ÈRE ÌBEJÌ
ÈRE ÌBEJÌ Instituto de Arte e Cultura Yorùbá. www.institutoyoruba.com Belo Horizonte. MG
ÈRE ÌBEJÌ Owó omodé ò to Pepe Ti àgbálagbà ò wo akèrègbè Isé èwe be àgbà, Ki ó má se kò mó, Gbogbo wa ni a nísé a Jo mbe araa wa.
As mãos das crianças não atingem o teto As dos adultos não conseguem entrar no jarro Quando as crianças pedem favores a adultos, Que eles não recusem mais, Pois um dia ambos precisarão um do d o outro.
A todas as crianças crianç as neste mês especial de vocês!
Por Olúségun Akínrúlí Copyright © 2009 - Instituto Yorùbá – Belo Horizonte. Minas gerais.
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ÈRE ÌBEJÌ O conceito Ibeji refere-se aos gêmeos entre os Yorùbá. A palavra Ibeji é híbrida vinda da contração das palavras:
Ìbí – (nascimento) e Èjì (dois). . Os Yorubá na Nigéria e República de Benin são conhecidos por terem a maior taxa de nascimento de gêmeos Ibeji no mundo; uma taxa de 4,4% de toda maternidade, ou seja, quarenta e quatro em cada mil crianças nascidas. Os Yorubá ocupam principalmente sudoeste da Nigéria e a República de Benin, antigo Dahomé. Este povo e a sua cultura referem-se como Yorùbá, mas são conhecidos também com nomes como Anagô. A população de Yorùbá é estimada em mais de quarenta milhões de pessoas que vivem na África ocidental. Isto faz o Yoruba uma das maiores etnias da África. A sua maior concentração está no sudoeste da Nigéria cuja população está estimada a mais de trinta milhões de pessoas com a cidade de Lagos – também chamado Èkó- como uma das suas principais cidades. Atualmente, a população de Lagos (Eko) é estimada em mais de 15 milhões de pessoas com uma projeção de até vinte milhões no ano 2010. Os Yorùbá e a sua cultura são encontrados também nos países como Togo, Gana, Republica de Benin, Costa do Marfim, Brasil, Cuba entre outros.
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ÈRE ÌBEJÌ
Mapa da terra Yorùbá
Segundo Leroy, (1995) nas sociedades tradicionais africanas, considerava-se que os ibeji ou gêmeos, tinham uma origem sobrenatural e esta crença provocava várias reações emocionais oscilando entre medo e repugnância, a esperança e alegria. Naquela época, os Yorubá tratavam os ibeji recém-nascidos com uma rejeição imensa. Mas, felizmente esta crença foi superada e hoje a chegada dos Ibeji nem é apenas aceita, mas também bem-vinda e querida entre os Yorùbá. Hoje eles são considerados como uma benção e não é difícil perceber que qu e as famílias Yorùbá imploram para terem Ibeji. Além disso, quando os Ibeji chegam, uma grande festa é organizada para a comunidade toda para comemorar a chegada destas crianças. Acredita-se que os Ibeji são capazes de trazer prosperidade, alegria, riqueza e saúde para as suas famílias. Mais um motivo que os Yorùbá cuidam muito bem deles e imploram para receber este presente maravilhoso na sua família. Conseqüentemente, o Oríkì dos Ibeji expressa esta crença quando diz:
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ÈRE ÌBEJÌ Ó wo ilé Alákìísà, Só ilé Alákìísá di ilé Aláso. Eles (Ibeji) entram na casa do pobre E tornam o pobre rico. Quando os Ibeji nascem, o primeiro a chegar é chamado Táyéwò ou em uma forma mais falada Táíwò. O nome também híbrido, vem das seguintes palavras: To –Ayé – wò significando; Tó wò - o verbo provar. Ayé - o substantivo substantivo o mundo. mundo. Então o significado do nome Taiwo, prove o mundo. O segundo é chamado Akéhìndé ou Kehinde como é popularmente chamado. Significa aquele que chegou por último. Veja: A – o pronome demonstrativo, aquele ou aquela. Kéyìn – o adjetivo, último. Dé – o verbo, chegar. Então o significado do nome Kéhìndé, aquele que chegou por último. Os Yorùbá acreditam que o último a chegar, ou seja, Kéhìndé é o mais velho, pois ele mandou o seu irmão mais novo Táíwò para vir primeiro provar o mundo. Acredita-se que se o Táíwò chorar ao chegar ao mundo, ele ou ela dá para o seu irmão mais velho o sinal de que o mundo é favorável ou simplesmente, gostoso. Assim, em seqüência o Kéhìndé nasce. Se for ao contrário o último não virá. Às vezes, quando o Táíwò recusa
chorar, ele é beliscado para que o Kéhìndé possa ouvir o seu choro, assim percebendo que o mundo é favorável, por fim, ele nasce.
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ÈRE ÌBEJÌ Acredita-se que este duplo nascimento tem um lado extraordinário e é uma prova viva do princípio da dualidade e confirma que neles -Ibeji- existe uma parcela do sobrenatural, a qual recai, em parte, na criança que vem ao mundo depois dele (Verger, 1999). Como os Yoruba acreditam que os Ibeji compartilham uma alma em comum, quando um deles morre, a vida do irmão vivo, considerada-se que está em perigo peri go porque o equilíbrio da sua alma já foi perturbado. Conseqüentemente, para reagir a este desequilíbrio, um Babalawo (sacerdote de Ifá) é consultado para preparar ritual devido, a fim de proteger o irmão vivo. Este, depois de fazer alguns rituais recomenda que uma pequena estatueta de madeira seja feita como um substituto simbólico para a alma do gêmeo falecido. Estas estatuetas são efígies
chamadas Ère ìbejì. Esta efígie representa um dos falecido Ibeji. Também podemos ver duas efígies representando os dois, se for o caso dos dois falecidos, este último porém é normalmente raro.
