue isso
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estivesse drasticamente errado por>ue Keles tinham muito >ue ?azerK. Prometiam;lhe ?azer coisas com ele ao 6m;de;semana, mas depois estavam normalmente Kdemasiado ocupadosK. &nmeras vezes, es>ueceram;se de o ir $uscar a reuni@es ou ?estas por>ue Ktinham muito em >ue pensarK.
O >ue aconteceu a este homem ?oi >ue, em criança, so?reu dolorosas desilus@es, uma aps outra, devido ?alta de a?ecto por parte dos pais. 4radual ou repentinamente ; não sei como ; chegou angustiante conclusão, a meio da in?Qncia, >ue não podia con6ar nos pais. 3uando compreendeu isso, no entanto, começou a sentir;se melhor e a vida tornou; se mais con?ort5vel. L5 não alimentava eHpectativas em relação aos pais, nem esperanças >uando lhe ?aziam promessas. 3uando deiHou de con6ar nos pais, a ?re>u8ncia e a gravidade das desilus@es diminuiu dramaticamente.
Nste auste, no entanto, R a $ase de pro$lemas ?uturos. Para uma criança, os pais são tudoW representam o mundo. # criança não tem perspectiva para ver >ue outros pais são di?erentes e muitas vezes melhores. Parte do princ(pio >ue a ?orma como os pais ?azem as coisas R a ?orma como devem ser ?eitas. Nm conse>u8ncia disso, a conclusão ; a KrealidadeK a >ue esta criança chegou não ?oi K9ão posso con6ar nos meus paisK, mas K9ão posso con6ar nas pessoasK. 9ão con6ar nas pessoas tornou;se o mapa com >ue entrou na adolesc8ncia e na idade adulta. Com este mapa e uma acumulação a$undante de ressentimento >ue resultou das suas muitas desilus@es, era inevit5vel >ue entrasse repetidamente em con\ito com as 6guras da autoridade ; pol(cia, pro?essor, patr@es. N estes con\itos s serviram para re?orçar o seu sentimento de >ue não podia con6ar nas pessoas >ue tinham alguma coisa para lhe dar no mundo. %eve muitas oportunidades de rever o mapa, mas deiHou;as passar todas. Por um lado, a nica maneira como podia aprender >ue havia pessoas no mundo em >uem podia
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con6ar seria arriscar;se a con6ar nelas e isso eHigiria um desvio no mapa, para começar. Por outro, essa reaprendizagem eHigir;&he;ia rever a visão >ue tinha dos pais ; compreender >ue não o amavam, >ue não teve uma in?Qncia normal e >ue os pais não eram medianos na sua indi?erença s suas necessidades. Nssa compreensão teria sido eHtremamente dolorosa. 'inalmente, por>ue a sua descon6ança das pessoas era uma adaptação realista realidade da sua in?Qncia, era uma adaptação >ue ?uncionava em termos de lhe diminuir a dor e o so?rimento. Uma vez >ue R eHtremamente di?(cil desistir duma adaptação >ue ?uncionou tão $em, ele continuou o seu percurso de descon6ança, criando inconscientemente situaç@es >ue serviam para a re?orçar, alienando;se de todos, tornando imposs(vel a ?ruição do amor, do carinho, da intimidade e do a?ecto. 9em se>uer se permitia aproHimar;se da mulherW ela tam$Rm não merecia con6ança. #s nicas pessoas com >uem se podia relacionar intimamente eram os dois 6lhos. Nram os nicos >ue controlava, >ue não tinham autoridade so$re ele, os nicos em todo o mundo em >uem podia con6ar.
3uando estão envolvidos pro$lemas de trans?er8ncia, como R ha$itual, a psicoterapia R, para alRm de outras coisas, um processo de revisão de mapas. Os doentes procuram a terapia por>ue os seus mapas realmente não ?uncionam. Mas como se agarram a eles e lutam contra o processo a cada passo 're>uentemente, a necessidade de se agarrarem aos mapas e de lutarem para não os perderem R tão grande >ue a terapia se torna imposs(vel, como aconteceu no caso do tRcnico de in?orm5tica. &nicialmente, pediu a consulta aos S5$ados. Depois de tr8s sess@es deiHou de vir por>ue tinha arranado um emprego a tratar de relvados aos S5$ados e Domingos. Propus;lhe a consulta s 3umtas;?eiras noite. ue estava a ?azer horas eHtraordin5rias na ?5$rica. )eorganizei então a minha agenda de ?orma a rece$8;lo s Segundas
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noite, dia em >ue era, segundo ele dizia, improv5vel haver horas eHtraordin5rias. Depois de duas sess@es, no entanto, deiHou de vir por>ue as horas eHtraordin5rias Segunda;?eira pareciam estar a aumentar. Con?rontei;o com a impossi$ilidade de ?azer terapia nestas circunstQncias.
Nle admitiu >ue não lhe era eHigido ?azer horas eHtraordin5rias. 9o entanto, declarou >ue precisava do dinheiro e >ue, para ele, o tra$alho era mais importante do >ue a terapia. Nstipulou >ue podia vir s consultas apenas nas Segundas noite em >ue não houvesse tra$alho eHtra e >ue me tele?onaria s >uatro da tarde todas as Segundas;?eiras para me avisar se podia vir consulta na mesma noite. Disse;lhe >ue não podia aceitar essas condiç@es, >ue não estava disposto a alterar os meus planos todas as Segundas;?eiras noite pela possi$ilidade de ele vir consulta. Nle achou >ue eu estava a ser demasiado r(gido, >ue não me preocupava com as suas necessidades, >ue s me interessava o meu tempo e >ue claramente não me importava nada com ele e, portanto, >ue não merecia con6ança. 'oi nesta $ase >ue a nossa tentativa de tra$alharmos untos terminou, e eu passei a constar do seu mapa como mais um marco.
O pro$lema da trans?er8ncia não R simplesmente um pro$lema entre os psicoterapeutas e os seus doentes. V um pro$lema entre pais e 6lhos, maridos e mulheres, patr@es e empregados, entre amigos, entre grupos e atR entre naç@es. V interessante re\ectir, por eHemplo, no papel >ue as >uest@es de trans?er8ncia representam nas relaç@es internacionais. Os nossos l(deres nacionais são seres humanos >ue tiveram in?Qncias e eHperi8ncias na in?Qncia >ue os moldaram. 3ue mapa seguia _itler e de onde surgiu[ 3ue mapa seguiam os l(deres americanos ao iniciar, eHecutar e manter a guerra no ue se seguiu. De >ue ?ormas contri$uiu a eHperi8ncia nacional da Depressão para o mapa deles, e a eHperi8ncia dos anos cin;
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>uenta e sessenta para o mapa da geração mais nova[ Se a eHperi8ncia nacional dos anos trinta e >uarenta contri$uiu para o comportamento dos l(deres americanos no lançamento da guerra no uava essa eHperi8ncia realidade dos anos sessenta e setenta[ Como poderemos rever os nossos mapas mais rapidamente[
%anto a verdade como a realidade são evitadas >uando dolorosas. S podemos rever os nossos mapas >uando possu(mos a disciplina para ultrapassar essa dor. Para ter essa disciplina, devemos ser totalmente dedicados verdade. &sso >uer dizer >ue devemos sempre considerar a verdade, na medida em >ue a podemos determinar, mais importante, mais
vital para o nosso interesse pessoal, do >ue o nosso con?orto. &nversamente, devemos sempre considerar o nosso descon?orto pessoal relativamente sem importQncia e atR encar5;lo positivamente ao serviço da $usca da verdade. # sade mental R um processo permanente de dedicação realidade a todo o custo.
#$ertura ao Desa6o
O 3UN S&49&'&C# UM# vida de dedicação total verdade[ Signi6ca, antes de mais, uma vida de auto;eHame cont(nuo e in6nitamente rigoroso. S conhecemos o mundo atravRs da nossa relação com ele. Portanto, para conhecermos o mundo, não s temos de o eHaminar como, simultaneamente, temos de eHaminar o eHaminador. Os psi>uiatras aprendem isto durante a sua ?ormação e sa$em >ue R imposs(vel compreender realisticamente os con\itos e trans?er8ncias dos seus pacientes sem entenderem as suas prprias trans?er8ncias e con\itos. Por essa razão, os psi>uiatras são encoraados a su$meter;se a psicoterapia ou a psican5lise como parte da sua ?ormação e desenvolvi;
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mento. &n?elizmente, nem todos os psi>uiatras correspondem a esta solicitação. _5 muitas pessoas, entre elas psi>uiatras, >ue analisam o mundo com rigor mas >ue não se analisam a elas prprias tão rigorosamente. Podem ser indiv(duos competentes, na medida em >ue o mundo considera a compet8ncia, mas nunca são s5$ios ou não possuem $om senso-. # vida de sa$edoria deve ser uma vida de contemplação aliada a acção. 9o passado, na cultura americana, a contemplação não ?oi muito considerada. 9a dRcada de cin>uenta, as pessoas classi6caram #diai Stevenson como um KintelectualK e achavam >ue ele não daria um $om Presidente precisamente por ser um homem contemplativo, dado a meditação pro?unda e com dvidas. L5 tenho ouvido pais dizerem aos 6lhos, com toda a seriedade, KPensas demais.K O >ue R um a$surdo, dado >ue são os nossos lo$os ?rontais, a nossa capacidade de pensar e de nos eHaminarmos, >ue nos torna humanos. 'elizmente, esse tipo de atitude parece estar a mudar e começamos a compreender >ue as ?ontes de perigo para o mundo se encontram mais dentro de ns do >ue ?ora, e >ue o processo de constante auto;an5lise e contemplação R essencial para a nossa so$reviv8ncia. 9o entanto, re6ro;me a um nmero relativamente pe>ueno de pessoas >ue estão a mudar de atitude. # an5lise do mundo
eHterior nunca R pessoalmente tão dolorosa como a an5lise do mundo interior, e R certamente devido dor >ue envolve uma vida de auto;eHame >ue a maioria se desvia dela. 9o entanto, >uando se R dedicado verdade, esta dor parece relativamente sem importQncia ; e cada vez menos importante e portanto cada vez menos dolorosa- medida >ue se avança no caminho da auto;an5lise.
Uma vida de dedicação total verdade signi6ca tam$Rm uma vida disposta a aceitar o desa6o pessoal. # nica maneira de termos a certeza de >ue o nosso mapa da realidade R v5lido R eHpX;lo cr(tica e ao desa6o dos outros ?a$ricantes de mapas. Caso contr5rio, vivemos num sistema ?echado ; dentro de
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uma redoma, utilizando a analogia de S+lvia Plath, em >ue respiramos s o nosso prprio ar ?Rtido, cada vez mais sueitos a alucinaç@es. 9o entanto, devido dor inerente ao processo de revisão do nosso mapa da realidade, tentamos a maior parte do tempo evitar ou a?astar >uais>uer desa6os sua validade. #os 6lhos dizemos, K9ão me respondas, sou teu pai.K #o cXnuge enviamos a mensagem, K
Z 9ão s os indiv(duos mas tam$Rm as organizaç@es são notrias em proteger;se contra o desa6o. Uma vez, o Che?e de Pessoal do NHRrcito solicitou;me >ue preparasse uma an5lise das causas psicolgicas das atrocidades de M+ *ai e o seu posterior enco$rimento, com recomendaç@es para proceder a uma investigação >ue pudesse evitar tal comportamento no ?uturo. #s recomendaç@es ?oram reprovadas pelo >uadro geral do NHRrcito, com a usti6cação de >ue a investigação recomendada não poderia ser mantida em segredo. K# eHist8ncia de uma tal investigação pode a$rir portas a um desa6o posterior. O Presidente e o NHRrcito não t8m necessidade de mais desa6os, neste momento.K 'oi o >ue me disseram. #ssim, uma an5lise das raz@es dum incidente >ue ?ora enco$erto ?oram, por sua vez, enco$ertas. Nste comportamento não se limita ao NHRrcito ou
Casa :rancaW pelo contr5rio, R comum ao Congresso, a outras ag8ncias ?ederais, empresas, atR universidades e organizaç@es de caridade ; em resumo, a todas as organizaç@es humanas. %al como R necess5rio aos indiv(duos aceitar e atR $endizer os desa6os colocados aos seus mapas de realidade e modi operandi, se >uiserem evoluir em sa$edoria e em e6ci8ncia, tam$Rm R necess5rio s organizaç@es aceitar e $endizer desa6os, se >uiserem ser vi5veis e progressivas. Nste ?acto tem vindo a ser cada vez mais reconhecido por indiv(duos como Lohn 4ardner da Causa Comum, para >uem R claro >ue uma das tare?as mais eHcitantes e essenciais >ue a nossa] sociedade en?renta nas prHimas dRcadas R construir, na estrutura $urocr5tica das nossas organizaç@es, uma a$ertura e uma resposta institucionalizadas ao desa6o >ue su$stituir5 a resist8ncia institucionalizada >ue R t(pica correntemente
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# tend8ncia para evitar o desa6o est5 tão omnipresente nos seres humanos >ue pode ser considerada uma caracter(stica da natureza humana. Mas, por lhe chamarmos natural, não >uer dizer >ue sea um comportamento essencial, $enR6co ou imut5vel. %am$Rm R natural de?ecar nas calças e nunca lavar os dentes. 9o entanto, ensinamo;nos a ?azer o >ue não R natural atR >ue se torne uma segunda natureza. 9a verdade, a auto; disciplina podia ser de6nida como o ensinarmo;nos a ?azer o >ue não R natural. Outra caracter(stica da natureza humana talvez a >ue nos torna mais humanos ; R a nossa capacidade de ?azermos o >ue não R natural, de transcendermos e da( trans?ormarmos a nossa prpria natureza.
9enhum acto R menos natural, e portanto mais humano, >ue o acto de nos su$metermos psicoterapia. Por>ue, por esse acto, a$rimo;nos deli$eradamente ao mais pro?undo desa6o por parte de outro ser humano e atR lhe pagamos pelo serviço de escrut(nio e discernimento. Nste colocarmo; nos a$ertos ao desa6o R uma das coisas >ue o deitarmo;nos no so?5 do psicanalista pode sim$olizar. Su$metermo;nos psicoterapia R um acto da maior coragem. # razão principal por>ue as pessoas não ?azem psicoterapia não R a ?alta de dinheiro, mas sim a ?alta de coragem. &sto inclui mesmo muitos psi>uiatras >ue, por >ual>uer razão, nunca acham conveniente su$meterem;se a terapia, apesar de terem ainda mais raz@es >ue os outros para se sueitarem disciplina >ue ela envolve. Por outro lado, R por possu(rem essa coragem >ue muitos doentes, mesmo no in(cio da terapia e contrariamente sua imagem estereotipada, são mais ?ortes e saud5veis >ue a mRdia.
Sendo a psicoterapia uma ?orma limite de nos a$rirmos ao desa6o, as nossas interacç@es mais $anais o?erecem diariamente oportunidades de arriscar a a$ertura! unto da m5>uina da 5gua, em reunião, no campo de gol?e, mesa de antar, na cama com as luzes apagadasW com os nossos colegas, che?es e
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empregados, com os nossos companheiros, amigos, amantes, com os nossos pais ou 6lhos. Uma senhora muito $em penteada, >ue se tratou comigo durante algum tempo, começou a pentear;se de cada vez >ue se levantava do so?5 no 6m de uma sessão. Comentei este novo padrão de comportamento. K_5 umas semanas atr5s o meu marido reparou >ue eu tinha o ca$elo achatado atr5s >uando regressei da sessão,K eHplicou ela, corando. KNu não lhe disse por>u8. %enho medo >ue ?aça troça de mim se sou$er >ue me deito no so?5 a>ui.K Portanto, t(nhamos outra >uestão para analisar. O grande valor da psicoterapia deriva do grau em >ue a disciplina envolvida durante a Khora de cin>uenta minutosK passa para os a?azeres e relaç@es di5rios do paciente. # cura do esp(rito não 6ca completa atR >ue a a$ertura ao desa6o sea uma ?orma de vida. Nsta mulher não estaria completamente $em en>uanto não conseguisse ser tão directa com o marido como era comigo.
Nntre todos os >ue vão ao psi>uiatra ou ao psicoterapeuta, muito poucos procuram inicialmente, de uma ?orma consciente, o desa6o ou a educação na disciplina. # maior parte procura apenas Kal(vioK. 3uando perce$em >ue vão ser desa6ados, mas tam$Rm apoiados, muitos ?ogem, e outros sentem; se tentados a ?ugir. Nnsinar;lhes >ue o nico al(vio verdadeiro advir5 atravRs do desa6o e da disciplina R uma tare?a delicada, muitas vezes longa e ?re>uentemente sem sucesso. 'alamos, portanto, de KseduzirK os doentes para a psicoterapia. N podemos re?erir;nos a doentes a >uem tratamos h5 um ano ou mais, dizendo K#inda não se iniciaram realmente na psicoterapiaK.
9a psicoterapia, a a$ertura R especialmente encoraada ou eHigida, dependendo do ponto de vista- atravRs da tRcnica de Klivre associaçãoK. 3uando se utiliza esta tRcnica, diz;se ao doente! K%raduza em palavras o >ue >uer >ue lhe venha mente, por mais insigni6cante, em$araçoso,
doloroso ou sem signi6cado >ue pareça. Se lhe vier mente mais de uma coisa
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de cada vez, deve escolher a>uela da >ual sente mais relutQncia em ?alar.K V mais ?5cil dizer do >ue ?azer. #pesar de tudo, os >ue se es?orçam conscienciosamente, duma maneira geral, progridem rapidamente. Mas alguns resistem de tal maneira ao desa6o >ue se limitam a 6ngir >ue ?azem livre associação. Pairam muito so$re isto e a>uilo, mas omitem os pormenores cruciais. Uma mulher R capaz de ?alar durante uma hora de eHperi8ncias desagrad5veis da in?Qncia, mas não mencionar >ue o marido a con?rontou de manhã com o ?acto de ela ter deiHado a conta no $anco a desco$erto em mil dlares. Nstes doentes tentam trans?ormar a hora de psicoterapia numa espRcie de con?er8ncia de imprensa. 9a melhor das hipteses, estão a perder tempo nesse es?orço de evitar o desa6o e, normalmente, caem numa ?orma discreta de mentira.
Para >ue os indiv(duos e organizaç@es se encontrem a$ertos ao desa6o, R necess5rio >ue os seus mapas da realidade esteam verdadeiramente a$ertos inspecção do p$lico. V preciso mais do >ue con?er8ncias de imprensa. # terceira coisa >ue uma vida de total dedicação verdade signi6ca R, portanto, uma vida de total honestidade. Signi6ca um processo cont(nuo e sem 6m de auto;monitorização a 6m de assegurarmos >ue as nossas comunicaç@es ; não s as palavras >ue dizemos mas tam$Rm a ?orma como as dizemos ; invariavelmente re\ictam, duma ?orma tão precisa >uanto humanamente poss(vel, a verdade ou a realidade tal como as conhecemos.
Uma tal honestidade não surge sem dor. # razão por>ue as pessoas mentem R evitar a dor do desa6o e as suas conse>u8ncias. # mentira do Presidente 9iHon so$re ^atergate não ?oi mais so6sticada nem di?erente em espRcie da de um mido de >uatro anos >ue mente mãe so$re a maneira como o candeeiro caiu da mesa e se partiu. 9a medida em >ue a natureza do desa6o R leg(tima e normalmente R-, mentir R uma tentativa de dri$lar o so?rimento leg(timo e, assim, provoca doença mental.
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O conceito de dri$lar levanta a >uestão do KatalhoK. Sempre >ue tentamos dri$lar um o$st5culo, procuramos um caminho para o nosso o$ectivo >ue sea mais ?5cil e portanto mais r5pido! um atalho. Crendo >ue o desenvolvimento do esp(rito humano R o o$ectivo da eHist8ncia humana, sou o$viamente dedicado noção de progresso. Nst5 certo >ue, como seres humanos, devemos evoluir e progredir tão r5pido >uanto poss(vel. Nst5, portanto, certo >ue nos sirvamos de >ual>uer atalho leg(timo para o desenvolvimento pessoal. # palavra chave no entanto, R Kleg(timoK. Os seres humanos t8m tanta tend8ncia para ignorar os atalhos leg(timos como para procurar os ileg(timos. N, por eHemplo, um atalho leg(timo estudar a sinopse de um livro, em vez de ler todo o livro original, na preparação de um eHame de curso. Se a sinopse ?or $oa, e a matRria ?or a$sorvida, podem ad>uirir;se os conhecimentos essenciais duma ?orma >ue poupa muito tempo e es?orço. Copiar, no entanto não e um atalho leg(timo. Pode poupar ainda mais tempo e, se ?or $em sucedido, pode ?azer com >ue o autor tenha nota para passar no eHame e o$tenha a co$içada licenciatura. Mas não ad>uiriu os conhecimentos essenciais. Portanto, a licenciatura e uma mentira, uma ?arsa. 9a medida em >ue a licenciatura se torna a $ase da vida, a vida da>uele >ue copiou trans?orma;se numa mentira e numa ?arsa e R, muitas vezes, dedicada a proteger e preservar a mentira.
# verdadeira psicoterapia R um atalho leg(timo para o desenvolvimento pessoal, >ue R muitas vezes ignorado. Um dos racioc(nios mais ?re>uentes para a ignorar R pXr em causa a sua legitimidade, dizendo! K)eceio >ue a psicoterapia se torne uma muleta. 9ão >uero 6car dependente de uma muleta.K Mas isto constitui normalmente uma ?orma de enco$rir outros receios mais signi6cativos. O uso da psicoterapia não R mais uma muleta do >ue a utilização de um martelo e de pregos para construir uma casa. Pode; se construir a casa sem martelo e sem
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pregos, mas o processo R geralmente pouco e6ciente ou dese5vel. Poucos carpinteiros entrarão em desespero devido sua depend8ncia do martelo e dos pregos. Da mesma ?orma, R poss(vel conseguir o desenvolvimento pessoal sem recorrer psicoterapia, mas a tare?a R muitas vezes desnecessariamente a$orrecida, longa e di?(cil. 4eralmente, ?az sentido utilizar os instrumentos dispon(veis como atalho. Por outro lado, a
psicoterapia pode ser procurada como um atalho ileg(timo. &sto acontece mais vulgarmente em certos casos de pais >ue procuram psicoterapia para os 6lhos. 3uerem >ue os 6lhos mudem de alguma maneira! >ue deiHem a droga, >ue deiHem de ?azer $irras, >ue deiHem de ter m5s notas, etc.. #lguns pais esgotaram 5 os seus recursos na tentativa de audar os 6lhos e consultam o psicoterapeuta na genu(na disposição de se aplicarem na resolução do pro$lema. Outros v8m com mani?esto conhecimento da causa do pro$lema da criança, na eHpectativa de >ue o psi>uiatra possa ?azer algo de m5gico para a criança mudar sem ter >ue mudar a causa $5sica do pro$lema. Por eHemplo, alguns pais dirão a$ertamente! KSa$emos >ue temos um pro$lema no nosso casamento e >ue R prov5vel >ue isso tenha algo a ver com o pro$lema do nosso 6lho. #pesar disso, não >ueremos inter?er8ncias no nosso casamentoW não >ueremos >ue ?aça terapia connoscoW >ueremos >ue tra$alhe s com o nosso 6lho, se poss(vel, para o audar a ser mais ?eliz.K Outros são menos a$ertos. #presentam;se pro?essando a vontade de ?azer tudo o >ue ?or necess5rio, mas >uando se lhes eHplica >ue os sintomas da criança são a eHpressão do ressentimento >ue tem pelo seu estilo de vida, >ue não deiHa espaço para a sua educação, dirão, KV rid(culo pensar >ue nos devemos virar do avesso por ele,K e irão procurar outro psi>uiatra, >ue lhes possa o?erecer um atalho sem dor. Mais tarde dirão provavelmente aos amigos e a si prprios, K'izemos tudo o >ue era poss(vel pelo nosso 6lhoW atR 5 consult5mos >uatro psi>uiatras di?erentes, mas nada audou.K
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Mentimos, claro, não s aos outros mas tam$Rm a ns prprios. Os desa6os nossa adaptação ; os nossos mapas das nossas prprias consci8ncias e das nossas percepç@es realistas podem ser tão leg(timos e dolorosos como >ual>uer desa6o do p$lico. Da mir(ade de mentiras >ue as pessoas ?re>uentemente dizem a si prprias, duas das mais comuns, potentes e destrutivas são K9s amamos verdadeiramente os nossos 6lhosK e KOs nossos pais amavam;nos verdadeiramenteK. Pode ser >ue os nossos pais nos amassem e >ue amemos os nossos 6lhos, mas >uando não R esse o caso, as pessoas dão;se a um eHtraordin5rio tra$alho para ?ugir compreensão. )e6ro;me ?re>uentemente psicoterapia como o Kogo da verdadeK ou o Kogo da honestidadeK por>ue o seu o$ectivo R, entre outros, audar os doentes a con?rontar essas mentiras. Uma das ra(zes da doença mental R invariavelmente uma rede de mentiras >ue nos ?oram ditas e de mentiras >ue dissemos a ns prprios. Nstas ra(zes s podem ser eHpostas e eHtirpadas numa atmos?era de total honestidade. Para criar essa atmos?era, R necess5rio >ue os terapeutas tragam para a sua relação com os doentes uma capacidade total de a$ertura e de verdade. Como podemos esperar
>ue um doente suporte a dor de con?rontar a realidade se não suportarmos a mesma dor[ S podemos conduzir na medida em >ue caminharmos ?rente.
Omissão da
#s MN9%&)#S PODNM SN) divididas em dois tipos! mentiras $rancas e mentiras negras. # mentira negra R uma a6rmação >ue ?azemos sa$endo >ue R ?alsa. # mentira $ranca R uma a6rmação >ue ?azemos, >ue não R ?alsa em si, mas >ue omite uma parte signi6cativa da verdade. O ?acto de uma mentira ser
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$ranca não a torna menos mentira nem mais desculp5vel. #s mentiras $rancas podem ser tão destruidoras como as negras.Z Um governo >ue esconde do povo in?ormaç@es essenciais atravRs da censura não R mais democr5tico do >ue o >ue ?ala ?alsamente. # doente >ue não mencionou >ue tinha deiHado a desco$erto a conta ?amiliar, estava a impedir o seu desenvolvimento terap8utico tanto >uanto se tivesse mentido directamente. 9a verdade, por parecer menos repreens(vel, a omissão de in?ormação essencial R a ?orma mais comum de mentir, e por ser mais di?(cil de detectar e con?rontar, R ?re>uentemente mais perniciosa do >ue a mentira negra.
# mentira $ranca R considerada socialmente aceit5vel em muitas das nossas relaç@es por>ue Knão >ueremos magoar as pessoasK. 9o entanto, somos capazes de lamentar o ?acto de as nossas relaç@es sociais serem geralmente super6ciais. 3uando os pais contam s crianças uma >uantidade de mentiras $rancas, não s R considerado aceit5vel como se acha amoroso e $enR6co. Mesmo maridos e mulheres >ue tiveram a coragem su6ciente de serem ?rontais um com o outro t8m por vezes di6culdade em o serem com os 6lhos. 9ão dizem aos 6lhos >ue ?umam mariuana, ou >ue discutiram um com o outro na noite anterior so$re a sua relação, ou >ue se ressentem com os avs por serem manipuladores, ou >ue o mRdico disse a um deles ou a am$os >ue t8m pertur$aç@es psicossom5ticas, ou >ue estão a ?azer um investimento arriscado, ou atR >uanto dinheiro t8m no $anco. 9ormalmente, essa omissão e ?alta de a$ertura R racionalizada com o argumento de desearem proteger e de?ender os 6lhos de preocupaç@es desnecess5rias. 9o entanto, a
Z # C, >ue tem uma especialização particular nesta 5rea, usa naturalmente um sistema de classi6cação mais ela$orado e ?alar5 de propaganda $ranca, cinzenta e negra. # propaganda cinzenta seria uma nica mentira negra, e a propaganda negra seria uma mentira negra atri$u(da ?alsamente a outra ?onte.
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maior parte das vezes, essa KprotecçãoK R mal sucedida. Os 6lhos sa$em, de >ual>uer maneira, >ue a Mamã e o Pap5 ?umam erva, >ue discutiram na vRspera, >ue estão ressentidos com os avs, >ue a Mamã anda nervosa e >ue o Pap5 est5 a perder dinheiro. O resultado, então, não R protecção mas privação. Os 6lhos são privados do conhecimento >ue podiam ad>uirir so$re o dinheiro, a doença, as drogas, o seHo, o casamento, os pais, os avs e as pessoas em geral. São tam$Rm privados da tran>uilização >ue poderiam ter se estes assuntos ?ossem discutidos mais a$ertamente. 'inalmente, são privados de modelos de a$ertura e de honestidade e, em vez disso, ?ornecem;lhes modelos de honestidade parcial, a$ertura incompleta e coragem limitada. Para alguns pais, o deseo de KprotegerK os 6lhos R motivado por amor genu(no, em$ora mal orientado. Para outros, no entanto, o deseo Ka?ectuosoK de proteger os 6lhos serve mais de co$ertura e racionalização de um deseo de evitarem ser >uestionados pelos 6lhos, e um deseo de manter a sua autoridade so$re eles. Nsses pais estão, de ?acto, a dizer, KOlhem, meninos, continuem a ser crianças com preocupaç@es in?antis e deiHem as preocupaç@es adultas connosco. ue vos amam. Nssa imagem R $oa para am$os, portanto, não a desa6em. 'az;nos sentir ?ortes, e a voc8s seguros, e ser5 mais ?5cil para todos se não analisarmos estas coisas demasiado a ?undo.K
#pesar de tudo, pode surgir um verdadeiro con\ito >uando o deseo de honestidade total R contrariado pela necessidade >ue algumas pessoas t8m de certo tipo de protecção. Por eHemplo, mesmo os pais >ue t8m casamentos eHcelentes podem, ocasionalmente, considerar o divrcio como opção poss(vel, mas in?ormar os 6lhos numa altura em >ue não R nada prov5vel optarem pelo divrcio R colocar;lhes um ?ardo desnecess5rio. # ideia de divrcio R eHtremamente ameaçadora para o sentido de segurança de uma criança ; na verdade, tão amea;
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çadora >ue as crianças não t8m a capacidade de a apreenderem com grande perspectiva. Sentem;se gravemente ameaçadas pela possi$ilidade de divrcio mesmo >uando R remota. Se o casamento dos pais estiver de6nitivamente des?eito, os 6lhos lidarão com a ameaçadora possi$ilidade de divrcio >uer os pais ?alem ou não so$re ele. Mas se o casamento ?or $asicamente são, os pais estariam a preudicar os 6lhos se dissessem com total a$ertura, K# Mamã e o Pap5 conversaram ontem noite so$re a possi$ilidade de nos divorciarmos, mas desta vez não R nada a sRrio.K Um outro eHemplo R >ue os psicoterapeutas t8m muitas vezes >ue resguardar dos doentes os seus pensamentos, opini@es e critRrios na ?ase inicial da psicoterapia, por os doentes não se encontrarem ainda em condiç@es de os apreender ou de lidar com eles. Durante o meu primeiro ano de ?ormação psi>ui5trica, um doente, >uarta consulta, relatou um sonho >ue eHprimia o$viamente uma preocupação com a homosseHualidade. 9o meu deseo de parecer um terapeuta $rilhante e de avançar rapidamente, disse;lhe, KO seu sonho indica >ue est5 preocupado por poder ser homosseHual.K 'icou visivelmente ansioso e não apareceu nas tr8s consultas seguintes. 'oi custa de muito tra$alho e ainda de mais sorte >ue o consegui persuadir a regressar terapia. %ivemos mais umas vinte sess@es atR ele ter de sair da zona por ter sido destacado em serviço. Nssas sess@es ?oram;lhe eHtremamente $enR6cas apesar de nunca mais termos levantado a >uestão da homosseHualidade. O ?acto de o seu su$consciente estar preocupado com a >uestão não signi6cava >ue ele estivesse apto a lidar com ela conscientemente e, por não ser capaz de não lhe revelar o meu racioc(nio, não 6z um $om tra$alho, e >uase o perdi não s como meu doente como de >ual>uer outro colega.
# retenção selectiva das opini@es de cada um tam$Rm tem >ue ser praticada de vez em >uando no mundo dos negcios ou da pol(tica se se >uiser ser $envindo aos centros do poder. Se as
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pessoas dissessem sempre o >ue pensam so$re as grandes e as pe>uenas >uest@es, seriam consideradas insu$ordinadas pelo comum dos che?es, e uma ameaça para a organização pela gestão. #d>uiririam a reputação de
mordazes e seriam consideradas demasiado indignas de con6ança para alguma vez serem nomeadas como representantes de uma organização. 9ão h5 volta a dar ao ?acto de >ue, para se ser $em sucedido dentro de uma organização, tem >ue se tornar parcialmente uma Kpessoa da organizaçãoK, circunspecta na eHpressão de opç@es individuais, ?undindo por vezes a identidade pessoal com a da organização. Por outro lado, se consideramos a nossa e6c5cia numa organização o nico o$ectivo do comportamento organizacional, permitindo apenas a eHpressão das opini@es >ue não levantam ondas, estamos a permitir >ue o 6m usti6>ue os meios e a perder integridade e identidade pessoal tornando;nos pessoas totalmente da organização. O caminho >ue um grande eHecutivo tem >ue percorrer entre a conservação e a perda da sua identidade e integridade R eHtraordinariamente estreito e muito, muito poucos conseguem levar a viagem a $om termo. V um enorme desa6o.
Portanto, a eHpressão das opini@es, dos sentimentos, das ideias e atR do conhecimento deve ser suprimida nestas e em muitas outras circunstQncias nas relaç@es humanas. 3ue regras se podem então seguir >uando se R dedicado verdade[ Primeiro, nunca pronunciar ?alsidades. Segundo, ter em conta >ue o acto de omitir a verdade R sempre, potencialmente, uma mentira e >ue, em cada situação em >ue a verdade R omitida, h5 >ue tomar uma decisão moral signi6cativa. %erceiro, a decisão de omitir a verdade não deve ser nunca $aseada em necessidades pessoais, tais como a necessidade de poder, de >ue gostem de ns ou de proteger o nosso mapa contra desa6os. 3uarto, e ao contr5rio, a decisão de omitir a verdade deve ser sempre $aseada inteiramente nas necessidades da pessoa ou
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pessoas a >uem se omite a verdade. 3uinto, a avaliação das necessidades de outrem R um acto de responsa$ilidade tão compleHo >ue s pode ser eHecutado sa$iamente >uando se age com verdadeiro amor pelo outro. SeHto, o ?actor principal na avaliação das necessidades de outrem R a avaliação da capacidade dessa pessoa utilizar a verdade para o seu prprio desenvolvimento espiritual. 'inalmente, ao avaliar a capacidade de outrem de utilizar a verdade para desenvolvimento espiritual pessoal, deve ser tido em conta >ue a nossa tend8ncia R geralmente de su$avaliar mais do >ue so$reavaliar essa capacidade. %udo isto pode parecer uma tare?a eHtraordin5ria, imposs(vel de alguma vez se vir a completar per?eitamente, um peso crnico e in6nito, uma verdadeira chatice. N R de ?acto um peso in6nito de auto;disciplina, razão pela >ual a maior parte das pessoas opta por uma vida de honestidade e a$ertura limitadas e relativa reserva,
escondendo;se a elas prprias e aos seus mapas do mundo. V mais ?5cil assim. 9o entanto, as compensaç@es da vida di?(cil de honestidade e dedicação verdade são mais do >ue proporcionais s eHig8ncias. Nm virtude do ?acto de os seus mapas serem continuamente >uestionados, as pessoas a$ertas são pessoas >ue se desenvolvem continuamente. #travRs da sua a$ertura, são capazes de esta$elecer e manter relaç@es (ntimas duma ?orma muito mais e6caz do >ue as pessoas mais reservadas. Por>ue nunca dizem ?alsidades, estão seguras e orgulhosas por sa$erem >ue nada 6zeram para contri$uir para a con?usão do mundo, mas >ue serviram de ?ontes de iluminação e clari6cação. 'inalmente, são totalmente livres. 9ão estão so$recarregadas pela necessidade de se esconderem. 9ão t8m >ue passar envergonhadamente pelas som$ras. 9ão t8m >ue ?a$ricar novas mentiras para esconder as antigas. 9ão precisam de se es?orçar a apagar rastos ou a manter dis?arces. N, por 6m, desco$rem >ue a energia necess5ria auto;disciplina da honestidade R muito menor do >ue a
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eHigida pelo secretismo. 3uanto mais honesto se R, mais ?5cil R continuar a ser;se honesto, tal como >uanto mais mentiras se dizem, mais necess5rio se torna voltar a mentir. Pela sua a$ertura, as pessoas dedicadas verdade vivem em espaço a$erto, e atravRs do eHerc(cio da sua coragem de viver em espaço a$erto, li$ertam;se do medo.
Manutenção do N>uil($rio
PO) NS%# #*%U)# NSPN)O >ue estea claro >ue o eHerc(cio da disciplina R não s uma tare?a eHigente como compleHa, >ue re>uer \eHi$ilidade e $om senso. #s pessoas coraosas t8m de se es?orçar continuamente para serem inteiramente honestas e ainda assim possu(rem a capacidade de omitir a verdade >uando conveniente. Para sermos pessoas livres, temos >ue assumir responsa$ilidade total por ns prprios, mas ao mesmo tempo devemos possuir a capacidade de reeitar a responsa$ilidade >ue não nos ca$e verdadeiramente. Para sermos organizados e e6cientes, para vivermos sensatamente, devemos adiar a grati6cação diariamente e estar alerta em relação ao ?uturoW no entanto, para vivermos com alegria devemos ainda possuir a capacidade, >uando não destrutiva, de viver no presente e agir espontaneamente. Por outras palavras, a prpria disciplina deve ser disciplinada. O tipo de disciplina necess5rio para disciplinar a disciplina R o
>ue eu chamo manter o e>uil($rio, e constitui o >uarto e ltimo tipo >ue pretendo a>ui analisar.
Manter o e>uil($rio R a disciplina >ue nos d5 \eHi$ilidade. N necess5ria uma eHtraordin5ria \eHi$ilidade para viver $em em todas as es?eras de actividade. Para utilizar s um eHemplo, consideremos a >uestão da ira e da sua eHpressão. # ira R uma emoção >ue nos R incutida e em organismos menos evolu(dos-
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por inmeras geraç@es da nossa evolução a 6m de estimular a nossa so$reviv8ncia. Sentimos ira sempre >ue nos aperce$emos >ue outro organismo tenta apoderar;se do nosso territrio geogr56co ou psicolgico ou >ue tenta, de uma ou doutra ?orma, diminuir;nos. *eva;nos a ripostar. Sem a ira, ser(amos constantemente espezinhados, atR 6carmos completamente esmagados e eHterminados. S com a ira podemos so$reviver. so$reviver. 9o entanto, na maior parte das vezes, >uando inicialmente ulgamos >ue outros nos >uerem invadir, compreendemos ao analisar mais de perto >ue não R nada essa a sua intenção. Ou mesmo >uando determinamos >ue as pessoas t8m verdadeira intenção de nos invadir, podemos chegar conclusão de >ue, por uma ou outra razão, não R do nosso melhor interesse corresponder a essa imposição com ira. #ssim, R preciso >ue os centros mais elevados do nosso cRre$ro a razão- seam capazes de regular e modular os menos elevados a emoção-. Para ?uncionar com sucesso no nosso mundo compleHo, R necess5rio possuir a capacidade não s de eHprimir a nossa clera como tam$Rm de não a eHprimir. eHprimir. Mais ainda, devemos deter a capacidade de mani?estar a nossa ira de ?ormas di?erentes. _5 alturas, por eHemplo, em >ue R necess5rio eHprimi; la aps prolongada deli$eração e auto;avaliação. 9outras, R mais $enR6co mani?est5;la imediata e espontaneamente. bs vezes R melhor eHprimi;la ?ria e calmamenteW outras vezes, ruidosa r uidosa e ardentemente. Portanto, não s precisamos de sa$er como lidar com a nossa clera de ?ormas di?erentes em circunstQncias diversas, como tam$Rm como ade>uar o estilo de eHpressão a cada circunstQncia. Para gerirmos a ira ade>uada e competentemente, precisamos de um sistema de resposta ela$orado e \eH(vel. 9ão R portanto de admirar >ue a aprendizagem da gestão da ira sea uma tare?a compleHa, >ue normalmente não se consegue completar antes da idade adulta, ou atR da meia idade, e >ue muitas vezes nunca chega a ser completada.
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Nm maior ou menor grau, toda a gente so?re de imper?eiç@es dos seus sistemas de resposta \eH(veis. Muito do tra$alho da psicoterapia consiste em tentar audar os doentes a permitir ou a tornar os seus sistemas de resposta mais \eH(veis. 4eralmente, >uanto mais tolhidos pela ansiedade, culpa ou insegurança são os doentes, mais di?(cil e rudimentar se torna este tra$alho. Por eHemplo, tra$alhei com uma es>uizo?rRnica coraosa de trinta e dois anos para >uem ?oi uma verdadeira revelação 6car a sa$er >ue havia homens >ue não devia deiHar entrar em casa, alguns >ue podia deiHar entrar para a sala mas não para o >uarto, e outros >ue podia deiHar entrar para o >uarto. #ntes disso, tinha actuado com um sistema de resposta pelo >ual ou deiHava toda a gente entrar para o >uarto ou, >uando essa resposta parecia não ?uncionar, não deiHava ninguRm entrar em casa. #ssim, saltava entre uma promiscuidade degradante e um 5rido isolamento. Com a mesma mulher, tivemos >ue passar v5rias v5ria s sess@es a concentrarmo;nos na >uestão dos cart@es de agradecimento. Nla sentia;se na o$rigação de escrever cartas ela$oradas, manuscritas, per?eitas nas ?rases e palavras, em resposta a cada presente ou convite >ue rece$ia. &nevitavelmente, não podia carregar continuamente um ?ardo tão pesado, com o resultado de >ue ou não escrevia cartão nenhum ou reeitava todos os presentes e convites. Mais uma vez, 6cou espantada ao sa$er >ue alguns presentes não re>ueriam cart@es de agradecimento e >ue, >uando eram esperados, uma $reve nota era por vezes su6ciente.
# sade mental madura eHige, portanto, uma eHtraordin5ria capacidade de manter \eH(vel e continuamente um e>uil($rio delicado entre necessidades, o$ectivos, deveres, responsa$ilidades, instruç@es, etc., em con\ito. # ess8ncia desta disciplina de manter o e>uil($rio R KprescindirK. *em$ro;me da primeira vez >ue me ensinaram isto, numa manhã de
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eHplorava alegremente as dimens@es da minha nova ha$ilidade. # cerca de uma milha da nossa casa, a estrada descia por uma colina (ngreme e curvava a$ruptamente ao ?undo. #o descer a colina em roda livre na>uela manhã, sentia;me eHtasiado medida >ue aumentava a velocidade.
Prescindir do 8Htase, usando os trav@es, parecia um castigo auto;in\igido a$surdo. Portanto, Portanto, resolvi manter simultaneamente a velocidade e empreender a curva ao ?undo. ? undo. O meu 8Htase terminou segundos mais tarde >uando ?ui proectado meia dzia de metros para ?ora da estrada e para o meio da mata. 'i>uei todo arranhado e a sangrar, e a roda da ?rente da $icicleta torcida e intil, aps o em$ate numa 5rvore. %inha perdido o e>uil($rio.
Manter o e>uil($rio R uma disciplina precisamente por>ue o acto de prescindir de alguma coisa R doloroso. 9este caso, eu não estava disposto a so?rer a dor de prescindir da minha eHtasiante velocidade a ?avor de manter o e>uil($rio na curva. 'i>uei a sa$er, no entanto, >ue a perda de e>uil($rio R no limite mais dolorosa do >ue o prescindir necess5rio para manter o e>uil($rio. Duma ?orma ou doutra, R uma lição >ue tenho tido >ue reaprender continuamente pela vida ?ora. Como toda a gente, por>ue medida >ue empreendemos as curvas e es>uinas das nossas vidas, temos >ue prescindir continuamente de partes de ns. # nica alternativa R não viaar de ?orma nenhuma na estrada da vida.
Pode parecer estranho, mas a maior parte das pessoas escolhe esta alternativa e decide não continuar a viagem da vida ; 6ca pelo caminho ; para evitar a dor de prescindir de partes de si prpria. Se parece estranho, R por>ue não se compreende o alcance da dor >ue pode estar envolvida. 9as suas ?ormas mais agudas, a renncia R a mais dolorosa das eHperi8ncias humanas. #tR agora re?eri apenas ?ormas menores de renncia ; prescindir da velocidade, do luHo da clera espontQnea, da segurança da ira retida ou da simplicidade de um
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cartão de agradecimento. ue são necess5rias se se >uer ir muito longe na viagem da vida.
Uma noite, recentemente, decidi passar algum tempo livre a construir uma relação mais ?eliz e mais mai s prHima com a minha 6lha de catorze anos. _5 v5rias semanas >ue ela insistia comigo para ogarmos Hadrez, por isso sugeri um ogo. Nla aceitou com entusiasmo e sent5mo;nos para um ogo
muito e>uili$rado e motivador. Nra vRspera de dia de escola, no entanto, e s nove horas a minha 6lha perguntou;me se podia apressar as ogadas, por>ue ela tinha de ir para a camaW tinha >ue se levantar s seis da manhã. Nu sa$ia >ue ela era eHtremamente disciplinada nos seus h5$itos de sono e achei >ue ela devia ser capaz de prescindir de alguma dessa rigidez. Disse; lhe, KOra, por uma vez podes ir para a cama um $ocadinho mais tarde. 9ão se devem começar ogos ogos >ue não se podem aca$ar. Nstamos a divertir;nos.K divertir;nos.K Log5mos mais uns >uinze minutos, minutos, durante os >uais ela ?oi 6cando visivelmente incomodada. 'inalmente, implorou, KPor ?avor, pap5, por ?avor, despacha;te a ogar.K ogar.K K9ão, caram$a,K respondi eu. KO Hadrez R um ogo sRrio. Se se >uer ogar $em, $e m, tem >ue se ogar devagar. devagar. Se não se >uer ogar a sRrio, mais vale não ogar de todo.K N assim, com ela a sentir;se pro?undamente in?eliz, continu5mos por mais dez minutos, atR >ue de repente a minha 6lha se des?ez em l5grimas, gritou >ue me deiHava ganhar a>uele estpido ogo e correu a chorar pela escada acima.
Senti;me imediatamente como se tivesse outra vez nove anos, deitado a sangrar no meio do mato $eira da estrada, ao lado da $icicleta. Nra evidente >ue tinha cometido um erro. Nra evidente >ue tinha calculado mal a curva da estrada. %inha começado o serão >uerendo passar um $om $ocado com a
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minha 6lha. 9oventa minutos depois ela estava des?eita em l5grimas e tão zangada comigo >ue mal podia ?alar. ?alar. O >ue tinha corrido mal[ # resposta era $via. Mas eu não >ueria ver a resposta, por isso levei duas horas a lidar com di6culdade com a dor de aceitar o ?acto de >ue tinha estragado a noite por permitir >ue o meu deseo de ganhar um ogo de Hadrez se tornasse mais importante >ue o meu deseo de construir uma relação com a minha 6lha. Nntão 6>uei seriamente deprimido.
Como R >ue tinha perdido o e>uil($rio da>uela maneira[ 4radualmente, ?ui; me aperce$endo de >ue o meu deseo de ganhar era demasiado ?orte e >ue tinha >ue renunciar a parte desse deseo. 9o entanto, atR essa pe>uena privação parecia imposs(vel. %oda a minha vida, o deseo de ganhar tinha; me servido para $em, por>ue tinha ganho muitas coisas. Como era poss(vel ogar Hadrez sem >uerer ganhar[ 9unca me tinha sentido $em a ?azer as coisas sem entusiasmo. Como era conce$(vel poder ogar Hadrez com entusiasmo sem ser a sRrio[ 9o entanto, tinha de mudar de alguma
maneira, por>ue sa$ia >ue o meu entusiasmo, competitividade e seriedade ?aziam parte de um padrão de comportamento >ue ?uncionava e continuaria a ?uncionar no sentido de a?astar de mim os meus 6lhos e >ue, se eu não ?osse capaz de modi6car esse padrão, haveria outras ocasi@es de l5grimas e amargura desnecess5rias. # minha depressão continuou.
#gora a minha depressão passou. Prescindi de parte do meu deseo de ganhar ogos. Nssa parte de mim desapareceu. Morreu. %inha >ue morrer. Matei;a. Matei;a com o deseo de ganhar na paternidade. 3uando era criança, o meu deseo de ganhar ogos ?oi vantaoso para mim. Como pai, reconheci >ue se me atravessava no caminho. Os tempos mudaram. Para os acompanhar, tive de prescindir. prescindir. 9ão sinto ?alta. Pensei >ue iria sentir, mas não sinto.
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O *ado Salutar da Depressão
O 3UN SN SN4UN V UM pe>ueno eHemplo da>uilo a >ue as pessoas >ue t8m a coragem de chamar a si prprias doentes t8m >ue se sueitar de ?ormas mais acentuadas, e ?re>uentes vezes, no processo da psicoterapia. O per(odo de psicoterapia intensiva R um per(odo de desenvolvimento intensivo, durante o >ual o paciente pode so?rer mais mudanças do >ue outras pessoas eHperimentam numa vida inteira. Para >ue ocorra este surto de desenvolvimento, tem >ue se renunciar a uma >uantidade proporcional do Kvelho NuK. V uma parte inevit5vel da psicoterapia com 8Hito. De ?acto, este processo de privação começa normalmente antes de o doente ir primeira consulta com o psicoterapeuta. 're>uentemente, por eHemplo, o acto de decidir procurar cuidados psi>ui5tricos s por si representa a renncia imagem do KNstou $emK. Nsta renncia pode ser particularmente di?(cil, na nossa cultura, para indiv(duos do seHo masculino para >uem K9ão estou $em e preciso de auda para perce$er por>ue não estou $em e para 6car $emK R ?re>uente e lamentavelmente e>uacionada com KSou ?raco, pouco masculino e imper?eitoK. 9a verdade, o processo de renncia começa muitas vezes mesmo antes de o doente ter chegado decisão de procurar conselho psi>ui5trico. )e?eri >ue, durante o processo de renncia ao meu deseo de ganhar sempre, 6>uei deprimido. &sso por>ue o sentimento associado a privarmo;nos de algo >ue amamos ; ou pelo menos, algo >ue R parte de ns e ?amiliar ; R a depressão. Uma vez >ue os seres humanos mentalmente saud5veis t8m >ue evoluir, e 5 >ue a privação ou a perda do
antigo Nu R uma parte integrante do processo de desenvolvimento mental e espiritual, a depressão R um ?en;
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meno normal e $asicamente saud5vel. %orna;se anormal ou nocivo s >uando algo inter?ere com o processo de privação, com o resultado de a depressão ser prolongada e não poder ser resolvida pela conclusão do processoZ.
Uma das raz@es principais por>ue as pessoas pensam em procurar conselho psi>ui5trico R a depressão. Por outras palavras, os doentes muitas vezes 5 estão envolvidos num processo de privação, ou desenvolvimento, antes de considerarem a psicoterapia, e são os sintomas desse desenvolvimento >ue os impelem a procurar o ga$inete do terapeuta. O tra$alho deste R, portanto, audar o doente a completar um processo de desenvolvimento >ue ele 5 iniciou. &sto não >uer dizer >ue os doentes sai$am muitas vezes o >ue lhes est5 a acontecer. Pelo contr5rio, ?re>uentemente deseam apenas al(vio dos sintomas da depressão Kpara >ue as coisas voltem a ser como eramK. Mas o su$consciente sa$e. V precisamente por>ue o su$consciente na sua sa$edoria sa$e >ue Kcomo as coisas eramK 5 não R sustent5vel ou construtivo, >ue o processo de desenvolvimento se inicia ao n(vel do su$consciente e se sente a depressão. Muito provavelmente, o doente dir5 K9ão ?aço ideia nenhuma
Z _5 muitos ?actores >ue podem inter?erir com o processo de renncia e, assim, trans?ormar uma depressão normal e saud5vel numa depressão crnica e patolgica. De todos os ?actores poss(veis, um dos mais vulgares e potentes R um padrão de eHperi8ncias na in?Qncia em >ue os pais, ou o destino, sem considerar as necessidades da criança, tiraram KcoisasK criança antes de ela estar psicologicamente preparada para renunciar a elas, ou su6cientemente ?orte para aceitar verdadeiramente a sua perda. Um padrão de eHperi8ncias assim na in?Qncia sensi$iliza a criança para a eHperi8ncia da perda e cria uma tend8ncia muito mais ?orte do >ue a >ue se encontra em indiv(duos mais a?ortunados para se agarrar s KcoisasK e procurar evitar a dor da perda ou da renncia. Por este motivo, apesar de todas as depress@es patolgicas envolverem algum $lo>ueio no processo de renncia, acredito >ue h5 um tipo de depressão neurtica crnica >ue tem a raiz principal numa lesão traum5tica da capacidade $5sica do indiv(duo de
prescindir sea do >ue ?or. # este su$tipo de depressão eu chamaria Kneurose da rennciaK.
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de por>ue estou deprimidoK, ou atri$uir5 a depressão a ?actores irrelevantes. Uma vez >ue os doentes ainda não estão conscientemente dispostos ou prontos a reconhecer >ue o Kvelho NuK e Kcomo as coisas eramK estão ultrapassados, não se aperce$em de >ue a sua depressão lhes indica >ue R necess5ria uma grande mudança para conseguir uma adaptação $em sucedida e evolutiva. O ?acto de o su$consciente estar um passo ?rente do consciente pode parecer estranho aos leitores leigosW R, no entanto, um ?acto >ue se aplica não s neste caso em particular, mas duma ?orma tão genRrica, >ue R um princ(pio $5sico do ?uncionamento mental. Ser5 analisado em maior pro?undidade na ltima parte deste tra$alho.
%emos ouvido ?alar recentemente da Kcrise da meia;idadeK. 9a verdade, esta R apenas uma de muitas KcrisesK, ou ?ases cr(ticas de desenvolvimento, na vida, como nos ensinou Nrik Nrikson h5 trinta anos atr5s. Nrikson traçava oito crisesW talvez haa mais.- O >ue torna cr(ticos estes per(odos de transição no ciclo da vida ; ou sea, pro$lem5ticos e dolorosos ; R >ue, para os atravessarmos com 8Hito, temos >ue prescindir de apreciados conceitos e ?ormas antigas de ?azer e olhar as coisas. Muitas pessoas não estão dispostas ou sentem;se incapazes de so?rer a dor de prescindir do ultrapassado >ue tem >ue ser posto de parte. Nm conse>u8ncia agarram;se, por vezes para sempre, aos seus velhos padr@es de pensamento e de comportamento, deiHando assim de ultrapassar >ual>uer crise, de crescer verdadeiramente, e de eHperimentar a alegre sensação de renascer >ue acompanha a transição conseguida para a maior maturidade.
Nm$ora se pudesse escrever um livro inteiro so$re cada uma, vou apenas enumerar, mais ou menos por ordem de ocorr8ncia, algumas das condiç@es, deseos e atitudes a >ue temos de renunciar no decurso de uma vida evolutiva verdadeiramente conseguida!
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O estado da in?Qncia, em >ue não R necess5rio corresponder
a solicitaç@es eHteriores. # ?antasia da omnipot8ncia. O deseo de posse total incluindo seHual- dos pais. # depend8ncia da in?Qncia. &magens distorcidas dos pais. # omnipot8ncia da adolesc8ncia. # Kli$erdadeK de não compromisso. # agilidade da uventude. # atracção seHual eBou pot8ncia da uventude. # ?antasia da imortalidade. # autoridade so$re os 6lhos. Diversas ?ormas de poder temporal. # independ8ncia da sade ?(sica. N, por 6m, o Nu e a prpria vida.
)enncia e )enascimento
)N*#%&<#MN9%N b *%&M# das condiç@es, pode parecer a muitos >ue a condição 6nal ; prescindir do Nu e da vida ; representa uma espRcie de crueldade por parte de Deus ou do destino, >ue ?az da nossa eHist8ncia uma espRcie de anedota sem graça e >ue nunca pode ser completamente aceite. Nsta atitude R especialmente verdadeira na cultura ocidental dos nossos dias, em >ue o Nu R considerado sagrado e a morte um insulto indescrit(vel. 9o entanto, a realidade R eHactamente o oposto. V na renncia ao Nu >ue os seres humanos conseguem encontrar a mais eHtasiante, prolongada, slida e duradoura alegria de viver. N R a morte >ue d5 vida todo o seu sentido. Nste KsegredoK R a sa$edoria central da religião.
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O processo de renncia ao Nu >ue est5 relacionado com o ?enmeno do amor, como veremos na prHima secção deste livro- R para a maior parte de ns um processo gradual, em >ue nos envolvemos de ?orma espasmdica. _5 uma ?orma de renncia tempor5ria do Nu >ue merece menção especial, por>ue a sua pr5tica R uma eHig8ncia a$soluta para a aprendizagem signi6cativa durante a idade adulta e, portanto, para o desenvolvimento signi6cativo do esp(rito humano. )e6ro;me a um su$tipo da disciplina de manutenção do e>uil($rio a >ue chamo KpXr entre par8ntesesK ou agrupar-. PXr entre par8nteses R essencialmente o acto de e>uili$rar a necessidade de esta$ilidade e a6rmação do Nu com a necessidade de novos conhecimentos e maior compreensão pela renncia tempor5ria ao Nu
; pXr;se de lado, por assim dizer ; de modo a dar lugar incorporação de nova matRria no Nu. Nsta disciplina ?oi $em descrita pelo telogo Sam een em # um Deus >ue Dança!
O segundo passo eHige >ue eu v5 para alRm da percepção idiossincr5tica e egoc8ntrica da eHperi8ncia imediata. O conhecimento maduro s R poss(vel depois de ter digerido e compensado as tend8ncias e os preconceitos >ue são o res(duo da minha histria pessoal. O conhecimento do >ue se me apresenta envolve um movimento duplo de atenção! silenciar o ?amiliar e rece$er o estranho. Cada vez >ue me aproHimo de um o$ecto, pessoa ou acontecimento estranho, tenho a tend8ncia de deiHar >ue as minhas necessidades presentes, eHperi8ncias passadas ou eHpectativas de ?uturo determinem o >ue veo. Se >uero apreciar a unicidade de cada dado, devo ter su6ciente noção das minhas ideias preconce$idas e distorç@es emocionais caracter(sticas, para as pXr entre par8nteses o tempo su6ciente para rece$er a estranheza e a novidade no meu mundo perceptivo. Nsta disciplina de pXr entre par8nteses, compensar ou silenciar re>uer um so6sticado conhecimento de si prprio
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e honestidade coraosa. 9o entanto, sem esta disciplina, cada momento presente R apenas a repetição de algo 5 visto ou vivido. Para >ue sura a genu(na novidade, para >ue a presença nica das coisas, pessoas ou acontecimentos se enra(ze em mim, devo empreender a descentralização do ego. Z
# disciplina de pXr entre par8nteses ilustra o ?acto mais conse>uente da renncia e da disciplina em geral! nomeadamente, >ue por tudo a>uilo de >ue se prescinde se ganha ainda mais. # auto;disciplina R um processo de engrandecimento pessoal. # dor da renncia R a dor da morte, mas a morte do velho R o nascimento do novo. # dor da morte R a dor do nascimento, e a dor do nascimento R a dor da morte. Para >ue uma ideia, conceito, teoria ou entendimento melhor possa ser desenvolvido signi6ca >ue uma ideia, conceito, teoria ou entendimento antigo deve morrer. #ssim, na conclusão do seu poema uando a$raçaram a Cristandade.
%udo isto ?oi h5 muito tempo, recordo;me,
N ?5;lo;ia outra vez, mas 6cou
&sto 6cou
&sto! levaram;nos por todo a>uele caminho para o
9ascimento ou para a Morte[ Nste era um 9ascimento,
certamente, %(nhamos a prova e nenhuma dvida. Nu tinha visto nascer
l8 morrer,
Mas pensava >ue eram di?erentesW este 9ascimento era Uma agonia dura e amarga para ns, como a Morte, a nossa morte. notaZ %oa Dancing 4od 9ova &or>ue! _arper = )oJ-, /0, p. 1.
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)egress5mos a nossas casas, estes )einos, Mas 5 não nos sentimos $em a>ui, no antigo regime, Com um povo estranho agarrado aos seus deuses. Nu 6caria satis?eito com outra morte. Z
Uma vez >ue o nascimento e a morte parecem ser lados opostos da mesma moeda, não deiHa de ser razo5vel dedicar maior atenção do >ue R usual no Ocidente ao conceito de reincarnação. Mas >uer esteamos ou não dispostos a encarar seriamente a possi$ilidade de ocorrer alguma espRcie de
renascimento simultQneo com a nossa morte ?(sica, est5 su6cientemente esclarecido >ue esta vida R uma sRrie de mortes e nascimentos simultQneos. KDurante toda a vida, tem >ue se continuar a aprender a viver,K dizia SRneca, h5 dois milRnios atras, Ke, o >ue vos espantar5 ainda mais, durante toda a vida tem de se aprender a morrer.KZZ V tam$Rm evidente >ue >uanto mais longe se chega na viagem da vida, mais nascimentos se viverão, e portanto mais mortes ; mais alegria e mais dor.
&sto levanta a >uestão de se alguma vez R poss(vel li$ertar;se da dor emocional na vida. Ou, pondo;o de uma ?orma mais suave, R poss(vel evoluir espiritualmente atR um n(vel de consci8ncia em >ue a dor de viver pelo menos diminua[ # resposta e sim e não. # resposta R sim, por>ue >uando o so?rimento R completamente aceite, cessa, num certo sentido, de ser so?rimento. %am$Rm R sim por>ue a pr5tica amais interrompida da disciplina leva ao dom(nio, e a pessoa espiritualmente evolu(da e dominante, no mesmo sentido em >ue o adulto R dominante em relação criança. 3uest@es >ue representam grandes pro$lemas para a criança e lhe causam grande dor podem não ter 9otaZ %he Complete Poems and Pla+s, //;/2 9ova &or>ue! _arcourt :racefl/2-,pp. A/. Z Cit. in Nrich 'romm, %he Sane Societ+ 9ova &or>ue! )inehart, /22-.
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>ual>uer importQncia para o adulto. 'inalmente, a resposta R sim por>ue o indiv(duo espiritualmente evolu(do R, como ser5 eHplicado na secção seguinte, um indiv(duo com uma eHtraordin5ria capacidade de amar e do seu eHtraordin5rio amor advRm eHtraordin5ria alegria.
# resposta R não, no entanto, por>ue eHiste um v5cuo de compet8ncia no mundo >ue tem de ser preenchido. 9um mundo >ue clama desesperadamente por compet8ncia, uma pessoa eHtraordinariamente competente e amante não pode omitir a sua compet8ncia, da mesma ?orma >ue essa mesma pessoa não poderia negar alimento a uma criança com ?ome. #s pessoas espiritualmente evolu(das, em virtude da sua disciplina, dom(nio e amor, são pessoas de eHtraordin5ria compet8ncia e, pela sua compet8ncia, são chamadas a servir o mundo e, por amor, correspondem
chamada. São assim, inevitavelmente, pessoas de grande poder, em$ora o mundo possa geralmente encar5;las como pessoas assaz vulgares, por>ue na maioria das vezes eHercem o seu poder de ?orma discreta ou mesmo escondida. #pesar disso, eHercem mesmo o poder, e nesse eHerc(cio so?rem grandemente, atR mesmo terrivelmente. Por>ue eHercer o poder R tomar decis@es, e o processo de tomada de decisão com plena consci8ncia R in6nitamente mais doloroso do >ue tomar decis@es com uma consci8ncia limitada ou em$otada >ue R como a maior parte das decis@es são tomadas, aca$ando por se mostrarem erradas-. &magine;se dois generais, cada um tendo de decidir enviar ou não uma divisão de dez mil homens para o campo de $atalha. Para um, a divisão R apenas uma coisa, uma unidade de pessoal, um instrumento de estratRgia e nada mais. Para o outro R todas estas coisas, mas tam$Rm tem consci8ncia de cada uma das dez mil vidas e das vidas das ?am(lias de cada um dos dez mil. Para >uem R mais ?5cil a decisão[ V mais ?5cil para o general >ue em$otou a sua consci8ncia precisamente por>ue não pode
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tolerar a dor de uma consci8ncia mais total. Podemos ser tentados a dizer, K#h, mas um homem espiritualmente evolu(do nunca se tornaria general, para começar.K Mas a mesma >uestão est5 envolvida >uando se R presidente de uma empresa, mRdico, pro?essor, pai. #s decis@es >ue a?ectam as vidas de outros t8m sempre >ue ser ?eitas. Os melhores decisores são os >ue estão mais dispostos a so?rer com as suas decis@es mas >ue mant8m a sua capacidade de decidir. Uma das medidas ; e talvez a melhor medida ; da grandeza de uma pessoa R a capacidade de so?rimento. 9o entanto, os grandes são tam$Rm alegres. Nste R, então, o paradoHo. Os $udistas tendem a ignorar o so?rimento de :uda e os cristãos a alegria de Cristo. :uda e Cristo não eram homens di?erentes. O so?rimento de Cristo morrendo na cruz e a ?elicidade de :uda so$ a 5rvore são um s.
Portanto, se o vosso o$ectivo R evitar a dor e escapar ao so?rimento, não vos aconselho a procurar n(veis mais elevados de consci8ncia ou de evolução espiritual. Primeiro, não conseguem alcanç5;los sem so?rimento, e segundo, na medida em >ue os alcançarem, poderão ser chamados a servir de ?ormas mais dolorosas, ou pelo menos mais eHigentes do >ue agora podem imaginar. Nntão, desear evoluir para >u8, podem perguntar. Se ?azem esta pergunta, talvez não conheçam o su6ciente da ?elicidade. %alvez encontrem uma resposta no resto deste livroW talvez não.
Uma ltima palavra >uanto disciplina de manutenção do e>uil($rio e a sua ess8ncia de renncia! tem >ue se ter alguma coisa para se prescindir dela. 9ão se pode prescindir de algo >ue 5 não se tenha. Se se prescindir de ganhar sem nunca se ter ganho, 6ca;se como se estava no princ(pio! um perdedor. %em >ue se ?orar por si prprio uma identidade antes de se prescindir dela. %em >ue se desenvolver um ego antes de o poder perder. &sto pode parecer incrivelmente elementar, mas penso >ue R necess5rio diz8;lo, por>ue conheço muitas pessoas >ue
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possuem uma visão da evolução mas parece ?altar;lhes a vontade de evoluir. 3uerem, e acreditam >ue R poss(vel, saltar por cima da disciplina, encontrar um atalho ?5cil para a santidade. Muitas vezes, tentam atingi;la simplesmente atravRs da imitação das super6cialidades dos santos, retirando;se para o deserto ou dedicando;se carpintaria. #lguns atR acreditam >ue, atravRs dessa imitação, se tornam realmente santos e pro?etas e não conseguem reconhecer >ue são ainda crianças e en?rentam o doloroso ?acto de >ue t8m de começar pelo princ(pio e passar pelo meio. # disciplina ?oi de6nida como um sistema de tRcnicas para en?rentar construtivamente a dor da resolução de pro$lemas em vez de evitar essa dor ; de ?orma >ue todos os pro$lemas da vida possam ser resolvidos. Distinguiram;se e analisaram;se >uatro tRcnicas $5sicas! o adiamento da grati6cação, o assumir da responsa$ilidade, a dedicação verdade ou realidade e a manutenção do e>uil($rio. # disciplina R um sistema de tRcnicas, por>ue estas tRcnicas estão ?ortemente interrelacionadas. 9um nico acto, podem;se utilizar duas, tr8s ou atR todas as tRcnicas ao mesmo tempo e de tal ?orma >ue se podem distinguir umas das outras. # ?orça, energia e vontade de usar estas tRcnicas são ?ornecidas pelo amor, como ser5 eHplicado na prHima secção. Nsta an5lise da disciplina não pretende ser eHaustiva e R poss(vel >ue eu tenha deiHado de parte uma ou mais tRcnicas $5sicas adicionais, em$ora ulgue >ue não. %am$Rm R razo5vel perguntar se processos como o $io?eed$ack, a meditação, o ioga e a prpria psicoterapia não são tRcnicas de disciplina, mas a isto eu responderia >ue, na minha ?orma de pensar, são instrumentos tRcnicos mais do >ue tRcnicas $5sicas. Como tal, podem ser muito teis, mas não são essenciais. Por outro lado, as tRcnicas $5sicas a>ui descritas, se praticadas sem interrupção e com verdade, são su6cientes s por si para permitir ao praticante da disciplina, ou Kdisc(puloK, evoluir para n(veis espiritualmente mais elevados.
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Secção &&
#mor
O #mor De6nido
# D&SC&P*&9#, COMO 'O& 5 sugerido, R o meio para a evolução espiritual humana. Nsta secção eHaminar5 o >ue est5 por detr5s da disciplina ; o >ue ?ornece o motivo, a energia para a disciplina. Nu creio >ue esta ?orça R o amor. %enho plena consci8ncia de >ue, ao tentar eHaminar o amor, começaremos a ogar com o mistRrio. 9um sentido muito real, estaremos a tentar eHaminar o não eHamin5vel e conhecer o >ue não pode ser conhecido. O amor R demasiado a$rangente, demasiado pro?undo para alguma vez ser verdadeiramente compreendido, medido ou limitado dentro de uma estrutura de palavras. 9ão escreveria isto se não acreditasse >ue a tentativa tem valor, mas independentemente desse valor, começo com a certeza de >ue a tentativa ser5 de algumas ?ormas imper?eita.
Um dos resultados da natureza misteriosa do amor R >ue ninguRm, >ue eu sai$a, chegou ainda a uma de6nição verdadeiramente satis?atria do amor. 9a tentativa de o eHplicar, portanto, dividiu;se o amor em v5rias categorias! eros, philia, 5gapeW amor per?eito e amor imper?eito, e da( por diante. Nu tomo a li$erdade, no entanto, de dar uma nica de6nição, mais uma vez com a noção de >ue provavelmente ser5 de alguma ou algumas ?ormas imper?eita. Nu de6no o amor assim! a vontade de eHpandir o Nu com o o$ectivo de alimentar o seu prprio desenvolvimento espiritual ou o de outrem.
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Para começar, gostaria de ?azer um $reve coment5rio so$re esta de6nição antes de prosseguir para uma an5lise mais completa. Primeiro, pode notar; se >ue R uma de6nição teleolgicaW o comportamento R de6nido em termos do o$ectivo ou propsito >ue parece servir ; neste caso, o desenvolvimento espiritual. Os cientistas tendem a considerar suspeitas as de6niç@es teleolgicas e talvez considerem assim esta. 9ão cheguei a ela, no entanto,
atravRs de um processo de racioc(nio claramente teleolgico. 'oi atravRs da o$servação, na minha pr5tica cl(nica de Psi>uiatria, >ue inclu( a auto; o$servação, na >ual a de6nição do amor R um assunto de consider5vel importQncia. &sto por>ue os doentes se sentem geralmente muito con?usos >uanto natureza do amor. Por eHemplo, um ovem t(mido relatava;me! K# minha mãe amava;me tanto >ue não me deiHava ir de autocarro para a escola atR ao meu ltimo ano do liceu. Mesmo nessa altura, tive de lhe implorar >ue me deiHasse ir. #cho >ue ela tinha medo >ue eu me magoasse, portanto levava;me escola de carro e ia;me $uscar todos os dias, o >ue era di?(cil para ela. Nla amava;me de verdade.K 9o tratamento da timidez deste indiv(duo ?oi necess5rio, como em muitos outros casos, ensinar;lhe >ue a mãe podia ter sido motivada por outra coisa >ue não amor, e >ue a>uilo >ue aparenta ser amor muitas vezes não R amor nenhum. 'oi a partir dessa eHperi8ncia >ue acumulei um conunto de eHemplos do >ue pareciam ser actos de amor e do >ue parecia não ser amor. Um dos principais ?actores de distinção entre os dois parecia ser o propsito consciente ou inconsciente na mente do amante ou do não amante. Segundo, pode veri6car;se >ue, como de6nido, o amor R um processo estranhamente circular. Por>ue o processo de eHpansão do Nu R um processo evolutivo. 3uando se consegue alargar os seus prprios limites com 8Hito, atingiu;se o desenvolvimento para um estado mais eHpandido do ser. #ssim, o acto de amar R um acto de auto;evolução mesmo >uando o
o$ectivo do acto R o desenvolvimento de outra pessoa. V pela tentativa de alcançar a evolução >ue evolu(mos.
%erceiro, esta de6nição unit5ria do amor inclui o amor prprio com o amor pelo outro. Se eu sou humano e tu Rs humano, amar os humanos signi6ca amar;me a mim assim como a ti. Ser dedicado ao desenvolvimento espiritual humano R ser dedicado raça de >ue ?azemos parte, e isto signi6ca, portanto, dedicação ao nosso prprio desenvolvimento e ao KdelesK. De ?acto, como ?oi salientado, somos incapazes de amar outro se não nos amarmos a ns mesmos, tal como somos incapazes de ensinar auto;disciplina aos nossos 6lhos a menos >ue seamos auto;disciplinados. V verdadeiramente imposs(vel renunciar ao nosso desenvolvimento espiritual a ?avor do de outrem. 9ão podemos a$andonar a auto;disciplina e ao mesmo tempo ser disciplinados no nosso a?ecto por outro. 9ão podemos ser uma ?onte de ?orça se não alimentarmos a nossa prpria ?orça. b medida >ue avançarmos na eHploração da natureza do amor, creio >ue se tornar5 claro >ue não s o amor prprio e o amor por outros andam de mãos dadas como, no limite, não se conseguem distinguir.
3uarto, o acto de alargar os seus limites implica es?orço. S se alargam os limites eHcedendo;os, e eHceder os limites eHige es?orço. 3uando amamos alguRm, o nosso amor s se torna demonstr5vel ou real atravRs do nosso empenho ; pelo ?acto de >ue por alguRm ou por ns prprios- damos um passo a mais ou caminhamos mais uma milha. O amor não acontece sem es?orço. Pelo contr5rio, o amor R tra$alhoso.
'inalmente, utilizando a palavra KvontadeK tentei transcender a distinção entre deseo e acção. O deseo não se traduz necessariamente em acção. # vontade R um deseo duma tal intensidade >ue R traduzido para acção. # di?erença entre os dois R a mesma >ue a di?erença entre dizer K4ostava de ir nadar hoe noiteK e K
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na nossa cultura desea, em certa medida, amar, no entanto muitos não amam de ?acto. Concluo, portanto, >ue o deseo de amar não R em si amor. O amor R como o amor age. O amor R um acto de vontade ; ou sea, uma intenção, $em como uma acção. # vontade tam$Rm implica escolha. 9ão temos de amar. Nscolhemos amar. 9ão importa >uanto possamos pensar >ue amamos. Se de ?acto não amamos R por>ue escolhemos não amar e portanto não amamos, apesar das nossas $oas intenç@es. Por outro lado, sempre >ue de ?acto nos es?orçamos pela causa do desenvolvimento espiritual, R por>ue assim escolhemos. 'oi ?eita a escolha de amar.
Como indi>uei, os doentes >ue v8m psicoterapia encontram;se invariavelmente mais ou menos con?usos >uanto natureza do amor. &sto por>ue, perante o mistRrio do amor, a$undam as concepç@es erradas. Nm$ora este livro não v5 retirar ao amor o seu mistRrio, espero >ue sea su6cientemente esclarecedor para eliminar essas concepç@es erradas, >ue podem causar so?rimento não s aos doentes como a todas as pessoas >ue tentam encontrar sentido nas suas prprias eHperi8ncias. #lgum deste so?rimento parece;me desnecess5rio, uma vez >ue estas populares concepç@es erradas podiam ser tornadas menos populares atravRs do ensino de uma de6nição mais precisa do amor. Optei, portanto, por começar a eHplorar a natureza do amor eHaminando a>uilo >ue o amor não R.