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Embora esta estatueta represente o falecido ibeji, ela é, às vezes, feita com os atributos de um adulto. Os seios, a parte da genitália, os quadris entre outros são vistos nestas estatuetas; atributos incomuns às crianças. No trabalho de Ellis, (1894) afirma que quando um dos gêmeos morre, a sua mãe carrega junto com o outro vivo, uma estatueta de mais ou menos sete polegadas de comprimento, em forma de humano e do sexo do falecido ibeji, a fim de protegê-lo e para dar para o espírito do falecido algo, ou um lugar, para entrar sem perturbar o irmão vivo.
Quando a mãe do Ibeji recebe esta efígie, ela é levada
para
casa
e
colocada em cima de assentamento
do
Èsù
(Exú) com a esperança de que a alma do falecido irá voltar
viver
estatueta representa
naquela
que
agora
o
ibeji
falecido. Esta estatueta também passar a ser cuidada pela família, ela é vestida com roupas, normalmente iguais a do falecido, é enfeitada com jóias, os seus oríkì são recitados e também são cantadas cantigas do Ibeji para ela. Algumas destas cantigas enfatizam a crença de que os Ibeji têm certa afiliação com um tipo de macaco preto cuja carne é extremamente proibida para os ibeji.
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De acordo com Verger (1999) citando Ellis (1894), “ o Ibeji dos Yorùbá Nagô é a divindade tutelar dos gêmeos. Um macaquinho preto é sagrado para os Ibeji, fazem ao animal oferendas de frutas e sua carne não pode ser comida pelos gêmeos ou por seus pais. Esse macaco recebe recebe o nome de Edon dudu ou Edon Oriokun Oriokun ”.
Um mito Yorubá também explica como os Ibeji vieram para o mundo depois de confrontarem um fazendeiro com os macaquinhos em uma cidade antiga chamada Ishokun. Por isto este trecho do Oriki do Ibeji: Èjìrè ará Ìshokùn Edun gbálájá orígi Òkan mbá bi Èjì wolé to mi, Olúomo. Gêmeos lindos descendentes da cidade de Ìshokùn Descendentes dos macaquinhos do topo d’árvore. Eu daria a luz a um, Mas dois vieram procurar por minha m inha família, crianças queridas. É importante dizer também que os ibeji são muito cobiçados pelos Yorùbá, as famílias sempre desejam tê-los porque acreditam que trazem muita sorte e fortuna para os seus pais. Os gêmeos são, para os seus pais, uma u ma garantia de sorte e fortuna Verger Verger (1999). Os Yorùbá expressam os seus desejos de ter Ibeji através desta cantiga. Epo mbe, Èwà mbe mbe 2x Àyà mi ò já, Àyà mi ò já lati bí Ìbejì Epo mbe, Èwà mbe Temos fatura de feijão, temos fatura de azeite de dendê. Não tenho medo de ter Ìbejí. Temos fatura de feijão, temos fatura de azeite de dendê.
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Isso é evidente também neste excerto do Oríkì - poesia genealógica e da louvação- dos ibeji. Wíníwíní l’ójú Orogún Èjì wòrò l’ójú oun Ìyá re Ò dé k’ílé kún Ò dé òdèdè terù-terù Aláàbá kò ri bi. A manifestação da inveja nos rivais r ivais Dois lindos (ibeji) na mão da sua mãe. A casa se encheu na sua chegada Ao chegar ao quintal, este se encheu Os que mais os almejam, não conseguem tê-los. Todo ano, são comemoradas festas de Ibeji pelas famílias que os tem, junto com a comunidade em geral. São cozidas Éwà- ibeji (feijão dos ibeji) com muitos doces, Àkàrà (acarajé), Epo (azeite de dendê), Ààádùn (pudim) e.t.c. Acredita-se também que ao realizar esta festa, várias anomalias e maldades são expulsas da família e bondades vêm para a família. Importante é que esta festa seja comemorada com a presença de muitas crianças. Nestas festas, o oríkì dos ibeji é recitado pelas pessoas. Elas acreditam que ao fazer isto, serão abençoadas com muitas prosperidades, pois ibeji são considerados detentores de poderes para dar àqueles de quem eles gostam gostam felicidades e prosperidades.
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Estatuetas dos Ìbejì.
Sobretudo, não é surpreendente que este costume foi para a diáspora Africana através dos escravos oriundos da oeste da África, principalmente da República de Benin e da Nigéria. No Brasil, a mesma tradição é mantida e celebrada todos os anos, no mês de setembro, porém sincretizado com o culto do São Cosme e Damião da religião cristã. “No Brasil, o culto aos gêmeos Ibeji é sincretizado com o culto a São Cosme e Damião. As semanas que precedem o dia 27 de setembro, quando eles aniversariam, são marcadas, na Bahia, por festividades muito alegres, durante as quais o prato
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ÈRE ÌBEJÌ preferido dos Ibeji, o Caruru, é oferecido às imagens dos dois santos e as crianças pequenas reunidas para comemoração” Verger (1999)
Referência bibliográfica. ALFRED B. Ellis, The Yoruba Speaking Peoples of the Slave Coast of West Africa , London: Chipman and Hall, 1894. JOHNSON, SAMUEL. The History Histor y of The Yorubas. CSS, 1921. AYOH’OMIDIRE, Félix. Akogbadun: abc da língua, cultura e civilização iorubanas. Salvador: ed.UFBA: CEAO, 2004. BENISTE, José. Òrun, Àiyé: o encontro de dois mundos: o sistema de relacionamento nagô-yorubá entre o céu e a terra. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997.
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