#paiHonar;Se
DN %ODOS os '#*SOS u(zos so$re o amor, o mais poderoso e in6ltrado R a crença de >ue KapaiHonar;seK R amor ou, pelo menos, uma das mani?estaç@es de amor. V uma concepção ?ortemente errada, por>ue apaiHonar;se R eHperimentado su$ectiva;
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mente duma ?orma poderosa como uma eHperi8ncia de amor. 3uando uma pessoa se apaiHona, o >ue ele ou ela sentem de certeza R K#mo;oK ou K#mo; aK. Mas dois pro$lemas são imediatamente aparentes. O primeiro R >ue a eHperi8ncia de se apaiHonar R especi6camente uma eHperi8ncia ertica ligada ao seHo. 9ão nos apaiHonamos pelos nossos 6lhos em$ora os amemos pro?undamente. 9ão nos apaiHonamos por amigos do mesmo seHo ; a menos >ue tenhamos tend8ncias homosseHuais ; por muito >ue gostemos deles. #paiHonamo;nos s >uando somos, consciente ou inconscientemente, motivados seHualmente. O segundo pro$lema R >ue a eHperi8ncia da paiHão R invariavelmente tempor5ria. &ndependentemente de por >uem nos apaiHonamos, mais cedo ou mais tarde deiHamos de estar apaiHonados se a relação durar o tempo su6ciente. &sto não >uer dizer >ue invariavelmente deiHemos de amar a pessoa por >uem nos apaiHon5mos. Mas >uer dizer >ue o sentimento de amor eHt5tico >ue caracteriza a eHperi8ncia da paiHão passa sempre. # lua;de;mel chega sempre ao 6m. O \orescer do romance murcha.
Para compreender a natureza do ?enmeno da paiHão e a inevita$ilidade do seu termo, R necess5rio eHaminar a>uilo >ue os psi>uiatras designam por ?ronteiras do ego. Pelo >ue podemos concluir por evid8ncia indirecta, parece >ue o recRm;nascido, durante os primeiros meses de vida, não distingue entre si e o resto do Universo. 3uando meHe os $raços e as pernas, o mundo est5 a meHer. 3uando tem ?ome, o mundo tem ?ome. 3uando v8 a mãe movimentar;se, R como se se estivesse a movimentar. 3uando a mãe canta, o $e$R não sa$e >ue não R ele >ue produz o som. 9ão se distingue do $erço, do >uarto e dos pais. O animado e o inanimado são o mesmo. 9ão h5 distinção entre eu e tu. Nle e o mundo são um s. 9ão h5 limites, nem separaç@es. 9ão h5 identidade.
Mas, com a eHperi8ncia, a criança começa a sentir;se ela mesma ; ou sea, como uma entidade separada do resto do
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mundo. 3uando tem ?ome, a mãe não aparece sempre para lhe dar de comer. 3uando >uer $rincar, a mãe nem sempre >uer $rincar. # criança tem então a eHperi8ncia de os seus deseos não serem ordens para a sua mãe. # sua vontade R sentida como algo separado do comportamento da sua mãe. O sentido do Nu começa a desenvolver;se. Nsta interacção entre o recRm; nascido e a mãe R considerada como a $ase a partir da >ual o sentido de identidade da criança se começa a desenvolver. O$servou;se >ue, >uando a interacção entre o recRm;nascido e a mãe R ?ortemente pertur$ada ; por eHemplo, >uando não h5 mãe, nenhum su$stituto satis?atrio da mãe ou >uando devido a doença mental a mãe estea completamente alheia ou desinteressada ; o recRm;nascido trans?orma;se numa criança ou adulto cua noção de identidade tem ?alhas graves na maior parte das ?ormas $5sicas.
3uando o recRm;nascido reconhece a sua vontade como sendo a sua e não a do Universo, começa a ?azer outras distinç@es entre si e o mundo. 3uando >uer movimento, agita os $raços em ?rente aos olhos, mas nem o $erço nem o tecto se movem. #ssim, a criança aprende >ue o seu $raço e a sua vontade estão ligados, e portanto >ue o $raço R seu e não outra coisa ou doutra pessoa. Desta maneira, durante o primeiro ano de vida aprendemos os ?undamentos de >uem somos e >uem não somos, o >ue somos e o >ue não somos. #o 6m do primeiro ano, sa$emos >ue este R o meu $raço, o meu pR, a minha ca$eça, a minha l(ngua, os meus olhos e atR o meu ponto de vista, a minha voz, os meus pensamentos, a minha dor de estXmago e os meus sentimentos. Conhecemos o nosso tamanho e limites ?(sicos. Nstes limites são as nossas ?ronteiras. O conhecimento destes limites dentro da nossa mente R o >ue se designa por ?ronteira do ego.
O desenvolvimento das ?ronteiras do ego R um processo >ue continua pela in?Qncia atR adolesc8ncia e mesmo atR
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idade adulta, mas as ?ronteiras esta$elecidas mais tarde são mais ps(>uicas >ue ?(sicas. Por eHemplo, a idade entre os dois e os tr8s anos R tipicamente uma altura em >ue a criança reconhece os limites do seu poder. Nn>uanto >ue, antes disso, a criança aprendeu >ue o seu deseo não R necessariamente uma ordem para a mãe, ainda se agarra possi$ilidade de
o seu deseo ser uma ordem para a mãe e o sentimento de >ue o seu deseo devia ser uma ordem para ela. V devido a esta esperança e este sentimento >ue a criança de dois anos normalmente tenta agir como um tirano e autocrata, dando ordens aos pais, irmãos e animais de estimação como se ?ossem serventes no seu eHRrcito particular, e responde com ?ria real >uando eles não acatam as suas instruç@es. Por isso, os pais chamam a esta idade Kos terr(veis dois anosK. #os tr8s anos, a criança torna;se normalmente mais trat5vel e dcil em resultado da aceitação da realidade da sua relativa impot8ncia. Mesmo assim, a possi$ilidade de omnipot8ncia R um sonho tão doce, >ue não podem desistir dele completamente mesmo depois de v5rios anos de dolorosa con?rontação com a sua prpria impot8ncia. Nm$ora uma criança de tr8s anos tenha aceite a realidade das ?ronteiras do seu poder, continuar5 a escapar;se durante alguns anos para um mundo de ?antasia onde a possi$ilidade da omnipot8ncia particularmente da sua- ainda eHiste. Nste R o mundo do Super;_omem e do Capitão Marvel. 9o entanto, gradualmente, renuncia;se atR aos superheris e, >uando chegam a meio da adolesc8ncia, os ovens sa$em >ue são indiv(duos, restringidos s suas ?ronteiras ?(sicas e aos limites do seu poder, cada um deles um organismo relativamente ?r5gil e impotente, >ue s eHiste cooperando com um grupo de organismos semelhantes chamado sociedade. Dentro deste grupo, não se distinguem particularmente, mas estão isolados doutros pelas suas identidades, ?ronteiras e limites individuais.
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'ora destas ?ronteiras, eHiste a solidão. #lgumas pessoas particularmente a>uelas >ue os psi>uiatras classi6cam como es>uizides ; devido a eHperi8ncias desagrad5veis e traum5ticas de in?Qncia, v8em o mundo em redor como irremediavelmente perigoso, hostil, con?uso e não estimulante. Nssas pessoas sentem as suas ?ronteiras como protectoras e recon?ortantes e retiram uma sensação de segurança da sua solidão. Mas a maior parte de ns acha a solidão dolorosa e desea escapar dos muros da nossa identidade individual para uma condição em >ue possamos estar mais uni6cados com o mundo em redor. # eHperi8ncia de nos apaiHonarmos permite este escape ; temporariamente. # ess8ncia do ?enmeno de se apaiHonar R o colapso repentino de uma parte das ?ronteiras do ego de um indiv(duo, >ue permite >ue a sua identidade se ?unda com a de outra pessoa. # li$ertação repentina de si mesmo, a d5diva eHplosiva de si ao amado e a interrupção dram5tica da solidão >ue acompanham este colapso das ?ronteiras do ego são para a maior parte de ns uma eHperi8ncia eHt5tica. 9s e o o$ecto do nosso amor somos um # solidão 5 não eHiste Nm certos aspectos mas não em todos, certamente- o acto de se apaiHonar R um acto de regressão. # eHperi8ncia da ?usão com o amado tem em si ecos do tempo em >ue nos ?und(amos com as nossas mães na in?Qncia.
Luntamente com a ?usão, re;eHperimentamos tam$Rm o sentido da omnipot8ncia de >ue tivemos >ue prescindir na nossa passagem pela in?Qncia. %udo parece poss(vel Nm união com o o$ecto do nosso amor, sentimos >ue podemos con>uistar todos os o$st5culos. #creditamos >ue a ?orça do nosso amor ?ar5 com >ue as ?orças da oposição se verguem em su$missão e desapareçam na escuridão. %odos os pro$lemas serão ultrapassados. O ?uturo ser5 luminoso. # irrealidade destes sentimentos >uando nos apaiHonamos R essencialmente a mesma >ue a da criança de dois anos >ue se sente o rei da ?am(lia e do mundo, com poder ilimitado.
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#ssim como a realidade se introduz na ?antasia de omnipot8ncia da criança de dois anos, tam$Rm a realidade se introduz na ?ant5stica unidade do casal de apaiHonados. Mais cedo ou mais tarde, em resposta aos pro$lemas da vida di5ria, a vontade individual rea6rma;se. Nle >uer ter relaç@es seHuaisW ela não >uer. Nla >uer ir ao cinemaW ele não. Nle >uer pXr dinheiro no $ancoW ela >uer uma m5>uina de lavar louça. Nla >uer ?alar do empregoW ele >uer ?alar do dele. Nla não gosta dos amigos deleW ele não gosta dos dela. #ssim, am$os, na privacidade dos seus coraç@es, começam a chegar angustiante conclusão de >ue não são um s com o o$ecto do seu amor, e >ue o o$ecto do seu amor tem e continuar5 a ter os seus prprios deseos, gostos, preconceitos e ritmos di?erentes dos do outro. Uma a uma, gradual ou repentinamente, as ?ronteiras do ego regressam ao seu lugarW gradual ou repentinamente, deiHam de estar apaiHonados. São novamente dois indiv(duos separados. Chegados a este ponto, começam a dissolver os laços da sua relação ou iniciam o tra$alho do verdadeiro amor.
#o utilizar a palavra KverdadeiroK estou a in?erir >ue a percepção de >ue amamos >uando nos apaiHonamos R ?alsa ; >ue o nosso sentido su$ectivo de amar R uma ilusão. # an5lise detalhada do amor verdadeiro ser5 ?eita mais adiante nesta secção do livro. 9o entanto, ao a6rmar >ue R >uando um casal deiHa de estar apaiHonado >ue pode começar a amar realmente, estou tam$Rm a concluir >ue o amor verdadeiro não tem as suas ra(zes num sentimento de amor. Pelo contr5rio, o amor verdadeiro acontece muitas vezes num conteHto em >ue o sentimento do amor est5 ausente, >uando agimos com amor apesar de não nos sentirmos a amar. #ssumindo a realidade da de6nição de amor com >ue começ5mos, a eHperi8ncia de Kse apaiHonarK não R amor verdadeiro pelas diversas raz@es >ue se seguem.
#paiHonar;se não R um acto de vontade. 9ão R uma escolha consciente. &ndependentemente do nosso grau de a$ertura ou
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de ansiedade por nos apaiHonarmos, a eHperi8ncia pode ?ugir;nos. &nversamente, a eHperi8ncia pode capturar;nos em alturas em >ue não estamos de6nitivamente procura, >uando R inconveniente e indese5vel. V tão prov5vel >ue nos apaiHonemos por alguRm com >uem não temos nenhuma ligação como por alguRm mais ade>uado. 9a verdade, podemos atR nem gostar ou admirar o o$ecto da nossa paiHão, no entanto, por muito >ue tentemos, podemos não ser capazes de nos apaiHonarmos por uma pessoa >ue respeitamos pro?undamente e com >uem um relacionamento apro?undado seria dese5vel em todos os sentidos. &sto não >uer dizer >ue a eHperi8ncia de se apaiHonar sea imune disciplina. Os psi>uiatras, por eHemplo, apaiHonam;se com ?re>u8ncia pelas suas doentes, assim como as doentes se apaiHonam por eles, no entanto, por dever para com a doente e pelo papel >ue det8m, conseguem normalmente a$ortar o colapso das ?ronteiras do seu ego e renunciar doente como o$ecto romQntico. # luta e o so?rimento da disciplina envolvida podem ser enormes. Mas a disciplina e a vontade s podem controlar a eHperi8nciaW não a podem criar. Podemos escolher como responder eHperi8ncia de nos apaiHonarmos, mas não podemos escolher a eHperi8ncia em si.
#paiHonar;se não R uma dilatação dos nossos limites ou ?ronteirasW R um colapso parcial e tempor5rio. # eHpansão dos nossos limites re>uer es?orçoW apaiHonar;se não. Os indiv(duos preguiçosos e indisciplinados podem apaiHonar;se tanto como os >ue são enRrgicos e dedicados. Depois de passado o precioso momento de se apaiHonar e de as ?ronteiras terem voltado ao lugar, o indiv(duo pode estar desiludido, mas normalmente não se engrandeceu com a eHperi8ncia. 3uando os limites são dilatados ou esticados, no entanto, a tend8ncia R para se manterem esticados. O amor verdadeiro R uma eHperi8ncia permanentemente engrandecedora. #paiHonar;se não R.
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#paiHonar;se tem pouco a ver com a educação propositada do nosso desenvolvimento espiritual. Se temos algum o$ectivo em mente >uando nos apaiHonamos, R o de aca$ar com a nossa solidão e talvez assegurar esse resultado atravRs do casamento. 9ão estamos certamente a pensar em desenvolvimento espiritual. De ?acto, depois de nos termos apaiHonado e antes de nos desapaiHonarmos sentimos >ue cheg5mos, >ue atingimos as
alturas, >ue não R preciso nem h5 possi$ilidade de su$ir mais alto. 9ão nos sentimos necessitados de desenvolvimentoW estamos per?eitamente satis?eitos por estar onde estamos. O nosso esp(rito est5 em paz. 9em consideramos >ue a pessoa amada estea necessitada de desenvolvimento espiritual. Pelo contr5rio, vemo;la como per?eita, como tendo sido aper?eiçoada. Se vemos alguns de?eitos na pessoa amada, consideramo;los insigni6cantes ; pe>uenas peculiaridades ou deliciosas eHcentricidades >ue s acrescentam cor e encanto.
Se apaiHonar;se não R amor, então o >ue R para alRm de um colapso tempor5rio e parcial das ?ronteiras do ego[ 9ão sei. Mas a especi6cidade seHual do ?enmeno leva;me a suspeitar >ue R um componente instintivo geneticamente determinado do comportamento de acasalamento. Por outras palavras, o colapso tempor5rio das ?ronteiras do ego >ue constitui o estado de se apaiHonar R uma resposta estereotipada dos seres humanos a uma con6guração de impulsos seHuais internos e de est(mulos seHuais eHternos, >ue serve para aumentar a pro$a$ilidade de parceria e ligação seHual de modo a aumentar as pro$a$ilidades de so$reviv8ncia da espRcie. Ou, pondo de maneira talvez mais grosseira, apaiHonar;se R um tru>ue >ue os nossos genes aplicam nossa mente, normalmente perceptiva noutros sentidos, para nos iludir ou armadilhar levandonos ao casamento. 're>uentemente, o tru>ue corre mal duma maneira ou doutra, como >uando os impulsos e est(mulos seHuais são homosseHuais ou >uando outras ?orças ; inter;
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?er8ncia dos pais, doença mental, responsa$ilidades contraditrias ou auto; disciplina madura ; surgem para impedir a ligação. Por outro lado, sem este tru>ue, esta regressão ilusria e inevitavelmente tempor5ria não seria pr5tico se não ?osse tempor5ria- ?usão e omnipot8ncia in?antis, muitos de ns >ue somos $em ou mal casados hoe, ter(amos retrocedido em total terror perante a realidade dos votos matrimoniais.
O Mito do #mor )omQntico
P#)# SN)<&) #SS&M %`O :NM para nos apanhar no casamento, a eHperi8ncia de se apaiHonar tem provavelmente como uma das suas caracter(sticas a ilusão de >ue a eHperi8ncia ir5 durar sempre. Nsta ilusão R ?omentada na nossa cultura pelo mito vulgarmente cultivado do amor romQntico, >ue tem
as suas origens nas nossas histrias in?antis ?avoritas, em >ue o pr(ncipe e a princesa, uma vez unidos, vivem ?elizes para sempre. O mito do amor romQntico diz;nos, com e?eito, >ue para cada rapaz no mundo h5 uma rapariga >ue K?oi ?eita para eleK e vice;versa. #lRm disso, o mito implica >ue h5 um s homem destinado a uma mulher e uma s mulher para um homem e >ue isso ?oi predeterminado Knas estrelasK. 3uando conhecemos a pessoa a >uem estamos destinados, o reconhecimento advRm do ?acto de nos apaiHonarmos. Nncontr5mos a pessoa a >uem os cRus nos tinham destinado, e uma vez >ue a união R per?eita, seremos capazes de satis?azer as necessidades um do outro para sempre, e portanto viver ?elizes para sempre em per?eita união e harmonia. Se acontecer, no entanto, não satis?azermos ou não irmos de encontro a todas as necessidades um do outro surgem atritos e desapaiHonamo;nos. Nst5 claro >ue cometemos um erro terr(vel, interpret5mos as estrelas erradamente, não nos entendemos com
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o nosso nico par per?eito, o >ue pens5mos ser amor não era amor real ou KverdadeiroK, e não h5 nada a ?azer >uanto situação a não ser viver in?elizes para sempre ou o$ter o divrcio.
Nm$ora eu pense >ue, de um modo geral, os grandes mitos são grandes precisamente por>ue representam e incorporam grandes verdades universais serão eHplorados v5rios destes mitos mais adiante neste livro-, o mito do amor romQntico R uma terr(vel mentira. %alvez sea uma mentira necess5ria por assegurar a so$reviv8ncia da espRcie, por estimular e validar convenientemente a eHperi8ncia de nos apaiHonarmos >ue nos leva ao casamento. Mas, como psi>uiatra, o meu coração chora >uase todos os dias pela horr(vel con?usão e so?rimento >ue este mito gera. Milh@es de pessoas desperdiçam enormes >uantidades de energia tentando desesperada e ?utilmente ?azer com >ue a realidade das suas vidas se auste irrealidade do mito. # Sra. # su$mete;se a$surdamente ao marido devido a um sentimento de culpa. KNu não amava verdadeiramente o meu marido >uando nos cas5mos,K diz ela. K'ingia >ue sim. #cho >ue o enganei para se casar comigo, portanto não tenho o direito de me >ueiHar dele, e devo;lhe ?azer tudo o >ue ele >uiser.K O Sr. : lamenta! KNstou arrependido de não me ter casado com a Menina C. Penso >ue poder(amos ter tido um $om casamento. Mas não me sentia perdidamente apaiHonado por ela, portanto parti do princ(pio >ue ela não era a pessoa certa para mim.K # Sra. D, casada h5 dois anos, 6ca gravemente deprimida sem causa aparente e começa a ?azer terapia, a6rmando! K9ão sei o >ue se passa de errado. %enho tudo o >ue preciso, incluindo um $om casamento.K S meses mais tarde
consegue aceitar o ?acto de se ter desapaiHonado do marido, mas >ue isso não signi6ca >ue tenha cometido um horr(vel erro. O Sr. N, tam$Rm casado h5 dois anos, começa a so?rer de dores de ca$eça intensas noite e não acredita >ue seam psicossom5ticas. K# minha vida domRstica corre $em. #mo tanto a minha mulher como no dia
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em >ue casei com ela. Nla R tudo o >ue eu sempre >uis.K Mas as dores de ca$eça continuaram atR >ue, um ano mais tarde, conseguiu admitir, KNla d5;me ca$o da ca$eça por>ue est5 sempre a >uerer, >uerer, >uerer coisas sem se preocupar com o meu ordenado,K e ?oi então capaz de a con?rontar com a sua eHtravagQncia. O Sr. e a Sra. ' reconhecem >ue deiHaram de estar apaiHonados e passam a ?azer;se in?elizes um ao outro por mtua in6delidade galopante medida >ue procuram o Kverdadeiro amorK, sem se aperce$erem >ue o seu prprio reconhecimento podia marcar o in(cio da o$ra do seu casamento em vez do 6m. Mesmo >uando os casais reconhecem >ue a lua;de;mel terminou, >ue 5 não estão romanticamente apaiHonados um pelo outro e ainda conseguem empenhar;se na sua relação, continuam a agarrar;se ao mito e tentam adaptar;lhe as suas vidas. K#pesar de 5 não estarmos apaiHonados, se agirmos por ?orça de vontade como se estivRssemos apaiHonados, pode ser >ue o amor romQntico regresse s nossas vidas,K segundo o seu racioc(nio. Nstes casais privilegiam o estar untos. 3uando iniciam a terapia de grupo para casais >ue R o cen5rio em >ue a minha mulher e eu e os nossos colegas mais prHimos eHercemos o aconselhamento matrimonial mais cr(tico-, sentam;se untos, ?alam um pelo outro, de?endem os de?eitos um do outro e tentam apresentar ao resto do grupo uma ?rente unida, acreditando >ue esta unidade sea um sinal de sade relativa do seu casamento e um prR;re>uisito para a sua melhoria. Mais cedo ou mais tarde, normalmente mais cedo, temos >ue dizer maior parte dos casais >ue estão demasiado casados, demasiado prHimos, e >ue t8m de esta$elecer alguma distQncia psicolgica entre si antes de começarem a tratar construtivamente os seus pro$lemas. Por vezes, R mesmo necess5rio separ5;los 6sicamente, dando;lhes instruç@es para se sentarem longe um do outro no c(rculo do grupo. )epetidamente, temos >ue dizer, KDeiHe a Mar+ ?alar por si prpria, LohnK e KO Lohn R capaz de se de?en;
der, Mar+, R su6cientemente ?orte.K Por 6m, se continuam na terapia, todos os casais aprendem >ue a verdadeira aceitação da sua prpria individualidade e da do outro e a independ8ncia são as nicas ?undaç@es so$re as >uais se pode $asear um casamento adulto e o verdadeiro amor pode crescerZ.
Mais So$re as 'ronteiras do Ngo
%N9DO P)OC*#M#DO 3UN a eHperi8ncia de Kse apaiHonarK R uma espRcie de ilusão >ue de nenhuma ?orma constitui amor real, irei concluir ?azendo marcha atr5s e chamando a atenção para o ?acto de >ue o apaiHonar;se est5 realmente muito, muito prHimo do verdadeiro amor. De ?acto, a ideia errada de >ue apaiHonar;se R um tipo de amor R muito potente eHactamente por>ue contRm um grão de verdade.
# eHperi8ncia do amor verdadeiro tam$Rm tem a ver com as ?ronteiras do ego, 5 >ue envolve a eHpansão dos nossos limites. Os nossos limites são as nossas ?ronteiras do ego. 3uando eHpandimos os nossos limites atravRs do amor, ?azemo;lo estendendo os $raços, por assim dizer, para o ser amado, cuo desenvolvimento >ueremos alimentar. Para sermos capazes de o ?azer, o o$ecto do nosso amor tem primeiro >ue se tornar amado por nsW por outras palavras, temos >ue ser atra(dos por, investir em e comprometer;nos com um o$ecto eHterior a ns, para alRm das ?ronteiras do Nu. Os psi>uiatras chamam a este processo
Z 3uem leu o livro de O]9eil Open Marriage reconhecer5 isto como um princ(pio $5sico do casamento a$erto, em oposição ao ?echado. Os O]9eils eram de ?acto muito suaves e contidos no seu proselitismo >uanto ao casamento a$erto. O meu tra$alho com casais levou;me crua conclusão de >ue o casamento a$erto R a nica ?orma de casamento maduro >ue R saud5vel e não seriamente destrutivo para a sade espiritual e a evolução dos parceiros individuais.
de atracção, investimento e compromisso KcateHiaK e dizem >ue KcalcetamosK o o$ecto amado. Mas >uando catectamos um o$ecto eHterior a ns, tam$Rm incorporamos psicologicamente uma representação desse o$ecto em ns. Por eHemplo, consideremos um homem >ue ?az ardinagem
como passatempo. V um passatempo grati6cante e >ue ocupa o tempo. Nle KamaK a ardinagem. O seu ardim tem um grande signi6cado para ele. Nste homem catecta o ardim. #cha;o atraente, investiu algo de si nele, est5 comprometido com ele ; tanto >ue R capaz de saltar da cama cedo ao Domingo de manhã para voltar para ele, R capaz de se recusar a viaar para longe dele e pode atR dar pouca atenção mulher por causa dele. 9o processo da sua cateHia e para criar as suas \ores e ar$ustos ele aprende muito. 'ica a sa$er muito de ardinagem ; so$re solos e ?ertilizantes, transplantar e podar. N conhece o seu ardim em particular ; a sua histria, os tipos de \ores e plantas >ue tem, a sua disposição, os seus pro$lemas e atR o seu ?uturo. #pesar de o ardim eHistir ?ora dele, atravRs da sua cateHia tam$Rm passa a eHistir dentro dele. # ?orma como o conhece e o signi6cado >ue tem ?azem parte dele, parte da sua identidade, parte da sua histria, parte do seu conhecimento. #o amar e catectar este ardim, ele incorporou, duma ?orma $astante real, o ardim dentro de si, e por esta incorporação o seu Nu eHpandiu;se e as ?ronteiras do seu ego alargaram;se.
O >ue resulta então no decurso de muitos anos de amor, de alargarmos os nossos limites pelas nossas cateHias, R um engrandecimento gradual mas progressivo do Nu, uma incorporação interior do mundo eHterior, e o desenvolvimento, a eHtensão e o estreitamento das nossas ?ronteiras do ego. Desta maneira, >uanto mais e por mais tempo nos eHpandimos, mais amamos e mais di?usa se torna a distinção entre o Nu e o mundo. b medida >ue as ?ronteiras do ego se tornam mais 6nas e indistintas, começamos a sentir cada vez mais a mesma
espRcie de 8Htase >ue temos >uando as nossas ?ronteiras do ego caem parcialmente e nos KapaiHonamosK. S >ue, em vez de nos ?undirmos temporariamente e de ?orma irrealista com um s o$ecto amado, ?undimo; nos de ?orma realista e mais permanente com uma grande parte do mundo. Pode esta$elecer;se uma Kunião m(sticaK com todo o mundo. # sensação de 8Htase ou de graça associada a esta união, em$ora mais suave e menos dram5tica do >ue a associada paiHão, R no entanto muito mais est5vel, duradoura e por 6m grati6cante. V a di?erença entre a eHperi8ncia de topo, tipi6cada pelo apaiHonar;se, e o >ue #$raham MasloJ re?eriu como a KeHperi8ncia do planaltoKZ. #s alturas não se v8em por momentos para se perderem novamenteW atingem;se para sempre.
V $vio e do entendimento geral >ue a actividade seHual e o amor, em$ora possam ocorrer em simultQneo, estão ?re>uentemente dissociados, por>ue
são $asicamente ?enmenos independentes. Por si s, ?azer amor não R um acto de amor. Mesmo assim, a eHperi8ncia de relação seHual, e particularmente do orgasmo mesmo na mastur$ação-, R uma eHperi8ncia tam$Rm associada a um maior ou menor grau de colapso das ?ronteiras do ego e ao 8Htase a ele ligado. V devido a este colapso das ?ronteiras do ego >ue somos capazes de gritar, no momento do cl(maH, K#mo;teK ou KOh, meu DeusK a uma prostituta por >uem, momentos mais tarde, depois de as ?ronteiras do ego terem voltado ao seu lugar, não sentimos >ual>uer vest(gio de a?ecto, gosto ou investimento. 9ão >uero com isto dizer >ue o 8Htase da eHperi8ncia org5smica não possa ser aumentado pela partilha com alguRm >ue se amaW pode. Mas mesmo sem um parceiro amado ou >ual>uer parceiro, o colapso das ?ronteiras do ego conuntamente com o orgasmo pode ser totalW por um segundo podemos es>uecer totalmente >uem somos, perdermo; 9otaZ )eligions, < alues and Peak;NHperiences 9.&or>ue!
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;nos, no tempo e no espaço, 6carmos ?ora de ns, ser transportados. Podemos unir;nos ao Universo. Mas s por um segundo. #o descrever a prolongada Kunicidade com o UniversoK associada ao amor verdadeiro comparada com a união momentQnea do orgasmo, utilizei as palavras Kunião m(sticaK. O misticismo R essencialmente a crença de >ue a realidade R unicidade. Os mais literais dos m(sticos acreditam >ue a nossa visão comum do Universo como contendo multid@es de o$ectos distintos ; estrelas, planetas, 5rvores, p5ssaros, casas, ns ; todos separados uns dos outros por ?ronteiras R uma percepção errada, uma ilusão. Para designar esta concepção errada consensual, este mundo de ilusão >ue a maior parte de ns cr8 erradamente ser real, os _indus e os :udistas utilizam a palavra KMa+aK. Nles e outros m(sticos sustentam >ue a verdadeira realidade s pode ser conhecida atravRs da eHperi8ncia da unicidade pela renncia s ?ronteiras do ego. V imposs(vel ver de ?acto a unidade do Universo en>uanto se continua a ver a si prprio como um o$ecto distinto, separado e distingu(vel do resto do Universo de >ual>uer modo, ?orma ou ?eitio. Os _indus e os :udistas sustentam ?re>uentemente, por isso, >ue o recRm;nascido, antes do desenvolvimento das ?ronteiras do ego, conhece a realidade, en>uanto >ue os adultos não. #lguns atR sugerem >ue o caminho para o esclarecimento ou conhecimento da unicidade da realidade eHige a nossa regressão ou >ue nos tornemos como recRm; nascidos. Nsta doutrina pode ser perigosamente tentadora para certos adolescentes e ovens adultos >ue não estão preparados para assumir responsa$ilidades adultas, >ue parecem assustadoras, esmagadoras e
eHigindo mais do >ue as suas capacidades. K9ão tenho >ue passar por tudo isto,K pode pensar uma dessas pessoas. KPosso desistir de tentar ser adulto e escapar s eHig8ncias adultas e entrar na santidade.K #gindo com $ase nesta suposição, atinge;se mais depressa a es>uizo?renia >ue a santidade.
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# maior parte dos m(sticos compreende a verdade >ue ?oi analisada no 6nal da discussão da disciplina! ou sea, >ue devemos possuir ou conseguir algo antes de podermos renunciar a ele e conservar a nossa compet8ncia e via$ilidade. O recRm;nascido, sem as suas ?ronteiras do ego, pode estar em contacto mais prHimo com a realidade >ue os pais, mas R incapaz de so$reviver sem os cuidados dos pais e incapaz de comunicar a sua sa$edoria. O caminho para a santidade passa pela idade adulta. 9ão h5 atalhos r5pidos nem ?5ceis. #s ?ronteiras do ego t8m de ser re?orçadas antes de poderem ser en?ra>uecidas. # identidade tem de ser esta$elecida antes de poder ser transcendida. %emos >ue encontrar o nosso Nu antes de o podermos perder. # li$ertação tempor5ria das ?ronteiras do ego associada ao estado de paiHão, relação seHual ou ao uso de certas drogas psico; activas podem deiHar;nos entrever o 9irvana, mas não nos levam ao 9irvana propriamente dito. V uma tese deste livro >ue o 9irvana, ou o esclarecimento duradouro, ou o verdadeiro desenvolvimento espiritual, s podem ser alcançados atravRs do eHerc(cio persistente do verdadeiro amor.
Nm suma, a perda tempor5ria das ?ronteiras do ego associada ao estado de paiHão e relação seHual não s nos leva a assumir compromissos com outras pessoas, a partir dos >uais o verdadeiro amor pode surgir, mas d5; nos tam$Rm o gosto antecipado e portanto um incentivo- do 8Htase m(stico mais dur5vel >ue pode ser nosso depois de uma vida de amor. Como tal, portanto, em$ora apaiHonar;se não sea amor em si, R uma parte do grande e misterioso es>uema do amor.
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Depend8ncia
O SN4U9DO N))O M#&S comum so$re o amor R a ideia de >ue depend8ncia R amor. V um conceito errado com o >ual os psicoterapeutas se con?rontam diariamente. O seu e?eito veri6ca;se de um modo mais dram5tico em
indiv(duos >ue tentam ou ameaçam suicidar;se ou se tornam incapacitantemente deprimidos em reacção reeição ou a uma separação do cXnuge ou de um amante. Nssa pessoa diz KNu não >uero viver, eu não posso viver sem o meu marido mulher, namorada, namorado-, eu amo;oatantoK. N >uando eu respondo, como ?aço ?re>uentemente, K&sso R um erro, não ama o seu marido mulher, namorada, namorado-,K KO >ue R >ue >uer dizer[K R a pergunta em tom irritado, K#ca$ei de lhe dizer >ue não posso viver sem ele ou ela-.K %ento eHplicar, KO >ue me descreve R parasitismo, não amor. 3uando precisa de outra pessoa para a sua so$reviv8ncia, R um parasita dessa pessoa. 9ão eHiste escolha nem li$erdade na vossa relação. V mais uma >uestão de necessidade do >ue de amor. O amor R o eHerc(cio da escolha livre. Duas pessoas sentem amor uma pela outra apenas >uando são capazes de viver uma sem a outra mas escolhem viver uma com a outra.K
De6no a depend8ncia como a incapacidade de se sentir realizado ou de agir ade>uadamente sem a certeza de >ue se R motivo de cuidado para outra pessoa. # depend8ncia em adultos 6sicamente saud5veis R patolgica ; R doentia, sempre uma mani?estação de doença ou pro$lema mental. Deve ser distinguida da>uilo >ue R re?erido normalmente como necessidade ou sentimentos de depend8ncia. %odos ns ; e cada um de ns ; mesmo >ue tentemos aparentar para os outros e para ns
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prprios o contr5rio ; temos car8ncias a?ectivas. %odos ns deseamos ser mimados, >ue tomem conta de ns sem es?orço da nossa parte, e >ue pessoas mais ?ortes do >ue ns e para >uem os nossos interesses são realmente importantes gostem de ns. Por muito ?ortes, cuidadosos, respons5veis e adultos >ue seamos, se olharmos $em para dentro de ns, encontraremos sempre o deseo de >ue cuidem de ns para variar. Cada um de ns, independentemente da idade e da maturidade, procura e gostaria de ter na sua vida uma $oa imagem materna e paterna. Mas, para a maior parte de ns, estes deseos ou sentimentos não regem a nossa vidaW não são o tema predominante da nossa eHist8ncia. 3uando governam as nossas vidas e ditam a >ualidade da nossa eHist8ncia, temos então algo mais do >ue meras car8ncias a?ectivasW somos dependentes. Nspeci6camente, uma pessoa cua vida R governada e ditada pelas necessidades da depend8ncia so?re de uma dis?unção de ordem psi>ui5trica a >ue, em termos de diagnstico, damos o nome de Kdis?unção de personalidade dependente passivaK. V talvez a mais comum de todas as pertur$aç@es de ordem psi>ui5trica.
#s pessoas com esta dis?unção, pessoas dependentes passivas, estão tão empenhadas na procura de serem amadas >ue não lhes resta nenhuma energia para amar. São como pessoas es?omeadas, esgravatando onde podem por comida, sem partilharem a sua comida com os outros. V como se dentro delas houvesse um vazio interior, um poço sem ?undo clamando por ser cheio mas >ue nunca se consegue encher completamente. 9unca se sentem KpreenchidosK nem t8m a sensação de realização. Sentem sempre K?alta;me >ual>uer coisaK. 3uase não toleram a solidão. Devido sua aus8ncia de realização não t8m um sentido real de identidade e de6nem;se a si prprios apenas pelas relaç@es >ue t8m. Um operador gr56co de trinta anos, eHtremamente deprimido, veio ver;me tr8s dias depois de a mulher o ter deiHado, levando os seus dois 6lhos. Nla 5 tinha
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ameaçado deiH5;lo por tr8s vezes, >ueiHando;se da sua total ?alta de atenção para com ela e as crianças. De cada vez ele tinha;lhe pedido para 6car e prometido modi6car;se, mas essa mudança nunca durava mais de um dia e, dessa vez, ela tinha levado a ameaça em ?rente. Nle não dormia h5 dois dias, tremia de ansiedade, as l5grimas corriam;lhe pela cara a$aiHo e pensava seriamente em suicidar;se. K9ão consigo viver sem a minha ?am(lia,K disse a chorar, K#mo;os tanto.K
KNstou con?uso,K disse;lhe eu. KDisse;me >ue a sua mulher tinha razão nas suas >ueiHas, >ue nunca ?azia nada por ela, >ue s ia a casa >uando lhe apetecia, >ue não se sentia atra(do por ela nem seHual nem emocionalmente, >ue chegava ao ponto de não ?alar com as crianças durante meses, >ue nunca $rincava ou sa(a com elas. O senhor não tem nenhuma relação com ninguRm da sua ?am(lia, por isso não entendo por>ue R >ue est5 tão deprimido por ter perdido um relacionamento >ue nunca eHistiu.K
K9ão est5 a ver[K respondeu, KNu agora não sou nada. 9ada. 9ão tenho mulher, não tenho 6lhos. 9ão sei >uem sou. Posso não me preocupar com eles, mas devo gostar deles. Sem eles não sou nada.K
Por ele estar tão deprimido ; tinha perdido a identidade >ue a ?am(lia lhe dava ; mar>uei;lhe uma nova consulta para dois dias mais tarde. 9ão
esperava grandes melhoras. Mas >uando voltou, irrompeu pelo meu ga$inete com um largo sorriso e anunciou, K#gora est5 tudo $em.K
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KOh, não,K respondeu ?eliz, Knão sou$e nada deles desde >ue estive consigo. Mas conheci uma rapariga ontem noite num $ar. Nla disse;me >ue gosta realmente de mim. Nst5 separada, como eu. ue não vou precisar mais de vir ter consigo.K
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Nsta r5pida mutação R caracter(stica nos indiv(duos dependentes passivos. 9ão R importante de >uem dependem, desde >ue haa alguRm. 9ão interessa >ual a sua identidade desde >ue eHista alguRm >ue lha ?orneça. Conse>uentemente as suas relaç@es, em$ora aparentemente dram5ticas na sua intensidade, são na verdade eHtremamente ligeiras. Devido ?orte sensação >ue t8m de vazio interior e na Qnsia de o preencher, as pessoas dependentes passivas não demoram a grati6car a sua necessidade de outras. Uma mulher ovem, $onita, muito inteligente e eHtremamente saud5vel em determinados aspectos, teve, entre os dezassete e os vinte e um anos, uma sRrie >uase in6nita de envolvimentos seHuais com homens de um modo geral in?eriores a ela em termos de intelig8ncia e capacidades. Passava de um perdedor para outro. O pro$lema, >uando surgiu, era a sua incapacidade de esperar o tempo necess5rio para procurar um homem ade>uado ou mesmo de escolher entre os muitos imediatamente dispon(veis. uatro horas depois de terminar uma relação ela agarraria o primeiro homem >ue encontrasse num $ar e entraria na sessão seguinte de terapia a cantar;lhe louvores. KSei >ue ele est5 desempregado e >ue $e$e demais, mas no ?undo tem muito talento e gosta verdadeiramente de mim. Sei >ue esta relação ir5 correr $em.K
Mas nunca correu $em, não s por ela não ter ?eito uma $oa escolha mas tam$Rm por>ue se tornaria cada vez mais a$sorvente em relação ao homem, pedindo cada vez mais provas do seu a?ecto, >uerendo estar constantemente com ele, recusando;se a 6car sozinha. KV por eu gostar tanto de ti >ue não suporto estar longe de ti,K dir;lhe;ia ela, mas mais cedo ou mais tarde ele sentir;se;ia completamente su?ocado e preso, sem espaço para se mover, pelo seu KamorK. _averia uma violenta eHplosão, a relação
terminaria e o ciclo iniciar;se;ia todo de novo no dia seguinte. # mulher tornou;se capaz de >ue$rar o ciclo aps tr8s anos de terapia, durante os >uais começou a apreciar a
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sua prpria intelig8ncia e >ualidades, a identi6car o seu vazio e ansiedade e a distingui;los do amor verdadeiro, a compreender >ue a sua ansiedade a levava a iniciar e a depender de relacionamentos >ue lhe eram preudiciais e a aceitar a necessidade de disciplinar rigidamente a sua ansiedade para poder tirar proveito das suas capacidades.
9o diagnstico R utilizada a palavra KpassivoK untamente com a palavra KdependenteK por>ue estes indiv(duos se preocupam tanto com o >ue os outros podem ?azer por eles >ue atR chegam ao ponto de eHcluir o >ue eles prprios poderão ?azer. Uma vez, >uando tra$alhava com um grupo de cinco pacientes solteiros, todos dependentes passivos, pedi;lhes para ?alarem dos seus o$ectivos em termos da situação em >ue gostariam de estar na vida da( a cinco anos. De um modo ou de outro cada um respondeu K3uero estar casado com alguRm >ue goste mesmo de mimK. 9em um mencionou manter um emprego estimulante, criar uma o$ra de arte, ?azer uma contri$uição para a comunidade ou estar numa posição em >ue ele ou ela pudesse amar ou atR ter 6lhos. # noção de es?orço não estava inclu(da nos seus sonhosW visavam apenas um estado passivo e sem es?orço de rece$er atenção e cuidados. Disse;lhes, como digo a muitos outros! KSe o vosso o$ectivo R serem amados, não vão conseguir alcanç5;lo. # nica ?orma de se ter a certeza de ser amado R ser uma pessoa merecedora de amor, e não se pode ser uma pessoa merecedora de amor >uando o principal o$ectivo na vida R ser amado passivamente.K &sto não signi6ca >ue as pessoas dependentes passivas nunca ?azem nada pelos outros, mas o seu motivo ao ?azer R cimentar a ligação >ue prende os outros a elas para garantirem a sua retri$uição. N >uando não est5 envolvida a hiptese de a?ecto por parte do outro, t8m muita di6culdade em K?azer coisasK. %odos os mem$ros do grupo acima re?erido achavam angustiantemente di?(cil comprar uma casa, separar;se dos
pais, procurar um emprego, deiHar um emprego totalmente insatis?atrio ou mesmo dedicar;se a um passatempo.
9o casamento h5 normalmente uma di?erenciação dos papRis dos dois esposos, uma divisão do tra$alho entre os dois, normalmente e6ciente. # mulher normalmente cozinha, trata da limpeza da casa, das compras e cuida das criançasW o homem normalmente garante o emprego, trata das 6nanças, corta a relva e ?az reparaç@es. Os casais saud5veis trocam de papRis instintivamente de vez em >uando. O homem R capaz de cozinhar uma re?eição de vez em >uando, passar um dia por semana com as crianças, limpar a casa para ?azer uma surpresa mulherW a mulher pode arranar um emprego a tempo parcial, cortar a relva no dia do anivers5rio do marido, ou encarregar;se da conta $anc5ria e dos pagamentos durante um ano. O casal pode considerar esta troca de papRis como uma espRcie de $rincadeira >ue acrescenta condimento e variedade ao casamento. V isso, mas talvez mais importante mesmo se ?eito inconscientemente-, R um processo >ue diminui a sua depend8ncia mtua. De certo modo, cada mem$ro do casal est5 a treinar;se para a so$reviv8ncia no caso de perda do outro. Mas, para as pessoas dependentes passivas, a perda do outro R uma perspectiva tão assustadora >ue não conseguem en?rentar a preparação para ela, nem tolerar um processo >ue diminuiria a depend8ncia ou aumentaria a li$erdade do outro.
Nm conse>u8ncia disso, uma das marcas comportamentais das pessoas dependentes passivas no casamento R >ue a sua di?erenciação de papRis R r(gida, e tentam aumentar em vez de diminuir a depend8ncia mtua, de modo a tornar o casamento, cada vez mais e não cada vez menos, uma armadilha. #o agir assim, em nome do >ue apelidam de amor mas >ue R na realidade depend8ncia, diminuem a sua li$erdade e estatura e as do outro. De vez em >uando, como parte deste processo, as pessoas dependentes passivas, >uando casadas, chegam a
renunciar a capacidades ad>uiridas antes do casamento. Um eHemplo R o não invulgar s(ndroma da mulher >ue não KpodeK conduzir. Metade das vezes, ela pode nunca ter aprendido, mas nos restantes casos, por vezes alegadamente devido a um pe>ueno acidente, desenvolve uma K?o$iaK acerca da condução numa altura >ual>uer depois do casamento e deiHa de conduzir. O e?eito desta K?o$iaK em zonas rurais e su$ur$anas, onde vive a maior parte das pessoas, R torn5;la >uase totalmente dependente do marido e acorrent5;lo a ela atravRs do seu desamparo. Nntão ele tem >ue ?azer as compras todas para a ?am(lia ou servir;lhe de motorista em todas as eHpediç@es de compras. Por>ue este comportamento normalmente grati6ca as necessidades de depend8ncia dos dois esposos, >uase nunca R visto
como doentio ou mesmo como um pro$lema a ser resolvido pela maior parte dos casais. 3uando sugeri a um $an>ueiro, eHtremamente inteligente em todas as outras >uest@es, >ue a mulher, >ue deiHou de guiar aos >uarenta e seis anos devido a uma K?o$iaK, talvez tivesse um pro$lema >ue merecia atenção psi>ui5trica, ele disse, KOh, não, o mRdico disse;lhe >ue era devido menopausa e >uanto a isso não h5 nada a ?azer.K Nla sentia;se segura por sa$er >ue ele não teria um caso nem a deiHaria, por>ue estava tão ocupado depois do tra$alho a lev5;la s compras e a transportar as crianças. Nle sentia;se seguro, sa$endo >ue ela não teria um caso nem o deiHaria por>ue não tinha mo$ilidade para conhecer outras pessoas >uando ele não estava com ela. Com este comportamento, os casamentos dependentes passivos podem tornar;se duradouros e seguros, mas não podem ser considerados saud5veis nem de amor verdadeiro, por>ue a segurança R ad>uirida pelo preço da li$erdade e a relação serve para retardar ou destruir o desenvolvimento dos parceiros individuais. Dizemos repetidamente aos nossos casais >ue Kum $om casamento s pode eHistir entre duas pessoas ?ortes e independentesK.
# depend8ncia passiva tem a sua gRnese na ?alta de amor. O sentimento (ntimo de v5cuo de >ue so?rem as pessoas dependentes passivas R o resultado directo da ?alha dos seus pais em preencher as suas necessidades de a?ecto, atenção e cuidados durante a in?Qncia. 'oi re?erido na primeira parte, >ue as crianças >ue são amadas e a >uem R dada atenção com uma consist8ncia relativa durante a in?Qncia, entram na idade adulta com um sentimento pro?undo de >ue são passivas de ser amadas e valiosas e >ue, portanto, continuarão a ser amadas e continuar5 a ser;lhes dedicada atenção en>uanto se mantiverem 6Ris a si mesmas. #s crianças >ue crescem num am$iente onde o amor e a atenção estão ausentes ou são dados com enorme inconsist8ncia, entram na idade adulta sem esse sentido de segurança (ntima. Nm vez disso, t8m um sentimento de insegurança (ntima, um sentimento de Knão tenho o su6cienteK e de >ue o mundo R imprevis(vel e avarento, $em como o sentimento de >ue não são pass(veis de ser amadas e consideradas valiosas. 9ão R de admirar portanto, >ue sintam a necessidade de procurar ansiosamente amor, cuidado e atenção onde >uer >ue os encontrem e, >uando os encontram, se agarrem a eles com um desespero >ue os leva a um comportamento sem amor, manipulativo e ma>uiavRlico >ue destri essas mesmas relaç@es >ue tentam preservar. Como tam$Rm ?oi indicado na parte anterior, o amor e a disciplina andam de mãos dadas, pelo >ue pais >ue não amam nem se importam com os 6lhos são pessoas a >uem ?alta a disciplina, e >uando ?alham em ?azer sentir aos 6lhos >ue são amados, tam$Rm ?alham em lhes
dar a capacidade da auto;disciplina. #ssim, a depend8ncia eHcessiva dos indiv(duos dependentes passivos R apenas a principal mani?estação da sua pertur$ação de personalidade. bs pessoas dependentes passivas ?alta a auto;disciplina. 9ão >uerem ou são incapazes de adiar a grati6cação da sua ?ome de atenção. 9o seu desespero por ?ormar e manter
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ligaç@es, atiram a honestidade pela anela. #garram;se a relaç@es desgastadas >uando deviam renunciar a elas. Mais importante, ?alta;lhes o sentido de responsa$ilidade por si prprias. Nsperam passivamente >ue os outros, ?re>uentemente atR os prprios 6lhos, seam a ?onte da sua ?elicidade e preenchimento, e portanto, >uando não se sentem $asicamente ?elizes e preenchidos, sentem >ue os outros são respons5veis. Nm resultado, estão interminavelmente zangados, por>ue se sentem interminavelmente tra(dos pelos outros >ue, na realidade, nunca conseguem preencher todas as suas necessidades nem K?az8;losK ?elizes. %enho um colega >ue muitas vezes diz s pessoas, KOlhe, permitir;se ser dependente doutra pessoa R a pior coisa poss(vel >ue pode ?azer a si mesmo. Nstaria melhor se ?osse dependente de hero(na. Nn>uanto estiver ?ornecido, a hero(na nunca o deiHa 6car malW se l5 estiver, ?5;lo;5 sempre ?eliz. Mas se est5 espera >ue outra pessoa o ?aça ?eliz, 6car5 interminavelmente desiludido.K De ?acto, não R por acaso >ue a pertur$ação mais comum mani?estada pelas pessoas dependentes passivas, para alRm do seu relacionamento com os outros, R a depend8ncia das drogas e do 5lcool. # sua personalidade R KviciadaK. São viciados em pessoas, sugam;nas e engolem;nas, e >uando as pessoas não estão dispon(veis para serem sugadas e engolidas, viram;se para a garra?a, ou para a agulha ou para a pastilha, como su$stitutos das pessoas.
)esumindo, a depend8ncia pode parecer amor por>ue R uma ?orça >ue o$riga as pessoas a agarrarem;se ?erozmente umas s outras. Mas, na verdade, não R amorW R uma ?orma de anti;amor. %em a sua gRnese numa ?alta de amor por parte dos pais e perpetua essa ?alha. Procura rece$er em vez de dar. #limenta a in?antilidade em vez do crescimento. 'unciona de ?orma a armadilhar e restringir em vez de li$ertar. Por 6m, destri em vez de construir relaç@es e destri em vez de construir pessoas.
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ZBZ
CateHia Sem #mor
UM DOS #SPNC%OS D# depend8ncia R >ue não se preocupa com o desenvolvimento espiritual. #s pessoas dependentes estão interessadas no seu prprio alimento e nada maisW deseam a plenitude, deseam ser ?elizesW não deseam desenvolver;se, nem estão dispostas a tolerar a in?elicidade, a solidão e o so?rimento envolvidos no desenvolvimento. #s pessoas dependentes tam$Rm não se preocupam com o desenvolvimento espiritual do outro, do o$ecto da sua depend8nciaW importam;se apenas >ue o outro ali estea para as satis?azer. # depend8ncia R s uma das ?ormas de comportamento a >ue incorrectamente aplicamos a palavra KamorK >uando a preocupação com a evolução espiritual est5 ausente. Consideremos agora outras ?ormas, e esperamos demonstrar mais uma vez >ue o amor nunca R alimento nem cateHia sem atentar ao desenvolvimento espiritual.
)e?erimo;nos ?re>uentemente a pessoas >ue amam o$ectos inanimados ou actividades. Dizemos KNle adora o dinheiroK ou KNle adora o poderK, KNle adora ardinarK ou KNle adora ogar gol?eK. V certo >ue um indiv(duo pode es?orçar;se muito alRm dos limites pessoais vulgares, tra$alhando sessenta, setenta, oitenta horas por semana para acumular ri>ueza ou poder. 9o entanto, apesar da eHtensão da ?ortuna ou da in\u8ncia de cada um, todo este tra$alho e acumulação podem não ser nada engrandecedores. De ?acto, podemos muitas vezes dizer de um magnata >ue se ?ez por si prprio, KV uma pessoa menor, m5 e mes>uinha.K Nm$ora possamos ?alar so$re o >uanto essa pessoa ama o dinheiro ou o poder, ?re>uentemente não o vemos como uma pessoa >ue ama. Por>ue R assim[ V por>ue a ri>ueza
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ou o poder se tornaram, para essa pessoa, 6ns em si, em vez de meios para um o$ectivo espiritual. O nico 6m verdadeiro do amor R o desenvolvimento espiritual ou a evolução humana.
Os passatempos são actividades auto;educativas. #o nos amarmos a ns prprios ; ou sea, educando;nos para o propsito do desenvolvimento espiritual ; temos >ue nos apetrechar com toda a espRcie de coisas >ue não são directamente espirituais. Para alimentar o esp(rito, o corpo tem tam$Rm de ser alimentado. Precisamos de comida e a$rigo. &ndependentemente da nossa dedicação ao desenvolvimento espiritual, tam$Rm precisamos de descanso e repouso, eHerc(cio e distracção. Os santos t8m >ue dormir e atR
os pro?etas t8m >ue se divertir. #ssim, os passatempos podem ser um meio atravRs do >ual nos amamos a ns prprios. Mas se o passatempo se trans?orma num 6m em si, então torna;se um su$stituto em vez de um meio de desenvolvimento pessoal. bs vezes, R precisamente por serem su$stitutos do desenvolvimento pessoal >ue os passatempos são tão populares. 9os campos de gol?e, por eHemplo, encontram;se homens e mulheres de idade para >uem o o$ectivo principal >ue lhes resta na vida R retirar mais umas tacadas do seu ogo. Nsse es?orço de melhorar a sua ha$ilidade serve para lhes dar a sensação de progressão na vida e, assim, auda;os a ignorar a realidade de terem de ?acto deiHado de progredir, por terem desistido do es?orço de se melhorarem como seres humanos. Se se amassem mais a eles prprios, não se permitiriam contentar;se apaiHonadamente com um o$ectivo tão pe>ueno e um ?uturo tão mes>uinho.
Por outro lado, o poder e o dinheiro podem ser meios para um o$ectivo de amor. Uma pessoa pode, por eHemplo, suportar uma carreira pol(tica com o principal o$ectivo de utilizar o poder pol(tico para melhoria da raça humana. Ou h5 pessoas >ue podem ansiar pela ri>ueza, não pelo dinheiro, mas para os 6lhos poderem ?re>uentar a universidade e para eles prprios
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poderem ter a li$erdade e o tempo de estudo e re\eHão necess5rios ao seu desenvolvimento espiritual. 9ão R o poder nem o dinheiro >ue essas pessoas amamW R a humanidade.
Nntre as coisas >ue a>ui re6ro e em toda esta secção do livro, diria >ue a ?orma como utilizamos a palavra KamorK R tão generalizada e inespec(6ca >ue pode inter?erir seriamente com o nosso entendimento do amor. 9ão tenho grande esperança em >ue a linguagem mude neste aspecto. 9o entanto, en>uanto continuarmos a usar a palavra KamorK para descrever a nossa relação com algo >ue R importante para ns, algo >ue catectamos, sem atender >ualidade dessa relação, continuaremos a ter di6culdade em ver a di?erença entre o sensato e o tolo, o $om e o mau, o no$re e o ign$il.
Utilizando a nossa de6nição mais espec(6ca, R claro, por eHemplo, >ue s podemos amar seres humanos. Por>ue, de acordo com o nosso conceito geral das coisas, s os seres humanos possuem um esp(rito apto a um desenvolvimento su$stancial. Consideremos a >uestão dos animais de
estimação. K#doramosK o cão da ?am(lia. Damos;lhe de comer, damos;lhe $anho, damos;lhe mimos e car(cias, disciplinamo;lo e $rincamos com ele. 3uando est5 doente, somos capazes de largar tudo para ir com ele a correr para o veterin5rio. 3uando ?oge ou morre, 6camos desgostosos. 9a verdade, para algumas pessoas ss, sem 6lhos, os animais de estimação podem tornar;se a sua nica razão de eHistir. Se isto não R amor, então o >ue R[
Z )econheço a possi$ilidade de >ue este conceito possa ser ?alsoW de >ue toda a matRria, animada e inanimada, possa possuir um esp(rito. # distinção >ue ?azemos entre ns prprios como humanos e os animais e plantas Kin?erioresK, a terra e as pedras inanimadas, R uma mani?estação de ma+a, ou ilusão, no >uadro de re?er8ncia m(stico. _5 n(veis de compreensão. 9este livro trato do amor a um certo n(vel. &n?elizmente as minhas compet8ncias de comunicação são inade>uadas para a$arcar mais de um n(vel ao mesmo tempo ou para ?azer mais do >ue ?ornecer um vislum$re ocasional de um n(vel >ue não sea a>uele so$re o >ual estou a comunicar.
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Mas, eHaminemos as di?erenças entre a nossa relação com um animal de estimação e com outro ser humano. Primeiro >ue tudo, a eHtensão da nossa comunicação com os animais de estimação R eHtremamente limitada em comparação com a>uela em >ue podemos comunicar com outros seres humanos, se nos empenharmos nisso. 9ão sa$emos o >ue pensam os nossos animais de estimação. Nsta ?alta de conhecimento permite;nos proectar neles os nossos pensamentos e sentimentos e sentir por isso uma a6nidade emocional com eles >ue pode nada corresponder realidade. Segundo, s achamos os nossos animais satis?atrios en>uanto as suas vontades coincidem com a nossa. Nsta R a $ase em >ue geralmente escolhemos os animais de estimação e, se as suas vontades começam a divergir signi6cativamente da nossa, livramo;nos deles. 9ão os mantemos muito tempo por perto >uando protestam ou lutam contra ns. # nica escola para onde os mandamos para desenvolvimento da mente e do esp(rito R a escola de o$edi8ncia. 9o entanto, conseguimos desear >ue outros humanos desenvolvam uma Kvontade prpriaKW na verdade, R este deseo de di?erenciação do outro >ue R uma das caracter(sticas do amor genu(no. 'inalmente, na nossa relação com os animais de estimação, tentamos ?omentar a sua depend8ncia. 9ão >ueremos >ue cresçam e saiam de casa. 3ueremos >ue 6>uem ali, dependentemente deitados ao pR da lareira. V o seu apego a ns, e não a independ8ncia de ns, >ue valorizamos nos animais de estimação.
Nste assunto do KamorK dos animais de estimação tem imensa importQncia por>ue muitas, muitas pessoas s são capazes de amar animais de estimação e são incapazes de amar verdadeiramente outros seres humanos. &nmeros soldados americanos tiveram casamentos id(licos com Knoivas de guerraK alemãs, italianas ou aponesas com >uem não conseguiam comunicar ver$almente. Mas >uando as noivas aprenderam ingl8s, os casamentos começaram a des?azer;se. Os solda;
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sentimentos, deseos e o$ectivos e a sentir a mesma proHimidade >ue se sente em relação a um animal de estimação. Nm vez disso, como as mulheres aprenderam ingl8s, começaram a perce$er >ue elas tinham ideias, opini@es e o$ectivos di?erentes dos seus. b medida >ue isso ?oi acontecendo, para alguns o amor começou a crescerW para a maior parte, talvez, terminou. # mulher li$erada tem razão em acautelar;se em relação ao homem >ue lhe chama a?ectuosamente o seu K$ichinhoK. Pode, de ?acto, ser um indiv(duo cua a?eição dependa de ela ser um $ichinho de estimação, a >uem ?alta a capacidade de respeitar a ?orça, independ8ncia e individualidade dela. O eHemplo mais triste deste ?enmeno R, provavelmente, o grande nmero de mulheres >ue s KamamK os 6lhos en>uanto $e$Rs. Nncontram;se dessas mulheres em todo o lado. Podem ser mães ideais atR os 6lhos chegarem aos dois anos ; in6nitamente ternas, amamentando;os alegremente, aconchegando e $rincando com os $e$Rs, consistentemente a?ectuosas, totalmente dedicadas sua criação e eHtremamente ?elizes na maternidade. Depois, >uase >ue de um dia para o outro, muda o cen5rio. #ssim >ue a criança começa a mani?estar a sua vontade ; a deso$edecer, a choramingar, a recusar;se a $rincar, a não se deiHar a?agar de vez em >uando, a prender;se a outras pessoas, a entrar no mundo um pouco por si ;, o amor da mãe termina. Perde o interesse pela criança, Kdescatecta;aK, considera;a apenas um a$orrecimento. #o mesmo tempo, muitas vezes sente novamente um deseo >uase esmagador de engravidar outra vez, de ter outro $e$R, outro $icho de estimação. 9ormalmente R $em sucedida e o ciclo repete;se. Se não, R prov5vel >ue tente avidamente tomar conta dos $e$Rs dos vizinhos en>uanto ignora >uase na totalidade os pedidos de atenção do seu 6lho ou 6lhos, mais crescidos. Para os seus 6lhos, Kos terr(veis dois anosK são não s o 6m da in?Qncia,
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mas tam$Rm o 6m da eHperi8ncia de serem amados pela mãe. # dor e a privação por >ue passam são $vias para todos menos para a mãe, ocupada com o novo $e$R. O e?eito dessa eHperi8ncia normalmente surge >uando as crianças entram na idade adulta num padrão de personalidade depressiva eBou dependente passiva.
O >ue isto sugere R >ue o KamorK aos $e$Rs e animais de estimação e atR s esposas dependentemente o$edientes R um padrão de comportamento instintivo ao >ual se aplica per?eitamente o termo Kinstinto maternalK. Podemos comparar este com o comportamento instintivo de KapaiHonar;seK! não R uma ?orma genu(na de amor pelo ?acto de não implicar >ual>uer es?orço, nem R inteiramente um acto de vontade ou de escolhaW aproHima; se do amor por ser uma ?orma de se estender aos outros e servir para iniciar laços interpessoais dos >uais pode nascer o amor verdadeiroW mas R preciso muito mais para desenvolver um casamento saud5vel e criativo, criar uma criança saud5vel e cuo esp(rito se desenvolve, ou para contri$uir para a evolução da humanidade.
# >uestão R >ue criar pode e normalmente deve ser muito mais do >ue simplesmente alimentar, e >ue a educação do desenvolvimento espiritual R um processo in6nitamente mais complicado do >ue >ual>uer um >ue possa ser orientado por instinto. # mãe >ue re?eri no in(cio desta secção do livro, >ue não deiHava o 6lho ir de autocarro para a escola, R um caso t(pico. %ransport5;lo de e para a escola era cri5;lo, num certo sentido, mas era uma educação de >ue ele não precisava e >ue retardava claramente, em vez de desenvolver, o seu desenvolvimento espiritual. #$undam outros eHemplos! mães >ue empanturram de comida crianças 5 com eHcesso de pesoW pais >ue compram aos 6lhos $rin>uedos >ue davam para encher um >uarto e s 6lhas roupas >ue encheriam um arm5rioW pais >ue não esta$elecem limites nem negam deseos. #mor não R
simplesmente darW R dar criteriosamente e não dar criteriosamente tam$Rm. V elogiar criteriosamente e criticar criteriosamente. V discutir, lutar, con?rontar, animar, empurrar e puHar, para alRm de recon?ortar, criteriosamente. N liderança. # palavra KcriteriosoK signi6ca >ue re>uer u(zo, e o u(zo re>uer mais do >ue o instintoW re>uer tomada de decisão ponderada e muitas vezes dolorosa.
K#uto;Sacri?(cioK
S`O MU&%OS OS MO%&ue rece$e. Um pastor protestante veio consultar;me, relutantemente, por>ue a mulher so?ria de depressão crnica e os dois 6lhos tinham deiHado a universidade e estavam em casa, so$ cuidados psi>ui5tricos. #pesar do ?acto de a ?am(lia inteira estar KdoenteK, inicialmente ele estava completamente incapaz de compreender >ue podia ter um papel nas suas doenças. K'aço tudo o >ue posso para cuidar deles e dos seus pro$lemas,K relatava. K9ão h5 um nico momento >ue eu passe acordado sem me preocupar com eles.K # an5lise da situação revelou >ue este homem de ?acto es?orçava;se atR eHaustão para o$edecer aos deseos da mulher e dos 6lhos. %inha dado carros novos aos dois 6lhos e pago o respectivo seguro, apesar de sentir >ue os rapazes se deviam es?orçar mais por serem auto;su6cientes. %odas as semanas levava a mulher pera ou ao teatro, na cidade, apesar de detestar ir cidade e de a pera o a$orrecer de morte. #pesar de muito ocupado no seu cargo, passava a
maior parte do seu tempo livre em casa, a arrumar e limpar o >ue a mulher e os 6lhos largavam, uma vez >ue eles não tinham a menor preocupação com a limpeza domRstica. Kue hei;de ?azer[ 4osto deles e 6co penalizado se não tomar conta deles. Preocupo;me tanto com eles >ue não me permitirei nunca 6car a ver en>uanto eles tiverem necessidades a preencher. Posso não ser um homem $rilhante, mas pelo menos tenho amor e preocupação.K
'oi interessante desco$rir >ue o seu pai tinha sido um intelectual $rilhante, de consider5vel renome, mas tam$Rm um alcolico e um galanteador >ue não se preocupava nada com a ?am(lia e a negligenciava grosseiramente. 4radualmente, audei o meu doente a ver >ue, em criança, tinha urado ser tão di?erente do pai >uanto poss(vel, ser tão compassivo e preocupado >uanto o pai era impiedoso e desligado. #lgum tempo depois atR conseguiu compreender >ue tinha ?eito uma tremenda aposta em manter uma imagem de si prprio como carinhoso e compassivo e >ue muito do seu comportamento, incluindo a sua carreira no sacerdcio, tinha sido dedicado a promover essa imagem. O >ue ele não compreendeu com a mesma
?acilidade ?oi o grau de Kin?antilizaçãoK a >ue reduzia a ?am(lia. )e?eria;se continuamente mulher como Ka minha gatinhaK e aos 6lhos $em crescidos e atlRticos Kos meus midosK. KComo R >ue hei;de ter outro comportamento[K implorava. KNu posso ser carinhoso em reacção ao meu pai, mas isso não >uer dizer >ue v5 deiHar de o ser e trans?ormar;me num estupor.K O >ue ele teve literalmente >ue aprender ?oi >ue amar R uma actividade complicada e não simples, >ue eHige a participação de todo o seu ser ; a ca$eça tanto como o coração. Devido sua necessidade de ser tão di?erente do pai >uanto poss(vel, não tinha sido capaz de desenvolver um sistema de resposta \eH(vel
para eHprimir o seu amor. %eve >ue aprender >ue não dar na altura certa R mais compassivo do >ue dar na altura errada e >ue ?omentar a independ8ncia R mais uma mani?estação de amor do >ue cuidar de pessoas >ue podem per?eitamente tomar conta de si prprias. %eve ainda >ue aprender >ue eHpressar as suas prprias necessidades, ira, ressentimentos e eHpectativas era tão necess5rio para a sade mental da sua ?am(lia como o seu sacri?(cio e, portanto, >ue o amor tem >ue ser mani?estado tanto em con?rontação como em aceitação $eat(6ca.
b medida >ue se ?oi aperce$endo de como in?antilizava a ?am(lia, começou a e?ectuar mudanças. DeiHou de andar atr5s de toda a gente a arrumar e limpar e zangava;se a$ertamente >uando os 6lhos não participavam no arrano da casa. )ecusou;se a continuar a pagar os seguros dos carros dos 6lhos, dizendo;lhes >ue se >ueriam andar de carro tinham >ue pagar eles. Sugeriu mulher >ue passasse a ir sozinha pera em 9ova &or>ue. #o e?ectuar estas mudanças, teve de se arriscar a ?azer o papel de Kmau da 6taK e prescindir da omnipot8ncia do seu papel anterior como respons5vel por todas as necessidades da ?am(lia. Mas apesar de o seu comportamento anterior ter sido motivado principalmente pela necessidade de manter uma imagem de >uem ama, tinha no (ntimo a capacidade de amar verdadeiramente, e ?oi devido a essa capacidade >ue conseguiu modi6car; se. %anto a mulher como os 6lhos reagiram inicialmente com ira a estas mudanças. Mas em $reve um dos 6lhos voltou para a universidade e o outro arranou um emprego melhor e um apartamento. # mulher começou a apreciar a sua nova independ8ncia e a desenvolver;se de ?ormas s suas. O homem deu por si a tornar;se mais e6ciente como pastor e, ao mesmo tempo, a vida tornou;se mais agrad5vel.
O amor mal orientado do pastor raiava a perversão mais grave do amor >ue R o maso>uismo. Os leigos tendem a asso;
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ciar o sadismo e o maso>uismo com a actividade puramente seHual, interpretando;os como o prazer seHual derivado de in\igir ou so?rer dor ?(sica. 9a verdade, o verdadeiro sado;maso>uismo seHual R uma ?orma relativamente invulgar de psico;patologia. Muit(ssimo mais vulgar e, no limite, mais grave, R o ?enmeno do sado;maso>uismo social, em >ue as pessoas deseam inconscientemente magoar e ser magoadas umas pelas outras atravRs das suas relaç@es interpessoais não seHuais. %ipicamente, uma mulher ir5 procurar apoio psi>ui5trico por depressão ao ser a$andonada pelo marido. O?erecer5 ao psi>uiatra uma intermin5vel histria de repetidos maus tratos do marido! ele não lhe dava atenção, tinha amantes umas atr5s das outras, ogava com o dinheiro >ue devia ser gasto em alimentação, desaparecia dias a 6o sempre >ue lhe apetecia, chegava $8$ado a casa e $atia;lhe, e agora, por 6m, a$andonou;a e s crianças na vRspera de 9atal ; ainda por cima na vRspera de 9atal O terapeuta ne6to tende a reagir em relação a esta Kpo$re mulherK e sua histria com imediata simpatia, mas não tarda >ue a simpatia se evapore medida >ue 6ca melhor esclarecido. Primeiro, o terapeuta desco$re >ue este padrão de maus tratos eHiste h5 vinte anos e >ue, em$ora a po$re mulher se tenha divorciado do $ruto do marido por duas vezes, voltou a casar com ele por duas vezes, e >ue s inmeras separaç@es se seguiram inmeras reconciliaç@es. # seguir, depois de tra$alhar com ela durante um m8s ou dois para a audar a ganhar independ8ncia, >uando tudo parece estar a correr $em e a mulher aparenta estar a apreciar a tran>uilidade da vida separada do marido, o terapeuta v8 repetir o ciclo novamente desde o in(cio. Um dia, a mulher entra alegremente no consultrio para anunciar, K:em, o _enr+ voltou. %ele?onou;me uma noite destas a dizer >ue me >ueria ver, por isso encontrei;me com ele. &mplorou;me >ue o deiHasse regressar e parece realmente mudado, portanto aceitei;o de volta.K 3uando o
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terapeuta ?az notar >ue parece ser a repetição de um padrão >ue tinham concordado ser destrutivo, a mulher diz, KMas eu amo;o. 9ão se pode negar o amor.K Se o terapeuta tenta analisar este KamorK com alguma energia, a doente deiHa a terapia.
3ue se passa a>ui[ %entando entender o >ue aconteceu, o terapeuta recorda o $vio deleite com >ue a mulher tinha relatado a longa histria de $rutalidade e maus tratos do marido. De repente, nasce;lhe uma ideia estranhaW talvez esta mulher suporte os maus tratos do marido, e atR os procure, pelo mero prazer de ?alar so$re eles. Mas de >ue natureza seria esse prazer[ O terapeuta recorda o ?arisa(smo da mulher. Ser5 >ue a coisa mais importante na vida da mulher R ter um sentido de superioridade moral e >ue, para o poder manter, precisa de ser maltratada[ # natureza do padrão torna;se agora clara. #o permitir ser maltratada, sente;se superior. 9o limite, pode mesmo ter o prazer s5dico de ver o marido implorar e pedir para voltar e reconhecer momentaneamente a sua superioridade so$re a posição de humildade em >ue ele se encontra, en>uanto decide magnanimamente aceit5;lo de volta ou não. N nesse momento, ela consegue a sua vingança. 3uando se analisam estas mulheres, normalmente desco$re;se >ue ?oram particularmente humilhadas em crianças. Nm conse>u8ncia, procuram a vingança atravRs do seu sentido de superioridade moral, o >ue re>uer humilhação e maus tratos repetidos. Se o mundo nos tratar $em, não temos necessidade de nos vingarmos dele. Se a procura da vingança R o nosso o$ectivo de vida, temos >ue arranar ?orma de o mundo nos tratar mal para usti6car o nosso o$ectivo. Os maso>uistas encaram a sua su$missão aos maus tratos como amor, en>uanto >ue, de ?acto, R uma necessidade na sua intermin5vel procura da vingança e R $asicamente motivada pelo dio.
# >uestão do maso>uismo realça ainda outra das principais concepç@es erradas so$re o amor ; >ue R o auto;sacri?(cio.
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Nm virtude desta crença, a maso>uista t(pica via a sua tolerQncia dos maus tratos como auto;sacri?(cio e portanto como amor, e assim não tinha >ue reconhecer o seu dio. O pastor tam$Rm via o seu comportamento sacri6cado como amor, em$ora na verdade ?osse motivado, não pelas necessidades da sua ?am(lia, mas pela sua prpria necessidade de manter uma determinada imagem. 9o in(cio do tratamento, contava constantemente como K?azia coisasK pela mulher e pelos 6lhos, levando;nos a crer >ue ele nada retirava desses actos em proveito prprio. Mas retirava. Sempre >ue pensamos em ns a ?azer algo por outra pessoa, estamos de alguma ?orma a negar a nossa prpria responsa$ilidade. O >ue >uer >ue ?açamos, ?azemo;lo por>ue escolhemos ?az8;lo, e ?azemos essa escolha por>ue R a >ue mais nos satis?az. O >ue >uer >ue ?açamos por outra pessoa, ?azemo;lo por>ue preenche uma necessidade nossa. Os pais >ue dizem aos
6lhos, KDevias estar agradecido por tudo o >ue temos ?eito por tiK são, invariavelmente, pais a >uem ?alta um grau signi6cativo de amor. 3ual>uer pessoa >ue ame genuinamente conhece o prazer de amar. 3uando amamos genuinamente, ?azemo;lo por>ue >ueremos amar. %emos 6lhos por>ue >ueremos ter 6lhos, e se somos pais >ue amam, R por>ue o >ueremos ser. V verdade >ue o amor envolve uma mudança do Nu, mas >ue R uma eHtensão do Nu, mais do >ue um sacri?(cio. Como veremos mais tarde, o amor genu(no R uma actividade auto;compensadora. De ?acto, R ainda maisW engrandece em vez de diminuir o NuW preenche o Nu, em vez de o esgotar. 9o sentido real, o amor R tão ego(sta como o não;amor. Nis novamente um paradoHo, em >ue o amor R ego(sta e desprendido ao mesmo tempo. 9ão R o ego(smo ou a aus8ncia de ego(smo >ue distingue o amor do não;amor, R o o$ectivo da acção. 9o caso do amor genu(no, o o$ectivo R sempre o desenvolvimento espiritual. 9o caso do não;amor, o alvo R sempre outra coisa >ual>uer.
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O #mor 9ão R um Sentimento
LT #'&)MN& 3UN o #MO) R uma acção, uma actividade. &sto leva;nos ltima das principais concepç@es erradas >ue temos de a$ordar. O amor não R um sentimento. Muitas pessoas >ue possuem um sentimento de amor, e >ue atR agem em resposta a esse sentimento, actuam de todas as ?ormas destrutivas e de ?alta de amor. Por outro lado, um indiv(duo >ue ama genuinamente age com amor e de ?orma construtiva para com uma pessoa de >uem conscientemente não gosta, sem na verdade sentir amor pela pessoa nessa altura e talvez atR achando a pessoa de alguma maneira repugnante.
O sentimento do amor R a emoção >ue acompanha a eHperi8ncia da cateHia. # cateHia, como se devem lem$rar, R o processo pelo >ual um o$ecto se torna importante para ns. Uma vez catectado, o o$ecto, vulgarmente designado por Ko$ecto do amorK, torna;se alvo da nossa energia como se 6zesse parte de ns, e esta relação entre ns e esse o$ecto chama;se cateHia. Uma vez >ue temos muitas dessas relaç@es ao mesmo tempo, ?alamos das nossas cateHias. O processo de retirada da nossa energia de um o$ecto de amor de modo a >ue ele perca a sua importQncia para ns R chamado de descateHia. O conceito errado de >ue o amor R um sentimento eHiste por>ue con?undimos cateHia com amor. Nsta con?usão R compreens(vel por>ue são processos semelhantes, mas t8m tam$Rm di?erenças not5veis. Nm primeiro lugar, como ?oi 5 re?erido,
podemos catectar >ual>uer o$ecto, animado ou inanimado, com ou sem esp(rito. #ssim, uma pessoa pode catectar o mercado de acç@es ou uma ia e pode sentir amor por essas coisas. Segundo, o ?acto de termos catectado outro ser
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humano não signi6ca >ue nos importemos com o desenvolvimento espiritual dessa pessoa. # pessoa dependente, de ?acto, normalmente receia o desenvolvimento espiritual de um cXnuge catectado. # mãe >ue teimava em levar o 6lho adolescente escola catectava claramente o rapazW ele era importante para ela ; mas o seu desenvolvimento espiritual não. %erceiro, a intensidade das nossas cateHias muitas vezes nada tem a ver com sa$edoria ou empenho. Dois estranhos podem encontrar;se num $ar e catectar;se um ao outro de tal ?orma >ue nada ; nem compromissos anteriormente marcados, promessas ?eitas nem a esta$ilidade ?amiliar ; R mais importante na>uele momento >ue a sua consumação seHual. Por ltimo, as nossas cateHias podem ser passageiras e momentQneas. &mediatamente a seguir consumação seHual, cada um dos mem$ros do casal atr5s re?erido pode achar o outro pouco atraente e indese5vel. Podemos descatectar algo >uase imediatamente a seguir a o catectarmos.
O amor genu(no, por outro lado, implica empenhamento e o eHerc(cio da sa$edoria. 3uando nos preocupamos com o desenvolvimento espiritual de alguRm, sa$emos >ue a ?alta de empenho poder5 ser nociva e >ue o compromisso com essa pessoa R provavelmente necess5rio para mostrarmos e?ectivamente a nossa preocupação. V por essa razão >ue o compromisso R a pedra de $ase da relação psicoterap8utica. V >uase imposs(vel o doente alcançar um desenvolvimento signi6cativo da sua personalidade sem uma Kaliança terap8uticaK com o terapeuta. Por outras palavras, antes de o doente se poder arriscar a uma mudança radical, tem >ue sentir a ?orça e a segurança >ue adv8m de acreditar >ue o terapeuta R o aliado permanente e est5vel do doente. Para >ue esta aliança se concretize, o terapeuta tem >ue demonstrar ao doente, normalmente no decurso de um per(odo consider5vel, a preocupação slida e consistente >ue s pode provir da capacidade de
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assumir compromissos. 9ão >uer isto dizer >ue apeteça sempre ao terapeuta ouvir o doente. O compromisso signi6ca >ue o terapeuta ouve o doente, >uer goste >uer não. O casamento não R di?erente. 9um casamento construtivo, tal como na terapia construtiva, os parceiros t8m de dar atenção um ao outro e sua relação, regular e previsivelmente, como rotina, independentemente de como se sentem. Como re?eri, os casais deiHam, mais cedo ou mais tarde, de estar apaiHonados, e R no momento em >ue o instinto de acasalamento terminou o seu percurso >ue se inicia a oportunidade do amor genu(no. V >uando os esposos 5 não precisam de estar sempre na companhia um do outro, >uando pre?erem estar noutro s(tio por algum tempo, >ue o amor começa a ser testado e se veri6car5 se est5 presente ou ausente.
9ão signi6ca isto >ue os parceiros de uma relação est5vel e construtiva, tal como a psicoterapia intensiva ou um casamento, não se catectam um ao outro e relação de ?ormas diversasW isso acontece. O >ue >uer dizer R >ue o amor verdadeiro transcende a >uestão das cateHias. 3uando o amor eHiste, eHiste com ou sem cateHia e com ou sem o sentimento de amar. V mais ?5cil ; na verdade, R divertido ; amar com cateHia e o sentimento do amor. Mas R poss(vel amar sem cateHia e sem o sentimento de amor, e R na concretização desta possi$ilidade >ue o amor genu(no e transcendente se distingue da simples cateHia. # palavra chave nesta distinção R KvontadeK. De6ni o amor como a vontade de eHtensão de si prprio com o propsito de acalentar o seu desenvolvimento espiritual e o do outro. O amor genu(no R mais volunt5rio do >ue emocional. # pessoa >ue ama verdadeiramente, ?5; lo por>ue tomou a decisão de amar. Nssa pessoa assumiu o compromisso de amar, >uer o sentimento de amor estea ou não presente. Se estiver, tanto melhorW mas se não estiver, o empenhamento no amor, a decisão de amar, mant8m;se e são eHercidos da mesma
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?orma. Por outro lado, não s R poss(vel como necess5rio >ue uma pessoa >ue ama evite agir com $ase em sentimentos de amor. Posso encontrar uma mulher por >uem me sinta ?ortemente atra(do, a >uem me apetece amar, mas por>ue seria destrutivo para o meu casamento ter uma ligação nessa altura, direi alto ou no sil8ncio do meu coração, K#petece;me amar;te, mas não o vou ?azer.K Da mesma ?orma, posso recusar;me a aceitar uma nova
doente eHtremamente atraente e com $oas pro$a$ilidades de o$ter $ons resultados com a terapia, por>ue o meu tempo est5 5 comprometido com outros doentes, alguns dos >uais poderão ser menos atraentes e mais di?(ceis. Os meus sentimentos de amor podem não ter limites, mas a minha capacidade de amar tem. Portanto, tenho >ue escolher a pessoa em >uem vou concentrar a minha capacidade de amar, a >uem a minha vontade de amar ser5 dirigida. O verdadeiro amor não R um sentimento pelo >ual seamos ultrapassados. V uma decisão empenhada e ponderada.
# vulgar tend8ncia para con?undir o amor com o sentimento de amor permite s pessoas todas as ?ormas de se enganarem a si prprias. Um alcolico, cua mulher e 6lhos podem precisar desesperadamente da sua atenção na>uele preciso momento, R capaz de estar sentado num $ar, com os olhos cheios de l5grimas, a dizer ao empregado do $ar, KNu amo mesmo a minha ?am(lia.K _5 pessoas >ue negligenciam os 6lhos das maneiras menos aceit5veis e >ue se consideram os mais a?ectuosos dos pais. Nst5 claro >ue pode eHistir uma ?orma de proveito prprio nesta tend8ncia para con?undir o amor com o sentimento do amorW R ?5cil e nada desagrad5vel encontrar provas de amor nos sentimentos de cada um. Pode ser di?(cil e doloroso procurar provas de amor nas acç@es de cada um. Mas, por>ue o verdadeiro amor R um acto de vontade >ue transcende muitas vezes sentimentos de amor e?Rmeros ou cateHia, R correcto dizer, KO amor R como o amor age.K
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O amor e o não;amor, como o :em e o Mal, são ?enmenos o$ectivos e não puramente su$ectivos.
O %ra$alho de #tenção
DNPO&S DN %N)MOS #9#*&S#DO algumas das coisas >ue o amor não R, vamos eHaminar algumas >ue são amor. )e?eriu;se, na introdução desta secção do livro, >ue a de6nição do amor implica es?orço. 3uando nos es?orçamos, >uando damos mais um passo ou andamos mais um >uilmetro, ?azemo;lo em oposição inRrcia da preguiça ou resist8ncia do medo. #o nosso es?orço ou acção contra a inRrcia da preguiça, chamamos tra$alho. b acção ?ace ao medo, chamamos coragem. O amor, então, R uma ?orma de tra$alho ou uma ?orma de coragem. Nspeci6camente, R o tra$alho ou a coragem orientados para acalentar o nosso desenvolvimento espiritual
ou o de outro. Podemos tra$alhar ou mostrar coragem sem ser dirigida ao desenvolvimento espiritual e, por isso, nem todo o tra$alho e nem toda a coragem são amor. Mas por>ue eHige o nosso es?orço, o amor R sempre ou tra$alho ou coragem. Se um acto não ?or de tra$alho ou de coragem, então não R um acto de amor. 9ão h5 eHcepç@es.
# principal ?orma assumida pelo tra$alho do amor R a atenção. 3uando amamos alguRm, damos;lhe a nossa atençãoW estamos atentos ao desenvolvimento dessa pessoa. 3uando nos amamos a ns prprios, estamos atentos ao nosso prprio desenvolvimento. 3uando damos atenção a alguRm, estamos a preocuparmo;nos com essa pessoa. O acto de dar atenção eHige >ue ?açamos o es?orço de pXr de lado as nossas preocupaç@es eHistentes como ?oi descrito em relação disciplina
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dos par8nteses- e mudemos activamente a nossa consci8ncia. # atenção R um acto de vontade, de tra$alho contra a inRrcia da nossa prpria mente. Como diz )ollo Ma+, K3uando analisamos a vontade com todas as ?erramentas >ue a psican5lise moderna p@e ao nosso dispor, encontramo; nos de novo ao n(vel da atenção ou intenção como a sede da vontade. O es?orço devotado ao eHerc(cio da vontade R de ?acto um es?orço de atençãoW o es?orço de >uerer R o de manter a clareza de consci8ncia, ou sea, de manter a concentração da atenção.KZ
# ?orma mais vulgar e mais importante de eHercermos a nossa atenção R, de longe, ouvindo. Passamos uma enorme >uantidade de tempo a ouvir, a maior parte da >ual desperdiçamos, por>ue, de uma maneira geral, a maior parte de ns ouve muito mal. Um psiclogo industrial chamou;me uma vez a atenção para o ?acto de a >uantidade de tempo >ue dedicamos a ensinar certas matRrias s crianças nas escolas ser inversamente proporcional ?re>u8ncia com >ue as crianças ?arão uso da matRria >uando crescerem. #ssim, um gestor de negcios passa mais ou menos uma hora do dia a ler, duas a ?alar e oito a ouvir. 9o entanto, na escola, passamos uma grande parte do tempo a ensinar as crianças a ler, uma pe>uena parte a ensin5;las a ?alar e normalmente nenhum tempo a ensin5;las a ouvir. 9ão creio >ue sea $om tornarmos o >ue ensinamos na escola eHactamente proporcional ao >ue ?azemos depois da escola, mas penso >ue seria sensato darmos alguma instrução s crianças >uanto ao processo de ouvir ; não para >ue ouvir se torne ?5cil, mas para >ue elas entendam como R di?(cil ouvir $em.
Ouvir $em R um eHerc(cio de atenção e, necessariamente, de tra$alho 5rduo. V por não compreenderem isso ou por>ue não t8m vontade de ter o tra$alho >ue a maior parte das pessoas não ouve $em. 9otaZ *ove and ^ill 9ova &or>ue! Delta :ooks, Dell Pu$., /A/-, p. .
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9ão h5 muito tempo, assisti a uma con?er8ncia de um homem ?amoso so$re um aspecto da relação entre a Psicologia e a religião, pelo >ual me interesso desde h5 muito tempo. Devido ao meu interesse, tinha um certo nmero de conhecimentos so$re o assunto e reconheci imediatamente o con?erencista como um grande s5$io. %am$Rm senti amor no es?orço tremendo >ue ele ?azia em comunicar, com todo o tipo de eHemplos, conceitos eHtremamente a$stractos >ue eram di?(ceis de entender para ns, a sua audi8ncia. Por isso, ouvi;o com toda a atenção de >ue era capaz. Durante a hora e meia em >ue ele ?alou, o suor ca(a;me literalmente pela cara a$aiHo, num auditrio com ar condicionado. 3uando ele terminou, eu tinha uma terr(vel dor de ca$eça, os msculos do pescoço r(gidos do es?orço de concentração e sentia;me completamente vazio e esgotado. Nm$ora calculasse ter perce$ido não mais de cin>uenta por cento do >ue a>uele grande homem nos tinha dito na>uela tarde, 6>uei espantado pelo elevado nmero de esclarecimentos $rilhantes >ue me tinha dado. # seguir con?er8ncia, a >ue assistiram muitos indiv(duos amantes da cultura, vagueei entre a assist8ncia durante um intervalo para ca?R, ouvindo os coment5rios. Duma ?orma geral, estavam desiludidos. Conhecendo a sua reputação, esperavam mais. 9ão era um orador tão competente como esperavam ouvir. Uma mulher proclamava, perante acenos de concordQncia, KNle, na verdade, não nos disse nada.K
#o contr5rio dos outros, eu pude ouvir muito do >ue este grande homem disse, precisamente por>ue >uis ter o tra$alho de o ouvir. Nstava disposto a ter esse tra$alho por duas raz@es! uma, por>ue reconhecia a sua grandeza e >ue o >ue ele tinha para dizer teria provavelmente grande valorW segundo, por>ue, dado o meu interesse na 5rea, >ueria a$sorver pro?undamente o >ue ele tinha a dizer de ?orma a incrementar o meu entendimento e o meu desenvolvimento pessoal. Ouvi;lo ?oi para mim
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um acto de amor. #mei;o por>ue compreendi >ue era uma pessoa de grande valor, a >uem valia a pena dar atenção e amei;me a mim mesmo por>ue estava disposto a tra$alhar em prol do meu desenvolvimento. Sendo ele o pro?essor e eu o aluno, ele o dador e eu o receptor, o meu amor era principalmente dirigido a mim prprio, motivado pelo >ue eu podia retirar da nossa relação e não pelo >ue eu lhe podia dar a ele. Nm todo o caso, R inteiramente poss(vel >ue ele sentisse no meio da audi8ncia a intensidade da minha concentração, a minha atenção, o meu amor, e sentir;se por isso recompensado. O amor, como veremos uma e outra vez, R invariavelmente uma rua de dois sentidos, um ?enmeno rec(proco pelo >ual o receptor tam$Rm d5 e o dador tam$Rm rece$e.
Depois deste eHemplo de ouvir no papel do receptor, vamos prosseguir com a nossa oportunidade mais comum de ouvir no papel do dador! ouvir as crianças. O processo de ouvir as crianças di?ere con?orme a idade da criança. Para 5, vamos considerar uma criança de seis anos, na primeira classe. Se tiver oportunidade, uma criança da primeira classe ?ala >uase incessantemente. Como podem os pais reagir a esta tagarelice sem 6m[ %alvez a maneira mais ?5cil sea proi$i;la. 3uer acreditem >uer não, h5 ?am(lias em >ue >uase não R permitido s crianças ?alar, onde o ditado K#s crianças são para ser vistas e não ouvidasK se aplica vinte e >uatro horas por dia. <8em;se essas crianças, sem nunca intervirem, olhando silenciosamente os adultos dum canto, espectadores mudos nas som$ras. Uma segunda ?orma R permitir a tagarelice, mas simplesmente não a escutar, de maneira >ue o seu 6lho não interage consigo, e ?ala literalmente para o $oneco ou para si prprio, criando um ru(do de ?undo >ue pode ou não ser incmodo. # terceira ?orma R 6ngir >ue o ouve, continuando com o >ue estiver a ?azer ou a pensar da melhor maneira poss(vel, aparentando prestar atenção ao seu 6lho, ?azendo ru(dos ocasionais como
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Kha, haK ou Kisso R $omK, em alturas mais ou menos apropriadas, em resposta ao monlogo. # >uarta ?orma R a escuta selectiva, uma ?orma particularmente atenta de 6ngir ouvir, em >ue os pais espevitam as orelhas >uando o 6lho parece estar a ?alar de alguma coisa com signi6cado, esperançados em separar o trigo do oio com o m(nimo de es?orço. O pro$lema com esta ?orma R >ue a capacidade da mente humana para 6ltrar selectivamente não R assim tão competente ou e6ciente, com o resultado de >ue retRm uma >uantidade apreci5vel de oio e perde uma grande parte do trigo. # >uinta e ltima ?orma, claro, R ouvir mesmo a criança, dando;lhe toda a sua atenção, pesando cada palavra e compreendendo cada ?rase.
Nstas cinco maneiras de reagir conversa dos 6lhos ?oram apresentadas numa ordem de es?orço crescente, em >ue a >uinta ?orma, ouvir verdadeiramente, eHige do pai ou da mãe uma grande >uantidade de energia, comparada com as outras >ue re>uerem menos es?orço. O leitor pode supor ingenuamente >ue eu recomendo aos pais >ue sigam sempre a >uinta ?orma e ouçam sempre verdadeiramente os 6lhos. 9em por isso #ntes de mais, a propensão das crianças de seis anos para ?alar R tão grande, >ue um pai >ue ouvisse sempre verdadeiramente não teria >uase tempo nenhum para ?azer outra coisa. Por ltimo, seria incrivelmente a$orrecido por>ue, de ?acto, a tagarelice de uma criança de seis anos R geralmente a$orrecida. O >ue R portanto necess5rio R o e>uil($rio destas cinco ?ormas. Por vezes, R preciso dizer s crianças simplesmente >ue se calem ; por eHemplo, >uando a sua conversa nos distrai em situaç@es em >ue a nossa atenção R cr(tica, ou >uando representa uma interrupção grosseira de outras pessoas e uma tentativa de conseguir um dom(nio hostil e irrealista. #s crianças de seis anos ?alam muitas vezes pela pura alegria de tagarelar, e nada se ganha em lhes dar atenção
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>uando nem se>uer a solicitam e estão o$viamente ?elizes a ?alar sozinhas. _5 outras alturas em >ue as crianças não se satis?azem em ?alar sozinhas e >uerem interagir com os pais, e mesmo assim essa necessidade pode ser preenchida e6cazmente com a pretensão de ouvir. 9essas alturas, o >ue as crianças >uerem da interacção não R comunicação, mas simplesmente proHimidade, e 6ngir >ue os ouvimos R su6ciente para lhes dar a sensação de Kestar comK >ue elas pretendem. #lRm disso, as prprias crianças gostam muitas vezes de divagar e compreendem a escuta selectiva dos pais, uma vez >ue tam$Rm comunicam selectivamente. Compreendem >ue esta R a regra do ogo. V, portanto, durante uma proporção relativamente pe>uena do seu tempo de conversa >ue as crianças de seis anos precisam ou deseam ser verdadeira e totalmente ouvidas. Uma das muitas tare?as eHtremamente compleHas dos pais R serem capazes de conseguir um e>uil($rio prHimo do ideal dos estilos de ouvir e não ouvir, correspondendo com o estilo ade>uado s necessidades vari5veis da criança.
Nste e>uil($rio nem sempre R conseguido por>ue, muito em$ora a duração possa não ser prolongada, muitos pais não estão dispostos ou são incapazes de gastar a energia necess5ria para ouvir verdadeiramente. %alvez a maior parte dos pais. Podem pensar >ue estão mesmo a ouvir >uando o >ue ?azem R 6ngir >ue ouvem ou, na melhor das hipteses, ouvir selectivamente, mas estão a enganar;se a si prprios, escondendo a sua prpria preguiça. Por>ue ouvir verdadeiramente, mesmo por $reves momentos, eHige um es?orço
tremendo. Nm primeiro lugar, eHige concentração total. 9ão se pode escutar verdadeiramente alguRm e estar a ?azer outra coisa ao mesmo tempo. Se um dos pais >uer ouvir verdadeiramente o 6lho, tem >ue pXr tudo o resto de lado. O tempo de ouvir verdadeiramente deve ser dedicado unicamente criançaW deve ser o tempo da criança. Se não se estiver disposto a pXr de lado tudo, inclu;
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indo a$orrecimentos e preocupaç@es pessoais, durante esse tempo, então não se est5 disposto a ouvir verdadeiramente. Segundo, o es?orço necess5rio para concentração total nas palavras de uma criança de seis anos R consideravelmente maior do >ue o eHigido para ouvir um grande orador. Os padr@es de discurso da criança são irregulares ; torrentes de palavras ocasionais, interrompidas por pausas e repetiç@es o >ue torna di?(cil a concentração. Depois, a criança normalmente ?ala de assuntos >ue não t8m nenhum interesse inerente para o adulto, en>uanto >ue a audi8ncia do grande orador est5 especi6camente interessada no tpico do seu discurso. Por outras palavras, R desinteressante escutar uma criança de seis anos, o >ue torna duplamente di?(cil manter ?ocada a concentração. Nm conse>u8ncia, ouvir verdadeiramente uma criança desta idade R um tra$alho de amor real. Sem amor para motivar o pai ou a mãe, não poderia ser ?eito.
Mas maçar;se para >u8[ Para >u8 todo este es?orço de se concentrar inteiramente na tagarelice maçadora de uma criança de seis anos[ Primeiro, a sua disposição para o ?azer R a melhor prova concreta de estima >ue pode conceder ao seu 6lho. Se der ao seu 6lho a mesma estima >ue concederia a um grande orador, a criança perce$er5 >ue lhe R atri$u(do valor e sentir;se; 5 valiosa. 9ão h5 melhor ?orma nem, por ltimo, outra ?orma de ensinar aos 6lhos >ue são pessoas de valor, do >ue dando;lhes valor. Segundo, >uanto mais valiosas se sentem as crianças, mais começam a dizer coisas de valor. Corresponderão s suas eHpectativas. %erceiro, >uanto mais ouvir o seu 6lho, melhor entender5 >ue, no meio das pausas, dos gaguees, da tagarelice aparentemente inocente, o seu 6lho tem de ?acto coisas valiosas para dizer. O ditado >ue diz >ue a verdade sai Kda $oca das criançasK R reconhecido como um ?acto a$soluto por >uem >uer >ue ouça verdadeiramente as crianças. Ouça $astante o seu 6lho e compreender5 >ue ele R um indiv(duo
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eHtraordin5rio. N >uanto mais eHtraordin5rio achar o seu 6lho, mais estar5 disposto a ouvi;lo. N mais aprender5. 3uarto, >uanto mais sou$er so$re o seu 6lho, mais poder5 ensinar. Se sou$er pouco so$re os seus 6lhos, normalmente ensinar;lhes;5 coisas >ue ainda não estão prontos para aprender, ou >ue 5 sa$em e se calhar entendem melhor do >ue voc8. Por ltimo, >uanto mais as crianças sa$em >ue lhes d5 valor, >ue as considera pessoas eHtraordin5rias, mais dispostas estarão a ouvi;lo a si e a conceder; lhe a mesma estima. N >uanto mais ade>uados os seus ensinamentos, $aseados no seu conhecimento dos seus 6lhos, mais ansiosos eles 6carão por aprenderem consigo. N >uanto mais aprenderem, mais eHtraordin5rios se tornarão. Se o leitor se aperce$e do car5cter c(clico deste processo, tem toda a razão e est5 a apreciar a verdade da reciprocidade do amor. Nm vez de um ciclo vicioso descendente, R um ciclo criativo ascendente de evolução e desenvolvimento. O valor cria valor. O amor gera amor. Pais e 6lhos, em conunto, rodopiam em ?rente, cada vez mais depressa, na p5s de deuH do amor.
%emos estado a considerar o caso de uma criança de seis anos. Com crianças mais novas ou mais velhas o e>uil($rio ade>uado de ouvir e não ouvir di?ere, mas o processo R $asicamente o mesmo. Com as crianças mais novas a comunicação R cada vez mais não;ver$al mas tam$Rm eHige idealmente per(odos de total concentração. 9ão se pode ogar muito $em s cantigas de roda >uando se tem a ca$eça noutro lado. N se s se oga s cantigas de roda indi?erentemente, corre;se o risco de ter um 6lho indi?erente. Os adolescentes re>uerem menos tempo de escuta total dos pais do >ue uma criança de seis anos, mas muito mais em termos de ouvir verdadeiramente. V muito menos prov5vel >ue ?alem incessantemente, mas >uando ?alam, >uerem toda a atenção dos pais, ainda mais do >ue as crianças mais novas.
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# necessidade de >ue os nossos pais nos escutem nunca passa com a idade. Um pro6ssional li$eral de talento, de trinta anos, em tratamento por ansiedade relacionada com ?alta de auto;estima, lem$rava;se de numerosas ocasi@es em >ue os pais, tam$Rm pro6ssionais li$erais, não tinham >uerido ouvir o >ue ele tinha para dizer ou tinham;no considerado sem valor e inconse>uente. Mas, de todas essas memrias, a mais v(vida e dolorosa era de >uando, aos vinte e dois anos, tinha escrito uma eHtensa e provocadora tese >ue lhe concedeu o diploma universit5rio com honra. Sendo am$iciosos em relação a ele, os pais 6caram a$solutamente deliciados com as honras >ue rece$eu. 9o entanto, apesar de ter deiHado uma cpia da tese $em
vista na sala;de;estar da ?am(lia e de sugerir ?re>uentemente aos pais >ue Ktalvez gostassem de lhe dar uma vista de olhosK, nenhum deles se deu ao tra$alho de a ler. K#trever;me;ia a dizer >ue a teriam lido,K disse ele, perto do 6m do tratamento, Kdiria >ue atR me teriam elogiado so$re ela se eu tivesse ido ter com eles e lhes pedisse assim mesmo ]Por ?avor, importam; se de ler a minha tese[ 3uero >ue conheçam e apreciem as coisas >ue eu penso]. Mas isso teria sido implorar;lhes >ue me ouvissem, e eu, aos vinte e dois anos, não estava para lhes andar a implorar atenção. %er >ue implorar não me teria ?eito sentir ter mais valor.K
Ouvir verdadeiramente, ter total concentração no outro, R sempre uma mani?estação de amor. Uma parte essencial de ouvir verdadeiramente R a disciplina dos par8nteses, prescindir temporariamente ou pXr de lado os nossos preconceitos, >uadros de re?er8ncia e deseos, por ?orma a entrar tanto >uanto poss(vel no interior do mundo do orador, pondo;nos no seu lugar. Nsta uni6cação do orador e do ouvinte R, na verdade, uma eHtensão e um engrandecimento do Nu, e traz sempre consigo novos conhecimentos. Para alRm disso, como ouvir verdadeiramente implica os par8nteses, um pXr de lado do Nu,
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tam$Rm envolve temporariamente uma total aceitação do outro. #o sentir esta aceitação, o orador sentir;se;5 menos vulner5vel e cada vez mais inclinado a a$rir ao ouvinte os recantos mais (ntimos da sua mente. b medida >ue isto vai acontecendo, o orador e o ouvinte começam a apreciar; se cada vez mais um ao outro, iniciando;se de novo o dueto de dança do amor. # energia eHigida pela disciplina dos par8nteses e a ?ocagem de total atenção R tão grande >ue s pode ser conseguida por amor, pela vontade de se prolongar pelo desenvolvimento mtuo. # maior parte do tempo, ?alta; nos essa energia. Mesmo >ue achemos, nas nossas relaç@es pro6ssionais ou sociais, >ue estamos a ouvir com muita atenção, o >ue ?azemos normalmente R ouvir selectivamente, com uma agenda prR;esta$elecida em mente, pensando en>uanto ouvimos como poderemos o$ter determinados resultados pretendidos e aca$ar com a conversa o mais depressa poss(vel ou reorient5;la de ?ormas para ns mais satis?atrias.
Dado >ue o ouvir verdadeiramente R o amor em acção, não eHiste para ele lugar mais ade>uado do >ue no casamento. 9o entanto, a maior parte dos casais não se ouvem verdadeiramente um ao outro. Conse>uentemente, >uando casais nos procuram para aconselhamento ou terapia, uma das tare?as principais >ue nos incum$em para >ue o processo sea $em
sucedido R ensin5;los a ouvir. 9ão R pouco ?re>uente ?alharmos, 5 >ue a energia e a disciplina envolvidas são mais do >ue as >ue estão dispostos a gastar ou a su$meter;se. _5 casais >ue 6cam surpreendidos, e atR horrorizados, >uando sugerimos >ue, entre as coisas >ue devem ?azer, R conversar um com o outro por marcação. Parece;lhes r(gido, sem romantismo e sem espontaneidade. 9o entanto, ouvir verdadeiramente s pode acontecer >uando se reserva tempo para o ?azer e se criam condiç@es de suporte. 9ão acontece >uando as pessoas estão a conduzir, a cozinhar, cansadas, ansiosas por dormir, ou podem
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ser ?acilmente interrompidas, ou estão com pressa. O KamorK romQntico não eHige es?orço e os casais sentem;se ?re>uentemente relutantes em empreender o es?orço e a disciplina do amor e do ouvir verdadeiros. Mas >uando e se o ?azem, os resultados são enormemente grati6cantes. %emos a eHperi8ncia, vezes sem conta, de ouvir um mem$ro do casal dizer ao outro, com verdadeira alegria, depois de iniciado o processo de ouvir verdadeiramente, KNstamos casados h5 vinte e nove anos e nunca sou$e isso a teu respeito antes.K 3uando isso acontece, sa$emos >ue começou o desenvolvimento no casamento.
Nm$ora sea verdade >ue a nossa capacidade de ouvir verdadeiramente melhora gradualmente com a pr5tica, nunca se torna um processo sem es?orço. O principal re>uisito de um $om psi>uiatra talvez sea a capacidade de ouvir verdadeiramente. 9o entanto, uma meia dzia de vezes durante a Khora de cin>uenta minutosK mRdia, dou por mim a não ouvir verdadeiramente o >ue o meu doente est5 a dizer. bs vezes, perco inteiramente o 6o s associaç@es do doente e tenho então >ue dizer, KDesculpe, mas deiHei;me levar pelos pensamentos por um momento e não estava verdadeiramente a ouvi;lo. &mporta;se de repetir as ltimas ?rases[K V interessante constatar >ue os doentes, normalmente, não 6cam ressentidos >uando isso acontece. Pelo contr5rio, parecem compreender intuitivamente >ue um elemento vital da capacidade de escutar verdadeiramente R estar alerta >uanto aos momentos em >ue não se est5 a ouvir verdadeiramente, e o meu reconhecimento de ter desviado a minha atenção tran>uiliza;os em como, a maior parte do tempo, estou a ouvi;los verdadeiramente. Nste conhecimento de >ue se est5 a ser verdadeiramente ouvido R muitas vezes, s por si, notavelmente terap8utico. Nm cerca de um >uarto dos nossos casos, >uer os doentes seam adultos ou crianças, surgem melhorias consider5veis e atR dram5ticas nos primeiros meses de psicoterapia, antes de as ra(zes dos pro$lemas terem
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sido eHpostas ou de se ?azerem interpretaç@es signi6cativas. NHistem diversas raz@es para este ?enmeno, mas a principal delas, creio eu, R a sensação do paciente estar a ser verdadeiramente escutado, ?re>uentemente pela primeira vez em anos, ou talvez pela primeira vez na vida.
Sendo o ouvir, de longe, a ?orma de atenção mais importante, são necess5rias outras ?ormas na maior parte das relaç@es de amor, especialmente com crianças. # variedade dessas ?ormas poss(veis R grande. Uma R $rincar com ogos. Com o $e$R serão as cantigas de roda ou cucuW com a criança de seis anos serão tru>ues de magia ou s escondidasW com a de doze, ser5 $adminton e ogos de cartasW e por a( adiante. *er para as crianças mais novas R atenção, assim como audar as mais velhas com os tra$alhos de casa. #s actividades em ?am(lia são importantes! cinema, pi>ueni>ues, passeios de automvel, viagens, ?eiras, par>ues de divers@es. #lgumas ?ormas de atenção são puros serviços criança! sentar;se na praia com uma criança de >uatro anos ou servir >uase interminavelmente de motorista aos adolescentes mais novos. Mas o >ue todas estas ?ormas de atenção t8m em comum ; e t8m em comum tam$Rm com o ouvir ; R >ue envolvem tempo passado com a criança. :asicamente, dar atenção R passar tempo com, e a >ualidade da atenção R proporcional intensidade da concentração durante esse tempo. O tempo passado com os 6lhos nessas actividades, se ?or $em utilizado, d5 aos pais oportunidades sem conta de o$servarem os 6lhos e 6carem a conhec8los melhor. Se os 6lhos são $ons ou maus perdedores, como ?azem os tra$alhos de casa e como estudam, o >ue os atrai ou não, >uando são coraosos e >uando se assustam nessas actividades ; são peças vitais de in?ormação para os pais >ue amam. Nste tempo passado em actividade com os 6lhos tam$Rm d5 aos pais inmeras oportunidades de lhes ensinar as tRcnicas e os princ(pios $5sicos da disciplina. # utilidade da
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actividade para o$servar e ensinar a criança R, evidentemente, o princ(pio $5sico da terapia a $rincar, e os terapeutas in?antis eHperientes tornam;se eHtremamente adeptos em utilizar o tempo passado com os pacientes in?antis na $rincadeira, para ?azer o$servaç@es e intervenç@es terap8uticas signi6cativas.
%omar conta de uma criança de >uatro anos na praia, concentrar;se numa histria desconuntada e intermin5vel contada por uma criança de seis anos, ensinar um adolescente a guiar, ouvir verdadeiramente a histria do marido ou da mulher so$re o dia passado no escritrio ou na lavandaria, e compreender os seus pro$lemas por dentro, tentando ser tão paciente e K?azer par8ntesesK >uanto poss(vel ; todas estas tare?as são muitas vezes a$orrecidas, ?re>uentemente inconvenientes e implicam sempre disp8ndio de energiaW signi6cam tra$alho. Se ?ossemos mais preguiçosos, nem se>uer as ?ar(amos. Se ?ossemos menos preguiçosos, ?ar(amo;las mais vezes e melhor. Uma vez >ue o amor R tra$alho, a ess8ncia do não;amor R preguiça. # >uestão da preguiça R eHtremamente importante. V um tema escondido >ue percorre a primeira secção so$re disciplina e esta so$re o amor. &remos ?oc5;la especi6camente na secção 6nal, >uando tivermos uma perspectiva mais clara.
O )isco da Perda
O #C%O DN #MO) ; a eHpansão do Nu ; como re?eri, re>uer a iniciativa contra a inRrcia da preguiça tra$alho- ou a resist8ncia gerada pelo medo coragem-. ue não estamos ha$ituados. Mudamos. # eHperi8ncia
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da mudança, de actividade não ha$itual, de estar em territrio estranho, de ?azer as coisas de modo di?erente, R assustadora. Sempre ?oi e sempre ser5. #s pessoas gerem o seu medo da mudança de ?ormas di?erentes, mas o medo R inevit5vel se de ?acto vão mudar. # coragem não R a aus8ncia de medoW R a tomada de acção apesar do medo, a iniciativa contra a resist8ncia gerada pelo medo do desconhecido e do ?uturo. # determinado n(vel, o desenvolvimento espiritual, e portanto o amor, re>uer sempre coragem e envolve risco. V o risco do amor >ue vamos agora a$ordar.
Se ?re>uenta regularmente a igrea, pode ter reparado numa mulher, no 6m da casa dos >uarenta >ue, todos os Domingos, eHactamente cinco minutos antes do in(cio da missa, ocupa discretamente o mesmo lugar numa 6la lateral, ao ?undo da igrea. 9o momento em >ue termina a missa, dirige;se r5pida e silenciosamente para a porta e desaparece antes de >ual>uer outro
paro>uiano e antes do padre vir atR escadaria encontrar;se com o seu re$anho. Se conseguisse a$ord5;la ; o >ue seria improv5vel ; e convid5;la para o conv(vio >ue se segue missa, ela agradecer;lhe;ia polidamente, desviando nervosamente o olhar e dir;lhe;ia >ue tinha um compromisso urgente, a?astando;se rapidamente em seguida. Se a seguisse atR ao compromisso urgente, veri6caria >ue regressava directamente para casa, um pe>ueno apartamento em >ue as persianas estão sempre descidas, a$ria a porta, entrava, trancava imediatamente a porta e ninguRm a tornaria a ver nesse Domingo. Se pudesse mante;la em o$servação, veria >ue tem um lugar de dactilgra?a das menos >uali6cadas num grande escritrio, onde aceita os tra$alhos >ue lhe são entregues, em sil8ncio, os dactilogra?a impecavelmente e devolve o tra$alho pronto sem coment5rios. #lmoça secret5ria e não tem amigos.
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porta de casa para reaparecer para o dia de tra$alho >ue se segue. #os S5$ados de tarde vai sozinha a um cinema local >ue muda de 6lme todas as semanas. %em um aparelho de televisão. 9ão tem tele?one. 3uase nunca rece$e correio. Se pudesse comunicar com ela de alguma maneira e comentar >ue a vida dela parecia solit5ria, ela dir;lhe;ia >ue apreciava $astante essa solidão. Se lhe perguntasse se não tinha animais de estimação, dir;lhe;ia >ue tinha tido um cão de >ue gostava muito, mas >ue tinha morrido h5 oito anos e nenhum cão podia su$stitu(;lo.
3uem R esta mulher[ 9ão sa$emos os segredos do seu coração. O >ue sa$emos R >ue toda a sua vida R dedicada a evitar riscos e >ue, nessa dilig8ncia, em vez de eHpandir o seu Nu, estreitou;o e diminuiu;o >uase atR ao ponto da ineHist8ncia. 9ão catecta com nenhum outro ser vivo. Ora, 5 re?erimos >ue a simples cateHia não R amor, >ue o amor transcende a cateHia. &sto R verdade, mas o amor re>uer cateHia para um começo. S podemos amar o >ue, duma ou doutra maneira, tem importQncia para ns. Mas com a cateHia eHiste sempre o risco de perda ou reeição. Se tomar a iniciativa em relação a outro ser humano, h5 sempre o risco dessa pessoa se a?astar de si, deiHando;o mais dolorosamente s do >ue estava antes. #me >ual>uer coisa viva ; uma pessoa, um animal de estimação, uma planta ; e ela morrer5. Con6e em alguRm e poder5 magoar;seW dependa de alguRm e esse alguRm pode decepcion5;lo. O preço da cateHia R a dor. Se alguRm estiver determinado a não sentir dor, ter5 de passar sem muitas coisas! ter 6lhos, casar;se, o 8Htase do seHo, a esperança da am$ição, a amizade
; tudo o >ue torna a vida viva, preenchida e com signi6cado. %ome iniciativas ou desenvolva;se em >ual>uer dimensão e a dor, assim como a alegria, serão a sua recompensa. Uma vida preenchida ser5 cheia de dor. Mas a nica alternativa R não viver completamente ou nem viver.
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# ess8ncia da vida R a mudança, uma panplia de desenvolvimento e decad8ncia. Nlea;se a vida e o desenvolvimento, e eleger;se;5 a mudança e a perspectiva da morte. Uma das determinantes prov5veis da vida restrita e isolada da mulher descrita ter5 sido uma eHperi8ncia ou sRrie de eHperi8ncias ligadas morte, >ue ela achou tão dolorosas >ue decidiu nunca mais so?rer com a morte, mesmo custa da vida. #o evitar a eHperi8ncia da morte, tinha >ue evitar o desenvolvimento e a mudança. Nscolheu uma vida sem variaç@es, livre do novo, do inesperado, uma morte viva, sem riscos nem desa6os. )e?eri >ue a tentativa de evitar o so?rimento leg(timo se encontra na $ase de todas as doenças emocionais. 9ão R surpreendente >ue a maior parte dos doentes de psicoterapia e provavelmente a maior parte dos não;doentes, 5 >ue a neurose constitui mais a norma do >ue a eHcepção- tenham pro$lemas, seam novos ou velhos, em en?rentar a realidade da morte coraosa e claramente. O >ue R surpreendente R >ue a literatura psi>ui5trica s agora comece a analisar o signi6cado deste ?enmeno. Se podemos viver com o conhecimento de >ue a morte R nossa companheira constante, viaando so$re o nosso Kom$ro es>uerdoK, então a morte pode tornar;se, nas palavras de Don Luan, a nossa KaliadaK, ainda aterradora mas continuamente uma ?onte de s5$io conselhoZ. Com o aconselhamento da morte, a constante consci8ncia do limite do nosso tempo para viver e amar, podemos sempre ser orientados para utilizar o melhor poss(vel o tempo e viver a vida ao m5Himo. Mas se não estivermos dispostos a en?rentar decididamente a terr(vel presença da morte no nosso om$ro es>uerdo, privamo;nos do seu conselho e da possi$ilidade de viver ou amar com clareza. 9otaZ Carlos Castaneda, %he %eachings o? Don Luan! # a>ui ^a+ o? noJledge, # Separate )ealit+, Lourne+ to &Htlan, e %ales o? PoJer. # um n(vel mais elevado, este livros tratam do processo psicoterap8utico.
EA
3uando ?ugimos da morte, da natureza constantemente mut5vel das coisas, ?ugimos inevitavelmente da vida.
O )isco da &ndepend8ncia
#SS&M, %OD# # <&D# em si representa um risco, e com >uanto mais amor vivermos as nossas vidas, mais riscos corremos. Dos milhares, talvez mesmo milh@es, de riscos >ue corremos na vida, o maior R o risco de crescer. Crescer R o acto de passar da in?Qncia para a idade adulta. 9a verdade, R mais um salto assustador do >ue um passo, e R um salto >ue muitas pessoas nunca dão na vida. Nm$ora eHteriormente possam parecer adultos, mesmo adultos de sucesso, talvez a maioria dos KcrescidosK permaneça atR morte crianças, em termos psicolgicos, >ue nunca se separaram verdadeiramente dos pais e do poder >ue os pais t8m so$re eles. %alvez por ter sido tão acutilantemente pessoal para mim, sinto >ue a melhor maneira como posso ilustrar a ess8ncia de crescer e a enormidade do risco envolvido R descrever o passo de gigante >ue eu prprio dei para a idade adulta, no 6nal do ano em >ue completei >uinze anos ; ?elizmente, muito cedo na vida. Nm$ora esse passo ?osse uma decisão consciente, pre?aciarei o meu relato dizendo;vos >ue, na altura, não tinha nenhuma consci8ncia de >ue o >ue estava a ?azer era crescer. S sa$ia >ue dava um salto para o desconhecido.
#os treze anos, deiHei a minha casa para ?re>uentar a #cademia Phillips NHeter, uma escola preparatria para rapazes da mais elevada reputação, onde o meu irmão tinha andado antes de mim. Sa$ia >ue tinha sorte em andar l5, por>ue a ?re>u8ncia de NHeter ?azia parte de um padrão $em de6nido >ue me conduziria para uma das melhores universidades da &v+
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*eague e da( para os escal@es mais elevados do Sistema, cuas portas se a$ririam de par em par devido minha ?ormação acadRmica. Considerava ter muita sorte em ter nascido de pais $em sucedidos >ue me podiam dar Ka melhor educação >ue o dinheiro pode comprarK e retirava uma grande sensação de segurança do ?acto de ?azer parte do >ue era tão o$viamente um padrão correcto. O nico pro$lema ?oi >ue, logo a seguir a entrar para NHeter, me senti completamente in?eliz. #s raz@es da minha in?elicidade eram para mim totalmente o$scuras nessa altura e continuam a ser pro?undamente misteriosas ainda hoe. Simplesmente, parecia não me
adaptar. 9ão me adaptava aos pro?essores, aos alunos, s disciplinas, ar>uitectura, vida social, a todo o am$iente. 9o entanto, parecia >ue a nica solução era tentar ?azer o melhor poss(vel e tentar moldar as minhas imper?eiç@es de modo a austar;me mais con?orta velmente ao padrão >ue tinha sido esta$elecido para mim e >ue era tão o$viamente o padrão certo. N assim tentei durante dois anos e meio. #pesar disso, a minha vida parecia ter diariamente menos signi6cado e eu sentia;me mais in?eliz. 9o ltimo ano pouco mais 6z >ue dormir, pois s no sono encontrava algum con?orto. Nm retrospectiva, penso >ue descansava durante o sono e me preparava inconscientemente para o salto >ue me preparava para dar. Dei;o >uando voltei a casa nas ?Rrias da Primavera, no terceiro ano, e anunciei >ue não voltava para o colRgio. O meu pai disse, KMas não podes desistir ; R a melhor educação >ue se pode ter. 9ão v8s o >ue est5s a desperdiçar[K
KSei >ue R um $om colRgio,K respondi, Kmas não volto.K
KPor>ue não te adaptas, por>ue não ?azes mais uma tentativa[K perguntaram os meus pais.
K9ão sei,K respondi, sentindo;me completamente incapaz. K9em sei por>ue o detesto tanto, mas detesto;o e não volto.K
K:em, então o >ue vais ?azer[ Uma vez >ue pareces >uerer $rincar com o teu ?uturo, o >ue R >ue pensas ?azer[K
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)espondi novamente, pro?undamente in?eliz, K9ão sei. S sei >ue não volto para l5.K
Os meus pais 6caram compreensivelmente alarmados e levaram;me logo de seguida a um psi>uiatra, >ue a6rmou >ue eu estava deprimido e recomendou um m8s de internamento num hospital, dando;me um dia para decidir se era isso >ue eu >ueria ou não. Nssa noite ?oi a nica vez >ue considerei a hiptese de suic(dio. Ser internado num hospital psi>ui5trico parecia;me apropriado. Nu estava, como disse o psi>uiatra, deprimido. O meu irmão tinha;se adaptado a NHeter. Por>ue R >ue eu não conseguia[ Nu sa$ia >ue a minha di6culdade em me adaptar era unicamente culpa minha,
e sentia;me completamente incapaz, incompetente e sem valor. Pior ainda, acreditava estar provavelmente demente. O meu pai não tinha dito KDeves estar doido para desperdiçar uma educação tão $oaK[ Se voltasse para NHeter, regressaria a tudo o >ue era resguardado, seguro, certo, ade>uado, construtivo, comprovado e conhecido. Mas não era eu. 9o mais (ntimo do meu ser sa$ia não ser esse o meu caminho. Mas >ual era o meu caminho[ Se não voltasse, tudo o >ue me esperava era desconhecido, indeterminado, inseguro, desprotegido, marginal e imprevis(vel. 3uem >uer >ue enveredasse por um caminho desses devia estar louco. Nu estava aterrado. Nntão, no momento de maior desespero, veio do meu su$consciente uma se>u8ncia de palavras, como um or5culo estranho e sem corpo com uma voz >ue não era a minha! K# nica segurança real na vida est5 em apreciar a insegurança da vida.K Mesmo >ue signi6casse estar doido e descompassado em relação a tudo o >ue parecia sagrado, tinha decidido ser eu. Descansei. De manhã, ?ui ?alar novamente com o psi>uiatra e disse;lhe >ue nunca voltaria para NHeter e >ue estava pronto para ser internado no hospital. %inha dado o salto para o desconhecido. %inha tomado o destino nas minhas mãos.
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O processo de crescimento decorre normalmente de ?orma muito gradual, com pe>uenos saltos mltiplos para o desconhecido, tal como >uando um menino de oito anos arrisca pela primeira vez ir de $icicleta, sozinho, atR mercearia ou um rapaz ou uma rapariga de >uinze anos saem pela primeira vez noite com um par. Se duvida dos verdadeiros riscos >ue representam, então não se lem$ra da ansiedade envolvida. Se o$servar mesmo as crianças mais saud5veis, ver5 não s a Qnsia de arriscar actividades novas e adultas mas tam$Rm, lado a lado, relutQncia, retrocesso, agarrar;se ao >ue R seguro e conhecido, a tentativa de preservar a depend8ncia e a in?Qncia. Mais ainda, a n(veis mais ou menos su$tis, encontra;se a mesma am$ival8ncia num adulto, incluindo em si prprio, especialmente na terceira idade, >ue tende a agarrar;se ao >ue R antigo, conhecido e ?amiliar. #os >uarenta anos, aparecem;me >uase diariamente oportunidades de me arriscar a ?azer as coisas de maneira di?erente, oportunidades para me desenvolver. #inda estou a amadurecer, e não tão depressa como poderia. Nntre todos os pe>uenos saltos >ue podemos dar, h5 tam$Rm alguns enormes, como >uando deiHei o colRgio, renegando um padrão glo$al de vida e de valores de acordo com os >uais tinha sido educado. Muitos nunca chegam a dar estes grandes saltos potenciais e, conse>uentemente, nunca chegam a amadurecer. #pesar da sua apar8ncia eHterior, continuam a ser, psicologicamente, muito 6lhos dos pais, vivendo de acordo com valores passados de geração em geração, motivados principalmente pela aprovação ou não dos pais mesmo depois de os pais estarem h5 muito mortos e
enterrados-, não se tendo amais atrevido a tomar o destino nas suas prprias mãos.
Nm$ora esses grandes saltos seam vulgarmente dados durante a adolesc8ncia, podem s8;lo em >ual>uer idade. Uma mãe de tr8s 6lhos, com trinta e tr8s anos, casada com um marido controlador, redutor, in\eH(vel e chauvinista chega
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conclusão, gradual e dolorosa, de >ue a sua depend8ncia em relação a ele e ao casamento R uma morte em vida. Nle $lo>ueia todas as tentativas dela para mudar a natureza da relação. Com uma coragem incr(vel, ela divorcia; se dele, suportando o ?ardo das suas recriminaç@es e as cr(ticas dos vizinhos, e arrisca um ?uturo desconhecido, sozinha com os 6lhos, mas pela primeira vez na vida, livre de ser ela prpria. Deprimido na se>u8ncia de um ata>ue card(aco, um eHecutivo de cin>uenta e dois anos rev8 a sua vida de am$ição ?renRtica por ganhar cada vez mais dinheiro e su$ir cada vez mais na hierar>uia da empresa e considera;a sem signi6cado. #ps prolongada re\eHão, conclui ter sido movido pela necessidade de aprovação por parte de uma mãe dominadora e permanentemente cr(ticaW >uase se matou a tra$alhar para aparecer vitorioso aos olhos dela. #rriscando e ultrapassando a sua reprovação pela primeira vez na vida, en?rentando coraosamente a ira da mulher e dos 6lhos, renitentes em prescindir do seu estilo de vida dispendioso, muda;se para o campo e a$re uma pe>uena o6cina de restauro de mveis antigos. Nstas grandes mudanças, estes saltos para a independ8ncia e auto;determinação, são imensamente dolorosos em >ual>uer idade e eHigem eHtrema coragem, no entanto são resultado não raro de psicoterapia. De ?acto, dada a grandeza dos riscos envolvidos, eHigem muitas vezes a psicoterapia para serem concretizadas, não por>ue a terapia diminua o risco, mas por>ue apoia e ensina a coragem.
Mas o >ue tem a ver esta >uestão de amadurecer com o amor, para alRm do ?acto de o prolongamento do Nu envolvido no acto de amar ser um prolongamento do Nu para novas dimens@es[ Primeiro >ue tudo, os eHemplos de mudança descritos e todas as outras grandes mudanças são actos de amor prprio. 'oi precisamente por dar valor a mim prprio >ue não >uis continuar a ser in?eliz num colRgio e num am$iente social >ue não se ade>uavam s minhas necessidades. 'oi por ter con;
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sideração por si prpria >ue a dona de casa se recusou a continuar a tolerar um casamento >ue lhe limitava a li$erdade e reprimia inteiramente a personalidade. 'oi por gostar de si prprio >ue o eHecutivo não >uis continuar a matar;se a tra$alhar para ir de encontro s eHpectativas da mãe. Segundo, o amor prprio não s ?ornece o motivo para as grandes mudanças, como R tam$Rm a $ase da coragem para correr o risco de as ?azer. 'oi apenas por os meus pais me terem claramente amado e dado valor em criança >ue me senti su6cientemente seguro de mim para desa6ar as suas eHpectativas e desviar;me radicalmente do padrão >ue me tinham destinado. Nm$ora me sentisse incapaz, intil e possivelmente louco ao ?azer o >ue 6z, pude tolerar esses sentimentos s por>ue, ao mesmo tempo, a um n(vel ainda mais pro?undo, sentia;me $oa pessoa independentemente de >uão di?erente pudesse ser. #o ousar ser di?erente, mesmo >ue isso signi6casse ser louco, estava a corresponder a anteriores mensagens de amor dos meus pais, centenas delas, >ue diziam, KVs um indiv(duo $elo e amado. V $om seres tu. #mar;te;emos independentemente do >ue 6zeres, en>uanto tu ?ores tu.K Sem a segurança do amor dos meus pais, re\ectida no meu amor prprio, teria escolhido o conhecido em vez do desconhecido, e continuado a seguir o padrão pre?erido pelos meus pais, custa da unicidade $5sica do meu Nu. Por ltimo, s >uando se deu o salto para o desconhecido da total consci8ncia do Nu, independ8ncia psicolgica e individualidade nica, R >ue se 6ca livre para seguir caminhos ainda mais elevados de desenvolvimento pessoal e de mani?estar amor em maior grau de dimensão. Nn>uanto se casar, se iniciar uma carreira ou se tiverem 6lhos para se satis?azer os pais ou as eHpectativas de outras pessoas, incluindo a sociedade em geral, o compromisso ser5, pela sua prpria natureza, pouco pro?undo. Nn>uanto se amarem os 6lhos principalmente por>ue R suposto os pais amarem os 6lhos, os pais serão insens(veis s necessidades mais
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ocultas dos 6lhos e incapazes de eHprimir amor das ?ormas mais su$tis >ue, no entanto, são muitas vezes as mais importantes. #s ?ormas mais elevadas de amor são, inevitavelmente, opç@es livres e não actos de con?ormismo.
O )isco do Compromisso
SNL# OU 9`O POUCO pro?undo, o compromisso R a $ase, o pilar de >ual>uer relação genuinamente amorosa. O pro?undo empenhamento não garante o sucesso da relação mas auda, mais >ue >ual>uer outro ?actor, a assegur5; lo. Compromissos inicialmente ligeiros podem, com o tempo, vir a apro?undar;seW senão, a relação cair5 provavelmente aos pedaços ou então tornar;se;5 doentia ou cronicamente ?r5gil. V ?re>uente não termos consci8ncia da imensidão do risco envolvido em assumir um ?orte compromisso. L5 re?eri >ue uma das ?unç@es do ?enmeno instintivo de nos apaiHonarmos R ?ornecer aos participantes um manto m5gico de omnipot8ncia >ue os cega caridosamente aos riscos do >ue ?azem >uando se casam. Pela minha parte, estive razoavelmente calmo atR ao momento em >ue a minha mulher se untou a mim em ?rente ao altar, em >ue todo o meu corpo começou a tremer. 'i>uei tão aterrado >ue não me lem$ro de >uase nada da cerimnia nem da recepção >ue se seguiu. De >ual>uer maneira, R o nosso sentido de compromisso, depois da $oda, >ue torna poss(vel a transição do estar apaiHonado para o amor genu(no. N R o nosso compromisso aps a concepção >ue nos trans?orma de pais $iolgicos em pais psicolgicosZ. O compromisso R inerente a 9otaZ # importQncia da distinção entre pais $iolgicos e psicolgicos encontra;se elegantemente ela$orada e concretizada na o$ra :e+ond the :est &nterests o?the Child, de 4oldstein, 'reud e Solnit Macmillan, /0F-.
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>ual>uer relação de amor genu(no. 3ual>uer pessoa verdadeiramente interessada no desenvolvimento espiritual doutra sa$e, consciente ou instintivamente, >ue s pode promover signi6cativamente esse desenvolvimento atravRs de uma relação de constQncia. #s crianças não podem atingir a maturidade psicolgica num am$iente de imprevisi$ilidade, perseguidas pelo espectro do a$andono. Os casais não podem resolver de nenhuma ?orma saud5vel as >uest@es universais do casamento ; depend8ncia e independ8ncia, dom(nio e su$missão, li$erdade e 6delidade, por eHemplo ; sem a segurança de sa$er >ue o acto de discutirem estas >uest@es não destruir5, por si, a relação.
Os pro$lemas de compromisso são uma parte consider5vel e inerente maior parte das pertur$aç@es psi>ui5tricas e as >uest@es de compromisso são cruciais no decurso da psicoterapia. Os indiv(duos com pertur$aç@es de personalidade tendem a assumir apenas compromissos pouco pro?undos e, >uando as pertur$aç@es são graves, tais indiv(duos parecem não ter
nenhuma capacidade de assumir compromissos. 9ão R tanto por recearem o risco de se comprometerem, mas por>ue $asicamente não entendem de >ue trata o compromisso. Por>ue os pais não assumiram compromissos para com eles en>uanto crianças, de ?orma signi6cativa, cresceram sem a eHperi8ncia do compromisso. O compromisso representa para eles uma a$stracção ?ora do seu alcance, um ?enmeno >ue não conseguem conce$er completamente. Os neurticos, por outro lado, t8m normalmente consci8ncia da natureza do compromisso, mas este paralisa;os de medo. 9ormalmente, a sua eHperi8ncia na in?Qncia ?oi a de os pais se comprometerem com eles o su6ciente para >ue eles assumissem em troca um compromisso com os pais. Posteriormente, no entanto, a cessação do amor paterno devido a morte, a$andono ou reeição crnica tem o e?eito de tornar o compromisso não retri$u(do da criança
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numa eHperi8ncia intoleravelmente dolorosa. )eceiam;se então, naturalmente, novos compromissos. Nstes danos s podem ser reparados se ?or poss(vel pessoa ter uma eHperi8ncia $asilar e mais grati6cante com um compromisso >ue ocorra posteriormente. V por essa razão, entre outras, >ue o compromisso R o pilar da relação psicoterap8utica. _5 alturas em >ue tremo perante a enormidade do >ue ?aço >uando aceito mais um doente para terapia a longo prazo. Para >ue a cura de $ase tenha lugar, R necess5rio >ue o psicoterapeuta introduza na sua relação com o novo doente o mesmo elevado sentido e grau de compromisso >ue os pais >ue amam verdadeiramente dão aos 6lhos. O sentido de compromisso e interesse constante do terapeuta serão postos prova e inevitavelmente mani?estados ao doente de inmeras ?ormas, no decurso de meses ou anos de terapia.
)achel, uma ovem ?ria, composta e distante de vinte e sete anos, veio consultar;me no 6nal de um $reve casamento. O marido, Mark, tinha;a deiHado devido sua ?rigidez. KNu sei >ue sou ?r(gida,K reconhecia )achel. KPensei >ue com o tempo me sentisse estimulada pelo Mark, mas nunca aconteceu. 9ão creio >ue sea culpa dele. 9unca gostei de seHo com ninguRm. N para dizer a verdade, nem tenho a certeza se >uero. Parte de mim >uer, por>ue gostava de ter um dia um casamento ?eliz, e gostava de ser normal ; as pessoas normais parecem encontrar algo de maravilhoso no seHo. Mas outra parte de mim contenta;se em ser como sou. O Mark dizia sempre ])elaHa e deiHa;te ir]. :em, talvez eu não >ueira relaHar nem deiHar; me ir, mesmo >ue ?osse capaz.K
9o terceiro m8s de tra$alho em conunto, chamei a atenção de )achel para o ?acto de me dizer KO$rigadoK pelo menos duas vezes, ainda antes de se sentar para começar a sessão primeiro, >uando ia ao seu encontro na sala de espera, e novamente >uando passava pela porta de acesso ao meu ga$inete.
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K3ue h5 de errado em ser $em educada[K perguntou ela.
K9ada, em si,K respondi. KMas neste caso particular parece tão desnecess5rio. Comporta;se como se ?osse uma visita >ue não tivesse a certeza de ser $envinda.K
KMas eu a>ui sou uma visita. V a sua casa.K
KV verdade,K disse eu. KMas tam$Rm R verdade >ue me paga >uarenta dlares hora pelo tempo >ue a>ui est5. Comprou esse tempo e este espaço e, por t8;lo comprado, tem direito a ele. 9ão R uma visita. Nste ga$inete, esta sala de espera e o tempo >ue passamos untos são um direito seu. Seu. Pagou;me por esse direito, portanto por>ue h5;de agradecer;me o >ue R seu[K
K9ão posso acreditar >ue pense mesmo assim,K eHclamou )achel.
KNntão deve acreditar >ue a posso enHotar da>ui para ?ora sempre >ue me apetecer,K contrapus. KDeve pensar >ue pode chegar a>ui um dia de manhã e ouvir;me dizer;lhe ])achel, o tra$alho consigo tornou;se maçador. Decidi não a tratar mais. #deus e $oa sorte]K
KN precisamente assim >ue penso,K concordou )achel. K9unca pensei >ue alguma coisa ?osse direito meu, atR agora, pelo menos não em relação a uma pessoa. 3uer dizer >ue não podia pXr;me a andar[K
KOh, suponho >ue podia. Mas não o ?aria. 9ão >uereria ?az8;lo. 9ão seria Rtico, entre outras coisas. )epare, )achel,K disse eu, K>uando aceito um caso como o seu para terapia a longo prazo, assumo um compromisso para com esse caso e essa pessoa. N assumi um compromisso consigo. %ra$alharei consigo o tempo >ue ?or necess5rio, >uer leve um ano ou cinco ou dez, ou sea o >ue ?or. 9ão sei se vai a$andonar o nosso tra$alho em conunto >uando estiver preparada ou antes de estar preparada. Mas, sea como ?or, ser5 voc8 a terminar a nossa relação. # menos >ue eu morra, os meus serviços estão sua disposição en>uanto os >uiser.K
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9ão me era di?(cil perce$er o pro$lema de )achel. 9o in(cio do tratamento, o eH;marido, Mark, tinha;me dito! KPenso >ue a mãe de )achel tem muito a ver com isto. V uma mulher not5vel. Daria uma grande presidente da 4eneral Motors, mas não tenho a certeza de >ue sea muito $oa mãe.K &sso mesmo. )achel tinha sido educada, ou melhor, governada, com a sensação de >ue podia ser despedida a todo o momento se pisasse o risco. Nm vez de dar a )achel a noção de >ue o seu lugar em casa, en>uanto criança, era seguro ; uma noção >ue s pode advir de pais comprometidos ; a mãe de )achel comunicava;lhe constantemente o oposto! como se se tratasse de uma empregada, a posição de )achel s era garantida en>uanto produzisse o >ue lhe era solicitado e se comportasse de acordo com as eHpectativas. Se o lugar dela em casa não era seguro em criança, como podia ela sentir >ue o lugar dela comigo era seguro[
Os danos causados pela aus8ncia de compromisso por parte dos pais não se curam com algumas palavras ou ?ormas de tran>uilização super6ciais. # n(veis progressivamente mais ?undos, t8m >ue ser analisados repetidamente. Um desses tra$alhos de an5lise, por eHemplo, teve lugar mais de um ano depois. %(nhamos ?ocado o ?acto de )achel nunca ter chorado na minha presença ; uma outra ?orma em >ue não conseguia KdeiHar;se irK. Um dia, >uando ?alava da terr(vel solidão >ue provinha de ter >ue estar constantemente em guarda, senti >ue ela estava $eira do choro, mas >ue precisava dum pe>ueno empurrão meu, pelo >ue 6z algo ?ora do comum! estendi o $raço para o so?5 onde ela estava deitada e a?agueilhe suavemente a ca$eça, murmurando, KPo$re )achel. Po$re )achel.K O gesto ?alhou. )achel 6cou imediatamente hirta e sentou;se, com os olhos secos. K9ão consigoK disse ela. K9ão consigo deiHar;me ir.K &sto aconteceu perto do 6m da sessão. 9a sessão seguinte, )achel entrou e sentou;se no divã, em vez de se deitar. K:om, agora R a sua vez de ?alar,K anunciou.
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K3ue >uer dizer[K perguntei.
Kue h5 de errado comigo.K
Nu estava intrigado. KContinuo a não perce$er o >ue >uer dizer, )achel.K
KNsta R a nossa ltima sessão. ue est5 errado em mim, todas as raz@es por>ue não pode continuar a tratar;me.K
K9ão ?aço a menor ideia do >ue se passa,K disse eu.
'oi a vez de )achel 6car intrigada. K:em,K disse ela. K9a ltima sessão, >ueria >ue eu chorasse. _5 muito tempo >ue >uer >ue eu chore. 9a ltima sessão ?ez tudo o >ue pXde para me audar a chorar e mesmo assim não consegui, portanto vai desistir. 9ão consigo ?azer o >ue >uer >ue eu ?aça. V por isso >ue hoe R a nossa ltima sessão.K
K#credita mesmo >ue a vou mandar em$ora, não acredita, )achel[K
KSim. 3ual>uer pessoa o ?aria.K
K9ão, )achel, >ual>uer pessoa não. # sua mãe seria capaz de o ?azer. Mas eu não sou a sua mãe. 9em toda a gente neste mundo R como a sua mãe. 9ão R minha empregada. 9ão est5 a>ui para ?azer a>uilo >ue eu >uero >ue ?aça. Nst5 a>ui para ?azer a>uilo >ue >uer ?azer, >uando o >uer ?azer. Posso pression5;la, mas não tenho poder so$re si. 9unca a despedirei. Nst5 a>ui o tempo todo >ue >uiser.K
Um dos pro$lemas >ue as pessoas t8m ha$itualmente nas suas relaç@es adultas, se nunca rece$eram um compromisso 6rme por parte dos pais R o s(ndroma do Kue me a$andonesK. Nste s(ndroma assume muitas ?ormas e dis?arces. Uma das ?ormas era a ?rigidez de )achel. Nm$ora nunca ?osse a n(vel consciente, o >ue a ?rigidez de )achel transmitia ao marido e namorados anteriores era, K9ão me vou entregar a ti por>ue sei muito $em >ue um dia destes me vais reeitar.K Para )achel, KdeiHar;se irK, seHual;
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mente ou de outra ?orma, representava um compromisso seu e não estava disposta a comprometer;se >uando o mapa da sua eHperi8ncia passada mostrava como certo >ue não rece$eria nenhum compromisso em troca.
O s(ndroma do Kue me a$andonesK torna;se tanto mais poderoso >uanto mais prHima uma pessoa como )achel se torna em relação a outra. Depois de um ano de terapia, duas vezes por semana, )achel comunicou;me >ue não podia continuar a suportar os oitenta dlares semanais. Desde o divrcio, disse;me ela, tinha di6culdades econmicas e portanto, ou deiHava de ir consulta ou tinha >ue reduzir para uma vez por semana. 9um plano realista, isto era rid(culo. Nu sa$ia >ue )achel tinha rece$ido uma herança de cin>uenta mil dlares para alRm do modesto sal5rio >ue rece$ia no emprego, e na comunidade era sa$ido >ue ela provinha de uma ?am(lia antiga e a$astada. Nm condiç@es normais, t8;la;ia con?rontado energicamente com o ?acto de ela poder pagar os meus serviços mais ?acilmente do >ue muitos outros doentes e >ue estava a usar claramente a >uestão monet5ria para ?ugir de uma crescente proHimidade em relação a mim. Por outro lado, tam$Rm sa$ia >ue a herança representava para )achel mais do >ue dinheiroW era dela, algo >ue não a a$andonaria, uma linha de de?esa segura num mundo não comprometido. Nm$ora ?osse razo5vel da minha parte pedir;lhe >ue tirasse da herança a importQncia dos meus honor5rios, calculei >ue seria um risco >ue ela não estava ainda preparada para correr e >ue, se insistisse, ?ugiria mesmo. Nla tinha;me dito >ue, com o rendimento >ue tinha, me poderia pagar cin>uenta dlares por semana e o?ereceu;me esse valor por uma s sessão. Disse;lhe >ue reduziria os meus honor5rios para vinte e cinco dlares por sessão e continuaria a rece$8;la duas vezes por semana. Nla olhou para mim com um misto de medo, incredulidade e alegria. K'az mesmo isso[K perguntou. #cenei a6rmativamente. Seguiu;se um
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longo per(odo de sil8ncio. Por 6m, mais prHima das l5grimas do >ue alguma vez tinha estado, )achel disse, KPor pertencer a uma ?am(lia rica, os comerciantes locais levam;me sempre os preços mais caros do mercado. O senhor est5 a dar;me uma oportunidade. 9inguRm me tinha dado uma oportunidade atR agora.K
De ?acto, )achel a$andonou a terapia v5rias vezes durante o ano seguinte, na luta so$re se devia permitir >ue o nosso compromisso mtuo se desenvolvesse. Nm cada uma dessas vezes, consegui persuadi;la a voltar atravRs de uma com$inação de cartas e tele?onemas durante uma ou duas semanas. Por 6m, no 6nal do segundo ano de tratamento, pudemos a$ordar mais directamente as >uest@es envolvidas. Sou$e entretanto >ue )achel escrevia poesia e pedi;lhe para me mostrar. De in(cio, recusou. Depois concordou mas, semana aps semana, Kes>uecia;seK de a trazer. 'iz;lhe notar >ue esconder;me os seus poemas tinha o mesmo signi6cado >ue esconder a sua seHualidade de Mark e dos outros homens. Por>ue sentia >ue mostrar;me os poemas representava um compromisso total da sua parte[ Por>ue achava >ue a partilha da sua seHualidade era um compromisso total id8ntico[ Mesmo >ue eu não apreciasse os seus poemas, isso signi6caria uma reeição total[ # nossa amizade tinha >ue terminar por ela não ser uma grande poetisa[ %alvez a partilha da poesia estreitasse a nossa relação. Por>ue tinha ela medo desse estreitamento[ Ntc., etc., etc..
3uando 6nalmente aceitou o ?acto de ter um compromisso da minha parte, no terceiro ano de terapia, )achel começou a KdeiHar;se irK. 'inalmente arriscou;se a deiHar;me ver os poemas. Conseguiu começar a rir e a troçar. # nossa relação, >ue tinha sido r(gida e ?ormal atR a(, tornou;se calorosa, espontQnea e com ?re>u8ncia divertida e alegre. K9unca sou$e o >ue era sentir;me assim vontade com outra pessoa,K disse ela.
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KNste lugar R o primeiro em >ue me senti segura na vida.K Da segurança do meu ga$inete e do tempo >ue pass5vamos untos, ela conseguiu aventurar; se rapidamente a ter outras relaç@es. Compreendeu >ue o seHo não era uma >uestão de compromisso mas de eHpressão pessoal, de ogo, eHploração, aprendizagem e alegre a$andono. Sa$endo >ue eu estava sempre ao dispor dela se se magoasse, como a $oa mãe >ue nunca teve, sentiu;se livre para deiHar eHplodir a sua seHualidade. # ?rigidez derreteu;se. 3uando terminou o tratamento no >uarto ano, )achel tinha;se tornado uma
pessoa vivaz e a$ertamente apaiHonada >ue se empenhava em gozar tudo o >ue as relaç@es humanas t8m para o?erecer.
'elizmente, eu tinha podido o?erecer a )achel um grau de compromisso su6ciente para compensar os e?eitos adversos da ?alta de compromissos >ue tinha so?rido na in?Qncia. 9em sempre tenho tido a mesma sorte. O tRcnico de in?orm5tica >ue re?eri na primeira secção como eHemplo de trans?er8ncia ?oi um desses casos. # sua necessidade de um compromisso da minha parte era tão completa >ue eu não ?ui capaz de a suprir, ou não >uis ?az8;lo. Se o compromisso do terapeuta ?or insu6ciente para ultrapassar as vicissitudes da relação, a cura de $ase não ter5 lugar. 9o entanto, se o compromisso do terapeuta ?or su6ciente, normalmente ; em$ora não inevitavelmente ; o paciente responder5 mais cedo ou mais tarde desenvolvendo um compromisso da sua parte, em relação ao terapeuta e terapia em si. O ponto em >ue o paciente começa a demonstrar esse compromisso R o ponto crucial da terapia. 9o caso de )achel, penso >ue ocorreu >uando me mostrou os poemas. Por estranho >ue pareça, h5 doentes >ue v8m terapia 6elmente duas ou tr8s horas por semana, durante anos, e nunca atingem esse ponto. Outros podem alcanç5; lo logo nos primeiros meses. Mas, para se curarem, t8m >ue o alcançar. Para o terapeuta, este R um momento maravilhoso de al(vio e alegria,
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por>ue sa$e então >ue o paciente assumiu o risco de se comprometer a curar;se e portanto a terapia ser5 $em sucedida.
O risco do compromisso com a terapia não R s o risco do compromisso em si, mas tam$Rm o risco da auto;con?rontação e da mudança. 9a secção anterior, na discussão da disciplina de dedicação verdade, re?eri em detalhe as di6culdades de mudar o nosso mapa da realidade, visão do mundo e trans?er8ncias. 9o entanto, h5 >ue mud5;los, se se >uiser viver uma vida de amor, com ?re>uentes eHtens@es do Nu para novas dimens@es e territrios de envolvimento. _5 muitos pontos da ornada de desenvolvimento pessoal, >uer se estea s ou se tenha um psicoterapeuta como guia, >uando se tem >ue agir de ?ormas novas e desconhecidas, em consonQncia com a sua nova visão do mundo. Nssa tomada de acção ; comportando;se de ?orma di?erente da >ue era ha$itual ; pode representar um risco pessoal eHtraordin5rio. O ovem homosseHual >ue pela primeira vez toma a iniciativa de convidar uma rapariga para sairW a pessoa >ue nunca con6ou em ninguRm e se deita pela primeira vez no divã do analista, permitindo >ue este estea ?ora do seu campo de visãoW a mulher
anteriormente dependente >ue anuncia ao marido controlador >ue vai arranar emprego >uer ele goste >uer não, >ue tem >ue viver a sua prpria vidaW o menino da mamã cin>uentão >ue diz mãe para deiHar de o chamar pelo diminutivo de criançaW o homem K?orteK e auto;su6ciente, emocionalmente distante, >ue chora pela primeira vez em p$licoW ou )achel a KdeiHar;se irK e a chorar pela primeira vez no meu ga$inete! estas acç@es, e muitas outras, implicam um risco mais pessoal e por isso ?re>uentemente mais terr(vel e assustador >ue o de um soldado >ue se prepara para o com$ate. O soldado não pode ?ugir por>ue tem a arma apontada s costas e ao peito. Mas o indiv(duo >ue tenta evoluir pode sempre retirar;se para os padr@es ?5ceis e ?amiliares dum passado limitado.
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L5 se disse >ue o psicoterapeuta $em sucedido tem >ue trazer para a relação psicoterap8utica a mesma coragem e o mesmo sentido de compromisso >ue o doente. O terapeuta tem tam$Rm >ue arriscar;se mudança. De todas as regras $oas e teis da psicoterapia >ue me ensinaram, h5 poucas >ue eu não tenha optado por in?ringir numa ou noutra altura, não por preguiça, mas antes a tremer de medo, por a terapia do meu paciente parecer eHigir, de uma ou de outra ?orma, >ue eu sa(sse da segurança do papel tradicional do analista, ?osse di?erente e arriscasse o anticonvencional. 3uando olho para todos os casos $em sucedidos do meu passado, veo >ue em determinada altura, em cada um, tive >ue pXr a ca$eça no cepo. # disposição do terapeuta para so?rer nesses momentos R talvez a ess8ncia da terapia, e >uando R captada pelo doente, como R ha$itual, R sempre terap8utica. V tam$Rm atravRs dessa vontade de se prolongarem e so?rerem por e com os seus pacientes >ue os terapeutas evoluem e mudam. Mais uma vez, >uando reveo os meus casos >ue tiveram 8Hito, não h5 um nico >ue não tenha resultado numa mudança muito signi6cativa, muitas vezes radical, das minhas atitudes e perspectivas. %em >ue ser assim. V imposs(vel compreender verdadeiramente outra pessoa sem lhe dar espaço dentro de si prprio. Nsta concessão de espaço, >ue mais uma vez R a disciplina dos par8nteses, re>uer a eHtensão e portanto a mudança do prprio.
V assim com os $ons pais e tam$Rm com a $oa psicoterapia. #o ouvir os nossos 6lhos, estão envolvidos os mesmos par8nteses e eHtensão de ns prprios. Para corresponder s suas necessidades saud5veis, temos >ue mudar. S >uando nos dispomos a passar pelo so?rimento dessa mudança, podemos tornar;nos os pais de >ue os nossos 6lhos precisam. N como os 6lhos crescem constantemente e as suas necessidades vão mudando,
somos o$rigados a mudar e a crescer com eles. %oda a gente conhece pais, por eHemplo, >ue conseguem educar e6;
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cientemente os 6lhos atR adolesc8ncia e depois se tornam completamente ine6cazes como pais por>ue não são capazes de mudar e adaptar as suas atitudes em relação aos 6lhos agora mais velhos e di?erentes. N, como em todas as outras circunstQncias do amor, seria incorrecto encarar o so?rimento e a mudança decorrentes do papel de pais como uma espRcie de sacri?(cio ou mart(rioW pelo contr5rio, os pais t8m mais a ganhar com o processo do >ue os 6lhos. Os pais >ue não estão dispostos a arriscar;se ao so?rimento de mudar, desenvolver;se e aprender com os 6lhos, escolhem o caminho da senilidade >uer o sai$am >uer não ; e os 6lhos e o mundo deiH5;los;ão 6car $em para tr5s. #prender com os 6lhos R a melhor oportunidade >ue a maior parte das pessoas tem de assegurar uma velhice $em vivida. &n?elizmente, a maior parte não aproveita a oportunidade.
O )isco da Con?rontação
O *%&MO N %#*ue con?rontamos alguRm, estamos essencialmente a dizer;lhe, K%u não tens razão, eu tenho.K 3uando um pai ou uma mãe con?ronta um 6lho, dizendo KNst5s a ser dissimuladoK, est5 a dizer com e?eito K# tua dissimulação est5 errada. %enho o direito de a criticar por>ue eu não o sou e tenho razãoK. 3uando um marido con?ronta a mulher com a sua ?rigidez, est5 a dizer;lhe KVs ?r(gida, por>ue R errado da tua parte não me retri$u(res seHualmente com maior calor, uma vez >ue sou capaz seHualmente e de outras ?ormas. %u tens um pro$lema seHualW eu nãoK. 3uando a mulher con?ronta o marido com a opinião de >ue ele não lhe
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dedica tempo su6ciente nem aos 6lhos, est5 a dizer;lhe KO teu investimento no tra$alho R eHcessivo e errado. #pesar de não ter o teu emprego, consigo ver as coisas de uma ?orma mais clara do >ue tu e tenho como certo >ue devias dedicar;te de maneira di?erenteK. Muitas pessoas não
t8m >ual>uer di6culdade em eHercer a capacidade de con?rontar, de dizer KNu tenho razão, tu não tens, devias ser di?erenteK. Os pais, os casais e pessoas em muitos outros papRis ?azem;no casualmente e por rotina, atirando cr(ticas direita e es>uerda, como calha. # maior parte dessas cr(ticas e dessa con?rontação, vulgarmente ?eitas so$ zanga ou despeito, ?az mais pelo aumento da con?usão no mundo do >ue pelo esclarecimento.
Para a pessoa >ue ama verdadeiramente, o acto de cr(tica ou de con?rontação não surge com ?acilidadeW para ela, R evidente >ue o acto contRm um grande potencial de arrogQncia. Con?rontar >uem se ama R assumir uma posição de superioridade moral ou intelectual so$re o amado, pelo menos no >ue respeita ao assunto em causa. 9o entanto, o amor genu(no reconhece e respeita a individualidade nica e a identidade separada da outra pessoa. %erei mais a dizer so$re isto, mais tarde.- # pessoa >ue ama verdadeiramente, >ue valoriza a unicidade e a di?erença do o$ecto do seu amor, ter5 relutQncia em assumir KNu tenho razão, tu não tensW sei melhor do >ue tu o >ue R melhor para tiK. Mas a realidade da vida R tal >ue, por vezes, uma pessoa sa$e mesmo melhor do >ue a outra o >ue R $om para ela, e est5 de ?acto numa posição de conhecimento ou sa$edoria superiores, relativamente ao assunto em causa. 9estas circunstQncias, o mais sensato dos dois tem de ?acto a o$rigação de con?rontar o outro com o pro$lema. # pessoa >ue ama, portanto, encontra;se ?re>uentemente num dilema, entre o respeito pelo caminho da vida da pessoa amada e a responsa$ilidade de eHercer liderança >uando a pessoa amada parece necessitar dessa liderança.
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O dilema s pode ser resolvido atravRs de um eHame de consci8ncia escrupuloso, em >ue >uem ama analisa rigorosamente o valor da sua Ksa$edoriaK e os motivos por tr5s dessa necessidade de assumir a liderança. KNstou mesmo a ver as coisas com clareza ou estou a partir de pressupostos o$scuros[ Compreendo mesmo a pessoa >ue amo[ Ser5 >ue o caminho >ue essa pessoa est5 a tomar R sensato e >ue o ?acto de eu o entender como insensato R devido a uma visão limitada da minha parte[ Nstarei a ser ego(sta ao acreditar >ue a pessoa >ue amo precisa de reorientação[K São estas as >uest@es >ue >uem ama verdadeiramente se deve colocar continuamente. Nsta an5lise interior, tão o$ectiva >uanto poss(vel, R a ess8ncia da humildade. 9as palavras de um monge ingl8s annimo do sRculo &<, mestre espiritual, K# humildade em si não R mais do >ue o verdadeiro conhecimento e sentimento do prprio tal >ual R. O homem >ue se v8 e sente verdadeiramente como R, tem >ue ser humilde.KZ
_5, portanto, duas ?ormas de con?rontar ou criticar outro ser humano! com a certeza espontQnea e instintiva de >ue se tem razão, ou acreditando >ue provavelmente se tem razão depois de auto;an5lise escrupulosa. # primeira R a via da arrogQnciaW R a ?orma mais vulgar adoptada por pais, esposos, pro?essores e pessoas em geral no seu dia;a;diaW não R normalmente $em sucedida, por>ue causa mais ressentimento do >ue desenvolvimento e outros e?eitos não pretendidos. # segunda R a via da humildadeW não R comum, eHigindo uma eHtensão genu(na de si prprioW tem mais pro$a$ilidades de ter 8Hito e nunca R, de acordo com a minha eHperi8ncia, destrutiva.
NHiste um nmero consider5vel de indiv(duos >ue, por >ual>uer razão, aprenderam a ini$ir a sua tend8ncia instintiva para criticar ou con?rontar com arrogQncia espontQnea, mas 9otaZ %he Cloud o? UnknoJing, trad. &ra Progoj 9ova &or>ue! Lulian Press, /A/-, p. /.
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não vão mais longe, escondendo;se na segurança moral da humildade e sem se atreverem a assumir o poder. Nra o caso de um pastor, pai de uma paciente de meia;idade >ue so?ria desde sempre de neurose depressiva. # mãe da minha doente era uma mulher azeda e violenta, >ue dominava o am$iente ?amiliar com ata>ues de mau gRnio e manipulaç@es e >ue, muitas vezes, agredia o marido 6sicamente em ?rente da 6lha. O pastor nunca reagia violentamente e aconselhava a 6lha a responder mãe o?erecendo a outra ?ace e, em nome da caridade cristã, a ser totalmente su$missa e respeitadora. 3uando iniciou a terapia, a minha paciente reverenciava o pai pela sua $randura e Kcapacidade de amarK. 9ão levou muito tempo, porRm, a concluir >ue essa humildade era ?ra>ueza e >ue, com a sua passividade, a tinha privado tanto de uma relação paternal capaz >uanto a mãe com o seu ego(smo mes>uinho. #ca$ou por ver >ue ele nada tinha ?eito para a proteger da maldade da mãe, nem para con?rontar o Mal, não lhe deiHando outra alternativa senão incorporar a manipulação amarga da mãe e a pseudo;humildade do pai como modelos. DeiHar de con?rontar >uando a con?rontação R necess5ria para alimentar o desenvolvimento pessoal representa uma ?alta de amor, tanto >uanto a cr(tica despropositada, a condenação ou outras ?ormas activas de privação de a?ecto. Se amam os 6lhos, os pais devem con?ront5;los e critic5;los de vez em >uando, cuidadosa e parcimoniosamente talvez, mas activamente, assim como
devem permitir >ue os 6lhos os con?rontem e criti>uem por sua vez. Da mesma ?orma, os casais >ue se amam devem con?rontar;se um ao outro para >ue a relação matrimonial sirva a ?unção de promover o desenvolvimento espiritual dos parceiros. 9enhum casamento pode ser considerado verdadeiramente $em sucedido a menos >ue o marido e a mulher seam os melhores cr(ticos um do outro. O mesmo se aplica amizade. NHiste um conceito tradicional de >ue a
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amizade deve ser livre de con\itos, um acordo de Ktu coças;me as costas, eu coço;te as tuasK, apoiada apenas numa troca mtua de ?avores e elogios, como mandam as $oas maneiras. Nssas relaç@es são super6ciais, ?ogem intimidade e não merecem o nome de amizade >ue se lhes aplica tão vulgarmente. 'elizmente, h5 sinais de >ue o nosso conceito de amizade começa a apro?undar;se. # con?rontação mtua e a?ectuosa R uma parte signi6cativa de todas as relaç@es humanas $em sucedidas e v5lidas. Sem ela, a relação não tem 8Hito ou R pouco pro?unda.
Con?rontar ou criticar R uma ?orma de eHerc(cio da liderança ou do poder. O eHerc(cio do poder R nem mais nem menos do >ue a tentativa de in\uenciar o curso dos acontecimentos, humanos ou outros, atravRs de acção previamente determinada, >uer consciente >uer inconscientemente. 3uando con?rontamos ou criticamos alguRm R por>ue >ueremos mudar o curso da vida da pessoa. V evidente >ue h5 muitas outras ?ormas, atR superiores, de in\uenciar o curso dos acontecimentos sem ser pela con?rontação ou pela cr(tica! por eHemplo, pela sugestão, pela par5$ola, pela recompensa e pelo castigo, >uestionando, proi$indo ou permitindo, criando eHperi8ncias, organizando;se com outros, etc.. Podem escrever;se livros so$re a arte de eHercer o poder. Para os e?eitos >ue se pretendem, $asta dizer >ue os indiv(duos >ue amam devem interessar;se por esta arte, 5 >ue >uando se desea alimentar o desenvolvimento espiritual de outro, t8m >ue se interessar pela via mais e6caz de o conseguir em >uais>uer circunstQncias. Os pais >ue amam, por eHemplo, devem primeiro analisar;se rigorosamente a si prprios e aos seus valores antes de esta$elecerem com eHactidão >ue sa$em o >ue R melhor para o 6lho. Depois de ?azerem essa determinação, t8m >ue ponderar o car5cter e as capacidades da criança antes de decidir se ela responder5 mais ?avoravelmente con?rontação
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do >ue ao elogio, a maior atenção, a contar;lhe uma histria ou a outra ?orma de in\u8ncia. Con?rontar alguRm com algo >ue não R capaz de gerir R, na melhor das hipteses, uma perda de tempo, e ter5 provavelmente um e?eito desmoralizador. Se >uisermos ser ouvidos, temos >ue ?alar numa linguagem >ue o ouvinte possa compreender e a um n(vel em >ue o ouvinte sea capaz de ?uncionar. Se >ueremos amar, temos >ue nos es?orçar por adaptar a nossa comunicação s capacidades da pessoa >ue amamos.
V claro >ue eHercer o poder com amor eHige muito tra$alho, mas o >ue R isso do risco envolvido[ O pro$lema R >ue, >uanto mais se ama, mais humilde se RW porRm, >uanto mais humilde se R, mais se receia o potencial de arrogQncia do eHerc(cio do poder. 3uem sou eu para in\uenciar o curso dos acontecimentos humanos[ Com >ue autoridade tenho o direito de decidir o >ue R melhor para o meu 6lho, o meu marido ou a minha mulher, o meu pa(s ou a raça humana[ 3uem me d5 o direito de me atrever a acreditar no meu entendimento e pretender eHercer a minha vontade so$re o mundo[ 3uem sou eu para ?azer de Deus[ Nsse R o risco. Por>ue sempre >ue eHercemos poder, estamos a tentar in\uenciar o curso do mundo, da humanidade, e portanto a ?azer de Deus. # maior parte dos pais, pro?essores, l(deres ; a>ueles de ns >ue eHercem poder ; não t8m essa noção. 9a arrogQncia de eHercer o poder sem o total conhecimento de si eHigido pelo amor, estamos a$ençoada mas destrutivamente alheios ao ?acto de >ue ?azemos o papel de Deus. Mas, os >ue amam verdadeiramente, e tra$alham portanto para a sa$edoria >ue o amor re>uer, sa$em >ue agir R ?azer de Deus. 9o entanto, sa$em tam$Rm >ue não h5 alternativa senão a inacção e a impot8ncia. O amor leva;nos a ?azer de Deus, com plena consci8ncia da enormidade do ?acto de >ue R isso >ue estamos a ?azer. Com essa consci8ncia, a pessoa >ue ama assume a responsa$i;
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lidade de tentar ser Deus e não de ?azer de Deus irresponsavelmente, para cumprir sem erro a vontade de Deus. Chegamos assim a outro paradoHo! s atravRs da humildade do amor podem os homens atrever;se a ser Deus.
O #mor R Disciplinado
MN9C&O9N& 3UN # N9N)4 para o tra$alho da auto;disciplina deriva do amor, >ue R uma ?orma de vontade. Segue;se, portanto, >ue a auto; disciplina não s R amor, traduzido em acção, como tam$Rm >ue todo o >ue
ama verdadeiramente se comporta com auto;disciplina e >ual>uer relação de amor verdadeiro R uma relação disciplinada. Se amo verdadeiramente outra pessoa, R evidente >ue orientarei o meu comportamento no sentido de contri$uir o mais poss(vel para o seu desenvolvimento espiritual. Um casal ovem, inteligente, artista e K$oRmioK, com >uem em tempos tentei tra$alhar, contava >uatro anos de um casamento marcado por zangas >uase di5rias em >ue gritavam, atiravam com a louça e se esgatanhavam um ao outro, para alRm de in6delidades semanais e separaç@es de m8s a m8s. Pouco depois de iniciarmos o tra$alho, cada um deles aperce$eu;se correctamente de >ue a terapia os levaria a uma auto;disciplina cada vez maior e, em resultado, a uma relação menos desordenada. KMas >uer retirar a paiHão da nossa relação,K diziam. K#s suas noç@es de amor e de casamento não deiHam espaço para a paiHão.K 3uase logo a seguir, a$andonaram a terapia e eu sou$e >ue, tr8s anos mais tarde, depois de v5rios episdios com outros terapeutas, as cenas di5rias de gritaria e o padrão catico do casamento se mantinham inalterados, $em como a improdutividade das suas vidas. 9ão h5 dvida >ue, num certo sentido, a união deles R muito
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colorida. Mas R como as cores prim5rias nos desenhos das crianças, atiradas para o papel com a$andono, por vezes não sem encanto, mas demonstrando na generalidade a uni?ormidade >ue caracteriza a arte das crianças mais novas. 9os tons di?usos e controlados de )em$randt vemos a cor, no entanto in6nitamente mais rica, nica e com signi6cado. # paiHão R um sentimento muito pro?undo. O ?acto de um sentimento ser descontrolado não indica >ue sea mais pro?undo do >ue um sentimento disciplinado. Pelo contr5rio, os psi>uiatras conhecem $em a verdade dos velhos provRr$ios KOs ri$eiros pouco pro?undos ?azem muito $arulhoK e K#s 5guas paradas são pro?undasK. 9ão devemos assumir >ue alguRm cuos sentimentos são modulados e controlados não R uma pessoa apaiHonada.
Nm$ora não se deva ser escravo dos prprios sentimentos, a auto;disciplina não signi6ca esmagar os sentimentos atR >uase não eHistirem. Digo muitas vezes aos meus doentes >ue os sentimentos são escravos deles e >ue a arte da auto;disciplina R como a arte de ter escravos. Primeiro, os sentimentos são a ?onte de energia de cada umW ?ornecem os cavalos, ou a ?orça dos escravos, >ue nos permite levar a ca$o as tare?as da vida. Como tra$alham para ns, devemos trat5;los com respeito. _5 dois erros comuns >ue os propriet5rios de escravos podem cometer e >ue representam ?ormas opostas e eHtremas de liderança eHecutiva. Um tipo de propriet5rio não disciplina os escravos, não lhes d5 estrutura, não imp@e limites, não lhes d5
orientação e não lhes mostra claramente >uem manda. O >ue acontece, claro, R >ue a certa altura os escravos deiHam de tra$alhar e começam a mudar;se para a mansão, dão conta das $e$idas e partem a mo$(lia e, em $reve, o propriet5rio v8;se escravo dos seus escravos, a viver no mesmo tipo de caos >ue o casal K$oRmioK >ue atr5s re?eri.
9o entanto, o estilo oposto de liderança, >ue o neurtico carregado de culpa tantas vezes eHerce so$re os seus sentimen;
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tos, R igualmente auto;destrutivo. 9este estilo, o propriet5rio est5 tão o$cecado com medo de perder o controle dos escravos sentimentos- e tão decidido a >ue eles não lhe levantem pro$lemas, >ue os espanca regularmente e os castiga severamente ao primeiro sinal de >ual>uer energia. O resultado deste estilo R >ue, dentro de pouco tempo, os escravos se tornam cada vez menos produtivos medida >ue a sua vontade se esgota pelo duro tratamento a >ue são su$metidos. Ou então, a sua vontade trans?orma;se cada vez mais em revolta contida. Se o processo se prolongar pelo tempo su6ciente, uma noite a previsão do propriet5rio torna; se realidade e os escravos revoltam;se e incendeiam a mansão, muitas vezes com o dono l5 dentro. Nsta R a gRnese de certas psicoses e neuroses opressivas. # gestão ade>uada dos sentimentos situa;se claramente num compleHo portanto, nem simples nem ?5cil- caminho intermRdio e e>uili$rado, >ue re>uer o uso constante das ?aculdades de ulgamento e adaptação cont(nua. #>ui, o propriet5rio trata os sentimentos escravoscom respeito, ?ornece;lhes $oa alimentação, a$rigo e cuidados mRdicos, escuta e responde s suas vozes, encoraa;os, pergunta;lhes pela sade, ao mesmo tempo >ue os organiza, limita, decidindo claramente entre eles, orientando;os e ensinando;os, nunca deiHando dvidas so$re >uem manda. V este o caminho da auto;disciplina saud5vel.
Nntre os sentimentos >ue t8m >ue ser disciplinados, encontra;se o sentimento do amor. Como indi>uei, este não R em si o amor genu(no, mas o sentimento associado cateHia. Deve ser respeitado e alimentado, devido energia criativa >ue aporta, mas se ?or deiHado solta, o resultado não ser5 amor genu(no mas con?usão e improdutividade. Nnvolvendo o amor genu(no o prolongamento de si prprio, são necess5rias grandes >uantidades de energia e, >uer se goste >uer não, as nossas reservas de energia são tão limitadas como as horas de cada dia.
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9ão podemos amar toda a gente. V verdade >ue podemos ter um sentimento de amor em relação humanidade, e esse sentimento tam$Rm pode ser til ?ornecendo;nos a energia necess5ria para mani?estar amor genu(no por alguns indiv(duos espec(6cos. Mas o amor genu(no por relativamente poucos indiv(duos R tudo o >ue est5 no nosso poder. %entar eHceder os limites da nossa energia R o?erecer mais do >ue podemos dar, e h5 um ponto sem regresso para alRm do >ual a tentativa de amar toda a gente se torna ?raudulenta e preudicial para a>ueles >ue >ueremos audar. Portanto, se tivermos a sorte de estar numa posição em >ue muitas pessoas solicitam a nossa atenção, temos >ue escolher entre elas >uais as >ue vamos mesmo amar. 9ão R uma escolha ?5cilW pode ser martirizante, tal como assumir o poder imagem de Deus. Mas tem >ue ser ?eita. _5 muitos ?actores a considerar, principalmente a capacidade do potencial o$ecto do nosso amor de corresponder a esse amor com desenvolvimento espiritual. Nsta capacidade R di?erente de pessoa para pessoa, ?acto >ue iremos eHaminar mais adiante. V, no entanto, in>uestion5vel >ue h5 muita gente cuo esp(rito est5 tão ?echado por detr5s de uma armadura impenetr5vel >ue mesmo os maiores es?orços para alimentar o desenvolvimento desses esp(ritos estão destinados a ?alhar. %entar amar alguRm >ue não $ene6ciar5 do nosso amor com desenvolvimento espiritual R um desperd(cio de energia, R lançar a semente em solo estRril. O amor genu(no R precioso e os >ue são capazes de amar genuinamente sa$em >ue o seu amor tem >ue ser concentrado tão produtivamente >uanto poss(vel atravRs da auto;disciplina.
O inverso do pro$lema de amar demasiadas pessoas tam$Rm tem >ue ser analisado. V poss(vel, pelo menos para algumas pessoas, amar mais do >ue uma pessoa ao mesmo tempo e manter simultaneamente v5rias relaç@es de amor genu(no. &sto em si R um pro$lema por v5rias raz@es. Uma
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delas R o mito americano ou ocidental do amor romQntico, >ue sugere >ue certas pessoas ?oram K?eitas uma para a outraKW assim, por eHtrapolação, não se destinam a mais ninguRm. O mito, portanto, prev8 a eHclusividade nas relaç@es de amor, particularmente a eHclusividade seHual. 9o todo, o mito R provavelmente til por contri$uir para a esta$ilidade e produtividade das relaç@es humanas, uma vez >ue a grande maioria dos seres humanos R desa6ada atR ao limite das suas capacidades para se es?orçarem em desenvolver relaç@es de amor genu(nas s com o marido ou a mulher e com os 6lhos. De ?acto, >uem puder dizer >ue construiu relaç@es de amor
genu(nas com o seu marido ou a sua mulher e com os 6lhos, 5 conseguiu mais do >ue a maior parte das pessoas consegue na vida toda. _5 por vezes algo de patRtico no indiv(duo >ue não conseguiu construir uma relação de amor com a ?am(lia e >ue, no entanto, procura sem descanso relaç@es de amor ?ora da ?am(lia. # primeira o$rigação de uma pessoa >ue ama genuinamente ser5 sempre em relação s suas relaç@es maritais ou parentais. Mesmo assim, h5 algumas pessoas cua capacidade de amar R su6cientemente grande para constru(rem relaç@es de amor $em sucedidas dentro da ?am(lia e ainda lhes so$rar energia para outras relaç@es. Para elas, o mito da eHclusividade não s R o$viamente ?also, como tam$Rm representa uma limitação desnecess5ria da sua capacidade de se darem ?ora da ?am(lia. V poss(vel ultrapassar esta limitação, mas R necess5ria uma grande auto;disciplina no prolongamento do Nu para evitar Kesticar;se de maisK. Nra a esta >uestão eHtraordinariamente compleHa a>ui a$ordada apenas de passagem- >ue se re?eria Loseph 'letcher, telogo Npiscopaliano, autor de # 9ova Moralidade, >uando dizia a um amigo meu, KO amor livre R um ideal. &n?elizmente, R um ideal de >ue muito poucos de ns R capaz.K O >ue ele >ueria dizer era >ue muito poucos de ns t8m a capacidade de auto;disciplina su6;
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ciente para manter relaç@es construtivas de amor genu(no tanto dentro como ?ora da ?am(lia. # li$erdade e a disciplina são de ?acto criadasW sem a disciplina do amor genu(no, a li$erdade R invariavelmente sem amor e destrutiva.
Por esta altura, alguns leitores estarão saturados do conceito de disciplina e terão conclu(do >ue de?endo um estilo de vida de som$rio Calvinismo. #uto; disciplina constante #uto;an5lise constante Dever )esponsa$ilidade Poderão chamar;lhe neopuritanismo. &ndependentemente do >ue lhe chamarem, o amor genu(no, com toda a disciplina >ue eHige, R o nico caminho nesta vida para a alegria suprema. Siga;se outro caminho e poderão encontrar;se raros momentos de alegria eHt5tica, mas serão passageiros e cada vez mais ?ugidios. 3uando amo verdadeiramente estou a prolongar;me, e ao prolongar;me estou a desenvolver;me. 3uanto mais amo, >uanto mais tempo amo, maior me torno. O amor genu(no R autocompensador. 3uanto mais ?omento o desenvolvimento espiritual doutros, mais o meu desenvolvimento espiritual R ?omentado. Sou um ser humano totalmente ego(sta. 9unca ?aço nada por ninguRm a não ser a>uilo >ue ?aço por mim. N ao crescer atravRs do amor, assim cresce a minha alegria, cada vez mais presente, cada vez mais constante. %alvez sea neopuritano. Sou tam$Rm viciado na alegria. Como canta Lohn Denver!
O amor est5 em toda a parte, eu veo;o. Vs tudo o >ue podes ser, vai e s8;o. # vida R per?eita, eu acredito.
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O #mor R Separação
NM:O)# o #C%O DN 'OMN9%#) o desenvolvimento espiritual de outro tenha o e?eito de ?omentar o prprio, uma das caracter(sticas principais do amor genu(no R manter;se e preservar;se a distinção entre si prprio e o outro. O amante genu(no considera a pessoa amada como tendo uma identidade inteiramente separada. Mais ainda, o amante genu(no respeita e incentiva essa separação e a individualidade nica da pessoa amada. V eHtremamente vulgar, no entanto, a ?alta de percepção e respeito por esta separação, >ue R causa de muitas doenças mentais e so?rimento desnecess5rio.
9a sua ?orma mais eHtrema, a ?alta de percepção da separação do outro R chamada narcisismo. Os indiv(duos ?rancamente narcisistas não conseguem ver os 6lhos, esposos ou amigos como independentes de si a n(vel emocional. # primeira vez >ue comecei a compreender do >ue trata o narcisismo ?oi durante uma entrevista com os pais de uma doente es>uizo?rRnica, a >uem chamarei Susan . 9a altura, Susan tinha trinta e um anos. Desde os dezoito, tinha ?eito v5rias tentativas de suic(dio e tinha estado hospitalizada >uase continuamente numa sRrie de hospitais e sanatrios durante os treze anos anteriores. 9o entanto, em grande parte devido aos eHcelentes cuidados psi>ui5tricos >ue tinha rece$ido doutros psi>uiatras durante esses anos, estava 6nalmente a começar a melhorar. Durante alguns meses, en>uanto tra$alh5mos untos, ela tinha demonstrado uma capacidade progressiva de con6ar em pessoas merecedoras de con6ança, de distinguir as >ue mereciam con6ança das >ue não mereciam, de aceitar o ?acto de >ue tinha uma doença es>uizo?rRnica e >ue teria de eHercer
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uma grande dose de auto;disciplina para o resto da vida para lidar com a doença, de se respeitar e de ?azer o necess5rio para ser auto;su6ciente sem ter >ue esperar >ue os outros tratassem dela. Nm vista deste grande progresso, senti >ue se aproHimava o momento em >ue Susan estaria capaz de deiHar o hospital e, pela primeira vez na vida, levar uma eHist8ncia independente. 'oi nessa altura >ue conheci os pais, um casal $onito e a$astado, a meio da casa dos cin>uenta. 'oi com grande satis?ação >ue lhes descrevi os enormes progressos de Susan e lhes eHpli>uei em detalhe as raz@es do meu optimismo. Mas, para minha grande surpresa, pouco depois de eu começar a ?alar a mãe de Susan começou a chorar silenciosamente e continuou en>uanto eu prosseguia na minha mensagem de esperança. #o princ(pio, pensei >ue ?ossem l5grimas de alegria, mas era evidente pela sua eHpressão >ue se sentia triste. Por 6m, eu disse;lhe, KNstou intrigado, Sra. . %enho estado a contar;lhe coisas cheias de esperança e, no entanto, parece estar triste.K
KClaro >ue estou triste,K respondeu. K9ão posso deiHar de chorar >uando penso em tudo o >ue a po$re Susan tem de so?rer.K
NHpli>uei;lhe então, eHaustivamente, >ue em$ora ?osse verdade >ue Susan tinha so?rido muito no decurso da doença, tam$Rm tinha aprendido muito com esse so?rimento, tinha dado a volta por cima e, calculava eu, era pouco prov5vel >ue no ?uturo viesse a so?rer mais do >ue >ual>uer outro adulto. De ?acto, atR podia so?rer menos do >ue >ual>uer de ns, pelo conhecimento >ue tinha ad>uirido na sua luta contra a es>uizo?renia. # Sra. continuou a chorar silenciosamente.
K'rancamente, continuo espantado, Sra. ,K disse eu. K9os ltimos treze anos participou pelo menos numa dzia de conversas destas com os psi>uiatras de Susan e, pelo >ue sei, nenhuma ?oi tão optimista como esta. 9ão sente contentamento, para alRm da tristeza[K
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KS consigo pensar em como a vida R di?(cil para Susan,K respondeu ela, chorosa.
KOlhe, Sra. ,K disse eu, Kh5 alguma coisa >ue eu lhe possa dizer so$re a Susan >ue a ?aça sentir encoraada e ?eliz por ela[K
K# vida da po$re Susan R tão dolorosa,K choramingou a senhora.
De repente, aperce$i;me de >ue a Sra. não chorava por Susan, mas por si prpria. Chorava pela sua dor e so?rimento. 9o entanto, a conversa era so$re Susan, não so$re ela, e ela estava a chorar em nome de Susan. Como podia ela ?azer isso[ Nntão aperce$i;me de >ue a Sra. não conseguia distinguir entre Susan e ela prpria. O >ue ela sentia, Susan tinha de sentir tam$Rm. Nstava a usar Susan como ve(culo de eHpressão das suas necessidades. 9ão o ?azia consciente ou maliciosamenteW a n(vel emocional não conseguia, de ?acto, entender >ue Susan tinha uma identidade separada da sua. Susan era ela. 9a sua mente, Susan como indiv(duo nico e di?erente, com um caminho de vida nico e di?erente, simplesmente não eHistia ; nem provavelmente mais ninguRm. &ntelectualmente, a Sra. reconhecia as outras pessoas como sendo di?erentes dela. Mas num plano mais $5sico, as outras pessoas não eHistiam para ela. 9as pro?undezas da sua mente, o mundo inteiro era ela, a Sra. , e s ela.
Nm eHperi8ncias posteriores, encontrei ?re>uentemente mães de crianças es>uizo?rRnicas >ue eram eHtraordinariamente narcisistas como a Sra. . &sto não signi6ca >ue essas mães seam sempre narcisistas ou >ue as mães narcisistas não possam educar 6lhos não es>uizo?rRnicos. # es>uizo?renia R uma pertur$ação eHtremamente compleHa, com determinantes genRticas e am$ientais evidentes. Mas podemos imaginar o grau de con?usão >ue o narcisismo da mãe provocou na in?Qncia de Susan, e podemos ver o$ectivamente essa con?usão
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ao o$servar mães narcisistas a interagir com os 6lhos. 9uma tarde em >ue a Sra. se sentisse in?eliz, Susan chegava a casa, trazendo da escola desenhos >ue a pro?essora tinha classi6cado com #. Se ela dissesse mãe, com orgulho, como estava a ?azer progressos na escola, a Sra. podia muito $em responder! KSusan, vai dormir um $ocadinho. 9ão te devias cansar tanto com os tra$alhos da escola. O sistema escolar 5 não R nada
$om. L5 não se importam com as crianças.K Por outro lado, numa tarde em >ue a Sra. estivesse muito $em disposta, Susan podia chegar a casa des?eita em l5grimas, por ter sido arreliada por uns >uantos rapazes no autocarro da escola, e a Sra. poderia dizer! K9ão R uma sorte o Sr. Lones ser tão $om motorista[ V tão simp5tico e paciente convosco e com a vossa tur$ul8ncia. #cho >ue lhe devias dar um lindo presente no 9atal.K
Como não reconhecem os outros como outros, mas como eHtens@es deles prprios, os indiv(duos narcisistas não t8m capacidade de empatia, >ue R a capacidade de sentir o >ue outro sente. 'altando;lhes empatia, os pais narcisistas reagem inade>uadamente aos 6lhos a n(vel emocional, e não mostram reconhecimento ou constatação dos sentimentos dos 6lhos. 9ão admira, portanto, >ue essas crianças cresçam com di6culdade em reconhecer, aceitar e da( gerir os seus prprios sentimentos.
Nm$ora normalmente não tão narcisistas como a Sra. , a grande maioria dos pais não reconhece devidamente nem aprecia completamente a individualidade singular dos 6lhos. #$undam eHemplos comuns. Os pais dirão dum 6lho KSai mesmo ao paiK ou a um 6lho KVs tal e >ual o teu tio LimK, como se os 6lhos ?ossem uma cpia genRtica deles ou da ?am(lia, >uando pela com$inação genRtica, todas as crianças são eHtremamente di?erentes, geneticamente, tanto dos pais como de todos os seus antepassados. Pais desportistas empur;
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ram os 6lhos intelectuais para o ?ute$ol e os pais intelectuais empurram os 6lhos desportistas para os livros, provocando;lhes sentimentos de culpa e in>uietação desnecess5rios. # mulher de um general >ueiHa;se da 6lha de dezassete anos! K3uando est5 em casa, Sall+ senta;se no >uarto o tempo todo a escrever poesia. V mr$ido, Doutor. )ecusa;se terminantemente a ter uma ?esta de apresentação sociedade. %enho receio >ue estea gravemente doente.K Depois de entrevistar Sall+, uma rapariga ovial e encantadora >ue est5 no >uadro de honra da escola e tem muitos amigos, disse aos pais >ue a considerava per?eitamente saud5vel e sugeri;lhes >ue 6zessem menos pressão so$re ela para ser uma cpia deles prprios. Sa(ram para ir procurar outro psi>uiatra, um >ue estivesse disposto a pronunciar as di?erenças de Sall+ como desvios.
Os adolescentes >ueiHam;se ?re>uentemente >ue lhes imp@em disciplina, não por>ue os pais se preocupem verdadeiramente com eles, mas por>ue receiam >ue lhes preudi>uem a imagem. KOs meus pais andam sempre atr5s de mim para eu cortar o ca$elo,K diziam os rapazes adolescentes h5 alguns anos. K9ão conseguem eHplicar por>ue R >ue o ca$elo comprido R mau para mim. S não >uerem R >ue os outros sai$am >ue eles t8m 6lhos de ca$elo comprido. Nstão;se nas tintas para mim. S se importam com a sua prpria imagem.K Nsse ressentimento adolescente R normalmente usti6cado. Os pais de ?acto não apreciam a individualidade nica dos 6lhos e, em vez disso, v8em os 6lhos como prolongamentos deles prprios, da mesma ?orma >ue as suas roupas caras, os relvados meticulosamente tratados e os carros $rilhantes são prolongamentos de si prprios >ue representam o seu estatuto para o mundo. V a estas ?ormas de narcisismo mais ligeiras mas de >ual>uer ?orma destrutivas, >ue se dirige ahlil 4i$ran, no >ue são talvez as mais $elas palavras amais escritas so$re a educação dos 6lhos!
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Os teus 6lhos não são os teus 6lhos.
São os 6lhos e as 6lhas do deseo da
<8m atravRs de ti mas não de ti,
N em$ora esteam contigo, não te pertencem.
Podes dar;lhes o teu amor, mas não os teus pensamentos, Por>ue eles t8m os seus prprios pensamentos. Podes aloar;lhes os corpos mas não as almas, Por>ue as almas deles vivem na casa do amanhã, >ue tu
não podes visitar, nem se>uer em sonhos. Podes lutar por ser como eles, mas não tentes ?az8;los ser
como tu.
Por>ue a vida não anda para tr5s nem espera pelo passado %u Rs o arco a partir do >ual são disparados os teus 6lhos
como setas vivas.
O ar>ueiro v8 o alvo no caminho do in6nito, e ar>ueia;te com a Sua ?orça para >ue a Sua \echa
possa ir longe e veloz.
DeiHa >ue o teu ar>uear s mãos do ar>ueiro sea de satis?açãoW Por>ue assim como Nle ama a seta >ue voa, ama tam$Rm
o arco >ue R 6rme. Z
# di6culdade >ue os humanos t8m normalmente em apreciar inteiramente a separação da>ueles >ue lhes são prHimos não s inter?ere com o seu papel de pais como com todas as suas relaç@es (ntimas, incluindo o casamento. 9ão h5 muito tempo, num grupo de casais, ouvi um dos mem$ros a6rmar >ue o Ko$ectivo e ?unçãoK da mulher era ter a casa $em arranada e aliment5;lo $em. 'i>uei horrorizado com o >ue me pareceu o seu espalha?atoso chauvinismo masculino. Pensei poder;lho demonstrar pedindo aos outros mem$ros do grupo >ue 9otaZ %he Prophet 9ova &or>ue! #l?red #. nop?, /2-, pp. 0;1.
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dissessem como entendiam o o$ectivo e a ?unção dos seus parceiros. Para meu horror, os outros seis, tanto homens como mulheres, deram respostas semelhantes. %odos eles de6niram o o$ectivo e ?unção dos maridos ou mulheres em relação a si prpriosW nenhum deles se aperce$ia de >ue os seus parceiros tinham uma eHist8ncia $asicamente separada da sua ou
>ual>uer destino >ue não o do seu casamento. KV um espanto,K eHclamei eu, Knão admira >ue tenham todos pro$lemas no casamento, e vão continuar a t8;los atR conseguirem reconhecer >ue cada um de vs tem um destino independente a cumprir.K O grupo sentiu;se não s penalizado como pro?undamente con?uso pela minha declaração. Com alguma $eligerQncia, pediram;me >ue de6nisse o o$ectivo e a ?unção da minha mulher. KO o$ectivo e a ?unção de *il+,K respondi, K R evoluir tanto >uanto ?or capaz, não em meu $ene?(cio mas no dela e para a glria de Deus.K 9o entanto, o conceito continuou a parecer;lhes estranho durante algum tempo.
O pro$lema da separação nas relaç@es (ntimas tem in?ernizado a humanidade atravRs dos tempos. 9o entanto, tem rece$ido mais atenção do ponto de vista pol(tico do >ue do marital. O comunismo puro, por eHemplo, eHprime uma 6loso6a não di?erente da dos casais >ue atr5s re?eri ; nomeadamente, >ue o o$ectivo e ?unção do indiv(duo R servir a relação, o grupo, o colectivo, a sociedade. S R considerado o destino do NstadoW o destino do indiv(duo R considerado sem importQncia. O capitalismo puro, por outro lado, apoia o destino do indiv(duo mesmo >uando R custa da relação, do grupo, do colectivo ou da sociedade. #s vivas e os r?ãos podem morrer ?ome, mas isso não deve impedir o empres5rio individual de colher todos os ?rutos da sua iniciativa. Devia ser $vio para >ual>uer mente esclarecida >ue nenhuma destas soluç@es puras para o pro$lema da separação dentro das relaç@es pode ter 8Hito. # sade do indiv(duo depende da sade da sociedadeW a sade
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da sociedade depende da sade dos indiv(duos >ue a comp@em. 3uando lidamos com casais, a minha mulher e eu ?azemos a analogia entre o casamento e um acampamento de apoio de montanhismo. Se se >uer ?azer montanhismo, tem >ue se ter um $om acampamento de apoio, um lugar onde haa a$rigo e provis@es, onde se rece$em cuidados e se descansa antes de se aventurar a su$ir a outro pico. Os montanhistas de sucesso sa$em >ue t8m >ue passar tanto tempo, ou mais, a tratar do acampamento como a su$ir s montanhas, por>ue a sua so$reviv8ncia depende do cuidado >ue t8m em assegurar >ue o acampamento R $em montado e aprovisionado.
Um pro$lema comum e tradicionalmente masculino R o criado pelo marido >ue, depois de estar casado, dedica todo o tempo a su$ir s montanhas e nenhum a tratar do casamento, ou acampamento de apoio, esperando >ue ele estea em per?eita ordem sempre >ue decidir voltar para ele, para o seu
descanso e lazer, sem assumir nenhuma responsa$ilidade pela sua conservação. Mais cedo ou mais tarde, esta a$ordagem KcapitalistaK ?alha e ele regressa ao acampamento para o encontrar num caos, tendo a sua mulher, a >uem deu tão pouca atenção, sido hospitalizada com um esgotamento nervoso, ou ?ugido com outro homem, ou renunciado de >ual>uer outra ?orma ao lugar de supervisora do acampamento. Outro pro$lema igualmente vulgar e tradicionalmente ?eminino R criado pela mulher >ue, assim >ue se casa, acha >ue atingiu o seu o$ectivo de vida. Para ela, o acampamento de apoio R o pico. 9ão entende e não aceita a necessidade de o marido se realizar e ter outras eHperi8ncias para alRm do casamento e reage com cime e eHig8ncias in6ndas para >ue ele dedi>ue cada vez mais energia casa. Como outras soluç@es KcomunistasK do pro$lema, esta cria uma relação su?ocante e estagnadora em >ue o marido, sentindo;se preso e limitado, pode $em ?ugir numa altura de Kcrise da meia idadeK. O movimento de li$ertação da
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mulher tem sido til em mostrar o caminho >ue R o$viamente a solução ideal! o casamento como uma instituição realmente cooperante, >ue eHige grandes contri$uiç@es e cuidados mtuos, tempo e energia, mas >ue eHiste principalmente com o o$ectivo de apoiar cada um dos participantes na sua ornada individual em direcção ao seu pico individual de desenvolvimento espiritual. %anto o homem como a mulher t8m >ue cuidar do lar e am$os t8m >ue se aventurar.
Nm adolescente, encantavam;me as palavras de amor >ue a poetisa americana #nn :radstreet dirigia ao marido! KSe amais dois ?orem um, então ns.KZ b medida >ue ?ui crescendo, ?ui;me aperce$endo >ue R a separação dos parceiros >ue enri>uece a união. Os $ons casamentos não podem ser constru(dos por indiv(duos >ue t8m tanto medo da sua solidão $5sica, como R tão vulgarmente o caso, >ue procuram uma ?usão no casamento. O amor genu(no não s respeita a individualidade do outro como, de ?acto, procura cultiv5;la, mesmo com o risco de separação ou perda. O o$ectivo 6nal de vida continua a ser o desenvolvimento espiritual do indiv(duo, a ornada solit5ria atR aos picos onde s se pode ir sozinho. #s ornadas signi6cativas não podem ser empreendidas sem o apoio dado por um casamento ou uma sociedade $em sucedidos. O casamento e a sociedade eHistem para o o$ectivo $5sico de apoiar essas ornadas individuais. Mas, como no caso do amor genu(no, os Ksacri?(ciosK pelo desenvolvimento do outro resultam num desenvolvimento igual ou superior de si prprio. V o regresso do indiv(duo ao casamento ou sociedade de apoio, vindo dos picos para onde viaou sozinho, >ue serve para elevar esse
casamento ou sociedade a novas alturas. Desta ?orma, o desenvolvimento individual e o da sociedade são interdependentes, mas o cume 9otaZ %o M+ Dear and *oving _us$and, A01, inclu(do em %he *iterature o? the United States, de ^alter :lair et ai, eds. 4lenvieJ, .! Scott 'oresman /2F-, p. 2/.
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do desenvolvimento R sempre e inevitavelmente solit5rio. V da solidão da sua sa$edoria >ue nos ?ala outra vez o pro?eta de ahlil 4i$ran, so$re o casamento!
Mas >ue haa espaços na vossa união,
N >ue os ventos dos cRus dancem entre vs.
#mai;vos um ao outro, mas não ?açam do amor um elo! DeiHem;no antes ser um mar >ue se move entre as praias
das vossas almas.
Nncham a taça um do outro mas não $e$am s duma taça. D8em do vosso pão um ao outro mas não comam
do mesmo pão. Cantem e dancem untos e alegrem;se, mas deiHem
>ue cada um estea s, %al como as cordas duma harpa estão ss em$ora vi$rem
com a mesma msica.
D8em os vossos coraç@es, mas não para >ue cada
um os guarde.
Por>ue s a mão da ue os pilares do templo estão a?astados, N o carvalho e o cipreste não crescem na som$ra
um do outro. Z 9ota-%heProphet, pp. 2;A.
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#mor e Psicoterapia
V;MN D&'YC&* )NCO9S%&%U&) a motivação e o entendimento com >ue entrei na 5rea da Psi>uiatria h5 >uinze anos. V certo >ue eu >ueria KaudarK as pessoas. O processo de audar as pessoas nos outros ramos da Medicina envolvia tecnologias com >ue não me sentia vontade e >ue me pareciam demasiado mecQnicas para o meu gosto. %am$Rm gostava mais de ?alar com as pessoas do >ue de apalp5;las e eHplor5;las, e os su$ter?gios da mente humana seduziam;me mais do >ue os do corpo e dos germes >ue o in?estam. 9ão ?azia nenhuma ideia de como os psi>uiatras audavam as pessoas, eHceptuando a ?antasia de >ue possu(amos palavras m5gicas e tRcnicas m5gicas de interacção com os doentes com >ue desat5vamos os ns da psi>ue. %alvez eu >uisesse ser m5gico. %inha muito pouca noção de >ue o tra$alho envolvido tinha >ue ver com o desenvolvimento espiritual dos pacientes, e certamente nenhuma noção de >ue envolveria o meu prprio desenvolvimento espiritual.
Durante os primeiros dez meses de est5gio, tra$alhei com doentes internados altamente pertur$ados, em >uem pareciam ter muito melhores resultados os comprimidos ou os tratamentos de cho>ue e $ons cuidados de en?ermagem do >ue os meus, mas aprendi as palavras m5gicas e as
tRcnicas de interacção tradicionais. Depois desse per(odo, comecei a tratar a minha primeira doente neurtica em regime am$ulatrio de longa duração. Chamar;lhe;ei Mareia. Mareia vinha consulta tr8s vezes por semana. Nra uma verdadeira luta. 9ão ?alava so$re as coisas de >ue eu >ueria >ue ela ?alasse, ou não ?alava delas da maneira >ue eu >ueria e s vezes nem ?alava de
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todo. Dalguma ?orma os nossos valores eram $astante di?erentesW durante a luta ela modi6cou um pouco os dela e eu modi6>uei os meus. Mas a luta continuou, apesar da minha reserva de palavras, tRcnicas e posturas m5gicas, e não havia sinais de melhoras por parte de Mareia. 9a verdade, pouco depois de começar o tratamento, entrou num padrão de promiscuidade >uase ultraante, e durante meses relatava continuamente inmeros incidentes de Kmau comportamentoK. Por 6m, passado um ano, perguntou;me no meio de uma sessão, K#cha >ue eu sou uma porcaria[K
KParece >ue me est5 a pedir >ue lhe diga o >ue penso a seu respeito,K respondi, tentando $rilhantemente ganhar tempo.
Nra isso mesmo >ue ela >ueria, disse;me. N agora, o >ue R >ue eu ia ?azer[ 3ue palavras, tRcnicas ou posturas m5gicas me iam valer[ Nu podia dizer KPor>ue R >ue pergunta[K ou K3uais são as suas ?antasias so$re o >ue eu penso a seu respeito[K ou KO >ue R importante, Mareia, não R o >ue eu penso de si mas o >ue voc8 pensa de siK. 9o entanto, tinha a sensação demolidora de >ue estas ogadas eram evasivas e >ue, depois de um ano inteiro a consultar;me tr8s vezes por semana, o m(nimo a >ue Mareia tinha direito era uma resposta honesta da minha parte so$re o >ue pensava dela. Mas não tinha nenhum precedente para issoW dizer a uma pessoa cara a cara, honestamente, o >ue se pensa dela não ?azia parte das palavras e tRcnicas m5gicas >ue os meus pro?essores me tinham ensinado. Nra uma interacção >ue nunca tinha sido sugerida nem recomendada durante a minha ?ormaçãoW o prprio ?acto de nunca ter sido mencionada era para mim indicação de >ue era uma interacção >ue se reprovava, uma situação em >ue nenhum psi>uiatra idneo se deiHaria cair. Como agir[ Com o coração aos pulos, agarrei;me ao >ue parecia ser um ramo muito prec5rio. KMareia,K disse eu, Kh5 mais de um ano >ue vem minha consulta. Durante este
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longo per(odo, as coisas não correram muito $em connosco. Muito desse tempo ?oi passado a lutar, e a luta ?oi por vezes maçadora, ou arrasadora ou irritante para am$os. 9o entanto, apesar disso, voc8 continuou a vir consulta, com consider5vel es?orço e transtorno para si, sessão aps sessão, semana aps semana, m8s aps m8s. 9ão teria sido capaz de o ?azer se não ?osse o tipo de pessoa >ue est5 decidida a evoluir e disposta a es?orçar;se muito para se tornar uma pessoa melhor. 9ão me seria poss(vel considerar uma pessoa >ue se es?orça tanto como voc8 uma porcaria. 9ão, não acho >ue sea uma porcaria. De ?acto, admiro;a muito.K
Das dzias de amantes, Mareia escolheu imediatamente um e esta$eleceu com ele uma relação com signi6cado >ue aca$ou por levar a um casamento muito $em sucedido e grati6cante. 9unca mais ?oi prom(scua. Começou imediatamente a ?alar das coisas $oas >ue tinha. # sensação de luta improdutiva >ue havia entre ns desvaneceu;se instantaneamente e o nosso tra$alho tornou;se \uente e alegre, com um progresso incrivelmente r5pido. Nstranhamente, o ter;me arriscado a revelar os meus sentimentos genuinamente positivos a seu respeito algo >ue sentia >ue não devia ?azer ; em vez de a magoar, pareceu ter um grande e?eito terap8utico e representou claramente a grande mudança no nosso tra$alho conunto.
3ue signi6ca isto[ Signi6ca >ue para praticar a $oa Psi>uiatria nos $asta dizer aos doentes >ue pensamos $em deles[ 9em por isso. Primeiro, R necess5rio ser sempre honesto em terapia. Nu admirava e gostava verdadeiramente de Mareia. Segundo, a minha admiração e simpatia tinham para ela verdadeiro signi6cado precisamente por>ue nos conhec(amos h5 muito tempo e pela pro?undidade das nossas eHperi8ncias na terapia. De ?acto, a ess8ncia deste ponto de mudança não tinha a ver com a minha simpatia e admiraçãoW tinha a ver com a natureza da nossa relação.
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Um ponto de mudança igualmente dram5tico surgiu na terapia de uma ovem, a >uem chamarei _elen, >ue vinha consulta h5 nove meses, duas vezes por semana, com uma consider5vel aus8ncia de resultados e por >uem eu não nutria sentimentos muito positivos. 9a verdade, depois desse tempo todo, nem se>uer tinha uma vaga ideia de >uem _elen era. 9unca tinha tratado um doente durante tanto tempo sem ter ad>uirido ideias so$re o indiv(duo e a natureza do pro$lema a resolver. Nla con?undia;me completamente e passei grande parte de v5rias noites a tentar, sem sucesso, encontrar algum sentido no caso. # nica coisa >ue era clara era >ue _elen não con6ava em mim. Nla clamava >ue eu não me interessava verdadeiramente por ela de nenhuma maneira e ?eitio e >ue s me interessava pelo seu dinheiro. #ps nove meses de terapia, ?alava assim durante uma sessão! KO senhor não imagina, Dr. Peck, como R ?rustrante tentar comunicar consigo, >uando se mostra tão desinteressado e por isso tão desligado dos meus sentimentos.K
K_elen,K respondi;lhe, KR ?rustrante para am$os. 9ão sei como R >ue isto a vai a?ectar, mas o seu R o caso mais ?rustrante >ue 5 tive numa dRcada de pr5tica de psicoterapia. 9unca conheci ninguRm com >uem 6zesse menos progressos em tanto tempo. %alvez tenha razão em crer >ue não sou a pessoa indicada para tra$alhar consigo. 9ão sei. 9ão >uero desistir, mas estou verdadeiramente intrigado consigo e dou voltas ca$eça >uase atR dar em doido para perce$er >ue dia$o se passa com o nosso tra$alho em conunto.K
O rosto de _elen iluminou;se num sorriso. K#6nal de contas o senhor importa;se mesmo comigo,K disse ela.
K_a[K perguntei.
KSe não se importasse mesmo comigo não se sentiria tão ?rustrado,K respondeu ela, como se ?osse per?eitamente $vio.
*ogo na sessão seguinte, _elen começou a contar;me coisas >ue antes tinha escondido ou so$re as >uais tinha mesmo
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mentido e, passado uma semana, eu 5 tinha uma noção clara do pro$lema dela, pude ?azer um diagnstico e sou$e genericamente como a terapia devia avançar.
#>ui tam$Rm, a minha reacção para com _elen teve peso e signi6cado precisamente devido pro?undidade do meu envolvimento com ela e a intensidade do nosso es?orço. ue torna a psicoterapia e6caz e $em sucedida. 9ão R Kconsideração positiva incondicionalK, nem palavras, tRcnicas ou posturas m5gicas, R envolvimento humano e es?orço. V a vontade do terapeuta de se prolongar com o o$ectivo de apoiar o desenvolvimento do paciente ; a vontade de se arriscar, de se envolver verdadeiramente a n(vel emocional, de se es?orçar com o paciente e consigo prprio. Nm suma, o ingrediente essencial da psicoterapia pro?unda, $em sucedida e com signi6cado R o amor.
V not5vel, >uase incr(vel, >ue a a$undante literatura pro6ssional do Ocidente so$re psicoterapia ignore a >uestão do amor. Os gurus hindus não escondem o ?acto de o seu amor ser a ?onte do seu poder. O m5Himo >ue a literatura ocidental se aproHima da >uestão R nos artigos >ue tentam analisar as di?erenças entre psi>uiatras $em e mal sucedidos e >ue normalmente aca$am por mencionar caracter(sticas dos psi>uiatras $em sucedidos tais como Kcalor humanoK e KempadaK. :asicamente, parecemos 6car constrangidos pela >uestão do amor. _5 v5rias raz@es para isso. Uma R a con?usão entre amor genu(no e amor romQntico >ue R tão di?undida na nossa cultura, $em como as outras con?us@es >ue ?oram tratadas nesta secção. Outra R a nossa propensão para o racional, tang(vel e mensur5vel na Kmedicina cient(6caK, sendo muito por ?ora da Kmedicina cient(6caK >ue a pro6ssão de psicotera; 9otaZ ue! 3uadrangle :ooks, /0-.
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peuta tem evolu(do. Sendo o amor um ?enmeno intang(vel, incompletamente mensur5vel e supraracional, não se presta a an5lise cient(6ca.
Outra razão R a ?orça da tradição psicanal(tica, na Psi>uiatria, do analista desprendido e distante, uma tradição pela >ual os seguidores de 'reud parecem ser mais respons5veis do >ue o prprio 'reud. 9esta mesma tradição, >uais>uer sentimentos de amor >ue o paciente possa ter pelo terapeuta são normalmente classi6cados como Ktrans?er8nciaK e >uais>uer sentimentos de amor do terapeuta pelo paciente como Kcontra; trans?er8nciaK, com a implicação de >ue esses sentimentos são anormais, constituem parte do pro$lema e não da solução, e >ue devem ser evitados. &sto R tudo um a$surdo. # trans?er8ncia, como re?erido na secção anterior, re?ere;se a sentimentos, percepç@es e respostas inade>uados. 9ada h5 de inade>uado nos pacientes >ue aca$am por amar um terapeuta >ue os escuta verdadeiramente, durante horas e horas, sem ?azer u(zos, >ue os aceita como provavelmente ninguRm os aceitou antes, >ue se co($e completamente de os usar e >ue os tem audado a aliviar o so?rimento. 9a verdade, a ess8ncia da trans?er8ncia, em muitos casos, R o >ue evita >ue o paciente desenvolva uma relação de amor com o terapeuta, e a cura consiste em tra$alhar atravRs da trans?er8ncia, de modo a >ue o paciente possa ter uma relação de amor $em sucedida, muitas vezes pela primeira vez. De igual modo, não h5 nada de imprprio nos sentimentos de amor >ue um terapeuta desenvolve em relação ao paciente >uando este se su$mete disciplina da psicoterapia, coopera no tratamento, se disp@e a aprender com o terapeuta e começa a desenvolver;se com 8Hito atravRs da relação. # psicoterapia intensiva, de v5rias ?ormas, R como a repetição da ?unção de pais. 9ão R mais imprprio >ue um terapeuta tenha sentimentos de amor para com o paciente do >ue um $om pai ou uma $oa mãe pelo
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6lho ou 6lha. Pelo contr5rio, R essencial >ue o terapeuta ame o paciente para >ue a terapia tenha $ons resultados e, se a terapia tiver $ons resultados, a relação terap8utica tornar;se;5 de amor mtuo. V inevit5vel >ue o terapeuta tenha sentimentos de amor coincidentes com o amor genu(no >ue demonstrou para com o paciente.
9a sua maior parte, a doença mental R provocada pela aus8ncia ou ?alta do amor de >ue uma determinada criança necessitava por parte de determinados pais para amadurecer com 8Hito e se desenvolver espiritualmente. V $vio, assim, >ue para se curar atravRs da psicoterapia o doente tem >ue rece$er do terapeuta pelo menos uma porção do amor genu(no de >ue ?oi privado. Se o psicoterapeuta não ?or capaz de amar
verdadeiramente o paciente, a verdadeira cura não se veri6car5. Por muito $oas >ue seam as credenciais e a ?ormação dos psicoterapeutas, se não ?orem capazes de se prolongar atravRs do amor atR aos doentes, o resultado da sua pr5tica psicoterap8utica ter5, de uma maneira geral, poucos resultados. Pelo contr5rio, um psicoterapeuta sem credenciais e com um m(nimo de ?ormação >ue tenha uma grande capacidade de amar o$ter5 resultados psicoterap8uticos id8nticos aos dos melhores psi>uiatras.
Uma vez >ue o amor e o seHo estão tão prHimos e interrelacionados, convRm mencionar a>ui resumidamente a >uestão das relaç@es seHuais entre os psicoterapeutas e os seus doentes, uma >uestão >ue tem atra(do presentemente muita atenção por parte da imprensa. Devido natureza necessariamente amorosa e (ntima da relação psicoterap8utica, R inevit5vel >ue tanto os pacientes como os terapeutas desenvolvam com ?re>u8ncia uma atracção seHual ?orte ou muito ?orte um pelo outro. #s press@es para consumar seHualmente essa atracção podem ser enormes. Suspeito >ue alguns pro6ssionais da psicoterapia >ue atiram pedras ao terapeuta >ue se envolveu
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seHualmente com um paciente, não são terapeutas capazes de amar e portanto não conseguem entender verdadeiramente a enormidade das press@es envolvidas. Mais ainda, se eu tivesse um caso em >ue conclu(sse, depois de cuidadosa ponderação, >ue o desenvolvimento espiritual da minha doente $ene6ciaria largamente por termos relaç@es seHuais, eu t8; las;ia. Nm >uinze anos de pr5tica, no entanto, ainda não tive um caso desses e acho di?(cil imaginar >ue pudesse eHistir. Primeiro, como disse, o papel do $om terapeuta R principalmente o do $om pai, e os $ons pais não consumam relaç@es seHuais com os 6lhos por raz@es variadas e muito ?ortes. # ?unção de um pai R ser til ao 6lho e não us5;lo para satis?ação pessoal. # ?unção de um terapeuta R ser til ao paciente e não usar o paciente para servir as necessidades do terapeuta. # ?unção de um pai R encoraar o 6lho ao longo do caminho para a independ8ncia, e a ?unção de um terapeuta com um doente R a mesma. V di?(cil ver como um terapeuta >ue se relaciona seHualmente com um paciente não o usaria para satis?azer as suas prprias necessidades ou como encoraaria a independ8ncia do paciente.
Muitos pacientes, especialmente os mais sedutores, seHualizaram ligaç@es aos pais >ue tolhem claramente a sua li$erdade e desenvolvimento. %anto a teoria como as poucas provas eHistentes sugerem ?ortemente >ue uma relação seHual entre um terapeuta e um doente ter5 maior pro$a$ilidade de cimentar as ligaç@es imaturas do doente do >ue de as soltar. Mesmo >ue a relação não sea consumada seHualmente, R penalizador para o terapeuta KapaiHonar;seK pelo doente uma vez >ue, como vimos, o apaiHonar;se envolve a >ueda das ?ronteiras do ego e a diminuição da noção normal da separação >ue eHiste entre os indiv(duos.
O terapeuta >ue se apaiHona por um doente não consegue ser o$ectivo >uanto s necessidades do doente nem separar
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essas necessidades das suas. V por amor aos pacientes >ue os terapeutas não se deiHam apaiHonar por eles. Uma vez >ue o amor genu(no eHige o respeito pela identidade separada do amado, o terapeuta >ue ama verdadeiramente reconhece e aceita >ue o caminho do paciente na vida R e deve ser separado do seu. Para alguns terapeutas, isto signi6ca >ue o seu caminho e o do paciente nunca se devem cruzar ?ora da hora terap8utica. Nm$ora eu respeite esta posição, considero;a desnecessariamente r(gida. Nm$ora tenha tido uma eHperi8ncia em >ue o meu relacionamento com uma eH;doente pareceu ser;lhe decididamente preudicial, tive v5rias outras eHperi8ncias em >ue as relaç@es sociais com eH;pacientes pareceram claramente $enR6cas tanto para eles como para mim. %am$Rm tive a sorte de analisar diversos amigos muito prHimos. De >ual>uer maneira, o contacto social ?ora da hora de terapia, mesmo depois de a terapia ter terminado ?ormalmente, R algo >ue s deve ser iniciado com grande cuidado e rigorosa an5lise interior para esta$elecer se são as necessidades do terapeuta >ue serão preenchidas pelo contacto, em detrimento das do paciente.
%emos estado a analisar o ?acto de a psicoterapia dever ser ter de ser, para dar $ons resultados- um processo de amor genu(no, uma noção algo herRtica nos c(rculos psi>ui5tricos tradicionais. O outro lado da moeda R pelo menos igualmente herRtico! se a psicoterapia R amar genuinamente, o amor deve ser sempre psicoterap8utico[ Se amamos verdadeiramente o nosso parceiro, pais, 6lhos, amigos, se nos estendemos para alimentar o seu desenvolvimento espiritual, dev(amos praticar psicoterapia com eles[ #
minha resposta R! Com certeza. De vez em >uando, num cocktail, alguRm me diz, KDeve ser;lhe di?(cil, Dr. Peck, separar a sua vida social da sua vida pro6ssional. #6nal de contas, não se pode passar a vida a analisar os ?amiliares e os amigos, pois não[K 9ormalmente, >uem o diz
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est5 s a ?azer conversa de circunstQncia e não est5 interessado nem disposto a assimilar uma resposta sRria. De vez em >uando, no entanto, essa situação d5;me a oportunidade de ensinar ou praticar psicoterapia ali mesmo, eHplicando por>ue nem se>uer tento, nem >uereria tentar, separar a minha vida pro6ssional da pessoal. Se me aperce$o de >ue a minha mulher, os meus 6lhos, os meus pais ou os meus amigos so?rem de uma ilusão, ?alsidade, ignorQncia ou impedimento desnecess5rio, tenho tanta o$rigação de me estender para eles e corrigir a situação dentro do poss(vel, como ?aço com os meus pacientes, >ue me pagam pelos meus serviços. Devo negar os meus serviços, o meu sa$er e o meu amor ?am(lia e aos amigos por>ue não me contrataram especi6camente nem me pagaram para atender s suas necessidades psicolgicas[ 9ão me parece. Como posso ser $om amigo, pai, marido ou 6lho se não aproveitar as oportunidades >ue surgem para tentar, com a arte de >ue ?or capaz, ensinar a >uem amo o >ue sei, e dar toda a assist8ncia >ue est5 no meu poder sua ornada pessoal de desenvolvimento espiritual[ #lRm disso, eu espero o mesmo es?orço por parte dos meus amigos e da minha ?am(lia atR ao limite das suas capacidades. Nm$ora a ?orma como me criticam sea por vezes desnecessariamente $rusca e os seus ensinamentos não tão ponderados como os de um adulto, auda;me muito o >ue aprendo com os meus 6lhos. # minha mulher orienta;me tanto >uanto eu a ela. 9ão chamaria amigos aos meus amigos se eles me escondessem a honestidade da sua reprovação e o seu interesse a?ectuoso >uanto sensatez e segurança dos sentidos da minha prpria ornada. 9ão posso desenvolver;me mais rapidamente com a auda deles do >ue sem ela[ 3ual>uer relação de amor genu(no R de psicoterapia mtua.
9em sempre vi as coisas desta maneira. _5 alguns anos, apreciava mais a admiração do >ue as cr(ticas da minha mulher,
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e ?azia tanto por incentivar a sua depend8ncia como o seu poder. # minha imagem como marido e pai era a do provedorW a minha responsa$ilidade terminava >uando trazia o sustento para casa. 3ueria >ue o lar ?osse um lugar de con?orto, não de desa6o. 9essa altura, teria concordado com a sugestão de >ue seria perigoso, não Rtico e destrutivo >ue um psicoterapeuta praticasse a sua arte com os amigos e a ?am(lia. Mas a minha concordQncia era motivada tanto por preguiça como por medo de utilizar erradamente a minha pro6ssão. Por>ue a psicoterapia, como o amor, R tra$alho, e R mais ?5cil tra$alhar oito horas por dia do >ue dezasseis. %am$Rm R mais ?5cil amar uma pessoa >ue procura a nossa sa$edoria, >ue se desloca ao nosso territrio para a o$ter, >ue nos paga pela nossa atenção e cuas eHig8ncias se limitam a cin>uenta minutos de cada vez, do >ue amar alguRm >ue considera a nossa atenção um direito, cuas eHig8ncias podem não ser limitadas, >ue não nos v8 como uma 6gura de autoridade e não solicita os nossos ensinamentos. 'azer psicoterapia em casa ou com os amigos re>uer a mesma intensidade de es?orço e auto; disciplina >ue no consultrio, mas em condiç@es muito menos ideais, o >ue >uer dizer >ue em casa eHige ainda mais es?orço e amor. Nspero, portanto, >ue outros psicoterapeutas não tomem estas palavras como uma eHortação a começarem imediatamente a praticar a psicoterapia com os seus parceiros e 6lhos. Se nos mantivermos numa ornada de desenvolvimento espiritual, a nossa capacidade de amar não cessa de crescer. Mas R sempre limitada, e não se deve tentar a psicoterapia para alRm da capacidade de amar de cada um, por>ue a psicoterapia sem amor não resulta e pode ser mesmo preudicial. Se puder amar seis horas por dia, contente;se com isso de momento, por>ue a sua capacidade 5 R $em maior do >ue a da maior parte das pessoasW a ornada R longa e re>uer tempo para >ue a sua capacidade aumente. Praticar a psicoterapia com os amigos e a ?am(lia, amarem;se
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uns aos outros a tempo inteiro, R um ideal, um o$ectivo pelo >ual lutar, mas >ue não R atingido instantaneamente.
Uma vez >ue, como re?eri, os leigos podem praticar psicoterapia com 8Hito sem grande ?ormação, desde >ue seam seres humanos >ue amam verdadeiramente, os coment5rios >ue 6z relativamente pr5tica de psicoterapia com os amigos e a ?am(lia não se aplicam somente a terapeutas pro6ssionaisW aplicam;se a toda a gente. bs vezes, >uando os
O Caminho Menos Percorrido
M. Scott Peck
Uma nova psicologia do amor, dos valores tradicionais e do desenvolvimento espiritual
Digitalização e arranos! "ngelo Miguel #$rantes
%radução %radução Maria &sa$el Cardoso
CD Sinais de 'ogo
%(tulo original! %he )oad )oad *ess %raveled %raveled Cop+right c- M. Scott Peck, Peck, M.D., /01 &ntrodução Cop+right c- M. Scott Peck, M.D., /12 %radução! Maria &sa$el Cardoso )evisão! )ita 3uintela
Proecto 4r56co! 4raça Castanheira 7 &n8s 9ogueira 'oto da capa! &mage :ank ; *uis
)eservados todos os direitos para Portugal incluindo o direito de reprodução do todo ou de partes so$ >ual>uer ?orma, por! Sinais de 'ogo Pu$licaç@es, *da.
)ua Diogo Dias, lote A ; rBc 02;A C#SC#&S %el. %el. E1 FF 22BA G 'aH 'aH E1 FF 20
e;mail. geralIsinaisde?ogo.pt
site! JJJ.sinaisde?ogo.pt JJJ.sinaisde?ogo.pt
! edição, Março; /// a edição, 9ovem$ro ; FK edição, Laneiro ;
Depsito legal n.K 02FB &S:9! /0;12E;;0
#os meus pais, Nliza$eth e David, cua disciplina e amor me deram olhos para ver a graça
%o %o m+ parents, Nliza$eth and David, Jhose discipline and love gave me the e+es to see grace
(ndice
&ntrodução Secção &; Disciplina F Pro$lemas e Dor 2 #diamento da 4rati6cação / Os Pecados do Pai )esolução de Pro$lemas e %empo 1 )esponsa$ilidade )esponsa$ilidade FE
9euroses e Pertur$aç@es de Personalidade FA 'uga da *i$erdade E Dedicação )ealidade E0 %rans?er8ncia! %rans?er8ncia! o Mapa Ultrapassado E/ #$ertura ao Desa6o 2E Omissão da uil($rio A1 O *ado Salutar da Depressão 0E )enncia e )enascimento 00
Secção && G #mor 12 O #mor De6nido 10 #paiHonar;Se / O Mito do #mor )omQntico /1 Mais So$re as 'ronteiras do Ngo Depend8ncia A CateHia Sem #mor 2 K#uto;Sacri?(cioK O #mor 9ão R um Sentimento 0 O %ra$alho de #tençãoF O )isco da Perda EF O )isco da &ndepend8ncia E0 O )isco do Compromisso 2F
O )isco da Con?rontação AE O #mor R Disciplinado 0 O #mor R Separação 0A #mor e Psicoterapia 1A
O MistRrio do #mor/1 Secção &&& G Desenvolvimento e )eligião
# 9atureza do Poder F # 4raça e a Doença Mental! o Mito de Orestes
F A
# )esist8ncia 4raça FE O #colhimento da 4raça FF2 POs?5cio
&ntrodução
#s &DNS #3U& #P)NSN9%#D#S #P)NSN9%#D#S emergem, na sua maior parte, do meu contacto pro6ssional di5rio com os doentes >ue lutam por evitar ou alcançar n(veis de maturidade cada vez mais elevados. Nm conse>u8ncia, este livro contRm partes de muitos casos verdadeiros. # con6dencialidade R essencial na pr5tica da Psi>uiatria, pelo >ue, em todos os casos, ?oram alterados os nomes e outros pormenores para preservar o anonimato dos meus doentes sem distorção da realidade essencial da nossa eHperi8ncia comum.
Pode, no entanto, ocorrer alguma distorção em virtude da ?orma resumida como os casos são apresentados. # psicoterapia raramente R um processo $reve, mas como tive necessariamente de ?ocar os pontos mais relevantes de cada caso, o leitor pode 6car com a impressão de >ue o processo R de drama e esclarecimento. O drama R real e o esclarecimento pode eventualmente ser alcançado, mas deve considerar;se considerar;se >ue, para ?acilitar ?acili tar a leitura, os relatos dos longos per(odos de con?usão e de ?rustração, inerentes maior parte da terapia, ?oram omitidos nestas descriç@es.
4ostaria tam$Rm de pedir desculpa pelas constantes re?er8ncias a Deus na imagem masculina tradicional, mas 6;lo a $em da simplicidade e não devido a >ual>uer conceito r(gido de gRnero.
Como psi>uiatra, penso ser importante re?erir logo de in(cio dois pressupostos em >ue este livro assenta. Um R >ue não ?aço distinção entre a mente e o esp(rito nem, portanto, entre o processo de consecução de desenvolvimento espiritual e o de consecução de desenvolvimento mental. V o mesmo e um s.
O outro pressuposto R >ue este processo constitui uma tare?a compleHa, 5rdua e para toda a vida. # psicoterapia, para contri$uir su$stancialmente para o processo de desenvolvimento mental e espiritual, não R um procedimento r5pido nem simples. 9ão pertenço a nenhuma escola de Psi>uiatria ou de psicoterapia em particularW não sou simplesmente um 'reudiano, um Lungiano, um #dleriano, um $ehaviorista ou um gestaltista. 9ão acredito >ue eHistam respostas nicas e ?5ceis. Penso >ue h5 ?ormas curtas de psicoterapia >ue podem ser teis e não devem ser
menosprezadas, mas a auda >ue proporcionam R inevitavelmente super6cial.
# ornada do desenvolvimento espiritual R longa. 3uero agradecer aos meus doentes, >ue me deram o privilRgio de os acompanhar na maior parte da sua ornada. Por>ue a sua ornada tem sido tam$Rm a minha, e muito do >ue R a>ui apresentado ?oi aprendido em conunto. 3uero tam$Rm agradecer a muitos dos meus pro?essores e colegas. Nntre eles, principalmente, minha mulher, *il+. %em;me dado tanto >ue >uase não R poss(vel distinguir da minha a sua intelig8ncia como cXnuge, mãe, psicoterapeuta e pessoa.
Secção &
Disciplina
Pro$lemas e Dor
# <&D# V D&'YC&*. Nsta R uma grande verdade, uma das maiores verdadesZ. V uma grande verdade por>ue, uma vez >ue veamos realmente esta verdade, transcendemo;la. 3uando sa$emos verdadeiramente >ue a vida R di?(cil ; >uando o compreendemos e aceitamos verdadeiramente ; a vida deiHa de ser di?(cil. Por>ue assim >ue R aceite, o ?acto de a vida ser di?(cil deiHa de ter importQncia.
# maior parte das pessoas não v8 inteiramente esta verdade de >ue a vida R di?(cil. Nm vez disso, lamenta;se mais ou menos incessantemente, ruidosa ou su$tilmente, da enormidade dos seus pro$lemas, encargos e di6culdades, como se a vida ?osse ?5cil de um modo geral, como se a vida devesse ser ?5cil. Proclamam a sua crença, ruidosa ou su$tilmente, de >ue as suas di6culdades representam uma espRcie nica de atri$ulação >ue não deveria mas de algum modo lhes ?oi especialmente dirigida, ou s suas ?am(lias, sua tri$o, sua classe, sua nação, sua raça ou atR sua espRcie, e não a outros. Nu conheço esta lamentação por>ue 5 6z a minha parte.
# vida R uma sRrie de pro$lemas. 3ueremos lamentar;nos ou resolv8;los[ 3ueremos ensinar os nossos 6lhos a resolv8;los[
Z# primeira das K3uatro ue K
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# disciplina R o ogo de ?erramenta essencial para resolver os pro$lemas da vida. Sem disciplina nada podemos resolver. resolver. Com apenas alguma disciplina, resolvemos s alguns pro$lemas. Com disciplina total, podemos resolver todos os pro$lemas.
O >ue torna a vida di?(cil R >ue o processo de con?rontação e resolução de pro$lemas R doloroso. Os pro$lemas, consoante a sua natureza, evocam em ns ?rustração, ou desgosto, ou tristeza, ou solidão, ou culpa, ou remorso, ou ira, ou medo, ou ansiedade, ou angstia, ou desespero. Nstes sentimentos são descon?ort5veis, ?re>uentemente muito descon?ort5veis, muitas vezes tão dolorosos como >ual>uer tipo de dor ?(sica, por vezes igualando o tipo mais eHtremo de dor ?(sica. 9a verdade, R devido dor >ue os acontecimentos ou con\itos geram em ns >ue lhes chamamos pro$lemas. N uma vez >ue a vida coloca uma in6nd5vel sRrie de pro$lemas, R sempre di?(cil e plena de dor, assim como de alegria.
9o entanto, R neste processo de con?rontação e resolução de pro$lemas >ue a vida ad>uire signi6cado. Os pro$lemas são o 6o de distinção entre o sucesso e a ?alha. Os pro$lemas apelam nossa coragem e sa$edoriaW na verdade, criam a nossa coragem e a nossa sa$edoria. V unicamente devido aos pro$lemas >ue crescemos mental e espiritualmente. 3uando >ueremos >ue remos ?omentar o crescimento do esp(rito humano, desa6amos e encoraamos a capacidade humana de resolver pro$lemas, tal como na escola apresentamos deli$eradamente pro$lemas para as crianças resolverem. V atravRs da dor de con?rontar e resolver pro$lemas >ue aprendemos. Como disse :enamin 'ranklin, K#s coisas >ue magoam, ensinam;nos.K Nsta R a razão por>ue as pessoas s5$ias aprendem não a temer mas, de ?acto, a encarar positivamente os pro$lemas e atR a encarar positivamente a dor dos pro$lemas.
# maior parte de ns não R assim tão s5$io. )eceando a dor, >uase todos ns, em maior ou menor grau, tentamos evitar pro;
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$lemas. Procrastinamos, esperando >ue desapareçam. &gnoramo;los, &gnoramo; los, es>uecemo;los, 6ngimos >ue não eHistem. Chegamos a tomar drogas >ue nos audam a ignor5;los para >ue, anestesiando;nos contra a dor, possamos es>uecer os pro$lemas >ue causam a dor.
%entamos %entamos rodear os pro$lemas pro$lemas em vez de os encarar de ?rente. %entamos sair deles em vez de so?rermos o seu percurso.
Nsta tend8ncia para evitar pro$lemas e o so?rimento emocional >ue lhes R inerente R a $ase prim5ria de toda a doença mental humana. Uma vez >ue a maior parte de ns tem esta tend8ncia em maior ou menor grau, a maior parte de ns est5 mentalmente doente em maior ou menor grau, não dispondo de sade mental total. #lguns de ns irão a eHtremos para evitar os pro$lemas e o so?rimento >ue causam, ultrapassando tudo o >ue R claramente $om e aconselh5vel para encontrar uma sa(da ?5cil, construindo as mais intrincadas ?antasias para viverem, vive rem, por vezes com total eHclusão da realidade. 9as palavras sucintamente elegantes de Carl Lung, K# neurose R sempre um su$stituto do so?rimento leg(timo.KZ
Mas o prprio su$stituto aca$a por se tornar mais doloroso >ue o so?rimento leg(timo >ue se destinava a evitar. evitar. # prpria neurose torna;se o maior pro$lema. De acordo com o padrão, muitos tentarão evitar essa dor e esse pro$lema, construindo camada aps camada de neuroses. 'elizmente, no entanto, alguns t8m a coragem de en?rentar as suas neuroses e começam ; com a auda da psicoterapia ; a aprender a suportar o so?rimento leg(timo. Nm todo o caso, >uando evitamos o so?rimento leg(timo >ue resulta do con?ronto com os pro$lemas, tam$Rm evitamos o crescimento >ue os pro$lemas 9ota-